FOR THE PEOPLE FOR EDVCATION FOR SCIENCE LIBRARY OF THE AMERICAN MUSEUM OF NATURAL HISTORY iilIJIiS, iSICiS I lAIillS mm Dl míKm 11, m n , llKJl PUBLICADO SOB OS AlSPlCIOS ..o(o(^^(3q)l ACADEMIA DAS SCIÈNCIAS DE LISBOA TERCEIRA SÉRIE TOMO lil (Tomo XXil da colecção) Janeiro de 1922 a Janeiro de 1923 LISBOA 1923 2b- os CRITÉRIOS DA VERDADE — RACIONALISMO E DOGMATISMO PELO PROF. J. M. ALMEIDA LIMA I — Considerações gerais Ao iniciar este trabalho devo dizer quais as razões que me le- varam a empreendê-lo. Pelo que respeita à sua oportunidade julgo-a evidente. Salta h vista do mais inconsciente que a humanidade se en- contra num período de transição, que tanto pode ser redentora como aniquiladora, conforme o sentido em que evolucionar ; todo aquele, pois, que so julgue de posso de elementos de apreciação da situa- ção que possam concorrer para a sua boa orientação tem o dever de os denunciar, de maneira que dôles possa dispor quem deva apro- veitá-los. Ora eu considero-me nessas condições, embora a outros couve- nlia averjo-uar so a minha convicção é ou não fundamentada. l^j esta a minha primeira justificação. Em segundo lugar julgo ser hoje o sentimento de qualquer ho- mem medianamente ilustrado que a Sciôncia é a nova Providência de quem há a esperar, confiadamente, a resolução de todas as difi- culdades presentes. Efectivamente tem sido tam portentosa a sua acção, especial- mente desde os tempos que denominarei da Renasceru^a Scientíjica, em que brilharam mentalidades que quási lhe atribuímos uma admi- ração religiosa, e se chamaram Descartes, Newton, Galileu, lluy- ghens, e tantos outros, que somos levados a acreditar que não há dificuldades que estejam acima das suas forças. Não é, pois, uma ingenuidade esse acto de fé que muitos tril)u- tam h Sciência. Pelo que me respeita estou convencido, depois de meio século do estudo, de que não há problema de ordem material que a Sciência mais tarde ou mais cedo não venha a resolver. E os do ordem moral? Eis a grave objecção que há a opor àqueles que excessiva- mente confiam na Sciência, como traduzindo dum modo seguro o eficaz as aspirações messiânicas» 1 2 .tOUNAL t)E SCIKNCIAS Qiicin cfoctivanicnto comparar o ostado moral, o tahc/. nniital, (las sociodados modernas coni o que ibraiu nos tempos áureos da Grécia o mesmo nos bons tomi)()s de lloma, reconhecerá quo, sol) tal aspecto, lon^o de tor havido jirogrosso em tam longo jieríodo, se tom manifestado um acentuado retrocesso. Parece, pois, o essa tora sido a opiniiío do muitos, que a Sciêu- cia, factor do incontestável poder no jirogresso material, tem sido imi)otonte, senão coutraproduconte, pelo ([uo respeita à elovaijilo moral. Efectivamente, quer moral quer mentalmente, o homem médio da velha Grécia era superior ao homem médio dos nossos dias. Na Grécia houve uma Democracia de facto; hoje, quando muito, ela apenas existo de direito. Por outro lado, analisando as cousas de perto, tem-se a im- pressão d«í que 08 grandes recursos que a Sciência tem fornecido pouco têm aproveitado h Humanidade, mas apenas a uma classe restrita de pessoas, que os utilizam dum modo que nada tom de sui)crior. Assim, por exemplo, a invençílo do automobilismo, que deve- ria representar para o homem activo, para a unidade social útil, uma maneira de economizar Osso factor precioso que se chama o tempo, quási sompre apenas serve para lisonjear a vaidade de para- sitas inúteis, que se podem classificar no tijto que designarei por liomem-jyavão . ^, Para que tem servido a conquista do ar o da navegação sub- marina ? ; Que o digam os quo assistiram aos horrores da Grande Guer- ra, de cujas tremendas réplicas ainda hoje sofremos ! Devemos confessá-lo, porque ])ara nada servo ocultar a verdade; quem maior partido tem tirado das gran(U's descobertas da SciOncia tem sido essa variedach; da espécie humana que denominarei homem- fera o que bom mereceria uma etiqueta latina, que certamente não seria a do homo sapiens. E a respeito do homem uma consideração essencial convém quo d(! comôço seja feita; no homem há a considerar dois seres distin- tos. O ])rimoiro é o animal, quo em nada so distingiio em compara- ção com as outras espécies, onde muitas se encontram (jue lhe são incontostàvelmento superiores, na força, na coragem, na acuidade dos sentidos, na fecundidade. Se o homem conseguiu dominar irresistiv(>linento todas as ou- tras espécies é porque dispOe, em incomparável e favorável propor- ção, de agentes superiores de ordem mental e da preciosa faculdade do transmitir, por meio dos costumes ou da moral, aos seus vindou- ros os conhecimentos (pie conseguiu a])reender. Portanto, quando falo em homem não me refiro ao animal, mas ao ser inteligente o moral quo nele resido. Feita esta obs(?rvação, posso tornar mais exi)lícito o que ante- riormente disso a respeito da acção da Sciência, afirmando qu(\ ]'(•!(» MATEMÁTICAS, FÍSICAS K NATURAIS .^ qtio respeita h Ilumanidado, cia tem l)cncficiado mais o animalhmo do que o Immamsmo. Ora isso ó evidontemonto grave, por isso qoo o que exacta- mente convém aperfeiçoar não é o animai, mas o homem. Aquele facto fortalece a argumenta^rio daqueles que, impulsio- nados por um ou outro sentimento, tentam, felizmente dehnlde, desacreditar a Sciencia. Quero destas considerações, às quais muitas outras se pode- riam juntar, concluir que urge que se tente dirigir a SciOncia no sentido mais elevado, e que seria o do aperfeiçoamento da espécie no que ela tem de verdadeiramente superior, humano. Por outras palavras, torna-se urgente que a Sciencia procuro proceder de modo que as suas conquistas aproveitem principalmente à mentalidade e moralidade humana. ^;Como conseguir tam desejável objectivo? Um ensaio sobre o modo de o atingir é o que no fundo repre- senta o presente esforço, certamente pouco valioso em si, mas que talvez, por um efeito de sugestão, tenha o feliz destino de provocar outros mais eficazes. Não há dúvida que qualquer tentativa nesse seutido apresenta dificuldades graves, e as circunstâncias que as levantam julgo poder, em parte, apontá-las ; tentemos esclarecer um pouco essa importante questão. O homem de sciencia é quási sempre o que se pode chamar um ser abstracto ; vicioso da verdade, ou ansioso de desvendar o que a Natureza encerra em si de sublime, abstrai de quaisquer outros interesses, que mesmo não está em condições de apreciar, dada a sua excessiva especialização. E isso que os homens de frases expriíuem dizendo que eles se encerram em torres de marfim; não sei dizer porque foi escolhido esse material de construção, porque só o tenho visto utilizar nos arrendados modelos dos pagodes chineses. Que o verdadeiro sábio vive num mundo diferente daquele em que se agita o vulgo isso é indubitável, e mesmo até se pode dizer que o homo-sapiens genuíno não pertence à mesma espécie que o J/o- mo-vulgaris, que nas suas variedades inferiores muito se aproxima (não sei se, por vezes, jJci'*'^^ menos) de um antropóide. Dada, pois, a sua psicologia sui generis, os agentes da Sciôn- cia não se encontram nas condições de fazer o estudo das grandes questões sociais, e que essencialmente se resumem nas de ordem moral e mental. E por isso que essas questões caíram, nas mãos de romancistas mal preparados, ou, o que é pior ainda, nas mãos de especulado- res e aventureiros ambiciosos, que, em vez de as tratarem num sen- tido progressivo, se esforçam em as fazer retrogradar ; os exemplos destes factos abundam, e se não cito alguns ó para evitar o. tom de polémica que seria destoante com a atitude que desejo o convém manter. 4 .TOTINAL T>E SfTÊNCTAS Quoro, ])OÍs, (lízor (|U(' a razat» ortante o que julgo náo ter sido suficientemente compreendida, o que, por isso mesmo, convém esclarecer. K uma cousa bem conhecida dos competentes (pie, logo ({ue uma qnestáo reveste determinadas comi)licações, se torna impossível fa- zer o sou estudo dum modo rigorosamente scientífico, o ôsto ó o caso mais geral. llocorre-se, então,, a expedientes do diversa ordem tendentes a gbter soluções aproximadas e, por isso mesmo, do carácter provi- sório, e quo serão sucessivamente aperfeiçoadas do modo a aproxi- mar-se da soluçílo rigorosamente scientífica, e de maneira que as suas sucessivas soluções provisórias sejam utilizáveis nas aplicações. Nilo ó necessário sor um erudito para verificar a exactidilo do (|ue acabo de afirmar, no desenvolvimento de (jualquer sciOncia, ])or mais elevado ([ue soja o grau ile racionalismo quo tonha atingido. Um ])eusador, por cuja obra ou tenho a mais sincera adniira- çíto, P. Duheni, caracteriza o facto a quo venho aludindo, diz(^ndo (|uo ao esforço humano só é acessível o pouco mais ou menos; os limites entre os quais se encerra a medida rigorosamente scientífica é (jue se váo a|)Ortando cada vez mais, à medida que o método scicn- tijico se vai a])erfeiçoaudo. Mas se é impossível, na grande maioria dos casos (jUe se apre- sentam na realidade (senílo em todos èies), aplicar os principies scien- tíficos no seu estrito rigor, o (|ue ó sempro i)ossívol, soja qual iOr o ])roblejna ([ue se pretenda resolver, é aplicar-lhe os métodos scien- tijicofi. Assim, por exemplo, os métodos scientíficos são aplicáveis ao ramo|maisJ complexo das sciêucias, quo é, sem dúvida, a Sociolo- gia; e, se disso nílo estivesse convencido, certamente nílo em]ireen- deria éstc tral)allio, (|uo é um simples i)relÍMiin;ir, um preparatório, j)ara^ o estudo da Sociologia pelos métodos scientíficos. Vi possívcrque''por um ou outro motivo eu nílo atinja o meu (d)jt!Ctivo; mas nem por isso Osto preliminar resultará inútil, ]iorque ao menos esclarecerá a crítica de importantes trabalhos já realiza- dos sobre Sociologia na orientação (|U(> pretendo imprimir-lho. Ke- liro-me aos trabalhos realizados o a n^alizar no im])ortante Centro do Kstudus Sociais, ou Instituto do Sciôncias Sociais, generosa e inteligentemente fundado por S(dvay. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 7 Soguir-se-ia agora, iiaturalmento, fazor uma oxposi<;ão suficioií- tomoiite explícita do que soja o método ou métodos scientificos, a que mo tonlio referido. Ora isso é que iião ó possível íazor, porque a primeira parte do meu trabalho trata exactamente de procurar salientar por que pro- cesso se tom ató hoje adquirido o sentimento, senão a consciência do que se tem chamado a verdade. Ora tendo o mótodo scientífico por objectivo atingir a verdade, nos limites de aproximação a que acima me referi, ó claro que, quando se não tenha conseguido esclarecer aquela fundamental no- ção, ociosas serão quaisquer conclusões que nela se fundamentam. Para dar um exemplo da importância dessa questão ou citarei o trabalho de Augusto Comte a que me já tenho referido ; a meu ver o principal resultado desse trabalho foi criar e vulgarizar uma expres- são — 2)ositivismo. Todos falam em conhecimentos positivos, em métodos positivos, etc, mas certamente se encontrariam embaraçados se lhes pregun- tassem o que isso significa. O que se depreende da obra de Comte ó quo ó positivo tudo quanto não seja teológico ou metafísico. Ora Osso mótodo de exclusão, para ser perfeito, é i)reciso, em primeiro lugar, que seja exaustivo e em segundo lugar que se admita que é conhecido o que se exclui, o que não é certamente o caso. Segundo a minha ordem de idoas, método positivo ó aquele que exclui as investigações sobre as grandezas absolutas, o sobre a ori- gem das cousas, e que rejeita o dogmatismo. Mas, o que é indispensável averiguar, é se ôle ó viável o até quo ponto o é; ora essa crítica é impossível uma vez que se não te- nham fixado ideas sobre a noção que se exprime pela palavra ver- dade. Atingido, o melhor que me seja possível, osso objectivo, tor- nar-se há ainda indispensável expor e dar o significado das gran- des ideas mães, ou. princípios fundamentais que servem, de base ao edifício scientífico da actualidade, pelo menos na parto que possa interessar ao objectivo final. Resulta daqui a necessidade da elaboração dum segundo traba- lho preliminar, em que serão tratadas as Bases da Sciência actual. Nisto estou conforme com as ideas de A. Comte e de Solvay, quo consideram a Física como a base das Sciôncias Sociais, como, de resto, sucede a qualquer outro ramo das Sciôncias Naturais. Assim fica esboçado a largos traços o programa da realização do meu plano, que, possivelmente, não chegará a ser integralmente executado, por isso que o meu objectivo imediato 6 tomar essa ini- ciativa, visto ter esperado baldadamente que outros de maior com- petência se abalançassem a arcar com as suas evidentes dificuldades. Jl)llXA[i DE SCIENCÍAS II — Relativismo Uuui (iiiostão iuiidaiiicutal se lov;iiita quando se pretendo l;i/er o estado sciontílico do (|ual{[uer problema, cujo objectivo devo ser o conhociínento (bi verdade (|ue llie respeita, é claro (|ue naqaolo ^rau de pouco mais ou menos a (|U0 já me tenho j'eferido, Jia hij)ó- tcso do que se trata de circunstâncias que apenas podem sor reve- ladas p(4a observação. A dúvida quo nesto caso se levanta i)odGrA parecer desrazoávol, ou })elo menos sofística, a (|uem considero a verdade como uma no- ção intuitiva. Contudo é íacil de ver ([ue mio ó assim, })orque o conceito du verdade tom ovolucionacbj com o t(^mpo, o isso até se verilica para o mesmo indivíduo. Analisemos, [)OÍs, um tanto detidamouto essa noção, (jue é, evi- dentemente, fundamental na SciOncia. Observaremos, em primeiro lugar, que, se cdgum característico essencial podemos atribuir à verdade é ser wia, circunstância que suponho merecer o consenso universal. Mentalmente admitir o contrário seria conduzir ao al^surdo, ou pelo menos ao arbitrário ; mas isso só respeita ao que se deve de- nominar a verdade absoluta. Mas sucedo (jue, embora se possa, creio cu, tor a intuição (hi existência duma verdade absoluta, o portanto una, o quo não há dú- vida é de que não podemos tomar conhecimento dela, o nos tomos de resignar ao simples conhecimento da verdade relativa. Esta questão do relativismo, muito insistentemente ]iosta j)orA. Comte, como basilar do positivismo, constitui um dos mais emo- cionantes problemas sobro que converge a apaixonada meditação das mais eminentes capacidades da Sciéncia. Obter a verdade absoluta, digamos a verdadeira verdade, ôsse Polo da Sciéncia, e sem a qual não pode existir a verdadeira Scién- cia, eis a máxima ambição, ardentemente prosseguida, com um poder do análise e uma elevação moral (juo talvez não tenlia digno confronto em qualquer outro período da História da SciOncia. ^, Será um tal empreendimento uma loucura V Não é crível, dada a superioridade mental dos (jue o têm tentado. Uma circunstancia so verilica quo, à jjrimeira vista, pode dar a ilusão duma singular facilidade na resolução de tam formidável problema, j visto quo para o conseguir bastaria determinar a exten- são linear absoluta dum simples segmento de recta! Electivamente o admirável oticadeamento lógico (jue constitui o impoiuMito sistema da Sciéncia |iermitiria quo, achado o valor abso- luto duma grande/a qual(|uer, se pudesse, mais tarde ou mais cedo, obter o valor absoluto de (|ual(juer outra. jMas, em verdade, o grande Edifício ila SciOncia é um castelo no ar! MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATUKAIS 9 Antes, porém, do brevemente me referir ao interessante esforço moclcriiamento foito para alcançar aquele objcíctivo supremo da Sciência, frisemos um pouco, com o fim do esclarecer o conceito da verdade, o (jue há de torturante para o espírito sciontífico, nessa fatal impoísição do relativismo. A situação a que me refiro pode resumir-so na seguinte afir- mação : perante o relativismo das cousas não hà grandezas nem for- mas definidas, porque todas dependem do j)onto de vista. Para esclarecer a idea que envolve esta afirmativa escollierei um exemplo bem simples e bom vulgar. A observação, quer vulgar, quer sciontífica, mostra, sem som- bra de dúvida, que, quando se abandona uma podra no espaço, ela desce eíii linlia recta, e na direcção da chamada vertical. Sob o ponto do vista relativo à Terra, nada do monos contes- tável; mas sob o aspecto do absoluto, ou simjdesmoute do que desde já denominarei yrau de relatividade, aquela conclusão ó mani- festamente falsa. Efectivamente ostá provado, som contestação hoje admissível, que a Terra tom relativamente ao Sol um movimento do rotação diurno o um movimento de translação anual. Portanto, tudo quanto nos parece imóvel rolativamonte à Torra, ostá, de facto, animado duma velocidade vertiginosa, perante a qual é nada a maior das velocidades que até hoje se tem conseguido dar aos projécteis de artilharia. Quero, pois, dizer que, se colocássemos o nosso ponto de vista, por exemplo, no Sol, o movimento dum gravo durante a queda não poderia ser considerado, do modo algum, rectilíueo. O mesmo se pode repetir quanto à lei do seu movimento sobre a trajectória. Como se sabe, é um dos factos mais culminantes da História Moderna da Sciência a descoberta feita pelo grande Galileu da lei do movimento da queda dos graves, já se vê com aquela aproxima- ção a que tanta vez se tem aludido. Essa lei tam importante, tam cheia de consequências o tam laboriosamente conquistada, é afinal uma pura ilusão, ou, se me- lhor quisermos, um simples caso particular entro o número de leis que podíamos arbitrar a esse movimento, escolhendo em conformi- dade o respectivo ponto de vista. A lei de Galileu só seria, puis, sensivelmente exacta, se fosse possível admitir que a Torra, o Sol, etc, estão imóveis; ora, como isso é inteiramente inadmissível, j segue-se quo a lei do Galileu se esvai numa simples convenção! Chega-se, pois, à seguinte desconsoladora conclusão: ;as ver- dades relativas, únicas acessíveis ao saber humano, resolveni-se em dejinitivo em simples convenções ! Esta impressionante conclusão, quo afinal equivale a dizer (jue a inteligência humana é impotente para atingir uma verdadeira ver- dade, provocou nos tempos modernos, como já disse, uma potente 10 JORNAL UK SCIÊNCIAS reacção, teadoate a libertar o homem duma tam humilhanío tsi- tuarílo. E de todo osso insano labutar do homem, através dos séculos, uum continuado esforço de adquirir a verdade, ^, o que é que atinai se tem com segurança conseguido? 1." Que o homem é um inlinitésimo, desprezível, átomo em presença do Universo Infinito; 2.^ j Que a mais insignificante parcela da verdade que Csso Uni- verso contém lhe ó terminantemente vedada! Mas esclareçamos um pouco o que há a respeito da recente tentativa do escapar a essa tam deprimente situação. Primeiro que tudo ó indispensável, evidentemente, ir Imscar o seu fundamento. É um facto que, por banal, níío impressiona o vulgo, mas que, além de maravilhoso, é essencial à vida sobro a Terra, o do os astros terem a faculdade de nos enviarem luz, própria ou re- fiexa. No nosso sistema planetário, ínfimo microcosmos fazendo parte de inúmeras multidões doutros sistemas, só o Sol, astro central o dominante, e mantendo sob o seu domínio os planetas, que sáo como o sou séquito, é que emito luz e calor próprios. E desse calor c dessa luz que vivíamos. Mas, além desse foco, outros existem espalhados pelo infinito o era número que parece ilimitado, provavelmente desempenhando ])ara com os seus sistemas planetários um papel análogo ao que o Sol desempenha para com o nosso. Alguns desses astros, que silo as estrelas, distam do nós um número tam colossalmente grande de quilómetros, que seria perfei- tamente inútil citá-lo, porípie náo i)odoria sor comi)reendido. í Praticamente é como so essa distância lôsse infinita ! Pois bem, apesar de tam formidável distância, a sua luz cliega até nós, como que para nos prevenir da sua existência. Um tal facto nRo poderia deixar de despertar a atenção dos pensadores. ^Que agente é ôsse que assim transpõe com a maior facili- dade, não só as distâncias entre os astros do sistema solar, como entre as estrelas, separadas por tam fabulosas distâncias? Uma primeira hipótese i)oderia ser sugerida, e que corresponde a uma das mais perturbantes sugestões do espírito humano, que é a- acrão a distância. Alguns filósofos consideram essa hipótese absurda, alegando (|ue tan corpo não pode actuar onde vào e.riste. ]\[as, sob o ponto do vista experimental. t> quo é, legitimamente, aquele sob quo deve ser apreciada a realidade, o absurdo nílo se confirma. Assim, por exemplo, na Sciéncia Astronómica admit(^-se quo o Sol atrai a distância todos os astros do sou sistema planetário, bem (M)mo estos se atraem entre si, o até, dum modo geral, afirmou Newton que, ])elo menos, as cousas se passam como se a matéria MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 11 atraísse a matória, o todos sabem as importantes conseqiiôncias que derivam dessa loi, constantcmoiito comprovadas pela exporiOncia. Do mesmo modo a cdectricidade atrai, ou repele, apurentc- monte a distância, a electricidade, quer sob o modo chamado está- tico, quer sob a íorma do corrente; o mesmo sucedo ao magne- tismo. Mas, apesar do todos esses factos denunciados pela experiên- cia, o certo ó que ninguém aceita a possibilidade duma verdadeira acção a distância, o todos estão convencidos (não porque a expe- riência o imponha) de que o transporto da energia dum para outro lugar tom de fazer-so por intermédio de veículos materiais. Temos, pois, de excluir para a luz a transmissão a distância. Kestam apenas, nesse caso, dois processos imagináveis de transmissão da luz, harmónicos com a natureza desse agente. O primeiro fundamenta-so na idea de que a luz não é outra cousa senão um Jiuxo material de pequeníssimas partículas, emiti- das pelos corpos logo que a sua temperatura atinge um determi- nado grau; o segundo fundamenta-se em que a luz, analogamente ao quo sucede para o som, ó devida a um movimento vibratório, extremamente rápido, ou do aUissima frequência, provocado em cer- tas partículas dos corpos, quando a sua temperatura tem atingido um dado grau. A primeira hipótese sobre a natureza da luz foi juioptada por Newton por motivos quo seria inoportuno considerar aqui, mas, evidentemeute, dum valor })roporcionado á mentalidade désso sá))io genial, quo sobre ela soube construir com inexcedível engenho uma teoria dentro da qual cabiam todos os factos, então conhecidos, relativos à luz. Essa célebre teoria ticou conhecida na História sob o nome de teoria da emissão. i Atentando nessa teoria, não podemos deixar de ter a impres- são da sua inverosimillianea, logo que saibamos, o sem dúvida pos- sível, que a luz se ])ropaga com a velocidade de 300:000 quilómetros por segundo! É, portanto, com essa velocidade que os })e(iuenos [>rojectóis luminosos percorreriam, segundo a teoria da emissão, a distância enorme que nos separa das estrelas, que, ainda assim, levaria anos e séculos a percorrer ^ 1 Convém notar qnc cxpcriênoias ninito niodurnas têm coiuUizido à coii- vicvão do que certos i-orpos, o todos cm dadas circunstâncias, são capazes de (imitir pequeníssimas partículas, com velocidades que se não afastam nunto da determinada para a luz; estão nesse caso as que constituem o y/M.co caíotí/co das ampolas de iioentgen, e os raios p espontaneamente emitidos pelos corpos radioactivos. Quere, pois, dizer que a inverosimillianea da hipótese de Newton se en- contra muito atenuada em presenea de tais conclusões. 12 JORNAL 1)K «CiÊNClAS Ora, píira quo tal pudosso sucoder, seria nocossário quo as partículas, nu seu trajecto, nílo encontrassem qualquer obstáculo c, j)ortauto, que os espaços iiitcrplanotários se encontrassem com]de- taniente livros de (|ual((ner obstáculo inerte; portanto, a liipóteso do Newton tom como consequência o vácuo int er estela r , que. do resto, por outros motivos se im[)Oe. Contudo, essas partículas, ainda animadas da sua formidável velocidade, atravessam espessuras muito consideráveis do substân- cias inertes, gases, líquidos e sólidos transparentes, tais como o vidro. i (^uií de hipóteses auxiliares não será necessário imaginar para explicar satisfatoriamente tais factos! Nilo insistiremos sobre tal íissunto, por isso que a teoria de Newton foi abandonada desde os meados do século ])assado. A segunda hipótese das que acima referimos foi enunciada por Iluygliens, o grande ómulo de Newton. Como foi dito, seg';.ndo essa hipótese a luz ó constituída nos corpos luminosos por um movimento vibratório dalgumas. das suas l)artículas, o esse movimento transmite-se a distância, provocando j)erturbae5es, ou ondas luminosas, a um meio especial, denoiuinado éter, onde se supõem mergulhados todos os corpos, quer luminosos, quer iluminados. Esse mecanismo loi sugerido pela analogia que se ol)serva en- tre os fenómenos sonoros e luminosos, o ainda por esse banalíssimo facto (|ue se manifesta quando a queda dum corpo perturba a tran- (jiiilidade duma superficicí de agua suiicientemente extensa. F(»nnam-se então ondas, o essas ondas é que se encarregam de transmitir a distancia as perturlíaeões provocadas num certo lugar; é o que sucede relativamente às perturbações produzidas pelo movimento vibratório dos corpos luminosos. Por isso essa teoria se tom chamado — das ondulações. E uma circunstância incontestável, mas que me não demorarei a analisar aqui, que, na sua origem, a teoria das ondulações se apresentava tam contraditória, com numerosos factos bem averigua- dos, que isso justifica o facto de Newton lho ter preferido a^teoria da emissão. Só muito mais tarde é (jue, graças ;\ descoberta do notável fe- nómeno das interferências da luz, que veio evidenciar que a luz pode destruir a luz, o ao genial esforço do Fresnel, que tam notável i)ar- tido soube tii'ar dessa fundamental descoberta, dum modo verda- deiramente lógico se orgaiii/ou essa esplêndida manifestação do génio humano a quo se deu o nomo de teoria das ondulações. Mas, por bela (|ue seja essa teoria, por harmonioso que seja e seu encadeamento lógico, ])or valioso que seja o facto de ela ter conduzido à descoberta de fenómenos novos, que, provavelmente, sem ela a simples exj)erif)ncia não teria conseguido revelar, não há dúvida (pie ela (Miferma dum grave defeito orií/inal. Efectivamente para ([ue a perturbação da luz se ])ossa transmi- MATEMÁTICAS, FÍSICAS E XATURATS 13 tir a (listrmcia, e sal)emos qiio essa transinisscão so produz pnra dis- tcâncias incomonsuríivebiionte grandes, o se, de facto, essa transmis- são se faz })or ondas, é evidentemente necessário que (tlcjuma cousa ondule. Ora, Ossí^ quor que seja, que deve constituir o melo ti^ansmíssor, não pode ser a matéria usual, dotada <1e sensível inércia, ou do massa, por isso que está mais do que provado (jue uma tal matéria não existe no nosso sistema planetário, e seguramouto tam])ém não existe no espaço interostelar. Tornou-so, pois, indispensável inventar um meio que si^ ada])- tasse ás necessidades da teoria, embora as suas proprii'dades teóri- cas nunca tenham sido precisamente delinidas, porque, seria fácil de verificar, seriam entre si contraditórias. Portanto, em boa verdad(^ o que apenas se inventou foi um nome: o éter! Deiton-se um tanto o coração à larga, como vulgarmente se diz, sobro as extravagantes propriedades desse suposto meio, e, como disse, essa invenção, boa ou má, teve pelo menos a vantagem de permitir uma sistematização dos conhecimentos sobre esse impor- tante modo de energia que se chama a luz, e tam fecundo que, como já disse, graças a ela se obtiveram informações sobre esse agente que so não alcançariam pela pura observação. Em todo o caso é lamentável que tam belo edifício assente sobre tam contingente alicerce, que faz lembrar o recurso das causas ocultas, que tanto desacreditaram os resultados da velha esco- lástica. Mas, fenómeno curioso na história do pensamento humano, a Sciência, como que caindo no próprio logro, por tal modo foi nele confiando, que se tem chegado a admitir que a única realidade do Mundo *, senão do Universo, é. . . o éter! Ora esta/é no éter veio, de nossos dias, fornecer um vislumbre de esperança àqueles que tentavam derrubar as muralhas do cár- cere do relativismo. \^ejamos como. O lacto de vermos as estrelas a formidáveis distâncias, e ainda, que por mais poderosos que tenham sido os sucessivos instrumentos de observação, sempre novos astros se oferecerem à visão, conduz h conclusão de que a luz se espalha por um espaço incomensuràvel- mente grande, e, muito provavelmente, em todo o Universo. Ora, se assim é, a hipótese mais plausível que há a formular a respeito do éter é que êle se mantém imóvel. Efectivamente, so todo o Universo esti^'esse repleto de Kter, fTpara onde poderia elo deslocar-seV Por outro lado, o supor-se que o ét( r tem um movimento numa determinada direcção equivaleria a admitir uma lieterogeneidade no 1 Adopto aqui a distinção fixada por A. Comtc, consideraudo Mundo o qno está subordinado, pelo menos, á ob.servação, e Univorso o conjunto indetermi- nando de tudo que existo. 14 .ÍOUKAIi DK S('IKX(;iAS UnivíTso, oxtrrmMincnto pouco plausívol e (juo a existir cortamciito nílo í(;ria (^scapado à obsorvaoão. Mas, ciiilim, so por imjtossívol o éter so movesse, creio (/t«'tsí absurdo admitir que Osse uiovimonto nilo seja uniforme no cspatjo o no tem 1)0. Admitindo a hipótese, evidentemente a mais plausível, do que o cter é inióvíd, a determinação do movimento de qualipier corpo em relação a ôle, d;iria, einiim, uma viedidd absoluta, o a \'erdadeira t^riêiiria, a Sciència do Absoluto, teria encontrado a sua base. Na hipótese, mais modesta, do o éter ter um movimento unifor- me, o conhecimento do movimento cm rclaçílo ao éter daria uma base à Sciência, que, embora níío fornecesse valores absolutos, lho evitaria o insuportável carácter da arbitrariedade qu«' hojc^ a desau- toriza. Lorentz, nosso contemporâneo, dum altíssimo valor, pelo seu en- genho e profunda cultura matemática, organizou uma teoria, par- tindo da Júpótese, que já mostrámos ser a mais plausível, da imo- bilidade do éter, teoria ([ue não só abrange todos os conhecimentos adquiridos até a sua elaboração, mas que ató permitiu a previsão do factos transcendentes, o que foram confirmados pela observação. Nestas condições essa teoria mereceu um aplauso unânime, e, portanto, consagrou e de algum modo demonstrou, indirectamente, a hipótese da imobilidade do éter. Mas, se o éter é, do facto, imóvíd, não é impossível, o é mesmo relativamente fácil, medir a velocidade da Terra eju relação ao éter, ou pelo menos denunciar esse movimento; basta para isso fazer in- tervir a velocidade da luz, recorrendo a um princípio muito conhe- cido e inúmeras vezes confirmado, e que é devido a Doeper. Em presença disto, dois habilíssimos experimentadores, Micliel- Ron e Morley, indiscutivelmente os mais competentes em tal ordem do experiências, ])rocuraram fazer a medida, ou, pelo menos obter a revelação do movimento da Terra em relação ao éter. Não descreverei essa memorável experiência, mas, para os com- petent(;s, ela é, em princípio, tam lúcida que não podo hav(>r a menor dúvida sobre o método empregado, como não a pode haver sobre a competência dos experimentadores. Pois bem, i o resultado da experiência foi nulo ! Os experimentadores não puderam descortinar o menor indício, o mínimo vestígio do movimento que j)ro('uravam. Isto parece provar que a hipótese da imobilidade do éter, i)ro- l)0Sta por Lorentz, não é admissível. jDaí resultou a afirmativa do célebre Einsten * de que o éter não existo ! 1 Sôbrc as consequências desta afirmativa, quo tam funda impressuo causou no inundo sciciitífico, jjodc Icr-se u quo a tal respeito publiquei no Jornal das Scicnciag Matcntàlicas, Físicas e Naturais, ila Aeailcinia das Sciôii<'i.'is de Lis- boa, n." y (la 3." sóric, sob <> fítido: •> A Física ]ieiaiitc. as teorias lie Kiiisteu». MATEMÁTICAS, FÍSICAS É NATDliAlS 15 Ve-so, pois, em resumo, quo ícaro mais uma voz queimou as asas, caindo no barranco da relatividade. Mas, do mal o monos ; vejamos, pois, o que ó possível salvar da verdade. Não há dúvida do que só a verdade absoluta, ou, pelo menos, a verdade não contingente, poderia satisfazer inteiramente as aspira- ções de espíritos superiores ; mas esses são raros o compreendem que no momento actual ó forçoso resignar ao quo invencivchncnte impõe a natureza das cousas. Logo, não há remédio senão resignarmo-nos ao relativo ; o essa forçada atitude tem ainda assim muito do l)om, o tanto mais que pode ser considerada a única que ainda pode vir a conduzir ao absoluto, ainda que este deva considerar-so ura limito inatingível. Começaremos, pois, polo primeiro degrau da escada que conduz ao infinito. Esse primeiro degrau, para a humanidade, é o relativo a Terra, e para nele nos mantermos temos do convencionar quo a Terra é imóvel. Bem sabemos que essa ilusão, que por tantos anos persistiu, 6 hoje inadmissível, depois do per se miiove de Galileu; mas desse erro voluntário quo podo resultar? Que tudo quanto alcançarmos da verdade só tem valor, só tem curso, em relação à Terra. Ora, creio que isso nos deve contentar a todos, porque não será fácil conseguir alguma vez viajar no Estrangeiro, que, para o caso seria um astro exterior à Terra. Se algum dia, o que não ó impossível, tam extraordinárias via- gens se empreendam, então so providenciará, e para isso não será necessário vencer dificuldades de maior. Temos, pois, a possibilidade de organizar uma Sciência Terrestre, e, como a experiência bem frisantemcnto o tom demonstrado, o seu campo é suficientemente vasto para ocupar a actividade humana por largos séculos, senão indefinidamente, visto que, após tantos mi- lhares de anos de intenso esforço, pouco mais do que nada sabemos da verdade terrestre! O único ramo das Sciências cultivadas pelo homem que poderia soÍTor com a liipótese formulada da imobilidade da Terra seria a Astronomia o suas imediatas afins; mas nada impõe que a respeite, e que, por exemplo, adopto a convenção da imohilidade do Sol, e já então a Terra se considerará animada dum vertiginoso movimento. Feito isto, não seria muito difícil, mas talvez inútil, construída a Sciência relativa à Terra, transferi-la para o Sol; quore dizer, por uma simples mudança de eixos coordenados, atingir a Sciência Solar, ou no segundo grau de relatividade. E, porém, evidente que, ainda assim, não teríamos alcançado a Sciência absoluta, porque, mesmo abstraindo do movimento de ro- tação do Sol, está hoje provado que elo se desloca, arrastando o sou séquito de planetas, s.atélites o cometas, o mesmo com uma ve- locidade provavelmente colossal. IG .TORXAL DF, R^I1^\0TAR ^fas, lima voz clotorminndo, como pároco possível, o niovinionto exacto do Sol oiii rolaçíío a uma dada níferência, considerada imó- vel, Siriuft, por oxomplo, podoríamos atingir um relativo do 5." f/rait, e assim sucessivamoiite. Ora o facto do estudarmos a vordado torn^stro nada prejudica, pelo contrário, essa asconsflo em busca do .-iLsolnto; jiortanto ò ibra de dúvida que a pouca Sciência que tomos adquirido, embora a])onas terrestre, nilo ó vS, ou ilusória; será, sim, um primeiro passo, mas os outros encarregar-so hfío de o dar os astrónomos o m;item;Uicos do iutiiro, visto que, como ficou dito. tudo se r(^sumirá a ti"ausforências do eixos coordenados. K noto- se ainda que a verdade terrestre não ó tam contingente quanto o poderia levar a supor a noção abstracta do relativismo ; efííctivamcnte a Terra move-se, mas n3,o de um modo irregular o, por assim dizer, caprichoso, visto que, pelo monos em média perió- dica, o mo\'imento da Terra se pode considerar uniforme, tanto polo que respeita à sua traslação como à sua rotação. K extremamente possível qnc o mesmo suceda pelo que respeita aos movimentos do Sol. Nos seus grandes r/estos a Natureza é muito inclinada à regula- ridade periódica, embora no miúdo se nos afigure, por vezes, dosa- gradàvelmonte caprichosa. De todas as considei-açõos feitas parece ter ficado assento í|ue o homem se devo contentar com o belo quinhão que se lhe oferece: a verdade terrestre. 10, pois, essa verdade, salvo aviso em contrário, que considera- remos no decurso deste esl)ôço. III — iPode obter-se a verdade ? Posta a questão, tal como anteriormente o fi/(nn<)s, isto ó. consi- derada a verdade no seu primeiro grau de relatividade, a que cha- mámos verdade terrestre, ^será ela, pelo menos em princípio, atin- gível ? Ora. aprcsenta-so, na resposta a dar a esta ])regunta, uma (pies- tílo prévia quo envolvia um círculo vicioso. ^O que quero dizer o facto do se ter adquirido um conhecimento novo? Quero dizer quo nesse facto se verificaram circunstâncias já supostas conhecidas ; i)0r isso se diz que conhecer 6 rccovhecer. Assim, por exemplo, se, quando mo apresentam um objecto, eu digo quo é um vogíítal, ó porque nesso objecto reconheço muitas circunstâncias que antoriormonto já tinha verificado existirem nas plantas. O mesmo se rejjete quando digo que tal objecto A um mineral ou animal, e ató especifico (jue mineral ou animal é. Ora, se assim é, não ó possível atingir a verdade, sem a sua Matemáticas, físicas e naturais 17 posse prévia; NSo há, pois^ dúvida que nos oncontramos em presença dum inegável círculo vicioso. Pode objectar-so a esta conclusíío que, so couhecor ó reconhecer, não é possível aumentar o número dos nossos conhecimentos, o que ('• contraditório com os factos. Essa conclusão, ó, segundo creio, apenas parcialmente exacta, porque, para tomarmos conhecimento dum facto novo, ou para assim o caracterizarmos, basta que parcialmente haja coincidência entro dadas circunstâncias o outras já conhecidas, mas não coincidência exacta entre um grupo de circunstâncias o outro grupo já conhe- cido. Assim, por exemplo, podem apresontar-me uma espécie animal que eu considere vova; porque o grupo de circunstâncias que o ca- racterizam não coincide com outro grupo que me seja conhecido; isso não obsta, porrni, em que no grupo que me apresentam eu reconheça determinadas circunstâncias que, sem hesitação, mo permitam classificar o corpo entre os animais. Isto justifica também uma outra forma de definir o conheci- mento, dizendo : conhecer é classificar. Mas o que não merece também dúvida é que há um certo fundo de conhecimentos sem os quais é impossível reconhecer ou classifi- car; chamomo-lhes primeiros conhecimentos ou conhecimentos fun- damentos. Vj esta, sem dúvida^ a questão mais transcendente pelo que res- peita ao critério da verdade ; aqueles conhecimentos são para toda a sciôncia humana o que são para a mecânica os seus quatro prin- cípios fundamentais, e para a geometria os postulados do Euclides. O que valerem essas verdades fundamentais assim valerão as classificações que delas derivarem. <; Já alguém pôde destrinçar quantos e quais sejam esses conhe- cimentos fundamentais? ^ Houve quem discutisse se eles constituem uma base sólida sô- ])re a qual se desenvolva a verdade? Ignoro-o, mas não creio que em tal assunto se tenham atingido conclusões tam conscientes como as que se referem à Mecânica e a alguns outros capítulos da Física e da Química, e até mesmo das Sciências Biológicas. Destas considerações parece dever concluir-se que são desconhe- cidos os fundamentos da verdade, c que ela, por mais de nm mo- tivo, apresenta o carácter de contingência, senão de arbitrarie- dade. Efectivamente compreende-se que, de indivíduo para indivíduo, á verdade se podo manifestar de diversa maneira, e, portanto, que ainda na verdade há a considerar uma nova espécie de relatividade, que, se não a torna inteiramente ar1)itrária, lho imprime um acen- tuado carácter de contingência. Do resto, julgo que ninguém ignora que de facto assim sucede, e as suas nefastas consequências. 18 JOUNAL DE SCIÊNCIA8 E da (lifVrongíi das nievtalUladcs (|ii(' resulta a principal diíp- ron(;a entro os indivíduos, e os graves coiiHitos rpio so tem levantado entro as diíerentes raças e as diferentes crenças humanas, que certa- mento so nílo produziriam se todos conhecessem a mesma verdade. Contudo, híi fíictos ([ue silo conhecidos «íeralmente ])or todos os homens, e sobre os (|uais nilo há disereprincia. salvo desarranjo mental. São essas diversas circunstímcias (pie influem no conhecimento que cumpre analisar. ]Mas o que desde já ])arece poder coacluir-se 6 que, além da relatividade fisica, já considerada, nos vemos forçados a considerar uma relatividade mnital, incompar;nelmcnte mais comi)I('xa (pie n primeira. Considerada ela sob esse aspecto, reaparece o carácter do con- tingência ao considerar a verdade relativa ao espaço; contudo, nito creio difícil, senilo eliminar, pelo menos restringir o grau de contin- g<''ncia. K efectivamente um facto irrecusável que conhecimentos há que parecem universalmente admitidos, independente da raça e até da espécie. Sobre Ossos conhecimentos nfío há, pois, a considerar qualquer carácter de contingência, não considerando, é claro, os casos em que se manifestam anomalias mentais, e até sucede que a discor- (lancia entre certas mentalidades e os coidiecimentos a que aludi- mos é ura sintoma seguro de alienação mental. Outros conhecimentos há que, embora nHo sejam universais, silo unanimemente admitidos por indivíduos da mesma capacidade men- tal, isto é, tendo atingido o mesmo grau de ilustra<;ão. Assim sucede, por exemplo, em certos ramos suíicientementc avançados da Scicncia, como a Matemática, e possivelmente em ou- tros, como na Astronomia, etc. Mas aí já aparece bem manifestamente o carácter de contingên- cia, muito especialmente nas Sciêncii s em que a observação desem- penha um papel dominante; di-lo bem elo(|iientemento a História das Sciôncias, sem excei)tuarmos a da Astronomia, de entre todas a mais perfeita. Este novo carácter de relatividade, que se U"aduz ])or uma es- pécie de evoluçHo no decorrer do tempo, e que, como a relatividade no espaço, também tende para um certo limite, por isso que a edu- caçílo e a ilustração tendem a ti"ansformai" toda a verdade particular uimia verdade universal. Assim sucedeu, por exemplo, com o movimento da Terra, que ainda hoje se não pode considerar uma V(írdade universal, mas que, sem dúvida, o será um dia. Destas consideraí.-i^tes pan^ce i)oder tirar-se a conclusão que não dovo considerar-se como uma verdade definitivanumtí» adquirida se- não aquela que seja unfuiimemente aceita jtor todos quantos têm ;i j»reparação mental suficiente i)ara a apreenderem. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 19 Será, pois, mais esto um dos critérios da verdade relativa, que desse modo uão será eivada do carácter de contingência. Deduz-se daqui uma consequência que considero importante; a Sciôncia nrio atingirá o carácter do estabilidade, que deve ser uma das suas características, emquanto não perder a sua feição actual do parti cuhn-ismo, visto ser apanágio duma limitadíssima fracção da humanidade. Em l)enefício, pois, da Sciência, torna-se essencial a sua vulga- rização, tam larga e profunda quanto possível. IV — Observações sobre o modo de adquirir e transmitir a verdade a) Racionalismo Esforçámo-nos, nas páginas anteriores, om lixar os critérios da verdade, e, portanto, com as restrições postas, temos ideas fixas a seu respeito, podendo, portanto, tentar a averiguaçíio do modo como se adquire. Suponhamos que alguém de posso de conhecimentos fundamen- tais, adquiridos por processos que mais tarde consideraremos, se propõe a descobrir novas verdades; já foi dito o que isto significa. Ora, é evidente que não é natural nem recomendável que se trato da aquisição duma verdade inútil; partimos, portanto, da suposição ([uc o nosso investigador tonta adquirir uma verdade útil. Não farei, pelo menos por agora, uma análise insistente sobre o conceito que encerra a palavra iitil, que tem um evidente carác- ter de particularismo. Para eliminar qualquer dificuldade que daí derivo, admitamos que se trata duma descoberta universalmente útil. Suponhamos, por exemplo, que se trata do conhecer uma ver- dade natural, isto é, emanento da Natureza. Os meios que então devem ser postos em prática são a obser- vação o o raciocínio. Para fixar ideas, tomemos para exemplo um caso histórico : a queda dum grave. A primeira íase da observação tem uma feição, quo chamarei qualitativa ou simples; é a observação imediata, despida de qual- quer artifício ou de quaisquer antecedentes, e que, portanto, podo sor feita por qualquer pessoa, seja qual fôr o seu grau de ilustra- ção, e até, provavelmente, por qualquer animal, o que lhe imprime nin precioso carácter de universalidade, e, portanto, de autoridade Scientífica. No nosso caso todos vêem que qualquer corpo, por exemplo, uma pedra, não retida por uma ligação, cai. Além disso, todos verificam quo a queda se efectua cie cima. para baixo, ou seja para o lado de dentro da Terra. ^ JOUNAL 1)K SCIÉNCÍAS Aí temos, pois. duas verdttdos, iiniversalmonto aceitas, c, por- tanto, basilares. Mas ossas vei'dad(>s nSo incliioin ovidentementc todas quantas estilo contidas na (jiieda dum grave. Assim, por exemplo, a pedra segue um certo caminho na sua queda; ^quo caminho é esse? Esta questão é, evidentemente, muito mais conii)lexa do quo as anteriores, c não pode ser satisfatòriameute resolvida por qualquer pessoa. 1''. certo <]ue a observação simples pode fornecer uma primeira solução contingente do problema, i)orque para um liomem convo- nicntemeute educado o movimento lhe pareceria rectilíneo; contudo, se esse observador losse consciencioso, não poderia fazer a tal res- })eito uma afirmativa categórica, e naturalmente, se nisso tivesse interesse, recorreria ao auxílio de quaisquer dispositivos (jue con- íirmassem ou intirmassem a sua presunção. A verdade assim conquistada poderia ser admitida por ura nú- mero muito grande de homens, mas não por todos; não teria, pois, o carácter de universalidade. Xão insistirei sôl>rc a justificação desta afirmativa, por me jua- rocer evidente. Mas, ainda sobro o problema da queda dum grave, uma outra circunstância de incontestável interesse se apresent;i ; ^icomo é que o corpo se move na sua queda rectilíni^a? A lei (lo movimento na queda dos graves, eis uma questão que preocupou, durante séculos, a atenção de muitos observadores perspicazes; mas só Galileu conseguiu resolver i)ela primeira vez esse problema, decerto um dos mais simples da mecânica moderna, embora incompletamente. Ora, dito isto, não ó difícil constatar que problemas de superior dificuldade não podem ser resolvidos ])or observação simples, e exi- gem o emprego dum método (|ue denominarei rario)iaUf (pie a queda se efectua de cima ])ara ))aix(). Partindo disto jxidem imat/inar-se diversos factos ou circunstân- cias; se Gsses factos são conformes com as verdades fundamentais, dinanos (|ue são verdadeiros, ou pelo menos possíveis; se forem contraditórios com acpielas verdades, diremos quo os factos imagi- nados não são realizáveis. MATEMÁTICAiá, FÍSICAS E >rATUKAIS 21 Suponhamos ([uo a nossa obsorvíição denunciou um facto con- triírio a uma das verdades fundamentais, por exemplo, que um corto corpo .^ubíu; ora, sendo uma verdade fundamental ([uo todo o corpo cai de cima para baixo, estamos na presença duma contradição fla- grante, ([ue tomos de explicar. Ora, em tais condições é evidente que para explicar a contradl çáo ó necessário imaginar que o corpo recebe uma acção que o faz subir e do^ tal forma que não só compense a descida devida à queda, mas que a exceda ; assim, pelo racionalismo ou por dedução ^ con- cluímos que o corpo é solicitado por um esforço ascensional que pre- pondera sobre aquele que o faz cair. Efectivamente de há muito que se sabe ([ue esse esforço é a im- /niJsão do ar, como do mesmo modo a impulsão da água impede a queda dum barco, etc. Seguo-se pois que o método racionalista ou dedutivo exige o co- nhecimento do verdades fundamentais, cuja conformidade ou descon- formidade com factos passados levam a concluir que ôles são admis- síveis ou inadmissíveis. Dêmos exemplos de verdades fundamentais ao considerar a queda dos graves que poderiam servir do base a numerosas dedu- ções; mas como o exemplo que apresentámos é muito particular, as res})ectivas deduções também A-iriam afectadas do mesmo carácter; })or isso será de grande conveniôDcia para a auipla aplicação do mé- todo dedutivo estudar cuidadosamente quais os princípios ou factos que devemos considerar fundamentais de modo que deles se possa deduzir o maior número possível de consequências, senão todos os factos de um dado capítulo da Sciência, como por exemplo aquele que se refere ao movimento dos corpos e que recebeu o nome de ^íecânica. . A primeira vista, dado o número infinito de íactos que se po- dem apresentar no movimento dos corpos, parece que o número do verdades ftmdamentais que devem servir, digamos assim, de pa- drões ao método dedutivo, deveria ser muito grande. Contudo, graças ao génio analítico dos fundadores da mecânica moderna, Newton o Galileu, essas verdades fundamentais reduzem-se a quatro, conhecidas sob o nome de princípios fundamentais de Me- cânica. Vj claro que esse número, sem erro lógico, quere dizer, sem con- tradição com aqueles quatro, pode ser aumentado; é minha opinião, mais de uma vez manifestada, que pode ser reduzido; mas isso tem uma importância secundária no desenvolvimento do método dedutivo. Dito isto e voltando ao nosso problema da lei do movuuento da queda dos graves, repetiremos que a simples observação seria inca- paz de a revelar, como o demonstra a História da Sciência, prolon- gada por maitos séculos. [Partindo, porém, dos princípios fundamentais da mecânica, um principiante nesse ramo da sciência a poderá deduzir em alguns mi- nutos ! 