^ /0/5- 0 INSTITITO. JORNAL SGIENTIFICO E LITTERARIO. TOIiUIHE QUIMTO« €OIMBRA IMPRENSA DA UNIVERSIDADE. 1837. I^DICE ALPHABETICO QUINTO VOLUME DO HVSTITUTO. Almanak de inslriic(;ria |tronomia 128 Astronomia naiitica 10 Aviso da Uedac^ao 276, 288 Bases para a reforma da iDstriicfao primaria .... 137 Bibliographia 23, 130, 238, 275, 287 Carainhos (os) de ferro 105, 125, 151 Carta do snr. Antonio F. de Castillio 17 Caslello (o) de C'aliabria 40, 53 Cathecismo popular de Agricultura 33 CoUec^ao de pruductos das nossas possessoes iillra- niarinas 168 Comela (o) de 13 de junho 272 Compendio popular de Zoologia 59 Conselho superior de instruc^ao publica (rela- torios) 37, 61, 73, 85, 97, 133, 145, 157, 169, 181, 193, 205, 218, 329, 278 Diplomalica (a) em Portugal 208 Direito (o) Natural como subsidio para a iuter- preta^ao das leis positivas 236 Ensino (o) das linguas 16 Ensino (o) primario 62 Escudo (o) de El-Rei D. AfTonso Henriques 174 Estado actual da fabricai;ao doalumiuio 178 Estudo (o) das linguas grega e lalina 67, 76 Erratas 12 Evaraes de grego em Coimbra 149 Expedienle 145, 157, 169, 241 Excerplos de unia viagem a Inglaterra 1G3, 196, 249 Gabinete de leilura do Instituto de Coimbia. ... 60 Gloria (a) (poesia) 66 Grammatica elementar da linga lalina (biblio- graphia) 287 Hermaphrodismo nos vertebrados . . 96 Hermeneutica (a) 173 Historia da conjnra(;ao de Catilina. . 189, 210, 234, 262, 285 Jornal fnovo) litterario 130 Inaugura^ao de uoia eschola no Funclial 265 Induencia do clero na sociedade 253 Inconvenientes dus ceraiterios 175 Iiistrucijiio primaria 7, 18,30,44 Instruc^iJo publica, via;Jo publica 201 Integraes definidos ai3 Introdiic(;iio i Irm.-is da caridade 222, 244, 270, 281 Lucta (a) (poesia) 67 Lusiadas (os); traduC9rio franceza 42, 166, 154, 173, 211, 220, 282 Luz (a1 artificial 54 Manual do processo commercial (bibliograpbia). . 192 iMemoria sobre as principaes cansas da mortali- dade nos liospitaes de S. Jose e meios de as altenuar (bibliograpbia) 2 j2 Metliodo (o) do ensino parallelo . . 78, 90, 103, 113 Monunientos de Coimbra 163, 284 Ncerlandia (a) e a vida liollandeza . . . 5. 29, 65, 88 Notas ao ensaio sobre os principios de Mecha- nica 21, 33 , 57 , 71, 82 Noticiario 84, 95, 106, 119, 131, 143, 168, 178, 192, 204, 339, 264 Nolicias lilterarias 12, 23, 35. 47, 59 Obras ofTerecidas a bibliotheca do Instituto de Coimbra 72 Observa(;oes meleorologicas 120 Physiologia lOJ Piscicultura 69, 81 Principios demechanicaporSilvestre P. Ferreira 93, 107 Regulanieuto dos banhos de Liiso 49 Relai;ao d"s individuos despachados pelo conselho superior de intruc95o publica. 24, 36, 48, 60, 84, 96, 131, 141, 156, 180, 192, 204. 240, 252, 264, 276, 388 Relatorio do commissario dos estudos do Fiin- chal 2,13,25 Relatorio do commissario dos estudos de Lis* boa 102, 109, 121, 135, 146, 159 Relatorio da direcrao dos banhos deLuso 221, 232, 241 Representai;ao que dirigiu a S. M. o conselho do l)ceii nacional de Coimbra 39 Revelai;ao dos crimes (inlluencia da) 235, 246 Revisla da instruc^ao publica Sinos(os) Paudade (a) (poesia) SessSo geral do Instituto Sessao da classe de litteiatura Sessoes da classe de sciencias moraes. ... Telegraphia clectrica 11 4:1 Tratamento das vinhas com enxofre 117, 14i Trovadures (os) e snas obras 129, 13;l Tumulo (o) de D. Velai;a 22;1 Uma voz do ceu (|)oesia) 28 VersaodaselegiasdeA.TibuUo 176, 183,203,237,245 131 J67 217 277 (C(IDILILiiIB(E)iaiID(DMS DO QIIMO YOLOIE DO Il\STITUTO. AJriano dc Abrcu Cardoso Machado. Adriao Percira Forjaz de Sampaio. Antonio Auguslo da Costa Simocs. Antonio Ayres de Gouvea. Antonio Cardoso Borges de Figueiredo. Antonio Jos6 Teixeira. Antonio de Paula de Sousa Couceiro. Bernardino Joaquim da Silva Carneiro. Francisco Antonio Rodrigues dc Gusmao. Francisco Antonio Yeiga. Francisco de Castro Freire. Henrique O'Neill. Duque de Palraclla D. Pedro Manuel Mathias Vieira Fialho Silvestre Pinheiro Ferreira . Jacinlho Antonio de Sousa. Jeronymo Jose de Mello. Joaquim Alves de Sousa. Jose Ferreira de Macedo Pinto. Jose Maria de Abreu. Jose Maria de Almeida Laccrda (D.). Marceliano Ribeiro deMendonca. Marquez de Souza Ilolstein. Mathias de Carvalho de Vasconceilos. Rodrigo Ribeiro de Sousa Pinto. Rufino Guerra Ozorio. Obras posthumas. (D Jn^tittttir, JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. INTRODUCQAO. Vai entrar 0 INSTITUTO no seu quinto anno de vida. E uma existencia bem curta ainda, mas que ja transcende a ordinaria dos nossos jornaes lilterarios, que, se nao mor- rem logo a nascenfa, nao deitam a maior parte d'elles o anno fora. Mas a infancia do INSTITUTO nao tem cor- lido alegre e folgada. Tem luctado com niui- tas difficuldades e erabaracos, sendo o prin- pal d'elles o pouco amparo que tem recebido de muitos que podiam e deviam auxilial-o. No anno findo teve de mais a mais contra si, por motivo da invasao da cholera 'nesta Ci- dade, a suspensao por trez niezes dos estudos academicos, a qual dispersou a Associagao do Instituto de Coimbra, e reduziu a poucos a Comraissao Redactora do Jornal. Por alguns mezes todo o trabalho de redaccao e compo- sijao do INSTITUTO pesou sobre dois somen- te dos sens membros, os quaes gratuitamente, e so por muito zfilo e amor a A-ssociacao e as lettras, conseguiram assim que a publica- cao d'este jornal nao parasse. Felizraente porem a Comraissao Redactora nutre hoje boas esperancas, de que ainda durante o novo anno que principia nao dei- xara apagar em siias macs o fogo sagrado de Vesta, e que podeni Iransmittil-o mais vivo e brilhante a nova Commissao que tern de succeder-lhe. Para isto confia pouco nas suas forjas, que apezar de todo o zolo e bons desejos, tem na devida conta de muito liniitada. Conlia porem, e muito, na fontinuacao do auxilio valioso do Consclho Superior de Instruccao Publica. Confia no zelo dos profcssores publicos, que reconbeccudo o grande scrvico, que estao prestando as sciencias, com a publicacao de scus escriptos no INSTITUTO, alguns distin- ctos professores de sciencias naturaes, nao tardarao a vir aqui, corao eiles, expender muitas doutrinas importanlcs, que nem os YoL. Y. ApniL 1.° limites dos programmas, nem a estrcileza do tempo, Ibes permitlem desenvolver nas suas preleccoes oraes. Confia na coadjuvacao de muitos sabios eminentes do paiz e estrangeiros, que o Insti- tute tem a honra de contar entre os seus socios. Confia na vida, que de novo comefa a desenvolver-se no seio da sua Associacao, e que ja se manifesta nas discussoes publicas de pontos importantes, que de novo encetou a Classe de Litteratura, e que as outras Clas- ses vac tambem renovar. Confia por ultimo em muitos Academicos esperanfosos, que para se iniciarem 'numa brilhante carreira litteraria e scientifica, bao de procurar, com todo o enthusiasmo e vigor de niancebos, vir associar-se aos trabalhos do INSTITUTO. Oxala que estas esperancas nao sejam men- tirosas, e que o Instituto, crescendo era an- nos, va tendo os aperfeicoamentos litterarios e scientificos, que em tao boas circumstancias se encontra de poder alcancar, e que o publico tem direito de exigir-lbe. Os RR . i^^^la^ Assigna-se este Jornal em Coimbra no Ga- binete do Instituto; em Lisboa na livraria do sr. Cobellos, rua Augusta n.° 2; no Porto na do sr. Jacintho A. Pinto da Silva, rua das Hortas n.° 144; em Evora na do sr. V. J. da Garaa, collegio de S. Paulo, no Pezo da Re- gua na do sr. M. Mendes Osorio. Toda a correspondencia franca de parte sera dirigida — A' Redaccao do Instituto — Coimbra. Prcco, adiantado, por anno, ou 24 numcros, francos de parte 1^440 Por semestre, oul2numeros, dictos 800 Avulso 100 Para os srs. Assignantes os numeros, que llies fallarem do i.° volume serao pelo mesmo preco d'assignatura an- nual, ou cada um CO Os exemplares que restam dos volu- mes 1, II, III e IV d'este Jornal ven- dcm-se, cada um, por -1836. Num. 1 C^i Crr RELATORIO Do rouiniiM< o dccrelo dc 10 de novembro dc 1845, tcnlio a honra de, por maos de Y. Excellcncia, por na proscnra da ])riiiicira socrao do conscllio superior d'in- struc(;ao ptihlica o prcsoiile relatoiio sobro o eslado da instruccao primaria — publica — inunicipal — e particular, nos liiuites do dis- triclo a nicii cargo. Este rclalorio, que e — para assiin dizer — a liisloria da visita d'iiispecrao quo acabo de I'azer a maxima parle das escliolas do distrii- to, dividil-o-hei em trez seccoe'- : Na primeira, exporei tudo o que houver de particular e privative a cada uma das escbolas visitadas : Na .segunda, darei conla do estado presen- te das escliolas ainda nao visitadas no segundo semestre do anno lectivo tiiido : Compreliendera a terceira o que houver de mais geral e commum a umas e outras escholas. SECCAO 1.' Escholas visitadas. ObservacSes parliculares a cada uma. §. 1.° No dia 9 de julho ultimo dei prin- cipio a visita de inspeccao as escbolas prima- rias do districto. A primeira que visitei , foi a chamada esclwlu central, cujo professor e Egidio Fran- cisco de Sequeira , que desde julho de 1848 tem provimento vitalicio da cadeira della. Achei matriculados 'nesla eschola 102 alumnos , mas presentes so 68 ; os quaes tinha 0 professor dislribuidos em cinco clas- ses. A quinla, que comprehendia os mais adean- tados, era assaz numerosa. Mas, dos muitos que continba, so oito deram mostra de alguma proliciencia nas materias do primeiro grau. Todos OS mais pareciam inteiramente estranhos aos esludos de grammatica, moral, civilidade, historia e chorographia patria. Na seccao it.' apontarei os principaes defei- los do mctbodo seguido 'nesta e 'noutras escho- las publicas. g. 2.° No dia seguintefui a eschola publica da extrema leste do Funcbal. Subira a matricula a 107 alumnos ; mas presentes achei 68, dislribuidos em trez da.s- ses, e cada uma d'estas subdividida em varias seccoes. Os da classe superior , que era a terceira , ac'hei-os solTrivelmente versados nas materias do primeiro grau, — principalmcntc cm mo- ral, doutrina christa, civilidade, historia c chorographia. 0 professor, que e Luiz Corrfa da Silva Acciaioli, e cpie dcsdc maio de 1843 tem titulo de propriedade da cadeira, tem muito z41o pcla applicacao dos discipulos. Nao se publica obra classica sobre inslrucvao primaria, da qual niio trade dc haver algum exemplar. Tem uma exccllenle collcccao de tabuas de dcsenbo linear; prometteu-me comecar a fazer ^ uso d'ellas no proximo futuro anuo lectivo. A casa, cm que esta a eschola, ([uc era da fazenda publica , foi arreniatada , e hojc e propriedade do professor. A sala por ellc prestada para servico da eschola, e sobremodo acanhada para a frequcncia (pie tem. A mo- bilia cscbolar, que tambeni perlcnce ao pro- fessor , esta em pessimo estado ; porque a camara municipal respectiva nao tem (juerido contribuir para o reparamento d'ella. §. 3." No dia subsequente visitei a eschola publica da extrema oestc, cujo professor e Frederico Sergio Droche, que tem provimento \ilalicio. Achei matriculados 50 alumnos, presentes so 34; dos quaes — 14 escreviam hastes e ligacOes, — 12 mau bastardo — e so 8 bastar- dinho. Quanto as outras materias do curso, o atrazo era ainda maior. Nem um so tinha sutliciente conhecimento de grammatica, moral, choro- graphia etc. 0 professor, posto que habil, tern pouco amor a sua prolissao; d'aqui — a falta de z6lo pdo adiantamcnto dos alumnos, e d'esta falta — 0 atrazo d'elles. §. 4.° No dia 12 visitei a e.schola publica de meninas d'esta cidade, cuja mestra (habi- litada) e Maria Emilia Cunha. Achei matriculadas 141 alumnas, presentes 110. Ometbodod'ha rauilo seguido 'nesta eschola, e 0 do ensino miituo. Com esle melhodo , e principalmente com o incentivo de premios fornecidos por uma associacao philanlropica que as protege, as alumnas cslao bem versa- das em todos os trabalhos d'agulha proprio.s do sexo , e nas disciplinas de ler , escrevcr , contar e doutrina christa. Nao sabera porem quasi nada dos oulros ramos do primeiro grau, — nao que a mestra nao tenha conhecimento d'elles, — senao porque a sociedade nao tcni fornecido os livros projjrios para eniinal-os. Em logar das materias que cumpria ensinar, vi que se cnsinavam as meninas, com o im- propriissimo nome de « devcres de criadas e niocas de servir», certas regras practicas sobre 0 modo dc arranjur um quarto de dormir, fazer uma cama, varrer e lavar uma casa, e outros quejandos exercicios servis , que nao fazem , nem podcm fazer parte do quadro da instruc- cao primaria. Foi-me indispensavcl prohibir a continua- jao do ensino de tacs deveres ; c recommen- dei a mestra que, era logar d'elles, ensinasse as meninas os verdadciros deveres moraes — dos filhos para com os pacs, — dos irraaos uns para com os oulros, — das esposas para com OS maridos, — das maes para com os filhos, — das donas de casa para com os fa- mulos etc. §. o." So no dia 27 de julho, (depois dos exaraes dos alumnos do lyceii) pude sahir do Funchal para visitar as escholas ruraes. A priraeira que inspeccionei, foi a eschola municipal da villa de Camara de Lohos, cujo professor (nao habilitado) e Anselmo Baptista de Freitas, que desde 1840 rege a cadeira d'ella, com o ordenado de 120^000. Achei malriculados 117 alumnos, mas pre- sentes so 27. Mui pouco adiantados nas disci- plinas de ler , escrever, contar e doutrina christa, estavara intciramente hospcdes nas de grammatica, historia, cliorographia elc. §. 6.° No dia seguinte pa.ssei a eschola piiblica da I'reguezia do Campanario, cujo professor tcm provimcnlo vitaiicio, ee Jacinlho Augusto Goncalves — bora moco, de irrepre- hensivel comportamento , mas pouco zeloso pelo adiantamento dos discipulos. A malricula da eschola era de 39 alumnos, achei presentes 22, e estes rauito atrazados em lodos os ramos do primeiro grau de in- strucjao primaria. A casa da eschola era da fazenda piiblica ; acha-se arremalada por um terceiro, com pre- juiso do servico a que estava appropriada ; porque, segundo me informam, nao ha na freguezia oulra que possa servir para o in- tento. §. 7.° No dia 30 visilei a eschola piiblica da villa da Ponta do Sol, cujo professor habi- litado e Miguel Luiz Valerio. Alumnos malriculados contei 40, presen- tes 20. Com quanto respondessem com desembaraco as perguutas que Ihe fazia o professor, pouca ou ncnhuma inlelligencia tinham das materias sobre que respondiam, porque so as tinham de memoria. 0 professor esforca-sc por adiantar os alu- mnos; mas, como sabe pouco, pouco Ihes eusina. g. 8." 'Nesse mesmo dia visitci uma eschola particular que tem na villa Antonio Joaquim de Vasconcellos, sem habilitacao legal. Pelo exame a que cliamara os alumnos, vi que tinha assaz de prolieiencia, e cxcellcnte methodo para ensinar individualmente as ma- terias do primeiro grau. Tem so 9 educandos; e assira mesmo realisa meusalnienle honorario .superior ao que paga o estado ao professor da eschola piiblica. Por isto nao tem querido tomar parte em nenhum concurso. g. 9.° De larde passei a visitar a eschola municipal de meninas, eiija mestra (nao ba- bilitada) 6 D. Maria Martha Jardim. A eschola estava em pessimo estado de (re- quencia. 'Numa povoacao de i027 almas, das quaes 50a sao meninas em edade de aprcnder, so 14 estavam matriculadas, cd'estas so 8 eram presentes. A mestra ensiiia a ler, escrever, contar doutrina chrisla e trabalhos d'agulha. Ha muitos mezes que Ihe nao paga a camara o pcqueno honorario que Ihe arbitrou. §. 10.° Em razao de se metier de per- meio um feriado, so no dia 3 d agoslo pude inspeccionar a eschola piiblica da villa da Calheta no sitio da Palmeira — silio o melhor possivel para reunir, como effect ivamcnte reune, alumnos das freguezias limithrophes, do Arco e Estreito da Calheta. A malricula era de 46 alumnos, achei presentes 30, incluindo-se 'ncste numero 5 meninas, que com muito aprovcitamcnto tem frequentado esla eschola. 0 professor, que tem provimento vitaiicio, e e Jose Joaquim de Freitas, nao ensina tudo 0 que devia ensinar; mas o que ensina, ensina bem, porque tem bom methodo: e funcciona- rio de severa moralidade , que tem muito a peito 0 adiantamento dos alumnos. §. 11.° Da Calheta segui para a Ponta do Pargo pelas freguezias do Estreito da Calheta, Prazeres e Faja da Ovelha, onde nao ha uma eschola so — nem piiblica — nem municipal — nem particular; mas onde foi precise de- morar-me quatro dias para informar-rae das circumslancias de cada uma d'estas localidades pelo que toca ao nuraero de creanf as educan- das, povoacao, e raaior ou racnor concentra- cao d'esta em certos pontos de cada freguezia. No dia 8 d'agosto achava-me na Ponta do Pargo visitando uma eschola municipal, cujo professor (nao habilitado) e Eduardo Joaquim de Sousa Pestana. Achei a eschola em pessimo estado a todos OS respeitos. 0 local e man por improprio, acauhado, sujo e intciramente desprovido de mobilia escholar. Todos os alumnos malri- culados estavam presentes, eram IS; mas todos mui atrazados. A camara, sobre pagar ao professor so rs. 30^000 per annum. deve-Ihe os ordenados de Irez annos. Qual paga. tal professor; e qual professor, tal eschola ! § 12.° No mesmo dia visitei uma eschola particular de meninas, cuja mestra (nao ha- bilitada) e D. Maria Anialia de Sousa, que desde marco d'este anno, com summo proveito da povoacao. tem aquella eschola. Freqiientam-na 21 meninas e 1 menino. As que so aprendem a cozer e oulros trabalhos d'agulha, pagam a mestra uma mensalidade de rs. 200. As que aliim d'isto, aprendem a ler, escrever, contar e doutrina christa, pagam mensalraente mais um tostao. §. 13. No (lia 10 d'agosto achava-me no Porto do Moiiiz , iiispeccionaniio a escliola ptiblica, ciijo prolessor e Jose Bernardino de Brilo, que tern provimento teniimrario. I'orla- se tao bem, e lao arranjado liomeni, que, apezar da escassez do ordenado que percehe, vive com rcrta indi'|iendencia. A malricula era de iH alumnos, presentes acliei so 18, mas alguns d'estes sudicicnte- mcnte versados nas principaes malcrias d'esle griiu d'instrucvao. §. l'i.° No dia IS cheguei a S. Vicente. 'Nesse niesmo dia inspeccionei a escliola pii- blica , cujo professor e Joaciuini de Sousa Brasao, que tern provimento vilalicio. Achei presentes so li alumnos ; sao todos OS que frequentam a eschola , e todos jjouco adiantados no conliecimento das principaes matcrias do prinieiro grau. A causa de tao escassa frequencia sao, prin- cipalraente, intrigas movidas contra o profes- sor por inimigos e invejosos que Hie cobicam 0 eniprego. O ensino por elle dado aos alu- mnos e fraco, na verdade, nao passa do me- raniente cicmentar ; mas a severa moralidade que 0 recomraenda e pelo menos seguro penhor da pureza da doutrina e exeniplos que o formam. 0 professor i, em todo o rigor do termo, um bomem de bem. §. lo." No dia 17 visilei a eschola piiblica da freguezia da Ponta Delgada, que achei em bom estado, e cujo professor, Joao Jose de Brito Figueiroa, tem provimento temporario. A inatrieula era de 42 alumnos; estiveram presentes a sessao 33 , em cujo nuniero vao incluidas 9 meninas, as quaes ensina o pro- fessor as disciplinas do primeiro grau, e a esposa do professor os trabalhos e prendas proprias do sexo. A casa da eschola, que fora da fazenda nacional, acaba de ser posta em prafa e arre- matada. Na freguezia ha oulra casa da fazen- da, mas laoarruinada, que nao podeservir para a eschola sem previo e despendioso concerto. A niobilia escholar, sobre veiha edeliciente, e emprestada. A camara municipal pouco se Ihe da disso ; nao quer de modo algum con- tribuir para acquisicao de oulra, que seja propriedade da eschola. §. 16. No dia seguinte achava-me em S." Anna , fazendo a vizita da eschola mu- nicipal, cujo professor, sem habilitacao legal, e Jose Luiz de Nobrega, que desde I'Siil rege a cadeira d'ella. A matricula era de 34 alumnos ; achei presentes 14, e estes muito pouco adiantados, porque 0 professor sabe pouco , posto que promova com muito ztilo o adiantamento dos alumnos. §. 17. No dia 20 inspeccionei a eschola piiblica da freguezia do Fa.al, cujo professor e Joao Mauricio Fernandes, habilitado para haver provimento. Achei matriculados 9 alumnos, todos pre- sentes, e para o pouco tempo ([ue tinliam de eschola, assaz adiantados. 0 professor I'unc- cionava havia dois niezes. A reipiisicao d'elle forneci para esta eschola, pelo producto da subscripcao que promovo, livros, lousas, lapis, papel e peiinas, tudo na importancia de rs. 4,'JbO. §. 18.° No dia 22 liz a visita a eschola piiblica da villa de Machico, onde achei 31 alumnos matriculados, c |)resoiit('s so 18. A primeira classe, que se ((iiniHinlia dos niais adiantados, estava suiruienli'mente en- saiada pelo professor para o exanie que Ihe liz. Diiis dos alumnos d'ella principalmente, achei-os em estado de passareni a estudos se- cundarios. 0 professor, Jose Marciano da Silvcira, tem provimento temporario, e a.ssaz de aptidao natural e adipiirida. Mas ou por falta de pa- ciencia, ou por pouco assentaniento de jiiizo nao lira da propria aptidao o partido que alias poderia tirar em proveito dos alumnos. §. lit. No dia subsequente visilei a eschola piiblica da villa de S." Cruz, quero dizer — 0 local da eschola, porque o professor, nao obstante saber que eu andava visilando as escholas do districto , tinha sem annuencia minha, transferido as ferias para o mez d'agoslo. No ponlo de vista material, achei a eschola em bom estado. A sala tem suflicienlc capaci- dade, e esta bem fornecida de mobilia parte propriedade do professor, parte da camara. Em oflicio conlidencial terei a honra de dizer o mais que entendo a respeilo d'esta eschola. §. 20. Cheguei a cidade no dia 25 d'agosto. Dois dias depois, fui a freguezia de S.'° An- tonio inspeccionar as escholas que ali niantem a camara municipal. A primeira que visitei, foi a eschola de meninas, do silio do Laranjal, cuja mestra (habilitada) e Antonia Umbelina Fernandes. Achei matriuuladas 7G alumnas, mas pre- sentes so 19. SuDicientemenle versadas em trabalhos da- gulha, leilura, escripta e doutrina christS, parcceram-me quasi todas niui atrazadas nos oulros ramos do prinieiro grau — mais por negligencia, que por ignorancia da mestra. g. 21. Em seguida visitei a eschola de meninas, do silio da egreja, cuja mestra (tam- bem habilitada) e Maria Adelaide Gomes de Gouv^a. A matricula era de 98 meninas, achei pre- sentes 39. Quanto a livros, utensilios e mobilia, estava na melhor ordem a eschola. Ate no ponlo de vista lilterario, e das melhores que tem a camara. A mestra ensina muito bem a ler, escrever, conlar, doutrina chrisla, e os trabalhos pro- prios dosexo; mas nao assim os oulros ranios da instruc^'iio primaria. §. 22. Visilei nesse raesnio dia a cscliola de nieninos, no sitio da Qiiinta do Lerae, cujo professor (habilitado) e Augusto Cesar de Frcilas. Depois de uraa inlernipcao dc mezes por falta dc professor, realiriu-se esta eschola com 40 discipiilos; dos quaes aehei prescntes 25 — bons era escripla, leitura, e doutrina chrisla; mas medioercs nos oulros ramos do ensino. A sala da eschola e cxeellenlc, e esla bem provida de utensilios e niobilia escliolar. §. 23. Ho dia segiiinle visitci a eschola de meninos da fregnezia de S. Marliiilio, cujo professor (habilitado) 6 Silverio Rodrigues de Maltos. A malricula era de 21 alumnos, acliei pre- sentes 19. Quantoa disciplina, pouco deixa que desejar esta eschola; porque o |)rofessor tern um trato particular para manter ordem nos traballios, I'azer-se respeitar e obedecer dos alumnos. Foi a eschola em que vi mais a risca obser- vado 0 principio — um logar para cada cousa, e cada cousa em seu loyar. Se o professor tivesse mais cabedal d'instruceao ; se podesse cnsinar tudo o que devc, como ensina o que sabe, e para mim fora de duvida que seria o raelhor dos professores municipaes. §. 24. Passei depois a visiter a eschola municipal de meninas, que tera no sitio Avista- navjos, da mesma IVcguezia, Emilia Fortunata Cardoso, seni habilitacao legal. A malricula era de 62 meninas; so IS cstavam presentes — e eslas muiio atrazadas cm lodos OS ramos de instruccao primaria ; porque a mestra, sohre saber muilo pouco, ainda menos cuiJa de promover a applicacao das alumnas. Ila 'nestc concclho mais nove escholas mu- nicipaes. Nao continuei a fazer a visila d'el- las, porque com o mez de seplembro come- oaram as ferias. Coiltint'ia. A NEERUNOIA E A VIDA HOLLANDEZA. Continuado de ja;:. 2i;8 do ]V vcl. A frente das excellcntes instituicoes, que florcscem na cidade de Harlem, appresenla-se em primeiro logar a Sociedade Iwllandeza de sciencias, da qual e seerctario perpetuo o distinclo professor Van Breda. Esla sociedade tern trezenlos annos d exislencia. E curioso ver uma especie de acaderaia independente do estado, e que, sustentada apenas pclas contribuicoes annuaes de uns trinta socios, possue um gabincte d'historia natural, da premios de 1:000 florins, e publica grandc numero de raemorias. Eslas creacoes particu- lares estao completamenle nos costumes e no character da Uollanda. Existiu em Harlem um homem honrado chamado Teyler: nao era sahio, era um fabricante e burguez da cida- de; mas quando niorrcu, dcixou uma somma avultada para fundar, cntre oulros estabeleci- mentos, um nuiseu que hoje do seu nome e chamado o Museu Teykriano ' . Alii 'nuraa casa, simples exteriormente, mas no interior vasla e esplendida, se escoiidem uma biblio- theca rica em livros de sciencii e de viagens, uma galeria de quadros em que ligurara as mclhores obras dos pintores hollandezes vivos, um gabinete de mineralogia e de physica, e uma rara colleccao de fosseis \ Causara .sem duvida admiracao saber que este museu, cu- jos ihesouros fariam inveja a lodas as cidades de Franfa, foi fundado so por doze pessoas. Ainda mais liberaes que o doador, os directo- res actuaes admittem duas vezes por semana 0 publico hollandez 'ncste sanctuario da arte e da natureza ; mas e uma tolerancia, e quasi que se podia dizcr uma infraccao generosa do testa men to. As portas de Harlem encontra-se um bos- que que rivalisa na amenidade e era belieza com 0 da Haya. Estes dois bosques foram tocados pela mao dos homens, mas com aquel- ta arte delicada e perfeita, que rcspeita a natureza embel!ezando-a. Nao e possivel ima- ginar, no verao, passeio mais delicioso: aquel- las tapadas onde vagam, quasi livres, os vea- dos e OS games; as ilhas povoadas de cysnes; tanques d'agua sobre os quaes desabam, para assim dizer, massas de vifosa e opulenta vcr- dura ; aquellcs claros escuros que de repenle interrompem a luz; aquelles silencios so per- lurbados pelo gorgeio das aves; tudo isto chcga a parecer um encanto, um sonho. Al- gumas porcOcs do bosque de Harlem sao evi- dentcmenle planlacOes recentes ; mas nas ala- medas sombrias depara-se com arvores d'ap- parcncia soberba e centenar, de porte altivo, e que parecem ter cerlo ar de familia com as arvores da Haya. Alguns naturalistas accre- dilam mesmo que estes dois bosques sao reta- Ihos de uma extensa e antiga floresta, situa- da outr'ora a uma grande dislancia do mar, e que foi dilacerada pelas revolucOes do solo. ' Tomamo.s nota da seg:iiinte mscrip^ao coramcmo- rativa. Rravada em letras d'ouro sobre niarmore hran- co; Musaiim Teiliiiannm ex leslamenlo viri opiimi de pisteritale bene merentes aediflcandum curaveninl . . . Seguem-se os numes dos coramissarios que executaram as inten(;(\e.s do teslador. -■ Enlre as riiinas do lutindo primitivo, notamos qiia- Iro amoslras jireciosas do mystriosuurvs, reptil que vivia e corria sobre a lerra, uma serie d'insectos encontra- dos no terreno jurassico, fragmentos do squaliodon oii grande ser|>ente inarinha, nito exerajdares natural s da llollanda esui ainda cm cm- briao: cncontram-se porcm, apczar disso, cxemplares curiosos: — a turfa nos sens dif- fcrenios graus de formacao; os scdimentos dos rios dc llollanda e dos mares que banliam as suas coslas; as varicdadcs de camadas enconlradas nos pocos arlesianos as dilTc- renles profundezas da perfuracao; numcrosos fosseis do tcrrcno tcrciario, os mcsraos que se enconlram nos arredoros de Paris, dc Lon- dres e de Bruvcllas. A commissao coni|)Osla dc Ires incmbros, os srs. Van Breda, prcsi- denle, MiqucI e Staring, propOc-sc a publirar unia carta geologica dos I'aizes Baixos. Pclos documentos que ate iioje so tt^m colliido, p6- dc forniar-se ja uma id(5a do que sera esta carta. Arecntas ou argilosas nas regiocs pro- \inias do mar, as terras da Nccrlandia trans- rormam-se em greda do lado da Allcraanha, e era camadas delgadas de carvao de pcdra do lado do Liraburgo. Estcs monumcntos mudos da natureza estao pedindo ser interpretados pelas vistas da commissao e pela historia scientifioa dos factos. Pode dividir-se em trez epochas a forma- cao do solo ncerlandez pela accao das aguas doces: — um periodo anterior a existcncia do Kheno, — outro periodo durante o qual o rio abriu passagem para o mar, — c linalmcnte o ultimo periodo durante o qual eile deu a forma actual a llollanda. Antes da existencia do Rheno, a maior parte dos Paizes Baixos era um mar. Limitado do lado da Allemanlia por uma cadi\i de rochedos, este mar dcixou no sen antigo Icito depositos de conchas quebradas, d'ossos de baltMi, de rhinoceronte c de mammouth, esmi- galliados e quebrados. Estes collossos d'um mundo primitive encontram-se alii a cada passo, 0 mar do norte esla cbcio d'cslas rui- ruinas. 0 que niais admira sobre o theatro d'este oceanodesapparecido, e posto em secco, e a presenfa d'enormes pedacos dc granito e de gneiss, cuja origem hoje e conliecida. En- contram-se eiiectivamenle nas montanlias da Scandinavia as massas d'onde foram desta- cados estes pedafos, ou por assim dizer as suas raizes. Mas perguntar-se-ha, como e que d'alli vierara? Ao que parece, estes quartos de rocha vieram muito provavelmcn- le da Suecia e da Noruega sobre jangadas de gilo. A existcncia d'cstes bancos de gelo via- jantcs nao e uma chimera geologica: ainda hoje OS vemos passeando sobre nossos marcs. Estas ilhas llucluantes, algumas das quaes tt^ra a brancura e o cristalino do assucar, lim sido vistas 'nestes uitimos annos: uma d'ellas chegou mesmo ao Cabo da Boa-Espe- ranca. No tempo em que a llollanda se acha- va ainda dcbaixo d'agua, estcs bancos de gt^lo chcgavam dos mares polares, ou enlao ' cram fragmcnlos ciiormcs das gclciras, que dcsabando do alto das serras da Scandinavia desciam ale ao mar. Os (luartos de rocha cahiam d'envolta com o giMo. Estes fragmen- tos, arrojados pela rapidcz da queda para muito longe do seu assento, viam-se dcpois como levados e accarrctados sobre os cumu- los do g(ilo que em todos os scntidos alra- vessavam o Occano. Encontram-se em niassa estes montoes erraticos; o Mar do Norte cst.i empedrado com elles. E provavel que a maior parte destes fragmcntos, quando a jangada do gilo se dcrretia, naufragasse nos bancos d'ar(ia, e ate mesmo em algumas ilhas baixas, d'onde se elevavam ii flor d'agua, como as pcdras druidicas 'num campo de trigo. Na ejiocba afastada em (]ue nos collocamos, toda essa magestosa niassa das Ardennas, appresentando immensas rugas do nordeste ao sudoeste, se erguia, formando uma mura- Iha cntre este mar antigo e os lagos engros- sados no interior da Allemanha pelo des- aguar dos rios. 0 mar embatia na cad^a das montanhas, as massas erraticas entravam pe- las anfracluosidades d'eslas muralhas, e pa- ravam collando-se as suas paredes como uma pcdra arremcssada pela funda. Um dia (se dias podemos chamar a estas epochas da natureza), ou por que se conimunicasse a impulsao a massa das aguas doces pelos tre- mores de terra, ou porque a forca da gravi- tajao so por si determinasse um conflicto, as Ardennas e suas dependencias foram batidas cm brecha; e os lagos apertados 'num cintu- rao de rochedos sentiram-sc ahalados. 0 obstaculo era gigantesco, mas por fim cedeu, porque os rochedos, que a lingui.gcm dos homens escolheu como termos de comparacao para exprimir a forca de resistencia, cedera sempre na natureza ao poder formidavel e lento das aguas comprimidas. Uma parte das montanhas Ibi arrastada. Este primciro salto do Uhcno (porque era elle) para o mar foi terrivel. A aberlura por onde elle se despe- nhou ainda la esta, visivel, com a bocca aberta: esta abertura, muito mais considcra- vel que o actual Icito do rio, esta mostrando quanta era a niassa d'agua pela qual foi for- fada a barreira priniitiva. Os signaes d'uma quebrada lao prodigiosa ainda se nao apaga- ram no solo ncerlandez: os olhos seguem- nos, por assim, dizcr ate bem longe ; as ruinas da muralha do Rheno foram por anibos os la- dos arrcmcssadas a distancias enormes. As ruinas de brecha imniensa aberta pelo rio servirani para formar provincias inteiras. 0 solo de Gueldre, do Over-Yssel e da ilha de Texel esta juncado de seixos arredondados, nos quaes se rcconheccni os fragmentos de rochas dc basalto, de granito e de porphyro que na Allemanha se enconlram as margcns do rio. Esies Tilocs do reino mineral forani fulrainados pela cxplosao das afiiias. Conio acal)a de ver-se, o Rticno fcz-se a si mesiiio, atravcz d'enonnes cntullios al)riu 0 seu caniinlio tcmpcstuoso que dcvia condu- zil-o a novas forniaroes. E agora que como- famos a saliir da noite das edadcs, que sahi- mos da geologia conjectural para cnlrar na geologia positiva. Em loda a parte os rios dao a pliysionomia aos paizcs que atravcs- sam; esta acjao porera exercida polo curso das aguas em parte alguraa apparcce tao manifesta conio na conliguracao do solo neerlandez. Teni-se dicto quo o Egypto foi uni presente do Nilo ; e, com niais verdade ainda se po- dcria dizer, que a llolianda e um presente do Rheno. Scriamos com tudo injustos se dessemos ao Itlieno todas as lionras d'esla forniacao gcologica. A. lolalidade das aguas correntes do paiz constitue, alraves de mil caprichos, os dois lados de um triangulo que tern por base o Oceano. A terra, coniposta era grande parte das alluviocs accarretadas pelos rios, e que se acha comprehendida en- tre estas linhas d'agua, apresenta por esta forma a ligura ma is ou menos regular da lelra grcga a. A llolianda e um delta do Rheno, do Meuse, e do Escaut. A maior parte dos viajantes tem-se con- ten tado com descrever o estado actual do Rheno; esta porem ainda por abrir uma se- rie d'estudos novos, esta ainda por fazer a hisloria d'estc rio. Acabamos de ver que o Rheno nao existiu sempre; nao e agora o que foi no seu nascimento; a direccao das suas aguas e o nivel do seu Icito tem varia- do desde os tempos historicos. 0 homem co- mo vive pouco, ligura-se-lhe facilmente que 0 natureza nao niuda ; mas aquelie que rc- monta com o pensamento p' lo curso das edades, e que consulla os monunu-ntos de sciencia, nao tarda a rcconbecer que no mun- do physico nao ha formas etornas. 0 curso mesmo dos rios e temporario, provisorio, su- jcito a todas as causas de variacao que in- fluem na economia geral dos continentes. Torna-se necessario conheccr a lei, que pre- side a estas niudancas, para poder cxplicar os acontccimentos que tracaram a forma actual da llolianda. A lei e esta: — ha duas gran- des forcas cm perpetuo antagonismo sobre o nosso globo, OS rios e o mar. A niassa das aguas correntes encontra nas embocaduras a aceao opposla das vagas, das mares e das arfias. Mais que nenhuni outro sitio do globo, tem-se reconhecido que a Hollanda p, desde a sua origem, o theatro d'esla lula da natu- reza; pode ate dizer-se que a existencia do solo neerlandez e devido em grande parte a rivalidade entre o Rheno e o Oceano. De- baixo d'estas considcracOes, a historia d'estc rio merece toda a nossa allenjao, per que estii ligada com a historia physica do paiz que pretcndemos conhecer. Jii acinia demos conta dos obstaculos que reprimiram as aguas; logo que a passagem d'estas se abriu, viu-se conn'car a opposi- cao secular entre o Rheno c o Oceano. No principio foi o rio (jue levou a vantagem; o Oceano rccuou. Todos os geologos sabcm que a forra dos rios c bastante forte para arrojar para os mares os terrenes d'alluviao, que prolongam, ao cabo d'um ccrto numero de seculos, a extremidade dos continentes. 0 solo da Hollanda constituiu-se e estcndcu-sc em virtude d'este mechanismo. Formada das ardas viajantes que o Rheno trazia da Alle- manha, a llolianda, por assim dizermos, llu- ctuou sobre as aguas do rio, ticando por al- guni tempo em suspensao em consequcncia da rapidez torraentosa da corrente, vindo por fim a ser dopositada camada por camada no seio do Oceano que fugiu em retirada. Os progressos do delta nao vieram com tudo a completar-sc senao atravez de immensas reac- coes. As aguas doces e as salgadas disputa- vam entre si alternadamente o terrene que actualmenle e occupado pelas duas mais ricas provincias dos Paizcs Baixos. Mas o rio con- servava uma reconhecida superioridade; fazia recuar o mar: e como tudo parcce indicar- nos, 0 nivel relative da costa e das mares difl'eria entao do que hoje existe. Depois, per uma d'aqucllas voltas que a fortuna costuma dar, e das quaes as proprias forcas da natu- reza nao sao exemptas, o resultado d'esta lula parece, ha dois mil annos para ca, ter-se vi- rado a favor do Oceano. 0 Rheno foi venci- do, e vae arrastando no curso bumilhado das suas aguas o sentimento da sua decadencia. Nao ouvis os seus lamentos? Estcs lamentos, cste murmurio abafado das suas ondas, que se lembram saudosas da sua passada grandeza, tudo isto parece res'entir-se da poesia, mas ao mesmo tempo tem bastante da historia. 0 Rheno, de (|ue tanta vezes fallaram os aucto- res do seculo XVII, acabou, como o reinado de LuizXIV, pela divisao e pela diminuijao. Continua. INSTRUCgJiO PRIMARIA. Rewpowla ao Nr. .t. F, de Cawlilho. iir^^r- f-n ilo Molliodo |iorluguo7, pela Ahao- riariio dos prore»Hoa-eN do reino e iHiaM. Continuado de pag. S82 do IV vol. QUESITO II. Qual dos dous ensinos se perfaz em menos tempo ? Todos sabem que as crianjas com a mesma facilidade, com que receberam de ouvido 8 quaesqucr iinprcssoes, com cgual facilidadc as deixaiu fugir, por isso que estas impres- soes Ihes luio licaram haslanlenuMitc urava- dasna mciuoria. Comprovam esta asserrao, as- sim a iiiesma razao, como tainhem a licao dos philosoplios, oa propria cxpcriencia. Qual(iuer pessoa exercitada no ensiiio coiihece facil- menlc, qtic os discipulos luais difliceis e re- nitcntos em decorar e compreliender, sao, de ordinario, os que por raais tempo conser- vam e relem iia memoria o que uma vez, a ciisto, decoiaram e roiiiprehiMideram : outro tanto nao siiccede commummoiite aos que l(5m memoria feliz. Alem disso, prova egualmenle a cxperien- cia que poucas sao as criancas ensinadas pelo metliodo moderno que, no esparo de do- ze mezes, leem seguidamente cinco ou seis liulias, porque acostumadas ao canto, e a Icr em coro , quando se vem privadas d'este adminiculo, aconlece-lhes o mesmo que aos soldados cm marcha, que, fallando-lhes a musica, pcrdem logo a cadencia, e ate desa- certam o passo; e ate muitas, que tern Iroz aunos de casino, alcm de ja terem dois pelo raelhodo antigo, falham e tropccam na leitura, a cada instante, como foi observado na eschohi d'um asylo (vede a nota 1.'); quan- do, pelo conlrario, sao nuraerosos os disei- pulos, que, ensinados em quatro annos, e alguns em menos, pelo metliodo antigo, con- correm annualmente a exame no lyceu, suf- ficientemente inslruidos nao so em ler, escre- ver, contar, gramraatica e analyse; mas tam- bem nas outras disciplinas, que hoje fazcm parte da instrucffio primaria, e applicando- se ao mesmo tempo a esludos secundarios. Nos mesmos collegios de meninas, onde se professa o raelhodo antigo, ha muitas, que, em egual espaco de tempo, se acham gran- demente habilitadas em ler, escrever, contar, grammatica, analyse, e eleracntos de historia portugueza, alem de se darem simultanea- mente aos estudos proprios do sen sexo, e a outros pertencentes a instruccao secunda- ria. Note-se tambem que se o mestre, que en- sinar pelo metliodo moderno, for deficiente, e pouco zeloso no cxercicio do seu minisle- rio, OS sous dlscipulos necessariamente hao (le atnizar-se, c tcr nicnos progresso, que os discipulos ensinados no mesiuo tempo pelo metliodo antigo, apezar do mestre por esie methodo nao scr muilo habil no desempenho do seu devcr. Noie-se egualmente que nao e o methodo, qualquer que seja, que geralmcnte concor- re para o rapido aproveitamento, e mellior progresso dos que apprendeni; e por niuito bora que elle seja, torna-se moroso, e quasi inulil, se o mestre nao for compeientemente instruido, diligente e cuidadoso na educacao dos seus discipulos. Deduz-se d'aqui, seni a menor conlroversia, que o adianlamcnto dos discipulos depende niuito mais do mestre, que do methodo. \(cresce tambem (jue, so [lor qualquer ac- cidente, o (juc e niui tririal, houver algunia iiiterrupeao no ensino |iclo methodo moderno, 0 discipulo infallivclmente se ha de atrazar muilo mais, e se esquecera raais depressa do i|ue havia apprendido, por isso niesnio que nao linlia as idtias, ja adquiridas, tao impres- sas e cslampadas na memoria, como os que sao ensiiiadiis pelo methodo antigo. Conicdciidd liypiUheticamente que o dis- pulo pelo mclhodo moderno se achasse d'al- guma forma instruido em ler, e.screver e con- tar na edade de sete ou oito annos, pouca vantagem llic resultaria d'aqui, e perdcria em grande parte o que tinha apprendido ; pois nos mostra a experiencia que 'nesta edade a memoria nao csta ainda bastante vigorosa e forlalecida para poder reter por longo tempo, sem 0 auxilio do estudo, os conhecimentos adquirldos, e, monuente, attenta a circum- stancia de screm recebidos com tanta facili- dade. De niuito menos vantagem poderia tambem servir aos (|ue se destinam a outros estudos, porque o progresso 'neslas aulas se- ria assiis diniinulo, visto que 'nesta edade a intelligencia nao se acha ainda bem desenvol- vida, e capaz de se entregar a estudos, que demandaui mais reflexao e seriedade ; e tanto isto e verdade que, em muitas aulas de instruccao secundaria e superior, e precisa certa edade para os estudantes se poderem 'nellas niatricular, com quanto ja estejam habilitados nos estudos preparatorios. Accresce mais que, se o discipulo, prompto na instruccao primaria na edade de sete ou oito anuos, tivesse de esperar, a lim de po- der matiicular-se nas aulas sccundarias, gra- vissimos inconvenientes Ihe resuliariam d'esta demora. Todos sabeni que a memoria neces- sita de ser cultivada, e que esta cullura se consegue com a longa c nao inlerrompida practica de csludar; se o discipulo pois ti- vesse de esperar a edade para poder matri- cular-se 'numa aula secundaria, havia de por forca perder o hahito de csludar e deco- rar, tao custoso de adquirir, o que sobre- maneira Ihe dillicultaria o progresso. Accresce alem d'isso que sendo a escripta e as comas o ipie se torna, geralnienle, mais diliiculloso as criancas, nao seria facilappren- derem a escrever c contar hem e correcta- mcnte no mesmo tempo, em que aprcndc- riara a ler, ainda (juando tivessem mais pro- peiisao para a escripta c coiitas do que para a leitura. Segue-se portanto que os discipu- los, dado 0 caso de apprenderem mais depres- sa a ler pelo methodo moderno, tinham de- pois de gaslar muilo mais tempo no ensino de escrever c contar, em que este methodo, incoulestavelmente, e muilo menos prolicuo 9 do que o antigo; por quanto nas contas, se limita unicaiuente a fazcr conhecer a nunie- racao arabica e roinana, como foi declarado na eschola d'um asylo (Vede a nota 2.'). Accresce niais que sendo hoje a calligra- phia muito necessaria e e\igida no provi- mento de empregos tanlo puhlicos como par- ticulares, os discipulos cnsinados pelo me- thodo moderno nunca podcrao ser bons cal- lygraphos, ainda que para este fim piocu- rasseni depois um mestre capaz ; por quanto OS defeitos e vicios por este methodo contra- hidos seriam mui difficeis de exlirpar. Accresce alem disso que o professor esta obrigado a dar aos seus discipulos nao so a instruccao litteraria, mas tambem a educacao moral. Rloslra a experiencia que o ensino moral e muitas vezes mais difficil do que o litterario. Extinguir maus costumes arraiga- dos na infancia; tornar mansos e doceis os turbulentos; civis, polidos e bem criados os que por desleixo ou incuria dos paes labo- ram em laes vicios ; mudar linalmente a indole, acfoes e porle d'uma crianca, e um trabalho incomportavel, um trabalho, que demanda rigorosamente muito tempo, muita actividade e muitos e bons exemplos da parte do pro- fessor. Segue-se portanto que, concedcndo hypotheticamente (]ue o ensino litterario pe- lo methodo moderno se perfaca no tempo, que 0 seu illustre auclor pretende inculcar, nao e esse tempo suflicicnte para subministrar aos alumnos, em tal edade, o ensino moral, de que a maior parte d'elles tanto carece. A commissao pois, pezando devidamente as razoes allcgadas e demonstradas, entende que 0 ensino pelo methodo portugiiez nao se perfaz em menos tempo que pelo methodo antigo, e que os resultados, obtidos por este methodo, sao mais seguros e permanentes. QUESITO III. Qual dos dous melhodos da fructo mais abun- dante e melhor'/ Este quesito fica em grande parte respon- dido no quesito antecedente ; accresce toda- via 0 seguinte: tendo o methodo moderno sido adoptado ha cinco annos, era este tem- po mais que sulBciente para terem appareci- do fructos abundantes, obtidos no ensino por este methodo, e o seu illustre auctor, que, com bastante energia e actividade, tanto se tem empenhado na del'eza do methodo, teria ja appresentado ao publico uma relacao ou mappa, em que mostrasse com toda a evi- dencia quaes os discipulos, que por raeio d'elle haviam apprendido; e os mesmos pro- fessores d'estas escholas, tanto para louvor e credito seu, como do methodo, tambem ja o teriam feito: mas nada d'isto consta ter accon- tecido, antes, pelo contrario, v6-se que a maior parte das escholas se tem fechado, c que d'algumas, ainda cxistentcs, umas o tem alterado, afastando-se mais ou menos das suas regras, e oulras muito pouco se hao approvei- tado d'elle. Comprova esta verdade, por excm- plo, a eschola do regimento de inl'antaria n.° 10, uma das melhores escholas do exercilo, e que lanta honra da ao seu illustrado pro- fessor. 'Nesta eschola apenas se emprega o methodo moderno na decomposicao das pala- vras por elementos, e syllabas, e quanto ao mais e inteiramente abandonado, pois que, segundo a opiniao do seu professor, e o que elle, em ollicio de 22 de fevereiro de 1831, ja levou ao conhecimento de v. ex.', o canto e as palmadas, acompanbadas quasi serapre de gesticularoes pouco agradaveis, tornara o methodo inelKcaz e irrisorio. Outros muitos exemplos poderiam appresentar-se, como os da eschola de Setubal, de Castello-Branco, e do centre industrial do Porto. Todas estas escholas foram creadas para se ensinar 'nel- las pelo methodo moderno, e de todas, pas- sados mezes, foi expulso, pelas razoes expen- didas, e por outras, que a commissao tera de indicar em resposta a outros quesitos. Ainda ha muitos mais exemplos; mas escusado e consumir tempo com o que de todos e bem conhecido. Nas mesmas escholas dos Asylos se tem notado, que o methodo nao e empregado tao genuinamente, como o seu illustre auctor requer, e torna indispensavel, o que de certo modoconlirma, ou que os resultados napractica nao sao de tanta vantagem, como na theoria se affiguram, ou que oulras causas assas ponderosas se oppoem a que o methodo seja adoptado rigorosamente e sem alguraas raodi- ficacoes. Note-se tambem que os resultados do me- thodo moderno nao sao de tanta proficuida- de, nem tao rapidos, como se pretende in- culcar; por quanto, alem das razoes aponla- das na resposta ao 2.° quesito, no proprio Asylo da rua dos Calafates, com que se tem feito demasiado arruido, se conheceu cerla rcpugnancia na mestra d'esta eschola em consentir que as raeninas lessem individual- menle, e em satisfazer a varias pergunlas, feitas por pessoa, que ahi se dirigiu com o unico proposito de formar na practica um juizo consciencioso e imparcial acerca do methodo. (Vede a nota 2.") Accresce alem d'isto que, tendo o illustre auctor do methodo estabelecido 'nesta cidade um collegio, onde este se professava genui- namente e cm toda a sua pureza, poucos ou nenbuns fructos appareceram obtidos no en- sino pelo methodo, apezar do grande desvelo e esforcos, que o seu professor, necessaria- mente, havia de empregar, afim de colher os bons e abundantes resultados, de que tanto carecia para o acredilafj e mesmo para o 10 defender d'alpiima opposirao, que de fuluro se Ihe podeiia I'azer. Acoutpcou pois, contra a especlativa do toda a genlo, nao poder c*uservar-se o colk-gio, o que prova com toda a evidencia e sem a menor contradic^ao, que OS resullados, alcanrados pcio mcthodo, que a praclica approscniava, nao correspondiani de maucira alguma aos grandes resullados, que 0 seu illustre auctor coucebera e incul- cara na tlii-oria. Note-se egualmonte que as provas c os fa- des, conforme a boa logica, sao senipie os raclliores e niais fortes argumentos, que uos levam ao conbecimento da verdade. No longo espafo de cinco aunos, cm que o methodo tem sido ado|>lado cm alguiuas escbolas, e pouco menos, nos asylos da infancia desvali- da, jii se teriam dado muitas provas e faclos, que mosirassem clara e disiinctamente os bons e abundantes rcsultados, obtidos pclo methodo, e que estes fosscra tao authenticos, tao iuconteslaveis e tao notorios que nao dei- xasscm a menor duvida sobre a sua veraci- dade. Nao tcndo portanto apparecido, ate ao presentc, provas e factos, que attestem evi- dentemente os bons e abundantes resultados, conseguidos pelo metbodo moderno, ao passo que diariamente, e com especialidade na epo- cha dos exames apparerem bons c rentenares de resultados, obtidos no onsino pclo metho- do antigo, a commissao, attcndcndo sobre tiido a esta cirtumstanria, que julga de bastantc peso, e que nao pode scr despreza- (la, V de parecer que este methodo apprescnta frucio niais abundante e nielbor do que o moderno. Cotilinua. ASTRONOMIA NAUTICA. Na sessfio da academia das sciencias de Paris de 10 de inar(;o s,io sobre a carta de M. Wils Brown, na qtial se indica- va urn tiovo methodo para o calculo das dis- tancias hmarcs obscrvadas no mar. ,j . fas alluras verdadeiras ' ' (_ do sol e da liia, ^, J ] ,,, ,, t as alturas apparenles Cbamando <( //', h',< i. , j ' , J ' id estes dois aslros, p. p-i fas suas distancias, ver- ' '\ dadeiraeapparenle, a formula, que facilmente se verifica, e eoiD = cos(H—h) — secHiech cosh' cos li'lcoi{H'— IF)— cos D>] = coi(H—h) — N. Para calcular commodainente esta formula procurara-se em uma laboa de cosenos na- turaes cos (//' — /('), cos D', cos (// — h), arc [cos = cos (// — h) — N]; e nas taboas de logaritbinob das linbas Irigononielricas log [cos (H' — h')~ cos D'], log cos H', log cos h', c. log cos H, c. log cos h, N. A commissao, acliando vantajoso este me- tbodo, lamenta nao enconlrar, nasbibliotbecas do Instituto e do deposito das cartas da ma- rinba, tabnas que deem os senos naturaes de 10" em 10"; e, siippondo que em Inglaterra existem estas taboas, propoe a reimpress.'io d'ellas, ou a coiistruc^ao d'outras. Agora diremos, que em urn opusculo do ilKl^tre matliematico portuguez o sr. Francisco de Paula Travassos, impresso no anno dc 1805 com o titiilo de =i JMelhodo de reducgao das distancias observadas no calculo das lon- gitudes=, depois de examinados a luz d'uma clara analyse os methodos cbamados das al- turas e de Bordii, se le a paginas 28 a for- mula fundamental d'um proposto pelo auc- tor, que, usando da notayao precedeute, e cos D = cos (// — h) ■ cos(tf'+/i') + cos(g' — /i') "cos {H 4- li) + co> {H — h) [cos (/y — /i') — cos D']. Esta formula e a mesma de que usa o auctor inglez, pondo - [cos {H' + h' )+cos ( H' — h')] e -[cos (H+h)-}- cos (// — h)] em logar de de cos H' cos h' e cos H cos k ; transforma^ao que o sr. Travassos fez certamente por julgar preferivel ao uso simnllaneo das taboas de cosenos naturaes e de logaritbmos o da pri- me! ra, com a addiyao d'uma pequena taboa de factores que serve para converter a divisao por cos (//-I- /))-{- cos (7/ — h) em multiplica- 1 ^"^ P'*' co= (i/ + h)+ COS {H—hy Pcla analyse d'este raetlmdo, que se le a paginas .33 e seguintes, o sr. Travassos mostra, que elle e nao so tao seguro e exacto como o de Bordfi, mas ainda mais simples e menos snjeito a erros na practice. No tnesmo opusculo acha-se a desejada laboa de cosenos naturaes, ate a scxta casa decimal, para todo o quadrante, nao so de 10" em 10", mas ate de segundo em segundo por meio de pequenas taboas de partes pro- porcionaes collocadas no fundo de cada pa- gina. jNao intentamos Iractar aqui da materia a que se referem os escriptos mencionados : moveu-nos porem a dar esta succinta noticia II o desejo de ver reparadas ommissoes involun- taiias, que parecem piovir dc ser povico co- nliecida nos paizes estrarigeiros a lingua por- tugueza ; porqiie sem ellas os traballios de muitos sabios, de veneranda niemoiia, teriaiii alii feilo avullar mais a leputa^ao scienlifica da nossa palria. No caso actual leria o me- tliodo do sr. Travassos augiiientado ulilmeiite o numero dos qup dao a distancia verdadeiia por meio da appareiile, dos quaes se podever uma breve inforinacjao no Essai sur Ics instru- ments et sur les tables de navigation de AJ. Richard. Coimbra, 9 d'abril de 1856. S. P. TELEGRAPHIA ELECTRICA. Continuado de pag^. 142 do TV vol. V. Telegrnplws Americanos. Os apparelhos do systema francez e ingiez, que tenios mencionado, serveni soraente para repetir e iransmittir certos e determinados signaes ou iudicar lelras, sem deixar d'ellas vestigio alguin. 0 telegrapho de Morse , geralmente usado nos Estado-i Unidos da America, e que por isso se chama telegrapho americano, dillere dos an- lecedentes , era que os signaes transmittidos sao ao mesmo tempo reproduzidos graphica- mente sobre urn papel, de mancira que pos- sam Jer-se. Este systema atlia-sc ja em voga na Allemanha, e mesmo era Franca c practica- mente conhecido. Data de 1838 a invencao do telegrapho de Morse. « Se , dizia elle , por uma cerla com- binacao posso dar a alavanca um movimento de vaivem , que de uma estaeao ii outra se repete ate ao extremo da linlia com lal exa- clidao, que lodos os moviraentos da alavanca em Paris, por excmpio, se reproduzem quasi instantemente sem a menor discrepancia em Ruao , por que nao porei uma penna na ex- tremidade da mesma alavanca? por que nao sera esta penna molhada em linta? por que a cada impulso da alavanca nao se hade Iracar um risco com essa penna? » Na descripcao d'este apparelho feita a aca- demia real das sciencias dizia-se : « uma das extremidades d'uma pequena alavanca esta ligada a um apparelho electro-magnetico ; na outra existc uma penna, debaixo da qual pas- sava por meio de um ccrlo numero de rodas uma tira dc papel, que se move a vontade do operador. » E evidente, que, podendo este systema de rodas variar muito, a tira de papel pode tambeni ter um movimento circular con- linuo, ourectilineo de vaivem, ouambos estes niovimentos corabinados, e assim a penna tra- carii sobre o papel pontes, liiihas reclas , ou inclinadas , segundo a corrente electrica for mais ou menos rapidamente interrompida , e conlorme o movimento que se dcr ao rolo de papel. 0 apparelho , porem , de Morse e mui simples em sous movimentos ; o rolo de papel gira unilormemente, e a penna trafa pontes, ou linhas rectas interrompidas, que se charaam pontinhadas. Se se toma um ponto como representando a letra A, e dois ponlos a letra B etc., facil- meute podera por este meio estabelecer-se uma correspondencia enlre duas dilTerentes estacoes. A letra Z devera, porem, ser re- presentada por vinle e cinco pontes, o que tornaria morosa a transmissao dos despachos ou correspondencias telegraphicas; para evitar estes endtaracos , Morse empregara pontes e linhas rectas alternativamente, com que desi- gnavam letras, e ate palavras inteiras, for- mando d'este mode uma especie de tachygra- phia. Assim, por exemplo, um ponto significa A, dois pontes B, tres C, e seguidameute as mais letras ale F, que seria reprcsentado por seis pontes ; o G por um risco seguido de um ponto : II por um risco e dois pontos, e assim as outras letras ate L , que se escrevera com um risco e seis pontos : o M sera reprcsen- tado por um risco precedido de um ponto ; o N por um risco precedido de dois ponlos , e assim as outras letras ate R, que sc escrevera com um risco precedido de seis pontos ; o S com um ponto enlre dois riscos ; o T com dois pontos enlre dois riscos etc. Este mcthodo , porem , offcrece graves dif- ficuldades, e uma grande perda de tempo na soparacao das letras para se confundirem ; alem disto e precisa muila praclica para poder decifrar os signaes que a penna traca sobre 0 papel. A penna substiluiu-se um pincel, que se suppunha desenhar melhor os signaes; mas esle , passado algura tempo , nao podia servir, e passou-se por isso a usar de lapis; que todavia tinha tambem o inconveniente de ser necessario aparal-o repelidas vezcs , 0 que fazia eslorvo a indispensavel rapidez das communicacoes, e por isso se adoptou de- linilivamenle em logar de lodos estes diversos meios que temos indicado, um ponteiro d'aco, que em consequencia dos impulses mais ou menos prolongados, que rcecbia do apparelho eleclro-motor iracava sobre o papel, chimica- menle preparado, pontos ou riscos. 0 ponteiro d'afo, porem, que serve de pen- na 'neste apparelho para tracar sobre o papel OS diflerentes signaes, carcce, para movcr-se, de uma lorca maior, que a de um simples eleclro-magnete, que a grandes distancias era insufficienle para iraprimir ao ponteiro o ne- cessario movimento de vaivem. Para obviar a este inconveniente Morse empregava um segundo eleclro-magnete, que servia de roul- 12 tiplicador e que obrava tambem romo forfa para fazer mover o ponteiro. Arago , (iescrcvcndo eslc apparelho 'numa sessao da acadi'iuia real das sriencias de Paris, explirava-se assim : u Supponhamos que na estaf ao , que devc recebcr o despacho, on communicafao tele- graphica oxislc unia longa lira de papcl, que pode movor-sc enlre dois rilindros por uma Ibrva meclianica ; a pcra de ferro, que suces- sivamenle devc ser niagnelisada e nao magne- lisada, esia colloiada a cima do papel, e pelo seu movinuMilo de vaivem faz girar um piiiiel ou penna. Quando a correnle passa , a pera dc ferro magnctisada e attraliida por uma luassa de ferro , que esta lirme , o que a faz halan^ar, e d'este modo o pincel toia o papel: .se a correnle c instantanea, o pincel Iraca um ponto someute ; se a correnle conliniia por algum tempo niais, o pincel tracara um risco de um certo comprimenlo sobre o papcl, que vai passando enlre os cyjindros. Por este meio pode fazer-se escrever a cem leguas de dislancia sobre o papel collocado na estacao um ou mais pontes seguidamente , ou um ponlo enlre dois riscos, ou vice versa, e con- stiluir com estes mui variados elementos sig- naes, como ja notamos. » Mr. Froment aperfeifoou o apparelho de Morse com grande vanlageni, eoseu systema e sem duvida muilo superior ao primitiva- mcnte usado. No apparelho de Morse, que ja menciona- mos, OS signaes , que represenlani as letras , nao sao separados, e e nao menos diflicil lel-os, que escrevel-os, porque o lapis, ou o ponteiro do ferro gasla-se, ou erabota-se, e traja por isso mal os pontes ou riscos. Para rcmediar estes inconvenientes, Fro- ment por um mechanismo especial faz com que 0 lapis se va aparando ao mesmo passo, que traca sobre o papel os signaes , que re- presenlani as lelras, e que fleam sempre, pela construccao d'aquelle machinismo , dislincta- mente separados uns dos outros para se poderem distinguir claramente. No apparelho de Fro- ment 0 lapis traca linhas perpendiculares, que podem contar-se facilmente e traduzir-se em algarismos ; e signilicando estes por con- veuf ao , certas letras , p6de-se construir com elles palavras, phrases, e Hnalmenle despachos -. OS riscos podem ser mais ou menos inclinados, e haver entre dies espacos maiores ou me- nores, segundo a intensidade e duracao da corrente eleclro-magnetica pozer alternativa- mente em movimcnlo a alavanca, em cuja extremidade exisle o lapis. Da rapidez d'esles raovimenlos depende o maior ou menor nu- raero de riscos tracados sobre o papel e por consequencia de algarismos, que correspon- dem as lelras, ou palavras, podendo por isso vanar a vontade os signaes, com que se escrcve, e guardar-se assim melhor o stgredo das cor- respondencias tanlo da parte do empregado (lue transmitte um despacho , como d'aquelle que 0 recebe, e o guarda no archive com o numcro e data, em que for transraitlido. Com um lio so o ap|)arclhn de Froment tra- balha com du|)la velocidade do lelegrapho Breguel, que cmprega dois fios, e dois ap- [larclhos. Entre nos, porem, ainda se nao adoptou o systema de Froment como convinha, e a nossa prinieira linha dc telcgraphia electrica , que ja chega quasi a Cintra , e corre tambem ja alcm dc S." Apolonia e de dois lies, e duplo apparelho. Conlinua. NOTICIAS LITTERARIAS. EsladiHlica dot* ramlnhoN de ferro em liiKlalerra. 'Numa das ultimas scssues do Inslilulo dos engcnheiros civis de Londres, M. Stephenson aprescnlou os seguinlcs e mui interessanles dados esladislicos sobre os caminhos de ferro inglezcs. « Existem em Inglaterra 8,054 milhas de caminhos de ferro completamente promptas: eslen- dida 'numa so linha, esta immensa rede de rails podia formar um cinto completo cm roda do globo. A despesa fcita com estes mesmos caminhos de ferro foi de 280 milhoes de libras sterlinas. « Os caminhos sublerraneos {tunnels) atraves- sam uma cxtensao de 60 milhas. « As obras feitas de terra correspondem a 502.810,000 metros, e formariam uma pyramide de milha e meia de altiira (perlo de 503 milhoes de metros cubicos) ; cuja base scria mais larga, que 0 parque de S. James. Os trens nos caminhos de ferro percorrem annualmente 80,000 milhoes de milhas. Este servico e feilo por 5,000 locomo- livas, e 150,000 wagons, « Annualmente consomem-se dois milhoes de toneladas dc carvao, de sorte que em cada minuto qiiatro toneladas de carvao vaporisam vintc d'agua. Empregam-se por anno em reparos 20,000 tone- ladas de ferro ; e 300,000 arvores para engrada- mentos ; 'nestes servicos empregam-se dirccla- mente 90,000 homens, e 40,000 em trabalhos auxiliares. n Estes 130,000 homens com suas mulheres e filhos representam uma populacao de 500,000 almas, de modo que pode dizer-se, que em Ingla- terra em relacao a totalidade da sua populacao, 1 sobre 50 depende dos caminhos de ferro. Em 1834, 111 milhoes de viajanles transitaram nos caminhos de ferro britanicos, e cada viajanle andou, termo-medio, 12 ^ milhas. II O rendimento d'estes caminhos de ferro foi no dido anno de 20.215,000 libras sterlinas. Os desastres occorridos nas locomolivas foram, por termo-medio, de 1 sobre 7.195,343 viajanles. Pag. Col 248 a.* ERRATA DO N." 19 DO IV VOL Lin. Erro Emendo buleado ® 3n0titttta^ JOR-^AL SCIETN'TSFICO K L1TT5':EJAR10. RELATORiO cto ixEiiaiiinMi'ntivn eOo FancEiali Vi>i '49 (le oiilubro dc as:iG. Conlimiado de S. SECCAO SEGUNDA. Esiadn presente das esclinlas nao visiladas 'neste semestre. Das cscholas ainda nao visitadas, uma ha piiblica, — oulias municipaes — e outras par- ticulares. D'aqiii a subdivisao d'csta secrao nos Irez seguintes artigos. ARTU;0 PRIMEIBO. Eschola jniblica. \ unica eschola piiblica quo nao visilci, e provavclnu'Ute nao podcrei visilar este an- no, e a da villa do Porlo Sanclo. E sede d'csta eschola uma iiha a nord'este da Madeira, e d'csta scjjarada por uni braco de mar de onze legiias de largo. A commiini- cacao entre as duas illias f'az-se por meio de barcos de poupa abcrla, com grave risco dos marcantes , porque na travcssa os mares aiidam rcvollos, no verao principalmcnle, por causa de coiitinuadas brisas. Eis-aqui a razao por que ainda nao fui verificar por meus olhos as inforniacOes que lenbo desta eschola, c sao as seguintes. Em consequencia da demissao, que da ca- dcira d'clla dera Joao de Sanct'Anna e Vas- concellos Junior, nomcci para inlerinamente a reger a Joao Balbino Gomes, cura da pa- rochia, ja porque o ex-professor m'o projiozera para o substiluir na occasiao de impedimento por molcstia, ja por ter clle titulo vitalicio de capacidade desde que tevc a cadeira da eschola piiblica de Machico. Confesso porcm que, so cntao tivesse as inforniaroes que ora tenho , licerca da niui duvidosa moralidade d'este clerigo , teria commettido a oulrcm a rcgcncia interina da cadeira, ou, a mingua de melhor substitute, icria deixado licar fecha- VoL. V. Adril 15- da a eschola ; porque, coino diz M. Cousin, « nenhuma eschola 'num concclho , e um in- convenicnle ; mas uma eschola md, e uma ca- lumidfide. > Esta 6 a conta em que tenho a eschola, cujo professor tern o habito da em- briagucz. Por duas vczes tein estado a concurso a cadeira d'esla eschola; c ninguem a Icin pretendido: — porque? Sera porque a terra c ma, por doentia, pobre e miseravel, prin- cipalmentc depois da molestia das vinhas? — Nao, ex."'" sr. ; a principal razao e porque esta muito mal retribuida a cadeira d'csta eschola. Pcssoa alguma , que alguma cousa valha para dar prova piiblica de proficiencia para o magisterio, tern a tentacao de expa- triar-se da JIadeira para ir ganhar no Porto Sancto a insignilicante mensalidade de reis 6^195 liquidos. Acham-se prescntementematriculados 'nesta eschola 29 alumnos, que o professor tem dis- tribuido cm trez classes em relacao a cada um dos ramos de instruccao primaria. Nao posso devidaniente aprcciar o merito d'esta classilicacao. Vejoque o professor lomou como modello para o mappa de frequencia, um livro de registo que Ihc eu reinettcra para a ma- tricula da eschola. Consta-me que no ponlo de vista material, a eschola esta em bom estado. A sala lem suflicicnte capacidade, c esta bem provida do mobilia e utcnsilios escholares, — gracas a ponctualidade da caraara, que a este respei- to e exemplar. AnilGO SEGl'NDO. Escholas municipaes. As escholas municipaes que deixci de visi- tar pelo motivo apoiitado , sao — novo da camara municipal do Funchal, — uma da de camara de Lobos, no Estreito de N. Senhora da Graca, — e outra da caraara da Ponta do Sol, da freguezia da liibeira Brava. §. 1.° Na frequ'_>zia de S. Goncalo tem a camara do Funchal uma eschola de meninos, que ora esta em muito mau estado. 0 mappa de frequencia appresenta matri- culados 62 alumnos ; mas inforraafoes lide- dignas me authorisara a dizcr que 'nesta cifra 1850. NcM. 2. 1 ha exaggcrartfo. A rioqucncia e lao misoravel, que ha dias em que nao concorrem a scssao mais de dois ou trez alumnos. Qual seria a razao dislo? I'or iiin lado e a supina iui-apacidade liltcraiia do professor, Antonio Rodrigues do Espirito Sanoto, que esla habilitado. I'or oulro e o poiico inlciesse que a camara lonui pelo l)oni renimen das suas escholas. Ha Irez annos que niio iiianda prn- ceder a exames. Os regulanieiitos d'eslo ranio de servieo niunieipal sao excellenles ; mas falta na camara (luom vigie pela execurao d'elles : d'aqui o alrazo cm que se ora acham as escholas do municipio. §. 2.° No silio da egrcja da mesma fie- guezia lem a camara unia oschola de meninas, cuja mestra (habilitada) e Domingas Candida Rodrigues. Frequenlaram esta cschola o" alumnas ; das quaes — saliiram ti com o curso comple- lo, — e ficaram exisiiudo 42 no lim do anno leclivo. §. 3.° No silio de Louros da niesnia fre- guezia ha oulra eschola de meninas , cuja mestra e Thereza Barbara Nunes de Freitas, habilitada para o magisterio particular. Esta sendo mui frciiuentada esla eschola. Teve niatriculadas lO'.l alumnas; das quaes — sahirara 8 com o cnrso completo, e licaram existindo no lim do anno 81. A mestra, que de si tem sulTiciente aptidao, e coadjuvada pelo marido na direccao da parte litteraria do ensino ; e, como ambos precisam niuito dos proventos da cadeira , lem muito zfilo pelos progresses das alumnas; e eis-aqui a razao de lao boa frequcncia. §. i.° Tiburcio Antonio dos Rcis, habili- tado para o magisterio particular , tem no silio da Pedra Molle, da freguczia do Monte, eschola primaria pela camara municipal. Se e mais habil que Antonio Rodrigues do Espirito Sancto, e de menos severos costumes que os d'ellc ; nao tem zelo algura pelo adianlamen- 10 dos alumnos. Segundo o mappa appresentado pelo pro- fessor, frequenlaram esta eschola 03 alumnos; dos quaes — ii formavam a primeira classe, — 10 a segunda, — 11 a Icrceira, — e 2i a ([uarta. Nao sei qual o principio fundamental (i'esta classilicacao .... Nao e provavel que 0 alumno que e membro da primeira classe de escripta, o seja tambem da primeira de leitura, — da primeira de arithmetica, — da primeira de hisloria, etc. Tanto esta classilica- cao, como a cifra da freguczia , parece-me nao merecerem conlianca. Sei por informa- coes lidedignas que o iiumero dos alumnos e muito menor. §. 5.° No sitio da Egreja, da mesma fre- guczia, tem a camara uma eschola de me- ninas, cuja mestra (habilitada) e Maria Bem- vinda da Conceicao. Esta cschola teve matriculadas 08 meninas; mas a frequeiuia diaria nunca passou de ;}(( A mestra e habil, tem z(^lo pelo progresso das discipulas ; mas o eusino resente-se da falta dos estimulos (|ue oulr'ora tiveram as escholas da camara. yuandi) a camara niandava fazcr examcs annuacs, distribuir premios, dar livros e mais utensilios escholares, e sobre ludo fazer visitas de inspeccao mui I'reciuentes, rara era a escho- la municipal que nao fosse uma eschola-mo- dcki. lloje porem a decadencia de todas e progressiva. *?. 6.° Maria de Freitas (habilitada) e mestra d'outra eschola de meninas, (jue tem a camara municipal 'nesla freguczia. Visitei osta eschola uo semeslre passado , c observei que 'nesla , como em quasi todas as escholas de meninas, o ensino industrial avantaja-se muito ao litlerario. (>s paes mais querem (pie as alumnas saibam cozer , mar- car, bordar, fazer meia etc. do que ler, escre- ver, conlar, etc. E como esla prcoccupacaovai d'accordo com a maior conveniencia da mestra, cura esta mais de adesirar as maos, que de ciillivar a intelligencia c o coracao das alu- mnas. A malricula d'esta eschola foi de 73 alu- mnas, mas a frequcncia diaria muito inferior a cste numero. A mestra e das mais presta- veis que tem a camara. §. 7.° Na freguczia de S. Roque, sitio da Egreja, tem o municipio uma eschola, cujo professor e Manuel All'onso, habilitado para 0 magisterio particular. Uesde que a camara tem escholas, esta ha scmpre sido e ainda e a melhor ; porque, alem de ser o professor o mais habil dos pro- fessores municipaes, e vantajosamente coadju- vado pelo parocho da freguczia , o qual em- penha, em prol dafrequencia da eschola, todos iiuantos meios de suasao tem ao seu alcauce. De 74 alumnos que frequenlaram este anno, licaram existindo no fim d'agosto 44 ; por- que, afora outros que deixaram a cschola. sahiram 20 em razao d'a camara ter suppri- niido a seccao nocturna. §. 8.° No silio do Calhau, da mesma fre- guczia, tem a camara uma eschola de me- ninas , cuja mestra (habilitada) e Thereza Maria da Silva. Esla e uma das mclhores escholas munici- paes. Frequcntaram-na este anno 108 alu- mnas, das quaes — licaram existindo no lim d'agosto 91), — e sahiram com o curso aca- bado '3. A mestra tem assaz de aptidao para o ma- gisterio. E como por oulro lado, de pobre que e, precise muito do honorario, faz (juanto pode para conservar a eschola cm bom eslado de frequcncia e disci plina. Uavia nesla freguczia mais oulra cschola de meninas, cuja mestra era Josephina da Silva Trindade. Mas, como a mdstra largasse 15 a padeira para sahii' da terra, a camara sup- primiu a cschola. §. 9.° Na freguczia dc S. Martinhn, sitio da Terra dos Allios, teni a camara uiiui es(:ho- ia dc nicninas, ciija inestra e uma pobre vcllia, inhabil c iiao habililada, por iiome Joanna Maria de Bittencoiirt. Esta escliola esta mal. 0 (|iie niais sc 'nolla ensina sao Iraballios d'agullia. A incapacida- de da mcstra, e a falla de inspeceao da parte da eamara tern aberto larga porta a negligen- cia e aos abuses. Nao sei qual foi a frequencia d'esta escho- la , porqiie a niestra ainda me nao enviou o respeclivo inappa. §. 10.° A camara da villa da Ponta do Sol ainda conserva na freguczia da Uibeira Brava uma eschola dc meninas. Quando audei visitando as escholas, passei por esta frcgiiezia. Mas, como la clicgassc 'num sabbado a tarde , a tempo que as alii- ninas jii tiiiham saliido, nao visile! esta escho- la; so obtive accrca d'eila os seguintes escla- recimentos. Carlota Adelaide Camacho tem , desde 17 d'agosto de 1833, a cadeira d'eila, com o ordenado de rs. 48.^000, alrazado 19 mezes. Nao esta habilitada ; mas ensina mui soll'ri- velmente a ler, escrever, contar, doutrina christa e trabalhos d'agulha. A povoacao esta satisfeita com o servico d'eila. §. 1!.° Em fim, a camara de Camara de Lobos tem no estrcito de N. Senbora da Graca uma cschola de raeninos, que niSo visitei por me desviar demasiado do men itincrario. 0 professor, que e ,Iose Francisco de Barros, (nao habilitado) tern a cadeira desde dezeni- bro de 1840. com o ordenado de rs. 120^000 per annum. E [lessoa de prestirao, porque teve bons esludos secundarios. A eschola foi frequentada por 01 meninos. ARTIGO TEllCEinO. Escholas parliculares. Para nao enfadar mais a V. Ex.', nao tractarei de cada uma d'eslas individual- mente. 0 que houver de privativo a cada uma, rcioril-o-hei no mappa estadistico, que acompanha o presente relatorio. A<[ui , so consignarei qualquer observacao, que se me antoihe de mais alguma importancia em rela- cao a uma ou outra. Das vinle e duas escholas particulares que ha 'neste districto, a mclhorde todas e, como ja live a honra de dizer no relatorio do se- raestre passado, a deAnguslo Francisco Correa, e Julio da Silva Carvalho. Um facto recente acaba defirmar-me ainda mais 'nesta opiniao. Foram examinados no lim do anno lectivo 18 alumnos de ensino primario para passarem ao secundario. Mctade do numero d'estes , sahiii d'aquella cschola. Isto depoe alguma cousa em favor da attenciio quo prestam os proiVssores ao adiantamcnto dos alumnos. A eschola de meninas, de Adelaide Amelia Pereira, ainda continiia em bom estado de fre(|uencia c tirocinio. Mas em dias de junho iilti[no abriu-se outra eschola da mesma clas- se , que em breve ha dc avantajar-se niuilo ;iiiuella : porque, alem de fundada em mellior [llano, c dirigida por duas scnlioras, uma das quaes principalniente o muito babil. Reliro-me a cschola <|ue vai designada no mappa como emprcsa particular de D. Helena Tclles de Sanct'Anna. Apezar do pouco tempo dc exercicio que tem esta eschola, ja conta 38 alumnos, — 8 meninos, — e 30 meninas. Ensinam-se 'nella todas as malerias do primeiro grau d'instruc- cao primaria , todos os trabalhos d'agulha e preudas proprias do sexo, e mais a lingua ingleza. A principal mestra tem muito bora melliodo ; nao se contenta com cstudos de memoria, cultiva a intclligencia das alumnr.s. Visto que d'estas uraas sao catholicas e outras protestantes , tem para ellas duas classes de ensino religiose, e da seria attencao a cultura d'este rame de instruccao primaria. Esta tra- ctando de habilitar-se para omagisterio; d'en- tre cm pouco fara exame. Ilavia no semestre passado crescido numero de escholas eleuientares , de meninas princi- palniente, subsidiadas por cstrangeiros, cujos professores e mestras nao tinham habilitacoes legaes. Estas escholas fecharam-so; porque os cstrangeiros, regressande na primavera ao sen paiz, suspenderam os subsidies com que contribuiam para tacs escholas. Pode scr que tambcm tenha contribuido para estc resultado as diligencias que tenhe feite para compellir todos OS professores parliculares a se habilita- rem. Os que se esquivara as exigencias da lei tem por ventura consciencia de sua in- capacidaile. Com fecharem as escholas fazem a socicdade um service; porque, — torno a dizer, — antes nenhuma eschola, que uma eschola ma. Em legar das escholas que se fecharam, outras se tem aberto, tambem elementares. Enlrc estas farci especial mencao das que vao dcsignadas no mappa come empresas de Maria Candida dos Reis , e Gerniana Guilhermina Valeria. Sao medestos estabelecimentes de instruccao elementar, onde se cnsinam, per medico prece, as lilhas de piles menos abasta- des, as disciplinas de ler, escrever, coutar e trabalhos d'agulha. Nao fccharci cste artigo, sem corarauni- car a V. Ex.' uma boa nova : — e que esta fazendo mui relevante service a pevoa- fao da freguczia dos Canhas , a cxcellentis- sima D. Carolina de Franca Netto, com o estabelecimento de uma eschola dommgueira para o ensino da doutrina christa as adultas. 16 0 eslabelecimeuto, que ja dura lui urn anno, tern admiravelmciUe prosperailo di'haivo da inlelligenle p pliilantropica dircocao de pcs- soa lao compelenlc. Conla iinuis tiO aliimiias, que por ora su aprendpm os rudimonlos do catholicismo, mas, lof;o que eslejam lortcs iiesla [larle do tirocinio, dar-lties-lia a lione- vola direclora conliccinu'iito das priniciras Icttras. So o govcrno dp S. M. houvesse por hi'ui gratilicar com unia palavra do louvor lao descomnuinal deditarao , pode ser que esia iiao licassc lomo cxcmpio uiiico e solila- rio eulre iios. Devo acerescenlar que esta se- nhoia e uiana do outra, que coutrihuira para a suliscripcao das escholas com a quantia de rs. 4 0^0 II 0. Contiiiua. 0 ENSINO DAS LINGUAS. 0 programma dos cstudos da instruccao secundaria 'nesta nossa terra e muito inlVrior, aiada liojc , ao de povos , que forani adianle de nos na cultura das letras, nao obstaute a reforraa , e mellioramentos alcancados pola instruccao piiblica nos viiite annos ultima- mente decorridos. E defectivo o piano de estudos. 0 alunino adquire niais conliecinicntos do passado, que do nuindo que o ccrca. Nao se habilita sulli- tientemenle a satisfazer as necessidades da \ida prescnte, c antever as do future. 0 ad- ditamento dos estudos da historia natural dos trez reinos ao quadro dos estudos classicos loi um mellioramento importante; e sera de seria ulilidadc quando o ensino lor mais prac- tice , mais no ponto de vista artistico , qual convcm a instruccao secundaria, deslinada principalmente a educacao das classes niedias. Cumpre lodavia clevar ainda o nivel do ensino, alargar-lhe a csphera com o desciivolvimenlo dos ramos industriaes. Mas com ser limitado ainda o campo dos estudos classicos, nao e cgualmenle o tempo, que consome esse ramo de instruccao. U estudo das lingnas , mormentc do latim , c grego, absorve a raaior e mellior parte da epoclia do apprendizado. Emquanlo as nacoes niais eivilisadas sc tern occupado, e occupam do estudo dos me- tbodos ([ue facilitam e amenisam o estudo; quando as sabias paginas de Rollin, Rousseau, c Kant sao traduzidas em factos, e modilica- das pela licao da experiencia ; no seculo em que as exposicoes piiblicas vera excitar a at- lencao e a emulacao dos homcns, ([ue, pcne- trados da sua niissao social, procuram fazer nielhor a gcracao , que Ihes bade succeder ; e OS congresses litlerarios disculem as van- tagens dos meies de comniunicaT aos cducan- dos OS conhccimcntos legados por nossos an- tccessores, e os adquiridos por sous estudos, e esfori-os; nos (lorfa e dizel-o) babituados a riilina, presos por forca de liabilo aos me- Ibodos da mcia edade, rcs|ii'itadores dos pre- ceitos e regras do collegio (Iregoriane de Roma, temos eslado csUuionarins ; c impas- siveis vemos passar adianle |)ovos, ([ue ou- Ir'ora de mis apprendcram sciencias, arles, e lelras. \clualuicute nenbum povo ba feilo tantos esl'orcos pela instruci'ao como os Eslados da L'niao-Ami'ricana. Nao respeitam iradicoes em materia de ensino os americauos. Atra- vessani os mares repelidas vozcs para obser- varem o (|ue sc I'az na Europa ; estudam os escriplos do (Jiraid , Becker, Slowe , e l,ani- bruscbini ; e vao pela i)raclica apurando o que Ibes parece nielbor. (juiados pela pbiloso- pbia do ensine deixam livre expansao an espirilo e ao coracao do alunino , dirigindo uni 0 outre na razao do deseiivolvimeulo pro- gressive de suas faculdadcs iutellecUiaes e alVectivas. Fugindo das nocOes abstractas, a que OS alumnos nao podem ligar ideas, insis- lem no eusiiio intuitive e praclico ; assim fazem que elles appreudam por si ; c assim , licando lixadas as ideas, se appreude em muito nienos tempo. Limitaudo-nos j)or agora ao ensino das lin- guas, teni-se vislo progresses espantosos obli- dns pele nielhoramento dos metliodos. Alumnos com cinco e seis mezes de apprendizado lem side appresentades em publico traduzinde la- tim solTrivelmente. Preparade e tirocinio com o conbccimenio das declinacoes de nomes, e conjugacoes dos verbos mais necessaries, e alumno entra lego no excrcicie praclico da versiio. Livros ele- mentares preparados com a traduccao supra linear servem na prinieira epocba do ensino. 0 meslre vai practicamente ensinando a re- lacao das palavras enlre si, e com a oracao: cnsina a gramiualica pcdagogica, a construc- cao empirica , rescrvaudo a grammatica dog- malica , a analyse philosopbica para quando 0 discipulo ja conbece a lingua. Aqui dare- nios por eipecimen iima oracao em prosa, outra em verse : Moved port'm ?nerra i'l cidaile de Roma o rc\ Tarquinia Caiiimin-it aidnn itllnm tlrbi Riimw rex Tarijliiniin Afitiolle eu, que oiilr'orii brilicos cantava d'.imor lite ego^ qui r/uonrtam htsits mndulabur arnoris. A razao mostra, e a experiencia confirma a vantagem d'estc metbodo, que era verdade nao e lode novo , mas nunca fora desenvel- vido e aproveitado tao racionalmente, como bojc esta sendo. De que serve fazer decerar paginas de regras e delinicocs, a que 'o alumno nao liga idea ; porque nao conbece o objeclo ; perque na sua edade a tarcfa excede a forca de sua abstraccao? J7 A que conduz o apprcndrr dc cor os ftc- iieros c suas variadissimas cxeepcoes, os pre- teritos , as mulliplicadas c contradicloiias I'cgras da syntaxe? A I'atigar, e exliamir a incnioria ; a fazer esleiil , laslidioso e repu- gnante o esludo ; a introduzir o man habito lie dizcr palavras sem idua. 0 individuo, que souher bcin todas essas rogras e detinirocs , podera dizer-se que tern chegado ao conliecimeiUo da estructura da lingua? Todos os que apprenderam per esse jnethodo, e se rccoidarem do iniprobo traballio, que sentiram na vcrsao do latim, dirao uiia- iiimes quo nao. Como apprende uma crianca a sua lingua? Ensinando-lha practicaniente sua mae, que 6 0 seu prinu'iro nii'stre. Emprega acaso a mae 0 USD das regras e da's delinifoes? Nao; vai cnsinando seu (ilho a pronunoiar palavras, indicando ao mesmo tempo as ideas, que iiies correspondem ; a expriniir os pensamentos em proposicOes. E este o methodo natural, e instinctivo. Sera pois natural , sera logico o imitar esse methodo no ensino de linguas cstranhas. 0 menino que apprendeu de sua mac a lingua, que por isso se diz materna, nao sabe toda a lingua ; conbece quanto ba mister para e.xprimir suas neccssidades, para communicar com 0 seu simiibante, e trocareni os seus pensamentos. Para se aperfeicoar, e grangear cabal conbccimento da sua lingua, tern de cstudar toda a vida ; e raro o consegue. Da composicao pbilosophica, de analyse logica nada sabe : e estudo transcendente rcservado a instruccao primaria e secundaria. Por egual razao parece que a analyse logica do latim se deverii reservar para a ultima parte do ensino. 0 contrario e coraecar por onde se deve aca- bar. Rollin ja presentia o defeito do metbodo de ensino, quando exprimia o desejo de ver resumidas cm pequeno volume as regras indis- pcnsaveis a intelligencia da lingua. Becker, Mullignan, Morell desenvolveram a idea d'a- quellc sabio , e tem feito services importan- tes a instruccao piiblica. E um erro julgar que as palavras sao os elementos da lingua ; e que as regras sao indispensaveis para conbeccr as relacOes das palavras. Se a lingua serve para exprimir os nossos pensamentos, as unidades do discurso sao as proposicoes, e nao as palavras ; estas sem construccao nao exprimcm pensamento; .servirao apenas para catalogar. As palavras sao elementos constitutivos da proposicao, assim como as syllabas sao da palavra; mas isoladas nada expriniem do jiiizo. Deveni por- tanto ser estudadas cm rehiciio ii proposirao ; ou 0 estudo da graraniatica sera o emprogo esteril de tempo em regras e delinicoes. Conbeccr, e saber apreciar a relagao das palavras com a proposicao, cuja sao os ele- mentos, 6 a pbilosophia da lingua, a parte mais diiruil, c transcendente do ensino. Nao e no comeco do estudo d'ella que o alumno deve ser obrigado a trabalbo superior as suas forcas. Sobre ingrato, sera inutil e pordido esse trabalbo. (Irande parte do tempo em apprender pelo metbodo usual consorae-se em buscar signi- licados no diecionario. A versao supralinear c uma economia de tempo. Depois do conhe- cimcnlo das palavras nao ba alumno que sera auxiiio alheio saiba ligal-as para I'ormar a oracao, e compor o discurso. Ainda com elle, c improbo e fastidioso o estudo. 0 exerci- cio grammatical do mestre guiando o alumno no descobrimento da verdade, facilita-lhe e amenisa o estudo. Tiradas por esta arte as ideas, 0 educando vencerii o trabalbo do ap- prendizado em niuito menos tempo. 0 ensino dado por esta forma e sera diivi- da mais penoso para o mestre, e exige muita afabilidade, moralidade, e vocacao pedago- gica da parte do professor : mas sera estas qualidades ninguera deve exercer o sacerdo- cio do ensino. Preferindo para a brevidade no ensino o methodo syntbetico ao analytico, e reservan- do este para complemento, e perfeicao do ensino, entendemos que esse piano de educa- cao devera ser appiicado tanto as linguas antigas, como as modernas; mas principal- mentc ao esludo do grego e do latim. Submettemos poreni as nossas rellexoes ao juizo dos homens competentes; e fazemos vo- tes sinceros para que os nossos professores hajani de ensaiar o novo methodo de ensino, que dizem ter produzido excellentcs resul- tados. Ha mais outro ponto importante, a que desejavanios cbamar a attencao dos nossos bumanistas. Tem sido practica geralmentc seguida 'neste paiz o ensino singular, e suc- cessive de cada uma das disciplinas da instruccao secundaria. Estuda-se o latim ; a este seguc-se a rbetorica; a esta a pbiloso- phia racional e moral; depois geometria etc. Nao e hoje este o piano de estudos fora do paiz. A mesma classe vai apprendendo disci- plinas diversas era dias e boras dilTerentes. Assim apprende-se mais em menos tempo. A experiencia parece sanecionar essa practica; e a priori se poderia sustentar; porque essa, forma de distribuicao de estudos e uma gym- nastica intellectual. M. CARTA DO SR. A. F. DE CASTILHO. Sr. Redactor. — Persuadido eu de que a associacao dos mestres podia , e devia querer avaliar com Icaldade o ensino primario pelo methodo portuguez, e o ensino primario pelo 18 luelhodo antigo. coiisullei-a ronlia.lamciilc. \ associarao respoiuleii-mc, ilamlo em todos OS ponlos a palina ao syslcma vellio sohre o novo, e pulilicou a sua resposla. Cum tal facto se inslaiirou peraiite a narao urn pro- cesso nacional ile iiao iiiodica iiiii)nrtaiu'ia. Era 0 (lepniinonlo de uiua das paries, (]iie se liiilia ouvido; cabia aiiles da si'iitonra, c para que a scnteiira poilcsse ser jiisla, rcce- ber-se egnaliiieiite o depoinienlo da parle contraria; e ainda as replicas, e Ircplicas, se por vciilura solireviesscm. Qualquer doiisan, sein isso, haveria sido prcuiaUira, arriscada, e pouco justa. Qui statuit aliquid, parte inauilita altcia , Aequum licet statueril, hand acquus fuil. 0 mesmo priucipio de iiiteressc commum, que me obrigara a consullar os professores da priiiieira vez, me obrigava d'esta sogunda a rel'utal-os; por ser para mini, para miiilos, c para todos que sabem o metliodo portiiguez, cousa de primoira intuirao, quo esses ijrol'es- sores, ou o nao tinham cstudado, ou, tendo-o estudado,nao o haviam comprehendido ; con- trariavam factos posilivos, intcrverliam os principios mais sacs, c os mais incontestaveis dogmas da vcrdadeira scieneia de ensinar. Escrevi logo cssa refulacao, reproduzindo ■'nelia integral e cscrupulosamente o folheto impresso contra o methodo novo pelos profes- sores do metliodo vellio ; e no dia io de marco proximo tindo comecei a inseril-a no Diano do Governo, onde se tciu eonlinuado, e con- tinuara ate ao fim, so com as interrnpcoes que a afilucncia de outros escriptos obrigados em tao limitada foiha foroosaniente occasiona. Esperaya eu je desojava-o , Sr. Reda- ctor) que 0 vosso jornal aguardasse inipas- sivel as ultimas allegacoes e provas, para proclaniar o seu juizo. Infelizmente nao aeon- teceu assim: o nuiiiero vinle e quatro do quarto volume da vossa folba, que lioje rece- bo pelo corrcio, nao so conieca a reimprimir a resposta dos professores, seni accusar se- quer a e\istencia da refutarao, mas outorga desde ja aos mesmos professores ura venci- mento de causa, que era nenhuma das duas inslancias supreraas — o senso publico, e a posleridade — ba de obter confirniacao, scgun- do espero em Deus pela fe plena que tenlio no dogma da perfeclibilidade. Fdra abusar da razao, Sr. Redactor, pedir- vos, que tao cscassas c tao bem aproveitadas paginas, comosao as vossas, fosseis confron- tando successivamente, trecho por treclio, aquella extensa resposta, e a minba refula- cao, ainda mais extensa ; se o lizcsseis, darieis uma grande prova de imparcialidade; mas nao a exijo: o (|ue so vos pcco, e: que vos digneis de inserir no vosso proximo numero esla carta, a fim de que os vossos Icilores saibam onde poderao encontrar os docunien- los, ([uc Ihes faltam, e que neulralizara os ([ue ja possuem. A lei, em virtude da qual rcclamo esta pe- quena salisfaccan, e anterior a todos os regu- lamentos d'iniprensa; e a lei, que nenhuma lei de liomens rcvogaria; a lei da bonra, que para vos o nao e por certo nienos (]ii(' para mini. Sou com toda a devida consideracao — III."" Sr. Redactor do Istitulo — Vosso vcne- rador A F. r.ASTII.lIO. I.islma, 13 dc abril .le 1856. INSTRUCQAO PRIMARIA. RowpoNta ao nr. .4. F. «lo C»?tliIlio. tiror- cn do .na'lliodo |!or(iisi>oj. ]>i-lit Anko- <'in<;iio do« pi-on-NNoreh do I'ciiio <• ilbas. ConlinuaJo de pag. 10. QUESITO IV. Qual dos dous (mcthodos) combina, mais e/ji- cazmeule, a correcrao da proiiunciu, e a re- forma da lerminologia barbara da plebe? o Icr cxprdilo, entoado e inlelliijcnte , e a escrevcr leyivel, correcto e ponluado? Conlem esle quesito duas partes. 1.' A. correccao da proniincia, e a reforma da tcr- niinologia barbara da plebe. "1.' 0 ler e\pe- dito, entoado e inlelligente ; e o escrevcr Ic- givel, correcto e pontuado. Pelo (]ue respcita a priineira parte, c uni perfeilo engano dizer-se que o metliodo nio- derno concorre para a corrccfao da iironiin- cia, e reforma da terminologia barbara da plebe ; porquanlo e inadmissivcl , que por via do canto se corrijam mais depressa e mellior os defcitos da iironuncia do que por via da leitura individual e explicativa, que 0 mestrc faz aos discipulos pelo methodo an- tigo, pois que por este methodo antigo nao se Ihcs doixa ler viciosamente ; e, quando nao pro- nuiiciani bem algunia palavra, elle Ihes faz conhecer o erro, em que cahirani, assim co- mo 0 niodo mais facil de o evitar, o que, certamente. nao podcria fazer pelo methodo moderno, cslando os discipulos agrupados, e lendo em cdro, por isso (|ue. no nieio da gritaria, Ihe scria nuii custoso, e ate impos- sivel pcrceber os erros, a lim de os emendar e corrigir. A cxperiencia, que faz com que se nao ac- ccitem nuvens por castellos, a experiencia nos mostra que as criancas , de ordinario. 19 tomaiu facilmcnte a nicsma prnniincia das pessoas, com quern mais convivem, c oslao cm maior coiilaclo. Segue-sc pois, que uni ilos gravissimos dcfeilos do mclliodo modrruo consiste priucipalnieiite na lacilidade de to- raariMU os discipulos, por via do quolidiano canto, todos OS vicios da proniincia dos mestres, qucr csles vicios piocedain de deiVi- lo orgauico, quer do liahilo adquirido de ma proniincia, quer d'outras quacs(]uer causas; e, como e certo que fura das cscholas se nao ensina por meio da cantilena, resulta inevi- tavelmenlc que os vicios tomcm corpo, c se lortiliqucm por nao iiaver em casa pessoa, que ensiue a iicao as crianras, c llies dissipe OS vicios coiitrahidns nas escholas, o que, segurameiite , nao aconteceria, scndo ellas cnsinadas pcio mctliodo antigo. Segue-se lam- bem que a terminologia barliara da plebe, em vez de cnlraqueccr, e desarrcigar-se, an- tes, pelo contrario, oblem niaior I'orca e in- crenienlo, adniittido o raetliodo moderno, visto nilo ter esto oulra rcgra de proniincia para as criancas niais do que a propria dos mestres, tao iucerta e viiria, como e incerta e varia a organisacao da vocalidade dos mestres, a sua patria, c os sous defeilos dc educacao. Quanto a 2/ parte, supposto ser ponto quasi geralmente assentado entre os coniie- ccdorcs do nicthodo moderno, que a docom- posicao das palavras por clementos e syilabas e conveniente, e facilila de ccrta forma a leitura d'algumas palavras, mormente poly- syllabas; nao e todavia, por esta pequena vantagem, que elic nierece a palnia, e se torna prel'erivel ao methodo antigo; por quan- to c tambcra quasi geralmente assentado en- tre OS mesmos conhecedores do methodo, e, como fica dcmonstradonasrcspostasanteriorcs, que OS deleitos e erros, resultados inevitaveis do methodo moderno, alem dos accessorios, dc que esta revestido, o tornani moroso, inellicaz e inadoptavel nas escholas. Esta verdade e coniirmada pelo completo abandono do me- thodo, que alguns professores habeis e com- pctentcs conheceraiu de absolula necossidade fazer nas suas escholas, depois de o icrem seguido e practicado perto de dous annos. Note-se egualmcnte que esta pequena van- tagem, conhecida no methodo moderno, e que, como ja se disse, apenas auxiiia o des- cnvolvimento da leitura d'algumas palavras polysyllabas, nao contribue de modo algum para que as criancas learn mais expedita e desembaracadamente do que pelo methodo an- tigo. E pois desnecessario comprovar aqui esta assercao, porque no 2.° §. da resposta ao 2.° quesito, ja lica largamente demonstra- da e comprovada. Note-se mais que o ler entoado c gravissi- rao defeito, adquirido no ensino pelo metho- do moderno; porquanto, mostra a expcrien- cia que este defeito, inveterado nas criancas pelo frequcnte habito do canto, e difficil dc extirpar, c por isso cllas so tarde, e muito tanle poderao ler scm entoarem. Observe-se tambem que a leitura pelo me- thodo moderno nao c, nem pode ser, mais intelligente do que pelo antigo; porque as criancas, seguindo unicaraente a toada c harmonia do canto, nao prestam a devida attencao a leitura, resultando infallivelmente quasi a completa ignorancia do que lt$em, o que nao acontece, como a razao nos dicta, e e assas nolorio, no ensino pelo methodo an- tigo. Observe-se finalmente (pie o escrever le- givel so pertcncc fi calligrapbia , no que o methodo moderno nao somcute e muito defli- ciente, mas tambem faz conlrahir vicios e dtiJ'eitos irremediaveis, como ja se dissc na resposta ao 2." quesito. Quanto ao escrever curreclo e ponluado, nem pelo methodo mo- derno, nem pelo antigo se pode couseguir; pois que o escrever correctamente, e o uso da reslricta pontuacao dependera mais da practica dc escrever, e d'outra habilitacOes litterarias , que do simples ensino prima- rio; entretanto e certo que se torna mais fa- cil adquirir maior perfeicao em escrever cor- reclo e ponluado pelo methodo antigo, por isso que cste adopta, quanto e possivel, a orthographia etymologica, geralmente segui- da por todos os littcratos, e raesmo pelo il- lustre auctor do methodo moderno em quasi todos OS sens escriptos, sem o que e inadmis- sivel obterem-se as duas referidas condicoes de bem escrever. Em vista pois das razoes expendidas, in- tende a commissao que o methodo moderno na parte, que diz respeito ao presente quesito, nao e mais prolicuo, nem de maior vanta- gem no ensino do que o methodo antigo. QUESITO Y. Qttal dos dous {melhodos) se accommoda me- llior as exiyencias pliijsicas e iiislinctlDas- da puericia, a sua natural tendcncla para o movimenlo, para o canto, para o ritlimu, piira as visualidades e imagens, para as narracoes claras e amenas, para as mnc- nionisaroes singelas e eljkuzes? A imaginacao, que e a faculdade prcdomi- nantc na puericia, nao deve ser dcmasiada- mente excitada, a (im de nao augmentar a inconstancia, e com ella o tedio e o desgosto para tudo-que requor mais aturada applicacao. A puericia necessita ser dirigida e guiada com geito para se tornar applicada e estudiosa. A niesma logica nos ensina que 6 tao grande erro atemorisar ou comprimir excessivamenle as criancas, como dar azo a que as chamadas suas tendencias naturaes se descnvolvam, e 20 loiuom doraasiada Ibrra, a ponto do arrasta- rcm caprichosanicnle as suas innocontcs vi- rtimas. Frcqiiontes cxemplos, trislps t-oiisc- queniias oii da iimila ;iIo esla otira cum as uiudant^as e edi<^ijHs (|ue 'nella fez, que de lira dos peiores livros de malliemalica fez os me- Ihores elemenlus de calculo que e.xisleiu, nao fallando doi d'j uovo aiiclur. 22 deseiivolvimeiilo das miiilias ideas as disciis- s5es que solirc ellus live repttidaineiile com o mi'u ej-liiiiavcl e pt-ru'tranle amigo, o Dr. Manuel Pedro de Mello '. For laiilo o priiiieiro passo que dci, depois de clie^'ado a Uerliii, foi o de uoiiiinuiiicar- llie o esbo^'o que acaliava de Ira^ar, pedijido. llie me desse sobre elle a sua opiiiiao , com a mesma franqiieza e libeidadc, com que tanlas vczcs iiie aroiiselli;ira e corrigira no deciirso dos tneus estudos inallicinaticos. Quanlo as suas ideas cram inais allieas das minhas 'iiesles poiilos, laiito as observoynes que elle mecommiinicoii,erain propriasa inos- trar-me os lu^ares em que aquclle iin'u cniaio peccava por obscuridade: e assim a critica d'aquelle men amigo devo a emerida de varios defeiloi d'esle genero, eui que por mim mesmo nfio podcria ter advertidn. O parecer do Dr. Manuel Pedro de Mello era de lanio maior pezo a mens olhos, que eu sabia scr fundado em grande parte nas ideas de seu grande meatre Jose Anajtacio da Cunba, em cujos priutipio^ de matlien)a- lica eu tinlia bebido as primeiras no^oes d'esla sciencia : e conliecido e que ludo quanto se enconlra d'elementar e piiilnsoplnco em todos os oulros llvros de inatiieu)alica, tanlo nacionaes como estrangeiros, tica a per- der de vista, comparado ao que encerraa) os preciosos principios que acabo de citar. Eu sabia da existencia d"um esl)oyo de principios de mechanica, que Jn-e' Anastacio da Cunlia havia deixado. O Dr. Matiuej Pedro do Mello, a cujos rogos elle o lizera , m'o linha louvado por vezes; mas iiem elle tiidia copia, nem nos Ibi jamais possjvel des- cobrir onde se achava o manuscripto, depois da morle do auctor. Em fim na Haya, onde eu coniejara a desenvolver seis annos antes os mens princi- pios sobre esta sciencia, live em novembio do corrfente anno de 1808, a ventura de eiicon- trar este t.'io desejado opusculn^, naescolliida livraria do Ex.™° Sr. Jofio Paulo Bezerra de Seixas, enviado extranrdinario e ininistro plenipotciiciario de S. A. K. o Principe He- gente Nosso Senhor na Corle d'llollanda, ' O Dr. Mnimel Pedro dc McIIo, Icule dp Iijdr.iiilic.i iia univcrsid.nk' \ie Coiinlim, dlilovf d:i iiniutuiuiu rewl das »!Cit;iicias de C; enhaiiueeiu 1806, '» itteiuuj do |in];;rHiutna sulire o |)arall<-l„i:ri.iiii, d.is f.ir(;aM. Seria d<- frniridi; j;l"Ua |)ara o noni»t |t(irluu'iiez e iililijadc para as srienciiis, se elle, fazcndo xiolencia a sua inodostia, ]iiii)jicas:«c as »uiti nlimirrosns vistas, verdadelrameidc nuvni« eori^itiaes, s, e em cujos brai,'os cntrcgou ;'i nulureza o espirito sublijne que d'ella recebera , e com ipie laiito euol)recera a sciencia e a palria. Sena preciso que eu podesse fazer conce- ber aos oulros a alia idea que eu loidio do ingeiilio Iranscendenle de Jose Anastacio, para expressar o prazer que experiinenlei ao ler 'nesle opusculo do ouro varios principios de melliodologia, que t'azeiido, de vinte annos a eslu paile, a base da iniiilia pliilosophia 'nesla sciencia, eram inleiramenle diversos e ale oppostos a ludo quanlo eu lera e ouvira ale' agora. Mas a pezar di sua singularidadc, pari'ciaui-me ifio cerlos e evidenles, quo com plena conlian<;a e sem receio de passar pela censura de exlravaganle, os expendi' com a concisaoqueas circumslancias pediam, 'numa memorja que em 180G escrevi em resposta ao prograinma que a academia de Wilna I)rnpoz sobre os progressos das sciencias mo- raes , comparados aos das sciencias pliysicas e matliemalicas. Porem nao pude ver sem grande pena que uin lao profundo pliilosoplio confundisse a sciencia dos Arisloleles, dos Leibnitz, dos Lockes, dos Condillacs, com os stmlins e ex- Iravagancias dos Mirandolas, Soares, Wolfios e oulros simillianles profanadores da sa psvcliologia. Uina melaphysica sensata applicada aos principios matheinalieos, e' que couduziu Jose Anastacio a deslerrar do meio d'elles as Irevas em que os linlia envolto a falsa melaphysica. Mas a natureza dos e»tudos, a que elle se linlia consagrado, parece niio llie ler permit- lido occupar-se com iinia sciencia contra a qual exisle um lao forte prejuizo fundado no abuso quasi geral, que d'ella fizerarn os que se inlromelterain a cullival-a sem prin- cipios nem discernirnento. Ha palavras coniinuns a lodas as sciencias. Km todas ellas ha uina cerla e delerminada vereda, que unica e exclusivainenle conduz a verdade. Definir aquellas palavras commiins a lodas as sciencias ; doscrever esla vereda, que em lodas ellas e a unica que conduz ao descobiimento da verdade, eis-aqui o que conslilue a melaphysica Se as defiiii(,oes s.io falsas, se a vereda conduz ao erro , nio e culpa da sciencia, mas sim e t;1o somenle do philosopho que se inlromelleu a Iraclar iralerias superiores a sua liabilidade e lalenlos. Hem longe de se poder fazer cargo a sciencia dus erros 'nella commetlidos por alguns , e ainda mesmo pela maior parte dos que 'nella escreveram, deve-se antes concluir, que onde uns erram e oulros acerlam, ha cerlos prin- cipios, ha certa e delerminada sciencia, lanto mais importanle e digna de estudar-se, quanlo houverem sido inais graves e absurdos os er- ros commetlidos. 23 Isloqiianslo basla para jcislifirar aos ollms fie lodo o hoinem iinparcial urna sciencia tao injiislameiUe desacreditada. N'esta iiijusti^a incorreu partiriilarnifttile o iiosso aiiclor, pois devera ter reconlietido, que us ideas sas que elle tinha em meta- pliysica, e que faltaradi aos seuspredecessores, e que era devedor da prodigiosa superiorida- de que levava a lodos elles. Continutt. NOTICIAS LITTEBARIAS. IJaiivi. 3. 26 prolcrrao que proiuottia dar-lho o rcverendo I parocho. Assira se fazia. Apouas rugressiira eu ao Fiinchal , Iractci tie dar a esta provideiicia consisteiuia e ge- neralidade. Para islo rcquesilei a coadjuva- rao do Ex."'" prelado diocesano ; o ([ual , da mellior voiitade, fez iminediatanuMiU' cxpedir uma circular a lodos os paroclios do hispado, exliortando-os a protegcrem as escliolas das respeclivas freguczias uo sentido do meu pc- lilorio. Mas, se OS meios de suasao ciupregados pelos paroclios nao surlirem o descjado el- i'eito, que dcvcra fazer-se cm lal caso? Forca e recorror aos meios coercivos. Ofliciei ao Ex.""' (losernadoi- Civil, pediiido-llio que hou- \ussede clianiar a allencao dos srs. adminislra- dores de coiicellio sobro a necessidade de darcm iiumediala execucao as disposicoes do arligo 33, §. unieo, do decrelo de 20 de se- temhro de 1844. Consla-me que esta requisi- cao foi ininiedialamentc salist'eita. ARTKiO SEIiCNDO. Divisdo da eschola em classes , e distribuicdo das materias d'ensino pelo tempo Icctivo. Nao vi.sitci eschola alguma publica, a eujo professor nao entrcgasse trez livros cm branco, Eiclliodicamente apparclhados para reyistros da resjiectiva eschola, cm conformidade do (|ue dispoem os arligos 13 e 14 do decreto de 20 de dezemhro de 1830 , e o artigo 37, g. 2.% do decrelo de la de iiovcrabro de 1836. 0 modo, porque devem ser escripturados esles regislros, consta do provimento de 9 de julho ultimo, publicado no n.° 03 do h Semaiiario official, » do qua! teniio a lionra dc cnviar a V. Exceliencia um exemplar. Todos estcs livros, que sao iii, cuslaram a ((uantia de rs. 19.200, que paguei pelo producto da sub- scripcao cm favor das cscholas, como se vera da respecliva conta. Logo que eu chcgava a uma eschola para fazer a visita d'inspeccao, pcdia ao professor que fuDccionassc com clla, exactamcnte como costumava fazel-o quando eu la nao estava ; e assim live occasiao de apreciar o melhodo por elle seguido, e o tlieor de disciplina que presidia ao arranjo economico da sua eschola. Eis-aqui cm summa o que achei a tal respeito. Ha cscholas , ciija frequencia , por assaz diminuta , nao permitlia aos professorcs a adoprao de outro melhodo <]ue nao fosse o individual. Quanto a cslns, nao tern applica- cao as disposicoes do arligo 30 do decreto de 20 de dezembro de 1850. Outras ha, de mais crescida frequencia, 6 verdadc, onde se encontravam ja vesligios do uma tal ou (|ual classilicacao ; mas esta tao irrcgularracnte feita , que faltava a todas as condieocs de perfeicao da divisao de uma eschola em classes, consignadas no supracitado arligo ; por quaulo: 'iN'umas nao se cnsinavam lodas as materias que cumpria ensinar; o curso liraitava-se as disciplinas de ler, escrever, conlar c doutrina ciirista. 'Noulras ensinavam-se aigumas materias mais, como grammalica, moiat. hisloria patria e cliorogrupliiu ; mas o ensino de taes materias era lao perfunctorio e circunscripto a tao pe- queno numcro de aiumnos, que niiiitos deixa- vam a eschola, sem d'eilas levarem conlicci- mento algum. So as estudavam os aiumnos que, dcsiinando-se a estudos seeundarios , linham de fazer exarae. Em todas, finalmente (salva a e.schola de mcninas do Funchal), a distribuii'ao das ma- terias pelo tempo leclivo era tao malfeita , que em quanto o professor funccionava com a classe superior, os aiumnos das inferiores cstavam ociosos ; em quanto funccionavam as classes inferiores , nada faziam o professor e OS aiumnos que nao fosscm decuriocs. Fiz coraprchender a cada um dos professo- rcs , como ia de encontro as prescripcOes do artigo 30 do regulamcnto o arranjo economico da sua escliola ; e disse-lhc que, usando da faculdade conferida aos commissarios pelo ar- tigo 31 do mesmo regulamento , eu proveria a este respeito como tivcsse por mais vanta- joso. Logo que cheguci a cidade, fiz imprimir e mandei a cada professor um exemplar do provimento do 20 de sctemhro ultimo , que ora submetto a approvaciio do conselho supe- rior. Esta e uma medida cssencialmenle pro- visoria. Logo que se haja decrclado um dire- ctorio para as cscholas de ensino simultaneo, como 0 que regula as d'ensino niuluo , farei por dar as cscholas d'este districlo melhor orgauisacao. ARTIGO TEliCEIRO. Melhodos. Um dos raaiores obstaculos ao desenvoivi- mento da instruccao primaria nas cscholas d'este districto, esta na ruindadc dos melhodos geralmentc adoptados para o ensino dos di- versos ramos d'clla. Os melhodos que presidem ao ensino da leilura e da escripta sao viciosos. Longe de se auxiliarem muluamentc, segregam por tal modo uma da outra disciplina, e por tal modo actuam isolados, que augmentamconsideravel- menle o trahalho do alunino, e na racsma proporcao o tempo do tirocinio. Ja lioje, nos paizes cm que se oiha com attenciio para o dcsenvolvimcnto do ensino popular, e geralraenle recouiiecido — que a escripta dcve precedcr a leitura, como auxiliar mnemonica d'clla; — que a solletlracao e um melhodo vicioso por ohrigar o alumno a fazer uma cousa que nao coraprohende ; — c que 27 fielo livro manuscripto e que se Ihc ilcvc on- sinar a intcrprelar os mystcrios do livro im- presso. 'Neste scntiilo officiei aos professores piilili- cos. Dirigi-llies as circulares publirndas iios minioros ii", liS c (iO do ■ Srmauurio nfjinal, .. (|uc toiilio a lioiiia de ri'inctcr a V Kxccllpn- cia ; mas nao mi! consta i|iii' al^jiiiii d'flk's tonlia oiisaiado na sua csrliola o mclliodo do eiisinoparnllflo. Km algiicm Iractando d(^saliir da roliiia, logo sc llio allravcssam os lialiitos invctcrados; porfjiie ao passo c|ue csti's oliram por si mosmos, a innovafao rcciiier estudo, o t'studo Iraballio, o trahalho zcMo, c nao sei se *!sla c a (|ualida(lc (|iie mais ahunda na alma dp I'linccionarios mal retribuidos c — ale dirci — mal bahililados. Naoqui'io iinpor a ningiicm as minhasidi^as. Mas, se 0 nietbodo do ensino puralMu more- ccr a approvarao do consclho superior d'in- stnicrSo publica. Iici-dft emponliar-ni<' por(|uo ollr dcnioiisti'i' pclos rosullados que , assini como e 0 mais vordadciro, 6 egualnienlc o mais util. Quanio aos outros ramos do primciro grau da inslrurrao primaria, o mclliodo quo preside ao ensiiio d'elli's nJo e, em goral, mais I'eliz: e um melliodo — para assim dizer — lodo mccbanico, IriplicaJamcntc vicioso porquc as- senla nos seguinles prctonceitos. 1.° — Prcsuppoe que a unira faculdade do cspirilo (le uma erianoa e a memoria. 2.° — Enlende (jue ba so uma especic de memoria, ([uc e a memoria de palavras. 3.° — Conclue que para communiiara uma crianra idiVis ipie ella nao torn , ludo o que rumpre I'azer e li\ar-llic beni na memoria as ])alavras (|uc designam lacs idCas. Esle metliodo, — forra, e reeonhecei-o, — e commoda cousa para qucm ensina ; ate escusa sciencia no professor, porque para manar-se no livro que serve de te\to as licoes um trecho qualquer , c ordenar ao alumno que o Iraga (ic cor no dia seguinlc, nao I'az niingua ne- nhuma sticncia. . Mas jiara quem apprendc ! . . . tal melbodo e sobremaneiru eslcril e cnfadonho : — enfa- donbo, |ior(iue e\ige que se deposilem na me- moria lanto OS sons articulados que forniem as palavras do te\to, como a ordem sticcessiva d'clles ; — esleril, por(iuc so da umas appa- rencias de saber, que proniptamenle sc desva- neccm com a lembranca dos sons que se deco- raram. Jii Condillac linlia dido — " (Juem so de cor .tube seja o (jue [or. niida .tube inieira- menle.o — E a prova da verdade d'esla asser- cao e que — alumnos , que por cstc melbodo deram de cor o compendio inleiro, em che- gando ao fim, ja se nao Icmbram dos trecbos do prinri|)io. Eis-at|ui as rcflexocs (|ue tcnho feiio, e nao cessarei de fazer aos professores , ate conseguir d'ellcs que abandonem um melbodo tao vicioso, e cm logar d'cste adnpieni outre, pelo (|ual ciillivpin mais a intelligeiiria que a memoria dos alumnos. mais a memoria das ideas- que a das palavras. As priirieiras linhas d'e>le melbodo que Ibes aconselbo , via con- signadas nos arligos II e l.'i do provimenio de id (ic setembro iillimo , ipie provisoria- menlc regulara a disci])lina das cscbolas pii- biicas d'esic districto. ConclusilQ. Terminarei o present? rclatorio, pedindo a V. Ex.* duas grajas : — a primeira e que baja dc fazer com que a [iriracira scccio do conselbo superior, a que preside, M anda- mento e leve a prospcro resultado as propostas, (|ue live a bonra de submeller-Ihe , aci^rca da crcacao dc oulras cscbolas 'nesle dislriclo, c da meiboria dos ordenados dos professores, — a scgunda e que baja dc relcvar-me a pro- iixidade d'esic Irabalbo. na cerleza de que niinca mais lerei precisao de ser lao enfado- nbo, porque d'ora avante so lerei de mcncionar as novidadcs occurreules, que altcrarem a situacao lilleraria ou diseiplinar das cscbolas, cuja bisloria vai consignada 'ncslc rclatorio. Deos guarde a V. Exc.' — Funcbal, ii d'outubro de ISoj. III."'" e Ex."" Sr. V. Reilor da liiiversidade 0 V. presidenle do Conselbo Superior d'ln- struccao Piiblica etc. etc. 0 Commissario dos Estudos. Murcelliano Jiibeiro de Mendonca. ARREOORES DE COIMBRA'. II. Ponle (I'.lKun igo. D'inslante a instaiile passani, 'num tnrbi- lliao d'agua e de gi}lo, lelliados, moveis, ca- daveres d'aiiimaes domestieos. Nao vistes pas- sar boiando uin berco vasio? Que foi leito do menino? Que foi feito da mae? I'm do inerte, tacituriio, gelado como o ceu, parece que entorpeceu todos os bracos. .Mas nem todos OS animos se deixaram abater. Grande e 0 desaslre, porcm tambem e grande a de- dicacao, e o bomem mostra-se tiio magnaninio, quanto a natureza inexoravel. E um espectaculo grandiose vcr, no meio d'este flagello, desgra- cados a luetar com sangue frio contra a gran- deza do perigo, nao por causa de si, mas por causa dos seus similbautes, que elles Irazem jjara terra tremulos, desmaiados e salvos. A desesperacao, o terror, a alegria, todas as emocOes d'alma que fazcm enlouquecer o liomem, cruzam-se, e combateni-se no meio da lucta dos elenientos , como se as leis do nuindo pbysico c as do mundo moral conjun- ctamente se confundisscm. INSTRUCgJiO PRIMARIA, Respotttn ao nr. .1. F. do C'a*»liIho< iicer- <-a do llrlliodo portusnoz, pela Asso- riarao dos profcssorcN do reino c ilbas. Cunlinuado de [lag. 21. QUESITO VII. Qual dos douf: [metliodos] emprcga verdeitit- menle n modo simultaneo, em todo o rigor do termo? e por conseguinle. qual dos dous promelti' melhor sujra pitra a cullura popu- lar cm (jrunde? se as primeiras impressoes ed'crcem aUjum influjco ao lomjo da vida, qual pela manifesta logica e palente enca- dearao dos seus proccssos. educa melhor os espiritos novels, para que depots nas scieu- cius, nas arles e no proprio regimen do viver prdctiro, discorram com maisucerto; e nao deem, nem acccilem palavras por ideas, e niivens por caslellos. Se 0 melbodo porlugcz e cm rigor mais simultaneo do que o nietliodo antigo, e o que signilica a 1.' parte d'este (|uesilo. Ainbos os niethodos sao simultaneos ate onde os deixam ser. Mas o inethodo raoderno nao pode dei- xar 0 seu modo, cm (juanto (|ue o methodo antigo a bcni da safra, que se pcrgunta, Ihe leva grande vantageni, podendo usar, como effectivamente usa, dos outros modos som niu- ai dar de naturcza, Nao e, scguramente, o rigo- risrao do methodo simultaneo, que da a pri- mazia a eschola, quando die e o unieo meio enipregado no ciisino geral e principal; esta primazia porera conipieta-se com os modus individual e mnluo indispensaveis a safra, per isso que o talento uao e propiiedade commum. Accrcsce aiem disso que, ou os discipulos, que vierem niais tarde a eschola, e os que tivereni de sahir niais cedo, hao de perder a licao, ou, para a nao perderem, nao e sulfi- ciente o methodo simultaneo, por ser irapos- sivel reunir em quaesquer escholas puhlicas, e mormenle nas de fora das grandes povoa- coes, todos OS discipulos ii raesma hora, e a deterrainada bora sahirem. Sonde pois somcu- te 0 modo simultaneo, de que pode fazer uso 0 methodo portvguez, ii I'ora de toda a diivida ser mais vantajoso o methodo antigo, porque, acudindo em geral e em particular a lodos OS discipulos, dipoe raelhor safra. Em virtude do que fica dicto, nao pode o methodo moderno appresentar tamhem melhor safra para a instruccao puhlica, por se limi- tar prccisamente a um so modo de ensino. Nao e necessario ter practicado o magisterio para eonhficer que os resultados pelo metho- do moderno nao podem ser ohlidos com cgnal- dade, attenta a impossibilidade, alcm d'ou- Iras causas, de os discipulos se reuiiirem na eschola a mesma hora, e n'ella se conserva- rem o raesmo espaco de tempo ; em quanto que 0 professor pelo methodo antigo, sendo habil e diligenle, pode dispor a sua eschola, ainda que numerosa, com tal ordem e de tal maneira, que o tempo seja aproveitado por todos OS discipulos; que a licao se torne ex- tensiva a cada um d'elles; e que todos, em relacao a sua comprehensao e frequencia, possam colher um bom resultado, o que por meio do methodo moderno nao poderia elTe- ctivamente conseguir-se , postoque o profes- sor por este methodo se achasse em identida- de de circumstancias relativamente ao profes- sor pelo methodo antigo. Nao e admissivel que o estudo da leitura possa transmittir as criancas disposicoes logi- cas, nem fazer-lhes adquirir suas tendencias. Factos e provas, e a mesma razao mostram que 0 estudo de ler e escrever so serve de instrumenlo para entrar na apreciacao das imagons, suas comhinacoes e juizos sobre o que se le e escreve. Mostra tambem a experiencia que as crian- gas apprendem a ler e escrever, seja qual for 0 methodo para este fini empregado, por via de habitos puramente materiaes, e que a in- telligencia so 'nellas comeca a desenvolver-se com 0 tempo, e com as primeiras nocoes arithmeticas, e que, a niedida que se aper- feicoam no contar, vao pouco a pouco obten- do disposicoes e habitos logicos. Se nao pode haver formas antes de haver materia, tam- hem nao ha logica antes de haver elemenlos iutelligentes, que so se apreciam nas cogita- cOes das nocoes. Nao e pois de acreditar, a pezar do methodo porluguez, que chogasse a epocha das rellexoes prematuras. Note-se egualmente que as criancas, que unicamente sahem ler e escrever, de neces- sidade hao de acceitar palavras por ideas, e nuvens por castellos, e so com os estudos ulteriorcs, que Ihes desenvolvem a intelligen- cia, poderao apprender a discorrer e a discer- nir 0 verdadeiro do apparente. Querer defen- der 0 contrario d'isto, e impugnar e destruir 0 axioma: — Nemo dat, (juod non liabet; e querer attrihuir ao methodo moderno prero- gativas e excellencias, que por modo ucnhum Ihe cahem, por isso que sao oppostas a mesma uatureza. A commissao portanto , ponderaudo torn circumspeccao as razdes expendidas, nao po- de admittir a preeminencia, que no presenle quesito se pretende dar ao methodo porlu- guez, nem que os resultados, por elle adquiri- dos, devani ser considerados em melhor conta do que OS resultados, obtidos no eusino pelo methodo antigo. QUESITO VIII. Em qual dos dous [methodos] se poderSo en- xertar com maior probnbilidade de bom exito OS uutros ramos do primario ensino, que o eitado tern razao para espcrar das escholas, alcm do Mr, escrever e contar, a saber : grammalica analijtica, grammatica do en- tendimento, e nao da memoria, logica prd- ctica; rhetorica usual; declamurai} eleganlc; nocoes, mas nocoes raciocinodas inlcUigi- veis, de religido e de civilidadc, de hygiene particular, de gijmnastica ; tinturas iniciaes de historia, e ante-gostos, pelo menos, de encyclopedismo? Este quesito a muito clcva o methodo poi- guez. Sera muito ajunctar para pouco cnfeixar. ' Examinado e analysado este methodo, nao se enconlra 'nelle cssa superioridade, essa pri- mazia no ensino, que o seu illustrc auctor com tanlo ailinco procura dar-lhe. Nao se divisam 'nelle vantagens sobre o methodo antigo, que, sem ostentacao de sens profes- sores, tem formado a instruccao geral. Co- nhecido esta o que tem sido, e sera o metho- do moderno: e improilcuo para ensinar crian- cas a ler, por ser moroso, e demasiado e\i- gente; e incapaz para ensinar a escrever, por ser 'neste ensino sohremaneira delicien- te ; e improprio para ensinar a contar, por se limitar unicamente a fazer couhecer a numeracao arabica, e romana; e ineffieaz para ensinar adultos, porque estes, scgura- mente, nao quereriam amoldar-se a scmpre 32 etcrnas cantilenas, c a ridiculas niomiccs; li conlrario aos osludos suhsi'nucntes, i)or(|iie, alem das razoos apoiiladiis na respo^la ao 2.° quesilo, OS disi'ipulos acostiimados a dislrac- i;ao no onsino primario, com dilVuuldado se .■^tijeitariam ao socego nos csliulns sociindariosi, .de fazer, de similiianles enunciados que tinlia dianle dos ollios ao Iraduzir, mas ipie ommilliu, as mais das vezes, nfio sempre, jiil- gando inulil o apresentar ao lado das suas traducgoes os enunciados originaes em liii. guagein vulgar, ou por serein ja conbecidos, ou por enlender que qualquer os podia acliar a vista da simples traducgao. Seja como for, o Irabalho mallienialico de Newton nos sens principios consiste em Iraclar geomelrica ou algtbricamente varios phenomenos enunciados em lingiiagem geo- inetrica ou algebrica. N'isto mesino sem dif- ferenja alguuia ronsisle o Irabalho mallie- inalico de d'Alembert na sua dynamica. O pri- ineiro p6e dianle dos olhos do leilor o pro- blema que vai por em equa^.'io. O oulro julga inulil enunciar o problema e coinega por apresenlal-o ja po^to em equa^ao. D'aqui se ve que em ambas as obras .t observa^ao da os principios, e a malhematica a linguagem para os enunciar e o inelhodo para deduzir d'estes enunciados varias csn- clusoes ; e bem longe de serem as formulas de dynamica no livro de Newton interpreta- (joes mais fieisda natureza do que as da obra de d'Alembert, s.'io 'nesta muito nials cbegadas ao que a observagao e a experiencia nos inoslram. O mesmo se pode dizer da mecli.». nica de Lagrange e de Laplace. fi logo imaginaria a dislinc^ao entre Dyna- mica puramente nialliematica e Dynamica pliysico-rnalhemalica. Km ambaseadynan)iea traitada em linguagem matlienialica, e pin ambas ellas se parte de faclos exprimidos em linguagem malhematica. E verdade que o nosso auclor accrescenta, que na priineira pode o malhemalico tomar arbilrariamente as hypollieses, axiomaa, defi- nigoes, lemmas e poslulados que quizer, raas sobre esia a!ser5ao veja-se a segiiinte nota. Resuinir-me-hei dizendo, que o que induziu em erro ao nosso auclor, foi o ver, que nas obras que elle chaina physico-mathemalicas, e nao nas que denomina puramente malhe- maticas, se aclia a par das expressoes e for- mulas mathematicas a explira^.Ho dos phe- nomenos da natureza em linguagem vulg-ar, ()ara se ver ale onde aquellas formulas qua- dram com a experiencia. Mas isto sao meras notas que em nada mudam a natureza, nern a verdadeira forma do texlo ; porque esle , tiradas ellas, fica sendo o mesmo em ambas as suppostas dilferenles especies de dynamica. 35 p. 3, I. 15. ^s defiuigues, poslulados e axionias pode-se di%cr que a nenhwna lei sdo sujeitos. As defiiii(,'oes de palavras ja iisadas sfio siijeitas em malliematica as inesmas lels a que as del'iiii(;oes em qualquer oiitra sciencia se devein coiiforinar. Definir iiina palavra technica e enumerar as ideas que por meio d'ella dusignani todos OS lioinens da profissao. E verdade, que cada iiidividuo da profis- sao, desiij^na pela mesma palavra, qiiando d'ella se serve ou quando a quer definir, ceitas ideas que llie sao particulares, e que oiitro jamais lem no seutido quando a emprega. Mas ha cerlas ideas que lodos geralmeiite designam e concebeui ao pronunciar-se aquel- la palavra: e a euumeraijao d'estas ideas coininuns a todos, dcixadas de parte as que sfio parliculares a cada uni, e que constitue a defmi^ao; porquc eslas ideas coinniuns, e que fazem que queni falla e enlendido de queni ouvc : e e' o inais ou menos, segundo estas ideas sao em maior ou metior nuniero. Eis-aqui a lei geral e irrefragavel para qualquer defmig'io e em qualquer sciencia. O malliematico que, delinindo circulo, enu- merasse outras ideas quo nao fossem as que lodos designam por esla palavra, mas as que se designam pela palavra pyramide ou qual- quer onlra, nao faria uma obra inulil, como diz o auctor , mas sim um livro de delirios, bem como quern na linguageni ordinaria se propozesse chamar grande ao que se cliania branco, duro ao que se cliama quente, e assim do mais. Pelo que toca aos axiomas, ve-se que o auclor se deixoii levar das ideas erradas que vulgarmente se dfto d'esla palavra. Axinma nao e outra cousa mais do que lima spgunda defmi^ao da mesma palavra, que jii se aoba di'lniida. I'orem como seria desairoso para qualquer sciencia o dar seiu rebugo duas deliui^oes, d'uma mesma pala- vra, (onvierarn os metliodislas em cliamarem axioma a segunda defini^fio, para assim sal- varem, ao menos em apparencia, a lionra da sciencia, e evit.ir o escandalo dos profanos, por me servir da engra<;ada phrase do nosso auctor. Darei alguns exemplos em confirma^fio de que acabo di; dizer. Linha recta, diz Nuclides, c uqiiella que esld posta eguatinente entre dois extremos. E isto vem nas obras d'aquelle grande malliematico debaixo do litulo de defini^ao. Depois entre os axiomas, diz-se que duas linlias reclas nao podem deixar espa^o entre si ; o que quer dizer : Que sao rectas aquel- las linlias, de que nao pode haver duas quo deixem entre si espago, quando lem dois pon- tos commui'.s. Sao parallelas, diz o mesmo auctor nas defini^oes, duas linhas que produzidas de qualquer parte nao concorrem. E nos axiomas; sao parallelas duas linhas que fazem com uma terceira os angulos in- ternosde qualquer das partes, tornados J unclos, eguaes a dois rectos. Em fini entre os theoremas diz: que siio parallelas duas linhas que fazem com uma terceira os angulos alternos eguaes. Tanto na definijao, como no axioma, como no theorema affirma-se, serem parallelas as linlias, que tem cerla propriedade. Mas no theorema mostra-se a identidade da propriedade que alii se llies attribue, com outra que se supoe ser representada pelo nome de linhas parallelas. Entretanto que nem na detinicao, nem no axioma se mostra tal iden- tidade, mas antes tanto 'numa como no outro se suppiie que o nome de linhas parallelas designa, 1.° nao se enconlrarem, 3.° formarem OS angulos inlernos eguaes a dois rectos. Logo o theorema mostra a identidade d'uma propriedade que se attribue a uma expressao, com outra que se Ihe suppoz. A definigao e o axioma suppoe que aquella expressao signi- fica tal propriedade. Assim tanto a defiiii^fio como o axioma nada mais sfio do que hypotheses. Tanto 'numa como no outro se suppoe que tal ex- pressao designa taes ideas na boca dos que d'ella se servem. Em que differe pois a hypo- these chamada definigao da outra que se chama axioma? Em nada mais que era vir depois. A ambas se poderia chamar defini^oes ou axiomas Continua. NOTICIAS LITTERARIAS- M. Kellermann acaba de propor a intro- duccao em Franca da cultura das arvores de cera. Aleni de produzirem este genero inipor- tante tem estas arvores a propriedade dc absorver o ar impuro, tornam sadios os ter- renes pantanosos, onde sao plantadas, e no tempo do calor exhalam um aroma rauito agra- davel; as raizes gozam de virtudcs medicinaes, e as folhas preservam os lecidos da traja. Duas especies convinha ensaiar em o nosso paiz, a mijrica cerifera da Carolina, e a mijrica prnsylvania da Pensylvania : produzcm ambas uma cspecie de eera que se pode branquear sem ser alterada, e transformar em bugias comparaveis as de cera ordinaria. Em Alger foi introduzida sem difliculdade a mijrica ce- rifera , e vira a ser alii objecto de grande e proveitosa cultura; multiplica-se com extrcma facilidade, ja por semenles, ja por estacas, e ate por via de raizes. 36 Estc gencro de plantas, na Amciiia, e niuito abundaulc : cobre a maior parte dos lerre- iios allagadiros. M. Kcllormann julga muilo urgenle c vantajoso substiluir as sebes do t'si)iiiheiros nos terrtMios buniidos e panta- nosos pelas de mi/rini prnxnliniiiu ; a mijrica rrriferu , podia planlar-se utilmcnlo cm vcz dos salgueiros nas margens das ribcirns on rios; d'esla sorte, diz M. KfUorniann, oblor-sp- hia iim mellioraniento real na saliibridade ilo ar, a extincrao dos lotos pesliferos, e ao mcsiiio tempo uma lolbeita abiindanto de cera vege- tal, sem quasi despesa alguma de oiiltura. RELACA.0 Dos individuos nomeados para os srf/uintcs hgares d'instruc^ao pitblica^ desde o dia 1." ale 15 d'abril^ cm virtltde de despacltns do Conselho superior d'in- struc^do pubiica, e decrctos do Governo commti/iicados ao mesino Comelko no indicado periodo. INSTRUC9AO PRlHARI.l Alvaro Domingos Rodrijues Pra(;a, para professor temporario da cadeira de Sesulfe, distrirto de Brajanra. Domingos Ribeiro de Almeida, para dicto de Ren- diife, districto de Braga. Joao Baplisia Guerra, para dicto de Aveiras de Baixo, districto de Lisboa. Joaquim Gonijalves da Trindadc, para dicto do Pousade, districto da Guarda. Manuel Correa, para dicto de Aroes, districto d'Aveiro Pedro Duarte de Castro, para dicto de Sines, districto or e\em- idar 200 rs. (D 3n0titttt0, JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. RELATORIO ANNUAL. 1852—1853. Senhora! 0 conselho superior d'inslruccao piiblica, tendo examinado os relalorios dos governadores civis, commissaiios dos csliidos, e direcloies dos diversos eslabeleciraenlos litterarios e scientificos, sobrc o cstado da in- struccao piiblica, no decurso do anno lectivo findo, de 1851 — 18iJ2, sente nao poder colher d'eiles informacOes tao vantajosas , que pos- sam satisfazer plenamente o disvelo e empe- niio que V. M. tern moslrado em fazerprospe- rar aquclie ramo da administracao piiblica: porem nao podia elle deixar de correr a sorte de todos OS outros ; e se nenhum leni podido desinvolver-se, nem niesnio iancar raizes no meio das commocoes politicas, porque temos passado, mal poderia medrar a instruccao piiblica, que e de todos o mais melindioso. A pendula ainda depois de ter ccssado o impulso, que Ihe deu nioviinento, conlinua a oscillar por luuito tempo, antes de chegar ao estado de quietacao. Assim succedc com a instruccao piiblica , e com todos os ramos d'administrarao. Abalados por aquellas com- mocoes, somente o tempo pode acalmar as incertezas e rcceios, em que t^m fluctuado, e dar-lhes estabilidade escguranca, sem a qual nao ha progresso nem mclhoramcnto possivel. Se porem nao podemos ainda lisongcar-nos de terchegado a esse estado de prosperidade, aquelles relalorios, com ludo, f:izem fe de que vamos dando passos para elle, posto que len- tos ; e que os esforcos d'cste conselho, bal'eja- dos pela efficaz proteccao, que Y. 11. se em- penha em dar as leltras, nao tem sido de todo perdidos. Esle conselho posto que rcduzido ao nuinero de fcis vogaes, pelo faliecimenlo d'um, e pelo impedimento d'oulro, servindo de vice-presi- dente, nao tem deivado de fazer, com regula- ridade as suas confercncias ordinarias, dando prompto cxpediente aos negocios que fazem objecto d'cllas , resolvendo uns , e levando outros ii resolucao de Y. M., como se ve da relacao (n.° 1). Alem d'isso : convencido de YoL. Y. M.uo IS - que a instruccao priniaria nao pdde niclhorar sem 0 augmento de cadeiras , mas que os apuros do Ihesouro publico nao permittem fazer por elle a despeza da sua creafao, ce- lebrou as confercncias extraordinarias e ge- raes, que julgou necessarias para colher as luzes dos vogaes oxtraordinarios, e do publico sobre este importante objecto, c levou a pre- senca de Y. M. o sen resultado, na consull.a de IG de marco do corrente anno. Seria o conselho injusto se desconhecesse 0 auxilio, que reeebou dos sens delegados no desempenho dos sens trabalhos: sente porem que aiguns deixassem de fazer , em tempo competente, a reraessa dos seus relatorios, porque sem elles nao pode ser exacto , como curapria, este, que o conselho vai fazer sobrc 0 estado dos diversos ramos d'inslruccao pii- blica. Instruccao primaria. 0 movimento d'este ramo d'iiistruccao con- sta dos niappas (n.° 1, 2 e 3). A vista d'eiles nao pode deixar de se rcconhecer que o nti- mero dos alumnos, ainda auginenlado com o dos mappas que faltam, esla 'numa relacao mui desvantajosa para com a populacao : por6ra em quanto se nao augmentarem as cadeiras, scrao frustrados todos os esforcos empregados para o elevar. As mulctas comniinadas aos superiores , que uao mandarem os subditos as escholas , estao em complelo csquecimento ; porque os executores d'ellas omittem qualquer cxerci- cio d'auctoridade, que Ihes possa trazer odio. Outro tanto succede com a preferencia para 0 rccrutamento, e pcrda dos direilos politiccs aos que nao soubercm ler e escrever, impos- tas nos art.' 33, 30, e 37 do deciclo de 20 de selenibro de 1844 E na verdade , em quanto a instruccao se nao levar a porta dos paes de familias, taes penas sao injustas , e como taes impraticaveis : os conselhos e ad- moestacoes sao perdidas. Depois do augmento das cadeiras , sao as habilitacoes dos professores a segunda neces- sidade da instruccao primaria. Muitos d'eiles tem dado provas de inuita capacidade e z6!o no cuinprimento dos seus deveres, como in- formam o coinmissario dos estudos de Faro dos de sen districlo em geral, e egualmenle .1856 NoM. 4. 38 0 (J'Evora, e com especialiiladc do dos Re- gueiigos, Viana, Moiira , e Villa Vicosa : porom forra e conlVssar, que i,'raiide parte d'elles sao indignos do imporlaiUe oflkio que exerceni, e que somentc a I'alta d'outros nie- Ihores os pode fazer lolerar. Para ler bons professores e precisa uma suflkicnte dolaoao; a poiUual salisfacao d'clla ; uni rigoroso e\a- nie nas habilitai'Oes ; uma incorruptivel justira no sen julgamcnto; uma cxaclissima supcrin- tendeiicia no cumprimento dos deveres do magislerio ; c , conio prolimiiiar de tudo , as escholas normacs. Na falta destas condiooos, 0 rigor nas liabilitaoocs iitterarias e na inspcc- cao produziria nas cadeiras uma vacancia quasi geral. Eslabelecidas as cadeiras e os professores, mercce o principal cuidado o melhodo d'en- sino, e por isso nao podia o conselho superior d'inslruccao piiblica deixar passar desapcrcc- bido 0 da leitura repentiua de Antonio Feli- ciano de Castillio. Encarregou o commissario dos cstudos de Lisboa de o fazer observar na practica do proprio auctor; e alguns dos sens vogaes extraordinarios , nas provineias. As primeiras informacoes , que Ihc cbegaram , foram pouco favoravcis .iquelle melhodo; porcm 0 conselho cntende, que obras de tal natureza somente se devem avaliar pclos resultados practices; mas que, para verilicar esses resul- tados e precise estar lenge do enthusiasmo das nevidades, que os cncarece, assim come da aversao por eilas, que es deprime. Quande o conselho peder assentar o seu juize sdbre in- formacoes assim caracterisadas, nao se dcs- iuidara de o levar ae conhecimente de V. M., com as provideucias, que julgar conl'ermes com elle. Ceutiniia o conselho a reccbcr ofTcrtas de livros elemcntares, com alguns dos quaes tem enriquecido o calalogo dos que manda publi- can, come auctorisades para e ensino publico e particular: e se nem todes tem merecido essa censiderafSo, nem per isso sao i)ara des- prezar. Alguns contem boas doutrinas, c lodos raostram nos seus auctorcs amor pelas Icttras, 0 qual, sasonado pelo tempo e pelo estudo, podera dar nielhor fructo. D'estes esforcos, aproveitados e fecundados por bons mestres, e que o conselho espera o niaior progresso da instruceao primaria Instrucmo secundaria. 0 progresso 'neste ramo d'inslruccao lem sido raais sensivel, como se ve dos mappas n." 415 com relacao ao numero de cadeiras, e d'alumnos. Quasi todos os lyccus eslao in- stalados, e providas as respectivas cadeiras : 0 numero dos alumnos tem crescido, sendo esse incremento dcvido em grande parte a portaria de 25 de setembro de 1851, que obrigou OS ordinandos aos exames dos lyceus: e OS professores tctn dcsetnpenhado com z(51o, c regularidadc os seus deveres. A conccntra- cao, poreni, da instruceao secundaria nos lyceus cncontra grande resislcncia. Nao ha povoacao por insignilicante , ([tie scja , que nao queira ser comlemplada na partilba das cadeiras de latim pcrmittida no art. 56 do decrcto de 20 de setembro de ISi-i ; e os mestres particulares chegam a assombrar os dos lyceus , cujos conselhos it^ni levantado contra elles um clamor geral, pedindo a re- pressiio da sua prcponderancia, com diversos arbitrios. 0 conselho, para obstar a(|uellas pretencocs, formou o piano da distribuicao das rcl'eridas cadeiras, que levou ao conheci- mento de V. M. na consulta do 1.° de feve- reiro de 1S50. Em quanlo ao ensino particular, se tem por inconvenicnte a libcrdade illimitada d'elle, nao acha mcnor inconveniente no monopolio do estudo. Nos art." 72, 73, 74 e 75 do citado decreto de 20 de setembro de 1844 da-se grande considcraoao aos diplomas dos lyceus : no litulo 3 e rcgulamentos posterio- res, exigem-se rigorosas habilitacOes aos pro- fessores particulares , e ordena-se uma in- spcccao vigilante e severa : na consulta de 15 de junbo de 1852 propOe o conselho su- perior d'inslruccao piiblica a V. M. a prohi- bifao do ensino particular aos professores pii- blicos : e lodas estas provideucias sao suf- licienles para garanlir a preponderancia dos professores piiblicos sobre os particulares, se elles as quizerem accompanbar com o zelo e aptidao no dcsempenho das suas obrigacoes, porque sem ello aquella preponderancia nao pcidc. nem deve cxistir. Ainda na instruceao secundaria ha outro defeito , que demanda promplo reraedio. A uniformidade e harmonia do ensino cm todos OS lyceus, e nas escholas annexas e indispen- savel, nao so para a regularidadc da instruc- eao, senao lambera para a exaeta apreciacao do merecimento litterario dos alumnos; porem essa uniformidade nao se pode conseguir com a livrc escolha dos conipendios, deixada ao arbitrio de cada eschola pelo decreto de 20 de setembro de 1844, no art. 107. Para re- mediar este defeito, que se acha arguido em alguns dos rclatorios, ja o conselho levou a presenca de V. M.. na referida consulta de 15 de junbo, uma proposta para que aquella escolha lique dependentc da approvacao do dicto conselho, como auctoridade central. A falta de cadeiras d'applicacao continua a ser 0 thema obrigado das declamacOes contra a instruceao secundaria: e na verdade sao ellas uma condicao essencial para os resul- tados uteis, que d'csta se devem espcrar: porem essa eondicao demanda despezas, que as actuaes circumstancias do thesouro talvez nao permittam satisfazer, e o goslo por essas applicarocs, que somente pouco a pouco se 39 pode ir fonnando. Para ensaio d'ellas foi pro- vida e posta era exercicio a cadeira de geo- metria e mechanica applicada as artes, em Lisboa ; apezar de ser esta o centro da in- dustria portugueza esteve aquella cadeira de- serta. Com este fundamcnto propoz o com- missario dos estudos o sobr'eslar no seu pro- vimento : porem o consolho, queiendo con- linuar aquelle ensaio, ordenou que se lizesse, mudando com tudo o seu local para o edilicio, ondc esta collocada a seccao commercial do lyceu, per ser mais accessivel as classes in- dustriosas ; e permitlindo a admissao a ma- tricula soracnte com certilicado de professor auclorisado, por onde conste que o nialricu- lando sabe ler, escrever e contar, como foi proposto pelo dicto commissario e approvado por V. M., na portaria de 21 d'oulubro ultimo. No lyceu de Lisboa aclia-se vaga a cadeira de lingua arabc, cujo provimento e rccom- mendado pelo reitor d'elle, como rauito ur- gente. 0 conselho superior d'instruccao pii- blica, ja na consulta de 7 d'outubro de 18ul, levou a presenca de V. M. a proposta para aquelle provimento, acompanhada dos mcsmos motivos d'urgencia que o dito reitor pondera; e por isso nada mais tem a accrescentar: mas aguarda a resolucao de V. M. Das escbolas d'instruccao especial apenas chegarara ao conhecimento do conselho os re- latorios da aula de diplomatica, c das acade- mias de bellas artes de Lisboa e Porto, dos quaes consta ter sido regular o andamento d'aquelles cstabelecimentos. Para a academia de bellas artes de Lisboa ja foi auctorisada por lei a compra de modelos de gesso, estarapas e livros: falta porem leval-a a effeito, e para isso ja 0 conselho levou ii presenca de V. M. uma consulta sobre o modo de a verificar. A do Porto insta no seu relatorio por egual au- ctorisacao, para a qual ja o conselho levou a presenca de V. M. uma proposta de lei, que acompanhou o relatorio do anno anterior. Continita. REPRESENTACAO Q"e dii'lgiu a S. II. o consclbo do lycea de Coimbra. Senhor ! — 0 conselho do lyceu nacional de Coimbra vai submetter a alta ponderacao de Yossa Majestade as circurastancias, cada vez mais criticas, em que se encontra este im- portante cstabelecimento. Ja em lii de julho de 1854, supplicou este conselho a Vossa Majestade que ordenasse a mudanca do lyceu para outro edificio; porque 0 hospital da universidade enlrara alii, e oc- cupara os andares superiores as aulas; e dos tectos choviam aguas entornadas nasenferma- rias, e fazia-se 'nellas tanlo ruido, que os professores Irequentementc eram obrigados a interromperem as suas preleccoes. Hoje, senhor, nao so continuam a ser en- formarias os andares superiores; mas ate no mesmo andar das aulas, de cinco d'estas aulas se fc« uma enfermaria de mulheres! E o lyceu ticou acantoado nas restanles casas, onde nial se pode fazer o servico de uma seccao da uni- versidade, que se compOe do doze eadeiras e de uma livraria, que deve ter casas para con- grcgacoes, para secretaria e para os guardas. Em 1834 estava o hospital no lyceu, e o conselho pediu respeitosamente a Vossa Ma- jestade que Ihe permiltisse mudar-se para a parte do edilicio do museu, ainda oecupada pela faculdade de medieina, liado em que a mesma faculdade deixaria aquellas casas de- volutas; mas agora, senhor, hem pode dizer-se que 0 lyceu de Coimbra esta no hospital ! Esta anomalia, afora os inconvenientes refe- ridos, pode trazer serias consequencias, se alii apparecer uma d'essas epidemias que, por vezes, grassam nos hospitaes, ou a cidade for invadida pela cholera-morbus, que infeliz- mente nos visitou o anno passado. Basta o panico de que naturalraente se deixa entrar a mocidade, c ainda os professores, para que, em taes circurastancias, se tornem a disciplina e 0 estudo irrcgularissimos. Porem, senhor, ura mal muito maiorcomeca a nascer da mesma fonte, e e tao grande, que faz esquecer os outros prcsentes e futuros. A enfermaria de mulheres, que nos sequeslrou cinco aulas, e unicamente separada dos geraes do lyceu por quatro portas, havendo em cada uma d'ellas dous buracos para ventilacao. 0 lyceu e frequentado por 45G alumnos, e entre estes muitos contarao apenas doze annos de edade. Ora 'nesta quadra da vida cm que as impressoes ficam indelevelmentegravadaspara sempre, ouvem aquellas criancas, nos geraes ' do lyceu , torpes discursos que Ihes dirigem as mulheres convalescentes, veem ate accoes deshonestas, que se troeam entre ellas e alguns estudantes. E tal c a primeira doutrina e cxempio ([ue recebeni antes de entrarem para as aulas! 0 conselho nao descobre edificio desoccu- pado onde possa o lyceu estabelcccr-se. Tem feito repctidas invcstigacoes e vistorias, e a nao ser a parte do museu, que em 18ui in- dicara ao governo de Vossa Magcstade, so dcpara com cellas e estreitos corredores de conventos, onde a policia e vigilancia e im- possivel. Mas 'naquelle local , onde com pe- •luena despesa ficaria por ventura o lyceu tao bcra accommodado como d'antes estava, per- siste a botica da universidade, apesar de se achar fora e distante do hospital, e poder resul- 40 tar d'ahi nao scrcra os docnlcs promiitanicute soccorridos, com rcniedios que, a deshoras, tenhani de vir d'aquello dispcnsalorio ; p(!rsiste um llicalro analomico, seni liiz, scm venlila- cao baslaute, som muilas oulras londicrii's exigitlas, e por isso o deoroto de 20 de scti'in- I)ro de 1854 mandou orgaiiizar oulro Iheatro analomico. 0 coiisellio recoiilvM'c qiiiio poucn eoiivrm a faziMida piililica eoiislruir-se, em Coiiiibra, um novo edilicio para lyeeii, como se esUi fazeiido cm iVveiro, porque foia isso augmeii- lar as despesas do Eslado com uma verlia de niais deseseis conlos de reis ; mas, a oilios vislos, 0 consellio leria uma respo'.isabilidade ininiensa para com Vossa Majestade, para com a Naeao inteira, se, per lodos os meios ao sou alcance, nao clamasse que, nas actuacs circiimslancias, — esta o credito do lyceu cm risco de perdcr-se, visto como, faltando al- gunias londicocs indispensaveis para que a iiislruccao alii aprovcile, dao-se outras que produzem a corrupcao moral da moeidade, e podem conipromelter ate a saude e a vida dos alumnos c professores. 0 consellio pois nao cnxerga mcio algum de cvilar cstes males que nao seja — occupar a faculdade de medicina o resto do antigo coUegio das artes com os eslahelecimentos, que tern 'naquella parte do museu, e mudar- se 0 lyceu para alii, feitas algumas obras absolutamente necessarias. Alias e forcoso que 0 hospital saia do antigo collcgio das artes, que, desde a origem, foi sempre o edilicio mais asado para um cstabclecimento de in- struccao piiblica, qua I e o lyceu nacional de Coimbra. A. clevada inlelligcncia de Vossa Majestade fara d'estes clamores uma devida apreciacao : 0 amor que Vossa Majestade tern pela instruc- cao publica optara pelo remedio, que o consellio tanto dcscja e implora. Deus guarde a Vossa Majestade, Coimbra cm conselho, 13 de maio de lSo6. 0 CASTELLO DE CALIABRIA. Juncto ao vertice c dentro do angulo for- mado pelo soberbo rio Doiro e o pequeno rio ou riheira d'Aguiar , esta um ingremc e al- cantilado monte, que suslenia ainda os restos de fortes muros. Este monuniento denegrido pelo tempo incute respeito ao observador, e, como que lastimando-se, Ihe implora um can- to, duas paginas sequer de recordacao do seu passado tao brilhante, mas ja submerso e quasi riscado da historia. Sens alios feilos e glorias alcancadas couscrvam-sc apcnas nos coracoes dos povos liniitrophcs, e na tradifao. Sao estes os restos do castello de Caliabria, lioje Calabre, distante de Villa Nova de Foz- ('.('la duas leguas a i'ste ; d'Almendra uma legua ao norte ; de Moncorvo qnalro leguas ao sul; c da Barca d'Alva, povoacao nascen- ti-, uma legua a oeste. Sua fundacao e incerta c muilo obscura, ponpic OS dados historicos I'altam, e a tradi- cao 'neste ponto lambem niio e verosimil. 0 mais crivel c (juasi certo e que fosse obra dos Romanes. Que fosse cdilicado no tempo ila republica ou no do iniperio, pouco iniporta ; porcni opinamos pelo tempo do imperio, c se nao I'oi no de Trajaiio, pnuco excedcra a esta cpocba ou llie sera anterior, monumen- tos descobertos nas proximidades do castello parecom attestal-o. A sobcrha naumacliia ou deposito de aguas, que vinios e examiuamos, juncto a cclcbre cida- de d'Aravor — hoje Marialva , qualro leguas ao noroestu de Caliabria ; a ])onti' de Cbaves construida por Vespasiano c Tito ; uma for- mosa cal^ada, espafosa, froiileira a Caliabria, e que tcndo seu coraeco a beira direita do Doiro, vai lindar juncto a Ligares, uma legua ao norte do nosso castello; c linalmente juncto ao niesmo castello , subindo pela margera direita do Aguiar, 'numa cxplanada, que ri- valisa com o peuedo da saudade de Coimbra, quando as amendoeiras estao floridas, admira- se um immcnso pedregullio e tijolos dispsrsos, que indicam ruinas d'alguma povoacao. Tem-se descoberlo algumas medalhas d'oiro e prata, e ultimamente uma comprida cadea de cobre, arrancada pelo arado; e com elTeito a este logar ainda hoje chamani — AKlca Nova, que da 0 nonie a romaria da Senbora dos Praze- res, cuja capella esta na niesma explanada juncto ao Aguiar, cortado 'neste sitio por uma ponle modcrna, que da passagcm para a Barca d'Alva. Os lusitanos antes e depois de Traja- no ligados ja com os romanos peios privilogios, que estes Ihes conccdcrani para tornarcm seus ferros mcnos odiosos, tinhani de combater e obslar a invasao dos barbaros, que assollavam a Italia e mais tarde baviam de aggredir a peninsula. Tudo nos leva pois a crer ((ue Calia- bria foi construido por Trajano ou por Theo- dozio, OS quaes, sendo hespanhocs, baviam de querer deixar na patria monumenlos dc sua mcmoria. Em quanto a area do terreno comprehen- dido d'entro dc seus muros, diremos que hoje leva de semeadura 40 alqueircs de ccnteio, scgundo nos aflirmara todos os lavradores que 0 tern semeado. A superficie compoe-se de dois pianos inclinados, formando um pequeno valle angular, cuja aresta constitue o diarae- tro de todo o circuito. Ao norte, e da parte do Doiro, ha ura espafo em forma de paral- lelogrammo terminado per marcos de canta- 41 ria, e tendo de coniprimento 12 a Vj nictros, c 9 a 10 de largura. No topo d'este parul- lelogrammo, existem grandes cunhacs de can- taria tomhados era montOes , deixando ver por entre clles tijolos, califa c pedra loisainha, de que e eonstruida a muraiha existciUe, scm liame e argamara. Dizem que esle espaco devia de scr o adro da Cathedral, caminhaiido d'esle lugar ainda para a parte do Uoiro, e juncto do muro, maiores pedrcgulhos se obscrvam; e notamos, que nao seria dillicil unia excavajao, porque as podras separain-se I'acilmcnte , e existem entre ollas vaos d'alguma profundida- de. Ao sul, c da parte da ribeira d'Aguiar, vfi-se unia fonte de agua cryslalina e saborosa, que no eslio a(iaga a sede aos ceifadores, quan- do 'iioulro tempo o fazia aos cidadaos. Frou- teira a esta foiite e para o nascente, ficavam as portas da cidade, chamadas ainda hoje, portas do sol, e que ja nao existem. A voz constanle e geral e que, dentro d'estes muros (iioje de 2."° em alguns pontos, 'nou- tros de 1°',10 d'allura), houve uma cidade episcopal , que dizem chamar-se tarabem Re- vena, e onde S. Apoilinario foi martyrisado; 0 que e certo e que o corpo de S. Appollina- rio jaz 'numa capella da povoafao d'Urros , fronteira a Caliabria, e cerca de uma pequena legua : a crenca d'este povo e essa. No cume do monle onde esta a capella do sancto, tal- vez mais de GO." acima do nivel do Doiro, ha uma fonte, que communiea com urn poco, cxistente na capella, e dizem crescer ou dimi- nuir a altura da sua agua, conforme o Doiro se eleva ou se abaixa. Durante o imperio wisigothico, subjugados OS suevos em 588, parece ter florescido Ca- liabria. A grande preponderancia do clero nas materias civis e criminaes, tractadas nos con- cilios, dava ao governo o cunho theocratico. A faculdade de eleger o monarcha confirmada no concilio 4.° de Toledo em 633, e a de /lesthronizal-o cram fracroes do poderdosdois elementos da nionarchia gothica — os magna- tes e OS bispos. 0 rei apenas podia convocar 0 concilio ; porque a approvaj'ao dependia d'estes. De todos os concilios, que tiveram logar na meia edade, os mais celebres sao de certo OS de Toledo ; e forara 'nestes que alguns bispos de Caliabria (iguraram. Revolvendo as paginas dos dilTercntes concilios de Toledo, acbamos ahi os scus noraes. No concilio 4.° em 633, no 6." cm 638, e no 7.° em 646, ap- parece o bispo de Caliabria Servusdei. No con- cilio 8.° em 61)3, tigura, conio bispo de Calia- bria, Coledonio ; e no concilio 15.° em 688, assigna-se Ervigio, bispo de Caliabria. Escrip- tores antigos lestilicam isto mesmo ; posto que alguns quciram que esta Caliabria, ou Calabre seja da Italia e nao de Portugal ; o que parece destiluido de fundamento. Existe na Italia uma Calabria, e verdade, provincia do reino de Napoles, porcm cidade com este nome, ignoramos-l!ic a posijao topographica, e tathegoria civil. A Italia depois de Constantino conlinuou a ser uma das grandes divisoes do imperio ro- mano, pertencente ao occidentc: coraprehen- dia trcz diocezes metropniilanas, que eram — a Italia, a Africa, e a lllyria occidental. De todas as diocezes e bispados da Italia nenhu- ma apparece com o nome de Caliabria, ou Calabria; pelo contrario as provincias da Ca- labria e Apullia estavam sujeitas a motropole deLuceria, que era a capital ecclesiastica das duas. 0 imperio do occidente cahiu com a invasao dos barbaros: os godos dividiram-se em wisi- godos e ostrogodos : os primeiros passaram a Uespanha, e formaram o vastu imperio wi.si- gotbico, que exclusivamente doniinavam. Du- rante este imperio convocaram-se os concilios provinciaes de Toledo, dos quaes, e pelos bispos que assistirani, se collige, nao tomarera parte 'nelles senao os bispos de Uespanha e Lusitania, cuja Metropole era Merida, a qual Caliabria pertencia. Nao pode portanto en- tender-se a Calabria d'llalia; ja porque nera foi nem e cidade, ja porque nao fazia parte do imperio wisigothico, dado o caso que o fosse: de mais seu nome e diverse, porque foi sempre — Calabria na Italia, e na Lusitania dizia-se — Caliabria, e hoje — Calabre. Que era Caliabria contada, no tempo de W'amba, entre as cadeiras episcopacs, e sufTra- ganea a Merida, testifica-o Mariana na sua historia de Uespanha , acrescentando que havia desapparecido inteiramente. Baudrand, — Diction. Geograf., e tambem De La Martiniere — Diction, Geograf. verb. Ca- liabria , confirmam a opiniao de Mariana , acrescentando — que foi uma das cidades que se perdeu com a invasao dos Sarracenos. No Diccionario universal ecclesiastico verb. Hespanha, vera designada Caliabria como sede episcopal, e suffraganea a Merida, scgundo a divisao fcita por Wamba, e achada 'num ma- nuscripto gotbico na egreja d'Oviedo. 0 nosso P." Luiz Cardoso, Diccion Geograph. verb. Almendra diz — ha no seu dislricto um alto cerro, chamado Calabre, cm que esta uma grande praca e muraiha muito forte dos moiros ; porem esta demolida e semea-se. Raphael filuteau, Vocab. Lusit. Latin, verb. Caliabria, diz — que foi cidade episcopal, de que reslam so os niuros, quasi demolidos no riba-Coa, juncto ao Doiro e Aguiar. Alguns porem, como Morae*, Ambrozio e Marineo, julgam que ainda existe povoada , mas com 0 nome de — Montanjes. Mas aonde lica Montanjes? Poyares, no seu vocab. verb. Caliabria, diz — que existe ainda. chamando-lhe Calabre, que e Villa Nova de Foz-Coa. 0 mesmo, verb. Montanjes, diz — e logar de riba-Coa. que foi Caliabria : e diz logo — Calabre logar 42 do ril)a-C6a, que disla uraa Icgiia dc Foz-C6a; e csta villa c Monlanjes lem o mcsmo iiome dc Caliabria. D'cslc cscriptor tiramos nos duas conscciuc'iirias 1." que Calialiria c liojc Foz-Cwi 2." que Caliabria disla uina Icgtia d'csta villa ; o que d;i um paradoxo. Aiiuia mais — Monlanjes tambcni foi e e lioje a Ca- liabria anliga — lopo, dizemos nos, Caliabria 6 Villa Nova dc Foz-Coa, c ao niesmo tenijio Monlanjes! , cslando cslcs dois logarcs sejia- rados. Nein Villa Nova dc Foz-Coa estii na clia- niada rilia-Coa, nem Monlanjes existe, jielo nienos e povoaeao para nos descoMlu'ciila em loda a eiina-Coa. D'estc mode pensa Fr. Blm- nardo de Drito, dizendo (jue Caliabria i)er- tcncendo, no tempo dos Siievos, ao bispado dc Viseii, foi crif;ida sede episcopal no im- perio gddo; e perdcndo-se, ficou sen noine apcnas, e sens rcslos firmes 'nam monle, a unia legiia do Villa Nova de Foz-Coa. Porlan- to Caliabria nao pode deixar dc ter os sens restos na coroa do nionte , cliamado ainda lioje Calabrc, lernio d'Almendra. Em que lenipo comcjou a sua decadeneia e ruina c ponto digno dc particular altenfao. A hisloria nada diz, c porlanto rccorremos a meras prcsumpfijes, que fundamenladas cm faclos historicos, podcni ler algura valor. Conliniitt. f. a. VEIGA. OS LUSIADAS. Trnduiruo rinncor LES LUSIADES. Continiiado de paj. 251 du IV vol. 38 0 Souverain des Dieux, loi de qui la puissance R(;glc eel Univers dont tu fus crealeur, Pour quoi privcrais-tu de sa noble cspeiancc Ce pcuple si longlemps I'objel dc ta faveur? De tant dc longs efforts la triste reconii>ense Ainsi done, a la fin, serait le deshonneur? Daigne exauccr ses voeux, et puissc ta justice Devuiler en ce jour Tcnvie et lartifice. 39 Sides soupconsjaloux, denoirs prcssenlimcnts. Nc rcmplissaient son conur dc fiinestes alarmcs, Bacchus prolcgcrait les braves descendants De cclui, qui jadis ful son compagnou d'armcs. Nc nous occupons plus dc ces ^ils sentiments; Si ses anclens lauricrs ont pour lui tant dc charmcs. Que loin de se livrer aux regrets cp.yicux, II chiTche a ramener dcs jours si glorieux. w Et Toi dcs immortcls le monarque et le pcre; 0 Toi, dont la Constance est un des atlribuls, Protege CCS heros, sois fcrme et persevere Dans Ics nobles dcsscins par loi m6me eoncus: Que Mcrcure scmblable J la (leche legtre Vole rapidcmcnt vers les fils dc Lusus, El que ce Dicu bicnlot les guide ct leur indique Un favorable abri sur la cote d'Afrique. 41 Ainsi paric en ce jour en presence dcs Dieux, Cclui dont les combats lasscnt la rcnommee; Par un signc cxprcssif du souverain des cieux La volonic de Mars est soudain confirmee. A son ordrc, aussitot, d'un nectar precieux Qu'on repand a grands flots, la vontceslcmbaumee, Les Dieux quitlent I'Olympc, ellraversant les airs Vout d'eloile en cloile, en leurs sejours divers. 42 Tandis que Ics destins dc la Lusitanie Sc pcscnt dans le ciel ; favorise du vent Gama voyait deja Tardcntc Elhiopic El Taspecl cnchantcur des bords dii St. Laurent. II traversait ccs Dots ou I'amant de Clytic Poursuit an fond des eanx de son flambeau bnllant Tons CCS Dieux, qui jadis, dans leur lerrcur profonde En poissons transform6s sesont enfuis dans I'onde. 43 Le Portugais jouit du soulTle du zi^phir. Qui sembic dc ces mcrs ecarter Ics oragcs, Le ciel parait d^ja propice a son dcsir, Sur I'horison serein il n'cst point de nuages. II passe le Prasus dont les vaisseaux de Tyr Connurent autrefois le nora ct les parages; Ses regards, s'etendant sur la plaine de I'eau, Decouvrent a I'iQslant un archipel nouveau. 41 En voyant ces pays le Heros inlrepide, Qu'un bonhcur sans melange a constammenl suivi, Vasco, dc rcnircprisc et le chef el le guide, Hesile qnclquc Icmps sur Ic choix d'un parti; A poursuivre sa route cnfin il se decide, La rote lui parait dcscrlc ct sans abri, Mais un evenemcnt, qu'il nc pouvait allendre. Sans changer ses projcts Ic force i les suspendre II voit paraitrc au loin derriere Ics recifs Dc frelcs balimcnts unc flolte nonibreuse, Gama se idait a voir sur des bateaux chelifs Des morlels affronter une mcr dangereuse. I-cs mariiis ignorant leurs desseins, leurs motifs, Se dcmandcnt, rcmplis d'unc ardeur curicuse, Quellcs seronl les mocurs, la croyancc ct les arts De cc pays nouveau qui s'offre a leurs regards. 46 Mais la flotic, qu'an loin ils a\aicnl apercue S'approcbe, les canols volcnt sur I'horizon, Dc feuillcs de palmier chaque voile est tissue, Dc lour langue sauvage on distingue Ic sou. Dc leur noire couleur I'originc est connue; II faut t'en accuser, insensc Phaeton, Quand rcmplissani Ics cicux dc Ion ardeur fougueuse Tu finis dans le Po ta cours dfsastreuse! 43 ■■'^■rifirrnn "47 'r' Du colon bigarr^ qui fait leur v^tement On aime a regarder la bizarre parure, Ouelquefois on le veil drape negligemment, Plus souvent ses replis leur scrvent de ceinture. Leurs corps soni exposes aux traits d'un ciel brulant , Un sabre, un bouclier, sunt leur unique armure, Sur leurs fronts basanes ils portent le turban, Et s'avancent au bruit de leur clairon bruyant. 48 Agitant dans les airs une etoflc grossicrc Leurs signcs reputes appellent les vaisseaux, Et I'escadre deja navigue vers la terre ; On resserre la voile, on mesure les eaux, A I'ardcur qui remplit la cohorte guerriere On croirait que ce jour tcrmine ses travaux, Enfin on jctie I'ancre, et dans la mer profonde EUe tombe, et ce choc a fail rejaillir londe. 49 Les Portugais a peine arrives k ce port Sont entoures soudain par ces holes sauvages. La Dolte retentit de leurs jnyeux transports; On les voit s'elancer a I'aide des cordages; Avec douceur Gama les recoil sur son bord, On leur offre a I'envi des mets et des breuvages; Et ce peuple brulc des rayons du soleil S'enivre avidement d'un vin pur et vermeil. 50 lis parlent presque tons la langue d'Arabie, Et dcmandenl sans ccsse aux enfanls de Lusus Quel dessein les conduit, le nom de leur palrie, Quelles mers, quels pays, leur flotle a parcourus. La troupe des heros de la Lusitanie Repondait par ces mots r. leurs discours confus; Nous habitons les bords des mers occidenlales. El nous venons chercher les mers orientalcs 51 Sur ces freles vaisseaux vognant vers le midi ; Nous avnns navigue vers le pole antarclique. Nous avons decouverl et longe jiisqu'ici Lc rivage inconnu de la cote d'Afrique, Nous sommes Portugais, sujels d'un roi cheri, Et pour plaire a ce roi puissant et magnifique, Ainsi que nous savons affronter I'Aquilon Nous verrions sans palir I'Averne, et 1' Acheron. 52 Deja dppuis longlemps parcourant ces parages Dans I'espoir d'arriver jusqu'aux bords Indiens, Nous avons navigue, resistant aux orages, Au milieu des phocas, et des monstres marins. Mais rous, que nous trimvoiis sur ces tointains rivages, Veuillez nous confier voire nom, vos destins, Peul-etre, rcpondant a nulre juste envie, Pourrez-vous nous guider vers les cotes d'Asie. 53 Ncs sous un autre ciel, cnfants d'unc autre foi. Nous sommes, rcpondit un de leurs interpretcs, Etrangers a cetle ile, a son culle, a sa loi : Le sauvage habitant de ces apres relraites De la raison encore semble ignorer I'emploi; Pour nous, adorateurs du plus grand des prophi^tes. Nous apparlenons tons au peuple d'Ismael Donl I'empire est immense el le nom immortel. Continua. TELEGRAPHIA ELECTRICi , (Continuado de pag. IS.) ' ' ' Telegraphos de Steinheil, e de Bain. Alem dos telegraphos electricos, que lemos descriplo 'nesta s-uccinta nolicia, existent ou- tros niuitos systemas, que seria longo enume- rar aqui. Menciouaremos, porem, os de Stei- nheil, e de Bain, porque sao mui differeiites de todos OS outros. Telesi'a:>9io grapbico e pltoiietico. Steinheil servc-se dos appareihos eleclro-ma- gneticos em \ez das pilhas, e da terra como de segundo conductor: para cste Ora um Go udIco, em cuja extremidade existe uma lami- na de cobre de 15 cenlimctros, se introduz no terreno. As aguihas movem-se da direila para a esquerda, por meio da electricidade, fazendo durante csles moviraenlos tocar di- versas campainhas, cujos sons distinctos per- miltem que se falle uma linguagcm musical, seguindo todas as nolas da escala nos dille- rentes tons. Por um mechanismo especial, ao mesmo tempo que as aguihas se movem por meio da electricidade, tambem um papel de musica e movido verticalmente; e no momen- to em que uma das campainhas da uma ba- daiada, um tubosinho raolhado era tinta raar- ca na competente linha do papel um ponio, que indica o valor da nola dada pela cam- painha, de mode que um despacho telegra- phico assira escriplo assemelha-se a um sol- fejo de canlo-chao. Por esle processo, ao raesmo tempo que os diversos signaes ou palavras , se obtem a prova escripta d'esses tons, representados per oulros tanlos pontos sobre as competeutes liahas do papel de muzica. T«l5»srat!J80 electi'o-cliiuiico. Este sy- stema, cujo auctor e Bain, parece uma inspi- rarao do tclegrapho de Morse. Como no tele- grapho araericano, os despachos sao lanja- dos sobre uma lira de papel, que se vai de- senrolando pelo movimento do uma roda, ao mesmo tempo e em virtude da mesma forca que transmitte as communicacoes; o papel, porem, de que se usa no lelegraphu de Bain e imbebido em iodurcto de polassio. Este pro- cesso assenta na propriedade, que tem a cor- rente electrica, de decompor os saes metali- cos, fazendo passar o metal para o polo ne- gativo. Quando pois uma haste metalica, to- cando no papel chiniicamente preparado, rece- ber a corrente electrica, o iodureto de potas- sio, que elle conlem, sera decoraposto no ponto locado pela corrente, e o papel adqui- rira nesse ponto a sua cor primitiva. Se a corrente for momentanea marcara so um pon- to, se se prolongar marcara um risco, e isto 44 tantas vezes, e com tantos intervalos, quantas forem as rorrentes o a sua intcrmittcncia. Bain modilicou ullimamente cste apparc- llio, mas com pouca vantagem, pcia morosi- dade que resullava na IransmissSo das Icllras por minulo. VII. Organisacdo do servifo dos telegraphos electricos. A America c incontestavclmente o paiz on- de a telegraphia eleclrica tem sido empregada em mais vasta escala. Nos Estados-Unidos o lelegrapho olcctrico, nem e propriedade do Estado, eomo em Fran- ca , e nos principacs eslados d'Allemaniia ; nem e o monopolio concedido a uma compa- nliia, como na Inglaterra. N'America a transmissao dos despachos telegraphicos e objecto de Industria particu- lar exercida por muitas companhlas, na admi- nistracao das quaes o govcrno nao tem inge- rencia alguma, nem raesrao ellas carccem de auctorisafSo legal para se organisarem. A actividade do commercio, a extensao do ter- ritorio, as distancias a que se acham os gran- des centres da populacao, em lira o amor de todas as innovacoes uteis , feifoes caracte- risticas d'aquelle povo, taes foram as causas, que fizeram generalisar rapidamente 'neste paiz 0 estabelecimento dos telegraphos electri- cos, quando na Europa comefavam apenas a cnsaiar-se. A concurrencia das diversas companhlas tem felto, nao so baixar o prejo das commu- nicacoes, mas facilitar essas mesmas commu- nlcacoes, que de trezentas se elevam hoje a seiscentas por dia em cada companhia, al- gumas das quaes possuem seis fios, custando cada dcspacho de dez palavras apenas um franco ; e todavia apesar d'esta barateza c tal 0 movimento commercial em algumas das cidades dos Estados-Unidos, que em Nova York, por exempio, negociantes ha, a quern as correspondencias pelo telegrapho electrico custam 400 francos por mez. Os despachos sao expedidos segundo a or- dem da sua apresentacao, e sao Iransmittidos indistinctaraente em todas as linguas, e ate cm cifras de segredo. 0 jornaes americanos tfim contrjctos espe- ciaes com as diversas companhlas para as suas communicaeoes, e para este fim alguns d'entre elles eslao assoclados, e sao represen- tados por um agente, que Ihes transmltte as nolicias; assim mesrao os sels principaes jor- naes de Nova York gastam por anno, com as communicaeoes lelegraphicas, 150:000 fran- cos, 0 que corresponde a 25:000 francos por cada folha. Em Franfa fol a lei de 29 de dezembro de 1850, que regulou o servijo das linhas telegraphica;, cstabclcccndo as condiciies nc- cessarias para a expediyao dos despachos dos partlcularcs, e a tarifa dos prci'os, que sao regulados segundo a extensao das respectivas linhas tclegraphlcas. Segundo aquella lei, um despaclio de ale vinle poiavras devc cuslar 3 francos, mais o direlto addicional de 12 cen- tesimos por myriametro em proporcao da dislancia. Acima de 20 |)alavras a taxa aug- menta um quarto por cada dezena de pala- vras. A lei de 7 de maio de 1853 lornou mais favoravel a tahella dos prejos, fixando OS despachos de 1 at6 20 palavras em 2 fran- cos, mais 10 centesimos por myriametro: o prefo dos despachos trasmittidos de noite 6 0 dobro. Em Inglaterra estii estabelecido por lei que todos, sem favor nem prefercncia, tern direito de cxpcdir ou reccbcr communicafOcs pelo telegrapho, saiva unicanicnte a prcfcreucia nos despachos do servifo real, ou da compa- nhia dos telegraphos. Telegraph Company. Os precos estabclecidos por csta companhia sao de 10 centesimos por milha, por cada 20 pa- lavras, ou 6 centesimos por kilometro. Esta companhia possue fios electricos na extensao de quasi quatro mil kilometres, e emprega mais de seiscentos apparelhos. 0 rendimento dos telegraphos electricos tem de dia para dia augmentado extraordi- nariamenle. Em Franca no mez de sctembro de 1852, OS despachos particulares renderam 40:000 francos, e logo no moz seguinte 60:000 francos. Hoje este rendimento tera quadruplicado. A companhia dos telegraphos electricos de Washington a Nova York foi cstabelecida em 1852, com ofundode 370:000 dollars: anno e meio depois a sua receita total era de 385:641 dollars! J. M. DE ABREU. INSTRUCQAO PRIMARIA. noKi'OKta no Hr. t. F. <■<■ C'aKlillio. »cpr- ca do Slelhoilo porUiuuoz, pela Asso- riartio ilos piore^iKogest do rcino o ilhaM. Conliniiado de pag. 33. QUESITO IX. Qual dos dous (melhodos) a/fianca mais poH- cia, attenrdo e decencia as esclwlas? Appresentam-se n'este quesito as conse- quencias d'uma so cousa, que o mesmo auctor do methodo portuguez nan declara precisa- raente. Talvez d'aqui provenha o grande ar- dor, com que defende por exaggerados elo- gios as fantasiosas conquistas de preciosida- des para o bem publico, as quaes decidiu fazer acreditar no seu methodo, quo fero de niorle a ediicacao, que e o ohjcclo, que ficou occulto, e e 0 ponto principal da queslao. E com a educacao que se allianfa a boa oidera, ou a policia, que cm si compreiicnde a allen- fao c a dcccmria. Qualquer methodo dc ciisi- no sera bom, quando e conveniente ao pro- fessor, que leva os seus discipulos ao conse- guimento da atlencao na eschola. Este pro- lessor sera sempre o que o methodo Ihe pro- porcionar que seja: bom, se llie der meios de se mauler com a gravidade e sisudeza, de que nao pode abster-se sem offensa da educacao. Vamos aos fructos do esludo, e as indaga- foes sobre o methodo poiimjiiez. Este incita as crianfas a imaginar o que nao podcm apreciar nos fins, e nas convcniencins piibli- cas. A experiencia nos niostra que ellas, com a sua natural mobilidade, nao cncontram no methodo moderno senao occasiOes de hilari- dade, de distraccao e irrevereneia, apenas o professor nao so de para isso motivo com os exercicios do dicto methodo, mas bastando que elle consinta que os discipulos facam OS referidos exercicios, ou ainda quahjuer d'elles. Os meios, que o methodo moderno estabelece, sao contraries aos seus fins; e e esta nma verdade, que superabundantes pro- vas tornam incontrariavel. Similhanle pecca- do nao esta no methodo antigo, apezar dc suas remediaveis imperfeicoes. E na resposta ao presente quesito, por isso que elle tracta unicameute da policia, atten- fao e decencia nas escholas, que a commis- siio se ve corapellida a descer a promenores ainda mais minuciosos do que nas respostas antecedentes. Tendo ella de examinar e com- parar, nos seus trabalbos, e nos seus produ- ctos, as escholas do methodo porluguez, e as do anterior, a tim de que sobre esta base positiva possa dar iima sentenra imparcial, julga do seu honrado dever nao despresar quaesquer factos favoraveis ou desfavoravcis ao methodo em questao. A conimissao pois, com vehemente magoa, tern novamente de reccorrer a alguns factos, ja apontados nas respostas ao 3.° e S.° quesitos; mas agora expendidos com maior individualidade, e que, seguramente, devem ser de grande peso no juizo sobre o methodo portuguez. A caniara municipal de Setubal, havendo estabelecido, a expensas suas, unta eschola pelo methodo portuguez, pouco depois, pela i'alta de policia, d'attenfao e decencia, uascida dos exercicios do mcsmo methodo, sempre contraries as escholas e aos profcssores, teve, como unico remedio, de a mandar fechar, para assim ter- minar o grande mal, que via nao poder impe- dir. Outro tanto aconteccu a eschola creada na cidade de Castello-Branco. Estes factos nao sao poeticamcnte improvisados, documentos authenticos attestara a sua veracidade. Em outras escholas pelo mesmo methodo, que hao desapparecido, algumas desaperccbidamente, se tem dado os mesmos cases de falta de respeito e subordinacao. A propria eschola do illustre auctor do methodo porltiguez consta haver tambem succumbido pelos escandalos 'nclla rcpelidos, e que ainda nao podem esquccer. Taes sao as provas piiblicas, que matam o methodo porluguez, e Ihe criam rijos adver- sarios, sempre armados de razoes invenci- veis. Sao estes adversaries os chefes de fami- lia, que tiram as crianfas d'estas escholas, declarando em alta voz que os discipulos, por este methodo, se arruinnm na edueafao, e se inhabilitam para os outros estudos. A ccmmissao portanto, terminada aqui a sua resposta, pelas razoes da analyse e da experiencia, pelas disposicOes de justica e imparcialidade, entende que nao pode deixar de dizer que o methodo portuguez nao affian- ca mais policia, attencao e decencia as escho- las, do que 0 methodo antigo. QUESITO X. Finalmenle, em qual dos dons (melhodos) se aperfeicoard melhor e crescerd mais o pro- fessor primario aos olhos dos seus alumnos, no respeito das populacoes, na estima da sua propria consciencia, e no juizo da Pro- videncia, cujo e delegado sobre a terra ? Nas respostas aos quesitos anteriores, e par- ticularmente ao 9.°, se tem mostrado com toda a evidencia, que o methodo porluguez nao so traz comsigo a decomposicao moral, e a dis- solucao physica das escholas, onde e prali- cado, mas tambem que desconceitua o pro- fessor, que 0 excj-ce, e tanto mais, quanlo iiiais genuinamente o methodo for observado. E necessario que se trade d'cste professor em complemento da ardua tarefa, imposta a conimissao. A admissao do methodo moderno e inconveniente ; e as razoes, que auctorisam a commissao a assim o declarar, abundante- mente ficam expressas nas suas diversas respostas, que nao podem scr consideradas nuvens por castellos, nem palavras pjr ideas. Tem provado a experiencia (jue, quanto mais zoloso for o professor pelo methodo por- tuguez no desempenho do sen ministerio, tan- to mais se desconsidera, e destroe a policia da sua eschola, abreviando-lhe a existencia na proporcao da sua ponlualidade. Uesron- sidera-se o professor, cantando, palmeando, contrafazendo sons, e fazendo tregeilos cm presenra dos seus discipulos; e tudo isto em observancia das disposicoes do methodo por- tuguez. As criancas tomando geralmcnte por divertimentos taes exercicios, que nao podem ainda avaliar, levarao estes suppostos grace- 46 jos a folguedos c ate ao cnfurccimcnto d'al- guns, por cantarcm, gritarem, liatercm pal- mas, imilando o professor. Daqui iiascc a incvitavcl decomposifao moral, por tacs oxcr- cicios Icvarom os discipiilos a ooiisidcrarcm 0 sen mestre um companheiro no briiiqiiodo, acabando com islo a rcvcrencia, o respcilo e a obediencia. Esle mostrc ja iiao serve para mauler a policia da csrbola, que so d'elle pode cmaiiar. D'aipii provom a irromediavel dissolurao physica da esciiola : abundautes sao as provas d'esta verdade. Tern tambem mostrado a cxpericncia que, ou 0 professor pelo melhodo moderno ba de niodilicar, substiluir, c por cstas alteraroes abastardar o melbodo, para ter alguma cxi- stencia a sua escbola, ou com o sou desem- penho genuino ba de mais breve acabar a cxistencia da mesma escbola, ficando eile desconsidcrado, e com grave prejiiizo a in- struccao piiblica. As populacoes, que igno- ram o metbodo porhiguez por ser, em geral, novo para ellas, cuidando que dos professores provom 0 maior mal, c ruina das escholas, hao de ter em pouco, c al6 mesmo despresar estcs professores; e, em vez de os olharcra no engrandecimento, que o illuslre auctor do methodo mordeno Ibes augura, elles con- linuarao a ser apupados. como, para vergo- nha do magistcrio, o foram em Selubal e Castello-Branco. Nem o mesmo illuslre auclor do melhodo moderno escapou a tal desven- tura 'nesla capital, e n'oulras partes. Ye-se pois que o melbodo portuguez inspira as populacoes urn sentimento bem contrario d'aquelle, que o seu illuslre auclor certifica. As populacoes reliram sens fillios de tal en- sino para os livrar de maior mal na educa- cao. Os cbefes de familia vao pedir aos pro- fessores, que pretendiam ensinar por esle metbodo, que continuom no ensino polo me- tbodo anligo, porque o moderno llies nao pa- recia proprio de pessoas sensatas. Esle facto de que ha documento aulbcntico, deu-se, in- felizmente, em 18o3 na villa da Ericcira. Grila-se geralmentc contra o ensino moder- no, que induz os discipulos a zomhar do mestre, e as populacoes a despresarem os i.v^smos mestres. Com o metbodo portuguez, tcremos os paes nao confiando seus filhos dos mestrcs; teremos ura calamidade geral na instruccao publica. Finaimente, diz esta commissao que os delegados da Providencia nao dilatam as Ire- vas da ignorancia ; dcstroem-na, porque imi- tam 0 Redemptor do mundo no disvelo da practica da verdadeira caridade, ensinando 05 ignoranles, dando luz a intelligencia dos meninos, e desenvolvendo-os das primeiras trevas. 0 Redemptor do mundo deixou nos seus discipulos os apostolos, seus delegados; 6 OS apostolos, imilando o seu Divino Mestre, deixaram nos professores similhante delega- fao a que haviam rccebido, para que a can- dado nao solTrcsse. D'aqui nasce o raagiste- rio, a que os professores perlencem. A com- missao pois, (pie islo sabc e aprecia, diz, alim de nao dcscer da sua alia dignidadc, que 0 melhodo portuguez Ibe nao convem, nem tambem convem ao publico. Esta commissao terniiiia aqui a sua ardua tarefa, baslante ardua, assim por ter de ex- pcnder o seu parecer em materia tao impor- tante, e de tao alia gravidadc, como por se acbar assaz occupada no grande trabalho do magisterio. Taes I'oram os motivos, na verda- de muito altendivcis , que obstarara a que a commissao fosse meiios morosa no seu pa- recer, como desejava. Em lim, a commissSo reconbece dever aproveitar esta occasiao de tributar o seu profundo respeito, cstinia e consideracao ao cxm." sr. Antonio Feliciano de Castilho, dignissimo commissario geral de instruccao primaria pelo metbodo portuguez no reino e ilbas, a quem Deus guarde por dilatados annos. Sala das sessoes da commissao nomeada ad hoc pela associacao dos professores d'este reino e ilbas, 23 de Janeiro de 1856. Em 29 de novembro proximo foi visitada a escbola do Asylo da infancia desvalida de S. Thome, a fim de se formar na practica ura juizo .sobre a proficuidadc do metbodo portu- guez, e OS resultados abi obtidos sao os se- guintes : Leitura individual. — Maria Candida, 11 annos de edadc, cinco annos de frequencia, trez pelo metbodo portuguez, e dous pelo an- tigo, leu soffrivclmente. Adelaide Augusta da Conceicao Antao, 11 annos de edade, quatro annos de frequencia, trez pelo melhodo portuguez, e um pelo anli- go, leu muito mal. Maria Jose Pires, 11 annos de edade, qua- tro annos de frequencia, trez pelo methodo portuguez, e ura pelo anligo, leu solTrivel- mente. Jose Guerra da Fonseca, .scis annos e seis mezes de edadc, quatro annos de frequencia, trez pelo metbodo portuguez, e um pelo anti- go, leu sofl'rivelmenle, Maria Gertrudes de Jesus, 7 annos de eda- de, quatro annos de frequencia, trez pelo me- thodo portuguez, e um pelo anligo, leu sof- frivelmente. Uosalina, 7 annos de edade, trez annos de freijuencia pelo metbodo portuguez, leu sollri- velmenle. No canto notou-sc oseguinte: que algumas meninas naocanlavam ; outrasestavam distra- hidas; no geral achou-se desentoacao, o que, naturalmente, contribuia para que, a custo, se percebesse o que cantavam. 47 A orthographia adoptada tanlo nos livros, por onde as meninas aprendem a ler, como na escripta, e a clymologica. Nada se pode ajuizar sobre conlabilidade e escripta , por dizcrcm as mestras que estas disciplinas cram ensinadas pelo methodo an- tigo. Nada tambem se pode ajuizar acerca do progresso em grammatica, analyse, elcmen- tos de bistoria portugueza, c civilidade, por se nos dizer que nao secnsinavara estas disci- plinas. Nao se pode formar juizo sobre a leitura manuscripta, por nos esquecer esta circum- stancia. Segundo a opiniao das mestras, que com toda a franqueza nos foi dada, o metbodo fortiiguez nao e repentino, e consome no en- sino mais tempo do que o autigo, porque as pinturas, e os diversos valores dos elementos causam confusao as criancas. Em 13 de dezcmbro proximo foi visitada a eschola do Asylo da rua dos Calafates, e os resultados ahi obtidos sao os seguintes: No canto, em que se consumiu demasiado tempo, se acbou muita harmonia, e bastante desiuvolviaiento nos preceitos theoricos do me- thodo portuguez. Nada se pode ajuizar sobre a leitura, por se conhccer na mestra certa repugnancia a que as meninas lessem indevidualmente, pre- textando esta repugnancia com o estar a bora adiantada, e nao poder alterar o tempo desti- nado aos difl'erentes ensinos. Encontrou-se tambem a mesma repugnancia em se nos dizer 0 tempo, que as meninas tinbam de frequen- cia, allegando-se-nos razoes, que nao julga- mos attcndiveis. A orlbographia adoptada tanto dos livros, por onde as meninas apprendem a ler, como na escripta, c, segundo nos foi dicto, a ety- moiogica. Nada se pode ajuizar sobre contabilidade, por nos ser dicto pela mestra que o metbodo porlvguez ensina simplesmente a conhecer a numeracao arabica e romana; nem tao pouco sobre a escripta, por falta de tempo. Nao se pode tambem formar juizo acerca do progresso em grammatica, analyse, elementos de bistoria portugueza, e civilidade, por se nos dizer que nao se ensinavam estas disci- plinas. Segundo a opiniao da mestra, que aqui se declara fielmente e com toda a ingenuidade, 0 metbodo portuguez, no ensino de ler, e ex- cellente, magnifico, e nada deixa a desejar. NB. Muito desejava esta commissao visi- tar ainda mais algumas escholas dos Asylos; porem o mau tempo, e sobre tudo o trabalho do magisterio, a que esta ligada, obstaram a que ella podesse levar a etfeito seus ardentes desejos. 0 presidente, Jose Pessoa. — 0 relator, Antonio Camilla Xavier de Quadros. — 0 se- cretario, Antonio Jose Baptista Hentze. — Antonio Pereira Ferrea Aragdo. — Joaquim Antonio de Bastos. — Jodo Jose Maria Jor- dao. — Antonio Joaquim de Figueiredo Eliser. — Joao Antonio Bias. — Manuel Bernardo da Fonseca Claro da Silva e Sonsa. — Jose Florencio Michally. — Duarte Moreira de Cam- pos. — Jose Maria Taveira. — Pedro Baptista Goncalvcs de Macide. — Antonio Francisco Moreira de Sd. — Jose da Motta Pessoa de Amorim. — Vomingos Felix Ferreira. — Jose Teixeira da Silva. — Antonio Andre Maciel (vencido em partes). — Joaf/uim Vital da Cu- nka Sargedas (idem). — Jodo Rodrigues de Figueiredo (vencido no todo). NOTICIAS LITTERARIAS. As observacoes metcorologicas vao tomando grande incremento onde se tern a peito o pro- gresso da meteorologia , scicncia que parece destinada a niinistrar dados importaules as outras sciencias physicas, mas que na verda- de ainda esta muito atrazada. No observatorio meteorologico da eschola polytechnica de Lisboa, ja se fazem observa- coes que merccem a attencao da academia das sciencias de Pariz, e honrosa mencao nos jornaes francczes. A faculdade de philoso- pbia d'esta universidade parece querer seguir este nobre exemplo, e muito descjamos que 'nisto, como em tudo o mais, scja um modello admirado 'neste paiz e fora d'elle. 0 gabinete de pbysica ja possue dous excellentes barome- tros de Fortin, um bygrometro de Regnault, um anemometrograpbo electrico construido por Mr. Salleron, e um pluviometro ; mas estes instrumentos, evidentemente, nao ba- stam para se fazerem observacoes regulares e completas, de cuja discussao resultem gran- des e novos resultados. 0 osone que perece nao ser outra cousa mais do que o oxigenio electrisado positiva- mente, e que, segundo as recentes observa- foes de Mr. Scoutetten, e formado pela elec- trisacao d'este gaz expirado pelos vegetaes, pela do que se scpara da agua, pela do que se desenvolve nas reaccoes chimicas, e final- mente pelos phenomenos electricos que rcagem sobre o oxigenio do ar atmospherico, o osone, dizemos, e boje um objecto de importantes observafOes, e para as fazer convinba que o gabinete de pbysica da universidade tivesse tambem um osonometro. As indicajoesosonometricas, defeito, podem esclarecer muitos phenomenos racteorologicos ainda obscuros, e grande nnmero de factos do dorainio da physiologia o da pathologia ve- 48 gelal c animal. Sobre a inQucncia do osone no estado sanilario de uma loealidade, aprcscn- tou Mr. Wolf, na acadeniia das sciencias dc Pariz, uma iiileressantc nolicia. Grassava em Berne e Saaiien, no verao de ISiio, uma dysontei-ia epidemica, que, nos mezesd'agoslo e setembro, produzia a media de seis a sete dejecroes por dia, em vcz de duas c meia, media ordiiiaria. Mr. Wolf, comparando as phases da epidemia eom as iiulicacOes do osonoinelio, atbou (jue a qiiautidade do osone, existenle na atmosplicra, era maiorou nieoor, segundo que a epidemia estava mais ou menos activa. Uma das muitas quesloes que a meleorolo- gia tracta de resolvcr e — quantos dias ha de sol em rada clima e cm cada anno, e como se repartem esses dias:. As observacoes actuaes, ainda as que melhor representara o estado do ecu, nao resolvem esla queslao, porque os observadorcs nao podem nolar em seus re- gislros, seiiao esse estado apparente era eertas horas convencionadas. Mr. Pouillet fez ha pouco construir um inslrumento simples, que trabalha por si mesmo, e ao qual ehama acti- nograjilio. Fuiida-se em uma applicajao da photograpliia, c tern por lim indicar os in- stantes do dia em que o sol apparece ou se esconde eiitrc as nuvens, hem como o tempo que duram estas occultacOes. E bem sahido que os liquidos se elevam ou se deprimem nos tubes capillares, segun- do que sao ou nao susceptiveis de os molliar; sabe-se que a altura a que o liquido sobe nos lubos dccrcsce, com a elevacao da tempera- lura, e a lei de lal dccrescimento foi achada por M. Brunuer e muitos outros physicos Po- rem uuuea se investigou a exactidao d'essa lei em temperaluras superiores a ordinaria da ebulicao do liquido. Mr. C. Wolf professor de physica no lyceu de Melz fez, com esle intuito, sobre o ether sulfurico recentes expe- riencias, e obscrvou que a 101° desapparece a columna liquida e a sua supcrticie torna-se plana — que a 198", a superlicie desce abai- xo do nivel do liquido exterior e torna-se convexa. Parece pois existir, para cada liqui- do, uma lemperalura a qual elle deixa de molhar o vaso que o coutera, e que varia com a natureza do liquido e a do vaso. REL.^CAO Dot individn ts nomeados para os seguintes l'*garcs d'instruc^an publico, desde o dia I." atp 15 de inaio corrente. em virtude de desparhns do Conselho superior d^instrucrd'i puhHca, e decret-is e pirtnriasdo Gwerno coininnnicadotao mesmo Consellf) no indica do period o. I?iSTRUC(;\0 PHIMARIA. Fortunalo Jose d'Almeitla, para professor tempora- rio da cadeira de Albergaria a Veiha, districlo d'Aveiro. MaDuel Pedro Machado, para dicto de Coiaa, disln- cto de Lisboa. Joilo Marques de Faria Faia, para dicto de Fratel, districto de Castello IJratico. Joaqiiim Manuel d'Almeida Diniz, para dicto dc Porlalegre. Antonio Casimiro d'Almeida e Figueiredo, para dicto d'Arronchcs, districto de Porlalcgre. Alvaro Jose dos Santos Claro, para dicto de Villa Verde do Estremo, districto de Villa Real. Aurelio Augusto Pinientel d'Azevedo, para dicto de iliodades, districto de Viseu. Daniel Maria Coelho Varao^ para dicto da Mar- melleira, districto de Viseu. Francisco de Paula Ferreira Mendes, para dicto de Matacaes, districto de Lisboa. JoSo da Cunha Lopes e Silva, para dicto de Silo Pedro de France, districto de Viseu. Juao Louren^o de Bairos, para dicto de Bellas, districto dc JJsboa. Manuel Gun(;alves d'Aliueida Bastos, para dicto do Sobral, districto dc Viseu. Manuel Mattieus Rodrigues Sepeda, para dicto de Sao Juliiio, districto de Bragan^a. Bento Jose de Matlos, para o logar de ajudante da esclmla d'ensino niiitiio de Viseu. Joanna Vieira de Bettencourt, para mestra tempo- raria da eschola dc mcninus da fregnezia de S. Mar- tinlio, districto do Funclial. Maria Jose da Silva Pinto, para dicta de Felgueiras, districto do Porto. Antonio Dominc;ues, para professor vitalicio da ca- deira de Silva Escura, por transferencia da de Sever do Vouga, districto d'Aveiro, decreto de 28 d'abril ultimo. INSTRUC^AO SECUNDARIA. Joao Louren^o dos Santos, para professor temporario da cadeira de latim de Mangualde, districto de Viseu, portaria de .3 de maio corrente. Joaquim Freire de Macedu, para professor vitalicio da cadeira de histona , chron»)logia e geographia , da secc;ao central do lyceu naciooal de Lisboa, decreto de ."lU d'abril ultimo. INSTRUC^AO SUPERIOR. Caetano Maria Ferreira da Silva Beirao, para o logar de segundo subslitnto das cadeiras de medicina da eschola medico cirurgica de Lisboa. O J0R:\' AL ni ^OCIEDADE ACRICO- \a\ UO rOUrO publica-se no Gm de cada mez, for- mando cada nunieio um fullielo dc nao menos de 32 pa- Assigna-se no Purto — na livraria de More, Pra^a de D. Pedro n.** 59, e 60 ; em casa de Cruz Coutinho, li- vreiro aos Caldeireiros n." 14; no escriptorio da tj'po- grapliia Commercial, ma de Bclmonte n." 74. — Em CoiMBRA, cm casa de More e Companbia — Em Lis- boa, na livraria de Lavado, rua Augusta n.** 8. Fre^o da assignatura — por anno . . 1^440 rs. t» » — semestre . . 720 >• Nao se recebem assignaturas por menos de um seme- sire, pago a enlrega do 1.® numero sendo no Porto, ou pago adiantado sendo fora do Porto. Para estas ulti- mas as.signaliiras, o jurnal sera enviado franco pelo pre^o acinia marcado. A correspondcncia deve ser dlri^ida a A. L. F. Girao, Redactor dn Jornat da Siciedadc Agricola do PortOj franca de porte Os annuncios relutivos a agrif.Uura recebem-se no escriptorio da typographia Commprcial, rua de Bello- monte n.® 74, sendo previamente pagos na razSo de 40 reis por linha. Tudos OS artigos que forcm publicados no jurnal, serao assignados jtor seus aitctores. €) 3nj0titttt0, JORINAL SClE]NTIIICO K LlTTKllAUIO. REGULAMENTO • DOS BAHTHOS DE IiFSO. Administrocao dos banhos. Art. 1. A administrafao economica dos banhos deLuso, e todo o servico do estabele- cimento e incumbido, pela direccao da socie- dadc, a uiii medico director, e a um banhei- ro com OS serventes precisos. Art. 2. Os banhistas, pagarao vinte reis por cada banho de temperalura natural, que nao exceder meia hora, a contar desde a en- trada ate a sahida do quarto do banbo; e qua- renta riiis, por cada banbo de temperalura artiflcial, tambem de meia hora. Art. 3. Alem das banheiras para banhos de meia hora com as taxas designadas no art. antecedente, havera outras para banhos de trez quartos de bora, com a taxa de quarenta reis, para os banhos de temperalura natural, e de .scssenta reis, para os de temperalura ar- tilicial. Art. i. Se 0 banhista se demorar no quar- to do banho alcm do tempo desiguado para um banho, pagara segunda taxa ; e demoran- do-se ainda alem do tempo marcado para dois banhos, pagara terceira taxa, e assim progres- sivamente. §. 1.° Nos dias de menos affluencia de banhistas, podera o director permillir mais algum tempo para cada banho, do que o de- signado 'ncsle rcgulamento ; uma vcz que nao se prolonguem os banhos para boras inconuuodas, e que os banhistas tenham sido avisados d'csla medida. §. 2.° Quando se estabelecerem OS banhos de chuva, de cboque, de vapor, e outros, a assemblea geral dos accionistas Ihes marcara as taxas. Art. 5. Como ha em cada quarto de ba- nho duas banheiras , eslas serao occupadas ao mesmo tempo, por duas pessoas; e se al- gum banhista, por qualquer motivo, quizer ter a outra banhcira desoecupada durante o seu banho, pagara taxa dobrada, como se furam dois banhistai Vol. V. JfXHO 1.*- Art. 6. E prohibida acntrada simultanea de pessoas de sexo dilTerente, no mesmo quarto de banho, sem exprcssa licenja do director, que so a concedera em casos excepcionaes, e muito urgentes. Art. 7. Sao graluitos os banhos de tempe- ralura natural e artificial, para todos os po- bres, e para os empregados do estabeleci- menlo. Art. 8. Sao considerados como pobres, para os effeitos do art. antecedente, todas as pessoas que se apresentarem ao director, com attestado de pobreza, passado pelo paro- cho da sua freguezia, e rubricado pelo admi- nislrador do concelho, ou presidente da ca- mara; e alem d'isso com oulro attestado d'um facultativo legalmente habilitado, e tambem rubricado pelo administrador do concelho, ou presidente da camara, por onde consle que Ibes sao indicados os banhos de tempera- lura natural ou artificial. §. 1." Pode supprir aquelles dois attesta- dos, uma guia de qualquer hospital ou mise- ricordia, tambem rubricada pelo administra- dor do concelho, por onde consle a pobreza do individuo, e a indicacao dos banhos. §. 2.° As guias, e alteslados de pobreza, serao archivados pelo director, e no fim da quadra dos banhos pelo secretario da direc- cao, para servirem de base aos processos judiciaes que houverem de se intentar sobre a sua veracidade. §. 3.° Se nos atteslados dos pobres, nao vier designada a qualidade, e o tompo dos sens banhos, ou se o medico director nao os indicar d'outro modo; lerao senhas para ba- nhos de meia hora, e de temperalura natual; e em todo o caso, nas banheiras que Ihes fo- rem destinadas. Art. 9. 0 pagamenlo das laxas dos banhos lera logar por mcio de senhas de carlao ou metal, expostas a venda em logar determina- do, e lancadas 'numa caixa a entrada do ba- nho na presenfa do banheiro; os banhistas que pela sua demora no quarto do banho, houverem de pagar mais do que uma taxa, conforme o disposto no art. 4. enlregarao as respectivas senhas, a sahida do banho. Art. 10. Nas senhas dos banhos havera a designajao dos banhos de meia hora, ou trez quartos d bora, de temperalura natural ou 1856. NcH. D. 50 arlilicial, o da rcsixictiva laxa paga on gra- tuita. Art. 11. As caixas de ([uo falla o art. 9, terao duas chaves, uma do director, c outra do banheiro; estas cai\as serao abertas por estcs eiiiprofiados, quando for ]>rociso ; as senbas coiUa(his, com a sua iniportancia ; e ludo se laiifara em urn termo em livro appro- priado, lavrado polo banbciro, e assignado por ambos. Art. 12. As senbas serao entregues ao vendedor pehi direccao da socicdade, ou al- guin seu delegado, licando o mesmo vendedor responsavel pebi importancia rcspcctiva. A enlrega de novas senhas, ou a rcstituifiSo dc scubas que nao se venderera constarao dos termos assignados pcio delegado da direccao, c ])elo vendedor em cadcrnos rubricados polo presidenio da direccao da socicdade. Art. ID. Uma lista de todos os banhistas, pela ordem da sua inscripcao no livro do registo, indicara a ordem ou vez do banbo, aos banbistas que se acharem ao mesmo tem- po no estabeiecimento, na occasiao cm que se forera desoccupando os quartos dc banbo. §. 1.° 0 director, em casos de concurren- cia e.xtraordinaria, ou quando ojuigar conve- nieute, fara subslituir estas listas, por label- las, em que se marque aos banhistas a sua liora de banbo, servindo-lbe tambem de base a mesma inscripciio no livro do registo. g. 2.° E permittido aos banhistas, a tro- ca das boras entre si. Art. 14. Nas listas ou labollas de que tracla o art. antccedente, o banheiro, ira pondo signacs dc convencao, que indiquem OS banhos que for tomando cada banbista e a sua qualidade. Art. la. Alera da casa d'cntrada e cor- redores, para uso commum dos banhistas, baveri uma sala mais particular, para des- canco, leitura, e jogo de vasa, onde so po- derao entrar pessoas inscriptas na lista dos assignantes d'esta casa, ou suas familias, e que forcm deccntes no seu comportamento. Art. IG. A taxa da assignatura da sala particular, de que tracta o art. anioccdente, e de trezentos rcis, por uma so vez, por todo o tempo que os assignantes sc dcmorarem em Luso; e todo o servico e regimen d'esta sala, sera designado por um regulamento especial da direccao da socicdade. §. unico. A taxa de que falla o art. antc- cedente, so podera scr alierada por dcliberacao da asscmbl6a geral dos accionislas. Art. 17. As boras dc se abrir c fecbar o estabeiecimento scr.io tixadas pcIo medico director, segundo a maior ou menor afTlucn- cia de banhistas. §. tinico. Fora d'cstas boras, ainda o me- dico director podera pcrmittir que tome ba- nbo algum banbista, a quern seja muito pre- cisa csta licenca. Art. IS. Dentro das casas de banbo, c eui todo 0 estabeiecimento, c probibido todo 0 comportamento que se julgar opposto a educai'So c bons costumes. Medico director. Art. 11). 0 medico director sera nomea- do annualmentc pela direccao da socicdade; e 0 seu ordcnado sera prcviamcnte fixado pela asscmblea gcral dos accionistas (Estat. da socicdade art. S). Art. '20. 0 medico director, no descmpc- uho do seu cmprego, e res])onsavel para com a direccao da socicdade. Art. 21. 0 medico director, e obrigado a rcsidir em Luso, desde o 1.° de junbo ate ao ultimo dc novembro, nao podcndo ausen- tar-sc, durante este tempo, por mais dc qua- rcnta e oito boras. §. unicu. 'Nalgum caso extraordinario jio- dera auscntar-se por mais tempo, dcixando algum oulro medico cm seu logar, se para isso for auctorisado com licenca da direccao da socicdade. Art. 22. 0 medico director fara todo o possivel por assistir a inscripcao dos banhi- stas no livro do registo, todos os dias, das 8 horas as 10 da manba, segundo o disposto no art. 26, para dirigir a rcgularidade da cscripturacao, c evitar que llqucm na casa das — molcstias — alguns padecimcntos de scgredo, de que tomara nota, nos sens aponta- mentos particularcs. Art. 23. 0 medico director ouvira os banhistas que o quizcrem cohsultar no gabi- netc do estabeiecimento, ou 'noutra |)arte, nao Ibe ficando imposta a obrigacao de fazer cstc servico graluitamcnte, sc nao aos banhi- stas que tivcrem banhos gratuilos. §. unico. Tambem serao gratuitos os con- selbos que der a qualquer banbista, (|uando espontaneamente o procurar para sc informar dos sens padecimcntos, como dados de que precisar para a estatistica medica, ou para OS dirigir sobrc o man uso, que estejam fa- zcndo dos banhos ou aguas. Art. 24. Compete ao medico director, fazcr cumprir este regulamento ; e em espe- cial : 1.° Dirigir toda a cscripturacao do livro do registo, e das listas, ou tabcllas, conforme 0 que sc acha disposto nos artt. 13 e 20. 2.° Fazer a estatistica racdica dc todos OS banbistas, c dc todas as pessoas (|uc lize- rcm uso intcrno das aguas do estabeieci- mento, ou das ferreas dc Bussaco. 3." Co-ordenar o rcsultado das suas obser- vafoes physicas e cbimicas, sobrc as aguas de Luso, e as ferreas de Bussaco, com o rc- sultado das suas obscrvacOcs meteorologicas. 4.° Fiscalisar a administracao economica do estabeiecimento, cvitando o desleixo, c 51 prevaricacoes , no pagamento da taxa dos banhos. 5.° Evitar ou reprimir as irrcgularidades do service do banheiro e serventes. 6.° Designar as banbeiras destinadas a inolestias contagiosas e asiorosas, e as que I'orcm destinadas a banbos de pobres, e de [)reros dilTerenles. 7.° Designar o scrvieo dos banhos, segun- do a inscripcao dos baniiistas, por meio de listas ou labeilas, conforme o disposto no art. 13. 8. Providenciar de prompto sobre qual- quer precisao ou occurrencia no estabeleci- mento, dando parte a direccao da sociedade, das medidas adoptada.s. 9.° Mandar ao secrctario da direccao, ate ao dia 20 de dezenibro, ura relatorio do ser- vifo do estabelecimento, era que se mencio- iiera as difficuidades que se encontraram na execucao d'esle regulamcnto, os meios de as remcdiar, etc. , mencionando em seguida 0 movimenlo dos banbistas, com o rendimen- to dos banhos, a estatistica medica, e o re- sultado das observacoes, de que trata o tit. 3 d'estc art.; mandando egualmente o livro do regislo, com as contas do estabelecimen- to, inslruida.s corao os termos da entrega das senha.s ao vendedor, e outros doeumentos. g. 1." Estas contas serao organisadas de combinacao como delegado da direccao, e as- signadas por anibos. §. 2.° Esles rclatorios do medico director, serao copiados todos os annos pelo secreta- rio da direccao, era ura livro appropriado. Banheiro. Art. 25. 0 banheiro sera nomeado pela direccao, e a assenibiea gerai dos accionistas, marcara o maximo do seu ordenado, dcle- gando na direccao o seu ajuste delinitivo (Estat. da sociedade art. 8). Art. 20. Ao banheiro compete: 1.° Inscrever no livro do registo o nome, sexo, residencia, edade , estado e profissao de todos OS banbistas, nao so dos cbcfes de familia, mas ainda de todos os fijhos e mais familiares; declarando-se tambem, se tomam banhos com lins bygienicos, ou a moleslia que padecem, e o seu resultado depois dos banbos, quando seja possivel; e declarando linalmente o numero de banhos que forem tomando, e a sua qualidade. 2.° Patentear no escriptorio do estabele- cimento, durante a quadra dos banbos, o livro do registo a todos os vogacs da camara municipal da Mealhada, c a todos os accio- nistas da sociedade, dando-lhes verbalraente ou por escripto os esclarecimentos de que precisarem. Art. 27. Para o oumpriraenlo do art. anlecedente n.° 1.°, o banheiro nao consenli- ra que tome banho nenburaa pessoa, que nao esteja inscripta no livro do registo, ainda niesmo que scja algum visitante, que so quei- ra toraar ura banho de limpeza. Art. 28. E da obrigacao do banheiro: 1." Organisar as listas ou tabellas de que tracta o art. 13, g. 10, aifixal-as no estabele- cimento, e regular por ellas o servico dos banbos. 2." Prohibir a entrada dos banbistas nas casas de banho, sem que tenham lancado na caixa a respectiva senha, conl'orme o disposto no art. 9, c sem que estejam inscriptos no livro do registo na conl'orraidade do art. 2(). 3.° Fazer despejar e lavar cada banheira que acaba de servir, guardando a chave da torneira inferior. 4." Fazer enxugar os estrados e moveis dos quartos de banbos, a sahida de cada banhista ; e conservar cm boa ordem e asseio toda a mobilia dos quartos e mais casas do edificio. S.° Ventilar as casas de banhos, desdc a sahida de cada banhista, ate a entrada do immedialo, e sempre que estivercm de.'ioccu- pados OS mesmos banhos. 6." Fazer lavar todos os dias, o pavi- mento de todas as casas de banho, no inter- val-o desoccupado entre os banhos damanha, e OS banhos da tarde. 7.° Fazer lavar, todos os sabbados, o pa- vimento dos corredores, e de todas as casas do edificio; incluindo as de sua habitacao. 8." Mandar varrer todo o edificio, duas vezes por dia, antes dos banhos da manha, e antes dos banhos da tarde. 9. Yigiar o aquecimento da agua das banheiras de temperatura artilicial por meio de machina de vapor, fazendo tomar a agua a temperatura de 33 graus do thermometro cen- tigrade, para os banbistas que nao designa- rem os graus de temperatura que Ihe foram indicados. 10.° Fazer lavar com cinza, todos os dias a noite e ao meio dia, todos os copos em servico do estabelecimento; e alem d'estas, as vezes que for precise, para que se acheni sempre no maior asseio; e conservar lambem na maior limpeza as duas fontes de agua mi- neral, e agua commum. 11." Fazer toda a escripturacao relativa a sala particular de que tracta o art. 15, e 0 servico de guarda da mesma sala. 12.° Conservar em limpeza os lerrciros em volta do estabelecimento; fazer regar as arvores, e flores, e conservar o buxo na altura conveniente, etc. 13.° Dar parte ao medico director, para esle 0 communicar a direccao, das fallas que achar nos moveis e utensilios do estabeleci- mento; assira como das difficuidades que en- contrar na execucao d'este regulamcnto. Art. 29. 0 banheiro e obrigado a residir 52 no estabelecirocnto, cm toda a quadra dos banhos, que tcm principio no primeiro de junho e acaba no lira de novcmbro, podeudo alii viver o reslo do anno, se quizer. §. ttnico. Se o banbeiro nao viver era Luso desdc dezembro ale niaio, a dircccao provi- denciara, conio julgar eonvenienlc, sobre a guarda do estabelucimento 'nesta epocha. Art. 30. 0 hanheiro pode cozinbar todo 0 anno no fogao que Ihe for dcstinado ; mas so Ibe sera abonado o combustivel durante a quadra dos banhos. Art. 31. 0 banbeiro fara cumprir as disposicoes d'este regulamento dentro do edilicio dos banbos, eniprogando meios de boa educacao e urbanidade; e (juando nao seja attendido, dara parte ao medico director, que so em cases extremos recorrera ii aucto- ridade compelente. Art. 'ii. Durante a quadra dos banhos, 0 banbeiro desempenhara as attribuiooes de guardd dos maleriaes das obras de Luso, e de apontador das mesraas obras , quando cstas pelo sen vulto, nao exijara um empregado especial para cste servico. iServentes. Art. 33. 0 numero dos servcntcs de am- bos OS sexos, a sua nomeacao, e o seu| ajuste serao confiados a direccao, e propostos pelo director dos banhos. Art. 34. Os scrvenles dos banbos fazcm 0 servico de lavagera e limpeza do estabele- cimento, e o mais servico que Ihes indicarem 0 director e o banbeiro. §. tmico. Enlre os serventes, havera um especialmente encarregado do servico de fo- gueiro da macbina de vapor. Direccao da Sociedade. Art. 33. 0 secretario da direccao da so- ciedade lancara todos os annos, em um livro appropriado, o inveutario de todos os moveis e utensilios do estabelecimento; e raandara ao banbeiro uma copia d'este inventario, que 0 tome responsavel por aquelles objectos. Art. 36. Finda a quadra dos banhos, o Ibesoureiro com a direccao da sociedade, organisarao as contas do estabelecimento, c as sujeitarao a approvacao da asscmblea geral dos accionistas no 1.° de Janeiro, e seguidamente da camara municipal ; e logo que spjam approvadas, abrir-se-ha o paga- raento dos juros de 8 por cento, de todo o capital empregado; e tambem o pagaraento de parte do raesmo capital, na proporcao da quantia que sobrar de todas as despezas do estabelecimento. §. unico. Este pagamenlo tera logar cm Coimbra. Art. 37. 0 vencimenlo dos juros de todo 0 capital empi-egado nas obras dos banhos, na conformidade do art. 16 dos Esiat. da so- ciedade, tcra logar no 1.° de Janeiro de cada anno, e scrao pagos pelo rendimento dos banhos da quadra anterior. Art. 38. Sera reservada na thesouraria da sociedade, a quantia (lue for orfada para as despezas indisponsaveis no estabelecimen- to, ale ao principio da seguinle quadra de banbos. Art. 39. A direcfao da sociedade solici- tara das aucloridades adininislralivas dos districtos de Coimbra, Aveiro, Yiseu, e Leiria, a publicacao a niissa conventual, e nos loga- rcs raais publicos de lodas |as parochias, d'uma circular cm que a direcfao annuncie a abertura do novo estabelecimento, dando conhecimento dos artt. 2, 3, 4, 8, 6, 7 c 8, d'este regulamento. Approvado cm sessao da direccao da socie- dade para o mclboraraenlo dos banbos de Luso, de 27 de ahril de 1836. — 0 presiden- le, Antonio Luiz de Sousa Uenriques Secco. — 0 secretario, Antonio Aitrjusto da Costa Simoes. Approvado em sessao da assemblea geral dos accionistas da sociedade para o melhora- menlo dos banhos de Luso, de i de maio de 1836. — 0 presidente, Antonio Luiz de Sousa Ilenriques Secco. — 0 secretario, Antonio Au- ijusto da Costa SimOes. Copia do accordao n.° 586, tornado em sessao do conselho d'este districto de 3 de junho de 1836, sob a presidencia do exm.° governador civil, Anthero Albano da Silveira Pinto, sendo vogaes , Agoslinho Fernandes Melicio, Joao de Moura Coutinbo d'Almeida e Eca, Francisco Manuel Couceiro, Luiz Antonio da Fonseca e Silva, Jose Simoes de Paiva, e Bento Jose Rodrigues Xavier de Magalhaes. Sobre o regulamento dos Banbos de Luso contido em trinta e nove arligos, confeccio- nado, e approvado em sessao da direccao da sociedade de 27 d'abril ultimo, e egualmente approvado em sessao dassemblea geral dos accionistas para o niclboraraento dos Banhos de Luso de i de maio proximamcnte lindo; reuiettido pelo presidente da camara muni- cipal do conselbo da Mealbada a este tribu- nal, com 0 sen officio do 1.° do corrente, a fim de ser sujeito a sua approvacao — Accor- dant OS do conselho de districto, que visto, e examinado o presentc regulamento, Ihe prcstam a sua approvacao, para produzir os sens effeitos legaes, por isso que as snas disposicoes, sem conter infraccoes de lei, tendem a prnmover um dos melhores estabe- iecimenlos de utilidade piihlica. — Pinto — Melicio — Moura Coutinbo — Couceiro — Fon- seca e Silva — Paiva — Bento de Magalhaes. Esta conforrac — Luiz Candida F. de Moura 53 0 CASTELLO DE CALIABRIA. ContiniiaJo ile pa;;, ii. Os iiltimos reis do imperio wisigothico Witiza c Rodrigo corronipcram-se a ponto de ahrircm iini ahysnio ao sen imperio. Rodrigo insligado pela ambirao desllironiza a Witiza, creando d'esta arte dois inimigos vaientes e poderosos, o Conde Jiiiiao e Oppas, arcebispo de Ilispalis ou Seviiha — o primeiro, por causa da violencia foita a sua tiilia Fiorinda ; Op- pas, por nao solTrer que a coroa gothica cin- gisse outra cai)efa, que nao fosse d'algum de de seus sobriniios, lillios de Wiliza. Ambos, preferindo ver passar a coroa de seus avos para a raca musulmana, a conservar-sc nos seus, junctam-sc a Mussa, e em Xerez, no anno de 714, derrotam a Rodrigo compieta- mcnte: os que escapam a derrota e furia agarena correm para as Asturias. levando por ciiefe o grande Pelagio, fundador do rei- no d'Oviedo, c irniao da heroina do bem co- nbecido e excellenle poenia — o Eurico Os moiros ficaram senhores da Peninsula : seguiu-se uraa lueta viva entre os infieis e OS christaos: a antipathia reiigiosa era grande; porlanto a desordem devia de paralysar os fongressos christaos : niuitas egrejas loram privadas de seus pastores ; porque os arabes procuravam subsliluir ao evangelho o alco- rao, como haviam convertido a coroa no cri'scente. \ cadeira episcopal de Caliabria devia de soguir a sortc de nuiitas outras profanadas pelo alfange sarraceno. Deixou de haver bispos, e coniecou a declinar o brilho e poder de Caliabria com a arrihada desse enxame desvastador. Contra csta raca atrevida, reslava ainda ura punhado e fermento de godos, que Ihe haviam de fazer continua guerra. Com effei- to Pelagio, dois annos depois da bataiha de Xerez, venceu Aiahor, e seus descendentes, OS reis do Leao, batalharam serapre, e fo- ram semprc vencedores. D. AfTonso 1 toma Leao e assenta alii a sua corlc; D. Affonso 0 Magno derrota os moiros em Yiseu e Cha- ves: D. AITon?o V. alarga mais seus domi- nios : D, Affonso VI., depois da niorte de seus irniaos, reunindo os cstados legados por seu pae Fernando Magno, derrota de todo os inlieis ; fere-os no coracao com a tomada de Toledo em 1085, e fica a peninsula quasi completaraente restaurada. No meio d'esta lucta seguida e tao dura- doira devia de solTrer Caliabria, cuja ruina aprcssaram os saques e a assolacao. Mas em que tempo, em que reinado foi desbaratada, despovoada, e reduzida a cinzas? Diz-se que a sua cadeira episcopal passou para a cidade Rodrigo, onde se encontram docuraentos do nome e sitio do Caliabria ; lal e a opiniao de S." Roza de Yiterbo no seu Elucidario. Se por6m notarmos que a Cidade Rodrigo foi edilicada ou reconstruida por D. Fernando II de Leao em 1165, segundo nos diz o sr. Ale- xandre Herculano e outros escriptores, so depois d'esta epocha podia Caliabria deixar de ser cathedral, pela passagem da sede para aquella cidade; e por isso Caliabria devia naturalmente existir ainda em tempos poste- riores a D. Afl'onso llenriques. Uma doacao feita por Fernando II a se da Cidade Rodri- go e ainda alii existente, convence-nos deque levamos dicto. Que desapparecesse uma cidade, de que ainda restam alguns vestigios , sem que urn so escriptor ou antiquario nos conte como teve logar este successo, muito e para lamen- tar! Esses restos da Caliabria famosa, que firmes em seus alicerces atravessaram tantos scculos, inspiraram-nos esta humilde poesia, unico tributo que podemos pagar a tao ve- neraveis reliquias da antiguidade. Eu sou velho. . . minha origem 'Num veu negro s'escondeu ! De nieus paes nada me dizem, Nao sei quem aqui ni'ergueu. Fallam-me na gente celta, No povo que ate ao Delia, Rhoddes, Creta, o mar sulcou ; E que Tyro grandiosa A rainha mais formosa Do medit'rraneo tornou '. Fallam-me cm carthaginezcs. No povo que ao meu paiz Em vao tentou por mil vezes^ Domar-lhe a altiva cerviz! Mas (jual d'estes? — nao sci nada! Da historia malfadada Apenas meu nome ouvi ! Tudo quanto hei passado 'Neste monte alcanlilado Tudo, eu pobre, leio ahi ! . . Eu fui grande ! . . e tal grandeza Nao tinha meta nem fim! Da aguda setta a rigeza Era nada para mim ; Minha muraiha cerrada Co'a mesma forca embotada Repellia-a com desdem ; Minha firracza desraente 0 ariele valente ; E d'elle mofei tambem. Os suevos, OS alanos. Pasmaram do meu 'splendor. 'Nestes muros os romanos Encontraram meu vigor : Por estes despenhadeiros, FalUmos dos Pheoicii O Povu RomaBO. oaTegiila 54 Ousaiios avciilureiros. Espumaiulo, rolar vi, Vindo tini pclio gemehundo Do Doiro grande e |)ioruiido Iti'pelir-me um — ail — aqui. 'Neste cspaco cu cnccrrava Cazas, ruas, pafos mil ; 0 men iionic relumbava Desde aqui te ao Xcnil ! Ell, 0 Caliabria potcnte, Por loda essa antiga gente Scmpre iiiu iiz resijcitar : Os godos meus conliecidos Por estcs monies floridos Viram mcu Lrilho sein par! . . . Eu fui grande ! 0 mcu passado Teve cncantos e fulgor. D'essc meu tempo doirado Lemi)rar-me eu! . . e pena, (i dor! . . Euvolto 'ncssa morlaiha De minha veiha muralha, Fiii cidadc episcopal. Uojc ! . . quem 'nesle recinto Penetrar . . . dira que uiinto. Bradara que nao fui tal! . . Ide a cidade Rodrigo Lii no reino de Lcao ; E de ludo quanto digo Provas hem ccrtas la estao. Ouvircis mcu nome c fama , E de longo e belle drama Scr eu um famoso heroe. Ouvireis rainha desgraca Causada pela vil raca, Qu'inda hoje me corroe ! Mas sou velho!. . . a ira, a raiva, Que as vezes turbar-uie vem, Nao quero que o mundo as saiba, Nao as vibro contra alguem. Uma coisa m'entristcce . . . Que ninguem se compadece D'estc meu triste jazer! . . . Que nao me votem um canlo, Que recorde o solio sancto, Meu valor, e o meu poder ! . . Eu sou velho ? ! . . minha ossada Por sec'los avuliara . . . A fronte desfigurada Ergo-a lirme ! c lirme esta ! Dos monies que senhoreio Ainda nao live receio. Elles . . . muilos ! . . eu . . . um so ! Eu giganle e corpulento D'elles fracos, mais d'um cento, Esforcado, tenho do ! . Este Doiro ruidoso Co brarair de sous cachoes ; E scu Icito mal visloso De cachopos cm muiitocs 0 mcu soccgo nao turva . . Nao m'abatc! . nao mu curva I K loucura se o Icnlar! . . A meus pes sempre liumilliado Hugiras, pobre, coilado ! Sciu (|ue te possas viugar. 0 Aguiar tao pequeno Junclo a niim cil-o a corrcr! . Este rio puro, ameno Nada me quer escoiider ; Foi sempre submisso c Icdo : 'Num revclado segrcdo Eu cri sempre e live I'e. 0 Doiro . . . esse . . . e orgulhoso ! . Indomavel alleroso. So elle cuida que o e ! Fui grande ! . . Mas d'csse estado Que bens lenho a dislVuitar ? ! Meu dominio Ibi roubado : Qu'riam-me o nome roubar; Mas nao poudo a vil gentalha: Em vao s'esrorca c Irabalba ! . Caliabria sempro licou ! . . E dcsdc OS carthaginczes Ate hoje aos portuguezes Caliabria se me chamou! . . . Coimbra, 24 d'abril dc ISHG. FRAKCISCO ANTONIO VEIGA. A LUZ ARTIFICIAL Conlinuadu de pag. 284 ilo IV vol. A actividade dos espiritos que , desde o comcco d'esle seculo, se inclinou para as ap- plicaeOcs induslriaes dos agenles phvsicos , mecbanicos e chimicos, dcscobriu, na cbamnia do gaz bydrogenio carbonado, uma rival po- derosa da cbamma do azcile obtida na alam- pada de corrente d'ar. Conheciam os pbysicos a cbarama da ulam- pada jiliilosopliica, e I'acilmente a podiani ob- ter, incendiando o bydrogenio a sabida de um lubo eslrcito ou tcrminado em pcqucno orilicio. Dava uma claridade niui Iraca : mal se percebe em presenra da hiz do dia. No- lou-se que o bydrogenio carbonado produzia chamma incomparavelmcnte niais viva do que 0 bydrogenio puro. lieconheceu-se que o car- vao dc pedra, a(|uecido em vasos fccbados, desenvolvia grande quanlidade dc bydrogenio carbonado. ,\ experienria t'oi pouco c pouco ensinando a construir rescrvatorios flucluan- tes, com baslanle capacidade para ccnlerem o gaz, com sufficicntc raobilidade para o leva- rem rcgularmcute a tubos siibttirraneos. Acliou- se a lornia que mais coiivinha dar ao liico, onde salie o gaz que sc iiillanima. Invoiila- ram-se contadorcs, que niostrain (luanto dc gaz salic do rcscrvatorio, c eiUra em cada uma das casas dos consumidorcs. E 0 rcsullado de todos estes aperfeiroa- mcnlos succcssivos loi uma industria iinmensa, que cmprega trahalhadoius aos centos n ca- pital's aos iiiilliOes. A pliysica, a mechanica e a chimica tiveram mais uma occasiao de verem applicadas as suas ilieorias , c os aperfeijoa- mcntos ((uc scinpre nascem da obscrvarao dos factos. Facililou-se a illuminarao dc logares, oiidu dillicilmcnte so estabclecciiam oulros apparelhos. E d'abi, innumeravcis noi;ocs que se diffundcm pclos tral)alliadorcs , os quaes pouco e pouco vao adquiriiido conbccimentos, que a classe elevada da sociedade ncm sem- pre Iraz das escbolas. A instruccao practica, que a direcfao supe- rior dos estudos deve fazer prevalccer, corres- ponde a esta tendencia nova da sociedade, in- clinada cada vez mais ii applicacao, a sciencia utilitnna. Os ingiezcs tomarani dos allemaes esta bulla divisa — a caboca e a mac, mcnte et maiiu. E a (lucm pretender roclaraaros dirci- tos da tbeoria pura, dir-lhe-bemos que, cm geral, a rellexao conipieta os conbccimentos practicos ; mas que a theoria nera semprc e practicavel. Bacon dizia — ba mais sciencia nas ollicinas do que nas universidades. Iloje devcmos estar convencidos de que nao basta sai)er, e mister tambem saber practicar. 0 pensador c o obreiro, a cabeca e a mao, a tbeoria e a ))ractica nao devcm andar sepa- radns. Oxala que um dia possamos aflirniar, como OS heroes de Iloniero — gloriamo-nos dc valer mais que os nossos maiores! Hfjtfit; iJau nxTipwv jt.&'f ap-tivcve; euj^'-jasO' eivat. Yoltemos ao nosso assumplo. Com a inven- cao da luz , o mundo industrial e scieutilico produziu lanto, que l)em podia ju!gar-sc que ia repousar urn pouco na comtemplacao do seu prospero successo. Mas nao foi assini, nao licou, como diz Ariosto, o espirilu vivo de uma creu- titra finda, El vno spiuito d'ella MoniA spoglia. 0 gcnio activo da sciencia industrial brada de conlinuo ao bomcm — Avante. Depois do- gaz, que muito mais aproveitou do que a alaiupada, descobriu-se a luz elec- trica, e dous habeis pliysicos, MM. Foucaulte Fizeau, ousaram comparal-a ao sol. Para fazer idea exacta do pndor d'csta luz , era mister vcr em Pariz ofilcinas, ao ar livre, illumina- das por ella, como o seriam pcla luz do dia. Que de vantagcns nao podem as tiieorias doplica derivar d'csta luz , que sc presta a illuminacao dos logares mais inacccssiveis aos raios do sol, que iienelra a nevoa mais densa e capaz de absorvcr c inutilisar qualquer outra especic de illuminarao?! Mais iiuas palavras a respeito de uma luz, que precedeu a clectrica, que foi abandonada por causa d'ella, mas que, em alguns cases, a pode substituir com proveilo: quercmos fal- lar da luz resultantc d'um pau de giz niergu- lliado no oxigenio e bydrogenio, misturados na proporcao convenientc para produzir agua, e inllamniados a sahida do rcscrvatorio que OS conlem. Esta formosa luz, quasi rival da clectrica, c devida ao tcnenle inglcz Drum- mond, c por isso Ihc cbamam os da mesnia nacao Drummond light. E neccssario advertir que, sendo esta niistu- ra extraordinariamente explosiva, cumpre to- mar serias precaucoes para que so nao incen- deie toda a massa gazosa ; o que succederia iiicvitavelmente, sc a chamma, que arde no orilicifl , podesse retrogradar para o interior do rcscrvatorio. Scparando, por tubos, o rcscr- vatorio do ponio onde sc elTeitua a combustao, fazondo alem d'isso passar o gaz a traves de redes mctalicas; evita-sc que a chamma relro- grade. Se enchermos d'csta mislura gazosa um vaso de gonima elastica c, compriraindo-o, lizermos passar o gaz por um tubo estreito a travez de uma dissolucao de sabao contida em um almofariz , formara-se bexigas que , na proximidadc dc um papel inllammado, de- tonam violenlamente, produzindo um estrondo similhantc ao do canhao, ou, mais exacta- mcnto, ao ruido penetrantc de um ohuz. Esta misiuia e a que, encerrada 'num rcscrvatorio e inflammada, a sahida d'cllc porum ])equcno orilicio, produz uma chamma pouco lirilhan- tc que, indo quebrar-se contra um pedaco de giz ou de cal viva, torna esta tao incandes- ccnte, que os olhos nao podcm supporlar-Ihe 0 brilho. Se esta luz, assim como a clectrica, fosse mais maneavel e menos cara, seria mui utilmente applicada aos pharoes, cujo tim e indicar, a grandcs distancias e apezar da nevoa e cerracao, a presenca da terra e de seus perigos, aos navegantes que sc approxi- mam da costa. As segiiintes nococs tbcoricas a cerca d'csta curiosa produccao de luz devem de intcrcs- sar 0 Icitor. Os corpos em geral nao sc tornam lumi- nosos a uma mesma temperatura : rrpctidas cxperiencias dcmostram que os mais duros sao OS (|ue primeiro incandcsccm. Assira que, cxpondo ii mesma fonte dc calor duas bastes, uma dc fcrro, outra de cobre ; a primcira fnz-se em braza, quando a segunda ainda nao dii signal de luz. Por isso um liquido, para se tornar lumiuoso, prccisa dc mais calor que um corpo solido. E o que se observa no vidro: faz-sc em braza antes de fundir , csciirece 56 apenas fundc, e nao rccupera a incandcsccn- cia, scnao applicando-lhe um grau dc calor raais elevado. Urn fiaz, por tanlo, carece de iima prodi- giosa tcmperatura para sc tornar luminoso. Ora a coinhuslao so por si produz cssa lem- peiatura, e e hastante para incandescer um gaz qualqucr, coiiio o einprcgado iia illumina- rao ordinaria, ou a niislura detonante de que fallamos. Se 'nesle gaz accso imcrgirnios um pau de giz, cstc corpo solido, cm contacto com 0 gaz luminoso, adquirira uma tcmpera- tura clevadissima e dara luz muito briihanle. Eis-ahi como se podc iigiirar a vioienta ignifao que nasce de um corpo solido em contacto com uma chamma activa ; porem os nossos conliccimentos, em rciacao a este ponio delicado da theoria do calor c da luz, aiuda estao muito atrazados. ContiiiuB. OS ANNUNCIOS EM INGLATERRA. Cotilinuado do pag. til do IV vol. Em 1709 comecou o Dailij Courant a an- nunciar regularmente os divertimentos pu- blicos, e OS outros jornaes logo o imitaram. Um d'cstcs divertimentos, ainda hojo muito frequente em Inglaterra e ja cntao predilecto dos habitantes da Gram-Bretanha, era o pu- gilalo, denominado Boxe cm inglez. Este ge- nero de comliate, pouco usado cm Portugal, e muito da indole dos insulares cujos alliados temos a lionra de ser. Um inglez fur sang, quando olTendido, nunca pucha pela navaiha, como 0 portuguez e o hespanhol, ncm joga a savttte, como o francez. Good god\ isso fdra shocking. Arrega^a tranquillamente as man- gas da camisa ; eleva o punho ale a altura do nariz do seu aggressor, que, nao se pondo logo em guarda, breve sente aquclle torrivel ariete baler-lhe nas fossas nasaes, nao jii se- rena e placidamente, mas com arremesso e impcto. A continuacao do combale nao se pode descrever : e uma confusao de soccos , de gritos dos dous adversaries, de epitbetos pouco parlamentares, que mutuaracnte se dirigcm; de raaneira que ninguem se entende. 0 sangue, sulcando aquelles rostos contrahidos, goteja sobre as camisas, e as mancha; circulos azu- lados se desenham onde assentou o punbo, e pouco e pouco se yao alargando pelas faces dos combatentes. E um e<;pectaculo ascoroso e imraundo, mas ao mesmo tempo caricato, e risivcl. Innumcros gaiatos circumdam os belligerautes, rindo c zombando. A isto OS inglezes cbamam diverlir-se muito c por isso nao admira que solTram tanto de spleen. 0 boxe que esbocamos c o tioxe combale, o bo.re desCdrco d'uma injuria, 'numa palavra o boxe a valer; porque lia oulro que e um sim- ples jogo , uma sombra do primeiro. No boxe jogo, OS adversaries tfim o peito e as niaos pro- tegidas. Este genero, iia epocba que nos oc- cupa, era menos vulgar. Acliam-se em alguns jornaes d'entao a no- ticia de varies desafios ao pugilato. Os dcsa- tiados timbravam cm nao recusar o duello. As proprias mulheres nao duvidavam empregar esta logica, traclando as suas qucslocs parti- culares. Sabemos, pele Dailij Post dc " dc julbo de 1728, que Anna Field de Stoke IS'ewington desafiara a Isabel Stokes de Londres ao secco, e que 0 desado fdra logo aceite, come o dedara a propria reptada, cm um dos scguintes nu- raeros do mesmo jornal. Os combates de gallos cram tambera mui froquentes 'naquclla epocha. Ainda hoje con- servam os inglezes a mesma paixao, e nera as sociedades protectoras dos animaes, nera a civilisacao, que 'naquelle paiz tao rapida- mcnte progride, lem conscguido sequer dimi- nuil-a. 0 povo continua a acudir aquelles divertimentos, e e sempre na presenca de grande numero que se Irava a lucta. Os gallos, seguros pelos seus respectivos pa- drinhos, cstao nas extrcmidades d'um eirado feito de proposile e guarnecido, em loda a reda, dc grades (pie I'ecbara o circulo, para que os belligcrantes fugiudo nao evilem o combale, o deixem os eircumstantes desapontados. Quando o inspector, ou juiz do carapo da o signal, es padrinhos soltam no eirado os gallos, que sc postam cm frenlc um do outre. Este memento e o mais selcmne. Cessa teda a al- gazarra; ondea apenas pela multidao um susur- ro indicador de curiosa espectaliva; estao os olhos todos (ites nos combatentes, que se con- templam immoveis, e como que se medem com a vista. Nos pes despojados dos naturacs ex- poroes, brilbam acicatcs de aco polido. Pouco e pouco as pennas se Ihes encrespam ; apru- mam-se-lhes as cristas, e pressuresos batem OS fiances com as azas meio abertas. Qual se cose com a terra ; qua! se firma nas pernas, para mais veioz formar o salto. Um e outre precura lancar-se de improviso sobre o adversario e apanbal-o desprevcnide. Decidcm-se, acomettem-se ao mesmo tempo. A I'erca d'aquelle primeiro recontro e tal, que (|uasi sempre ambos cabem no chao. Aturdi- dos ainda da pancada, levantam-se e de novo pelejam. Continua o combale e parece augmen- lar cada vez mais a furia dos gallos. As pen- nas esvoacam pele ar , o sangue linge-lhes a multicor plumagem, e por lira fica um , quando niio ticam ambos mortos no campo. 1 Causa do vcr aquelles dois bellos animaes 57 rompcrem-se o peito irados e com o desespe- rado esforfo, que so uma nobre colera pode produzir; e islo tern o simples lim de diverlir 0 publico. Findo 0 combate o gallo vencedor, quando 0 ha, e levado cm triumpho por seu dono e pelos que por eile apostaram. Curam-se-Ihe depois as feridas com todo o esmero e cui- dado, para breve poder eutrar 'noutro duello. Conlinua. S. H. NOTAS AO SOBREOS PRIJICIPIOSDEMEfflASICA, OBRA POSTHCMA DE JOSE ANASTACIO DA CUNHA. Continuado de pag. 35. Assim para ser exacto devera o nosso auctor tcr diclo: que a veidade mathc^malica nfio i-onsisle senao na legilimidade com que os iheoreuiai se derivain das hypotlieses : e estas Sao sujeitas a lei de se conformareiu qiiaiilo f6r poisivel com a experiencia. Se a hypo- tliese e contraria a experiencia, se eu sup- ponlio que tal palavra desigua ideas que nao siio comuiuns a tudos os que d'ella se servein; tiido quanlo edifico sobre tae-i liypolbeses, solue laes dpt'ini9i'ie5 ou axioma:^, ufio e Ira- ballin util, sfio delirios. Pore^ui que ninguein julgue ser islo pro- prio e privative das matbemalicas. O mesnio aconlece em lodas as outras sciencias. llin lodas ellas se pode dizer, que a verdade llieo- retica nao consiste scnfio na legitiinidade com que ns iheorernas se derivam das liypolbeses, enlrelanto que a verdade praclica consiste na contbrinidade da asser^ao com as experi- encias. Se eu supponlin delerminadas significa^oes as palavras tirlude, vicio, amor., inoeja, elc. e d'eslas defini^nes derivo varies llieorenias, a verdade moral (tbeoretica) consislira na legitiniidade com que eu os deduzir. E no caso das niesmas liypolbeses ou defini^oes, serein conformes a experiencia, islo e, ao que OS botnens em commum enlendem por aquel- las palavras; bavera lainbem verdade prac- lica. O mesmc succede com as sciencias physico- malbemalicas. P. 4 I. 7. Nos principios matheniaticos de pbilosopbia natural, nao ba defmi^oes senao de nonies. Defini^oes so de nomes nem se podem dar, nem se enconlrara livro algum, onde se nao pretenda defmir seniio nomes. Comparando a citada obra de Newton coin as oulras do inesino genero, nfio se enconlra oulra differenca no que toca a definigoes, e axioiiias, senao que Newton tendo-se proposto applicar a matbemalica a pbysica, chama leis o que os outros cliainam axiomas ou de- I'lui^oes, porque se liaviam proposlo coinpor Iraclados puraiiiente uiatbemalicos : e e sabido que o que e lei da natureza em pbysica, deve-se cliainar delinifjfio, axioma, ou lemma 'numa sciencia inleiramenle abstracta. I'allando propriainente de definigoes, nao conhego nenbuma nos livros de mcchanica, que 'nelles se nao devesse encontrar. Podem- se aceiisar de serem mas, porein nao de serem esL'Usadas. P. 6 I. 21. Tcm-se eiiipenhado em achax demonstragdu tnathemalica d'aquellas leis , porcm de- balde. Eslou muilo longe de querer fazer a apo- logia das definigoes (ou se se quizerem cbamar antes axiomas) erigidas em ibeoremas pelos differentes auclores. Mas eslou egualmente longe de condemnar lodos os que tendo posto cerlas difinigoes no principio de seus tracta- dos puramente malbemalicof, derivain d'el- las coino theorema o que 'numa obra pliysico- fiialbeinalica, como a de Newton, eram axio- mas de physica, ou se se quizer, leis da na- lureza. Nfio de oulro modo o nosso auctor nos sens sublimes principios matbematicos da por delinijSo de potencia o que os outros mathe- nialicos demonstram, a seu mndo, como pro- priedade, que derivam da defmigao que dao da niesina palavra potencia : e por conse- giiinte Jose Anaslacio converte em theorema esta definiqao dos outros. P. 7 1. 6. Subtile^as que antes pertencem ao quechamain ontologia e cosmologia. E verdade que os livros deslas duas sci- encias se acham vergonhosamenle afeados com fuleis subtilezas, e coin grosseiros absurdos ; mas p6Je-se dizer d'ellas o que deixo diclo, na inlroducgao a estas notas, a respeito da metapliysica em geral. Aqui somente accres- cenlarei as definigoes d'eslas duas sciencias, quanlo ao nieu modo He ver, porque nao parega que me empenbo em defender os absurdos, que debaixo d'estes tilulos tem pu- blicado innumeraveis auclores, ciijos nomes ou ja suo boje inleiramenle esquecidos, ou de todo desprezados. Assiin deixando de parte as ideas que este ou aquelle accrescenta as palavras ontologia, cosmologia, creio que o sentido fundamental, em que tomam estas palavras os que d'ellas se servem, e que a ontologia abraga as defi- nigoes dos nomes e os theoremas das proprie- dades coramuns a todos os entes — a cosmo- 58 log\a somenle as que perlcncom aos corpos, q.ie 56 consiilor.'ini coiiio paries de mil svste- ma. D'aqui se ve que aquella parte rla onlolo. gia que respeila aos corpos, e que serve de base li cosinolo^'ia, e o ipie eu iin iiitroduc- gao a eslas nolas clianici a nialaplivsica ine- clinnica: e o qvie os pliilosoplins nrio-geoiiictras ctiainarain cosiiiolo;,'iii, oo que os niatlieinati- cos revindicarain ooui ifraude vaiilageiii da sci- encia, debaixo do noine de sysleina do iiiundo. P. 7 1 ;i. yl incrcia dos corpos c a compoxi^ao do vio- fimento It'in sido principnlincnlc objeclo d:i I'adiga de at^iins dos maiores geomctras. Hljs se o true t ado qtie cscrevcis e puratiienlc mathemalico, a incrcia vac seiiipre iiicluida na hypothese. Todas as ve%cs que 'imin thcortma on prablana suppo%erdes o corpo quieto, qiiielo o lercis, porquc assiiit o siip- pnzestcs. O auctor tem raz'io ; mas iieni por isso sfio para censurar os que escrevendo Iraclados puramenle matliediaticos, quizeram demon- sLrar a inercia dos oorpos. O auctor suppoe, que elles entendeni, coino deveriam, por causa de movimenlo, atjuella que uma vez posta, o corpo ale entao quieto se move coin cerla velocidade edirec^uo, ate se suppor oulra causa de movimenlo. Mas nem sempre se faz o quo se devera fazer : e os mallicmaticos tem limitado de ordinario o nome de causa de movimenlo aquella que posta, o corpo, ale entao quiet", se move, isto e', come^a a niover-se, on, o que vem a ser o mesuio, muda de lugar. Alas para preenolier esta condijao, basta que elle se mova no primeiro instanle. Logo e precise demonstrar que se elle se move no primeiro inslanle, niio pararii, em quanlo nfio liouver outra causa egual e tontraria li primeira. O mpsmo digo do estado de qiiiela^-fio. Ora isto e' que e demonstrar a inercia dos corpos, E verdade que jamais a poderfio demon- strar : e por isso e que digo, que erraram (•in tomar uma t.'io llniltada defmi^.'io de causa de movimenlo: mas nao se Ihes pode iippor, que a raz'io dc elles a n.'io poderem demonstrar e por alia se acbar jii incluida na sua supposit^ao. Antes a rasao de elles a n'lO poderem demonslrar e o nao se incluir a perpetuidade do movimenlo na sua supposi- rao da presen^a d'uina causa d'elle. P. 9 I. 13. Qicc ha de resullar d'cslas duas caiisas jnnclas i \na compoairao do mooimento'^. — Que deve resultar do confliclo das duas causas con- tradictorias ? Contradiclorias so o siko na supposigao de serem eguaes e contrarias. Km todo outre caso, sao suppoaigoes muilo conipativeis, uma vez que se entendam os lernios. Mas como se haviam elles de enlender, se os malliemalicos nem suspeilas linbaiu de que elles precisas- sem do di'lini^fio ? Lijongea-me infmitainente liavcr-me en- conlrado com Jose Aniisiacio em ler senlido esia noressidade. Se ao deiinir iios at'uslamos um do oulro, e porque elle indignado Cv abusoqueoulros tiiiliaui feilo da melapli_v=ica, fiizia use a inedo das luzes que o seu claro enlendimenlo llie descobrira 'iiesla sciencia , (pie unicainente o podia levar ao descobri- niento da verdade, se elle afoula e confuida- mente a livesse cullivado. P. 9 1. 13. ila de descrever uma recta depots da on/ni ? Esse caso esUl excluido pelas liypotheses do prohlema, pois que elle diz que o movel pela forga F devo descrever a recta A B, o que ao mesmo tempo deve pela for(;a G des- crever a recta AC. Ibid. I. M. Ha-de descrever algiim-a outra linlia, e que linha ? Isso e dado pelo problema ; pois que elle diz, que essa linha deve snlisfazer ao mesmo tempo a duas equa^oes da linha recta. A quem resolve o problema, perlence provar se isso e possivel ou iinpossivel ; massem niudar o problema, nao se pode duvidar da natureza da linha pedida. Ibid. Em que direcgdo? Tambein essa e dada pelas equa^oes do problema. lb. 15. Ha-de ficar parada? Tambem isso se deriva das raencionadas equa(joes dadas, mas somenle no caso de resul- tar d'ellas que a linha da direct,ao e^::o. Ibid. Ha-de-se aniliilar, transforniar? Eu n.'io concebo a ras.'io por que o auctor no decurso d'esle ensuio mistura lis obiec^oes serias, que o seu enlendimento nao Ihe sug- geria, as chimeras de certos niathematicos, que ('lie mais que ninguein reconhecia por phanlasticas n absurdas. Parece incrivel que elle diga scriamenle que ninguem pode de- monstrar (i priori, que o corpo n.'io se ani- quila ! Eu creio que a propensao a ridiculisar os absurdos consagrados pela venerayao das escholas de mathematica, e causa do nosso auctor fazer men^.io d'elles, ainda quando a serie do discurso o niio pede, com lanlo que a occasifio e o modo de os apresenlar faja sentir o quanto sao ridiculos. Continua. 59 COMPENDIO POPULAR DE ZOOLOGIA, Itr<>vi»«inia tlOHcripoiio do i-pino ani- niiil — por •Poiio i);nuciu Ferroira I^apa. I'ara rorommcndar este livro basla o nome do sr. La]»a, assaz conhecido pelos sous com- pcndios di; mechanica, de pliysica e cliiniica, e dr agricultura, prcniiados pelo conselho .su- perior d'instrucrao piiblica. 0 conipendio de zoologia, ultiinamento pu- blicado, voiu enriqueccr a hililiollicea popular de scicncias naluracs : o sou auctor conlicce que a zoologia deve scr um coraplenienlo da inslruioao primaria, e que tambera e neces saria para o estudo das sciencias induslriaes; por isso, ministrando mais urn elemento para 0 descnvolviniento da instruccao popular, bem mcrcceu da patria. As pessoas encarregadas de dirigir csla in- slrucfao incunibe aproveilar a obra do sr. Lapa, adoptando-a para as escbolas de in- struccao primaria, vulgarisando este rarao da hisloria natural, e concorrendo para que o auctor receba uma justa recompcnsa de suas fadigas, e ate baraleie a obra, conio convcm a livros d'este gencro. 0 auctor, dotado de uma natural disposicao para o cslylo compeudioso, tornou a zoologia accesivcl ate a iateijigenciat; pouco cultivadas, nao so peia clareza da linguagem, mas tam- bem pela concisao da descripcao. Com asgene- ralidadcs que precedem a zoologia dcscripti- va, e as que vem em frente de cada um dos quadros e das classes, muito facililou o estudo d'esta parte da historia natural. Mas seguiu na classificacao dos animaes o metbodo natu- ral, antepondo o rigor da sciencia a simplici- dade do systema que, em relajao ao destine d'este livro, se poderia prcferir. Tambem nos parece que as estampas inler- caladas no te\to, como o auctor usara nas suas obras anteriores, poderiani ser mais fa- ciJuientc consultadas. M. P. NOTICIAS LITTERARIAS. TVavio eisanic. Em Milwall, raandnu a conipanbia ingleza de navegarao oriental con- struir um navio a vapor de 22000 toneiadas, com 207 metros de comprimento e i'S na maior largura. 0 interior esta dividido por dous repanimenlos longitudinaes, ctreztrans- versaes, methodo de construccao cellular, que tem a duplicada vantagem do tornar a em- barcacao muito rcsistente ao cliO(iue, c de localisar a agua que possa fazer. 0 apparellio motor comprchende dez caldeiras tubulares com dcz fornalhas cada nraa, c duas enormcj maeliinas da forca total de 2000 cavallos, as quaes I'azera mover duas rodas lalernes e um helicc. I'ode acomniodar 10:000 toneiadas de carvao, reserva suCBciente para o (lonsumo de 38 dias de viagem a todo o vapor. Assim que, auxiliado pelas velas ira da Inglatcrra a Australia e voltara, sem niudar de runio, nem demorar-se em parte alguma para reccber carvao. Em case de necessidade transporta 10:000 passageiros. OI>s(Tvaroos inotporolosioas. Por or- dcm dos ministros do interior e da instruccao piiblica, estabcleceram-se, era Franja, vinte e quatro estacoes meteorologicas, cujas obser- vacoes apenas feitas, sao transmitidas ao ob- scrvatorio imperial de Pariz, pclos telegraphos eloctricos. Os instrumentos emprogados 'nestas observacocs deviara de satisfazer a condicoes cspcciaes, taes como serem facil c rapidanien- te observavcis, conservando lodavia a exac- tidao dos instrumentos ordinaries, Mr. Liais foi um dos que acudiu a osta necessidade, inventando um novo barometro de uma so leitura, o qual se gradua por comparacao com um padrao, no reeipiente da raachina pneu- malica. Este barometro satisfaz cabalmente as condicoes exigidas. Cumpre fazer adoptar este syslema de observacoes simultaneas nos outros paizes, e publicar os resullados obtidos, para que passando logo as maos dos amigos da sciencia, seja prompta e fructifera a sua discussao. C'liiai'oroi-inio. — Este perigosissimo agen- te e mui recommendado por Mr. Liegard nos partos acompanhados de vivas dores nos rins e dagitacOes quasi convulsivas, na eclampsia puerperal. Em taes circumstancias o chioro- formio i um remedio innocente; mas deve ser cmpregado em pequena dose, bastante, todavia, para produzir a insensibilidade. E facil, diz Mr. Liegard, conhecer o momento em que se deve suspender a etherisacao — se a mulher deixa de gritar; se o pulso, menos fre(iuente, se torna regular e a respiracao larga e facil e egual ; pare-se, — se o utero continiia a contrahir-se com regularidade e energia, nao ha receio, continue-se ; a vida organica esta intacta, a etherisacao nao pas- sou aleni dos lobos cerebraes. Piio rtp itoioia. Mr. Thorel, pbarniaceu- tico de Avellon, fez da bolota um pao que diz muito nutrilivo e gralo ao paladar. 0 pro- cesso para o ohter e o seguiute. Empregam-sc 4 kilogrammas de farinha de trigo, 4 kilo- grammas de bolotas descascadas, 200 gram- mas de rarbonato de soda, lo grammas de sal marinho, e uma garrafa de vinagre. Forma-sc primeiro uma massa com a farinha e fermen- to ; fervem-se as bolotas no vinagre c carbo- 60 nato de soda, c ainda quenlcs csmagam-se com um rolo ; dcsfazem-sc dcpois em agua quente, e o producto lan^a-se sobre a niassa ja preparada, com a qual sc mistura conve- nientemente, e poe-se a Icvedar. 0 pao assim obtido custa 50 a 25 centesimos cada kilo- gramma. E de notarque Mr. Braconnolja tinha achado que as bololas descascadas contem 37 per cento de ferula e 7 de assucar ; merece pois alguma attenoao este objeclo. GABINETE DE LEITURA DO INSTITUTO DE COIMBRA. REGCLAHE^TO. ligoantes do jurnal, querendo Ic pa^arao, alem da assigna- Art." 5." i. 2." Os i »er assi5:Danles do gabii tura do jornal, 300 rs. $. 3.° Os assigoantes do gabinete pagarao por mez 480 rs. ^. 4.° As presta95es dos assignanles do gabinete mencionadas nos ^^. precedentes, sSo pagas adiantadas. O gabinete recebe actualmente 72 jornaes, que sao 03 seguiotes: DA ILHA TBRCBIRA. Lyceu. Angrense. DO BRAlIL. Diario do Maranhilo. DE MADRID. Porvenir Medico. Chronica de los Hospita- les. Revisla de las obras piiblt- DB BARCBLONA. Aliania Medtca. DB PARIS. Institiit 1 e £ section. Cosmos. Revue des deux mondes. Journal d' Agriculture prac- tique. Atheneum. ComptesHcndus des seances de TAcadi'mie. Illustration Presse litleraire. ntes Iftgare^ > fim de maio DB LISBOA. DE coihbra. I Diario de Governo. Institiito. Diario da Camara dos De- Revisla Juridica. piitados. Conimbricense. Revista Contemporaoea. Popular. Revista Peninsular. Tribuno. Gazeta dos Tribunaes. Escholiasle Medico. DE BRAGA. Gazeta Medica. Bracarense. Jornal de Pharmacia e sci- Atalaya Catholica. encias accessorias. Pharol do Minho. Jornal da Sociedade Phar- Murmurio. maceutica. Jornal do Commercio. DE AVEIRO. Instriic^ao Piiblica. Campeao do Vouga. Missao Portugueza. Imparcial. Beoeficencia. Domingo. DE valem;a do mimho, Civilisaqao. RazSo. Revolu^ao de Setembro. Impreui^a e Lei. DE LAMEOO. Xac;5o. Lamecense. Portuguez. Hevista dos Espectaculos. DE LEIRU, Leiricnse. \ DO PORTO. Jornal da Sociedade Ajri- DE SETUBAL. cola. Setubalense. Jornal da Associa^ao In- dustrial Portuense. DE VIANNA DO CASTELLO. Commercio do Porlo. Aurora do Lima. Cruz. Xacional. DA ILHA DA MADEIRA. Periodico dos Pobre?. Braz Tisana. Ordem. Ecco Popular. Discussao. Lidador. Porlo e Carta. DA ILHA DE S. MIQUEL. Portugal. Ai;oriano oriental. Monarchia. Correio Michaelense. Verdade. Ilha. Grinalda. Aurora doj Kcttrfs. RELACAO Dot individual nomeados para os segui. dHnstrucqao publico^ desde o din 15 ate ultimo, em virtude de despacftos do Conselho superior d'instrur^do piiblica, e decretos e portarias do Governo communicados ao mesmo Constlku no indicado periodo. INSTRUC^AO PRIMARIA. Antonio Cazimiro d'Almeida e Figueiredo, para pro- fessor temporario da cadeira d'Arronches, districto de Portalegre. Alvaro Jose dos Santos Claro, para dicto de Villa Verde do Estremo, districto de Villa Real. Aiirelio Augusto Pimeotel d'Azevedo, para dicto de Riodades, districto de Viseu. Daniel Maria Coellio VarSo, para dicto da Mar- meleira. Francisco de Paula Ferreira, para dicto de MalacSes, districto de Lisbua JoSo da Cunha Lopes e Silva, para dicto de S3o Pedro de France, districto de Viseu. Joao Louren^o de Barros, para dicto de Bellas, districto de Lisboa. Manuel Gonqalves d'Almeida Bastos, para dicto do Sobral, districto de Viseu. Manuel Matheus Rodrigues Sepeda, para dicto de Sao Juliiio, districto de Bragan^a. Bernardo Pinto de Sousa Alvim , para dicto de Villa Secca, districto de Viseu. Joao Joaquim dos Reis Monzinho, para dicto da Casa Branca, districto de Portalegre. Jose Diogo d'Azevedo Barata, para dicto d'Albu- feira, districto de Faro. Jose de Pena Madeira e Abranches, para dicto de Penalva d'Alva, districto de Coimbra. Gon^'alo Pires Bandeira, para dicto de Nespereira, districto de A'^iseu. Jose Francisco de Almeida Scares de Carvalho, para dicto de Sao Silvestre, districto de Coimbra. Miguel de Sousa Pinto Mousinho da Silveira, para dicto de Castello de Vide, districto de Portalegre. Bento Jose de Mattos, para o lugar dc ajudanle da esclit*la d'ensino miituo da cidade de Viseu. Ignacio Correa Carneiro^ para professor temporario da cadeira de latim de Villa do Conde, districto do Porto, porlaria de 17 de maio ultimo. ® 3n0titttt0, JORINAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. CO.\SELIIO SlPliltlOU DE I.\^T1ILX(A0 PlIlllCU IlELATORIO AWrVL. 1832— 1853, (.'ontinuado tie pag. 39. Instruccdo superior. Este ramo de instruccao piiblica acha-se reconcentrado, principalmenlc na universida- de, a qual no meio das convulsOes politicas, que tem abalado, entre nos, quasi lodos os estabelecimenlos, se nao tem sido int^iramcn- te estranha a elles, tem comtudo conservado na sua marclia tal firmeza e regularidade, que bem mostra serem os corpos scicntilicos, quando tern lanrado raizes na antiguidade, OS esteios mais lirmes do Estado e da ordcra publica. A universidade nao so tem sido consciva- dora d'essa ordoni, mostra ndo-se lirme corao a roclia no moio das tempeslades; mas lem acompanhado o progresso da civilisacao sem abalar a socicdade. Rcformada pelos dccretos de !j de dezembro de 183C, e de 20 de selcra- bro de 1844, e dotada com novos ramos d'ensino , que n'elia faltavara, nao so os lem cultivado com esmero, mas tem aperfiiccado OS methodos d'ensino; tem formado novos compendios, traduzido outros, e adoplado os nieiiiores, de que ba noticia. Nao quercmos dizer com isto que tcnha tbegado ao ultimo aperfeicoamento, e que nao precise de muitos meihoramentos ; mas queremos confirniar a opiniao ja emitlida na consulta de 16 de Janeiro d'este anno, de que nao precisa de reforma radical ; mas someute das parciaes, que, quasi dcsapercebidas, c sem cstrepito, vao aceumulando nos cstabe- lecimentos e instituicoes os fruclos da reflexao, e da cxperiencia, que sao os mais sazonados c saudavcis. Algumas d'essas reformas acham- se indicadas nos relatorios das diversas facul- dades, e no do prelado da universidade; e muilas d'eslas ja tem sido levadas ao conhe- cimento de Y. M. em varias consultas d'este ( onselho. Vol. V. Jij:Valial , pcrlo de Mimegue; 2." os canipos entre o Mcusa e o Wabal, bem como entre o Wabal, o Rbeno inferior e o Leek; 3.° o valle de Gucldre. Estc diluvio, contcmplado no scu todo, parece que em cer- to niodo desafia a conipaixao bumana, por- que uma das enfermidades da nossa natu- reza e nao poder abranger cousa alguma no scu todo, nem mcsmo as grandes dores. E bem, por isso, que demoreaios as nossas attencSes sobre um dos pontes salientes d'este desastre. A alguns minutos da estrada de ferro que liga L'trccbt com Harlem, ergue-se a aldea de VeDbendal '. Assfentada .sobre an- tigas turfciras, que 'noutro tempo foram cx- ploradas e que deixaram um terrcno bumi- do, corlado de fossos cbeios d'agua, princi- palraente d'inverno; e liabitada por gente po- bre, cuja occupacao mais ordinaria e fiar la. Havia jii cento c quarenta e quatro annos que esta aldea nao tinba side inundada. ' f'enhendal qiier diter em hullftndei u Talle das turfeiras. •> Uma trcgoa tSo longa linha inspirado aot babitantcs uma funesta confianca, lazendo-os csquccer das prccaucoes que a naturcza do solo pedia. A 5 de marco de 18bB soube-se que acabava dc romper-sc o dique, situado cDtre duas collinas, e que serve de anteparo ao valle de Gucldre. Mensageiros a cavallo de instante a instaule chegavara com noticias cada vez mais aterradoras. Elst , uma das aldcas mais proximas, acabava de ser inva- dida pcia inundacao. Os sous babitantcs correrani logo na dircccao do ilagello; che- gados porera a meio caminho, descubriram um aldeao, que, palido c fora de si, corria a tdda a pressa, e Ihes aconselbou que vol- tasscm para traz se nao queriani ser cortados pelo inimigo. Vollaram. Entrados n'aldea, descubriram a inquietacao em lodos os sem- blautes: as niulhercs eslavam lodas conster- nadas, as criancas agarravam-se as maes, e soltavam grilos senlidos. Mais atrcvidos, os rapazcs, e os adoiescenlcs mcsmo, tractavam de tirar os moveis para cima dos carros, e de salvar os gados; tambem se crapenhavam em livrar os doentes. As aguas portm nao apparcciam ainda. As duas boras da noite, viu-se, ao luar, o gelo erguido sobre as ondas que caminliavam. Houve um terror geral. A alvura das geleiras repucbava n'uma luz ele- ctrica bem coraparada a que desenvolve nas nuvcns um relampago ao longe. Este corisco do gelo foi seguido de um terrivel e prolon- gado eslalido. Os raoradores da parte baixa da aldea rcfugiaram-se na parte mais elevada, e principalmente na egreja : os pobres fugiti- ves precipitavam-se 'nella como para pedir a Dens bospitalidade. A noite passou-se cm anguslias que nao podem dcscrever-se. No dia seguintc, as aguas penetraram na aldea ; invadiram successiva- mcnte as ruas e a estrada real, que foram sulcadas pelos bateis '. Dois dins depois, tam- bem a parte mais elevada de Venhendal tinha sido invadida, c as bateiras passavam por cima do mercado como por um lago. Feliz- meute porem, durante cstes dias tao tristes, 0 ecu esteve sercno : sc o venlo tivesse so- prado, mais de um quarto da provincia teria desapparecido. Em seguimcnto a estes dcsastres da nalu- tureza chcgou um Ilagello, mais triste ainda, a fome. Os dcsgracados que se linham refu- giado na egreja de Yenbendal cstavara sem vivcres. Caravanas de mulberes, de criancas, de vclbos, vagueavam silenciosas e sombrias i era roda do theatre da inundacao, em busca I de terra lirme e de um tecto onde repousas- I sem de suas fadigas. Em consequencia d'esta accumulacao de todas as miserias humanas, I ' Os moradore3 de Venlicndal, bem como quasi todos I OS das aldeas Neerlandezas, serviam-se. nos tempos or- I dinarios, de bateiras para o transporte de e^trumes e doa ^eneros agricolai. 66 comefaram a desenvolver-se doentasnas gran- jas. Quinhenlos dos moradores mais pobres de Venhendal foram entao niandados, por ordem do rei para a cidade de Ulrcclli '. Uma egreja vciha d'esla anli^a cidade foi arraiija- da para os rerebt-r. Allluiram donatives de roupa branca, fato, e dinheiro. Uma conimis- sao, que se linlia formado voluiitariamente, recebia as subscriprOes e dirigia o servico; mostrou-se conslaiitemeiite iiiteiligeiUe para 0 beni, 0 superior as difliculdades. Tivemos occasiao de visitar os pobres inuiidados de Venhendal na sua egreja ; a iiora da sua refci- cao sao cm commuui, em roda de mesas muilo simples, mas fornecidas com aceio e abun- dancia. No scmblanle d'cstcs desgracados transluzia um ar de indilTerenca, quasi de alegria, que conlrastava com a sua triste con- dicao. Verdade e que muilos d'cllcs niinca tinham sido lao bem traclados: a eharidade publica Ihes bavia grangeado ocios, que agra- daveimenlc succediam a emocoes penosas e a uma vida de rude trai)albo. Uma velba, a quern se perguntava se eslava ja cnfadada, repondeu com uma singeleza tocantc " como quereis v6s que eu me enCade, se nao tenbo nada que fazer! » Todavia a niaior parle das fiadeiras de la tinham vollado .is suas opcu- pacoes ordinarias; as rodas em movimento palpitavam-ibes debaixo dos dedos. Algumas d'cstas mullieres tinham essa belleza da des- graca, que penetra n'alma. 0 sen trajo era ruslico, mas appropriado. As scnhoras da ci- dade tinham ao princi|iio enviado objoctos do sen guarda roupa para vestir estas inl'eii- zes; mas o presidente da commifsao entendeu com um bom gosto perfcito {]ue estes vestidos de luxo, cm vez de realcarem a condicao das pobres ableas, as transformariam em carica- turas vivas da benilicencia piiblica. A maior parle d'oilas tinham fiihos, algumas niesmo tinham tido o sen succcsso depois da cata- strophe. Eslas pobres criancinhas d'olhos azues, de cabellos loiros, de pbysionomias d'innocencia, eram afagadas por suas maes com um orgulho e uma ternura que nada ti- nham de cstudado. Em lodas as condicoes da vida, em todas as classes da sociedade, nunca as maes se distinguem tanto como maes, como depois de um perigo que amea- cou a sua existencia e a dos sens fiihos. A egreja convertida em asylo, tinha sido appro- priada, nao sem arte, ao sen novo destine, e perniitla-se-me a expresao, ao novo culto que alii se vinba inaugurar. Os exercicios do dia eram designados por um toque de sine : rcinava a ordem mais perfeita, e o laco d'esta disci- piina era evidentemcnte o da gratidao. Uma parte do edilicio fora preparado para a noite, boraens e mulberes dormiam em quartos se- ' Metade da aldea pertence a provincla de Utrecht, 1 outra ametade u de (jueldres. parados sobre um leito de pallia. Nesta egre- ja, d'onde se bavia retirado o servico religio- so para ceder o logar ao alivio das miscrias bumanas, volvera o cbristianismo a historia do presepio. As paredcs outr'ora sanctilica- das pela oracao, sanctiiicadas eram agora pcla benilicencia piiblica; as victimas rcmidas pe- lo senlimento que mais honra as civilisacOcs modernas ; as dores consoladas: tudo isto se aehava bem abrigado na casa d'aquclle que prcferia a misericordia aos sacrilicios. Continria. A GLORIA. i,'^ V\Vu\,\.o TA\jsvo wo \tj\evvo. Traditc^iio da meditarao de Mi\ l.nmnrliur. Dois caminhus em frcnte se vos abrera, O das mtisas mimosos, bem diversos, Um conduz a venlura, a gloria o outro : Ctimpre escolUer, u vates. Teu desiiiio seguiu, (i prao Filinto, A lei commum : — tu fosle desde a inraDci» Da ploria o martyr, filho do inrorlunio ; E choras o teu fado ? Peja-te, o vate, d'invejar ao vulgo Esse inglorio descan^ em que vegeta: Se o ceu o cumulou dos bens da terra. A ntis deu-nos a lyra. Sao teus OS sec'los, tua patria o mundo i Hao-de aos manes por fim erguer-se altares ; Justiooso o fnluro ba-de sagrar-te Triumphos immortaes. \o destemido voo aguia suberba, \a estancia dos trovfles assim pairando, Parece um grito al(;ar : nasci na terra, Mas eis-me em fim nos ecus. Tu da gloria seras, mas olha o pre^o. Por que te e dado o entrar seu templo augusto Nao yes de guarda a porta o iofortunio Sentado nos degraus? Dentro nao ves o velho, a q\iem a Grecii Deixou de mar em mar curiir desgra(;as, E cego mendigar um p3o de lagrinias Em paga dos seus liymnos ? Ollm: alii tens a teu Camoes dh-ino: O ^nhtinic cantor das glorias patrias Mirrcu 'num hospital, i nein Ihr desles Ao menos a mortalha ! ! Alem ardendo em logo expia em ferrus O Tasso a sua gloria e os seus amores ; Prcstes a receber laurel lardio, Eil-o descae na campa. Por toda a parte victimas. proscriptnn ; Uns luctando c'o algoz, outros c'o a sorte i Parece o ceu que manda as almas grandes Ddrefi tambem maiores. 67 Oh I cala-me qa lyra esses lamentos : Os fracos se laalimem ; tu, Filinio, Rei sem Ihrono, sorri para a desgra^a Com generoso orgulho. Os ferros dos tyrannos, nnm o exilio, Poderao algemar a tna gloria 'Nestas margens do St-na ; inda Lisboa Ueclamara teus ossos. Ao receber da heran^a ha-de chorar-te ; Assira chorou Athenas sens proacriptos : C'oriolano cxpiruu, de Homa os filhos Seu nome revindicani. Qiiatjj a de?cer para a roansSo dos mort Ergiie supplices maos aos ceus Ovidio ; Ao Sarinala grosseiro as cinzas lega, Sua gloria aos Romanos. AO MEU AMIGO MIGUEL OSORIO CABRAL DE CASTRO. Amigo. Como me disscste quegostavas d'es- sa poesia, nao quero que o tempo em que estudavas grego te lique na memoria como um arido deserto, sem sequer um pequenino oasis: — ahi a lens. E para ti, que me conlieces, c clla tarabem uma tal ou qual imagem do mcu corafao , sempre erianca , scmprc era lueta, desejando sempre a terra promcllida . . mas sempre teu. A LICTA. Aqui DO peito men vem recostar-le , Esque^amos o ceu, a terra, o mundo ! Em torno ao collu, assim, lan^a o teu brai;o, Que eii possa ver, beijar a dextra linda. Une essas faces de jasmins e rosas A minha face, e os labios entre-abertos Approxima dos mens ; ai deixa, deixa Respirar, e viver da vida lua ! Anjo, Dascido p'ra perder mjnh'alma ! Tu es a chamma onde a pobre louca Vai perdida qucimar, qual mariposa, As lindas azas com que aos ceus se voa. Embora seja assim. embora, a morte, Fatal heran^a, larde ou cedo havia Ceifar tambem minh'alma; pois que raorra Farla d'incanlos, beba, beba a morte, Mas era teus labios, entre mil carinhos, Um beijo, e cem e mil — um so, mas esse Sem fiui, unamos 'num so ser dons seres Mas nao, nflo queiras branca flor que eu manche Teu puro calix, tem meus labios peste. Mortal veneno, que eu collii sorrind)> De torpe vida na carreira insana. Lembra-le aquella llor, que, k beira d'agua, Debru^ada sorrla ao vpr as ondas Seu puro calix reflectir mil vezes? Louca nao via la no fundo o lodo, Julgou ser pura a crystalina veia, E a tona d'agoa foi boiando a triste . . ■ Triste ludibrio fut das aguas lodas ; La 'num remanso jaz a llor involta No torpe lirao da faliaz corrente : Tal serias talvez, se acredi lasses Esta febre d'amor — quem sabe um dia O remorso talvez . . . mas cedo ou tarde Nao basde tu morrer } O sol nSo hade Queimar-te, linda flor ; nao hade o venl« Arrancar-le, sem d6, as folhas todas, Espalhadas no chSo, no po calcadas ? Ai dor ! E hei-de eu ver-le assim mudada, Morta, pensando que em teus labios pude Morrer . . . matar-te com famintoa beijos ! . . Pois morre, linda flor, segue o destino Que o Senhor le Irarou ; mas eu nao quero, Eu nao hei-de manchar-te. E quando a morte Teu calix esmagar com a mSo gelada, Manda ao Ihrono de Deus, nas azas d'anjo.s, Teu alento final, teu puro ardma, Como eu mando cstcs ais, que o peilo exhala. Cuinibra. HF.NRIQUE O'NEILL. O ESTUDO DAS LINGUAS GREGA E LATINA I. Uouve enlre nos uma epocha , famC'a por muito genero de glorias, em que as iinguas Grega e Latina foram cultivadas com extre- mado fervor e esraero, juigando-se letirado somente o que era grande sabedor de ambas, ou insignissimo em alguina d'ellas. Nossa bistoria litleraria oiTerece-nos prodi- giosos exemplos do apuro, a que cbegou tal estudo, e dos numerosos monumenlos, que o attestam, poderao os curiosos achar noticia na Memoria do comeco, progressos, e decuden- cia da titteratura 'jrega em Portugal, pelo sr. D. Fr. Fortunate de S. Boaventura, e na Noticia Succinta dos Monumentos da lingua latina, pelo sr. Jose Vicente Gomes de Moura. E verdade que a jiiventude por abi se con- sumia nos bancos das cscholas, versando com mac noclurna e diurna os exempiares gregos 6 latinos, mas a final (icavam-se conbecendo todas as bellezas de Ilomcro, e I'indaro, to- dos OS primores de Virgilio, e Iloracio, e a formosa elocucao de Demosthenes, e Cicero. E porem, desgracadamente, a natureza bu- mana por tal modo varia e caprichosa, que em quasi todo o genero de cousas como que folga de caminhar pelos extremes, desconten- lando-se das eslradas medianas. A maxima prudencial — Inter vlrnmque lene, medius lu- tissimus ibis, — de maravilba se encontrara seculo, que possa gloriar-se de sempre a ha- ver seguido. Hoje alcunba-se, geralmente, de retrogrado (nao ba dizel-o sem magoa) o que cultiva, e aconselha esta ordem de estudos, c ate ho- mens, que se reputam grandes litteratos, con- fessam, com certo ar de ufania iconio se fora 68 grandc merito) , sua complota ignorancia nestft ramo de conheeiraentos, l)em a (■\m'\- Ihanca d'aqaelles cnlaliiados uobros da cdade media, que liiihani cm fonta de menoscabo de sua prosapia o sabercm cscrevcr! Diz-se, que sao linguas mortas (c bem mor- tas sao ellas, agora, onlre nos); iiue sens oscripios se achain Iradiizidos nas vivas, om que sc podem k^r; que no sini enfadoso cstu- lio se consomem largos aiiiios com grave dc- triiiu'iito do ciisino dos oulros raiuos do sabiT biimano; que linalmenlc, eessarii ja a causa do sou esludo, porquc perdcu de moda o pNcrever-sc 'nellas. Estas razoes, com quanto especiosas, tcin sido corroboradas c auctorisadas por alguns varOes de grandc noiucada na rej)ublica das letras, e teni ganbado entre nos taiiianbo vullo e sequilo, que se tcni quasi acabado com o lalim, que desde 1S34 se estuda com nimio desleixo, a conta de sua lao inculcada inuli- lidade ; e lanibem esta, por urn Iriz, a per- der-se o grogo, cujo conbecimento se presume uma crudicao iraperlinente. Nos convencidos dos gravissimos prejuizos, que 0 desmazelo no ensino do grcgo e do latim 1cm causado .is lelras portuguczas, pro- pomo-nos mostrar, nao ja a necessidadc d'esle gcuero de preparalorios para as faculdades acadeuiicas , mas a necessidadc do esludo d'cslas duas lingu.is, para se adquirir o per- fcito conbecimento da portugueza. Dc louco nos arguiriani, ha vinte dous an- nos, se enunciassemos, se(|Ucr, csle proposilo, tamanha era a geral conviccao, entre nos, d'esla verdade; boje acaso nos acoimarao de ofioso, ou dado a imaginaroes; mas em bora, nem por isso desarredaremos do nosso inlento. II. Qualquer que seja o estado, profissao, on mister, que o bomen lenba na sociedade, o communicar os sens, e perccber os aibeios pensauienlos, c tao al)solulamenlc necessario, que de maraviiba se clicgaria a consliluir associacao bumana, sem o ampio gozo de prerogativa tao prcciosa. Sobe porem de ponto esta necessidadc para quern tultiva suas faculdades intellccluaes; n5o e somente a liniitada, natural, c simpli- cissima linguagcni dc uso vulgar, que tern de romprehendcr, e indispcnsavel ainda estudar <> conheccr a extensa, artiliciosa, e, nao pou'- fas vezes, abstrusa, em que se exprimem as puras aUstraccocs, as concepcOcs suldinics do espirito. III. Com as eseassas c imperfeitas noeoes, que n,i puericia apprendeuios de tiossos paes (cm- iKira no deourso dos annos, pela maior lar- giie/.a dc rclac5cs, c dcscuvolvimento daintel- ligencia, sc accresreniem e esclarecam), nao ba preencher, e altingir cabalracnte aquelle imporlaulissimo Cm; releva estudar por pre- ceitos 0 regras a lingua materna. IV. Alcm de se corrigirem por tal cstudo os nu- merosos erros, que pelo commercio de pcs- soas iudoulas sc bouvcrem insinuado, adqui- rir-sc-ha certcza e atilamento no (jue se fal- lar c escrcver; grangear-se-ba mais larga ciipia dc palavras, e d'cllas sc usari com pro- priedade; anipliar-se-ba a lingua pelasconbe- cidas regras de conipOr c dcrivar, junetando- sc-lbe palavras cxternas com soil'rivel corrup- cao, e lormando-se de novo outras; saber-sc- ba I'ugir de termos estranbos, ainda nao rece- bidos, quando os haja proprios; obter-se-ba, finalnieute, com maior I'acilidade, e sem per- da dc tempo, a perfeitaintclligencia de outras dilTcrcnles linguas, poisque, tcndo todas prin- cipios communs, acharao 'nellas os princi- piantes mcnos que estudar, todos os rudi- meutos, que leva rem sabidos da materna. V. Estas e muitas outras vantagens, que seria longo meraorar, persuadiram os governos de todas as nacOes cultas, autigas e modernas, a cstabelecer cscholas d'cste gencro d'ensino. Foi por este mcthodo e espirito de cduca- eao, que as linguas grcga c romana chega- ram a elevar-se ^ao grau de gosto e perfeicao, cm que se viram nos formosos scculos dc .Vtbenas c Roma, o que bcm testeraunham as c\ccllculcs, e inimitavcis obras, que d'elles ainda nos restam: e tambem a este piano de csiu;lo que as naeoes modernas da Europa dcvcni as obras primas de sua litteratura. VI. Entre n6«, os portngnezes (que nos podc- nios pavonear com a bonro»a primasift do dcscobrimcnto d'esta convenicncia d'estudo muitos annos antes que em Fraufa se reco- nbecesse) ' , lia ja longo tempo que se cnsina a lingua portugueza por arte, como indispcn- savel preparatorio para o estudo da latina, se bcm que no desenipenbo d'este dever bou- ve repreliensivel negligencia da parte de muitos prolessores, que, ou por se esquiva- rem ao trabalbo, ou para agradarem aos paes de sous discipulos, dando os por promptos em mcnos tempo, que o que Ibcs prescreviam as instruccOes, os dispensavam d'este estudo com gra\e cpicbra do iiiiblico ensino. ' Un.indn llamns publicoii em 1574 a |irimeir» Gram- malira Franccza, jA PorlnjCftl tinha a ile Jojlo de Barros. (lada a liiz em 1640. e a de Kcntfio de Oliveira, publi- cada em 1536. 69 VII. Esta criminosa corruptela remediou feliz- mente, alguns annos ha, o sr. Jose Vicente Gomes de Moura, dislincto pliilologo e hunia- nisla, com a publicacao do seu Compendio de Grammatica Porhujueza c lalina, em que compaginou as doutrinas das duas grammati- cas, a piimeira das quaes, segundo ordcnava 0 alvara de 30 de setembro de 1770, deviam ensinal-a os professorcs de latim pelo espaco de seis mezes, antes de so entrar no esludo da latina. Ao presente o estado da grammatica portu- gueza commodamente aconipanha o da latina; porque OS principios geraes de grammatica sac applicaveis ao ensino de uma e outra Jingua; e a ordcra geral das doutrinas e a mesma em ambas as grammaticas. Nem era philosophico separar o esludo de duas linguas, ligadas por tao iutimo paren- lesco, eomo e o de mae e filha. latim, OS quaes versos, no seu entender, tdm, pela maior parte, mais de macarronko, do que de Jegitimo latim, como obra feita de aposta '. Continua. r. dk GUSMAO. PISCICULTURA. VIII. Com quanto porem scja commum opiniao de nossos philologos, que a lingua portugueza e filha pnmogenita da latina, nao e, todavia, tao universalmente recebida esta verdade, que alguns eseriptores de merecido rcnome a nao hajam negado e combalido. IX. 0 academico Antonio das Neves Percira cremos nos, foi o primeiro, que pretendeu envilecer o predieamento de filiacao latina que, desde o tempo de Joao de Barros al6 nossos dias, geralmente se tem eoncedido a lingua portugueza. Desagradou-Ihe o que o cnthusiasmo do nosso CamOcs (ingiu elegantemente de Venus que era alleicoada a lingua portugueza. na qual quando imagina Cum pouca corrupcao cro, que e lalina ' . Imagem poelica, que, posto que nao funde em materia de philologia portugueza lei de- cisiva, expnme, todavia, a opiniao do prin- (■ipe dos poetas porluguezes, e a dos homens uoutos d essa epocha. Rejeitou o lestemunho de todos os que de- pots de Camoes tem repetido o .sen conceito dellc; laslima a cegueira de taes criticos e tem para si, que, a argumenlar-se pela si'mi- Ihanca dos noiiies, imilacao dos verbos, r pro- priedade dos vocabulos, mais similllanca tem a lingua portugueza com a grega, do que com a latina. Taxou de pueril a prova tirada de varios poemas, que com pouca mudunca de pronun- eiacao jd se Urn em portuguez,' jd se Urn em ' Liiiiad. Canl. I. Os ensaios de dous Pescadores Gehin e Bemy, as observacOes do naturalista Milne tdwards, as experiencias de Bertot, que po- voou 0 canal de Huningue de salmOes, tru- tas, e meslicos d'estas duas cspecies, e, cm hm, OS trabalhos de Coste deram a ichtyol'ogia tamanha imporlancia, que fizeram conceber o piano de estabelecer grandes depositos de peixes c ate de crustaceos , nas aguas da Franca ; e esta nacao possue ja grande nu- mero dc viveiros nao so de peixes indigenas mas ate de especies exoticas. ' A practica da piscicultura nao e ohjecto novo : conheciam-na ja os antigos Romanos como nos attestam as piscinas do Golfo de Napoles onde, entre outras, se encontra ainda a que Lucullo legara a seu filho, como cou'sa de grande rendimento. Na aclualidade a piscicultura deve conside- rar-se em Portugal assumpto do maior inte- resse ; porque, escasseando as subsistencias ti- radas do rcino vegetal, o peixe fresco offerece um excellenle alimcnto. Mas o nosso povo desconhece esta verdade, e despovoa os rios cnvenenando o peixe com trovisco, embude' coca do Levante, etc.; arrastado pela cega cobica, nao attende nem d qualidade do peixe que assim obtem, origem de gravissimas mo- lestias, nem a que este gencro de pesca altera a agua , tornando-a uma bebida deleteria tanto para o homem, como para os animaes domesticos. Em fim o nosso povo esquece que, por esta forma, destroe 'num momento myria- das de novos peixes, que deviam para o fu- turo constituir uma verdadeira riqueza. A auctoridade administrativa incumbe pro- videnciar sobre este calamitoso abuso, fazendo executar as providentes leis que a este respei- to possuimos. Ja 'noutra occasiao indicamos 'neste jor- nal a necessidade de melhorar a alimentacao das^classes industriaes, e os recursos de que podfamos dispdr para conseguir este luelhora- mento, fazendo prosperar a industria pecuaria por forma que o baixo preco da came per- mittis.se a entrada d'este alimento na mesa da classe pobre; boje lembramos as grandes van- tagens que podem tirar-se da piscicultura, ' Ensaio critico sobre quitl seja o uso prudeiile das palavras, de gue se serviram os ,iassos boas eseriptores de seciih XV, XTI, etc.— TomofV^ das Mem, de Mil Port, ad Ac. R. das Sc. de Lisboa. ^0 IW^oundo OS nossos rios, ribciras c lagos de peixes que aiuda os nao habitaui, luuitiplican- do aquelles quo 'iii'llcs vivem, c all- lonstru- imlo pisi-iiias desliiiadas a sua criacao. D'oste modo poderemos subordinar ao uosso capriclio alj;umas espccies dc peixes, consideraiulo-as cniiio animaes domO'jtiros, c augmcnlar com ellas as subsisteutias (jiie iios olVerecc o reiiio animal. Animados do proposilo de cxcitar os nirio- sos a leiUar aslc gi'iicro de producrao, vamos ministrai-lhos algitns preceitos conconienUs ao processo da colbcita, fecundai'ao, iiicuha- i;ao e Iransporle das ovas, nascenra , e ali- inenlacao dos peixiis. Culhcila e fecunilanlo. Ast'specics do peixes, ([ue podem ser destiiiados para alimenlo, sao n\ipara>, e a fecuudavao das ovas i'az-se ex- lei'iornu'iilc ; logo que a femea poo as ovas, o macbo orvalha-as com a materia I'ecuiidante, I'hauiada vulgarmentc leite de pei.ie: quando csta matpria cbega ao convenieiUe eslado de madureza, assemelha-sc ao leite ordiiiario; e posta eiilao em contaclo com as ovas, tern a propriedadc de as fccundar c desenvolver o germcn dos peixes. A fecundarao artificial applicada a criaciio dos peixes cxige duas operacoes importaiites: cousisle a primoira iia colheita das ovas c do leite em bom estado dc madureza, c a segunda era sulimelter as ovas ao contaclo do leite, nas condieocs uecessarias para so rcalisar a fe- cundarao. As fecundacoes artiliciaes exigeni , I'omo condicao csseucial, (pie as ovas e o leite fecundaiite estejam niaduros e perfeilamente saos. e 0 nieibor nieio de obter peixes, que possam satisfazer a csta condicao, e pcscal-os na epocba da geracao, uos desovadouros, ou nas suas proximidades. Cuniprc notar que a miigeni, a truta etc. deixam os logares ordinarios da sua baliila- ran, subindo pelas correntes das aguas ate cn- ronlrarem as condicoes proprias para a pos- lura das ovas. 0 salmao, a lampreia, o savel etc. abandonam as aguas salgadas, e veni procurar na agua doce logar opportiiiio para o acto da sua reproduccao. 'Ncstes logares e na epocba da postura e que dcvemos pescar o pei- xe. Enlao 0 anus das femeas acha-se intunic- cido e coiiio ipie inllammado; as ovas sabem naluralmenlc, ou quando se faz ligeira pressiio IK) ventre do peixe. D'ordinario unia parte das ovas cabc no mingacho ou no batel do ])eseador, quando o peixe se agita, ou e sus- |)endido com a cabeca para cima. As ovas bcm niaduras, denorainadas mi- Iheriin, sao claras, transparentes, de cor cin- zenta, esverdiada, amarellada, ou rosada como as do salmiio e da truta; sao separadas umas das outras ou adberenles, conl'orme as ospccies. Quando as ovas sao bacas, nao pulidas, e de Ibrma irregular devem desprezar-se, por nao so rem boas. 0 leite leeundaute e. bom (|uando corre era jaclo ou gotlas como leite ou crenie, quer natu- ralmente, quer por meio d(! levc pressao no ventre do peixe. Se no acto da pesca a .sahida do leite ou das ovas niio e facil e nal\iral, e se interrompe com fre(|uencia, convem dcixar OS peixes cm reserva na agua para nos servir- mos d'clles no dia seguinte ou uos immediatos. Todavia e necessario evitar, iiuanto for pos- sivel, retcr os peixes era captiveiro por niuito tempo; porque as cspecies mais delicadas nao supi)ortam este estado, sem (pie as ovas c 0 leite se alterem ; aiuda que os machos da maior parte das cspecies forni-cem, durante muitos dias conseeutivos, jactos de bom ieile. Nos casos em que for necessario ter os peixes em captiveiro por alguns dias, devemo.s a|)proximal-os ipianlo f(jr possivel do seu es- tado natural , conservando-os em agua da qualidade e icmperalura da (pie elles habi- tavam, dando-lbes abrigos ou refugios etc., similliantes aos que anteriorniente possuiam. Tambem se pode eonservar o peixe no rin em que vivia , prendendo-o com um cordel que llie pa.sse das guelras para a boca , ou enccrrando-o em uma naca de vergas. 7'>t'iiiif/«frto (las ovas livres. Obtidos um macbo e uma femea em bom estado, procede- se a feuundacao pela forma seguinte. Toma-se um vaso bem liinpo (lerrina ou pralo covo) lanca-se-lhe agua ate a altura dc algumas po- legadas. Esla agua deve ser tomada no logar em que os peixes costumam desovar, c con- servada na mcsraa temperalura, que ordina- riamentc (> de 2 atii 10 graus, para os peixes que desovam no inverno. Approxima-sequanto f(jr possivel 0 anus da femea da agua contida no vaso, e alguem recoinraeiida ser mais van- tojoso 0 mergular-llie o anus na agua, de modo que s« nao exponbam as ovas ao contacto (lo ar exterior. Ao passo que tem logar a postura das ovas, e estas vao ao fiindo do vaso, borrifam-se com alguns jactos ou gotas de leite de peixe, ate que branqueio leveraen- te a agua, ou tome nina cdr opalina. Agita- se docemente csta agua leitosa, com o fim de conseguir que todas as ovas sejam postas em contacto com o principio fecundante. Em cada operaciio deve colber-se somente a quantidade de ovas (|iie forme uma camada no fundo do vaso, para que sc nao agglorae- rem umas em cima das outras. Quando as ovas nao correm naturalmentc, facilita-se a sua sabida, o|qirimindo levcmente o ventre do peixe, da cabe('a para a cauda, ou arquean- do-llie d(Jvemente o corpo, Podeni aproveitar-se as ovas das femeas re- ceutemeiilo niortas, mas sao preferiveis as das vivas ; e ])orcra indispensavel que o leite fe- cundante provenba de peixe vivo. (Juando podermos obter dous ou mais peixes com leite maduro, convem empregar sucessivamente al- gumas gotas de leite de diversos individuos, 71 para lermos inais probabilidadc de l)oni rc- sullado, eviiando assini o cim; sucredi! (]uan- do SI' cmproga urn so poixc, iiijo Icitc Ifioun- daiile c inrrli' ou pouuo activo. No lim do quatro on cinco minutos \asa-sc a agua Icitosa, e substituc-so per outra limpa para lavar as ovas: csla agua de\c scr da mesma naliiicza e li'mpcratuia da que sc em- prcgou na recundarao das ovas. Nas esppfics quo culfrram ou occullam as ovas, como as Inilns, c ncrossario ovitar a acrao da luz ]>riiiripalmcnte a dos raios so- lares, cuja inlluciicia c prejudicial; e ogual- meiile [)r('judi(ial para lodas as cspecics a acoao do vciiln frio ou seceo, as variaroes rc- penlinas de touiperalura, e o deixar as ovas em s(!cco, na tolalidadc ou em parte Fecundardo dux ovu-i udlierentes. I'ara se fecuiidareui as ovas adhereiiies conio as do barbo, boga, lenca, e mugcui o necessario lanjar, no vaso dcstiuado ii I'ocundarao, plan- tas aquatiias, ramos vcgelacs, ou lilanienlos de qualquer substancia inerlo, a fim de que as ovas, tahiudo sobrc esles objcctos, sc col- lem 'nclles, adberiiulo-lbos forlemente; loda- via e mister ter o cuidado de agitar a agua durante a jiostura das ovas, para que clias se cspalhem, e nao formem aggiomeracOes, que prejudi(|ueiii o desenvolvinienlo dos embryocs. I'ara o barbo e a tenca iiao se deve en)]iregar agua ilia das I'ontes c ribeiros , mas sim de uma teniperatura uiu pouco su[)crior a esta, como e a agua dos rios. Procede-se a f'eciiiidarao, orvalhando as ovas com 0 kite de peixe pi'la forma ja menciona- da, c 0 nielbor processo consiste cm ter uma pcssoa a lemca ])ara dirigir a postura, c outra, 0 niacbo para por o ieile em eoiitaclo com as ovas logo depois da postura. Tanlo na I'ecundacao das ovas livrcs, como na dasadherenles e iiidispensavel qucoleitcde peixe, no niomento cm que e lancado na agua e se divide, seja logo posto em conlacto com as ovas; porque o sen poder fecundantc e de curta duracao: na niaior parte dos peixes nao oxcede um a dous minutos, c nas trutas e salmocs, a meio minuto. Por tanlo e crronea a practica de preparar uma agna leilosa, para 'iiella deitar depois as ovas; devendo prcfc- rir-se deitar-se o Icile sobre as ovas logo im- raediataracnte a postura, imitaudo assim o processo que a natureza emprcga. Na I'ecundacao artilicial pode tambem em- pregar-se o lamiz, ou tcia melalica galva- nisada, tendo-a convenienlemente mergulbada na agna. Este apparclbo serve para fazer as fecundacoes nos rios ou 'num vaso com agua, lancando as ovas no fundo do lamiz ou sobre ervas 'nelie contidas. 0 lixo e as materias estranbas ao Ieile, que sao inuleis, passnm atravez das malbas do tamiz; c faz-se a incu- bacao, deixando as ovas fecundadas sobre o tamiz, que se fecha "num vaso, appropriado (cclha ou barril), para sc transporlarrm a distancia quando e necessario. Cunlinua. iM- I*. NOTAS AO E\SAIO SOBIIE Oi PRIMIPIOS DE MEOIAMCA, OBRA POSTHUMA DE JOSf ANASTACIO DA CUNHA. Continuadu de pag. 4£. p. 10, I. 10 O movel deve por uma razdo (ichar-st mi rccla AB e por oulra na recta AC Acbar-se nao e' a cxprcisao propria dn probJL'ma, mas sim dcscrevcr a recta AB; como o aiictor inesmo ate'gora tein usado dizer. l*]sta simples rellexao faz dcsvaneccr qiiaiito die diz 'ncsle paragraplio; porque lima vez que o movel deve di'screver a recta AB, nao pode ficar no ponto A, uein nio- ver-se no ponlo A etc. etc. P. 11, I. 11. Remetler-vos-hei aos analyslas rnodemos. Kis-aqui outra vez o aiictor argumeiitando aos sens contraries coin razoes que elle inesmo Iracta de ridiculas. Se fossein razoes alias admittidas pelos sens adversaries, seria o cbamado argumento ad hominein. Mas por- que um matbemalico pretende que se pode deinonslrar a composi^ao do movimenlo, nao se segue que ellc admitle os absiirdos quo em analyse se lem amonloado sobre as exprcs- soes intiiuto, iiifmitameiite pequeiio etc. P. 14, I. U. Perigosa coitipan/iia dc metaphysica, Esta pbrase do autor tern um sentido muito verdadeiro, mas nem por isso deixa de ^er muito equivoca. A iinguagemda matbemalica consiste em certos signaes simplicissimos, tacs como um numero, uma letra, uma -{-, um — , urna X, etc. A linguagein da metapbysica consiste em palairas e em pbrase<, frequenle- menle longas e complicadas. Assim, postn que o malbematico deve servir-se dos mcllio- dos que a mclapbysica ensina para traduzir na linguagem mathematica as nogoes que tern de expender, comtudo nao deve scr- vir-se da linguagem da metapbysica. Se os signaes (|uc existcm em matbematica llie n.^o Ijaslam deve crear outros, ad imtar dos pri- meiros , mas deve fugir de iiilroduzir na sua uma lingua estrangeira. P. 14, Def. I. Esta defini^ao suppoe a de tempo; e por tanto devia vir depois da 4.* lb., Def. 2. Custa aconceber como o auctor, que julgou necessario definir instaute apcsar de dar deli- 72 ni5riO dc tempo, nao sentiii que era precise definir logar. Se o livese fello, ler-se-ia po;i- pado ao inconvenieiite de carrcgar esle ensaio com o axioma 1." Ja viinos aoima e larffamente dcmoiislrei na memoria sobre os progresses coinparalivos das scienciai nioraes e das sciencias physioas I' malhemalicas, que estes cliamados axiomas iiada mais sfio do que segiindas defini^'oes, a qtie se da o nome de axiomas, para encobrir o feissimo defeilo de dar mais de uma defiiii- 9ao d'um inesnio nome. Com elTeito depois de se ler dido na defi- iiii,ao 2.' que movcl e o que miida conlinua- ineiitK de liigar, diz-se 'neste axioma que iiiovel e o que descrove uma linlia. Bern se ve que a cliamada definiyfio, se converle em axioma, e o ciiamado axioma em defini^-ao sent mudar a nalureza de enunciado; e so differem em que se cliama defini^io o que se poe em primeiro lugar, e axioma o que se poe depois. P. 15, 1.7. O ponlo movel dcscrcvc uma Ihihd. Eslaliiilia chama-se espago. Esla 6 uma das significajoes de espago, mas nao a unica. jSolo isto, nao por que condciiiiie o auclor de baver mal definido, pois e a mesma defini^fio que eu dei ; nias porque sendo a palavra espa^o uma das mais obscuras (couio provam os abusos que d'ella se lem feito), oonvinba definil-a em toda a sua generalidade, e depois obsorvar o senlido mais restriclo , que na uie liaiiica, c I'm outras mais occasioes se Ilie da. lb. Poslulado e Def. 4. Haja uma linha, que seja como o tempo qu: o movel gasla em descrcver o espagoj essa linha chama-sc tempo. Pela segunda vez commetle o auctnr urn erro que parece inciivcl a vista da rigorosa logica que clle niostra 'noutras occasioes. Quero dizer, o metter 'numa definijao uma palavra ainda nao defmida, e que no seu cori- ceito precisa de o ser, vislo que depois a define. Mas 'neste poslulado c defiiiigao 4.' com- mette alem d'isso uu) erro ainda mais grave qual e o que cliamam idevt per idem. Coui elTeilo liremos os tilulos, que nao fazem uada ao discnrso, e ent'io fica : Cbama-se tempo a linlia que e cpuio o tempo que o movel gasla eni descrever o espago. Quern nao ve que era preciso ler explicado, que cousa seja uma linha que e como o tempo? A unica signifi- ca^-.-io inathematica admissivel, e esta : uma linha que e para oulra linlia, como o tempo que o movel gasla em dcscrever o espa^o, e para oulro tempo. Mas duvido que alguem, e niuito menos o auctor, se contentasse de similhante defini^rw. Nfio quero dizer com isto, que o nosso auctor nao tinha diante dos olhos a verdade; ao contrario , ve-se que elle contemplou o ponto debaixo do seu verdadeiro aspeclo, mas quando foi a fazer a deducg.io das suas ideas, largou da mfio o fio da analyse : e nao ex- pondo mais do que uma pequena parte d'estas ideas, caliiu na obscuridade que queria evilar. lb. Iiypotliese 1. Entre o cspago e o tempo haja relagdo deter- minada. Esla hypolhese nao somenle o superflua, mas ate antilogica; por que quando o auctor tomou por certo, que tempo e' a linlia, que (i como o tempo, que o movel gasla em des- crever o espago, ja faz enlrar na idea d'essa linha, a que chama tempo, que ella tern uma determinada rela^.'io com o espa^o, relajfio desigiiada pelas palavras como o tempo que gasla o movel em descrever o espago : d'onde se ve, que aquella linha chamada tempo, nao e qualquer linha, mas l.'io somente a que lem com o espa<;o ceita e determinada relag.'to. P. 16. Def. 8, isto e 6. Direcgdo c a recta tirada pelo principio do espogo dc sorte que nao faga angulo com cite. Seria mais simples dizer que a direcjao e o espa(;o. Porque a recta que tirada do espajo nfio faz angulo com a linha que o represen- ta, e que e tambem recta, coincide com ella. Mas o auclor scntiii que essa seria uma defini(,-ao evidenlemenle errada : e por isso elle Ihe deu oulra forma. Poretn o erro nao deixa de exislir por se achar menos visivel. O que mais me admira "nesla defini5.io, e o estabelecer-se, que a linha da direcgao haja seinpre de ser recta, e que nao faga angulo com a do espac^o. E se esta ultima for curva? A maior parte dos aiialystas responderiam: que pois se tracta de espa^o infinitissimo, este nao dil'fere da linha recta. Mas o nosso auclor e-la muito loiige de abra^ar similliantes pa- radnxfis. Nova prova de que a sua defini^ao e viciosa, ate porque tonduz a coiisequencias iincouipaliveis com os sens proprios principios. CotUinua. OBRAS OFFERECIDAS A BIBLIOTHECA DO INSTITUTO DE COIMBRA. Segundo volume da Geo^rapliia historica ou chronolo- gia para uso das escholas, por Joaquim Ix)pes Carreira de Mello, socio correspondente do Institute. Resumo da Historia Sagrada aotiga e da Egreja Chrislu para as escholas de instruc^ao primaria de 1.® e 2." grao, pelo mesmo auctor. Biographia do padre Jose Agostinho de Macedo , pelo mesmo auctor. Demonstraijao dos direilos que lem a cor6a de Portu- gal sobre os territorios eituados na costa occidental d'Africa, pelo Visconde de Santarem, socio honorario do Iiistituto. P"actos e considera^fles relativos aos direitos de Por- tugal sobre os territorios de Molembo^ Cabinda e Ambrix, pelo Visconde de Sd da Bandeira, socio honorario do Instituto. i) JnstittttiT) JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. C05SEIH0 SlPtRIOR DE I.\SIRUC(AO PIJBlICi RELATORIO AIVNL'AL. 1862— 18B3. Seiilior! — Corre o mez de novcmbro e com elle a obrigacao ao conselho superior d in- struccao puhlica de dar a V. M. nolicia cabal e circumstanciada do estado da instruccao 'neste paiz. — Um anno se volveu depois do ultimo relalorio gcral, que era observancia do art. 153 do decreto de 20 de setembro de 1844, e do art. iO do de novembro de 1845 0 conselho superior teve a honra de elevar ao soberano conhecimenlo de V. M. : e force e dizer que o estado litterario, moral, e material das escholas piiblicas pouco tem melhorado mormente na instruct'ao primaria. Faltam os primeiros eiementos d'esse suspirado melhoramcnto, que sao os bons professores, e inspectores zelosos e intelligenies. Fallam os edilicios piiblicos e appropriados paia o ensino, principalmente no ramo da instiucfao prima- ria: cnsinada quasi geralmente nas cazas de habilacao dos proprios professores, negam ale as camaras a mobilia e reparos das escholas, a que foram obrigadas pelo art. 2.° do dec. de 20 de Janeiro de 18o0; o numero das escholas 'nesie ramo e muito inferior a cifra que deve corrcspondor a populacao, e neces- sidades do paiz. — Nao nienos faltam os eie- mentos cstadisticos indi>pcnsavcis para se elevar cste relalorio ao grau do perfeicao era que 0 conselho pdz mira dcsde o momenlo da sua inslallacao: e assini renova, a seu pezar, a ja por vezes repclida iiidulgoncia dos invo- lunlarios dcfeitos, que ainda d'esta vcz nao pode ri'iBediar. E por esta occasiao consinta V. M. que o conselho exponha respeitosameii- te a impossibilidade de era novcmbro apresen- tar ura relalorio exacto corao cumpre. Fora mister para isso que em setembro recebesse lodos OS relatorios parciacs : raas sobrc ser ifste mez de fciias, accrcsce odescuido de uns, ■e impossibilidade de oulros, extravios de cor- reios , e de ordinario a dcmora irremediavcl nas comraunicacocs enlre o continente c ilhas adjacenles : sendo ja sabido, e confirmado Vol. V. Jii.110 1.°- pela cxperiencia de oilo annos que a confe- rencia geral de ahril fora a mais propria , r accomodada a exactidao, que se requer em relalorio de tal importancia e gravidade, com referenda ao anno litterario findo, por setem- bro anterior. — Procurando todavia approxi- mar-nos, quanto e possivel, a verdade histo- rica, daremos nolicia do estado da instruccao eonsiderado primeiramente no de sua admi- nistracao central ; e seguidamente nos ramos de primaria, secundaria, p superior, em que se acha aclaalmente dividido o ensino publico , concluindo cora as reflexoes, que suscita o estudo de cada um d'aquelles ramos ; apon- tando as necessidades, e remedios raais ade- quados cora respeito a situacao economica in- tellectual do paiz. Administracdo central. Tera sido regular no anno decorrido o an- damento dos negocios a cargo do conselho superior. A falta de dois vogaes, um por va- cancia, ha pouco preenchida, outro por des- pacho para vice-presidente do conselho; e os impedimentos do terceiro por occupado era servifo de cortes, e d'outro por achaques , nao t(5m demorado o expedienle do servifo ordinario, nera quebrado o zcloso empenho cora que o conselho procura o ponto de per- feifSo na administracao geral dos esludos. — A secretaria do conselho lem sido pontua! no desempenho dos seus deveres. Nao Ihe sobeja tempo apezar de nao ter ferias , nem dias feriados, do muito servico a seu cargo. Os ordenados e emolumenlos dos empregados sao, com tudo, inferiores aos de oulras reparticOes liltcrarias, a que sao superiores emcalhegoria. Nao pareceria injusto, nem ainda inconve- nienle o realisar a proracssa feila no art 64 do decreto de 10 de novembro de 184S ; havendo elles rccebido desde 1844 ate agora piovisoriamenle os ordenados dos afitigos of- iiciaes do extinclo conselho director. Sohre este ohjecto ja o conselho teve a bonra de consullar era 21 de fevereiro de 1851, e 7 d'outubio d'esle anno. — A cooperacao dos delegados do conselho, com especialidade dos commissarios de esludos, nao tern correspon- dido |ilenamente as esperancas do conselho , ao pensamento da lei, e as exigencias do ser- 1856. NoM. 7. >ico. OccupaJos com a Jirccfao d«s lyceus cujos sao ii'ilores, c sinniltanea regon'cia de laiieiras, na inaior parte os rommissarios nao turani em gcral, iieni podciii ciirar da visita, e iiispecfSo das cscliolas |iiiinarias, c das se- cuudarias distantcs, mas annexas aos Jycuo*. Os sulidi'legados que a lei (.toou para coadju- var atiiiellcs no exercicio do sou emprego nao existeui; nem tern sido iiossivel alcaiical-os upezar das diligencias do eonselho. llccommen- dara cste a todos os conimissarios que llic iembrassem pcssoas iiitelligoiiles c dcvotas da inslruccao, que iiispirando coiilianca podcs- .•>em ser proposlas para scr delegados'; e ainda al6 agora nao iiouve conimissario que lem- brasse pessoa alguma com aquelles predicados liavendo proposto pcia maior parte professores, que nao devem liscalizar-se a si proprios. A causa sera antes o servico gratuilo, para que hoje OS aninios se vecm lao pouco dispostos, do que a carencia absolula de pessoas com- petentementc habililadas 'naquelle genero. Assim que podemos asseverar sercm as limi- ladas inforniarnes , que por via dos conimis- sarios chegani ao conscllio acerca do eslado litterario, moral, e material das escholas, re- sultado do que as auetoridades administrati- vas locaes informara , nem sempre iinipo das intrigas , e paixOes acesas entre visinhos da mesnia terra. — 0 consellio penetrado da ne- cessidade do conhecimento exaclo das escholas, e desenganado de obtcl-o pelos nieios que a lei prescreve , tern chamado a se'ria attencao dos vogaes ordinarios c extraordinarios sobre aquelle ponio ; e concordou em resullado da discussao pausada, e seguida em conlerencias da 1.* seccao, ser indispensavel a croacao de inspectores de instruccao primaria, que visi- tando a miude estas escholas possam informar com exactidao ao eonselho sobre o estado d'ellas , e melhoramentos admissiveis ; iasti- tuindo ate conferencias com os professorcs mais acreditados , de que muita luz se pode esperar para as reforraas, de que carece o ramo de instruccao mais necessitado. Querendo porem conciliar a ulilidade do servico com a indispensavel economia, juiga o eonselho que, liavendo em todos os lyceus suiistitulos para supprir impedimentos de cathedraticos, po- derao os conimissarios I'azcr as visitas das escholas, mediante algum suhsidio de Jornada; e levar a inspeccao a um estado regular , sendo auxiliados por commissOes locaes per- manentes e gratuitas , composlas de pessoas interessadas no progresso da instruccao e cducaciSo primaria : e devera ser esla a pri- meira tentativa para a organisacao do novo ramo de servico publico , em que presume grande vantajem, e nielhoramento a instruc- cao primaria. 'Neste senlido preparou, e tern a hnnra de elevar ao soherano conhecimento iado pela harmonia musical, de que ordinariamen- te era acompanhado o scu exercicio. Iloje terminada a impressao primeira da novidade, e desacompanhado da recreacao da niusica, t: pouro frequentado. Talvez a forca de babi- to, e a impericia dos instruclorcs Ihe tenhani tambem enibargado o passo. Nem dcshim- brou, nem surprehendeu aquelle entliusias- mo ao consclbo superior. Sabia o que cm Inglaterra aconlccera em 1830, em Fran- ca pouco depois, e posteriorniente na Belgica, que era materia de instruccao piiblica nao tem systema legal , nem da e.xemplos. 0 con- selho porem nao devia proscrevcr, nem re- coramendar positivamcnte a adopcao legal dc um metbodo, som que estivesse auctorisado com faclos do proprio paiz. Mandou ensaial-o em escbolas piililicas, e particuiarcs; fez vi- giar OS resuitajos pclos seus delegados. Das informafoes encontradas, ate agora rccolhidas, 0 que pode concluir-se e que os cITeilos do metiiodo dcpendcm essencialmentc dos dotes pesi-oaes do professor, que produz Janto mc- lhor resullado, quanlo maior e a cdade do alamno a que se applica; sendo de pouco proveito na primeira infancia ; (|ue o nome repentina e perfeitamente illusorio; mas que alguma brevidade sc conscgue no tempo do ensino; e que nSo pode ncgar-sc a vanlagem de as lelras entrarem na leitura pelo valor de suas combinafoes, e nao pelo nominal. Mas nas escbolas publicas, a que diariamcnte acodcm novos alumnos, uns analphabetos, outros com differentcs graus de instruccao, sera talvez o metbodo inapplicavel scm a construcfao dc edilicios proprios, accomoda- dos as muilas classes, em que tem de dividir- sc a esrhola, e sem um professor para cada classe. Resta .saber se as vantagens do me- tbodo compensam os sacrKicios que eile exi- gc. Nao parece muito provavel; mas o con- sclbo aguarda a sanccao do tempo. Cauliiiua. O ESTLJ)0 LINGUAS GREGA E LATINA 4a fovVwqutia. Continuado dc pag. 69. X. Em nossos dias um dos mais esclarccidos luminarcs de nossa litteratura prctendeu dc- monstrar, em uma extensa e erudita memo- ria, nao so os simplices asserlos de Antonio das Neves Pereira, mas a grave injnstifa, com que a lingua porlugueza ainda goza da dupli- cada preiogativa de liiha primogenita da latina ' . Mas, ainda bem, nao valcram as fadigas, e subidos credilos de lao valcnlc canipeao a dcsbaulizal-a de tao nobre titulo; continuara na posse d'esse anligo foro. Enibora conlemporanea bem repulacia se acbam refutados cabalmente, um por um, os singularcs argumenlos d'aquellc insignissimo escriptor, e produzidos outros iiiui pondcrosos em abono, e conlirmacao da primitiva crenfa dos Barros, dos Camocs, dos Severins, Yiei- ras, Farias, etc ^ ' Memnria^ em que se preti'iide mostrai^ que a tin- giia pvliigueza ntio e fitlia tta Intina etc. — Por D. Francisco de S. l.uil — Mem. da Ac. R. das Sc. de Lisbiia— Tom. XII. Pari. 1. ^ ,•/ tintfita purtutjtiezn / fif/tfJ tin tatina, ou Jiefuta- i;do da Mfiiiiiria, em que o sr Patriarcfia Eleilo D. Frniicisro tie S. Luiz, nega esta /ilia^ao, — Lisboa: 1B43: — Em confirma^jio du jiiizo, tpie fizemos d'esta obra, 0 dajnsta reivindica^au, (pie 'nella se su.stenta, Afjain-se licjtedops Kthnegraficas^ Philolngicas^ e Hist'i- ricas, etc. — Pelo sr. A. Herculano. — Panorania — t.' Scrie— Vol. III. 77 XI. Por Ventura dominados por esla veneran- da crenra, mellior diriamos, conviccao pro- lunda, e que lodos os (lue, cntrc nos, mais desvoladamenlc se teiii dailo ao estudo da lingua niali'ina, julgani, de lodo o ponto, impossivel conhecer as suas galas, c lormu- sara, sem o previo, e mui alurado estudo dos nionumentos da latiiia, que alincadaraente rei'omraeiulam. 'Ncslcs claros, e tcrniinantissiraos lermos se exprime uni auctor de grande nome: « Ouso dizer, sera tenior de exageracao, ((ue (juem quizer cuteiider os nossos classicos, e ler um conhecimeuto conipleto dos lermos e expressoes da nossa lingua, preeisa saber a latina, porque d'ella tiramos a maxima parte dos vocabulos e formas, e so ella nos pode I'onduzir na decomposicao dos lermos, e rcve- lar-nos sua vcrdadeira signilicacao: sem o seu conhecimento julgo absolulamenle irapos- sivel, que ningucni possa saber solTrivelmente 0 porluguez » Um oulro escriptor mui abaiisado, fallando dos subsidios necessarios ao estudioso da lin- gua porlugueza, diz, acerca da neeessidade do conhecimento da latina, estas notaveis pa- lavras : '< Sem esta luz marchara as escuras em o enlendimenlo, e analyse de nossos lermos, e de nossas lociicocs, era grande parte tomadas d'esta lingua mae, a queni tcni reeorrido, todos OS dias, era caso de mingua, como a quern niellior pode soccorrel-a com sua rique- za caudal '. Em verdade todos os nossos poelas de re- nome, e historiadores insignes, seguiram os romanos, apropriando-se a locucao e estylo, e ate adoplando, as vezes, suas divisOes me- Iricas, c chronologicas. Por conta do tao louvavel iraitacao e que logramos a vcntura de citar, anlonomastica- mente, o nosso Plaulo, o nosxo Cicero, o no.Mo Livio, etc., qiiando qneremos fallar de Gil Vicente, Jeronymo Osorio, Joao de Barros, etc. XII. Nao se entenda, porem, que somenle dos classicos latinos da llorcnfe edade da lingua recommendani nossos cscriptores o estudo; por conveniente, e necessario aconsclhanJ ainda o dos auclores, que cscreveram ja na ultima dccadencia, e com justa razao: (|hc, por Ventura, dos conuptos documentos d'essa epociia berdamos boa parte, se nao a maior, dos vocabulos, que possuimos. 0 erudilo .loao Pedro UibeirO'pretende, se collijam em esjiecial glossario todos os lermos ' Cjnsideia^oes soltre a lingun portugutza .hido — Pelo sr. Agostiotii de Meodon<;a Falc do lalim barbaro, obra indispcnsavel para a intelligencia dos. documentos dos priitieiros seculos de nossa nionarchia '. 0 mesmo estu- do (do latim barbaro) rccoraraend;ira tambem ja 0 legislador dos estalutos novissimos da universidade de Coimbra '. XIII. E todavia geral opiniao dos philologos, qu^ nao pode alcancar-se conbccimento cabal da lingua lalina sem o previo estudo da grega. as quaes em muilas escholas cstrangeira* ('noutro tempo, cm algumas das nossas) se ensinam em commum. A seu estudo indefesso deveram os latinos a forma, perfeicao, e riqucza da sua, segundo 0 commum scnlimcnlo dos homens erudites'. De maraviiha apparecia cm Roma, na flo- rentissima edade dos Ciceros, e Virgilios. mancebo ingenue, e de boas prcndas, que nao tomasse singularnientc a peito o estudo da lingua grega ". De nuiilos conlam os bisloriadoies (noniea- damente de Titus Pomponhis o affirma Cor- nelius Nepos)\ a entendiam e fallavara lao despejada e eiegantcmente, que mais pareciam nascidos, e educados em Alhenas, do que na- luraes, e moradores de Roma. Nem pode comprchender-se, como, igno- rando-se o grego, possa dar-se a razao da etyraologia, e nocao primitiva dos vocabulos, da ortbographia, e da syntaxe da lingua lati- na, tao basta de hcllenismos, que e ura dos maiorcs enleios dos mancebos, que a estu- dam, conhecel-os, e explical-os. XIV. Nao e somenle ao estudo da lingua latina, que presta valiosos subsidios a grcga, lambem OS ministra directos, e rauito proveitosos a porlugueza. Ouem se da a licao, e ao estudo de nossos classicos ve-se, a cada pnsso, atalhado, sem poder atinar com o verdadeiro enlendimenlo de muilas passagens; c enlao recorre, por ne- eessidade, aos subsidios, (jue llie ministra a liltcratura grega. ' ReHexoes |iliiIolo5;ica.s Parle a.« n.° 3. ■ L. II, til. VI, cap. Ill, ^. 43. ^ Algiiem ha, que preleniJe, que a lingua lalina for- mada i)elas dos anlisjos habilanles do Lacio, se arhass?- ja [iolida, ao goslo dos Komanos. antes da conimiinica- ^ao d'estes com os (iregos; mas esla opiniao e singular, e destiliiida de fiindamento. "* Cict-ro no proemio dos sens trez livros sobre ok GbTiQa<;o€s civis diz a seu filho, enlilo ri'sidcnte em Allie- nas. .1 frequentar a e.'ch.Oa de Cralippo, que aemprr viiiri}^ para seu proveit)^ as letras gregaa com as lati- t nas, e (]UE era sun tea^ito, que elle fizesse o mesmo. '• Sic enim Graece loquebalur ut Alhenis natus vide- relur. — Vita T. Pomponii Allici. — Cap. IV — Koi il'esta siogular prenda, que Itlu rei^; a appellidj Jltiru.. 78 yuem ler, por cxemplo, em Vr. Luiz de Sousa, a(iUL>ll;i passageni da Parle Segtmda I'ol. 101 da Jli.storiu de S. Domingos: u Aqiii lemos 0 k'.cylo da velha dc Elias: » aoliar- se-lia cml)arafado, para alcan^'ar a nocao de lecijtos; I'ollieaia, dehalde, os diicioiiarius., f. somoiile em alsuni Lexicon grego deparara com a vcrdadeira signilicarao d'aqui'lle ter- mo. que taiito quer dizer eonio ulmololia. Egual didiculdaOe encontiaia aiiida quern, ao alirir as Memnna-s para a Ili.ilona EccU- \iasiiea do bispado da (luarda, lopar, iia Uts- utrtaedo Exeyelica, it pag. 104, com a se- guinte passagem: '■ E fcrio que o u-o das arraas, e estem- laas genlilicios, e muilos seculos mais moder- uo;)i iiao atlingira a signilicacao Ak estem- ni(ts, que e palavra puramente grega, aiiida nao deliiiida em nossos diccioiiarios , mas hem explicada uos grcgos. E que nossos escriplores dc mais eulto e exlremado dizer eram lamhcm consumados iia erudicao das Iclras gregas, moslrando-a, a cada passo, nao so nas couliiiuadas elegaiicirts do scu eslylo, no proprio teiido, e coastruc- cao dos discursos, mas ainda nos termos, que d'ella adoplam em algum feliz desalino. XV. Nem 6 somente uma ou oulra palavra gre- ga, que se acha incorporada na lingua por- lugUGza ; sao muitas as moedas, tiradas dos thesouros da Grecia, que gyram, enlre nos, retocados os cuulios jteio nosso burii. Avultado e o numero de lermos grcgos, que, como e sabido, nos vicram da primitiva linguagem dos Lusitanos, e, por vcnlura, mais serao os posteriormcnle adoptados, ou derivados. Ens quinlieDtos vocabulos portuguezcs de- rivados do grcgo nos diz Andre dc Resendc chegiira a colligir. A acadcmia real das scicncias de Lisboa olTercccu tambem um in- signissimo tullor das lelras gregas (o sr. D. Fr. Fortuualo dc S. Boavenlura) o Ensaio de um Jndice du.^ palavras, adayios, diclos, sen- leiicas, annexiu.i, e phrases, ijue a lingua por- tuyueza lirou da grega, sem jiassarem peln interntedio da lalina. II. DE r.l SMAO. to mcu AmiGO adolfo sosres cardoso. mm, Volve OS oliios sequer, voIvp cases o!hu5 Com sorrisu d'amor que o peito abraza, K verAs o poder que os c^us Ihca deram. Volve 08 olhos seqiier, solla um sorriso . (*omo o sol afablandu as dcnsns nuvens Inutida 0 chrio dc Itiz, e u flor mimosa, Qu(» ieu calix currou com o r'jo so|]r.> Do norte queimador, dii vida nova; Assim mevicora^rto, lalvcz gclado Sem fi! c sem amur, ju murlu a e.sp'ran<;a, A vida voltard com u braiido nsu. Mulhcr, que mam1a« lu — desfljas gloria f D'cstc saii^ue que u ten a ^otta extremn Vou na tide vertcr; qiieru em t<'ii nome Fazer t'a<;anhas taen, que o mundo pasme ; AfTronlanilti por ti as bravas undas. Km levc leiiho, vou jiiiitar au muitdo l;m muiidu iiuvu, que ten nome tcntia : Fita OS olhos iMii mim, solla um sorriso, E um canto ouvirus sahir desla alma. Novo canto d'amor jamais uuvido. Harmoiiia, da cell por ti trazida. Que 0 mundo ha-de escular prostrado as plaiila l)u iinjo que dos ecus lacs caiilos truux'- ; Fita OS olhos em mim. sanclificndo Por esse teu olhar, eu corro as cliamniaii Confessar do Seuhor a miio poteule Que em ti se reveluu. Talvez creado Te lenha o ecu de mim, talvez no pt^ito Me falle ao cora^ao metade piira Que elle em ti divisou, huscando ancio^o Ksse sangue que e meu. Que di^o insano ! Como ptide formar-se a luz das trevas. Do lodo impuro e vil a esi-encia ethereal? Mas quem sabe? talvez — O sol nao lira D'esse li5do tao vil o puro orvalho, Das frescas rosas perfumado pranto? Ah ! Jiz-me o coraqao que o ecu benignu 'Nesses olhos lan^ou poder mais forte — Se quizeres mudar a noite em dia, Format um puro ceu do neg;ro inferno, ("rear do nada um mundo de Venturas, Fita OS olhos em mim, suUa um sorriso. Tu podes tudo 'num sorriso apenas ; — Mas tu nao podes — ai de mim — nem possw Malar, no peito meu, amor tao louco. ('oimbra. HENRIQIF. ONEILI.. 0 METHODO DO ENSINO PARALLELO ESCRIPTA E LEITLHA Ho Juizo €lo respeilavel limpeclor Ga^ ral > Que faz poii'ni o sr. Caslilho? AITecta .a este respeito uma ignorancia que nao lem ; e no arligo pulilicado no n." 40 do « Uiario » diz em tom de sarcastica piedade. — « Absle- (c mo-nos de perguntar ao nosso profundo i< philosopho por (pie elle altribue a nalureza (1 a creaeao da cousa mais artilicial que o (I niundo tern : o escrever e ler. » Nao so ahstenha. Formule desaffronlada- mente a pergunla. Quer saber por quealtribuo a nalureza a creaeao das arles de ler e escrever? Abra a segunda edicao do seu melhodo ; e ahi. a paginas 34, aehara 'nestas palavras a res- « posia: — Toda a arte leve principio c cresci- « mento, e e perfcclivel. 0 principio de (jual- « (juer arte provem sempre da nalvreza e da ne- u cessidade; os sens progres^os, da reflexao e « de necessidades novas , e de casualidades « subminislradas tambem mil vezes pela na- « lureza. » Se pois, no enlcnder do sr. Castilho, da nalureza e que provem o principio e progres- ses de todas as arles, d'ondc, senao da na- lureza, poderuo ler vindo os progresses e prin- cipio das disciplinas de ler e escrever, que tambem sao arles? 0 sr. Caslilho tern ampio direito, de rir das necedades dos outros ; mas 'neste caso — permilla-me dizer-lhe — so lem de rir de si proprio, porque, se o auclor da memoria cincou , foi por haver seguido a s. s.' por mestre. Na memoria publicada no " Instituto » e.s- crevera eu o seguinle; — « 0 instincto phi- « lologieo do povo, dando a certas consoan- « tes nohies dissyllabos, quizera signilicar com « isso que cada uma d'eslas linha dilTeren- « le valor segundo viesse antes ou depois de « vogal. Assim, chamandp emme, enne, elle. u erre, esse etc. a estes signaes m, n, I, r, es, « 0 pensamento do povo era indicar que ;;i « antes de vogal val me, depois va! em ; ii « antes de vogal val ne, depois val en etc. " 0 sr. Castilho Iranscreve inlegralmcnte este paragrapho ; mas quando passa a censurar a doutrina, eis-aqui eomo repele a cilacao : — i< 0 pensamento do povo, diz o auclor, era « indicar que m antes de vogal val ^mme, c « depois val em etc. « Onde digo cu que m antes de vogal valha emme1 0 que eu disse, e o que o sr. Castilho sabia que eu disscra, porque assim o transcre- vcu do lexto original, e que m antes de vo- gal val me. Mas nao Ihe convinha ser fiel na cilacao . . . se 0 fosse, como leria azo de mi- mosear-rac com aquella amabilidade lao sua : — " Nem 0 povo, nvm pessoa ahjuma no recln ■i uso de suas faculdades podia ou poude j;i- <■ mais acrcdiiar que m antes dc \»gai vale*- so « sc imme, dopois valesse em ; porque iicm « depois val em iiem antes val ('iiime?>< Que 0 sr. Caslillio fosse paicial, vemlo in- lercssada na coiitenda a iiiviolaltili.lailo do sou uicIIrhIo, eiiU'iulc-se. Mas que fosse des- leal ! . . . e desleal a poato de inverter o que eu disscra, para fazer-me dizer uma beniardiie, para assim ler margcm a irrogar-me o doesto do mfn(ff((;)(o .' , . . proceder e c~te iiKiualili- cavel, que profundauicnte me contrista pur virdc pessoa, que eu tinha em couta d'homem de verdade, que respeitava romo mestre, que estimava como amigo, e de quern aiiida agora so posso ter do . . . Nega 0 sr. Caslillio que m e n depois de vogal na mosnia syllalia vailiam em e en, conio sc diz na memoria sobre o ensino parallelo. Mas quer saher o leitor quaes as razoes cm que assputa a sua ncgativa? Yeja-o no artigo publicado no n.° 4'j do « Diario. » — c< 0 m c o n nao tern eada uni niais que .. um unico valor phonico , mas podem tam- I. beni nao lor valor algiim. 0 »» e o n antes " de vogal lem o valor de me ou nc , (como 1. se dissera na mencionada memoria,) prolc- « rides com a minima voz possivel ; mas de- .< pois de vogal e na mesma syllaha tornam-sc < (attenoao I atlencao!) tornam-sc meros sitj- .. naes de que e.isa vogal e iiasalada. 'Nesle " scntido, 0 m c o n nao sao letlras; sao lao f ieltras como o til : a, am, an sao tudo a « racsmissima cousa para o som — pr^iva de « que 0 som « uao c mais nem nieiios (|uc « uma modificacao nasal do som d, a i/iial mo- . dificacao vai indicada por aquelle d'esses trez « modos, (jue na hypolhoso dada Ihe e prcs- .< criplo pela alounhada orthngrapliia. » Ye 0 leitor? 0 critico illustie, conscio da contradiccao cm que se entalara, barafusta por aberrar do ponlo da questao! . . Ningiiem quor saber se o som a com m, com n, ou com til e um e 0 mesmo som. 0 que se pergunta, o que se quor saber, e o que sao o m c o n, quando pospostos a vogal na mosma syllaba. A isto e que e (orcoso responder. E entao, em que licamos? Tom neste caso, valor ou nao tern valor eslas Ieltras? — Se nao lim valor, islo e, se nao signilicam cousa alguma, como e que sao signaes da nasulida- de das vogaes a que se junctam? — Se porem significam esta nasalidade, como e quo nao lem valor, que nao sao consounlcs, que iirin .sequer xdo Ieltras em tal caso? K conlradic- jao e palmar. Sc 0 m 0 0 K depois de vogal e na mesma syllaba nao lem valor algum, isto e, nao signilicam elemonlo algum do som, consor- val-os na syllaba, ou eliminal-os d'ella, sera cousa eguaimenle indilTcreulc para o ouvido. Mas islo 6 falso ; porque , em se eliminando da syllaba nasal o m ou o ii que vom depois da vogal rcspectiva, csla, dc nasal que era, passa a ser vogii pura. Logo c falso que tn e « depois de vogal na mesma syllaba na" signirujucm cousa alguma, nan tenbam algum \alor. Kstas Ieltras (que na opiniao do sr. (la.s- tillio niin sao leltras\) signilienm lodavia a nasalidade das- vozes , a cujos signacs se ac- costam. Mas a nasalidade, de uma voz e a mn- (lilioacao quo 'nolla rosiilta do sor omillido pelas nariuas o sam (jue a cnnstiluo. E se, por nuiro lado, loda a lellra que signilioar a modilicacao de um som, e uma consoanle : e evidenle que o m e o n depois da vognl e na mesma syllaba, signitlcando a nasalidade da voz respecliva , sao verdadoiras letlras, sao Ieltras consoanles. Isto quo aqui pomos, nao e do nossa lavra ; quem nol-o ensinou, foi o sr. (lastilbo, cslam- pando a paginas *ti da segunda edicao do sen metliodo osta doutrina. — « Os sons sabom da (I garganta ja formados. Nao assim os oulros 11 ralores. 0 /', o m, o a;, o /, o n, o mosmn « r etc. sao modificaeoes que os sons receltem « pelas vurias posieoes que ao passar d'etles « tumam a lingua, os beieos e em tjeral as par- « tes do instrumenio toeal. que ficam para eima 11 da garganta. » Ora as narinas , por onde saliom ns sons nasaes , sao uma parte do iuslrumento vocal, que fica para cima da garganta. Quando o som passa por esta parte, recebe d'ella certa nw- dijicacao , (]uc o dotermina a ser nasal. 0 signal d osia modilicacao. d'osta nasalidade do som 0 0 m ou n. e por abrcvialura o til. Mas como loda a leltra que signitique a mo- dilicacao de um som, e uma consoanle; — que serao 0 in e o n, signilicando tal modifi- cacao , scnao verdadoiras letlras , senao vor- dadeiras consoanles? Estas Ieltras, o auclor do artigo do « Diario » as r.'duz a puros nadas — mas nadas , 711c signijiMm alguma cou.m. Ja sc nao lembra s. s." do que escrevera iicorca d'ellas. a paginas IdG do sou melliodo? Ja se nao lembra que ahi Hies dera maior e mais subido valor, que 0 do carrilliao de Mal'ra? Ja sc nao lombra que com ollas construira aqnelle immortal campanario, quo tem a cargo annunciar, aon- de qucr (|uo clicgue 0 livro, a immarcossivel gloria do auctor? Voja se reconhoce esta bel- la estropbe •I M ou N, se a logal sejup, II E em fini de syllaba csla, Cicero diz que a colcra lira 0 lino: — Quid insaniae siniilius quam ira? — 0 sr. Castillio c prova de que lanibom tira a me- moria. O sen dcspeito contra a tentaliva do ensino purullelu tem-Ihe por tal modo toldado a cabei'a, quo ja se nao lomhra do quo pen- sou, do que disse, do que cscroveu, ainda nao ha trez annos. foBdniia. Ii. a:Bi :r:.o de MEND0\^;\ 81 PISCICULTURA. (■(inlinuail.i de paj. 71. Incubafao e Iransporle. Algumas cspccies, como 0 salmao, a lainproia e a truta, que escolliem para desovar logares onde ha pe- quenas pcdras c areia grossa, cobrcm as ovas para que as nao leve a agua ; oulras, como o barbo, a boga etc., pOciii as ovas sobre vege- laes aquaticos ou corpos a (|ue possani adiicrir; e 'iiestes logares e que unias e oulras passani 0 periodo da inculiaeao. Conveiu pois imitar este processo nas feuuiulacGes artiliciaes. Na iiiaior parte dos casos, nao se pode ef- fectuar a incubaear) no proprio local cm que teve logar a fccundatao, e e necessario trans- portar as ovas immediatameiite dcpois d'esta operajao, ou pouco tempo depois. 0 transpor- te das ovas na agua leui vanlagens reaes, quando para pequena distancia, principalmen- le 'nalgumas cspecics de pelxes, em que a or- ganisafiSo primitiva do enibryao segue uraa marcha rapida ; por este niodo transportam-se as ovas sem as expor a accao do ar exterior, que Ihes e nociva. Mas se o transporte e para grande distancia, alem de ser dispendioso, o risco de se alterarem as ovas, durande o pe- riodo da incubacao, augmenta na razao da distancia, e por isso emprega-se outro pro- cesso. Mostra a experiencia que basta conser- var as ovas 'nam ar muito humido, para que 0 scu desenvolvimenlo possa continuar: sa- tisfaz-se a tal condicao depositando-as en- tre corpos que conservem este grau dc humi- dade , e se nao alterem facilmente; assim podcm dispor-se por camadas pouco espessas, sobre panno de liniio , ou papc! molhado e guardado dentro de uma caixa de madeira. Para attenuar a desiccacao, e oselTeitos dos abalos e coniprcssOcs que podeni soffrer as ovas, separa-se cada porcao de linbo por uma camada de musgo bora lavado , lim- po, e humedccido com agua ; lanibem se em- prega o carvao embebido de agua para o niesmo lira. Quando se temer a inlluencia do gelo, podeni collocar-se as caixas 'numa canastra, tendo 0 cuidado de as envolvcr em pallia, feno, ou folhas seccas. Estes meios de transporte sao particular- mente applicaveis as ovas livres; porque nas adherenles basta liaver o cuidado de cnvolver OS objectos a que eslao agarradas, cm linho humido, e collocal-os dcpois em caixas guar- necidas de palha. Todavia o transporte das ovas mergulbadas na agua e sempre preferi- vel a qualquer outro. Logo que as caixas chcguera ao seu destino, tira-se o panno de linlio com as ovas, e mer- gulha-se 'num vaso ou no logar onde tem de effecluar-se a incubacao. Se as ovas podeni solTrer a incubafao no proprio logar da fecundacao ou nas suas pro- ximidades , basta cIVectuar o transporte un nieio do periodo da incubacao, quando co- mccam a apparecer os vestigios do enibryao, e OS ollios do novo peixe formam dous pontos nogros bera distinctos. No caso contrario , e quando se nao pode csperar por este estado de desenvolvimento do einbryao, e de incou- testavel vantagem transportar as ovas im- mediataniente depois da >ua fecundacao; e nem e necessario csperar que solVram o prin- cipio de incubacao ; porque, 'nestas circum- stancias, sao mais sensiveis as inlhicncias ex- teriores. E geralraente conliecido que o tran?- porle dos peixcs novos e sempre muito ar- riscado, por isso se prefere fazer nascer as ovas nas luesmas aguas em que o peixe tem de scr criado. Nascenra. Durante o periodo da incubacao as ovas mostrara, por signaes manifestos, o resultado da fecundacao e a qualidade das ovas, e assim podem transportar-se na certeza de que estao fecundadas. Nas ovas de grande volume, corao as do salmao, truta, etc.; e nas que sao transparen- tes, como as dos lucios, da perca, do temulo, etc. 6 facil apreciar as transformacOes por que passam: a ova apresenta uma especie de raancha branca em volta da qual estao reuni- das pequenas goltas oleosas, mais ou menos coradas, segundo as especies : assim no salmao, e nas trutas, tem estas gottas grande volume, mostrando uma cor araarella averraelhada. Passado algum tempo exlingue-se esia mancha bem como as gottas oleosas, e principia a ova a alongar-se, tomando a forma de peque- na forquilha, cujos ramos se curvam ligeira- mente um para o outro, apresentando depois dous pontos escuros, que sao os olhos : pouco e pouco a cabeea se torna visivel, assim como as outras partes do corpo, transformando-sc assim a ova no embryao. Tanibem se podem ver distinctamenlc as divorsas gradacoes da cor do sangue nas ovas de peixcs de sangue rubro, taes como o salmao a truta, o lucio etc. No peixe perca e 'noutros cuja incubacao c de curto cspaco, as ovas nasceni com sangue branco ; 'nestas o embryao nianifesta-se logo com dous pontos negros que sao OS olhos, e com a forma de um pcqueno lilamento cinzento. Estes diversos characteres podem reconlic- cerse facilmente 'numa collecfao de ovas de di- vcrsas especies de peixes, obscrvando-as desde que comeca o desenvolvimenlo do embryao; tambem se pode notar que nas ovas improduc- tivas, apczar de apresentarem sempre as got- tas oleosas, a mancha esbranquicada forma uma vesicula ou bolha de forma circular, que se distingue da mancha que apparece nas ovas jiroduclivas. Nas fecundajoes artificiars bera dirigidas apenas deixara de nascer 4 a 6 8^2 cDi lada 100 ovas. Collocando iima ova tie salmao ou triita duiUio dc mii piMiuuno tubo dc \idro ilieio dc agua , iiodom ohservar-se Item OS plii'iiomenos do desoiivolvimenlo do oiiibiyrio, om lodas as suas phases. Alimeiilarui) dos peixe.i. Animalciilos in- fusorios de diversas cspecies sao o aliinenlo raais appelceido dos pci\es, e ])ara algiins, ate outros peixes, miiiliocas etc. ; poreni a expc- rieiicia tcm moslrado ([ue so podeni alimenlar de came de qiiaKiuer animal, e ale de sub- stancias farinaccas. Deve Knlavia adveitir-se que 0 peixe come mclhor a prcza llucluaiite, cpor isso se cosluma metier o alimento iiiiiiia rede metallica galvanisada, on 'luiiii cestiiilio de vergas, suspeiiso a uma boia de coilica que fliictua na superlicie da aftua. Lanca-se ahl 0 alimoiito, compiimindo-o por forma que faca salieiuia alravoz das inalbas do ceslo , ou rede. Podemos empregar qualquer especie dc came, ainda a de aniniacs com que o lio- inem se nao alimenta, como a de cao, galo, cavalio, etc. Eslc alimealo pode ser cozido oh cru ; mas e essencial que scja picado rauilo miudo. Quaiido se enipregam os fariiiaceos, devem Irilurar-se os graos, reduzindo-os a pequcnos fragmentos: tambem se pode usar de qualquer especie de pao, I'azendo-o em migalhas; e em tim de restos da nossa comida, formando d'el- les uma massa, que se possa introduzir dcutro do referido ceslo. Na primavera encontram os pcixes grandc quaulidade de animalcules, que se desenvol- veni principalmeute nas aguas pantanosas ; mas quaudo e grandc o numero dos peixes, pode nao ser baslanle o alimenlo que a natu- reza Ihes ofl'ercce ; por isso, 'neste caso, e nas outras eslacOes do anno, c sempre vantajoso alimenlar o peixe artilicialmente. E note-se que por esta forma podemos obler, 'numa piscina, peixe nao so em grande quantidade, raas ate de urn gosto lanlo mais exquesito e saboroso, quanlo mais variada for a alinien- tacao que Ibe minislrarmos. M. P. NOTAS AO Um SflBHE OS PliliillPIOS DE MECn.iXICA. OltRA I'OSTlllM.A JOSE UNASTACIO Oft CUNHA. Continuado de pag. 42. P. 20, 1. !». Hi/potliesis. De liido o que fica diclo solire a differen^a dai hvpotbeses aos ibe'irf msi*, e subre a de- noiidencia (|iie estes leui das definigocs, se dedii7, facllinenle, que, emendadas as di'fini- (.'oes defoitiiosas do aiictor, lalvez pndi-riani ilemonslrar-se, coiiio ibeoiema-i, as que elle e obrigado a dar aqui como livpolhcses. P. '23 1. 3. Na hydroilatica e hr/draidicn . . . hin n ma- the'iialica beiii poiico que fozcr. Alii taiii- beriKjuasl todos os princi])iosfiindii7nentacf nno ])i')dem ser sendo hypothcies. Porqiic OS principios fiindamenlaes d cstas (luas sciencias sHo liypoihe-^es , nao se segue t|iie a inallu'iiiatica leiilia 'iu'llas pouco que I'azer, antes polo conlrario ja para assenlar liypollieses nao lein a niullieiiialica pouci que t'azer, laiilo 'iiestas duas, coiiio em qual- quer outra sciencia. Para assontar as suas bypolbeses, deve o tnatbemalico traduzir em liiiguagern geome- liica ou algebrica as leis da iialureza. Quanto I'sta Iraduc^ao for mais exacia, lanlo as by- polbeses se approxisnarao da verdade. A inesina grandissima simplicidade da lin- iruageni malbeniatica a\igineiila a dilTiculdade de traduzir 'iiella a prodigiosa variedade dc pbeiioinenosjj que a exporiencia noa (nostra na natureza. Daqui eque vem que tein sido necessaries ingcnhos taes, conic o de Newton, d'Alera- bert, Lagrange, Laplace, para assentarem bypolbeses susceptiveis de serem manejadas pela niatbematiea, e dareiu resultados que se appro^ximem da realidade da natureza. Porern depois de as^iui ler traduzido eslas bypolbeses em linguagem luatbemalica , co- niega o trabalbo da deducr.'io dos theoremas: e sobre a vastidfio d'este Irabalbo nada intlue, que OS principios, de que se parte, sejam meras hypotheses, ou que sejam factos exactamente confornies li experiencia. Antes pelo conlrario 'noma sciencia, diga- mos, 'noma livdroslaticaou 'noma bydraulica, cujos principios, nao s.to senao bypotlieses, lem a maibematica muito mais que fazer do que 'naquellas, em que o numero e as condi- coes dos principios sao limilados aos dados da experiencia. Pode todoesle trabalbo de inecha- nica bypolbelica ser urn soiiho, mas Jiem por isso deu menos que fazer a mathematica. P. 28, I. 10. Erros cjiic Icm introdirJdo nas sciencias que cluimatn ptiblica^ e decrttis do (i'lverno cnmmuni- rados ao mesmo C»nsclko n't indicado pcriodn. Amancio Jtnc Dias Furtadt), para proressnr tempo- rario da cadeira de Villa do Porto, da Ilha de Sancta Maria, districto de Puiita Dfl^ada. JoJlo Jose Monteiro da Hocha, para pr^)fe^so^ tein- porario da cadeira de Sao Loiiren^o d'Asnes, dislriclo do Porto. Jos*? Antonio Gomes, para dicto de Vernuiil. di»- tricto de Leiria. Manuel Maria I.ubo de Mello, para dicto do Sao Barttdomeii da Charneca, districlo de Lisboa. Francisco Lopes Roseira, | ara dicto de Wondr5es, districto de Villa Real. Joaquim Antonio de Carvallio Junior, para dicio da (loIlegrS, districlo de Santareni. Jose Maria Rodrignus, para dicto de Estremoz , districto d'Evora. Manuel de Mendon^-a, para dicto de Aljezur, difi- triclo de Faro. Emilia Margarida dc Freitas, para mestra tenipo- raria da eschola de menina.') dc Peniche^ districlo de Leiria. Jose Duarte Ribeiro, para professor Tilalicio da cadeira de S3o JoSo da Pesqueira, por transferencia da de Paredes da Beira, districto da Guarda, decreto de 14 de maio ultimo. Antonio Homem Goularte, para professor vilalicio da cadeira de Porto Judeu, districlo d'Angra do He- roisnio, decreto de 14 de maict ultimo. Antonio Jose da Mota, para dicto do Raba^al, dis- tricto de Coimbra, dectreto de £6 de maio ultimo. isstruc(;ao secundaria. Jose Manuel da Costa Baslo, para o logar dc of- flcial diplomalico do real Archivo da Torre do Toralio. dixreto de 14 de maio ultimo. Dicta ate ao Jim do dicto. I.\STRt"C(;\0 PBIM4RIA. Alvaro Jose dos Santos, para professor lemporario da cadeira de Villa Verde do Estrerao, districto de Villa Real. Antonio da Roza Munhos, para dicto de Terena, districto d'Evora. Antonio de Smisa Forreira de Queiroz, para dicto de Le^a dc Balio, districto do Porto. Damazo Augusto Teixetra, [ara dicto de Arega, districto de Leiria. Francisco Ferreira d'Abreu, para dicto do Lonri^al, districlo de Leiria. Francisco BaptisLa Lopes da Silva Gonc^alves, ^ara dicto de Louredo. districlo do Porto. Jose Maria Peixoto de Miranda e Vasconcellos, j ara dicto de Vez d'Aviz, districto do Porto. Pedro Vasques Marlins da Silva, para dido dt- Ca- neras, districlo de Lisbt a. Joaquim Henriques da Rocha, para dicto de ( as- tello Aovo, districto de Castello Branco. Jose Maria Ferreira Fresco, ^ara dicto de Ccira, districto de Coimbra. Jose Bento d'Olivcira, para professor proprietario da cadeira d'ensiuo mutuo de Coiinl>ra, decreto de JO de junho. Sti&i- Paulo Piinenla, para o logar de ajudante da caleira d'en«ino mutuo de Li^hoa, dtcret..- de 18 dirt... ® Justitttta) JORIVAI. SCIENTIFICO E LITTERARIO. COMIIO Sl'PERIOR DE IXSIIIlCtiO PiBLICi RELATORIO ANXL'AL. 1852—1853. CVntinua< liojc ainda nao eslao apagados os Iracos do ultimo diluvio; as aguas relirani-se, mas len- tamenle, e esla relirada vai cada vez desco- brindo maior extencao de deslrocos. Enormes troncos d'arvores foram cortados pelo gelo ; casas apodrecidas pelas aguas desabam ainda todos OS dias. Com tudo a paizagem renasce. E um especlaculo tristemente bello, unico no mundo, este arcbipelago d'illias, estas quin- las, estcs campos, estas aldeas surgindo com a primavera das ondas de um mar que se abale. Siniilbante ii donzella que, sabindo do banlio, esperguica ao sol seus membros fortalecidos e \igorosos, as terras de Gueldre, d'Overdwel, do Bra!)ante septentrional se apresentam mais I'ccundas que antes da iuundacao. As pom- bas vem, como nos tempos de Noe, reconbe- ccr (|ue 0 paiz esla secco , e reconduzeni a esjieranca. Tractava-se de ba muilo de abrir na provincia de Utrccbt um canal para o Zuirdzcc: as aguas depois da ultima inuuda- cao cncarrcgarani-se de tracar o piano d'este canal, franqueando uma passagem para o goll'o. Dir-sc-ia que era um novo rio proviso- rio que a Neerlandia tinba aberto. As mu- dancas introdu?idas por esle modo na conli- ' Ainda uUimaniente veio de Molio.is uiua socicdade de nuisicos dar conccrlos a favor dos iiiundud^is de Haya, de Hotterdam, de Uurdrecht. Todas e»Us c, Ja- des eslaiara empavozadas como paia uma fesla. Era a r.i-onciliarSu da Belgica e da Hullaiida sobre g allar 90 guracao do della pelo Iransbordar dos rios dcveiii ler sido consideravois. No lini de cada ituindacao, viram-se terras cslereis fccunda- das pelo lodo do Meusa ou do Hliono, especie de estrumcs viajaiiles quo as aguas arraslam comsigo, ao passo que outras partes ferteis da proviucia se lem tornado em areaes. Em ccrlos ponlos elevou-se o uivel das terras, era outros al)aixou-se. Esta acrao dos rios e leiita; sao uecessarios nuiitos diluvios sucees- sivos para que se possam rcconlieccr; mas cumpre que nos Icmbremos seiupre que os seeulos sao como a poeira na anipolheta da natureza. Estas mudanras seriani por ventura mais rapidas, se a mao dos liomcns nao esli- vcsse semprc presente para apagar os signaes da alteracao, e para roduzir o paiz as condi- coes arliliciaes de cullura das terras. Anliga- mente o leito dos rios era muilo mais incerlo do que agora, e sendo a intervciicao dos honieiis nienos cdicaz, as inundacues deve- riam ser mais frcquenles, e as consequcncias das clieias muilo mais graves. Uma grande porcao da Uollanda consiste efTectivamcnte era terrenos d'origera recenle, devidos prin- cipalmente a acciio das aguas. A epocha historica viu naseer esles terrenos, c formani- se ainda todos os dias a nossa vista. Uma creacao incessanto, e cujos signaes sao visi- veis, nao deve causar espanio 'num paiz, em que os diluvios, que alias perlencem a historia antiga, ou quasi a historia fabulosa, consti- tuem a sua historia moderna. Provou-se alera d'isto, por meio de numerosas excavaeoes, que OS terrenos que devem a sua origem as aguas doces, se alternavam na Hollanda com os terrenos que as aguas salgadas depositara. Para cxplicar o mysterio d'esta nova forma- jao, e forcoso recorrer a outra ordem de phe- nomenos naturaes, que sao mais ou menos parliculares a geographia dos Paizes-Baixos. Continua. AO MEU AWIGO ERNESTO DO CANTO. Si\iniDiiD3, Onde estas ? Onde estas que em vao procure Tua sombra sequer? Eu vejo os astros Tens olhos imitar, mas en nao vejo Os teus olhos gentis nos mens fitados, Esculo o rourmurar das frcscas funtes, Nas folhas seccas o gemer da aragem, No denso bosque a solitaria rtlla, O terno rouxinol nas verdes balsas ; Mas nem o ruiixinol, com seus trinadoSf Nem a rula do bosque. nem as folbas Quando sussurram ao soprar da aragem, Nem o sonoro murmurar das fontes De longe imitam teu dizer singelo. £u vejo 0 lirio ostentar vaidoso Seu pnro calii, rntre mil honiiia? ; Eu vejo a rosa. entre as virentes fulhas, A linda fronle debrurar miniofia; Vejo fiilrc as rclvas a viulela, a cnsto, Tantj se eitcunile enveri^onhada a louca ; Mas em candura tu vcnce&te o liriu, Venct'ste em gra^a a purpurina rosa; Injenua muslras o teu roslo, cspelUo, D'alma sjngela onde tudo e puro. Que o pejo, sombra que o peccado lan(;a Nas frontes virginaes, qual lanija a nuveia No pnro lago Mia negra iroagem, O pejo, que nat^ccu nas faces d'Eva. Quando o peccado desvendou scub olhos, Nem longe assuma no teu rosto d'anjo. Oiitle te escondes, que deserlo esleril Vai coratigo alcan^ar frescura e vida ? Que pobre cho(;a transformasle em templo? Dize, que eu possa la correr, ditoso, Se pu pudt'r a teus pes, dias e noutes, Annos sera Om pa.ssar — ai — breves annos ! Para ventura tal e curia a vida! iMas nao, o mundo de miseria abysmo Nao te pode guardar, fugisle, d anjo, Ileceando mauchar as azas brancas. As Testes puras 'nesle immundo lodo. Fngiste para o cl-u ; I'ugisle, e e noule Denlro em meu corat^rio. Oh! volve ao mundo, Como volve esse sol que o roundo anima ! Nao me deixes assim sepullo em trevas ! Desde o amanhecer te que as estrellas Brilham puras no ceu, em viio te busco ; Desde que em sombras nos envulve a uoule, Te que as estrellas apressadas fogera, Ao primeiro fulgor da roxa aurora, Em viio te chamo ; tudo e ermo em torno. Tudo e ermo para raim ! Oh! volve a vida: Volve ao mundo outra vez — ou se nao podes. Qual anjo tutelar guia mens passes, E quando a morte, que me ruge em torno. No extremo golpe me trouxer a vitia, Iremos junctos, pelos ceus inflndos, Um astro procurar, viver ditosi>s No seio do Senhor eternos ambus. Coimbra. UBNHIQIE ONEILL. 0 METHODO DO ENSINO PARALLELO ESCRIPTA. E LEITURA ;\o JnlKO do respoi!a»oI Iiispeclop fte- rstl cInK Fwrliolas do cliamado metlio- do iioi'tuguez. Continuado de pag. 80. No artigo publicado no n." 45 do «Diario» passa a ser dclicioso o sr. Caslilho. Lerabra-se (las obras de misericordia ; quer ensinar os ignorantes; c assuraindo, para isso, ora a gra- vidadc do pedagogo, ora os esgares e adema- nos de oraculo, poe-se nos bicos dos pes e falla urhi el orbi. Escutemos a lifao do mestre. — «0 /(, 1) diz 0 iliustre philosopho, «a > Na impossibilidade de negar cslc facto, que 0 illuslre crilico alcunlia de sublileza ociosa e prejudicial, que faz s. s.°? Confcssa-o, diz islo nicsmo ; mas dil-o , como costuma dizer as cousas que nao pode negar ; dil-o com tacs rodcios e ambages, que so rcvclam os impotentcs esforcos que faz para soffocar a voz da propria consciencia, e dizer o con- Irario do que tem no [lensamento. Ou- cam-no. — " Nao ha diivida, e ate uma verdade co- « nliccida, trivial c das niais velhas, que para « as consoantes se ouvirem necessitam de que ao, enlao diz-se, <)ue o movel e actual ou elTeclivo. 8. A liulia de que se suppoe ter sido cada urn dos seus pontos lugar de uin movel .4 a respeito de urn ponto D, cliaiua-se espa^o corrido por j'l. 8. E quaudo a sua equas'io e dada rela- tivanieiite a uina base tambem dada, cliama- se-lhe direc^ao. 18. Quando assim se suppoe, que ella lem de satisfazer a mais de uma equajao, diz-se, que o movel tem de seguir mais do que uma direcjao : e o seu movimento chama- se composlo. 11. O espa^o T corrido por JV consi- dere-se como uma serie de termos dados, todos eguaes enlre si : e o espa^o E corrido por A, como outra serie de lerinos eguacs ou dcsiguaes, mas conforme a uma lei dada. Se suppozermos, que o numero dos termos de E e' sempre egiial ao numero dos lermos de T, chamar-se-iia T o tempo em que o mo- vel A corre o espago E. 13. Cada urn dos lermos de T se cliama momento ou instanle. 13. Scja dr quaiquer termo infmitesimo de T ; dli o termo geral de E, e tamljem infmitesimo; cliamar-se-ha -t-tt-, a vclocidade a 1 com que A corre o espajo E no Icmjio T. J p 14. Se for — ;-, constante, chamar-se-ha o u 1 r. dE inoviraento uniforrae. Mas se for -T-rr, varia- a I vel, entao ou cada lermo particular e maior que o seu precedente, e 'nesse caso cliama-se o movimento accelerado ; ou cada lermo e menor que o seu precedente, e enl.^o cbama se o Rioviinento relardado. 16. Em quanto se nuo adverle o conlra- ilo, enlenda-se que o movel cnnlinua sempre o seu movimento no mesmo piano, e na niesnu linha recta que se tern supposto, e com nio vimento uniforme. E isto e o que se cliama lei da inertia, for(;a de inercia, ou somen inercia. 16. Seja X a dislancia ciitie A c B i momento m,ta velocidade do priineiro, e u a do sef undo 'nesse mesmo momento. No mo- mento seguinle seja a vejocidade de A, t + r{x,t,u,) e a de i?, u -f- A [x,t,u,); dir 5e-ha, que A e B obram urn sobre o oiitro e escolliido qualquer d'ellcs. A, para se Ihc cliamar agente, causa ou polencia [que lodas eslBs Irez expressoes s.'io synonymas], cliamar- te-lia a B pacieule ou resistencia. 17. A (j;,<,u) cliama-se accao de A sobre B, ciVeilo, ert'eito da af5ao, for^a, polencia, effeito da l'or(,a, ou da potencia. 18. r(.T,/,ti) cliarna-ae reac(,ao, resisten- cia, el'feilo da reav.(^:\n, effeito da resistencia, e tambem potencia, forga, el'feilo da polencia, elTeito da for^'a, ID. A palavra for(,a, dao-se os epillietos de virtual, potencial, ou moita, e de efti'cliva, actual, ou viva no mesmo senlido que fica exposlo a respeito da palavra movel j ^. 7|. 20. A dislancia X [^. 16] cliauia-se espbera da ac^ao dc A sobre B, e da reac(;ao de U sobre A: e lambern razao dos elTeilos r (x,^,u) e 4 {x,t,it). 21. Se esta dislancia dirninue no momen- to seguinle a m, da-se o nome de allrac(,-rio, tanlo a ac^fio como u reacjfio; mas se ella augmenla, cliaina-se-llies repulsao: e em am- bos OS casos e A (x,t,u) conlrario a r('^i',")- 23. Qualquer numero de pontos que se consideram uns como ageiiles, outros como pacieules, entre si, cliama-se syslema. 23. Se no syslema se suppoem, em vez de pontos, corpos, a cujo comprimenio se nao pode deixar de allender sem erro notavel : cada um d'estes corpos se coiisidera como um syslema de pontos, cujo numero se cliama massa. 21. Supponha-se ti- rade por enlre os pontos de um syslema de mas-, sa M um piano P, tal que a somma das dilTe- rentes dislancias conta das d elle ale cada ur dos pontos, que fioam para uma parte, seja egual ii somma de similliantes dislancias, que ficam para a outra parte; chamar-se-ha a este, piano eqiiisector do syslema Qo. Si'ja 7' oiitro piano parallelo ao pri- meiro. Sejam x,y,%, as dislancias dos pontos situados uquem de /', entre P e 7', e alem de T. E sejfio em fim d,d',d'', as porcoes que 'nestas dislancias, [produzidas, se neces- sario for] inlerceplam os dois |)lanos. Qualquer d'ostas porjoes d,d',d'' sera a dislancia entre os pianos P e 7'. Sera tambemyj:=/(?/-f z); e l\d + d' + d") ==Md. A somma das dislancias do piano T aos pontos situados aquein d'elle e =fx -\-fd -\-J d' — fy ; e a dos siluados alein d'elle e = fz — fd". Logo a differen^a d'estaj duas sommas [=/x — /?/ — fz^ fd-^fd' + fd =fx -/ [y + .) +/ (rf -l-'rf' + d-')\ = Md. 26. Logo quando a dislancia enlre dois pianos parallelos, mulliplicada pelo numero dos ponlos do syslema for egual u differeni;a P T y omma das distaiicias do oiilro piano aos pon- los siluados |)ara iiiiia parle »era e;;iial it soinnia das dislaiitia dos ar pelo ponto, onde se cncontram trez pianos e<|uisectores, e tambcm equisector. .31. O ponto de que assim se verilica, que qual(|U^r piano que por elle passar, e equisec- tor, cliama-se cenlro das foreas. Caniimla. NOTICIARIO. Pasnagem sininllanca. c nA mowma eda(;o de ferro em ordem a communicar esta for{;a de pressao. Morse resolveu a difficuldade em- preijando outro electroraaiitiete, a que cliamou relais; jiorque cm se Die daiidu a sua for(;a, poe oulra em actividade por via de uma pitlia local, que esta ao lado do appareltio. E como a correnle d'esta pilha nito tem de atravessar nentium conductor eslraiiho. loda a sua forca i transmitlida ao electromagnete. 96 ctanicnlc com urn dos api>arcllios grapliuos (J/,), 0 qiial por lonscquencia nfio funccjoiia senao iias coiidicocs enunciadas. 0 scgundo cicclromagiiete (R,) 6 inlUienciado por cada uiiia das trez corrcntcs, e serve para Iransmitlir OS signaes dados pcla teela (7',), quaiido estcs nao coincidem com os da tecia {T^). Este electroiuagneto acha-sc por isso em commu- nicarao indirecla com o scgundo apparellio grap'hico {M,), com o apoio do paraluso de conlacto superior, a alavanca e o apoio da moia espiral do clectromagnctc de dupio con- tacto (tJjI, fazendo todos Ircz parte da cadoa local, dc modo que (//,) so pode feciiar urn circuilo com esta cadea, no caso em que a ala- vanca corrcspondente a (7?,) se ache em couta- cto com 0 parafuso superior. 0 terceiro cle- ctromagnete {li^) serve para fazer funccio- nar o apparellio (3/,), todas as vezcs que se tocarem simultaneamente as teclas (I, e 1\), e. por isso, a corrente adquirir a maxima in- tensidade. Este electromagnete c regulado dc modo, que fica insonsivel as duas correntes de mcnor forca, e nao fecha a cadea local {M,), senao pela inlluencia da maior corrente. Ve-se pois que os dous ullimos electroma- gneles (fl, e R,} transmittcm alternativamen- te OS signaes dados pela tecla (T,), ou pelas teclas T, e T^); e (M,) escreve so o despacho dado pela tecla (T,). D'esta sorte podem transmittir-se, na raesma direccao, dous despa- chos diffcrentes a duas estacoes separadas, e duas estacoes podem corresponder-se simulta- neamente com unia terccira, emprcgando um so fio conductor. Em principio, este nielliodo oiTerece a possibilidade de Iransmitlir, simul- taneamente e por um so fio, trez despachos na mesnia direccao. Mr. Sturk fez perante a academia numero- sas experiencias que provaram a vantagem da sua invencao. A corrente electrica era produzida por trez haterias-Daniel , e os obstaculos que se oppozeram a transniissao da corrente equivaliam a uma distancia de 30 a 90 niilhas. Empregada na correspon- dcncia de Gratz com Vienna (e vice versa), de Trieste com Vienna, e de Gratz com Trieste; acliou-se que nada se oppunlia a sua appli- cacao em grande. Ilprntaplirotlismo noM vcr OS relalorios, o niappas n.° 1 ale 5. 0 Conselho ja nos annos preccdenlcs ex- poz a Y. M. que nao era possivel I'ormar-se no mcz de novcmbro o relalorio geral, por I'al- tarem a niaior parte dos elcmentos para elle, que so no mcz d'abril se poderia completar. e que melhor lora Iransferil-o para esse tem- po; c como ainda encontra a mesma impos- sibilidadc, rcspeitosamcnle pedc a Y. M. se digne lomar na sua alta considcracao essa cxposicao, e seus molivos, bem como a con- sulta dc 17 dc Janeiro do corrente anno, em que 0 Conselho propoe providencia, que sem exorbilar a esphera das Icis, poderia dar esporanca de melhorar esla parte de service. Entrctanto, como pclaporlaria de G d'agosto dc IS 4 J art. i esta determinado, que a falta d'algum dc laes esclarecimcntos nao sirva ao Conselho superior de relardar os sens ira- balhos, c a cxaclissima remcssa d'ellcs ao govcrno, o consellio passa a dar conta a Y. M. d'aquillo somentc, para que se acba habi- lilado, sobre adminislracao central — instruc- cao primaria — instruccao secundaria — in- struccao especial — e instruccao superior. Admiiii^lrarilo central. A dircccao, c inspeccao geral de todo o ensino, e educacao piiblica, I'oi pelo conselho superior dcsempcnhada com o mais scrio cui- dado c zelo durante todo o anno de 18o3 a 18j4, fazendo conslanlcmenle suas conl'erer.- cias ordinarias, e cxtraordinarias, nos dias marcados na lei, e todas as vezes que a ne- cessidade ou conveniencia do servico o exi- giam; e tern conscicncia de que fizcra tudo quanto cstava da sua parte, c para que I'ora liahililado pelos seus d.^lpgados. Se, porem, cumpriu e salisfez, so Y. M. podcra avalial-o na sua alta sabedoria pelas consultas, copias das aclas, e mais trabalhos, que elcvou a augusta presenca de Y. M. ; e o Conselho respeitosamente pede a Y. M. indulgcucia I85C. NiM. 9. 98 ;>ol)re liiJo aquillo, que nao soube, ou nao pode fazer nielhor. A secielari.i do roiiselho Icni sido ponlual no cuiniirinieiito dos sens deveres. e assidua no Inihallio, fazendo scrvirn todos as dias, conio osta ordcnado no arl. (i:! do Uogiila- nicnlo dc 10 de novcmliro do 18i>i. K lixafao di'liniliva do ([iiadro de sens cniprogados c veni'iaienlos osteve. pcio art. lO:!, §. i do decrcto de 20 de sei)lembio de ISJ'i, c pelos arlt. iiS e tii do rcgtilanicnlo de 10 de no- veinliro de lSi;i, pendente, ale (|ue V. AI. foi servido pravi do. I'aniilias. Dar iiistriitoao ao povo e hojc dever do Estado, c 0 Estado nao podo dcscaiifar lmu ([uo parlicii- larcs cmiipiam o devcr d'cllc. Iloiii c, que liaja o.^sa indiisli'ia privada, quo o Coiiscllio laiUo piocura aiiiniar, fatilitando (luaiilo e possivol no? lormos do decrcto do lii do novenihio do ISliO art. 2, de 20 dc Sclcml)ro do 18ii art. 83 c so^'g. c rpgiilamciitos do 20 o ISi) do ilczomliro de ISiiO art. 21, e 10 do Janeiro do ISol art. 22 c sogg., c rctonliccoiido-a oonio auNiliar niiiito poderoso para a inslnic- oao gcral. .Mas nao podo descoiilioeer-.sc quo o ciisiiio parlioular, seiido uma iiiduslria pri- vada. incorta c procaria, nao podo scgurar a ostai)iiidadc e fiiluro para a instruecao goral do pal;;, que so podoni espcrar-se das csclio- las piil)licas. Circiilos (|ue hajatn do concorrcr sessnnla nicninos como osta dotcrminado no art. 4 do decrcto do 1j do noveniliro de 1830, sac inuito grandcs para frcgiiozias ruraes, ondc so de uma area nuiito extousa podorao reu- nir-sc lantas croancas. Parochias ha no cam- po tao grandes, que ainda sera diiricil pcias distancias reunir todas as croancas d'ollas 'nuaia so cscliola. So depois quo o Estado liver foito boa divisao de parochias c coilo- cado uma eschola pelo monos cm cada uma, para que os alumnos possam concorrer a ellas facilmonte, se podorao tornar effectivas as providencias do art. 32 do decrcto de 20 dc septenibro de ISii, e per ventura algumas nutras que o Conselho tera do proper a V. M. paraobrigar os pacs dc famiiia, que d'isso precisarcm, a mandar os fiibos a eschola. As causas quo mais obstam, alem das ja rcferidas, ao progrcsso da instruccao prima- ria, podcrao rodnzir-so a trez — ma colloca- i;ao das cadeiras — falta do bons mestrcs — I'alta do casas proprias, utensilios, aprestcs para o ensino, c livrinlios. So as parochias tbssem rcduzidas a um circulo convenicale para o servico rcligioso, podoriam esses cir- cuios considorar-se tambcni apropriados para 0 servico das escbolas, fosse qua! fosse a pnpulacao, a nao ser tanta quo dcmandasse mais de uma escliola. Antes mesmo dc tal reduccao as cscholas, cm alguns logares, po- dcriam ser collocadas de modo que approvei.- tassem a maior numcro de alumnos; e para isso ja cxiste auctorisacao no decrcto do 20 de septemhro do 1844 art. 4, §. iinico; porcm falta quern com zclo c dcsintcresse conhcca de tal conveniencia, c informe o Conselho superior para a propor a Y. M. Algumas transfercncias de cadeiras que o Conselho tera proposlo a V. M., d'uns logares para oulros, tern sido feitas sobre reprcsonlac.oes d'algucm, 0 inforniacocs das auctoridadcs locacs; mas o Conselho niio esta plonamentc seguro do ((uc nao tenlia sido illudido, c rccoia quo tacs l>rctenitOos sonde apparonlemonto fundadas no interosse publico, niio tenham rcahnente por lim seniio convcnicncias individuaes. E 6 cste um dos sorvifos [lara quo niuito so sonto a falta de bons delcgados locacs inspe- cloros das cscholas. Falta in mcstres capazcs mnito cspccialmentc jiara as cadeiras ruraes. 0 Conselho cntcndo quo similhaiitc falta nao provcm da poquenez do ordenados: dies cm vcrdade nao sao gran- dcs; mas andando [lagos oxactamente neio sao lao po([uiMius ([UO nao bastem a sustcntacao suHiciciilenicule honcbta d'um mcstre cm ter- ras onde as despczas lanibem nao avultam. Nos concursos apparecem oppositorcs e ja sao muilo raras aquollas cadeiras, quo os nao torn ; nao os haveria so so nao cnntcntasscm com 0 ordenado. 0 mal vem de os nao haver suQicientcnientc instruidos; c csta falta e lilha do outra — a de cscholas norniaos — . Em quanto nao 6 possivcl dar-se plena exccucao ao art. 10 e segg. do decrcto do 20 do septem- hro do 18il, conviria talvez applicar-se o disposto no art. li do decrcto do lii do no- vembro do 183G as cscholas do 2.° grau do art. 1.° do decrcto de 20 dc septemhro, man- dando-se eslabelccer por cssa forma cm cada capital dc districto uma eschola dc 2.° grau, como eschola normal, para alumnos adultos que procurasscm habililar-so para professores de 1.° grau. embora se Ihe roduzissc a pen- sao do art. 13 do dccreto dc 20 do septemhro para minorar o sacriticio do thcsouro. Nao ha cscholas onde os candidates ao profcsso- rado se babilitcra cspccialmentc, poriiue ain- da nom exccucao plena se tem podido dar ao art. 17 do decrcto de 20 de septemhro: c cm quanto so espcra polo cslabclccimento dc cscholas normaes porl'oitas, sento-sc com gra- vissinio prcjuizo dos povos a falta de qucra habiiito prol'ossorcs, por algum modo possi- vel; c as cadeiras ou eslao fcchadas ou regi- das por(iuem mal sabo, e nao instrue suffi- cicntcmontc. Em quanto a falta dc casas proprias, uten- silios e livrinhos, e nuiito geral o clamor dc todos os professores. Edilicios piiblicos para acconiodacao das escbolas sao rarissimas; as cauiaras munipacs, scjam as causas quaes forcm rarissimas vczes se prestam a fornccer utensilios; e a pobreza da maior parte dos pacs, espccialmcntc nas parochias ruraes e tal quo nao podom comprar para seus lilhos, mesmo por preeos baratissimos os livrinhos indispcnsaveis dos niuitos quo existoni appro- vados pelo Conselho superior para o ensino. Ao Conselho parocc que a osta falla so podora occorrer-se impondo as junclas de parochia, auxiliadas polos munieipios, rigorosa obriga- rao de prover as despczas para casas da eschola, utensilios, livrinhos, c aprestcs pre- 101 cizos nas ros[)Culivas parocliias, liiiiaiulo parii isso dcliaixo da iiispccrao c auclorisaoao dc sens supcriores IcKitinios, loilas as pcssoas que podercm pa8;ir uma iiiouorada tempo e mais cxperjcncias [lara uni desenga- no formal, depois que o nianua <■<> 'i 1 ilo dvxoitilii'O dc Senhnr! — Vcnlio ctimprir o (lever, que me impoe 0 dccrelo do 23 do fevcreiio do ISSI, « porlaria circular cxpedida pela sccrelaria d'cslado dos nogoeins do rcino, com data de () de agoslo do ISio. Alem de devcr, era uieu ardenlc di'spjo salisfazer a csle eucargo lao cabalmente, como a lei requer, c conio coiivem ao niaior aporl'cicoamcnto da inslrue- <;ao primaria, e secundaria d'este dislricio lilterario ; porem ainda nao e possivcl 'iieste anno: e uao o e, nao per (alia de \ontade, e de persnveranlc diligencia, mas porque, nao tendo sido adopladas as provldencias rciativas a I'orniacao da sccrelaria d'csta commissao dos csludos. segiindo o que live a lionra de pro- por a V. M. no men relatorio do anno pas- passado, nao teni sido ]iossivcl supprir a an- terior mingoa dos elemenlos indispensaveis, Jieni obler as iul'ormacOcs precisas; o sera, cm quanto carecer dos meios convenientes para alcanear os resultados, ijuc a lei prelen- de. Enlretanto, tendo a pcilo, conio tcnho, dar a meliior conla ao meu aicance do eucar- go, (]ue me foi conimettido, nao me lorrei ao traballio, cujo I'ructo me cnnipre agora pdr iia presenea de Y. M. Nao c possivel 'nnm relatorio, que tern de tractar assuraplos muito variados, seguir nc- uliuma ordcm certa e deterrainada ; porem, a iim de evitar conl'usao, scpararei as matcrias em capitulos, que inscreverei com a clareza necessaria para poder aventar-se desde logo 0 sen objecto, c collocarei estes na ordem, que sc me aligura nienos irregular. CAPITULO I. De como e muito neccss/trio, que se adnplcm as (liffcreiites providcnciiif prupoilus no re- latorio de 1854. E lao instanle esla neccssidadc, que, como acabo de ler a honra de pondcrar, enibora de passo, a V. M., nao pode couter ainda no presenlc anno esle meu relatorio as informa- coes cslalislicas, ode varia naturcza, que lo- davia sao indispensaveis para que V. M. possa formar conceilo nao inexac^to do cstado da instruccao primaria e secundaria 'neste distri- oto. Com tudo c certo, que liz lidadas diligen- cias, e que se peidcu muilo tempo c traballio para colligir elemenlos seguros, de que podesse tirar vantagem e, ainda assini, pela maior parte, so muito imperfeilamcnle, satisfazem ao meu inlento. E por cste molivo, lao ponderoso, que mc cniisidero obrigado a oerupar-me novamenle, de uiodo especial, de algumas das pro\ideu- cias jii exaiiiinadas e pedidas e, se nao mcn- ciuuu lodas, de (juanlas iralei singularmente no meu relatorio anterior, renovando as pro- postas feilas, c se me conlenlo, em quanto a miiitas, de so as reeordar agora aqui cuniu- lalivameule, e jiorque julgo, (|iie pareceria estranlio. que fosse este relatoiio cpiasi uma repelicao do que live a honra do elevar ao conliecimento do V. M. no anno lindo. A inli- ma conviccao, conlirmada por mais uni anno de cxperiencia, e de oi)scrvacoes, conslrange- me a ser assim cxplicilo; e a rogar com a maior instancia a V. M. a adopcao de lodas as propostas incluidas n'aquellc relatorio, co- mo alxolulanienlo necessarias para que a instrucrao publica primaria c secundaria pos- sa ter iiurcmenlo, e progrcdir aporfeicoada- mcnle 'nesle dislricto. E todavia iim dever superior a todos os devcres, o dever da cons- ciencia, nao me consente que feclie este capi- tulo, scm pedir oulra vez a V. M., que sc dignc crearem lodos, ou nos trez lyceus prin- cipaes do reino, pelo nienos, a cadcira de religiao pelo niodo, e para o Iim alii decla- rado, em conforniidadc com o que tiva a lionra de proper a V. M. no men anterior relatorio. Senhor, a minlia conscicncia diz-ine scr cste nm objecto, iicerca do qual nao devo acovar- dar-me de snpplicar a V. M. opportuna, e imporlunamente. CAPITULO II. Da frequencia, e aproveitamcnio dos alnmnos das escholas de instruccao primaria. Ainda nao e qual devia ser, e muito con- vem, que se torne a frequencia das escholas lie instruccao primaria. Os obstaculos, i|ue se tern opposlo a que se augmente, e va crescendo era proporeao lisongeira para as necessidades sociaes, a frequencia d'cslas cscliolas, subsislem, e perduram com pcquena altcracao; c e nas classes da camada inl>rior da' sociedade, as quaes com tudo mais imme- diato proveilo deviam tirar d'csta instruccao, que se cnconira maior resistcncia. Os paes carecem dos scrvicos, que sens lilhos podem prestar-lhes, e segundo Ih'os podeni prcslar, logo desdc a ])uericia, c, nao duvidam dcixar os filhos na total carencia de instruccao, com tanto que, por tal molivo, nao padecam mi- nimo |incommodo. Esla causa, poderosissima nas povoacoes ruraes, nao c nienos cllicaz na capital. D'aqui precede nao mandarem os filhos ci cschola, ou nao os mandarem senao por niui liniilado espaco de tempo em cada dia, c sempre sem regularidade na frequencia. Alem d'csta, ha ainda oulra causa, gcral- mente allegada, a saber, a pobreza, que nao consente ao opcrario, ao artista, e a um sem 103 coiUo pacs lie familia, cercear o minguado prodiiclo do sen iraballio para havorem qiian- lia desliiiada a eoinpra dos comjicndios, la- lioadas, papel, pcniias, etc., do que sens lillios prccisam al)soliitamcnle: (]iianlo ga- iiham, aiiida nao cliega, segundo proteslam, c clamam, e eii nao diivido, para satisl'azer as iirgi'iilcs neeessidadcs da familia. Ila ainda iima lercein causa, que dove loniar-sc cm niuila conla, coo dcsieixo dos pacs, dcsieixo coninuimmentc ciiipavei, mas taniliein as vczcs involuutario ; por que, I'or- (■ados a sair de casa ao amanhecer, e, nao rare, para dislancia, ou a cntregar-se a tra- ballio, que Hies absorve todo o dia, e cuida- do, dcscurani complelanienlc o ensino, c cdu- caiao dos lillios. Em quanlo o govcrno dc V. M. nao em- prcgar mcioselTectivos para destruir estas cau- sas nialelioas, nao e possivel, que a freqiicn- eia das cscliolas primarias seja a que se dcvc dcsejar: e lodavia nao julgo de dilliculdadc invcncivel o dcstruil-as. A primeira, c lerceira causa desappareccrao logo que seja imposta mulla, pequena, mas que se laca ]iargar ine- xoravclmcnlc, a todos os ])aes de familia, scm exccpcao, que nao niandarem rcgular- menle as escliolas primarias da sua locali- dade os fillios, logo que tenham coniplelado .seis aunos de idade. A segunda causa desap- parecera egualmente, se o govcrno de Y. .M., como Ihe cumpre, fizer que seja oliservada fielraente a disposicao do art. 2 do dccrelo de 20 de dezcmhro de 1850, que manda, que as camaras municipnes provcjam as cscliolas primarias com a moliilia neccssaria, c talioa- das, papel, tinta e pennas. Pois t^ni as cama- ras municipacs meios sobejos ale para despe- zas de aformoseamcntos materiaes, e nao os tern para rccorrer as niuito mais urgentes precisoes intellectuacs, e iiioraes? E urn cpi- gramma intolcravcl. Tambem o aproveilamento dos alnmnos das cscbolas primarias esla longe de ser o que se pertende; e nao por causa do metliodo emprc- gado pelos professorcs, o qual tenlio obser- vado ser, geralmente, o mais acconimodado as circurastancias das nossas acluacs csclio- las, e que sem duvida, com os mclboramen- tos, que se \ao 'nelle introduzindo, se lornara com lacilidadc suflicientissimo ; sem que seja precise recorrer a raethodos perigrinos de mais que duvidoso rcsullado; porem por causa da irregularidade da frequencia dos alumnos, e da variedade, por assim dizer, inlinila dos livros, compeudios, impressos, manuscriptos, de que, prclexlando falla de meios, e outras razOes, se scrvcm nas esclio- las; 0 que impossibilila os professorcs de obterem senao pouquissimo fructo do seu excessivo trabalho. Tao pouco rcpulo de cx- traordinaria difliculdade para o govcrno de \. M. 0 destruir, como as demais, esla causa lamontavel do (louco aprovcilamcnlo dos' alumnos das cscliolas primarias. Adoptada* as proposlas, que teiilio a lionra dc elevar ao conliecimcnlo de V. .M. nos cajiitulos, cm que tralei mais cspecialmente ;d'cste assumpto , licarao cabalnicnle rcmediados estes diversos, e todos muilo graves inconvenicntes. A pezar porem de lodos cstes estorvos, V. M. vciii de ccrto com salifacao, pclo mappa junto, que, segundo as informacoes, que rc- ccbi dos respectivos professorcs piililicos, c parliculares, frequenlaram 'neste anno leclivo as escliolas primarias sete mil novecenlos e vinte (7:920) alumnos, cinco mil oilocentos sessenla e oito (o:8C8) do sexo masculino, c dous mil cincoenta c dois (2:0o2) do sexo feminiuo. D'estcs pertcncem as cscbolas pii- blicas dous mil setcccntos novenla e setc (2:797) do sexo masculino, e seiscentos trinla e dous (032) do sexo feminino. As escholas parliculares pertcncem trez mil sctenta e urn 1^:071! do sexo masculino, e mil qualrocen- ios c vinte (1:120) do sexo feminino. UltiniameutJ cumprc-me observar a V. M., que licaram liabilitados duzentos e vinte (220) alumnos de instruccao primaria. lendo fsito cxame duzentos setenla e um (271), c licado approvados duzentos e vinte (220V CoiUitiua. 0 METHODO DO ENSINO PARALLELO ESCRIPTA E LEITURA ;Vo juiKO te piano aos pontes de ^1/ situades liquein e aleu) d'ellc /(£=: jy [ylCJ); e a das distancias aoj peiUos de iVsituades aqueni e alcui d'elle /icz;=(/i(;). Mas visto ser elle equisector, sera M {AG)= ,V {BG) ; e lego ylG : DG : : N : M; l=lo e, as dialancias dos centres das massas ao centro do sy.-teaia, estap na raz.'io inversa das inesinas massas. 3G. lieprescnle .1/ a inassa do agente; iV a do pacieute ; ex [§ 16] a distancia dos cen- tres das forras. buppor-se-lia sempre qui; 4 [v,l ,i() : r ( J;,<,uJ :: BG : JG, e por conse- guinte::^W; ^. 37 D'onile se segue que + Mr x,l,u) = ± N \[x,t,u); e logo Mt + Nu = M (t ± r (x,t,ii)) + ^V (u + 4 (x,t,u)). E como ^iuiilbante» productos se cliainarn quanljdadea de niovirnento: a saber, j\J t da massa .17, e Nu da massa ^V, no inornenio m; e .1/ (t + r {x,t,xi)], AT (u + 4 {x,t,ii)) no memento seguinte; per isso se diz, que a somma das qnantidades de movimento e »empre a mesma, tanto antes, come depois da acjao. 30. D'ejles tbeoremas se derivam facil- menle inetbedospara acb;ir o centro das forras de dirtVrenli-s -.yslenias. Se estes n.'io tbreui niai- do que dois, baslara eortar a distancia de crniro das forgas de uui ao centro das fer^as do outro na ras'io in- versa das luassas d'elles. 39. Sejam inais, e formein iim cerpo lioniogenio [Islo e, urn systema cujas massas coni- ponentes eslejam enlre si como OS sens volumes]; formern por f;exeinplo uni triangulo liome- genio ^BC. O cenlro commum das forras dos pontes que se acham em j4 B, estara no meio d'esta recta. Do njesmo modo e centro das forcas de cada uma das parallelas, que se tirarem a AB, eslard no meio de cada uma. Mas se do vertice C tirarmos sobre o lado ^B uma recta, que a cortc em duas partes egiiaes, ta'mbem certara em duas paries eguae^ tedas as parallelas a e>le lado dentre do Iri- angulo. lislam lego 'nesla recta os centrn, das terras de todos os sy?>lenias parciaes de que o corpe j4BC se compoe; per con- seguinte 'nella estara o do triangulo ./-WC [§. 3-1]. O uT'-mo raciocinie se pode applicar ao lado ^iC e vertice B. Logo sera centro das forsas do triangulo yl BC o ponto em que a recia tirada do vertice C ao meio do lado y/i?, eortar a recta tirada do vertice B ao meio do lado /IB. 108 \ 29. Pcloceiilrodas for- ^as da niiissa .1/ passe iiin piano iMU: e pelo da iiias- sa A' on piano i\ f paral- li'lo no priiiiciro. Si'ja X a dislaiicia dv 0 ' P qiiakpiiT doi poiilos fol- lorados ali'ni do piano AJO : y qiiaUiner dos i|Ui' eslaii) ii"', sojain as por^oos que os pianos .1/0, A7' inteicfplam oin d, d\ d'', W. S,.ra d=i D-{- x+x' d' — D'+x—v' d"=D"—y+x' d"'=D'<'-y-y' Uepicsente T a tolalidado das dislancias do; poiilos di; M aos de N. Sera T [itt /V {jd + A/' ^- A/" + fd'") = Aj\JD+'2 iV {fx—fy+fx'—fy')]=MND, islo e, a tolalidade das di^lan^ias dc todos os ponies de j\i a todos os de ./V, cgual ao pro- diicto de ainbas as inassas inulliplicado pela distancia do cenlro das forgas de unia ao contro das forcas da ontra. Como MN e conslante, snppoe-se egiial a nnidade; islo e T=D. 40. Todas as vezes que nrn ponlo de nin svstema vier a tocar um ponlo de oulro systema, de modo que as rectas liradas dos centres das forjas d'ambos os systemas ao pon- lo do contacto, fiqneni em direilura; tlianjar- se-lia esse contacto CoUisao central dos dois systemas. 41. A collisao suppoe-se seinpre central, se se jifio adverte o contrario. Por isso se (jodem applicar aos syslenias que se collidenj, todos OS tljeoremas sobre a acgfio leciproea de simples ponlos. O niesnio e em geral de qnalqnor ar^fio central de varios systemas. 42. Seja X [^. 16,] a distancia dos cen- Iros das t'or^as de um sy-tema de dois corpos Al e .'V; y a dislancia do cenlro das for(^as do svslema ao cenlro das lor^as de jiJ ; % a distancia d'esle mcsnio cenlro do syjteuin ao de iV. Supponhamos, que depois da cofli?:1o cen- tral de JM e N, e 7/ ^ r(x,l,u)=:^-\_U — t, e A(X,l,u)zzz-{l — !(). .Seraf-rT {x,t,u)= ■ -, e«+A {x,t,u)= E visto ser y : i::A:il/[§. 37,] e poder a direc5."io de u ser conlraria a de /; sera , , , Mt + i\u t-^T{x,t,u) = —^~;^=.u + A{x,t,u). Os corpos cuja acgao, quando vem a col- lidir, e conforme a esla llicoria, cliamam-se diiros. 43. Pore'm se suppozermos que seiido tudo o mais coiiio no caso prccedeiile , e , 2h l\x,t, !/) = -^ (u — t),e i^Xj^.n) = -(/ — ((■); (.1/— A') / + 2 .\i, J/+ A' ' + (^~—M) n + 2 Mt sera / + r [x,l, u) = e !( -f- 4 (.r, ^n) = .1/ + .V e o< corpos em ipie islo-e verilicii, clniiKim-ri- rliislicos., 4|.. E diidn, de grand-za p de po,i(,'ao, a diifoyao ylB que o niovol il/'iinpellidn poi- A correria 'nmii tempo dado, com nK>vinii;n- lo unil'orme; e a direc^ao AC (comrorrendn com y/B no ponlo .4), que em p^nial tempo, e lanibein com niovi:nenlo nnifurme, corien'a iinprllido por P. Complele-se o paralleloi>;ramo ABCD: e tome-se a iado DB por base da ricla ^IB, e o Iado DC por base da recta AC Sejam EF, e GH asordenadas quedeler- minaiu o lugar de M ao cabo de nm tempo dado, em ^ B, <]nando fosse impellido por N, e en) ^^C quando o fosse por P. 'I'ire-se HJ parallela a AB, e FJ paral- leia a ,dC. Poise AF-.AB:: ..7//: .^C[snpp. e §. UJ sera J um ponlo da diagonal do par;illclo- gramo A BCD. (Jiialquer lecta lovantada da liase D B a\e li recla FJ pnrallilauienle a EF, e e^r,,;,] ;j E F; bem coMio qnalqiier recla, levanlada da base DC ate li recla JJJ parallelamenle a G fl e = GH. Mas o ponlo J e o nnico de que se verifu'a sereni ao tnesnio tempo A"y e^ual e parallela a E F, c LJ egual e pa- rallela a GIJ. Dado pois o logar de jVf ao cabo de um cerlo tempo, na direc^ao AB, quande fosse inipeljido com movimento unil'orme [lor .A', e na direc^'ao A(' quando o fosse por P ; sera ao cabo de ejjual tempo lup:ini liomens, que, em mais ou menos contaclo com elles duran- te 0 anno lectivo, longe de Ibcs causarem tcmor ou reccios, Hies inspirarao coulianca, a nao a terem desmerccido por niau jirocedi- menlo, e culpa propria. E haveni algum inconvenienio, que se op- ponlia ii adoprao da medida, i|ue proponlio? Nao 0 jiosso acbar; porque niio vejo nenbu- nia razao de peso, em ([uc se fundaniente a resolucao toniada, e lioje em practica de fa- zer rcpetir, no lyceu de Coimbra, os examcs feitos no lyceu de Lisboa, aos que vao ser alumnos da liiiversidade ; c menos ainda, se e possivel, a enconlro para que, na eschola polytcchnica de Lisboa, liajam de ter logar OS exames preparatories para a primeira ma- Iricula na referida escbola. Porque molivo nao liao de valer em Coim- bra para uiatricula na universidade, a exce- pcao do exame de instruccao primaria, como iioje succede, os exames, que tiverem sido feitos no lyceu de Lisboa? Duvida-se acaso da competeucia dos professores? Nao c pos- sivel, nao so porque as provas, porque pas- sarani esles professores, foram tacs, que os bzeram julgar dignos das funccoes, que de- sempenham ; mas lambcm porque esliio sendo examinadores e juizes Icgacs dos professores piiblicos dos demais lyceus e aulas do reino. Sera porque sao feitos neste lyceu os exames com indulgencia? Niio .sou eu, nem os pro- fessores do lyceu, sao os factos, que protestam contra a calumnia. Os exames sao feitos com a niaior publicidade ; os professores hao-se com estricta imparcialidade, e independencia, e 0 resultado atlesta a rcctidao do scu proce- diuiento. E nem, quando o quizessem, pode- riam liaver-se menos imparcialmentc; por- i|ue OS espectadores, era grande parte condis- cipulos dos examinaudos, e por isso ao alcance do seu verdadeiro mcrecimento, nao consen- tiriam, que os examinadores infringissem im- punementc as prescripcOes da justica. Pelo eontrario; e por estas razOes talvez os exames no lyceu sao recciados, e se reputaiu, geral- mentc, cm demasia rigorosos. Nao sei, que possam ser destruidas, c nem se qucr abala- das estas consideraeocs; e por isso nao recor- rerei a algumas outras de nioralidade indis- jiutavel para o magisterio; de manifesta eco- nomia para os alumnos; e de vantagem certa para a instruccao piiblica. Mas, se nao pode apresenlar-se razao pon- derosa, (|ue sustentc a practica de so se te- rem por valiosos para a matricula da univer- sidade OS exames das disciplinas da instruc- cao secundaria feitos no lyceu de Coimbra; como poderao acliar-se, que manteubam a Ill esohola polyteclinica na posse do privilegio odioso, e tiio conlrario aos proprios liiis da iustruccao piihlica, dc fazer examinar os que aspirani a ser seus alumnos, disponsados, ou nao tidos em eonta os exanies do lyccu? Scnhor, se nilo e, como creio que nao e, faltar ao respeito devido a V. M. qualilitar dcvidamenle esta practica, eu a direi, aleni de nociva, absurda. E nociva, Seiilior, por- que OS exames dc inslruccao priniaria, que se fazcm iia cschola polyteclinica, nao satis- fazem ao que sc requer para ifue seja aquella habililacao o que dcve ser ; e o que acontece com a instruccao priniaria acontece egual- mente com os exames das disciplinas, que pertencem a secundaria, nao excepluando raesmo os exanies das linguas vivas. Sobre isto nao pode excitar-se ncnhuma diivida : 0 facto alii csta publico, e, o que peior e, convertido em regra! E nao sera de grandis- siiiia inconveniencia, que continue a practi- car-se d'esta sorte? Pois, porque um alumno se dedica a vida militar, ha-de consentir-se, que, dcsde o principio, lique nienos bem lia- bilitado na instruccao primaria, na doutrina da religiao, que professa, na philosopliia ra- cional e moral, e no conliecimento e practica das linguas franceza e ingleza, do que os que se destinam a vida civil, ou ecclesiastica? 0 simples bora senso persuade o contrario; e obvio, que muito grande prcjuizo deve d'aqui provir para a sociedade. Agora, Senbor, perniitta-nie V. M. dizer tudo 0 que penso a csle res])eito. A conces- sao feita a eschoia polytlienica e absurda. Qucni e, que exerce na escbola polytechnica o mister de examinadores? Siio os prolesso- res e examinadores do lyccu. Entao, porque nao hao-de ser examinados no lyceu, confor- iiie ii norma de justa severidade, os alumnos da escbola polytechnica, e hao-de ir ser exa- minados alii segundo o arbitrio de unia regra abusiva, que tende a rclaxar o saudavel ri- gor, seni 0 qual os exames quasi que equiva- lem a uma va formalidade? E consinta-me V. M. advertir, que o alisurdo sobe de ponto, se por Ventura se atlcnder a oulro abuso posto em practica, e que todavia talvez possa considerar-se como uma consequeneia neces- saria da concessao inconsiderada, que, por menos advertida conteniplacao para com a escbola polytechnica, Ihe foi feita. Tanto e cerlo, que uni abysmo charaa senipre outro abysmo! Este abuso, a (|uc intendo alludir, e a requerida unanimidade dos votes dos exami- nadores para a approvacao dos examinandos! Senhor! V. M. bem o conhece: a doutrina da unanimidade das votacoes esta abaixo de toda a critica, e de toda a censura ; rcpugna ao principio constitutivo da sociedade; repu- gna a practica de todos os tempos; repugna a razao, e repugna ii consciencia; produz sempre o effeito contrario do que parece indi- car a sua simples cnunciacao; e um absiirdo, para o qual nao ha uome. Comtudo a eschoia polytechnica, para nao prcscindir do sen pri- vileyio, viu-se obrigada a devoral-o. Consti- tuidas as niezas (commissOcs) de exames com dous professores do lyceu, e um (que serve de presidente) da eschoia, este licaria annul- iado, a nao admittir-se o ahsurdo de que dous sao eguaes a um, a doutrina da unanimida- de! Entretanto o absurdo triumphou: e cm trez votes, um salva com iujustica, ou com injustica condemna, o, em anibos os eases, infeliz alumno! Ifasta, Senhor, e ja V. M. ve, que nao existe nenbuma razao sullicienle para . As provas escriptas, requcridas por lei em cada um dos pxanips de instruc- cao priniaria, ou secundaria, serao feitas com a mesma publicidade, e perante as mesmas comniissOes, que as provas oraes: datadas e assigiiadas jieios examinados, serao depois de revistas pelos exaniinadores, por cstes pgualmcnte assignadas, signilicando 'ncllas o spcretario da commissao pplas iniciaes « A •> •I H n 0 rcsullado do exanip, p loirn pnviadas ao commissario dos estudos, o qual dp|)ois de colligiilas, as I'ara subir ao consclho superior de instruccao piiblica, para alii serem archi- vadas. Art. 0. 0 consellio superior de instrnc- cao piiblica mandara piiblicar programraas, largamente desinvolvidos, para todos os exa- mcs assim dc instruccao priniaria, como se- cundaria, e por dies so rcgularao impreteri- velmenle as respectivas commissoes. Art. 7. Os vogaes das commissoes de examcs, tanto de instruccao priniaria, como secundaria, vencerao uma gratificacao pro rata pelos dias, em que scrvirem, pgual ao vencimento da propriedade da respectiva ca- dcira, no caso de tcrem outro vencimento pago pelo cstado: quando nao tiverem outro algum vencimento, a gratificacao sera o dobro. §. 1. Aos vogaes, que lunccionarcm fora da terra da sua residencia, abonar-se-ba esta gratilicacao em todos os dias, que decorre- rcm dcsde aquelle, em que se apresentareni , ate 0 dia, em que terniinar o servico; e aleni d'isso uma ajuda de custo para as despezas de ida, e volta, que sera arbitrada na razao de qualroccntos reis por legua. §. 2. Todas estas despezas seriio dadas em oicamento, e pagas immediatamente pelo cofre do rcspectivo lyceu. Art. 8. Os alumnos eslranhos aos lyceus, onde requererem ser examinados, pagarao previamente pela admissao ao exame de instruccao priniaria quatroccntos reis (400 reis'; o pela admissao ao exame de cada uma das disciplinas da instruccao secundaria tan- to, quanlo deveriani pagar pela niatricula da referida disciplina, se a tivessera frequenlado nos nie erre etc. Eslas deno- minacoes sac mais exar.lase philosopliicas, que as que prot'ere a leitura repenlina, capiUilisan- do metade do valor da consoanle respcctiva. Tanto 0 melhodo da leitura repentina, como 0 da solctliacao ordiiiaria, partindo dos no- mes dados as letlras para o valor phonico d'el- las , lem confundido cousas differentes ; tern anibos caliido 'uum crro, que e a principal causa das diiriculdades que encontra a cre- anca que aprende a ler quer por um, quer per oulro methodo. Sim ; OS nomes dados as lettras sao uma cousa ; os valores phonicos d'ellas sao outra. Dao-se nomes as lettras para se poder f'al- lar de cada uma no sou eslado de isolamento, — estado cm que nenhunia lettra tern valor phonico, porque a consoante o nao tern sem vogal, nem csla sera aquella. Cada letlra, de per si, nao val iiada phonicamente, nao tem valor algum real; e apcnas um signal para OS olhos , ou — mais propriamente — parte d'ura signal ; a qual todavia , emhora tenha um nome, nao val phonicamente conlbrme a este nome ; val conlorme a combinacao cm que se achar com outras lettras, segundo os habitos orthographicos da lingua. Assim — c em capa val (fue, em cima val se; — / em lona val le, em alto val el ; — ch era chila val xe, em monarchia val que ou ke etc. Os nomes das lettras sao fiios, nem tem relacao algiima ncccssaria com o phonico va- lor d'ellas, que varia a helprazer das combi- nacoes que Ihcs dcr a orlhographia da lingua. Ora querer chegar ao conhecimento d'esles valores, lomando por ponto de partida os nomes das lettras, e querer lirar certa cou- clusao, de premissas que a nao contenhani ; e procurar um fim com meio, que o nao pode dar ; e tender para um termo , por caminko que la nao vae ; e inverter a ordem logica das cousas. E visto que o espirito humano so parte do composto para o simples, do real para o ideal; do concrcto para o ahstracto, e nao ao con- trario ; o que pede a ordem logica das cousas, 0 que pedem as leis do espirito huraano, e que se parla do valor phonico das lettras para OS nomes d'ellas ; e que pnmeiro se ensinc o valor das syllabas, para depois, pela decom- posifao d'estas, chegar-se aos nomes das let- tras; e que para enslnar-se a ler, se adopte um methodo inverse ao da leitura repentina e ao da soiettracao ordinaria. Ora, como para aprender o valor phonico das lettras, isto e, das syllabas que se d'el- las formem, e de summa conVeniencia empre- gar signaes graphicos, porque ludo o que se escrcve, parece estampar-se, ao mesmo tempo, no papel e na memoria ; forfa e ensinar a creanca a tracar com mais ou menos facilidade estes signaes, antes de dar-Ihe conhecitnenlo do [jhonico valor d'elles. E em seu comeco um exercicio puraraente mechanico para a creanca , que ao deante Ihe scrvira de meio mnemonico |)ara outro exercicio inlellecluul. Escreve prinieiro, para ler depois. E um eii- sino, que precede a outro por algum tempo, para depois ir de corapanhia com elle. Eis aqui 0 ideal do methodo do ensino parallelo da escripta e leititra. Conclusdo. Quern acaso tiver lido a memoria sobrc este melhodo, sabe que, fazendo cu varios reparos ao chamado methodo-portucjuez (que lodos OS portuguezes repellem,) tractei so da ohra; nem uma so vez nomeei o illustre auc- tor d'ella ; porque eslava e eslou persuadido que a crilica lilteraria pode sempre fazer e deve respeilar esta distinccao : — a obra de um horaem e uma cousa, a sua pessoa e outra. Uma vez publicada pela imprensa, a ohra tor- na-se um facto publico, e do dominio do pu- blico , acerca do qual e licito a qualquer fazer os reparos que hem Ihe praza e por Ventura Ihe aconseihe a logica, o bom gosto, a sciencia. Mas a pessoa ! . . . nunca. Essa, entendo eu que nunca deve ser materia de discussao para a imprensa; porque, por muitos e grandes que sejam os defeitos, os vicios, ate OS crimes de um homem, nunca este perde 0 direito que tem ao respeito dos outros, era- quanto for uma pessoa, em quanto for um symholo da humanidade pelo corpo, de Deos pelo espirito. Por esta rasao nunca deixei escorregar dos bicos da penna nem uma pala- vra so, directamente contra a pessoa do auc- tor do methodo portiigucz. Dcsgracadamenle porem , a esta rescrva cortez da parte de um plebeo, nao foi sen- sivel a fidalguia do sr. Castilho ! Entendeu, pelo contrario, que no campo das personali- dades estava mais a seu gosto ; . . . e o certo e que, a desjieito de todas suas aspirafoes de fidahjo, e do invencivel horror que tem, a tudo quanto cheire a plebeismo, s. s.' desceu ii lica — para assini dizcr — de casaca fora ; e por de traz de unia ironia, mais acre, talvez, que 0 mais desbragado insulto, poz-se a ag- grcdir com chufas e aleives um homem que Ih'o nao merecia. Quizera 'nisto dar-rae o sr. Castilho uma t licao mais. Com quanto me pezasse, forga foi acceitar a licao, e dar ao mestre document* de minba docilidade. Respondi ao sr. Gas- 116 tiilio nos Icrmos da sua pcrgunla. Sou o pri- nvciro a rpprovar o que liz ; dcvo porcm ac- crcsccnlar que o fiz contra meu p(5sto, mas dc proposito , para pa^'ar uma (IMda de de- licadeza, para agradecer ao sr. Caslillio os epithetos do plebeti , de meiiteeaplo , e outras quejandas amabilidades com que se dignou honrar-nio, e peuliorar lodo o meu reconhe- cimento. Creio (pie estamos quiles. 0 sr. Castillio ((jue em ludo e meslrc) leva com ludo sua nwdeslia ao poulo de appro- priar a sua pessoa, em sentido Iranslalo, o que do si dissera Napoleao no ])ro]irio. Ila, com cITeilo, grande paridado onlre Napoleao e 0 sr. Caslillio! — Ainda nfio esid [nndida a hala , que ha de kvnr-me — o palavra dc grande aleance, iia bocca do um lalalisla como era Napoleao ; rcvela a confianca ([ue tinlia em si, no sou doslino, do qual aguardava iiao 0 lovar d'este mundo, som eslar consura- niada a obra para que a elle viera , e para que Ihe fora dada por Deos a coioa do penio. No senlido Iranslalo porein ! . . . e applicaJa pelo sr. Caslillio ao sr. Caslillio ! . . . tal pa- lavra so revela um accesso de vaidade, que nos deixa om sustos pela vidad'esle senhor.. Deus 0 livre da sorte da ra, que tenlou hora- brear com o louro ! Engana-se porem o sr. Caslilho. A hala que lia-dc leval-o, jd cstd fundida : E snhe s. s.' quem foi o fundidor? . . . fni s. s.° nll',^nlo ! . . Para dar-Mie a rcsposia qu!" aqui vae, mnilia unica larefa Icm sido oppor o Caslilho nuetor do methodo d'este nome, ao Caslilho auclor dos artiijos publicados no « Diarion ; e como cslas duas onlidades, dc lao anlipalhicas c conlra- diclorias que eram, sc I'.ao destruido niulun- mcnle, pede a piedade ciirista que d'ora avanle deixemos cm paz o sr. Caslilho ; porque ja nao cxislc.. .aos olhos da logica; £uicidou-se! Parre sepullis! A associacao dos professores de Lisboa fez-Ihe o culerro I . . . Estas pala- vras, que aqui pomos, sirvam-Ihe deepitaphio. Kunchal 20 dc junho de 18u6. M. EiBEino DE MEiVpONCA- OS LUSIADAS. Traducrao fi'mtccaa. LES LLSIADES. Conlinuado de pag. 43. 54. Lc lieu que vous voycz, ofTrc un acccs facile 'A ceux qui dc I'Afriquc cmporlcnl Ics tresors; De Sofale ct Mumbacc. ainsi que de cctle ilc Le maurc industrieux frcqupiile sciil les ports. J.C dcsir de garden cc ravoralilc asile Nous a dcpuis longlenips rclenus sur ccs bords, V.l nous possMons seuls lout limmcnsc commerce l)e< rivngos de I'lnde et du golfe de Perse. El puisque vers les bords du Gauge et de I'Fndus, 'A travcrs les dangers, la gloire vous amcnc. I'll guide \ers ces lieux, qui vous sont inconnus, Fixera dcsormais voire maiche incertaine. Vous screz par nos soins promptemenl secouruj Et poursuivrez apres voire course lointainc ; Mais deja noire chef prdt a vous recevoir Vous ofTrc un sUr asile ct demandc a vous voir. Ainsi parla lc maure, et la troupe guerrii^rc Repond a ce discours qui lui parait loyal ; l.cs Arabcs bientut relournenl vers la terre, lis quitlenl Ics vaisscaux lous au mcme signal. En cc moment Phcbus terniiuant sa carric're S'elancait vers la mcr sur sou char de cristal, Et sa sceur aussilol chassant la nuit obscure Du depart d'.\pollon coiisolail la nature. Ah I combien la douceur dc cctle heureuse nuit Ranime les enl'auts dc la l.usitanie ! Deja de leurs travaux le souicnir s'cnfuit, Ce n'csl plus'sans espuir (ju'lls consacrent leur vie A cc bill glorieux oil I'honneur les conduit ; Lcurs pensers pareourani el I'Europc et I'Asie, lis s'clonnent de >oir du Prophcte odieux Le nom si detcslc commander en ces lieux ! 58. Sur son sein argenle I'onde pure el calniue Rellechit de Pliebe les trcmblanles lueiirs, O'aslrcs elincclanls la vouSc e^t parsemee Comme un jardia brillaut est eniaille de Beurs. La troupe des autans dans sa grolle enfermee Contre les rochers seuls cxerce ses furcurs. Tout dort ; du portugais la scule vigilance Intcrrompt par moments eel auguste silence. 59. Mais aussilol qu'on voil Icpouse dc Tilon Delier dans les cicux sa blonde chevelurc, Sur son char colore preceder Apollon, El rendrc a I'univers sa splenilcur vive et pure, Les vaisseaux arborant soudain leur pavilion l)c voiles, de drapeaux se font une parure, Et Gama sur sou bord se dispose a fcter Lc chef des africains qui doit le visiter. 60. On voil deja le Maure el sa lloltp legere, Les esquifs sont charges de fruits rafraichissauts. II ignore les nonis des pcuples de la tcrre Et les fils de Lusus lui semblenl musulmans : II les croil tous issus dc la horde gucrrierc. Qui par tanl de succes. dc triomphcs sanglanti, Elablit ,'i la fin dans les murs de Rysance Son empire harhare et sa fausse croyance 61. Lc heros portugais recoil avec plaisir Le cortege du Maure et sa troupe sauvagc, II leur fail aussilol, pre\enant leur desir, Des dons quit leur destine un pompeux ctalage. Par son ordic chacuu s'empresse a leur offrir La liqueur qui des sen; nous dcrobe fusagc. Et Toil se plait i voir ces enfuits du disrrl S'etouncr el jouir du banquet. qu'on leur sert. 117 62. Jamais jusqu'a ce jour un spectacle aussi rare Ne frappa les regards des enl'ants de l.usus ; lis nbservcnt Ics mccurs de ce peiiplc bizarre, Et son aspect saiivagc et ses accents coiifus. Etonnee a son tour, cette troupe barbare, Conlcmple des vaisscaux, qui lui sunt inconnus Et demande aux enfants de la l.usilanie Si leur escadre vient des bords de la Turquie. 63. 11? dcmandent a voir Ic livre revere, ;endo o outono humido, as uvas que estao juncto a terra apo- dreccm, e o vinho e de inferior qnalidade. A enchertia e cara, e nao cnra o mal das vinhas. 0 A. enchcrtou em 18oi trez hecta- res de vinha , c todos os garfos foram inva- didos pelo oiJiiim no nu'z de julho. Os estrumes de per si nao tem accao alguma. mas quando aquecem muito o terreno. a mo- lestia augmenta muito em intcnsidade, (jue nao e conipensada pelo maior vigor, que as planlas ad(iuiren), ([uando sao estrumadas. As lavagcns com sulfato de cobre, ou outras sustancias , ainda (|ue applicadas cuidadosa- mente sobre as cepas, ou sobre os pollegarcs, nao dcram resultado algum vantajoso, sendo tao hem inutil tirar a casca velha dos troncos. Os meios mixlos indicados no n.° 21 retar- dam 0 nascimcnto dos gommos, mas nao livram da molestia as plantas; que foram alacadas ao mcsmo tempo c com egual intcnsidade, que aquellas que, para ternio dc comparacao, nao tiveram tractamento algum. Alcm de que. cn- terrando os troncos, aborta um grande numero de gommos fruetiferos , e os que licam mais fundos se convertem cm raizes na sua base. 0 processo n.° 13, retardou algum tempo a invasao da molestia; mas quando as videiras foram atacadas a sua destruicao foi mui rapida. As cepas tractadas pelo acido sulfuroso , segundo o proccsso indicado no n." j, resis- no liram mais tempo ; a molcslia so se manifcs- toii pcio lim (Ic jiillio, e tima parte das uvas nao I'oi (iestriiida. A a;:iia a fcrvi'r, e a colla di; batatas com onxofrc roram iiitoiramcntc iniitcis; c o iiit'siiio acont(:ceu chaimiscando as cqias. Pelo coii- Irario o enxol'rc cm po deu scmprc l)oiis resullados. Applicado as vinlias antes (|uc as partes verdes, as varas, follias e I'ructos ala- cados pelo oidium tivessem sofl'rido allerarao, produsiu uptimos ciTeitos; quando, poreiii, o Bial esta mui adiantado o remcdio pouco vale. 0 ciixofre em po misturado com outras siih- stancias nao olira com a mosma vanliipeni, e OS sens elTcitos sao tanto menorcs, (|iianto ii('>- sas niisluras mais diminuta for a porcao do enxofre. 0 suH'ureto de calcio prc[iarado pelo proccsso dc M. Grisou, c applicado por asper- sao tern sido ensaiado com algunia vanlngem, si'm que possa todavia coniparar-se a llor de enxol'rc em jio, a que esses mesnios saudaveis elTeitos sao devidos. Os carbonates dc cal em po, as cinzas etc applicadas sera a mislura do enxofrc nao teni accao alguma contra o oidium. Para destruir o oidium nao se devc empre- gar 0 enxofre durante o sonino dff vegetacao, jiorque ainda que entao se deslruam os ger- mens da molestia , nem por isso esta sc c\- lingue: e o que se obscrva erapregando o acido sulluroso, ou a agua a fcrvcr. Logo que a vegetacao eatra em niovimento uma niultidao de germens reproduclorcs, tr.isi- dos pelas correntes d'ar cae sobre todos os organs verdes, apossa-se d'elles, c a moiestia se dcclara do novo com toda a forca ; o oidium cresce, frnctilica, implanla-se sobre todas as partes da videira, deslroe os fructos e estiola as plantas. Quando a moiestia das vinhas nao Icm ainda apparecido 'numa regiao, o ar nao esta salurado de sementes de odium, e algnmas que sao Iransportadas de longe nao cliegam sonao nuii tarde c em pcquenas porcOes, e por isso soatacam individuosisolados: quando, porcni, a regiao esta inlcclada, e o ar perio- dicamente satiirado de germens re])roduc(ores do Oidium, c somente sobre as partes verdes da videira , (|ue se devcni destuir esses ger- mens, por(|ne sao elias as prinieiro atacadas; e e 'neste ponto que a flor do enxolre oi)ra admiravclmentc, ponjue possue duas proprie- dades essenciainiente neeessarias para o cura- livo (la moiestia — deslroe o o'dium, logo(iuc se poc em contacto com ellc — c o po da flor d'enxofre, scndo mui fino, envolve prii- uma simples jirojeccao lodas partes da viiiha (|ne esifu) em vegetacao , e ataea purlanto todos OS germens da moiestia. A. llor d'enxofre e barala. e pode applicar-sc sem risco da saudc dos operarios. Uepetidas cxperiencias feitas nos annos de 18i»4 e 18oo nas vinhas coljocadas em ler- renns, e exposi^'ocs diversas, sobre individuos dedifl'erentesqualidadescedades, ti^niconstan- leniente provado a excellencia da flor do en- xofre conio remedio cflicaz para destruir com- jdelaniente os germens do o'idium. A collieita nas vinbas, a (|ue se applicou a Hor do enxofrc, tern sido abundante, c as uvas tern tocado a madureza sem alleracao algunia, ao niesnio tempo, que nas mesnias localidades continuani a ser atacadas pela nio- leslia com gramlc i[itensidadc as vinhas, a que se nao tem apjilicado a([uelle remedio '. Contimia. i. a. de ABREl'. KOTICIARIO. OltscrTaroofi meleorolosit-nN nn I'ni- wci-MMlncIc ao Coimlirn. 0 gabinele dc jjliysica da Universidadc, obteve ultimamenle uma boa colleccao de instrunienlos para os Irabalbos das observacoes mclcorologicas , c cntre estes uni excellente anernometro com os mais rccenles aperfeigoamentos, c o prinieiro que 'neste genero apparece entre nos. Era porlanto indispensavel eslabeiecer-se um observatorio meteorologico para se faze- rem aquellas observacoes, scgnndo lodas as indicacOes da sciencia. Para este fim assen- lou 0 conselho dc Faculdade de philosophia, que, nao bavendo nieios jiara construir por ora um observatorio especial, conviria apro- veitar o observatorio aslronomico, que tem a necessaria capaeidade e todas as condifoes para este service, sem prejuizo dos Irabalbos astronoraicos ; e auctorisou por isso o sr. Dr. Goulao, director do gabincte de physica, para a este rcspeito se enlender com o sr. director do observatorio allm de, ouvidas as respecli- vas faculdades, se proceder aos arranjos e regnlamontos necessarios para se dar o maior desiavolviniento as dictas observacoes. Julgamos este objecto mui importante, e de grande responsabilidade para a Faculdade de philosophia, que nao podia licar atraz dos oulros estahelecimentos de scicncias naliiraes; nem ser nienos sollicita em prnmover aqnclles estmlos, (|ue sao hoje objecto dos assiduos tra- lialhos dos mais distinclos naturalistas, c que em todas as univcrsidades se cultivam com a maior diligencia, e aos quaes a nK'teorologia deve OS rapidos e assignalados prngressos, qne ultimamenle tem feiio 'noutros paizes, p mesmo, entre nos. i - I ' E[ilri! nos a ajiplica^So da tlor d'entofre lia« vinlia* ' Jos srs. li. I'lTpira U'iliio (Qiiiiila ilo .Mmiriol, condc Ji> Pamciiirics 1^ vi,«coiii1e aro> d.o.ilicen. T.„,5o d. Pr(;ss,1o il„ Orao d'Lumi- dadc rc|irc. .,n,a„do po, I 1, eiudo de ■ ali,..(ao. Qnanlid. de ,apo, conl„l„ Dias rrnliu'. Millimt'lru.s Mlllimeirn, \lillim.'hc..> Graniillas 1 10 749,849 7,765 742,0114 0,847 7,957 s. KnciiUeito.'l'.chuvuso. 2 n 747, 4i5 6,992 740.463 0,714 7,140 s. O ni.snio. O 111.-S1110. 3 10 744,280 7,066 737,214 0,771 7,240 s. O niesmu. O mesmo. 4 11 737, HSO 8,351 7i9.469 0,853 8,527 s. O niesiin,. O inesino. 5 10 733,2i4 8,288 724,9.16 0,904 8,493 s. () nie>-ii)o. O mesmo. 6 10 T2n,304 8,087 720,217 0,1182 8,287 s. O mesmo. O .iiesim). 7 11 7i3,904 9,364 716,543 0.9.^6 9.502 s. O niesiiio. 0 mesmo. 8 u 733,20e 9,364 723,845 0 936 9,562 s. O mcsino. O mesmo. 9 11,5 731,322 9,789 721,533 0,967 9,988 s. O mesmo. O incsnio. 1 10 12 738,461 10,228 728,233 0,978 10,416 s. O aiesmo. O me«rao. 11 11 744,971 8,754 736,217 0,894 .8,939 s. O mesmo. O mesmo. 12 13 10,5 745,741 8,468 737,273 0,893 8,662 s. O megrao. O mesbo. 9 747,698 7,459 740,239 0,870 7,670 s. Nublado. Bom tempo. 14 8,5 749,027 7,26!l 7*1,738 0,876 7,489 .>*. O mesuio. O mesmo. 15 9 756,068 8.012 748,0.16 0.9J4 8,239 *^, O me»mu. 0 mesmo. 16 10 750,1)73 8,d64 742,30'J 0,934 8,776 s. O mesmo. O mesmo. : n 11 753,033 9,364 743,669 0,956 9,502 s. Encuberl. T. cliuvoso. 1 18 11 740,356 9,577 730,779 0,978 9,779 s. O mesmo. O mesmo. 19 11 739,849 9,577 730,272 0,978 9 779 s. O mesmo. 0 mesmo. go 12 743,024 10,228 732,797 0,978 10,416 s. O mesmo. O mesmo. SI 13 743,664 10.919 732,745 0,978 11,071 s. O roesmo, O mesmo. 22 13 734,309 10,919 743,390 0,978 11.071 s. () mesmo O mesmo. 23 13 754,055 11,039 743,016 0,989 11.212 s. 0 mesmo. O mesmo. 1 St 13 750.254 11,039 739,215 0,9U9 11,212 s. O mesmo. O mesmo. -■' 13,5 753,741 10,403 743.338 0,9«9 10,530 s. O mesmo. O mesmo. ■ 26 13 754,788 10,425 742,363 0,934 10,570 s. O mesmo. O mesmo. ' 27 13 752,788 10,919 741,(;69 0,978 11,071 s. O mesmo. O mesmo. 28 13 753,549 10,972 742,577 0,983 10,124 o. O mesmo. O mesmo. 29 U 755,961 11,776 744,185 0,978 11,899 s. O mesmo. O mesmo. 30 13 748,986 10,425 738,561 0,934 10,370 s. NulilaJo. Biimlempo. ; 31 13 746,462 9,924 736,538 0,890 10,062 E. CI. c limp. O mesmo , mediae ) 1 1»,45 74^388 0,927 1 ^ 4 1 Temperatttra Mas. absol. 14° Min. alsol. 8", 5 Prcisao atniospherica Mhi. .li.sol. 756.068 Min.alisoliil. 725,904 Gran d^htimidade do ar Maiimo .... 0,989 Mininio .... 0,714 Vtnto doini'tant S. i2 Mai. variai;. 3°, 5 Max. excnrs. 30,164 Maxima variag. 0,275 Cuiin bra, 1." lie Feicreiro Je 1836. ifall,h$ de Carta 'no (tr ritsrinicellnSf i.f >k Sub lo ilePlivsira. Ill i) Jnotitttta^ JORINAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. RELATORIO Da t'omniiKssio dost csluilos dc dezembro dc IS5o. Cunliouado de pa^. 113. CA.PITULO VII. De como deve reduzir-se o termo da edadc, marcado para o magisterio das disciplinas da inslrucrao secundaria, e ser poslo em harmonia com o que marcam os regulamen- tos para o magisterio da instruccao pima- Scnhor, o decreto de 30 de dezembro de 1830 dispOe no art. 4.° do cap. 3.°, que a edade de 21 annos coniplclos #cja a indispen- savel para o magisterio da inslrucrao prima- ria ; mas no art. 4.° do cap. 2.° do decreto de 10 dc Janeiro de ISol dcterraina-se , que a edade para o magisterio das disciplinas, que formam a instruccao secundaria , seja o (ie 2o annos. Pcrmitta-me V. M., que eu diga subniissa, e rospeitosamente, com a niinlia habitual franqueza, que nao ha boa razao, em que possa hindamentar-se esta distinccao; e que accrescente, que, a ter de conservar-se aquella distinccao, dcvera ser antes na razao inversa ; e que, de niais a mais veiu d'esta diversa disposicao grave prejuizo para o ser- vico publico. . A. expcriencia de todos os dias esta eviden- ciando, que se nao fundou em nenhuma rc- lacao real de necessidade , ou eonveniencia , moral, ou litleraria, a distinccao estabelecida ; poisque, conlando apenas 21, 22, ou 23 an- nos de edade, se appre.sentam eabalmente ha- bilitados, e com boas informacoes raoraes al- guns candidates ao magisterio da instruccao secundaria. A que tini esperar era pura perda sua (d'elles candidates), e do ensino publico, que decorram mais dous, ou trez annos antes de serem admittidos a exame em concurso? As ieis nao du\ idam confiar ja 'naquella edade aos mocos, que possuem as compctentes habi- litacOes , nao so a adminislracao do seu pro- prio patriraonio, mas tambem a da justica, e da lazenila , e do viver, e haver dos seus Vol. Y. Septembro 1.°- concidadaos ; c ate a egreja nao duvida dh- pcnsar o prazo, e elevar ao sacerdocio, os que se dedicam ao service dos altares, antes de terem completado 21 annos de edade. E hem ; porquanto na dilTcrenfa de dous ou trez annos, de ccrto nao pode achar-se razao sulBcicnte da prudencia, e da moralidade, que, completas as habilitacOes, que se reque- rcm para o magisterio, nao e^iiste depois dos 21 annos. Menos ainda e sustentavel a distinccao , que desejo ver abolida, se por ventura se re- ilectir, que sao mais para ter em conta, e (iscalisar mais cuidadosamente , com respeito a educacao piiblica, os professores de instruc- cao primaria , do que os professores de ins- truccao secundaria. E obvia a razao: a pue- ricia e entregue aos cuidados dos professores de instruccao primaria, ingenua, e sem forma: aquelles professores incumbe prcparal-a, dis- pol-a, afl'eicoal-a. Assim pois, se pode haver perigo era confiar a educacao da primeira raocidade a annos ainda nao sobejamenle amadurecidos, e manifesto, que de preferen- cia devcria exigir-se a edade de 25 annos completes dos professores de instruccao pri- maria. Finalmente, senbor, o prejuiso, que resulta para o servico publico da prescripcao do de- creto cm vigor, esta demonslrado de facto. No anno que vai correndo , tem dcixado de ser providas algunias cadeiras de grammatica portugucza, e latina, e de latinidade, nao por nao haverem a cllas concorrentes , mas por- que a alguns oppositores , que se apresenta- ram, faltavam-lhcs mais de dous annos de edade, tcndo completado, uns, 21 annos, outros 22, ou 23. Este facto nao carece de commentario. Tenlio portanto a honra de propor a V. M., pedindo a sua prompta approvacao, a seguintc proposta. Projeclo de lei. Art. 1.° A edade , para o magisterio das disciplinas de instruccao secundaria , sera a que esta marcada para o magisterio da in- struccao primaria no art. 4.° do cap. 2.° do decreto de 30 de dezembro de 1830, isto i, 21 annos corapletos. ■183G. Ndm. 11. 122 Art. 2.° Pica d'esla sorie revogado o art. S.° cap. 2.° do dcrrclo Je 10 ilc Janeiro de ISol. CAPITI LO Mil. De como o eurso da limjua grecja deve ser biennul, e dieidido em duas epoclias, em cada umu das quaes liaja de ler loyar urn exame. 0 cxanie da lingua grcga, d'essa lingua lao rica , e tao formosa , nao pode dcixar de increcer niuilo .or isso algumas vezes oii- trar em loncorrciicia com os caminlios dc fcr- ro com mcliior vaiitagcm. Enlretanlo na epoclui actual , o syslema creado pcla marcha progressiva da indiistria consists cm I'azer, e ainda mais cm caminhar muito; e um lal syslema mal se, coaduna com o movjmenlo lento e pacilico dos canacs c (la niaior parte dos nossos rios. Como vias stralejiicas, a dcspoito da opiniao do condc Darn, os caminlios de ferro podem ser de grande vanlagem em case de giierra. Napoleao dizia, que a arte de I'azer a gucrra consistia principalmcnte, cm saber reunir 'num momento dado o maxiino numero de tropas possivel sobre um mesnio ponto ; e segura- mente sao os caminhos de ferro os que mellior podem facilitar a solucao d'estc problema. Uma parte dos triumphos obtidos pelos austriacos na ultima gucrra da Ilongria I'orao devidos aos cSmiuhos de ferro. Ainda recentcmenle a guerra do Oriente provou , quao uteis podiam ser os caminhos de ferro para a defeza de um paiz. Se o ca- niinlio de ferro , que liga S. Petersburgo a Moscou continuasse pelo raeio dia da Russia, 0 czar podia ter enviado quasi instantanea- mente a Crimea um exercito demuitos cente- nares de mil homens , que teriao obstado a tomada de Sebastopol e a invasSo do terriio- rio pelas armas dos aliados , e com egual I'a- cilidade podia ter provido ao seu abasteci- mento. Continua. ). u. de ABREU. ASTRONOMIA. No terceiro volume do Instituto, j)ag. 2112, demos a relacao dos pequenos planetas descu- bertos nos annos de 181)3 e 1854. Desde enlao no anno do l8oa e na parte decorrida do de 1856, descubriram-se os scguintes: (34) Circe. . . — porChacornac em 0 d'abril de ISaij. (3a) Leucotliea . — por Luther cm 19 d'abril de ISIio. (30) Atalaiile . . — porGoldschmidtem bd'ou- tubro de 1855. (37) Fides. . . — por Luther em 5 d'outu- bro de 185a. (38) Lcda . . . — por Chacornac era 12 de Janeiro de 1850. (39) Luelilia. . — por Chacornac cm 8 de fevereiro de 1850. (iOi Ihirmonia — por Goldschmidt em 31 de marco de 1856. (41) Daplinc . . — por Cioldschmidl cm 22 de main de 1850. (42) /*i* . . . — por I'ogson em 23 de maio de 1850. Para os curiosos d'este ranio da astronomia cxtraliiraos do n." 1178 do jornal I'litstilut a noticia da dislribuiviio, que os ob.scrvadores lizeram cntre si dos trabalhos relativos a clle. «0 anno de 1850 parece nao ceder aos « precedentes em dcscubertas celestes; porque, « cm menos de seis mczes, os obscrvadores, « na falta de cometas, deram-se a pesquiza « dos pequenos planetas , e aeharam cinco « novos, clevando assim o nnnu'ro d'elles a « quarenta e dois, de quatro que era antes « do 8 de dezembro de 1845. Ja eu advcrti, " em uma communicacao relativa ao planeta « Ihirmonia, publicada no n." 1100 de l Ins- « tilut, (lue, em quanto a estes asteroides que Kcirculam entrc .Marte c Jupiter, devemos '< osperar, que o seu numc^ro cresca a me- ci dida que se forem empregando telcscopios « de maior forca ; particularmente, se se pro- « curarem entre as cstrellas mais fracas, ainda i. Anlonia yieira. O Manpiez de I'ombal, quando eslcve em Coimbra a reforniar a liniversidade, visitou com sua eipnsa esta qninta, no dia I* de selcmbro de 1774. * Veja-se Miippn dc Portugal. — Qunrtn parte^ — cap. n, ^'.. VII — pelo Padre Joao BaplUla dc Castro. * Veja-se a Afemoria Historica c Crilica dcirca do Padre Antonio J'itira e das suas obras no tomo segiindo das obras de O. Francisco Alexandre Lotio, Bitpo de yiseu. Prerioso condao de todos os luniinarcs de intclligencia summa ! Dcpois do seu occaso ainda uni raio d(! luz csclarecc as estancias, cm (jue r('S[)|jin(leecrain , rellectindo-se nos monumentos, que nos legaram. n. UE (;i;s.MAO. OS TROUADORES E SUAS OBRAS. I'm dos mais bellos especlaculos que a iiisto- ria da hunianidade nos olTercce, e por certo a transirao do estado dc lastimosa ignorancia e harbcria para a cultura dos costumes, da lazao e do engenlio. Quando a sociedade so agita para dar cste passo, tudo fermenta no lahos; lia uma especie dc nova creacao, e os seres, que saem d'esse cahos, ainda que cslao loiigfi de tocar a perfeicao, trazem inqiresso 0 cunho de uma certa belleza original, (|ue atrae tanlo a uossa altencao, como a propria perfeicao. Apoz uma prolongada seric de males, em que 0 crro c a anarcliia liaviani suhniergido a Europa, a ignorancia do X seculo, acom- panhada dos cstragos causados por uma inun- iiacao dc barbaros, acabou dc embruteccr os jiovos deixando-os involvidos no mais fatal obscurantismo. 0 seculo seguinte viu rena.s- cer alguns esludos, sem diivida maus, e por Ventura mais fecundos cm erros, que a inesma ignorancia; mas mui proprios para despcrlar 0 espirilo do fatal lelliargo, em que jazera. 0 pontilicado de Grcgorio VII; os abalos que produziu nas nacocs a violenta luta do saccr- docio e do impcrio, perpetuada por sens suc- cessores, causaram um niovimcnlo universal, e crearam poderosos interesses, que muito concorreram para cxcitar os espiritos; ao mesnio tempo que a cavallaria abria uma no- va senda ao heroismo, em que algumas ideas snciaes brilhavam ontre as virludcs on os feitos cavalleirosos d'cssa nova milicia. A eslas diversas causas acrcsceu a criizada, que se Icvantou pelo lim do mesnio seculo. L'm iuaudito enlhusiasnio fez desapparecer as barreiras, que separavani as nacOes, |iara, reunidas, levarcm ao cabo uma conquista religiosa, ou consagrada por um pretcxto reli- giose. Todos esses difTerentcs povos, assim transportados sob tacs influencias ii palria de Phidias e de Honicro, foram respirar o ar cni- halsamado da volupluosa Azia ; c quanlos no- vos sentimcntos; quantas novas idt^as, quantos novos gostos ! Facto singular! A dcvooao sangrenia e in- scnsata dos cruzados serviu ao dosinvolvi- mento das artcs e da razao; concorreu para 0 Iriumpho das muzas e para os engenhosos prazeres, que de scus trabalhos deviaiu nascer. 130 Foi etiliio que so nuilliplicaram ospocias couliecidos di'liaixo do iionie de trovotlores, iionie verdadoiriiiiionte digno do {iciiio, por- quo oiivolve a idra do achar — inveiitar — troar Jrauvcr), conio e- initprio do gcnio. 0 cxemplo do uiii piiiuipe lao csclarocido, coino 0 coiide de I'oilou, dt'via t'xcilar a sua pliantasia e eniulaiao. Muitos outros piiuci- pes c i;randcs senliorrs cliegaram a ser sens modelus, e sens piolectores. As curies, (piasi tao mimeiosas como os caslellos, os alraiam a porlia, e agasallunam no recinlo de sous mures. A.lli llies sorria a lortuna e os prazc- res ; alii gosavam favor c coiisideraeao. As bellezas, cujos cncantos teleliravam ; cssas divindades da cavallaria andante os acoliiiam com officiosa gcnerosidadc, c as vczcs taiulicm com OS lernos afagos do amor. Que alimcnto para esses csplritos, a quern 0 atlralivo da novidade c a natural inciina- cao Icvavam, (piem sabe se para o prazer, se para o esludo . . .? Eutao os poctas disputa- vam 0 premio de sous cantares, os applauses e a protcccao nos caslellos, onde residia o valo;- c a belleza. Expressavara-se uns com mais elegancia e Cnura, outros com mais forca e concisao; uns aperi'eicoarara o mechanismo do verso; crearam oulros novos gencros dc poe- sia : as gracas deram o torn ao sentimcuto; a liccao e o dialogo sasonaram a moralidade. 0 gosto deixou por assim dizer, de ser escra- vo da humiide rotina; seguiu o progresso das ideas, abracando uma variedade de objectos ale eiitao desconliecida, e diversilicando os generos de composicao, insipidos polos rigores da mais esteril unilbrmidade. 0 gosto, porem, assim como as ideas, obseu- rccidas pela ignorancia, distava ainda muilo da verdadeira pcrfcicao, que so alcancou leii- lameiite e a proporrao, que a sociedade se il- luslrou c civilisou. Fora tambom um grando obstaculo ao aper- reicoumenlo da arte a mania, que havia mul- tiplicado OS poetas, ou os aspirantos as re- eompensas pueticas. Continiia. NOVO JORNAL UTTERARIO. .\nnuncia-se a proxima pulilicacao de uni jornal, que, sob a direccao dos srs. Antonio Feliciano de Castillio, e Luiz Filippc Lcite, e deslinado a instruccao e educayao dos povos de ambos os hemisphcrios, que failam a lin- gua portugueza. Os amadoros das letras patrias nao podcni deixar de saudar com salisf'acao a apparicao de um novo orgao da impiensa periodica, quo, al)andonando o campo safaro da politica, onde lanlas intolligcntias viris vao embotar o vigor do sen engenbo em inuteis discussoes, sc de- dica li cultura c oducaoao popular, c aos mais caros interesses da instruccao piiblica, sem a qual impossivel I'ura todo o progresso e fuluro apcrfeicoamonlo d'essas grandes con- quistas, ([ue lem enri(iuccido o cstadio da.s scioncias , cstabelecido as bases da moderna civilisacao em lodos os ramos das artes , da industria , e eslreilado as relacoes c o trato enlro os mais alaslados povos do mundo. Poncos sao, e vordade, os jornaes, que en- Ire nos mililam 'noste campo, ])orqnc onde se cura so do presente , nao pode ser lucra- tiva a tarefa generosa d'aquclles, que so miram no fuluro da gcracao, que um dia nos ha de pcdir conlas do abandono em que a deixanios; da ignorancia que Hie Icgamos; da falalidade a que a condeninamos ; mas por isso mesmo maior louvor cabe aquelles, que procuraram le\ar-lbes a luz do ensino, c o pao da educa- cao. 0 service sera tanto mais mcrilorio, quanto mais generosa e desinleressadamente for pres- lado. Publicaraos por isso o prospeclo da Revisia (la Instnicrao Publico, que nos dirigiu o nosso digno socio honorario o sr. A. F. de Caslilho, e que esperamos correspondcra em ludo a auctoridade do seu nome. J. m. DE ABREU. BIBLIOGRAPHIA. Almanack de Portugal fara 1S36, pelosr. Luiz Travassos Valdez, 1 vol. em S.° grande, com o catendario para 1Sii7. 0 novo Almanack de Portugal para o corrcnlo anno, e uma olira complelamente acabada no sou gcnero, e ilc roconhccida uliliiladc. 'Nam paiz onde sSo tao cscassos os documen- los cstatisticos ; em que faltam lanlos dados para avaliar o seu raovimento industrial, economico c litterario ; e cm que esses mcsmos documentos existcm disseminados ])elas divcrsas reparlieoes piiblicas, e acaso tamliem dependenles da inlor- macao de pessoas pouco competcntes ; labnriosa c dilTicilima empresa e coUigir tao grande copia de factos e noticias intercssanlcs ; tantos esdare- cimentos indispensaveis ; tantos mappas estadisti- cos, e tao cabal informaeSo ilo pessoal dc lodas as repartiroes do estado no reino e nas possessiics ultrauiarinas, como se eiicontram no Almanack de Portugal, publicado pelo cuidado e summa dili- t;eiuia do sr. Luiz Travassos Valdez, que 'iiesto spgiindo anno da publicacao d'csta sua obra se osnicnni enj corresponder a raeiccida acccitacao, que (>bti\cra o Almanack dc 1855, a que esle sc- gundo muito se avantaja pelos numcrosos o im- 131 portantcs additamcntos, com que o complulou c cn- riqueccu, tornawlo-o um livro nao so muiU> util, mas tambem neccssario. A ediciit c nitida, e o sou prcro par exlremo modicu, niii> su qiianto ao trabalhu da uijra, mas Mt simplesmente era relat^ao ao trabalhn arti<;tH:u. 1. M. DB ABHliU. I\OTICIARIO. Tnlordo clisiineli-odONitlnnclas, rii.fo fliwro KO 8>«€le iiii««rtir. Esle valor, scgundo se lu no lioUetim da sociodade real asliono- mica de Londjcs , foi delerminado por moio do micrometro dc diipla imageni polo rev. K. Maiu, adjuucto ao obscrvatorio do Greenwick. Mercurio, diametro a distancia media da terra ao sol G",S'J Yerm.<; 17", H5 Este segundo valor e notavel, pon|uo, iciido Main em conta a irradiacao, que alias ne- nhuma influcncia tern sobre as medidas lo- madas de noute, cxcedc o diametro da terra, que, com a paraliaxe de 8' ,37, que e a actual- mente admittida, seria de 17", 14. Ha portanto um excesso a favor dc Venus, que oquival a ^, e por conseguiiUe o volume de Venus seria superior ao da terra perto de 5*j, que e 0 contrario do que eslii geralmcnte admittido em todos os tractados de astrono- mia. Marte — diametro da unidade dc distancia, como acima . . 9'', 84. 0 acliatamcnto de Marte e ~ ; numero inferior ao ate hoje admittido. Jupiler ; — scgundo um grande numero de observafOcs o seu diametro equatorial a dis- tancia de 3,20279, que e a distancia media d'este planeta ao sol 37'', 91. A unidade de distancia 197'', 24. 1 Acliatamcnto „„ ., , 68,84 1 Scgundo Stuwc este acliatamcnto e de tt—t;- o8 ,8 E 0 quocicnte da differenca dos dois dianic- tros polar e equatorial do planeta dividido polo diametro equatorial. Esrholn giolo mofliotlonnilnrnl : Aclia- se finalniente cstabclocida no .lardim liotanico da L'niversidade polo zelo do sou digno direc- tor, 0 sr. Henrique do Couto, uma escliola pelo metbodo natural de Endlicher, indepen- dente da antiga escliola linncaua, na qual os alumnos poderao conbeccr practicamcnte as vantajens de um e outro systema, e comple- tar OS sens cstudos botanicos pela inspccfao das duas escliolas, coUocadas a par uma da outra. E um liom sorvico, quo alcm dc tatttos outros, aquelle distiucto professor acaba dc fazer, satisfazendo aos voios, ja por muitas vezos manifestados pela faculdadc de pliiloso- phia, para que so ensaiasse 'nesto jardim bo- tanico a(|uelle metbodo, que fclizmento se vai genera lisando nos principaes jardius botanicos. RELACAO Dos indivifhtos nftmeado.t para ox aerjutntrx Ingnrcm d' I nstruc^ffo publico, 'desde odia 1." ole 15 dt- ugisto dn cnrrenie anno, pnr despachos do Conselho sitpc rior d'insiruc^do puhlicn, e decretas do Governo cum- municados ao mesino Conselho no indicudo periodo. IKSTRUCrAO PKIMARIA. Carlos Aii^usto Znrarte de Mendon^a, j'nra profes- sor temporario da cadeira de Saucla Suzaiia do Ma- chial, districtu de Lisboa. Jouo Cerqueria Lopes, fara dido dfe Geraz do Lima, districlo de Vianna. Antonio Pedro Gnn^alveS CoiiMnho, para professor vitalicio da cadeira dii Freg-liezia de Sancta CaMiarina, por transferencia da de Nossa Senhora da Encitrnn(;iio da cidade de Lisboa. Luiz da Silva Couti'nho, para dicto da fregiiezia de Nos.sa Senhora da Encarna^So por rransferencia da de Sancla Catharina, decreto de 29 de jiiUio ullimo. Bernardo Ferreira, para dicto da cadeira da fre- guezia de Nossa Senhora d'Ajnda, por transferencia da de Santos o Velho da cidade de Lisboa, decreto de 30 dc julho ultimo. REVISTA DA INSTRUCQAO PUBLICA. PORTUGAL E BRAZIL REDACC-iO : .V\v\ou\o VcWciauo ie, CasVvVUo (l\J\u^Y^\\\^\^e \x'\l< A unica politica actualmcnte possivel, njio si) para a Europa, mas para a America, e para lodos OS povos livres, c da luz para lodos ; e a da oi- vilisacno universal. A opitiiao popular educada, (• a mais segura fianca de estabiliiiadc para os bons jjovcrnos e de felicitaeao jiiiblica. Por ella, so opcrara no interesse cominum. o que alia.s licaria circumscriplo a limitada esphera das comcnicn- cias individuaes. Portufjal e o Brazil, que dcrivam de origcm commum as suas mais gloriosas tradirues, palpi- tam com aspirarocs idenlicas e nao demandam oulro norle, scnao esse para onde Ihos estii apon- 132 Undo a coiisciencia das proprias provarijcs c a scicncia na sua cxprcssao mais sincera. Sem urn syslcma dc piihlica inslrucrao que alinja a \er(ladeira allura da respecliva destiiia- rao social, iiilruilifcros scrao quaesquer esforcos com que sc prcleuda fazcr progredir um paiz na oslrada piovidcncial da perl'cclibilidade. Enlic iios , portuguczes c brazileiros , se con- fessc com amor c fianqucza dc irmaos, que, ncm aquem. iiem alem mar sc possue aiiida cducarao nacioiial organisada scguudo as mais rcccules re- velaoocs da scicncia, c conformc as nossas pecu- liares nccessidadcs c convcniencias. E com a mcsma Iranqucza concordarcmos em que ambas as nos- sas Icgislacocs respcclivas, sc acham mui longe n.io so da sua importancia , mas das exigcucias impcriosas da posicao politica, dc qualquer dos dois paizes. Portugal, abracado com a industria agricola e fabril o cmpcnhado nos melhoramentos maleriaes, \ae conslruindo dc boa fc, sem allentar scria- mcnlc para a solidcz dos aliccrces. Quando mais arrojada sc Ihe estivcr affigurando a projccrao que delineou. mais proxima da sua ruina llie andara a grandcza da cdificacao 0 desinvolvi- mcnto publico, que cspera do piano de reformas que tracou, sera quasi uma chimera, cm quanto nao disposer rasgada c francamcnte os caminhos da illuslracfio popular. Pouco Ihe amadurecera o future, em quanto nao emendar os errus que Ihe Icgou 0 passado, fazcndo caminhar junctos os intcresscs intellectuaes com os maleriaes do paiz. 0 Brazil , na forca da sua adolcscencia cumo nacao, cntrcve largos horisonlcs de prospcridade c riqucza publica ; mas, para que o scu iuUuxo no contincnte meridional da America, scja tal como Ihe cumpre, c-lhc mister partir do mcsmo principio dc engrandecimenlo intellectual e nao liesitar peranlc a amplidao do commettimento. Eis as nossas pusicoes, a nosso ver, definidas. Portugal, pela sua situac.'io gcografica, pela importancia das suas condicoes historicas , deve assumir o logar que Ihe compete na communhiio Europca. 0 Brazil, pela vastidao do scu terrilorio, pclo \igor de todos os sens rccursos, lende a clevar-se ao grau de inlluencia politica , dc que so o fara participar o seu dcsinvolvimcnto intellectual. 0 primeiro, nao oblcra a prospcridade publica, sem basear na cducarao nacional os sens csforcos, 0 scgundo, nao aproveitara convcnienlcmenlc os scus incxaurivcics rccursos, sem clcvar a raassa nacional ao nivcl a que Ibc niio e licilo ficar in- ferior. Que nos propomos nos, com a presentc publi- cacao ? Em duas pala\ras o diremos. Pcsar na balanca d) senso commum e a luz da scicncia actual , o que exisle, bom on mau, o[itimu ou pessimo nas iluas legislacnes ; inquirir o que falta c de\ia cxistir; exaniinar com a mesma consciencia o que ,se faz, e o que se tem feito nos paizes ondc mais adiantada se acha a organisacao da instrucrao |)iil)lica, considerada qucr administrativamenle, quer nos seus pormenores pedagogicos e didacli- cos. Da meditada confrontacao de tao divcrsos clemcntos, ir-mos prupnudo o que em boa raziio se nao podc deixar dc propor, para o aperfeicoa- nicnto, ou antes radical reforma da iiistrucciio publica, em cada um dos ilois paizes. A tarefa , nao e facil. Supprira poreni , a boa vonlade , sc , como csperamos , os cspecialislas e OS sabios (lum e d'oulro paiz, a quem muitas vezes havcmos de rccorrcr . rcpartirum comnosco do fructo das suas obscrvacoes c dos seus cstudos. Considcrando que o agrado nascido da ameni- dade , e para o gosto da maioria uma innocente soducrao, e que era favor do sanrlu fim que de- mandamos, nenhum meio se deveria desprezar, quanto mais a formosa litteratura, procuraremos descufadar algumas vezes com ella o cansaco dos cstudos series, mesmo alim de crcar para csles maior numcrodc sectarios. 0 cxcmplo nrio e novo, temol-o nos jornacs especiaes de ludas as linguas; temol-o na Franca principalmente. CONDICOES. A Revista da Instruccao Pudlica. sahira duas vezes por mcz. Tera 12 paginas 'ncste formato, ou 24 columnas cada numcro. As corresponden- cias, scr.To dirigidas francas de porte a ofTicina do Progresso era IJsboa, rua da Cruz de Pau n.° 15: Para a redaccao, a Luiz Filippc Leile. Para a adminislraccao , a Francisco Concalves Lopes. Pur anno. Cum eslainpilha 2^010, semes- tre 1^020, trimestre 540. Avulso cada numcro, 130. Por anno. Sem estampilha 1^700, semestre 900, trimestre 480. Avulso, cada numcro 120. Para o ultramar e Brazil , sera remettida a Re- vista pelas malas dos navios de vela. Os prccos s,io cm mocda forte. As assignaturas, pagas adian- tadas, por trcz mezes, pclo menos. Roga-se a quem assignar no prospecto, ou para clle colher assignaturas no Imperio do Brazil, queira entre- gal-o , com a rcspectiva importancia , ao ageute consular portuguez na localidade, ou a pessoa per clle designada. ALMANACK DE PORTUGAL Por L. T. Valdez. Contem muitas noticias estatislicas c de intc- resse geral, e artigus a respeito dos pesos, me- didas e mocdas de Portugal e do Brazil; os nomes dos titulares, cmpregados piiblicos, advogados- mcdicos c cirurgiocs, parochos, negociantes, etc. das capitaes dos districtos, com as suas condeco- raroes e datas das nomeacoes para os empregos; e 0 Calendario para o anno de 1857. Vende-se cm Coimbia, na imprensa da Uni- versidadc ; cm Aveiro , na lypographia do Cam- pcao do Vouga ; em Biaga, na do Bracharense; no Porto, na rua dos Caldcireiros , n° IS; em Vianna, em casa do sr. Andre Joaquim Pereira. Preco 800 reis : cm melhor papcl 1^000 reis; encadernado 1^100 reis. 0 Almanach dc 1855, que contem muitas no- ticias estatislicas, veade-sc por 400 reis. JORNAL SCIENTIFICO B LlTTERAUIO. ,,, |,;| .. , ->,.(»■•■ •'■< I -!iT[- n!'iM'!1H(((|i; iJl'jJ nil-: (•., .S;Olll(n ' ,CO,\SILnO SUPERIOR DE L\STRlcfAO PtRLIC.1. ' i;iELAT0R10 AWIAL. 1853— 18ai. Continuadu de pag. 66. InslrucrSo secundaria. Ilabilitado o liomem com a inslruccao pri- raaria, tern o nieio indispensavcl para prosc- guir no desinvolvimento das siias faculdadcs intcllectuacs ; esse desinvolvinicnto e hoje niuito niais ncccssario depois que ccntenares de novos invcntos vieram libertar o homcm do trabalho bruto, e dcixar-Ihe o que e so proprio d'olle — o Irabalbo de intelligencia. A. instrucrao piiblica demaiula uin systeina Tastissiino, niuito variado, cm harmonia com a forma de govcrno c com cada uma das func- focs que lode 0 bomcm c chamado a excrccr, nao so no intercsse da sua folicida'dc pessoal, mas no da prosperidade nacional. Foi guiada por este pcnsanicnio a reforma litteraria, que se comccou em 1836, e que supposto ja nio- dificada e aperfcicoada em ISii, ainda ca- rece de muilo mais ampio aperfcicoamonto. Crearam-sc os lyccus para os cstudos de huma- nidades, inslfucrao secundaria; 'nellcs so en- sinam cm maior ou menor cschabi, segundo as localidades, cstudos clemcniarcs que ser- vem a dcsinvolver o cspirilo, cullivar a nie- nioria, e btibililar os alumnos para Icilura dos ciassicos antigos, e por olla colhcr licOcs de experiencia que sirvam ao aperfeifoamenlo, quer scja nos estudos especiaes c jiroRssocs , qucr nos mais vaslos e transcendontes das scieneias supcriores, a que cada urn se destina. Per ora habilos e iciidcncias ahtigas Icvani enlre nos a maior parte dos pacs a dirigir seus tilhos para a inslruccao superior, e, quando menos , para a vida ccdcsiasiica ; mas pouco a pouco sc bao-de desenganar de que perdem tempo e capital em procurar-lhcs habiiilacoes, que Ihcs nao dao arriimacSo cm parte alguma , c so servcm a crear parasitas nas familius e pmlotarios na sociedade. No fim da carreira litteraria (quando nicsmo ao (im podem cbcgar) deixam niuitas vezcs as familias arruinadas pelas dcspesas , enao Vol. V. Sci'TEMDno 1j- acbando cm que se cmprcguem por scrcni demasiados , aggiomcram-sc nas avcnidas do poder , desconsiderando o govcrno que sc serve d'elles, e as vezcs insurgindo-sc contra aquclie que os repcllc : a maior parte chega a niorrcr na impaciencia dc cspcrar qtie se desobstniam os cmprcgos publicos, ou as pro- tissocs cbamadas liberaes a que aspiravam, com insano dcsprczo das induslriaes, em que podiam tcr sido fclizcs e fundar familias pro- veilosas para 6 estado. Em chcgando, a I'orca de tempo c da civi- lisacao mcsnio, o descngano aos pacs, V^l. tera a satisfaccao de ver crescer o minrcro d'aluninos que procuram nos lyceus a inslruc- cao precisa para ircm complctar a especial o professional que mais Ihcs convenha nas di- versas localidades, e que V. M. Tem ja pro- porcionado com a creacao d'algumas cscholas especiaes e indnstriacs nos maiores centres de populacao, d'onde a civilisacao se ba-de diffundir para os cantos mais remotes dc todo 0 paiz. Nos nossos lyceus 6nsina-se muito — talvez demasiado — do passado; e o consclbo, guiado pela prudencia cnlre conscrvacao e progresso, nuiito deseja alargar a espbcra dc cnsino, inclinando-o mais para o prescnte e fuluro ; e associar as bumanidades ranios d'esludos , que babilitem para prolissOcs utcis a quera as siga e ao paiz , e cm que possam cmprc- gar-se nao so ahimnos cbamados a cllas por gcnio e vocacao, mas os que nao podeiido, por qualqucr principio , chcgar a outras , s(^ accommodem 'naqucllas a que chegam. Entao 0 consclbo propora a V.t.M. que, nos tcrmos do art. 49 do .decrcto de 20 dc sclembro dc 1844, c lei de 12 d'agoslo dc 185i, sc digife crear novas cadeiras com todos os apprcstos prccizos para excrcicios practices, de pbisica, cbimica, hisloria natural, e malhcmalicas cle- mcniarcs 90m applicacao a indnstria, asarles. e a agiicullnrh, fazendo-sc 0 cnsino debaixo do ponto da vista practice. Per ora ainda nao e cbcgado 0 tempo. No lyccu de Lisboa ha cadeiras especiaes de com- mercio ; mas jielos mappas que ti^m chcgado ao conselho, v(}-sc que sao mat pouco frcquen- tadas ; ha lima cadcira de geometria e nic- chanica applicada as artes e olTicios , mas 'ncsie ultimo anno nem ura so alumno con- ISoti. Num. li. ^Jfbi'-^:tt 134 corrcu a liabilitar-sc com etamc, nem consta (liif fosse IV('qiieiua«la. Esiao ja croadas jiclo art. 48 do decreto de iO de setcmhro de ISii, lies Ivfous de llraga, Evora e Faro, cadciras de economia industrial e cscripHiracao ; nos (le rorlalcgre, Yilla-lleal c Caslcllo Braiu'6, cadciras de agricultiira e ccoiioniia rural ; porcm , nem jiara cllas teiu apparecido pro- fessores, nem ha discipulos. As mais concorridas sao as de latim, e frcquentes vezes apparecera petirocs a re- quisilar rcslabelecimento das que foram sup- primidas , ou crearao de novas ; e ja foram rcsiabelccidas, em conforraidade com o piano e consulta do 1.° de fevereiro de ISJiO, iima cm Moulalegre , outra em Yilla-Nova de Fa- melicao. No lyccu de Viseu creou-se uraa de francez e ingfez ; e o conselho ja consuitou a V. M. a favor da prelencao da camara da cidadc de Guimaraes que pedira a creafao d'uma cadcira de pliiiosophia racionai e moral, para que so estabelcca 'naquella nolavel e populosa cidade uma cadeira d'aritbmetica e geomctria com applicacao as artes, c primei- ras nocoes dalgebra, c philosophia racionai c moral , e principios de dircito natural em curso biennal nos termos do art. 87 do de- creto de 20 de setenibro de 1844. As tenden- cias estao por ora para os estudos elemenla- res sdmente , que preparam para a vida ec- clesiaslica ou para os estudos superiores ; e a prudencia pede que se esperem resultados do Instituto industrial de Lisboa, das escholas jndustriaes do Porto, a que V. M. llouve por bem (lar regulaniento por decreto do 1.° de dezcmbro de 1833 , e das escholas de bellas artes de Lisboa c Porto. 0 conselho espera que 'nessas escholas se babilitem professores, visto nao haver escholas uormaes para isso ; espera que 'nellas se forme o gosto para taes estudos, e d'csses centres se cspalhem para as outras terras do paiz. Para ensinar nao basta so ter conhecimento do que se ensina , e preciso brandura de maneiras, circumspec- cao, prudencia, paciencia c conslancia, esobre tudo accomodar-se o ensino a capacidade dos alumnos : e para se haverem professores com taes qualidades e preciso que elles se formem 'nessas escholas especiaes. Antes de haver professores com as precisas qualidades, antes de haver discipulos, crear cadeiras similhan- les por toda a parte seria gravar o thesouro com despesas sera proveito algum para a in- strucrao piihlica. Ale a conferencia geral de oulubro ultimo nao linham chcgado a este conselho senao OS rclalorios dos lyceus de Coimbra , Evora , Lisboa , c Yiana ; das academias de bellas artes de Lisboa , e do Porto ; aula de diplo- malica ; e bibliothccas do Porto, e Braga : e 0 conselho nao pode deixar do sentir pro- fundamcnte, que a falta de noticias c dados cstalisticos dos outros iyccus , o coHoque na .1. ..(j/1 .ut, ■■. penosa impossihilidfedc de comparal-os todos; cnmparar a IVcquencia de uns v outros; o seu aprovcitamento ; as tend(Micias especiaes nas localidades para os estudos; e as esperancas que cada uni olTerece a geracao prosenle, que OS suslenla a cost;v de facrilicios |)ara hem das geracOes fuiuras , (]iie aprovcitarao as refdrmas ; e linalmente prive o conselho dos clenienlos cstalisticos indispensaveis para as- sentar juizo scguro sobre o eslado nacional do [irogrcsso e aperfeicoamento intellectual pi'la conipaiacao do movimeuto das escholas com a pupulacao geral. 0 conselho nao podc lior essa falla calcular a despesa gcral da in- slruccao secundaria, distribuil-a pclo numero total de alumnos para sc conheccr o que cada um custou ao thesouro: c e forcado a esperar, como deixa exposto a Y. M. ale a conferen- cia d'abril para formar mappa gcral dos alu- mnos, que procuraram a inslruccao secunda- ria, e OS calculos cstalisticos, que dcpendem d'esse mappa. Pelas relacues cslatislicas , que se coniple- taram na conferencia ordinaria do conselho geral em abril de 18oi, com referencia ao anno de 18o2 a ISiilJ, o numero total das ca- deiras piiblicas de instruccao secundaria no contiuentc e ilhas foi de 248, sendo nos lyceus 124, e annexas outras tantas. 0 numero total d'alumnos, que as frequentaram no anno lec- tivo de 18S2 a 1853 foi de 4:2o2 em I'? cadciras , segundo os relatorios , que linham chcgado ao conselho. 0 numero total de ca- dciras particulares era de 49 ; e os alumnos que as frequentaram forara 1:131. 0 numero total de alumnos que frequentaram as cadeiras piiblicas, e particulares foi de u:387. Aquelle numero de cadeiras piiblicas acrcsccraro duas de latim, a saber uma cm Montalegre, outra em Yilla Nova de Famelicao, uma dc francez e inglez no lyceu de Yiseu, que foram creadas por dccretos de 30 de maio, 22 e 23 d'agosto do correntc anno; e por virtude da lei de 12 de agosto de 18114 acresceram mais uma dc princijiios de physica, chimica, e introduccao a historia natural dos trez reinos , outra dc aritlimetica, principios d'algebra, geomctria syntetica, trigonometria plana, e geographia nialheinalica nos lyceus de Coimbra e do Por- to. Com estes acrescimos licam sendo actual- mcnlc as cadciras piiblicas dc instruccao se- cundaria 233. A somma votada no orcamento para a instruccao secundaria e de 01:089^000 rs. ; a qual reparlida pelos 4:232 alumnos, vein a custar ao thesouro cada um 14^367 d conselho espera que, quando na confe- rencia d'abril se apresentar mappa cxacto dos alumnos, que frequentaram as cadeiras piiblicas em todo o conlinentc , c ilhas adja- cenlcs, 0 numero total d'elles ba-de ser muito maior ; e assim o custo de cada ura sera rae- nor pela razao inversa. 135 0 lyceu de Coimbra Iracla d'accoraodarsuas aulas em locaes apropriados na parte do edifi- cio dos hospitaes, que a faculdade de medicina desoccupou, quaiiilo mudou os hospitaes da Coneeirao e Convalescenca para o collegio das Aries, em que desde tempos antiquissimos se ensinavam as humanidades. 0 de Bcja precisa meios para fazer os reparos e concer- tos nocessarios nas cazas, que o bispo d'aquella diocese Ihe cedeu para coilocarao das aulas; e 0 conselho pede a V. M. se digne resolver sobre a consulla de 17 de outubro de 1853. I Tambcm respeilosanicnte pede a V. M. se digne attender como melhor parecer em Sua alta sabedoria a represcntacao da Camara municipal de Villa Ileal para a collocacao do lyceu d'aquellc districto na rua das Recolhi- das de Nossa Senbora das Dores d'aquella villa, passando estas para o convento de S." Clara, e sobre que pendem pcrante V. M. as consul- las d'este consclbo, com datas de 11 de feve- reiro e 20 de maio de 1833. Esta ordenado pelos decrelos com sanccao Jegislaliva de 15 de novenibro de 1836 art. 20 e 27, lei de 27 de outubro de 1841 art. 16, decreto de 20 de sctembro de 1844 art. C, B4 e 168, c regulamcnto de 20 de dezembro de 18S0 art. 1 , que as escholas piiblicas sejara collocadas em edilicios piiblicos. 0 conselbo I'az todas as diligencias possiveis para assim as collocar; mas na maior parte das localidades nao lia edilicios piiblicos; e 'naquelles mesmo aonde os ha, apparecem dif- ficuldades e cstorvos , que so com o tempo se poderao remover. Assim aconteceu a res- peito do lyceu de Viana, a cujo goverua- dor civil o conselho se tem dirigido para indicar editicio publico, em que se possa col- locar delinilivamente o lyceu d'aquelle dislric- to : V, em quanto se nao consegue tal col- locacao, teve 0 conselho de consultar a V. M. em data de 13 de outubro ultimo, fa- voravelmente sobre o oflicio do governador civil d'aquelle districto para que pelo saldo da conta dos lyceus, que o consclbo elevou a soberana presenca de V. .M. em data de 21 ^e julho ultimo, se auctorize a despesa de 60^000 rs. annuaes para alugucl d'uma caza, em que se colloquc aquelle lyceu, que vae sendo cada vcz mais concorrido. A lei de 12 de agoslo ultimo creou nos lyceus do Porto e de Coimbra uma cadeira para ensino de princi[iios de pbysica , e chi- mica e introduccao a hisloria natural dos ;trez reinos, e oulra de arithmetica, principios de algebra, geometriasynthetica, trigonometria plana, e geographia nialhcmatica para o lyceu -de Coimbra. A prinieira e iuleiramente nova cntre nos, e precisa d'uma organisacao espe- cial em harmonia com o pensamento , que a creou ; e o conselho ja d'elle se occupa para servir cm ambos os lyceus. Mas atlenta a conveniencia dc se abrir ja no outubro pas- sado a do lyceu de Coimbra, teve o conselho de limitar-se por ora a formalizar um pro- gramma provisorio, pelo qual o professor haja de reger-se interinamente. Tanto uma como outra d'estas cadeiras estao sendo regidas pro- visoriamente no lyceu de Coimbra por dou- tores das faculdades de mathemalica. c de philosopbia ; e como ambas essas disciplinas passam a ser preparatorio necessario para ma- tricula nos estudos superiores da universidadc nao deixarao de ser frequentadas na razao directa da lendencia geral do paiz para a in- strucciio superior. As mais urgentes necessidades, que affectani todos OS lyceus versam subre regulamenlo geral, e compendios. 0 conselho nao pode deixar de pedir niui respeitosamente a V. M. se digne resolver como melhor entendcr em Sua alta sabedoria, sobre a consulla, que foi elevada a i)resenca de V. M., em data de 26 d'abril de 1853, com o regulamenlo. RELATORIO Da commiHiiao doa eatados do di«» de 9^ il» ..^e^xnttvo fie 185&. "^'j,^ ■■ I ' ' 1,; (iio) iifi oii.i CoDtiauado de pag. ^25..>, ,j^j j^dj 3^ CAPITULO XJI. De como e absolutamente indispetisavel a uni~ formidade do ensino em geral, e de como em especial suo precisos livros e compen- dios das diversas disciplinas de instruccdo primaria, pelos quaes se ensine conforme- mente em todas as escholas do reino. No meu relatorio do anno proximo passado live a honra de ponderar, com suiliciente lar- gueza, a necessidade de uniformar os com- pendios das dilTerentes disciplinas, que se ensinam em todos os lyceus e aulas publicas do reino, e designadamente das Irez priniei- ras seccoes d'este lyceu, e das aulas particu- lares de Lisboa; e live a honra dc propor a V. M. sob 0 n.° 7, um projeclo de lei, que, na. minim opiniao preenche cabalmenle 0 lim proposto, prevenindo os inconvenientes tao lastimosamente experimentados, e salvan- do todos OS direitos. Por infortunio aiuda ate hoje nem se adoptou aquella minba proposta, nem se lomou nenhunia outra providcncia. 0 mal, para que se pedia 0 remcdio, conti- nua pois com grave delrimenio da instruccao piiblica, prejuizo dos alunmos, e dcsgosto dos profcssores: cumpre por tanto insistir, como insislo, pedindo a V. M. a prorapla adopcao 136 da medida lembrada, ou de alpuraa simillian- te; por^m do natiireza, que corle o lual pola raiz; spiido i|iie (leiiho-o por inleiramcnle fora do dinida) nan lia oulra senao tolhcr o uso do doiii fiincslo, conio jii llie chanifi, outorfiado ans lyceiis, e estabolefimenins de ensino pnrlifular, de adoptarem os eonipen- dios, que Ihes apraz escollicr. E niiora irei ma is tongc, porque dcpcnde Somenle de niero decreto do governo de Y. M. fazer dar um passo avantajado ao eusiuo da inslrucrao primaria: agora pe^o, que se mandcui adoplar livios e compendios unifor- nies para o ensino das esehnlas de instrurcao primaria. Se ao ensino da inslrucffio secun- daria e soiiremodo nociva a varicdade dos compendios, pelos quaes os alumnos sao ensi- iiados, conio liz ver no men anterior relato- rio, e alias e obvio ; o que nao podia eu ponderar com respeilo a instrucrao primaria? Esta abrange muito maior numero de alumnos, e OS i)rofessores aeham grave, e invencivel obstaculo ao seu zelo, e boa vonlade para leccionarem, e instruirem devidamenlc um grande numero de discipuios, quando estes se servem de differentes livros ou compen- dios. Os alumnos, pela sua parte, padecem muito de nao poderem aproveitar-se compe- lenlemente das advertencias, e explicacyes do professor, as quaes,' cabendo a outra lei- tura diversa da que Ihes suggere a clles o livro ou compendio, de que fazem uso, quasi se Ibes tornam inuteis, porque a mais nao alcanca a sua carta odade, e limitado desen- volvimento inleiieclual. Cora a variedade dos compendios de doutrina christa, ale corre p.'^rigo a fe religiosa. E que direi dos exames? E de evidencia, que se tornam muito mais difficeis, do que o seriam, se as perguntas dos examinadores houvessem de ter necessa- riamente por assumpto a materia e forma dos compendios, por onde estudaram os exa- minandos. Finaimente, devendo as camaras municipaes dar compendios aos alumnos, cu- jos paes por sua provada pobreza nao podem proporcionar-lh'os, nao hcsilariam na escoiha, e porventura os poderiam haver a preco muito commodo; porque podia, e devia im- p6r-se ao auctor, cujo compendio de Icitura, ou de doutrina christa fosse adoptado, nao so a obrigacao de o vender por prero fixo, e barato, mas tambera de fazer uma edicao por preco ainda mais baixo, deslinada aos alumnos pobres: desta se serviriam as camaras muni- cipaes para o lim indicado. Senhor! A mcdida, que proponho, e da maior convenicncia, e e urgentissima : nao ha professor, que nao a reclame, e que nao se queixe da variedade sem fim dos compen- dios de doutrina christa, c dos dcmais livros, de que fazem uso os seus discipulos. Se que- rem exigir a uniformidade na adopcao do compendio, que melhor Hies parcce, os paes de uns resistcm, os de oulros dizem, que nao ti^ni mcios de os comprar; e as cscholas em breve estariam dcsertas, e grandissiuio numero de alumnos deixaria de apronder, se os professores nao cedessem, e nao se stijcitasseni ao improho, tao mal galardoado, e lao pouco produciivo trahaiho, a que os obriga, nao direi a iiberdade, direi a reiaxaciio, a licen- ca inlroduzida a este reapeito. Assim que, supplico a V. M., para melhor, e mais prom- plo aproveilamcnto dos alumnos da instruc- cao primaria, e por <'onseguinte para vanla- gem certa de muito grande numero de desva- i lidos subditos de V. M., que se dignc man- dar adoptar a seguinte proposta: Projeclo de lei. i\ Art. 1. 0 conselho sujierior de instruc- cao piiblica escolhcr;i os com|)endios, que de- vem unifotmemente servir para o ensino das disciplinas da instru&uo primaria cm todas as esebolas piiblicas e iiarlicuiarcs de instruc- fao primaria, ou de primeiras letras de toda a monarcbia. Art. 2. Em nenbuma aula priblica ou particular de instrnccuo primaria ou de pri- meiras letras sera perraittido ensinar, senao pelos compendios designados pelo conselho superior de instruccao piiblica. Art. 3. Nao sera permiltido aos examina- dores inlerrogar os cxaminandos acerca de materia, que se nao ache tractada nos com- pendios adoplados para uso das esebolas na iorma dos arlt. 1 e 2. Art. 4. As camaras municipaes fornecc- rao annualmente os compendios adoplados para uso das esebolas de imlrvccao primaria, ou de primeiras letras, aos alumnos pobres, que provarcm com attcstados especiaes dos respectivos parochos e rcgedores, que os nao podem comprar a sua casta. Art. ii. 0 accrescimo de despesa, que, por este motivo, bouverem de fazer as cama- ras municipaes, sera abonado no seu orca- raento. Art. C. Pica revogada a legislacao era contrario. CAPITULO XIII. De como as camaras municipaes devem dar livros e compendios elemenlares, tractados de doutrina christa, laboadas, papel, pen- nas etc. aos alumnos pobres dos escliolas de instruccao primaria dos respectivos concelhos. 0 benefico pensamento, em que so origi- narara as diffcrentes provisoes, que tCm crea- do, e successivamente vao accrescentando o numero das cadeiras de instruccao primaria por todo 0 reino, pensamento verdadeiramen- ic csclarccido, nao alcancara de nenbuma 137 sorlo 0 fim, que tanlo imporla ao hem da socicdade, cm quanlo nao U'n auxiliado com alguma disposioao, em virtude do qiial as camaras municipacs scjaiii obrigadas a dar, C de feito dera annualmentc aos alumnos po- brcs e desvaiidos, livros o compendios cle- mcntaros, tractados de doutrina christa, ta- boadas, papel, pennas, pedras e la[iis. Esta despesa e insigniiicante, e comludo o sen resultado sera de grande alcance, nao so por- que lirara aos pacs dc familia, pohrcs, o pic- texto, que priiRi|]almonle allegam para nao mandar os tillios a eschola — a t'alta absoluta de meios, com que possam siihminiilrar-lhes aquclles objectos; mas taml)em faiii, que mui- lo grande numero de criancas infelizes pos- sam aproveitar-se do cnsino, que se llies deve, porem (jue na realidade Ihes esta vedado; pois ser- vado ; por quanto nao me fundo so na infor- luacao dos professores, c de outras pessoas dignas de credito, fundo-me lambem na mi- nha propria expericncia, adquirida nas visi- tas escholares, c no exame, por mini proprio feito, dos motives da pouca frequencia das cscholas dc iastruccao primaria. Senhorl a providcncia, que proponho, urge tanto mais, quanto que, sem ella, I'ora injusla a que icnho a honra de pedir a V. M. no capitulo seguinte, e que todavia e de neces- sidade conl'essada c indisputavcl. E dignc-se V. M. advcrlir, que nao pode oppor-se-mc nenhuma diivida razoavci; pois que o decrelo dc 21} dc dezembro de ISiiO, cap. 1, art. 2, niandaiido que os reparos na casa piihlica da eschola, e as mais desjiesas com a niobilia e costeamento indisppusavel para o exercido esrfiolur liqucm a cargo das camaras nuinici- paes, justitica de modo cabal esia minlia instanlissima reclamacao ; e 'a nieu ver, de tal modo, que nao julgo necessaria nova me- dida legislativa. Por estas razocs tenho a honra dc propor a V. M. a seguinte proposta: Projeeto de lei. Art. 1. As camaras niunlcipaes dc todo o reino faraodistribuir annualmente aos alumnos pobres das csciiolas de instrutcao primaria, dos respectivos concelhos, compendios clemen- tares de ieitura c de arithraetica, Iractados dc doutrina christa e de civilidade accom- modada a lodas as classes da sociedade, ta- boadas, traslados, papel, pennas, pedras c lapis. Art. 2. A despesa, feila para cste fim, sera incluida no orcamento das camaras mu- nicLpaes, e abonada pclos rcsi)cctivos conce- lhos de districio, em harmonia com o que .se aclia dcterminado no art. 2 do cap. 1." do dccreto de 20 dc dezembro de ISoO. CoiUintia. 0 Conselho Superior d'Instruccao Publica, desejando ouvir as opiniOcs dos lioinens coni- pelcntes, intoressados no progresso e lucllio- ramcnto da instrucfao jirimaria, antes de clevar a augusta prescnca de Sua Magestade um piano de reforma, que devera ser prepa- rado por todo o mez de novenibro immedia- lo, resolveu, em sessao de confcrencia geral de 31 d'outubro, que no Instilulo se desse [lublicidade as scguintcs bases preparadas so- bre trahajhos do governo, da caniara legisla- lativa, e do conselho, a lim de habilitar con- venientementc os bomens de letras, (|uc se dignarem tomar parte em uma discussao do mais subido intcresse nacional. — 0 sccrela- rio geral, Jose Antonio d'Amorim. Senhor: — A commissao de instruccao pii- hlica, tomando cm consideracao as diU'erenlcs propostas od'erccidas por algnns srs. depufa- dos, durante a discussao de bases para a re- forma da instrucciio primaria, e os projeclos apresenlados pelo governo, e pela commissao de instruccao publica, na sessao do anno proximo passado, tem a honra dc subnielter a vossa deliberacao, em conformidade da re- solucao lomada na sessao de 21 dc abril do corrente anno, as seguintes : BASES. I. A instruccao primaria sera divida em dois graos ; e sao ohriyutwias no 1 .° as seguin- tes materias: , L^r, eserever, e conlar, incluido o syslema metrico-decinial, religieo christa, c elcmentos de grammatica portugucza. Xo 2.°, alem d'estas, as disciplinas se- guintes: Grammatica portugucza, elemenfos de geo- metria practica, nocOes de geographia e hisio- ria geral e patria, principaes devcres c obri- gacocs do cidadao. Nocoes elementares de sciencias naturaes e de hygiene. II. Crear-se-hao successivamente lanlas escholas do 1." grau, quantas forem nccessa- rias, para que os alumnos nao scjam olirign- dos a andar mais de meia legua para freciuen- tar a.> respectivas aulas. III. Nas cidades e nas principaes rillas, todas as escholas serSo do 2.° grjiii. IV. Em todas as escholas de instruccao primaria, que tiverem mais de oitenta alumnos, nao chegando comtudo a cento e sessenta, liavera uni ajudanle. 138 V. 0 governo organizara imniotliatamen- te as iluas cscholas nnrmacs, cstaliolecidas pcio ilocrclo de 20 de seleiiibro de lS'i4, e seguidameiitc as mais ([ue jiilf;ar indispcnsa- veis, iiao cxcodcndo uiii por cada dislricio admiiiistrativo; e podeia concedcr prestaciJes lueiisaps ao uiimero de alumnos que for abso- lulameute necessario ((ue 'nellas se habilitcm para o niagislerio, prccedendo concurso para a sua admissao. VI. Nos districlos adniinistrativos, onde nao existe escliola normal, poderd o governo dar prcstacues mensacs a alguns alumnos que Irequentarem, dcbaixo das mesmas condirocs dos d'aciuoilas cscholas, alguns cstabelecimen- tos, ou escliolas de instrucfao primaria, tao completes c bem dirigidos, que 'nelles se pos- sam adquirir os coniiecimcntos e practica ne- cessaria para o niagislerio. VII. Serao creadas escholas nocturnas, e de domingos e dias festivos, para apcrfei- ("oamcnlo ou instruccao dos que nao podercm frequenlar as aulas durante o dia, ou nos dias de trabalho. YIII. 0 governo creara e organizara com a possivel hrevidade um ou mais cslabeleci- nienlos correccionaes de edueafao, onde se- jam recolhidos c cnsinados: 1.° Os alumnos das escholas piiblicas ou particulares, que pela sua indisciplina possara transtornar a ordcm e subordinajao nas respe- clivas aulas ; 2." Os mancebos que tiverem practicado actos criminosos, mas que os juizcs entendam que nao dcvem ser punidos com as penas ordiuarias, por falta das condijoes necessarias para a inipulaeao legal. 'i.' Os mancebos que, tendo practicado actos criminosos em cdade lal, que os juizes e aucloridadcs adminislrativas entendam que Ihes pode ainda aproveilar o ensino em esta- belecimentos correccionaes d'esta ordera. IX. 'Nestes estabelecimenlos, alem do en- sino religioso e litterario, os mancebos 'nelles recolhidos serao obrigadbs a aprender uma ou mais prolissOes industriaes. X. Os juizes sao auctorizados para com- mutarem as penas, a que deveriam ser cou- deranados os mancebos ate a edade de dezoito annos, em residencia, por tempo determina- do ou indeterminado , nos estabelcciraentos correccionaes, logo que estes estejam orga- nisados. XI. Em cada cabeca do concelho, pelo nienos, havera necessariamente uma escliola do sexo feminino; devendo o governo crear, alem d'estas, o maior numero que for possivel. XII. Em cada districto administrativo ha- vera uma eschola normal de mesiras de me- ninas, que sera collocada com preferencia nos convenlos ou collegios de religiosas exi- stentes, mas com instilutos apropriados para aquelle fim. XIII. Os bens que actualmente possuem OS convenlos de religiosas, dcpois de assegu- rada a com[ielente subsislencia das respecti- vas coiumuiiidados, serao applicados a dota- cao dos cslabelcciraenlos de educacao do sexo feminino ja existentes, e dos que de novo se crearem. XIY. 0 governo devcra promover a crea- (■iio das salas de asylo da iut'ancia desvalida, cm lodas as povoacOes, onde seja possivel esiabelecel-as, e prestar-llie todo o auxilio e proteccao. XV. 0 ensino primario continuani a ser obrigatorio nos ternios da Icgislacao vigeiite, salvo a perda dos dircilos polilicos XVI. 0 producto das niultas, eslabeleci- das na conformidade da base antecedente, sera applicado em benelicio das respcctivas escholas. XYII. Os alumnos de todas as escholas de instrucfao primaria do anibos os sexos sao obrigados a fazer exame das niaterias que tiverem esludado. XVIII. Nas capitaes dos districtos adnii- nistrativos havera exanies piiblicos para habi- lilacao para o niagislerio em duas epochas do anno. Estes exaraes seriio feitos pcrantc conimissoes nomeadas pelo governo. IIX. Os candidatos approvados 'nestes exaines serao providos nas cadeiras dos distri- ctos, onde tiverem sido cxaniinados, scm de- pendencia de novo exame, e somente em attencao ao seu maior nierilo moral e litterario. XX. Os alumnos das cscholas normaes, que tiverem 'nellas sido approvados, poderao cxer- cer 0 magisterio em qualquer parte do reino. XXI. Os exanies para niestras nao serao piiblicos. XXII. Os professorcs de instruccao pri- maria continuarao a ser exemplos dos dircilos de merc(5, c vencerao um ordenado, que neni excedera 200^000 reis, nem sera inferior a 120^000 reis. XXIII. Os ordenados das mestras nao excederao 100^000 reis, nem serao inferio- rcs a 60^000 reis. XXIV. A melhoria dos ordenados sera fixada pelo governo, segundo o grau do ensi- no, e as mais circumslancias de cada local. XXV. 0 minimo dos ordenados dos pro- fessorcs das escholas normaes sera de 300^000 reis, e o maximo 400^000 reis. XXVI. Aos professorcs das escholas no- ctnrnas, c de aperfeicoamcnlo, que tiverem algum venciraento por qualquer outro servi- fo publico, se arbitrara uma convenientc gratilicacao. XXYII. Os professorcs de instrucfao pri- maria, que complclarem Irinta e cinco annos de bom c effectivo scrvico, serao jubilados com 0 ordenado por inteiro, se assim o re- qucrercm. XXVIII. Uma parte de lodas as dcducjoes 139 por desconlo nos ordenados dos professorcs de instrucfao primaria sera privativamcnte applicada para urn nionte-pio liUerario, em beneficio dos individuos d'aquclla classe, que so inliabilitarem para o raagisterio, edas suas familias. XXIX. As camaras municipaes incunibe preparar o local para as escholas dos seus concelhos, e a mobiiia c mais objectos neccs- sarios para o servico das aulas. XXX. 0 governo auxiiiara as camaras municipaes, coneedendo-lhes para este lim edilicios, ou terrenos nacionaes, sem prcjuizo de oulros ramos do servico publico. XXXI. As irmandades e confrarias serao obrigadas a concorrer para a sustentayao das salas do asylo da infancia desvalida, c das escholas nocturnas, e de aperfeicoamento. XXXII. Os inspoctores da instruccao pri- maria cm cada dislricto visitarao annualmente a respcclivas escholas. XXXIII. 0 cargo de inspector dc instruc- cao e incompativel com o e,\ercicio ellectivo do Magisterio. XXXIY. A inspeccao de intrucjao prima- ria sera conveniontemente dotada para satis- fazer a todas as necessidades d'este rarao do servico publico. XXXV. Em todos os concelhos se orga- nizarao .coramissocs de benelicencia para au- xiliar as escholas e asylos cxistenles, ou que de novo se crearcm, e promover a sua fre- quencia, e aperfeicoamento. XXXVI. 0 governo desenvolvera as dis- posicOes da presente lei por meio dos compe- tentes regulamentos, codilicando tambcm lo- da a legislacao vigente sobre a instruccao primaria. Fica rcvogada toda a legislacao em con- trario. Sala da commissao de instruccao piiblica, em 10 do junho dc ISUI. — Antonio Jose d'Avda — Joaquim Gonralvcs Mamede — Jusli- «o Antonio de Freitas — A. F. de Macedo Pinto — Jose Maria de Abreu — Jose Teixeira de Queiroz — Julio Maximo d'Oliveira I'i- menkl (vencido quanto a inspeccao) — Jose Taoares de Macedo (com declarafjo). OS TROVADORES E SUAS OBRAS. Conlinuadd de paj. 130. Uraa multidao d'homens sem talento, con- demnados a obscuridadc e ao esquecimento, tanto pela nalurcza como pela forluna, lan- cavam-se 'numa carreira, cm cujo termo des- cobriara uma prespectiva mais lisongeira. Os chocarreiros, cujo mister era cantar os versos dos trovadores, aspiravara as vanta- gcns de uma outra profissao: a maior parte mesmo dos proprios trovadores tinham ape- nas uma ligeira tintura das letras, e alguns, niuito distinctos para a sua classe, vinham a ser modelos perigosos, quando o interessc ou a adulacao apreciava o merito de seus traba- ihos. Muilos, para dislinguir-se da multidao, alTectavam perigosos defeitos, que Ibes gran- geavam admiradores: uma combinarao de versos e rimas capaz de extinguir o logo do genio; uma obscuridade dc esiilo, em que ludo parccia enigmatico, sem excilar a menor curiosidade, cram titulos valiosos para obter 0 applauso publico. Assim OS progressos do gosto, ainda que notaveis a muitos respeitos, eram contraria- dos nao so pela geral ignorancia, mas tam- bcm por uma especie dc corrupcao, que nas- cia da cultura de uma arte sem princijiios. Todavia as obras dos trovadores sao pre- ciosas, por que 'nellas se cncontram mais bcm relractadas ao natural os costumes da epocha, do que era outro algum moniimcnto d'aquelles seculos. Os anligos chronistas, educados no seio das trevas, e dos prejuizos dos clauslros, nao sabiam por via de regra narrar senao vaga- mente os acontecimentos publicos mcsclados com boatos e ridiculas lendas populares. Os poelas, porem, eram naturalmente os pin- tores da socicdade. 0 que viam e ouviam; os usos, as opinioes e as paixoes dominantcs', eram, sem que os trovadores tivessem cm mira instruir a posteridade, o fundamento, e ornato de suas poesias. Enlre os antigos Uomero supre 'nesta parte os monumentos hisloricos; e suas proprias (iccOes sao fontes de verdade, que debalde procu'rariamos 'nou- tra parte; nos trovadores ha uma vantagem mais, porque seus generos de poesia, restrictos quasi semprc d vida commum, e aos objectos contemporaneos, tornam salientc o desenho de suas pinturas, e deixam tirar melhor as con- sequencias. Ye-sc alii cssa ardcnle e impcluosa bravura, que ainda characterisava as nacocs; que Ihcs fazia respirar os combatcs como os prazeres, e que tornava o barbaro dircito da espada o pri- meiro dircito da nalureza: cssa prodigalidade dos senhores castellocs crigida cm virtnde es- sencial da sua classe, tao jiouco delicada nos meios de adquirir como nos de dissipar; nao se pejando de accumular rapinas para ador- nar-sc com ruinosa ostentacao. — Ye-se esse espirito de indepcndencia, que levava apos de si aanarchia, ruprcsentando, as vezes por inte- ressc, 0 humilde corlez5o pa pel de simples, mas prompto semprc a levanlar-se com audaci'a, se era cxcitado por algum acontccimento ; es^sa rude mas varonil franqueza, que exprobava aos grandes como aos pequcnos os vicios ou os defeitos das pessoas ou das cousas. — Nota-se alii a ccga superslicao, alimentando-se de 140 absurdos c loucuras, sacrificando a seus fan- tasiuas a razao, a liunianidadc e atii o proprio Dcus; ultrajando o EiUc Supremo com as ho- menagens ([ue llie tribulava a despoito das leis por elle cstabeleeidas, e siibministrando com seus excossos armas a impiedade; a ignorancia e t'anatismo d'um cicro vie ioso ; a pelulancia dn uma nobreza iiiquieta e indo- raavel; a actividade e arrojo do iim povo, (|iic sabia da cscravidao; os vicios ainda iiiais que as virtudos dos boraens de lodas as classes, domiiiadas ainda pela barbaria dos roslumcs, ou que comecavam a illiistrar-se com falsas lazes. — Hcconbece-se cm Iim nes- scs cscriplos dos trovadores o systema e ordem da eavallaria com todo o seu descnvolvimen- lo. seus cxercicios e seus jogos; com suas re- gras e costumes de ordinario conlrarlos a moral; e sobre tudo essa famosa galanlcria, que chegou a ser iim dos principaes moveis (la sociedade, e que por isso e mister conhe- cer mais a fundo. A historia de todos os tempos attesta a vcneracao, em que as mulheres cram tidas pelos povos do Dorte. Esto sentimenlo mais ou menos vivo era commum a lodas as na- cOes Celticas, entrc as quaes llguravam os Germanos, os Escandinavos, e ainda os Esci- tas; tanto c certo, que a similhanca de costu- mes nem sempre prova a idenlidade de ori- gem. Estes povos ferozes, ciija sensibiiidade esta- va mui longe da que rcina nos paizes arden- tes, tributavara todavia uma especio de culto a mullier, que 'noutras partes se achava redu- zida a dura escravidao. Viam 'nella uma cspe- cie de divindade; davara-lhe a auctoridade dos oraculos ; e o imperio da belleza se lirma- va no coracao d'aquelles povos por uma con- iianca religiosa. Ou fosse por efl'eito d'cssa lorja de imaginacao, que torna as mulheres tao susceptiveis de extraordinarias commo- coes, e que ora as arrebala de enthusiasmo, ora as submerge em deiiciosa contemplacao ; ou fosse por essa linissima sagacidade que ainda sem estar exercitada, as faz penetrar o .segredo dos coracOes ; cortar rapidamcnte de um goipe 0 no das inlrigas e dos negocios, e liar ao bomera inexperados couselhos, supe- rioros ao fructo de suas pausadas nicditacoes; ou ja por essa disercla insinuacao com que as gracas subjugam a forja, e a docura trium- pha da ferocidade: ou ja finalmente porque todas estas causas e oulras mais reunidas con- corressem para o mesmo effeito, e incontesta- vel a extraordinaria influencia d'este facto nos costumes publicos, e no feliz-resultado das mais brilhantes emprezas. I'ara alcancar a bcllcza que idolatrava, ti- niia 0 gucrrciro em pouco as fadigas dos com- bates, as I'eridas e a propria morle. Os despo- jos dc um inimigo immolado por suas maos, liaviam de acompanbar as pretencOes amoro- sas, vindo era apoio das supplicas do oxtrc- mado cavalleiro, conio tributo de sua adraira- cao. As ideas de amor e valor parcciam insB- paraveis; e o poeta conl'uude-as, cantando os heroes, ou excilando-os ao hcroismo. Quantas vczcs nao dcram as mulheres brilhantes exem- plos do valor, qua ellas proprias inspiravam? Quantas se nao associaram aos porigos e tra- balhos das mais ousadas cxpedicOes? Quantas em Iim cm tcmerosos cncontros nao preferiram a morle a entrcgar-se ao inimigo vcncedor? Quando os costumes piiblicos tdm tornado na sua origem uma tao determinada direcfao, OS seus vestigios nao se apagam apezar das vicissitudes do volver dos seculos: nao 6 por isso para estranbar, que os I'rovencaes con- servassem os mesmos senlimcntos de rcspeito para com a mulber. A eavallaria nao creou pois um novo systema, nao fez mais que ampliar e polir o antigo, E sabido, que a guerra, o amor c a reli- giao formavam a base d'aquclla notavel insti- tuicao : por mui devotos, porcm, que fossem n'aquellas eras os grandes senbores, e o po- vo, e ainda quo as ideas religiosas bera ou mal cntendidas se cnvolviam cm todos os negocios do seculo. a guerra e o amor, estas paixOes tiio poderosas, e tao azadas para commover a alma pelos scntidos, deviam ge- ralmente supplantar os objectos invisiveis, que fallavara so ao pensaraento para a feliei- dade de uma outra vida. Suas devocoes, co- mo scu fanatismo nao desviavam um apice aquclles heroes de respirar o halito sangrenlo da guerra, nem de servir constantemente as suas bellas com muito niaior fervor, que ao seu Deus. Consagrar coracao e scrvicos a dama de seus pensamentos; viver exdusivamente para ella; aspirar so por ella a gloria das armas, e da virtude; admirar suas perfcicoes, e tor- nal-a o alvo da admiracao piiblica; ambicio- nar o titulo de seu cavalheiro servente, dc seu escravo ; e, cm recompensa de tanto amor, de tantos esforcos, julgar-se diloso, se ella se dignava-se aceilar-lh'os; cm uma ])alavra ser- vir a sua dama como a uma cspecie de divin- dade, cujos favores so podem ser o premio dos mais nobres sentimciitos; divindade que so se ama com respeito, que so se revcrencia com amor; cis um dos principaes deveres de todo 0 cavalleiro, ou d'aquelle, que aspirava a sel-o. Com tal systema d'amor nao podia deixar de cxaltar-se a phantasia, e assim ao mesmo tempo que elle creava heroes, fazia renascer todas as loucuras da mythologia. Se a galanteria rcinou na sociedade civil, nao ]vouco contrihuiram os trovadores para cngrandecer o seu imperio e a cclebridade de seus triuraphos. Quasi todos se dedicaram ao culto das damas; uns por sentimento, outros por osteniafao, e muilos per inleresses J4I porquc era o caniiiilio da fortuna; e as da- iiias, anciosas do urn inccnso, que parecia eternizar sous cncanlos, nao deixavam de favorccer o poela adorador. A paixao c a lisonja coiicorreram egual- nieiite para cxaltar a fama do paruaso pro- venjal. Quanto, porem, distava o amor n'aquclles ditosos tempos da cavallaria, do eslado cm que 0 imaginaram alguns auctores de oulros tempos, que se jiilgaram raeiios felizes, por serem mais modernos?! Sc a historia nao atlestasse a desordem e licenca dos costumes, as obras dos trovadores olTereceriam multi- plicadas e inconteslaveis provas d'esse facto. Entrc alguns exomplos de um puro amor, sujeilo as leis do pudor e aos deveres da moral, encontram-sc mil rasgos de escanda- losa libertinageni; os scnlidos so apoderan- do-se do coracao; a le conjugal fre(|uente e impudicamcnte violada; as vezes 03 costumes ultrajados com cynica indecencia ; em lim os mesmos vieios dc epoclias mais remotas, ainda que menos disfarcados debaixo de honestas apparencias. D'aqui nascerara as salyras com que mui- tos d'aqueiies poetas, exaltando os tempos passados, bem dignos de censura, pintam com mui sombrias cores os excessos de seus contemporaneos ; tanlo e natural a exaggera- fSo das antigas virtudes para criticar com mais azedume os vieios prcsentes. X indulgencia, porem, para com os mortos nao deve fazcr-nos injuslos para com os vivos; elogiemos 0 que 'nesles havia digno de lou- vor, rcconhecendo ao mesmo tempo, 0 que aquelles tiveram de niau. 0 valor, cavalhei- rismo, e os galanteios d'aqucUes tempos eram frequentemente obscurecidos pelos mais gros- seiros vieios , inherentes ao estado inforrae d'aquella sociedade ; e no meio dos nossos refinados vieios brilham ainda eminentes vir- tudes, que a melhor cultura dos costumes, e 0 imperio da razao devem mulliplicar e aper- feifoar no future. La Rev, Universilaria. ARREDORES DE COIRIBRA'. Y. Pcncdo da Kaudndc -'. Enlre a folha^em densa acastellado, Horizonle, que basta aos ullius meus, Alli vou encoiitrar, d'alli sozinho Contemplo o valle, e o rio, e o bosqiie, e os ceus. LAMARTI.NE, ■ -Com este poelico nome condecorou 0 mais ' Veja-se o n.° 13 do Instiluto — vol. IV, e os n.»' 3, 8, 11 do mesmo jornal — vol V. * Penedo das Saudadea escreveu Francisco Rodrigues formoso, e aracno sitio de Coimbra o infeliz amantc dc D. Ignez de Castro, o princine D. Pedro'. Sobranceiro a um extcnso valle, povoado de espesso olivedo, e alvas casinhas, enlesta com a graciosa quinla da Boa Visia, com a das Yarandas, e Arregaca, e descobre, entre .S'. Jortje, c Villa Franca, a braiida c'orreute do placido Mondego. Fica-Ihe proxima a fonle do Cidral, memo- ravel pela frescura, e abundaucia de suas aguas, e mais distanle, e quasi de fronte, a celebrada fonte do Caslanlieiro^, onde, 'na madrugada do dia de S. Joao, concorrem', em festivos descantcs, numerosos romoiros. Todos OS dias visitam os cstudantes esta deleilosa estancia, consagrada ao mais terno senliraento, que so a lingua portugueza logra e.\primii: per termo adequado ' : ;i:..,l.,,„ ,, „!. Saudade ! 'Maviosft nome, que tam meigo soas IVos liisilanos labios, nao sabido Uas orgulhosas boccas dos Sjcambros D'eslas alheias terras'. Aqui, 'neste famoso assenlo, vera espairecer 0 espirito, divertindo os olhos por tao dila- tados horisontes, contemplando tao risonhos quadros. Aqui passam algumas d'essas boras subsces- sivas, que tanto lembram depois ao regressar a patria '. E nao sei, que fragrancia vaga de melan- cholica poesia se respira 'nesle sitio, que raro e 0 poeta, que, visitando-o, nao o cclcbrc em seus canlares ; E d'elle inda ronfiam mil amanles Brandos queixumes, com que amor exulta'. K. DE GUS.M.iO. Lobo na sua Primaiera — floresla terceira ; Penedo das Saudades escreveu tambem Diiarte Ilibeiro de Macedu nas suas Obrns metricas ; pore'm Duniin^ros Maximiano Torres (Alfeno Cynlhio), aMalhao, SeabTa, e outros puelas modernos, escrevem Pened'i da Saudade. ' Bellezas de Coimbra — cap. XXIIl — pag. 142. * Veja-se a mimosa poesia — A fonle do Caslanhei- ro , — qne o sr. dr. Francisco de Castro Freire pu- blicou no Trovadiir ^— fa'f. 215; e outra nao menos mimosa Abnira e Felizeo, on a [ante do Castanheiro — Melamnrph«se — for Manuel Ferreira de Sealira — -pnblicada na Revista Academica — n." 7. " II S(5 o portuguez com a unica palavra saudade sabe exprimir com muilo maior for^a e energia a cunstancia do amor ausentc. >i — Castro — Mappa de Portugal — Parte 1.' — cap. XIII. » Camoes — Pelo Visconde de Almeida Garrett — canto primeiro — e nota A. * Coimbra — (Recorda^Ses) — Pelo sr. J. de Lemos. * Anfriso, ou o Penedo da Saudade — metamorphose — por Manuel Ferreira de Seabra — Jornal de Coimbra — D." 36 — Parle II — pag. 264. 142 TRATAMENTO DAS VINHAS COM ENXOFRE. C"oiUiiiuaJu do pHg. ll'.l. II. Applicufao do enrofre. A aspersao com a llor d'enxol'rc deve repe- tir-se duas, troz e o maxiino qualro vozcs, se- f;uiido as diversas variedadcs de videiras, e a iiiaior ou menor inlensidade da moleslia. Oiiaiulo 0 oidium torn atai'ado levemcnte, pelo racado dejunho, as ccpas « varas, nao e (iidinariaraentc neccssario applicar-lhes mais (ic uma vcz a flor d'enxol're. 'Num grande nii- iiicro de casos a operacao duas vezes repetida (la um rcsullado satisfactorio. A vcgetarao tor- iia-sc excellcnlc, as uvas cresccm com vigor, (' tocam a madureza, seni que a inolestia as acometia de novo. Nas vinhas onde a molestia comera a apparecer logo na primavera, invadin- do as cepas c os gomos com forca, e indispcn- savel applicar-lhes o enxofre ate trez vezes ; 0 ponto, porem, essencial para o bom resuilado da operacao esla , em applieal-o na epocha propria, e no momcnto dado, que piWIc variar porassimdizeremcadavinha, ecracadacepa ; e 6 seguraraente por se nao ler allendido bem a estas e outras circunstancias, que o remedio nem sempre tem leito dcsapparecer o mal, dando assira logar a incerteza, cm que ainda laboram muitos agronomos distinctos sobre a eflicacia d'esse remedio. A. flor d'enxofre deve applicar-se no me- mento cm que a molestia comeca a apparecer nas ccpas, porque, se o oidium chega a apo- derar-se da vinha, nao e possivel exlinguil-o compk'tamente ; em ccrtas ccpas os caclios serao complctamente destruidos , 'noutras se lornarao denegridos , e na epocha da madu- reza a cuticula fende-sri e arregoa, inutilisan- do-se completamente. Para conhecer, porem, a occasiao propria, cm que deve comecar-se a operacao, e ncccs- saria uma longa praclica. A epocha, em que a molestia principia a invadir as primeiras cepas, varia, como ja dissemos, segundo a qualidade das videiras, e as condicoes meteorologicas de cada anno. Em geral a molestia comeca em abril, e vai augmentando no mez seguinte sobre as cepas, pollegares, e gomos; e e entao indispensavel sacriiicar todo.s os renovos e applicar immedia- lamenle as videiras o enxofre; os renovos ar- rancados poderiam curar-se, mas a alteraciio que a nioicstia tern produzido 'nelles e lal, que iicariam sempre delinhados, e o fruclo seria de ma qualidade. Se 'nesla epocha (maio) nao sobrevcm chu- vas , c que a flor d'enxofre applicada sobre as videiras abi permancce exposia ao sol por algumas boras; ou nao c levada pelas chuvas nas primeiras 48 boras, o remedio deve pro- diizir 0 devido cITeilo, (lue sii se conbece nuiilos dias dcpois ; os gommos atacados perdem en- tao 0 chciro ao bolor, que e characteristico do oidium c um dos signaes da molestia : as manchas brancas das follias tomam-sc cinzen- las. e 0 p6, (jue as envolvia, desapparecc. A molestia pode entfio julgar-se cxtincta ; c OS gomos cresccm mui vigorosos ; 6 prociso, porem, cxaminal-os com attencao ao cabo de trez semanas; se no rcvcrso e nos rccortcs das folhas mais novas se descobrem mancbas bran* cas, c signal de que a molestia torna a ap- parecer, e e necessario repetir a aspersao da flor d'enxofre por tempo cncbuto, como da primeira vez. Deve continuar a obscrvar-se o cffcito do remedio, passadas trez semanas, e repetir ter- ceira, e ate quarta vez, o mesmo proccsso, se assim for necessario. Applicando o enxofre depois do mcado de julbo duas ou trez vezes, cscusado sera reno- var a operacao, porque a colbeita podc repu- tar-se salva. 'Nalgumas variedadcs de videiras a molestia nao se declara antes dos fins de maio; 'nesta epoca as folhas amarcllecem, e encarquilhara- se, aprcsentando tambem as manchas brancas. A flor d'enxofre applicada pelo proccsso, que deixamos indicado, produz excellentes re- sultados. Ao cabo de oito ou dez dias as videi- ras tornam a apresentar a sua cor verde natu- ral, eas manchas brancas na extrcmidade das folhas, ou dos caches desappareccm. Por vinte ou trinta dias a molestia cessa de todo, segundo o tempo corre mais ou me- nosfavoravel; passado esteperiodo, os signaes de uma nova invasao comecam a manil'estar- se ; OS tcnros pampanos das parras amarelle- cem, e no reverse cobrem-se de manchas bran- cas , que atacam tambem alguns bagos dos caches. 'Nestas circumstancias deve repetir-se logo a aspersao de enxofre, porque, se esta opera- cao se demora muito, as folhas tornam-se cada vez mais amarellas, cncarquilbam-se ; novos renovos de folhas pclisecas e encarquilhadas rchentam ao longo da vara, o que e signal tao characteristico da molestia, como o cheiro do bolor ; finalmente as manchas br^incas des caches envelvem-nos completamente, e tor- nam-se cinzentas, e chegando a este estade, nao c possivel fazer dcsapparecer de todo nos cacbos OS signaes da melcslia, ainda que esta pnssa curar-se, porque a uva ja eniao tem sulTrido alguma altcracao, e de ordinario a cuticula leude-se na epocha da maturacae. E eis-aqui porque se deve applicar o enxofre, logo que apparecem es primciros signaes do mal repetindo-se a operacao de eito em oito dias, sobre todas as partes vcrdes da planta. Ouando a flor d'enxofre se applicou, logo que appareceram os primeires iudicies da molestia, 143 ale ao meado de julho, e escusado repettir ma is a opcracao. Ha algunias varicdades de videiras que, scndo atacadas pelo oidium, apresentam ano- raaiJas notaveis : A. molestia manifcsla-sc or- dinariamenle na epocha da Uoresccncia pcla araarellidao dos panipanos e pelas manclias es- hranquigadas nas folhas e parlicularnicnte no seu recorle ; os caches lanto antes, como de- pois da floresocncia cobrem-se de p6 do oiditim. . Dados cstes priineiros symploraas, deve ap- plicar-se logo a cnxofragem ; toda a demora e prejudicial, por(|ue a molestia toma repen- tinaniente uma nova c tcrrivel forma : a ve- gctacao das cepas suspcndo-se ; a foiha lorna- se arroxeada, seca, e cae ; o fructo seca tam- bera, ou se atrophia, e muitas vezcs continiia a cobrir-se lentamenle do po cinzcnto ; os bagos separam-sc uns dos outros ou ficam tao pequenos, que apenas se v6 o cngaro. Esta forma especial da molestia e conhc- cida hoje com o nome de arroxeado — rovget, queecomludo diHerentc da alTeccao conhecida entre os vinhateiros com aquclle mesmo norac. 0 arroxeado, que se segue ao o'idium, e uma consequcncia d'esle, e nao chega a m,anifes- tar-se, quando a enxofragem tern sido applica- da logo no comeco da invasao do o'/dium. 0 arroxeado faz os sous maiores estragos, quando os calores sao raais intensos, desde 13 de julbo ate IS de agosto. De todas as formas da molestia esta e a mais fatal, e cujos ef- feilos sao mais dcstruidores. 0 cnxofre applicado 'num anno nao e urn preservalivo infalivel da molestia para os annos seguintes ; mas e simplesmente urn agente por excellencia destruidor do o'idium, que morre, posto em contacto com elle : a acyao do cnxofre e simplesmente curativa, e como lal OS seus hons elVeitos nao podom hoje constestar-se a face das nuracrosas experien- cias feitas em diversos paizcs vinhateiros, e actorisada ja pela practica entre nos. 1. a. DE ABREU. INOTICIARIO." Necroiosio Kcieniirieo. Na mesma se- mana a Inglaterra e a Franja perderara dois dos mais illustres geologos da cpocha actual, 0 doutor Buckland, e M. Constant Prevost. 0 Dr. Buckland morreu a 14, e Constant Prevost a 16 dc agosto; o primeiro contava ■72, e 0 scgundo 70 annos de edade. Buckland obteve em 1801 um logar dc pensionista no collegio de Corpus Chrisli de Oxford, c recebcu o grau de bacharel em artes em 1803. 'Nesla epocha Oxford nao era nolave! pelo cstudo das sciencias naluracs, apezar de pos- suir cadeiras de bolanica, cliimica e minera- logia. Buckland tinha uma dccidida inclina(;ao pela mineralogia , do quo foi professor 'na- <|uella universidade em 1813, e posleriormente passou para a cadoira de geologia , a cujos estudos elle dera um grande im])ulso. Em 1820 Buckland leu peranto a univer- sidade de Oxford um discurso com o titulo — Vindiciae geoloyicae, em que tractava das rc- lacOes entre a religiSo e a geologia, mostran- do que entre as obras c a palavra de Deus nao pode haver opposi^ao, e que a influencia do estudo das sciencias naluracs, longe de abrir ocaminho para o atheismo, e para a irreligiao, conduzia infalivclmenic ao conheci- mento de Deus e das suas obras. 'Nesta epocha Buckland defendia ainda a tradicao do di- iuvio universal; em 1836, porem, na sua obra sobre a yeologia e a mineralogia amsideradu^ de baixo do jionlo de visla da religido natu- ral, adoptou a opiniao de Lyell e d'outros geo- logos modernos. As Reliquiae diluvianae e outra obra mui nolavel d'esle sabio goologo, alcm de muitas memorias e dissertacoespublicadas em diversos jornaes scientificos. Era 1825 0 doutor Buckland acceitou o curato de Stoke-Gharity proximo de Whit- church, e no mesmo anno foi nomcado conego da cathedral de Christ-Church. Em 1847 foi nomeado administrador do Museu britanico, onde augmcntou muito as colleccOes geolo- gicas e mincralogicas. Em 1845 tinha sido nomeado deao de Westminster. Constant Prevost desde a sua mocidade mos- trara grande paixao pelo estudo das sciencias, e sacrilicara pela sua cultura as vantagens e interesses ligados as mais nobres tradicOes de uma familia illustrc. Discipulo de Cuvicr, Dumeril, c Brogniart, associado depois aos seus trabalhos , c pos- leriormente intimo amigo e collaborador de Blainville, SI. Prevost hesilara primeiro entre a geologia c a historia natural, decidindo-se a tinal por aquelhi sriencia, a que e.xclusiva- mente se dedicou no decurso dos seus eslu- dos. As suas observacOes sobre os terrenos ter- ciarios de Vienna, e os secundarios da Nor- mandia foram um assignalado servico para a sciencia. Persuadido que lodos os phenomcnos na- luracs do gloho se ligam sem interrupcao aos das cpochas geologicas anteriores, M. Prevost desinvolvcu em muitas obras importantes esta doutrina, separando-se assim das tradicocs da eschola geologica de seus primeiros mestres. e abrindo um novo caminbo as mais impor- tantes descoberlas. Mr. Desprelz communicou d Academia das 144 sciencias na scssSo dc 26 de agosto a prema- tura morte de Mr. Gerhardt com cslas senli- das exprcssOcs: (I En lenlio a dor dc anminciar a Academia a morte de um dos sous mais jovcns e actives correspondentes , M. Gerhardt, professor na I'aculdade das sciencias, e na eschola de phar- macia de Slrasi)urgo. I. Mr. Gerhardt era rcputado pclos honiens mais com]ielentes corao um dos mais sabios chimicos da Europa. II Gerhardt teve a sorte do seu desgracado araigo e coHahorador M. Laurent. Foi rouha- do ii sciencia no vigor do talento, qnando tractava de dar a ultima demao a publicacao do uma obra mui extensa e completa sobre a chimiea organica. » O jnrtlim dnn plniitns (Ic Paria. A riquczu de aniniaes raros e curiosos e hoje maior que nunca 'ncste estabelecimento, sc- gundo diz o Bulletin de Paris ; existem actual- raente alii onzc leoes, duas hyenas, um tigre real, duas panlheras, um oulot, scle ursos, um guepard, duas vaccas sem pontas, sele r/acks, trez bufalos, trez girafas, um ciefante, dois bippopotamos, treze zebras, camelos Iha- mas do Peru, apagas, um tapirete, javalis, antilopes, gazellas, etc. e uma riquissinia col- leccao de aves vivas, quatro grandes condors, aguias, abestruzes. Entre os macacos admira- se 0 grande Ctiimpame, um dos individuos mais raros d'esta familia. tioio anioricnno, 0 gelo e na America \im objccto de commercio cada vez mais im- porlante, c cujo principal centro e Boston ; o total da exportacao em 1S55 foi de 130 mil toneladas, ou irezentos mil kilogrammas. Os dois tcrcos d'esta enorme porrao do gelo foram consumidos nas provincias do sul dos Estados i'nidos ; o ouiro terco foi transportado para a America do sul e Indias occidentaos. 0 consumo do gelo nas principacs cidades da America do norte foi calculado do scguinte modo: Boston, scssenta mil toneladas; Nova York, trezentas mil; Philadelphia, duzentas mil; Ballimore, quarenta e cinco mil; Was- hington, vinte mil ; Charleston, quinze mil ; Nova Orleans, quarenta mil; S. Luiz, vinte cinco mil ; Cincinnati, vinte cinco mil. OI>>>cr«astruc(;ao pniUARiA. : Antonio Cezt^rio Correa, para professor teniporario da cadeira de Mouriscas, districto de Santarem. Bernardino Jose Ignacio Pmheiro de Sena, para dictu de PuiizaroUes, districto da Guarda. Juiio dos Sanctos de Sousa Cordeiro, para dicto de Izeda, districto de Bragan^a, Anlonio Caelano Moreira Pinio da Veiga, para dicto de Povoa de Varziin, districto du Porto. Joilo Maria Pessoa Godiiiho, para dicto de Taveiro, districto de Coimbra. Jojlo Marques Raphael, para dicto de Sei^a, dis- trico de Santarem. Joao Theudoro da Silva Ribeiro, para dicto da Zibreira, districto de Caslello Branco, Luiz Del^ado Ribeiru da Silva, para diclo da Pe- riiclia, districto de Santarem. INIanuel Marques d'Oliveira, para dicto de Sellir de Matter, districto de Leiria. Thomazia Emilia Monteiro Ma^alhaes Pinto, para mestra de meniiias da villa de Yallon/^o, districto do Porto. Matilda Jose da Silva Pinto, para dicta de Villa do Coiide, Juse Candido Gomes d'Oliveira Vidal, para profes- sor vilalicio da villa d'lliiavo, districto d'Avelro, por decreto de 27 d'agosto ultimo. INSTRUC^AQ SECUNDARIA. Joaquim Adrlano, para guarda do Museu Porluense, por decreto de 20 d'agosto ulliuio. Jose Maria Gomes d'Abrcu, para professor vitalicio »o imamentc de simples ordem do admi- nistrador do confcliio. Os paes de familia, que nao niandarem os sous lillios a eschoia, e que nao vifriarem a sua eU'ecliva frequencia, vcnJo-se assim mullados inc.xoraveimente, prefcrirao sem diivida satisfazer ao preceito da lei; sohre tudo se a auctoridade administra- tiva, na niesma occasiiio de lazer eflcctiva a mulla, llics (izer senlir a conveniencia geral, e mais ainda a utilidade, d'elles paes e lillios, de se liahilitarcm com a inslruccao, ([ue a UDs c oulros a sotiedade proporciona tao fa- cil e benignamente. Nao e esle o logar pro- prio de enlrar na deduzida justiticacao da providencia proposta ; mas sim lao somente de a aprcsenlar como resultado conscicneioso de aniadurecidas consideracOes sobre liio im- portante assunipto. Alem de que, Y. M. sabe, que se estii praclicando assim em paizes so- bremaneira esclarccidos; e que e materia ja entrc nos Icgislada, poslo que sem execucao, como por inlortunio em lantas outras cousas nos acontoce. Eslas consideracOes merccerao de cerlo a allencao ije Y. M. ; porcm maior a merecerao ainda, sc V. M. se dignar \olver ollios rclle- clidos sobre o majqia juncto, d'onde se depre- hende, que de ordinario beam sem neubuma inslruccao litteraria, 'nesia capital, e distri- cto, approximadamente Ui:C02 criancas, de ambos OS sexos, de edade de 7 a 12 annos. Os rabulos, a que me reliro, sao fruclo de muito trabalho, porque me vi na necessi- dade de mendigar informacOes particulares, mas autbenticas, de cada um dos reverendos parocbos d'cste districlo, para o que pedi auctorisacao (|ue benevolamente me foi con- cedida, ao emn.