22 JíJlíXAíj DIC SclKNCrAS Trata-se, é claro, daquole resultado aproximado a que mais iiv uma vez nos tíMiios referido. E, aiuda. consideramos o movimento dos graves no caso mais simples do movimento ser, por assim dizer, espontâneo; isto 6. quiindo nilo é complicado com qualquer outro que uAo seja devido k gravidade. Mas no caso gera/ ó manifesto que, com mais forte razílo, a sim- ples observação seria impotente, não só para revelar a forma da li- nha descrita pelo móvel e ainda mais a Ifi do seu movimento. Do que acaba de dizor-se ó fácil depreender a enorme importân- cia do racionalismo na descoberta de verdades que seria impossível conquistar por simples observação ou pelo método puramente eni- ])íricp^ K esta uma conclusíío que para muitos parecerá pouco justili- cada, por isso que admitem que só na observação reside a verdade ; como ponto de partida e como prova real não Lá dúvida, como uJlo a há do que ela só por si é imi)otente para organizar a íSciência, o infecunda na sua formaçáo. Taml)ém nfio deve esquecer que a observação tem alj^uma cousa de contingente e pessoal, por isso que, se há quem observe bem, tam- bém não íalta quem observe mal. e até um mesmo ol)servadorpod(^ estar bem ou mal disposto para a observação. Há, efectivamente, exemplos numerosos e históricos de falsas observações que travaram a descoberta da verdade; por exemplo. a lei das propor^òe!< múltiplas em Química, a lei da gravitação uni- versal, ote. Mas, notemos ainda que o próprio método racionalista ou de- dutivo é impotliticaçào se faz ainda quando se admito que a acção da gravidado é coni-^tante, o que não é exacto, ctc. 1 Deve, contiuli), obscrvar-ác <|iic o que o rnéttdo il.'ilutiv(» ithn ]m)(Uí alcaii- ^■ar são as liases era que si- runilarnenta; essas sú as pode forneciT 'ã observação. Vô-se, pois, que dai[ui resulta também que a obscrvai.ào desempenlia um papel essencial na torma(.^ào ila Sciência, e na confirmação ila (leÍCIAS taiii verdíuloini ó a uova idoa comu a axiomática; cliz-^)C^ fiitílo, quo ó uma verdade (ijiodítica. Tendo as verdades aj)odític'as o mesmo j;rau de ceite/.a quo as axiomáticas, é claro (jiie na deduçiío i)oderaio servir de base a ulto- rioros deduções, por lorraa que, como num organismo, as verdades BO viTo produzindo umas a partir das outras at('' constituírem fisse admirável conjunto da Matemática, onde as últimas vordades tôm Bompre o mesmo grau de certeza que os axiomas fundamentais. Infelizmente, as sciôncias do observação nunca poderão atingir o grau do precisílo da ^íatemática, porque as suas verdades funda- mentais, derivadas de observações contingentes, lulo ])odem oferecer as garantias dos axiomas matemáticos, e porque as novas verdades que se comj)aram com as primitivas resultam também da observação e estáo, portanto, sujeitas às suas contingências. Assim, por exemplo, será impossível à observação averiguar ri- gorosamente que duas cousas sa,o iguais a uma terceira, circunstân- cia que julgo nunca se realiza na Natureza, onde uao há duas cousas rigorosamente iguais. Contudo, certos ramos há das Sciôncias Físicas, como a Astro- nomia e a Mecânica Racional, em quo os princípios fundamentais oferecem inegáveis garantias de estabilidade que permitem o em- prego dos métodos dedutivos, e por isso silo os que tôni atingido o mais elevado grau de precisílo scientífica. Infelizmente, poi-ém, isso não sucede à grande maioria dos ou- tros ramos das Sciôncias Físicas, e daí resulta o seu manifesto grau de contingência, e por tal forma que mio seria para admirar que dum para outro momento se tornasse necessário um completo remodelamonto jiessas Sciôncias, o que não seria um facto singular na História da Sciôncia, e quo n?io é necessário ser profeta ])ara ]) rever. Quem diz observação diz contingência, quem diz dedução tliz in- variabilidade. Mas, ainda assim, a observação tem jios métodos dedutivos um poder dominante, um como que poder de veio. Efectivamente (pialquer alirmaçao quo tenha sido deduzida tem de se sujeitar ao critéiio da observação; se esta nSo coutirmar aquela, a afirmaçDo tem do ser rejeitada. Um exemjjlo estrondoso da aplicação dôsse critério sem aj)ela- çâo é o da teoria da emissão de Newton, a que já nos referimos, v ([ue foi aniquilada jxda célebre (íxi)eriôiicia de Foucault. do tipo denominado e.rperimentem rrucis, que provou, sem sombra de dúvida, (|ue a luz se propaga com maior velocidade no ar do que na água, quando da tooria df Newton se deduz exactamente o contrário. A propósito da imobilidade do éter já nos i-eferimos a uma ox- ]»eriéncia do mesmo tii>o, executada por IMichelsoii o ^lorlov. i^Ias, facto bem digno duma atenta ponderação, existem hoje, desempenhando um pai)el fundamental certos |)rincípios e noções que s.lo independentes do critério da experiência! MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATUKAlS 25 Está nosses casos um dos [)riací|)ios fiindamoiitals das Sciêii- cias Físicas, denominado da conservarão da enei-t/ia, ([uo as mais abalizadas competências, centro (das a do genial 11. Poincaré, afir- mam quo nrio podom sor rejeitadas nem coníirmadas pela expe- riência. Como tenciono discutir, em tral)allio especial, este e outros princípios fundamentais das Sciências Físicas, reservarei para então as explicações ([ue podem dar-se de uma circunstância (jue parece contraditória com a noção de verdade, tal como a temos conside- rado. Limitar-me hei por isso a dizer aqui, a tal respeito, ([ue o (jue se i)ode concluir a propósito do Princípio da Conservação da ]':]nergia é (pie, se êle não representa uma verdade apodítica, tem ])elo menos um elevado grau de probabilidade a seu fa\'or. Resulta daqui uma nova noção na apreciação da verdade, o ([ue é a probabilidade ; questão esta que mereceria ser tratada com certo detallie, não só pela sua importância actual, mas pelo ([uo jidgo que deverá ter no futuro quando aplicada aos problemas do grande complexidade, onde o processo i-acionalista é impotente. Mas uma observação resta ainda a fazer sobre o método expe- rimental; concduímos anteriormente, e julgo ser isso universalmente aceito, que a experiência é o mais legítimo critério da verdade ; mas, a meu ver, esse novo dogma tem, como todos os outros, o seu pe- rigo. Efectivamente julgo ser imprudente esquecer que são cousas muito diferentes (ou podem sê-lo) os factos manifestados pela expe- riência e a idea ou verdade ((ue deles pode extrair um observador. Efectivamente cada observador é um instrumento muito com- plexo e muito instável para que as suas apreciações mereçam in- teiro crédito. Assim, por exemplo, para falsear uma observação, basta a sii- f/estão duma idea preconcebida; como exemplo frisante duma tal influência citarei o que nos fornece a história da Alquimia. Portanto, logo que há bons e maus observadores, é evidente que a autoridade da observação é contingente e exige uma severa crítica. j Quantas ilusões não tem registado a Sciência, de parte dos mais sinceros observadores ! E todos aqueles que, como eu, tenham frequentemente interro- gado a natureza pelo método experimental, terão certamente sen- tido a impressão de dúvida em presença da observação. E por isso que sinto grande satisfação, e como que unia tran- quilidade ([UO dá a convicção da verdade, quando vejo que o resul- tado da observação está de acordo com as conclusões do método dedutivo. De tudo isto quero concluir que o radicalismo em sciência, como em tudo, é um grave erro, e que portanto, para termos um máximo de probabilidade de atingir a verdade, não devemos recorrer 26 JOllNAL DE SCIKNIIAS c'xelusi\iuiiciiio ao mótodo dodutivo, iilmu no iiirt do manoira quo iiiutuamento se croiiíroiitciii, ciiihoia cada um deles teiilia a sua leiçíto própria uo mudo coimo ct»iic(jrreiu para o deseuvoh imeiito do saber. t)) O dogmatismo na Sciôncia ^íuitos estranliarilo que mo proponha a provar (iiio o do já denominei padrões. Ohamem-lhe padrões, [)rincípios fundamentais, axiomas, o nomo ])Ouco importa, o (|uo não há dúvida é que o racionalismo, em úl- tima análise, so apoia sobre essas verdades, e ([uaiito valerem essas verdades tanto valerão as que delas se deduzem. ^ Podem demonstrar-se essas verdades? Não. ^ Não foraui essas \erdados, na ]\lecânica, base das Sciôncias Físicas, propostas pelas grandes autoridades ([ue se chamaram Newton o ( «alileu ? ^Na,o foram elas aceitas, merco da confianra (pio essas autori- dades souberam inspirar? Logo são dogmas. Não há capítulo nas íSciéucias Físicas que se não inicie por um dogma. E do dogmas vivemos nós constantemente, tanto na nossa acti- vidade normal ou vulgar, como na nossa actividade scientitica. Assim, por exemplo, (piando fazemos qual(|uer observarão, uma vez que não seja simj)Ief<, aceitamos, sem dar por isso, todos os dogmas em que assentam todas as teorias que inspiraram os méto- dos experimentais (pie tratamos de pôr em prática, ainda mesmo (^ue recorramos aos mais racionais, como os de natureza matemática. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E xVATUlíAlS 27 Mas so mo parece indubitável ([ue o dogmatismo ius[)ira funda- mentalmente o racionalismo, onde êle tem uma importância decisiva e essencial é na transmissão da Sciencia. Sem autoridade e sem confiança, seria manifestamente impossí- vel transmitir a Sciencia, polo menos a dos nossos dias, que só numa mínima parcela pode ser transmitida dedutivamente, e isso a um número extremamente restrito de individues convenientemente preparados. Portanto, se não fosse o dogmatismo scientífico, a Sciêucia só poderia ser transmitida a tam exíguo número de pessoas, que a sua acção seria praticamente nula sôl)re o meio social. A Sciencia só pode ser divulgada convenientemente, o de ma- neira a concorrer para o })om norteamento da evolução da humani- dade, por meio do dogmatismo. l)ir-sc há que esta maneira de encarar as questões equivale a estabelecer uma grande analogia entre o método scientífico e o mé- todo teocrátieo ou religioso. Não analisarei aqui, detalhadamente, o dogma religioso, porque isso seria evidentemente destoante, num trabalho que pretende man- ter-se num campo estritamente scientífico ; direi pois, a tal respeito, apenas o que seja necessário para marcar a diferença entre o dogma teológico o o dogma scientífico. A característica essencial do dogma teológico é que a presu- mida verdade que encerra foi revelada por um ser de hierarquia superior ao homem. Admitido isso, é então evidente que o dogma teológico contém o máximo de autoridade, e portanto inspira um máximo de Fé ; o isso explica o motivo por que se tem imposto a milhões e milhões de homens, durante tantos séculos. Mas exactamente o que lhe confere tam grande poder contém em si a razão de ser da sua decadência, em presença do dogma scientífico, que, dia a dia, tende a ganhar em prestígio. Efectivamente o dogma teológico, emanação divina, é por isso mesmo invariável^ não está ao alcance do poder humano alterá-lo. Ora é evidente que essa verdade, que poderia ser universal- mente aceita numa fase dada da evolução humana, não pode man- ter-se com esse carácter no decorrer dos séculos. As consequências que daí tem resultado é inútil citá-las por- que são bem j)atentes. Ao dogma scientífico já não sucede o mesmo, porque, obrados homens,, pelos homens pode ser modificado. O dogma scientífico tem em virtude disso o carácter dum pos- talado ; isto é, duma verdade cujas consoípiências nunca devem es- tar em contradição com os factos ; e, so tal contradição se der, o dogma baqueia, seja (|ual fôr a autoridade que o revelou. Já foi citado o facto que se deu com o dogma da emissão de Newton. 28 JOiiXAi. KJ; .s< ii':nm.'ias Nriu .so julgut', poróm, quo u doj^niui sciuiitítico so «Micuiitra com- lili'tainoiito isiMito dos exageros da 1"\'', quo earaetori/aiii os dojj;- uias teológicos. Em sciência também existiram c existem crentex dum dogma' seientifico, com um fervor (|uási igual ao quo anima um crente ro- ligioso. Vulgaríssimos silo os factos históricos, e mosmo actuais, que testemunham sobre o quo acaba de afirmar- se. O facto histórico do entre todos o mais notável ó certamente o que respeita ;\ Escola aristotélica ; todos sabem (|ue essa escola do- minou a mentalidade humana, e dum modo exclusivo, pelo menos ató o período da Renascença Scicntííica, cujos precursores foram Ba- con o Descartes, mas que só teve uma perfeita revelação no p(»ríodo om que brilharam os grandes homens (pie so chamaram Galileu, Newton, lluyghens, Leibnitz. Uma última conclusão desejo tirar deste aspecto dogmático, que, a meu ver, se impõe especialmente na transmissão da Sciência. Se a eficacidado do dogma tem o seu fundamento na coiifiaiuja, o se possível fôr na /c', é evidente quo uma moral scientifica se im- põe, e que ó a moralidade ou probidade scientifica. Quere, pois, dizer que todo o homem que se pro[)òo a fazer ou a transmitir scitMicia deve timbrar em respeitar religiosamente a verdade. Ora isso parece relativamente simples, visto apenas depender dum acto de vontade. Mas, reUoctindo um pouco sobre essa fundamental questrio, ro- conhece-se que ela é extremamente com])lexa, visto a vontade, ener- gia essencialmente sentimental, estar sujeita a variadas e complexas influências. E, com efeito, as inúmeras sugestões que intinem sôbrc a observação dos factos adulteram as conclusões a que legitimamente deveriam conduzir. Serão certamente raros os observadores que mantenham um espírito perfeitamente independente e imparcial perante a observa- ção dos factos. Voltando mais uma vez a citar o nome do Augusto Comte, por ser êle ((uem {irimoiro tentou sistematizar u positivismo, verilica-so a cada passo quo êle «'• um adversário da Religião, quando na verdade deveria ser, como filósofo, indiferente. Ser livre pensador não significa ser adversário do dogma, porcjue, se o fôr, já não é imparcial o portanto não é livre. l*or outro lailo, paixões perl\Mtamente individuais e íntimas j)er- turbam a visão das cousas; ó o que sucede, i)or exemplo, quando se é influenciado por um dogma, seientifico ou não, ou pelo desejo de fazer uma brilhante conquista na sciência, ou para vibrar um golpe num adversário ou num competidor ; etc. ; Quantos e (piantos oxemi»lus de tais factos não regista coti- dianamonte a História da Sciência! Matemáticas, físicas k natvíiaiU 29 ^E quom ó qiio pode considerar- se isento de tais fraquezas? SSo as fatalidades inerentes ^^s imperfeições do mais singelo dos instrumentos, que aparecem avolumadas pela complexidade do organismo humano. Se quiséssemos fazer unia comparação teolóíjica, diríamos que um prefeito homem de sciência necessitaria ser um santo. Mas o que é certo é ([ue esse limite ideal do homem de sciên- cia nunca foi atingitlo, nem jamais o será. O que, porém, é possível é que quom revela um facto, uma idea nova, o fuça da melhor fé, e depois de ter conscienciosamente empregado o melhor dos seus esforços para evitar um involuntário equívoco ; a leviandade é um delito scientífico ; já que n^o podemos sor infalíveis, sejamos ao menos probos. c) O instinto. A intuição e o sub-consciente ^ Para terminar o balanço das formas segundo as quais se adquirem conhecimentos que são tidos por verdades, resta-nos ainda considerar aquelas de cuja origem não temos conhecimento. Entic elas consideramos as que se exprimem pela palavra ins- tinto, que parecem inquestionavelmente hereditárias, por isso que animais que não tiveram conhecimento dos seus progenitores, e isso é froqiiente, se encontram de posse de verdades que lhes garantem a existência. O instinto 6 uma destas faculdades que devem perturbar a(|ue- les que rejeitam com indignação o determinismo. Eu não sou daqueles, e já expliquei o motivo porque, que re- jeitam in limine uma noção por ser contraditória, muitas vezes na aparência, com determinadas teorias, e muitas vezes com invetera- dos sentimentos e até mesmo com certos dogmatismos. Ora, quem tomar por critério da sua orientação scientífica a observação, não pode rejeitar ura facto quando o encontre contra- ^ E quási desnecessário declarar aqui que não possuo preparação dogmá- tica para o estudo de tani interessante assunto, e apenas creio, a seu respeito, que sobre ele se não tem feito um estudo de carácter scicntílico. Quere pois dizer que o que passo a expor me foi sui^-erido pelas impres- sões que me resultam da observação externa c interna. Já disse em introdução a este trabalho os motivos que me ius[)iraram a nào desistir de tam transcendente empreendimento, e que consistem esseneial- mente na convicção em que ine encontro de que tam complexo quanto impor- tante assunto tem de sujeitar-se ao mctodo geral das Scicncias Experimentais, que consiste, antes de tudo, na operação da colheita dus factos^ que deve prece- der toda a elaboração teórica ou racional. Ora, sendo os factos relativos ao problema actual de natureza niejital, convém, ou é mesmo indispensável, que cada um exponha as suas ideas e até mesmo as suas im[)ressões, jjorque do conjunto de muitas ideas e de muitas im- jiressuesé que devem sobressair os factos donde se induzirão as leis a que obe- decem essas regiões tão profundas, e quási misteriosas, do espírito humano. âO JOliXAL DK SCIÊVCIAS ditório com o seu sentimento; ora a experiência prova, a cada ins- tante, (jue existe um detfnninisino, no sentido do (pio todo o facto natural tende a produzir um efeito harmónico com a economia da natureza. Creio nHo haver um observador da natureza, um naturalista. que esteja disposto a contradizer o que venho de afirmar. Na estrutura (ia Natureza h;V como que um pensamento, uma har- monia geral, a (|ue se ajustam os factos que nela se manifestam. Nilo duvido, pois, om dizer que o Instinto é o conjunto de co- nhecimentos hereditários destinado a manter a vida animal, e todos devemos confessar que Ole desempenha bem a sua funeJlo. aliás a maioria das espécies animais teria deixado de existir. O homem, como animal que é, herda portanto também um certo fundo de conhecimentos instintivos, bem patentes no comôço da sua existência. Mas esses conhecimentos quo derivam do instinto e que, por assim dizer, estabelecem a continuidade entre o animal dito irracio- nal o o homem, nílo constituem o fundo único, nem mesmo principal, da intuição do homem como ser pensante. Há talvez muitos que discordam da minha opiniílo o que pen- sam que o homem tem a faculdade de legar ideas, n.lo originadas pelo instinto, idea inata ou, pelo menos, predisposiçílo para facil- mente as adquirir. A meu ver essa opiniiío está om contradiçfto com factos que silo da prática vulgar. Efectivamente lenho conhecido, e o mesmo suponho que tem sucedido a muitos, indivíduos derivados de raças no estado selvagem e que, contudo, manifestam em adquirir ideas da civilização, acumuladas durante séculos, a mesma facilidade (pie indivíduos descendentes duma longa linhagem de civilizados. E por isso que mo convenço de que a chamada intuição nilo é, digamos, fisiologicamente hereditária, mas tradicionalmente heredi- tária. O que principalmente distingue a espécie humana é a sua pre- cios;i faculdade de tradicionalismo, ou de transmitir os seus conhe- cimentos aos seus descendentes, cm que se manifesta uma poderosa tendência de absorpeáo o de conservação, por isso que a es))écie hu- mana tem a tendência, esj)ecificamente instintiva, de criar uma existência mental, característica da espécie. Tor isso o homem nos primeiros períodos da sua existência tem uma faculdade pasmosn de absorver conhecimentos, iacto que só pode ter passado despercebido a (piem mio tenha tido o ensejo ou o espírito de observaçáo para o apreender. Ora eu creio quo neste período inicial, e decisivo, é que se for- ma principalmente a intuh-úo, que só potico mais, de futuro, se desenvolve, a náo sor em casos excepcionais. Por estos o outros motivos, eu ])enso que a intuíçáo é, em grande parte, derivada da educarão inconsciente, essencialmente 8U(/cstiva, poderosamente auxiliada por essa faculdade instintiva MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATUUAIfcí BI quo so chama cnriosidade, que se manifesta nitidaiiionte, mesmo nos animais inferiores, porque, sem dúvida, pode servir à conservação do indivíduo. Creio, poróm, também quo essa parte do fundo da intuíçílo também é adquirida pela observaçilo espontânea que so exerce per- sistentemente nos })rimeiros [)eríodos da vida. Vj, pois, principalmente por estes processos quo o passado como quo sc! prolonga ao presente e será transmitido, avolumado pela actividade do uma geração, à geração seguinte. Vj isso que se exprimo pela conhecida frase: oh mortos mondam. Efectivamente, quom tenha, mesmo desatentamente, seguido a história do pensamento humano desde que são conhecidas as suas origens, não terá dificuldade em convencer- se que a sua mentalidade ainda hoje é influenciada pela mentalidade Grega, transmitida quási integralmente à mentalidade Romana, donde derivou a raça latina, onde se realiza um tipo do civilização característica da Europa. Não ó esta a ocasião, nem tenho competência para o fazer, de analisar sob este aspecto a civilização das grandes raças hu- manas, cuja intuição é variável em conformidade com a intuição adquirida pelo tradicionalismo, orientado já por um dogmatismo de base racional ou um dogmatismo de base teológica. Apenas farei a tal respeito a observação, que me parece inte- ressante, que as civilizações cuja base de intuição é teológica sofrem do defeito de imobilidade dos respectivos dogmas. Mas, deixando do parte uma questão que mo não julgo com competência para tratar, insistirei apenas numa característica da intuição, quo tem importância scientífica. A meu ver, a característica essencial da intuição é ser (/ualí- tativa, emquanto quo a Sciência tem por objectivo principal a quantidade. Assim, o som, a luz, a extensão, o calor, etc, são dados de intuição, puramente, qualitativos, e não são do domínio próprio da Sciência. Será efectivamente ura empreendimento erróneo o tentar trans- mitir ^ a noção da côr, forma, movimento, etc. E esta uma circunstância que não tem des])ertado o interesso que merece e sobre a qual convém reflectir. Os objectivos essenciais da Sciência, porque se ligam no seu poder de previsão, são : por um lado definir e por outro medir. Ora definir, por assim dizer, descritivamente é impossível c inútil, porque se teria do apelar para a intuição, cujo modo de aqui- sição não é fácil precisar. Assim, por exemplo, seria um empreendimento inútil definir descritivamente o que é o azul ou o que é uma certa nota da es- cala musical, etc. Contudo a Sciência podo dar uma definição numérica dessas qualidades, no sentido de que, conhecida ela, essa côr ou ôsse som se podem distinguir doutros quaisquer. ■{2 i o RN AL DE SCiÍnCUS Assim, se dermos o que so chama om Vimes, cojnjjriíiiento de owla duma côr, temo-la tlotínido duma maneira matomàticaincnto rigorosa, se aquele comprimento de onda também fôr determinado com rigor matemático, o cta é uma quantidade, porque somando dois comprimentos iguais se obtém um comprimento duplo. Telo contrário as qualidades não se somam; assim misturando duas quantidades iguais de tinta azul nãio se obtém um azul duplo, mas o dobro de quantidade de azul. Como disse, esta distinção entre a qualidade e a quantidade não tem sido nitidamente apreendida por pessoas até de elevada com- petência. Assim, i)or exemplo, quem desconhece que na i)ró[)ria geome- tria se têm tentado definir formas, que são qualidades e, portanto, factos de intuição. I'i um exemplo bem conhecido dessa circunstância o das inúmeras tentativas que se têm feito para definir a forma recta; e, não há dúvida, que uma tal definição teria uma importância capitíil, i)orque a sua falta é um defeito radical da geometria, visto que todas as formas e todas as medidas são dela depen- dentes. K, por isso, lamentável que se não tenha encontrado uma de- finição numérica dessa forma, f|U0 se encontra para muitas outras formas, embora com o defeito de dependerem da noção do distância, inseparável da noçfl.o da forma recta. K como, mais ou menos, todas as sciências dependem da geo- metria, segue-se que a falta de definição numérica da recta é co- mo (|ue um verdadeiro pecado original de (pie se ressente toda a Sciência. O profundo espírito analítico de 11. Toincaré conduziu a procu- rar no movimento de rotação uma definição ([ualitativa da forma recta; mas essa tentativa poderá quando muito ter um interesse filo- sófico, porque, em primeiro lugar, das suas consideraçf^es resulta quíí é posMÍvel (/ite e.rista uma forma recta, o qiui creio ninguém con- testará, (5, em segun lugar, seria impossível realizar por esse meio a forma recta. MATEÍIÁTICAS, FÍSICAS E NATURAíS 33 Em resumo, as qiialidados só podem ser conhecidas por intui- ção; contado, em muitos casos, podem caractorizar-se dum modo preciso, e mesmo numérico, como sucede ao som, à côr, à tempera- tura, etc, e só nesse sentido se pode dizer quo uma qualidade tem um valor numérico. Pelo que respeita à quantidade ó interessante notar-se que ela é sempre determinada por intermédio duma indicação qualitativa. Eíectivamento as quantidades não podem, em geral, ser medi- das directamente, mesmo nos casos mais simples da geometria, com excepção das grandezas rectilíneas e angulares. Todas as outras medidas são obtidas indirectamente, e, exac- tamente, nisso consiste um dos problemas mais importantes da Sciência, (|uando ela tenha atingido a sua fase superior ou quan- titativa. Dum modo muito geral, pode dizer-se que qualquer medida se reduz, em definitivo, a uma medida linear, angular ou de tempo, devendo notar-se que essas medidas são em definitivo dependentes do facto da coincidência entre duas referências. Portanto a operação final de toda a medida é realmente quali- tativa, o que me parece levar à conclusão que as únicas circuns- tâncias que directamente poderemos apreciar são de natureza qua- litativa: quere dizer, o nosso poder de observação refere-se exclu- sivamente às qualidades, e cai, portanto, no domínio da intuição. * *. * Aludirei, por último, a uma faculdade de adquirir conhecimen- tos a que muitos se têm referido, e a respeito da qual numerosos factos se têm citado, mas sobre a qual as minhas informações são muito limitadas, para quo a seu respeito tenha uma opinião formada; quero referir-me ao sub-consciente. Ao que se me afigura, o sub-consciente ó alguma cousa de inter- médio entre o instinto e o racionalismo. Aproxíma-se do instinto pela sua espontaneidade, e do racio- nalismo pelo seu poder de dedução. O sub-consciente parece ter uma grande analogia com os fenó- menos psicológicos que se produzem durante o sono e que se de- nominam sonhos^ que seriam, de tal modo, casos particulares do sub-consciente. Parece poder concluir- se daqui que as ideas retidas no cérebro, por uma forma desconhecida, mas provavelmente por um mecanis- mo morfológico -dinâmico, têm a faculdade de comparação espon- tânea. O raciocínio consciente não é, de facto, senão a comparação voluntária de ideas mentalmente existentes, por isso que, como já insistentemente foi dito, conhecer é reconhecer, ou, dum modo mais geral, conhecer é comparar. .1 34 JOUNAL DE SCIÉNCIAS Ora, no sub-consciente essa coiiiparaçuo cfectiia-se por um acto ospoiítâiieo ou, })elo muiios, incomplctaineote voluutário. Com a expressão quo acabo de empregar quero dizer que a ura acto .lo vontade niio correspondo um efeito instantâneo o tam duradouro como éle ; o efeito dum acto do vontade enérjzico i)od(' j)ersistir por um largo tempo, e creio que exemplos há, especial- mente em animais inferiores, ([uo o eleito dum acto de vontade pode persistir mesmo depois de ter cessado a vida, e julgo que factos da mesma natureza se têm observado no homem surpreendido pela morte. Portanto se um ardente desejo de resolver uma dificuldade provoca um esf0r^'O intenso da vontade, eu creio que, mesmo in- conscientemente, os efeitos da vontade persistem mesmo depois do ter cessado o respectivo esforço. Esta hipótese, certamente muito aleatória, ainda assim explica factos que tem sido relatados por muita gente, e especialmente ho- mens de sciència, que estão mais sob o domínio do sub-consciente por terem o hábito persistente de meditar e a intensa preocupação da resoluçfio de certos problemas. Fodo dizer-se que, na maioria dos casos, a elaboração que pn' cede a evocação da idea «pu.' se procura é. em grande ])arte, sub- -consciente; também nilo é caso raro que a idea que quo se procura venha a encontrar-se num sonho. Polo que respeita à minha observação pessoal, o meu senti- mento a tal respeito ó que muitos factos quo se atribuem ao sub- consciente são o resultado de uma atenção persistente de que se não tom perfeita consciência. Ora a resolução duma dificuldade encontra-se no choque de duas idoas, como geralmente sucede na aquisição de qualquer co- nhecimento; ora a evocação dessas ideas simultâneas pode ser ex- tremamente difícil, em presença do número que se pode dizer quási infinitamente grande das ideas quo a mente encerra. K certo (jue, para um espírito disciplinado, a evocação das ideas pode ser feita dum modo sistemático, que facilita o seu encontro, mas, casos há muito complexos em que esso encontro só podo sor alcançado dum modo fortuito. Daí, talvez, essas expressões vulgares: encontre! ou achei uma solução. Por isso sucede muitas vezes quo a audição duma frase, a lei- tura dum período, a observação dum facto, etc, venham provocar uma evocação que o único esforço da vontade não conseguiria. É por isso qu(> cumpre manter a convicção de que, (juÃsi sempre, a invenção é um facto de carácter eventual, sendo, contudo, evidente que a eventualidade que a provoca é muito frequente nos indivíduos quo constantemente a pers(>giiem. MATEMÁTICAS, FÍSICAS K XATUIiAlS 35 MÉTODOS GERAIS PARA A DETERMINAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO MOLECOLAR DAS SUBSTÂNCIAS PURAS E DAS SUBSTÂNCIAS MISTURADAS MÁRIO BASTO WAGNER A termodinâmica dispOo hoje de dois métodos fundamentalmente distintos para estudar o equilíbrio dos sistemas químicos. Um deles, naturalmente o mais antigo, estuda os sistemas sob o ponto de vista dos seus componentes independentes *, o ontro, o mais moderno que procurámos aperfeiçoar e ampliar numa série de memórias com o título geral de: Termodinâmica das misturas'^, analisa os sistemas sob o ponto de vista dos seus componentes verdadeiros. Para carac- terizar esta diferença profunda e essencial entre os dois métodos designaremos o primeiro, abreviadamente, por «termodinâmica da constituição analítica» — aplicando estas últimas expressões com a significação que lhes é dada em Química — e daremos ao segundo a designação de «termodinâmica da constituíçcão verdadeira». Estes dois métodos aplicados à resolução do grande problema dos siste- mas químicos são totalmente diferentes. Que eu saiba, ninguém chamou, até hoje, a atenção dos físicos para esta profunda dife- rença. Encontramos mesmo, na actualidade, muitos físicos e quí- micos que, por motivos originados necessariamente em mal-enten- didos ou em convicções injustificadas, defendem a tese de que a termodinâmica pura é incapaz de resolver o problema da verda- deira composição molecular dos corpos. O primeiro método não se preocupa com a natureza molecular dos sistemas que estuda; importa-lhe tam somente conhecer as quantidades das substâncias puras independentes que constituem as misturas. Saber se estas são simples ou normais, isto é, formadas por uma só espécie de moléculas ; complexas ou anormais, isto é, for- madas por duas ou mais espécies; se elas reagem ou não entre si 1 O conceito de componente independente aqui empregado c idêntico ao que Gibbs estabeleceu. - Zeitschri ft fUr ^hijiikalische Chemie, tomos 94 a 97. 3G JOUXAL DE SCIÊNCIAS quando se misturíun ; (^ue espécies do moléculas esta por íim con- terá ; quais as concentrações dessas espécies, etc, ctc. ; — silo pro- blemas que não interessam à «termodinâmica da constituição analí- tica», que, portanto, os considera aliíeios ao seu domínio de inves- tigação. Nem mesmo se ccupa com a estratura molecular dos corpos cujo estudo se pode basciír com igual direito e talvez com mais ló- gica, na constituTçílo contínua da matéria. O problema da natureza corpuscular ou na,o-corpuscular dos corpos é um dos muitos proble- mas que a mesma termodinâmica, devido à generalidade coni que tríita o assunto, uíTo precisa encarar; mas, por isso mesmo, os re- sultados (jiie ela obtéui tomara uma forma tam geral que cm nada nos podem elucidar sobro a verdadeira constitiiiçào das substân- cias. Uma termodinâmica tara notavelmente isenta do hipóteses é, sem dúvida alguma, susceptível duma aplicação mais extensa do que uma termodinâmica (jue procura ter em conta a constituíçHo real dos sistemas. Planck dá-nos no terceiro capítulo das suas Li- ções de Termodiíiãiuica uma exposição magistral da «termodinâmica da constituição analítica». Incomparavelmente mais exigente e ambiciosa é a termodinâ- mica dos sistemas químicos, sob o ponto de vista dos seus compo- nentes verdadeiros, isto é, das espécies de moléculas que formam os sistemas. O seu objecto é o conhecimento minucioso do meca- nismo íntimo das misturas : determinar os números o as espécies de moléculas que constituem as fases, as reacções que subsistem entre essas espécies, a variação das quantidades destas últimas com a temperatura e u pressão, etc, etc. Propõe-se, pois, esta termodinâ- mica a resolver questões muitas vezes extremamente complicadas. Apoiando-nos exclusivamente na termodinâmica da constituição analítica, podemos estabelecer a priori, conhecendo o número dos componentes independentes, um determinado número, ainda que multo reduzido, de leis a que os sistemas deverão obedecer e que poderemos verificar experimentalmente. Baseando-nos, pelo contrário, na termodinâmica da constituição verdadeira, nâo poderemos, som prévio conhecimento das espécies de moléculas que constituem o sistema, enunciar qualquer lei rela- tiva ao modo por que êle se comporta. Ignorando, pois, essa com- posição, este método termon uma mis- tura de substâncias puras nos estados sólido ou Iquido e que pre- tendemos determinar, com exactidão, a sua constituição molecular. O primeiro passo para a resolução desse problema consistinl num estudo minucioso da forma porque o sistema se comporta em- piricamente, tendo cm vista todas as propriedades que possamos acompanhar teiíricamente com o auxílio da nova termodinâmica. O método experimental, ([ue com tal propósito utilizaremos quási ex- clusivamente, é o seguinte: juntar ao sistema que desejamos anali- sar quantidades variáveis duma substância que por conveniência es- colheremos quimicamente pura e monomolecular, e observar a forma por que esta mistura se comporta sob vários pontos de vista. Uma vez efectuado o estudo empírico relativamente a essas va- riações do constituição trataremos de estabelecer pela físico-quí- mica as imagens hipotéticas que, com mais probabilidade, represen- tem a constituição do sistema considerado. Começaremos a analiso teórica naturalmente pidas hipóteses mais singelas o só perante factos irredutíveis nos resolveremos a introduzir sui)osições mais complicadas. Quanto a coipos puros já sabemos que a constituição mais sim- ples que lhes podemos atribuir é a monomolecular. Se esta hipó- tese falhar, teremos de os considerar anormais. A iniagem menos MATEMÁTICAS, PÍSíCAS E NATURAIS 39 complexa da constituíÇcão duma substância anormal e que talvez na grande maioria dos casos corresponda à realidade, é a seguinte : a substância anormal consta exclusivamente ' do moléculas simples e duplas, constituindo estas duas espécies de moléculas uma mistura ideais Se esta suposição não estiver em acordo com os dados ex- perimentais, procuraremos uma das duas liipótosos seguintes que consideramos, depois daquela, mais prováveis: 1.^ A substância compòe-se do moléculas simples, duplas e tri- plas que formam uma mistura ideal; 2.* A substância consta do moléculas simples e duplas que constituem uma mistura não-ideal. Se ainda estas hipóteses não en- contrarem confirmação, admitiremos finalmente que a substância anormal é uma mistura não-ideal das três espécies de moléculas. Com o auxílio destas quatro concepções fundamentais ser-uos há possível determinar a constituição de quási todos os corpos anor- mais. A determinação da composição molecular das misturas de subs- tâncias puras deve basear-se, a princípio, igualmente em imagens tam simples quanto possível, introduzindo-se só igualmente hipóte- ses mais complexas. Felizmente parece que na natureza os sistemas são, em geral, relativamente singelos, ao menos pelo que di:? respeito ao número das espécies de moléculas que os constituem. Esta habitual simpli- cidade dos sistemas reais comporta uma simplificação importante dos cálculos, som a qual nos veríamos impossibilitados de resolver a maioria dos problemas neste domínio da sciência. As leis relativas à adição duma substâucia pura e monomole- cular a um determinado sistema deduzimo-las nós, isentas de todas as hipóteses e simplificações e baseando-nos exclusivamente nos prin- cípios da termodinâmica, na nossa série de memórias : Termody- namik der Misclnmgen. Quanto à forma matemática dessas leis e à sua fundamentação teórica consultem-se esses trabalhos. Aqui limitar-nos hemos a uma simples enumeração das propriedades dum ' Chamamos uleal toda a mistura cujos componentes verJacleiros, conside- rados inalteráveis em estado isolado e encontraiido-se no mesmo estado físicn que a mistura, não absorvem nem produzem calor no acto da mistura. Por não- ideais desi^^namos, pelo contrário, as misturas que não possuem esta proprie- dade. De físicas damos o nome às misturas cujas, componentes verdadeiras, isto é, cujas espécies de moléculas não reagem quimicamente entre si, e físico- -químicas as misturas em que se operara processos químicos. Podemos, pois, dividir todas as misturas possíveis em quatro grupos: 1.° Misturas físicas ideais. 2." Misturas físicas não-ideais. 3." Misturas físico-químicas ideais. ' 4." Misturas físico-químicas não-ideais. (Veja-se T/iermncJijnamzk der Mi- scJiunr/en, 1.* parte). Uma substância anormal é, pois, uma mistura fftieo-quí- mica, ideal ou não-ideal spírundo o calor físico da mistura for ou ou não isual a zero. 40 JORNAL DE SCIÉX(!IAS sistema que poderão ser utilizadas teoricamente para o estudo da sua coustituiçílo molecular. Estilo nestas condições : 1.° O volume.— L)etorminam-se com o auxilio da termodinâmica da constituição verdadeira para a hipótese, adoptada as diferenças de volume do sistema dado e do corpo adicionado, antes e depois da mistura. 2.° O calor de mistura. — l)eterminam-se teòricameute os efeitos térmicos que acompanham a mistura do sistema estudado com as quantidades variáveis do corpo adicionado. 3." iS. pressão de vapor. — Calculam-se para a hipótese adoptada as pressões parciais teóricas do corpo adicioniido ou de qualquer espécie de moléculas que constituem o sistema dado. 4." A solubilidade. — Estabelecem-se as relações válidas para o equilíbrio : sistema dado com a substância adicionada no estado líquido; substância adicionada no estado sólido. 5.° O ponto de coiKjelação. — Trata-se neste caso, em oposição ao anterior, de determinar o equilíbrio entre a solução líquida, à qual adicionámos a substância pura e monomolecular, e uma espécie de moléculas do sistema primitivo no estado sólido. Se o sistema que estudarmos constar duma só espécie de moléculas ou do várias espécies, quimicamente independentes umas das outras, se se tra- tar, pois, duma substância normal ou duma mistura puramente física, o estado de equilíbrio mencionado será de fácil determinação. Se, pelo contrário, se tratar dum corpo anormal ou duma mistura físico-química, o estabelecimento das relações teóricas exigirá uma investigação prévia. Assim supomos que na constituição da água entram moléculas simples e duplas. Ilá sábios que vfto mais longe, afirmando a exis- tência de moléculas triplas e até mais complexas. Pregunta-se agora: ^quando a água gela, qual destas três ou mais espécies de moléculas passa ao estado sólido? Teoricamente ó inaceitável a su- posição do que as três cristalizam simultaneamente. Porque é, era geral, extremamente improvável que numa mistura puramente física que contenha três espécies de moléculas arbitrárias e independen- tes todas elas se solidiíiquein ao mesmo tempo. E náo é presumí- vel (jue duas ou mais espécies de moléculas quimicamente depen- dentes umas das outras se comportem, sob este ponto de vista, duma maneira diferente. Concluiremos, por conseguinte, que no processo da congelação duma substância anormal ou duma mistura físico-química, em geral, só uma das espécies de moléculas, que constituem o sistema, passa ao estado sólido. Efectivamente Tamann provou que existem várias espécies do gelo, às quais temos de atribuir constituições diversas. Segundo as investigações desse sábio o gelo vulgar é bimolecular. Para utilizar este método em determinações da constituição ó, pois, necessário conhecer de antemão a espécie molecular (jue se solidifica no acto do congelação do sistema. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATUlíAIS 41 G.° O ponto de ebulição. — Deduz-se a expressão teórica que liga a temperatura de ebulição à constituição molecular da mistura. 7." O calor especifico. — Tanto esta propriedade como as duas seguintes não poderão, talvez, ser utilizadas presentemente, devido à imperfeição dos métodos experimentais do que a sciência hoje dispõe. 8." A compressibilidade. 9.° O coeficiente de dilatação. — O exame teórico destas grande- zas ainda não foi objecto dama publicação especial. No emtanto, os princípios da nova termodinâmica são-lhes aplicáveis e poderemos, portanto, considerá-las apropriadas para a determinação de consti- tuições moleculares. 10.° K pressão osmótica. Outras propriedades, ainda, como são principalmente a cons- tante dielóctrica, viscosidade, refracção, tensão superficial, etc, não permitem, hoje em dia, uma análise teórica sob o ponto de vista da constituição verdadeira e excluí-las hemos, por isso, das nossas considerações. Não queremos dizer, no emtanto, que elas não venham a desempenhar no futuro um papel importante neste campo de investigação. E mesmo muito possível que algumas delas, e ainda outras que não mencionámos, se tornem, um dia, métodos notáveis em estudos desta natureza, devido à acessibilidade experi- mental e fácil medição ; Gste ponto, porém, só poderá sor resolvido por futuras investigações teóricas ou experimentais. Para demonstrar a fecundidade das idoas expostas nesta memó- ria, e para comprovar até que ponto conseguimos penetrar na natu- reza íntima dum sistema, vamos analisar, sob o ponto de vista teó- rico, uma mistura relativamente singela o que já foi objecto duma investigação profunda por parte de A. Schulze. O sistema que este sábio submeteu ao estudo foi a mistura toluena-benzina *. Baseando- -se na lei da pressão de vapor de Dolezalek ^ — lei até então empí- rica e à qual Dolezalek atribuía validade geral, mas que é, como o demonstrei na minha série de memórias, somente válida para mis- turas ideais (o sistema toluena-benzina pertence, felizmente, a este último grupo) — Schulze conseguiu provar que a toluena é, dentro de determinados limites da temperatura, um corpo anormal, com- posto de moléculas simples e duplas. Determinou mais, por modo exacto, o seu grau de dissociação no estado puro e em soluções de l)enzina. É, som dúvida alguma, do máximo interesse confirmar os resul- tados de Schulze por outros métodos de investigação. Tais métodos nos são hoje fornecidos pela ('termodinâmica da constituição verda- deira» em número avultado. 1 Annakn der P/u/sã; 50, S. 7?> a919). ~ Zeitschrift fiir p/ii/siLalisc/te CJiemie, 64, 727 (1908). 42 JORVAL DK SCIKNCIAS O grupo do fórmulas quo esse sábio utilizou para a resolução dôsse problema especial foi o seguiute : «1- (»?(, -]- 7»! -\- n-i) n-. A', Pi = P,> "i» 4~ "i "h "? A primeira fórmula mostra que o número analítico de molécula- -gramas Ki da toluena em solueuo ó igual k soma do número wi de moléculagrainas de toluena monomolecular com o dobro do nú- mero ni do molécula-graiuas do toluena bimoleeular. Tais relações entre números de moléculas analíticas e números de molóculas ver- dadeiras são naturalmente aplicadas pela nova termodinâmica em grande extensilo. A segunda fórmula dá conta do equilíbrio que se estabelece na soluçilo entre as moléculas simples e duplas da toluena. O novo método termodinâmico emprega igualmente em larga escala expres- sões matemáticas análogas. A terceira fórmula, finalmente, reproduz a lei de Dolezalek, com relação à pj-essão parcial do vapor da benziua na fase gasosa. Segundo essa lei, que, como vimos, é somente válida para sistemas ideais, a pressão parcial dum componente verdadeiro ó igual ao produto da press3,o de vapor desse componente, no estado puro, pela sua concentração molecular na solução. Gru[)os de fórmulas, perfeitauiente equivalentes ao de Schulze, com o auxílio exclusivo dos quais poderíamos também determinar a constituição molecular do nosso sistema, são todos aqueles auc obtemos substituindo a terceira fórmula de Schulze por uma das seguintes : V^^ n{ Vi-\- ni Vi -\- li,, vi , Q- {n'-2 — v-2) r, , W(. i>b -\-ny-{- V., »t (7/. -Tl R 2» r Representam aqui: ii\, m, Ui, os números de moléculagramas de toluena monoiuolecular, de toluena bimoleeular e de benzina, que, como é sabido, ó uma substância normal; ]'\ ?:i, ra, v o vo- lume total da solução o os volumes moleculares das três espécies de moléculas que ela contém; Q o calor de mistura observado na MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATUEAIS 43 adição de Xt moléculas analíticas de tolnena a Wt moléculas de ben- zina, Vt o calor de reacção que acompanha a transformação duma molécula-grama de toluoua himolocular om duas molécula-gramas de tohieua monomolecular, n'-2 o número de molécula-gramas bimo- lecularos contidas em .Vt molécula-gi*amas analíticas de toluena pura, pi a pressão parcial de vapor da toluena monomolecular na fase gasosa, Pi a pressão de vapor que uma toluena líquida, com- posta exclusivamente de moléculas simples, exerceria à tempera- tura da mistuia, e a base dos logaritmos naturais, lOo o calor de fusão, e T/, a temperatura de congelação da benzina pura. Todas as fórmulas acima enunciadas obtivemo-las nós por ma- neira perfeitamente exacta na sério de trabalhos nossos, já várias vezes citada. Os quatro métodos novos, resultantes da substituição indicada, oferecem, em parte, menos dificuldades de carácter experimental do que o de Schulze, e devem oonsiderar-si^ por isso, em princípio, preferíveis a este. Se as medições do calor específico e dos coeficientes de com- pressão e dilatação térmica fossem mais rigorosas do que o são na actualidade, poderíamos juntar àqueles métodos mais três. Além disso, ainda podemos obter doutro modo um certo nú- mero de novos métodos : combinando a primeira e terceira fórmula de Schulze com uma das minhas, ou sòmento a ])riraeira com duas deslás. Não nos faltam, pois, processos para determinar a composição duma dada substância. Utilizando vários de entre eles e verificando, dentro dos limites dos erros experimentais, plena conformidade dos resultados, podemos afirmar que ficámos conhecendo a constituição exacta do sistema. Não se limitam só a isto as vantagens dos novos pontos de vista. As relações que acima dêmos permitem-nos efectivamente resolver ainda um certo número de problemas até hoje inacessíveis à físico-química. Assim, conseguimos determinar os valores exactos do calor de reacção /<, dos volumes moleculares vi e 1:2, da pres- são de vapor P| e também dos calores moleculares e dos coeficien- tes de compressão e dilatação de cada espécie de moléculas que compõem o sistema, se utilizarmos as expressões rc^lativas ao cabtr específico estabelecidas na nossa termodinâmica das misturas, e as relativas à compressibilidade e à dilatação das misturas, de fácil dedução teórica. A termodinâmica da constituição verdadeira forneco-nos, por- tanto, não só iim conhecimento amplo e seguro da consfituh^ão mole- cular dum sistema, mas também, o que é de importância fundamen- tal, um conhecimento exacto e minucioso das propriedades individuais de todas as espécies de moléculas que o constituem. O exemplo que acabamos de examinar representa, como vimos, um sistema físico-químico ideal. Dificuldades maiores levanta o es- tudo das misturas não ideais, e isto devido ao facto de que as fór- 44 JOIÍNAL UE SCIÉNCIAS imihis relativas a tais sistemas envolvem uma grandeza, o calor de mistura, que é. em gorai, uma í"uuç3lo coiuplicada de todas as con- coatraeões moleculares. Essa grandeza podemos nós dosonvolvG-la, como o demonstrámos na Termodinâmica das misturas, numa série do potôncias das concentraçfies moleeul;ires. Tomando agora em conta exclusivamente os termos lineares o nào alargando demasiada- mente os limites dentro dos (juais variamos a constituioào, })odere- mos determinar, com uma aproximação l^istante satisfatória, a com- posição do sistema nào-ideal e as propriedades das suas moléculas. Talvez losso mais conveniente operar aqui com uma expressiio íinita, (jue poderíamos obter, por exemplo, por meio duma oípiação do estado ampliada, ou por quaisquer outras considerações cinéticas. Chamamos, entretanto, a ? tenção para o lacto, já indicado na primeira parte da nossa Termodivâmica das misturas, do (juc a íracçao química do calor de mistura, isto é, a fracção de calor que devemos atribuir a reacções químicas no acto da mistura, ó, em ge- ral, muito maior do que a fracção física do mesmo calor, isto é, a ]jarte integrante do calor de mistura, que j)rovém exclusivamente das forças físicas que actuam entre as moléculas. Por outras pala- vras : numa primeira apro.rimação é permitido tratar a grande maio- ria dos sistemas físico- químicos não-ideais como sistemas fisico-qut- micos ideais. Na determinação da constituição molecular de qual- quer sistema físico-químico convém, pois, aplicar a princípio hipó- teses que pressuponham a idealidade do sistema, e sítmente admi- tir a sua não-idealidade quando aquelas se mostrem insuficientes. Abril de 1921 K 1 O íiutor dOstc artigo iiào chefiou a fazer a sua revisSo ti]H)fíT;ífica. porque faleceu .