° e r."" Cardeal Patriarcha; foram alem d'issoexaminados escrupulosamcn- te OS mappas, e inl'ormacoes oflkiaes dos pro- fessores pubiicos, e |>articulares ; oegualmonte se tiveram cm conta outr'>s elementos suffi- oientcmente qualilicados. Entrelanto com I'ran- queza dirci, que nao conbo ainda, como dc- sejava poder conliar, 'neste trabalho, e que desde ja medito os meios de o levar a muito maior perleicao; porem ser\c desde ja, para tirar-se com seguranca a infereneia, que mais deve importar, isto e, que lica sem nenhuma inslruccao muito maior numero de criancas de 7 a 12 annos de edade, do (|ue e o nume- ro dos (jue frequenlam as escbolas publicas, pois que e, provavelmenle, um numero egual ao d'eslas, e mais o terco. Em conseqiiencia tenlio a honra de propdr a Y. iM., pedindo que seja convertida em lei, a seguinle projiosta : Projeclo de lei. Art. 1. 0 pae de familia, ou quem suas vezes lizer, que nao mandar sens filhos, alumnos, ou tutorados, a escbola piiblica da I'reguezia da sua residencia, ou mais proxima, logo que tcnham completado seis annos de edade, pagani de mulla 230 reis. S. nnko. Quando convier ao pae de fa- milia, ou a quem suas vezes fizer, mandar o lillio, alumno, ou tutorado, a outra escbola, que nao seja a da freguezia da propria resi- dencia, ou mais proxima, assim o fara conslar ao administrador do bairro ou concelho, pe- rante o qual provara com documento compe- tenle, que sen lilho, alumno, ou tutorado, fre- quenta a escbola, que for declarada. Art. 2. Se o pae de familia, ou quem suas vezes fizer, depois de ler pago uma vez a mulla eslabelecida no art. 1, reincidir, pa- gani mnlta dobrada, isto e, BOO reis. Se liver logar terceira reincidencia, sera julgado cor- reccionalmenle, c aggravada a mulla a pru- dente arbitrio do juiz. Isto se praclicara por lantas, quantas vezes as rcincidencias se re- pelirem. Art. 3. Eslas mnllas serao cobradas pelo regcdor da freguezia em virtude de mera or- dem do administrador do bairro ou concelho. Art. i. 0 administrador de bairro, ou concelho, sob sua responsabilidade pessoal, investigara por via dos regedores das fregue- zias, cabos de policia, e por outra qualquer via, que julgar conveniente, quaes sao os paes de familia, ou pessoas, que suas vezes (izercm, infraclores d'esla prescripcao, as quaes a multa deve ser imposta. Art. 5. 0 producto das multas estabele- cidas, e mencionadas nos arlt. antecedenles serii arrecadado pela respectiva camara, a qual dara contas d'elle; sera incluido no seu orcamento da rcceila ; e sera apjilicado as despesas a lazer com os soccorros prestados aos alumnos pobres da inslruccao primaria. Art. G. Fica revogada a legislacao em contrario. CAPITULO XY. De como pede a equidade, que se de' um auri- lio pecuniario aos professores de inslruccao jirimaria , que leccionarem e/fectivamente mais de 100 discipulos. 0 decrelo de 20 de setembro de 18i4 no §. uHi'co do art. 26 estabelecc uma gratibca- 1 jao annual de 10^000 reis aos profossorcs de in,stiuci"ao |iriinaiia, d'um, e outio scxo, que liverem mais dc 00 disci[)ulos na cidade de Lisboa e cm algumas outras lidades, das quaes nao tracio, porque iiao nie coiupcle orcupar-nie agora seniio somentc do quo diz lespeilo ao dislricto liltorario a incu cargo. Esta providencia c I'undada em nianilVsla cquidade ; porque nao so crcscc o trahallio com 0 augmenlo dos discipulos, pori'm cres- cem taniliem as despezas dos prolessores com a maior renda da casa, niol)ilia, limpoza, c outros obji'clos. Sondo assim, conio nao pode dispular-se, lorna-se decvidencia ijuc, (juan- do 0 nunuTO dos discijiulos subir muilo aleni de 00, por idonlica razao a que Ibc asscgura a gralilicncao de lO,j)(IOO reis annuaes, se de- ve conceder aos prolessores niais avultada gra- tiricacao. E na verdade em Lisboa ba proles- sores, e nao poucos, ((ue leni muilo mais de 100 discipulos, e tarabem os ha, que tern para cinia de liiO. E manifesto, que os pro- fessores, assim frequentados, eslao sujeitos a grande augmenlo de despesa, poique so [lor prtco muilo alio se pode aiugar casa em Lis- boa, onde baja sala com a capacidade suUi- cienle para conter, sem grande incommodo, tao crescido numero de discipulos, licando suflicienle espaco para os cxcrcicios escriplos. E quanlo nao se aggrava o Irabaliio i- no seja o mais approvado? So o nao aprecia- ra devidamenle quern dc todo o ponlo ignorar as grandes diiriculdades, de que se acba ro- deado o professor de insiruccao primaria para podcr regular as classes, o lempo, e as male- rias do ensino; difliculdades, algumas das quaes todavia, a haverem de ser removidas, afngenlar-se-liia de frequencia lalvez a nniior parle dos discipulos; porcpie os paes, e tulo- rcs gcralmenle, nao (piereui prender a insiruc- cao dos sens tilbos, ou pupillos, nem a epo- chas determinadas dc malricula, nem a boras cerlas de licao, nem a uniformidade dos com- pendios, elc, etc. Se porvenlura se prelendesse acabar com taes Iropecos e diQiculdades, seria o remedio peior, do que a doenca, pois que dimiiiuiria notavelmenle o numero dos discipulos, e mais se circurascrevcria a ja lao circumscripta dil- fusao da insiruccao menos dispeusavel, conio e a primaria. Alem d'islo a providencia ajludida, que se eslabelece no citado §. unico do art. 2(J, tao fundada, e de lanta cquidade, lornar-se-bia, de algunia maneira, relalivamente injusta, porque cgualaria o Irabalbo, despesa, e vexa- me dos professores dc CO discipulos ao ve\a- nie, despesa, e Irabalbo dos professores de mais de 100, 120, ou 140 discipulos. E note-se, que nao e a so um professor, que tern acontecido ver-se na precisao de I'echar a porta a discipulos, que se apresen- tam por nao cabcrem ja na fala deslinada aos cxcrcicios escliolares. E nao se diga, que a culpa c do professor, porque, para dimi- nuir dcspcsas, aluga casa impropria, e aca- nbada. Nao e assim, por que lacs factos se leni dado com professores, que pagani i;!§200, iii^OOO, e iS^OOO reis de rendu de casa; mas que nao a poderiani obter de maior ca- pacidade por menos de oo^OOO, ou de 37^000 reis. E (|ue lica a um professor, como remu- Mcracao do seu Iraballio, c para suslenlacao sua , e da I'amilia, ja nao digo pagando ojj'^OOU, ou o7§000 reis; mas pagando 4H§200, nu 48^000 reis, como pagam, c nao podem dei- xar de pagar os prolessores, (|ue tern para cima de 140 discipulos? Ficam-lbes 81^080, ou 76^880 reis! ! Em vista do cxposlo, (|ue tern por base, factos incontroversos, c dc mini conbecidos olliciiilmenle; e cuja solucao parece (|ue mere bom senso, a parle mais alias consideracoes que nao julgo necessario invocar agora, basta a persuadir, lenho a bonra de |)ropor a V. M. que, a todos os professores de insiruccao primaria, que tiverem mais de 100 disci|>ulos elTeclivos, seja paga, cm logar da gralilicacao de 10^000, a de 20^000 reis annuaes; e que a gratificacao a p;igar aos professores de mais de 140 discipulos, -seja de 30^000 reis egualmente annuaes, na couformidade da se- guinle proposla : Projccto dc hi. Art. 1." Sera paga pela camara munici- pal de Lisboa a gralilicacao annual de 20^000 reis aos professores, que liverem mais de 100 disci|)ulos elTeclivos; e de 30^000 reis aos que tiverem mais de 140 discipulos. Art. 2. Os professores, que se julgarem com direito a alguraa das gratilicacocs esta- belecidas no art. 1., serao obrigiidos a dedu- zil-o peranlc o commissario dos esludos, o qua!, julgando a prova boa, mandara fazer folba addicional, em que os mesnios professo- res sejam incliiidos. Art. 3. Fica revogada a lcgi^lacao em conlrario. CAPITULO XYI. De como e necessario crear muis ahjumas esclto- lus de inslnicruo primaria para alumnus do scxo masculino, e do sexo [eminino. Nos capilulos 2, 11 e 14, tractando dos meios de promovcr a i4istruccao priuiaria, cvi- 1 denciei, se me niio cngano, a dura necessi- dade dc recorrer a iuiposicao de multa pecu- niaria dos paes, e lulorcs, (jue consentirem, que sens lilbos, ou pupillos, deixcm de fre- qucnlar as escholas piiblicas; porcm e cerlo, que nao pode aquella providencia, quando 149 adoptada, como esppro, pelo governo de V. M., applicar-se indistiiiclainenle ; por quanto nao e nienos certo, que se carece ainda de que sejani creadas, cm nao poueas terras, escholas da primeira instrucrao, a tim de que OS pacs, e lutores, hajam de ser obrigados, sem injustii'a, a mandar alii seus pequenos filhos, ou pupillos, e com espccialidade os do sexo femiiiino. Em Lisboa mesmo, comparati- vameiUe com a sua populacao, o luimero das mcstras e diminuto, pois (|ue seiido, prova- velmente termo medio, o numero das crian- fas de 7 a 12 annos de cdade do sexo feiiii- nino de 8:Cit7, como se depreiiende do mappa juncto (v. observacao n.° !S); e nao havcndo ao prescnte se nao 17 escholas do sexo femi- nino, cabe a cada uma das rospectivas me- stras ensinar 331) raeninas, o que nao e pra- cticavel, como lambem nao fdra ensinar nem ametade se quer de tao crescido numero. Nao ignoro, que nao e possivel crear de repente tantas novas escholas de inslruccao primaria de ambos os sexos, quanlas sao as deque se precisa, poniue se oppOe o conside- ravel augmento da despesa coirespondcnte; porem nao posso deixar de propor a creacao, na villa de Setubal, de uma eschola para os alumnos do sexo masculine e de duas do sexo feminino; assim como de uma eschola na villa de Cascaes, e mais duas, pelo menos, em Lisboa tanibcm para o sexo feminino. Pelo que respcila a Lisboa e obvia, pelo que deixo observado, esta necessidade, sendo cerlo comludo, que tica ainda rauito menor, do que deve ser, o numero das mestras; pois que, se lor adoptada esla proposla, elevar-se- ha apenas a 19 o numero das mestras, quan- do e de 31) 0 das parocWas, e nao pode, em Lisboa haver nienos de uma mestra para cada freguezia, havendo de caber, ainda assim, a cada uma mais d&lOSdjscipulas. Em quanto a villa d« Setubal sao pode- rosissimas as razoes , deduzidas no relatorio do professor de lalim d'aquella vjlja Antonio Pereira da Silva (docuniento, que vae juncto por oopia) ; e, para convencer a instante ne- cessidade de crear alii mais uma eschola do sexo masculino, soboja observar, que existem actualmenle 'naquella villa 2:li0 criancas de 5 a 12 annos de edade, e que ha somente duas escholas piiblicas, uma paga pelo thesouro, e outra paga pela Camara Municipal. No tocante a necessidade de crear duas escholas do sexo feminino, bastara da mesma sorle reflectir, que, nas4freguezins deSetubal, existem 2:318 criancas do sexo feminino de 8 a 12 annos de edade, e que nao ha alii nem sequcr uma s6 mestra paga pelo estado! E lora de duvida que deviam criar-se em Setubal 4 escholas do sexo feminino; porem lemito-me a propor sdmenle a criacao de duas, a lira de facilitar a ser attendida desde ja esla minha justissi- raa reclamajao. Emfim, na villa de Cascaes, eomo eonsta de documento authentico. e de 177 o numero de creancas do sexo feminino do 7 a 12 an- nos, e nao so em nenliuma das trez freguezias (Nossa Senbora d'Assumpcao, Kessurreicao, e S. Domingos), nao ha nenhuma mestra paga pela Estado; mas, de mais a mais, sao mui pouco frequentidas por causa da geral pobre- za, e muilo somenos em liabilitacOes proprias de tao importante mister as mestras particu- lares, que alii existem, como eu proprio pude verifiear na visita, que liz detidamente a eschola piiblica do sexo masculino, e as escho- las particulares de ambos os sexos d'aquella villa. Senhor, em quanto o numero das escholas nao for proporcionado as necessidades da po- pulacao, de nenhuma sorte pode dizer-se, que se dao ao povo meios de instruir-se, a (juc tern direito sagrado. Senhor, cerlo de que V. M. tcm sobre tudo a peito a instruccao popular, a todos os respeitos de tanta vanta- gem piiblica, ouso esperar que V. M. se di- gnara approvar a seguinte proposta que tenho a honra de elevar a real presenca do V. M. Projecto de lei. Art. 1. Sao creadas em Lisboa mais duas escholas para alumnos do sexo feminino. §. imico. 0 local, onde devem ter exerci- cio as duas novas escholas, sera designado pelo commissario dos estudos do districto de Lisboa. Art. 2. Sao creadas, na villa de Setubal, uma eschola primaria para alumnos do sexo masculino, e duas para alumnos do sexo fe- minine; e, na villa de Cascaes, uma para alumnos do sexo feminino. Art. 3. 0 conselho superior mandara abrir OS respectivos concursos, e procedera ao pro- vimento do professor e mestras, na confor- midade do que determina a lei, e os regula- nicntos actuaes. Art. 4. 0 professor, e as mestras das no- vas escholas, creadas pelos artt. 1 e 2 terao OS vencimentos, e gozarao das prerogativas, que a lei, e os regulanientos concedem aos professores, e mestras do ensino publico. Continua. EXAMES DE GREGO EM COIMBRA. Lendo o cap. 8.° do relatorio da Commissao dos estudos de Lisboa, publicado no n.° 11 do Institute, lembrou-me aprescntar alguraas ideas acerca dos exames de grcgo em Coirabra. Apresento-as a medo, e como quern nao acredila na sua propria infallibidade, mas seguindo a 190 opiniao de Paulo Luiz Courier que diz, ser bora 0 escrever, e o imprimir ser cousa ex- cellente; porquc so a obra e boa aproveitam-se della, e se e ma, tambcm os crros aprovcilam, para se evitarem. Limitar-me-hei aos cxames de grego, conio preparatories para os estudos uuiversilarios, se preparalorios se podem cbaniar cxanics, so exigidos no lim, on quasi no liui, das forma- luras de pbilosopbia, niediciiia e theologia. 0 elTeilo da lei, decrelo ou poitaria, (jue tal permilie, e lao desgraeado que mellior lora nao se exigir siinilhante cxanie, que eslorva OS esludos universitarios, c pOe os exaniiiia- dores na Irisle coliisao, ou de approvar ((uem nao sabe, ou de lazcr perder uiu aiuio a um estudaiile, uiuitas vezes dislinclo, ()ue, a pouto de acabar a sua I'ormalura, iiies podia provar, se lal prova podesse ser admittida, que ja nao precisava d'aquelle preparuloi'io. A condieao pois, sine qua non, do se estudar a lingua grega era Coimbra, digo mais, de se tcrera d'eila as niais leies noeoes, e lornar aquclle cxarae um verdadeiro preparatorio , I'eilo antes da raatricula do primeiro anno das faculdades para que for exigido. Isto c de simples senso commura para quern conliccc a practica, necessariamente seguida pelos estu- dantes, sobreearregados com os sens trabalbos universitarios ; sem islo qualquer lei que se promulgue a respeito de exames de grego, ha de ser leira moria. As razOes que a Conimissao apresenta para provar a ulilidade do estudo da lingua grega, sao rauito attendiveis. Quera podera negar a grande utilidade do estudo do grego para o medico c para o phiiosopbo que, de continwo, empregam ternios derivados d'aquclla lingua? Quern podera negar a sua necessidade |)ara 0 theologo, que tem de ler, analysar, meditar e defender o Novo Testamenlo, eujo texln, adraitlido por lodas as communlioes chrislas, e cm grego ? Levada d'estes niotivos, a Conimissao dos es- ludos do districto de Lisboa propoe que seja ensinada a lingua grega em curso biennal, sendo materia do primeiro anno: — clcmen- tos geraes da lingua grega comparada com a latina e com a portugueza ; traduccao, ale onde couber no tempo, da laboa de Cebes, dialogos de Luciano e Cyropedia de Xcno- phonte, — e materia do segundo anno: — tra- duccao, ale onde couber no tempo, deThnci- dides e de Ilcrodoto ; de llomero, de Tlieo- crito, de Pindaro e de Arisloiiliancs; characle- rcs dislinctivos e vantagcns dos differenles dia- leclos ; composicao, no dialeclo altico, de um logar tornado de alguma collecfao de ihemas etc. etc., devendo o Conselho Superior d'in- slruccao publica dcclarar para quaes estudos supcriores liasta o exame do 1.° anno, e para quaes se hade exigir o exame do curso bien- nal. Sendo por6m a proposta convertida em lei, quer o Conselho Superior exija como prepa- ratorio para as faculdades de medicina, i)bilo- sopliia e ibeologia o 1 ." exame, (pier o segundo, niio me parece que o preparatorio corresponda ao lim desejado, qual o de preparar conve- nientemenle para aquelles estudos. Em quanto ii medicina e pbilosopbia pa- rece-nie foia de duvida que o sabio Conselho so hade exigir o 1.° exame. Ninguem pode negar a grande ulilidade que o medico e o jihilosopho hao-de tirar d'um conheeimento da lingua grega, suHiciente para enlenderem OS lernios technicos d'aquellas sciencias; mas seria cruel obrigar quem se ([uizer malricular em pbilosopbia, ou lenciona esludar medicina, a uma admiracao forfada da lilleratura grega, c isso durante uiu aiino, que podia empregar no estudo das linguas iugleza ou allema, cuja utilidade para aquelles estudos ninguem de certo conleslara. Mas, como vimos, o exame do 1.° anno con- sta, alem dos elementos geraes de grammatica, da traducjao ate onde couhcr no tempo, da laboa de Cebes, dos dialogos de Luciano e da Cyropedia de Xenophonte. Traduccao ate onde couber no tempo, diz niuilo hem a Com- missao de Lisboa, pois que 'nun> anno lectivo nao epossivel traduzir completamenle asobras citadas. Que conheeimento da lingua grega lera pois 0 estudante (\w se matricular em pbilosopbia ou medicina? 0 de algumas raizes d'aquella lingua. E para que Ihe devia servir o pre- paratorio? Para Ihe facilitar os sens estudos, dando-Ihe o maior conheeimento possivel das mesnias raizes. Passemos a theologia. Para essa faculdade c piovavel que o Conselho Superior exija o exame do curso biennal. Pois ainda assim me nao parece (jue a proposta corresponda ao lim que se descja alcancar. Seria oplinio que um theologo possuisse o prolundo conheeimento da lingua grega; mas eslou convencido (jue 'nesle ponlo, como em quasi tudo, o o|)limo e o maior inimigo do bom. Os bons desejos, quando se nao medeni as I'orcas, djio quasi sempre cm resultado pa- lacios da Ajuda e obras de S." Engracia. Um theologo deve saber grego ; mas deve saber portuguez, e nao Ih'o ensinam ; mas deve saber bem latim, e sabe Deus os que o sabem ; mas deve ter conheeimento das scien- cias naturaes ; mas deve saber bem traduzir francez; mas deve saber geographia e historia deve tambein saber rhetorica, pbilosopbia ra- cional e moral deve um theologo saber muita cousa; porera deve sobre liido saber enlender perfeitaniente o seu livro por excel- lencia — o Novo Testainento. Ora cu estou convencido, e pareee-rae que tamhem o estara quem souber o ijuc e es- tudar grego, que um estudante, nao depois 151 de tertraduzido c analysado Herodoto, Thuci- (ledes, Homcro, Theocrito, Pindaro a Aristo- phanes, pois tudo isso corre risco de nao pas- sarde apparalo de programnia, e pedia annos, e nao poucos|de Irahalho, mas depois de ter iradiizido algunias paginas daquelles aiiclores, nao (ica, em dous annos, convenientcmente Jiabilitado para traduzir e analysar, com faci- lidade, o Novo Tcstanu'nlo, lim principal para que se dove exigir o cxame de grego conio pre- paratorio da faculdade de liieologia. A vista do (jue levo cxposlo parecia-me mais util, para nao dizer rasoavel, que se exigis- se ao phiiosoplio (ja que o 1.° anno philoso- phico e preparalorio para mcdicina), o estudo o mais compiclo possivel das raizes da lingua grega ; ao tlicologo o perleito conhccimento do Novo Testanienlo no lexto grego. 0 exame para o primeiro deveria pois con- star, no meu entender, dos clemcntos de gram- matica, ale ao lim dos verbos em mi, ele- mentos que elle coniparasse, tcndo vagar, e em sua casa, com o que soubesse da portu- gueza, e um ponto on mais, a sorte, tirado do poema, — Ulysses do Padre Giraudeau ' , que teve a monaslica pacioncia de reunir em COO versos as principaes raizes gregas. Parece-mc que 'num anno, um estudante de niediana capacidade, poderia, com regular estudo, ha- bilitar-se para fazer um bom cxame; licando- Ihe para o futuro a consoiacao, de nao ter perdido o sou tempo. 0 theologo, esse, alem das raizes gregas, esludasse mais a fundo a grammatica, e fosse examinado 'nun ou mais pontos, lirailos a sorte, do Novo Teslamento; estudo que talvez Ihe nao levasse dous annos, mas que, quando Ih'os levasse, Ihe poupava grande trabalho em toda a sua forniatura, e o lamiliarizava com 'aquelle livro, que elle tem missao de ensinar ao mundo. Em quanto a litteratura grega, ao estudo dos Homeros e dos Pindaros, ficasse embora sendo materia do exame de preferencia, e fosse exigido aquelle que quizesse alcancar uma cadeira da lingua grega 'nalgum dos iyceus nacionaes. Longc de mini, porem, o pensamenlo de qnerer censurar a proposta da Comniissao do districto de Lisboa ; mas levada do louvavel desejo de ver renasccr o estudo da lingua grega em Portugal, a sabia Commissao encarou a questao debaixo d'esse ponto de vista ; eu, como disse em principio, attendi so a ulilidade d'aquelle estudo, como preparalorio" para os esludos universitarios. HENBIQUE O'NEILL. ' Ulysse, po^me heroique de B. Giraude de rimprimeric d'Augiiste Delalain. -Paris, OS CAMINHOS DE FERRO ContiDuado de pag. 128. As mais gigantescas emprezas da moderna civilisacao constituem hoje a phase characle- ristica dos caminhos de ferro; e todavia mui- las das graves questoes, que elles suscitam, eslao ainda longe de uma cabal resolucao. A proporcao, que as vias ferreas .se multi'plicam na Europa, e que se dilata a esphera d'accao das companhias; criam-se entre as nac'oes novos lacos, que hao de poderosamente influir sobre a polilica de cada paiz, e .sobre o estado da sociabilidade geral. Por isso as proprias condicOes de exploracao, os deveres e encargos das companhias, os abuses, que podem ger- minar a sombra dos privilcgios concedidos a eslas poderosas sociedades, preoeupam com justa razao a allenlacao publica ; e offerecem vaslo as.sumpto para profiindas invesligacoes a todos OS espirilos, que dcscjam o melhora- mento d'cstas novas vias da civilisacao. A questao e de interesse commum para a' maior parte dos paizes da Europa; e e por consc- quencia indispensavei apreciar hem as feicoes da epocha actual em relacao a eslas emprezas, debaixo do ponto de vista europeu. 0 desenvolvimenlo, que tem tido os cami- nhos de ferro em cada paiz, nao e de cerlo a characterislica mais imponante d'esta si- tuacao. Um facto ha mais transcendente : e 0 estabelecimento das linhas chamadas inter- nacionaes, que lornando as vias ferreas dos differentes eslados ramaes de um tronco com- mum, estreitam os lacos, que unem ja as diversas naeoes, e que sao um scguro penhor da .solidariedade, que tende cada vez mais a estabelecer-se entre ellas. lla, porem, 'neste ponto uma dislinccao essencial quanto aos dois povos, que prece- deram todos os oulros 'nesle genero de con- slruccues; os *nglezes, e os americanos. Nos Eslados Unidos e em Inglaterra, esia tarefa esla consummada, e na sua maior grandeza nao passa de ser uma obra puramenle nacio- nal. A ligacao pelo (ado do Norte, dos cami- nhos da coufederacao com os do Canada nao muda 0 aspeeto do grupo americano. 0 isola- mento nao e um facto imprevislo para os Eslados Unidos. Transplantado sobre csle solo longinquo, o ramo de.stacado do tronco euro- peu obedece alii em scu d?sinvolvimenlo a leis particulares. A terra, onde lancou raizes, Ihe ollerece uma inexgotavel seiva, que, a pezar da prodigiosa rapidez do sen impul'so, conserva todo o scu vigor. Dolado da singular d^sposicao de afastar para longe de si a soli- dao, 0 povo americano investiu-se da missao de civilisar, ou antes de explorar o novo mundo. Assim a construcfao dos carainhos de fer- 152 ro, que nao altera debaixn de ponlo algum de vista as rclarOes da Eiiropa c dos Estados Unidos, tonia, i)clo conliario, niais salientes as difTerencas, que exisliam ja eiitre o conti- ncnte c as illias brilaiiicas. As relacOes iiilernacionaes nao cxistem, pelo menos direi'tameiite, para os caniiulios de fcrro iuglezes, por (|ue a treajao de um carainho de ferro sul)iiiaiinlio entre Douvers e Calais, cm que se turn fallado, e para o qual, dizem, bastariam 7 annos c loU millioes de fraiuos. nao passa iia aclualidade dc um projecto cbimerico. Que iuteressam a Iiiglalerra a raaior parte dos anneis da vasta cadea conlineutal? Que Ibe iuiportam, por exemplo, todas as liiilias ao Norte e Oeste da Europa? Estes uo\os alllueiites das grandes vias da Alleiuanba e da Frauea poderao ate occasionar uo raovi- menlo commercial modilicacoes mais ou me- nos prejudiciaes a navegacao ingleza, e susci- tar-liie politieameute alguma iiiquietacao. A epocba, cm que nos adianios, das grandes emprezas de eaminiios de ferro nao olVerece a Ingialerra tao diiatado horisonte, como aos outros estados curopeus. Mas iibas iirita- nicas os caniinhos de I'erro, locando os iimi- tcs do territorio nacionai, lem chegado ao cabo do niundo, aJ /ines tcrrae. Enconlrar paizes para explorar, e que oile- refam vasto campo ao proiongamento de seus railvays, e a coiidifao niais I'avoravel para os caminhos de ferro. E tal e o destine, e incora- paravel vantagem das prineipaes linlias da Europa central. No coutinente ainda esta exploragao nao tocou 0 seu lermo, e ja uma extensa rede de caniinbos de ferro liga muilos povos. To- dos OS estados do centre da Europa eslao cm communicacao por aquelle nieio. Este grupo reune uma enormc massa de forcas e iute- resses; forcas aniniadas por iuspiracOes diver- sas; interesses nascidos de origens dilTeren- tes. Os caminhos de ferro nao' ligam so as capilaes da Europa central, mas chegam as as cidades entre si mais distanlcs. Os rails estendeni-se de Bayonna a Koenigsberg; de Marselha a Oamburgo; de Bordeus a Varso- via ; de Nantes as mais remotas cidades da Galicia; junclam as bacias de lodes os gran- dos rios, do Loire, do Sena, do Oder, do Rhono, do Vistula, do Rheno ; e alongam-se em lipi para o Niemen, o Dniester, o Prulh, e 0 Baixo-Danul)i«. 'Neste assignalado raovimento, que aproxi- ma OS diversos povos, ha dois periodos bera dislinctos. 0 primeiro, considerando nao os simples projectos, mas os trabalhos definiti- vos, conieca com o apno ae 1846; o segundo data de 1851. Foi em 1846 que a linha do Norte de Wris ligou esta capital com Bruxellas, ao mcsmo tempo que rauitas capilaes d'Allemanha esta- belleceram entre si eguacs communicacoes. 'Nesia primeira phase das grandes explora- coes das vias I'erreas, a Belgica occupa unj logar distinclo. Favorecida pda conliguraeao do seu lerreno, e decididamente empenhada, desde (|ue se constituira iiidepcndcule, em pronuner as suas relayoes inU'riiacionaes, a Belgica priniou eulre os outros eslados da Europa na couslrucvao das grandes vias fer- reas. Todavia um mais inslnnte iuleresse pro- movia o progresso dos caminhos germanicos, jiorque a Allemanha devia ser na Europa o jionlo de utiiao entre o occident(! e as regiOcs do Este e Norte. Desde o principio a Allcma- nha se apressiira em scgiiir esta carreira, na (|ual preeedera dois ou trcz aiiuos a Franca. Fui eui 1839, que comecou a manifestar-se alem do Rheno esse grande empenbo pelas emprezas dos caniiulios de frrro, (|ue a Franfa so em I8i"2 pode emprehendcr em vasta esca- la. E d'aquella epoeha, ([ue dalaui os traba- lhos siiceessivamcnte emprebendidos da ex- ploracao dos caminhos de ferro de Colonia a Aix-la-Cbapelle ; de Vienna a Raab, e as di- versas seccOes da linha de Vienna a Polonia, chamada hoje a linha do Norte do imperador Fernando, e (]ue ja comnuinicava as cidades de Brunn e Olmulz. Foi tanihem 'neste periodo, que a Franja emprehendeu o tracado das mais imporlanles linlias sohre diversos pontes da sua fronteira para a Belgica, para os Alpes, para o Rheno e para os Pyrineos; as sueeessivas revolucoos, porem, que agitaraiu aquelle paiz, e as crizes porque passou desde a queda da dynaslia (le julho ate ao estabeleciinenlo do governo imperial, paralysaram em grande parte os seus exforcos e relardaram o desenvolviuiento das grandes exploracOes, (]ue havia emprehendido. Se entrelanto examinamos a carta dos ca- minhos de ferro sobre o conlincnte europeu em ISiil, vemos os consideraveis elementos, que ja entiio existiam para a uniao dos pai- zes da Europa central e occidental. Unica- menie as linlias allcmas em relacao as fran- eezas apresentavam como uma quebra 'neste vasto systema de communicacOes, apesar das boas disposicOes, que por uma e outra parte se notavam, mas que se nao haviam ainda traduzido em fades decisivos. Denials 'neste primeiro periodo o movimen- to de cada paiz para alongar as comrauni- cafOes aleni de suas fronleiras, nascera ape- nas de impulses vagos e puramente instin- ctivos, e nao havia produzido senao obras parciaes. Nao se tinha enlao pensado ainda 'nessas gigantescas emprezas das grandes li- nhas forrcas entre os prineipaes povos da Europa. As arterias em que ja comeca a cii^ cular, e em que circulara cada vez com mais forfa, a seiva, que vivifica o corpo europeu, sao compostas de sec^oes construidas sob a influencia dos parciaes interesses de cada 153 cslado. As nacocs nao liaviam reflcctido sohre 0 novo elemento, que devia traiisforniar siias rclacoos, senao dcsdft que as linlias fcrrcas tocaram os exlrcmos limiles do sou territoiio. 0 segundo periodo e cliaraclerizado por unia divcrsa feicao. Unia irrcsistivel lenden- cia, unia resolucao profundanicnte assenlada, uuia invaiiavel prcseveranra doniinava todos OS animos, c fazia conveisii' todos os eslor- C03 |)ara a realizacao d'esses vastos projeclos, das grandcs vias ferreas, a que a Franca desde 18dl dera uni prodigioso inipulso, que foia ininiitado pelos outros ()aizes com egual inte- resse; e que o estrcpilo das armas, e os pcri- gos da guerra, que amoarava a Europa de uma geral conflagrajao, nao liaviam podido suspender. ISo comero de ISiiiJ, quando niais ateadas se acliavam as hoslilidades enlro a Franra e a Russia, o imperador d'Austria conccdeu a uma companliia franceza o grupo dos cnmi- nlios de I'erro, cuja principal iiniia, pnssando ]ior Peslh na Ihuigria, devia tocar, no l!ai\o Danuhio, as fronteiras do imperio Ollomano. Na niesma epoclia se tractava de approxi- mar Vienna de Paris, pondo-a a 38 lioras de distancia d'esla ultima cidade, pclo prolonga- menlo, r nipreliendido pcia Austria e Bavie- ra, da linha de Vienna e Munich ale Salz- liurgo. A mesnia tcndencia se dava cntao no Norte d'AIIemanlia, que se approximava de Franca pela linha direcla de Paris para Liege, Aix-la-Chapelle e Colonia. Durante este segundo periodo cguaes em- prezas se fundam ate 'naquelles paizes, onde mais atrazada cslava, se nao era coniplela- mente desconhecida a construccao dos canii- nhos de ferro^ Com ludo nem todos esses cami- nhos de ferro construidos, ou delineados, sao de cgu:il intcresse para as relacOes intcrna- cionaes; alguns ha, poreni que merccem pro- prianicnle a qualilicacao de europeus; taes sao em Franca as linhas, que se eslendem para os Pyrenees destinadas para as conimu- nicacOes da Peninsula iherica: as do Norte c Este, que cslahelecem as rclacocs com a Bel- gica, Hollanda, Suissa, Allcmanlia c Italia: taes sao alem do ({lieiio as trez grandcs linhas de Oeste a Este. e as trez de Norte a Sul. Nas primeiras de Ocsle c Este, se coniprelicnde a maior, das que hoje existe na Europa, que segue por Colonia e Berlim para Koenigsberg ate Tilsitt; a de Francl'ort sobre o lleno, Leip- zig, Dresda, Berlau e Varzovia ; e a que do Rheno se dirige por Munich para a capital da Austria, continuando por Presburgo, Pesth e Szegcdin. Das trez oulras do Norte e Sul, a de Stet- tin no Baltico segue ate o Oder e Trieste no Adriatico, passando por Vienna, Breslau, Francl'ort sohre o Oder e Berlim: a de Lin- dau sobre o lago de Constancia estende-se ate Hamburgo, Nuremberg, Leipzig e Magd- burgo; em fim a da Suissa segue por Bale para CasscI, Ilanover e Brcme. Depois da Franca e da Allemanha, a Bel- gica e de todos os paizes europeus, o que maior contingenlc da para esla grande rede de comniunicacoes. A alta Italia apresenta tamheui ja algumas iniportantes construccoes, tal e 0 camiuho de Turim a Alexandria e Genova; de Turim a Novara e Arona proxi- mo do Lago Maior; os caminlios lombardos do Milao a Come sohre a fronteira do Tes- sino; c de Milao a Vcneza; ao mesmo passo que se projecta eslender para os paizes linii- trophes as vias Icrreas do Pieniontc e da Lomhardia, penetrar a Italia central, e pro- longar ate Roma a linha de Napoles a Capua: por outro lado tracta-so cgualmente de ligar a Peninsula italica a Franca e Allemanha occidental por uma via directa, atravessando a Suissa de Genova ao Lago Maior, e ahrindo uma passagem atraves o Simplou. Menos adianlada quo a Italia septentrional, a Peninsula iherica procura sair da sua longa inacao. As linhas de Madrid para Franca ja delineadas, e em parte concedidas a compa- nhias poderosas; o camiuho de ferro de leste cm Portugal, ja parte aherto ao servico pu- blico, parte em exploracao, sao uma prova evidente de que o exemplo das nacoes da Europa central achara echo nos povos do occidente; e e de .esperar que tal impulso se communique dentro em pouco as vastas rcgiOes do Este. que ale hoje se tern conser- vado fora d'esta arena. Na aclualidade a Russia nao concorre para este systema de comniunicacoes internacionaes, porque a li- nha de S. Petcrshurgo a Moscou so se podera considerar como tal, quando fur entroncar-se nos caminlios germanicos; e csta obra e de tanta importancia para a Russia, que mal pode suspeitar-se, que ella queira adiar por niuito tcnifio a sua realisacao. 0 imperio Ottomano, que novos e cstreitos lacos prcndem hoje ii Europa, nao pode tam- bem csquecer por muilo tempo os seus inte- resses, e certo nao tardara a epocha em que a Tur(|uia concorrera para se aproximar pelo Bosphoro das grandcs vias Internacionaes da Europa. , No principio d'cste anno, a rede continen- tal de caminlios de ferro comprehendia um total do 2o:0l)U kilometros cm exploracao; em cujo nuniero a Allemanha linha o maior (luinhao, contando 10:000 kil., e a Franja (i:000. E se a esles 23:000 kil. do nosso conlinonle juntarmos 13:000 kil. da Ingla- icrra; 33:000 dos Eslados Lnidos; 0:000 das colonias inglezas d'Araerica, os do caminho de Panama, e de diver.sos raraaes n'America meridional, na India ingleza etc., teremos para todo o mundo 'nesle anno 77:000 kil. de caminhos de ferro ja explorados. Coniiniia. i. u. de ABREU. OS LUSIADAS. Ti'adurrao fraiircza. LES LUSIADES. Cullliniludo .Ic \mf. 117. 70, 71. ct 72. II aiinoncc a Gama qu'un habile pilolc Guidera sos vaisscaux jiisqiiaiix hoids imiiens, Pour [ilairc a cc lieios, pour rrparor sa llotte II offrc scs tresors, scs sujcts, el Iciiis Ijictis; Trahissanl k la fois sa parole et son hole, Des droits les plus sacres meprisanl les liens, II pari en promellant d'aidcr ct de comluire Ccs heros que sou Cffiur a jure dc delruire. 73. Les projets qu'cn son cceur Ic harbare a conrus Troublcnt les habitants dc la voiilc celeste, Les dicux sont parlages ; la furcur de Bacchus Embrasse eel espoir, Ic dernier qui hii rcslc; L'ardcur qu'il a de nuire aux cnfants dc Lusus Inspire an dicu dc llnde une ruse funeste : El tandis que Gama s'abandonnc au repos La furcur de ce dicu s'exhalc par ccs mots. 7t, 75, et 76. Faudra-t-il done soulTrirqueces troupes famcuscs Ohtiennenl dans I'Asic un triomphc eclalant, Que domplanl dc Tlndus les hordes bclliqueuses Les guerricrs de Lusus domincnl I'Orienl? Non, non, dc mes exploits les traces glorieuses Ke pourraicnl me sauvcr dun oubli ftclrissant, El Ion prefcrerail ccs niorlels sur la Icrre Au Ills du Dicu puissant qui lance le tonnerre ! II dil, el dans I'iiislant Iransporle de furcur 11 s'clance, et descend sur les ri\cs d'.\friquc, Derobanl aux rc^'ards sa divine splendcur II s'entoure aussilol d'un voile fantaslique : Aux jeux des africains, qu'il iniluit en erreur, Le Dls de Jupilcr ei Ire dans Mossambique, Et pour tromper Icur chef au gre dc scs souhails D'un vicillard musulman il cmprunle les trails. Le Tieillard donl Bacchus a pris la rcsscmblance Chez le prince barbare a loute hcure est reeu, Le dicu parle en son nom, avec la conliance Qu'inspire au souverain son austere vcrlu ; Sous ces traits, a I'abri de loute defiance, II remplil de terrcur I'africain epcrdu ; Redoutcz, Uii dit-il, cetle troupe etrangere Qui respire en secret le pillage el la guerre! 79. Du sein des nalions, et des nombrcux elats, Qu'a dcja parcourus ce peuple lemeraire, Un cri s'est cleve conlrc les allenlats Que commel en tons licux sa horde sanguinairc. Par les plus noirs succes, ccs fcroces soldats, Onl signale leurs noms cl sur mer el sur Icrre, El bientot, si centre cux vous ne vous liguez tous, Vos femmes, vos cufauts tombcroot sous leurscoups ! 80. Pour puiscr sur ces bordsuueeau pure cl limpid c, Vous les verrcz demaiu prcccdcr Ic solcil; Craignez les trahisons de ce peuple i)crfide, Silsurpreud vos guerricrs dans les lirasdu summcil. Pour le punir, aiusi que son barbare guide, <) prince, dun vieillard acceptez le conscil : Itissimulcz: pcul-etre un heureux slralagemc Vuus \cngera du traitre, el le pcrdra lui mcmc. 81. Que vos soldats caches aupris de cc sejnur D'un momcul de delai supporlenl la conlraiulc; Vous les verrcz parailre a\anl I'aube du jour, Car cu tous Icmps le crime est suivi par lacrainte: Dccouvrez-vous alors, ct surpris a Icur lour, lis recevronl le prix de Icur perlide feinte; Mais si dans eel instant ils trompaicnl noire clTorl. D'autres moyens, bientot, assurcronl leur mort. 8-2, et 83. Qu'un pilolc affide suit enlre vous le gage Qui vous reconcilic; anuonccz leur la paix: El bienUil par scs soins qu'un horrible naufragc Dc ces vils clrangers nous delivre a jamais. Ainsi parle Bacchus, el I'africain sauvage l.ui promcl d'accomplir ces sinislres projets, El s'emprcssc aussilol plcin d'un zele barbare D'assurer le succes du combat qu'il prepare. 84, el 8o. Mais dcja le sommel des monls nabalheens ReUechil du solcil la naissanle lumierc; Le chef des porlugais, vers les bords africains Se dispose a guider sa cohorlc guerricre. Gama, des musulmans prcssenlant les dcsscins, A cm dans leur couduile cnlrevoir du myslcre; Mais ilcrainti)cu Icur nom bre, el troisfrcles bateaux Conlicnncnl sur leur bord I'cscorle du heros. 8G. On dislingue bienlol a renlour de la bale Quclqucs maurcs epars qui d'un air forcenc Embrasscnl leurs ecus, brandisscnt la zagaie, Ou font sillier au loin le dard empoisonne. Ils \culent cviler que leur nombre n'eflrayc Le heros qui par cux doit clre assassine, Dans I'espoir d'eniourer, sorlant d'unc enibuscade. Les guerricrs irrites par leur lAche bravadc. 87. Lc porlugais voyait les africains errants Suivre dans scs contours la plage sabloneuse ; Leur hoslil appareil, leurs gesles menacanls, Excilenl au combat la troupe belliqueuse. A I'aspect dcteslc dc ces ficrs musulmans iN'ul ue pent rctcnir son ardeur furieuse, lis s'claiicenl ensemble, et chacun des soldats Est cmbrasc soudain dc I'ardeur des combats. 88. C'est ainsi que Ton voil sur la sanglante arcne L'n jcunc chevalier, bouillanl, audacieux. Pour plaire a la bcaulc donl il porte la chaine Defier et braver un laurcau furieux: Mais I'animal suivant la rage qui I'enlrainc, Baisse son front armi, mugil, fcrme les yeux. Court, renvcrsc, delruit, blcsse, el se prccipilc Sur le faible ennemi dont I'audacc I'lrrilc. 155 89. Aussitot Ic fracas du canon oclalant Rctenlit, el Ic feu brille dans les chaloupcs; Lcs maures conslemts reculcnl ; a I'instant Le boulelsifflect tombe au milieu dcleurs groupcs; La peur glace leur sang; le chef en comhattant Veut en vain ranimcr ses fugitives troupes : Les plus auilacieux ont tcrminc leur sort, Et Ic reslc en fuyant so soustrail a la morl. 90. Mais I'ardent portugais d'uiic victoire aisee Sur ces vils ennemis nc se contenlc pas ; II les poursuit encor, et leur ville embrasce Demurls ctde mouranls n'est bienlot qu'unamas: I.a fureur des guerriers ne pent etre apaisee, Le maure veut en vain cviter le trepas ; L'air relenlll des cris, des plainlcs gemissantcs Dcs vieiliards, des cufanls, et des mores treuiblaulcs. 91. De moments en moments vaincmcnt le fuyard Ajusle en s'arrctant ses lUches acerees, Sans force et sans succi'S il decoche le dard, Et la terrcur poursuit ccs troupes egarees. De branches, de caiUoux, qu'il saisit au hasard, II arme vainement ses mains dcscsperees; II cede enfin au sort, et Iraversant lcs eaux Abandonnc cette ile aux conquerants nouveaux. Co„ti,tuu. OS ANNUNCIOS EM INGLATERRA. Conl.nuad.j iIi- pag. 07. E eiiriosn cstudar uos annuncios do (im do seculo XVII, OS .sentiinenlos dos inglczes a respoito da escravalura, e, comparando-oscom as ideas, que accrca d'cste ohjecto lioje pro- fessam, avaliar ate certo poiilo os progresses d'aqucllc povo. Scni scguirnios absolutamente a opiniao do auctor do jii cilado arligo da Qiiarletiij Reineic, ((lie, cm nosso entender, exaggcra as vanta,:;cns d'este modo d'e.studar philosophia da liislo- ria, nao podemos dci\ar de confcssar. quo para aqueile cstudo sao de grande auxilio os annuncios dos jornaes, e (jue, debaixo de certo ponto de vista, uma cpocha se pode dizer characterisada pclos sens annuncios. Quando a tendencia do seculo e para futili- dades, paia devassidao, conio se nota em ccrlos periodos da liisloria d'lngialerra , os annuncios sao quasi ncniiuns, e esses mesmos insignilicanti's e frivolos; ii niedida, porem, que nos aproximanios da epoclia em que pre- domina ocommcrcio, os annuncios vaoadqui- rindo uni character niais sizudo, mais ulil, mais significative. Os sentimenlos dos inglczes sobrc a cscra- valura variarani nuiilo, diziaraos, do seculo XVII para ca. Em 1094 era tolerada em Ingla- lerra : nos annuncios d'aquella cpocha niuitos enoontramos que dizem respcito a vendas e I'ugidas d'escravos. Os mercados ordinaries d'estas Iransaccocs cram os cafes e bote(|uins, ondc, enlre duas botijas de cerveja, os a.scen- ! denies dos que hoje mandam esquadras vigiar as costas d'AIVica para impedir esse tralico, dispunham da vida e da lihordade de uni niisero, cujo uiiico crime era ser prelo. Para se poderem reeonhecer ne case de I'ugirera, puniia-se-ihes uma celleira com o nomc do done. Acha-sc em nm dos numeros da London Gazette de 1094, e avizo de se ter ])erdido um negro de idade de 1 IJ annos pouco mais ou nienos, que irazia uma colleira com a inscripcao « o prelo de Linhj Ii loom field. » As eb'gautes d'enlao nao dis])cnsavam um pre- tinlio para as aconipanhar em sens passeies e .scgurar-ihcs na cauda des veslidos. A prova d'isso esUi nos retralos e quadros da epocha nos quaes se ve, quasi scnipre e come acces- sorio , nm prele. Erani elles o que depeis forani es caesinhos de regace e hoje sae as crinolines, cachet da suprema elc gancia. Sao frcquenlissimos 'naquelle tempo os an- nuncios de maridos, que declaram terem-llies fugido suas mulheres, e nao pagarem dividas algumas (]ue ellas contraiam. A este respeito e mclindroso dizer se tern havido eu nae progresso da parte dos ingiezes eu antes das ingiezas; nota-se porem, que os maridos que hoje se acham cm similhantes circum- stancias guardam um silencio prudente, e nao aprcgoam nos pcriodices que sae... o que niio poderiam ser se licassem solteiros; e per isso mais difficil a comparacao das duas epe- chas 'neste pento. Eslanios chegades ao periodo mais interes- sanle e de maior descnvolvimento para os jornaes. De 1770 per diante e que se criam a maior parte dos jornaes de manha que heje exisiem em Inglalerra. Ilavia alguns annos comccara a pul)licar-se o General Advertiser, 0 primeiro que adoplou um syslcma regular d'annuncios. Conifca o predoniinio do com- mercio, os annuncios tractam pcia maior parte de cntradas e saiiidas de na\ios mercantes, de lejas, do vendas, de transaccoes mercantis, de ludo, 'nunia [jalavra, que tern relacao com o commercio. So no comece do seculo XIX e que se desco- briu 0 pu/f. Puff, sopre, haforada, em sentido proprio, cmprcga-se no mctaphorice para designar uma espccie do charlalanismo pouco conjiecida, dirci mesmo ignorada enlre nos. Nae e o pomposo e rutilante charlalanismo d'alguns empavezados embaidores, nem a tosca e co- nbecida trapaca dos ridicules embusleiros que cxplerara a credulidade de vulgo ; e um char- 156 latanismo dclicado e licm dirigido, que iinias vezes fascina, outras coiii|>lt'laim'iUe ciigana. 0 puff leni tido grandt's m('>lres que se abalisaram pela dcstrt-za com ([ue o cxerce- rani. c polos provoitos que d'cllc lirarani. Raro c n jniffista que sc nao lonlia eiiriquc- cido. P. T. liariHim, por cxcniplo, o lulcliie eniprehendedor anieiicano, que inoslrou Tom- Pouce aos europous, o Jenny Lind aos ameri- canos, foi uni dos que deu niais cxlensao a csle genero d'induslria. Nas suas nienioiias receiueniente puhlicadas coiilessa todas as mystilicaroes que empregou, e revela os se- grcdos da sua arte. Enire oulias curiosidades que cste insigne biicharel em cliarlalanismo (como llic chania urn auctor inglez) exliiliia, c notavcl a ania de Icite de George Wasliiuglon, que elle iii- culcava ter 1(10 ainios dc cdadc. Era uma preta iliamada Joice Ilelli, roslo sccco c niir- rado, denies nenhuns, conservando porem ainda nuiilo cabello crospo e grisallio, per- I'eitamenle rega, c com todos os inembros paralysados, a cxeepeao de uni braco. Quern a vissc, diz Barnuin, dil-a-liia tao raeilmcute dc mil conic de 100 annos. Com csta prela disfrutou elle muito tempo os babilanles dc IS'ova York. Percebendo porem que o jiublico comecava a enfasliar-se c a desertar das sal- las da sua cxhibirao, Icmbrou-se de niandar inserir nos periodicos uma correspondencia assignada « algucm que visitou Joice Jleth, » cm que se contestava a authenticidade da prctendida ania de Wasbingtou, e se decla- lava que ella nao era mais que um automato tao arlisticamenle Icilo, que de todo illudia OS que 0 examinavani. Barnum conseguiu o que dcscjava, viu outra vez as suas sallas enclierem-se de curiosos que acudiam, nao ja a ver a macrobia |)lienomenal, mas a protu- rar dcscobrir se era ou nao um nuuuiequim 0 que tinbam diante dos olbos. Oulro pu/jista cclebrc foi o pregoeiro Gcor- (je Robins. Tornava sens annuncios tao poe- ticos e importanles que tudo podcriam ser, menos annuncios. Traclava-se, por exempio, de descrever certa projiriedadc que se acliava a venda: Robins depois de piiitar com as niais vivas cores as bellezas sem eonto, que 'nella havia, accrescentou suspirando « c-me com tudo forcoso, senhores, nao vos occultar dois defeitos que tem esta propriedadc: o canto dos rouxinoes que nao cessa todo o dia, e a quanlidade de folhas de rosas que juncani as ruas. » Warren fez a sua fortuna com uma linda vinheta de Cniikshank, que represenlava urn gate mirando-se com pasnio n'uma bota muito lustrosa. I'm vcndedor de movcis enriqueccu- se com uma engracada facccia do pequeno jornal Punch; annuneiiira estc mercador que tinha a venda ura sorlimento variado de ca- nias e differcntcs outros moveis, com o se- guinte rotulo « avizo as pcssoas ([uc prctcn- dem casar. » « Nao o facam » escreveu o Punch, em vez do catalogo de moveis que scguia 0 titulo do annuncianle. Continuit. >>. II. REL\CAO f)js iudivi'iuos )inmca(l>!i para ns srgulntrx i)gfiiti: d'in&truc^do jn'tbUrn, flrsde i> dia Ij ih- ag'isio aU egunl din de setrnifjio d > ctrrente anno, it'>r despacftos do Conselho superitr d'instrur^it ) pt/hlica, e decret'/s di> Covenio ommunicados ao meamo CunstUio nu indi- cado periodo. iNSTnrr^'AO prim.vrm. rranciscn Jose Xobre da Silva. para professnr tein- porario da cadeira dc Sanctu L'atharina, distnclo de Karo. Juaqiiim dos Sanctus Kiin-iro, para diclu da Villa de Moiirao, di-slricto d'Evora. Joaquim Siinau da iVia^'dalena, parudicto da freffuezia de Sao Thiago, districio de Leiria. Juse Liiiz da Silva, para dictu de Sancta Qiiiteria de Meca, dishicto dc Lisboa. Jose da Silva Junior, para dicto dc Penajola, districto de Viseu. Escholastica da Concei^ao, para mestra lemporaria da escliola de educa^rio de meninas da villa da Ericeira, districto de Lisbua. INSTRCC^.VO SBCUNDAKIA. Isidoro Rodrignes Pereira d'Andrade^ para proft-ssor vitalicio da cadeira de latim de Villa Nova de FoscOa, decreti) de 9 de sejitenibro iiUirao. Nicolaii Maliniuias Ueljrado , para dicto da Villa d'Aviz, por transferencia da d'Alemqiier, decreto de 11 de seplembro ultimo. Jo e Liiiz (larmon, para professor interino da I.*ca- deiia do S^yceii IS'ncional de Santarem. Kranci&co Simocs d'Almeida, para dicto da 2." ca- deira. Americo Ferreira dos Sanctos Silva, para dicto da de lingua franceza. Henritjue .Bailie Maria Hughes, para dicto da de lin;;iia ingleza. Augujito Henriques, para dicto das de lingnas grega e lU-braica. Juliao ('aztmiro Ferreira, para dicto da de histuria geographta e cinouologia. Alf \aridre Manuel Thomaz dos Sanclos Viegas, para dicto da de oraloria, poetica e litleralura. Joaquim Maria da Silva, pata dicto da de philosophia racional e moral e principios de direilo natural. Angusto Ernesto de CnstiHio e Me}»o. para dido da de anibmctica, algebra elenientar, princi|)ios de trigono- metria plana, e geograpliia malliematica. Francisco Maria Uodrigues de Oliveira Grainlia, para dicto da d(! principius de | Iiysica e cliiintca, e lu- troducfiao ii histroressor interino das aulas de dan^a e mimica do conservalorio real de Lisboa, decreto de 9 de setembro ultimo. Jose Joaquim da Silva Bnstos, para professor vita- licio da cadeira de lalim da villa de Torres Vedras, d'.-- creto dc 9 diclo. ® Jnstittttir^ JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. EXPEDIENTE. Assigna-se cste Jornal em Coimbra, no Ga- binelc do Inslitiilo; em Lishoa, na livraria do !i rcpiicou aquelle: e o rapaz ciilregou-llie o respccti\o periodico. 0 mi'u lleugmalico collega lomou-o, tirou d'algibeira uma moeda de dois sliillings e cntregou-a ao rapaz, esperando a demasia cm quanto com descuidada curio^idade Iia a data do jornnl. 0 gatuuo dcu dois passos atraz, ao niesnio tempo que soava o desesperado e desliarmoniosissimo apito do guarda, lingiu procurar afflicto o troco, e, dando assim al- guns segundos desperanca ao meu compa- nlieiro, voltou as costas, porque o trem conie- cava a andar, e d'alii a poucos segundos des- pedia como uma seta. No moniento era que sc conlieceu ludibriado o meu co-viajar teve a dcsinquiela inlencao de se precipitar do carro, nuis vendo a inutilidade disso, e nii- iiistrando-llie a imaginacao, talvez, a prespc- cliva d'unia tibia partida no salto, resignou 0 descjo, soltou, uum regougo, uma phraze baixa, deixou caliir a nao-lida gazeta, tirou duas bolaxas da algibeira, niasligoii-as vaga- rosanicnte, arrancou do fundo do bolso do ponderoso casacao dc pano-pilnto uma garrafa de fjinger-beer, e um eopo dobrado de gutta- percha-, desdobrou-o, ccollocou-o direito na al- inolada, desarrulhou a garrafa voltada para a jaiiella aberla do carro, encbcu o copo, be- heu pausadamente, atirou fora com a garrafa vazia, dobrou e recolhcu o copo, enliou ale aos ollios 0 bone, involveu as pernas na manta de viageni, acochcgou-se no casacao e no lo- gar, e d'alii a poucos minutes o arruido do seu aspero rcspirar, annunciou-me que dentro d'aquelle involucre dc batata e bolaxa, de eerveja e giugcr-bcer, tinha adormecido um cspirito de carvao de pedra. Eis o que sao inglezes em viagera! Chegado ao seu dcslino talvez vollasse de novo para receber o troco, c corrigir o rapaz. Basia ser inglez para ser capaz disso. Falla um miiiiilo e vanu)s |)artir dc Hicli- uioiid. 0 tempo em luglalcna e tudo. « Ttme is money " c o axioma da Kconomia Britani- ca. Esio dido niio partiu dc Adam Smilh, nao 0 formulou ./. B. Say, uao o disculiu J. Jien- tliam, ponpie e da cssencia de todos os in- glezes, e faz parte do seu cliaradi-r nacioual. Us segundos coutani-se com taiito cuidado como OS guineus. Um chronometro e o mesmo que um Banco. Oil I que linda camarada que tcnho ate Windsor! — vou so com ella na carruagem. Que nobre costume que e esic I — a don- zella de dezesele annos imii Inglaterra viaja com tauta seguianca e iudepi'udencia como um rapaz de vinte e cinco. Adoro a emanci- jiacao da nuilher ingleza. Ninguem se atreve a dirigir-lbe um dicto meuos proprio, um gra- cejo inenos convcnienle. Eulri^ uos e exa- ctamente o in\er.so. Uma menina so, e logo considcrada uma mullier perdida : nao pode apparccer nas ruas, nos passeios, nos jardins, nos theatres sem um parcnlc, ou pelo menos uma criada, a niio qucrcr imniediatanientc o iufundado e estiipidissimo anatliema dc nier- cenaria do corpo. 'Nisto esta o nosso bello sexo dous seculos atrazados. — Em Londrcs quasi que nao se encontra uma seuhora acom- panhada d'bomem. A uiiulia aniavel companhcira deu-mc en- sejo c atrevi-me a fallar-Ihe: — correspon- deu com uma alfabilidadc lao seductora que mais nao. Pcrguntou-me se era turco? — o meu bigode c a minha falla e a tez nioreua alraicoarium, ainda quando as (piizessc tcr, quacsquer prelencoes a subdito britanico. Kespondi-Ihe (|ue nao ; mas sim portuguez. « Hespanbol?» replicou ella — Sim, da penin- sula liespanica, mas do reino de Portugal. No proseguir da conversa advcrti que ainda me julgava castelliano. Servi-me entao d'um meio dc que jii tinha lancado mao para indi- car a niinha patria a um inglez (jue me jul- gou turco, francez, allcmao, hespauliol, ame- ricauo, m;is de portuguez eoisa nenhuma. Uisse-Ihe (jue era do paiz que produzia o vinho do Porto; e entao sim, ficamos cor- rentes, A pequcna era natural do Richmond, e dis- sc-me tanta eoisa bonita da sua terra, que apressou d'alguns dias a minha projectada ida a Iticlimond. Durante a viagem notei, a direita, o vistoso edilicio de tijolo brauco e vermellio-daro do If'liillon school e a linda ponte do Staines, que ella com a delicada niao alva e mimosa mc apentava. Os numerosos bandos de corvos nos campos de Richmond trouxeram-nie a lembranca as ferteis varzeas da Graciosa, e pude entao apreciar a distancia que ha entrc ir commodamente 'nam vagao de primcira 165 classe conversando uma formosa rapariga, c Ir do Porlo para Coimbra hifurcado 'num raa- nlioso sciidciro, escutando as pulhas torpcs d'ura arrieiro dc praca. Era a confroulaoao do supplicio da pole com os reciuintes syha- riticos d'uni Epicuro liiMiario. Nao sonlicin que ha 'nisto poesia balofa : busquem achar- se nas duas opposlas circumslantias, e ajui- zem depois. Canlinua. A. A. MONUMENTOS DE COIIillBRA. I. Christuos, ganhasles Coimbra, Mais que joia oriental ; Mais tu, (Joiinbra, ^anhaste, Que tens fonle baptismal, E a lua Mcsqiiita grande Veras logo em Cathedral. Castilho. Quasi no meio da formosa collina, sobre que assenta Coimbra, se Icvanla este celobrc tempio, sem duvida o mais antigo monumen- to da cidade (se exceptuarmos o Castello, fundacao de romanos, segundo a opiniao mais verosimil), e, por ventura, o unico em Por- tugal do tempo dos Godos, de quern, geral- mente se diz, Idra obra. E edillcio magesloso, cuja arcliiteclura se nao parece com a de oulro algum conliecido. Suas altas paredes conslruidas de cantaria, c coroadas de anieias cm toda a extcnsao, mais 0 inculcam guerreiro castello, do que tempio de cliristans. E que na architectura dos Godos a elegan- cia roraana era modilicada pcia solidez exag- gerada do gosto genuanico. Estas grossas muralhas sao, talvez, o que resla da primiliva, porque as portas cxcres- centes de pedra d(! Anca, em cujos lavores o A. das Bellezas dc Coimbra notou o goslo dos ai'chiteclos Godos polas miudezas e orua- tos exquisites, foram lavradas em tciupo miiito posterior ii edilicacao do tempio, como a pri- meira vista se alcanca, e sao obra de Joao de Cadilho, segundo aDirma urn escriptor mo- ' El-Rci D. Fernando I de Leao, conqnistando Coim- bra aos Mouros em 1064, etigiii a sua mesquita maior, depois de cunsagrada, em Se Cathedral, lilulo que logroii ate oulubro de 17721, eui que se lran:>ladou para o sum- ptuoso tempio do coUegio da Companhia, pela cedencia, que d'elle fez ao Cabido o Marqiiez de Pombal, entao residente em Coimbra a reformar a Universidade. .; Km carta regia de 11 de ontubro d'aiplclle mesmo anno, dirigida ao Marquez, declara El-llei D. Jose prestar sen real assenso a esta cedencia. Uoje e parochia de S. ChristovSo. ^ Cap. XX — pag. 129. derno, que nos bustos era medalhoes, aralics- cos ao divino, nichos de concha, halaustres, vasos, pilastras estriadas, como tudo alii se vc, reconheceu o habil cscopro d'este forrao.so arlista '. 0 edilicio e quadrado, com trez portas, das quaes merece especial menjao a maior do lado estiuerdo pelos primorosos relevos do arco, e varandas, que Ihe licam sobranceiras. Nao teni janellas, apenas algumas frestas, por onde se escoa uma luz escassa ; tamhem nao tinha torrc, nem outro signal de tempio, senao uma cruzinha de ferro sobre a cupula. Poreni levando a mal um dos ultimos priores, que na antiga cgreja da parochia, poucns pas- sos distante, se locasse a missa, que havia dc celcbrar-se na Se Vellia, mandou derribar as ameias da parte anterior do edilicio, para no seu logar se construir um canipanario. Acudiu a respectiva auctoridade com em- bargos a obra ; porem o piedoso sacerdote soccorreu-se ao Governo, que, de bom grade, Ih'a consentiu. A final no proprio logar, donde, tantas vezcs, soara a voz do Almohuden, retiniram, pcla primeira, os sinos em vinte e quatro de jullio de 1839, setecentos setenta e cinco an- nos depois que aos Mouros fdra conquistada a cidade '. Na verdade era desairoso, — por nao dizer impio, — que um tempio christianizado, ha tantos seculos, conservasse ainda vcstigios profanos, pela falta de canipanario no fron- tispicio, como e de uso entre catholicos. Embora esse tempio fosse para toda a Euro- pa, a despeito de tao grave senao, o mai.s bem conservado monumcnto dc architectura, DOS primeiros seculos do engrandecimenlo da egreja ; o erro commettido pelos Conegos , quando mandaiara edilicar a torre em logar erino e desviado do tempio, devia ser emen- dado por um clerigo mais enteiidido avalia- dor das conveniencias architectonicas. 0 respeito, que inspira o exterior do tem- ple, sohe de ponto, quando 'nelle se dao os primeiros passes. A vaslidao, o silencio, uma luz pallida. ' O norae d'este architeclo anda associado aos nossos mais celcbres monumentos. O conventu da ordem de Ciirislo cm Thomar, o dos PP. Jeronymos de Belem em Lisboa, o mosteiro de Alcoba^a, o da Batalha, etc. Ihe devem niuilos dos primores de arte, que os ennobrecem. Para mais ampla nolicia veja-se esle nome no Diciiunnairt: hist'trico-artisliiiue dlt Piirlugat — Par Le Comte A. Raczjnski — Paris — 1847. - A epocha da cunquista de Coimbra por D. Fernando o Slagno e um dos pontos mais controrertidos na bisloria de Hespanha. A opiniuo dos que pOem essa conquista em 1058 e a mais segnida; mas os fundamentos dos qne pugnam pela data de 10G4 parecem-nos mais seguros.— Pudem \er-.?e n& Digressdo histurico-critira, que o sabiu monge de .Alcobatja, e deftinto Arcebispo de Evora, X). Fr. Fortunato de S. Boaventura, junctou no fim da sua Ifistn-ia chronologica d'aquella real Abbadia, publicada em 1827. 166 inal reflectida pclos azulejos das parcdcs ', infuDdem no aniiiio esse pavor saudavel, que recoranienda o Lc\itico ao logar saiicto ', fa- vorecciido a piedade , c o rccolliimcnlo do cspirilo na coiiili'miilarao dos divinos luyste- rios '. Grandes campas scpulcliiacs , carrcgadas de brazOes, e cscudos d'ariiias, esculpidas cm marmore prelo, iiUL'iTom[icm, de urn niodo espressivo, a nionoloiiia du pavimcnlo. Esta dividido o rcciiito cm trez naves |)or duas ordens de coliininas, que suslentam ma- geslosamente a aboliada ; niio ha porem com- pleta liarnionia oulrc as siias paries. Sendo a Sc Vellia nionumeulo anliquissimo, as addieOes, mudancas, e reparos aprcsenlam 0 cunlio dos seeulos, cm que successivanienle se operaram, com alguma quchra da veneia- vel ancianidude da piimeira I'abrica'. E que desde o bispo D. Miguel Paes, que em 1177 relormou porticos e capellas ', ale 0 bispo D. Joao de Mello, que em 1088 ornou 0 corn, e levanlou a torre grande ' , nuiilos prelados icm cngrandccido , com generosa muniliccncia, esta celebre callicdrai. Em ItiiO reedilicou a Capeila-Mor o gran- diose bispo D. Jorge de Almeida, irniSo do Yice-Rei da India, D. Francisco de Almeida . 0 scu relabulo, construido de madeira * M. W. H. Harrrsson ditque son revetement de tuite, emaillt'es (azulejos), qiril croil fabriquces en Flandre fail iin curieuK elTet. Portujal, par M. Ferdinand Denis — pag. 388. » Pavele ad sanctuariiim meiini. Cap. XX\I, fl. ^ II y regne line obscurite favorable k la piete, et an recuillemeiil de Tame. Chateaubriand — Ilincraire de Paris a Jerusalem. Tom. lecond. — pag. 2.11. ■• Elle (la vieille cathedrale) est jient-etre le plus an cien ediflce de la viUf , et neanmoins elle en est la con- struction la plus moderne; car depitis sun origine qui est incounue, mais qui semble remonter li I'epoque desGoIhs, jusqu' a nos jours, les additions, changemens el rt^parn- tions, qu'on y a fnils, ))ortent le cachet de presque chacun des siecles qui separenl crs deux termes ejoignes. ifs arts en Portugal — Par le Comle A. Raczynski — peg. 467. ^ Gastou muito dinheiro em reparnr^ e refnzer a Se; e dez annus trotixe um eslremndo oflicial occu| ado 'nisto, a quern dava grande salario k custa de sua fazelida. E luandou vir uni grande archilecto por nome Kolterto pera fazer, e ordenar as pnrlas da Se. Chronica da ordem dos C'onegos regranles do Palnarcha S. Agoslinho. — Por D. Mcolau de S. Maria — Liv. XI, cap. XIII.— O 8r. L. .\. Hebello da Silva, priraeiramenle na epnchn Tom. I. num. 18, depois no Panorama — \^\. II,— 3.» serie — u.o 3, allribne ao Bispo D. Miguel Paes a funtta^ao da Se, por nao ptitter coticordnr a remota exiatencia nttribuida a Cathedral com a destrui^ao com- plcla de Coimtira. Nos comprehendemos facilmente, que i destnii^iio do tempio se seguisse o rrfasimento, e re- pararao, operada pelo Bispo, que nao conlraria, antes cunfirma o facto da remnta existencin, aVilis atleslada jielos nossos e alheios escriptores. ^ .Atlenden muito aos adornos da sua Se, levantou a torre grande, que araea(;ava rnina, e ornou o cdro, c capellas com ricas arma<;oes, e relabiilus Evora Gloriosa — Pelo P. Francisco da Fonseca. — Parte terceira — pag. 3g2. ' Gasco. — Antiguidades de Coirabra — cap. XXII. dourada, rcpresenta a As.iumprao de \ossu Senhora, e e de admiravcl licllcza, e do mais puro estylo gotliico '. Do principio do seculo XVII dalam os or- namcnlos dourados, que cobrem as paredes dos dous lados do altar '. Poucos annos depois erigiu a capclla do Sanclissimo o magnilico bispo D. Joao Soarcs •*. .Semicircular, e toda do marmore, contiim, em du.is galerias, as estaluas dos Apostolos, de primorosa escultura. A magnilica obra da Sacrislia e do grande bispo D. AITonso de Caslello Branco*. Se ao estudioso das Bellas Aries olTerccc a Se Velha perfeilos modelos de bom goslo em sua variada architeclura ' , ao amanle das antiguidades patrias recorda tambem gratas memorias. Foi 'ncste sumptuoso tempio, que cl-rci D. Fernando o XIagno armou novecentos caval- leiros, e enlrc illes oCidadao campeador, D. Ituy Dias de Bivar', e o famoso D. Joao Pestana, avo do immortal Giraldo — sem pa- vor . .\qui, no dia l."} de agosto de 1170, El-rci D. AfTonso Ilenriques armou tambem caval- leiro a sen lilho D. Sancho . Aqui, a U de dezcnibro de 1183, vein este principe receber a coroa, depois da morte d'aquelle monarcha '. Aqui , a instancias da vcncravel esposa d'EI-Rei D. Diniz, e com approvacao do bispo D. Ilaynuindo, se selcbrou a primeira festa da Immaculada Conceicao de Maria, que de- pois se estendcu as outras cathedraes do reino ' . .\qui, no anno de 1301, foi lido, por ordem d'EI-Rei D. Pedro I, o inslrumenlo da decla- ' Les arts en Portugal — pag. 467. ^ Id. 1. cit. ^ Veja-se o que ^cerca d'este sabio prelado diz o illuslre Biographo do veneravel .Arcebispo de Braga, U. Kr. Barlholomeu dos Marlyres. — Tom. I, liv. II, cap. XVll, e o opusculo. — Os pnrliiguezes nos con- eilios geraes — pag. 96 — jior A. Pereira de Figueiredo. ■* Miiilo ennobreceu esta sancta Se a(pielle generoso Bi.spo D. AfTonso de Caslello Branco .... ediflcou a famosa sachristia d'ella, que por certo se tem que e unia das melhores que ha. Gasco 1. cit. pag. 119. — Pergunla Raczynski (I.es Arls en Portugal pag. 469): " De quelle epoque est le loile de la sacrislie? je ne sais pas all juste; mais je suis port^ acroire qu'elle date du temps qui separe liaiihaiM des Carrarhe ; il est . /'eta^a, de cojo tumtilo tra- claremns em ontra occasiiio, e O. Maria Tt'lles de Meaezes. D'esla ultima Senhora nau existe monumento, nem scquer tradi(;iio do logar, em que fdra sepullada. A'eja-se o excellenle Poema, que, sob a epigraplie — J). Maria Telles de Menezes, — publicon o sr. Ayres Pinto de Souza na Revisia Lilteraria (do Porto) — Tomo IV — pag. 57». ' O Conde D. Sisnando, elc. Dij Joao Pedro Ribeiro nas suas rejlexoes historicas — Parte I — n. 8, que o tumulo de D. Sisnando, antes de ser Iransferido para o logar, em que, ao presente, se acha, estivera col- locado no claustro, para onde alias fOra trasladado do tamplo. procissao quando iara cobrar as contribuicOes para os mosteiros a que pertenciam; faziam-as iigurar nas asscinbleas solemnes; nos debates judiciaes prestava-se juramento sobre ellas; c 0 povo mais se lemia de perjurar sobre os sinos, que sobre o Evangelho, por isso mesrao que olhava a vinganca immediata do sancto, cujo sino ousasse menospresar. lloje mesmo ainda se empregara alguns sinos na Irlanda, eomo antiganiente, para prestar juramento, jiara honrar os funeraes , para exercer uma especie de prova e para dar mais apparato li festa do Orago da localidade. Entre as sombras dos tempos passados, ha poucas tao ine.vploraveis como as dos sanctos primitives das egrejas iriandeza e ingleza — S. Patricio, S. Kieran, Sancta Colombe, S. Gildas , S. David , S. Senanus. Com tudo sinos, ou antes sinetas, frequcntemente men- cionadas em nianuscritos historicos e pcrten- cendo a localidades desviadas, tem atraves- sado ate nos acompanhadas d'um sem nu- mero de attestacoes tradicionaes, segundo as quaes deveriam ter sido instrumentos empre- gados por aquelles sanctos personagens, ja no altar, ja no exercicio ambulante do sen mi- nisterio. Segundo se diz, trez d'estas sinetas tiveram a bonra de pertencer a S. Patricio em pessoa. Uma d'ellas deveria ter estado em suas maos no monte do combate o « Croagh Patrick » nioderno, theatro da ultima lutta que teve contra os demonios d'Irlanda. Nao bavendo eonseguido, posto que tocasse com toda a forca, o desembaracar-se de seus ad- versaries, acabou arremessando a sincta ao nieio d'elles, que a vista d'isto se escaparani precipitadamentc, livrando a ilba das suas aggressoes durante sete annos, sete mezes e sete dias. 0 projectil, quebrado pela queda, foi logo consagrado ao sancto patroiio de Kildarc, sob 0 nome de «sino quebrado de Brigid ». E fora de duvida, que esta sineta niio e a mesma de que se laz mencao nos « Ada sanclorum «, de ter sido concertada por um anjo para S. Patricio, e de que se mostrava depois a .sol- dadura como prova do milagre. Uma segunda sineta de S. Patricio, ten- do-se tornado propriedade da abbadia de Ar- magk, era empregada em 946 pelo abbade, para medir o tribute que Ihe pagava uma po- voacao do Norte, como ao successor do apostolo d'Irlanda. A terceira e a mais venerada d'estas reliquias e conbecida pelo nome de « sino do testamento de S. Patricio ». A violacao d'um juramento prestado sobre este sino em 1044, foi, segundo se affirma, punida por uma cor- reria em que se tomaram grande numero de prisioneiros e 1200 vacas. Este sino, no co- meco do seculo XII, estava enccrrado 'nuin magnilico relicario, ornado de serpentes en- trelacadas d'um gosto tao elegante quanto original. A guarda tinha-se tornado heredita- ria e formava uma fonte de consideraveis ren- 168 (linicnUis. Parcce que urn tal nrnrique Mu- Ihollaiul, que niorrou pelus lins do seculo pas- sado, terminnu a longa serie de nuMubros dc uma so farailia cniarregada, pelo espaco de 700 aiinos, da conservacao d cslo specimen da arte anliga. 0 sino cm si csta niuito cor- roido pela acrSo do tempo, mas ve-se (|ue fura fabricado giosseiramcnte. Com tudo o trabalho do reiicario, oxeculado em Irlanda sctcnta annos antes do desemb^irciuo de exer- cilo dc llenri(|m' II nas praias daquella ilba, prova que os iiidigenas nao estavam de modo algum mais alrasados nas artcs da paz ([uc os seus conquisladores. Eslc sino com o reiica- rio figurou na exposirao dc Cork em lSb2, e dcscrcvem-lbe o soni, como o mais proprio para afugcntar os espiritos raalignos , bera como todos OS reptis, exceplo a cobra surda. Conti'iua. COLLECQiO DE PRODUCTOS DAS NOSSAS POSSESSOES ULTRAKIARINAS. 0 muscu da univcrsidade acaba de ser enriquccido com uma colleccao de variados productos das nossas possessOes ullramarinas, que ihe foi oflVrccida pelo sr. Antonio Julio de Castro Pinto de Magalbaes, bacliarel for- mado em pliilosophia, e primciro official da secretaria do conselho ultramarino. Esta colleccao coutem amostias de exccl- lentes qualidades de productos indigcnas das nossas possessOes na India portugueza, e na Africa; de cuja exploracao o nosso comraer- cio, a industria manul'actureira e agricula, poderiam tirar avuitados interesscs, e consi- deraveis meliioramentos, mas que iiifelizmentc sao pela maior parte quasi dcsconbecidos cn- trc nos. Na exposicao universal de Paris, onde mui- tos d'csses productos foram apresentados, tive- ram elles a maior acceitacao, e urn grandc numero de sociedades estraugeiras solicita- ram do iiosso commissario regio amostras d'aquelles productos, que tinham sido colligi- dos pelos cuidados e diligencias do conselho ultramarino. Na colleccao, que o sr. Pinto de Magalbaes oU'ereceu para o museu da univcrsidade, ha tinco (|ualidades de urzella de Lourenco Mar- ques, de Bcnguella, de Cabo Delgado, e de Cabo Verde : o gergelim hrunco de Mozambi- que, e o gergelim pieto da India : o maud de Cabo Delgado: dnas qualidades de tiipioca de Mocambique : a mafurra e o meiidobim de Mo- rambique; a castanha de Inliambane; amen- doas dc puna, e o brindao da India : diversas qualidades de cafe de Cabo Verde e Mocam- bique; assucar de Mocamedes; flor de chiote d'Angola ; cascas de urvores tinloriaes; a clia- lata e a lunga, a t(i:rt dos indigenas, de Mo- cambique ; seraente de acacia rubra, etc. SSo tambem notaveis os exemplares de (jomma elustica de Gorungo-Alto cm Angola ; OS de (finnina copal de Bcnguella, do Ambriz. e do Ambrizete; a i/omtiia de cuju; o enxofre de IJenguclla cristalisado em taboas, e o da lllia do logo: sal (jemina dc Quissama, c malachite do Ambriz, etc. 0 conscllio da I'aculdado de pliilosophia, agradercndo, como Ihe cumpria, a generosa oll'erta do sr. Pinto de Magalbaes, e mandan- do I'azer bonrosa mencao do nonie do offe- reiite no livro das actas das suas sessOes, delermiiiou, quo esta collecyao losse coorde- nada em urn gabinete especiil, (juc licaria dcstinado para os productos das nossas pos- sessOes, para poderem scr alii estudados pelos nacionacs e estrangeiros, que frequenlarcni cste cstabelecimento, e servirem tambem para demonstracao nas aulas respectivas, alim de serem devidamente apreciadas essas riiiuezas das nossas possessOes d'alcm mar, c de cxcitar o gosto e inleresse pela sua explo- racao ontre aiiuelles, (|ue por seus estudos, c prolissao sao os mais competentes para auxi- iiar e dirigir as diversas emprezas, que se organizarem n'aquelles vastos territories. Seria niuilo para dcsejar, que o govcrno por meio das suas aucloridadcs, e por conimis- sOes especiaes lizesse colligir e examinar todos esses productos naluracs das nossas possessOes, e provesse de exemplares d'elles os nossos mu- seus, para serem alii estudados e conhecidos do publico. Na falla d'este indispensavel auxilio, gran- de service fez o sr. Pinto de Magalbaes, pro- vendo o nosso muscu com uma tao selccta colleccao, que o niesmo senhor prometle con- tinuar a engrandecer com aequisicao de novos productos, que die e incansavel em solicitar do ultramar, onde por alguns annos serviu ja 0 seu paiz com muita dcdicacao, adqui- riiulo variados conhccimcntos sobrc as mais importantes produccoes d'aquclle solo. J. M. DE ABREC. Kovn loromoiiva. No concurso agricola dc Chelmsford apresentou-se uma nova e mui original loeomotiva, que traz comsigo os rails sobro que deve correr. Collocada a enlrada de um campo lavrado, de um prado, ou d'outro qualquer terreno, o director larga o vapor, imniediatamcntc a maravilhosa machina lanca diante de suas rodas os rails sohre que deve mover-se, depois da sua passagem os roi7* jlevantam-se para de novo se eslender respei- tosaniente, como uma alcatifa de ferro, dcbaixo dos magestosos passes d'esta rainba triumpban- te; a loeomotiva corre assim com cxtraordi- naria facilidade sobre tcrrcnos, onde deveria enterrar-se ate ao meio por seu proprio peso. (iloq fihnJai ® Jujstitittir^ JOUINAL SCIENTIFICO E LlTTEaARIO. i;Ii .oi-i.'liii'! I - rrn I -.!,!, 1,1, EXPEDIENTE. Assigna-se cste Jornal em Coimbra, no Ga- hihele do fnstitulo: cm Lisboa, na livraria do sr. Cobellos, nia Augiisla n." 2 ; nol'orto, na do sr. Jacinlho A. Pinto da Silva, ma das Hortas n." 144; cm Evora, na do sr.V. J. da Gama, collcgio dc S. Paulo; no Pczo da Re- gtia, na do sr. M. Mendcs Osorio. Toda aconespondencia, franca de porte, sera dirigida — -1' Redacrao do Institulo. Coimbra. ' Prero, adiantado, por anno, ou 24 numeros, francos de porle 1^440 Porsemestre, ou 12 numeros, dictos 800 Avulso 100 Para os srs. Assignantes os numeros, que Ihes I'allarem d'este 5.° volume se- rao pelo niesmo preco da assignatura annual, ou cada urn CO Os exeniplares que resiam dos volu- mes 1, II, III e IV d'este Jornal ven- deni-sc, cada urn por 1^200 Anuuncia todas as producrOes litlerariasdos socios, que assim o desejarcni, e remctterem a redaccao as notas oompetentes; e todas as outras, de que forera rcnieltidos dous exeni- plares. £0.\SEL1!0 SliPLRlOlt DE I.\SIIlltCA9 PtCLICi. RELATORIO AlVXl AL. 1833—1834. C'ontinuado de pag. 159, Faculdade de direilo. Foi frequcntada por 403 alumnos, de que nos actos foram approvados — nemine discrc- punle — 414, e simpliciler 22: do resto uns pcrderam o anno, outros nao loram babilita- dos, outros, sendo-o, nao lizeram acto, e 4 foram rcprovados, corao tudo consta pelo res- peciivo niappa n." 3. 'Nesta I'aculdadc, bem corao na de philoso- phia, ja se, cunipriu a lei de 13 de agosto de 1833, formando-se de anibas, como se ordenou Vol. Y. NovEMBno 1.°- 1)6 regulameiito de C dc junho dc 1834, o curso especial de direito adminislralivo. K d'este modo, sem augmcntarao Thcsouro mais do que a despeza d'uma cadeira, e respccliva subslituif-ao na faculdade de direito, conse- guiu-se estabclecer na Universidade urn novo curso especial de habilitacao para cargos c empregos administrativos, de que tanto se ca- recia ; e pelas matriculas, realisadas em oii- tubro, se ve ([ue muitos alumnos da facul- dade de direito se destinam tanibem a essa babilitacao especial. 'Nesta faculdade eslao vagas 4 substituicocs ordinarias, e as 4 exiraordinarias da lei de lOde agosto de 1833 ; e essa falta, juncta com a auscncia de 3 lentes para cortcs, e niuito prejudicial ao servico, e terao de Hear talvez cadeiras fccbadas; porque nao ba opposilores, nem doulores addidos, que sejam obrigados a tal servico. E verdade que pelo concurso, que jii so acba abcrto, espera-se, que sejam provides OS 4 lugares de substitutos ordinaries, ale que passcm os 2 annos da lei de 19 de agosto de 1833 art. 4.° §. 3. Continuara a senlir-se por esse tempo a falta de niestres para o ensino, se nao houvcr uma dispensa de lei, que, 'nestas circumstancias especiaes, permitta fazer-sc a promocao de substitutos ordinaries antes de passados os 2 annos. Faculdade de mcdicina. Foi frcquentada por 02 alumnos: dos quaes dois perderam o anno; 6 deixaram de fazer acto ; um foi reprovado ; approvados plena- mente 48; e simylkiter S. 0 consclbo d'esta faculdade representou a V. M. a nccessidade da creacao d'uma ca- deira de clinica cirurgica especial, como ja teve 'noutro tempo ; e essa pretencao aclia-se por ora pendente. 0 eonselho da faculdade tracta de fazer nova distribuicao dc lodas as niaterias do curso, como Ibe permiltc o art. 138 de dec. de 13, art. 21 dede 11, eo art. 104 do de 13 de Janeiro de 1837 ; e o con- sclbo superior, com quanto dcseje dar a maior latitude possivel aos cstudos practices, espe- ciaes e d applicacao, apuarda essa distribuicao de niaterias, para depois consullar a V. M. o que mellior eulendcr sybre tal pretenjao cm 183C. Num. 13. 170 cumprimoiUo da portaria do rainislcrio do Rcino (le 6 d'abril do anno eorrcnle. 0 mcfmo i-oasellio da faculdade tambem liediii, cm 2'.i de Janeiro ultimo, aiif;niento de dous subslilutos ordinarios para preeiiclier o numero dt; 5, egual a metadc dos cathedra- ticos, coino om todas as outras faculdades. Podcra pareccr que nao ha razao para lal augnicnlo, porque, supposto esta faculdade U'ra dous subslilutos nienos do que nas outras faculdades, tern dous substitutos extraordina- rios de mais , e eutre uns e oulros vem a ter tantos, como cada uma das outras faculda- des cm ambas as classes. Nao pode porem desconbecer-se, que as circumstancias d'csta faculdade sac espeeiacs, e muito diversas das outras. Tern e verdadc dous deraonstradores, e trcz ajudanles do clinica, que sao os scus 5 substitutos extraordinarios : porem estcs cinco estao todos erapregados contlnuamente era servifos especiaes elTeclivos, como o das dcmonstracoes, e preparacoes do pecas patho- logicas e anatomicas , e o servico classico das enfermarias dos homcns e das mulliercs, e do hospital de molcstias cutaneas : sao por isso obrigados a urn estudo especial, diario e conlinuo, e sujcitos a um servico da mcsma nalureza, a que nao poderu faltar. Nao sao como OS extraordinarios das outras faculdades, que estao era dcscanco, em quanlo nao tcm regcncia de cadeira, a que somente sao cha- mados em falta dos ordioarios. A ura demon- strador ou ajudantc nao e possivcl, quando for charaado a reger uma cadeira, cujas disci- l)linas nao tenham relacao com as dcmonstra- coes e ajudancias, como philosopliia, apho- rismos, obstetricia, raedicina legal etc., accu- luular tal servico corao seu ordiuario, e satis- fazer bem ambos os services. Com tal accumu- lacao, que pode scr muito repelida, frustrar- se-ba 0 pensamento de crear especialidades, pelo exercicio diario no exercicio da clinica nos hospitaes, que olTercfam ii sciencia as- siduas e escrupulosas observacoes no grande numero d'exemplares, que observam todos os dias nos hospitaes. 0 iheatro anatoraico continiia em bora ar- ranjo c accio, e vai augmentando progressiva- niente a collecao d'exemplares preparados ua propria eschola : 'neste anno foram dissecados 83 cadaveres, sendo d'estes ul para o estudo de anatomia patbologiea, S para o de opera- coes cirurgicas, 1 para o d'arte obstetricia, e '16 para o de anatomia pbysiologica. Esta porem muito pobre de instrumentos, como se (liz no relatorio especial d'csta faculdade ; ua reparti^ao d'obstetricia crcada dc novo, carece absolutamente da ferraraentagem, e instrumen- tos especiaes, porque nada tem moderno. 0 conselho da faculdade ja cm 21 de ou- tubro de 18o3, o 9 de junho do 181)4, tractou do arranjo, e organisacao do thcalro anato- raico, apropriado as disseccocs, preparacOes e observajues microscopicas, decretada pelo art. lot) do doc. dc 20 de septembro do 1844 ; e ullimamcuto assentou consorvar o actual no mcsmo lugar, cm que existe para a anatomia grossa, para cconomisar despczas, ainda que mclbor fura, para bem do cnsino, ter tudo rounido ; e dosignou um local muito ajjpropriado para esta obra ; mas nao c pos- sivcl p(>l-o cm cxecufao, por falla do meios pecuniarios. 0 chefc da Universidade, no seu relatorio, dii conta dc que ja sobrc ostc objecto (izcra proposla a Y. M., por odicio de 28 de agosto ultimo, era barmouia com o voto da comuiissao especial dos hospitaes: o esle con- selho superior rcspeitosamtntc pede a V. M. se digne resolver sobre essa proposta, corao entender era sua alta sabedoria. Dispensatorio pharmaceutico. Este estabelecimento ainda se nao mudou para o edilicio do hospital, no Collcgio das Artes, e a cxistcucia em apartado prejudica 0 servico, a fiscalisacao, c a cconomia ; mas a mudauca, e nova collocacao, apezar de ja auctorizada por V. M., nao se podcra realizar so com OS meios ordinarios da verba annual, votada no orcamento do Estado para despezas da Universidade. A mcsma falta de raeios obriga a que se conservcra ainda as cstantes sera vidracas, e que a arrecadacao dos raedi- camontos e drogas nao esteja scgundo os prin- cipios da sciencia. Em quanto se nao Czer a mudanca do dispensalorio pharmaceutico, nao podoni collocar-sc o lyccu nas cazas, que hao-de iicar desoccupadas, eque estiio destinadaspara elle : e isto e niais um raotivo, polo qual este conselho mui respcitosaraente pede a V. M. se digne attcndcr a que o dispensatorio phar- maceutico carece de raeios extraordinarios, por uma vez, para a sua mudanca, collocacao e arranjo. Os hospitaes acham-se collocados nos edifi- cios do Collcgio das Artes, de S. Jeronymo, e dos Militares; mas precisam ainda de muitas obras, que estao indolinidamente espacadas por falta do meios. De todas as raai urgente e a iutroduccao da agua, que os hospitaes ja tora, do cano geral da cidade, nas corcas de S. Jeronymo e do Collcgio das Artes, e eleval-a, por meio de bombas, as enfermarias e logares dos editicios, em que niais convier. E como oprelado, no seu relatorio, dizquejapropozera a V. M. raeios no seu referido officio de 28 de agosto ultimo, o conselho pede a V. M. se digne attender a essa proposta como a V. M. mclbor jiarccer. No relatorio, feito pelo conselho da facul- dade de medicina, vai juncta a conta de re- ceita e despeza de todos os estabelccimentos annexes a faculdade, e mappas do movimento dos hospitaes desde o 1.° de julho de 1853 a 17] 30 de junho 18S4; e sao rcpresentadas as necessidades maisurgentes, e prccisao deaiig- mento de meios para occorrer a ellas : e este consclho superior nao pode deixar de pedir respeitosamenle a V. M. se digne toniar em sua alta consideracao tao juntas supplicas a hem do eusino, e da humaiiidade cnferma. Faculdade de maUiematka. No relatorio da Universidade, com referen- da ao especial d'esta faculdade, se da conta de varias resolucoes d'attribuifSo do respccli- vo consellio, a hem do service, na parte for- mal scientilica e econoniica: e se diz como se lizera o service em lodo o anno lectivo. Ultimamente cxi)Oe o prelado, que sedirigira a .elle 0 consellio da faculdade, para que sollicile do governo de V. M. a concessao da casa da livraria de S. Pedro, para collocacao da aula de desenho ; mas que elle enlende se nao deve tirar aquella livraria do local e estanles, em que se acha, nem separar aquella sala do ediRcio para outro servico : e e de parccer que a aula de desenho se pode collocar muito hem no editlcio do abandonado hospital da Conceicao. Ao consclho superior parecem atlendiveis as razoes allegadas pelo prelado ; e que a aula de desenho (que infelizmente nao tem exercicio, nem os professores, proprietario e substitute, residemeni Coimbra) (icaramolhor collocada no cdilicio do abandonado hospital da Conceicao, aonde ha capacidade para se preparar unia sala excellenle com todas as condifOes precisas para tal destine, e forraar- se juncto a clla, e unida ao museu, uma ga- leria de pinturas. Mas, quando a faculdade queira tel-a junto do scu observatoriio aslro- nomico, era continuacao d'elle mesmo tem para a parte do norte, e para a do sul, por- coes de terrene, qualquer d'ellas com espafo e capacidade sufliciente para se edilicar, com hem pouca despeza, uma casa propria e espe- cial para o desenho, que custara de eerie niuito menos do que tern de sc gastar, em niudar os livros da livraria de S. Pedro, aproprial-a para a aula do desenho, e abrir- Ihe communicacao e serventia, sem estragar de lode o edificio. Faculdade de pliilosopliia. Dos 160 alumnos, que a frequenlaram, fo- ram habilitados para ados I'i'i, perderam e anno 27, deixaram de fazer aclo 30, e foram reprovados 9, aproveitaram 94. El-Uei 0 Sr. D. Pedro V dignou-se honrar 0 museu e o jardim botanico com a gene- rosa dadiva de varios excniplares de conchas, de aves, de mamaes, e de plantas; e o consc- lho da faculdade, agradecendo mui respeito- samcnte taraanha honra, quando distribuiu tao preciosos objectes, poz-lhes signaes, que indicam a real procedencia da augusla muni- ficencia de S. M. 0 jardim botanico recebeu 'neste anno al- gum augmento, nao s6 com uma remessa, vinda de Haniburgo, e outra da Madeira, mas com um precioso presente de semenles colhidas nas Costas d'Africa, c offerecidas pelo sabie naturalista Dr. Frederico Welwitsch. 0 consclho da faculdade agradece a verba de 1:2!00$000 rs., votada no orcamento do Estado, para construccao d'uma estufa e ahri- gadouro no jardim botanico, de que tanto se carece, a hem da sciencia e do ensino, 'neste estahelecimento scientifico, um dos niais bel- les do nosso paiz: mas, sendo tal auxilio iu- sufTiciente para aquella obra, pediu-se, que se, inclua outra vez na verba de dotacao uni- versitaria, no orfaniento para o future anno economico, a mencionada verba de 1:200^000 rs. para continuacao d'aquella obra, e para arranjos, que convem fazer nas salas do hospital, heje incorporadas no museu, e com- pra de maquinas, instrumentes, e dilTerentes objectos para servico do laboratorio chimico, e dos outros gabinetes e estabelecimentos da faculdade, conforme o orcamento. Este consellio superior pede respeitosamen- le a V. M. se digne tomar em sua alia con- sideracao esta requisicao. A faculdade de philosophia precisa de habilitar todos os respe- etivos estabelecimentos para poder dar, a par do ensino theorico transcendente, todas as nocoos practicas, que elle comportar, e dispor seus alumnos, quanto possivel, para esludos especiaes e professionaes: e nao pedera dar essa cxtensao e direccao ao ensino, sem que tenha os seus estabelecimentos hem provides d'apparelhos, maquinas, modelos, e instru- mentes aniigos c modernos, d'uso frequentc no estudo da sciencia. Tractando das reparticoes da Universidade, 0 prelado, em seu relatorio, expoe com refe- renda especial da secretaria como necessaria a creacao, — 1.° de dois amanuenses para a secretaria ; 2.° d'um ajudante para o bedel da faculdade de direite; 3.° d'um conlinuo para es geraes. Este consclho sente sempre muita repugnan- cia cm proper medidas, que exijam augmento de despeza; c somcnte se anima a veneer essa repuguancia quando recenhece absolula necessidade a bem da instruccao piiblica. Na secretaria o trabalho e hoje o mesmo, que ja tem side ha lo annos : em (jue tem havido mudanca, e grande differenca e nas forcas dos empregados, que ja nao pedem ser as mesmas, come ha 13 annos antes. Esta pre- tencao ja esta pendente no consclho superior, aende baixeu com officio de ministerio do reino, de 15 de fevereiro de 18u4; c o consc- lho, para poder consultar sobre tal pretencao 172 com plono conliecimeiUo do causa, cxigiu, em data de 0 de marro d'oslc anno, informacOes 0 esclarccimentos, que aiuda llie uao foraiii enviados d'aquclla secrclaria: logo que elie- gucm, a visia dellas delilierara estc conscllio 0 que'deva consullar a V. M. ; e, scm essas iu- formacoes e esdareiimi-ntos, uao so pode apre- riardevidamcDleoservicod'aquolla secrelaria, que se torna muilo sim[iles pelos impresses, de que sc usa, e lirovidade de formulas. Um secretario, um olVuial maior, am oUiiial ospo- cial para a conlaliilidade, um olVuial ordina- rlo, um contiuuo, um porteiro; quando todos pos'sam, queiram, e saibam traballiar, expe- dirao muilo service, se o distrihuirem bom, (' traballiarem todos os dias, e todas as bo- ras, como devcm. Enlretaivto, so se luoslrar pclos esclarecimenlos e inlormaooes exigidas, (|uo sc torna indispensavel deslinar ([uem |)racti(iue, e ajude em algum ramo especial de servico d'esta secretaria, o couselho supe- rior prouiptamcnte consuitara a V. M:. o que IVir de razao, sem poider do visla a ecouo- mia dos dinheiros publicos. Em quanto a ajudaule de l)cdcl da facul- dade do direito, e verdade ([ue as aulas sac prcsoniemente lb; mas, dos primeiros 4 anaos do curso, as licoes dao-se em dias alternados ; e por tanto as 13 aulas de todo o curso licam reduzidas para o servico do bedel someiile a 11 por dia; as rcpelicoes semanaos ou sah- batinas, tanto se podem fazer todas 'num so dia, 0 sabhado, como separadas em divcrsos dias da scraana e assim se razeni ja. Os lo- gares para todas as aulas sao todos junctos, do maneira que saindo-se d'uma aula se pode entrar logo 'noutra : as boras sao desde as 8 da manba ale as duas. Uma boa com- biaacao facilitara o servico do bedel, se isso e prcciso, sem que se augmenle a despeza piiblica com um ordeaado para o ajudaute, E verdade, que o bcdcl tern grande Irabalbo para preparar os pontos e cadernos no principio do anno, c no fim do cada mcz, para apurar e encber as relacocs das faltas: mas sera possivcl talvez encarregar um dos continues dos geraes de o coadjuvar 'nestas occasioos, sem augmcnlo d'um cmpregado novo. Eiu quaiilo ao conlinuo. As faculdadcs de mcdicina e philosophia lem continuos cspe- ciacs: na de mathemalhica ba no obscrvalo- rio, guarda, ajudante e porteiro, que coadju- vani 0 servico de policia. Para o servifo dos geraes, oude concorrem a algumas aulas estudanles d'essas faculdades, e os de direito, e tboologia, ba trez continuos: ainda tirando um para servico do prelado licara dons, e o da secrctaria, lendo servico so de manba as boras das aulas, para coadjuvar os bedeis e guarda mor, na policia. Uelalbando-se bem o servico, longe de ser precise crcar raais um continue, podora imp6r-se, aos que exislom, a obrigacao de coadjuvar o bedel da facul- dade de direito, nas occasioes de maior Ira- balbo. 0 servico de policia nao e servico, ([ue se faca a podcr de I'orca, e de grande numcro do gento ; I'az-se com o respeito, acti- vidade, prudoncia, e vigilancia. Se os actuaes empregados nao tern estas (lualidadcs, o ma! veni das pessoas ; uao da lalla do novos em- pregados. Archeiros. 0 prelado pede se nomciem mais dons, porque sao ao todo sdmeuto dez ; e esses na verdade sao poucos para lazerem o servijo cm todos OS estabelecimcnlos diversos, e em logares separados — jardim bolanico, dous hospitaes,- lyceu, secretaria, prelado, geraes, muscu, laboratorio, im|)ronsa, obsorvalorio, bibliolheca. Ainda fazendo-se as precisas re- dncoes de servico, sempre fallam alguns para, a policia, fora dous logares espcciacB: e en- fadados do continue service diario, miti po- dem satisfazer ao das roudas de noite. 0 augmento de despeza c, come infornia o pre- lado, llu,§20U, rs. em dinbeiro, cada anno, a que teni do accrescer- os I'ardamcntos; mas torna-se indispensavel esle sacrilicio, porque nao e possivcl com dez someule I'azer-se o ser- vice melbor do que so faz, e com tao poucos I'az-se mal. Seesla pequena verba puder me- recer a V. M. a real allencao que mercce, devera accrescer no orcamonlo a dolacao para expediente da Univcrsidade, porque e por ella que se paga toda a dospoza dos arcbeiros. Real capella da UniBersidade. i- ' ■ !' E indispensavel a existencia e consefvacao d'clla para o cullo divine, bom excmple de piedade e exercicios religiesos, a mocidade, e practtfa de estudanles 'nella empregados, e dos quo se habililam aqui para a vida ecclcsiastica. Precisa de grandos cenccries e roparos ; c no relalorio da Universidade se pedem 1:737^^000 para os mais indispensa- veis. Esle conscllio pede a V. Jl. se digne attender a esta precisao, c mandar incluir, na preposla d'orcaraeuto, essa verba come indispensavel, alem da ordinaria, para despe- zas da Universidade, de (|ne nao e possivel cconomizar-se tao forlc somma para occorrer a ella. Tijpoijraphia e bihliotheca da Universidade. Em cada uma d'estas reparticocs ha uma commissao especial, que tracla cspecialment(! das rcformas e melhoramentos, que o prelado promclte elcvar a augusla prescn?a de V. M., quando estiverom concluidos os sens traba- Ibos ; este conselho superior, quando clles Ibe I'orem proscntes, cxpera a V. M. tudo o que Hie parecer melhor. Ccniinun. 173 HERIKENEUTICA. Duas palavras somente como resposla i pergunla : « A. Ilerniencutica 6 uma scicncia ou uma arte? « — Nao vinios, porlanlo, a pompear erudicao. Dado como sabido o objecto da Dermeneu- lica, parece que a ningucm, ainda raesmo quando pouco familiar com os re(|uisitos, (pie a critica cxige para que urn qualquer grupo dos nossos conhccimentos scja baplizado com 0 nome de scicncia, Ihe podcria, uem de leve, esvoacar pcio espirito a tentacao de co- gnorainar de scicncia a Ucrmeneutica. E, todavia, nao e assim. Ha alguns escri- plores que, ou por culposo desleixo, ou por menos bem pensado juizo, ou, nera sei se o diga, por caiculada ignorancia, a enfeitam com tal nome. Dc-sc-nos que os nao enume- remos, quando todos os i|ue versam materias d'esta nalurcza mais que muito bem os co- nhecem. E innegavel, e, ainda mais, e mesrao in- queslionavci, ipie condifao imprescriptivel, iniprescriptibiiissima para fundamenlo d'uma sciencia, e um principio esscncial, constante, universal, onde tudo, quanlo ha depois do consliluir o corpo de doulrinas e preceitos, se iilie, e por onde possa aquilatar-se-lhes a verdade e a jiisteza. Todas as sciencias tern esse principio. Dos dous vastissimos grupos em que hoje se conciliara lodas^ — sciencias moraes e so- ciaes — e — sciencias pbysico-raalhematicas — nenhuma so nos abre ao espirito, que nao Diedre e floreje, (irmada 'nelle. Do primeiro e a indnidade positiva de Deus e dos sens attributos, e a natureza moral do homem; do segundo a infinidade negaliva do universo com OS sens systemas e os sens mundos, e OS s^res que os povoam, e as Jeis que o atomo revela. Mas podera a Flermeneutica exigir a sua classificacao no primeiro d'estes grupos, — o das sciencias moraes e sociacs? Nao por eer- to. Fora o mcsmo que querer la inlroduzir, por contrabando, a granimatica, a aritbmc- tica, a rhetorica, a poetica, ou emfim, outra qualquer das arles, que proveitosas, que pro- veilosissimas larabem como aquella, nao tern por fundamento, nem a infinidade positiva de Deus, nem a infinidade ncgativa do espi- rito huniano. Carece, por conseguinte, a Ilermeneutica da condicao imprescriptivel para ser sciencia. Nao 0 e pois. Da sua existencia e apcnas condicao um attributo accidental — a manifestacao da pa- lavra. Os mudos sao o prolesto vivo e constante lavrado contra as prctencdes da Ilermeneu- tica. 0 judeu-porluguez (Rodrigues) ([ue cm Al- lemanha inventou a linguagem dos surdos- mudos nao infirmou o que dizemos. Dos cinco rc(iuisitos quo a critica rcquer para expedir o (oro de sciencia — abundancia dos faclos, lucidez de iheoria, regularidadc de nomenclatura, nexo de systema, e perspi- cacidade de mctbodo — nenhum pode exhibir a Ilermeneutica. Tendo por fim o descobrir o sentido na palavra, e niJo sendo esta signal necessario d'aquelle, mas convencional, mas caprichoso e variavel, d'onde ha de vir a Ilermeneutica, assim oscillante, um principio immutavel? um requisito de sciencia? Nao sahemos; e cremos que ninguem po- dera dizer-nol-o. Os factos, a que podemos abrir a mao, quando a razao nos convence, menteni-lhe os charactcres de sciencia. Quasi nao ha dous her- meneutas accordcs 'num principio, e menos ainda nos resultados. A palavra nao reproduz nunca todos os cambiantes do pensamento. 0 homem tern, durante a vida, muitos mi- IhOes de pensaraentos, de ideas, desensacoes; e nenhuma lingua, ainda a mais rica, tera muito para cima d'um milhao de palavras. A alma nunca deixa de pensar. 0 pensa- mento e a sua vida. — Revocada ao mundo exterior, manifesta a idi^a nova, particular, sua, pela palavra velha, geral, dos outros. Como, pois, d'uni facto tal ha de nascer uma sciencia! Se, porem, invertendo a intclligencia d'esta, quizerera arreiar com ella a Dermeneutica, quem ha no fuluro de discriminar a arte da sciencia, ou da industria? Todas ellas tem regras. 0 artista para ser perfeito preenche certas regras, como o industrial as executa. Mas, por isso que tem regras, serao sciencias? JJicant Paduani. A. A. OS LUSIADAS. Tradar<^no franceza. LES LUSIADES. CoDtiauado de pag. Ij5. 92. L'un s'elance a la nage, et dans les almadies I.e plus grand numbre court s'cnlasser a la fois; Mais ils ne peuvenl fair, lours forces engourdies Cedent, et les bateaux s'enfonccnt sous leur poids. De cadavres flotlants les ondes sonl remplies; Les plaintes des mouranls el leurs lugubrcs voix Resonnent tristemenl sur ees plaines sanglantes I Malgre le son bruyant des bombes eclalantes. 17^ 93. Lcs gucrriers do I.usus, glorieux ct vcngus, Apportcnt aux vaissc.iux leiirs noiivcUes riclicsscs; Sans i-rainle a I'avenir tie sc voir oulrages, lis peiivent recueillir Ic prix de Iciirs proucsscs. Et icpcndant punis, mais iion dccourages, Lcurs cnncmis encore par de laches adrcsses Esperenl assouvir cetlc noire fiireur, yn'accroil Ic souvenir de leur dernier inallienr. 94. BientiJl un mcssager du chef de cclte tcrre Vient parlcranx vainqucurs, de paix, de rcpenlir. El sous le nom de paix, cest une horrible guerre, Que le trailrc el son cirur espi'rc leur otTiir. Complice de la Irame el du cruel rayslerc I'n guide par son ordre aussilol doil vonir. Qui du nouvcl accord se livrant commc olagc, En secret a jure d'assurer leur naufrage. L'amiral porlugais bn'ile au fond de son coeur De poursuivre un projel que le Cicl favorise; Eole et I'ocean secondcnl son ardeur, Rien ne s'oppuse plus a sa noble enlreprise ; II acceplc cl la paix cl le guide Irompeur, Qui sous un zcle faux devant lui se deguise. El dcployanl la voile, il vole au gre du vent Se confier encore a I'huraide clement. 96. Us s'cloignent de terre et bienlut a leur suite l,es fiUes de Neree enlourent les vaisseaux; EllQs orncnt pour eux I'empire d'Amphilrile Et (ies fils de Lusus suspendent les Iravaux. Et cependant leur chef qu'un soin plus grand agite, Soupconnant lcs desseins de ses laches rivaux, Sur ces bords inconnus inlerroge son guide Et cherche k peni5lrer le cceur de ce perfide. 97. Mais le maure poursuit le projel dctesl6 Que dicta de Bacchus la noire perfidie, Habile a se parer d'un air de verile, II Irompe les gucrriers de la Lusilanie, Dans I'espoir que la mort ou la captivity Leur fermera bientot la route de I'Asie; Et vent en ecartant le doule et le soupcon Assurer le succcs de tant de trahisous. 98. Ourdissant pour lcs perdrc une trarae subtile Tel que jadis Sinon dans les murs Phrygiens, II declare a Gama, qu'il est pres de celte ile Un pays habile par des peuples chrctiens. Le guerrier qu'il scduit par celte ruse habile Promet au niusulman de le combler de biens, Si par ses soins bientot il parvient a connaitre Le peuple suppose donl lui parlc ce Iraitre. S9. Mais I'africain suivant ses projets imposteurs Doit guidcr les vaisseaux de la Lusilanie Vers des bords habilcs par les vils sectateurs Du prophele pervers qui soumit I'Arabie. II espere en ces lieu x reparer lcs malheurs De son prince, et servir sa basse jalousie; II sail qu'a Quiloa de nombreux combattanls S'armeront contrc un peuple ha'i des Musulmans. 100, 101, cl 102 C'esl ainsi que par lui cclte Iroupe egarec Va lrou\er des perils, des olislactes nuuveaui , Mais la belle deesse a I'aphos adorec Dans ce danger prcssant protege les hcros : Dociles hi sa voix, les frcMcs de Dorec fixercenl leur pouvoir sur lonipire des caux. El leur ferinant le port oil IcEulait le pilolc Lcs force a jelter I'ancre eloignes de la cote. 101. Us decouvrcut au loin un vaste continent; Plus pri'S de lcurs vaisseaux ils dislinguenl une ile ; On la nommc Mombace, et la fureur du vent Et la fureur des llols rcspectent eel asile. Les regards sont frappes de I'aspect imposanl Et des murs eleves de la superhe ville ; Le peuple y reconnail un vicillard pour son roi, Et du prophele arabe il observe la loi. 104, cl 10.5. Les ccrurs des porlugais s'ouvraient a Tespcrancc, lis s'attendaient cnfin a trouver sur ces bords Dans un pays soumis a leur sainlc croyance Qiielques moments de paix poo rprixde tant d'efforts; Mais bientot de la ville un cortege s'avancc: D'innombrablcs esquifs paraisscnt au dehors, Et c'esl cncor Bacchus ct sa noire furie Qui prepare en ces licux un'aulre perfidie. lOG. Helas! faibles morlels, un malheureux destin SouQle nos passions, preside a noire vie ! II n'est point de desert ni d'asile loinlain D'oii nous puissions braver la fortune enncmic. Aveugles, entraines , , II,!, , AO ILL. SR. ROQUE J. I EUNAIVDES TIIOMAZ OFF. o TUADIXTOH EM SIGNAL DE GRATIDAO E AMIZUIE. LIVRO PRIMEIRO. "'"' ' ^ )iiiGix pniMEiBA. :i'l- ■ il -■'■ Ricjuezas para si outro accuniulo D'ouro luzente, e de terrbno fcrtil jMuitas geiras domine, a queni assiduo Cuidado opprima em face do inimigo, E da tuba o clangor alTaste o soniiio: D'ocio folgado a vida me conceda Minha pobreza emtarito, e bruxul6e Com parcos logos a larcira niinha. Eu mesmo, na estajao acommodada, A tenra vide e as arvores frucliferas, Lavrador, plantaroi com mao attenta. Ncm Esp'ranca me illuda ; antes de rnulos Sempre sebes nie di e em piivgues niostos Tnisbordando o lagar; pois quer nos canipo> Despido lenbo a hiostre, quer vestida De lloridos fcstoes, na encrusilhada, Autiga pedra a represente a vista, Eu a venero e ao deus dos lavradores ' ' ' 0 niimo do pomar, primicias do anno, Libado ofi'orto. — Que d'espiga a c'lda, 0 loura Ceres, do meu campo tenhas Do templo tea na porta pendurada ; E que Priapo na borta se colloque, Rubido senlinclla, afi'ugentando Com a foice cruel as aves timidas. Vos tarabem, lares mens, bcnignos guardas Do campo, outr'ora pingue, hoje t5o pobre, Tcreis as vossas dadivas. E\angue A Candida novillia entao lustrava Da innuuKM-a mannda os mil novilhos : Agora e farta victima, ostentosa. Do pequcno campinho uma cordeira I Uma cordeira immolarei clamando A agrcste juventude emtorno <■ Salve! Fertcis searas e bons cachos dac-nos. » Contente ja me apraz vivcr com pouco, Sem a longas viagcns conliar-me ; Desencalmado, pelo ardor do estio, I'assar a sombra d'arvores a sesta, Do rio junto a veia trepidante. E uem me peje, alguma vcz, piiblicn, e decretus do GoveriiQ cuiumufiictidos ao Cttnselho no indicado periodv. INSTUft'rAO PUIMARIA. Alexandre Jose Goinjalvcs, para jirofcssor ti*m)Hiraria nia toxcann^ par Tot' qunto Tnss')^ & traduziflo ita lim/ua pnrtugveza pnr Jndre liodrifjuts dr Matlos, fidahji) da rasa de S. ji., cnvalleiro projesst da ordem de Christo,^ t fur- mado na factdditde dos sagrados canones pela Vni'^ versidade de Coimbra; 1 vol. em 4.*', Lis/foa^ 16«'i- A primeira cdi);rio da Iraduc^flo do iuimortal Poenia de Tasso, era verso portuguez, 6 tao rara, quilo jiouco contiecida; e 'iiislo partilha ella a sorte de tantas outrns boas obras portugiiezas. Com a publica^uo d'uroa segunda eiIi<;iio, {tertendenios antes contribuir para prupagar e facililar a leitura d'uiu o|)tirao livro, do que fazer unia especula^ao mercanti). Adrairar-se-lia 'nesta exceljenle Irndiic^uo, o quaiilo se presta a lingua purtugueza, em emparelhar com o bellr* idioma da Tuscana, e a differen^a que ba entre ella e as tradnc^ries em prosa, que nos vera de fora. Ou^Amos o que a este respeito se le no diccionario da lingua portu- gueza, da acaderaia real das scieucias de Lisbua, a pag. 118 : a No i)rincipio d'este Poema v^m, em louvor do auctor <• e da sua traduc(^ito, varios epigrammas latinos, e dilTe- ;* rentes sonelos porluguezes, ealguns ilalianos, comacen- (> sura do Padre Francisco da Cruz, jesuita. Eoi todas i( estascomposi^ftes se leem grandissimos elogiosao auctor, (i e da fidelidade com que tradiiziu, estancia por estaiicia, " e verso por versa, o seu original. A versfio e ahi julga- t( da exactissima, fiel, insjgne, admiravel, heroica e I'eli- (f cissima, nao sendo de menos prec^o os tilulos, com que " se engrandece o est)'lo do auctor como se podc ver alii « mesmo. " Esta segunda rdi^uo sera feila no formate de B.** Xraii- cez, com typo novo e elegante, em optuuo papel, e en- riquecida com a biographia do Ta^^so, extrnida d'outra mullo extensa e ordf-nada pelo Sr. Dr. Slrcckfuss, lente da Universidade de Berliin. O pre^o da obra corapleta nao excedera 960 r^is para OS .^rs. assignanles; aassignalura mesuia nao teri'^ lugar senao ate o fim do niez de Janeiro de ltfJ7, em que a obra deve estar concluida; ao depois sera o i)re^o aug- mentado. Assigna-se: em Coimbra na luja de lirros do editor, A. H. Dardalhon; cm Lisboa, nas ciisas dossrs. Bertrand, aos Marlvres, i\.° 45; L«vadu, rua .\ugiista, n.** 8; Lopes, rua do O'uro, n.« 2'i7 ; no Purto, aas casns dos srs. Cruz Coulinho e Silva Guimaraes; em Viana do Castello, em casa do sr. Andre Joaquim Pereira ; em Braga, em casa do sr. Joaquim Jose Antunes da Silva Monteiro. KAMUAL DO PROCESSO COmHilERCIAL Contendo a organisaqao do foro commercial, atliibni- <;oes das auctoridades e mais empregados respectivos, coinpetencia dos Iribunaes de commeicio, processo arbi- tral, formulas, e a legisla^ao mais importante sobre o juizo commercial, ])or J tse Uiheint Rozadn^ bacharel for- mado em direito, e advogado no juizo de direilo de Coim- bra.— Coimbra, imprensa da universidade 1856. — 1 vol. em 8.° — pre^o 600 rs. Vende-se em Coimbra, na loja de livros da imprensa ; e na de Jose de Mesquita, na rua da* Covas. ® JuiStitttta, JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. nELATORIO ANNUAL. 1853—1884. Continuado de pag. 172. Eschola medico-ciriirgica do Porto. Foi frequentada por 80 aliiranos, mais dois em pharmacia, e duas no curso de parteiras: total 90. A despeza annual com esta eschola, ede 9:800^000: custou portanto cada alumno 109^533. No anno proximo passado os alu- mnos forao soniente 61 ; e por isso custaram 161$639 reis cada um. 0 ensino 'nesla eschola fez-se com a mesma regularidade e disvelo dos annos anteceden- tes, e como esta eschola sempre costuma ; e o grande numero de operacoes, constantes pelos respectivos mappas, mostra como ella esta sen- do lima boa eschola de applicacao especial em cirurgia. 0 conselho d'esta eschola era seu relatorio pede meios pecuniarios para levantar no ter- rene, que ja Ihe foi concedido, o edificio, de que tanlo carece para sua definitiva colloca- jao com todas as rcpartirOes e officinas an- nexas, que sao indispensavcis ao ensino, sa- hindo assim do canto, que occupa no hospital real de S.'" Antonio, em que se acha, sem ter espaco nem para livraria, nem para ga- Linetes. Na verdade a esta eschola nao e pos- sivel excrcer dignaraente suas funceues, sem que tenha casas sufficientes para aulas, exa- jnes, livraria, conl'erencias , gabinetes para instrumentos e maquinas, theatro anatomico, casa para operacoes, niuscu anatomico pa- thologico, lahoralorio pharniaccutico, e enfer- marias clinicas para numero sufTieientc de exemplares especialmente dcslinados ao ensino, de que a eschola possa livrcmentc dispor sem subordinajao a superior estranho. A melhor collocaeao d'esta eschola seria, como jii se disse, no edificio da Graca, sendo elle concluido debaixo d'uni piano apropriado para accomodacao de lodos os estabeiecimentos lilterarios do Porto : se essa idea fosse adopta- da poupar-se-iam as despczas a fazcr, para Vol. V. NovEMBuo 15- levantar um edificio proprio na cerca dos ex- tinctos Carmelitas, aonde a eschola apezar de tudo sempre ficara mal accomodada ; mas se tal idea nao for attendida, espera este conse- lho que V. M. se dignara attender a preten- cao da eschola, e mandar propor no orfamen- to OS meios pecuniarios precisos para accomo- dajao e arranjos d'esta eschola. Academia polytechnica do Porlo. Pelo relatorio e mappas, que o acompanha- ram, se v6 que os alumnos, que frequentaram esta academia foram 129 matriculados, e 25 ouvintes: total 134. A despeza pelo orcaniento e de 10:324^000 reis: portanto custou cada alumno 67^^038 reis. No anno passado cal- culou-se era menos ; mas isso provcio de se considerarem os alumnos pelo numero de ma- triculas, nao pelo de individuos : 'neste anno calcula-se pelo de individuos ; e como no re- latorio se diz que o numero 'neste anno foi egual ao do anno passado, a despeza relativa a cada individuo e a mesma do anno passado. A acaderaia funccionou regularmente como costuma. No relatorio sobre cousas necessarias para bom desempenho do servico academico, reporta-se ao que ja representou, e sobre que a cste conselho baixou a portaria de 30 de maio de 1854 ; e remette o orcaniento de todas as verbas, para que necessita raeios, na iraportancia de 7:132p00 reis que acompa- nha 0 relatorio. Este conselho aproveita esta occasiao para expor a V. M. o que entende sobre cada uraa das pretencoes d'esta acade- mia , conforme vai consultar a V. M. em especial para cumpriraento da referida por~ taria. Laboratorio chimico. Pretende a academia para este estabeleci- mento a egreja ja profanada, e o clauslro, a ella contiguo, do extincto convcnto das Re- ligiosas Carmelitas do Porto. Por informacao do governador civil, ouvido o dolegado do Thesouro, consta que aquella egreja e claustro pertencem aos bens nacionaes ; que esta pro- fanada ; e que o govcrno de V. M. tenciona vender tudo com o convento ; que para isso 1856. Num. 16. 182 sc fizcram jii avaliajires,' divicfindo Uido eiif chaos proprios para edifiearao de casas ; que a camara municipal d'aquclla cidadc proten- de tambcm a(iuclle convenlo, e suas perteu- fas , para estabclecer uni mereado coherlo para ccrcaes, obrigando-se acertos cncargos. Aqiielfa I'grcja e clauslro sao muito proprios para o laboralorio chimico d'esta acadomia, porque licam muito proximos, como informa o governador civil, e tern capacidade suflieiente para um bom laboralorio, como o consolho da academia rccoiibcco, nao so para o cnsino, mas mesmo cm ponlo maior para um bom laboratorio , como o consclbo da academia reconbcce, nao so para o cnsino, mas mesmo era ponto maior para prcparacoes cbimicas, que sirvam as necessidadcs dos cstabeleci- raenlos fabris c artisticos, e ao commcrcio: e esto conselbo nao pode dcixar de unir sous votos aos do consclho da academia para pe- dir liie sejam conccdidos a rcl'erida cgrcja e clauslro para o laboratorio chimico, (]ue, em todo 0 caso, mesmo quando se acabe o edilicio Obw-vatorio. da Graca para accomodacao de lodos os esta- belccimenlos litterarios, licara servindo sem- pre para a academia, c para todos os estabe- lecimentos, que 'naquelle cdificio se acomo- darem, com grande vantagcm publica, por ficar fora do edificio , como conveni , para evitar o prejuizo de incendios e explosoes. 6.° cadeira. 0 conselho da academia reclama o resta- belecimento da 6." cadeira, que tinha en- trado na formacao do programma para or- ganisacao da eschola, na forma do art. 1S7 do decreto de 13 de Janeiro de 1837, e que foi supprimida pcio art. 139 do decreto de 20 do setembro de 1845. A academia nao pretende que 'nesta cadeira se ensine a ar- tilhcria e tactiea naval, porque o estudo d'es- sas disciplinas pertence hojc as respectivas escholas especiaes ; mas deseja, que clla seja restabelecida para o ensino das coustrucciics piiblicas, e para alliviar a lerceira cadeira, repartindo para a sexta alguus dos raraos que cstam a cargo d'ella, e que tanto nao e pos- sivel serem cnsinados 'num anno e 'numa so cadeira, que lem sido ensinados por dous substitutes separadamente. A este conselho parece mui justa a reclaraaciio da academia, considerada debaixo d'este ponlo de vista, por- que na verdade o estudo de construccaos pii- blicas e hoje indispensavel ; c 'numa so ca- deira nao e possivel ensinar-se a mechanica dos solidos e fluidos, machinas hydraulicas e de vapor, e geometria descriptiva conjuncta- mente com construccoes piiblicas ; e pede a V. M. se digne atlender esta justa reclamafao da eschola para propor ao poder legislativo o restabelecimenlo d'esla cadeira. Pelo decreto de 13 de Janeiro de 1837 art. lOii, se coDservaram na academia polytechni- ca, OS estabelecimcntos que 'nessc tempo per- tenciam a academia real da mafinha e com- mcrcio, c um d'elles era o observalorio astro- iiomico, 0 qual foi Icvantado interinamente 'numa parte da academia, e cstii hoje inuti- lisado, por ter apodrecido o travejamenlo da escada. Em cumprimento da portaria de 5 de junho de 18ii4, pelo ministcrio das obras pii- blicas, ja 0 cngcnbeiro director das obras piiblicas, do districto do Porto, procedeu, con- junctameutc com o director e o lente de astro- noniia da academia, ao orfamento de quanto importara cssa obra indispensavel e urgente, e jii tera subido ii secretaria d'Estado respe- ctiva com a iuformacao competente. Este con- sclho, considerando que, para o estudo da astronomia que seensina na academia, e assira mesmo indispensavel um observatorio , nao pode dcixar de pedir a V. M. a regia attencao sobre esta reclamaciio. Se um dia se chegarem a accomodar os estabelecimentos litterarios todos 'num so edilicio, entao se tractara d'esta- belecer um observatorio sufficienle para o ensino proprio d'esta academia, ou em algum sitio mais apropriado do mesmo edilicio (o que talvez bastara), ou em local separado, e ate mesmo fora da povoacao como se esta practicando em outras najoes a respeito de observatorios importantes. Frequencia de militares. Esta ordenado pelo art. 140 do decreto de 20 de setembro de 1844, que os curses pre- paratories para a admissao das escholas do exercito, poderao ser cstudados na academia polytechnica do Porto ; c na conccssao das licencas aos Militares, que pretendam estudar alguus d'estes cursos, serao egualmentc consi- derados a eschola polytechnica de Lisboa e a academia polytechnica do Porto ; recommen- dando-sc, que nos regulamentos do governo se adoptarao as medidas convenientes para levar a elTeilo esta disposicao. Sempre 'noutro tempo se facultou similhante licenca , quer anteriormentc ii creacao da academia polyte- chnica, em quanto so era academia de ma- rinha e commercio, quer nos primeiros annos que se seguiram a essa transformacao ; mas depois tem-se denegado similbantes licencas com 0 fundamento, de que esta academia se nao acha debaixo da inspeccao da secretaria da guerra, e so por graca especial, e conce- dida essa licenca a um ou outro militar. Esta denegajao de licencas, e um grave prejuizo da instruccao piiblica, pois afasta dos cstudos 'nesta academia muitos militares da guarni- cao do Porto, e dos corpos das provincias do norte, que, nao podendo, pelas distaucias, ir 183 frequentar a Lisboa, deixam do frequcntar no Porto por falla de licenra, e assim ficam seni a instruccao, lao precisa aos nossos ofliciacs militares. Em quanto nao forem dccrelados os rcgii- laraentos do governo, a que so rel'ere o art. 140 do dec. de 20 de sclembro de 184i, pa- rece a este conselho, que se devera mandar restabelecer a practica, pela qual se coiicediam taes licencas, no' tempo da academia da ma- rinha e commeicio, e nos piimeiros annos da actual academia polytechnica ; e respeitosa- mente pede a V. M. se digne maodar, que as- sim se restal)eleca ; porquc nao (i justo que officiaes de talenlo, e com todas as condicoes precisas para aproveitar nos estudos, liquem sem instruccao, por falta somente d'unia for- malidadc ; iiavendo no Porto urn governo nii- litar superior, a que elies licam sujeitos, fre- quentando a eschola, pode superintender e vigiar acerca d'eiles tudo quanto convenha, e parlicipal-o dirccta e immediatamente ao mi- nisterio da gaerra. Cadeira de economia politica. 0 conselho da academia polytechnica no Porto em seu relatorio pede a creacao d'unia ca- deira de economia politica, a lim do com ella se completarem os cursos preparatories da eschola do exercito ; porem este conselho superior, desejando poupar despezas ao Thesouro, scm- pre que nao sejam de indispensavel necessida- de, nao pode 'nesta parte conformar-se com a pretenfao da academia; porquanlo, haven- do em outros eslabelecimentos o ensino d'essa disciplina, 'nelles procurarao os alumnos ap- prendel-a, como a respeito d'outras esta orde- nado no an. 1'61, §. 2.° e seguintes, e 101 do decreto de 13 de Janeiro de 1837, sem que se multiplique escusadamente o numero de cadeiras. Ilabilitacao de pilolos. Pelo art. 142 do dec. do 20 de setembro de 1844, e prohibido malricular-se individuo algum, por piloio ou sota-piloto de navio, sera carta de capacidade, do respectivo curso, e o art. 1422 do Codigo Commercial sobre habi- litafao dos iiidividuos, para serem admittidos a matricula de pilotos, refere-se ao que se achar prescripto nos regulamentos de ma- rinha. A habilitacao para pilotos pode conse- guir-se ou por estudos theoricos, nos respecti- vos cursos, perante as escholas polytechnicas ou eschola naval ; ou pelo cxercicio practico e numero de viagens prescriptas no art. 142 §. 1 .° do dec. de 20 de setembro de 1844 , — art. 30 §. un. do dec. de 10 de maio em execu- cao da lei de 23 de abril de 1845 e regula- nento de 11 de julho de 1845 ; ou por exame theorico-practico na forma d'este ultimo regu- lamento. Para os cursos theoricos de pilota- gem nas rcspcctivas academias, ainda que pstpja determiiiado, pelo art. 159 do decreto de 13 de Janeiro de 1837, que nao durem raenos dc 3 annos, devem, pelo art. 100 do mesmo decreto, sor Ibrmados pelos consclhos academicos, annualmcnle, os programmas das doutrinas, que o respeclivo cnrso houver de comprehender, e como so se aclia determinado pelo art. 7.° do dec. de 11 de Janeiro de 1837, que OS pilotc:- tenham de apprender as doutrinas da 1.° cadeira de mathematica, referidas no art. 2.° da mesma lei, e o ap- parelho e manobra naval, dado por urn mrstre, na forma do art. 157, §. 1, do dec. de 13 de Janeiro de 1837, poderao os conselhos acade- micos rcdigir o programma de modo que o curso dure so dois annos (como era antiga- mente, na academia de marinha do Porto), uraa vez que os alumnos tenham os prepara- tories necessarios. Estcs preparatories sao pelo art. 28 do dec. de 11 dc Janeiro de 1837, os espccilicados no art. 33 para os voluntaries, scilicet — conhecimentos da lingua porlugueza — e quatro opcracoe» de arithmelica — para serem admittidos a matricula no curso, nao podendo porem lirar carta sem completar os exames preparatories do art. 27 do mesmo decreto, scilicet — leitura e escripta de lingua porlugueza — grammatica e composicao por- lugueza— e franceza, — c as qualro opera- roes fundamentaes arithmeticas sobre numeros inteiros e fraccionarios, e nocoes de desenho linear, — na forma do art. 28 do mesmo de- creto, podendo ser admittidos aos exames d'estes preparatories sem ohrigacao de fre- quencia na forma do art. 33 — 2." parte — do mesmo decreto. Para ser admittido ao exa- me theorico-practico sao precisos os estudos e derrotas, determinados no regnlaraento de 11 de julho de 1845, e art. 30 §. un. do dec. de 19 de maio de 1845. Achando-se, pois, facililada pelas leis a ha- bibitacao dos'pilolos, para conseguirem carta, por qualquerdos trez modes, acima referidos, nenhum motivo rasoavel desculpa as auetori- dades, perante quem se fazem as matriculas e appresentam os roes de equipagem, de admit- tirem, como pilotos, individuos que Ihes nao appresentem cartas de capacidade, passadas cm conformidade do art. 107 do decreto dc 13 de Janeiro de 1837 e artigo 25, a que elle se rel'ere, dos estatulos de 29 de julho de 1803, arriscando assim os mais imporlantes interesses do comniercio, e as vidas de milha- res de marinheiros e passageiros, a direccao de charlataes rotineiros, incapazes de dirigir um navio ao porto de seu destino. Em seu relatorio, diz o conselho da academia que similhantes anctoridades se contentam com um simples diploma, passado pelo cscrivao de ma- rinha, para os admittirem a matricula como pilotos do alto, quando taes certidoes, sendo 184 as do art. 7.° cap. 2.° do regulamcnlo para a policia dos portos, de 30 de agosto de 1839 apenas os liabililam para pilolos ou .sota-pi- lolos dc barra, e nao para navegarao ao longo. Parcce porlanlo ao consclho que se devera jmihibir muilo expressamentc a todas as au- ctoridades, perante quem se fazom as niatri- ciilas de e(|uipagens, o admiltir 'nellas, como pilolos ou sola-pilotos, individuos que nao ap- prcsenleni a carta solenine de capacidade e habilitarao, passadas por alguma das escholas polytcibiiicas, ou pela eschola naval, na forma da legislarao acima referida, e as escholas se ordene que formem os programmas dos cursos dc pilotagem, scgundo o art. ItiO do decrelo de 13 dc Janeiro dc 1837, c mais legislacao, acima aponlada, regularizando-se assim uni ramo de ensino de lanta importancia, como 6 a habilitacao de pilotos : e respeitosamente pedc a V. M. se digne assim o niandar por todas as reparticoes competenles. Creacao de novas cadeiras. 0 consclho da acaderaia poiytcchnica cm seu relatorio pretende a creayao de mais trez cadeiras novas, a saber, uma de construccOes navacs ; outra de geologia, mineralogia, e artes de minas ; e terceira de agrii;ultura, economia rural c tcchnologia. Em quanto a primeira, o consclho superior nao desconheee, que cm portos de cstaleiro, como e o d'aquel- la cidadc, c alguns outros visinhos, muito con- viria a existencia d'uma cadeira para ensino deprincipios e regras mais geraes de construc- fao naval ; porem parece-lhe que, creando-se uma cadeira especial, como acima dcixa pro- posto, para construccocs piiblicas, 'nella se podcrao ensinar os principles mais indispcn- saveis para a conslruccao naval, e quando, pelo andamento dos tempos e aflluencia d'a- lumnos, se conheca convcniencia d'uma cadei- ra especial, entao se tractara da sua creacao. Era quanto as outras duas, a este consclho parece que nem ha necessidade, nem conve- Dicncia piiblica na creacao de lacs cadeiras, e que com cllas se alargaria demasiado a esphera do ensino 'naquella academia, con- verlendo-a vcrdadeiramenle 'noulra I'aculdade de philosophia, que eescusada no paiz, tendo ja a da Universidade em Coimbra. Se o con- sclho academico, usando das allribuigoes, que Ihe sao confcridas pelo art. 138 do dec. de 13, e art. 21 in fin. do de 11 de Janeiro dc 1837, lizer uma justa distribuicao das disci- plinas, pelosannos e cadeiras que ja tem, de todo 0 curso, podcrii dar-se o ensino de todas as disciplinas, que refere cm seu relatorio, so ate ao ponto, a que devera chegar escholas polytechnicas , organizadas como as nossas para habililar os alumnos as sciencias indus- triaes, sem se elevar aos estudos classicos, e puramcnlo scienlificos, para os quaes bastam as faculdades da Universidade. Maquinas e inslrumentos. 0 conselho d'esta academia cleva fi prescnca de Y. M. a relacao das maquinas e inslrumen- tos, que ])recisa para os seas gabineles, com 0 respcclivo orf amento de despeza : e esle conselho superior nao pode deixar de pcdir rcspeitosamcnle a V. M., se digne atlcnder, como e juslo, e mandar proper no orcamenlo, cssa verba de despeza extraordinaria, por uma vez soraente, como absolulamcnle indispensa- vel para a academia satisfazcr seus deveres de ensino. Jtemanescente dos premios. Estii ordenado pelo alvara de 16 de agosto de 1825 §. 8 in fin. (juc o que sobcjar dos premios cstabcleeidos j)ara os estudantes dis- tinctos scja applicado a compra de livros para a bibliotheca da academia da marinha e com- mercio, cujos estalulos ficaram, pelo art. 163 do dec. de 13 de Janeiro de 1837, cm vigor, cm ludo 0 que nao for cslabelccido d'outra maneira na ultima legislacao da reforma tile- raria : e o conselho academico reclama esla applicacao por sc nao aehar rcvogada a le- gislacao que a eslabeleccu. A esle conselho superior parece, que sendo pelo art. 164 do dec. de 13 de Janeiro de 1837 convocados OS cstabelecimentos, que a antiga academia da marinha pertenciam, tambeni afora a bi- bliotheca ; e que o remanesccntc dos premios nao podcria ler melhor applicacao do que para augniento d'aquella bibliotheca: pede por isso a V. M. se digne altcnder esla siipplica do conselho academico. Guardas. Finalmenle o conselho academico diz que na rcpresentacao feita a camara dos Senhores Deputados, em 2 de julho de 1833, pedira, alem do 1.° official do Jardim Botanico, e do guarda prcparador do laboralorio chimico do art. 162 do dec. de 13 de Janeiro de 1837, maisdois guardas, alem dos trez, queja tem, perfazendo somcnlc 3, quando o dec. de 19 de outubro de 1836 Ihe dava seis. Como essa prctencao esUi affecta ao poder legislativo, parece a esle conselho se devera espcrar re- solucao; e na conformidade d'ella se proce- dera depois. Conclusao. Pelo que fica exposto sobrc o estado da in- slruccao no nosso paiz, a vista dos mappas, o relatorios, que chegaram ao conselho superior 185 d'instruccao piiblica sc eonhece, que para se ex- tender, quantoe possivel, a instrucfao prima- ria, se torna indispensavd — 1." (uma boa divi- sao de parochias, feita njio so com atlencao ao servif 0 religioso, mas ao da instruccao prtma- ria, de inodo que em cada parochia so possa estabelecer uma eschola piiblica); — 2." (cre- ar-se uma boa inspeccao e liscalisaeao de escho- las, que vigie inccssantcmente, participe, e represente e iiiforme ao conselho superior tudo quanto I'onvenba nas divcrsas locaiidadcs a respeito do ensino) ; — 'i." (estabeiecer-se era cada capital do districto, uma eschola de en- sino priinario do segundo grau, de modo que sirva de eschola normal, em que se habililem professorcs, jiorquc a falta de concurrentes com capacidade e instruccao sufficiente, para serem providos nas cadeiras, e a causa prin- cipal do atrazamento, em que se acha este ramo de instruccao piiblica — a do povo — a mais indispensavd em todo o paiz. Em ([uanto a instnictuo secundaria, e indispensavel dar- se-lhe conveniente direccao para habililar os alumnos a passarera a instruccao especial , prol'essional, nos diversos ramos de industria; e crear-se depois nas localidades, cadeiras proprias para csta instruccao, conforme forem apparecendo alumnos, que a clla sc propo- nham. Para isto e indispensavel uniformizar-se 0 ensino em todas as escholas secundarias, submettendo-se, por via do conselho superior, a soberana approvacao de V. M. os compendios, por onde baja de lazer-se o ensino ; crear-se meslres; e que apparecam alumnos a procurar instruccao secundaria, nao para passarem a superior, de que ja tcmos demasiados por toda a parte, mas a especial era escholas industriaes, e professionaes, de que muito careeenios, e de que ja comecamos a ter algumas nas duas terras mais populosas. Tendentes a este lira ja vao apparecendo alguns livrinhos, que o conselho superior promptamente adopta para uso das escholas : e ja 'nestc anno nao so se approvaram, mas ate I'oram premiados os se- guintes livros. Compeniio do pliijsica e cliymica, e Compendia de Meclianica, por J.J. Ferreira Lapa. Em quanta a instruccao superior, parece ao conselho, que tendo-se feito ja depois de 1836 grandes reiorraas com creacao de novos osta- beleciraentos, e por vezes ja diversos melho- ramenlos com creacao de cadeiras novas, por oi"'a se devem aguardar licoes de experiencia para suocessivos aperl'cicoamentos parciaes ; etractar-se de hahilitar com nieios pecuniarios es estabelecimentos, que existem, para melho- ramentos, e para provar as nccessidades, que soUrera, e ([ue obstam ao conveniente do de- .senvolvimento do ensino, cspecialmente na parte praclica. V. M. provera sobre tudo, conio melhor entender em sua alia sahedofis. Coimbra, em conselho de 29 de dezembro de 1854. AGRICULTURA. GAiVAGEM idramige). Comccando este trabnlho, acudo a uni re- paro, de somenos iniportancia para muitos, qual e 0 de saber e assentar o termo, porque devemos verier o drainage inglez. A nossa lingua nao carcce, 'neste ensejo, d'aproveitar do conselho d'lloracio {ad Pisones vv. 45 — 72) tomando e cunhando palavras peregrinas. Entre muilas outras, tcmos para escolher en- secamenlo, esgoto, sarijentamcula, sunjamento , gaivagem ou quando queiram, baeiragcm ou encaneiramento ou, eranm, outra qualquer; qiie niuitas ha portuguezas e sanctiticadas por alguns, ainda que poucos, dos nossos agri- cullores; porque em poucas partes do nosso paiz se tem, ate hoje, feito applicacao d'este tao fucroso meio para o desiuvolvimento da agricultura. De gaivagem Ihe damos e continuareraos a dar 0 nome ; porque gaica ou guaiva se diz, no norte de Portugal, o boeiro subterraneo que do campo toma o prejudicialissimo exces- so d aguas. Por gaivagem, pois, devc entender-se o ramo da cxtensa, e mais que lodas precxcel- lente arte « agricultura » que prcscreve as condicoes, em que devem em[)regar-se as gai- vas, as materias preferiveis para se construi- reni, o modo como collocareni-se rclativamen- te a prol'undidade, direccao e quantidade, a capacidade que devem ter, e, linalmente, cntre nuiitas outras consideracOes, uma como theo- ria ou razao do emprego proHcuo d'este pro- cesso de melhoramento agricola. Para nos, que nos nao commettemos o la- borioso eneargo d'expor, discutir e lirar a limpo todos os ponlos, ainda os mais miudos, d'este interessal objecto ; porque isso fora margem rasgada e ampla a obra de muito volume, abre-se-nos ao espirito a liberdade de tractarmos um ponlo protrahindo oulro, d'esbo- carnios a causa antes do phenonieno on vice- versa, sem que d'abi mane prejuizo a mate- ria ou a clareza. — 0 nosso unico proposito e scrnios verdadeiro, breve e claro, para po- dormos conseguir ser lido e meditado. E innegavel, todos o sabem, todos os la- vradores o scntem, quanto o excesso d'agua 'num terreno 6 prejudicialissimo li cultura. E-o tanto como a completa aridez. — Nao fallamos aqui d'exccsso d'agua tal, que se converta era marnel. Os nieios de tornar ura pantano terreno agricultavel sao muito outros, do que 'nesta conjunctura rememoramos. — 0 sobre que lancaraos agora as vistas e, quan- do a terra eslii apenas embehida, sem ([ue a agua Ihe sobrenade, ou e npla a embeber-se facilmeute com chuvas continuadas, oa pe- 186 qucnos nascentcs inleriorcs, damnificando assim a scmeuteira jii feila, on estorvando de a fazer. Da pouca ou nulla premealiilidadc do sub- solo nascu eslo estiido improilui'tivo. Sonieii- te dc passapii'in adverlinniuis aqui, que; o cstado da nalurcza do suh-solo, e para a maior parte tlos nossos cultivado.res urn olijo- cto que consideram iiiuiil, poriiue llie desco- nliecem o alcanco. K Uidavia nao lica lueiios liquida para o agronomo, que sem uiii plcno conhecimenlo d'esie, nunca o amanlio das ter- ras pode Icvar-se a cabo, e com prolieuidade. Eiitre OS muilos e valiosos auxilios plijsi- cos e chimiccis, que coiuoriem para uma boa cultura, laes como estrume fertilisante, o concurso do ar, c uma dada icmperalura, exige-sc tambem uma humidade convenienle. Deve esta, porem, ser lal que, considerado o solo como 0 aggregado de parlicuias terroas, compostas d'outras mais pequenas, cmbcba tolalmenle estas, deixando permeavel ])eio ar 0 espago que distanciKi a(iuellas. Se taulo os espacos inleriores das parlicuias lerreas, como OS extoriores que as separam, carccerem abso- lutamenie d'agua, dar-se-ba a completa ari- dez, e pclo contrario, se lanto uns como outros esliverem roplclos, existira o estado que bus- camos Hielborar. Para que o nosso espirito colba bem as claras a razao das gaivas, advirtamos o que se da na terra. Suppouhauios urn dado ter- reno complotamenle secco pelo queimar do estio: — regado 'nesse estado, a agua pene- trara pelas dislancias mais sensiveis que sepa- ram catre si as maximas parlicuias, e d'abi, em virtude da attraceao capillar, introduzir- se-ha DOS espacos inleriores d'ellas, deixaudo OS cxleriores vazios, e alravessaveis pelo ar. Convenientcmente bumido e apto para uma boa cultura licara, 'neste estado, o terreno ; por isso que as raizes da planta, ao passo que vao toraar do interior das parlicuias a humidade necessaria, saoarejadas pelos espa- fos cxteriores e vazios d'agua. — E que a agua e 0 ar sao condifoes indispcnsaveis para a germinacao e crescimonto da planta e isso verdade, que os mais illustrcs botani- cos actuaes, nao se dao o cuidado de vindi- car ; porque ermam impugnadores. Se, porfim, 'nesle estado abrirmos mais agua sobre o terreno, esla enlao, cheios os espacos inleriores, emprira os cxleriores, e o terreno quedara inapto para boa e cabal cul- tura, vislo como as raizes atufadas nao pode- rao receber a beneiica accao do ar. Supposlo isto, e agora obvia qual a accao e a razao da gaivagem, vislo como a agua nociva, contida 'nesles espacos, sollicilada pelo seu proprio pczo ira inlroduzir-se nas gaivas, em quanto que a dos espacos inlerio- res, retida por uma energica acfao capillar, ficara no terreno, e porlanlo, este convenien- temenle bumido, c nao nocivamentc cmbe- bido. No n Journal d' Agriculture pratique » 3"°*^- rie, loin. 1.°, Mr. Martinelli, tallaudo da gai- vagem, resume-a graciosamente 'nestas pbra- zcs pitorcscas e verdadeiras : — « Eis uni vazo de llores: — para que esle buraquinho no fundo? — Pergunto-vo'-lo porque ba uma completa rcvolucao agricola 'neste buracjui- nho. Ua die que sc renove a agua, escoando-a proporcionalmenle. — E para que o renovar da agua? — por i.sso que da a vida ou a morte : a vida, quando nao faz mais do que atravessar as camadas lerreas, ccdendo-lhes, como nao pode deixar dc coder, [)ara logo, OS principios fccundantes que traz em si, e lornando soluveis os alimentos que a planta carecc d'apropriar-se; a morte, pelo contra- rio, quando lica stagnada niuito tempo; por isso que nao tarda a corromper-sc e a apo- drecer as raizes, impedindo ao mcsmo tempo que nova agua ahi penelre. — A. gaivagem outra cousa nao e, senao o bura(iuinbo do vaso das flores praticado em lodos os cam- pos. 1) Taos sao as palavras de Mr. Martinelli. Da gaivagem, porem, dos tcrrenos enchar- cados nao resulta unicamente o proveilo de tirar-lhcs a supeilluidade d'agua, deixando- Ibes so a precisa e util, para melhor desin- volvimento da planta; resultam nuiitos outros egualmente poderosos para bem dos vegelaes. Tal, por exemplo, e a elevacao da tempe- ratura: e nos ja dissemos e lodos o sabem, que um auxilio importantissimo para a cul- tura, e a elevajao da temperatura. Para pleno convencimento, |i6de comparar-se a vegeta- cao rudimentarissima dos geios da Groelan- dia, ou das alturas do Monte-Uosa, decifrada pelo poderoso microscopin d'Ebrcnberg, com a luxuriante feracidade dos pampas, ou com as florestas frondosas das niargeus do Oure- noco, ou do Aniazonas, ou note-se mesmo a nossa vegetacao, 'num dado terreno, uo estio e no inverno. Ora, que a gaivagem deve produzir, e pro- duz, elevacao de temperatura no terreno, sa- be-o claramente ainda o pbysico menos expe- rimentado; vislo como na terra, tolalmenle ensopada d'agua, a evaporacao a supcrticie abaixa consideravelmenle a temperatura pela absorpcao do calor latente indispensavel a vaporisacao; em quanto que nos lerrenos gaivados, alem de nao poder dar-se essa per- niciosa circumslancia, o calor do ar arabienle exerce uma iuQuencia directa e vivificanle, e as aguas das chuvas que, era geral, tem uma Icmperalura maior que a das terras, pelo menos depois de tercm atravessado a camada superlicial, podendo pcnetrar imme- diatamenle o terreno, Ibe communicam, equi- librando-sc, o calor excedente. A estes resultados, puramente physicos, da gaivagem, se de per si sos nao fossem suffi- 187 cientes, por denials, para racrccerera uraa sol- licita attencao dos nossos agricultorcs, pode- riamos ainda addiizir alguns cliiiuicos, — v. g., prodiizidos pela facil passagem da agua das •chuvas. A expericncia tem demonstrado, que esta conlem sempre, em niaior ou menor porcao, acido carboaico, amoniaco cm dissolurao e ar livre. Mas quanto estas substancias inlluen- cdem henefifiamente a vegetacao, ja minis- trando-sc direclamente aos ospongiolos e mais partes das raizes, ja facilitando a desaggre- gacao dos elemeiUos terreos, e tornando-os pela soUibilidade aptos para sereni assimila- dos pelos vegelaes, e isso demasiado familiar a qualquer naturalista botaniro ou chimieo, para que nos vejamos constrangido a repclil-os. — E d'esla arte eis-ahi bosquejada unia como theoria de gaivagem. Vejamos agora o que, entre nos, e em palzes estrangeiros, se tem praclicado e practica 'neste ramo dos mclhoramentos agricolas, don- de tantos provcitos viriani a dimanar para a iiossa agricultura tao rotineira, tao apesinha- da de capitaes e tao ignorante; mas, ao mesmo tempo, tao alardeada de quintas-exem- plares, que topographieamcnte so podcm des- cobrir-se dentro dos limltes do Diario do Governo, c tao alteada por associacoes agri- colas, que de tudo poderao e terao tractado, menos d'agricultura, — salva a Sociedadc Agrkola do Porto. Entre nos, quando um tcrreno e tao dema- siadamcnte abundoso d'aguas, que se enchar- ca, 0 proccsso de que, o mais das vezcs, Ian- cam mao OS nossos cultivadores, e o d'abrir- Ihe nas extremidades uma sargenta ou reguei- ra, d'um metro ou mais de largo, que o san- gre. Urn meio tal, alem de nao produzir se- nao um pcqueno cdeito e nuiito parcial; por- que nao alcancn esgolar devidamenle o meio do terreno, sobretudo se o campo que se busca sangrar e bastante extenso, tem o grave iii- conveniente de furtar a cultura um grandc tracto da terra que poderia de per si dur para a despeza da gaiva. Tornemos, por um exempio, bem sensivel 0 que aflirmamos. Supponha-se um campo ou lameirao de cem varas em quadro: sendo necessario alTuiidar por todos os lados unia sauja d'uma vara de largura, temos logo de roubar ao cultivo um espaco de quatrocentas varas, pelo menos, d'extensao, com uma de largura que, babilmente agricultadas, pode- riam dar muito alqueire de pao ou muita raza de legumes. Ora, (jualquer que fosse a despeza d'umi economica gaivagem, nao pbde deixar de ver-se, que e.ssa produccao seria um largo juro d'ella ; e um largo juro, note-se bem, d'onde nao haveria a sublrahir annual- fflente parcella alguma para costeamento das gaivas; por isso que estas, bem construidas, podem durarseculos sem carencia de reparos. Alem d'isto, por entre muitos outros lucon- venientes, nao e para descurar, por cerio, nao 0 devc ser, pelo menos, o estorvo que a passagem dos gados, dos carros, das char- ruas e dos cavadores, trazem as sargenlas rasgadas em torno dos campos, roubando diariamente alguns mementos ao trabalbo. Basia (|ue os nossos agricullores nieditem bem estes verdadeiros pontes, para que, em breve, se gaivem, entre nos, muitas varzcas e assentadas, quo virao a ser feraiissimas, sendo boje apenas atolados laraaceiros, pouco productivos, e, o que mais e, muito damno- sos para a saude, ja de si e suas familias, ja de sens gados. As pouquissimas gaivas, e estas de mui limitada extensao, que entre nos se tem ate boje feito, sao quasi sempre formadas por um d'estes trez meios: — ou pela poslura, depois d'aberta a sanja, de trez troncos de pinheiro bravo deitados ao iongo d'ella e no seu fun- do, formando um triangulo, cujo vcMice tica para cinia, ou, explicando-me mais claramen- te para os lavradores; abcita a valla com o fundo chalo de 3 palnios de largura, poem-se dois pinheiros deitados parallelamente, sepa- ram-se coisa de 1 palmo, assenta-se sobre estes um terceiro, deixando assim aberto, entre os trez, um boeiro de quasi um palmo de bocca, e cobre-se depois tudo com a mesma terra que se tinha tirade, licando apenas desaterrada a bocca, do caneiro para as aguas sahirem: — ou, segundo se faz no norte do nosso paiz, sera o emprego de pinheiros ; abre-se a sargenta com dous palmos de lar- gura no fundo (e portanto, e escusado dizel-o, com trez ou trez e meio de largura em cima para uao cahir a terra dos lados, estorvando, ao passo que se traballia), e 'nestes dous palmos abre-se enlao o que ba propria- niente de ser a gaiva, d'um e meio palmo de largura, e muito simiHiante a calba dos nossos moinhos d'agua vulgarcs, licando as- sim 0 meio palmo, restante dos dois do fundo, a servir de bordos lateracs, sobre que se fir- mam cespedes ou terroes com a relva volla- da para a gaiva, ou pedaros de louza, ou pe- dras largas e delgadas, cubrindo depois tudo, e encbendo-se tambem com a mosnia Icrra que se tirara. Ainda um terceiro meio, entre nos acolbido, consisle em entulhar com picarra ou cascallio na altura d'um palmo, pouco mais ou menos, o fundo da aberla, cobrin- do-o egualmente com terra. Taes sao os trez unieos meios de gaivar as terras humidas que entre nos temos visto, e ncm sabemos que outro melbodo, se baja empregado. Ainda as- sim, com viva magua o repelimos, este pro- cesso utilissimo tem side, apenas, praclicado em diminutissima extensao, e so por algum agricullor menos desleixado. Estes trezraodos, porem, de gaivar, um dos quaes muito empregado ua Europa, embora 188 as muitas rantasens que ja prodigalisem ao lavrador, t(^m, toHavia, inconvpniencias imiito para roiisiderar-sc com alteiK.ao. A facilidade com que se cnliilliam, aliatemlo a parte su- perior, ou se eiitupem, esboroando as jjaredes lateraes, ou apodrecendo os pinhciros, ou relcndo nas asperezas e indo aecumulando de dia para dia as niatorias c areas, que as aguas possam Irazer em suspensao, dao em resullado o nao durarem, salisfazendo hem ao seu lim, para mais dequinzeou vinle annos. Para obslar a esles estorvos tern agroiio- inos habeis, principalmeule inglezes, ensaiado varias tracas, conseguindo demonstrar, e ro- burar pela praclica, a proficuidade incontro- versa d'alguns proccssos. rondo de lado o numero e forma dos instrumenlos que sc emprcgam e recommen- dam nesta praitica, porque isso nos tornaria longo em demasia, e por eerlo fastidioso, ain- da para alguns cullivadores, esforcomo-nos apenas por tracejar claramonle, quanto pnssi- vcl, OS melhores e mais apregoados melhodos em uso. 0 primeiro d'estes — mas que nao nos atro- vemos a exalrar como o mais aproveitavel cm lodas as nossas provincias — e aquelle que insinua a conslrupi.ao das gaivas, ou manilhas de barro ordinario d'uni c meio a dous palmos de comprimenlo, e qualro a seis polegadas de diaraclro. Esle, porcm, pode e deve variar muito, scgundo a quantidade d'agua que se prcsuma haver de receber, c, afora islo, lem-se tambem reconbecido mais rantajoso o nao os conslruir rcdondos, mas anlcs de forma ovoide. Esla forma, toda- via, seudo de mais difilcil collocacao, consc- guiu-se subajustar-lhes uma chapa do mcsmo barro para bcm assenlar no fundo da valla Dissemos, e repetimos, que nao cremos preferivcl, entre nos, estc meio de gaivamento, c com especialidade nas provincias, em que abunda o granito e o ealeareo; por isso que nao so nao licam tao solidamente eonstruidns com as manillias de barro, conio com aqucl- Ics; mas, principalmente, porque o ctisto d'aqueilas no nosso paiz, aonde as «r/M ccra- micas nao tem um vasto desinvolvimento, seria demasiado subido para haver de tcntar OS nossos lavradores tao fallos de recursos pecuniarios, se exceptuarmos, talvez, alguns poucos possuidores d'extcnsas herdadcs. E, alera d'islo, requercndo o assenlamento dos caneiros de barro muito cuidado e uma mao versada, nao pode estar como a feitura d'a- quelles, ao alcance de todos os nossos lavra- dores, e, conseguintemente, fora mister criar, como nos paizes estrangeiros, companhias e industriaes so dedicados a cste objecto. Si'in dcsnotarmos, e menos negarmos, a ulilidad(! de taes companhias e industriaes, principalmente quando a gaivagem liver de exccutar-se cm larga quantidade, e bouverem d'empregar-se manilhas ajustadas por colla- res do mesnio barro, toinos pnra nos como nuiis cmprcgavel o meio ao alcance de todos, qual e 0 das gaivas de pedra. Que era Ingla- terra sc empregue o barro, sim, accordamos 'nisso; ponpie la nao lia pedra c a fabrica- cao do lijolo e ulensilios de i)arro e extensis- sima : basta ver que em Londres e Liverpool ha, talvez, irezentiis milcasas scm uma unica pedra, nem do tanianlio d'um palmo; e ludo tijolo; e tudo barro! Mas que entre nos, tao Carlos de horn granilo e bom ealeareo, se pre- conise o barro, c dislale que nem pode ter as hoiiras de ser impugnado. Coiiliiiita. A. A. VERSAO DAS ELEGIAS DE A. TIBULLO. Continuailo de pag:. 178. LIYRO PRIMEIRO. ELEGIA SEGUKDA. Oh! dai-rac vinho; que estas novas maguas 0 vinho affogue e o somno os olhos lurvos Alquebrado me ccrre, e ninguem venha Desperlar-mo, em vinho mergulhada a mente. — Meu amor infeliz dorme enlrctanto. Tem minha amante, agora, austero guarda; E firme a porta dura aldrava opprime! Porta do meu amor cruel, difficil. Que as procellas te acoilem e que o raio, Por Jove despedido, le fulmine! Dohrada a meu quoixume, abre-te, porta, Mas para mim somente, e sem que rinjas Nos duros quicios, enlrc-aberla a furlo; So, cm meu delirio, imprecacoes violentas Contra li vomitei enfurecido, Por deus perdoa; contra mim se voltera. Relemhra agora as supplices palavras Que submisso dizia, quando a hombreira De lloridas giinaldas te adornava. E tu, tiniida Delia, o vigil guarda Xao euganes a medo; — ousa ; aventura; Que aos temerarios c propicia Venus. Quer novo limiar o moco lente, Quer a donzella lixas portas abra, Ella benigna favorece o feito: Ella do leito lubrico, mimoso A descer, sem ruido algum, cnsina, E Qom lacilo pe a andar nas salas: Ella OS acenos que o niarido burlem, E 0 signal que damor esconde a phrase. Mas nao o ensina a todos; — so aquelles Que a inercia nao retarda c que nao temem Por noites lencbrosas levanlar-sc. Jamais a mim, vagando ancioso, cm trcvas, Toda a cldade, seu favor mc frilta. 189 Do assassino traidor ella defende, E do ladrao que em premio as roupas busca. — A quern d'anior nas aras sacrilica, Que esse va, seni temcr, por toda parte: Seguro va ; sagrado 6 seu desiino. A mini, nem frios d'invernosa noite, Nem chuveiros medonhos mc intimidam: Nao, hiigatellas tacsnunca eu as sinto, Comtanlo que em silencio a minlia Delia A porta venha abrir-me e, d'entre assombras, Cum trinco por signal, me chanie ao goso. Ah! de mini, se iniportuno mecncontrardes, As vistas desviai, mancebo ou moca ; Que occultos Venus qucr os seus eaplivos: Nem me aterreis c'o estrepito dos passes, Nem pergunteis meu nome, ou dos archotes Co'a luz briihante me innundeis a face: E se imprudenle algum me \ ir, que abafe 0 segredo conisigo e pelos deuses Jure e trejure, que me nao conbece. 0 delator ba de sentir ser Venus Filha do iroso mar, gerada em sangue! — Nem jamais ba de crel-o teu esposo, Que assim m'o prometteu sincera maga. Eu mesmo vi do ecu dcscer os astros Por seu coDJuro e atraz volver os rios ; A sua voz abre-se a terra ; sahem Os Manes dos sepulcros, e desvia Da pyra ardente os fumeganles ossos; Ora do inferno traz ruidosas sombras, Ora, aspersas de leite, as poem em fuga ; Se llie apraz, triste o ceu torna formoso, Se Ihe apraz, pelo eslio espalba neves ; E fama, que so oUa de Medea Possue as hervas magicas, so ella D' Ilecate baver domado os caens]"raivosos. Esta foi que o feitico astucioso Me preparou, com que illudir podesses: Trez vezes o recita, e, rccilando-o, Trez vezes cospe ; assim, jamais crer pode D'alguem os dictos, nem a si se crera, Quando mesmo no leito me encontrasse. Mas outro aniante foge: — ba de ver tudo Que d'oulros parla; so de mini, somenie, Ila de nada sentir. . . — E posso eu crei-a! Quando ella mesma, com feiticos e bervas, Diz que pode extinguir os mens amores ! jE com facbos me lustra e a pardd oveiha, Acs deuses da magia consagrada. Sob a placida noite expira victiraa ! Eu, eratanto, implorava, nao a perda, Senao niutuo o amor; que nunca, nunca Desamar-te quizesse. Ob! foi de ferro, Quern, gozar-te podendo, antes quiz, louco, Os despojos colher, seguir as arnias. Que esse ante si deslile dos Cilicios Algemadas catervas e de guerra, Em tornado terreno, as tendas arme; Todo em prata cosido e d'ouro todo, Era fervido ginete, as vistas pasfa. E, quanto a mim, que eu possa, Delia , as vacas Jungir comtigo estando, e o tardo gado Ao pasto conduzir pelo crmo oiteiro ; Que, em mens braoos cingindo-te amorosa, Me tome o somno sobre a terra inculla. I, Sobre leito de purpura que importa Os menibros reclinar, se, longe a amante, Se ba de em prantos passar vclando a noite? Entao nem pennas, nem bordadas tolcbas, Nem da fonte o placido nuirnuirio 0 somno conciliam. — (, Por ventura Da grande Venus insultei as ordens E agora a lingua inipia as penas soffre? Acaso 0 tempio sacro enlrei manchado, Ou das aras roubei votadas flores? No delubro prostrar-me nao duvido, Se 0 mereci, beijar as portas sanctas, Arrastar-rae contricto nos joelhos, E 0 craneo esmigalbar na sacra hombreira. Mas, tu, que alegre ris os males nossos, Sobre ti volve a mente; — a divindade Nao ba de sempre contra urn so irar-se. Eu ja vi queni do moco o amor niolino Motejou, sujeitar, ja velbo, o collo De Venus as cadeas ; com voz tremula Amantes plirases inventar, tentando As cans ja raras mascarar com arte, Seni pejar-Ihe o velar da ingrata a porta, Ou deter-lbe a criada em plena praca. Este assim das criancas e debi(|ue, E entre ondas um tal ser opprime a turba, Cuspindo-se cada um no niolle seio. Mas a mim, Venus poupa; a minba mente, Em ti sempre segura, a li so serve; — Porque raivosa lua niesse abrazas? — A. A. HISTORIA DA CONJURAgAO DE CATILINA SALLUSTIO : TRADUCCAO PORTUGUEZA ■MauMtV ^aU\vi,as Wuta V\aV\\o At ^\™Aouca. Yeio-nos a mao uma traduccao portugueza, inedita, da llistoria da conjurarao de Caliiina, por Manuel Matthias Vieira Fiaiho de Men- donca ; por aquelle mesmo, que com tanlo primor soubera passar para a lingua de Ca- moes um dos mais bellos episodios da Epo- pea de Virgilio. ' ' VSde 0 Fragmenlo da tradiicgiio da IV Canto da Bneida por Manuel Matthias, precedido d'uma nolicia biof?raphica do auclor, do Instiiuto, \oI. IJI, pagg. 247 190 Movidos da curiosidade de vcr, como lao distiiu'lo tradiictor iuterprelava a admiravel prodiurao d'liiu dos genios mais al)alisados da lloma dassica, entiamos a ler o iiiamis- cri|)lo, c nao o deixamos, antes de o levar ao cabo. Taulo iios captivou a leitura. Alii viiuos reproduzidos lodos os conceilos, rcpostas quasi todas as iraageiis, e uao poucas vezcs con- servado o mcsiiio niodo de dizer, a mesnia concisao e parcimonia do original. A valen- tia dos Iraios, e delicadcza dos toques, com que 0 grando liistoriador pinta as pessoas, notaveis por scus crimes ou virludcs, que mais avultam no quadro da sua historia; a hclleza das descripcoes, a elocjucncia dos dis- cursos, a elcvafao e forja das sentencas mo- raes, a vcliemencia, o logo, e a rapidez do estylo: tudo, ou quasi tudo, la apparece na traduccao, flueule, natural, e harraoniosa. Depois de lermos este interessantc cscripto, occorreu-nos logo a idea de darmos ao pii- Llico conhecimenlo d'elle nas coliiranas do Tnstitulo, assim como ja so liavia feito a oulra produicao do mesrao auctor , a que acima alludimos. Mas reilectindo, que pos- suiamos jii unia traduccao da mesnia obra por Barreto Fcio, a qual linhamos lido, iiavia luuilo tempo; dcmo-nos ao irabalho de a ler outra vez, cotejaiido-a com a de Manuel Matthias, para vermes, quanto a literatura naeional teria a ganhar com a publicacao da traduccao inedita. Lenios com effeito, e con- frontamos: e o que nos pareeeu foi — que a inedita, sera ser menos fiel do que a impressa, antes traduzindo nao poucas vezes com nuiito mais propriedade, tem sobre ella o inquestio- navel merecimcnto de evitar essas inversfies allectadds, duras, c puramente latinas, em qua a outra tanto abunda. E para que alguem nao tache de gratuitas ou exaggeradas estas nossas assercoes, abi Ihe appresentamos duas passagens do te>;to, com a traduccao dada por cada urn d'aquelles auctores. Sera a primeira aquella do §. 1.° logo no principio. « Scd nostra omnis vis iii animo el corpore sila est: animi imperio, corporis scr- vitio mayis utimur: allentin nobis cum diis, altenim cum belluis commune est. » Barrelo Fcio iraduziu assim: « D'alma e corpo con- stamos; aquella niandar, a este obedecer per- tence: aquella com os deuses, este com as fe- ras nosoconinuim. " Nao questionaremos sobre a fidclidadc de traduccao de belluis por [eras: remcttemos isso para os horaens ^ersados na materia : vejara elles, se o traductor andou bem, ou niio. Limitar-nos-hemos somente a chamar a altencao para a perpetua , e mais que desncccssaria, inversao d'aquella phrase. Quem admittira tal era prosa portugueza? Quem nao diria antes, mui natural e ate elo- gantomente: « Coilstamos d'alma e corpo: aquella pertence mandar, a este obedecer: aquelle nos e conimuni com os deoses, este com OS brutos »? Manuel Miitlliias a nosso vcr, andou muito nielhor, traduzindo assim: « A nos?a lorca toda consiste na alma e no corpo: a alma impera, o corpo obedece, e serve-nos: por aquella nos parecemos com os deuses; por este com os brutos. ■> Aqui apparece ja todo 0 conceito, as mcsmas iiguras, e quasi a mesma concisao do original. Virii cm segundo logar aquelle passo do §. 3; « Ac milii (luiilem. lamet.si liaudiiua/juam par gloria seqitatur scriptorem et aurlorem rerum, tamen iiiprimis arditum vidctur res gestas scribere. » Que Barreto Fcio verteu assim: o Mas ainda que cgual gloria nao siga ao escriptor e ao auctor das cousas, mui dif- licil me parece comtudo escrevcl-as. » Tam- bem nao disputareraos a exactidao da versao d'aquelle inciso — auctorem rerum por — auctor diis cousas. Julguem aiiida aqui os enlendi- dos, da fidelidade da intcrpretafao. 0 que nos parece inquestionavcl, e, que esta traduc- cao, alem de servil, 6 fria e desleixada ; sobre tudo 'naquelle rcmalti — escrevel-as, o (|ual tSo chcio e numeroso estava no original [res ijcslas scribere), como qucbrado e sem graca Ilea na versao. Manuel Matthias ainda aijui foi rauito mais bem succcdido, traduzin- do: <(E ainda que o escriptor nao ganhe gloria egual a dos heroes, que descreve ; toda- via serapre me parece arduo bastanle o cscre- ver a historia. » Aqui conserva-se o arrojo, a nobreza, e a cadcncia do conceito original, sem se offender em nada o genio da lingua portugueza. Eeomo estes, poderiao adduzir-se outros muitos logare's, onde, a nosso ver, a traduccao, que vai publicar-se, muito excede, se nao eclipsa tolalmente, a outra que o pu- blico ja possue. Verdade e, que Manuel Matbias algumas vezes, que nao I'orijo muitas, accrescenia na traduccao um ou outro lermo, rpie nao vein dislinctamente expresso no original ; da ii diccao diverse geito, ja variando a qualidade dos vocabulos, ja substiluindo certas figuras, ja alterando a sua posicao, etc. E porque 6 nao faria elle, se com isso illuminasse o sen- tido, reprodusisse todo o conceito do texto, tornasse a phrase mais cheia e harmoniosa, ou accomodasse a expresao a indole da lin- gua, para ([ue verlia? Bem traduzir nao c dar palavra por palavra; que, alem d'impossivel, seria isso demasiado escrupulo, ou supersti- yao inutil: bem traduzir e dar conceito por conceito, conservada, quanto ser possa, a concisao, a estructura, o as feicoes do origi- nal: e dar as cousas do texto por pezo, e nao por conta , como costumava o grande orador Romano. Foi isto o que fez Manuel Matthias. Julgamos pois, que prestanios algum ser- vice a literatura naeional, enriqnecendo-a com a boa traduccao d'um dos melhores oii- 191 ginaes d'antiguidade classica; alem de pagar- iiios 0 trihuto de respcito e cousiderafuo, dcvido a mcuioria do ilislincto liuerato, que tanto illusliou com seus estudos c escripto.s a sua e nossa patria. A. S. HISTORIA DA CONJURAQAO DE CATILINA. I. Todos OS liomens, que desejam exceder aosoutros animaes, devem empenhar-se imiilo era iiao passar a vida no esquecimento, conio OS brutos, que a naUireza fez debrurados para terra, e cscravos dos appeliles. A nossa i'orca toda consiste na alma e no corpo: a alma impera, o corpo obcdece, e serve-nos: por aquella nos parecemos com os deuscs, por este com os brutos. .lulgo, por tanto, mclhor grangear gloria, cultivando as faculdades da alma, do que as do corpo; e (pois e tao curta a vida, que gozamos) perpeluando o mais possivel a memoria de nos mesmos: porque as riquezas e a formosura dao gloria passa- geira e fragil ; os dotes do espirito dao-na briUianle e eterna. Apesar d'isto, lem-se disputado muito, sc o bom succcsso da guerra depende mais das forcas da alma, ou das do corpo ; porquanto, antes de cmprehender, e mister reflectir, e depois de reflectir, executar a tempo. Assim cada uma d'estas cousas, insuificiente por si, corrobora-se com o auxilio da outra. II. Por csta razao, ao principio os reis (primeiro norae, que no niundo teve o po- der soberano) divcrgindo, cultivavam, uns as faculdades da alma, outros as do corpo. Ain- da cntao os homens passavam a vida sem ambicao, conlcntando-se cada um com o que era sea. Mas depois que Cyro na Asia, e os Lacedemonios e Athenicnses na Grecia comc- caram a subjugar cidades e nacoes, a olhar como causa da guerra a ambicao de gover- nar, e a julgar, que a maior gloria cousislia no maior imperio : foi entao linalmcnte, que a expericncia e a practica ensinarara, que o talento valia muito na guerra. Se tambcra na paz, reis e generaes gover- nassem com a mesnia applicacao e tino, com que fazem guerra, haveria nos cstados mais egualdade e duracao, e nao vcriamos em tudo transtorno, conl'usao, e mudancas: pois OS govcrnos conservam-se bem pelas niesmas maximas e regimes, com que se adquirem: Porem, logo que em logar do tra- balho, sobriedadc, e justica, brotam ociosida- de, devassidao e despotismo; rauda-se a I'or- tuna com os costumes, e o governo vai pas- sando do menos habil para oniais sabio. Em- fim, agricullura, navcgacao, edilicacao, tudo obedecc a forca d'um espirito inslruido. III. Muitos homens ha, que entregues a gula, a indolencia, a ignorancia, e a grosseria, vivem no mundo como estrangeiros 'nolle. Contra o natural, o corjio Hies serve de prazer, a alma de pezo. A vida e a morte de laes homens, cu as tenho na mcsma conta : de ne- nliuma sc ouvc mais fallar. Vivcr, ter alma, so julgo a([uelle , que ulilmcntc occupado, procura deixar fama, ou por accoes illustres, ou por (jualquer genero de instruccao. Po- rem, em tao grande variedade d'occupa- coes, a natureza aponta a cada nm diversa estrada. E brilhante scrvir o Estado: fallar bem tambem nao e desprezivel. Na paz e na guerra podemos illustrar-nos' muitos que obrarara grandes feitos, e muitos, que os escreveram, se tern egualmente immorlalisa- do. E ainda (pic o escriptor nao ganhe gloria egual a dos heroes, (jue descreve; todavia seiiipre me parece arduo baslante o cscrever a historia : primeiro, porque o estylo deve corresponder aosfaclos; depois, porque muitos attribuem a odio ou malevolencia a repre- hensao dos crimes; e em fun, porque, quandd se narram as virludes e facanhas dos grandes homens, o leitor acredita de bom grado, quanto julga que Ihe seria facil pralicar; le tudo 0 mais, repula-o ficcao e lalsidade. IV. Na niinba primeira mocidade eu, assim como outros muitos, passei dos estudos para OS cargos piiblicos, onde experiraentei bastan- tes revezes. Em logar de modestia, desinte- resse e merecimento, encontrei campeando a audacia, o suborno, e a avareza. E ainda que a minha alma, nao habituada a malicia, desprezava tantos vicios; via-me comtudo en- leiado no meio d'elles, em edade niui tonra, e seduzido pela ambicao: e, se nunca abracei a perversidade de costumes dos outros, senti todavia, como elles, a mesma ambicao de honras, e soffri os tiros de inveja e opiniao piiblica. Portanto, apenas o men espirito jidde descansar de tantas miserias e perigos; e assentei passar o resto da vida longe dos ne- gocios piiblicos: nao foi tencao niiuha gastar este prccioso descanco na indolencia e ocio- sidade ; nem cntreter-nie cm occupacoes me- ramcnte corporaes, cultivando a terra ou ca- rando. Porem, voltando ao piano de estudos, d'onde uma ambicao desarrosoada me bavia afastado, determinei escrever passagens des- ligadas da historia romana, que me pareces- sem mais dignas de memoria: e isto tanto melhor, quanto o meu animo se achava liberto de esperancas, niedos e partidos. Portanto, com a maior verdade possivel, resuniirci a historia da conjuracao de Catilina. Na minha opiniao e este um dos acontecimcntos mais memoraveis pcia novidade do crime e do peri- go. Antes, porem, de comccar, fallarci um pouco dos costumes d'aquellc homera. Conlinua. 192 MANUAL DO PROCESSO COMMERCIAL' POR Joii Ribeiro Rosado, Bacbarel Formado em Direito e Advogado no Juizo de Direito de Coimbra. Com eslc seu trabalho veiu o sr. Ros.Tdo augmenlar as provas do sou merecimento lil- terario, e satisfazcr ao- nicsmo tempo a uma graiule necessidadc do foro commercial. Os iriliunos de coramercio nas provincias sao cousa inteiramente nova ; a practica e ainda mui poiica on nenhuma; e em resul- tado falla a precisa uniformidade nos proces- ses. Uma obra pois, que appresentasse a orga- nisacao do foro commercial, os principios, que regem, e devem regular os juizes, tribu- naes c sous emprcgados; que desse as regras sobre a compctcncia d'esses tribunacs, consi- derando-a nao so em quanto a iialurcza da causa, e em quanto ao logar, scnao tambera quanto ao valor ou alfadas,- que se occu- passe da ordcm do juizo nos feilos comraer- ciaes, tanto no processo regular como no ar- bitral; que offerecesse formulas para os regi- stos, eleicOes de jurados, protestos de letras, e principacs termos do processo commercial, perante os Iribunaes e perante os arbitros; equc (inalmente contivesse a legislacao relati- va ao juizo commercial, publicada depois doco- digo; uma obra d'csta nalureza era necessaria e desejada; — e o sr. Rosado emprchenden- do-a e concluindo-a fez um grandissimo ser- vico aos Iribunaes e a todos os que seguem, ou se propoem seguir a espinhosa vida do foro, sob qualquer denomiuacao que seja, — juiz, delcgado, escrivao, advogado, ou jurado. 0 auctor iracta, por incidentc, muilas que- stoes importantes, appresenta e cita muitos casos julgados para fundamentar as suas dou- trinas, e faz um tructado de provas. — E tudo isso accresccnta, e muilo, a utilidade do seu livro, digno de ser bcm lido e estudado. B.C. I\OT|CIARi:0. SemealeH soni induenria do pollen. ObnorvarocN de M. ^'audin. Liueu e OS botanicos que o seguiram julgayam a fecun- dafao pollenica condicao esscneial do desin- volvimenlo dos ovulos e da formacao das sementes. Ilouve depois botanicos allemaes que ate prelenderam ver no pollen o princi- pio mesmo do cmbryao, e apenas concederara ao ovulo 0 grau mui secundario de matriz ou orgao protector e nutridor. Spallanzani foi o primciro que notou uma cxcepcao a regra domasiado absoluta da fe- cundarao pollenica, mostrando que o canha- mo IVminino podia fructilicar sem o coacurso de uma llor mascnlina. M. Naudin rcpetiu as experencias d'cste sabio, 0 concluiu tambem que o canharao fcmiiiino pode fructilicar sem intervencao al- guma de plantas masculinas da mesma espe- cie. Observou muitas plantas ja dioicas, corao 0 mercurial, a pryonia etc., ja monoicas, como 0 ricino, o ecbtilium elaterium, etc., c acbou, d'um lado a infccundidade absoluta das llores femininas pnr falta de llores mascu- linas em uma planta monoica, d'outro lado, uma planta da mesma familia e d'organisa- cao analoga, mas dioica, nao deixava de fru- ctilicar c produzir sementes ferteis, ainda na ausencia de outra planta que a fecundasse. Resta indagar por que tempo se conserva- rao as especies, se as reduzirmos artificial- mente a esle modo de propagacao. (Journal des Connaissances utiles.) RELACAO Dos individuos nomeados para os segvintes logares de i/istruc^ao publica desde o dia \°atc ]5de novembro corre/ite, por despachos do Conselho Superior d'ln- strucgdo Publica^ e decretos da governo communicadot ao mesmo Conselho no indicado periodo. inSTRUC^AO PBIMARIA. Constaiicio Jose Martins, para professor temporario da cadeira da Barqiiinlia, districto de Santarem. Joao Pedro Torres, para dicto de firinchel, districto de Beja. Antonio Joaqiiim Ferreira, para dicto de Quadrazaes^ districto da Giiarda. Juaqiiim de Noronha Abreii e Lima, para dicto das (?aldas da Kainba, dit^trirto de Leiria. Jo:se Firmino da Silva Qiiellias, para dicto du Pedro- giio, districto de Castello Brancu. Jose Tliomaz Pereira de Mendon^a, para dicto de Sao Vicente de Pereira, districto d'Aveiro. Manuel Ferreira Duniingiies Martins, para dicto de Pinhan^os, disiriclo da Guarda. Joaquini dos Sanctos Affonso, para professor substi<* tuto em quanto da cadeira de Meda, districto da Guarda, Victorino Joaqiiim Uias, para professor vitalicio da cadeira de Kibeira de Pena, di&trJcto de Villa Real, de- creto de 27 d'oiilubro findo. Maria Eulalia da C'oncei^ao Moreira de Carvalho, para mestra vitallcia da eschula de meninas da freguezia deSuo Jorge, com exercicio na deNossa SenlioradaPeoa, da cidade d« Lisboa, decreto de 4 do corrente. INSTRUCIJAO SECUNDARIA. Juse Francisco Rodrigiies Pereira, para professor vi- taliciu da cadeira de latim da villa d'Agiieda, districto d'Aveiro, decreto de 5 do corrente. inSTRUC^AO SC'PBRIOR. O Douclor Roque Fernandes Thomaz, para vopai do Conselho Superior d'lnstruc^ao Pilblica, decreclo de 4 do currenle. Ernesto Aiigusto Soares da Silva, para o logar de por* teiro da eschula medico-cinirgica de Lisboa, decreto de i do corrente. i) Jn0tititt0) JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. COJISEIHO SUPERIOR DE ISSTRl'CtiO PIRIICA. RELATORIO ANNUAL. 1854—1855. Seiihor! — Em desompenho do quo so aclia dcterminado no dccreto de 25 de fcvcreiro de 1841, lera o conselho superior d'iuslruccao piiblica, a honra do fazcr subir a augiista presenca de V. M. o rclalorio dos seus traba- Ihos durante o anno lectivo findo de 1854 a 1855, acompanhado do quadro da instruccao piibiica nos dilTerenles ramos, que a lei col- locou debaixo da inspecrao do raesmo conse- lho. Apezar da falta de um dos seus vogaes, cujo logar se acha vago, c da ausencia, por alguns mezes, d'outro, que e depulado da Na- jao, nao deixou o conselho, no decurso de todo este anno, de fazer regularinente as coii- ferencias do conselho ordinario, bem conio as das suas trez seccoes, e de dar expediente aos multiplicados negocios, que Ihe I'oram ap- presentados, resolvendo uns, e levando outros a considerafao de V. M. Em consequencia do pequeno numero, que havia no principio d'este anno lectivo, de substitutes extraordi- narios nas dilTerentes faculdades da Univer- sidade, os quaes sao hoje os unices vogaes extraordinarios d'este conselho ; do servico que niuitos Coram obrigados a fazer na regen- cia de cadeiras, e da passagem subsequente de quasi todos elles para lentes substitutes ; nao foi possivel fazer com regularidade, duran- te este anno, as conferencias extraordinarias de seccao, e por isso tornaram-sc quasi nul- los OS servicos que estes vogaes podiam prestar ao conselho superior. A secretaria continiia a satisfazer bem e regularmente ao p^sado ser- vice, com que se acha subrecarregada. Em attencao a este servico, e pelos principles de jnstica, seria muito para desejar que o gover- no de V. M. providenciasse, para que se torne effective pelo orcamento, o que V. M. se dignou resolver no decreto de 28 de novem- bro de 1853, que estabelcceu os ordenados, e a distribuicao dos eraolumentos para estes empregados, conforme o que Ihes Cora pro- mettido no art. 63 do regulamcnto de 10 de novenibro de 1845 ; e em harmonia com os Vol. V. Dezembro 1.°- ordenados, que percebeni os empregados da mesnia graduajao, em outros ramos do servico publico, com trabalho, que nao e seguranicntc nem mais activo, nem mais assiduo que o dos empregados na secretaria do conselho. 0 mo- vimento do expediente da secretaria ve-se no niappa (n.° 1). A paz e socego publico, do que o paiz tcm gozado felizmente, 'nestes ultimos annos, nao podia deixar de levar a todos OS ramos da administracao piiblica os seus effeitos salutares. E sem diivida devido a elles, em grande parte, que de anno para anno se vfi caminhar com mais regularidade 0 servico na instruccao piiblica, o qual se nao toca ainda o grau de perfeicao que seria para desejar, ja offerecc comtudo uma base segura, em que podem assentar os melhora- mentos progressives, que a mesma instruccao demanda, e com os quaes o governode V. M. tao desvcladamente se enipenha em dotal-a. Os relatorios parciaes dos chefes dos estabe- lecimentos d'instruccao piiblica, e dos diffe- rentes delegados do conselho, e bem assira os mappas dos professores, tern chegado, este anno, mais a tem[io e em maior numero com- parativaniente com os annos anteriores. E, se OS meios actuaes d'inspeccao fosseni sufficien- tps, niio duvida o conselho emittir a sua opi- niao, de que, auxiliado pelo governo de V. M., louvando os benemeritos, advertindo os tardios, e inipondo castigo aos remissos, con- seguiria dentro de poucos annos, que todos OS seus subordinados satisfizessera cabalmente a esta parte importantissima das suas obriga- coes, e que pozessem, por esta forma, o mesmo conselho em estado de appresentar a V. M., no tempo raarcado, um relatorio completo, que fosse a expressao verdadeira do estado da instruccao piiblica, onde se podessem es- tudar as suas necessidades, e os meios de as satisfazer. Mas nos precedentes relatorios, ja por vezes o conselho tem exposto a Y. M. que, principalmente para a instruccao prima- ria, a inspeccao actual n5o e sufiiciente. Aos commissaries d'estudos, que d'ellas se acham mais particularmente encarregados, falla-lhes 0 tempo e os meios, para prcstarem o servico continue, activo e vigilante, de que muito so carece, principalmente nas repctidas visitas as esrholas. E apezar d'isso. scnte o conselho 0 maior prazer em communicar a Y. M. que 1S5G Ni'M. 17. 194 a maior parte d'estes empregados, cxercem OS seus cargos com rauito ztiloj e ijue dcspro- vidos dos nieios de fazercm quaiUo ronvinlia, sao ainda assim os auxiliarcs iiiais importan- tes que tem csle (.'onselho para o desenipciilio e fuiii]iiimeiito (Ic giaudo parte dos sous dcvc- les. Miiitos dos rclalorios loram cuidadosa- mente elaborados, c cm muitos se encontrara indicarocs arcrladas , que este conselho ja lomou, ou terii de toniar em consideraeao. E alguiis d'elli's julgou o eonsellio digiios de serem publicados uo jornal — 0 Instiluto; — assira o foram ja os dos commissarios do Fun- chal e Lishoa, e conseculivamenle vao ser oulros, a fira dc. que a sua pul)licafi5o, alem do iulercsse publico, que d'abi resulta, sirva dc louver a seus auclores, c de incentivos aos outros empregados. Mas se ale aqui lem felizmente lido uioiivos de louvor, com dis- sal)or so v(5 o couselbo, em cumprimeiito do art. 7.° da porlaria de 10 dc agosto d'este auno, ua necessidade de levar ainda ao co- iibecimento dc Y. M. que dci.varam ale o dia d'boje de remctler os rclalorios parciaes, como Ihes cumpria : A'a TuslnicrCio primaria e secundaria. — Commissarios e Reitores: Avciro (impedido por doenya cm quasi todo o anno lectivo), — Caslcllo Dranco — Ilorta — Porlalcgre. GovernadoresCivis: Braga — Castello Branco — Coimbra — Evora — Faro — Funcbal — Ilorta — Leiria — Porlo — Yiana — Villa Real — Vizcu. AVi Inslntccao Especial. — Torre doTombo — Imprensa Nacional — Conservatorio Real de Lisboa — Acadeniia Real das Sciencias — Bibliotheca de Evora. Inslruccao Superior. — Eschola medico-ci- rurgica do Funclial. Percorrcndo os trez ramos, em que entre nos se acba dividida a inslruccao piiblica, o eonsellio superior passa agora a dar conta a V. M. dos seus trabalbos, relatives a cstes ramos, e dos lesullados que obtevc do exame fcito sobre os relatorios recebidos. 1.^ PARTE. Jnstruccao primaria. 0 governo dc Y. M., usando da auctorisa- cao que Ihe foi concedida pelo cerpo legisla- livo, tem side sollicilo em augmentar o numero das escbolas d'instrucnao primaria. Durante 0 ultimo anno loram creadas mais 73, sendo para o sexo masculine GO, c para o feminine 7. Por ondc o numero das cadeiras piiblicas, no contincnlc c ilbas, e hoje de 1:272. 0 moviraento d'estas escbolas, segundo se pdde collier dos mappas estatislicos, ate hoje rece- bidos, cousla dos mappas (n." 2) que acom- panham est« relalorio. Por elles ja se pode ver, que o numero dos alumnos, que frequen- laram cslas escbolas, snbiu a 55:117, o que e superior ao anno prcccdentc. Nos mappas (n." 2) se encontra tambem o movimento, durante o anno Undo, das escbolas parlicula- res , cujas noticias poderam ser recolbidas per cste conselho, denominadas dc academias, asylos, collegios, institutes, lyccus, munici- pios, de junclas dc parochias, de confrarias, de legados, alem das pagas pelos chel'cs de I'amilias. Vi5-sc d'estes mappas que o numero dos aluuiuos 'uestas escbolas, subiu a 25:479, sendo do sexe feminino 8:667. 0 governo de V. M., proseguindo no empenbo de augmen- tar 0 numero das escbolas d'instriicfao pri- maria, continuara a acudir, per certo, a uma das necessidades mais urgcntes d'este ramo da instrucfao piiblica. Mas, muite resta ainda a fazer, para que elle cbegue aquelle grau satisl'acturio e llorescente, exigido pelo melbo- ramento das nossas instiluicocs sociacs , c pelos recouhccidos progresses que o paiz vai appresentando no seu carainho da civilisacao. Entre as medidas mais urgcntes que para lal lim se deveni cnipregar, colloca cste conselho em primeiro logar, a ja raencionada da orga- nisacao de uma nova inspeccao mais bem re- cempensada, para poder ser mais activa e vi- gilante, e 0 estabelecimcnto d'escholas nor- maes, que infelizmenle ainda nao piide tevar-se a cabo. 0 conselho scnte dizcl-o, ou antes repetil-o ; mas scm aquclla inspeccao, c sem mestrcs habilitados come devem ser, o dinheiro que se estti gastando com aquellas escbolas, e em parte esperdicado, porque peuco apre- veita. Falla-se muito, e quasi sempre rauito vagaraeute, em melhoramcntos na inslruccao primaria ; indica-se a necessidade de remedies beroicos; fazem-sc enlrcver elixircs milagrosos, e por lim de contas, lodas as pessoas que rc- llcclirem um pouco, e forem de boa I'e, hae de convir, que essa inslruccao estara no caminho da prospcridade desejada, logo que houver uma eschola por cada Ireguezia, que os mes- trcs tenhani o nierilo, e a recorupcnsa conve- nientes, e finalmente que uma inspeccao intel- ligente e incansavel zele cste ramo impor- tante do service publico. 0 governo de \. M. auxiliado, quando for necessario, pelas cortes, ha de por eerie levar a sua illustrada atten- cao ao desinvolvimenlo complete d'estes trez pontes fundaiuentaes do melheramento da in- slruccao primaria. Conseguido isse, ainda se depara com outras necessidades, dignas tam- bem de allencao, mas que podem mais facil- mente ser satisfeilas. Entre cllas entende o conselho superior d'instruccao piiblica, que deve apontar aqui as seguintcs. 1.° CoUocacdo das escholas em edificios pitbli- cos. — Nao tem side possivel fazer cumprir os arlt. 6 e 1(58, do decrcto dc 20 dc sclcmhro de 1844; os profcssores, pcia maior parte, dao 195 ninda aula rm suas casas. 0 commissario (I'estudos do Funehal, queixa-se de lercni sido arrematadas casas do Estado, em que algiins dos professores davaiu aula ; e diz inais, Ihe consta que andam na lisla das arrcmatacOcs, outros prcdios do ha muito appropiiados a cslc servico. Nem as fuiras do thcsouro pu- blico, nem lao pouco as das junclas dc distri- clo e camaras municipaos perniilteni por certo estalieliicer, dercpentcccoiijuiictanieiilc, casas pilbllcas para lodas as cscholas que d'cllas careccm ; torna-se porem urgentc adoplar, quanto antes, unia medida geral para se con- seguir que se aprouiple todos os aniios, cm cada districlo, uni deterniinado nuuiero d'essas casas. E em lodo o caso, parece ao conscllio, como acaba de oxpur a V. M. Ha sua con- sulta de 20 de novembro correnle, que deve suslar-se, desdc ja, a venda d'aquelles edilicios publicos, que podem appropriar-se para o uso das mesnias escholas. 2.° MobilUi para as escholas. — Nao tem sido possivel, a pezar das ordens lerminantes d'este conselho, que as camaras rauuicipaes, cumpram o art. "2 do decreto de 20 de de- zembro de ISUO, dando a mobilia para as casas publicas, em que algumas escholas Ibram collocadas. Esta nccessidade nao po- dera lalvez ser conipletamcnte reniediada, em quaulo as mcsmas camaras, se nao im- pozer uma norma, que regule mais conveni- entemente as suas receitas e despezas. 3.° Iiiipressao de livros elementares avcto- risados ; despesa do msteamento das aitlas; premios aos ulumnos e aos professores mais dislinclos. — Sobre este ponto, ja o conselho levc a honra de se dirigir a V. M. na sua coDsulta do 1.° de maio do anno corrente, a qual V. M. se dignou attender, mandando que 0 conselho fizesse acompanhar o presenle re- latorio de uma proposta de lei, para acudir aquellas necessidades. Cuuiprindo com esta de- terminajao, o conselho leva respeilosamente a presenfa de V. M. a proposta de lei (A). Para 0 seu previo desempenbo tornava-se neces- sario regular o modo de so fazerem os cxaraes no liui do anno escholar, em cumprimenlo do art. lij do ja citado decreto de 20 de dezem- bro de 18SU ; e foi isto o que fez o conselho, expcdindo a circular dc a de setemhro de 1835, que vai lambem juncto a este relatorio. i." Falla de freqnencia das escholas. — Esta falta que veni notada em alguns dos relalorios, ainda em cscholas regidas por bons professores, nasce ja do desleixamento, ja das repugnancias dos paes ou chcfes de familia, mormenle dos que nao querem arredar os filbos dos trabalbos campestres, e d'oulros ser- vices mechanicos. Nao ousando por bora lan- car mao dos nieios compulsorios, tem-se ate agora limitado o conselho a recommendar aos parochos OS mcios de persuazao, e auclorisar, por outra parte, os commissarios a variar as boras dos cxcrcicios escholares segundo as necessidades e conveniencias locaes. Mas re- conhece o conselho, que por lim de tudo sera forfoso tornar obrigalorio o ensino primario ; mas carecc-sc para isso nova medida legisla- tiva. 0 art. 3o do decreto de 20 de setenibro nao foi tornado em consideracao na nova lei do recrutamcnto ; e os art."' '.iO e 37 pareccm ao conselho insuflicienles, no estado em que geralmente se acbam ainda boje enlre nos as classes inferiores da socicdadc, scm os conhe- cimentos e babitos necessaries para terem no devido preco, o uso dos sens dircitos politicos. ii." Diininuto rmmero d'escholas para o scxo feminino. — Esta falta e ainda baslante sensi- vcl. 0 art. 44 do decreto de 20 de setemhro de 1844, que diz; — E auctorisado o Governo para organisar escholas normaes de ensino para meslras de mcninas era alguns dos con- ventos de religiosas, collegios e recolhinicnlos do reiuo, — posto em execncao, seria de grandc auxilio para a diminuir. Em Coimbra, por exempio, poderia a casa da Misericordia, a quem pelo governo de V. M. foi cedido uni dos nielbores edilicios publicos de Coimbra. scrvir para o (im indicado, e ao mesmo tem- po d'eschola de meninas no bairro baixo , para cujos habitantes fica em disiancia incom- moda 0 collcgio ursulino. 6.° Falta de bons melhodos d'ensino. — Esta falta ha de continuar, em quanto se nao esta- belecerem as cscholas normaes, e em quanto 0 conselho continuar repetidas vezes a ver-se obrigadn a prover nas escholas professores pouco hahilitados. Com mestrcs insufQcien- tes, nenbum methodo e bom. Os mestres bons e intelligentes podem scguir com facilida- de OS aperfeicoamenlos dos methodos conhe- cidos, adoptando-os convenientemente a in- dole e as circumslancias dos seus discipulos. Nem julga 0 conselho , que a mestres laes deva impor-se d risca um deterniinado me- thodo, mas so inculcar-lbes esses aperfeicoa- menlos hem comprovados pcla praclica. E aqui acha-se o conselho obrigado a dizer al- guma cousa sobre o methodo, ([ue, ao princi- pio muito impropriamente chamado repentino, se baplisou depois com o nome de methodo portuguez. 0 resume historico dos factos, e o resultado dos ensaios d'este methodo por dil- ferentes pontos do paiz, elevado ao conheci- mento de V. M. com officio de 27 de outuhro de 1855, sao Concordes, pela maior parte, em 0 condemnar; e pelos ultimos relatorios, chegados ao conselho, se reconhcce que tem sido ahandonado por grande numero de pro- fessores que 0 linham ensaiado. Em Leiria mesmo, onde o methodo promettia um future esperancoso, diz o commissario que apenas e seguido exclusivaraente, e com provcito, pelos |)rofessores d'Anciao, Sancheira Grande, e pelo professor particular da Vieira ; e que e apenas aproveitudo em parte pelos professores 196 d'Alfcizerao, Caldas da Rainha, Monlc-Rcal c Pederiieira. Apczar de tiulo isio, iiao se al- trevc 0 c-onsL'Uio a fonnar sulire ellc juizo ca- bal e seguro, e quer ainda conccdtT ao tempo 0 que razoavelmciiie so llie iiao pude iicgar : toiulc) em alleneao o imperii) do lialiilo dos iiietliodos aiiligos; a reliielaiieia do povo con- tra tudo 0 que e iniiovacao; e, mais iiuo tudo, a animadversao (pic s;iiscitnra a indiscripfao dc querer inipdr esle mctliodo a mancira d'alcorao, ruiulando a sua fortuua sohre a ruina total dos outros. Apparece agora oiitro iiiciliodo d'eiisinar a ler e cscrcvcr, proposto pcio commissario d'cstndos do Funchal, que parecc ao conscllio muilo cngcnhoso, lilho dc niiiito cstudo e seria observacao, assim da marclia no dcsinvolvimenlo do espirito liii- mano, con\o dos mctliodos d'ensino ate agora scguidos. 0 conselho aguarda as labellas pra- clioas d'estc niethodo para o fazcr cnsaiar convenienlementc e apprcsentar os seus resul- tados. Tcrminando esta parte do seu relatorio, 0 conselho descja que lique bem consignado que, do que lica dido a respeito de professo- res d'ensino primario menos babiiitados, se nao deve deprciieuder que nao ha actualmente professores habeis. Pelo contrario, o conselho reconhece em niuitos d'elles niuito mereci- niento litterario, e muito zelo pcla instruccao c aproveitamento dos seus discipulos. Com a I'alta que tcmos d'escholas normacs, ou d outro i|ualquer tyrocinio prcvio para o ensino pri- mario, e com ordenados, que se por ventura podem sobejar nas povoacOes ruracs, sao por certo diminutos nas grandes povoacOes, e para admirar, que se encontrem ainda tantos pro- fessores distinctos. Para que estes pudessem ser retribuidos como merecem, acha o conse- lho de sumnia conveniencia, que a lei distin- guisse trcz classes d'escholas — de cidade — de conselho — e ruraes, — nas quaes, variando a habilitacao e o trabalho, variasse lambem em porporcao, o ordenado dos professores. Esta idea, ja por vezes appresontada por este conselho a consideracao do gnverno de V. M., vem apontada e rauito bem desinvolvida pelo commissario d'estudosdo Funchal no seu bem elaborado relatorio. VontMia. EXCERPTOS l>'i!.ifta wv^wy, a, \'\\ij\.aV«rta. CAPITULO .... Visita ao castello d'Wimlsor. Coiitinuado de jiaj. Itio. Siio 10 horas e Kti ", chego a eslacao d' Wind- sor. Pasmosa poniualidadc ate na nao-poutuali- dade! Todos os dias chega o trcm urn minuto antes do prazo fixado na labella ; e nem esta se emenda, nem aquclle se rctarda ! Mas la csla 0 pnliceman, conciliador c conscrvador, para cquilibrar ajusleza do britanismo paten- teado na tabolla offendida, denodadameutc, pela rapidez d'um Ircm refraclario! — la esta elle para nao conscutir (jue as porlas das carruagcus se abram um minuto antes! Dcu a bora. Adeus, minha amavcl Uichmon- drna: qucra sabe se ainda algum dia, no prcguifoso devanear de mens phantasiosos errores, tornarei a ver-te, sorrindo airosa e gentil como noiva enamorada. Perco-te da vista e ganha a miaba memoria relembranca daquellcs graeiosissimos versos do lilho das Highlands, do poetico Burns : On Richmond Hill there lii-es a lass. More bright t/ian Afnydny morn, If'hose charms alt others jnaiils surpass, A rose u-ithovt a thorn .' This lass so neat, with smiles so sweet, . . . E sem recordar o reslo traduzia-rae este principio : Excedendo as outras, rosa Sem um espinho a florir, Esta virgem tiio formosa, De tdo suave sorrir . , . Quando fui revocado para a vida, para o mundo e para todas as miserias da nossa natu- reza. — Eis-me no passeio da primeira rua da lao decanlada Windsor. Eu partira de Londres sem alraocar, e, por isso, subscrevcndo as imperiosas exigencias do meu estomago, a primeira coisa em que pensei, apenas puz pe em terra, foi 'uum hotel e 'num almoco. A porta da estacao, quando sabia com o meu saco de Jornada pendente do brace, eis dois mocos a entregaroni-me en- derecos dos seus hotels. Nenhum me dis.sc uma unica palavra, nem me encareceu as especiosas qualidades do seu. — 0 inglez 6 sempre o mesmo em toda a ]iarte do seu paiz, c, quasi sempre, o mesnio em qualquer ponto da terra. Economia de tempo e de palavras. .Se fosseni francezes ou hespanhoes ai! meu Deus, 0 que ahi nao iria de qualidades enu- meradas e d'atteucOes rivaes para mo capli- varem. Assim, fiquei absolutamente senhor d'escolher. Agora eu que nao sou, nem quero ser, in- glez em coisa nenhuma, eu que apenas tenho d'elles 0 respeito pelo tempo, eu que nasci debaixo d'um cen azul purissimo, e nao de- baixo d'esta abobada ciir do chumbo que opprirae, eis-me aqui, nao obstante a poten- cia gastronomica do meu appetite devorador, fazcndo coniigo mesmo largas e interessaes pondcracOes aceroa de qual devia preferir ; mas, felizmente, para sahir d'este emmaranha- dissimo e ciiredadissimo erabaraeo ia eu canii- 197 nhando a vontade da bite, de X. de Maislre, em quanto ine enlciava, cada vcz mais, em in- Irincodas objecfOcs e refutafoes, e ao levantar, casualmente, os olhos deparo, a uin passo de niim, com uma d'dlas. Oscillei, como urn vimc acoitado por ventania irregular, iias angustio- sas tribulacoes da rainlia pcrplcxidade! 'Neste ponlo la b4te conduziu-me para den- tro, sem eu ler tido ainda tempo de me deler- minar. Fafo esta declaracao, per vivo escrupulo de consciencia, para que nenhum inglez me in- crimine pcia preferencia. Mas, fallando com franqucza, foi assim mellior, senao lalvcz alii tivesse licado (perdoem-me a modeslia na lisongeira comparacao) como o asno de Buri- dan entre as duas medidas eguaes de grao e 0 meu estomago a moer em secco ! Ainda, de- mais, posso salisl'azer a todos, e e nao dccla- rando qua! invadi. Eis-rae sentado a meza. Urn roiico anima- lejo britannico pcrlilla-se deante de mim, que- ro dizer, busca perlillar-se, ou, melbor, allon- gar-se, ou, ainda melhor, arredondar-se, por- que, para fallar com loda cxaccao d'um via- jante consciencioso, o homem era a incarna- cao do eircuio. Com uma das pontas do com- passo lirmada no embigo, a oulra, giraudo, tinha de rofar pela maxilla inferior, polo hombro, pela exlremidade dolacerlo, por toda extencao da nedia capa adiposa, que Ihe sepultava a um palmo de profundidade os ossos illiacos, e d'ahi, sem sohijao de conli- nuidade, pela rotula, para subir de novo pela parte opposla a fechar no ponto de partida. Tudo isto lirmado sobre duas pernas so eora- paraveis a dous potes de barro com manteiga, e tendo, uo logar proprio para os braces, umas saliencias a niodo de dous paios de saiame, ou duas barbatanas de phoca, tinha por coroa um maciro queijo londrino, a que algum myope poderia, por illusao, dar o nome de cabeca. Este ser, emtim, copia substanciosa do progresso culinario da Gram-Bretanha, aonde a batata e o sine qua non, estava a minha disposicao. a Queria almocar. . . blfes, ovos, cafe, lei- te, manteiga e liambre...» tal foi o raeu pedido, e o ser rolou pela porta fora, depois de murmurar o sumido "ijes, sirn do estyllo. ia-me passando pela maiha o dizer que tal pedido foi terminado pelo constante « if you please u (se faz favor). — E, em verdade, um lindissimo costume esse que ha cm toda In- glaterra : nada, geraimente sc pede, ainda ao mais infimo cocheiro, que nao seja por favor, e nada se recebe, a ([ue nao se diga m, n>p, n>r: edefiiia-se ja:"'-' dx {l—x") " do raodo seguinte f {m, p)= Lc"-' dx {l — x") " (1) Fazendo 1 — a; "=)/", fica ^ ()/i,p)= — /v'^' di/ (1 — y") » =:ly P-'dy(\ — y") " , ou, mudando^/ em x, f (m,p)= Ixp-' dx {I — a:") -^, isle e, m) ^gj Pondo y em vez de x' na equagao (1), e applicando o theoretna (2), acha-se r "n-i '--> r' ^ . = n if (m,fj) = n,f (p,m) = I x' dr{l — x)' = j x»~ dx (1 — ar)" ~'. ... (3) Aos integraes da forma / x "~^ dx (1 — a;)»~ chamou Legendre integraes Enh' rianos da primeira especie. 10. tf {m,p^ 6 um numero menor do que dous. E com effeilo a formula (3) do Cal. Int. de Franc. n.° SlDjda 9 (m, p) =: ( 1 + — ) ip (m + n,p)=,f (p, m-\-n); e como ^ (p,m + n) pode considerar-se como somma de elemenlos differenciaes, e x e tornado desde x:= o ate x = -\-l segue-se que (p (p,?n+n) e posiliva,e por issooe tambem^(fn,p): oradesenvolvendo (1 — x")' ^"^ serie, e procedendo convenienteraente a integra9ao, vem n—m in — m 1 y ^/t m+p n 2/i im-t- p ii in 3n 3im- p ■)■■ OS lermos, encerrados no colchete dfio uma somma positiva , logo ? (p , m -f n) < - , < por conseguinle ? ('" jP) < (- + - ) ;"" 9 ("•)?) <2 (a). De donde se ve [La-Croix 3.° V. n." 1083 pag. 411 do Cal. Int. Ed. de,1800] que a pgualdade ^ (1, l) = 2,22d82 ali escripta e inexacta. 214 11. Por quanto ^ (m jp) = ( ) 9 ("> t" " ??')' serii lambem , (m +p) (m + p + n) (m + p + Qn) ("»» 4-/) 4- /»)1 o I'm 4 " +'" - ?') ^^ "^^ 111 [VI + 71) («i-i-'2n) ^,,1 + 411) (r + p)(r + p + n){r + p + 'in^ (r -f- p + m) ^ (r + n + in ,p) ?('>?;— ^ j^_|_^^^ t^r + '-Zu) ;'■ + '") e como, fazendo rz=n, 9 (r ,p)=:(j> [n,p)^ if {p-n) := -, segue-se que I (m-t-pK'n-^P ^-")(m-+-pH-2i1 . . . (m-t-/n-tfO . n . 'in . 3n ... (i -hi) n . if (m + n-^in.p) =p~ (,„+») (ai-v-i«) . . . (m-^m) {n^i.Xp+^")W->^-i")- . ■ [f+l,!^!)"} 9 i,n^nr,H,p> '°^ e porque tf (m , ^)) = 9 (p > m) , spru tambem n(m + jJt+"»P) o(Pj"» + '» + '0 ^ , ,, . .1 . 1— i —^=:^—^ tiualquer d estes integraes pode tomar-se, como ^{n+in + n,}') ,f {p ,7i + in + n) , , m ~\- i n -\- n — ti somma de elementos differenciaes, porque p — i nao e negalivo, nem ; pnr outra parte as func^oes a:''"' (i — x")" , ar*""' (i — .t") '"*"', que devem ser tomadas desde x = o ale a;= I, hao-de approxtmar-se successivameiite de zero ao passo que * se for ap- proxiQiando do mfinito, e seriain nullas quando fosse / = co, de raaneira que para i roui . ,f'p,"i +in+ii) frrande sera -i ^i-j-X U) i((_p , n-^ i II -{-n) ' send X uma pequena fracjao ; e x = o , quando !=;cc : luj^o 9("'^P) — - ,„ (,„-t-„) l„i-H!in) .... (m-^-i!l) (.p-hu) {jj-i-ii,,. . . .y,-i-{i-i-l,n] ^''' ' Fazendo-se 'nesla formula — = «t, — =p, achareirn.s ■ "• ^^ 71?, a . (x+i; (.a + iij.. c,-r;; ^p-t-ijiP-t-ii).ePi-ai..(34-(+i) ^' -' Seja 5 um numero positive, e represente-se por T{']) o integral jy '^ di/, de sorte que seja r((y)= /.v'~' '^ ' c/y. A integra^ao por partes da r(?) = (7-i) (7-'^)(?-3) (q-i)T{<]-i) (») em cuja formula suppotiios / o maior iiileiro positivo, (jue se pode lirar de 1/. Se fo-se 7 um numero inteiro, (JJ se coiiverleria em r((y)=:: 1,2.3.4 .... (9—1) u) 215 Applicando a (5) as formulas (e), (S) achamoa mas (Serret Alg- Sup, nota 14. Edi. de 1854) r(j:4- ') =^^2,^ e~'. a;'+" (i + t)j aond« e e tnui pequeno, quando ac e mui grande, e nuUo quando a: = c5 . Usando d'esta formula ({) se converle em r ■>^ ■ r,»).r(g) (l+e')"(t + e")'"(l+x)(l+.yUl+^') ,^ aonde ,', t" . . . J', J'... s.^n nuiiieros qiiebrados, miii pequenos, quando i e mui grande; e sao nullos para j= co : k', k" . . . sfio nuineros mui grandes e positivus. Logo, no limite dc i, vem mas 9 (»",p)— ^'-J^-""' cfic (i — ^)'*~' = i /a?^~' do; (i— a;)""' (n,° 9); logo /j; eiro 1.°- foram feitas varias propostas, resoivendo o Inslituto nao acceitar a cscusa de 1." secre- tario pcdida pelo sr. Jacintho A. de Sousa que, por proposta do sr. Dr. Francisco de Castro Freirc, ficaria alcm d'isso dirigindo e auxiliando a redaccao do jornal; e acordando mais 0 Inslituto em commetter a redacciio do jnruiil a unia commissao de trez membros, nniMcados um por cada classe, e funccionando ])elo espaco de quatro mezes. 0 sr. Jacintho Antonio de Sousa, declarou que, vista a insistencia do Inslituto com que muito se honrava, e que muito agradecia, acceitaria o cargo de secretario; mas que unicamente se responsabilisava pelo cumpri- mento das obrigacoes de 1.° secretario pre- scriptas no regulamento, as quaes leu a As- semblea; que por tanlo nao teria ingerencia alguma na redaccao e administracao do jornal — fnstitiilo. Nao havendo mais nada a traclar, fecliou 0 sr. Presidenlc a sessao. Eram 2 boras da tarde. 0 2." secretario do Inslituto, ./. Alves de Sousa. SESSAO CEHAL DE 14 DE DEZEMlil'.O. Premlenlc, o sr. Dr. Francisco Jose Duarle Nazareth. Abriu-se a sessao pelo meio dia, e a direc- ciio passada apresentou ao Inslituto as conlas da sua gerencia, entregando, ao sr. thesou- reiro novamente eleito, os livros, 143^3'Ja reis cm metal, e '37|,320 reis em recibos. Foi nomeada uma commissao composla dos srs. Jose Pereira da Costa Cardoso, Thomaz Anto- nio d'Olivoira Lobo, e Albino Auguslo Giral- des, para, na conformidadc do regulamento, examinarem as diclas conlas, c darem sobre ellas 0 seu parecer. Nao havendo mais nada que Iractar, fechou 0 sr. Presidente a sessao pcia uma bora da lardo. 0 secretario do Insliiuto, Jacintho A. de Sousa. 18Ji7. Num. 19. 218 SESSAO DA DIltECJAO EM 14 D£ DEZSMBHO. A. direccuo, reunida em scssao ordinaria, iiomeou director do gabiaete dc leilura o sr. Dr. Malliias dc Carvallio , auctorisaiido-o a inandar illuiuinar a fiaz aquellc cslabeleci- mento, c a lazer em tuilo execular o que dcler- miiia 0 regulamento. 'Nesla sessao I'oi distri- biiido ao sr. Dr. Francisco Anionic Rodrigucs d Azevedo, o elogio funphrc do socio linado o em.'"" Cardeal Arcebispo de Braga. K I'ccboii-.se a sessao pcla uma liora da lardc. 0 secrclario do InstiliUo, Jacintho \. de Sousa. imim siPtiiioR i)£ i.\sTi!iL[Ao mm\. UEiiATORIO AX.'iUAL. 18o4— ISiio. Conlimiadu de pag, 200. 3.° PARTE. Inslruccao superior. 1." Uimersidade.—Na. frcntc dos estabe'c- ciraentos d'instrucrao superior, e como o mais importante dc todos dies, (igura a universi- dade de Coimbra, a q;iai desde a sua rcforma em n'2, tern sido succcssiva e prudcnteraentc dctada com os melhoramenlos exigidos pela progressiva desinvolucao dus scieacias, ciija ciiJuira ihe foi confiada. E por isso, quo nao careccndo de relbrmas radicaes, ella se teni limilado a proper ao illu.^trado governo de V. M. as medidas e providencias, que tern jul- gado necessarias para ir caminhando a par dcs cstabelecimentos da mcsma ordcm nas nacOesmaisadiantadas. 0 ultimo anno leclivo, apesar de se ter seguido a outro bastante agitado, correu felizmente muilo regular, de- vcndo-sc ao zelo dos professorcs de todas as faculdades a boa ordem e disciplina nas aulas, e 0 aproveitamento da maioria dos estudan- tes, demoDstrado nos actos finaes, e no grande numero de distinccOes e prcmios que I'orara conferidas. A execucao dada durante este anno as cartas de lei de It) dc agoslo de 1833, c de 12 du junbo de ISJo, accudiu a uma das primciras npcessidades do ensino, que mal jjodia caminhar rcgularmcntc com a I'alta em que se achavam todas as faculdades do nu- mero sullicienle do profossores. 0 govorno de V. M. resolvendo promplamenie todas as con- sultas, que subiram a augusla presenra de V. M. com OS processes de candidatura p.ira 0 provimcnto dos logares vagos, conlinuou a dcmonstrar bcm claramente quanto se empc- nlia pelo crcdito e lustre da corporacao uni- vcrsitaria. Nos relatorios das diversas facul- dades, remctlido.s a este consellio pelo Vice- Rcilor da L'niversidade, se manifcsta o zlilo cjiii (jue OS consellios das mesmas faculdades procuram promover material e lilterariamcnlc 0 adiantamenlo d'este grande cstabelecimento. Na faculdade de tbeologia, dcterminou-se que OS estudantes do 1." anno fosscm obrigados a rnmprar a biblia vulgata ; o nomcoii-se uma comniissao para ordonar a liisloria da faculda- de desde o anno de 1834. Na dc dirciio onde se adoplou para compendio dc direilo admi- nistrativo o — « Precis dc droit admiitislrtilif ])or Pradier Fodere » , foram cncarrcf;ados o professor rcspcclivo e o seu substiluto, de colligirem a legislafao administrativa d'execu- cao i>erniancnte, ate agora dispersa e senipre (lillicil d'cncontrar ])clos ahimnos. Dccidiu tambem o conselbo da faculdade, que ja no proximo anno lectivo se addicionasscm as materias da encyclopedia juridica a d'liisloria gcral de jurisprudencia, e a particular do direilo roraano, canonico e patrio, que se en- sinavam no primciro anno, ado|itando-se para compendio, a encyclopedia juridica de Deii- Tex ; e que os estudantes das aulas de direito ecclesiastico, fossem obrigados a comprar a sagrada Riblia. Na de mathematica foi appro- vada a 2." parte de urn coni[iendio d'aslrono- mia ])hysica, composta pelo lente d'astronomia R. R. dc Sousa Pinto, cuja proiupla publicacao 0 conselbo julga necessaria para proveiio do ensino, objecto sobre o qual tambem o con- selbo superior d'istruecao piiblica j;i se diri- giu a v. M. nas suas consultas de 30 de maroo e 19 de junbo do corrente anno. Acha- se ja collocado no observatorio, c no uso d'observacocs, um dos instrunienlos nova- mente adi|uiridos ; e tambem ficou prompta uma casa propria para a cadeira de desenho annexa a faculdade. Nas de medicina c pbi- losopbia, onde o zt'do pelo progresso scicntilico nao e inferior ao das outras faculdades, con- tiniia a inelborar-se o material dos sens esta- belecimentos, como permittem oscrediios para esse fim votados. Este conselbo tern o maior sentimento, em ver tanto pelo rclatorio do prelado da Universidade, como pelo da facul- dade de medicina, o doloroso quadro que ap- prescntam os hospitacs da Universidade , e acba do seu dever expor a V. M. a necessidade de quanto antes se tomarem medidas que lacam sabir um estabelccimenlo de tanta im- portancia para a bunianidade, e para as scien- cias, do estado de penuria a (pie se acba re- duzido. No seu relatorio appresenta o prelado da Universidade iniportantes rellexoes e pro- postas a este respeito, as quaes entende o conselbo, que, tomadas em consideracao pelo governo de V. M., muito poderao concorrer [lara se melborar a administracao dos liospi- taes, e o estado iamentoso em que se acbam 219 actualmente. Durante o anno Icclivo, reuniii-se 0 clauslio pleno da Universidadc para orga- uizai', coiiio llie lura ordenado, os regulanicn- los paia a prinieira niaUicula na Uuiversida- de, c [lara as faltas dos cstudautes e outras medidas discipliuares. Amijos estes regula- iiientos foraai elevados a presenca dc V. M., com 0 parccer do tonsellio superior, nas suas eonsuluis de 12 de junho e de 24 d'agosio de 18ao. Dos relatorios dos eslabelecimeiitos annexos a Universidade consta : — que na ioiprensa da Universidade se prosegue no cm- penlio de nielliorar aquelle estabelecimcnto lanto na parle material, conio nos aperl'eicua- nientos typograpliicos: — e que na hijjliotlieca se cuida de orgauisar ura regulamento, onde se prescrcvam as providcncias, de que ainda se carcca, para que cste importante cstalicie- ciraento precnciia, o mais coiuplctaniente pos- sivel, OS fins da sua instituicao. 0 service da secretaria da Universidade, apezar de mais trabaiiioso no ultimo anno em conscquencia da aiUucncia dos processes para provimento dos logares vagos, e de jubilaeoes, e das nu- merosas sessOcs do claustro pleno, fez-se re- gularmente com o auxilio de um amanuense, que desde ISu^i cscreve na secretaria, e que ultimamenle loi proposlo a Y. M. i)ara o logar dc 3.° official, era consulta d'este conselho superior de 28 de setembro ultimo. §. 2." Academia pobjtechnica do Porto. — A. frequencia dos alumnos que no anno Undo cursaram a eschola, foi superior a do anno precedente, e grande foi o approveitamento d'elles, contando-se muilos dislinctos. 0 con- selho refere-se no seu relatorio as indicacoes I'eitas nos relatorios precedcntes para mais cabal descm[:enbo da sua missao ; e repete com inslancia a ncccssidade da organisacao do jardim botanico, pedindo que para esse tim se insira no orcaniento do Estado, a verba corapctcnto. Da parte de que ja comocara fe- lizmente a ter execucao 'uaquella academia o decrclo de 20 de setembro de 1844, na parte em que obriga os pilotos practicantes a re- quercreni exame para se Ibes passar, a vista dos diaries das respectivas viagens, a corape- tente carta de piloto ou sota-pilotos. §. 3.° Escholas cirurgicas de Lisbna e Porto. — 0 ensino publico 'nestas duas escbolas loi desempenhado torn bastante regularidade. A eschola de Lisboa sollicita dc novo a repara- cao das partes deterioradas do edilicio cm que se acba collocada. Pede tambem maior dotacao para mclboramentos dos seus estabe- lecimentos, e a creacao de professores aggre- gados, OS quaes, sujeilos por este mode a um lyrocinio, possam ao mesmo tempo auxiliar nas suas funccOes os lentes catbedraticos e substitulos. Repete, sem novosargumenlos, que a posbam I'ortiiicar, a velha pretencao de graos academicos. A eschola do Porto rcpresenta sobre a necessidade de sc I'azcr cxtensiva aquella eschola o benelicio da carta de lei de 12 de junho de ISoii, (|ue em dadas circun- siancias dispensou na Universidade os dois anuos de service dos substitutes extraordina- nos, para poderem passar a ordinarios. Ao consellio superior parece que deve scr touiada em consideraciio a rcpreseiitacao di eschola, por meio de uma medida legisiativa, a lira de occorrer a falta de prolessores sufficientes na mesma eschola, nas circunstancias em que se acha com um so substitute para as cinco ca- dciras da seceao cirurgica, e com a probabi- lidade de se achar em breve sem nenhura para as quatro cadeiras da seceao raedica, nao podendo os dois demonslradoros, occor- rer ao servico da substituieao era conscquen- cia das suas constanles occupacOes. 0 movi- mento estatistico dos alumnos nos estabeleci- mentos d'instruecao superior, colhido dos re- latorios que I'orani presentcs ao conselho en- contra-se nos mappas n." 7, 8, 9 e 10. §. 4.° Pliarmaceuticos. — Para evitar abuses, que possam commetter-se sobre prova de tempo de apreudizagem, admittida pelo §. 19 do alvara de 22 de Janeiro de 1844, exigiu-se pelo art. 131 do decrelo de 29 de dezembro dc 183ti que — os pharraaceuticos approva- dos, que tiverera botica aberta, era qualquer parte do contineule do reino, envicm annual- mente a cada uma das trez escholas de pbar- macia, um registo dos practicantes que tra- balham nas suas officinas, contendo o nome, patria, liliacao, tempo depractica, e progres- so de cada um dos alumnos; que este registo scja lancado no livro das matriculas da eschola, e consultado quando os alumnos se appresea- teni para exarae. — Pelo art. 138 do mesmo decreto, e art. 189 do regulamento de 23 d'abril de 1840, exige-se aos alumnos extra- nlios, que nao tiverem froquentado a propria eschola, oito annos de boa pradiea, provados pclos sobicdictos registos: e, para que mais se nao podesse allogar ignorancia d'esta lei, se deram providcncias na porta ria de G de de- zembro de 181)0 pelo ministerio do reino, permittindo-se pela de 8 de marco de ISiil recursopara V. M., aquelles que, tendo dado todas as provas de capacidade, Ihes obstas- se unicaniente a omissao dos boticarios, na remessa annual das inforniacOcs as respectivas escholas. A lei dc 12 de agosto de 1834, exigiu a estes alumnos pelo art. 11, conheci- mentos de mais preparatories, e a porta ria de 7 de novembro de 18oo, publicada no Diario do Governo n.° 207, deu algumas providcn- cias para evitar, que os reprovados 'numa eschola I'ossem repetir exame 'noutra : mas nada foi alterado em quanto ao tempo de oito annos dc boa praclica, e registo das matriculas nas escholas para prova d'ella. Grande parte porem dos boticarios, nao cumprera a obriga- cao de mandar registo as escholas, mesmo aquelles, que sc acham na capital do reino 220 com holica alierla a face do Goveino e sous delegados, c do conscllio de saiide pilhlica do reino ; e 'ncsta parte lem-sc al)iisado iiuiito escandalosamente porvariados modes, despre- sadas inlciramenle c soiiliisniadas as rcconi- inendacOos e ordcns de V. M. nas sohrcdiclas portarias de C de dezembro de 1830 e 8 de inaiTO delS51. Ccilidoes de rcgislo regula- rcs, njio lum apparccido uma uiiica no con- scllio superior d'hisliiicffio piihlica; mis iiiie- rcni provar o tempo em parte com matriculas irregiilarcs e informes, e em [larte com atlesla- dos graciosos, passados pelos sens aiiiigos, e nuiilos pelos sens proprios paes e parentes hoticarios, e coin jiistilicatOes graciosas fcilas perante aiieloridades administralivas on ju- diciaes, alraves de conlradicrOes ni.iniieslas e escandalosas, por onde se conliece que nao tiveram o tempo legal de practica, nem o esludo neccssario d'aquella prolissao. De tudo isto V. M. ter.i liavido conliecimento pelas muitas e variadas consultas do conselho su- perior d'instrucfao piililica, sobre frcquentes pretenroes do taes alumnos, tendo liavido ate algumas, que depois de sercm por Y. M. iii- del'eridas, sao renovadas com os mosnios de- cumentos, scm se fazer mencao do indeferi- mento. Estes illegaes e escandalosos esforcos, lanlo niais se vao repetindo, quanto depois das providencias dadas na portaria de 7 d'agosto do corrente anno, se ^ai approximan- do a cpoclia de serem obrigados estes alumnos a dar conia dos novos preparalorios, exigidos pcia lei de 12 d'agosto de l«o4, art. 11. 0 conselho superior d'inftruefao piiblica, sente vivamento ter de enfadar a V. M. tao repe- tidas vezes com coiisullas contra similhantes prctencocs ; e reconliececdo (jue a prolissao dos boticarios por uni lado, nao e menos im- portante para a saiide dos povos, e que por outro e 'nelle mais perigoso, ainda o cbarla- tanismo e a ignorancia, do que na prolissao niedica nao pode deixar de expor a V. M. que julga ainda necessario a adopfao de al- gumas providencias, para ver se com cllas cessaiao taes abusos, e se podera conseguir que as leis sejam, 'nesta parte, cumpridas lielmente, e se nao encha o paiz de boticarios incapazcs, com risco da saiide dos povos, e do credito dos medicos. Conciusuo. 0 conselho superior d'instruccao piiblica, em condusao d'este seu relatorio, Icm a honra d'expor a V. M. que, no seu cntendcr, a instruccao piiblica nos sens difi'orenles ramos, nao carecc acliialmenle de reformas radicaes, massim de melhoramenlos progressives e bem pensados nas que iiliimameiUe se teni fcito. As necessidades a que c urgenle acudir iiiais de prompto, bem conio os ineios de as satis- fazer, vao indicadas pcio modo que este con- selho soube e pode fazel-o. 0 governo de V. M. avaliara na sua sabedoria essas necessida- des, e as rcniediarii jieios meios que o seu jialriotisnio ba de cerlaniente suggerir-lbe. Seiihor, subiiido taoausiiieiosanienle aothrono dos sens luaiores, foi V. M. por uma inspira- cao como prophetica, acclamado pela nafao com 0 cognome de esperancoso, e na verdade muito graudes sao as esperancas que niilre o pnvo portuguez de que a sua sorte muito ha-de nielborar debaixo do feliz reinado lie V. JI I'orem sobre tudo a esnierada educarao que V. M. recebeu de sua augusta esempre cho- rada Mae a Senliora D. Maria II, e o amor das letras e das seiencias que tanlo distingnem 0 espirito elevado dc V. M., dao a e.^te con- selho, bem como a todos os portuguezcs, se- giiro abuno e osperanca fundada de que as lelras e as seiencias, favorecidas pelo animo illiistrado e verdadeiraraiMite libernl d; V. M., bao-i!e elevar-se entrc nos a lao subido grau de expjendor, que nao tenham que iiivejar (is estranhas. Coiiiibra era conselho de 30 de novembro de 18 jo. Prupo.slii de lei (\). Art. 1.° Dos livros elemcnlares auclorisa- dos para uso das cscbolas priniarias fani o Governo impriniir os que I'orem inilispensaveis ao ensino das classes ; c distribuir gratuita- mente aos meninos indigenies, que I'requen- tarem escholas piiblicas. .\rt. 2." Os alumnos das cscbolas prinia- rias pertencenles a familias que paguem mil reis ou mais de impostos directos, contribui- rao niensalniente com quarenla rt'is , nas escholas ruraes; oilenta nas cidades e villas; cento e vinte, em Lisboa, Porto, e Funchal, para dcspezas de custeanienlo das aulas, em que se comprebende tinta, penas, e papel aos meninos pobres. Sera paga esta subvencao aos recebedores das camaras municipaes, e por elles enlregues aos professores. Art. 3.° No orcainento geral do 'tstado, sera ineluida a verba de — soccorros ii in- slrucciio primaria destinada para premios a dois alumnos, que mais se distinguirera por seu aproveitamento litterario e moral em cada eschola piiblica, e gratilicacoes annuaes aos professores que mais zelozos e efficazes, com- prireni os deveres do magisterio. §. unim. Os premios aos alumnos serao dados em livros do uso das cscbolas: as gra- tilicacoes aos professores serao pecuniarias. Art. 4.° Fica revogada toda a Icgislacao em contrario. Proposia de lei (B). E creado no lyceu nacional do Porto, um logar de substituto dos dois professores das cadeiras de ilicologia moral e dogmalica an- nexas ao mesmo Irreii. 221 I'roposta de lei (C). Art. I.° Os coiiiptndios por onde devcm lcr-;;e as (iiscipliiuis do cnsiiio sccundario , seriio propostos iielas cscliolas, e approvados pel© consellio superior d'insliucriio piiblica. Art. 2.° Fica 'ncsta parte revogado o de- dccrelo (converlido em lei) de 20 de setenibro de 184 i, c a mais legislacao em contrario. Mappa n.° 1. Estatistica do movimento da secretaria do con- selhu superior d'iiistrucruo jmblica desde o 1.° de Janeiro a 30 de novembro de 18S5. Consullas remettidas ao Governo 349 — Ilcgulamentos 4 — Programnias submcllidos a approvafao do Governo 4 — Portarias para coiicnrsos 437 — Dictas para intimacoes, re- solucOes, informes etc. 42!) — Ollicios para concursos 42ij — Dictos para informes, renies- sas, rcsolufOes etc. 418 — Editaes, e annun- cios para o Diario do Governo 1:457 — Cir- culares aos delogados do conselho 4 — Pro- visoes temporarias 20S — Ccrtidoes para o ensino particular 20 — Registos de cartas de nomeacao vitalicia, jubilacao e aposentacao 73 — Foilias dos ordenados dos empregados uo conselho e secretaria (em duplicado) 11 — Dictos do cxpcdienle da secretaria (cm dupli- cado) 8 — Uictos do utciisilios e rcparos no edificio do conselho ii — Contas corrcntes dadas ao Governo 0 — Orcamentos 2 — Portarias e oiScios rccehiilos do Governo K41 — Proces- ses de exames para cadciras, e outros logares distribuidos as dilTcrcnles scccoes do conselho 462 — Diclos de juliilacao, aposentacao, e coDtinuacao 4(i — Dictos de deniissao de pro- fessores 2 — Papcis distribuidos as secfoes, a que correspondiMi) oiitros tantos desjiachos do conselho superior 278 — P.esumo historico do melhodo porluguez 2 — Copias das actas das conferencias do conselho remettidas mensal- mente ao Governo 10 — N. B. Todo este ex- pedientc se acha conipetentemente registado. RELATORIO Da dlrocciio i(a nocietladc do«t banbos de liUNO, aprcHciilntio ii assemblca geral dos aecioniutaii, no 1.° de Ja- neiro dc 1S59. SENnonEs! — A direccao da Sociedadc para o melhoramenlo dos banlios de Luso, 'neste relalorio, que o art. 7 dos cstatulos da Sociedade Ibe iiicunibc dc apresentar a assemblea geral dos accionislas, tern de occu- par-se — do modo como correu todo o servij-o dos banhos, — do movimento dos banhistas e da estatistica que Ibe diz respeito, — do estado em o"e se acbair. cs obras do estabelccimen- to, — e linalmente dos fundos e contas da so- ciedade. Servico dos Banhos. 0 servico dos banhos correu com regulari- dadc. 0 medico director i'ez manter a policia no estabelecimento ; e tanlo o banheiro, como OS serventes, desenipenharara as attribuifoes quo Ihes inipoe o regulamento dos banhos, proporcionando commodidades aos banhistas, e conservando as banheiras c casas de banho no aceio compativel com o estado das obras. 0 servico de escripturacao, se bera que muito mais perfeito do que o do anno passado, nao teve ainda regularidade prccisa. No livro do registo dos banhistas, ha muitas falhas na columiia deslinada a designacao das mo- lestias, e hcou quasi loda em branco a co- lumna em (juc devcria lanjar-se o rcsultado dos banhos em cada hanhisla. Tamhcni deixou dc se cumpr'ir o disposto nos artt. 13 ell do regularaento dos banhos, nao se afixando nos corrcdorcs as tahellas dos ba- nhistas, onde devcria ter-se I'eito a descarga dos banhos que fosse tomando cada individuo, com 0 lim de colher dados muito proveitosos a estatistica niedica, e ainda como nicio de liscalisacao economica. 0 sr. director dos ba- nhos, notando estas I'altas de servico, lembra a conveniencia d'um director que esteja quasi conslantemente no estabelecimento, encarre- gando-se de toda a escripturacao de registo e tahellas; e, em sua opiniao, podcria suppri- niir-se o logar de banheiro; licando iodo o servico a cargo dos serventes directameate, fiscalisados pelo mesmo director. Esta mcdida, cuja prolicuidade a direccao nao pode por em quanlo assegurar, envolve urn accrescirao de despeza no augmento de gratilicacao do medico director, o qual nao podcria sujeitar- se a tanlo trabalho, c dispor de tanto tempo, nao tendo uma remuncracao muito superior aos 100^000 rs., que Ihe foram arhitrados para o anno findo. A nova direccao tomara este ohjecto na consideracao que julgar con- veniente. A sala particular, de que trata o art. 15 do regulauiento dos banhos, so pode abrir-se a 23 dc agosto; c de entao por diante, alem de funecionar como casa dc descanco, gahi- nete de leilura, c casa dc jogo, tambem ser- viu para se reunirem as famiiias em saraus divertidos, dehaixo da liscalisacao do dire- ctor dos banhos, e com o servico do banheiro e serventes. A direccao reconhece a insufficiencia d'esla sala para taes reunioes, e ncm foi este o destine que Ihe deu o piano do edilicio; mas, apreciando oscffeitos hygienicos da conviven- cia e di^lracao dos banhistas, e attendendo aos incommodes com que se faziani eslas reu- 222 nioes nas casas da povoajao em salas prquc- nas e acanhadas, iiao hesilou em as permit- lir no fstahelecimeiito Para a seguinte quadra dos banhos a nova direcfao providenciara, conio llie parecer mais accrtado. Eslatistka mcdica. Na roordenacao da cslatistica medica dos l)anlios d(! Luso, enconlrou o medico director as dilliculdadcs que vc noladas per lodos os direclores dos cslaliclecimenlos d'esta ordem nos paizos eslraiigeiros, priiicipalmcnte polo que toca ao cll'cilo dos banlios. Os hanliistas, na sua dcspedida, ordinariamcntc tifio dao conla do estado em que se aeliam ; c, ainda que as diligencias do medico possam em par- te supprir aquelles descuidos, nao fica preeu- chido 0 (im que se lem em vista, por(|ue a maior parte d'clles, obtendo as raelhoras so depois de regressarem as suas naturalidadcs, nao licam acce^siveis as averiguacOes do di- rector dos ])anhos. A commissao da academia de mcdicina de Paris, eucarrogada do csludo hydrologico dos estabelecimentos thorniaes de Franfa, menciouando em I80I os rclatorios dc 62 eslabelecimenlos d'esta ordem, chama a atlenjao do governo, sobre a impossibiiidade em que se acham os medicos directores de lodos aquelles estabelecimentos na acquisijao dos elementos exigidos por uma estatistica medi- ca minuciosa e exacta, que tantos servijos poderia preslar a humanidnde. Esta commis- sao aponta cm especial as queixas de M. Ber- trand, medico director do estabelecimento thermal de Monle-d'or, c de M. Genly dire- ctor do estabelecimento d'Uriage; e, sobre 0 relalorio de M. Cazaintre, medico dos banhos de Rennes, faz nolar que este director, de 4:b00 banbistas que tinbam concorrido ao scu estabelecimento nos :! annos anteriores, apenas linha observado Gil, licando por con- seguinte sem valor estatistico os 3:899 ba- nbistas de que nao teve conbecimento. Se ainda hoje apparecem tantas deficicn- cias nas estatisticas medicas dos estabeleci- mentos tbermaes d'aquelle paiz, e de muitos outros, onde se vem sumptuosos edificios de banbos, e onde 0 servico medico d'estas ca- sas tC'm nierecido cuidados especiaes dos go- Ternos e de corporacOes scienlilicas, a direc- cao coniia que a assembica geral nao usara de severidade ua apreciacao dos trabalhos estatisticos do medico dos banhos de Luso, reconbecendo que, eutre nos, quasi que nao ha estabelecimentos tbermaes, apezar da ri- queza que possuimos em nasceutes d'aguas mineraes, e que 0 servico e organizacao dos estudosbydrologicos de Portugal se acham ain- da 'num al)andono completo, corao se nao viveramos em paiz civilisado. Ouando as lorcas do estabelecimento de Luso perniittirem maior gralillcafao ao me- dico director, para se Ihe podcr exigir, no regulamenlo dos banhos, um se.rvijo alurado no estabelecimento, a direecao ve a possibi- lidade de se conseguir uma estatistica mais minuciosa. 0 auctor da eslalislica mcdica do estabele- cimento de Luso, scguiu a classiticarao do Ensaio dermosograpbico do sr. Bernardino Antonio Gomes, na dcsignacao das molestias cutaneas; e, nas outras molestias, adoplou a ciassilicatao do actual conipendio da I'atho- logia interna da Universidade. fista estatistica (pie a direecao apresenta hoje ii assemblea geral dos accionislas, ape- zar das suas deticiencias, niio deixa de ter valor; e por ser a primeira d'cstes banhos, deve considerar-se como principio d'uma col- lecrao do I'actos, que de I'uturo podera detcr- minar loda a importancia tlierapeutica e hy- gienica das aguas de Luso. Movimento dos hanhistai. Concorreram ao estabelecimento l:4i7 ba- nbistas, sendo do sexo masculino Cli-i, e do sexo feniinino 794. Dos 1:447 banbistas lica- rani 387 sem observacao, 246 tomaram banhos de limpeza sem molestia que os exigissera, e 814 accusaram as molestias mencionadas na estatistica. Se 0 numero das senhas vendidas represcntasse 0 numero de banhos tornados, teriamos 22:880 banhos, que, divididos pelos 1:447 banbistas, dariam, desprcsadas asfrac- coes, 1!) banhos a cada individuo (termo me- dio); dos 22:880 banhos, teriam sido 18:612 de temperatura natural e 4:274 de tempera- tura artificial. Mas e de crer que algumas senhas se extraviassem na niao dos banbistas ; e 0 servico da descarga dos banbos nas listas ou tabellas rccommendadas no art. 14 do Regulamenlo dos Banhos, nao correu com a regularidadc precisa para se poder conbccer com exactidao 0 numero de banbos de cada banhista. Continua. DAS IRMAS DA CARIDADE. I. Corrcndo 0 seculo XVIl, e durante a maior parte d'elle, floresccu cm Franca um simples sacerdote, niodelo d'humildade, abnegafao, e caridade, nascido de |>aes jiobres, que guar- daraovelbas nosprimeiros aiinos, e que, ten- do vencido com grande dilliculdadc, nao da in- telligencia (que nuii grande era a sua), mas dos meios pecuniarios, os estudos indispen- saveis para ser padre, passara, pouco tempo depois d'ordenado, por um penosissinio novi- ciado de privacoes e tormentos, aprisionado 223 por corsarios, e escravo em Tunis, d'onde conseguiu evadir-se com o seu proprio ultimo senhor, um renegade, que ello mcsmo con- vert^ra. A providencia, que o dcstinava para liem- feitor dos pobres enfermos e do pohve ])uvo (palavras suas mui queiidas) dispdz que o ignorado sacerdote viessc a cnlrar, e a vivcr uiua ionga vida na corte dc Franca, durante muitos annos no consellio dos reis, e senipre na t'amiliaridadc de mui alias e podcrosas familias da niesaia, sem quebra, antes coin maiores esnieros d liuniildade e caridade, alim de llics dar nao somente os mais cdili- cantes- exeniplos, mas tanibem de as guiar, emauxilio de seus caridosos inluitos, iisoliras colossaes e duradoras, que cmprelicndeu, e levou ao cabo, em benelicio d'aquelles tiio doces e interessautes objectos do seu mais terno e constante disvelo, os pobres enfer- mos, e 0 pobre povo. S. Vicente de Paulo, a cujo nome curvara a fronte soberba o mesmo pbiiosopliisnio e o atheismo, I'oi um dos maiores bemfeildres da bumanidade. Instruidas pela sua doutrina, edificadas pelos seus exemplos, e animadas com a sua eloquente palavra, toda repassada d'uncciio, as pessoas da primeira nobreza, e cspecial- mente as senhoras, com o nome de Dainus da cariclade, desceram a desabrigada cabana do pobre aldeao, subiram aos solaos e aguas fur- tadas da indigcncia das cidades, nao retroce- derara ante os miasmas, e as repulsautes mi- serias das masmorras e dos hospitaes, para soccorrerem, por suas proprias e delicadas raaos, aos pobres enfermos e ao pobre povo. As actuaes sociedades de S. Vicente de Paulo, compostas de seculares, e destinadas ao exercicio das mesraas obras de caridade, uao tein outra origem. Por vir d'elle, que com as proprias maos levantava das ruas e pracas, e dos adros das egrejas, o abandonado exposto, e com o au- xilio das mesmas damas, fundou-se em Paris 0 primeiro bospicio d'exposlos ; dos ijuacs ate alii apenas alguns se recolhiam na casa d'uma pobre viuva, e depois se vcndiam a vil prefO a quem os liia coniprar! Mais adiante, e da mesma forma, funda- ram-se outros paraasylo de velhos, outros para a mendicidade, e outros para bospital dos forcados das gales. E para que nao faltassem a todos estes institutes, nem egualraente a evangelisacao dos pobres do campo, de que muito, c durante loda a vida, se esmerou, enfermeiras zelosas, mestras caritativas e il- lustradas, procuradures assiduos, e incanja- veis apostolos, creou egualmente a Conyrega- cao dos padres da missdo, chamados depois os Luzaristas, da casa, que occuparam; ea das Servas dos pobres, Filltas ou irmds da cari- dade. E nao terminou aqui o seu zdio, e previ- dencia do futuro, porque a reformacao do llutel-Dieu de Paris, grande bospital servido por outras religiosas; a lundacao do bospicio da Magdalena, para mullieres arrcpendidas ; 0 das Filltas da prooideiicia para donzellas re- colbulas; o das orpbas; o das Fillias deSaucta Genoveva para curar dos enfermos; o das Fi- llias da Cniz, para ensino de meninas etc., todos tiveram ou por fundador, ou por dire- ctor da sua mais prolicua reformacao, a S. Vicente de Paulo, que outro muito grande e illuslre iieriie da cgreja, S. Francisco de Sal- ies, dcsiguava — pelo padre muis digno de que linha conheciinenlo] E no meio de tantos e tamanbos e assiduos trabalhos, sob cujo pezo curvaria outra qual- quer mais robusta intelligencia e coragem pertinaz, nao bavia desgraca popular, de pes- te, fomes, e guerra, a soccorrer, ainda mesmo a longas distancias, dentro e fora da Franca, (jue nao accudisse a Paris, a S. Vicente dc Paulo, e nao encontrasse no pobre padre mais do que consoiacoes espirituaes, elTectivos soccorros ! II. Entre aquellas nobres senhoras, cujos no- mes a historia respeitosamente conserva, e d posteridade veuera, junctamente com o de S. Vicente de|Paulo, distiuguia-se M."'° Legras; a qual, tendo perdido a seu marido na flor da edade, consagrara o resto da vida as obras da mais primorosa virtude. « A mesma mulher (dizem os bistoriaddres) que brilbara outr'ora na cdrte, havia acabado por mcrecer d'entao em diante o ginrioso ap- pellido de mae dos pobres, prestando-lbes to- dos OS officios da mais abatida caridade, vi- sitando-os sem experimentar a menor repu- gnancia, qualquer que fosse a natureza de suas molestias; ministrando-lhes por sua mao OS alimentos, que precisavam ; fazendo-llies a cama com mais zelo do que a criada mais af- fectiva, consolando-os com palavras clieias de docura, cmlira ate mesmo sepultando-os depois da morte! Em toda a parte, aonde apparecia esia se- nbora, aniniando as confrarias de caridade coni as suas palavras e exemplos, trazia ben- caos comsigo. Infatigavel sempre, nao era sdmenie o corpo que prelendia alliviar, mas nao menos a alma, a qual se dirigia com o seu amor, e com todos os seus cuidados. Me- stra d'escbola, calecbisava as meninas mai.«! pequenas; e animava com os seus conselhos as encarregadas de as instruirem. » M."" Legras foi a origem, a instituiddra, a meslra, a primeira das irmas da caridade. As suas instancias cedeu, como que forrado, S. Vicente de Paulo, cuja extrenia prudencia e humildade tremia diante do pensamento 224 de qualquer nova fundarao, scnipre descon- liado de stias I'orcas, que lanianluis; llie con- cedt'ra a piovidcncia. Dcitcsciio aniios liaviao decoirido desdc a priiiioiia inistiliiioao das confiarias ou soriedadcs dv daiiias carilalivas para soccorro dos pobres cntcrmos. Tiiiliain comcrado polo caiiipn, ondc o servico era meiios dil1ii-il do que nas cidades, e as danias e boas niullicrcs associadas mciios nieliiidro- sas e delicadas. Dosdo que cnliaram nas ci- dades, e parliciilarmcnlc na curie, nuiilas das senhoras, d'aila iiobrCza, que a porlia se alislavaui 'naquclla sancla niilicia, ou por dcbilidade de conslituicao, ou pela opposirao de sous niaridos, reoeosos pela saiide de siias esposas, ou por outras causas, nao podiani prestar pcssoalnicnte aos pohres julerKOS os coslumados e necessarios scccorros; e, fazen- do-se substiluir jior sous criados, vinlia a I'al- tar aos scus infelizes protegidos ordinaria- raente o docc earinho, a solliciludc, e sobrc- tudo as cousolacOes espiriluaes, que faziam unia parte essencial da benolira assistcneia, que 0 fundador llies dezcjava prnporcior.ar. Lemhrou-se ellc entao de I'azer vir do canipo algumas picdosaa raparigns, que nao toiido inclinacao para o malrinionio, ncm posses para sereni Ireiras, quizesseni todavia dedicar-se a Daus no Irabalboso misler d'l'iifenneiras. Como nao tardasfcm em enecntrar-se, di- stribuiram-se por divcisos pontes da cidade, sem ligacao entre si, seni previo apprendiza- do, nera nicio alguni possivcl de fazer substi- luir de promplo as que ou por insufliciencia, ou por eslViamento dc zelo, ou por outras causas naturaes, largasscni o posto. A esse novo cmbaraco acudio M."" Legras, dirigida por S. Vicente de Paulo, prcsiando-se a recc- ber em sua caza, alimentar, e educar as fulu- ras servas dos pobres. que d'cst'arle (icavam tendo um principio de semin.uio, posio (|ui' ainda nao constituisssem unia congregacao perniancnle. A.S repetidas instancias d'aqiiclla boa sc- nhora obtiverani o desejado del'erinienlo. A obra passagcira eprecaria converteu-se 'num solldo edilicio, e a tenue vergonica 'nuina arvore frondosa e roliusta, que depois dc dous seculos de existencia csta lao viva e vigo- rosa, que niais parcce tcr acabado de sair, com 0 costumado fervor dos primeiros dias, das disveladas maos dos fuudadores. Em 1634 a 21} de raarco teve principio a nova congregacao com os estalutos e rcgulamcntos que Ihe dcu S. Vicente de Paulo, sendo ap- provada pela se^unda vez pelo cardeal de Retz a 18 de Janeiro de 1033, e auctorizada por ktlras pntentes de Luiz XIV, de novcm- bro de 1037, registradas no parlanienlo a 10 de dozembro de 1038 ; e conlimiada ulti- mamente pelo cardeal de Vendome, legado a latere do papa Clemente IX, a S de juniio de 1668. « Dcus (escrcvia o vencravcl Abelly, bispo dc Ilodcz, bistoriador cocvo, que lallcceu cm Kill I) tern multiidicado por la! lornia esta liei|uciia commuuidade, em numero e grafa, (pie Vicente, e aquella virtuosa dama (Le- gras), liveram a consolacao, durante a sua vida, do a vcrem e.spalliada, nao so em vinto e cinco ou trinla logares de Paris, mas ainda em niais de trinta outras cidades, villas, c aldeas de diversas provjncias de Franca, e ainda ate na Polcnia, aonde a rainba por scu niuito zelo c caridade as quiz estabelecer em beuelicio dos pobres do scu rcino. Eis quaes foram os fructos da humildade dc Vicente, o qual era cousa alguma pensava me- nos do que era fazer-se instituidor d'uma nova communinade; sobre a qual prouve a Deus derramar um lao abundantc orvalbo dc suas bcncaos c gracas, que ella tcm sido dcscjada e procurada de toda a parte, a ponto de que nao se da tempo para bcm educar as reli- giosas ; porque se podemos assim fallar, estas lenras planlas sao arrancadas do alfOvrc quasi logo que alii so dispocra, sera Ibes dar tempo de se formarem : ao que todavia supprindo Ucus por sua misericoidia, as teni sempre soccorrido dc tal sorte, que, por sua frugali- dade, assiduidade notraballio, pacicncia, nio- deslia e caridade, tern dado, e ccntinuam a dar muila cdilicacao era todos os logares, onde sao cmpregadas Alem do servico e assislencia que I'azem aos pobres doentes, cmpregam-se tambem em niaitas partes cm inslruir meninas, c ensinam-llies principal- nicnte a conliccerem c servirem a Dcus, e a desempenharera os principaes devcres da vida clirisla '. Continua. i. FORJAZ. 08 AnN'Jir.lGS Efl I!JGL:1TERRA. Continuado de pag. 156. 'Nestes ultimos annos, o movimento pro- gressive dos annuncios nao se tcm alrazado; e pode dizer-se que a sciencia dos annuncios, (jue enlrc nos apenas comcca a vulgarizar-se, chegou, em Inglaterra eem Franca, a um grau d'e.Nlrcma perlcicao. A um c\trangeiro rccem- cliegado a Londres, causam espanlo aquelles enormes annuncios de todas as cores, de to- dos OS feitios, de todos os estyios, que for- ram as es(iuinas d'aquella cidade. Entra 'num cafe, 'uum botel, 'numa tavern, e ve as paredes revcstidas de annuncios; atra- vessa um park e e assallado por innumeros gaiatos que a viva lorca o cnclicm de annun- ' Vie lie S. Vinrent de Paul, por I.. Abt-llT. i.' (Jil , I'arij 183S, Tom. S, Chap. S. 225 cios; assigna algiima das mais cclebrcs revi- stas, a (juartcrlij review, por cxempio, e acha- llie (10 pagiiias d'annuncios. . . Clicga a ser cruel, causa pesadcllos; pela niinlia parte conl'esso que nao pnucas vczcs sonhei com os aniHiiK'ios, principalnicnle so liuha cncoiilra- (!o, polo dia adiante, alguin liomem unmmcio. Esles honuMis, dc creacjo iiindorna, sao oiiles anomalos que iiuiica [lude pcrfi'itaniiMite compreliender. Sao como o elo (|«e prende a liumanidade as estiuliias, porqueelles, Iiomens iia appareiicia, sao cs(|uiiias iia realidade. E a maiiifestacao do prngresso ap])licado as es- qiiiiias; (■ podi'riiiiii lalvr/. deliiiir-se « tsqui- iias amluirnilcs. » Os annuncios laiiilieni teiii progredido cm extensdo; i.-^lo c, a civilisacao hritanica tem- os icvado comslgo c implanlado em divcrsas partes do mundo. Thackeray allirma ler visto afTnado na columna de Ponipeu no Cairo, um anuuncio de gra\a dc Warren. Oh vanitas etc., (o Icilor dispensa oresto). Quando des- conliaria Pompeu que a sua columna, que de sen so tcni o nomc, havia um dia de t(!r o mesmo uso que nnias certas coluninas dos bou- levards dc Paris? Nao bastava accusarcni-'no de levantar uma columna em que elle lalvez nunca tlvessc pensado; faltava ainda, queuni inglez ignorante do simples e rudimenlar raodo de calcar, ou antes do nao calcar dos arabes, elcgessc para sua esquina d'annun- cios aquelle monumento da vaidade bumana, como diria alguem que tivesse pretenjoes a classico! Esta combinacao de graxa de Warren e da columna de Ponipou, sempre me pareceu composta de elcmentos com lao pouca affini- dade entre si, que a meu ver ncm mesmo um inglez era capaz de a fazor, sem algum nio- tivo ponderoso. A forea de pcnsar 'uclla achei- Iheuma cxplicacao, que, se nao satisl'azcabal- Imcnte, ao menos e cxplicacao. Lembrou-me, fpois, que talvez fosse o meio de que se scr- tvira alguraa sociedadc biblica para preparar 10 caminlio a iutroduccao das suas biblias. A lexpllcacao por ora nao e das mais claras, [dira o leitor; que tern de commum a graxa [de Warren com as biblias de uma sociedadc Iprotestanle, ainda quo csta seja ingleza? 0 fraciocinio que na niinba opiniao levou a socie- idade biblica a annunciar graxa, Ibi o scguin- fte : vendo graxa os arabes, que sao nalural- nenle curiosos, bao de querer e\perimental-a; IparaJsfo precisam calcado a curopea; consc- juida esta innovacao no vestuario e forcoso ladmittir tanibem a introduccao de calcas: o Iqueseriam botas sem calcas? Depois e sempre pela mesma dialcclica, segue-se que tanibem setornam indispcnsaveis coletcs, casacas, etc., c de tudo isso a gravala branca e a biblia, so vai um passo que pouco cusla a dar. Nao quero alardear presumpluosa confianca 'nesta logica ; alTigura-fc-me, porem, que o precc- dente raciocinio nao e de todo inexacio, e que a verificar-se a curiosidade dos arabes, a compra da graxa, o seu emprcgo, o uso d(! botas, caifas e sens accessories, a propensao dos indigcnas a escutar os missiouarios, c a sua (lisposicao a ler as biblias, assim como algumas oalras insignilicantes condicOcs, tudo 0 mais se deduz lacilmente, nao rcjiugnando naihi a que o raciocinio exposlo fosse tara- bem 0 dos propagandislas. Tudo isso e tao simples e claro como a conciliacao de dois textos contradictories das pandectas ; c .se a columna de Pompeu foi o logar escolliido para 'nelli! se aliixar o annunc-io, csta sclec- cao explica-sc agora I'aciluicnte, se reparar- mos que aos propagandislas convinha um logar que como ai|uelle e niuilo frcquentado pelos naturaes por tanibem o ser pelos estran- gciros, junto de quem servem os officios de r.icer'mes, de guias e muitos oulros, que c inutil aqui enumerar. Acompanhe-nie agora o leitor, do Cairo para Inglaterra, e apezar de Mr. dc Lesseps nao ter ainda concluido o canal de Suez, nao se assustc da viajem que nao sera muito lon- ga : 0 pensamcnto c por ora dos modes de locomecao, que se conliecem, o mais rapido ; c tanibem e mais economico ; duas vanlagens que se nao devem despresar, e que muito cncarecidamente peco ao leitor queira ter em vista para perdoar-me a digressao em que o liz entrar. 0 orgae mais poderoso dos annuncios in- glczes, e indubitavelmenle e Times — aquelle microscorao impresso, como Hie cliania um auctor sen conterraneo, aquelle centre das grandcs eniprezas, e das pequenas industrias, ende quetidianamente se encoiitram, se cru- zam, se cembutem, os intesses, os desejos, as esperancas dos dois raillioes de babitantes da moderna Babel. Cite ao acase um numero d'aqHclle jernal, o primeiro que encontrei, 0 de ;tl de outubro de 1853 : contem llGl annuncios. A primcira seccao dos annuncios e consa- grada aos niaritimos, (|ue ao todo sao 89. Alii se vc que nos portos da Gran-Brelanba, Iia navios promptos a partircm para todas as jiaites conliecidas do mundo, e mesmo para a(|uellas ainda per coubecer. Nao ba que csperar occasioes; quando se quizer, e para onde se quizer, cncontra'r-se-liao sempre al- gnns navios prestes a .fazerem-se a vela, ou para me exprcssar com mais cerreccao, ao vapor — que e este c nao e vento o motor de quasi todos. Querem ir para a Cbii.a, para a Patagonia, ou mesmo para os polos? diri- jani-sc a Liverpool, a Soulbamplou ou a Ply- mouth, (|ue em alguin d'estes portos lia na- vios para todos esses destines. Em seguida aos niaritimos vem os annun- cios de vendas de cavallos e de carruagens em numero de 30. Ua por onde escolher; 226 cavallos arabes, cavallos inglczes dc carrcira, poneys escossezes ; tudo por preros comniodos. 0 sorlimenlo de carrua^'oiis nao e menos abundante: caleclies, \iclorias, americanas, tilbuijjs, c cm primeira on segimda inao, se cncoatram a veiida. Conicra depois a inlermiiiavcl seric dns wanted (precisa-so) ; occiipa uma colunina in- leira do jornal, e conlem 4o7 annuiicios dc pessoas que sollicitam enipregos oii logares: ccclesiasticos pediiulo bciiolicios, profossorcs olTerecendo-se para residirnu com os discipu- los; criadas que nao quoiom servir senao aqucllas casas oiidc liaja dois lacaios, cozi- nhciras, amas de Icite, criados para tudo {general servants) procuram alii onde ?e ac- comodarcm. I'm promette dar de ccm a mil libras I'slerliiias de gratilicacao a (lucin jhe arranjar um ollicio stituro e pcrmanonio; outro somentc iirometle duas a [lessoa ipie llio poder achar um logar dfi under steieard (dis- penseiro) a bordo d'um iiavio; mais adiantc um manccbo ol>riga-se a dar aquelle que llic alcancar um cmprogo, mctade do ordcnado que liver de veneer nos dois primeiros aniios era que exercer o logar. Em outra pagina do Times vcm os annuii- cios relativos a casas. E escolher, enlrc SO quartos particulares e 74 para alugar, a lia- bitacao que se prel'erir. Se a casa estiver por mobilar ba onde guaruecel-a em 13 ven- das de nioveis, la de pianos e 7 dc larapa- das, e candieiros assim como em oulras niui- tas de varios fornecedores; para encber a nossa bibliotlicca temos 72 livreiros que (era a venda as novidados do dia, e ludo quanlo possa desejar-se na lilteratura, scicncias c artes. Quem quizer ter o gosto de vor o seu no- nie no jardira zoologico por cima de uma gaiola, compre aquelles dois liOes, ou algumas das serpenles que o Times anniincia, ofl'erc- ea-as aquelle estabelecimento e (icara satis- leito. Nao se rcceie morrer de frio, ou ficar scm jantar por falla de comhustivcl: 'M carvoeiros declaram ter ii venda o mellior coke e o mellior carvao de todo o reino unido. Para passar as corapridas noites d'inverno, al'ora todos os ihealros, ha ainda 19 cosmoramas, panora- mas, dioramas, exposicoes, concertos ou bailes piiblicos. Medicos e remedies nao fallara ; o nosso Times contem 30 annuncios relativos a arte de curar. — Todas asqualidades dc remedies, desde a innocente salsnpariiha ale a poderosa eleclricidade, desde a scmsabor magnesia ale ao nauseabundo oleo de ligado de bacalbau, alii sao recommcndados. Os medicos perlen- rem a lodas as escbolas; liomeopalas, alopa- llias, hydropatas ; de tudo alii se encontra. Em seguida apresentam-se uns poucos de chimicos, leia-sc cabclleireiros, que promcl- teni lingir perleilanienle os cabcllos brancos; outros (jue declaram possuir uma pomada para fazer desapparecer da eara, dos brajos c do pcscoro OS cabellos que lao " prejudiciaes sao ii bellcza. » E se para ludo isso lallar dinheiro, mais abaixo o oflerecem 9 bonrados usurarios, que garaniem a maior seguranca e....o maior juro. CjiUiiiua. S. H. OS LUSIADAS. fi-itdnrc-iiu ri-agiccxa. LES LUSIADES. Coiitiiuiado de pa;;, 'il'i Gama dt'peiiit au roi TEurojie belliqueuse, Li's peuples el les raojurs, les pays et les lois; II dit dii Purlugal I'origine I'ameuse Et dti premier Alphonse il vante les exploits. II decrit les combats, riiisloire glorieuse De no$ phis grands heros, de nos plus nobles rois; El le trepas d'Jnez siiivi de la vengeance; Kt du faible Feniand la coupable indolence. 1.' Viens olcvor raa voix sur un plus noble ton, J'implore o C:illiope uiic force nouvclle! Ilaigne guiUer mcs pas orrants sur I'Hclicon, Rciuis racs accents divins cl m.i lyre immortelle ! lit puisse a I'avciiir I'inconstant Apollon Soumis p.TT les accords Ic demeurer fidele, Et de t(ii sculc epris, par toi scale entrainc Oublier a jamais ct Clytic et Daphne. Tu connais mcs dcsseins ct la gloite oil j'aspire 0 Muse, accorde moi tes celestes secours I Que la posterite, que Tunivcrs admire l.c peupic auquel le cicl a consacre mcs jours; Que Ic Tago orguoillenx de baigner cct empire I'nisse aiix eaiix d'Aganippc onlrcmelcr son cours; Viens. si tu ne ciains pas que ma \oix nc surpasse I.es sons, chers a tun coeur, du chantre de la Thrace ! ?,. i, el 3. Deja les africains atteiiikMit en suspcns Le recil du gucrricr dc la Lusitanic; I,e hcros lit deja dans leurs regards ardents I.e dcsir curieux dont Icur amc est remplie: nO monarque, dit-il, lu le \eux, j'cntreprcnds Dc parlor devant toi de ma noble patrie, Trop licurcux de pouvuir rappelant mon pays, 'A ses fails brillants cousacrer mes recits. 227 6. Eiilre la Iroiilc zuiie oil la lerri' rsl |ivn;c '.Vd'etvriifU Iriiiias, aux^lafi'S ilii sniiimcil. El la zoiif linilantc cii luiis Iniiii, lUAorec I'ar Ics feux lout piiissaiils ilu lt.'iii|il<- du soluil (ill la sii|)Crbi; liuropc. On la voll enlourcc Vers It; seplcnlrion H roccidc-iit vermeil Par rininiunse ocean; et la iner ilali(|iic La si'parc an midi dc I'einpire d'Atri(|iie. I,e sol curopeen s'avaiice a rorieiit Jii^qn'au Oeu\e qui sort des inonls de la Scylliie. Dout les finis urgueilleux Iracenl en serpentant Dans CCS climals deserls li'-; conliiis dc I'Asie; Kt jnsqu'i'i rilc-llcspiinl siipcilie el lionillon.ini, l.ii'U clier a la \alcnr, ihcr a la pnesir. Mais qui nc garde hel.is de raiiticpie llion On'un I'aiiile souvenir que rappele son noui! 8. On voil parailre au nord sous les places du pole I.es JIy[ierl)urecns que protege Apullon El ces'nionls en tons tcmi)S doinines par fcole El par les vents roufjneux doiit ils prennenl le iiom. Dans ces trisles cliaiats, que la froidcur desolc, l.(^ soleil faiblemenl darde un pale rajon, Et malgre les eiTorls ile ses vaguos profondes L'Oeean un glarons voil convertir ses ondes. 9. Ccs bords sonl habites par Ic scylhc indomptu I'euple fier el nombreux, amourcux dc la guerre, Anquel les tils du Nil jadis onl dispule 1,'honneur qu'il redainail d'avoir peuple la terrc. '> mor'.els orgucillenx dc voire aniiquite ^! privi'S du llambeau donl le feu nous eclairc . oulez pour linir vos fastueux debals 1.1 Mjix qui vous repoiid des plaines dc Danias I 10. On lrou\e en ees rlimats Tile dcs Scandinaves, I.es sauvagcs Lapons el les Norvcgicns: Vainqueurs de I'llalic ils onl eu pour csclaves (cux doiit tiuil lunivers a subi los liens. In. [:ndanl que la mcr libre dc ses cnlravcs .'.dp[ ose point d'obslacle aux courses des marins, Tons ccs peuplcs si ficrs dc lenr valeur antique \a\igucnt sur les bords dc la Troide lialliquc. 11. Au deli de ces iners jusqucs au Tanais I.es Ills dc la I'olognc et dc la .Moscovie, Sarmalcs, Esclavons, lialiilent ccs pays Paronchcs posscsseurs des forels d'flercynie. Nun loin on decouvrc tnus les |)euplcs soumis V Teuipirc alleinand: la belle Pannonie I'.t la ricbi' Boheme el tons les bords, cnfin, Ouc parcourent les caiix do Danube el du Uhin. i-2. Enlrc ristre lointain el cettc mer famcusc Qui de la Irisle Ilellc rappele le Irepas, Vil une nation robusic, courageuse, ."^ur un sol protege par le dieii dcs combats. I..'i regnc du croissant la troupe belliqiieuse; I.e Rhodopc, I'lleinus sonl cou>erls de soldals. El les murs dc Hysancc atleslanl leur \ictoirc Onl du grand ConslaDlin oublic la mvaiuire. 13. Plus loin sent les pays qu'arrose dc ses eaux 1,'Axins toiijours froid, el toi sublime (irece limit le puissant genie el les beureux IraNaux S'eli'sent au dessus de I'bumaine faiblessc : Keriile en demi dieux, en cliantres, en hf-ros : Sejour dc la valeur, bcrceau dc la sagesse Toi, donl I'esprit ti'wiu qui nous cndamme cncur Vers le uiel autrefois prit un si noble cssor! U. Pres dcs mors d'.Vntenor on voil avcc surprise Dans des liciix autrefois possedcs par les caux. .\u sein menie des mcts, la su|ierbe Vcnise l.cver sou fioiil allier eouronne de roseani. Ainsi la \aslc mer que la lerre a suuinise OJieit aux efforts de ccs peoples nouveaux, Eufanls dignes ciicor de la lioblc contree Dans les fasles du monde ii jamais eelidirce. 13. I.es Alpcs ct Neptune un trident a la main Enibrasseiit les contours de la belle Italic; I.'u'il decouvrc au dclii du sauvage .4ppenin Celle villc que Mars a jadis lant chcrie; Soumis aux successeurs du I'nnlif(r divin Ses pciiples onl perdu leur antique energie. Et Dicu mcme aux bumains prikhml I'buinililc A bris6 leur pouvoir jadis si redoutc. 16. Vols cctlc nation qui pourrait 6lre vaine D'avoir eu pour vainqueurleplusgrand des romains ; Son std est arrose par Ic Itbouc ct la Seine, I.a Garonne cl le Ubin coulent sur ses confins ; \'ois le lombeaii fameiix de la nymphe Pyrcne Qui separe ses bords des bonis iberiens. Jadis, dil-on, la llamme rnibrasant ces monlagncs De llcuves de nietaux inonda les campagnes. 17. Terminant en ces licux le sol curopeen, Enlin Ton aperroit la superbc Iberie Qui trop souvent en butlc aux rigueurs du dcMin Des peuplcs conqucranis cprouva la furie. Vainenu-nt relranger a decbire son scin, I.e .sort en la frappant nc I'a jara.iisflctrie; El millc fois ses lUs nobles ct belliqucux Onl la\c dans Ic s«ng ralTront dc Icurs aieux. 18. Cettc tcrrc s'etend vers le rivagc maurc; On la verrait toucber a I'empirc africain Sans le delruil fameux qui sc rappele encore I.C dernier des travaux du demi-dieu Ibcbain. I.a mer baigne ses bords et I'Espagne s'honore Du niim dcs nations qui vivcnt dans son sein, \\ ides des lauricrs que donnc la vicloirc UiNales cii \aleur cl rivales de gloire. 19. Vois Ic terragonais porter ses clendafis Jusqu'a Parlhcnopc qu'ctonnc sa Taillance, I.e noble asliirien donl les fameux rcmparts Out de rismaelile arrcte la puis.iance, Le caslillaii siirtoul, qui bravanl b-s hasards. Sill des peuplcs voisins taincre la resislance. Seigneur dun vaste empire, il soumct a son nom La Uallicc, Navarre, ct Grenade ct Leon. 228 20 L;i s"C'lcv.iiit ail haul dune si nolilc tele Ij'einpire de l.usiis couroiine I'liniveis Am bords Aos enlevados Lusos se apreseiilu; De alabastro fiuis^iDio lavrado Feininil busto a mas:estatle aii;;menta, E diz que illuslre cinza alii se encerra, (Se e nobreza o que e cinza, e escnra terra!) MACEDO — O Oricnte — Cinto V, Est. 4.3. No ciuzeiro da gothica, c niagestosa ca- lliciiral, que (Icscrevenios ', ao lado do cvan- gellio, raettido 'niima capcllinha, a modo de altar, ao pc do tuniulo do Bispo D. Egas Fafes ', (ica o do Dona Yelaca. Rcpre.'iniUn uni f|u:idriiorigo de nfarniorc; na face anterior viam-se 'noulro tempo (liojc apenas vesligios) uns escudos redondos, cada iiin com unia aguia real de d;ias cahecas ', cm cainpo dc euro, com este epilapliio: Aqui jaz Dona Balaca, nela do imperador da Grecia ' . Na face .superior oliserva-se a cstalua da prcclarlssiraa princeza, de granueza descom- inunal, vestida de liabilos rcliginsos, a cabe- ca sobre uma aliuofada, sustenlada por dois anjos, e os pes contra am Icao. ' Num. 14 do Inslitulo. — vol. V. ^ Succedeii ao bii|io D. Tibmcio, de q\ie Iraclamos no num. 3. do Institulo — vul. IV; do tumulo de D. Egas falaremos em on Ira occasiao. ' « As armas d>t Imperad'jr e uma Aguia preta tie duns catirrai em cnmpo de mifo, cm memoria da de Juli i Cezar, c da nniui dn imperii oriinlal, e occidenlul. (Clirle na aldea de Franeiscn It'idiigues hobo — rfi'a- logo II) — V>ja-se y ibiliarchia Puilugiifza de f^itlas Boas — cap. ii. ' Gascj — Aiiligiiidades dc Coimbra — cap. X.WI. Em vSo oMio.' curioscs pretenderao encon- trar 'neste I'unebre moaiimenlo piimores do ci:iz(.'l; se os lioiive, anniquilou-os a accao do tempo, ou a mao do honieni, as vezcs mais devasladora do ([uc cllc ' ; porem a breve luirranio dos illustres leilos da piedosa infan- ta, por veiUura, e\citar;i o iuteresse, que nao inspiram aslage.< amarclladas, o vulto gigan- tesco e OS brasoes carcomidos. Foi e.'^ta senhora lillia de Guilhelnio, conde de Yintemillia, c da wiiii «iiii \nohTe dona Lascura, infanta da Grecia''. Veio, por casos adversos, dc Italia a Ara- gao d'Aragao a I'ortugal, com a rainha San- cta Isabel .que a fez uia de seu fiiho, o in- I'ante D. Allonso, depois rei IV do nome ^ Acompanhou a Castella a raiuha D. Con- stanca, lilba d'cl-rei D. Diniz, como sua cnmarcira raor, quando relebrou as bodas em Alcauis com D. Fernando IV, rei de Castel- la, (|ue Ihe dcu a villa de Pedrassa \ Foi tutdra dos infantes D. Pedro, e D. Joao, por a mandar a rainlia D. Constanca, que falk'ccii em Sebaguin. Diz Resende ', que dona Yctaca prcparara, ii sua cusia, uma poderosa armada, com que fdra toraar uma fortalecida villa, juncto de Sines, em dia de S. Thiago, deixando morto 0 seu rei Casse, c que d'a(iiii se lic;ira cha- mando aqueila terra 5. Tliiago de Cassem. Nao e verdadeiro o facto. Sendo comeeada a couquista do Algarve, por cl-rei D. San- cho I, em 1189 , com a einpreza de Silvcs, de que cstcve dc posse ate 1191, e instau- rada por cl-rei D. Sancho U', veio, por ultimo, a concluil-a cl-rei D. Afi'onso 111 era 1250, pcrecendo, entao, de lodo o doniinio dos mouros em Portugal \ Po" consrguinle j;i nao linha dona Vctaya taes i.qimigos nTomliater. Casou cm 1285 com D. Marlim Annes, li- dalgo muilo iilustie d'aquclles tempos, dc quel!! nao tcve siiccessao. Morreu, ebeia dc boas obras, a vinle e um de abril de i;J3G, deixando nluita fazenda, e grossas rcndas ao eabido da se cathedral de Coimbra. n. bn GUS.M.\0. ' J.es Arisen V.irltigal — pag. 4BU. -^ E este o nome, com qni* Duiia Vela^a desig:na sua m.ne em seu testamento. documento curioso, que tivemos occasiao de ver no cartono do eabido da Se de Coimbra; sendo para notar, que Brito, na Monorchia Liisitana, e ?ancta .^laria, no Anno Historico, the dao o nome de Irene. — Nos tambem escrevenios f ctara , porque assim se le no documento citado; Gasco escreve Batata, e Castro {.Mop/w de I'orliignl) Bataza. ■* .■/■;;i'> Histurico — Tom. 1 — pag. 490. « Casco — t. cit. ' De Aniiqnit. Lus. L. 4. '■ Hisloria de Portugal — por A. Herculano — Tom. 2— Liv. 3.» Ide Lii Idem — Tool. 3." Liv. VI. ® Jnstittttu^ JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. C0.\SELI10 SliPERIOR DE IXSTRKCAO PIBIIM. RELATOUIO AIVNUAL. 1853—1856. Senhor! — Na conformidade do T. 3.° cap. 2.°, art. 40, do decreto regulamentar dc 10 de novembro de 1845, lem o conselho supe- rior de instrucfao publica a honra de fazer siibir a real presenra dc V. M. o relatorio geral da inslruccao publica a seu cargo no anno lectivo de 1855 a 185fi. Nao desconhece o conselho que o trabalho offerecido a eievada consideracao do governo de Y. M. e iuiperfeilo ; mas a imperfcicao que 'nelle ha, nao corre por conta do conse- lho, que, a despeilo de todos os esforcos em- pregados, jamais tem podido conseguir dc muilos dos seus delegados a reraessa, no prazo legal, dos rclatorios c mappas estatisli- cos dos estabelecimenlos e escholas annexas, que Ihes cslao conliados. Entonde pori'm o conselho superior que tamanha faila pode scr rcmediada, se V. M., atleiidendo bcnevola- raentc ao que tem sido exposlo e ponderado nos relatorios annuaes anleriorcs, c na con- sulta de 17 de Janeiro de 1854, for scrvido ordenar que as coiifcrencias do conselho ge- ral, prcscriptas no tit. '2.°, cap. un. c art. 21 do regiilaincnlo dc 10 dc novembro de 18i5, sejam rcduzidas unicamenle a do mez d'abrit ; porque eiiiao, rccolhidos todos, ou quasi todos os elemenlos e dados estatisticos, facil sera elaborar um relatorio completo, no qual 0 governo de V. M. nao so veja a ver- dade e exaclidao dos factos, e as nccessidades experimenladas 'neste ramo de adininistracao, mas tambem liquc babililado para providen- ciar acerca da inslruccao publica, como me- Ihor entender em sua alia sabedoria. Eiitre- tanto 0 conselho, com os poucos elemcntos e dados, que ora tem ii sua disposicao, cum- prindo o que a lei Ihe detcrmina, sera liel na exposicao dos faclos, e franco em pedir ao sabio governo de V. M. quacsquer medidas e providencias conducentes ao mclhoramento e progresso das scicncias e das lelras. Confornie a poitaria circular do ministerio do reino do 1." d'outubro de 1849, divide^sc esle relatorio — em dircccao e inspeccao — em inslruccao primaria — em inslruccao secunda- VoL. V. Ja.neiho 13- ria — em inslruccao especial — e liualmeulc om inslruccao superior. Inspeccao c direccao. Ao conselho superior pertencc a inspeccao e direccao de todos os estabelecimenlos de inslruccao, com a exclusao somenlcjda eschola polylechnica, da do exercilo, c da eschola naval de Lisboa, e dos seminarios episcopaes. 0 pcssoal do conselho, conipOc-se de um vice- presidente, que e o prelado da Universidade, de 8 vogaes ordinarios , cujo numero esta completo por ler sido despachado pelo decreto de 4 de novembro de 1856, para o logar vago do dr. Jose Manuel de Lemos por sua eleva- cao ao episcopado, o dr. Roque JoaquimFer- nandes Thomaz, e dos vogaes cxlraordinarios. 0 pessoal provisorio da secretaria , consta d'um secretario geral, de um official maior, dc 4 ofliciaes ordinarios, de um conlinuo, c de um porteiro. Este pcqueno numero de empregados de- sempenhou com inlelligcncia, regularidade c zelo 0 pesado trabalho ([ue Ihe I'oi incuni- bido pelo conselho, e li estc mais um molivo para que novamente este conselho peca a V. M. a graca de tornar elTeclivo o decreto de 28 de novembro de 1853, que cstaheleceu os ordenados, e a distribuicao dos eniolumentos d'estes empregados, a (im de os nao tornar inferiores aos empregados de egual Ciitegoria. Fizeram-se regularmeule no anno lectivo Undo, as conferencias do conselho ordinario, e bem assim as das suas trez seccues, como consta das aclas enviadas no lim de cada mez ao governo de V. M; resolvcram-se, e expe- diram-se muilos negocios, alguns dos quaes forara levados ao conheciniento de V. M. Nao pode ler logar no mez d'abril do cor- renle anno, a conferencia ordinaria do con- selho geral, ordenada no art. 21 do regula- menlo d'esle conselho, pclas razOcs cxpendi- das ao governo de V. M. na consulla de 30 d'esse mez. Celebrou-se porcm em 31 d'oulu- bro ultimo, a conferencia ordinaria do con- selho geral, expondo 'nella cada um dos se- cretarios o eslado da instrucfao das suas res- peclivas seccOcs, e nao haveiido quem apre- senlasse memorias, ou (juaesquer outras pecas lilterarias para sercm disculidas eappreciadas I pelo conselho, encerrou-se a sessao. -1857 Num. 20. 230 0 coiisi'llio superior, desejaiido remover a causa priiii ipal ilo ntrazo da iiislrucfao prinia- ria entie nus, a l.illa de cscliolas de eiisiiio ele- mcnlar, scin comludo soI)rccarrcgar o Ihesouro publico, cujas apuradas ( ircuiiistancias, nao pormiuiam a despoza neccssaria coin a crea- raod'aquollas cscliolas, dcpois d'ollcrccer esli? oi)jc(!lo a consideracao do lodos os sens vogaes ordinaries e cxlraordinarios ; claborou uin projeclo de lei que elevou a augusta prcscnca do V. M. em consulta de 10 de mareo de 18^2, acompanliada de todas as propostas, que por cssa occasiiio foramaprescnladas edisculidas. Em junho do mcsmo anno o govcrno de V. M., reconliccendo aquollas e outras neces- sidades do ensino primario, offereceu em cor- tes outro projeclo de lei solire a reforma da iegislacao da inslruccao priniaria. \ com- niissao' d'inslruicao piihlica da camara cle- otiva deu com elfeilo o seu parecer na sessao de 19 de jullio do 18B5, mas licou pendente dc discussao. Ultiraamenle o governo de V. M., pelas portarias de iO de selembro, c 18 de outubro de 1856, mandou renicller ao conselbo superior nao so o projeclo que csle Ihc enviiira em 1832, mas tanibem o do governo, e os pareceres da commissao d'in- struccao i>iiblica da camara clectiva, apresen- lados' em ISuH, e 1854, ordenou que sendo ludo examinado e maduramcnle pensado, or- ganisasse nova proposla de lei, que chegasse a tempo de ser presenlc na camara dos de- putados, assim que clla se constituisse. Tao grave c Irauscendcnte trabalho com- inettido ao conselbo superior, levou-o a fazer o objecto de discussao na sua conferencia geral, mas, como 'nessa occasiao nao comparecesse pessoa alguma alem dos vogaes do conselbo, deliberou publicar no periodico 0 fiistitnlo as bases ullimamcnle apresenladas pela commis- sao da camara electiva, e convidar pela ini- prensa periodica da cidadc lodos os liomens compelenles a lomar parte 'naquclle trabalho, reraettendo-lhe por escripto as suas ideas ou cxpondo-as em sessao do conselbo, como llie losse mais opporluuo. Depois de maduro cxamc feito aos projeclos de lei, rcmettidos com as portarias acima releridas, e com o intuito de obviar inconvenientes, tantas vczes pondera- dos, ede libcrtar d'alguma maneira a fazenda publica do pesado encargo da susteniacao das escholas exislentes, edas quedevem ainda scr crcadas cm relncao asnccessidades do ensino, tern 0 conselbo a bonra dcapresentar a sabia delibcracao de Y. M. o projeclo de lei n.° 1. 0 raovimenlo da secrctaria do conselbo con- sla do mappa n." 1. Serapre com grande dissabor e que o con- selbo se vS forcado, na conformidade do art. 7 da portaria do ministerio do reino dc 10 d'agosto dc 1848, a levar ao conhccimento do governo de V. M. a rclacao d'aquelles dos sous delegados, que nao rcmelleram ainda a sceretaria d'esle tribunal os sews rclatorios ; e OS mappas dos professores publicos e parti- culares; laes sao lodos os que vao mencio- nados no mappa n." 2. A maior parte dos |)rofcssores d'instruccao primaria e secundaria enviaram os seus mappas, fallando muilo poucos. Tern enlrado na socrct.iria alguns mappas de prol'essores particulares InslriKrao ^iriinariii. A inslruccao primaria esscncialissima a todo 0 bomcm coiisliluido em sociedade, (jualquer que seja o seu destino, pois sem ella nao pode ser bom cidadao, i.til a si e aos oulros, tern eutre nos alargado os seus dominios com a acquisicao de cadeiras, feita nos dous ultimos annos. Tem coutinuado a creacao d'estas tanlo para o sexo masculino, como para o Icminino. Desde uovembro de 1835, cm (|ue loi elevado 0 ultimo relalorio ao conbecimenlo de Y. M. ale'gora, tem sido creadas 88 cadeiras. (Map- pa n.° 3). Se 0 numero nao salisfaz ainda plenamente as exigencias da inslruccao; se os desejos conslanlcs do conselbo superior, tendentcs a confralernizar-se a parocbia c a escbola, ain- da nao cstao cumpridos, e de esperar que o sejam em breve, por elleito da paternal soUi- cilude, e cstremado zelo de V. M , em pro- mover esle ramo, o mais importantc da ins- lruccao publica. Lastima-se, porem, o conse- lbo de nao poder dizer o raesmo a respeito d'outros elementos egualmente indispcnsaveis ao systema do eusino primario. A habilitacao dos professores nao tem me- Ihorado, nem o podera ser sem o auxilio das escbolas normaes. Ainda se acha sem accao a de Belem; e para obter a populacao neces- saria ao provimcnlo das escbolas, que ordina- riamente vagam era cada anno, e mister que se criem mais escholas normaes. Nao poden- do 0 cnnselho por muita conlianca nas de povoacoes grandes, ricas e populosas, em que 0 alumno mestre se acostuma a ver, e a expe- rimenlar muitos commodos da vida, e assim se inbabilila para a modesla vida do profes- sor de uma aklea, repete por esla occasiao 0 conselbo o pensamento ja por vezes oOfere- cido a alia intclligencia de Y. M., de se cria- rem outras escbolas normaes, junto a profes- sores de reconbecida e provada aptidao, e dedicacao pcdagogica, em (]ue na qualidade de ajudanles se exercitasscm alumnos-mcstres. A despeza d'estas escholas sera incompara- velmenlc luenor, porque a niodica gratifica- cao ao professor, e as subvencoes aos aluranos, pouco augmentarao as despesas piiblicas. A inspeccao das escbolas e que se acha muilo mal organisada. Os commissarios dos estudos, a quem a lei a tem commellido, sendo ao mcsmo tempo reitores dos Ijceus, niio |)odem exercer a vi- gilancia, que exige uma ailEuiiiistracao con- liada a professores, que precisam scr iustrui- 231 (los no niethodo do ensino niais didicil que ha na instnircao piiblica. A missao de pro- fessor primario e nielindrosa c diflicil. Acrcs- ce ainda a difliculdade trazida pelo cargo de reitor a circiimsiancia de serem quasi todos OS coiuniissarios prof'essores nos lyceus. E quatido o zelo e dedicacao propria vencesse aqueiias dilliculdades, o tenuissimo ordenado de 120^000 reis nao pode fazer face as despesas das visilas. Jiiiga pois o conselho indispcnsavel organizar umsystijraa deinspec- cao, conio iioje exisle em outras nacocs, ou pelo nienos decretar a incompatibilidade das funccoes de commissario e professor, e esta- beleeer gratilicacOes para as despesas das visitas. Este systoma d'inspeccao, auxiliado per commissoes pcrmancntes graluitas juncto a cada esclioia, podera adoptar-se por mais economico, como ensaio da fiscalisacao no servico do ensino popular. Sao 1:379 as cscliolas actuaes d'instruccao primaria, eonio consta dos mappas, n." 4, 5 e 6, em que vao designadas as especies, com relacao aos sexos, e as localidades a que per- tenccm. 0 numero dos aluninos que frequen- taram foi de ui):451, sendo a despeza que o Estado fez com cada alunino de lji843 reis. As escholas ou coilegios pclas camaras muni- cipaes, junclas dc parochia, confrarias, lega- dos e chefes de familia, entrando alguraas graluitas, sao do sexo masculino 333, e do feminino 114. 0 numero dos aluninos, que as frequenlaram ve-se do mappa n.° 7. 0 exercicio das escholas corrcu regular- menle em todo o anno lectivo: os professo- res cuidaram geralmente de cuniprir o sen dever, segundo as informacues havidas das auctoridades compelcntes. Se e em geral, lisongciro o estado litlera- rio e moral dos professores, nao succede o niesmo a rcspeito do estado material das escholas. Eslas, pela maior parte estao collo- cadas nas casas dos professores: as camaras municipacs nao se tern prcstado a submi- nistrar os utcnsilios proprios a cada uma d'ellas, apezar de requisitados polos profes- sores ; e tendo os governadoros civis recebido do conselho superior ordcns terrainantes, para fazerem compellir as camaras a executarem 0 art. 2 do ilccrelo regulamentar de 20 de dezembro de ISiiO, pela maior parte acham-se ainda por cumprir estas beneficas disposiyoes. Tem sido vendidas algumas casas perten- centes a bens nacionaes, e em que ja esta- vara collocadas escholas piiblicas, como por e.^eraplo, no dislricto do Funchal, o que obri- gou 0 conselho a pcdir a V. M. providencias na consulla de 20 de novembro de 18S5. Sem as escholas eslarem collocadas em edilicios publicos, a inspeccao sobre a poli- cia e economia interna nao pode ser efBcaz: assim o reconhcceu o decreto de 20 de no- vembro 1844, e de 20 de dezembro de 1850. Tal c, Senhor, o estado da instruecao pri- maria, que debaixo do sabio e illustrado go- verno de V. M., nao pode deixar de prospe- rar, e tanto mais, quauto V. M. aeabando de crear juncto aos reacs pacos dasNecessidades e de Mafra, escholas d'ensino primario, da ii narao Portugueza e ao mundo, uma prova do desejo que V. M. tem pelo augmento e pro- gresso da instruecao elemenlar, garantia a mais segura da felicidade de uma naciio. Inslriicrao secundaria. Estao consiituidos todos os lyceus nacio- naes, mas nem todos estao ainda collocados cm edificios publicos. As cadeiras exislenles nos lyceus e fora d'elles, no anno lectivo de 185a a 18ii6, foram 230; e o numero dos aluninos que as frequenlaram 4:370. Map- pas n.°' 8 e 9. Custou cada alumno ao Esta- do 14:883 reis. Pclos relatorios, ale hoje recebidos, dos commissarios dos estudos e reilores dos lyceus nacionaes do reino e ilhas, ve-se que 'nelles nao tem diminuido a frequcncia dos aluninos, tendo sido esta em geral feita com aproveita- mento, e procurando tarabem os professores pela sua parte desempenhar com zelo as func- coes do magisterio. Entre as requisicoes feitas nos menciona- dos relatorios, por parte dos conselhos dos lyceus, julga o conselho superior de instrue- cao publica duas muilo dignas de attencao. E a primeira, a necessidade da promulgacao de um regulamento geral dos niesmos lyceus, onde se fixem bem claramenle as obrigacOes dos professores e discipulos, lendentes ao aperfeicoamento litlerario e moral d'aquelles estabelecimentos. E a segunda, a promulga- cao de uma medida, que uniformize o ensino secundario, por nieio de corapendios que se- jam OS mesmos para todos os lyceus, e appro- vados pelo governo de V. M. Sobre eslas duas medidas ja o conselho superior por vezes tem lido a honra de expor a V. M. 0 seu parecer, e nomeadamenle nas suas consultas de 20 de abril de 1833, 27 de junho de 183G, de 13 de junho de 1832 e 18 de marco de 1833. 0 conselho do lyceu nacionai de Lisboa, renova o seu pedido sobre a melhor colloca- cao das suas seccOes, objecto sobre o qual lambem este conselho consnltou a V. M. nas suas consultas de 8 de junho de 1835, e de 10 de outubro de 1830. Pede que se criem duas cadeiras de geometria nas duas seccoes, que as nao lem, c lambem cadeiras de princi- pios de physica e chimica, ede introduccao a hisloria natural dos trez reinos da natureza. Por eslarem em exercicio no ultimo anno lectivo as cadeiras de principios do physica e chimica, e de introduccao dos trez reinos da natureza dos lyceus nacionaes de Coimbra, Lisboa e Porto, se mandou annunciar por edi- talpublicado no Diario do Governo n.° 103, de 232 ado niaio dc 1850, que era clicgado o prazo de se dar excciicao ao disposlo no art. 6 da carta de lei dc 1 i de agosto de I85i ; e 'nesla confomiidaJe foi no presente anno lectivo considerado como pre|)aratorio obrigado para a niatricula, nos cslabelecimenlos de inslruc- rao superior, o exame d'a(iiK'llas disciplinas. Tambem ja foi provida a cadeira das niesinas disciplinas do lyceu nacional de Poiila Del- gada : e Iracta-se do toncurso das de Draga, creada por decreto de 'i de selemhro, e d'Aii- gra do Fleroismo, creada pcio de 4 de noveiu- bro dc 18!iG; e tinalmente sc aciia aberlo con- curso para o provimento da !i.' c C cadeira do lyceu dc Viana na conlormidade da real resolucao de Y. iM. de 27 de setembro ultimo. 0 consellio remetteu novamente ao governo de V. M. 0 projecto de regulanicnto para o exercieio de uma cadeira dc pilotageiu no lyceu nacional d'Angra, representando ao mesmo tempo a convenieacia de sereni esta- belecidas taes cadeiras nas ilhas dos Acores. Propoz a creacao de mais um logar de con- tinue no lyceu nacional de Coimbra, e de um porleiro na acaderaia das bellas artes de Lis- boa. Propoz tambem que se approvassem, e continuassem a obscrvar os regulamcntos pro- visorios para a ofOcina de estamparia e litho- grapliia da acadeniia de bellas artes de Lis- boa; ben\ como os regulamcntos para as con- fereucias, c sobre a administrafao das despe- sas da uK'sma acadeniia. Tendo 0 prclado da diocese de Lamogo representado a iicccssidade de ser jirovida a cadeira de rhctorica, c creada uma de fran- cez 'naquella cidade, o consellui iiiformou o goveruo de V. M. cm consulta de 17 de ou- tubro ultimo, dc (pie nao podia tcr logar a pretcncao, em vista do art. IJB, II do decreto de 20 de setembro de 1844, sem que fossein decretadas pelas cortes taes cadeiras, que alias sc lornam de grande necessidade 'naqucllas cidades ou villas, em que houvcr seminarios sem baver lyceus, como succede cm Lamego. Para provimento e exercieio das cadeiras de ecouomia industrial c escrijjturacao, uos lyceus, tracta o consellio de elaborar, para sereni submetlidos a real approvacao de V. M., OS coinpelentes regulamcntos. Conlinua. RELATORIO Da dirccciio dn sociedatle dosi banbos doLiUNO, nprcscnf ado » aKsemblea geral dos at'i-ioniwIaN, no I.° de Janeiro de 1S5). Continuado de pag. 222. Eslatislica medica dos banlios de Luso em 1830. M0LESTI.4S Papulas Fogagem Coceira Escamas Lepra Psoriasis Caspa Ictiosis ou pelle de peixe Maculas Ephelides Bortoeja Purpura ou labardilho Erythema Erysipela chronica Bolhas Rupia Herpes Miliaria Pustulas Empingens Ozagre 4S 24 1 1 8 •i 1 30 13 8 1 5 14 3 2 267 1 4 138 S 372 1 1 1 131 1 3 56 1 2i:) 7 29 17 1 5 3 19 7 6 1 3 13 2 1 136 337 10 9 G 1 1 1 1 76 » 1 38 2 107 6 27 13 1 7 3 1 21 12 3 1 4 6 2 1 183 1 3 96 3 12 391 233 Trunsporle . Tinha Sarna Lupus exantlicmatico Elephantiasis dos Gregos Elephantiasis dos Arabes . . . Angina chronica Gastrite chronica Interitc chronica Hepatite chronica Ophtalmia chronica Otile chronica Rheumalisnio articular chronico Rhcumatisnio articular chronico — epiielides Rheumatismo articular chronico — herpes Rheumatismo articular chronico — opIUalmiu chronica Rheumatismo articular chronico — hertiorrhoidas Sciatica Ilypocondria ....... Cephalalgia Gastralgia Gastralgia — surdez Vertingens Demiplegia Hemiplegia — empingens Paralysia incompleta das cxtrenii- dades Paralysia incompleta das extremi- dades superiores Paralysia incompleta das extremi- dadcs infcriores Ilemorrlioidas Uemorrhoidas — ophtalmia . Heniorrhoidas — rlieumatismo . Uemorrhoidas — umaurose . . . Heniorrhoidas — maculas Heraorrhoidas — erythema Heraorrhoidas — herpes .... Heniorrhoidas — empinijens . Leucorrhea Papeira Espinha ventosa Gota — (ogagem Phleimao Phleimao — heniorrhoidas . . . Ulceras atonicas (Pessoas que toraaram banhos com fins hygienicos Pessoas que tomaram banhos sem molivo averiguado) .... Continua. o72 0 li 1 33 12 lid 387 24: 147 ICG lii7 6a3 337 G 6 1 2o 1 1 » 1 1 b 99 221 10 794 11 167 19 219 31 391 3 1 5 5 2 18 2 30 1 1 1 3 » 1 " 2 » 6 » 19 » 1 » 1 » 1 J, I » 1 » S 0 1 1 • 1 2 » 1 24G 387 1186 234 HISTORIA DA CONJURAQAO DE CATILINA SALLUSTIO. IBADL'CtAO POntUCDEZA. Continuado de pag. £11. X. Depois que o trabalho e a juslifa ele- varam a rt'publica a lal auge, tentlo pelas ariiias domado grandes rcis; subjugado a for- oa naroes ferozes c numcrosos povos; arra- sado ate aos aliccrccs Carlliago, a rival do iniperio romano; e abcrlo ao sou poder todos OS mares e terras: ciitrou a fortuna a flagel- lal-os, e a desordeiuir o cstado. Aquclles, (|ue sabiam supportar trabalbos, pi-rigos, lances e rigores da sorte, estes mcsnios succiimlji- ram desgrat'adamente ao ocio, e a opulen- cia, que nao deviam desejar. Brotou, por taiito, prinieiro a cobica das riquezas, depois a de goveriiar; e estes forani os germes de todos OS males. A avareza arruinou a boa fe, a probidade e mais virludes; e inspirou o desprezo dos deuses, e a venalidade. A am- bioao dos cargos obrigou muitos a ser falsos; a ter uma cousa na boeca, e oulra no cora- ciio ; a avaliar as amizades ou inimizades, nao pelo raereciraento, mas pelo iuteresse; e a ter a honra mais na cara, do que na alma. Estes vicios cresceram pouco e pouro, e al- gumas vezes foram castigados. Depois, quan- do 0 conlagio lavrou conio peste, transtor- nou-se 0 estado ; e o governo, de juslissimo 0 optiiuo, tornou-se cruel e intoleravel. XI. Ao priiicipio occupava os esjiiritos, mais a anibicao, do (]ue a avareza. Aquelle vicio aiiida se appioxiniava a \irtude; por i|uanlo bons e nuios anibicionam eKualmente honras, gloria c cargos; mas uns I'undam-se em meios licitos ; os outros, porque Ibes falla 0 mereciraento, empregam dolos e intrigas. A avareza so procura diabeiro, a que nenbum horaem virtuoso da preferencia : ella, conio composta de venenos, enerva o corpo e a alma ; e insaciavel, e sem limites ; nem o pouco nem o muito a diminueni. Depois que L. Sylia, tendo restabelecido a republica a forca de arnias, desmentiu com tristes consequencias os sens tao bons princi- pios, 0 I'urto, 0 roubo foi geral: este se apos- sava d'uma casa, aquelle d'uma terra ; o ven- cedor nao conbeceu mais, nem moderarao, nem modestia, e praclicou para com os cida- daos toda a sorte de torpeza e crueldade. A isto accrescia o ter L. Sylla deixado en- tregar ao iuxo e a devassidao, contra a an- liga disciplina, o exercito que na Asia com- mandava, para Ibe ganbar a vontade. A ame- nidade e prazercs d'aquelles sitios amollece- ram facilmcnte no orio a bravura dos solda- dos. Foi alii que o exercito romano prinieiro se coslumou a luxuria e a cmbriaguez; a admirar, e a roubar, aos particularcs c ao publico, eslatuas, quadros e vasos lavrados; a sa(|uear os tomplos, e a nao respeitar sa- grado nem profano. Soldados taes, depois de alcancada a victoria, nada dcixavam aos vcn- cidos: e se a pros|)eridade alia la o aninio do virtuoso, ([ue muilo, que soldados tao cor- rom|)idos abusasscm da victoria. . . . XII. Depois (jue a riquezn coinccou a dat honras, e entrarara a aconipanhal-a os caN gos, a gloria e o valinienio ; entibiou-se a virtude, aviliou-se a pobroza, e a probidade repulou-se malevolcncia. As riquezas lizernm brolar na niocidade o Iuxo, o orgulbo, a ava- reza, 0 roubo, a dilapiJacao, o desprezo do proprio, a cobica do albcio, a coufu.vao do divino e huiiiano, o desprezo do pudor e pudicicia, a falla do consideracao e de mo- derarao cm tudo. Depois de vcrnios essas quintas e palacios, conslruidos a modo de cidades, c bom observar a siniplicidade dos lemplos, que nossos avds, bomcns religiosis- simos, edilicaram a divindade. Elles, por6m, ornavam os teniplos dos deuses com a pieda- de, e suas casas com a propria gloria; e nada tiravam aos vencidos, senao os meios de lor- uar a olTender. E os d'boje, por ciimulo de baixeza e lyrannia, despojam os alliados d'aquillo mesmo, que os seus nuiiores, depois de vifioriosos, deixavam aos iiiimigos; como se 0 doniinar fosse practicar injusticas! XIII. lleferirei eu o que so pode ser cri- vel aos que o viram? niontes arrasados, ma- res entulbados por particularcs? Para estes, parece, que ate as riquezas erao objccto dc ' desprezo; ponpie, podendo fazer d'ellas uso bonesto, so se empenhavam no seu torpe abuse. Nao era mcnor a paixao da luxuria, dos lupanares e do Iuxo. Tambem os homens se proslituiam; as mullieres vendiam em pu- blico a sua lioura; apparecia nos banqueles o mais exquisito da terra e do mar. 0 Iuxo ensinou a forjar necessidades com antecipa- cao; a dormir antes de ter somno; a nao esperar fome ou sede, frio ou cansaco. Com taes habitos a mocidade, exhaustos seus pa- Irimonios, eiUregava-se com ardor aos cri- mes. Os cspiritos imbuidos no vicio nao po- diam facilmente abster-se dos deleiles, antes raais dcsregradamente procuravam todos os meios de ganbar e despender. XIV. Em tao oxtensa e tao corrompida cidade, Catilina (o quo era summaniente fa- cil) andava cercado de uma especie de tropa de raalvados e facinorosos. Todo o impu- dico, adullero, glotao; todo oquetinba estra- gado OS bens patrios ao jogo, em prodigali- dades, na gula e devassidOes; o que se via em extremo individado, para se livrar d'um crime de estupro, ou de quabjuer oulro; o parricida, o sacrilege, o condemnado judicial- 235 mcnte, ou o que temia sel-o por seus crimes; OS que viviara dc perjurios c assassinos; lodos aquellcs, finalnicnte, a quern pungiam as raaldades, a pol)reza e os rcniorsos, eram os inlirnos de Calilina: e se acaso algum, ainda innoccnte, viiilia ler a amizudc d'elle, com OS seus afagos e Iracto quolidiaiio logo assi- miiliava e egualava os outros. Nenliunias amisadcs prefpria Calilina tatilo, como as dos niancelios: siias almas llexiveis e edadcs tenras iiiais faciliiientc se deixavaiii cair nos engaiios. Assiin, coiifornic o para que seus goslos e edades propeiidiam com ardor, a uns dava merclrizes, a uulros comprava caes c cavailos; em (im, iiao poupava despesas nem re|iata(.ao para os toriiar sujeitos c licis. Sei tec havido qiieiii jlllga^sc, que a mocida- de, que fre(|uerilava a casa de Calilina, de- punlia sem lioiiesiidadc a jiudicicia: mas lal rumor divulgou-se, mais por molivos diver- sos, do que pela cerleza que d'islo liouvesse. XV. Calilina, em moco, ofTendendo as leis humanas e divinas, commelleu miiilos e ne- faudos cstupros, com tima doiizella nobrc, com uma sacerdotiza de Vesta, e oulros simi- Ihantes; e por iillimo eiiamorou-se de Aureiia Oreslilla, a quern ncniium liomem de hem lou- vava oulra cousa, a excepcao da l)clleza. E porquo Oreslilla duvidava casar com elle, temendo ler um cnteado adullo, passa por cerlo, que, com a morle do proprio (illio, Cali- lina lirara de casa o obslaculo a tao sacrile- gas nupcias. Esle facto, crcio, ter sido a principal causa de die apressar o exito da tonjuracao. Sua alma impura, odiosa aos deoses e aos homens, nem de dia nem de nolle socegava: lanln o pungia e alornienlava a consciencia! Por isso linlia elle pallido o roslo, 0 nlliar feroz, o andar ora apressado ora lardo: trazia retratada no geslo e na pliy- siononiia toda a alienacao da sua alma. XVI. De ninilos modos adcslrava nos cri- mes OS nioros, que, como acima dissemos, allraliia com afagos. Emprestava-os para teslimunlias lalsas, e para furtar lirmas; en- sinava-os a desprczar a palavra, os bens c os perigos; e depois de ler apagado em suas almas o amor da boa reputacao c do prjo, empregava-os em eniprcsas maiores. Qiiando nao se appresenlava occasiao de delinqiii- rem, mandava-os coniludo surpreliender e assassinar os (lue o linliam on nao offeiidido; obrigando-os a ser nuios e crueis, ale scni proveilo, para que ncEii os animos nem os bracos se desacostumassem do crime. Confiado 'nestes cumplices e amigos, Cali- lina em|)reliendeu cair sobre a rcpiiblica; e junlamente, por(|ue sabia baver em todas as terras muilas dividas, e que a maior parte dos soldados de Sylla, lendo desbaratado os seus bens, desejavani a guerra civil, ainda lembra- dos dos antigos roubos e victorias. A Italia sem cxcrtito, Cn. Pompeu fazendo guerra em paizes remolissinios, Calilina bem espcranca- do dc alcanfar o consulado, o senado sem desconfiar de nada, ludo seguro, ludo iran- quillo: eram tircumstancias eslas todas favo- raveis a Calilina. Conlinua. WmmW DA HEVFllClO DOS [fiHES u miimi A aniiga aecus.icao jndrciaria dos crimes, a secrela revelacao d e^tcs, e as funccoes do que aclualnienlc se cliama o minislerio publi- co; sao tudo malerias que se tocam c que enlre si tern relacoes intimas. A origem da accusaciio, esconde-se nas tre- vas do passado, jior isso que ja enlre os be- breus e os egypcios ella eslava em vigor. Mas onde prinri[ialmente a encontramos, com todo 0 scu desenvolvimenlo, e com leis cspe- ciaes para a sua realisacao, e sem diivida enlre osromanos. Abi oslegisladorcs, fundados no costume dos povos, qnizeram favorecer e radicar o louvavcl inleresse do cidadao para com a scguranca da republica; protegeram as accusacoes; bonraram mtsmo por muilas vezes OS accusadores; e o resultado foi todo de vanlagem comninm, por isso que os crimes eram mais fucilmente pnnidos, e o receio de OS commeller mais fre(]uenle. A accnsacao, nos bons tempos da republi- ca, nao era uma arma jierigosa, como depois a tornon a corrupcSo dos costumes. Se qual- . (|uer individiio, em geral, podia ser accusa- dor, fosse eu nao pessoaimente inleressado, a sua accusacao, comtudo, era piiblica: para ella tornava-se nccessaria a permissao do pretor, perlencendo a esle vcr se no cidadao se davam os requisilos marcados pelas lei.i para poder accusar um oulro cidadao. Assini as uiulbcrcs, os pupillos, os escravos, os li- bertos em relacao aos seus palronos, os decla- rados infames e ainda outras pessoas', nao linbam a liberdade de usar d'este dircito; por que OS Icgisladores queriam a perseguifao do crime, mas nao ([ue esta fosse movida pelo abuse de conlianca, pela quebra dos la- cos de I'aniilia, pela periidia, 'nunia palavra, pela immoralidade. Se por um lado o crimi- iioso via em cada cidadao um accusador do sen crime, pelo oulro o accusado injuslamcn- te sabia que provada a sua innoceucia o rigor das leis em vez de jiesar sobre elle, recairia todo sobre o calumniador que soffrc- ria a pena d'inl'amia e a de la Iiao. A accusacao, portanlo, era uma provoca- cao, mas franca e leal, fcita a peito desco- ' D. lie accusation. 236 lierlo ; iiodendo anilios os contendenlcs fazcr livroniunle as siias allepacOes, c rccusar as iL'stemunhas suspoiias. Um idiiiain) d'aciiullc lempo, orgtillioso da sua lilnMilade, riial podr- I'ia prcvor ((lie viiia um Sylla que julgassc desnecessario punir a laluuima, i\w depois d'esle viriani imporadores que traiisl'ornias- seiu a aceusarao piil)lica, lionrosa e justa, eiu re\ela(;ao socreia, alijcila e execravcl. Mas (juaudo o iuiperio roniano taio, cssa accusacao piiblica dei\ou do ter a antiga iinportancia; por isso ^\^u'. os barljaros com 0 seu caracler de indcpeudencia, com o seu dcspolisnio militar, com os seus costumes tradicionaes, lizeram nascef uma nova ordeui de ideas; esses costumes cm face da Icgisla- cao ordenada dos romanos , estavam como as dilTereiites seitas pagas, em relarao a ordem c unidadc do clirislianismo. No principio as insliluicoes de vcncedores c vencidos, atropellavam-se, conlundiam-sc c modilicavam-se umas pelas oulras, sein mesmo 0 conliuuo cstado de gueira podor dar muilo" tempo a legislar de novo, ou a cooidenar leis antigas. E quando os barbaios, pouco a pou- co, dcixaram a sua vida errante, e se lixa- ram cm novos eslados, lalbados maiorcs ou nienores, segundo a sua I'orca ou ambicao: e principalmente mais tarde, quando os reis tornando-se arbitios dos povos, subjugaram o leudalismo e concentraram em si todo o po- der, formando as novas nacOes da Europa : a accusacao pui)lica, (salvo para as partes directame'nte interessadas) dcixou de ser um direito de cada cidadao; e licou peitenccndo aos cmpregados do juiz, ou entao ao procu- • rador do soberano, pon|ue aiiida que elle deviisse, como o nome indica, conhecer de negocios puramente relativos a pessoa do rei; com ludo, por uma licfao propria da pnlilica d'aquelles tempos, como esie reprcsentava to- dos OS interes-es da sociedade, e como ao di- rcilo de vinganca particular, linha succedido 0 da vinganca do soberano; era aos seus offi- ciacs, c principalmente ao seu procurador a queni compelia accusar nos crimes piiblicos. D'aqui facilmente sc v6 que, peia nenhuma publicidade dos processes, peia summa depcn- dencia do procurador c pelo ganho das conlis- cacoes a accusacao piiblica eslava bem longe de'ser o que a tinha tornado a civilisacao cn- tre OS romanos. E 0 que 6 mais conlraditorio ainda e, que sc por um lado se coarctava a !il)erdade de accusar publicamentc, por outro, as ordenan- cas dos reis, comejavam a obrigar com pe- nas gravissimas a revelacao secreta. Com tudo, entre nos, se a legislacao antiga adraitlia a rcvelacjio, nao prohibia a qualquer do povo, cm certos e dctermiiiados cases, o accusar, como se pode ver da ord. do liv. V, lit. IIT; muito pelo conlrarin, parece que OS legisladores tiverara em vista, peia niaior parte, as disposicOes romanas. Alem disso tam- l)om se cslabeleceu a accusacao da justifa, em que nao liavcndo parte, um emprcgado, ([ue a ord. do liv. 1, tit. liJ cliama I'ronio- tor, lazia as suas vezes. As I'unci'ocs d'esle magistrado excrceram-sc por muitos reina- dos, ale (|ue a insliluicao do minislerio pu- blico em Franca, dejiois de sofl'rer muilas mudani'as, e de ser reconstituida peia orga- nizayiio imperial de 1808 c 1810, i'oi recebi- da por nos tambcni 'nunia nova organizacao de 10 de maio de 18l!"2, lendo-se seguido depois dilTerenles modilicafoes peia nova c novissinia Reforma, e por decretos especiaes, ale chegar ao ponlo cm que actualmenle se acba. 0 minislerio publico foi um grandq passo dado para a civilisacao; porque a sociedade ve nos empregados (pie o compocm os dcfen- sores de variadissimos direitos que ella em globo nao pode advogar. E [losto que csta insliluicao tcnba lido contradictores, e que muitos julguem que a accusacao se devia dei- xar ao zelo e patriolismo dos cidadaos; deve- se nolar, que esse pertendido zelo enfraque- cera de seculo para seculo, ou por cxpressa probibicao, ou por egoismo e indolencia, ou porque a barbaridade da antiga administra- fiio da jusiifa, fazia com que um individuo qualquer olbasse com horror o ter de compa- recer em juizo, para qualquer ado, ainda mesmo o mais simples. 0 minislerio publico, finalmente, pelas suas funccOes criminaes, alem de muilas oulras vantagens, tem a de garantir a seguranja da sociedade, seni csla lancar mao da secreta revelacao dos crimes, que, poslo alguns codi- gos admittam, e alguns escriplores defendam tern, com tudo, uma influencia, como per- teudo provar, que jamais pode ser bcneiica. Continua. i. p. COLCEIRO. 0 DIREITO NATURAL V01)E TER ALdDM PRESTIMO PARA A INTERfRETACAO DAS LEIS POSITIVAS? Quasi todos os philosophos, e (o que mais e) muitos jurisconsullos consideram o direito natural como subsidio indispensavel para re|ipnfado cnmmelll "nesla elcgia " iima infiilell- ilade, ([lie a ilccencia d>is iiossos costumes exigc » como iliz o sr. (Jarrelt, annolando nas .. Flores sem fruclo » lima pnesia tradiizida do valf de Teios; e, alem d'isso, eiMci_M»i-llie OS deznilo versos ultimus, preferindo esteobrar a ctirromper tolalmente o pensamento do auctor. Ser- iii'*-lia colicediila veniar 239 0 auctor, romo se v4 do litulo da obra, dividiu-a enuluas socrOcs: iia priincirn tracta partirularmeiite da cxjiosirao dos priiicipios da Trigonometria, c iia scf^unda apresenta as niais sim])lices applicarOi's d'esta scieu- cia a Topograpliia. Ai|iii, piiii(i|>alniente icve o auctor do liidar cum gcamles dilliculdadcs; porquc *pouco ou nada (iia iiossa lingua pelo lueiios) se Iia cscripto a cstc rcspcilo em ohras elemenlarcs, e o ipie iiiais custava era appropriar a capacidade do csUidanles dos lyceus, a doulriiia es[)alliada per todos esses livi'os, desliiiados a oiilios usos. 'Nesla parte do seu lral)allio, rcpetiinos, e ondc o auctor devia do ericoiitrar iiiaiores dilliculdades; e, se nao coiiscguiu I'azer uiiia obra perfeila, mostrou (|uc possuia os necessarios conlieci- nieiitos 'nc^■te raiiio de scicncia, e os sabia expdr com nuiiio melliodo e clarcza. Nao preteiidemos eiicarecer o merito do livro; dizemos IVaiicamcnte o iiosso peiisar, depois d'uma primcira Icitura que d'elle lize- nios; c cuiiiprimos um dover lancaiido aqui estas liiibas. A nossa avaliacao ueni Ihe da nierecimento, nem Ih'o lira; o livro val raais do que as iiossas paiavras, e e por si que ba- de recommendar-se ao publico. Nao se pense coraludo que o julgamos exempto de defeitos; tcm-nos como ludo que sac da mao de homens: mas nao e de certo uma ou oiilra incorrcccao, uma ou outra fal- ta, ([ue dejirimcm e destrocm o valor d'uni livro. K pelo todo que o avaliamos, e pelo fini a que e desliuado. Como obra eiementar cremos que teni os requisitos exigidos a um bom c exceiienle compendio. Um grave del'cito, porem, apresenta esta publicacao, e c a multiplicidade de erros ty- pograpbicos, que escaparara, e que era facil tor eviiado, ou pelo menos remediado 'numa tabella de errata?. Infelizmenle para os alu- mnos 0 livro esta tao recbeado de erros d'esla natureza, que forcosamente Ibes ba de ser cmbaracoso o estudo. Esperamos que o sr. Manso Preto 'numa proxima edicao do seu compendio emendara estas faltas, e outras ([ue deixamos de cnnu- merar, c iios dara um livro om tiido digno de si, e da Univcrsidade de que e lilbo. A. J. T. NOTIGIARIO. Muilos fragmcntos dos escriptos perdidos de .\ristoteles andam disperses pclas obras dos auclores gregos e latinos, e sobrc tudo dos antigos commentadores. A ningucm, por ora, havia lembrado cnlligil-os; esta lacuna fazia- sc sentir tanto debaixo do ponto de vista pbi- loiogico, como debaixo do litterario. I'nia col- leccao d'estes fragmcntos bem oidenados e subuiettidos a um exame critico, cuntribuiria, scni diivida para derramar nova luz sobrc alguns poutns ainda nial compreliendidos do systema, c ajudaria muito a coraplctar a bisto- ria litleraria do clicfe da escbola peripatelica. A academia de Bcrlim teve o feliz pensamento de abrir concurso publico a ostc respcito. I'ede uma ((Colleccao geral dos fragmcntos de .\ri- stotclcs I) e das passagcns dos auctorcs gregos e latinos, que sc referem aos escriptos perdi- dos do niesmo pbilosopbo; aconipanhada de um exame |ibilologico d'estes trecbos, c de um estudo das suas relacocs com as obras do Aristotclcs, laes como boje as conbecemos. Por em quanlo nao se devera ler em conta os recursos que possam olTerecer as linguas orien- taes ; porem, attender-sc-ba sumente iis nu- merosas monographias ou dissertacOes em que se tenba fcito mencao dos IVagmentos referi- dos. Cada concorrcule seguira a ordem que raais conveniente Ibe parecer; a academia so- mente exigc a niaior exactidao nas citacOes, um indice dos auctores e das jiassagens citadas, e uma lista alphabetica das paiavras iniportan- les, e dos objectos mencionados nos fragmcn- tos. Os concurrentes empregaram a sua csco- Iba, 0 allemao, o latim, ou o francez; mas 'nesle ultimo caso deverao juntar a sua me- moria uma traduccao lalina. Os tralialbos scrao recebidos na academia ale ao dia 1 de marco dc 18d9. Os auctores deverao escrever o seu nome em uma carta fecbada, com uma epigrapbe, que se repetir.i na frcnte da memoria. 0 premio de cem du- cados sera conferido em sessao piiblica no nicz de julho de 18o9, no dia anniversario do nascimento de Leibnitz. (Revisla de instruccion publica.) .&.'raiilvniin i-cnl tlnw scicnciaM de .Uafli'irt. Em abril dc ISao propozera esta academia OS scguintes tbemas, para adjudicacao dos dois |iremios que tinba dc couferir em 185G. Piimeiro premio. Tbema — « Dctcrminar os caracteies distinctivos do ovulo, que deve pro- duzir um individuo masculine ou feminino nas especies uiiisexuaes, tanto zoologicas co- mo i)ntanicas; manisfestando todas as phases mori'ologicas, que tomam os orgaos da gcra- cao ate ao niomesito em que se lornam pro- nunciadas as suas differencas. » Para esic premio nao foi apresentada me- moria ncnbuma. Premio extraordinario. Tbema — " Descre- ver as rocbas dc uma provincia de Espanba, e a marcba progressiva da sua decomposicao ; detcrminando as causas que as produzem, aprescutaudo a analyse quantitaliva da terra 240 vegetal formada de scus detritos, e deduzindo il'estes conliccimcnlos e iiiais circumsiancias loeaes, as applicafoes a agricultiira em geral, c com especialidade ao ciillivo das arvores. » Para esle prcmio I'oram apiesentadas duas incmorias: a registada debaixo do ii." 1, seiii cpigraplic, c com o tiliilo « Solo, clima, cul- tivo agrario c floroslas da provincia de Viz- caya » a scgunda i|iie se occupa da provincia de Caceres, com csta cpigraphe « Agrum ma- le colere, ecnsariuin probrum judicabatur, i-lc. {C. Plin natur. Iiixlor. lib. Mil). A. acadcmia depois do examiiiadas e quali- (icadas cstas memorias, entendcu que a re- gistada sob n.° 2, e que sc occupa de Cace- res, apezar de cnrorrar conhecimentos que boiiram sobre maneira seu auctor, uao satis- fazia a todas as coudicoes do programma, e (jue porlanto se Ibe nao podia concedcr o premio ncm o access.il; sendo por consequen- lia queimado em sessao gcral o prcgo que dcvia conler o nome do auctor. Km (|uanto a primeira mcmoria, que satisfazia a todos eslas condicoes a academia julgou-a digna do premio. Em virtude d'csta deliberajao, tendo- se aberto o prego que acompanbava esta me- moria, conbcceu-se que era seu auctor o sr. don Lucas de Olozabal, cngenheiro de monies. Este premio sera conferido na primeira sessao piiblica, conforme o dcterminam os cstatulos da academia. Madrid 3U de dezem- i)ro de 18!)6. — 0 secretario pcrpetuo, Ma- riano Lorenle. (La Revisttt unieersitarin.) RELACAO Don individuos nomeados para as spgtiiiites logares de instnic^ao publica dcsde o dia 1 ate aa fint de dezenibro vHi/H'i, por dvspnchos do rorisrlho sitpt-riur d'instruc- ^nn publico^ e decrrtts rf? gorerno coinmunicudos ao tncsmo conselho nu indicadu periodo, ISSTRl C<, AO PRIMARIA. I'Vancisco Uodripiies Pereira da Cosl;i, jiara prufes- ■>or lero|iorario da cadeira de Muiironbu, districto de Coimbra. Joao BaptUla Dourado, para dicto de De{^oIadoSj dislricto de Porlalegre. Jose Caetano Bicho, para dicto de Forties. Pedro Vito Cezar Machado, para dicto, da Louza, dislricto de Lisboa. Bernardo Jose d'Azevedo Lobo, para dicto de Sancta Mariaha do Zezere, di'stricto do Porto. Claiiclino Cezar Ramifes, para dicto de Vinhas, dislri- clo de Bra^an^a. Jose Henriqiies Secco, para dicto de Villa Secca, districto de Coimbra. Manuel Jose Cardoso dog Paiictos, paradiilo d.> Matn- Miihus, di.lricto do Porto. Simito Antonio Correa, ])ara dicto d'Amarante. Antonio Junqiiim de Cadaval, para dido d'Evora Villa, dislncto de Leina Anlu.i.o Ju.e PimLMih.. para did.. d'AL'-.z. Jusr Tliomnz I»itL-:ra. |ar;i did.. d<- t a:ilu(, district.. d.> l.islHia Mannel Martins Mano, para dicto de Tontes, dislri- ctode Villa Real. Theolouiu J..se da Silva, para dicto da Villa do Bar- reiro, distiicto de Li:>boa. Forlunal^* Albino Veij,'a de Sa, para professor sul>is Maia, para pofessor vita- licio da cu'leira dc Sepins. dislriclo de Coimbra, por trarisfereiu-ia da de Salvnterra do Eslreiiio, districto de Castello liranco, dt-creto de 15 de desembro ultimo. INSTKrC<;AO SECUWDAHIA. Antonio Loureiro da Silveira Macedo, para professor proprietario da 3." e 4.* cadeuas do lyceii nacional da llorta, decreto de 20 de nuvembro ultimo. Joao Antonio Vieira, para professor por niais Irez annos da cadeira de latim da Villa de Niza, districlo de Portalegre, portaria de 34 de dezembro ultimo. Joao Antonio Pires Villar, prolessor da 3.' e 4." cadeira do l^yceu nacional de Bragan^a, para secretario do mesmo ly'ceu, decreto de 19 de dezembro ultimo. *UC<,A SLPRRIUR. Juacinim Pedro d'Abranclies Bizarro, para lente pro- prietario da 8." cadeira da eschola Medico Cirurgica de Lisboa, decrelo de io dc novembro ultimo. O dr. Anionio Jose Teixeira, para leale substituto e.xlraordinaiio da facnldade de raalhemalica na IJniver- sidade de Coimbra, decreto de 2 de dezembro ultimo. Dicta de 1 ale 15 de Janeiro de 1850. I^STRrcf;AO primaria. Alexandre Maria Duarle, para professor temporario d^ cadeira de Canlanhede, districto de Coi,jj[jfa, Antunio Alves Guerra, para dicto, jg g. Juliao da Silva, districto de Vianna do CagieHQ^ Antonio Feleciano Coiilinbo ^\e Sousa Ribeiro, para dicto da frej;uezia de Benedicta, districto de Leiria. Antonio Gucrreiro Junior, para diclo de Cacella, dislriclo de Faro. Bento Juse Alves Pereira, para dicto de Sancta Eula- lia de Crespos, districlo de Bra?a. Francisco Auguslo de Lemos Pimenlel, para dicto de Tra^-antja, dislriclo de Bragan<;a. Francisco Candido Ferreira, para dicto da S. Marli- nho d'Aiijjueira, districto de Bragan^a, Francisco Carlos de Mendon^a, para dicto de Vul de Figueira, districto de Santarem. Francisco Jose d'Aragao, para dicto de Pinzio, distri- cto da Uiiarda Joao Pessoa de Campos, jmra diclo de Seniiurim. di>tricto de Vizeu. Juaqiiim Rodrignes de Faria, para dicto de S. Loii- ren^o do Bairro, disrricto de Aveiro. Joiiqiiim Vicente da Gama, ])ara dicto de Mtjra. districto d'Evora. Juse Rebello dos Sanctos, para dicto de Cabana.*, districto de Viseu. Manuel Gomes da Fonseca, para dicto de Graiija a \ova, districto de Viseu. Vicente Ferreira Homem de Magalhacs, para dicto de Cos, dislricto de Leiria. i.nstruc(;.vo sbcunuaria. Vicente Pedro Dias, para professor vitaliciu da d.^ t (■».• cadeirau do lyceu de Leiria Joaquim Maria Deniz Goulart da ^^ilveira Macedo, para prol'es.-iur substituto de eguaes cadeiras do lyceu nacional dc Lisboa, decreto de Sil) de dezembro ultimo. InSTHL'C^'AO SL'FEHIOR. J>>a(piim Lopes Pinto, para o logar de continuo dos ^'eraes da Universidade, decreto de 7 do corrente. i) Jn0titttt0) JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. EXPEDIENTE. Assigna-se eslc Jornal emCoimbra, no Ga- bincte do Fnsliliito : em Lisboa, na livraria do sr. Cobellos, rua Augusta n.°2; no Porto, na do sr. Jacintbo A. Pinto da Silva, rua das Hortas n.° lii; em Evora, na do sr. Y. J. da Gama, collegio de S. Paulo; no Pezo da Re- gua, na do sr. M. Mundes Osorio. Toda acorrespondencia, franca de parte, sera dirigida — A' Redacrao do Instituto. Coimbra. Preco, adiantado, por anno, ou 24 numeros, francos de porle l^iiO Por semeslre, ou 12 numeros, dictos 800 Avulso 100 Para os srs. Assignantes os numeros, que Ihes faltarem d'esle 5.° volume se- rao pcio mesmo preco da assignatura annual, ou cada urn CO Os exemplares que restam dos volu- mes I, II, III e IV d'este Jornal ven- dem-se, cada urn por 1^200 Annuncia todas as produccOes lilterariasdos socios , que assini o desejarcui, e remetterem a redaccao as nolas corapclentes; e todas as outras, de que forem reniettidos dous exem- plare."!. RELATORIO Da direrptio enililea geral dos acrioniNlaN. no l.° de Ja- neiro de IS53. Conlinuado de pag. 233. Obras. Os trabalbos da edificacao, tiveram o pos- sivel desinvolvimenlo. Conciuiram-se as 18 banheiras do eslabelecimento: terrainou o assento de todo o ladrilho e lisonja dos cor- redores, casas do banho, sala e escripiorio; e acham-se concluidos os repartimentos de todo 0 editicio, excepto na agua furtada, cuja divisao lem de subordinar-se a coUoca- cao dos reservatorios, que hao de alimentar OS banhos de chuva de cboque, etc. Falta so 0 guarnecimento e estuque de todo o edificio, menos uma parte do corredor do sul, e os quartos d'este lado, que ja se acham estuea- dos e guarnecidos. A macbina de vapor as- sentou-se, e funccionou com toda a regulari- dade que era para desejar, fornecendo vapor a seis banbeiras e aquecendo cada banho em dois minutos, pouco mals ou menos. Contas. Nas contas prestadas no 1.° de Janeiro de 1855, e no 1.° de Janeiro de 1836, linha apresentado a direccao, de receita pro- veniente das accoes cobradas, e do rendimento dos banhos, a quantia de 3:215^520 E de despeza com a approvacao dos estalulos da Sociedade, expro- priacoes de terrene, obras, e service dos banhos, a quantia de 3:508$505 Ficando em deficit a quantia de 292$'J83 . No anno deeorrido ate hoje (1.° de Janeiro de 1857) bouve de receita proveniente de accoes cobradas , do rendimento dos banhos e do rendimento da sala particular 2:272|l820 E de despeza com o pagamento dos juros aos accionistas, obras, mobilia, utensilios e service dos banhos 3:183^583 Ficando de deceit 910^705 Sonima do df/ict7 actual 1:203^750 Vol. V. Feveiieibo 1—1857. Ncm. 21, 242 D'esla quantia dc.vem-sc ao sr. Francisco da Silva e Olivcira, de emprestimo que fez a Sociedade, 500^000 reis, e ao sr. Francisco Josii Gonralvcs de Lemos. por adiaulamenlos que fez corao ihesoureiro, 703^750 reis. Esle deficit ha de desapparecer logo que se conclua a cmissao de todas as acjGes e sc termine a sua cobranca, como podcra ver-se das seguintcs consideracues : 0 fundo primitivo da Sociedade era dc 300 accoes no valor de . 3: A assembiea geral dos accionistas da Sociedade, na sua scssao de 15 de juliio de ISao, auclorisou a emissao de raais liiO accoes no valor de 1: E tornou a auctorisar a emissao d'oulras 150 accoes em sessao de 4 de inaio de 1856 no valor de 1:500^000 Ha por conscgninte auctorisacao para a emissao de GOO accoes no valor de ' 6:000^000 E achando cobrados so 4:632^500 Rcstam para cobrar 1:307^500 Ve-se pois que, longe de haver ura deficit real, ha um excedente de 103^750 reis. E verdade que nao chega para o pagamento dos juros aos accionistas, e para a conclusao de todas as obras do estabelecimento; mas a direccao espera que o rendimento dos banhos, depois de satisfeitas as despezas do custeamento e dos juros, ira dando sufficienles sobras para todos estes encargos. Renderam os banhos 586^600 Rendeu a sala particular 33^720 Todo 0 estabelecimento 620^320 Ordenadosaosempregadose serventes, e renda decasasaobanheiro 212^820 Azeite e stearina 11|,S00 Lenba para a machina de vapor, 41 carradas a 5C0 reis . . . 22,V,tr)0 Juros das accoes vencidas hoje (1.° de Janeiro de 1857) . . . 100^000 Somnia do custeamento 446^880 Rendimento liquido 173^740 A quantia de 586^600 reis, importancia do rendimento dos banhos, c forniada das se- guintes parcellas : Producto das taxas de 13:232 senhas para banhos de temperatura natural de meia hora, a 20 reis cada um 264^640 Dicto dicto de 3:500 senhas de banhos de temperatura natural de trez quartos de hora, a 40 reis cada um 140^000 Dicto dido de 3:400 senhas de banhos de temperatura artilicial de meia hora, a 40 reis cada um 130^240 Dicto dicto de 762 senhas de banhos de temperatura artilicial de trez quartos de hora a 60 reis cada um 45^720 586^600 Alem das senhas para banhos pages, foram distribuidas para banhos gratuitos 1:986 se- nhas, sendo 1:8!\0 para banhos de tempera- tura natural, e 106 para banhos de tempera- tura artilicial. Todas c-^tas qualidades de se- nhas perfazem a conta 22:886 corresponden- tes ao D.° de banhos mencionados no movi- mento dos banhistas. A cscripturacao do sr. thesoureiro, valio- samcnte auxiliada pelo delegado da thesou- raria no concelho da Anadia, o sr. Francisco Rodrigucs da Fonte Cancella, mostra com toda a clareza um bom systema de contabili- dade, e o escrupulo que tem havido em se documeutar toda a despeza. Estes documen- tos, competentemenle classificados e nume- rados, jogam com o resumo de contas d'um mode tao simples e claro, que muito facilila 0 seu exame. RESUMO DE CONTAS DO ANNO DE 1856. A sociedade dos banhos de Luso em conta corrente com o seu thesoxireiro Francisco Jose Gon^alves de Lemos. DEVE — I Pelo alcance do anno de 18ij5 para ISiiO .... Idem custo de maleriaes e differentes outros ohjeclos, com- prados no corrente anno (documenlos n.° 1 a Ko) . . I:49(i^l5lj Idem jornaes a operarios (follias 1 a 52) 1:243^020 Idem cuslo de mobilia para o cstabelccimento (documenlos n.°' 1 e 2) 83^330 Idem juros d'uni anno de 2So accOes, pagas aos accionistas, como consta dos recibos 142^300 Idem ordenado ao medico, como consta do recibo . . . j 100,^000 Idem dicto ao Banlieiro 35^000 Idem dido aos serventes e outras despczas como consta dos recibos i 00^780 HAVER - Por dinheiro recebido de Francisco da Silva e Oliveira, em- prestimo a Sociedade Idem por conta de i"U accoes Idem producto dos banhos no corrente anno '..... Idem dicto da sala Idem recebido do que licou em divida era 1833 (saldo do rondimento dos banbo.s a favor da Sociedade 'naquelle anno) .\icance que passa para o anno de 1837 ii3&333 2:967|1805 213 3:626^920 y.B. Alcm do que (icou em divida activa do anno de 1833 para 1836, e que ainda sc dcha por cobrar, que sao 07^300. Coimbra, 31 de Dezembro de 18B6. 0 thesoureiro, Francisco Jose Gonrahes de Lemos. Conferidas com os respectivos documentos. — Coimbra, 13 de Janeiro de 1837. Francisco da Silva e Oliveira. Anlunio Maria de Sousa Bastos. Francisco de Sousa Araujo. Esta conforme. — 0 vogai secretario da direccao, Anlonio Augusto da Costa Simoes. 214 DAS IRMAS DA CARIDADE. Contiiiiiado lie pag. ii-4. III. Nao sao por tanlo as irmas da caridade similhanles as religiosas encliusuradas, o co- mo a maior parte d'cstas, voUdas ao proprio aperfeifoamcnlo na vida conteniplaliva. Tudo quanto ellas couscrvam, e o publico conhece, dos rcgulamenlos, c das coiilcren- cias, e correspoiidcncias de scu illiistrc fun- dador, e lao sabio, tao prudenlc, lao divina- mciite inspirado, e ao mesmo tempo tao claro e explicito, que basta trauscrevcr urn ou ou- tro trficho para beni se coraprcliender a na- tureza d'este bello e admirabilissimo iuslilulo. « As lilbas da caridade (eserevia o sanctoj * nao sao religiosas, mas vao e vem, codio se- culares. Sao pessoas das freguezias sob a di- reccao dos parochos; e se temos a dircccao da "caza, aondc sao creadas, e porque prouve a Deus, para dar uascimento a sua pequena congregagao, o servir-se da nossa. « Ua esla dilTerenca entre estas filhas e as religiosas, que a maior parte das religiosas nao tem por lira senao a propria perfeirao, entretanto que eslas filhas se occupam, como nos, da salvacao e do ailivio do proximo. » 'Noutro logar eis como clle pinta as pri- mciras filhas ou irmas da caridade. « Os seus raosteiros sao as cazas dos enlerraos ; as cellas, unspobres quartos, muitas vezes d'alu- guer; a capclla, a egreja da freguezia; o chiu- stro, as ruas da cidade; a elausura, a obe- diencia; as grades, o temor de Deus; e o veo, a sancta modestia » ! Slais expostas por isso mesmo as tentacoes do muDdo, e ao mesmo tempo carecendo de superiores forcas da alma para os dilliceis e rudes trabalhos do seu ministerio, aquelles reguiamenlos dirigem-se todos a eleval-as ao mais subido grao de perfeicao christa na pie- dade, humildade, abiiegacao, amor da pobre- za, docura e caridade para com os pobres, e pureza angelica. « As lilhas da caridade sao enviadas a terra (diz 0 mesmo) afim de representarem a bon- dade de Deus para com os pobres doentes ; deveni pois escutar as suas queixas, como maes, isto e, com mansidao, conipaixao, e amor. » « Deixais a oracao, ou a leitura, ou o si- lencio, para acudir a urn pohre. Ficae des- cancadas : servir a esse pobre e fazer o mesmo que deixais. « 0 amor de Deus e do proximo, o amor dos pobres, a uniao entrc si, compocm o ve- stido interior das filhas da caridade. (iMinhas irmas, Nosso Senhor lomou cui- dado ao mesmo tempo do corpo e do espirilo. Vos Ihe succedeis. . . Fallae pois aos pobres ac(5rca de sua salvajao com paiavras arden- tes, que fallcm ao coracao. « Uma fillia da caridade e uma arvore que uao deve dar fruilo senao para Deus. 0 nosso prinieiro cuidado ao despertar seja adoral-o. Adormecci a nolle com algum pensamento bom. « Nao estejais nunca ociosas. Dcpois do servi^'o dos doentes occupae-vos em cuzer e (iar. Ah! minhas filhas, c mister trabalhar para ganhar a vida, e ser hem cuidadosas do emprego do tempo, do qual vos pcdira Deus uma conta estreitissima. E" cousa lao preciosa o tempo ! (I Seguireis os exercitos, minhas filhas; os homens vao la para malar, vos ireis para curar. »' Como fossem muitas e nuii diversas as suas occupacOes, S. Vicente de Paulo nao se con- tentou com os reguiamenlos geraes e com- niuns a lodas ellas; deu-lhcs regras especiaes para cada uma de per si; — um para as ir- mas que soccorressem os enfermos pelas fre- guezias;— outro para as que tivessem escho- la ; — outro para as encarregadas dos expo- slos; — outro para aquellas, que haviara de curar dos enfermos no IIotel-Dieu de Paris; — outro para as irmas que haviam de servir 0 hospital dos forcados das gales; — o o ul- timo para as que servissem nos mais hospi- taes do reino. « Esles reguiamenlos (observa Abelly) apon- lam-lhes especialmente as occasiOes perigosas, que lim para evitar, as precaucoes que de- vem empregar, os dilVerentes intuitos a que devem propor-se; emlim tudo quanto ellas tem que fazer ou que dizer, ainda as meno- res circumslancias, para bein alimentarem, curarem, medicarem, limparem, edificarem, consolarem, e admoestarem aos pobres, pe- quenos e graudes, saos e enfermos »'. IV. Tao alta e a sublimidade da profissao re- ligiosa]; lao superior a debilidade das I'orcas humanas a perfeicao que demanda, (ao ex- posla por isso mesmo as contradiccoes do mun- do, e da propria nalureza do individuo que se abalanca a lamanba enipreza ; que nao ha cautelas de disposicoes anteriores, d'edade de razao e conhecimenlo, de justa apreciacao das obrigajOes a conlrahir, de plena liherda- dc d'cscoiha, que, por mais minuciosas (|uc sejam, nos purecam cxcessivas. E uma vez conlrahidas essas tremcndas obrigacoes, que forca sobrenalural nao e mister para perseve- rar de boa vontade, e fielmente salisfazer aos sagrados volos proferidos, quando por venlura 0 prinieiro fervor, ou ainda mesmo as forcas physicas e moraes vierem a desfalecer! ' Orsim, Hist, de S. Vincent de Paul, C. 17. \ 245 Lougc do DOS 0 Icmerario arrfljo de rios erigimios em juizes d'aciuella, que, como cliri- staos, nos lioiiramos do reconlieccr c vciierar por incsira ; c que, nas suas [jnidenles pre- scri[ifOes, cousaalgiima ordona, que iiao scja loiiga e pausadamenlc nicdilada, c pela expe- liencia dos scculos reconliecida e por boa conlirmada. E se algunia vez os seus iiiinistros tern side iiieiios exactos e caulelosos, on ainda nii'siiio inlieis ao giavissinio miiii.sleiio, la eslao as leis ecclesiaslicas, eu contrasle com esse pro- ccdimento, dando testiniunlio da propria sa- bedoria, e coudcmnando o abuso dos sous exccutores. Presupposta csla indispensavel approvacao da cgrcja, cousideiamos como grave offeusa da liberdade individual, de vocacao e asso- ciajao, uiu grave excesso de poder politico, lollier a qualquer, honieni ou luullier, uma associarao ou uni volo, que a suji conscieii- cia Ihe dicta. Livre e renectidamcnte proferido, e o volo tao sagrado, como e provciloso a alguns res- peitos 0 instituto, que a providcncia inspiron, c a Egreja abracou. Todavia nao podemos dcixar de recoiihccer uma especial vautageni "naquelles, que, mais em liarmonia com as necessidades e mesmo com as ideas do seculo, se dirijem com preferencia aos exercicios da caridflde activa, e que, pelas condicoes da sua existencia, mellior possum amoldar-se a fraqueza e instabilidadc liumana. E qua!, 'uesta ordem, bavora meihor eal- tulado que o das servas dos pobres? Os seus pezados votes de — pobreza, casli- dade, e obedieucia, dirigem-se ao servieo dos pobres, o qual constilue nni i." voto; e to- dos apenas durani um anno! No dia 23 de marco a irnia da caridade e livre. Pode regressar ao seculo, e por termo a uma vida d'abuegacao, e sacrificios quasi sobrcliunianos, sem que do seu anterior estado Ihe resulle o nicnor estorvo para a vida pii- blica e domestica. i'ode prender-se de novo, e continuar o seu viver de sancta, e martyr, anjo de caridade no nieio das maiores, e mais rcpulsante.s miscrias da bunianidade enlerma, na certeza de que, se nao conliar era suas forcas, d'alii a outro anno novamonte Hie se- ra licito pendurar no lemplo os I'erros que livremente tomara, e retirar-se em paz! Mui poucos excmplos, porcm, se contam de irmas da caridade, que tenham aproveita- do esta laculdade. « Esia liberdade (diz C. Malo): do se retirarem da cougregacao, nao tem scrvido ordinariamentc seiiao para as prender com ella por vinculos inviolaveis. ' Comprehende-se que, na solidao e clausiira do raosteiro, se imagincm delicias e altracti- vos do seculo, e se concebam illnsoes, as quaes ' 1,'OEiivre lie S. Vincent de Paul. 0 espcttaculo das niiserias dc toda a ordem, que 0 corrompem c desfeam, prcsentes em toda a sua bcdioudcz, c a todo o instantc, a ser- va dos pobres, nao pode dar logar. Na admi.ssao das novicas ha um rigoroso escrupulo. E mister saber ler e escrevcr, nao ter mais de vinte e cinco annos, nao ter sido criada de servir, e justilicar o meihor procedi- menlo, costumes puros, e religiao; e mais ainda — que toda a sua familia, seus paes e irmaos, os mesmos parentcs do seu nome, gozem de reputacao illibada ! As provas do noviciado deveriao durar de quinze a dezoito mezcs. A. necessidade obriga ordinariamente a abrevial-as. E mister acu- dir ao incessante pedido de soccorros, e sup- prir 0 nuniero das que, em cada anno, con- sumam o seu martyrio, victimas de traballios inauditos; e d'ahi vem, que algumas vezes o noviciado nao passa de cinco mezes. Se o espaco e brevissimo, la esta o correclivo na liberdade da sahida. Continua. i. FORJAZ. VERSAO DAS ELEGIAS DE A. TIBULLO. Continuado de pag. 838. LIYRO PRIMEIRO. ELEGIA Ol'INTA. Suberbo fui ; e de aceitar, ,';em custo, Um repudio d'amor gabos me dava: Mas ah! quao longe agora essa vangioriu, Quando no peito o coracao me ferve, Qual, sob OS brincos d'adestrado infante. No terreiro a pitorra esgarabulha. Abraza, opprimc o fatuo,- e nunca orgnlhos Jamais Ihe liaode aprazer; seus feros doma. — Mas... ai, perdao! pelas sagradas juras Sobre o leito I'urtivo, pelas laces D'ambos juntas, por Venus t'o supplico. 0 mesmo sou que, e lama, com meus votes Ao langdr te roubei d'atroz doenca ; E, em quanto a velha recitou conjures, Com puro enxofre te lustrei Ires vezes : Eu mesmo os bolos consagrava puros Que haldassem ao somno os pezadelos; E co' a lila eiinaslrado, e as roupas soltas Perliz de Trivia, 'nalta noite, os votos Vezes nove. De nada abri desearte: E agora um outro tanto amor aspira E, feliz, de meus rogos se aproveita ! Que leda vida, louco! me fingia, Negada por um deus, tinda a moleslia ! — Era nocampo. Eulavrador: dos (ruclos Delia a guarda seni, quando as espigas 2 -in Sob 0 piiio do sol trilliar a I'ira ; Das cheias dornas velara os caclio?, E 0 moslo, d'ageis pes maiiaiulo, puro ; Ha de avozai-se a nunierar o gado E a ter, biincaiulo no fagiioiro scio, 0 garrulo meniiio lia de avezar-sc. Ella ao dens do colono as roixas uvas Pela vida ira por, a luha espiga Pela scara e pela grei olTieiiJas : Em liulo lia do iiiandar, olliar por ludo, Folgaiulo eu iiada ser em toda a casa. Alii viia 0 men Messalla: prompla E d'arvore cseolliida os doces ponios Ua de trazer-llie Delia; a iieroe lamanho Metleudo hrios em calai-lhe agrados, Em eiiidil-o, servil-o e ate sargente A mcza ap|)arelhar-llic e as iguarias ! Tacs votos me lingia que iioje inniiteis Pela Armenia odorosa o venlo espallia ! — Que de vezes com viiiho minlias maguas Exliuguir procurei; mas luiida a anguslia Todo 0 licor em pranlos me cstillava. Que de vezes coliii outra em mens braces; Mas, no momenlo de gozar-llie os mimos, Tu rae viuhas a mente c amor fugia. . . Ella enlao, separando-se, emliruxado Me cria e — que vergonha! niinha inercia Assim divulga. — Oh! que nao e com phrases Dc brnxcdo que a amante isto consegue : Cos lenros bracos, e as madeixas d'oiro E 0 roslo rae enfeilica, qual 'noutr'ora Formosa Thetis, dc Nercu progcnie, No brando dorso de delpliim domado Ao Tbessalo Peleu dando-sc esposa. Ricaco amante, que a pn>nder-lhe agrados Agora se apprcsenla, e a vil terceira Tao ladiua, inda mal! sao meus tornientos. — jAli, maldicta mulher! Sanguentas carnes Sejam ten so suslento e o fel le vertani Amargos copos nas crueutas fauces: Preza da sorte emlorno te esvoacem, Chorosos scniprc, os gelidos phantasmas, E no tccto violenla a c'ruja pie : De fome onfurecida eulre os sepulcros Busques cevar-le ramuienla na herva, Ou nos ossos ja niis que os lobos deixani : ' Nna percorras, ullulando, as prajas Acossada dos caes. . . — Eis leu Culuro! Ohlqueassim hadeser; uni deusm'oaflirma; Que deuscs ha para os amantes: Venus D'aziago desdem viuga os desprezos. Ah, foge, foge d'eila os vis preccitos Que todo 0 amor com dadivas sc vencc! iSo pobre, proniplo servo lias de ter serapre, Pobrc, te seguira e do teu lado >iem um momento so ha d'apartar-se; Pobrc, cnlrc as tiirbas Ic ahrira caminho, Pohrc, te guiara t'urtivamenle Aos amigos na occulta e grata orgia, Desdando-te do pe raimoso OS lacos. Mas, ai! debaldc canto: com palavras Niio e que a porta sc ha dc abrir vencida : Fora mister batcr-Ihe co'a mao cheia!.. — E tn, ([ne agora es podcroso, teme Por minha sorte: — da Forluna a roda 'iNum passageiro sopro rodopia. Nao c debalde, nao, qne alguem, agora, Cousiantc o limiar Ihe ronda as noites; E ora 0 vela dc perto, eora scafTasta, E Simula ir-se embora, e em breve lorna, E solitario de continuo tosse. . . — 0 que csle amor furtivo me prepare Ignoro : goza, pois, em quanto e tempo; — Ja na correntc sc baloica a i)arca! A. A. IXFLUEMIA DA REVELAClO DOS NA SOCIEDADE, Continuadu lie p&g. 836. Para que o foro externo possa loniar co- nhecimento dos delietos, e, eonhccidos elles, ser justo na sua apreciacao, alini de nao ir castigar o innocenle; e necessario o testemu- nho dos homens, necessldade reconhccida cm todas as legislacoes, tanto autigas corao mo- dirnas. Por isso 6 que o nosso codigo ' clas- silica do desobediencia, e impoc a compe- tente pena ao jurado ou teslomunlia que nao comparccer em juizo, tendo-se-Ihe feito inll- macao. A testemunlia, porlanlo, como todo aquelle que for patontear c verilicar um cri- iHo, practica um acto dc grande intoresse publico. Fundado 'ncste ultimo principio e ([uc Bonneville sustcnta que, sem diivida, a revclacao dos crimes deve ser ohrigatoria pa- ra todo 0 cidadao ; por isso que, diz este oscriptor, tcstcniunhar e revolar sao cousas identicas; e nao ve ellc quo iiaja molivo pa- ra 'numa logislacao se tornar ohrigalorio o depoimenlo da testemunlia, e polo contrario, acto dc livre vontade a revclacao d'um crime. Mas em primciro logar, Icsteniunhar nao e absolutamcnle o mesmo que revclar; porque testemunhas siio pessoas que veni chamadas a juizo para dcclararcm o quo sahcm sobre faclos conlestados; e o particular que vai rcvelar um crime, da a anctoridadeconhoci- menlo de um facto para ella ate alii dcsco- nhecido; alias, nao baveria revelaeao. Em scgundo logar o testemunho e provocado e a revelaeao esponlanea ; 'naqucllc o cidadao toui um caracter como oflicial, vai dizcr o que sabe, sobre a verdade ou falsidadc do crime, [lorquc para isfeo foi intimado; cm quanto Cud. Pen. art. Ili9. De I'ameliuralian de la lu 24r que 'nesla ha o odioso da doclarafao, feita do pura e livre vonladc. Pnrtaiito, ainda mcsmo quando o inlerosse publico cxigir a ruvda- f ao , aqucllc que a iiao lizer, nao deve ser responsavL'l senao perante o foro da cons- ciencia. Nao me parece estarem 'ncste caso os func- cionarios publicos, no cxoicicio das suns fuuc- joes ; esles, cada urn no ramo da sua com- petencia, dcvcm ler unia ohrigacao restricta de revelar a aucloiidadc superior qualquer crime de (jue tenliam coiiiii'cimeiito [)or isso que para inauli'i- a ordcm piiiilica, e que ciles estao conslituidos cm poder. Nem sc argu- raentc, que se iia haixeza e desliunianidade na revelarao civica, lambem elia cxiste na ofHcial alTiiniacao e punicao do delicto; por- que, estabeiecido que nao deve liaver impu- nidade, quando o funccionario publico no exercio das suas funccOes denuncia um cri- me; quando o juiz, os jurados, as testemu- nhas, ievam esse crime a evidcncia, e a pcna seapplica; todas essas pcssoas nao fizeram mais do que emprogarem os nieios que a lei Ihes faculta para a sustentacao do principio sagrado — da nao inipunidadc: — se lizesseni 0 conlrario, alrniroariam a conlianca que 'nelles o publico deve lor; e nem lal proce- der se poderia aleunhar de generosidade, por- que esta para com o crime, como bem dizia Napoleao I, c a deshumanidade para com a sociedade. E nao sera essa confianca do publico, uma razao de mais para que o facto da niio revc- lacao civica, se nao considerc digno de uma pena? Indubitavelmonte, por isso que uma parte das contribuicoes que o cidadao paga, e destinada a sustentacao dos dilTerpntcs funccionarios do estado, que deveni defender e garanlir os dirciios injustaniente alacados de cada membro da sociedade. E lamheni este um dos fins para que sc orgauisa a forra ar- mada, assini como a dc enrarregados subal- ternos dc ])olicia ; logo o cidadao, ainda que tenha uni dever moral de delalar os crimes, nao 0 I'az, porque, 'numa nacao civilisada, descanca e deve descancar na vigilancia e proteccao da auctoridadc. Supponbamos com tudo, (]uc a lei inipHe a obrigajao de revelar o crime, sob uma pe- na deterniinada. ^- E sabido, que enlre as iiualidades necessarias relativamente ao fim da pena, avultam as de ser esta exemplar, correccional e popular: vejamos se, em o nosso caso, estas qualidades se poderao dar 'numa qualquer pena que se impozor. Se esta pela sua applicacao deve combalcr, por um exempio salutnr, o mao excmplo produzido pelo facto do delicto; este resultado nao se obtera quando se infligir a um cidadao, por elle niio ter revelado um dado crime; porque scja qual for ocbaractcr alfliclivo da pena, a improssao que ha-de fazer sobre o publico, sera contraria senipre a que o legislador teve em vista; portanto nao e exemplar. Nem cor- reccional tao pouco, porcjue o individuo col- locado outra vez nas mesmas circumstancias, ainda guardaria siloncio, nao se podendo alcancar, por consegiiinte, o arrependimenlo do ([ue a lei jidijasse culpado. E qual sera a causa d'estc pbenonieno? E que sao impopu- lares as penas contra a nao revclajao: e que, numa palavra, cllas sao « rcpellidas pelos costumes publicos » como bem sc disse em Franca na camara dos deputados, cm DO de agosto dc 1831. Devendo-se advertir (|ue, j« na antiguidade, Plalao ' julgava nao se dever punir a nao revclacao do crime, posto que 0 legislador devesse convidar os cidadaos a descobrir as conjuracoes contra a libcrdadc da patria. luvestiguemos agora a causa por que existe no publico esta repugnancia, este odio contra a revelacao. Bonneville, que tanto a defende, encarrega-se de explicar o motive, o E, diz elle, porque em todos os governos tyranni- cos, a delacao foi sempre um inslrumento de odio, de vinganca e de cubica ; porque ella entregava os cidadaos a uma justica cega e apaixonada; a uma justiya parcial, cruel no seu processo, secrela no andamento d'estc, e abomiisavel na» suas ])enas. » Eis aqui a apologia dos governos que obrigaram a revclafao, Iracada por uma penna hem disiincta. Por isso nao serei eu exaggerado se con- cluir, que as penas contra a nao re\elacao, rarissimas vezes leriam em vista a manuten- cao da ordem piiblica, e muito menos a dc- feza da pessoa do cidadao e da sua proprie- dade. A causa primaria era a seguranca do estado, muilo principalmenlc desde que se rccebeu a disposicao romana — « (/nod prin- dpi placiiit, legin linbet cigorem <: — disposicao esta que depois sc generalisou, nos governos des|ioticos c absolutes, ale ser publicanicnte como tradiizida por Luiz XIV, no seu fanioso dito — '■ L Hint, c'esl woi. » — Para i.sto tam- bcni nao podia deixar de concorrer, a inter- pretacao dada ao §: 0 da lei 5." C. ad. leg. Jul. magestat. Barlolo dizia que a palavra consciis empregada 'neste §., coniprcbendia (odos Os que linbam nolicia do crime; opiniao que prcvaleccu a dc Baldo que sustcntava, que somcnte sc referia aos cumplices. 'iNesses go- vernos pois, em que uni individuo represen- tava com poder illimilado a sociedade inlcira ; esiando 'nelle rcunidas todas as faculdades pbysicas e moraes relativas ao estado : a revclacao dos crimes contra a sog;nranfa d'estc era punida, c como um crime de lesa niajestadc, por isso que o soberano cstava, por assim dizer, identifieado com o raesmo estado, prcsentc a todos os podercs cm glo- ' Plato, de legili. Jialog, y. 218 ho, c a cada um dellcs de per si. Mas como para esses delictos de lesa-majesladc, I'ossc qual fosse a sua gravidadc, as pinias desde OS iinpeiadorcs roiuanos foraiii sempro d'uma alrocidade rcvoltaute: para aquelles de uao rcvclacao lanil)em se julgou coiivenieiUe ' prodigalisar a nicsina alrocidade. D'cste mo- do (' (|U0, ainda no tempo de Luiz XIII de Franra, esta iiarao \iu A. de lliou, conso- lliciro (I'cstado, siibir ao eadafal-o pclo sim- ples faclo de, seudo aiiiigo de Ciiu|-.Mars c saheiuio da couspiracao que este tiamava coutra 0 raonarclia (ou laivez so contra o cardeal de Uiclielieu), uao tcr delalado o cri- me do scu aniigo. Ora a iiinocencia de A. dc Thou loi levada a evidencia : mas nao obstante a iiacao pcrdeu um cidadao hene- mcrilo, por cilc nao tcr practicado um lacto ([uc 0 despotismo exigia, raas que a cons- cicncia reprovava. A vista d'este iriste exempio, e de muitos outros (|ue iufelizmcnte mancliam as paginas «n- eiunislaa d'vl-rei. ' Apiloyia do ckroniita do reino, J^io Bernardo da Rocha — V^i. M. 260 niyslcrio da Eiicliarislia; a desconfianja que el-rei coiiccl)cii de alguns dosoulros meslrcs; c, nKiis que mdo. a graiule cstinia e ronsi- dprarao lihcralisada aos regulares da conipa- nhia' de Je^us, i)er5uadiram-no a despedir aqiK'llcs oplimos professores, e ?ubsliluil-os pclos padres d'esla rongregacao, que enlao principiava, nao so cm Portugal, mas em lodo omundo, com pouca geiilc, c essa menos apta para Iractar estudos, c eusiuar sciencias. DuzeiUos e (jualro annos cstcve conliada a dirccrao dos estudos menorcs a cstes religio- sos, com dclrimciito de nossa litlcralura, se- guiido a opiniao de alguns nossos |)liilolo- gos ' ; espulsos, i)orem, em 17E)9, as cadeiras vagas foram providas em varoes ahalisados em conlicciiuenlos ; c desdc aquella cpoclia meraoravel, uma serie brillianle de professores egregios se icm succcdido na regciicia das aulas, dcvcndo conlar-se 'neste iiumero Jero- nymo Soares Barbosa, de ciija vida e escri- plos vamos dar rcsumidissinia ivolicia. Nasceu Jcronymo Soares Barbosa, cm An- ciao a 24 de Janeiro de 1737. Foi cducado no seniinario episcopal de Coimbra, c 'nelle se ordenou de presbytcro em 1702, c exerccu o cargo de mcstre. Em 17 06 foi despachado professor de rhe- torica e poetica na universidadc de Coimbra, e em i\ do jullio de 17CS fez a sua forma- tura na faculdado de canones. Foi nomeado socio da acadeniia real das sciencias de Lisboa em 4 de marco de 1780; jubilado na cadeira do rhetorica e poetica em 23 de fevcreiro de 1790; nomeado visitador das cscbolas de primeiras Iclras, c da lingua latina na provcdoria de Coimbra em 8 de jiitho de 1792; encarregado de promover, e dirigir as edicocs dos auctores classicos para uso das cscbolas por aviso de 13 de novem- bro de 1793; nomeado deputado da directo- ria geral das cscbolas da creacao da dicta junta em 11 de dezembro ; socio livre da acadeniia real das sciencias de Lisboa, em 30 de novembro de 1803. Falleceu aos 3 de Ja- neiro de ISlfl. Escrevcu : 1 ." Oralio in gralianim actionem Josepho I. Lusitanoium Reiji Fidelissimo, habila Conim- bricae in (jymnasio publico, el coram frequenti acadeniia V nonas octobris, ab Ilieronijmo Suaresio Barbosa, Presbytcro Ancianensi, et ' i. grave inju3li<;a carregar a esla socieilade toda a culpa ila decadencia de nossas letras, cumo Gzeram os atictures do famoso Ciimperidia Hiitjrictt, tendo em puu- ca, ou nenhiiiiia cuiita a iofetiz batalba de Alcacerkiblr, o captiveiro de se«scnta annos, e os seleiita e cincu de porGosa giierra, f\»G se segniram a reslaurai^rio. Diz-nos o eruditisslmo Joao Pedro Ribciro, nas snas ReflexSes Ffistoricas, que urn dos collalxiradoros da J'arte do niesmo com|>efldio, relalrva as sciencias naturaes, con- fessou a torlura, eni que se arliara, precisando irapn- l^r aos Jesuitaa tambem a corr«p(;iio. enlre nos, da chi- lilicloricae Poeticneque Profesinre Rcgto nti/i^r iiiauyurnln. cum jmblica J/iimaiiilalis stuJia (tc uwre in.itaurarciitur. Oliupnne 1707. Com uma dedicatoria ao conde de Ociras, Sebasiiao Jose de Carvalbo e Mello, cscripta em lalini. 0 egrcgio merecimento d'este professor, e omuito, que d'elle sc devia esperar, conhece- ram os crudilos, que ccnsuraram csta oragao. 0 dr. Fr. .loiio Baplista de S. Caetano, diz: « ,lii sera facil ver renascer no nosso paiz OS Teives, os Uezendcs, os Gouvi-as, os Ozo- rios, OS Paivas, os Fernandes, c outros: nos viinios tornando ao ponto, em ([ue estcs mestres de Portugal, etoda a Europa sabia nos tinham posto; 0 auctor d'esta oracao, o sabio mcstre de elocjuencia e poetica, Jeronymo Soares Barbosa, nos e abonador d'esta ventura. » 0 famigerado dr. Fr. Manuel do Cenaculo, se explica assim: « Esta oracao e ornada com babito latino, formalisada com arte: conlem boa pliilosopliia e cbrista, e e dirigida sabia- meute ao seu lim por sugeito, que a trabalhou com desempenbo da sua prnlissao. Ella 6 tcstemunba da capacidade do auctor, e de que leui vocacao para este emprego, exerci- tado nas cscbolas, cm que Ibe prccederam, cm bora seculo, pcssoas egregias, que elle sabe muito bem imitar. Os homens intelli- gentes liao de cstiuiar este discurso: elle pode servir de cxempio aquelles, que ainda carccam de ser formados para gostarcra d'este estylo, isto e, do seculo de Augusto, e de Mecenas. » Coube tarabcra ccnsnrar csta oracao ao esclarccido professor de rbctorica, e de logica no real collegio dos nobres, c prior de S. Lourenco, .lose Caetano de Mesquita, editor de alguns de nossos bons classicos c traductor exccllcnte das Obrigacoes Civis de Saucto Am- brosio. dos Sermoes de 3IassiIlon. e outros escriptores; var.ao de muita, e mui depurada litieratura, de cnja cxtensa censura lirarcraos alguns Irecbos. II live eu, diz elle, a fortuna de cxarainar a .leronymo Soares na opposicao, que fez a cadeira que occupa: e 'nelle cncontrei um profundo estudo dos rhetoricos grcgos e ro- manos, e uma tal prescnca de suas doutrinas as raais particulares, que parecia que 'naquel- la bora acabava de os ler. Mas como tem um entendimcnto siio, a sua licao nao era cega e escrava, como a d'aquelles, que aos noraes de Ai^isloteles, llerraogcnes, Longino, Cicero, c Quintiliano, se sujeitam sem niais cxame; era feita com sabia escoiha ereflcxao, ecora aq^le^ la libcrdade prudente, que os homens bons pbilosopbos e criticos practicam boje melhor do que nunca, abraeando somente o que se funda cm razao solida, sem altcnder a pom- posos nonies o « Todos OS logares difficullosos dos AA., que explicou, deram a conliecer que sabia 261 ser mestie, e expor as doutrinns com lal cla- reza e ordeni, que os discipulos d'cllas nao haviain de perdcr nada » « Fez 0 grande esforro de por era diverso latini, bem nobre, parte do exordio da ora- fao de Cicero a favor d'el-rei Dejotaro; e isto 0 fez com tauta facilidade, que beni mostrava, que sabia o que era ser bom ora- dor, e orador latino. » (( Mas isto mostra elle agora 'nesta oracao. . . Certamente esta oracao faz honra ao novo restabeiecimento dos estudos em todas as suas partes, mas sobretudo no estylo, que e ver- dadeiramcnte latino, proprio do caractor da lingua romana, mas executado com unia libcr- dade nobre, e segundo o gcnio particular do orador, que dcixando a servil e supersliciosa imitacao d'cste ou d'aquelle escriptor, canii- nha senlior de si pelo dilatado campo da lin- gua dos sabios ...» 2.° 31. Fahii Qnintiliani JnslUuliones Ora- toriae, quas ex cjusdem Xll libris selet/it, digessit, emendavit, etc. IJieronyraus Suaresius Barbosa. Edirao niuitas vezes repelida — 8.° E um bello compendio, ainda, lia poucos annos, usado na aula de rheto-ica no lyceu nacional de Coimbra, e outras do rcino, com preferencia ao de Rollin, e ao de Pedro Jose da Fonseca. 3.° Oraliones XV, habilae in Academia Co- nimbricensi , et Epistolae Nuncupatoriae XX. — fol. As oracoes foram incorrcctamente publica- das DO Jornal de Coimbra, segundo testilica Jose Vicente Gomes de Moura na primeira parte da sua Nolicia Succinia dos Monumen- tos da Lingua Lalina. — pag. 248. 4." InstituicOes Oratorias de M. Fabio Quintiliano, escoUndas dos sens XII livros Iradiizidas em liuguagem, e illustradas com notas crilicas, hisluricas, e rheloricas, para uso dos que apreitdem. Coimbra 2 vol. em 8." — Tom. 1 em 1788 ; torn. 2 em 1790. Edi- cao ri'petida em Paris cm 183G, corrcgida, e revista com o mais escrupuloso cuidado; e em Coimbra 'neste mesmo anno. Fallando d'esta obra na sua ja citada parte da Aoticia snccinta dos Monumentos da Lin- gua Lnlina, pag. 12i, diz Jose Vicente: « 0 mesmo eruditissimo professor verteu em portuguez eslc scu compendio, juntando- Ihe unia bem trabalhada prefajao, em que enumera, e julga as versOes portuguezas de Quintiliano, e em notas copiosas e clieias de doutrina vasla e solida explana os preceitos de rhetorica. Vera no lim por cxlenso os loga- res dos escriptores grcgos c romanos, citadcs por Quintiliano. » Francisco Freire de Carvalbo, enumerando na prefafao das suas Limes elemenlares de Elofjitencia Nacional os A\., que consultara para compor esta sua obra, nao se pcja de confessar, que em grande parte copidra, entry outros, a Jeronymo Scares Barbosa, que cita em seguida ao famoso Ilugo Blair. 0 sr. Antonio Cardoso Borges de Figuei- redo tambeni declara, no prologo das suas LicOes Elementares de Rhetorica, que d'este grande mestre colbora a maior, e mcHior parte das suas doutrinas. 5.° Poetica de lloracio, traduzida e expli- cada melhodicamente para uso dos que npren- dem; por Jerongmo Soares Barbosa, jubilado na cadeira de Eloquencia e Poesia da Univer- sidade de Coimbra. Coimbra, 1791 — 8.° — Lisboa, 181o. Esta traduccao e cm verso porlugucz, ri- mado cm parelhas, por ventura para lazer mais aprazivel a sua licao, e facilitar a me- mona a quem a quizcr decorar. Esta obra conjunctamente com as InstituicOes Oratorias de Quintiliano completam o curso do bellas letras, que fazia o objccto da cadeira de Je- ronymo Soarcs. Falando da Arte Poetica, diz- Jose Vicente : « 'Neste opusculo, repulado sempre com ra- zao pelo melbor codigo do bom goslo que a antiguidade sabia nos dcixou, soube aquelle eruditissimo bumanista acliar, como 'num breve clencho, um systema de arte poetica, que desinvolve, analysando suas partes, con- firmando-as com razOes iiitrinsccas, e exem- plos, e applicando o que ale entao se bavia pensado mais apuradamenlo sobre esta disci- plina. » C.° Eschola Popular das Primeiras Letras. — Coimbra, 179ti — 8.° 7.° Epitome Universae Ilistoriae. Conim- bricae, 1803 — 8.° — Reimprimiu-se em 1827. Contem o compendio de Uistoria Universal, desde a creacao do nuindo ate Carlos JIagno, escriplo originalmente em francez por Bo.-suet, traduzido em latini por Manuel Parlauco; a Introduccdo a Geograpliia, deCluvcrio; a In- Irodiiccao a Clironologia, de Petavio; e o Compendio de Uistoria Portugueza, [anlo anti- ga como nioderna, em cuja composicao sc- guiu OS Elogios do ipadre Antonio Pereira de Figueiredo, omittindo, porem, aquellas cousas que a brevidade exigiu, emendando os erros que Ihe tinliam escapado, e reduzindo ao estylo bistorico o que bavia de oratorio. Cbega ate o anno de 1800. Foi compendio approvado para uso das escholas por aviso de ii de mareo de 180u, e rejiutado obra de tao apurada critica, (|ue o doutor .Manuel Antonio Coelho da Rocba, nao duvidou se- guil-o no seu Ensaio sobre a Uistoria do Go- verno e da Legislacao de Portugal, etc. 262 8.° At Duas Linguas. ou Grammatica Phi- losophiea da Litujua Portiigxteza comparada com a LaliiHt para vc aprendeiem ao mesmo tempo. — Comlira, 1S(I7 — 8." As Duaf: Liiujiias foi a prinieira olira, que Porliigal viu 'uesle gencro, iia qual sen auctor raostrou cxccutadoj os descjos de Kohoredo, e que dcvc scivir do norma a lodos os com- pendios, que, para o fuluro, se puMicarem para use das cscliolas piihlicas do lalim; o que coiilem, em resumo, quanto os aniisos e modernos icm pciisado sobre grammatica do niais solido, e apurado 9." Grammatica Philo.inphica da Lingua Portwjucza. — Lisboa, 1822 — 4." — Foi im- prcssa de ordem, e a custa da academia real das sciencias de Lisboa. 10.° Oliservacoes Granimaiicaes sobre os principaes Classicos Porluguezes. 1 vol. — 8." (Inedilo). 11.° l)o Coracao de Jesus, art da Aberlura do Lado, Lisboa", 1802 — 4.° 12.° Verdadeira Idea da ConversCio do Pec- cador. — 1 vol. — 8.° (Inedilo). E facil de ver, depois da cnumeracao das obras, que cscrevcu Jeronymo Soarcs Barbo- sa, 0 quanlo devc a nossa litteratura a este faniigcrado bumauista. Na Eschola Popular lanfou os fundamentos solidos do ensino niethodico das primeiras lelras, que se generalisou em todo o reino pela diligencia dcsvelada da dircctoria geral dos estudos e cscholas do reino. Publicando as Duas Linguas cstabelcceu o niethodo sao do ensino da grammatica, diver- se do anligo e sectario, nictbodo unico, que deve seguir-sc nas escholas. Pelas versocs e nolas das Insliluir.des Ora- iorias de Quintiliano, e da Arte Poclica de Doracio, esdareccu e ajudou o esludo da elo- quencia prosaica e poetica. E lastima que este eminente philologo nao deixasse a nacao uni Curso de Litteratura, que pela sua proiissao, [lelo seu dislincto ta- lento, e pela sua profunda licao, devia dar- ihe. E, tambem, pena, que se nao publicassem ainda as suas Obsermcoes Grammalicaes sobre OS principaes classicos porluguezes. Sendo ccrto, que alguns dos nossos classi- cos neui semiire I'orani felizes na coordenacao de suas orafOes, conimettendo I'altas, de que mui justamente os argiiem alguns philologos modernos, nao o c nienos, que existe, entre nos, uma seita de supersliciosos, que, per conta de escriptorcs purilanos, que se incul- cara, imitani desatinadamente essas construc- coes viciosas, crendo-se, por isso, livres de imputacao, como se o non ego paucis offcndar maculis iUiuclles, como a Barros, Coulo, Ca- mOes, e outros escriplores d'cste tonio, fosse egualmenle applicavel. Crcmos nos, que, para desabusar estes illu- sos, multo Valeria a leitura d'esia obra, (pie de juizo tao lino como o do auctor cspe- ramos nos, que apiinlaria todos os dcsacerios e mancbas d'esles bonissimos escriplores, em- bora disfarcadas pelos malizes de urn estylo c linguagcm, pela mor parte, seduclora. C«nlillU,l. F. A. R. DB GUSlllO. HISTORIA DA CONJURAQAO DE CATILINA poll S.VLLl'STIO. TUADCC(;.\0 rORTL'filEZ.i. Cunliniiado de png. 234. XVII. Portanio, proximo ao 1.° de ju- nbo, sendo consules L. Cesar e C. Figulo, comocou a conferenciar com cada um: ani- niava este, sondava aquelle, rcprescntava as forcas que tinbam, a falta de defesa da re- publica, e as grandes vantagens da conjura- cao. Depois de explorar bcm o que queria, convocou OS mais indigentes e atrevidos. Acliaram-se alii, — da ordem sanatoria, P. Lenlulo Sura, P. Autronio, L. Cassio Longi- no. C. Cetbego, P. e Servio Sylla, ambos (i- Ibos de Sylla, L. Yargunteio, Q. Annio, M. Porcio Leca, L. Bestia, Q. Curio: — da or- dem equcslre, M. Fulvio Nobilior, L. Stalilio, P. Gabinio Capilo, c C. Cornelio; e outras nuiitas pcssoas nobres das colonias e muni- cipios. Entravam aiuda na conjuracan, mas com mais resguardo, muitos outros nobres, estimulados, mais pela esperanca dcgovcrnar, do que pela pobreza, ou quali(uer outra nc- cessidadc. Alem d'estes, favoreciam osprojcctos de Calilina a maior parte dos mocos, sobrc- tudo da nobreza; os quaes, podendo viver cm ocio, no fausto e na mollcza, preferiam o incerto ao certo, a guerra a paz. llouvc tam- bem 'naqucllc tempo quem pensasse, ([ue M. Licinio Crasso fora sabedor da conjuracao; porque, inimigo de Cn. Pompeo, (jue cora- mandava um grande exercito, queria ver po- deroeo a qualquer outro, que conlrabalancasse com 0 seuo podir d'elle: persuadido tambem, que seria o primciro entre os conjurados, se a conjuracao sortisse elfeilo. Poreni ja d'antcs baviam alguns, e entre clles Calilina, urdido outra conjuracao. Fallarei d'esta com a niaior vcrdadc possivel. XVIII. No consulado de L. Tullo c M. Lepido, P. Autronio e P. Sulla, consules de- signados, foram judicialmente couvencidos e castigados pelo crime de suborno. Pouco de- pois Catilina, accusado de concussao, tinha sido j)robibido de pedir o consulado, por nao -263 I ter podido dar o seu nome dentro do prazo legal. Existla cntao Cn. I'isao, nioco disliiu'to, de sunima audacia, pobre, intrigante, a ([uein a pobrcza e inaos costumes impelliara a I'o- mcntar suhlevacOes no estado. Tendo Catilina e Autronio coiiinninicado a cste o seu proje- cto perto de o de dezenibro, resolveram ma- tar no Capitoiio, no 1." de Janeiro, os consu- les L. Cotta e L. Torqualo; e, usurpando as faclias consulares, mandar Pisao com um exercilo apossar-sc d'ambas as Ilispaniias. Como isto se descobriu, iransferiram de novo a cxecucao da matanca para 5 de Cevereiro, com lenrao do assassinar nao so os consules, mas tanibera a niaior parte dos senadores: de sorte, que, so Catilina nao se anticipassc cm dar, a porta da curia, o signal aos conjura- dos, 'naquelle dia se teria commettido o luais horrendo atlontado, que se vira dosde a fun- dacao de Roma. Como ainda nao estava jun- cto bastante numero de conjurados arniados, aquelle accidente frustrou a tcntaliva. XIX. I'isao depois foi mandado, na qua- lidade de questor proprctor, para a Hispanha citerior, a instancias de Crasso, que o tinba por opposto aos do partido de Pompeo. 0 se- nado lambem nao teve repugnancia em Ibe dar aquella provincia: qiieria d'este modo afaslar para longe da rcpubiica um homem perverso; e lambem, porque rauitos bomens de bem julgavam ter 'neile um baluarte con- tra 0 podcr de Pompeo, que ja entao come- cava a dar receios. Porem Pisao foi morto no caminlio por alguns cavalleiros espanboes, que levava no exercito. Dizem uns, que aquellcs barbaros nao podcram sofirer o seu governo injusto, soberbo e cruel: e outros, que 0 mataram, para fazer services a Pom- peo, de qucra eram aniigos e lieis clientes; pols que nunca em outros tempos os espa- nboes comnu'tteram similhantc crime, tendo alias tido muitos outros commandantes crueis. .Sobre isto nada decidircmos. D'esta primeira conjurafao temos dicto as.^iis. XX. Catilina, depois do ajuular todos os que aciraa referi, ainda que tinba conferen- ciado muito com cada um em particular, jul- gando sempre util fallar e exbortar a todos em geral; retirou-se para o quarto mais inte- rior das casas, e alii, desviando os que po- diam dar fe, Ibcs fez a falla seguinle: « Se cu nao tivesse bastantes provas da '( vossa fidelidade e valor, debalde se nos « appresentaria a melhor das occasioes; de " nada nos serviria ter nas maos tao grandes aesperancas de govcrnar: com fracos c in- « constantes, nao deixaria cu o cerlo pelo du- « vidoso. Porem, como em rauitos e grandes « perigos conbeci vossa intrepidez e constan- « cia, por isso me atrevi a conceber a niaior '< e raais brilbante das cnipresas: e lambem, >( porque cstou certo, que os bens e os males « sao para vos os mesmos que para mini; pois na conformidadc em quercr e nao quercr e que consisle a verdadeira amizade. « Cada um de vos em particular ja ouviu OS mcus designios. Meu animo, porem, in- llama-se cada vcz mais, quando considero, que sorte nos cspera, se nao rccupcramos a liberdade por nossas proprias maos. Porque, depois que a repiiblica esta debaixo do po- der c a disposijao de uns poucos, para oslcs so e que os reis e os letrarcbas sao tributarios; para estes e que os povos e as nacoes pagam impostos: e nos, os valorosos, OS honrados, nobres e plebeos, sonios gen- talha, sera consideracao, sem auctoridade, sujeitos aquelles mesmos, que, so a repu- blica fosse republica, tremeriam de nos. Ilonras, credito, riquezas, ou estao nas maos d'ellcs, ou onde elles querem: para nos so deixam perigos, aflVontas, condem- nacoes, pobreza. Ale quando solTrereis isto, valentes cidadiios? Nao vale mais niorrer com valor, do que perder com des- bonra uma vida miscravel e ignominiosa, dei>ois de ter sido o ludibrio do orgulho dos outros? Juro-o pelos deuses e pelos bo- mens: temos a victoria nas maos. Em nos ba valor no espirito, vigor nos annos: 'nclles, pelo contrario, os annos e a opu- lencia enervaram tudo. Falta so comocar: 0 mais serii facil. Que homem, verdadeira- mente liomem, podera sofl'rer, que elles abundem em riquezas, que despordicam editicando sobre o mar, e arrasando mon- ies; e que a nos nos falte o necessario para a vida? que elles tenbam dois e mais pala- cios junclos, e que nos nao tenbamos ura pobre lar em parte alguma? E por mais quadros, eslatuas e baixellas, que com- prem ; por mais cdillcios novos, ([uc des- mancbcni e tornem a edilicar; cmlim, por raais tractos que deem ao dinbeiro, (]ue es- perdicam; ainda assim nao podem exhau- ril-o com sens interminaveis appetites. Nos, porem, temos em casa penuria , fora d'ella dividas, um presente miseravel, um future rauito peior. Que nos resta, senao uma vida desgracadissinia ? « Porque nao acordaes emfim? Eil-a, eil-a, aquella liberdade, que ha tanto desejacs; e com ella, diante dos olhos lendes riquezas, dignidades, gloria: estes os premios, que a fortuna reserva para os v ncedorcs. A em- presa, a occasiao, os perigos, a pobreza, os magnificos espolios da guerra aniniera-vos mais, do que as rainbas palavras. Toniac-rae por general, ou por soldado: nem a minha alraa ncm o meu braco vos deixarao jamais. Espero ver-me consul, e cxecutar comvosco cste projecto; se e que o corafiio rae nao engana, e vos nao cstacs dispostos, antes a ser escravos, do que senbores. « XXI. Depois que isto ouviram, bomens, que, sem esperanca nem bens alguns, abun- 26i davara em todos os males; ainda que llies parecia ja giaiule recomponsa o pertitrhar a quiclacao piiblica, pcdiram-ihe i-omtudo al- giius, 'iiue cxpozesse, qiial seria a forma da guerra ; quaes os prcraios da vicloiia ; que recursos c esperanras tinham. Enlao Cati- lina promclleu-llies a abolirao das dividas, a proscripeao dos licos, as magistraturas, os sacerdocios, o saque, e o mais ludo, que c consequencia da guerra e da lirenra da vi- ctoria: que, alem d'isso, estava Pisao na Espanha cilerior, eP.Sitlio Nucerino com urn cxercilo na Maurilauia, os quaes ambos cn- travam na conjurarao: que pedia o consuia- do C. Anlouio, a quem csperava ter por col- lega; pessoa aniiga, e avcxada de loda a sorte de necessidades : ((ue cmlira, com este, elle Calilina, ja consul, daria principio a execu- cao. Depois inveelivou contra todos os ho- iuens de probidade; e aos seus louvou-os, chamando a cada urn peio sen nome: lem- brava a este a sua pobrcza, aqueilc os seus desejos, a muitos os perigos e alTrontas, e a maior parte a victoria de Sylla, que Ibes ha- viadado tantas presas. Uepois que os viu todos animados, recoramendou-liies ([ue apoias- sem a sua prelencao, e dcspediu-os. XXII. Nao fa'itou 'naquelle tempo quem dissesse, que Catilina, depois d'esta I'alla, li- gara com jiirameulo os socios do seu crime, dando-liies a bei)er cm tacas sangue liumano niisturado com viubo; e que tendo-o todos libado, depois de varias cxecracoes, como se usa nos sacrilicios soicmnes, Ibes descobrira 0 seu intento; dizcndo, que iizera aquillo, para que, conheeendo-se elles cumpliccs uns dos outros em lao grande atlentado, guardas- sem meliior a fe reciproca. Juigaram porem alguns, ([ue estas e outras muilas cousas, com que se exaggerava a atrocidade dos cri- mes dos que foram casligados, eram de propo- silo inventadas por aquelles, que queriara assim diminuir o odio, que depois se conce- beu contra Cicero. Quanlo a mini, nao lenho bastantes provas, para affirmar um facto tao horrivel. Cuntiniia. KOTICIARIO. A. academia real das scicncias de Paris, pro- poe para objccto de premio em sciencias ma- Ihcmalicas cm 18a8, a qucstao seguinte: Eslabelcccr rigorosamente a proposicao de Legendrc abaixo ennunciada, no caso de ser verdadeira, ou no caso conlrario, raostrar co- mo se devc substituir. — E>ta proposicao foi ennunciada por Legendre [Thcoria dos Numc- ros, t. II, p. 76, da cdicao de 1830) da se- guinte forma : « Supponliaiiws xima progressao nrithmctica qualqucr A — C, 2 A — C, 3A — C, etc., na qual A e C sSo primos cntre si; sup- ponliaiiws tambein uma serie o, x. jji,... i}'. "• cnmposia de I; numeios primos iiiipares, tomor- dos arliitrariamenle e disjiostos 'iiuma ordem (juaUiucr; se chamurmos em geral ■k^''> o lermo da ordem z da scrie natural dos numeros pri- mos 3, 5, 7, 11, etc., digo que enire o««^'~'' lermos consecutivos da progressao proposta, liavcra ao menos um que nao sera divisivel por neiiliiim dos numeros primos e, x, (i i^, a- » Mas a demonslracao de Legendre c evidcn- temente iusulliciente, e ale boje iguora-se .se este bello iheorcma tern realmente logar. — A academia cbania sobre este objecto a attcn- cao dos geoniolras. 0 premio proposlo con- sistira 'numa medalba de euro no valor de 3:000 francos. 0 concurso estara abcrto ate ao 1.° de novembro de 1858. RELACAO lie Dos indiviiitios nomeados pttra os seguiutea logoi insiruc^So publico ttesde o dia 1 ttti 15 de fevereiro uUimfi^ por dvspnclios do conselho superior d'instnie- ^iio publira^ e decrctos do governo communicados ao niesiiiQ conselho no indicado periodo, INSTRUC9J0 PRIMABIA. Joiio da Silva Ribeiro, para professor leniporario da cadeira da Beraposia, districlu d'Aveiro. Joaquim Daniel de Oliveira Araiijo, j>ara dido do Tro- viscal. Manuel Noronba da Silvoira, para dicio de RecardSes. Mauiiel Rodrigues da Veiga, para diclo de Sever do Vouga. Porfirio Baptista Leilao, para ^diclo de Valhelhas, districlo da Ciiiarda. Bento Joaquim de Lemos Leite, para dicto de Sao Cos- me do Val, dislricto de Braga. Jose de Campus, para dicto de Beijt)S, districto de Vi- Manuel Joaquim Guedes, para dicto de Viana do Ca- slello. Manuel Nunes da Costa Junior, para diclo de Suure, districlo de Coimbra. Francisca Bernardinn de Sena Brusclii, para mestra da escliola de mcninas de Sao Miguel d'Alfama da cidade de Lisboa. Anna .\melia Augusta da Malta, para dicto de Oliveira d'Azenieis, districto d'Aveiro. Joaquina Emilia de Jezus, para diclo de Figiieiro, dislricto do Porto. Maria Afra d'Ascen(;ao Correa dWndrade, para dirto de Mafra, districlo de Lisboa. Jose Uuarte Ribeiro, para professor vitalicio da ca- deira de Villa Cova a Coellieira, por transferencia da de Sao Juao da Pesqueira, dislricto de Vizeu, decreto de 4 do correnle. Francisco Bento da Costa, para professor vitalicio da cadeira de Ribafeila, districlo de Vizeu, decreto de 4 do corrente. AN NUNC 10. Novo Melhodo de Lcltura e de Pronunci.irao para se aprender a ler pcifeitamente cm pouco tempo. Ordenado por J. da S. Bandeira. Approvado pelo coiiseltio superior d'inslrucrao piiblica. — Preco 40 rcis. (D Jnstittttir, ^ORINAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. INAUGURAQAO DE UMA ESCHOLA DE INSTRUCQAO PRIMARIA NO FUNCHAL. 0 fragniouto que abaixo piiblicamos, c um ('\lracto (la allociirSo pronuiuiada pcio sr. lonimissario dos esludos no Funclial, por occasiao da inaugiirarao d'unia I'scliola de iiicninas, ciija crcarao lora sollioitada por s. s." Os iiossos Icilores torao por iiiais de iima vpz apreciado os serviros prestados pelo sr. M. R. de MendoDca a causa da instrufjao e da educa- cao. Inransavcl e perscvcranlc, osr. comiiiis- sario dos estudos no Funclial, procura dar o mais serio e decidido inipulso aos estudos, cuja superintendencia llie eslii confiada; e para obt'T lao desejado fira, nao ha nieios que nao cmprcgue, Irabalho a que se poupe: diseuiin- do OS varies niclliodos de ensiiio, coniparan- do-os e niodi(icando-os ; favorecendo a crea- cao de novas escholas, e o niaior desinvolvi- menlo das ja existenles; esforca-se, quanlo em suas forjas cabe, porderraniar a inslruc- cao, e fazer cbegar a lodos os seus incalcula- veis benclicios. Esla causa nao c so a da instruccao; e tambeni a da liberdade e da civilisacao. E pois beni grande o servico que ao nosso paiz esta lazcndo o sr. Mendonca. InstrucciSo, li- berdade e civilisacao, sao ideas correlativas; nao exislcm umas seni as oiUras. « 0 povo que nao for instruido, diz Lerminier, nao esta em esiado de ser livre. » k instruccao c necessaria porquc oca liberdade; favorecer 0 dcrramamento d'aquclla e, por consequcn- cia, pugnar pelos interesses d'esta e contri- buir poderoFanienlc para que lodos a iiossam coniprehcnder c gozar. Portugal, 'nesies ulliraos annos, visivel- mente eNperimentou grandes melhoramentos no que rcspeila ao cnsino. Aperfeicoaram-se OS melhodos; mullipliearam-se as escholas; reformaram-se niuitas; e a outras deu-se maior desinvolvimcnto. Comludo ainda muito rcsla que fazer; e certas partes do ensino, ate agora mcnos considcradas, reclamani por sua vez a allencao dos boinens compctentes. Entro cllas devera, taWez, contar-se a educacao da mu- Iher. Nao pretendo, conio Platao na sua republi- ca, dar a niulhcr a mesnia educacao que ao homem. A soeiedade uioderna nao se accom- VOL. V. Mabco 1.°- moda com siniilhante sysiema, e o destine especial da mulher ainda menos o comporta. Nilo me encarrego de indagar (jual seja a edu- cacao que mais convenha a mullicr, ncm ate que ponto sejao admissiveis as opiniocs moder- nas iiccrca da sua chamada emancipacao. Este trabalbo quando nao excedesse, como excede, as ininbas forcas, Icvar-rae-bia muito longe. Nao deixo, jioreni, de aflirmar mais uraa vez com tanlos e tao illustres mestres, que a educacao da niulber, hoje talvcz mais do que nunca, merece a mais seria attencao, e que, se por um lado convem nao dar pasto a essas innovacoes, que um pouco irrefleclidamente propoem os emancipistas, pelo outro 6 da maior juslica por de parte certos preconceilos pouco dignos do nosso scculo, e minislrar iiquelle sexo, que tanto dircito tern com o nosso a nao jazcr na ignoraneia, os meios de se instruir. N'isso deve cifrar-se a verdadeira emanci- pacao da mulher, a sua parte das conquislas da geracao prcsente, o seu quinhao do pro- gresso. E nao o queira ella niaior; nao queira descer ao regelado positivismo da vida; pcr- niancca rodeada d'aquclla aureola de poesia, que tanto a aforniosea, e quasi a divinisa. Se quize.sseraos emancipar a mulher, perdia- mos a mulher, e nao gaiihavamos um homem; teriamos um cnte privado, por urn lado, "do cofre rico de minios e gracas » que Ihe foi conliado, e pelo outro, sem a forca e o espi- rito de exlerioridade, apanagio exclusive do homem. Nosaos prazeres lodos, nossns gostos, Consolacoes, allivio em magna, amparo Na infancia, incnnt'i cm juvenlude, earrima Na x-elhice, de ti, mulUer, nos partem: Concedel-os tu so, ou nol-os negat. GiRRETT. — D. Dranca, C. 2, III. Sera este, por ventura, o typo da mulher, como 0 conccbem os pensadores m^dernos? A mulher que ellcs iniaginam acaso sera o que diz o poeta? Nao o crcio; e seja-me licito duvidar do rcsultado, quando os meios com que se pretende alcancar sao tao contraries, nao direi so a constiluicao da mulher, mas a organisacao da soeiedade e a sua natureza. I ■ S. U. -1837. Ncm. S3. 266 Ik no scio dc toda a familia honcsta um ser puro c encantador, que parccc attraliir sobrc clla — 'por sua piircza, as beiifaos do ecu, — por seus cucarUos, as liomenagens do niunilo ; moriiiL'ulc ([uaiido die liaja aprondi- do da tradirao do lar domcstico, pela bocca dc unia mac, iitianlo as virludcs alaviam aiiida as mais bellas, quaulo as grajas (icam beiu aiiida lis niais sizudas. Este ser, sem o qua! nao seria lao seiisivel para o bomem a inlinila perteirao de Dcus, e a mulher. A imioceiicia da virgein, o pudor da cspo- sa, a gravidadc da mac de familia, — eis aqui as ircz pbases por onde tern a mulher dc passar da vida da terra para a vida do ecu; e por onde ella passa clTcclivaMR'nie, elevando-se c subiiido seniprc, a medida (pic vai cumprindo com os dcveres de eada posi- cao, com cstes sagrados deveres doiueslicos, que sao toda a sua forca, toda a sua gloria, e d'ella fazem o coracao, quando uao a ca- I)cca, de sua familia. A mulher nao tem a cargo fazer a guer- ra, nam fazer a paz, admiuistrar juslica ncm cxcrccr o miuisterio das cousas sagradas. Seja qual for 0 grau de gcuio, que llic haja doado Deus, a mulher nao lem cadcira no parla- lucnto, nem no conselho de estado, nem na juncta gera! de districto, nem no conselho do dislricto, nem na camara municipal, nem na mais obscura e humilde junta dc paro- thia. Ate ha uma inlinidadc do carreiras, mcs- tcres e protissOes sociaes, cujas portas eslao de conliuuo cerradas para a mulher. E por isso ninguem Ihe pede ccrtos estudos e talcn- los; ninguem exige que ella Icnha as babili- tacoes requcridas pelo cxaclo cumprimento de funccocs que Ihe nao perlenccm, e que — felizmente para clla — uao fazem parte de sua missao providencial sohre a terra. .Mas, cm compensarao de quanlo Ihs fal- lece no ponto de vista politico, a mulher tem na ordcm moral e social um dcstiuo, que, a meu ver, e, a perder de vista, mais nohre, mais sancio, mais auguslo que todo c qual- quer destino politico ; porque assim como Ihe innwe sevcros deveres a cumprir, assim d'ella exige OS maiorcs sacriticios, o maior desinle- rosse e abnegacao pessoal, a praclica das mais austeras virtudes, e, por consequencia, loda a capacidadc, todas as babilitacoes que condicionam o exacto desempenho dos deve- res que Ihe locam na familia, primciro como litlia, dejiois como esposa, c logo como vide c. educadora da prole. Uma mulher judiciosa, sizuda, casta, ar- ranjada, com a alma chcia dc temor de Dcus c amor do proximo, e no seio da familia a imageni da providencia. Mas para ella poder con^cguir e fustcntar csla posicao ; jiara man- ner aordera nos negQcios domesiicos, a despcito da, ma vontade dos servos, dos rcvczcs da forluna, ou dos vicios do marido, oh! de qaantas virludcs nao ha mister a mulher! — de quanta educajao niio carece para nao achar impossivcl a praclica d'cslas viiludcs! — dc que iustrucyao nao precisa para lograr 0 Ihesouro de lao jirimorosa cducarao! A mulher e na familia a primeira educa- dora. Abaixo de Deus, ([ue crcara o lioraem a sua imagem, nao conheco ca na terra ou- tro papel mais nobre, que o da mac de fami- lias, que educa sens tillios. E visto que OS sentimenlos, cren^as e ha- bitos que adquirimos nos primeiros annos, c — para assim dizcr — •em retoucas infaulis sohre os joclhos de uma mac, sao os que mais perduram, os que nos accompanham o reslo da vida, e por venlura os unices que resistcm as anegncas com que nos aggride coustantcmcnlc a corrupcao dcsde o bcrco ate 0 luniulo: se me fora forcoso optar cnlrc a cducafao da raae e do pac de familias, nem um momento hesitaria na escolha; ve- laria pela primeira. Dccm-me hem educada a mulher, que os nihos 0 virao a ser mais ou menos bcra. A superior cducacao do pae pode nao ser-lhes lao presladia. I'or um lado, uegara-lhe a na- lureza esta finura de tacto, este mimo de amor, abnegacao e paciencia, que abundara no cspirito e no coraciio da mulher cm pro- vcito da cducacao da prole. Pelo oulro, os' cuidados de uma familia, as funccoes de um emprego publico, os trahalhos da vida exte- rior, que 0 retem a maior parte do dia fora de casa, nao Ihe deixam livre nem tempo, nem aplidao. nem vontade para curar per si mcsmo, assidua e vanlajosamente, da educa- c.TO dos lilhos. Afora estas consideracoes geraes, outra ha iulciramente especial e do momento, que me induz a ter em conta de mais vanlajosa para 0 hem da socicdade civil, a educacao da mu- lher. E eis aqui as miuhas razocs. Antigamcute, quando a cavallaria e o chri-^'*"*' slianismo crao crencas energicas e vivacissi- .'^' mas na alma de (jualquer liomem, a fraqueza ^^ iSW da mulher, longe de ser um defcilo, era uma^^ i».'xi qualidade de mais que a prolcgia, que a'',^, .^f sanctilicava aos olhos do homem ; porque ' este linha 'n alma assaz de gencrosidade para nao dcixar de respeitar quern nao podia resis- tlr-lhc. E este respeito excepcional, este culto es- ponlaneo e desinlcressado, trihutado a mu- lher, era — para assim dizcr — uma despeza emincntemente productiva, iielles lera a mesma prelerencia, que costu- « mam ter os senhorios das casas uos moveis « que dentro d'ellas se acham, e sem que V para isso seja necessario oulro tilulo, ou « lacto mais que os dos assenlos dos empresti- « mos DOS livros da companliia, veriiicados « com escriplos dos devcdorcs, reconhecidos u por oflicial publico. » Da leitura altenta d'estes dois capilulos vt^-se, sol) toda luz, que a companhia geriil da agrkullura das vinhas do Alto-Douro, ou- lia eousa naoera, senao um Banco Territorial imperfeilo. Alii OS I'undos nao cram representados pelo valor dos Lens terrcaes dos accionislas, mas sim, « metade perfazido pela produccao em vinhas, e metade precisamente em dinheiro, » e egualmente aos lomadores d'emprestimos nao se Ihes exigia a liypolheca das terras; mas I' dos vinhos que cosluuiavam recolher, 0 que ficavam com pinhora filhada a favor da companhia. » Por outra, os Bancos Terri- toriaes d'hoje, alTectam para mais seguranca a propriedade, ao passo que aquella se diri- i;ia immediatamente a produccao. Se produ- ziu niiius resullados, aos innunieros e vexalo- rios privilegios que Ihe foram, por vezes, con- feridos, deveni d'imputar-se. Nao (]ueremos asseveral-o ; — mas se attcn- dennos ao movimenlo e vigoroso inipulso que o niinistro-rei dava 'ne.ssa cpocha ao uossn paiz, (' a attencao que a Europa enlao prestava as Jicoesdiarias e practicas d'elle, e, sohre tudo, a extensao que tomou o nosso conimercio com OS Dossos productos que profusamcnte leva- vam do Brasil a lodos os cmporios europeus OS nossos galeoes, e ao increnicnlo, cmlim, da nossa exportacao do vinho, . . . se attcn- dermos, dizemos, entre rail outras causas, a esses factos, uao sera fora de proposito, e, menos ainda, sera arrojo o ajuizar que Bo- ring linha, 14 annus depois de jiublicadas, rouliecimento das instituicOes da nossa lao famosa Companhia, e por ellas tiuha mode- lado, modilicando-as as que apresenlara a Frcderico o Grande, para a crcacao dos Ban- cos agrarios da Silesia. E possivel que nos enganemos; mas nao parece isso. Ainda assim, se nao temos a orgulhar-nos com a prioridade, tambem nao teraos a acolhel-a de ningueni. Conlinua. A. A. DAS IRMAS DA CARIDADE. Cunliniiado de paR. 245. V. Na organisafSo d'cste admiravel inslilulo das Senas dos pobres ha duas parlicularida- dcs, niui dignas de se notarcm; e que por- vcntura cncerram, ao menos em parte, os elementos para se resolver o problema d'esta sua, jii tao dilalada, e sempre lao viva e lao al'ervorada duracao, passando incolume atra- vez dos tempos, e das revolucoes; e ijue revo- lucOes! E tanto mais nos parece conveniente sus- citar a attencao para este lado, visto que essas niesmas condicoes talvez hajam sido, 'nesta nossa malfadada patria, o principal prelexto para se relardar por tanto tempo a admissao das verdadeiras irnias da caridade; a queni os barbaros e sclvagens, mais d'uma vez, nos sertoes da America, ou nas ilhas da Oceania, ou no coracao do mahoraetismo, teni pergiintado, maravilhados, e hem cren- tes de que nao sao entes humanos: — Como descestes vos do ceu! « A postulante admittida (diz C. Malo) en- tra, como novica, para ser ensinada c anie- slrada, na casa geral, situada em Paris. Este vasto seminario pode considerar-se como 0 berco e a sepultura das iruias da caridade. Com elTeito e alii que se amestram no ser- vice dospobres. D'ahi voani em scu soccorro; e, quando a edade, ou as infermidades, ja Ihes nao perniittem o fazerem-se uteis a hu- manidade padecente, e tambem ahi que vem por lermo religiosamento a uma vida assi- giialada por tantos benelicios » '. E quem nao havera, quo nao se einta, como que arraslado a pensar, com a singeia ingonuidade do neophito selvagem, que esla casa e a morada d'uns aiijos do ceu; que d'ahi sahem a cumprir a niissiio divina ; e que, salisfeita esta, ahi voltam a depor a forma hu- iiiana para de novo se elevarem a niansao do Eterno, ao paraizo, cujas portas lizeram abrir de par cm par para tantos infelizes, que mais do que soccorreram, converleram ! Oeiiv (le S. V. lie I'aiil. 271 « Pode avaliar-se cm mais de trezentas (diz 0 mesmo cscriptor) o nuniero de cazas de caridade eslabelecidas on Franca, e perten- centes todas a esta ordem admiravel. 0 das irraas c, poiico mais ou menos, de duas mil e quinhentas! Recapilulando o numero d'unias e outras, tanto em Franca, como nos paizps cstrangeiros, nao sera exagerado fazer subir 0 das cazas ao de qualrocentas, e o das irmas ao de cinco mil. » Uma so regra, um so pensamenlo, iima so educacao, uma so caza ensinanle, um so espi- rilo; e per consequencia, em todas as partes da terra, nos paizes os mais oppostos, e os mais remotes, uma so ohra, uma so vida ! Quebrae da frondosa arvore, de cujas rai- zes, entranhadas nas profundidades da terra, e eniacadas com a rocha, subia, e se repar- tia pelos seus ramos, uma copiosa e nutriliva seiva, algum d'esscs ramos; planlae-o, embora em boa terra: vede como tarda em desin- volver-se. Talvez nem chegue a lancar raiz. Talvez, depois de a ter lancado, nao possa resistir, falto d'apoio, ao impeto dos ventos, aos rigores do inverno, aos ardores do estio. Desfallecera; e ninguom, ao vel-o, podera reconhecer a mae I'ecunda, de cujos peitos arrancaram o pobre orpbao. Viva imagem Ba Egreja, o instituto das irmas de caridade de Franca, abranje o mun- do inteiro, e nao tem senao um centro; e d"esta unidade recebe o alento, a vida, a perfeicao, e a immortalidade! Prev(5mos as objetcoes Para responder aos poiiticos, seculares ou eclesiasticos, basta- nos apontar-lhcs para a caza de Lisboa, or- pha abandonada; e que, contando apenas trinta e sete annos d'obscura, e quasi invi- sivel duracao, ha ja muilos que e entrada 'numa precoce decrepitude. Mas d'este ponio faliaremos mais d'espaco. Maiores difficuldades antevemos em que nos admittam o nosso bumilde juizo acerca da outra condicao, nao menos essencial, da constante e sempre vicosa vegetacao da gran- de arvore. E forca porom dizel-o, mau grade de poucos que nos lerem ; de poucos, dize- mos, porque os annos passam, e com elles os homens, e a cegucira das paixOes. E as no- vas geracoes, attentando no que se faz em outros paizes melbor cultivados, e ainda nie- Ibor governados, c que ja vao, mais dislan- tes que o nosso, dos tormentosos dias do desmoronamento da sociedade, coraecam de fazer justica aos desvarios d'esses dias; e, em nome d'uraa verdadeira, nao mentida, ii- berdade, estao bcm disposlos a ouvir asverda- des, e por ventura a erguer do p6 da terra as dispersas ruinas dos monumentos sacrosan- ctos, que os vandalos da falsa civiiisacao, pondo a raira mais alto, mas em vao, e ce- gos instrumentos da justica divina, derriba- ram e arrazaram. VI. Como a luz do Evangeibo, as ordens reli- giosas, cncarregadas, desde o principio da Egreja, de o estudarem, e ensinarem, e nao menos de o observarem no mais subido grau de perfeicao, jamais deixaram d'cxercer a sua benelica missao no seio da christandade. Apaga-se aquelie pharol da vida 'nura paiz desventurado; vede-o logo, ao nicsnio tempo, fuigurar briihante 'noutro borisonte. A refor- nia rouba a Egreja uma grande parte da Eu- ropa ; cabe ao novo mundo indemnizal-a. A peninsula bispanbola, catbolica, e fidc- lissima; o Piemonte, (ilho querido da Egreja, afrouxam na sua fe: nao se apaga a luz, mas que alios esforcos para isso! Aqui 0 clero, servo submisso do poder temporal, vegeta apenas. Acola a persegui- cao, extranbas influencias d'um mal disfar- cado anglicanismo, csforcam-se pelo reduzir a essa quasi completa nullidade. E eis que ao mesmo tempo, na protestante Inglaterra, e nos Estados unidos, o numero de fervorosos catholicos, c com elle o das egrejas, das dioceses, e das corporacoes reli- giosas, livre e espontaneamenle se desinvol- ve, e cresce d'um modo maravilhoso ! E a Franca, mais que nunca, eslreita os lacos com a sede da unidade ; e a Austria, a patria do josephismo, quebra e arroja do si as cadeas com que tentara escravisar, 'nesse e nos outros paizes, o imperio espiritual! Em toda a parte apenas serena a tempesta- de, reverte a tolerancia, e a Egreja recobra a sua livre accao, reapparecem egualraente os seus coadjutores, com ou sem urn traje espe- cial, 0 que pouco importa. A cada necessidade o seu remedio, a cada miseria o seu soccorro, e a cada tempo a sua instituicao accomodada a esse tempo. Tal pa- rece manifestar-se a disposicao providencial na creacao, na extinccao, e na resurreicao dos institutos religiosos. Ora o deserto, o mosteiro, e a vida puramente contemplativa do cartucho. Ora a mesraa vida contempla- tiva, mas acompanliada ou dos trabalhos lit- terarios, os mais profundos e aturados, do benedictino; ou das penosas exploracues agra- rias, do trappista. Ora e principalmente a vi- da activa, umas vezes ensinante e predican- te, no missionario; outras no curativo dos enfermos, na redempcao dos captives, e era sunnna no allivio de todas as tao nmltiplica- das e pungcntes nccessidades physicas, intel- lectuaes, e moraes do povo. A philantropia dispensa esses services, a caridade abraca-os. Venham os pobres enfer- mos, e 0 pobre povo de S. Vicente de Paulo ; e decidam qual tem razao. VII. Grande e mui viva era a fe no seculo 17, muitas e varias as ordens religiosas, nume- 272 roso 0 dero secular; c lodavia os forcados das gales, c o pobre povo dos camjios, linham falla dc soccorros espiriliiocs. S. Vicente de Paulo considcrava-os, a uns e oulros, conio irniaos; fugia dos dourados paiacios dos grandes (que todavia tauto o queriani juncto de si) para se eucerrar nas luasmorras, ou ir catbcchisar os pohrcs do campo, e reparlir por elles as esiuolas dos ricos com a divina inslrucrao, que cxcede todos OS thcsouros. Fallavam-lliB, porcra, conipanheiros. Em vac a virluosa condessa dc Gondi, e sou marido, o genera! das gales, appellidaram unia e niuitas vezes, e convidaram com a Iiromossa de grosso legado, quern viesse dou- trinar os numcrosos \assallos das suas terras. Porlini aceriaram no niclhor. O sou tao amado padre Vicente, com apenas niais dous compaulieiros, deram principio, auxiliaJos por aqucllcs lidalgos, a — Coiujreiiardo dos padres du missao, no anno del()2o; propondo-se, confornie ao contraclo cclebrado com os nicsmos scuhores, a niui principalmcnte evan- gclisiirem os vassalos dc suas terras, e os po- bres forjados das gales. Este instituto, cujo nonie e tao vencrado, como 0 das irnias dn caridade, em todo o orbe catliolico, passou, algum tempo depois da sua conslituicao, a occupar o mosteiro de S. Lazaro, em Paris; d'onde Hies veiu, aos l)adres de S. Vicente de Paulo, o nome, pcio qual sao hoje raais conhccidos, de La:u- rislas. Inl'atigavcis missionarios, educadores e mc- stres da mocidade, a Europa, a America, a Asia, ca Oceania, rccehem, por via de gran- de numero d'elles, que cada anno dei\ain a Franca, as luzcs e cousolacoes do Evan- gellio. No imperio turco cspecialmente, na niesnia Constantinopla, as suas escholas eslao pateu- tes aos nicninos e adultos de todas as nafoes c de todas as crencas. Sao elles, o as irraas de caridade, que, pouco a pouco, e insensi- velmente, vao convcrlcndo este povo da cor- rupcao e barbaridade para a verdadeira civi- lisacao ; e dispoem a huura transformaeao, nao exterior e epbemera de trajes e nianei- ras, que pouco val, mas a interior, real, c pcrmanente, d'este cadaver d'iraperio, ba tanto tempo moribundo. As servas dos pobres, desde a sua institui- cao, e conforme a regra que obscrvam, estiSo sujeitas a direccao espiritual dos lazaristas, sem embargo da obedicncia ao Ordinario. « Sao pessoas das freguezias, sob o regi- men de seus parochos (disse o fundador). E se temos a direccao da caza, cm que foram creadas, foi porque aprouve a Deus, para dar nascimento a sua pe(iuena congregacao, ser- vir-se da nossa. ■> Cjrttinua. a. FORJAZ. 0 COMETA DE 13 DE JUNHO. Vomilado atrarez Jo ceii profundu, Pns^oii jiinctu de nus ardeule iiin miindu ! — E a ter achatlu a terra ante sens passos Kizera-o, como a vidnt, piu mil pedai^os ! MOLIERE. E rcalmcntc Iriste ver a emocao que tern causado no mundo, a imprudeucia ou levian- ila ; ou de faclo voltou ao perilielio 'naquella epo- cha, mas nao pode ser observado por causa de circumstaucias especiacs da atlimosphera ou Duvens permanentes, o que algumas vezes tem ja impcdido de reconbecer estes corpos no raomento em que sao accessiveis a nossa vista. Admitlamos que ainda tenba de apparecer 0 coniela de Carlos V. Nunca de certo aslro- nonio algum pensou cm fallar d'esta volta, conio d'um objcclo de espanlo para os habi- tantes do globo. Este coinota esta longc de se encontrar com a terra, pois que a sua orbita tem mais de 30" de incliuacao sobre a ccliplica. Podenios agora, mas so por incidente, discu- tir a queslao theorica, lanlas vczes debatida, da possibilidade do cliO(|ue d'um eoineta com a terra. Arago na sua bclla Aslronomia Po- pular, disse tudo que lia de mais razoavol a este respeito: as suas palavraS nao devem deixar de ser citadas 'uesta occasiao. Arago calculou a probabilidade a favor do cheque, considcrando scparadamenle o que resulta do nucleo do cometa, e o que poderia resultar da raassa fluida que rodeia ou ter- mina Cites corpos, conliecida pelo nome de Cauda. « A respeito do primciro, o unico que po- deria damnificar a terra, diz Arago, acbamos que a jirobabilidade a favor do cboque e de 1 por 28 1 niilbocs. A respeito do segundo a probabilidade e de 10 ou 20 por 281 railliOcs. Admiltamos, por um niomento, que os come- tas eujo nucleo cncontrasse a terra, destruis- sem a cspecie humana; o perigo de raorte, que para cada individuo resullaria da appa- ricao d'um cometa desconliecido, seria exa- ctamente egual ao quo correria, se nao iiou- vesse em unia urna mais do que uma esphcra branca entro 281 milliOes de esplicras, depen- dendo a condemnacao a morle d'esse indivi- duo de tirar a csphera branca na primeira extracfao. « Todo 0 homem dotado de razSo, por mais apegado que seja a vida, rir-se-ha de tao insignilicaute perigo. » Ainda que os coraetas occupara um espaco immi-nso, que excede milhoes de leguas; a niassa d'estcs corpos acha-se realmcnle redu- zida a tenuissimas proporcOes, em con.';equcn- cia da falta de atmospliera nos ponlos do espaco, que os cometas atravessam; d'onde resulta rarefazerem-se infinilamente os flui- dos, que OS formam. A respeito d'este facto importanle que sur- prebendo a primeira vista, mas que facilraen- te se acceita rellexionando-se um pouco, ex- prime-se por este mode o illustre Laplace: « Postoque as caudas dos cometas tenham muitos milbOes de myrianietros, comtudo nao enl'raquecem sensivelmcnte a luz diis estrellas que se observam atravez d'aiiuellas; estas caudas sao portanto extremamente diaphanas, 0 as suas massas provavelracnte inferiorcs as das mais pequenas montanlias da terra. E claro pois que nao podem, polo sou encontro com 0 globo, produzir efleito algum sensivel ; e e provavel que o tenbani envollo muitas vezes, .sem se ter notado. » D'esta maneira se explica o facto de muitos cometas terem passado proximos a certos pla- netas sem Mies causar a menor inlluencia pbysica. » 0 cometa de 1770, diz Delamhre, passou entre Jupiter e os sous satellites, sem causar pcrturbacao alguma sensivel. Os co- metas, pois, nao sao, mesmo para astronomos, mais do que objeclos de pura curiosidade. Sir John llerscbel foi muito mais longe. Diz expressameuto que oacauda do maior cometa de que podemos formar idea, compoe- se do um peqiieno numcro de libras de mate- ria, e talvez so de algumas oncas. » Que bavemos nos, pois, de receiar do cho- que d'um corpo de lao insigniticante massa? Accrescentaremos apenas ao que levamos dicto, que M. Babinet, uina das maiorcs au- ctoridados da epoclia em astronomia pbysica, cbegou a dizer, talvez exageradamente, mas approximando-se muito da verdade: n que so um cometa encontrasse a terra, esta nao soffrcria maior abalo, do que podia experi- mentar um imiuenso comboy correndo por um caminbo de ferro, e encontrando uma niosca. " O auctor do artigo de que fallamos, nao receiou dar a este respeito uma licao a .Mr. Babinet, recordando-lbe que qualqucr materia, aiiula quo seja impalpavel — um nevoeiro ou um vapor — sendo animado do grande velo- cidade, pode produzir cfl'eitos destruidores ; mas 0 auctor anonymo desse artigo, csqueceu- se de ([ue os cometas nao sao dolados de uma grande velocidade, scnao quando eslao muito perto do sol ; que a uma distancia egual a d'este astro a terra, turn perdido quasi toda a sua velocidade; que a uma distancia um 274 pouco maior, csiao rclalivameiUc immoveis; (luo cm toilos OS caso?, como niuito hem nola M. L« Vorrier, os comelas lazem parte do nosso sysieiaa solar; c que o crcailor do Uiii- vorso leve cm conta a inassa c moviiucnlos d'e^tcs corpos, ao estabclecer as Icis de esla- hilidadc do nosso systeina planclario, — Icis (|uc lOm causado a admiracao dos grandes ge- iiios, (iiif icni sahido desenvolvel-as ou com- prehcndcl-as. -Mas oiicamos >[. Bahinet. Os irilcressantcs e curiosos resiiltados, (jiie ingeiiliosameiUe acaba de api)rcsenlar a acadeiuia real das scicncias de Paris, sac dignos de aqui screm arcbivados. Eslc iihistrc aslronomo dcmonslrou que: 1.° Uma camada d'ar apenas de um mil- limelro de cspessiira, traiisporlada a regiao pcrcorrida per um cometa e illuiuinada pelo sol, seria niuito niais brilliante que o cometa. 2.° I'm cometa, cujo volume fosse o da terra, niio pcza niais de '30:0UO kilogramuias. | Para cliegar a eslcs resultados M. Babinet, I parte do facto fundamental, que rcpetidas observacocs tcm plenamente contirmado; de que atravcz da niassa d'um cometa se vecra | sem porda sensivcl de luz as cslrellas de | decima e undecima grandeza, e as vezes de grandeza inferior. Entre os obscrvadores que frequenteincnte Icm provado este facto de optica, cncontram- se M.M. llerscbel, Piazzi, Bessel, Slruve e Hind. 0 cometa de 18"2S formava uni globo de perto de 123:000 Icguas de diametro, e M. Struve viu atravcz do nucleo uma estrel- la da undecima grandeza, .tiem que se podessc notar diminuicao algunia no brilbo da estrcl- la. Portanto a interposioao de um cometa illu- niinado pelo sol, nao enfraquece sensivelmen- le 0 brilbo da cstrella, deante da qual forma uma rede luminosa. Em pbysica demonstra-se, que quando dois focos luminosos brilbam simultaneamente, e 1 preciso que a luz mais fraca tenlia -rr da intensidade da outra, para desapparecer dean- te do brilbo d'esta. Poslo isto, a rede lumi- nosa que forma o cometa collocado deante da cstrella, nao tcm — do brilbo da cstrella, 00 porque, a nao ser assim, a luz da cstrella seria offuscada pela do cometa. Logo, quando muilo, pode estabelecer-se que a intensidade da luz 1 do cometa e -ttt da da cstrella. Logo seria 00 prcciso que o cometa fosse 3600 vezes mais brilhante para fazer desapparecer uma cstrel- la de undecima grandeza; e como, pelos da- dos do observatorio de Oxford, colligidos e discutidos por M. Pogson, uma cstrella de undecima grandeza e 250 vezes menos bri- Ibante, que uma da quiiita grandeza, seria prcciso que um cometa fosse 900:000 vczcs mais brilliante para fazer desapparecer uma cstrella da ipiinta grandeza. Ora a nossa atbmospliera illuminada pela lua chcia faz desapparecer todas as estrcllas infcriores as da quarta grandeza, e por isso c 000:000 vezes mais brilliante que a massa do cometa illuniinado pelo sol: mas a lua chcia e segun- do Wollaslon, 800:000 vezes menos brilbaa- te que 0 sol, e portanto a nossa atbmosplie- ra, illuminada pelo sol seria 720:000.000.000 mais brilliante que o cometa. M. Babinet tracla era seguida de deter- niiuar a densidade dos conietas. Por conside- racoes analogas as precedentes cbega a esle resultado: u que um cometa deve scr cquipa- rado a um fliiido que se dilate por forma que occupe um volume i'kOOO.OOO.OOO.OOO de vezes maior que a almosphera. » Resulta d'estas consideracocs, quo tanto a massa como a densidade d'um cometa sac inliiiitamcnte pequenas, de tal sorle que, segundo M. Babinet, pode dizer-se, ijue uma camada d'ar apenas do um niillimelro de cspcssura transportada a rcgiao d'um cometa, c illuminada pelo sol, produziria todas as ap- parencias physicas d'um cometa, isto t, teria 0 mesmo brilbo luminoso e a mesma densi- sidade. Estabelecida a densidade d'um cometa, M. Babinet avalia o pczo total d'um astro d'este gcnero de dimensOes dadas. Adiuittindo que a densidade da materia d'um cometa pode scr egualada, como acaba- inos de mostrar, ao ar atbmospberico d'uma densidade 43:000.000.000.000 de vezes rae- nor, 0 pezo d'um cometa seria apenas o da terra, diininuida a densidade d'esta na rela- cao da unidade para o numcro 104:000.000.000.000.000.000.000. Feito 0 cakulo acba-sc que um cometa das dimcnsoes da terra nao pesaria mais que 30:000 kilogrammas, isto e, nao excederia o pezo de 30 metres cubicos de agua. Seria pois inleiramente iiullo o cheque d'uma substancia gazosa, reduzida a este in- comiuensuravcl cstado de divisao. E muito provavel, em razao da excessiva tenuidade da inassa dos cometas, que nenhuma parcella da sua materia, podessc penetrar nas partes mais clevadas e menos densas da atniospbera, e que por conseguintc o encontro d'um tal corpo com a terra, passaria inteiraraente desappercebido. Mas no caso de que se tracta, nao pode ler applicacao o que acabamos de dizer, por- que 0 cometa de Carlos V passa a grande distancia da orbita terrestre. Este coniela, cuja revolucao se fixou em 292 annos, devia tornar a apparecer em 1848; mas nao sendo vislo 'nesse anno tra- ctarani os aslrononios de descobrir a causa da sua retardacao. L'm observador boUandcz, 275 M. Bommo de Middelbourg, foi o priraeiro que reconheceu que na delcrminafao da or- bita d'esle astro se nao havia tido em coiUa as perturhafoi's, que o podiam ler retardado depois dc 1264, e mais reccntemcnte dcsde 1530. M. Borame fez cnlSo de novo o calculo para provar a idenlidade dos dois comelas de 1204 c 1530, attendendo .is perturbaroes que llie podiam causar os planetas Jiipiler, Saturno, Urano, Neptuno, Marie, Venus e a Terra. Era resultado dos scus trahallios M. Boninie li\ou a cpoclia da apparirao do co- raela para o mez d'agoslo de 1838; mas at- tendendo em scparado as causas de erro que podiam resullar de pcrlurbacOes indeleimi- nadas, reconheceu no calculo a possibilidade d'um erro de dois annos para mais ou para mcnos. Ve-se pois, por estes dados, que e possivel at6, que 0 cometa so appareca em 1800; e que lixar a sua apparicao para o dia I'i de junho de 1837, e unia supposicao inteira- niente graluila. Quanto a possibilidade de um conllicto qualquer entrc cste cometa c o nosso globo, como o astro annunciado passa a distancia dc 700 leguas da terra, nao ha motivo para o minimo receio. A.lem de que M. Babinet da-nos as niaiores garanlias de seguranfa com as suas consoladoras avalia- cOes, que demonstram d'lima niancira decisi- va, que um cometa, em geral, ornado de cxlensa cauda, ou privado d'este brilhante appendice, nao e na realidade mais do que um boneco de materia gazosa, que passeia nos espacos celestes. (La Presse.) LUiz FIGUIER. BIBLIOGRAPHIA. Vmw'wo a^v^\o — fOT Sosi ?*\av\a it \ViYt\i, VtwVe, taVVtiraVvco ia, \at\v\4aie, it \\\u\o*0'\Aua ua Ai*\\itYS\\o,it it tom\)Va — \8ol — tou\\.\)viv. iTftY^fftSR. ia \5Vvvtv4\iait. Em nilidissima cdicao acaba de saliir dos prclos da universidade cste livro iiiiportante, que 'nura quadro bem trarado aprescnta, como em relevo, o estado actual da iiistruccao piiblica em Portugal. Tem esla, desde 183i, passado portantas, taoencontradas crepctidas reformas, e acliam-se ainda os seus diversos eslabelecimcntos tao desligados uns dos outros, que mcsmo dciitro do jiaiz, poucos ba que possuam conhecimento cabal da sua organi- sa^fio, do sen movimcnlo e da sua economia. Dos extrangeiros e tudo isto quasi coniplcla- mentc ignorado, recorrendo ainila hoje muitos d'elles a EstacUslica de Portugal por Balbi, imprcssa em Paris cm 1822, para ajuizarem da organisa^ao actual do ensino publico entrc nos. Foi cm consequencia d'osta ignorancia quasi absoluta, e por lalta de noticias escri- |)tas a que podesse soccorrer-se, que, ainda lia pouco, em 1833, o governo francez sc viu ohrigado a dirigir-se ao nosso governo, pediiido-lhc a remessa dos progranunas dos nossos estabelecimcntos d'instrucfao sujierior, por onde viesse no conhccimculo, tanlo das niaterias 'nelles professadas, como dos metho- dos d'ensino alii seguidos. 0 sr. Jose Maria de Abrcu, a quem a instruccao piiblica em Portugal e jii devedora de mui provcitosos trabalhos', com o zelo e esmero com que .sabe desempenhal-os, veiu satisl'azer com esta publicacao uma necessida- de geralmeiite reconhecida. Pondo, com toda a clareza e boa disposicao, a vista do lei tor o esta- do da nossa instruccao piiblica nos seus diver- sos ramos, d'instruccao primaiia, d'instruccao secundaria, d'instruccao professional, c supe- rior, e iis duas ultimas que da maior desin- voivimcnto, a fim de que os seus diversos estabelecimcntos possam mais devidamente ser avaliados e comparados entre si. Alem do pes- soal, ahi so encontram mencionadas com toda a especificacao as disciplinas preparatorias, que se exigcui para a admissao nas diversas escholas efaculdades; as matcrias que 'nellas so professani; a ordem em que se seguem; os coiupendios por onde sc estudam. Os orde- nados dos professores, o custeio dos estabele- cimentos, c todas as outras verbas de despeza na instruccao piiblica, bem como as da recei- ta provcnienle de matriculas, compra de li- vros, e mais propinas pagas pelos alumnos, tudo vem devida e claramente especiticado. 0 actual systema de concursos para provi- mento das cadeiras que estao debaixo da in,;peccao do consclho superior d'instruccao piiblica, e OS prograramas para ellcs adopta- dos, tambem alii se aciiam conveuientemente desinvolvidos. Foi, como era de razao, com preferencia para a nossa Universidade, que 'neste scu traballio reuniu o illustre academico noticias mais niiudas c interessantcs, tanto para pro- fessores, como para alumnos. Para ellcs o calendario, a folhinha academica, e outras muilas curiosidades interessantcs, lornarao cste Almniuih um manual quasi indispensa- vel. E para todos, tanlo nossos como extra- nhos, que dcsejam ter conhecimento exacto do ensino publico cm Portugal, scni cste livro 0 primeiro que podc satislazel-os. Desejauios ardentemcnlc que o sr. dr. J. M, d'.Vbreu prosiga na contiuuacao d'este proveiloso trabalho, e que os Almanaks dos annos scguintes, apprcsentando-nos, com os ' Knlre outros • — Leghlariio Academica, desde os Eslalulos de 177S ate 1R50 inclusiri. Coinibra 1851 -^ 4.». — Legistafaa Academica, desde 18 jl inclusive, ate ao fioi do anno de 10 jI — 4." 276 progresses succcssivos que dcvemos csperar na iiistrucrao pul)lica, os desinvolvimciitos que seu auclor pude dar-llic!:, rcmedeie do lodo a I'alla ([uc eslavamos sentiiulo. F. 1>B CASTllO FilEIUE. RELA.CAO Dot indiriduoa nomeadot pnrn os seguintes logarei de inslruccno publico dtsde a dia 15 nic at fun de feve- reiro ultiiim, por dtspachos da cnnselho superinr d'in- slrnsfio piiblica, e derret'is do goveino communicados an niesmci constlho no indicado periodo. INSTRUCijio PRI MARIA. Antonio Augnslo Machado Monleiro d« Campos para professor temporario da cadeira da fregiiczia da Lapa de Lislioa. Anionio Maria de Sonsa Queiroz, para dido da Povoa de Varzim, districlo do Porlo. Carlos Accioli Rego, para dido de S. Jorge, districlo do Funchal. Jose da Cosia Leiria, para dido das Abitiireir«9, distn do de Santarem. Manuel da Caniara Bettencourt, para dido da Fre- giiczia de Gaiila, dislrido do Funclial. Manuel Ferreira Lamellas, para dido de ViUar Tur- pim, districlo da Guarda. Loiiren(;o Luiz Dias da Costa, para dido de Nogueira do Cravo. districto d'Aveiro. Manuel Jose d'Oliveira Pinlo, para dicto de Ervedosa, dislrido de Vizeu. Carlola Augusta de Sousa, para mestra teoiporaria da cscliola de meninas da villa de S. Vicente, districlo do Funchal. Anionio Xavier Esteves, para professor vilalicio da cadeira de Arouca, dislrido d'Aveiro, decreto de 11 de leiereiro ultimo. Benlo de Oliveira Pereira, para professor vitalicio da cadeira de Braga, dccreto de 10 de fevereiro ultimo. Joao Gaspar da Martlia, , ira professor vitalicio da rsdeira de S. Marlinho do Bispo, districlo de Coimbra, decreto de 18 dicto. I.NSTRUCtJAO SECUNDARIA. Francisco Manuel daCunha e Costa, para i)rofessor de Latim da villa de Cintra, decreto de 1 1 dicto. ALMANAK PE EU PORTUGAL. examcs dos profcssorcs de inslruccSo pri- inaria e secundaria — os compendios ado- plados nas faculdades c escholas superiores e seciindarias — os livros approvados pelo ConsiMlio Superior — a organisacao actual de todos OS eslabelccimenlos de inslruecSo superior e secundaria — sua Icgisla^;ao c — cmolumentos c propinas, que pagain os alumiios — preparalurios indispensaveis para as rcspeclivas matriculas — conta do rcndi- nieiito 0 despeza de rada cstabelccimenlo — o pcssoal efiectivo do Conselho Superior — dos Goinmissarios dos cstudos, e das faculdades c escholas superiores — Legislafao Acaderai- ca de 1855 e 1836 — Nolicias littcrarias — Caletidario — Folhinha Academica, etc. 1 vol. em 8.° brox. Veinle-sc por 500 rels, nos seguintes locaes: Lisboa — Na loja do sr. Cobellos, rua Au- gusta, n.° 2 e 3; e na do sr. Lavado, dicta rua, n.° 8. Porlo — Na loja do sr. Jacintho da Silva, rua dasllortas, n.° 144; e na do sr. Cruz Coutinho, rua dos Caldcireiros, n.° 35. Braga — No Eseriptorio Commercial, rua de S. Lazaro, n." 11. Pczo da Rcgoa — Em casa do sr. Manuel Mendes Ozorio. Visou — Em casa do sr. Francisco Gomes Pinto. Coimbra — Na loja da Imprensa da Univer- sidade; e na do sr. J. A. Orcel, rua das Fangas. Leiria — Na typographia do Leiriense. Evora — No Collegio de S. Paulo. PRIMEIRO ANNO — 18i)7. POR Jos^ Maria d'.^brcu, Lenle cathedralico da faculdade de philosophia na universidade de Coimbra. Cont6m — estadislica e movimento littera- rio e economico de todos os estabelecimen- tos de inslruc^ao pi'ibiica — os programmes appro\ados pelo Conselho Superior para os AVISO DA BEDACCiO. Com 0 seguinte numero termina a 5." anno d'esla publicafao. A Redargao agra- dece aos srs. assignanlcs seu ralioso auxilio, cuja conlinuafiio espera merccer-lhes; e re- mellerd o Instituto dquellcs que em tempo compeienie nao mandarem rcvogar suas as- signaturas. Aos srs. assignanles, que eslao em deficit, roga-lhes que saiisfacfam a importancia de- vida, antes de comegar o novo anno d'este jonial. Toda a correspondencia deve ser dirigida franca de porte: o Institito continuard a offerecer egual vanlagem. „ J . , fporanno. .. 14^440 Preco da assignatiira i ^^ , on,, * ° ( por semeslre sUII i> JitiSitittttu^ JORINAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. INSTITUTO DE COIMBRA. Sessdo da classe ih scieiicias moraes e sociaes em 19 de fcvcreiro de 1837. EXTRACTO. Abriu-se a sessao as 10 boras da manha. Presidiu, na auzcncia do sr. director da classe, 0 secrelario o sr. Adriano Machado. 0 vicc-secrctario Icu o seguinle pareccr: « Senbores! — A commissao que encarrega- sles de examinar a nicmoria olTerecida ao Institulo pelo sr. A. P. Couceiro, a fim de ser admittido como niembro d'esta associacao', vem h)jc apresentar ante v6s o sen pareccr. Versa a memoria sobre a « infliiencia da revclagao dos crimes ua sociedadc», objecto rauito imporlanle c complexo, que inleressa a moral, ao direito piiidico c penal, ao pro- cesso criminal, e tambcm nao pouco a phi- losophia da bistoria. 0 auclor — e verdadc — nao encarou a queslao complelamente por todos estes lados, mas lambem nenbiim d'elles foi complela- mente esquecido, como vos conveucereis a vista da breve exposicao, que passamos a fa- zcr d'aquelie escripto. 0 direito, que o estado tern, do punir os delinquentes, nao pode ser exercido sem um processo, que raostre a existencia do crime, e revcle o seu auclor. Esla verdade lao obvia nao podia baver escapado a nacao alguma, por pouco clara que fosse a luz da sua civi- lisacao. Mas os meios de cbcgar a este resul- tado, e que nao sao os mesmos nos differen- tes povos, neni nas diversas cpochas do des- envolvimento do mesmo povo. A revelacao dos crimes, posta como um dcver a lodes os cidadaos, que tivessem co- nhecimenlo d'elles, era um dos meios, que babilitavam a sociedade a cxercer o seu di- reito punitivo, mas nao era o unico ; e im- portava examinar os principaes para serem comparados em quanlo a nioralidade inlrin- seca de cada um d'elles, e em quanlo ao fim a que sao destinados. Assira 0 mostra ler comprehendido o au- clor da memoria, dizendo logo no principio, que « a aniiga accusajao judiciaria dos cri- mes, a sccreta revelafao d'estes e as func- VoL. V. Marco lo- coes do que aclualmente se cbama minislerio publico, sao ludo matorias, que se tocam, c que eutre si tem relacOes inlimas. » 0 auclor examina primeiro o que era a accusacacT dos crimes no povo roniano, — povo cuja vida e sempre instructiva pela aclividade com que se nianifcslou nas dilTerenles evolu- coes do seu desenvolvimenlo, e ale nas diversas pbases da sua decadcncia. Dcpois examina a degeneracao da accusacao popular na reve- lacao sccreta, que, priucipiando com a per- versao dos costumes romanos, veiu depois d'algum inlervallo de esquecimcnto a reviver em muilas legislacoes posteriores. Tracta depois de appreciar, cm breves tracos, a instituicao do minislerio publico, assim na sua origem aniiga como na sua organisacao modcrna. A isto, que e uma como inlroduccao a parte principal da memoria, scgue-se a demonslra- cao de que o Estado nao pode obrigar e menos impor penas aos cidadaos, que nao revelarem os crimes de que livercm nolicia. 0 Estado iiau pode obrigar; porque nao pode sulTocar os sentimentos de compaixao, que a nalureza grava no coracao bumano, e que se desenvolvem com a cultura d'uma cducacao delicada; nem pode atlacar os pre- ceilos do chrislianismo, que, ordenando a ca- ridade, se oppOem a revelacao dos crimes, nem dove dispensar a voz da consciencia piiblica, a qual parece aborainavel o facto da dclacao. Para rcsolver assim esla queslao de direito publico, o auctor julgou necessario combaler o argumento de Bonneville, que pretende fundar o direito do Estado em obri- gar a revelacao, no mesmo principio, pelo qual elle pode obrigar as tesiemunhas a com- parecer no tribunal e a julgar os criminosos. 0 auclor ainda se ajuda com um argumento de Filangieri, dizendo, que se o Estado obri- gasse a revelacao, o que meditasse um crime, esconderia o seu projecto dos seus proprios amigos, e assim nao leriam esles occasiao de 0 dissuadir dos seus inlentos. 0 Estado nao pode impdr penas ao que nao revelar os crimes, nao so ponjue o nao pode obrigar a isso, mas ainda porque essas penas, repugnantes com os sentimentos pii- blicos, nao seriara populares nem, portanlo, exemplares, e muito menos correccionaes. ■18S7. Num. 24. 278 0 auclor, siippriiiiinilo assim uni dosmcios, que ('Oiiduzem ao cxeiriiio do ilirt'ilo di; pu- iiir, procisava do o sulistiiiiir por outro, c assim 0 fez, rcionliccendo iios cmpregados piiblicos a obngaoao dc velar pcia scguranja dos lidadaos, c de dcminciar as auctoridades I'ompolenles aquellcs, (|tic a on'enderaiu. 0 aiictor, por ultimo, cxamiua. como I'oii- nc\a com a csta quoslao, sc a lei devc coiico- der a impunidade ao co-reu, que deuunciar OS sous cumpliccs. Toma a nogaliva, porquc a auc'loridade do Eslado em (juo se funda a afiirmaliva, nao pode ter niais lor^a do (|ue a lei moral, (]ue exigc a punicao dos criminosos. A eoiu'lusao da niemorla, e que a revclacao dos crimes, a impunidade prometlida ao cuui- plicc ou co-reu delalor, siio para a socicdade de maletica inlluencia. A eommissao, sem concordar com algtinias das ideas do auclor, reconliece que a memo- ria mostra clareza e facilidade na cxposicao, c conhecimenlo da materia de que tracla ; e que, sc eila denuncia aqui ou alem a moci- dade do cseriptor, manil'esta a sua capaci- dade para cstudar questoes importanles, e para nos ajudar em os iiossos trabaliios. Polo que a eommissao eutendc, que a prova olTerecida ehabitafSo literaria sufliciciUe para a admissao do auclor a socio do Instiluto. (Assigiiados) — Bernardino J. da S. 'Car- ■neiro — Auguslo Cesar Barjona de Freilus — Adriano d'Abreu Cardoso Macliado. » Finda esla leitura, e depois de uma breve discussao o sr. presidente dissc, que se hia proceder as diias votacocs por escrutinio se- crete determinadas no an. 47, §. 2, c art. 48, §. 1 do regulamento do In.slitvto. Corrido o escrutinio veri(ico»-se ter sido approvado socio effeetivo do Instituto, o sr. Antonio de Paula Couceiro. Em seguida os sr..A. Forjaz, A. B. de Me- nczes, e M. E. da Motta Yeiga indicaram al- guns jornaes, que juigavam dever scr assigna- dos para o gabinete de leitura. A classe resol- veu que estas propostas I'ossem remettidas a eommissao noraeada cm sessao de 14 de de- zembro proximo passado. Nao bavendo mais nada, que tractar o sr. presidente fecilou a sessao erara 1 1 e meia da manha. Pelo secrelario. o vice-secrelario da classe de scicncias moraes e sociaes Marrjuez de Soma Ilohtein. mmm superior de l\stiil'ccao plbiici. 18o4— 18oo. RELATORIO DA 3." SFXCAO. Scnbores: — Devendo, na conformidade do art. 39 do regularacnto dc 10 dc novembro de 1843, dar-vos conta, 'nesta confercn«ia do consctbo geral, do estado da iiistrucrao superior durante o anno leclivo de lSii4 a 18oo, comcfarei pelos trabaliios, (piecorreram pela 3.' seci'ao desde 211 tie dezeinbro de 18j4, cm que sc rcmelteu o reiatorio geral ao governo de S. M., ale 3(1 d'out'ubro do correnlc anno. Expedii^am-se 10'.) cousultas : 4 sobrc propostas para provimenlo de ca- deiras na Univcrsidade, 2 para logar de De- canos; 7 de substitulos ordinaries; 0 de sub- stitutes cxtraordinarios na Universidadc : 1 sobre 3 logarcs d'ajudantcs do observatorio de Coimbra ; 3 para o provimenlo de logarcs na cscliola niedieo-cirurgica do I'orto; 1 para a de Lisboa; 1 para a academia polytecbnica do Porto; 3 para jubilacoes ; 4 para conti- niiacao de service com auginento d'ordenado; 18 sobre varies objectos e iiiformes; 3ii sobre a admissao a cxames de pbarmacia ; 4 sobre a neccssidade de provimentos ; 4 sobre pro- postas para difTerentes logares; 2 sobre vcn- cimentos ; 1 aeerca dos estatutos da socicda- de civilisadora, fundada pelo corpo academico da Univcrsidade dc Coimbra ; 1 sobre a ne- ccssidade de sc alterar por agora o art. 4.° §. 3." da lei de 19 d'agosto dc 18:i3, em quanto se nao preencher o qnadro legal das faculdades; 2 sobre compcndios; 2 sobre pro- grammas e rcgulamenlos; 1 sohrc a proposla do prelado da Univcrsidade para dispensar por cste anno a alguns estudantes dc direilo a frequeucia da aula de introducfao a bislo- ria natural dos Ircz reinos ; 1 sobre a rcpre- sentafSo das faculdades da Univcrsidade pe- dindo a cxccucao da lei de 12 de junbo de 183!) ; 1 sobre a reprcscntayao em que o conselho da faculdade de direito propoe se divida por 2 dias o acto dc conclusocs magnas; 1 sobre as altcracoes feilas pela faculdade de pbilosophia no regulamento dos examcs de practica na mesma faculdade ; 1 sobre o re- gulamento do claustro da Univcrsidade iicerca das faltas dos estudantes ; 1 sobre reformas propostas pela faculdade de pliilosopbia da Univcrsidade; 1 sobre a represcntaeao da fa- culdade de mcdicina da Universidadc, jicdindo, que seja cxempta d'assistir a examcs c Ira- balhos cbimicos-legacs, quando cbamada pelas auctoridades judiciacs ; 1 sobre as allorayoes propostas pela eschola mcdico-cirurgica de Lishoa nas cartas dos alumnos, que frequon- taram alguns annos no Porto. Ordens para concursos, portarias, ofllcios, c edilaes 8; para informacoes, participacocs, elc. porta- rias 30 ; officios yii ; total 93. Passarci agora a relatar-vos o que consta dos relatorios dos diversos estabclecimenlos de instruccao superior, que deram entrada na seeretaria d'este tribunal. Univcrsidade : niatrieularam-se nas difl'erentcs faculdades 1:OoO estudantes, d'cstes foram approvados ncmine discrcpante G07, simpliciter 70, rc- 279 provadosSl, deixaramdefazcr ado 148, per- derani oanno I'M. Imporlou a rcceila de iria- triculas e cartas de fornialura cm 20:!)2i;^*i(i'.i teis e a despi-za cm possoal, inalcrial e cxpe- diente em 5S:lt)l^i78 ri-is, licando a cargo do thczouro soraentcadcspeza de ')i:02o^8(tl. Faculdade de theologia. Os Icnles d'csta faculdade, enipcnliados no cumpriniento dos seus dcverc;;, c no engran- decimenlo da mcsma I'actildadc, esmeraram-se era dar o maior desinvolvimcnto possivcl aos Compcndios adoptados, explicaiido-os com uma exposicao dara, e facil a iulelligcncia dos discipulos, nao sc poupando a trabailio algum para esle lim. A lao assiduos e elficazes ex- i'orfos dos professores correspondcu da parte dos alumnos o desejo do desinvolvimento in- tellectual, c moral, moslrando no dccurso do anno Icclivo, a par d'uin dcccntc proccdiincn- to, a niais dccedida applicacao. 0 conseliio da faculdade, conheccndo nao so a utilidade, mas mesmo a neccssidade do que OS estudanlos fossem desde o principio versados no estudo da Bihiia, cujo conhcci- meulo sc torna indispensavel para a inlcl- ligencia das disciplinas tjieologicas , c sobrc tudo para podorem intender a liistoria d'um e outro testa mcnto, deterniinou que d'ora cm diante os alumnos do 1." anno fossem obri- gados a coniprar a Biliiia vulgata. 0 mesmo conselho dclerminou lamliem que os substi- tutes extraordinarios fossem encarrcgados de ordenar a liistoria da faculdade dcsde o anno de 1834 ale o presente, afira de que 'uella se possa enconlrar a noticia das vicissitudes, pelas quaes a faculdade tem passado, e os ihelhoramentos e reformas, que tem soffrido desde aquella cpocha. Pela carta de lei de 19 d'agosto de 1833 foram creadas na raesma faculdade duas sub- stituicoes extraordinarias. Poslas a concurso, na forma do rcgulamento de 27 do setcmbro de 1834, compareceram somente dois oppo- silores, que sendo approvados pela faculdade, depois das provas exigidas, foram proposlos, para aquellcs logares a S. M., que se dignou despacbal-os em 12 d'abril do corrcnie anno. De muita vanlagem, porem, foi, para o bem do servico da faculdade, a deterniinacao da carta de lei de 12 de junho proximo passado, pela qual o governo de S. M. annnindo be- nignamcnte a alleracao do art. 4." da lei de 19 d'agosto de 1833, se dignou permitlir que OS substilulos extraordinarios passassem a clas- se de ordinarios todas as vezcs que as facul- dades assira julgasscm neccssario, sem espera de dous annos de servico, que pelo dicto art. estavam marcados. Em viitude, pois, d'esta pcrmissao os dous lentes substitutes extraor- dinarios foram despachado? ordinarios. Frequentaram a faculdade' 109 alumnos sendo 73 ordinarios, e 36 obrigados; apenas d'pstes perderam o anno pnr mntivo de mo- lestia 3, comparando aipielle numero com o de 94 do Icctivo de 1S53 a 1834, ha urn augmonlo de IS esiudantes, e todos da classc d'ordinarios. Foram approvados nemirte discre- panleHi, siinplici(er 13, rcprovados 6, deixa- ram de fazer acto (i. Gradiiaram-!-e 3. r'acuhiadc de direito. 0 conselho d'esta faculdade, restabelecidas as siibsiiiuicSes extraordinarias pela carta do lei de 19 d'agosto de 1833, lomou a sou cuidado disp6r as couzas por maneira, que as quatro substituicocs pertencentes ii mesma faculdade fossem postas a concurso, atim de verilicar-se o seu proviuiento. .iqucllas 4 sub- stituicocs concorreram 8 candidatos, mas so- mente 4 apresentaram os scus requerimcntos cm forma, e d'esles i so 3 foram propostos pelo conselho, e despachados por S. M. Em consequencia da exclusao d'um dos 4 candi- datos foi a 4." substituicao extraordinaria posta novamente a concurso. A este 2." con- curso concorreram 3 candidatos, dos quaes um so loi proposto pelo conselho, e despa- chado por S. M. Providas as 4 substituicocs extraordinarias ainda ficavam vagas o sub- stituicocs ordinarias, depois que pela jiibila- cao do dr. Reis fora promovido a cathedra- tico 0 dr. Paes, e pelo corpo legislative fora elevado a 8 o numero legal dos substitutos ordinarios da mesma faculdade; revogado, porem, pela carta de lei de 12 de junho do corrente anno, o §. 3.° do art. 4.° da carta de lei de 19 d'agosto dc 1833 que obrigava OS substitutes extraordinarios ao servico de 2 annos para serem promovidos a elasse de substitutos ordinarios, propOz o conselho a S. M. a necessidade absoluta d'aquella prorao- cao, e S. M. foi servido acceder aos votos do conselho, deterniinando que a proposta se fizesse. Em virtudc d'esta resolucao proce- deu-se a volayao dos 4 substitutos extraordi- narios na forma do regulamento de 27 de setembro de 1834, e foram dies promovidos a ordinarios. Ainda assim (diz o conselho no seu relatorio) fica vago um logar de substi- tute ordinario, afora as 4 substituicoes ex- traordinarias: espera porem o mesmo con- selho que no seguinte anno leclivo aquelles logares sejam provides, e se complete o qua- dro do mngistcrio, de que tanto depende a regularidadc do service, e bom regimen das aulas. Por carta de lei de 13 d'agosto dc 1833 fora crcada 'nesta faculdade uma ca- deira de direito administrative portugucz e principios d'administracao, scparada do direi- to criminal, e que ja funccionou no anno Icctivo anterior. 0 conselho para dar ao pro- fessor e aos ouvintes um guia em suas lic.Oes, c para evitar o arbitrio das posiillas adoptou 280 interinamcnlc para compcndio da aula o Ma- nuel de Droit Ailministralif por Entile Vdiiril- lieis: rcconheceiido poreiii iiuc I'sle livro iiao salisfazia as exigoncias do ensiiio, sob pro- posla do lenle da cadeira, subslituiu-o no liin do anno Icclivo pcio — Precis du Droit Atlmi- ni-slralif por Pradier Fodere — , (jue ja no anno lectivo scmiiulc lera do seivir de com- pcndio. Nao desconlicccndo o consclho que o ciisino por qualquer dos dous compendios e antes de direito adniinistralivo francez do que portuguez, para mais facilitar o estudo d'este ramo das sciencias juridicas, encarregou o professor da cadeira e scu subslitulo, de eoi- ligir cm loda a legislayao administrativa, a que tivessc cxecufSo permancnle, ale agora dispersa c senipre dilUcil d'encontrar pclos alumnos. Outro objeclo dc grande monia (iiie nao podia por isso deixar de merecer lam- hem a atlencao do conseliio da I'aculdade era a additao das malerias da encyclopedia ju- ridica as da bistoria geral de jurisprudencia, e particular de direilo romano , canonico c palrio que sc ensinam no 1." anno da facul- dade. (1 consclho, rcconbccendo a necessida- de d'esla alteracao, que ja por vezes fora proposla no mesmo conselbo, e ale cm clauslro, resolvcu que se levasse a elTeilo ja no anno lectivo proximo futuro, adoplando para com- pendio o Encyclopedia juridica de-Den-Tci, que para aquelle cffeilo se deveria impriniir na imprensa da Universidade, e distribuir na matricula d'oulubro aos esiudantcs do I.° anno, deixando de servir de compcndio para a bistoria do direilo romano a bistoria de Martini, vislo que d'ella se Iraclava na en- cyclopedia. Resolvcu lambem o conselho que na ma- tricula d'oulubro, comprassem os estudantes das aulas de direilo ecclesiaslico, e para o dianle os da 1.' aula, a sagrada Biblia, por ser uma das primeiras fontes do direilo ec- clesiaslico, de que a cada passo laulo os len- tes como os estudantes tenbam de servir-se na explicacao d'aquellas doutrinas. Para a conservacao e manutencao da dis- ciplina nas aulas, e para obrigar os estudan- tes ao exaclo cumprinicnto dos scus deveres, 0 conselbo babililou, para fazerera acto nos seus logarcs somente aijuelles que em tempo competente justilicaram suas faltas, condem- nando a pena dc perdimento d'anno, e a de pretericao todos os (|uc tinliam dado maior numero de faltas do (|ue a lei Ibcs faculla; approvando somente acpielles que o raereciam, c premiando os que pelas suas licocs e acto mais se tinliam distinguido. Matricularani-sc nos diversos annos da faculdade 4(i'J alumnos, forani habilitados para fazer acto 4 47, appro- vados nemine discrepanle 380, simpliciler 32, reprovados 13; nao (izeram ado lG;per- deram o anno 22. Alem d'estes ados peque- nos houve 3 ados grandes. Faculdade de mathemalica. Do relatorio d'esla faculdade consta (|uc 0 anno lectivo Undo correu sobremaneira regular, dovendo-se ao zelo dos professorcs 0 conscrvar-se nas aulas a ordem e discii)li- na cm lodo o rigor. Para csle lim, alem das medidas ordinarias, adoptou, o conselbo da faculdade todas as que Ibe parcceram con- duccntes, sendo uma d'cllas, a disposi^'ao de mandar lancar nas aclas das congregavOes, OS uomcs dos estudantes, que os respedivos Icnles dedarassem que sendo cbamados as^ licocs, diziam rcpetidas vezes, que as nao tinliam vislo. Tcndo 0 liccnciado Antonio Jose Teixeira, exposto a congregafao da faculdade a sua falta de meios para tomar o grau de doutor, decidiu a mesma faculdade, segundo jirece- denles analogos, levar a presenca dc S. M. a |)retencao do supplicante, para sc Ibe con- ceilcr capello gratuilo, do qual a mesma con- gregacao o acbou digno pclo sen dislindo mcrito litterario, c a necessidade da acquisi- cao de doutores, que possam concorrer aos logares que vagarcm na faculdade. 0 conselbo em execucao da carta de lei de 19 dc agoslo de 1853, e decreto rcgula- mentar de 27 de seterabro de 18o4, poz a concurso as 2 subslituicocs exlraordinarias da faculdade; e em rcsullado d'este concurso foram propostos a S. M., e despacbados, para a 1." 0 dr. Luiz Albano d'Andrade Moraes, e para a 2." o dr. Francisco Torres Pereira Coclbo. Tcndo sido presenle ao conselbo a porla- ria do governo de S. M. de 20 de julbo ulti- mo, que cbamou a altcncao das faculdadcs universitarias sobre a disposiyao da carta de lei de 12 do mesmo mez, relativa a passa- gem dos Icnles substilulos extraordinarios a classe de ordinarios, inlendeu o mesmo con- selho, (|ue devia consultar a S. M., mostran- do a urgente necessidade que havia de dis- pensar o lyrocinio dos dous annos de servico aos aduaes substilulos exlraordina/ios, a lira de ser provida a 4.° substituicao ordinaria, vaga de ha muilo tempo no quadro da facul- culdade. Tcndo S. M. resolvido favoravel- mcnte esta consulla, propoz o conselbo a S. M. para i.° leute subslitulo ordinario da faculdade, o 1." subslitulo exlraordinario Luiz Albano d'Andrade Moraes. Os programmas d'ensino nas dilTerenles aulas da faculdade foram dcscmpenbados pelos respedivos professorcs, pela maneira porijue linbam sido approvados pclo conselho. Na 0." cadeira, que foi rcgida pclo lente propriclario, explicaram-se pela primeira vez 'naquella cadeira, e na Universidade diver- sas doutrinas de Mecbanica applicada. Tcndo sido apresenlada ao conselbo a 2." parte da Astronomia Physica, composta pelo vogal 281 0 dr. Roilrigo Ribeiro de Sousa Pinto, foi csta 2." paito approvada, fomo ja o tinha sido a 1/, decidindo o coiiscllio que, para conveniciicia do cnsiiio, se dcviani desde ja inipriniir, e adoplar para compendio as duas partes approvadas da dicta ol)ra. Durante o anno lectivo (icon prompta no edilicio do ruuscu unia aula privativa da faculdadc, onde sc dorani as preiecrocs das cadoiras do 3." anno. 'Nessa aula e na sala adjuncta, cnllocarani-se as niacliinas perlen- centes a antiga cadeira de liydraulica. Tain- bern (icaram proniplas no edificio do antigo hospital da Conceifao duas salas para nso da aula de dosenho, Iiavcndo-se construido, 'nunia d'ellas, unia claraboia, d'ondc dimana a luz ncfcssaria c lonvcnicnte para os excr- cicios practico.s d'aquelia arte. Finalmcnte, o consclho da faculdade, cm 14 de junho, decidiu eicvar a prescnca do S. M. uma cnnsuita, na ([ual expondo o quanto (i acanliado o actual edilicio do ob- scrvatorio, para satisfazcr a todas as exigcn- cias a que as obscrvacoes, que alii viio cn- cetar-se com os novos instrumenlos, podem dar logar, pcde a S. M. se digne couccdcr- Ibe apenas a parte do primeiro andar c lojas correspondontes do collegio de S. Pedro, (pie sirvam para easa da habitacao do porteiro, c para ([uarto de descanoo e cstudo dos ob- servadoies, e para estabelecimento dc mais uma aula para servico da faculdade. Matricularara-sc nas dilTercntcs aulas da faculdade 131 esluJantes; foram habililados para fazcr acto 98, ap[)rovados nemine dis- cripante 38, simpliciter 8, reprovados 3, dei- xaram de fazer ado iO, perderam o anno 36. Dcfenderam 2 conclusoes magnas , e houve um doutoramento. Coiitiniia, DAS IRMAS DA CARIDADE. Cunlinnado de pag', 245. VIII. Que feliz rcsultado se pode csperar d'uni exercito, composto de corpos ou mal disci- plinados, ou de diversa maneira instruidos, e comraandados per dill'erentes chel'cs? A regularidade das nianobras, dos movi- mentos, a cerieza, a unidade da accao, e por consequencia a disciplina, que vence, so por milagre, pod-erao encontrar-se era sirailhanle exercito. lla soldados, que nao corabatem ; outros soldados, que nao raanejam sanguinolentas arnias, que nao fazem dcrramar o sangue alhcio, mas ([ue todavia fazcni canipanlias arriscadas, e penosissimas, em torno dos pa- trios lares, c a enornfiissimas dislaneias d'el- les, no meio de povos cultos, e entre os mais rudes c selvagens. Dilosas campanbas! gloriosos trabalhos! cujo rcsultado e a victoria sobrc a barbaria, a ignorancia, c o crime. Campanbas i]uc os Apostolos c OS missionarios, desde o princi- pio da egrcja, leni illuslrado com as maio- res fadigas, com os ados mais beroicos de dcdicacao e quasi sempre com o derrama- mcnlo do proprio sangne! Campanbas, a quo hojc as irraas da caridado, vigorosas atliletas da rcligiai) e da civilisccao, se associani por foda a parte: nos hospitaos, nas moradas dos cnfermos, nos asylos da infancia, nas escbo- las das adultas, nos retiros da velbice, no canipo sanguinolento das batalhas, na terra cbrisia, c era meio de bcreges, pagaos, e mahonidanos ! Tirar a unidade a csto corpo c prival-o da vitalidade e da forca. Dividir foi sempre o meio d'enfraquccer; unir 0 de fortilicar. A irnni de caridade, educada e amestrada na casa central de Paris, parlindo d'alli por- ventura para os conlins do mundo conlie- cido, mas conservando com ella continuadas rclacoos, que Ibe Icvani conselhos, alenlo nos trabalhos c a certcza de prcces com- muns ; — nao conhecendo senao uma so re- gra, e uma so disciplina; — dirigida na sua practica c inspii-ada e afervorada contra as difliculdadcs e repugnancias naturaes por aquellcs quo se prezam de conservar inaltc- ravel o tbesouro de vas doutrinas do com- nnim fundador e mestre, .S. Vicente dc Pau- la ; c que, pela sua parte, tern que exercer fadigas analogas, instruindo e alliviando o pobre povo: — esta irma da caridade vivira a vida de todas, florescera ou decahira com ellas; sera o que e, (e nem pode deixar de 0 ser), em qualquer parte do mundo a que OS impulses da caridade, e os ais da huma- nidade padecente, a appellidem para sea soc- corro. IX. E que oulra cousa havera mais conformo a nalureza d'uma instituicao catholica? Uma so a I'e, uns sos os preceitos, uns sos OS sacramentos, urn so o relianho, um so o pastor, e uma so a egreja. Para ella nao ha nacocs. Coraprehende-se, que liaja fora d'ella uma egrcja russa, outra prussiana, outra anglicana, etc.; mas, no seu gremio, se e uma so, se e catholica no tempo e no espa- jo, como"? . . Os seus ministros poderao ser adscriptos, por intcresse d'ella, a uma dada circumscrip- fSo; terao d'exercer ahi somcnte o seu nobrc ministerio. Mas nem por isso deixarao de ser, por virtude da sua ordci.acao — apostolos das 282 nacoes, sal da terra, e luz do mundo, — obrigados a parlir para qualquer dos extre- mos d'elle, conl'orme as necessidades da miie communi, a voz do pastor dc todos. Assim coiiio o diviiio Salvador nao csco- llieii um po\o para si, mas vciu cvaugelisar a todos OS liomcns, os sous miiiistros, os depositarios c prcceplores du suas doulrinas, sSo cnviados a doiilrinar todas as genlcs: docele omnes geiiles. E as lucsmas piedosas mulhcrcs, que rcsolvcram abandonar o seculo para scguir uma vida mais peileita, qucr na vida coiUemplaliva, qucr na vida acliva, liouvcraiu d'adoplar cssa mais larga aprccia- cao das cousas, intcrpondo-se com as suas mortilicacoes, austeridades, c boas obias, eii- tre OS crimes nao d'uma so najao, mas da christandado, ou antes da bumanidadc, c a colora do Elerno; c dedicando-se a alliviar OS padccimcntos, nao exclusivamentc dos sous concidadiios, mas do proximo cm geral. Se a civilisacao material tende a fundir acceleradamcnte as nacucs em um so eorpo, dotado dos mesmos habitos, distincto pclas mesmas feifoes, c goveruado ate (quem sa- be?) pelas mesmas instituicOcs, e per Ven- tura fallando a mesma lingua ; a rcligiao, unica verdadcira, catholica ou universal, rea- liza em mais aita escala, o mesmo gran- dioso pcnsamcnto. No scrtao das Indias, na mais desconhecida iilia da Oceania, cntre os gelos do polo, nos abrazados areaes da Ai'ri- ca, 0 catholico, que cu cnconlrar, e meu co'ncidadao; somos irmaos na crenca, nos sacramentos, nas preces, e nas esperancas; offerecemos o mesmo sacrificio, reconhcecmos 0 mesmo ciiele espiritual, fazemos parte da mesma socicdadc. Em 1843, na eamara dos deputados de Franca, dizia M. Berrycr aos que tao arden- tes se mostravam cntao contra os jcsuitas, arguindo-os, enlre outras, com a veiba bana- lidadc da sua submissao a um geral extran- geiro: — « Oliedecem, dizcis, a soberano ex- trangeiro; mas, snrs., essa falta e a nossa, de todos nos, os cntholicos. Temos, na ordem espiritual, por chefe ao Papa; dcpendcmos, como elks, na ordem cs- piriliial, d'um exlrantjeiro; — mas nao c um principe exlrangeiro. » Mais adiante o grande orador accrescen- tava: — » Oratorianos, benediclinos, jesuitas, pouco importn, todos tan o direito de se ligar por votos, e de viverem em commum. E este um direito inherente a Uberdade de conseiencia, a Uberdade de ciiltos. Se abu- zam d'esse direito reprimi as suas infraceOes; usai dos direilos, que vos duo as leis. » « Querer violenlar as couviccoes, prohibir os votos e as communidades, c p6r a mao sobre a conseiencia liumana; e pertencuo monslruosa. » 0 primciro pensamento de M. Berryer aju- sla-sc com o que deixamos dicto. Os ultimos sao .do mesmo niodo, e foram sempre os nossos; porque, em nosso entcn- der, a liberdade sera um nonie vao, uma re- voitanle mentira, se a practica dos conseliios evangclicos, a renuncia ao niuncbi, e a asso- ciacai) para o bem, dcpcuderem do livrc arbitrio do poder politico, ou antes dos pre- conceitos d'liomens d'cstado, por vcntura alliens, matcrialistas, protestantes, ou indil- ferentes a todo o cullo, e por isso iuimigos da Egrcja. M. lierryor falloii cntao debalde. A verdade e a liberdade nao triumpliam, senao no rcmanso das paixOcs. Na forca dos conllictos rcvolucionarios, e sob o iinperio dos partidos, a liberdade e so para uns, ou antes para certas crencas, e certas acc-oes confiirmos a ellas. Um govcrno tao democratico, (e nenhum mais livre, ao menos para os brancos) como OS Estados-Unidos; outro que se preza d'c- xemplar nas Ibrmas conslitucionaes, mas fir- me e tranquillo no gozo de sua liberdade, a Inglaterra; e a mesma Franca, menos agita- da das tormcntas politicas, reconheccm hoje estas verdades. A moda das perseguicOes e da intolerancia contra a liberdade da asso- ciacao religiosa tern passado ; e os governos, fortes no exercicio da justica, quo Uies prcsta OS meios de corrigir o abuse, scm impedir 0 uso, nao empallidecem na prescuca d'essas communidades, com habilo ou sem elle, com 0 character de pessoas juridicas ou sem elle, 0 que para essencia nada importa. Ignoramos ate que ponto a regra das irmas de caridade cxige a sua combinacao e dc- pendencia dos lazaristas. Nao sabemos, se porventura o cstabelecimento das casas das irmas dcmanda o d'alguma outra d'aquelles, seus directorcs espirituacs. No entretanto, quando liaja dc se querer dotar 0 povo portuguez, os pobres enfermos, OS mcninos, e os vellios, com estas caridosas servas, desejtiramos que nao servisse d'impe- dimento a readmissao dos lazaristas, alias reclamada pcia extrcma ignorancia religiosa do mesmo povo, e pclas urgentissimas neccs- sidadcs espirituacs das nossas colonias. Cmtinuu. A. FORJAZ. OS LUSIADAS. Trnilnecilo fraiifcza. LES LUSIADES. Conlinuado de pag. 2^ X% 22. L.i naquit ce gucrrier favori do la gloirc, Dont lo nom si ctiR'bie cxprimc la valeur, Et qui [lar son auilacc enlcvant la victoire Affronlal des romaius rorguuiUeusc grandeur. 283 Les desllns ct Ic temps, cc pcre dc I'hisloirc, Enfin du I'orlURal assurent la splendeur, El le sceptre puissant de nos anliques princes De cc pays beurcux reunit Ics provinces. 23. Protegeant d'un heros los glorieiix dcstins Dieu lui donna jadis le trone des Espagncs; Alphonsc ctrit son nom; terreur des sarrazins llille fois de leur sang il rougit les campagncs; Le Tagc radmirail; les pcuples caspicns Avaient appris son nom anxechos des montagnes: Et los prcux chevaliers s'unissant a son sort Cherchaicnt sous ses drapeaux ct la gloire et la mort. 24. Champions dc la foi dont la llamme immortelle Mcprise Ics honneiirs de I'eclat passager, lis quitlent leurs foyers et vont hraver pour elle Les plus afTreux perils sous un cici ctraugcr. LoDgtemps du grand Aljthonse embrassant la (|uerelle, Ces guerricrs pros de lui chcrchercnt Ic danger, Et le monarque enfin voulut a leur vaillanci; Egaler scs bicnfaits et sa reconnaissance. 25. L'intrepide Henri fut un dc ces gucrriers: lUustrc descendant des rois dc I'Hongrie, II silt se signaler parmi les chevaliers, Enncmis redoules du Sarrazin impic. Ce prince triomphant, couronne de lauriers, Dcvint le sonverain de la Lusilanie. Le roi lui meme unit sa fdlc a ce heros: Thercse fut le prix de ces nobles travaux. 26. Aux peuples dTsmapl cc gucrrier magnanime Fit eprouver longtemps la force de son bras. Ennemi du repos, dans I'ardcur qui I'aninie, II sait par la conquele agrandir ses elats. Pour ])rix de sa valcur, de sa verlu sublime, Le dieu qu'il invoquait an milieu des combats Accorde a ce heros, an scin dc la vicloire. Un fds qui de son nom doit augmenler la gloire. ttcrnel ennemi du cruel sarrazin II court le defier jusqu'aux rives d'Asio. II voit la Palestine ct Ics bords du Jourdain Encor rctcnlissanls de la voix du SJcssie; Aprcs de longs combats, Jerusalem, enfin, Du jong qui lopprimait est pour lors affranchie, Et I'illuslrc Bouillon chef de tant de heros Sur ces murs reveres arborc ses drapeaux. 28. Henri, pienx vainqueur de I'arabe infidel Au scin de'scs etats vint terminer ses jours; Et Dieu permit enfin a son ame immortelle De voler vers celui qu'elle adora toujours Seul et noble hcritier dune gloire si belle Alphonsc jeune encor, prive de secours. Fait bientot rcconnailre a sa bouillante audace Le sang dc ce heros dont il remplit la place. 29 et 30. Mais on dit que Therese, oubliant ;\ la fois Et son illustre rang et les devoirs de mere, D'un hymen plus obscur voulut subir les lois Et ravir a son fils I'heritage d'un pcre. Reclamant pour regner de chimcriqnes droits. Au scin du Portugal elle excite la guerre; Elle force le prince apres mille attentats A cherchcr son salut au milieu des combats. 31. Theatre des malheurs dune lutte abhorce fiuimaracns est souillee par ce combat cruel ; De I'amour du pouvoir Tlicresc est devoree, Et portant .-i son fils un dcfi eriminel Le bannit a la fois, femme denaturee, Du sol qui la vii naitre ct du cneur maternel. Ainsi I'amour Taveuglc! Ainsi son coeur prefere Le nom desouveraine au teudrc nom dcmerc! 32. Amante de Jason, et toi mere d'ltis, 0 vous qui pour punir une cruelle olfcnse Sur vos pruprcs enfants exercales jadis Anx yeux de vos epoux une atroce vengeance! Ah! sans doute, Therese en poursuivant son fils De vos crimes fameux cgale la demence; Ivre de ce poison qui jadis s'empara Du parricide coeur de TalTreuse Sylla! 33. Mais Alphonsc, bientot, malgre leur resistance, Triomphe de Therese ct dc lusurpateur; Et deja Ics pays qui bravaient sa puissance Reconnaissent les droits de ce jeune vainqueur; Heureux si le heros, domptant sa violence, N'eut pas contre une mere employe la rigucur, Et sur lui meme, enfin, par cctte erreur funestc Justcment attire la colore celeste ! U. Pour venger la princesse et pour bris'er ses fers L'espagnol irrite rasscmble des armccs. Deja Ton voit marcher ces castillans si ficrs: lis rcmplissent de deuil les villes alarmees. Mais Alphonsc a prcvu tons Ics perils divers; Dc la plus vive ardeur ses troupes enflammees Imitcnt son exemple, et bientot leur valeur A triomphe du nombre et I'a rendu vainqueur. Cependant l'espagnol revolle de scs pcrtes Reunit un essaim do combatlants nouveaux; Descs nombreux soldals Ics plaincs sonl couvertes, II vient dans Guimaraens surprendre le heros. Le Portugais laissant les campagncs descries, Voit bruler ses moisons, enlever scs troupeaux. La terreur est au comblc! el malgre son courage Alphonsc va bienlot succomber a I'orage! 36. Ricn ne resistait plus i nos fiers enncmis, Quand Aloniz suspendant les fureurs de la guerre Se devouc a la mort, jiour sauver son pays. Honorable martyr d'une cause si chore! II jure aux castillans que, desormais sourais, Alphonsc de leur roi deviendra tribulaire; II I'a jure, sachant que cc courage altier Sous un joug etranger ne pourra se plier. Les combats out cessc, le Portugal respire, Et l'espagnol dcja disperse ses soldals; Mais Alphonsc a la paix refuse dc souscrirc La vengeance I'cntrainc a de nouveaux combats. 284 Lc vertiicux sailvenr de ce naissant empire, Le genereui Moniz se prepare au ti^pas; II veiit se deffaK'-''" <-'n devouanl sa vie Du sermeiit qu'll pruta pour sauver sa palrlc. 38. II pari: iles Caslillans il va rlieiohor le roi, Eiitrainant a>cc hii sa famillc eploree; o O monarque, dit-il, jc vicns subir la loi: On a Iralii la foi que jc I'avais jurre; Je vioiis la rncheter; jc le livrc avec moi Mcs enfaiits Innocents, nion eponse atloree; Et que bientot le sang et du pere cl dcs fi!s Atlcslc ta vengeance et liaigne ces parvis. 39. Maiseepcndant, seigneur, sitonco-urraagnanimc Est louche de piti6 puur cos falblcs enfants tpargue I'innocence en punissant le crime; Que je sois senl rohjcl de les ressenlimcnts! Tu me vois i les picds, volontairc vlctime. El tu peux, me livrant aux plus cruels lourments, fegaler les fureurs dcs tyrans de Sicile El le laureau d'airain de I'infame Perile » ! 40 et 41. Tel qu'on voit, dedaignant un inutile effort, Le criminel subir sa Iriste destin6c, Et courbc tout vivant sous le poids de la mort Porter .^ I'cchafaud sa tele condamn^e; Tel riunocent Moniz se livrait Ji son sort, Prcsenlant sa famille avec lui proslernee; Mais le moiwrque cede 4 la voix de son cccur; II pardonnc, et la pais sucoedc a la fureur, Continua. MONUMENTOS DE COIMBRA. ' II. Moslciro de Cellas. Salve, oh valle do sul, saudoso e bello ! Salve, oh patria da paz, deserto sanclo. Onde nao ruge a grande vuz das turbas ! Solo sagrado a Deos HARPA DO CRB7JTE. No cclcbre valle de Vuimaraes^ e na ex- ireniidade do raais forraoso arrabalde de Coira- bra, se crgue o antigo niostciro de Cellas. Em 1210, segundo Carvalho \ ou 1211), segundo Bayam *, o fundou a infanta D. San- ' Tide O Iiislituto — n." 14. 2 'Nesle valle niatou el-rei D. Fenella, cruelmenle, As jmnhaladas, e a seu irmrio o infante Voiniarono. Fr. liirnardi) ile Britii — SI. Ltislt. i. ]>. c. 0. — Ga^o — yinlig. de Ciiimlira — cap. £1 . — Al;,'nus historiadi)' re3 querem, que 'neste valle collocasse, tainbem, seus arraiaes el-rei D. Fernando, o magno, quando vein d conquista de Coimbra. • Chorographitt Portugueza — torn. 2. — pag. 14. < rorlugnl glmiusci e illustradii com a vida e virlit- des das Bemavvntnradafi rainhas santtis Saiicha^ The- resa, Mrifalda, Isabel e Jiinnna, etc. — por Joseph Pe- reyra Bayara — liv. 1." n.» 20. clia', com pcrraissao d'el-rei D. AfTonso, o Gordo '. Era raro, 'naqiiclle tempo, cm Portugal, o uso do coiiveiitos de freiras. So algumas mu- lluTcs [licdosas resoiviam consagrar-sc a Deus, ciiravain logo de edilicar, e cercar du alto muro, umas casiiilias, entrc si pouco distan- tes, mas iiilciramcntc separadas, scm portas nem janellas, apenas com algumas cstreitas frestas, por onde se cscoassc a luz, e inlro- duzisse 0 alluiento. Aqui encerradas, a modo de anacliorctas, consiiniiam sous dias 'nestc peculiar gciiero de penitencia \ Cellas charaavam as casiiilias, encelladas, ou emparcdudus* as suas moradoras; e por- que ao tempo, em que fundaram o mostei- ro, jii no vailc residiam niuilas encelladas, com eslas e outras, vindas de Alemquer', o povoou a infanta, dando-Ihe o nome do Sancta Maria de Cellas de Vuimaides ' . E de nobrc arcliitcclura ; quando nao fora monumento respcitavel por tiio eximia funda- dora , consoguira essa precraincncia pelo magnifico da fahrica. Urn portico elegante, coroado pelas armas reaes portuguczas, ainda sem castellos", or- ladas das do Lcao'', dii entrada para ura pa- ' A infanta D. Sancha nasceu em Coimbra em 1176> e falleceu a 13 de IMari;o de 1429. Furam sens paes el" rci D. Sancho l.», e a rainha D. Dulce. — Foi bealitt" cada a 12 de Setembro de 1704 pelo papa Clemente XI. — Coiicedeu-se termo de reza e missa para.o bispado de (^oimbra, e religiao cislerciense, a 14 de Setembro de 1709; e se e.slendeu a mesma gra^a a todo o reino e seus duminios em 11 de Fevereiro de 1713. — Bayam — Port, glfiriiist, etc. "* Nao consia o anno, em que teve principio, raas ^ certo, que jA no de 1219 moravam 'nelle algumas rcli- giosas, como se collie de cerla doai;ao, que a saiicta fun- dadora Ihes fez de umas azenhas, que tinha na sua villa de Aleraqucr. ylgiilogio liisitanit — tom. 3 — pag. 163. ■^ Fr Franc, a S. Augnstino de Macedj. — /« vil. Ttresiae ct Sanciae — cap. 27 — pag. 107. ^ Subre eiliparedadtts pode ver-se o clitcidflria, do P. Sancla Rosa de Viterbo. * Jghlogio hisilano — 1. cil. * Qitero adceriir vma coisa^ aci'rca do name d'este mosteiro de Cellas, que pjr scr costume ckatitartni a cstas muUieres, que eiitd.' se recolhiam, eiirtlladas^ c ans reci/lliimentf's cellas, a differe/t^tt das encelladas da polite (do Mondego), chainuraiu a cslas ecllas de f'ui- iiiarnes, por ter este noiue aqnella qiiinta, em que se o mosteiro Jundov, e nao por outras iniagiiiaroes. — Chronica de Cister — liv. 6." foi. 459. ' As familias reaes, portugneza e espanhola. o visita- ram, quando estiveram em Coimbra. O marquez de Pombal com sua esposa o visilou lambem em 4 de Se- tembro de 1772. ^ Muilo depois da funda^ao do mosteiro e que el-rei D. AITonso III ao escudo das armas portuguezas accres- centou. por oria, sete castellos de prata em campo de sangiie, que sao as armas do reino do Algarve. — Vide N.ibiliarehia portugneza de Villas-Boas — cap. XXIV — pag. 200. ' Depois da morle de sancia Sancha, tomou sua irm3, sancta Thcrcza debaixo da sua prolec(;uo o mosteiro de Cellas, e o angmentou rauito em rendas, ediQcios, e no numero das freiias. £ de crer, que esta senhora nos edi- ficios. que coDstruisse, ou resta\irasse, mandasse uuir as 285 leo cspacoso, cantado pclo nosso Tolenlino cm hcllas rjuintillias '. Fica-llic cm Irentc um vistoso mirantc, o o lemplo, que e do forma circular-', e sagra- do\ Uma numcrosa comniuniiladc dc rcligiosas ', de di.-itincta nobreza, haliitava, outr'ora, esta amplissiraa casa ■ ; uma das mais rieas da or- dem cislercicnse ; ao presciUo seis ou selc monjas, cortadas de privacocs e molestias, arraslam sua pezada existcncia nos vastos aposentos, em que suas predeccssoras a pas- saram descuidosa e abaslada. Mais alguus dias, c desapparecerao ostas vcnerandas rcliquias das piedosas lilhas dc Sanclia; mais alguus dias, e licani descrto o mostciro. Inda mal que poderemos dizer com um dos mais illustres de nossos poetas '. Nada qucbra o remanso da morte Pclas gotliicas, vaslas arcadas, Nem dos quicios ranger vagaroso, Nem murmurio de leatas passadas. Porem como se ao sopro do archanjo A. Iromhcta final relumhasse, E da vida o lunnilto na terra Ao Icrrivel signal expirasse, Assim do orgao calou a liarmonia, E dos coros os liymnos calaram, E OS fulgores das lampadas frouxos Das vidracas nao mais transudaram. R. DE GUSiMAO. portuguczas as armas de Lerio, dc cujo reino fora rainha, gozando, como gozou, ate ii sua morte, d'este titnlu, dado pelos papas, e principes da christandade. * 'Neste pateo se representavaj lodos os annos, pelo Espirito Sancto, a burlesca mascarada do iiiiperador tfe EiraSy da qual se lembra o conselheiro Joao Pedro Ki- beiro nas suas Reflexoes Historicas — parte 1." — n.*' 1], — ao rclatar algumas das priclicas supersticiosas do no88o reino. ■^ A egreja e pequena, e limitada para lanla grande- za, mas ainda assim tem sen capricho na tra^a rotunda, seguindo os altares a mesma, que nao deivani de ler sua gatanteria; e muito mais o espa^oso, e desafugado choru no proprio pavimento, capaz de 200 religiosas, obra ma- gnifica, e senhoril, como sao todas as fabricas, que em- prehendeu o illustrissiino bispo D. AITonso de Castel- branco, de inclyta memoiia. Ageohgio Lusitano — torn. 3.° pag. 689. ■* Fez a sagra<;HO o bispo de Coimbra D. Ayraerico a 13 de Junlio de 1293, segundo a opiniao de George Car- ■ doso no AgUlogio Lusitano — 1. cit. ■* No tempo do Carvallio cento e vinte freiras residiara 'neste mosleiro com oulras tantas creadas. — Chorogra- phia Poriugueza — 1. cit. * O bispo de Coimbra, D. AfTonso de Castello-Branco fez construir -o dorraitorio de saiita Clara {Gasco — An- tig. de Coimbra — cap. XXII). Fui obra da abbadessa ' D. Leonor de Vasconcellos, filha do conde de Pcnella, D. AfTonso de Vasconcellos e Menezes, o sanluario, o portal do coro, os sinos charaados Bautisla, e Gabriel, e oulras obras, em todas as quaes maiidou p6r a coroa de espinfaos de Chrislo, com esla lelra: Doniinus mem de- coravit me. Falleceu a 17 de Agosto de 1541 {Agiol. Liisit. torn. 4.° pag. 590—594). ■* Alexandre Herculano — Poesias — O mosleiro de- I serto — pag. 186. HISTORIA DA CONJURAgAO DE CATILINA poll SALLUSTIO : TRADUCf.AO POnlUGUEZA. Continuado de |iag. 240. Achou-se 'nesta conjurafiio Q. Curio, di' illustre nascimento, mas cxtrcmamentc dis- solute e criminoso, e a quern os censores, por mal coniporlado, haviani despedido do senado. Tinlia elle nao raenos leviandade do que atrevimento ; nem calava o que ou- via, nem occultava sous proprios deliclos; nem nas aceoes nem nas palavras tinha circumspecrao algunia. Andava, lia muilo, amanccbado com Fulvia, nuilher nobre; c, sendo d'ella agora menos estimado, ponjue a pobrcza o obrigava a ser menos largo, de repenlc apparcceu gabando-se, prometlendo- llie mundos e fundos, ameacando-a as vezes com a morte, se Hie nao fosse sujeita, em fim tractando-a com arrogancia, fora do costu- me. Fulvia, penetrando o niotivo d'esta mu- danra, nao encobriu tao grande perigo da republica; mas, sem noniear qucni Ib'o disse, contou a muitos o que sabia da conjuracao de Calilina, e como o sabia. Isto foi o que mais dispoz e animou todos a dar o consu- lado a M. Tullio Cicero; porque ate alii a maior parte da nobreza ardia era ciumes, e entendia, que se desbonraria o consulado, se 0 exercesse um bomeni novo, ainda que de raerecimento. Mas na presenca do perigo, desveneceram-se os ciumes e suberbas. XXIY. Foram portanlo elcitos consules nos comicios M. Tullio e C. Antonio. Este facto ao principio causou abalo nos conjura- dos. Catilina, porem, nao rcsfriou do furor; antes, multiplicandocada vezmais os seuspro- jeclos, fazia por loda a Italia depositos de armas em logares convenientes ; tomava por sua conta, ou por conta de alguns amigos, dinbeiros emprestados, que remetlia para Fesulas a um certo Manlio, que ao depoi.-; foi 0 primeiro que rompeu a guerra. 'Nesse tempo associou tanibem a si, dizem, muilos bomens de todas as condicocs e ale algumas mulberes; as quaes, tendo podido na moci- dadc supprir a cnormes despezas com o trafico de sous corpos, baviam depois contrahido grandes dividas, quando os annos Ibes dimi- nuiram os lucres, sem diminuir o luxo. For mcio d'estas esperava Catilina sublevar os escravos, por fogo a cidade, e altraliir ou matar os maridos d'cllas. XXV. Do numero d'estas foi Sempronia, que muilas vezes cnmmettera maldades pro- prias de audacia varonil. Esta mulber cm iu- do liavia side afortunada, em nascimento, S86 em bcBeza, em marido, e om filbos ; «»bia bem 0 grcgo c o latim; tocava c danrava com rcquel)ios improprios d'lima imillier lio- iiesla : niuilas oulras prendas possiiia, iiicen- tivos da luMiria; mas a todas ([ueria iiiais, do que a lionra e ao pudor. Nao seria I'acil discernir, sc fazia mcnos case do dinhciro, que da rcputarao! Era tao fiiriosamenlc las- civa, quo piovocava os horaens mais vezcs, do que era d'elles provocada. Ilabiluada ha muito a perlidia, ncgava com juramenlo as dividas, c liiiha sido curaplicede assassinios: 'neste abysmo a haviam precipilado a liixu- j'ia e a pobreza. PorOm nao Ihe t'altava Uilen- to : fazia versos, era mui jovial, sai)ia em sua conversacao moslrar-se siiria, delicada, ou provocante ; c sobrc ludo era mui engra- jada c galaiilc. XXYI. Fazendo cstes preparatives, per- sistia Catiliua cm pedir o consulado para o anno scguitile, na esperanca de que, se fosse desigaado consul, leria de Anlonio quanlo quizessc. Enlretanlo niio descancava : mas armava loda a especie de cmbuscadas a Ci- cero. A esle, porem, nao fallava astucia e sagacidadc para as evilar; porq\ianto logo no principio do seu consulado, a forca de promessas, conseguiu, por meio de Fulvia, que Q. Curio, de (piem acima fallei, Ihe delatasse os designios de Catilina ; alem disto, prometlendo ao seu collega Antonio o gover- no dc unia provincia, rcsoiveu-o a nada oin- prchcnder contra a republica; e occullamen- te andou scmprc escoltado de amigos c clientes. Chcgado 0 dia dos comicios, e vendo Cati- lina que nao tinha sahido bem, nem da sua pretcncao, ncm das ciiadas, que arnuira ao consul; determinou fazcr abertamcnle a gucr- ra, e arriscar ludo, ja que as tcntativas oc- cultas s6 Ihe tinham trazido desgosto e ver- gonha. XXVII. Manda portanto a C. Manlio para Fesulas e para esse lado da Etruria; a urn cerlo Septimio Camertc para o Piceno; a C. Julio para a Apulia; c a outros para diver- sos pontes, onde os julga mais opportunos. Enlrctanto faz cm Roma mil cousas a um tempo: arma ciiadas ao consul, prcpara o incendio, posta gente armada em sitios oppor- tunos, nao larga as armas, e manda aos sens, que facam omesnio, aconsclhando-os, que estejam sempre alerla e proniplos. Vigilante e aclivo dc noite e de dia, nem vigilias nem Irabalhos o fatigam. Emiim, nao vendo rcsultado algura a todas cstas combinacoes, manda seguuda vez cha- mar, alta noite, por M. Porcio Leca, os ca- becas da conjuracao ; e dcpois de se queixar muito da indolcncia d'ellcs, dcclara-lhes, como bavia mandado a Manlio para tomman- dar essa multidao, que estava dis])osla a pe- gar cm armas, e a outros para outros loga- rcs convenientes, a flm de comccarcm a guer- ra: que elle nao dcsejava partir para o exer- cito, scm primeiro dar cabo de Cicero, o maior cstorvo aos seus designios. XXVIII. Irrcsolulns e alcrrados todos com csta proposta, olTercceu-se C. Cornclio, cavallciro romano, e com elle o scnador L. Vargonteio; c amhos ajustaram ir 'naciuclla niosma noite com gontc armada a casa de Cicero, (ingindo visital-o, e alii niesmo apu- nlialal-o dcscuidado. Curio, vendo o pcrigo imminentc do consul, passou logo, por via de Fulvia, aviso a Cicero, da traifao que Ihe proparavara ; c assim vedada aos dois a cn- trada da casa, fruslrou-se o intentado homi- cidio. 'Neste comenos Manlio na Etruria sublc- vava a picbc, desejosa d'uma revolucao, por sua pobreza, e pelo roscntimcnto de suas perdas; porque no tempo da tyrannia de Sylla pcrdera todas as terras e bens. Elle sollicitava, alem disto, ladroes de toda a espe- cie, quo cobriam aquelle paiz, alguns colo- nos de Sylla, aos quaes a devassidao c o luxo nada deixaram dos seus grandcs roubos. XXIX. De tndo intcirado Cicero, e per- plexo entrc dous males, ja porque nao po- dia defender Roma por mais tempo, so com suas particulares providcncias, jii por([ue nao conbecia a fundo as forcas e projcctos do excrcito de Manlio; relalou no sonado estes acontecimcutos, cujo rumor ja andava espa- Ibado pelo vulgo. Assim decrctou o senado, como costumava nos maiores perigos, que vi- giasseiii os consules, nao sojfrcsse a republica algum damno. Por csta formula era costume conceder o senado aos magistrados amplissi- mos poderes, de Icvantar excrcitos, fazer guerra, castigar cidadaos e alliados, deposi- ta,;ido nas maos dos magistrados o commando, e a jurisdiccao suprema em negocios civis e militares: de outra maneira nenhunia d'cstas cousas era permitlida ao consul sem ordeni do povo. XXX. Poucos dias depois, o scnador L. Senio leu no senado unia carta, que disse recebera de Fesulas, na (jual vinba cscripto: « que C. Manlio tomara as annas a frenle (' d'uma grande multidao, a t'l de outubro. » Logo, cntraram uns a contar portenlos e pro- digies, como succede em cases tacs; outros a cspalhar, que bavia conventiciilos, que sa transportavam armas, que os escravos se ar- mavam cm guerra em Capua c na Apulia. Por esta causa I'oram mandados per dccreto do senado Q. Mareio Rei para Fesulas, e Q. Metelle Cretico para a Apulia e circumvisi- nhancas. Ambos cstes generaes estavam de- lidos as porlas de Roma, sem poder trium- phar, pelas intrigas d'uns poucos, costuma- dos a vender a justica e a injustica. Par- tirani tambem os preteres, Q. Pompevo Rufo para Capua, e Q. Metelle Celcr para o Pice- no, com poderes de levautar um exercito 287 scgnndo o tempo e a necessidade. Tambcni sc decrelou um preniio a todo o que dciiiin- ciassc a coiijtiracao iraniada coiilra o cstado: sendo cscravo, a liherdadc e cem seslcrcios; scndo livre, o pi'idao do crime (so fosse cumplice), e duzcntos seslcrcios. Decrelou-se niais, que conipanliias de gladiudores se dis- tribuisscm per Capua e outros niiinicipios, a proporcao das forcas d'esles ; e que se es- palhasscm rondas per lodas as ruas de Ro- ma, debaixo das ordens dos magislrados me- norcs. XXXI. Todas eslas precaufoes sobresal- lam a cidadc, e niudam a face de Koma. As alegrias e prazeres, fruclos d'unia longa paz, coiivertem-se em universal Iristcza. No nieio da perlurbacao e do temor, desconfia-se de lodos OS iogares e pessoas; iiinguem sabe, se esla em paz, se em gucrra; cada qual julga do [lerigo segundo o proprio medo. Alem d'isto as mulberes, para quern em tao poderosa repulilica era novo o temor da guerra, lastimam-se, ab;am bumildcmente as maos aos ecus, lauientara a desgraja de seus fJHiinhos, senipre com perguntas, assusladas de tudo; e deixando suberbas e regalos, so lemcm por si e pela iialria. A pcsar das precaucOes, a pesar de ser interrogado por L. Paulo em virlude da lei Plaueia, o cruel Catilina.trabalbava como d'anles. Por ultimo apprcsentou-sc no sena- do, ou por di--l'iuce, ou para se justillcar, taxando d'impropcrio o crime, com que o provocavam. Enlao foi que o consul M. Tul- lio, ou por Ihe temer a presenca, ou por in- dignacao, recitou aquclle discurso brillianie e util a republica, que depois publicou por escri[ito. Tendo acabado, Catiliua, como estava disposto a tudo dissimular, de ollios baixos e voz bumilde, ptdiu aos senadores, « que nada a seu respeito acreditassem de elevc: que seu nascimento, sou leor de vi- B da dcsde a mocidade, so faziam presumir « bem do seu character; que nao peusassem, « que um liomem como elle, palricio, e que, « a exemplo de seus antepassados, havia feito « tanlos beneficios ao povo roniano, dese- « jasse arruinar a republica, quando a defen- « dia um M. Tullio, eslrangeiro em Roma. » A estes acrescentou outros iniproperios con- tra Cicero: todos, por6m, o intcrromperani, t; em alias vozes llie chamaram inimigo e parricida. Entao furio.so exclama: « .la que «os inimigos, que me cercam, procuram pre- «cipitar-me; apagarei com a ruina de todos «o incendio, que me preparani. » XXXII. D'alli corrc apressadamcnle a casa. Enlao, revolvendo na niente multidao de ideas, sobre a inutilidadc das ciladas ar- madas a Cicero, sobre a impossibilidadc de por fogo a cidadc cercada dc sentinellas, rcsolveu por raais acerlado reforcar o exerci- to, e, antes de se alisiarem as legioes, loinar niuilas providencias, quescriam uteis na guer- ra. Partiu pois, alta noile, para osarraiaesde iMaulio, aconipanbado duns poucos; c dei- xou recommendado a Lentulo, a Celiiego, e u outros, de cujo desembaraco e alrevimento eftava certo, (lue engrossassem o partido por todos OS niodos possiveis, que aprcssasseni a morte do cousul, que apromptassem o ne- cessario para o incendio, para a niatanya e mais atrocidades da guerra ; que clle bre- venienle vollaria a Uonia com um exercilo numeroso. Cuntiiiua. GIIAMMTICA EL£JI[.\TAR DA LINGUA LATINA PAR.\ USO DAS ESCHOLAS : POB 3oai\\u\\i XVws At Sousa, Professor de liebreu no lyceix nacioaat de Coimbra. Necessaria pneris^ jucunda senibiis^ dulcis secrctunim comes. QlIIKCT. Ante nossos olhos teraos um novo com- pendio, que, muito lia, se despjava nas maos da mocidade porlugueza, dcstinada a vida lilteraria. E elle a (jrammatica elcmenlar da linyua lalina, para mo das escliolas ; obra do illustre professor de bebreu no lyceu da Universidade, o sr. Joaquim Alves de Sousa. Lemos ja o livro todo: enclicram-se nossos volos e csperaufas. Sim: eis o conipendio, que a nossas cscbolas faltava ainda, para melhor e raais facilmente sc aprender a utilissima lingua latina, junclamcnte com a nacional. Diflicil, fragosa, e ate, para muitos, arriscada fora a enipreza: coube porem ao sr. Alves a gloria de effeilual-a primorosa- nionle. Nem ouira cousa era do esperar. Se 0 permittissc a ingenua modestia do nosso digno collega, diriamos aberUimente -^ que bem rcsponde a obra ao rcconhecido inge- nho do seu a\ictor; ao fino tacto e apurado gosto, que o distinguem ; aos seus profundos conhecimentos e praclica de ensino, as.«im das bumanidades, como de varias linguas; e cm fini a outros doles seus; Cousus, que jiinclas se acliam raramenle. Bem lembrado do aviso ciceroniano, o sr. Alves olhiira uo que, nas doulrinas graniinati- cacs, releva dizer-sc; a ordem, com que se ellas devem dispor; e a forma, que Ihes con- vem : quid, el quo quidque loco, et quo mode: e tudo cxcculou com a perfeiciio, (]ue podia lao bom desiMihada obra. Dcsde o principio ale ao lim d'ella, nao perdondo de visla a pequcniiia espliera, que abrange a intelli- gencia das primoiras idades, leva elle, como 288 pela mao, o menino; aplainando-lhc o ca- minho, que ha de scguir, ate que possa coui facilidadc passar os conceilos d'uma para a outra liufjua. E, coniecando por doutrinar o meuino nas partes elenientarcs do discurso, clle o prepa- ra, analytica e practicamcnte, com o ueccs- sario conhcciraento das divorsas especics de palavras e suas propriedades; c por tal arte, com tal ordem, e com tal precisao e clareza 0 encaminlia, que quasi Ihe I'az ver e palpar OS objectos das ideas, que Hie infunde. Passa d'ahi a dar-ihe, com egual pcrspicuidadc, as leis da coordeuafao das palavras em ora- coes, c d'estas era discursos; mostrando-Ihe, como se devem exprimir as reiacOes das ideas e dos pensamentos, na razao da sua convenientia, determinaciio c ordem. E, de- pois de ter ensinado. quanlo e necessario, a parte racional da grammatiea, chega em fim a musical; dando os preceitos, que bastam, assim para a recta pronunciafao dos sons fundamenlaes das palavras, como para a conveniente modulajao da voz, na prosa e no verso. Todos OS preceitos sao illuminados com exemplos muito bem adcquados c escolhidos, instructivos e agradaveis, e com toda a elc- gancia e iidclidade vertidos d'uma para a outra lingua. Coroam a obra acerladas licoes sobre a ordem, por que os principianlcs deve- rao estudar qualquer logar latino, para o ver- terem em portuguez; como o deverao verter depois de estudado ; como o deverao analysar: e finalmente excellentes modelos de primeiras versoes. Assim e que o sr. Alves conduz o menino ao termo desejado, arrcdando-Ihe do caminho esses espinhos d'antigas questOes inuteis, em que se consumia o tempo; e dan- do-lhe so a doutrina indispensavel ; e, sem a qual, ou se nao consegue o fim, ou, para la chegar, e forra que se niendigue ella 'nou- Iros tivros. Por onde ninguem dirti que e grande o volume d'este compendio : nos, se alguma cousapodcmos intender, cuidamos que elle e breve, quauto o devia de ser; que e ura precioso Ihesouro em pcqueno cofre. E o service, que o nosso digno collega acaba de prestar a patria, e para ella relevaute, para si glorioso. A. C. B. RELACAO Dos individuos nomeados para os scguintes logares de instruc^uo publica desde o dia 1 at^ 15 de margn corrente^ por dispachos do cotiselho superior d'instruc' rfio publica^ € decretos do governo comnmnicados ao mesmo conselho no indicado periodo. INSTRfCtJAO PRIMARIA, Diiarle Joaquim Falcao, para professor lemporario da cadeira de Beoavente, districio de Santarem. Joaquim Pereira de SoHsa Girao, para dicto de Sancta Martha, districio dc Viana. Antonio Maria Soeiro, para dicto d'AIcoentrc, distri- cio de Lisboa. JosL- Juaquim d'Oliveira, para dicto de Sacavem. Jose Maria Ferreira, para dicto de Monte Kedondo. Manuel da Costa, para dicto de Sancta Crnz, districio de Bcja. Manuel Jose Rebello da Silva, para dicto de Ponte do I.inia, districio de Vianna. Tarolina Amalia Kernandes, para incslra temporaria da oschula de meninas da villa da Calheta, dislricto do Fuuchal. ANMUIVCIO. Cathecismo deDoutrina Chrieta, accommodado :i in- lelligrencia dos raeninos, que frequentam as escholas de instrncc^rio priinaria. Ordenado por J. da S. Uandcira. Appn)vado pelo ex."" e rev.""" sr. Arcebispo Bispo Conde. Vende-se por 40 rc'is — em Coinilira, na loja de livros de J, A. Orcel, e na rua das Covas na do sr. Jose de Mesquita; em Litiboa, na do sr. Cobellos, rua Augusta AVISO DA REDACC\0. Com 0 presenle numero termina o 5." anno d'esta publica^ao. A Redac(ao agra- dece aossrns.assignanles seuvalioso auxilio, cuja conlinuaQao esjiera mcrecer-lhes; e re- mettcid 0 Instituto dqudles, que em tempo compctenle nao mandarem revogar suas as- sigualuras. Aos snis. assignanles, que eslao em deficit, roga-lhcs que salisfa^am a importancia de- vida, antes de comefar o novo anno d'este jornal. Toda a correspondencia dcve ser dirigida franca dc porte: o Instituto conlinuard a offcrccer egual vantagem. Preco, adianlado, por anno, ou 24 numeros, francos de parte l^iiO Porsemestre, ou 12 numeros, dictos 800 Avulso 100 Para os srs. Assignanles os numeros, que Ibes laltarem d'este 8.° volume se- rao pelo mesmo prcco da assignatura annual, ou cada ura GO Os exemplares q^ie restam dos volu- mes 1, II, III, IV e V d'este Jornal vendera-se, cada urn por 1^200 Assigna-sc este Jornal em Coimbra, no Ga- binete do Instituto; em Lisboa, na livraria do sr. Cobellos, rua Augusta n.° 2 ; no Porto, na do sr. Jacintho A. Pinto da Silva, rua das Ilortas n.° 144; em Evora, na do sr. V. J. da Gama, collegio de S. Paulo; no Pczo da Re- gua, na do sr. M. Mendes Osorio. 0 Instituto annuncia lodas as producfues litterarias dos socios, (|ue assim o desejarem, e reniettcrem a redaccao as notas conipelen- tes; e todas as outras, de que forem rcmel- tidos dous exemplares. 0 mmim. JORKiL SCIEIITIFICO E LITTERiRIO. TOIiUJIIE SEXTO. €OIMBRA IMPRENSA DA UNI VERSIDADE. 1858. INDIGE ALPHABETICO DO !^ex:to voiiUniE do imistituto. Abe.lruzci 20i Accliin.ita(;aa universal Iti6 Agriculliira .. 199, 219, 221, 229, 239, 853, 2G5, 28<) Agultia encontrada no figadu 2HfJ Almanack de Coimbra 2f)2 Almanack de luslruoijao publica 227, 270 Annuncios 24, 30, 4.8, 106 Apuntamentos para a cuntiniia<;uo da Bibliollieca Lusilana 6H, 85 Arachnides (gerai;ao dos) 23 .\rreJores dc Coimbra 202 Arrozaes 197, 231 Almospherada Ina 65 Bancos lerrituriaus 4, 221, 25.S Banbos de Luso 292 Bibliographia 11,22, 38, 47, 70, 103, 131, 165, 203 262, 270, 271 Jiibliolhcca Lusilana 68, 85 Biosraphias 237 Canal de Suez 1 8, 46 Cera vegetal 1 05 Cera dos inseclos 119 Celaccos 214 Chi mica (a)e os cosmetius 239 <-'liimica organica 279 < 'l.issicos latinos (.logares seleclos) 1 65 Collec^iio de tractados e convent^oes compilados por S. F. Borges de Castro 23 Concilio de Trento ; 167 Congresso lillerario 167 Conjuracao de Catilina 43, 87, 98, 116, 12li Conselho superior d'lnslruc^ao |inblica 2, 61 Cunsumo da agua 176 Credito as classss operarias 56 Cura do escorbuto 203 Declara^ao da redaci^iio 7;^ Degeneratjao adipoza do cora(;ito 272 Dcsalento (poesia) 88 Descobertas no seculo XIX 272 Despacbos do conselho superior d*inslruc(;au publi- cs (Rela(;5o dos) 24, 152, 168,176,204,239,251 264, 272, 288 Direito publico porluguez . . 233, 248, 256. 277, 295 Discnrso ]ireliminar da 4." edi^ao do melhodo porluguez 38, 109 Domestica^.^iu dos celaceos 214 Edi^Ses de D. Quichole 166 Elegias de Tibulo (versao) 10, 250, 260 Elogio bistorico 159 Emporio italiano 160 Ensino praclico elementar dagricultura 229 Ensino publico em Portugal 157 Encanamento do Mondego 130 Esmcraklas (as) 264 Estatistica das Universidades alleraas 92, 105 Estatislica das Universidades de Hespanha 167 Estatistica da Universidade de Coimbra 143 Estatislica do Ivceu de Cnimbra 145 Estatistica do suicidio 238 Estatistica litteraria 167, 176 Faculdade de mathematica 37 Faltas (rela^So das) dos eftndantes de direito 207, 284 Febre puerperal 244, 268, 286 Fermenta^iio 279 Fontes de agua duce no mar 238 Gaz (o) na Inglaterra 60 fieomelria 115 Girasol (influencia beneQca do) 263 Hernieneiitica do direito porluguez 97, 126 Hjpocrales (o lumulo de) 237 Incendio de Roma 235 India (a) e a alinienta(;ao da Europa 166 Insectos 166 Institui^ues de direito administralivo por Justino Antonio de Freilas 103 Instiluto de Coimbra 49,229,241,253,265 Iiistruc^ao pnblica 25 Instrnct^iio publica em Hespanha 167 Instruc^iio pnblica na Grecia 48 lnstruc(;rio publica na Prussia 17 6 Instrnc^iio publica na Russia 239 I n trodnccao 1 Irm,-is (as) da Caridade 7, 13, 29. 40, 50, 80, 90 Jornalisrao em Paris 22ft Jornalismo no mar 228 Jose Monleiro da Ri.cha 261 I.apa dos F.sleios 202 Levadiira artiDcial 287 Litteralura portugueza 73 Logares Selectos dos classicos latinos 165 Lusiadas (osl, tradnc(;ao franceza 55, 298 Lonpevidade 271 Luz electrica 166 Lvceu de Oimbra 145 I\Iachina para escrever 238 Mammas (mulher com qnatro) 300 Mar de sarga(;os 263 Marinha de todas as na(;oes 238 Mathematica 93, 107, 121, 134, 177, S7S Jledalhas romnnas 238 Medicina (a) na Austria 251 Medctaijao (poesia) 209 Memoria bislorica do mosteiro da Concei^iio em Portalegre 148 Memoria sobre os arrozaes 197, 231 :Minas de prat* 300 ^loedas de difTerentes ))aizes 239 Moinhos (inven^ao dos) 60 Montanha (a mais alia) do glolio 213 Movimento lillerario na Allemanha 228 NecroluL'ios 104, 167, 205, 212 XeerlanJia(a) e a vida holandeza 53, 145 Noliciu da vida do medico Bernardino Anionio Gonns 70 Noticiarios . 23, 48, 60, 71, 82, 104, 118, l.i2, 149 165, 176,803,213, 8S8, 237,251.263, 271,287 2U9 Noru proiliiclo alimentar 213 Novoi planelas 92,105,149, 165, 176,213 Observances meteorologicas em Madrid 174 Obiervalorioaslronomico de Coimbra . £15,240, 252 273 Oleo Ue terra 1 05 Ouro na Australia e Calirornia 60 Papel Citiduslria do) 141 Paroeho d'aldea (poesia) 45 Peixes electricus 61 PheiiomeDo nutavel '214 Phosplioro vermelhu 23 Plirenologia na China 239 Pini^a esopha;;iaoa (extrac^Su d'nni pataco) 101 Piscictillura na China 106 Planetas novos 92, 105, 149, 165, 176 213 Planla textil 272 Plaulo em Berlim 92 Poesias 55, 88, 204, 809, 850, 256, 260 Pidypos calcareos 27 1 Populajao eslacionaria em Fraii<;a 164 Populaijrio do globo 238 PreleC(;Bes de direito publico 233, 248, 256, 277, 295 Preludios (poesia) 209 Premios 2'24 Processo civil (Eiementos do) 203 Projecto de lei sobre a inslrucqao pdblica 25 Putrefaci;3o 299 Reforraa do ensino publico em Portugal 157 Relalorio ao niinistro da jusli^a por Manuel Tho- maz de Sousa Azevedo 131 Uelatorio da faculdade de niatheniatica.. .. 185. 178 Relalorio da sociedade agricola de Coimbra . 865, Relalorio dos banhos de i.uso Relalorio do commissario dos estudos do Funcbal Re Resolu nha . elho d'Eslado ' Jose Silveslre ,ui;oe; Ribeiro Revela<;uo dos crimes 6 Revisao typographica Revisia de inslruccion publica Sancta Isabel Seda vegetal SfMlo (o) graude de Inglaterra 201 , SrMiienleira das batatas SessBes do Instiluto 289,241,253, Silicato de polassa (applica^ilo do) Snciednde philantropico-academica Soninambulismo . Snicidio Sulfate de baryta (eniprego na pintura do) Telegraphos electricoB Teoria de los Puentes Colgados, por D.Ed. Saate- dra Theralologia (caso nolavel de) Tlieologia pastoral Transfusuo do sangue 237, Trisec^So do angulo Tutella (a) do governo na industria Universidade de Coimbra 207. Viagera a Inglaterra (Excerptos d'uma) Vidro (AppIicai;ao do) VisiJes Volcao submarino Zoologia , . . Zootechnia (a) e as arles agricolas 199, ^©ILILM^MilDDBlES DO SEXTO VOIiftlME BO IMiSTITKIXO. Adriano d'Abrou Cardoso Macliado. Adriao Percira Forjaz de Sampaio. Albino A. Giraldcs. Antonio Ayres de Goiivi'a. Antonio Augusto da Costa Simoes. Antonio Cardoso Borges de Figueiredo. .\ntonio Feliciano de Castilho. Antonio Francisco Tavares. Antonio Jose Teixeira. Antonio Xavier Hodrigues Cordeiro. Augusto F. SimiJes. Bernardino Joaiiuiin da Silva Carnoiro. Francisco A. Alvcs. Francisco A. Rodrigties de Gusmao. Francisco de Castro Freire. Francisco Fcrnandes Costa. Henrique O'Neill. Ignacio R. da Costa Diuirte. Jacoiue Liiiz Sarmenlo. Jeronvnio Jose de Mello. J. F. da Silva Pinto. Jose Maria d'Abreu. D. Jose Maria d'Almeida e A. Conca de La- ce rd a. Joaquim A. Simoes de Carvalho. Slarcelliano Ribeiro de Mendonca. Marquez de Souza Ilolstein. Miguel Ribeiro d'Almeida e 'Vasconcellos. OBBAS POST(JH.lS. Duque de Palmella (D. Pedro). Manuel Mathias Vieira Fialho. Ricardo Raimundo Nogueira. (D Jn^tittttiT^ JORISAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. INTRODUCClO. 0 Institito entra hoje no sexto anno da sua publicacao. A gcnerosa collaborarao de distinctos so- cios seus, a benevola cooperacao de eseripto- res eminenles, aos servifos da mais extrema- da dcdicafao de alguns zclosos cultores das letras patrias, deve o Insiituto o nonie que Icm grangeado 'nesle primeiro pcriodo da sua cxistencia. E sao estes tambem os pcnhores, as fundadas esperancas do sou fiituro. A. sociedade, de que o I>stituto lomou o nome, e cujo orgao e, entendeu que a pu- blicacao de um jornal scienlifico era nao so o seu primeiro e mais importantc dever, mas ate 0 maior servifo que na actualidade podia prcstar a lilteratura patria. ia "nisso o inlercssc das seicncias, a illus- tracao do paiz, o proprio credito e reputacao lilteraria. Crcar o goslo pelo jornalismo scientifico; abrir o campo as discussoes litterarias da imprensa; apurar o eslylo; provocar a criti- ca esciarecida e imparcial; cxcitar a bem entendida emulacao lilteraria cntre a moci- dade esludiosa; fazer conliecidos os progres- sos das letras e das sciencias: tal foi o lim que 0 Institlto se propoz obter. Conhecidas Ilie eram as difficuldades que tiniia de ven- eer, as reluctancias e estorvos que se Ihe preparavara; raas nao desanimou. Cinco volumes do Instituto, publicados 'neste poriodo, sao o fruclo d'cstes esforcos, e a rccompcnsa, unica a que aspiramos, de tantas fadigas, e, por vcntura tambem, de tantas contrariedades; se, como a conscien- cia nos diz, e o benevolo acolhimento do pu- blico nos testemunlia , 'nesses volumes ha materia para instruccao dos Icitores; se com 0 nosso pequeno cabcdal concorremos para propagar as boas doutrinas, para fazer co- nhecidos os progressos das sciencias, e apre- ciados OS seus cultores. Apesar, porem, d'estes sinceros desejos, e do empenho com que serapre lidamos por aperfeicoar cste nosso trabalho, o 1^STIT^;T0 csta ainda longe de corresponder ao seu ver- dadeiro lim. Falta-lhe muito para satisfazer cabalmente ao que pode e deve ser um jornal Vol. YI. Abril 1.°. de sciencias e litteratura, publicado no seio da nossa priraeira e mais illustre academia. Nao nos envergonhamos de o confessar por nos, que de sobejo conhecemos o pouco que valemos ; mas cusla-nos, e muito, pela Univer.sidade, de que o Instituto podia e devia ser o orgao principal, se os conselhos academicos se associassem a estes trabalhos, se tivessera a bem enriquecel-o com os seus escriptos, com as suas memorias, com os seus annaes, seguindo 'nisto as boas practicas de todas as academias da Europa culta. Nao entendcmos que a missao de um ma- gisterio lao auctorisado e tao illustrado sc concentre no recinto das suas aulas, ou se traduza nos,.«ompendios dos sous dignos mem- bros. Nao 6 uraa censura que lancamos aqui sobre uma corporacao tao respeitavel, nem queremos com isto dizer que as outras es- cliolas superiores comprehendam melhor os seus deveres ; mas quizeramos que o exem- plo partisse d'aqucUa, que, por todos os titu- los, reputamos a mais auctorisada. E nem por islo deixamos de confessar com reconhe- cimenlo a valiosissima cooperacao, que temos recebido de professorcs distinctissiraos da Universidade. As mimosas produccoes da mocidade aca- dcmica devemos tambem algumas das mais bellas paginas do I>stiti;to; folgariamos, po- rem, de a ver concorrer em mais crescido numero para esta cruzada sancta de verda- deiro progresso e illustracao, nao deixando arrefeccr os brios litterarios pelo reccio de uma critica demasiado severa; nem cortando OS elevados voos do genio e do talento juve- nil pela ambicao nobre, mas diflicil sempre, de querer logo em verdes annos colher saso- nados fructos no cstadio das letras. 0 Instituto deve servir de raodelo para uns, de incitamento para outros , de ins- truccao para lodos. So assim os seus services podcm aproveilar a causa das letras. 0 Instituto, escripto por sabios abalisados, por jovcns professores de grande engenho, por alumnos talenlosos, encerrara cm suas pa- ginas a historia eloquente das diversas Irans- formacSes, por que a nossa sociedade vai pas- sando ; das ideas que a agitam ; das suas tendencias ; e das suas mais elevadas aspira- -185". NoM. 1. coes. Scrao essas paginas os annacs das gcra- ?oes litlcrarias, qu« vao transmiltinJo unias as outras, seniprcciiriquccido dc novas conquis- las, scmpre alaviado de novas galas, de no- vos priniores, o dcposito precioso das scien- cias, das Iciros e das liellas arlcs. Ilavcra 'ncssas |)af;inas recordarOes tao san- (losas. . . . 'ncsle Iraclo amcno c aprazivel do jornalismo liuerario liaver.i lao docc excnipcao d aninio; tanla seienidade dc espirito; tao sin- cere amor pcio <[ue e vcrdadeiranienle nobri; c gencroso, que nos fariio csquecer de ))oni grado essas Icmpesluosas e esiereis lulas das paixocs politieas; esse lumulluar das amiiiroes partidarias; esses odios e rancores que desvai- ram nuiitos engenlios fclizes, muilas vocacoes l>oneslas, muilos cliaracteics dignos dc racilior estrea. Na sua pacifica niissao o jornalismo scien- tifieo nao podc collier os rapidos e momen- laneos triumphos da imprensa politica ; mas tambem nao teiu a queixar-sc da ingratidao dos partidos , nam da injustica d,os homens que OS servem. A sua accao e lenla , mas vivificante c duradoura. A sua existcncia nao oflusca pelo fulgor das paixoes cxcitadas ; mas, niodcsla e singela, como e, teni na sua consciencia, na convicrao inlima dos servicos que presta a humanidade, a civilisacao, as letras e as Uoas artes, a sua mais bclla corua. Guiados por estes principios continuaraos a publicacao do Institito; c temos fe cm que niio saircmos mat do nosso intcnto, se, como esperamos, continuarmos a merecer o apoio das pcssoas doutas, c dedicadamcnte interessadas pela prosperidade das letras patrias, pelo pro- gresso das scicncias, e pelo aperfeicoaniento da instruecao e da educacao nacioual. / COKEIIO SUPERIOR DE liSTRlCCAO PCBUC-I. RELATOHIO DA 3.» SEC^IAO. 18oi— ISou. ConlinuaJo de pag. 881 do V. vol. Seeretaria da Universidade. 0 chefe d'esta reparlirao, dcpois de ter cxposto no seu relatnrio grande augmento de trabaiho na seeretaria a seu cargo, ja pelos concursos das S faculdades, ja pelos longos e minuciosos processes passa a proraocao dos candidatos nos differeiitcs logares vagos do raagisterio, ja pclas jubilacoes, e as repetidas e cxtcnsas, scs^oes do ciaustro pleno na dis- cussSo de projcclos regulamcntares, conciue que n!to se faltou ao expedientc necessario, que seria mais complelo c aperfeicoado, so liouvesse o sufliciente numero d'cmpregados para salisfazer com promplidfio a lodos os ramos do scrvico. Da alem d'isto conta de, em virlude da i)orlaria do ministerio do rcino de i'J de Janeiro do corrcntc anno, ter sido transferida a reparlicao da seeretaria do seu anligo local para as salas inferiores do paco ri'itoral, onde se collocou o cartorio, e ar- ranjaram, com commodidadc c deccncia, urn gabinete para o prelado, e oulro para o sc- cretario, e as salas para os ofliciacs e o por- teiro , acliando-sc tudo disposlo na melbor ordem c regularidade, mas scndo ainda ne- cessarias algumas obras, e alguus movcis para as salas e gabincles. Heal capella da Universidade. Do relatorio do thesourciro capellao-mor consta ([uc na real capella cclebraram-se no anno leclivo (Indo os ODicios Divinos , na conformidade do decrelo dc 13 d'abril de 184j, c regulamcnto de 27 de junbo do mesmo anno ; cumprindo todos os emprcgados da mesma real capella os sens cncargos, c sendo OS capellaes coadjuvados no desempenbo das funccoes religiosas por alguns estudantes cc- clesiasticos na qualidade d'addidos, segundo o disposto no art. i.° §. 2.° do citado dccrcto. Consta mais que, alem do ibesoureiro capcl- lao-mor, c do mestre da capella, professor no lyceu, ba 8 capellaes, que dcvem scr estudan- tes malriculados em algumas das faculdades academicas, incumbindo a cada um d'elles ser annualmentc cbantre, as obrigacOes dcsigna- das nos cslatutos do citado decreto, art. 4.°, g. 7.° Como pela organisacao da capella, nao per- tencem ao capellao, que cm cada anno lizcr as vezes de cbantre todas as altribuicoes que antigamente competiam ao cbantre, e o mesmo tbcsoureiro dc pareccr que com urgencia , para bem da regularidade e disciplina na capella, sejam explicitamente designadas as- obrigacocs ou altribuicoes que Ibe possam compelir, baixando para isso em portaria do prelado alguns artigos, que se devcm annexar ao regulamcnto, e detormineni aquellas attri- buifoes. Parece-lbe tambem que conviria que, alem da nomcarao do capellao cbantre que deve annualmentc scr feita pelo prelado da Universidade, fosse tambem nomeado pelo mesmo prelado um capellao, mestre dc cere- monias, para evitar alguns inconvcnicntes, que se tern dado ate bojc na clcicao do que devia exercer este logar. 0 service dos ad- didos, segundo o relatorio tern sido na maior parte muito irregular, faltando alguns d'elles em funccoes ate mui principaes, c porisso o tbcsoureiro capellao-mor sollicila tambem al- gumas provideucias para regularidade do ser- viyo, secundo, exigir-se-lhes ao mcsmo lempo prova de suinciencia cm caiUo-ch5o e cereino- nias, antes dc scrcm niatriciilados adhos, a rcduzir a cscri- pto 0 Rossi. * Parece-me inutil insislir neales pontos, qtie quasi se podem dizer os lo;:ares communs da scieiicia social. Jnlgo incontestavel e incontestado, que a ordem e essen- cial para a existcncia da sociedade — e que portanlo o homem deve procurar conserval-a e fazel-a conservar, usando para isso dos meios liciLos, de que eUe pode dispor. ^ Alguns d'estes actos consliluem verdadeira cumpli- cidade. E certo, porem, que os acbamos todos com- prehendidos no principio de nao concorrer directamentc para a nao impunidade. ja importa fixar, e que todos esses faclos, embora d'elles conslituam cumplicidade, d el- les somente participacao indirecta do crime, lodos, digo, sao egualmente contravencao do dever social de nao favorecer a impunidade; porque lodos tendem a produzir ou prolongar 0 eslado de nao-direilo causado pelo crime ; assim consiJerados, todos sao crimiuosos ', c e como taes merecedores de penas. Para os que fazem depcnder, em direilo pe- nal, a Icgilimidade de um principio, da sua necessidade, nao me parece que deva ofle- reccr diivida a justira e legilimidade da re- velacao. Como suppor que a aucloridade, so por si, pode ter conbecimcnto de todos os crimes? que a policia e tao pcrfeita que pre- senceie todos os delictos, e couheca sens au- ctores? que o ministcrio publico esta lao beni organisado, que possa querellar de todos os crimes, sem previas informacoes que o babi- lileni para fundamentar as suas accusacOes? 0 concurso dos individuos e necessario para a boa administracao da justica; e esle con- curso nao pode cifrar-se no testemunbo so- mente, porque seria imperfeito. 0 testemunbo e sobre faclos conliecidos, quasi averiguados, as vezes ja demasiadamente provados ; nao provoca, como a revelacao, a acrao da justi- ca ; 0 testemunbo e um meio de concorrer para a nao impunidade muito menos efficaz do que a revelacao. Se alem disso considerarnios os effeilos da revelacao anterior ao facto, que sao: evitar 0 crime, e todas as suas consequencias; da posterior ao delicto, que sao: dardireccao as indagacOes da juslica, e poupar-Ihe as incer- tezas em que mais ou menos labora, quando somente conbece o crime pelos sens resultados; tornar a sua accao mais prompta, e como tal mais eflicaz, porque, com delongasse cnfraque- ccm as provas, e parece immerecido ocastigo; se considerarmos todos esses edeitos, nao lere- mos diivida em reconbecer que a revelacao e 0 modo mais cnergico de concorrer para a sustentacao do principio da nao impunidade; por consequeueia para a sustentacao da or- dem, e da sociedade. Conlinua. DAS IRMAS DA CARiDADE. Conlinuado de pag. 201 do V. vol. Longos volumes seriara raisler para rcco- Iher OS heroicos feilos das servas dos pohres. * E claro que todos os aclos que tendem a favorecer a im|iunidade sao crimes, porque le^am a sociedade n Jnstittttu, JORNAL SCIENTIFICO E LlTTEllARIO. DAS IRMAS DA CARiDADE. Contiuiiailo de paf. 10. XIV. Napoleao, clevado a priraeiro consul, nao podia esquccer-se, na sua grandc ol)ra dc rcparacao, d'aquillo, que tao de perto con- tcndia com o allivio do povo, c que tao adap- tado era para o caplivai-. As cxpressoes do dccrcto, que readmitlc as irmas, sao de sohejo signiticalivas. So ellas (diz este) sabiam dirigir os hospicios com cuiilado, intelligencia, e econoinia, como dkjnas alumnus d'luna instituicao, cujo unico fim e ameslrar na pruciica d'uma caridade illimitada. Poucos annos depois, cm 1800, urn novo decreto as associou ao servico publico em todos OS estabelecimentos de bcncficencia legal; e dilTercntes oulros arligos de legisla- cao, publicados pclos governos que se se- guirara ao priraeiro iuiperio, rcgularaui, em todas as suas partes, esta lao importante collaborarao. Dcsde cutao a irma da caridade quasi lomou logar cnlre os funccionarios piiblicos de Franca, no que rcspeita a uma das mais nobres, e por venlura mais difficil das mis- soes soccorrer aos dcsvalidos, cxercendo a caridade legal. Sao ellas as distribuidoras dos soccorros, que as conuuissOes oniciaes de bencliccncia (bureaux dc bienfaisance) desti- nam para os pobres eiivergonhados , e por contadas niesmas comniissocs, as enfermeiras dos doentcs pobres, soccorridos cm familia ; assim como, e sob a mesma inspeecao, as diroctoras e mcstras dos asjios da infancia ou da vclhice, das cazas de lavor, escholas de meninas, etc. Nos hospitacs de doentes curavcis, bera como nos hospicios d'incuraveis e em todos os mais a cargo do publico, ellas e outras ir- mas hospitaleiras, excrcem, igualmente d'ac- cordo com a administracao civil dos mesmos, a expensas d'esta, e sob a sua direccao, o mister d'enfermciras. Adianle daremos conta mais circumstan- ciada das condicoes d'esta coadjuvacao offi- cial, que por uma parte regularisa, e sancti- YoL. VI. Abhil lb- fica 0 exercicio da caridade piiblica , e pela outra ministra as irmas uma parte dos meios materiaes d'existencia de que precisam. Na legislacao franceza respectiva parece- nos baver muito que aproveitar; e o seu estudo esclarecera o que melhor convenha fazer-se entre nos, por parte do governo, das camaras, raisericordias, sociedades d'asy- los da infancia etc. para se estabelecerera, e multiplicarem as suas casas. Com este caractcr e servico publico nem por isso deixam ellas de exercer todos os oDTicios da caridade particular: as que estao addidas aos hospicios e as commissoes e es- criptorios [buj-eaiix] de beneticencia, quanto e compativel com essa ligacao ; lodas as ou- tras constante e indelerminadamente, como medianeiras entre os ricos e os pobres, ser- vas e procuradores d'estes. 