-íihitamento, jxjucos dias depois do, o ter escrito, quando agora tudo lhe fazia vaticinar uma brilhante carreira scientífua. inicinda com trabalhos muito iiiterfissantes (h' tíáico-quíudca, paraosquaiso tinham preparado os seus estudos feitos, com muita distinçSo, em universidades ah-mâs, numa das quais teve por mestre, entre outros, o célebre professor Ostwald. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATUKAlS 40 HÉMO-HISTIOBLASTES ET LEURS DÉRIYÉS MONOCYTIQDES, LYMPHOCY- TIQUES ET GRANDLOCYTIQUES DANS LA RATE ET DANS LE SANG CIRCULANT D'EKFANTS ATTEINTS DE LEISHMANIOSE. Travaux de Tlnstitut de Pathologie Géuérale et d'Anatomie Pathologique de TUníversité de Lisbonne PROF. ENRICO E. FRANCO UJreetour de l'Instit»t Au coiirs de quelquos-unes de mes observatious sur des prépa- rations faltes au moyeii de frottis avec la pulpe de la rate d'eii- fants attcints de Leishmaniose, et dans le but de dóterminer la na- ture des cellules parasitifères, mon. attention fut attiróo par de grandes cellules d'aspect endothélioide renfermant tantOt des para- sites et des éléments cellulaires, tantôt ces derniers seuloment, ou, eníin, ne contenant m los uns ni los autres. Leur structure m'a sembló si nettement hémo-histioblastique, et même clasmatocytique, que j'ai étó amené à les étudier non plus seulement sur des frottis, mais encore à les réchercher dans les coupes histologiques de Tor- gane provenant de Tautopsie ou d'une opératiou chirurgicale. De cette facon, il m'a étó possible d'étudier dix rates, ce qui m'a donné les resultais suivants: II s'agit d'élémoQts fort grauds, plus grauds mGme que tons les autres, d'une forme arrondie ou bien três irréguliêre, avec des prolongements pas trop développés, et dont la caractéristique est de se fragmenter avec une grande facilite (clasmatose). Le noyau est de deux espèces. Dans quelques cellules, il est nettement muuocytoíde: róseau chromatique do tilaments extrôme- nient fins, limitant des mailles serrées; membrane nucléaire peu visible. Ce noyau est uniformément colorable en rougc-violet clair, par le May-GrUmoald-Giemsa ; lorsqu'il contient des nucléoles, ceux-ci prennent une couleur blou-clair ou rosée, et sont entourés d'une lógrre couche de chromatino pbis denso. 4l') JOliXAL DE SCIÉNXIAS I)'autres cellules, au coutrairo, out un noyau somblable à colui que J'ai d<''crit a-\ec Ferrata dans les hémo-histioblastcs de la loucémie «íraiiulocytiquo clironiquo et qui donnont naissance aux jíranuloeytes liéinohistioblastiquos ; il est constituo par des filaments chromatiquos pios gros, Ibrmaut iin réseau de mailles largos, dans loquei se trouvojit fróíiueinmont des vacuolos (noyaux en éponge). La chromatino est inteusi-mont coloróe eu ruuge-violot par le mó- laugo do Matj-Grumcald-Glenisa. La luembrano nucléaire, toujours biou visible, varie dópaisseur suivant les points. Quelques collules préseiitent une structure nuclóaire qui raji- pelle Tune et Tautro forme. Le cvtoplasme de tous ees ólémouts ost coloro par lo ^fa?/-Griin- irald-Gientsa ou bleu ou en bleu-violet sale. 11 presente quelquefois un róseau spongioplasmatique lógòreraent granuleux ; dautros Ibis ce cvtoplasme ost, pour ainsi dire, pulvórulent, et ses contours sont frangos au lieii d'être nots. Cos deux espòcos de cellules, que .je n'hrsite pas à considerer coiume liómo-bistiol)lastiques, ne se trouvent pas toujours róunios dans la momo rate; sur dix cas, je ne les ai recontróes simulta- némont que quatro fois. Le fait d'ôtre phagocytos constituo pour cos cellules une carac- tóristique fort importante. Co sont exclusivoment cellos (pii renfor- meut les protozoaires de LeLsJ/n/an, que je ii'ai vus en aucuu autre ólément, et que Ton peut compter en nombre fort ólevé dans une môme collule. Mais ellos ne se contcutent pas de pbagocyter la Leishmanie: dans les cas oíi ce pouvoir phagocytaire est tròs intenso, elles pré- sentent dans leur corps cellulaire tous les ólóments figurós du sang, à Tétat do maturitó ou non, de la sórie hómoglobinique ainsi que des plaquettes de Bizzozero. Quolquofois les élémonts de la série rouge (spócialoiiient les moins alteres) se trouvent, dans le cytoplasmo des pliagocytes, en- tourós d'un espace clair (vacuolo, ou etlot artificiei do la tixation?), espjice qui n'existe jamais autour de la Leishmanie enfennée dans ce memo corps cellulaire. P'ait remarquable, je n'ai jamais trouvé d'óléments de la sórie granulocyticiue, monocvtique, et lymphocy- tique dans Tintórieur de cos cellules endothélioídes hémo-histioblas- tiques. Dans les mêuios frottis, à côtó des élémonts ci-dessus décrits, il en existe d'autros qui, surtout par leurs caracteres nuclóaires, res- semblent aux monoblastes et aux monocytes, et d'autres encore semblables aux lymphoblastes et aux lymphocytes. ()n y trouve tous los ótats do passago entro la collule endothélioído hémo-his- tioblastiquo et clasmatocytiquo et cos seconds élóments. Nous dirons d'une façon plus preciso que, des cellules endothólioídos hémo-his- tioblastiquos à noyau somblable au monocytoíde et à fin róseau, dórivent les monoblastes et les monocytes; landis quo c'est des autres, cest-à-dire, ""'), outre les autres sé- rios, ou a trouvé la sério graiiulocvtique, et elle ótait autochtouc. Dans los frottis de la pulpe de cette rate, on retrouve, bieii que pou abondautes, toutos les cellules dét-rites par Ferrata et l)ar moi dans la loucémie grauulocvtiquo chronique, c"est-à-dire les eellules hémo-histioblastiques et la série de Icurs derives, neutro- philes, éosiuopliilos et mouoblastes. Les basophilcs luanquent. Aucuu de cos éléments granulocytiqucs ue contient ni la Leish- mauie ni de collules phagocytées. Daus los préparations de coupes microtoraiques j'ai vu ces eel- lules se dis[)Osor encore autour des lacuiios do la pulpo immédiato- ment en dehors de Tendotliélium. Je m'abstiens de plus longs détails sur ces éléments hémo-his- tioblastiques granulocytiquos, déjà longuemout décrits daus la noto susdite que j'ai publió avec Ferrata^, à laquelle sont joiutes de nomhreuses figures. Particularité importante: dans la rato des enfants aíiectés do Leishmaniose je me suis toujours trouvé en présence de la rupturo de la paroi de nombreuses lacunes de la pulpo et conséquemment en présence de Tinvasion dans la pulpo d'un grand nonibro do eellules mon-trant teus les caracteres déjà cites. Co phénomène ex- plique leur présence, que j'ai constate, daus le trone dela veine splénique. Je les ai vues, mais bien raroment, daus lo sang cir- culant, fait díl tròs probabloment h. ce que leur immense majorité a sans doute été retenuo dans les capillaires hépatiquos. II sorait intérossant do rechorchor si ce fait so i)résonto en (Tautres conditious mórbidos oà Ton rencontre des éléments his- tioidos dans le saug circulant, et en particulior dans les leucémies, pour oxpliquer le mecanismo encoro obscur do la ]>résonce de ces éléments du tissu connoctif périvasculaire dans le torrout circulatoiro. CONCLUSIONS 1) Los eellules du retículo do Tiqri et cellos du rétlcule des lolliculos de Malpif/Jd (eellules ondothélidídos) sont dos hérao-liistio- blastes (elasmatocytos) à noyau somblablo au monocytoíde, avec ré- ticulum chromatini(|ue lormó par des filaraonts déliés et serres. Cos collules, dans chacuue des dix rates aflectées do Leishmaniose qui ont fait Fobjet de mes étudos, en so mo])ilisant donnent uaissanco à des collules hémo-histioblastiques de l;i série monocytiquc sans pas- ser par uno phase hémo-cytoblastiquo. J Ari-hivio per le Srienr:e Medirlie, Torino. 1910. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATUKAIS 49 2) Ces cellules endothélioides du róticulum splónique et leurs derives luonocytiques ont toujours uno propriétó phagocytaire acccntuée poiír la Leishmanio et souvont même poar les ólóments ccllulaires, mfirs ou non, de la série hémoglobiaiquo, ainsi que pour los plaquettes de Bizzozero. 3j Les cellules adventices des vaisseaux et quelques-unes de celles qui se trouvent immédiatement à Textérieur des lacunes de la pulpe, soat de véritablos hómo-liistioblastos caractéristiques qui peu- veut donner naissauco à des lyniphocytes hómo-histioblastiques, et quelquefois (1 cas sur 10) à des graiiulocytes acidophiles et neutro- philes, liémo-bistioblastiques. Je ii'ai pas trouvé de cellules hémo- histioblastiques à granulatious basophiles. Tous les ólóments d'origine advontice ont le noyau dit en éjjonge. 4) Les dórivós lympliocytiques hómo-liistioblastiques ont une propriótó phagocj-taire pour la Loishmanie; les granulocytes hé- mo-histioblastiques ne dócòlent pas cette propriótó. 5) Dans les rates ótudióes par moi aucun des endothóliums, soit dos vaisseaux hómatiques et lymphatiques, soit des lacunes de la pulpe, n'avait de pouvoir phagocytaire pour la Leishmanie, ni pour aucun autre ólóment cellulaire. 6) L'entróe dans la veino splónique des hómo-histioblastes du ró- ticulum ou de Tadventicie et de ses dórivós, dont un grand nombre renforment la Leishmanie, se fait par irruption d'une partie des élé- meuts cellulaires au niveau des lacunes de la pulpe, à cause de la rupture fróquente de leurs parois. 7) On rencontre ces mêmes ólóments dans le sang póriphórique, mais en três petit nombre, car la plupart de ceux qui sortent de la rate par la veino splónique sont arrêtós dans les capillaires du foie. J'ótais sur le point de publior cette noto lorsqu'est apparu dans lo fascicule n° 2 du 1"'' volume de ílaemailiologica, le travail de Ferrata et Negreiros Rínaldi: Emoistiohlasti e monociti nella milza malar íca. Tandis que les observations que je viens d'exposer confirment ce fait, que ce sont les cellules hómo-histioblastiques clasmatocytoides qui donnent naissance aux monoblastes et aux monocytes, les rap» ports entre mes próparations par IVottis et celles des pièces inclu- sos ne seraient pas d'accord avec Topinion de ces Auteurs qui admettent que les cellules à noyau en époiige appartiennent au ré- seau; car, ainsi quejeTai dit, je ne les ai vues qu'autour des vais- seaux et des lacunes de la pulpe splónique; pour moi, ces ólóments sont adventiciels ou analogues. Je crois que c'est au róseau qu'appartiennent los coUulos clas- matocytiques hómo-histioblastiques à no3''au constituo par des segmenta chromatiniques dóliós et resserrós, c'est-à-dire à Taspect monocy- toído, cellules qui donnent naissance aux monocytes. 4 50 JOliXAL DE SCI^XCUS D'aprè8 mes observations je crois acceptable lopinion de Fer- rata et Negreiros fíinaldi, (VaprhH laquello, dans le processus do matiiratioa des éléments do la sério monocy tique héiiio histioblas- tique, le phónomène do la clasmatoso jouc également un rOlo im- portant. Lisbonne, Mai 1920. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 5X STUDI SULIxE IxEISHMAKIOSI LEISHMANIOSI YISCERâLE DELL'áDULTO (KALA AZAR) PROF. ENRICO EMÍLIO FRANCO Dirottore cTell'Istituto ili Patologia Generalo e di Anatomia Patológica doirUniversitá cli Lisbona Fino ad oggl in Portogallo la Leislimaniosi viscerale delFadulto (Kala Azar) non era mai stata registrata nella letteratiira. Devo alia grande cortesia dei Prof. Bello Moraes e dei Dr. Roma, suo assistente, delia 2* Clinica Medica di questa Facoltá, Taver potuto studiarno il primo esemplare. II confronto di questo caso con quelli ormai numorosi di Leishmaniosi infantile autoctoni por- toghesi, e con uno di Leishmaniosi cutaneo-mucosa di provenienza brasiliana, clie han fatto oggetto di parecchie mie pubblicazioni, mi lia dato interessanti risultati, si che, mentre mi propongo di conti- nuarne Fosservazione, mi sembra opportuno riferirne fin d'ora, fa- cendone oggetto di una nota preliminare. Si tratta di un negro, J. M., ventiquattrenne, nativo di Moz^m- bico, di professione conduttore di motocicletta. Portato a Lisbona due anni dopo la nascita, non usei mai piú dal Portogallo. Visse in molte regioni dei paese ; due anni or sono^ rimase per una sessan- tina di giorni a Stombar, nelFAlgarve. É strenuo bovitoro. Sei anni fa centrasse sifilide, che pare sia stata curata con energia ; ciò non estante la reazione di Wassermann fu fortemente positiva. Softre di violente emorragie nasali, vescicali, rettali. Debolissimo, ha febbro irregolare, remittente ai mattino, la quale neirultima settimana toccó un massimo di 39°, õ, discendendo a un mínimo di 36,8. Le note soraatiche piú evidenti sono : ane- mia delle mucose, notevole idrope ascite; splenomegalia delia quale imputa, come causa, un grave trauma riportato tre anni fa, cadendo dalla motocicletta in corsa, nello regioni deiripocondrio e dei fianco sinistri : la milza discende 8 cm. sotto Tarco costale, sulla emicla- veare. Epatomegalia : il viscero sporge 5 cm. dalFarco costale, sulla emiclaveare. Balanite ulcerosa e fimosi. Le urine hanno densitá 1021 a 15". Vestigi di serina, abbon- dante globuliua. Urea 34,44 gr. per litro ; cloruri 2,10 per mille. Prescnza di scatolo, di sali biliari e di urobilina. Nel sedimento, cel- Ò2 JOKNAL DE iSClENClAS lulo renali, cilindri ialini ed omazic, conscrvatc o in distnizione. La diaguosi di Leishmaniosi ó stata fatta in seguito alFaversi scoperto nel sangue periférico, che si esaniinava per ricercarvi enventuali parassiti delia malária, i corpi di Leishman (Dr. SanV Anna). Due esami dei sangue periférico, prelevato a digiuno, hanno dato : Emoglobína (Saltli-doicers) . . . Eritrociti (Thoma-Zeiss) . . . . Valore globularc Elemeuti nucleati {Thoma-Zeiss) Resistenza fflobularo Dicembre 1021 12 Ulcembrc 19:.'l 14 7o iO»o 2.yõ().()ou 2.600.00 0.70 0.72 10.150 6.800 Norinalc - Le rispettive formule citologiclie collo perceiítuali furouo le seguentí : 9 Ulci-iubru 1021 12 Dicombro 1021 Emoistjoblasti 0.60 - Emocitobla&ti - 0.60 Mieloblasti proncutrotíli . . ' . . - l.(X) Proraielociti neiítrofili — 1.80 Mielociti ncutrofili — - Metaraielociti neutrofili 2.3;> 2.80 Monoblasti 1.09 1.00 Linfoblasti 2.83 3.40 Granulociti bsofili - 0,10 » acidofili - — » neutrofili 18.33 18-40 Monociti 6Õ0 11.80 Linfociíi 66.60 33.80 Linfociti loucocitoidi con grannla- zioni azzurrofile 0.16 0.20 Proeritroblasti 0.16 1.00 Normoeritroblasti basofili - 0.40 » policroriiatici . . 1.66 1.40 » ortocromatici . . 0.33 — » ortocromatici con granulazioni basofile 0.60 0.60 Emazie : parecchie con granulazioni basofile. Parecchie con granula- Vi é anisocitosi e policromatofilia. zioni basofile. Vi 6 anisoci- tosi e policromatofilia. Piastrine : pochc, graudi, qualcuna gigantesca. Poche, grandi, qualcuua gigantesca. Cellule di fíied^r - 0.20 Cellule di Tikrk - - Plasmazelleu - 0.20 Su 600 clementi nucleati contati si trovo un Su 6(K) clcmenti nuclea- olementoattribuibilp, per i suoicarattcri, alie cel- ti contati si trovarono 4 liile reticolo endoleliali delia milza: esse conte- monociti, 1 monoblasta, 2 neva 8 Leishmanie. linfociti el granulocito 10 elemenli nueii*ati di .specic differenti (3gra- neutrófilo confencnti cia- nulociti neutrofili, 3 linfociti, 3 monociti e la cel- scuno una Leishmania. lula splenica suddetta), cranoparassitifere; con- tivkcvano da 1 a 8 Lcislimanie. 8i vide anche una Leishmania libera. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E XATUKAIS 53 In ambedue gli esami dei sangue periférico si notarono nume- rosi monociti fagocitanti omazie. Gli esami con colorazioni vitali allestite col Brillant-Cresylblau- Sudan III, secondo Cesaris Demel, misero in evidenza molte ema- zie cou granulazioni e íilameuti basofili. Nessun leucócito suda- nofilo. Fu eseguita una puntura aspiraírice delia milza Nel sueco si son trovati i seguenti elemenli cellularí : ESAJME A FRESCO : (Brillant-Cresylblau-Sudaii III). Molte emazie con granulazioni o íilamenti basofili. Assenza di elementi con goccie colorabili col Sudan. ESAME A SECCo : gli elementi che si trovano in questi strisci sono i seguenti: Cellule primordlali. a) Emoistiohlasti. Debbono come tali considerarsi le cellule dei reticoli splenici, a núcleo monocitoide. Esse sono abbondanti ed hanno i caratteri delle analoghe viste nelle milze dei bambini lei- shmaniosici. Única diíFerenja ó che il loro citoplasma si colora co- stantemente col Ma//-Grunwald-Giemsa, in bleu chiaro poço intenso. Questi elementi hanno proprietá fagocitarie molto spiccate verso le Leishmanie, lo quali si possono trovare dentro ai loro corpo anche in numero assai notevolo (fino a 40) ; talvolta fagocitano, ancha, emazie mature o linfociti. Da questi emoistiohlasti derivano monociti che sono molto nu- merosi e che coaservano le proprietá fagocitarie deUe cellule loro progenitrici. h) Emocitohlasti : non ne ho ^âsto. Serie emofjlobinica : Molti eHtrohlasti basofili ; molti normohlasti basoúU e poUcroma- iici; parecchi ortocromatici, di cui alcuni con granulazioni basófilo. Si puó assistere spesso alia uscita dei núcleo, divenuto picnotico, dai normoblasti basofili ; se ne trovano alcuni alterati, senza traccia di núcleo ; molte emazie sono policromatofile. Nei preparati si vedono sovente frammenti di citoplasma in- tensamente basófilo, provenienti da eritroblasti basofili. Serie biancJie: Dei monociti si é detto. Serie granulocitiche acidofla e basoflla assenti. Delia neutro- Jila vi è soltanto qualche mielocita; rari i metamielociti. I granidociti neutrojili sono pochi. JJnfoblasti e linfociti non molto numerosi. Earissime Plasmazellen. Megacariociti, cellule tipo Rieder e Tdrk assenti. Piastrine pocho e normali; raramente si trovano «placche di piastrine». Cellule pigmentifere e pigmento libero assenti. 54 JORNAL DE SCIÉXCIAS Cellule para ssiti fere. Oltro alie ceUule dei rettcoli gplenici di cui si ó parlato (v. emoistioblasti), e ai monocití da essi dcrivati, ho visto Loishmaaie dentro a qualche metamíeiocito o grannlocito neutrófilo; in qiiosti elementi i parassiti arrivano ai numero luas- simo di ríiiiquo uella stossa cellula. Noi granulociti le Leishmanio sono molto peggio conservatc che nei monociti. SecTOziono delia lesione dei glande : si vedouo poche cellule dei tessuto, alterate, qualcho linfocito e granulocito e moltissime omazie. Fra questi elementi sta una enorrne e variata flora batte- rica nella qiiale spiccano inuumerevoli spironomi e abljondanti e caratteristici bacilli fusiformi di Vincent. Por pareccliio regioui questo caso é interessante. Prima di tutto percho, come si disso, é il primo registrato in Portogallo di Leishmaniosi viscerale in adulto. Autoctona? Non lo si puu affermare con sicurezza perche il paziente non ó nato qui : ma considerando che, portatovi a due anni di ctá, non si é piú moseo dal paese, riesce alquanto difiicile ad aiymettersi che la malattia duri da ben ventidue anni. Si potrebbe, peró, pensare che, iuíettatosi a Mozambico, il parassita sia rimasto latente nella milza e che il trauma violento, riportato tre anni or sono nella regiono splenica, abbia creato nella milza condizioni tali da permetterc alia Leishma- nia di svilupparsi. Se non si vuol ammettere Torigino africana dei parassita, bi- sogna concludere che il soggotto si ò infettato in Portogallo : forse neirAlgarve, dove é prcsuuiibilo si trovino malattie tropicali, come la recentemente scoperta Bilharziosi. Non è impossibilo che una in- chiosta che si facesso cola portasse alia luco altri casi di Loisliraa- niosi viscerale degli adulti; come casi autoctoni, iinora ignorati, di altre aftezioni, cutâneo e cutaneo-mucose, dovuto alie Lcishmanie. Quanto airepatomegalia, non si puó affatto decidere se si tratti di una di quelle frequcnti cirrosi da parassiti di Leishman, uollo atadio ipertrofico, oppure se si abbia da fare con una cpatomegalia di ori- gino alcoólica o dovuta alia spirocheta palllda o di altra origino. Una puntura esplorativa dei fegato verrá eseguita appena sara pos- sibile; peró ancho se si troveranno, como ó molto probabile, le Leishmanio ia elementi o endoteliali o glandolari dol fegato, non si potra decidere, da questo solo fatto, clio la causa delia cpatome- galia dehba ricercarsi nel Protozoo. Una piíi esatta idoa si potrebbe avere dallo esame anatomo-patologico, in caso dl morte delramma- lato; ma íorso nommeno quollo sarebbe decisivo in prosenza di un in- dividuo la cui auamnosi ó cosi ricca di avvenimenti morbosi divorsi. Non si può dare troppa importanza alia constatata i)resenza delia Leishmania nel sangue circolarito, per mezzo delia quale si é fatta la diagnosi, perche la letteratura ó ricchissima di casi di questo género e di casi nei quali il parassita ct*a, anzi, nel sangue ]>erife- rico, abbondante. Vi sono A.A. che asseriscono essore assai fro- ([uonte il rinvenire il Protozoo ancho nel sanguo perlfetico dei bam- MATEMÁTICAS, t^íSÍÒAS E ÍIÁTUKAIS Õ5 bini Leiãhmaniosici. A dir la veritá in questl io lo vidi assai pocbe Volte, almeiío nei casi studiati qtii in Portogallo. Viceversa, una gran difterenza tra la Leishmaniosi deiradulto* c quella dei bambini esiste circa la sede citologica delle Leishmanie. Metitr0 nella seconda io, che ne ho studiato altlieno venti casij ffâ pubblicati e inediti, tion ho trovato la Leishmania che in èlementi emolstloblastici e nei monociti dcrivanti da essi, in que8t'nomo la vidi non solo negli emoistioblasti splenici (cellule reticolo-endoteliali) ma anche in granulociti, linfociti ed elemetiti maturl ed immattiri delia serie granulocitica neutrolila. Di molto notevole, inoltre, nella citologia dei sangue circolante, un certo íiumero di monociti inglo- banti globuli rossi : monociti che probabilmente derivano dalle cel- lule reticolo-endoteliali delia milza e che conservano Tattitudine fa- gocitica delle stesse. Una analogia fra la Leishmaniosi dei bambini e quella dei caso in discorso é data, invece, dal reperto delia simbiosi fuso-spiril- lare trovata sia nella lesione dei glande di quest'ultimo, sia in le- sioni necrótico -ulcer ative delia bocca di bambini Leishmaniosici. Per quanto si sappia che tal reperto puó essere presente nelle comuni forme di balaniti, puré si puó pensare di essere di fronte ai mede- simo fenómeno, cioé che si tratti di una di quelle lesioni necrotico- ulcerativo delle mucose, frequonti negli individui cachettici e pro- fondamente anemici, lesioni che, con ogui probabilitá, si devono alI'azione patogena acquistata da microorganismi saprofiti che vege- tano simbioticamente su tessuti la cui rosistenza ó diminaita dalFin- fezione. Quanto ai reperto dei sueco splenico, si assiste alio stesso im- portante fatto costante nella Lmshmaníosi infantile: il vivace risve- glio ematopoietico delia milza : forte eritropoiesi, ma scarissima leu- copoiesi. Per di piú, vi é la presenza, sia nei sueco splenico che nei sangue circolante, di emazie con granulazioni basofile. il che sta a dimostrare una maturazione atípica degli eritrociti, una maturazione a tipo embrionale, ció che conferisce alia anemia uno spiccato ca- rattere di gravita. E anche per questo caso, come per quellí delia Leishmaniosi in- íantile, é da chiedersi come mai con questa intensa eritropoiesi sple- nica e colla mancanza di emocateresi spiccata (non vidi, como si disse, cellule pigmentifere né pigmento libero) vi sia uno stato ane- mico cosi notevole. Una ragione potrebbe essere costituita da una impossibilita di maturarsi di una gran parte degli elementi delia se- rie eritrocitica : ma lascio questo alio stato di pura ipotesi, perche non ho, íinora, prove che lo suíiraghino. Come in molti casi di Leishmaniosi infantile, anche in questa deiradulto, manca, nella milza, la produzione di elementi eosinofili. E vi è il fenómeno, osservato anche nella Leishmaniosi infantile, delia piastrinopenia e delia comparsa in circolo di piastrine molto grandi e di alcune addirittura gigantesche. Né manca, anzi é spic- cata, la linfocitosi. 56 JOUXAL DK SCIÉNCIAS 11 tipo delia febbre é quollo delia Leishmuniosi infantile. Diffieile é dire íin d'ora da che cosa derivi la iiefrite in corso; per essa valgono le stesso ragioui dotte circa repatoinogalia. Io mi limito per adesso a queste poche cose che formano una semplico nota preliminare. Spero che le osservazioni ulteriori su qaesto soggetto, ed evoíitiialmonte su altri adulli aíiétti da Kala Azar, mi portiiio a piú complete considerazioni e conclusioni, come ])ure ad uu giudizio porsonalo suUa identità o uon identitá fra Lei- shmaniosi deiruomo adulto e quella dei barabini. Lisbona, 15 Dicombro 1921. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 57 (jDELQDES OBSERYATIONS SUR L BILHARZIOSE À «SCHISTOSOMAHAEMATOBIUM» CARLOS FRASCA N.ituraliste dii Aíiisée Bocage (Faculte dcs Sciences) Dans uno noto prcliininaire présentée à la Roí/al Socief// of Tropical Medicine^, et dans une thèse de doctorat^, qui doit parai- tve bientôt, ont ótó exposós les faits que sur la Bilharzioso au Por- tugal furont acquis pendant les móis de Aoút à Novembro 1921. L'liivor ayant empêchó de continaer cos recherches nous avons pris la résoliition de présenter sans retard le résultat do quelques-unes de nos observations. On n'a trouvé, jusqu'aujourd'hui, la Bilharziose au Portugal que dans la province sud du pays, Algarve, et dans une région tròs limitée, Santa Luzia, prrs de Tavira. Jusqu';i présent ou n'a r(mcontró des cas de Bilharziose que chez dos femmes. Tontos cos malades ótaient des lavandiòres qui, pendant 1'óté, travaillaiont dans ano potite maré, Pego de Atalaia, qui reçoit une oau thormale, dont la tempórature est de 25" à 26''. L'aspoct clinique des cas portugais est le classique. L'examen cystoscopique de trois dos malades a montró qu'(^lles avaient des ulcérations plus ou moins extensivos, plus accentuées dans le domo de la vessio. Comme dans le Pego de Atalaia on lave le linge de THôpital et comme au Portugal, à cause du serviço des colonies, les cas de Bilharzioso importes sont fréquents, on doit supposer que la maré ffit infoctée par des individus porteurs de Bilharziose africaine. L'habitude qu'ont cos femmes d'entrer, nues jusqu'à TainO;, dans Teau et d'y uriner tandis qu'elles travaillent, explique les in, foctions ultérieures et Finfestation massivo de Toau. 1 C. França, A Prellminaru Note on Bilharziosis indigenous in Portugal. ~ Machado de ^"Almeida, A Bilharzioze - endémica em Portugal. Tese de doutoramento. Lisboa. 58 JíUiXAL DE .SCIENCIAS Dans lo Pego de Atalaia existont dos Planorhís corneua metí- djensis et dos PJiysa acuta. Souls los Planorhis exorcent une vivo attraction sur les miracldia qui pénrtrent activeinent dans lo mol- lusqiio *. Daus Tétudo do la Bilharziose on trouvo encoro bien dos points obsciirs et do nouvellcs investigations s'iiiiposont. Dans dos netos suecessives nous oxposorons le résaltat do nos rochorches. Le traitement par Témétique Lo traitement par les injections intra-veineusos d'émétique, in- trodiiit dans la thérapeutiquo do la Bilharziose par Mac-Donagh et tròs bion étudió par Ohristopliorsoa ^, a non seiílomont une action sur los lósions vósicab^s, mais produit surtout dos rósultats tròs im- portants dans la prophylaxie de la maladie. En eftbt los oiufs émis dans les urines dos individus traitós deviennont insusceptibles de donner dos miracidia. D'apr('s Christophorson le traitement paraít agir on doux temps : d'abord (parfois dòs lo 4*^ jour) Tabseiico (macroscopique) du sang dans Furine ; après (14° jour j Turine devient claire, exempte de sang, et les ceufs óliminés devionnent incapablos de se dóvelopper. Christophorson et Nowloye pensent que les vers adultes, qui 80 trouvoDt dans lo systòme do la veine-porto, sont d'abord et rapi- demont détruits, mais qu'il faut uno action prolongée de Tómótiquo poiír quo les (Bufs soiout toncbós. Plus tard Christopherson - iosiste de nouveau dans Tassertion que le ver adulte est attaqué d'abord, et il admot que la mombrane ovulairo est perméablo à rénicHiquo^ et quo Tombryon inclua est tuó alors quo Tanif ost dóposó dans los parois des tissus. II nous a sombló intórrssant do faire Tétude des oiufs, pendant le traitement, pour vórilior le mócbanisme de Taction de Témótique et pour voir si Texamon do Tarino pouvait nous fournir un critórium sur los doses nóc Oo-.Lf )6lf ZJ .!^o\!irr\t 7 'O Pourcentage des leufs ayan* plus de 130 ;a- (Cas Thérèse) En ordonnées les nombros du pourcentage, en absci8ses les jours du móis : 5. X — Ponrcentage normale. 6.x — Debut du traitement. IC. X — CEufá aboudants. Miraciãia -f-, 37. X — (Eiifs rares Miraciãia -f-._Émétiquc inject., 0'J''.19. 27. X — CEufs raies. Miraciãia 0. Émé tique injectée, <'8'',25. 1. XI — ODufs três rares, deformes. Miraciãia «. Émétique, 0S^32. 7. XI — Oiufs abondants, deformes. Miraciãia 0. Kmétique, Oy.dS. 10. XI — CEufs abondants, deformes. Miraciãia 0. Émétique, 0ê'',51. Fig. IV — Formo des oeufs de «S. haematoblum i A. CF.uf normal. Hemarquer les graimlatioiís d'excrótion datis l'Gxtróniitó poslóriouro (poii) pxorétciir) de rerabryon «t dana une région" óqaatoriale, oii il ost dcpourvu de cils. B, C et V, oeufs dófovmós, nains et ratatinós, on oonaéquenco dii traitomeat. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 61 En ofiftít cos oeufs sont cvidemiueut arrêtós daas leiír dévelop- pemeiít. Leurs dinieiisions sont im pou supérieures à celles des oeafs quVjn trouve daas Tootype, c'cst-à-dire, quand ils vienuont de rocevoir de la glande coquilliòre la substance qui constitue la coque. Comme les oeuís aiigmentout de dimonsions pendant leur excur- sion dans les tissus, rexplication doit être bien plus simplo. L'ómétiquo doit tuer d'abord les parasites et leurs oeufs se trou- vant encoro dans les veines et,. plus tardivement, il ataque ceux qui sont déjà dans les tissus. On comnieaco dono par voir dans les uri- nes les oeufs plus avanços dans leur évolution et à embryons encore vivants, c'est-à-dir0 ceux qui se troavaiont plus prés de la surface des érosions quand le triíitement a commencé. Plus tard on ne trouve plus dans le sédiment urinaire que les oeufs qui étaient situes dans les couchos plus proiondes, ceux que réraétique a arrêté dans leur développoment. Finalement, quelque temps apròs, paraissent des oeufs ratati- nós, des oeufs dont Tembryon est mort depuis longtemps*. Christopherson pouvait donc conclure que Tantimoine non seu- lenient détruit le parasite in sitii mais pouvait tuer les embryons des oeufs, et stériliser ceux-ci de telle sorte que le sujet serait guéri de la bilharziose et cesserait d'être un porteur de Bílharzia capable de propager le mal. Pendant longtemps après la mort des parasites et de leurs oeufs, le malade traité par rémótique, par la méthode de Christo- pherson, peut expulser des oeufs, mais ce sont des oeufs morts que le malade elimine dans 1' urine. La cure clinique est bien plus tardive, et ceei est bien facile de comprendre, car les tissus doivent expulser ces oeafs morts et il faut du temps pour réparer les lésions destructives de la Bilhar- ziose. Dans une obsérration de Beaujan^ le malade a conservo les urines sanglantes pendant longtemps bien que, sclon cet auteur, on n'aperçut plus dans le sédiment les oeufs du parasite. Dans trois des cas des Drs. Bastos Lopes et Machado de Al- meida Texamen cj^-stoscopique a montré que les malados avaícnt des érosions dans la muqueuse vésicale, bien que les (Bufs, déjà rares, fussent morts depuis longtemps. Le seul critérium pour arrêter lo traitement par Témétique consiste dans Texamen soigneux du sédiment, non pas pour y cher- 1 Chez une des malades du Dr. Machado de Almeida au bout de õ injec- tions (Os'",32) les oeufs ratatinés comraençaint à paraitre, et chez une autre, quand elle avait reçu Os',61 (14« injection), on ne trouvait gucre que des oeufs ratatinés et des coques vides. 2 R. Baujean, «Traitement des Bilharzioses intestinale et vésicale, par réraétique en injectionsintra-veineuses», ia Bulletin de la Société de Pathologie Exotique, 11 Mai 1921. 02 JOKNAL DE SCIÊNCIAS fher dos hématios. mais p^iir ótudiíT lótat des ufs et iaisant ainsi cesser les produits du metabolismo embryonnairo et leurs sécré- tions, arrote la destruction dos tissus et permet la giiérison cliniqii(> bien [)lus tardivo, il laut ne pas Toublior, que retioiatrie, que I guérison de l'ÍJiíection. Collares, Dócembre 192L P. S. — Après avoii' envoyé cette note à la typographie nuu> avons eu Toccasiou de faire Tovométrie d'un cas ancien. L'histoirc do CO cas est interessante car oUe nous permet de lixer la date d<' Finfoction et démontro que le traitement par rémótique ost tout à lait iuiitilo quand on emploi des doses insuffisantes. En iiiars 1915, pondant la campagne contre les allemands. Ic bataillou d'iiilanterio auquel appartoiiait le Dr. M. campait íi Chibia, potit village situe sur le fleuve Chinchij>onini. tributaire du Cacolo- ' Uu graiid nonibrc d'uutcurs soiitioiít encore aiijuuríriuii ri<16e ]tin'TÍl quo le petit éperoii dcR <«ufs 8. haeinatoliium (il a tout au jthis 7 ia) perforo 1 paroi (los capillaires oíi ils sont arrctrs. 2 Maiuicc Lctulli.', «Hilharziosií urinairo clu-z uii iiègre du Congo. Modc- dc dissfiniination des lÓBions ])aiasifaircá», in IhiUftin de la Société de Pu- t')olof/ie Exolique, n, l'J()8. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E XATURAIS 63 var, affluoiit du Cuuoue. Le Dr. M. qiii so baignait fró({ueraiiient dans lo íiouve a eu, quelques jours apròs, de la fièvre, de larges plaques prurigineuses d'urticaire et des accès de toux. Malgró ses soutlran- ces il a inarclié vers le sud, avec son bataillon, vers Ganibos, et pris part h Focapatioii do la régiou du Cuanliama. Envirou deux móis après avoir étó infecte le Dr. ^I. avait des bóiuaturies, diarrbée sanguinolento et un grand affaiblissement. Kepatrié, le Dr. M. est venu me trouver vers le milieu de 1916. L'examen do Turine ot dos foces m'a montré des a3ufs do S. haema- iohiam. En 1919 il a étó traitó par rómétiquo en injections endoveineu- ses de la façon suivante : 20 V 1919 Oe'-,01 d'émótíque 29 V » 0^"-,025 3 VI )) 08^04 » 11 VI » 0^'',0õ » 16 VI » 0«'",0õ » 24 VI » OK^Oõ Les grandes perturbatious causées par Fémétique out force lo Dr. M. àr eesser lo traitement malgré la porsistance dos symptomes. Un móis après la fin du traitement le Dr. M. présentait de nouveau des hématuries. En 1920, nouvelle série d'iujections comme suit : 7 I 1920 0,«'01 d'émóíiquo 13 I )) O^SOlõ 23 I » 0^'-,02 » 28 I y> 08'-,025 » 4 II D O^^OS » Le malade suspend le traitement encore une fois. Le sédimeut de Turine émise en janvier 1922 montre la pré- sence de tròs nombreux auifs de 8. haematohiam. La courbe de fréquenco des longueurs des anifs de co cas, quoi- que maintenant ses interessantes carectéristiques S subit un dépla- cemeut vers les dimensions inférioures à 133 u.. Ce pourcentago plus ólévó des oeufs de petites dimensions, mais donnant des miracidia, doit être en rapport avec la vieillesse des parasites et il nous montre que, i)0ur chaque cas, on doit construire la courbe do fréquenco avaut de commencer le traitement. 1 Nous douaerons ccttc courbe dans notre pi-ocljainu note sur Toíur et Tunibryoii de tS. haemaíobium. 64 JORNAL DE 8CIÊNCIAS En momo temps co cas nuut; dómontre que rémétiquo qiiand il est employó en iloses iusnffisantos ([tetites doses et injections assez espacées) ue donno le inoindre rósultat. II faut employor, comme Obristophersoii Ta établit, des doses de i)lus en plus fortes, de CF,02 à C>'',10, tous les deux jours, de sorte à injecter une doso totale de O^^G à 1 grammo. Seul roxanion du sédimont peut nous orientor sur la dose sutiisante, qui doit varier sclon les cas. Janvier 1022. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 65 OBSERYATIONS SOR U BILHARZIOSE A «SCHISTOSOMA HAEMAT0B1UM>> II Atlraction miracidienne exerce par quelques moUusques de la faune portugaise PAH CARLOS FRANÇA et MACHADO DE ALMEIDA Dans les recherchos sur les hôtes invertébrés des Schistosoma la vérification, sons le microscope, de rattraction que les dift'éren- tes espèces de molhisques indigènes exercent sur les miracidia que vienneiit d'éclore, jouo un role três important. De telles recherches faites par Miayri (1913) pour S.japoni- cum, par I^^eiper (1915) pour S. haematohium et par Lutz (1919) pour S. Mansoni leur ont lourni des iudications précieuses que les observations ultérieures n'ont fait que coníirmer. Seuls les moUus- ques hôtes des Schistosoma semblent exercer une action attractive éuergique et constante sur les miracidia. Quaud on joint do Teau à un sédiment oà les a^ufs de Schisto- soma sont abondants on voit, en quelques minutes, les miracidia nager en tous les sons. Si on place alors dans cette oau un mollusque qui u'exerce au- cune attraction sur les miracidia on voit ceux-ci continuer à se dé- placcr saus s'arrêter prés de lui. Si, au contraire, lo mollusque exerce une action chimiotactique sur les embryons du Schistosoma on voit, quelques minutes après (15 à 25), ceux-ci s'agglomérer autour du gastéropode et de telle sorte qu'il est rare de les trouver dans les endroits éloigaés de celui-ci. Ce pbénomòQe est d'une démonstration aussi facilo qu'élégante (|uand, dans lo môme cristallisoir ou les miracidia abondent, on place à une certaine distance Tun de Tautre deux mollusques : un apparte- uant à Tespèce hôte, Tautre ótant une espêce indifférente '. Au bout 1 On doit préalablement maintenir séparées les diíferéntes espèces à ex- périmenter. Lutz suppose que le coutact entre des espèces attractives etindilié- rentes peut agir de sorte à rendre les dernières susceptlbles d'exereer une cer- taine attraction. 66 JORNAL DE SCIÊNCIAS de quelquo temps on vórifie que les miracÀdia sont ng<ílomóri'S au- tour dii premier raollus(|iio et on ne voit pas des oxempíaires autour du second. Ces faits sont drjà assez importants. mais lour valeur auginento quaud on assisto ;i la ptnKHration dos mh^acidia daus lo moílusquo on question. Nous avons ('tndió, vors la fin do Septembre ot à la torapóratore tlu laboratoiro, Taítraction exorcó sur les miracldia do *S'. haenuito- bium par los moUusquos suivants appartenant à la fauno aquicolo portugaise: Planorhis albus (MilUor). P. crista (Linn.). P. corneus (Linn. i, var. metidjensis Forhes '. Physa acnta (Draparnaudj. Límnaea peregra (Muller). Malgré de nombreuses recherches dans los eaux do la localitó infectéo nous y avons trouvé senlemont doux do ces ospòces — Pla- norhis metidjensis et Ph/jsa acuta. II était donc naturel de supposer qu'uno d'olles fut Fhôte invertébró de la Bilharziose. Nous avons vu, en effet, que Tattraction sur les miracidia est exorcée d'une forme constante par P. corneus et, exceptionelloment, par P. albus. Les autres gastéropodes n'oxercent laplus lógère attra- ction. Quelques minutes apròs Tintroduction du P. corneus metidjensis dans le récipient oíi nagent les miracidia on assiste à un spectacle intéressant. Les miracidia, qui tout d'abord passaient par lo mollusque en course vertiginouso, coniniencent à s'arrôter prés de lui, de sorte quo, dans quelquc tenips, c'est soulement autour du Planorhis qu'ils s'agglomòrent. F.nsuite on voit quolques-uns de ces embryons os- sayant de pénétrer dans le bord du manteau, dans la partie anté- rieure de la tête. dans los branchies, et plus raremont dans los an- tonnos. Dans leurs tentativos do pénétration ils font d'abord un raouvemont de rotation et de translation. Jls appuient lour extrcmitó céphalique sur les téguments du mollusque et se déplacent on décri- vant des cercles avec rextrémité caudale. Lour mouvement rapelle celui d'une toupio. Quand ils ont attoint Tondroit oii ils doivent pénétrer le mou- vement do translation cesse, et lo miracidium, dont le corps dovicnt perpondiculairo au tégument du mollusque, décrit de vifs mouve- ments de rotation, comme ceux d'une vrille. La pénétration dans les téguments est difficile, elle exige beaa- coup de temps et d'efForts. Quand le miracidium réussit. on voit la 1 Augusto N()l)re. malacologisto portugais, «laus son travail ^Folusco$ de Fortuyal, Lisboa 11)13, démontrc qu'au Portugal il rfoxiste pas rcsptce type et HfiiícmcMt ci'ttc vari<''té, dont l'li;ibitat est la prninsul»' ibi''riqnc et rAlp^/iru*. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 67 partie antórieure du corps dísparaítre graduellement dans Tépais- seur des tégaments. On assiste, quelquefois, à la pénétration simultanée de plusieurs embryons du Schistosoma dans une même région du gastóropode. De tous les autres moUusques chez lesquels nous avons étudió Taction attractive sur les miracidia un aeul, Planorbis albus, a mon- tra ce pouvoir d'attraction. Le fait est intéressant parce que E. Roubaud, dans ses essais d'infestation expérimentale *, a pu vérifier Fatíraction et des tentatives de pénétration seulement avecP. albus (2 exemplaires sur 11), et nous avons également vérifié Tatíraetion exceptionelle de cette même espèce (1 sur 60). Ceei montre que quelques individus de Planorbis albus peuvent, comme particularité individuelle, servir à la pénétration des mira- cidia et constituer, peut-ôtre, le point de départ d'une souche de Schistosoma pouvant évolutionnor chez P. albus. Nos recherches nous portent à la conclusion que des espèces de mollusques plus vulgaires dans les eaux portugaises le Planorbis corneus metidjensis est cehii qui réalise les conditions d'attraction lui permettant d'être Thôte du S. haematobium. Le P. albus pourra aussi, peut-être, devenir en Europa un hôte du S. haematobium. Un grand nombre de P. metidjensis meurent dans les jours qui suivent la pénétration miraeldienne. Leur corps prend une teinte foucée, la coulour rougeâtre, qu'il8 doivent à la richesse de leur saug en hómoglobine, est substituée par une coloration brunâtre. En même temps les mouvements des animaux deviennent três lents et ils restent immobiles pendant si longtemps qu'on les croit morts. Quelques-uns des Planorbis ayant servi à nos expériences sont morts avec un enorme oedènie du cou. II n'v a aucun doute qu'un grand nombro de mollusques est victime de Finícction rairacidienne dans les premiòres étapes de celle^ci. Dans les infections expérimentales, comme on les pratique habi- tuelleraènt, les mollusques sont d'ordinaire envahis par une enorme quantité de miracidia qui les victimont. Pour obtenir Tévolution chez le moUusque on doit réduire, le plus possible, le nombre des larves de Schistosoma. Les recherches faites par un de nous et par le personnel du Muséum, pendant le móis de Aoút, dans le marais que nous avions bonnes raisons de supposer être le point do départ de Tinfection, ne nous a periuis d'y obtonir que des Physa vivantes et de três nom- breux Planorbis corneus tous morts. 1 E. Roubaud, «Recherches sur la transm ission de la Bilharziose en France fEssais d'infection des mollusques autochotoncs», ia BuUetin de la Sociélé P atJiologique Exotiqus, t. xi, n." 10, 1918. 08 JORNAL DE SCIÊNCIAS Pour obtcnii* des exemplaires de Planorhis vivants oii a dú les clierciier dans dos étangs qui reçoiveut de Toau de Pêara indicar «pie não lij^o a '"sse símbolo nenliiuna idea de grandeza. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 73 Se dOiS conjantos (A) e (B) nrio têm a mesma potência, mas (A) é equivalente a uma pdrte de (B), diz-se que a potência de (B) é superior à de {A), ou que a potência de (A) é inferior à de (B). 5. — A noeâo de jjotência, fundamental na teoria dos conjuntos, apresenta-se, como se acaba de ver, com um carácter de relativi- dade. Cantor, que a introduziu na sciência, procurou, todavia, defi- ni-la independentemente da comparação de dois conjuntos. Sob uma forma simples podo dizer-se que a potência dum con- junto é o conceito que ele surjere à nossa razão quando abstraímos da natureza e da disposição dos seus elementos. Esta definição, aplicada a um conjunto finito, faz coincidira noção de potência com a do número dos elementos que o consti- tuem, pois é na verdade a única cousa que pode interessar, quando se abstrai da natureza dos elementos do conjunto e da ordem por que estão dispostos. E não há dúvida que dois conjuntos finitos com igual número de elementos têm a mesma potência, embo^-a se dê a esta palavra a sua acepção anterior, pois que é sempre possí- vel estabelecer entro os elementos dum e doutro uma correspon- dência perfeita. Daqui vem, o tomar Cantor como sinónimas as designações de jjòtência e número cardinal. Aplicada, porém, a um conjunto infinito, aquela definição perde muito da sua clareza. Aásim, por exemplo, dois conjuntos finitos, um dos quais seja constituído só com parto dos elementos do outro, não têm a mesma potência, visto não serem formados de elementos em número igual. Ora, tratando-se de conjuntos infinitos, pode sucedor que um deles seja constituído só com elementos tirados do outro, e tenham ambos, apesar disso, a mesma potência. E o que se reconhece comparando o conjunto (2) com o dos números pares 2, 4, 6. ... n, ...," que é formado com parte dos elementos do primeiro. Há, evidente- mente, uma correspondência unívoca e recíproca entre os elemen- tos dum e doutro, donde se segue que, não obstante aquala cir- cunstância, são de facto equivalentes. O mesmo se reconhece numa infinidade doutros exemplos, tais como os que proporcionam os conjuntos compreendidos uns expres- sões onerais ou i , 2m\, ' '3 w , . . , nm em que m designa qualquer número inteiro e positivo. Todos eles são formados com parte dos elementos de (2) e, apesar disso, têm todos a mesma potência que êle. 74 JORNAL DE SCLÊNCUS § 6. — Depois dos conjuntos finitos, os mais simples são os con- juntos numeráveis. Cliamam-se conjuntos com a potência do numerável, ou, mais simplesmente, conjuntos numeráveis, os que têm a mesma potência que o conjunto (2) dos números inteiros. São, portanto, conjuntos cujos elementos se podem numerar, visto corresponder a cada um deles um número inteiro determinado. Esses elementos s^o, conse- guintemente. susceptíveis de se distinguirem por índices, e de se disporem numa sucessão ilimitada (1), análoga à dos números intei- ros, em que cada elemento é precedido (e seguido) dum elemento determinado. Uma infinidade de elementos pertencentes a um conjunto numerá- vel constitui ainda um conjunto numerável . Com efeito, os índices desses elementos sao apenas parte dos números inteiros da sucessão (2;; designando-os por «1 , «2 , cc-i , ... , a„ , . . . , e supondo-os escritos pela sua ordem crescente de grandeza, pode-se tomar o elemento v , que corresponde ao índice menor, para pri- meiro elemento do conjunto, visto que, na consideração das potên- cias, c indiferente a ordem por que os elementos se dispõem ; Mjj, podo do mesmo modo tomar-se para segundo elemento do con- junto; e assim por diante; de sorte que cada elemento 7/^^ vem a corresponder a um elemento determinado n do conjunto (2), e reci- procamente. O conjunto considerado ó, pois, numerável, q. e. d. Uma consequência evidente é que o conjunto formado por uma infinidade de elementos afectos dum índice que não toma todos os valores inteiros ainda é numerável. Outra consequência, igualmente evidente, ó que a supressão dum número finito de elementos a um conjunto numerável não altera a potência desse conjunto. § 7. — Um conjunto numerável, aumentado dum conjunto finito, forma ainda um conjunto numerável. Com efeito, suponhamos que aos elementos do conjunto nume- rável (1) juntamos os k elementos do conjunto finito «1 , «2 , «3 , • • • > ^h • Pode-se fazer corresponder estes elementos aos números 12 3 . /.• pertencentes ao conjunto (2j; e como os elementos segnintes deste conjunto /• 4-1 /• -L 2 ILAJTEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 75 aiiida farmam um conjunto numerável (§ 6), pode-se fazê-los cor- responder, unívoca e reciprocamente, aos elementos do conjunto dado (1); estabelece-se deste modo uma correspondência perfeita entre os números inteiros da série natural e os elementos do con- junto ai , aa , ... «/; , ui , u% , . . . , Un , . • . donde se conclui que este coniunto também é numerável, q. e. d. Vem a propósito notar que os conjuntos finitos se podem consi- derar como um caso particular dos conjuntos numeráveis, visto serem formados de elementos que se podem numerar seguidamente. Como se trata de conjuntos com um número limitado do elementos pode se, de facto, contar os objectos que os constituem, e a ma- neira de os contar ó ir apontando sucessivamente para cada um deles, dizendo 1 , 2 , 3 , ... até chegar ao último. Quando tratar dos conjuntos de pontos mostrarei que os con- juntos finitos têm sido considerados muitas vezes, até implicita- mente, como casos particulares dos conjuntos numeráveis. § 8. — O conjunto formado pela reunião dum número limitado de conjuntos numeráveis é numerável. Sejam os p conjuntos numeráveis 1 1 1 1 u^, u,, W3,.. • , "„ , . • . , 2 2 2 2 w. , u. , íí, , . . . , M , . . . , 1 ' t ' 3 ' ' 71 ' ' .P , V ..1? P u,, <, M3,.. . , «„,•••; Keunindo os elementos de todos eles, e dispondo-os uns a se- guir aos outros, nesta ordem, (3) U^ , U^,... , U^, »2 , «2 , . . . , U.^, U.^ , W3 , . . . , isto é, tomando os primeiros elementos dos ^; conjuntos, depois os segundos, depois os terceiros, e assim sucessivamente, cada ele- mento w. do conjunto resultante fica precedido (e seguido) dum elemento determinado. Com efeito, o índice k não pode ser «<^ 1 nem^ p. Se está compreendido entre 1 e p, o elemento u. é pre- cedido do elemento m^~^ e seguido do elemento u-'^^. Sendo k=l, u. é precedido de ?í^_i e seguido de u^ . Sendo k = p , u^. é pre- cedido de w^~ e seguido de ^^. , ^. O conjunto resultante é, por consequência, numerável. 76 JORXAL DE SCIÊNCIAS Podose demonstrar ôsto princípio duma outra maneira, pro- vando quo existe uma correspondência perfeita entre os elementos do (3) e os dum conjunto numerável (4) VI , Vi , Vi^. .. , Vu , Para isso basta fazer corresponder os valores de u^ aos de Vpn-y-\i, os do «.^ aos de v^a—p + t, o assim sucessivamente atô aos valores de m^ , que se fazem corresponder aos de Vj,n • Para n aucessivamente igual n 1 , 2 , 3 .... , n , . . . , obtêm-se sem rfípetioao. o, na mosma ordem, todos os elementos dos conjuntos (3) 0(4). § 9. — Suponhamos agora que cada um dos elementos dam con- junto tem vários índices, ou parâmetros, susceptíveis de tomarem todos os valores inteiros e positivos. K fácil de ver que tal con- junto ainda é numerável. Se há apenas dois índices, é possível dispor os elementos do coíijunto num quadro, por forma que feejam constantes os primei- ros índices em cada linha e os segundos em cada coluna : Mil , «12 , M13 , Ml/» , . . . , M21 , M2-2 , U%\ , U'2', , . . . , «31 , M32 , U:y.i , U3i , . • . , «il , «'.2 , Ua , Ur,: , • . • , e, so se consideram as linhas diagonais W21 «12 , M;u Mi:; , M/, 1 Mu , . . . , • lembra escrever seguidamente todos os elementos do conjunto, tomando primeiro ^Mi e depois os que se acham colocados nas sucessivas linhas diagonais, tirando-os do cada uma delas numa ordem determinada, ou seja, por exemplo, da esquerda para a direita. Forma-so dôste modo a sucessão (^1 Uii , U-21 , Ul2, M:u , «22 , Ml.j , Vu y Ma2 Jsto reduz-se a tomar em primeiro lugar o elemento em que a suma dos índices ó 2; depois aqueles em que a soma dos índices ó 3; depois aqueles em que a soma dos índices é 4, e assim suces- sivartiente: e a dispô-los dentro de cada grupo por forma que o pHmeiro índice vá decrescendo e o segundo crescendo, de elemento pnrn elemento. MATEMÁTICAS, físicas E NATURAIS 7» O conjunto (5) é, portanto, numerável, visto quo cada um dos seus elementos liça precedido (e seguido) dum elemento determi- nado. Mais geralmente, se os elementos do conjunto são definidos por um número limitado qualquer n de índices, ou parâmetros, /? , q , . . . , í , estabeleça-se a equação (6) p-^q-\- ... J^f=m, em que m designa qualquer número inteiro e positivo nâo inferior a n. Esta equação tem um número limitado de soluções em núme- ros inteiros e positivos, e demais, no caso presente, só é necessá- rio utilizar as que são formadas por números inteiros, positivos e significativos (*). Se nela se atribuem a m, sucessivamente, os valores n, n-}-l, w-j-2, w-|-3, ... , as soluções ■ úteis, que dela se tiram, definem todos os elementos do conjunto proposto na ordem por quo vai crescendo a soma dos seus índices, e dentro de cada grupo, em que a soma dos índices 6 constante, é sempre pos- sível numerar os seus elementos constitutivos, visto serem em número finito. Consegue-se então escrever seguidamente, numa ordem determinada, todos os elementos do conjunto proposto. Logo,^ dum modo geral, o conjunto cujos elementos se distlvguevi pelos va- lores dum número determinado de índices, ou parâmetros, susceptí- veis de tomarem todos os valores inteiros; é um conjunto numeráveL E para notar, pelo que se viu no § 6, quo ainda se verifica a propriedade de o conjunto ser numerável quando, sendo em número infinito os seus elementos, todos, ou parte, dos índices, ou parâme- tros, que os definem, não paãsam por todos os valores da suces- são (2); ou quando, embora todos passem por esses valores, não figuram nos elementos do conjunto todas as suas combinações pos- síveis. § 10. — Da observação feita no último período do parágrafo anterior resulta que o conjunto dos números racionais positivos é numerável. (*) O número das soluções que a equação (G) admite em números iuteiros^ e positivos, sem exclusão do zero, é dado por í ), uu seja pelo número daá combinações distintaí- de vi -\- n — 1 objectos tomados m a m. Entre as de- monstrações deste teorema notável figuram duas do Sr. Dr. Gomes Teixeira, publicadas na Gaceta de Matemáticas Elementales, de Madrid. Desde o momento em que se excluem os valores nulos das incógnitas, o número das soluções que interessam deduz-se evidentemente daquela expressão substituindo m por m — n. O número das soluções da equação (6) em números inteiros, positivos e signifi- . /'" -^\ . (m — 1 ) ( m — 2) . . . {m — A-) cativos, e, pois, ( 1 > f>u fazendo m — «=/.', ,. \TO — «/ /.■ ! (/. = l , 2, . . .). Para /,' = O, o número das soluções reduz-se evidentemente à unidade. 78 JORNAL DE SCIÉNCIAS De facto, todos os números desta classe se podem representar sob a forma de fracções irredutíveis — , distinguindo-so, portanto, uns dos outros pelos valores de dois parâmetros p Q q, primos entre si, cada um dos quais pode passar por uma infinidade de valores inteiros e positivos. Por outro lado, como há uma correspondência perfeita entre os elementos deste conjunto e os do conjunto formado pelos números racionais negativos, sogue-se que o conjunto dos números racionai» negativos é numerável, E, aplicando o princípio do § 8, conclui-se (jue o conjunto dos números racionais é nninerável. % 11. — Para que da junção de conjuntos numeráveis resulte um conjunto numerável não é preciso que Osses conjuntos sejam em número finito ; pode haver uma infinidade deles, contanto que essa infinidade seja numerável. Pode-se, na verdade, definir cada elemento do conjunto resul- tante indicando o número de ordem m do conjunto parcial a que pertence, e o seu número de ordem n nesse conjunto parcial; cada elemento m,„, „ do conjunto resultante fica assim determinado por dois índices, cada um dos quais pode tomar todos os valores da sucessão (2). Entáo (§ 9) o conjunto for/nado pela reunião duma infinidade numerável de conjuntos numeráveis é numerável. § 12. — Dada a generalidade com que se define conjunto, con- cebe-se a possibilidade de haver conjuntos infinitos que não sejam numeráveis. E o que importa mostrar desde já é que, dado um conjunto infinito qualquer, isto ó, numerável ou não, é sempre pos- sível extrair dolo uma infinidade de elementos formando um con- junto numerável, sem que o conjunto formado pelos elementos res- tantes deixe de ser infinito. Com efeito, podo-se sempre conceber que dum conjunto infinito se extraiam elementos em número limitado, formando um conjunto finito (Al). O número dos elementos restantes é ainda infinito, e concebe-se do mesmo modo a possibilidade de tirar dele outros elementos, em número limitado, formando um segundo conjunto finito (A2). Os elementos restantes continuam sendo em número ilimitado, e se extrairmos deles com que formar um terceiro conjunto finito (A3), os elementos sobrantes são ainda em número infinito. Podemos repetir esta operação indefinidamente, porque os ele- mentos que restam, depois de se tirarem conjuntos finitos em número tam grande quanto so queira, continuam sendo sempre em número ilimitado. Obtemos assim uma sucessão ilimitada de conjuntos finitos (Al), (A2) , (A3) , ..., (A„) , ..., MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 79 constituídos por pontos do conjunto dado, e se tomarmos um ele- mento ai em (Ai) , outro a± em (A2) , . . . e assim sucessiva- mente, obtemos uma sucessão de pontos do mesmo conjunto «1 5 «2 , • • • , a« , • • . , que formam, na verdade, um conjunto numerável. E os olomontos restantes sâo, evidentemente, em número infinito. Exemplifiquemos. Se se trata do conjunto dos polinómios intei- ros emTa-', os conjuntos (Ai), (A2), (A3J, ... podem ser figura- dos respectivamente por colecções de poliaómios do 1." grau, do 2.'^ grau, do 3.° gVau, . . . , ou ató por um polinómio de cada grau. Se o conjunto a considerar é o de todos os pontos duma esfera, podemos imaginar um cubo inscrito neste sólido, e uma sucessão indefinida de cubos de faces paralelas, contidos dentro do primeiro, e cujas arestas decresçam em progressão geométrica. Os conjuntos finitos (A„) podem ser formados pelos oito vértices de cada um desses cubos sucessivos. § 13. — A proposição do parágrafo anterior permite estabelecer a recíproca do princípio demonstrado no § 11, isto é, todo o con- junto numerável pode ser decomposto numa injinidade numerável de conjuntos numeráveis sem elementos comuns. Com efeito, extraída dum conjunto numerável uma infinidade de elementos formando um conjunto numerável, e de modo que os ele- mentos restantes sejam ainda em número infinito, pode-se aplicar ao conjunto desses elementos restantes a mesma operação, e assim indefinidameute. Ora esta infinidade de conjuntos, sem elementos comuns, que deste modo se extraiem do proposto, é uma infinidade numerável, pois, conservando os seus elementos a mesma disposi- ção relativa que tinham no conjunto proposto, pode-se sempre ima- ginar esses conjuntos dispostos pela ordem da grandeza crescente dos índices dos seus primeiros elementos. Consideremos, por exemplo, o conjunto dos números inteiros da série natural. Pode-se extrair dele, em primeiro lugar, o conjunto 1, 2, 3, 5, 7, 11, ..., formado por todos os números primos; depois o conjunto 4, 6, 8, 10, 12, 14, ..,. , "formado por todos os números pares, com exclusão do 2 ; depois o conjunto 9 , 15 , 21 , 27 , 33 , 39 , . . . , 80 JORN'AL DE SCIÊNCIAS formado por todos os núcieros ímparos divisíveis por 3, com exclu siío Jo 3; em seguida o conjunto 25 , 3õ , 55 , 65 , 85 , 95 , . . . , constituído por todos os números divisíveis por 5 sem o serem por 2 e por 3, com exclusão do 5; e assim sucessiva e indefinida- mente. Não há elementos comuns a estes conjuntos, todos eles sâo numeráveis e constituem uma infinidade numerável, ])OÍs que os prim^^iros elementos do cada um são respectivaiuijnte os ([uadrados dos números primos sucessivos. Pode-se também, depois de formado o conjunto dos números primos, imaginar um outro 4, 6, 9, 10, 14, Vô , ... com os números que são o produto de 2 factores primos, iguais 1 desiguais; outro, com os números 8 , 12 . 18 , 20 , 27 , 28 , . . . , que são o produto de três factores primos, iguais ou desigauis; outro com os números 16 , 24 , 36 , 40 , 54 , 56 , . . . , que são o produto de quatro factores primos, iguais ou desiguais, e assim sucessiva e indeíinidaraente. E esta nova infinidade de con- juntos é manifestamente numerável, pois se podem dispor por forma quví, ([ualquer que seja //, o conjunto de ordem n seja aquele cujos el('rn>''ntos são o ])roduto de n factores. § 14. — Da proposição do § 12 resulta ainda que ndo se altera a j)Oténcia dum conjunto não numerável supri mÍ7i(h:lhe elementos que formam um conjunto nunterável. vSeja (E) o conjunto duma infinidade de elementos que se supõe não numerável; (N) o conjunto numerável íormado ])clos elementos suprimidos, e (H) o conjunto formado pelos elementos restantes. O conjunto (E) pode assim considerar-se decomposto nos dois con- juntos (N") e (H), o que se exprime simbolicamente por (7) (E) = (N)H-(H). MATEMÁTICAS, PTSICAS E NATURAIS 81 O conjunto (H) não pode ser finito nem numerável, aliás (E) ■seria numerável (§§ 7 e 8), o que é contra a hipótese. Decomponha-se então (H) noutro conjunto numerável (N') e num <;onjunto infinito (H'), o que é sempre possível (§ 12). (H') não pode ser numerável, aliás (H) sê-lo-ia também. E, visto ter-se simbolica- mente {8) (H) = (N') + (H'), (E) poderá considerar-se constituído pelos três conjuntos (N), (NM e (H'), ou, o que é o mesmo, pelo conjunto numerável (N -{- N') formado pela junção dos conjuntos (N) e (N'), e pelo conjunto (H'), ou seja, simbolicamente, (9) (E) =-- (N -L N') -f (HO- As igualdades simbólicas (8) e (9) provam o teorema, pois por meio delas se reconhece que há uma correspondência perfeita entre ■os elementos de (E) e (H). Os de (H') são, com efeito, comuns a estes dois conjuntos ; e entre os de (N -{- N') e (N'j pode estabele- cer-se uma correspondência unívoca e recíproca por serem ambos numeráveis. Reciprocamente, ndo se muda a i^otência dam conjunto não numerável juntando-lhe um conjunto numerável. Com efeito, sendo (E) o conjunto proposto e (N) um conjunto numerável, o conjunto ( É 4- N) tem a mesma potência que o que se obtém suprimindo-lhe o conjunto numerável (N), isto é, tem a mesma potência qiie (E). Observação. — E íácil de ver que estes princípios ainda são ver- dadeiros, mesmo que na designação de conjunto numerável se con- sidere incluído, como caso particular, o conjunto finito. Com efeito, sendo (A) um conjunto finito e (N) um conjunto numerável, juntar í3lQ conjunto (E) o conjunto finito (A) equivale a juntar-lhc o con- junto numerável (A-}--N), e a suprimir em seguida no conjunto resultante os elementos que formam o conjunto (N). Ora nenhuma destas operações altera a potência de (E). E analogamente se raciocina, para o caso da supressão de elementos, que formam um conjunto finito. § 15. — Ainda se pode tirar mais uma conseqiiência importante da proposição estabelecida no § 12. Como dado um conjunto infinito não numerável (H), é sempre possível a decomposição (H) = (N') + (HO 82 JORNAL DE SCIÊNCUS em que (N') ó numerável e (II'j é equivalente a (H), vú-se que há em (H) uma parte (N'j, que tom a potência do numerável, de sorte que a potência de (II) é, por defiuiçHo (§ 4), superior a essa potência. Pode-se dizer, portanto, que a potência dos conjuntos numerá- veis é inferior h de todos os outros conjuntos infinitos que houver. E a menor das potências conhecidas. § 16. — Quando um conjunto tem a mesma potência que o dos mimoros reais do intervalo (O, 1), diz-se que tem a potência do continuo. Poderíamos dizer simplesmente (pie é um conjunto continuo. Por exemplo, o conjunto dos números reais compreendidos, no sentido lato, entre dois números quaisquer a q b tem a potôncia do contínuo, pois, fazendo X =^a -\- {b — rt) // , vé-se que a cada valor atribuído a ;/ , de O a 1, resulta para a- um único valor, de a a ò,- e, reciprocamente, a cada valor atribuído a a?, de a a 6, resulta para // um único valor, do O a 1. O conjunto dos números irracionais do intervalo (O, 1) — ou, eui geral, do intervalo (a, h) — tem também a potência do contí- nuo. Para o demonstrar note-se que, não se sabendo ainda se a potência do numerável é, ou não, igual à do contínuo, é forçoso considerar como possíveis ambas as hipóteses. Se o conjunto dos números reais do intervalo (O, 1) fosse numerável, da supressão dos números racionais do mesmo inter- valo resultaria o conjunto dos números irracionais compreendidos entre O e 1, que seria ainda numerável (§ 6), isto é, tena a mesma potência que o conjunto proposto. Sendo este não numerável verifica-se a mesma circunstância, pois não se altera a potência dura conjunto não numerável supri- mindo-lhe elementos que formam um conjunto numerável (§ 14). Vê-se, pois, que, qualquer que seja a verdadeira hipótese, o conjunto dos números irracionais do intervalo considerado tem ainda a potência do contínuo. § 17. — Posto isto, facilmente se reconhece que um conjunto j que tem a jJotêncía do contínuo, não é numerável. Para o demonstrar basta considerar o conjunto dos números irracionais compreendidos entre O e 1 (§ IG). Todos estes números podem reprcsentar-se, e dum újiico modo, por fracções contínuas ilimitadas sem parte inteira. É fácil mostrar que, qualquer que seja a convenção que se adopte para os dispor numa ordem determinada, sobejam sempre elementos que não podem ter lugar nessa dis])osição ; por outras palavras, ó fácil mostrar a impossibilidade de numerar todos os elementos do conjunto. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E MATURAIS 83 Se, com efeito, so imaginasse poder dispô-los numa sucessão numerável (10) a?i , x-2 , sendo > "-II ) Xi = — -^ + -—T- + •■--- '3- + a. \ a, \ a. 1 I 1 «2 1 «2 1 1 poder-ae-ia sempre, por meio dela, formar um número pertencente ao conjunto, mas não pertencente à sucessão. Bastaria defini-lo por '1 \ f^z I "3 uma vez que se fizesse • (11) b,>aÍ. (t = l, 2, 3, ...) Este número x é, de facto, irracional, porque se exprime por uma fracção contínua ilimitada; é menor que a unidade, poi-que essa fracção contínua não tem parte inteira; e é distinto de todos os números da sucessão (10) em virtude da condição (11), pois que, para duas fracções contínuas terem o mesmo valor, é neces- sário que tenham iguais entre si todos os seus cocientes incomple- tos das mesmas ordens. Então o conjunto dado não pode ser nume- rável, q. e. d. 18. — As considerações dos §§ 12 e 14 revestem um carácter de evidência quando o conjunto infinito, de que se trata, tem a potência do contínuo. Como podemos estabelecer uma correspondência perfeita entre os elementos desse conjunto (E) e os números reais do inter- valo (O, 1), os elementos de (E) que corresponderem aos números racionais desse intervalo formcirão um conjunto numerável (N), e os restantes, correspondentes aos números irracionais do mesmo intervalo, formarão um conjunto (h), que não poderá ser finito nem numerável. A decomposição traduzida pela igualdade simbó- lica (7), acha-se, pois, realizada. >Í4 JOUXAL DE SCIÉNCIAS Cousidercuios agora o conjunto (li}. Entro os números irracio- nais do intervalo (O, 1) destaquemos, por exemplo, os da sucessão 1 11 1 1 1 1 ^ ^^ \/2' \/r 7?' 7^' 7?' 7^' ^' ■ • ' ' que ó numerável, visto ser constituída por uma infinidade de ele- mentos pertencentes ao conjunto 1 1_ J_ J_ J_ 1_ J_ 7T' V2' V^' 7?' /"õ' 7tí' 7^' '"' que ó, evidentemente, numerável. Então, se do conjunto (Hj desta- carmos os elementos que correspondem unívoca o reciprocamente aos da sucessão (12), formaremos com eles um conjunto numerá- vel (N'), e o conjunto (11') dos elementos restantes não poderá ser finito, nem numerável. Assim, a decomposi<;ão traduzida pela igualdade simbólica (8) acha-se igualmente realizada. Nâo só se verifica que dum conjunto com a potência do contí- nuo é possível extrair elementos, em número infiuito, formando um conjunto numerável, como também se reconhece que essa possibi- lidade existe duma infinidade de maneiras; basta, de facto, notar que, formando os números racionais do intervalo (O, 1) um con- junto numerável, e sendo, portanto, ainda numerável todo e qual- quer conjunto (N) formado por uma infinidade de números racio- nais compreendidos no mesmo intervalo, é claro que, dado um con- junto qualquer com a potência do contínuo, todos os seus elemen- tos, que corresponderem unívoca e reciprocamente aos desses con- juntos (N), formam igualmente conjuntos numeráveis. E, como a decomposição (7) é sempre possível, a potência do contínuo é necessariamente superior à do numerável (§ 4). Também incidentemente fica evidenciado que o facto de ter a potência do contínuo o conjunto de todos os números irracionais do intervalo (O, 1) não impede que possa ser numerável um con- junto parcial formado só com parte dos números irracionais desse intervalo. § 19. — Reiiiiindo nm número limitado de conjuntos (Ei), (E2),..., (E"), sem elementos comi(7is e ocmi apetência do continuo , for ma-se tim conjunto (Ei-f-E2+ •••-}-£„), gce ainda tem a potência do contínuo. Pode-se, com efeito, estabelecer uma correspondência perfeita entre os elementos de (Ei) e os números irracionais do inter- valo (O, 1) ; entre os elementos de (E2) e os números irracionais do intervalo (1, 2); e assim, sucessivamente, ató ficar estabelecida a mesma correspondência entre os elementos de (E„) e os nume- AIATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 85 ros irracionais do intervalo [n — 1, //). Então os elementos de (El + E2 -|- . . • -j- E„) íicíirão correspondendo unívoca e reci- procamente aos números irracionais do intervalo (0^ n), donde se segue que ê§se conjunto tem realmente a potência do contínuo (§ 16). Esta propriedade mantem-se mesmo que n cresça indefinida- mente, isto é, o ' conjunto formado pela reunião duma infirddade niimeràcel d^ coiijuntos, fem elemeutos comuns, com a i^otência do continuo, tem ainda a potência do continuo. Com efeito, sejam (Ei), (Ei), . . . , (E,,), . . . esses conjuntos. Tome-se uma sucessão de números racionais crescentes «1 , que tendam para um limite racional ^l (por exemplo, as fracções sucessivas 12 3 n 1"' 1~' T' * ' ■ ' ^í ' " ' ' que tendem para o limite 1), e estabeleça-se uma correspondência perfeita" entre os elementos de (Ei) e os números irracionais com- preendidos entro ao e ci ; entre os elementos de (E2) e os número» irracionais compreendidos entre ai e as; e assim sucessiva e inde- finidamente. Os elementos do conjunto (Ei -f E-2 -|- ••• + E„ -]-... ) ficarão numa correspondência perfeita com os números irracionais compreendidos entro ao e jí, donde se segue que esse conjunto tem, de facto, a potência do contínuo. Oompreende-se a razão por que em ambos os enunciados se supõe que os conjuntos componentes não têm elementos comuns. Considerando, para fixar ideas, o último princípio, é óbvio que, se houvesse um elemento comum a dois conjuntos (Ej;), (E^), esse ele- mento corresponderia a dois, e não a um só número irracional do intervalo (ao, A), um dos quais pertenceria ao intervalo (a;;_. 1, a^), e o outro ao intervalo (a;_j , a,). Do segundo dos princípios demonstrados resulta que o con- junto de todos os números reais tem a potência do continuo; esse conjunto podo, com efeito, decompor-se numa infinidade numerá- vel de conjuntos, sem elementos comuns, com a potência do contí- nuo [por exemplo, os conjuntos formados pelos números reai« dos intervalos (O, ±100), (±100, ±200), (±200, ±300), etc, ex- cluído em cada um deles o extremo posterior]. § 20. — Da correlação existente entre os pontos geométricos e os sistemas de números depreende-se imediatamente que todos os pontos duma recta, ou dum segmento de recta, formam conjuntos cem a potência do continuo. 86 JORNAL DE SCIÊNCUS Cantor demonstrou também que o conjuvto de todos os pontos dum quadrado tem a potência do contínuo. Na domonstraçiío pode referir-se o quadrado ao sibtoma do eixos coordenados, que se obtém prolongando dois dos seus lados concorrentes. Neste caso, se é í o comprimento do lado do qua- drado, as coordenadas de todos os seus pontos estão compreendi- das, no sentido lato, entre O e /. E, como há uma correspondência perfeita outro esses valores das coordenadas o os números reais do intervalo (O, 1), vô-se que, para a demonstração, é lícito consi- derar só os números deste intervalo, isto é, considerar apenas, como fez Cantor, o quadrado do lado 1. Mas ainda se j^ode ir mais longe no caminho da simplificação. Por a cada número real do intervalo (O, 1) corresponder, unívoca e recipi ocamente, um número írriícioual do mesmo intervalo, o conjunto dos pontos do quadrado de coordenadas reais quaisquer tem a mesma potência que o ^conjunto dos pontos do quadrado do coordenadas irracio- nais. E, portanto, lícito considerar apenas estes últimos. Ora as coordenadas (x, y) de cada um deles, em relação aus eixos adop- tados, podem exprimir-se por fracções contínuas ilimitadas sem parte inteira, tais como (13) então a cada sistema destes dois números pode-se sempre fazer corresponder um número irracional ^ definido por (14) e compreendido, portanto, no intervalo (O, 1). Reciprocamente, a cada número irracional l, deste intervalo, que sempre se podo exprimir por (14), é lícito fazer corresponder um sistema determinado de números (.r, y\ dados por (13), e definindo, conseguintemonte, um ponto do quadrado de coordenadas irracio- nais. Logo, o conjunto dos pontos do quadrado do lado 1 (ou, me- lhor, o conjunto dos pontos dum quadrado) ó equivalente ao con- junto dos números irracionais do intervalo (O, 1), isto é, tem a potência do contínuo, q. e. d. Demonstrado este teorema, é manifesto que tem ainda a potên- cia do contínuo o conjunto dos pontos do qualquer figura que se possa decompor na soma dum número finito ou duma infinidade numei ável do quadrados (§ 19). MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS S7 Ainda pelo mesmo processo se prova que o conjunto dos pon- tos dum cubo, ou, mais geralmente, dum cubo no espaço a n di- mensões, tem ainda a potência do contínuo. Sintetizaado, pois, todos estes princípios, pode-so dizer que tem a potência do continuo todo o conjunto cujos elementos dependem dum número limitado de parâmetros, cada iim dos quais passa por um conjunto de valores com a potência do contínuo. § 21. — Greneralizando o teorema, que condensa todos os prin- cípios do parágrafo anterior, pode aúida provar-se que tem a potên- cia do continuo todo o conjunto cujos elementos são definidos por uma infinidade numerável de variáveis independentes Xi , íi?2 5 ^3 j • • • 5 "-)i } ' ' ' J cada uma das quais passa por um conjunto de valores com a potên- cia do continuo. Por considerações idênticas às do parágrafo anterior, ó possí- vel, sem alterar a potência dum conjunto nestas condições, consi- derar apenas valores das variáveis, que sejam números irracionais do intervalo (O, 1). Tomando, então, os desenvolvimentos desses valores em fracção contínua, eles serão da forma (15) 1 1 1 1 1 1 Xi = 1 «1 1 1 • + 1 ^1 1 1 ■ + ■ 1 ^1 1 1 ■+ ••• 072 = 1 «2 1 1 • + • 1 ^2 1 1 • + 1 0. 1 1 •+ ••• 073 =-= 1 «3 • + • 1 ^3 + • 1 «^3 • + ••• 1 1 1 1 1 1 Xji = 1 <^n + 1 6„ + ■ 1 e„ + ••• Escrevam-se num quadro os cocientes incompletos de todas estas fracções contínuas, de modo que, nas diferentes linhas, figu- rem, por sua ordem, os que correspondem a cada uma delas: Oi bi a . . . (16) «2 b-2 C'2 ' - ' «3 ^3 Ca ... 5 88 JOKNAL DE SCIÊNCIAS O forinc-sc: uma nova fracção continua tomando sucessivaraento para cocientes incompletos os elementos dôste quadro, tirados das sucessivas linhas diagonais, da esquerda para a direita, ou seja I fli i a-.' I ^1 I «3 \ ('2 ! 'l I «4 l, será um aúmero irracional do intervalo (O, 1 ), donde se segue que a cada sistema de valores das variáveis (,t\ , ./-o , . . . , íi*„ , . . .) corresponde um número irracional, o um só, do mesmo inter- valo. Reciprocamente, dado l, pode-se formar o quadro (16) escre- vendo sucessivamente as suas linhas diagonais, e organizar, em face dele, os desenvolvimentos (15); daqui resulta que a cada nú- mero irracional do intervalo (O, 1) corresponde um, e um só, sis- tema de valores das variáveis. Existe, pois, uma correspondência perfeita entre os elementos da conjunto proposto e os números irracionais do intervalo (O, 1); o primeiro tem, conseguintemente, a potência do contínuo, q. e. d. % 22. — Dados dois conjuntos (A) e (B), designe-se por (Ai) uma parte aliquota qualquer do (A) e por (Bi) uma parte aliquota qualquer de (B). 8o existo um conjunto (Ai) que tem a potência de (B), mas não há nenhum conjunto (Bi) que tenha a potência de (A), nao se pode estabelecer uma correspondência perfeita entre os elementos de (A) e (B); estes dois conjuntos nâo são equivalentes, e a potência de (A) é' superior à de (B), (§ 4). E nao se pode neste caso estabelecer uma correspondência perfeita entre os elementos de (A) e do (B) porque, se a cada elemento de (Ai) corresponde um, e um só, ele- mento de (B), os restantes elementos de (A) ou não têm os seus correspondentes em (B), ou, so os têm, há em (B) elementos que correspondem a mais do que um elemento de (A). Semolhanteraonte, se existe um conjunto (Bi) que tem a potên- cia do (A), o náo existe um conjunto (Ai) que tenha a potência de (B), a potência de (1>) é superior à de (A). j\ías pode suceder que haja um conjunto (Ai) com a potência de (B) e um conjunto (B|) com a potencia de (A). Se se toma, por exemplo, para conjunto (A) o conjunto dos números ímpares 1 , 3, 5, 7, ..., 2n — l, ... , c para conjunto (B) o dos números duplamente pares 4 , 8 , 12 , IG , ... , 4n, ... , MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 89 poder-se há tomar para (A.i) o conjunto 3, 7, 11, 15, ..., 4.71 — 1, ... , e para (Bi) o conjunto 4, 12, 20, 28, ... , 4(2n — 1) ... ; (Al) tem evidentemente a mesma potência que (Bi o (Bi) a mesma que (A). Se se toma para (A) o conjunto dos números reais do intervalo (O , l) G para (B) o conjunto dos números reais do intervalo (O, 1), (Al) pode ser, por exemplo, o conjunto dos números irracionais do intervalo (O , l) o (Bi) o conjunto dos números irracionais do inter- valo (O, 1); e (Al) e (Bi) verificam ainda a mesma dupla condição. Em ambos estes casos concretos (A)'e (B) têm a mesma poten- cia; e é o que se verifica sempre na última hipótese considerada. § 23. — Com efeito prova-se facilmente que dois coiy/tntos (A) e (B) têm a mesma potência se (A) tem a mesma potência quê uma parte de (B), e (B) a mesma potência que uma parte de (A). Por outras palavras: Dois conjuntos (A) e (B) têm a mesma po- tência se se pode fazer corresponder a todos os elementas de (A) ele- mentos diferentes de (B), e a todos 03 elementos de (B) elementos dife- rentes de (A). Mudando de notação, por comodidade, reprosente-se agora por ô (A) a parte de (A) que tem a potência de (B), e por r (A) o con- junto restante; por a (B) a parte de (B) que tem a potência do (A) e por p (B) o conjunto restante. Pode-se escrever simbolicamente (A) = ò (A) 4- r (A), (B) = «(B) + p(B); e como b (A) tem a potência de (B) basta estabelecer que (A) o b(A) têm a mesma potência. Posto isto, notemos que qualquer conjunto (A'), que seja. equiva- lente a (A), é susceptível duma decomposição análoga .•'. de (A), visto quo, depois de se haver estabelecido a correspondência per- feita, que existe entre (A) e (A'), pode-se reunir num conjunto b (A') os elementos de (A') que correspondem aos de b (A), e noutro conjunto r(A'j os elementos restantes, que correspondem a r(Á). Aplicando estas considerações ao caso do conjunto a (B) vê-se a pos- sibilidade de o decompor em dois, a designar por b (aB) e r («B), considerando se as letras b e r como símbolos de operações, apli- cáveis aos conjuntos equivalentes a (A), e tendo como resultado decompô-los em dois com as potências de b(A) e r(A). 90 JOUXAI- DI-: SCIKNCIAS Da mesma maneira se reconheço que as letras a e p podem con- slderar-so como símbolos de operações, aplicáveis aos conjuntos equivalentes a (B), e tondo como resultado docompO-los em dois com as potências de a (B) e c (B). Repetindo, então, indefinidamente as operações mencionadas, obtom-se uma sucessão ilimitada de conjuntos (A), 6(A), a(6A) , h{ahK), a{bahA) , ..., tendo alternadamente as potências de (A) e de (B). Cada um deles contém todos os seguintes, e se fôr (D) o conjunto ( infinito, finito ou nulo) dos elementos comuns aos de toda aquela sucessão, esse conjunto (D) poderá obter-so tirando de (A) os elementos que não dertoncom a 6 (A), ou seja, simbolicamente, (A) — ^(A); tirando em seguida do resultado, quore dizer, de ^(A), os elementos que nHo pertencem a a(bA), ou st>j a, simbolicamente, ò (A) — a{hA); e assim sucessiva e indefinidamente. Teremos, pois, a igualdade simbólica (D)=(A)-[(A)-ò(A)]-[è(A)-a(ÒA)]-..., ou^ mais simplesmente, (D)==(A)— r(A) — p(6A)— r(a6A) — p(6«Z.A) — ... , o que mostra ser o conjunto (A) susceptível da decomposição que Bimbòlicamente se traduz por (17) (A) = (D)+r(A)-hp(ôA) + r(aí;A)-f f(6aí»A)+ .... Suprimindo agora em (A) os elementos que formam r(A), o que dá b(A), tem-se simbolicamente fc(A) = (D)-fp(òA)+r(aòA)-|-p(òa6A) + r(a6a6A)+ ..., ou^ o que é o mesmo, (18) 6(A) = (D) + r(aòA)+p(6A)+r(a6a6A)+p(òa&A)-}-.... A comparação das expressões simbólicas (17) e (18) mostra que os dois conjuntos (a) e 6 (A) estão decompostos em duas iufinida- des numoráveis de conjuntos, tendo 2 a 2 a mesma potôncia. Podo-se, portanto, estabelecer uma correspondência perfeita entre os elementos dum e doutro, fazendo corresponder entre si os con- junlos parciais da mesma ordpm daqueles dois desenvolvimentos. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 91 (A) e ô(A) têm, pois, a mesma potência, o c mesmo acontece, por conseguinte, a (A) e (B), q. e. d. § 24. — Além das relações entre os conjuntos (A) e (B) consi- deradas nos dois parágrafos precedentes, uma quarta pode verifi- car-se: é a de não haver em (A) nenhum conjunto parcial (Ai) com a mesma potência que (B), nem em (B) nenhum conjunto par- cial (Bi) com a mesma potência que (A). E o que se verifica, evi- dentemente, quando (A) e (B) sâo conjuntos finitos de igual número de elementos. Neste caso, os dois conjuntos têm a mesma potência ; mas pregunta-se: — ^Dar-se há o mesmo facto se, verificando-se aquela condição, os cooj untos (A) e (B) forem infinitos? — A ques- tão é importante, pois que, se a resposta é afirmativa, poder-se há asseverar que, dados dois conjuntos quaisquer, só dois casos são possíveis, ou têm ambos a mesma potência, ou a potência dum ó superior à do outro. vSe a resposta é n-egativa, poderá haver con- juntos cujas potências não sejam comparáveis, isto é, dados dois conjuntos quaisquer, a potência dum poderá não ser igual, nem superior, nem inferior à do outro. O Sr. Borel, a quem esta dificuldade vivamente preocupava, expô-la ao próprio Cantor, quando se encontraram no Congresso de Zurich, em Agosto de 1897; mas a resposta do fundador da teoria não pôde satisfazê-lo, pois se limitou a comunicar-lhe ver- balmente o seu sentimento de que, nas condições formuladas, os conjuntos (A) e (B) têm a mesma potência, jx falta, pois, duma de- monstração, que ainda ninguém produziu, diz com razão o Sr, Bo- rel que a questão continua por decidir. Para mim ainda outra dúvida se apresenta: ^Se os conjuntos (A) e (B) são infinitos, poderá dar-se o caso de nem haver em (A) uma parte equivalente a (B), nem em (B) uma parte equivalente a (A)? § 25. — Embora no § 5 mencionasse a definição de Cantor, des- tinada a dar a noção de potência independentemente de qualquer substrato, nunca separei a noção abstracta de potência da noção mais concreta de conjunto, e da mesma forma continuarei proce- dendo, visto as propriedades, que se tem procurado estabelecer para as potências consideradas independentemente dos conjuntos que as possuem, não apresentarem utilidade apreciável na teoria das funções. Partindo de conjuntos determinados, definimos as potências do numerável e do contínuo, e vimos que a segunda é superior à pri- meira. ^Não haverá outras potências? Para responder a esta ques- tão o Sr. Borél, numa das Notas às suas Leçons sur la théorie des fonctions, mostrou como se pode definir conjuntos tendo potências cada vez maiores, empregando um método de Cantor, e examinou a possibilidade de conceber conjuntos nessas condições. Reprodu- zindo em parte a sua análise, começarei por mostrar como se pode 92 JORNAL DE SCIÊNCIAS doiSnir um conjunto tendo uma potência superior à doutro conjunto dado (E). Designemos por x um olemeuto qualquer de (E), apor /(a?) uma função do elemento j-, que .tó pode tomar iiin dos doiti valores O e 1, mas que é porfoitamente determinada em cada ponto de (E) (*). Teudo-se, naturalmente, como distintas duas destas fundões, sempre quo nao tomem os mesmos valores em todos os pontos de (E), va- mos mostrar quo o conjunto (F), formado por todas as funções f[ir), têm uma potência superior à de (E). Para isso mostremos, em primeiro lugar, que em {V) existe um conjunto parcial (Fi), que tem a potência de lE). Podemos de facto fazer corresponder a cada elemento ./• de (E) a função /(,/•) que toma o valor zero nesse elemento e o valor 1 em todos os outros. O conjunto destas funções, que são todas distintas, constitui na rea- lidade uma parte (Fi) de (F), que tem a potência de (E). Daqui resulta que a potência de (F) não pode ser inferior à de (E) ; e bastará mostrar que nao lhe é igual para se poder concluir que lhe é superior. Se o conjunto (F) tivesse a mesma potência quo [Fj) poderíamos representar por fy {x) a função que correspondesse a um elemento // de (E), e se este // fosse (qualquer, f,j (./•) poderia representar todos os elementos de (F). Oi'a ê fácil de ver que existe uma fun- ção f [x) distinta de todas as funções /,, (.r), a qual pode ser defi- nida por sendo -x- um elemento qualquer de (E). Estas desigualdades definem completamente a funçHo /(./), porque não podendo o seu valor em (*) E fácil imaginar fiin>,^uei; nestas condições. Podemos, por exemplo, con- siderar uma função que em todos os pontos do intervalo em que é dellnida, de abicissa racional, toma o valor O, o em toilos os pontos de abscissa irracional, o valor 1; ou inversamente Querendo funções que se exprimam por símbolos algi'!briros, podemos con- siderar, por exemplo: função que supomos delinida no intervalo ( — 1, -(- 1). Facilmente se reconhece que ela toma o valor 1 em toilos os pontos dêáte intervalo, excepto no ponto O, em que toma o valor 0. A função I (N -i- X) - I (N), definida no intervalo (0,1^, em cuja expressão N designa qualqui^r núnicro in- teiro, e a funçào I (z) representa o maior número inteiro contido cm z, {> evidcn- mentc nula em todos os pontos daquele intervalo, excepto no extremo 1, em que é igual a 1. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 93 qualquer elemento se de (E) ser senão zero ou 1, sabe-se sempre qual é: é zero, quando /« (.r) é igual a 1, o 1 quando /^ (.r) é igual a zero. Ora a função /(*) assim definida não podo ser iguai a ne- nhuma das funções fy {x), pois que qualquer delas toma no ponto X ==. y o valor /y [y), a função /(.r) toma nesse ponto o valor f(//); e pela condição (19) tem-se fiu) + fvill) Então a potência de (F) é necessariamente superior à de (E), visto que são comparáveis, e a primeira não é superior, nem igual, à segunda. Se tomarmos para conjunto (E) um conjunto numerável, facil- mente se vê que o conjunto (F) tem a potência do contínuo. Supondo (E) o coujunto-tipo 1, 2, 3, 4, ..., n , ..., e correspondendo a cada um destes números uma infinidade do valo- res das funções f{x) iguais, arbitrariamente, a O ou a 1, podemos com esses valores formar fracções decimais, tais como 0,010011101 . . ., as quais, supostas escritas no sistema de numeração de base 2, po- dem representar todos os números reais compreendidos entre O o 1. O conjunto de todas essas fracções tem então a potência do contí- nuo; donde se segue que o conjunto (F) tem realmente, neste caso, a potência do contínuo, visto ser constituído por uma infinidade nu- merável de conjuntos com a mesma potência. E certo que se apre- senta aqui uma pequena dificuldade, proviente da duplicação de valo- res que resulta da igualdade entre as dízimas limitadas, tais como 0,0101, e as dezenas ilimitadas correspondentes, 0,010011111 . . . ; mas esta dificuldade é fácil de remover, porque, como as dízimas limitadas representam números racionais, o seu conjunto é numerá- vel, e portanto a eliminação dos pontos correspondentes do con- junto (F) não influi na sua potência (§ 14). Se o conjunto (E) tem a potência do contínuo, pode-se dizer que o conjunto (F) é, por exemplo, o conjunto das funções discon- tínuas duma variável real, que tomam somente um dos dois valo- res O ou 1. Pelo que se acaba de ver, esse conjunto tem uma potência superior à do contínuo (*), Consideremos em seguida esse conjunto (F) e separemos de qualquer modo em duas classes todas as funções que êle encerra. O cocjunto desses modos de separação tem uma potência superior (*) É fácil rle ver que tem a potência de (F) o conjunto de tolas o q;iais- qiier funções discontinuas. Consulte-se a Cste respeito a monografin cita-la do Sr. Borol. 94 JORN'AL DE SCrÉ>íCIAS à de iFj. E, contiíiuando a proceder da mesma íorma, construire- mos uma iufíiiidade numerável de conjuntos, tendo potências cada vez maiores. Esses conjuntos ficam assim lógica mente definidos; poderemos, todavia, concebê-los? Nilo mo demorarei nessa dis- cussão para não me afastar de mais do objectivo que tracei; mas o leitor, quo queira aprofundar o assunto, poderá consultar com pro- veito a nota do Sr. Borel, que já citei neste parágrafo. § 2C. — Cantor, assim como, abstraindo da natureza dos ele- mentos dum conjunto e da ordem por que estão dispostos, chegou í\ noç2lo de potência, assim também, abstraindo da natureza dos elementos, mas nDio da sua disposiçílo, chegou á noçHo do tipo de ordem. Esta noçilo pode, todavia, ser adcjuirida mais concretamente, como a de potência, pela comparação de dois conjuntos. Um conjunto diz-se ordenado, ou, dum modo mais preciso, sim- plesmente ordenado, quando se pode fazer uma convenção por meio da qual, dados dois quaisquer dos seus elementos, um precede necessariamente o outro; o se a precede b, o b precede c, a pre- cede necessariamente c (sendo a, b c c três elementos quaisquer do conjunto). Por exemplo, o conjunto dos números reais é ordenado, visto podermos convencionar quo a ordem por que se hao de dispor os seus elementos ó a da sua grandeza relativa. Um conjunto de pon- tos sobre uma recta 6 igualmente ordenado, visto podermo-los con- siderar na ordem por que se nos váo deparando, quando imaginar- mos percorrer a recta num determinado sentido. Quando dois conjuntos ordenados silo equivalentes, e tais que, sendo a o, b dois elementos quaisquer do primeiro, c a' e b' os ele- mentos correspondentes do segundo, a' precede b' se a precede b, os dois conjuntos dizem-se semelhantes. Esta definição traz como consequência que dois conjuntos orde- nados semelhantes a um terceiro são semelhantes entre si. Assim todos os conjuntos semelhantes a um conjunto dado possuem uma propriedade comum ; o essa propriedade, que não só depende da potência como tambóm da ordem por que os elementos se dispõem, é que nos leva à noção de tipo de ordem, assim como a dos conjun- tos equivalentes nos levou ao conceito de potência. Po lemos então dizer que o tipo de ordem dum conjunto é o con- ceito que êle sugere à nossa razão quando abstraimos da natureza dos seus elementos, mas v.ão da maneira como estõo dispostos. Assim como dizemos, indiferentemente, conjuntos equivalentes ou que têm a mesma potência, assim também podemos dizer conjuntos semelhantes ou que têm o mesmo tipo de ordem. A lei, que define a correspondência existente entre os elemen- tos de dois conjuntos semelhantes, deuomina-se a aplicação dum dôles sObre o outro. Dado um conjunto ordenado, se invertermos a ordem de suces- são dos seus elementos de sorte que, considerados dois quaisquer, MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 95 O que precedia o outro fica sondo precedido por ele, forma-se um outro conjunto ordenado, que se chama o inverso do primeiro. As- sim, o inverso do conjunto 1 , 2 , 3 , . . . , n , ... é o conjunto . . . , n , ... , 3 , 2 , 1. Entre os conjuntos ordenados destacam-se os que se dizem bem ordenados. Um conjunto ordenado ó heia ordenado quando, tanto êle, como qualquer das suas partes alíquotas, têm um elemento inicial, isto é, um elemento que é de ordem inferior à de todos os outros. Assim, o conjunto dos números inteiros é, evidentemente, bem ordenado; mas o conjunto dos números racionais do intervalo (O, 1) não o é, pois que o conjunto parcial formado pelas fracções do mesmo inter- valo superiores a uma qualquer — não tem elemento inicial. n Cantor, pelas mesmas considerações por que chamou, às potên- cias, números cardinais, chamou números ordinais aos tipos de ordem dos conjuntos bem ordenados. Entre os números ordinais figuram os inteiros positivos, porque um conjunto finito, cjjos elementos se podem dispor sempre numa ordem convencionada, é um conjunto bem ordenado. Conforme a natureza das questões tratadas, pode convir começar a série natu- ral dos números inteiros no zero ou no 1. O conjunto dos inteiros positivos, incluindo o zero, constitui, pois, uma classe de números ordinais ; é, por definição, a primeira. Todos os outros números ordinais são números transfinitos de Cantor, os quais nos surgem, portanto, como os tipos de ordem dos conjuntos bem ordenados infinitos. Dos Conjuntos de pontos § 27. — O estudo dos conjuntos de pontos é a aplicação de maior importância e interesse que tem tido a teoria dos conjuntos abstra- ctos. Deles me vou ocupar agora, advertindo que, sempre que não disser o contrário, se deve entender que me refiro a conjuntos infi- nitos. Já se sabe que por pontos so entendem os sistemas de valores simultâneos {a, b , . . . ) atribuídos a variáveis íp, ?/, . . . . Se os pontos que se consideram são os elementos dum con- junto, este diz-se um coniunto de pontos, e o número das variá- veis X , y , ... defino as suas dimensões. Um conjunto a uma só dimensão também se diz linear. A primeira noção que se nos apresenta, no estudo dos conjun- tos desta natureza, é a de desvio. Dados dois pontos quais- 96 JOR-VAL DE SCIÊN^CIAS qu;'r p{a,h, ...) e p' [a' , b' , . . •), o sfii desvio é n quantidade positiva 7^7"' = I a' — a I -I- I i' _ i I 4- ... . Se o desvio é nulo, tom-se necessariamente a' —= ode ser nuMierável ou não. Se é numerável, esses pontos distinguem-se uns dos outros por índices P\ (-ri í !h > • • •) > /'-' í!-''-' ».'/-'»•••'. • • • > !>■ ^•'■" ' !ln ■> • • •) . • • • e é evidente que, sendo MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 97 O ponto limito, as variáveis a'„ ■> Un, • • • convergem respectiva- mente para ^ , vj , • • • . Se a sucessão dos pontos p tem a potência do contínuo, é sem- pre possível extrair dela sucessões numeráveis que tendam para o mesmo ponto limito (§ 18), e considerando uma quiilquer dessas sucessões numeráveis, as cousas passam-se como no caso anterior. Chama-se ponto limite ou de acumulação dum conjunto (E) a todo o ponto que é ponto limite duma sucessão de pontos de (E). A colecção desses pontos forma um outro conjunto (E'), que se chama o derivado do primeiro. Os pontos limites dum conjunto, que o são duma sucessão não numerável do pontos desse conjunto, receberam de Lindelof o nome especial de pontos de condensação. Exemplitiquemos, recorrendo para mais simplicidade aos con- juntos lineares. O conjunto dos números inteiros não tem pontos limites, nem por conseguinte conjunto derivado. 