'Nestes difi'ereutes exercicios esta terceira e ultima epocba de sua gloriosa existencia c sobremodo fecunda nos mais admiraveis cxeniplos, dcsde as campanhas de IS'apolcao, e as successivas invazoes do cholera, ate ii guerra da Crimea ; na qual nao pouco con- correram para a gloria imperecivel da Fran- ca , e leviiram ainda mais alto e mais longe a fania do seu institute. « De volta a Franca (diz Orsini), quando tudo rcspirava guerra, viram-se as irmas nos campos da bataiha disputar a morte os mulilados da victoria. Foi alii que a irma Martha recebeu um dia, das maos de Napo- leao, 0 qual vencrava todo o gencro dc cora- goni, a ostrella da legiiio d'honra. E essa niulher parcceu graude ainda mesmo ao pe dos gigantes do imperio. » Grande numero de soldados e officiaes, gravemente feridos, e de cujo salvamento a medicina justamente desespcrava, deveram aos prodigies de cuidados, aos esforcos quasi sobrenaturaes das irmas enfermeiras, a saiide e a vida. E todos quantos, ou nas ambulancias, de- pois dos sanguinolontos conibales, ou nos hospitacs militares, no paiz natal, ou no extrangeiro, encontraram a mulher caridosa vcstida com o burel do sanclo instiluto, nao tiveram que laraentar a ausencia da familia e a falta das caricias maternaes e do abrigo do lar domestico. • 1837. Num. 2. 14 E desde eiUao o simples nome i'inna da caridade ticou sendo para o soldado franccz um diguo objecto da mais alia venerarao. Deixaruos de referir copia dc factos parti- culares, anleriores aos ullimos annos, ponjiie scndo cstes tao ricos de grandes mcmorias, l)a^ta^^lo alguns d'elles para acabar o iiial Irarado e breve quadro, que emprebendcmos. XV. A capital da Franca, conio lodas as gran- des cidades, olTerece o pcnoso coiUrasle da opulencia e da niiseria. Enlre outros o arra- balde de S. Marcello, e 'nolle a I'resuezia de S. Medard, sao o reverse mais que triste dos campos elysios, dos boulevarts, de S. Gcrmano, etc. Em lima de suas pobrcs ruas, — da espudit de i)do (o uome diz ludo) lia uma casa d'ir- mas, centro e escriptorio da commissao (bu- reau) de benelicencia do 12°. dislricto. No dia 27 de fevereiro de 1832 M. de Persigny, ministro do interior, entrava 'nesta humilde casa para entregar, cm nome do presidente da rcpublica, a insignia da legiao d'honra a irma Rosaria , a qual, por espaco de mais de cincoenta annos, prodigalisava cuidados de lodo o genero aos pobres e aos desgrarados, como se expressa o dccreto. E 0 illustre marechal dc S. Arnaud, o va- lente c piedoso general da Crimea, quiz, clle mesrao, pendurar a insignia sobre o pcito da humilde irma da caridade! 0 general Cavaignac, durante o seu curto mas honroso c feliz goveruo, foi vizital-a. E mais tarde Napoleao 3.°, com a Impe- ratriz, nao se dedignou dc descer ao pobre hospicio para honrar aquella, a quern os po- bres cbamavam-=-a sua mCie ; c sobre tujo lumulo, vencrado como de sancta, no comi- Icrio do Monle Parnazo, se leni hoje cstas singelas e tocanles palavras : — A boa mae Rosaria, os seus amigos reeonliecidos, os pobres e OS ricos ! Quando dcsccu a sepultura, quera nao ad- vertisse no carro dos pobres, que a conduzia, e no habilo do seu instiluto, acrcditaria que algunia rainba ou princcza era levada a man- sao dos nuirtos. Cm de seus biograpbos (e a imprensa unanime occupou-se da sua mor- te), dcpois de esbooar o singelo e magestoso de suas virtudes tao iiumildes como uteis a humanidade, accrcscenta: « Eis ahi porque quarenta mil pessoas, no dia do funeral; a cruz e as bandeiras a frcnte do cortejo; a escolta d'honra, os tam- bores funcbres, os magistrados em traje d'olB- cio, os adminislradores, os illustres generaes, OS prelados, os modestos religiosos ; cis ahi porque as officinas desertas, as manufacluras abandonadas ; os representantes dos grandes nomcs historicos da nossa velha monarchia ; nobrcs damas, confuiidindo os seus sympa- ticos scnlimenlos com os das pobres maes, carregiulas com suas ciiancinbas ; — preces, eutremeadas de grilos de desesperacao : — eis abi [lorque um grande numcro d'irmas e religiosas abafando com soluros ; aquella lieira de trens brilbaiUes, com brazijes d'ar- mas ; e esta liuha compacla, durante trez boras de passagcm do funeral, ajoelhada dianle do modesto carro dos pobres. « Mas bonras taes nao se prcstani senao aos monarcbas, aus poderosos da terra. « A irma Rosaria foi mais ((ue isto ; sc- gundo a palavra do Evangelho, foi a serva dos pobres, a personilicacao, para com elles, da caridade. » E ningucni julgue que esta humilde supo- riura da rua da cspada de pau se havia feito tiiO rccommeudavcl por niuitas obras exlraor- dinarias, ou accoes dc maravilhosa dcdicacao fora da patria, nas ambulancias dos ex(M'cilos, ou mesmo entrc os feridos nos campos das ba- . talhas. A irma Rosaria, durante mais de cin- coenta annos, raras vezes sabiu do seu bair- ro. Grande motivo de caridade era mister para que deixasse, ainda por pouco tempo, OS seus numerosos fillios, osdesvalidos d'elle. As muitas instancias da sua \enia mae, com que do paiz de Gex, no Jura, appelli- dava por ver a querida lillia, costumava dis- culpar-se com a irapossibilidadc de os levar a todos comsigo. A sua vida passava no humilde parlalorio, rodeada — ora dos pobres, que vinham pro- curar abi soccorros ofiiciaes, e dos ricos ca- ritalivos, que concorriam a coadjuval-a com os seus sobejos ; — ora d'uns c outros, que dcsafogavam, no coracao da ti'rna mae, as penas da vida e pediam consellios e alenlo ; — ora dirigindo, pela mao de pc-ssoas cari- dosas, uma cxtensissima corrcspondencia, toda de caridade, allivio, e soccorro dos ([ue acudiam a sua poderosa e efficaz proleccao. E quando acabava esta audiencia de mui-, las boras, na qual por vezes se viram, jun- cto dos pobres, os grandes da terra, sabios, politicos, e diplomalicos da primcira ordem, a superiora corria a vizilar e a consolar os seus filbos, pelas cazas, nas cscbolas, e nos hospicios. Comecara o exercicio da fua nohrc mis- sao, quando o seu institute, conjunctamente com 0 sagrado cullo, apenas acabava de re- cuperar a libcrdade d'accao e manireslacao ; e tivera que luctar com uma exlrema pcnu- ria de recursos, no mcio das maiorcs mise- rias, nao so do corpo, mas muilo principal- mcnle da alma, Iristcs fructns das pavorosas orgias da revolucao. E quando, no dia 6 de fevereiro do anno proximo passado, a sua bclla alma compareceu perauie Dcus, fallarara por ella, cubrindo os 15 pequenos deefilos da humanidade, nao so aquellas boas accoes de lodos os dias, mas ura prescpio, urn asylo da primeira infancia, uma escliola de menirias, unia caza de lavor, uraa associarao tutelar das donzelas, outra do bom conscllio com o mcsmo iiiluito, um asylo de vclhos, fundados lodos ostes estabe- lecimcnlos por sua iiiflueiicia e dtreccao jun- cto ii casa de soccorros que dirigia; alem de constantes c mui valiosas instrucroes e con- sellios, prcstados de boa mente a todas as mais obras e institutes de caridade, que tive- ran> principio no seu tempo ! « A. irma Rosaria (cscrevc o visconde de Melun) reccbera de Deus o que da a aucto- ridade c o podcr ; o que scgura iim bello logar no ceo e na terra ; o que faz os genios superidres e as almas cscoHiidas. Tinlia a prudencia e a siugeleza, a superior intelli- gencia e a virtude, a inuocencia e o genio. Era capaz de governar os liomens, de fun- dar magnificas instiluicOes, de doixar depois de si OS mais profundos vestigios ; podia passar a vida a fazer cousas grandes. « Preferiu a uniformidade d'uma exislen- cia obscura, que se dcdica a practica habi- tual do bem ; recomecou cada dia o trabalbo da vespora, sem jamais procurar sahir da linha tracada, e da estrada commum ; sem que fosse possivel distinguir qual dos seus dias havia sido mais util, e qual de suas accoes mais meritoria. « Em summa, durante mais de cincoenta annos, empregou o seu genio e a sua virtu- de era desempenbar, melhor que ninguem, OS mais ordinarios deveres de sua sancta profissao. 0 Esta preferencia fez o merito, a utilida- de, e a grandeza da sua vida. As acmes estrondosas, os sacn'ficios sublimes, sCio exforco d'uni dia ; lecam comsigo o estimiilo e a re- compensa. A alma encontra, na sua mesma enerijia, a alavanca, fjue a errjue, sustenta o seu impulso, e mutliplica a sua energia. Em toda a accdo yrande, ha alguma cousa do ar- rastamenlo (jue impelle ao assallo o soldado, e faz muitas vezes, d'um homcm mediano, um heroe no campo da hatalha. As feridas e a mesma morle, lem seus atlractivos debaixo da forma da gloria, ou do martyrio. « A dedicacdo occulta, que renova, a cada hora, 0 sen sacrificio ; que, sem estrondo nem brilho, se dispende, gcjla d gdia, pelas fra- quezas e miserias liumanas, cxige uma vontade superior, e o complexo das mais alias virlu- des. Custa mais a naturezu, e rende mais a Immanidade. « Ao trabalbo penoso e vulgar, que vira e revira a terra sem cessar, sao devidas as ricas searas. 0 modesio ensino das escholas primarias e chrislas serve mais para rege- nerar um povo, que as licoes eloquentes de seus sabios e doutores. E a irma Rosaria curou maior nuraero de males, c salvou mais almas per suas vizitas, palavras, e soc- corros quotidianos, do que seria possivel por alguns factos brilbantes, e as mais heroicas accoes. ". Por uma rara excepcao, os homens que nao concedem os seus aplausos senao ao que briiha e resda, admiraram 'neiia a obscuri- dade e o silencio; deram gloria a humildade dos simples deveres, preferiram a perfeicao da obra ao sou esplendor ; 'numa palavra, julgaram-na, como julga o mesmo Deus. « Fazer o melhor possivel as cousas ordi- narias, tal foi a regra e o Iim do toda a vida da irma Rosaria; tal e lioje o seu merito e a sua gloria aos olhos de Deus e dos liomens; tal sera a grande, e saudavel licao da sua historia. » A irma Rosaria foi a personificacao, a rea- lidade do mais bello ideal das it mils de cari- dade; e estes tribntos de superior veneracao, que Ihe prestaram, na sua mortc, os pobres e OS ricos, os ignorantes e os sabios, foram a liel expressao do conceito cm que sao tidas na primeira nacao do mundo. Sobre a sua sepultura, apenas fechada, dizia 0 administrador (maire) do dccimo se- gundo bairro [arrondissement], entre outras sentidas palavras, as seguintes: — Digna filha de S.Vicente de Paulo, vestio o habito da sua ordera d'um tal modo (o que parccia dilBcil) que 0 tornou ainda mais respeitavel e mais caro ao povo. » Continua. a. FORJ.iZ. VISOES. O Bncionalismo e o Cbristianismo. Quando as palpebias cerrando-se m^escondem o mtiiidu das realidades, OS olhos do espirito xuilvem-se para n mundo das ej:istencias ideaes. A^s vezes a felicidade e a csperan^a vein consolar-me entdo ; muitas mais, po- rem,_ os sonhiis tiiaiis me perseguem ; e por bem alto prego me saftem as iyistantes de Ventura transitoria, tra- zidos por visdes consoladoras. VISAO PRIMEIRA. I. Era na hora, que precede ccrrada a ante- manha. Longa me tinha sido a noite velada a luz do candieiro sobre a pagina de livros, que a Allemanha dilfunde per todos os povos, como 0 vento varre per todas as nacoes o cholera do Ganges, sacudindo assolaoao sobre todos OS povoados. 16 0 corpo aliiucbrado liiilia-mc pendido cm torpor escadeleceule, c eu buscara o men catre, como sc para o nieu anhelar de Icni- livos me fosse alii guarida. 0 espirilo do Senlior baixou cnlao sobre 0 men espirito, c iuuiidou dc luz as trcvas do moil pensamcnlo. E oil vi. Yisla foi essa d'liorrorcs, que ainda ao Icmbral-os me rcgelam o sanguc e para cujo dcscrever nao sei de palavras em liiigiiagem dhoracns, que vivas as retralem. — 0 coracao do bomem e iim como moldc, cm que o senlimeiUo vaza accndradas as foncepcOcs da pbantazia, as maguas da sau- dade, c as aspirarOes do fuluro. Como 0 excesso de mclal candcnlc, vazan- do-se no molde, o fendc e despedaca, deixaii- do dcfoituosa a cslalua; assim o excesso do sentimcnlo, rompendo do coracao, so icm para enviar aos labios palavras ininteiligi- veis, pbrascs incoberciUes. Nao, nao vcnham pedir-mc o pautado do rylbmo, quando a anguslia me Irocar as pa- lavras em iagriraas! — A principio, obscura e confusa, a scena deixava apenas descorlinar-se e so o arruido de fallas e pragas c maldicoes me eslourava uos ouvidos como o fragor da vaga espeda- cando-se em exlensos aleantis de praia soli- taria. Pouco c pouco veio depois aclarando a mens olhos. Yasta era a regiao, em que a scena se passava : — era no coracao da Eu- ropa . E cu achei-me alii Iransporlado em espi- rito, para ver o horroroso especlaculo, para escutar as infernaes blasferaias, que por es- criptura me vou agora a manifestar. Quem tiver ouvidos para a verdade, ouca : quem tiver olhos para a luz, vcja : quem tiver coracao para a piedade, amerceie-se. 0 Senhor vc nas cntranhas dos nossos pcn- samenlos, como o homem ve no transpa rente do crystal. II. Extensa regiao era aquella : o ceu anu- viado e negro de bulcOes sobre Ibe pczava como campa chumbada era sepulcro : luzir d'estrella, mclancolico e suave, nao rompia atravez da cerracao. Era a bora, em que o poderoso se delicia nos bailes e se embriaga nas orgias; em que 0 indigonte trcme enlanguido sob o teclo mi e clama a Dcus o pao quotidiano; em que, ao passar junclo do brejo arraiado de fogos fatuos, ocamponez sente confrangcr-se-lhe de pavor 0 coracao, e a bocca Ihe reza rezas inaprendidas. Era a bora dos mysterios : mysteries na natureza e mysterios no coracao do homem. E foi enlao. Em volta de ceraiterio, longo e vcdado por altos pannos de nuiro, enxa- mcavam, em tripudioobsceno, vullosdebomem indiscriminaveis e ruidosos ; as phrazes tor- pcs e as gargalhadas insulluosas d'alli par- tidas roslrugiam-me nos ouviilos como asso- nancia de mil gritos de condemnados, casa- dos 'numa so blasfemia. Palavras 'com que se alenlavam, nao sao para rcferir-se, sem sc debulharem olhos era lagrimas e o corpo cahir em joelhos, afervo- raiido oracues. (iloria a Dens nas alliiras, para que ponha nos mcus labios palavras de console, que esforeem o espirito, narrando visOes que in- liam niedos cm coracao religioso. III. 0 negrumc, que circumdava o quadro, co- mccava clarcando mui tenuemciilc, e os vul- tos apparcciam ja dislinclas fdrmas d'bomens. Cessara o tripudiar: — e vel-os ([ue accor- rem englobados para a gradaria do ccmite- rio e Ibc metlem hombros, tenlandn descbum- bal-a do canto iramovel na nuiralba. A. grade resistc c o ferrco porlao geine concusso nos gonzos scculares. La dentro, o ramalbar dos ccdros e o mc- near dos cyprcstes, acoitados pelo vento, ver- tem uma loada lugubre sobre as lageas en- ncgreridas dos tumulos. A coruja, esvoacando em torno do cruzeiro, levantado na area cen- tral do cemilcrio, apagou com a ponla da aza a luz ([ue bruxuleava na lampada sagrada. As coroas dc pcrpetuas c de goivos cahiram desfolbadas das urnas funcrarias. — Vai la um quasi profundo sileucio que coiUrasta com 0 lumulto d'alTrontas e injurias trovejadas fora do iidilo. Redobram d'impulso os golpes na ferrca porta : as barras arqueam-sc, cedendo : as dobradicas c ferrolbos csialam, parlindo. Um ultimo impeto e cil-a (jue calie pcdacos, des- soldadas as macicas hastes Como a ribcira, engrossada no invcrno com os. corregos das serranias, rompendo d'encontro ao muro do campo o aliie e, cn- trando fiiriosa, se espraia c leva comsigo o celeiio c OS gados c o alpendre, deixando a dcvaslacao c a miseria e a fome; assim, ras- gada a entrada, cssa pinba d'liomcns, como bando d'abutrcs medonlios, se alastra per cn- Irc as canipas, para comocarcm a sua obra d'impiedade. Tranzido d'borror tentci desviar cntao as miiihas vistas do barbaro cspectaculo, c fur- tar OS meus ouvidos ao terrilico das pragas : — embalde : o espirilo do Senhor ordenou-rae que visse, e ouvisse. E as minhas vistas viram, e os mcus ou- vidos ouviram. — Grande e o Senhor, que descobrc ao homem as scvicias do perverso. 17 IV. A. cruz estava hasleada firm* sobre todas as sepulturas. A piedadc rourmurara ahi, du- rante seculos, a orafao que supplica a paz c esqueciroento do niundo. Mas OS vultos amonloam-se-lhes em torno; e a cruz osc^lla, e a lagea parlindo-se deixa a descuberto os esquelelos carcoraidos. Um rugido solurno de conlenlamenlo, re- boou entao de lodos esses horaens, ao colhe- rem as niaos os ossos cscarnados de seus paes. Era um rugido salanico. — A cruz ficara outra vez immovel. Do ceutro do cemiterio soou cm seguida uma voz, chaniando-os pelos seus nonies a juramento: — « Strauss, Bauer, Lulzelberger, Feucrbach, Stirner. . . ■> e oulros e outros que a minba menioria deslembra. Folgando e rindo eil-os correm per sobre as ossadas como sc per sobre mimosas alcatifas de veludo. — Meu Deus! meuDeus! que a impiedade assim folgue em meio do seu delirio! Que homem e esse que, alteado no pedestal da cruz, e tendo em uma das maos uma taca de licor, e pousando a outra sobre um craneo esburgado e lustroso, ajuramenta seus irmaos, para derrubarem a cruz, escarnecendo a me- moria do Christo? « A cruz e uma affronta, disse elie, a nossa liberdade; a crenca de nossos paes um escar- neo a nossa intelligencia; o suppliciado do Calvario uma idea indigna do nosso senti- mento. Juremos, pois, derrocar a cruz, apo- dar a crenca, aniquilar a idda. » « Juranios, » disseram todos, pondo cada um a mao sobre a caveira fria e descarnada de seu pai, arrancada ao repouso dotumulo! E a terra tremeu a essa jura, corao se vul- cao vioienlo ihe palpitasse impetuoso nas en- tranhas, sem conseguir resfolgar fora. — 0 cemiterio e a historia da crenca d'um povo, como a historia e o cemiterio d'esse povo. Como 0 tyranno insulta as recorda^oes de grandes feitos, rasgando as paginas da histo- ria, a planta do impio ultraja as virtudes da fe, calcando os ossos niis de seus roaiores. Paz c quictacao, oh meu Deus, para o meu cadaver sob a louza da sepultura! Ja que, sacerdote da cruz, me nao e dado escutar alii a oracao afcrvorada pela piedade filial, possa, ao menos, descer-me com o or- valho da manha a bencam de raeus irmaos. — A mortaiha da alma e a elernidade. Mas a do corpo e o esquecimento, a admiracao ou 0 vilipendio. 0 gusano dos sepulcros roe menos o suda- rio do cadaver, do que a inveja a memoria do morto. A alma, porem, esta intacta perante o throne divino, aguardando o memento de enlrar na balanga. — A baba do verme pollue as folhas da fldr que cahem para a terra; mas nao Ihe altera 0 perfume que, embalsamando os ares, sobe para o ecu. Uepouso, oh meu Deus, para os mens restos no seio da terra, e misericordia para a mi- nba alma antes do julgamento final. E a visao proseguia. De repente aquella scena tao medonba d'horrores furtou-se tolalmente a minha vista, para dar logar a outra nao menos terrivel. Foi como a rapida substituicao d'um quadro na camara-obscura. Magestosa fabrica d'antiga cathedral, er- guida por bracos robustecidos ao bafo vivili- cador da religiao, me avultava agora ante OS olhos. As lorres e as cupolas e os coru- cheus, aprumando-se para os ares, similhavam as maos unidas e levantadas do velho, pros- trado em oracao ao Greador. Ao travez dos espessos lancos das paredes eu contemplava, como se ao travez de cla- rissimo vidro, o interior do tempio sacrosan- cto. — Passava-se ahi espectaculo grandiose de sublimidade. Vestido todo de vifosas e recendentes flo- res, e alumiado de mil lumes elevava-se ao fundo um magnifico throno sobre o qual em riquissimo vazo estava a Hostia. 0 incenso, requintando de suavidade com 0 aroma delicadissimo das flores, derramava- se em nuvens na amplidao da nave, aoode a nota solemne do orgao, como se fora extra- hida por mao d'archanjo em concerto ce- leste, vinha sussurrar melodiosa. Perante a ara sancta, cahidos todos em joelhos sobre as duras lageas do pavimento, viam-se promiscuamente as cans do anceao rareadas sobre a testa pallida, e as madeixas negras da virgem, descendo ennovelladas em anneis lustrosos sobre a candura do seio ; e entremeavam-se graciosamente as tenras fa- ces dos meninos, com os rostos crestados dos guerreiros, e as frontes sulcadas dos magis- Irados. Um so principio ahi os unia — Deus; e um so fim — a orafao. Em quanto no recinto do tempio, todo ba- nhado de luz e de perfumes e d'hymnos, me deliciava a vista este espectaculo tao ungido de crenca viva e tao repassado de poesia divina, fora, na profundeza das trevas exte- teriores, rugia a colera impotente do blasfe- mo e a impiedade maldicta do atheu. Pensaraento era diabolico o que ahi con- gregava esses vultos sinistros, que a niingua de palavra se davam reciprocamente o norae de — philosophos. — A philosophia esmaga-a a pedra levan- tada d'um tumulo. 18 I'hilofoplio ii 0 liomem que \6 na vida d ak'in-imimlo o balsamo dns an^u^^tias lor- rosles. I'liilosoplio c 0 corafao que inlcrpreta o ai do moribuiido no limiar da c\islciicia, tonio inolTavel saudncao da luz radiosa qui", atravcz do leiifol I'unurario, llic aclara uma cxisleiicia scm liniilos. Cirande is, oli Deus! (|hc porniilles ao vcrmc iuvolto 110 seu lodo o ajiinctar o zunido ao laiitiio iiipiiairavol, (jiie dos millioes d'orbos iia aniplidao dos ecus sobu para o ten tbrono. Misericcriliosissimo (is, (|uc ronsenli's ao bonieni o elevai-se das piofundezas do scu uada, ate a coiicopi-ao da tua Omnipotcncia ! VI. E soguia a visao. E\trorao esforco do sacrili-gio la ohi tra- var-se. — No pallor das ircvas sentia-sc a esjjafos 0 cboquc soturno dc fcrros. Nao era o tinir sonoro da cspada do solda- do, lamppjaudo ao solbrilhante das batalbas, em dcfensao das liberdadcs queridas da pa- tria, tontra inimisio cstrangciro, nao. Nao era 0 aleicoar da lamina cm braza sobre a liigorna, para mailiina civilisadora, ou para rciha fecundanic da terra, nao. Som era esse conio o aspero rorar da bro- ca, lias raaos calosas docavouqueiro, rasgando as enlranlias da penedia. Era conio o vaga- roso arrastar de cadeias no buniido lagcdo de calabouijo sombrio, por matrlcida allnci- uado de lorrores na vespera de subir ao patibulo. E que desdc muito baviara clles tenlado a luda das ideas; mas debaldc: a creiwa eni'ai- zara profunda. — A idi}a mundillca-sc no purgatorio da discussao. E da discussao, eonio do enibalc dos corpos nasce a luz, tiuha saliido sempre a vcrdade, c com ella o eonforto do animo. Era, pois, mister tentar outro moio — o da forca. Por isso e que a alavanca buseava cnihe- ber-sc dcstruidora nas lendas do solido cu- nbal do tempio. Minados os alicerees, as assombrosas moles de granito da abobada se- cular, desabando do alto, viriam osmigalhar- se no pavimi'iili), tingiiido-se no sangue e.-pir- rado dos mom bios do crcnte surprebendido :no fervor da orarao. Infernal era a larcfa em que se cmphrc- neziavam. E a minim alma debatia-se borro- risada em torluras ineomporlaveis. No auge da lida, rcuuidos os bracos c os esforros, o impulso cresce vigoroso, e no vcr- tice augusto do lomplo a cruz principia a va- cillar ... a vaiillar. . . Acordei. VIF. Corao 0 cnfermo, apoz longa noitc dc niar- tyrio, lendo repousado a eabera Iraballiada por doonea febril, acorda com as faces afo- gueadas, os olbos cbanu'jantcs, e o suor a maiKU-llie copioso da froule; assim cu dc subilo acordei com o corpo nn'io crguido no leilo, apoy. beiu curto descaiico; — se descail» CO alii liouve. A luz do sol nasccnte, cm tofla magcstadc c docura de formosissiiua manha de jirinia- vera, inuiidava-nie o (|uarlo e brincava em oiidas de logo, e>tiraiulo-se no dcspido so- brado. Fora, com nfania do verdura e de (lores, vicava a (birida acacia perfumada com a sil- veslre madrosilvu, que desde a raiz se Hie casava, cnredando-se ate a evtreniidade. das ranias. E, mrlodiando sentidis^inlos tasse 0 nivcllamenlo dos terreiios sitnados cnlrc 0 Nilo c o mar Yerniellio c ([uo liic apresenlasse o prnjeclo de nm novo canal ontre os dous mares. Este ongenlioiro, Le Pi're, f[no oprrava cmclrcumslancias cx- cessivanienle dilBcois, qne so dispunlia de limilados mcios, que se vin- impossiljiiitado do snbmelter os resullados do sen nivella- monlo a prova, sempre indispensavel, d'uma segunda operacao, caliiii, dcsgnicadamenlo no orro, e don ao mar Vermeliio uma excessiva cicvacao aciina do Mcditerranco ; o projccto dc iXapoleao acliava-se por eoiisequencia des- trnido pela liazc. Cincoenta annos depois, Mc!iOmot-Ali nian- dou fazcr o canal Mahmoudioli, que reslalic- Iccou enire Alexandria e o Cairo nma com- mnnicacao lia'via scciilos intorrompida. Quasi pela mesma cjiociia a Inglalcrra, i|ue con- quisliira ceni millioes dc sulidilos nas bacias do Ganges c do Indo, scnliu a neeessidade dc rcunir as suns immensas colonias a En- ropa por nma via dc commnuicarao nienos indirccta, nicnos demorada o monos perigosa que a do Occano, a qual ohriga a dobrar 0 cabo dc Boa Esperanca. Dnas linlias dc vapores de grandc vclocidade, ligaram por uma pane Londros e Alexandria, pela onlra Suez cBomliaim, Calculla, Singapura, a Chi- na; OS dcspaclios, OS viajantos, os thesonros cram Iransporlados d'um a oulro mar em cim;i de caniollos, csles navios do dcscrto. 0 novo caminlio, porom, nao I'azia ao anligo scniio nma niiii limitada concnrrcncia. A qnanlidadc de fretc conliada ao Oceano e, pcio nienos, trinla vczcs niaior, do que a tratt'sporlada pelo ^[edilerranoo Verdade c, que uni caminlio dc fcrro nao tardara cm unir Alexandria ao Cairo, e cm breve as locoraolivas alcancarao ale ao mar Yerniclho. Com dias, polo mcnos, dc navcgacao scriio enlao snbsliluidos por 2o dias de segura viagem. Ir-se-lia quatro vozcs niais dopressa, mas com despcsa quasi do dobro; os govcr- nos acccitarao lao cuslosa vclocidade, mas nao assira o commercio, que somenlc renuu- ciaiii aos longos rodcios do Occano, quando a aberlura d'um canal marilimo lizcr passar diroctanienic os navios do mar Vernicllio [)ara o Meditcrraneo. Por isso ja cm 18il vcmos Mr. Linant, engenbciro ao sci-vico do vico-rei do Egyplo, Iractar, primciro com a companliia peninsular, depois com oulra com- panbia, d'um projccto dc canal entrc Pcluza c Suez, 0 primciro passo a da r era proccder a nm novo nivelamento qne cstabclcccsse o vcriiadcironivcl relalivodos dois niaies. D'esle traballio loi oncarregado Mr. Konrdalouc, operador muito babil, cxpcrimcntado c sogu- ro, 0 (pial levou a evidcncia, que o nivcl medio do mar Verinelbo excedc apenas dc 08 cenlimelros o nivcl medio do Medilcrfaneo ; dc modo (juc nunea sc podc dar d'um mar ao oulro uma corrcnlc sempre no niesnio sen- lido, impossivcl dc veneer, e que so se nen- Iralizasse com grandcs e cuslosos traballios. 0 tcrreno acliava-se desde logo dcsembara- cado; mas para lancar os fundameiUos de lao giganlcsca cmpreza, carocia-sc do nma intel- ligencia ede uma vonladc, quccslivcssem, jior a'ssim dizer, a par d'clla ; csla intelligcncia c csla vonladc, ao cabo de qualorzc annos dc dcniora, rcuniram-sc linalmenlc em Mr. Ferdinand dc Lcsscps. 0 mais esseiicial logo no principio era eviiar invejas interna nacionacs. Submcllen- do 0 sou projeclo a approvacao do vice-rei do Egyplo, Mr. de Lesscjis corio<:on-o debai- xo do palronalo dc uma companliia univer- sal, e sob a dircecao d'urtia coniniissao inlernacional, cm que o Egyplo era repre- seiitado por M.M. Linant e M'ougcl, beys; a llollanda por Mr. Conrad, engenbciro cm chcl'c dos trabalbos bydraulicos do icater- staat; a Austria por MV. de Xegrclli, inspe- clor geral dos caniinhos de ferro; os Estauos Sardos por Mr. Paleocapa, niinislro das obras piiblicas; a Espanba pelo sr. Cipriano Segun- ck), director das oliras piiblicas; a Inglalcrra por MM. Rendol, Mac-Lean, Manby, cngc- nheiros, c Harris, capilao dc fragala; c tlnal- nientc a Franca por M.M. Renaud inspector gcral das ponies c calcadas, Licussou, enge- nbciro bydrograpbo, Jaur^s c Riganit dc Co- nouilly, olliciaos dc marinba. C'lUtint'in. V. MoioNO. (Cosmos.; EXCERPTOS ^'vnuoi, v\i\.ijcm a \\\ij\tvU\'va. CArlTLLO .... Visila ao caslello U'Windso)--. CunlinuaJu de |iag. 232 do 5.° vol. Sc, antes de mais, segredasscnios d'aqui ao leilor que, sdraente desde ISiO para ca, tcni 20 esla famosa fabrica consumido a nafao in- gleza, em reparos e refazimcnlos ou rifacimen- tos, muilo para cima de doze miliiues de cru- ZADOs, eslamos quasi inclinado a crer que to- raava islo a conla de buira: e nao menos, so Ihe porapeasscmos aqui os liixos e csplendores que encerram as galerias e as capellas e os saloes c, emlim, ludo quanlo alii ve ainda a vista menos perscrutadora. Para nao darnios, porcm, aberta a que nos critique, irancarcmos 'neste passo este ca- pitulo, deixando para outro o fallar-lhc de mil graciosidades de parques e aleas de chou- pos e estatuas e Virginia Water e da nossa volta pela deleilosissima Bichmond. Tudo isso nos lica de remissa. De Liverpool a Manchester, - a Londres. -e de Manchester Compiado biihcte de primcira classe 'num trem expresso e depositados, convenientemen- te, OS saccos c bagagem no escriptorio da esta- cao, vicmos para a porta esperar os 8 minutos que faltavam para a hora marcada, observan- do, embora rauito de longe, a recepcao a porta da gradaria de S. George's Hall, « Tribu- nal de S. Jorge » do juiz que d'alli era accom- panhado, ao som de cornctas, por emprega- dos vestidos de preto com brandoesem punho, ate ao topo da escadaria. Sailearam-nos, 'nesse momento, lembrancas dos bedeis da nossa Universidade e, com estas, 0 cstado dos nossos estudos em face das varias Universidades da Europa e, entre estes, o cahos horroroso da nossa legislacao. — Lem- brancas amargas foram cssas, seni diivitla. Todas as nacoes europeas, ainda as de me- nor vullo, possucm e sao regidas, ha muitos annos, por leis codiGcadas e o nosso codigo civil, e ainda um projeclo, um sonho! As nossas ordenacoes, e o direito roraano a que nos soccorremos inliuitas vczes, so tern em seu abono o serem o mais disparalado absurdo que podemos, entre innunieros outros, regis- trar no lerceiro quartel do seculo dezenovc. A. nossa sociedade, como todas as de mais, soffreram nos dous seculos e meio ultimos c vao solTrcndo, de dia para dia, modiGcafOes radicalissimas, alteracoes cssencialissimas. E uma lei cstacionaria tern, apenas, 'ncste caso, a exquisita qualidade de ser a maior das inepcias imaginarias. Oh! mas Inglaterra tambcm nao tern codigo nenhum. — E' verdade isso, e, nao o nega- mos. Inglaterra nem siquer possue um codigo de commercio e, todavia, sob a garra do Ico- pardo britannico desfraldam-se em todos os oceanos, desde a mais recondita enseada do mar da China ale . . . ate . . . que sei eu? per toda parte, as numcrosissimas vclas dos seus navios ou obscurecem o sol as iiicontavcis chamines dos sens vaporcs mercantcs. Mas d'alli nao ha colher excniplos, nem desumir argumentos ; porque a orgulhosa rainha dos mares e uma exccpjao a tudo e em ludo. Aoiule trennila doiniiiiosa a handeira dos irez reiuos-unidos, o juiz e o oraculo ineor- ruplivel da lei. A lei, 0 coslume e o juiz sao trcz elemcnlos quasi inseparaveis, indescriminaveis na juris- |)rudencia brilannica. A lei e o clcmento liisto- rico e estavcl; o costume o clemenlo Icgisla- livo e modilicador; o juiz o eleniento philoso- phico c regulador. Conhecendo (|ue a sociedade, a cada me- mento da sua existencia, da um passo no caminho do futuro, despojando uns habitos para acalentar outros, e modiGcando o seu sentir e o seu existir, o juiz acompanha, es- tudando-as, cssas variacOes, para adaptar, com a maxima justeza, a lei ao caso oecurrente e iniprevislo. E ao mesmo tempo, peregrina ano- malia ! a disposifao acerca de caso previslo, e tao acalada como o texto original da Biblia para os que admittem a inspirajao nas pala- vras I Ai! Inglaterra, Inglaterra, em quantas mil cousas nao vais tu niuito adiante das nacoes que se dizem na vanguarda da civilisacao. Oxala todos te estudasscra, como devera. Leilor, descancemos aqui alguns minutos porque temos a fazcr-te uma declaracao .... queriamos dizcr, incurabe-nos dar uma expli- cacao a V. Exccllencia (hoje todos temos, c por isso damos excellencia;) Aquelle tu e rds, quando algum dia Havia em Portugal siiiceridade Acabou .... Pois bem ; deixal-o acabar. Mas, 0 que queriamos dizer, era, que estes ExcERPTOsou, melhordiremos,csta5;jflji«a«que desconnexas vamos agora copiando do nosso ulbnm de viagem, sentiniol-o bem, se cxhibem a teus olhos demasiadaniente desprelenciosas, contra o direito consuetudinario dos viagistas, id est, dos contadores de viagens. Para cum- prir essedcsejo do leilor, facil nos fora, 'neste ensejo, a empresa de encher alguns periodos com a contenda entre os asseclas e os impu- gnadores da codilicacao, enhleirando vinte nomes dos mais conspicuos. Mas faltam-nos 0 tempo e vontade para aiardear essa pasmosa erudicao. 0 que faremos, isso sim, se um dia menos cuidado de cuidados nos der para folgar ocios e seroes com cslas paginas, e, expurgando-lhes a diccao, mondar-lhcs as ideas parasitas, en- cbend'o-lhcs, ao mesmo passo, os raleiros. Ai ! mas perdao! mil vezes perdao, leilor; que combatido por estes pensamentos deixaraos 21 (Ic rcparar na entrada do juiic cm S. George's Hall. Falal esquecimcnto ! Nao tarda ja a soar o inslantc da partida ea deixarmos a vasta sstacfio dc Liverpool ou Lime S^ Stulion, peraiite a qual se observa, eslendeiido-se large latcque, o sumpluoso editi- eio do Tribunal de S. Jorge, ultimamentc concluido, ou antes construido. A. nossa praea de cominercio no Porto que, dccididanicnte, nao e niais de ractade d'csle, anda a cdificar-se ou, se querem, a ri'formar-se do antigo con- venlo dos Franciscanos ha niais de lii janeiros, e ainda nao estd ncm eiu nieio, ao passo que S. George's Hall se complelou em cerca d'um anno ! E((ue, emlnglalerra, o diniieiro ea primcira machina que se applica. Antes de lanear-se 0 tracado d'uma construccao toma-se o peso a cash. Ao brillio csplendoroso do ouro dos banqueiros millionarios, aprofundam-so os ali- cerces, cimentara-se as peJras, acasteilam-se OS tijolos, aprumara-se ascoiumnas, foibeam-se as fustes, asphalta-se o telhado, subliiuam-se as grimpas, e eis o projectado edilicio quasi fundindo a data da planta com a do acaba- mento. — Do topo dos zimborios podera gozar-se as bandciras que victoriam o primciro anni- versario do projecto. — Em Ingiaterra a con- cepcao e a execucao, sao os dous termos do raciocinio. Recolhamo-nos a carruagem. Vamos sos no coupe, eu e 0 meu companbeiro F., para po- dermos fumar a vontadc, mediante nieia corua que csporlulei ao guarda. Lenibra-nos deniasiado a sr." A. B. . . para dcsejarmos e\p6r-nos a outra imperlinencia. Ao comecar a mover-se o Irem," apertei, ])0r despedjda, a miSo a meu irmao J. A. pela janella da carruagem. Bailavam-nos as lagri- mas nos olbos. Apertando o passo, deslisou ao longo das locomotivas, e foi esperar-me a entrada do tunel. «Adous, meu bom J.» dis- se-lhe cu ao vel-o acenando-me com a mao direita e escondendo com a esqucrda os oibos, d'onde liie rolavam as saudosas lagrimas de despcdida. Quern sabe se volveremos a ver-nos e abracar-nos .... Agora, que estamos trans- crevendo estas paginas, sentimos, de novo, vivas eardentes, como 'nesse instante, as la- gr . . . . — Como c formado o coracao do bo- mem ! Chcgamos, 'neste passo, a um ponto, em que esperamos inipetrar a mais soliicita alten- cao do leilor, para que tenha cabal conbeci- niento do caracter inglez em toda sua ine- gualavel frieza. Nao ha nada que revelle tanto ao vivo a gelada iudependencia do caracter britannico como uma despcdida. 0 inglez con- ciliou comsigo a idea de que um abraco ou uma lagrima em despcdida era um abuso, um luxo, e suppriniiu essa demonstracao alTectiva. Uoje a pragmatica nao se altera por circum- stancia nenhuma. Nao ha amor, nem amizade capaz d'espremer uma lagrima aquellas cspon jas dc cerveja. Se nao, vejam. — Um pae, entrado ja por mais de sessenta annos, vem a estacao despe- dir-sc de dous filhos imbcrbes ainda. I'm d'elles, indo simplesmenle acompanhar o irmao ao embarque em Londres, pode a boca da noite estar no seio da familia ; — em quanlo que 0 oulro, sendo a primcira vez que sabe do sen paiz e do aconchego domeslico, vai 'num navio de vela arrostar com o encapel- lado do mar, cnfiar com o silvo do vcnto nas enxarcias, navegando ate a nova llollanda : — pois bem! o pae despede-os cgualmenio; o que vera d'ahi a poucas horas e o que talvez nao tome a vcr. E o mesmo aperto du mao para ambos ! Goodby John; goodhy IFiUium (adeus, Joao; adeus, Guilberme.) Nao ha a trti- nima did'erenca, nao ba um consclbo a maior, uma saudade mais viva a cste do ([ue aquelle. A lei das despedidas foi oraissa cm dcclarar a exccpcao d'uma viagem longa, e o inglez, portanlo, nao se ere com direilo de poder lazer-llie uma interprctacao cxtcnsiva. E 'neste facto, como em todos. Assim, por exempio, a lei ordena que o dono d'um cao, que causou tal ou tal prcjuiso, pague tanto ou quanto : — pois muilo bem ; feito o detri- monto, 0 dono vera a juizo, prova que o seu animalzinho nao e cao, mas sim cadella, e eil-o que (ica livre e o seu adversario, ainda em cima, condemnado nas cuslas da demanda! Mirilica lei ingleza! E chamam a islo plena liberdade, e, o que mais e, se alguem os argiie d'esta vergonhosa incoberencia replicam orgulhosos que 'nesse mesmo direilo, que elks tern de nao interpretarem extensivamcnle a lei, esld, a liberdade. Os anjos os cntendam. «Ai! que frescura tao pouco agradavel, que tern cslc tunnel. » Esta expressao soltava-a eu, ao passo que cerrava as vidracas do vehiculo e me ensacava na confortativa manta de via- gem, indo em meio do vasto e admiravel tun- nel de Liverpool, que corre lodo por baixo da cidade. E este um dos mais maravilliosos tiin- neis que ha ate hoje em carris-ferreos, e o unico de que me Icmhre com dedive sensi- vel. Na descida, apagada a maquina, os car- ros sao levados pelo peso proprio. Para quem jornadca em vias-ferreas as pri- meiras vczes, o passo mais diflicil e sempre a passngem d'um tunnel d'alguma extensao. Totalmente as escuras e, portanlo, com o sen- tido da vista em completa 3." scssao, a vida alllue-Ihe toda aos outros, principalmenle ao ouvido, e da em resultado que o ruido lon- ginquo da chamine casado ao do attrilo das rodas nos carris, e ao movimento do ar zum- bindo impellido entre os vagoes, e tudo isto, ainda para mais , duplicado pelo echo que rebda pelas abobadas, c mais distinclo pelo silencio que alii reina, Ihe parecem harmonias 22 iuleinaes. Sc alom d'isto acontccc passarcm, cruzando-se, uiu on niais irens expresses ao inesmo lonipo, enlao o temor sohe de ponio e, ao surgir fora, os musculos da faro ron- Irahidos , a cor livida e as pupillas ainda dilatadas visivelnicnlo nioslram o liorrivol |)i'- zadello que por minulos ia affogando aqiiella (Tcatiira descostiimada. Foi o que se deu com 0 mcu co-jornadcador F. Cii vamos fora. Eis-nos em plcno ar; o canipo e Undo ; e liiulissimo como em lodos OS tovados do solo que lem a terra do Anjo (A.ngel land) id est Inglaterra. Beni sabemos que tudo alii e braco d'homem; qut; a arvore nao podc crescer alem d'uma deterininada altura, pena de vir a podoa abater a franca republicana e ineorregivei ; que a l)ctcrrava nao tem liconca para folhar-sc aleni dos dicta- mesprcvistos na marjna cliarta ; sabomos todos isso: — mas, nao obstante, cssa iiatureza d'ar- leficio nao da mais realcc a sabida d'uma cidade do que dao esses exidos aridos, e apenas cubertos de queirozes c urzes que tao vulga- res sao no nosso paiz? Respondam o;itros que a nossa resposta sair-nos-ia agora da pcnna demasiado azcda de fel e, portanto, pouco ac- corde com o estylo faceto de viagista despre- teucioso. Sao O."" e 10. "i para o trem cm Rainhill (ouleiro da chuva) que podianios traduzir per- feitissimanienlc por Coimhra (collis imbrium). Ila niuilos que a coUis imbrium vao buscar a olyniologia do nome Coimbra e, a screm d'al- gum apreco ctyniologias, nao sera, por certo, csta a que menos vizos tenba de fundamcn- lada : Coliimbria se diz em lalim Coimbra. Com medo, pois, dc chuvas nos deixamos licar, durante os dois minulos que se denio- raram os vagOes, enroscado e aconcbegado no logar, como se foramos inglez, e o mesmo lizomos em Newton, aonde paramos as O.' e lis." Continua. A. A. BIBLIOGRAPHIA.- NOTICIA ll'u,GlNS LIVROS hecentememe publicados. CuntiDiiado de pag. 12. DIREITO PORTLGIEZ. liesolucoes do Conselho d'Eslado na seccdo do contencioso administrativo, coUicjidas e ex- jilicadas por Jose Silvestre Itibeiro (torn. I, a V.) Lisboa, Impr. Nac. 18o4 a ISoC. ' O Inslituti ann\incia e relata todas as obras de que forcm cnviados dois excmplares. (^'(lla da R.) 0 sr. Silvestre Rii)ciro, ja conhecido por outras obras iillerarias e adniinistrativas, e nao menos pela inlclligencia c zeio com (|ue tern servido o nosso paiz, jii no parlamento, ja em logares de adminislracao, leve a feliz Icmbranca de nos appresentar as resolucoes do Conselho d'Estado na secciio do contencioso administrativo desde o anno de ISiD, em que cste Tribunal comcfou a funccionar adminis- trativamcnte. A simples collcccao das resolu- coes era unia obra ntilissima; mas seria muilo inferior aos recursos dc que dispoc o sr. Sil- vestre Uibeiro, se elle se limitasse a modesta missao de compilador. Niio 0 fez assim. 0 objecto do rccurso 6 appresentado primeiro e em separado, depois a sua resolucao; scguc-se a doutrina ou prin- cipio juridico que dimana da resolucao; tran- scrcve ou refcre os diplomas ofliciaes que sc occupam do objecto sobre que versa o recurso; expoe niuitas vezcs os principios administra- livos aquelle rcspeito, e da-nos de quando em quando nocoes liistoricas, e importantcs esclarecimentos estadisticos. Assim que csta obra e importanle para pessoas que se dedicam a differentes gcneros d'estudos, e a diversas prolissoes, para os magistrados, corpos c tri- bunaes administrativos, para juizes, advoga- gos, e para todos os cidadaos. 0 sr. Silvestre Ribciro segue na sua coi- leccao 0 metbodo chronologieo. Nao podia scguir outro ; porque, no pouco tempo que o consellio d'Estado exerce rcgularmente as func- coes contenciosas, nao era possivcl que ao seu examc fosscm submcttidas questoes de todas as niaterias que devem ter um capitulo 'numa obra systematica de direito administra- tivo. Ilaalgumas resolucoes que, por terem a principio escapado ao auctor, sabem fora da ordcm cbronologica : estas cnrontram-se no IV volume. Ila na obra outra cxcepcao a regra cbro- nologica, e e cm materia d'impostos, que o A. rcserva, scgundo o declarou no prefacio do I. volume, para colleccao separada. A im- portancia da materia e a variedade dos re- cursos sobre ella, determinarani o A. a esla excepcao, se e que nao inlervcio tambeni o desejo de cstudar com mais vagar estc pon- deroso assunipto. 0 metbodo systematico seria mais vanta- joso, se fosse possivel, que nao e; mas os in- convenicntes do chronologieo sanam-se cm parte com um indice, e este ja o encontraraos no lim do V volume. Nos primeiros dous tomos e em parte do lerceiro, nao vem citada a data da resolucao, e apenas se acha indicado o numcro do Diario de que fora extrabida. Era esta uma falta bera sensivel, mas ja a aeharaos supprida desde a resolucao IX por dianle. Nao podemos dizer aqui mais particulari- dades d'esta obra valiosa, porque em cada resolucao achamos urn como tractadinho dc administrafao c dircito admiiiislralivo, ciija avaliacao excedcria os limilcs d'estc jornal. So diremos cm gcral que o sr. Silveslie Ili- beiro com cstc traballio csta toncorrendo po- dcrosamcnlc para a rcguhiridado da nossa administracao, para a libcrdade civil, para o cxercicio mais indepcndcnle do dircito clcito- ral, e 'muiia palavra para a verdade e coii- fianoa das instituicOes conslilucionacs. CoUecedo de traclados, convencOes, conlrac- tos e ados publicos celebrados enire a corOa de Portugal e as mais potencias desde 1040 ate 0 presente. compilados, coordenados e an- notados por Jose Ferrciva Borges de Castro. Lisb. Imp. Nac. I80O (lorn. 1, a III). 0 A. principia a sua obra pelo ceicbrc as- sCnlo tornado em corlcs polos Irez Esiados aos S de raarco de 1041, que, comquanlo nao seja um Iractado, e urn ado em que se estabeleceu OS principios da nossa indcpendeiiuia do do- niiuio hcspanhol. 0 nosso direilo das geutcs nao precisa hoje d'csse acto, assini como nao precisa das opinioes dos nossos antigos hislo- riadores sobre a doacao de Portugal corao dote de D. Tberesa, ncm das suppostas cortes deLamego. Todavia bem andou 0 sr. Ferreira Borges em comecar por abi a sua preciosa colleceao. 0 iorao III cboga ate 1791. 0 IV vol. deveabranger os annos desde 1793 ate 1814, e ja estava no prelo , quando se publicou 0 HI. E provavci que a estas boras ja estcja publicado. — 0 curto intcrvallo quo icm me- deado entre a publicacao de cada um d'estes volumes, mostra que 0 A. proseguiu activa- mente na sua obra, e deixa-nos a esperanca de que no fim d'estc anno cstara concluida, apezar de que provavelmente nao constara de menos de 7 volumes. Por maior que seja a pressa do auctor nunca igualara a nossa im- paciencia. 0 sr. Ferreira Borges com csta pu- blicacao livrar-nos-ba da vcrgonba de lermos sumidos polos archivos piiblicos e ate polos particulares, rauilos e niui importantes tracta- dos. Conlinun. Ad. Mch. KOTICIARIO. ccraoito iins arntlBiiifleN. Attribuia-se gcralmcnte as aracbnides conservadas isola- das durante alguns annos a faculdade de porcni ovos fccundos ; porera so ultimamente e que M. E. Blanchard, dcpois d'uma serie d'expo- riencias practicadas sobre varias Mijgales , uma Segestria perfida, uma Filistata tricolor, constalou a realidade d'estc facto. Nao se inGra, porera, que 0 niacbo nao e necessario para a fecundacao ; nenhnma das femeas era virgom, e as que 0 eram so pozerani ovos in- I'ecundos. 0 que csta averiguado (i que 0 coii- tacto do niacbo e sufliciente para tornar Ic- cundos OS ovos das differcnles posluras d'uns poucos d'annos. M. Blancbard cxplica eslo pbenomcno do scguinte modo: nos Mygales. Clollios, Fitistatos e Segestrias, 0 apparelho genital leminino e composto de dois tubos a que estao appensos os lobulos ovarianos. No momento da copulacao cstes tubos recebcm em abundancia 0 liquor seminal, c tornam-sc verdadeiros reservalorios espermaticos. Os ovos no momento da sua expulsao impregnara-se do lluido fecundante. M. Blanchard ccrtili- cou-se, por meiodcobservacoes microscopicas, de que 0 liquido seminal nao se esgota com os ovos dc uma so postura, e que se conserva 'naquellas especies de reservalorios, com todas as suas qualidadcs proprias. Sendo assim, e muito facil de explicar como aconlece que os o\os postos em difl'erenles cpocbas, mais ou iiicnos distantos, continuam a ser fecuiidos scm novas copulacoos. Institllt. (I."' Sect.) Eaugts'e^o do itbosplioro i erincllto no^ paiitoN cie iiinic. 0 emprogo do pbospboro ordinario no fabrico dos chamados palilos de lume, traz comsigo innumcros inconvenienles. Veneno tanto mais para se tcmer, quanto a sua presenca e niui diCicil de conbecer-se nos orgaos ; 0 pbospboro produz alem d'isso nos obrciros que 0 fabricara, a terrivcl molcstia chamada necrose ou caria das maxillas ; ac- cresce 0 ser uma causa muito frequente d'in- cendios, visto a sua grande facilidade em ia- flammar-se. 0 pbospboro vermelho descoberto por Schrol- ler, e que se obtem submettcndo durante alguns dias 0 pbospboro ordinario a nraa tempcra- tura elevada, isto e proxima do sou ponto dc ebulicao, rcmedeava todos eslcs inconvenion- tcs; com cfTeito antes de recebcr a accao pro- longada do calorico, 0 pbospboro inllamma- va-se a tcmperatura ordinaria; posteriormentc aquella operacao so se inllamma a 180 graus; torna-se, alem disso, absolutamente iuodoro, e deixa de ser soluvcl nos succos do estomago. 0 pbospboro vermelho reiine pois todas as condicoes procuradas, e um grande numero de experiencias nao deixa a maior diivida *''' sobre a convenicncia de o subsliluir ao pbos- pboro ordinario no preparo dos palilos dc lumc. Uma difficuldadc, porem, restava ainda a veneer para se poder fazcr csta substituicao. Como 0 pbospboro vermelho a muito diflicil do inDammar-sc, tornava-se necessario fazcr en- trar um corpo muito combuslivcl, isto e chlora- lo de potassa, na niassa dos palilos de lume. \ mixlura d'esles dois corpos trazia grandes po- rigos para os obreiros porque os sujeilava a 24 frequcntes cxplosoes ou inccndios. Para afaslar cste incoiivciiieiite propuc M. Liimisirom cni- prcgar csles dois corpos cm separadtc- piinilo I) cliloralo iia cabcfa do palito e exlcndeiido o pliosplioro sobrc uuia siiporlicic a parte, para siibslituir a lixa ou o vidro pisado cm ([lie sc cosliiiiia oslVcgar o palito para o iii- tlaniniar. D'cslo iiiodo desapparcccni todos os iucoiivciiiciilos dos palilos dc liime, e todos os pcrigcs que oircrccia o sou uso. RELVC.lO Ujs iiidififtuos nomeados pttrn cs seguintes lognres de instruc^aii publico riesde o dia 15 de mnrgo ultimo, ate no diit 15 d'abril carrentc, por despnchos do coti- selha superior d'i^istruc^do publicn, e decrctos da go- verno communicados ao mcsmo coiisel/t') no indicndo piriodo. INSTRUC(;iO PniMARIA. I'lancisco Antonio Corileiro, para professor leniporario ila cadeira ile Monforte, districto de Porlaleire. Leonardo Josu de Medeiros, para dido da villa da Lagoa, distlicto do Ponla-Deljada. Antonio de Barros Magalliucs e Figuciredo, para dicto de S. (!iao, districto da Giiarda. Antonio Gon^alvcs Liljeral, para dicto de S. Vicente da Cha, districto de Villa Real. JoSL- da Gra(;a Semedo Uilieirinho, para dicto de Niza, districlo de Purtalegre. Jose Joatiuim l''erreira da Costa, para dicto d'Anellie, districlo de Villa Real. Mannel Jose da Silva, para dicto de Gondar, districto de Vianna. Antonio Xavier Tavares Barreto, para dicto de Pereira, districto de (Joimbra. Francisco Jose d'Almeida, para diclo de Vallons-o, dis- tricto dki Porto. Gon^allo da Costa Mesquila e Mello, para dicto da Li\a. JoSo Maria Ferraz e Mello, para dicto de S. Roijue (Ulla do Pico), districto da Horta. Jose Joaquira da Casta Caldeira, jiara dicto de Fronleira, districto de Poi-talefrre. Jose ^raria I.eitc de Miranda e Vasconcellus, para diclo de Villa Cora, districlo de Braga. Manuel' Joaquim Soarcs, para dicto de Xovcilde. Tlieotonio Jose de Figiieiredo Costa, para dicto das Cor- tes, districlo de Leiria. Joao Francisco Pereira, para professor vitalicio da ca- deira de Leiria, decrelo de 11 de fevereiro ultimo. Jose Coito d'Almeida, jiara dicto de .Arazedc, concelho de Monte .Mor o Vellio, dislricto de Coimbra, por trans- fcrencia da de Cadima, concelho de Canlanliede. no mesnio dislricto, decreto de 84 de mar^o nllirao. I.\STRrc(;AO SECUNDARIA. Fzidoro Rodrigiies Pereira, para professor vitalicio da cadeira de latira dc Sancia Coinbadio, districto de Visen, decrelo de 24 de mari;o ultimo. Gaspar Joaquim Telles da Silva e Mcnezes, para profes- M-! vit.-vlicio da 1." cadeira da secrao occidental do Ljccu .N'acional de Lisboa, decrelo diclo. Jose Fernandes Pereira Dcville, para professor por mais trez annos da cadeira de lalim de Caminlia, districto de Vianna, porlaria de 24 diclo. Francisco J,)se d'Oliveira Queiros, para o logar de com- raissario dos estudos do di.«triclo d'Aveiro, decreto de .11 diclo. ' A]VlVU^'€IOS. Novo Compcndio da Historia de Portugal, cooidenado por Antonio Francisco Morcirn de Sa. Ajiprovatlo ptlo Consellio Superior d'lnstruc^ao Puhlica. 3.* edii;.1o. — • Pre(;o 100 reis. iCntre as niuitas obrns que d'este genero se tern publi- cado, e este um dos Compendios, actualmcnte mais sc- guidos. , Comprclionde desde o principio da Monarchia, ate o reinado do Sr. D. Pedro V, sendo precedido por uma boa parte da C/i'irograpliia de Portugal, frseguido d'uraa ciiriosa llecnpilula^tto de todo o Corapendio, na forma porquc no lyccu de Lisbua se fazem os e.\amcs dos aliininos primarios Os srs. professores e dircctores de collegios, que o quizerem adoptar, qiieiram dirigir-se ao auctor — ma da Siiudtide n." 17, Lisbon — i[idicando o nuniero de exem- plares que querem comprar, e a via por onde, com mais seguran^a, tiles poile ser t'eita a reuiessa, ))odendo no mesmo tempo remettercm, por meio dos sens correspon- denles ou em cautela do correio. a importancia dos exem* plares que requisitarem. Faz-se o abatimenio de 20j a queni comprar mais de 12 compendios. Tambem se vende separadamente a Rccnpilnlu^ao. — Pre(;o 20 reis, e com o mesmo abatimento. Grammatica Franceza 'I'heorica e Praclicn, ou ^le- tliodo, inteiramenle novo em Portugal, para se aprender, com muita brevidade e perfei^ao, a fallar e escrever o idioma Franccz. 4.** edi^ao refuudida e niuito melhorada; por Emilio Achilles Monleverde. — Prc(;o 800 reis, ciii brochura. Manual Encyclopcdico para uso das escholas de ii struC(;ao primaria; por Emilio Achille* Monleverde. Aj provado pelo Couseliio Superior d'lnstruc(;ao Publ eili^ao, refundida e muilo melhoruda. — • Pre^o 400 re em brochura. 6." Vcndem-se, em Lisboa, nas livrarias de Joiio Paulo Martins Lavado, rua Augusta n.° 8 ; na da Viuva Ber- trand e filhos, aos Martyres, a esquina da Travessa da Figueira, e nas de quasi todos os livreiros : — no Purto, na de Antonio Rodrigues da Cruz Cuuliiiho, rua dos Cal- deireiros n." 11 e 12; na de More, rua de Santo Anto- nio n.°* 42 a 44, e outras; e em lodas as capitaes dos dislrictos adminislralivos : — no Rii dc Janeiro, na loja de E. e H. Laemmerl, rua da Quilanda n.° 77, e nas de oulros livreiros, tauto d'nquella cidade, como das demais do Imperil do Brnsil. I\ . B. As pessoas que quizerem alguma port^ao de e.vemplares d'estas obras, de 50 ale 150, se abonara a commissao de 10 por cento; de 150, ale 250 22 por cen- to; e de 250 para cima, 15 por cento; devendo dirigir-se, para este fjni, a livraria acima mencionada de Joiio Paulo Martins Lavado. ERRATA IMPORTANTE DO Pag. Col. Link. 200 2.» 53 Erro Na G.' cadeira, que foi regida pelo Icnte proprietario, explicaram-se pela primelra rcz, etc. Emenda Na 6.'^ cadeira, que foi regida pelo lente substituto, o dr. Barreto Feio. naausencia emcilr- tes do lente ])ro- prietario, expljca- rara-se, etc. €> Jn0titut0^ JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. PROJECTO DE LEI Apresentado us (Tories pelo sr. depa- tado Dr. Jos^ Slaria de Abreu. na sessao de IS de Abril dc 1859. Senhores : — As letras e as hcieiu-ias lia- viam tocado entre nos o ultimo Icrrao da sua decadeiUe exislencia, quando o genio vasto e emprehendedor do prinieiro minislro d'el- rei D. Jose lancou os fundamcnlos da sua restauracao, nos memoraveis eslatulos com que reformou a Universidade de Coimbra. Monumenlo desabedoria cobra primorosa- mente Iracada, aquelles eslatulos abrangiam em seu vasto piano o ensino conipleto das sciencias e das lelras, como enlao se profes- savam nas mais cullas nacOes da Europa. Esta ultima parte, porem, nao logrou ver a luz publica. Crearara-se as novas faculdades de sciencias malhematicas e philosophicas, reformaram-se as antigas, mas a faculdade das letras, que devia substituir o anligo e real coUegio das artes, nao chegou a decre- tar-se. A reforma havia cerceado muitos abusos, deslruido muitos prcjuizos inveterados, aca- bado com muitas praclicas absurdas e vicio- sas. A rclutancia dos antigos liabitos, a riva- lidade e despeilo dos jurados inimigos de todas as innovacOcs, era por isso inevitavel. A queda do minislro rcformador acabou de decidir da soite d'esses cstalutos, no tocanle a creacao da faculdade das letras! Longe, porera, vae ja essa epocba ; e loda- via nao pode ainda rcalisar-se, no meio de tantas reformas, por que a nossa instruccao publica tern passado, essa porvenlura a pri- nieira e mais necessaria de todas na ordem dos estudos supcriores, a creacao dos cursos das letras, como de ba niuito os vemos orga- nisados nas faculdades das letras de Franfa e da Belgica , nas scccOes de litteratura das faculdades de pliilosophia era Ilespanba, na Prussia e na liollanda. Este abandono, que assim pode charaar-se- Ihe, em que temos delxado cair o csludo das letras patrias, esta gcral iguorancia da histo- ria, da philosopbia e da litteralura t^m por Vol. VI. Maio1.°- tal arte eivado a nossa instruccao publica, que raros, ainda que emincntcs, sao ja hoje OS cngenhos privilegiados, que entre nos cu- ram de sustentar o brillio e de transmittir a posteridade os ullimos eclios das nossas glo- rias litterarias. D'essa mesma litteratura dassica, que com maior esmero cullivamos, quasi nao existem ja OS vesligios; e nem sequer temos creado um syslema, por onde possa aferir-se a pu- reza e elegancia do eslylo, a belleza das for- mas, a solidcz e elevacao dos pensamentos. E esta e a principal, se nao a causa unica, dos poucos progresses, que as sciencias t^m feito entre nos, apezar do muito que ha vinte annos a esla parte trabalhamos por engran- decel-as, e das successivas reformas, que te- mos eraprehendido para o seu aperfeicoa- mento. A instruccao secundaria, mais que outra alguma, devia padecer d'esse raal, que se lornara contagioso. 0 abandono dos verda- deiros e solidos estudos litterarios devia tra- duzir-se na solidao dos lyceus ; e o ensino particular, pela maior parte dirigido por mesquinbos interesses de uma agiotagem igno- bil, converteu os chamados esludos prepara- torios 'nuni dosgracadissimo monopolio. Nos proprios lyceus o ensino nao abran- gia, nem podia abranger, a parte mais im- porlante e Iranscendente dos estudos littera- rios, para que elles so deviam habililar a mocidade esludiosa. A creacao dos cursos superiores das letras era o natural e indispensavel complemento da lei, que estabelec^ra os lyceus. A litteratura, a historia, a pliilosophia, a geograpbia e a archeologia nao podiam dear enccrradas nos acanbados liniites do ensino elomenlar dos lyceus. Querer demonstral-o fora osiiuccer a vossa provada illuslracao, ou suspeitar que tao avessos eramos no pro- gresso das sciencias, ou tao alincados aos an- tigos mcthodos, que hesitavamos era decretar 0 estabelecimenlo do ensino superior das le- tras, como de ha muito se professa nos mais cultos paizes da Europa. 0 projecto, que hoje submeltemos ao vosso esclarecido e.xame e a singela cxpressao d'es- tes sentimentos e d'estes desejos. A vossa sabedoria cumpre corrigil-o c aperfeicoal-o, 18B'. NcM. '3. 26 p.iia 0 loriiar ilc lodo o ponto digno de vos c do paiz, que represenlamos. Sciihori's : a ireajao d'cstcs rursos iiao e so uma iiiipcriosa necessidade redamada po- los mais cares inleresses das scieiicias e das lelias i-m rclafao aos cstudos siipcriorcs ; e lambeiu urn meio indispeiisavel dc reslaurar a nossa instrucrao seoundaria, provciido-a dc mestres, que por suas liabilitaroes e cstu- dos lilleraiios 'naqiielles curses possani ins- pirar ii niocidade cstudiosa o anier das Ic- tras, 0 gosto do osludo, a pureza e cerrcccao dc estylo, a clcvafao de senlinicntos e as nobres c gcnerosas aspirafoes, que es eslu- dos lillerarios bom dirigidos excitam nos co- rafocs juvcnis, que o peslilero lialite das pai- xGes nao tcm ainda coulaminado. Organisados os cursos supcriorcs das lelras em Lisboa e Ceinibra pcio niedo designado 'neste projecte, o pcsseal d'clles coiupreliende uni liiiiitado nuniero de prefessores, sendo lidas as diversas cadeiras em cursos bieii- iiaes ; ha per conseqiiencia um pequcno au- gmenlo de despoza com csla nova creacao ; augmenlo porem de dcspeza, que desappare- ce, supprimindo-sc uma das quatro seccoes do lyceu de Lisboa, e rcunindo 'numa so as cadeiras de oraloria e bisteria nos lyceus, em que existcm separadas, tornando cem- mum a lodos o systema dos cursos bicnnaes, ja cstabelecido na maior parte d'clles. A creacao do curso da lingua e lilteratura hcliraica em Coimbra, regido pelos sulistitu- los extraordinarios da faculdade de thcolo- gia, alem de dar era resultado a ecenomia de 600^000 reis pela supprcssao das cadeiras dc hehraico em Lisboa e Ceimbra, lem a vantagem de obrigar os aspirantcs ae magi- stcrio 'nniiuella faculdade a cstudar mais pro- fiindamenle a lingua hebraica, indispensavel aos que se dedicani ao cnsine theologico. A. vossa illustraciio nao deixara por certo de apreciar devidamente outras previdcncias consignadas 'neste projecte, e cuja necessi- dade e de lodos reconbecida, c per isso con- fiadamenle esperaraos que cllas merecerao a vossa apprevacao. (Segue o projedo que vae ndiante.) Sala da camara dos srs. deputados, em 13 de abiil de 1837. — 0 deputado por Coim- bra, Jose Maria d'Abreu. Foi adinitliilo e enviado a commissdo de inslruccao publica. RELATORIO APRESENTADO PELA COMMISSAO. A cemmissae dc instrucfae publica exami- nou, com a atlencao requerida pelo assuni- plo, 0 projecto de lei aprcsontado pelo sr. deputado Jese Maria dc Abreu, cm que pro- pOe a creajao dc dous cursos supcriorcs dc ietras, cslabelecendo ae bases do ensino, que ha de ser profcssado 'nclles. A commissao, primeiro que tudo, dcsejou conliccer a opiniao de gevcrne, e, reunida cm confercncia com o sr. miiiistre do reino, disculiu com pausa a conveniencia, opportu- nidade e ecenomia da relorma. So dcpois de cerla de que e gabinclc a apprevava em lodas as partes, c que lavrou o parccer, (juc tern a lionra de submelter a camara. A id(5a, que dicteu as principaes disposi- coes do projecto, se e nova entre nos, quanto a exccucao nos reinos adiantados, conta ja largos annos dc prevcitesa practica, abonada pclos fructos. A lei devia distinguir, como a razao, o estudo dos rudimentos da cultura mais clc- vada de espirite, que so pedera ser fccunda depois de lormado o juize e o coracao. D'esla verdade obvia e dc clara intuicao e que sc deriva o pensamento da organ isafSo projc- ctada pelo sr. deputado Jose Maria dc Abreu. No concise e bem lau(;ado rclatorio, que precede a propesla, o scu auclor abreviada- metite descreveu o eslado da inslrucciio se- cundaria, e a intima telacao, que lem com ella OS curses de lelras no seiUide dc a aper- feicoar, constituindo, por assim dizer, a es- chola normal do professorado em disciplinas e arles, que as licocs e as obras dos mestres modernos cm Franca, c na Allcmanha, con- verteram em sciencias transccndentes, consti- tuinde-as como preparatorio cssencial para lodas as faculdades, c para lodas as profis- soes intcllectuacs. Depois dos livros de Cousin, dc Guizot, de Villemain, de Reyer Collard, e de lantos ou- tros lenles que cnnobreceram com a sua clo- qucncia as cadeiras do magislerio, nae ha ninguem medianamcnlc csclarecide, que nao cenfessc a urgcntc necessidade de interpor um grau ainda, entre as necocs incompletas e forcosaraente superliciaes da inslruccae se- cundaria, e 0 esludo de sciencias, que pedcm ja intelligencias mais robustas e lalcutos mais cullivados. Oulra considerafae de egual peso, e a que se deduz da organisacao politica c admini- slrativa do paiz. Emquanto o advogado, o negociante, o juiz, o militar, o medico, e outras carrciras c funcfocs cxigcm provas de capacidade es- pecial, OS empregos mais numerosos e de grande influencia pelo contaclo immediato com OS services piiblices, cstao dispensados de loda e qualqucr habilkacao, porquc seria irrisorio dar similhantc senlido ao ensino primario e secundarie come heje sc professa. Os curses de Ietras hao de cortnr o passo a este abuse, cujos funestos effeites se Iradu- zem na mania deploravel dos empregos, c na incempatibilidade intellectual de niuitos re- qucrcntcs para os carges, que desejam. 27 Com estes csludos para compleUr a edu- carao sera I'acil legislar um systeraa geral de habilitaroes, jnnctando ao ciirso das lelras o ensiiio especial apropriado a I'uiicrao, que se houver de prover. Sem ellcs, os nianccbos passando seni transifao dos bancos das aulas secundarias para os da Universidadc ou das acadeinias, ainda em annos tenros, aeharao mais arduo o accesso das sciencins e rauitas vocacues, que a fadiga esfria agora, depois de forlalecidas por esles preparatories supe- riores, era que o saber se desprcnde mais de regras e nocoes aridas e de puros actos de memoria, eiitrarao nas faouldadcs com o gos- lo depurado, com um grande cabedal de conhecimentos uleis e variados, c com uraa habililacao, que so por si e ja uma carreira honrosa, alem de rasgar um bello e espacoso portico para lodas as oulras. Era na realidade para nos cobrir de pejo, que em um paiz, que descobriu a navegacao da India, mudando o aspccto do mundo no geculo XVI, e que tao distincto se tornou nas letras corao nas armas em diversas epochas, nao existisse um curso de historia e um curso de litteratura patrias, perguntando em vao 0 estrangeiro culto pelas aulas, aonde pro- fessores dignos das cadeiras explicavam as bellezas de Camoes, as galas de esljio do padre Antonio Vieira, e as formosas paginas de tantos escriptores nossos, por desgraca mais citados e conhecidos dos eslranhos, do que pelos (ilhos da mesma terra. A camara de certo pora termo a esta ano- inalia, concedendo no systema da instrucfao nacional o logar eminente (que morecem) as disciplinas, que hao de rccordar as nossas proezas de guerreiros, os nossos commetti- mentos de navegadores, e os laboriosos fun- daraentos da constiiuicao politica e economi- ca, a que por vczes devemos a independen- cia. E, apontando para o espelho do passado, e erguendo diante das geracoes, que passam, 0 grande vulto dos homens illustres, que as honraram, que as nacOes civilisadas despcr- tam e conservam a cliamma sagrada do amor da patria e da emulacao civica. Um reino, que se esquccesse do que foi, e nao avivasse, sobre a sepuliura dos seuspoe- tas, prozadores e capitaes, as memorias da sua nobreza na genealogia dos povos, era um reino sem tradicoes e sera instinclos, que deixaria cair a espada das maos no dia da lula, amoilecido pela apayada e vil Iristeza que 0 cantor dos Lusiadas retractou com tris- tes cores pouco antes do desastre de Alca- cer, vir provar (|ue no genio ba quasi sem- pre ura condSo propbctico. No projeclo apresentado pcio sr. Jose Ma- ria de Abreu, o augmento de despcza, se o ha, e todo productive, e converte-se era ver- dadeira economia. Conciliando as cxigencias do apcrfoi^'oa- mento do ensino superior e sccundario com a estreiteza das circumstancias do thesouro, 0 auctor propoe apenas a I'undacao de dous cursos, um em Coimbra, e outro em Lisboa; e 0 sen piano de estudos tende ainda para diminuir os sacrificios com utilidade da in- struccao, creando os cursos bionnaes para a bistoria e archeologia, e para a litteratura portugueza na capital : e para ambas cstns disciplinas e para a estrangeira na sede da Univcrsidade. D'este modo o mcsmo professor doraina semprc os assumptos, que principiou a lec- cionar, acompanhando os alumiios ate (is ex- tremas da provincia, que Ibe foi demarcada; e 0 ostado poupa dous e trcz logares, que teria de prover com maior gasto, se para cada cadeira dcvesse nomear um lente espe- cial. Mas esse mcsmo pequeno augmento de dcs- peza, que resultaria de tao productiva insti- tuicao, desapparcce, supprimindo-se uma das quatro scccoes do lyceu de Lisboa, absoluta- mente inutil, e que imporla 'numa verba consideravel em referenda a dolacao do en- sino, reunindo-se em uma so as cadeiras de oratoria e historia, nos lyceUs aonde estivc- rem sepaiadas, que nao sao poucos, e tor- nando-se communs a todos dies o systema dos cursos biennaes, ja adoptado na maior parte d'csles estabelecimentos. Accrescc mais a economia de GOO^OOO reis, que resulta da suppressao das cadeiras de hebraico era Lisboa e Coimbra, passando este ramo da litteratura a ser leccionado pe- los substitutes extraordinarios da faculdade de theologia da Universidadc. Em presenca d'estas disposicoes compre- hendidas nos arligos 10 e 11 §. unico, e ar- tigo transilorio §. unico, e evidcnte que se pode verilicar uma vcrdaddra e proficua re- I'orma com economia positiva, e visivel mclho- ramento do ensino. Segundo o projccto, o primciro provimento das cadeiras dos cursos superiores das letras sera fcilo pdo governo, cm virtude de con- curso publico peranle um jury especial de nicmbros da Academia real das sciencias, eleitos por ella, d'entre os vogaes da segunda cTisse de sciencias raoraes e polilicas, ([uanto ao curso de Lisboa, c de Icntcs da Universi- dadc, eleitos pdo consdho dos decanos, quanto ao curso de Coimbra. Esta disposicao, que se desvia um pouco do methodo ordinario de nomeafao para as escliolas fundadas de novo, teve motives di- gnos de toda a reflexao. Era necessario rcve- stir desde logo este ensino de toda a aucto- ridade e conceito, e atlrabir a die os enge- nbos e as vocacoes mais distinctas. Um sim- ples despacho do governo nao preencheria bera 0 primeiro fim, e toniando sempre certo 28 caiactiT de favor, poderia prejudicar o se- giiudo cm aniiuos c-icrupulosos. A commissao julga escusado insislir niais. Para t'lla csta organizavao encerra o prin- cipio fivilisador dc uma l)clla ret'orma, e co- ino ja 0 nioslrou, as siias vanlagcns immcdia- las deprcssa hao dc ahrangcr, iiao so o eiisi- 110 superior e seiiindario, mas tanibcm a ca- pacidadc rcquerida para o cxcrcicio dc delcr- iiiinadas fiincfOcs, inic ale agora sc exiniiam dc liabilitacOcs, porqiic fallavara os curses proprios para lli'as conferir. Ale liojc a iiistruci'ao piihlica tern sido meiios allcndida do que os melliorameiitos lualeriacs, e a opiiiiilo csclarecida cslraiilia csia omissao conio um graudc erro, mesiiio pcrantc a sciencia cconomica, porquc o cajii- lal moral de uin paiz nao e mcnos producli- vo, allies se dove rcpular tanlo ou mais fc- cundo do que outro qualquer. Ja e tempo de olharmos pclo cnsino, e de nao Ihe medirmos com mao escassa algum subsidio, que ajudc a levanlal-o da sua deca- dencia. A camara, protcgcndo os progresses mo- raes, e promovendo ao raesmo passo os aper- feifoaraenlos pbysicos, assuniira uma iniciati- va, que a cnnobrece, e lomara um logar, que infetiznienle ainda nao foi occupado. As pro- >idencias d'csta indole regislam-se, e perpe- tuam a boa memoria dos governos e dos par- lamenlos; PROJECTO DE LEI. Artigo 1. Sao creados em Lisboa e Coim- bra dois cursos superiorcs de lelras. Art. 2. 0 curso de lelras em Lisboa sera de dois annos, e comprelicDdcra as cadeiras e discipiinas seguintcs: riUMElRO ANNO. I.'Cadeira — Pliilosopbia e Hisloria da Phi- losopliia. 2.' » — llistoria e Geograpliia. 'i.' 0 — Litleralura latina e porUigueza. SEGl'NDO ANi'VO. i.'Cadoira — Uisioria porlngueza e Archeo- logia. a.' 'I — Litleralura estrangeira. 6.° 11 — Continiiacao da litleralura por- tugueza. .\rl. 3. 0 curso das lelras em Coimbra sera de trez annos, e constara das seguintcs cadeiras e discipiinas: PRIMEIIIO ANNO. I .' Cadeira — Phiiosopbia. 2.' o — nisloria e Geograpliia. 3.' » — Litteratura antiga. SEfiUNDO ANNO. i." Cadeira — llistoria portugueza c Arcbeo- logia. it.* ') — Litleralura portugueza. G.' « — Litleralura estrangeira. TERCEinO ANNO. ".'Cadeira — llistoria da Pliilosopbia. S." ') — Conlinuacao da litteratura por- tugueza. 9." ". — •Conlinuacao da litleralura es- trangeira. Art. 4. Sao babilitacao ncccssaria para a prinieira niatricula nos cursos sepcriores das lelras OS exames de lalim, franccz, pliiloso- pbia racional e moral e principios de dircito natural, oraloria e poelica, llistoria e geo- grapliia, arilbmetica e geomctria, principios de pliysica e cbimica cinlrodiicfao a bisloria natural, feilos perante os lyccus. §. nnico. 0 examc de grego e prcpara- torio uecessario para a niatricula na lerccira cadeira do curso das lelras em Coimbra. Art. 5. Nenlium alumno, passado trez annos depois da creacao dos cursos superio- rcs das letras, podera matricular-se no pri- meiro anno de qualquer faculdade ou escbola de inslruccao superior, sem a frequencia e approvacao de lodas as discipiinas dos refe- ridos cursos. §. 1." A frequencia c exame da lerceira e scjilima cadeira do curso das letras em Coimbra, e obrigalorio somenle para os alu- mnos que se destinam ao magi^terio nos cursos das lelras e nos lyccus; c para os que perten- derem recebcr o grau de doulor em alguma faculdade. §. 2." Os alumnos porem, que se babili- tarem com a frequencia c exanie das referi- das cadeiras, prccederao cm lodas as malri- culas, exames e ados, aos que tiverem outros exanics de preferencia. Art. G. A frequencia e approvacao nos cursos superiorcs das lelras c babilitacao ne- cessaria para o provimento de lodas as ca- deiras dos mesmos cursos e de instruccao secundaria, e para todos os logares de admi- nistracao civil de servenlia vilalicia, quatro amies depois do eslabelecimento d'aquelles cursos. §. iniico. 0 provimento de lodas as cadei- ras, a que se refere esle arligo, sera por concurso, que se abrira somenle perante o consellio acadeniico do curso sujierior das le- lras, que mais proximo for do lyccu ou ca- deira, cm que se der a vacalura. Art. 7. Junclo ao curso das letras em Coimbra bavera um curso biennal de lingua e lilteralura bebraica, que sera alternada- mente regido por um dos subslitulos cxlraor- dinarios, ou por doutores da faculdade dc 29 ihcologia, com a gratificacao de 2 reis. §. unico. Ncnhum alumnn podora malri- ciilar-se no primeiro anno ihcologico sem a frcquencia e cxanie da primeira parte d'estu curso; ncm rocebcr o grau dc bacharcl, sem ler concluido o mesmo curso. Art. 8. No curso das lelras em Coimbra as cadeiras segunda e ijuarta, quinta e oita- va, sexla e nona, serao regidas em cursos biennaes por Irez prol'essores. g. unico. 0 mesmo se obscrvara nos cur- sos de Lisboa, quanlo as cadeiras segunda e quarta, lerceira e sQxta, que serao regidas por dous profcssores. Art. !). Os profcssores dos cursos das le- lras gosarao das mesmas vantagens e direilos que OS dos outros estabelecimeutos de instruc- cao superior. Art. 10. Fiea supprimida uma das quatro seccoes do lyceu de Lisboa, e as cadeiras de lingua hebraica no mesmo lyceu, e no de Coim- bra. Art. 11. As cadeiras dc oraloria e poe- tica, e de bistoria e geographia, serao, em cada lyceu, lidas 'numa so cadeira, e cm curso biennal. §. unico. 0 curso de principios dc physi- ca e chimica e introduccao a bisloria natural dos trez reinos, sera biennal, e a sua f're- quencia obrigatoria para todos os alumnos que se deslinam a instruccao superior. Art. 12. 0 governo decretara os neces- saries rcgulamentos para a execucao da pre- .sente lei. AllTIOO TRANSITOItlO. 0 primeiro provimento das cadeiras dos cursos das ietras, sera feilo pelo governo em virtude de concurso publico, perante um jury especial, de membros da segunda ciasse da Academia real das sciencias, por elia eleitos, quanto ao curso de Lisboa, e de lentes da Universidade, eleitos pelo conselho dos deca- nos, quanto ao curso de Coimbra. Para este concurso servirao de prova, alem das oraes, as obras e escriptos dos concorrentes, e a sua aplidao reconhecida na bistoria e littcra- tura. §. tinico. Os profcssores das cadeiras sup- primidas por esta lei, serao convenientemente collocados, segundo as suas habilitacoes, nas que foreni vagando, com preferencia a quacs- quer outros candidates. Art. 13. Fica revogada a legislacao em contrario. Sala da comraissao, 22 de abril de 18B7. — Anionic Luiz de Seabra — Joaquim Goncal- ves Mamcde (com declaracoes) — Manuel Paes de Figueiredo e Sousa — Jose Teixeira de Queiroz — Thomaz de Carvalho — Luiz Ari- gusto Jiebello da Silva, relator — Jose Maria de Abreu — Koquc Joaquim Fernandcs Thomaz. DAS IRMAS DA CARIDADE. Contiiiuado de pag. JO. XVI. Nao se julguc, porem, que a vida da irma Rosaria earecesso d'alguns d'esses aconteci- nientos que se destacam, no nicio das mais excellentes accoes, para mais augmcntarem 0 seu iirilho. Esta animosa e caritativa irma viveu 'num ccntro de movimento, e 'numa cpocha dc sobejo singular, para que nao fosse possivel correr a sua laboriosa existencia dosacompa- nbada d'essa gloria. As invasoes dos exerci- tos alliados, as do cbolcra, os motins polittcos, as revolucOes de 1830 e tSiS em Paris, e as barricadas demandaram por vezes, para ac- cudir a sua cara familia, os mais brilbanles esforcos de caridade e dedicaeao. i< Em 1814 (diz Mr. de Mciun), durante a occupacao estrangeira, um eorpo russo acani- pava na feira dos cavallos. Correu voz no l)airro de que um soldado, por grave lalta contra a disciplina, bavia sido condcmnado a morte, e que a sentcnca ia a executar-sc. Este boato chegou aos ouvidos da irma Rosaria. Immediataracnte, fazendo-se acora- panhar d'uma mullier d'cdade (ella tinha entao 27 annos), alravessou o acampamento russo, e procurou fallar ao general. Introduzida logo, lancou-se-lhe aos pes, e supplicou-Ihe que perdoasse a esse bomem. « Entao e vossoconbecido? tendes-lhcgran- de amor! exclamou o ofTicial, observando o ardor da siipplica. — Sim, arao-o, respondcu a irma: amo-o, como a um de mens irniaos, remido pelo san- gue de N. S. JESUS Chkisto ; e estou prompta a dar a niinba vida para salvar a d'clle. 0 perdao foi concedido as suas caritativas instancias; e a irma voltou mui de pressa a casa do soccorro, toda attonita do que vinba de fazer, c como atterrada da sua audacia. >• Em um dos tcrriveis dias de 1848 — « na niaior forca do conflicto, um ofJicial da guarda movcl, que tinha combalido com toda a bra- vura durante uma parte do dia, conduz os scus soldados ao atlaque d'uma barricada da rua Mouffetard, no angulo da rua da espadu de pao ; ceo primeiro a subir ao assalto. Uma descarga mortifera suspende, sem o fazer pa- rar, a tropa, que o segue ; e arrebatado pelo seu impulse ate ao cimo da barricada, acha-se so. Cercado de todos os lados, apenas tem tempo para correr pela rua da espada de pdo, e precipilar-se na casa de soccorro, em meio das irmas da caridade, como um refugio, que Ihe oO'erece a providcncia. I'm bando d'insur- gentes, que o reconhece, lanca-se cm sua perseguicao, e chcga quasi ao mesmo tempo. »A vista d'cste bomem sozinho, sem espe- 30 lanra, I'lilregue a urn bando sequioso dc .•-angue, lodas a? irraas, c a sua frcnte a sii- periora, arremcssam-se, por uiu movimenlo lustinclivo, cnire a victima c os matadores. << Dianle d'csia inesperada trinclioira os insurgcntes param. Todos coiilieccni a irma Rosaria. Comeram com ella uma negocia- jao em alia voz, na qual, por mais d'uma liora, a caridade dispula a viiiganca a vida d'um liomem. Os assallanlcs sac iiiexoraveis, e misturam as amoacas mais alrozes contra 0 inimigo as cxpressOcs de respeilo para com aquella, a quem, aiuda mesmo no seu arrebalamento, cliamam a sua mae. •1 Queremos o nosso prisionciro, exelamani t'llcs : nao ccssoii de fazer malar aos nossos irmass, — soniente a sua raorte nos vingara de todo 0 mal, que nos lera feilo. (I Como a irma liu's cxprimisse todo o sou liorror por ver eiisanguentar o ciiao d'csta caza de misericordia, e malar, dentro d'ella, a uni homeni desarmado : — Deixae-no-lo prender, nao o niataremos aqui, leval-o-lie- mos para a rua, e alii receber.i o casligo do scu crime. E apezar dos pedidos , siippli- cas e promessas, apezar do mais tocante ap- peilo a compaixao, os insurgentes continuam a avancar, reclamando sempre a sua preza, e aperlando o circulo, que os separa d'ella. Ja, para acertarcm com mais seguranca, o cano das espingardas se apoia sobre o hom- bro das irmas, e os dedos estao no gatillio. 0 tiro fatal vai a partir; quando a irma Ro- saria, lancando-sc de joelhos, exclama : — Jla cincoenta annos, que vos tcnlio consagradn a minha vida; pur todo o bem, qiie vos tenlio feilo, a vos, a vossas mulheres, aos vossus filhos, supplico-vos a vida d'csle liomem! — A eslc especlaculo, a este brado, as armas le- vautam-se ; reciia o bando, como locado d'ar- rependimento ; urn hourra d'admirafao escapa d'estes beicos negros de polvora , e lagrimas d'euternecimento correm d'estes olhos, ainda agora impiedosos! 0 prisioneiro csta salvo. « Dois dias depois a ordem tinha trium- phado, a juslica recobrava o seu curso, e os insurgentes esperavam, nas cadeas, o casligo da sedicao vencida. 0 pateo da casa da rua (la espada de pao estava cheio de mulheres c de mcninos, que pediam seus maridos, e seus paes, c que nao linhani esperanca senao na irma Rosaria. Esta cliorava, procurando .•iocegal-os, e promettia interceder por elles. A forca de passos e pedidos alcancou a sol- tura dos que nao tinham sido senao arrasta- dos ; e foi as cadeas e aos fortes consolar os mais culpados, cuja liberdade nao podera obter. Anjo de consolacao entre elles e as suas familias, levava muilas vezes para am- bos OS lados umas esperancas, de que nao l)arlicipava. « Entre os presos estava urn operario labo- rioso, por quem a irma Rosaria se intercs- sava muito. Antes da revolta passava por um dos bomiMis mais lionrados do bairro ; mas liavia cedido a um movimenlo de delirio, c pesavam sobre elle accusacOes muito graves. Todos OS passos, lodas as solliiilacOes em seu favor, linbam sido inuteis ; nao tinlia mais que es|)erar, senao uma proxima c terrivel eonderanafao. « Uma sua lilha, d'edade de cinco a seis an- nos, toda formosa e engracada, seguia a es- cliola das irmas ; vinha chorar alii lodos os dias desde a prisao de seu pae, e cousa ne- nhuma a podia consolar. « 'Nestas circumstancias, o general Cavai- gnac veio ver a irma Rosaria. Esta conduziu-o a cscbola, e chamando a menina : — .Minba fillia, disse-lhe, aqui esta esle senlior, (|ue, se quizer, vos pode restituir vosso pae. " A menina, ouvindo essas palavras, ajoe- Iha-se, poe as maos, e com uma voz entre- corlada de solucos : — 6 nieu bom senhor, exclama, restitui-me o meu papa ; elle ti lao bom, temos lanta nccessidade d'elle ! — Mas, diz 0 general, certamente elle fez alguraa cousa ma? — Nao, de certo; a minha mama diz-rae que nao ; e de rcsto, cu vol-o prometto, nao ha dc lornar : perdao! perdao! reslitui-ra'o, eu ficarei muito vossa araiga. (I Os olbos supplicanles da irniS apoiavam as palavras da menina ; dir-se-hia um anjo, inspirado por uma sancta. 0 general sahiu muito commovido, e poucos dias depois, o preso era resliluido a sua familia, fciiz por ler tido, para orar a sua causa, dois advoga- dos, que as nao perdeni — a innoccncia e a caridade. » XVIII. Annos antes, em uma epocha nao menos agitada, e na qual a irma Rosaria nao tinha ainda, perante o povo e as auctoridades, os grandes servicos dos tempos do cholera e das sedirOes, succedeu com ella o facto, que vamos a Iresladardo nie'smo historiador; eciuemostra egualmentc quae reconhecido era jii o seu raerito evangelico, c nao menos quanlo val a caridade 'ncste paiz, do qual prouvera a Deus que houvessemos tornado tanianhas licoes. A. missao da caridade nao e a da juslica, menos aiuda a da policia. 0 mesmo criminoso, aos olhos da caridade , nao e senao um nosso irmao, um desvalido. <' Depois dos molins (diz o V.''° de Melun), que agitaram o comeco do reinado de Luiz- Phillipe, alguns homens, pcrtencentes aospar- tidos mais oppostos, foram accusados d'have- rem tomado parte na revolta, c coudemnados a niorte por contumacia. Muitos, perseguidos pela policia com a sua habilidade e preseve- ranca habiluaes, dirigiram-se a irmii Rosaria, de quem tinham ouvido fallar, e pediram-lhe que OS salvasse. A irma nao esculou senao a compaixao, escondeu-os, obtcve-lhes disfar- 31 I ces, e guias seguras, e acliou meio de fazer evadir alguns d'elles. Deminciaram-na corao culpada dc ter ajudado os rolieldes a escapa- rcm a viiiganca da justira. 0 cliefe da policia de scgiiranca, a quern ella ])rpsiara alguns servifos, e que llie era niuilo agradecido, veio avisal-a de que se linha mandado passar ordem de prisao contra ella. A hna irmii nao teinia por si 0 ser presa , mas sini, como dizia de- pois, pela doshonra que d alii poderia vir a sua comniunidadc. Todavia nao persistiu menos em seus esforros a favor dns condemnados, e conseguiu outra vez fazer partir um dos mais importantes e dos mais conipromettidos. Mr. Gisquet, enlao prefeito da policia, avi.sa- do d'este faelo, assigna a ordem de prisao, e entrcga-a ao seu priraeiro agente para que a execute immedialamcnte. Este supplica-ihe que poupe esla injuria a mae dos pobres : — A sua prisao, accrescenlou, soblevaria o ar- rabalde S. Marceau, e tornar-se-hia o signal d'um motim, que nao se poderia reprimir ; 0 povo todo pegaria em armas por ella. — Enlao essa irma Rosaria e mui poderosa! ex- clamou 0 prefeito; pois bem, quero ir vel-a. « Dirigiu-se a rua da espada de pdo, atra- vessou a raultidao, que esperava, segundo o costume , a porta do parlatorio ; e sem se fazer annunciar, pediu para falar em particu- lar a superiora. A irma Rosaria, que nunca 0 tinha visto, recebe-o com a sua costumada civilidade ; pede-lbe, que espere que ella acabe com OS seus pobres; da, corao costumava, as suas caritativas consultas ; e terminada a audiencia, volta para o seu visitante desco- nhecido, desculpa-se pelo ter demorado tanto tempo, e pcrgunta-lhe o que pode fazer em seu servico. « Minha senhora, responde Mr. Gisquet, nao vim para vos pedir .'ervicos, mas antes para vo-los prestar. Eu sou o prefeito da policia. — A boa irma redobra em civilidades e descul- pas. — Sabei, minha irma, conliniia Mr. Gis- quet, que estais gravemente compromettida ; em desprezo das leis, tcndes feito evadir um oiTiciaJ da cx-guarda real, o qual, pela sua manifesta revolta contra o goveruo, tinha me- recido as mais severas penas. Eu ja tinha dado ordem para serdes presa; retirei-a, a pedido d'um dps nieus agcntes; mas venho, e quero saber de vos, como tendes ousado cons- tituir-vos assim em rebelliao contra a lei. — Sr. prefeito, responde-lhe a irma Rosaria, sou filha da caridade, nao tenho partido, soc- corro aos desgracados aonde quer que os en- contro; procuro fazer-lhes bem sem os julgar; e promclto-vos, que se um dia vos mesmo fos- seis perseguido, e me pedisseis soccorro, nao vol-o recusaria. " Em tempos de revolufao esta palavra nao era uma promessa va. Mr. Gisquet nao pode impedir-se de sorrir, e talvez, no seio d'alma, de tremer. II Seguiu-se uma conversafao entre o prefei- to c a irma, cm que esta se esforcou por fazer comprebender ao magistrado que a caridade nao tcm os mesmos deveres que a policia ; e que, depois d'unia batalha, ella e sempre do partido dos feridos e dos vencidos. 0 prefeito nao podia, 'neste ponto, dar-lhe razao ; mas licou encantado da sua franqueza, nao esca- pou ao asceudente que ella exercia sobre lodos, agradeceu-Ihe as suas explicacoes, e depois, no momcnto de a deixar, disse-lhe : — Estou prompto a I'echar os olbos sobre o passado ; mas, por favor, minha irma, nao lorneis a comecar ; ser-me-hia muito penoso proceder contra vos. — Sr. prefeito, respondeu-Ihe a irma Rosa- ria, acompanhando-o, na verdade nao vol-o posso pronu'lter. Confesso que, se uma cgual obra se apresentasse, nao teria a coragcm de a recusar. Uma filha de S. Vicente de Paulo nunca lem direito, qualquer que sejam as consequen- cias, de faltar a caridade. » E 0 promettido foi cumprido: a boa irma conlinuou, como ate alii. Mr. de Melun refere outros ados nao menos signiBcativos da sua animosa compaixao. Se podessemos proseguir 'nestas agradaveis e proveilosas narracoes, a medida do desejo, e colhendo apenas a flor do pouco que se tem escripto, esta nossa breve memoria conver- ter-se-hia 'num livro voluraoso, que poucos tcriam a coragem dc abrir. Falta-nos porem ainda dizer alguma cousa do Levante e da Crimea; isto e, do mais bri- Ihante e famoso campo de gloria da Franca, das irnias, e da Egreja, 'nesles ultimos annos; nos quaes o nome da primeira das nacoes, pela bravura e piedade de seus generaes e soldados, e pela celeste dedicacao das irmas, e dos sacerdotes calbolicos, licou indclevel- mente impresso na memoria agradecida, edifi- cada, e attonita dos povos do Levante. Transcrevendo um pouco d'esses grandes feitos, alcancaremos por ventura oulras van- tagens ; porque, pelo que se faz no imperio turco (com vergonha o dizemos) pelas irmas da caridade, e outros institutes, poder-se-ha concluir o muito que nos falta, e que podemos e devemos fazer para a regeneracao moral e social do nosso povo. As irmas da caridade seguiram os exercitos ao campo das batalhas , babitaram nos hos- pitaes militares de ticis e inlieis, e foram presentes aonde a peste arrebatou maior nu- mero de victimas. Muitas sabiram de Franja com esse destino , mas nao forara nem as unicas, nem as primeiras; correram em au- xilio de suas irmas do Levante, as (|uaes, apezar de numerosas, nao podiara occorrer a tantas necessidades. Continua. a. FORJAZ. 32 $A.\aA ISABEL RAIMIA DE PORTIGAL. (4 nr. JVLiio.) Siiudcmos a Sancta que hoje cclebra a Egreja! Saudemos a liiha das llcspanhas, a Senliora c proleclora de Leiria, a csposa do rei lavrador, a m5c dos dcsvalidos, a Sancta Uainha de Portugal, que 'ncstc dia, lia hoje 1)18 aunos, subiu ao ecu a rceebcr a palraa que liavia ganliado na pcregrinacao da terra. .Saudemos com toda a cITusao da iiossa al- ma a ilhistre, a formosa, a hoa, a caritativa, a humildc, a paciGcadora, a Sancta Uainha Isabel. IllHstrc— ninguera mais do que clla. Filha dc D. Pedro 111, o grandc rei d'Aragao, e da raiiiha Constanca de Napolcs; neta, pelo lado de sou pae, dc D. Yiolantc, liiha d'Andre II, da Hungria, girava-lhe nas veias o sangue de trez dos mais nobres paizes da Europa, c das suas principaes familias. Formosa — todos os chronistas do XII sc- culo concordam cm a considerar tal. Tinha apcnas onze annos quando a fama das suas perfeifi5cs comccou a correr o mundo, c foi raovidos em grande parte por ellas, que trez dos mais afamados reinantes d'entao, dispu- taram a sua posse, e a pcdiram em casamcnto para os herdeiros dc scus thronos. Niio logra- ram tao apetecida ventura. A princcza, cujas gracas ambicionavam a urn tempo a Franca, a Inglaterra e a Grecia, cstava no ecu desti- nada para abrilhantar a coroa do Portugal. Os esposorios da bclla Aragoneza com o nosso rei D. Diniz foram tractados por pro- curadores. Quando o rei portuguez soube ([ue a formosa csposa caminhava para Portugal, correu a encontral-a, e foi em Trancozo que a viu pela primeira vcz. Annos antes o rei Philippe Augusto de Franca havia tanibem corrido de Paris a Amiens a encontrar-se com Ingcrbnrge, a liiha de Waldcmar de Dinamarca, com quem liavia do mcsmo modo contractado casamento. Identicas cram as situarOes, divcrsissimos fo- ram OS rcsultados. 0 rei francez viu a csposa; foi bastante cavalheiro para cumprir a sua palavra — casou; mas nao o foi assaz para a poupar n uma vida de infelicidades. A pohre e bclla Ingerburgc, que era uma e outra cousa, dias depois foi repudiada, c mcltida cm uma prisao porque inspirou rcpugnancia em vez d'amor, ao homem de quern vinha scr. Nao assim a nossa Sancta Rainha. A flor que vinha partilhar o tbalamo portuguez era um composlo de caudura e gracas pouco vul- garcs. Vel-a e amal-a foi uma e a mesma cousa para D. Diniz. Quiz clle mostrar-lh'o, e por isso, nao contente dc Ihc haver dado anteriormcnte era dote por escriptura de nupcias o scnhorio das trez villas de Obidos, Abranles e Porto de Moz, fez-llic logo a doa- cao de Trancuzo, ondc a rcceheu por mulbcr. aos 2i de junho de 1282, nao tcndo clla ainda 12 annos complelos. Oh! nial so podc pcnloar ao rei trovador 0 haver Iraido esla sancta. Ellc, que .se dcvia desvanccer dc pnssuir uma das mais lindas mulhcrcs da peninsula bispanica! clle, ([ue tinha por csposa a mulher ambicionada dos primeiros princi])es da Europa, — trocava-a nas horas dc delirio por uma Dona Garcia, uma boa dona do Porto, uma Mor Alfonso, uma Aldonfa Uodrigucs, uma Branca Lourcn- co, uma Marinha Gomes, por.. . porcem, que junctas nau faziam a filha de D. Pedro III! E qucrcis saber o que c scr uma sancta? A Rainha D. Isabel via as inlidelidades de seu marido, com a sercnidade no rosto e a re- signacao na alma. Fazia mais. Em quanto o rei poeta dizia a uma das suas amantcs com 0 corajiio exaltado: Senhor ' formosa, c dc mui loufa Coracao. ail qticrede vos doer De mi peccador que vos sei qucrer Milhor que a mim ! Em quanto dizia a outra com o cnthuzias- mo de mancebo ardente: En gran coila ' Senhor Que e peior que merle Vivo per boa fe, e pelo vosso amor. Esla coita sofro cu Por vos, Senhor, que cu Vi polo men gran mal, E milhor mi sera De moirer por vos ja. Ella chamava ao seu palacio os bastardos, (que chegaram a scr oitn ou novc), cduca- va-os como os dois legitimes, acarinhava-os, protegia-os, e quando o desleal com uma ou oulra doafao brindava os fruclos das suas faltas, declarava que o fazia com o consen- timento da csposa, — ensembra com minha mulher a Rainlia Dona Isabel. Mais ainda. No anno dc 1298 — prevenin- do 0 case de morrer antes d'ella, como acon- tcccu,.querendo dar um testimunho publico do quanto contiava na sua caridade, consli- tuiu-a tutora de 3 tilhos bastardos, que entao tinha! D. Diniz, D. Diniz, que Ihesoiro possuistc! Para isto nao basta um mulher, e necessario uma Sancta. Hem o conlieccu o grande rei, bastante sc arrcpendcu depois d'estas loucu- ras da mocidade, hem grato Ihe foi. Alma generosa tudo achava de pouco valor para Ihe dar, e ella tudo Ihe acccitou para bcncfi- * Os vocabulos em — dr — eram n'aqnelle tempo inva riaveis tanto para o masciilino, como |iara o feminino. ^ Desgra^a. 33 cio (los pobres. Em premio das pazes que ella promoveu cntre die e o irniao D. Affon- so, deu-lhe Lciria ', a I'orniosn Leiria, a que- rida dos nossos reis; a banhada por esse Liz, que no dizer de nosso Lobo Em cobras de crista! correndo salta. Com 0 andar do tempo deu-liie lambcm o senhorio de Torres-Novas, Alemquer, Ariuda, Alougnia e Cintra; c ella, a mensageira da Providencia no iiiundo, gaslava os rendinien- tos das 4 villas do seu dote, e os de todas as outras que mais tarde llic forani dadas, cm fundar hospitaes, em alliviar infelizes, em doiar as hojieslas desvalidas, em augmcntar misericordias, cm beneliciar egrejas, em soc- . correr empestados, correndo ao meio da peste sem a teraer, em mil outras obras de carida- de, que Ihe conquistaram urn logar no ceu, e apos isso as adoracoes das gentes sobre a terra. Oh! como ella e digna d'essas adoracoes! Como ella a todas estas virludcs reunia a da huniildadc! Quereis vel-a? Tanto que el-rei seu marido cxpirou, a rai- nha de Portugal, a liiha, a mae, a neta de reis, querendo mostrar o nada das vaidades do mundo, encerrou-se no seu apozenlo, cbaraou as suas camareiras, dcspojou-se dos sens vestidos, entregou os cabellos a uma tcsoura, envergou o babito de Sancta Clara, cingiu-se com um cordao, e autre lagrimas de todos e d'ella, que as sanctas tambem choram, fez urn protesto, nao de professar, porque era sua iutencao nao se privar das suas rcndas c exercer a earidade, mas dc assim coutinuar vestida o resto da sua vida. Pouco depots, emsuffragio pelaalma do que Deus havia chamado a si, foi a Sanct' lago de Galliza, destribuiudo benelicios durante todo 0 caminlio. Mais tarde, nao desejando morrer s«m la tornar, la vollou com elTeito; mas d'esta vcz, lendo ja 03 annos d'edade, foi a pe como OS peregrines, vestida como elles, bordao dc romeira, seni sequito e comendo o pao duro da csmola, que a pcdiu, batendo as porlas de ricos e pobres, c implorando-a como OS desamparados do nuindo! Foi 0 prepare para a grande Jornada. D'abi a pouco mais d'um anno abriram-se-lhe as porlas do ceu. Mas como? Estrella da paz devia morrer cumprindo a sua missao de loda a vida. Corria o fim de junbo de 133G, vivia ella recolhida no seu niosleiro de Sancta Clara de Coimbra, que bavia fundado, quando chega aos sens ouvidos, que seu lilho rei dc Portu- ' Esia doa^So por iima coincidencia nolavel foi fpita a 4 de jiilho de 1300, isto ^, no mesmo dia, em que a Egreja celebra a sua lesla. gal, se apercebia cm guerra la para as ban- das do Alemlejo, contra o rei de Castella. Erani ambos do seu sangue. Nao bczita. Dc- baldc as boas religiosas, dcbalde as suas danias, a prctcndem dissuadir d'ir ao Alem- tejo. Lembram-Ihe aedade, queja tinha, dc65 annos, lerabram-lhc a dislancia, o calor da eslajao, a influencia d'elle 'naquclla provin- cia; passam das razoes as supplicas, das sup- plicas cis lagrimas! A nada attendc, nada a dcsvia do proposito. Por ventura nao era a paz 0 seu sonbo constante? Nao se havia ella por mais d'uma vez niettido entre os combatentcs? Nao se linha pela sua influen- cia pacilicado seu genro Fernando de Castel- la com 0 rei d'Aragao? Sen irmao o rei de Sicilia com o rei dc Napoles? Seu marido com 0 irmao, o infante D. Aflonso? Seu filbo com seu marido D. Diniz de Portugal? Nao linha por estes, que tanto Ihe magoaram o coracao, corrido de Alemquer a Guimaraes, de Guimaraes a Coimbra? ' Quem a poderia agora dissuadir d'ir ao AlenUejo? Foi, e foi a pe, por um sol abrazador, a ver se esta pe- nitencia dobrava os coracoes dos malfadados, que, por parenles, antes se deviam amar. 0 resultado fora previsto. A martyr cbegou a Extremoz, e abi (onde 53 annos antes o rei D. Diniz havia assignado a procuracao para 0 seu recebimenlo), cahindo nos braces dos sens, exhausta de fadigas, cancada de lutar pelo bem, e tranquilla de consciencia, subiu ao ceu, a colher o premio d'uma vida de sanctidade, aos 4 de julho de 1830. Aqui lendes a senhora de Leiria. Quereis agora saber a que estaes mais obrigados que ninguem, patricios mens? Lede as palavras que vou tcxtualmenle copiar do tomo 5.° da Monarchia Lnsilana, escriptas por um mon- ge d'Alcobaca, que foi clironista mor d'este rcino — ha mais de 200 annos, odr.fr. Fran- cisco Brandao: «i 0 que se pode advertir aos moradores de Leiria, 6 que enlraram no senhorio d'esta Sancta Raiuha a 4 do mez de julho, e que conforme a isto estSo mais obrigados que oti- Iros a celebrar o dia da sua festa, que a Egreja mandou e dispoz que fosse aos 4 de julho, que e o proprio dia em que aquella Raiuha reccbeu o senliorio de Leiria. » Lede mais o que um thio d'este chronista, tambem monge d'Alcobaca, cscreveu acerca d'este mesmo assumplo : « Donde podem ver OS moradores de Leiria a obrigacao que lem de fazer parlictilares feslas a esta Sancta, cu- jos vassallos foram em outro tempo, e no presentc, e de crer, sao seus favorecidos e lembrados deante de Deus. » ' As pazes, que por esIa occaziao a Sancia promoveu entre marido e filho, foram selladas com juramenlo d'este na egreja de S. Marliiibo de Ponibal. d'aquelle na de S. Simao de Leiria. Era uma egreja no Caslello. de que nem ju e.xisteiu as ruiiias. 34 Nao seria uecessario accrescciitar mais a vozcs lao auctorizaiias; mas nada fique por (lizer, que possa accordar a dcvorao dos lilhos d'esla terra pela Saiicla Rainha. Nao ha so a cireuraslancia dc Leiria Ihe scr doada a 4 dc jiilho, lia mais. A. historia d'esla cidade osta dc tal sorle ligada com a da sua prolcclora, que nao e possivel desli- gal-as. Sancta Isabel viveu entrc nos, nniilas vczes veiu procurar um repouso, para a sua vHa agitada, nas Iranquillas niargcns do nosso rio. 0 prinieiro hospital que tivemos, foi fun- dado e dolado por clla. Em quanto viveu, protegcu-nos como a fillios diloclos; quando sc preparou para a morte, ainda so leinbrou do nos, nomeanJo um cccicsiaslico de Leiria para sou lestamenteiro, legando diias vcrhas importantcs a benelicio das uossas recolhidas e dos nossos la2aros. Preferencias lao honrosas para nos conquistaram-nos oulras 300 annos depois. No reinado de Fillipe III, foi enlre oulros nonieado para os processes da sua canoniza- fao, D. Martini AfTonso Mexia, bispo de Lei- ria. Em 1696 quando a Sancta foi trasladada do anligo mosteiro de Sancta Clara de Coim- bra para o novo, onde hoje esta, entrc os bispos, que dehaixo do paleo conduziram o corpo, via-se o dc Leiria, D. Alvaro d'Abran- ches. Paremos aqui. A nossa niissao 6 pugnar por tudo que physica e moraimentc possa cn- grandecer esta terra: engrandeca-se clla, nao consentindo que oulra sc avantage nos festcjos d'este dia. Nao ignoramos que alguraa cousa se faz, e pouco, 6 quasi nada para quem tanto nos deu. Tome o povo a sua conta cxonerar-se da divida, que Ihe peza, considere este dia como de festa nacional, honrc-se festejando a Sancta, que foi como mac desvelada, e ainda hoje e no mundo sua especial prole- clora. A. X. K. CORDEIRO. RESENHA. Niugiiem diga « d'esta agua nao beberei » ou " se d'esta escapo, cem annos vivo ■• que desde ja Ihe asseveramos que o nao poe por ohra. Estes dous ehavOcs sao mais um arrepen- diraento monienlanoo do prcterito, ou, melhor, um enfado passagciro do presente, do (|ue programma irrevogavel do futuro ; — podem crer-nos como d'avezado que somos, e d'avi- zado que prcsuminios scr. Isto de folketinar, que tanio vale rescnhar, V como aniar, ou poctar, ou viajar. — 0 amanle cntrado de criis dcspcitos, por([iie no amoroso mar de rosas, cm que navegava, pescou com o anzol do velador ciiime a sorabra imaginaria d'um amante inedito . . . . ; o pocta novi^'o a quem 0 sorrisoiiuoffensivn na bucca do nescio supprimiu a edicao hypothetica de mil cantos ainda existcntes no Ciihos ou na massa dos impossiveis . . . ; o navcgante cnjoado, a quem a sanclificada caipora enfiou pavorcs na pas- sagcm, aonde Abriiido OS brag ts torn qiit cingc o gt'/bo Em pi} nas ondas o Equador da <* rivns, " e ao qual muito cortezes Resjiondem u vira » as hemiijiberios ambos : . . . esses lodos, dizemos, o amante, o poeta, c 0 cmharcadico, juram nao tornar a cair noutra, o tresdobro, pelo menos, das vezes que hao dc tornar a arrcpender-se cm idcn- ticas aperturas. E que 0 coracao do homem, ainda bcm! c assim feito, e nao lia podcr-lhe rcsistir. Vcm um dia c uns olhos ncgros, avclutados, languidos, com umas pcstanas longas, scdosas, recurvadas, titam-nos um momento... on vcm unia tardc dc priniavcra com o sol ja trans- montado, e o horisonte franjado dc Ihamas d'oiro, e o crcpusculo suave, melancholico, poetico . . . ou vcm uma alvorada com um purissimo ecu azul c um mar-de-leite tao puro como 0 ecu, c um gracioso brigue arfando brandamente com o panno todo largo, simi- Ihando donzella rcclinada em tapetc de flores, e a aragem a ondear-lhe o candido vcslido sol to . . . emfim, vcm um nionicnto e comem OS desejos, e aperta a vontade, e rebentam as saudades, e adeus juramentos feitos, que a alma se vai embalada no seu sonho favorito deliciar-sc no amor, arrcbatar-se na poesia, ou opulenlar-se com as sensacOcs inexprimi- veis da magestade do occano. Que alguem nos nao creia, bcm pouco se nos da d'isso; mas c cerlo que nao lica menos vcrdade o que dizemos. E c por isso que vimos hoje a fazer esta resenha. Toda acadcmiea c toda desentra- nhando-se da indole do nosso jornal, temos dc ser henigno como para com irmaos , e serio comono'-lo cxige o logar, ahrindo a mao a pecuinhas e remoqucs, menos polidos c menos cabidos. Desde o desabrochar do anno lectivo o tempo tinha-nos corrido sereno, mas trivial, — alegre, mas nao querido. Dcsfolhadas as saudades do aconchcgo domeslico, relloresce- nios para o esiudo, sendo-nos matiz os curtos e, por isso mesmo, gostadissimos ocios. Era um viver todo patriarchal c estudioso, que poderia acalentar vintc castos e profundos Newions, e nunca dcspertaria nem um dx de Fauhlas ou Lovelace. Fallavara-se apenas 9ulas, conversaram-se licOcs, dcsculiam-se methodos, anatomisavam- sc auctorcs c, emiim, vivia-se cncadernado 35 I cm scieiicia e com tachins de (inissima criti- oa. Era ura iuen'avel exlasi d'amor d'estudo que nos cnibebecia. Vcrdade v que, ao niesmo tempo, caia o theatre, csmagando a Mcl|i(iniene academica sob 0 pezo de cem almospheras dc baiialida- des, e com elle caia o uliinio dos nossos re- creios deleitosos, ao racsnio passo que instru- clivo e civilisador! 'Nestas magoas nos descorocoavamos quan- do a nossa boa estrella nos guiou o sr. Taborda, e 0 sr. Arouca, com as alfaias e as rayrrlias do faustoso oriente do Gymnasio. llefloriu-nos a vida: rimos, tra(iuinando, e, conio o emble- matico mocho, descancamos sobre o livro f'e- chado. Na pedanlesca logica dos espiritos tacanhos, um passatempo qualquer 6 sempre e ipso jure uma calamidadc para o esludo: nao o tomara nunca como urn indireclo rcfocillar de forcas para mais fartas victorias : condemnam o corpo A soiidao como sc o carcere do espirito se en- cerrasse no perfii inflexivci d'um figiirino, last fashion! Galilcu da liberdade, havcmos de bradar-lhes e pur si muove aos irapotentes in- quisidores de singelos e graciosos divertimen- tos, para ver se conseguimos convencel-os de que 0 panem et circences e para o corpo e para o espirito. Para nos, pelo raenos. E por isso e que lodos nos vimos concor- reudo contentes ao theatro nas noites dos srs. Taborda, e Arouca: e por isso que as maos se abriam generosas para lancar as coroas ao paico, e OS bravos restrugiam freneticos, e as poMi'fli esboavam como borboietas carabianlcs, victoriando os adores. Das Diuitas que alii coihemos , lancamos aqui como specimen a scguinte ao sr. Taborda, nao por ser a melhor, mas a mais breve, ja que nao temos margem para todas : Ten vassal] Teu t e quern te escuta quern tem alma. Qtte impnrtam hijmnas da tyrai Bravus, c'roas o gue sih, / Quandf) enlevada te admira A leuspes uma uagaof Do genio o herqi i a gloria^ Grolt assombrif a mocidnde, E sua mortdlha a liistoriitj E seu iuinulo a saiidade. Ndo vleste a other loiro» . . . Onde as ha digiws de HI Que vnlem ricns thesouros, Se a gloria ao genio forri ) Acceita, pots, este mudo Siteitcio de nossas almas^ Que te diz hem mais que tudo . . . — Mais que hravos, mats tpie patmas. A. As lancadas ao sr. Arouca, nao tem conto. Ainda hontera nosso irraao nas fraguas e nas alegrias academicas , sentado nos mcsmos bancos, vivendo a mesnia vida, lidando as mesmas lides, a saudade victoriou-o com mimo de poesias e com abracos de florcs. Seni sabermos se com bora ou malgrado do auctor, vamos aqui revelar uns versos que ouvimos recitar cntre os brindes d'uma ceia, e que 0 acaso nos trouxe a raao. Eil-os: Silenrio.' amigos : — eis o sol no occasof Ao rapida passar, verteu-nos 'nalma Da eterna gloria o irithaiilismo eterno. •SV, orpkdos, agora, rebentarem lagritnas, Deixenio'l-as correr — que ^ nobre o pranto: Nem ha pejo em chorar a Inz que morre, Se densas, fundas trevas nos circundam. Aqui, no solio da sciencia e dearie Sd para o genio, irmaos, ha, por tributo. Amor no cora^iio, na mente assombro. Sciencia e arte sdo irrnds, suo virgens, Que unidas folgam, derramando /lores, Kisos, perfumes, gosos, harmonias Por entre abrolhos, *naridez do esludo. Sciencia e arte sdo d'um mundo etherei), Injinito, onde as trevas jamais reinam, Os astros immortaes d'immortal brilho : Mundo que o vulgo, sem n'o crer, adora ; Mundo que o genio a suas leis sujeila; E a que 0 ingenho, gual aguia sobre o abtjsmo, Mede com vista audaz o immenso imperio. Eia, irmaos; — esse mundo e a nosso. A gloria La nos espera co'as vi^osns palmas, Se, baldando a ignorancia as falsas galas. For nosso norte e enlevo nosso o esludo, ■ — A for^a, a espadtt, o throno allise esquecem: Razao, rirtude, amor alii se eslimam. Eia, pois, nada alii importa o ber^Oj La lodos sdo irmaos, amigos todos: Se 0 genio nasce da choupana humilde Entrc as nuas paredes, para em breve O mundo devassar no ardido rdo; E em vistoso palacio, entre aureas pampas, Em bergos de marfim, se embala a nescio . . . Tambem, sem pompas, sem cortejo nasce O sol, rasgando d'alvorada os mantos, Vara a terra innundar de luz e vida. A'vante, meus irmaos: — da sciencia e d'arte E difficil a estrada; mas, ao menos. Ha Id dos genios os brilhnntes fachos Para dar-nos a luz que o irilho mostrem. Mais um agora vai junctar-se ao euro! Dos que immortaes, por htras. na poesia, Ou na historia, ou na scenn, se recordam ; Dos que pela arte, com divino scopro, Ou com mago pincel, elernos vivem. Esse e Taborda ... — este sd nome basta! Diga o mais quem puder : se p6de acaso Phrase haver que do genio a luz retrate ; Que eu por mim ndo sei ter mais que a saudade I Silencio, pois, irmaos: — i o sol no occaso! No rapido passar verteu-nos 'nalma Da eterna gloria o brilhantismo eterno : Se orphdos agora rebentarem lagrimas Deixenw'las correr; — no pranto ha goso. Que nao se agaste o auctor com este nosso innocente revelar. Fechadas com magoa as portas do theatro, sallemos, a p6s junctos, para a saJa dos ca- pHos, aonde dois distinclos collegas nossos, 0 sr. J. Percira da C. Cardoso, c o sr. Thomaz 36 A. d'O. Lol)o, cm ado dc condusocs magnas, propiignaram viotoriosaraente as suas theses do mathenialiea. Ambos cstiidanlcs habilissimos , c lao quc- ridos dc sous mestres, conio esliniados e adinirados dc sens condiscipiilos, qiior a ve- icda fragosa do niagislerio, qiier os cargos d'cngenharia civil podcm irilliar afoitos. Bern que dcscjados, cicmos que nenhum dos dous se vota a vida uuiuTsitaria. Desvicnios, pori-ni, cslc assuinpto, para que a conta d'ciicomiar nao lance alguem o re- scnhar, e apuremos o nosso par dc bolinas ■itellpflug para o baile da socicdadc pltilautro- pico-arademica. EiUre as poucas creaciies puramente d'es- tudantes, e csla a que mais opuiencia dc re- cursos desejavanios, por ser a mais immediata- menle util. Aniparar o mancebo que cm meio da sua carreira litleraria foi colhido pela ad- versidadc, e miuistrar-lhc subsidies para (cr- minai-a convenienlcmente, (i molivoa louvo- res sinceros e rasgados. E lodas as tracas, de que se lance raao para fazel-a prospcrar e. cada dia a mais, esleuder a sua accao be- iielica, scrao sempre bem vindas e senipre fcstejadas. D'esta vez vingou realisada a idea d'um baile dado nos saioes da Academia Draraali- ca ; e se boa foi a idea, por perto do oiilimo raslrcou o rcsuitado. Se simplcsmeute 'numa singella, mas incisiva, phraze aristocratica qui- zessemos dar conta d'cssa noite, diriamos apc- nas « passou-se bem. » Mas, realmentc, nao nos cabe ser tao exprcssivaraenle laconico, quando tudo o que em Coimhra 6 admira- jao, e em muilas cidadcs seria pasnio, se achava rcuuido 'num mcsmo salao. Forniosu- ra, clcgancia, riqucza, galanteria, distincrao, tudo ahi se via e se senlia, se adniirava e se namorava. Prcmedilado, e com muitos dias d'anlcci- parao annunciado, lionve tempo para fazer vir de Lishoa o cnfoilc pcrcgrino c fashiona- ble, para dar rcquinle as gracas de mais de uma Candida bellcza; e para que mais d'um Jacob apaixonado tcnlasse mcnlaimcnte re- unir 'num niinuto as fadigas pasloris de sclc anuos, para poder cambial-as com os Labaos da cpociia, a Iroco de mais d'uma Rachel. EmGm, por mais que queiramos, nao sabcmos dizer, se nao que loi uma noite boa ; e que nao temos agradecimentos bastantes e condignos para os srs. direclores, principalmente para 0 e.x."" sr. Borgcs dc M., e para os srs. . . . que sci eu"? — para todos, que todos concor- reram sollicitos. Acceilem-nos, pois, o que podemos iribular-lhes — uma interjeicao cn- tliusiastica ! E mais que muito senlida e clla, por isso que nos dcram occaziao do raais uma vez contemplarmos as linhas correctissinias d'a- qiielic rosto, que durante scis annos.lem sido nosso coustanle cnlevo. Rosto ([ue nao se descrcve, como nao se copia o brilhautismo ofTusiador d'um raio do sol; rosto que faz dcsenlrauliar d'alma o requinte da admira- fiio, e borbolliar do corarao o sentimento mais acrysolado d'amor c dc poesia. Guarde- nos Dcus, porem, de nos dcsvcndarmos, des- cubrindo o idolo do nosso cullo, cm periodos moldados pcio stylo pcrfuniado da comedia I'ranceza. Niio, — amamos a vcrdade, adora- mos a singeleza, c vcneramos a formosura. k nos, delicia-nos muiti.ssimo mais a bor- boleta que passa negaceaudo e borbolciando por entre as flores, I'ugaz, doida, iudcscrimi- navel, do que a seria, marmorea, e I'ria bel- lcza da estatua (juc povoa a alameda. Sao gostos: alii alia dubuiit. Agora, quasi a ponto de trancarmos a nos- sa resenha, principiamos ja a scnlir a anguslia que iimanba nos ha de torturar, lendo-a na cstampa: — e sabem [)orquc? e por(|ue 'ncstc genero d'cscriptos tern sempre o editor o di- reito de cortar c alterar caprichosamentc : aqui tira um pensamcnto, alii ccrcca um periodo, acola apaga uma imagcm ou can- cella um solaque . . . . c o auctor nem scquer e ouvido! Pois ja que assira c, c que n;io podemos estorvar essa rasoura, tambem nao consigna- remos aqui dctidanicnte os concursos de tbeo- logia a que tcmos assistido, e o bom e o mau, que 'nellcs colliemos; — nem tao pouco voltaremos mais, cmbora I'artos dc logrados ocios, a resenhar accontecimentos, baldando assim aquell'outro thavao que diz « cesteiro que faz um ccsto faz um cento, tendo verga e tempo. » (?) AXUVIVCIOS. Melhodo Facilimn para aprender a ler, tanto a letra redonda como a manuscrij)(a. no mais ciirto espa^o de tempo I'ossirel ; por Emilio Achilles Monteverde. Appro- vadu pelo Conselho Superior d'Inslruccao Publica. 6.* edi^ilo, muito melhorada, angmentada eornada de grande numero de lindas estampas. — Pre^o 100 rtiis, em bro- cliiira. Resume da Historia de Portugal ; por Emilio Achilles jMoiiteverde. — 3." edi^So. Yendera-se, em Lisboa. nas livrarias de Joao Paulo Martins Lavado, rua Angiisla n." 8 ; na da Viuva Ber- trand e filhos, aus Marlyres, A esquina da travessa da Kigiieira, e nas de quasi todos os livreiros : — no Porto, na de Antonio Rodriguesida Cruz Coulinho, rua dos Cal- deireiros n."^ 11 e 12 ; na de More, rua de Sancto Anto- nio n."* 42 a 44, e outras ; e em todas as capitaes dog districtos administrativos : — no Ri> dc Jantiro, na loja de E. e H. Laemmert, rua da Quilanda n.^ 77, e nas de outros livreiros, tanto d^aquella ridade, como das demais do Imperio do Brnsil. A. B. As pessoas que quizerem alguma por^uo de exemplares d'estas obras, de 50 ate 150, se abonara a cummissao de 10 por cento; de 150, ale 250, 12 por cen- to; e dfe 250 para ciraa, 15 por cento; devendo dirigir-se, para este fim, & livraria acima mencionada de Juao PauJu Martins Lavado. i i) JujstiUit^r^ JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. CONSULTAS QUE AO GOVERXO DE S. M. DIRIGIU A FACULDADE DE MATHEMATICA. Sentior: — 0 consellio da faculiladc dc ma- thematica, a qucm forani proscntcs algumas pondcracocs feitas pela dircccao do obscrva- torio aslronoiuico, sobru os eniharacos, que a lonna e capacidade do edillcio, onde actaal- mente sc aclia eslahelecido o raesmo obser- vatorio, oppueni li boa collocacao de alguns iustrumentos que hoje possue, c a accommo- dacao d'outros , que por ventura venha a adquiiir; vai respcilosanientc elevar a sobe- rana presenca de V. M. as consideracocs que se Ihe olTcrecem relativas aquelle objecto, e as providcncias que ibe pareceui mais adequa- das para pI■o^er dc reinedio aos iiiconveiiien- les que actuahuente exisiem, c cuja remocao e de urgente neccssidade. 0 actual edificio do observatorio ofTercce OS seguintes inconvcnienles : 0 lelbado da sala dos capellos encobre jkirle do ecu do lado do noiie. E so pode iazer-se uso da marca niei'idiana do sul. 0 rasgo projectado no icrrado inferior para uso do instrumento de passagcus no primeiro vertical iiao descobre siniao um arco de I'J" a leste e oestc do zenilli. E nao pode coilo- car-sc uma marca do lado do nasceute. A conliguidade do paleo da universidade, e da rua, a casa d'observacOes, pode ser cau- sa de perturbacao do socego, que 'nellas e nccessario, e do oscillacOes do edilicio. Para dar ao Equatorial a niellior colloca- cao, que 0 observatorio permille, lem d'apear- se 0 torreao central ate a casa do Sector xe- nithal, e de conslruir-se um pegao, que venha desde 0 fundamenlo do edilicio, c atravesse a primeira abobada. Para collocar firniemcnte o instrumento de passagens no primeiro vertical, e necessario construir um pegao sobre o qual assentem os pilares; e repartir a casa d'aula por uma pa- rede, que deve ser forle para dar mais se- guranca a abobada onde se tem de fazer o rasgo. Para que seja perraancnte o servico regular Vol. VI. Maio15- e assiduo das observacoes, e indispensavel uma casa contigua ao observatorio, onde ba- bite, pelo nienos, o portciro. Ora a despeza do rasgo no terrado inl'crior, da reparticao da casa da aula, dos dois pe- goes, do apeamento do torreao central ate a casa do Sector, e da liabitacao do porteiro, nao pode ser menos de ircz a qualro contos de reis. E, apezar d'ella , sempre o observatorio sera acanhado em casas d'observacao ; nem havera 'neste edilicio logar onde se accom- niodcm novos instrumentos. 0 edificio do observatorio do Castello, que apenas (icou.em comeco, ofl'erece polo contra- rio as seguintes vantagens: 0 horizonte (i mais dcsaffrontado, descu- brindo-se toda a parte do ceu onde devem fazer-se observacoes com o Circular-meridiano e com 0 instrumento de passagens no pri- meiro vertical ; e poderao eollocar-se marcas a distancias convcnientes nas direccoes nor- te-sul e este-ooste. A distancia das casas d'observacao do edi- ficio a rua dar-lbes-ha o isolamento conve- niente. A parte central do edilicio, cuja inimediata construccao se propde, tera capacidade so- beja para sG collocarem 'nella nao so os trez instrumentos refcridos, mas tambem outros que ulteriormente se obtenbam. E no resto do niesmo edificio ha aceoramo- dacOes sufficieutes para habitacao do porteiro. 0 conselho tambem julga conveniente pon- derar, que feilas no actual observatorio as ohras mencionadas, continuara o do Casiello a ser uma casa inutil, perdcndo-se muitas dezenas de contos de reis ja despendidas 'neste vasto edificio. Pelo contrario a conclusao do observatorio do Castello tornara disponivel o actual para bibliotheca e aulas da faculdade de mathe- matica, de que o raesmo conselho tem por differentes vezes reconhecido, e ja represen- tado, a necessidade, e para o estabelecimento d'um hello observatorio meteorologico da fa- culdade de philosophia. E parece ao conselho que a economia pro- venientc d'estabelecer naquelle local o obser- vatorio meteorologico, para o qual d'outro modo sera necessario erigir um novo edificio, 1857. " Num. 4. 38 como jii refonheccii a respcctiva faouldadc, juncla u (|iic resulla de ovitar no observato- rio actual as dospezas rcfcridas, nao dara nma soQinia scnsivchiienle inferior a que teni de gasiar-sc iia paitc cenlral do ohservalorio do Casiello. A. vista d'csta cxposirao, c rombinando o oi'camento gt'ral das obias iieccssarias cm todo 0 cdilicio, iis ([uaos se refere o docu- niento n." 2, com o das relalivas a parte central, ciija immediata construccao c urgen- tc, indicadas no dociimento n." 1, parece ao conselho que o custo d'csta parte nao po- de exceder nove eontos de rcis ; c por isso teni a lionra de represnntar a V. M. : que 6 indispcnsavel em primciro logar a quantia de nove eontos de reis para fazer dcsde ja a obra indicada na parte central do observato- rio do casiello : cm segundo logar e nccossario niais para concluir este cdificio a quantia de seis eontos e quairo centos mil reis, a qual podera ser concedida por jnncto, ou cm trcz prestacOesannuaes, acontar dcjulbo de ISiiS. V. M. pori-m resolvera, como melbor en- tender em sua alia sabcdoria. Da Universidade de Coimbra: Em conse- lho da faculdade de mathematica de 27 de abril de 1837. Assignados todos os vogaes do conselho. SEGCXDA CO^SILTA. Scnlior: — 0 conselho de faculdade de ma- thematica, a quern a experiencia dos annos decorridos desde a reforma do 1844, tem dc- moustrado a impossibilidade , por falta de tempo, de so professarem alguns dos ramos, que fazera parte do eurso matheraatico, e de se dar a outros todo o desinvolvimento neees- sario, julga do sen dever levar respeitosa- mente a prcsenca de V. M. as ponderacOes que acha conveniente fazer sdbre este objecto, para dar aos estudos da faculdade de mathe- matica a extensao que esige o estado actual da sciencia. Na 3." cadeira, d tempo que e ncccssario despender no ensino do calculo transcendente, nunca permittiu que se explicasscm mais do que OS primeiros elemcntos de geometria dcs- criptiva. iVa i.' cadeira o tempo empregado no en- sino de mechanica racional, nao tem perniit- tido ate agora explicar parte alguma da acus- tica , nem dar a optica o desinvolvimento analytico que a sciencia hoje reclania. Neste estado entende o conselho que se deve crear nma nova cadeira, para que se explique a parte transcendente da geometria descriptiva, e a parte transcendente e analy- tica da acustica e optica, fazendo-se tanibem as experiencias convenientes, para que este ensino se tome inais proveitoso. A. creacao d'csta cadeira, cuja necessidadc parece ao conselho que (ica demunslrada, nao cxigc a de outra substiluicao, poniue, depois d'clla , continuara a ser legalmeute quatro 0 n." dos substitutes ordinaries. V. M. resolvera como melbor cntcnder cm sua alta sabcdoria. Da Universidade dc Coimbra: Em conse- lho da faculdade de mathematica de 27 de abril de lSo7. Assignados todos os vogaes do conselho. DISCURSO PRELimiNAR DA i.' EDIQJiO DO METHODO PORTUGUEZ- 0 sr. A. F. dc Castilho brindou esta Re- daccao com um exemplar do discurso da in- troduccao a 4.° cdicao do seu methodo de ensino em instruccao primaria. Rendendo o nosso agradecimento e home- nagem ao cnipenho desvelado que o sr. Castilho mostra nutrir pela propagacao c melhoramentos do ramo mais indispcnsavel da instruccao piiblica, pcdimos venia ao eru- dito auclor para llie ofl'erecernios algumas reflexOcs, como em resposta as sentidas quei- xas que faz de nao ver o sou methodo geral e oflicialmcnte adoplado na practica do en- sino do paiz. A questao dos mclhodos de ensino, e uma das mais complexas, dilliceis c embaracosas da instruccao, mormentc da primaria, admi- nistrada a individuos, em que apcnas se podc contar com a sensacao c a niemoria ; ponine as cogilaeOes, em que a luz da inlelligencia Ihcs caminha sempre adiante da memoria, como sem razao suppOe o sr. Castilho, nao podem existir sem a rcQexao, e as idfias reflexivas vcm mais tarde. Accresce' ainda a mobilidadc propria da infancia ; a fadiga da attencao prestada por alguns minutes ao mesmo objecto era razao da sensibilidadc mais viva, e menos perse- verante na tenra cdade, cm que a accao dos nervos e mais capricbosa, e menos regular. Condicoes sao estas que tornam o processo do ensino mais difficil na primaria do que nos outros ramos da iustrurcao; e que impe- riosamente demanila nuiita vocacao pedago- gica, niuita dedicacao, e experimentada pru- dencia e practica no professor. Nao e pois de maravilhar que toda a inno- vacao em methodo de ensino seja sempre recebida com desconlianca; c que se aguar- dem OS rcsultados practices para sanccionar 0 methodo ; sendo que a questao 6 toda de rcsolucao practica. Ua um defeito palpavc), e sobre tudo in- fluente ua repuguancia, que se tem levan- tado contra o novo methodo; e esse esta na 39 falla de urn dos principios que o sr. Caslilho devera considerar taiiihem |)nra base do seu raethodo. As classes nienos ai)astadas sao as raais nuraerosas. 'Neslas o pae pede ao tra- balho do liilio 0 valor da latia com que llie mata a fome: e assini o lillio nao ptide aconi- paahar com rcgularidadc as divcrsas evolu- coes do ensino nas cpoclias dos servicos cain- pcstres. 0 novo meliiodo cxige frequencia scguida c regular. Seiulo essencialmcnlc simullaneo o metlio- do Castiiho, c indispcnsavcl ([ue os aluranos lenliam todos urn grau igual dc instruccao, e poderiamos dizer, do desenvolvimenlo intel- lectual. Com uiu so professor o ensino sera impossivel ; porcjue aquellas dnas condicoes rare se acharao reunidas; c ainda que se designasse por lei uma epocha lixa de niatri- cula, mostrando a cxperieucia, que um anno nao basta para o ensino, no anno seguinle o did'erenle grau dc instruccao dos aluninos obrigaria a dividif-os cm classes; ou a redu- zir muilos d'ellcs a simples espcctadores, o que lora grande atrazo no desenvolvimenlo do en- sino primario. 'iNestc cmbaraco o que o inte- resse publico aconselbava era a nomeacao dc dous ou trez prolessores para cada escliola, c casas separadas para ensino das classes. E nao e a priori que assim raciocina- mos: sabenios a posteriori que lem sido essa a causa principal do desgosto dos mestres, e da resolucao dos paes era retirarem seus filbos das escbolas em que o metbodo lera sido practicado. E cerlo que o sr. Castiiho 'nesta expo- sicao preliminar da i.' edicao, cede do seu primeiro piano; concede que possara dividir- sc as escbolas em decurias ; mas com a musica, as palmas, os passos de marcba, como sera possivcl trabalbar cada classe iso- lada no ensino que Ihe cabe? c se abolircm todos esses meios de animacao, esse principio de vida em que o aucior do mclbodo conlia com razao, a que lica reduzido o metbodo du ensino? ao simullaneo-mutuo bojc seguido geralmente no paiz. Conbecemos que no melbodo ba cousas aproveitaveis; c uma capitalissiraa, que dc- sejaramos ver geralmente adoptada, li a leitura auricular, meio reconbecido e provado de beni pronunciar c cadenciar a leitura. Esperamos que o sr. Castilbo amestrado pelas licocs da experiencia, va simplilicando o seu metbodo; e depurando-o dc algumas cxcresccncias inuteis, se nao prejudiciaes ao ensino. E por esta occasiao felicitamos o sr. Castiiho por haver abandonado a ortograpbia barhara e insolita, <|ue de primeiro inventa- ra, e restituido os sous furos a ortograpbia classica da nacao dos Barros, Sousas, Viei- ras, e Camoes. Do que levamos dido nao se creia que o novo metbodo produza sempre raaus resulta- dos no ensino. 0 raestre que sympalliisar com elle, o que se armar com sincero empe- nlio do credilo do metbodo, e aproveitaraenlo dos alumnos, ba de dar bons discipulos: e por esta raziio fundada na experiencia de seculos, e que se deixa ao mestre a libcrdade na escolba do metbodo. A esebola e o pro- fessor; seja este bora; escolba o metbodo que raais Ibe agrade, e os discipulos sahirao bem doutrinados. Parcce-nos haver demonstrado a razao por- que 0 novo metbodo nao podia, nem devia prosperar sem conceder ao tempo e ii expe- riencia, 0 que razoavelmente se Ihe nao pode negar. Achamos por e.«te niotivo mcnos fundados OS ([ueixuraes do sr. Castilbo. Ninguem talvez tcnba sido lao favorecido em suas tentalivas, como o introductor. do melbodo rcpentino. 0 governo deu-llie desde logo um ordenado pingue, alem das subven- coes para jornadas em visitas das escbolas. Poz li disposicao do commissario polo raetho- do rcpentino, a cooperacao de todas as au- ctoridades lilterarias; ordcnou os ensaios do metbodo em todas escbolas do reino; e isto sem saber se era bom ou raau o tal melbodo ; ou para melbor dizer, nao ignorando que 'noutros povos, e nuiilo illustrados se havia ja ensaiado c abandonado. E a este sincere empenbo, e cooperacao do governo c das aucloridades litterarias, deve 0 sr. Castilbo o grande consurao do seu livro ; porque loi necessario a todos os professores, e a rauitos aluranos, compral-o. Mais auspi- ciosa estrea nao saberaos nos que alguem a baja alcancado. Mas a pezar de tao bons auxilios, e inne- gavel que uma resislencia seria e tcnaz, se ba levantado contra o metbodo. Se houvera em Porhtijal, em S. Mif/iiel, no Brasil, tantas escholas d'aquelle melkodo ; se fora tao noto- ria a e.tcelltticia c abunduncia de sens fnictos, como diz o sr. Castilbo, cerlo que elle se nao queixura do abandono a que o vc condemna- do; da injuslica dos homens. iSao querendo negar alguma injustica tilha dos interesses creados, da (orca do babito, e da ma execucao do metbodo, crcmos loda- via que do contratempo e mais culpado o au- ctor, do que o mesmo metbodo. 0 sr. Castiiho comecou na recommendacao do seu melbodo por onde devera acabar. Fez- Ibe a apotbeose. Apregoando prodigios com um entbusiasmo, e ale estylo verdadeiramente poclico, deilicou-o. Podia fazel-o com a mesma auctoridade com que egypcios, gregos e ro- manos aviavam divindades. Mas no seculo em que a luz das sciencias vai penetrando ate o mais bumilde tugurio. na epocha do posilivo e practice, as pomposas promessas per si so nao fazera elleilo, Xec pueri credunt, iiisi uondum acrere lavanlur. 40 Assim nunca se fundou religiao, nem cren- ta; nem ainda uos tempos das Canidias e Saganas livi'ra elVcito esse systema. Esses elogios exagorados uao licam hem cm bocca propria; aguardam-se dos outros. E ainda mais; coudemiiando os melhodos de eiisiiio adoplados, alciinhaiulo-os de barba- ros, autiphilosopliiuos, anlimoraes, antichris- taos, nao so leriu todos os iiUeresses creados por esses aiUigos metliodos, saiiccionados por dilatada practica, deixando scm prova asser- coes mciios refleclidas; masoffendeu os brios, e pundonor dos uossos respeilaveis classicos, dos liomeus mais eminenles do paiz, de todos OS portuguezes cm geral, dmilrinados c edu- cados por aqucllcs melhodos, quo assim pa- recem olTerecidos era liolocaiisto ao novo nie- thodo pelo enlhusiasmo c desejo afcrvorado do sacerdote da religiao, que se pretende edificar. Nao busqiiem outra causa a primeira re- puguancia, quo tern encontrado a practica do melhodo Caslilho. Obrigados por ordera superior os professo- res a aprender, c praclicar o novo melhodo, destinadas mesmo alguraas cscholas mais acrediladas para ensaiar, e comparar vanta- gens do antigo, c do novo melhodo, o que officialmcnte consta nao ahona muito os elo- gios prodigalisados. Consla que muitos pro- lessores iiahilitados com diploma d'esto me- lhodo pelo commissario rcspeclivo, pediram ii auctoridade superior sereni dispensados d'essc melhodo de ensino, em que nao viam proveito e Ihcs desviava os alumnos das cscho- las. Os commissarios de csludos, e professo- res na maior parte desadoram o melhodo; e no ensino official do Estado nao consta que elle se ache em exercicio. Nao ignoranios algumas das causas da rc- sisiencia; e parece-nos antcver conio pode- riani ser removidas. Muito podem concorrer para esse ellcito as transigencias, a que o sr. Caslilho declara sujeilar-se no discurso pre- liminar, (jue nos occupa : mas fora por Ven- tura prcferivcl organisar um melhodo novo, aproveilando principios do melhodo antigo, do de Michel aperfeicoado pelo sr. Marceliano de Meudonca ', c do sr. Caslilho. DAS IRMAS DA CARIDADE. Conliiiuado de pag, 10. XIX. De longos annos a Egreja catholica exerce nos paizes do Levante uma doce influencia, sob a tuteila da Franca; e d'ahi vem, que, ' Veja-se o Melhodo do Ensino Paralello da escripta lellura. Instituto, IV vol., pag. Hi, «53 e 268. depois de tanlos seculos de feroz despotismo e brutal tyrania, nao so aiuda alii se encon- traui I'l'cundos gcrmcns de regeneracao, mas estes se tern desenvolvido consideravelmcnte noi ullinios lem|)os. Yisitir c curar os enl'er- mos, cnsinar os igiioranles, scm dislincrao d'origcm e culto, orar por todos a Deus , agasalbar os peregrinos, e guardar os monu- meutossagrados da vida e morte do Ucdemplor, cis ahi a nohre c gloriosa larel'a dos minislros de Ueus, desde seculos, em meio dos sarra- ceuos e arabes. Teni OS lazaristas, cm Constanlinopla, alguns cstabelecimentos, e cnlrc elles o collegio de Bchek, a uma legua da capital, no qual uma nuinerosa mocidadc recehe a educcao secun- daria. As irmas da caridade lein egualmenlc trcz casas na mcsma cidade; uma em Pcra, na qual ha um peusionalo de ccm meninas, [)oii- co mais ou mcnos , — um collegia ilorphas com cento e trinla, — uma' cschola para cx- lernas, e casa de trahalho, que recebcm obra de qualrocentas, — um hospicio d'expostos, — um cuiecumenuto para iiislruccao dos hereges e schismalicos convertidos, — um dispensato- rio (sala de consullas medicas, curalivo de I'eridas, e dislribuicao de remedios) e uma holica, aonde se apprcscntam, termo medio, por dia, quatrocenlos doentes, soccorridos gra- luitamenle. A scgunda casa, em Galaia, e um hospital de ccra canias , servido por doze irmas , e junclo a elle uma eschola e casa de lavor, nas quaes se recebeni, cada dia, mais de 'MH\ criancas. Em Irenle do Bebek finalmenle possuem um priiicipio de colonia agricola d'exposlos c orphaos, com qualro irmas, e sob a direc- cao d'um missionario. lla ordinariamenlc em Constanlinopla 20 padres lazarislas, EiO irmas, e 30 irniaos da doulrina christa. Na scgunda cidade do imperio ottomano, Smyrna, ha trez casas de lazaristas; e era uma d'cstas, em 1852, a cifra dos alumnos exlernos subio a 170. Ila na mesma cidade oulras lanlas d'irmas da caridade, as (|uaes occupam-se, como em Constanlinopla, no en- sino, e no curative dos enfermos. Os irmaos das escholas christas recebem ahi, nas suas escholas, perto de 400 meninos; e a noite dao aula aos adullos. Desde 1817 que as irmas estao cstabeleci- das em Beyrouth; c os desvelos com que tra- claramoscholericos em 1849, captivaram-lhes a admiracao e a cslima dos naluraes. « Uma d'ellas (diz L. Yeuillol) morreu at- lacada do Uagello. Toda a cidade quiz assislir iis suas exequias; e viram-se os grcgos, os judcos, OS turcos, os arabes, e os calholicos scguirem o seu entcrro com a expressao d'uma verdadeira dor. 41 Is suas escholas na cidade c arrabaldes recebein pcrto de 500 mcninas. Em iHlii , prestaram soccorros c distri- buiram medicamcntos a 3i:223 cnfermos in- digentes ; visitaram em casa a 1843, e cui- daram de 102 no proprio hospital. k superiora cxerce em Beyrouth uma ta- manha, tao geral, e tao feliz iiifluencia, (|ue 0 pacha entregou-Ihe a siiprema direcrao dos sous hospitaesi Deixam-Ihe uma mui graiide libeidade, e os tiircos acham-se bera com isso. » A fama das boas obras d'cstas iiraas de Beyrouth chegou a Damasco; e a 20 de junho de 18!ii uma nova colonia , acompanhada pelo Prefeilo apostolico das missOes dos laza- ristas na Syria e no Egyplo, c pela irmii su- periora da casa de Beyrouth, entrava 'naquel- la cidade, a convitee insiancias dos naluraes, e sdb a proteccao e com o auxilio do governo francez. « Ha cinco dias (escrevia pouco depois o Monileur), (|ue o dispensatorio (sala de con- sultas, curatives, c distribuicao de remedies) esta aberto. 0 nuraero dos doentes pobres, do todas as religiOes, que se tem apresentado ahi, sobe, lermo medio, a cem por dia. A eschola das meninas esta egualmente aberta, e eonia 120 alumnas. A casa de lavor (eschola de fazer veslidos) abrir-se-ha em breve. » Em Alexandria, no Egypto, os lazaristas possuem dous estabelecimentos; e outros dois as irmas da caridade, o ffospital etiropeu, no qual sao recebidos os doentes de todas as re- ligioes e nacionalidades; e a Misericordia, que content um pensionato, urn collegio d'orphas, um hospicio dexpostos, escholas d'externas, e casas de lavor ; e recebe, pouco mais ou me- nos, trezentas meninas. 0 numero dos doentes soccorridos no dispensatorio I'oi de 01:630 em 18S3, e nas casas 0:908. Setenta e cinco damas de caridade , uma conferencia de S. Vicente de Paulo, e um eslabelecimento d'irmaos das escholas christas, auxiliani os trabaliios dos lazaristas, e das irmas. A Grecia possue igualmontc a uns e oulras; ahi as irmas apezar dos rancores do scbisma, em 18i)2 instruiam a mais de 200 meninas, sendo 53 internas, e loO cxternas; c das in- ternas 40 orphas e inleiramente desvalidas. A invasao do cholera em 1854 veio con- solidar 0 seu credito; e o governo, pelo orgao de sens primeiros funccionanos, preslou-lhes OS mais estrondosos e signiticativos applauses 0 agradecimentos '. XX. Taes etara as boas servas, as experienles e caridosas enferraeiras, os anjos de docura e * Le schisme, la France, et I'erlise en Orient, 1 vol. sobre-humana dcdicacao , as mensageiras e distribuidoras de celestes consolacoes, que os exercitos alliados e os inimigos, sem distinceSo de bandeira, nem de crenca, iam encontrar 'nessas sempre famosas e memoraveis campn- nhas daTurquia eda Crimea, de 1854 — 185C. na qual a peste e a guerra tinham de ceifar tantas e tao illustres viclimas. Os jornaes do levanle e do occidente fre- qucntes vezes se occuparara das irmas da ca- ridade; porque, no nicio de tao brilhantes feitos d'armas, e de tao assignaladas provas do desenvolvimento das artes, das sciencias, e da navegacao, no tocante a arte de matar OS homens e de derribar os impcrios, cousa nenhuma foi capaz d'escurecer a fama d'estas huniildes salvadoras das vidas e da verdadeira civilisacao. Invejou-as o anglicanismo, quizeram imi- tal-as OS inglezes; e por lim viram-se reduzidos a implorar o seu soccorro, fazendo-lhes a jus- tica, de que nao ba forca de caridade que as excL'da ou mesmo que as eguale na dedicacao. Russos e turcos Ibes abriram os hospitaes; e aquelles (quem tal o acreditara?) foram mendigal-as a catholica Polonia para Sebas- topol ! Oucamos o primeiro orador do mundo catholico , o P." Ventura de Raulica , que ninguem ousara alcunhar de pouco liberal; o desterrado de Roma, porque medira, pelo seu puro pensamento e coracao, o dos ambiciosos falsos amigos do povo; o orador d'O'Conell, 0 venerando anciao que Paris disputa hoje a capital do mundo. Na sua obra La femme calholique expressa- se d'este mode : « Parece de re-to, que hoje o mundo inteiro esta perfeitamente d'accordo 'neste ponlo. Em Sebastopol sao as irmas da caridade da Po- lonia catholica, que o governo schismatico russo encarregou de cuidarem dos sens sol- dados enfermos ou feridos. Na Grecia, tendo olTerecido o commandante em cbefe da expe- dicao franceza, o general Mayran, antes da sua partida para a Crimea, ao governo schisma- tico d'este pequeno reino, o deixar-lhe os me- dicos e as irmas da caridade do exercito fran- cez para assistirem aos seus cholericos, esle governo agradeceu-lhe os medicos, c nao se apressou a acceitar senao as irmas de carida- de, parecendo dizer : — Aquelles poderemos havei-os de qualquer parte ; estas em parte alguma as acharemos, se de vos as nao rece- be rmos. >i « Em Londres uma senbora prolestante , Lady N., organisou uma associarao de rmi- Iheres caritativas, que houvessem d'ir para o Oriente exercer ahi, no exercito inglez, as funccues que as verdadeiras irmas da carida- de exercem no exercito francez; — e os mesmos jornaes protestantes a rirem, a laxarem de loucura a empreza, e a matarem-na no berfo pelo ridicule. Lady N. deu-se por advertida; 42 e, modiricando o sen piano, teve clla mesraa a boa idea de lomar comsigo todas quantas poude reuiiir das irmas de caridade nos con- ventoa caltiolicos da Grani-Brelanha. « Os iiu'sraos lurcos abriram os seus bospi- taes a cslas admiravcis lilhas, e acolberam-nas ahi, como euti's celesles. « Eis alii pois o scliisma , a beresia e o mabomclisnio reduzidos a havcrem de podir ao catliolic'isnio esles anjos de conforto, e a reconbecerem per osle so facto, que a verda- deira caridade, mais forte do que a moric, e lima planta exilusivamente catbolica, que iiao se encoutia em parte alguma fora da Egrcja. » Anleriormeiile dizia o mesiiio escriptor: — « Todo 0 segredo da dedicacao bcroica d'estas sanctas lilluis esia na sublime doutrina da sua regra. E esta mcsma doutrina que explica a palavra, sublime na sua slmplicidade, que uma d'ellas pronuiiciou, ha apenas trez mezes, e que teve urn echo d'adniiracao em todas as almas, e de ternura era lodos os coracoes. Rebenta o cholera no cxercito francez em GallipoUi ; as irmas de Constantiuopla nao baslam para o servico do grande numero de bravos attacados pela cpidemia : dirigem-se as irmas de Smyrna, e pedem-lhe que soccor- ram as suas compauheiras, e tomem o logar d'aquellas, entre estas heroinas da caridade, que com a vida acabavam de pagar o seu desvclo angelico em salvareni a vida de seus compatriotas. A superiora responde: — Iremos todas. portjue felizmeiile estamos em [erias ! " Dest'arte, para estas grandes almas o ir cuidar dos doentes, arriscando a sua propria vida, e uma recrearao, e uma fclicidade I » Logo dcpois 0 mesmo P." Ventura, profun- dando mais as causas d'este singular pheno- meno da absoluta impossibilidade de fazer irmas de caridade cm Londres, Berlin, e S. Petersburgo , apezar de reiterados esforeos , accrescenta : — « Nao e possivel fazer uma irma da caridade d'uma mulher que nao (i catbolica ; como nao o e egualmente cunliar com falso metal moedas de bom toque. Para fazer d'uma mulher uma irma da caridade, e mister antes de tudo — fazer-lhe abracar a prollssao da virgindade voluntaria, e estabe- lecel-a 'nesta por um voto sagrado ; e mister depois — eleval-a a altura das suas peuosas fuuccOes por molivos sobie-humanos, e polas practicas da mais perfeita piedade; e mister — ll.\al-a e forti(ical-a 'nestas conlinuadamente pela freijuentardo dos sacramenlos da confissao e da commuiiliao. E na Sanxta Mesa, 'neste foco do amor de Deus, que a irma da carida- de toma 0 prodigio do seu amor pelo liomem. Ora cousa nenliuma de ludo isto se pode fazer fora do catliolicismo, o qual so conservou em honra a prolissao da virgindade voluntaria, o maior e o mais precioso dos conselhos do Evangelho, e que so possue os meios de tran- formar a todo o homem, e de fazer d'elle o prodigio do que se cliama um sanclo; porque nao ha sanctos fora do catliolicismo ' . XXI. A.S irmas da caridade , que partiram de Smyrna para o Pireu, ao insiaiite pedido do general I'rancez, o bravo Mayran, morlo no primeiro assalto da lorre Malakoff, e ciija divisao tinlia sido violentamcnle invadida ])elo cholera, foram recebidas pelo ainiirante e de|)ois por aquelle general com as mais sin- gulares demonslracOes de consideracao. 0 ge- neral veiu tomal-as a bordo para pessoalmente as installar na ambulancia. « Vendo-as, miiitos soldados oxclamarara : — Ayora entrureinos sem medo 7io Iiosjiital." Havia ahi muilo que fazer, c tudo se fez. I'm protestante, penetrado de surpreza e admi- rafao, dizia: — JSdo posso comprehender, como estas mulheres tdo delicadai pndem suportar lamanha fadiya! — Elle nao sabc, respondeu uma das irmas, que a(iueUe que nos susleni, e cliamudo o Deus dos fortes. Apenas acabava d'afrouxar a epidemia no acampamento, quando a povoacao grega, no mesmo Plreu e na cidade d'Alhenas, foi cruel- mente atacada pelo llagello de Deus. As irmas acudiram a forca do perigo. Como se houverani em umas e outras paries, dil-o-hao melhor os scguintes documentos officiaes. Campo do Pireu, 10 d'oulubro de 1854. Minha carissima irma. « Niio cOnsintirei que deixeis o Pireu, sem que vos agradeca a hondade que tivestes de vir aqui, ao pedido que en vos tinha dirigido para Smyrna, na maior forca das calamidades que allligiam os nossos pobres soldados. 0 cholera atlacava-nos com um rigor, porassim dizer, sem exemplo. Apellidamos por vos, e trez dias depois, estaveis aqui com seis das vossas boas irmas, prodigalisando-nos todos OS cuidados, toda a dedicacao, que se costu- ma encontrar nos menores membros da vossa sancta communidade. A vossa presenca nos trouxe um grande auxilio para reslituir a coragem a toda a gente. Gragas por isso vos sejam dadas, niinha carissima irma! Eu vos exprimo todo o meu reconhecimenlo; lendo a hondade de o accei- tar em meu iiome, e em nome de todo o corpo d'occupacao, que commando. A boa lembran- ca, que nos deixais, niinha carissima irma, nao se acabara jamais. Apresento-vosa homenagemda minha muilo sincera e respeitosa dedicacao. 0 general de brigada , commandanle do corpo d'occupacao na Grecia, Slay ran. Assim se expressava o general, cscrevcndo a superiora, proxima a vollar para Smyrna. ' La femme calholique, Paris 1855, T. i.', pag. 380 — 408. 43 A 25 de dezcmbro do mesmo anno o 3Io- nitetir publicava em Paris o seguintc. Atheaas. £6 nuvembro (8 dezembro) 1R54. Senhor Ministro. I 0 niinislro dos ciillos e da instruccao pii- blica, participando dos scniiinentos d'eslima e gralidao, de (|ii(', e>;la |)cnelrada a alma dc todos OS lial)ilaiUcs da capital e do Pireu para com a noiire dediciicao maiiifcslada pelas iriiias da caridadc nos moiiK'nlos, cm (|ue a saiidc piiblica I'oi lao ciuc.lmeiitc cxpcrimentada, e dcsejaiido fazcr chcgar ao seu conbecimcnlo uma nova cxpressao d'i'sles senlimcnios, cn- viou-rac a carla juiula, (|ue dirigc a superiora das irmas da caridade (jue cslao em Athenas no Pireu, c pede-me que a faca chcgar ao seu desiino, etc. » — Esle officio era do prcsidcnle do minlste- rio grego M. Maurocordalo ao ministro de Franca cm Athenas. A carta, a que se refere, diz 0 seguinte : Reverendissima senhora. Soccorrer OS cnt'crmos, eonsolar osaffliclos, alliviar os dcsgracados, e applicar d'cste modo 0 segiindo dos grandes maudamcutos, de que depcndem as Ids e as prophetas, c o nobre intuilo da vossa sancta missao. Esla missao sagrada nao pode ccrtamcnte cspcrar a remuncracao, que Ihe li devida, senao d'aquelle que disse: — « 0 que fizerdes a favor do nienor dos meus irmaos, a mini mesmo o tereis feito. » E na vcrdade que recompensa sobre a ter- ra pode ser digna da abnegacao e da dedica- cao, com que vos appiicaes ao conforlo da liumanidadc padccente, assim como do zelo, todo cheio d uma caridade tao christa, deque havcis dado ullimanicnle em Athenas um tao hrilhantc eadmiravc! exemplo, prodigalisando OS niais assiduos cuidados , as mais doces consolacocs, e os mais cfficazes soccorros as desgracadas viclimas do llageilo, com que esta cidade tanto padeccu, que tiveram afclicidade d'aproveitar-sc da vossa inexgotavel carida- de? No entretanto cu acrcditaria faltar a um dos mais iniperiosos deveres do ministerio, de que estnu intcrinamenle encarregado, so, quando no mcio d'uma cruel cpidcmia vos ap- parecestes como aujos de consolacao e d'espe- ranja, cu- nao vos lizessc chcgar a expressao official da gralidao do governo, assim como OS sentinientos, de que a vossa exemplar dc- dicacao enchcu a alma de todos os gregos cm geral, c parliculaniiente dos habitantes d'esta capital. « 0 Dcus de caridade, que ora pune, (ira con^ola, dignar-se-ha, como espcramos, dcs- viar dc nos a sua ira ; c brevemcntc talvez oulros desgracados reclamarao 'noutra parte OS vossos cuidados, e admirarao as vossas virludes. Mas os volos dos infclizcs, alliviados pelos vossos cuidados , seguir-vos-hao para toda a parte, reverendissima senhora ; e, pelo que mc toca, considcro-me feliz por me ser dado transmittir-vos, assim como as vossas nobles companhciras, a expressao do rcconhe- cimcnto publico, ii qual tenlio a honra d'a- junctar a ccrtcza do mcu proprio rcspeito. » Os magistrados d'Atheuas, era nome do munici])io, cscreveram egualmente. " Ucspre- zando os pcrigos c o tedio (dizem dies) com uma roragem a toda a prova , vos havois prestado aos enfermos lodns os soccorros e consolacocs, e bcm nierccido o nome, pelo qual com justo titulo sois conliecidas. » A nayao grcga nao se esqueccrii jamais (ficai bcm ccrtas d'isto) da vossa caridosa as- sociacao, a qual, realisando na terra virtudes evangelicas, atlrahe a admiracao e as sym- palhias de todo o mundo '. » Continua. a. FORJAZ. HISTORIA DA CONJURAQiO DE CATILINA SALLUSTIO: TRADCCCAO PORTUGCEZA. Continuado de pag. 287 do 5." vol. XXXIII. Em quanto isto se passa em Roma, envia Manlio alguns dos seus por de- pulados a Q. Marcio Rei, com a seguinte especie de manifesto : « Attestamos os deuses c homens, general, « que nao tomamos as arraas contra a patria, « nem contra a vida de ninguem; senao para a defender das injusticas a nossa existencia. « Rcduzidos a miseria e a indigencia pela u violencia e crueldade dos usurarios, muitos « estamos sem patria, c todos scm honra e sem « fazenda. A nenhum de nos valeu, segundo « 0 anligo costume, o benelicio da lei ; ne- « nhum conservou a libcrdade, cedendo o pa- « trimonio : tal foi a barbaridade do pretor c « dos usurarios I Mil vezcs, compadecidos da « pobreza do povo romano, vossos maiores Ihe (1 acudiram com decrclos; e ultimamente, ain- « da em nossos dias, sc remiram dividas enor- « mes reduziudo-as a um quarto, com geral (I approvafiio dos horaens de bem. Mil vczes (1 0 mesmo povo, incitado, ou pelo dcsejo de « raandar, ou pelo despotismo dos magistrados, a sc armou c Icvantou contra o senado. Nos, ina o bem ; — no ber^o acolhe o homeni. E na ^ida o mmi guia, e a campa o segue. De um mister (ao sublime quesearrede Quern so d'intrigas. su d'enredus ciira; Que a si tudo releva, e nada aos outros; Que d«-'i\a por vil lucro um templo pobre; Que em seus modos avilla o lo2:ar sanclo. E na moral do sec'Io a sua molda. Fiel u egreja, caru ao seu rebanho, 46 Scueltifi o bom pastor ao freixo idoso. Que da:t fc^tas da aldra tosteraiinha, Cem annus Ihe prestuu aiuiga sunibra; Que, do IcmiHi a|iezar, sempre vi(;oso, Tem Tisto os |)/ies inorrer, nascer os flihos, Em sens coiiselbos sabio, bom, f*rudenle, £ comu a Pruvidencia, arode a todos, Pae du9 pobres, urn so nJlo se llie escondel As esmolas que faz, so Dens as snbe; ks chossas da miseria, ondc a dcsgra^a Kciine a ddr, c a fome. e a mortc as vezcs. La corre; — sen liorror perde a doen^a, Sens terrores a niorte, e a fome o apcrto, Previne o crime, preveuindo as faltas, O pobre 0 abcm;oa, o rico o estima; E as vezes inimigos rancurosos Scniam-se u sua m^sa, e la se abrat^am. Seus trabalhos honrae; a vellia casu Tornae-lh*a muis deceiite, mas sem luxo; Per dentro de virtudes Bdorimda Apresentc por {6ra um ar de aceio; Se a pobreza degrada, o fausto indigna. Com elle reparli vossas colheitas, Enfei)ae-lhe o altar, ornae-lhe o templo; \o caminhu do bera segui sens passes. Que espectaculo, d Deus, o de uma aldoa. Que edifiica um pastor, consola um sabio!! Nao. — Roma subjngaiido o muudo inteiro, \ao vale a aUlea, onde a virtude mora, Onde as ora^fles de um. d'outro as riquezas, iMil bens e a meiga esp'ran^a alli disparzem. (F.) 0 CANAL MARITIMO DE SUEZ. Coiitinundo de paj. 19. A commissao depnis de cxaniinar ircz pro- jectos, 0 de Mr. Paiilin Talabot, que queria abrir de Suez ao Cairo, do Cairo a Alexan- dria um duplo e vasto canal; o de Mr. Bar- rault que tambcni queria dois tanaes liga- dos pelo lago Menzalcli; e rmalmeiile o de Mr. Linant, liey, que propunlia a construc- tao d'um so canal cnlre os dois mares, adop- lou deliuilivamente este ultimo projecto. Co- inerando em Suez o canal seguira primei- ro ua direccao do sul para o norle c 'numa extensao de 28 kilomelros aproximadamente, 0 valle ou thalweg cgypoio; percorrcra dc- pois um grande circulo para peuetrar na vasta bacia antigaracnte occupada pelo mar Vermelho, atravessando os latjos amargos em todo 0 seu comprimcnto; um d'eslcs lagos cbamado Timsali e situado a 80 kilomctros de Suez (icara sehdo o porto interior da nova canalisarao ; o canal dirigir^se-ha dcpois em linba recta para o norte, inclinando-se ligcira- niente para oesle, e vira desembocar no lago Menzalcli o qual communica com o Mediter- raneo. Em toda esta extensao o isthmo apresenta a niais propicia configuracao: a de um valle romprido c muito pouco sinuoso ; poucos sao OS logares em que o solo se cleva a mais de dois metres acima do nivel do Mediterranco ; 'num logar somcnle e 'numa pequena exten- sao a elcvacao 6 de IS metres; os trabalhos de nivclamento serao por lanto de pouca nionta. Com a soiida rccoiiliecou-se, em dcze- nove |)ontos dilTerenles, que a natureza do terreno nao aprcscntava nenliuma diHiculdade extraordinaria para a excavacao; quasi era loda a parte e argila, ou sullato de cal sem grande consistencia, ou areia que sumenle esta coucretada em fcitio de roclias cm um unico ponto de pouca extensao [)eito de Suez. Poder-sc-liia temer que os tnrbilbocs d'areia trazidos pelos vcntos vicssem obslniir o canal, ou obrigar a incessantes dcsentnlhos, se de uma parte o canal dos Pharaiis, cujo leito ain- da e visivcl depois de lanlos seiulos, c da outra OS lagos amargos e o lago Tinisah, que sao dopressOes nuii pouco prol'undas do solo; contendo (juasi a superliciee deposilos mari- uhos, nao I'ossem testemunlias authenticas, solemnes e eloqucntes que as areias, alias inipeliidas pelos veutos com tanta I'orca em outros logares, nuiica prejudicaram, nem por consequencia prejudicarao os trabalhos do canal. A areia e conifiacta cm loda a exten- cao de Suez ate ao Cairo e cobcrta de. carcas que OS cnraellos nao podem airavcssar ; nas duas margens do canal podem portanio plan- tar-se arvorcs que dilcm sombra e frescura. Como (3 exccssivamente provavcl, segundo os calculos de Mr. Lieussou, que, conforme o vento c as mares, assim se nianifestem no canal corrcntes em sentidos contraries, con- vem que as suas pa redes tenbam uma certa solidez, a qual se obtera naluralmente na parte comprehendida entre o Mediterranco e OS lagos amargos, mas que entre cstcs e Suez sera mister conscguir com robustos paredocs. Quando se choga do mar Vermelho a Suez, entra-i-c 'numa grande euseada semi-elliptica de 12 kilometros de comprimcnto e 8 de lar- gura, que pode servir de ancoradouro para 500 embarcacoes, e cujo fundo varia entre 5 e 13 metres; dois diques, um a sud-oestc de 2:000 metres dc com[irimento, o outro a nor- oestc dc 1:800 de conqiriniento, dislanles 400 metres uni do outro, saliirao do centro da enseada e, descrcvcndo uma curva, forma- rao um porto dominado em frente da cidade por um caes de 800 mctrns de largura ; o canal desembocara ao norte d'esta bacia. Do lado do Mediterranco, o canal, depois de atravessar em comprimcnto de sul a norte o lago Menzaleh entrara nas dunas a 20 kilomctros da antiga Peluza no meio d'um porto artilicial que sera cbamado o porto Said, do nonic do vice- rei do Egypto, principe csclarecido sob cujos auspicios se emprebende esta gigantesca obra; dois diques, um de leste, outro d'oeste, forma- rao a entrada do porto; o dique d'oeste en- trara pelo mar dentro para abrigar o porto contra os vcntos ocste c nor-oeste; basta que 0 dique mais curto tenlia 2:300 metros, e o mais comprido 3:500 metros, para que os 47 navios saliindo do porlo achem uma profun- (leza d'agua du 8 raetros, a ([ual conlinua pclo litoral cm uiiia extensao do 20 kiloine- tros; a dislancia entre os dois diques sera dc 400 metios; lormarao porlanto um anco- radouro, ciija superlicie sera de 40 hectares, oude OS navios poderao cnlrar com lodos os tempos; um ante-porto de 7"2 hectares de su- perlicie, aproveilado cnlre os diques, Ira ligar- se com a bacia dc Said, cuja largura e de 800 mctros, e a extensao dc 64 hectares. E um facto evidente (jue loda a parte do li- toral situada para dianlc de Peluza, nao tern variado ha dezenove seculos; que a distancia eiilre o mar e as rulnas da cidade e exacta- mente a mesnia que Strahao aponta ; que nas raargens da bahia do Peluza, nao se en- contram lodos nem natciros acarrelados pelo Nile; que 'ncste ponlo o mar tende mais a produzir erosoes do que depositos d'alluviao, etc., etc.; nao ha, porlanto a receiar-se que OS lodos ameacem ou deslruam os traballios alii emprcbcndidos; nenlium obstaculu impe- de que 0 canal atravesse a praia immutavel de Peluza: e uma obra mais facil do que a creacao do porlo Malamocco em Veneza. Em resume: o corle d'um vaslo canal enlre 0 Medilerraneo e o mar vermelho, scm pon- tes dc scccao nem ecluzas, do comprimcnlo de 147 kilometres, navegavel ale para os navios de trcz mil toneladas, com entradas nos dois mares e trez portos, um inlcrno e dois marilimos, nao e ncnhunia obra dilficil ou arriscada, mas simplesmente uma questao dc tempo e de dinheiro. Os engenheiros do vice-rei orcaram a dcspesa em 102 milhoes de francos, coraprehcndendo 14 milhoes e meio para despezas imprevistas, e accidentes iuevitaveis. A commissao internacional, diz Mr. Dupin, no sen relalorio a academia das sciencias, mercce os maiores elogios ; nao sc limitou a um exame profiindo dos projeclos e orcamen- tos; propoz ainda mellioramentos importantes, que fizcram do actual projeclo uma obra com- mum, que nao offende seniio que satisfaz a todos OS amores proprios. (Cosmos.) F. BIOIGNO. BIBUOGRAPHIA. Teoria de los puenles colgados ; por D. 'Eduardo Saavedra; ingeniero primero de ca- minos, canales ij puertos, profesor de mecd- nica aplicada de la Escuela especial del ciier- po. — J/arfrirf — 1836. Com a publicacao d'csle cscripto importan- le, que 6 apenas o resumo das licOes explica- das pelo auctor, no curso de 1834 a 1831), aos alumnos da classe dc mccanica applicada as construccOes, quiz o sr. Saavedra, habil e bcm conhecido cugcuheiro do rcino vizi- nho, satisfazer a necessidade, que lioje se sente, de um traclado, que possa dirigir os engenheiros na construccao das pqntes sus- pensas, nao se havendo publicado sobre a materia cousa que satisfaca, depois da obra de Navier — Rapport el Memoire sur Ics ponts suspcndus — a qual se vai tornando cada vez mais rnra. Pondo 0 fito principal em rcduzir lodas as formulas e discussoes sdmcnle ao necessario na practica, e isto por um modo accessivel aos quo so possuem os conhecimenlos ele- mentares do calculo integral c da mccanica, 0 auctor, tiel ao seu intuito, posto que se gniasse principalmenlc pela obra dc Navier, scparou-se d'elle todavia em alguns pontes secundarios. No capitulo I tracta de determinar as con- dicues d'equilibrio das cadcas: ja submettidas ao scu proprio peso, que e o caso de calcna- ria; ja submettidas a um peso repartido uni- furmemcnlc sdbrc a sua projeccao horizontal; ja linalmcnte no caso real das cadcas das pontes suspensas. Para determinar em todos estes casos a forma da curva, o seu compri- menlo, a tensdo nos seus dijfcrentes pantos, e a grossura da cadea, emprega com prefe- rencia o dcsenvolvimento d'estes valores em series, e osmethodos graphicos, que aopasso, que Ihe apresentam solucoes menos conipli- cadas, Ihe dao ao nicsmo tempo resultados com as convenienles approximacoes. Nos capp. II, III c IV detcrraina as con- dicoes d'equilibrio das differentcs cspecies dc apoios ; a flcclia provisoria da cadca, apre- ciando as suas variacoes, tanto as que de- pendem de sua natureza, como as que sao devidas ao tiador e a mobilidade do apoio; e por tim as variacoes da flecha dcfinitiva, resultando ou da inlluencia das variacoes da tcmperalura, ou do addicionamento dc cargas accidentaes. Em tudo isto approvcita o que ha de mais subslancial e practico no traba- Iho de Navier. No cap. V, para determinar os raovimen- tos oscillatorios, nao acompanha Navier nas suas formulas de analyse mais transcendente, mas segue o methodo elegante de Poncelet, mais accessivel, e cujos resultados apparecem com as approximacoes necessarias. No cap. VI cnsina a calcular as propor- cocs, em que devem estar as differentcs par- tes, que entram na construccao das pontes suspensas, c os limiles, em que deve encer- rar-sc cada uma d'cllas, a Km de que a obra projectada reuna todas as circumstancias de economia c seguranca, que sao para dcsejar. No cap. YII rcraata o seu trabalho, cx- pondo OS principaes syslcmas dc pontes sus- pensas ate hoje seguidos, e aprcsenlando- nos duas tabellas uma com as propriedades phvsicas de alguns nialeriacs empregados na 48 toiisinicrao das pontes suspcnsas, c outra com as ilimensOcs das pontes suspcnsas niais nolaveis. Por esta cxposirao resuniida reconliece-se hem, que o auctor no descnvolvimcnto da sua theoria guardou a mesnia ordem, ([ue os engonliciros tern de scguir na formarao do projecto d'nma ponlc suspensa, c ([ue, por isso, e porque enconliarao alii marcada a iniportancia e ohjecto dc cada uma das for- mulas 0 do sou resultado, sera para clles cste trahallin do sr. Saavedra o mcllior guia c urn manual quasi indispcnsavel. Para o ensino, na parte rorrespondente da mccanica appli- tada, acliiimos tambcm este livro muito pro- vcitoso, pela sua concisao e pelo bcm deduzi- do da sua doutrina. F. DE CASTRO FREIRE. KOTICIARIO. lB]«triif'<;no piiltlica na • Qual ilos e\crcilos alliados I'oi grandc? (nial invfiiiivel no assuslador iiiverno de ISiii? (juem salvou ciilao a causa da libcrdadc o da civilisafao? i]ueiii desliiiiu Boniarsuud? qucm toinou Sehastopol? Qiieni obrisou os russos a amarem, e a rt'speilarcm os vencedores? Foi per vealura o nialionietano, ou o sardo, OU 0 illglfZ? Ouem nao salie, (|iie se iiao fosse a Fran- i'a, leria sido anniquilada loda a gloria da soberba Aibiao nos campos da Crimtia, pcia miseria, e privacOes de lodo o genero, e pelo ferro dos nissos? Quando Mies doeu muilo a mortandade dos lilbos, fine (izerani? Foiaiu-se ler com as liu- luildes servas de Maria, reuebcrain os auxilios dos papislas! XXIV. A guerra teve fini, mas nao as molestias, sua trisle e indispousavei bagageni. Muiias irruas coroaram com a vida o sacrificio. Foi ainda mister, o anno passado, recorrer de Conslanlinopla a Paris. A superiora, reu- nindo as irmas, convidou para a Jornada o nuniero pedido, quiuze. Oftereceram-se 45, e entre estas a irma Melaiiia, companbeira da boa mae Rosaria, seu braco direito na rua da espada de pdu. Acceilaram a sua oll'crta. « Antes de partir (diz 0 iilustre historiador da vida da irmii Rosaria) i'oi a irma Melania orar sobre a se- pullura d'esta, c pedir-lbe uma parte do seu I'oracao c da sua caridade. Quando passava era Marseilia, despedindo-se dos sens paren- tes, disse-Ihe: — Vou para o ceu pelo cami- nlio mais ciirto, por Conslanlinopla! Passadas puucas semanas, as cartas de Scutari annunciavam que M."° Esparbicr, de Tolosa, na relii;iao a irma Melania, tinba morrido do lypbo, no exereicio das suas cari- tativas runccOes. " xxv. I'ortugal. E de razao que fccbemos esla breve memoria, dizendo o poiico que sabemos das irmas da caridade entre nos. \ congregacao da niissao entrou 'neste reino em 1717, na easa do Rilhafoles, donde nao nos consta (jue se estendcsse mais lorje, e neiu mcsnio a principio ahi teve alguni dcsinvohiniciiln. Sao volhas os erros de go- vernar cm Portugal! qiiizeram que os padres eortassem pela sua regra, para se desligarom do superior g';ral em Franca, c so obedece- reni ao Patriareha de Lisboa. Resistiram te- nazmentc, comodeviam; e dos que tinham vindo de fore, apcnas licou o padre Jose Joffreu, hespanhol. Removeu-se a difBculdadc com um breve pontilicio. Foi debalde ; nin- guem (juiz associar-se a instiluicao adullera- da. Emiim. no anno de 1738, o governo veiu ii raziio, e a casa pode constiluir-se, e func- cionar reguiarmeule, em iigafao e obediencia com 0 superior gerai, dcbaixo do nome de Scminario de S. Joao e S. Paulo, no mesmo sitio de Rillial'oles. No terramoto de 1834 arabou, como as outras. Das irmas, apenas por provisao de 14 de abrii de 1819 se auctorisou a fundacao d'uma casa em Lisboa, derrogando-se, em seu bene- licio, nas leis da amortisarao, para que po- desscni adquirir (luaesquer bens, que Ihes segurassem um rendinienlo annual ate oito conlos de reis. Esla provisao foi sollicitada porquem o de- via ser ; porque a mullier catbolica e sempre. e em toda a parte a niesma ; por ella vem o soccorro e allivio do pobre, e a civilisacao do povo. Em Portugal e no Brasil os bomens sonbavam revolucoes, c as senboras catbolicas pensavam em nioralisar e ajudar o pobre po- vo. Este era tanibem para os primeiros o in- tuitQ de seus pianos, na apparencia. Os revo- lucionariossao sempre tao democratas, quando 0 povo Ibes couvcra para instrumento que der- rube OS que os assombram ; como soberbos aristocratas, salvas poucas excepcoes, desde que conquistam o mando, e podem, do cume da monlanba da auctoridade, dictar leis as nacoes, enibora no nieio de ruinasi Triuta (idaigas da primeira nobreza, e entre estas a condeca d'Olivrira, niulber do trin- chante mor I). Francisco d'Almcida, assigna- rani um requeiimenlo a EIrei D. Joao VI, en- lao no Rio de Janeiro, pedindo auctorisacao para aquella fundacao; e a supracitada provi- sao exprime o benigno deferimento. Por desgraca o mcsnio pcnsamento desor- ganisador, que por espaco de viute e urn annos liavia tolbido, no principio do seculo anterior, o definitivo eslabeleciniento dos lazarislas, reproduziu-se (e como e que era tal epocha nao aconteceria assim?) para com as irmas da caridade, procurandor^e embora conformar o inslituto da nova casa com as regras por que sao regidas nos ouiros paizes, mas — licando inteiramente sejiaradas do cen- tro e obediencia da superiora geral de Paris. ■Ventou-se em vao fazer vir algumas fran- cezas para dar principio a no^a fundacao; e, segundo se le no jornal 0 Domingo. n.° 101, a muita piedade d'uma tbia e d'uma sobriiilia, do Luniiar, aquella por nonie Escho- lastica Jlaria, foi o meio de levar a ell'eito o desejado intenlo, tomando eslas o habito a 2o de marco de 1S21 na capella dos ex.""' marquezes de Borba. A'o fira do mesmo anno entraram esponta- neamente sob a direccao do superior da eon- 53 gregacao da missao, em Rilhafolcs; o qual so encarregou de inslruir no exercicio do saiiclo institulo a cstas, e as mais que se Ihes jun- ctaram depois. Por intiTvenfao do mesmo superior, obti- veram faculdade para emiltir os votes antes (le decorridos cinco annos de noviciado, como era mister, segundo a regra de S. Vicente de Paulo. A virtuosissima princeza, a sr.' D. Maria Benedicla, depois S. M. EIrei D. Joao VI, e a seu exempio outras pessoas da primeira nobreza, concorreram para o eslabelecimento com OS sens donativos. A. 12 d'outubro de 1823 enlraram oito irnias em servico da Casa pia, e no anno seguinte mais trcze. Apezar das preoccupacOes da cpoeba, tao bom nnme tinha estn congregacao, que as cortes conslituintes ouviram benevolamente, e approvaram a indicacao feita pelo dcputado .1. V. Pimentei Maldonado, na sessao de 28 de novcmbro de 1821, para que so conce- desse as irmas de Lisboa o hospicio dos fra- des carnielitas d'Uitramar. Sao mui dignas de nolar-se as razoes da indicacao: — « Tendo-se conservado, por es- paco de quasi dois seculos, inalteravei na sua primitiva pureza, respeitada por todas as revolucOes, e bem acceila a lodos os parli- dos, a piedosa instiluicao das irnias de cari- dade, que principiam a exercer 'nesla capi- tal 0 seu penosissimo institute, sem que ao menos tenhara um domicilio proprio e com- mode, em que descausem das bcmfazejas e pasmosas fadigas, a que se consagram ; e sendo conforme ii cbristanJade, e ate ao de- coro do soberano coiigresso, amparar, quanto cabe nas forcas do thesouro nacional, um tao proveiloso eslabelecimento, etc. etc. >■ No seguinte anno, a IG de julho de 1822, na capeila do mesmo bospicio, tomaram so- leranemente o babito, um pouco difl'erente do que usam as irmas francezas; e doze fize- ram os volos, continuando a renovai-os an- nualmente, segundo a regra, no dia da An- nunciarao. Alera do ensino de meninas no seu hospi- cio, e do curative c assislencia, de dia e noi- te, dos infermes pobres, em familia, tiveram a seu cargo por algum tempo duas infernia- rias de mulheres no bospital, e o servico dos doentes e das meninas da Casa pia. Actualmente apeuas conta este eslabeleci- mento 17 irmas, algumas das quaes inteira- mente impossibililadas. Tem uma eschola frequentada por cin- coenta meninas externas, c saem a visitar alguns doentes, como infermeiras; mas tal e 0 eslado dabatimento a que tem chegado, pela edade e molestias, que nao podem en- carregar-se senao de trez infermos! Ainda assini mesmo deram provas da sua origcm, e constante caridade na occasiao da cholera. Vivem pobremente, sendo o seu principal recurso uma subscripcao mensal, com que Ibes acode a caridade d'algumas das princi- paes familias de Lisboa . Gracas a um legado pic, c segundo cre- mos, sob a prolecoao da muita virluosa prin- ceza, S. A. R. a Senhora Infante D. Izabel Maria, a 14 de junho de 18^3, estabeleceu- se em Viana do Aieuitejo uma nova casa, apenas com quatro irmas, vindas de Lisboa, e dependente d'csta. E ahi, com a melhor acceitacao da povoacao, ensinara, e acodem, nas boras vagas da eschola, aos enfermos, que as chamam. Depois de 183i as Ex."" sr."" Duqueza de Palmella, D. Eugenia, e D. Maria Miquelina Pereira Pinto Guedes, c por venlura oulras pessoas, tentaram por vezes Iransplantar de Paris algumas irmas, as quaes, inteiramente sujeitas a pura regra do fundador, viessem fecundar a quasi extincta sementc, que por desgraca nao podera floresccr na capital, pelas causas a que 'neutro logar ja alludimes. Vaos esforges! e por que motives frivolos e inqualificaveis! Melhor e correr o veu sobre fraquezas d'esla ordem. A gloria da tentativa, e 0 justo agradecimento da posteridade nin- guem ha que o possa tirar aquellas virtuosis- siraas senhoras '. A fundacao d'uma especie de damas de caridade com o litulo de Associacao consola- dora dos a/jlictos; e a das Servas de Maria. irmas das irmas de caridade, manifestam de que medo a Ex."" sr.' D. Maria Miquelina, contrariada nas suas mais queridas e mais piedosas cogitacoes, se esforcou por aplanar 0 caminho para o final censeguimenlo d'a- quelles nobres e caridosos intuilos. Continiia. a. FORJAZ. A NEERUNOIA E A VIDA HOLANDEZA. Continuado de pag. 90 do 5." vol. II. Temos ate aqui esbocado os traces princi- paes da historia das inundacoes dos rios: * i. No fim do anno de 1843 (diz o Sr. Garret) regres- sarain a Lisboa para celebrar o casamento de sua filha D. Calherina, ha muito coiilractado com o Conde das Galveas, D. Francisco. ((Nao podia vir com as maos vasjas quem voltava de tao sancta romagem (de Roma). Sempra piedosa, e sol- licita em seu animo de bem fazer, a duqueza Irazia arranjadu de Fran(;a o eslabelecer aqui o verdadeiro institnto de S. Vicente de Paulu, fundando e dotandu uraa coiigrepa^ao d'irmas da caridade. u Niio quero, deliberadamente nao quero, referir os estorvos aclntosos, que encontrou, as meticiilosas e ridi- culas lergiversa^oes com que por fim Ihe consegiiiram annular seu piedoso votu e sanctas inten^Ses. Mas (ui assim. e grande a magua que com isso teve; nunca j.e consuluii de tao iuesperado de>aponlamenlo. •• Mm. historica tfa Erm.' Duqueza (fe Pabntlla. 54 c\islo poiem para a llollanda oiilro inimigo iiiais icrrivcl aiiida, que e o mar. 0 Rlieno f 0 Meusc \im repeliilas vezes assolado eslc paiz; mas, a siiiiilliaiu;a do Nilo, estes rios, <|uando Irasljordam, ll'cundam no meio da sua devastacao. Nao acoiUece o mcsmo com as iiuiiidacOes do mar; eslas, pcloxcoiitrario, (li'ixam sempre alraz de si a cslerilidade c a mortc. Disscmos, (iiie iia sua lucla com o Occcano, e o Rlieno, que parece ter sido ven- cido: OS desbaratos do rio podem contar-se pelas usurpacoes succcssivas do mar no solo da Neerlandia. E para este progresso do mar, i[ue varaos dirigir agora a nossa attencao. E ura facto lestimiinliado nao so por tra- dicues urn pouco duvidosas, mas ale por do- oumenlos positives, que a forma primitiva da llollanda foi allerada pcio decurso dos Secu- los, c que, em resullado das successivas in- vasOes do mar, a cxtensao d'este paiz so tern acliado cada vez mais circumscripta. Segundo unia antiga tradicao, em tempos remoios des- euhriam-se das costas da llollanda as cosias de Inglaterra. Uma das inundacocs mais con- sidcraveis, que soffreu uma porcao dos I'ai- zes-Bai.\os esla ligada, segundo alguns geolo- gos, com 0 cataclysmo, (|ue se diz ter sepa- rado a Gra Brelanha do continente. E na verdade concelic-se lieni que, lendo sido que- brada a lingua de terra que se estende entre Douvres e Calais, devia o mar 'neste movi- mento arruinar as antigas costas da Balavia. Nao nos demoraremos 'nestas narragOcs mais ou raenos fahulosas, 'nestes cataclysmos talvez imaginarios, sobre a data dos quaes, pelo menos, nao concordam os sabios: e.\iste outra ordem de monumentos mais certos, os quaes provam que a constiluicao physica do paiz solTreu nuidanra desde certa epocha re- lativaraenle reccnte. Basia visitar com algu- lua attencao as costas do sul da Hollanda, para podcr qualquer pessoa julgar por si mesmo da extcnsao das mudancas occorridas na forma do delta. Esta plaga devastada que s'estende d'Ostende ale Harlem, e d'llarlum ate ao llelder; as dunas solapadas pelas va- gas; OS bancos d'areia cortados; tudo isto denuncia os cstragos do occeano. No mez de marco (mez das tempestades) vinios nos, em muitos ponlos, as costas de llollanda batidas, abaladas pelo furor das ondas, que acoitava um vento desabrido do oeste; parecia que a terra ia abater-se. Desgracadamente e bem certo, que as barreiras ergiiidas contra as ondas tem cedido, umas apos outras, em mais de uma praia, desde os tempos histori- cos. As cadeas das dunas vao sendo devora- das, e esta perda augraeula constantemente, podendo desde ja marcar-se o dia, em que esta defeza natural tera de ser substituida pelos diqiics. E unicamcnte por cstes para- peilos artiliciaes, que mais longe para o nor- tc, algumas pracas tern podido, defender-se contra as forjas invasoras do mar, e ainda assim muitas d'estas obras de pedra l(:m aba- lido cm diU'erenles poiitos. Basta a propria forma da llollanda para niostrar a conlradi- cvao, em ([ue esta com os outros deltas, c (lara indicar so por isso uma alteracao lenta, mas continua. Tres rios como o Bbeno, o .Meusa, e o Escalda, que concorrem todos para descarregar as suas aguas (juasi sobre um mesmo ponio geographico, deveriam ter estfindido em outras epoclias pelo mar dentro um promontorio, ou pelo menos uma lingua de terra similliante a ([ue projecta o Missis- sipi. Mas boju debalde se busca este promon- torio: e pelo contrario os contornos da llol- landa eslao rebaixados, reentrantes e com- primidos, e descrevem uma curva concava, nma cbanfradura. li um facto bem verilicado, que o mar vai arruinando as costas de llollanda: atravez dos desabamentos das areas, os ollios podem seguir o traballio triste e silencioso da de- struicao; mas existem outras teslimunhas mais irrecusa\eis d'este cataclysmo. Em Kat- vijk, a aldea de Pescadores, de que ja falla- mos, perto do silio onde, suslentado pelos magnilicos trabalhos da arte, corre o Rheno laboriosaraente para o mar, vimos, nas mares baixas, os alicerces d'um castelio romano (a casa dos Bretoes) que dominava a foz do rio 'num tempo, em que elle mais novo e vigo- roso, se lancava por si mesmo no Oceano. Eis uma prova evidente, de que o solo tem recuado; e nao e a unica. A.inda ha lembran- cas de uma antiga Horesta, que em tempos passados cobria a llollanda meridional, e que avaiicava muito para diante para o norte; as arvores, que s'encontram deitadas nas tur- feiras, a bora e meia da costa, sao, segundo lodas as probabilidadcs, os cadaveres d'esta antiga floresla, despovoada pelas tempesta- des e pelas cbeias, ou destruida pelo macha- do. Tudo leva a crer que estes gigantes da vegetacao do norte cresciam era terrenos bem distantes entao do mar. Estas conjecturas tir- mam-se em certos factos posilivos. Muitas das turfeiras, cuja origem e devida as aguas doces, enconlram-se hoje, especialmente do lado de Zuiderze, ao nivel do mar. Tudo pois indica na phisionomia actual do delta vaslas e profundas revolucoes. Parte d'estas mudancas occorreram quasi sem desastres; mas outras vezes o homem foi pelo contrario nao so testinuinha, mas actor d'este grandc drama da natureza. Os antigos babiladores de llollanda morreram aos milhares no meio das guerras intestinas da terra e do mar. Os acontecimentos geographicos em que se acha- ram envolvidas as cidades, as aldeas, e po- pulacOes inteiras, fornecem, desde as eras romanas, o objeclo de uma hisloria triste- mentc authentica, a qual nem I'altam as da- tas, nem as narracoes dos contemporaneos. A Hollanda, esla jangada immensa, que fluctua sobie as vagas do mar do norte, lem visto repetidas vezes a Icnipestade a dilace- rar-lhe o costado, roubando-llie os sens ho- mens, os seus rebanhos, e as suas riquezas. No tempo dos romanos exisliam uns cara- pos de grande fertilidade no sitio, em que o Ems entrava per ties braces pelo mar den- tro. Este terreno baixo projectara uma pe- ninsula ao nord'este, do hido d'Eniden. Era 1277 um diluvio comecou a dostruir uma parte d'esta peninsula: trintii e tres aldeas foram destruidas' . A csta incursao do mar deve-se a exislencia do Dollard, d'esse golfo cujo no- me em iioilandez signiiica o furioio, sem dii- vida querendo assim exprimir a impetuosi- dade do clioque, que ronipeu os aniparos na- turaes, e deu passagem as aguas. Outras inundacoes sobrevieram cm periodos difleren- tes no decurso do seculo XV. Em lo07 ape- nas tinha (icado em pe uma parte de Torum, cidade consideravel: o resto d'ella apezar da direccao dos diques e do encanamento dos rios, foi por fim presa das aguas, desapparc- cendo cincoenta conventos, que as oudas ou engoliram ou barreram. (CotdiUM) OS LUSIADAS. Trndaccao fraiiceza. LES LUSIADES. ontinuaito tie i)aff. 284 do V. vol. il. 0 Moniz qu'a jamais la gloire le couronne ; Aux plus illuslrcs noiiis tun nom s'est egale, Semblable a ce persan qii'on vit dans Babylone S'inli'oduire jadis sangiant et niutile; Darius qu'il placa sur ce superbe trone, Par I'eclat des grandeurs nc fut pas console, Et s'ccria cent I'ois qu'il cederait I'empire Pour racheter le sang du genereux Zopire. 12. La paix avail ainsi tcrmine ccs debats, Quanrt Alphonse reprend la trompptte guerricre; Dans Ics ptaincs d'Ouriqup appelant ses soldals II enflainuie leurs Cffiurs d'une ardeur mcurtriere; ' A recorda(;ao d'esle de.^astre acha-se consisrnada 'nu- ma carta geograOca fejLa para conservar a lenibran(;a do acontccimeiito; le-se alii a segiiinte jnscri|)9ao breve e triste conio uraepitaQo: Jnni> 1277 maris innundaii'jne WA pngi lire in i ico periere. Existe oulra carta manuscri- [ita, em perganiintio, que represeuta as 33 aldeas, que Itavia antes da ioniindai^ao, cum ociirso dos rios e o tra- «;ado das estradas. fc^sta carta porem e conjectural: as cartas posilivas nSo remontam mais alto na Hollauda di ']ne ao ineiadu do seculo XVI. Offrant aux sarrasins la raort et les combats, II veut jusqu'a leurs camps deployer sa banniere, Et franchissant le Tage, au sein de leurs cites Assaillir et braver ces peoples detestes. 43. Combattant pour la foi, c'estauDieu desarnues Que le picux Alphonse a confie son sort; De cet esprit divin les troupes animees En invoquant le ciel vont affronter la mort. Du Sarrasin cruel les hordes renommees S'opposeront en vain a ce terrible effort; Et vainement, joignant le nombre 4 la vaillancc. Cent maurcs combattront contre une seule lance. Fiers de compter cinq rois parmi leurs combattaol^, Les sarrasins altiers meprisent les alarmes. Ismar est a leur tete, Ismar qui dans les camps filevc di'S I'enfance a vecu pour les armes. Mille jeunes beautes qui suivent leurs amant.s Sous des casques brillants out derobe leurs charmes; Telles on vit jadis aux bords du Thermodon Ces guerrieres dont Mars a consacre le nom. 45. Deja I'aube du jour chassant la nuit obscure Annoncait du soleil les celestes bienfaits, Quand le Dieu crcatcur de toute la nature Apparut sur la croix au guerrier portugais: rschuss-B(inken, propoem-sc a obter resullados analogos para as classes operarias, subslituindo a fragil garan- tia individual pela forca da collectiva. Alguns centos ou milliares d'operarios re- unem-se cm sociedade, concorrcndo de prin- cipio com uma modica joia d'enlrada, e uma prestacao mensal ainda mais modica ; as quaes lodavia, pelo constante cA'cito de todo o ajun- ctamcnto de con>ideraveis parcellas, lendem a tomar um grande vnlto. A direccao d'estes bancos, sobre a garantia d'este fundo, e a responsabilidade collecliva da associacao pelo trabalho fuluro de todos OS associados, toma d'empreslimo, em nome da sociedade, os capitaes que estes prccisam, para Ih'os adianlar prudenlemente. Entre os socios nao ha de commum senao 0 direilo a inspeccionarem a gerencia das di- reccoes, por elles elcitas, e a responsabilidade. Em tudo 0 mais cada ura socio conserva uma plena independencia d'accao. Cada um d'elles e auclorisado a levantar do banco, como eniprestimo e a juro, ate a totalidade do valor da sua joia d'enlrada e das niensalidades que pagou; e ainda mesmo uma liniilada quantia a maior, ludo sobre a sua unica responsabilidade pessoal, ou a sua simples assignalura. Acima das indicadas quanlias, nenhura pode obter eniprestimo sem a fianca d'um oulro associado. Com OS juros d'estes adiantamenlos o banco satisfaz os a que se obrigou para com o ca- pitalista, e as despezas da gerencia ; e se ha algum remanescenle, como effeclivaniente acontece, e cste deslinado em parte para se ir constituindo ura fundo de reserva, e em parte para se reparlir, como dividendo, aos associados pro rata de suas entradas por meio das joias e mensalidades. E cerlo que, para se conseguirem esles ef- feitos, 0 juro pago pelos socios a sua propria sociedade, com quanto inferior ao que teriam de pagar ao usurario, nao pode ser muito baixo. * Todavia d'ahi mesmo elles tiram interesse, porque t(>m direilo a um dividendo, o qual vem modilicar o mesmo onus. Os adiantamenlos feitos por estes bancos sobera de 18 a 19 fr. (2880 a 3040 rs.) a 112a, e ate mesmo a 3750 fr. (180^000 e 600|,000), quanlias cerlamente mui conside- raveis para um operario; c as quaes, como se disse, de prompto alcanca com um simples fiador, seu consocio , acreditado perante a direccao. Participam pois esles bancos da caixa eco- nomica, e dos nossos Monies pios ; e lendeni, segundo parece, a anipliar os incomniensura- veis bcneticios d'estasexcellentissimas instilui- coes, as quaes ja mesmo, em ponlo minimo, prcslam aos sous consocios vaulagens analo- gas. Nera recebeni, nem fazem esmolas; pro- curani conservar a dignidade do homeni no operario, fazendo-o considerar a si mesmo. como 0 auclor do seu proprio bem, pelo tra- balho, ordem, e economia, sem o illudireni com as vas e pcrigosas ideas da tyrannia do capital, e da necessidade de o lomar de graca. Tal e era summa a idea que formamos d'estes novos bancos, pelo que lemos a seu respeito ein um novojornal, publicado em Lausanna, com 0 tilulo de — Noitvel economisle, n.° 2, de 23 do proximo abril. 58 E objeclo digno de s6ria altencao, e sobro 0 qual mui conveiiicnte nos parece que os verdadoiros amigos das classes laboriosas pro- fundamcute mcditem. i. FORJAZ. REVELAgAO DOS CRIMES. C'ouliiiuado de pag. II. Os criniinalislas (jiie combalem a revela- cao, nao podciulo conlestar a existoiicia d'esle dever social, c a sua cHicacia na repressao dos crimes, pretendem que a obrigacao de revelar, fundindo-sc nas altribiiiro;s do mi- nisterio publico, e nas da policia, deixou de ser dever individual de cada urn dos ineni- bros da sociedade; c que, porisso, o Eslado nao pode exigir o scu cumprimento, uom tornal-o ell'ectivo com a iniposifao de penas. Sera, por venlura, inulil o coiicurso dos in- dividuos quandn ha auctoridades? A funccao do raagistrado dispcnsara o dever do cidadao? As phases por que passou a accusacao sao de todos conhecidas. Sabe-se que tempos bouve em que o proprio olTendido era o uni- co admiuido a accusar. Era na epo(;ha, cm que as compensacoes pccuniarias podiam sup- prir a pena, em que o fundamcnto do direilo de punir era a vinganca. Posleriormenle foi a accusacao exercida por todos os cidadaos, mediante a accao piiblica; niais posterior- mente ainda, t'oi-o ex-ojjicin pelo juiz. Uma ficcao, das que cnlao abundavam na juris- prudcncia, ' permitlia (|ue o juiz, na faita de accusador, julgassc e condcninasse como se este edectivamente houvesse existido, e que- reilado. Tal foi, em poucas palavras, a niarcha da accusacao, e as principacs modificacoes por que ella foi passando. Esscncialmente indi- vidual a principio, nao representava mais do que a vinganfa; seu unico fini era obler a reparacao do mal material causado ao agenle passivo do delicto. Depois a accusacao come- cou a exprimir mais alguma cousa — o inle- * Benlham foi um dos que etofpieolemente demonslroti osinconvenientes d'estas fic^oes jiiridicas. Nasord. phili- pinas aillda ellas 9e encontram ; no tit. 6 do liv. V, e cum- parado o crime de leza magestade a lepra, a qiial ;> enche todu o curpo seiij niinca mais se poder curar, e emjtece ainda os desfeiidente.-j de qileni a tein eao:sqiie com eUe con\'ersam . . . assim o crime de trai^Ho cundemna o que o commette, eimpece e infama osfjue desua linlia descen- (lem, posto que DJio tenliam culpa. >■ A'e-se que a conse* quencia da ftccili) e a justifica^ilo da aberrancia da pena. ^ Fauslin Helie. Des caracleres generaux de I'aclion pultlique (Revue de legislalion et de jurisprudence; vol *1, pae. IRS ese;.) resso social na repressao do crime, e no reslabolccimenlo da ordeni. A accusafSo por meio da accao piiblica, c e.r-o/ficio pelo juiz, e a manifcstacao deste novo character. D'a- qui a crca^'ao d'uma parte piiblica, so havia um passo. 0 desleixo dos cidadaos em exer- cercm a accao piiblica, apressou uma rcforma cuja necessidade de lia muito se tornara ma- nifesta. Inslituiu-se, ou para me exprimir com mais cxactidao, desinvolveu-se entao o ministcrio publico. Acabou a accao piiblica pola forma com (|ue ate aili era exercida, c aos agentos do ministcrio publico commetteu-se a pcrseguifao dos culpados. Foi-llies iucumbido formular a accusacao, recollier as provas, apresentar a querclla, reiiuerer em juizo a applicacao da pena. A accusacao de dever social que atd alii fiira transformou-sc em funccao de magistra- dos. E 'nesta reforma interessava nao s6 a sociedade, jjorque o crime licava scndo mais eucrgicamente perseguido; mas tambcm os cidadaos, porque eram alliviados d'um pcnoso encargo que nflo podiam goslnsamente cum- prir. Nao adniira pois que um distinclo ma- gistrado francez, e ao mesmo tempo profundo jurisconsulto, disscsse que a creacao d'uma parte piiblica fdra um grande passo para a civilisafao, uma grande idea digua em tudo dos tempos modernos ' . E preciso, porem, nao confundir acjao pii- blica com revelafclo; querella e accusacao, com deniincia. Sao cousas esscncialmente diversas, e que muito convera destinguir na queslao que nos occupa. A creacao do ministerio publico, nao fez mais do que alterar o character da acgao piiblica, ealteral-o profundamente; mas nao supprimiu a revelajao civica. Entre as funcciaes dos sens agentes nao encontramos nenhuma que subslitua aquelle dever social, ou produza os sens effeitos. Bem longe disso. Uma das causas que mais concorreii para o estabelecimento do ministe- rio publico foi, diz Faustin Ilelie'', a intro- duccao do processo por via de deniincia, muito tempo usado somente no foro canonico, mas gradualmenle inlroduzido no secular. A deniincia provocava informacao judicial, e tornava por isso indispensavel a presenca d'um accusador que dirigisso a informacao, colhesse as provas, etc. Este accusador nao podia deixar de ser um magistrado especial. D'aqui vein, que uma das funccoes dos agen- tes do ministerio publico era receber as reve- lacOes, examiaar a sua veracidade, e proce- der contra o culpado, se na devassa encon- trasse algum indicio que fizesse presumir a existencia do crime. ' Henrion dc Pansev. De I'autorile jud. en France. Cap. XIV. ^ Histoire el thcorie de la procedure criminelle, o." 36B. 59 Longe de concorrer para extinguir a revela- fao, 0 ministerio piililico, foi creado para re- gularisal-a, e dar-Ihe a dircccao de que havia mister para ser mais ellicaz. Parece, pois, indubitavel que o dever so- cial de revelar nao te I'undiu nas attribuicSes do minisleiio publico, e que o cidadao nao ficou desoncrado dc prestar o sou concurso a acfao da juslica, so poiciue se insliluiram aquelles funccionarios. Vejamos agora se a policia dispensa esle concurso. E indubitavel que a policia e um oplimo meio de repressao, que depois dc seu eslabelecimcnlo os culpados muito mais dif- ficilmente se podcm subtrabir a accao da justi- ca ; porem de ludo isso dever-se-lia deduzir que a policia dispeusa a revelacao civica? A polica nao e geral ; fora dos grandes centros de populacao exislc apenas no esiado rudimentar. Uma boa organisacao policial en- contra obstaculos sempre dilliceis, e inuitas vezes invenciveis. Por outro lado cunipre nao esquecer que a policia nao pode prcsencear todos 03 crimes; em mil hypotbeses a sua accao e nulla ; todos os dias lemos d'isso exemplos e nao admira que assim aconteca. E um logar commum dizer que as inslituicoes humanas nao podcni ser perfeitas ; 'nesta como em todas as outras da-se esta imperfeicao. Querer que as auctoridades deixadas a si te- nham conhecimento de todos os crimes e, a meu ver, uma Utopia. Parece-me portanto que a creafao d'uraa policia por mais bem orga- nisada e energica que se imagine, nao pode totalmente dis pensar a revelacao; oque pode e tornal-a menos necessaria, fazer menos pe- noso 0 encargo de revelar — pode alliviar o cidadao; mas nao dconeral-o III. Os adversaries da revelacao instam ainda com OS abuses. Partindo do principio que estes abusos sao inberentes a instiiuicao, susten- tam que a revelacao contimia a ser impos- sivel, porque voltarao com ella os mesmos inconvenientes que ja fizeram proscrcvel-a; presuppondo mesnio a cxcellencia da revela- fao, dizem, nao conveni decretal-a por(|ue os benelicios que pode produzir, niio compensa- rao OS innumeros males a que dara causa. Vejamos ale que ponto isto e exacto. Da revelacao como de todas as instituicoes aiuda as mais santas e respeitaveis, como do proprio christianismo, abusou-se muito, mui- tissimo. 0 sou flm foi desconhceido e poster- gado. Epocbas houve era que a revelacao deixou de servir para a repressao do crime e para a manutencao do sagrado principio da nao impunidade; tornara-se uma arma lerrivel nas maos do despolismo, um inslru- nienlo da lyrannia. Os innumeros males que este? abusos produziram enclicm infclizmente paginas inteiras da hisloria de Roma imperial, e de quasi todos os governos que se cariaram e corrompcram como aquelle. Deveremos poreni argumentar d'esles tristes exemplos para a inleira supressao da revela- cao? Nao 0 creio. Quando um principio bom em si, solTre applicacao viciada, e claro que em vez de produzir bons resultados, so os produz pessimos. Emendcm-se os abusos. E nao se diga (|ue ha instituicoes era que i.sso nao pode I'azer-se. Em regra geral esta asserrao e falsa; muito mais a respeito da re- velacao. A maior parte dos abusos a que ella deu origem, provinbam de causas que hoje nao existcm ; provinbam da antiga forma de piocesso, forma essencialmente injusta, e que nao podia deixar de produzir os peiores resul- tados. Os depoimentos das tcstimunhas em se- gredo, a pouca liberdade na defeza, o julga- mento baseado nao sobre a conviccSo do juiz, mas na maior ou menor plenitude das provas, um juiz unico, muito sujeito, por consequen- cia a enganar-se, ou deixar-se dorainar pelas paixoes, eram outros tantos obstaculos que o reu injustamente accusado encontrava, quan- do procurava justificar-se. Acrescia o conlisco dos bens do condemna- do em proveito do accusador, circurastancia mais importante do que a primeira vista po- dera parecer. A revelacao deve ser gratuita: se 0 revelador for, ou poder ser movido pelo interesse proprio, torna-se-ha muito mais diffi- cil evitar os abusos que d'ella possam provir. E vcrdade que no tempo do conlisco havia pe- nas gravissimas fulminadas contra os falsos ac- cusadores ; mas isto nao basiava. Esta provi- dencia, para assim dizer isolada e nao susten- tada peio systema geral do processo, raras vezes havia de conter o falso accusador. Ilavia ainda a nullidade completa da ira- prensa periodica e que faz conhecidas as in- justicas e obriga os julgadores a procederem com legalidade ; a Ibrma do governo, cuja importancia 'neste pOnto facilmente se com- prebende; mil outras circumstancias mais ou menos insignilicantes de per si, masque reu- nidas tinham uraa influencia apreciavel. Com 0 nosso processo actual e quasi impos- sivel nao descbbrir o falso revelador; o con- lisco estci banido da legislacao, e o accusador jii nao pode ter em vista apossar-se dos bens do condemnado; a imprensa e iivre e pode clamar hem alto contra todas as injuslicas; a forma do governo nao pcrmitte que a revela- cao se torne a arma do despotismo; cessaram 'numa palavra todas as causas dos abusos : nao deve pois receiar-se que elles voltera com a revelacao. E nao colhe o dizer-se que, em epochas anarcbicas, a revelafao pode ser em vea de garantia d'ordem um elemento de desordem ; porque 0 mesmo pode acontecer a forca ar- mada, e a todas as outras garanlias sociaes. A 60 cxcelleucia ou vicio d'uma JDSiituirao nao dcve julgar-se pelo einprego que por ventura d'clla I'acam, em crises sociaes, as paixOes polilicas, de lodas as mais perigosas, porque se rcputani juslas. Siniillianle apreciayao so pode, so dcve lazer-se, quaiido a sociedade estiver assente em solidas bazes de juslira c moralidade; quando lodas as inslitiiicOes sociaes se dcsin- Toherem livremenle, c ua sua legiliiua esplie- ra; quaiido as paixOcs |iolilicas cstivcreiii eal- iadas, e uao irocarem as garaiUias de ordem cm elemeDtos de desordem. S. II. XOTICIiRIO. Volcao •inlt-marino. 0 minislro da ma- riiiha em Franca, dirigiu a academia das scieiicias os exlractos de duas cartas eseriptas por dous capitaes de navies niercantes, em que annuiuiam, que navcgando debaixo da linha por 20 miuutos, pouco mais ou menos. de latitude sul, e 30 graus de longitude oesle, pelas duas horas da manha, ouviram um estrondo, similhante ao de uma trovoada distante, seguido immediatamente de agita- foes violeutas; o li'ine iremia forteniente nas niaos do mariniioiro, a Iripulacao nial se segu- rava sohre as pernas, o tempo estava screno, e 0 mar manso, pelo menos sem vagas ou on- das tuniultuosas; agua apanhada em um bal- de, nfio indieou elevacao de temperatura ; os navios continuaram a soifrer agitacao ale de- pois do nieio dia. 'Neslas paragons, pensa Mr. Daussy, que exisle um volcao sub-niarino que laiica fume I' cinzas. O saz na Inslaterra. — 0 numcro de fabrieas de gaz em Inglaterra e acUialmentc de 66. 0 capital que ellas representam e su- perior a 62 milboes de libras, e dao, termo medio, 5 por 100 de dividendo annual a sous acciouistas. 0 numero de pessoas empregadas 'nestas fabrieas e de 24:000. A quanlidade do gaz, annualraenle produzida, e de II milhOes de pes cubicos, resullado da combustao e distil- lacao de r.3o0 mil tonelladas de carvao bitu- minoso. 0 gaz fica aos consuraidores, em geral, pelo preco de 25 francos por cada mil pes cubicos. O onro na .%iiKlraIia e California. — A California nao principiou a produzir ouro senao era 1848. De 12:000 libras no pri- mciro anno, a produccao subiu era 1855 a 12.908:000 libras. As minas da Australia sd forain descobertas cm 1851. 'Ncsse anno pro- duziram'J07:li:Uibras;ecmt855, 11.513:230 libras. A Australia e Califnrnia dcram anibas, em 1855, 24.481:230 libras. A produccao em 1850 e ainda muilo mnior. Urn documenio publicado pelo Board of Trade avalia cm 40 005:051 libras o ouro produzido pula Au.-tralia (Victoria c Nova (ialles do Sul; desde 29 de niaio de 1851, data da primcira remcssa, ate 31 de dezembro de 1855. E\portaram-se 11.199:000 inglezas (247:169 kilogramnias). So a colonia de Victoria forneceu perlo de ; da producfao total. Uma coramissao nomeada pelo conselho legislalivo de Victoria calcula, que cs jazigos auriferos occupam na colonia mais de 20:000 quadrados de (luarlzo aurifero. Sao 20 mi- lliares e 650 milbOes de tonelladas (pie po- dem occupar 100:000 mineiros durante 300 annos. Avaliando cada tonellada dc quarlzo em uma libra sirel. somentc, resulla a somma enorme de 62 milboes de libras por anno. A riqueza total da colonia e calculada apro- ximadamenle em 783 milhijes de libras. Serao pois necessaries mais de 2:000 annos para explorar tao grande riqueza. A vista disto nao se deve lemer, que fal- lem as rcmcssas d'ouro da Australia para lodas as paries do mundo. Ullimamente acharam-se quasi a superficie da terra em Vingovcr (Melbourn) duas pepites de 188—230 oncas. Invcnrao dost moinlios. ■ — 0 engenho dc nioer por forca de corrente ou queda d'a- gua, foi inventado na Asia menor. Os Romanes 0 adoplarani, e bem dcpressa se generalisou na Italia e Grecia. A bistoria nao diz, (luem foi 0 inventor. Os poelas entoaram bymnos em bonra da invencao. Anlipater de Tbesso- lonica exclama inspirado. « Dormi tranquil- las mulberes que'trabalbaveis em nioer o Iri- go ; ja nao lendcs necessidade de fatigar os braces; deixae cantar as avcs, que por sens gorgeios annunciam o dcspontar da aurora. Ceres encarrega as Naiades o vosso irabalho; as nymphas obedecem, e assenladas sobreuma roda fazem-na mover. 0 ei\o, por meio dos raios que o cercam, faz girar com violencia as pesadas mos do moinho. Eis que volvemos a vida feliz e Iranquilla de nossos primeiros paes. Agora ja sabemos colber sem fadigas o fruclo dos trabalhos de Ceres, e preparar o nosso pao. » Os antigos nao conbeceram o moinho de venlo. Esla descoberta pertence ao Orienle, e so no anno de 1010 foi introduzido em Franca. ® Jn^titttta^ JORNA.L SriENTlFICO E LITTEKARIO. CflliSELnO S>l'P[IllilR DE l,\STI!ta,il) miK\. 1." SECIJAO N." 210. CIRCl'LMI. Nao Icndo proikzido os cffeitos, quo se p.speravam para I'onnar a eslatiiilica geral c parcial dc lodas as escholas do reino, c esUi- bclecimcnlos littcrnrios, as providenrias con- signadas na portaiia circular du 30 dc marco do ISSii, mauda Sua Maj,'estade El-Rei, pelo Tribunal do consclho superior d'Instruccao Piiblica, que o govcrnador civil do . . . . faca inlimar polos adininislradorcs^ dos concclbos do districto a sou cargo, todos os profossores e 0 commissario dos estudos respectivo, para que impreterivelmenle remettam ao supradi- clo Tribunal os niappas do movimento de suas escholas, e o coramissario o relalorio, que Ibe pertcnce, ate ao ullinio dia do mez do sclembro do eada anno, na corteza, de que dcpois do dia lii de outubro, se ibe ro- metlerao as ordens convenicnles, e a rclacan dos que fallarani a csle cumprimento, para sercm excluidos da foiha dos vencimenlos no moz d'ouUibro; e espera Sua Magestade, que esla circular lenba a devida execucao, de que elle govcrnador civil dara parte com a possivel brevidade. Coinibra, em 23 de maio de 18b7. — Joxe Ernesto de Carvallw e Hego, Vice-Presidente._ — Baruo de S. Tliiago de Lordello. 0 secretario geral, Jose Antonio d'Amorim. I.' SECC.AO N.° 220 CinCULAB. Manda Sua Mageslade El-Rei, pelo conse- Ibo superior d'Instruccao Piiblica, que o go- vernador civil de . . . . remetta, com a possi- vel brevidado uma relacao das escholas pii- blicas do sen districto, qua estao collocadas em edilicios do Eslado, municipaes, ou paro- chiaes, e hem assim d'a(|uollas, (|ue seacham em casa arrendada, indicando, 'ncsle caso, quanto se tern despcndido, e ii custa de qiiem, nos trez ultinios annos Icclivos, e nos arranjos necessarios para a sua devida colic- cacao. Coimbra, 23 do maio dc 18o7. — Jose Ernesto de Carvallio e Reyo. Vicc-Presidentc. — Baruo de S. Tliiago de Lordello. 0 secretario geral, Jose Antonio d'Amorim. Vol. VI. JiiNuo lii 1.' sEcr.-io — N." 221. — cibcilaii. Convindo regular pela melbor forma o ser- vice ^los exames dos nppositorcs as escholas piiblicas, manda Sua Magcstade El-Rei, pelo conselho superior d Instruccao Piiblica, que 0 commissario dos estudos do districto de. . . . logo que terminem os prasos dos respeclivos concnrsos, assigno, o raais breve possivsl dia a todos OS concorrentes a cada uma das re- I'eridas escholas para se examinareni; dovendo as provas escriptas, e problomas arithmelicos serem os mesmos para todos, e no mesmo dia. Coimbra, 23 dc maio de 18b7. — Jose Ernesto de Ciirvallio e Rego, Vice-Presidente. — Burdo de S. Tliiiigo de I^ordello. 0 secretario geral, Jose Antonio d'Amorim. ZOOLOGIA. OS PEIXES ELECTRICOS. Os peixeseleciricos ale hojo conhecidos sao: 1.° A tremelga, ou torpedo — raia torpedo. 2.° 0 gymnoto, ou carapo electrico do Para — gymnolus eleclricus. 3.° 0 siluro, ou bagre electrico — siluru.^ eleclricus. i." 0 quadridento electrico — tetrodun ele- clricus. 5." 0 Irichiuro electrico — trichiurus ele- clricus. Os dois primeiros sao os que tem sido mais beni estudados, e a tremelga, ainda melhor que 0 gymnoto. Tremelga, ou Raia Torpedo. A. torpedo pertence a familia das raias; e 0 em virludc d'csto parentesco, que e designa- da pelo nome de raia electrica: os pesc^o- res tambem Ihe dao o cpitheto de tremelga, peiie magico, pela exlraordinaria propriedade de que c dotada. E um peixe de corpo liso, chato borison- talmenle, dc forma oval, terminando em uma -18D7. Num. 6. 62 Cauda curia mas robusta, com a forma de uru disco quasi circular. Acha-se cm lodos os mares; e muilo commum iios da Europa, espccialmcnte no Mediterraneo, oude ad(iuire lai grandi'za, que pcza as vezcs 18 a iO libras. Nas costas do Occeano atianlico, ra- ras vezes excede 2 pes de comprimenlo. Pescam-sc muilas no canal da Mauclia. Na costa niarilima de Portugal, e ale logo fora da barra dc Lislioa, apanlia-se varias ve- zes a treraeiga. beui coulieeida pelos Pesca- dores, pelas suas faculdadcs electricas. Quando se loca com a mao uma Iremclga viva, senle-se immedialanienle uma forte com- mofao que entorpece, c ate paralyza todo o braco por aiguns minulos. \ sensacao ^xJde comparar-se a que sollVcmos (|ujndo damos uma pancada com o colovello. Mr. Matleucci avalia a forca d'cste cboque, pelo (]ue da uma piiba do coiumnas, de 100 a lliO pares, car- regada d'agua salgada. As descargas succedem-se com e\lronia ra- pidez, e e sempre impossivel supporlal-as ; Walsh contou ate 50 por rainuto. Se a tor- pedo esta fora da agua, sente-se sempre gran- de commocao, ou se toque o animal, com os dedos, ou com um corpo bom conductor, como uma vara de metal, ainda que de mui- tos pes de comprimenlo. Sente-se a mesma commofao, cm um cir- culo de 20 pessoas, nao isoladas, se das que formam as extremidades da cadeia, uma toca 0 dorso do peixe, e outra o ventre. MM. Becquerel e Breschct veiilicaram, que o dorso da torpedo da electricidade posiliva, e o ven- tre electricidade negativa. Quando os Pesca- dores despejam as redes nos barcos, e lan- fam grandes massas d'agua salgada sobre os peixes, se enlre estes ha alguma tremelga, logo se reconhccepela commocao que expe- rimenta o braco que verte a agua: e um (ado ja conhecido pelos anligos, e de que Plularclio fez particular mencao. Reconbece-se tambem que a descarga da torpedo pode dar faiscas, como uma macliina electrica ; que produz a magnetisacao ; que opera decomposicoes cbimicas ; e que leans- raittida atraves de um par ihermo-electrico, produz signaes sensiveis de calor. Esla propriedade da tremelga, e, assim co- mo para lodos os peixes electricos, um meio d'attaque e defeza. E por este arlilicio que a torpedo fulmina, raesmo a distancias, os pe- quenos peixes, de que quer apoderar-se, e tornando-os immoveis, facilmente os apanba. A tremelga, sendo um peixe em geraj pe- queno, fraco, indolenle, e privado d'armas offMisivas e defensivas, dillkilmenle poderia viver, se a nalureza a nao livesse dolado de tao cxtraordinario meio d'accao, que babil- mente emprega para se alimentar, e para se defender de sens inimigos. Viveodo no fundo da agua, ([uasi sempre escondida no lodo, como as raias, se passa proximo algum pequeno peixe, mata-o; c se e peixe maior, alordoa-o, pelas descargas dc suas baterias electricas: por este meio tem sempre alimento em almndauci.i. Se e atta- cada por algum peixe voraz, del'ende-se me- llior do que se fosse bem armad'a de denies. Reaumur lancou uma torpedo denlro de uma lina cheia d'agua do mar e deu-Ihe por com- panliia um palo; passadas algumas horas, o palo estava fulminado. A tremelga, ainda que inferior a maior parte das raias, como peixe alimenlar, e com- ludo aproveilada em quasi loda a parte em qiie se pesca. Nos mercados d'llalia veiidc-se frequenlemente ; assim como algumas vezes no mercado de peixe de Lisboa, onde e ba- stanle apreciada pelos gaslronomos. Hippo- crates recommendava o use da carne d'este peixe na bj'dropisia. Os inslrumentos da funccao electrica da torpedo sao de Irez especies : 1." Na metade inferior do corpo, e de cada lado da cabeca exislem muilos cenlenares de pequenos tubes, Hunter contou ale 1:182, ou prisnms membranosos verlifaes, aperlados uns contra os outros, e subdivididos por dia- fragmas borisontaes , ou pequenas cellulas cheias de mucosidades. E 'nestes orgaos, e sob 0 imperio da vontade do animal, que se produz a electricidade. 2.° Na parte posterior do cerebro exisle um lobulo, designado pelo nome de lubulo ele- ctrica. A sua destruifao torna impossivel qual- quer descarga, aiuda mesmo que permaneca intaclo o reslo do cerebro. Sempre que se toca 0 lobulo, promovem-se fortes descargas, embora este orgao esleja scparado do cere- bro ou da espinal-medulla. A irritacao do mesmo lobulo nao provoca outros pbenomenos senao a descarga electrica. Toda a accao ex- terior exercida sobre o corpo da tremelga vi- va, e que determina a descarga electrica, e Iransmillida pelos nerves do |)onlo irrilado, ale 0 lobulo electrico do cerebro. A vontade que impera sobre as descargas electricas lem a sua sede 'neste orgao. 3.° Qualro volumosas ramificacoes de ner- ves do 4.° par saem do mencionado lobulo e vao dislribuir-se nas baterias electricas pre- cedenlemenle descriplas. Com o corte ou liga- dura d'estes nerves desappareeem os pbenome- nos electricos ; mas para o resultado scr com- plelo, convem ligal-os ou cortal-os lodos: se 0 corte ou ligadura nao for senao d'um lado do corpo, a descarga ainda se manilesta no outro lado. A irritacao operada sobre estes nervos nunca produz outros pbenomenos, se- nao as descargas electricas. Gymnolo, ou Enguia electrica. 0 gymnolo e um peixe muilo similbanle a 63 I niiguin, c por csta razao conhccido pelo no- ine de — eiujuia dectriea — e viilgarmente — emjuia tremula 0 j;ymnolo e uni peixc, que lorn d'ordina- rio 2 melius de compriniento; alguns ha que sao tao pcsiulos, que larrcgMui iini lioniem. Tern 0 ior|)0 da forma d;i i'n};iiia, aconipa- iiliado iiiferiormenle de iiina harbalana, lor- inando uina especic de (|uillia, (|ue se extende ate a extremidade da cauda. Ksta disposirao I'az, com que nao teulia o iiiovinicnto tortunso da enguia commum, e #e mova lom niiiila inais graca. Tcm a caheca grande e cliata, c a pelle reveslida de uma subslantia mueila- ginosa. E proprio da America meridional, cncon- Irando-se al)undanteraente nos rios, ribeiros, e pantanos. As propricdades clcclricas do gymnolo sao ainda mais nolaveis que as da tremelga; c d'aqui vem o estudo precioso que a sciencia tern fcilo da enguia iremuia. Seu podcr cleclrico e tal, que fulmina ca- vallos e homens ; e per lanlo niuito superior ao da torpedo. Tao poderosa accao conslitue urn formidavcl meio de aggressao e dofeza. 0 animal produz voluntariamenle as descar- gas eletlricas, e escoihe a direccao que mais Ihe convem para I'ulminar sens inimigos. Nao e raro ver ncgros nas bordas das lagoas to- cados pelas enguias clectricas, (icarcm de tal maneira alurdidos da commocao, que priva- dos dos scntidos caeni na agua e se alTogam; por esla razao os senhores probibem aos ne- gros approxiniareni-se d'essas lagoas. Quando OS Pescadores apanham nas redes gymnoios, e ao mesmo tempo crocodilos ainda novos, OS terriveis reptis aiipareceni morlos, ou pelo menos paralyzados, e os peixes clectricos com- pletamente iucolumes. A pesca dos gymnotos por meio de caval- los selvagons, e descripta por Mr. de Hum- boldt com a belleza de linguagem tao familiar a este famoso naluralista. Reproduzircmos textualmenle as suas proprias exprcssijes. « Os Indies conduziram-nos ao Cano de Bera, bacia d'agua pantanosa, rodeada de uma pomposa vegotaeao, da Clusia rosea, da llijmenaea Couibaril, grandes ligueiras da In- dia, e de algumas mimosas de (lores odori- feras. Ficiimos surprehendidos, (juando nos disscram, que iani empregar 30 cavallos sel- vagens das savanas visinbas, para a pesca das enguias clectricas. A idia d esta pesca, que se denomina — embarbascnr cum ca- rallns — e na realidade bem cxlravagantc. 0 termo Barbasco desigua as raizes de Jacqui- nia, Piscidra, e de qualqucr oulra planta venenosa, que lancadas na agua communi- cam-lhe a propricdade de raatar, ou pelo menos de alordoar os peixes, que depois, de envcnenados, ou einbarbascados por este meio, vcm boiar a superlicie. Como os cavallos met- tidos nos pantanos produzem urn effeilo simi- Ibantc sobre os peixes, designam-se com a niesma dcnoniinacao as duas especies de pesca, confundindo assini a causa e o elTeito. « Em ([iianlo nos cxplicavam tao extranho modo de apanhar o peixe 'nf>t(i paiz, che- gou a manada dcis cavallos e de machos. Os ludios, fustigando por todos os lados os animaps, apertando-os em urn circulo, obri- garam-nos a enlra^no pantano. Nao descre- veremos, senao imperleitamente, o inleres- sante espectaculo (jue olTereceu a lula das enguias contra os cavallos. Os Indios, muni- dos de juneos muito compridos e de arpoes, collocaram-se a borda da lagoa ; alguns d'el- les subiram para as arvores que lancavara ramos sobre a superficie da agua ; e todos, grilando e batendo com osjuncos, obrigaram os cavallos a permanecer denlro do pantano. As enguias, espantadas pelo tumulto dos caval- los, defcnderam-se por successivas descargas de suas baterias clectricas. Por muito tempo pareceu que a victoria era a favor dos peixes; muitos cavallos e uiacbos, alurdidos pela for- ga e frequeneia das descargas clectricas, dcs- apparecerani debaixo da agua; alguns cbe- garam a levanlar-se, e, apesar da activa vi- gilancia dos Indios, conseguiram fugir para as bordas da lagoa, e ahi licaram prostrados por terra, mnrlos de fadiga, c com os raera- bros eniorpecidos pela forca das comniocoes electricas. "Muito desejaramos, que ura habil pintor Laproveilasse o raomento cm que a scena e mais animada. Os grupos d'Indios cercando a lagoa; os cavallos, de crina erricada, com 0 terror e angustia [)intados nos olhos, que- rcndo fugir a tempestade que os surprchende; as enguias, quaes grandes serpentes aqua- ticas, nadaudo a superlicie e perseguindo seus inimigos; tudo ofl'ercce o quadro mais pitto- resco e niagesloso que podc imaginar-se. Eu recordci-me do soberbo painel, que representa um cavallo enlrando em uma caverna e atter- rado pela presenca do Icao. A exprcssao de terror nao e aqui mais eucrgica, do que a que se observa no combatc ipie tenlauios descrever. " Em menos de cinco niinutos dous caval- los esiavam ja affogados. A vista dcste pri- meiro resultado, julgavamos que a pesca aca- haria ainda mais tragicamentc, receiando que se aflogasse a maior parte dos cavallos; mas OS Indios nos afiirmnram, que a pesca termi- naria brevemente, e que so era para temer o prinu'iro assalto dos gymnoios. Assim foi. Quando o combatc ja durava um quarto de bora, OS cavallos pareccram menos attcrra- dos; nao errijavam a crina, e seus olhos ex- primiam menos dor e menos assonibro. As enguias, nadando com meio corpo fora da agua, e fugindo dos cavallos em vez de os attdcar. approximaram-se das bordas do pan- 64 lano. Os Indies lancaram-Ihes, por meio de cordas, pe(|iicnos arpocs, que fisgavam duas ao inesmo tempo. Arrasiaram-se assira para fora da agua cinco grandes cnguias, em poutos minutos, sem que as cordas seecas e niuilo compridas communicassem cheque algum; e luais se pesfariani, se fossem precisas para as uossas expericiicias. « Os Indies affiangarara-nos, que introdn- zindo OS cavalios dous dias suecessivos em uma lagoa ciicia dc gyninolos, nenlium ca- vallo morreria no segundo din, por(|iie os peixos electricos carecem de rcpoiiso c d'ali- mento abundanle, para produzir ou accuniular grande eopia d'eloclricidadc. " Sao bem coiiliecidas na sciencia as proprie- dades clectricas do gymnoto. Dm d'esies pci- xes, renieltido de Surinam para Stnckolmo, viveu quairo mezes em eslado de perfeilu saude. Tinlia 27 pollegadas de comprimenio, e as comniocOes que produzia, eram liio vio- lentas, que ale o emprego de corpos maus conduclores difGciimente obslava a sua com- municacao. Fulminava os pcixes, niesnio a dislancia, e despedia as suas descargas cle- ctricas, proporcionando a energia e violencia do cheque ao tamanho e forca da preza; diri- gia egualmente e goipe com grande acerto. 0 animal pcrdeu a facuidade electrica, pouco tempo antes de merrer. Na galeria de scieneias practicas em Lon- dres, tern apparecido por varias vezes enguias electricas, transportadas vivas dos rios da America do sul, e que tern scrvido nao so para satisfazer a curiosidade do publico, mas lambem para observacoes e experiencias dos sabios. Em Paris tarahem tern sido cuidadosamente cstudadas as singularespropriedades do gymno- to, verificando muilos naturalistas, quepegan- do em uma enguia electrica, e segurando-,i com uma das maos pela cabeca, e com a ouira pelo meio do corpo, sentem-se ao tiral-a fora da agua, repelidas e violentas comniocues no espaco de 4 a '■> mintilos, c com lal forca, (|ue parece que estalani os ossos, que se re- volvem as entranhas, e se sentem grandes pancadas na cabeca; por muilas boras se ex- perimentam dores vivas, e uma especie de tremor em todos os musculos, e particular- mente nos das espaduas, Refe;-iremos agora as interessantes expe- riencias de Mr. Faraday, feitas em Londres, sobre as propriedades da desearga electrica do gymnoto. Por meio de dous prates metallicos, rcuni- dos as extremidades do gaivanometro, e ap- plicados sebre dillerenles jmntos do corpo do animal, conseguiu o physico inglez determi- nar a direccao da desearga, reconhecendo, que as partes anteriores do peixe constituem constantemcnte o pelo positive, e as partes posleriercs o pelo negative, diriginde-se per tanto a cerrentc no gaivanometro, da cabeca para a cauda. A seguintc observacao e iniportante. Mergulliando os prates celiectores em dif- ferentes pontes da massa liiiuida liabilada pelo gymnoto, observa-se, supponde (jue o animal dcscarrega lodos os sens orgaos ao mesmo tempo, que a agui e atravessada pela cerrente electrica, distribuida em linlias rcctas c curvas a reda das extrcmidailes do peixe, da mesma nianeira que o scria a limalba de ferro em volla de um iman, cujos polos occu- passem o logar da cabeca e cauda do peixe. Todos OS |)henomenos da corrcnte electrica se tern obtido sobre o gymnoto, do mesmo mode, que sobre a tremelga. .M. Faraday, dirigindo a desearga do gymnoto por um tio nu'tallico dispnslo em spiral, no interior do qual se tinham collocado pre\iamenle agn- Ihas d'aco, eblevc a magnclisacao d'estas na direccao correspondente a da desearga da cabeca para a cauda do peixe. 0 mesmo phisice conseguiu a dccomposiciio chimica, emprcgando o iodureto de potassio, e produziu a faisca electrica, introduzindo no cireuite uma s]iiral electro-magnctica, e collocando dentro della um cylindro de ferro. 0 apparelbo, que .serve d'agente a lao po- derosas cenimocOes clectricas, extende-se ao longo do dorso ate a cauda, e censisle em quatro fascicules longiludinaes, compostos de um grande nnmero de laminas pence mais ou nienos horisentaes, membranesas, paral- lelas, e muile aperladas umas as outras. Estas laminas sae unidas per uma inlinidade d'outras laminas mais pc(|uenas, siluadas ver- ticalmente, mas em sentido transversal: as pequenas cellulas prismaticas e Iransversaes, formadas pela reuniae d'estas laminas, estae cbeias de uma materia gclatinosa : cmlim, lode o apparelbo recebe grossos nervos, rami- licacoes dos nerves spinaes. 0 gymnoto, mettide em agua, que se rene- ve de dons em dous dias, vive niuito bem, e, pode sustentar-se com camarOes e pequenes peixes. Em Cayenna faz-se uso da enguia ele- ctrica para clectrisar as pcsseas atlacadas de paralysia e de dores artbriticas. A carne do costado d'este peixe e excellente, com especia- lidade depois de salgada ou curada ao fume. Oulros peixes electricos. 0 silure eu bagre elcctrico tem liO a 55 centimetres de comprimento. A .sua bocca e armada de G grosses barbilhoes eu tentacu- los. nabita o Egypto e Senegal. Os arabes dao-Ihe o nome de rausch, que quer dizer, troveada. Sua forja galvanica (i considera- vel. Geoffrey Saint' Hilaire fez experieneias curiosas sobre estc ])eixe durante a cxpedicao de Bonaparte ao Egypto. 0 apparelbo clectrico d'este peixe consiste 65 fill uma camada de tecido cellular goiduroso, que envolve lodo o corpo do animal, c esta situado enlrp a pelle e os niiisculos. 0 telrodon ou qiiadriderile elcctiico e urn beilo pcixe de 7 a 8 pollogndas de coiiipri- ineuto, coin o corpo niiilliadd de manchas vermelhas, verdes, brancas, e d'oulras cores. Vive nos mares da India. Ajjreseiila as mesiiias propriedadcs dos outros peixes eleclricos. 0 trichiiiro eleclrico vive lanihem nos ma- rcs da India, e poiico ou nada olTerccc de notavel. As suas propriedades^onlirmam do mcsmo modo os factos ob.servados em geral em todos os pcixes eleclricos. De tudo que havemos exposlo, podenios deduzir os seguinles coiollarios: 1." Os phenoinenos observados nos peixes elecliicos sao da niesnia ordem dos que pro- duzem OS apparellios eleclricos ordinarios: — desvio da agullia do galvaiionietro — ele- vacao de tcmperatura nos fios conjunctivos — decomposicoes cbiniicas — e faiscas electri- cas. 2." Os orgaos, em que reside a faculdade de produzir commocoes electricas nao eslao situados da mesma inaneira em todos os pei- xes eleclricos: na Iremelga eslao collocados aos lados da cabeca, no gjninolo ao longo do dorso, e no bagre eleclrico em toda a exlen- sao do corpo. 3.° Os orgaos eleclricos teni era lodos os peixes uma conslituijao uniforme. i." Soinenle varia um pouco a forma da? celluias. S.° Nao ba ramo especial do «ystema ner- voso, que seja exclusi\anu'nle deslinado aos orgaos eleclricos: na Iremelga sao os nervos do 5.° par; no gymnolo sao os nervos spi- naes, e no bagre ou sihiro eleclrico os do 8." par. S. DE C. ATHMOSPHERA DA LUA. -M. Geniller, emigrado em Bruxellas, rc- melleu a Academia real das sciencias da"Bel- gica a curiosa nieiuoria que em seguida Irans- crevemos. Apezar de que julganios que o illustre auclor d'csle escriplo apenas Hprezeuiou bypolbeses, e nao conseguiu dcnionsliar a exislencia da alhmospbera da lua, comludo eiilendenios fa- zer alguni servicu, publicando csle trabalbo, que repulamos baslanle iugenhoso, e digno de medilar-se. a. j. t. A maior parle dos aslronomos nao adniittcni a exislencia da alhmosphera da lua. Vamos examinar as objeccoes que so apresenlam, e expor algumas consideracOes, com que julga- mos poder destruil-as, c eslabelccer directa- nienle a proposicao conlraria. A primeira objcccao e, que nao se observa refraccao no in>tante que precede a occulla- fao das cslrellas ou dos pianolas pela lua, nem duraiile os eclipses do sol. Alguns aslro- nomos pretendem ter oliservado, e ale medido uma jiequena rel'racrao; mas supponbamos que nuiica sc observou, e vejamos se esle facto basia para rejeitar a exislencia da athmos- plicra lunar. Se esla atmospbera exisle, como a massa da lua c proximamenlc 82 vezes menor que a da terra, o ar deve estar niuito rarefeito na siiperlicie dn nosso satellite. Quando tern logar a occultacao d'uma estrella pela lua, a parle inferior d'csle globo esta ainda muilo distanle do astro. Com eli'eito, na lua exislem, como e sabido, alias monlanbas, e enlretanlo observa-se que o limbo que aprcsenta o sou disco illuminado e perfeilamente rcdondo. Por- (|ue se da pois tal apparencia? Por que nao aprcsenta o disco sensiveis chanfraduras? E porque sendo rauito nunierosas as monlanbas na superficie da lua, a parte d'esta superficie que venios de lado, esta coberla de monlanbas, das quaes a reuniao dos vertices forma para nos uma nova superlicie espberica, mais ele- vada que o nivei dos marcs da lua, se por Ventura ella os teni. Imaginemos um circulo maxirao ila lua perpendicular a recta que une o ollio do observador ao centre do astro; devera exislir sobrc a circumferencia d'esle circulo maximo um grande numero de mon- lanbas, disposlas comludo de maneira, que nao formam uma cadcia continua ; mas os intervallos enlrc umas e outras nao sc lor- nam visivcis ao observador lerrestre, pela iiiterposijao de outras monlanbas anterior ou postcrioiiiicntc disposlas. Sendo isto assini, no instanle em que a estrella esta proxima a ser edipsada pclos vertices da? monlanbas, a refraccao nao pode ser produzida senao pelo ar, (jue cxislc acima dos vertices dessas mon- lanbas. Ora se o ar nas alias monlanbas da terra e ja rauito raro, c pouco rcfracla a luz, a fuiiiori a refraccao pela allimospbera lunar, nas condicocs que acabamos de expor, deve ser quasi insensivel. s, o que devia acon- tccer se a lua livesse agua e athmospbera. Esta objecffio desfaz-se com as seguintes con- sideracoes sobre o clima da lua. 0 ar sendo muito raro, porque a attraccao cxerce-se nos corpos, (jue cstao na lua, com muito menos forca. ([ue nos da terra, o vapor da agua, (juc la se foruia nao passa ao cslado vesicu- lar, mas exisle abi no eslado de vapor invi- sivel, acinia da superlicie illuiniriada, como acontece com uma grani'e parte do vapor, (jue se aciia misturado na nossa athmospbe- ra. "lilste vapor precipita-se na parte da su- perlicie lunar, nao exposta aos raios do sol. e condensa-se abi no estado de orvallio, ou antes de nebrina. P6de-se assim conceber a ausencia das nuvens, apezar da existencia da agua e do ar rarefeito em volta da lua. Acabamos de rcfutar as objeccoes contra a existencia da athmospbera lunar, vanios agora apresentar oulras provas, que cstabe- leceni directamente a proposicao adirrnativa. Admitte-se geralmente na lua unia grande quantidade do montanhas volcanicas; ora os volcOes, que as produziram e que cstiveram mais ou menos tempo em actividade, se e que alguns nao o estao ainda, nccessariamente 67 liaviam tic desinvolver grande abiiiKiancia de gazes. Que e feito d'csses gazes? Nao deveiii Ijor venluia tor tontrihiiido |)aia forniar em volla da liia iinia especie de utiiniospliera? Oa astroiiomos toiicordani laiiilieiii em dar uma origi'iii commum a lodos o.s |iluiielas; quasi todos adopUiiii para esle lim a tlieoria (ic Laplace, a qua! se applii-a egualmenlc a funuai;ao da lua. Logo us mulvrias d'esle asiro sau com pouua dilTcrenra as niesmas do iiosso globo ; a lua devou passar por diversos esta- dos, primeiro inleiramenlc (luida, depois cou- dcnsada em um iiucleo lii|uido, lodcado d'u- ma cspecie de atliniosplieia, seiido depois o nucleo iMnohido por uma crusta sniida, ([ue succes>ivaineiUe se I'oi loinaiido mais espessa. A analogia leva-nos a toncluir (|ue a aliimos- pliera lunar, a priiicipio muito earregada, se rarcfez e purilieou ponco a pouco, deixandu deposilar na superticie da lua, com o pro- gresso do reslViaMieuto, um grande numero de substancias, ou no eslado liquido, ou no cslado solido. Emlim, terminarcmos polo desinvolvimenlo d'uma proposicao que, a ser fundada, come julgamos, seria uma prova decisiva a favor da atliniospliera lunar, e contribuiria para rcsolvcr grande luimero de questOes, que siio 0 olijecto da medilacao dos astronomos. A proposicao de que fallamos e a seguinle: 0 ar exisle vniversatinenle derrammlo no espaco. Muilos factos nos parece eslabclecerem esta proposicao. Observa-se atmospliera ao redordo sol e de todos os prineipaes planelas ; e pos- sivel que a alraospliera de cada um d'estes globos seja limilada? A elasticidade do ar pa- rece ser inliuila. 0 ar uao passa ao estado li(|ui- do, submellido aos maiores frios e as mais lor- ies pressOes, que se tern podido obter arliiicial- lueDte; o ar deve pois ser ainda gazoso nas regioes onde os parlidarios d'um limile collo- cam esle limile, pnis que a lemperalura dos espacos inlerplanelario.s, parece ser somenle de quasi 00" aliaixo de 0", e que o ar alii nao esui, porassim dizor, subnieltidoa pressao al- guma. Como podoria o ar deixar de dilatar-se? Obslar-llie-ia a gravidade? IS'ao , porque a gravidade, mesmo na superlicie da terra, onde e muito maior, uao se opiioe a e\teusao nem do ar rarel'eilo 'num recipiente, nciu do va- por d'agua na menor lensao, nem a uniforme rcparticao do acido carbonico em todas as c.amarias da nlmospbora ; enlretarilo o acido carbonico, muito mais pesado do que o ar, cuja tcnsao nao cliega a uma decima millesiina da do ar, quo se reduz a liquido sob uma pressao e I'rio ariillciaes, que se derrama na atmospliera, pois ([Ue o ar nao e senao uma mislura, como se dcrramaria no vacuo, de- veria ter um limile bem inferior ao do ar, se este ultimo gaz tivesse algum ; a sua tensiio devcria decrcsccr mais rapidamenle que a do ar, como tcm iogar para o vapor da ague. Ora nas maiores alluras da atmospliera, onde se tcm subido, encontra-se acido carbonico nas mesmas proporcOes: logo este gaz nao tem limile, c o mesmo acontecc com o ar, Se 0 ar nao e limitado ao redor de cada globo, (i_'ve existir derramado em todo o espa- co ; devendo cada globo mergulliado 'nestc lluido universal, condensarem voita de si uma porcao d'elle, proporcional ii sua massa. Uma ultima considcracao nos leva a admit- lir que o ar esistc iiniversalmente derramado em todo 0 espafo : e a conslancia da eom- posicao do ar terresire, apezar das causas que tendem a pcrturbar a propor^ao dos dilTeren- les gazes, que formam csia mistura. Assim os volcoes, as accoes chimicas naluraes ou ar- tiliciaes, os pbenomenos de respiracao vegetal e animal, tendem a modilicar continuameule esla composiciio, ijue todavia lica quasi inal- liM'avcl. Como cxplicar ('.•■Ic facto? E precise admittir que os animaes dcsinvohem prccisa- menlc uma quanlidadc de acido carbonico cgiial a que decompoem os vegelaes? Que as reaccoes chimicas que seproduzem natural ou artilicialmenle, tendem a conipensar-se mu- tuamcnte, e constantemeule a restabclecer o eiiuilibrio? Esta conclusao nao e admissivel, se exisle um outro mcio de cxplicar o facto. Ora, a proposicao de que o ar exisie univer- salmente derramado no espaco, basta perfeita- mente para a explicacao da conslancia na composicao da almospliera. Com effcito, con- cebe-se (|ue esta composiciio possa ser mo- mentancamenle perlurliada, quer por dcsin- volvimentos de gazes volcauicos ou artificiaes, quer pela respiracao animal ou vegetal; mas 0 cquilibrio deve consiantemenle reslabelc- cer-se pela troca conliniia d'ar entre o dos cspafos celestes e o de cada globo, e do iiosso em particular. A forca cenlrifuga diminuindo a accao da gravidade no equador, a uma certa allura, a accao da gravidade sobre o ar deve siT destruida pela forca cenlrifuga. 'N'esta allura o ar deve ser lancado no espaco, islo e adquirir o sen ultimo griio de rarefacao, aquelle que tern nos espacos interplanctarios. Mas 0 ar das regioes boreaes, onde a gravi- dade nao e equilibrada pela forca cenlrifuga-, deve-se precipitar para as regioes cquutoriaes para abi encbcr o vacuo; entao novi:s quan- tidades d'ar derramadas uo espaco, .sao con- tinuameule altraidas para os 'polos , para subsiituir aquellas (|ue se precipilam para as regioes equaloriaes. Porlanlo opera-se uma mudanca conlinua d'ar enlre o i|ue involve cada globo celeste e o que exisle derramado no espaco; o que cxplica o uiotivo porque a proporcao da mislura dos gazes que I'onnam a atniosjiliera Icrreslre, lica quasi invariavel. I'odcr-se-ia objeclar a esta proposicSo da univer-salidade do ar, que se fosse assim, os planelas deveriam cxperimentar rclardacao no sen movimenlo de revolucao cm volta do 68 Mil. k cstii ohjeccao rc>poiidemos (|iic icsulla ilos calculos (le Newton a t'ste respeilo. que a 70 legiias do alliira somenlc aciina ila siiper- (icie da Icrra. o ar soria 7a niilliOts de milliocs dc vezt's mais raro do (|iie na supL'rlicio da lerra ; dc niaiieiia que 'nosle nu'io, Jiipilor perdcria somenlc a nicllionesinia parte do sen movimenlo 'niiin inilliao dc annos. Se as eonsidcraroes que acaliamos de dcsen- \ elver, sSo siiflicicnles, como aecreditan>os, para cstalielecer a existencia de almosjiliera e mares na lua, rcsulla (jue a vida animal e vegetal, deve lamhem oxislir na supcrlicie do nosso satellite. Entretanlo, como as oondieOes d'almnsphera, lempcratura, luz, iiravidade, etc., dilTcrcm eonsideravclmenlc das que tem logar soltre o nosjo gloho, nnda com ccrleza se podc airirmar do grao de desinvolvimcnlo, que alii lonlia adqiiirido a vida vegetal e ani- APONTAMENTOS ■*a!'a a coniinisacao Inedilo). 9.° Catliecismn sobre o sncrosaiilo sacrificio da Missa. 8.° (IiiediloV 10." Exposkao do decreto do Concilio Tri- dentino sobre us indtilfiencins. 8.° (Incdito). 11.° Curia de urn tlieolngn sohre a distinc- lao das diias relifiiiJes, naliirul, e reveluda. Trad, do ubbade I'flvcrt. 8." 'Iiicdilo). 12." Exame cuiulijlico da jimposla de vm parocho cunlra o jxirecer sobre os ados de fe, esperanra, ecaridade. 8." (Iiu'dilo). 13.° Oediiccao tkcohyica da ceusura feita pela auctoridade episcopid de Coimbra as the- ses, que. para ado de coiiclusoes muijnas, of- fereceu U. Jose de Jesus Maria, collegial do (oUegio jioi'O de Saiida Cruz de Coimbra em jullto de li96. (Inedilo). As mencionadas tlicses, lendo passado pela i-ensura acadcmica, I'oiain aprcscnladas ao ordinario, que as censuroii com a prudencia e maduieza propria do caracler do Ex."" D. Francisco de Lenios dc Faria Pereiia Couti- nho. Suscilou-se porcni diividas sohre a exccu- cao da censura episcopal; foi encarregado Anlonio Soarcs Barhosa dc su.stcnlar a exa- clidiio das censuias, o (luc cxcculou, dcsin- volvendo (scgundo atlirniam juizcs conipcten- Icsj OS mais abalisados conhecimenlos Ihco- logicos, e donionslrando com lanta evidencia como niodcracao e cordura a vcrdade das di- (tas ccnsuras ' . Hoiiveramos de I'azcr um Inngo discurso, se por venlura aqui lambcm niencionassemos as rclevanles qualidadcs moracs, que orna- ram Antonio Soares Barhosa (que a virtude casa-se miiito i)em- com a scienciai, c a res- peilosa eonsideracao, que (lor clias obtcve dos Kx." ' rcilores da Univcrsidade, e bispos de Coinihra, com os quaes sempre viveu cm intima amizade ; estas particularidadcs, alias interessantes, omittimos nos por conia da hrevidade, que 'ncsles apontamenlos assen- lamos guardar. Continiia. F. A. R. DE GUSMAO. ' Esla questao lomou grnnile vulto, e deii occaaiilo m kljiimas ordend regias, que seria util pnblicar. BIBLIOGRAPHIA. ^'olicia da vida e trabalhos scienlificos do me- dico Bernardino Antonio Gomes. Poucas sao hojc as nacoes que nao possuam a biof^raphia dos seus homens uteis, d'aquel- les que nas scicncias ou na iilteratura, nas artes ou na industria, prestarani importantcs scrvicos, c honraram a sua patria. Portugal infelizmenle pertence a essa minoria. As vidas dos portuguezes illustres somente sao conheci- das por um pequeno nhnicro de pessoas, que mais especialmcnte .se dcdicam a rstudal-as. Nem admira que assim acontcca. 0 trabaiho de que sc ha mister para, 'ncste pouto, chc- gar ao mais pequeno resullado e tao penoso, tao longo e quasi sempre tao cnl'adonbo, que jioucos ha (|ue o lentem, e muito poucos que 0 levem ao cabo. A maior parte contcntam-se com as nocoes supcrliciacs c nuiitas vezes pouco exactas, que depois d'uma curta inda- gacao podcm colhcr. Nao dcscem a uma analyse profunda , como o demanda a ma- teria , so por(|ue 6 diCGcil reunir todas as condicoes intellectuaes que rcijucr cste serio e prol'undo examc, e nao e meno.s difficil pos- suir a paciencia e conslancia indispensavcis para dcscmpenharem tao ardna tarda. Os inconvenicnles d'estc cslado de cou.sas sao hem obvios, tao obvios que ale escu- samos aprescntal-Ds. E innegavel quo faria grande servico, e se tornaria credor dos niaiores elogios aciuelle que tentasse enciier e.-ta lacuna com uma colleccao de hiographias exactas e complctas. Conliamos em (|ue cste Irahaibo nao tardara a ver a luz piihlica; a sua necessidade e lal que nao pode deixar de rcsoher algiim zcloso cullor das Iclras patrias a cm[ii'chcndcl-o. Dcixemns, porem, estas consideracoes que noslevMriani muito longe; occupamo-nosd'uma obra duplicadamcnte inlercssanle pcio seu au- clor e pcIo objecto soiire que versa. Tribulo lilial pago a uma memoria cara c vcneranda a Nolicia da vida e trabalhos scien- ttficos do Dr. domes, rcvela no seu auctor estimavcis qualidades littcrarias que c pouco vulgar cnconlrar reunidas. As descohertas e novas appiicacoes de que a sciencia c dove- dora ao Dr. Gomes, sao aprescnladas e discu- tidas com a hem conhecida proliiiencia do auctor. 0 mcthodo c clarcza com (jue a me- moria c escripta, junctamenle com a fluen- cia c amcnidade do eslylo, tornam a sua lei- tura comprchcnsivel, e niesmo agradavel ain- da para os niio versados no conliccimento das scicncias naturaes. 0 auctor mostra que aos seus estudos scientilicos soube junctar os iit- terarios; sem deixar de ser cscriplor profun- do, conseguiu scr ao niesmo tempo cscriptor cicgaute. 71 0 objecto de que linha a occupar-sc era digno de prender-llie a attencao. Se a vida tar medindo muitas milhas, desde a pesca solitaria a borda de um rio ate as pescarias no mar por meio de milliares de barcos. De dia e de nolle, durante boras e semanas inteiras, o pescador chim Iraba- Iha com as redes, e apanha grande copia de peixe. Por toda a parte o solo e cullivado com esmero. 0 mais pequcno canto de terra ^• habilmente aproveitado ; nas montanhas mais ingrenies sao construidos terraplenos que pro- duzem admiravelmente. Cousa alguma que possa servir para cslrumc e despresada. A limpeza das ruas nas cidades, e feita em gran- de escala, e mais com o Iim de beneliciar os canipos, do que em cumprimciilo dos precei- tos da hygiene. 0 servico da salubridade pu- blica, que em geral e tao bem dirigido na Europa, e desconliecido na China, e nos gran- des centres de populacao reinam frequentes vezes as febres e outras molestias d'infec- cao, devidas as emanacues fetidas dos depo- sitos d'immundices, que os especuladores cons-ervam para vender aos proprietarios ru- raes. Na colonia de IIong-Kong exige-se a terra toda a produccao que ella i)6de dar mais fa- cilmente e em maior abundancia. A perfeita lavra do solo e rcputada como um dever po- litico e social. Yung-Ching, um dos sabios mais venerados dos Chins, diz — « nao deixeis um pe dc terra sem cultura, um par de braces sem irabalho; » — e a quarta maxima do livro sagrado de Kang-Ili, que a religiao manda ler no primciro e decimo quinto dia lunar, na presenca de todos os funccionarios do Eslado, e assini redigida — ■< concedei a agri- cultura 0 primciro logar, e a amoreira o pri- meiro posto, para que nao fa Item nem alinien- tosnem vestidos. > — Shia-Nung, nome do mais antigo e mais respeitado imperador da China, signilica — dinino lavrador. Sopiodaile d'arrlimalarsio em Pi-aii- ca. — Esta associacao acaba de receber os scguinles animacs, que Ihe envia da Asia M. Montigny. Quatro magnificos elephantes, de 6 annos d'edade, 3 machos e uma femea — um enor- me tapirete ou Anta do Brazil — um louro e uma bella vacca, da raca (jebn ou corcovada — uma espccie de touro selvagem com ini- mensos cornos e dotado d'extraordinaria forja — quatro cabras brancas do Thibet, e um ma- gnilico bode — dous enormes orangotangos — ura soberbo cazoar negro, ou Ema da Asia, 72 do laierior do Borneo, a qua! lem dcbaixo do liico duas niembranas vcrniellias e azues de 1 pe de comprimt'iilo; tcm a cabofa azul, c as [lernas duas vezes iiiais grossas do que as do alicslriiz. A mesina sociedadc espera ainda alguns tigres reaes c iiina es|iecie de boi niouslruo- so, das florestas de Loos, animal, que parcce Intciramcntc desconhecidi), o (jue por sua prandeza sc asscmclha ao clephantc. Alem de tao.valiosa remessa, recebeu lam- bein alpuns productos do reino vegetal, niuilo curiosos c intcrcssantes, laes conio alguns lulierculos feeulenlos c glulinosos, complela- nienle novos na Europa, e que sao a piovi- i^ncia dos habitantes da Asia, c segurn re- lurso contra a fonic; e em lim, ceria (|uan- lidade de sementes de sorglio saccarino, ar- roz de sequeiro, c ervilbas olcoglnosas. Proiliirrao do aI;;oiIno. — De docunien- tos aullienlieos, publicados em Inglaterra, rc- sullani OS seguiiites faetos solire a produceao do algodao, (jue por scu iiiteressc c curiosida- (le niereccm ser transeriptos nesle joriial. No principio d'esle seculo, a importne.To de saccas d'algodao na Gra-Bretanha, era uni- camente de 7;i:0(IO por anno, e iiojc e de 2.1(10:000. 0 reslo da Europa e os Estados- Unidos, que 'nessa opocha nao possuiam ma- uufiicliira algunia, empregam aetualniente 1.900:000 sacca> d'algodao mais quo a som- ma ja citada, nao fallando do consunio da .Vsia. D'estes 4 millioes de saccas d'algodao, OS ; sao fornecidos pela America. 0 valor da industria do algodao em lodo o mundo e calculado em 120:000:000 libras xterl. X populacao da Gra-Bretaiilia em|ire.- ga piir anno, pouco niais ou mcnos, 20 francui por rahcca. K Inglaterra exporla ])ara os Estados L'nidos os seus productos ma- nufaclurados pelo preco de 3 I'r. e 83 cent., annualinente, por cabcca; para as suas eolo- nias da America do Norte, a razao de 7 fr. e "o cent.; para a Franca o valor de 10 cod.; para as suas posscssoes da India, o de 80 cent.; para a Russia, o de \'i cent, sonientc. A Inglaterra, os Estados Unidos, e principal- menle a Franca, nianufacturam quasi todos os productos do algodao, nccessarios a sua po- pulacao, mas a Russia reccbe esta manufa- ctura d'outros paizes. .Vvaliando a populacao do globo cm 8a0 millioes d'babitaules, \k-sc <(ue o termo nie- ario a vida das jilanUis, c csias desenvolvem oxigenio, indis- pensa\el para a respiracao dos peixes. 0 fundo do aquarium sera ocrupado por algas, varechs, ou sargacas do mar, e outras plantas marinas, viveudo sobre um Icilo de areia, de roclias, e de seixos. Sobre esta ca- mada mineral lancam-se buzios, estrellas do mar, sibas, lodas as variedades d'actinias, ou anenionas marinbas, sertularias, iabros, jicquenos pteropodes, que as baleias conso- luein por millioes, sem faliar de uma grande Icgiao d'annelides, muito curiosas. Em summa, o aquarium marino, cstabele- cido por M. Costa no collegio de Franca, eonservara vivas grande nuniero d'espeeies zoologicas, que muito convcm estudar, e scr- vira com vantagcm para os ensaios de fecun- dnciio artilicial. A invencao dos aquaria marines e de re- ccnte data. Foi no jardim botanico de Lon- ilres. que pcia primeira vcz lorani estabelc- cidof. i) Juj^titttta^ JORiNAL SCIKINTIFKO K LlTTliltAIUO. DECLARAC^O. 0 Inditiito nSo c joriial do coiisellio supe- rior. Acctilaiido torn rendido agradecimeiito as peras olliciacs, que a sni-relaria do loiisc- Iho se digua de llie coniniuuicar, julj,'a fazer MTviro iiiipnrlaiite ao piihlico, daiido coiila do nioviiiu'iilo (la rcparlirao litleraria. Fiijue- >c asfini I'liieiideiido. 0 sr. A. V. dj Oastillio, lionrando a rrdac- Cao do jornal corn uui exemplar da iiilroduc- fio u nova edirao do sen livro, rogou que d'clla sc iizt'sse juizo siiiccro e franco. Assim 0 fez a rcdacyao, por salisfazcr o dcsejo do sr. Caslilho. Se hem, ou mal, nao somos nos conipelenles para o julgar. Ilospcitainos ri'li- gio.sanicntc o^ laclos; escuuimos a opiniao dos |)ovos; e procuramos saber qiiaulo oiliiial- menle con.>-ta\a iia rcparlirao compclcnle. Niio nos mara\i!lia a jioLmica lilteraria, qu(' sc prclendc susioniar jior occasiao do arligo alludido. .\dmiramos cada vez mais a iniaginaoao fccundissima do nosso pocla insi- gnc; mas naovcmos argumciilos, neni fados rcconliecidos c provados, (|Ui' no.s denio\am do juizo eniillido. itcspeilainos a opiniao do auclor do li\ro louvanios o amor da palcr- iiidade com que encarecc o seu mciliodo; raas clle sa!ie <|ue para convenccr nao basia 0 bom descjo , n-m nicsnio a conviccao pro- pria. Quando ns faclos da hrevidade e nicliio- ranienlo no ciisino no^ nio>trarcni a vcidadc, sercmos os |)rimeiros cm .iliai\ar-l!ic a calie- fa. I'or ora nas prowncias nao os vcmos; e na capital snnios apoia 'os pela Acadeniia das scicncias, pelas nuctoridadcs litlerarias, e pc- los profcssorcs. Nao ignoramos as cxigencias da inslruccSo primaria, confcssanios a ncccs- sidadc da rcforma : mas nao tcnios cm conla dc progrcsso loda a innuvacao; sahcnios que o progrcsso laniiicm csla cm relroccdcr na di'sordcm; c julgamos cem vezes mais peri- gosa a mania das innovacocs, do que o fana- lismo da immohilidadc. Se cslamos cm crro. nao c a as«errao graluila do sr. Caslilho, ja pH»la a fnrca ilc rc|iclida, que uns lia dc dci-cn- ganar. Aguarde die a sua senlcnca do sirpre- nio jury nacional, unico jui/. cumpcirnle. I'o- dcria ler-si; auclorisado com volos muilo rcspeilavcis, se liouvrra .snlimcitido o .scu mc- •hodo as cxposico.'s, c rongrc.ssos, cm (|uo a Vol. VI. JuLQO 1.'- inslruc^ao piiinaria icm cncontrado no cslran- geiro logar dislinclo. T;ilvcz llic fo.sse mais ulil esse niodo dc proccder, do que repelir por e^c^iplo o ([uc sempre lem dido, scm que acresccnle unia idea nova. Deixe-nos o sr. Caslilho ir mais de vagar cm materia de inslruccao c educafSo piiblica. 0 vapor nao pode s'r applicado a tudo: c lalvcz chcgucnios niai> depressa ao ponlo que lodus nos niiramo.-. Os HH. IKSTITITO DE COIMBRA. 0 scguinte discurso foi rctitado cm sessSo piiblica do Instiluto, no dia 10 de niaio de 18iiC; e ainda que alguin Umlo alterado ua forma, o scu |iensamcnlo, argumenlos, e de- dnccao liisiorica , conscrva-sc como alii foi rccilado. Nao c mais do (|ue uraa rapida, c ligcira visla sobrc a littcralura dos scculos que pa^- sarani; c ncm nic^nii) as diniensOes d'estc pcriodico comportavam mais largo, e delido trahalho sohre siniilliante objedo. Sirva die ao nicnos di; nucleo, ao qual possam mais hahcis pcnnas, aggregar oulras rci-ordacocs, c xdlar as diividas a (6rca do prcgraninia que 'nelle se dcsinvolvc. pois so jiara lal liiu aqui vai ser cstanipadu. DISCURSO Siil/ic 0 iviuero da lilleralura entre nos e seu desinvulcimcnio. I. Entre as questScs litlerarias que devem mais prender a nossa attenfao peio intcrcsse que causa o scu conlucimcnlo e desinvolucao, mostrando-nos o progrcsso do cstudo , c o aperfcicoamcnlo da sociedade civil, sera, de ccrto, a(|uclla que olTcrccer ao nosso juizo, e conlcmplarao. qual tern sido. c e adualmcnte, 0 estado da liltcratura entre nos dcsdc os prio- cipios da nronarchia. ^)rial era a linguageni doniiriai;le 'naquclles scculos? Que progres- so< fez. e por que phages torn p.issado a sua rulliiraV Marcjra ainda a\antc, ou declina? Todus cstas pcrguutaa, e outran mais que •1867. NcH. 7. 74 por venliira se poileni lazcr, olTerecem aos ollios (ia analyse uin campo lao vaslo, urn lao dilalailo horisonte, que inal poile o pensa- lueiilo al)rangel-o, e niuilo niciios a vista es- tender-sc cm sua vasta circiinifeicncia. seiii que o ohservador, siniilhaiUe ao \iajaiile, perdido no nieio dos aieacs descitos , nao sossohre, coiilemplaiido o cspafo inlinilo que tem a atravessar, para clu-gar ao ponlo cm que deve roncluir a sua Jornada. Allialiido por csle pcnsamento, e desejando disculir em publico este programma, cntendera o Insli- lulo ser 0 objccto digno dos seus desvcios, c coino tal 0 dera para discussao em uma das sessOcs do anno passado. Nao leve suciesso algum este pensaniento ; e pondo de parte algunssocios(ine fallaram genericamente sohre ellc, ningueni seguiu a sua discussao, e a causa (icando desaniparada, tcve o dcslino, que de ordinario aconipanlia as mais discrelas inlenfocs, e as mais acertadas iembrancas que d ordinario se mallogram, e nao tern anda- inenlo, Iniilando, on quercndo imilar os Ximenes, y Masarins c Pitts, a maior parte dos nossos litteratos metlendo-se no vaslo campo da po- litica, deixam o da litteratura ; e esta, entrcgue aos seus proprios rccursos, niarcha vagarosa no scu caminbo arido e diQicil, em quanto aquelles ostentando sua loucania tractam so- niente de seus intcrcsses individuaes. Cbeio de indignacao e zang'a a vista de tanlos des- varios, e no meio da corrupcao da antiga Roma, cxciamava o satirico Juvenal — Quem ha por abi tao de ferro, e tao pacieute, que possa conter-se, a vista de tantas torpezas e de tao grandes desatinos? — Deixemos pois o campo abcrto a politica, para por elle corre- rem as soltas os seus iniciados, e occupcmo- nos conio socicdade litteraria, cuja boa fama tiesejamos, em objecto quo lenlia mais pro- xinia relacao com a ardua e diflicil republica das lettras. Se 0 engrandecimento da litteratura nos inais cultos seculos da antiga Roma, marca a 6pocha do seu maior briihantismo, poder c gloria ; na sua decadencia observamos o seu progressive enfraquecimento, physico e intel- lectual, ate vir desnioronar-se aquelle collosso nas maos dos harbaros, nao enxcrgando ja suas ruinas que mal se podem divisar com o arrebatado e rapido volver dos seculos. Per- suadidos, como estanios, de que a prosperidade c grandeza das nacoes esta na razao directa do .scu desinvolvimenio moral, e aperfeicoamcnto intellectual, vorcmos e notaremos como entre nos comeca a litteratura, como se vai dcsin- volvendo, como marcba, ou como descahe a proporcao que o rcino se dilata , que sua gloria se augmenta, ou fica escurecida com as phases e vicissitudes inseparaveis dos fastos das nacoes. Atlit'nas salvou-se do c^qucrimcnlo, a que 0 destioo condemna as nhras da liumanidadc, polos monumentos (|ue d'ella nos deivaram, Tliemistocles e Pbocion, pelas arnias; Platao e .Vristotelcs, pela litteratura ; Escliiiies e De- mosthenes, pcla cloiiucncia; Tliucidides, Ile- rn.iolo, c 0 grande Plutarclio, pela bistoria e annaes; llomero, Piiularo e Anacrconte pclos seus cantos harmoniosos e cbeios de docura. A memoria gloriosa d'essa nltiva e orgu- lliosa ciilade, dominadora do mundo, ainda gira na pressurosa carreira dos seculos, por- que a lizeram grande pelas arn)as os Fabios, ScipiOes, Pompeos, e Marios : pelas lettras Tito Li\io com sua bistoria, transmiiiindo-nos sens feitos gloriosos, que dcvem durar tanlo, quanto durar o mundo : Cicero por sua elo- quencia niovendo o auditorio a I'avor ou con- tra urn palido e enliado reu, ja ijuando decla- ma contra uni Verres, ou conjurado Catilina, ja quando o sensibilisa a fa\or de uni Quinlo Ligario, ou de um M. Milao: Estacio, Yir- gilio, Iloracio, Lucrecio, e o terno Ovidio, nas harmoniosas cancoes, e sonoras frautas. muito superiores as iromhetas grcgas. (Juem se recordaria hoje de taes imperios, e de lao grandes feitos, se as accOes valorosas de seus heroes, naotivesseni sido transmitidas a mais rcmota posteridade pelos seus discretes histo- riadores e facundissimos philosophos? As antigas armadas gregas, e maeedonias, nao transpozeram jamais as columnas d'Der- cules, nem as mortil'eras , e devastadoras aguias roraanas poderam nunca passar os tro- pico<. Este facto immortal, por altos destinos da providencia, estava reservado aos porlu- guezes, que sulcando os mares era todas as direccOes, ahrirara a Europa assombrada ca- minhos desconbecidos, trazendo-nos de tao remotos climas as ricas preciosidades, e os linissimos perfumes do Oriente. E quem nos Iransmiltiria o deposito de tanta gloria, se nao fosse a penna eloi|uente de nossos hostoriado- res, e a lira harmoniosa de nossos poetas? Grande intervallo de seculos tinha i)assado sem que aos systemas, ja conhecidos, de Pla- tao e Aristoteles, outros novamente inven- tados succedessem, e apenas os philosophos d'estas escholas Ihes faziam coramenlarios, e analyses conforme seus conbocimentos. Por- tirio, Jamblico, Plolinoe outros, fundaramsuas escholas sobre esles mesmos systemas, segun- do suas tbeorias, com maior ou nienor mo- dilicacao, ate a dominacao dos godos. Para desgraca, e flagello da humanidade, desceu la d'essas geladas e frias rcgioes liypcrboreas nm Alarico, um Genserico, um Atlila, e um Totila, que correndo a redondeza da terra, a deixam em um lago de sangue, e seus mo- numentos sao totalmento destruidos. As artes e as sciencias desapparecem, e as trevas da ignorancia condensam-se por toda ella. Se a consecutiva dominacao dos arabes continiia a mcsma barbaridade, e a mesma ignoran- 75 cia, ainda a elles somos devedorcs de grande servifo a litteratura. Avcrroes cAvicena, me- dicos arahes, salvaEii da devaslarao dosgodos OS prcciosos cscriplos dos gregos ; e o priinei- ro d'cslcs junclaiido cm Marrocos e suas visi- nliancas grandu caljcdal de livros, saiva-nos do aiiiiiiiuilaiiK'nto em que cstavam as pre- ciosas decadas deTiln Livio, ainda ha poiicos annos descolierlas em Fez, e que lioje com- plelani a sua hisloria : assim sc salvassem tambem os rragmeiilcs, que ainda i'allani do I'ximio orador romano, que Iractam da re- publica , cuja apieeiarao podereinos fazer , pelo (|ue d'elies sc encontra em Euzeliio c Laclancio I L'nia notavel ciicumslancia sc da cm lodos cslcs successes; ponjue ao mesnio passo que a invasao dos Ijarharos no seculo V, I'az fugir do occidenle da Europa as artes e as sciencias para o orienle ; dez seculos dc- pois , oulra invasao de barbaros em Cons- tantinoi)la, as faz voltar cm senlido contra- rio, ao logar d'onde primeiro tinbam fugido, com a tomada da mesraa cidade no seculo XV : e do mesmo modo que o califa Omar faz lancar o logo a I'aniosa bibliolbeca d'Ale- xandria no seculo VII, privando o genero liumano.dos preciosos Ihcsouios 'nella de- positados ; outio califa de Bagdad , Aaron Alraschid, faz copiar era Conslanlinopla os nielhores livros c preciosos manuscriptos da sua livraria. Gloria que com jaclancia pode arrogar-se, em desforra da eslupida perver- sidade do de Alexandria ! Mas se aos dominadores arabcs ainda e dc- vedora a litleralura de alguns services por elles preslados, a sua conlinuacao, pouco a pouco a I'oi destruiudo. 0 seculo XI nada ollerecc de notavel, c apenas percebemos um raio de luz, penelrando alravez das espessas irevas que cobriam toda a Europa. A insti- luicao da cavallaria I'az o nucleo d'onde co- nieca a querer apparecer a civilisacao. Os Iro- vadores, cxallando as facanbas, e galantarias de sens heroes, segueni e acompanbam este periodo de tempo ate ao novo apparecimenlo das leltras, cpocha do sen rcnascimcnlo, que conieca a raiar no seculo XIV, e d'elle sao inseparaveis. A Toscana e a primeira que nos da a amostra. 0 Dante apparecc: Petrarcba e Boeace seguem-se logo, c as bellas artes reap- parecem com Cimabue c Gioto, tornando-se os mestres da escbola llorentina, cm que se im- mortal isa ram depois os pinceis de Miguel An- gclo, Correggio, Gucrcini e outros. Mas qual era o eslado liltcrario do nosso reino 'nesses trez seculos decorridos depois da gloriosa ac- clamacao do I AITonso? Corria jii o meado do seculo onze, quando D. Fernando de Castclla lomou Coimbra aos mouros. Esta cidade que, com algunias outras da Beira Alta e as terras d'alem Douro, fazia parte da provincia do Galliza, foi logo gover- nada por D Sisnando, que, sendo lidalgo castelbano, lomou o tilulo de conde, e gover- nou ate sua raorte, Icudo depois por succes- sor 0 conde I). Itayniundo, casado com D. Urraca lilba d'AIToii^o VI, c que conservou so por um anno o governo, o (|ual passou para 0 londe U. Henrique, casado com a outra lilba do mesmo rei, por nome D. Tbereza, de cujo commcrcio nasceu Afl'onso Ilcnriques, Esla provincia fazendo parte da de Galliza, rc- conbeceu durante a vida do sobrcdicto coude, 0 dominio e senborio dos reis de Caslella ', ate que D. Afl'onso Ilcnriques se tornou d'ella independente pelo seu csforco, auxiliado com 0 do excrcito, que cntao combatia os ara- bes. Os prineipios pois do reino de Portugal, datam d'csta epocha em diantc. Procurar durante o periodo dos seus goveruadores o estado da litteratura e das artes na Lusitania coisa diflicil sera, por nao termos memorias, nem documentos , que de tal objecto nos deem noticias. As contendas suscitadas entre OS lilbos de D. Fernando acerca da succes- sao dos seus eslados, junctas aos porfiados combates, que era forcoso sustentar com os mouros, senborcs da maior parte do reino, obstaram a que se escrcvcsseni memorias, ou se conservassem as que por ventura se escreveram 'neste intervallo; e rcduzidos s6- mente a conjecturas, poderemos apenas ajuizar qual seria a linguagcm vulgar 'naquclla era. Sc combinarmos os documentos do tempo d'estc principc, e os do seculo seguinte, ve- remos lacilmente, que a linguagcm usada era 0 latim barbaro, misturado com palavras arabes, irancezas c castelbanas, como se de- prehende dos documenlos que ainda se con- servam em nos.-os archives, e de que nos da nolicia etymologica com Ducange, o nosso in- cansavel, e douto aucler do Elucidarie, Fr. Joaquim de Sancla Ilosa de Viterbo. Nao cram so os documentos de doacoes, compras, e teslamentos ; os mesmus I'oraes dados as terras, c niunicipios ; as mesmas lembrancas e apontamentos particniares, acham-se todos escriptos na mesma barbara latinidade e lin- guagcm rude d'aqnelle tempo, ate a aurora e comeco da nossa lingua vulgar ; o que me faz acreditar, que nem o latim, nem nenbuma das outras linguas, d'onde a portugucza hoje lira a sua etymologia, era enlao a dominanle, mas 0 aggregado d'ellas formava a linguagem. e a lecucao d'aquelle tempo, adocando-se, pouco a pouco perdendo o seu barbarismo, ate cbcgar a formar a abiindancia de [dirases, a riqueza d'cxpressao, a elegancia do cstylo, e a cuphonia das palavras que eucontramos nos nossos peetas e prosadores dos seculos mais eultos da nossa lilteratura. D'aqui pedemos concluir que os piimeiros trez seculos damonarchia foram absolutaraeiile ' Veja-se a memoria sobre o mosteiio da V8carii;a. nas Mem da Academia Real dai Sciencias de Lisbaa. P. I.' 76 nullos, cm grnmraatica portugucza, e fallos intciriimente de toda a sua linguagem, sciii po- dernio? salier, iiem sequcr apreciar a sua locu- oao cm eras lao afaslailas, porqiic so do scculo XV por dianle se tomeram a iiolar os prinioi- ros ludiincnlos da lingua ainda rude, e iiuli- (jesla. Para com cfleilo apreciaimos ocstylo c linguagem d'aqueilc scculo bas-tara abriiinosa chronica do Cundestabre (1). Nuno Alvaros l*c- reira) ha poucos annos imprc.> scus ouvinlcs, Tudo (|uanto havia de bom nos mais cullos estados da Europa, foi conhc- cido no rcino, c o progresso dos esludos cnlrc nos foi lal, que muito antes de ser iiaqucll.i conliecido o vasto imperio de Flora, c Pomonii, por nao ter apparecido ainda nas margens du Sena um Tournel'ort, nem nas do Mincio nm Zinani , nem ter aindi tambeni saido dos gelos da Escandiuavia um Linneu para d'elle nos darem noticias , ja pclas margens do Ganges passeava um Garcia da Ilorta, en- viando-nos d'aquellas longincjuas paragens exoniplares das mais raras e descouhecidas plantas. A par dos Thucidides, c Livios, appa- reciani os Barros, Osorios, e Coulos; c primei- ro que 0 gram Tasso immortalisasse os seus Cruzados na lomada de Jerusalem , ja nas margens do Tcjo se ouviani os sons belicosos da ciinora luha de CamOes, os conceilos c harmonias de Sa Miranda : e se os eccos das monlanhas de Pausilipo rcpetiam as melodias da ilaula de Sanazaro, lanibem as margens do Liz, e do Mondcgo escutavam com allen- cao OS sons queixosos c tristcs, que 'ncllas sollava Loho em suas magoadas eudcixas. Nao so sabiamos os progrcssos, ([ue as lel- trr.s faziam nos paizes conhecidos, mas a todos sobrepujavamos. As chronicas portuguezas que coniecaram a ver a luz do dia , no scculo XVI e principios do scguintc, cram com avidez procuradas, e lidas nas cortes da Europa. As viagens, e roleiros das navcgacOes da India, erani Iraduzidas nas linguas estranhas, e [lu- blicadas 'nessas ficavam ao alcance dc todus, para mais lardc, por cllas guiados, muitos avcnlureiros nos usurparem os dircilos, que a prioridade dos descobrimenlos nosdava sohre miiilos rcinos e dilTcrentes paizcs. Com vento galerno e brando sulcavamos nao so os mares deseonhecidos, senao tambcm os parcels cus- losos das scicncias e das artes, que lodos se nos lornaram faccis, vencidas as difficuldades. Conio ininiigosda litteratura, c destruidores do bora gosto, tem hoje a moda, 'nestc nosso seculo corrompido, taxado a congregacao dos padres jesuitas, uma d'a(|nellas (jue grande- raenle eoncorreu para o augmento das artcs, progresso da civilisacao, raelhoramento da in- dustria, e conbecimento das scicncias. .Mais alto do que cslao as vagas declamacoes de seus apostados iuimigos, fallam as obras que ' Um ftislincto |irofessor d'esia Universiilade, o Dr. Antonio llonoralo, que foi lente jubilado de Malhema- lica, e director do Observalorio a,-lronomico, nos coiilou c,l« facto, que por si so I'xidica b(;;u o wludn d'uulto 77 d'elles tcmos, c hoiiiliK ..m Ob faotos qiu; d ellcs sabemos. A civilisarao por mcio das missOes nas vaslas rcgioes dasduas Indias, o coiilieci- nienlo especial dos diflercnles idionias dos gcnlios, a que estes regiilarcs sc dedicavani; 0 cxeinpio que llies davain no sou pnile, c compostiira ; a hombridade e Ihancza, com que se enipregavam nos mais rudes trabalhos, e no penoso excrciciu do ensiiio e calecliese, conquislou a coroa portugucza mais cstados, c altraliiu ao sen doiiiinio mais genie, do que as armadas c feilos gloriosos que lanto dislin- guiram os Almeida?, Castros, Albuquerques e outros. Asarles, as sciencias, ea iilleralura, foram d'elles lao conhccidas que com aloutcza podcrenins alliiinar que tudo quanlo ha de bom Dol'arnaso, c quanlo encciiam os vaslos dominios de Minerva, se enconira nos clauslros d'esles regulares. Paicce que as musis, e as sciencias se acolheram dehaixo de seus um- braes, para d'alli sollarem seus voos pelas vastas regiOes do mundo. Eu nao quero julgal-os pcio lado da polilica, nem aprecial-os pela maior ou nicnor prepon- deraniia, que pnderaiu adquirir no animo, e conselho dos reis. Todos desejam engolfar-se 'neste pegao, aonde os leva a natural ambi- $ao, e se dies como snciedade o conscguiram, nada mais fizeram 'naquclle tempo, que nao fosse boje seguido (como a expericncia nos mosira) pelas diversas sociedades modernas, que se tern formado nos difl'erentes eslados do universo. ,A julgal-os polo lado iitterario, por onde dies deveni ser aqui aprcciados, direi afouta- mente, que 'ndlcs se enconira ludo quanto ha de bom e agradavd, nao so nas artes e nas sciencias didacticas, scnao tainbem na poesia, e nos diversos poennis sobrc os variados obje- ctos da nalurcza, cheios de inleresse e ele- gancia, de tal niodo (lue beni Ihes podcrenios applicar aquelle verso d'Uoracio: n jVi7 inlenlutum nostri liquere poelw. » Para se fazer a sua apologia, baslara ler a bulla da sua exlinccao, em que o pontilice guiado pelas ideas do seculo, dcpois de alle- gar com vasta erudicao os seus servicos, os extingue por motivos politicos, dcixando dc- balde a seus successores a gloria da sua rc- babilitaciio no prcsente seculo. Nao comporlam as dimcnsOes d'este discurso uma longa cnumeracao, ou mais largo caialogo dos escriptores d'esla sociedadc, que escreve- ram em niethodos didascalicos, ou canlaram em aprimorados versos tetinos, e d'oulras lin- guas, OS diversos objcclos da arte, e os varia- .g dos phenomenos da naturezn ; todavia para nao ddxar sem prova esta assercao, lemlirarei alguns, que muilo honrani o Parnasn. 0 je- tuita Siynorelli cantou os leares de seda, em »ersos tao lindos e agrndaveis como sac as Biais Unas cabaia* da China, e os wais niacics selins do .Ma(a(>. (' jeuiiia Baroti. emulo e com[)etidor de seu coucidadilo Arioslo, natural de Ferrara, niuito aniigo, e osiimado de Gan- gandi escreveu urn poema ([uc inlitulou, — a pliij.sirii — liio lindo e variado, como sao as cx- pcriencias que no? levdani os phenomenos da natureza : o iiadre Suceti compoz oulro sobre o iris, e outro sobre as auroras borcaes, tao vis- tosos e aprasiveis couio sao os heroes que elle cantou: o padre Brumoi, auctor da grande obra intilulada — o theatre dos gregos — com- poz outro sobre o vidro, lao ddicado e interes- sante como sao os variados objeclos, com que d'elle se adornam os mais sumptuososc elegan- tes saloes : nao ha vera enredo mais conipli- cado lalvez em incidentes, e accidentes, do que OS que 'nelle se conlem. E um dos mais formosos do Parnaso latino, e d'dic nos diz um fabio contemporanco, que se tivera pa- ciencia para copiar um livro, niio deixara de 0 verier em linguagem, o que pena foi nao 0 fazer! Outro jesuila cbamado Lagomarsini, cantou as /o)(/c$ em versos latinos tao elegan- tes, puros, e limjjidos, como sao as cristafinas aguas de Caslalia, ou Blandusia que tanlo amava Iloracio. D'elle, nos diz o insigne la- linisla Fticciolati, que se a lingua de Virgilio se perdera, so csle era suflicienle a indemni- zar-nos da falta do cantor de Mantua. Modello de eloquencia na prosa, e de ele- gancia de elocucao, dillicilmente enconlrare- nios quern alcancc o nosso fculre Vieira. Subtil no cngenho, delcitavd nas descripcoes, escrupuloso na propricdade dos termos, mo- derado, e lalvez tiraido no emprego do neo- loijismo, e um dos mais abalisados, e puros (,lassicos que pndemos contar cntre os que com elle liombream, sendo um daquclles de quern falla o douto bispo de Viseu, o sr. Lobo, e diz, na memoria que sobre elle escre- veu, que se a lingua porlugucza se perdesse por qualquer causa, 'ndle adiaramos quanlo era necessario para a rcnovar: e sobre a eloquencia do pulpito o abbade Raynal, fallan- do, especilicadamente sobre o sermao contra as arnias de Hollanda, por elle pregado na cidade da Bahia, depois de analysar a sua elo(|uencia, o lino e desusado modo de argu- menlar, nao pode resistir ao desejo de dar d'elle uma amostra, Iraduzindo largas tiradas que offercce ao leilor na sua historia philoso- phica e politica das duas Indias. Elogio esie, lanto mais insuspeito, quanlo e feilo por pes- soa pouco afeicoada iiquella ordem. Oulros mais exemplos so podiam allegar do« chronisias, do mesmo seculo XYII, e do pro- prio historiador de S. Domingos, que deixo de nomear por serem todos bem conbecidos, resul- tando do que deixo dido, que em todo csle mesmo seculo, longe de vermes decadencia na Iilleralura. ao cnntrario a vcmos dorescentr, clicia de \ico e \erdor. Ueliubiidos com a guerra di: Casldla. pda 78 sabida e plevafjo ao Ihroiio da seronissima casa dc Braganca, e novaaientc cnvolvidos na giierra da succcssao de llespanlia contra Liiiz XIV, lomando iiifelizmeiue nella partu •■OHIO aii\iliadores dos alliados contra as pcr- toni-oes do Duque d'Anjou, a nossa litteralura sc resenliu de lao viulcnlo estado. Todos conlii'cem o antagonismo que exisle enlre Marte, e Minerva ; e a voz da gucrra as scieiicias e as musas fogem espavoridas ao estrondo das armas, e ao troar da artilharia: foi 0 que entre nos acontcceu; os esliulos cessaram, a applicacao as sciencias esfriou; e a nova geiacao, que se seguiu depois da paz d'Ulrecht, viu coroar seus esforcos litterarios com a inslituicao da Academia Heal de Uisto- ria nos tempos d'elrei D. Joao V, com os favores e auxilios, prestados por tao magna- ninio monarclui. As memorias historicas, e OS trahallios litterarios de tao assignaiados academicos sao um monumento levantado a lilleralnra do seculo XVIII. A geographia, a liistoria, a philgsopiiia, e a critica marcliani conjunctamente exlreman- do 0 verdadeiro do falso, e immortalisando o nome dos seus associados aonde se encontram entre os da niais alia aristocracia os nomes mais ])aixos do povo, dignos por certo de grandes lionras. Entre os Penalvas, Assecas, e oulros, vemos os Barbosas, Ferreiras, c Sousas, dando conta em sessao piibJica de seus irabalbos litterarios, promovendo uns e outros 0 brillianlismo da Egreja, e a gloria do Estado; e a pezar de nao ser o seu cstilo tao elegante e lluente, conio se nota no dos classicos do seculo XVI e XVII, acba-se com- tudo 'naquellas memorias grande erudirao, vastos conliecimentos de seus auctores, e uma crilica muito apurada, e ludo nos faz crcr, que nem a lilteratura entre nos estava aban- ilonada, uem os sens conhecimenlos ainda linham descaido , antes pelo contrario iam marcbando na eslrada do progresso intelle- ctual durante o reinado do niesmo rci, conio claramente sc comprova pelos monumentos d'aquella epocba, cscriplos em lalim e por- tuguez, e que se encontram nas suas eru- ditas memorias. A subsequenie instituicao da Arcadia, onde flore.sceram lantosgenios inspirados por Apollo, fez atlrabir aqueile recinlo as musas, que an- davam dispersas, para ornarcm com as coroas de bera, a fronte vicosa dos Elpinos, Filintos, Mclponicnes, e d'outros mais, que tao dislin- ctos se fizeram 'naquclla associacao, onde vemos bombrcar a par dos Nascinienlos (Fran- cisco Manuel), Bocages, llibeiro dos Sanctos, e outros, a excellente cantora, e eximia tradu- ctora paraphrastica do psalterio, a senhora Oeynbaiisen, com o nome arcade de Alcipe. Temos ale'gora visto, que pondo a parte o estilo conceituoso, a jiropriedade das pala- vras, a doquencia da diccao e pureza da linguagcm, em nada mais somn^ vcncuio,« pelos cs(-riptores do seculo XVI, boje conhc- cidos pelo nome de (juinhentistas : vejamos agora qual c o estado da nossa lilteratura nos tins do passado, e no presente seculo. CHIMICA. 1NTF,IIKSS\>TES APPLICACOES DO SII.ICATO DE I'OTASSA. M. Kulmann, de Lille, apresenlou, hn pouco, a academia das sciencias de Paris, um trabalho de grande alcance e inipnrtancia. em ([uc niostra a possibilidato e, por iima snh- .-laticia inalleravel por toilos ns agLMilcs clii- inicos ate lioje conliecidos, (cm a vaiilagem lie iiao scr alarada prio cliloro e polos aci- clos, circumslancia iiuiito iiiiporlanle na tin- liiraria das chilas. V, dcsporar, (jiie os sili- lalos alkaliiios possaiii laniljcm applioar-sc iililiiionle na liiiluraria dos lecidos d'algo- dao, la, c seda. 0 emprcgo do silicato dc potassa na pin- liira, tanlo a lempeni como a oleo, c a possi- hilidadc do sul>slituir por isto novo agcnlc 0 oico e a essencia de U'rebcnlhina, produ- clos dispendiosos e d'incomnioda nianipiila- lacao, ponstituc um dos ohjedis niais impor- lanles do Iraliallio aprcscnlado por M. Kul- niaiin a acadcniia das scieju-ias. Dopnis dc diiiiir as lintas na agin, IriUi- ram-so com uma dissoliirao conccntrada de silicalo de potassa, c applicain-se com iini pincel por camadas succcssivas. 0 sal, endii- rcrcndo pola exposicao ao ar, substilui! com \aiilagoni o oleo, que gcralnicnte s'eiuprega para diluir as tintas, e pintar tectos e pare- des dos editicios. Eis em rcsumo as inleressantcs drscoherlas dc M. Kulniann sobre as applicavoes do sili- cato de potassa. s. de C. DAS IRMAS DA CARIDADE. Conliiiuado de [>a^. 57. XXVII. l)e?de 18:io que possuinios as casa.i de asy- In da infancia desvulida. S. M. I. a senliora Uuqucza de Braganca, coadjuvada pnr oulras caritalivas bcmfeitoras, principalmenle da pri- nieira e mais antiga nohroza da capital, e o apoio, a esperanfa, e a lida d'estcs e>tabe- lecimentos. A nao ser a coiucssao, difilcil c tardia- mciite oblida, do uso d'alguni pe(|iicno edi- ticio, 0 Estado nada tein feito por elles! A difliculdade d'obter mestras, de as sub- >liluir, no impodiniento das proMdas, e de novanicnle provcr as quemorrcm, ou abaudo- nam, ou nao serveni, e immensa. Cada nova nomcacao iniporta uma sorte mui arriscada, um forcoso noviciado da mes- tra, islo 0, um grande retrocesso no adian- lamcnto dos alumnos, e na boa geroncia da casa . E indispi'n>avcl, para que sc consoliile esta exceltenle luudarao, que nosvenham de I'lau- i;a as irnias de caridadc, — mestras consu- niadas, e cariulio^as niaes dos meninos des- validos. RodM d'eapnxlu'', — njllcijiox dorpliao.i, — asylos de mendicidade. — liospilaes de lodo o geiiero, cade'as ' , Iwiio e servido |)or mercena- rios, a quern nao doe, em legra, o nial do cstabelecimento, e o future dos infelizes, entregues temporariamenle ao sou cuidado. Esiao em quanlo Ihes laz conta, ou os nao despedem. Como em Franfa c 'noutros paizcs, podem em Portugal as servas dos pobres, com a sua perseverante c tenia caridadc de todos os in- stanles, jior vocacao c obrigacao, scm intuito 'iioulro ganho (|ue nao scja o do ecu, servil-os, socorrel-os, cural-os, c rcgeneral-os. Cada um d'esles estabelecimentos, como as junctas de caridadc (bureaux de bienfaiaance) de Franca, c as adminislracoes dos liospicios, pode contractar com as irmas o scrvico c a cconomia do estabeleciniento, vindo a scr cada um d'ellcs uma pequena casa das mesmas, sob a inspecfao c subordinacao pHramentc temporal d aquelles a quem por lei ou com- promisso bouvcr dc pertencer; e preslando estes iis mesmas irmiis, ou mestras, ou cnfer- meiras, ou visiladoras dos poltrcs, e distri- biiiddras de soccorros, os nieios materiacs de que precisam para viver. Por nao escrevermos por agora um cstirado livro, remettoremos o leitor para o Diction- nnire general d'administratinn, publie sur la direction de Mr. A. Blanche, I'aris 1846, verbis — Bureau dc bienfaisance, — especial- menle no n.° YI, a pag. 171 ; — Hospices, — e — Culle, n.° Y — congrvgulions religieuses, etc. /l;)(/)("', ('ours de la legislation civile-eccle- siastiijuc, Paris, 1848 — congregation. E se as circumstancias o exigirem, 'noutra occasiao analysarenios mais d'cspaco, e com mais profundo conbecimcnlo da materia, esta importanle legislacao franceza, que devera ser 0 niodelo das providencias a tomar para a regeneracao dos nossos estabelecimentos pios, com 0 auxilin e emprego das (ilhas de S. Vicente de Paulo. A mesma Augusta Senhora Duqueza de Braganca, cujo adorado nome foi destinado pela provideni'ia para representar em todas as bellas obras de caridadc do seu tempo ' S. Vicente ile I*aulo occnpoii-se com sinijular afTe- clo dos prezos e I'orijados. Nas cartas de i\I."'^ Desves (La s eur de charilr) ve-se qlie as irnias (.-ervem a jirisao do» for^ados (l)agiie) ^ial;;iimas partes. As mesmas, on ou- tras congregaqoes lio.'^pitaleiras, enconlram-se na casa de repressao de S. Lazaru, e snas admiraveis dcpendenciai era Paris (tM."" (iouroud, Ulilite d'une voyage d'agri- meiit a Paris). S. Ex.' o sr. Mnrqncz de Sonsa-Hol.«lein, dignissimi) filho do mais esctarecidj p^e, e da mais virtnosa mae, K ciijas singnlaies tpialidades o tern feito lao respeiladu como estimado por todos, na Uiiiversidade , ipie este anno o perde snudosa, teve a bondade d.- nos dizer qno enlrou, na Belgica. 'nnma cadea de mnltleres, servida exclnsivamente pelas irmSs da caridade. Se a cadra pode regeiierar o liomem, reformada ella devidamente, nAo o seni seniiu pela mullier calhulicu. Uamtt, s pi(?dosos csforcos, oulras rpspeitavi'is corpm-aroes, sogundo se tcm pul)rKado pela imprensa periodica, re- (|uererani eobtiveram licenca rcgia para fazor enlrar nos sous eslaljoliTimuntos as irmas da caridade ; taes foram a dircccao do bospital de S. Jose cm Lisboa, ea Ordcm Icrccira doPorlo. Quaes(iuer (|ue bajam .-idn as prevencOes, susciladas contra o cx-niini>tro das justicas, o sr Ferrer, por cffeito das niedidas que pro- poz, on fez decretar relalivanientc a instruc- eao e aos bens ecclcsiasticos, e as congrcga- cocs do scxo fcminino, tcmos por cerlo, c glo- riamo-nos de o reconbecer, que sera para S. Ex.* de nao pcquena honra o icr rcfercndado OS decrelos da admissao das irmas francezas. Este passo sera fundamental, se nao nos cega 0 amor d'aquelle insiitnto, para a educa- fiio e niorigeracao das novas geraeoes do povo, unica esporanra solida do fnturo, ale niesnio considerado pelo lado politico. «A pnmeira pedra do edificio da libcrdade e a virlude : » — (dissc-o urn malvado, mas disse a verdade, e contra si fallou, o celebre padre Sieves) e 0 ensino e as inspiracOes da virtnde sao o principal objecto da accao inccssante d;i irnia da caridade sobre o polire povo, dcsde a casa de berco (a neclie, ea roda dos expostos) ate a cabcccira do leito dos moribundos, nos hos- pilacs. A mullier e sempre o coracao da faniilia, e nao poucas vezes a sua cabeca. 0 niundo e cullo on barbaro, conforme o logar que a niuii.er occiipa na sociedade. Di- gaui-no 0 cbristianismo, e o nialiomelisnio. A prinu'ira cdutarao, a iiase do alicerce moral e social, c toda maternal. Rcgenerae a mulher, inspirae-llie a dignidaue (]ue e fructo da honra e da virtudc, sanctilicareis e rcge- nerarcis a faniilia, e por ella o Estadn. A irnia da caridade, no >eu nicster d'educa- dora, apenas so occupa do iiomem, (nem outra cousa era natural) ou no berco, ou na pri- meira infaucia. A menina, c a adulta, sao os principaes e niais conslantes objeclos da sua sollicilude, e das suas licOes, nas escbolas c casas de lavor, — nas associacoes de patroci- nio das jovens opera rias, — nos estabelecimen- los de rcgeneracao moral das que aspiram a craenda da vida, — nas prisOes, etc. Venham ellas pois; e, regenerando a mulher portugueza, regencrem a faniilia, sanctiliciucm 0 bomcm, a salvem a nacao. Ilorrivel e o quadro dos crimes monstruosos, inandilos. bestiacs, que a imprensa periodica todos os dias registra. E porque nao succedcria assim ? quern ha ahi que instrua o |)ovo?!.. Os j)re- lados nas suas visitas, nas suas praclicas da cadeira da verdade?. . . Os parodies, catequisando, sendo paes c niestres aniorosos, principaimenle dos pobres e dos meninos? . . . .Mguns auxiliares do clero secular, mis- sionando, doutrinando, edilicando pela pni- ciica dos conselbos evangelicos? . . . Nao ousamos dar a resposta. No provimento das escbolas d'um e d'ouliii sexo, por via de mercenarios, todos sabein as cnornies dilliculdades que a auctoridade en- contra. Os sens, alias exccllentes regulamen- tos, principalmente no que loca a doutrinacao e moralisa(;ao, ilcam em papcl, ate mesmo de- baixo dos ollios dos (|ue sabiamente os trans- creverani d'outros paizes. Quando a impuden- cia toca OS limiles do mais desaforado escan- dalo, c forca recorrer a processes que lem de- longas, e bao-de ser julgados por honicus , muitas vezes dominados pelos an'ectos. Uma instituicao, eminentemente sancla , que se preza de o ser, e sobre a qual o niundo cullo e incullo emprcga toda a attencao, seni que possa enxergar-lbe, nos arniinbos da pu- reza, a mais leve manclia; — uma instituicao, que emprega no ensino e na educaciio as licoes da ex|ieriencia de todos os povos, aonde a cxerce com admiracao e applauso; — uma in- stituicao, que se recruta em todas as classes, desde as familias dos principes ate as dos pobres ojiorarios, e que seamestra no proprio centre de toda a civilisacao; — offerecc-ves, a vos, senhorcs, que lendes e mando e a superior inspeccao das escbolas, tudo o que baveis mister para bem fundamenlardes ocdi- licio de toda a initruccao e educacao de honiem e da mulber — nos asylos da infancia; — e a ulterior da niesnia mulber, desde os asylos ate a edade adulla. Grande e a acquisicao ! Nao permitla a providencia que fechcis os olhos e os ouvidus a voz de Deus, que vos chinia hoje pelas ne- cessidades do povo, e pelo arrastamenlo das circumslancias da epocha. Para os varoes, a Franca e ontros paizes do occidente e do levante, inostram-vos os — Jnnnos das escliohis chiisias. Cremos que a sua bora nao tardara lam- bem. Concorreremos eguahnenle pela fazer adiantar, quanto nos for possivel, com o pobre feudo de nossos eseriptos , mas 'noutra oc- casiao. Alguns jornacs niostram-se senlidos de que lode 0 favor pareca dirigir-se exclusivaraentc para as irmas francezas, deixando no esque- ciniento as portuguezas, de Lisboa. 82 yiicrcriam que niit>'s so cuidasse de dar alciilo aciuella pohre, obsciira, e i[iuisi cx- lincla cxi^leiu'ia. Scja assim, — mas |)or que r.u'ios? Nao ha oiilrn.':, scniio os quo se (Miiprogam. yiiando lima coriiorarao deliiilia, porque Hip lalla a vida que so vcni d'uiii ceiitro, e os lOMsellios e as inspiraroL's d'unia direccao, que 0 I'uiulador csiahcloreii como essciuial, o mcio lie a regonerar oonsislc cm ligar de novo os vinrulos ([ue so qucliraram, cm rcforniar, rc- .i!ressando ao ponio da pnrlida. As irmas de Lislioa, beni como as servas de Maria, unir-se-hao (em Deus o csperamos) com as de Paris; e formaiido cm Lisijoa uma >o I'amiiia, c iini unico fentro, suhordinado a lasa central de Paris, rcvivcrao com gloria. ■' A cnii/iref/arui) rffl.s- serviis dox jiobre.':, dc- iiomiunda.t tambem irmOs ou fillias da caridade, >E(ilNnO AS REKRAS E DIRECCOES DADAS POK S. Vicente be Paii.o» (palavras da Prov. de 14 dahril do 1819' csta auctorisada cntre iios, -em nindicoes algumas rcstriclivas, pela in- dicada piovisao; e pode — sem embargo ndas lei)i da amorlisarao . . . (uhjuiiir por coinpras, iloarOes, on legado.i, e posstiir, para seu patri- iiKinio, bens que po.isain produzir umrendimen- lo annual ate ao rnlor de oito cantos de reis. » Por coiisc(iuencia os estabclecimenlos pios, (|uc niio eslao dcbai\o da direccao e inspec- cao immcdiala do govcrno, — que nao sao estabclecimenlos de benelicencia legal ou of- licial, nao precisam de rccorrcr ao inosmo goveruo ])ara aiictorisar o que esla auciorisa- do ; alem de que a lei poliiica nao veda a associacao roligiosa, antes impiicilamenle a garante, e o Coiligo [lenal, art. 28i, resalva toda a necessidade de iiccnca e auctorisacao, nma vez que nao se cxceda o nunicro abi li- \ado, c que a associacao se queira limitar a uma cxistencia puramente particular. .Mas, em quanlo as irmas da caridade, nao e rtiisier rccorrcr a estas faculdadcs gcraes. A longregacao, como tal, consliinindo uma jiessoa juridica, para todos os elTeilos publicos, ■•■itii reconhecida pcio Sobcrano, e admittida ib'sde ISI'J. Omlmua. /,. FORJAZ. KOTICIARIO. UcMCiiborla do iiin novo planeta. — M. Hermann Goldscbmidt descubriii cm Pari.s, as 11 boras da nolle de 27 de niaio ulliniu. um novo plancla. E o 4 4 dos pequenos planelas ale boje conbecidos (aslerridcs), que circu- lani entrc Marie e .lupitcr; c tern o brilbo d uma cstrella da 10.' a 11.' grandcza. 0 planeta precedcnte jii foi lambem desco- JMTlo em 18Ei7 por M. Pogson. em Oxford, em 1!) dc abrii, e reccbeii o nome de Ariadne. MoIoMtia (las tinhas cm Portiisal.- Extraimos dc um jornal franccz a scguinlc no- licia, (|ui' da uma idea da dcvaslacao que o lerrivel llagello tem produzido na ilba da Ma- deira e nas vinbas do Douro. (» numero de pipas de viiilio, cnlhidas na illia da .Madeira, que dc 1817 a 18U0, era de 10:!)li), desceu successivamente, em 18.')1 a Ih'JCIi; cm 18^2. a 1:871; em 1853, a 754; em 18:i4, a 187; em IHii'i, a 20; islo 6, em dons annns, a [iroduccao vinicola tornou-se quasi complctamcnte nulla! A collieila annual das viniias do Douro, dc ISitJ a I8:i2, era ',)l:;i;;3 pipas; em 1853 desceu a 74:788; em 18u4, a 47:248; em 1833, a 24:774 ; em 1830, a 4:001 ! . . Ori;;<-ni ibiiotlicras, conlcndo 4.C30:i]l volumes. D'estas bililiothecas, sao piiblicas 1:217, con- tendo 1.446:01o volumes: 12:007 perlenceni iis eschoias, e conlem i. 047:404 volumes: 1:988, com 542:321 volumes pertenreni as eschoias do domingo : 213, com 942:321 volumes, pertenccm a collegios : 130, com 58:3a0 volumes, pertenccm as egrcjas. Consiunio do clisi nos Estados-Uni- dos. — Consom"m-se lioje nos Estados-Unidos 33:200:000 libras de clui. Sendo a popula- cao do paiz de 27 railliOes d'liabitanles, o consumo de clia sera, pouco niais ou nienos, de 1 libra e- por individuo. Na Inglaterra e Ilollanda e muilo maior o consume. Todo o cha gasto na America e necessarianientc ex- trabido da Cbina ; ora avaliando cada libra cm 800 reis, ve-se que o comraercio anieri- cano da somentc por estc producto unia som- nia de 70 milboes de cruzados aos niercados de Hong-Kong, Canlao, e Cbang-Uai. Uarinlia mercanfe ■iia:leza. — A mnri- nlia mercante da Gra-Brelanha e de suas colo- nias, contnva em 1Sj4, nao incluindo a da In- dia, 30:348 navios, reprcsentando 5.113:840 lonelladas, e sendo tripulados por 209:093 ma- rinbeiros. Avaliando cada tonellada em 12 \ibrii»sterl., 0 valor total da marinha mercante ingleza representa uui capitiil de 00.000:000 de libras sierl.; cste valor o porem mnito maior, alten- dendo ao grando niunero de vaporcs de pri- meira classe. Em 1842, a niarinlia mercante dc Ingla- terra c de suas colonias, constava apenas de 30:813 navios, de 3.019:030 tonelladas, e empregando 214:009 marinheiros. Em 12 an- nos, augmentou por lanto 1 '- milhao de to- nelladas, e cmpregou mais 50:000 bomens. A Gra-Bretanbn possuc um terco de tonel- ladas em comparacao com todos os outros paizes do nuindo, e conta na sua marinha mer- cante OS maiores navios conhfcidos. Produccao mineral da Inglalcrra. — De quadros estatisticos, publicadosannualmcn- te na Inglaterra sobre os sens productos mi- neraes, se deduz, que esta induslria tem coii- sideravelmenle augmentado nos ultimos annos. Em 1838, a produccao da hulba era dc 23:000,000 lonelladas,' e em 1833, foi dc 04:433,070. Em 1838, as minas de cobre de- ram 13:000, e em 1833, 21:428; lonelladas. Em 1838, 0 chumho cxlraido foi 40:000, e em 1833, 73:091. 0 eslanbo produziu, no primeiro periodo, 5:300, e no segundo, 6:00(1. Em 1838, obtiveram-se 10:000 libras em pcsn de prala, e em 1833, 40:823 libras. 0 numero d'operarios cmprcgados nas minas da Gra-Brelanba, e 303:934, sendo 208:320 bomens e 3:810 mulhercs, maiores de 20 an- nos, e 91:041 individuos d'ambos os se\os. meuorcs de 20 annos. Exploram-se actualuiente 172 minas dc co- bre, 330 minas decbumbo, 130 minas d'esta- nbo, e 2:013 minas de carvao de pedra. Estas ultimas occupam nnia superlicie de 12:000 milhns quadradas. Sao curiosos os seguiates calculos sobre o consumo dos dous agentcs mais preciosos da induslria moderna, o ferro e carvao de pedra. Em 1827, 0 consumo da luilba foi 22.700:000 tenelladas; em 1836, (pia-i que triplicou. Em 1796, 0 consumo do ferro foi 123:000 tonel- ladas; em 1800, 230:000; em 1820, 400:000 ; em 1827, 700:000. Por consequencia, no pe- riodo de 31 annos, o augmento foi 340 por cento. De 1827 ate o lim de 1833, o augmento foi 400 por cento. Esles calculos merecem toda a conlianca, porquesaocolligidos e publicados por M. lluni, professor no nuiseu de geologia praclica. CoiiNtE-uccoeK navaew na Bnslalcra. — Segundo documenlos oflTiciaes, eonstruiram-sc e rcgistarani-so na Gia-Brctanba, cm 1833. 318 navios de vela, I'eitos de madeira, rM'c- senlando a carga de 211:883 tonelladas, e 17 navios da niesma classe, de ferro, de 30:299 tonelladas; navios niovidos a vapor, construi- dos de madeira, 38, com 3:107 tonelladas, c 193 de ferro, com 77:911 tonelladas; por lanto, um total de 1:098 navios, e 323:200 tonelladas, e um augmcnlo sobre o anno pre- cedentc, dc 290 navios e 126:138 lonelladas. 0 numero de navios construidos nas colo- nias, e registados nos portos da Iiiglalerr.i. foi de 34, reprcsentando 21:177 tonelladas, provenientes todos das colonias da America do norle. Os navios construidos em paizes eslran- geiros, c registados nos portos inglezes, forani 91, de 39:437 tonelladas. No niesmo iinno de 1833, naufragaram COO navios inglezes. Ultima vontadc d'um astronomo. — 0 astronomo, M. Bolyai, niorto a 20 de dr- 84 zombro ultimo om Viisajlicly, (loU'rniinoii no li'stamento, i|iic sobrc o sen lunuilo iiflo sc plantasse si'iifio uma mnrioira, iioniuf, dizia i-lk', foi uma niacaa que iuspiiou a Newton as mais importantt's iloscobcilas. KxrtMiIri; idnilo -ia a aulopsia do cadaver, com todo 0 cuidado, o\amiiiando cspecialnvnle curias parlicul.inJades, ([ue elle snppunba, deviam cxislir na sua organisacao. Finalmente, dcpois de submettidos os sens ossos a maccrarao, de- viam pn'parar-si; conveiiicntemenle para for- niar urn esqueleto arliculado. para ser conser- vado no musuu do collcgio de Boston. du velas de panno d'urtiga, c os viajantes rc- ferem, que no Japao se fabricam com esta planta cordas de grande durarao. lla muito tempo, que na Italia so lia a urtiga, e ijuc s'eniprega na fabricacao do papel. A elpctricidade na cliinirgia — 0 em- picgo da correnle electrica coino mcio cliinir- gico de cauterisacao e actualmeiite objecto de >erios estudos. Jiiseaponlam faclos. para mostrarquo urn lio de platina a(iuecido pela piHia, pode servir para praclicar amputacOes. Este pi-ocesso ja foi ensaiado na Allemanba e Franca, com fcliz resu.'tado, nau so em animaes, mas tamhcn) no honiem. Em um quarto d'bora pode ampular-se o braco ou auteiiraco, cxe( iilaudo-se a operacao facilmcnle por nieio de um fio de platina aque- cido por uma iiilba de Bunseii. 0 processo serve so para corlar os lecidos niciles ; a parte ossoa e cortada pela serra. A supi'riicic trau- matica (ica secca, e apjiarcce apcnas levemcnte ca^nisad.i. Cariowa accao da ourina sobre o fcr- r«.- M. I'orsoz ciianvi a allenrao snbrc o sc- guiute i'acto importaiile ; o lerro engaludo na pedra, pelo eontacto da ourina, augmenta enn- sideravelnienlB de volume e clipga a despeda- car a pedra. 0 auctor aponta faclns, de desa- l)amento d'edilicios, pronioviilo pjr inliilracoes dourina ; as pcdras do pedestal quebrarani pela dilatarao do ferro. KmiH'ci.o «laN iii-iigaK. —A soriedade im- perial ccunomica de ISolicniia, veriiicou alguns cnsains de lios fabricados com nrligas, (ios que podeui sub.--tiluir o caubamo sem inconvc- i:icnte. A preparaciio das urligas e simillunite a do cauhamo, e o lio (|ue s'cxirac, c d'uma llnura c forcri K.vtraordinarias A bistoria conta. (pie Ncstoiius, no a;inu de UO'i, ja tin!ui I'allado Cavidaflr «Ioh ravallow. — .M. de Bous- •-anelK', capitao de cavallaria, conta o seguinle facto nas suas UbservucOes miUlan:'!. Em 1757, no rcgimento de Beauvilliers, de ([uc 0 auctor fazia parte, um cavallo, ja muito vellio, mas muito fogoso, com os denies jii tao gastos, (jue nao podia niasligar o feno, nem tiiturar a racao, foi nutrido durante dois mezes, e por mais tempo aiiida o seria, se fosse conservado, por dons cavallos que comiani junclo a elle. Estes dous nobres animaes tira- vain da manjadoura o feno, (lue mastigavani c lancavam deante de seu vellio coiiipanlieiro; 0 mesmo faziani a racao, triturando-a coniple- tamente. 0 leslemunlio de toda a companbia, ofliciaes e soldados, conlirmam o facto. A cliolcra na India. -I'm jornal de Ceylao publita. sobre as causas conjecturaes dacliolera na India, a seguinle noticia, que julgamos curioso rcproduzir, apezar do hor- ror que inspira. «Ja falliimos dos estragos causados pela cholera na India, durante o primeiro periodo d'este anno. As ultimas noticias annunciam pgiialmente, que este llagello deslruidor tani- bem tem devastado as bellas colonias de Bour- bon e Mauricia. Estas ilbas sao amplamente providas de ]Hircos de Puliia, provincia do Indoslao, que cgualmentc tem sido assolada pela cbolera. Tanto 'uaquellas colonias, como cm Calcutta, .sao lancados ao Ganges os cada- veres dos habitantcs indigenas, cm vez de os enterrar. Quem passcar, ao araanhecer cm Calcutta, para a borda do rio, ou para junto dos eanaes, que eercam a cidade por trcz lados, obscrva 0 terrivel e borroroso espcclaculo dos porcos a coiner os cadaveres dos indigenas, que fo- ram lancados ii agua durante a iioile. Mas isto nao e nada ainda, em comparacao de I'atiia. Vem-.se milbares de cadaveres as bor- das dos rios, e os porcos cngordando com car- ne buraana. Sao estes animaes, que servem, depois dcgoidos, para fazer presnntos, touci- nbo, e came salgada de fresco, o que sexporta para Calcutta. 0 grande mercado d'este porcn pestifero e Mauricia e Bourbon, vcndendo-o aos babilaiitcs como um prodiicto da Europa. Alcin d'isto, como estes porcos se vendem cm Calcutta, a 3 on i slielliiifis por cabeca, os na\ins de classe inferior surlem se d'ellcs, e assini e introdnzida na Europa e America, carne de porco nutrido com carne bumanal'. 0 auctor do arligo conclue, que c prova- vcliiuMile lao bcdiondo alimento a causa da dei-c:r, clmao da cliolcra mo;!);:.- ® Jn0titttt0) JORIVAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. APONTAMENTOS Para a continuacno tia Bibliollicca l■" — [lelo sr. Visconilc do Villarinlio do S. Itomao. 0 Dr. Joao Antonio Monlciro fni iini saliio, que tanihuni niuito lioniou a palria pela vas- tidao de sens conliccimeiitos pliilosopliiiO';, morniente no ra»io niintralogito. Temos dianle dos ollios a oxposicao, que ao (■I'leboriiiiio llaiiy o Bind incuinhiu fazcr a Sociedadu I'liiloinalica Paiisiense, da sua memoria sobre a ileterminmao direcla de iima nova rarieilade da forma cnjslallina da carbo- nalu de ceil, e tohre as notaveis piopricdndes, ijtte elle manifesta, lida na scssao de 21 do julho de I!S13. Nao podemos icsislir ao desnjo do para aqiii trasladar os ultimos periodos d'esta exposifao lao lisongcira para o nosso coiupatriota. « 0 sr. .Monleiro era ja muilo vanlajosa- meiile conhecido por nutras memorias sobre di- versos assiiniplos de iMineralogia, qne tern pon- tes conimuns com a Crystallographia. Mas esta, que acabamos de expdr, dura a ultima prova do f/rau eminenle, cm que cste .inbio possue a arte do manejar a tlieoria relativa a este oi)jecto, e conliece os priiicipios, que llie servera de base ' . » Merece tarabem mcncao cspcciaiissima o Dr. Thome Rodrigues Sobral. O fogo, que os francezes Ihe lanraram a casa (por conla da vinganca dos males, que Hies eausiira com o fabrico da polvora, etc.) consummiu seus pre- ciosos manuscriptos, e entre dies um com- pendio de Chimica. Da perda d'este ultimo, niais que dos outros, se magoava; porquc era fructo de lucuhracOes de miiitos annos ' . Foi varao incansavel no estudo da Chimi- ca, com rasao denominado o Chapfal Portti- (juey ; criou, e organisou o Laboratorio da Univcrsidade. estabclecimento grandiose, c publicou nuiitas memorias interessantes. 0 Dr. Manuel .lose Barjona, natural de Coimbra, merece, egualmente, honrosa coni- rtemoracao. Suslentou em suas theses a composiciio da agua rauito antes que o celebie e inl'eliz La- voisier a deraonstrasse pela analyse ( pelas di- ligencias de Monge cm Pnriz, e do nosso Don- tor Sobral em Coimbra, se demonstrou depois pela synthese ' ). Foi auctor do conipendio de Metallurgia {Mclalliiniiup Elcmenta), quecom- poz por ordcm da sua faculdade; e publicou tambem Talmas MInernlogicas, que muitosan- uos serviram de conipendio. E lastima, (jue a morle nos roubasse cste ' Novo Biilletim das srienrias pela Swicilade Phila- matica Num. 73 — oiiliibro de 1813. No Jiiinal de Cnimlira n." .18 — parte primeira — pag. 272 — jioile ver-se a nuticin d:s trabalhus lUteraiius d'este insigiie lenle de Melalliirgia. '■' I'oyage em Portugal par M. Link — Tom. 1,° — pag. 393. ' Kisai Slalislii/ue siir Le Roijaume de Portugal par Adrien Bulbi — Tome Second — paj. IX. ' Klemenl.is de Chimica por Vicente Coellio de Sealmi Silva e Telles — pag. 203. distincto philosopho, antes que reformasse a doulrina dos seus compcndios, pondo-a a par dos cfliiliecimcntos boclicrnos. 0 Dr. Anionio Jose das Neves c .Mello, na- tural de Coimbra, I'oi um e.\tremoso cultor, e insigue prolossor de Botanica, sobre que dei- Miu curiosissimas oliservacncs, e uma serie de csianipas de Anatomia Vegetal. Escrcveu uma interessante memoria sobre o Amendobi (etra- chis llypogoea) ' o corre imprcssa outra me- moria sua debaixo do seguinte titiilo : « Optimo, cclsissimo I'riiicipi, Porlugaliae Regenii, litlerarum proleclcri muniliccntissi- luo, has circa stipae Aicmuariae, atquo cin- cbonam Brasilienseni, Qt alias observaliones, etc. Antonius Josephus das Neves Mello, in Collimbriensi Acad. Doct. Philosopb. Hist. Nat. ot agricult. profess. » Do valioso .'occorro, que prestou ao auctor da Flora Lusilana na sua composicao, dao honroso testemunho as scguinles expressoes do I'refaeio. « Facere hie quoque non possum, quin ma- ximas referain gralias CI. Ant. Jos. iNevesio, olim Botanices demonstratori apprime intelli- (jenti, meaeque praxis herbariae alumno dili- gcntissimo; quippe qui non observaliones so- lum acciiralas suas mecum aniicitcr participa- vit, verum in autbograpliis etiam nieis dige- rcndis auxiliatricem manum prestilit. >' Expulso em 1834 da sua cadeira, e da di- rcccao do Jardim Botanico, que enriquecera de grande numero de planlas exoticas, e indi- gcnas, linou-se, ralado de desgostos, em 183S. Preslaremos a devida homenagem do nosso respeito. raencionando-o tambem condigna- niente, ao sr. Dr. Jose llonicm de Figueiredo Freire, que ainda en> 1830 presidiu ao nosso exame de llisloria Natural, fallecendo no an- no seguinte. Foi successor do Dr. Constantino na cadeira, que elle rcgen, e deixou-nos im- portantes docunientos da sua intelligencia e applicacao nas seguintcs obras: 1." Catalofjo das Planlas Nafuraes e Exoti- cas, (jue se encontram em S. Pedro do Sul, e suas msitthanras. * ' Monographia das Ptanlas Cnjptogmnicas. 3.' Methodo practico de trabullutr com as machinas de Phijsica. Poderiamos alargar niais este nosso catalo- go, mencionando outros varOes iiotaveis por sous trabalhos philosopbicos, filhos da facul^ dade; porcm nossa intcncao especial, agora, e vulgarisar alguns apontamentos biographicos do niaior Botanico de Portugal (faca a divina providencia, que nao fosse elle o ultimo de noBsos Botanicos), cujos conbecimcnlos dcram brado na Kuropa, cuja gloria litteraria quasi offuscou a dos mais distinclos de seus patrio- las contemporaneos. Conliniia. r. a. b. i.r. GUSMAO. ' Mernnrias da academia real das scicnciafr dc Li^hoa. — .Yarn .SVr/,? —Tutu. I. ° — part. 1 — laj. 8 HISTORIA DA CONJURACAO DE CATILINA SALLLSTIO: fiiAiiucijio POiirtia;i;zA. (Juntiniiadu de im^';;. 4.> XLIl. I'clos mesiiios Iciiipos liavia rcvolii- rijes na Gallia citci'ior c iillcrifir, no Icrrilorio I'iceno e Brut-io. e na Apulia. I'orcnianto, os que Calilina para alii liavia iiiaiidado, qiii"- reiido, scni piuilciicia c i|iiasi sciii jiiizo, fazcr ludo a mil ti'iiipo, com sous convcnliciilos no- cluruos, condiicruL's d'armas c tiros missivos, com suas prussas e porlurbaroes, tiiiliam caii- sado mais suslo que jierigo. A miiilos d'cstos preiulcu 0 pix'lor Q. Mclello Cclcr, di'pois dii se ter iuforiuado do I'aclo per derrclo do se- nado ; e o m(',--mo fez iia Gallia ulterior (]. Moreiia, que eiitao governava csta provincia ua qualidadc de Logar-Teneiile. XLlll. Em Roma, Lentulo e os onlros ciicfes da conspiracao, suppondo prcparadas grandes forras, assentaram, que, apenas Ca- tilina entrasse no territorio de Fesulas com o exercito, o Iribuno da plebe L. liestia, con- vocaria o povo, e sequeixaria do procedimenlo de Cicero , lancando sobre este iTcuemerito consul 0 odio de lao dcsaslrosa gucrra : e que a este signal cada um dos conjurados cumpriria o seu respcclivo dever. Suas disposi- coes, segundo se dizia, eram estas : Statilio, Gabiuio e muitos oulros lancariam a um tem- po logo cm doze logarcs mais opportunos de Roma, para que no mcio do tumullo fosse mais facil penetrar era easa do consul c dos outros, que destinavam malar ; Cethcgo ccr- caria a casa de Cicero, c o atacaria a forca alicrta, e os outros conjurados cada um o seu eidadao ; os lilhos-familias, dos quaes a maior parte cram nobres, raatariam os paes, e de- pois incorporados todos, rompcriam por entre as morles, incendios, e geral terror, e iriani uuir-se a Catilina. Entre estes jireparos e disposisoes, Cethego qucixava-so scnipre da frouxidao dos compa- uheiros, que perdiara com diividas e delongas as melbores occasioes ; que em taes cases erara mister obras, c nfio reilexoes; que se alguns o ajudasseni, alacaiia elle o senado, enniuanlo OS oulros llcavam na inaccaoT Naluralmenle bravo, violento e desembaracado , iutendia que a coleridade era ludo. XI.IV. Os Allobroges, segundo a rccom- mendacao de Cicero, vao falar, por nieio de Gabinio, com os de mais conjurados; e pcdem a Lentulo, Cethego, Statilio, c Cassio, jiira- meulo escripto e assignado, para o aprcsen- tarem aos seus concidadiios, pois que sem isso iiao seria facil movel-os a tao grande passo. (1^- trez (inmciros dao-no sem desconliar : Cas- sio promctte-lbcs ir pessoalmentc ao seu paiz, e [larie de Roma um pouco antes dos depu- tados. Loiitulo mandou com os Allobroges um ccrlo T. Vulturcio, de Crotona, para que, antes de voltarein a patria, firmassem com reciprocos jiiranionios a allianca com (latilina ; e entre- goii a Vulturcio uma carta para Catilina, cujo llicdr era o seguinte : 'c 0 portador d'esla le dira quem sou. Pcnsa " na tua laslimosa situacao, e lembra-le que « es homcm : reflecte no que exigem os leus « intercsses, e vale-le de lodos, ainda dos mais I' vis. >' Mandou-lbe tambem dizer de b6cca : que, londo sido declarado inimigo publico pcio senado, poniue razao iiao alistava lani- bem o.s escravos? (|uc cm Roma estava prom- plo ipianto Hie ordcnara: quo nao lardassc cm \ir XLV. Traciadas estas cousas, e ajusfada a nolle cm (|iic deviam jtarlir, Cicero, infor- mado de ludo pelos deputados, ordena aos prelores L. Valerio Flaceo e C. Pomptiiio, que surprehendam na poute .MiiKia loda a conii- tiva dos Allobroges: deciara-llies o motive d'a- (|uella commissao, c (|ue no mais obrcm se- gundo as circumstancias. Em cxocucao d'esla ordem os consules, corao bons soldados que eram, a calada e occullamenle cercaram a ponte. Chegando la Yolturcio e os deputados, bradou-se de parte a parte: os Allobroges, perrebendo logo a emboscada, renderara-se immediatamcnte aos pretores. Yolturcio ao principio aniniou os companheiros, e defen- deu-se conibalendo : mas vendo-se desampa- rado pelos deputados, pediu primeiro muito a Poniptino, de quem era conhecido, que the valesse; e por ultimo, alcrrado, e temendo a morle, rendeu-se aos prelores, como a ininii- gos. XLVl. Conduida a expedicao, raandou-se logo a noticia ao consul, a quem nao rausou menos prazer que cuidado. Folgava na idfa de que, descoberta a conjuracao, licava a pa- tria salva do perigo ; affligia-se sobre o que faria a cidadaos distinctos, reus de lamanba Iraicao: castigal-os seria tornar-se odioso, deixal-os impunes seria perder a republica. Em lim cobra animo,'e manda vir a sua pre- senra Lentulo. Cetbogo, Statilio, Gabinio, e Cepario, de Terracina, que destinava parlir para a Apulia a sublevar os escravos. Todos vieram sem deniora, excepto Cepario, que, tendo saido de casa pouco antes, e sabendo que estava descoberta a conjuracao, bavia fugido de Ronui. 0 consul, lomando Lentulo pela niao, em atlcncao a ser prelor, conduziu-o ao senado, e mandou ir os oulros enlre guardas para o templo da Concordia. Alii convoca o senado, e no nieio de uma assemblea nume- rosa apresenta Vullurcio e os legados, c man- da no preior Flaceo que iraga as cartas e a 88 tartcira, que os incsiuos Ihc liaviam cnlrc- gado. XLVH. Vullurcio, perguutado sobrc aqucl- la Jornada, sobre a carla, sobrc o seu pro- jeclo li OS molivos d'ellc, ao principio iiiveii- tou mil cousas, sein falar ua conjurasao; de- pois, quaiido llie promcllcram perdao sob fe piiblica, descol)riu tudo, coino se passara : que, havia poucos dia?, se associara a Gabiiiio e Cepario; que nada mais sabia, do que os depuiados ; so ouvira dizer niuitas vezcs a Gabiniu, que 1'. Anlouio, Servio Sylla, L. Var- gonleio e oulros niiiilos eiitravam na conjiira- eao. 0 incsino eoiifessaram os \llobroges. Lcii- tulo iiegava: mas, aleiu da carta, objeiiaram- Ihe suas ordinarias conversacoes, em que cos- lumava dizer: que os livros das sibyllas pro- metliuiu 0 iiuperio de lioma a trez Cornelios: que Ciiuia e Sylla ja o linliam oblido, e clle era o lerceiro a quern os fades o dcstina- vam: que aleiii d'isso era aquelie o vigesimo anno depois do inccndio do Capilolio, anno, que OS aruspices, segundo innumeraveis pro- digios, diziam, iiavia de ser eusanguenlado com guerras civis. Lidas as cartas, e tendo cada um reconlie- cido a sua lirma, decrelou o senado, que Len- tuio, deposlo da magistralura, e os demais, fossera retidos em prizao sem ferros : e em virtude d'isto foi Lentulo cntregue a L. Len- tulo Spinter enlao edil, Cethcgo a Q. Corne- ficio, Slaliiio a C. Cesar, Gabinio a M. Crasso, e Cepario (pouco antes apanhado, quando ia fugindo) ao senadorCn. Tercncio. XLVIII. Descoberta a conjuracao, a mesma plebe, pouco antes graiide partidista da guer- ra , e descjosa 8e innovacoes, mudando de sentimentus, execrava os projectos de Catili- na, elevava Cicero as nuvens, e, como sc a tivesscm salvado da cscravidao, rompia em transportes de jubilo e prazer. De todas as desordcns da guerra csperava ella mais ganho do que perda : mas, quanto ao inccndio, jul- gava-o cruel, monstruoso e summamenle ar- ruinador, principahnente d'eila mesma, cujas posses consisliam soniente uos moveis de uso ordinario e nos veslidos. No dia scguinte trouxerara ao senado um lai L. Tarquinio, prezo, sogundo diziam, no caniinbo, quando ia para Catilina. Promelteu elle fazer rcvelacOes sobre a conjuracao, se de- baixo de fc publica llie promettessem o perdao ; e mandando-llie o consul dizer francamenle o que souliesse, depoz no senado quasi o mesmo que Vulturcio, sobre o projcctado incendio, a matanca dos homens de l)em, e a marcba dos rebcldes. So accrescentou, que fora manda- do por M. Crasso dizer a Catitina que nao se deixasse aterrar com a prizao de Lentulo, Ce- thego e mais conjurados; antes porisso mesmo marchasse mais dcpressa sobre Roma, assim para animar os companhciros, como para mais facilmenle os tirar do porigo. Porcm, tanto que Tarquinio proferiu o nome de Crasso, homem nobre, muiio rico, e muito poderoso ; uns pcusaram simiUiante cousa in- crivel ; oulros, ainda que a julgavam verda- deira, intendiam que em tal conjunctura con- vinba mais adocar do que cxacerbar bomcm de lauta aucloridadc ; e a maior parte, obri- giula a Crasso por favorcs particulares, cla- mava que o delator mentia, e que se pozesse 0 negocio a deiiberacao no senado. Cicero re- colbeu osvolos, e por maioria se decidiu, que a deniincia de Tarquinio parecia falsa ; que fosse deiido cm prizao, e nao o deixassem livre, emquanto nao dechuasse (lucm o havia induzido a invcntar tanianha calumnia. Nao fallou entao quern julgasse, (lue aquella de- niincia fora niaquinacao de P. Autronio, para (|ue Crasso, cumpromettido tambem, protcges- se com 0 seu valimento os oulros, de cujo pe- rigo participava. Outros diziam que Cicero cnsaiiira Tarquinio 'naiiuillo, para Crasso nao perturbar a rcpublica, encarregando-se, como costumava, da defesa dos liomens nuius. Ao mesmo Crasso ouvi eu depois dizer publica- mente, que fora Cicero quern Ihe fizera tao grande afl'ronta. XLIX. 'Naquelles mesmos tempos Q. Ca- tulo e C. Pisao, nem com empcnhos, nem com rogos, nem por dinheiro, poderam mover Cicero a servir-se dos Ailobroges ou d'outro delator, para accusar falsamente a C. Cesar. Anibos eram de Cesar inimigos jurados: Pisao linha sido accusado por elle, de haver injus- lamente condcmnado a morte por dinheiro um habitante d'alem-P6; Catulo odiava-o, por- que, pretendendo o pontilicado em edade mui avaucada, c depois de ter scrvido os raaiores cargos, fora preterido pelo joven Cesar. A oc- casiao parecia-lhes favoravel, porque Cesar, por sua grande liberalidade particular, e gran- dissimos donativos publicos, tinba contraido dividas enormes. Mas quando nao poderam resoher o consul a practicar tao grande infa- mia, cada um por seu lado intrigando e espa- ihando mentiras, que dizia ter ouvido a Vul- turcio e aos Ailobroges, attrairam sobre Cesar geral indignacao; a ponto, que alguns caval- leiros romanos, que estavam de guarda ao lemplo da Concordia, ou assustados pela gran- deza do perigo, ou por nobreza de sentimen- tos, para darem mais claras moslras do seuztilo pela republica, atacarara com espadas a Cesar, quando saia do senado. CotUinua. ' DESALENTO. AO MED AMJtiO \ivVou\o Ae. tawaWo e. NastoftttWos. Derradeira illusSo, abriste as azas, F. deixaste-me si, quando mens olhos, Cani;ado3 de cliorar, ja nao tern pranloa. Derradeira illusuo, que uie has fugido — 89 Ultima cs|i'ran^a, iine broloii nu vida Thu cheiji de |icsaf, ultima eslrt-lla, Que brillioii no meu ceii tao nejjro e triste — Porque deixasle, a«sim ao desamparo, Udi peilo (|ne era ten ! . . Calix amargo, Onde espVaii^as e dor mistura a surte, Jii todu te es^'olei! — Eis-le tombado, Vazio a mnus pes! — Que mais me espera? S('CCos OS cdlius lenho, o peito exhauslo, E 0 pobre coia^ao eroio de esp'rati^as. Corao o ruble, que perde as densas fulhas, Se o outono sojirou, assim perdidas Vi minlia^ llliisues uma apus outra. Morreram todas, tii Gcasle, e eu luiico £m ti su concentrei o amur, que a toda^ Out'rora consajrrei ; o pobre naiita, Quatido lias oiidas muribundo lucla, Mais firme abra^a a derradeira prancha, Que ivds muos encuiitrou Que vale a esp'ran^.i, .Que, cedo ou tarde, o desespero apajia? Que vale ver briJhar, por eiitre o matitu De noite tentbrusa, urn astro d'oiro, Se, do rijo tnfSo nas pandas azas, As densan iiuvens npressadai correm Apagar o pliarol que apenas fulge ? So 'neste miindo — so ! — Ai, quem nao j.abe Quanta dor qiianto fel o peito iniinda Aquelle, que la:n;ando em lorno os olhos Nao ve senao prazer, venlura Indo, E seate, e sabe, e ve, que o raundo Inteiro Um so peito nao tem que ao seu responda, Quem tal nao sabe nao maldiga a sorte! Vivi sontiaudo, o despertar me mala. Ora sonlios d'amor, ora tremendos Sonhos de desespero, a vida inleira Occupado me tem, e vivo ainda Se 0 viver e suffrer. — Fatal verdade A meus olhos fulgiu, deserto infindo Se esteiide era torno a mim, e voz medonha Me brada ao cora^Jio: i.s siS p'ra sempre! Ai meus sonlios d*amor que eu amei tanto, Meus sonbos d'anibi^ao onde fugistes? Quaes seccas folbas do tufao ludibriu, Ou calcadas no p6, ou pelas aguas Levadas para sempre ao pego immenso, Tudos todos perdi — e vivo ainda! A fe, a esp'ran<;a e o amor que embalam No mundo os bomens, desde o ber<;o A campa, Deixaram-me sem do, sem ellas vivo Qual astro, que deixou o trilho nsado, Em torno ao sol, que a vida e luz Ihe dava, E ppio espa^o vae sem luz neni ruuio. A fe! — Ai quanta fe eu live out'rora 'Naqvielles que perdi — quantos carinhus Eu julguei encontrar, e so depprezo, IndifTrent^a cruel encontrei 'nelles! Tu clioras Curasao? Cala-le lonco! Esquecidos de mim, felizes todos, Que oem saibam sequer quaoto hei sofTrido. Fdliaz esp'ran^a, oh qiiantas, quanlas vezes. Me enchesle o Curasao com v3s promessaa, Enganando sem do, mentindo ao triste, Que, qual o viajor pelo deserto, Perdido foi atras miragem linda. Que, como um sonho vao, se esvae no espa);o. Sempie ha^ meiitido enganadora esp'ran^a ! Ora fingindo o ceii sereno e pnro, Qiiando a torraeiita ja bramia ao loDge, Ora mostrando 'num porvir d'encaotos, Por enlre o verdejar d'elernos lonros, A gloria e.«sa illusao que aos loucos cega. E quando o desengano que te pisa Sempre as pegadas me buscava amigo, Entao sorrindo me dizias: Deixa. Onxa da gloria a tralialhosa senda; Cingindo a fronte de jasmins e rosas, Em meu rega(;o, pelas leves auras Acalentado, vem gozar repouso; Drixa esse mundo refalsado e louco, Eao sora du Ij^mpha, que murmura um canto Entre os scixinhos da florida encosla, Ao som do triste snspirar da aragem, Por entre as follias que o onlono espalha, Dcixa correr a descuidosa vida, Bern como a rosa, que cahiu da margera E i tona d'agua vae boiando airosa. E mentias tambem ! — Por fim caii^ada De tanto nie enganar, dei\as-me, triste, Que nao posso viver sem tens enganos. Amor! Triste de mim, cruel lembranra. Doce veneno com que, outrora louco. Quiz a sede matar, e a longos tragos Enchi o cora(;ao, perdi oiiD'alma ! Amar como eu amei na flor da vida, A mar como eu amei! Julgava o mundo Pequeno e pobre para amor tao grande. Amei o cuu, a terra, o roar profundo, A medonha tormenta e as necras rochas, Onde, bramindo, a temjiestade echoa. Amei a flor do prado a selva erguida, O murmurar sem tim da humilde fonte, Que parece cantar d'amor endechas. Quantas vezes, oh quantas, fui sosinho Por essas margens do mondego i tarde, Quando no outono tudo e triste, e a terra Parece involta em funeral sudario, Suspirar e gemer, dizendo um nome, Um nome so, e a vida o ceu o inferno Tudo rainh'alma 'nesse nome via. A vida ! — Ai vida. que a seus pes nao fosse Passada sempre. me par'cia a morte, Ou, mais que a morle, tremedal medonho Onde sem luz me delirava a mente. O ceu ! — Julgava que seus negros olhos, P'ra mim voltados com fagueiro riso, O ceu, e mais que o ceu, 'nest'alma ardente Podessem derraroar — Ai, lula horrivel De gelado terror de vaos desejos, Buscando a vida e receando a morte, A morle sim, pois eu julgava o peito Fragil prisao, que contivesse est'alma, Se acaso um dia seus fagueiros olhos Se fitassem nos meus com brando riso. O inferno! — O inferno d'entro em mim bramia Morlaes cinmes ra'o lanijavara n'alma. \egro ciume, quem no peito as garras Te nao senliu, ai, nao maldiga a vida! Ver seus olhos sorrir aos olhos d'outro; Sua dextra gentil pousando airosa 'Num bra^o, que talvez ao peito a e.">trelta; Ver-lhe os labios contar segredo ingenuo, Juncto a faces, que vao corando ao sopro. Que puro exhala pela rosea b^cca; Ter ciumes da fldr, do chao quo pisa, Da fonte de cristal. que as maos Ihe beija; Sorrisos, fallas, mil gentis caricias ^ Ver-lhe As maos largas esplhar, Ihesouros Que eu nao pude gosar . . Ai, quem no peito Senle d'um cora(;ao a for^a e vida, ' Diga se eu nao soffri na vida o inferno. Xinguem me la^timou, ninguem, nem ella ! Por entre o mumurar de mil suspires ^ao fez caso dos meus. — Par'cia a terra. As plantas d'ella, desdobrar gosto^a Rico lapele de mimosas flores; Ella vaidosa com seus pes ralcava, Sem do das tristes, as genlis boninas; K ae rasgando d'este peito as carnes, Sangrento as planlas. Ihe podesse um dia Lanrar o cora^ito, talvez calcasse, 90 Sem tequer reparar, o pobre Irisle — . Noites, diaa passei com as mSos erguidaa, Dejoelhos no chau, idulalrando Quem p'ra mini nem scquer volria os olhus. Enloiiqneci — perdidu fui lainar-me Xo torpc loda^al da vil lujtiirla. Anjos, anjos do c(5ii, v6s nao me vistes! Com as puras azaa eocobriiulo as fronles, \ 6s fugisles de mim, nJo visles nada. Ha crimes, que lalvel os ecus ignorem — TSo torpes siio — e que a nrio ser o grilo Da conscieocia, por punir Dcassem. Nas miios ambas toniando a U^a impura Do mais torpe prazer, juijuei que a sede Me podia malar, bebi-llie as fezes. Enlao meus olhos desvendados virara Que tudo odeis aprovei- lar-vos, para viver em commiim e sujeitos a regra, e em active service da Egrcja, da lii)cr- dade que as leis civis vos consenleni; se os ser- vijjos dos passados forom o vosso unico do- cumento ; corao podeis aspirar a que vos seja concedido o associar-vos com uni character so- lemne e publico? E que vaslo campo ahi esla aberto a pieda- de dos ecclcsiasticos e dos seculares, e princi- dalmcnle dos ecclcsiasticos, que desejassem ligar-se era vida commum, e pelos volos sagra- dos, para viverem uma vida mais perfcita e morlilieada? Entreoutros, e tantoselao importantes in- tuitos, consintara-nos que lembreraos uni, e bem simples e facil, — a catechese. Que motivo legal poderia toliier alguns fer- vorosos padres para se unirem em commum, sob uma regra, approvada pelo Ordinario, para auxiliarem, ou antes supprirem, a deliciencia dos parochos, principaimcnle ensinando a doutrina peias freguezias , alem dos outros exercieios do sacerdocio ? Para com a sua consciencia, para o beuefi- cio do pobre povo, para a edificacao do pro- ximo, que importava que nao tivessem um cha- racter solerane e ptiblico, nem constituissem uma pessoa juridiea? Seriam perante a Egreja, e uns para com os outros, como hoje succede por exempio nos Estados-Unidos, uma verda- deira Ordem reUrjiosa ; embora o Estado os nao reconhecesse seniio corao uma reuniao, ou associacao tolerada. XXIX. Mui louga vai esta digressao. Tornaremos ao nosso principal assumpto; e para concluir, permilta-se-nos apontar uma outra grande vantagem da diffusao do insliluto das irmas da caridade. Essas as virtuosas senhoras, que nos klreni, disculpem o que vamos a dizer de pouco lison- geiro; e dignem-se, denlro em breve tempo, 'nesta parte fazer-nos mentirosos. As irmas da caridade, por via da irresistivel influencia das suas maneiras, da sua docura, zelo, e piedade, conseguem associar as suas obras as senhoras que vivem no mundo. Differentes instituicoes caritativas ofi'erecem, na Franca, a prova do que dizemos; em umas dirige a dama de caridade, e exeeuta a irma; noulras dirige a irma, e exeeuta a dama. Sempre e em loda a parte aquellas propor- cionam a eslas a occasiao, e a facilidade de fazercm o bem com seguranja; e guiadas por assim dizer pela mao das irmas, as damas ap- prendcm a subir as escadas do pobre enver- gonhado, do enlormo desvalido, dos liospilaes, e das prisoos. A caridade e natural no coracao da mulher. As senhoras portugiiezas possuem-na cm tao suhido griiu, como as francezas ; mas, na maxima parte das terras, ainda as maiores, de provincia, cxperimenta-se uma tal falta de dcsenibaraco, uma tal rcpugnancia ao exer- cicio publico c aclivo da nccao caridosa, e a deixar, por um pouco de tempo, os cuidados do interior da I'amilia para seempregarem do allivio do proximo, que todas as instituicoes, que demandam indispensavelmente a ac^ao das senhoras, ou niio podem formar-se, ou definham desde o principio, ou nao subsistera senao a custa dos eslorcos, sempre precarios e irregulares, d'uma so senhora. d'um so homem, ou de poucos, em breve desanimados por can- saco, e desgosto. Nao ba muitos annos que um excellente sujcito, posto a testa d'um nascente asylo da inlancia , em uma cidade importante , nos escrcvia, — que nem ainda nos bazares era auxiliado pelas senhoras! Ora esta, nao indifferenca, mas acanbamen- to, e falta de cultura, esperamos de Deus, que desapparecera pelo exempio das irmas, e pelo seu contacto e doce atlraccao. Que diividas podcrao ter as senhoras em sahir ao publico exercicio da caridade, acompanbadas e diri- giias por um a>jo do ceu, pela irma da ca- ridade? Que fructos nao sao d'esperar da associafao consoiadora dos aflictos, desde que se comple- tar e fortilicar pela uniao das iruias! Como era Franja, e muilo mais do que alii, pelas razoes indicadas, eslas serao as indispcnsaveis auxi- liadoras das senhoras que compijem a associa- cao; e ao mcsmo tempo o vinculo, que ha de ligar, sanclilicando e lecundando, inslituifoes que deveram caminhar unidas; e que todavia, em algunias partes, parecem opposlas e quasi rivaes ! . . . . Desenganemo-nos que a uniao faz a forj'a ; e que nao e menos agradavel a Deus agasa- Ihar, instruir e educar o menino desvalido, do que visitar o enfernio, e dar de comer a quem tern fume ; e que, 'neslas cousas, nem ha dif- ferenras politicas, nem de condifao, nem dc origem. Todos devemos ser de tudo; e quanto mais pcquena for a terra, e limitados os re- cursos, peor e remarcada ura para sua parte Concluamos: E.cpo.slos, abaudonados por quem vos deu ao mundo: a irma da caridade t a vossa terna mae ! MeiiiHos desvalidos, d'ambos os sexes: 6 o vosso abrigo, a vossa mestra! 92 Iiifennos pobres: c a vossa cariiiliosa in- leriiicira, em vossas easas, ou nos liospiiaes, qual(]uer que scja, por niais arriscada ou rc- pulsaiile, a vossa int'ormidaile ! I Pobres todos, pobre povo: — a fillia de S. Viceiiie (' a \ossa serva; deixou o mundo para si'rvir-\o.s, e soccorrcr-vos. Dispensa-vos de meudigar, se o piecisacs, o piio uosso dc rada dia ; e nao descanca, cniqiianto vol-o nao le- vari dar-vos-lia o proprio, se for niislcr, c inorrera de fomc. A sua familia: — sois v6s todos, queniquer que sejacs. A sua palria : — e o mundo, ou antes e o leu, para o qual se apressam em eaminliar, dorramando l)eDelicios, e abrindo-vos por piles as portas da bemavenluranfa. ADVERTE.NCIA. « Depois d'impresso c publicado o n.° XXVll, tivemos conhecinienlo dos aharas obtidos pelas associaroes de N. S. Consoia- dora dos Alliclos, e protectora dos orphaos desvaiidos viclimas do Cholera, para a admis- sao das irraas. Sao datados de 'J de fevereiro d'este anno, referendados por S. Ex.", o sr. Julio Gomes da Silva Sanches. » PLAUTO EM BERLIM. \ Allemanlia tcin sempre sidn, c e, por- tanlo, aiuda boje, o paiz da boa latinidade. Depois que o francez tomou, em toda a parte do mundo, o privilegio de lingua uni- versal, apenas dous unicos paizes da Europa tern tido a ousadia de resislir a invasao fran- ceza, continuando a cultivar, com o mesmo csmero, que d'anles, a lingua, em que falou Cicero, e era (juc escreveu Iloracio: Roma, e unia parte da Allenianha. A mocidade estudiosa de Bcrlim deu do seu gosto pela boa lalinidade unia piova ao mesmo Icnipo brilbante e singular. Estudanles da Universidade dc Frederico Guillierme reprcsentarani no iheatro real da corte a comedia de Plaulo intilulada Captivi (os prisioneiros), recitando-a na lingua origi- nal, e com todos os requisitos da prosodia exi- gida pela metriticacao. Durante os enlrc-aclos, outros estudanles cantaram trez Odes de Uoracio, uma das quaes fora posla em musica pclo famoso Moyerber. 0 auditorio compunha-se, quasi exclusiva- mente, de sabios e littoratos, que de dilTeren- les paries de .\llemanha bavia atlrahido a no- ticia de espectaculo lao novo, c que so por cejia ordem de pessoas podia scr dcvidamente apreeiado. El-Rei assisiiu a represenlacao, e durante clla esicve conlinuamcnlc follicando um exem- plar das obras dc Plaulo, que niandou vir, sem cujo auxilio seria quasi impossivel fazer idi}a sullicienle do merccimcnio do espectaculo. 0 mesmo lizcram os outros ospecta(lores. Todos, (juantos cxcmplan^s das obras de I'laulo havia pclos livrciros, loram vcndidos, e por bom prcco. R. DE (iUS.M.lo. ESTATISTICA OA FREQUENCIA V>tt* \v«,'v\tTs'\i«.4.ts aWowds ixo Mt\vvo Ac \?."j'A. Basel (Bale) Berliut Bern Bonn Brcslau Eriangcn Freiburg (Frisbur- go) Giessen Goelingue Gratz Greifswald Ilalle Ileidelberg Jena Innsbruck Kiel Koenigsbcrg . . . . Leipzig Marburg Muncben (Muni- que) Micenstcr Olmutz Praga Rosiock Tubinguc Vienna \\ urtzburg Zurich C7 liOl 157 8G2 SOfi 431 3i7 402 CG'J 2S0 204 (ilO 719 420 221 1 32 347 794 227 1893 328 200 1023 108 743 1904 705 189 Eslud." nao ma- Iriculad. 675 29 20 1 4 i 439 10 16:297 1:608 17:905 67 2160 157 890 837 431 356 402 669 343 208 661 752 432 254 132 347 794 247 1893 328 200 1169 108 743 2403 705 205 No mesmo vcrao de 1853 o nuniero de professores que ensinavani nas refcridas 28 universidades da Allemanha e Suissa raonta- va a 1085. Esta estatistica baslava para fazer advi- nliar 0 cxlraordinario movimento lilterario d'essa nacao, (|uc imprime annualuienle para cima de dez niilhOes de volumes. E em Por- tugal e quasi inlciraraenle ignorado o alle- miio! 93 BiscussSo do valor da fmccao perturbadora R, dado pela serie do n.' 48 do liv 2." da Theo- ria anali/tica do systema do mundo de Poittecoxdant, 2.' edicao, no caso em que se despre- zam OS (iriadrados das forcas perliirbadoras ; e indagacao da mmior ordem dos termos d'esta serie, que dependem de um arijumenlo dado. Para entrarmos 'nesta discussao deveraos determinar primeiramenlc os valorcs de u, v, s que perlencem ao movinieulo eliptico. Para isto, servindo-nos das formulas do cap. 4.° do liv. 2." da obra citada, e sendo o r^ da pag. 3u5 o mesmo que o r' da pag. 282, acharemos u = 1 :=-(! — ifj'ft -fete.) — 1, ou desprezando a 4.' ordem de e e (p, t, = i-— ('e— -|-jcos(«« + E — o)— ^cos2(n« + .— ") ^ cos 3 (n{ +.— ..) — -<9%sen"(u'— a) |l— ecos(n« + s — o)| : mas, contiuuando a despresar as quantidades da 4.* ordem, leremos pelas equajoes das pag. 280 e 281 f 1 1 ") tg^ ,f sen ^ {J— a) = tg''rl „ — ^ cos2 (n( + . — ?) + «? sen 2(n( + e— p) y, altendendo pois ao valor dc P, sera « = 5— ^'3% — («— -| ^ — Z;/" - t sen 2 a | sen 2(n<-t.) K2) — I - cos 2 (0 — sen (nt f e"> ( 4 ^^2 '' \ — )2 escno — — sen u -| 2 tiluin do 0 valor (2) ate as quantidades da 2.' ordom, ■. = lalglo |l_.!,^^-l9 + ^^-<-cos(.( + E-.)-i"cos2(«(+E-.) (*) + j tg^l^ cos 2 {nt + . — a) | sen (u'— a), 95 c substituiiido o valor (4), c aprovcitando so as quanlidadcs da 3." ordem, sera depois das reducrOcs, 1 S (' e z=tal(j-A s<;n (n< i- e — i) + -7 ■'"•'ii (» — ") + -sen(2n< + 2 i — u — a) — ^ sen(n< + .— «)— — sen (3 n( + '.t e — 2 u — «) — -sen(nt4 t — 2„.. »j :t 1 1,1 / — I 'r 7, ?^'-''> 3 ! "' + '— «) + ^ '!/■ 2 9 sen (n« + . — a) ^ ; ou separaiido 0 angulo nt i- 1 : = 3ae<(/- osen»cos „ — 'i aety ^,fCOi nsca a \ ^1 3««^ 1 ,1 ■ + lintg ^fcoia. ^ ^j - vcos« — oe <(/^(9) '+etc. ^ Suppondo xcy pequenas qiianlidades, a ordem dc eada termo scni marcada pela somma dos expoentes de x e y. Sejam as series (9) tacs que a somma dos expoeiites dc * e t/ em cada terrao exceda a unidades a dos expoentes do lermo precedente ; isto e, seja a'*+' +P"+" =a" +n»'+a; x"+' +7"+' =x" ; -r" 1 o (10) d'onde se deduz como consequencia «■"+"' +?■"+"! =.i'=i-i-p,W +ma; x'"+" +i"-^''' =x" +-,'" +mfl (11) Se niultiplicarraos em rruz dois termos da 1.° serie (9) pelos coirespondenles da 2.', te- remos cm geral os dois productos J^, 5„4-»! ,.," +X'" " y^" +t" " ; _\tn+^ 5-. ^»" " + X" y?" "' +7'" ; a ordem do l." e a'"' -r p " r x "+'* F 7"+'" , 011 pela 2.' das equafoes (11) a "' -i P "' +X''' +7'"' -Ima, que e a mcsnia ordem do 2." em virtude da 1.' das mesmas pquafoes: d'onde se segue que, para oblermos a ordem dos termos cnnsecutivos do producto das series (9), basta acliar a ordem dos termos que so obleni, multiplicando um termo da 1.* pelo correspoDdento da 2.' e pelos outros consecutivos ; de sortc que serao termos con- secutivos d'cste producto os da ordem dos seguintes : A" B'' x'^" + ^'"'/" +7" +A'"' i?'"+" /' + ^'"'"" f^-'"^^' + X B X y ^ +etc. uaes pelas equacoes (10), sao taes que a ordem de cada um diffcre da do que 0 precede dades, de sorte que 0 producto das duas series gosa da propriedade commum a ambas. producto de trez series simiihantes as series (9) gosa da mesma propriedade, pois que ducto de duas muitipiicado pela 3." esta no caso que acabamos de tractar; c assira iante, seja qualquer que fur 0 numero das series: e 0 mesmo conciuiremos a respeilo da serie quc.resulta da elevacao de qualquer das scries (9) a uma dada potencia, porque esta operacao e um caso particulaT da multiplicacao. Applicando cste theorema'aos termos (7) e (8), veremos que, por exemplo, a potencia Mol.°semudaemj(3/+p/,) + (p/+P(, + 2)!etc.{ (''^°/(,U + e-o^\'^'^° /,(«< :-.-aj^.(t2) Ora, sendo g impar, sen ^j tern a forma scnl''a; = i sen px + A' sen ((1 — 2) x T-etc, e sendo p par tem a forma sen^a; = ^ cos f,x^B' cos (p — 2) j; + etc. ; c cos^a; tanto no caso de fi par como impar tem a forma cos,^x = M cos pa; + 3/' cos (3 — 21 x -{- etc. 0 1." termo de cada uma d'estas series, mostra que em relacao a ellc a serie (12) segue a lei da sua raiz, que e a serie (7), por ser a ordem p/ rP/) egual a somma dos coeflicientes dos angulos nos senos ou cosenos d'esscs termos ; porem os outros termos dos valores de sen ^x e cos ^x sendo de uma ordem superior a que e indicada pelos coeflicientes dos angulos, escusaremos de attender a elles, porque 0 nosso iim c achar a menor ordem dos termos que dependem de urn argumenlo dado; podemos porlnnto concluir que as diversas polencias de «, u', t), t)', :, :', e os productos d'estas potencias scrao compostos de termos que seguem a lei das suas raizes ; isto e, que terao as fornias (7) e (8) : attendendo pois somenle aos ter- mos da ordem indicada pelos coefficientcs dos angulos, 0 termo geral (6) de R tera a forma seguinte : T= j [g) + (5 + 2) + etc. | j [if) f (y' + 2) ,- etc. | x j (j") + [f -\ 2) ^r etc. | ^ |(ff"') + (r + 2) ^ etc. |x -^j(„i + .-.) '^g' [n't 1 .'-„') X lllrj" („ , . ._,; X::>"'(n'/ + e'-«')> ""'(«''-"' + •'-') (13) Conlinilo. J L. SARMENTO. ® Jn^titttt0^ JOR1NA.L SCIEINTIFICO E LITTERARIO. APONTAMENTOS I. DepnicSo e etymologia das palavnu Ihrme- neutica e Exegese — exame de differenles defiiii- coes de Hermeneulica Juridica — verdadeiro modo de a considerar e sua imporlancia para a jnrisprudencia. — A Ilermeneulica do direito de cada Pom alem das reyras geraes lem-as particulares, e uma parte theorica e oittra pra- ctica — limites d'esle traballw. A palavra Hernicneutica, derivada do verbo grego tpjiivEUM, que significa iuterpretar, expli- car e tanibem dcmonstrar c ensinar, crapre- ga-se geralmenle para designar a arte d'in- terpretar as palavras dos outros. A. Hernieneutica juridica e comniummente definida a arte d'intcrpretar as ieis, ' e cha- mam-lhe tambem Exegcsc, do verbo grego iXr,-ihu.^i, palavra c|ue scndo aprincipio appli- cada a interpretacao das cousas sagradas, co- inecou dcpois de Leibnitz^ a ser erapregada tambem na jurisprudcncia. Aquclla deliiiicao de Herraeneiitica juridica parece-nos insufficienlc. Era l.'logar, porque limitada as Icis, deixa de fora do seu quadro nao so 0 direilo consueludinario, mas tambem differentes diplomas, que nao dimanam do po- der legislative, taes como os decretos, por- tarias elc.^e as senlencas, contractos e dis- posicoes d'ultima vontade. Em 2.° logar por- que suppOe que a llermeneutica juridica deve tcr necessariamente por Ibema um dado texto e por fim a sua explicacao. Para remediar o primeiro defeito basta sub- slituir, como fazem quasi todos os modernos, ' Eckliard Herm.Jur. f 22, sr. Caraeiro Prim. link. de Herm. ^. 12 e outros, ^ Na nova method, discendo' docendopf/uejurispr. pu« blicada primeiro anonyma em 1667, c depois em 1748, diz Leibnitz que toda a sciencia de direito consta, como a de theologia, de qualro partes : a dugmatica que tracla do direito corrente, aliistorica que exam ina o tempo e rao- do como o direito foi introduzido, reformado ou revogado, a exegelica que se occupa das fontes, e a polemica, Ed. de J 748 p. 26. ^ Vej. era Hugo Civilist Magazini." aufl. vol. IV. pag. 89 — 1 34 uma longa deraonstra^'ao de que as Ieis nao sao as unicas fontes das verdadesjnridicas. Vol. Vi. A.G0ST0 1." a palavra Ieis pela palavra direito. 'Nesta comprehende-se realmente tudo quanto inde- vidamente a primeira definicao excluia e con- serva-se ate melbor o scntido natural das pa- lavras llermeneutica juridica. Superfluo e moslrar que esta sciencia deve applicar-se a todas as fontes do direilo; mas como as sentenfas, contractos e disposicoes d'ultima vontade sao difYerentes do que vul- garmente se entende por fontes de direito, e parecem a primeira vista alheios da Herme- neutica juridica, dareraos a este respeito uma breve explicacao. 0 direito as vezes e tao rigoroso, que nao pcrmitte aos particulares o modificarera as suas disposifoes. Tal c por exeraplo a lei que esta- belece a inaiienabilidade dos bens vineulados, as Ieis penaes, etc. Outras vezes porera limi- ta-se a legislar sobre os cases em que os ci- dadaos naoprevideneiaram, tolerando que el- les regulem as suas relacoes por modo diverse de estabelecido na lei. Taes .sao as disposi- coes, que tractara das successoes legitimas, e outras muitas a respeito dos contractos. Ae di- reito no primeiro caso podemos com Savigny ' chamar absolute, e comprebende as Ieis impe- rativas e probibitivas ' : no segundo caso pode- mos, com 0 mcsmo escriptor, chamar-lhe sup- pietivo, ou com outros facultative \ Quando o direito e puramente facultative, 0 cidadao tem de certo modo e poder de le- gislar: assini que aos testanientos chama com razae o §. o.° da nossa lei de 2S de junho de 176C actos legislatives, e e mesmo podemos dizer dos outros actos juridicos. Esles peis tem tante direito a pertencer a Hernieneutica juridica como as preprias Ieis facuilalivas, e nos veremos que elles devcra interprctar-se, come se estivessem incorpora- dos na propria legislacao. ' Tr. de Dr. Rom. liv. 1." cap. 2." ^. 16 pag. 54 da trad, franc, de 1840. ■^ Esta distinc<;5o das Ieis em imperativas e protiibitivas e com raziio impugnada por Savigny log. cit. p. 56, porque se nao funda seniio na forma affirmaliva ou negativa, queo legislador deu a lei. Comtudo aclia-se adoptada por quasi todos OS escriplores. -* O cit. Savigny censura o nome t\efacultativits.^ que comniummeate se dd as Ieis a que elle chama suppletivas. Mas aquella denoraina^ao eexpressiva, porque ao mesmo tempo que revcia a existencia d'uma lei subsidiaria das declara96es da vontade juridica dos particulares, mostra que estes tem o direilo de legislar por diverse modo. _lSa". NcM. 9, 98 As sentencas lambem dcvera pertencer-lhe, porque consliluem direito para as paries eiitre quem sao profcridas. A delinifao portanto, que dii por objecto a Herraenculica juridica a interpretarao do di- reito, V, por mais exteusa, preferivel a que primeiro referimos '. Essa defiuirao poderia baslar para rerae- diar o scguiido defi'ilo da primeira, se nao an- dasse espalliada pelos iraetados e pelas eseho- las unia idea falsa, por incomplela, licerca da niissao d'csta sciencia. Suppoe-so geraliiientc que clla se limila a dar as regras, que nos au- xiliaiu a transportar d'um texto dado para o nosso espirito todo opensamento do Icgislador encerrado 'nessc texto. Scgundo csta idea os preoeitos que nos instrueui no niodo de sup- prir as lacunas da legislacao, e de resolvcr as coutradiccoes que apparecem nclla, nao de- vem pertencer a llermeneulica juridica. Feliz- mente os que sobrc eila escrevcram tera tide cuidado de nos dar alguns d'esscs preceitos; e 0 uso da corabinacao do texto que so quer explicar, com outros logares a que chamam parallclos, e antiquissimo e mui I'requente nas notas dos glosadores. Apezar porem d'estes preceitos, como nao eram liliados 'nuraa concepcao clara da Iler- meneutica juridica, esta nao podia apparecer era loda a sua luz nem encaminhar-se ao scu verdadeiro fim. Segundo a comprehendo, a Uermeneutica juridica deve ensinar-nos a rcconstruir todo o direilo posilivo, de sorte que este forme um systema corapleto e harmonico '. Ella demo- ra-se as vezes 'num texto dcterminado, como 0 architecto sedemora a alleicoar a pedra que tern de ajustar noedilicio. Analysa cuidadosa uma lei, palavra por palavra, periodo por pe- riodo; appropria-se do character eopinioes do legislador que a fez; esluda as circuiustancias do tempo, em que foi publicada; investiga os motives, que a produziram; coinpara-a emfim com as outras leis parallelas, que a rostrin- gem ouampliam ou esclarecem. Masestes tra- balhos parciaes sao apenas meios, de que eila se serve para cbegar ao seu lim. Esse nao o tern conscguido senao depois queproduziu aSynlhcse harmonica e completa do direito. 0 seu primeiro processo e sem diivida a ana- lyse, mas deve ir subindo d'esta para a syn- thcse, da qual tornara a descer para corrigir OS defeitos inevitaveis da primeira, e elevan- do-se d'esta novamente para aquella, acbara ' Savigny, cujas idt'as adoptamos em miiilas materias da Hermeneutica, recunhecea p. 202 que a interprela^3o juridica n3o se limita as leis, mas inscrevendo o cap. 4 liv. l." " interpreta^So das leis " da a entender que eila deve ter por base um dado tevto. o que nilo e verdade nos casos, em que a legislatjiio e omissa. ^ Em que couslste a liarmonia do systema formado pelo artilicio do iiiterprete, no logar proprio o diremos. ahi muito que oompiJr e aperfeifoar. Este Ira- balho de cada vez que se repete produz scm- pre algum melhoramcnto na jurisprudencia, por(iue OS estudos exegeticos sao tanto mais jjroliruos e scguros, quanto mais com])letos e solidos sao os trabalhos synthcticos, e cstes sobem tanto em perfeiriio quanto aciuelles au- gmentaram em certeza e fecundidade. A analyse muito minuciosa e exclusiva dos tcxtos produz, como produziu ja, a jurispru- dencia casuislica. Asynthelica, desajudada da analyse, acaba por substituir ao inipcrio da lei 0 dominio daopiaiao. A Herraenculica deve reunil-as ambas para as emprcgar como meios, ate produzir a verdadeira synlhese do direito, que e o seu ultimo scopo. Este modo de considerar a llermeneulica permittir-nos-ha traclal-a com aquella ligafao scientifica, que falla nos differenlcs Iraetados, e desde ja nos auclorisa a inculcal-a- como importantissima para os estudos e progressos do direito. A Hermeneutica juridica tem (abslrahindo das regras da grammalica e logica) uma parte geral, que e applicavel ao direito de qualqucr povo. Mas assini como a grammalica tern re- gras gcraes, e outras especiaes accommodadas ao genio e indole da lingua d'um dado povo, • assim a nermencutica lem uma parte especial appropriada ao cliaracter e struclura particu- lar do direito de cada naciio. Os Hermeneuti- cos tem moslrado practicamcnte que nao des- conhecem esta verdade, e porisso e que Eckhard, por exemplo, Iracla em separado do modo de inierprctar o direito romano, o ca- nonico e o gcrmanico. A Hermeneutica tem tarabera uma parte Iheorica e outra practica : A primeira diz os principios geraes, que devemos ter cm vista para reconstruirmos o systema do direito. A. scgunda obscrva esses principios e os poe per obra, praclicando essa reconslruccao, ate a dcixar completa. 0 nosso lim e tractar da Herraeneulica do direito portugucz. Mas como as fonles do nosso direito sao de mui diversa nalureza e ori- gem, 0 nosso trabalho teria de ser muilo vas- to, porque antes de applicarmos o direilo subsidiario as ncccssidades do nosso, lemos de csludar aquelle na sua pureza, c portanto de aprender os principios privativos da sua Hermeneutica. Alem d'isto, segundo o fim que atlribuimos a esta sciencia, fora mister cons- truir com o seu auxilio todo o systema do di- reilo porluguez, obra que nao podia caber nos aperlados limites d'estc jornal. Restringir-nos- lienios, pois, a parte Iheorica da Hermeneu- tica do nosso direilo, e na parte practica cui- daremos so de investigar o espirito da nossa legislacao, em todos os sens raraos sim, mas apenas nos pontes fandamenlaes. Continua. A. H. 99 HISTORIA DA CONJURAQiO DE CATILINA FOB SA.LLUSTIO : TBADUCCAO POBTLGIEZA. Continimdo de |>agg. (18. L. Em quanlo islo se passava no senado, eniquanlo, vcrilicada a delacao dos Icgados e de T. Voltucio, se Ihes decrelavam premios, OS libertos e alguiis clieiUes de Lentulo, disper- sos por differentes bairros e ruas, incilavam OS artilices e cscravos para o lirarem da pri- zao; e outros procuravam cabccas de niotim, cosluiiiados a excilar por dinbeiro sublevacoes no estado. CeUiego niandava rogar aos sens escravos e libertos, mais escolbidos por des- embaracados e alrevidos, que armados roni- pesseni em tropel ale onde ellc eslava. 0 consul, apcnas soubc d'esles preparati- vos, poz senlinellas aos conjurados, como o aconselbavam o tempo c as circumstancias; e propoz cm pleno senado, que se deliberasse sobre o que deveria fazer-se aos reus presos. Pouco antes, ja o senado por raaioria os linba julgado Iraidores a republica. Entao, pedin- do-se em primeiro logar o parecer de Decinio Junio Silano por ser consul desigiiado, votou elle pena de mortc contra os reus presos, c con- tra L. Cassio, P. Furio, P. Umbreno, Q. Annio, quando se prendessem; mas ao depois, muito abalado pelo discurso de C. Cesar, disse que seguiria a opiniao de Tiberio Nero, que foi: que se lornasse a votar com guardas dobradas, e depois de nova informacao. LI. Cesar, quando Ibe tocou falar, pedln- do-lhe 0 consul o voto, deu-o 'nestes termos: « Todos OS boniens, padres conscriptos, que « deliberam sobre eousas duvidosas, devem « despir-se de eompaixao, ira, odio e amiza- a de: quando taes alTectos cegam a alma, nao « pode ella ver a vcrdade: ninguem serviu ao « mesmo tempo a capricbos c interesses. Muito « pode um espirito livre; mas se o possuem « paixOes, dominam estas, e cllc nadii vale. « Muilos reis, muilos povos, padres conscri- « ptos, podera eu memorar, a quem a com- « paixao ou a ira inspiraram resolucoes funes- (■tas; mas prefiro lembrar-mo dos rasgos de (ijustica e prudencia, praticados por nossos « maiorcs contra os impulses do coracao. « Na gucrra da Macedonia, que livemos com a 0 rei Perseu, a cidade de Rbodcs, essa grande « e opulenta cidade, que devia ao povo romano • sua opuleiicia e crescimento, foi-nos infiel «e hostil. Terminou a guerra, deliberou-se « sobre a olTensa; e nossos raaiores, para que fsenao pensasse, que as riquezas e nao a in- •tjuria dos Rbodios linhani sido a causa da 0 guerra, deixaram-os impunes. Em todas as « guerras punicas, tendo Carthago em tempo « de paz e de trcgoas corametlido mil perfidias (( atrozcs, ja mais ^zerara elles outro tan to em (1 represalia, prcCerindo assim actos dignos « de si ao que com justica i)odiam fazer a « sous inimigos. Tende lambcm v6s, padres « conscriptos, cgual cautella; nao possa cora- 0 vosco 0 crime de Lentulo e dos outros mais <( que 0 proprio dccoro; nao prezeis mais a « ira que a fama. So e possivel acbar pena a peea de moeda, exirabido do exopbago, com ajuda do colchete de Graaf. No meu caso nao foi possivel fazer a ex- tracriio com o colcliete de Graaf, nem com o gantbo de Petit; e lambem bojc vejo que nem com o instrumenlo de Mr. Kubn o seria : e como 0 consegui com a pinca exophagiana, para a qual proponbo uma modificacao, que por aquella occasiao me occorreu, me delibe- rei a dar publicidade a seguinte observacao. No dia 18 de Janeiro de ISoo se me apre- senlon Maria Martins, edade 14 annos, filha de Jose Martins Uippolyto, natural de Silvei- ra, freguczia d'Oim, districto d'Aveiro. Tinha na sua terra, e no dia 16 do mesmo mez, niottido na bocca um pataco, e por descuido 0 cngulira. O pataco desceu ate perto do terco inferior do exopbago, pois que a doente affirmava que 0 seulia abaixo das claviculas. Disse-me que a liaviam collocado de cabeca para baixo, dan- do-lbc murros nas costas, e Ibe linham rae- xido com uma penna no fnndo da bocca para promover o vorailo ; mas o pataco nao tinha saido: disse tambem que desde o successo, nao podera mais engulir cousa alguma. Quiz vcrificar dando-lbe agua a beber, e mesmo com a idea de Ibe applicar algum vo- mitivo; vi porem que a doente nada absolu- lamcnle podia engulir. Tive toda a diivida 102 em oalcar o paiaco para o cstomago, por me lembrar que devia ler grandc dilljculdadc em atravessar o pyloro e a valvula de Bauhim, assim conio, pela sua posicao, em percorrer 0 colon aseendente. Em lodos estes pontos devia ter grandc demora, se e que diegasse a venccl-os; c ainda mesmo vencendo-os, niio seria antes dc ter produzido o envcnenamento pelos sacs de cobre, resullado da ac(;ao dos acidos do eslo- raago e inteslinos sohrc o pataco: alem dc muitos outros ineonvcnicnles, estc I'oi o que medelibcrou a lentar a exlraccao pela bocca. e no caso de a nao conscguir, indicar a doente que entrasse no bospilal, para abi se procedcr a exopbagotboniia. Sentada a doenle 'nunia cadeira, introduzi no exophago o colcbetc de Graal', nao conse- guindo fazcl-o passar abaixo do pataco; e o mesmo aconlcccu com o gancbo de Petit, islo taivez por nao erapregar cerla forea neccssaria para distcnder as parcdes do exophago; mas receava com clla empurrar o paiaco para o estomago, por isso que o nao podia ampa- rar da parte inferior. (Vanlagem que tinha o dr. Kuhn, porque alem de ser uraa raoeda de prata, como so eslava abaixo da regiao laryngea do exophago, como cilc diz, podia com OS dcdos polcx e indicador da mao es- querda, coliocados lateralmcntc acima das claviculas, comprimir o exophago, e obstando assim a que a mocda descesse, emprcgarcom 0 instrumento, dirigido pela mao direita, a forca necessaria para com ellc descer abaixo da mocda). Conclui pois, que liavia grandc contraccao das paredes do exophago sobre o corpo estra- fibo; e nao convindo cmprcgar forca no scn- tido perpendicular, achci que o meio era dis- tender as paredes do exophago no sentido transversal, empregando para isso a pinca exophagiana. Logo da primeira applicacao consegui apa- nhar o pataco, liz aigumas traccocs, mas a pinca largou-o; seguuda tentativa, o mesmo resultado; e ainda ([ue apcrtava fortemente OS anneis da pinca, conheci que nas pontas nao havia forca para veneer a contraccao do exophago: foi por isso que me occorreu a modilicacao que proponho a este instrumento, como abaixo menciono. Yendo que era necessario dilatar mais o exophago, procedi do raodo seguinte. Appli- quei novamenle com a mao direita, a pinca exophagiana, e tendo com as pontas seguro 0 pataco, liz tilillacOes na uvula com a rama d'uma penna dirigida pela mao esquerda, e no acto, em que o exophago se dilatou com 0 moviraento antiperislaltico proraovido pclas tilillacoes, liz novas traccoes retirando a pin- ca, conseguindo trazer ella o pataco. Offered urn caldo a doente, e tive o gosto de Ih'o ver engulir sera incommodo, nao me constando que depois occorrcsse algum accidentc conse- cutive. Ilccommendo a idea de promover o vomito, como practiquei, combinado com as tracfOes, que tenham de fazer-sc na extracgao de cor- pos cslranhos do exophago ; por isso que di- latando-se elle por este meio, nao so se ven- cerao muitas dilliculdades, mas sempre se fara csia operacao com mais segurauca e suavi- dade. A pinca dc que me servi linha de compri- mcnto trinta e dous decimetros, e como o eixo estii ]>ro\inianienlc no meio, fieava distante dos anneis ou das pontas quiuze a dezeseis decimetros. Supponho que, por ser muita a distancia, que vai do eixo as pontas, c que nao tinha forca sufficientc para veneer a con- traccao, que 0 exophago exercia sobre a moc- da, c com vista de a augmentar, me occorreu fazor 'nesta pinca uma modilicacao, consis- lindo em collncar o eixo no tcrco proximo das pontas, dando tambem aos ranios a modifica- cao, que Mr. Charriere fez as tenazes para a extraccao da ])edra da bexiga, e mesmo as pincas de curative; fazendo passar o rarao esquerdo por cima do direito, c este inversa- mcnte, a lim de que as pontas possam ler o maior aflastamento, sem desviar muito os ra- nios entre si. Este instrumento nao perde nada das suas vantagcns com a rainha niodificacao, por isso que e inutil as pontas afastareiii-se quando se abrcni, como acontece 'naquella de que mo servi, que e das eommuns; e se elia assim modilicada se nao abre tanlo, e sulEciente para os usos, cm que teni de empregar-se; e licando o eixo mais proximo das pontas, lica- rao cstas com mais forca, o que e o nieu lim. Darei uma breve dcscripcao do instrumento de Mr. Kuhn, pela siniplicidade e facilidade em se conslruir, quando se nao possa haver outros, e mesmo porque, em cases especiaes, tem vantagcns sobre os conhecidos. IS'ao e mais que um fio de ferro d'um mil- limetro de grossura e de comprimenlo de 6 a 7 decimetros. Depois de se Ihe ter feito desapparecer ai- gumas aspcrczas, que tenha, dobra-se pelo meio, formando uma ansa dc IC a 20 milli- nietros de diametro transversal. Arredonda-se bem a ansa, c fixam-se as extremidadcs dos dous ramos uma a oulra, por meio d'um lio encerado, faz-se uma especie de gancbo do- brando a ponta da ansa com tenazes, tendo 0 cuidado de que lique com as dimensoes ne- cessarias para poder abracar e reter a moeda, que se tenta cxlrair, o que se deve experi- mcntar antes de fazer uso d'este instrumento, adaptando-lhe uma peja similhanle aquella, que quercraos extrair. Para facilitar a introduccao no exophago, da-se uma acommodada curvatura aos raraos, e ja se ve que segundo esta curvatura e feita 103 'num ou 'noulro sentido, assim o gancho se acha na face concava ou convexa do iiistru- mento; e como o gancho podc passar adianle ou atraz da peca metallica, pode offereccr-lhc ou nao a abertura conforme a tenha na face convexa ou concava; portanto, depois d'uma tentaliva infructuosa, dcvc-se mudar a curva- lura dos ranios, a fim do instrumonlo poder apresentara parte aberla a peja metallica. Coimbra 5 de julbo de 18J)7. IGNACIO BODRIGCES DA COSTA DUARTE. BIBLIOGRAPHIA. POR Jloslino Antonio onto8 de direito publico ate o fim do til. 9 do liv. 1.°, e nos tilulos 33 ale 37 do mesmo livro. Nao mencionaraos uma obra do sr. conselheiro Mexia Saleraa por ainda nao estar completa, e omitlimos outras por niio merecerem particular men^io. ■> Nao fallamos aqui das prele^Ses do sr. conselheiro Basilio Alberto de Sousa Pint., publicadas em 1849 por dous de seus discipulos a face dos aponlamentos, que llie tomaram na aula porque desKra^adamente esse excellenle opusculo compreliende »o uma pequena parte do direito admiaistrativo. Hesilimos se escreveriamos aqui o nomc dosr. Coelho de Campos, porque as suas duas edic;i5es do Cod. Adm. annotado (1849 e 1054) sao anonymas. Mas deu-nos o lelo eDasocciipa selelinhas. INOTICIARIO. ^■ori-oioeiosrioniifico.— A. Franca aca- ba de ])erder um dos sens niaiores ornamen- tos, 0 bariio Luiz Agoslinbo Caucby, o pri- nieiro niatbematico d'esla opocba. Nascido cm I'aris a 21 de agoslo de 178S, niorreu as 4 iioras da manba de 23 de main ultimo cm Sccaux, de 08 annos de idade, conservando ate aos ultimos momenlos a mesma aclividade e fecundidade que semprc o distinguiram na sua longa carreira. Desde a edade de 14 annos cm que cntrou na cscbola polytecbnica, cntregue ao estudo das malbematicas, comccou desde logo a lor- nar-se coniiecido pela brilhante ligura que fez 'nesta esclioia ; e dois annos dcpois attraia a altcncao dos geometras, pcia resolucao d'um prolilema dc grande difliculdade. Concluido o cnrso da polytecbnica de que M. Caucby I'oi considerado o aiumno mais distiucto, eutrou na Escbola de pontes e cal- cadas, c abi coiiservou egualmcnte o primciro iogar. Acabados os estudos, comccou em Cherbourg a carreira de engenbeiro, c algum tempo dcpois era professor da cscbola, de que, como aiumno, bavia sido jii um dos niaiores ornamentos. Em ISlii obteve da academia das sciencias o premio grande de malbema- ticas por uma raemoria sobre a Iheoria das ondas. Em 1830 abandonou o magisterio, nara nao prestar juramcnlo a monarchia de julho. Foi entao immediatamcnte cbamado pelo rei da Sardenba, c conlinuou cm Turim na carreira do professorado, ale que, por convile de Car- los X, foi cncarrcgado de complclar a cduca- cao do conde de Cliambord. Voltou dcpois ii Franca. 0 governo de Luiz Fclippc nao Ibe permittiu enlrar de novo nas suas antigas funccues; e o illustre geometra esteve dcsempregado ate 1848, cstudando sempre com o maior aQinco, e cnriquecendo as niatbcmaticas com os mais preciosos tra- balbos. Dcpois da acclamacao da rcpublica, M. Caucby retomou o seu Iogar dc professor, tendo sido dispcnsado do juramento; e couti- nuou ale aos ultimos instantes da vida 'na- quclla imporlante missao, que desempenbava com a maior dignidade. M. Caucby dcixa a reputacao d'um excel- lenle bomem, alTavcl no trato, e d'uma ina- balavel fidelidade as conviccoes rcligiosas e polilicas, que tinba. Como sabio, a sua repu- tacao e inconlcstavel. Nao ba ramo algum das matbcmalicns puras e applicadas, a que 0 illustre nome de Caucby nao se acbe ligado por alguma descoberla imporlante, ou aper- fcicoamenlo .scnsivel. Sao inumcraveis as me- morias e notas scicntificas que escrcveu; a maior pane das quaes com muito proveito dirigem a qucm sc cntrega ao estudo d'aquella scicncia. 105 M. Caufhy pertencia a secrao de mecha- nica da aeademia das sciencias, dc que havia sido nomeado niembro em 1816; e occupava ahi a terceira cadeira, que cm 1795 tintia per- tencido a M. Leroy, e era 1797 a Napoleao Bonaparte. A precedencia era digna do suc- cessor. Desroboria dc nni novo pianola. — Depois que em o numero do 1.° de julho no- ticiamos a dcscoberla de um novo planeta (44 dos asteroides), ao qual Mr. A. de Hum- boldt dcu 0 nome dc Nysa ; foi ja dcscoberlo um outro em Paris por M. Goldschmidt, as 11 horas e 30 minutos da noite de 2G dc junho. 0 astro tem a apparencia d'unia eslrella da 10.' a 11.' grandeza. Com este sao ja trez os planetas descober- tos em 1857. PiscicuKura — Ila em Franca um esta- belecimento de piscicullura, que rauito tem concorrido para propagar os processes de tao importante ranio d'induslria rural. E o esla- belecimento de Uuningue. 0 numero de pessoas, que em 1857, re- quisitou ovas a este estabelccimento, foi cinco vezes maior que nos dous annos antcccdentes, e a distribuicao I'oi em muito maior escala. Em 1857, participaram d'esta distribuicao 59 departamentos francezes, em quanto que em 1855 e 1856 so se contaram 21 e 27. Os pai- zes extrangciros tanibem t^m sido contcrapla- dos, sendo 9 os que em 1857 receberam se- mente. 0 numero d'estabelecimentos e sociedades, que se occupam da piscicullura, e que eslao em reiacOes com o estabelccimento de Hunin- gue, que em 1855 era apenas 7, subiu a 30 em 1857. Estes factos attcstam verdadeiros progressos da piscicultura artificial. Cera vcsoini. — Entre OS abundantes e uteis arbuslos da Luiziania, ha um muito no- tavcl, que e o mijrica-cerifera, conbecido vul- garmenle pcio nome de cericiro da Luiziania, cirleiro vegetal. Este arbuslo. da familia das myrrbas, scra- pre verde, de folhas persistentes, e serriadas, tem 3 ou 4 metres d'altura, e cresce a borda dos rios, c em geral em todos os logares bai- xos e humidos. Produz annualmente um pe- queno fruclo, similhante pela forma e volume a pimenta franccza. Este fructo, que e abun- dante cm todos os ramos, e coberto de uma subslancia hranca, um pouco uncluosa, que e uma especie de cera. Eis como se extrae este producto. Em uma caldeira de ferro esmaltada, ou de cobre esta- nhado, ferve-se uma pouca d'agua, na qual se mcrgulha o fructo, durante dous ou trez minutos, previamenle involvido em uma rede fina. Ao passo, que a agua arrefece, a cera, que sobrenada, forma umacaraada consistente e compacta, que facilmente sc separa. Pelos cnsaios c Icntativas que sc tern em- prchendido, esta averiguado, que sc o cericiro vegetal fosse tonvenientemente cultivado, os seus fructos scriam mais copiosos, e produzi- riam muito maior quantidade de cera. Este arbusto cresce egualmenlc em grande abundancia nos Attakapas e Taylor — Coun- ty, Texas, Kentucky, e Florida. VoNliflOM in<>oniIiutt r. Vejamos agora qual e a forma dos termos da menor ordem que dependem do argumento i'n't — int. Se no termo geral (13) mudarmos 0 producto dos senos ou cosenos em senos ou cosenos de arcos mulliplos, elle se mudara em outros da forma '^=^'^osY^+9'+9''')n'l-{I-g-g'')nt+[I+g'+g<''y-[I-g-g''y.-g^-g'J-g''^-g'''o.'\.-{\^] rp f sen ^ — -^ cos 108 oaie g,g',g",g"' sao numeros posilivos ou ncgativos, e intciros, visto que os cocfficicntes dos augulos nos valores de u,u',v,v',z,i', sao lodos intciros ; alera d'isso o coeiBcieale k c da lorma A = j (j + 5' + g" + 9'") + (? + 'ff ^?' i ^"5 PO'* lizerraos 1 -\-g' -\-g"' = i' ; I — g — g" = i, tcremos g + g' + g"-\-9"'=i' — i (17) t'Olermo(lG) tornar-se-ha cm r=A ^^" U'n't — int+i\' — ii — gu — g'J — y"a. — g"'a.'\ ... (18) assim, sc g, g', g", g'" forem lodos posilivos no argumenlo d'este lermo, sera pela equacao (17) i' — f a ordera do coefficicnlc /r, sc porcra alguma d'eslas quantidades for ncgativa no diclo ar- gumenlo, 9 por exemplo, a equagao (17) dara — g +g' ^ g" + g"'^i' — i; ou g + g' + g" +g"' = '' — i-\--g\ sera pois 'neste caso i' — i-\-ig a ordem do coeflicientc /■ ; isto i', do Icrmo (18). A equacao {\'i'\ pode acliar-se de outro modo, notando que 0 valor de R e independcnlc da origem das longitudes; porque lanlo 0 angulo {n'l-\-i') — (nt + i), como os angulos nt + i — u, nt + i — a, n't + t' — «', n't + t' — a' que 'nelle entram pelos valores de u,u',v,v',z,z', sao diffcrencas de angulos tonlados da niesraa origem : sc pois no argumenlo do lermo (18) augmentarmos as longitudes da quantidade 1)1, eslc argumenlo se tornara em i' {n't + ,' + i'} — i in t t- e + 4,) — (/ (« + — g'^' — g"a. — g"'<,.'), que c visivelmcnle 0 lermo da menor ordem que depende do argumenlo ''n't — iji(-t-i't' — «e — ga — g'J — j/'V — g"'(t'; 6 esta ordem e g + g' + g" + g'", ou i' — » pela equacao (17). De tudo 0 que deixanios diclo se segue que, suppondo reunidos lodos os termos de R que dcpendem do argumenlo i'n't — int, o seno ou coseno d'este argumenlo tera por factor uma serie inlinita cujo 1.° lermo e da ordem i' — i, e os oulros de ordem superior: se pois fizer- 1 1 mose = /i3; (■' = /i'p, ; <^-i? = /j"3; tg -^'^h'" ^, esle coefficienle tera P"'—' por factor; e suppondo i' — i successivaraente cgual a 0,1,2 «, etc., a serie que da o valor de R sera da forma jff = A<, -h A, p-|-*j p*-l-. . . -t-A-„ p' -|-A„+, p°+' +etc (19) onde k,,k,,h\ . . ./.„, etc., reprcsenlam funcfoes taes, que se nao aniquilam quando p=o; para que a serie (10) fosse convergenle, seriaprecisomoslrar que -^--fi icnde para um limite n» < 1 ; mas para isto seria precise conhecer a forma dos coeflicienles /.„+, e k„ o que nao c facil ; entre tanto e muito ])rovavel que os coefEcientes fr„ + , e k„ scjam pouco differcntes entre si, e por is.-.o a sua relarao pouco dilTereute da unidade ; o que, sendo verdadeiro, daria a serie (19) muito convergenle por ser fi muito pequeno. 0 que deixanios diclo pode tnlvez servir de fundamento A demonsiracao rigorosa da con- vergencia da serie que da o valor de R no caso das pcquenas excentricidades e inclinacOes. J. L. S.\RME.NTO. ® Jnjstittttrr^ JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. DISCIKSO PRELI)II\4R DA QUARTA EDIQAO DO METTIODO PORTUGUEZ CASTIIillO 0\\ettt'u\o «ft\o (\,\vc\of ft eo\\*\itvat"vo \e Voias tts \^wsoa& \\.\u4V\'aias, ^aVnoVuas cto^umvUs. 0 consumo, cm tao poucos annos, de uma cdicao de mil exemplares, d'oulra de dois mil, d'outra de quatro mil; a fundacao e conser- va£ao de tanias escholas, em S. Miguel, em Portugal, e no Brazil; a noloricdade da excel- lencia e abundancia dos seus fruclos ; os de- poimcnlos favoraveis ,e conlestes dos profcsso- res, que as regera ; o louvor liberalisado no parlamenlo e na imprensa por tanlos entendi- mentos dos mais distinctos, trazem ja iioje confirmada a primazia do methodo-porltiguez; primazia alias intuiiiva, e que as loiigas e minuciosas dispulacoes tornarara ainda mais evidente. E um assumpto exhausto; e uma verdade assenie; eja agora inconcutivcl. Pas- semos portanlo a outras consideracOes. Porque iiao tern esle methodo conquistado La ja muilo as escholas todas? Porquerasao, ao passo, que se dilata pela America, perma- nece estacionario no paiz, que o produziu, se porvenlura nao tcm 'nelle pcrdido nos ulii- mos tempos alguma parte das suas conquislas para a civilisacao? Por muilas causas oltvias, econhecidas: primeira, porque era novidade; e bastava esia ; segunda, porque deslocava, ou parccia de^locar, suppostos intcrcsscs con- sagrados pela posse; Icrceira, porque se Ihe nao dcu, como convinba, allencao e amparo; amparo positivo e cflicaz; quarla, porque, alcm dos preconceilos, que forcosaniento ha- viam de acluar nos cspiritos da maioria dos mestres contra uma ihcoria, que se Hies re- presenlava difficultosa de comprchendcr, e contra uma praclica mais traballios^ scgundo a elles se figurava, tinliam mais que espcrar para os seus interesses pessoacs e domesticos de se conservarem ficis ao passado, fosse elle qual fosse, do que de so avcmurarcm pcleja- dores voluntaries a bordo de uma nao, que, por enlre ccrracoes c tcnipcstadcs, desleria Vol. VI. * Agosto 15 — temerarias velas, caminho de um oriente re- condilo ii maior pane dos espirilos. D'aqiii as resislencias, d'aqui as defeccoes, d'aqui o cstar apenas planlado e seguro um systema, que ja podera ter bracejado para toda a parte os seus ramos floridos, verdes, fructuosos, e de sua natureza multiplicalivos. Todos hoje fallara da conveniencia, da ne- cessidade, da obrigacao, de se olhar deveras pela instruccao publica; a creacao de um mi- nisterio especial para ella, acaba de ser pa- triotica e eloquenlemente proposta, e susten- tada, acceita no parlamcnto. Appareca esse rainisterio, dignamente provido c servido, e a questao do ensino primario para o maximo nuniero, no menos tempo, e com os mais sa- tisfatorios rcsultados, sera logo das priniei- ras a primeira. Proceder-se-ba, scm diivida, a um inquerilo serio e amplo, tanias vezes pedido, e scmpre recusado, do que sao em boa verdade a escbola vclba e a eschola nova ; e sobre o veredicto dos fades, testcmunhas eternamente insuspeitaveis, o melhodo-portu- giiez, ou sera de uma vez para sempre prohi- bido, ou de uma vez para sempre abracado pela na^ao para o ensino e melhoramento dc seus filbos. A coexistencia official de dois sy- stcmas opposlos em tao grave e delieado as- sumplo, cm assumpto de tamanbas c tao va- stas consequencias, e perante o bom senso, um escandalo; e perante a bumanidade uma aboniinacao, a que, de um modo ou d'outro, impoilf^e urge se ponha ponlo. Convindo que o novo ensino seja cxacta- mcnle conbecido, para poder ser avaliado; bavendo muitissimas pessoas, que o ignoram ; nniitas, que so lem d'ollo I10COC5 ciioueas, ou incomplelas ; c nao fallando ate quern de industria Ibe escureca os nierilos, e Ihe le- vante indcsculpaveis teslemunhos, vamos ex- por aqui, o mais succinlamcnte que podernios, 0 que e o methodo porliKjucz, convencidos, como estamos, de que os homcns, que Icgis- 1am, OS que governam, os que administram, OS que pela imprensa inllucm na opiniao, e cmlim lodos os que, dirccta ou indircctamen- Ic, pcdcm contribuir para o dcsejavcl acerlo na organisacao das escholas primarias, algu- ma vantagcm acbaiao cm fixar as suas ideas 'num asirumpio que, pela sua natureza espe- cial, ludimenlal e apparenlcmcnle minima, 18S7. Num. 10. 110 uunca lalvez occupara as suas racJiUfScs, c sohre 0 qual, toila'via, o scntcnciar com jus- tira oil iiijustica, ningucm dira (];iie seja in- dilTereiUc. 0 melhodo-portuguez tomou como priiucira base sua, as soguintes verda^cs: — Que OS alunmon, que elle tern de doulri- nar, entram para a eschola do ler e escrever so inicimlos, e mal, na liuf/ua patria. — Que esles mesmos abimnos sdo, na gene- ) alidade, crianras dotadas pela natureza, como todas a? criancas, de imaijinacao, vivacidade, iuconaianria. necessidade e desejo de instntir- se, ieiidencia para assu<,iar n desconhccido ao eonhecido, predisposicao insita para « ona/y- se, e sobretudo [ponto capital) Ido propensas a benevolencia, como a alegria, e tCio instiii- ctivamenle tevudas ao movimento, com que me- dra 0 corpo e a sonde, como as cogitaroes, em que a luz da inteltiyencia Ihes caminha sempre adeante da memoria. 0 mcthodo-porlugnez tomou como scgunda base sua, o seguinte aphorisrao social: — Que, tendo todos os homens direito a ser iniciados na scicncia, e nao sendo possiocl nem ao estado, nem aos particulares, ter um mestre j)ara cada crianca, ou para cada pequeno yrupo de criancas, o ensino a todos preferivel sera aquelle, que, sem deixar de ser completo e per- feilo, se poder exercer com egualdade sobre multiddes de necessitados. Finalmente o melhodo-porluguez tomou como terceira base sua, o dogma fecundissimo d'este seculo: — Que 0 tempo 6 a maior de todas as ri- quezas. Sobre estas trez bases, bera assentes c con- junctas, a saber: indole natural da infancia; necessidade de doutrinar os raais possivel, pelos menos possivel; e economia de tempo; tractou de se eonstituir logicaraente ; e assim se compoz: de clareza, e amenidade; de ri- thmo, e simullaneidade; de sobriedade, e ra- pidez. A clareza e a amenidade ficaram sendo sua essencia intima de methodo ; o rithmo e a si- mullaneidade, o revestimento do mesmo me- thodo, 0 seu accessorio complcmeatar. o seu modo de accao.A ^ub^icdadc c a rapidez fo- ram produclo necessario da consociacSo d'este modo com aquelle melhodo. 0 primeiro crapenho do mestre sensalo c humano, e ser mestre elle proprio para todos OS sous ouvintes; mestre querido e escutado. 0 seu primeiro trabalbo, c portanto fazer de toda a classe, conliada ao seu affecto esclare- cido, uni so alumno moral, e sempre attento; que todo elle oica o mesmo; que todo elle en- tenda e pense o mesmo ; que todo elle diga c I'aca 0 mesmo; uma so percepcao; um so dis- curso; uma so voz; de com individuos, um pro- ducto identico, uniforme, irreprehensivel. Pa- ra a resolucao d'este problema, o compasso era condigao imprescriptivel. 0 compasso, o ri- thmo, (■ da iiafurcza e tern por isso mesmo urn certo agrado, que Hie e privalivo; nao so a musica c a danca nao podeni prescindir do ri- tlimo, sem se aniquilarem, senao que as raar- clias c evolurOcs dos exercilos nao sabcriam dispensal-o; a voga arrancada, que faz voar uma cmbarcacao, pararia em tumullo, se com 0 rilhmo so nao aviventasse. ' Para preparar as suas proximas lifiies o seu alumno collectivo com a dcslrcza e babito ritbmico, a I'alta de um compassador mccha- nico, recorrc as vozes regularisadas por acc- nos, as palmas, que podera aeompanbar cssas mcsmas vozes, e aos passos de marcha, ([ue pooeiu ooni estas mesmas palmas coincldir. No emprego alicnmao ou simultaneo d'estes trez meios naluraes, ba a vanuigcm liygienica do movimento c a vantagem moral do gosto, que all'eicua a cscbola, ao guia, e ao estu- do. Entretanlo, appressemo-nos em dizel-o|: se as marchas c as palmas, com quanto cm- prcgadas cm toda a parte na induslriacao dos recrulas, continuarem, depois d'cslas explica- fues, a figurar-so, a algum mestre, coisas, nao sabcmos porque, indecorosas e inadmis- siveis, embora as supprima. Priva-se de um rccurso, mas nao destroe o melhodo, uma vcz que suppra estas regulajOes do ritbmo por qualquer outro modo, que se o nao fizesse, nunca o bom senso lli'o perdoara. Scnhora do ritbmo toda a classe, o insli- tuidor, que tern de ensinar a ler palavras c a escrever palavras, principia racionalmentc por I'azcr com quo os sens curiosos disclpulos pronunciem bem, e reconbecam em todas suas partes cssas mesmas palavras, materia prima da leitura c da escripta; porque das trez artes do communicaeao dos espiritos entre si, a primeira, a fundamental, a natu- ral'', e a do fallar. Ensina e faz cxecutar, sempre raediante o ritbmo, a divisao da pa- lavra em syllabas, procosso de extreraa faci- lidade, pois recitando-se de vagar qualquer vocabulo, logo por si mesma apparece esta divisao, que foi tambera, c nao podia deixar de ser, o primeiro expedieutc a que recorrcu 0 inventor, qucm quer quo fosse, da prodl- giosa arte de escrever. Nao c tudo comparlir os vocabulos era syl- labas; pois a maior parte das syllabas bao-de ser reprcsentadas aos oHios, nao por um si- gnal uuico, mas por um grupo de signacs distinctos. Passa-se portanto a segundo cxer- cicio, filbo, bomogenco d'este primeiro, e ja por elle facillitado. 0 mestre ensina e faz exe- ' Ver o que sobre o rilhmo escreveu com tania phi- losophia como elegancia o nosso amigo Leite, director da escliola normal de Lisboa, j4 citado oos prologos da 2.' e 3." ediijao. ' Mr. Court de Gebelin suslenia que o fallar e dom de Dens, transmitlido pela natureza ao homem. e nao inven- 9aa huniana. Ill cutar, sempre medianle o rithmo, a divisao de cada sjilaba de urn vocahulo dado nos ele- mcnlos sonicos, de que clla se compoe. Se, recitadospelo mestre os clenienlos sonicos de iinia palavra, os discipiilos a reconliecem: leram attricularmente. So, sendo-llies pcio me- stre proposla lima palavra integralniente, elles a rediizeni aos sens elemcntos : escrevernm vo- calmente. Estcs dois proccssos, ou antes esia bifornie repeticao do mesmo proccsso, consli- tiie a leilura aiiricnlar allernada. Alem do preslimo, que todos os pensadorcs reconhecerao, e que a expericncia lem de- monslrado, 'ncsle exercicio, de predispor com mais de meia liabilitacao para a leilura visual, e para a cscripta manual, ha ainda 'ne'io duas outras grandcs c prov-i'iit-^'imas vanla- gens, a saber: a •'^ ciarificar a pronuncia, norrigiudo cm poucos dias gaguczcs e vicios, que alias se invelerani, e licam para toda a vida; e a de eracndar uni cspantoso numcro de tcrnios, que no uso da plebe corrcni ge- ralmente estropeados. Postos os aluranos 'neste bom e piano ca- minho, de decomposicao e recomposicao da palavra faliada, cmbora se nao atheni ainda ^e todo perfeitos 'numa e 'noulra practica, principia o mestre a ensinar as leltras, isto e, OS signaes visiveis correspondcntcs aos ja co- iihecidos clementos sonicos. Dos elemcntos sonicos, uns sao vozes, outros in/Iexoes, ou modificacoes as mefm.as roses; a estas duas classes de elemcntos ouviveis, cor- respondem logo neccssariamenle outras duas classes de elcraentos visiveis, ou lellras: as vozes, as vogaes; as inflexoes, as consoantes. As vogaes e as consoantes, aptzar de dilTe- rirem enlre si conio os substantives e os ad- jectives, cnsinavam-se niisturadas; omellwdo- porlvguez exiremou-as, e fez das vogaes^ das lettras substantivas, das mais nobres, a sua primeira prcleccao visual. Nas prclccc Oes tub- sequentes foi agrupando as consoantes, ou lettras adjectiras, segundo certas relacoes niu- tuas, que enlre cllas so nolavani. Tanto as vogaes ccnio as consoantes se en- sinavam, antes do melhodo-pijrtvgnez, com duas lamcniavcis delkicncias, de que resul- lava 0 desbaralarcm-se, cm tormcntos, largos mezes para se saber o alpbabcto, e ainda de- pois do alpbabcto sabido, nao se pcdercm logo decifrar as palavras escriplas, rima vcz, que as lettras 'ncllas cniprcgadas apparecesscm alii com valor diverse d'aquelle com que origina- riamenle se baviam ccmcado. A ambas as fallas acudiu previdcnle o mclhcdo; nioslrou em cada lettra a scmbra de uma ceria figura, que, ou ja era conbecida pclos alumnos, ou facilmente se Ibes dcu a conbccer; a forma da lettra nunca mais podc ser esquecida ; a figura, consociou-se uma singella explicafao, ou diverlida bistoria, que diu razao pcrce- plivel do son), que a lettra, sorabra sua, se attribuia. Se a lettra era das que, como o e, como 0 0, como o c, como o s, podem appa- recer com diversos valorcs na Icitura, a his- toria da sua ligura, de todos esses valores deu couta e razao, todos elles ficaram, como a forma da lettra, imperturbavel e inscparavel- nicnte prcgados na memoria. Hesultado liquido ; as BO leltras dos alpha- betos maiusculo e minuscule, com lodos os sous 42 valores cm cada alpbabeto, aprcnde- ram-se e apprcndcm-se em poucas boras em vez de csiirados mezes, em que se apprendiam mal, ou de todo se nao apprendiam. E da natureza do espirilo Imniono, menos- prezar e aborrcccr as coisas, em que nao des- coijre preslimo. 0 alumno da eschola velha odiava o esludo das lettras, cujo uso na com- posicao das syllabas nao podia advinhar; as- sim como dcpois abominava o esludo das syl- labas, cujo uso na composicao dos vocabulos era para elle cutro mysterio ; o methodo, pelo seu borror a arcanos insensalos, quiz que, apenas as lettras se enlrassem a conhecer, se entrassem, stm mais dcmora, a li)r palavras; na primeira bora cm que moslrou, explicou, e fixou as seis vogaes, deu a decifrar, e de- cifraram-se, palavras composlas so com ellas. Logo que, conlentcs e exforcados com esta inesperada conquisia, os alumnos decorarani avidos 0 primciro grupo de consoantes, novas e numerosas palavras formadas da combina- cao d'cstas consoantes com aquellas vogaes, e escriplas em grandes characteres no quadro prelo do topo da aula, enlraram a ser, como as priniciras, delellreadas e sempre rithmica- mente pelo core; e assim se proscguiu dc grupo cm grupo de consoantes ate ao bm do alpbabeto. D'enlre os variados valores com que muitas das leltras nos appareccm na escripta, versa- teis ccmo outros lantos Protbcus, alguns sao sujeitaveis a rcgras. A escbola veiba nunca as ensinou, nunca as soube; o methodo, for- mulou-as cm urn codigo breve e claro, para ir com ellas acudindo aos principiantes nas suas pcrplexidades. Eslas rcgras versifiradas e rimadas, folgam as nossas criancas de as canlar; sendo esse canto mais um attractivo, que as chama para a escbola, c mais uni iiiurdente para a memo- ria, que, ora pclos sons musicos se recorda das palavras, ora, pelas palavras, dos sons musicos. Esles cantares, dependcntcs da es- colha do mestre, sao: 'numas paries, melodias colhidas nas mclbores operas; 'noutras, loa- das populares e plebeias, que, por esla via, se arrancaram as obsccnidades das ruas, para se cnobrecercm ccm o dcpcsilo dc conheci- mcnlos ulcis. Bcpilamos porim do canto, o que ja consideramos sobre as palmas: se a algum mestre parccer indcccroso, que umas pobrcs criancas cantcm rcgras na eschola, quando tantas scnhoras e donzellas cantara 112 amorcs nas salas, e ate nos templos sc can- lam as festas e as cxequias, supprima lambem 0 canto; se a rima llie parecer aiiuia pouco circumspccta, supprima a rima; se o verso niesmo ilie parecer inferior a sua gravidade, desmanclie-o em prosa; comtanio porem que dci\e Intacta a idea, que tinha ousado incar- nar-sc no metro, ornar-se da rima, enflorar- se da nuisica, porque a nnisica, a rima e o metro, sao meros accessories, craquanto a idea entra na essencialidade do tnethodo-por- tugiiez. A. Icitura feita pcio coro nas palavras do quadro prcto, vnria-se c transforma-se, para renovar e prenJer dc coniinuo n atlenrao. Ha OS lennos logogriphico.^, em que as syllabu.-' diversamentc combinadas produzem outros vo- cabulos; ba em ([ualquer voeabulo o prompto cxpedientc de llie ir apagando tal ou tal let- tra, no principio, no raeio, no fira, ou do lini para o principio, seguidas, ou saltcadas, 0 que, sobre dcleitar, exerce a reflexao, pois 'num relance se deve decidir, se a combina- cao das lettras, que restam, e ou nao, com- pativel com a indole da nossa lingua. Nao e tudo conhecer a lettra redonda ; con- vem comecar com cedo a decit'rar a manus- cripta; nada mais I'acil: o mestre vai insen- sivelraente abastardando nos sens tbemas do quadro a lettra romana, c inclinando-a a fei- cao da epistolar; a poucos dias andados, uma e outra sao decifradas com cgual presteza. A pontuacao, alma do periodo, nao tinha regras nem quasi se apreciava na eschola an- tiga; 0 methodo-porttu/uez mnemonisou-a por figuras, corao Bzera as lettras ; e, com as nar- rativas d'essas figuras, gravou nas memorias a quantidade da pausa, o agudo ou grave do torn e a inflexao de cada um d'esses signaes. Em seguida a leitura coral no quadro, poz a leitura coral nos livros, e 'nesta seguiu ainda o seu raodo geral de proceder: do mais simples e facil, para o mais composto, dillicil e perfeito ; fez primeiro traduzir o periodo a lettra e lettra nos nomes das figuras suas cor- respondentes; depois fez com que todas as suas lettras se traduzissem nos respcctivos ele- mentos sonicos, ja repartidos para syllabas; depois, fel-os ler por syllabas, cada uma d'el- las inteirica e umas das uuiius scparadas; de- pois, fez ler por palavras, umas de outras desconnexas, mas cada uma ja por si inteira e viva ; finalmente, fez ler as palavras, ja li- gadas como no uso corrente do fa liar. 'Nestes trez ultimos proeessos, a pontuacao foi dada pelo coro com exageracao de tons e pausas, afim de melhor se apreciar e se reter. A leitura individual, feita salteadamcnte pelos aluranos para se conservarom todos at- tentos, e executada moderando-se ja as into- nacoes e repoisos da ponctuacao, e reduzin- do-se ao que devem ser "numa leitura ani- mada e graciosa, completa e coroa csta parte do ensino. Nao se deve deixar aqui no cscu- ro, que 0 grande principio da simultaneidade nao e apjilicado por nos so a leitura da lettra reeldes fos- « sem confiscados, e dies retidos em prisOcs « pelos municipios; talvcz receando, que, se II iicasscm cm Roma, fossem soltos a forca, (I ou pelos oulros conjurados, ou por genlalha " assalariada : como sc houvesse nuios so era « Roma, e nao por toda a Italia! Como se o i< atrevimento nao fosse niais podcroso, ondc « menos mcios ha para o repcllir! Por conse- « quencia, c va aquella medida, se Cesar ain- « da receia os conjurados ; e se no meio do « geral lemor so elle nao tenie, devemos por- « isso niesmo, eu e vos, temer cada vez mais. » Estac porlanto certos, que o que decidir- (I des sobre P. Lenlulo e os demais, o decidi* « tambcm sobre o exercito de Catilina e os « conjurados todos: quanlo maior for a vossa « actividade e energia, tanlo mais diminuira no seu arrojo; mas se vos virem al'rouxar, « pouco que seja, logo vos acconiraclterao (I arroganles. « Nao penseis, que nossos maiores engran- .ia iiisicxa. — Contam-sc na Ingla- terra 'i::200 fabricas de cervcja. 0 liquido, que rcsulla de todas estas fabricas, vende-se ao miudo em 155:144 estalagens e lavcrnas. Na Ejcossia e Irlanda e muilo mais limilada esta induslria ; havendo na priraeira apenas 12:977 lojas ou armazens de cerveja, e na segunda, 10:051. Slovinicnio da popiilarao cm Eion- dio«. — Em 1850, houve em Londres 80:833 nascinienlos e 50:780 obilos, o que da, ler- nio medio, 238 nascinienlos diarios, ou quasi 10 por bora, e 155 obilos por dia, ou quasi 7 por bora. Esta calculado, que perto de 500 pessoas so affogani lodos os annos volun- lariamenle no Tamiza. De 5 obilos, um pcr- tencc ao hospital. 121 SECCiO DE MATDEMATICA. Methodo facil para ohler a equarao final, (me deve dar lodos os i ralores de h que cnliam lias formulas das variacOes seculares das excentricidades , e lonrjiludes dos pcrilielios : Pontecoulanl, Theorie analytique dusyslcme du monde, 2." edirdo, lie. 2.", cap. S, n." Oi. Se fizermos h — i. [a, a'] = a; [a, «'| = p-, f"? I a'. a|=:»'; |«'. fl"| = -r'; etc.; A— 2 [a", a]=y': equacoes (k) do n.° 04 do livro 2.° da obra citada tomariio a forma a -V+P M'-'r f jU"+ ctc.= o; a'jl/V3'.V'+-r' v»/"-}-ctc. = o; a"i)/ + p"YV'+f" il/"+elc. = o; etc (1); Se applicarmos a estas equafoes a rcgra dc Craiimicr (Francoeur Matli. Puras 2." cdiriio do Coinibra torn. 1.° pag. 179) para a dctcrminafao dos valores das arhitrarias M, M', M" , etc., vcremos que os niimeradorcs dados por esta regra sao lodos nullos, por nao existirem nas equacoes (1) tcrnios independentes das arbilrarias ; e que o denominador coninuim e tal, que um dos seus termos se forma do produclo dos i factores a, fi', f", etc., cada urn dos quaes coatem a primoira potencia de h no primoiro termo, sendo os outros independentes d'esta quantidade; donde e facil concluir que o dicto denominador e um polynomio completo do grau i cm h sem arbitrarias. Soja ip (h) este polynomio; os valores das arbitrarias seran 3[=—-—, M'=—jT-, 3I"= — ---, etc.; mas nela natureza do problema estas arbitra- f(iO ¥W vi/'J rias nao podem ser nulias simultaneamente ; e pois forcoso que seja ^(li)=o; c por .>.er ^(h) um polynomio do grao i cm h sem arbitrarias, como ja mostramos, sera a(h) = o a equacao final em It que se pretendia acbar. Assim para obter esta equacao, basta formar pela regra de Crammer o denominador commura dos valores de M, M' , 1\P', etc., e egualal-o a zero. Este methodo e muito mais simples que o empregado por Laplace no n.° 30 do cap. T." do liv. 2.° da Mccbanica celeste; e que o segundo indicado por Lagrange na 3.° cdicao da Mechanica analytica toni. 1.°, parte 2.°, seccao C.°, n.° 0, e tem sobre este a vantagem de nao elcvar o gniu da equacao linal, introduziudo solucOcs estranhas. JACOME Loiz S.VRMENTO. Trisecrao do anyulo por meio da hyperbole e circulo. Interpreiacao d'uma solucao eslranha. Do ponto C, origem das coordenadas rectangulares, como centro, c com um raio qual- quer C A = r descreva-sc (lig. 1.') o circulo A B D E: seja A Af o arco dado, que pode tor na circuraferencia do circulo descripto uma posicao arbitraria; e supponbamos o problema resolvido, reprcsentando AM a tcrca parte d'este arco. Tirem-se Mp, e /I, P pcrpcudicula- res a C A\ teremos AiP = s>cn AA,=s , CP = cosAi^ = e Mp ^ sen A i?/= ; , Cp = cos .1 J/= -j- Posto isto, tirando as linhas A/M, e CM, e prolongando Mp ate ao encontro com a circumferencia em //, o triangulo rectangulo € Mp da 5" + -i'=^ r'^ (fl) que e a equacao do circulo A B D E. Resta acbar uma relacao entre os senos e cosenos do arco A 3f, e os do arco .1.1,. Ura AiP=AiQ^QP: procuremos estas quantidades. Porque AM=AII , e i, 7l/=2 A M, os arcos A^M e Mil sao eguaes; logo os ani;ulos A^M C Q C M II sao lambem eguaes : logo A, M C= CMII=:CQP = M Q A, d'ondc A^Q=:A,M=^Mn=^Mp = 2,. 122 Oi triaiigulos similhaules CQP, c CMp diio Cp:Mp: .CP-.QP^- 1 Logo 2tf + c;=ii- (A) A.5 uquacrici (a) e (6) resolvem pois o problema. A equacao (a) sabemos ja o que signilica : a equaoao (b) rcprcsenta uma liyperbolc, rcfc- rida a eixos parallelos as asyraptotas; como e facil de vcr, jjrocurando as coordenadas do ceulro, e irausportando alii a origem. Aclia-se com clTeito para eslas coordenadas A = -^, /.■=. •4 ' 1 d'onde ^ 2/ = — -r^c (rfj Toiuando pois cm CB a parte Cb = - , lirando per h uma paralleh a Cx, e cortandc 'nella para a csquerda de b uma parte J_!(c- + 2P)«H^(<;' + 4c'r-- + 3r^)< — — c^c'— 5O'=0 (3) 123 3 4,1,, 1 - . , 1 < — r V A — c r c v -t- — r =o 10 ^4 4 32 que se deduz de (3) pclo desapparecimento do 2." tcrmo. Ora era (i) e 27 «"• + 4 i)'=2" (-rc'c'' — t i^"' ''* + -r- '"''I +*( — t~ \4 4 'i^ / \ 10 (y) e desinvolveado (o) para verilicar se e = o , acha-se c • — )• • < 0 visto que em gcral e c< ±r. Porlanlo, a raenos que nao seja c=: ±.r, estani (4) no caso irreduzivel; mis (3) tcra sem pre, e a'mda 'nessa hvpotliese, as suas trez raizes positivas o reaes: reaes, porque teudo-as 1 (4) sempre reaes, e deduzindo-se as de (3) da relarap ( = » +y (c^ + 2 r^) , tambem estas sao reaes; e positivas, porque ou seja c=±.r, ou menor, nao ha em (3), que e uma equa- cao completa, seaao variaooes, e a regra de Descartes diz, que quando unia equacao tem as raizes todas reaes, ha prccisamente tantas raizes positivas, quanta? as variacoes. Seado pois as raizes de (3) todas reaes e positivas, tambera (2) tem todas as raizes sempre reaes ; e por conscquencia a priiueira das cquacoes (I). Se lizesseraos uni calculo analogo para a 2." d'estas equacoes chegariamos ao mesnio resullado: mas a symetria, que 'neiias se da, dispensa-nos d'esse trahalho, poisque a 2/ deduz-se da primeira pela mudanca de x cm — y , de s era c, c de <; cm s. A 2.'' das equa- rijes (1) lem portanto egualmentc sempre reaes as suas raizes. No caso de c=±r, (4), (3), e a 2/ de (1) dao y = o (A) Para c=±r, (2) e a 1." do (1) dao 1 2 3 Ouaudo for s=ztr, os valores de v nao sc alteram; os de / sao < = o, (=- r'- i 3 f )• _ ( = - r'; OS dc z mudam-se era :=:o , i = o, 3= + -J/3, 3 = K3 em amhos os 4 2 2 cases; 6 OS de a; irocara-sc era valor e signal pelos dc j/ , c vice-versa, o que sabiamos que devia acontecer. Podemos tambem, sera formar a reduzida (3), certificarmo-nos de que a equajao do L' grau em z tera sempre as quatro raizes todas leaes. 124 Com cITeilo sabemos, que, para quo iima cquaciio f{z)=:o IlmiIui todas as raizes rcaes, e necessario que, na equafao ao quadrado das dilTcrenras iiao liaja scnao variafoes. For- mando pois esia equarao, chega-se ao resullado que dosejanios: mas podcmos evitar a forma- fao d'ella, serviado-uos do llieorcma de Sturm, que da para o nosso fim as seguinles con- diroes : — (e" + 2 »•=) < 0 — 8c'r*-f Tc"?-'— 3r o A primeira desegiialdadc evidcnlemonte sc da: para verillcar as oulras duas, lacamos '=itr o l)eri\ando a quantidade — 8 4^ + 7/;, c o parenllicsc da ullima desogualdade, vf-se (jue 7 o maxmo para a primeira exprcssao corresponde a /;= — , o que da para — S/r+zi um valor menor que o ultimo tcrmo da dcsegualdade ; e para a scgunda expressao o maximo correspoude a A- = 0,319 proximamentc, dando para valor do parenthese nma qnanlidadc inferior ao ultimo terrao d'aciuella expressao. Logo lambem por estc modo fica demonstrado que (2) tera as 4 raizes todas reacs; e por consequencia lambem a 1/ das equajoes (1), d'onde ella deriva pela hypolbesc x^=z->r- . 0 raesmo sc applicava a 2." das equacOes (1). Vejamos se (1) podem ter raizes eguacs, c ([uaudo as tenbam, que rclacoes deve haver para isso cntre os seus coefficientes. A 1.' de (1) e , 3 , , 1 . , c'-s'- flx)z=x' — ex y »■ x^ — - cs- X + — — = 0 ^ ^ 4 4 10 -, 3 1 "^ f'{x) = ix'' — 3ca;* — g'''^ — 7'^*'' v,j^ Jl,^ l.° reslo = 3 a;'- (c"* + 2 »'^) — - ex (3 P — 1 c"") + - c'^ r"^ — 7 c' Xi- ' V ■ / 2 ^ 4 4 3 ,„ , „ ,s 3 , , 3 x" [C -i-'2 r) — C*<0 rcsto de f [x) por ^, (i 7?_^=: — G j; (3 )•' + 8 c' ?-^— 7 c' r' ) + - c (c^— r') (c' -)- 2 r'— 4 c' r- ) O rcsto dc It, por R^ 6 /<3 5= — c'(c-— r') (c"— 39 c'" ?•'+ 470 cV— 830 c' r' + 722 c'r""— 312 c" r"+ C4 r'^) = — c'(c^ — r') A', chamando por brevidadc A' ao ultimo parenthese. Este resto pode ser nullo, ou porque seja f = o, ou c=±r, ou K = o. Mas A' niio pode ser zero, em quanlo que se tomem para c valores eguaes ou menores que ± r ; porque suppondo A' nullo, pondo c^ = m, e procurando pelo metbodo das derivadas 0 limite infe- rior das suas raizes positivas, aeha-se que csle limite e ?H^=-t-r^; e como evidentemcnte na equacao transforraada em m nao ba raizes negativas, nunca pode A' ser zero em quanto for c = ±r. Logo as unicas condicoes para haver raizes eguaes sac e = o, c=±r, dedu- zidas dos outros factores do resto 7i,. lutroduzindo cstas condicoes em (1) acha-sc em todos OS cases a raiz dupla x^o , c ij:=o: 0 que concorda com 0 que ha pouco haviamos encon- trado; pois vinios, ([ue cada unia das cquacoes (1) tinba 2 raizes eguaes, ,t=o, x==:o , y=o, y = o , no case d'aquelles valores dc c. Continua. antomo Jost TEIXEIRA. €> JnstittttiJ) JORTNAL SCIENTIFICO E LITTEUARIO. RELATORIO DoM IrabaltaoH do roiincllio fla facul- tladc fie ntatbemalicn da Liniiei'Ni- dade dc Coimbrnt no anno leciivo fie 18B5 para I8(>6. 111."° cEx."" Sr. — Para salisfazer ao prc- ceito do deereto de 2o de feverciro de 1841, tenho a honia de levar ao conhecimento de V. Ex.' 0 succinto relatorio dos trabalhos da faculdade de malhemalica durante o anno lectivo findo. Sao bera conhecidos de V. Ex.' os desgra- cados motives que derara logar, a que os estu- dos da universidade somente podessem come- far em Janeiro de 1856. Em virlude do decrcto de 21 de dezembro de ISiio, comccaram de novo os trabalhos preparatorios para a aberlura das aulas, e o conselho da faculdade approvou para servir de compendio, a conlinuavao da nova traduccao das Mathematicas puras de Franroeur. Para o melbor regimen das aulas do primeiro e se- gundo anno, niandou-se construir uma aula cm amphilbeatro, queentao sejulgou poderia estar prompta antes do tempo niarcado para a abertura da Universidade; niio lendo porem assim succcdido, foi precise buscar novo local aoude OS cstudantes podessem ouvir as licocs d'aquelles cursos. Nao posso aqui deixar de mencionar a V. Ex.' a discordancia em (jue por esta occasiao sc acbaram as duas faculda- dcs de malbematica e philosopiiia, .lesejando aquella servir-se de uma das aulas do luuseu, e nao se preslando esta de bom grade, c atlri- buindo-se o uso quasi exclusive d'aquclle csta- belecimento. Bom scria que se lizesse bem cla- ramentc cntender a todas as faculdades, que OS dillerentos eslabclecimenlos nao sao de uso exclusive d'algumas d'ellas, mas sim desti- nados para que se faca o ensino com a me- Ihor regularidade e aproveitaraento dos sous alumnos. Nao acbando o director do obscrvatorio astronomico logar apropriado 'ncste estabele- cimento para a coUocacao do Equatorial, re- quereu que se reunisse a faculdade para com Vol. VI. Setembro 1 ella se aconselliar a esie respeilo. Foi esic o assumplo de que se occupou o conselho cm '27 de Janeiro, soni que se podesse vir a urn acordo, pedindo-se para isso raais alguns esclarecimcntos. No conselho de 28 de niarfo, approvou-sc um regulamenlo para a frequencia da aula de para os exames. No conselho de 8 d'abril tralou-se nova- mcnte da collocacao do Equatorial, lendo sido apresenlados ao conselho alguns esclare- cimcntos, que havia exigido, e depois de larga discussao nada se pode resolver definitiva- mente. Taes sao as difliculdades que para islo offereee o edilicio do obscrvatorio. No conselho de 28 de maio leu-se uma por- taria do governo de Sua Magestade, na qual, tendo em vista a representacao do dr. Anto- nio Joaquim Barjona, lente de medicina, em que este pondera a inconveniencia da anteci- pacao com que 'naquella faculdade se poe termo as respectivas preleccoes, manda que OS conselhos das faculdades das sciencias na- turaes tenham era attencao certas regras que alii prescreve, quando marcareni o tempo era que devera lerminar as suas licoes. 0 conse- lho, mandando lancar esta portaria no livro das suas actas, julgou tambeni que alii nicsmo devia declarar, que ja muito antes desla por- taria, fora sempre costume na faculdade de mathematica, ler em consideracao, para o on- cerraraento das aulas dos diflerenles annos, todas as disposicoes e prcceitos recomnicnda- dos, c que se aquella portaria se podia enten- der irrogando censnra as faculdades a que era dirigida, nao podia esta caber a faculdade de mathematica. No conselho de 23 de junbo, depois de se ter lido a portaria do Ex."° Vicc-Reilor, era que se faziam as rocommendacoes do costu- me, lembrando-se a necessidade de nuiita circumspeccao no julganiento das fallas dos estudantes, e no julgamcnto final dos actos, leu-se uraa portaria do governo, que determi- nava se puzesse ponto no dia 30 de junho. Os lenles do primeiro e segundo anno pon- dcraram enlao o inconvenicntc, que havia em nao continuarem as suas aulas por mais tempo, e mostraram a grande vantagem que resullaria ao ensino, se ellas se prolongassem "—1807. Num. 11. ale ao (im dejulho, ^nit'daixRl-lB ol reaped i- vos ados para os primeiros 1" (lias d'oiilii- bro ; e o consellu), depois de madurameiue discutir este ncgocio, rcsolvcu dirigir-se ao prelado da universidade, rogando-lhe que le- vasse ao conhecimenlo do govorno a utilidadc de lal medida. 0 goveriio, porein, som descoiihccer a forra das razOes expendidas pclo consellio, raandou comtudo cxecutar a disposii'ao do decrelo, que niandava por ponlo em lU do jullio. To- niarani-sc logo todas as medidas para se faze- rem OS ados dos dilTerenles annos da facul- dade, que Icrminaram no dia 30 do mcsnio mez, nao se poupamlo os Icntes a sacritirio alguni, e conseguiiido exaitiinar lodos os eslu- dantes, que para isso se apresentaram. Em 30 de julho reiiniu-sc o consellio para dislriliuir os partidos, premios e distiiii'ioes mereciaas peios esiuaanies aos ailierenies annos, c inl'orniar os bacharcis que este anno lizerani a sua formatura. Do resiillado d'esto Irabalho ja V. Ex.° deve tor conhecimenlo pcia secretaria da universidade. Neste mcsmo conselho se ponderou novaraente a urgi-nle uecessidade de se imprimir, quanto antes, o compendio d'Astronoinia, do digno vogal o dr. Rodrigo Ribeiro de Sousa Pinto, e por esta oooasiao disse o auclor, quo senipre ten- cioniira olTereccr a Universidade a primeira edicao ; mas isto depois de regulada a ini- pressao, a fim de o nao fazer com restriccoes, quo sao nccessarias jiara nao (icar privado de proceder a nova odicao, qnando o e^igir 0 progresso da sciencia ; como porem a con- linuafao d'estj sen nielindie dava lognr fi domora que o consellio rcputa prejudicial, resolvia I'azer desde jii aqnelle oll'ereciinenlo, com as condicoes de nao se imprimirem mais dt" duzentos excniplares, e de se proceder (lesde logo a imprcssao. O consellio resniveu que 'neste relalorio se levasse ao conhecimenlo de V. Ex.* este offe- recimenlo, desejando rauilo que seja acceite; pois so assini ficara satisfeila a necessidade que ha d'nni texto accommodado as licoes d'.\slronomia Pniclica. 0 conselho nesla sua ultima reuniao fez a visila ao observalorio, aonde acbou tudo re- gular, oslando ja pcrfeitamente collocado o Cir( ular nieridiano, mas nao o Equatorial; e uao pode deixar de lamentar as difficuldades que ainda se cnconlram para a boa colloca- fao d'este instrnmento, ditliculdadcs que nao podem ser veucidas, nem pelo desvelo, nem l)ela i)oa vontade de lodos os crapregados d'este estaheleciuiento. Dens guarde a V. Ex.' — Coimbra, 14 de agosto de 1850. 0 secrelario da faculdade, Praneisco de Torrei Coelho. 126 APOItTAfflENTOS SoVvf (V \\(iv\\v«\\t\»,\\i;a vVo iwcvVci YOvUijuc. Colli. rniad.) tie |>ag. 90. 11. midioijrajiliin da Jlcrmenculica Juiiilica. Como 0 primeiro cuidado de quern descja estudar uma sciencia, e indagar que mcstres a cnsiuani, vamos pnupar esic primeiro ira- balho aos que prctendem iuicinr-se na ller- r.ieiKuilica Juridica, indicando-lhes os lisros, que d'ella iraclam especialmcute. Cumpre, poroiu, prcvcnil-os do que a maior parte dosses livros mal pagam o irabalho da leliura. Cheios de liypoinescs, de rcgras e ex- cejicries infinitas, servein mais de confundir, 00 que do csclarecor. Diremos quaes sao, se- gurido a uossa opiniao, os (|uo merecem ser coiisultados, que se reduzcm a poucos. Nao-tenciouamos referir senao as monogra- pbias. Mas como algumas obras geraes, pela influoncia, que tiveram ou legitimamcnle de- vem tcr ua cultura da Ilermencutica Juridica, nos pareceni dignas de mencao, dar-lhes-lie- mos cabida no logar, que llies pertence se- gundo a ordem chronologica, que e a que ado- ptanios, salvo no tocante aos livros dos Jdos Porluguezos, que irao referidos em separado. Nao incluimos no catalogo as obras, que traclam somente d'um ou oulro objeclo da Hermeneulica, taes como as queversam sobre a inlerprelacao das Icis penai's. Essas ir5o in- dicadas nos capitulos a que disscrem rcspcito. A olira mais antiga que so conbece sobre a Hermeneulica Juridica, 6 a de Coustanlius Bogerius, de juris tnlerprelalioiie, Lvgd. 1549. Scguiu-se-Ihe Mulhaeus MatliesijUanus de in- terprelatione legis cxiensiva, Venel. 1537, e Barlliolomaeus C'liepola, do qual foi publicado no mesmo anno o traclut de inlerpr. jtir. extensiva. Em 1559 saiu ii luz em Basilea o Jurecon.mltus sive lib. de oplimo genere juris inlerpreUindi. obra de Franciscus lloltomanus, Jcio vti y nnii i Vfiffllln, I jp< 1731; Henr. Ge. IVittich, Frincrp. et subsi- dia lienneneuticae juris, Goelling. 1799 ; A. F. J. Thibaut, Theorie der logisclten Ausle- gung des roem. Rechts, Allona 1799, 2." anil, ibid. 1800 (Theoria da interprelafao logiea do Dir. Rom.); J. Gollfr. Sammet. Herme- neulik des Rechts, beransgog. von Fried. Glob. Born, Leipzig. 1801 (Uermen. Jurid. publicada por F. G. Born); Versuch eincr Theorie xieber die Auslegungskunst des roem. Rechts z. Gebr. acad. Vorlesungen, Halle 1801 (Ensaio d'uma theoria sobre a arte de inter- prelar 0 direilo rom. para lexlo das preleccoes academicas) ignoro o nome do auctor. Carl. Salom. Zachariae, Versuch einer allgemeinen Hermeneutik des Rechts. Meissen 1805 (En- saio de Herm. Jur. geral); F. Muglianus de juris interpretandi ralione, Ncapoli 1808; M. A. Mailher de Chassat, Traite de finler- prctation, Paris 1822, 2""" ed. 1833, nouv. ed. 18iS; Fern. Fried. Weichsel, Abhand- lungen ueber verschieden. prakt. elc. J. Ma- gdeburg 1829 (Diss, sobre diversas maierias juridicas de importancia praclica, Iractailas taulo por direilo conimum, como pelo da Franca e Prussia). A 3." d'eslas Diss, tracla das regras da inlerprelacao e sua applieacao praclica. Walth. Fried. Clossius, Hermeneutik d'roem. Rechts. elc. Rif,'a u. Dorpal 1829, Leipzig 1831 ; M. G. Delisle, Traite de I'in- terpretalion juridiqne, 2 vol. Paris 1849, e com 0 tilulo de Principcs de T interpretation des lois, actes et des conventions enlre Ics par- ties, 2 vol. 1832. Savigny. systeme des heu- ligen roem. Rechts, trad, em francez por M. Cli. Guenoux com o tilulo (pouco liel) de Traite de Droit Romain. 0 cap 4." do liv. 1." d'esta obra (torn. 1 " pag. 201 e seg. da trad, franc), conlem uni iractado breve mas 0 mais racional que ba sobre a materia da inlerpretaciio das leis. Os nossos Jctos lambera escreverara algu- 128 ma cousa sobre a inlerpretaoao. E o primciro Pasctialis Joseph. Mel. Freire, Historia Jur. Civ. Lus. Olisip. 1788, 1794, 1800, 1806. \ 3." cdi(;ao (1800) dirigida, ja inorlo o au- clor, ^)elo seu panegyrista Gar^ao, e muilo prefcnvel a i.' e serviu de exemplar as leiiu- pressoes de Coimbra. 0 cap. !:< d'esta ol)ra ineslimavel tracta do recia Lusituni juris in- lerpretundi rationr. 'Nesta parte coiiio em todas as obras de Paselioal, bcm se eonliece a mao do niosire, mas nem per isso diremos que 6 ura tracliido complelu; segue-se o insigne M. .4. Coelho da Bocha nas suas iiisliluicOes de IHr. Cir. Port. 1.' ed. Coimbr. 1840, 2." edic, il). 1848. A 3." ediffio publieada em 1852 depois da senlida morle deste illuslrc professor da Universidade iiao e mais que uma reimpressao da 2." A secfao o." da In- tiod. dii algumas breves regras sobre a iiUer- pretacao das leis (§§. 4 4 e 4!)). Tambeni os- ereveii .nlffnmn ^mtcn o ooio ..o,.|.o;io v,ui,o elaro professor d'esla Univer.-idade Anlonio Bibeiro de Liz Tcixeira no seu Curs, de Dir. Civ. Port. P. 1, til. prelim, secc. i.' Deili- cou-se, por6m, mais esjiecialmente a esle ra- mo 0 nosso Jcto, Jose Homem Correa Tetles no Commentario crilico a lei da boa rasao (lei de 18 d'agoslo de 1709) Lisb. 1845. Esta obra c scguida d'um discurso sobre a Equi- dade, e da traduceao do Traite des Oblig. de Polhier, P. 1, cap. 1, sec. 1, arl. 7, em que se tracla das regras da inlerpretacao dos con- traclos. E a melhor obra, que possuimos sobre a inlerprelacao do direito porluguez. 0 mesmo Jcto traduziu a parte da obra de Doraat, em que ja fallei, pondo-lbe o titulo de Theoria da Inlerprelacao das leis, Lisb. 1845. 0 iiome de theoria e mal escolhido para desigiiar uma colleccao de regras deduzidas do Direito Ro- mano. Todavia a nhra e valiosa porque nao e uma simples traduceao, uias applica as re- gras a inlerpretacao do nosso direito, e es- claroce algumas materias d'elle. Finalmente o sr. Bernardino J. da S. Car- nciro deu-nos as primeiras linhas de Herme- neutica Juridica e Diptomaticu, Coiuib. 18oo, sobre a qual se encontra um breve juiso cri- lico no Instilulo vol. IV, n.° .... De lodos estes livros recommeiiJaromos parlicularmcnie, alcui dos publicados pclos iiofsos Jctos, OS de Forsler, Eckhard, Chas- sal, Thibaul, Zacliariac, Clossius, e Savigny. V obra de Donellus, que lambem mencionei, pode ser consultada com proveilo. Nao esperem, porem, os nossos principian- tes, que hao-de sair bons inlerpreles com a so lifao d'esies nieslres tlieoricos. Para isso llies aconselhamos que conversem noitc e dia com OS oxcellenles irabalhos practicos dos mais acreditados Coramentadores e Analystas, por- que ahi acharao a arte em accao, que Ihes communicara aquella liabilidade, c lino, e prestesa que o artisla mais adquire pclo c.xer- cicio que pela theoria. Em muilos dos .\ssen- tos da Casa do Supplicacao encontrarao os nossos Jctos cxcellcntes medelos practicos da recta iulerprelacao do direito perluguez. Contiiiua. A. I\I HISTORIA DA CONJURAgiO DE CATILINA SALLISTIO : TllADUCr.AO PORTUGUEZ.t. LV. Depois que o senado adoplou, como eu disse, 0 parecer de Catao, o consul, jul- gando que o melhor era aproveilar logo aquella niesma uoite, para (|hc onlrelanto nao houvesse novidade, niandou aos trium- viros apromptar o que havia mister nara o ou|j|iiiiio, posiou as guardas convenientes, e conduziu elle mesmo a Lenlulo ]iara o car- cere: OS pretores lizeram o mesmo aos outros presos. 'Nesle carcere, depois de se subir um pouco a e-querda, ha um logar subterraneo, chamado Tulliaiio, de quasi doze pes de fundo, murado em torno, e coberlo do abobada com arcos de pedra ; o qual, pelas inimundicies, escuridade e fedor, apresenia ura aspecio as- queroso e terrivel. Assim que Lentulo deseeu para aqui, os al- gozcs 0 enforearam, cm cumprinienio das or- dens dadas. Tal foi o lim (|ue leve aquelle patricio, da mui illustre familia dos Corne- lios, e outr'ora revestido da dignidade consu- lar; lim digno de sous costumes c comporta- menlo. Celhego, Stalilio, Gabinio e Cepario forani egualmenle e.vecutados. LYl. Em quanio isto se passava cm Uoma, formou Catilina duas legiuos de todas as tro- pas que trouxera, e das que Manlio comman- dava. Proporcionou a principio as cohorlcs ao numero dos soldados; e depois, a medida que algum vohinlario ou cunipliie se apresentou no arraial, os foi distribuindo com egualdade, de modo que em breve complelou o numero de bonicns em cada legiao, qiiando a princi- pio nao tinha mais de dous mil. Mas de loda esta uiultidao apenas a quaria parte estava militarmenle armada: o rcslo, loniando o que llie oHerecera o acaso, so tiniia dardos, lan- eas e chucos. Quando Antonio se foi approximando com 0 seu exercito, Catilina dirigiu a niarcha pelas serras; e, cvitando dar baiaiha, acanipava-se ora do lado de Roma, ora para a ])arte da Gallia. Esperava todos os dias ser reforcado por numerosas tropas, se em Roma os conipa- nheiros executassem sens projecios; e entrc lanto rejeilava os cscravos, istencia maior do que imaginara, atiica e rompc o ccntro dos inimigos com a eoborte protoriana, o que Ihes causa grande perda, c transtorna a re- sislencia ; c depois conliniia a accommcttcl-os por umbos os llancos. Catilina e o Fcsulano morrem combatendo na I'rente. Catilina, ven- do-sc ja com poucos, e derrotado o exercito, Icmbrado do seu nasciniento e antiga gloria, arroja-sc sobre um monle de inimigos, e morre pclejando. LXi. Mas depois do combatc e que se po- dia ajuizar da audacia e animosidadc, ([ue houvcra no exer.ito de Catilina. Quasi todos, depni.s dc mortos, cobriam com os corpos os poslos que dcfenderam vivos: os poucos, (jue a cohorte protoriana desbaratara, I'oram cabir iiiais longc, mas Icridos todos por diunte. Catilina foi acbado ainda arciuojando, niuito dislante dos sous, entre os cadavercs inimi- gos, eonservando no semblante aquella loro- cidade deespirito, que tivera em vida. Final- mentc, de tao grande numoro nao houve ci- dadao dislinclo, (|uc lica-^se prisioneiro na accao ou na derrota: pouparani tao pouco as proprias vidas, como as dos inimigos. Triste e sanguinolcnta victoria ganliou o exercilo roniano. Os niais valero.^os ou mor- reram no combatc ou licaram gravemente fe- ridos. Muitos (|uo sairam do arraial, ou por curiosidade, ou para saquear os mortos, re- volvcndo OS cadavcres dos inimigos acliaram, csto 0 amigo, a(|uolle o bospcdc, aqurllouiro o parente; alguns reconheceram lainbem os sens inimigos. Assiui por lodo o canipo se es- palbou variameutc aiegria c tristeza, pezar e regozijo. ': ^ pirfiH' -■-' • ''' i"^"; oii--' ENCANAMENTO DO MONDEGO. Tu, Mm I tlesces enia, quenuK D-bIIu curoa .la Moolaiilia llirmi.ua, Pcrdcste o curso eslragadur, lunianilo Pur cnlre ^ erdes arvores sumbrias, CASTILHO. Nao e nosso intcnto pariiciilarisar os ahi- tres, que, cm diversas epocbas, se propoze- rani, para romodiar os damnos causados pelo Mondcgo nos campos do Coimbra; a simples compilacao das providencias princi|)acs cons- tiluirla, per si so, um grosso \olume. Para nao lallar dos antigos, lombrarcmos sonu'nlc, quo ja nos earcores da Junqueira se occupara liento dc Moura Portugal d'este iniporlantc assumpto ' . u lenente general (iuilbcrmo Luiz Antonio do Vallere fora, tambem, cm 17!se tempo, pa- rece, que, a certos respeilos, em epochas raifi proximas, retrogradamos, em vra de avan.;Ar. Memorin sfibre a barva do I'orto. Por Joao Chrysos- tomo d'AI)reu e Cuulia. A Lei a." 765— anno 183«. >' Vide Mfinnria da vida e escriptis de Estevio Dias C/ibrnI, que publicimos era 1035. 131 1790, sobre os dainnos do Mondeyo no campo de Coimbra. c sen remcdio '. E para admirar a clareza (e um dote emi- nente 'ncste insignc cscriplor), com que dcs- crcve 0 laslimoso cstado, em que achou os campos de Coimhra, a ruriosidadc, com que colligiu as varias noticias liisloiicas solire a fundafao da ponte junclo da cidadc, e linal- mente a ordom, com que, sem appaiato de fraseologia technica, expoe as rasOcs funda- meniacs do seu piano, que ainda liojc e lou- vado '. Foi approvado este piano, e era alvara de 22 de niarco de I'fll mandado cxccular por seu auelor, que 'iiosla obra grandiosa consu- niiu wove aiinos successivos. Em uma memoria inedila, que possuimos, dcscreve niiudamentc todos os Irahalhos, que oo Coo.om, o oo ..onlogono imn.odliinc rpin d'elles derivaram para a navegarao, e agri- cuilura. Infelizmcnte, pela interriiprao d'estcs Irn- balhos, se inutilisou, quasi de lodo, os avul- tados cabedaes, que 'nelles se baviam despen- dido. Ao prcsenie os campos do Mondego olTere- cem um lucluoso quadro; as aguaS estagna- das geram enfermidados gravissimas, que vSo, todos OS annos, dizimando as povoacocs ao longo das duasniargens, e as areas estendem ja seu ncfasto imperio a largo espaco, levando ap6s si a estcrilidade. 0 futuro mostrara, se vaiem a rcmcdiar esles males as providencias, que, ultimanien- te, se tSm ordenado. F. A. B. DE GUSMAO. BIBLIOGRAPHIA. Itelatorio aptesenlado ao miiiislerio da justica, pelo ajudantc do procurador regio, Manuel Thomaz de Sousa Azevedo. Para cslc rehilorio, puhlicado agora pela imprensn, ojiinclou o seu auctor os inleres- santes c cuslosos niateriaes, na viagem, que emprehendeu e effeituou a Franca, Imjlater- ra, Uehjica, e Stnixaa. Em vez de se dar lodo as seductoras dis- traccoes, com que sabcni esles paizes enleiar OS eslrangeiros, — e nao fora isso rauito de exlranbar 'num mancetio da sua edade; o sr. Sousa Azevedo quiz antes assignalar a sua passageni por aquellas terras, d'um modo que, ' Foi pnblicada na collecjao ilas Memorias Economi- -ton 3.° ^ Vide N'lliciiis sobre o eiicaiiameiito do ri-> M-jndegi. Pelo eiicarregailo ilas obras liyjraulicas do riu Muride- go, o dr. Asoslinho Jose Pinto d'Almeida.— Furam pu- blicadas no Diario do Governo de 1022 — numcros 96 97, 98. .OJ.>i..w.( podendo vjr a ser proveitoso a sua palria, o fosse dcsde ja, e muitissimo, a sua reputaeao litleraria. Denlre lantos e tao variados objcctos, que Ihe oflereceria o extenso campo da civilisacao d'aquclles povos, nao podendo dedicar-se* a loilos, prereriu o mclhoramenlo das jirisoes. Escollieu 0 (|ue estava mais imniediatamcnle reiacionado com as fnnccoes piiblicas do seu cargo. Sobre ser escolba de prudente, nao aeerta- ria facilmenle com outro, em r|ue prcslasse mais servicos. As prisOcs forara, sao., e, desgracadamenlo bao de ser scmpre, em todos os tempos e es- lados, uma das necessidades mais inslanles. Sao a egide dos direitos; — c entre nos, se pouco se tem escriplo, ainda menos se tern rni.lnrln rla.; rpfnrm!.c ,. n,ul horn montoo, que 0 progresso das ideas reclama. Nao, porque devam e possam as prisoes deixar de ser pri- soes, mas porque dilTerenlc, e mui differenle, cousa i, adaplal-as a relencao, seguranca, ou correcfCio dos individuos suspeiios, ou crimi- nosos, oulra 6 constrtiil-as ou toleral-as de forma, que, longe de recennarem as nodoas, que defornioseam os cuipados, antes Ihes ac- crcscenlam as infermidades da alma e do cor- po. Em gcrai, eslao as nossas cadeas jusla- menle 'nesse caso. 0 auctor do rclaloi-io quiz ver se conlri- buia para um meliior estado, 'nesta imporlan- lissima parle da nossa administracao da jus- lica criminal. Viu, exaniiuou, e estudou a ma- teria ; e sobre o que viu, e as informacoes e estalislicas, que obleve, assentou a sila obra. Acbamoi-a escripta com muita critica, e em eslylo conciso, mas claro, e sufficienteniente puro e fluente. Da uma idea abreviada do eslado da le- gislacao penal, entre as nacoes, por onde an- dou; occupa-se da conslruccao, organisacao, e administracao das prisoes, que visilou; ex- pOe as diversas classificacoes e divisoes dos presos, e os syslemas, que por la se emprc- gam para os melhorar; c nao se esqiiece nunca de apontar, d'esscs syslemas, o que tern dado mais proficuos resultados, com re- lacao a moralidade e saude dos individuos. A isso ludo, quo observou, reune, em ie- guida, as juas mui sensatas considerayoes. optando pelo systema penitcntiario. CLama a prisao a pena por excellenciu. Tem-na como capaz de .subsliluir no futuro lodas as outras ; e enlrelem-se com a solucao d esle problema: Como deverd cumprir-se? — Olbando a (|ues- lao pelo iado das condicOes necessarias aos edificios e empregados, e pelo do trabniho. educaa'w correccional, proleccdo, e reforma da legislurao, apresenta as rcformas, que reputa cssenciaes para se operar a transifSo para o novo syslema penitenciario. Nao fccha porem ainda aqui o seu traba- 132 11)0 0 sr. Sousa Azcvcdo. Enlra il'alii, uo llOs^o Portugal, c choraiKlo o eslado lastiiiioso, e dc abandnno d'oMi- ramo do serviro, nseidia a maior parte dos vicios da sua oiginlsarao. C.rc que dcsdizem dos priiuipios e da loriiia do govcrno, ijuc iios rego; c qiiiT (iiio sc ncaho com esses vicios. \nalvsa as casas do Linun'iiu c Aljuijc do Lisboa.'c a da Kelncao do I'orlo, pain ton- cluir. que, se as piisOcs d'estas duas cidadcs sao nuis, as oulias do reiuo aiiida Ikio dc ser poiores. Por fir.i, pondo lemale a sua cuiprcsa, lU- (endc ii actual divisao judicial, c apcrlailas circumstancias do Thesouro, e Iraca as liases c prograuinia da rcfornia, que entende su de- vc c podc Icvar a ed'eito dcsde ja. O relatolio, pois, do sr. Snusa Azevodo e mil ll.ilmlUo ;.«porl,>.>i;oc...>^ n „„ir, ..nlrc nos. Merecc ser lido c medilado por lo.Ios aquclles, que loniam a peilo a l)oa aduiiiiis- Iracao das nossas cousas. Accoiumeudamol-o, couio c.scriplo, que, dando lioura, c muila, ao seu dislincto au- ctor, pode ser dc grandissiuia ulilidaile pu 1)1 ica. B. C. NOTIGIARIO. O malerinl n raniiialiO ilo r<>a':-o. — 0 material do caminlio de ferro de Lcste, em Franca, consta de 473 maeliinas-locomo- livas, de 9:000 carruagens e wagons, e de 3:000 pares de rodas, que autes de 2 annos rcceberao os carros que tciu de supportar. Este material prodigioso custou 70 milhoes de francos! Collocando em fileira sobro uiua das duas vias, a partir da estacao de Paris, todas estas machinas e carruagens, occupa este inimenso comboio unia exteusao de 6b kilometros! As 473 locomotivas representam uma forca de 100:000 cavallos. Em 1850, OS irens percorreram 8:500:000 kilometros; as machinas, carruagens e wa- gons andaram 150 millioes de kilometros, que e a distancia da terra ao sol. So as loco- motivas caminliaraui 10 milhoes de kilome- tros, islo e, 250 vezes a circuml'ercncia do globo terrestre, ou 30 vezes a distancia da terra a lua! Sobre uma superlicie de 150 iieclares ciie, terrao medio, annualmente, um milhao de metres cubicns de chuva; e justanienle esta quantidade d'agua, que as locomotivas con- somem. Se a estacao do caminho de ferro de Stras- burgo a Paris eslivcsse clieia de coke, tanto cm comprimento como em largura, desde o pavimcnto ale ao tccto, ao cabo de um anno, OS 200:000 mctros cubicos de carvao, encer- rados cm tfio vasto cspafo, leriam desapparc- cido no ventre das locomotivas. *■«(•■> s;a:to coi«v»n5.- No districto llo- reslai dc llirkeusclilag, na Woslplialia, ha uiuitos carvalhos de consideraveis diniciisoes e grande bellesa. Um delles iiao tern ja nii'iios de mil annos. Sua allura, mcdida do collo da raiz ate a ponta do tronco, 6 de 70 pes, e sua circumfcroncia, pouco acima do .-olo, ede 30 ' pes. Muitas raposas hahitavam antigamenle as concavidades do carcomido ironco. Aclualmcnte, o carvalho offerece uma camara, ondc podcm eslar de pe 24 pessoas. Lnia porta fccha esta camara. Uma escada exterior conduz a duas plaia-formas estabele- ridas sobre a ramageni da arvore. .&9«ccns.Ao no riainilioraKO. — Itepula- v;i-se quasi inacccssivcl o cnnie d'esia dcvada inontanha dascordilliciras dos Andes na Ame- rica meridional. Humboldt apenas tinha che- gado a 5:900 mctros d'allura, e Boussingault, a 6:004. Dons viajantes, Remy, francez, e Bren- chley, inglez, acabam de rcalisar ainda raaior ascensao, conseguindo subir a 6:543 mctros d'allura, quasi o verlice da montanha. tjnaai isivoaacito asiaei'iraaia, — M Oscar Commettant, que lia pouco viajou pela Ame- rica, descrcve, pela maneira seguiute, uma curiosa officina, estabeleciJa cm Cincinnati: « A fabrica compoe-se de quatro grande.s re- n partimentos ligados entre si por nieio de " pontes suspensas. Em frente, e como plani- « cies animadas, que bem de pressa vai ceifar leia-se « cenliraelros » 134 SECC.iO DE MATHEMATICS. Triseccdo do angulo por meio da hyperboU e circulo. Interpretacao d'uma solu<:ao eslraiilia. Contiauatlo de pag. 1^4. Temos ale aqui iratado a questao analylicameiite, e na maior gciicialidade, fazendo ver que a hyperbole lia de sempre corlar o circulo cm quairo ponlos. Inlcrprelemos agora essas quatro solucOes. Mas notemos aules, que a eliminacao entrc as equacoes do circulo c da hyperbole podia ser feila da raaneira,seguinte : Tirando de (6) o valor de .- , e subslituindo-o cm (a) veni 0" t' {>■" H- 4 c 7 + 4^') = r' (c^ + ic-i j- i t") ou (4 c T + 4 •r'') (-r^— r ) -|- r^ (7"— c') = 0 ou 47(c+7)(7^— r=)4r^(<;+i)(7 — ff) = o 3 1 •^'ondc it-rc)it'—^r-'-j~~ci-) = o (G) 3 1 Idcnticanicnte (;_^) (,'_ r% + jir') = o (7) cquajoes em que ha respectivamente os factores i + c, 5 — s. 1 I Revertendo para as equacoes (1), facilmentesevii que estes factores sao, x + -c, y s; podendo assim as equacoes (1) escrever-se : (y-i *) (y' + 3 'y^'-i "^'y-s ' '''="! (1') Este systema de equacoes, dcpois de desembaracado dos respectivos factores, mostra im- mediatamente que a quanlidade 27 9^ + ip'< 0 ; e por isso que (!') estao no caso irreducti- vel. Basta fazcr desapparecer os 2.°' termos a estas equacoes, c calcular aquella quantidade, altendendo a que em geral 6 c< ±r. Mas na equacao (6) que vem ja sem 2.° termo, 27c'>-' 27 r' , , acha-se logo, que 2i rf + ip = —77- ts~ > °^ "' — '"<<'• ID lO 0 mesmo mutatis mutandis sc vcrilica na equafao (7). Se tivessemos practicado a eliminacao ao niodo ordinario enlre as equafoes (a) e (6), veriaraos tambem facilraenle que as equacoes correspondentes eram satisfeitas por 1= — c, 1 t ; = s , bem como 0 sao as equac5es (1) pelos valores x = — ~c, y = -s: mas supponha- mos que nao deparavamos com estes factores, e procuremol-os pela analyse. 1 Busquemos por exemplo 0 factor x + -c. Porque (4) esta no caso irreduzivel, de nada nos servem as formulas para a resolucao das equacoes do 4." grau, e somos por isso forcados a recorrer as series para a resolufao das equacoes (1). Ora applicando a 1.* d'estas a regra de Newton para 0 desenvolvimento das raizes em serie, acham-se, para dar os primeiros termos d'ellas, considerando x e r como lelras principaes, as seguintes equacoes ix"- — 3r^ = o; 1 2 a;"' + 4 c a; — c'' = o (8) 135 d'onde x=+WT,x'=-'-t^,a"= + i, ^" = C " " 2 Fazendo x=-;--K3 fz para achar o 2.° termo da 1." raiz, c substituindo em (1), vuin a translbrmada — ICc z' + 60 )■'' — •iil^Icr 12 KF)-' — 4 c'- 4- c^ »■' + 2K3"c'»- =0... (9) d'onde pela regra citada as condicoes 43' + 8K3'r3' + 15r»2 + 3I/T'-' = o (10) 3z — 2c = o (11) Rpj(>iinnrln n.; vnlnrps Cin). porque alias teria a equacao (1) mais de quatro raizes, tcraos 2 z =^c , deduzido de (11). Conio em (1) entram so potencias pares de r, a equacao correspondente para a 2." raiz obtem-se, miidando cm (9) )■ cm — r; e sendo o valor liuai de z independente de r , evi- dentemente e o mesmo que para a primcira raiz. Fazeiido agora x"=z +- em (1), acha-se u.-H,. 12 P 16 ■y 80 , + 27' 32 . (12) da qual resultam as equafoes 4z^ — 3>-^ = o; 3z + 2c = o; 4(j' + 81 r''s = o (13) Rejeitaraos os 2 valores da 1." de (13), porque esta equafao 6 identica com a 1." de (8); 0 da 2.*, porque idenlificaria x" com o 1.° termo de x'"; e aproveitamos apenas o valor s = — — . -J . 81 r' Poniiamos (inalmente x"' = — z + ' s™ (1) ^'•'a z J4:' — 12 c 3- + 3(4 c^ — P)z — 2 c (2 c^ — r^) 1 = 0 (14) Esta equacao pode ser satisfeita ou por z^o, ou pelo outro factor. Mas a regra de Newton da para clle 4z'— 3r'- = o; 3z — 2<;==o (16) condicoes que lem ambas de ser rejeitadas; porque a 1.' e identica com a 1.' de (8), e a 2." idenlificaria x'" com 0 1.° termo de x". Logo so pode ser z = o, 0 que annuncia que a raiz e finita ; e e esta a condicao propria para attestar a commensurabilidade das raizes. Temos pois r _ 2 ^=+^i^3+^c+ x'= -2^/3-+ r+ x"= c 4 81 ?^- x"'= c 2 136 2 Para achar outro lermo das series, I'afamos cm (9) 3==-c :- u , vira lOu' i 32 yir 80 u"+ GO »■■ ; 10) Tf)' u" i Ml 3 r -\ iOf)-" 32 J '.•) c" r 27 u i t ■ '■ , 7 , I d'ondc rcsultam 4u' fSK? ru' ^tbr-u 1 3t'5"r'==o; ISP^f )•« • (^ =o (17) a 2.' das quaes da 12K3"r Pondo z = je + u na equacao que se dcduz dc (0) pcia mudanja de »• oin — r , rcsulla uma equajao que 6 a (16) com a mesma mudanca ; logo nvjr E substiluindo em (12) z:= £_ + «_ vem 8 1 J" ' 16« --C 256 £^ 81 r' u' — 12>' 64 £^ '*'8l"r' 812 c^ "^2187 '? 16 e Loco u = — r— r- • — : e 729 »•' u'^ — 8 c »•■ 112 , -r ^-- ■ c 128 c^ 243 ' r'- 6561 r' 4096 c^ S3 384 c' "2187 "»~ 2o6 f^ ' 19083 '»" )=o.. (18) 1024 c' 1394323 F 4096 1441' r" "^43046721 V- i ^ = -1^3- + ^+^-^ + . ^/r = + f _±/:_ " i: + ^ 6 81 J-' 729 r' ^ ■ (C) rin— Conlinua, ANTONIO iosi TEIXEIRA. ® Jnstitttt0) .JOR^AL S( lElNTIFICO E LITTERARIO. EXPEDIENTE. Assigna-sc oslc Jornal emCoiiulira, no Ga- binele do Instiluto; em Lishoa, na livraria do sr. Cohellos, rua Augusta n.° 2; no Porto, na do sr. Jacintho A. Pinto da Silva, rua das Hortas n.° 141 ; em Evora, na do sr. V. J. da Gama, collcgio de S. Paulo; no Pczo da Rc- gua, na do sr. M. Mcndes Osorio. Toda acorrespondencia,/')'anca(/epo)'iito da ins- truccao piiblica, cm relarao ao eiisino priiiui- rio e secmidaiio. lima similliante c\|)osifao, ou relalorio, loiigc de scr olemoiito proliciio a causa da instrucfao da raocidade, tornar- se-hia, se me nao illudo, clcmcnto dissolvente da disciplina escholar; nao seria documeiito da \igilaiicia e zcio csolarecido da adminis- trarao litleraria da aucloridade superior, des- linado a extirpar abusos e consegiiir racllio- ramculos; seria teslemunho d'imprudencia, de que facilraente havia de tirar partido a maiicia para provcito de poucos, c grave dam- no de muilos. E por eslc niotivo que nos meus antcriores relalorios lenho sido, c agora e seniprc eontinuarei a scr cautcloso c cir- cumspccto cm tudo quanto julgo ser antes materia d'inl'ormacdos conlidenciaes, do que do observacOes de mera gcneraiidade, que, como e sabido, a pouco aicancam. Alera de que a cxposicao das necessidades, que tomo em conta nas propostas especiaes, prcenebe snfEcientemente o que na primeira vista d'o- Ihos poderia affigurar-se a alguem, que fdra dc mim menos attendido. Entraudo agora, suramariamente como jul- go coQvir, no assumpto especial d'este capi- tulo, perraitta-me Vossa Magestade dcsde ja iiotar, que quasi nao tenbo senao a repelir o que uos annos anteriores ha sido ponderado. No tocante ao estado material das escholas piiblicas lorna-se cada vcz de maior evidencia a urgcntissima necessidade de que as d'ins- truccao primaria sejam collocadas cm edili- cios piiblicos, a esse fim destinados pela au- cloridade, e por clia aderecados dcccntemen- te. Os professores, remunerados tao misera- velnieute, como se sabe, nao tcni meios de as guarnecer como se ha mister, e nera mesmo sequcr de poder alugar casas com bastante capacidade para numero um tanto avultado de discipulos. 0 preco do aiuguel, parlicu- larmenle em Lisboa, ba subido excessivanicn- te, e a alguns professores aconteceu que, pa- gando 0 equivalente a ametade do ordenado que vencem, nem ainda assini poderara haver casa, que tivesse as commodidades necessa- rias para admittir tantos alumnos, quanlos pretendiam frequenlar as suas escholas! Vi- rae na dura necessidade de auctorisal-os a fcchar a porta a alumnos, cuja admissao se tornava impossivel por falta de logar na es- cliola! Nao mereceni este facto a seria atlen- cao do governo de Yossa Magestade? Poderao acaso, sem injustica, os professores ser obri- gados a tao arduo sacrificio? E podera artir- mar-se, que se dcseja sinccramente o pro- gresso da instruccao primaria, e que se cuida com verdadeira diligencia de proraovel-a, em quanto se consente que, aqui mesmo na ca- pital, muitos alumnos (iquem privados da ins- truccao que procurara, porque os professores, | faltos de meios, nao podcm alugar casa mais cspacosa? E todavia, senhor, e bem que Yossa jMagcslade nao ignore, ([ue alguns professores teni levado o seu zelo ale ao ponto de men- digar auxilios jjarticulares, ajudados dos quaes possam ou alugar casa mais apropriada ao ser\ico da eschola, ou ornal-a com decen- cia e alguma commodidade dos alumnos. E tambem julgo necessario que scja presenle a Yossa Magestade, que outros prol'essorcs, ma- goados da impossibilidade Je prcparar as es- cholas com 0 necessario, tem recorrido a ca- niara municipal, fiindando-se na disposicao, a meu viir clara, do art. 2 do deer, de 20 de dezembro de 1S50; porcm a camara, que por sens actos mostra dispor dc meios sobcjos, que consonie cm funccOes dc mera ostcnta- cao, resiste pertinazmcnte, allegaudo impos- sibilidade de aderccar com o adorno indis- pensavcl as esi'bolas da capital ; despesa que todavia, quando houvesse de preparal-as todas com as necessarias alfaias, nao podia exccder a GOO^OOO r.", como ja Ihe foi denionstrado, Pende a cste respcito liligio na scccao do eontencioso administrativo do conselho de Es- tado, 0 qual e dc esperar a resolva conforme ao que requer a maior vantagcm do muni- cipio, obrigando a camara a emprcgar uma tao diminuta porcao dos sens avultados rcn- dimentos no desempenho de um dos sous prin- cipaes deveres. Estas consideracoes, Senhor, nao carccem de commentario, e seria por denials repetir, o que por vezes tem sido pon- derado iicerca t'os gravissimos inconvenienles do ensino da mocidade, nas casas da rcsiden- cia dos professores respeclivos. Pelo que respeita aos edificios, onde estao collocadas as aulas da instruccao secundaria, so tcrei de accrescentar aqui, ao que digo no capitulo 0 com referenda as seccoes central e occidental do lyceu d'esia capital, que o edilicio das mercieiras, no qual estii collocada a scccao oriental, se acha tao daninilicado, e em tal estado de desamparo, que representa um miseravel pardieiro, indecente e vergo- nboso. E comtudo nao seria de nenlium vullo a despesa a fazer com os rcparos iiidispensa- vcis; mas nao tem sido attendidas as reite- radas representacoes, que sobre este objecto tenho dirigido ao governo de Yossa Mages- tade. Em tudo estrella aziaga inQue molina- mente quanto respeita as lettras, e aos cstu- dos, 'nesta terra, digna dc melhor sorte! Fallarei agora do estado litterario, e com muito pezar direi que subsistem os estorvos, que se oppoem a que a instruccao primaria se desenvolva c melhore, como tanto e de desejar. Nas classes menos abastadas, a ne- cessidade que OS paes tem do auxilio de sous pcquenos lilhos, logo que Ih'o podcm preslar d'alguma maneira; a carcncia de meios para OS vestir com alguma, posto que pouca, lim- peza, c de Ihes comprar livros, e o mais que 139 sc torna indispensavcl para os excrcicios cs- cholarcs, como taboadas, excmplares, papel, pciinas etc. etc., a o receio de ((ue sous lillios sejam detidos laigas horas, durante aniios succcssivos, nas escliolas, fazcndo-os appren- der mais do que tem ser-llies de precisao ou ulilidade para os inistcies iiidispensavcis das occupafoes a (jue os destinam, sao, o serao por mtiilo tempo, coiiio tem sido ale agora, a causa principal, o ohstaculo invencivel a que a instrurcao primaria alargue os seus limites, se dilTunda, e ganlie as alleicOes da raaioria da poiiularao. Conitudo em (juanlo assim nao acoutecer, a instruccao primaria caininhara constrangida, incerta, e sem a for- fa neccssaria para obter rcsiillados de grande niomenlo! Os remedies aapplicar a lao grande mal, ja tcnho lido a honra de os lemhrar: li preciso rcduzir o cnsiiio da inslrucrao prima- ria do l.°grau ao somcnlc necessario, ou in- disputadamenlo iilil para o maior numcro d'aluninos; e preciso procurar, por lodos os mcios de persuasao imagiuavcis, que seja tida geralmente em conta, e dcsojada; e, quando se baldcm estcs perseveranles esforcos, eni- prcgar a saudavci violcncia, que se laz, mau grado seu, ao enfermo para cural-o da doen- ez, que 0 avexa : (i preciso que as camaras iiiunicipacs acudani com soccorros appropria- dos aos lilhos das familias desamparadas, e que por sua muila pobreza carecera dos meios absolutamenlc indispensaveis, a fira de que possam frequenlar as escholas com regulari- dade c aproveilamenlo. Nas classes, que vi- vem mais commodamentc, a diversidade dos livros, do que se scrveni os alumnos da mesma eschola, sera que se possa conseguir que os adopiem uniformes, e a irregularidade da frc- quencia, lolhem as mais efficazes diligencias dos professores, nem Ibes permitlem recollier, senao iructo niuilo acanhado, muito somenos do que doviam prcsumir, c esperavani, de suas laboriosas fadigas. E -por outra parte o local das escliolas, muitas vczes a larga dis- tancia da habitacao dos alumnos, a quasi in- deceucia d'essas mcsnias escliolas, que a I'alta de nicios nao pcrmille ao prolessor lornar menos iucommodas; e a multiplicidade das materias, cuja vantagem nao se patcntea ob- viamenle, das quaes se ba carregado, com menos aviso, a instruccao primaria, faz que, mormenle sc os alumnos se nao destinam aos esludos secundarios e superiores, se conlen- tem d'instruccao particular insuQicienle, mas que nao os opprime por lao longo tempo, era quanlo que os dei\a cm libcrdade de so es- ludarem o que, c como julgam convir-lhes. Para prevenir c I'rustrar as perniciosas con- sequencids de lacs anlecedeutes, ja tem sido proposta a creacao de maior numero de ca- deiras, pagas pelo Estado; ja tem sido Icm- brada a obrigacao, altribuida por lei as ca- maras, de conslruir ou alugar e guarnccer edificios decentes, commodos, e convenicnte- raeute siluados para o ensino da mocidade; e ja linalmenle se tem pcdido a simplificacao do ensino por nieio de classificacao mais op- porliiua c philosophica. I'elo (|ue pertcncc ao estado litterario da instruccao secundaria, com quanlo nao o possa dizer inleiramente nao lisongeiro, assim com resjicilo a l're(|uencia, como ao progresso dos alumnos, comludo sou I'orcado a confessar que llic falla ainda muito para scr o que se precisa (jue seja; nem o sera em quanlo o piano dos esludos do lyceu nao for completa- do, |ireencliendo-se as lacunas, que o defor- mam; c em quanlo por meio de programraas, d'ensino e de examcs, cabalmenle dcsenvol- vidos, se nao prescrever precisamcnte aos professores que materias devcm explicar, e ate ipie ponlo abrangel-as, e aos alumnos o que, e ale aonde deve alcancar o esludo e appli- cacao especial, que tem a fazer de cada uma d'ellas, a lim de se acbarem babililados de modo compelenic para os exames, a que tem de sujeitar-sc. Entrctanlo as provas do aproveitaraento lit- terario dos alumnos do lyceu sao satisfatorias, como faz fe o maximo numero das approva- coes por elles obtidas nos exames annuaes; examcs e approvacoes que provam com res- peilo aos alumnos do lyceu; porque se toma, para ellas, era consideracao a correspondente conta do anno lectivo. Em relacao porem aos alumnos eslronhos o argumcnto nao procede com cgual scguranca, porque nao csui prc- scnle aquella conta, e circumstancias occasio- naes, como e sabido, podcm influir mais ou menos favoravelmente no ado e resultado dos mcsmos exames. Comtudo foi considcra- vel 0 numero d'aluninos estranhos, que se aprosentarara a exame, e que obtiveram me- recida approvacao. No rcslo do districlo nao ha mencao espe- cial a fazer de factos, que demonslrera quer niellioramento algum tauto avantajado, quer nolavel decadencia pelo que respeiia a ins- truccao primaria. As causas a que fiz allusao, parte das quaes proauzem effeilo mais inirae- diato, e por conseguinn; iuai» oauii.^.,o, fo„v da capital, as (juaes por muilas vczes Icm sido allegadas, pcdindo-se providencias, que Ihes annullem o pendor malefico, obstara a que a instruccao primaria ganhe lanlo incre- menlo, quanlo a experiencia dc urn c outro dia faz julgar cada vez de maior neccssidade. 0 tempo, que trara corasigo o dcsengano, de que a primeira instruccao e meio cerlo dc melliorar relalivamentc, em todas as condicoes sociaes, a propria situajao pessoal de cada iudividuo, e a successiva adopcao dos alvitres ja Icmbrados, hao de a final veneer as resis- tencias ale hoje insuperaveis; c enlao se re- colherao os proveitosos fructos, que, quando largamcnte vulgarisada, so a instrucr.io c 140 t'ducacao primaria i dado obler. Ila portm unia exccppiio a I'azer, ao que doi\o ohscrvado geralmente, a qual meniorarei com indizivpl satisI'drSo, ceo movimento conimunicado as popularOcs de Mafra, c convisinhaiiras, pola real muniticcncia de Yossa Masestade, ciue houve por bcm cstabelecer 'naquella villa, a expcnsas de Vossa Magestadc, uina eschola primaria em optimas comiieOes para o cnsi- no, pois que torn alcanrado resiillados verda- deiramente dignos de louvdr c ap[)lauso: e bem as^im a oscliola tambem por Vossa Ma- gestadc creada no real paeo das necessida- des, que foi occasiao dc mais quo triplicarem OS alumnos, que, 'naquella localidade, coslu- mavani frcquenlar a instruecao primaria. E aqui me pcrmilla Yossa Magcstade Icmbrar a conveniencia de nao bear supprimida, como esUi de facto, a escbola da I'reguezia de S. Pedro em Alcantara, cujo ])rofessor se aclia servindo de ajudantc ao por Yossa Magestadc nomeado para a eschola das Necessidades. 0 raelbor servico publico requer nao a suppres- sao d'aqnella escbola, mas sim que seja trans- I'erida para um dos ponlos cxtrenios da mesma I'reguezia, a exerapio do que se praticou em Mafra, cuja antiga escbola, por molivo simi- Ihante, foi removida ultimamente para o Mi- Iharado. Quanto a instruecao secundaria tern melho- rado, fora de Lisboa, nos concelhos de ^V^t- bal, S. Tliiago de Cacem, e Torres Vedras. Sao dignos os professores, que regera alii as cadeiras dc granimatica portugueza e latina, e latinidade; o goslo da instruecao Icm tido notavel inrrcmento, e cresceu tambem com ellc 0 numero dos alumnos d'aquellas aulas. Assim estas estivessem todas collocadas em edificios piiblicos, e convcnicntcmente apro- priados ao sen destino; digo todas, porque a de S. Tbiago de Caccm funcciona cm edibcio direrso da residcncia do digno professor, mas allugado a sua custa! E assim as dillerentes auctoridades, e os homens, para quem as Ict- tras devem tcr valia, cmpregassem, por ex- presso ou tacito accordo, o iulluxo do logar ou da pessoa para excitar os pacs a promover « lu.-iiuLiao uos iiuios, c OS iiiiios a aprovci- lar-se do tao grande benebcio, que Ibes pro- porciona a socicdade, facilitando-lhcs ins- truir-se e habilitar-se gratuitamente para uti- lidade sua propria, e de todos aquelles a quem os vinculam o sangue ou a mesma so- cicdade! Nao tcrminarei este capitulo sem dizcr, como se me ordena, pouco cmbora que seja, da aptidao, c desempenho de sous respectivos deveres, dos professores olTiciacs da instrue- cao secundaria, dcntro e fora do lyceu ; e dos da instruecao primaria, cm todo o districlo. Os lentes e professores das quatro seccocs do lyceu, assiduos na frequencia das cadeiras, que regera de propriedade, ou por substitui- cao, mostram-se dignos pcia sua applicaciSo littcraria, e j)cla regularidade do scu procc- dimento, da importante missiio que Ibes in- cumbe na socicdade; e tornam-sc credorcs da geral cslima e considcracao. Nao lenbo tido ale agora razao, que se nic afbgnre assaz lun- dada, para nenbuma grave advertcncia; e, [)clo contrario, sempre que, ou por motivo ex- traordinario, ou por bcm do servico, me icnlio visto precisado a re(iuerer d'algum d'cstes professores mais do que o servico, a que tal- vez so podiam rcputar-sc adstriclos, nenbum se recusou a prestal-o da melbor vontade. E cerlo, ([ue baveria injuslica em cstabelecer uma unica bitola, como padrao do merito de todos OS professores; porem, se alguns se avantajam de mancira singular, os sens Ho- mes que andam na bocca de todos, nao podem occullar-se a Vossa Magestadc, nem careccm de scr aqui mencionados; no ([uc, por outra parte, nao deixariam de dar-se inconvenien- tes faceis d'avcntar, a nao sobrcvir cm contra- rio razao muito ponderosa, ou niuito especial. Outro lanto me cumprc observar com respeilo aos professores d'instruccao secundaria de fora de Lisboa; pois que, se foi necessario proce- der contra um d'elles de mancira um lanto severa, contra nenbum outro se tornou pre- cise provideneiar similbantcmcnte; c antes a alguns lenbo julgado ser devido de justica muito louvdr. Dos professores d'instruccao primaria nao posso explicar-me por egual tbeor, e e com grande magoa minba, que me vcjo forcado a csia declaracao; porque se os da capital, cxaminados e approvados perante csla com- raissao dos estudos, sao todos bons, e alguns excellcnlcs, no restante districlo estao, na maxima parte, abaixo do que Ibes requerem OS arduos deveres do magisterio. Tambem fora de Lisboa lia alguns bons, talvez exccllentes professores, mas sao poucos. Ter.ho fcilo o que de mini depende para mclborar 'neste ramo o servico publico; tenbo lalvez ido iileni do que csla nas niinbas attribuicoes, as quaes, levado dc tao ju^to motivo, tcrci por vcntura iis vezcs intcrprctado latamente; porem pouco bci podido obter; e, ou o maior numero das cadeiras da inslruccao primaria do districlo ba de fecbar-sc, ou conlinuarao ainda por nuiilo tempo a occupal-as bomeus menos ba- bililados do que se requer indispensavelmcn- le. A razao d isto, que live a bonra de jii por vczes elevar ao conbccimento de Yossa Magcstade, e a miscravcl rcmuncracao altri- buida aos professores: nao Ibes cbega para se sustentarcm, e porisso nao ba ineentivo, que mova oppositores, quaes sao precisos, a cod- correr ao jirovimento das cadeiras. E aqui 0 logar, cm que mais opportuna- mcnte se mc proporeiona occasiao de cbamar a atlencao de Yossa Magestadc para uma fal- ta, (jue repute gravemcnte offensiva da lei. 141 a qual nao foi, ncm [lodia scr derogada se- nao polos nicios proprios e d'ondc pi'0\L'm inconvcnienlcs, faceis de prever, c jii do pu- blico niais que rauito advertidos. Os mestres c niestras das casas de asylo da infancia dcs- valida, exerccm alii o magislerio sem previo exanie feito peranle csta comniissao. Quem os pode exemplar d'csta ohrigacao? Ningucm: a lei e clara e terminanlc. E nao vira d'aqui em grande parte o nenhum progresso de taes escholas? Crcio que sim. Tambem os profes- sores das escholas deMafra, e das Necessida- des nao passaram pelas provas, que a lei exige d'elles: e sera isto de vantagem piiblica? Ue cerlo nao; porquc Vossa Mageslade conliece, que a niaior ulilidade do Estado Ihe vein da lie! observancid da lei; e, sobre isto, e obvio q«e taes transgressoes, inleiramenle injuslili- caveis, eslabelecem enlre funccionarios d'e- gual catbegoria unia dcsegualdade odiosa e injusta, e porlanto nociva e intoleravel. Depois d'esta causa a falla da escbola nor- mal, lanlas vezes e tao inutilmente pedida, nao e menos digna de ter-sc em conta. E vem aqui a pcllo supplicar de novo instante- mente a Yossa Mageslade, que se digue lan- jar olhos de protecrao verdadeira e efficaz a instrucrao primaria : e preciso que cbegue n dia, cm (|ue das palavras so passe as obras. Se a inslruccao primaria, como tenbo para mim, e um dos principaes direitos, e uma das primoiras nccessidades dos povos, nao ba remedio scnao confessar, que os povos sao credores de uma divida immensa, cujo paga- menlo ja nao e permillido demorar-lhes ,por inais tempo. Nao tomei agora em conta o en- sino particular, porque me rcservo apresentar a Vossa Mageslade um relalorio especial sobre este importantissimo objeclo; mas nao posso deixar de repelir que e de urgenlissima e in- dispensavel necessidade um regulamento muito desenvolvido e especilicado, que se observe religiosaniente; c que, medianle provisoes es- clarecidas e caulelosas, ponba ternio a grande numero d'abusos, e torne este ensino de tanta quanta vantagem dove ser para os habitanles das terras niais populosas. Para complemenlo do que deixo subslan- eiado 'neste capilulo, que, ao parecer exten- so, com tudo enccla apenas assumptos de muito grave momenlo, darei agora o resumo do movimento litterario com rcspeito aos exa- mes d'instruccao primaria e secundaria, feitos no lyceu, nas duas epocbas a elles deslina- das, julho e ouUibro, que se comprebendem no periodo decorrido desde o raeu ultimo re- lalorio. Frequenlaram a insiruccao secundaria nas differentes seecOes do lyceu, nos estabele- cimentos particulares dc Lisboa, e nas au- las do dislriclo, lo2G alumnos, dos quaes li- zeram exame em julho 201, e em outubro I'J", total 4j8. Foram approvados em julho 210, e cm outubro 13i>, total li'l; licando reprovados em julho 4o, e em oulubro H, total 87. Frequenlaram as escholas d'instruccao pri- maria piiblicas e particulares, cm Lisboa e no dislriclo 5418 alumnos do sexo masculino, e 1484 do sexo feminino; e lizeram exame em julho 170, e em oulubro 199, total 37o. D'esles foram approvados em julho 145, e era oulubro 151, total 290; e ficaram reprovados cm julbo 31, e em outubro 48, total 79. Por ultimo cumpre-me observar: 1.° que, infelizmente, aiada esle anno me vejo obri- gado a declarar que nao lenho como exacla a cifra da frequencia dos alumnos da insiruc- cao primaria e secundaria 'neste dislriclo ; por- que deixaram de remeller a esta commissao os mappas respectivos muitos eslabelecimenlos d'instruccao particular de denlro e fora de Lisboa, e lodas as escholas das casas de asylo da infancia desvalida; e sao fallos da neces- saria clareza e especificacao os mappas, que outros remetleram; e por(iue, nao lendo sido jior ora allendida a proposta, que live a bonra de levar a presenca de Vossa Mageslade em novcmbro de 1855 para a creacao, na secre- taria do lyceu, de uma seccao especial da commissao dos estudos, vejo-me privado dos meios indispensaveis de liscalisar convenien- lemente este importantissimo ramo do servieo ; assini como, por nao se me terem dado os auxilios jii per mini reclamados, ainda nao pude fazer a visila de lodo o dislriclo; visi- tas, que nao podem de nenhum modo dispen- sar-se, c sera as quaes nem esla , nem oulras muitas fallas serao nunca jamais efficazmcnte remediadas; 2.° que, a falla dc programmas, convenienlemenle combinados, quesirvam de norma impreterivcl aos exarainadores, e de guia segura aos examinandos, e causa deque, por occasiao dos exames, se alevanlem a tem- pos qucixumes, que, sem serem assaz funda- dos, nao deixam comludo de proceder ale cerlo ponlo; porquanlo, sendo em deniasia vasla a materia dos exames, e facil ao exa- minador, sem que por isso possa em rigor ser censurado, ir mais longe do que razoa- velmente comporta a intelligencia, ainda pou- co desenvolvicia dos examinandos. Ao conselho superior d'instruccao piiblica compete prover do remedio, dc que se carece. INDUSTRIA DO PAPEL. A. vista da prodigiosa fecundidade da lilte- ratura moderna, em presenca d'este impulso iniperioso que dirige todas as classes da so- ciedade para cscular a voz da imprensa, e curioso conhecer as tenlalivas mais ou menos I'eizes, que se tem feilo, para acudir a cares- tia das materias primas cmpregadas no Ca- brico do pajiel, e para I'ornecer aos fabrican- 142 tcs OS meios il'alimenlar as nnmcrosas lypo- grapliias. que em toda a parte . Nem. discrei)anle ^pp. Sim- l.Uciler. Repr ova- das Dlixnram dc fazcr Arto 1 Theologia '. Direito 99 .i73 58 14 'J 212 19 10 20 1 40 37 6 75 297 40 45 58 7 4 • 43 5 2 S 1 6 1 1 8 i" 107 5 55 - 111 G Medicina : Philosophia Curso administralivo .... Tolaes 1004 114 528 59 9 292 Em consequencia do curto espaco de tempo que houve para os actos, licarara por lazer em jullio OS seguiutes : A<-Io>i em OMluSti'O ila I S50. Faculdades APPROVADOS ! Kepro- i vatlos I Nnmnf Si.«i,lic. ,l,«.rep. i Theologia 3 „ „ Direito 76 1 14 1 Medicina Mathenuilica 0 5 7 Philosophia 27 8 4 1 Curso administrat. Totaes 4 " 1 i 117 27 13 , As faculdades acadeniicas conferirani aos estudantes mais distinftos, por sen lalento c applicacao, os prcmios pecuniarios, e as hon- ras do accessit, que constam do mappa junto ; i i Faculdades 1855- -1856 1856 -1857 ' Accessit Premius Accessit Premios Theologia 5 6 1 i Direito . . . 5 11 7 15 1 Medicina ' 12 4 16 8 Mathcmat. 10 12 9 C Philisoph. 4 3 4 4 ! Curso adm. 1) 4 " 1 j Tolaes .. 30 40 43 38 ENladislica do niovinienio dos eNtudnnteo daVniversiidade em I8SC — 1859. Fa-cttldades Matrici- lados Per tier am App. Nem. discrepaat. App. Sim- pliciter Reprova- dos Kaofize. ram Acta \ Theologia Direito 80 433 65 60 94 21 3 18 3 7 12 2 68 366 59 30 46 11 5 38 1 2 4 3 3 5 4 1 8 2 21 27 1 5 [ Mathematica Curso administralivo Tolaes 733 45 380 53 8 07 ' Fttlleceu uni esludante uo seguodo aiiDO, e por isso ha am de menos no movimento. -^ Falleceu tambeni iiiu estudante do se^ undo anno. ^ Pustoque as dibfinc^ues d'esta faculdade fuaseiu con- feridas respeclivamenle nos annos niarcadoa no maj)pa, comtudo lodas, com excep^So d'nra premio no 5." anno, ijue vae conlado no primeiro mappa, e que perlence ao anno lectivo de 1855 a 1856, fcio relativas ao anno im- mediatameule anterior, segundo a praclica eeguida 'nesla facitldadL'. 144 Fizcrara formatura nas cinco faculilades da Universidade, no anno dc 18."i5 — 1836, sc- tenta e sete bacliaieis, e rcccberam o gniu de doulor dois candidatos em ihcologia: em 1830 — 18o7 houve cento tiinta c nove ba- cliarcis formados, e trcz doutores; um em tlicologia, e dois era matliematica. 0 resultado das iiifonnaroes ve-se no mappa seguinte : liirorniarocs que obliverani oh doiilorcN <> barlinrciK roriuadON nos annos abaixo uioiicioiiadosi. Faculdtiihs U 53—18 o6 18 50—18 37 Distin- De bom De bom fie suffi- De repro- Distill- Dc bom De bom fifSUrti- i De repro- tins /K)r una- jmr cieot.por vacao em por una- por cicnl.;wr vacSo cm nimidadc mawna moiunu proeed. nimidadc maiona wiuioriu pruecd. Tlieologia. . 4 1 4 „ „ 3 2 ;; 1 „ , Direilo .... 2 23 19 y „ 11 13 30 10 1 1 Medici na . . „ 3 u » » 7 7 1 ), 1 1 Malliemat. 0 » • » r „ 2 1 1 1 " Philosophia Totaes. . » » 3 5 4 » 4 5 4 » 1 8 27 30 14 4 23 29 08 22 'J 1 Os pontes ([ue os conselhos academicos as- signaram para as dissertafoes inauguraes aos candidatos que defenderam theses, foram os seguintes: EM 1833—1856. FACCLDADE DE THEOLOGIA. 1.° S. Paul. Epist. ad Rom. cap, I, vv. 19—23. Ad veras adcuratasque uotiones obtincndas de Deo, de mundo, ideoque de honiine; alque ad integras easdem, ammissa revelatione, ser- vandas, sola ratio minime valet. Evang. Joan. Cap. Ill, vv. 3 — 8. Originale pcccatum in omnes Adami poste- ros (nisi aliquis speciali privilegio excipialur) transfunditur. EM 1830—1857. FACOLDADE DE TUEOLOGIA. Epist. I, S. Joan. cap. I, vv. 1 — 3. Mylhicum Straussii systema Evangeliorum libris minime applicabile. FACILDADE DE MATHEMATICA ' . 1." De barometro. Q a De minimo crepusculo. ' A facuWade de mathematica, desde 1B34 ale hoje, tem dado para objecto das dis9erta(^5es inauguraes us se< suintes assumptos: De vibrationibus chordarum. Machinarum, vaporum ope ai:entiiira, mutum defioire. Em direito, medicina e philosophia nao houve doutoramentos, e por isso nao se aj)- prusentaram disserlacucs inaiKjnracs, que cm theologia sao feilas em latim, em direito, ma- thematica e philosophia em portuguez, sendo em todas cstas qualro faculdades o repetente obrigado a raandal-as imprimir. Teve logar, durante o anno lectivo de 1833 — 1850, a habilitacao para o magisterio, pelo systema dc concursos, de doze candida- tos, sendo dois em theologia, nove cm direito e um em mathematica. Ficaram cxcluidos dois em theologia, e em direito foram prclcridos Irez. Posteriormentc o governo annullou os concursos d'esta ultima faculda Je. Em 1830 — 1857 habilitaram-se nove can- didatos, sendo trez era theologia, e seis em direito. Ficarara prcleridos dois 'nesta facul- Punctorum aequico.\ialium nioUis, causas, atque effe- ctus investigare. Utrum caelestia corf)ora, quae nunc ad aequilibriuni consistunt, stabili ejusdera aequilibrii forma donenttir? Quantum, et quo sensu gravia a verticali devieni, dum ma^na descendunt altitudine, calrulo subducere, terrae figura, el medii resistenlia perspecla. Corporum molus in mediis resislenlibus ila definire^ ul ad arlis Bftllisticae praxim facile accummodenlur. • De priiicipio mininiae aclionis. Allraclionis leg:em tubis capillaribus applicare. Qua ratione fluminum motui dirigeodo, aul coercendo, aggeres construendi sinl. De allractione spbaeroidum a spliaera parum aberran- tium. Quaenam melhodus ad Telluris mgniludinem figuram- que delegendam, caeleris praeferenda sil. De baromelro. De minimo crepusculo. Todos estes objeclos, com excep^ao do primeiro, se acham desenvolvidus em disserla^Ses escriptas em latim, e archiv'adas na Bibliolheca da Universidade. O primeiro, cuja di>serta(;ao provavelmenle se perdou, fui a;;ora por esse motipo, dado oulra vez, ao actual repetente, Anto- nio Pinto de Ma!;alhae8 Aguiar. 145 dade; c em ihcologia forara propostos, para OS dois logarcs vagos os candidates pcia or- dcm da sua antiguidade. No lyceu nacional dc Coimbra niatricula- ram-se no anno lectivo de ISiiij — ISIid os alumnos (|ue conslani do niappa inserto a pa- ginas 201 do i.° volume d'estu jornal ; c no anno Icclivo de ISoG — 1857 os que se leeni no mappa seguinte : E:s(au)o nome iFlccum). ((ue linlia a sua embocadura no mar. I'm dia o Oceano arremelLeu, cavou um isthmo, eeiitrou pelo lago Flevo: com o rcforco d'e^te auxiliar, nao tardou o iuiniigo a avaucar pelo interior do paiz. As invasOes succcssivas, pelas quaes uma graude porcao do Icrrilorio foi translor- raada 'iiuma babia, comecaram e acabaram com 0 seculo XIII. Documenlos comprova- dos, as relacOes escriptas pelos bubitantes das provincias visiubas, e as Icstenuiubas contem- poraneas do desaslre, nao deixam a mcnor diivida sobre a f'ormacao rccente do Zuird/.ec. Foi em rcsultado dos mnvimentos reiterados do mar que licou iuundada uma extcu>ao inimeiisa das terras baixas. Em 120b, a illia ■ ,' Xaoccasi.au em que fui iK'.-lnii(1a, aciibav eripila em |)nri>clij», leoar> \n'< iiniilii kMiipo ai l>lllll>li'> calirMa. chamada agora Wieringeii, ao sul do Texel. fazia ainda parte da terra lirme; foi-se depois deslacauionnmia dislincta. Por este modo 147 tem-se debaixo dos olhos a prova malerial d'antigos diluvios, que dcixaram por loda a parte, nao soiueute monumi'nlos de dcstriii- cao, mas ainda fosseis d'uma ordeni nova, ([ue para assiin dizer, de^lacam na vida as foniia- foes sucessivas da hisloria. A niedida que nos vanios aflaslando do Zuirdzee, isio ij, do tlieatro das aiiligas cataslrophes, vemos de- sapparecer, pcla maior parte, nos liabitaules do interior do paiz, os characlcres d'esta ori- ginalidade que nos surprehciidera. Os typos vao-se apagando desde que as communieacOes geograpiiicas se restabelecem. Ye-se pois ([ue 0 naul'ragio d'linia porfao do contincute iso- lou aigiinias [iopula(;Oes da socicdade dos Paizes-Baixos, e deslacando-as da terra lir- me, parece, para assim uos exprimirmos, que as pctrificou nas formas diversas da civilisa- cao antiga. A fonuacao tempestuosa do Ziilrdzee pa- rece ter sido a consequencia de dcsaslres ainda mais antigos. Senipre ao norte da Ilol- landa, enconlra-se uma serie d'ilhas engas- tadas no Oceano como as perolas d'um collar, cujo lio se ronipeu. Estas illias aao os ulliiiios relevos d'uma costa que servia antigamcnte de trincheira aos Paizcs-Baixos; este aniparo foi despedacado e as suas ruinas dispersndas pelo mar do norle. 0 numero d'estas ilhas diminuiu quasi de iini terco desde o tempo de Plinio, pois que este naturalista contava vinte e trez entre o Texel c o Eider, quando nos agora apcnas conlamos dezeseis. E cum- pre accrcscenlar que estas ilhas nao sac mais do que as ruinas d'oulra ruina. No anno 800, Ueligoland, siluada na embocadura do Elba, priuripiou a ser alorraentada pelas va- gas; nos annos 1300, loOO c IGi'J, oulras porcoes do terra forani abysmadas, ate que por fim chegou o momcnto em que licaram de pe estas unieas reliquias da illia origina- ria. Um rocliedo de niarne vernielho, quasi da allura do duzentos pes, cis o que so!)re- uada ao desastre, como um d'esses grandcs carvalhos que sobrevive as florestas desappa- recidas. Cumpre porem, para sermos justos com o Oceano, ([ue poniiamos em frcnle d'esta lisla sorabria de cidades destruidas ou abysmadas, de aldeas perdidas, de regioes annulladas, o quadro mais consolador das restituicocs do mar. As grandes dcslruicocs de terras succcde quasi scnipre a reaccao 'numa cerla escala. Eutrc Anvers e Nicuport alastra-se uma re- giao baixa (jue, no tempo dos Romanos, com- prcbcndia ijosques, pantanos, turfeiras, e que era protcgida contra o Oceano por uma cadea de dunas ; no seculo V osta cadea eedeu ao furor das tempcstades. De mar que era, an- tes da invasao das aguas, esta rcgiiio tornou- se em terra firme, e 'nella assentou uma po- pulajao bastante numerosa. Verdade e, que psta mudanca foi devida, ao menos em par- te, a industria e perseveranca dos babilantes, que souberara aproveitar os bancos d'area depositados pelo mar, para recuperar, quasi paimo a palmo, o solo que o mar ba\ia rou- bado. 0 mesmo faiio se reprodiiziu no Ilies- boiclt; lambeni alii as agnas rcsiituiram uma parte das terras que baviam engulido. 0 assento das aldeas submergidas c indieado actualmenle pelos terrcnos d'alluviao que so- bre ellas se vao clovando pouco a pouco. Cam- pus immensos, onde cresccm ja abundantes searas dc graos, tern, para assim dizer, feito esquecer que alii exislia o mar. A vista d'estes terrcnos cubertos anligaraente pelas aguas, e hoje renascentes, e um dos especla- culos mais proprios para nos manifestar os caminhos, (|«c a naturoza segue para crear por meio da dcstruicao. As aguas, transbor- ilando com furia, vao com o tempo deposi- tando, sobre o thcalro da inundacao, o con- trapeso das suas conquistas e das suas vio- Icncias. Pelo movimeuto natural das cousas, formam-se de secufo om seculo bancos d'area, que vem por lim a scr cobertos de um lodo lerlil: c por este tbeor a terra, invadida, conquislada, cngulida, torna por fim a ele- var-sc, e se forlilica de alguma maneira con- tra os scus destrocos. Interesi;ante, quando se encara pelo lado da gcograpbia e da bisloria, a formacao da Ilollanda nao o e mcnos pelo lado da geolo- gia pbilosophica. Por mais de uma vez tern sido objecto dc indagacoes dos sabios, resol- ver, se acaso as Icis cm actividade sobre o globo, durante a epocba em que o nosso pla- neta se acbava cm embryao, dilTeriam muilo das (pie actualmenle determinam a cconomia da nalurcza. A solucao d'esta qucstao aelia- se talvez na bistoria pbysira, ou, se assim nos podemos exprimir, na genese da Ilollan- da. Nao ha dois syslemas na natureza, nao ha uma geologia morla, e uma geologia viva ; por toda a parte em cjue obraram nas edades mais afastadas do globo as causas ncptuni- ninas, haviam de obrar forcosamente pelo mesmo mode com que tern operado sobre o solo dos Paizes-Baixos desde os tempos bislori- cos. 0 duelo cnlrc a terra e o mar, que nas cosniogonias antigas representa um papel tao importante, prolonga-se aqui e leva as mesmas consequencias, — diluvios, catastrophes e mu- dancas na conliguracao do delta. 0 Oceano rclira-se de umascostiis para occupar oulras, resliUiindo algnmas vczes o que tinha rouba- do, e apanhando de no\o o que largara, sem qite a lei d'estes movimentos seja ainda com- pletamente conhccida. N'cste poulo de vista, a bisloria geographica da Ilollanda, e, ao menos era parte, o scgrcdo da creacao reve- lado. A tolalidade dos acontecimenlos, aos quaes "o solo neerlandez dcve a sua origem, e as variaroes por que tem passado, poem-nos com cfl'eilo em bom caminho, para avaliar as 148 causas que torn inodilirado por nuiitas vezos, e podeni modilicnr aiiida a ronslituif-ao pliy- sica do iiosso gloho. Al'iins I'aclos reccntcs prnvam (juc o Occa- no iifio riMiuncioti por oia a- siias proienrncs sobre a llollanda. Km i do fi'vereiro dc 18iu 0 mar elcvou-fe; e as suas aguas coripram para o Over-lssel, para a Frisa, para a Norl- llollanda c para Giieldro. Esta clica gigan- tesca, foi, e verdade, do pouca durarao; re- tirou-?e com o relluvo, mas deixando alraz de si 0 soiiliiiiento do perigo (|ue tinliam tor- rido OS I'aizes-Haixos. A vista d'cste paiz, ameacado pelos rios, sacudido das temposta- des, carregado com todo o peso das mares, deveria temer-se, com razao, pcio solo de Uollauda, pelas suas riquczas, e direraos ale pela sua propria exislencia, se 'nesta lula nao iutcrviesse um agentc de nova ordcm, uraa forca moral capaz de fazer conlrapezo as forcas cegas da desliuicao. Esta I'orca exislo: temos vislo ale atjiii o trahallio da naUircza; resta-nos fallar 'das mudancas que a mac do homem lorn inlroduzido na forma geographica dos Paizes-Baixos. ConHn„a. MEMORIA HISTORICA DO MOSTEIRO DE NOSSA SENHORA DA CONCEigAO, DE MONJAS DA ORDEM DE CISTER DA CIDADE DE POBTALEGBE. I. Simao de Mello, natural de Evora, foi fillio de Garcia de Mello, alcaide mor de Serpa e de D. Felippa Pereira da Silva, ambos da principal nobreza d eslcs reinos ' . Findos sens primeiros estudos, senliu-se propcnso ao estado ecclesiastico, e, para lo- grar 'nelle dignidade, ([ue correspondesse ao lustre de seu sangue, dirigiu-se a Roma a sollicital-a ■' . > D. Jorie de Mell.i, irinSo de Simao de Mello. foi monleiro mor d'El-Kei U. Jufio III, e Henrique de Mel- lo, o (trimogeiiito, foi alcaide mor de Serpa, e ascendeate dos |)orteiros mores. Seu pae era sobrinhr,igriifia pirlugueza — toiu. 2, pag;. 343), (pie dizia, i/ue nuit hnvin de ir a terra onile matavnm osbis/ws. ElTectivamenle havia sido assassinado o seu predecessor D. Alvaro Chaves. '■ Vide Ucflexues Historicas peloconselheiro Jouo Pe- dro Ribeiru — parte 1." — n.° 17. •* " Nem OS proprios Cistercienses disfar^am, que exis- tia defronte do mosteiro {de Alcobtiqn) unia D. Ii;nez de Mesquila {Helena dc Mesquita atids), com queiu o abba- de (D. Jorge de Melli)) lioha commercio illicito, e de que procedeu ter nada menus de Irez fillios naturaes. " Fr. For- tunato de S. Boavenhira — Historia Chronoltgica e Cri- tiea da real alibudia de Alciibn^it — cap. IV, pag. 151. ^ £ datado o instrumento de instiluii^iio de morgado de 15 de novembro de 1522, ■■ D. Bernardo de Mello foi prior da parochial egreja de S. Pedro de Penaraacor, e da de Teixeira, ambas do bispado da Guarda. D. Joanna de Mello foi abbadessa per- pelua do roosteiro de S. Bernardo de Portalegre, princi- piando a exercer o cargo ainda em tempo de sea pae. *• Dos ilocumenlos do archivo do mosteiro. que tive- mos presentes para a organisaijao d'esta memoria, uada cuDsta a este respeilo; achamos, j)ort*in, na Gazeta dos Triliiinaes — n.'asi) — IH43 — ta. — M. Pogson d'Oxford, observou a 10 d'agosto um pequeno planeta da 11.° ou 12.° grandeza, que e talvez novo, mas (]iie enlcnde nao devcr ainda annunciar como tal, poique julga possivcl, que este seja 0 planeta Dapline (41.") descoberto por M. (joidsciiraidt a 22 de maio de ISiJG, e hoje perdido. Se 0 astro nbservado nao e Daphne, sera nin pequeno planeta de mais a junclar aos Hi bojc conbecidos, que circulara cntre Marte c Jupiter. Plafanos. — M. Bclloc, director dojardim iiotanico de Metz, enviou ii academia das sciencias de Paris unia mcmoria sobre os pla- tanos do Oriente c Occidente. A primeira d'eslas arvorcs, originaria da Asia e da Gre- cia, importada dcpois pela Italia e pela Fran- ca, foi submettida a ura cstudo cuidadoso pelo auctor. E sabido que esta arvorc perdc — Bastard-js^ em que se fizeratn casas^ e outros que a* fundnram: a D. George de Mello, bispo da Guarda, teve baslardo D. Antonio de Mello, Avo por varonia dos Mel- ius dos Paulistas erua de Sancto Antonio em Lisboa. » ' A. Andr. Hesehdii — de aitliquitatibus Lusitaiiiat — L. 1. Dialogosde D.Fr. Amador Arrais — Diiilogo Quarto — cap. X. — Ucscripfao de Portugal por liuarte A'uueade Letlo — rap. IX pag. 54 e 55. — Mappa de Por- tugal pt'lti padre Joao Baptista de Castro — parte 1 .' — cap. 1 1, pag. 29. - Os nossos antigos chamavam ^ Serra de Eslrella Moute HcrmiiUo Maior, e a Serra de Marvao Motile Her- muiio Menor. Vide L. Andr. Rescndii etc. I. cil. ' Na Proveneia residia D. Helena de Jlesquita ao tem- po, era que sc lavrou o instrumento, a (jue acima nos refe- riraos. 150 todos 05 annos a casea, que cac em pedaros sohre a lerra. M. Belloe fez a analyse d'esla casca, a lini dc cxaminar se clla liiilia algiim valor' para csiriimar as terras. Ailioii (|iie continha: 1.° uma materia amarelhi cor do pallia; 2.° uma materia adc'.iuencia, por que os raios sonoros nao poderao mais propagar-se, como no meio homogeneo primitive. » SBarniovo o:ayx.— Todos admiraram, diz 0 Cosmos, as bellas amostras de marmore onyx da provincia d'Oran, que faziam parte da e.x- posicao dAlgeria. Segundo M. Hoy, sao de- posiios recentcs devidos a fontes thermaes in- teriores carregadas d'acido carbonico, como ainda ba muitas cm todo o paiz. 0 deposilo caicarco formado pcla precipilacao e conccn- Iracao do liquido e primciramente opaco c de csti-uctura muito irregular; mas augraentando a quantidade d'acido carbonico, e lornando- se mais podcro.sa a induencia da cvaporacao a medida, (jue o liquido se evapora da super- ficic, 0 dcposito passa ao eslado iransliicido. M. lloy alVirma que a nalurcza do deiiosilo accusa d'uma maiieira notavcl nao somente a inlluencia das cstacoes allernativamentc (luen- IPS e Irias, mas ainda a mudanca do dia <■ da nolle. I'edacos d'estc marmore quebiado, submet- tidos mais lardc a acriio da lavagcm dos inar- niorcs pelas aguas das fontes tliermacs, sol- darani-se naluralmeiitc : imitando a natureza e pondo em jogo csta mesma accao das aguas thermaes, .M. Uoy espera chcgar a soldar ar- tilicialmenle pedacos deslacados d'onyx, for- mando assim cogulos de marmore maiores, (jue OS que possuiram os povos antigos. ISeJIos e!T«'51o»i «!a iitii'ni;<»»i».— A 7 dc julbo as nove boras do noitc, cscreve M. Lo- grip a La Science, dois individuos de Cham- bon acbaviim-se sobre um ponto cicvado, ao oeste d'csta pequena cidade. A lua cbeia levantava-se por baixo d'uma pe([uena nu- vem ; a sua cor era d'um amarello-averme- Ibado vivo. Apenas o astro se aciiava acima do borisonle, os dois viajantes perccbcrani no ar, e qua.si na altura da lua, uni ho- mcm de veslia c de chapeu, trazendo ao hombro csquerdo um pau, e pcndurada 'nelle uma Irouxa. 0 homcm caminbava por uma larga estrada; os viajantes viram-no passar deanlc da lua, e desapparecer 'num momento. A lua encubriu-se um instante, c logo que passou a nuvcni, um outro quadro se offcre- ceu aos olbos dos dois obscrvadores; nao I'oi um bomem, mas uma vasta cxtcnsao d'agua. uma especie de bigo cercado de pastagens, de prados, d'arbustos, e d'arvores. M. Legrip ve 'neslas apparicOes hellos ef- feitos da miragcm, ou antes de reflexoes ex- traordinarias. Ciura «3a In:. jaropIioSjia. — Diz Z(7 5'ci>«- ce, jornal scicntilico de I'aris, que um medico ou proprietario da aldea Peklctz. districto dc liiag-k na Kussia, M. Leviu-liolT, possiie um methodo infallivel para a cura da hydropho- bia. 0 primciro cuidado do medico e provo- car 0 accesso da molestia, apertando com forca 0 menibio mordido. O doenle entao sen- ic-se desi'allecer, perde os seniidos pouco a I)0UC0, um senlimeuto de trisleza, d'inquicla- c.io, de medo, se apodera d'elle, e vae con- tinuadamente augnientando; succedem-se de- pois as nauseas, e em seguida a aniquillacao completa de toda a inlclligencia, sobrcvindo 0 delirio, no qual o doenle com os olbos es- pantados cospe sobre todos os que se apprc- ximam d'elle. Quando por csta primcira prova o medico se assegura da presenca do virus bydropho- bico, comeca o traclamento, que consiste cm pilulas, c cm um p6 feilo de plantas, cujo segredo passa do pae ao lilbo, na familia. Depois da primcira pilula o doeiite dornie por espaco dc i boras c meia: accorda com plcno 151 conliecinionlo (ie si, scute uina ligcira traiis- piracao, e jicdc uniii nova doze do inedica- menlo. Tudo termina em geral dcpois da 4." pilula; mas desdc a primeira a ciira esla sc- giira. Os acc^ussos iiao apparoccm niais, a tristeza ccssoii, todas as runcrOes se exerccm como no estado dc saiidc. De\emos dizcr para gloria d'cstc medico, (]iio iiuiica acceila cousa algiima aos doenles que cura; cada urn d'ei- les lica com a liherdade de (azer, fiucrcndo, um donativo ii Kgreja de I'eklelz. 0 nuniero dos doenles alacados da hydro- pholiia, e ciirados por H. LavaeiiolT, elevava- sc em 5 de mareo dc 1S57 a 1791. MorJi- own* ioiia«la polo cinpreso da amjlona.— Em 1)0 dcjiliiio d'eslc anno, diz 0 Cosmos. 'SI. Snow adminislrava a amylena a um individuo dc 24 annos, liaixo mas ro- busto, para ilie fazer a opcraeao d'uni peciuo- no tumor no dorso. No llm dc dois minutos, 0 doente perdeu os senlidos; la-sc eomerar a operacao quando elic soitou unia gargaliiada de loucura, que durou perto d'uui minulo, durante a (jual cuslou muilo a segurar. Quan- do (icon socegndo, posto que nao tcndo recu- perado os sentidos, administroii-se-liic ainda oulra doze de amylena; o doente tinLa a cara virada para a mesa, e apoiada sobre os coto- vellos c sobre os joellios. Comccou-sc a operacao : mas antes que se tivessc concluido a sutura, os membros do doente aflVouxaram, a respiracao, ainda que hastante iivre, tornou-sc cstertorosa; o pulso tinha quasi desapparccido. Yirarara-no de cos- las, a face estava ja livida c a respiracao era diflicil; aspiraram-lhc ar, bafejando-o; rccor- reram ao mctliodo de respiracao arlilicial do dr. Marsliall-ilall ; excitaram-lbe commofocs ■ magnetico-electricas na rcgiao do coracao, o qual se juigou ouvir bater um instante, ao mesmo tempo que a respiracao parccia ainda regular; mas tudo foi inutil, loi impossivci tornar o doente a vida ; morreu. M. Snow altribue esla morle subita a uraa accao dirccta da amylena sobre os nuisculos e OS nervos do coracao, scm que houvesse asphyxia: oulros medicos serao scm diivida de parcccr coulrario. A verdade e que o agente anestbcsico produziu mais uma vez a morte, e em um caso era que nada levava a suppor um lao trisle resultado, <|ue tahez seja devido ao doente fazer uma ou duas ins- piracoes mais encrgicas do que devia ser. .« 0 ar respirado, diz M. Snow, n3o deve con- ter mais de lo por cento do vapor da amyle- ma, como nao deve center mais que li por cento do vapor do cblorol'ormio; se a amylena fosse adminislrada em quaniidade determinada em um vaso dc capacidade conhccida, nao aconteccria accidenle alguni ; mas eu julgava que 0 processo que linlia tao bcm empregado com 0 cloroformio, tcria egual succcsso com a amylena, c que nao liavia utilidadc alguma cm administrar o novo anestbcsico, d'uma mancira, diificil c cmbaracada, ([uando lal caulella se nao liuba com o ageute anestbc- sico, liabitualmcntc empregado. i. E um erro (• nni erro de|)loravel, que practicamcnle vein denioustrar a excellcncia do nielliodo e appa- rcllio de ,M. Ileurteloup. Todo e (|ualquer agCMle anestbesico nao deve ser administra- do scnao pcio nariz, ao mesmo tempo que pela bocca se rcspira um ar inteiramenle puro, c OS vapores anestbcdcos se desfazem na atraosphcra. ft:x]ii9»ifao ila iiic3!s»(i-ia na Su>iioNii>i:oro}i 0 fabrico dos palitos c pavios pliospboricos faz-se na Austria em maior escala, do que em qualquer outro paiz. Eiu 18u2 exportou a Austria 1.237:000 kilo- grammas, no valor de 2 milhoes dc francos. Pode avaliar-sc em u milbOes de fruncus o producto annual das fabricas austriacas. Trez eslabeleciraantos dedicados exclusiva- mcnte a esta industria, em Vienna, occupani mais de G:(IOO opcrarios. So uma d'estas fa- bricas, a de M. Prescbel, produz annml- mcule o.3;i0:000 caixas de iiO macos a 100 pccas cada um, ou perto de 27 mil milhoes de pbnspboros ! A Suecia possue tambem uraa das maiorcs fabricas que se conheccm. A produccao dia- ria d'esle estabelecimento e de 8 milhoes de palitos pbosphoricos ! Na Franca e Inglalcrra contam-se alguns cstabelcciiuentos imporlantcs, e alguns pro- *\%l^' 152 ;;ressof lem I'eili) cst;i imliisirirt, mas eslao miiilo lonsre (io< do Ausiria. Copiilni-rioiU- i»i»TRrC(;io FRIMAlilA. Cypriano Jose Lamego, para professor temporario da cadeira de Cullos, ilislrirlo de Beja. D.iminsos Antonio Soeiro, para professor substituto da cadeira du Muila, districlo dc Lisboa. Joao Cardoso da Silva, [lara professor temporario da cadeira de Peliha l-onpfa. dislricl.. do Porto. Mannel Jose Antiiii*s, para dicto de Monte Alcgre com assenlo cm Villa da Ponle, districlo de Villa Real. Mannel Maria de Sousa Pinto, jiara dicto ile Lon^'ioi- va, districlo ila Ciuarda. Manuel Pereira da Crn7., para dido de S. Mamede de R.ba-Tna, districlo de Villa Real. Miliiel Honiem Corlelieal, para dido de Ranbados, di^lrid i d.i (inarda. .Vlvaro Jose dos Sanclos Claro, para ditto de Ajtua.* I'Vias, districlo de' Villa Real. Doniin^os I'redcrico d' Aquino c Sousa, para dictu da Azinhaga coin assenio na fregnezia do Olival, districlo dc Sanlareni. Francisco Jose Nogueira, |iHra dicto dc Hiideas, di.*- Irido de Karo. Jo.io .Manuel de Sousa Ferreira de Magalliitcs, |iara did.i do logar do Pico, fregnezia de S. Gens, districlo de Bragn. Manuel Cardoso de Figueiredo Nogueira, para dicto de Quiaios, districlo de Coimbra. Bernardo Jose de Loureiro, para dido de Silves, dis- triclo de Faro. Jose Cirrea d'Aguilhar, para dicto de Podontes, dis- triclo de Coimbra. Jose Henriques Frazilo, para dicto de Coimbrilo, dis- triclo dc Leiria. Manuel Pedro Macliado, para dido de Chelleiras, dislriclo de Lisboa. Antonio Manuel Domingues, para dicto d'Ervidel, dislriclo de Beja. Jose Joaquim Gomes, para dicto da freguczia dc Sal- to, districlo de Villa Real. .Manuel Lopes, para dicto deCastello Mendo, dirtri- do da Guarda. Francisco Antonio d'Oliveira Pires, para dicto de Val Salgueiro, districlo de Bragan(;a. Francisco Maria Monteiro, para dido de Lavre, com e\ercicio em Evora. Joilo Jose Pereira, para dicto de S. Miguel de Mi- lliarado, dislriclo de Lisboa. Jose Antonio do Rego, para dicto de S. Marcos do Campo, districlo d'Evora. Jose da Costa Menna, para dicto do Trainagal, dis- triclo de Santarem. Manuel Nunes, para dicto do Rocio ao Siil do Tejo. Godinba das Neves Pereira de Castro, para mestra temporaria da cadeira de Arcos de Val de Vez. districlo de Viana. Maria Augusta d'Almeida Falcao, para dicla de Ponle de Lima, dislriclo de Vianna. Anna da Concei(;.rio da Silva Borges, para dicla de Torres Novas, districlo de Santarem. Bernarda Emilia, para dicta da Villa da Lagoa, dis- lriclo de Ponla Delgada. Maria d'.Assuinp^ao, para dicla de Thomar, districlo de Santarem. Maria Ludovina Moraes, para dicta do Crato, distri- clo de Portalegre. Joaquim Jose de Oliveira. para professor vitalicio da cadeira de An^a, districlo de Coimbra, |ior decreto de 27 d'abril ulliaio. Joao Neves Duarte, para dido de S. Jo.lo d'.4ii"as, dislriclo de Viseu, por decreto de 21 diclo. Balbina Henriqueta de Passos, para inestra vitalicia da cadeira de meninaa da freguezia de Sancia Gngracia de Lisboa. IKSTRUC^'-to SECUIStURlA. Antonio Manuel Rodrigues, para o logar de porleiro do lyceu nacional de Bragan9a, por decreto de (i de iiiaio ultimo. Joiio Jose Ferreira SiraSes de Molle, para professor temporario da cadeira de latim de Ponibal, distrioto de Leiria, por portaria de 5 de maio ultimo. Jose de Mallos Custodio, para professor vitalicio da cadeira de latim d'Elvas, por decreto de 12 de maio ul- timo. Jose Joaquira Nepomuceno Arsejas para o logar de porleiro da Bibliotheca Nacional de Lisboa. por decreto de 19 de maio ultimo. instruc(;ao svperior. Jose Ernesto de Carvalho e Rego para lenle dc Prima e decano da faculdade de theologia, por decreto de 27 de abril ultimo. Joaquim Cardoso d'Araiijo rnf" '"""'e calliedralico da me-ma t.iculdade. |ior decrelo de 'ii de maio ulliliio. €> Jujstitttt^^ JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. RGLATORIO Do comniiNNario flow estiitlos do distri- cto adniiniMralivo dc JLiisboa« em 31 de dczembro dc 185G. ,' Continuado de pag, 141. CAPITULO II. De como deve ser creuda uma cadeira de gram- matica e liixjua portugueza no lyceu nacio- nal de Lisbon. Ila cousas, que muilo abreviada rcflexao nos poe com evidencia aos ollios, e todavia nao se tomam cm nenluima conta, senao de- pois que 0 reclamar da experiencia forca a observacao a adverlil-as. Parece estranho islo, mas succede assim na realidade, e acaso na maxima parte do que niuito dcvia imporlar- nos. 0 objcclo d'este eapitulo seria mais uma prova da minha assertao, se por ventura ainda carecesse de ser confirmada. E conhe- cida, '6 lodos confessam a necessidade nao so do estudo, e cabal coubeciniento das linguas antigas e modcrnas, mas tambem que se f'aca aquelle estudo, e adquira lal conhecimento no mais curto prazo de tempo. Criam-se ca- deiras, convidam-se professores, estabelecem- se programmas, subjeitam-se os alumnos a cxa- raes, que se recommendam e qucrem muilo averiguados e escrupuiosos; e comtudo I'al- ta-se ao que levissima rcflexao teria dcmoiis- trado ser condicao indispensavei para que nao se torne quasi em pura perda lodo o trabalho e toda a despesa com este motivo fuita ; e para que, peio menos, o estudo das linguas se fa- cilite, se aperfoicde, e obtenha com seguranca OS resultados, que se pretendem. Mas a ex- periencia veiu dcsenganar ale os menos dis- postos a prcstar-lhe doceis ouvidos: constran- geu-os, desilludiu-os; e ja hoje nao ba quern cntenda nos estudos linguisticos, que nao de- clare de absoluta necessidade a creacao de uma cadeira no lyceu de Lisboa (e em todos OS lyceus do reiuo), que tenba por oiijccto exclusive 0 ensino largo e sufiicientemenle desenvolvido da gramnuitica e lingua portu- gueza, que, completando o curso dos estudos secundarios, sirva ao mesmo tempo de prepa- ratorio obrigado ao estudo de todas as outras Vol. VI. Outubho 1. linguas. Este facto, (|ue a experiencia fnnda irresistivelmente, a rcflexao desde niuito o de- via ter achado; pois que so por elle pode cx- plicar-se o pouco progresso do niaior numero dos alumnos das varias aulas de linguas, e as notavcis imperleicOes, niuito para lastimar, ate d'aquelles que, tendo satisfeito com sulB- cieucia as condicoes do cxame, poderam con- seguir ser approvados. Ignoram, geralmente, a indole da lingua portugueza, nao so com rclacao as espccialidades da sua construccao grammatical, mas tambem no que respeita a convenienle applicacao das regras geraes, a que esta subordinada, e que propriamente a caracterisam. Alem d'isto nao alcancam a bem distinguir as difl'erencas da significacao, e a energia ou relativa ou absoluta dos vocabu- los ; nao apreciam quanto e preciso a forca dos idioiismos, desconheceni os segredos da elocucao, as delicadezas da synonymia sao- liies estranbas; em uma palavra quasi que para elles e raysterio a verdadeira indole da lingua malerna, e por conseguinte acham-se na impossibilidade de substituir com exaccao, quer fallando, quer escrevendo, a lingua que estudam, a propria lingua. E como seria d'outra sorte? 0 maior numero dos alumnos das aulas de linguas vac alii matricular-se, tendo concluido apcnas o estudo da instruc- cao primaria, estudo que, por nimiamenle sobrecarregado, pela edade, em que e feito, e por outras razocs conbecidas, c que por isso mesrao nao especilicarei agora, deixa sempre muito a desejar. Falbos na base, como podc- riam edificar avanlajadameute? E impossivel. E certo que alguns alumnos, por ventura nuiitos, preparam-se para o estudo das demais linguas com o da grammatica latina; mas nem sao os mais, nem que o fossem, o co- nhecimento superficial da grammatica latina preencbe de mode conipleto o que requer, para ser com perfeicao comprehendida, a lin- gua portugueza, embora filba d'aquella, po- rem nao identica, antes a vezes diversa, a vezes op[iosta, e nao raro, essencialmente mo- dificada. Enlretanto prova a experiencia, que OS alumnos das aulas de linguas, que so co- mecam a aprendel-as, obtido previamente o conbecimento da grammatica latina, fazem muilo maiores progressos, e levam a todos os outros seus condiscipulos vantagem indispu- ■°— 1857. Num. 13. 154 tavcl: c (Ic tal forma que, so dos que so llies applicam depois deteiem lerininadocomapro- vcilanienlo c approvarao merecida, uiii curso regular de grammalica laliiia, e i>erniiuido esperar (|ue possain adquirir no praso tao breve, que llic esui designado, eoiiliecimeulo sufliciente da lingua, que estudam, para que a approvaeao. ohlida nos cxames annnaes, teulia alguiiia signilicaciio valiosa. E obvio que, explicando-rae d'esta sorte, proponbo a creacao de uma cadeira distincla da de que Irata o art. 47 do deer, de 20 de .'ietembro de 184i: esla liraita-se ao ensino arido das regras, inais ou meuos genericas da graninia- tica portugueza, em quauto aquclla, cuja creajao tenho a honra de proptJr, deve com- prebcnder o ensino propriamente diclo, da lingua portugueza, ensino, a que nao pode dedicar-se professor da 1.* cadeira por cum- jtrir-liie ter peculiar attenrao ao ensino da tbeoria e praetica da grammalica lalina. Lem- brar-se-hia acaso alguera de sustentar, que o professor da 1." cadeira facilmenle obteria o que pretendo, mediante o ensino comparado das duas linguas? Nao nos iliudamos: deixe- mos a parte essa tbeoria, que pode deslum- brar a muitos, raas nao pode satisfazer aos boniens reflectidos. Supponhamos que todos OS professores possuem fundamenlalmentc as duas linguas, como e necessario, para que o ensino comparado, que se aeonseiba, possa ser qual convem, alini de que o seu resultado satisfaca ao que se deseja. Ainda niesnio 'nesta bypothese, que nem todos concedcriam sem difficuldade, nao e possivel adniiltir-se o que se lembra, porque, se o professor nao ignora, nao conbecem os alumnos nenbuma das duas linguas; e eomo comparar objectos desconbe- cidos? eomo coraprehender a conveniencia, I) alcance, a verdade da comparacao estabe- lecida? Salta aos ollios o absurdo. E ])or esla razao que, em Franca, o decreto regulamen- tar de 30 d'agosto de t8S2, distribuindo em oito classes as discipllnas, que se ensinam nos lyceus, attribue as primeiras quatro o ensino da grammalica franceza, so depois de aprendidas, cada uma de per si, as gramma- ticas das linguas franceza, latina, e grega, raanda que, na classe de quatrieme, tenha logar 0 ensino da grammalica comparada d'estas trez linguas; e que so ao depois, na classe de troisieme, comece o cstudo das lin- guas vivas, isto 6, da Ingieza, e Aileraa. As- sini se observa. Obrigado d'estas consideracoes, que mais largamenle desenvolveria, se podcsse persua- dir-me de que alguem, nieamente versado nestas materias, nutria minima besitacao a este respeito, tenho a lionra de propor a Vossa Miigestadc a creacao, no lyceu de Lis- boa, e em todos os do reino, do uma cadeira de grammalica e lingua portugueza, conforme ao prevenido no seguinte I'nOJECTO DE lEI. An. 1. E creada no lyceu nacional de Lisboa uma cadeira de grammalica e lingua portugueza. Art. 2. Esta cadeira c preporatorio indis- pensavcl para o estudo de todas as linguas, (juer anligas, quer modernas. Art. ;{. Os candidates ;is cadeiras dos ly- ceus nao serao admitlidos aos respeclivos con- ctirsos, quando nao instruirem os sens reque- rimentos com ccrtidao autbentica de approva- eao em grammalica e lingua portugueza, ou declaracao de subjeilar-se prcviamenle a csle cxarae. §. unico. Tambem esle exame e prepara- torio indispensavel para os professores d'ins- truccao primaria de 2." grau, e para os do 1.° gniu das capitaes de districlo. Art. 4. Os exames de grammalica c lin- gua portugueza serao scnipre rigorosos. Art. i). 