1111 O conjunto das fracções --, — , — , . . • , — , • • • tem zero por ponto limite ; o derivado reduz-se a esse ponto, qne não per- tence ao conjunto dado. ^ . , 12 2 4 4 6 O conjunto dos números — , — -, — , — , — , — , •••, X JL Ó Ó DO , , .... tem como único ponto limite o elemento 1 2 ,1 — 1 ' 2 » + 1 ' ' ^ do próprio conjunto, que contém assim o seu derivado. O conjunto dos números racionais compreendidos entre a e b, no sentido restrito, (isto é, >« e .r, , • • • , p t,„ , • • • , cujo númcro pode ser tam grande quanto se queira, são todos inferiores a ò ; vê-se, pois, que nas visi- nhanças do ponto limite tc o conjunto (E) tem necessariamente um número infinito de pontos. Daí vem o chamar-se tambóm aos pon- tos limites pontos de acumulação. I 30. — As relações que podem existir entre um conjunto e o seu derivado deram lugar à seguinte classificação dos conjuntos de pontos : Conjunto isolado é o que não tem derivado ou não tem ne- nhum ponto d(; comum com o seu derivado. Todos os seus pontos são isolados. É o caso dos conjuntos 1, 2^ 3, ...,??, ... ou 111 l MATEiAlÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 99 Conjunto fechado ó o que contém o seu derivado. Entre a infini- dade de pontos, que o constituem, há pontos limites e pontos isola- dos; de cada espécie, pelo menos, um. E o caso do conjunto 12 2 44 2n 2n T"' 1~' T' "T' "õ"' * ■ ■ ' 2rt— 1 ' y n + 1 ' * * * Conjunto concentrado é o que está contidoiuo seu derivado. E o caso do coiijuiito dos números racionais compreendidos en- tre a e b. Conjunto 2)erfe>to é o que coincide com o seu derivado. Pode também dizer-se que é um conjunto fechado sem pontos isolados; ou que é um conjunto ao mesmo tempo concentrado e fechado. E o caso do conjunto dos números reaes compreendidos entre a e ô no sentido lato. Jordan não distingue entre os conjuntos perfeitos e os conjun- tos fechados ; chama a todos perfeitos, definindo-os como geral- mente se definem os fechados. Isso obriga-o, quando precisa refe- rir-se em especial aos conjuntos, que sáo perfeitos para a grande maioria dos geómetras, a empregar o circumlóquio : — que coinci- dem com o seu derivado — . O Sr. Borel, querendo conciliar a nomenclatura de Jordan com a necessidade de distinguir as duas espécies de conjuntos, lembrou que se chamasse covj untos absolutamente perfeitos aos conjuntos perfeitos, e conjuntos relativamente perfeitos aos conjuntos fecha- dos; mas a divisão em perfeitos e fechados é a geralmente admi- tida. Há também quem chame aos conjuntos concentrados conjun- tos densos em si mesmos; mas vem a pêlo observar que se dá a qualificação de densos aos conjuntos em que se verifica uma de- terminada propriedade; importa, por censeqúência, fazer a com- paração entre os conjuntos densos e os conjuntos densos em si mesmos. Um conjunto é denso quando entre dois quaisquer dos seus pon- tos se pode sempre intercalar um terceiro, e, consoguintemeute, uma infinidade. Desta defini(::ao resulta que um conjunto pode ser concentrado sem ser denso. É o caso do conjunto constituído pelos números reais maiores que O e não superiores a 1, e pelos núme- ros reais não inferiores a 2 e menores do que 3. O seu derivado é constituído pelos números reais dos intervalos (O, 1) e (2, 3) no sentido lato. O conjunto proposto está, então, contido no seu deri- vado, e ó, portanto, concentrado, ou denso em si mesmo. Por outro lado, não satisfaz à definição que indiquei de densidade, pois que entre os seus elementos 1 e 2 não se pode intercalar nenhum outro, por não existir. Em todo o caso, é formado de duas partes, cada uma das quais é densa separadamente, os intervalos (O, 1) e (2, 3), excluídos o extremo anterior para o primeiro, e o ex- tremo posterior pí;ra o segundo. 100 JORNAL DE SCIÊNCIAS § 31. — A clíissilicíiçílo apresentíula iio parágrafo anterior é u qné vein em todos os livros, mas pai-a mim enferma dum vício, o é ({ue nâo abrange todos os conjuntos de pontos jiossiveis. Consideremos, por exemplo, um conjuuto (Aj formado pola jun- ção de dois conjuntos do igual número de dimensões, sem pontos comuns, um concentrado (C), outro fechado (F). [Em rigor, basta- ria que 08 pontos limites do (C), que nao são pontos de (C), não pertencessem também a (F); e que os pontos Isolados de (F) n^o ^XM-teuecssem to.dos a (Cj]. O conjunto (A) nSo é isolado, porque tem pontos limites; nfto é fechado porque nio contóm todos os seus porito> limites; não é concentrado porque possui pontos isolados; e nao t' perfeito por nEo ser concentrado nem fechado. P<: e tendem por conseguinte para zero quando v cresce indofinida- montc. O ponto tc é, pois, limite duma sucessão de pontos de (E), donde se conclue que o teoi*ema é verdadeiro. Vê-se também que os pontos limites existem no espaço limitado em que o conjunto (E) tem, por hipótese, um número infinito de pontos : e pode haver um apenas nesse espaço, o que corresponde ao caso do conjunto (D) de reduzir a um ponto único. I 35. — Estabelecido o teorema do Bolzano-Weierstrass, ó fácil concluir que o derivado (E') de qualquer conjunto (E), qne num es- paço limitado tem um número iiifinito de 2^ontos, é necessariamente um conjunto fechado. O conjunto (E') tem pelo monos um ponto limite (§ 34). Seja então TU (a, (3, . . .) um ponto limite de (E'). Podemos, por hipó- tese, determinar em (E') um ponto ^ {a', b', . . .) tal que o des- S- vio T:p' seja menor que — , por mais pequena que seja a quantidade positiva §. Por outro Kado, sendo js»' necessariamente um ponto limite de (E), podemos determinar neste conjunto pontos p [a, h, . . .) ^ tais que o desvio pp' seja também menor que — . Ora piz ^=- \ a — a \ -\- I (3 — h I -|- ..., e como \ a. — a I = j a — a' -\- a' — a [ ^ | a — a' [ -{- \ a' — a \ , e analogamente \Ç,-h\t\^~b'\ + \h'-h\ e o mesmo para as restantes variáveis, se as houver, temos, somando ordenadamente, p-^K-^p' ■{- pp'- Tem-se, portanto, p t: < (5 , donde se conclui que z é um ponto limite de (E), e pertence, por tcinto, a (E'). O conjunto (E') contém, então, os seus pontos limi- tes, quere dizer, é um conjunto fechado, q. e. d. 104 • JORNAL DE SCIÊXCIAS § 30. — Domonsta-sc ainda que o derivado (E') dum coiijunto concentrado (E) d um conjunto perfeito. Para mostrarmos que o conJQnto (E') O, na realidade, [)orfeito, temos do provar que ôlc coincido com o sou derivado ; o, como já sabemos pelo § 35, que todos os pontos de (E"j sSo pontos de (E'), basta provar que, reciprocamente, todos os pontos" de (E') são pontos de (E"). Ora, como o conjunto (E) está contido em (E),. qualquer ponto de (E') é limite duma sucessão de pontos do próprio (E'), o per- tence ipso facto a (E''), (j. e. d. § 37. — So um conjunto (El uílo contóm todos os pontos possí- veis, os pontos possíveis, que não llio pertencem, formam outro conjunto (C), que se chama o seu coniimto complementar. Assim por oxojnplo, considerando como pontos possíveis todos os núme- ros r<'ais, o conjunto dos números racionais e o dos níimeros irra- cionais Scão dois conjuntos complementares. Sejam (E') e (C') os derivados do conjunto (E) e do seu com- plementar (C). Podemos classiticar os pontos possíveis em três gru- pos distintos : 1." Os que pertencem a (E) som pertencerem a (C); 2.° Os que pertencem a (C) sem pertencerem a (E'); 3." Os que pertencem a (E) e (C), ou a (C) e (E'j. Os primeiros dizem-sc interiores ao conjunto (E), ou ateriores ao conjunto (C), porque é sempre possível tomar um número e sufi- cientemente pequeno para que todo? os pontos possíveis, cujo des- vio, em relaçcão a qualquer deles, seja menor do que e, pertençam a (E) e não a (C). Com efeito, se esse número nílo existisse, isto <'', se, por menor que fosse a quantidade })Ositiva ò houvesse sejupre pontos de [O, cujo desvio, em relação ao ponto considerado lôsse menor do que õ, ôsse ponto seria limite duma sucessão de pontos de (C), e pertenceria, iiortanto, a (C), o que é contra a hipó> tese. Os segundos dizom-so exteriores ao conjunto (E) e iiiteriores ao conjunto (C). Analogamente se rccoidiece que, neste caso, ó sempre possível tomar um número e suíicientcmento pequeno para que todos os pontos possíveis, cujos desvios, cm relação a qual- (juer deles, sejam inferiores a £, ])ertençam a (C) e não a (E). Os terceiros, que fazem parto ao juesmo tempo dum conjunto o do derivado do seu complementar, chamom-se pontosfronteiras. Note-se que a existCnicia dos pontos interiores ou exteriores não é essencial, istç é, iiin conjunto pode ser constituído so por pon- tos-fronteiras. E o que so dá, por exemplo, com o conjunto dos números irracionais. Todos eles podem considerar-se como limites de números racionais, isto é, pertencem ao mesnio tempo a (E) e a (C); todos Oles sào, conseguintemente, }»ontos-fronteiras. O mesmo so diz do conjunto complementar, formado pelos núme- ros racionais. Entretanto, os conjuntos fechados, que tCm pontos MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 105 interiores, apresentam um interesse particular; Jordan dá-lhes, por isso, o nome especial de domínios, palavra que, aliás, nem todos os geómetras empregíim com a mesma acopçrio. § 38. — Se um. conjunto não contém todos os pontos possíveis, lià sempre pontos-fronteiras. Sejam, com efeito, p (a, h, . . .) um ponto de (E) e 7t (a, [3, . . .) am ponto de (C), ambos tomados ao acaso. Designando por n um inteiro arbitrário, consideremos a suces- são dos pontos (« + ^[— ]. ^ + -,>[P-*]. ••■) em que m toma sucessivamente os valores O, 1, 2, 3, 4, ... , 2". O primeiro ponto desta sucessão é p; o último é tt. Seja pj, o últi- mo dos seus pontos que ainda pertence a (E), e tij- o imediato, que já pertence a (C). Pondo em evidencia os sistemas de valores das variáveis, que os definem, poderemos escrever i5, (a + f,[a — a], Z, + f, [(3 — ô] / ...), r.k {a -\- uu [a — «] , h -\- k,, [P — i] , • • ■), sendo tk e uu duas fracções compreendidas entre O e 1, diferindo entre si de —;^, e tais que a primeira não decresce e a segunda não cresce, quando n aumenta. Façamos então crescer n e suponhamos primeire que a fracção 4 nunca deixa de crescer, e a fracção uj- nunca deixa de diminuir. Neste caso t/c e Uu tenderão pnra um limite conuim O, e os sucessivos pontos 2h-, dum lado, e tv/,, do outro, terão, por limite comum o ponto Y(a-\-Q[a — a], è + 0[í3 + ò], , . .). Este ponto pertencerá, portanto, a (E') e (C')j e como também pertence a (lii) ou a C, porque por estes dois conjuntos se repartem todos os pontos possíveis, pertence ne.cessàriamente a um conjunto e ao derivado do seu complementar. E ura ponto-fronteira. Se a fracção 4 ficar estacionária, ou com um valor constante tu a partir dum corto valor de n, a outra fracção decrescerá tendendo para íj : o^s sucessivos pontos vr^ , tt.j _^ i , ... , tenderão, portanto, para 2^j- Este ponto pertencerá então a (C), e como também per- tence a (E) é um ponto fronteira. Do mesmo modo se raciocinaria se fosse a fracção Uk qne ficasse estacionária, ou com um valor constante u,j., a partir dum certo va- lOG JORNAL DE SCIÊNCIAS lor de n: a fracção t,, cresceria iiesto caso, tendondo para ííu., e tudo o mais so passaria como no caso anterior. § 39. — E fácil provar que ti. fronteira dum conjunto, quando tenha uma miinidade de pontoe, é um conju^rdo fechado, entendendo-so por fronteira o conjunto dos pontos-fronteiras. Seja com efeito b{ , b-i , b-i , ...,/;„ ... uma sucessík) ilimi- tada de pontos da fronteira (F ), que tendem para um ponto limite b. Vamos demonstrar que h pertence a (F). Daqueles pontos Z>„, em número infinito, ha do haver uma iwfi- nídãde pertencendo ao mesmo tempo, ou a (E) e (C), ou a (C) e (E') ; ainda ([ue uào os haja em número infinito fazendo parto dôs- tes dois grupos de conjuntos, há de necessariamente havê-los per- tencendo a um deles. Suponhamos entáo que daqueles pontos-fronteiras há uma infi- nidade pertencentes a (E) e a (C). O seu ponto limite b há de per- tencer aos derivados (E') e (C''), e como (C) é fechado pertencerá também a (C). Então, como todos os pontos possíveis se repartem pelos conjuntos (E) e (C), se pertence a (E) é um ponto-fronteira, por pertencer a (C); se pertence a (C) ainda é um ponto-fionteira, visto pertencer a (E'). Então b pertence a (F), q. e. d. Do mesmo modo se raciocinaria supondo quo, dos poníos-fi-on- teiras, havia uma infinidade pertencendo simultaneamente a (C) e (E'). § 40. — Se todos os elementos dnm conjunto linear são números inferiores a um número dado L, o conjunto diz-se limitado superior- mente ou à direita. Consideremos nesta hipótese o conjunto (A) formado pelos nú- meros maiores que os elementos do conjunto dado (E), e designe- mos por (Al) o conjunto complementar do (A), e por M o ponto- fronteira destes dois conjuntos. O ponto M» assim definido, tanto pode pertencer a (A) como a íAi), e ainda que pertença a (Ai) pode ])erteucer ou nãd a (E), pois que, se todos os pontos de (E) pertencem a (Ai), pode suceder qu(< nem todos os pontos de (Ai) pertençam a (E). Entretanto aquele ponto goza destas i)ropriedades : l.""' Não há no conjunto (E) nenhum elemento maior do que M; 2.^ Por menor que soja o número positivo ò existe sempre algum elemento de (E) que seja >• M - '} e ^ M. Com efeito, se houvesse em (E) um elemento M' superior a M, esse elemento não poderia pertencí-^r a (A), e pertenceria cousô- guintemente a (Ai) ; isto 6, haveria pontos de (Ai) situados para a direita o para a esquerda de M, o que é incompatível com o facto de este ponto ser um ponto-fronteira. Por outro lado, se, não pertencendo l\í ao. conjunto (E). fosse possível assin.i1.'ir nm lúinero p(i'- m. Este ponto m é a fronteira comum do conjunto dos números inferiores a todos os elementos de (E) e do seu conjunto comple- mentar; é o limite inferior do conjunto (E). Sc o conjunto é limitado à direita e á esquerda, pode dizer-se simplesmente que é limitado. Quando qualquer dos limites, M ou m, é um elemento de (E), diz-se que é um limite atingido^ neste caso aos limites superior e inferior também se dão, respectivamente, as designações de má- ximo e mínimo do conjunto. E, todavia, conveniente notar que alguns geómetras consideram sinónimas as designações de limite superior ou máximo, e de limite inferior ou mínimo. Parece-me, porém, mais lógica e naturiíl a nomenclatura que adoptei. § 41. — Encarando a possibilidade de qualquer dos limites ser, ou não, atingido, três casos se podem examinar. Supondo, para fixar ideas, que nos referimos ao limite supe- rior M, ó evidente que : 1.° Ou o limite M é atingido, mas existe um número positivo 5 suficientemente pequeno para que entre M e M — ò não haja nenhum elemento do conjunto; 2.*' Ou o limite M não é atingido, mas, por menor que seja o número positivo (5, existe sempre algum elemento do conjunto entre M e M— a; S:*^ Ou o limite M é atingido, e, ao mesmo tempo, por menor que seja o número positivo (5, existe sempre algum elemento do conjunto entre M e M — ò. Interessa, pois, conhecer: a) wSe, sendo o limite M atingido, existe, ou não, algum ele- mento do conjunto compreendido entre M e M — ò, por menor que seja (5; ou , b) Se, existindo sempre algum elemento do conjunto compreen- dido entre M e M — ò, o limite M é, ou não, atingido. 108 JORNAL DE SCIÊNCIAS No caso da alínea a), a resposta é, ovidentomente, afirmativa so o conjunto ó denso, pelo menos, nas vizijilianças do ponto M, por- que então entre qualquer elemento do conjunto situado nessas vizi- nhanças e o próprio ponto M pode-se sompro inti-rcalar um terceiro elemento, e, portanto, uma inlinidade. Mas esta condiçílo da densi- dade do conjunto nào é necessária. Com eleito, se o conjunto c concentrado ou perfeito, todos os seus pontos (e, portanto, Mj slo pontos limites, e a condição do haver elementos entre M e M — ò veriíica-so necessíirianíonte; ora já vimos que um conjunto pode ser concentrado sem ser denso, e mais adiante reconheceremos que há conjuntos perfeitos que nao são densos em intervalo algum. Mas a condição do conjunto ser perfeito ou concentrado tam- bém nfío ó necessária, pois que pode ser fechado e M coincidir com um dos seus pontos limites; ó, por exemplo, o caso do conjunto cujos elejnentos são .12 3 n 2 ' 3 ' 4 ' " ' »-!-]' ■ " ' O limite superior do conjunto coincide com o seu único ponto limite, ou seja o elonionto inicial 1. Entretanto, o ser o conjunto simples- mente fechado não c condição suficiente, puis M pode coincirlir pre- cisamente com um dos seus pontos isolados ; é o (pie se verifica no conjunto dos valores da função /(.r) = sen^-i- j;- 1 (^+ r definida no intervalo (o, -). n supõe-so inteiro e positivo. O segundo termo é igual a 1 no ponto -^ , o a zero em todos oo outros. Há um ponto isolado — , que corresponde a .r= — ; todos os pontos res- tantes são pontos limites; e estes pontos limites preenchem o inter- « 1 valo (O, 1), porque, embora a .r = --- não corresponda o valor— , esto valor não doixa de aparecer, porque ó o que se obtém 5 . . 3 para .r:=— ::. O limite superior ó, como se vé, o ponto isolado — . No caso da alínea b), M é necessariamente atingido se o con- junto é fechado ou perfeito, pois que M, nesta hipótese, é um pouto limite, o os conjuntos fechados e perfeitos compreendem todos os seus pontos limites. Mas esta condição não é necessária, pois que, si-ndo o conjunto simplesmente concentrado, pode,M ser justamente um dos pontos comuns a ele e ao seu derivado. K o que confirma, por exemplo, o conjunto formado por todos os pontos dos interva- los (O, 1) e (2, 3). com exclusão do 1 e do 2. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 109 Quanto aos conjuntos, que chamei complexos, com esses podem verificar-se todos os casos. O conjunto (E), considerado no § 31, tem um limite superior atingido, que é o número 2, mas entre 2 o 2 — d não há nenhum elemento do conjunto logo que se tome ò — e ^ 3, ó também complexo porque não com- ^ 3 5 2)reende os seus pontos limites -^ o -— , o tem o ponto isolado 2. O seu limite superior 3 é atingido, o entre 3 e 3 — 5 existe sempre algum elemento do conjunto, por menor que seja á. Resulta desta discussão que só para os conjuntos 'perfeitos limi- tados superiormente é que podemos afirmar à priori que o limite superior M goza das três seguintes propriedades : 1."'' Não há no conjunto nenhum elemento maior que M; 2."'^ Há no conjunto um elemento igual a M; 3.^ Por menor que seja o número positivo (5, existe sempre no conjunto algum elemento compreendido entre M e M — h. Análogas considerações so podem fazer com relação ao limite inferior. § 42. — A questão de um limite ser, ou não, atingido pode apre- sentar-se sob um outro aspecto, aliás equivalente no íundo. O limite superior, por exemplo, é atingido quando há no conjunto um ele- mento que é maior do que todos os outros; não o é no caso con- trário. O primeiro caso verifica-se no conjunto dos números reais compreendidos entre O e 1 no sentido lato; existe nele o ele- mento 1, maior do que todos os outros, que é um limite superior atingido. O segundo caso pode exemplificar-se com o conjunto dos 110 JORNAL DE SCIÊNCIA6 números irracionais eomproondidos no incsmo ijitervalo, o qual tem, ovidonteiriente, 1 como limito superior não atingido; por mai« ]tróximo que nm d('s«os números esteja do 1, pode-se sempro inter- calar, entre ele e a unidade, outro número irracional, o que mostra a impossibilidade do haver no conjunto um elemento maior de que todos os outros. Semelhantemente, o limite inferior ó atingido se há no conjunto iini elemento menor do que todos os outros ; nio o ó no caso con- trário. § 43. — Se vários conjuntos lineares (Ei), (Ea), . . . íCmu limites su- periores M( , M? , . . . , é manifesto que o conjunto f Ei -f E-j -}-...), formado pela sua junrão, também é limitado superiormente, e que o seu limite su})erior é o maior dos números Mi, M-2 , ... . Rticíprocamente, se um conjunta linear (E), que admite um limite superior M, so pode decompor em conjuntos parciais (Ei), (Ej), . . . , todos estes conjuntos parciais sRo igualnieute limitados à direita, e o limite superior de cada um deles é, (piando muito, igual a M. Conclusões semelhantes so tiram para os conjuntos limitados inferiormente- § 44. — Estendamos agora a noção de conjunto limitado aos con- juntos a qualquer número de dimensões. Dizemos que um conjunto (E), cujos pontos são sistemas do va- lores de 71 variáveis ,r, y, ... 6 limitado, quando são limitados, cada um de per si, os conjuntos dos valores de todas essas variáveis. Se os valores do x estão compreendidos entre a e b, o \x\ nílo pode exceder o maior dos dois números \a\ e |&|, que designare- mos por v}i. Do mesmo modo, se os valores de ;/ estão compreendidos entre . MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 113 Diáiiiotro dum t-on junto limitado c, pois, o limito superior do conjunto formado pelos desvios mútuos dos seus pontos tomados dois a dois de todas as maneiras possíveis. b) Seja p um ponto definido por um sistema de n números o (E) um conjunto no mesjno espaço a n dimensões. Os desvios de p aos diferentes pontos do (E) formam um conjunto de números não ne- gativos, que por isso mesmo é limitado inferiormente (f 40). O seu limite inferior 6, por definição, o desvio do ponto p em relação ao conjunto (E;. c) Do mesmo modo, dados dois conjuntos (E) e (Ei) formados por pontos du mesma natureza, e tendo, portanto, o mesmo número de dimensões, os desvios de cada um dos pontos de (E) a todos os pontos do (El) (ou vico-versa) formam outro conjunto de números não negativos, tendo, portanto, um limite inferior. Esse limite é, por definição, o desvio dos dois conjuntos. Quando este desvio não é jmio diz-se que os conjuntos estão separados. § 47. — A propósito do desvio de dois conjuntos demonstrare- mos o seguinte teorema: Se dois conjuntos limitados e fechados (E) e (Ei ), sem j^ontos co- muns, têm um desvio A, há pelo menos um ponto de (E) e um ponto de (El), cujo desvio é jjrecisamente ifjual a A. Sejam, com efeito, píx , y , . . . ) os pontos de (E), epi {xi , ?/i , . . .) os pontos de (Ei). Associemo-los dois a dois de todas as maneiras possíveis, do maneira a formar novos pontos [pp>i'\ [x , y , ..., Xi, yi, . . . ). Sendo (E) e (Ei) limitados, o conjunto (EEi) 4os pontos [p2')i'\ ó igualmente limitado. Os módulos das 2n variáveis x, y, ... , xi, yi,. ,. , que os definem, tôm, com efeito, ura limite superior, que é o maior dos dois que correspondem separadamente aos módulos das n variá- veis X , y , . . . , e das n variáveis Xi , yi .... Sendo (E) e (Ei) fechados, o conjunto (EEj) é igualmente fechado. Na verdade, se [x iri] («, 6, - - -, ai , bi, ...) é um ponto limite de (P]Ei), os pontos t: (a , b , . . .) e tzí {a^ , bi , . . .) são pontos limites de (E) e (Ei); pertencem, portanto, a estes con- juntos, donde se segue que o ponto [r: -ki] pertence a (EEi). Posto isto, se não há em (E) um ponto p e em (Ei) um ponto 791 tais que o seu desvio seja A, bá-de haver, em todo o caso, pelo menos, um ponto j^' de (E) e um ponto ^;'i de (Ei) tais que o seu. desvio seja menor que A-f-e, sendo s um número positivo tam pequeno quanto se queira (§ 40). Seja d' o desvio^' p'i. Tomemos um número positivo e, inferior ao menor dos dois números d' q ^ Há-de haver igualmente um ponto p" de (E) e um ponto p"í de (Ei), cujo desvio seja inferior aA-j-ci. Seja d" esse desvio. Podemos da mesma maneira obter outros dois pontos />'" e p"'i, um de (E), outro de (Eij, cujo desvio seja inferior ao menor dos 114 JORNAL DE SCIÊNCIAS dois uÚQioros á" o — - ; o assim indefinidumonto. Obteremos deste modo uma succssUo ilimitada de pares de pontos ^.»', ^9'i ; />'', p"i ; p"\ p"'i ; • • • 1 CUJOS desvias mútuos coaviM"í:jem para A. Os pon- tos [/>' p'i], ip" p"{], • • • do conjunto limitado (EEi), sondo em namoro infinito, admitem um ponto limite [p p\], o como os pon- tos [/;'"' i>i ], que tendem para ôsse limite, correspondem a pares de pontos /j'") e ;;["' , cujos desvios convergem para A, os pontos p e />( têm exactamente o desvio A. Mas, como o conjunto (EEi) é fechado, o ponto [ppi\ perte;>ce a (EEi) e, portanto, os pontoa p Q p\ pertencem, respectivamente, a (E) e (Ei). Então o teorema é verdadeiro. E claro que A nlo pode ser nulo, aliás os pontos p tí pi con- fundir-se-iam, e os conjuntos (E) e (Ei) teriam um ponto comum, o que ó contra a liipótes<3. § 48. — Temos considerado até aqui os pontos limites em geral, sem distinguirmos aipieles a que Lindelot' deu o nome especial de pontos de condensação (§ 28). Vamos agora estabelecer algumas propriedades que interessam espccialmento a essa classe particular de pontos limites. Costuma-se demonstrar, de camada em camada, que todo o conjunto nílo numerável, limitado ou nílo, admite, pelo menos, um ponto de condensação; que os pontos de condensação dum conjunto nílo numerável formam um conjunto perfeito; e que todo o con- junto fechado pode sempre decompor se num conjunto numerável e num conjunto perfeito (teorema de Cantor-Bendixon). Mas as demonstrações que se me tôm deparado supõem, gratuitamente, a qualidade do numeráveis em conjuntos quo muitas vezes podem compreender somente um número finito de elementos. Por outro lado, o próprio enunciado do teorema de Cantor-Bendixon nílo pode cousidorar-se como absolutamente verdadeiro sem umas certas res- trições mentais. Assim, por exemplo, o conjunto íechado O i- i- -- ... - ... nílo pode deeompor-se num conjunto perfeito o num conjunto nume- rável; decompõo-so, sim, mas é no conjunto finito constituído pelo ponto O, que é o seu derivado, e no coiíjunto numerável formado pelos elementos restantes. Por outro lado, é evidente que se pode formar um conjunto fechado juntando a um conjunto perfeito qual- quer número finito de pontos isolados. Entílo, no enunciado daquele teorema tem de subentender-se que o conjunto fechado, de que se fala. náo é numerável, e que na designaçílo do conjunto numerável se compreende como caso particular o conjunto linito. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 115 Estas considerações sugeriram-me a conveniência de enunciar o teorema de Cantor-Bendixon duma forma mais precisa, e de modi- ficar, eial)ora ligoirauiontOj as demonstrações habituais. Vou então ocupar-nie dos princípios, a que me reporto, pela maneira, que por melhor se me oferece, começando por apresentar no parágrafo segumte um lema que muito facilitará a exposição. § 49. — Um conjunto (Fj), formado pela reunião duma infinidade numerável de conjuntos (Eii, (E2), . . . , (E ), . . . , finitos ou nu- meráveis, é numerável. Com efeito, importando considerar todos os casos possíveis, podemos começar por estabelecer que estes silo : Ou os conjuntos (E,i) são todos numeráveis; Ou são todos finitos ; Ou há um número finito de conjuntos finitos e uma infinidade de conjuntos numeráveis; Ou há um número finito de conjuntos numeráveis e uma infini-, dade de conjuntos finitos; Ou, fiiuilmeníe, liá uma infinidade de' conjuntos finitos e uma infinidade de conjuntos numeráveis. Se os conjuntos (E„) são todos numeráveis, o conjunto (E) é numerável, como se demonstrou no § 11. So são todos finitos, podemos dispor seguidamente, numa ordem convencionada, primeiro os elementos de (Ei), depois os de (E^), de- pois os de (E3), e assim seguidamente. Chega-se à mesma conclusão. Se há um número finito de conjuntos finiios e um número infi- nito de conjuntos numeráveis, a reunião destes últimos forma ainda um conjunto numerável (N) (§ 11), visto que, podendo-se sempre dispô-los pela ordem da grandeza crescente dos seus índices, essa infinidade de conjuntos é numerável (§ 6). Por outro lado, a reu- nião dos conjuntos finitos forma, evidentemente, um conjunto finito (F). E, finalmente, a junção dos conjuntos (N) e {¥) dá ainda um conjunto numerável (§7). Sb há um número finito de conjuntos numeráveis e um número infinito de conjuntos finitos, a reunião destes últimos, como se acaba de ver, dá lugar a um conjunto numerável; e a junção deste conjunto aos restantes conjuntos numeráveis (E„), que são em número finito, dá ainda um conjunto numerável (§ 8). Finalmente, se há uma infinidade de conjuntos finitos e uma infinidade de conjuntos numeráveis, a reiinião dos primeiros deter- mina um conjunto numerável (N), e a dos segundos, outro con- junto numerável (N'), (§ 11); e a junção de (N) e (N') dá, mais uma vez, um conjunto numerável (§ 8). Então o lema enunciado é verdadeiro em todas as hipóteses (*). (*) Reconhecida a necessidade, que procuro evidenciar, de se atender aos conjuntos finitos, o princípio do § LI pode logo estabelecer-se com esta forma 116 JORNAL DE SCIÊNCUS § 50. — Posto isto, vamos demonstrar quo todo o conjunto não numerável, limitado ou não, admite, pelo menos, um ponto de con- densação. Mostraremos primeiramente que podemos considerar apenas coiíj untos limitados, pois, embora o conjunto dado níto o seja, as cousas passam-se como se o fosse. Digo, com efeito, que é sempre possível achar um número R suficientemente grande para quo o conjunto dos infinitos iiontos do conjunto dado, cujos desvios, em relagílo a qualquer ponto fixo V do mesmo conjunto, são inferiores a II, seja não numerável. Se assim não fosse, poderíamos considerar uma sucessão de números indefinidamente crescentes Ri , Ra , R:í , • • • , R» , • • • o seriam liiiitos ou numeráveis: 1.° O conjunto dos pontos cujos desvios em relação a P são meno- res do que Ri ; 2.° O conjunto dos pontos cujos desvios em relação a P são iguais ou maiores do que Ri o menores do que Ra ; 3.° O conjunto dos pontos cujos desvios em relação a P são iguais ou maiores do que Ri e menores do que Rs ; e assim sucessivamente. O conjunto proposto, constituído por uma infinidade numerável de conjuntos finitos ou numeráveis, seria, portanto, numerável (§ 49), o que é contra a hipótese. Então, por as cousas se passarem, em todos os casos, como se o conjunto fosse limitado, ou, o que ó o mesmo, como Ole contém uma infinidade não numerável de pontos num espaço limitado, podemos estabelecer o ])rincípio pela. mesma forma por que no § 34 demonstrámos o teorema de Bolzano-Weierstrass. Xeste caso. quando dividirmos o intervalo entre os limites, superior e inferior, das variáveis, em n partes iguais, o formarmos os ??'■ conjuntos parciais, associando de todas as maneiras possíveis os intervalos que respeitam aos valores de todas as variáveis, um desses conjun- tos, pelo menos, há-de conter uma infiuidade não numerável de pontos, pois quo, se todos Cios contivessem pontos om número finito ou numa infinidade numerável, o conjunto formado })cla sua junção seria finito ou numerável, o que é contra a hipótese. E como os pontos 7>i , p-2, ])3, '•• , neste caso, formam uma sucessão numerável qualquer, extraída duma infinidade não numerável de pontos do conjunto dado, o seu ponto limito 6, como se pretendia provar, um ponto de condensação. mais geral. E convém empregar, por ser o mais simples, o processo de demons- tração «Irsse mesmo § 11, cuja aplicabilidaile se reconhece atendendo à obser- vação final do § 9 e à circunstância de os elementos dos conjuntos finitos se poilerem numerar. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 117 § 51. — Os pontos de condensação dum conjunto não numerável formam um conjunto 2^er feito. Seja (E) o conjunto dado e (K) o dos soiis pontos do condensa- ^^ão. E nocessário provar que o conjunto (K) ó fechado e não tem pon- tos isolados. Rpconliocemos qno ó fechado notando que, sendo rJ um ponto limito do (K), há cm (K) pontos -, cujos desvios om relação a rJ sao inferiores a número positivo dado — , por menor que soja d ; e, sondo qualquer desses pontos -nr um ponto de condensação do (E), h'\ em (E) pontos/?, formando uma sucessão Jião numerável, cujos desvios em relação a n são também inferiores a — - . Então, pro- cedendo como no § 35, reconhece-so q;ue é 2)7:' <^ o donde se depreendo que 77' é um ponto de condensação de (E) o pertence, conscguintemento, a (K). Para provarmos que (K) não tem pontos isolados, admitamos, por absurdo, que o seja um dos seus j)ontos w. Dada uma sucessão indefinida de números decrescentes dl , dl , dff , . • • , dn • • • , tendo zero como limite, e sendo di escolhido por forma que não haja nenhum outro ponto de (K ) cujo desvio em rcdação a o< seja menor do que di, poderemos decompor o conjunto dos pontos do (E), cujo desvio em relação a o) seja menor do que rfi , numa infi- nidade numerável de conjuntos finitos ou numeráveis, o primeiro formado pelos pontos cujo desvio em relação a w seja c?^; o segundo, por aqueles cujo desvio em relação ao mesmo ponto seja c?i e rfa e Haidos por qualquer número finito ou por uma infinidade numerável do variáveis, vimos nos §§ 2() o 21 que, querendo a|tenas determinar a potCmcia do con- junto, ó lícito 8uj)or (|uo os valores que as variáv»'is tomam perton- cem todos ao intervalo (O, 1 ). Por outro lado, entro todos os pon- tos deste intervalo e os números irracionais nele contidos, existe uma correspondência unívoca o recíproca, de modo que, para a consideraçílo da potência, ó ainda permitido substituir os valores MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS , 123 efectivos das variáveis pelos correspondentes números irracionais do intervalo (O, 1). Podemos, por consequência, limitar-nos a considerar um con- junto (E), cujos pontos são definidos por coordenadas irracionais compreendidas entre O o 1. Como vimos nos §§ 20 e 21 pode-so fazer corresponder a cada um desses pontos um número irracional do mesmo intervalo; e reciprocamente. Seja (J) o conjunto desses números irracionais, que tem a mesma potência que (E). Posto isto, suponhamos agora quo o conjunto (E) é perfeito, e que estamos no caso do § 20. Cada um dos pontos de (E) é limite duma sucess<ão de pontos do mesmo conjunto / i i i \ Pi (^1 ' '^2 ' • • • ' ^« ) de sorte que, sendo ""h-- 0, em ^eral, ter-se há ll- + _il- + ... (7^ = 1, 2,...,. o I «/. I ^, -1J_ + J-L +... {k = í,2,...,n) ai \ l^ a, = lim CL h /: b, = l/m b] h k Então, quando no intervalo (O, 1) determinarmos, pelo processo do § 20, o ponto tc' que corresponde a ?:, e os pontos jx que cor- respondem a Pi, reconheceremos que ti' é o ponto limite da suces- são dos pontos p^ . De modo que, se todos os pontos do (E) são pontos limites, e não há outros, todos os pontos de (J) são igual- mente pontos limites, e eles só. Quere dizer, de ser perfeito o con- junto (E) resulta que o conjunto linear (J), que tem a mesma potên- cia do que êle, ó igualmente perfeito. Por igual forma raciocinaríamos se estivéssemos no caso do- §21. Vê-se, pois, que, para determinar a potência de todo e qualquer conjunto perfeito, basta considerar os conjuntos perfeitos a uma só dimensão, limitados. E então destes que vou ocupar-me, supondo-os, para maior generalidade, contidos num intervalo (a, b), que pode ser diferente do intervalo (O, 1). 124 JORNAL DE SCIKXCIAS § 58. — Estudemos, primeiro quo tudo, a estrutura dos conjun- tos perfeitos lineares. O caso mais simples é o do conjunto conter todos os pontos dum intervalo, ou dum número finito do intervalos compreendidos entre dois números dados. Neste caso a sua potên- cia é a potência do contínuo. Se outra ó a estrutura do conjunto perloito (E) contido num intervalo (a, bj, seja y; um ponto dôsso intervalo quo nfto pertenço a (E). Êsso ponto divide o conjunto i Kj noutros dois: o conjunto Eli, formado pelos pontos (pie ficam à os(pierda de p , o o con- unto (E-j) constituído pelos pontos quo ficam à sua direita. Ambos estes conjuntos sa,o perfeitos. Com efeito, qualquer dOles só tom pontos limites e devo conter todos os seus pontos limites, pois que entre um o outro fica o ponto /? , que nílo só nilo pertence a (Ei, como também njlo pode ser nenhum dos pontos limites de (Ei. O con- junto (Kl) tom por limite superior um ponto M, o o conjunto (E^i tom por limite inferior um ponto N, o ôsses limites, ambos atingi- dos, pertencem necessariamente a (E). Entilo, nem M nem N coin- cidem com 2h ficando assim este ponto dentro dum intervalo MN, do (piai só as extremidades pertencem a ( E). O Sr. Bairo deu o nomo de intervalos contíguos ao con junto (E) a estes intervalos M N, que vimos de definir. Todo e qualquer ponto do intervalo (a, b], que nào pertence a (E), ó, portanto, interior a um intervalo contíguo, sendo a palavra interior tomada no sou sentido próprio, que exclui os limites do intervalo. Posto isto, o conjunto dos intervalos contíguos ao conjunto (E), se niío é finito é necessariamente numerável, pois como a soma de todas as suas amplitudes nâo pode exceder a do intervalo {a, b), são sempre em número l'mitado aqueles cujas amplitudes excedera um número dado (5. Podemos assim numerar primeiramente aqueles in- tervalos cuja amplitude excede o; depois aqueles cujas amplitudes são iguais ou menores (juc ò e maiores que---; depois aípioles cujas amplitudes silo iguais ou menores quo e maiores quo -.; ' e assim sucessivamente. O (pie prova o »[ue afirmamos. Assim, considerando os conjuntos finitos incluídos nos conjuntos numeráveis como caso particular, podemos enunciar o seguinte teo- rema devido a Cantor: Um conjunto perfeito linear pode ohter-se suprimindo do intervalo (jue o contê/ii todos os j)Oiitos interiores a um conjunto niuneràvel de intervalos sem pontos comuns, e até sem e,Hremos comuns. A razão por (|ue se acrescenta — e até sem e.itremos comuns — é porque, se dois intervalos contíguos tivessem um extremo comum, esse extremo comum seria um ponto isolado de (E), e (E) nflo tem pontos isolados por ser perfeito. lle(;íprocamente, se suprimirmos dum intervalo (a, b) todos os pontos interiores a uma iiijinidade numerável de intervalos sem pon- MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATUEAIS 125 tos comuns, nem extremos comuns, o conjunto restante (E) será per- feito. Em primeiro lugar, desta supressão resulta sempre um conjunto (E), pois que os extremos dos intervalos n?lo sao suprimidos. Em segando lugar, esse conjunto (E) ó fechado, pois que todo o ponto de {a, h), que não lho pertence, é um ponto do interior dum intervalo contíguo, o não podo por isso ser ponto limite de (E). Finalmente, no conjunto (E) não pode haver pontos isolados, visto que, se existissem, seriam os extremos comuns de dois inter- valos contíguos, o estes, por hipótese, não têm extremos comuns. Logo o conjunto (E), sendo fechado e sem pontos isolados, é per- f*3Íto, q. e. d, § 59. — Pelo processo das supressões, que acabo de indicar, é possível construir conjuntos perfeitos que não são densos em inter- valo algum. Limitar-me-hoi a apresentar o exemplo mais simpleâ. É o conjunto das frações decimais, limitadas ou não, que se escre- vem só com os algarismos O e 1. E fácil de ver que este conjunto é perfeito, mas não é denso em nenhum intervalo. Com efeito, dado um elemento qualquer deste conjunto, pode obter-se uma infinidade doutros cujos desvios em relação ao pri- meiro sejam tam pequenos quanto se queira, o que quere dizer que todos os pontos do conjunto são pontos limites. (Por exemplo, se o elemento dado é 0,0101, há no conjunto uma infinidade de pontos cujos desvios em relação ao primeiro não excedem, suponhamos^ 0,0001; ou sejam 0,01011, 0,010101, 0,0101011, 0,0101001, etc.) Por outro lado, nenhuma outra fracção decimal do mesmo inter- valo (0,1) pode ser ponto limite do conjunto dado, pois fica^ com- preendida necessariamente entre dois elementos do mesmo conjunto do que difere de grandezas finitas. (Assim, por exemplo, 0,023 está compreendido entre 0,1 e 0,0111111111 . . . e sendo 0,1 — 0,023 = = 0,073 e 0,023 — 0,011111111 = 0,01188838..., vê-se que não há no conjunto dado nenhum elemento cujo defívio em relação a 0,023 seja inferior a 0,01). Estabelecidos estes dois factos, é evidente que o conjunto dado é perfeito. Entretanto o mesmo conjunto não é denso em intervalo algum, pois há em qualquer intervalo fracções que se escrevem com alga- rismos diferentes de O e 1, e que pertencem, conseguintemente, a intervalos contíguos ao mesmo conjunto. Por exemplo, a frac- ção 0,006 pertence a um intervalo contíguo, cujos extremos são 0,01 e 0,0011111 . . . . E é claro que, entre os pontos do con- junto, que são extremos de intervalos contíguos, não se pode inter- calar nenhum outro elemento do mesmo conjunto, por isso que não existe nenhum no interior desses intervalos. § 60. — Todos os conjuntos perfeitos lineares não densos são se- melhantes. 126 JORNAL DE SCIÉNCIAS Sejam, com eleito, (E) e fE') dois conjuntos perfeitos lineares não densos, o primeiro comj)rei,'ndido num intervalo (a, t>) e o segundo num intervalo (a! , b'). Vamos reconhecer que ó possível aplicá-los um sobre o outro (§ 20), de maneira a conservar-se a ordem de grandeza entre os elementos correspondentes. Para isso faremos corresponder os intervalos ò, contíguos a (^E), aos interva- los ò' contíguos a (E'), do maneira que os (jue se correspondam fiquem dispostos na mesma ordem nos dois segmentos (a, h) e [a! , b'). Comecemos por fazer corresponder o maior intervalo ò^ de (E) ao maior intervalo ò^ do (E'); dei)0is os maiores intervalos com- preendidos entre a e íi , que designaremos por ò^ , e ejitre $i a b, que designaremos por òi, respectivamente, aos maiores intervalos compreendidos entre a' e ô^ , que chamaremos ò,^ , e entre 3^ e b', que chamaremos $^ . Continuemos assim indefinidamente a tomar em cada um dos conjuntos dados o maior intervalo que houver entro dois já considerados, e a fazer corresponder entre si os que caibam a intervalos que já forem correspondentes; por este pro- cesso todos os intervalos dum e doutro se nos irão deparando, e poderemos dispõ-los na mesma ordem. , O conjunto (E'; fica assim aplicado sobre o conjunto (E), por- que os extremos dos intervalos se correspondem uniformemente na mesma ordem, e, com eles, todos os pontos limites, únicos que exis- tem, visto os conjuntos serem perfeitos. O princípio enunciado é, portanto, verdadeiro. E conveniente notar que, na aplicação dum conjunto sobre o outro, se conservam os pontos limites. § 61. — Nâo é possível fazer uma aplicação rigorosa dum con- junto (E), perfeito, linear e não denso, sobre o conjunto, com a potência do contínuo, formado por todos os pontos do intervalo (O, 1). Com efeito, os extremos dum intervalo contíguo a (E) sao dois pontos entre os quais não há nonhum elemento de (E), em- quanto que entro dois números quaisquer, pertencentes ao con- junto contínuo (O, 1), pode-so sempre intercalar uma infinidade de pontos do mesmo conjunto. A aplicação pode, todavia, efectuar-se, se convencionarmos que os dois extremos dum mesmo intervalo contíguo a (E) correspondem a um ponto único do intervalo (O, 1). Para o demonstrarmos, basta-nos considerar um conjunto parti- cular, visto todos os conjuntos perfeitos lineares nao densos serem semelhantes (§ 60). Consideremos, então, o conjunto das fracções decimais, limita- das ou não^ que se escrevem somente com os algarismos O o 1. E, como vimos (§ 09), um conjunto perfeito não denso. Para realizar a correspondência, ])or ordem de grandeza, com o intervalo (O, 1). basta fazer corresponder cada fracção decimal à que se escreve da MATEMÁTICAS FÍSICAS E NATURAIS 127 mesma maneira no sistema de numeração de base 2. Cada número do intervalo (O, 1) obtém-se deste modo uma só vez, excepto os números racionais cujo denominador é potência exacta de 2. Para estes há duas expressões diferentes no sistema de baso 2, uma limitada, outra ilimitada. Por exemplo, a fracção um meio ó repre- ■sentada no sistema de base 2 ou por O, 1, ou pela dízima ilimi- tada O, 011111 .... Estas duas fracções, no sistema de base 10, representam então dois elementos diferentes de (E), entre os quais não pode haver nenhum outro elemento do mesmo conjunto, o que são, por consequência, os extremos dum intervalo contíguo a (E). Vê-se, pois, que, se abstrairmos dum dos extremos de cada um dos intervalos contíguos, suprimimos do conjunto (E) uma infinidade numerável de pontos (§ 58), o que não altera a sua potência (§ 14); e, como abstraindo desses extremos o conjunto resultante é aplicá- vel sobre o intervalo contínuo (O, 1), segue-se que o conjunto (E), e, portanto, todos os conjuntos perfeitos lineares não densos, têm a potência do contínuo. § 62. — Resulta do exposto nos §§ 57 a 61, que, qualquer que seja o número das suas dimensões, Todo o conjunto perfeito tem a potência do contínuo. c) Conjuntos fechados § 63. — Um conjunto fechado (E) tem um derivado (E'), que pode ser finito, numerável ou não numerável. Nas duas primeiras hipóteses o conjunto (E) é numerável. (Le- mas III e IV). Na terceira, como (E') é uma parte da (E), o conjunto (E) tam- bém não é numerável ; admite, conseguintemente, pontos do con- densação : e pelo teorema de Cantor-Bendixon pode decompôr-se num conjunto perfeito o num conjunto finito ou numerável. Mas os conjuntos perfeitos t«m a potência do contínuo, e a adição a um conjunto doutro, que seja finito ou numerável, não altera a sna po- tência. Então, nesta hipótese-, o conjunto (E) tem a potência do con- tínuo. Logo Todo o conjunto fechado^ ou é numerável, ou tem a potência do continuo. d) Outros conjuntos § 64. — A potência dos conjuntos concentrados ainda até hoje não foi determinada, e muito menos a daqueles que tenho conside- rado sob a designação de complexos. Embora nas três classes anteriores só encontrássemos conjuntos tendo a potência do numerável ou a potência do contínuo, não repu- gna admitir que haja alguma potência intermédia. Cantor pensava que não havia, mas o facto é que ainda hoje não se pode dar à 128 JOllXAL DE SCIÊIÍCIAS qaestão uma resposta definitiva. E. essa resposta torna-se tanto mais difícil quanto ó certo ({uo o derivado dnm conjunto nada escla- rece sObre a sua potOncia. Assim o conjunto dos números racionais do intervalo ('>,!) o o conjunto dos números irracionais do mesmo intervalo tCm ambos o mesmo derivado, que ó o conjunto dos núme- ros reais do intervalo (0,1) no sentido lato; em todo o caso o pri- meiro daqueles dois conjuntos é numerável o o segundo tem a po- tência do contínuo. Termino aqui as minhas reflexões. A mensurarão dos conjuntos é, certamente, um dos pontos mais interessantes e mais úteis desta teoria, mas nfio preciso ocupar-me dôle, pois nada tenho a juntar, pelo menos por ora, ao que sObro o assunto dizem os livros da especialidade. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 129 RÉSUMÉ L'intention de Tauteur, en publiant ce travail, est d'exposer quel- ques remarques sur la théorie des ensembles qui lui ont ótó suscitées dans la pratique de renseigiiement. Ces remarques portent princi- palement sur la théorie des ensembles de points, mais, pour plus de clarté, Tauteur fait le développement de cette théorie, en inter- calant ses remarques au fiir et à mesure, et le fait preceder d'un coup d'oeil sur la théorie des ensembles abstraits. L'une des remarques qu'il presente se rap porte à la classifica- tion des ensembles de points. Même en admettant la distinction en- tre les ensembles fermés et les ensembles parfaits, il y a une classe d'ensembles qui n'entre dans aucune de celles considérées jusqu'ici; c'est celle des ensembles avec points isoles et points limites, qui ne contienuent pas tous leurs points limites. II propose pour ces en- sembles la désignation de complexes, parce que ce sont eux qui pré- sentent le degré le plus élové de complexité au point de vue de leurs rapports avec Tensemble dérivé. Un autre point, sur lequel il insiste, c'est la nôtion d'ensemble borne. II discute spécialement, dans le cas des ensembles bornes, la question de savoir si, lorsque Tune limite M est atteinte, il y a, ou non, qutílque élément de Tensemble compris entre M et M-^ quelque petit que soit ò] ou si, lorsqu'on sait qu'entre ilf et M-ò il existe toujours quelque élément de Tensemble, quelque petit que soit ò, la limite M est, ou non, atteinte. D'autres de ses remarques se rapportent aux ensembles finis. L'auteur prétend montrer non seulement que ces ensembles doivent être consideres comme dos cas particuliers des ensembles dénom- brables, mais encore que plusieurs príncipes d'application constante ne sont véritables dans toutes les hypothôses que moyennant cette considération. De là la convenance de modifier certains ónoncés, pour les rendre précis et rigoureux, et la necessite de compléter 130 JORNAL DE SCIÊNCIAS cortainos dómonstrations, poiír que toutes Ics hvpothèses possibles soient prises on considóration. Cola s'applÍ4UC, par exemple, au cólôbro théoròrae de Cantor-Bendixon, que Tauteur ónonceainsi: «Tout ensomblo fermé, nou dénombrable, peut toujours so décom- poser OQ iiii ensomblo paríait et un ousomblo fini ou dÓDombrable». En torminaiit ses cousidórations par la dótermiiiation do la puissanco des eiisembles de points, Tauteur cherche à donner uno démonstration géuéralo do co que tous les onsombles parfaits ont la puissanco du continu, quoUo que soit leur structure et le iiombre do leiírs dimonsioas. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 131 LE ALTERAZIONI SPLENICHE NELLA LEISHMAMOSI INFANTILE OSSERVAZIONI DEL PRíF. ENRICO EMÍLIO FRANCO Dirottore dellUstituio di Patologia Oencrale e di Anatomia Patológica doll'L'iiivernitá di Lisbona Lo studio (lollo Loishmaiiiosi finora ó stato fatto principalmente nei riguardi dolla parassitologia o delia clinica, coniprondcndosi in quest'ultima le osservazioui dollo alterazioni oinaticho iutoso a scopo di diagiiosi o le modiiicazioni dcl sauguo prima e dopo la spleue- ctomia. I reporti auatomo-patologici non hanno fatto oggetto di studi spocialmento sviluppati. Quosti ultimi furoiio presi in considora/.ione quasi osclusivamonto da ricorcatori italiani clie hanno avnto modo di osservaro un numero considorevole di ctisi nella mota sud dolla Ponisola. Nella Penisola Ibérica solo la Dottoressa Nieves Gon- ZALES Baruio, di Madrid, se ne é occiípata, studiando orgaui da parecclii anui conservati in difterenti liquidi ; in Portogallo, (uiontre delia distribiizione topográfica dcllo Lletanionte i tíbroblasti. Le iibre elastiche sono ia tutto uormali. Solo ia <|iuilclie follicolo con iporproduzioae connettiva si vidoro raro o tinissime íibrille rettiliuee neoíormato. Noi foliicoli tibroudonici le «Gitterfàseru», sono júú o meno svikippate e spcsso molto grosso o tortuose. Esse partoao dai contorni delia ponieillare, talora solo da un lato, tal altra da tutta la periferia dei vaso, veneudo a costituire cosi una specie di «capiit Medusao». Attoruo ad alcuai foliicoli sono sviluppate in jQiOiio da formare un anello perifoilicolare. In alcuni foliicoli, eccetto che attorno alia arteriola, non si colorano altre «Gitterfàsern» ossia non si colora uii reticolo cndofollicolare di queste fibre. In alcuai foliicoli, oltre alia i[)erprodazioae cona(.'ttiva, si ha fra le collule liufocitarie infiltrazione di eniazie ben conservate. Nei foliicoli non esistono né collule contenenti Leishmanie, nó parassiti liberi. Polpa rossa. II reticolo dei cordoni delia polpa rossa non ó né aumentato nó leso. Lo maglio di esso sono in alcuno zone niolto ri- strotte, in altre son ampie. Le «Gitterfàsern» sono normali sotto ogni aspetto. Lo lacune delia polpa contengono sempre molti elemeuti oellulari ; alcune, anzi, ne sono completamente ripiene. Tali elementi sono emazie in scarsa quantitá, non molti granulociti e molte cellule mononucleate, grandi, con núcleo pallido, talora vescicoloso, con largo proToplasma spesso vacuolizzato e contenente ancho globuli rossi, oltre numeroso Leishmanie. Queste ultime non si trovauo mai dentro gli endoteli che rivestono lo lacunp. Nei cordoni delia polpa rare sono lo celltile in mitosi, molti i globuli rossi ben conservati e pochi in distruzione; poche le Pla- smazellen disposto senza ordine; rarissimi gli eosinofili, rare cellule globulifere, assenti le pigmeutifere. I vasi delia polpa non haaao alterazioni, e nemmono le cellule endoteliali di questi, come quelle delle lacune, contengono mai i parassiti. Lo cellule che contengono questi ultimi sono molto mono nume- rosa di quelle dei precedente caso. Sono grandi, con núcleo pallido o sovente vescicoloso, riunite a gruppotti di G-12, disposto ora in tutta vicinanza alie pareti delle lacune o dei vasi, ora da questi disíanti e ora adese alie fibre dei reticolo. Non esistono parassiti liberi, né dentro ad altri elementi cellulari che non siano idescritti. Esame degli organi deirilo Kami arteriosi : sonza lesioni. Non vi sono parassiti nó dentro gli endotoli, né dentro le poche oellule nucleate commiste, nel lume, ai non molti globuli rossi. Rami venosi. — Nei maggiori non si vedono né alterarioni né pa- rassiti: contengono scarso sangue. I rami minori contengono abbon- MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 137 dante sangue: molte le cellule nucleate, specialmente linfociti. As- senza di parassiti. Liaíatici e nervi : normali. Preparati per istricio (Da punture aspiratrici deda milza eseguite qualche giorno prima delCoperazione, e daWorgaao asportalo chirurgicamentej Cellule priínordiali. Abbondano le cellule moiiocitoidi emoistio- blasticbo, talora binucleate. É assai notevole il loro potere fagoci- tario, trovaadosi dentro ai loro corpo globuli rossi aucbe ben con- servati, rarlssimameute qualche granulocita neutrófilo a nucloo po- lirmofo, e perfino normoeritroblasti ortocromatici. Rarissimi gli emo- citoblasti. Serie granulocitiche. Nessun elemento immaturo. Granulociti ma- tai*! : neutrofili non copiosi. Assenti gli eosinofi.li ed i basofili. Serie monocitica: Mouoblasti pochi. Monociti abbondanti. Serie liníbcitaria. Lialbblasti e prolinfociti numerosi. Linfociti piccoli basofili: numerosissimi; linfociti leucocitoidi con granulazioni azzarrofile : pochi. Serie emoglobinica. Cellule immature : normo-eritroblasti baso- fili: abbastanza numerosi; policromalici od ortocromatici: scarsi. Molte emazie con policrorautofilia ordinária (non azzurrofila). Plasraazellen: non molto abbondanti. Cellule tipo RiEDER e TiJRK maocano. Megacariociti : assenti. Piastrine, poche, isolate; alcuno normali, altre grandi, altre ancora gigantesche. Globulifere e pigment'fere: rare. Pigmento libero: molto scarso. Molte cellule, specialmente linfociti e monociti, sono in distru- zione. Cellule parassitifere : abbondanti. Hanno i medesirai caratteri di quelle dei Caso I. Qualcuna, peró, ha il núcleo coUe caratteristiche di quollo degli emocitoblasti; (forme di passaggio fra le cellule emoistoblastiche monocitoidi e gli emocitoblasti?^ II citoplasma, che é idêntico a quello delle cellule parassitifere dei Caso I, talora pre- senta granulazioni azzurrofile. I parassiti dentro di esse sono sem- pre pochi; egualmente poche sono le Leishmanie libere. In altri elementi che non siano i su citati non esistono parassiti. CASO III Bambino di 14 mesi, di Lisbona, splenectomizzato il 27 Giugno 1914 dal Prof. Salazar de Sousa. Misure delia mdza : lunghezza 14 cm.; larghezza 8,5 cm.; spessore 3,5 cm. Peso 295 grammi. Forma ovoidale con due inci- s.ure sul margine anteriore, una presso ciascuno dei poli. Capsula ed ilo normali. Superfície di sezione rosse ; foUicoli visibili sotto 138 JORNAL DE SCIÊNCIAS forma di puiiticiíii biancastri ; trabocolo uoa visibili. Paronchima consistente. Una lievc suítusiouo cmorrajíica sottocajjsulare iiol polo iuforiore, o una piccola zona eraorragica nel paronchima, nel ceutro dei viscaro. Non vi sono iutarti. AlTilo piccoli gangli apparcnte- mento sonzu lesioni. Esame istologico Capsula o trabocolo souza lesioni ; norinule il loro tessuto elá- stico. FoUicoli. Alcuni non hanno alterazioni ; i duo strati, gerrainativo o lintbblastico, o periforico o liníbcitico, sono bon distinti. Nel primo vi sono cellule in mitosi, il clie diinosti'a Tattivitá íunzionanto doi foUicoli stossi. In alcuni lo strato gorminativo ó molto svilup- pato. In tali foUicoli nessuna cellula contieno parassiti. Altri foUicoli, invece, si staccaao dalla norma: in alcuni non esisto uno strato gorminativo; altri sono molto ridotti di volume; altri ancora sono ridotti ad un esiguo accumulo di cellule linfocitario. Nella gran magi;ioranza di questi foUicoli anormali vi ó iperprodu- ziotie di connettivo clio prende punto di origino dairavventizia deirarteria penicillaro. Questa neoformazione deltessuto disostegno che si dispone a reticolo a maglie di ampiezza differento, ora é ap- pena inci|)iente, ora ó assai sviluppata, ed in tali casi ad essa si deve Tatrofia dei nódulo foUicolare. Spesso ó abnormemente svilup- pato Tanello di RbriUe connettive chc ancho normalmente trovasi alia periferia di parecchi foUicoli. Non o da obbiettarsi che questo anello cosi ispessito possa esscre dovuto ad uno stiparsi delle fibre connettive dello stroma delia ])olpa rossa attoi-no ai foUicoli per pressione eccentrica de;:li clementi di qnesti ultimi su di esso, per- cho gli anelli alio volte niaiicauo attoriio a foUicoli grossi e, vice- vorsa, sono presenti alia periferia di altri foUicoli di volume ridotto od esiguo. II connettivo neoformato trovasi spesso in degenerazione ialina, mai in quoUa amilóide. In grembo a quosto connettivo si trovano s])esso tíbrille elasti- che noii abbondanti, sottiUssime, rettiliiiee, qnalchevolta in coniles- sionc con quelle deiravve/itizia delia penicillaro. Si tratta evidente- mente di librille neoformate. Nei foUicoli fibroadenici, in grembo ai connettivo neoformato, é abbond.int(í lo svilnppo dcUo «Oitteriasern» che si disjxmgono a reticolo a maglie di diversa am])iezza. Questo fibre non sono sinuo- so, partono dai coutorni dalla penicillar(s, o non si dispongono mai, come quelle dei caso procinlente, a «caput Medusae». Alia iieriferia di qualcho follicolo sono spocialmcnte abbondanti, formando uno sposso anello perifoUicolaro. LVndotelio deirarteria ])enicillare 6 integro e nei snoi elementi non si trovíino mai parassiti. Lo Leishmanie esistono abbondanti dentro ai foUicoli, nel corpo di cellule con núcleo pallido e talora vescicolare, con citoplasma MATEMÁTICAS, B^í SIGAS E NATURAIS 139 abbondante, nbn dissimili a quolle studiate nei due casi clie prece- doQO. Tali olementi parassitileri talora somigliano molto ai liníb- blasti drllo strato germinativo dei follicoli di Malpighi. Polpa rossa. II suo reticolo é d iffii sãmente aiimeiítato ; esso si dispone a maglie strette o larghe secoado le zone. Lo lacune hanno diÔerento ampiozza, ma in geueralo il loro lume ó ristretto; in quosto sonvi globuli rossi e numeroso coUule nucloate fra cui alcune notevolmente grandi contenenti parassiti. Le cellule eudoteliali dolle lacune non presoutano particolaritá dogue di nota e non con- tengono mai Leishmanie. Nella polpa rossa le fibre elastiche sono completamento normali per sede, numero, volume, costituziono. Lo stesso dicasi delle «Gittoríasern». Nei cordoni delia polpa esistono moltissime cellule grandi e mo- nonucleate contenenti parassiti: esse sono identiciío a quelle viste nei follicoli, e, come queste, ora sono in tutta prossimitá dei vasi, ora ne sono dlscoste. Insiomo a tali cellule parassitifere si trovano Pla- smazollon discretamente numHrose, rari oosinofili, rare pigmenti- fere, non abbondanti globiilifere, o scarso pigmento extracellu- lare. Le globulifere contengono, alie volte, anche qualche Leishma- nia. Qualche cellula delia polpa rossa é in mitosi. Esame degli organi deirilo Eoperto idêntico a quello dei caso precedente. Proparati per i^triscio Cellule primordiali. Abbondanti cellule emoistioblastiche con núcleo monocitoide, di cui parecchio liauno núcleo linfoblastico. Emooitoblasti : molti. Serie granulociticho. Cellule immature: qualche proraielocito e mielocito neutrófilo, o ancho qualche raro mielocito eosinofilo. Man- cano le basófilo. Cellule mature : granulociti neutrofili non abbondanti ; eosinofili rari ; basofili nessuno. Serie monocitica. Monoblasti e moaociti : rari. Serie linibcitaria. Liufoblasti, proliníbcitielinfocitimaturi: abbon- danti. Alcuui di questi ultimi apparteugono alia varietá leucocitoide con grauulazioni azzurrofile. Serie emoglobinica. Cellule immature. Normoeritroblasti baso- fili: molti; policromatici : parecchi (non azzurrofilij. Ortocromatici: rari. Abbondano emazie policromatofile, . grandi. Emazio mature normali : molte. Plasniazellen : non numerose. Elomenti tipo IIíeder e Tíjrk: assenti. Mi^gacariociti : ranssimi (non piastrinogeni). Piastrine poche e grandi. 140 JOKNAL DE SCIÊNCIAS Globulifcro, pigmontifore o pigmento libero : assenti. CpUuIo iu distruzioue: puche. Celliilo parassitiiVre : numerose. Qualcuna (•> idêntica a quell& descritto nei due precedenti casi (cellule emoistioblasticlie monoei- toidi). La maggior parto, pur avendo lo stosso citoplasma arapio, fi- namente granuloso, cho si colora íq bleu-rossastro sporco col May- Gkúnwald-Giemsa, sono ])eró piú piccole, e uon hauno, o hauno pociíi prolimgamenti. II loro núcleo prcsenta i caratteri di quello dei liufoblasti (lorma tondeuto alia rotondu o alia ovale, filameuti di cromatina grossi con spazi chiari intorposti, n"cleoli colorati in rosa). Rare cellule contonenti parassiti hauno núcleo con struttura clie sta, fra qiicUa dei monociti e quella dei liníbblasti, o citoplasma blou cliiaro, fiuissimamente granuloso ; i loro contorni sono toudoggiauti, senza prolungamenti. Le Leishmanio contonute in tutti qucsti elementi non sono molto numeroso (da 1 a 15). Parassiti libori sono poclii. CASO IV Bambina di tre anni o mozzo, operata di splenectomia il 16 Di- cembre 1919 dal Prof. Salazar de Sousa. E di Vila Franca de Xira (Ribatejo), donde non si era mai mossa. Milza. Niente di notevole nella sua forma che é ovoidale. Lunghezza 18 cm.; larghezza 10; spossore 5. Pesa 450 gr. Capsula normale. Parenchima rosso scuro, poço consistente, non diffluonte. Follicoli ben visibili sotto fornia di puntioini biancastri; non si scorgono ad occhio nudo lo trabecolo. In tutto Forgano sono dissominati piccoli punti emorragici. Non vi sono infarti. In oorri- spoudenza delTilo, due gangli lintatici ovoidali, piccoli, rosei. Niente di notevole nel loro parenchima. Esame istologico Capsula e trabecole senza lesioni. II loro tessuto elástico é normale. Follicoli. Soltanto rarissimi si possono dire integri. Quasi tutti presontano le iiote delia fibroadenia consistenti, come noi casi pre- cedenti, in una ueoformazione di connettivo ciie si origina dairavven- tizia delia penicillare. Attorno a qualcuno si trova, anche, ispessi mento deiranello di connettivo che ancho normalmente, ma moita piú sottilo, esiste alia periferia di alcuui follicoli. La fibroadenia ó piá o meno sviluppata secondo le zone, ma mai tanto da ridurre tutto il follicolo ad un blocchetto di connettivo. La rete connottiva intrafollicolare é a niaglie molto stretto, in ognuna dello quali si trovano una o due cellule. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 141 Assolutameiíte assente la neoformazione di íibre elastiche. Le- «GitterlaseriiDjlianuo la iiormale disposizione, ma sono uotovolmeute aumentate di numero e di spessore. Non é iufrequente la degenerazione ialiua dei conuettivo neo- formato. Talora, ma di rado, si ha anche degenerazione ialina delle pareti delia penicillaro. Manca sempre la leaziono delTamiloide. Noirendotelio delia penieillare non si trovano mai parassiti. Nei íbllicoli sono rari i linfoblasti, e rare le carioeinesi. Un cen- tro germinativo non si trova mai, per quanto in qualche rara zona, vista a piccolo ingrandimento, si potrebbe sospettare che un vera centro germinativo esistesse. A forte igrandimento, peró, si scorge che il preteso centro germinativo é formato da cellule rigonfie a protoplasma torbido, con núcleo vacuolizzato ed in lisi, e da blocchetti di sostanza ialina che ad un attento esame si rivelano per emíizie omogeneizzate e coníiuenti le une colle altre. Fra gli ele- meiíti linfocitari dei foUicoli esistono abbondanti emazie ben con- servate. 8oltanto in questi foUicoli con un pseudo centro germinativo si trovano cellule parassitarie, le qucili sono numerosissime, raccolte presso la penieillare, o un poço da essa distanti, talora aderenti alie fibrille dei reticolo come" negli altri casi. Queste cellule sono t\i- midis coa núcleo pallido o vescicoloso, ibrnito o no di nucleoli. Polpa rossa. Le laciino sono in geuerale ristrette. II lume di molte é addirittura abolito, essendo i cordoni tumefatti per la enor- me qiiantitá di ebnneiiti celhilari nucleati e di emazie. Nel lume delle lacuiie si trovano numerosissimi globuli rossi conservati ed in distra- zioue c molti elementi nucleati delia serie monocitica e linfocitica. Raro le cellule contenenti parassiti. II reticolo delia polpa rossa é ora normale, ora aumentato. La nooproduzione conneltiva parte dagli strati profondi delia capsula, dalla avventizia dei vasolliai delia poli)a e dalla periferia delle tra- becole. Viceversa non parte dal connettivo che sta attorno allVndo- telio delle lacune. Non v'é alcuna neoformazione di íibre elastiche. Le «Oitterfásern» hanno disposizione normale, ma sono aumentate di volume e di numero. Degli elementi cellulari delia polpa rossa le globulifere e le pigmentifere si trovano solo in alcune zone, ossia in quelle che, come si dirá, non presentano parassiti. Abbondanti dovunquo le Plasmazellen, che non hanno sede di preddezione. Numerosissimi i globuli rossi, raccolti talora in piccolí íbcolari, e rari, relativamente, i bitinchi a núcleo polimorfo. Raro le cellule in mitosi. Qualche artéria d''Ila polpa ha la parete in dege- nerazione ialina: ncirendotelio delle lacune e dei vasi non si tro- vano raai Leishmanie. Cellule parassitifere. Convien notare che in questo caso, per ragioni che sfuggono, i parassiti si colorano male anche su pezzi fissati freschissimi sia in Zenker che in formalina ai 10 % ed in álcool. 142 JORNAL DE SCIÊNCIAS 111 alcuno zono le ccllulo parassitifere sono assenti, in altro sono abbondíiutissimo. In quosto ultimo si raccolgono a gruppi di molti elomonti scnza prediloziono di sedo. Soiio collule chiaro, grosso, túmido, con núcleo spesso vaeuolizzato, identicho a quoUe descritto uei follicoli (li questo stessu caso. Talora rabboudanza dogli elo- monti oolliilari (lolla polpa rossa ó tale che i cordoni si rompono in coiTispuiidoiiza dolle pamti dollo lacune vonendosi a vcrsaro dentro di esso lo singelo cellulo, compreso buon numero di quelle che con- tongono parassiti. Esame degli orgaui deirilo , lioperto idêntico a quello dei Caso II. Preparati per istriscio (Falti dalLa vnha appena asporlola) Collule priniordiali. Emoiutioblasti: vedi cellulo parassitifere. Qualclio emocitoblasto. Serie granulocitica. Cellulo immatnre: qualcho promielocito o miolocito neutroíilo. Mature: pochi neutrofili. Assenti gli acidofili o i ba'^ofili. Serie monocitica. Numerosi monoblasti o monociti. Serie liiitbcitaria. Liiitbblasti coj)iosi; prolinfociti o liníbciti nu- morosissimi. Serie emoglobinica. Collule immature : numerosi normoeritro- blasti basotili o policroraatici ; rari gli ortncromatici. Emazie poli- croniaticlio frequeiíti; alcuiie eoii granulazioiíi basófilo (maturazioue deH\'ritrocito a tipo embrionalo). Niente di uotevole negli eritrociti maturi. Plasmazellen copioso. Cellulo tipo RiEDEK assenti. Tipo TiJiiK : discretamente nume- roso. Alogacariociti: assenti. Piastriae: poclie o seiíza alcunchô degno di nota. Pigmeiítifere e globulitere: raríssimo. Pi;_Mneato libero: assento. Colliil(í ])arassititbre: abbastanza numeroso ia alcuai ])reparati, mancanti dol tutto ia altri. Lo stosso dicasi doi parassiti libori aegli strisci. Le collule couteneati Loishmaaie haaao aucloo monocitoide, con o seaza nuclooli : sono tipici emoistioblasti. Protoplasma sottile, blou pallido, fiaameate graauloso, talora coa qualcho piccolo vacnolo. II citoplasma lia coatorai rogolari. toadoggiaati, 'aitidi o non ])0S- siode graauliizioai o filamoiiíi speciali. Alouao di (luoste cellulo con- tengoao poclio Loishmaaie; altro ao hoiio completamente jtieiíe. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 143 CASO V (Autopsia n" 4148 deW Istituto dl Patologia Generale e di Anatomia Patológica deW Università di LisUona : 19 Gennaio 1920) Bambina di 4 anni, nata a Silvos (Algarve) ; aveva contratta la nialattia a Moita (Ribatejo); venne a morte per broncopolmonite bilateralo. Alia necroscopia si trovarono : steatosi dei íegato, dei cuore e dei reni ; iportrotia di tutto il sistema gangiiouare linfático; un nódulo caseoso nel polmone destro ; midollo delle ossa lunghe funzionante. In vita si orano riscontrati i parassiti di Leishman nel sueco splenico. Milza. Arrivava inferiormente ad 1 cm. sotto la spina iliaca superiore anteriore; anteriormente ariivava ad una linea tirata pa- rallelamente alia mediana dei corpo, |)artendo dal limite tra il terzo médio ed il terzo interno delia clavicola sinistra. Le sue misure sono : liinghezza 18 cm. ; larghezza 10; spessore 4. Peso ; 350 grammi. Capsula ed ilo normali. Parenchima moUe, nou difíluente, di color rosso scuro. xid occliio nudo non si vedono né le trabecole né i follicoli. Non vi sono infarti né (Muorragie. Nel polo superiore un piccolo nodo caseiíicato, sottocapsulare. Esame istologico A piccolo ingrandimento il fatto che piú spicca é 1'enormo quan- titá di globuli rossi che infiltra i cordoni delia polpa, mentro ci6 non esiste nei íollicoli. Ne vien di conseguenza che in molte zone questi ultimi sembrano immersi in laghi di sangue. Capsula e trabecole sono normali, come normale ò il loro tes- suto elástico. Follicoli. In generale sono picroli; in piú punti quasi non sono riconoscibili. L'arteria penicillare ha talora Tendotelio desquamato; le cellule di esso non contengono m;ii parassiti. II connettivo di sostegno é aumentato con punto di origine dairavventizia delFarte- ria; non é, peró, mai molto abbondante, né vi é mai neoformazione di fibre clastiche. Esso forma una rete a maglie larghe e irrego- lari, e non ó in preda alia degeuerazione ialina. In qualcho foUicolo si trovano blocchetti ialini doA uti ai Ibndersi di emazie ialinizzate, Le «Gitterfásern» sono piú abbondanti e piú spesse delia norma, ma non hanno una particolare di?posizione. Le cellule próprio dei follicoli sono rappresentate da numerosi linfoblasti e da copiosissimi prolinfociti o linfociti. Nei follicoli non si trovano elementi che contengano parassiti. Polpa rossa. II reticolo in alcune zone é normale, in altre é au- mentato lievemente o fortemente a seconda dei punti. Le maglio 144 ' JORNAL DE SCIÉNCIAS che esso forma sono piuttosto largho. La iiootbrniazione coniiettiva parte dall'avvontizia dello venule o dollo artoriuzze delia polpa. Nessuiia iioolbrmazioiio di fibro elastiche. «Gitterlasern» abbondauti, spesse, sinuoso, coii regolare disposizione. I vasi sono coiigesti Nello lacune vi é molto sangue fra i cui olonieiiti esistono numeroso cellulo pignientilere. Alcuiio lacuno haiino le pareti rotte sicché il loro coiitenuto ematico stravaaa iiei cordoui. 1 cordoai delia polpa sono infiltrati da numerosissimi globuli rossi commisti a moltissimi elementi collulari ; eió fa clio il tessuto alie volte si presonti compatto, si ehe sposso le lacuno, compresse, noa si vedoiio che osservando con moita attenzione. Nei loru endo- teli noQ si trovano mai parassiti. Lo cellule parassitifero risirdono ora iu viciíiauza dello pareti delle lacune, ora sono da esse distanti e senza ordino fisso. Esse hanno le stosso caratteristicho di quelle dei casi cho precedono. Le pigmentifere sono molte numeroso in alcuno zone, mentre mancano in altre. Dove vi sono pigmentifere, mancano le parassitifere. Talora il pigmento riempie lo cellule endoteliali delle lacune. Le globulifere sono relativamente raro. Non si trovano raegacario- -citi. Esame degli organi dell'ilo Eeperto come quello dei casi che precedono. Proparíiti per istriscio (Fatti aW autopsia) Cellule primordiali: molte cellule a núcleo monocitoide, emoi- stioblastiche, o pochi emocitoblasti. Serie granulocitiche. Cellule immataro: nessuna. Mature: rari granulociti neutrofili; rarissimi gli eosinofili; assenti i basofili. Serie monocitica. Monoblasti c monociti : non nuraero^i. Serirt linfocitaria. Linfoblasti: copiosi. Prolinfociti e liufociti: nu- merosissimi. Serio omogolobinica. Cellule iramature: proeritroblasti e nor- moeritroblasti basofili non molto numerosi. ^leno copiosi i policro- matici. Ortocromatici : rari. Globuli rossi : qualche policromatofilo. Normal i gli ortocromatici. Cellule tipo Riedkk: assenti. Tipo TiJUK: non molto numerosa. Globulifere: rare; sono quelle che contengono parassiti. Pigmentifere : assenti. Pigmento libero: manca. Plasmazellon: copiose. Megacariociti: assenti. Piastrine: poche e normali. Cellule parassitifere: moltissimo. Sono dei tipo delle omoistio- blastiche monocitoidi, con núcleo tondo od ovale abbastanza rego- MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 145 lare, con iiucleolo bleu o rosa. Citoplasma ampio, bleu-violetto sporco, finamente granuloso, senza filamenti o granulazioni spe- ciali, qualche volta con prolungameuti irrogolari a pseudopodo. I contorni cellulari ancho degli elementi tondeggianti sono sempro sfuraati, indecii^i. Qualcuna di queste cellule ha il núcleo nettamente linfocitico. Altre presentano il núcleo deteriorato, pallido, mal colorabile (fe- nomeni cadaverici?). CASO VI Bambino di 5 anni, di Poço do Bispo (Lisbona), splenomega- lico e profondamente anemico. Malato dei Prof. Pulido Valente. Preparati per istriscio (Fatti con sueco splenico ricavato con una puntitra aspiratrice delia milza) Celliile primordial! : pochi emoistioblasti conteneuti parassiti (v. cellule parassitifere) e scarsi emocitoblasti. Serie granulociticho. Cellule immature: mieloblasti i)roneutrofili e mielociti neutrofili scarsi: mancano cellule immature eosinofile e basófilo. Elementi maturi: pochi granulociti neutrofili, rari relati- vamente gli acidofili. Mancano i basofili. Serie monocitica. Pochi monoblasti e monociti. Serie linfocitaria. Numerosi liaíbblasti prolinfociti e linfociti. Serie emoglobinica. I suoi elementi abbondano. Molti di essi sono evidentemente deteriorati, ció che é indicato dalle frequenti vacnolizzazioni dei núcleo e dei citoplasma. Nelle cellule di questa serie le mitosi sono rarissime. Le emazie presentano sovente lapo- licromatofilia ordinária (non azurrofila). Qualcuna é anche punteg- giata. Le emazie mature, ortocromaíiche, non hanno nulla degno di nota (assenza di anisocitosi, poichilocitosi, forme giganti, ecc). Plasmazellen : presenti non abbondanti. Lo stesso dicasi degli elementi tipo Tíjrk. Rieder: assenti. Megacariociti: rarissimi e non piastrinogeni. Piastrine: pochis- sime e normali. G-lobulifere, pigmentifere e pigmento libero mancano dei tutto. Cellule parassitifere : molto poche, grandi, tondeggianti o con molti prolungameuti citoplasmatici. Núcleo grande-, rosso violetto chiaro con reticolo finíssimo, monocitoide. Nucleoli bleu, molto pal- lidi. Citoplasma sottile, lievemente bleu, finissimamente granuloso, senza granulazioni o filamenti speciali. Molti parassiti nel loro in- terno, con núcleo, blefaroplasta e contorni cellulari ben visibili (come quelli dei Caso I). In nessuna altra specie di elementi si trovano Leishmanie. Parassiti libori fra le cellule: non abbondanti, normali. 146 JORNAL DE SCIÊNCIAS CASO VII Bambino di 2 auni o mozzo, da Setúbal, ove coiitrasso la malat- ia. Anomico e spleiíomogalico. Malato dol Prol". Salazar. Preparati per Istrisclo (Ricavati da una puntura asi>iruíricf. delia milza) Cellulo primordiali : qualcho raro eraocitoblasto. Emoistioblasti (v. cellulo parassititero). Serio grauulociticlie. Maiicauogli olemouti iinmaturi. Collulo ma- turo : liou abboiídaiiti grauulociti iioutrofili. Eosiaofili o basofili man- -eauo. Serio monocitica. Monoblasti o monociti iii discreto numero. Serie liatocitaria. Copiosi liiiíbblasti, prolintociti u liufociti. Serio emoglobiuica. Elemeiíti inimaturi: ([ualcho raro megalo- blasto basófilo. Prooritroblasti e normoeritrohlusli basofili graudi e piccoli e policromatici nou abboiídanti. Normoeritroblasti ortocro- matici: noa copiosi. Eiuazio : aaisociti e poichilociti. Policromatotília noa azzurrofila. Plasmazellea : raro. Cellulo tipo IliEDKU : asseati. Tipo Tíjrk: poche. MeííHcai-iociti: assenti. Piastriao : numeroso, normali. Globulifere: sono tali solo lo cellulo clie contengono ancho pa- rassiti; ])igmentiíero o pigmento liboro maaoano. Cellulo in distruzione: numeroso. Cellulo parassititero: numerosissime, con nuclei grandi, tondi, ovali, allungati, arcuati, irn-golari, qualcho volta con vacuoli, a struttura nitidamente moaocitoide. Ia tali nnclei spesso mancano i nuclooli. Quando vi sono, si colorano in rosa e |)iú raramente in bleu. Quak-ho núcleo ha struttura linfocitoido. Citoplasma ampio, irregolare, con proluagamoati, finissimameato graauloso, sposso va- cuolizzato, alio volto ridotto como ua cribro. Ksso si colora col método di May-Ghíjmwald-Gikmsa, in blou violáceo sporco. Qualcho volta in questo citoplasma si vedono granulazioni blou od azzurrufilo. Doutro a questo cellulo i parassi.ti si trovano in numero raolto vario. Alcune no sono complotamonte pioao, altre, oltro ai paras- siti, contongoao piastriao od omazie ; mai pigmento. Parassiti liberi soão moltissimi. Spesso si tovaao doutro a una sostaaza clie ha i medesimi caratteri dei citoplasma delle parassiti- fero sopra doscritte o cho non ó se non fiammouti di osso. In altri olomeati coUulari cho aoa siaao i sopra detti non esistono parassiti. -MlTRMÁTIOAS, vLskJAS K NATUliAlS 14:1 CASO VJir Baiiihiiiu (li 3 aiiiii, da l*o(;o do 13ís|K) (LisboiKi). Aiioiiiia pro- íoihIíi; s[)l()ii()m();j;vili;i. Mulata d(d l*r<)l". Salazar de SouSa. Preparati per istrisclo (Fiil.ll col. sueco spleiílco trallo von luia piinlura at<[>irairict:) (Jollulo })riiiiordiali: maiicaiio gli oinocitoblasti ; miiaorosissimi {^li oíDoistioblasti a iiiicloo inouocitoido. Serio graiiulociticlie : maiicaiio gli olomoiitl immaturi; d(ú iiiatiiri si vodoiio soltaiito i iieutroíili. Sorio nioiiocitica : moiio))histi rari ; monociti ])Oclu. S(3rio liaíbcitaria : liiifoblasti o proliiifociti discrotam(3iito ab)>oii- daiiti ; liiiíbciti molti. Serio oinoglobinica. Elomoiiti immaturi : rarií prooritroblasti. Qualcho oritroblasto basófilo o qualclio uormooritroblasto policromá- tico od ortocromatico cou núcleo iii piciiosi. Qualcho emazia cou policromatofilia ordinária. Piasmazelloii : molto numeroso. Collulo tipo RiEDEK: assenti; tipo Tíjrk: assai rare, Megacario- citi: assenti. Piastrine : molto o normali. Globulifero numeroso; appartengono tiittc alie cellnle enioistio- ))lastiche-a núcleo monocitoide. Pigmentiíbro e pigmento libero mancano. Cellule in distruziono: pocho. Cellule parassitifere. Pocho; tutte dei tipo delle eiuoistioblasti- cho monocitoidi, con citoplasma a molti prolungamonti. Molto sono binncleate. I caratteri dei citoplasma sono i soliti; non lia vacuoli. 1 parassitl in esse contenuti sono sempre pochi. Oltre a (piosti molte contongono piastrine e globuli rossi ; mai leucociti. Leishmanie libero poche. I parassiíi non si trovano in altri olementi cho non siano i sopra descritti. CASO IX Bambino di 4 anni o mezzo, nato a Santarém (Ribatejo), da cui non si mosso mai. Splonomogalico. Punture aspiratrici delia milza positive per i corpi di Leishman : lo stesso dicasi per il midollo ós- seo ottenuto per trapanazione deirepifisi superiore delia tibia. Splenectomía il 1 Maggio 1920 (Salazar de Sousa). Milza dol peso di 850 gr. Lunghczza 23 cm, ; larghezza 12 cm. ; spessore (> cm. Forma ovóide, regolare. Una incisione peco profonda sul mar- gine anteriore, in prossimitá dei polo superiore. 148 JOUNAI. 1)K SCIÊNCIAS Capsula dol tiilto norraalii. Oonsístoiíza (!(»! viscoro solida, elá- stica, raroiichinia: assoiiza íli iiilarti ; íollicoli beii visibili sotto forma (li puiiti 1)ianoastri dolla grossozza (li tosto di s])illo ; polpa di rolo- tito rosso scuro ; iiiiium(M"(ívoIi einorragie dolla ^raiidozza da una oapoccliia di spillo a quolla di uii cece, sparsc per ogiii dovo, o spe- cialmoiito abboiídaiiti liiiip,o ii marj^iiio ])ostori<»r<% ovo coiifluiscoiio iii parto. Durante la si)lonoctoniia osco dal tronco ilolla vona spbuiica abbondantissimo sanguo scuro, fluido. So n(^ fanno strisci por resame istologico. Airilo un pacchetto di gangli linlatici grossi da un ceco ad un fagiuolo, non íusi tra di loro, consistenti, con parencliiina conge- stionato, umido. Anchi^ colla loro polpa, coiikí c(Hi cjiiolla didla rail- za, si allostiscono proparati por istriscio. Esame istologico Capsula normalo; trabecolo ])urc senza alcuncUi) di notevolo. 11 loro tossuto elástico non mostra ])articolarJtá dcgno di nota. Follicoli. Molti sono grandi, con largo centro germinativo, il quale sposso ó piú amplo delia corona di olomenti linfocitari clio vi sta attorno. Nel centro germinativo non sono raro lo cellulo in ca- riocinosi e i globuli rossi normali, iníiltrati fra i suoi elementi. 11 reticolo dei follicoli é soltanto raramente aumontato (fibroa- denico) per neoformazione di Hbrille cho partono dalla avventizia delle ponicillare o per ingrossamento delle prcesistenti : in (|ualcho centi'0 germinativo fra lo cellule si trovano dei blocclii di sostanza ialina che si colora in azzurro col método di Hihukut-í^IallíHíy- LoWExSTEix. Non vi 6 neoformazione di fibre elastiche. In altri follicoli lo lesioni sono piú gravi. La penicillare, puro avendo pareti integre, d deformata per la pressione su di essa eser- citata da un 'enorme quantitá di emazie che lia occupato il corpo dei follicolo, disgregandone gli elementi. Fra emazie o cellule pró- prio dei follicolo esiste gran quantitá di pigmento granulare che dá le reazioni dei ferro (omosiderina). Tntto airiutorno resiste ancora un auello di cellule linfoidi. Questo aspetto delia penicillare conservata iu mezzo ad nn lagu di sangue é costante. Alcune volto Teraorragia ó piú imponente o trabocca dai limiti dei nódulo follicolare ílisgregandoli dei tutto o versandosi nella circostante ])olpa rossa. Inline si arriva a questo : grosso zolle di pigmento giallo, che si dirobbe iu via di cristalliz- zazione, che non dá la reazione dei ferro, sono circondate da uno stipato reticolo di fibre connettive che si colorano intensamente in azzurro col método di Perls per il ferro. Tra fibrilla o fibrilla vi sono granulazioiíi di pigmento che non dá questa reazione, globuli rossi e fibroblasti. Alia periferia di questo complesso di elementi si trova la pojii- cillare larga ed intatta : o il tutto é aflbndato in un lago di sangue, Matemáticas, físicas jí naturais 149 ossia di globiilí rossi bou coiisorvcati fra cui osistono colliilo linfoci- toidi e pigmotito granularo linissirao clie iioii dá la roazioui dei ferro. Tiitto attorno v'c la polpa rossa, a tessitura molto sti- pata. Noti vidi losloni vasali clie ginstificliino questi accumiili di san- gue uoi quali uoii si trovano, o sou rarissimi, i grauulociti. Nei íbllicoli noa esistono coUulo parassitifero, come non souo tali gli eudotoli delle penicillari. Polpa rossa. II reticolo ó ditiusaraonte ispessito e iu certi puuti piú clie iu altri. Talora iu oguuiia delle maglie strette di esso si trovaiio soltanto una o due cellule. La neoformaziono connottiva, alniouo parzialmento, provieue dalla periferia delle trabecole. Le «Gitterfasern» in questa milza sono normali. Le lacuuo delia polpa in alcuue zone sono obliterate per renormo quantitá di emazie clie infiltra il tessuto. Negli altri puuti sou d'am- piezza normale o prossoché tale. I loro endoteli non contengono niai parassiti. Nel lume sono raccolti moltissimi elementi : emazie, grauulociti neutrofili e acidofili, liufociti, cellule grandi conteneu*i parassiti ed elementi delia serie emoglobiuica. Non di rado le pareti delle lacune sono rotte in uu punto, ed allora i circostanti elementi cellulari delia polpa vi irrompono den- tro in massa. Alie volte il contenuto delle lacune é cosi grande che il loro lume ne é completamente zaffato. Importante ó la produzione cellulare delia polpa rossa perche non solo ó abbondantissima, ma anche per la ragion*^ che in essa si trovano elementi granulocitici che non si videro negli altri casi, come i grauulociti acidofili: i neutrofili sono molto abbondanti, come puré uotcvole é la copia degli elementi delia serie rossa, maturi ed immaturi. Numerosi sono i monociti, mimerosissime le Plasma- zellen. I megacariociti sono iu numero discreto, disposti la maggior parte in prossimitá delle pareti delle lacune e gli altri nello spes- sore dei cordoai : essi non contengono, dentro ai loro corpo, n^ Leishmanie né elementi cellulari. Non vidi mai quei pseudopodi che si introducono nel lume vascolare (pseudopodi piastrinogeni) de- scritti da Cesaris Demel. Le cellule parassitifero sono moltissime e, come si é detto, non se ne trovano ali' interno dei follicoli, ma risiedono soltanto nella polpa rossa. Alcune hanno stretti rapporti coi filamenti dei reticolo di ' TiGRi. Spesso sono riunite in ammassi di molti elementi: ma la loro distribuzione é senza ordine, essendo piú abbondanti in alcuni puuti che in altri. Nelle sezioni il loro núcleo é túmido, povero di reticolo cromatinico, talora vescicolare. II numero delle Leishmanie é sempre molto uotevole : talora iusieme a queste vi sono, nello stesso corpo cellulare, elementi maturi ed immaturi delia serie emo- globiuica. 150 .lOUNAL 1)1-; SCIKNClAlH Vasi deirilo e tronco delia vena splenica Noii baiiiio alciiiia alt(H'azioiu^ Aiiclm il tcssuto (elástico si coin- porta iioriiialin»Mit(v Nol huno dolla voiia vi sono jnoltissimtí oina/.it% noii luolti glohiili hianclii o parcccliio collnlo parassitittíro. Esaiiio siigli strisci (r>(i 2'Unlure tisinratrici /rriniu cltlla .spleiíeclonud, e dalla jiol/ia eplenica UcWorgaiiu apiiemi aspar-laloj Cellule primordiall. A) Enioistioblasti.— Pochi. Sono otillulíi idcntic-lio a qiicllc clio lio descritto sotto questo nome» con Fkiíiíata. Por la loro minuta descriziono rimando a (lucl lavoro. Jl núcleo, único e grande, vio- letto chiaro col May-Grua\\ald-(ii«Miisa, ha nitida struttura «a spu- gna» : cio6 6 costituito da grossi íilanuMiti formanti un roticolo qua tí lá vacuolizzato: duií o tro nucUioli, blou col May-Gkíínwalu- GiKiMSA. Protoplasnia ampio, doíormato dai vicini elf^monti cellnlari, con íilamenti o granulazioni azzurroíili ((;rgastoplasmaticho?). Oltre a (juesti, altro coUule emoistioblasticho sono rapj)r('senta1o dallo solitc appartenenti ai reticoli splcnici, e clie contengono lo Leish- manio (v. coUule parassitifere). Non vidi dontro quosti olomonti alcun corpo fagocitato. B) Emocitoblasti.— Non sono abbondanti. Serie granulociticlie. — La neutrotila é completa e abbondante in tutti i suoi elementi. La acidofila c'ó tutta, ma é raj)presentata piú specialmente dai mit^lociti, metamielociti e leiícociti ed r piuttosto scarsa. Serie monocitica. Monoblasti e monociti scai'si. Serio liufocitica. Tutta abbondante. Serie emoglobinica. Tutta rapprescntata e abbondant(>. Vi c anclie qualche mo^"alobasto patológico. Plasmazcllca. Non molto abbond;inti. Cellnlo tipo Rikoku molto. Tipo TÚUK non uioito abbondanti. Megacariociti molto numorosi: molti con «canipeggiamento» cd evidente produzione di piastrine. Piastrine isolato poche. Pareccliie «])lacche» di piastrine. Globulilcre. Numerose; sono lo stesso clie contengono i pa- rassiti di Leishman (v. coUule parassitifere). Pigmentilcre e pigmento libero mancano dei tutto. Cellule patologiche. Molti elementi di specie diífereuto, mono- niicleati, prosontano vacuoli nel núcleo e ncl protoplasnia. Alcuni sono ridotti ad un cribro addirittura. Cellu'e parassitifere. Sono in abbondanza, rotondo, tondeg- gianti e talora ovali (» allungate, grandi, con núcleo tondo ad ovale e a struttura monocitoido, o con reticolo un poço piú sj)esso, in ge- nerab? con nuclcoli tinti in bleu dal May-Grún\vald-Gikmsa. Altre MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATUKAIS 151 cellule parassítifore hanno núcleo «a spugua». Citoplasma con con- torni ora nitidi, ora sírangiati e mal definiti, sempro molto sviliip- pato, bleu, finamonto graniúoso. Qiiesto ceílulo alio volte conten- gono moltissimi parassiti iii diversi stadi di conservazione secondo gli elementi. Oltro alie Leislimanie, quasi costantemonte quoste cel- lule parassítifore ingiobano elementi eellulari, e specíalmente quelli delia serie emoglobinica in qualsiasi loro stadio di sviliippo. Oltre a qiieste qualche volta vi sono piastrino, mai vi ho visto fagocitati elementi bianchi a núcleo polimorlb, nionociti o liníbciti, I medesimi macrofagi talora contongouo solamente cellule emoglobiniche. Sangue dei tronco delia vena spleuica (Racculto durante la splenectomla) Vi si trovano tiitti gli elementi visti negli strisci delia polpa. I derivati granulocitici degli omoistioblasti sono in numero abbastanza scarso. Le emazio i)resentano spesso la policromatofilia comune. Presenti, in un certo numero, anche le cellule parassitifere. CASO X líambina di 2 auni e mezzo, nata e sempre residente a Lisbona. Aiiemica o splenomegalica. Punture aspiratrici delia milza diedero roperto positivo per i corpi di Leishman. Splenectomla il 15 Maggio 1920 (Salazar de Sousa). Milza dei peso di 460 grammi. Lunghezza 16 cm. ; larghozza 10 cm ; spessore 4 cm. Forma ovóide, con una profonda incisura nel margine anteriore. presso ai polo superiore, e duo altre piccole incisure nel margine posteriore, presso ai polo iníbriore. Capsula normale. Parenchima piuttosto moUe. Trabecole non visibili. FoUicoli assai ben distinti, uniformemente grossi come teste di spillo, bianchi, molto moUi. Polpa congesta, di color vinoso, con emorragie piccole sparso qua e lá, specie verso il polo supe- riore o il margino posteriore. Non si ossorvano infarti. Colla i)olpa e col sangue delia vena splenica si allestiscouo molti preparati per istriscio. Esame istologico Capsula e trabecole son normali. Le loro íibre elastiche sono puro normali per numero e struttura. I vasi delle trabecole non presentano particolaritá degno di nota : nei loro endoteli non si tro- vano parassiti. Follicoli. Son grandi, ben visibili; in generale non mostrano alterazioni. Karissimi hanno un lieve processo di fibroadenia, il cui conuettivo prendo punto di partenza dai contorni delia ponicil- 152 JOliXAL DK SCIÊNCIAS lare. E sposso hon sviluppato iin centro germinativo cho proseutu iiiolti olomonti iii cariocinesi. Fra lo cellulo dei due strati Ibilicolari si trova una scarsa iiilil- traziono di globuli rossi bon consorvati. Non esistono iiei íbllicoli coUiilo contoQonti Leishmanie. In generalo molto omazio si trovano tntto attorno ai Íbllicoli, molti dei qiiali sembrano circondati da uno spesso aimllo di quosti olomonti. Lo penicillari non prosontano alterazioni, nó nollo loro paroti, nó nol loro ondotolio in cui non si scorgono niai parassiti. Polpa rossa, 11 roticolo é ora iiormalo, ora isp(3Ssito, socondo i })unti. Lo SUO siogolo fibrillo, iu quost"ultimo caso, sono ingros- sato, non aumontíito di numero. Le lacuno dolla polpa non sono mai cctasicho; talora, per lo contrario, sono ristrette. La quantitá dei loro contenuto varia: alio volto sono pieno di collule, specio di omazie, altro volto quosto non sono abbondanti. Sempre prosenti sono gli olomonti nucleati, spe- cio qnolli delia serie rossa e delia serie liufocitica: come puro co- stituiscono frequento reperto grandi cellulo a contorni irrcgolari, a gran nucloo piú mono ricco di cromatina, con Leishmanie fagocitate. Gli endoteli dolle lacuno non contongono mai parassiti. Non infrequontemente lo paroti dolle lacuno si i)rosontano rotte in un ])unto, e le collule delia polpa rossa cho stanno loro vicinti irrompono dentro ai lume. N(41a polpa rossa scarsoggiano gli olementi granulocitici neutro- íili: non si riscontrano gli eosinofili. Prosonti, ma non abbondanti, le cellulo immature delia sorio omoglobinica o non abbondantissime lo omazie. Puro non abbondanti i monociti ed i linfociti. Numeroso lo tipiche Plasmazellon raccolto spesso in piccoli accumuli sonza speciali luoghi di elezionc. Pochi sono i megacariociti, ora viciíii ora lontani da vasi e da lacuno. Essi non dimostrano mai proprictá fagocitarie verso lo Leishmanie o verso olomonti collulari o di altra specio. Noancho in quosto caso prolungamenti dol loro corpo collulare si insinuano dentro lo vene o dentro lo lacune delia polpa. Pigmento libero o fagocitato manca dei tutto. Collule parassitiíere. Come si ó detto mancano noi íbllicoli ; invoco sono, noUa polpa rossa, ostromamonto numeroso, o ])iú iu íil(;uno zone cho in altre. Si trovano sia in prossimitá cho distante dallo lacune e dai vasellini dolla polpa. Molto sembrano apparte- nere airavventizia di qúosti ultimi o ai coniiottivo cho sta imediata- mente airostenio dolle lacune. Con una ossorvaziono molto attoiíta si scorgo cho il nucloo dcgli elementi perivasali contcMienti parassiti é piú denso di cromatina che f|uello dolle collule cho non hanno alcun rapporto colla pareto osterna dei vasi e dellc lacuno. Quoste ultimo cellulo a núcleo i)iú chiaro, spesso voscicoloso, bon distingnibili da tutto lo altro delia polpa rossa di cui sono, ancho, molto piú voluminose, sono sposso MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 153 adeso ai filamenti dei reticolo di Tigri e appnrtongono ad csso (collulc endotelioidi dol roticolo). Nol loro interno molto, e spesso moltissime, sono lo Leishmanie, contemporaneamente alie quali si trovano non di rado emazio ed olemonti cellulari piú o meno ben conservati. Yasi delPilo e tronco delia vcna splenica Nessuna lesione in essi. I loro endoteli non contengono paras- siti. Nella splenica é contenuto molto sangue o copia di olemonti nucleati delia serie emoglobinica, delle serie liníbcitica e monocitica e grandi cellule parassitifere qualcuna delle quali ancho globuliíera, in generale con núcleo poço ricco di cromatina: ma ve ne sono ànche con núcleo piú denso, piú colorato. II loro citoplasma ó irregoiare, sfrangiato o sbavato. Preparai! per istriscio (Da puiiture aspiratrici delia milza prima deWopcrazione, e da stri^ci deWonjano súbito dopo asportaloj Cellule primordiali. A) Emoistioblasti. Numerosissime grandi cellule in generale mo- nonucloate, a contorni irrogolari o sfrangiati, con forte potero fago- citario verso lo Leishmanie e spesso anche verso elomenti maturi cd immaturi delia serie emoglobinica. II núcleo, che possiodo nn- cleoli, é a filamenti i)inttosto sottili Ibrmanti un reticolo a maglie stretto. Si colora in rosso violáceo pallido col May-Gkíínwald- GiKMSA (núcleo simile ai monocitoide). Fra questi elementi ed altre cellule piú piccolo coi caratteri dei monoblasti o dei monociti vi sono tutti gli stadi di passaggio. Dai confronti colle sezioni istologiche, queste cellule apparten- gono ai reticolo di Tigri. Una seconda specie di cellule emoistioblasticlie ó provvista di núcleo «a spugna», con vacuoli o nucleoli. U citoplasma ó come quello delle precedenti, ora a contorni ben definiti, ora sfrangiati. Si colora in bleu col May-Grúnwald- GiEMSA ed é finamente spongiaplastico oppure granuloso, come pol- verulento. Anche queste cellule hanno potero fagocitario verso le Leishmanie o qualchevolta, ma di rado, verso i globuli rossi. Fra esse ed elementi piú piccoli dalle caratteristiche dei linfoblasti, pro- linfociti e linfociti vi sono nitidi stadi di transizione. Quosta se- conda specie di emoistioblasti si riscontra, nelle sezioni, ali 'esterno dei vasi delia polpa o delle lacune. B) Emocitoblasti. Scarsamento prcsenti. Serie granulocitiche. Di queste serie si trovano soltanto rari mio- lociti e ben pochi granulociti neutrofili; nessun eosinofilo o basófilo. Serie emoglobinica. E tutta presente, elementi immaturi e maturi, ma non ó cosi abbondante come in altri dei precedenti casi. In molte delle sue cellule il núcleo é in mitosi. Gli critroblasti poli- 154 JOlíNAL DE «CIÊNCIAS croiDcatiei o basofili sojio scursissimi como le corrispoiídenti cnui- zie. riasmazoUoii : molte, tipiche, disposto soiiza sedi di predilezioiío. CoUulo patolo^iclie, tipo Kikdek o Túkk mancano. Megacariociti, iu discroto iiumoro, noa i)iastriiiogoni, o sprovvisti di proprietá fagocitiche. Piastriíio assai poclic e iionuali. Cellulo globulifore : sono escliisivamentc le emoistioblasticho aiizidotte. Cellule i)igmontiíbro o pigmonto libero mancano. Cellule parassititero sono soltanto lo sudetto emoistioblasticho doi duo ti[>i, cioó a jiucloo simile ai nionocitoido e a núcleo «a spu- giia», rispettivaniente appartenenti alie cellulo endotelioidi dei reti- colo di Tkíui e alie cellulo avventiziali dei vasollini doUa polpa e ud alciini di quoUo che si trovauo alia periferia dello lacuue splojii- cho. Non ho visto parassiti di LeisiiiMAN in grembo ad altri olomenti ccUulari. Saui,'ac delia vcna splcníca Gli elomenti nucleati sono abbondantissimi; si i)uó dire che vi sono tutte lo cellule viste negli strisci delia \K>]píi splenica: ed é na- turale, ricordaiido clu; spesso le pareti d(>]le lacune son rotte o cho in esse le cellulo delJa polpa irrompono. Lo emazie liauno spoveuto la policroraatofilia comune, non la azzurrofila: nessun altro fatto no- tovole in osso. Abbondano gli elojueiiti parassitiieri e globulifori doscritti luígli strisci delia i)olpa o i dorivati monocitici e linlbcitici emoistioblastici giá in ossi nienziojiati. COMMENTO Da (juanto bo esponto nei singoli roperti dello inilze osajuinate risulta clu! il tuniore splenico era dovuto ai seguenti fattori : 1" Produziono, talora molto notevole, di elomenti omatici delia serio cmoglobiiiica (intensa eritropoiosi splenica). 2" Congestiono dello lacune. 3" Iperproduziono delle cellule ematiche delia serie liiilocitica dei cordoni, accompagiiata spesso da (juella delia serie nioiiocitica (monocitopoiesi o liníbpoiosi) o dalle riasmazellen. 4" Modificaziono íibroadenica dei reticolo dei follicoli o dei cor- doni delia polpa, o di anibodue insiemo; bisogna peró notare cho <|U(íst'ultima, nei follicoli, va spesso di pari passo colla scomi>arsa di molti elomenti follicolari. 