0 conselho superior d'inslruccao piiblica fara programmas desenvolvidos para 0 ensino e exames da cadeira de grammalica e lingua portugueza. Art. (). Flea revogada a legislacao em contrario. CAPIIILO III. De como sSo neccssarias duas cndeirns, iima da lingua franceza, e oulra da lingua in- gieza, em cada uma das secrOes central, e oriental do lyceu nacional de Lisboa; e bem assim dois suhstilutos, «m para as duas cadeiras de lingua franceza, e o outro para as duas de lingua ingieza. A faita, que a inscripcao d'esle capilulo indica, torna-se de dia a dia mais penosa para a mocidade, que se dedica ao estudo das linguas vivas; e por isso e para mim de- ver sagrado, fazendo-a constar na presenca de Yossa Mageslade, pedir com elllcacia que ' Isto bastaria para provar qual e o princi- pal fim a (luc tende o projoclo da acadeniia, se 0 seu proprio contcxto o nao revelasse mui clarainente, como lercmos occasiao de vcr. J. M. DE ABREU. ELOGIO HISTORICO 0 desembargador Agostinho de Mendonca Falcao, cavallciro professo na ordcm de Chris- to, socio da acadeniia real das sciencias de Lisboa, c do Instiluto de Coimbra, nasccu cm Soulomaior a 27 de agoslo dc 1783. Forani seus pacs Sebasiiao de Mendonca Falcao, scnhor do niorgado de Sourpircs, no termo de Pinbel, e D. Anna Helena da Con- ceirao, senbora do morgado de Soutomaior, no de Trancoso. Nao carece do explendor de appellidos o nome do sabio; logra, boje em dia , mais cabal cstimacao a nobreza, que deriva das lettras, que a procedente do nascimento; quando, porem, no mesnio individuo, ambas se reuncm, fornioso esmallo faz a primeira no lino oiiro da segunda. Sob a direcfao [lalerna esludou Agostiniio de Mendonca as varias disciplinas, que babi- ' O exlinclo convenio de Jesus, ciijo eilificio occupa a .\cademia U. das Sciencia.s. 2 Revisladalnstr. Publ. para Portugal c Brazil N.<> l.» lilavam para o ingresso na nniversidade. Dc- pois de e\aniinad() e approvado no real col- legio das arlcs, nuitriculou-se, cm 179'J, na I'aculdade de canones. Em pocticos certames consumia, 'nesse tem- po, a mocidade esludiosa as poucas boras, que llie deixavam livres as ladigas academicas. Todos OS bons ingenbos, lavorecidos das .Miisas, corriam o [mrco 'neste campo ameno, eniulaiido os Siis de Miranda, e Ferrciras, venerandos modelos cm tao gloriosas lidos. Este novo e curioso espeetacnio abalava profuiidaniente oaninio de Agoslinlio de Men- donca; nial podia coiiler os vuos de sou estro ardente, inspirado polos cantos dos jovcns Iroyadores ' . E quo Ja cnlao cullivava com esniero a di- viua poesia; o, mais larde, conscio do pro- prio nieriio, nao se acobardou dc rccilar, 'nestes comicios litierarios, alguns pocmetos solcctos. Dalam, com effeito, d'essa menioravel cpo- cba niuilas das suas poesias I'ligilivas, ainda ineditas, como a niaior e melhor parte dc suas obras. Grangeou Agostinbo de Mendonca, durante 0 curso univcrsitario, avultado cabedal de co- nbocimentos da lingua, versando com mao diurna e nocturna nossos estiniaveis classicos: cram o seu desenladamcnto querido, quando feriava de mais severos cstudos. Mas esta dedicacao apaixonada, o suave traclo de nossos bons cscriptores, nao o di- vertia da satisfacao de seus principacs devc- res; cumpriu-os sempre com o desvelo pro- prio de uni estudanlo pundonoroso, onipenbado em susleutar os creditos, que lograva, de dis- tinclo por applicacao, e intolligencia. Fora, em verdade, este o conceito, em que 0 tiverara os condiscipulos, e plonamente con- lirmado pelo testeniunho dos mcstres, que nao so 0 iionraram com piiblicos e solemnes lou- vores, preiuiando-o, mas, por glorioso rcraatc de seus trabalbos academicos, Ihe votarani qualilicacoos tao relevautes, que dc uiaravilba se concediam taos em nossa nniversidade. Concluido o curso da sua faculdade, depois de alguni tempo de practica forcnse, dirigiu- se em 1807 a Lisboa, a Uni do babililar-se para os logaros de lettras. Com sisudo precato se esquivou as nume- rosas distracrOes da corte, continuando a sa- borear os innocentcs deleites do estudo. agora mais pcrsistente e variado por niaior copia de subsidies, c desafogo dc trabalbos. Continua. f. a. b. deGUSM.\0. ' Os principaes rram Josi Joaquim RodriRiies de Bas- tos, varao bem conhecido pclos eminentes caryos, que deseuipenhoii na republica, e por seus preciosos escriptos; Jiirio Antonio Krederico Ferro, que foi depulado, esecre- lario da cuuipaohia; Jose Pinicntel de Hello, que niorreu Juiz de Fora de Alniodovar; Jose Joaquim Gerardo de Sa[ii|iaio, hoje risconde de Laborim, etc. IGO 0 EMPORIO ITALIANO. Recebemos do ■nosso collega c amigo o sr. Alexandre Meyrelles do Canto e Casiro, alguns numcros do Emporio Ilaliano. jonial i|iR' so publica em Londrcs debaixo da direcrao do conde Monlemorli, urn dos disiinclos cmigra- dos ilalianos, que acUialmcnte sc acltam 'na- quella corle. 0 conde Montemerli teve a arrojada lem- hranea d,; I'undar na capital da Gran-Brcta- nlia unia inslitiiicao protectora das artes, scieucias, litteraliiia, conimercio c industria, com 0 lim de piomover, remunerar e tornar manifestos a todo o mundo os produclos do genio ilaliano em cada um d'aquelles ramos. Deutro em pouco o que so lora uni projecto, creado pelo cntliusiasmo do amor palrio, e (]ue a lodos pareceria inexequivel polo gigan- tcsco da concepcao, estava conipletamente realisado ; instituida a socicdade o — Empo- rio Ilaliano — sob a direccao do niarquez de Downsliire; e publicado um periodico quin- zcnal, inteiramente allieio .i polilica, como a instituicao de que e orgilo e cujo titulo assu- miu; — mas importantissimo peia profundeza com que ahi sao tralados os objeclos scienti- ficos, lillerarios, artisticos, coramerciaes c induslriaes. E desejando a sociedadc que esta exeellente publicacao torrespondesse em tudo ao gran- diose fim do seu institoto, determinou que os artigos insertos 'nclla, fosscm escriplos nas trez linguas, — italiano, inglez c IVancez. A associarao, adoptando esla idea, fez um assignalado servico as lettras; e o seu jornal, jii a outros respeitos nuii interessante, ainda mais se torna por esle iado, podendo servir, as pessoas menos versadas 'naquellas linguas, de seguro guia e director, na correspondcn- cia d'elias. A adopciio da lingua franceza, como lingua quasi universal, e justificada para a maior voga dos escriptos alii publicados. As linguas ingleza e italiana eram de necessidade 'num joriial escripto cm Londres, orgao d'uma as- sociacao prolegida pela generosidade da na- cao ingleza, — mas jornal para a Italia, jor- nal que advoga os interesses d'esta nacao, creado por filhos d'ella, a (luem o amor da patria deu a forca, para levar por diante estc projecto civilisador. A redaccao esta conliada ao babil escriptor A. Vera, bem conherido pelos seus estudos sobre a philosophia allema, e pola distincta ligura com que em Franca descnipenliou o professorado. Para se formar uma idea assim d'esla pa- triotica instituicao, como do jornal que a representa, transcrevemos em seguida o proje- cto dos estatulos da associarao, e pedimos venia para traduzir o curioso arligo do n.° o io Empoi to Ilaliano, — A popularao estacio- naria em Franca. a. j. teixeira. EMPORIO ITALIANO rrNDADO roR 'Loveu-.o ^\o^\^.t\\\t^■Vv, \>u towVv Sauio^m. I'UOJECTO DE ESTATUTOS. C.VPITl'LO I. ^ Fim da Instituiruo. \.° Fundar-se-ha em Londres uma Instir- tuicao protectora das artes, das sciencias, da litteralura, do commercio, e da iudustria da Italia. i." Esta Instituicao (inteiramente alhcia a politica) sera denominada Emporia Ilaliano. 'i.° 0 seu lim sera favorecer, animar, proteger, remunerar, e tornar manifestas a todo 0 mundo as crearOcs do genio italiano conlemi)oranco, em cada um dos ramos acima indicados, garantir a autbenticidade c a boa qualidade dos produclos agricolas, induslriaes etc., c facilitar a sua extraccao. 0 dircilo de exposicao sera livre para todos os italianos, qualquer que seja o ])aiz em que se acbarem. 4." A iniciativa das niedidas tendenles a preparar as bases da Instituicao (icara a car- go d'uma Juncta provisoria, composta de pes- soas respeitaveis, que, de bom grade egratui- lamente, accitarem a tarefa de prcslar apoio ao Promotor, e ofTerecer garantias economi- cas a Instituicao. S.° A Juncta tomara o nome de Juncta Instiluidora, c cessara suasfunccOes logo (|ue se estabelcca a Juncta administrativa na for- ma abaixo dcclarada. 0.° 0 capital necessario para a fundacao d'esta Instituicao seni oblido medinnte dona- tivos voluntarios effectuados de uma so vez. As sommas ofTerecidas, os juros que d'elias provierem, e os beneficios da instituicao, serao exclusivamente enipregados para o lim acima indicado; nenhuni tralico illicito, nenhuns interesses particulares virao distrair o uso d'estes fundos, que deverao ser exclusiva- mente applicados a cste objecio nacional. 7.° Logo (jue a Juncta instiluidora lenba realisado a subscripcao, ou a somma neces- saria para constituir a Instituicao, formar- se-lia uma Juncta administrativa composta de 1 presidente — 1 vice-presidente — 10 conse- Ibeiros — 1 secretario — 1 direclor-geral — 1 banquciro-tbesoureiro — 1 arcbitcclo — 1 advogado. 8." A Juncta seni formada de pessoas distiactas, inglezes e italianos. CAPITULO II. 3Iodo de ohler os fundos, funcroes da Juncta instiluidora, e das Junctas suhalternas. 1." A Juncta instiluidora preparara os cicmentos necessaries para crear a Insliluicao, debaixo dos auspicios dos govcrnos d'ltalia, e 161 com 0 eoncurso dc lodos os ilalianos, que toraam a peito siias prcrogativas uacionaes, c il'aquelles eslrangeiros, e cm particular os inglczcs, que lem decidida sympalliia pela narao italiuna. 2.° A Juiicla occupar-se-ha da formacao, nas principacs cidades d'llalia, de Junclas cooperadoras, a? quaes gozarao dos privilegios que ahaixo serao indicados, e obrarao d'acor- do com aJuncla dcLondres. 3.° As Junclas d'llalia serao formadas d'um presideiile, d'um vicc-presidente, d'um sectetario, dc 0 consclhciros, entre os quaes havera uni advogado, e um banqueiro, que se encarregara dos depositos. 4.° A Juncta de Londrcs cnviara as d'lla- lia um numcro (que se lixarti) de lislas de subscripcao, que serao munidas das compe- tentes lirmas c conlra-senlias, e lodas numc- radas por ordem. Mandar-sc-iiao tambcm a lodas as casas de coramcrcio ilalianas na Europa, e nas oulras paries do iiiundo. 6." Logo que so obtenlia uma somma for- mando o capital de 5.000:000 fr. em um milhao dc bilhetes de o fr. cada um, a Juncta instituidora proclamara a Insliluicao consti- luida, e se relirara para dar logar ii Juncta administrativa. (i.° A Juncta provisoria iractara de csta- belccer commissOes e correspondentes nos ou- tros paizes para facilitar, e estcnder por toda a pane a subscripcao. 7.° Havera unia lista do nome das pcssoas, das corporacoes, das associacOes, etc., que se encarregarem de rccolher os donatives; e OS seus nonies serao inscriptos no alto das lislas de subscripcao, com o das localidades respeclivas, nao podendo uma lisla recollier fundos senao na localidade designada. 8.° Conceder-se-lia aos collcclorcs na Eu- ropa oito raczes, e aos das outras paries do niundo um anno, para mandarera a Juncta as lislas, ou dar conla d'ellas. 9." Cada um dos colleclores, concluida a subscripcao, devera rcmettcr o produclo e a lisla a Juncta, a commissao, ou ao consul da localidade em que se acha, cobrando recibo. 10.° Logo que as Junclas, comiuissocs ou consules tiverem recolhido as lislas das collc- clas, cnvial-as-hao a Juncta de Londres, dei- xando as sonimas rccebidas nas maos dos banqueiros a produzir juros, sendo possivel. 11." Cada subscriptor rccebera, da Juncta inliluidora de Londres, um recibo- da sua offerla, contcndo cscriptos no reverso os nu- meros correspondentes aos billietes da sua dadiva, segundo a ordem que liver na serie da subscripcao, na occasiao em que esla che- gar a Juncia ; assim como o nuniero da classe, que occupar como subscriptor, devendo este nuraero concorrer, durante os Irez primciros annos da insliluicao, ao sorteamento dos prc- mios, como se vera no capitule iv. 12.° No cimo das lislas de subscripgao havera uma (igura allegorica da Instituicao, com OS numcros c contra-senbas da Juncia instituidora na primeira pagina; e na parte inferior os rcgulamentos principacs relatives ii subscripcao: a scgunda, lerceira e quarta paginas coi'lerao as lislas, as assignaturas, as sonimas ofl'ereeidas, e as moradas dos subscriptores. 13.° Os subscriptores serao classificados em qualro calbegorias, primeira, scgunda, c lerceira classe de subscriptores, c n'uma quar- ta classe de Proleclores. 14.° Perleneerao a primeira classe os subscriptores de sonimas nao nienorcs, que 2:000 francos; a scgunda os subscriptores de soramas nao mcnores, que 1000 francos. A lerceira sera formada das duas primeiras, divididas cm bilbeles de b francos cada um, e de lodos os oulros subscriptores do mini- mum de i) francos; islo e sera represeniada pelo numero complelo de bilbeles de cinco francos. Terao o litulo de Prolectores todos OS individiios, que por mcio da Insliluiciio, iizerem uma encomenda d'obras dalguma das seccOes do Emporio em imporlancia nao menor de 20:000 francos, ou que subscrevercm com a soraiua de 5:000 francos por uma so vez. CAPITILO III. Localidade, receita, e deslino nacional e jjhilanlliropico d'esta. 1.° Erigir-se-ha 'num dos bairros centraes e mais frequciitados de Londres, um edifieio d'uma arcbitcclura elegante, dividido nos se- guinles repartinientos: uma imprensa; um bazar para a exposicao de todos os generos de industria italiana ; galerias para a exposi- cao de escullura, pinlura, maquinas etc. elc. salas de cstudos destinadas para estes diver- sos ranios; sala para represenlacoes musi- caes, draniaticas, concertos, etc. etc.; um club; uma bibliolbeea; um panorama, um eosmorama, um diorama; um aniphitlicalro para cursos artislicos, scienlilicos, litlerarios, e industriaes; um museu, nma escbola pri- maria; officinas necessarias a Insliluicao, lojas em volta do cdificio etc. 2.° A imprensa do cslabelecimento sera exclusivnmenle deslinada as publicacoes rela- tivas a Instituicao. 3.° Fundar-se-ba, com o litulo de Emporio Ilaliano, uma revista bcbdomadaria ou niensal, redigida em trcz linguas, — ilaliano, inglez e franccz, a qual sera o orgao da instituicao, e cuja direccao se confiara a litteratos dislin- ctos. Afora as niaterias politicas e rcligiosas, a que o jornal bade ser cxlranbo, occupar- se-ha de lodas as qucstoes scienlillcas, litlc- rarias, e sociaes, que mais directamenle con- Iribuam prra o descnvolvimento da civilisa- 1G2 rao: danJa coiita em particular do cslado d'estcs conhccimcntos na Italia ; ahrangendo ao raesmo tempo ohjerlos iiteis e ngradavcis; e illustrando todas as ohras priiiias italianas contLMiipnraiHMs, roprodiizidas por meio de gravuras, pliologiapliias, etc. etc. 4.° 0 bazar estara aberto pnra a exposi- cao permancnte dc lodes os genoros dt> iii- dustrias italianas; todas as amoslras dos pro- duclos iiiduslriacs ahi serao apparatosamenlc cxpostas com a indicacao dos commerciantes, nianufactorcs, e nicrcadores, lanto dc Ingla- torra como de Italia, c com os prcyos rcspo- ctivos. 5. ' As salas do exposicao de pintura, es- culptura, maquinas etc., scrao divididas era dois rcpartimenlos; um para as cxposicocs permanentcs dos objectos d'arte, patentc aos visiladores e aos arlistas, que desejarem estu- dar e copiar os modclos ; o oiitro para os ob- jectos desliiiados a venda. Havera alem d'isso salas d'estudo com escholas rclativas a estes trez ramos. C.° A sala dc cspectaculos e concertos, diurnos c iiocturnos, serviia principalmer.te para apresentar ao publico, e lornar conhe- cidas as composicoes musicacs e dramaticas d'aiictorcs, aos quaes seria difficil, no comeco da sua carreira, veneer a concurreucia das reputacOes estabelecidas, assim como d'artis- tas em geral, que, apesar do seu nierito real, sao obrigados, scgundo a practica boje esta- belecida, a cmpregar o seu lalento em pro- vcito de especuladores particulares, antes de adquirirem reputacao, e uma posicao indepen- dente. A mcsma sala sera lambem destinada para representacOes musicaes e dramaticas, dadas peloconcurso dasmelhores companbias, com 0 tim dc tornar conhecida a escbola ita- liana, tanto em suas anligas Iradicocs, como em siias novas tendencias. Estas representa- cOes nao concurrrerao nunca com a direccao dos theatres italianos ja estabclecidos em Lon- dres, e terao logar cm dias dilTcrcntes, etc. 7.° 0 club sera composto d'inglezes, e italianos; e tcra entrada para o gabinete de leitura eontiguo a bibliotheca. 8." A bibliollieca, cslara aberla lodos os dias ao publico, c devera center uma collec- i-ao escelhida de livres classicos italianos; as obras modernas italianas raais afamadas nos dlversos ramos das sciencias e das artes, as quaes e consagrada a Instituicao; as novas publicacOes em voga; e os principaes jornaes italianos e estrangeiros. 9.° 0 panorama, o cosmorama, e o dio- rama servirao para apresentar viagens pilo- rcscas, as vistas das principaes cidades, e dos mais belles logares d'llalia, etc. etc. 10.° 0 araphitbealro destinado a cursos litterarios, arlisticos e industriaes sera con- liguo ao panorama ; o fira d'estes cursos sera dar a cenhecer as obras de genio italiano, descrever o estado c os progresses da vida intellectual e civil da nacae, c animar o cs- tudo da nossa lingua e litleratura cnlrc os nossos corapalriotas, como tambem cnlre os inglezcs. It." 0 museu o a sala d'exposifao d'an- tiguidades scrao divididas cm duas partes; uma contcndo objectos pcrtencentes ao edifi- cio, c (|uc devcni scnipre licar em cxpesijao; a oulra os objectos desiinados a venda. llave- ni ludo 0 ([lie se podcr colber novamente des- cuberte em archcologia, uumismatica, mine- ralogia, gcologia, etc. 12.° A escbola priniaria e instituida com 0 lim de olTert'cer os meios d'instrucfao pro- fessional a lodos OS italianos residentes era Londres. Os italianos ba longos annos estabc- lecidos era Inglaterra, que veem crescer a sua familia na ignorancia da lingua materna, acbarao 'nesta escbola um meio facil para a educa^ao de sens (ilhos. 13.° As oflicinas rclativas as cinco clas- ses ou scccocs da Instituicao, serao reunidas na mesma parte do editicio, em que se acba- rem egualmente as oflicinas d'indicafao, d'in- formacao, eommissoes, agendas cenimerciaes, tlieatraes, etc. bem como o cscriptorio e caixa de seccorros, a qnal terao direilo os italianos de boa conducta c moralidade reconbccidas, e r|ue nao forem aptos para o trabalho, ou te- nliam impossibilidade de o procurar, ao que 0 estabelecimento provera. l-l." As lojas em volta do edificio, alem de serem de grande vanlagem para o estabe- lecimento pelo producto dos alugueres, scrvi- riio a laeilitar o commercio dos italianos, a quem serao exdusivamente ahigadas. Terao duas enlradas, uma exterior, e outra para as galerias internas do estabelecimento, mas csta reservada somente para o transporte das fa- zendas, porque o edilicio nao tera .scnao uma entrada para o publico, que podera ahi ser adrailtido modianle uma modica rctribuicao por meio de bilbetes diarios ou para ura certo espaco de tempo. 15.° A estas fentes de receita indicadas nos artigos antecedenles, a Instituicao junlara outras, como por exenipio, uma pequena taxa sobre o logar occupado pelos exposilores; o direilo de cemmissao sobre as vendas; uma imposicao sobre o registo, penheres, eommis- soes, encomendas I'citas em beneficio ou per ordem do eslabelccimenlo, rendimentos da imprensa, donatives voluntaries, etc. etc. 10.° Abrir-se-ha concurso, para serapre- sentado por italianos um projecto, para a cons- truccao do edilicio. 17." I'ma cemmissao d'archilectos estran- geiros, reunida a Juncta, escelbera e preniiara 0 melhor projecto. 18.° Os projeclos serao aprcsentados ano- nimos. 19.° 0 arcliitecto, que obliver e prcraio 163 sera convidado a vir a Londres, para dirigir a construc(;ao do cdilicio, icndo de ser co- adjuvado 'iieste Iraballio por arcliilectos iiigle- zes. 20." A constriicjao do edificio devera ter- miiiar, pondo-su em cxecucao o projecio, no esjiafo (ic dois annos, ou antes so for possivel. 21." Apcnas se consliuiir a Jiincla insli- tuidora, conierarao as O|ierai'0cs da Insliliii- eao cm cdilicio provisoiio, ciu quaulo se nao coucluir 0 pro[iiio. CAl'lTl'LO IV. Capitaes da laslUuirdo e seu ileslino especial. \.° A .snninia dc ti. 000:000 fr. nKiuisitada para fiindar a Insliluii^ao, sera deslinada aos USDS seguintcs : A. Conslrucfao d'um cdilicio, no lodo ou em |iuile, fr 4.000:000 B. Fundos applicados aos pre- mies dos numcros corresponden- tes iis olVertas e Ijillietes dos sub- scriptorcs. (1." anno) a terceira classe. Premies dc'iOO a yO:000 francos, fr 400:000 (2.° anno) a segunda classe, Premies de 1:000 a 00:000 francos, fr. 200:000 }l'r. 700:000 (3.° anno) a piimcira classe, Premies de 2:000 a 80:000 liancos, fr. 100:000/ C. Ao ilaiiano ijuc aprcsentar 0 melher projecio para o cdilicio da Inslituicae Ir 20:000 D. Fundos dcslinados a uma caixa de soccorros para italia- nos, fr l'iJO:000 E. Para despczas da Juncla ins- tiluidora e do Promoter, fr. ... 50:000 F. Cajiilal appiicado para pre- miar as descoiicrlas c invcncOcs ilalianas, fr 80:000 Total fr. .. u. 000:000 2.° 0 capital destinado a rcmunorar os subcriptores, sera cmprcgado na acquisicae d'ebjectos ou productos d'arlistas, dc sabios, industriaes, ou liltcratos itaiianes; e far-sc- hae encommcndas sc o numero das obras se julgar insuflicicntc. 3." A somma dc 80:000 fr. applicada para as invencOcs e dcscubcrtas italianas, sera da- da em prcmios de 20:000 fr. cada urn, aos (juatro italianos que apresentarcni invencOes ou descobcrtas. 0 principal cuidado da iusti- tuicao, sera auxiliar lodos os italianos, aucto- res de novas descoberlas ou invcncOes, adiaa- tando-lbcs dinbeires, on garanlindo-lhes a sua propricdade, e lazende todo o necessarie para a dcscoberta scr coiibecida, applicada, e so- brc tudo conservada come italiana. 4." Serao cada anno designades fundos para romuncrar es preductos c traballios das diversas secfoes, que obtivercra prcmios. Os productos (icarao assini a disposicao da Ins- lituicae, para screm vcndidos ou couscr- vados. o.° Estande iibcrta a subscnpcao durante um anno, c conliada an patriotismo dc lodos OS italianos, lanto cm Italia, come no cstran- geire, c de esperar, que es fundos prevenien- Ics d'clla, excederiio os 3.000:000 de francos, necessaries para fundar a Inslituicae. G.° Em tal case tedos os capitaes obtidos alem des li. 000:000, licarao cemo fundos de reserva da Inslituicae, e serao posies a jure no banco de Inglalerra, ou como niclhor en- Icndcr a Juncla adminislraliva ; e dcpois do Icrceire anno, os subscriptorcs da somma addicional, gozarao, noquinlo do valor d'clla, das mesmas vautagcns ([ue os subscriptorcs do capital primitive. 7.° Os capitaes da Inslituicae scriio dcpo- sitados no banco de Inglaterra. N .B. 8.° ISo caso ((|uc repulames impes- sivel) de se nae podcr realizar per donatives a somma neccssaria para a (undafae da Insti- tuiciio, a Juncla insliluidora podcra conlrabir urn empresiimo, offcrecendo come garantia dos juros e do capital e estabclecimento de Emporio, e sens rendimentos; e n'esta hype- Ibese a somma recolbida pcia subscripcao gozara propercionalmcnte dos privilegios aci- ma enuDciades. CAPITL'LO v. Privilegios e vantagcns de todos OS inleressados. 1." No primciro trimeslre do anno de 1857 publicar-se-lia a Bevisla, a qual darii conta das epcracucs de Director-gcral e da Juncla insliluidora, bcm como dc ludo que sc liver fcito a bem da Inslituicae; e a parlir da epecha da subscripcao, que se abririi no mez de abril de 1857, dara conta do pregrcsso das efl'ertas, publicando os nomes dos colle- clores e subscriptorcs, beni come as sommas rccebidas. 0 subscriptor que nae quizcr ver 0 seu iiome publicade, podcra no logar da assignatura per quatro iniciaes, c o seu do- native lornar-se-lia publico per eslc mcie. 2.° Os Proleclores gozarao, durante cinco annos, de adraissao j)csseal no cslabcleci- mculo, c cm todas as expesicOcs diarias; d'um bilhcle de admissao para duas pesseas n'um dos dias da semana; c receberao gra- tuitamcnle a Bevisla, jornal da Inslituicae. Os primeiros d'eulrc elles serao noiueados 164 niembros honoraiios da Jiinctn administra- tiva, e poderao assislir lis sessOes delibcra- livas. 3.° Todos OS ineml)ros das Jiinclas, ou commissoes (jue aciivarem a subscriprao, lanlo em Italia, como no estrangeiro, terao, viiido a Londres, as mesnias vanlagens que OS mcnibros da Juiicla d'esla cidade, c aleni d'isso OS privilegios dos Protcctorcs. 4." Todo 0 collcclor tera direito a ser iiiscriplo como suhseriplor dc ciiico biltietes, por cada cem hillieles que arranjar; cada col- lector d'lima somma excedenle a 5:000 I'r., sera considorado como Protector, e terii todos OS privilegios d'cstes. 0." A Jiiiicla administraliva procurara, logo que for coiistituida a Instituicao, cstabe- lecer raniilicarOes nas oulras capilacs ou cida- des estrangeiras, na proporcao dos recursos ([ue ellas possam oflerecer. G.° As proporfoes da Instituicao, e os beneficios que preparar a nacao Ilaliana, crescerJo na razao do augmento de seus re- cursos, OS quaes Ihe serao inleiramentc appli- cados. 7." Constituida a Juncla, c obtidas as pre- cisas garantias nioraes e econoniicas, o Pro- motor Monteraerii diligenciara procurar ca- pitaes, e fara ao mesnio tempo conhecer ao publico OS nieios que para esse fim liver eni- pregado. As sommas recolhidas serao dcposi- tadus em Londres no banqueiro escolliido pela Juncla instituidora. CAPITULO VI. Artigos atldicionaes. 1.' A abertura e inauguraciio da socie- iladc serao celebradas com uma grande fesla, para a qual todos os arlistas ilalianos presta- rao 0 concurso de seus laienlos em proveilo da InsliUiicao. 2." Dar-se-hao cada anno, em beneficio da Instituicao, bailes, concertos, rcpresenla- coes de musica e dramalicas, f'estas, elc. 3." Cada anno, nos quatro mezcs de abril, maio, junho c julho, convocar-se-hao em Lon- dres 30 italianos, G por cada seecao, com o iini de formar uni congresso, cujas reuniOes e traballios serao adaptadas as exigencias das diversas seccoes, attendendo lis ligacOes que tem entre si, e ao auxilio nuiluo, que, nos seus estudos e resullados practices, poderao reciprocamente preslar-se. 4." Forniar-se-lia uma lista geral de todos OS ilalianos, que tem as (lualidadcs necessa- rias, para pcrtencer a uma das cinco seccoes, e d'csta lista se lirara a sorte cada anno o numero dos membros, que deverao compor a commissao. S.' Cada anno a commissao das pessoas designadas pela sorte, para formar este con- gresso, deverii proccder ii cxtracfiio dos Ho- mes, que liao dc compor a commissao do an- no seguinte. G." Cada individuo nao podeni ser raais que uma vez membro d'esta commissao. 7." A sociedade pagara as despczas da viajem e da estada, iiquclles que d'isso se quizercm aproveitar. 8.° Cada anno as pessoas que formam o congresso, proporiio seis individuos, que po- derao ser escolliidos em todas as classes, e em todas as profissoes, desde o sabio ate ao operario. Esles seis individuos serao suslen- tados uni anno em Inglalerra, ii custa da Insliiuicao, para ahi fazerem os estudos rela- tives a sua esj)ecialidadc. 9.° Somcnle se enipregarao no estabele- timento liomens de probidade reconhecida, naluracs de Ilalia; e apenas dos estrangci- ros, OS absolulamenle indispcnsaveis a Insti- tuicao. 10.° Os empregados deverao, nos trez pri- meirosannos, conlentar-se com medicos orde- nados, para assim, pela sua parte, tambem cooperarem para o bom exilo da Instituicao. A POPULAgilO ESTACIONARIA EM FRANQA. Ila cinco annos que a populacao nao aug- mcnta sensivelmenle em Franca. Este facto sobremaneira surprehendera, coniparando-o com 0 que se passa nos grandes paizcs, onde 0 numero dos bomens cresce rapidamente. Assim a Inglalerra augmenla 300:000 almas por anno, e envia annualmente perlo de 300:000 individuos para as suas colonias, islo e, augmenla liOO ou GOO mil, por anno, 0 numero dos bomens, que em todos os cli- nias se jaclam orgulbosamente do nome in- glez. So a Franca niio augmenla no interior, e nao povoa colonias no exterior. Teve na verdade um momenlo brilhante depois da terrivel revolucao do seculo passa- do. De 1801 a 1806, augmcnton 04 indivi- duos por mil. De 1800 a 1831 o augmento diminuiu amelade, e em logar de 320 almas, que devia adquirir para continuar a propor- cao anterior, apenas adquiriu liiO. Dc 1831 a 1841, em dez annos, arresceram iiO por mil. De I8'il a 1S4C, em Ii annos, 34 por mil. Desde entao quasi ([ue niio lem bavido augmento. Nos ii ullimos annos a populacao parecia ainda ler augnientado 7 a 8 babilanles em mil; mas geralmente julga-se uma illusao, e atlribue-se este facto a que o recenseamento de 183G, mais exacto, que nenbum dos pre- cedcntes, arrolou um certo numero d'indivi- duos, que tinham escapade nas operacoes anteriores. 165 A grande revolucao de 1789 tinha atacado a nobreza e o clero, e posto em ainiocda os iraniensos doniinios, que oantigo systema ha- via tornado as familias dcsdc a edade media. Estas reslituicGes ao povo tiiiliam augmenta- do OS recursos do polire, do cullivador, do artista ; d'alii, no priuciiiio do seculo, uraa subida no augmenlo do povo fiancez, como nunca liiilia havido. Mas desde eiUao, nao se deu oiitro easo egual. A lendencia crcscenle dos regimens successivos da Franca lem sido para subjeitar ludo a regiilamenlos. Fizerara de pander o exercicio d'uni grande nuniero de profissoes e de niesleres, o exercicio mcsrao do direilo de pensar, de fallar, d'escrever, d'adorar a Dcus segiindo a propria conscien- cia, do vislo das secretarias do governo. Sao inuuraeraveis os casos em que nao se pode ganhar pao pelas profissoes as mais honrosas, se OS enipregados do Eslado o nao permiui- rem. 0 resullado das peias que este regula- mento universal poe a cada passo e em lodas as carreiras, e que a forca vital do paiz lem enfraquecido. 0 numero d'bomens ja nao au- gmenta, e a forca physica decresce, como o provam os resuilados deploraveis da conscri- pcao; nunca iiouve menos homens validos em Franca. (Emporh Italiano.) BIBLIOGRAPHIAS. Bevista dc Inslruccion publica, lile- ratura y cienc-ias, periodico menaal. Esta interessante publicacao, que subsli- tuiu a Revista UniversUuria de Madrid, cor- responde perfeitamente ao sou titulo; e e urn dos jornaes litterarios do paiz vizinho, mais digno de scr lido, tanto pelas copiosas noti- cias, que da do estado da instruccao piiblica e dos seus diversos eslabelecimentos em Hes- panha; como pela sua apurada critica liltera- ria e scientifica; pelas mcmorias originaes, que" apresenta, e pela seleccao, com que ex- trae os Irabalbos mais importantes dos jornaes scientilicos estrangoiros. Os leitores do gabiitete do Instiluto terao de certo lido occasiao de se confirmar 'ncsle nosso juizo; mas nos desejaramos, que, fora d'este circulo, aquelle jornal fosse lanibem Jido e apreciado, ate porque, sendo lao escas- sas entre nos as noticias lillerarias do paiz ■vizinho, e sempre bera vinda uma publicacao, que semanalmenle nos poe ao corrente do sou movimento litterario e scicnlifico com lanlo primer e exaclidao. Assigna-se a Revista de Inslruccion piiblica per IS reales por trimestre. J. M. DE ABREU. LOGARES SELECTOS DOS CLASSICOS LATINOS, COM A TRADDCQAO INTERLINEAR, PAHA CSO DAS ESCHOIAS : POK Professor de Latinidade no Lyceu Xacional de Coimbra. Sobejo nao sera jamais todo o arrimo, que aos meninos prestar-se possa, quando elles dao seus prinieiroa passos na traduccao do latim em porluguez. Muilos embaracos, 'nisto OS enleiam e Ihes suspendem o juizo, debil ainda por falla de ideas, e inslavcl pelo fogo da imaginacao. Mas o que mais os atalha, e ordinariamente a escoiha enlre as diversas signillcacoes de muitas palavras la- linas: vacillam sobre a nocao que mais con- venha ao scntido da phrase, e que mais fiel- mcnte rcsponda ao original. Por oiide, muilo ha, julgaram os crilicos grandemente provei- toso, nos principios, o auxilio de Iraduccoes interlinearcs, usadas ja nas outras nacoes cul- tas. A nossas escholas fallava ainda urn livro d'este genero. Hoje, porera, apparece elle em lira, sob o titulo de — Logares Selectos dos Clussicos La- linos, com a traducrao interlinear, — para uso das escholas de Grammalica Porlugueza e Latina ; escripto novo, que a nossa terra deve ao louvavel trabalbo do digno Professor de Latinidade no Lyccn Nacional de Coimbra, d sr. Manuel Simoes Dias Cardoso. Logo que a obra viu a luz publica, com goslo a lenios; e, ao passo que a liamos, crescia em nos o dcsejo de a ver nas niaos dos meninos; anlcvendo a utilidade, que ella Ihes trara sem diivida. Muito feliz, em verda- de, nos parece haver sido o traductor, nao so na acertada seleccao dos logares dos escri- ptores latinos, accommodados a instruccao, religiosa, mora! e lilteraria, das tenras eda- des; senao tambem na fidelidade dos pensa- mentos, na pureza da phrase, e na proprie- dade dos teruios. Elfeilo e isto dos lalentos gramma licos do sr. Simoes, havidos de seu rico ingenho, e do esludo e exercicio largo no ensino das duas linguas. A. C. B. DE F. iSOTIGIARIO. ivovo pianola. — M. Pogson, de Oxford parlicipa a academia das sciencias de Paris, 0 descubrimenlo, que fez, cm IG de agosto ultimo, do planela 46. Nao ha Jiivida, que o pianola e novo, e nao o Daphne, descuberlo por M. Goldschmidt. 16G K nolavcl. que ao passo, qiic M. Pogson (Icscubria esle novo planela, c duvidava da sua di"scul)i!rla, julgando possivcl ser o pla- nela Daphne, iiue j^e linha peidido, M. Gol- dscliinidt lornava a destubrir csle, e assigna- va-llie de novo a posi<;ao. Socicflndc do Nf-ifnicins niediran c nnitsrsicM dc BS":»x«-ita«.— Esta sociedade em sossao dc 0 de jnllio passado, elegeu por unanimidade de votos para seii niembro cor- lespondeule ao sr. Barbosa, cirurgiao do hos- pital civil dc Lisboa, e redactor da Gazeta titeilica. Folgamos dc ver, qne jii la fora e dcvida- niente avaliado o nierecinienlo dos nossos i-nmpatriolas. Bit'>.€<'!o a alsmoiilacao da B^giropa. — 0 snlo da India parecc admiravelniente proprio para a produccao agricola. A popu- lacao India proiiuz muito mais do que con- some ; u por consequencia um paiz d'expor- tacao. Ate hoje, a dislancia que separa as Indias da En'opa, nao Ihc tcm pcrmittido exportar scnao prodiiclos caros; os gencros agricolas niio podiam sair para tao longe. .\ abertura do isthmo de Suez deve porem moditicar com- j)lelaniente estas condicoes. U genio commercial e especulador devcra pois aproveilar os bellos trigos da India, que denlro dc uni mez poderao alTluir aos princi- paes mercados da Europa, c a alinientacao curopea tera um novo e prccioso elemento de uma forca immen.sa. A Europa nao podia supportar trez annos dc nuis colheitas, sem graves crises. A. India podera iutervir beuelicamcnte, e cvitar as nossas crises de I'ome. A abertura do isthmo de Suez deve crcar um movinicnto commer- cial, cuja imporlancia e impossivel aprcciar cxactamente. AjTlintaJjsrao isnivci'Mnl. — Procede-sc aclualmenle com grande actividadc a troca de vegetaes uteis enlre todos os paizes. E curiosa, a que acaba de ler logar entrc a Al- geria e algumas colonias do equador. Do viveiro dc plantas central, estabelecido em Argel, I'oi cxpedido para o jardim da? plantas de S. Pedro da Martinica o seguintc: seis estufas dc viagem c uma caixa, contendo uma colleccao das melhores variedades de la- ranjeiras c outras arvores fructiferas, prove- nientes de diversas rcgiiies, e naturalisadas no estabelccimcnto, e eerto nuniero d'espe- cies d'arvores linhosas, pertencentes a flora da Algeria, formando tudo uma colleccao de 227 individuos e 6o cspecies de sementes. Esta rcmessa chegou ao scu destine em perfeito estado de conservacac, e as cspecies, que a compunham, foram installadas era boas coudicOes. 0 jardim das plantas da Martinica enviou em troca para a .\lgeria ciueo caixas cheias dos mais preciosos vegetaes dos tropicos, cons- tando de muilas variedades d'arvores do pao, de cacao, da noz moscada, mangueiras, da- niasqueiros dc S. Domingos, arbustos que pro- duzem o cravo da India, etc. Da Algeria tem-se feito outras remessas para a colonia do Senegal, e para o jardim das plantas da companhia das Indias em Calcut- ta, esperando-sc em troca colleccoes dos ve- getaes proprios d'estes paizes. EdlciicN dc W. iJiotj-Bioif. — 0 doulor Thcbusseu, biblio-nianiaco allcmao, ha poiico fallecido, possiiia na sua bibliotlieca lodas as edifoes do D. Quicbole, puhlicadas nas dif- ferentes linguas, e (|ue eram as segnintos: Em hespanhol 3(14, desde a primeira, que se publicou cm ItiOiJ ; em Irancez 108; em inglcz 20G ; cm portuguez 81 ; em italiano 98 ; em allemao 7 ; cm sueco 13 : em polaco S; em dinamarquez C; cm grego 4; em russo 1 ; em latim 1. Al'ora cstas, outras se tem publicado na America, e tambem em diversas bibliothecas 167 (le auctores, (|iic ullimamcntc se li^m aniiiin- ciado, ligurain novas edii'Oes d'el iiujenioso Hidalgo. ICHl.-xlixtiro liUcrnrirt.— No l.°(lc julllO (le IS;)!) cm liiglalerra c no principado de Galk's ii8:"2ia nieninos dc anihos os sexos, freq lien la vain as cscliolas pagas pclas suas fa- milias; :{:9Gti frciiiienlavani asescliolas suslen- tadas pi'la ronlribiiirao dos pohres ; ■.)9;8i)7 cram cducados em escliolas a cargo de divcrsos cstahelecinu'ntos de laridade; ii2:43i nao frc- quenlavain escliola alguma; e 35:82" tial)a- lliavam nas ininas c em diversas ollic'inas. PiiEiIirnc'ito ioniiorlniilo. — Em llespa- nlia publica-sc aclualmcnle urn niap[ia, divi- dido cm 100 lollias, (iiic (era '.(j nielios (ina- drados ; c cada follia 0"',70 de ciimpriincnlo e O^iiJO de largiira. Estc imporiante mappa coniprcliendc as obras piiblicas mililarcs c civis da Eiiropa: Cada I'oiha conteni as seguiii- tes iiidicarOes — 1.° caminbos dc forro ; t." eslradas ordinarias; 3." tclcgrapbos electricos; 4." telegraphos submarinbos; o.° navegarao por canacs e rios; 6.° navcgacao cm vaporcs; 7.° pontes mililarcs; S.° fortilicaeues. Acba-se ja pubiicada a parlc rclaliva a Russia oriental c meridional. pnniia. — Era ISilJ liabilitaram-se nas uni- versidades de Ilespanba 737 liccnciados cm jurispriideucia ; 033 medicos; 48!) cirurgiOes de lerccira classe, c 132 licenciados em pbar- macia. Em 1833 habililaram-se somente : cm ju- risprudencia 183 liccnciados; 112 medicos, 17 cirurgiocs, e 7 ])harmaccuticos. Em 1S30 0 pcssoal e material das univcr- sidades, custoii 9:204,000 rcales; o seu ren- dimcnto foi de 9:088,033 rcales. Em 1831 cuslaram aquellos estabelecimen- tos 7:208,000 reales, e renderam 8:017,132 reales. Total da despeza das universidades cm trez annos 24:290,000 reales; produclo das nia- Iriculasc jiropinas 20:079,000. Ucduzidas por tanio todas as despczas do pcssoal e material, ainda o tbesouro lucrou dois milboes dc rcales. Consfoweo liJSeaarto. — Nos dias 22, 23 c 24 dc jiinbo ultimo se reuniu cm Lon- drcs iim congresso para Iractar das mais im- portantes cjucstoes relativas ao adianlamcnto da instruccao primaria, sob a presidcncia do principc Alberto. 0 viee-presidcnle e o condc de Granville; cnlre os mcmbros d'csle congresso cnntam- se lord Lansdowne, lord .lonb lUisscl, lord Stanley, M. 1{. Cobdcn, M. Sydney, lord Lit- tleton, niuitos bis|)os, e M. Moscley, M. Henry Uum, M. Cook, etc. A reuniao d'csle congresso, composlo dos caraclcrcs polilicos mais notavcis, e dos mais eminent(;s rcprcsenlantcs dos intercsses admi- nistralivos, e religiosos da Inglaterra, e unia prova singular da consideracao que ncslc paiz mcrccc a cducacao popular, e da pcrseve- ranca, com que alii se procnra occorrcr a inslrucjao das classes desvalidas. C'oiirilin dv Tronlo. — Vae publicar-sc na imprensa do Vaticano, ([iie acaba de rcsta- beleccr-se, uma edicao magnilica das actas c docunientos do concilio de Trenlo, ate liojc ineditos. Esta publicacao comprcjicndera duas par- ies: a 1.' cm trez volumes em folio, contcrii o — Diaiiuiii comiilclo do concilio, segundo as actas originacs: a 2.°, tambem cm trez volu- mes do mesmo formato, comprcbendcra a cor- respondcncia dos nuncios aposlolicos, dos so- beranos, dos bispos, e muilos oulras peras i; documenlos interessanlcs. (H,r. dc r,Mr. I'liOI.) J,n perte d'un ijrnic, Ditu setil petit la repart-r. E. PELLETA.V. Escrevemos eslas linlias pungidos drt mais aocrba dur. 7\o dia 20 de setembro, pclas 9 boras da noite, falleccu 'nesla cidade o dis- tinclissinio Icnte catbedratico da faculdade de pbilosopbia, e babil professor de pliysica, 0 sr. Antonio Sancbes Goulao. 0 sr. dr. Goulao alem dos dons que pos- suia cm subido gran, de um grande mestre, c sabio abalizado, niancjava com supcriorida- de a nossa lingua, era bastante \crsado nas bunianidades, e um orador de primeira or- dcin. A facilidadc com que fallava c escrcvia ; a exposicao brilbantc e clara, (iiie tiniia; o nie- thodo que adoptava; e a prodigiosa racnioria (|ue 0 distiuguia; cram oiiiros tantos doles, ([ue conlribuiam, para rcalcar o mode coino dcscnipenhava a cspinbosa c ardua tarcfa do magistcrio, onde oslentava os sens vaslissi- mos conliecimcntos; e para cm toda a parlc manifeslar com jusla rcputacao o seu ingcnho superior. Mai diriamos nos, quando, ba |iouco, o ouvimos fallar tao eloquenlciueiile no clauslro, conio relator da commissao de reforma do re- gulamenlo dos concursos, que havia de ser aquella a ultima vcz, em que terianios occa- siao dc admirar o seu lalento oratorio 1 Os traballios scicnlilicos que dcixou, sao OS — I'lincipios geraes de mechanica — obra dcslinada aos sens discipulos, e muilo rcco- mcndavel pela clareza e simplicidade, com que esta escripta ; e varies arligos de scien- cia, impressos no laslituto, c em outros jor- nacs. .\qiiclla obra, com quanlo elcmcntar, I'ni 168 iini iinporlanlissinio scrvico prcstado polo sr. dr. Goiilao a scieiiria, e aos alumnos da (a- culdadc di" pliilosophia. 'Naqut-lle preeioso livro eiiconlram-so os priiicipacs ihcorcraas de mccliaiiica, seguidos das deiiioiistrajoes mais siniplices, e acconimodadas a capacidade de esiudantes do scitundo anno. Ila por vezes alii hastante orif^lnalidade, fruclo dc serias lucubraroes c atiirado cslndo; e em todo o escripto se nota a excel loncia do methodo, e a correcciio da liiiguagcni. Em paga dc suas fadigas litlerarias rcce- beu 0 sr. dr. Goulao unia commenda; mas a verdadcira recompcnsa de scus trabalhos esla no clevado conccito, em que era tido pclas pessoas compctenlcs, e na viva saudadc com que por todos e chorado. 0 sr. dr. Goulao morieu, Icndo apcnas 51 annos de edade, victima de uma liydropisia, i|ue, no curto espaco de lo dias, Ihe consu- miu a exislencia. A sciencia pcrdou 'nellc um zeloso culliva- dor; a universidade um dos seus maiores or- namentos; e nos o insigne raestre, e amigo dedicado, a quern tiibutavamos merecida ad- niiracao, e reudiamos rcspeiloso cullo. A. J. TEIXEIUA. RELAC.lO Dos individuos nnmeados para os seguiutes logares de instrtic^do publica no mcz dejiinho ultimo, por dcs- pachos do constlho superior d'instruc^uo publico^ e decretos do governo comniuHtcados ao mesmo co/iselho H.I indicado periodo. INSTRrC^AO PRIMARIA. Aiilonio Jacinlho de Mello para professor temporario (la cadeira da Senhora Mae de Deos, districto de Ponta Delgada. Francisco Joaquim da Rosa e Lima, para dido de Sancta Barbara do lo^ar das Riheiras, districto da Horla. Joao IMaria de Medeims, para dicto de Sancta Barba- ra, districto de Ponta Del.u'ada. Jose de Sousa Sa Funles, para dicto do logar do Pico da Pedra. Liiiz Candido d'AraujoGuimaraes, para dicto da fre- guezia de Nave, districto tla Guarda. Manuel Caetano da Silva, para dicto de Miranda do Corvo, districto de Coimbra. Antonio Maria Ramalho, para dicto d'Aldea do Ma- le, districto d'Evora. Antonio Maximo Coellio de. Sousa, para dicto de Gon- <;a!lo, districto da {iiiarda. Joao Antonio da Silva Uamos, para dicto de Mondim de Basto, districto de Villa Real. Joaquim Rodri^ues de Seabra, para dicto da Palha- (;a, districto d'Aveiro. Jose Fortunato dc Sao Paio e BriJo, para dicto da Quinta de Pero ftlartins, districto da Guarda, Jos^ Joaquim Rodriiues Leile, para dicto de Cacia, districto d'Aveiro. Jose Maicelino Ferreira, para dido de Podeoce, dis- tricto de Brajan^a. Manuel Antonio TorrSo, para dicto de Val d'llhavo, districto d'Aveiro. Manuel Ttiomaz Bi?a, para dicto d'Alter do Chao. districto de Porlalejrc. Antonio Jo.'uiuim Vidal, para dicto d'Arrnncada, dis- tricto d'Aveiru. Francisco Anlunio da Fonseca Moreira, para dicto de Pena Verde, districto da Guarda. Joilo Fcrnnndes Lon^o. para dido de Torre do Pi- nliuu, districto de Villa Real. Joaquim Vieira de Barros e Cunlia, para dicto de Huna, districto de Li»boa. Jose Henriques Tavares, para dicto da Mizarella, dis- tricto da Guarda. Antonio Pedro Galrtio, para dicto dc Sancto Eslevilo, districto de Faro. Juse Ignacio Veiga, para dido da frcguezia da Con- ceii;ao. Jos^ Mourato da Trindade, para dido de Tolosa, dis- tricto de Portalegre. Anastacia Maria Monleiru, para mestra temporaria da cadeira de Paredes, districto do Porlo. Felicia Hastante da Silva, para dicta de Castello Braiico. Jose Antonio de Moraes e Castro, para professor vi- talicio da cadeira de Frandizelta, por transfereucia da de Mascarenhas. Carlos Augusto Pereira do Lago, para dicto de Mas- carenhas, por transfereucia da de Frandizella, anibas no districto de Viseu, por decrelo de 10 de juriho ultimo. Manuel Fernandcs de Sousa Ribeiro. para dido da Cumieira, districto de Coimbra. por decreto de 10 dido. Antonio Rabascu de Gouvea, para dicto de Belmonle, districto de Castello Brauco, por transferencia da da La- giosa, por decreto de 9 dicto. Jose dc Sancta Tbereza, para dido de Canellas, dis- tricto de Villa Real, por decreto de 10 dido. INSTRT.C(;.\0 SECUNDARIA. Jose Correa de Freitas Silva e Carvalho, para pro- fessor vitalicio das cadeiras de fraucez e inglez do lyceu nacioual d'Aveiro, por decreto de 3 dido. Francisco Jose d' Almeida, para professor vitalicio da cadeira de latim d'Abrantes, por decreto de 10 dicto. inbtruci;ao superior. Jose Alves Moreira de Barros demonstrador de cirur- gia da eschola medico cirurgica do Porto, para o logar de lente substitute das cadeiras cirurgicas da mesma es- cliula, por decrelo de 3 dido. Francisco Antonio d'Araujo Cerveira e Serra, para o logar de bedel da facuUlade de matiiematica da Univer- sidade de Coimbra, por decrelo de 10 dicto. Caetano Maria Ferreira da Silva Beirrio, lenle sub- stitnto da eschola medico cirurgica de Lisbua, para lente cathedratico da raesma eschola, por decrelo de 17 dicto Jose d'Andrade Gramaxo, demonstrador da eschola medico cirurgica do Porto, para o logar de lenle subsli- tulo das cadeiras de medtcina da mesma eschola, por de- crelo de 17 dicto. PRINCIPAES ERBATAS DO ^.^ \i Pdfj. Col. link. Erros Emciulas 1." 1 2.» M oasca casca '• 55 mgnitiidinem nui^nitudiiieni 1.' 29 378 278 2." 27 Conlinuado de Conlinuado de l>ag. 7 pa?. 55 >• 5 Aremenha ^; Aremenha '; 9 Mcnor". Menor 2. IG Pruvencia ' . Provencia^ ,■ !, do nolle da nolle 1.' 13 LavacholT Levachotr 34 jii liaviara i'lhavia ® Jn0titttt0^ JORNAL SCIENTIFICO E LITTEKARIO. RGLATORIO Do commifiNario dos cstutlos tlo diwtri- cto adiuiiiisitrativo tltt L.ie>boa, cm 31 de dezenibro de IS5G. Contiauado de pag J 57. CAPITULO V. De como e de grande neccssidade que, na con- formidade da lei, hajam ejfectivamcnle "para cada uma das trez primeiras secroes do ly- ceu nacional de Lisboa trez subsiitiitos. A lei de 20 de setembro de 1844 no arl. 81 e §§., corabinado com o art. 58, conside- rando, corao urn lyceu a parte, cada uma das trez primeiras seccOes do lyceu nacional de Lisboa, designou para cada uma deilas pro- fessores distinctos, que todavia lessera, na respectiva seccao, as mesmas disciplinas. Nao podia ser de outra sorte, pois que nao podia a lei querer o absurdo, de que ficasse cada professor obrigado ao scrvico de trez cadei- ras, duas das quaes estao a mais de uma ie- gua de distancia. Mas, se assim e (o que nao pode admittir diivida), rcsulta que em cada uma d'aquellas trez seccoes devem ha- ver trez sulislitutos, um para a 1.° e 2." ca- deira, (grammatica lalina e latinidadc) ; ou- tro para a 3." e i." (principios mathemati- cos c philosophia racional e moral); outro para a S.* e 6." (oratoria e geographia). Nao se creando estes trez substitutes, ha de acon- tecer o que por vezes ja aconleceu, e agora mesmo tern lido logar; islo e, ha de deixar de funccionar, por falta de professor, uma ou mais cadeiras, ficando privados da ins- truccao correspondente os respectivos alum- nos, quando a doenca, ou outra causa gra- ve, tolhe aos professores proprietaries a fre- quencia das suas cadeiras. Para que se tome tao manifesla, qiianto convem, a necessidade da providencia, que tenho a honra de pro- per, vejo-me precisado a declarar, que, du- rante parte do mez de novembro, e todo o dezembro, esteve scm cxercicio a 6." cadeira da seccao occidental, porquc, tendo adoecido gravissimamente o professor da C cadeira da seccao central, julguei de muito maior Vol. YI. Outubro 1 coaveniencia piiblica, que o professor d'a- quella viesse reger esta, que contava muito maior numero de discipulos, e assim provi- denciei. Nao me occorreu outro alvitre cm consequencia dos impedimentos forcados de varies professores. Preferi o raenor ao maior mal. Eutretanto aos discipulos d'aquella, em- bora poucos, faltou a instruccao, a que ti- nham direito indisputavel, e d'ella nao hou- verani de carecer, se a lei tivesse sido cnten- dida e executada como cumpria, cxistindo para cada uma das seccoes o numero de subs- titutes, que, na minha opiniao, a lei niarcou, e agora tenho a honra de proper, e pedir. Porem, sohre as consideracoes ponderadas ha ainda a reflectir (como observei ja no 1." dos meus citados relatorios), de quao grande conveniencia n&'O pode deixar de ser para o service publico a hahilitacao, thcorica e pra- ctica, obtida polos substitutes, em quanlo nao passam a proprietaries de alguraa das cadei- ras, que provisoriaraonte regerera. E este o seu unico tirocinio, o qual todavia Ihes e ab- solutamente indispensavel, nao alterada a lei, que menos previdentemente Ihes concedeu, desde a primeira noraeajSo, a propricdade das cadeiras, em que sao provides. Havida attencao ao exposlo, que tenho para niim parecera de grave memento a Vossa Magestade, supplico a Vossa Magestade', que se digne ordenar a iuteira execucao da lei, que nao pode ser entendida logicamente de diverse mode; ou que, a ter sobrevindo al- gum mal cabido escrupulo, haja por bera mandar explical-a authentinamente, dando a sua real approvacao ao seguinte PROJECTO DE DECRETO. Art. 1. Era cada uma das trez primeiras seccoes do lyceu nacional de Lisboa havera trez substituicoes, cm conformidade do dis- posto no art. SI e §§., comhinado com o art. S8 do deer, de 20 de setembro de 1844. Art. 2. Cada um dos substitutes supprira as faltas dos professores proprietaries da se- guinte maneifa: §. 1.° 0 1.° substitute servira na 1." e 2.' cadeira. §. 2.° 0 2.° substitute servira na 3.' e 5—1857. NoM. 14. 170 § 3.' 0 3." subsliluto scrvira na B.' e 6.'. Art. 3. Quando for necessario, os siibsli- lulos dc uma secrSo servirao indistinclanieiUc em cada uma das oiilras secrOes. Art. i. Fica d'esla sorte explicada, c fi- xada a iutcUigencia do art. Bl e §§. e art. 58 do deer, de 20 de setembro de 1844. CAPITCLO VI. De coino 6 absolulamenle indispcnxavel collo- car desdc jii a seccao central do hjccu na- cional de Lishoa em edificio, (lue tcnlia as precisas condicoes de ser/tiranrn e capacida- de, e Iransferir para deniro das partus da tidade a sccedo occidental do mcsmo bjceu. Oestado dc ruiiia, a que se acha reduzido 0 exiincto convento de S. Joao Nepomuccno, onde esla collocada a seccao central d'esle lyceu, lornoii-o totalmente inconvcnienle para 0 lim a que lora deslinado. Sem perigo de vida dos professores, alumnos, e cmpregados d'aquella seccao, nao e possivcl que alii con- tinuem a funccionar as aulas, a secretaria, a bibliotlieca, c as conimissOes ou mesas dc exames geraes c pnrliculares. Por vezes ten ho clcvado ao conhecimenlo do govcrno de Vossa Magestade o que dcixo cxposto; e ultimamen- te, em consequencia da detida e minuciosa vistoria, a que procedeu o inlcndenlo das obras piiblicas de Lishoa, aconipaiihado de compelentes meslres de obras, e architeclos, e a qual eu assisli, represcnlei energicanien- te, como era men dever, pela secretaria d'Es- lado dos negocios do reino pedindo promptas e eflicazes providencias, e ale lenihrando o cditicio, para onde a seccao central podia ser mudada, sem grandc despeza da fnzenda, e com proveito do service publico (veja-se o documento juncto). Entretanlo, apesar das minluis instantes sollicitacoes, e do funda- menlo manifesto e urgenlissinio, que as jus- tifiea, uenhuma providencia ha sido ate hojc tomada ; e la persiste, no extincto convento de S. Joao Neponuiceno, a seccao central, sob a inccssanle anieaca d'impendente rnina, cxposlo nunicro liio cousideravcl de indivi- duos a desapparecer de rapido da face da ter- ra, perecendo victimas d'algum mnis que possivel sinistro, desde taulo tempo rcceiado, contra que se tern erguido repetidas vezes a voz de cauteloso aviso, mas, acerca do qnal, qiiem podia e devia, nada tern providenciado! E todavia, Senhor, era agora opportune en- sejo de collocar a seccao central d'esle lyceu cm localidadc melhor apropriada, e com as indispensaveis condicoes nao so de seguran- ca, mas tambem de capacidade e dccencia; porque (devo dizer tudo) ao edificio, onde se tern achado, e ainda continiia a achar-se col- locada a mencionada seccao, fallecem todas eslas condijOcs, c ale a da dccencia; o que tern sido ransa dc niSo sc terem nunca celc- brado alii lodos os ados litterarios publicos, que cumpria; e e por esta nicsnia razao, que Vossa .Magesladc nao tern sido supplicado para visitar aquellc tao importante eslahelccimen- to, honrando-o com a sua angusia prescnca, nao so cm ados solemnes, mas tambem quan- do a Vossa Magestade a|)prouvcsse; o que havia de ser por ccrto de grandissima vanta- gem para a inslruc^iio secundaria, observan- do com OS seus mesmos olhos a niooidade es- tudiosa quanto Vossa Magestade Icm a peilo 0 seu aproveilamento. Porem, Senhor, fora offender todas as consideracoes do respeito devido a Vossa Magestade solicitar de Vossa Magestade a entrada em urn edificio menos decente, que a habitafao particular de (jual- quer mesquinho cidadao. E havercmos ver pro- longado sem ternio este lastinioso actual cs- tado da seccao central do lyceu nacional de Lishoa? A vida de lanlos cidadaos havera de pareter ainda ])or niuito tempo objeclo de pouca valia, ou menos digno de cuidado? Nao chegara em lim o dia, cm ([ue se desi- gne, e attrihua um edificio, qual se carece, ao principal estabclccimento publico da ins- iruccao secundaria de todo o reino? Nao pos- se, nem devo crel-o, porque Vossa Magestade ama as lettras, e sabe apreciar quanto con- vem attendcr, em todas as suas partes, esta franca e leal represenlacao, que tcnlio a lionra de clevar ao conhecimenlo de Vossa Mages- tade submissa e respcilosamente, mas sem circumlocucocs oratorias, antes com a ener- gia, que deve inspirar-me o zelo do liel de- sempenho do meu dever, o hem da cnusa pii- hlica, 0 amor da instruccao da mocidade, e o ardenle e justissimo descjo de afastar dc sobre mini ate sombra da lerrivel responsabilidade, que para semprc me roubaria a paz da cons- cienciD, sc, por inforlunio, tendo eu cessado de bradar com lodas as posses do meu peito, occorresse algum arcidenlc funesto (como de dia a dia ja agora e tao possivel), que venha privar muilos filhos de seus pacs, e muitos paes de seus filhos, abismando-os a todos na aniiccao, e talvez que a nniitos na miseria. Assim que, Senhor, porquanto assim o requer a religiao e a liumanidade, porquanto assim o rcclama o melhor service publico, e porquanto ha de ser de vanlagem indisputavel para a instrucfiio da mocidade, que Vossa Magestade promove e descja tao ardcntemenlc, supplico a Vossa Mageslade, que haja por bem ordenar, que a seccao central do lyceu nacional de Lishoa seja collocada sem mais delongas, quanlo antes, cm cdilicio, que tcnlia as pre- cisas condifoes dc seguranca, capacidade, e dccencia. E porque nao ha de conslruir-se um edificio, qual se precisa, que preencha todas as indicacoes do art. 00 do decrcto de 17 de novembro de 1836? Julgar-se-hao acaso 171 mcnos beni applicados os dinliciros, que sc despendercm com a I'abrica do principal csla- belecimonto da instrucrao secundaria de Por- tugal? Serao apjilicados mais approvadamcntc OS dinliciros gaslos com ohras do mcro luxo, ou de ulilidado inconiparavcimcnle menor? Pelo nienos, por que nao hade concluir-se a recdificacao do lado oriental do cxlincto col- legio dos nobres, e coliocar-se alii, junclo da eschola polylechnica, a seccao central do iy- ceu, onde deve ser a scde da reiloiia, da se- cretaria, e da liibliotbeca; onde se devc fazer a abertura solemne das aulas da instrucrao secundaria da capital; onde deveni ter ioga'r OS exaraes por concurso para o pieencbimcnto das cadciras do ensino primario d'csle disiri- cto, e secundario de todo o reino; onde se deve celebrar o solemne aclo da distribuifSo dos prcmios; e onde linalmente deve mani- fcslar-se a solicitude indefessa, que niercce ao govcrno de Vossa Magestadc a instrucfao secundaria, eiemento sem o qual a insiruccao primaria nJo pude obter perfeicao, nem a instruccao superior pode dar se quer um so passo? A minlia consciencia diz-nie que cum- pro 0 nicu dever, explicando-me d'csla sorte perante Vossa Mageslade, e ciiamando com esta ellicacia a real attencao de Vossa Ma- gestade para tiio iniportanle objecto. Pelo que respeita a seccao occidental li- mitar-mc-hei a observar, que as pondcracoes, que tive a bonra de elevar a prcsenca de Yossa Magestade em data de 13 de dezcmbro ultimo, c no §. V do mcu relatorio de 18;i4, longe de ter perdido, teni ganho maior forca: grave prejuizo publico tem sido a consequen- cia inevilavcl de nao se liavcrem adoptado as providcniias, que cntao, e depois, lenlio tido a bonra de propor ao governo de Vossa Magestade. A conveniencia da mudanca d'esta secfSo para dentro das portas do Lisboa, e a sua collocarao nas proximidades da praca d'Alcantara, nao pode admillir diivida; assira <;omo nao ba razao, que justilique nao se tor posto em execucao ate boje, esta providencia tantas vezes lembrada e requerida. CAPITULO VII. De como, da nao adopcao das providencias, que tenlio proposlo nos dois antcriores rela- torios, se Um seguido graves prejuizos ao progresso, e aperfeicoamento da instruccao jirjimaria e secundaria 'neste dislricto. E fora de duvida, que no tocanle ao ensi- no, policia, e cducacao moral e lilteraria das aulas piiblicas, e dos estabelecimentos parti- culares assim da capital, como de todo o dis- lricto, ha rauilo a reprehcnder, corrigir, e aperfeicoar; e lao pouco padece diivida, que tudo conlinuarii neste niesmo cstado, cm- quanto nao se lancer mac de providencias efficazcs, cuja applicafao scja feita com dis- cernimento, cnergia, e perseveranca, e cuja observancia nao soljra quehra, sendo liscali- sada com zelo e tenacidade, cgual pelo menos ii resistencia, que as niiis priicticas, e os abu- ses, (|uaDdo invetcrados, ojjpOem a toda a sorle de enicnda, e de melboramento. 'Nessas ruins practicas, 'nesses condcmna- veis abuses intercssam demasiadamcnte ora paixOes desnobres, ora caprichos ambiciosos, e nao rare melindres d'anior proprio mal en- tcndido; sendo verdade comtudo lambcm que, ate certo ponto, sao taes practicas c abuses originados na falta d'experiencia, que deu logar a que I'osscni adopladas menos conside- radaniente algumas provisoes, as quaes, em vez de terem favorecido a desenvolucao pro- gressivamente aperl'eicoada da insiruccao pri- maria e secundaria, pelo contrario a tem es- torvado. Alem de que, nao deve omittir-se, que nasce muita parte do mal, que tanla ra- zao tcnios para deplorar, de nao se execula- rem fiel e inteiramente todos os preceitos, que a lei estabeleceu, e que sisuda e csclare- cida obscrvacao convecce que nuiito importa manter intactos, procurando-se a todo o custo 0 seu religiose cuniprimento. As alludidas, e ja reconhecidaniente indispensaveis providen- cias tem sido por mini propostas nos mens dois antcriores relalorios, caminhando umas directa e outras indirectamente ao mesmo lim. Sera precise aqui recordal-as? Sao de niuito recente data aquclles relalorios para que eu julgue necessario nem nomeal-as se- quer. A quera por dever cumpre tomar infor- niacao e coubecimento do que reprcsentara e ponderam os que a lei cbamou ao desenipe- nbo de tao penosa tarefa, de certo nao carece de que Ibe seja indicado o que nao pode ad- mittir-se que cessasse de Ihe estar presente. Se por Ventura algumas ba, que se aligurem a algueni nienos reflectido desconnexas, e disparatadas com respeilo ao lim, que princi- palmente agora tomo em conta, sobeja breve advertencia para descnganal-o, e fazer-lhe ver que todas se ligam entre si intinianiente, e que todas lendem de modo mais ou menos directo, porem acordc, e impreterivel, para a emenda do passado, e para o aperfeicoa- mento do future. Com os relalorios a vista, a demonstracao deduz-se esponlanea e inevi- tavel. Mas, se assim e, sem nenhunia diivi- da, nao sera da mesnia sorte evidente, que, so porque se nao evilou, o mal mcdrou mais longo, e mais damnoso? Nao ba a iiesitar; porque tevc mais teriipo de profundar raizes; ponjue pode accuniular nocivos I'ructos; e porque tido em pouco, depois de reconhecido e inculcado, o rcmcdio quasi que se lorna objecto de mofa para a malicia, a que mor- menie devc a existencia. Fora-me tarefa nao dillkil, cmbora lahoriosa, tirar inferencias mais espccilicadas dos priucipios propostos, e 172 coniluir dc maneira mais posiiiva, oppondo OS abuses as suggeridas providencias, e essas providencias as ruins praclicas: mas, qual seria 0 resullado? Tcr-se-liia agora oin maior coiila 0 de que, qiiando iraclado CNplicila e applicadamenio, nenliuni cahcdal se lia feito? Quasi que nao posso crol-o. E, com quanlo nao eslcja iia miniia organisarao perder com facilidaile a espcranca, comtudo lorca-me a verdadc a dizer, que, sc me lorro ao lrai)a- Iho de longas explanacoes, e menos polo tra- ballio em si uiesmo, do que pelo desgoslo dc 0 vir inulil em relacao ao fim a que so po- dia scr destinado. Resumindo: nos dois mens aiiteriorcs re- lalorios compreliende-se uma seric de provi- dencias essencialissinias, destinadas direcla e indireclamenle ao nielhoramenlo da inslruc- cao primaria e secundaria, piiblica e particu- lar, d"este districlo. Eslas providencias, nem nenhumas oulras, nao foram adopladas; e porlanto nao se corrigiram al)usos, nao se emendaram ruins praclicas, nada se aperfei- coou; c nao se tera com isto auclorisado o desieixo e a prevaricacao? Termino, Senhor, este capilulo para nao aggravar o motivo, que me impOe por dever supplicar nuiilo aca- tadamenle a Vossa Mageslade o perdao, que preciso para a leal franqueza da linguageni, que praguentos nao duvidariam acaso laxar de sollura. Vossa Magestade, recto, e impar- cial, nao confunde o que tao essencialmente se distingue: a minha linguagera so pode soar menos agradavcl aos ouvidos, que nao folgam com a expressao da verdado. Em no- nie d'ella, Senhor, eu peco com todo o enca- recimenlo a Vossa Magestade, que se digne adoplar as propostas providencias, ou as ([ue a Vossa Magestade parccer: mas de modo que, por umas ou por outras, se possa obter 0 resuitado, quo Vossa Magestade quer, e todos devemos desejar do coracao, pois que vae 'nelle o hem futuro da nossa patria, que nao pode scparar-sc do aperfeicoamenlo da educacao e instruccao primaria e secundaria piibiica 6 particular da mocidade estudiosa. Aqui ponho termo, Senhor, ao relatorio d'este anno. Oxala que nao seja mais um brado lancado no deserto! Graves tern sido, como acabo de observar, os prejuizos, que tem resuitado a causa da iustruccao piiblica, de nao terem sido adoptadas as providencias, que tenho tido a honra de propor ao governo de Vossa Magestade, sojicitando-as instante- mente ; mas esses prejuizos aggravar-se-hao, perdurando a indifferenca, que de facto se mostra para com a instruccao piiblica, era- quanto que de palavra e apregoada com tao grande arruido. E ninito para deplorar uma tal contradiccao! Porem afaga-me, Senhor, consoladora esperanja ; porque tenho fe em Vossa Magestade, e no amor de Vossa Ma- geslade as cousas da nossa terra, e com muita espccialidade aos cstudos primaries c secun- darios, indispensavcis para o melbor estar da grande maioria dos porluguezes, c base es- sencial dos cstudos superiorcs. E esta espc- ranca, que me da ainda alentos; que, se ella nao fora, tomar-me-bia a tibieza, que ludo eiva e mala, como certa consequencia do desgoslo ineviiavel de vOr um sobre oulro fruslrados desejos ardcnles, e nao levcs fadi- gas. Senhor, quando lodas as classes da so- ciedade, cm todos os angulos do reino, tivc- rem obtido a instruccao, (|ue a cada uma convem, entao, e so entao, Portugal sera fe- liz; porque so entao os povos tcrao o que precisam, e so entao Ihes sera dado apreciar devidamente o dom ineslimavel, que Ibes ou- iborgou 0 ceu, concedendo-lhes para sobera- no a Vossa Magestade. Deus guarde a Vossa Magestade, como ha- vemos mister. Commissao dos estudos do dis- triclo de Lisboa, 31 de dezembro dc 18uC. 0 eoramissario — 0 conselbciro, D. Jose Maria de Almeida e Aranjo Corrca de Lacerda. RELilTORIO Dos traliallioM do ronNcIlio da facnl- ai-a 1^53. Tendo o governo de Sua Mageslade orde- nado por decreto do 1.° d'oulubro e portaria de "2 do referido mez, que as aulas da Uni- versidade se abrissem no 1.° de novembro, e que se proeedesse nos ultimos 15 dias de outubro aos ados, que por falta de tempo se nao linham podido fazer no anno lectivo an- tccodente, resolveu o conselho da faculdade, em cumprimento das ordeus rccebidas, ado- ptar as providencias necessarias para o ser- vico dos ados correr com toda a regulari- dade e promplidao. 0 mappa seguinle mostra 0 resuitado d'este service. AclOK cm oattibro dr 1 S5G. Annas APPROVADOS Repro- vados Total Nemine Discrep. Simpli- citer 1.° 2." 3.° j Total 4 1 1 i 1 6 1 14 3 1 0 5 7 18 1 Ainda que este anno lectivo comccou irre- gular, abrindo-se as aulas VJ dias mais lar- 173 de do que de costume, comludo o zelo c assi- duidade, com (|ue rada um dos profcssoies desempeDliou os scus dcveres, concorrcu po- derosamenlc para o bom cxiio dos traballios lillerarios dos alumnos da laciildade. E para de todo sanar quali|ner I'alta, que d'aquella pequcna irrofi;iilari(lade podesse re- sullar ao ai)rovcilanuMUo dos rcferidos alum- nos, entendeu o conselho, que devia espa- jar, mesmo com sacrilicio scu, o mais que possivcl fosse, o lempo das aulas, reservando apenas o slriclamenlu iiidispensavel para os actos dos esludantos haliilitados. E rcsolveu assim que o ponto nas aulas da faculdade tivesse logar no dia 30 de juuho, deixando ainda ao arbiliio dos professores poderem conlinuar ale 11 dejulho, se per ventura Ihcs fallassc tempo para a couclusao das raatcrias, designadas nos programmas de ensino. E de feito, lendo-sc posto o ponto, uo dia marcado, nas aulas do 4." e 5.° anno, foram ainda continuadas ale 9 de julho as do 1.°, 2.° e 3.° anno. Fizeram-se com a raaior regularidade os ados, assim dos estudantcs raatriculados 'neste anno lectivo, como dos que se aprcsentaram extraordinariamcnte, e com frequencia ante- rior. EstafliNlira do niovinieiilo ilos cslu- daulcs fia fat'ulcladc dc mallicnia- lica, no anno lecti%'0 flndo dc 1850 para IS59. Annos is = a. 0 ^pro vados Jinn. Disor. Sira- plic. 1.° 13 3 6 a „ 4 ' 2." 33 3 12 2 n 16 1 3.° C, 1 S u » » 4.» 5 j> 3 i> II 2 ' 5." 2 » 2 » 11 i> 6.» Total 3 » 2 » " '\ 62 7 30 23 2 ArtoH cxtraordinarios cm Jullio dc IS5). 1.° 2.° 4.° S.° Total Xennne Discreji. Simpli. ciler Repro- vttdos Premio. -2." dicto. Partidos. 0 conselho love a ?atislacao de dislribuir, em rcsullado da boa lre(iuencia das aulas c dos actos distinclos, partidos, premios, acces- sit c distincfoes, aos csludanles seguinles: 1.° A>N0. Manuel Paulino de Oliveira — 1.° Jouo Pacheco Alves de Rcscnde — 2.° ANNO. Pedro Ignacio Lopes I Candido Celcstino Xavier Cordeiro Jose de Saidanha Oliveira e Souso 1 Luiz da Costa e Almeida ) Antonio de Brito Furlado dc Mendonca — Pre- mio. Joao Mendes de Magalhai's Caetano Xavier d'Alnieida da Ca- mara Manuel ^Accessit, Antonio Pcreira da Cunha e Costa ^ Manuel Nunes Braamcamp Freire Cazimiro d'Ascengao Sousa e Menezes — Dis- tinccao. 3.° ANNO. Alvaro Kopke de Barbosa Ayalla — Premio. Abilio Castanbeira das Neves — 1.° Accessit. Antonio Eugenie Riheirod'Alraeida — 2. "dicto. 4.° AINNO. Eduardo Augusto d'Oliveira Lobo — Premio. Tendo side despacbado, por decreto de 2 de dezembro, substitute extraordinario da faculdade, 0 ajudante do Observatorio astro- nomico, Antonio Jose Teixeira , resolveu 0 conselho, que clle exercesse as funccoes de sccrctario, retomando as de fiscal 0 outre subslilulo extraordinario Francisco Pereira de Torres Coelbo, que interinamente estava servindo afjuelle logar. Foram tambem distri- buidas por anibos as cadeiras da faculdade, que admiltem snbstiluicao extraordinaria; pertencendo ao novamente despachado as do 1.° e 2." anno, e ao mais antigo as do 3.°, e a 6." cadeira do quarto anno. Entre as diversas providencias, com que 0 conselho entendeu, que devia manter a disci- plina, e proscguir no rigor costumado, susci- tou a disposicao da policia academica, que pune OS cstudantes, que, sendo chamados as iicoes, disscrem repetidas vezes que as nao viram : e para maior prova dos ados, e mais proveito dos alumnos, decidiu, que os ordinaries e voluntaries, no proximo anno lectivo, c d'ahi em diante, coraecassem esses actos por uma disserlacao em poriuguez, lida por elles, e argumentada em seguida pelo iente do anno; vindo assim a haver (|uatro argumentos nos actos ale ao quarto anno, c cinco na formatura. Como corollario resolveu tanihem 0 conselho que d'ora avanlc fossera escriplas em poriuguez e impressas as disser- lacOes inauguraes dos repelenles. 174 Foi approvada para compendio a conlinua- jao (la nova iiadncrao do ciiiso dc inallie- maliras piiras do L. B. Fraiuoeur, que com- preliende o calculo ale a integrarao das cqua- foes das ordcns siipcriorcs, c pailieiilarmenle da segiinda ordem, c a eliniinai'fio enlro as equafOes difl'crenciaes simullaneas. 0 consellio, poiideraiido a iiecessidadc de se adquirirem iivros, onde se possa ver o progresso e dcsenvolvimento, que as stiencias mathcmatieas acliialmento lem experiracnta- do, pediu c obtcvc do dignissinio prelado da Uiiiversidade, que pcla dotacao da Inhlioilieca se fizesse desde jii a assignaluia do Jonial de raallicmalicas paras e applicadas de Mr. Liou- villc, mandando vir cada um auiio, a romc- car d'esle, quatro voluuies anieriores d'essa publicarao, de mancira que, denlro em pou- co, e scm despeza sensivel, se encouUe na mesma bibliolheca aquella preciosa coHecciio. E vendo que, afora o resumo das licOes de meclianica applicada de Mr. Navier, nenlium outro livro, que sirva d'auxilio ao estudo das disciplinas da li.° cadeira, c\iste nos estalie- lecimenlos da Uiiiversidade, fez egual pedido, e obleve egual resultado relaiivamente as meniorias de Mrs. Saint-Venant e Lame, sobre aquella sciencia, as quaes julgou con- \eniente rcquisitar. Em congregafao de 27 d'abril resolveu o conselbo elevar a presenca de Sua Magcstade duas consullas sobre objeclos da maior impoi- taneia. Na primeira, expondo o grande nu- mero de iucouvenieiUes que apreseiUa o actual Observatorio astronomiio, e as vanlagens que pelo eoutrario olVerece o edilicio do Observa- torio do Castello, que apenas licou em come- co, pcdia respeilosaniente, que fossem couce- didos OS meios pecuniarios para a conchisao d'este edificio, que pouco a pouco se podia ir conlinuando. Na segunda, coiiveiicido o conselho pela expcriencia dccorrida desde a ullima reforma, em 18i4, de que e impossi- vel, por falta de lempo, professar alguns dos ramos, que fazeiu parte do curso mathema- tico, e dar a outros todo o desenvolviuiento, que 0 estado actual da sciencia reclama, con- sultava a Sua Magcstade sobre a iiecessidadc de se crear uma nova cadeira, onde se cxpli- que a parte transcendente de Geomelria Des- cripliva, e a parte transcendente c aualytica da Acustica e da Optica, lazendo-se lambcra as expcriencias necessarias, para que cste ensino se tome mais proveitoso. Tendo o director interino do Observatorio astroiiomico, Rodrigo ISibeiro de Sousa Pinto, ponderado ao conselbo a impossibilidade de, com 0 liiuiiado numero de cmpregados, que •ictualmente existe 'naijuella reparticao, salis- fazer assidua e regularmcnte aos dois servi- 50s de calculos e observaroes, que incumbe aquelles empregados; c tendo proposto varios alvitres para prover de rcmedio a falta tao sensivel ; determinou a faculdadc, era oon- grogacao de 30 de juiilio, elevar a presenca de Sua Magcstade uma consiilla, exjiondo os incouvenicntes, que d'essa falta liao de resul- tar, e lembrando respeilosamcDte os meios dc acudir a ella. Em congregacao dc 2'J de agoslo instou novamente 0 conselbo pela solu- cao d'este urgentissimo negocio. Termiuam os traballios da faculdadc por uma cxposicao ao conselho dos decanos, in- dicando 0 modo de levar a efl'cilo as cons- triicfacs projcctadas no Observatorio do Cas- tello; visto ter sido a dotacao da Universi- dade augmentada pelas corles 'nesta sessao Icgislativa, e esse augmento dcstiuado para obras dos estabclecimentos universitarios. Como porem os recursos oHerecidos nao per- mittem, que com brevidadc sc concluam aquellas obras, e nao e possivel conseguir-se por em quanto alii a collocacao do Equato- rial, 0 conselbo de matlicniatica , aleni dos alvitres Icmbrados para a execucao das obras, prnpoz tambem os meios para se levar a ef- feito a collocacao d'este instrumcnto no Obser- vatorio actual, a liin de se tirar algum pro- veito d'ellc, em quanto se nao poder collocar definitivamente no Observatorio do Castello. E tendo sido favoravclmcnte acolbida esia sua exposicao, cscolhcu 0 conselho, em con- gregacao de 20 d'agosto, 0 seu vogal Floren- cio Mago Barreto Feio, para dirigir aquellas obras, devendo rcceber da direccao do Obser- vatorio, por via do director interino Rodrigo Ribeiro de Sousa Pinto, quaesquer esclareci- nientos, que por ventura necessite, e ficando auctorisado, para resolver, d'accdrdo com 0 dignissinio prelado da Universidade, quaes- quer duvidas, que no decurso d'aquelles tra- ballios possam offerecer-se. Resolveu tambem 0 conselho, que fosse convidado 0 guarda do Observatorio, Francisco Antonio de Miranda, para coadjuvar, no que esteja ao seu alcance, 0 vogal nomcado para esta importantc coni- niissao. OBSERVAQOES RIETEOROLOGICAS EM MADRID. Ro<«iinioii fic los f raltajoH Moloorologi- ros correspond icnloK nl aAo 1S54. Verificados en cl real observatorio dc Madrid baju de la direccion de D. Manuel Rim y Si- nohas, calltedratico de fisica en la Uitivcrsidad central. Madrid ^Sb7. — 1 vol. 4.° grande. 0 observatorio real de Madrid comecou cm 1S3~, por ordem do governo, a serie das suas observacoes raetcorologicas, conliiiuadas ate 1833 com algumas interrupcoes. 'Neste anno, porem, rcorganisaram-sc alii os traballios me- teorologicos, provendo-se aquelle observatorio de novos instrumentos e apparelhos, com que 175 se deu eomeco as observac6.es no mcz dc dc- zcnibro, lindando em novembro seguinle o prinieiro anno melcorologico d'esta nova se- rie, cujo rcsumo acaba de jmblicar na obra, que annunciamos, o digno catliedratico de Phvsica na Universidade central de Madrid, o sr. D. Manuel Rico y Sinobas. Para esla nova serie de observacocs, diri- gidas por aqueilc illustre calbedratico, empre- garani-se os seguinles inslrumenlos; um ba- rometro typo, cujas indicacOes forain reduzi- das a icmperalura de 0°, pelas labiias de Schuniacber, publicadas no Annuario melcoro- logico de Franca : um tbermomciro lypo com escala dc Fabrenheit; thermonietros de mari- tna, c minima, o prinieiro de mercurio, c o segundo do alcool ; um bygrometro de bola sfica e buniida; um tbermomciro de minima temperatura para o cstudo da irradiacao no- cturna ; outro de maxima temperatura exposto a accao direcla dos raios solares, construido por Barrow: um apparcibo composto de seis tbermomctros, construido por Newman, para estudar a temperatura abaixo da supcrlicie da terra. Estes tbermomctros estao numerados de 1 ate 6, e acham-se collocados a diversas profundidades do pavimento do observatorio na relacao seguinte: Num. 1 a prbfundidade de 3, "Go" )) 2 3,0iS >, 3 2,438 » 4 1,828 » 5 1,219 » 6 0,00'J Estas observacoes sao feitas ao nieio dia. Possue tambcm este observatorio o um ane- raometro d'Osier, para indicar constantementc pelos signaes, que dcixa tracados sobre o pa- pcl, as direccoes dos ventos, e sua intensi- dade, um piuvimetro, que se corresponde com 0 ancmometro, e que regisla a quantida- dc de cbuva que cae, o seu eomeco e lim. Para o estudo da cleclricidade atbmospberica sao alii empregados um conductor de cobre, c OS competentes electromeiros de Volta e de Rounalds. 'Neste prinieiro anno da nova serie dos tra- balhos meteorologicos, as oliservacOes foram feitas de duas em duas boras, e somente du- rante 0 dia, em consequencia de nao residi- rem os ajudantes dentro do edificio do obser- vatorio, excepto nos dias dos equinocios e solsticios, em que foram de bora a bora. No reslante do pcriodo annual de loi-(n «!«• trfw, novov pInnolnN. — M. I.utlicr (lo ila iioilc de 19 do mesmo mez. Todos OS Ircz novos aslros sao da 11.* grandcza, c csiao silnados, como os prccc- dcnles, cntrc Marie e Jupiter. Ficam agora seiulo 40 os asleroides, que se lem desculierlo. D'estes: 10 foram achados por M. lliiul; '.» por M. Goldschmidl; 7 por M. Gasparis; C por M. Lulher; B por M. Cha- lornac; 3 |ior M. Po^'son; i por iM. Olbcrs; 2 por M. Heiuko; 1 por M. I'iazzi ; 1 por M. Harding, 1 por M. Graliaii; 1 por M. Marth; 1 por ^\. Ferguson. Ki-ai-in --c|=o (22) equacao que pode ser satisfeita, ou por z==o, ou peio outro factor. Mas este da pela regra de Newton 3' — 3cz-- + 3c': — c' = (z — c)' = o (23) 0 valor z = c confundiria a'" com os 1." termos das outras trez raizes, e por isso nao pode servir, restando so z = o , como ja saiiiamos que devia ser aproveilado. Temos assim c 3 r- c T x' = Uavte + / 7 K ■V-r- ^"=i+«V^+ 2 chamando a , a' as duas raizes cubicas imaginarias da unidade 178 Pondo em (20) : = « 1 ^!_£ + tt,vcm ICiii' + 10 c ""+'«-, o^'', oW, etc. as quaes darao peh eliminajao os n valores a(o)_^(o)_ a(0_^(.)_ aii)_^u)_ etc («), sendo 9'°', ^; c-'=_(l-.)^^ + (l-.) | + , . (3) OS quaes integrados duas vezes, e eliminadas as arbitrarias, dariam mais outros ([uatro inte- graes da 2.' ordem da proposta, que formam ao todo nove integraes, e que, segundo aflir- ma, sao todos distiuctos. Para provar, a posteriori, a falsidade d'esla proposicao (que provada esta ella, a priori, pela demonstracao que acima demos) basta raostrar que os dois integraes (3) estao induidos DOS integraes (2), pois que os outros quatro, sendo deduzidos pelo mesmo processo, estarao egualmente incluidos 'nclles ; e e isto o que vamos fazer. Tomando as equacoes (2), e sommando a priraeira multiplicada por — x, com a 3.* mul- tiplicada por 2 ; e a mesma 1.' multiplicada por 1+x vcm as duas {l — xf ^ — iy + cx—lc'—o; [l — xY-jX. — ^y + cx + c + ii ^(l-^)\x--- '- '- "' dx- (4) c tirando a 1.' da 2.', vem — c — 2 [c' + c") = {i — x)' j4. que sc torna na 1.' equacao 3 in/ dx'' (3) pela equacao de condirao c + 2 (c' + c") = — c"'. Multiplicando agora a 1.' equajao (2) por {x — 1), e sommando-a com a 2." equacao (4), vera c + c' = — (1 — xy- y^+ -r- (I — ») +y, que se torna na 2." equacao (3) pela equa- cao de condicao c + c' = c'" jAcouE Lciz SARMENTO. ® Jn^tittttU) JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. RELATORIO Dos eatados do Lyrca nncional de Braga cm IS5& — I85G. Seolior! 0 conselho do lyceu iiacioiial da cidade de Braga vai ctimprir o dever, que Ihe impoe o artigo sesscnta e qualro §. 5." do decrelo de 17 de iiovemhro de 1 8116, elevando a augusta prcsenca da Vossa Magestade o relatorio do cslado dos csludos no niesnio ly- ceu, relative ao auuo (indo. As cadeiras, que formnm o curso legal d'esle lyceu, e as res- peclivas suhstiluifoes, nos tcrnins dos arligos 47, 48 e 88 do decrelo de 20 do setembro de 1844, aciiani-se providas, a exccpfSo da cadeira d'econoniia iiidusliial e escripluracao. Todas as aulas existenles I'oiani frequentadas por maior ou mcnor numeio d'alumnos, como mostra o mappa juncto, que faz parte d'este relatorio. A dimiiiuta Irequencia na aula de grammatica porlugucza e lalina, em rekijao aos alumnos, que 'nesta cidade frequentam a mesnia disciplina, e devida principalmente a falta d'liahililaoao, em que se acham, (|uando saem das escholas d'instruccao primaria, pois que, se nao todos, a maxima parte nao se acham em circumstantias de podereni fazer o exame ordenado pelo artigo 68, §. unico do citado decreto de 20 de setembro de 1844, porisso recorrem antes as aulas particulares, onde sao recebidos independcntemente de qualquer habilitacao. A pequena frequencia 'naquella concorre para que a do latinidade seja tam- bem pouco frequenlada; pois se limita a sua frequencia aos alumnos, que estudarani 'na- quella a grammatica portugucza e lalina, a alguus, que foram reprovados, quando lenla- ram o sen exame, e a outros que, tendo cs- tudado em diU'erentes aulas, se nao conside- ram em estado de o poderera fazer. A irregu- laridade, com que os estudantes se matricu- 1am 'nesla ultima aula, com a unica habilita- fao do exame d'instruccao primaria, e sem terem por meio do competenle exame dado uma prova de sufficicncia em grammatica por- tugueza e latina, faz com que d'ella se nao pos- sara obter lodas as vantagens, que se deviam esperar ; pois que, excepluando os que apren- deram a grammatica na aula respecliva d'este lyceu, todos os outros, ou, pelo menos, a ma- YOL. VI. NOVEMBRO 1 xima parte d'clles ignoram os seus niais ni- dimentares principios; donde resulla que, por maiores esforjos que emprcgue o respective professor, nunca chegam a ad(iuirir o conhe- cimenlo da lingua lalina. 0 unico remedio, que estc conselho poderia adojilar para obstar a este inconveniente, seria talvez prohibir a matricula 'nesta aula, sem previo exame das disciplinas da 1.° cadeira; porem, tem-se abstido de empregar este meio, por conside- rar, que elle fecharia as porlas d'aquella aula ; pois so os estudantes fossem olirigados ao diclo exame, recorrcriam todos as aulas par- ticulares, sempre promptas a recebel-os sem habilitacao alguma ; ou se contentariam com a cerlidao d'esse exame para conseguirem os seus lins, o que llies nao scria diflicil, por nao ser ainda de todos bem conhecida a dif- fercnfa, que "se da cntre aquellas duas disci- plinas. A frequencia na aula de philosophia racional e moral, e principios de direilo na- tural, foi inferior a dos annos antecedcntes, e muito limitada tambem, se for comparada com 0 numero de mancebos, que 'nesta ci- dade estudam aquclla disciplina, o que parece ser principalmente devido a nao se acharem a maior parte dos estudantes liabilitados com 0 exame preparatorio de latinidade, nos ter- mos da portaria de 10 de julho de 1855, ex- pedida a este lyceu pelo conselho superior d'instruccao piiblica. Nao e so a falta de ha- bilitacao, com que nas aulas particulares sc admittem quaesq\ier estudantes, que alii con- vida maior numero d'alumnos, do que as res- pectivas aulas d'este lyceu: e egualmente a irregularidade com que se precede 'naquellas aulas, ja nao apontando faltas aos estudantes, ja alargando os prazos das fcrias, ja final- mente empregando outros meiqs de seducciio, que este conselho se abstem de referir, o que sendo em gravissimo damno da instrurcao re- verie unicamente em beneficio dos especula- dores, niais sollicilos em promovercm os seus interesses, que escrupulosos na cscollia dos meios. A aula d'oratoria, poetica e litleratura classica tem sido mui pouco frequenlada, de- pois que se comecaram a expedir os avisos regios para a ordenacao do clcro sem cnrtidao do exame d'esla disciplina. 0 abandouo, em que se acha hoje a referida disciplina, soria tambem a sorte da grammatica latina e lati- -—ISo". Nlm. is. 182 nidade, e da philosopliia, sc por ventura fos- sem tanibcm dispsnsadas, na expedicao d'a- quelles regios avisos, as rcspcclivas certidOes, ou subsliliiidas, conio d'anies, por alteslados graciosos, niuilo niais I'aceis dobter, que aquellas cerlidOes. As reslantes aulas d'cste lyceu coiUiiuKHu a ser pouco I'reciuenladas, o que hade acoiUecer senipre que iiao seja li- gado inlcresse as disciplinas, que 'iicllas se ensinaui, ou scja lornaiido-as habilit.irao ne- cessaria para cerlos enipregos, e niodos de vi- da, ou ilando prerereiuia aiiuclles que, por meio do compeleiile exarae, se mostrarcni 'nellas iiislruidos, dando-se assim execucao as sabias providencias, (|ue se acham consi- guadas uos arligos 72, 73, 74 e 75, e no ar- tigo 97 g. unioo do ciludo decreto de 20 de setenihro de lSi4. 0 nuniero dos examcs de latinidade foi su- perior ao dos aniios antccedenles; portftu, o dos exaiues de philosophia foi inferior, o (|ue da mesiiia sorle dcve atlribuir-se a circums- tancia de uao sercm boje adniitlidos a esle uilinio exanie os que nao leiiham sido previa- nieiile approvados cm latinidade, nos tcrmos da iembrada portaria de 10 de julho. Tal c, Seiihor, 0 cslado dos esludos 'nesle lyceu. A regularidade com que 'nelle sc precede c causa de afugeiilar a frequencia de suas aulas. Aleiu d islo. 0 niaior luimero, por nao dizer a quasi tolalidade dos cstudanles, que 'nesta cidade cursam as aulas d'instruccao secundaria, des- linam-se ao cstado ecdesiaslico; pelo que s6- nienle estudani o Inlim e philosopliia, e sc estudam estas nicsmas disciplinas, i por que a is.so sao obrigados pelas sabias disposifOes da portaria do niinisterio dos negocios cccle- siaslicos de 2ii de setenibro de ISiiO. Sao, pela niaior pane, lillios d honiens rusticos, que Oij mandaiu para csla cidade cnlregues a si raesnios, e sem as neccssarias habilita- coes: por isso procurani aquellas aulas, onde conhecciB que a irregularidade c a indulgen- cia favorecem ma is a distraccao e o ocio, e qndc sao rccebido.s sem aquellas habilitacoes. E por cssa razao, que a cada passo se vecni frequoiitar mais os passeios, as casas de jogo e dc prostiiuicao, os botequius e os billiares, do (|ue OS esludos. E por essa raesma razao, que niui poucos merccem ser approvados ple- nameuie, oulros sao rcprovados priraeira, se- gunda, (eroeiia e quarla vcz, c niuilos outros Jiem seipier se subjeitam aos exames, recor- rendo antes as certidocs falsas dos mesmos examcs, para com, cllas obtcrem os regios avisos e a admissao ao eslado ecdesiaslico; outro genero d'ospeculaffio, que a inipunidade tern tornado vulgarissimo, e ale quasi indif- ferenle 'iiesla cidade, era dcspeito dos rcite- rados clamores, que sc tern levanlado contra similhante desordem. Eslc esiado, Scnhor, carcce de prompto remedio; e o mais efficaz seria, scgundo a opiniao d'oste consclho, que Iwiiem as auctoridadcs compctcnlcs as ne- ccssarias ordens, nao so jiara que se observe a mais escrupulosa regularidade era quanto as habilitafoes littcrarias c nioraes do dcro, mas para que se estabclccam e facam execu- lar poniualmcntc regulamcnlos especiaes, ten- dcntes a reprimir a distraccao e descnvoltura dos estudantes, nao podendo duvidar-se que OS mancebos, com espccinlidade os que se de- dicam ao eslado ccdcsiastico, educados assim na indolencia e na dcvassiilrio, dcslituidos ao mesmo tempo das ha hi I i la cues indispensavcis para o alto minislcrio de que vao ser encar- rega O inosteiro de S. Cruz teve senipre mnita^ deniandns c'os inonges da caridade ,(\ue\aoTa\ixa era S." JusU deCoim- bra. » ^ Gasco — Aniig. de Coimbra — cap. IV, — pag. 24. ' Vir?. — Aen. liv. Ill, — v. 415. 187 simultaneamenle, os officios divines as duas collegiadas. A 24 de agoslo de 1710 o mcsmo bispo, as.-islido do feu cabido, beiizcu, e lancou, na extreiuidade do norte da lua da Sophia, a primeira pcdra do novo lenipio, (|uu e de unia so nave, e de simples, mas elegante I'a- hrica. Era unieamente d'esle tempio, que saia, todos OS auuos, a proeissao do Anjo Custodio, instiluida por El-Rei D. Manuel '. lloje aelia-se dcserto, c abaudonado, pcia extincfao da parochia respccliva; e, fallecendo OS meios de conservacao, em breve caira em ruinas. Apressamo-nos, por isso, a rccolher as nie- niorias, que ainda nos transmillcm as duas lapides, encravadas nas paredes externas do tempio, juniio do seu portal. Pelus annos do Senhur de 1100 se fundou a egreja anliga, e liavendo jd muUus, (jue as inundames do rio eniravum 'nella, sendo estas coniinuas com terriveis tentpestades no invenio de 1708, aos 17 de fevereiro do mesmo anno, por ordem do 111.°" sr. D. Antonio de Vascon- cellos e Soma, bispo conde, se fez proeissao de preces com a imagem do Sancio Cliristo, a qual se recollieu a iyreja de Santiago, e 'nella se collocou a sobredicia imagem na tribuna do altar maior, c os padres d'esta egreja ftcaram celebrando os ojjicios dioinos com os beneficia- dos da mesma. Aos 24 rfe agosto de 1710 vein a esle silio 0 III.'"'' sr. bispo conde Antonio de Vasconcel- los e Sousa, e 'nelle com toda a solemnidade, e assistencia dos reiierendos capitulares neces- sarios, e concurso do povo benzeu a primeira pedra, a qual se lancou «o canto d'esta parte, e fez as mats ceremonias da egreja. n. DE GUSM.\0. OS LUSIADAS. Trnducrsio fi-aiKoxa. LES LUSIADES. Continuadu de pag. 56 do IV vol. 61. Quels iriurs resisteront A ce jeunc heros Si Lisbonne na point arrcle s.i vaillance? II vole a des eoinljals, a iles siiccis nouveaui; I.a victoire le suit, la Icrreur Ic devance. Bienlot Torres-Veil ras et I'anlique Obidos Toute I'Eslremadura a subi sa puissance: II soumet Alemquer oil la voix des echos Repete le murmure ct la chute des eaux. ' Ouve disjiensa^ara do papa, pera se em sens regnos celebrar a fesla do Anjo Custodio no terceiro doraingo de jullio. e no mesmo dia ordenoii que se flzesse uma pro- cissam lao solemne como a de Corpo de Deos, o que ludo em qiianto viveu se compriu mui perfeitaniente. Damiiio de Goes. ~ Chronica d'El-Kei I). Ma- nuel — quarta parte — cop. LXXXVI. 82. Attaquant I'ennemi dans son plus Silr asyle, Jusquau dela du Tage il poursuit ses succes. On le voil cnvahir celte terre fertile Qui s'enrichit des dons de la blonde Ceri'S. Fujant celte demeurc autrefois si tranquille Le Maure voil briiler, devaslcr ses guerets; Elvas, Moura, Serpa cedent a sa vaillance Et la riche Alcaccr reconnait sa puissance. 63. Et ces arcs faslueux par le luxe embellis, Orgueilleux monuments de I'antique Industrie. Cctle noble cite qui de Rome jadis Osa se declarer I'emule et I'ennemie, Lorsque Sertorius entoure de proscrils, Transportait Rome au sein de la Lusitanie, La superbe Evora decerne a son vainqueur Un surnom qui devienl le prix de sa valcur. 64 ct 63. Les maures possedes d'une aveugle demence Out detruit Trancoso par la flamme et lefer; Bientot Beja saccagee atteste la vengeance D'un peuple genereui, mais juste autant que fier. Vainement Palmella vcut tenter la defense; Cezimbra, qui recoil les tributs de la mer, C(,'dc encore au heros, et bientot la victoire Le couronnc en ces lieux dune nouvelle gloirc. 66. Le roi de Badajoz superbe et gcnercui S'avancait entoure d'une nombreuse escorte; II venait sccourir Ics maures malhcureux El reunir aux leurs sa brillante cohorte; Mais de meme qu'on voit le taureau furicux Dans la saison ardente oil I'amour le Iransporte Veiller sur sa conquete, ct fier et mugissant Fondre comme loclair sur le palrc imprudent : 67. Ainsi le Portugais se livre J sa furie, Et se precipitant sur le Maure elonne, II disperse a I'instant celte troupe ennemie ; II foule sous ses pieds I'Africain consternc. Bientot leur seul desir est celui de la vie; Le soldat par son chef se voit abandonne; il fuit en annoncant a I'Afrique alarmee Que soixanle guerriers ont detruit une armee. 68. Alphonse a ce combat sanglant ct glorieux Fail succeder encore de nouvelles conquetes; Sa voix a reuni ses guerriers valeureux, El de nouveaux lauriers couronnent bienlot leurs fetes. Les sarrasins jadis superbes, orgueilleux. Presses dans leurs foyers, accables de defaites, De leurs fiers ennemis cessent d'etre rivaui Et livrent Badajoz aux armcs du heros. 69. Mais du Dieu lout-puissant reternelle justice Qui, ne laissant jamais Ics crimes impunis, Des mortels quclquefois differe le supplice Pour que le rcpeutir eclaire leurs esprits, Dicu, qui couvrant ce roi d'une main proteclrice Le rendil victorieux de ses tiers ennemis, Accomplit a la fin dans sa juste colire La malediction terrible d'une miire. 188 70. Bicntot dahs l.i cilc qu'il \ient dc conquerir Le pcuplc dc Leon Ic surprend et le prcssc. Alphonse vaiiieinent s'arme pnur le punir; ]1 lie pent ecartcr la foudre vcngcrcsse; All milieu des giieiTJcrs qui vienncnt I'assaillir Son loursior iiidompte le renverse et le hicssc. Dieu Itii fail expier, en I'acenblant de fers, I,a liontc et Ics mallieurs que Theresc a souffcrts. 71. N'arcusc plus le sort, o superbe Ponipee, Du desaslrc eclalanl qui tcrnit tes exploits, Lorsqu'eu un scul instant ta troupe dissipee Fit tomber ta puissance et ta gloire h la fois! Ji'e fremis plus de voir ta redoutable epee Se briser sous le for du vainqueur des gaulois; Toi. qui portas du Phasis aux remparts de Sjcnne I.a lerreur dc ton nom ct de I'aigle romainc; 72 ct 73. Toi, dont le Syrien, I'habitant de Colchos, Et I'Arabe ont suivi la pompe triomphanic, Ke te plains plus de voir lant de brillanis travaux S'eclipser toul-a-coup dans les champs de Pharsalc! Vois .\lphonse convert de lauricrs aussi beaux Eprouver du deslin I'inconslance fatale, Et tant de fois vainqueur, montrer h I'univers Ses triomphes Icrnis par un fameux revers. 74. De rclour a la fin au sein de sa patric, Apres avoir subi I'cpreuve du malheur, II s'arme de nouveau centre le Maure impic, Et Santarem en lui voit sou libcrateur. Alais aiix transports gnerriers dont son .Ime est reniplie On lui voit allicr une sainte fcrveur, Et, par ses soins pieux, des autels magnillques D'un martyr de la foi recoivcnt Ics rcliques. 75. Cessanl enfin le cours de ses nobles travaux Alphonse, surcharge de lauriers et d'annces, Kemit son glaive aux mains dun plus jcunc hcros, Et Dom Sancho remplit ses grandes destinecs. I.cs armcs, la valeur des ccs guerriers nouveaux Du plus brillaiit succes partout sont coiironnees; Seville a vu trembler les maures egarcs. El de leur sang impur les Dots sonl colorcs. 76. Sancho, deja vainqueur dc I'arabc infidele, Sur ses premiers lauriers ne se repose pas; U s'elance soudain oil la gloire I'appelle. Bcja doit son salut aux elTorts de son bras; Les maures onl frcmi ; I'Afrique se rappelle Tanlde sanglants revers, lant dehonteux combats ; El Ton entend partout dans cct empire immense Retentir a la fois le cri de la vengeance. 77. On les veil accourir de ces bnilanls climats. Oil rcgnail le geant qui Icrrassa Meduse; Des rcmparls de Singi, si feconds en soldats, Et des bords escarpesde I'antique Ampelusc Les numides erranls s'clancent aux combals. Pour venger lanls d'affionls nul bras ne se refuse; Millc clairons d'airain resonnent a la fois El I'Afrique s'cbranle a leur terrible voix. 78. Sous Icdrapcau du chef de ccs hordes lointaincs Trcizc rois niusulmans rangcnl leurs clcndarts; lis briilent les cites, ils devastcnl les plaincs, Et Santarem bicnlot les voit sous ses remparts. Pour ren\crscr ccs murs Ics troupes africaincs tpuiscnt vainement la science de Mars; Dom Sancho les defend ct cc prince s'annoncc L'hcrilier de la gloire ct du sceptre d'Alphonse. 79 et 80. Apprcnant les dangers de ce jcunc h^ros, Le roi court le sauver el venger sa patric: Intrcpidc vicillard, il diMubc au repus Encoie les dcrniers jours d'unc si noble vie. Ces guerriers, qui cent fois sous lesmcmcsdiapeaux Ont vu fuir devant eux le Sarrasin impie, Suivcnt leur chef augustc el volenl aux combats Pour la millii-me fois affronter Ic trepas. 81 ct 82. Leur valeur a bientdl decide la qucrelle; Deja Ton voit tomber le chef des musulmans; A ses vieux favoris la victoirc est fidcle; Partout la mort les suit, partoul leur sang ruisselle; Les champs sont parscmes d'armes et de turbants; Et le hcros chrelien s'emprcsse dc rcndre gloire Dc ce dernier Iriomphe au Dicu dc la victoirc. 83. Le magnanime Alphonse apres tanl de travaux Voit enlin terminer ses grandes deslinces; Et tant de fois vainqueur, cet illustre hcros Est lui meme vaincu par le poids des annees. La pale deile qui preside aux tombeaux Pose sur lui ses mains froides el decharnces; La sombre Libetine a reclame ses droits El le heros subit ses immuablcs lois. Si. En cet instant fatal des grottcs taciturnes Retenlircnt, dit-on, de lamenlables cris; On vit crrcr partout des fanlomcs nocturnes, Et des monts ebranles s'ecroulcr en debris; Les flcuves eplores rcnverscnt leurs urnes, De leurs dots debordes inondant les pays; Et repelant le nom que chaque voix prononce, Pendant lungtemps I'cclio rcpon J Alphonse . . . Alphonse ! 83. Dom Sancho lui succedc, ct ce vaillant guerricr Est digne dc porter le sceptre de son pere. Du plus grand dc nos rois cct illustre herilicr Poursuit de ses succes la sanglante carricre. Dans I'Algarve bicntot penetrant le premier r.e prince a deploye sa banni(.'re; Les arabes vaincus ont fui de loulcs parts, Silvcs voit les Chretiens camper sous ses remparts. CotUinia. BIBLIOGRAPHIA. I/a EluNlg n«'ioii .Itfilkn, Periodica de citncias medicas, propagador de toda classe de conucitnienlos uliles, adornado con ic- tralos y olros ijrabados. A rcdaccao do Inslituto de Coimlira, recc- beii com salisfafuo o« primciros nunn'ros da 189 Jluslracion Medicu de Madrid, e, remettendo aos seus dignos rcdaclores o Instiluto, estinia tor esla nova occasiao de assini concorier para a reciproca dilTusao da lilteralura c das sciencias nos dois paizes, Hcspaiiha e Portugal, que, apezar dc approximados na linguageni e posirao gcograpliica, eslao desgracadanicnle separados nas suas relacoes sociaes a lal pon- to, que e pouco facil avaliar dcvidameiile "num 0 niovimenlo scicnlilico do oulro. A Ilustracion Medica nao se liniila ao desen- volviniento da anlliropplogia ; occupa-se lam- hem das sciencias philosophicas, e das suas applicacoes a agricultura e as arlcs; e Icni opo fim disseminar os hodiernos conhecimen- Irs d'estas sciencias na classe medica, e mc- Ihorar a sua siluacao. Na verdade e nohre e eiovado o pensanien- to que preiende realizar, a redaccao da Ilus- tracion Medica. porquc tanlo os medicos cn- carregados do magistcrio, corao os quese de- dicam a clinica. so poderao cumprir digna- menle a sua missao, aconipanhando constanle- mente o descnvolvimento das sciencias medicas e pliilosopliicas, e todavia nem senipre o podeni fazer, principalmente os clinicos das povoa- foes ruraes, quer pelo clevado preco dos livros, quer por nao terem d'eilcs judiciosa noticia. Nao e menos iraporlante o oulro lira, a que se dirige o referido jornal, advogando os inle- resses da classe medica, afim de que a socieda- de recompense condignamente, os que conso- mem a sua exislencia votados completamenle 80 sacerdorio de aliviar os soffrimenlos dos seus simillianles; e promovendo uma boa or- ganizacao do service de saude piiblica para conseguir o liem estar e o aperfeicoamenlo da humanidnde. Felicitamos porlanto os dignos rcdaclores da Ilustracion liftdica, desejando que prospere esla sua empreza, taoconformc com asindica- yoes do prcsente seculn. Publica-se esle jornal em Madrid, nos dias B, 13, e 23 de cada mez. Assignalura por Irimeslre era Despanha 20 reales; para o Eslrangeiro, 70 reales jioranno. Saiu a luz o primeiro numero em 3 de selem- bro proximo passado. J. F. M. P. PiOTICURlO. Homes (loH novos planetas. — Na ses- sao da acadeniia das sciencias de Paris de 3 do passado leu-se uma carta de M. Goldsclii- midt participando que o planela 43 recebera 0 nome de Eugenia, dado pela imperatriz dos francezes, a qual o illuslre descubridor se di- rigiu para esse fim. M. Babinel que tinba sido incnmbido pelo sabio aslrooonio de escolher nome ao planela 49, acaba de Hie dar o de Pales. Dos asteroides descubertos por M. GoJds- cbimidt so falla dar nome ao 48: M. Elie de Beaumont foi cncarrcgado de o escolber. Nao consla por ora que o tenhani recebido OS planetas 46 e 47, o primeiro descuberto por M. Pogson, e o segundo por M. Luther. O arido carbonico comoagente anea- ehesico.— M. Ozanan julga que o ether obra como agenle aneslhesico, porque na occasiao cm que se inspira, se decompOe, dando logar a formajao de gaz acido carbonico em grande quantidade. 0 mesmo diz que acontece com todos OS outros agentes ancsthesicos. Como nao ha ainda experiencias conclu- dentes, que justiliquem esla asserjao, em- quanlo nao for conlirmada, nao passa de mais uma hypothese, que espera a sanccao do tempo: eomtudo nao ha duvida que o acido carbonico e um verdadeiro agenle aneslhesico. M. Paul Broca, analysando um importante lrai)alho de M. Follin, chama a atlencao so- hre OS felizes resultados, que se podem espe- ra r das injeccoes do gaz acido carbonico na bexiga, e da accao aneslbesica d'este gaz. Prepara-se antecipadamenle o acido carbo- nico, deilando acido sulfurico sobre niarmore pulverisado; recebe-se o gaz, que se desen- volve 'nnm balao de caoutchouc, ou 'numa be- xiga de porco com um lubo de torneira, o que c mais simples. Sonda-se o doente com uma sonda de gomma elastica, communicando com 0 reservatorio de acido carbonico por um tube de caoutchouc vulcanisado, 'numa de cujas exlrcniidades se introduz a ponla da torneira metalica, na outra a parte exterior da sonda, e para praclicar a operacao nao ha mais do que comprimir com as maos o balao, que serve de recipiente ao gaz. 0 tempo d'esta operafao e ordinariamonte acompanhado por um pequeno ruido especial. A. bexiga do doente gradualmente dilalada, so- be dentro em pouco ate ii regiao hypogaslrica, e com facilidade se verilica, pcla percussao, a exislencia de uma massa gazosa. Emiim, antes dc tirar a sonda aperla-se ou liga-se o lubo de caoutchouc. 0 acido carbonico assini inlroduzido na bexiga comeca logo a ser ab- sorvido ; passada uma ou duas boras, e facil verilicar pela percussao, que o volume do gaz diminuiu cousidcravelmenle: de ordina- rio, porcm, a absorpcao li assaz demorada para que algum acido carbonico fique na be- xiga ate ii primeira rcpulsao da urina, ainda mesmo quando esla operacao nao tern logar senao trcz ou quatro boras depois. Os doeutes sentcm enlao, que alguma coisa analoga ao ar Ihes passa pelo canal urinario, ao mesmo tempo, que a urina. Depois da primeira ex- pulsao d'este liquido nenbum gaz Gca na be- xiga, a nao ser alguma lao pequcna quanti- dade, que nao se torna sensivel pela percus- sao. Todavia a accao aneslbesica do acido 190 carlionico prolonga-sc ale a manhaa Jo dia seguintc. i»opiilncfio.— A civilisarao parcce ter niais intlueiiria ua populavao de qiialquer paiz, do que 0 clima e exieiisao territorial. Na Gra- Bretaului coiitaiu-SL'. I:i80 liahitanlcs por ca- da legiia qiiadrada; iia Fraiifa, 1:200; na Prussia, somonte SOo; e a Russia otYcrecc apenas 202 liabilaiiles para a mesma snpcr- licie. Nas posscssoes asialicas di'sta ultima narao, uao existem mais de 4G hahilantcs per dez leguas quadradas. Na nova llollanda orien- tal, nao ha niais de 23 liabitanles por cem leguas quadradas, csparo quo na Franoa teria uma [lopularao de perto de 120:000 almas. Na Europa, calcula-se, ternio medio, que lia 472 lial)itantes por legua (juadiada; e para a mosma supcrlicie, 18 i na Asia, 40 na Africa, 20 na America, e 37 na Occeania. I'lilidailo «io>< teiot. — Ponco caso se faz, em geral, dos felos; a maior parte dos lavradores queimam estas plantas, e poucos as empregam para cama do gado. Kesulla, porem, dos receutes traballios do chimico francez, M. Malagutli, que estes vc- gelaes, dcpois de seccos, contem mais de 2 por 100 d'azote. Comparaudo este rcsultado com 0 que da aanalysc da pallia dos cereaes, conclue-sc que o Mo contem cinco vezes mais azote. Por consequencia, o feto convertido em estrume, e muito mais ulil que o estrumc ordinario, porque encerra maior quantidade de substancias proprias para a nutricao das planlas, do que o estrume fabricado com a pallia dos cereaes. M. Malagutli verilicou, que 1:000 liiloij. de lelo, secco ao ar, equivalem a 3:800 kilog. d'estrume ordinario, jjorciue e sabido quo 1 ;000 liilog. d'esie estrume pouco mais torn de 4 liilog. d'azote. Devem por tanto enipregar-se os fetos na cama dos animaos, uao so para economisar a i)allia, necessaria para o sustenlo do gado, mas para melborar o labrico dos estrumes. RELACA.0 Dos indiriduos nomeados para os seguintes logares de instnicgao publica desde o dia l." d^agost't ate o dia 15 de setembro ultimo, por despachos do conselho superior d'inslrucrCio puhlica^ e decrctns do governo communicados ao inesino conselho no indicado periodo. c(;ao Duarte de Mello da Molta, (lara professor temporario da cadrira d'Almeirim, districto do Sanrarem, Henrique do Rosario da Cosia Barbeita, para diclo de Cerva, dislricto de Villa Real. Josi: Fernandes Rapuzo, para dictu da Capinha, dis- tricto de Castello Braiico. 3os6 Trindade da Fonseca, para dicto do Carregal, districto de Vizeu. Maiuiel da C'unlia Lima, para diclo de Sao SebasliHo de Uarqiie, dislricto de Viana. Antonio Peixoto Monleiro, para dicto de Sancto Adriilo de Vizella, dislricto do Porto. Alaniiel Joatjuim da Rucha^ para dicto d*Azoili![o, districto do Li^hoa. Antonio Augusto d'Alnicida, i>ara diclo de SHo Ma- mede da Venlosa, districto de hislton. Juilo do (.'armo Ferraz, para diclo de Canipo Maior, dislricto de Purtalegre. Juaqiiim Julio de Gouv^a Guedes de Figueiredo, para professor subsliluto da cadcira de Cever, districto de Villa-Rcnl. Maria Fortunata da Concei^ao, para mestra de me- ninas d'Escalhuu, dislricto da Guarda. Anlonio Carlos Ri;;otle, i>ara professor temporario da cadeira do Sabufritl, districto da Guarda. Caelauo da Paz Rrandilo, para dicto de Bucellas, dislricto de Lisboa. Dominf;us Martins, para dicto Ue Alcantarilha, dis- tricto de Faro. Francisco Xavter Pereira de Pa, para dicto de Sito Joao de TaroHca, districto de Vizeu. Jeronyrao Cazimiru Quaresnia, para dicto de Peoella, districto de Cointbra. Juse Ferreira do C'asal, para diclo de S. Lonren<;o d'Asraes, districto do Porto. Jose Ramos Ferrao, para dicto d'OIiveira do Conde, districto de Vizeu. Manuel Jose da Silva, para dicto de Chorense, dis- tricto de Bratra. Maria Julia Drumond, para mestra temporaria da cadeira de meninas da iiha do Porto Sanlo, districto do FuQclml. Anlonio Domingues da Concei^ao, para professor vi- lalicio da cadeira de Sao Vicente de Louredo com exer- cicio na freguezia de Sao Jorje, districto d'Aveiro, por decreto de 27 d'agosto ultimo. Jose Maria d'Andrade, para dicto de IMaceira-Dao, districto de Vizeu, por decreto de 19 d'agoslo ultimo. Joaquiin Anlonio de Barros, para dicto d'Aljustrcl, districto de Beja, por decreto de 19 dicto. INSTHUC^AO SECUNDARIA. Josd Maria da Silva, para professor da cadeira de aritlimetica, algebra elementar, principios de trigonome- tria plana, e geographia mathemalica do lyceu nacional de Santarem, incorporado no seminario patriarchal, por transl'erencia da cadeira de philosophia racional e moral e principios de direito natural do mesrao estabelecimento, por decrelo de 7 d'agosto do correnle anno. Miguel Moreira da Fonseca, para professor vitaltcio da cadeira de lalim de Villa Nova de Foscoa, districto da Guarda, por decreto de 7 de setembro corrente. Manuel Joaquim Pereira Saraiva, para o logar de guarda do Museu portuense, por decrelo de 7 de setem- bro corrente. INSTRUC^AO SU Adriao Pereira Forjaz de Sampaio, para vogal do conselho superior d'instruc^ao publica, por decreto de 19 d'agosto ultimo. Antonio Bernardino de Menezes, para o primeiro logar vago de subsliluto exlraordinario da faculdade de theujogia da Universidade de Coimbra. Damazio Jacintho Fragoso, para o segundo logar vago, por decrelo de 30 de julho ultimo. Jose .Mves Moreira de Barros, para o logar de secre- lario e bibliothecario da eschola medico-cirurgica do Porto, por decreto de 7 de setembro corrente. Feliz da Fonseca Moura, para o higar de pharma- ceutico da escliola medico-cirurgica do Porlo, por decreto de 2G d'agosle ultimo. 191 SECCAO DE MATOEMATICA. Trisecrao do angulo por meio da hyperbole e circulo. Inlerprelacdo d'uma sohcao estranha. Continuadu dc pag. 179. Passemos agora a (icscrever a liyperbole. Como as coordenadas do ponto 6' satisl'azem ii cquacSo (,) ^en ((2t + l)^ + x) cos ((2» + l) ...} sendo :r = 180°; i um inteiro qualquer ; ci. = AM; o = A:T/3/'; x=AMM'31". Portanto temos para a iuterscccao M o areo 2 i w + a", para iU'(2» + l)5r — 6; para iW" (2 » + l)iT +x. 0 primeiro 6 o terco do arco GiTc-fa: o scgundo de Gix-t-n — a: ,„., . a 'i-n + a iu i-a „ 0 terceiro de G «TC +it +a: visto scr a^- , o = — r^ — , x = — ^ — . Por consequen- cia estas trcz solucoes correspondem respectivamentc aos arcos a, -n — a, k + a, como e sabido. 1 1 1 A mesma construccao da pois -a, -(n — a), — ^ (" + «): evitando assim fazer um« construcfao particular para os dois casos do arco maior que 90", on maior ([ue 180", tal como a indicada nas fig. 2 " e 3.° Os ([uadros (A) e (tf) e a equacao (e), ou as equajoes (6) e (7) dao Quando a = 2 »iT , c^r , s = o (Fig. 4.') A'Af^o, 1 = — rf soluftio cstranha 3/5j = o , f = '"1 !•' intcrsecciio j;'^;=^(/3, ^ = -^^ 2.' dicta ^"\^ = -i^^' ^ = -J5^-' dicta 192 Quando (i=:/2 i+jJTt , c = o, i = r (Fig. B.') AO« = r, •j=o^ solufao estranlia Jtf j; = -, f = -yj( 1.' intcrsccjao ^/'); = ^.-r = -^K3-J2.'dicta Jtf"^t = — r, -, = 01 3.' dicla Ouando a={ii + l)^ , c=^ — r, s=:o (Fig. C) AO t = 0 , 7 = »' ( soluf ao estranha C ?■ _ >■"> Jl/- 1.* interseccao (2 23 Jtf'|j = o, , = — r| 2;' dicta Jtf"jc=-^K3-, 7 = IJ3."dicta Quando a=f2i + -U, c = o, s = — r (Fig. 7.") .4';} 5 = — r, i=:o I solucao eslranfia JU\i = r, -i^ol 1.' intersecfao M')i = — ^, -(rr; — ^ 1/3" 1-2.' dicta C 2 2 J 3i"jt = — ^, f = -K3" 3." dicta Ficam assim intcrpretadas todas as quatro solufoes, que aprcsentara as interseccocs do circulo dado com a hyperbole. Na realidade so trez resolveni 0 problema da triseccao do arco, mas isto provem , como vimos, de que as equacoes resultanles da eliminafao dc ^ e y 1 1 viaham embarajadas dos factores estranhos a questdo x + -c, y — -s; porque 0 calcuio deu 0 que devia dar : isto e, mostrou, ainda no caso de so nao separar esta solucao, que havia sempre 4 raizes reaes da equacao do 4.° grau, e que portanto sempre a hyperbole cortava 0 circulo em 4 pontes. ANTONIO josfi TEIXEIRA. €> 3miitnto, JOIirSAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. RELATORIO Do eommisinario i e a desculpa banal, com que despe- dem todas as requisicoes d'esta ordeni. Pelo (|ue loca a utensilios escholares, como livros, louzas, mappas etc., ha em cada es- chola publica um pequcno deposito para ser- vico dos aiumnos pobres exclusivameute. Este deposito e o producto de uma subscripcao por mim promovida parat al fim; vae-sc de dia para dia exhaurindo de maneira tal, que, se nao houver meios para refazei-o, cm breve se extinguira de todo ; e os aiumnos pobres licarao, como estavam d'antes, sem os uten- silios indispensaveis para sua educafao. Isto e tanio niais para scntir, qnanio e cerlo que bem raros sao os filbos de paes abastados, que se a|)rescntam na eschola com os livros requisitados pelo professor, segundo a ciasse a que cada um pertence. Ja d'aqui ve Vossa Magestade, que, debaixo da intluencia de todas estas precisoes, rara i a eschola, que segue com exaccao o raethodo simultaneo pnro, ou o mixto de niiituo c si- multaneo, como quer o rcgulamento interno. Quali|uer d'esles methodos requer a eschola dividida em classes; mas classes, so as pode haver onde aiumnos da mesma forca usem dos mesmos livros, e practiquem simultanea- mcnle os mesmos exercieios. Se porem a muitos faltam livros, e outros os trazem dilTerentcs dos adoptados na ciasse a que pertencem, como pode a licao para todos ser a mesma? Como pode o meihodo ser o simultaneo? Ainda na maior parte das escholas o unico methodo seguido e o individual. Em seguida a inspeccao de aceio, comecam e terminam os exercieios escholares por uma oracdo, que vem no lira do cbamado calliecis- ino pequeno de douiriria chrisla. Tenbo porem observado que em muitas escholas, por incu- ria dos respectivos professores, ja tem esta jiractica degenerado em rotina; e um exerci- cio, para assim dizer, autbomatico, que os labios executam, sem tomar 'nelle parte o es- pirito nem o coracao dos aiumnos. Tenciono dar aos professores algumas direccoes, com o intuito de cvitar-se este inconveniente. Depois da oraciio, todas as escholas come- cam pelo exercicio da leilttra; mas nenhuma ha que no ensino d'este ramo siga outro me- thodo, que nao seja o da soletracao ordina- ria. At« as escholas urbanas pouco progresso tem feito a este respeito; porque, ao passo, que 0 professor se encarrega da licao dos mais adiantados, deixa os principiantes en- tregues a decurioes ordinariaraente sem zelo neni expericncia, cujo service nunca elle ins- pecciona. Ilaro e o professor que executa este exercicio, como Ih'o prescreve o regularaento ; raro e o que faz com os aiumnos a analyse grammatical do texto, que leem ; ainda mais raro o que dirige o exercicio de raodo, que cultive a intelligencia dos aiumnos, que Ihes faca penetrar no sentido do texto, e que Ihes de nocOes practicas de ortbograpbia o decla- macao. 0 exercicio a que todos os professores dao mais tempo e cuidado, e o da Callir/raphia. Todos se esnieram ponjue os aiumnos pinlem bem lettras; mas mui poucos satisfazem ao que a este respeito delermina o rcgulamento. Era vez de darem aos alumno* exercieios de 196 (lictacao e reduci'ao, para assim os habilita- rem a cscrevcr c toiiipor correcta c orlhogra- phicameiite, coiiteiitani-se com fazel-os copiar iiiii traslado on uiii treclio do priiuciro livro, que uQcoQlraiii: d'oiidc resulla ([ue os alum- uos, ao cabo do quatro e ciiico aniios de escliola, so cscrevem bouito, niSo rcdigoni cerlo 0 mais insiguilicautc billietc. As disciplinas dc grammatica, arithmelica, historia e geoyrapliia, que o rcgulameiito quer que sejaiii ensinadas racionalmenlc. dc luodo que tullivcm mais a intelligeucia, que a iiie- uioria dos aluinnos, mais a memoria das ideas, que a das palavras, coutinuam a ser ensina- das, conio 0 erani antes d'clle. Limita-se o prol'esssor a inarcar no livro, que serve de loxlo a licao, uni pequeno trecho, que elie nao explica, c que o alumno recita dc cor no dia scguinlc seni o ter enlendido. For mais eslbrfos, que eu tenlia feilo por couvenccr os professores da improlicuidade d'csle melhodo, nao ha conseguir d'ellcs, (jne adoptem outro; porque neuhuin mais facil para quern ensina, com quanlo seja o mais difficii e iuutil de todos para quern aprende. Esle e 0 mesmo melhodo, que preside ao ensino da reliyiao. Infelizmcnle para a culiura moral do educando, ensino tao iniporlanle acha-se converlido 'num habito, par^i assim dizer, mechanico, que nao vac ao coriiiao, que nao emenda nem corrige nada. Fiz com que 0 ex."° prelado dioccsauo adoplasse, como catheeismo d'esta diocese, o graude e o pe- queno cathecismo do arcebispado dc Paris, ja adoptado por niuilos preiados do reino. Do pequeno catliecismo dei niuitos exemplarcs aos alumnos; e do grandc, dei urn exemplar a cada professor, para guiar por clle as c\- plicacoes, que houvesse de dar ao lexlo do livro dos alumnos. Mas inulil preveneao! 0 mais que fazem os professores, e obrigar os alumnos a rccitarem de cor o pequeno cathe- cismo; e nenhum recorre ao grande para Ihes explica r oralnienle o que por cerlo nao cn- tendem, resumido como veni no texto, que decoraui. Alguns professores, na vespera do domingo e dia sanclilicado, leem aos alumnos a epistola e evangelbo do dia seguinle, mas a maior parte d'elles nao o faz por falla de livro para o intento. Nenhum accompanha os alumnos a missa, como quer o decreto regu- lamciitar de 20 de dezembro de 18S0; porque dizem que « elles nao comparecem para estc fim nos domingos e dias sanctilicados. » No ensino da moral ainda mais funeslo se lorna cste methodo. Se o alumno recilar de cor a parte do Manual enct/clopedico, em que se tracta da materia, dao-se os professores por desobrigados de tudo mais. Nao explicam nem fazem rcpetir coisa alguma; nao apro- veitam alguni dos variados incidentes, que a todo 0 memento ilies olTerece a vida escholar, para chamarcm a altcncao dos alumnos sobre a pnictica dos devercs moraes. inspirando-lhes OS senlimenlos de rcspeito e amor muluo, que tanto Ihes devcm facililar a praclica do hem. Uma vcz, que os alumnos Ihes d(iem conta dc, certas dclinicOes e classilicafOes, cuja exacli- dao nao avcriguam, pouco se Ihes da que a doutriua decorada Ihes chegue ao corayao, que Ihes pautiie e rcgule as aci^Oes. 0 regulamcnto interno tem posto a dispo- sicao dos professores um razoado systema de prcmius e casliijos, de ([ue poderiam servir-se vantajosamente, sem risco de desmoralisasao para os alumnos. Raro (i porcm o professor, ([ue usa de taes meios de' disciplina. Tudo o quo niio for doestar os rapazes com palavras duras, ou llagellal-os com a palmatoria, sac pniclicas, dc que nao entendcm, e que t^m em conla dc utopial. A conclusao, (pie d'aqui tiro e que O en- sino da inslruccao primaria nas escholas d'este districlo ainda esta muilo acjuem do grau de pcrfcjcao a que aspira o regulamcnto in- terno; porque os mais dos professores nao cxecutam o regulamcnto; c nao o executam, uns, por nao quercrem dar-sc ao trahalho, um pouco mais arduo, que Ihes imporia a observancia d'elle; outros, porque nao podem fazcl-o, a mingua de decurioes com capacidade e zelo para se encarregarem da direccao d'uma classe. Nas escholas ruraes principalmenle a exe- cucao do regulamcnto lucla, ao presente, contra um ohstaculo, a meu vi5r, insuperavel: e que OS pacs dos alumnos, cm os vendo em cstado de Ihes lereni uma carta e fazerem uma conta dc sommar, logo os reliram da eschola. Rarissimo e o alumno, que adquire assaz d'instruccao, para scrvir de decuriao na eschola, que frciiucnta. Em quanto o en- sino nao for obrigatorio entre nos; em quanto a lei nao disser < que um pac so pode tirar 0 filho da eschola quando estc haja conclui- do 0 curso d'ella, » dilllcullosamente poderao OS professores ter habcis decurioes, que os eoadjuveni a manler a ordem e disciplina da eschola. Salva porem esta circumstancia, que nao depende da vonlade dos professores, a inob- scrvancia do regulamcnto cm tudo o mais e conscquencia necessaria da falta de pontua- lidadc d'elles. Para executar o regulamcnto e mister comprehendel-o, para comprchen- del-o cstudal-o, e para estudal-o ter assaz de capacidade, vocajao e zcio pelo service. Ora, como estas, infelizmcnle, nao sao qualidades mui vulgares entre os funccionarios dc uma classe tao mal rctribuida, a conscquencia e que, embora haja as melhores leis e rcgula- mentos litlerarios, a falta de execucao csteri- liza e mata tudo; e a inspecjao das escholas, qual se acha constituida, nao 6 sufllciente para promover e aliancar esta execucao. ' Cjidiiiua. 197 MEMORIA tJobre'oH InronvonlcntfON da ciilliim doN em rclueao u Maude publlca. — liag>i*oprledade d'enla ciiKiiru no eoneelhu da Luuzu, diHtrlcIo de Coliubra. Nao prelendo niostrar aqui a pcslifera in- flueucia (Jos pantanos: scria iinia insigne loucura; assiiii como o iiiais ohstinado e louco pyirlionismo (liividar d'essa inllucniia. Pre- lendo iiioslrar simplesnicnte, que os arrozaes sao verdadeiros panlanos arteliciacs ; que nas terras, em que se culliva o arroz, grassam as mesnias molestias, que iios paizcs panlanosns; que OS meios ale aqui piopostos para obstar a nocividade dos arrozaes sao insuflicicntos, ou antes nullos, porque nao produzcin o efl'eilo descjado, e alguiis irrisorios; e que o conce- Iho da Louza e improprio para lal cullura, que d'elle se deve proserevur ahsolutanieiue. 0 arroz semeia-se em tabuleiros liorison- taes, com iiiotas dc mais de dois palmos d'al- tura, que ficam cheios d'agiia eslagnada lodo 0 verao e parte do outoiio, tempo em que se ceifa 0 arroz. Alii nascem, crescem, vivem e raorrem muilas plantas estrauhas a seara, que se nao podeui tirar pela nionda, e mi- Ihoes d'animalculos que se desinvojveni 'na- quclla agua encliareada: tudo alii apodrece; e a flor do arroz, caindo na agua, augmenta aquelle cumulo de podridao. Aquella agua eiicliarcada e inlecta, esla constantemente evaporando pelos caiores do estio efluvios e miasmas deletcrios. Nenliuma d'estas substancias venenosas e levada pela eorrente, por(|ue a agua nao corre; Iransborda pelas aberturas dc commu- nicacao, que as motas tem na parte superior, e lira em remanso em toda a exlensao do tabuleiro. Os cultivadores tern por costume, dizeni que para bem da seara, escoar a agua de dias a dias, o que aiuda e mais prejudi- cial; porque diminuindo a massa da agua, mais se conccntram as materias animaes e vc- getaes em putrefacao, lica quas^i deseuberto o fundo lodoso dos tabuleiros, e a evaporajao pulrifera deve ser niuito mais activa. Nos paizes pantanosos, (a parte a peste endcmica no Egypto, a cbolera-morbus no Indostao, e a lebre amarella nas Antilhas, que em dilTerentes epocbas tem devastado a populacao do globo); alem da miseria e mes- quinba constituirao pbysica e moral dos sens habitantes, grassam principalmente as cscro- phulas, 0 escorbuto, as obslruccoes, as bydro- pesias, e as fcbres intermitentcs: e no tempo dos caiores exlensas epidemias de I'ebrcs de pessimo caractcr, e desinterias putridas, que niatam aos centos os desgracados babitantes. As mesmas molestias, a mesma constitui- cao cachelica dos babitantes se observam nos paizes cm que se cultiva o arroz. « A cullura do arroz, diz Zimmerman, e partiiubrmente nociva, porque e necessario innundar o ter- rene muitas semanas depois de o Icr scmeado. Levantaui-se dos arrosaes vapores lao ))eri- gosos, que as cidades visinhas podcm solTrer grandes estragos. . . . . . Os babitantes das visinliancas dc Tortona e Novara, onde se cultiva arroz em grande abundancia, tem todos UMi babito cadaveroso '«.... <• Temos vislo, diz Fodere, os cultivadores dos arro- zcs do Picmonle e Milanez; so a cullura do arroz e vanlajosa ; se faz a prosperidade dos babitantes principacs dos paizes em ([ue ella so lem adoptado, deslroe a massa do povo, diziniando-a todos os annos; e a sua existen- cia raras vczes passa alem de 40 annos. Esta mesma cultura produz efieitos analogos nos EstadosUnidosd'Anierica . . /»Qlf.. Julgo des- neccssario, e ale seria fastidioso e pedanlcsco, amontoar citacoes e transerever o que dizem OS auctores de Modicina sobre a nocividade dos arrozaes; basta dizerquenao conheco urn so, antigo ou moderno, que se quer o poniia em diivida. Os patbologislas, que nao tractam d'esla materia especialmente, o fazem indireclamen- te, quando tractam da influeneia pestifera dos pantanos: clicgando alguns a inclinar-se a (|ue nao ha febre inlerniitlente, sem ter por causa emanacao paiilanosa: como, cntre ou- tros, Requim, que a prematura morte privou de concluir o seu e.\cellenle tractado de pa- Ibologia. Nao mil parece que esta doctrina se deva spguir absolutaniente; antes estou per- suadido quo podem exislir febres intermitlen- les, (|ue se nao podem attribuir a cssa causa, e cu as icnbo observado: mas as epidemias estou convencido que nao tem outra causa se- nao a infeccao pantanosa; bcm como que as fcbres intermittentcs, que ba annos grassam 'nesle districto, sao somente produzidas pelos arrozaes. Alguns governos se tfim visto na neccssi- dade de probibir a cultura do arroz em al- guns paizes pela espantosa mortalidade que se Ibe scguiu ; aconteceu no Auvergne e Rous- sillon; eoulros, condoidos tanibem da desgrafa do povo, tentaram adoptar esta providencia, mas nao o poderam conseguir, pela invencivcl opposicao, que encontraram nos grandes pro- prietarios, ecclesiasticos eseculares, que tira- vam lodo o lucre dos arrozaes, dcixando ao desgracado povo as molestias e a morte: foi 0 que aconteceu no Piemonte. Se lancarmos osolhos, sem preveucao, para 0 que se passa no nosso Portugal, vercmos que todas as terras, em que o arroz se cultiva, sao doentias; e que muitas, que o nao eraiu, se tem tornado pela cultura d'esla planla. Deixando o que se passa em Sctubal e Alca- ' Ziiumernan — Trait..rc\i>. T. 2 », |ing. 401 e40:;. ' F.ulere— Trail, de :Mcdirine I.e^'. T. 5.», |'aj. 15:). 11)» cer (JoS:il, no Alcmlcjo, e cm algiimas terras do Riljalt'jo, olliaiulo para o iiosso dislriclo, venios quo Yilla-Vcrde, jiiiu-lo da Figueira, li'rra muilo saudavcl, solTrcu uma lerrivel epidcmia de lei)rcs, no anno cm que alii sc rullivou arroz: muitas casas sc fccliaram; e OS habilantcs amcdrontados, ecnsinados pela expericncia, proscrcvcram lal cultura, nao qucrendo coiitinuar a comprar a riqueza a Iroco da saudc e da vida. Em todo o distri- i:to as terras, cm que o arroz sc cultiva, sao a patria das I'ebres intermitlcntes, obstruc- (•Oes, c bydropesias. Finalmente os faelos acontecidos 'neste concelbo, Icvani a maior evidcncia, sem scr necessario outras provas, a inQucncia nociva c verdadciramcnle pestil'era dos arrozaes. Um proprietario no antigo concelbo de Scrpins, liavera dezoito ou dczauove annos, semeou d'arroz, na margcm direlta do Ceira, juncto da sua babitacao, uma ccrta extcnrao de lerrono. A agua era tirada do rio, para onde voltava no I'undo do arrozal. Seguiu-se 'nesse verao uma epidcmia de febrcs inter- miltentes c remitlenles, em todos os povos visiuhos: muitas pcssoas morrerara, e morreu 0 mesmo gado, que bebeu a agua do rio ao (undo do arrosal. 0 proprietario, ou pelo meu conselho, ou talvcz amcdrontado com o re- sultado da expericncia, e reccoso de que a aucloridade interviesse e Hie probibisso tal sementeira, nao semeou arroz no anno se- guinte. A epidemia nao apy)areceu ; e 'nesse anno e nos seguiules nao bouve mais nioles- tias do que costumava baver. Passados alguns anno?, o mesmo proprietario tornou a semear arroz, em maior ([uantidade ; uma epidemia similhante se seguiu; e mais extensa. Este concelbo da Louza pode dizer-se (|ue e muito saudavel, excepto os logares situados nas margens do rio Ceira, e ribeira d'Arou- I'c. Fora d'aquclles logares posso dizer com verdade, que cm vinte seis annos poucas febrcs tractei no concelbo. As molestias, que aqui mais grassam, sao as agudas das visccras thoracicas no inverno e primavera. No anno proximo passado encberam d'arrozaes todo o concelbo ; e cbegou a mania a ponlo de dcs- truirem as sementeiras do milbo c feijao, que estava nascido, para semcarem arroz ! Os pro- prietarios recolberam arroz, li verdade ; mas 0 povo, as doencas, a miseria e a morle ! Principiou a desinvolver-sc no mez de julbo, e durou ate o lim do outono uma epidcmia de febrcs intermilleiitcs, e remitentes, c alguns typhos As perniciosas foram muito vulgarcs. Muitas vczes as intermitlentcs aprcscnlavam- se com symptomas tao insolilos (Feb. interm. lavatae) que so pela epidemia se podia insti- luir 0 traclamento; e so pelo resultado dcste se podia cbegar ao conbecimenlo da nalureza da mok'siia. Era lastimoso ver as maes sem mcios alguii, ardciulo em lebre, com os lilbinlios moribundos nos liraros, pedindo que llids soccorresscm ! Seria necessario ler coracao de bronze para se nao magoar em extremo, vendo familias in- teiras, de cinco e seis pessoas, em miscravcis liabilacOcs todas estiradas na terra, ou quando muito cm cima de pallia com alguns larrapos, (|ue null Ibe cobriam a nudez, sem lerem mcios alguns de soccorro ; c nuiilas vczes nera quern Ibe cbcgasse uma gota d'agua para mitigar a sedo ardenle (|uc os dcvorava ! Nao sci ; nao tenlio cores bera vivas com que pinte ao natural os borriveis e alHictivos (|uadros, que vi 'na(|uclles niczes, 'neste desgrarado conce- lbo ! Eis 0 (|ne faz a s6de da nqui'za ! o (jue I'az a ambicao e avareza; e a imprudcncia de se tractar tanto de leve o objcclo de maior cousideracao — a sande piiblica! Todas as in- llamaroes das visceras tboracicas ao 3.°ou -i." dia tomavam o caracter ataxico ; c nos niezes de sclcmbro e outubro vicram as diarrbOas e dysenterias complicar as I'ebres. Nao ajipa- rccia febrc, que nao fosse complicada ao nie- nos com diarrhea. Na freguezia de Villeiri- nlio, quasi todos os doentcs, que morrerara, foi de dysenleria. Nao sc pode saber com certezi o numero de doenles, que bouve no concelbo ; porque nem vi a quarta parte, nem tinba tempo para fazer notas : mas, nao serei exagerado, se disser que passaram de 1:S00 ou 2:000, os doentes que bouve no concelbo, de molestias (jue se podiam e deviam reputar causadas pelos arrozaes. Uouvc dia cm que vi iO doentes novos ; e nao vi, como ja disse, a quarta parte, apesar de me nao po"upar a trabalbo, de dia e de noite. 0 babil cirurgiao do parlido cbegou a nao poder monlar a cavallo; e os mesnios barbei- ros, estes homens tao perigosos, mas neces- saries actnalmcnte, iizeram servifos, infor- mando-me de muitos doentes, que nao podia ver; e instituindo o traclamento que Ibe man- dava. Em todo o concelbo bouve 209 obitos; tendo bavido no anno antecedente 171 ; e em outros muitos menos : augmcntando por consequencia 98. D'aquelle nnmero pcrten- cem a esta freguezia de S. Silvestre 124 ; e exccptuando 9, .([ue morreram da cholera, ficam 115. Esta freguezia tern mil e tantos logos, e ha uns annos por outros de 30 a 60 obitos; bouve por consecpiencia um exeesso em 18S5, de 93 obitos pelo menos, que se uao pode attribuir senao aos grandos arrozaes. A epidemia nao se limitou ii classe pobre ; muitas pessoas ricas foram victimas: e mesmo denlro d'esta villa, aonde pode dizer-se uunca bouve sezOes, poucas pessoas, ainda das mais abastadas, deixaram de ser atacadas de se- zOes, ou d'oulras febrcs. A morlaliJade ainda que foi grande, como se ve acinia, muito maior seria, se nao fosse a caridade d'alguns cidadaos que proveram 199 muitos doentes de dieta c remcdios. Este con- celho 6 pobrissimo : a riqueza csta conccn- trada em meia duzia de casas ; nao ha meio algum de soccorio nas calaiuidadcs publicas, senao a earidade, Os males, porem, nao terminaram com a colheita do arroz, muitas pessoas ficaram com sczOes ; ohstruidas ; e hydropicas -. sobrcveiu a estacao chuvosa, que leiii side muito longa : fallas de todos os mcios livgicnicos c pharma- ceiiticos; ou lem morrido, ou arraslam uma vida valeludinaria e miscravcl. Alem d'isto a colheita do arioz nao foi abuiidante; aos babitaiites pobres, que ciillivam as terras dos rieos, e os obrigaram a semear arroz, faltou o pao, e vivera actualmenle nos horrorcs da fome e da niiseria. 0 concelho de Poiares, que fica ao norte, foi sempre victima da epideraia, porque os miasmas pestiferos dos arrozaes da Louza, fo- ram levados aqiielle concelho pelas correntes atmospliericas dos ventos do sul e siidoeste, que lem soprado quasi constanlemente desde 0 principio de setcmbro. Esle facto prova a falsidade da opiniao dos que suppOem, que as emanacOes pantanosas (ieara circumscriptas em muito pequeno espaco: pelo contrario sao levadas a grandes distancias; so d'este niodo se pode explicar o apparccimento de molcs- tias d'infeccao pantanosa aoiide nao ha pan- tanos ncm aguas cncbarcadas. Conlinua j. f. di silta PINTO. A zooloclinia e aw arloN asricolan nao podeni conKidorai'-se conio parle«> ila agricultura, I.NTUODICCAO. Talvez que o pequeno trabalho, que hoje puhlicamos, seja por alguem taxado de inutil e ocioso. Disculir se a zootechnia earles agri- colas pertenccm ou nao a agricultura, podera parecer unia queslao eslranha, e niesmo op- posta a indole cssencialmente practica dos estudos agricolas. Dir-se-lia que considerar estcs ramos coino sciencias, examinar as rela- coes, que tem enlre si, e pretender nnhili- tal-os com brazoes cniprcstados, dando-lhes foros de sciencias, quando nao passam de simples artes. ,. Em quanto a primeira diivida advertirc- mos que nao ba esludos alguns speculativos ou practices, em que seja licito prescindir dp nielhodo ou da ocganisacao das malerias, que OS constitucm, e que, sem isto, o Iractado de qualquer sciencia oy arte, tornar-se-bia urn cahos sem utilidade alguma. Reiaiivaniente a segunda diivida entende- mos, que o que se lornaria inutil e ocioso, era discutir se a agricultura e sciencia ou arte, questao escholastica, ja — permitta-se-nos a expressao — bastante sedica, e que so pode tomar a peito quem ignorar as ideas racio- naes e pbilosopbicas de Ampere, Comte, e de todos OS que tem escripto sobre a phiioso- pbia das sciencias. Outra diivida, que, se nos nao enganamos, mais consideracao merece, pode aindaapre- .sentar-se. Estarii a opiniao, que seguimos, em contradiccao com o principio da unidade da sciencia em todas as epochas reconbecida coino verdadeira? Se a sciencia li uma so, para que bao de multiplicar-se ainda mais as divisoes dos conhccinientos humanos, oppondo assim a unidade e simplicidade a complicacao e a inultiplicidade? Porque bao de separar-se coisas, que naturalmente se acham ligadas e em dependencia reciproca? Admittimos a unidade da sciencia, idea ra- cional e philosopbica, que ninguem contesta. A divisao dos conhccinientos humanos e um meio arlilicial de accommodar a nossa limitada razao o grande numero de objectos, cujo es- tudo se lornaria impossivel, se assim nao fosse facilitado. E a necessidade d'esta divisao cres- ceu ao passo, que o progrcsso e a civilisacao I'oram augmentando com improbos trabalhos e ])reciosas descobertas o valiosissimo tliesouro dos humanos conhecimentos. , A area, que os coniprelicnde, por lal forma se tem alargado e esteudido, (|ue hoje ninguem pode dizer-se encyclopedico, ninguem podendo,> como osan- tigos phiiosophos, ahracar a sciencia toda da !-ua cj>ocha. Nao crcmos, que a intelligencia dos phiio- sophos modernos seja inferior a dos anligos, e comtudo o quadro dos seus conhecimenlos e muito mais limitado c circumscripto. A. sciencia de hoje e mais vasta e diflScil, do que a dos tempos passados. E ainda mesmo a um genio mais sublime, do que Aristoteles, Platao ou Pythagoras, seria agora impossivel possuir toda a sciencia da nossa epocha, como aquelles phiiosophos possuiram a dos tempos, em que vivcram. Prcsentcmente quem, I'azen- do 0 que ha alguns seeulos fez um nosso in- signe compatriota, se propozcsse a defender ihescs de omni re scibili, passaria com razao por louco rematado. Nos nossos tempos nas especialidades so- mcnle podem distinguir-se os grandes homens. Bulfon, Linneu eCuvier, tornaram-se celehres na historia natural; Laplace nas mathemati- cas; Lavoisier na cbimica; Bichat na anato- mia. E pela vastidao da sciencia o proprio estudo das especialidades impossivel seria, se 0 nao auxiliasse uma classilicacao methodica . dos conhecimenlos. As sciencias, pois, nao sao mais do que divisoes artificiaes da sciencia universal, e OS numerosos pontes de contacto, e as intimas rclacoes, que en'tre aquellas se encontram, sao uma prova bem evidente da unidade d'esta. 200 Esludar a aslroiioniia scm o auvilio ila mc- chanica, e lao inipnssivcl, conio apprcnder a chimica seni cnnheccr iiliysica; ou salii-r mn- ilicina spin prcvios conlR'ciincnlos dc zoologia e botanica. Ha denials alguns olijecio:!, (|iie se adiam traclados cm niuitas scii-ncias. As propriedadcs dos corpos hnilos esliidam-se na chimica e na mincralogia ; a niclcorologia c Iractada na plivjica e na geograpiiia piiysira, c algnns fazem" d'olla iima soioncia csiiccial ; 0 niusmo siiccede com a paloontologia, cujo cstudo p(ide conipclir, na actual oi-ganisacao dos conhecimcnlos, tanto a geoiogia, corao a zoologia, 011 nu'smo consliluir tinia scieiicia distincta. Vd-se por csles e oiitros factos siniilliantcs, ijiie a classificacao e organisacao das scicn- cias sao aiiula nuiito iniperlcilas. Corrigir inteiiamcntc os dcfeilos, que apresenlam, e talvcz inipossivel em razao da unidade da sciencia universal, mas apcrl'cicoai-as tanto, ([uanto spr possa, parecc-nos cnipreza digria das nicdilacues dos philosophos. Se a scpara- rao das sciencias e indispensavpi como moio de instniccao, fiuanlo mais porfeito for esse meio, tanto mais I'acil e proticiio sera tambem o fim t|ue por elle nos propumos ohter — o esludo dos conhccimentos luimanos. Todavia na diflicii e laboriosa omprcza da ciassilicacao e distinccao das sciencias dc- iialde no's cancaremos, se nao houvcr um principio, que nos guie e rcgule, quo nos sirva dc I'm dc \riadne 'neste coniplicado la- bvrinllio. Esse principio esta na consignarao dos caracteres, que toda a sciencia deve apresentar, para que como tal possa ser con- siderada. Tondo sempre em vista este preceilo procuraremos evitar: 1.° que coizas siniilhan- les sejam cstudadas em sciencias diversas ; i.° que objeclos essencialmenle differentes se estudem na mesnia sciencia. Bern sabcmos que a primeira regra em al- guns casos nao pode ter applicacao pelas in- limas ligacoes, que existera enlre varias scien- cias ; mas muilas vczes tambem nao se ob- serva, podendo e devendo observar-se. Os cor- pos brutos, por exempio, esludam-se espcci- licamenle na chimica e na mineralogia. Ora por quo bao de os mesmos corpos, sem outra dill'erenca mais do que a de origem, ser des- criptos com nomcs e formulas differentes em sciencias diversas? Parece-nos racionalissima e digna de consideracao a rcforma proposta por Baudrimont para acabar com similhante irregularidade. Em quanto a segunda regra, e susceplivel d'uma applicacao mais geral, e muito ganba- ria a phiiosophia, se, na organisacao de todas as sciencias, ella fosse seguida e observada. Com 0 fim de mosirar a nccessidade da sua ap- plicacao a agricultura foi, que emprehendemos 0 traballio, que ao juizo dos Icitores vamos subnicttcr. Sous Ic rapport deta connais- sance, I'liit art, cumiiic loule science, est iin groiipe de veri- ted demoiilrt'es par la raisun, reconniies parTubservation, que ruiinit tin caract^re codiiduu, caractere qui consiste, soit en que ces verites sc rnpportenl a des objeU de la mi'uie nature, soit eu se que les olyets, qu^on y ^tudic, y sont runsideri^s sous le mi'nie point de v\ie. AMPKRE — Essai snr la phi- losophie des sciences. 0 homem, contemplando as obras magcs- tosas da crearao, admirando os granilcs e sublimes phenomenos naluraes, nao podc dei- xar de cntregar-se, com enipenho e com inte- resse, a ohservacSo a ao esUido d'esscs fa- ctos, d'essos seres, que por toda a parte o cercam, nos cspacos celestes, ou na superfi- cie da terra, na estensao dos continentes ou no seio dos mares, na natureza iiiorganica e sem vida. ou no mundo vivo c organisado. Este cstudo tao interessante como elcvado, que tem por fundamcnlo a observacao do univcrso inteiro, constitue o objecto das sciencias naluraes. Mas nem sempre o homem, ohservando a natureza, procura satisfazer o desejo de saber, e a curiosidade, que Hie 6 propria; nuiitas vczes tem em vista um outro lim, que e tirar das I'orcas edos seres naturacs os services, que a industria Ihcs pode exigir, fim, sem diivi- da, tao util e proveitoso, quanto o piimeiro c grande e sublime. 0 estudo, por meio do qual se alcanja este, tem tambem por funda- menlo a observacao, pertcnce por isso ainda (is sciencias naluraes; mas alem da observa- cao funda-se em consideracoes de oulra or- dem, que diio as sciencias que d'elles se oc- cupam uma indole e organisacao especiaes. No primeiro caso, em que as sciencias na- luraes tem por objeclo o conhecimento dos seres naluraes, denoniinam-sc sciencias nalu- raes puras ou de observacao, no segundo caso, em (jne alem do conbccinienlo d'esscs seres, se occupam tambem das suas applica- eoes, chaniam-se sciencias naturacs applica- das. A primeira classe pertence a mineralogia, a botanica, a zoologia, etc., a segunda a me- lallurgia, a agriculljjra, a zootechnia, etc. Ainda que cada uma das ultimas d'estas sciencias va buscar grande parte dos sens principios ftindiinientaes a sciencia corres- pondente, de que se deriva, nem por isso se ilcve considerar a distinccao enlre umas e oulras, como escusada e desnecessaria. As sciencias naluraes puras occupam-se pgual- menle de todos os factos, ou dc lodos os seres; as applicadas traclam unicamenle d'a- quellcs, que lem alguma ulilidade na Indus- 201 tria ; e no csludo d'estes mesraos nao allendem seuao tis propriedades, de ([uc dependem as suas applicacOes industriaes. Ha alem d'isso nas sciencias applicadas a parte economica, que faita absolulamenle nas sciencias puras. Assiia a raelaliurgia, ainda que grande parte dos scus piineipios seja lirada da nii- ncraiogia, nao pode de modo algum I'azcr parte d'csta sciencia. 0 lira da mineralogia e ensinar-nos as propriedades e caracteres dos difl'erentes mineraes, dundo loda a impor- tancia a sua natureza, e neniiunia a sua uli- lidade; seienlificamente o mineraiogista liga ao euro o mesnio inleresse, que ao cari)onalo calcareo; estuda a prata com tanta allencao, como 0 quartz ou a argilia. Nao assini o me- tallurgista. Este occupa-se unicaniente dos mineraes uleis, que convem expiorar; impor- ta-llie niais a extraccao d'elles, do que as suas propriedades: e os caracteres physicos de tao grande valor para o mineraiogista sao-lhe quasi todos indilTerontes. Estudar os diversos processos de extraccao, e exaniinar quaes d'elles se deveni adoptar 'nestas ou 'naquellas circumstancias, tal e o lini do nietallurgista, em quanto que o mineraiogista pouco altende a extraccao, c nada as considera^oes econo- micas. Do mesnio modo a botanica tornar-se-hia muito defeituosa, se na descripcao geral das plantas, cliegando as especios cultivadas, as coDsiderasse de um modo alheio a historia natural. A bolanica estuda os vegetacs no seu estado natural, como a natureza os apre- senta; a descripcao dos processos agricolas, as considcracOes economicas tendenles a fazer adoptar uma cultura de preferencia a outra, todas as operacOes, ([ue tern por lim modili- car 0 vegetal, lornando-o mais proprio a dar taes ou taes pioductos, a ser cmpregado 'nesta ou 'naquella industria, sao coisas inteiramente estranhas a botanica, e de que clla nao pode oceupar-se. A. zoologia seria lambeni uma sciencia dis- forme, se tractassc dos animaes domesticos com todo 0 desinvolvimento, que o assunipto requer, desinvolvimento, que deve sempre ser encarado de uma maneira especial e em con- formidade com os fins, a que esses aniuiaes pelo honiein sao destinados. 0 zoologisia, que estuda a natureza, e nao a utilidade ou as applicacoes dos ani- maes, nao tracta da crearao e educacao d'a- quelles, que se t(5m conseguido domesticar; tanta razao tern para estudar a veterinaria do boi ou do cavallo, como as doenras do veado, do tigre ou de qualquer outro ani- mal selvagem. Da reconhecida necessidade de separar da botanica e da zoologia estudos, que Ihes tira- riam o caracter de unidade c siniplicidade, que Ihes e essencial, objeclos que se nao fun- dam cxactamente nos principios que regulam a sua organisacao, nasceram outras duas sciencias — a agricultura e a zootecluiia; — a primeira, que tem por objecto a cultura das plantas, cujos productos servera de alimentos ao bomem e outros animaes, ou de materias primas as dilTerentes industrias; a seguuda, que se occupa da creacao e educacao dos animaes domesticos. Contimia. a. f. SIMOES. 0 SELLO GRANDE DE INGLATERRA. Conlinuadu de pag 18G. Outra prova dacrenca, que tem os inglezes na virtude mysteriosa e inexplicavcl do sello grande, e a maneira como e hoje emprcgado nas cartas dirigidas pelos soberanos a sim- ples particulares. Duas especies de documen- tos sao sellados com este sello. As cartas de privilegio exclusivo, as commissues, etc., diri- gidas a todos OS subditos da rainha e chama- das cartas-patentes, tem o sello preso a sua extremidade inferior por meio d'um cordao de seda, e a cera empregada 'nestes casos, e, como ja se disse, amarella e algumas vezes verde. Quando o documento e importante, vae resguardado dentro d'um estojo de pclie cor de camurca, sobre o qual se estampam as duas faces do sello. Por6m, nas cartas dirigidas a um simples particular, o sello e cntao empregado como sinete, e serve para impedir que todos as possam ler. 0 modo de applicar o s^llo 'uestes casos, e o seguinte: enrola-se o pergaminho do documento ate formar um mafo do comprimento de duas pollegadas; d'estc maco sae uma pequena tira onde se escrevem os nomes e titulos da pessoa a quern a carta e dirigida; o maco e apertado com um cordao, cujas duas extre- midades se ligani uma a outra, por meio d'um pedaco de cera do tamanho de um franco, que facilmente se segura, exercendo sobre elle uma pequena compressao com os dedos pollegar e indicador, dcpois basta tocar no documento com um dos dois discos do sello, para elle inimediaiamcnte ficar sellado e por tanto revestido da dignidade de carta regia. Ninguem melhor do que Carlos I compre- hendeu a importancia do sello do reino ; por isso pode conjcclurar-se qual seria o seu regozijo, quando um mensageiro Ihe levou a York este instrumento que elle julgava torna- do polo parlamento. Porem, se a sua alegria foi grande, nienor nao foi a malogracao do parlamento, quando viu que perdera aquelle emblema da realeza, com o qual eirei podia legalmente fazer proclamacoes, ou promulgar quaesquer decreios, em quanto que o parla- mento sem elle nao podia proceder a eleijoes 202 para subslituir algum dc sens nienibros, ncra practicar qualqucr ado de administracao. Depois de ler discutido, csperado e ri'sadn, iiao poucas vezes, iiilciUou maiidar fabricar um novo siMlo giande para sou uso piirlicu- lar. Esle objeilo era dc surauia iinporlaiuia ; iua> OS gravadores oraiu raroi 'naquolla cpo- cha, e OS que liavia, temcndo que o rei ven- cesso, e inaiidasse executar a risca um antigo cstatulo dc Duartc III, (jue casligava com a pcna capital, todo aquelle que iniilasse ou lontrafizesse o sello grande, nao se alieviani a cuDiprir coin as ordens do parlanienlo. Porem, nao lia obstaculos que nao venoa o dinheiro: nao tardou que appaiccessc uni tcrto mestre SYnimuls, (juc se conipromellcu a fabricar um novo sello, perfeilamente sinii- lliauie ao que elrei tinha, com laiUo que llie pagasstm 40 lib. st. adianladas, e CO de|)ots de coucluida a obra. Esle fac-siniilc foi exe- cutado, e o parlanienlo serviu-se d'eile, ate ([uc 0 govcrno rcpublicano se repulou lao consolidado, que pdde ter um stMio proprio, do qual foram eiciuidos com a maior cautetia, lodos OS cmblemas reaes. 0 anligo seilo do reiuo, tornado pelo parlamcnlo, por occasiao da capituiacao de Oxford, foi despedacado por urn serralheiro, na barra da camara dos com- rauns. Depois da rcstauracao o sello grande de luglaierra esteve algumas vezes niuito arris- cado. No reinado dc Thiago II foi entregue ao odioso Jefl'rcys; porem cl-rei poucos dias antes de abdicar tiuha um tal rcceio que estc importante instrumento caisse nas niaos dos scus iuimigos, ([ue alojou JelTreys uo seu palacio de Whitehall, com o lim de ter o sello conlinuamente dehaixo da sua proteccao pes- soal, e, para assira dizer, dehaixo dos seus proprios olhos. Na vespera do dia cm que abandonou o reino, pediu o sello ao cban- celler; e quando atravessava o Taniisa, lan- fou no rio este cmblema da rcaleza, persua- dido de que scm elle seria inipossivel o exer- cicio das funccoes reaes. Aiuda que assim fosse, a sua accao conitudo 'nonbunia iutlucn- cia teria lido nos negocios, porque decorridos alguns dias, um pescador Irouxe na rede o desgracado sello, e o enlregou ao conselho privado. Em 1784, quando era cbanceller lord Thur- \q\\ 0 sello grande desappareceu de veras. A habilacao do Lord cbanceller foi roubada, e entrc outros objectos de prejo, levaram os ladrOes o sello grande do reino que nunca mais se encontrou. 0 conselho privado foi convocado para a manha do dia seguinte ao do furto, a lim de tomar conhccimento do facto; e procedeu-se com tanta diligencia, ([ue triula e seis boras depois estava promplo um novo sello. Lord Thurlow coutiuuou por oilo annos ainda a exercer as funcfocs de cbanceller, mas durante este tempo, nunca deixou dc dormir com o sfllo grande dcbai.to do travesseiro. 0 sello grande foi momenlaneanienlc per- dido por lord EUlon, em cireumsiaucias has- lanle burlescas. Este illustre niagislrado cora- prclieuilia perfeitamenlc a imporlancia do de- posiio de (|ue cslava cncarregado, para o que contribuira muilo o niodo singular com (jue 0 seu soherano Ihe enlregara o sello. 0 pro- j)rio lord Eldon conla-nos no seu diario, que leiido ido ao paro rcccher o sello, encontrou Jorge III scntado 'num canape, com a casaca aboloada e o sello mettido do lado esi|uerdo entre o colele c a casaca. Elrei vcndo o cbanceller lirou o sello e entrcgou-lh'o dizen- do 'I Aqui 0 lendcs; eu vol-o dou do corardo.n Com cstas palavras reaes sempre presentes na mernoria, lord Eldon nuuca se deitava sem collocar elle nicsnio o sello no seu (luarto. Uma nolle, era em 1S12, acordnu de repente, com um incendio em casa. A prinicira cousa cm que pcnsou foi no sello. Correu ao escondrijo ondc 0 tinha, arraiuou-o d'alli e foi a loda a pressa enlerral-o 'num quintal situado por de traz da casa. Voltando depois licou tao espanlado, diz elle no seu diario, de ver as criadas que linham saltado da cama em habilos menorcs, e que ajudavam os bombei- ros a apagar o fogo, e ao mesmo tempo* tao assustado com os perigos em que estava lady Eldon, que pela manha nao era possivel re- cordar-se do alegreteem que enlcrrara o sello. (1 Nao se podia, accrcscenta elle, conceber cousa mais ridicula, que ver todas as pessoas de casa occupadas em esgravatar a terra para dar com o sello ». Crenios que foi esta a ulti- ma vez em que grande risco correu de pcr- der-se. Contiiiiia. ARREDORES DE COmBRA.' VI. littpa dos EKteios.^ i este o aprazivel silio, A (irula amena e floriila, Oiide prozei entre amigos O dia nielhur da vida. CA8TILH0. Reraontando a vea do Mondego ate obra d'um quarto de legua para cinia da cidade, encontra-se, na niargem do poenle, um gra- cioso retire, selvatico sem aspereza, e como que enfeitado sem arte. Dissereis, que, em bora de contentamento, 0 lizera a natureza, para algum dia hospedar, ' V.:ja-se O IiisliUiti> — n° 13— vol. IV., e n.°» 3, 8, 11 c IS do mesmo Jornal — vol. V. ^ Di-Ihe este norae uma grande rocha lavada pelas agiias da margem esqnerda do rio. 203 no rcgalo d'aquellas sombras, seus mais de- dicados amigos ' . E certo, que, todos os annos, como em ro- maria, coiicorreiii a lao aprazivel cstancia al- guns cullores das niusiis ; e cm legado pie- doso, por tradifiio acaduiiiica, se vae lians- mittindo as succossivas geratoes d'esiudanlcs, o devcr de celebiar as suas I'unejOes poelicas 'nesta gcnlil gruta formosa Toila vestiiiii (ic musKO, Coberla d'licra vitosii, Itccamada, pcrfuinacia De jasmim, de inyrto, c rosa, A sombra de verdcs fieixos, A sumbra t.io amorosa'. Convidara, primeiro, a visitar o sitio o puro, e perfumado dos sens arcs, a varia i)re- senja da terra e aguas, o sussurar dos ramos abanados das viracoes, a molodiosa (juerella das avcs; altrahiram, dcpnis, alii os passes Dao so as nalivas grafas de lao ameno qiia- dro, mas a grata recordacao dos primcvos canlores das suas bellezas. Jii nao ha hoje memorar a Lapa dos Esleios, sera que logo occorram os noraes dos Casli- tilhos ', dos Lemos ', dos Pimeiilcis ■■. Possara OS que, depois dclles, inspirados pcio so! do Mondego, c cheios de toda a primavera das suas margcns, se junctarem para similhantes festhis, iransmitlir a poste- ridade caiiticos tao maviosos, conio os que llie legaram estes iDsigiics vates. R. DE GUSMAO. BIBLIOGRAPHIA. ELEMENTOS DO PROCESSO CIVIL. SEGUNDA PARTE Francisco Jose Duarte Nazareth, Icnle calhedra- tico da faculdade de direito, socio do Instituto de Coimbra, da Academia real das sciencias dc Lishoa, e deputado as cdrtes. Vcio agora a lume este novo traballio de jurisprudeiicia practica. E um hcllissiiuo Ira- ctado sobrc cxecuc'oes, embora o seu illustre auctor 0 baptize, por honestidado, com o nome de eletnentos. ' Pi5(Ie ver*se a seqtiencia da df scriprJTo na Priinncera dosr. Caslilho — pag:. 79, S/ ed. •" yt l.apa dos Esteiits — Solii) — Pelo sr. Jose Freire de Serpa Piinentel. ■* Veja-se a Primavera^ e Escava^oes Poelicas do sr. Castill.o. ■* Veja-se t) S. Joiin Poetico, pelo sr. Jujio de Lemos na Reviata Universnl Lisboiiense — torn. III., pag. 558, e O Trocador — \\&%. 386. ' Veja-se O rrtrfli/yr — pag 17. No seu primeiro livro com cste titulo — Elcmciilos do Processo Civil, — occupou-se da organisarao judiciaria, c das nofoes geraes do processo, seus aclos, Ibrmalidades e or- di'in, ate a sentenca em primeira instancia, conehiiiido com a materia dos recursos. 0 mereciniento c proveilo d'essa obra foi imme- diatameute reconbecido; e obteve toda a boa aeceilacao, que merecia. 0 disliiicto professor logo, no prologo d'esse livro, sc poz cm divida com o publico, quan- do disse, reserviindo-nos escrcver Iraclados especiae.i — sobre execiicOo de senlencas — e sobre os processes especiaes, summarios, sum- marissiriios e execulivos, com as respectivas fdrmulas. A presentc publicacao, pois, ainda nao com- pk'ta 0 quadro, que Iracara para os seus Elemenlos do Processo Civil; mas adcanta-o muitissimo. Abrange quanto diz respeito ao processo de execuciio de sentencas, manda- dos executives ou de solvendo, c aulos de conciliacao, sem se esquecer das formulas d'esse processo. Bastante, 'neste ramo, ja tinham escripto OS nossos irez grandes praxislas, Percira e Sousa, Almeida e Sousa, e Cerreia Telles; — mas OS dois prinieiros viveram afastados da epoclia das reformas, que se teni fcilo no pro- cesso; e 0 ultimo, por nao ser esse o seu intento, neni deu as doutrinas do seu Manual do Processo Civil aciuella extensao, que ellas podiam; nem resolveu muilas das quesloes do direito, que a toda bora eslao nascendo, e .so agilam no processo, principalmcnte na execucao das ultimas providencias; nem com- prelicndeu, porque nao podia, as alteracoes, que, posteriorniente aquelle seu escripto, tem solTrido a legislacao. 0 sr. Nazareth suppre todas cssas deficien- cias, — tracta essas questoes; indica os escri- ptores, que se podem consultar ; csta em dia com a legislacao; e da as doutrinas a exten- sao cenveniente. Necessaria aos seus ouvintes, e utilissima a todos OS que militam no campo forense, esta continuafao dos Elemcntos do Processo Civil do sr. Nazareth por si niesma se recom- nienda. b. c. ^OTICIARIO. Cura do c«rorl»n(o. — A Revistn colonial indica o uso do cumo do limao conio meio propbylactico e curative do cscorbuto. Para preparar o cumo dos linioes expreniem-se estes fructos com a casca; mistura-se com alcool o succo oblido, e guarda-se era caixas, que con- tem dezoilo garrafas de dois litres cada uma. E applicado dez dias depois, e cada doze, que dove ser tomada ao jantar, compoe-se de cu- mo de limao, H grammas; assucar, 42 gram- mas; agua, 112 grammas. 204 Abcsii-iixcx. - No vivciro central do go- verno franeez em Argcl, oblcve-sc lia pouco a iiicuhacao nalural ilo.s ovos dc ahestruz. Por esle resultado do longas tcntalivas temos a ccrtcza de vcr rcproduzir-se no esiado de domesliridade a niaior de todas as aves. Pa- rece que as cxperiencias lentadas no cslabe- Iccimenlo dc llanima sao as unicas, que ale lioje liNcrain iiin cxilo feliz. INAO FOI SOiMIO? A mcmoria dn Ex."" Sr.' D. Maria Cnn- difla de Carvallio Coiilinlio e Vasroii- relloN. Versa esl in luctum cilhara mea, et orgaauiu meum in vocem flenlium. JOB. CAP. XXX. Nao (oi sonlio? Ai de mini ! E pois verdadc, Que a virgem, que na liarpa da tristeza Dava canlos d'amor a natureza, Jii do uiundo nao e, mas sim de Deus? Nao foi sonlio, Senhor? A. branca rosa, Que enlre cspinbos viveu, o brando lyrio, Que cingisle de luz e dc marlyrio, Nova cstancia buscou nos coros leus? Do Mondego corri as verdes niargens; Quiz vel-a ainda uma vez. Adormecida, Em brancas, largas roupas envolvida, Divisei-a da aurora enlre os eiaroes. — Vive! vive! Disse eu: Sorri 'nura exlasi ; Em sonbos transporlada e que procura Novos carmes d'amor e de ternura, Mais canlicos na patria das visoes. — Ai mentida illusao! Ai louca esp'ranja, Que OS Uirbidos scnlidos me affagaste, E tao presles depois me abandonasle! E morta. Sei-o ja. Rasgou-se o veu, Caiu a venda d'encanlados oihos. Esse vullo, que eu vi a luz da aurora, Era a sombra ligeira, scduclora. Da virgem, que a fugir buscava o ceu. E morta. Sei-o ja. Dil-o o nordesie, Que arranca as folhas de que o chao se vela 0 silencio da triste lilomela, Que escondida nas balcas se calou. Dizcm-uo as nuvcns, que no cspaco doira Desmaiado clarao d'um so! extincto; Estes lamentos, que na terra sinto, Do breve oulono, que cUa lanto amou. E morta. Sei-o ja. Dii-o este dobre, Que nas torrcs o bronze balanceia, Voz de finados, que no ar vagueia, Pedindo aos que ainda vivem compaixao. E morta. Nao duvido. Esta Iristeza, Esla voz, que nos lembra a eternidade, A prece, que boje entoa a cbristandade, Tambem por clla implora uma oracao ! Tcl-a-has, pobre amiga, que tao cido, Como ostrclla cadcntc, (|ue nao dura, Tc sumisle no pii da scpullura, Deixando-nos a dor dc tc perdcr. Tcl-a-bas; e em paga supplicar-te venho, Que pcras para mim a Dcus o esforjo Com que marlyr, scm qucixa e sem remorso, Sorriste resignada ate morrer. E niais tarde, depois, talvez cm breve, Quando a parca scm di) mens dias contc, Irci tranquillo recoslar a fronle No leito derradciro. Enlao feliz, Ai! fcliz, se ao tcu lado, de maos dadas, Em alTcclo d'irmao, scm par, divino, Vcndo 0 mundo correr a esse destino, Que a vontadc do Elerno impor Ihe quiz. Leiria, 4 de novembro de 1857. A. X. R. CORDEIRO. RELACAO Dos individnnx noynendns para os segiiintes logares de i/ifitrucgdo publica desde o dia 1 5 ate an fini de seUmbr'i ultimo, por dvspdc/ios do eonselho tuptrior d'instnic- giio publica^ e decrrtos do governo communicados oo mesino eonselho no indicado periodo. INSTRUC^Io PRIMARIA. Antonio da Concei^ao Teixeira Vidal, para professor temporario da cadeira de Villa Marini, dislricto de Villa Real. Andrt? Jos^ Ferreira, para diclo das Antas, dlstricto de Vizea. Antonio Maria Pereira Lima, para dicto do extincto Couto de Soulo, distrJcto de Braga. Dumin^os Ayres Lopes, para diclo de Galafiira, difl- tricto de Villa Heal. Jo3o Juaqiiim da Silva, para diclo de Pouzadella, distiictode BrHga. Joaquim Lopes Neves, para diclo da Villa da Feira, dislriclo dWveiro. Joaquim iMaria da Silva, para dicto de Cadima, dis- lricto de Coimbra. Joaquim Pereira Pedrosa, para dicto da Carpalhosa, dislricto de Leiria. Jose Lopes Viegas para diclo da Villa d'Olhao, dis- lricto de Faro. Silvestre Manuel d'Almeida, para dicto de Portel, dislricto d'Evora. Alexandre Jose Victor Moritanha, para dicto de Col- lares, dislricto de Lisboa. Antonio Emilio Pereira d'Azevedo, para dicto d'OU- veirinha, dislriclo d'Aveiro. Antonio Ferreira Vilella, para diclo de Riba Pinhao^ dislricto de Villa Real. Juiio Anionic de Moraes, para dicto de Villa Verde do Extreme, dislriclo de Villa Real. Joiio Lniz Correa Junior, para diclo de Cabe<;udo8, dislricto de Braga. Valentim Caelano dos Sanctos, para dicto de Bunhei- ro, no logar da Egreja, dislricto d'Aveiro. Carlota Henriqueta Pinto de Carvalho, para mestra tempuraria da eschola de meninas ^d'Aliju, districio de Villa Real. Antonio Joaquim do Cadaval, para professor vitalicio da cadeira d'Evora Villa, dislricto de Leiria, por de- crelo de 15 de setembro ultimo. INSTRlTCyXo SECUNDARIA. Antonio Jose da Rocha. para professor temporario da cadeira de latini de Sancto Tyr.fu, districio do Porto, por portaria de t'i de selembro ultimo. SIPPLEMENTO AO N. 16 DO mimU A RcdaccSo do Instituto, convencida dc quaiito interessa aos paes ou luloi'es, 0 sabercm as faltas, que seus flihos ou tutclados vao dando nas aulas, que fre- quentara, lona;e dos ollios de suas familias, detcrminou publicar no seu Pcrio- dico 0 resumo das foltas dos Estudantes de Dircito, em cada um dos mczcs lecli- Yos, hem couio o cxtraclo das decisoes que a Cons^rcgacao d'aquella Faculdade lomai* a rcspeito de faltas, pi'opondo-se a (sizer egual publicacao das fallas dos Estudantes das outras Faculdades e do Lyceu, logo que llie sejam rainistpados os ftsclarecinieulos conveiiicntes. Nos mappas das faltas que o Instituto vae appresentar, os Estudantes sao, por brevidade, designados pelo numci'o da sua matricula; mas, para evitar qual- quer engano, publicar-se-ha no mesmo Jornal, uma lista dos Estudantes que frequentani a Faculdade de Direlto com o numero da sua respecUva matricula, Os Academicos, tendo a certeza de que suas familias sao informadas da assi- duidade ou desleixo com que fi'equentam as aulas, serao mais applicados, empre- garJio noestudo o tempo, que asvezes dcspendiam em damnosas dlversocs; c muitos dos que d'outra forma teriam de ser no lim do anno victimas das penas academicas, deixarao de soffrcr, e de dar as suas familias o desgosto d'essas penas. 0 Instituto assigna-se em Coimbra noGabinete do Instituto; era Lisboana livraria do Sr. Cobellos, rua Augusta n.° 2 ; no Porto na do Sr. Jacinlho A. Pinto da Silva, rua das Hortas n." 144; em Evora na do Sr. V. J. da Gama, collegio de S. Paulo; no Pezo da Rcgua na do Sr. M. Mendes Osorio. Podc porem (e este meio c preferivel) enviar-se directamente a iraportancia da assignatura em letra sacada pela Administracao do Corrcio da localidade a que pertencer o snbscriptor, sobre a Administracao do Corrcio d'esta Cidade, a favor de Joao Pedro Ilodrigues de Mattos, Adrainistrador do Instituto, devendo a carta era que for remettida a letra, ser dirigida, franca de portc d — Redaccao do Instituto — Coimbra. Preco da assignatura serA pago adeantado, e e por Anno ou 24 numeros, francos de porte 1^440 Scmestrc ou 12 numcros, dictos 800 Avulso 100 Coimbra, 2 de Dezembro de 1857. Os Rcdadorcs do InstUuto, €) Jn0titttt0^ JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. Foi Deus servido de leval-o para si ... . para Ihe pagar na gloria os trabalhos padecidos ca na terra. Fb. Ben.NABDO de Dbito — Chronica deCistcr. Um (leiiso veu de lucto involve a Egreja Lusitana; um pranto justificado inunda as faces de todos os seus filhos. O chefe d'esta Egreja^ o pae d'estes filhos, jaz ahi cadaver sob a lagem do maiisoleii ; — o uonie d'elle vae ser inscri- pto para sempre na j)edra dos tumulos! O virtuoso D. Guii.hf.rme Henriques de Carvai.ho, Emi- nentissiiTio Caideal Patriarcha de Lisboa^ deixou de existir: aprouve a Deus limitar-lhe os soffrimeutos da vida, para Ihe autecipar a merecida reconipensa no Ceo. As lagrimas derramadas sobre as reliquias do varao, que foi, sao ja um Iributo iususpeito de admiracao e saudade, em que as geracocs futuras tern de assentar a justica, que Ihe farao. ist^ssassea^ Vol. VI. Dezembko I ." — lbi>7. Niu. 1/ 206 O Instituto nao e, nem dcvia ser o ultimo em tao dolo- rosa hoincnagein a memoria de una dos sens socios liono- rarios, que mais o ccnobrcciarn ; porquc junrta esta obri- gacao especial as (jue de mais llic cabem coino portuguez e (rente. O I.NSTiTLiTO eliora a perda de um dos sens irniaos nials dii^nos: Coiinhra — ])atria do illiisti^e rniado — lanienta, com extrenios de inDie, a lalta de uni de sens mais benemerilos filhos Intelligcucia superior, caracter honradissimo, cidadao prestante, ccclesiastico modelo cumpriu, dignamente a sua missao no mundo; e o mundo seria ingrato recusando-lhe um justissimo feudo, ao menos na campa, se nao gravasse 'nella, a par do sea nome, as palavras: FOI UTIL. " Tal remorso nao tortnrara por certo o coracao de nin- guem; porfjue todos, todos alii estao a avivar as poucas lettras d'esse eloquente elogio — resumo de uma bourosa biograpliia inteira, — nas expansoes de acerba dor pela mor- te do venerando Prelado. Possam estas demonstracoes dos homcns, e, sobretudo, uma profunda fe na eterna felicidade dos justos, ser, no decurso dos tempos, o estimulo para Ihe desafiar imitado- res, como sao hoje para nos consolacao e lenitivo. Respeitemos em tao peuoso lance os decretos da Provi- dencia, c{ue assim nol-o impoe o dever de christaosi e, co- nao christaos e agradecidos, nao nos esquecamos d'implorar a Divina Misericordia para o rcpouso d'aquelle, que ja na terra a nao implora em nosso auxilio. O balsamo da lleligiao, sempre efficaz, poderoso sempre, ^ o unico que pode suavisar-nos a passagem de um gran- dissimo pesar para uma saudade ainda maior. £ certo que, se foram grandes os sentimenlos na sua morle, muito maiores serao as saudades da sua vida Padre Antomo Yibira — Palavra de Deus. 207 UMYGRSIDADE DG COIMBRA, Itesunio (his relacoes das [alias que deram os Esludanles de Direito no mez de uulubro de 18;i7, com as (jualificacdcs que receberam na Conyregurao de \^ de novenibro de 1857. I.° Anno Juridico. Dias das (alias em nutubro \ Qiialifitacits 11 12 13 15 IS 19 36 39 40 42 45* 46 51 59 60 62 63 66 72 80 82 87 24 31 30. 31. 17.. .. 31 26 27.. .. 27 31 19 30, 31. 23, 27 (a 31 23, 26, 28, 31 31 27 28 26, 27, 28 : 3 31 1 31 ' 1 31 1 por jilumar idem aboiiad.is pcir aljunnr iilcm idem alionada por abonar idem idem idem aljonada por abonar idem idem idem idem idem abonadas por abonar idem idem (fl) As faltas do u."* 51 estao abonadas na cadeira de Encyclopedia Juridica, mas nao o estiio na de Direito Natural, e por isso repulani-se nao jiislificadas para o efTeito da triplicacui), salvo o rccurso que ainda compete para a cungrega^ao de dezonibro. 8.° .tnno •Inri 31 abonada por abonar (o) Alalia do n.» 30 foi dada na aula de Direito Commercial em dia de sabbatioa. 208 ^•° Anno Jurldlro. Uiat dai fallns em ouliibro 2G 27 •26 23, -.'4 (a) 2fi, 27, 28. .. 31 30,31 26 30 19,20, 21, 23,24,26, 27,28,30,31 (26, 27, 28,) 30 27 17. 19,20, 21, 23, -24, 26,27,28,30,31(6) 2 I Qualifira^oes por ubonar idpm idem idem alionados idem idem por abonar idem abnnadas (3 aboil.) 1 por abonar por abonar idem (a) As fallas ile 2.1 e 24 do n.» 51, a pezar de abo- nadas nas aulas de Direilo Criminal e Practica ccimo u nau esliio iia dc Hermenenlica, ficam sulijeitas a tri|.|i- ca<;ao, salvo o rccurso que ainda compele jiara a con- grega);ao de dezembro. (6) Este Esludaute requereu era Congregatjao de 18 de novembro a abuua^ao d'aquellas fallas, que dt-ra por molestia fiira de Coinibra, mas o documento comprova- tiTo nao vinlia legal, e per isso lan<;ou-se-lhe o seguinte despacho — Satisfa^a ao disposto no art. 9 do Regul. de 30 d'oulubro Ue 1856. CURSO .\DMIN1STRATIV0. Cndeira dc Dii-cito IValnral. 5 .2 Dias dtts fitltas .,«„, lubro e5 Qualificagues 9 23, 30, 31.. 30,31 3 2 por abonar 916 Cadeira de Erononiia Politica. g . Dias das fallas cm ovtiibro eS Qiialifica^oeT 2 96 20,21,54,26,28 24 5 1 por abonar idem Hililaren matririiladoN volunlarios em Eronoiuia Polilira. 1^ Dias das fttltas em outubrj ■- a;^ E? 3 20,21,24,26,28 s por aboDar <■» couqvtijauvo iVa, \a(\>.\AvvAt. 1.' Todas as rcsolucoes .sohro I'altas e .«uas qualilicarocs serao pulilifadas por edital do preladu ullixado iios gcrai's da llMivcrb.idade, de modo i|ue cnlre esla piiblii-ai;ao e a inime- diaUi cougrcf^aeao dc I'allas niiiica medeieni mcnos dc 4 dias. 2.' Para cvilar loda a confusao no escri- pUirar as faltas, os eslmlanles dc direilo con- .servarao lodo o anno o nunicro, com (]ue se matricularam. Esic luimcro nunca sera alle- rado ainda que veiilia a lii'ar sem cffeito a luatricula de qualqucr csludanlc. 3.' As dissertajOes scrao cnlregues, ate 0 dia desigiiado pelo lenle rcspcclivo, ao be- del da facnidade, o qtial p.issara recibo aos cstudantcs, e o coiirara do lenle a ([ucm en- tregar as dissertacoes, o que devcni fazer no dia immediato aquelle, cm que iiOHver lindado 0 prazo concedido aos cstudantcs para o dcs- enipeniio d'esla obrigacao. 0 niesino bedel apontara os (|ue liouvcrcni fallado a dia, de- signando nas rclacoes esta falla pela letna — D — que escrevera adeaiile do nuniero do es- tudantc, que nao cunipriu. 4." 0 bedel em vez dc fazcr coino ale aqui tanlas relacoes de faltas quantas as aulas, fara unia so para cada urn dos cinco annos, da qua! se iinprimirao ou lythograpliarao na im- prensa da llniversidade scle e\eniplares, que o bedel assignara, e dos quaes cnlregara dous a cada um dos ienlcs do anno e uni ao secrelario do conselho da facuidade. 0 bedel pora toda a diligencia na cxpedicao d'esle servico, solli- citaudo sob sua responsabilidade as ordens nccessarias para que a iinprensa o nao dcmore. S.° Os Icntes, que abonarcm unias fallas e deixarem de abonar outras do mesnio estu- dante, nao so dcciararao adeante do numero d'esle 0 lolal das que repulam justilicadas mas passarao um Iraco sobre os algarismos, que rcpresentara os dias das fallas abonadas para que assim se possam extrcmar as quali- licajoes correspondenles a cada lalta. C." 0 secrelario da facuidade logo depois da congregacao de fallas cuidara de rcmelter ao prelado uma noia do numero e iiualilica- fao das de cada esludanle dadas no inez an- leccdeate. 0 niesmo secrelario particfpara ao prelado lodas as decisoes de ([uaesquer recur- sos sobre fallas. 7." Os requerimeiilos dirigidos a congre- garao serao lancados 'nunia caixa cuja chave licara em podcr do prelado. 0 local, em que deva acliar-se csla caixa, sera designado pelo niesmo prelado. 8." A abouarao das faltas occasionadas por falleciinento de pessoa cbnjuncla com- prchcndcra Irez dias eonlinuos, quando o fal- Iccimcnto for de pae, iiiae, avu nu avo, e dois dias lambem couIiduos, se o fallccinienlo fdr de irmao, ou irma. 209 OS PRELUDIOS. (Trailcic^ito da XLVI Medila^ao Poelica, de Laraarline.) Das irancas d'ebano espremendo o orvalho, Suave refrigeiio a terra cm braza, A iioite sileneiosa vein desceudo Dos piiicaros da serra, e traz comsigo As sombras por cortejo o os brandos somnos. Ja foi bora d'encanios! . . . porem hoje, Qual fogueira (]iie o venio nao aviva, Miiib'alma teiUa cm vac col)rar alento, Ja triste e sem vigor, se liiia c nuircba ; 0 socego Ibe pcza I 0 lyra! 0 gcuio! Musica interior, nuig.i barmouia, Ilarpa-i sonoras, que eu ouvia ao longe, Como um echo a vibrar dos coros d'anjos, Em ([uanlo e tempo aiiida, cm quanto pulsa Este meu coracao, viiide aragai-o. E tu, que presias fogo a mitiha lyra, Meu anjo inspirador, ah! vem lentea, Caprichoso, os preludios que mais amas. La vem! la desee! ouviu-me! eu sinlo as cordas Do alaiide no v6o eslrcmecer-Ihe, E 0 fremito soiioro Passar-me o coraeao, soprar-mc o estro! Por que descem tao queixosas As aguas que as niargens beijam, Estas cannas ciciosas, Estas ribciras saudosas Que murrauram? que desejam? Por que suspira escondida A roiinha no arvoredo, Quando so, d'aza estendida, Em beijos ao esposo unida, Perde a voz, ama em segredo? E tu, anjo de candura, Que de amor embriagada, Sonhas prazer e vcnlura, Por que gemes com tristura Em meu peito redinada? Mais frcsca que a fresca aurora, Mais limpida que estas aguas, Linda fldr, lue o mnndo adora, Nao pdde o tempo ate'gora Turbar-le o peito de magua»: Mas teu corafao suspira, Soffre da dor o quebranto, Na face o prazer te expira, Vem 0 rise e se retira, Assonia aos olhos o pranto. Com 0 [irazer avergada, E porque a nossa fraqucza, Qual canna ao sdpro dobrada, Mesmo a festiva toada Da 0 acccnto de tristeza; Ou talvez extasiada A nossa alma ja divisa Do prazer a breve estrada, Onde a vida mais fadada Em suspiros se deslisa. Deixa o zepliiro ancioso Uoubar-te do pranlo o veu; Foge 0 tempo precioso, Mas no espelho radioso, Reflecte as cores do ceu. Em carreira pressurosa Tudo corre a sua sorte, Ao mar a onda queixosa, Aos ventos a fldr mimosa, Dia a nolle, e vida a morte. Porem qu'importa, 6 querida, Na viagem destiuada 0 tcrmo incerto da vida ! Se ella nos corre llorida Sobre a onda soccgada? Com tanto que na passagem, Em casto amor embebido, Eu contemple a tua imagem, E cbegue em tim a paragem Como um nauta adormecido. Nos ralices de safira Dorme a brisa descancada ; Da pomba o arrulho expira; Murmurando se retira A vaga da praia amada. Deixcmos, 6 doce vida, Em casto abraco cstreitados, Nos tambem esta guarida; Ao ceu, ao ceu, a mim unida, 'Num snspiro Iransformados! Oh! quebra-me esta corda amollecida! Meu coracao por ella nao se aiina, Nem amor acha sons, que bem Ibe quadrera ; So pode, so quem ama, revelal-os. Suspiros que do peito ardendo sobem, Lagrimas de prazer, que os olhos toldam, Um silencio, um olhar, um meigo accento, Dizendo e repelindo sempre o mesmo, Dizcm mais que os teus sons, o branda lyra: Cabe 0 amor ao amor, o mais ao genio. Se no meu coracao vibrar pretendes, Mais fortes sons arranca as brandas cordas. La oico ao longe, como voz que troa, Ruidoso sdpro, que estremece os ares, Qual d'aguia a ponta d'aza Que no pesado vdo as aguas roja. Oh! quem me dera um mar, um mar sera praias! Quem me dera, de noitc a luz dos raios, Ao sdpro d'aquildef, em nau sem mastro, Rasgar do Oceano as huniidas campinas. . . 210 Te ao fundo desccr, subir-lhe aos cumcs, Co' a vaga niergulliar ao negro abysmo, E (le la em cachoes anemessado, Vir hoiar como a esjiuma a fldr das aguas! 'Ncsle eiiihale de horror e de deleiie, Dc vida e iiiorte vezos mil suspensa, Pi)de ser, que a niinli'alma em seus lerrores D'um ignolo prazcr se repassassc; E presies a al)ysmar-se em uoitc inlinda luda urn mnmeiito se agarrasse a vida, Como lira lioiiuMU caido d'alta rocha Tenia co'as maos em saiigiie inda sustcr-sc. Mas scmpre caminbar a nicsma estrada; Ver a vida a esvair-se gola a guta ; Mas seguir passo a passo, arrcbanhado, Humanas gcracOes, iuiilil peso, Que nasce por nasccr, e logo niorre, Que cm eada |)riHiavera a terra cxpelle, Qual no iuverno o carvalho qm nossas matas Expelle ao \ento as ressequidas folhas: Sem 'sp'ranca e scm prazer seguir na vida, Como urn l)atel que dorme em aguas morlas, Ver em csl'orjos vaos gaslar-se a alma, Vel-a nas maos da sorle a cnferrujar-se: Pensar sem descobrir; nao acliar termo A ardenle aspirafao ; brilbar debalde Com facbo que csmorecu e nao se apaga . . . , Eis a sorte comnium. .. eis minha sorle! Trilharam nossos paes a mesma senda, Nossos filhos depois, da sorte ao peso Curvados, seguirao o mesrao irilho. Todos delinham, niorrem, passam todos, Mas, afora os raortaes, o raais persiste! Tu que a rainh'alraa confortavas, Anjo meu, porque assini dc lorn raudaste? Parece um echo da torrente surda Que rola os prantos na mansao das dores! Porque e esse gemer, tomo as rajadas Do vcndaval nos ironcos ressequidos? Porque choras venluras ja passadas? Acaso, 0 que nao e, ja foi outr'ora? E lia de o pesar vir sempre em nossas festas, Sonibra inlausta, scntar-se ao nosso lado? Ila de fazer-Dos com olliar sinistro Dasalcrradas maos cair as lacas? Nao : desviando a face, ao esquecimento, Ao segredo da vida, recorramos. I'm adcus ao passado e em altos cantos Minh'alma arroja aos suhliuiadus feitos. Que sons gucrrciros nicu ouvido cscuta? E o clarim, o rinclio do cored: A corda ensaugucutada Rcline como a cs[iada Na thapa ilo broquel. Deu signal a trombeia, e soa as arnias! — As armas — vao os echos repelindo Mais ligeiros que o vcnlo, pclos campos Disperses esquadrOes acodcm prcstes. Sohre os cerrados llancos, 'num instante, As legioes s'estendeni como as azas Sonibrias de um abulre; os insoffridos Intrepidos frisoes os I'rcios trincam. Dorme 'iuda o raio; — lugubre silencio Sobre essa multidao sinistro paira. So so ouvcm passos de cem mil soldados, (^onu) os de um liomem so, correndo a morte ; l)(is carros o rodar; corseis ([ue rincham ; Mil ordens ([ue relinem pelos ares, E 0 rugir das bandciras dcsfraldadas, Que nos campos rivaes soltando as dobras, Ora pareceni da victoria ao sopro Por si mesmas vuar d'enconlro a gloria; Ora dos pavilbOes tombando ao longo, Sobre as bostes Janjar um veu I'unereo. Ja dos campos na frentc os bronzes troam : Respondeni, cruzam-se os irovoes da guerra; Nos inl'laniados lubos mal contido, Como 0 sopro da morte o raio estala, E arroja a bala, que rarea as lilas. Bem como o lavrador, que vac c volta, E que sem descancar, rasgando o vaile, Abre ao lado de um rego um novo rego, 0 projeclil fatal assim percorre. As lilas uma a nma assim derruba. Cae aqui um heroe em Mor ceil'ado, Que ostenta em sen olbar valor, orgulho; No sou elmo, que a luz dcspede a espacos, Onileava de um corcel a negra dina: Foi-lbe 0 elmo brilbaute alvo da morte; Fulminado de um tiro que nao sente, N' arena loniba como um fei\e d'armas, E 0 sen corcel que senle as rcdeas frouxas, E que ve de um relance o dono em terra, Volvo atraz, e o fareja, e morto o chora. Cae alem um guerreiro, que nas lides Da guerra encaneceu; que outros amores Nao teve afora as armas, e a bandeira, Conslanle norte seu, sua saudade Cega a morte discorre em seus cstragos: Um morre todo inteiro ; alem, qual tronco Que 0 machado desfez, dispersos membros Oulro no p6 saltar ve em pedacos, E pelo cbao lenlando inda rojar-se Em borbotOes de sangue um rasto deixa. Exiuigue, semimorlo, inda escapar-se Nos bracos de um amigo outro procure; Unidos seio a seio a morte os coihe, Co' a dila ao menos de morrerem junetos. Com livido clarao debalde os raios Se cruzam sem cessar: bravos soldados, Como as ondas, que rasga a proa ousada, Apagani logo a esteira fumegante, Sobre os corpos dos mortos veni intrepios Eni novas lilas arrostar co'a motel . . Mas ja cancados d'esla nioile ingloria, Os dois campos rivaes, ardendo em raiva, Vem por lim a travar-se, mislurando De sangue os turbilboes no duro embatc. Ai> peso dos corceis abrem-se as lilas, Que abobeda metallica resguarda; Cruza-se o fogo ao fogo, o ferro ao ferro; 211 Flammejani embatendo-se as fileiras; Em lorrentes de funio horrido troa Inflaminado o saliire, e lirilha, e corre Da linlia ao loiigo, a encohrir-Ihe a sorte, Ou fatal, oil de gloria, em densa nuvcm. Das garganlas assim de opposlas serras, 'Nuni ieito, que as aperta, despenhadas, Duas tonenles vein luctar raivosas; Bate a onda na onda; arcando sobem Enormes vagalhoes com luria iiisaoa ; Toldam-se os ares co'a alvejanle espuraa, E 0 ruidoso Iragor acorda os eclios; Mas no Ieito, que as prende, senipre cm luta Suas ondas per lini uoidas rolam. Ja nao ronca o trovao . . . ouvis? La se erguem Do canipo funerario rail concertos: A fanfarra, o clarini, harpas sonoras Com suave harmonia os ares ferem; Depois af:islani-se, e escutar permittem, Sumidos quasi, os ais dos moribundos! . . . Ao longe, o val' seguindo, inda resoani; Mas gela o coracao, as libras tremem, Quando lembra, que no ar que assim se agita, 'Stao dos niortos talvez passando as almas! Eis que o sol de repeiite as nuvens rasga, Dando as scenas d'liorror ciarao funereo; Os sens raios no solo humedecido Lagos de sangue a vista nos descobrem, Corseis jazendo, e carros em pedacos, No po dis])ersos mutilados mcmbros, D'armas, corpos, destrocos confiiudidos, E OS pendues a cobrir rimas de raortos! Correi agora, amigos, maes, esposas! Vinde os lilbos contar, e iruiaos, e amantes! Vinde as ruinas disputar c'o abutre Esse arrimo a veihice, esses amores. ' Que pranlos vao correr! Quantos gemidos Nas cidades em lucto vao soltar-se, Antes, trisles morlaes, que a terra possa A custo renovar perdas de um dia! Impassivel no entanto a natureza Segue no giro seu sem do dos liomens: Ha de vir amanlia a rubra aurora Nos broqucis espelbar-se dos finados, Ha de o rio lavar sanguentas margens, Bao de os veiilos varrer inl'ectos ares, E ha de a terra, adubada d'estes restos, Com flores encobrir ossadasfrias! Silencio anjo de fogo! Que aterrada Minh'alma geme aos sons das bronzeas cordas, E segue era ancia os tens guerreiros passos, Qual cocbe, que os corseis voando arraslam! Fugindo a taiito horror meus olbos tristes Chorosos busrani niais risonhas praias. 'Nessa lyra nao tens um som que alente? De ouvir nao foigas do pastor a llauta? Quando, de um parreiral sentado a sombra, Sozinho esquece as horas, despertando 0 murmurio do rio, a voz dos echos Cora sons, que nos encantam lastimosos? Muilas vezes, a tarde, na collina, Para um so nao perder me ponho ii 'scuta ; N'alma cntiio, por momentos acalmada, Siiito c'os sons passar fagueira brisa, Mais grata, que a sombra dos arbustos, Ou que 0 fresco das aguas, que murmuram. . Um vento me afaga a lyra; Serii d'ave que a rocou? Sua voz no peito expira, E a pobre corda suspira, Como a cana, que vergou! Valles patcrnos! campos! clioca bumible, Da encosta do ouleiro pendurada, Cujo tecto semelba o ninho occulto Nos tufos da raniada; < Sombras, relvas!! portao, era cujo adito Sentado, como um rei no tlirono seu, Vinha meu pae contar os sens rebanbos! Abri ! abri . . . sou eu. Eis 0 lemplo de Dcus da pobre aldea ; Ja das torres ouvi grato soido; Parece, que unui voz da infancia aos dias Me ehama em tora sentido! Sim, meu berco d'infancia, a ti eu volto, A abracar-me aos teus lares protectores; Ao mundo disse adeus... com vos mo quero, Nasci entre pastores! Como clles, em pequeno, pelos campos Seguia ate a noite o anbo errante: Folgava de lavar-lbe na nbeira 0 velo alvejante. Nos ramos de um cborao me i)aloucava, De tronco em Ironco aos ares me subia; E dos ninlios da rdia era o primeiro Que OS ovos recolhia: Araava os sons que a tarde o ar espalha. Dos carros o cbiar c'o duro attrito; 0 som da campainiia suspendida Ao collo do cal)rito. E depois, ao deixar eden lao grato, Como um vazo d'aromas impregnado, D'iuell'avel prazer, longe do mundo, Tinba o peiio inuudado! Sitios p'ra mini sagrados, dae-me asylo! E vds qu'inda estes lares afagaes, Salgueiros, que eu planlei, curvae os ramos Ao irmao que cboraes. Sou eu ; reconhecei-me, ervas que piso, Vos troncos, onde as vezes me trepava, Echo triste, onde ao longe, no silencio Minha voz ressoava: 212 Xao venlio aqui Irazer, amcnos campos, Neni saudadcs, nciii soiilios do fuluro, Eu vunho adorineciT-me em vossos lierfos, Btistar descaiifo obscuro. Com alma puia dcspcrlar co"a aurora, Elcvar a oratao ao Dcus do dia, Ver as flores, (iiio brolani orvall\adas, Oslciilaiuio niegria ; Perfumes aspirar, ([ue a serra cxiiala, Ou nos bosquos gozar doce I'rescura ; Ao sopro da niaiiha ver como ondeam As messes ua plauura; A fontc coivduzir tenra novilba, Lanrar a cabra o trcvo perrumado, Ou vtir curvaiido a fronte os brancos toiros Ao jugo costumado ; 0 arado conduzir, rasgando as Icivas, Na parede espalinar veiha parreira; Ou no seio do prado abrir os regos As aguas da ribeira. Do seu pao reparlir c'o pobre afflicto, A. noite, ao pe da porta, em paz sentado, E a descancar por fim cerrando os olhos Sem pena e sem cuidado; Sentir, nao os conlando, em paz serena Os dias deslisar sem arruido, Como a area, que marca na ampulhela Doras que tern fugido; Ver da arvore pender os doces fruclos ; Castos fructos d'amor ter a seu lado; Dizer-Ihe um terno adeus na bora extrema . Mortal, que mais te 6 dado? Expira voz, niorre o canlo; adeus o nnjol A raansao te remouta da liarmonia: Deram-nie os ranlos leus ireguas ao pranto . . . Fallava-Ihe . . . no ceu ja nito me ouvia!! F. . . . J)u m 'i'ls a son nitn qu''^n (f/essf mi S'iureitir. J. Lbfc\kb. Falleceu ba pouco em Coimhra um dos maiores ornamenlos da L'niver-iilade, am dos seus mais dislinclos lilbos, o sr. Jose Macliado de Abreu, Barao de Sanel'lago de Lordello. Nao bdstara a premaluja e irreparavel perda dos srs. doutores Goulao e Bellarmino; poucos dias depois, ja a niorte descarregava novo golpc, 0 sepulchre reeebia uma terceira e nao mcnos illustre victima. Em presenea de tamanba d6r que nos rcsta senao rcsignar-nos? Curvcmo-nos dianle dos decrelos da Providencia; oremos por alma d'aquelle, a qncni Deus na sua iniinila sabe- doria houve por bem arrancar d'este mundo de provacao e nilseria. Osr. Jose Macliado de Abreu, fora, ba alguns annos, Vice-Heilor e depois Ucilor d'esla Uni- versidade ; e, em consoquencia dos servicos que prestou durante o exercicio d'eslas func- foes, agraciado com o titulo de Barao de Sanct'Iago de Lordello, e uma conimenda da ordem de Cbristo, ticando ao nicsmo tempo com as bonras de Reitor. Era membro do Consellio Superior d'inslrucgao iniblica, e no desempenlio das obrigacOes, que llie impunha este cargo, niostrou sem[)re o maior zelo, e deu nao equivocas provas da sua reclidao in- concussa, e ao mesmo tempo da vastidao de conbeciraenlos que possuia. Era lente calhe- dratico na faculdade de direito, e professor de direito commercial. Gozava da merecida reputafao de um babil e distincto mestre, querido e respeitado por todos os seus disci- pulos. 0 sr. Barao de Sanct'Iago entregava-se a um assiduo e aturado traballio; o seu espirito paciente e laborioso era naturalmente pro- penso ao estudo. Infelizmenle deixou poucos ' escriptos; comtudo podemos mencionar como urn valioso servico que prestou a sciencia, a nova edicao do Codigo Commercial enrique- cida por elle com iniportanles appendices, conlendo a nossa legislafao commercial poste- rior ci publicacao d'este codigo. Ainda que austero no cumprimenio do que reputasse dever seu, a sua bondade era pro- verbial 'nesta terra. A um extremo amor da legalidade junctava um vivo desejo de favo- reccr sempre que podia, sem quebra das suas obrigacoes. Apesar de ter abandonado ha muito a pro- fissao deadvogado, que exerc^ra com a maior distinccao, por alguns annos no Brasil, du- rante 0 governo do Infante 1). Miguel, o sr. Barao nunca se recusou a prestar graluita- menle e de bom grade, aos que vinbam con- sultal-o, 0 auxilio das suas luzes, e a expe- riencia da sua longa practica. Acommeltido nos ultinios dias de outubro ultimo de uma ligeira conslipacao, o sr. Barao de Sanct'Iago previu, desde o comeco da moleslia, que e-itava proximo o ternio da sua vida. Muito antes de al6 mesmo se desconfiar, que 0 seu estado aprcsenlava perigo, quiz fazer as suas ultimas disposicoes; e poucos dias depois pediu e recebeu, como verdadeiro e fervoroso cbrislao, os ulliinos sacramcntos. A doenca por(!'m caminbava a passos largos; progrcdiii com medonlia rapidez, e apesar ' Entre outros sabemos que ha nos papeis de sua ex.'* umaa notas ao Cod. CoiBmercial, 213 dos desvelados cuidados dos dislinclos medi- cos que 0 cercavam, o sr. Barao de Sanct'Iago exhalou o ullimo suspiro no dia 21 de no- venibro passado as 11 horas da nolle. A notieia da sua niorte espalhou em Coim- bra verdadi.'ira c pungenle magna. E que lodos conheclam o que valia o sr. Barao de Sanct'Iago de Lordello, e a perda que sof- friam com o seu preniaturo e infauslo falleci- mento. s. h NOTICIARIO. Desriiberia ilc iim novo plancla. — Mr. Lutlier, director do Oi)servatorio de Bilii, desculiriu em 19 d ontubro passado uni novo pianola, que Ilea sendo o iiO." do grupo. 0 asiro Icm o aspecto d'uma eslrolla da 10.' grandeza, e esla siluado, como os precedente- menle descuberlos, cntre Marie e Jupiter. Dias depois do annuncio d'esta desculjerla, Mr. Leverricr apreseiitou a Academia das sciencias de Paris uma carta de Mr. Maury, director do Observalorio de Wasinghlon, com- municando (jue em 3 d'oulubro Mr. Fergus- son descui)rira urn novo pianeta, que juigava ser 0 47.°, porque ignorava ainda as descu- berlas de Mr. Pogson, e Goldscbmidt. Mr. Lcverrier accrcscenlou por essa occa- siao, que fazendo no Observalorio imperial a comparacao enlre as posicoes do planela de Mr. Fcrgusson e o S0.° de Mr. Lulber, fora levado a cror a idcntidade dos dois astros: porque, reduzidas ao dIa 3 d'outuiiro, as coor- denadas do [ilancla bO." did'ercm quando mui- lo 20' das oliservadas por Mr. Fergusson ; e esla dllTcrenca e facl! de explicar pelo movi- menlo proprio do aslro. Mr. Lulber posleriormente, em carta dirl- gida a Academia, reconbece tambem a idcn- tidade do seu plancla com o de Mr. Fergus- son: e reclilica que esle o descubrira nao a 3, mas a 4 d'oulubro. A maiM altn nionlanha do slobo. — Ale 1847 considcrava-se como o ponlo mais elevado da superficie da terra o nionte De- walagiri, siluado em Nepaul, a 80." de lon- gitude e 28.° de latitude; a allura d'esla monlanba e de 8:170 nietros acima do nivcl do mar. Mas em 1847, o coronel M'augb, por determinacoes precisas, provou a e.\is- tencia de uma monlaniia ainda mais alia ; e Kancbinjinga, no Siklvin, siluada a 85.° de longitude e 27.° de latitude. Esla monlanba, d'uma allura de 8:382 nulros, tem por con- sequencia 400 melros mais que o Dewalagiri. Mais recenlcraenle, o coronel Waugb, que dirige as operacoes Irigonomelricas da India, pelos calculOs relatives as posicoes e allu- ras de lodos os picos do Himalaya, desde .\s- sara ale Sufedkho, em uma extensao de mais de 18.° de longitude, reconheceu a exislencia de uma proeminencia ainda mais elevada do que as precedentes, situada a 27." U9' 17" de latitude norle, e 84." 37' 42" de longitude leste de Paris. Tem 8:840 metres d'altura; excede por tanlo 238 melros a de Kancbin- jinga, e 664 a de Dewalagiri. E por conse- queucia a monlanba mais elevada (|ue actual- mente se conbece. £ mais alto 4:030 melros, nu mais d'uma legua, que o Mont-Blanc, a monlanba mais alia da Europa. 0 coronel Waugh deu-Ihe o nomc de Monte IFerest, porque nao descobriu que no paiz fo.sse designado por alguma denominacao lo- cal e particular dada pelos indigenas. NIovo proiiuflo alitiientair. — Enlre as substancias alimcntares, que figuraram na exposicao universal de 1835, appareceu um produclo Irazido da Africa, e que pbde tor- nar-se um objecto de grande consuiuo com- mercial e industrial; e o fuo de dika. 0 pdo de dika e formado d'amendoas, gros- seiramente trituradas, e amassadas a certa Icmperatura. E uma subslancia de cor cin- zenta escura, semeada de pontes brancos, uncluosa ao tacto, d'um cbeiro similbante ao do cacau torrado e amendoa tostada, de sa- ber agradavel, levemente amargo e adstrin- gente, analogo ao do cacau. A arvore, que produz o pBo de dika cha- ma-se oba no Gabao. E um raangueiro, man- yifera gabonensis, da familia das terebentba- ceas, especie ainda nao defcripta. E muito commnm em loda a costa d'Africa, desde Ser- ra Leda ale Gabao. A sua grandeza dilTere da da mangifera indica, e c pouco mais ou menos a dos nossos carvalbos; tem 13 a 20 melros d'altura, e 75 cenliinetros de diametro, suas tlores brancas sao similbantes as da mangifera indica, mas as folbas sao mais curias e menos lanceoladas; o fructo, denominado iba, e amarello, da grossura de um ovo de cisne, e fomeslLvel pelos indigenas; conlem uma amen- doa branca, oleaginosa, de goslo agradavel. E cam esla amendoa, que se prepara o pdo de dika, que combinado com outros elementos, forma parte da alimenlacao dos naturaes. Por ora nao se conbece outro emprego d'este Iruclo. A incuria dos ncgros e tal, que grande (juanlidade d'estas scmentes e abandonada aos rates, que sao lao gulosos por ellas, que, denlro do poucos dias, lodos os fruclos sao aberlos, e as amendoas devoradas por estes roedores. A colbeila faz-se em novembro e dezembro, e e facillima. Pela simples ebullicao na agua, ou pelo calor e pressao, extraem-se 70 a 80 por 100 de materia gorda solida de pao de dika. Esla subslancia oleaginosa muito analoga a man- teiga de cacau, pelo aspecto, pelo sabor, pelo cbeiro e consislencia, e fusivel a 30.° 214 0 pdo de dika, considerado oomo urn ali- raento rico cm principios mitrilivos, pude ad- quirir corta importancia commercial. A pane oleosa piide ser cmprcgada na fabricafao das velas c sahOes, e a mediciiia pode aprovei- tal-a como exceliontc sticcedaneo da niaiiteiga de cacau. Existem excm[ilares do pno de dilm no ini- nislerio da marinlia em Franca, nas saias d'exposicab permanente dos productos colo- niaes. Farlo oxirnordinaiio. — ^fr Sidnoy- Jones, certilica o facto, iiiiicn na st'icncin, d'uma ohiileracao coinplcla da aorta Ihnra- cica, coincidindo com um pcrfeilo cslado dc saude. E pena nao nos dar iima relacao circiini- stanciada d'este exlraordinario phcnomcno. Como se I'azia a circulacao da raeiade inferior do individuo? Quaes as arlerias collateracs da aovta, que substiluiram a sua funccao. Que calil)re lomaram? Em todo o caso a ve- racidade d'este facto, juslilica a lemeraiia operajao da laqueagao da aorta al)dominal. Plienomeno nolavel. — 0 dr. Alquie encontrou, no ovario d'uma mulher adulta, um tumor cnormc composto de dez saccos, contendo todos manifcslamcnte rcstos d'em- brioes, como cai)ellos, fragmenlos d'ossos, denies etc. resultado de concepcoes sncccssi- vas abortadas; c tira d'este nolavel facto, as conclusoes seguintes: 1.° E possivel a fecundacao nas vesiculas do ovario, mesmo alravez das qualro mem- branas que cobrem o germen, sem estas se romperem. 2.° A gravidez intra-ovarica pode Icr logar. 3.° Esta fecundacao pode effecluar-se mui- tas vezes na mosma mnllicr, mosmo dez vczes cm varias epoclias dilTci'entcs; a supcrfelacao d'esta especic, e possivel mcsmo mullipla. 4." A saida do ovulo on poslura nao esla necessariamcnle ligada com a menstruacao. 5.° Os kysios desenvolvidos no ovario, nas suas proximidados, ou nos orgaos afastados da bacia, que conlem eabelios ou denies, sao productos dc conccpfao. 6.° Pode ser conhecida a existencia da gra- videz intra ou cxlra-ovarica , pelos signaes seguintes: persistencia da menstruacao, des- envolvimcnto na rcgiao iliaca interna d'um tumor arredondado, scm dor, oslcndendo-sc progressivamente a todo o abdomen, de forma irregular, apresenlando 'naquella parte do ventre salicncias, que fornecem uma sensacao raanifcsta dc fluctuacao circumscripta as sa- licncias, nas quaes se percebe a presenca de partes duras. osseas; alongacao c obliquidadc da vagina e do utero, elevados pelas connexoes normaes palhologicas com o embriao, conser- vacao da saudc, contcntaracnto da mulher por algum tempo. No gabinele do theatro anatomico da Uni- versidadc, muzeu de pccas palhologicas e anoiualas, cxislem os rudimentos d'uiu felo, 0 qnal por uma gravidez extra-ulerina, c dc vintc e tantos annos, cstii meladc pelrilicado, e a ontra metade c um lecido duro, cobrindo bastantes eabelios e um dente, completamente desenvolvidos. Esta massa toda aprescnta a forma oval, pezando novo oncas e meia ; nos seus maiores diamelro e perimetro, mede 21 cenlimetros no prinieiro, e no segundo 31 cenlimetros e 4 milinielros; nos menorcs, mede 0 cenlime- tros e 5 milinielros no diamelro, c 13 cenli- metros e 7 milimelros no perimetro. Existe perfeilamenle conservado ha perlo de 30 annos. Domcntirnrao dON rctaooox. — Os na- turalistas, que lodos os dias propOem a con- (luista de lantas especies uleis, ainda nao se lenibraram da possibilidade de domeslicar os cetaceos! 0 boniem nao se tem ale boje oc- cupado d'esles gigantes do mar, senao para 05 pescar e extrair d'elles tanlas tonelladas d'azeile. Pois e uni erro e um crime, diz Toussencl. 0 bomem nao sabe todo o parlido, que podia tirar do auxilio d'eslas locomolivas na- turaes, enipregando uma educacao accommo- dada ao caracler d'esles animaes. Quando se relleclir em que uma baleia apenas gasla l5 dias para fazer uma viajem ii roda do globe, nao se pode deixar de laslimar, que o bomem nao lenlia ainda tenlado conquislar lao po- deroso anxiliar, esse navio vivo, que corre 2d leguas por hora, e que podia servir de reboque aos navios de transporle. 0 que e o vapor em presenca de lal velocidade? REL.VCAO Daa individuos nnmeados para os srguintrs lognrts de instrnc^ao piiblira dettde n dia 1 ." ntt^ I 5 df ouUthro ultimo^ por dvspnclias do ronselko mptrinr d'i'istrite- rdo puhlica^ t drcretos tl'i governo coiitmunicados ao mesmo conselhn no indlcado periodo, ISSTRUC(,'AO PHIMARIA. Anaslacio Baptista d'Aguiar, para professor tempora- rio da cadeira da Carref^uza, dislriclo d'Aveiro. Carlos Cezar Pinlo, para dido de Paderne, districio de Faro. Joao Lopes de Carvalho, para dido de Yimieiro, dis- Irido de Braga. Joaquim AotoDio, para dido de Silves, districto de Faro. Leonardo Jose d'Azevedo, para dido de Ramalde, districto do Porto. Carolina Joanna Goni;alves Braja, |iara mestra lera- poraria da cadeira de meninas de Barcellos. D. Balbina Hennqueta de Pas.itada. E podera, scm quel)ra de sua dignidade, dci- xar de responder a esles obsequies com oulros fimilhanles, que inevitavelmenle hao de au- gmenlar as despcsas do seu cargo? Cerlo que Dao. Digo lambem que o commissario nao tem forca para reprimir o mal ; por(|ne, chefe de uma reparticao sem emprcgados, nem sequer tem quem o acompanhe nas visilas de inspec- fSo, para reduzir a termo ou aulo de nolicia 0 que em taes visilas _pccorrer. Vol. YI. Dezembro Supponha Vossa Magestade, que o commis- sario visita uma escliola, cujo professor nao executa as prescripcOes do regulamento, ou se comporta mal. Depois de auonseihado, ad- verlido e ameajado peio commissario, que ha de este fazer, se o professor, longe de ohede- cer, recaicilra, desatlende e insulla o commis- sario no exercicio de suas funccoes? A quem ha de recorrer o commissario? Que mcio tem a sua disposicao para desaggravar a auctori- dade enxovalhada? Quem ha de lavrar o auto de desobediencia, que leni de servir de base ao processo, sem o qual nao pode ter logar o casligo do professor refractario? Nao vejo na lei remedio algum para laes occorrencias. Ale em suas relafoes com as outras aucto- ridades do districlo, faz do ver a falla de forca do commissario. Todo o seu direito se reduz a fazer requisicoes. Mas se a auctoridade re- (]uisilada, porcapricho ou ma voulade, deixar de salisfazer a requisicao do commissario, que aconlece? Nada. Como ha direito d'um lado, sem dever do oulro, ou, peio menos, sera sanccao, que sirva de garantia aquelle direito, torna-se esle 'num direito nullo. Muilas vezes tera o commissario de concor- rer a actos publicos com outras aucloridades de egual e de inferior calhegoria. Ao passo que cada uma d'eslas tera assignada na lei a precedencia, i]ue Ihe compete; ao passo que cada uma se apresenla revpslida com as insi- gnias do cargo, que exercita ; so o comraissa- rio dos esludos nao tera nada d'isto: e uma simples casaca preta, que vai confundir-se com OS criados das oulras aucloridades, e ac- ceitar 0 logar, que niiiguera quizer para si; porque a lei nao indica qual o que Ihe com- pete. 0 commissario dos esludos e uma enlidade de receiUe data. Desajudada da consideracao. que trazem comsigo as Iradicoes d'um cargo hem delinido, se a lei a nao cerca de algum presligio, se peio menos Ihe nao confere uns ionges d'esta preponderancia, que compete as cousas do espirito era concorrencia com as do corpo ; e muito para recear que esta au- ctoridade nao fique sendo uma roda inulil no nitcbanismo da governacao do dislricto. A palavra em cerlas occasiOes pode alguma cou- sa ; pode muito mais o conceilo, que se forme do mcrecimento da pessoa ; mas nem uma 15—1837. Num. 18. 218 nem ouira rousa per si so e siifllcienle. 0 povo deve resi)eilar a aucloriiladc, ainda qiiando nao coiilu'va a pcssoa, ncm esta sc dii a co- nheccr pcio que disser. Coiicluo, porlaiito, pediiulo a Vossa Mages- tade, que liaja de prover du reniedio a esles iiiconvenieiiles do servico dos c-ommissaiios dos csluilos. E so a superior iiilclligeiicia de Vossa Slagestade nao escusa qual(|uer luz, que Ihe advenha dos exomplos de oiitros pai- zes, pcfo lieenga a Vossa Mageslade [lara lem- hrar um prcccdcnle do govenio do Uollaiula. Tauio eslava persuadido este govenio (lun, era malcrias d'insiruerao prinuiria, o poiilo capital eslii ua inspecjao, que se der as esciio- las, que, cm vez de muiliplicar regulaiiieiilos para syslenializar a dirccrao d'ellas, coiileii- lou-se coin dar-lhes uina iuspeccao forle. .Mr. Cousin, que I'oi ao proprio paiz esludar os re- sultados da iiistiluicao, diz no seu letulorio acirca da inslniccao pMica 'ncupiclle reino, 0 scguintc: » Si vous voulez ^erieusenlent 0 Teducalioa du peuple, sacliez l)ieu que lout » le nerf de cette education est dans le gou- ix verncmcnt que vous lui donnerez. Si ce « gouvernement est lailde cl lual assure, I'ins- (i tructiou primaire est sans avenir; elle pourra (( bien avoir quelques moments d'eclats par des « cireonstances passagircs; mais il n'v a pas « de raison pour qu'elle ne retombe Ijienldt « dans une langueur deplorable. Donnez-lui, 0 au contraire, un gouvernement vigoureux u et actiC: I'esprit de ce gouvernement se com- i< muniquera a toute la machine et lui ini- « primera le mouvenient et la vie. » Em harmonia com estas indicacoes vaieon- fcccionado o projecto de rel'orma, juucto sob n.° 3." CAPITLLO IV. Do citsteainenlo das escholas. Para estabelecer uma eschola nao basla nomcar professor, e consignar-Ihe, no orca- raento das despczas piiblicas, o competente ordenado. Para estabelecer uiua eschola e mis- ter que, alora o ordenado do professor, haja um fundo ou dotajao annual, que re>ponda pelas dcspezas, que 'nella lem de lazer-se: t.° com 0 local para as scssoes; 2.° com a inobilia escholar, com bancos, niesoes, cadeira do professor, taboa prela, etc.; 3." com os utcnsilios do ensino, como livros, louzas, map- pas, papel, tinta, etc.; 4.° finalmente, com os premios aos alumnos, que mais se distingui- rem nos e.xames aiinuaes. Quanto ao local das sessocs, enlendo que o estado c que deve lomar a sua conta esta des- peza. Quertenha, quer nao tenlia, na locali- dade edilieio accommodado para eschola e re- sidencia do professor, o estado e que deve prestar o ediGcio; poniue so assiin ha vera escholas bem niontadas, em cdilicios coiivc- nicntcmente appropriados, que satisfafam a todas as coudicoes hygienicas de vcntilacao, coiiunodidade e aceio. (Juanto as despezas acima contempladas sob osn."'2.° e 3.°, entendo que a lei deve polas a cargo das tjespectivas municipalidades de uma maneira lerminante e indefeclivel. A educaviio do povo nao e cousa inditl'erente para a boa ordem, paz e prospcridade do niuniiipio. Se este e obrigado a sustentar os expostos, que acaso apparejam nos limites do concelho, como sera exempto de conlribuir para a edui-at'ao d'a(|uelles, a cujos paes fal- lecam os meins necessarios para o fazerem |)er si? Quizera eu, pois, que na lei viesse bem expressa e detinida a obrigacao, que tem as municipalidades, de contribuir, conjuncta- niente com o estado, para a educacao dos mo- radores dos respectivos concelhos. 0 estado contribuu com o ordenado do professor e coni 0 local para a eschola, o municipio, com a gratilicacao contingente ao professor, e com a mobilia e utensilios escholares. 0 niodo, por que me parece poder levar-se a elTeito este desidcrandiim, vai indicado no projecto de lei, appenso sob n.° 4." Pelo que loca a despeza com os premios aos alumnos que mais se distinguirem, essa entendo eu que deve ticar a cargo da caridade particular, mas da caridade organisada c para este Mm constituida d'unia maneira judiciosa e permancnte. Minha opiniao e que em cada districlo ad- ministrativo haja uma associacao auxiliadora da educacao piiblica, a qual tenha a cargo sollicitar a maior sonima de donativos volun- tarios em bencticio da fretas que tivefse de dar, scguudo as cireumstancias especiaes da sua escbola. Adoptado cste racliiodo, vai prcsidir a con- feccao de todos os relatorios o mesnio pcnsu- mento conimura. Entao ha ja possibilidade de coniparar o traballio de cada professor com 0 de todos os outros ; ha possibilidade de generalizar c induzir; ha possibilidade de apreciar devidamentc o estado da instruccao priniaria em cada distrieto, e, pelos relatorios dosdiversos commissarios d'estudos, conbecer 0 estado d'ella cm todo o reino. Nao e de reccar que os professorcs deem a estes quesitos rv'spostas inexactas. Sabendo elles que os respectivos commissarios podem verilicar por sens olbos a veracidade de tacs inforniacdes, qual se atre\era a adulterar a verdade do facto nas respostas que liaja de dar a auctoridade superior? Isto nao obstante, bom e ((ue a lei estatua qual a (Jcna em que incorre o professor qre for menus exacto nas respostas dadas ao inquerito oflicial. A idea da refornia, ([ue a este respeito te- nho a lionra de propor, vai consignada no projecto, appenso sob n. a. Pede a justice que eu nao fecbe o prcsente relatorio sem mencionar, como honrosa exce- pfio a apreciafao gerai que fafo do service dos professorcs no capitulo ii, os nomes dos trez funccionarios, cuja vocajao c zdio peto servico Ibes teni ensinado a veneer muilas difliciildades, que outros cncontram na cxecu- tao do regulaniento inlcrno das respeclivas escbolas. Sao estes: Luiz Corr^a da Silva Ac- ciaioli, professor da eschoia piiblica da ex- trema leste do Funchal, — Jose Joaquim de Freitas, professor vitalicio da escbola da villa da Calbcla, — Jose Bernardino dc Brilo, professor teniporario da eschoia da villa do Porto do Moniz. Ueus guarde por inuitos annos a prcciosa vida 0 augusla pessoa de Yossa iMagestadc, como 0 dezejamos e havcmos mister os porlu- guezcs. Conimissao dos estudos no Funchal, aos 31 dc Janeiro de 1857. — 0 commissario dos Estudos, — Marcelliano Ribeiro de Men- dijnca. A zoolechnin e as artos aKi'icoIas nao podem coiisiderar-sie como paiTes «la agricnltura. Continuado de pag. £01. u. Acabamos de v^r que a raesma causa, que, em relacao aos vegetaes, delerrainou a creacao da agricultura, produziu, respectivamcntc aos animaes, a organisacao da zoolechnia, e que a primeira d'estas sciencias tern com a bota- nica as niesmas relacoes, que a segunda com a zoologia. A ligacao, que existe entre a agri- cultura c a zoolechnia, nao e devida a esta analogia de origens, mas a dcpendencia reci- proca, em que am has se acbani. Sao os ani- maes, que produzem os abundanles e ferteis estrumcs, origem da riqueza do agricultor; sao elles, que niovem as posadas maquinas emprej;adas na cultura dos canipos; sao elles emiim, que pelos seus productos se tornam um dos principaes elenicntos da industria agricola. Nao parecerao, por certo, inferiores os ser- vices, que a cullura vegetal presta a educa- cao dos animaes. As gordas pastagens, pro- duzidas pelos prados artiliciaes, que o agri- cultor esclarecido sabe alternar com as oulras culturas, serundo de alimenlo ao gado, in- (luem benelicamcnle na qualidade dos seus productos, e a parte estraminea das plantas herbaccas, juncando os estabulos, e a molle cania dos animaes, que pouco e pouco a vao convertendo em fertilizanlcs estrumcs. Todavia a agricultura, scienria mais vasta, mais antiga, e de uma maior imporlancia so- cial, do que a zootechnia, tern absorvido esta ultima, c<.nsiderando-a como uma das suas partes iulegranles. 220 Jii Ampere, no scu onsnio sobre a philoso- phia das sciencias, rocoiilioceu, quo a znoic- chiiia nao podia fazor |)arlo da agriculiura ; mas 0 uso estabelecido desde icmpo imnicmo- rial, e a necessidade d'o agriiultor crcar e educar os anirnaes, fez com que a sciencia, que tem esle objecto, coutiiiuassc a scr incor- I)orada na agriculiura. Gaspario, ua inlrodiiccao da sua excellcnte obra, marca os verdadeiros limilcs a agricul- iura. e responde vicloriosamente as objecfucs, que podem apresenlar-se a emancipafao da zooteehnia, a sua separacao da sciencia agri- cola. Attendendo a origem das duas scicncias, examinando os sous olijectos, quasi que des- necessaria parece oulra discussao. l)e feito, ainda que lanio a zoologia eomo a bolanica lenbam por lini o conliecimento e o esludo de seres vivos, ba la! difTerenja enlre a pbysio- logia animal e a physiologia vegetal, que cada sciencia daquellas tem uma organisacao es- pecial e bases parliculares, em que se funda. A zoolcclinia, poilanto, e a agricultura, tendo tao difl'erentes origens, devem tambem ser muito dilTerentes na sua organisafao, nos seus printipios, e nos seus processes. E, sendo assini, como podem compenetrar-se , e formar uma so scieucia? Se a agricultura e uma sciencia, a zooteehnia cai evidentemente fora do seu dominio. Ainda mais, considere-se aquella conio uma simples arte, e assim mesrao impossivcl sera reunir-lbe a cducacao dos ani- rnaes. A arte, como a sciencia, dcve apresen- tar 0 character da unidade; e duas antes, que se pretendesse reunir 'nunia so, apresentariam sempre signaes da sua independencia, e nia- nifestas provas, de que nao existia a verda- deira fusao, mas apenas uma mistura, cujos clemenlos tenderiam constantemenle a scpa- rar-se. Ve-se pois que a diversidade de origens e de objectos das duas sciencias basta para pro- var a impossibilidade da sua reuniao: mas, para dar ainda mais solidas bases a opiniao que seguinios, analysarenios com Gasparin os argumentos dos que suslenlani, que a agri- cultura e a zooteehnia forniam uma so scien- cia. Estes argumentos reduzem-se a dois pon- tes principaes: 1.° impossibilidade de conce- ber a agricultura sem auimaes; 2.° pcnelra- cao intima da parte animal e da parte vege- tal da agricultura. Em quanto ao primeiro ponto, nao e rigo- rosamente exacto. Pode muito hem conceber- se a agriculiura sem o auxilio dos animaes, e ainda que estes sejam actualmenle emprc- gados na maior parte dos paizes agricolas da Europa, ba todavia algumas localidadcs 'nesses mesmos paizes, em que se achn cxclusivamenie adoptado o syslema de cultura vegetal. Na proximidade das grandes eidades, em que os estrunics se comprara por prejos pouco eleva- dos, e a cultura das plantas bortenses ofTerece praiiiles lucres, tornando-se por isso ([uasi ex- clusiva, OS agricultores nao tractam da pro- durcuo animal. Ila outras Incalidades, em que o educador de imimaos e perfi'itauu'ntc disiiucto do agri- cullor; 0 primeiro vende ao seguudo os estru- mes, e aluga-lhe os animaes de serviro. Ora suppondo i\Lc. este uso se loruava geral, a agricultura, depois do desniembramento da cducacao dos animaes, niio deixava por esse motive de ser a mesma sciencia. Na .\merica ba partes, em que a culture vegetal e a unica adoplada : o mcsmo succede em alguns cantOes da China, aonde a povoa- cao sc alinienla, seguindo o regimen vegetal; e 'nalguns jiovos sehagens, cuja agricultura est.i pouco adiantada. A educacan dos animaes nao e pois uma parte esscncial da agricultura, e, ainda ([ue Ihe seja muito util, nao pode considerar-se como absolutamente necessaria e iudispeii^;avcl. 0 agricullor pode estudar a accao dos estrumes sobre a terra, e prescindir da origem, d'onde provieram, tanto mais, quanto esla origem pode deixar de estar unica e exclusivamente nos animaes. Supponhamos que, em vez de empregar os estrumcs, se regava o terreno com dissolufoes ammoniacaes, e, em logar de se applicarem as maquinas as forcas dos animaes domesticos, se applicavani as do homem ou as da nature- za, taes como a agua, o vapor, o vento etc., 'nesse case nao so a preparacao do ammonia- co, mas a construcfao das maquinas de vapor, ou das outras, que servissem a transmissao das forcas, deveriam fazer parte da agricultura, 0 que seria absurdo. Kelativamente ao scgundo ponto vS-se, pelo que temos dicto, (jue nao ha penelracao da cultura dos vegetaes com a educacao dos ani- maes. 0 lavrador, lancando a terra os estru- mes, a unica consideracao a i|ue attende, e ao preco, por que llie (icaram, ou elles sejam helero-sitkos, ou aulo-siticos. III. Excluindo a zooteehnia da agricultura, com muito mais forte razao se devem excluir as artes agricolas. Os poucos pontes de analogia, que se encoutram entre aqucllas sciencias, desapparecem complciamente entre as artes agricolas e a agricultura. As artes agricolas pertencem evidentemente aos processes technologicos; fundam-se, como elles, nas forcas physicas e chimicas. E nao se nos objecte, (|ue a agriculiura e a zoote- ehnia I'azem parte tambem da technolegia. Ain- da que geralmentc seja essa a opiniao seguida, existem a nosso v^r bem plausiveis razoes para as considerar eomo sciencias indepen- di'utcs. Em primeiro logar, um dos characte- res distinciivos da technolegia e modificar as 221 malerias primas: e a agricultura e a zoolc- chnia t^ni por objeclo a sua produccao, e niio a sua niodiiirarao. Em spgundo logar, os pro- cesses lechnologicos fundani-se nas leis pliysi- cas e chiniicas; as operacoes agricolas e zoote- chnicas nas leis e forras vilaes. Mas em qual- quer caso que se eoiisidero a agricultura, ou fafa ou nao parte da technologia, as artes agricolas nao podem entrar no sen dominie. Toda a scicncia comprehende I'actos analo- gos, ligados por uma theoria geral, c fundados em principios que liies sac communs: e os fa- ctos da agricultura, c os sens processes sao inteiramente se|iarados, tompletamente dis- tinctos dos processes, que constituem as artes agricolas. A cultura dos vegelaes, desde que a semente se lanca a terra ate ([ue os fructos sao celhidos, fuuda-se na physiologia vegetal, nas forcas vitaes per conseguinte. Lego que OS preductes comecam a ser niedilicades pelas artes agricolas, oulras forcas regulam essas novas operacoes, — sao as forcas physicas e chi- micas. No primeire case, o honiem e.xerce a sua accao sehre seres vivos e organisados; no segundo, sebre preductes organicos, maspri- vades de vida. Um dos argumentos, que ceslumam invocar- se em favor da opiniao (jue comhatemos, e a necessidade em que o agriculter csta de exer- cer as artes agricolas, e a utilidade que d"ahi lira. Mas porque um liomem se veja obrigado a exercer did'erentes prolissoes, nao se segue que ellas sejam idcnticas. Denials ha agricul- tores, que nao se incumbeni das artes agri- colas; eutros, (jue se occupam d'um pequeno numere, alguns de muitas: era variando d'esle mode com os individuos, com es tempos e com es logares, uiiia parte essencial da agri- cultura, esta nao ]i6de apresentar a estabili- dade propria de todas as sciencias. CO>CLUS.\0. Havemos, se nos nao enganamos, demon- strado, que a zootechnia e as artes agricolas deveni separar-se da agricultura, a qual, se d'este niodo perde e(n niateria, ganha em cla- reza e siniplicidade scientilica Esta verdade comeca aser coniprehendida. Os niodernos li- vrosda agricultura ja nao sao unia miscellanea infornie e arbitmria. 0 curse de agricultura de Gasparin, o tractade I'lcmenlar da niesma sciencia por Girardin e Dubreuil, aonde nao apparecem a zooteclinia e as artes agricolas, apresentara a simplicidade. a ordem, e niesmo a elegancia, de que carecem as obras anligas de agricultura. Assim na Casa rustica do se- culo XIX, 0 segundo e terceiro tome, que traclam da zootechnia e das artes agricolas, sao inteiramente independentes do quarto, que se occupa da economin rural ; em (|uanto que este se acha naturalmente ligado com 0 primciro e dependenle d'clle. 'Noutras obras anteriores, e ainda no Giiia e manual do cultivador do sr. Jose Maria Grande, a zoote- chnia e as artes agricolas fazem parte daeco- nemia rural. Parece-nes poreui aimla menos acertado seguir tal alvitre, de (|ue tractar d'aquellas materias em separado. como lizeram OS auclores da Casa rustica. A ecouomia ru- ral, fundande-se nos principles gcracs da eeo- nomia polilica. nao pode, por niodo algura, comprehendcr as artes agricolas e a zoote- chnia. 1. FILIPPE SIMOES AGRICULTURA. BANCOS TElUllTOniAES. Conlinuado de pag 6. Versnnde esta materia, lao para acceitar-se com 0 mais intimo reeonhccimento nas circum- stancias actuaes da nossa agricultura, e de lanto memento pelos resultades pronicltidos e appetecidos, mais quizeramos, simplesmen- te, referir leuvores de todos a esta excellente instituicao, de que ter de por-nes aos itens com impugnaderes, ou pouce judiciosos, ou muito pouce de dentro no conhecimenlo c alcance do ponto. Mas jii que c forcoso, para Ihes ver bem a futiiidade, o reproduzir arguicoes, e ja que empenhamos vontade e esludo em aclarar a materia, e em conveucer-nos primeiro, para depeis podermos persuadir os eutros, ou pro- vando-lhes a verdade, ou confutande-lhes so- phismas; por isse nao des\iaremos lancar aqui umas quantas accusacoes, infundadas, levan- tam contra a creacao d'esles Bances esses pessimlstas efficioses, que, porque d'uma instituicao qualquer pode dimanar algum mal, cmhora immense seja o bem produzido, a condemnam para logo irreniediavclmento. — Proscrever o uso, porcpie alguem, ignorante ou mal intencionade, pode abusar, e, sobre absurdo, malrfade e roubo ao adiantamento social' — porque um homeni niorrcu no mar, lastimemes, corno Plinio, a cultura do linho, d'onde se liran) as velas para os navies! Vames aos tapitules d'accusacae. Tomaremes primeiro e que-reza assim: — " Os B.^ncos agrarios sao maus; porque so uli- lisam a grande propriedade. » Ainda quande fosse de lodo o ponto ver- dade, 'nesle so dizer vinha envolvida a ver- gonhosa cendcmnacao dos impugnaderes. Pois, por(|ue uma qualquer cousa, sem prejudicar niiiguem, utilisa a alguns, e isso causa a cenibater-se, a desterrar-se? — pois as largas herdades, as grandes quintas, que sao inci- lamenlo e devem ser modelo censtante a me- dianos e pequenos cultivaderes, aproveitam com elles, e devera isso ser raotivo a guer- 222 real-OS? Indigna, sobrc lodas, c essa invcja, e 0 raciocinio (jiie 'nella sc cslriba. iMab, de iiiais a niais, e lioje lalsissima si- milliante alliriiiafiio. Nao dosconlicceiuos, 6 certo, que lal foi a mira da sua creafao na Prussia: o cslado politico do paiz e a ignoraucia de principios cconomicos, hoje vulgarissiuios, davani-se eiilaoimituo auxilio, para que essa iiisliluifao, niais que todas uli- lissima, se nao neccssarissima, i)ara o apcr- feifoamenlo da agricuilura. se convertesse em privilcgio da casta seuliorial, inonopolizando a sua henelica inlluencia a pcqueiia proprie- dadc. — Felizmente isso vai niuilo louge, e e so ma fe ou ignorancia o irazel-o agora por argumeiUo. Os modernos eslabelocimeiUos de credito agrario buscani, e tem coiiseguido de dia |)ara dia, baixar o niais possive! a la\a ou ijuota de valor em terras, iiccessario para a admis- sao nos bcnelicios do credito agrario, a poiilo de quaiquer cullivador, que possua apenas terreno uo valor do cem a diizenlos mil leis, podcr aproveitar com lacs Bancus. — Na Bel- gica um fundo tcrreal de mil francos de va- lor (100^000 rcis), tem ja faculdade para ser soccorrido. Amanba ainda menor sera a cxi- gencia. — E, por conseguinle, infandada esta arguicao. E nao raenos o e, certamenle, unia outra que ibrmulam 'ueste theor; — « Os Bancos agrico- las sao maus, por facililareni demasiadamente aos proprietarios o contrabirem dividas. » — Esta passa d'infundada a ridicula, e de ridi- cula a tula! perdocm-nos o lancarmos a phra- se assim agrcsle, quando tal capiluio d'accu- sacao se vem trazer alii para a imprensa. — Pois ha de alguem querer limitar o proprie- tario no seu direilo d'em|)i'nbar, hypotliecar ou vender a sua pro[)riedado, e mesnio lancar dcpois 0 imporlc /oo den-lido, para que os pobres o apanhem a rebatiiihas? Pois salvar 0 lavrador das garras da usura, minislrando- liie 0 capital por juros modicos, e inconve- nicnte? Pois, porque um proprietario perdu- lario se arruina, nao deverao beneliciar-sc e ajudar-se mil e mil econoniicos e niodesios? — Livre-nos Deus de responder a (luem nao sente de per si taes verdades. E querer cor- lar eniiiaracos com a espada de Alexandre. 0 seniior das_ terras pode vendel-as e cm- pobrecer, hypotbecal-as e arruinar-se, empe- nhal-as por alio jnro c ver-se avexado a cada bora, e nao Ibe e dado soccorrer-se a uma instituicao que apenas llie exige urn diminulo inteiesse! Abencoado dcsejo de beneliciar a agricullura ! 'iNesle compendiar d'olijeccOes, lao appa- ralosas quanto, a todas as luzes, infundadas, nao devcnios occullar as conlidas 'nnm arligo, assignado jior — F. P. de M. — i|ue se le no n." 12 da Itevisia i'nicerstil Lixbouense, de io de Janeiro de lSi9; as ijuaes ludo podc- rao provar cm seu auclor, mesmo muita eru- divao e muilo desi'jo daccrlar. mas iiuiica, por cerli), cnnbciinHMilo venladriro on. mellior di- rianius, sensalo vi^llllnbl■e chi nisliliiirao, ([ue busca combater. Asseveram-nos agora ser esse artigo dcvido apcnna d'unia nolabilidade ulli- mamente inveslida e victoriada num dos mais elevados cargos do nosso paiz: — nao o po- (lenios crer! Mas se lal e, isso apenas nos com[)rova solemnemente que, entre nos, as funriOes dos prinieiros cargos da republica niio sao inconipaliveis com a ignorancia, nao sao antagonicas com a incpcia. De quem quer que sejam (e bcni pouco curamos d'isso) vejanios as objecjoes. iNa pri- nieira das (jue tirou a terreiro diz o auclor: — <( Bancos Ruraes propriamente dictos, isto e para cmpreslarcm dinbeiro sobre bens de raiz, nao podem subsisiir, neni la/.er bem al- gum, anics muilo mal, a agricullura. >> — 'Ncstas SOS linhas, que sao como [jreguo de bota-abaixo, quem nao vc, para logo, o mais grosseiro dcsconbccimcnlo da materia? Basta- nos relembrar o que, muilo ao de leve, dei- xanios eslampado no nosso arligo precedente, para conbecermos que o cbaracler distinclivo d'esles Bancos nao deve ser, nem e, o enipres- lar dinbeiro; mas sim mobilizar, vivilicar o credito. Perniitta-se-nos, poreni, que, antes de mais, Iranspasscmos para aqui, e integros, OS arrasoados cm que desfccba. Nao so nao queremos, com exeerptos, impanar-lbes a for- ca, senao que lemos do inlimo, (|ne a sua so leilura ou, quando muilo, um pei|ueno com- mento Ibes pora ao olbo do sol a liililidade. Diz elle: « A'do podem subsnitr: \)<)r que a agricullura so conlralie emprcslimos a longo prazo, que niinca pode ser menor (|ue um anno: scndo assim, o Banco licaria scm I'un- dos para as iransacfOes, e para trocar as suas notas. Sao contra os priucipios, (|ue regem OS Bancos, os emprestimos a longo prazo, nao so porque prejudicani os sens intcresses; como porque, no case de crise, nao podem apurar OS capilacs para a evitarem ou a remediarem. A causa de todas as fallencias dos Bancos de dt'sconto Icm sido os emprestimos a longo prazo: eniprestaudo a trez niezcs, ([lie e o lermo ordinario, se Ibes sobrcvcm uma crise, em noveiUa dias eslao salvos; mas so empre.s- lam a um ou a dois annos, quaiquer crise, por mais leve ([ue seja, os arniina; e como OS Bancos Huraes nao fazeni eniprestimo se- nao a longo prazo, a sua fallencia e inlallivel. Ncm se duvide d'esles princijiios, por(|uc ja eslao sancciouados pela experiencia I'eila em diversos paizes, onde se lem eslabelecido Ban- cos Ruraes, e lodos lem desapparecido por nao poderem subsisiir. Aem fiizem bem, antes null, a aiji iciillurj ; porcjue nao ba induslria agricola, que produza lucres sullicientes para pagar juros, por mais modicos que sejam, e para aniurlizar o capital, que livessc tornado 223 d'cnipreslinio; dc que resiilta que o proprie- tariu seria Ibrfado on a vender a proprieda- de, ou a cnlrfgal-a ao Banco (icando perdi- do, e o Banco arruini-do quando sc iransl'or- inasse cm prnprieiaiio, " Ale a(|ui c'lli' : afj,ora nos. Na primciia pane do seu discorrer, o gran- de, 0 iiisuperavel e?loi-vo, que so antolha o auclor, diniana do « longo prazo, que nunca |)ode ser menor (|ue um anno, » e, sendo as- sim, n 0 de licar o Banco seni lundos para Irociir as suas notas. " Was que idea tera da indole d'csta insiiuiicao, da sua vida intinia, e da sua acrao exterior, qnem tal escreve? pois ignora (|ue nao rarecem de ter al'errolha- dos nas burras c;ipilaes nietallicos para trocar notas, \ islo conio os tituios dc credito passani da mao do enipreslado para as do ciiipresla- dor, scndo ajienas o Banco nm como corretor a liscalizador? pois sera nunca jamais niotivo a reccios um prazo longo, iiao dizeuios d'um anno, mas de cinco, mas de dez, mas de mais ainda, (|uando o emprestacior tiverem sua mao um til\iln de credito tao solido, tao infallivel, liindamentaiio na propriedade lenenl, e re\os- lidn com a li.'.nca do Banco, e, sohreludo, tao facilmente realizavel no uiercado? pois, emliin, nm qualquer lavrador e mesnio niuitos naopo- dem contraliir empreslimos na occasiaodas se- menteiras, c solvel-os nas collieitas? Sao islo verdades tao manifestas, c que dc per si mes- mas se ostao dando a conliecer tanlo ao vi\o, que ninguem, hem que pouco conversado 'nestes assumptos, tem direilo a eximir-se de as sal)er. Em seguida entra o auctor, corao vimos, cm consideracoes acerca de prazo longo e do incviiavel prejuizo e emharaco d'este, em raso de crise, dizendo que « a causa de lodas as fallencias dos Bancos de desconto tern sido os emprestimos a longo prazo. u Pois niuito hem: ' demos mesnio <|ue seja essa a causa de todas as fallencias; a que vcm ca os Bancos de desconto, se d'elles nao ha a argumentar para csles; porque entre os territoriaes, e os de dosconio, e de circulacao, e de deposito ha discriuies sensiveis? E conliniia : « cmprestan- (io a trcz mezcs, (|ue e o termo ordinario, se llics sohreveni uma crise em noventa dias csiao salvos; mas se emprcstam a um ou a dois annos, qualquer crise, por mais leve que scja, OS arruina. » Se, como nos, o ramose minislro (a ser elle 0 arliculisla) fosse criado e educado no coni- niercio, e vivesse, durante annos e todos os dias, a vida da nossa primeira praca commer- cial, e conhecesse os nossos ^hahitos, por ccrto nao cscreveria taes assercoes. Trez Ine- zes 0 termo ordinario d'emprestimo! e nienos justo, se nao nada exacto, este dizer. Trez mezcs pouco mais ou menus (90 ''|d, ou 60 ^j,) e apenas o termo ordinario dos saques sobrc as pracas dc Londres, Liverpool, Man- chester, Glasgow etc., etc., emlim, sohre as pracas inglezas; mas quasi nunca das Irans- accOes do nosso commercio interno: — as vendas de vinlios na praca do Porto tSm, geralmente, o prazo d'um anno, a nao chcgar a dezoito, e vinle e quatro mezcs, quando e avultada a ])arlida: as mercadorias d'inipor- tacao d'Anierica, o arroz, o assucar, o algo- dao, OS couros (vaquetas e atanados) etc. tern- no, em geral, de seis mezes e muitn niaior, sendo em grossas partidas: o mesnio accontece com as d Inglaterra, os algodoes nianuliictu- rados, as lans, o linho, as drogas, o ferro, 0 hacalhau, etc. e linalmente com as da Ru.s- sia, a aduella de Memel, o linho de Riga etc. etc. Na praca de Lisboa e idenlico, ou com leves nioditicacoes, o facto. Vcndidas assim as fazendas com esles pra- zos, os emprestimos para realizar as compras, OS saques de letras para seguranca das ven- das, OS desconlos d'aquellas, nos Bancos ou por particulares, approximam-se quasi sempre de taes prazos. — Em virtude d'isto, e, por- tanto, nas nossas circumstancias e nos nossos bahilos, infundadissimo o afliancar noventa dias leniw ordinario. Se, porem, o collaborador da Revista Uni- versal Lisbonense nao teve em vista fallar, com especialidade, de nos; mas dos Bancos europeus e americanos, em geral (e ainda alii Ihe poderiamos mentir a asscrcao), perniit- ta-nos entao que Ihe diganios, que foi menos rellectido, menos judicioso, nao so em o nao declarar, e isso era o menos, mas em vir com alheios uses em materia toda nossa, e toda a|)plicada para nos, e isso era o muito, gerando assim infundamcntadas apprehensoes, que so muilo tempo, muito lidar, e muilo re- pelir a verdade podem extirpar. Como d'inutil disi ussao, e, soh toda a luz, iiiconcludente, e, para o nosso thema, falsissi- nio desviamos aponderafao que apresenta, cm e|)0cha de crise, daudo-nos sdmente o cuidado di' relcmhrar o occorrido na Prussia (|uando a-^ aguias napoleonicas Ihe solirepairavam. Quehrando 'nestes Bancos, sempre lemhrarcmos que os ha, prosperos e alieiicoados, na Russia, Polonia, Prussia, Auslria, Baviera, Hanover, Wurlem- berg, Meckleniburgo, cidades \nseaticas, Di- namarca, Suissa, Bclgica, Ingialerra, e Fran- ca; isto e, cm loda a Europa, e, ainda mais, que nao e um cstabelecimenlo so em cada uma d'eslas nacoes, senaoque niuilose muito vastos; ora soli a inQuencia, mais ou luenos direcla, do governo, ora creacOes puramenle parliculares. E, so alguem pensa 'neste dizer a raais leve sombra de exageragao, nao lem mais, que lomar, enlre vinle outros, que Ihe podcm vir a mao fartamenlc documentados, o livro ha pou- cos annos publicado por J. B. .losseau « Des Instilutioiis de Ciedil Fonder el Agricole dans les divers elats de I'Europe. « Lendo-o con- vencer-sc-ha prompta e profundamente de como dizemos singela verdade, e que, entre as infundadas affinuacoes accumuladas pelo auclor do alludido arligo, nenhuraa, lalvez, venca o quilale d'csla. Enlrando ua segunda parte, rorape-a com aquellas celebres pnlavras do pregao: « Nem fazem bem, antes muitn mat, a uyricuHnni, " dando-nos logo como razao muilo calhegorica « por(iue nao ha induslria agricola, que pro- duza lucros sulFirienles para pagar juros, por raais modicos ([lie sejam, e para amorlisar o capital, " e cerrando, como vimos, esta segun- da parte e o monslruoso do primeiro capituio com as duas lataes resultantes — ou a perda do proprietario, vendendo a propricdade, — ou a ruina do Banco, Iransforniando-se em pro- prietario. Fechada assim a mcda das p6chas, para nao dizermos dos desacertos ou necedades, incum- be-nos tanibem reraatar neste lance o discur- so, asscverando sonicnte, que nao ha indus- lria agricola que nao produza lucros sulTicien- les para pagar juros e amorlisajao de lodos os gaslos da cultura: — allenda e entenda-nos bem 0 auctor e o leitor, que nao dizemos juros c amorlisacSo do custo da propriedade ; ma-, sim, e unicamente, de lodos os ijuslos da cnllura, lito cxclusivo a que se dirige loda a ccouomia, loda a accao d'estes Bancos. No vergonhosissimo alrazo e no ainda mais vergoniiosissimo desleixo e prejuizos da nossa agricultura, o enipresiarou empregar capitacs para compra de pro|)riedades terreaes e tcr, d'antemao e compiovada por lodos os modes, a evidencia de nao lirar raais d'um a dois por(lo custo: — 'nislo eslamos, como lodos, conipielamenle accordes. Mas no (jue nilo es- lamos, e ninguera pode estar, e em que as ter- ras nao deixem livre 4, !>, 8 e mais por- das des])ezas de cultivo: — e, se nao, diga-nos o auclor, em que paiz, e principaimente em que |)arle do nosso paiz, c em ([ue genero de cul- lura, ha alqueire de semeiile lancada a terra que, na colheita, nao Iraga a cira 4, 8, 16 graos por cada grao semcado; islo e 400, 800, KiOO por-? diga-nol-o et erit mihi magnus Apollo. E, porvcnlura, esta paga iarga, esta mul- lipiicacao prodiga nas enlranhas creadoras da terra nao resarcira, deixando ainda niuilo lu- cro, lodas as despezas da mais sollicita e adianlada cullura? Cedemos a respo.sla aos proprios adversaries recordando-liies so, por demais, ([ue o cuslo d'esgolar um profundo paiil, de desbravar um impervio mat.igal, de gaivar uma extensa marnola, de corrigir uma improducliva varzea, de colmar um necessa- rio alpendre, ou somenle se elTeilua por uma vez ou a lao largos pcriodos, que quasi nao pode enli-ar em calculo. Ainda assim, tomem a quota annua que quizercm e acharuo que a terra da sempre um altrahenlc jure. — Em conclusao, pois; cremos, em virlude do que levamos exposlo, que o auclor do ci- tado arligo ora desconhece, ora confunde a natureza e alcance dos Bancos lerritoriaes. Continua. A. A. A Universidade celebrou 'neste dia, com o apparalo e pompa cosluniada, o myslerio da Immaculiuia Conceicao de Nossa Senhora, e a disiribuiciio dos prcmios aos alumnos, que mais se di^linguiram pelo seu ingenho e ta- lenlos. Deu principio a festividade religiosa, achan- d(,-se prescntes na real capella da Universi- dade, 0 corpo docenle, a esludiosa raocidade academica, e gramle nuraero de pessoas de lodas as classes. OUJciou na missa o dr. Jose Gomes Achilles, lenle calhedratico da facul- dade de theologia, e assislirani ao altar, co- mo diacono o subsliluto extraordinario dr. Damasio Jacintho Frago^o, e como subdiaco- no 0 dr. .Manuel Eduardo da Molla Veiga, amhos da mesma faculdade. Recilou uma ora- fao muito hem elaborada, e clieia da mais sublime uuccao evangelica, o oulro subsliluto 225 exlraordinario d'aquella faculdade dr. Anto- nio Bernardino de Meiiezes. Finda a iiiissa, segiiiu-se o prestilo aeade- mico ale a sala grande dos ados, onde tiuha de e(Ti'cluar-se a di>tril)uicao dos premios. Aiii toiiiados logarcs pelo vice-reitor da Universidade, e polos doutorcs de todas as faculdades, e entrados que foram para dentro da thfia os laureados, depois de feita a cha- mada pelos respeclivos liedeis, recilou o di- gnissiitio prelado o seguinle discurso: Senhores ! — Ainda oulra vez me cabe a honra de presidir a solenine dislribuicao dos premios, conrcridos aos aluninos d'esta Uni- versidade, que, no anno esclioiar Undo, so extreniarani em boa cslimacao litleraria. E lao grato e lioje jiara mini o desempcnho do Dieu officio ; quao provado esta o merccimento dos prcmiados ; e quao recto fora o juizo dos conselhos, que os galardoaram. Saliias, por certo, sao as leis acadcniicas, que, com a mira de fomentar e engradecer o progresso das sciencias e das ietlras, mandam por nas maos de taes alumnos os titulos dos seus premios, na presenra dos proprios mestres, e ante o puliiico illiistrado, 'neste rcspeitavel gymna- sio, e 'neste I'csiivo dia. A soleninidadc reiigiosa do augusto myste- rio da Conceicao Imraacuiada de Nossa Se- niiora, que a Universidade agradecida acaba de ceiebrar, segue-se agora esta, a mais bri- Ihante das lestas acadcniicas ; uina festa ([ue nao e so de Coimbra, mas de lodas as cidades, de todas as terras do reino ; uma festa ver- dadeiramente nacional. E com que fortuna, com que prazer, com que alegria, nao vemos nos, senliores, irem-se perpetuando, entredis- tiuclos academicos, os brios e as victorias ! Em eguai dia d'outros annos, quasi succes- sivos, aqui recebcram oulros conipetidores as coroas de suas ladigas. Uoje sois vos, illustres e esforcados manccbos, sois vos que levais as palmas : hoje cingem vossas (routes os louros, que coihestes no cerlame nobre e glorioso da intelligcncia. E quiio solida e a base, era que se libra a vossa gloria ! . . Sim : essas vicosas palmas, esses louros immarcessiveis, nao sao uma pro- va evidente de que a sabedoria entrou no vosso corajao e a scicncia agradou a vossa alma? Por vossos csforfos, por vossas vigilias, por vosso aturado estudo, nao vos tornastes vos OS flihos mais predilectos da palria ? Nao conquistastes bencaos mais affectuosas de vos- sos paes? amor mais extremoso de vossas fa- milias? credito mais seguro de vossos anii- gos ? . . E que doce satisfacao destes a vossos mestres, que vos guiaram no caminho da sa- bedoria, inculcando-vos seu subido preco ! Mas. . . se hoje alcancastcs direitos tao glo- riosos, contrahistes tambem uma divida im- mensa para com a patria. Laureados pcia sciencia, a palria espera de vos que, nao dei- xando murchar vossas grinaldas, sejaes os apostolos e os luminares da instruceao e do progresso iegitimo, os mais fecundos elementos da civiiisacao e da liberdade. E vos outros, nobres mancebos. se vossos nomcs ja conhecidos nao sao ainda por esta vez aqui memorados, nao desanimeis por isso. Hedobrae vossos esforfos para que 'noutro I'gual dia resocm tambem com applauso os vossos nomes 'neste amplissimo emporio das Icltras. Eia pois, entrae na lica com valor e coragem : quem sabe se o vosso novo afan, Iransligurando a sorte, de vencidos hoje, vos tornara outro dia vencedores? D'est'artc o vosso iriuinplio sera mais assignalado. Agora, conio todos niilitaes sob as mesmas bandeiras, exultae de prazer uns e outros ; vos, pelos louros que alcancastes ; e vos, por que t'azeis parte dos cursos, que o galardao d'ai|uelles ennobrece. Exultae, paes ditosos, a i]uem Deus honrou em vossos (ilhos. Exul- tae, niaes ternas e extremosas, que vos esme- rastes em aprimorar a educacao de tao dignos iillios ; que cnriquecestes seu espirilo com os prinieiros conhecimentos ; que Ihes dirigistes 0 coracao pelas maximas da virtude; trasbor- d.ie agora de jubilo c contentamento. A edu- cacao que ihes destes preparou este lustroso Iriumpho. Exulla tambem, o Coimbra ; as co- roas que hoje cingem as frontes dos lilhos mais niimosos da sciencia, sao novos brilhantes que te adornam, que illustram e engradccem teu nome, para sempre memorado nos fastos lit- lerarios da patria. 0 decano da faculdade de mathematica, dr. Francisco de Castro Freire, a quem com- petia por escala, dirigiu logo depois aos aca- demicos a seguinte allocuvao: Aqui as capellas da Lecidas d'ouro, Do baccbaro e do sempre verde loiiro. Senhores! — Estimular por meio de distinc- coes e premios os coracOes generosos, para proseguirera com ardor na larga estrada das occupacoes uteis, foi em todos os tempos a practica observada pelos legisladores sabios. Bern que as accoes nobres tenham em sua mesma belleza attractivos sobejos para capti- varem as almas bem formadas : e todavia innegavel, que a inconstancia dos desejos hu- manos, a variedade de distraccoes frivolas, a seducfao das paixoes, e as docuras do ocio, fazem constante guerra aos mais iouvaveis es- forfos ; guerra, de que estes nao poucas vezes saeni vencidos. Afervorar pois os animos tibios, dar novos incilamenlos aos espirilos briosos, eis o que deveni fazer todos os legisladores e povos, que desejam ver florescer, entre si, qualquer dos 226 uleis e variadissimos ramos da aclividade hu- luana. Eiitrt as primeiras necessidades das na- jOes esi.i iiiduliitavolmenle a da cullura os- morada das Ifitras c das scieniias. Diga em- bora 0 conlrario o pliilosopho dc Geiu'bra ; seus argumenlos, aiiida que alaviados com lodas as galas de uma ulo(|ueiicia sediictora, nao sac niais que tristes sophlsnias, que em espiritos razoavcis, c em corajOcs nobres, Huiira acliarao echo. Raio d'essa luz divina, com que o espirito increado prendeu o nosso espirito ao seu cen- tro de sahedoria, justira e amor inlinilo, a iiilelligencia sera sempre repulaiUi o mais no- bre apanagio da humanidade : c a sciencia, produeto, ienlo e laborioso, de todas as intel- ligencias individuaes, que, de cdade em eda- de, se vao auxijiando no seu aperfeicoamenio successivo, e tambem e sera sempre, emana- yao da niente divina, a base mais solida da feliridade das nacoes. E por isso, que todos os povos se tern cs- merado lanlo em cultival-a. E a frente d'el- les ufana-se urn peiio portuguez de poder conlar a sua patria. Portugal, decorrido o primeiro periodo da sua exislencia, o periodo das conquistas, que ainda assim nao appeilidaremos de barbaro, logo nos primeiros remansos dc quietacao e de paz, se voltou para a cultura das lettras. Esse rei popular, que pelos seus cuidados em graugear para o seu povo o pao do corpo, vive na hisloria com o sobrenome bonroso de rei lavrador, nao se deseuidou de Ihe procu- rar o pao do cspirilo ; e, com este intuito, organisou, primeiro em Lisboa, depois aqui em Coimbra, (como logar mais proprio pela sua siluacao central, pela amenidade e salu- bridade do clima), esta Universidade, este primeiro eentro litterario e scieniilico, d'onde as vcrdades iniportanles, que os scculos fos- sem dcscubrindo e apurando, se irradiasscm para todos os angulos do paiz; e levassem a todas as classes sociaes, convertida em maxi- mas, practicas, leis e aforismos, a luz da sciencia, que a um tempo aperfeicoasse a vi- da, e ennobrocesse o sou destine. Desde entao a Universidade de Coimbra, porque foi ncsta cidade, que, depois de en- =aios de niudaiica, sempre mal succedidos, se fixou delinilivamente aquelle eslabelecimento scieniilico, amparada c prolegida sempre pelos nossos governos illustrados, nunca deixou de responder com lustre e subido credito ao pcn- samento que a creara. Tendo tido, como todas as cousas humanas, como a nossa mesma |)atria, a sua epocba de decadciicia, d'ella Ibi levanlada em tim pela mao robusta do grande I'ombal. Este a enri- queceu com os estal>elecimentos maleriaes, que a sciencia reclamava 'naquella epocba ; e as- scntou, sobre largas e solidas bases, a sua reforma lilleraria, prevendo que, somente a sombra de lal cstabelecimeulo, poderiam ger- uiiuar e fructilicar as semontes fecundas da uioderna civilisacao, que elle com maos largas espalliara pelo nosso paiz. Eiiumerar oslillios d'esia Universidade que, desde a ^ua fundavao ate luije, tOui illustrado a patria, ja no magi.stcrio, ja nas diversas car- rciras publicas, seria aleni de lougo, allieio do nosso proposito. Pernulta-»e porem, que eu diga, i|ue a Universidade se ulana de ver, (|ue essas escliolas especiaes, que as necessi- dades da epocha reclamaram, c por cujo es- plendor e engradecimeuto, dentro da cspbera que llics e propria, a mesma Universidade \erdadeiramente so iuteressa, foram institui- das e tern sido alimentadas, pela niaior parte, por lilbos seus, que uiuito as lem accredita- do, tanio dentro, como fora da nossa terra. Alumuos d'esta Universidade, para animar vossos brios, a lini de iniitardes todos esses ge- nios que I'azem a gloria immortal d'este esla- belecimento, e vos preparardes bem para po- derdes um dia desempenliar com honra e in- lelligencia os cargos publicos, ou as prolissOes scicutilicas, OS nossos Estatutos vos chamam hoje aqui, 'neste dia solemnissimo, para que ein presenca do vosso prelado, de vossos mestres, e perante esta assemblea respeitavel, se dis- tribuam, em numero limitado, premios, par- tidos c lionras de accessit, aquelles dentre vos que no anno lectivo passado mais se distin- guiram nas lides lilterarias. Esta lesta porem nao e so dos laureados ; c de todos aquelles, que por sua assidua ap- plicacao, regular conducta, e consequcnte aproveitamenlo, niostraram ter comprehen- dido toda a imporlancia do tirocinio univer- sitario. A estes cabe tambem uma parte nos louros boje ganbados. Perseverae pois, gene- rosos mancebos, e contae, que pelo sincere amor do estudo, e pelo cumprimento de vossos dcveres, a todos vos chegara tambem um dia de egual triumpbo iMocidade academica em gerai ! Grande e a heranfa scientilica que a nossa gerajao herdou das geracocs passadas, e que tantos commodos e gozos tern dado, e conlinuara a dar a nossa edade ; lembrae-vos porem, vos, que devereis ser os apostolos da sciencia, que nao c so do pao que vive o bomem ; reflecti que todos esses commodos, todos esses gozos maleriaes se tornarao em fructos amargos e de corrupcao, se a par, nielbor direi, se acima d'elles se nao cultivar o senlimenlo moral e religioso, o qual somente pode vivificar a hu- manidade, unil-a em lacos de caridade mu- tua, e expurgal-a dos seus mans in^linctos. Conservae as sanctas inspiracOes do lar pa- terno, onde, a par do sentimenlo religioso, vossas niaes deposilaram em vossos tenros peitos 0 germen de todas as boas inclinacoes, e onde vossos paes.vos deram o exemplo das 227 virludes que nobililani o honieni. Amae a ver- dade sobre ludo ; cultivae lodos os sentinien- tos nobres, — a justica, a lealdadc, eabene- volencia ; arrudae de vos ludo quaiito degruda a dignidade luimana, — o cgoismo, a inveja, e a presunipcau alrevida. Por cstes meios alcan- fareis a estima de vossos similbantes, e a da vossa propria consciencia, deixando do vosso sacerdocio intelleclual nieraoria de proveilosas doulrinas e nobres exemplos, e de uma vida sem nianchn. No alto do throno portuguez tendes hoje para imitar urn modelo eloquente : um mo- narcha jovcn e esperancoso, que, pela sua esmerada educaeao, pelo seu amor pelas lettras e pela sciencia, e pelo exaclo cumpriinento das virtudes chrislas e sociaes, causa nao so a nossa admiracao, mas a dos extranhos. Seja elie 0 vosso exemplar ; e possaes vos, um dia auxilial-o no sancto erapenho de elevar, de- pois de tantas vicissiiudes e agilacOes, por raeio da moral, da sciencia, e da bem enlen- dida liberdade, a nossa bella patria ao grau de prosperidade e de civilisacao, de que se lorna digna. Assim correspondercis aos sacrificios e cui- dados que vossos paes tern empregado na vossa educacao ; as esperancas que a patria em vos deposita ; e tinalmente a sollicitude do nosso illustre prelado, e dos vossos mestres, que tanto se empenham pelo vosso adiantaniento litterario e scientilico e pela vossa felicidade. Alumnos premiados ! por vos, e pelos vossos condiscipulos estudiosos, vinde receber dos decanos das faculdades academicas, os pre- mios e honras de que vos lornastes dignos, e que hoje aqui vos oQ'erece a lusa Alhenas. Terminada a leitura dos discursos, os alum- nos foram, cada um de per si, receber da mao dos respectivos decanos o diploma, que os distinguia dos seus condiscipulos, e Hies marcava um logar de honra, con(|uistado pelo verdadeiro merito. Assim terrainou uma das feslas mais bri- Ihantes e solemnes, com que a Universidade de Coimbra galardoa todos os annos os tra- balhos de seus lilhos, estimulando-os a prose- guir com ardor no improbo estudo das scien- cias. ALMANAK O'INSTRUCgAO POBLICA St. 5osi >\axva it XVittM. Na Revisla Conlemporanea, do mez d'agos- to ultimo, que so agora tivemos occasiao de percorrer, encontramos, na parte da — revista critica, — o arligo, que nos apressamos a publicar, sobre o Almanak d'lnstruccao, pu- blicado pelo sr. J. M. de Abreu. Vemos, com rauito prazer, que este trabalbo do nosso illustre collega, de que ja demos conta no Inslilulo, do 1.° de niarco d'este anno (n.° "23), e que tao apreciado e bem recebido foi no paiz, alcancou tanibem os devidos elogios na imprensa estrangeira. Antes porem de transcrevcrmos este artigo, seja-nos permilli- do dizer, que, lanientando com Mr. Villetard, que uma tendencia utilitaria pretende sacrifi- car OS estudos classicos ao das scicncias, nao attribuimos todavia a esta circumstancia a falta de manuaes e compendios escriptos em portu- guez para uso do ensino, tanto na Univer- sidade, conio nas Escholas. A insignificante retribuicao de trabalhos d'esta ordcni, e a limitadissima saida que teni enire nos os li- vros de alguns ramos de sciencias exaclas e naluraes, e que julganios devida principal- mente aquella falta, a qual, apezar de tudo, esperamos ver diminuida de dia para dia, Enlre os iivros que se dizem reimpressos, em Coimbra, em fraacez, cita-se, erradamente, 0 curso de mathetiialkas, de Francoeur, sendo certo que ja em 1838 foi esta obra vcrtida cm ))ortuguez, e que a 2." edijao da Iradue- cao foi muito altcrada e meihorada, era rela- fao ao original francez. Eis 0 artigo: F. BE CASTHO FREIRE. Este livrinho (o almanak) raoldado em parte pelos annuarios, que se publicam em Franca, para cada uma das nossas reparticoes piibli- cas, deve prestar um verdadeiro servico ao corpo do magisterio em Portugal, por isso que 'nelle s'encontram lodas quantas noticias se podem desejar sobre as materias d'ensino, nos diversos estabelecimenlos d'instrucfao pu- blica d'aquelle paiz, e sobre o pessoal dos lyceus, faculdades e escholas. Modesta, mas verdadeiramente ulil, dar-nos-ia logar esta piiblicacao a podermos apresentar um qua- dro curioso do estado actual da tao famosa Universidade de Coimbra, mas nao e este o Ingar proprio para isso. Nao podemos com- tuJo deixar no silencio um facto, que ha de por certo inieressar os nossos leitores, e vem a ser, que entre os Iivros designados ofEcial- mente para o ensino das faculdades, s'encon- tra um grande numero d'obras francezas, reimpressas em Coimbra, sem serera vertidas em portuguez, mostrando assim quanto se acha generalisado em Portugal o estudo da nossa lingua. Os manuaes e citrsns de MM. Macarel, Janiain, Bouchardat, Chomel, Be- gin, Francoeur, Briand, Navier, Laplace, Deguin, Rcgnault, Pelouze, Fremy, Jussieu, Beudant, liurat, Tripon, Puissant, .Milne- Edwards, Ganot, Orlila, Richard, etc. sao ela.s- sicos tanto em Coimbra, no Porto, e em Lis- boa, como em Paris, Lyao e Tolosa. Se este facto pode lisongear o nosso amor proprio, da margem tambem para se reDectir sobre 228 as thcorias dos utilitariot era materia d'en- sino. Eis-ahi esUi uin paiz que, inliriilamente menos que nos, da ua educafao logar aos estiulos rlassicos. Pois bem ! essas sciencias a que alii se sacrilicaram, ou corapletanienle, ou em grande parle, o grego, o latim, a his- toria e a pliilosopliia, approveitaram lao pouco com esse sacrilieio, que nem ao nieiios se escreve era Portugal um bom manual dc chi- raica, de physica, ou de hisloria natural. Kogamos aos advcrsarios dos estudos classi- cos, que medilem sobre este facto. Agora, pedindo perdao aos leitores de ler- mos levaiitado tao grande celeuma a proposito de um livrinbo, voltemos ao nosso almanak. 0 que mais vivamontc nos interessou uo tra- ballio do sr. Abreu, depois da relacao dos livros exigidos para os differenles cursos, e dos programmas dos estudos, foram os qua- dros estatisticos que s'encontrara a cada pagina, e que nos dao a conliccer as despe- zas de cada estabelecimento, os ordenados dos empregados, o numero d'estudantes ma- triculados nas diversas faculdades, e o dos ap- provados e reprovados nos cxames, no (im dc cada anno lectivo. Se todas as reparticoes pii- blicas dos diderentps Estados, tivessem annua- rios, onde se apresentassem noticias tao com- pletas, as indagaroes dos cstadisticos e eco- nomistas tor-se-iam consideravelmente abre- viado. Felicitamos pois o sr. Abreu, por ter emprehendido um irabalho tao arido, mas summamcnle util. So quizer continual-o no anno seguinte, aconselhamos-lhe que leia com cuidado o excellente annuario d'instruccao piiblica por Mr. Delalain; alii encontrara um grande numero de melhoramentos na parte praclica. os quaes tnrnarao a sua publicacao mais complela e por conseguintc de mals uti- lidade. e. villetahd. NOTIGIARIO. O Jornalifsmo cm Paris. — Em agosto do correnle anno s.iiani dos prelos de Paris KIO jornaes ou publicacoes periodicas. Uni- camente 40 traclani de assumptos poliiicos ou d'eeonomia social; os 470 restantes sao: jornaes lilterarios. Do — jornaes de mou..s, 47 — jornaes do commercio e da induslria, 45 — jornaes scientilicos, 45 — colleecOes de leis e de jurisprudc-ncia, 3!) — jornaes de me- dicina, 25 — publicacoes administrativas, 17 — jornaes d'agrii'ultura, 14 — publicacoes bi- bliograpbicas, 14. Na ordem chronologica, os dois jornaes mais antigos sao a (lazeta de Franca, I'unda- da no niez de niaio de 1031, e o Jornal dos Sabios, ((ue data de 1005. Os tilulos mais usados sao : jornal, boletim, revi-ta, annaes, monitor, correio. Contam-se 71 jornaes, 43 boletins, 33 revistas, 22 an- naes, 17 monilores, e 10 correios. Nao ha especialidadc que nao tenha o sen jormil. lla o jornal dos advogados, dos cabcl- Icireiros, dos chapeleiros, dos commissarios de policia, da illuminacao a gaz, etc. Enilim, todas as sociedades litterarias e scientificas tim por orgao alguma publicacao periodica. .Ilovlnienlo litlcrnrio nn Allcmanlia. — 'Ncste paiz foram publioadas as seguintcs obras, desde o 1." de Janeiro ate 31 de junho de 1857. Encyclopedia; sciencia UUeraria — 108'; theologia — 032 ; jurisprudencia — 271) ; me- dicina e veterinaria — 104; sciencias natu- raes, cbimica c pliarmacia — 277 ; philosophia — 4!) ; pedagogia, livros elemcntares allemaes, gymnastica — 327; livros para a motidade — 83; linguas classicas e orienlaes, arcbeologia e mythologia — 157; linguas modernas, in- cluindo litteratura allema antiga — 137; histo- ria, com os sens auxiliarcs, biographia — 225; geographia — 87 ; malliematicas astronomia — 48; sciencia da guerra, estudos sobre a rafa cavallar — 84; commercio e industria — 150 ; florestas, caca, minerafao — 32; macbinas, caminbos de ferro, navcgacao — 30; econo- mia domeslica e rural, horticultura — 163; bellas-leltras — 333 ; bellas-arles — 1 48 ; livros populares — 39; nui^'onaria — 6; miscellaneas — 127; mappas geograpliicos — 85 '. * Estes al^arismos indicam o numero das obras, e nSo dos volumes. ^ '\este numero vao tanibem incliiidas todas as reim- pressoes eedi^oes novas. Pudem consultaF-se na livraria do sr. Dardalhon, na rua de S. Jouo em Coinibra, doiis catalogos de lodas us publicacoes. ' PRINCIPAES ERRATAS DO N.° 17. I'ag. 206. Link. M—oiiile se ll- — modelo cumpriu, dignamenle etc. — lease — modelo, cumpihi digoa- mente etc. Pari. Col. I.inh. Errm Emrmhis 209 2.* 34 Ao cell, ao ceo, a Kia, ao ceu', a mim iinida, aiim luiida, SIO 1.' 10 Inda lira moniento Mais um momento seagarrassea vi- seagarrasse a vi- da, da. > • .14 Tu que a miiih'al- Tuque lia pouco a ma coiilurtavas, ininli'ulnia con- fortavas, " 2.* 53e 54 Sobreos ciirposdos Sobre os corpos mortos vem in- dos morlos vem trepius, inlrepidos Era novas filas ar- Em novas fjlas ar- ro.-tar com a rostar com a mote . . . morte . . . 211 •> 6 Mais srrala. que a Mais grata, deque sonibra dos ur- a sombra dos tiiislos, arbnstos, 1 ■> 12 Como a cana que Como a cnnna que 212 1.* 23 E a descan^nr por E descan^ar por tiiii cerrando os fim cerrando os oll.os oUios M o 33 Expira vi.z, morre 'spira a voj, morre u caiilo; adeus u canto; adeus (J anjol li anjo! i> Jn0tittttf>) JORNAL SCIEiNTIFfCO E LITTEKARIO. E^iSTITUTO m COniBRA. SeNsao ta dos dcfensores de Clu- sium. Breno vlu e conheceu distinctamenle um d'ellcs, Q. Fabio; e como a vioiaeao do di- reito das gentcs era manifesta, maudou pedir a Roma a enticga do culpado. Entrcgar aos barbaros um lilho de tao no- bre familial N'ao o consenliu o povo. Fizeram mais OS de Roma — nomcaram os trez Faliios tribunes niililares, e quando os enviados dos Gaulezes exigirani a ultima rcsposta, — res- ponderam-ibes que nenbum cidadao podia ser citado ante o tribunal, cm quanto durava a magistralura de que clles se acbavara inves- tidos. A guerra foi immediatamente declarada, e logo que a insoliia rcsposta cbcgou ao canipo dos Gaulezes, levanlaram ocerco deClusiuni, e marcharam contra a soberba Roma. No dia 10 de julbo, a pouras milbas da cidade, no sitio, em que o Alia, dcscendo das montanhas se prccipita no Tibre, derrotaram 0 exercilo romano, que na forca de 40:000 homens, Ihe havia saido ao encontro. Nos dias 17 c 18, cm quanto os barbaros, embriagados com a victoria, devastavam todo 0 paiz, que se eslendia dcsde o Alia as ini- mediacOcs de Roma, era a cidade abaodonada. Parte do povo rclirou-sc jiara Veios com o que pode levar dos sens baveres, parte encer- rou-se com os ttiesouros no capitolio, munin- do-se de provisoes para uns poucos de mezcs. So no Forum, vestldos de galla, e assentados nas suas cadeiras curues, licaram oilenla sa- cerdotcs, e alguns velhos palricios, dispostos a iavarcom o seu sangue a adronta da patria. No dia 19 quando os barbaros cntrarani pcia porta Collina, c se dirigiraui ao Forum atravessando uma cidade deserla, viram, quaes pbautasmas povoando um ceniiterio, os aucioes immovcis nas suas cadeiras. Por um uiomcnto tornados de rcspeilo, dctivcram os passos; mas, dentro em pouco, vciido que cram liomens e nao deuses, immolaram nas aras ro- manas os unicos, que tinbani tido coragem de se olTcrecer ao sacrilicio com a resiguacao d'beroes. Fora 0 signal da destruicao. Roma, perden- do-os, nao podia esperar mais nada. D'ahi a boras canipeava a devastacao e o roiibo cm todos OS angulos da cidade; cm todos elles tambeni se sentia o crcpitar das cbammas, que em breve tempo a baviam de reduzir a cinzas! Foi i^to no dia 19 de julbo, aos 3Ca annos da sua fundacao. Mystcriosda providencia, qucm vos decifra? Essps, ([ue do alio do Capitolio viriim com as lagrimas nos ollios c as impreeacocs nos labios a cidade iuleira abrazada; esses, que ao som terrivcl do — vae victis — sele mezes depois compraram a libcrdade a pezo d'ouro 'numa balanca, cm que carrcgava a espada de Breno, esses podcriam acazo dizer que a grande cataslroplie havia de ser a origem d'ou- Ira 430 annos depois? Cerlissimamente nao. Pois foi. D'abi a 450 annos, aos 813 da fundacao de Roma, e 64 depois de .1. Clirislo — no mcsmo dia 19 de julho, — Nero, o monstro coroado, o assassi- no, pelo fcrro ou pelo vencno, do irmao, da niae, da tia e da esposa; o iirimciio pcrscgui- dor dos cbrisiaos; o incensndor de todus os vicios; otyranno depragnejada memoria, lan- cava 0 Togo a Roma, sob prctexlo, de que a cidade, que se havia levanlado a pressa depois do incendio dos Gaulezes — era estreila e aca- nhada de mais para capital do raundo! Crueldade nunca vista ! Depois (|ne o logo por espaco de seis dias e sete noites, estendendo-se como imagem infer- nal dcsdc 0 monte Palatino ate as exiremidades dos Esquilios, devoroii os tenqdos, palacios, porticos, c jnrdins d'aquella Babylonia, — Ro- ma, a nova Plicnix, resurgiu das suas cinzas, mais larga, mais csbelta, mais alinhada, mais [)ropria a desviiirar os ollios. Resurgiu: — mas por baixodetanto ouropel, envoltos e consumidos pela lava do incendio, eslavam pcrdidos para a palria os despojos de todos OS povos do universo, as obras pri- mas dos piiilores e estatuarios da Grecia, lodos OS cscri])los e monumenlos d'um passado glorioso. Resurgiu: — mas atraz do palacio d'ouro do tyranno eslavam as sombra^ ameacadoras dos que forani victimas das chammas; eslavam as exlorsOes e violcncias, que se tizeram era toda 237 a Italia para supprir as novas conslruccOcs dc Roma; — c Nero, conio se os remoi'sos llio iiuo pesassem, tripudiava, como as baehaiUes, ante 0 espectariilo de taula miscria ! A. X. B. CORDEIRO. NOTICIA BIOGRAPHICA Vicente Anlonio Etilevos cic Carvallio. Nasccii no logar do Tortozcndo, concellio deCovilha, emlo dOuliibro di; 1779. Foiaiu seiis paes Joao Lopes Alves Fenoira e D. Rosa Maria Angelica. Entrou na Universidade dc Coimbra era 1797, forniando-ie na faculdade de leis cm iyo2. Foi despachado juiz de fora de S. Vicente da Boira cm ISIU, e a 18 de fevereiro do mesmo anno, nomeado socio correspondeule da acadcmia real das scicucias de Lisboa. Descmpenbou o logar de juiz de fora de S. Vicente da Beira, com iutelligencia c probi- dade, por espaco de qualro annos, sendo, ao cabo d ellcs, nomeado, por provisao de 7 de se- lembro de 1813, ajudanle da suporinlendencia geral dos provimentos de bocca da provincia da Beira-Baixa, emprego que excrceu poucos mezcs, porque I'alleceu, entao, em edade de 30 para 37 annos. Publicou: Memoria sohre a origem e progressos da Emiiliijtcuse, e sua in/lucncia sohre a Agricultuia em Portugal — Por Vicente Antonio Esteves de Carvalbo. Lisboa. Na Impressao llegia. Anno 1814. Com Licenca. — 4.° Observuroes llisloricas, e crUicas sohre a rtossa Legislacao Agraria, cliamada commum- mente das sesmarias. Por Vicente Antonio Esteves dc Carvalbo, Bacharcl I'ormado cm Leis, e Correspondente da Acadeniia Real das Sciencias de Lisboa. Lisboa. Na Impressao Re- gia. Anno ISIS. Com licenca — 4.° Reflexoes Philosopliicas sohre a origem e primeiros progressos da Propriedade. Por Vi- cente Antonio Esteves de Carvalbo. — Lisboa: Na Impressao Regia. Anno 181o. Com li- cenca.— 4. " Dei.vou iiieditas ontras iuteressantes me- morias, como consta da Ilisloria e niemorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa — Tom. IV, parte II, pag. XXI, onde se acha a niencao sogu inter a Leu 0 sr. Vicente Antonio Esteves de Car- valbo uma memoria intilulada Ligeiro Qua- dro das nossas Leis da Amorlisanlo, riea de noticias, e de reflexoes de grande peso." Do discurso recitado na sessao piiblica de 24 dejunbo de 1810 pelo vice-secretario Fran- cisco de Mello Franco, e impresso na Ilislo- ria e Memorias da Academia Real das Scien- eius dc Lisboa — tomo V, part. 1, consta cgualmente o scguinte: '< Lcram-se algumas interessanles memorias do sr. Vicente Antonio Esteves dc Carvalho sobre os conbccimentos d'alguns dns nossos jiiriscoMsultus a respeilo do direilo das Gen- les. » Antonio Joaqiiim deCoiivca Pinto, da lam- bem noticia dc outro trabalbo pcia mancira scguinte: « Vicente Antonio Esteves de Carvalbo, juiz de fora, que foi, em S. Vicente da Beira, nas suas Nolicias, que .se imprimiram no Jor- nul de Coimbra { — n.°41, pag. 210 — p. 2), coneernentes a creacao dos expostos, alcm de nos dar exccllentes ideas para nos conven- cermos da neccssidade, que ha de olbar para este imporlanlissimo objecto com olbos de verdadeiro interesse e humanidade, nos trans- mittiu a noticia de algumas ordcns da inten- dencia geral da policia, as quaes por nao exislirem imprcssas, e so em registos de ca- maras, d'ondc as extrabiu, podem servir de muita ulilidade a este mesmo objecto, uma vez que se observcm; e de que por isso faco raen- fao no corpo d'esta obra ' « R. DE GUSMAO. KOTICURIO. TransruKslo do sansiie. — Mr. AVheat- crost, cirurgiao em Cannock, acaba de pra- clicar a inleressante opcracao da transfusao do sangue na pessoa d'uma mullier, por norae V.'ood. Tendo-llie apparccido uma hcmorrha- gia terrivel, logo dcpois do parlo, a infeliz cstava moribunda, e tinba ja dido o ultimo adeusa seumarido ea sua familia, quando Mr. Wbeatcrost se resolveu a ahrir-lbe a vcia e lambeni a do csposo. Injectando na moribunda 17 oncas do sangue colhido no bomem, a cireulacao reslabeleceu-se ; a cor e caldr reappareceram nas faces da doente; os olhos rcanimaram-se; a voz recuperou maisforca; e tudo caminbou bem ate um completo rcstabe- lecimento, conseguindo o corajoso practice os mais fclizes resultados de tao perigosa opera- cao. o tiiniiiio (I'nipocraieK. — Perto da al- deia d Arnaouiti, proxima a Pharsalia, acaba de se doscobrir um tumulo, (pie se reconbeceu ser 0 d'llipocrates ; a inscripcao tira todas as diividas. No interior encontrou-se o seguinle : um annel d'ouro, rcpresentando uma serpente, o antigo symbolo da mcdicina, uma pequena cadeia c uma lamina do mesmo metal, e um ' Exame Crilico e Historico sobre Exp/istos ou f geiladot — Por AatoDio Joaquim de Gouvta Piato. 238 husto lie hronze, que e provavclnienic o de Hipocrates. Toilos ostes objcclos, assini como a pedra sepuleliral em que esla pravada a inscriprfio, foram oflerecidos pelos liabitanles lurcos da localidade a lloiirni-Pacli.i, acliial governador da Tliossalia, queimmedialamenle os reiiietteu para Conslaiilinopla. Ewlnli'Ndrn do wiiioidio. — Segiindo uma tabella, que uni joriial francez pul)lica, sohre a freiiucneia do suii-idio em dilTercntes paizcs tern lugar annualmeiUe uui .sukidio, em [J5:10S luihilanles, no govenio de Moscou ; em oO;31H. na Sardenlia ; em V.):i~\>, no go- verno de S. Petersburgo ; em 27:488, na Bel- gica ; cm 2H:263, nos Estados Unidos da America ; em 19:007 na liolicmia ; cm 13:900 na Inglaterra: em 13:401 na Franca; em 10:000 em Praga ; em 8:838 em Nova-York; em 8:081 na Prussia ; em 7:3o3 em Meck- lemburgo ; em 3:084 na Saxonia ; em S.OOO em Londres; em 3:000 em Ilamburgo; em 3:000 na Dinamarca ; em 3:985 em Genova ; em 2:173 em Paris. 0 nunicro dos suicidios corresponde sensi- vclmcMle ao numero de molesiias mentaes, e aos dilTcrentcs graus de culUira e eivilisacao; mas em muilos paizes a sua causa principal e 0 vicio da enibriaguez, como em Ilamburgo e Dinamarca. Popiiiarsio do sioho. — 0 aimanak ame- ricaiio para 1837 aprescnla a scgiiinie esia- tislica da popuiacao do globo, assim repar- tida: — Africa, ' 100.000:000 — America, 37:070:882 — Asia esuasiihas, 020:000:000 — Australia e suas ilhas, 1.248:000 — Euro- pa, 203.317:321— Polynesia, 1.300:000- somraa total, 1:040.942:403. Esle calculo da uma popuiacao ninito maior, do que a referida nas estatisticas de Baibi e Ilumboldi. Cn«iO nofat'Pl do wo:i»nnniliiDli«imo. — Um jornal americano mencioiia uni curioso facto de soninambulismo. I'nia scnhora de Fulton esta no liahilo de se levantar todas as noites, somnambula, e cscrever poesias em que se rcconhece algum nierito. Para traba- ibar, accendia luz ; mas hoje cscreve as escu- ras, porque sua familia Ibe tirou do quarto OS meios de se allumiar. Ilariiilia dJ" <€>rtn»i a« narnes. — Ava- lia-se, em 2 000:000, pouco mais ou menos, 0 numero de marinheiros de todas as nacOes. Os navios de commercio de todo o mundo medem proximami^nte 13,000:000 de tonella- das. D'csles 13 milhoes, 3 pertencem a Gra- Bretanba, e 3.200:000 aos Estados Unidos da America. 0 resto reparte-se per todos os outros paizes. McdallinM romnnaN. — Pcrlo de Cher- burgo, em Franca, desco!)riram-se ha pouco muitas medallias d'ouro, com elligie de Tibe- berio, sepultadas a 2 metres de profundidade. Appareceram tao beni conservadas, que pare- ciam cunbadas de fresco: foram de certo en- Icrradas, antes de circulareni, i>ouco tempo depois de fabricadas. Presume-se, que cstas medalhas, contem- poraneas de .Icsus Christo, estavam dentro de um tunuilo, deque ainda appareceram alguns vcstigios. Talvez que fossem escondidas, diz um jornal franccz, durante as lulas entre os Komanos e Gaulezcs. Prescindindo de lodas as liypotbeses, parece cvidente, que este tbe- souro foi occullo na epocha da dominafao romana, lia 18 scculos. Revi<«(io «>-povrrai9iiioa. — I'm typogra- plio de Glascow icvou-se em capricbo de pu- Idicar um livro com a maior pcrl'eicao typo- graphica. Scis revisores dos mais practicos c auctorisados cnearregaram-se do exanie das provas; cada folba era affixada durante duas semanas, na sala grande da Uiiiversidade ; e uma recompensa de 30 libras era promettida a quem descobrisse o nienor erro. Publicou-se iinalmcnte o livro; e apesarde tantas prccaucoes, appareceu logo um erro na primcira linlia da [irinieira pagina, alem de muitos outros no resto das folh'as. i^pda vogeJai. — Mr. Davir, fabricante de Paris, obtcve nicadas nuiito brancas e de lio Hiuilo Icnaz, d'uma subsiancia textil, extraiija da casca da amoreira E uma verdadeira seda vegetal, que se presta facilmente as.opcracoes da linluraria. De 5 kilogrammas de casca pode extrair-se 1 kilogramma de materia lex- til. Slaiiiiina giara excrever. — Esla maqui- na foi invcntada por um americano, e aper- fcicoada por um engcnlieiro da Prussia. Com- pue-se de trcz pen nas mctallicas, dispostas a certa distancia umas das outras, de mode que possam mover-se sobre trez folhas de papel, c ligadas entre si por uma baste metallica. Quando uma pessoa cmprcga a penna do meio e piincipia a escrever com ella, as duas pen- nas lateraes, dn dircita e es(iucrda, operara 0 mesmo movimento, e obtcm-se assim Irez copias cm logar d'uina. Fonto« d'asna doce no tiiar. — lla no fundo do oceano fontes d'agua doce que re- pucham verticalmente ate a supcrficie. A agua d'estas fontes vem evidentemente do interior da terra por mcio de canaes formados pela natureza, esituados debaixo do leito do mar. lla poucos annos, Mr. Buchanan, que via- java nos marcs da India, encoutrou em tempo de perfeita calmaria, uma fonte abundante 239 d'agua doce, a 30 Icguas de distancia do ponto mais visinlio do liltoral. Eis-aqui poitanlo uma correnle d'agua subtcrranea, teudo mais de 30 leguas de comprinienlo. A cliiniica c on rONnielirosi. — INa aula em que uni celel)re professor de cliimica de Berlin! dava as suas licOcs, habitualmenle fre- quenladas por prande numero de senlioras, 0 desinvolviincnto de certos gazes transfor- mou rapidamcnte em cores negras, azues, amarellas e violaccas, os cosmeticos de que algunias »e serviam para ohler unia helleza arliliclal, amaciaudo e aformoseando a pelle do roslo. A metamorphose produzida por cstcs per- fidos vapores, que tao desagradavclmente pin- tou algumas d'aquellas danias, proveio da acfgo das emanacoes sulphurosas sobre o sub- nilrato de bismutlio, que entra na composieao dos cosraeticos. .':. gtlirenolosia iin Cliiiia. — Os medicos cliins conhecem e practicam a phrenologia, ha nuiilos seculos. Apreciam as qualidades dos homens pela regiao fronlal ; as paixOes pelo (leslnvolvimcnlo das partes lalcraes; os sen- timenlos [cla elovacao da abobeda do craneo. As mulberes sao julgadas pelo volume da re- giao posterior da cabeca. Os chins dao o no- me de fiio, palavra que significa bossa, as protuberancias do craneo. Os sacerdotes botid- distas sao muito fclizes, quando podera palen- lear na sua cabeca a bossa da saniidade. Instrurrsto pi'iltlicn na RiasNin. — 0 rclalorio do ministro d'instrucfao piiblica da Russia ofTerece os scguintes docunicntos : 47 bibliothecas piiblicas : numero total d'es- tabelecimenlos d'lnstruccao, 3:872, frequenta- dos por 194:''i90 alumnos: OH estabeleci- mentos particulares, com 21:803 alumnos: 2:087 pessoas d'ambos os sexos sao empre- gadas em cduraeoes particulares. Nos qualro governos e Irez territories da Siberia, existera trez gyninasios ou lyceus, 71 escolas, e 2 ins- tituicOes particulares, frequentado tudo por 4:340 alumnos. Pi'oiliict'ao asricola tic clilTcrcntcs pniaECK.— So a Franca eonscguisse dos 14 milhoes d'hectares, que deslina annualmente a cullura dos cereaes, a produccao, que na Inglatcrra se obtera, colheria 330 milhoes d'hectolilros de cereaes, cm quanlo que actual- menle so coihe 140 a loO milhoes. A terra produz na Gra-15retanha 23 hecto- litros de trigo por hectar, e sustenta cinco vezes mais gados que a Franca, nas devidas proporcoes. A Belgica obtem do solo uma produccao, dupla da que ha em Franca. A Alleraanha colhe 22 hectolilros de cereaes por hectar. A Lombardia c Piemonle alimentam 170 habi- tantes por kilometro quadrado. A Franca na mesma superlicie apenas sustenta 70 habitan- les. Iloptlas lie dilTercnleH paizow. — As proporcoes legaes entre o ouro e a prata era diversos paizes da Europa e nos Estados Uni- dos da America, sao as seguintes; Franca — o ouro esta para a prata, conio 13,30 para 1 Inglaterra 14,28 ., 1 lii'Igira 13,79 .. 1 llespanha 13,73 » 1 Portugal 13,48 » 1 Russia 13,00 » 1 Estados Unidos 13,98 >. 1 RELACAO Don indh-iduos nnmeados para t/s segvinies logorex de instriicrdit pi'iblira desde o dia 15 nte aofim de tiutU' bro ultimo, por dcspachos do Coiise/ho Superior d'inS' truci^no ptibUcn^ e decretos do governo communicados ao mesiuo conselho no iitdicado periodo. INSTBUCf^&O FBIMABIA. Joaqiiim Manuel Antunes, para professor temporario es Feiieira Vaz Pinto. Manuel Maria de Mello e Simas. Maniiel Jose Leile Biaga. Nitolati Hibeiro Vaseoricellos Abranches. Paulo de Meiidotica Fakao. Alipio d'Oliveira e Sousa Leil.'io. Antonio d'Alnieida Mattos Carvalbo. Albeito Julio Ferreira. Adao Cabial de Gouv a e Castro. Alexandie Manuel Ferreira tl'Arag.io. Ant. Iiebcllo d'Andradc de Figneiiedo. Antonio Guillierme de Queiriiz Savedrn, Antonio Julio de Queiroz Macliado. Daniel Jose Fernandes, Francisco Pereiia Sarmento. Jaime Constantino Moniz. Joao Carlos de Mello. Jose Caetano Henriques dos Reis. Joao Neponiuccno dos Reis Vareiia. Joao Freire Tbemudo d'Oliveira, Jose Julio d'Oliveira Baptista. Francisco Antnnio de Veiga Beirao. Antonio Candido da Silva Dias. Francisco Maria da Cunba e Souto. Augusto Saraiva de Carvalbo. Joaquini Trigueiros Pestana Martel. Doiningos Ferreira da Rocba e Silva. Augusto Ferreira Novaes. Bernardo Vieira Pinto d'Andrade.] Antonio Joatjuini Barreira. Jose d'Alineida Carvalho e Oliveira. Jose Bernardo Pereira de Vasconcellos. Manuel Jose da Costa Guini." de Sousa. Manuel Joaquim Correa Velloso. Nicolau Pereira de Mello Marinbo. Pedro Gomes de Mag.'"' Pinto Pegado. Antonio Manuel d'Azevedo e Costa. Antonio d'Ascensao. Anlonio Ramos de Carvalho. Francisco Rodrigues Pereira d'Almeida. Joaquim Pedro de Sa Oliveira. Jose Silvestre Ribeiro d'Alm.'' Penteado. Antonio Coelbo d'Alliuquerque Porito. Antonio Duarte da Cunba e Souto. Benjamin Constante d'Amaral Netto. Luiz Pedro Moutinho de Gouvea. Jose Eduardo Levita. Manoel Quaresnia Limpo de Lacerda. Antonio Lucio Tavares Crespo. Julio Manso Prelo. Macario de Castro e Sonsa Pinto Cardoso. Miguel Adelino d'Almeida Pedroso. Jose Maria d'Albuquerque Tavares Jose Joaquim Fernandes Vaz. Antonio Barata Pinheiro Feteira. Augnslo Maria d'Almeida e Silva. Francisco Moreira da Fonseca. Augusto Ernesto Batalha. Joaquim de Mattos Peixoto Souto-maior. Bernardino Pereira Pinbeiio. Domingos Jose Dias de Castro. Jose Joaquim d'Almeida Grave, Jose Joaquim Rebello da Silva. Thomaz Emilio Raposo de Mngalhaes. Antonio Jose Lopes. Francisco d'Albuquerque Pinto de Paiva Jofio (le Barbosa tie Mag." e Meiidonca. Abel Atigiisto (le Campos e Caslru. C." ANNO JURIDICO. I Ailriano Jonciuiin ile Magalhaes. j Antonio li'Alincida da Sdva. Aiu." d'Aiaiijo ^'asc.°' ile Miranda. AnlDiiio Faes Uias il'Aiiiaral. Antonio Pedro I'eixeira da (>nsta. Aiigt.' de Carvallio Vasqiies deMesqnita. , Augt."Corrca Godinlio Ferieiia da (^osta. ' Auguslo Fiederico Polscli. Aiigiisto Ofoncalves Ciirado de Campos. : Diogo Ignacio de Pina Maiiicjue. ' Eduardo Jose Coellio. ' Feriiiino Aiigiisto de Magalliaes. Francisco lAIanoel de Barros e Silva. Jofio Ant.' Franco Fraz.To Cast.'-Cranco. Joao Carlos Valladas iVIascarenhas. * Joao dOliveira Trenas Grainha. Jo.'io Rodrigues d'Azevedo. Joaqiiim d'Azevedo Araujo e Gama. Joaquim C-roncalves Cnrado de Campos. Joaquiin I.oiirenco Vidai. Jose Antonio d'Azevedo Borralho. Jose Augnsto da Cruz. Jose Pei.Koto tie Magalliaes Menezes. Lniz Augnsto Giieneiro. Jose Antonio l''raiico. Manuel Emygdio Garcia. Manuel Guedes Leite. Feliciano Gabriel de Freitas. Henrique N lines Teixeira. Joao Cailos Butelho Moniz. Joaquini Antonio de Sousa e Silva, Joaquiuj Taibner de Moraes. I Antonio Carlos de MagalhilesMendonca. Antonio Joaquini do Carnio. I Antonio Jose d'Azevedo. i Antonio Leite Montciro. Francisco Ignacio da C'alra e Pina. Alannel Feinandes Coelho. i Jose Bernardo (iardoso. I Jose Germano da 7 I Joao Ferr.Mio ile Castello-Branco. •iB I Maiinel Saldanha da Gama. o9 F'austo Firmiiio Guedes. til) I Jose Gregorio Pinto Pereira. •'I I F.li'siario V.iz Preto Casal. Francisco Faustino Pereira de Resende. 27 Francisco de Paula SanlaClara. 20 Goncalo Caldeiia Cid Leitao Pinto. 29 Joao'd'Araojo. AO .loao Caiiiossa Nunes Saldanha. 31 -loao Henriqucs de Sons.i Guedes. 32 •'oao Honiem Rcbello Freire d'Almeida. 33 -'o.no Lopes da Costa Rego. 3 1 •loaquim d'Almeida Peres. 3.1 Joaquini .Antonio d' \lnieida Miranda. 3() .loaquim Fernandes Falc.io. 37 .loaipiim de I'"igueiredo Pinto Bandeira. 38 Jose Barbosa de Carvallio. 39 .lose Manoel da Silva Pinientel. -JO .lose Maria de Barcellos .liinior. 4) .lose de Mello Freitas. 42 -''ise Maria da Silveira Montenegro. 43 -lose .loaquim de P'igneiredo da Rocha. 44 Jose Maria Pinto Ribeiro. 4!) ■ ulio Aiigusto Henriijues. 4G Luiz Pinto Coelbo Soares de Moura. 47 Manuel fiaplista Caniussa Nuoes. Manuel tie Beires. Maniifl Joso Vieira .hinior. Miguel Moreira da f^iisecii. lioqiie I'loriild lie Sousa C'ailieiios. Koi.''' (i'Abreu Lcbo Uaceilar Meirelles Antonio Vicenlc iiigote. Ballhasar de Qiieiioi Macliaili.. Eiluartlo Mmiliifar liarieiios. Franc,'" (le Paula Alh.ino d,i Silv." Pinto. Joao lia Silva Mi-ndes I'liitacio. Joaqiiiin fedni Seabr a •luiiiur. •lose lie Sa C^outiniio iuiiior. Antonio Silveslre do Hcgo. Fredciico J^ng.'" da Uociia Moniz Gomes. .Iiiaqniui Alaiinel d'Aliiieida e Sousa, Lucio Angusto Xavier de I,inia. Manuel .luaquini de Paula da Uocha. Manuel Nicolau d'Abreii Castcllo-Branco .lose Dias d'Aianjci. .loaode iMag."Collaco Moniz Vellasques. ■loaquini Macbado Cabinl e Castro. Vicente Madiado ile Faiia e Maia, Adoljdii) :!,■) ;ii .'io .■)(; ;i7 .•!fi .'iS 40 -H 42 ■t.-i Si .1.0 j 4S v.) &0| 5, I /)3l .')1-1 !74 Fduardo da Costa e Almeida. F.duardo de Sequeira Oliva. Kuzebio Francisco Fernandes Faltao, Fernando Antonio /,amitl). Francisco Alvis Alartins Calvao. Fiancisco Augusto Duaite da Foiiseca. Francisco Angusto Nunes de Mattos. -■ Francisco Augusto de Saiide Sacadnra. I'^iauciseo Barbusa da Costa Guiniar.ie;. Francisco de Bessa Correa. Fiancisco Coellio Martins. Francisco Jorge d'Alnieida Caslardm. Francisco .lose da Costa e Sa. F*'ianeisco Maiia d'Anioiim Francisco Pinto Cix.lbo d'Atliaide. I'rancisco de Sa Vasconcellos Albergaria. Caspar d'Araujo Azevedo Baccllar. Gualdino Allredo da S." Lobo de Gouv a. Guilberoie Firinino da Cunlia Ueis. Jo.io Clirysostonio Mclicio. Joaquirn Antonio dos Reis. Joaquim Hor Meyll Alvares Coellio. Joaquini Jose iianto. ,•)() Manuel Jose Rodrigues da Silva. hi Manuel de iMagalliaes Mexia Macedo. ■)ii Manuel Nunes Giraldes. .>y Manuel do Valle Campos Barreto. (it) Miguel Tudella de Sousa Lenius. Gl Siniao de Caica e Pina. ayme Palineirini. Antonio Guedes da Cosla. (Jl Attuuso Pinto de Mesquila Carvalho. CiO Antonio Augusto Ferreira de Mello. Antonio Goncalves Godinho. I). Frederico Vaz Guedes d'Alhaide. (18 •iosi; da Silva Lopes Cardoso, i;;i Jose Siinoes Diiarte Lyra. 7() Augusto Cez:>T de Mattos d'Andrade. 71 Lniz Philippe d'Abreu. Manuel Nunes d'Oliveira Sobreiro. 75 .loaquiiii Jose de Vasconcellos Gusmao. 7 I ose i iiincalves Mamede .lunior. 7.'i D.:\liguclVaz( ■uedesd'AthaideMalafaia • osi' de Vasconcellos Freire. \ntonio Rebello Farinha de Sousa. \ntonio Riheiro Pinto e Mello. Conde de Rio Maior, Antonio. osta. li I Francisco Dias Leite Sainpaio. ( milheinie Street da Cunha. ''3 Joao Rarbosa de Maltos e Cainara. ii t Jose lie Menezcs Toste. fi.T Antonio \ytes de ( 'ouv'a. !i(> Cailos .'ose d'Oliveira. !i7 Fiancisco -lose d'Azevedo Coutinho. !H .Adriano Pereira Sinioes de Lima. 89 Augusto Cliniaco Raposo Bicudo. 10 Jose Augusto Sancbes da (lama, • I Philippe de Faria Azevedo e .Araujo. •lo o .lose de Mendonca (2ortez. Jjiiiz Osorio (Cabral. M- Rodrigo Telles ile Menezes. 9i Manuel Tavares do Soveral Martins. ;)(; Manuel .lose da Cunha Novaes. <)7 Roberto de Lima Barreto Torres. );j Antonio Manuel da Cunha Freitas. (;.<= ANNO JURIDICO. Calidonio de Soosa Coelho eVasconcellos Marqiiez de Sousa Holstein. €> 3njstitttt0) JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. WSTITITO DE COIllBRA. CLAS9E DE SCIENCJAS MORAES E SOCIAES. At \8S8. 1 it '^awwo Estando aiisenle o sr. Miguel Ribeiro, di- rector da classe, presidiu o sr. secretario Adriauo Machado. Pelas 127 da tarde abriu 0 sr. prcsidente a sessao. 0 secretario leu a acta da sessao antecedente, que foi approvada. Em seguida passou-se a ordeni do dia, que era a eleicao da mesa para 0 presente anno. Corrido 0 cscru- tinio verificou-se terem oblido maioria abso- lute OS srs. Miguel Ribeiro de Vasconcellos, para di- rector; Adriano de Ai)rou Cardoso Macbado, para secretario; Marquez de Souza noisleiu, para vice-se- crelario. 0 sr. presidente em nome da meza agra- deceu a classe a honia que d'ella acabava de receber, e depois de ter feito algumas consi- derafocs sobre os trabalbos da classe no anno proximo passado, fechou a sessao pcia 1 ', bora. 0 vice-secretario da classe de sciencias mo- raes e sociaes, Marquez de Souza Bolslein. SwsCvo io, t\as.st J-t. VUtoatuva, ViiVVas VtUtas t a\Vts, iTOi 6 it yvut'wo it \8SS. (extkacto). Abriu-se a sessao pela uma bora p. ra. Presidente, osr. Jose Maria de Abreu, dire- ctor da classe. Motivada a convocacao pela necessidade de satisfazer as disposicoes do art. 18 dos Estatutos, e aos rcgulanietitos da classe, pro- cedeu-se comiietenlenicnte a eleicao da nova meza, que dove funccionar durante todo 0 corrcnte anno, saindo eleilos, por maioria ahsoluta, para Director, 0 sr. Jose Marin de Abreu ; Secretario, 0 sr. A. Ayres de Gouvea ; Vice-secretario, 0 sr. Antonio Bernardino de Menezcs. Vol. VI. Janeiro 1 Proclamados os noraes dos socios eleitos, 0 sr. director pcdiu a palavra para agradecer a nova mostra de consideracao com que a classe 0 bonrava e rogar a sua escusa ; — que Ibe nao foi acceite. Em seguida lomou a mao na practica para egual lini 0 sr. secretario, fundamentando 0 sou pedido em dois pontos melindrosos. A classe, porcni, tcndo fallado no assunipto os srs. Adriauo Macbado, Uernardino de Menc- zes. Faro e Noronba, Miguel Ribeiro, e Jose Maria de Abreu, decidiu cgualmente nao dever acceitar a escusa. Nao bavendo mais nada a Iractar, fechou a sessao 0 sr. presidente; sendo bora e meia da tarde. Sala do Instituto, em 0 de Janeiro de 1858. 0 secretario, A. Ayres. RELA^IAO NOMINAL DOS SOCIOS HONORARIOS, EFFECTiVOS E CORRESPONDENTES DO liXSTlTlTO DE COIMBRA. Presidente. Francisco Jose Duarle Nazareth. Vice-Preiidenle. Francisco de Castro Freire. Secretarios. Jacintho Antonio de Sousa. Jose Pereira da Costa Cardoso. Thesoureiro. Raymundo Venancio Rodrigucs. Director do Gahinete de leilurn Marquez de Souza Ilolstein. socios HONORARIOS. Alexandre Oerculano de Carvalbo. Antonio Feliciano de Castilho. Antonio Jose d'Avila. 0—1858. NiM. 20. 242 Arcebisjio de Myli'lene, Dr. D. Domingos Jose de Sousa Ma^/iilhues. Coiiiie A. Raczyiivky. Conde do Lavradio, D. Francisco d'Almeida Portugal. C .1. V. Miiteniiaier. l)uia.v da Camara e Soiisn. vogal. Jodo Joxe de Medonra Cortez, sciTcUirio. Minisl.irio do rcino — 1." din'crao — 1.' loparlirao — L. \"> ii."418. — Sua Maj^i'sladc Kl-Rui, a (jiiciii foi prcsciile a reprcsciilarao, com que a dircccao da soeiedade [iliilanliopi- I'O-aeadcmica dc Coimhra romelle um exem- plar (la olira inliliilada — Menioria liislorica e descripliva da l)il)liotlioca da Uiiiversidadt, — que Ihc fiira oilerccida por imi dos .-ens socios; c podindo simtillaueainenle que Sua Magcslade Se Declare Protector o Presideute perpetuo da mesma soeiedade: Maiida agra- deccr a sobredicla direccao a reniessa d'a- quelle importante opuscule; e annuiudo, em parte, aos dcsejos da mesma corporacan, man- da, outro sira, signilicar-lhe, que muito se compraz em acceilar, como acccita, o tilulo de Protector da soeiedade pliilantropico-aca- demica dc Coimbra. 0 que pela secretaria d'Estado dos negocios do reino se llie parti- cipa para sou conhccimcnto. Paco das ISecessidades, cm 18 de septemhro de 181)". — Marqitez de Louie. Senhor: Annuindo ao descjo da direccao da soeiedade philantropico-academica, Dignou- Se Vossa Magestade de a engrandccer e lion- rar, Declarando-Se seu Protector. Ufana, por ter podido assignalar a sua ge- rencia com cste facto grandioso, a direccao liei- ja, mui respeilosamenle, a real mao de Vossa Magestade, por tao dislincla graca e favor. Ncm sempre se podc traduzir a palavra a natural c aprazivcl seusacao d'um animo agra- decido, Da posse d'nm grande beuelicio. A direccao reconhece, mais agora do fjue nunca, toda a forca e exactidao d'esla verdadc ; e por isso, Pondo na Soberana Presenca de Vossa Ma- gestade UDi exemplar dos estatutos da soeieda- de, liuiila-se a fazor sinreros volos pela pre- ciosa \ ida de Vossa Magestade, por dilatados c folices aiiiios, como todos havemos de mister. Dc Coimbra, 30 de seplembro dc 1837. Dr. Bernardino Jouquun da Silva Carneiro, prcsidente. Dr. D. Viclorino da Conceicdo Tei.teira Neves Belu'llo, vice-])rcsidentc. Di . Liiiz Albano d'Andrade Moraes e Almeida, liscal. Dr. Jnuqnim Jose Paes da Silva Junior, pro- curaCA EMRE A FEnUE rCERPEIlAL, A UETllO-PEBITONITE, E PULEBITE CTEIUNA? Idea geral de febre. I. A classe das febres, continuamenle inlluen- ciadas pelos variados systemas, que tem rei- nado na medicina, e uma das paries mais vaslas, confusas e indeterminadas da patho- logia. Denominada pelos auciores gregos nujsric, 7Tupe?i;: pelos la tiuos /'fftr!,?, pyrexia; pelos ita- iianos febbre; pelos hespanhoe^ frebre, calen- lura; pelos inglezes fever: a origem clymolo- gica da palavra febre, vem, scgundo alguns auciores do verbo latino /'en^e/e, ou dosubstan- tivo fervor, porque se suppunha que os hu- mores cram postos em movimento a maneira 246 il'iim liquido em ebullirao. Oiitros a fazem cierivar do verbo febniare, julgando a fehre unia oporarao < quolidiana; ex ulraque bile, llava quidem, (ilcrciaiia: atra aulem, qnartiina eflicitur. « (Galono liber 2."* dc fcbnbus cap. 2."') » "As lebres conlinuas tern sua oiigem na bi- lls, e solTrcra diversas divisocs. (Idem.) Foi sobre estas ideas sysiematicas, que mui- lo tempo se apoiou a pyrelologia. Durante a meia edade e ale ao principio do seculo X.VIII a doutrina Galleniea prcdoniinou na sciencia com mais ou mcnos modilicacocs. Enlao co- raecou uma das epochas mais brilbantes da pyrelologia. Yanelmonl recusa admittir a po- dridao dos bumores corao essencia da febre, e sustcnta que esta nao c mais do que uma indignaciio do arclieo para expulsar da eco- nomia uma subslancia eslranlia, e nociva. 0 IVio indica o estado de medo, e d'esgota- uK'nlo do arohco: o calor, os eslbrcos e os movimcntos aos quaes elle se entrega. Willis rcjeilaudo as anlig-is tbcorias humo- ristas inclina-se a que somente o sangue e suscepti\el d'effervescencia por um cxcesso de calor, e de produzir as febres. 0 sal, o espiri- 10, 0 enxol're, a agua, e a terra erani os prin- cipios componcnies do sangue. A ferraentacao produziila 'nestes divcrsos elemcnlos dii ori-- gem iis differentes febres. 11a um principio intelligenle, que lende a expelMr as paries impuras e prejudiciaes ao sangue; a operacao que para islo tcm lugar denoinina-se febre. Assim o julga Sydenbani. llollmann liusea a causa proxima do movi- mcnto febril 'numa alTeccao espasinodici dos syslemas nervoso e vascular, caminbando pri- meiramente da peripheria para o centro, e expellindo depois os liquidos cm sentido con- irario. A maior espessura do sangue ou esponta- nea ou devida a causas eslranhas, produzindo a estagnafao d'este liquido nos vasos, au- gmentava a quantidade de sangue conlida no <;oracao. Este orgao reagindo niulliplicava as suas conlraccoes, e produzia a febre, que lambem se originava por inDuxo consideravel 247 dos fluidos cerebral e nervoso sobre os nius- culos. Tal e a doutiina de Boerhaave, cxposia no aph. E)74 quando diz. « Ergo vclocior rc- 0 ciprocus inlluxus liquido cerebcllosi et ner- «vosi, iu niusculos, et sanguinis in vasa, et « cava cordis. « Um espasnio nas exlremidades dos vasos e para Cullen a causa proxima, a essencia das febres. (Cullen. Medecine pratique pag. 20 torn. 1.") Para Broussais a febre e sempre o resul- tado d'uraa irritacao priiniliva ou synipathica do coracao; em virtude do que este orgao preeipita as suas funccoes. Neni 0 calor aiiormal do corpo bumano, como julgavam os anligos; — neni a aecele- racao do pulso como julgava Boerhaave cons- titueni por si so o character da iebre. Estes dois curacteres devciu cxistir reunidos, lereni algunia duracao, o sereni prccedidos d'unia sensacao de frio. u Tria ilia phenomena, bor- « ripilatio, pulsus velox, et calor, in onini « febre ab internis causis oria, semper ad- « sunt. (Van Swiien). » Perturbacoes lunccio- naes devem completar o quadro syraptomato- logico do eslado morbido, que denominamos febre, c que e dcvido a um augniento d'ac- cao, a uma exaltacao ou hyperslbenia do ele- raento vascular. Esta exaltacao do systema circulatorio cxiste era Jsoladamcnte. ora precedida, ou aconi- panhad.i d;; lesoes phlegraasicas era algum orgao da economia. Assim se dividem as febres era essenciaes ou ideopalhicas e cm semndarias , ou sympto- maticas; objecto este solire o qual nao estao d'accordo todos os palbologistas. Continita. f. a. ALVES. 0 SELLO GRANDE DE INGLATERRH. Contiuuado de pag. 202 0 sello do rcino conserva ainda hoje loda a sua anliga iniportancia ; as mesmas leis, que sabiamente declararam.o rei immortal, loma- ram tambem acertadas providencias para que o reino nunca cslivesse sera um sello grande; e sc por Ventura e necessario fazer um sdllo novo, 0 antigo somente se deslroe depois de prompto aquclle que o bade substituir. A ereacao d'um sello novo e um verdadeiro negocio d'Estado: o soberano convoca o con- selbo privado, e alii o gravador d'elrei apre- senla os de.^enbos para o novo sello. Esco- jhem-se os desenbos, faz-se o niolde ; quando estii prompto reune-se de novo o consellio para approvar o sello; eniao e que o rei o entrega ao cbanceller, que fica ipso facto revestido de todas as dignidades que ja nien- cionamos. Antigamente havia ainda outra ccremonia: o novo cbanceller devia, perante 0 conselho, sellar por sua raao um documen- to, a lim de moslrar que seachava babilitado para cuniprir com os deveres do seu cargo; do mesmo modo que ainda hoje os slierifs de Londres e de Middlesex sSo obrigados, antes de lomarem posse dos scus logare's, a dar uraa prova da sua intelligencia e aptidao, « essa prova consisle em contar cerlo numero de pregos e aparar algumas varas. Porera, OS sellos usados 'naquella epoclia, apesar de chaniados grandes erara pequenos, compara- dos com OS de hoje; nao tinham talvez mais de duas ou trez pollegadas de diametro, e nao era mais dillicil sellar com elles um do- cumento, do que lacrar uma carta com um sincte. Comtudo parece que o sftllo grande tern ido crescendo na razao directa do augaicn- to do poder real, e hoje e tamanbo, que o nobre Lord, seu guarda. de cerlo queimaria OS di'dos se lentassc sdlar com elle algum docunieuto; por isso ha dois empregados adeslrados « o aquece-cera » e o « sellador » encarregados d'este mister. A ereacao d'um sello novo nao e ceremo- nia mais solemne do que a destruigao do antigo. Esta operacao e feila pelo soberano em scssao do conselho. 0 rei toca com um marlello no antigo sello, que desde entao dei\a legalmente de existir, e iica sendo pro- priedade do clianceller. Esta propriedade tem hoje maior valor do que antigamente, porque 0 sello que era de cobre ate 181!), e desde entao de prata. A este respeito lembra-nos uma contestacao curiosa que teve logar quan- do Guilherme IV qnebrou o sello do seu ante- cessor. 0 cbanceller no tempo de Jorge IV era lord Lyndhursl, mas quando se acabou de fazer o scllo de Guilherme, acha_va-se re- vestido daquclla dignidade lord Brougham. Anibos prelendiara o sello antigo e allega- vam, um que era aquelle o sello do reinado transaclo, outro, que o sello era valido ate ser quebrado pelo novo monarcha. A contestacao foi levada pcraute o rei que, achando boas razoes a favor d'arabos os liti- ganlcs, detidiu que se desse a cada um d'el- les metade do sello. 0 ourives de S. M. en- gaslou estas duas metades cm custosas niol- duras de prala, que eirei mesmo apresentou aos dois rainistros, dizendo-lhes, que deitas- seni sortes para decidir como deveriara ser dislrihuidas. 0 cbanceller, que recebe sempre o sello das raaos do proprio soberano, nao o pode voltar senao a este, ou a quern por elle for mandado especialmente para este lira, com uma ordem por escripto, revcslida da assigna- tura real. Quando o cardeal Wolsey caiu no desagra- do d'elrei, os duques de Suffolk e de Norfolk tentaram tirar-Ihe o sello, em virtude de uma ordem puramente verbal do rei; porem o 248 cardcal recusou enlregar aquelle imporlanle dcposito, e os nobres mensageiros livcram de ir buscar a ordcm por cscriplo que pedia 0 e\-chaiiceller. Nao era raro ver os Tiuiors e os Stuarts pedirem o siMlo cmprestado per alguns dias aos seus'cbanfelleres, alim de podereui com flic validar dccretos e merces, que os chan- celleres Icvados do rceeio ou de escrupulo, nao quoriam scllar. 0 siMlo grande, de cuja posse dimaiia loda a aucloridade do cbanceller, presume-se pre- seiUe senipre que eslc exercita alguma das suas funcciies politicas ou judiciaes. Porem, para cvitar que o sello seja contiiiuanieiile Iransportado d'um logar para oulro, usa-se boje nao Icvar peranle o chaiiceller senao a bolsa ricamente bordada destinada a recehcr 0 sello, e somcnte (iiiamio ha <]ue scllar algiini documcnto, e que se lira do logar cm que costuma eslar guardado. (Revue Brildniiiqiie.) prelecqOes de direito publico interno de portugal QUE FEZ NO AX^O LECTIVO DE 1795 A 1796. Continiiado de pag. 235. PARTE 1." Da rdrma e constituirao do Iniperio Portuguez. D. Afjonso VI de Caslclla tinlia o imperio supremo dos Estados que Ihe obedecium. A forma de governo de Portugal e de Mo- narquia pura c iudcpendenle, |)orqHe todos os diri'ilos da snberania eslao iia miio do Rci. E esta foi senipre a natureza do nosso reino, desdc que D. Affonso YI o deu em dote ao conde Henrique. Esia proposicao tern duas partes; 1." que Portugal ficou scparado de Castella, e iude- pendentc, quando foi dado cm dote; 2.^ que a sua constiluicao desde o principio foi pura- mente monarchica. Para mellior provarmos uma e oulra cousa, cumpre primeiramente separar os factos in- contcstaveis dos controversos. E cerlo que o conde D. Henrique casou com D. Theresa, filba de D. Affonso YI. — Que recebeu Portugal em dote, e o direito de fazcr conquistas aos Mouros. — Que D. AlTouso Uenriques, successor de seu pae, foi acclamado Rei depois da balaiha do campo d'Ouriquc. — Que este reino c ha niuitos se- culos soherano e independente de toda a vas- salageni. — Que o governo actual de Portugal e monarchico. Ale aqui todos convcin. Os pontes controversos sao: 1.° em que tempo e de que mancira ad(iuiriu Portugal a independencia. 2.° Em que tempo c de que maneira licou sendo perfcita nionarquia desde a epocha da sua total separacao de Castella. Uma e outra cousa quercmos nos que se verificassc na occasiao, cm que elle foi dotado ao conde Henrique. A materia c embarafada e obscura pela distancia dos tempos. Comludo procurarenios provar a nossa opiniao, demonstraudo com a evidencia que pode haver em factos de tanta antiguidadc as irez proposicues seguintes. I. Alfonso YI era Monarcha absolute. II. Podia separar do resto dos seu.s Esta- dos as provincias, que deu cm dote a seu genro. III. De facto as separou, e as deu ao conde Henrique com o imperio supremo e in- dependente. I. Affonso VI era Monarcha absoluto. Pa- rcce que os rcis de Leao e Castella (quanto se pode julgar na falta de monunienlos c prin- ciples, que entao havia) tiverani senipre todos, ou, ao raenos, os principaes e mais iniportan- tes direilos da Mageslade. Para o provarmos cumpre examinar o ponlo de mais longe, e subir ao tempo da fundacao do Imperio Golhico, comparando a constilui- cao d'elle com as dos reinos, (|ue se eslabele- ceraui sobre as suas ruinas. Erani os Godos descendenlcs dos antigos Germanos, dos quaes refere Tacilo ' que li- nliam reis a (|uem obedeciam. Esies reis, po- rem, nao erani absohitos : julgavam dascousas de nienor importancia, e as maiores Iracta- vam-se peranle todo o povo, e por seu voto se dt'cidiam, posto que fosse senipre necessaria a presenca do Rei. Porta nto estes reis cram mais uma espe- cie de Magistrados particularcs, que presidiam a ccrtos logares e territories, e julgavam as causas entre seus habilantes, do que princi- pes soberanos a quera obedecesse a Nacao toda ^. E ale parece que nao tinham poder de im- por pcnas capitaes, porque Cesar diz que esta aucloridade se costumava conceder aos Ma- gistrados a qucni se confiava a administracao da guerra, o que mostra que ella Ihes nao perlencia geralmcnte em tempo ih paz. Esta exlrema liberdade de (|uc usavam os Germanos, era consequencia do estado da Nacao, e de seus costumes, e uso de viver. De viorib. Germ.^ cap. 7,11. Caesar de bell. Gall., I.. VI, cap. ««. 249 Elles se occupavam inteiraraente na caja e na guerra, conteiitando-se de alinientos sim- pliccs, e grosseiros, e de vesliduras dc pouco preco; cuidavam pouco da agriciiltura ; e ate nao conheciani a propriedade perpetua dos campos, pois que os Magistrados reparliam todos OS annos as terras entre os cidadaos, assignando a cada um at^ que devia cullivar . Era pois forcoso (|ne em taes circunislancias fosse 0 vinculo civil iiuiilo frouxo entre elles, e que, accoslumados a uina vida errante, sof- fressem mal o (rein das leis e a auctoridade de um superior. Este e geralmenle o eslado dos povos, entre os quaes nao estao ainda em todo o seu vigor as divisoes dos dominios, e que se applicam pouco a agricultura. D'aqui concluimos que o governo entre os Gcrmanos era inforruo: (|ue os que elles clia- niavam reis, tinliam uma auctoridade limiia- da, e sujcita as deliljeracoes dos congressos nacionaes; mas que estes niesmos congressos irregulares na forma e tempo da convocacao, e no methoilo de decidir os ncgocios, appre- senlavani um systema muito ioiperfeito e mal combinado de deniocracia. Poreni, depois que estas nacOes deixando as regiCes da sua origeni, invadiram as provin- cias da Europa situadas era mais favoravel clima, e havendo expulsado os roinanos e subjugado OS naturaes habilantes d estas pro- viucias, (izeram 'nellas assento, e lancarara OS fundamcnios dc um novo iniperio, era for- coso que se apartassem de sens antigos cos- tumes, e abracassem um systema de governo mais regular, mais bem combinado e mais proprio do cstado de civilisacao, em que iam enlrar. Islo cffectivamenle aconteceu na Uespa- nha, porque havendo os barbaros commcttido grandes estragos na suaentrada, e poslo ludo a ferro e fogo, seguiu-se uma lome borrorosa em que elles mesmos padecerani muito; e en- tao viram (;ue Ihes era necessario mudar de systema, e cnlrarani por conseguinte a repar- tir as terras entre si, applicando-se a agricul- tura ', e lizerain Icis certas, nao so para os Godos mas para os mesmos provinciacs. Desde esse tempo adquiriram os vinculos civis maior forca e consistencia, e os reis nao foram ja timplcsmente generaus, conio d'antes eram, mas obtivcram maior poder e aucto- ridade, ainda no tempo da paz. Elles pois adniinistravam juslica aos povos, nomeavam OS governadores das provincias, e exercitavam outros muitos direitos magestaticos sem de- pendencia de algueni. Comtudo e ccrto que elles nao eram verdadeiros Monarcbas, ncm gozavam de todos os direitos da soberania. Porlanto a forma de governo entre os Godos ' Caes., 1. c. Tacit, de morib. germ. ' Ruder. Tulel. Ifiindnl. Hist. c. II, 12 Paul. Oros. L. 7 c. 40. S. Isidor. H^'andal. Cliran. Saavedr. Citron. Goth. p. 29. era mixta, e partici()ava de monarchica e aris- tocratica. ' Isto se prova bem das leis d'aquelle tempo, as quaes foram todas feitas nos conci- lios, com approvaeao e conselho dos bispos e grandes, sendo estes concilios nao so assem- bleas ecclesiasticas, destinadas para resolver OS negocios da religiao, mas verdadeiras cor- tcs em que se tractavam os intcresses civis e politicos, concernentes a boa administragao do Estado. Assim vemos infinitas leis, feitas nos conci- lios tolctanos, nos quaes foi tambem publicado 0 celebre codigo gothico. Alarico diz tambem no commentario ou lei de reboracao que pre- cede ao seu codigo, que elle o compozera com assistencia dos nobres e prelados''. I'orem, depois que os Mouros enlraram em Ilespanba, e os reis de Leao Ibes principiaram a fazer guerra, e.xpulsando-os pouco a pouco das terras que baviam occupado, parece que a forma do governo se alterou, e que estes novos soberauos tiveram maior auctoridade, que os reis Godos, sendo verdadeiramente Monarcbas absolutes e supremos. Porque, quanto se pode conjecturar no meio da obscuridade e falta de monumentos d'a- quelle tempo, parece que os lidalgos e bispos nao exerciiavam ja algum dos direitos da so- berania, mas que todos elles estavam incor- porados na pessoa do Rei, posto que elle os nao podesse algumas vezes manicr em todo 0 rigor por causa das continuas e sanguino- lentas guerras, em que a Uespanba andou en- volyida por tanto tempo. E verdade que os grandes arrogavam a si grande auctoridade sobre as terras que pos- siiiam a titulo de fmulo, e que as mesmas cor- tes do reino, em que ao priiicipio concorriam so OS grandes e bispos, e depois tambem os procuradorcs do povo, eram consideradas como asserableas de grande auctoridade, e que 'nellas se costumavam estabeleccr as leis, e iinpor os tributos. Alas julgo que nem os direitos dos seubores dos feiidos, ucm a auctoridade das cortes e:i- traram pelos direitos cssenciaes da soberania, em prejuizo dos reis. hmfjuanlo aos feudo.i. 1.° Porque os fcudos dependiam todos do Rei, de quem os senhores recebiam a investidura, obrigando-se a certo servifo militar. t." Porque o governo feudal, que por estes tempos se estabeleceu por toda a Europa, fez em Hespanha menores progres- ses, do que nas outras partes', nem eu sci que OS senhores usassem entre nos de direitos tao exorbitantes, nem arrogassem lao grande * Das causas da mudan^a do governo entre as nacoes de origem germatlica, veja-se Montesq. tinpr. ties lois^ liv. 9 c. 8. ■ Veja-se o dicto commentario, ciijas [)alavras relere Saavedr. Citron. Goth. p. 360. ^ Veja-se D. Joao Francisco de Caslr. IJiscurs. crit. sibre las Itijes. torn. Ill decig. 1." divis. 3.' n." 13 ]>. 17. 250 auctoridadc como em outros rcinos. Era Fran- ca, por cxcmpio, aclianios aiiula no tempo He S. Luiz, que morrou em 1270, um grande iiiimero de scnhores que tintiam direilo do I)aler nioeda (cxcepio de euro c prata); ' pri- vilegio que nao sei que cm Uespanlia fosse concedido a \assalo algura. Emquaiito (is cirtes. Tinham estas voto con- sullivo, mas nao decisive. Propunliani ao Uei 0 que julgavani conveiiiiMUe para o l)Om go- vcrno do rcino, e com ellas cnnsiiliava a ma- ncira de repartir cs imposlos, de os ariecadar etc. mas a decisao era sempre sua, e estava em sen arbitrio approvar ou rejeitar os pia- nos, que se Ihe appreseniavam. D'esla regra cxcepiuamos o rcino de Ara- gao, onde as cortes excrcitavaui a auctoridadc suprema junctamcnte com o Rci na imposicao dns iril)ulos, declaracao da guerra etc. e ate em algumas eousas Ihe cram supcriores . Mas d'esla mesma cxci'pcao se collie a so- berania dos reis dn Despaniia por aqncllc tempo, porquc os de Aragao foram laniliem principes soberanos, e absolutos ao principio; e na occasiao de urn inlorreino, em que os aragouezes iraclaram de eleger novo Rei, e que se fez o celei)re foro de Sobrnrre, lei fundamental d'aquelle imperio, pelo qual se ampliaram os poderes das cortes, e se erfou 0 celebre magistrado, chamado JuHica Mor ou Jusiiru de Aragao, para o qual se appel- lava das sentencas proleridas pelo Ri'i. Nera e de admirar que o novo imperio que fundaram os reis de Leao sohre as rninas do Gotbico fosse perfeita Monarcliia, antes o conlrario seria mcnos provavel. 0 governo militar 6 seni()re absoliilo, e da ao generil uma auctorid.idc sem limites. D'onde vcm que ainda as nacoes, quo na paz nao con- sentiam ser rcgidas pelo arbitrio de um so homem, se sujeitaram a esta forma dc go- verno em tempo de guerra. Aciiando-se, pois, os bespanboes em con- linua guerra com os Mouros por cspaco de muitos seculos, o sendo a necessidade dc se defenderem d'eiles o molivo, porquc se su- jeitaram ao imperio de seus novos reis, era lorcoso que o governo fosse todo militar, e que OS principes, occupados ([uasi unicamente nos cnidados da guerra, e presidindo a ura povo lie soldados fosscm monarcbas absolutos. Nao uegamos que se [jodem apontar alguns faetos, de que se colha que os grandes arro- garam algumas vezes direitos que sao inbe- rcnlcs a magestade. Mas rcspondemos que na perturbacao c desordem d'aquclles tempos ca- iamitosos, nao c muito ([ue a ambicao os tcn- " Millot. Hill, de Franc lorn. I p. 3! 6. ^ Jeroriym. Martel. Furma dc ccltbrnr c6rtes cm AtQ' tfOH. Islo fot eptabelecido no Foral de Subrarve, que era a lei fiindanienlal dc Aragiu. Vid. Hieroii. BUncas. Ara- (/onrnj. rer. commentar. ann, 84g. Hisp. lUustr. . lorn. il. p. r.08. tasse a excederem as raias, dentro das quaes se deviam center, quando vemos que elles ainria em occasiOcs de maior tranquillidade quizeram por muitas vezes commcttcr simi- Ibantcs usurpacOes. As muitas providencias dadas pelos no-sos reis a cste rcspeito, que se rcferem na bistoria dcdlreito patrio mostram ale que ponto cliegaram as suas pretenfocs. Alem de que, eslas injustas usurpacoes dos grandes foram algumas vezes cohibidas pelos reis, eseoutras vezes as di.ssimularam, foi ou por lins polilicos, ou por nao lerem ideas cla- ras dos direitos da soberania como lioje te- mos. 0 mesmo dizemos acerca das cortes. De tudo isto vimos a concluir que D. Af- fonso VI era Monarcba absoluto, e que esta forma de governo nao era nova entre nos, quando o conde llenri(iue casou, pois que a ella estava sujeito o imperio bespanho! de que Affonso era sobcrano. Conlinua. VERSAO DAS ELEGIAS DE A. TIBULLO. Coutiliuadu de |iag. 11. LIVRO PRIMEIRO. ELEIilA SEPTIMA. Os estames falaes (que nem aos deiises E dado dissolver) fiando as Parcas, Este dia e este beroe vaticinarani: Raio cruel das Aqnitanas gentes ; Cujo tremesse subjugado o Atax. — E foi como 0 disseram ! — pasma agora, Vendo os novos triumphos, o romano, E sol) algemas os conlrarios chefesi D'alvos corccis tirado o eburneo coche Mostrava-le, Messala, ornada a fronle Com a coroa d'invenciveis louros. Mas niio, sem mini, tu conseguiste a gloria! Nos Pyreneus Tarbella e lestimunha E as praias do Sanlonico oceano; Sao testimunha do Arar as correntes, 0 Rhodano veloz, Garnmna claro, E do Lyger azul Carnutos loiros. Porvcntura tanibem cantar me e dado, Tranijuillo Cydno, teu ceruleo curso, Placido serpeando cm vans serenos? Quantos barbaros Cilieas sustente Frigido 0 Tauro, remontado as nuvens? Direi cu, como a nivea, sancta poniba, Intacta voe por cidades cento Na Palesiina Syria ; e como Tyro, A sabia Tyro, que primeira aos vcnlos ' No fim dfi edi(;fio, apresenlaremos o ullimo estado da sciencia a respeitn dos pontes que Kicardo Raymiindo Lractoii cum menus exactidao. A'o/a do Editor. 251 As velas confiou, alongue as vistas Dos altos torreues ao vasto oce.ino; E quanto abuiiile o fertil Nilo em aguas, Quando o ariilo cainpo abraza Syrio? — Fecundo Nilo, que iiao possa o vale Tua origeiu uarrar, neni cm que sitios Occultes, cm mystcrlo, tuas ionles! Por ti, cliuvas nao pede a terra tua, Nem secca a lierva a Jove implora orvalhos Erguendo-te cancoes a estranlia gente, Douta no prantear o bol de Memphis, 0 seu Osiris reverenle admira. D'Osiris a habil mao foi quern primeiro 0 arado construiu e a terra virgem Volveu com ferro e ao suico Incxperienle A seraente lancou e colhou pomos D'arvore, ate entiio, desconhecida. Elle foi que ensinou a empar a vide E a verde coma a decolar co'a foice; Elle 0 primeiro, a quern as roixas uvas, Por pes nao-costiimados espremidas, Deram sous mimos, o licdr jucundo. Licor que fez dobrar ao canto as vozes E, era cadcncia, mover os nescios membros: Que ao lavrador, quebrado de I'adigas, Desvanece no peito amargas penas; E aos alllictos niorlaes produz allivio, Bern que a dura calceta aos pes Ihe soe. Nao tens, Osiris, neni pezar, uem luctos; Mas choreas, e canto e amor suave; Mas muila, varia flor e de corymbos Na fronte a c'roa ; mas o Davo manto Descendo a te cubrir a planta airosa, E OS vestidos de Tyro e a doce fraula E 0 cabaz portador dos sacros volos. Eia, vem para nos; e com mil feslas, Com jogos mil o Genio solemnisa E as fonles banha com licor profuso. D'elle a madeixa nilida, Formosa Ha de exhalar suavissimos perfumes, E no collo e cabeca hao de avultar-Ihe De rescendentes flores as grinaldas. — Que assim tu venbas boje: o puro incenso, Em honra tua, queimarei e os bolos, E 0 doce rael Mopsiipio hei de offertar-te! A ti, Messala emfini, succeda prole Que do pae as accoes augmenle, e esieja De ti, ja velho, em lorno veneranda. Nem cancem no louvor, ao que demoram Alba no lar aniigo e a terra Tiiscula, As obras imraortaes nas amplas Vias: — Pois, por tens cofres o cascalho e o seixo Com habil arte la se agrega e adhere. Thema seras de cantos ao colono, Tardo voltando da cidade immensa Cos nao trilhados pes. — E tu condigno De festas mil, Natal, por longos annos, A mais e mais brilhante a nos regressa. A. A. NOTICURIO. Com mil CioniestN niitrijtios romaseiai do mar. — E unia epigraphe original, mas que perde o caracler de paradoxo, depois de se ler o seguinle : Leigh, cliimico de Manchester, descubriu, que com areia ordinaria e soda se compOe uma coila muito economica, que pode suhsti- tuir com grande vantagem a colla de farinha de trigo, DO fabrico dos estol'os d'algodao. Os fahriiantes de Lakburn collaram 400 a (iOO pecas com csta nova substaucia, e deran)-se bem com esse systema. Ora, a farinha de tri- go que ale agora se empregava para este uso, era em tal quanlldade, que podia, por calcu- los bem fundados, servir d'alimento a 100:000 pessoas. Logo Mr. Leigh descobriu o meio d'alimentar 100:000 honiens, empregando a areia em vez do trigo no fabrico da colla. A nit'«3iefiEfa tsa AuNlria. — Pelas noti- cias estatisticas mais recentes, existem no im- perio da Austria 6:398 medicos, 0:200 ciriir- giocs, 10:000 parteiras e 3:000 pharmaceu- licos. 11a portanlo um medico e um cirurgiao para 0:000 habilantes, e um pharmaceutico para 42:000. RELACAO Dos individuos nomeados para es segui:ites logares lit instnic^do publico desde o dia 15 nte ati fun de novem- hro ultimo, por despt;cltos do Cunselho Superior dl:ts- trMci-iio publien, e decretos do goeerno cominunicados ao tuesmo conaelho no indicado periodo. INSTRUC^AO FRIMARIA. ADtonio Nunes Serra, para professor temporario da cacleira ilePoiilu daCasa, no dislricloileCaslelloBranco. Antonio Francisco Pereira, para dicto do Pedrog.^o. no de Beja. Antonio .lulio Mendes Cardo.so, para dicto do.s Arcos de Val de Vsz. no de Viana do CasleHo. Joao d'EIvas Portugal, para dicto de Beniqucren^a, no de Castello Branco. Jose da Purifica^ao Moraes Calado, para dicto da Bern- Alexandre Marlins de Freilas, para dicto deCaldellas, no de Braga. Antonio Vieira de FigueiredOj para dicto de Cea, no da Gnarda. Eduardo Alves Izidoro Pinto Horia, para dicto d'Al- ca^ovas, no d'Evora. Francisco Pinto Lobao, para dicto de Ferreiros de Avoes, no de Viseu. Joaqiiioi dos Sanctos AfTonso, para dicto de Sancta Comba, no da Guarda. IKSTHUCIJAO SUPERIOR. Miguel Leite Ferreira Leao, para o logar de lente ca- thedratico da faculdade de Philosophia na Universidade de Coibmra, por decreto de 17 de novembro ullimo. 252 1 em 185 3 no Ol>s<>i-valor o (le Coimbfl'A para a ilotei-iniHat-iio dn nan lon«il»<3e. (a) Dia Astro fntervallo das passagens do astro e do bordo da lua 1 // Longitude de Coim- hra ao oc- cidente de Greenwich 1 Mez Obsenadi cm Crimlira Cnlculado em Greermich ( — ( — ^ Julho 4 6 de Ophiuco — 17'2b"12» — 18'44"29 + 79"17 33'47"4 4 dde Ophiuco — 22 20,37* — 23 44,17 + 77,80 33 12,2 6 xdeSagitario + 32 32,00 + 31 10,59 + 81,41 3320,1 C rdcSagilario — 6 19,57 — 7 41,39 + 81,82 33 30,1 6 ijideSagitario — 15 5,81 -10 5:7,01 + 81,20 3314,9 6 rdeSagilario — 020,12. — 741,39 + 81,27 33 16,6 6 + de Sagilario — 15 5,50* — 1627,01 + 81,31 33 22,5 30 a do Scorpio — 32 27,73 — 33 40,24 + 72,49 33 33,7 30 a de Scorpio — 40 36,68 — 41 48,83 + 72,13 3324,2 31 0 de Scorpio ^- 20 39,00 + 19 42,31 + 76,75 33 29,3 31 a de Scorpio + 12 30,00 + 1133,72 + 76,28 3317,0 31 6 de Ophiuco — 39 43,87 — 41 1,71 + 75,84 33 5,b 31 1 ddi} Ophiuco 6 de Ophiuco — 44 43,09 -r 10 30,88 — 46 1,58 + 1317,09 + 75,89 + 79,79 33 6,8 3316,2 Agosto 1 rfde Ophiuco + 1137,12 + 10 17,21 + 79,91 33 19,2 ^ 6 de Sagilario + 30 21.94 + 33 2,91 + 79,03 33 26,5 4 cde Sagilario + 30 40,12 + 2921,34 + 78,78 33 20,2 4 n de Capric. — 3144,19 — 33 2,53 + 78,34 33 9,0 4 X de Capric. — 33 30,25 — 37 8,74 + 78,49 3312,8 e ■) de Capric. + 43 28,12 + 42 16,39 + 71,73 32 56,4 6 S de Capric. + 36 30,12 + 35 17,64 + 72,48 3317,1 G 67 de Aquar. — 20 7,88 — 2119,49 + 71,61 32 53,1 6 X de Aquario — 29 30,51 — 30 42,49 + 71,98 33 3,3 6 f de Capric. + 43 27,81* + 4216,39 + 71,42 32 47,9 1 6 i de Capric. + 3629,25. + 3517,64 + 71,61 32 33,1 i 6 2 X de Aquario 1 dos Peixes — 29 31,19» + 29 22,30 — 30 42,49 + 28 9,88 + 71,30 + 72,62 32 44,6 32 37,3 Outubro 2 19 dos Peixes + 22 54,10 + 2140,29 + 73,81 33 29,7 2 d dos Peixes — 1116,13 — 1228,86 + 72,73 33 0,2 2 45 dos Peixes — 1620,88 — 1734,01 + 73,13 33 11,2 ; (o) ContinuaqSo d a pag. 240 do niiu ero preccdente. 1 ® Jn^tittttu^ JORNAL SCIEINTIFICO E LITTEIIARIO. INSTITUTO DE COIMBRA. CLASSE DE SCIENCIAS MOBAES E SOCUES. Y-xUacVo Aa. acta ia stssCvo At S\ it ■■jn.uuTO At \»o8. Presidente o sr. tiireclor da classe. 0 sr. presidenle expoz iiiie ha\ia recebido um officio da direccao do Insiitulo, acompa- nhado d'uma nii'iiioria que o sr. Conde de Rio Maior, Antonio, oll'erecla a lini de ser admiltido em o numero dos socios do Insliluto, e que em consequeucia d'isso Invia ordcnado a convocacao da classe para nomear uma commissao que desse o sou parecer sohre este objecto na f6rnia do Rcgimenlo. Nonieou-se com ed'eilo a commissao, para a qual sairum eicitos os srs. Nazareth, Ja- cintho de Sousa. e Marquez de Souza llol- steiii. Esta conforme. — Coinibra, 31 de Janeiro de I808. — 0 secrLtario da classe, Adriuno Machado. AGRICULTURA. BANCOS TERniTOIilAES. Conlinnado de pag, 224. Proseguindo na larefa de tomar, aos impu- gnadores da nossa querida instituicao, conla das mais ponderosas arguicoes, nao niuito pelo miudo, como o desojaramos, mas segiindo romportam as dimensoes do Insliluto, aqui laajamos o scgundo capitulo d'accusacao com que veio a praca o collaborador da Reotsla tJniiierscd procitada. Diz elle: — « Entre nos ja existiram pode- roso Bancos Uurnes eainda cxislem muitos. » — Este ponto, por conseguinte, e todo nosso, todo exclusivamcnle com Portugal. E 'nelle, ou niuito mal o apreciamos, teve o auclor cm vista dois resultados; ") impugnar a nece.ssi- dade da sua creacao no nosso paiz, por ja cxistirem; e M negar, sobretudo, a sua \iti- lidade, ainda a minima, lanto para a agri- cultura, como para os banquciios; a nao ser Vol. VI. FEVEREino 1 que mais quizcssc asse\erar a sua pernicio- sidade. Para apoiar o primeiro, adduz o Terreiro publico de Lisboa, o Tbesouro publico, a Com- panliia gcral da agricultura das vinhas do Alto Douro, as extinclas Ordens Religiosas, e as actuacs Irnuindades e Confrarias das pro- vincias, exornaiido todas cslas instiluieoes com 0 nome de Bancos Territoriacs! Ora, e conviccao nossa, e muilo profunda, e sel-a- ha, scm diivida, de qualijuer, ainda mesmo medianamente conhccido com a natureza d'es- tes Bancos, que nao vale a pena escrever um uniro monosyllabo, para rebatcr a affirmacao de tor sido o Terreiro publico de Lisboa um Banco territorial, nem de baver sido o empres- timo effeituado pelo Tbesouro Publico uma opcrayao bancaria, scgundo os dictames dos Bancos lerriloriaes. Nao vale a pena, nao. 0 auctor do artigo, dcscoubecendo de todo, ou attentando menos bcm nas operacoes eharacte- rislicas d'cstcs Bancos, e vendo que essas ins- tiluieoes linbam feito eniprestimos a agricul- tura, dassilicou-as para logo em Bancos ler- riloriaes; como se o simples facto do empres- limo symbolisasse o baslante para uma tal classilicacao. Foi um capricho injusliiicavel, ou uma ignorancia pretenciosa. Com egual aspereza, porem, Ihc nao loraa- raos em mal o dar esse nome a Companhia geral da agricultura das vinhas do Alto Dou- ro; por isso que, como ja adveilimos no prin- cijiio, havia 'nclla iracos, emhora |)Oucos e rudimentarissinios, que revolavara alguma fei- cao do fecundo auxiliar agricola. Era o prin- cipio lomando vullo, era a idea iucamando na sociedade; mas bem longe estava de ser uma creacao coiiipleta, perfeita, com uma in- dividualidade inconl'undivel e de prodigiosos recursos para o desinvolvinicnlo agrario, como sao as de hoje. Era o impulse omnimodo e in- quebrantavel do ministro-rei a mauifeslar-se em leis admiraveis e a derraniar-se em esla- belecimenlos uteis; mas com todos os dcfcilos que sao scmpre o cortejo dos primeiros ensaios e da falta d'experienria. Ora e menos sensato, e devia ser vergouha, 0 procedimento de vir, boje, argunientar com esses quaesquer deftilos contra ulleriores mc- Iboramenlos, e, sobretudo, quando estes ja estao, ale a saciedade, comprovados. Deviok °— ISiiS. Num. 21. 254 devia ser vergonlia; nSo sabomos dizel-o por oiilras palavras! — e tanlo iiiai?, que jn iios vaiuos eiifasliando d'ouvir rcpelir, sem crilica, estas mesmas arguiroes ale nos logares donde havia a presiimiirao de ((iic so sc derramaria luz, so se aposlolaria verdado. Mas, emliiu, iiuc algueiu, mouos pensado e munos correule com as cousas da nossa lerra, nos vicssft repetir esses quoixunies, peto des- vanlajoso exito da Coiiipanhia, nao nos admi- rava ; pori|iie liavia de lirar seinpre essa con- clusao, dcscuiaiuio apreciar o assumplo por todas as suas uiiinerosas circumstaniias. Que, porem, uol-os venlia fazer iiiii eseriplor que, alein de dever ser conscieiicioso, tern a pre- suniprao de lido e conliecodor de loda vida da Coinpanliia, e isso uao para adniiracao, mas para assouibro. ISao e em ler ella sido um graiide Banco rural, corao deliciosainente llie chama o illuslrc collaborador da Recisla, que ninguem La de ir esmiuncar os motives da sua desvanlagcm, a desejar coahecel-os, seniio que nas imijerl'eifoes da sua ecconomia e iia- tureza, nos impolilicos privilegios que llie coucederam governos ineplos, nos gravosos cncargos com que a oneraram, fazendo-a le- vanlar o hello edilicio da Academia de Com- raercio e Mariuha, conslrnir o solido caes que desde a Porla-Nohre corre, quasi completo, ale a Cantareira, aielliorar cm niuilos pontos o curse, ■ e as raargcns do Douro, e perfazer tanlas oulras obras utilissimas e, tinalmenle, para nao alongarmos razoes, na inveja, na guerraconstanle ([uc llie nioveraui os inglezes, como icstiniuuliam os repel idos otTuios da corle de S. Jaimos apresealados pelo conde Kinnoull, pelo enviado Ed. Hay, por Walpole e oulros. 'Nestas, c cui varias oulras eircumslancias, c que ha de procurar e aeliar as causas da ma forluna da Companliia qiieni, com auimo sincere, as desejar couhecidas, e nunea em ler sido um Banco territorial, o que effectiva- mente nao I'oi, senao em alguma diminuta feicao, couio ja nolamos. Pelo que enlende com as cxlioclas Ordens Beligiesas e com as actuaes Irmandades e C«n- frarias das provincias, guarde-nos Deus de di- zermes ao sr. /'. P. de M. que nenliuma d'cssas corporajOes fez, nem faz, uma unica operaeao de Banco territorial. — Este assum- j)to, porem, curiosissimo, ode determinar qual a intluencia d'estas coi'[)oracoes na nossa agri- cultura, e o como podem tornar-sc muito pres- lantes de luluro, ser-nos-ha convite para um artigo especial, quando Iracejarmos um proje- clo de bdiicos terriloriaes em Portugal. Eutraiido, agora, com o segundo resultado, que 0 auctor leve em vista, — o negar aberta- niente a ulilidadc, ainda a minima, dos lacs Banco?, lanto para a agriciillura. como para OS banqueires; — esculemos-llie, na esjjressao DBOpria, OS pranlos do tao raal page desaffogo. DIz elle: « avultadissiuios capilaes espalliaram estas corporscoes pelos proprietaries agricolas de todo 0 rcino. Estes capilaes ou ja se per- deram ou eslao quasi perdidos, e comtudo a agricultura neulium mclboramento liiuu d'el- les.. . » Acabado de transcrever este ultimo periodo, vemos-nos no aperte de refleclir alguns mo- mentos, para compor a resposta. 0 Instituto i um periodico grave e cortez, ([uauto llie ca- lie. E-luda, para diseutir; discute, para escla- rccer-se; esclarece-se, para evaugelizar a ver- dade: lasiiiua osdesvies; mas nao sa be insultar adversaries. 0 apodo picanie e aci^rado deve caliir-Ihe despontado e inoll'ensivo, se, per des- cuiilo, eliegnu a [iroduzil-o. lleplicaiido, pois, a esta mcnos-considerada arguieao, simplesmenle nos permillimos dizer que OS avultadissiuios capilae.s cspalliados por tiidas essas corporacOes, se nao adiantaram, quanloera possivel, a nossa agricultura, e, so- bretudo, em inlensao, a adiantaram, todavia, em muitas partes, e, principalmeiite, cm exten- sao. Querer allirmar que a area eultivada, lioje, no nosso paiz e egual a que agriculta- vam nossos avos, um secule alraz, ou mesmo dizer que iicnlium processo se melliorou, ne- nliuma cultura nova se introduziu, neubuni iiistruineiito seaperfeicoeu, e, cmliiii, queesta- mos, em tudo, come estavamos. e, apeuas, van- gleriar-se com uma opiniae singular que tedas as cerlezas desmentem. Os capitaes, dcrrama- dos de todas essas instituicoes, IVcuiidaram, como nao podiam deixar de Iccundar, o solo em que cahiram; porque lodo caiiilal e tra- ballio accumulado, e tedo trah.il!io e origem d'adianlamento. Se e mister relembral-o, o arf;umenlo que qualfjuer pode tirar dos mosteims, lundados em lodas as nossas provincias, e .■■uperior a tnda exeepcao. Em torno de cada inosteiro, des- amparado no seu ermo, levanlava-se lege a cboga, e d'alii a peuco apinhavam-se os casaes, c as gandaras principiavam de cubrir-se de verdura, e as encostas a dcsentranliar-se cm niinas d'agua, e os cabecos a coroar-se de pi- nheiros. Passados nao muilos amies, a solidao era pevoade, a eslcrilidade era abundancia, e a penuria al'aslava-se de dia para dia, c, per lodes OS lades, d'esse centre \ivilicador. Este e 0 facto incenlcstavel; e se d'elle uao lluiram c|uanlos hens podiain e eram para desejar, e por ([ue algunias vezes o mosteiro, esquecendo as leis canonicas e as civis, aspirava a enri- quecer, aperlando o lavrador com usuras nada moraes, e exiginde-lhe, nas cellieitas, as medi- das estipuladas, que depois, pelo anno adiante, e em epocha propria, mandava vender aos mercados per prcco vantajoso, vindo assim a toniar para si um lucre que deveria ser esti- niulo iiciuelle. De tudo isto, porem, o que resalta, forfa- damenlc, e a sumraa cenveniencia de verda- 255 deiros Bancos lerritoriaes, e nunca os futeis lamenlos de que esses capilaes se perdesseni, e nenhum melhoramenio lirasse d'elles a agii- cultura do iiosso paiz. Em spguiila, alonga o auctor considcracoes em que desconlioce as mais vulgares verdades d'economia polilica, ignoraiuio, sobreludo, que 0 priineiro capital da induslria e o l)raco do artifice. Nao o accompanliaremos 'nellas, para virmos tomar-llie conta do tercciro capi- tulo, substanciado d'esta maneira: — « Na Es- cossia nao iia Bancos Buracs; e os da Alle- nianha torn uma especialidade inapplicavel a Portugal. 1) Ora, que na Escossia os lia, niais ou menos rigorosamenle lacs e muito proveitosos para a agrlcultura d'essa parte do reino-unido, pou- pa-nos repelil-o a ciiada olira de Josseau; e querer 'neste passo cntrar-Jlies pclas especia- lidadcs scria urn lavor, alem de dilTuso, inutil para o nosso proposito. E, dcmais, que con- clusao racinnal se poderia tirar de alii os nao liaver? ou de torem taes ou taes particulari- dades nicnos iioas? — Pedc-os, por ventura, aiguem, para Portugal, como esses taes a que 0 auctor allude? ou havera mesmo somlira d'injiislica ou desgraca e erro econoniico na faculdade de vendercni a hypotlieca, ([uando o devedor f'alte, voluntariamente, ao conlracto? — A. nenhum d'estes quesitos e mister respon- der; visto como todo o que sabe pensar llies respondera, para logo, com copia de razoes instantes e concludeutes. Quanlo agora a especialidade dos d'Alle- manha, inapplicavel a Portugal, simplesmente nos cumpre dizcr que o sr. F. P. de 31. a deduz d'um facto estranho a verdadeira nalu- rcza dos Bancos lerritoriaes, e esse mesmo apresen ado d'uma maneira menos exacta; qual e o — j ser muito limilado o comniercio e induslria dos diversos paizes da Allemanba, e nao poderem porlanlo os capilalislas collo- car ahi seus fundos. « Se a cou.'-iderarnios em relacao a Inglaterra, nao ha diivida que a.ssim e; mas, se a olharmos rel.itivaiueiite as outras nacOes em que ha Bancos lerritoriaes, e absoUitaiuenle em si, nao poderemos dizer, scm vergonhoso desconhoci- nienlo, que a induslria e comniercio inlerno d'Allcmauba sejam muito UmUados. E que o sejam ou nao, o erro palmar do nosso arti- culista ve-se de toniar elle esla razao como fundamento, para os capilalislas collocarem seus dinheiros na agricultura, ignorando que OS Bancos doscjados nao It^ra, por principio, a accumulacao dos dinheiros dos eapilalis- tas. Mas, enifira, que os haja ou nao na Escossia, e que os d'Allemanha lenham centenas d'es- pecialidades. nao c isso, por cerlo, arguniento que nos inhiba d'esiudar os oplimos que ha 'noulros paizes, e, menos ainda, que noseslorve d'importal-os, raodificando-os com quaesquer condicoes parlicularcs nossas, ou com os me- Ihores preceiios que a expericncia lem sanc- cionado. 0 ilhislre collahorador da Revista campou em nao dizer senao menos judiciosas lionderacoes; mas sempre, o que so e para las- timar em lao ma causa, com arremeltimento de verdades inimpugnaveis. Finalmcnte, eis-nos com o ultimo capitulo das suas observacoes que compendiou d'esta forma: — " Para se crearem em Portugal Ban- cos ruraes e mister allcrar loda a nossa le- gislacao hypotlieca ria. « Ja, no comeco d'cste nosso imperfcitissimo Irabalho, tocamos, ao de levc, esle momeuloso assumpto; sem, lodavia, deixarmos de decla- rar, desde logo, que nao accreditavamos ple- namente insuperavel a dilliculdade. Scremos agora mais explicitos. A nossa legislacao hypolhecaria e um cahos em que o absurdo, a desordem, as incon- gruencias, e a facilidade de stellionato refer- veni, amalgamando-se e repellindo-se, d'um niodo indecifravel e horrivel. A interprelajao, aprimorada e conscienciosa, dos jurisconsul- los adormece impolente. para so acordar, ca- pciosa e voluvel, nas alicanlinas do foro. E isto facto conbecidissimo de todos os dias, para que hajaraos necessidade de perder tempo em 0 descrever. Apcrtados por inslaule dever todos Ihe supplicam remcdio; mas, ale hoje, debalde. Cada nova lei, na materia, e um novo escolho, na practica: as conlradiccoes e as desconhancas ouricam-se a cada hora, de mais em mais! Vira, por ventura, o projectado Codigo Ci- vil por termo a esle vergonhoso e prejudicia- lissimo estado, adoptando o systema Aoretjis- Iro lii/potliecano allcmao, com algumas poucas modihcacoes do francez, e sardo, e anniquil- lando 0 incoberenle deer, de 24 d'oulubro de 1S30 e loda a mais, encontrada e cahoti- ca, legislacao posterior que enlre nos tern sanccionado o utilissimo principio do regislro de lodas as hypothecas? Desconliamos que nao, desgracadamenle. Guardando, porem, somcnle os nossos bons desejos de ver lerminadas estas conlendas, fujamos lao inlrincada materia, para nos con- chegarmos ao nosso exclusivo thema, cha- niando a inquiricao as razoes com que o nosso auctor buscou provar a sua asaercao. Diz elle: « Se creados os bancos ruraes se Ibes nao concedesse sobre as hypothecas um privilegio superior a todos . . . ; os Bancos ruraes nao podiam sabsislir. » E dido isto, desfere o se- guinte por(jne: — I'oucamos-lh'o bem e com um so pequenino comnienlo, enlre [lan-nthe- sis, para Ihe realcar a juslezu) — o ponjue em breve se esgotariam os seus capilaes (quaes, se 0 Banco os nao tein?) e em logar d'elles so icriam dcmandas, cujo rcsultado era per- dercm uma grande parte do capital (?)e o resto que salvassem scria em hens rusticos 256 de pouco oil nenhiini valor (notemos bem a phrase; de pouco ou nenltum eator). » EITei'livamenU', o t'eciiiulo prriodisla quiz XV) zonihar, escrrvoiulo csle jioiujue. Nao cabe em iiossa huniilile inlelli;;c'iuia ajuizar o cou- trario, — a nao acolhcrinos o parccer de que quizesse experimenlar a sua faculdade inven- tiva cm imagers liormiosas! Desliemos uiu pouio uiais o tal porque. — Em primeiro lojjar, diz que « em breve se esgotanam " os liavcres do Banco, conl'essaii- do assim, scm, lalvez, o qucrer, a extrema necessidade, n funda ancia que a nossa agii- cultiira icm de capital que a viviliqui"; c desde log'i vem com a lerrivd appreliciii-ao de que '< em iogar d'ellcs so leriam dcmaudas, » dan- do assim a ontendor, que os tomadores d'om- prcstimo nao soriam lavradorcs honrados, mas velliacos apostados i)ara burlar sous con- tractos e defraudar a generosa iuslituicao: e, em segundo logar, compraz-se em eslanipar, sem crilica nenbuma, a tal assusladora cou- elusao, dc que » o reslo que salvassem (os Bancos) seria era bens rusticos dc pouco ou nenhum valor, » como so os emprestimos fossem Dunca possiveis sobre bens de nenlium valor! Que todos esles dizeres uao sao scnao in- fundadissimos, sabem-no ({uaulos entendem a naturcza d'esles Bancos; por isso que elies nao concorrem para a negociayao dos empresti- mos, scm verilicarem as qualidadcs do toraa- dor, 0 fun para que sao [icdidos, e o valor e circumstancias do fuudo lerrcal; e linalinente, porque, sobre tudo islo, jamais o cmpreslimo sobe a melade, ou quando miiito a dois tercos do valor venal do predio. ^. Como pois admillir racionalmcnlc, e em vi,-la de tudo islo, ainda quando a practica o nao tivesse, como tcin, comprovado irrelulavelnienlc, que os Bancos se podem arruinar, c se arruinarao sem rc- medio, seguudo allianca o nosso auctor? Desprezou elle por acaso, escrcveodo esse periodo, a experieucia dos outros paizes ou ignorava-a? .... Dcpois d'estas primc'ras razoes, ou melhor, des-razocs, com que vcio a lurue, para vigo- rar a sua assercao, eis-nos com o seu ultimo periodo quo a todos os respeitos deve ser tido como ultimo. Na sua Integra, e sem scbo- lios, rcza assim : « Na liypotbese de se Ihes conceder aquelle pri\ilcgio, os males seriam de niaior magnitude; porque nao era so o Banco que os sodVeria : os sens elToitos se- riam acabar todas as hypolliecas Icgaes e privilegidas, (icando sem seguranca alguma 0 que tivesse eniprestado capital para se edi- ficar ou adquirir a hypotlieea, a mulber ca- sada para o seu dote, o orpliao sobre os bens do tutor, e similhantcs: subvertia-se 6nal- mcnte a orJcm social! » Sancto Ik'us! ate onde a crgiieira pode arrastar um escriptor e um niiiiistro! Uma de duas: ou o ex."' sr. F. P. de M. nao pcnsou 0 que escrevia, ou nao escrcveu o que pensava. Confundindo ou nao sabendo algumas claras disposicoes da nossa legisla- I'Tu) bypotlu'caria, mal podia crer ([ue, escre- vcndo 0 pavoroso corollario « sibvehtia-se FINALMENTE A OIIDEM SOCIAL, « CStaUipava 0 mais perduravel tcslimunbo da sua iuscien- cia 'nestes assumptos! Yalha-nos Deus com esles escriplores que, sem o quererein, tanto mal cslao I'azendo ao progresso do nos'-o paiz, com as suas inrurias e erros diaries! Se 0 collaborador da It. Univ. Lish. (|ui- zesse dar-se o incommodo d'cstudar a legis- cao vigentc, acbaria que, sem mesmo se con- ceder ao Banco sobre as hypolliecas um novo privilegio, su[)erior a todos, nenhum dos ca- ^os (|ue aponta, ou outros similhantcs, e aos quaes appensa o terrivel « subverlia-se n or- (lem social! » poderia ja prefcrir a hypotheca do Banco. No actual estado da nossa Icgisla- cao c atraves dos labyrinlhos das disposicoes posleriores, o assento d'esia materia, ainda vencrado no foro, e, para o nosso caso. a lei de 20 de junlio de 1774: — e alii, depois d'estabelecida « a rcgrageral dccisiva » no concurso das prefercncias, diz o §. 30: « Ex- ceptuo em tcrceiro logar o credor, que concor- rcu com os seus dinheiros para se romper, e reduzir a cultura qualquer paiil, ou terra in- culta, para que, a respeito das bemfeitorias, se- ja primeiro graduado, que outro qualquer cre- dor, por mais aiitigo, e privilegiado queseja. " Dido isto, sera ainda mister trazer mais alguma razao, para demonstrar quao de leve audou no seu arligo o nosso auctor? Cremos que nao. E por isso c por que ja vai extcnsa em de- masia esta nossa imperfeilissima nieinoria aqui liie pomos fecho, sonegando escriptas muitas cnnsideracoes e deduroes que o Icilor, ainda scm 0 pensar, sentira claras e decisivas, para a verdade que sustentamos. a. a. PRELECQOES DE DIREITO PUBLICO INTERNO DE PORTUGAL QUE FEZ NO ANNO LECTIVO DE 1795 A 1796. PARTE 1.' Da r6rma e consliluicuo do Imperlo Portuuiiez. Conliniiado de pag. 205. CAPITULO 11. D. Affonso VI podia dar a soberaiiia de Por- tugal ao conde Henrique, ieparando esle remo dos de Castella e Ledo. Os escriptores de direilo publico queslionam se 0 sobcrano pode alhear todo ou parte do territorio, que Ihe esta sujeilo. 257 Uns dizeni que csle poder nao faz parte dos direilos da raagcstade porqiiu o suinnio impeiio foi deslinado para o imperante ad- niinislrar a republica, e iifio para a alhear, e Iransferir para oulreni coiiio se fosse palri- nionio sen proprio. Oiitros lazeni diirercnea enlre os reinos pa- trimoiiiaes e usofrucluarios, e dizem que nos st'gundos 0 solierauo, que governa o estado fonio usciliuctuario, salva a propriedade, nao tcni i'aculdade de alliear o inipcrio ou algunia parte d'elle; mas (|ue nos prinieiros, per isso uiesnio que pos.-ue ac|iielle torritorio como se- iihor, pode usar livreniente d'este doiniDio, e dispor, a seu arbitrio, das proviiicias, (jue Ihe obedecein, da niesma inaneira, que dis- poria de sous bens e fazendas '. Esta opiniao, porem, e alheia da razao e contraria aos principios de direito piibliio. Doininio c imperio siio cousas niuito diversas c que ncnhum parenteseo icm uma com a outra. 0 Senhor lem um direilo absolute de usar a seu arbitrio das cousas, em que teui dominio, de converter em utilidade propria todos OS sens fruclos e rendimentos, e ate de abdicar de si o senhorio d'ellas, e translerii-o para outreni, com os paclos e condicOes, que bem Ibe pareceiem. Pelo contrario o imperante nao procura a propria utilidade mas a da Nacao a que pre- side. E a pste fim deve dirigir lodo o seu cui- dado e applicacao. Por consequencia elie nao pode ceder perpetuaniente os direilos do sum- mo imperio, iiue teiu para adniinistrar a re- publicd, a um terceiro que nao Ibi ebamado pelas leis fundameutaes; nao pode alienar livremenle o estado e sens babitadores do niesnio modo que alguem alieua os seus bens e possessoes. Mas posto que estes principios sejam ver- dadeiros em tbose, e seja certa a proposicao, que 0 direilo de alliear arhilruriainente lodo ou parte do t'slado nao e inherenle ao sum- mo imperio nem se deve conlar enire os direi- los mayeslaticos ; comludo pode haver nuiilos casos, em que o soberano pelo concurso de circumslancias particulares aliena justamente parte de seus estados, pelo pedir assim a uti- lidade e conservacao do todo, a qual senipre deve ser para elle lei sagrada. E isto e o que etfeclivamente aconleceu na doacao de Portu- gal feita por D. Affonso VI a seu gcnro. Para nos persuadirmos da justica d'esta doacao, cumpre adverlir que de trez manei- ras, ao que eutendo, podeiuos considerar va- lida c Icgitima a alhcarao, que I'az um sobe- rano de parte ou de todo o seu Estado. 1." Quando aliena parte do reino para salvar o resto, como por exempio, no liiu de uma guerra, em que os vencidos cedcm aos veneedores uma porcao de territorio para ' Vid. Genueas. de ofSciis L. 11, c. 7, ii.» 10. ccssareni as hosiilidades e eviiarem a pcrda total. 2.' QuanJ" "is leis fundamentaes, pacto ou costume, constanlemente practicado, d'a- quelle imperio admittem similbaiitc desraem- bracao; como se o Rei por lei ou costume legitimo costuma dividir o reino entre seus lilbns por teslamenlo, ou dar parte d'elle cm dole as iilbas, ou tambem se conquistando alguma provincia, no tractado da enlrega se pactuuu que ella poderia ser desmembrada do imperio a que accedia, e erigida em reino separado quando ao veneedor Ihe parecesse convenienle. 3." Quando os povos, que babitam a parte desmembrada, se sujeitam espontaneamcnte ao novo soberano, e nao lentam sacudir o jugo e reslituir-se a liberdade natural, porque d'esta maneira ainda que a desmembracao fosse ao principio injusta vcm a revalidar-se depois, e a auctoridade do novo principe fica estuvel e permanente pela subjeicao do povo e pelo seu consenlimenlo. Ora por lodos estes trez principios so raos- Ira, que D. Affonso VI podia justamente se- parar Portugal da coroa de llespanha para 0 doar ao conde Henrique. Porquanlo: 1." esta doacao foi feita no tempo em que OS reis de Ilespanba trabalhavam em expulsar OS mouros das terras que occupavam. £ por consequencia a seguranoa e conservacao do Estado pedia que cm uma provincia siluada nas froiitciras, e por isso niais cxposta aos ataques dos mouros, se desse o imperio su- premo e absoluto a um capitao experimenta- do, 0 qual niio so a defendesse, mas a fosse dilatando, eganhando aosinimigos novas ter- ras: 0 que elle nao faria com taiito zcio se bouvesse de conquistar para outrem. 2.° Nao consta que as leis fundamentaes de llespanha prohibissem a divisao'"'; antes se mostra com repelidos exemplos, que era costume antiquissimo dividirem os reis entre seus iilhos os estados de que eram senbores. E seni irmos mais longe acbamos logo um cxempio em D. Fernando o Grande, pac de D. Affonso VI, 0 qual em seu teslamenlo di- vidiu as provincias e cidades que Ibe obede- ciam entre seus tilhos, Sancbo, Garcia e Af- fonso, e suas filhas Urraca e Elvira . Deve tambem advertir-se (\\xe 'nesta rcpar- ticao foi Portugal uma das provincias des- membradas e fez a porcao de D. Garcia E por consequencia D. Affonso VI nao fazia mais que seguir o cxempio de seu pae, nao ■* Juljro que as.sim era no tempo de U. AITonso VI por- qiie sell pae repartin a Hespariha entre os fillit>s. Has de- pois acliauios a ilivisao prohibida na parlid. 2.' tit. 15 liv. 5, onde se diz que islo i ttlo e estiibelecimenlo antigo. ^ Este costume nao era particular da Hespanlia. Era Franca os reis da primeira e seuunda ra(;a. partiram os estados entre seus Gllios a seu arbitrio. Diction. Univer. art. Frnnce t. 19, p. 579. 258 so em alienar parte de seus eslados mas ale em obsoivar 'nesia alheacao c desinemhrafao a niesnia forma, que clle tiiilia praelicado. Ni'iii osta forma dc divisiio era ja nova no tempo de U. Fernando, jiois Fr. Antonio Bran- dao ' moitra que ja antes d'elle, assim no tenij)0 dos Suevos, Alanos, e Godos, coiuo no dos reis de Lcao tintia Portugal sido por va- rias vezcs reino separado de Hcspanlia, e su- jeilo a seu Hei proprio. 3." Finalnieute, ainda uieuil)rar o reino e dar Portugal ao eonde Henrique; para esta separaeao iiear valida e se julgar legiiima bastaria a lacita aceitajao do povo, provada peio uuaninie consentimento com que se su- jeitou ao novo principe e recouiieeeu o seu impcrio. Todos OS monumentos d'aquelle tempo at- testani a sujeieao dos porluguezes, o amor, e lealdade, com que ol)edeceram a seus novos solieranos e a total separaeao em que se pu- zeram a respcito do Uespanlia, de cujos reis nunca mais quizeram depender, fazendo os ultimos csforcos para Dies resislirem lodas as vezes que elles voltaram as armas contra Portugal. Concluimos, pois, que D. Affonso VI podia transferir para o eonde Henrique a soberania de Portugal; porque esta desmemljraciio era de sumuia importnncia para a conservacao do imperio liespaniioi, era auetorizada pelo cos- tume e repetidos exeuiplos de seus antecesso- res, 6 foi ratilicada pela aceitacao e unani- ine consentiniento dos portuguezes. Seudo pois certo, que I). Alfonso VI podia fazer a doacao, resta ver se elle realmenle a fez. CAPITCLO in. D. A/fonxo VI deu ao eonde D. I/enriiiue a soberania de Portugal, qnando Ih'o dolou. I. 0 eonde Henrique era senlior ahsohlo de Portugal ao tempo da morte de seu sogro. Os escriptores da Ili^toria de Portugal nao convem na epoeha, em que o nosso reino se se])arou dc Ilespanha e cnlrou a ser Estado independeute. Julgam uns que isto acontec^ra logo no principio, e que o eonde Henrique recebera de seu sogro o senborio absoluto do terrilo- rio, que Hie foi dotado na oceasiao, em que casou com D. Tlureza. E esta 0[)iniao de Duarle Nunes de Leao^, de Manuel de Faria e Sousa % de Francisco Velasco de Gouvea ', ' Mon I,M« P III. I.iv. 10, cap. 6. ■■ ftiruri. cl„ c.iM.le D. H-nnniie. ' Eiirop. I'ort. loin. II. i'. 1, c. 1 n. I. * Jiisia acclam. ile i). Ju.-iu i.", 1*. s! Ponl 1 ° «. 11. dc A.ndr6 de Ilezendc ' e de Joao Pinto Ri- beiro '. Outros fixam a independencia do nosso reino no tempo, em que nasceu D. AITDnso llenriques ; e dizeui que D. .Alfonso VI cbeio de couti'ntameuto pelo naseiuiento de sou ne- to, livrara o coude Henriciue de toda a sujei- eao, e Ibc concedcra a soberania das terras do Portugal, as quaes elle ale entao bavia possuido como feudo dependente da coroa de Leao. 0 auctor d'esla opiniao e Fr. Bernardo de Brito c |iela sua auctoridade a seguiram alguns, principahnente em nossos dias\ Finalnieute outros querem que os portugue- zes se livrassem do poder de Ilespnnlia por violencia e meios de facto, c nao |)or direito. E dizem que isto acontcccra no tempo de D. AlToiiso Honriques, o qual bavcudo conse- guido muitas victorias dos niouros foi accla- luado Rei pelas suas tropas antes da bataiha do campo d'Ourique, e seudo conlirmado pelo siiiiiiiio I'ontilice, fez o reino Inbutario a Se apostolica. Assim o dizem Marianna, Sando- val, e geralmente os auctores hespaubocs e, entre os nossos, Duarte Galvao, e Rodrigues Mendes da Silva '. E ate alguns seguem i|ue 0 feudo e vassalagem de Portug:il durara ate 0 tempo de D. Alfonso III . 0 ponto seria facil de decidir se tivessemos a doacao feita ao eonde Ilenriiiue, mas Fr. Antonio Brandao affirma que clhi se nao acba nos arcbivos de Portugal nem de Castella, c que apezar das diligencias, i\ae lizi'ra na torre do Tombo, e consultas a pessoas doutas nao podera descobrir luz alguiiia. Tambem falta a notieia do testaniento de D. Alfonso VII no qual, seguudo o costume d'ai|uidles tempos, e provavel que se acbasse alguma declaracao acerca da maneira com que elle bavia disposto de seus estados. E verdade que o bispo de Tuy, Prudencio de Sandoval, na cbroniea de U. .\IToiiso VII diz que Portugal licou por testaniento de D. Afl'onso VI a sua tilba. iMas nao declara se colbeu isto do mesino testaniento, ou se o re- fere polo que vulgarmente se diz, e escrevem alguns auctores. 'Ncstas circunistancias lodo o nosso discurso se fuudaia em argumenlos de conjectura, de- duzidos da combiuacao dos factos, que nos oflerecem as memorias d'aquelle tempo; e o caiiiinbo que seguiremos sera este: sendo ' Antiquit. Lusit. IV de Oricliiens. agr. -' Injvislas success, dos reis de Leao e Castella ^. 3.* torn. 2, pag. 67. ' Mm. Lus. P. II, liv. 7, c. 30. ' Dedacg. chronol. Paschoal Hist. Jur. Lus. c. V f 36. * Mariana L. X, c. 1. Illescas torn. I in fin. San- doval chnm. de Affimso VJI. » Galvao, Chr. de D. Affms. Hear. cap. 1. Rodr. Mend, da Silo. Genealog. Real de Hespanha. ' Veja-se Kr. Ant. Brand., Mon. Lus., I'. Ill, lir. 8, caji. J pr. 259 certo que nossos reis chegaram a ser sohera- nos absolutes de Portugal sem dopendoncia de Castelia, como todos conressaiii, cm que tempo e niais provavel, que o nosso reino adquirisse esla independencia, e (icasse sendo um Estado separado de llcspanlia? Entre as diversas opinioes, que ficam rcfe- ridas, parece-nos niais provavel a que lixa a cpocha da indcpendencia do Portugal no tem- po, em que foi dado em dote a D. llenri(|ue. E julganios que D. AITonso VI llie dera logo 'nesta occ-asiao tndos os direilos de soherania, sem algiinia olirigarao de feudo ou outro si- gnal de sujeirao. Para provarmos isso niostrarcmos: 1.° que 0 coiule Henrique e seus succes- sores foram soheranos em Portugal sem de- pendentia algunia dos reis de Leao dcsde o tempo cm que D AITonso VI moneu: 2.° que, provada a independeiicia de Por- tugal ja 'ncste tempo, nao ha outra epoclia cm que se Ihe possa assignar o principio com tanta prohabilidade conio na occasiao do ca- saraeuto do conde Henrique. I. Portugal era independente de Uespanha ao tempo da morle de D. A/fonso VI '. 0 primciro fundamento com que se prova esta proposicao, e o ahsoluto silencio dos es- criptores e monumeutos antigos. Fr. Antonio Brandao dosalia os que seguem a opiniao contraria, para que the apontem algunia es- criptura ou niemoiia antiga, digua de fe, cm conlirmayao d'ella. Nem basta dizer-se que cste argumenlo e negativo e por isso nao prova: porque nao sao estas cousas de qualidade, que, se alguma liora se pozesseni em execucao, deixasse de Gear d'isso alguma memoria. A esle silencio dos monumcntos accresce, que D. Rodrigo arccbispo de Toledo, escriptor antigo, supposto se persuadisse, que Portugal cstivera sujeilo a Castelia ale a morle do con- de Henrique, isto e, ainda trez para quatro .Tnnos depois da de D. AlTouso VI e assim o diga era um logar (a que logo responderc- mos), comtudo continuando a fazer menfao das cousas de Portugal, nunca mais toca eui similliante sujeirao, nem a suppOem existcnle no rcinado seguinte . E, pois, 0 sen silencio uma grande prova a nosso favor, pois sendo contemporaneo de D. AITonso II e D Sanclio II, hespanhol e apaixonado pela sua patria, se nao ealaria, nem deixaria de cliamar rehelliao as guerras de D. AITonso Henriques contra Castelia. Mas alem do seu silencio temos outro ar- ' D. Affonso VI morreu em 1109, e D. Henrique em 1112. •" Vej. Fr. ADt. Braud., Mon. Lus., P. Ill, L. 8, c. 9. gumento na mancira corn que elle relata o caso da prisao de D. AITonso Henriques, quan- (lo I'oi caplivado em Badajoz por D. Fernando Hei de Leao; pois diz quo olTerecendo-Ihe D. AITonso Henriques o reino era rcsgate, Fer- nando llie respondora, que se contentava de que elle Ihe restituisse as terras, que Ihe ha- via toinado cm Galisa e outras partes, e que licasse embora com o reino de Portugal, que Ihe perlencia ' . 2." Prova-se isto mesnio da guerra, que nioveu 0 conde Henrique a sua cunhada D Urraca, Rainha de Castelia, depois da niortc de D. AITonso VI. Diz Fr. Antonio Brandao ', (|ue a causa d'esta guerra fdra qucrer Henri- que succedcr no imperio de Hespanha, por cabeca de sua mulher, a quem como a filha" mais veiha perlencia a coroa ; c que por isso proseguira pelas armas o direito que julgara pcrtencer-lbe. E certo que esta opiniao lem muila diffi- culdule, pelo que pcrtence a affirmar que D. Thereza era mais veIha que D. Urraca. Mas seja islo como for, sempre na bistoria d'esta guerra achamos o que nos basia para 0 nosso inlenlo; a saber que ella se fez entre Castelia e Portugal, como entre dous Estados soberanos e independentes ; que D. Urraca Iraclou 0 conde Henrique de egual, sem que nem da parte d'cste appareca acto de sujei- cao, nem da parte della pretencao de supe- rioridade. 3.° Por morle do conde Henrique gover- nou a rainha D. Thereza por cspaco de deze- seis annos, e em todo este tempo nao appa- rcce acto alguni de sujeicao que ella fizesse a sua irma. Antes consta que a rainha de Castelia celebrou conlraclo com a de Portu- gal, no qual Ibe promette muitas terras em Castelia c Liao, com condicao que Ihe nao lizesse guerra, nem desse favor a sous con- Irarios '. E ate parece que D. Thereza eslava per- suadida que o reino ficdra sendo seu por morle de seu marido, e que em quanlo vi- vesse podia reinar com exclusao de seu lilho, e ate dispor da coroa a beneficio de quem quizesse. Dii logar a esta conjeclura a rcpugnancia que ella moslrou em largar o governo, sendo necessario a D Affonso Henriques, quando chegou a edade propria para reinar, fazer- llie guerra, e obrigal-a por fnrja a descer do throno, e o facto que refere Brandao, apoia- do na Hisloria dos Godos ; a saber, que ella como senhora proprietaria d'este reino esco- Ihera para successor a D. Bermudo Peres, casado com D. Urraca sua filha*. ' ■Rirleric. Tolet.. de reh. Hispan. '- Mm. Lus., P. Ill.liv. 8, c. 9. ' Hrand. M«n. Lus. d. P. HI, I-. 8, c. 9. ■• iMoii. Lus. P. Ill, L. 9, c. 23. Vej. a Chron. Goth. lie vtm no .\j)|»eud. d'esta P. HI, n.° 1.® 260 4." EIrei D. \flonso YII de Caslella ha- veiido alcanrado alguuias victorias dos Mou- ros, Araf;oiiezcs, e Navairos, celebrou curies iia cidade de Loao em 1134, e 'nellas loniou 0 titulo do iiiiperador, dizendo (conio rclcru Marianna '), que llie parccia, pois linlia por sujeilos e leiidalarios os Arafjoiieiizcs, os Na- varros e os Calaiacs com parte dc Franca, que lieni Ww niiadra\a acjiiciia coroa e ma- gestade. Ora quern diivula que se Portugal fosse cn- lao I'l'iuio da coroa de llcspaiiiia o liavia cer- tamente iiomcar cntre os outros? Logo, esla omissao prova que nem o iiosso reiiio liuha alguma sujeirao a llespauha, nem os reis dc Ues|)anlia a protiMidiani. E esla scgiinda parte mosira, (jue clles nao doscobriani o niais leve prelcxto para aspirarcin a siiuilliante direilo, porquc alias seria inipossivel que D. AfTonso VII nao coutasse Porlugil eiitre os feudos de Castella. Nos vemos que os rois poem nos seus titu- los estados, que nao lem, so porque algum dia OS possuiram ou porque tern pretencoes a ellcs. Conio deixaiia, pois, Affonso YII dc melter o senliorio de Portugal entre os outros de que faz mencao, se com cITeito o tivessc, on se seus antepassados o houvessem tide, c elle julgasse que Ihe pertcncia? Dc ludo islo se concliic que Portugal era ja cutao rcino separado da Ilcspanba, em o (|ual OS nossos principcs exercitavam uni po- der absolute e independenlc, nao apparecei.do depois, da morte de AITonso VI, facto algum, que prove sujeicao a Caslella. Omtinua. VERSAO DAS ELEGIAS DE A. TIBULLO. Conliiinailu de pay. 2,t1. LIVRO PRIMEIUO. ELEGIA OITAVA. D'ura terno riso, d'amoroso acfino, De meiga phrase murniurada a occultas, Nunca pude esquivar-me a abrir o enigma! E nao, que eu sortcs baja, ou conscias fihras, Nem que das aves o trinar me agoure: Preso era magas prisoes, a mesma Venus, Nao scni muito peoar, foi minha niestra. De fingir cessa, pois ; Amor abraza , Quern conslrangido a .sen poder se acurva. Que le aproveila agora o fino esmero No annclar dos cabeilos delicados, E havcr-lbes tanla vez niudado a forma? De i)rilliante carmim oruar as faces, E ler-te douta inao cuidado as unhas? ' l>iv. 10, cap. B. Ja embalde o vestido, embalde o amiclo Varias, e tens pes apouea justos A tivcia apcrtada. — Ella te enlcva, Bern que sem fucos venlia, ou se llie ennastrem, Com mimos d'arte, as nilidas madeixas! — (.Da noile, acaso, no silencio a vellia Com philtros le enibruxou, com niagos carmcs? Sen canto da campina atlrae os fructos: Seu canto a scrpe irada o rastro para; E ale seu canto do saudoso carro Tenia a lua descer, e, a nao son rem Os ares percutidos, conseguira-o. ^, Mas ail louco de mini! portjue lamcnlo. Que ao misero damuasse o pliillro? os carmcs? Feilicos nao ciiiprega a formosura : — Seu damno foi rojar o Undo corpo, Longos bcijos beber nos roseos labios. DilTicil, pois, nao sejas tu ao moco; Que Venus a altivcz com maguas pune. Nem dadivas cxijas; dons olVerte Vellio anuinte imporluno, suspirando Em leu seio aquecer os tibios menibros. D'assctinada face, e sem a barba Aspera a magiiar no abraco, um moco Genlil e bem inais caro do que o ouro; E, em leus candidos bracos enleiando-o, lU'gias pompas desdenba, engcita, 6 Plioloc! Nem diamantes, nem pcrolas ajudam A ([ue adormece em solilario leito Scui rcquesios d'amor, no frio invcrno. All! tarde o amor, bem tarda a juventude, Quando alveja a cabeca, e suspirada: Entao, mil arrcliiques; — o cabello. Da noz co' a verde ca.sca entao se tinge, Os aiinos mascarando; eniao, se arraucani Os que niais brancos a cabeca alTeiam E as faces com pomniadas se reiiiocam. ■Mas, tu gozos requinta, em (|uanto o tempo. Que rapido se esvae na leve fuga, Teus dias orna de recenles Qores. Maratbo nao opprimas; — ^.em vencel-o Que gloria coliies? Contra o torpc velbo Te encrudesce, donzella. Ao joveu poupa; Eu to rogo; — nao e d'epilepsia Alroz sofl'rer, e seu amor immenso Que assim Ihe rouba a cor, e o iraz tao pallido ! Ai, misero! que prantos dolorosos Do [jciio arranca contra a tua ausen8 B.\STOS. BIBLiOGRAPHIA. Almanak de Coimbra jtara ISaS, segundo de- pots do bissexto. Primeiro anno da sua pu- blicaedo. 1 vol. in 8.° Coimbra: typ. de J. T. A. Pacheco. 1837. 0 Almanak nao e novo em Portugal. 0 pri- meiro, de que temos noticia, foi publicado em 1782, epoclia, em que alguns mcinbros da academia real das sciencias o redigiram com 0 titulo de Almanak de Lisbon, e continuaram (Icpois por alguns annos. Mas scguiu-se urn longo espaco de tempo, sem que este fosse secundado por outros escriptns do mesnio ge- ncro. Yivia, vida robusta, e verdade; mas desacompanhado, e mais como publicafao scieutifica, do que meio de instruccao popular. So mais tarde e que o Almanak foi vul- garisado cntre nos. Deve-sc oslo servico aos redactores do jornal litterario a Itevisla po- pular, pela publicajao do seu Almunuk popu- lar. Depois foi como urn diluvio d'clles; es- lava ja introduzido o gosto: o povo Iia: ins- truia-se; e procurava pelo seu livro. Data d'eiitao 0 grande desenvolvimento, que ti^m lioje estes escriptos, sobresaindo a todos o ex- . celleute Almanak de lembraucas do sr. Ale- xandre Magno de Castillio. Comtudo Coimbra so para 1837 deu o seu primeiro Almanak. Fothinlia popular curiosa e inslrucliiia, tal foi o modesto titulo com que appareceu, publicado na Impreiisa de Trovao e C." em XS'id, este livro, que alem de muilos acontecimentos bistoricos notaveis, ilioclias civis e politicas, antigas c modernas, coiiiinba, em linguageni popular, varias no- foes de aslronomia, pbysica, nieleorologia, etc. Posto (lue publicado anonymo, sabcmos que UI11 dos collaboradores d'ostc Almanak era 0 distincto lente de matliematica, o sr. Anto- nio Uonorato de Caria e Moura. A segunda teutativa d'este genero, empre- liendida em Coimbra, foi o Almanak d'lns- truccao Piiblica do sr. Jose Maria d'Abreu, lente catbedratico de pliilosophia; publicacSo, que jii tern sido avaliada pela imprensa do paiz e do estrangeiro, e de que este jornal iallnu em tempo conipeteute. lioje cabe-nos noticiar um Icrceiro ensaio no livrinho, que ba pouco sahiu a luz, fruclo do estudo e meditajao de dois jovens d'esta teira, bastanle insiruidos e sobre maneira modestos. Lemol-o com avidez; e por entre os varia- dos artigos, de que consta, acliamos muitos de subido interesse e reconbecitlo mcrito. Eainda que 0 nao consideramos uma obra completa no genero, julgamol-o nuiiio superior a um primeiro ensaio litterario, como este foi para sous auclores. E sohre tudo rccommendavel a ordeni que presidiu a confeccao d'esle Almanak. Os ses- scnta e trez artigos, que o compoem, sao pela m.iior parte de mui proveitosa instruccao, e foram escolbidos com rauilo acerio e bom gos- to. Com elTeito distribuir pelos dias do anno OS acontecimentos mais notaveis da bisioria: commemorar alguns d'elles, traetando de pre- ferencia os que directa ou iudireclamente di- zem respeilo a nossa Coimbra, foi um optinio pensamento, que tornou o livro assaz apre- ciavel, e Ihe deu nierecida popularidiide. Nao podemos todavia, ja que fallanios d'esle pnnto, eximir-uos a lembrar aos jovens au- clores, que dar maior desenvolvimento a esla parte 'do Almanak seria um grande servico prcslado a instruccao do povo; e que nos pa- receu tambem, permitla-se-nos a plirase, muilo 263 pesada de poesia, ou antes de versos, csla publicafao. E certo (|iic os coiiheciniciilos lii«- toricos sao os (|ue iiiais coiilril)Uciii para a instruccao; e a poesia, que instrue e dcleita, deve scr aproveitada , mas com muila ri'scr- va. Em bellas leltras iiao ha meio termo — ou lioiii ou iiaila. Alf;unias poesias lia no AIniauak dignas de alii ligurareiii ; mas lao grande abuiulaiicia d'ellas canea o leitor, e diminue o valor do livro. No artigo — Eiiheinerides historicns de Coim- bra — noianios, (pie aiguiis acontccinieiitos, ahi aponlados, sao deuiasiadaraente pueris, para murecerem as lionras de consnicniorafao historica: c, posto (jue criinos iia lioa t'e e iraparcialidadr dos audores, pcdimos-lhcs que de I'uturo reuiedeiem esle iiuonvcnienU', mesmo para se nao suppor, ([uo iiifluiu o es- pirilo parlidario ua escoilia dos ohjeclos coni- memorados. Lancauios aqui esles reparos com o fim unico de rontriliuir para o melliorameuto d um escripto de tnnla iililidade; e posio que llie encontremos alguns di'I'eitos, so nos annos scguintes os seus auctores quizereni proseguir 'nesla enipresa, desde ja llies agou- ramos, que o scu Almanak lia de ser um dos mais cslimados, com especialidade em Coimbra, e 'nesta provincia. Recebam pois os srs. Abilio Augusto da Fonseca Pinto, e Pedro Augusto Martins da Itocha, OS nossos siiiceios parabens por esta publlcacao, que ihcs faz honra: e rclevc-nos a sua niodestia o nao termos poJido rcsistir a estampar-ihes a(|ui os nonies, a despeito da I'ontrariedade que com isso bao-de sodVer. Sao diguos de se lornarem conbecidos dois manccbos, applicados e inteliigontes, que tro- cam OS gozos e passatempos da sua edade, pelos inconimodos e iraballios do estudo, des- grajadamente tao mal rctribuidos entre nos. A. J. T. KO lie I At. 10. Mar «Ie sarsaros.— 0 mar de sargacos eslfi situado entre os Acores, as Canarias, c as ilbas de Cabo Verde. E um espaco, egual em e.vtensao, ao valle do Mississipi, coberto de plantas, denominadas, liervas do gulplio, uvas dos Iropicos, etc., fucus natans, e de tal modo agglomeradas, que os navios sao rauitas vezes abi embaracados iia sua derrola. Quando os companbeiros de Cbristovao Co- lombo descobrirain esta crusla de vegetacao sobre o mar, julgaram que a navcgatao aca- bava ahi. As vczcs esta camada de sargacos do mar e tao consi?teute, que parece possivel andar sobre clla. Eis aqui como um auctor e.xplica, porque 0 mar de sargajos occupa serapre o mesmo logar. Quando a corlica, paiha, ou ontros corpos leves (luctuam na agua d'uma baeia, imprimiudo a esta agua um moviuieuto circu- lar, todas as malerias Ouctuantes se reunem no centre, onde ha racuos movimenlo. Tal 6 0 ellV'ito |)roduzido no Oceano Atlantico do norte pelo mo\iuiento circular das correntes maritimas, e o mar de sargagos denuncia o ceutro d'esse movimenlo de rotajao. No mesmo logar, em que Colombo, na sua viageni de dcscobertas, o cncoulrou, tem permanecido ate hoje, oscillando rcgularmente do norte a sul, com as estai'oes, e restabelecendo-se sem- pre das desordens passageiras que Ihe causani OS veutos e Icmpeslades. Observacocs cxactas, (|ue ja da tarn de 30 annos, a rcspeito dos limiles de deslocacao do mar de sargacos, demonstram, que sua posi- cao media nao tem mudado. Esta vegetacao maritima superficial e a prova immulavel do nioviniento circular, di; que o gulf-stream, a primeira o mais importante das correntes pe- lagicase o documento mais characteristico, cor- rente de rotacao, de que ja Colombo dizia — lenbo como certo, que as aguas do mar se moveni como o ceo, de leste para oesle. — Os roleiros das garrafas, que os navegantes lancam ao mar, com as notas de suas via- gens, e grande numcro dinlormafoes autben- ticas attestam do mesmo modo a existencia d'esse movimcnto circular. Caso nolavcl dc tet-aloloeia. — 0 Bri- tish medical journal da a seguinte noticia d"um case notavel de teratologia, veriticado pelo dr. Ch. Murray. A 4 de junbo de 18iJ7, A. C, depois do tcuipo normal da gravidez deu a luz um li- Ibo, hem desinvolvido c robusto. D'entre o sterno e eiubigo do rccemnascido sae o corpo d'oulro lilbo mais pequcno, sem cabeca, e com as extrcmidades superiores rudimentares. Tanlo a crianca parasita, como a oulra, sao do sexo masculine. Esta continiia, desde que nasceu, no exercicio normal de suas I'unccOes, e so solTre e chora. (luando se imprime algum movimenlo ao corpo acephalo de seu irmao. Intliienria bpiicfira ilo Kiravol. — 0 observatorio de Washington, tao habilmenle dirigido por M. Miury, e cercado de panta- nos, que na esta nao calmosa desenvolvem mias- mas, que tornam perigosa a hahilacao e re- sidencia 'naquelle estabelecimento. Ora, OS sabios do observatorio descobriram, que as plantacoes do girasol, lieliaiillnts, neu- Iralisam as influencias morbidas d'aquelle lo- cal. A convicfao de M. Maury sobre a effica- cia d'csta plantacao, e lal, (jue o illustre as- Irononio tenciona habitar o observatorio, na proxiina eslajao de febres, (juando ale agora era costume abandonal-o 'nessa epocha. 264 .4 cndeira «lo pliyvitn vosolnl oi3» Vn- Pis. _Um decreto do govcrno francez conce- ded lia pouco ao niinistro da instniceao pii- blica um crcdito exlraordinario de 42:U0O francos, para seri'iii exclusivanientc applicados a installacao coniplcta do novo curso (\c phy- sica vegetal creado recpntenienio no Muignilicanlcs d'este oxido. Tanlo mais fuiidada parcce esta opiniiio, quando se ve, que a granada chromifera. co- iibecida pelo nonie de ouwdiuvitc. conlem 2\),"> por 100 de oxido de cbroiiiio, possuindo a mesma bella cor verdc da esnieralda, nao coulcndo esla senao dccimas niillionesimas partes do diclo oxido. Deveni pnis admittir-se duas causas dilVerentes da cor dos dons sili- calos, porque quantidaJes lao divcrsas d'oviiio de cliromio nao podiam produzir o mcsnio eHeito em ambos os niincraes. \lem d'isto, attendcndo aos scguintes fa- clos; que se podc aquccer a granada chro- mifcra ao macarico, sem perder a sua cor e Iransparencia, e que a esmeraUla se torna incolor e opaca, a um calor rubro sombrio; que este mineral contem uma materia orga- nica; c que 0 poder tintorial de certas subs- tancias organicas, por exemplo. a cldorophijl- la, e rauilo energico e pronunciado; parece plausivel, que e na causa que o auctor apon- la, que reside a origem da cor verde das es- nieraldas. Ti-aiisru»iao do sangjie.— Sao conlieci- das as interessantes expcriencias de Prevost e Dumas, que mostraram, que sangue de car- nciro ou de vacca niata os coelbos como um violento veneno, e que sangue de manimife- rns injeclado nas veias de palos produz quasi repcnlinamenle tonvulsoes extremamente vio- Icntas c a mortc. Dieffenbach, BischolT e Mueller, verifican- do, que o sangue dcsfibrinado p6de ser inje- ctado com menos perigo do que o sangue con- tendo fibrina, pensarara que este principio constiluia provavelmente um veneno para um animal d'especie dilTerente. Tambem se allribuiu o pbenomcno a desegualdadc de dia- melro dos globulos sanguineos. M. E. Bro\vn-Se(|uard, estudando recente- mcnte a queslao, diz que os sangues venoso e arterial nao difl'ercm um do outro, em seus efTeilos toxicos, senao pclas divcrsas quanti- dades d'oxigenio e acido carbonico que con- tc^m, e conclue de muitas expericncias, que a accao toxica do sangue d'um animal inje- ctado nos vasos d'um indiviiluo d'oulra es- pecie. di'pi'iide principalmcnte da presenca d'acido carbonico em grande quanlidade, e que 0 sangue d'um animal vertcbrado nao 6 vencnoso para outras espeeies de vertebrados, ainda mesmo muilo divcrsas. REL\CAO D'S iiuliviiUiDS nnijiea(li:s para fs seguintes Ingnres tie iuslriirr^ii-t pitblica destle o (tia 1 ale an fun rfp dezeni' broulUmfi. pur drspnchns dft Coiiselho Superior d'ius- tnic^dii piiblicn, e decret'is dii goveriio communicadot ao niestiio cunsel/io no indicado period/}. instri.'C(;ao phiharia. Agoslinho Franciscu de Fijriieiredu. para professor tem- purario da cadeira de Lajjeoza, no districto du Giiarda. Anjrusto Jose Gon(;alves Fino, pura diclo do EspinLal, ilu de Coinibra. Bento Jose Gon^alves, para diclo de Covas, no de Villa Ue.il. Joiio .Antonio Lopes Carneiro, para diclo de Sao Sal- vador d'Eiro. Antonio I'ereira da Encarnai;iio, para diclo de Miranda doCorvo. no deCoimlira. BallliHZar Pinio Lobo, para dicto da Trindade, no do Porto. Joi'e Antonio Ramallio, para dicto de Lagoa^a, no de Bras„n,;.a. ..\ntoiiio Joarpiim da Fonseca Maltos, para professor vilalicio da cndeira do Lanie^-al, no da Guarda (necrelo de 2 do correnle). Joaipiim dos Reis Garcia, para o logar de njndante da escliola de ensino nintuo da cidade de C'astello Branco (Decrelo de 9 diclo). Joao Autonio Gomes deSonsa, para professor vilalicio da cadeira da villa de Melj:a(;o, por transferencia da do exlinctii Coiilo de Fiaes, no dislriclo de Viana (Uecrelo de 15 de dezembro nllimo). INSTRUCT' .VO 8BC0.NDABIA, Antonio Mendes Diniz da Gaina, para o logar de pro- fessor das jcadeiras 1.' e 2.* do lyceii nacional de IJeja (Decreto dicto). Jose Antonio Branco, para o logar de fiel e acente da bibli.illieca nacional de l.isboa (Decrelo de 16 dilo). Antonio Carlos da Sdva Vieira professor da lingua grega addido ao Ijceu nacional de Lishoa, para a pro- priedade e servenlia vilalicia da cadeira d'egiial disci- plina estabelecida na seC(;rio central do uiesmo lyceii (Decreto de 26 diclo). INSTRUCrAO SUPERton. Diogo Pereira Forjaz de Sanipaio, para o logar de lenle catliedratico da faciildade de direilo Da Uuiversidade de Coiinbra (Decreto de 10 dicto). i) Jn0tittttrr) JOR^AL SCIEINTIFICO E LITTEUARIO. l^STiTlTO DE COIMBRA. CLASSE 1>E SCIENCIAS MORAES E SOCI\E?. tiUivtVo ia acVa i«, stssSo is, \\ At \t\eTmo U \8o8. Estamlo auscDte o sr. direrlor da classc, Miguel Rihpiro, presidiu osr. secrolario Adria- no Macliado. Aberta a sessao pelas 11 da nianha, o vi- re-sccretario leu a acta da antecedente, que foi approvada. Em seguida, osr. presidente mandou Idr o parecer da comniissao eleila para examinar uma memoria reniellida ao InsliUiio, polo sr. Conde de Rio-Maior, Anionic de Saldanlia. Depois de unia breve discussao procedi'u-sc as duas votacoes por escrutinio socreto. na conformidade do rcgulamenlo do Institute, art. 47, §. 2, e art. 48, §. 1, e verilicou-se ler ticado approvado para sorio efTcclivo da classe de sciencias nioraes e sociaes do Insli- tiito de Coimbra, o sr. Conde do Rio-Maior, Antonio. 0 sr. presidente levanlou a sessao; erani 12 da tarde. 0 vice-secretario da classc posiro(:s guardnu, assim conio as do art. 19 do nii'siiio. A vaslidao c inqiorlaneia dosobjerlns agro- noniicos, e em esjiecial os assumplos, segundo o progranima das materias acerca das quaes as sociedades agricolas devem ser oiividas, (art. 35), designidos em qur.-ilos para cada Vol. YI. Feneheiro 1 uiiia das secfoes, n.io podiani dei\ar a socie- dade a nienor diivid.i sobre as dilTiculJades (|ae enronlraria em ha\er os esclarecimcntos indispensa\eis sobre especialidades em cada lima das localidades, e tanlos em nuniero da mesma especie e local, (|ue, aU'eridiis uns pe- los outros c confrontados, uiais seguramente se podesse assentar a sua verdade; e hem ma is Ibe era islo nece-sario, que em materia de tal novidadc entre nos, as informncoes e csclarecinientos, qiicr collccliNOs, quer indi- viduaes, raro e que se nao resintani do man babito, desatisfazer porcumprir nupouco mui'i ou menos, seni a conscicnciosa exactidao, ou a niais possivel approxlniacao a verdade, por que so valem similbantes informacoes. Mas, Senbor, sea Sociedade Agricola d'estc districto apprescntando a V. M. esta singela cxjiosicao, naopodelisongear-scdeappresentar obra em (jne sc vejam trabalbos prolicuos sobre a piimcira fonte de ri(|ueza nacional, os dese- jos, ([ue a todos animam jii nesle ensaio, au- gnrani o exito futuro de sens csforcos e perse- veranea, inclinando V. M. a uma sociedade nasccnle aqnella efficaz proteccao, quo so Ihe darii 0 aninio ])reciso p^ira aplanar, ou pelo menos curvar, lantos tropnfos o diCSculdades levaiitados pela ignorancia. pelos preconceilos, e pell fo;ca esteril da rotina. S6 assim podera concorrer a Sociedade para se abrir o verda- deiro caininbo da prosperidade. e lora trabir snas iiilimas convicfocs, se nao accrc.'.ccn- lasse — da independcncia nacional. X Socie- dade ([ue tern )ostos os olbos 'neste alvo de gloria para V. J!., tambem os nao pode de.s- viar dos meios e esforcos com que o governo de V. M. concorra e so empenbe ell'ecliva- menlc em levaniar o padrao que symbolise o reinado d'uin novo — rei lamiuou. Seguindo a ordem dassircoes, esle relato- rio appri'senlara, em cada nnia d'ellas, a e.x- posicao das materias designadas nos quesilos respectivos dos programmas. em indo o que Ibe fur possivel. segundo os csclarecinicntos oblidos e cxaminados. stcc.\o 1 ' 1 .° Gad')!:. 0 gado vacuni, (jue os ni;ippas officiacs dao em nunicro de 27:.">10 caberas no anno 0—1838. NtM. 22. 266 proximo passaiio, esla longe dc attingir a somma que as nocessidadcs do servifo agri- cola rcclamam. e ainda'mais longK de forne- ccr OS l)ons prodiu-ios de cainos c dc luile. A rafi dominanli' no dislricto e a serrana oii galloga, a qual, csforyada no irabalho, so- l)ria e docil, 6, cm verdadc, miiilo propria para o trahallio dc lavoura ou carrelos, em urn dislrielo tao accidetuado como este, sobrc- ludo nas serras. Esla raca. porem, ainda assim com esla aplidao, poslo que dcgene- rada pcia maior parte, nao c a mais propria, economicamenlc fallando, iicm para o lallio, iK'iii para a prodiircao da Icile: as despesas com 0 engordo, e susieiilacao para cada um d'estes lin?, nao seriam coiiipensadas pelos produclos respeclivos. Para o talho seria cspe- cialmentc imporiante a inlrodtirrao da raca do Minho, a qual e prccinsa debaixo d'esle ponio de vista. 0 leite de vacca e pouco, ou quasi nada usado ; porque as vaccas sao empregadas co- rao OS bois nos Iraballios; e quer os novilhos sejam para os lallios, quer para criar, nao se aproveita o leile das raaes, nem antes nem depois de desiiiamados, havendo 'nesta parte da industria pecuaria profunda igno- rancia, ou pelo nienos deslei\o, em lirar o melhor proveilo sem prejuizo das crias. Ila algumas vaccas hollandezas, e mais algumas lurinas, (|ue sao variedades d'ellas; mas tao poucas (|ue talvez nao excedam ao numero de 20. Conviria muito inlroduzir a raca Iransmon- tana, que, alem de ser muilo propria para OS trabalhos agrirolas, foniece as tao estima- das vaccas leiteiras, conliciidas pelo nonie de vwliires. As vaccas do Algarve, ou da raca alrjarvia. tambem boas para o trabalho, niansas e muilo leiteiras, cslao no niesmo caso. A dcljciencia do gado vacciim para o Ira- ballio e fornecinienio de prodiictos iiteis de- pende: — 1.° da niii alimenlacao, que nao scndo proporcionada ao rigor do Irabalho. Ihe encurla a duracao, e o nao deixa Cornc- cer boa carne, se sc tenia por lini cngordal-o para isso; e quasi nunra se tenia; cntre o largar do jugo e o cair debaixo do fcrro nao ba espaco de tempo ; e o descanso reparador e a convcnicnte alimenlncao nao pioduzcm os scus iiencliios rcsullados; — 2." de nao ser economicamenlc propria para o engordo e produccao de leite a raca doniinanlc; — 3." da quantiiladc de novilhos e noviibas que I'otra nos talhos; — -5.° cm lim, da sueces- .'iva dcg-neracao da raja, pelo ncnhum cui- dado na cscoiha do louro e da vacca, nicsmo (juando a alimentacao em geral, e cslabular, i- ainda poor (]uando e eiu pasios communs. Esla deliciencia de gado vaccum debaixo dos irez iniportanles ponlos de vista, Irabalho, carncs, c leite, lorna-se mais sen- sivel por sua damnoSQ consequcncia, que e a fulln lie exlrumes, «m os ([uaes nunca o agricullor colhera bons produclos, que recom- penscm sens trabalhos. 0 gado cavallar, asinino c muar, c nao so deliciente, mas sobre tudo abaslardado. A cifra oflicial no anno de 18")() foi de 7:306 cabccas do cavallar, 6;77S diclas do asinino, e 1:201 diclas do muar. Esta [alia e dcfrito c muilo sensivel ; nao para o servico de lavou- ra 'nesie dislrielo, onde lodo se exige cxclu- sivamente do gado vaccum, mas para Irans- porles, jii de tiro, ja de carga, ja de sella. 0 gado muar c rarissimo; c e tanlo mais para scnlir esla deliciencia, se se cousidera iiuanlo estes animaes sao prestadios; valcnlia, scguranca, forca de tiro, solTrimenlo na fadi- ga e na fome, sao qualidadcs, que a indole desconliada e seslrosa Ihe nao lira. Auguien- tal-o, c melhoral-o coruo convem, nao sera pos- sivel em (|uanlo se nao nielhorar a raca asi- piiia. E>la e degencrada c insuflicienlissima para as neccssidades, especialnientc dos pe- quenos proprielarios, e sobreiudo nas loca- lidades pobres, e cujas commiinicacOes com as jjrincipaes povoajoes, mais ou menos dis- lantes, sao |)essimas como cm geral as d'cste dislrielo. Se crusados com boas racas hespa- nliolas se melborassem e crescessem cm nu- mero, grande proveilo se tiraria, ja para obter 0 bom servico que presla um animal, cujos doles sao frugalidade, paciencia, forca, e ale ligcireza de movimeulos. 0 gado lanar e pouco, e a cifra oflicial so se elevava a 120:()S1 cabecas no anno de 1S57; e em geral, e mao, sobie tudo no con- ceiho dc Coimbra e nos conliguos. A(iui os rcbanlios quasi so sao formados do refugo comprado nos rebanhos das serras, iiuando descem aos canipos do Mondego, ou ([uando passam jiara buscar outras pastagens. Os concelhfs, cm que se cria mnis d'esle gado sao — Miranda do Corvo (23.000 cabccas),— Taboa (13:;;3j diclas)- Argaail (12:798 di- clas),— Coimbra (8:994 diclas), — Monlc-mor Velho (7:;-;20 — Oliveira do Hospital (8:400 diclas). A nenbuma selcccao dos individuos para casia, — a ignorancia do verdadciro syslema, que 'nesse crusamenlo so pode dar a boa raca, — a ignorancia dos paslores ou dcscuido na alimentacao e regimen adequa- do, etc. etc., eis-abi as causas permancnles, por que este preciosissimo ramo de industria pecuaria nao fornece las c carncs na (juan- lldade e qualidades devidas, e corre sempre cxposio a frequenles epizooliat. E se em tudo isto vai |)erda de grande riqueza, niio vai menor mal a saiide dos povos. 0 gado caprino elevava-se, scgundo os niappas olliciats, a 40:7S4 cabecas no anno de 181)1. Tern diminuido 'nestes ullimos tem- pos, sobre tudo no concelho de Coimbra: e se a dimiuuicao conlinuar, a boa agricullura 267 por toda a parte o applaudira, sobre tudo no ranio mains e (lores'as na.scentes. 0 gado suiiio, apesar de ser urn objerlo de rriaoao, I'ni gcral, de lodas as povoacocs, iiao ii liastaiite para as necessidades do con- sumo. Em lSo7 (.'levava-se csle gado ao luiniero de iili^iaS caliecas. Os concellios inais piodiiclores sao os — de Monto-mor-velho (0:400 caliecas). — 0 de Coinihra (7:002 di- clas, — 0 da Figiieira da Foz ('A-Jiii diclas), (' 0 de Soiire (3:038 diclas); c, cm geral, e uma obscrvncao, que sao iiiaus lodos a(|uclles, em que nao predomina a creacao do gado capiino. E a csle respeilo, e niuilo para no- lar, (|U(! nm concellio (■( lun o dc .Mira, crean- do so 13 caliras crie tambem 2:600 porcos (mappa olllcial de ISii"), e que o concclbo de Peiiacova. crcando 8:1130 cabras, nao possa crear senao 2:i00 porcos, menos que o pobre concelho dc Mira! E a raca do porco graiule da Beira a que e geralmenle empregada pelos creadores, pre- ciosa — pela sua adniiravel fecundidade, — pcla voracidade apro\ eiladora de loda a avaria e sobejo do casal e da familia, — e proni|)lidao com que seus individuos sao cevados, produ- zindo uma came muscular ou matjra, abun- dante e saborosa. Esla raja, era geral nao lem degenerado, porque o inleresse dos creadores OS obriga a boa escdiba do varrao e da porca, e sao as boas qualidades dos leilOes, que no mercado se procuram c pagam bem. A rara alentejana, lao propria para a produccao da yorduia ou loucinho, nao e empregada pelos creadores; inip')rlani-se, poreni, muilos indi- viduos d'clla para consummo. — Tambcni nao ha creacao ou engordamcnlo cm pnnlo grande, ist'j e, leila por um so proprielario, como no Alcmtejo ; neni o engnrdo e em monlados, mas so em curraes ou corleJbos. — 0 emprego do sal, alias tao impoitante, e quasi desco- nhecido na aliuienldcao d'eslcs animacs, sobre ludo na ceva. 2.° I' r ados. 0 dislricto nao lem prados arliticiaes pro- priamenlc diclos ou pcrmanenles, pois nao raerecem csle nonie alguns p*quenos ensaios, c rarissimos, d'algumas plaiilas pralenscs, comoluzerna, sanfeno, elc. Kseiradella{oTa\- tbopus salivus, Brol) ea lierva de semenle ou raygran dos inglezes (Lolium perenne, Lin ) constiluem alguns prados; mas nem o nuuie- ro, nem a estensao d'cstes rcpresentam a im- niensa importancia, que lem estas plantas, indigenas e espontaneas, a prinieira I'orne- cendo bom paslo lemporao na primavera em lerrenos areuosos e aridos, e a segunda em ter- renos com alguma frescura, ou arenosos de sub-solo argiloso, ou nos alios bumidos e fries. A qnalidade alimcnlicia d'esla ullima planta, alem d'oulras qualidades, da-lhe um merito, que tahez neniiuma oulra graminea cxceda, para ceifar cm vorde, c sobre tudo para ser paslada, pullulando debaixo do cal- car dos gados. 0 trcvo dos "prados (Trifolium pratense, Lin.) conbecido pclo nome de Irevo encarna- do, vai-se inlroduzindo com reconbecida van- tagem para lodos os gados, e ale para o sui- uo; c lanlo mais, (|ue. conio c annual, a sua cullura presta-se a dos cereacs no mcsmo anno. Em geral, alem das graniincas e niais her- vas nasccdicas, como balanco (avcna barbala, Brol.) clc, OS pastes cm verde sao fcilos de ce\ada, cenleio, aveia e bervilbaca, corlados na primavera. — e pelos milbos que sc ar- rancam nas mondas durante a cullura dos milberaes; e nos fins do outono, e durante 0 inverno sao as pallias dos dilTcrenlcs ccrcaes, que lazem o alimento princi[ial, ou exclusive dos gndos. A pallia do milho e quasi o cxclusivo do ga- do vacum na ultima cstajao. — 0 emprego de raizes, como nabos, clc , para suslenlo dos gados, e desconbecido, c ainda mais o paslo arboreo, que lao util [lodcria ser, quando as terras estao afructadas, para o gado vacum e lanar. {)s ramos e folhagem do cboupo, sal- gueiro, elc. elc, seriam oplimo rccurso como 0 sao na Italia e na Suecia ; c a aniorcira multicaule, sobretudo, ba poucos annos in- troduzida nesle dislricto, pcla facilidade com que se da, e pela sua rapida e pomposa ve- getacao cm folbagem desde marco ale fins de novcmbro, poderia ser, planlada a roda das propricdades, niuito mais imporlanle para isto, do que para a industiia scricola, cm que, se- gundo 0 inlroductor, nao lem merecido pra- clicamente os louvores, que se Ibe apregoa- ra m . Finalmente nos muilos lerrenos baldios tan- to publicos como particulares, e mais ou me- nos cxtensos, que ba em lodos os concelhos, OS povos, nao distinguindo os publicos dos particulares, pascem os seus gados indistin- clamcnte. — Esla posse adquirida jjor muilos modes, que o direilo nao apoia, ofl'ende 'nuni case 0 direilo de propriedade, e em lodos os cases OS interesses jmblicos e particulares, oppondo-se a cullura dos baldios aproveita- vcis, e ci arborisacao Uorestul dos oulros. Ua oulro compascuo ainda mais intoleravel em terras particulares, e nao baldias, mas sujeilas a cullura annual de cereacs: — sao OS pastos commans nos campns de Coimbra e Montc-mor-Velbo. A respeilo d c>lcs a Socie- dade ogricola adopta plenamcuic o pcnsamento da Camara Municipal de Coimbra, (|uando, re- presentando a V. JI. conlra os mesnios pas- tos, disse: «E esse abuse e a violarao d'um direilo com lodas suas pcrniciosas conscqucn- cias, — e o obstaculo ao pleno use do direito de propriedade, e ao mcsmo tempo a todo o possivcl melboramenio agricola nos canipos 268 di' Coiiiibia. ■> \ socieilaili', s(mu ainda levan- lar niao d osle ullmio obji'clo, rcserva-se para mostrar, em oci'.isiao opporiiina, o qiiaiito os paslos coraiiiuns nos campos de t'.oiiiil)ra se oppoeiii a todo o de'siiivoh nnciilo d.i iiuiuslria pccuarid. Conli.iutt. FEBRE PUERPERAL. 1.* PARTE. liWtlH PIFFEnKNCA KMBE A lEBIlE PUEIlPEnAL, A AiETUO-PEIUTONlTE, E PIII.EIIITE UTEIUNA? Idea gcral tie febre. Continiiado de pag. m II. Da exislencia das febres essenciacs. A dislinccao enlrc febres esseiuiaes e .=yni- ptomaticas acbava-se eslabelecida desde a mais reniota anliguidade, quando Broussaii- apprcseiilou doiilrina opposla. Ndo exislem [ebre.s cssenciaes. Todos os mo- vimenlos febris, que obscrvamos , sdo coiise- (juenciu da inflaiumanlo, que e o f:iclo inicial e cliaracleristico. Eis a base da doiitrina cba- luada pbysiologica, proclainada pur Droiissais, segiiiJa por alguiLs jjalbologistas, o ainda hnje siislcntada por oulros, api'.-ar da reacrao, que contra olla se o-ta oporando. A exi>leDcia de fel)ry.s ti'ndo a sua setlc unicamenle no systenia ondc se manifcstani o# principaes syniptonias, coiisisliudo |)nr con- seguinle numa simplos exaltarao do syslcnid vascular, indcpendciilc d'unui alTeccao pblc- gma^ica anterior on concomilante, cjue a possa explirar, nao se pode doi\nr d'adniillir no cslado actual da >cioncia. Eis o que consli- lue as fejie-1 esienciaes on idwpulhicas. Ningueni duvida i|ne as jihlcgniasias. prin- cipalmente as agudas, nccupani o priniciro b'gar na etiologia das fci)rcs; mas eslas nao sao a causa unica e I'xclusiva. Se niuilas vczcs a inllanunacao d'uni orgao dii origcni a uma reaccao do sysiema vascular, c a nianilt'stacao do movimcnlo fcbiil, que cossa ordinariiinientc quando lerniiua o eslado plilegniasico local, neni scnipre se dao cir- custancias tao favoravcis a admissao exclusiva do principio pioclamado por Broussais. Exislem estados febris, que de niodo algnni .se podeni ligar a lesoes plilogmasicas exislcn- tes no systcniii onde se dao os phcnomenos niorbidos. on divorso. A anscncia complcta do lesao pblcgmasica local, 0 sou di'senvohimento sinuillaiieo ou conseculivo em relacao aos symptomas gcracs, e fis vezos cm lao pe([ueDO griio, que de modo algiim podeexplicar a extensao dasalterafOes funccionacs, sao razOes que nos fazcni eslabe- lecer uma distinccao cntre o estado lebril, que assiui se nos nianifcsta, e o (lue acom- paniia ou segue a inllanunacao d'uni ou niais organs. I'lienonicnos peicnssoics abrcm a marcba das febres priniilivas, conslitnindo os piodromus. 0 desenvolvinienlo por epidemia, a iransmissao por inlVccao ou conlagio, c linalm nte as allerajOes bematologicas I'ormam uni vcrdadeiro contraslc com as febres sectiii- daiias ou symptomaticas. A anatomia dos fluidos teni sido summa- nie:itc vanlajosa ao estudo da palliologia ; e 0 conbecimenlo da conslilincao anatouiica e pbysiologica do sauguc tcui scr\ido de base paia uma verdadeira dislinccao cntre as duas classes de febres, de (pie nos eslamos occu- pando. As analyses dWndral c (iavarrcl e outros dao 0 scguinte resultado para 1000 jiarles de sangue: n Been, e Dnmas. ,, ,.' noilier. Agoa Fibrina Albumina Globulos rubros . . Maleriaes st, lidos do soro etc. . . . 790 71)0 779 3 3 2,2 08 70 09, i 127 127 141,1 12 10 8,3 1:000 1:000 1:000,0 Logo que quabpier d'eslcs jjrindpios cons- tiluinles augmente ou diminiia pro|Kiriional- aieiile aos ontros, dao-se pbcnomcnos patho- logicos, que di^crsilicam niuiiii segundo a al- leiacao se da 'nuni ou oulro principio. 0 auguienlo absolulo d:i librina, que pode ele- var-se ate 10, a, e phcnonieno consiante das phlcgiuasias , assim conio a dimiuiiicao de globulos ruli'os. .\ I ersistiMicia da librina na cilia noinial, on a sua dimiiiuicao absolnla ale 0,9 cllaraclcri^a as IVbrcs primitivas ou essenciiies. Tal e a lei a (|ue nos [)0d('uips cbogar em conscqucncia das cxactas e rigorosas obser- vafOes d'Andral e Gavarret. As ideas modernas tendcm para urn bunio- rismo racional, nao fnndado cm allcrarocs das proprledades pbysicas dos bumores, conio 0 dos aniigos, mas ba.seado uas niodilicacocs dos clcmentos anatomicos, (pie enlram na sua coniposicao. u Jc ne comprends, diz Aiidral, « pas plus la possibilit(; de quebpie notion pre- « cise et vcrilablement utile sur Ics modilica- « lions du sang, sans rintervcnlion de I'ana- " lyse, que je no comprends la possibilile de « reconnailre, sans les dissections, Ics niodifi- « cations des organes. » Mas nao e so nas allcracucs bematologicas que devenios ir buscar os elemenlos para uma verdadeira dislinccao entre as febres symplo- nialicas c idiopalicas. Durante as pyrexias 269 cosliimnm niuitas vezes desenvolver-se inflam- niacoes locaes, que chaniainos secundarias, porque a febre forma a alteracao priniiliva, e reprcsenta mais parlicuiarniente a nioles- tia. Eslas inlhinimaiOos sucundaiias ilislingiicni- se das iniiiiilivas, (iiie ])rodiiz('ni as leliic;. syniplonialicas. A nuiis iiolavcl d'oslas dilTc- rcnyas e a sua obscuiidade a tal poiilo, que iiidaniniarOes nuiliiplas, e disseminadas sc roiniiim nuiilas vezes seiii eonliecimcnto dos doeiites, e seni se revelareni aos meditos pelos syiiiplomas d Inllamniaran, mas uiiica- nienie pelos produdos morhidos. Porcni, se elias adquirem lal inlensidade, que 0 doente, e o niedieo vein no seu co- nhecinieiito, enlao ja o eslado niorhido local esla por extrenio adianlado. E neccssario que a inflaniniacao Icnlia excilado reaerao da parte da econoniia, e o doenle sinla a lesao local; ou que esla, tendo lerminado pela suppuracao, de sahida ao pus. As inilammacocs priniitivas, que dao ori- gem as febres symptomaticas, coraporlam-se d'unia nianeira inteiramenle diversa Os syin- ptonias locaes paleiiteam-se com loda a evi- dencia, e as perlurbacoes funccionacs se se- guem immediala c facilmente. Esta obscuridade de symplomas indamma- lorios 'num case, e a sua excilabilidade, e faeil deseiivolviniento no outro, comprelien- dem-se facilmcnle. Nas inflaniniacOes priniiti- vas a parte ameacada acbava-se no estado normal; gozava de toda a sua sensibilidade e forca de reaccao, quando o esliniuio niorbido a impressionou. Perturhadas as suas t'uiiccOes, excilada sua sensibilidade, e syuipalliias, re- sultam vivos son'rinientos para o doente; e para o observador mudancas exteriores inime- diatas, (|ue indicani a sede e intensidade do mal. Pelo contra rio, quando se lorniam as in- ilammacocs secundarias, lodos os tecidos estao ja 'num cstado niorbido, ([ue nioditicou as suas proiiricdados. As febres e que melbor cabe a cxpressao de niorbi lotius subataiiliae. Os vasos capillarcs, que bao de ser a slide da inflammacao, participam da molestia geral. Quando passam ao estado inllammatorio nao se patenleam sensacoes dolorosas, nem algum dos outros symptomas, que indiqueni indani- macao. As outras partes nao rcagcm, e as sympathias morbidas, que poderiam ser pro- vocadas prlas phlegmasias nascentes, perdeni- se DOS pbenomenos geraes da moleslia. As InflaniniacOes secundarias teni niuila tendcn- eia a disseniinar-se, a appareccrcni em pontes multipllcados, e isto nao acontece i-i pblcguia- sias primitlvas. Nas febres symptomaticas e evidente o modo como se gera o nio\iraento febril geral. A irfitacao dos capillares sanguineos trans- mitte-se niul facilmente a todo o apparelbo circulatorio. .V iolinia ligacao dos dois ap- parelhos cxplica a Intima ligacao da Inllam- raa^ao e da febre. Nas febres essenciaes ou idiopatbicas o processo ainda e muito obscuro. A physiolo- gia pathologica das pyrexias esta ate certo ponto invoivida com o denso veu do niysterio. Em todo 0 apparelbo circulatorio e que se passam os pbenomenos variados, quecharacte- risam as pyrexias. Mas a sua causa immedlata nao existe cm phlegmasia, ou alterajao orga- nica das paredes do coiacao, e dos vasos. Dillicilnicnte sc conceberia que uma febre epbemera, ou nm simples accesso de febre inlermittente dependesse de lesao grave d'or- gaos tao ini|iortanlcs. Oude existe a causa real, a sede primltiva da pyrexia? Ao syslema nervoso recorreram Albreclit Tbaer, Robert Reid, Duges, Robert Latour, Puw, Clutterbuck. E este .systema que primeiramente soffrcu a impressao morbida, jirimeiro tcrnio de toda a formula etiologica. Mas qual o ponto sobre que actuarao de pre- fcrencia? Sera nas divisOcs do grande sympa- Ihico destinadas a acompanhar as arterias ate as redes capillares? (Duges). Sera no systema nervofo ganglionar? (Roliert Latour). Sera no proprio cerebro como o julga Pew, Clutter- buck, etc. e como o parece indlcar a dor e peso de cabeca quasi constantes, e a dlflicul- dade no exercicio das funccoes cerebraes? A pyiexia e uma moleslia geral, posto que todos OS seus princlpaes symptomas tcnham logar no appareliio circulatorio. E um ado de todo 0 organismo; pertcnce a todos os systemas, recebe de todos impulsao simul- lanea. Unin desordcm da innervacao se deve aduiittir como o priinciro anel da serle de pbenomenos, cuja reuniiio e encadeamento constitue a pyrexia. Esta pcrturbacao produz uma excitacao annrmal na actividade do systema nervoso, e [lor conseguinte em todos os que com elle se acbam intiniamente ligados, contando-se em primeiro logar o systema vascular san- guineo. Reconluccmos nuiilas vezes causas debllitanlBs, (iue, obrando fobre o systema nervoso, o tornaram nials excitavei. Esta nota e niul Importante para a tberapeulica. Galeno nao andou hem qnando disse; « febrls, ut « febris est, curatio est humectare et rcfrlge- « rare.o Mas nao se julgue que as causas debllltan- tcs sao as unlcas ca[).izcs de produzir as py- rexias. Causas excitantes podeni oliriir sobre 0 systema nervoso, e produzir direciamente a excitacao das funccoes d'este syslema. Cora muita razao diz Ilildenbrand: " Uallucinanlur « illl, qui disponens ad onincs febres momen- « turn qiiaerunl in debilitate. » 0 sangue, como cstlmulo dirccto dos or- gaos circulatoilos, deve represcnlar um im- jinrlanle papel nas tbeorlas pyretologicas. Re- cebendo moleculas prejudiciaes e provocado- 270 ras de phenomenos morbidos nada ciisla a con- eeber, ([ik; olle se lonie o ajicnte iminedialo da excilacao vasriilar. Mas (|Uiil 6 a alU'racao, que da ao saiijjue eslas propricdades? Sera constanlc e seiupre idenlica? Ate lioje apcnas so podcni furiiiar conjecluras, crear supposi- rOes. (iravcau, levado por estas consideracfies, cslabelecc uiii gnipo de moleslias intiTmedio iis phlegniaticas, e pyrexias, a quo cliama intorieacoes. Ila pois duas classes de fcbres, opiniiio esta admillida ja no tempo de Galeno. « Dislin- guere auleni opporlet in singulis aegrotanti- bus ; primum quidem, si sine loci all'ectu sil febris, vel ex buuiorum putriludine, velque solus spiritus sil alteratus ; deinde si nieni bnnn alVeilum I'ebris sit causa, ot quaenam sit ejus alTcctio. (Galenus liber 2."' cap. 3.) N'umas o movimento febril rcsulta da lesiio phlegmasica local. Assim o attestani os svm- ptonias durante a vida, e as lesiies depois da morte. N'outras o movimento febril nao e directamcnie subordinado a nenhuma outra doenca; tern uma exisiencia distincta; per- corre os sens dilferentes periodos, manilesta signaes e syuiplomas, que Ihe -sao proprios. Assim e que concebenios a essencinlidade das febres, c nao como os anligos, que as faziam 'neste caso depender d'alteracoes nas proprie- dades vilaes. Pode exislir lesao local, mas esta pela sua pouca intensidade. e pela ordcni de desinvolv imcnto nao estar ligada a eiiologia do movimento lebril; antes se i)ode considerar como sua ronseiiucncia. Continua. f. a. ALVES. BIBLIOGRAPHIAS. Almanack da Inslruceao Piiblica em Portugal. Segundo anno — por Jose Maria de Abreu, Icnte cuthedralico da faculJade de Philosophia na Universidade de Coimbra. Publicou-se, ba pnupos dias, o segundo anno do exfellente Aluianack do sr. dr. Jose Maria de Abreu. Esle segundo volume, complenienlo indis- pensavel do primeiro, contem nuiitas e mui interessautes nolicias iicerca dos nossos esta- belecimenios dinslruccao piiblica; os mappas dos exames no bimesire passado, e das ma- triculas no presenle anno, tanlo na Univer- sidade, como nas academias e escbolas d'ins- truccao superior e secundaria ; urn reportorio ou indice da legislacao novissinia sobre ins- Iruccao piiblica ; a relacao dos socios das mais imporlantes socicdades scienliticas c littera- rias de Portugal; os necrologios dos menibros do uiagisterio, Callecidos durante o anno de 1837, etc., etc. 0 sr. J. M. do Abreu, enlendeu, e a nosso vi^r com razao, que seria inutil repeiir no AlmanacU d'esle anno algumas das nolicias apprcscnladas no do anno passado ; porem csla suppressao I'oi de sobejo compensada com as imporlantes addi^oes (|ue enconlramos 'nestc i." volume. 0 piano da exposicao das materias foi tam- bem esle anno um pouco modilicado; Iracla- se primeiro do pessoal de cada um dos esta- belecimentos d'instruc^iio piiblica; depois da parte lilteraria, e linalnicnte da cconomica. Ksla disiribuicao parece-nos mais acertada do que a do Almanack de lS."i7, e seria pcr- I'eita se infelizmente o indice ali>babetico do Almanack niio I'osse um pouco resiimido; nao e I'acil achar immcdialamcnte, com os dados que ellc nos I'ornece, (jualquer materia (]ue queiramos examinar; assim se (|uizermos sa- ber 0 movimento dos cxanies no lyceu de Coimbra, teremos de procurar a palavra bjcen e folliear lodas as pagin;is consagradas a esle cslabelecimenlo, ale darmos com os mappas dos exames; parcce-nos (]uc se lioiivesse no indice a palavra eTamex ou esladislica d'exa- mes, seguida do nonie dos estabclecimenlos em que estes exames I'oram feitos, parece-nos, dizemos, que as indagacoes seriain inuito mais faceis e curias. Por esla occasiao tomaremos a jiberdade de leinbrar ao sr. Jose M. de xVbren, que o seu Almanack ganliaria muito se comprehen- desse tambeni os mais imporlantes e acredi- lados oslabelecimentos parliculares d'instruc- cao e educacao, a respeilo dos quaes pouco ou nada se sabe fora dos logares ondc elles exisieui. Nao ignoramos a immensa diQicul- dade que tern a rcalisacao d'esla idea ; afli- gura-se-nos, porem, que nao sera insupera- vel, se, como e d'esperar, os cbefes de cada um d'a(|uelk's estabelecimenlos ministrarem as neccssarias indicacoes. Sentinios tauibem nao encontrar no Alma- nack de inslruccao piiblica a esladislica dos estiidanles da Universidade e Lyceu de Coim- bra, classiticados por dislriclos administrati- vos do rcino c deinais paizes de sua nalura- lidade. Na relacao official dos esludanles do anno de IUSS para 1854 enconlra-se esta esladislica; porem, de enlao por di.inte dei- xou ella de publicar-se, por molivos que igno- ramos. 0 sr. J. M. de Abreu (aria, a nosso ver, um imporlanle servico se no seu Alma- nack conlinuasse aijuella publicacao. Apesar de julgarmos exagerada a o[iiniao d'aquel- les que diio a esladislica uma imporlancia demasiada, que ella, por ora, nao pode ter, parece-nos que seria ulil o irabalho que lem- bramos, e que poderia lornecer a commissao d'esladislica ullimamenle creada alguns da- dos imporlantes. Perdoe-nos o illustre auctor do Almanack de inslruccao publica estas curias reflexoes, sug- geridas pclo vivo cmpenho que nos tarabein, 271 conio sua ex.', professanios pdo adiiiutamen- to da nossa iiislrucjao piiljlica, e pelo detra- niamnnlo da eilucarao. Felicilamus siiici'ia e cori>licac«ee«do viiiro. — Custa a compre- hender, como o vidro, esta materia tao fra- gil, se presta como a seda, e.\cedendo-a ate em cor e brilbo, a todos os capricbos dc (ia- cao e tecelagem. Sao bem conbecidas as for- mas arlislicas, graciosas e elegantes, de que e susceplivel esta substaiicia; c bem sabido, como as mao> liabeis do artista manipulam o vidro, e 0 reduzem a lios 10 vezes mais del- gados, que um cabello; me>nio no cosso paiz lem apparecido as mais bellas exposicoes d'objectos de vidro, que encantam e fasci- nam o expectador. Admira-se aclualmente em Bruxellas uma d'estas prestigiosas exposicoes, onde entre nuiitas cousas maravilhosas, apparecem fru- ctos, flores, aves, que por seu lamanho, fei- lio, poupa e cauda lembram os mais bellos e raros beijallores, magnilicos navios em que niio Calia a mais pequena corda, e enilim, lindos e dclicados cbapeus para senboras, que a mais babil raodista nao poderia imilar. Tudo isto [iroduz 0 niaior enlevo e assombro, e tudo e de preco modico. lionscvidade. — Em cada milhao d'habi- tanies, coutam-se na Franca, 101:i9o indi- ' Ksles calculos eslatislico.<, que os jornaes francesps reprodiizem, s5o do Hathiciit Mechanic's Jf)urtiat. A res- peito do nosso paiz, nao ha exactiduo, iiu t'stado actual das coaimunica<;oes telegrai'lticas, porque de^de que £e couiplelou toda a linba, d'Elvas ate Valen^a, e eontando as ranuQca<;oes secoiidarias. os Gos doa telefjrajibos ele- clricos. si'i cm Portugal, occupam niaior eilensao, do que a arbilraila para toda a peninsula, pelo menciooadu jor- nal. 272 viduos com a edade de 60 annos — na Bel- gica, 88: 132 — iKi Dinainarca, 87:Cu7 — na Succia, 78.-187 — iios paizes baixos, 70:982 — iia Gra-Urctanha, 72:010 — na Sardonha, 71:002. Em (juanlo a edade secular, ol)serva-se, oni geral, (jue as niiillieres, sao as que otVereceui mais cxemplos. O dinia de Inglalerra parcce scr 0 mais propicio para a loiigevidade secu- lar. Conlam-se 'noste paiz 13 cenlenarios em uni miliiao d'habilanles, cm quanlo que a proporcao e apenas de 7,3 na Franca, 7 na Belgica, 2,0 na Succia. e 1,3 nos paizes bai- Do«eoI»erla"» €lo ««'i-8«lo l». — Na Illus- lialed himlon AVic? lc-a em Coimbra CnlcNlaili) em iiffenVHcli = 1' Oiitubro tl T de Capric. -^ io'i.s"ii -r lS'36"oO + 71"/i4 33'21"3 27 (J de Ciipric. 4- 12 49,u0 + 11 37,81 + 71,69 3M7,2 27 o8 dL' Aquar. — 32 8,06 — 33 20,04 -71,98 33 23,3 29 //de Aquario + 36 46,09 -;- 33 34,32 + 72,37 33 40,8 29 f de Aquario 4- 2734,00 4 2621,83 + 72,13 33 34,3 30 21 dos Peixes + 44 43,88 + 43 29,H4 + 74,34 33 22,8 30 t dos Peixes — 28 39,00 — 29 53,88 -1 74,88 33 37,3 (s) Continu a^So da |iag. 252. REFLEXOES HCERCA da PASSAGEM das EQUAgOES DO MOViniENTO ELLIPTICO PARA AS DOS mOVIMENTOS HVPERBOLICO E PARABOLICO. Laplace no liv. 2.", n,° 22 da Mecanica Celeste achou, para a delcrminacao do movi- mento de uni astro em uma seccao coiiica, as trez equacoes seguintes. = !i — e sen « , r = a ( 1 — ^ cos h , /r/ - ti = i ,' — — ta - u (1) 0 angulo auxiliar n e o que os Geometras cliamam anomalia cxcentrica ; e tanlo este, conio OS angulos — 7^ e v sac conlados do perllielio. aU a , a — )■ No caso do nioviineiito elliptico a 2." equacao (1) da cos m = ; mas 0 raaior valor u e positive de a — r e ae , e 0 st^ii niaior valor negative e — ae ; sera pois cos u< 1 , ou u real DO moviniento elliptico. No caso do moviniento hyperholico a e negative, e e>l ; e a 2.' equacao (1) da cos u = ; mas 0 menor valor de a + r e ae; sera pois cos u > 1 , ou u imaginario a e no movimenlo hyperbolico. No caso do moviniento parolioiico a e infiaito e e = \ ; clianiando pois D a distancia perihelia ou a = - ; a 2.° equacao (1) muda-se em r=- (t — ecosu), donde D-{\- se tira cos u = - De que, porscre=l, dii cosu = l, ou u nullo no raovi- mento parabolico. De tudo isto, e da simples inspeccao da 1.* equacao (1) cencluiremos tambem que a anomalia media . — '— e real no moviraento elliptico, iraaginaria no hyperholico, e nulla a', a i no parabolico: 0 que podiamos concluir ininicdiatamonte do valor de a', que no 1.' ca£o e real, no 2.° imaginario, e no 3.° infinito. 274 Laplace transformou ascquajocs (1), rclalivas ao moviraenlo clliptico, nas do movimenio liyperbolico fazendo a negative, «> 1 , « e / iinaginarios ; e transformou as racsmas equacoes nas do iiioviinenlo parabolico fazendo-lhcs miuianras que cquivalcm a fazcr ii intinito, c = l,«e— -^ nullos. Entre lanto as e 1 tornam em I ^a (e* — 1 ) . dr rdr dv = ^ '.^ dt^f, = — - (3) rs/^.r + '--a{e-^-l) ^/sr +- L_a (e - 1) a 1.' pode mudar-se em \ e / . . , . ( «(^-l)7-^ dv= , cujo integral e e=arc. \ cos= ou ^ = .,- W l+e cost) que e a equacao da hyperbole, sendo o angulo o contado do peribelio; e per isso se nao juntou ao integral a coustante arbilraria. dtl u. rdr A 2.' equacao (3) muda-se em = , , —, — - .. , „ ;. . , ^ • ^ ' k« V^r^^tar — o'(e^ — 1) para a integrar facamos r = « — a (5) que a transl'orraa era is dl\'\L sds ads sds V s- — a'-e" ' (/rt Vs'' — a-e' ys — a'-e'- Vs^ — u'-e^ s+Vs'' — a'e* , . d[s-{- (/?-— a'- e^) —d . Vs^— a^e — a . -^ ., ., ; CUJO integral e s +V s'- — a-e — -^ =f/i' — o'e' — a log. Is +i^s'- — a'^e'-) + c (6) aya ' . , ae Facamos Vs^ — a'e==aetga, e vira s = (7) COSo e subslituindo na equacao (C), vira -—^ = aelga — a log. ( iae/o<»Mc, ou ' ^ ' Va > cos w / ^etg .^ — log. + c* (8) 275 / 1 1 V- 1 cos - „ + sen - M 1 ■- '7 - u 1 + sen ,. \. 'i ^ 2 / ■'2 sendo porem = -. ■ — = -— ^ COS.- / 1 , M/ 1 1 » -. 1 (^cos - . + sen -„j (cos - o,-sen-„j ^-tfj-^ = ;; r- = '^(4^i")' a equacao (8) se mudar.-i em — - ^etg ^ — log. tg ( y +- w ) + c' ; mas e <=o quando r=« (e — 1), ou .?=«. e, islo e, quando u=o; logo (J=lg . tg- = o; lica porianlo __f = e /^ „_log. (^ ^^ 4 -c] (9) substituindo em (u) o valor (7) de .s , vira r = a{ 1] (1q\ e^ — \ e Q cog 1 e egualando este valor com (4), sera ^= 1 , ou cos») = _^_ 1 , ftost) cos u e — cosu ' ■ . (e4-l)(l— cosc) ,, (e— 1)(1 +cos«) donde se tira 1 — cos v = ^^ '-^ '- , 1 + cos « — ' l^ _i • sera nor- e — cosu e — cosm ^ , , , sen -V ^ sen -r a 1 — cost) e + t 1 — cosu 1 e -1- 1 2 tanto = i r— , ou — - = — , isto e 1 -r cos « e — 1 1 4- cos u ,.1 e — 1 ,1 cos " - J) cos TT u 2 2 '4''=v/j^ '^ i" <") As equacoes (9) , (10) , (11) sao as mesmas que achou Laplace, a 1.' da m em funccao de f , e depols as oiitras duas dcterminam r e v. Fafamos agora fl(l — e) = /> nas equacoes (2), e teremos I^JJIX e} . dr rdr -.; dt\/\i.=^ — - ^ = ; fazendo depois e=I , \l^r--~{\+e)D s,/ir---{\+e)D . . , VD.dr ., rdr e a = oo, vira av=^ — , dl[/\^ fig) rVr—D yt.l'r—D 3 A primeira pode loraar a forma dv^ — ' cujo integral e d. ,2Z> \ r ') v'.- -[- — 1 ) D ,1 cos ^ - J) f2D — r. v=zarc . (cos = I , ou r = (13) que e a equacao da parabola, sendo o angulo v conlado do perihello; c per isso se nSo juntou ao integral a constante arbitraria. 276 Substiluamos o ultimo valor de r na 2.' cquacao (12), c lercmos ,,, ,, dv.sen-v rfiil sen •" - « + cos'' -i cos - 0 v/ 1 — COS - ■ , donde sclira dtl^u. • 2 ' 1 Dl ID .1 ^ ^ 2 cos ■' - t) V) cajo integral e ' D\/iD^ '^ l" ' ~i '^'i" ^'*^ contando-se o tempo dosde o periliclio, onde i' = o. As cqiiaooes (1'.!) c (li) san as niesmas que aciiou Laplace; a 2.' ila i) cm funccao de I, c a I.' deteniiina depois o valor de r. Mostremos agora que a 1.° cquayao (1) da iim uniio valor real de ti para cada valor tVtL . dtj de (: seja i/ = 'i — « sen u — •, e sera— ^=1 — e cos u , quantidade positiva, por ser na elipse e< t ; logo y cresce positivainente com u dcsde u = o ale it = oo ; e e uma func- cao continua por serein linitas lodas as suas derivadas em ordeni a u: sendo porcm y negalivo qiiando u = o, e y positive quando u==-o, havera iini valor real de « que torne yi^o; e cste valor sera unico, por ser, como vimos, y uma funccao sempre crescente. 0 mesmo podemos niostrar a respeito da equacao (9) ; para isso facamos It 1 \ log. tg ( T f - CO '=x; e chamando c a base dos logarilhmos hyperbolicos, vira 1 I 1 -■ In -m ^ 2 tg -c /tt 1 \ ' -^ 2 , , 1 c— 1 ^ 2 donde se tira tg - o= ; mas Iga^ " \4 ' 2 ;' , 1 ■'2 t" -T 1 ' ■' , 1 c" — 1 - /„x , n''ii c C-' — 1 sera pois tqa= ; e a equacao !) tnmar-sc-ha em = x ■. ^ •' tt' • . . / ui a "2 C e C-' — 1 t'.^u. fill e (■=' -1 . . . . seia t/^ X ; como— = 1 e positivo por ser na nyper- bole e > 1, a funccao y cresce positivamente com x desdc x = o ale x=oo, e e continua por serem finilas todas as suas derivadas em ordcm a x\ mas e y negative quando x = o, e y positivo quando x = ; havera pois um valor real de x que torne yz=.u; e cste sera unico por ser y uma funcfSo sempre crescente. Finalmente a e(iuacao (14) da tambeni um unico valor real de « para cada valor de t : para o mostrarmos facamos tg -«=;z, - — — = k, e a e(iuacao (14) niudar-se-ha em :'f 33 — A = o; que tem uma raiz real positiva por ser de griiu impar, e negative o seu ultimo termo : seja u esta raiz, e dividindo o sen 1." niemhro por s — a, vira „ i^-r 3 (^ — k , . .. 1 J » s•^ az + a +3H =^o; mas a + 3a — A-=o por ser a raiz da equacao; z — a lica pois z'-+ OS + fl''+ 3 = 0 ; e esta c(]uai;ao deve dar as oulras duas raizes, que sao — a±K— 3(«"+4) , . . .' . ,,,, ,, , := — ^^ ■ . anibas imaginarias : assim a equacao (llj da um unico valor real de « para cada valor do /. De tudo islo concluimos, que tanto no case do movimento elliptico, como nos dos mo- vimenlos hyperbolico c parabolico, a cada valor de I eorrcsponde um systema unico de va- lores de r e t). jacome lih sarmento. ® Jn0titttt0^ JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. PRELECgOES DE DIREITO PUBLICO INTERNO DE PORTUGAL QUE FEZ NO ANNO LECTIVO DE 1795 A 1796. PARTE 1/ Da r6rma e constitiiiciio t("ic~ tlieoricas. A base, o ponto de partida de todas as ap- plicarOes utcis, tern sido, quasi senipre, a llieoria, e hoje nao ba uma dcscoberla d'uti- lidade, que nao jirenda niais ou menos dirt- ctamente 'nalguma idea tlieorica. Por isso e que no seguinle D." do Institulo darcmos um cxlraclo d'uma nola de Mr. T.L. Pliipson, aci^rea da putrefac<;ao a 3,'i." abaixo de zero, que o A. explica pela condensarao do oxige- neo, e pela cstabilidadc provavcl do ozone a esta teniperalura. Esia explicacao liga-sc com effcilo ao ob- jecto de que nos temos occupado, por tender a modilicar as idi^as tlieoricas geralmenle re- cebidas acerca da putrefaccao, e, por conse- (jui'iicia, dc todo:> os pbcnomenos da mesroa naturcza. A. G. A TUTELLA DO GOVERNO NA INDUSTRIA. A sociedadc nao e urn facto voluntario t cnntingenle: e um facto necessario e iegitimo, que nao dcpende da vontadc do boniem. 0 bomiMii, dissc profundamcntc Trebutien, pcr- lence a sociedadc nicsmo a seu pesar. A doutrina, (|ueassenta na falsa supposijao d'um estddo natural, — c que vogou, princi- palmcntc, no lim do seculo passado, em que sc pretendcu frcndicamenle dcrrubar o niages- loso cdilicio das Icis providenciaes, que ori- ginani a barmonia social, nao tern hoje, feliz- mentc, um unico admirador illustrado. Que a sociabilidadc c uma das Icis provi- denciaes, impostas pelo creador ao mundo moral, e uma condicao essencial da conscr- vajao, vida c progresso da bumanidade, dc- nionstram-no evidculeniente a naturcza phy- sica e moral do liomeni, e a bistoria de lodos OS povos. A sociedadc nao c um producto da imagina^ao buniana. A sua base e niais solida. 0 poder, (|ue a diclou, tinba mais sabedoria, do que lodas as inlelligencias hu- niauas reunidas. Eu rejeilo lodas as organisacocs da socie- dadc, lillias da inlclligencia bumana. Crcio lirnicmcnte na barmonia e progresso. que rcsullani da livrcaccao das Icis providenciaes, a que Ucus conliou o descnvolvinicnlo suc- cessive da bumanidade. Se o cinienlo da or- ganisacao social fosse invcnfao do homcm, enlao — sando DeusI — cada uni dos modcr- 110S rcformadorcs dos vicios da sociedadc ap- pareceria pela manha, a porta do seu gabi- nclc, pallido, e com lodas as feijoes cbaracle- rislicas, que dislingucm o innovador ousado, appareccria, digo. com um piano dc reforraa na niao. Cada um, julgando, que a cntrada no icnipio das scicncias, era um privilegio seu, exaltaria bcroicamentc as iransccndcn- 282 los vaiilagens, que a sociedade recebcia da adopeao do sen projeclo d'orgauisarao arti- licial. Uina organisai'So social, produclo da intel- ligencia d'lim sabio, seria acerba e violenta- menle giierrcada por aquelles (|ue descjas- som ardentenienle a ovuoao dos resultados do suas vigilias. As rcvoliicOes scriain iiilini- las, e 0 progresso da humaiiidade inipossivel. 0.< rprormadores luodernos desconlieccm a natiircza huinaua. Quurcm aniqiiilar o iio- meni. Pielendem sopeal-o, siippoiulo que to- dos OS males d'ello rcsiillain, iiao atleiidcii- do a que cllc lambcni (az e praclicn o bcm. yuercm a destruirao da iiberdado: fuiniiiiam 0 livre arhilrio do homein. \spiram ao doiiii- iiio da sociedade. Desejam, que esta seja in- leiramente governada pela sua inteliigencia. Nuina palavra promovein o despotisrao. Loucos!! A actividade intellectual exislira apeiias em seu eeiebro? Esiarao todos os ou- tros homeus sujeitos, em eorpo e alma, a vontadc caprichosa e perversa d'estes suppos- los pliilaiitropos raodernos, que, com a docura nos labios, aspiram ao mais immcdiato, ao mais universal, ao mais leroz dos despotis- mos? Nao, mil vezes nao. A sociedade tcm leis vilacs, que o seu supremo fundador Ihe prescreveu. 0 mecha- uismo social revella, como o mechanismo celeste, e o mechanismo do corpo humano, a alta sabedoria do Creador, e oslenta sua gloria. Quern dominou a materia pela acfao de cerlas leis, estabelcccu tambem a harmonia do mundo moral, curvando, cm seu desen- volvimento, a ordem social ao imperio de certos priucipios. A altissima inteliigencia do Creador dcrramou a harmonia, nao so enire as moleculas iuertes, mas tambem entre os agentes livres. E ate a mechanica social, que mais vivamente annuucia a inteliigencia inli- iiila de Dens, pois que o mundo, que Newton admirava, ohedcee a leis de ijue nao tern consciencia, em quanto que no mundo moral cada atomo e urn ser animado, pensanle, dotado d'esta energia maravilhosa, d'este principio de toda a moralidade, de toda a dignidade, de todo o progresso, attribute ex- clusivo do homera — a liberdade. Nao e, felizmente, verdadeira a doutrina d'aquellcs escriptores, que acrcditam, que a huraanidade marcha a passes de giganto para uma ruina fatal. Fora inipicdade suppol-o. De mais, era preciso desconhecer a accao, por extremo benelica, quando e livre, das leis, que a dirigcm. As leis do valor nao condu- zem a injustica; as da rcnda a desigualdade; as da populacao a miseria; as da heranca a csterilidade , como infundadamcnte se tcm pretendido. Os iutcresses humanos sao har- monicos, quando as leis providenciaes, a cuja accao Deus entregou o progresso da hu- manidade, se realisam livremenlc; quando Ihes nao sao opposlos pela mao do liomem ruinosos obstaculos. Sim, as leis, que o Todo- Poderoso destinou a direcjao suprema da sociedade, nao a pordcm; melhoram-na phy- sica, intellectual e moralmenle. Nao e, pois, preciso cncadcal-as, rcslringil-as, modilica- las, regulal-as, nem substituil-as por outras, lilhas da inteliigencia bumana, que e apenas pallido c debil rellexo da augusta inteliigen- cia do Creador. Os sectarios ardentes do communisnio, do socialismo, do systema proliibitivo e prote- ctor (que todos intenlam lazer triumpbar a mosma idfia, manifestando-a conitudo mais ou nienos claramente), v(\em apenas a epider- me da sociedade. Condemnam o mechanismo social, antes d'estudado em sens mystcriosos arcanos. Vceni o mat, mas nao Ihe averiguam as causas. Decidom logo ex cathedra, que to- dos OS males, (|uc delinham a sociedade trazem origera das leis providenciaes, que a regulam. Acham mais efficazes os productos vacil- lantcs e imperfeitissimos da sua escandecida imaginacao do que os productos da intelii- gencia suprema . . . Impios e ignoranles! . . . Nao veem que os males, que aleivosamente impntam aos elTeitos das leis providenciaes, resultam das modificacoes, das alteracoes, das perturbacoes, que elles proprios tern causado 'nessas leis! Nao attendem a que a maior parte das calamidades e miserias sociaes, que, ver- dadeira ou licticiamente, os entristecem, sao efl'eitos da doutrina, que propagam, isto e, do despolismo, do constrangimenio, da injus- tica e roubo legal, que deilicam, e nunca da liberdade, dajustica, da propriedade, que ful- minam! As doutrinasconnnunisias nao restan- ram a sociedade; por(|ue anibilain o homcm; porque o vergam ao peso do mais duro des- polismo; porque Ihe arrebatam a liberdade; pori]ue Ihe exlinguem o amor do trahalho; porque llic contcslam a propriedade dos pro- ductos de suas faculdades (um dos principios mais sanctos e universaes); 'numa palavra, porque legitimam o roubo, admitliudo o fatal axionn — lirur a uns para dar a otitfos (cau- sa de quasi lodas as desgracas sociaes). Com as doutrinas socialistas aeontece o mesmo. 0 fim, que os socialistas tem em visla e 0 mesmo, que se propoem obter os communistas, — e o despotismo, — o imperio cruel do bomem sobre o homem: os iiieios e que sao apparentcmenle dilVerentes. 0 socialismo nega, como o communismo, a propriedade, que tcm sido, e sera sempre, uma condicao essencial do progresso physico 0 moral da humanidadc. E jiois, sob este systema, iiullo o inceulivo para o trabalho. Querem tambem os socialistas, que todos os bomens scjam heroes, desconhecendo cabal- mente a natureza bumana. Os syslemas, prohibitivo c protector, sao 283 tambeni manifeslafoes, mais ou menos claras, do despoiisnio, da destruifSo da liberdadc, do Irahallio individual, da iiondcrarao e eqiiili- hrio das liquczas por ineio do roubo legal, por nieio ainda do odiosissinio priucipio, tirar a iins para dar a outros, e prodtizir assim a egualdadc!! A sociedade niulliora-se, mas e pela troca, pcia concurrencia, e pelo csiabe- leeimenlo d'um governo com attiibuicOes ra- eioiiaes. A troca e a sociedade, disse prol'undamen- te F. Basiiat. E realmcntc inipossivel conce- ber a vida e desenvoh imcQto, physico, iiilel- lectuai e moral da sociedade sem a troca. As necessidadcs do bomem sao inlinitas, e suas forfas limitadissimas. Separado de sens similhantes nao poderia prover, mesmo as mais urgentes do suas necessidadcs. Para o horaem a soledade e a raorte inevitavei. Nem Daniel de Foii pode arrcbatar as gar- ras da niorto o sen Robinson, senao fazendo-o approveilar alguns resultados do estado so- cial. Pode dizer-sc, que, na solidao, as ne- cessidadcs do bomera excedem o nuniero e aclividadc de suas faculdades: pelo contrario na sociedade. Se o bonieni, cm suas rclacoes com 0 Crcador, se distingue, de todos os ou- tros animaes, pelo sentiraento religioso, em suas relacoes com sous similhantes, pela cqui- dade, e, no que liie dizrespeilo, pelamorali- dade, distingue-se ainda, com relayao aos meios de vida e desenvoivimenlo, por um phenoraeno nolavel, isto e, pela troca. A troca 6 a mais podcrosa alavanca do progresso da humanidade. Mas onde est.i o poder civilisa- dor da troca? Em sens elTeilos. A troca im- porta a uniao de forcas e a separacao das occupacocs. Occasiona a divisao do trabalho, lanto individual, como territorial, que lantas niaravilhas ha operado. Os innumeros bene- licios com que a troca teui enriquecido a so- ciedade, explicam-se pela vantnjosissima in- fluencia, que ella exerce sobre o trabalho, sobre os agentes naturaes da produccao, so- bre as faculdades do bomem, e linalmente sobre os capitaes. A troca, operando no tra- balho, divide-o, por assini dizer, ao infini- to, e a ([uantidade e qualidade dos productos augmentam. Mas nao sao menores as vantagens da tro- ca, quando se considera com referenda aos agentes naturaes da produccao, porque faz, quando e livre (condicao essenciai), com que as forcas prodnctivas da natureza, desegual- nienle dislribuidas sobre a face do globo, sejam aproveitadas por toda a humanidade, sem neccssidade de remuneraciio, porque sao dadivas do Dens, e conseguintemente para todos. Se referimos a troca as faculdades do bo- mem, ainda mais nos dcslumbram os prodi- gies, que ella produz. As sciencias nao tcriam chegado ao grau de desenvoivimenlo, que lioje t(*m, se os homens nSo communicassem reciprocamentfi sens pensamenlos, suas des- coberlas. A troca considcrada sob este ponto de vista c que vem reparar o ell'eito da desi- gualdadc na energia das faculdades humanas. Mas a troca nao opera todos estes benefi- cos cffoitos, senao quando se manifesla sob o dominio da liberdade. Se a troca e livre, o homcm altende as suas aplidOes especiaes : consulla as vantagens naturaes com que a uaturcza o enri(|ucceu, c applica-se a unia produccao especial. Presta servifos, e rccebe em troca se.vicos, ou o represenlantc d'elles ; assim c que satisfaz as suas necessidades. Os agentes naturaes da producgao sao utilisados em larga escala. Uma grande porcao de trabalho, que, em condicOes dilTerentes, teria de ficar oppriniin- do 0 bomem, e posta a cargo da natureza: assim e que uma dada quantidadc de traba- lho realisa uma serie, cada vez mais ampla, de satisfacoes: assim e que vai sendo dimi- nuido 0 trabalho, que e o unico que merece retribuicao, e augmentando a quantidade das satisfacoes: 'numa palavra assini e, que os homens se approximam invencivelmenle d'um nivel commum, physico, intellectual e moral, nivel que se eleva cada vez mais. Eu quero a troca livre, porque creio na harmonia dos inleresses humanos. Quero a liberdade para lodas as transacrOes bumauas, porque a troca tem sens limites naturaes. Ella nao se verilica com ell'eito, senao era quanio occasiona vanta- gens as pessoas, que 'nella figuram. A inter- vencao do Estado nas trocas nao pode, pois, ser senao prejudicialissima ou inulil. Se a troca encerra vantagens para as pessoas, en- tre as (juaes se vcrilica, prohibil-a e o maior dos absurdos, o mais duro despotismo ; e in- bibir 0 bomem de gozar os benelicios, que 0 creador Ihe prodigalisou. Dir-se-ha, que o homem pode enganar-se, errar. Sem diivida, pois que elle tem o livre arbitrio. Mas o erroe bem assim o mal, tem sua missao civilisadora. 0 erro e o mal impor- tam 0 solTrimento, ou para a(|uelle que se Ihes enlrcga, ou para sens similhantes. No pri- meiro caso, e coarctado o homem no cami- nbo do mal pela grande lei da reponsabilida- de, no segundo pela solidariedade. E denials, nao e tambeni o Estado composto d'homens? Tem acaso os governantes uma natureza privilegiada? Sao por ventura infal- liveis? Nao os cegam as paixoes? Ora, desde que a troca deixa d'olferecer benelicios, deteni-se naturalmente. Nao e mis- ter que 0 Estado venha proliibil-a: e niio ])6de ordenal-a, nesta hypolhese, sem offen- der 0 principio sanclo da propriedade, sem a admissao do qual, disse M. Thiers, o mundo teria licado barbaro. Eu disse tanibem, que a concurrencia era 284 um activo agenle do mclhoramento physico, intellectual, c moral da sociedade. ComelTeito. a liherdade do traballio e a condioao mais esscncial dodescnvolvimento da sociedade. Continiia, antomo i-RAncisco TAVAKKS. IMYERSIDADE DE CODIDRA. liesitmo das relardes das (alias que deram os Estudantes dc Direito nns mezes de outubro, novcmbro, dezembro e Janeiro, com as qua- lificardes que Um lido nas Congregacoes compelenles. 1.° AnEio ifuritlico. ^ ^- Total (las faltas des- - ~ rfe outubro inclusive I^ ^ ^^^ Janeiro inclusive 1 uma 2 UDia uma dezesete duas uma quatro quatro sole trez trez 17 uma 18 duas 19 1 cinco 20 ! onze 21 I trez 2S 1 uma 20 I duas 27 j trez 30 sete (1) (2) (2) 31 vinle esete (3) 34 dez 36 trez 38 duas 39 duas 40 nove 41 uma 42 uma 44 uma 45 dezenovc 46 doze 47 duas 48 quatro 49 duas SO duas 51 (4) 52 duas 53 duas 88 duas 59 sete Qunlifica^de, por abonar idem idem 14al)on. 3 porabon. por abonar abonada por abonar idem 6 abon. 1 por abon. 2 abon. 1 per abon. por abonar idem idem 3 abon. 2 por abon. 10 abon. 1 porabon. 3 abonadas por abonar 1 abon. 1 por abon. abonadas por abonar 10 abon. 11 por ab. abonadas idem por abonar idem 6 abon. 3 por abon. por abonar idem idem abonadas 9 abon. 3 por abon. por abonar abonadas por abonar abonadas por abonar idem abonadas 3 abon. 4 por abon. Tiital das faltas deS' dr oittubnt inclusive (tie Janeiro inclusive (|uinzo uma Irez sete duas novc Irez uma cinco duas uma quatro duas trezo uma uma cinco uma cinco qualorze quniro (luas uma duas nove (3) Qnali/ica^oes 7 abon. 8 por abon. jior abonar idem 5 abon. 2 por abon. por abonar 3 abon. 6 por abon. 2 abon. 1 por abon. por abonar 1 abon. 4 por abon. por abonar idem 3 abon. 1 por abon. por abonar abonadas por abonar idem 2 ai)on. 3 por abon. por abonar 3 abon. 2 por abon. 10 abon. 4 porabon. 2 abon. 2 por abon. por abonar idem idem S abon. 4 por abon. (I) A falla que deu esle estnilante em .3 ilo novcm- bro, foi al)ona(la pela congre^ac^ao em virluJe de recla- nia»;."io do lenle de Encyclopedia Juridica, mas corao a falta comprehendia tambem a aula de Dir. Kom., du- vidamos se deveri reiHilar-se plenamente abonada, e, na diivida, a menc onamos como nao .ibonada. (2) Os estudaii les, a que se refere esta nota, alem das faltas indicadas , tem uma de Disserta9ao por abonar que equivale a trez faltas. (3) Os estudan es, a que se refere esta nola, oblive- ram licen^a para entregarem mais tarde a Disserta(;.'io. que por molestia prolongada nao |ioderara enlregar nos prazus marcados. (4) Este estudante ja teni o anno perdido por nialj de 3'J follas. .^■■no aluridU'O. Total (las f alias des- \ de outubro inclusive ] Qualifica^oes s; w aU- Janeiro inclusive 3 seis 3 abon. 3 porabon. 5 uma por abonar 0 vinteeoito (1) abonadas 7 seis 5 abon. 1 por aiioii. 8 seis 3 abon. 3 por abon. 11 uma por abonar , 12 SCIS 4 abon. 2 porabon. 13 cinco 3 abon. 2 por abon. 10 quatorze (1) por abon. 17 uma idem 18 trez (2) idem 22 uma abonada 24 quatro por abonar 285 ^ ■ -5 ^• T';lal dat / ittas des- S 5 de imtubro iriclusivc Qualifica^ues ^tS alt Janeiro inclusive 21) cinco 3 alion. 2 per abon. 20 lima por alionar 27 onze al)onadas 28 nove idem 29 trez (2) 2 al)OD. 1 por abon. 31 uma por a bona r 32 seis 3 abon. 3 por abon. 33 trcz por abonar 34 dtias idem 35 quatro (2) 2 abon. 2 por abon. 36 trcz por abonar 37 seis 1 abon. 1) por abon. 38 vinte 13 abon. 3 por abon. 39 quatro por abonar 41 trez idem 42 seis 2 abon. 4 por abon. 43 uma por abonar 44 vinte e d lias abonadas 43 seis 3 abon. 3 por abon. 46 sete 5 abon. 2 por abon. 47 duas por abonar 48 seis 3 abon. 1 por abon. 49 uma por abonar 50 licz idem 61 trez idem 52 seis 2 abon. 4 por abon. 53 cinco (3) por abonar 54 trez idem 5o sris 3 abon. 3 por abon. 56 cinco 1 abon. 4 por abon. 57 trez abonadas 58 uma por abonar 59 duas idem 60 trez idem 61 trez idem 62' quatro 3 abon. 1 por abon. 63 quatorze 4 abon. 10 por abon. 64 cinco abonadas 05 Irinta e trez (1) idem (1) Os estudaotes, a que se refere esta note, teiil, alem das faltas nulicadas, alguinas de Dlsserta^So, sobre as quaes tera requerimentos pendenles da con^re^a^ao. (2) Uma das faltas, n.no abunadas, dos estudantes, a que se refere esta nota, e de sabbatina. (3) O n.» 53, alem das faltas iiidicadas, uma das quaes e lie sabbatina, tem oulra de Disserta^ao por abonar. 3.° Anno Juridiro. uma uma quatorze quatro sete por abonar idem 10 abon. 4 por abon. 1 abon. 3 por abon. 6 abon. 1 por abon. "^ -5J Tdtal das faltas des- de oiitu/tra inclusive Qualificu^oes ^i3 all' jantiro iuclusive 11 uma por abonar 12 uma Idem 13 lima idem 14 uma idem 13 quatorze 8 abon. 6 por abon. 10 uma por abonar 17 doze abonadas IS trcz por aliouar 19 trez idem 20 duas idem 21 dez 6 abon. 4 por abon. 22 duas por abonar 24 uma idem i3 dezenove 15 abon. 4 por abon. 26 uma por abonar 27 dez 3 abon. 5 por abon. 28 duas por abonar 29 trez idem 30 duas idem 31 quatro 2 abon. 2 por abon. 32 dezesete 16 abon. 1 por abon. 33 cinco (2) 3 abon. 2 por abon. 33 trez por abonar 36 duas (3) idem 38 trez idem 39 uma idem 41 duas 1 abon. 1 por abon. 42 uma abonadas 43 (i) 44 uma abonada 46 duas idem 47 duas por abonar 48 duas abonadas 49 uma por abonar 30 duas idem 82 dezeseis 7 abon. 9 por abon. 33 duas por abonar 34 seis 1 abon. 3 por abon. 33 trez 2 abon. 1 por abon. 36 duas por abonar 37 uma idem 38 seis abonadas 59 duas por abonar 60 quinze 3 abon ]2porabon. 61 oito 7 abon. 1 por abon. 62 cinco 1 abon. 4 por abon. 63 quatro 3 abon. 1 por abon. 04 cinco 2 ai)on. 3 por abon. 63 trez por abonar 66 duas idem 07 duas abonadas 08 quatro idem 70 onze 9 abon. 2 por abon. 71 doze 11 abon. 1 por abon. 73 duas por abonar 74 uma idem 76 uma abonada 77 quatro 3 abon. 1 por aiion. 78 quatro per abonar 286 Total das fallas des- ? ^ de oulubro inclusive Qunlificn^Hes ^fe) ate Janeiro inclusive 80 lima ilium 82 cinco a 1)0 11 a lias 83 (luas por ahoiiar 81 oito (5) 3 a 1)011. .') por ahon. 8ii sete 0 alion. 1 por al)Oi). 86 ilezescle 3al)0ii. 1 i poralioii. (J) Esta falt.-i 0 ije sablmtinn. {'i) Alem das faltas meiiciunaclas tern uma de W ta^iio por abuiiar. (:j) Uma d'eslas fallas e de sabbatina. (4) T^*m o anno perdido por niais de 39 fallas. (5) Alcm das fallas indicadas teni uma de Diserti e duas, das que eslao por abonar, sau de sabbatina. Omtinua. FEBRE PUERPERAL. 1." PARTE. UAVEm DIHEKENT.A EiSTUE A FEDHE PUERPERAL, A METRO-PEUITONITE, E PHLEBITE CTEniNA? Continuado de pag. 270. III. Da fehre puerperal. A doutrina de Broussais predomiiiando nas scicncias inedicas, e procuraado localisar lodas as affecroes, fez com que rauitas vezos sc to- masse o edeilo pela causa, e se julgasse como niolestia aquillo que nao era seiiao o seu re- sultado. A febre puerperal, (childbed fever, puer- peral fever, dos inglezes; Kiudbett licbers, dos alleniaes, febre pyogenica das mulheres puer- peras, de Yoilliruierj solTreu egual sorle. .\d- niillida desde reniotas eras conio entidade palliologica, foi niais larde riscada do qua- dro nosographico, e siibstiUiida por nietro- peritonites e phlebites uterinas, complican- ilo 0 estado de puerperio. Hoje, porein, a fobre puerperal voltou a occupn.r novanienle 0 logar, que Ibe pertencia, e a ser conside- rada como um estado patlioloyico dislincto da melro-peritonite, e pidebite uterina. K febre puerperal e uma molcslia geral, aguda, fcbril, ([ue ataca as mulheres puerpe- ras, dando logar a lesoes analomicas varia- veis, e as vezos nullas. Eis a delinicao que d'esta molestia da Vallcix, e com a qual nos conformaraos. As lesoes analomicas, que se dao na febre puerperal, sao diversas, como difl'erenies sao as formas, que ella nos aprescnta. Ila algumas comtudo que se podem considerar como con- stanles: laes sao as alteracoes heraatologicas, c a prcscnca de pus cm diversos ponlos da economia, quando a raoleslia lem lido algu- ina iluracao. A iluidez do sangue, a ausencia de coagulos e plionomeuo niui frequente, que tambem se palenlea quando o sangue e lirado da veia mesnio durante a vida. Bouchut observou a reducfSo do elemento librinoso a cifra de p'-n, ou ,-„—„, molleza e facilidade de dilacera- cao no coagulo sanguineo. lla cases em que a cifra da librina augmenla no piiiicipio da molestia, como foi observado por Bolrcl nas epidemias de Bennes em 1842 e lSi4. Nem com tal iios devemos admirar, se considerarmos que a librina costuma augmcnlar nos ullimos mezes da gravidez, e elevar-se ii cifra de 4,8 0 maximo (Recquercl, Bodier, Andral); e que. a epidemia observada por Bolrel tinlia por symptoma caracteristico e principal a iiillam- mafiio dos vasos lympatliicos do utcio; e em quaesiiiier circuraslancias, que sobrevenba uma inllainmacao, o augmento de fibrina 6 phcnomeno constantc. BoHcliut menciona uma alteracao do san- gue. ([ue achou desacompanhada d'outra qual- qucr lesao : a existencia de globules maiores, que OS globules rubros, incoloros, franjados na sua circunifercncia, e reunidos entre si. Serao globules de pus? A formacao espontanea do pus poder-sc-ha adniittir? Julgamos niui pro- vavel a opiniao de Monneret, e Vallcix: « Os glolnilos purulentos de Bouchut sao globules rubros alterados. » 0 amollecimento do ulcro e phenomcno quasi constante. A sua supcrlicie interna ap- parece coberta d'um detrilo de espessura va- riavel, cor de borra de vinho ou negro, des- pegando-sc facilmente, e com clieiro caracte- ristico. E mui frequente exislir amollecimen- tos em outros orgaos; pulmoes, baco, figado, rins etc. Taes sao, em r^'sumido ([uadro, as alteracoes, que se observam, quando a mo- lestia corre com rapido progrcsso. A existencia de pus, ou outro qualquor si- gnal d inllammacao, jamais se encontra cm parte alguma da economia: apenas uma se- rosidade cscura, ou levemente sanguinca, se acha derramada na cavidade do peritoneo; mas sem que este apresente signaes alguns d'inllammacao. Este liquido enconlra-se tam- bem em oulras serosas. As analyses chimicas destroem a idea dos qui" suppunham, i|He este liquido era o resultado d'uma metastase leilosa. (Pnjot, Levrct, Bordeu). E alcalino, e dolado dc propriedades irritantes, e as partes solidas, que nelle se encontram, sao uma mistura de fibrina, e albuiuinia. 0 appareciincnto do pus cm pontos diversos tern logar somente quando a doenca se pro- longa.A cavidade peritoneal, a da pleura, os musculos, as articulacoes, os vasos venosos do utero, os sens lympbaticos, o proprio teci- do uterino, as tronipas, os ovarios, sao as 287 niulli[ilir:idiis scdes dos deriamcs purulentos, resiillado do diversas plilegmasias, que pelo decurso da niolestia se podeni desenvolvcr, c que leriiiinain pela suppurafao A peiitonite e unia das affeccocs locaes mais I'leiiiii'ntcs (Gardieu, Gasc, Toniiellc, Uugenei). Geral ou limitada no peiiloneo, que cobic o ulero, e os orgaos da peqiieiia bacia, e quasi scmpro complicada com inilani- macao no utero, constituindo a metio-pcrito- nite. Os signaes d'inllammajao do |!eriloneo esleiidem-so dcsde a simplos iiijeccao d'esle orgao, ale a I'ormafao de no\as nu'iuhranas, e derranies puiuleiilos. Bidault, e Arnoult encontraiani os ovarios volumosos, amolleci- dos, e inlillrados de pus. Os signaes nccroscopicos da inQammacao podem estender-se a todo o tccido ntcrino, ou limitar-se simplesmcnte a aiguns dos seus elementos analoniicos: as veias, e os lynipha- ticos aciiani-se IVequenlemente inflaiiiniados seni que o reslo do lecido uterine esteja le- sado. Cruveilhier cita casos de febie puer- peral, em que somenle os lymphatieos appa- recerani affoclados. Botrel nolou que na cpi- demia de Rcnnes em 1S42 e 1844 esta mo- dilicacao era niui lrc(|uentc, em opposicao com 0 que se havia observado na epidemia, que se desenvolvera na cliiiica de Paris no anno de 1838. Os lympathicos inDaniniados, e em suppuracao approsenlani grandeaugmenlo de volume, e dilalacocs no seu Irajecto; o cel- lo e paries iateraes do ulero, a superlicie dos ligaraenlos largos e os ovarios, sao os penios mais I'requenlemenle aU'ectados. Poreni, sis vezes estende-se aos ganglios, que circun- dara 0 systenia de Petquel. Velpeau, Ne- nat, Tonnelle, Duplay dizeni haver encentra- do pus ne canal iboracice. Alem d'cslas alleracoes ha oulras accesso- rias. c cxistentcs em diversos pontes da eco- nemia. As mais t'requcntes sao: derranies pu- rulenlos na cavidade daspleuras, e nas syno- viaes arliculares; absressos pequenos, e mulli- plos na espessura dos musculos, nos seus invo- lucres cellulesos, e nas articulacoes; pneumo- nias leliulares, abscesses do pulmae, do li- gado, do baco, dos rins; inlillracao de pus na pia mater, e na substancia cerebral, sao phenomenos nao nnii raros na alTeccao de que nos occuparaes, e que nao sao a conse- quencia da absorpcao de pus a superlicie do utero, e seu depesilo direclo nes pontes ondo se manifestam os abscesses, sem que prcvia- mente ahi houvesse um precesso inflammalo- rio, e a formacao da mcmbrana pyogenica. Come consequencia d'um estado gcral da econemia, de condijOes, que lazcra descnvol- ver inflamniacoes suppurativas 'uestes diver- sos pontes, se devem elles considerar. Para coniplelarmos esta parte importante da febre puerperal, dircnies, que ha casos em que nao e possivel descobrir a mais pequeua alleracao anatemica na parte selida da eco- nemia. Landouzy assim oobserveu. 0 canal intestinal, e as matcria.s 'nelle con- tidas, tambem algumas vezes se ressentem. Os folliculos de Brunner acham-se mais des- envolvides; as piacas do Peyer com alguma inllammaeao ; es contenlos intestinaes cora- dos de bile; o canal intestinal nimiamente dislendido por gazes. Pela analemia i)alhelegica nao se pode di- zer que a metre-peritonite, eu a phlebite ule- rina, sojam estades eonstantes da febre puer- peral. Muitas vezes a necroscopia nada nos diz iicerca da existencia d« phlegmasias. 0 ainollecimente do utero, de per si so nao 0 indicio d'inflammafao, se nae heuvcrcm cenjiuutamente locos purulentos. A inllam- niaiao, antes do periodo da suppuracao, pro- duz 0 endurecimeuto, e nao o amellecimento do orgao, em censequencia da coagulacao da lympha pla^tica, que se extravasa, e se der- rania nos intersticios das libras museulares do utero. 0 amollecimenle e effeito de causas diversas. Nao e so a inllammacae, que o preduz. Alleracoes hematelogicas, moditican- do a nutricae do orgao , podem fazer-Ihe experiuicntar modificacoes taes, que se siga 0 amollecimenle. Isle succede muitas vezes na febre puerperal. 0 ulere e outros orgaos enconlram-se amollecidos sera quo haja o menor indicio d'inflammacae. Cenio corollario do que havenios dido, po- demes estabclecer as seguintes leis: 1.' A inllammacae do peritoneo, do ute- ro, e dos seus vasos venosos nao e lesao cens- tante na febre puerperal. Quando existe, e or- dinariamente acompanhada de feces purulen- tos 'noulres pentos da economia, os quaes tambem podem existir sos. 2.' Lesoes variadas acempanham a febre puerperal. Sao mais consiantes a fluidez do sangue, e o amollecimenle dos diversos or- gaos. 3." As vezes nota-se a auscncia cemplcla de lesoes na parte solida da econemia. 4.° 0 amollecimenle dos diversos orgaos nem sempre e devido a um estado phlegma- sico. Continua. f. a. ALVES. I\0TIGIAR10. Liei-adarn artiririal. — M. Ludewig, hun- garo, deseobriu uina levadura artilicial d'ef- feito censtante, de facil emprego, e d'um pre- co muito menor, por cousequencia muitoprc- ferivel a todos es respeitos a levadura de cer- vcja, podendo substituir esta em lodes os em- pregos, e libcrlando assim muitos paizcs do tribute que 'neste genero pagam a Inglatcrra e llollauda. 288 0 novo fcrmento 6 cxiraido da ccvada, dos fcijOes c favas, depois dc goniiinadas. 0 in- ventor foi a Pans, para conlirinar e realisar as suas experiencias; e a applicacao do novo fernienlo ao fabrico do pao lem sido coroada de bons resullados. O jornaliwmo no ninr. — Ha poiico Icni- po annunrioii-se, (|ue um pruio devia func- cionai diariamenle a bordo do Great- Eastern, e (Hie esie colossal navio leria uni jornal es- pecial, vendido por 'i peaces cada nuniero. 0 Great- Eastern-Chronicle sera portanlo unia foiha original ; nao circiilara por lodo o niuudo, como os oulros jornaes, mas vivera apeuas dontro do navio, e em lao limitado espaco acliara variado alimcnto para os sens arligos, para os sens follielins, para as suas nolicias diversas e para os seus annuncios. Agnllia lie razor iueia» encontrada no Bi;a«io. — Fez-se esta observacao cm uma mullicr, (]iie morrcii no hospital S. Jorge dc Leipsig, 0 I'ragmento da agullia linha Ircz pollegadas de comprimento, e appareceu muito enfcrrujada. Jsao se descobriram signaes al- guns de ferida, nem nos tegumentos do abdomen, nem no cstomago, nem no pro- prio ligado. \ familia da doente nao deu es- clarecimentos. Prcsume-se, que o pedaco da aguiha foi engolido pela nuilher, e que per- correii tantos tecidos, sem provocar acciden- tes na sua passagem. EXPEDIENTE. Dedicada ao Inslitulo, recebemos do nosso distinclo consocio o sr. Joao de Lemos, a sua mimosa comcdia original — Ikn suslo feliz — publicada na colleccao do tueatro moueuno. Agradecendo a oll'erta, o Instituto balda-se a encomios, e nao sem razao, por isso que ja pcio publico e goslado estc trabalho do illustre poeta, para ter a esperanca de ser colliida [lOr novos sustos egualmente felizes. RELACAO Dos individuos nomeados para os segvintes logares de instrucgao publica desde o dia 1 ate aojim de fevereiro uUi/iio^ por despachos do Coriselho Superior //'i,vs- irnc^do publica^ e dccretos do governo communicadas ao mesmo conselho no indicado pcriodo. INSTRCC^AO PRIMARIA. Guilhorme d'Abreu Macedo, para Professor terai»o- rario da cadeira de Canhas, districto do F'unchal. Mariano Anlonio de Carvallio, para dido das Entra- das, no de Ileja. Anlonio Pereira Corlez, para dicto de Sernande, no do Porlu. Avelino Jose de Campos, para dicto de Ribcira de Suaz, nu de Brasa. Liiiz da Cnnha Cuelho de Rarbosaf para dicto de S. Vicente do Pinheiro, no do Porto. Pedro Leite. para dicto de Mozellos, no d'Aveiro. Antonio Lupe» Kibeiro dos Saulos, i>ara dicto de Loa- ga, Vizeii. Joa(|Uim Antonio Saraiva Sampaio, para dicto de Bor- nellns, no da Gunrda. Antonio Cnelano da Guerra, para dielo de S. Jo5o de Gafele, no de Portale^'re. Doruinuo!) Antonio Anlunes. para dicto de Sobreposta, no de Briga. Jo-io Antonio Soares, para dicto de Lebu^ao, no »!<■ Villa Real. Jose dos Santos Teixeira Botelho, para dicto da Villa do Redundo, no d'Evora. Manuel Jose Soeiro Borges, para dicto de Sendim no de Vizen. Manuel Marques Lcite, para diclo de S. Vicente da Beira, no de Castello Branco. Virjrinia do Canuo Trancoso, para mestra temporana da cadeira de nieninas da Villa de Vinhaes, no de Villa Real. Bernardo Jo9(_' Rodriffues, para Professor vilalicio da cadeira da frep:nezia do Barreiro, por transferencia da de S. Joao do Monte, no de Vizen (Decreto de 10 de feverein. ullinio). Luiz Candido d'Araujo Guimaraes, para Professor'^vi- lalicio da cadeira de Nave, no da Guarda. (Decreto dicto. Jose Rodrisues Pereira Junior, para dicto de Sobretra Formosa, no de Caslello Branco (Decreto dicto). IKSTRUC^AO SBCUNDAHIA. Francisco Maria de Carvalho, para Professor vitalicio das cadeiras de Arithmelica e Geometria com applicacao us artes, e de Philosophia Racional e Moral, era ciirso biennal, da cidade de Laniego (Decreto de J7 dicto. 1 Clemenle Pereira Gomes de Carvalho, para Professor da 3." e 4." cadeiras do Ljceu Nacional d'Aveiro (De- creto dicto). Joao Oliveira Casquilho, para Professor vilalicio da cadeira de I.atim de Thomar (Decreto de 10 diclo). INSTRUC^AO SUPERIOR. Joao Mendes Arnaut, para o logar de Lente Proprie- tario da nova cadeira da Escliola Medica Cirurgica de Lisboa. (Decreto de 3 diclo). A\I$0 D\ ADMINISTRACiO. Com 0 srguintc numero termina o 6." anno d'csta publicafao. A Administrafiw coniinuard a remetter 0 Institcto COS srs. assignantes que em tempo competente nao mandarem revogar suas assignaturas, rogando aos que estao em alrazo, que satisfafam a importancia dcvi- da, antes de come^ar o novo anno d'esle jornal. Toda a correspondencia deve ser dirigida franca de porle d redacgao do Instituto. „ , . , fpor anno . Preco da assiguatura |j^^^ ^^^^^^j^^ ^qq €) Jn0titttt0^ JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. AGRICILTURA. RELATORIO DA SOCIEDADE AGRICOLA DO DISTRICTO DE C01MBR\. Cuntlnuado de pag. 2G6. 2.' SECCJAO. Mattas c jloresUis. Bern limitados esclarecimcnlos pode olTere- cer esla seccao, por(jue imiilo escassas I'orani as inforniai'Oes, que pode collier sobre o eslado de cullura floiestal 'ncste dislricio. A cullura das niallas e florestas no dislri- cio de Coinihra, esta lioje muilo abandonada. A desiruicao dos arvoredos caminba a passos largos; lodes corlam, e poucos ou ninguein pianta. Sao laes os ell'oilos d'esla dcvasla- cao, que ja coineca a senlir-se a escassez de conibuslivel, e de madeiras de conslruccao, devendo temer-se as mais fataes consequen- cias cm um futiiro bcm proximo. I'or loda a parle se observam esles irisles resullados, concorrLMido para islo, nao so a grande cxtensao, que se tern dado a cullura dos cercaes, das vinlias e olivaes, mas lain- bem 0 bom preco das Icnhas, e o avullado consummo das madeiras, que annualmente se enipregani nas conslruccoes civis e navaes, 0 (jue ludo convida o lavrador a arrolear iiovos lerrenos, e a sacrificar a cullura llorcs- lal aos inleresses do coniniercio e d'oulros ramos da industria agricola. Na Figueira da Foz todos os annos se cons- truem muilos navios; e as madeiras empre- gadas, sao pela maior parle fornecidas jieio dislricio deCoimbra, sendo lambem avullada a exporlacao de madeiras, que pela barra do Mondego se faz para porlos naeionaes e estrangeiros. As nolicias, que esta seccao pode colher do eslado de cullura das maltas e floreslas nos respeclivos concelbos, sao as seguinles: No concelho de Mira ha uma grande malta piiblica, tendo lalvcz Irez Icguas de circum- i'erencia, consislindo a sua vegelajao, quasi na lolalidade, em pinheiros e camarinheiras ou urzes de camariuhas. Esle ullinio fruclo Vol. YI. .Marco 1 e aproveilado na di^lillacao para o fabrico d'agua ardenlc. Ila muilos lerrenos incullos, que se podiam aprovcilar para planlacao Iloreslal, abundan- do principalmente os lerrenos arenosos, que se lorna urgcnle scmcar de pinbaes, para obslar a invasao das dunas, que ameacam submcrgir tao populoso concelho, siluado no liltoral. No concelho de Canlanhede, a cxcepcao do i)inhal da Tocba, que e malla pnblica c (le dominio municipal, a cullura Iloreslal per- tence quasi na gencralidade a parliculares, conslando pela maior parte de pinheiros bra- vos, e poucas vezes dos mansos. A semenleira dos pinheiros I'az-se, lavrando 0 leireno, scmcando a grand, e cobrindo com a grade. Depois de crescidos os pinhei- ros, derraniara-se e desbaslam-se, a fim de raelhor e em mais curio espaco de tempo sc desenvolvcrem, e crescerem beni direilos. No litloral d'esle concelho cxislcm lerrenos publicos incullos, que muito convcra aprovci- lar com semenleiras de pinbaes, com o fim de impedir a invasao e desiruicao, pelas du- nas, de lerrenos parliculares, que Ihe ficara conliguos, e ja destinados a cullura de cereaes. Existein lambem varios panlanos, e terras alagadicas, que podem esgotar-se com a plan- lacao d'arvoredos afipropriados. Alem do consummo dentro do concelho, e limitado o commercio das lenhas e madeiras. Nao ha outros produclos de cullura floreslal; nao ha medronbeiros, nem corlica. No concelho de Monlemor o Velho existem peijuenas matlas e irez monlados ou charnc- cas de logradouro conimum, de grande exlen- sao, nas frcguezias de I'ereira, Tenlugal e Arazede. e cujo solo e niuito appropriado para a plantacao de maltas e (lorcstas. 0 pinbeiro e a arvore que pela maior parle povoa as matlas d'esle concelho, estando esla cullura em eslado laslimoso, havcndo a maior devastacao para aprovcilar lenbas, e sendo de pouco valor o commercio de madeiras para conslruccao. Existem lambem dois grandcs paiics, um em Sanclo Varao. c outro em Pcrcira. tendo 0 primeiro mais de loO geiras de cxlencao, e que podiam aproveilar-se com a plantacao d'arvoredos. 5—1838. NiM. 2S. 290 No concellio da Figueir.i da Foz Iia duns mattas, a iiacioual do Fujn, o a du Ceira ; c rtlem d'eslas o pinluil do povo no liniile de Quiaios: as duas piimciras eslao dobaivo da vigilancia do adminislrador das mailas do leino; achani-so era bom ostado de eonser- vavao, Icndo grandc valor principalmente a de Fiija : nao ohslaiilc os grandes cortes, quo cm divcrsas occasiOes alii se tern foito, e de- signadamcnle com a|iplifacao para as oliras da foz do Mondego, assim no icinpo em que a emprcza fez as suas obras, como pola aciual direcfflo dns mesmas. 0 pinlial do povo, quo cm ISiC foi fom- pletamculo deslriiido, leui sido em parte agri- cultado. Era, porem, muilo vanlajoso, que alii se renovasse uma sementcira floreslaj em grande csrala. Egiialmeiile lia 'nestc coiirollio tcrrenos bal- dios, que poderiam, com grande vanlagem, scrvir para senicnleiras de pinlieiros, princi- palmcnle no nionlc Caho-Mondego, onde ja 'noulro tempo existiu um liom pinlial. E em Lavos, perto do littoral, ha tanihcm hons ter- renes que semeados de pinlial, poderiam de futuro scr de grande utilidade nacional, e livrariani as povoacoes proxinias da progres- siva niarcha das dunas, que de dia para dia vao cobrindo os terrcnos cultivaveis. No concellio de Condeixa ha algumas mat- tas e montados publicos e particulares, em regular cslado de cultura e conservaeao. Os pinheiros e carvalbos s-ao as arvores, que gc- ralmenle as povoam. Alem dos matlos para estrumes, e lenlias, as maltas d'esle concellio produzeni iiuiilas madeiras proprias para construccoes, algu- mas das quaes sao empiegadas na Figueira da Foz para conslrucfoes navaes. Nao se no- tam 'nestc concelbo pantanos e terras alaga- dicas. No concelbo de Soure contam-se algumas matlas piiblicas e particulares, solTrendo as primeiras grande estado de ruina, e as se- gundas sendo bem conservadas. Os carvalbos, sobrciros, c pinlieiros sao as arvores, que pela maior jiarte as povoam. Da taniliem niuitos tcrrenos publicos, on niunicipaes incultos, c alguns pantanos par- ticulares. No concellio do Miramla do Corvo ha duas mattas particulares, uiiia no sitio de Tremna, e oulra no local de Fialdeu, mas muilo dcle- rioradas, pori|ue o povo as devasla para cortar mattos c lenbas. A arborisacao consta de car- valbos, sobrciros; medronheiros e castanhei- ros, sendo soniente estas ultimas arvores as que sao ctiltivadas, fazendo-sc de dois em dois annos o necessario dcsbaste. Estas mattas produzem, alem das lenbas c madeiras, muila corlica, castanha. c niedro- nhos que sao dislillados para o fabrico dagua ardente. Os montados piiblicos s5o do dominio da camara, c servem para os povos 'nellcs apas- centarem os gados, e rojarcm matlos para estrumes. Ua muilos terrenes piiblicos c particulares incultos; mas nao existem pantanos, ou ter- ras alagadicas, a nao ser uma pequcna por- cao de terreno junto ao Vidiial. No concelbo da Louza ha cxtMisos baldios, que ainda ha 2i annos eram povoados de espcssas mattas de carvalbos, caslanheiros, medronheiros e pinlieiros. lioje lodos estes tcrrenos eslao dcspovoados d'anores, sontin- do-se grande escassez do madeiras e lenbas. A causa d'esle grande mal provem do pouco respoilo, (|ue ha a propriedade, porque o povo tem devastado as mattas das serras, e invadido e destruido os pinbaes particulares. Ctinipre pois promover com elTicacia as semen- leiras e plantacoes, e exccular com rigor as leis, que reprimeni a devastacao das arvores. No concellio da Pampilhosa existem duas mailas piibliras na freguezia de Cahril, uma denominada a do Batnco, e outra a do Cahril, a primeira composta de caslanheiros, sohrei- ras, azinhciras, e medronheiros a (]ue lam- hem cliamam ervedeiros, e a scgiinda cons- lando sbmenle de azinhciras. Tamhcm na freguezia de Fajao ha uma matla piiblica, de pouca imporlnncia, povoada priiici[)almenle de medronheiros e sobreiros. Alem d'eslas matlas ha alguns pinhaes, em geral insigni- licanles, do dominio particular. Nesle concelbo nao ba pantanos, nem ter- ras alagadicas, mas muitas serras incultas, que toda.. se podem aproveitar, arborisan- do-se. Slouve tempo em que 'nesle concellio bavia abundancia de madeira de castanbo, sendo boje muilo rara. De lenbas ba abundancia. No concellio d'Oliveira d Hospital ha abun- dancia de mailas parlicul.ires, mas [loucas piiblicas, e anibas cm pessimo eslado de con- servaeao. Os pinheiros, carvalbos, caslanhei- ros e medronheiros, sao as arvores, que ge- ralmcnle as povoam. Em oulro tempo bavia grandc exportaciio de madeiras d'esle concelbo, nao so de pi- iihciro, mas de carvalho e caslanhciro, mas linje e niuito limitada. Os medronhos vao sendo aproveitados para o fabrico d'agua ardente; mas csta induslria e [inr ora em pe(|uena escala, porque o povo derrola os niedronheiro*, para lenbas, e para arrolear OS tcrrenos para a cultura dos cereaes. Senle-se grande falla do lenha, porque perlcnccndo os pinbaes, pela maior parte a grandes proprietaries, esles tern grandc cui- dado na conservaeao dos pinheiros, que re- scrvani para madeiras, vendendo someule os que 0 venlo lanca por terra. Nao ba 'nesle concelho terrcnos paludosos; mas ba grande porcao de terra inculta, que 291 podia aproveitar-se para plantacao de raaltas e arvoredos. No concelho de Taboa exislem, unia bem cultivada inalta particular, em Mouronho, pertencenlu a Luiz Anloiiio, onlra que I'az parte do passal do prior da IVcguczia de Ta- boa, e algumas oulras nienos impoiiantes. As arvores, que raais as povoam, sao os pi- nheiros, sobreiros, car\alhos e castanbeiros. D'este concelho, principalmenle da Iregue- zia de Mouronho, faz-se todos os annos graii- de exportacSo de madeiras e cortifa. Sente-se em geral lalta de lettha. Nao ha pantanos, iiem terras alagadicas; mas muilos terrenos ineultos, publicos e par- ticulares, que sao aproveitados em pasto de gados, e roco de mallos para eslrumes, quan- do alias podiam arborisar-se. No concelho de Penacova ha grandes por- foes de terrenos particulares arborisados pelos pinheiros, e tamhem soutos de castanbeiros, de corle de 4 em 4 annos. A serra que se extende desde a cerca da matta do Biissaco ate Penacova, esta despovoada d'arvoredos, e serve para a pastagein de gados, convindo muito arborisar a sua maior extensao, porque a isso se presta a natureza do terreno. As lenhas e madeiras, tanto de pinheiros como de castanbeiros sao um producto im- portante d'este concelho. Ila alguns medronheiros; mas so agora comeca a ser aproveitado o seu frucio para agua ardente, porque de crdinario cstas ar- vores sao cortadiia logo que scrvem para la- pumes nas margens dos rios, e para enipas de videiras. Os sobreiros, carvalhos e outras arvores sao em lao pequena quantidade, e tao pouco imporlanles, que nao merecem especial men- i'So. Nao hii pantanos, nem terras alagadicas. No concelho d'Arganil ha, na freguezia da Bemleita, unia importante matta, cbamada da Margaraca, perteacente a mitra de Cuiiu- bra, que tern pouco mais ou menos unia le- gua de circuuifcrencia. Esta malla acha-se em mau cslado de conservacao, porque tern sido mal administrada. Maltas particulares ba apenas duas dignas de se niencionar; unia na villa d'Arganil pertencente a casa de U. Maria Izabel de Mello, da quinta das Cannas em Coimbra, outra em Vi!la-Cova, na c^rca do exlincto convcnto, boje pertencente a Jose Cupertino. Estes arvoredos estSo em bom estado de con- servacao, porque l^ni sido constantemente vigiados por sens donos. As arvores, que mais povoam estas niallas, sao carvalhos, sobreiros e castanbeiros. Esistem muitos terrenos ineultos tanto mu- nicipaes, como particulares, que muito con- vinha aproveitar com plantacao de pinheiros, e outras arvores; porque apenas ba lenhas e madeiras sullicienles para o consumo dentro ■Jo concelho, e nao para exportar. Nao ha ter- renos pantanosos. No concelho de Penella nao ha maltas, nem montados publicos; mas so particulares, e em estado de decadencia. As arvores, que os povoam, sao apenas carvalhos, sobreiros, me- dronheiros, bavendo lambcm alguns pinhei- ros, e soutos de castanbeiros. Exislem algumas pequenas niatlas de medronheiros, cujo I'ruclo apenas no anno passado coniecou a aprovei- tar-se, e com bora resultado, para o t'abrico d'agua ardente. So a cortifa e que tem sido ba poucos annos exportada. Ua tambem alguns terrenos publicos e par- ticulares ineultos, que poderiam uns arbori- sar-se, com carvalhos, sobreiros e castanbei- ros, c outros com pinheiros, porque vae es- casseando a lenha e a madeira em algumas localidades do concelho. Nao ha pantanos nem terras alagadicas. No concelho de Coimbra os baldios de mais importancia eslao siluados nas Ireguezias de Botao e Souzellas, pertencendo ao dominio municipal. Montados particulares ha muitos, em diffe- rentes I'reguezias, constando a sua vegelacao principalmenle de tojos e urzes de varias especies, e murta, ([ue se criam expontanea- mente. De maltas particulares, abundam pinhaes, tanto de pinheiros bravos, como mansos; sendo as maltas de mais importancia, a d'An- tanhol, pertencente ao Visconde de Maiorca, a de S. Jorge, dos herdeiros de Jose da Silva Carvalho, ambas compostas de pinheiros, car- valhos, sobreiros, folhados e medronheiros, siluadas ao sul do Mondego; e ao norte, sohre 0 monte do Rol, a matta de Ferreiras Pintos Bastos, coraposla quasi loda de pinheiros man- sos, e nos aros de Coimbra a floresta, perten- cente aos mesmos donos, eoniposta de choupos, que se calculam no numero de 60 mil pes. Ua uma importante, e rendosa matta na- cional, administrada pelo director das obras publicas do dislricto, na margeni direita do rio, proximo a cidade, composta de choupos, salgueiros, freixos e vimeiros. Em geral o estado das maltas e man, nao so pelos niaus syslemas de cultura, porque a limpeza ou decotc e feilo nos mezes de agoslo e setembro por empreilada, ou pelos mesmos compradores da rama, que pouco Ihe iniporta poupar as arvores, mas pela devastacao, que soll'rera pelo damninlio gado capriiio, que abunda 'neste concelho, e pelo povo das al- deas. Da alguns pantanos e terras alagadicas de grande extensao, taes sao o paiil da Arzila, ao sul do Mondego, e ao norte parte do campo da Sioga e Lavarrabos, que niuilo convinha arborisar, nao so para inieresse da agricultura, mas para benelicio da salubri- dade piiblica. 292 As lenlias e iiuuiciras sSo pela niaior parte consuniniidas deiilro tlo conccilio, vecdenilo-se para fora apenas alpiumas traves e oiitras ma- deira- de conslrucoao. A rania dos pinlieiros tern graiide consuiiimo como combuslivel, e OS matlos para estruines. A vista, portnnto, de todas estas informa- cOes olEciaes sobre o esiado de cultura flores- tal no districlo de Coiinhra, esta secfao pro- poe a nccessidade de adoplar algumas medi- das inais urgentes : 1.° Promover a planlacao de pinhaes no littoral, para salvar da invasao das dunas ri- cos e ferteis terrenos. i." Facilitar os aforamentos de terrenos areados e incultos, eom a expressa eondieiio de 'nelles se plantarcm arvoredos. 3.° Soilicitar da diroccao das oliras puliii- cas do districlo a pianlacao de ihoiipaes, e saigueiros nos areaes dos campos do Monde- go, no aniigo alveo do rio, se por ventiira nao convier aproveital-o de novo para a navega- cao, e nos terrenos paiudosos. 4.° Obrigar as caniaras numicipaes a ter viveiros d'arvores, e a promover annualmente as plantacoes dos baldios. 3.° Requorer ao governo a publicacao do Codigo Uorestal, e todas as medidas, que as- segurera a policia rural e manlcnham o res- peito a propriedade. 6.° Encarrcgar uma commissao de visitar OS concelhos do districlo, para examinar o es- tado de cultura das niallas e florcslas, e colher dados niais ccrtos, e iniparciaes, do que os subminisirados pelas aucloridades locaes e comniissoes tiliaes. Com estas e oulras providencias, jiilga esta seccao, que pode aniniar-se, como convcm, a cultura Uorestal no districlo de Coimbra, e lirar d'este ramo agricola os produclos e ri- quezas de que e susccptivel esla parte da arboriculuira. Continua. RELATORIO Da direcrao iln soriedatio para o me- Itaoramenlo flow Iianliow de IiUko, appreNenlado a aNNomblea g;eral dos acciouiMaMiio 1.° dc Janeiro de ISaS. A Direcyao da Socicdade para o melliora- menlo dos banhos de Luso, seguindo, 'neste relaiorio, a ordem que adoptou no relalorio antecedenle, vai occupar-se em primciro lo- gar do servico dos banlios, Iractando seguida- mente da eslalistica medica, obras do Estabc- lecimcnto, e comas da Sociedade. Servico dos banhos. Um medico, director do estabelecimenlo, urn banheiro com serventes, c um fogueiro da machina de vapor, foram os empregados. que desempenbaram o servigo dos banhos, na conformidade do ultimo regulamenlo adoplado pela asseniblia geral dos accionislas, era ses- sao de 19 de maio de 1857. Aleni das 6 banbeiras, que jfi o anno pas- sado I'orneciam banhos de temperatura arti- ficial, esiendeu-se a canalisacao do vapor a niais 4 bauiieiras; e, d'este modo, acudiu-se com mais promptidao ao servjco dos banhos d'esla qualidade. A policia do estabelecimenlo correu com regularidade; e so em algumas semanas de maior alluencia de banhislas, prin- cipalnienle no mez de julho, c que se nolou algunia confusao no servico dos banhos. A sala do Estabelecimenlo deslinada, no piano da obra, para casa de deseanco, jogo e loitura, continuou sorvindo para rcunioes de musica c dansa, a falla d'oulras casas da povoafao, que olTerecessem niais commodida- des a eslas distraccocs. Mas neni a casa pode preslar-se a um servico regular de taes reu- nioes, porque nao foi esse o seu destino quando se conslruiu, nem o actual quadro dos empregados pode acumular o servico dos banhos com um servico regular e decenle d'a(iuelles saraus. A direcfSo rcconhece a he- uelica influencia de taes devertimenlos 'nuraa quadra de bauhos, e ja teve o pcnsamento de promover a construccao d'outro andar no cdilicio, onde podessem arranjar-se casas de bilhar e loja de bebidas indepemlontcs das salas de baile e jogo; mas, em quanto a falta de meios nao permillir esles melhoramentos, a direccao e de parecer que, a nao se pro- bibirem aquelles saraus na casa actual, ao menos se I'aca conhecer que esla sala nao l5m aquelle destino, e que se os assignantes, por sua esponlaneadade, alii se quizerem reunir, nao deverao eslranhar que Ibes faltem as com- modidades e o servico d'uma casa de baile. Em lodo 0 case parece a direccao que, para so occorrer com algunia regularidade ao mais essencial de lodo o servico do Estabele- cimenlo, conviria a nonieacao d'outro empre- gado, que podesse substiuiir o banheiro e o fogueiro nos sens imiicdinientos, e que os po- desse revezar nas cpochas dc maior aperlo de Irabalho, quando aos dois empregados, [lara se conservarcm no seu poslo, nao Ihes cresce 0 tempo indespensavel ao repouso diario. Ao medico director, para (|ue podesse pre- nianeeer no Eslabeleciniento com maior assi- duidade, parece que devera dar-se nielhor gralificacao do que os 100^000 reis que ate aqui leni percebido. A nova direcjao, niedindo as forcas do Estabelecimenlo, fara a este respcito, as pro- poslas que julgar acerladas. Eslalistica medica. A escripturajao do livro do regislo, incum- bidn DO ultimo reguiamento ao medico dire- 293 dor, fez-se este anno com mais regularidade, e pode offerecer melhor base para a organi- sacao da estalistica medica. Nao podemos ainda felicitar-nos com uma eslalislica do Es- tabelecimenlo de Luso, como era para dese- jar; mas achamol-a mais aperfeicoada do que a do anno passado, ee de crer que a practica dos annos seguinles Ihe va Irazendo melho- ramenlos progrcssivos. 0 medico director, como todos os direclores dos Eslabeiecinientos d'esta ordem, encontra difliculdadcs em obtcr de alguns banhislas a confissao exacla dos sens padeciraenlos ; e nao pode averiguar o resultado dos banhos era muilos individuos, que sabem de luso sem que 0 director o presinta; sendo Ihe ainda mais dilFicil colher estes dados, quando o edeito dos banhos se manifesla algura tempo depois de ter passado aquclla epocha. Na designacao das molestias culaneas, con- tinuou a seguir-se a clnssilicacao do Ensaio Dermosographico do sr. Bernardino Antonio Gomes; c, para as molestias internas, tambem se adoptou a classifitafao do compcndio de pathologia interna da Universidade. Movimento dos banhistas. — Matricularam- se no iivro do registo 13G1 banhistas sendo C23 do sexo masrulino, c 738 do sexo femi- nino. Enlraram 'neste numero 160 banhislas pobres, a quem se deram banhos gratuitos; sendo 49 do sexo masculine e 111 do sexo feminino. Dos 13G1 banhistas, ficaram 8 sera oi)servacao, 30i tomaram i)anhos de iimpeza e 1049 accusaram as molestias mencionadas na estalistica. Pondo de parte algumas senhas, que pode- riam ler-se extraviado na raao dos banliistas; e, contanJo o numero de banhos pelo numero de senhas que se distribuiram, achamos que se tomaram 274o9 banhos, os quaes, dividi- dos pelos 1301 banhistas, dao 20 banhos a cada l)anhista. D'estes 274S9 l)anhos foram 21403 de tempcratura natural e 6056 de temperatura artificial. ENlaliNlic-a medira doN ItanlioM . « Veja-i^i; Juao Pinio llibeiro iiijnst. succes. dis rets de Leao e Caslella. i 3, lorn. II, p. 68. 297 pertpncia ao conde D. Henrique, para quern lenietteu os contendores. Talvez a estas roflexoes se possa accres- centar oulra, a saber; 4.° que como 'uesia causa se tractava de apurar um facto, que locava imniediataraente com el-rei de Cas- tella, e de julgar da juslira ou injuslica da doacao, no caso que elle a livessc feito, pa- rece que o luesnio roi nao cometteria nunca 0 conhecimento de sirailliante caso a outrcm, se se persuadisse que tinha aucloridadc para 0 decidir por si mosiuo. Eis aqui a razao por que elle reconimenda ao conde a decisao da dicta causa, pedindo- Ihe, que, polo amor que llie tern, julgue c sentenceie aq\iella conlrovcrsia. Vos (jtiantum mihi bene quaerilix, caumm de ilia sede el de illos monasterios indereusate illas: expressao de que hem se infere que D. AITonso VI jul- gava a sua consciencia e juslica, interessadas, em cerio modo, na sobrcdicta demanda. 0 scgundo documento, que se allega, e ti- rado do iivro fidei, que se acha no carlorio da Se de Braga e se refere a elcicao de S. Giraido, bispo d'aqui'lla dioeese. Post cujns decessum ' , clero el populo volenlibus, nee nun el arcliiepiscopo Toletano, el rege Ahlephon- so, comileque Henrico simul concordantibus, Giraldus venerabilis- monaclnis in episcopiim praelectvs est alque cunanice praelectus in Bra- charensi cathedra soleinniler est inlronisotus^. D'aqui infereni que o nosso rcino era sujcito a Hetipanha, pois que o consentimento de D. Alfonso lora necessario para a eleicao de S. Giraido. Responde Brandao % que D. AfTonso daria 'nesta occasiao o seu consentimento, ou por estar entao em Portugal ' dando posse d'esle reino ao conde D. Henrique (cujo casamcnlo, na opiniao do niesmo Brandao, foi em 1094), ou seria lanco de cortezia, de que usava o niesmo Conde, e mais, correndo cntre elles aniisade tao estreita, como se niostra da car- ta, de que acima lizemos mencao. Mas, de qualquer raodo que islo fosse, sem- pre e evidente, que seria absurdo fazer argu- mento de um facto unico, e cujo verdadeiro motive se ignora, para impugnar a indepen- dencia de Portugal na epocha, que Ibe temos assignado. A esla resposta. soja-nie licito, acrescentar uma coDJectura, I'undada no que refere o mesmo Brandao '. Diz elle, que, sendo instaurada a egreja dc Braga por el-rei D. Sancho, filho de D. Fer- nando 0 Grande, depois que despojou seu ir- mao, D. Garcia, do senhorio de Portugal, ' Isto e, depois da morle do bispo D. Pedro. ^ Brand., Mon. Lus., P. Ill, L. 8, cap. 8. ^ Luc. land. cap. 9. ' Brand, refere esla carta aos fins do anno de 1095 ou principios de 1096, ibid. cap. 8 in fin. ^ Mun. Lus., P. JII., Liv. 8, cap. 3. fora eleito era bispo de Braga D. Pedro, o qual, cahindo depois na desgraca de D. Af- fonso VI, fora excluido do bispado no anno de 100',!, e conslrangido a recolber-sc a um niosteiro, onde morrera cm 1093, tendo por successor a S. Giraido. Bem podia, pois, succeder, que D. AfTonso VI, (a quem Portugal obedeceu ale os fins do anno de lO'Ji, ou principio de lOOiJ'), de- signasse S. Giraido para bispo logo depois da dcpasijao de seu antecessor, posto que ainda nao estivesse canonicamente eleito; e que, verificando-se depois a eleicao a tempo, que Portugal obedccia ja ao Conde D. Ilenrique, desse isto occasiao a dedarar-se, no dido Ii- vro, que ella fora feita com unanime consenli- menlo de anibos elles ^. De ludo 0 que fica dicto, parece estar de- monstrado, (|ue D. Aflonso VI dera a sobera- nia de Portugal ao conde D. Henrique na oc- casiao, em que o casara com sua lilha, pois que das provas, que havemos referido, cons- ta: 1.° que Portugal ja era independente ao tempo da morte de D. AfTonso VI: 2.° que, discorrendo desde esie tempo ate o do casa- mento, se nao descobre outra epocha, em que se possa assignar a independencia com tanta probabilidadc, como na mesma occasiao do casamenlo. Estes mesmos argumentos nos servem para impugnar a opiniao dos que lixam a epocha d;i soberania de nossos principes ou no nas- cimento de D. AfTonso Henriques, ou na sua acclamacao. Mas, alem d'isto, a opiniao de Fr. Bernar- do de Brito, que e o primeiro de nossos au- ctores, que estabelece a data da iudependen- cia no nascimento de D. AITonso Henriques, funda-se em duas escripturas, (\ue ambas sao anleriores ao dicto nascimento, em cujo tem- po elle se enganou. Persuadiu-se Brito, que D. AITonso Henri- ques nascera em 1094, e achando duas es- cripturas, uma de 1098, e outra de 1100, nas quaes se usa da expressao « reynanle Al- deplwnso rege in Toleto, in Colimbria comes Enricusn, cntendeu que o nascimento d'aquelle principe dera principio a total separajSo de Portugal. Porem, Fr. Antonio Brandao ^ prova com muitos monumentos anligos e combinacoes de chronologia, que o nascimento de D. Afl'onso Henriques fora enlre o anno de 1100, e o de 1110, e que no de 1094 apenas estava casa- do 0 Conde D. Henrique, pois se prova com argumentos de egual evidencia, que so pelo tim d'este anno se podia verificar o seu casa- menlo. ' Brand., Mon. Lus. P. Ill, Liv. 8, cap. 8. ^ A razao por que no citado Iivro p.d€i se falla tambem da approva^ao do arcebispo de Toledo, i porque elle era legado apuslolico; Brand, cil., L. B, cap. 8 fin. ^ iMon. Lus. P. in, L. 8, cap. 26. 299 1-'. " L'nccenl de mes doiileurs pourra frapper les airs. All milieu des lions, ties tigres ilc Lybie; J'irai Icur dcmaiider dans Iciirs alTrciix di^serls Cello douce pitic que ton ame a liannie; I,a j'irai consacrer a ces cnfanls si chcrs. Fruits du plustendre amour, les restes dc ma vie, Et je pourrai du uioins iibrc dans mes soupirs Gardcr a mon amour d'etcrncls souvenirs'. » 13. Le roi qu'ellc allomlrit, ccdant ;i la clcmence, Veut en lui pardonnant la sauvcr du Irepas, Mais un dcstiu fatal puiisuivait I'innocerite Et le people en fureui ne hii pardonne pas. Les cruels, qui d'Alphonse excilent la vengeance, De gliiives meurtriers arracnt deja leurs bras. Quelle feroce ardour s'empare de voire arac Indignes chevaliers, assassins d'une dame! 14. C'est ainsi qu'immolanl une jenne beaule, Scul el dernier cspoir de sa vicille mere, L'implacable Pjrrhus par une atrocile, Vengeait dans llion les manes de son pere. La viclime soumise an vainqucur irrlte S'avance en se livrant a son deslin severe, Uegardc Ilccube encore qu'une extreme douleur Prive du sentiment de ce dernier malheur. 15. De memc se livrant a leur feroce rage Les meurtriers d'lniz dechircnl en ce jour Ce sein oil les Amours, ivres dc leur ouvrage, Ont cux memos place les chefs d'oeuvres d'araour. Ce ne soul plus des pleurs qui baigncnt le rivage, Le sang rougit deja les flours de ce sejour, Et I'assassin ignore, en frappant la victirae. Que le jour n'est pas loin qui punira son crime. 16. Soleil tu pourrais bien en ce jour de terrour Refuser la himiere a ce trepas funesle, De memo que jadis tu rcculas d'horreur A Talroce feslin du frore de Thycste. Solitaire temoin de cet affreux malheur, L'echo de ses soupirs a recueilli le rcslc, Et ces sombres vallons ont retenti longlemps Du nom qu'elle invoquait en ses derniers instants. 17. Comme une tendre fleur que I'avide bcrgfre Arrache, a peine eclose, au soufle du Zephyrc, Perd son parfum si doux, sa fraiehour passagore, Et peril sur le sein qu'elle dul embellir: Telle dc son prinlemps terminant la carriore. On veil la jeune Inez a son dernier soupir, Et deja de son tcint la rose s'est flctrie El sou regard touchant s'elcint avec la vie. 18. Aux bords du Mondego, berceau de ses amours Les naiades eu pleurs longlemps les cclL'brercnl ; Et prbs de ces rochers on volt cooler toujour? La source qui naquil des pleurs qu'elles verseront. Un ruisseau transparent garde jusqu'ii nos jours Encor le nom d'lni-z que leurs voix consacrcrenl. Vois ces bosquets touffus, ces rives, el ces flours, Et sous le nom d'ainour combien coulcnt dc pleurs ! NOTIGIARIO. Putrpfacofio.— Transcrevcmos atiiii o cx- Iracto (I'unia nola .sohrR a piitrefacrao a 2S graos abaixo de zero por Mr. F. L. I'liipsoii. « Estanios liabituados a considerar a tcm- peralura dc lli a 2u griios acinia de zero coiuo a niais favoravel a maiiifeslayao das ler- nicntaroc.*, da putrcl'accao, e oulros phcno- incnns analogos. Ma.s esta? alterafOcs cspon- laniM.s (li)s corpns orgaiiico.s, que |)aroce nao exisicni a ttnipcralura zero, podem nianifes- lar-se perfeitaineiile, segundo todas as appa- rrncia.s, a temperatura de 20 graos ccnligra- dos, abaixo dc zero, islo e, quaodo o I'rio 6 intensissimo. Foi islo comprovado na ultima viageni do Dr. Kame ao polo norle em pro- ciira de .!ohn Franklin durante os anno.s de 1SI)3, IKoi e ISoj. Parece que a carne de ccrlos aiiiinaes, dos rennos por excmpio, nao pode servir dalimenlo, depois d'uma curia exjiosirao ao ar, cuja temperatura era — 20 griios, por causa da rapida pulrefaccao que 'iiclla se e.^laheleceu. Os indigenas da Groen- landia consideram o frio exlremo como rauito f:ivoravel a pulrefaccao, c os Esquimaus l(5m por coslume apeiias acabani de malar os ani- niaes lirar-ilies as visceras, substiluindo-as por calhaus para pre.servarem a carne da de- eomposifao. Parece que ostes facto? podem dcpender, era pa lie, da condensacao do ar, da sua riqueza oni oxigeuio a esla temperatura, cxlrema- nii'iiie baixa; e cm parle de que o ozone pode toniar-sc cslavel a urn grao de frio conside- ravel Com ell'eilo 100 centimetros cubicos de ar a - 2o graos, e conlendo 20 jior 100 d'o- xigcnio cm volume, reduzem-se a 84, u cen- timelros cubicos a temperatura de — 20 graos. Scgue-se d'aqui, que seudo representada por Si,o a quantidade d'oxigenio que 'num dado momento obra sobre a superlicie d'um corpo qualqner a + 21) graos, a que obraria sobre a niesma superlicie a temperatura dc — 20 graos pode ser representada por 100. A accao do oxigenio a r2S graos e a — 10 graos csta pois, relativameiite a quanlidade, na razao dc 84o:1000: razao que e ainda inlinilamentc grande, comi)arada com a que tern logar, se 0 oxigenio esliver no estado d'ozone. Ora Mr. Phipson ja mostrou 'noutra occasiao ' que quando o oxigenio reage sobre os corpos or- ganicos, a temperatura ordinaria, esla no es- tado d'ozone, e que a primeira phase de loda a alteracao espontanea dos corpos organicos sob a inDuencia do ar, consiste na transfor- macao em ozone do oxigenio da almosphera. Ora' 0 calor (lij a 200 graos), como e sabido, destroc o ozone, mas o frio, segundo as expe- riencias de Mr. Ilouzcau, parece favoravel a sua cxislcncia: assim e provavel que a 20 griios abaixo de zero o ozone seja estavel.» ' Ciiniples readus — 3 de noicmbro lUjC. 300 MinaN de prnia do Ucxiro.— Estas mi- uas, que desile a conquisla por Fernando Cortez ale a cxpulsao dos cspanhoes, em 1827, tinliam produzido o valor lolal de 2:02S:00l}:00() de dollars, tdm conliniiado, depois d'csta ullima epoilia, a dar produclos cada vez niais (onsideraveis. Eslas niinas, ciija produccao annual, era, lernio medio, de 20 milhOes de dollars, produziram era 18iiG a somma de 40 milliOes de dollars. Economia dan sonicnieirn daw Itnla- las. — M. Meilheureux fez em Franca urn en- saio, que produziu bom resuitado; planlando aparas ou cascas da batata, obteve bons tu- berculos, consorvando porem coiiipletanienle OS ollios. Ilulhcr com <|uatro ninminas — . I'm exempio d'este phenonieno foi reccntemente observado no iiospital da Caridade cm Nova Orleans. Os peitos sujiplenientarcs estao si- tuados abaixo dos oulros, duas poilegadas pouco niais ou menos. A niulher ja leve sete filhos, e da babilualincnte de nianiar em tres dos peitos, mas todos dao leite. M. Roberts ja deu notieia de outros dous factos; duas mu- Iheres, mae e fillia, possuindo eada uma tres peitos. ERRATAS AO N." 8. Depois de pubiicado o artigo comecado na pag. 93 d'este volmc do Insiituto, reconbe- ceu-se que a ommissao de nm ternio da 2." ordem no valor de sen fu' — a), e outros erros commettidos do calculo do valor de ; das pag. 94 e 93, lornaram errado o valor de 3 ; para 0 reclilicar devem fazer-se as emendas se- guintes : Pag. Link. E'litndas 94 21 Deve accrescentar-se o termo + - e' sen 2 (n< 4- e — t,)cLs{nt+c — a). » 24 Deve accrescentar-se + - e' j sen (3n(+3 6-2 29 Deve oraittir-se o coeOciente -. 4 95 4 0 coeliciente do 1.° ternio e ; 2 3 3 0 do 2.° e -I--; eodo3.° e . 8 8 " o Deve oniitlir-se 0 1.° lermo : 0 coe- ficiente do 2." e — 1. Pag. Liiih. "80 coeficiente do 2.° termo e — 1 ; 3 0 0 do 3.° e 4 " 9 0 coeficiente do 1.° termo e ; 4 e 0 do 2.° e — 2. ■' 10 0 coeliciente do 2.° termo e — I ; 3 e 0 do 2.° 6 + ' . 3 » 11 0 coeficiente do 1." termo t ■ 4 ' e 0 do 2.° e — 2. " 14 0 signal fora do parenthesis e + ; o 3 coeficiente do 1.° termo e ; e o 4 3 do2.°e — -; deve omittir-se o 4 3.° termo. » 15 0 signal fora do parenthesis c — ; 0 coeliciente do 1.° termo e - ■ e 0 do 2.° e + 7 ; deve oniiltir- 4 se 0 3.° termo. AO N.° 22. Pag. Col. Link. Erros Emendas 207 1." 7 Graveau Graveau » " 9 Phlegmaticas Pbiegmasias AO N " 23. Pag. C:,l. Linh. 287 1.' 42 devem omitlir-se as seguiu- tes palavras: — As mats fiei]nentes sCw : AYISO DA ADMi^lSTRACAO. Com este numero termina o 6." amio d'esta publicagao. A Adminisiragao conlinuard a remetter 0 Institcto aos srs. assignantes que em tempo compelenlc nao mandarem revogar suas assignaturas. rogando aos que esldo em alrazo, que mlisfagam a imporlaucia devi- da, antes de comefar o novo anno d'este jornal. Toda a correspondencia deve ser dirigida franca de porta d redacfao do Institcto. „ , . . (por anno . . 1A440 Preco da assignatura i ' „ „„„„,„„ onn " j^por semeslre sOlt