5° Abbondanza di grandi cellule cont(ínonti i j)arassiti di Leisu- MAN. (Cellulo endotelioidi emoistioblasticho dei reticoli. In una di ([uoste milze (Caso IX) alia ij)erprodu/ione di eleuKMiti delia serio cmoglobinica, si aggiungova ancho (juella delle cellulo MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATUKAIS 155 dellG serie granulo citiche, sia passanti por una fase emocitoblastica (granulociti dei sangue circolanto normale) sia derivanti diretta- monte dairemoistioblasto (granulociti istiogeni). Quanto alFaspetto macroscópico dei viscere, basta ricordare la descrizioue dei diversi casi per concludere che, eccezion fatta per il notevolissimo aumento di tutti i diametri, non vi sono caratteri- stiche tídi che permettano di stabilire, in asseuza dei dati delFesame volto alia ricerca dei parassita, di trovarsi in prosenza di una splo- nomegalia da Leishmaniosi. Giá nelle prime riglie di questo scritto ho fatto notaro che fra i miei roperti e quolli di altri AA. vi sono notevoli ditterenze. Da questo riassunto dei fattori delia splenomegalia risulta súbito tale disparitá dei quadri anatomo-patolugici. Credo opportuno insistere su queste ditterenze, riassumondo le principali ^ . A) hífarti. — Non una volta io ne ho trovati nelle sotte niilze studiate sul pezzo anatómico. Viceversa altri A A. ne hanno riscontrato. DiONisi, ad esempio, in alcani casi ha visto «grossi infarti anemici dipendenti da trombosi arterioso come nella leucemia e nella febbre ricorrente». Cicèitrici sclerotiche da vecchi infarti trovarono Jemma e Di Ciíistina. B) Perisplenite. — Pianese (cit. da Severino) Tha osservata co- stantemente. Martelli ne parla come di un fatto costante nella Leishmaniosi iufantile, insiemo alia spleiíite interstiziale. Di Cri- stina e Cannata (cit. dalla G. Barkio) trovarono, in un caso, la capsula leggermente ispessita. La G. Baerio stessa nota, in un caso, il reperto medesimo. Soltanto in una milza (Caso I) io ho osservato una piccola área di perisplenite fibrosa, non adesiva. C) lessuto elástico. — Mentre i miei reperti concordano con quelli di quasi tutti gli altri AA. circa la iperproduzione connot- tiva, specie quella che avviene nei glomeruli e che parte dairavven- tizia dairarteria penicillare, non altrettanto posso dire delia presenza dei tessnto elástico. Io lo ho visto sempre normale, por sviluppo o costituzione, nolla capsula e nei suoi prolungamonti intorni (trabe- cole) e iioi cordoni delia polpa. Nei connottivo neoformato doi follicoli fibroadenici o mancava dol tatto, o v'ora un lievo acconno alia sua neoprodnzione (Casi II o III). Invoco Martelli come fatto costajito dá riporformaziuno elástica duviinquo si trovi connottivo. 1 Per quanto possa senibrare supcríluo, faceio notaro che istituisco il confronto soltanto per i casi resi noti di Leishmaniosi infantum, ,s(tiiza occu- parmi, por ora, di prendere in esamo quelli di Leislmiauiosi dcgli adidti, o Kala-Azar propriamente detto. Ma con questo non voglio aflfatto proniinziarmi (pii suUa idcntitá o meno dellc duo forme morbose, nou esscndomi mai occorso di studiarc Ia Leishmaniosi interna deofli adulti. 156 JORNAL DE SCLÊNCIAS Auraonto dol tossuto elástico haiino visto ancho Piaxese o Visen- TiNi: Severino dico addirittura cho «il t(>ssuto elástico é svihippa- tissiino, sproporzioiiato alio sviln])po d(4 coiiiicttivo» ; analogamonto ToMA.sELLi lie iiotú aumento di íbrmazioiu! iiella niilza di una scim- inia a cui avova trasmesso rinfezioiío Leishmanica di un bambino. Al pari di mo, Pacchioni e Menabdoni non haiino iiotato iperpro- duzioiíe di fibro elastiche iiei due casi da essi studiati, ma giova osserviíro che essi non vi rilevaroiio iiemmeno fibroadenia : solo notano che lo pareti di alcune arterie penicillari erano alquanto ispessite. Questo riíerisco percho noi miei due casi in cui avovasi neoprodnzione elástica essa avvoniva lá soltanto dove si notava, nei tbllicoli, la fibroadenia. D) Funzione emocateretica delia milza. — DioxiSi nota como fatto costante una esagerata funzione emocateretica d(ígli elementi delia polpa, ció che contribiiisce a giustificaro il turaore splonico cho per questo A. «ó in gran parte spodogono, come nella malária ed in altro anomie secoiidarie». Numerosi macrofagi e scarse cellule pigmentifero vi ha veduto Sevekino ; pigmento ematico nelle stesse cellule che contenevano ])arassiti vid(n-o Jemma e Di Cristina, come puro Di Cristina o Cannata (cit. dalla Gonzales Barkio). Nel caso di Visentini le ])igmentiter(> e le globulifi^re erano rarissimo. Al contrario di quanto UiONisi vide nei suoi casi, io non ho uiai osservato una esagera- zioiíe delia funzione emocatiH-etica delia milza: anzi si puó dire che in alcuni díu" miei eseraplari la emocateresi sia quasi abolita, mai essondo numerosi e talora mancando gli elementi globuliferi, ed essondo rare o non trovandosi addirittura lo cellule pigmentifero ed il pigmento libero. Pigmento ematico abbondante io non vidi ciu^ nelle zoiíe o prosso lo zone di ernorragia. Un fatto interessant(^ che non posso lasciar di notare ó che noi Casi IV e V pigmentifore, globuliiero e pigmento libero si trovano presonti soltanto in alcuni punti o precisamente in quelli ovo non v'erano Leishmanie. Parrebbo, portanto, cho vi devesse essere una relazione di causa ed eífetto fra la pn»senza dei parassita e Ia assenza di funzione emocateretica delia iiiilza. Non so che altri Õsservatori abbiano notato questo reporto singolare. E) Funzione emopoietica delia milza. — Dionisi, Lombardo o Visentini non ne fauno ceniio. Martklt.i e Severino, escludono che si trovino «mielociti o glol)uli rossi iiucleati» ; La Gonzales Bar- kio non fa meiízione vhi» di «eosiiiofili molto abboridanti)i, Je]\ima <> I)i Ckistina non notano che un grande aumento delle C(>llule linfoidi nella pol])a, scarsi eritroblasti o scarse collulo eosinofile. Jemma ])arla solo di un aumento di numero «di ciuclle cellule cho íiirono descritto nella milza come megaloblasti e ([uí hanno un as|)etto piú (liffcretiziato, in quanto ch(> il loro ])roto]>lasma é ]mú fortemente carieo di sostanza tingil)ile)i. Pa('C]ii(ini^'o MENAnroxi hanno trovato «relativamente poço numeroso le collulo linfoidi, scarsi gli eritroblasti, scarsissime le eosinofile». Questi AA. citaiio MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NAIHJRAIS 157 i roperti di Pianese * e cioé iporproduziono di tessnto linfoide, nos- suii accoiiiio a tessuto mieloido. Circa, poi, la maggior o minore quaiititá di globuli rossi matiiri, i risultati delle ossorvazioiíi dei singoli AA. sono differentissimi ; dal Pianese che ha trovato la milza macroscopicamente povora di sangue, ai Visentini che la vide fortemente iporemica, con iníil- trazione sanguigna cosi intensa «da dare in qualche puuto Tappa- re^iza di veri e propri laghi di sangue». Pacchioni e Menabuoni hanno osservato un análogo reperto. In tutti i miei casi i globuli rossi maturi erano numerosissimi e nou solo nei vasi e nelle lacune, ma anche fra gli elementi collulari delia polpa rossa 'e talora di quolla bianca : né vi ó da meravigliarsi perche, oltre alie iperemia, v'é in tutti i miei casi, una spiccatissima produzione di elementi delia serie emoglobinica. L'infiltrazione di emazie nei follicoli si pnó spiegaro, oltre che col meccanismo suddetto, in parte anche con piccoli stravasi che siano avvenuti per diapedesi attraverso le pareti delle lacune con- geste passivamente. Por questo carattere i miei reporti specialmonte diíferiscono da quelli degli altri Osservatori. Alio due splonectomie a cui assistetti vidi la vena splenica molto ingorgata ; né é a dirsi clie questo fatto fosse dovuto ad avere il Chirurgo allacciato o compresso essa prima di fare altrettanto sulla artéria. I diversi Autori non fanno monzione delia produzione delia serie granulocitica : in questo concordano anche nove dei miei casi, perche in essi io la vidi o scarsissima o nulla. Invece tutto il con- trario avviene in uno, il IX. I miei repcrti diíferiscono da quelli degli altri AA. anche sotto il rapporto delia eosiuofilia perche ho trovato (in 9 casi su 10) o assenti o ostremamente scarsi gli eosinofili. ¥) Merjacariociti. — Essi per lo piú o maucavano o eran pochi. Infatti su dieci casi, in sei non ho raai visto questo cellulo gi- gantesche, in duo (Casi III e VI) erano rarissime, in uno eran di- scretamente abbondanti e solo nei Caso IX si trovarono in buona quantitá. Invece Pianese avrebbe trovati i megacariociti costantemonte relativamente nuraerosi. Vale la pena di soíFermarsi in modo speciale su questi elementi, interno ai quali le opinioni sono tuttora piú discordi che mai ; e non solo sulla dottrina delia provenienza da essi delle piastrino, recen- tissimamente messa in dubbio da Perroncito o addirittura negata da Pianese (il quale ultimo arriva perfino a oscludere che quello che il BizzozERO chiamó «terzo elemento morfológico dei sangue», esista preformato in osso, ma vi compaia soltanto in condizioni partico- 1 Devo citare sempre di sccomla mano questo A. ])orolié aoii mi fii possibilc avere, nó dircttamcnte, né iudirettamentc i suei lavori. 158 JORNAL DE SCIÊNCIAS lari) ; ma ancho suUu loro fiuizioni fagocitario. Anzi su moistioblasticaentri, in parte, anche il fenómeno delle clasmatcsi, sebbeno io non abbia visto emoistioblasti forniti di prolungamenti cosi sviluppati e polimoríi como quelli rapprosontati dalhi. figuro degli Autori in questione». Altro fenómeno dogno di nota, o che ha richiamato scarsa at- tenzi(»no da [)arte dei ritvTcatori é la produzione di elomenti delia matkmátkías, físicas k naturais 101 serie eraoglobiníca, costaiite iii tiitti i miei dicci cnsi, come c co- nstante, iin sol caso éccettuato (e sul qiiale mi intratterró piú avanti) la nessuiiaro scarsissima n(íoformazioiio di collulo dell«3 serio granu- lociticlie. Evidentemente ha dovuto esistcre uno stimolo spcfiale clie, agendo sugli (domenti (o suirelemento) primordiali da cui traggono origine i corpuscoli sangnigni, li abhia fatti evolvere in un sonso piíittosto cho in un altro, ossia verso la serie enioglo))inica (oltre clie verso la monocitica o la liníoeitica) proibondo loro, per cosi dire, dei tutto (Oasi I, lí, V, VII, Vlllj o (luasi dei tutto (Casi III, IV, VI, X) di evolvere neiraltro senso, e cioé di originare celhib^ delia serie granulocitica. La milza alFetá degli individui presi in esame (il piú giovane aveva 14 mesi, il piú avanzato in etá aveva 5 annij non é piú un or- gano produttore di globuli rossi : quindi in tutti i casi di Leishma- niosi infantile da me studiati, e per una ignota stimolazione, se no ó messo a produrre in abbondanza. La questione delia natura di tal stimolo, donde provenga, a quali deficienze eventualmente sopperisca questa produzione di ele- menti delia serie emoglobinica (clie deve corrispondere ad una ne- cessita deir organismo) é uno dei tanti lati meritevoli di considera- zione, e non solo sotto i riguardi delia íorma morbosa in istudio, ma anclie e piú per cercare di mettere in luce i rapporti íisiopato- logici esistenti fra milza ed altri organi a funzione emopoietica o emocateretica. Questo non posso ora fare occupandomi jiella pro- S(Mite memoria soltanto delle lesioni spleniche: ma cercheró di aífrontare il problema trattando a suo tem[)o deiranatomia patoló- gica di tutti gli organi degli individui affetti da Leishmaniosi. Con questa produzione di cellule delia serie emoglobinica si spiega in gran parte la sovra])boiidanza di globuli rossi maturi nei cordoiii delia polpa e, talora, anche fra gli elementi dei íbll-coli (Oasí II, IV, V, IX) : dico in grau parte perche in piccola parte pos- soMO provenire, come giá dissi, da stravasi sa»guigni. La congestione splenica é ora attiva, e dovuta alia presenza di stimoli provenieiíti dai parassiti o dai prodotti dol loro metabolismo, ora passiva : ed iu quesfultímo caso puó essere spiegata coirostacolo ai circolo refluo dato dalla tamefazione dei cordoiii delia polpa, stracariclii di elementi cellulari; la quale tamefazione viene spesso a rostringere, e talora ad obliterare, il lume di molte lacuiie venoso. Poichó Tiperemia, specie la passiva, puó variare di intensitá in modo notevole, con questi periodi di maggiore o minor ingorgo di sangue si verreb])ero a spiegare le oscillazioni nel volume delia mil- za, notate, da piú di un Osservatore, anche a piccole distanze di tempo, ai letto dei ammalato. Nei follicoli, anche indipendentemente da fatti emorragici, ho visto emazie infiltrate fra gli elementi, conglutiuate e ridotte a bloç- lóá Jornal dií scíÈNX'íAh( cluítti di sostíiiiza laliiKi. 1^' i»rol)al)ilo c-lio i bloccliottl ialini, ossor- vnti (la altri AA. ripotaiio hi inodosima origino. Dollo rniazio stravasato o dollo altr^ prodotti^ In situ o lá ri- iuast.(.% parto vcngí^iio iiiglobatc dallu cjà dit^ 133 à 143 ^ de long (62,5 % des oeufs mesures), sur 63 à 70 p. de large. La courbe de frécLuence des longuenrs des oenfs de S. hcemato- bium est interessante. Le graphiqiio suivant (íig. 1) montre les courbos d'iin mêrae cas obtenuos en denx jours différeuts. On re- marquera la constanco des accideuts de ces courbes. L'ime d'elles a un plus graud pourcentage d'oDufs de dimen- sions infórieures à 13íÍ a mais, il faut le remarquer, les mensara- tions ont étó faites seulcraent 4 joiírs apròs Tobtcnsion du sédi- ment de sorte que la pliipart des oeufs n'étaient plus normaux, no donnant pas de miracifiia. Nous avons enregistré ici cette courbe car elle démontre que Tovométrie, même tardive, fournit des élémonts de valeur pour aprócier los modifications produites chez les ccufs par lo traito- ment. La courbe precedente étant d'un cas récent, il ótait intéressant d'obtenir celle d'un cas assoz ancien pour vpir si, dans ces condi- tions, la courbe maintenait ses caractéristiquos. Nous avons eu la chance de pouvoir faiie rovométric d'un cas dont Tancionnótó nous ótait bien connuo, ayant pu le diaguostiquer il y a plus de cinq ans. Ce cas est celui du Docteur M. dont nous avons publió rbistoiro dans uno note precedente. La coarbe de fróquence do eo cas agó 1 Carlos França, «Observations sur Ia Bilharziose. — I. Le traitemcnt par l'émétiqii'j)) {Jornal das Sciências Matemáticas Físicas e Naturais). MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 160 g -JÇ — 03 0 3 •- u "^ -r- a> a ' t « -a 170 JOliííAL DE SCIÊNCIAS de 7 ans (fig. 2) montre quo son maximum se trouve compris entre 122 ot 129 u, c'est-à-(liro, que la plupart des cduís sont assez petits. Le i)ourceata^^o plus òiòvé dos a^ufs de petites dimensioris doit Otre en rapport avec la vieillesso des parasites. On remarquera la constaneo des accidents des courbes dans les deux cas. ip- 9, 9/t.i 98 lol.i 105 \oi HZ IIJ 115 IIX Ijb il) liS ll(, /^O llii /j^] ,5-p jyj, Fig. 2 — Graphique des longiieurs des oeufs de nS. haematoblum > d'un cas ancien (Dr. M.) Jloii.sur itiim lie 11 a>ufs CEufs ayaut moliis do 13.'$,'-'. : G8 % Les élévations de cette courbe (105, 112, 122, 129, 140 ot 147 u) sont symótriqucs par raj)port à 126 p., conime les accidents do la courbo du cas récent de la fig. 1 (112, 122, 129, llVÒ, 143, 147, 154 et lC4j sont symótriques par rapport à 138 p.. Ceei nous montre que, pour chaque nialade, on doit construire, avant do commoncer le traitoment, la courbe do fróquonco |iuis(iue dans les cas assez aucious cotte courbo est déplacóe vors la gaúche. La forme des oiufs do Sch. haematubiiim est cello d'un ovóide dont Textrómité grossie est pourvuc (fun óperon ayant do 3,5 á 7 /x de loug*. Quelquos formos aberrantes on sont dépourvues. Le pourcentage d'a>ufs calcifii^s est sonsiblenient la mCMiie cliez les cas réconts et chez los cas ancicns (4 à 4,0 p %). 1 Quelques auteurs (Guiart, Vordun) attiibneiit à róperon des dimensions vraiement excessivos (20 u). MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 171 D'ordinaire dans Toeuf des cas non traités il existe un embryon paríaitement différencié. Dans presque tous les oeuls des cas rela- tivement réceiíts rembryon, entouré du vitellus nutritif, occupe seu- lement une partie de la coque et la membrane vitelline laisse à chaque pôle de l'oeuf deux calotes (fig. 3, A). L'embryon paríai- tement développé d'un oeaf do 143,5 /j. ne mesure que 119 fx. Parmi les oeufs des anciens cas on en trouve de três petits, (lOò [J.), ayant un embryon vivant et paríaitement ditíérentié rem- plissant complètement la coque. (Fig. 3, B). Fig-. 3 L'épuisement de la glande coquillière doit preceder celui de Tovaire. La position do Tembryon à Fintérieur de la coque est variable- et ne semble pas obóir à uue règle quvílconque. Tantôt le rostre de rembryon est tourné vers le pôlti u éperon, tantôt vers lo pôle opposé. A. Conor ^, en 210 obsorvations> a trouvé 40 Ibis le rostre placé vers Textrémité pointue de ra3uf et 170 fois vers rextrémité postéripure. 1 A. Conor, «Quelqucs partlcularités bioloofiques du miracidium du Schisto- soma haeiíiatobium» {Buli. dela íSociélé de Patholoijie Exotique, t. iii, p. 332, 1910). 172 JORNAL DE SCIÈNCIAS W. W. Cort a ógalement remarque * que lonibryoii do S. man- soni peiít íivoir le rostre toiírné vers rextrémité à èperoa ou vers Tautre extrèmité de Taiuí'. Dans la plupart des exemplaires on trouve (iig. 3, A) dea amas de grauulations d'oxcrótion dans Textréraitó postérieure do Tem- bryoQ et dans un cercle traus venial vera ruiiion des tiers moyen et postérieur do Tanimal-. Lo cerdo equatorial est en rapport avec une zone du corps do reml)ryon du S. haematobinm d('>[)Ourvuo do cils. Quand on observe pendant quelquo toraps dos oeuis ayant uu embryon vivant, on voit augmeator rapidemont les rósidus, surtout ceux agglomérés prós do rextrémité postóriourc. Dans ]'ombryon encoro inclus dans ToEuf on vuit, nettement les népiíridios, surtoul la pairo antórioure. Los néphridies antérieures sont situóes dans lo tiers moyen et les postérieures dans la partie antérioure du tiers postérieur du corps. Les autres organes ombryonnaires apparonts sont les deux cel- lules glandulaircs, leurs tubes excróteurs, Tappareil digestif rudi- mentairo (l'entevon) et les cellulos gerrainales^. L'embryon presente trois étranglements, Tun dans Tanion des tiers antérieur et moyen, Tautro vors Tunion des tiers moyen et postérieur et le dernier dans l'^ tiers postérieur du corps. Dès que les oíuís sont mis en contact avec de Teau les embryons commencent à s'agitor. Tout d'abord on remarque dos oscillations latérales de la quouo et, ensuite, des mouvements de propulsion du rostre. On voit, gra- des aux mouvements des cils, les granulations d'excrétion se dépla- cer sous la membrano ovulaire. Sous Tinfluenco de Toau Tembryon augmente de dimensions, se gonflo, de sorte que les étranglements qu'il présentait, quand il était immobile, ont presquo disparu. En memo temps ses mouve- ments deviennont plus actifs, on le voit s'agiter vivoment et se re- 1 W. W. Cort, «Notes on the Eegs and Miracuiia of the human Sehistosoma» (University of Califórnia PuUications in Zooloijy, vul. xviii, \\° 18, January 1919). 2 Dans une figure de Raillict on voit, entre Tembryon et la coque de Toeuf, deux amas de granulations, ceux que nons avons mentiooné comme des provim japynicim ; ova of 'S'. tninaoni ; ova of Puraj'm-in'i8 loisiermini». (Proc Putli. ioc. P/iil., Idll. Cite jtar W. W. Cort, in op. 'it.). 3 Augusto Nobre a lait la ilctormiiinfiaii «le mes Plaiiorbis cummc P. (cor- neua) mcUffjuiaia. Mr. P. Pallaiy ayant ap )ri.s, à 1'Insfitiit Pasti-ur «fAlfícr, lo résultat lio tníjs recliiírclioa mo fait savoir que le Planorbis portugaia doit ctre plutôt lo P. fj raclUi. Cost un jioint à óclaircir. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAÍS 175 A ces cils succèdent presque sans interruption ceux qui revò- tent le tiers raoyen du parasite. lis sont tons d'égale longueur. Finalement ceux de la troisième série, de la série postérieiire, sont separes des prócédents par une région dépourvue de cils. Cette zone de rembryon dépourvue de cils nous semble constante chez tous les <, — Eiiteron; c. p. Fiff. 5 Cellules du parenchyino ; cg. — Cellules gcrmlnalcs exemplaires de S. haematobium, bien qu'elle ne soit figurée dans les travaux classiques sur les miracidia de la Bilharzia urinaire. Cette disposition, qui contribuo à expliquer Taccumulation des excreta dans la zone équatoriale de Toeuf, doit exister plus ou moins apparente chez la miracidia des autres Schistosomes. Les figures de Tintéressant travail de Cort {mhmddia de S. Japonicwn et S. mansoni) me portent à supposer que cette zone sans cils est seulement plus developpée chez S. haematobium. 176 JORXAL DE SClÊííCIAS Les ciU do la troisièmo sório au^çmeiítont do dimensions jusqu'ii rextróuiitó postérioure oíi se trouvent los plus loiígs. Des próparations coloróos par lo Giemsa luoutront qu'à chaque cil correspoad une petite graaulation basalo, paríaitomout ronde, se colorant eu rougo vit". Cos grauiilations so trouvent alignóos dans Fópiblaste, íi une petito distanco de la surfaco. n-à- ,M Fig. G Dans une figure do Railliet^ on volt, h la surfaco dti mtraci- dium, quatro pctitos formations quMl a ai)pi'nó ciin-es. Cos cirros sont trèf^. diíficíles d'aporcovoir dans presquo tons les excmplaires. Nous iOs avons vu choz dos niiracidía d'un cas de Bilharziose africaino. (Fig. 0). On trouve une paire (n. a.) au niveau dn pre- ' Róproiluitc par E. lirumpt dans soa Préci» de Paraéitologie. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 177 mier étrunglomeut du corps, c'est-à-dire, dans Funion du tiers an- tériour et -moycii, et Tuiitre se trouve située daus le second ótran- glemeat, daus Tuaion dos tiers moyen et postérieur. (//. ^>.). Ces diíniiors cirres, qui sont Jcs pliis déveluppós, soiit situes précise- maat dans cette zoue dópoiírvue de cils oii on remarque la plus griíude aecumulation de graoulations d'excrétion. Nous croyons que ces pctits appeudicos dans les coiiditions normalcs soiit invaginés, et ceei explique qu'ils aieut passe iuaper- çus à la plupart des observateurs. William Cort ne liguro que la pairo autérieure qu'il designe sous le nom de caiiaux aatérieurs [anterior ducts) chez les vuraci- dia de S. mansoni et tí. japonicum, et il décrit, chez les mêmes cspèeos, uii pore excréteur dans le tiers postérieur du corps. Couime dans la substance vitelline on trouve dos globules. Cort assure que ces globules sont sócrótés par les papilles antérieures. «The internai rolations oí tliese ducts were not clear, but extrusion £i'oni them of tlie oil globules was observed botti in 8. Jiponuum and 8. Mansoni» ^ Je crois que ces globules ne sont que les gra- nulations viteilines, que les reserves nutritives destiuóes à ralimon- tation de Tembryon, comme l'avait dejà supposé liolconil). llailliet íigure dans la substance vitelline de Toeuf deux amas de petites granulations. Tun en rapport avec la premiòre paire de cirres et le seeond, pius important, au niveau des cirres posté- ritíurs. Nous avons ágalement vu ces amas de granulations d'í'xcré- tion à ces endroits et ceei nous porte à considérer ces cirres conime les tubes excréteurs du système nephridial. La structure des mitacidia est bien miso cn évidence dans dès oxemplaires colores par le Giemsa, par le carmin alune ou, intra- vituiii, par une solution de rouge neutre. On voit tout d'abord (fig. 5) que le rudimentaire oesophage est côToyé par les deux tubes excréteurs des' cellules glandulaires {ceplmlic (jlanc/s de Cort). Li^s extréniités saillantes de ces deux tubes constituent deux papilles situées de chaque côté de Torifice bucal. L'oesopliage se dilate postórieurement íbrmant un sac à contenu granuleux, dont les parois sont constltuées par de três nombreuses petites cellules, ayant 2 à 2,5 fx de diamôtre. Cest le sac digestif (e.) destine à disparaitre dòs que le miraci- dinm penetre dans le moUusque. De chaque côté do cette poche on voit les tubes qui vont se terminer, plus en arrière, dans les cellu- les, glandulaires (g. c). Celles-ci sont deux cellules volumineuses d'au moins 2õ \j.. Selon Cort, les glandes céphaliquos do 8. man.soni sont plus grandes en proportion avec la longueur du miracidium que cellos des deux autres espèces humaines. Si les proi)oríions des figures de Cort sont exactes on peut assurer que des trois- 1 W.W. Cort., p. 516. 178 JORNAL DE SCIÊNCIAS Schistosomes humains c'e8t le -S'. kaematobium qui a des collnles glandiilaires plus potitos. Le noyaii do ces celloles est asscz grand et il no se colore pas par lo roíige ueutre ni par la plupart dos matières colorantes. Le cvtoplasTiKí do cos cellules no prend pas égalemont Jos matières colorantes ordinairos. Do tous les ólémonts des vxiracidia ces cellu- les sont los plus faeilos d'apercevoir à Tótat frais, même quand les embryons sont alteres. Dans lo inlracidiim on peut distinguor nettoment doox régions. Dans la région antórioure oxistent: Vente)'on (e.), les cellules glau- dulairos (g. c), et des cellules (c. p.) à petit noyau ot à cytoplasme rudimontaire, do 3 /j. do diâmetro [cellules du jyaremhf/me). Quel- quos-uiios do cos collulos se trouvent alignées sous répiblaste. (Fig. 5). Dans cette zono se trouvent des potitos cellules formant uu amas coasidérable (n.), sensiblement olliptiquo, dont le bord posté- rieur est en contact avec la zone postórieuro. Cort, qui figuro cette agglomération cellulaire, n'accopto pas, et ajuste raison, ropinion de Holcoinb qui la considero Tostomac de Tombryon. II interpròte cotto formation * comme étant le systòme nervoux du miracidium. La région postérieure, plus longuo, est collo oii on trouve les élé- ments plus importants pour Tavenir de Tespèco, los cellules gcrmi- nales (c. g., fig. 5). Dans cotto zono on pout distinguor deux sortes de collulos: les unos plus petites, à cytoplasma réduit et à petit caryosome, et los autros ayant un noyau voluminoux à gros caryo- somo et un cytoplasme abondant. Cos dorniòros cellules, qui se colorent tròs bion par les matières colorantes, surtout par le car- min alune et par le vert de methyle, sont disposéos on deux grou- pos, chacun dosquols a un nombre sensibloroent ógal d'éléments (13 h If)) et dont un occupe toujours rextrcmité postérieure de l'embryon. Cos collulos gorminales mesurent 12 à 13 /jl. Leur noyau ost três voluminoux (9 n), il a un gros caryosome central et il est três riche on chromatino; celloci se disposo sous la formo d'un cortain nom» bre de grains sous la membranc nucléairo. Choz S. haematobium tout Tendoplaste est rempli do cellules, do sorte qu'on ne peut distinguor los canaux du syatèmo excréteur. Si, comme Cort lo figuro, los embryons de S. mansoni et joponicum ont los collulos gorminales situôos dans uno cavité à Tintérieur du parasite, ils s'éloignont beaucoup do coux do S. haematobium. Nous croyons copondant que les figures de Cort sont trop schématiquos. En efiot les glandes céphaliques y sont roprésontées avec de petits noyaux et uno grande masse cytoplasmiquo^, les cellules gorminales ' Les cellules qui compoeent cette formation ont une affinitó evidente pour le carinin. 2 Dans la description Cort dit (p. 511): «The cephalic glands are unicellu- lar, with largc nuclci». MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 179 soiit accumulées exclusivement dans une cavité centralo, et leurs noyauK sont três petits et sans structuro apparente, et, .finalemont, il 110 figuro quo los collulos germinales. Le systèine excréteur du míracklium da S. haematohium se com- poso de deux paires de néphridies. Cort figure et décrit avec de três grands détails ce système chez S. japonicum. Jo confesse n'avoir pu voir (fig. 6) que les chambres flagellées ijlame cels dos auteurs anglais) et les pores excréteurs. Les néphridies sont três faciles à étudior chez les miracidia traités par une solution de ferrocyanuro de potassium *. Dans ces conditions les miracidia restent complètement immobiles, leurs cils étant paralysés, mais les cils des chambres flagellées continuent à s'agiter. Do ces chambres, les antérieures {eh. /. a.) sont plus longues et elles semblent ôtre revêtaes de cils disposés en trois faisceaux. Comme nous Tavons dit nous n'avons pu suivre le trajet depuis Fouverturo externe {nepliridiopore) jusqu'à la chambre flagellée {nephro>itomé). W. Cort admet que, les néphridies du miracidium de S. mansoni s'éloigQent par leur position de ceux de S. haematohium et japoni- cum, car ils sont perpendiculaires à la surface du parasite. D'aprcs ce que nous avons vu chez haematohium nous croyons que Torientation dos néphridies n'est pas fixe, de sorte que, selon les circoastances, on les voit de face ou de profil. Quant aux orifices de sortie ou système excréteur nous suppo- sons qu'ils sont cinq. Deux antérieurs correspondant aux cirres anté- rieurs de Railliet {ii. a.), aux anterior duct de- Cort, deux moyons (n. p.) correspondent aux cirres postérieurs de Railliet, aux excre- tory pore de Cort et, finalement, dans Fextrémité postérieure on voit, chez quolques exeniplaires, un orifice communiquanx par un petit tube étroit avec une ampoule. Cette disposition des ouvertures du système excréteur explique Faccumulation des excreta du métabolisme miracidien dans les en- droits que nous avons mentionné. Nous devons encore dire que la figure de Loos, souvent reproduite dans les traités classiques, repre- sente le système excréteur d'une toute autre façon. Chez Fembryon do 8. haematohium tout Fendoblaste est rem- pli de cellules, do sorte qu'on ne peut pas distinguer los canaux du système excréteur. Le miracidium n'est pas, précisément, analogue à Fembryon des autres animaux, c'est une forme spéciale permettant la pénétration de la masse germinale du ver chez le mollusque hôte intermédiaire. Une fois realisée cette pénétration le miracidium perd tous ces 1 Dans ces conditions les cirres de Railliet, les tube excréteurs selon nous, dcviennent apparents. 180 JORXAL DE SCIÊísCIAS orgaucs et il reste réduit seulcmcnt à la iiiasse des ólémoDts germi- natifs (sporocyste), qui so rósout en des amas moruliformes, cliacuu desquels doiine liou à la formation de iiouveaux sporocvstes qui, h leur toiír, sont lo point do départ d'un grand nuiiibrc do formes larvaires — los cercairos. Le Schistpsoma ottVe iiii interessa nt exemplo de polyombryoiiie ' qui s'éloigne do la polyembryoQio classique car entre Ia formatiuri de múltiplos erabryons, au dópens des petites mondes, et Tanif dont ils provienneut s'intorpose uno forme ombryonnaire. Loos a supposé qu'il a dos sporocystes males et des sporocvs- tes femelles, et co doit ôtro ainsi à causo de la polyembryoniiie. En effet chez uu Chalcidien {LithomastLv yelechia), Silvostri a vu - que los (Í3ufs fécondés donnent naissance à des femelles et les (riifs non fécondés exclusivemont í\ des males. Cos faits doivent expliquor bion dos particularités do la biologie des Schistosomes. 1 Robert Dollfus, «Continuitú de la lipfnóe des collule? germinales cliez les Trématodes /^/^'(.'«ea». {Comptea rendusdc VAcadémie des Sciaiccs. Séancc du 13 Janvier 1919). 2 Cit. in M. Caullery : Le Paratittsme et la Symhiose. Paris, 1922. MATEMÁTTCAS, FÍSICAS E NATURAIS 181 AS «GITTERFASERN» E O SEU COMPORTAMENTO NOS BLASTOMAS Eevista sintética e observações pessoais sobre 88 casos RXJi DE LE:^ros PREFÁCIO Aprosontando à Academia das Scieiícias do Lisboa o trabalho do Dr. Rui de Lemos, intitulado As Gitterfãsern e o seu com- portamento nos Blastomas, ó mou objectivo prestar homenagem àquele que foi o meu primeiro discípulo om Portugal, assim como pôr à luz e ao alcance dos estudiosos um trabalho scientífico que, não sendo já recentíssimo, conserva todavia um valor indiscutível. Quem quiser ocupar-se do estudo das Gitterfãsern nos blastomas achará no trabalho de Rui de Lemos uma massa de observações coligidas com amor, com consciência e com sciência. Quem quiser dedicar-se à investigação sobre estes elementos Jiistológicos, tanto em órgãos normais como patológicos, terá um precioso auxílio na revista sintética que, na sua memória, precede as pesquisas origi- nais, revista que lhe poupará grandes fadigas. Foi precisamente neste sentido que o Autor orientou os seus esforços, alcançando completamente o seu objectivo. Não chegou a publicar este valioso traJ)alho, que serviu ao seu doutoramento e qne, indubitavelmente, constituiu uma das melhores teses apresentadas à Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. O seu espírito honesto de autocrítica temeu que fosse de- masiado exíguo um estudo baseado em milhares de preparações fei- tas sobre 88 casos, porque o problema era difícil; raro exemplo de rectidão scientífica, a destacar entre tantos exemplos cotidianos de leviandade e de vaidade! Rui de Lemos quis completar o sou trabalho depois do douto- rado, mas a sua vida militar, passada nas colónias e na guerra, as contingências das obrigações clínicas o os seus deveres de assistente 182 JORNAL DE SCIÊNCIAS iinívorsitário obrigaram-iio a protelar suc('ssIvaiiix(»ciiç.1o (lo (Icsi^jado trabalho. A mort»*, criK^l c implacável, dcstriiíii (1(^ voz todos os projectos (^ todas as cspíuvmoati. Icvando-o aos 3l* anos d(» idad(^ Foi uma graiub^ perda para a Faculdade de Alediciua d(> Lisboa. Rui d(< icemos, dotado d(* um vivacíssinio espírito d(< obsorvador, d(^ um <>spírito subtil do inv(>stiííaoJlo d d(< crítica, tam ca])a/ de apr(>ciar iim trabalho scieiitíiico, como uma obra literáiia ou musi- cal, ou uma ex])r(>ssrio d(> arte li^urada, tinha uma alma cheia de Itondadci. Na carreira univí^rsitária a sua mental idad(« o a sua justa ambiçílo ]>odiam aspirar as mais altas vitórias. Da sua curta vida o do tanta (esperança para a scicMicia nada ficou seiíílo este trabalho, a saudado do qu(Mu o conh(>ceu. o afecto de amigo e o orgulho do mostro com qiu* eu evoco, iK^stas ])áginas, a sua grata memória. Lisboa, 2?* do Nov.>nil)ro de 1921. Emilio Enrico Franco DiroPtor do In.ilitntn tli- Patolopl.i Cíornl o An,itonii:i Patológica <1a I''aniil(la(1o úe Modicina (Io Ijif)l>oa. matemXticas, físicas r naturais 183 INTRODUÇÃO Froqiiontos vozos nost( (juímicas das Gitterjasern, assim como a evolução que so- frem sob a acção dos estímulos i)rincipal mente de ordem patoló- gica, tom-so procurado chegar à concepção firme da jiatureza dôste tecido, para poder ser definitivamente, ou oncorporado numa das já catalogadas espécies de tecido conjuntivo, ou considerado tecido conjuntivo dum género especial sem semelhante na histologia animal. E uma rápida revista destes trabalhos que agora pretendo ir fazer, para que daí se possa sem custo inferir qual a soma de conhecimentos certos que possuímos, quais as ideas dominantes na sciência sobre este ponto de histologia normal, e, feitas indispen- sáveis considerações sobre a questão da técnica, se ])oderá estudar mais proficuamente a disposição das Gitterjasern no estrema dos tumores, objecto e fim principal dôste trabalho. Antes de entrar propriamente no exame e escolha dos diferentes métodos, que as longas expericMicias de tantos observadores puse- ram á nossa disposição, com o fim de pôr em evidência o retículo das Gitterfãsern, seja-me lícito, antecipando assim em parte o estudo das propriedades de tal retículo, dizer sucintamente quais as suas reacções em presença dos vulgares agentes da coloração do tecido conjuntivo colagéueo e elástico, determinando desta ma- neira o critério com que num tecido se identificam e caracterizam as fibras do sistema Gitterfãsern. Dum modo geral, os reagentes corantes mais comuns do te- cido conjuntivo, a picrofucsina de van-Gieson, o anil de carmim de Ramon y Cajal, o azul de metilena de Mallory, etc. . ., deixam as Gitterfãsern, ou absolutamente não coradas ou, quando muito, aumentada a concentração do corante ou o tempo da sua acção, muito fraca e inconstantemente tingidas. Considerações perfeitamente análogas se ])oderiaiu fazer a res- peito da acção dos reagentes corantes específicos da elastiua sobre as fibras reticuladas do sistema das Gitterjasern. Por isso, só métodos especiais, na sua maioria de impregnação argéntica ou áurea, puderam revelar ao histologista surproejidido a esplêndida ri(iueza de fibras existentes no estrema de certos órgãos ou tecidos normais e patológicos, ri(|ueza (jue sem eles ficaria to- talmente ignorada. As imagens obtidas [)elos primeiros histologistas que désto assunto se ocuparam foram-uo com o auxílio de cloreto de ouro. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 187 Assim Hculo (3),assimKuptfor (1) e Rothe (4) conseguiram ver, aiadít que mal, as primeiras imagens do ostroma librilar do ligado. Estes métodos, que Kupllbr usava, tratando cortes obtidos por congelação com um soluto de ácido crómico, passando-os daí para cloreto de ouro a 1:1000 (Cl. Au. 1 parte. Cl. 1 parte. O 11^ dost. 1000 partes) duraute 48 horas, ao lim das quais o corte deveria licar violeta, o que, por razões desconhecidas, nem semi)ro acon- tecia, se mal o inconstantemente impregnavam as células de Kuprter, ainda eram muito menos convenientes para demonstração das Gítterfãsern. Um avanço notável so produziu então com o emprego dos sais de prata em vez dos de ouro. O método de Bõhm e a modiíicação dele por Oppel permitiram os primeiros trabalhos especiais sobre as Gítterfãsern do fígado e do baço. Em ambos estes processos a impregnação das Gitterfãsern, que íicavam negras, íazia-se por meio de nitrato de prata o era procedido do tratamento das peças por soluções fortes de ácido crómico (Boliin) o bicromato de potássio a 10 por conto (Oppel). Ainda esto último autor preferiu incluir em parafina, por obter assim maior facilidade em conseguir cortes mais delgados. E então que Maresch, em 1905, num seu trabalho sobre as Gitferfãsern do ligado, adapta o processo de impregnação ar- gêntica proposto por Bielschowsky para a demonstração das ueuro- fibrilhas, ao estudo das finas fibras reticuladas do tecido conjuntivo. A importância capital que o em])rêgo do processo Bielschowsky teve para o conhecimento das mais finas e delicadas mhiúcias das últimas ramificações do tecido conjuntivo prova-a o facto de que em todos os notáveis trabalhos sobre as Gitterfasern, daí para diante, se usou sempre esse i)rocesso de impregnação, modificado por Maresch ou por outros histologistas. Assim, fica ao histólogo alemão todo o mérito de ter feito dar um passo enorme a um género de estudos que, só com o auxilio o uso dos velhos processos de Bõhm e Oppel, nunca poderia chegar aos notabilíssimos resultados que, nas mãos do mesmo Maresch, como nas mãos doutros ilustres experimentadores, os métodos de Bielschowsky, adrede modificados, produziram. Na sua comunicação, conta-nos ôle como, averiguada a pouca electividade do método Kupffer, a frequente falha de impregnação com o processo de Opi)el e a insuficiência do método de Mallory- Ribbert para corar as mais delgadas ramificações conjuntivas, foi levado a procurar um processo novo de impregnação das Gítter- fãsern. Foi nesta ocasião que, tendo tido ensejo de verificar, como já outros observadores o tinham feito, que o método de Biels- chowsky proposto para a demonstração das neurofibrilhas era tam pouco electivo que muitos elementos, como a nevróglia o a adventí- cia de certos vasos sanguíneos, ennogreciam nas preparações trata- das com esse método, e que por outro lado muitas fibras, tidas e descritas no fígado como fibras nervosas por vários autores, como 188 JOUNAL DE SCIÊNC1A8 ])or uxcmplo Alleji;ra, mais nito oram qiio ramiiicações tio tecidos conjuntivos, como tambóni Woll" (11) liavia demonstrado, tovo a idoa do aproxeitar o método, couveuientomente modiiicado, nílo já para demonstrarão das libras nervosas, mas do sistema das Gittcrfasern. Dôsto processo, ainda que dele nSlo mo servi para as minhas j)reparaçõos, poríjuo foi usado com êxito por Horxheimer (12), Kon (13), Schmidt (14), Kosslo (IG), Russakolt (15), etc, em trabalhos que licaram clássicos, paroce-me conveniente estampar aqui as re- gras pormenorizadas do seu emprego, i)rimeiramente tais como Ma- resch as propôs, depois com as mínimas modiiicações que o uso aconselhou a alguns experimentadores ' : I. Fixação em soluçilo aquosa de formol a 10 por cento; II. Cortes feitos pelo micrótomo do congelaçrio ; III. Tratamento dos cortes pelo nitrato de ])rata em solução a 2 por cento durante 12 a 24 horas ; IV. Passagem para um soluto de óxido do prata em amónia du- rante 10 minutos (esta soluçilo, semi)re feita na ocasião do empre- gar-se, obtém-so do seguinte modo : num soluto do nitrato de i>rata a 2 por cento uma gota de soda cáustica a 40 ])or cento produz um precipitado castanho escuro, que se dissolvo pela juncSo caute- losa dum certo número de gotas de amónia, tendo o cuidado do <|ue não venha aJiaver excesso de amoníaco, que poderia vir a coyipro- metor fortemente o bom ôxito da impregnação ) ; V. Lavagem rápida em água destilada; VI. Reduçílo em soluto de formol a 20 por cento; VII. Tratamento dos cortes durante uns 10 minutos num banlio de cloreto de ouro (água destilada 10 centímetros cúbicos, com 2 a 3 gotas do cloreto de ouro e outro tanto de ácido acético) ; VIII. Passagem para um soluto de hi])Ossulfito de sódio a 5 jior c(mto, onde deverão íicar meio minuto ; IX. Copiosa lavagem em água; X. Álcoois; carbolxylol, bálsamo do Canadá. liússakotf (15), no seu trabalho sobro as Gitterjuaeni do pul- mão, a que mais de uma vez terei de me referir, emprega o método de Bielsciíowskv-^faresch, mas incluindo as peças em parafina; e a duração do banho áureo achou conveniente encurtá-la, reduzindo-a a õ minutos. Kon (13) pôs também ao método algumas observações, donde infere normas especiais do seu emprego. Assim, a fixação, prefero prolongá-la a mais de 48 horas, [)ara quo deste modo as células he- jiáticas corem mais fortemente o seu ]»i'oto|)lasma de amarelo o o seu núcliM) do negro e ]»ossam bem patentear as suas relações com o retícido rocesso a de evitar que ao vidro das lamelas se lixem os j)recipitados espo- Ihentos, inevitáveis quando da redução do óxido de jirata jjoIo for- mol; e, se ó verdade que o facto pouca importância tem para a ni- tidez e perfeição da ])reparaça.o, não é menos certo que é inconvo- niente obterem-se cortes lixados oju vidros, que pela sua difícil lim- peza ficam sempre cobertos de precipitados amarelados o prateados do mais desagradável efeito. Examinando agora cada um dos tempos do processo de por si, irei apontando as observações o pequenas mudanças (jue a prática tem aconselhado aos vários experimentadores que dôle têm usado ; o n(^sto capítulo inetoreL tambóm as minhas notas i)essoais. Qnanto a fixaçóes, os histologistas não s(3 tôm limitado a usar as recomímdadas \)ov Levi; e as fixações em álcool, su])limado, formol tem sido experimentadas por vários o sido objecto das maia disparatadas opiniões. Assim o formol a 10 por cento, com que Bar- bacci e os discípulos, Snessarew (27) o outros, obtiveram esplôndi- dos resultados, ([ue sempre prefiíriram (} que por consequência im- plicitamente acharam ser o melhor fixador, vai descendo no agrado através de vários histologistas até chegar a Comolli [oO), que, nos seus estudos sobre o conectivo da glândula suprarenal, e a Insabato, nos seus trabalhos sobre o tecido conjuntivo do útero humano, de- clararam ser êle para a impjvgnação argentica de Bielscliowsky exactamente o pior dos fixadores, em([uanto consideram a melhor fixação a feita com o llíjuido de Flemniing. Por mim, devo confessar que, tendo usado, na maioria dos meus casos, a fixação em formol, obtive quási síimpre resultados que em perfeição e (hdicadeza dilicilmeute i)oderiam ser excedidos, e, se para alguns casos abro excepção a algujnas impregnações defeituo- sas, será necessário lembrar (pie todos os processos inipregnati%u8 são seni[)re de si mais ou menos inconstantes e que, mesmo nas mãos do mais hábil histologista, os mi^smos reagentes o i)erfeita- mento a mesma técnica [)od(U'ão i)roduzir resultados óptimos a par do resultados detc^stáveis. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 191 Sobro o álcool há íblizmonto uma maior uniformidade de opi- niões ; a fixação pelo álcool ó considerada por todos os autores como menos conveniente ou, mesmo, como francamente má; as Gitter- fusern aparecem impregnadas de tal sorte que já n^o figuram li- nhas cheias, mas linhas interrompidas formadas do granulações co- locadas em fieira; mas, se destes aspectos se tiram ihições sobre a formação e desenvolvimento das Gitterfásern e se conclui,- como faz Martelli (21) e outros, que talvez as Gitterfilsern se formem, como foi descrito para as fibras elásticas, pehi disposição em linha do granulações da sua substância formativa especial, as imagens de impregnação granulosa das Gitterfásern passariam a sor conside- radas como evidenciando verdadeiras figuras existentes, ao mesmo tempo que o álcool, longe de continuar a ser tido como um mau fi- xador para o efeito, ficaria ao contrário estimado como óptimo meio do demonstração de delicados pormenores do sistema reticu- lado das Gitterfásern. Tratei pelo método de Bielschowsky-Levi muito poucas prepa- rações fixadas em álcool, e as figuras obtidas, se bem que inferiores às fixadas em formol, são no emtanto a maior parte das vezes apro- veitáveis. Igualmente aproveitei, para os meus trabalhos alguns, poucos, tumores fixados em Zenker. Não tive melhores resultados com o líquido de Zenker dos que alcancei usualmente com o formol a 10 por cento ; pelo contrário, as figuras obtidas, muito cheias de preci- pitações o com o retículo pardo e pouco nítido, são evidentemente as piores da minha série. E, contudo, tam exíguo o número de peças fixadas em Zenker que impregnei pelo método de Bielschowsky-Levi, que com elas não penso contestar a opinião de todos os autores que consideram para o efeito a fixação de Zenker como muito conveniente e própria. A fixação dos tecidos em Flemming é, segundo o consenso unâ- nime de quantos sobre o assunto escreveram, óptima, e com ela se obtêm os mais delicados e finos retículos. Muitos outros modos de fixação têm sido usados com maior ou menor ôxito pelos vários autores e que eu me contentarei em men- cionar : os líquidos de Miilier, Orth, Foá, Telliesnisky, uma solução com a seguinte composição : Acido tricloracético à 25 por cento 10 partes Álcool ordinário 15 » Formalina 3 » Tintura de iodo 2 » e ainda outros têm sido proi>ostos e experimentados pelos vários histologistas, em geral com resultados satisfatórios. O que eu contudo em parte alguma vi indicado é que se pudes- sem tratar polo método do Bielschowsky-Levi peças conservadas nos líquidos de Kaiserling. A notável vantagem que haveria em apro- 192 JORNAL DE SCIÊNCIAS veitíir poças numerosas o intcrossantes, conservadas num museu, disponsa absolutamente o ser encarecida. As minhas primeiras ex- poriôncias neste snutido foram coroadas do melhor Oxito ; as ima- gens obtidas do ])oças conservadas om h'(piido do Kaiscrling foram, om geral, magníficas e njlo inloriores às das lixadas oui formol, e de tal modo que grande parte dos tumores da minlia sórie pessoal de experiências estavam fixados e conservados nos líquidos de Kai- serling. A propósito, farei ainda Jiotar que, ao contrário da opiniJlo de Kon (13), a que atrás já me rofori, obtive osj)lóndidas })roi>ara(;ôos de ])eoas longameuti.í metidas em formal ina a lÕ por conto. Terminando, direi quo tem sido recomendado que, j)ara se po- derem utilizar peças fixadas em substâncias impróprias j)ara o bom êxito da impregnação, se faça proceder a acção dos sais de prata sobre os cortes dum tratamonto ])or certos líquidos. Assim Martelli (21) diz poderem-se obter imagens sofríveis com peças fixadas em álcool ou sublimado se, antes da impregna- ção argóntica, elas são mantidas por algumas horas em formalina a 10 por cento ou em líquido fixador de Orth. Assim Beccari (32), numa muito recente comunicação à Acade- mia Fisiocrítica de Florença (Fevereiro de 1913), preferindo a fixa- ção no líquido de Flemming, ]-ecomenda que se laçam sofrer os cortes de peças fixadas noutros fixadores, ou mesmo as fixadas om Flem- ming, uma prévia impregnação com o mesmo líquido de Flommivg durante uma hora. Continuando agora o exame do processo de Bielscliowsky-Levi, o tratamento dos (tortos (que melhor é que sc^jam delgados e não de 20-30 micra) com o soluto de nitrato de j)rata a 2 ])or cento, du- rante 24 horas (vide acima o programa pormímorizado do proces- so, n." II) está realmente tam longe de ser indispensável que mui- tos o Jião fazem; por mim pude encurtá-lo ou prolongá-lo por três dias o mais sem que o resultado final tivesse parecido ter ficado ]>or isso prejudicado. A i)arte verdadeiramente inii)ortante e delicada ó certamoate a impregnação pelo soluto amoniacal de prata; logo, por conselho de (|uá8Í todos os autores, a solução de NO^ Ag. a 20 por centO;, consi- derada muito concentrada, tem sido de preferência usada a 10 por conto; foi desta última solução (pie eu, firmemente disposto a se- guir osti'itaniento o modus Jaciemli do Barbacci, me servi semi)re. Das soluções de soda cáustica devem-se, diz Beccari, proferir as quo tenham sido feitas bastante tempo antes do seu emprego. Nâo tenta o aludido autor dar qualquer explicação da vantag(Mn das so- luçò(ís velhas sobre as novas; no emtanto. (pie m(> l(Mnbre, a única modificação que num soluto de ONall S(í ]»odem dar i-om o tempo é a sua progressiva transformação em carbonato jtelo gás carbónico da atmosfera. Juntando, nas proporções invi, lal(>i d(^ modificações jtropostas por vários autores; juntas às que pert(Micem ao mesino histologista íormam proc(íSS08 comph^tos que sao pois simples variantes do método do l^evi. O primeiro ó o do Barbacci, em quo mais adianto terei neces- sidade do falar ainda; o de Boccari, que faz preceder o trataiuento argênteo por uma impregnação ósmica dnranto uma hora, ])repa- rando o soluto amoniacal de prata como acima foi dito, o diminuindo a duração do banho áureo; o de Snossarow (27), cuja parte carac- terística reside no tratamento dos cortes do peças lixadas em for- mol a 10 por conto e obtidos polo micrótomo do cong(daç<1o j>or uma solução de nlúnieii de forro amoniacal {amnionium fcj-i-o-snlfu- ricvm) (NH'')- F- (SO'')'* cristalizado) de 2,5-10 jior cento, d(^pois do íjue se segue a impregnação argêntea do modo ligeiramcMite mo- dificado quo acima já descrevi. Com este método o professor russo afirma t(U* obtido uma coloração electiva (n(ígra) das Gitterfaseni, bem distinguívíd da das fibras colagéneas (parda) o da dos nervos (pouco corados ou nada). Finalmente, vários ])ro])useram e usaram (Ciaccio (3.3), Al;igna (34), (ítc.) um processo d(> imj)r(>giiação argêntea, que não é mais do que uma pequena modificação do procí^sso do Lovaditi para a colo- ração do Treponema paUidum nos tecidos; os resultados, em geral, satisfatórios, parece, contudo, ser violeta (|ue tomam os feixes colagéneos não ó suficiente para os distinguir das Git- • Tivn nca-íião (lojinis ile ver luiin traU.illin alomão uma ol)'í(M'vaçrio i(ir;n- tlca. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 195 terfâscni, Torna-fie poix sempre necessário fazer o estudo compara- tivo entre as preparações obtidas pelo método de impregnação a as coradas com os reagentes vulgares do tecido colagéneo e o elástico. E conselho do todos os autoros o fazer-se a loitura das propa- raçõos do Biolschowsky-Lovi com o maior cuidado o circunspocção, pois há vários aspoctos capazes d(^ induzir em ôrro o ol)servador não prevenido; fibras colocadas de tal sorte que parecem penetrar numa célula ou num g-rupo de células, mas que, afinal, estão num plano óptico diferente, outras vezes sombras de hematias, ou mesmo células só com os contornos corados, simulam facilmente, juntando-se às viziídias, um delicado retículo ; ainda fibras muscular(ís, ou outras, cortadas de certa maneira o rodeadas do tecido conjuntivo, })odem cora facilidade ser tomadas por células rodeadas de fibras reti- culadas, etc. Seja-me permitido aqui frisar qual a técnica que usei na impre- gnação das minhas peças antes de falar dum método recente de im- pregnação metálica; vou mesmo escrevê-lo em guisa de programa, deixando agora todas as observações que já ficaram feitas. I. Fixação das peças em formol ou líquido de Kaiserling ; ra- ras vezes em líquido Zenker; II. Tratamento dos cortes soltos e parafinados segundo o mé- todo de Barbacci, isto é: a) Soluto do NO'' Ag. a 2 por cento — 24 horas; b) Lavagem rápida em água destilada; c) Soluto amoniacal de O Ag^, obtido dissolvendo em amónia o precipitado formado pela junção de 5 gotas de NaOII a 40 por cento a 5 cc. de NO'^ Ag. a 10 por cento. Diluir com 20 cc. de água des- tilada o filtrar — durante 20 a 30 minutos; d) Lavagem rápida em água destilada; e) Redução pelo formol a 5 por cento — -10 minutos; /) Lavagem em íigna fontis — 2 minutos; g) Soluto de ClAu a 2 por mil — 2 horas; h) Soluto de hipossulfito de sódio a 5 j)or cento — 15 minutos ; i) Lavagem em água /oníis-- cerca de 12 horas; ;*) Montar em lamela e secar na estufa; k) Desparafinaçâo e diafanização em xilol; l) Montagem em bálsamo de Canadá. Tendo tido ocasião de ver preparações impregnadas no Insti- tuto de Barbacci e por este conferidas, pude verificar, cotojando-as com as feitas por mim, que plenamente consegui obter os bons re- sultados que o emprego do método pode dar; apenas na montagem dos cortes havia diferença, pois, emquanto no Instituto de Siena eles são montados com gelatina glicerinada, eu servi-mo para esse fim constantemente de bálsamo de Canadá. Numa recente comunicação o professor Timofejew (35), de Kasan, partindo do facto de que o azul de metilena de Ehrlich corava muito bem as Gitterfãsern do fígado, propõe um método de coloração das Gitterfdsern aplicável ao fígado como aos demais órgãos, de que o 1% .TORXAL DE RCríiXCTAS mosmo Tiinoíojew, (tomo a sua discípula Sr,'' Struuiow-Trubin (30), su sorviraiii (jiii notávois o importantes estudos. Cortes obtidos por coiif^elaçilo s?lo tratados i>or nm tomi)o que podií ser (1(* 15 minutos até 2-i lioi^as no soluto sc^iuinlc : Metilt^nhUiu rectilicado, do hvhrlich, 1 i:,rama : Soro fisioló--ico, 2:O()0-4:n(M) -ramas;' Lavagem i)or 24 horas em soro lisiológico e ])assagcra ])ara so- luçílo de purato do amónia (0,1 grama de purato cijui 80()-l:200 gramas de soro fisiológico), ondo ficam 1-24 horas. A (lií(U'oneiaçao jtodo seguir-so ao microscópio vendo a mudança do tom a/.ulado das libras ])ara violeta. Os cortes depois de corados montam-se na s(!guiiito mistura: so- luto concentrado do picrato do amónio, 35 cc. ; glicerina, 50 cc. ; água destilada, 50 cc. Com ôstc método as Gitterfãsern íicam violetas, o tecido cola- géneo muito fracamente ou nada corado, libras musculares e elás- ticas com[>letaraontc descoradas. Células fracamente a/uis ou acin- zentadas, núcleos tintos de azul mais forto, e, assim, o retículo ^io- leta destaca-se bem dos outros elementos. Quando os núcleos se co- ram pouco, usa Timofejew, depois da diferímciaçcão, corar os cortes com picrocarmim de ]loyer, com qiie o tecido colagéneo liça verme- lho, ou polo método do llamon y Cajal; de ambas as maneiras as Gitterfãsern conservam-se violetas. Não tenho nenhuma im])ressão pessoal deste método, ([uc nfio tive ensejo de experimentar. Em último lugar, recordarei que, como Oppel fez, o retículo das Gitterfãsern pode ser estudado pelos processos d(^ pincela- gem, digestão artificial, etc, como é corrente fazer-se para o retí- culo adenóide. Se foi no fígado qne o sistonui d;is Gitterfãsern primciranicnte foi descrito, se à([uela glândula cabo a jtrininzia nariíjuczae íinura do sist(5ma reticulado do seu estrema, não é de admirar (pie tenha sido ])rincipalniente no fígado que os estudos da disposição das Gitterfãsern tenham sido levados mais longo, o que seja sobro a morfologia normal e patológica das Gitterfãsern do fígado, que se tonha ])rincipalmente pretendido edificar um conceito g(!ral do «ignificaçáo de tal sistema. E, no emtanto, a observa(;ão de Kiíssakolf, feita em 1009, de que, apesar duma já tam notável quantidade de contribuíçOos o es- tudos, havia ainda muitos pontos, alguns dos quais de ]»rimaci;il importância, que estavam l)cm longe de se jioder considerar defini- tivamente estudados (^ interpretados, subsiste ainda hoje verdadeira, mau grado a grande soma d(í trabalhos notáveis sático, si^gundo Strumow-Trubin, seria completamente ro- deado por uma rodo de fortes fibras donde sairiam as fibrilhas peri- capilares, o destas as fibras uniti\as ou anastomóticas, sendo pois o estrema uma complicada rede em cujas malhas áv vária es[»es- sura e direcção se alojariam as células hepáticas ou os capilares sanguíneos. Estudando as Gitter fanem, que, como a Riíssakotl", se lhe afiguraram serem formadas por fil)rilhas juxtapostas, nos dife- rentes animais, provou, como 0]>pel já havia feito, por exemplo, que emquanto o gato é o tipo de vertebrados em que as Radiarfãseni são fortes e espessas, o cão representa o tipo contrário em que, pre- dominando as Umspinnpiid, as fibras radiadas são mais fracas o nem sempre se seguem da veia central à iieriferia do lóbulo. I)a(pii se infere que os diferentes els ácinos cortados porpciídicidar- iiumto mostram ai)Oiias um anol ne^ro quo os envolvo, aspecto das mojnbraiias basilares impr(>íj:iiadas de prata; se ao campo da pro- l)ara(,'âo vom um ácino cortado obruiuaniciite, a protonsa liomogoiioi- dade desaparece, para dar lugar a íiguras formadas dum delicado re- tículo, encerrado na massa duma substância fundanuMital, cuja abun- dância varia de glândula ]»ara glândula. A estrutura reticulada das membranas basilares, bem como a sua relação com as túnicas próprias dos órgãos glandulares tem sido, regularmente, oncojitradas nos rins, no pâncreas e glândulas salivares, nos ovários, nas glândulas mucosas dos brônípiios. Mesmo no fígado, como acima ticou dito. liá ([uem interpreto do mesmo modo certos aspectos das Gitterfuscr», observando apenas que a substância fundamental da meml)rana ])ró- pria ó relativamente muito menos abundante do que nas outras glândulas. Fora das vítreas glandulares o retículo continua-se e contrai ín- timas relações com as Gitterfdsern que rodeiam os vasos do es- trema. Assim nos rins os retículos perivasculares lançam sobre os tnbuli, como sobro as cápsulas de Bowniann, fibrilhas que, dividin- do-see anastomozando-se, constroem além das membranas próprias um retículo tam apertado e abundante quo diílcilmente o desenho o reproduz. No pâncreas também as Giiterfdsern, separando-se dos feixes colagéneos do estrema, formam, em volta dos ácinos, arcadas deli- cadas, disposição esta pouco diferente da do retículo que rodeia os ilhotes de I-iangerlians. Uma particularidade notável e importante ])ara a compreenscão do sistema das Gitfe?'f<(sern em certos tumo- res epiteliais é mencionada pelo italiano (jesare Piazza (48), que viu a entrada de delicadas fibrilhas dentro do ácino até ás células centro acinosas, o que igualnnmte acontecia, se bem que muito mais raramente, nos ilhotes Langerlians. São de comparar-se a estes re- sultados os de Livini (25) sobre o tecido conjuntivo das tiroídea e j)aratiroídea ; o tecido conjuntivo libriUiar não se limita a rodear os ácinos, penetra dentro dêlcs, de tal sorte que Livini descreve as cé- lulas ])araliroídeas separadas umas das outras por um sistema de deli<'adas fibrilhas ; descrições semelhantes foram feitas no ovário por ILimiann (44) e na cápsula supra- renal por Comolli (30). A descri])eão do sistema das Gitterfdsern na ])arede dos vasos foi principalmente feita nestes últimos tempos em trabalhos da Es- cola de vSiena. DAntona (45) eliazzaboni (4()), nos seus estudos sobre as lesões aórticas e sobre as varizes, estabeleceram com precisão as relações evidentes com o sistema muscular o elástico, verdadeiros elementos funcionais dos vasos ; a sua abundância ou a sua ausên- cia, dependente da (]uantidade de fibras elásticas ou muscular(>s, a sua disposição tendent(í a formar como que bainhas reticuladas á volla (lo músculo ou da lâmina elástica constituem dum modo muito ge- ral a súmula dos resultados daqu(^les autores, obtidos na aorta (^ MATEMÁTICAS, FÍSICAS K NATUKAIS 201 nas veias normais. Já antoriormento as Gitterfãsern do músculo liso do útero tinham sido impregnadas, mostrando-se em tôruo dos feixes e das fibras, em linhas longitudinais ligadas entre si por li- bras anastomóticas perpendiculares. Idênticos aspectos obteve Neu- ber (49), impregnando o músculo cardíaco; segundo este autor o retículo das Gitterfãsern formado de fibras fortemente onduladas que correm ao longo dos fechos e de fibras Uinspinnend, cuja di- recção cortam, não é menos abundante e nítido que no fígado e ór- gãos linfóides. Redes de Gitterfiisern foram descritas ainda por Eiíssakott', sob o opitélio alveolar do pulmão ; estas redes seriam formadas do fibras que penetram na parede alveolar com os capilares, e doutras fibras {iSpiralfãsern) acompanhando de prefiu-encia os feixes elásti- cos ; e os capilares possuiriam ainda uma camada de fibras circula- res, imediata continuação da camada subendotelial das artérias. A aplicação dos métodos de Bielscliowsky, como o deTimofejew, permitiram a demonstração nítida do retículo do baço e dos gâu- glios linfáticos; assim Rossle e Yoschida, Ciaccio (33) e outros pu- deram descrever a disposição das fibras do retículo do baço nos fo- lículos, na polpa e à roda dos vasos, nos folículos e nos seios gan- glionares; assim, Alagna (34) fez o estudo retículo-adenóide da amígdala palatina, etc. Em 1003, descreveu Renaut (50) delicados retículos conjuntivos no epíplon de certos animais e em outros órgãos ; este retículo, a que êle chamou «la tramule du tissu conjonctif», posto em evidência pelo azul de metilena de Zachariades, tem, nas suas reacções coran- tes, cunio na sua morfologia, uma tal semelhança de aspecto com as Gitterfãsern, que não duvido em identificar completamente os dois sistemas. Do que foi dito se infere que o retículo das Gitterfãsern se encontra sempre, mais ou menos desenvolvido, em todos os órgãos ; em todos eles as Gitterfãsern se reconhecem acompanhando os grossos feixes colagéneos, ou, independentes, formando retículos. Em toda a parte, também, a conexão com a adventícia dos vasos ó óbvia, sendo que em alguns órgãos o retículo parece provir todo ele da parede vascular, emquanto noutros da interferência das Gitter- fãsern de várias origens é que resulta o sistema reticulado do órgão. Encetando o exame das perturbações que na sua disposição e aspecto o sistema das Gitterfãsern sofre em presença dos vários processos patológicos, avançarei dizendo desd(í já que dele é que saem principalmente os elementos com os quais se poderá determi- nar em que capítulo da Anatomia Geral se deva colocar o sistema das Gitterfãsern e reconhecer o papel que, na Fisiologia, êle tem de desempenhar. Se nós examinarmos, por exemplo, a porção de parênquima hepático que está em volta de um tumor, com facilidade observare- 202 JORNAL DE SCIÊNCIAS mos, mormente se Oste teve um rái)ido crescimento, uma modifica- (.'âo especial das suas Gitterfdsern; jiormalmeuto onduladas, as Gitterfúsern, correm direitas, coucôntricamente ao tumor, ao mesmo tempo que há uma evidente diminuiXiRo na sua espessura ; o mesmo acontece semj)re que há lesões (jue tendem a aumentar o volume do lóbulo hepático, estase crónica, angiectasias de certas septicó- mias, etc. Correspondentemente, apresentam as Gitterfãsem um fortís- simo espessamento e enru^amerito em casos de atrofia do lóbulo he- pático, sendo contudo de notar-so que estes dois elementos, o des- dobramento ou o adelgaçainento da fibra, por um lado, e o seu es- pessamento e maiores sinuosidades de trajecto, por outro, nem sem- pre concorrem em partes iguais na modificação do retículo, havendo casos em que o desdobramento prima a diminuic^ao de espessura, como, por exemplo, na estase difusa do fígado, c outros em que identicamente a fibra reticulada se adapta à diminuição do percurso a seguir, principalmente espessando-se, emquanto as ondulações se fazem pouco mais freqiientes e apertadas do que normalmente. Exemplos desta ordem se podem também encontrar no pulmão, onde as Gitterfãsem se enrolam e engrossam à volta dum lóbulo atelectasiado, adelgaçando-se num pulmão enfisematoso. Mostram estes fenómenos intimamente que as Gitterfãsem são elementos eminentemente distensíveis, mas, como sempre, pode o li- mite de distonsibilidado ser excedido, dando origem a verdadeiros fenómenos de atrofia, e, mais simplesmente, a fracturas o soluções do continuidade das fibras, como às vezos sói ver-sc na periferia do tumores de rápido crescimento. Outra propriedade interessante das Gitterfãsem é a suu grande resistência aos agentes que atacam, mais ou monos rapidamente, o elemento parenquimatoso, e exemplos dela se encontram em todos os órgãos. Em inHamações agudas, purulentas, em necroses de ori- gem infecciosa ou tóxica do fígado ou dos rins, nas placas do ate- roma, inclusivamente, até, no seio de granulomas tuberculosos oii si- filíticos completamente degenerados, o retículo das Gitterfãsem dei- xa-se ainda impregnar e conserva um aspecto pouco difei'ento do normal. As vezes, contudo, esta resistência pode fenecer em casos de for- tíssimas infecções ou intoxicações ; ó assim que Kon refere om ca- sos do dissociação do lóbulo hepático de origem septicémica, uma atrofia e degeneração das Gitterfãsem, demonstrada pela defeituosa e parcial impregnação, ás vezes granulosa, do retículo. Desta va- riabilidade de comportamento e de resistência das ( í itterfãsem tirou Kon a razão da diferente consistência do órgão conforme a lesão ; se o retículo se conserva, conserva-se a consistência ; se o retículo degenera e desa])arece, diminui a dureza do fígado. Tlá muito t(Mn])0 já que vários observadores tinham notado que, em indivíduos cujas artérias osehu"óticas tinliam produzido, em to- dos os órgãos, as sabidas modificações, o fígado se mostrava muito MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 203 menos atingido que eles pelo processo, apresentaudo-se somente - duro, e sem quaisquer fenómenos do cirrose. Entre esses observa- dores contava-se Barbacci, que, depois de ter examinado-, sem re- sultado, o tecido conjuntivo, pertinazmente normal, do que êle cha- mava il fegato duro arteriosderotico, se lembrou de procurar se as modificações de consistência do fígado na artério-esclerose genera- lizada poderiam assentar em qual([uer modificação do retículo das Gitterfasern; desta vez as pesquisas do ilustre anátomo-patologista foram coroadas do maior êxito, visto que pôde demonstrar uma correspondência entre o endurecimento do fígado e o aumento do sistema das Gitterfãsern. Os dois processos de hipertrofia e hiperplasia concorriam de maneira variável para o fenómeno, do tal sorte que Barbacci pôde distinguir um tipo hiperplástico, um tipo hipertrófico, conforme a predominância dum ou outro processo, e um tipo mixto, concedendo, contudo, que esta divisão era um tanto teórica, visto que o tipo mixto era o que sempre ou quási sempre se encontrava. Estudos posteriores de Barbacci permitiram demonstrar que um processo idêntico se desenhava nas outras vísceras: no rim, no pâncreas, onde ê vulgar o aparecimento de lesões de esclerose subseqíientes a lesões arteriais, era por fenómenos de hiperplasia e hipertrofia das Gitterfãsern que começavam os processos de cirrose da víscera. Mas, para daqui se chegar à verdadeira esclerose visceral, era ne- cessário mostrar como nascia o tecido colagéneo e determinar as possíveis relações dêsto com as Gitterfãsern; estas relações fica- ram esclarecidas, quando se mostrou que o tecido formativo das Gitterfãsern se podia transformar em verdadeiro tecido colagéneo. Esta transformaçcão, esta metaplasia das Gitterfãsern, estava, a este tempo já, descrita por Rõssle e aceita pelos seus discípulos, desde que este autor, em 1907, numa comunicação à Sociedade Alemã de Patologia, descreveu os dois fenómenos, que reputou caracterís- ticos do fígado diabético : um era o aparecimento do gotas gordu- rosas no protoplasma das células estreladas, outro a formação du- mas bandas especiais na parede dos capilares iníra-lobulares. Deixando o relato da deposição gordurosa nas células de Kupf- fer, que não interessa ao caso, vou seguir a descrição das bandas perivasculares. Estas bandas ou faixas são, segundo Rõssle, já evidentes em cortes não corados, como cordões brilhantes e refringontes, cor- rendo ao lougo da parede do capilar, e têm a sua origem na veia central ou no tecido colagéneo da cápsula de Glisson. Colocadas junto das células hepáticas, mas pertencentes às paredes do capilar, envolvem-nas nas suas voltas contorcidas e fortes, e por vezes figu- ram ser prolongamentos directos das células estreladas. Identifi- cando estas fibras, afirma provirem duma transformação das Git- terfãsern, transformação que, diz textualmente, não pode ser mais comodamente denominada que Metaplasie zii koUagenem Binde- gewehe, visto que as fib rilhas, que nitidamente £e vêem formar 204 JORNAL DK SCIÊNCUS essas bandas, apresentam já as reacções de tecido colagónoo, avoniie- Ihaiido, por oxemplo, mais ou miMios fortemente, com a picrofucsiuu. E, no ano sci^iiinto, noVa eomuDícaçilo, (Mn que lv<"tsslo estuda a metaplasia das (Jitterfaseni na liipf^rtroíia simpJos do fígado. Esta irahre hipertrolia ó uma hipertrofia difusa, independente de ver- dadeiros fenómenos d^) cirrose, e que aparece nas pessoas que traba- lham muito, assim como nos grandes bebedores de cerveja; jornalei- ros, carregadores e quejandos forniam a maior parte dos indivíduos atingidos de hipertrofia simples do seu fígado; a coexistência repe- tida da hipertrofia cardíaca dos rins, e a morte freqiiente por insu- ficiência aguda do miocárdio, a mesma etiologia do processo faz-me ])onsai ({ue, pelo menos, em alguns casos, se deverão comparar al- guns fígados com irahre hipertrofia aos fígados duros artêrio-esclo- róticos d(í Barbacci. Seja como fôr, os fenómenos de espessamento e enrolamento das Gitterfãsern, o, aqui e ali, a transformação, mais ou menos completa, do tecido conjuntivo intralobular em verdadeiro retículo colagéneo, constituem as modificações que o professor alemão en- controu nos seus fígados, com hipertrofia sinipU's ou verdadeira, es- pecialmente localizada nos lóbulos, sede de fenómenos de hijtertrofia })arenquimatosa. Estabelecida, assim, para Rossle a prioridade na descrição da metaplasia colagénea das Gitterjasern, prioridade aliás reconhe- cida e apontada [)or Barbacci, e recordado que este último histolo- gista, observando vários órgãos, pôde afirmar que a hipertrofia, se- guida mais tiirde de metaplasia, das GitterfOsern, estava seraj)re no início dos processos de verdadeira esclerose, estudos de diferentes histologistas tôm vindo verificando em diferentes tecidos ou órgãos a exactidão das vistas do Rossle e Barbacci. Mas, antes que deles dê conta, desejo frisar bom (jue os aumentos de consistência, sem lesões escleróticas verdadeiras, e fundados em fenómenos de hiper- trofia e hiporplasia das Gitterfãsern, u^o são de modo nenhum privilégio exclusivo da glândula hepática. Certos endurecimentos do rim, sem outras lesões de nofrite intersticial, o endurecimento do })ulmão em algumas estases crónicas (KiissakoH), o aumento do consistência dalgumas glândulas linfáticas nos sifilíticos (Rossio) reconhecem a mesma patogenia averiguada. D'Antona (45) estabelece, depois de fazer o estudo circanstan- ciado das Gitterfãsern da ])arode arterial, surpreendendo as re- lações íntimas destas com as lâminas elásticas e as fibras muscula- res, que os processos de artório-esclerose sofrem a exolução já descrita, sendo (jue a metaplasia colagénea nem sempre se chega a efectuar pela intervenção fortuita, se bem que frequenta, do fenó- menos degenerativos. Nas v(!Ías é Razzaboni f46) quem descreve como os fenómenos das transformações varicosas graduais correspondem a lesões das Gitterfãsern da parede vasal, lesões que, principiando ])ela hi|»er- plasia, principalmente a liipertrofia om muito maior grau, vão con- MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 205 duzindo ató imia verdadeira esclerose por nietaplasiacolagónea, para, só nos últimos estados, as modilicações progressivas das Gitter- fãsern darem lugar a lesões atróíicas e do degenerescência granu- losa das mesmas. Nos órgãos adenóides Rõssle o Yoscliida (17) dâo couta do as- pectos idênticos na modificaçcão das Gitterfasern em liipcrtroíias o aumentos do consistência dos gâuglios linfáticos. E, para acabar como principiei, falando do fígado, direi como na cirrose, a par das lesões características, as Gitterfasern so con- servam em gorai na sua disposição íiormal, apresentando somente os conhecidos fenómenos de hiperplasia e metaplasia, a que já tantas vezes me referi ; somente nos lóbulos, sede do fenómeno de regene- ração parcnquimatosa, a rede das Gitterfasern sofre profundas mo- dificações destrutivas. Quási ocioso ê dizer que factores do ordem mecânica, como a diminuição do volume do lóbulo, a estase crónica e outras circuns- tâjicias próprias ãs cirroses intervêm na formação final do retículo das Gitterfasern. E, aproveitando o ensejo, mencionarei a obser- vação de Barbacci, do que, sendo, ao contrário das outras vís- ceras, o fígado artêrio-escleroso um fígado, em geral, não cirrose, devo essa excepção ser atribuída ao facto de a glândula hepá- tica usufruir duas vascularizações diferentes, reagindo este órgão ás lesões arteriais apenas com modificações do seu tecido reticulado o não do seu estrema colagéneo. Nos tumores tem sido estudado igualmente o comportamento das Gitterfasern; mas dêsso argumento terei tempo de adiante me ocupar bem mais de espaço. Os primeiros observadores que viram e descreveram o retículo das Gitterfasern ou não indicaram a sua natureza, ou, sem maior exame, o consideraram formado por tecido colagéneo (Frãnkel (51). Mas esta opinião não pode manter-se por miu"to tempo e desfoz-se logo que foi demonstrado que as Gitterfasern não mereciam ser tidas como fibras colagéneas, pela boa e simples razão de que fervi- das com água não davam absolutamente ou davam ligeiros vestígios de cola. Além desta fundamental diferença, outras havia entre as libras colagéneas e as Gitterfasern: a fraca ou nula coloração destas pelos reagentes corantes vulgares do tecido colagéneo, a que atrás me referi, certas particularidades morfológicas, como a possibili- dade do formarem anastomoses com as íibrilhas derivadas da rami- ficação da mesma fibra primária (Braun (52), fibra esta mais espessa que a soma das ramificações secundárias, tudo isto constituía um grupo de particularidades que distinguem as Gitterfasern do te- cido colagéneo. Disse já atrás como as reacções corantes separaram as Gitter- fasern do tecido elástico e como os os[)ecíficos corantes da elastina são incapazes de evidenciar o retículo j)rocolagéneo ; quanto a diferenciar as Gitterfasern das fibras elásticas, simplesmente, por 206 JORNAL DE SCIÉNCIAS caracteres morfológicos, 6 difícil o mesmo, qiiási sempre, impossí- vel, como tivo ocusiau de me convencer ríij)idaniente. Assente pois que as Gitterfiiseru não eram, nem fibras colagé- neas, nem elásticas, natural pareceu que, com as primeiras e felizes aplicações do método de Bielschowsky à demonstração do retículo dos órgãos linfáticos, assim assemelhado em aspecto às Gitter- fasern do fígado, se tentasse aproximar e identificar as Gitter- fasern dos vários órgãos com aquilo que era conhecido sob o nome du tecido reticulado e se encontrava condensado no baço e órgãos linfóides ou esparso em vários outros órgãos. O primeiro autor que falou das Gitterfasern dum órgão linfático foi, como já por mais de uma vez foi dito, Oppel; mas fc-lo categoricamente, declarando que, com o dar o mesmo nome de Gitterfasern ao retículo intralobular do fígado o ao delicado retículo do baço, não (juisera significar (* afirmar a identidade dos dois tecidos, mas que apenas tivera a idea de, por simplicidade, usar do mesmo nome para dois tecidos que, impregnados pelo método argênteo, apresentavam idênticos caracte- res. Depois de Oppel, porém, começou a falar-se correntemente de Gittei-fasern do baço ou dos gânglios. Pareceria à primeira vista que, demonstrado, ou, pelo menos, acoito o princípio de que as Gitterfasern e o fino retículo adenóide são tecidos idênticos e da mesma natureza, estariam completamente determinadas todas as propriedades e a estrutura íntima do sistema das Gitterfasern; assim, na verdade, teria, acontecido, se se pos- suísse o conhecimento elementar o perfeito do tecido linfóide. Mas, sabe-se como a concepção do retículo dos gânglios linfáti cos e baço tem variado o como têm sido longas e vivas as contro- vérsias, que o assunto tem provocado. Duas são, como é sabido, as opiniões sobre a estrutura do tecido reticulado : uma considera-o formado de fibras, sobro as quais estão assentes células infiltran- do-as ; outra, polo contrário, dá-o como formado do células ramifi- cadas, cujos prolongamentos se uniram, constituindo uma rede mais ou menos espessa. De ambos os lados da (juestão se vêem nomes ilustres e honrados na sciência; a opinião geral tende, contudo, hoje ])ara a hipótese celular. As partes primitivamente ])rotoplásniicas dos prolongamentos celulares iriam sofrendo transformações de or- dem química que, afastando-as da substância do protoplasma, as con- duziriam ao estado de retículo não colagéneo do gânglio liníático ou baço adultos. Esta evolução, feita, assim, à custa dos corpos celulares, tinha ])or efeito o progressivo rareaniento de núcleos do retículo, de tal sorte que, em muitos pontos, o seu total desaparecimento dava ra- zão aos que admitem no retículo fibras, simplesmente, entrecru- zando-se de vária forma, e sOl)re elas juaior ou menor (|nantidade de elementos celulares. Noutros retículos (jue não propriamente adenóides, como no da medula dos ossos compridos, tem sido observada uma evolução idêntica o confirmativa. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 207 Vieram estas considerações a propósito, porque se têm pro- curado os elementos colagéneos pertencentes ao sistema das Gitter- fãsern do fígado e porque não sendo em alguns casos encontradas células que como tal se pudessem considerar, muitos autores se ne- gam a admitir a identidade das Gitterfmern e do tecido adenóide ; entre eles, recentemente, a Sr.^ vStrumow-Trubin, nas conclusões do seu já apontado trabalho sobre o fígado, está de acordo em que o te- cido adenóide é o que mais se aproxima do das Gitterfãsern, mas, deste o distingue por possuir os elementos celulares fundamentais, que nas Gitterfãsern não encontrara. Se progressivamente e com o correr dos tempos o número de núcleos existente vai, como acima disse, minguando, necessário se tornou que- estudos fossem feitos sobro fígados, em épocas recuadas da vida; foi o que Kon fez, es- tudando o desenvolvimento das Gitterfãsern nos fígados embrioná- rios ; as descrições deste autor sobre as evidentes relações das Git- terfãsern com o endotélio dos capilares são perfeitamente decisivas. As fibras aparecem já no quarto mês da vida intra-uteriua, e são, dizs Kon, primeiramente evidentes no meio do lóbulo e não têm relação com a veia central, ou com a Ccipsula; a sua impregnação faz-se granulosa nos fígados de quatro meses, tornando-se linear aos seis meses, o, já nesta época, é nítido, por um lado, o apareci- mento de grãos e linhas de impregnação no protoplasma das célu- las estreladas, principalmente nos seus prolongamentos, e, por ou- tro, a existência de formações fibrilares, ou no interior, ou na su- perfície dos corpos celulares em toda a sua extensão, ou apenas em parte. Estes aspectos mantêm-se parcialmente até os nove meses, época em que a disposição do retículo é idêntica à do adulto, e depois perde-se a evidência da íntima relação existente entro as Gitter- fãsern e as células estreladas. E daqui, conclui Kon, se infere que ó extremamente verosímil o crer-se que as Gitterfãsern provêm da imediata transformação dos prolongamentos e da camada superficial das células endoteliais dos capilares intralobulares. Nítidas impre- gnações dos prolongamentos das células endoteliais e a sua passa- gem gradual para as Gitterfãsern, observou ainda Kon, em abono do seu modo de pensar, em dois tumores, um Ccivernoma hepático, e um nódulo metástico dum tumor hipernefróide. Strumow-Trubin, menos feliz que Kon, confessa que sempre que pretendeu achar relações entre as células de Kupfter e as Git- terfãsern obteve apenas resultados negativos. Rr)8sle e Yoschida descreveram nos gânglios células formadoras das Gitterfãsern, que mais não eram do que as células do retículo que consideraram idênticas aos elementos endoteliais dos vasos lin- fáticos, como aos fibroblastos e aos elementos epitelióides (tuber- culose). , Apesar de continuar litigioso este ponto, a opinião de quási to- dos não hesita em meter o sistema reticulado das Gitterfãsern no grupo dos tecidos reticulados em geral; daí a justificação do ter eu 208 JORNAL DE SCIÊNCUS já, tambóm, por várias vezes, falado corroutemonte ilo Gitterfãsem tios j^âiiglios o do baço. Da góiicse das Gitterfãsem falarei rapidamente, visto (juo iiílo há observações especiais a fazer (! o modo de nascimonto do sis- tema reticulado ó o descrito a j)ropósito das libras conjuntivas em geral ; certamente que o ponto não está definitivamente assente pelos histologistas e a questão do saber se as fibras nascem i)or transformação da substância protoplásmica por diferenciação super- ficial ou interna, ou se tCni origem na modificação fibrilhar dum produto intercelular, constitui ponto ainda hoje discutido o contro- verso. Certo é que, demonstrado que a substância intercelular ó um pro- duto da actividade da célula, ou que mesmo não é mais do (jue uma diferenciação (creoplasma, liialoplasma) da parte mais afastada dos núcleos do sincício que forma o mesOnquima embrionário e original, a questão perdeu parte importante do seu interesse. E as descrições vão-se assiMuelhando às que Kon fez a respeito das cólulas estreladas do fígado ; assim, Laguesse (53), estudando a génese da eápsula e do tecido próprio do baço dos seláceos, d(;tt'rjuina a formação tan- gencial, ou mesmo interna, da suljstância amorfa, ainda não colagé- nea, que mais tarde se dividirá em fibrilhas e evolucionará de tal sorte que apresentará depois completas as reacções do tecido cola- géneo ; o mesmo trabalho interessa no ponto em ([uo marca a for- mação fibrilhar precolagénea da túnica própria do baço, disposição que foi encontrada, como atrás disse, nas membranas próprias dos órgãos glandulares. Livini (25) estudou a mesma questão da origem das fibras colagéneas com o auxílio do método do Biidschowsky- Levi, e chegou a obter imagens donde inferiu a nascença no interior das células doa elementos que mais tarde constituirão as fibras con- juntivas colagéneas vulgares. Este facto, de as reacções químicas de substâncias não colagéneas, que as fibras conjuntivas, como as substâncias fundamentais donde provêm, apresentam, ligadas às transformações metaplásicas (pie em condições fisiológicas fazem mudar as Gitterjasern em fibras colagéneas, faz vor que esta mesma metaplasia constituo um prin- cípio geral de formação de tecido colagéneo, precoce e inicial nas mais partes do tecido conjuntivo, não chegando a dar-se no tecido reticulado dum gânglio linfático, ou dum fígado. O tecido colagéneo apresenta sem])re um estádio precolagéneo, (jue s(» manterá ou não conforme o órgão ou tecido considerado. K justamente essa propriedade fundamental de se transfiu-mar em tecido colagéneo, que constitui a propriedade mais característica das Gitterfãsem; as outras tiram-se da sua distensibilidade, da sua notável resistência aos meios ([uímicos usuais, como aos i)ro- cessos patológicos agudos mais destrutivos, a sua ac^fão hii)er- plásica o hipertrólica no início dos processos de t^sclerose visceral. Tor intermédio das variações [)atológicas desta espécie, nas Gitterfãsem, se têm inferido razões para ostabelecer-llu'S um pa- MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 2ÔÔ p(íl íisiológlcí^ ; íissím, como (>xoinplo, nas voías varicosns a }ii[)or- plasja do sistema rotieulado (|iie rodoia o abraça a libra muscuhir da parode v;isal, of(M'Ocond(> um mais forte ponto de apoio à acção muscular, permite-liio o aumonto da energia que coml)ate com maior ou menor eficácia a insuficiência das válvulíis e a estase do síuigue no canal; considerações de idôntica esjíócie se tiraram do estudo das (fitterfdseni nas doenças do miocárdio o das paredes arteriais. F;stabeU>cidas, assim, perfunctòriamente as })rincipais característi- cas das Gitterf<'ise7-n, permitir-me hei, em conclusão do que ntó aqui tenho dito, servir-me indistintamente de vários nomes: (iitter- f('ise)-n, tecido reticulado, trâmuia conjuntiva, tecido precolagéneo, denominações que têm sido usadas pelos vjirios autores e a que eu não juntei qualquer outro que pretendesse sor tradução portu- guesa de CHttei-fãsern. * * Na íalta de elementos certos e definitivos sobre a essência do processo blastoniatoso, com ])roblemáticas hipóteses etiológicas, em posse duma terapêutica provadamento insuficiente, as mais das vezes, não é de estranhar que quási todos os esforços dos oncolo- gistas se tenham exercido no campo histológico, buscando surpreen- der ao microscópio os delicados pormenores que um dia possam trazer, com a sua interpretação, a explicação clara e luminosa dos aspectos mórbidos que, neste capítulo da Patologia, ora se nos afi- guram estranhos e incompreensíveis, quando comparados com ou- tros" e comuns processos patológicos. Ao recordar a tremenda complexidade das insuficientes classi- ficações de tumores que têm sido produzidas, fundadas sobre carac- terísticas histológicas, não posso deixar de supor que se, nos pro- cessos comuns infecciosos, por serem desconhecidos os seus agentes causais, tivéssemos de nos limitar ao estudo macro e microscópico das lesões, todos os sistemas (í todas as classificações das doenças infecciosas seriam tam confusas e incompletas como são actualmente as dos tumores. A esta investigação cuidada e minuciosa dos elementos tumorais não podia escapar o estrema, o lembrar aqui como, de várias ma- neiras, o seu estudo pôde assumir uma grande importância, é cer- tanientp quási ocioso. Com efeito, se ele umas vezes não representa mais do que a reacção banal e não específica do tecido ou órgão lesado à invasão neoplásica, modificações estas que, contudo, têm podido ser consideradas até como causa provocadora do processo tumoral, outras vezos testemunha a sobrevivência de propriedades mais ou menos alteradas que, dos elementos normais, a célula neo- plásica herdou e conservou. E a disposição das Gitterfâsern, elemento eventual e contin- gente no estrema dos tumores, que pretendo agora ir estudar; 210 JORNAL 1)K SCIKNCIAS como ;is outras partes do ((stroma, olas vor-sc hâo derivar do tecido pmexistente ao do tumor ou ser produzidas jjolas próprias células neoplásicas o, assim, as rohu^ftos delas com os cloiiiontos celulares do tumor poderão variar do um caso a outro, a ariabilidade que, peia introdução doutras circunstâncias, jioderá, conu» adianto direi, estender-se entre largos limites. Mas ])or(|ue (estudos desta ordem fo- ram já feitos ])or vários, vou referii" rapidamente o ([ue sobre o as- sunto tem sido observado. K o primeiro, Man^scli, aíjuelo (jue, em 1900, tendo visto as de- licadas imagens obtidas com o seu método de impregnação, pôde presumir que este poderia orientar perfeitameute o estudo da dis- tribuição das íibrillias conjuntivas no estrema dos tumon^s. Depois, os autores que estudaram o comportamento das (lit- terfãseni nos variados processos i)atológicos de um órgão dedica- ram um capítulo ãs neoplasias; assim, Kon (13) afirmou o desapa- recimento das Gitterfusern nos cancros primitivos do fígado, pre- cedidos ou não de cirrose atrófica; em seguida mostrou que o mesmo não acontecia nos tumores de crescimento infiltrante, nos quais as Gitterfâs-ern subsistiam, deixando apenas entrever (mi certos pontos os fenómenos reaccionais ou degenerativos, semelhantes aos que já mencionei, existindo na periferia dos nódulos limitados, sendo que raras vezes se viam fibrilhas no interior dos ninhos celulares epiteliais, fibrilhas que, quando existiam, apenas os atravessavam como pontes. Pelo contrário, no caso de uma metastase dum tumor hipernefróide, notou Kon a existência de fibriihas, que considerou indei)endente8 das Gitterjasern do fígado o derivadas, como na cápsula supra-renal não patológica, do endotélio dos capilares pró- prios. liiíssakoff (lo), em carcinomas secundários do pulmão ([ue teve ensejo do estudar, viu, em nódulos subplcurais, a sua limitação por uma linha, que aparecia negra nas preparações impregnadas com o processo de Bielschowsky-Levi; semelhantemente ã disposição das vítreas glandulares, essas linhas negras pôde-as o autor considerar como cortes de membranas envolvendo os nódulos. Ainda como as vítreas, essas membranas descn^veu-as Riissakotf formadas por uma substância fundamental e por um retículo de fibrilhas em conexão com as Gitterjasern do restante estroma; quando o tumor, cres- cendo, avançava invadindo os alvéolos, era então à custa das suas paredes que se formavam as membranas fibrilhares, que, também nôste caso limitavam os ninhos epiteliais. Acidímtalmente, vários autores tiveram ocasião do contribuir para o conhecimento das Gitterfcisern nos tumores ; entre estes, ilerxheimer (12), Dialti (56), Costantini (58), Róssle e Yoschida, (ítc. Mas, o estudo sistemático do assunto aparece pela primeira vez no trabalho de Kighetti e continua-S(! com Ilaruzo-Kuru (59), Licini, Martelli o llomano. Dum modo geral, todos estos traba- lhos chegaram a conclusões semelhantes; a escassez ou a completa ausência de fibrilhas reticuladas a dentro das formações epiteliais, MATEMÁTICAS, FISTCAS E NATIlRAÍS 211 a quantidade maior ou menor, mas quási sempre notável, de- las nos tumores sarcomatosos, são os resultados que nas conclu- sões dos trabalhos acima mencionados, com pequenas variantes, se encontram. Daqui se tem procurado inferir um novo carácter diferencial entre os tumores epiteliais e sarcomatosos, podendo servir para o diagnóstico daqueles casos em que a distinção entre um cancro e um sarcoma se faz dificilmente, ou é de todo impossível, com a ajuda dos conhecidos e clássicos meios diferenciais. A medida do valor deste carácter distintivo do aspecto do retículo das Gitterfasern é que tem sido variamente estimada pelos diferentes autores ; mas a razão da variedade nas opiniões sobre o assunto dá-la hei mais tarde, depois de fazer o relato das minhas observações pessoais, ao mesmo tempo que irei fazendo a comparação dos meus resultados com os que outros autores obtiveram. De várias proveniências obtive o número relativamente elevado dos tumores que vi ; a maior parte saiu da Clínica Bastos e do Ins- tituto de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina, e os ou- tros das várias Clínicas onde puderam coder-me as peças das suas operações. Quási todos eles foram, também, obtidos por operação cirúrgica, e, assim, ficaram em geral reduzidas ao mínimo as modificações do tecido devidas à putrefacção. Quanto à técnica seguida, fiz, além das impregnações argênteas pelo método de Bielschowsky-Lovi-Barbacci, colorações sistemáti- cas com : homatoxilina-eosina, para a compreensão geral do tumor : van-Gieson, com coloração nuclear com hematoxilina férrica de Weigert, e método de Mallory-Ribbert para o tecido conjuntiv^o; fucselina de Weigert, com coloração nuclear carmínica, para as fibras elásticas. Com estes métodos comparativos indispensáveis, é em geral possível distinguirem -se as Oítterfdsern dos outros elementos confundíveis, fibras elásticas, fibras colagéneas e nervosas, notan- do-se que as 'diferenças morfológicas entre as fibras elásticas e as precolagéneas me parecem incapazes de as fazer distinguir, pois muitaá vezes vi Gitterfasern que arremedavam perfeitamente na forma e aspecto as fibras elásticas ; quanto à coloração do Mallory- Ribbert estou bem convencido que evidenceia fibras que merecem já o qualificativo de fibras precolagéneas, assim como, observando com atenção, o retículo das Gitterfasern, aparece francamente amare- lado nas colorações de van-Gieson intensas, o que vem mais uma vez demonstrar que, perante os reagentes corantes do tecido conjun- tivo, a diferença entre a substância precolagénea e colagónea não é essencial mas uma simples questão de grau. .TOUNAt. DK í^CIKNClAS Tumores conjuntivos Autos (lo rol.-itar os rosultndos do (íxaiiio dos tiiiiioros conjunti- vos (|iio estud(M, vou escrever a sua lista, íi<;urando com as iniciais (A) ou (/♦) os lixadoros Kaiítcrlinf/ çs formalha (juc usei. c ])or ex- tenso os outros raros métodos de lixarão do que ev(MiluaIiueiite m<» sorvi : Sarcoma linlbmatóide do estômago (F) Sarcoma linfomatóido do intestino ( K) Sarcoma liníomatóide do intestino (F) Sarcouia gloljo-cehilar da nádcíga (K) Sarcoma globo-celular do fígado (K) Sarcoma globo-colular do testículo (F) Sarcoma globo-celular do testículo (K) Sarcoma fuso-celular do baço (F) Sarcoma fuso-celular da parótida (F) Sarcoma fuso-celular do j)énis (F) Sarcoma fuso-celular do peito (K) Sarcoma fuso-celnlar do recto, margem do ânus (K.) vSarcoma fuso-celular melânico do recto (K) Sarcoma fibromatóido do pescoço (F) Sarcoma polimoríb do braço (K) vSarcoma polimorfo da laringe (K) Sarcoma giganto-celular da tíbia (F) Sarcoma giganto-celular das partes moles da poniri . . . (¥) Sarcoma melânico alveolar (Y) Fibroma do rino-farínge (F) FibrOTua da nu)dida raquidiana (F) Fibromioma do útcíro (F) Fibromioma do útero (F) Fibromioma. do útero . . (F) Fibromioma do útero (V) Fibromioma do útero (Álcool) Fibromioma mole edematoso do útero (F) 4 iibro-adenomas da mama (F) Fibroma teleaugectásico da mama (K) Porque os sarcomas linfomatóides silo tumores que mais ou menos arremedam, na disposição o estrutura dos senis elementos, o aspecto dum tecido normal, qual é o adenóide, e visto que, justa- mente, (3 neste que se encontra uma mais rica o ramificada rodo ])rccolag6nea, pareceu-me oportuno começar por tumores desta es- j)écie o (ixame do estrema reticulado dos blastomas. Atravós da massa dum sarcoma linfomatóido, as imjiregnaçòos argOnteas mostram um intrincado entrecru/.auiento de fibrilhas que, no seu conjunto, formam figuras cuja descriçílo sistemática se torna MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 2l3 (lifícil, sondo qiio, iio otutaiito, a analogia com o tocido reticulado normal persiste visível; ;\ volta dos vasos, quási sempre abundan- tes, dispôe-so, om geral, o retículo, formado pelo encontro de fibras radiadas partidas da sua adventícia, o doutras, normais a estas, con- cêntricas, com a parede vascular, em malhas mais ou nu^ios aper- tadas, mais ou menos Irregulares ; om ligação com este sistema [)e- rivascular, ostendo-se por todo o tumor uma vasta rede, em cujas malhas, maiores ou menores, e formadas umas somente por delica- das Gitterfãsern, outras por fibras que já sofreram, mais ou menos completamentci, uma motaplasia colagónea, estão encerradas as célu- las tu morais linfocitóides, umas vezes muitas (ím cada malha, outras uma única. Se os elementos celulares nooplásicos, ossencialmentií semelhan- tes aos correspondentes elementos normais do tecido adenóide, divi- dindo-se como estes nas du;is categorias, os elementos linfocitóides e os chamados de tipo ondotelial, destes, contado, por vezes se separam em formas atípicas, também da comparação dos retículos dum gânglio e dum sarcoma linfomatóide saíram apontadas algu- mas diferenças nítidas, Eighétti conclui das suas preparações que no estroma tumoral há, em relação com o tecido adenóide normal, um;i ])rofunda atipia na disposição irregular das fibras formadoras das malhas. Em verdade, examinando a sua figura, verifica-se que, com efeito, aquelas malhas irregulares e espessas, se se podem en- contrar em certos pontos de gânglios normais, não têm, contudo, a disposição clássica do retículo adenóide; mas, em compensação, pude eu ver, em linfocitomas, retículos, de tam delgada estrutura e de tal forma construídos, que nada encontrei que os distinguisse dum retículo adenóide normal. Do exame da parede dos vasos conclui, também, que a disposição que Ciaccio descreveu, característica dos vasos do tecido adenóide, qual é a existência dum apertado retí- culo a que o endotélio está encostado pela face interna [man! coito periteiiale) e doutra rede muito mais longa à volta deste (plesso avvrnfiziale), se encontra só algumas vezes no estroma dos sarco- mas linfomatóides. Desta variabilidade de aspectos do retículo nos diferentes pontos do mesmo tumor, ou em diferentes tumores, umas vezes irregulares e em metaplasia colagénea, outras didicado e abun- dante, e até outras sem formar verdadeiras malhas, reduzido a sim- ples libras isoladas como num centro germinativo dum folículo gan- glionar, se infere, feita a comparação com baços e gânglios impre- gnados pelo método de Bielschowsky-Levi, que não ó fácil assen- tar om que sentido se acentuam as diferenças entre as Gitter- fãseni do tumor e dos tecidos normais comparáveis. Esta compara- ção dos dois sistemas torna-se, ainda, tanto mais difícil quanto é certo que a este estroma reticulado se vem juntar aquele que evi- dentemente pertence ao tecido do órgão invadido pela neoplasia ; assim, nos sarcomas desta espécie, que vi, e provenientes do trato digestivo, frequentemente observei a comparticipação do sistema conjuntivo dos músculos invadidos, ou sob a forma de simples fibri- 3 214 .JOUMAL DF, SCTKXníAS lli.-is fjuo, soparaiulo-so rincipalmonte, a conrparacão com os tecidos ade- nóides, em qu<^ o retículo se proxiu d»' elementos tc., tive ensejo de en- contrar algumas vezes retículos que simulavam perfeitamenti^ os retículos adenóides, que estavam sempre em relação com uma infil- tração parvicclular, cim geral, perivascular. A intt>rpretação destas infiltrações podo ser vária e prende-se com uma das questões mais obscuras e controversas da histologia patológica, qual é a da ori- gem e natureza dos elementos linfomatóides que infiltram os teci- dos infiamados. Aspectos reticulados em infiltrações parvicelulares mencionou-os lliíssakotf no pulmão e considerou-os, em conformi- dade com a teoria de Ilibbert, como hiperplasias dos núcleos ade- nóides, normalmente esparsos pelas vísceras, com especialidade no pulmão. Por agora, o reconhecendo que a (juestão requereria estudos especiais e qno seria por exemplo interessante, limitando-se ao es- tudo do retículo, ver como em algumas destas infiltrações as (iit- terfaxern evolucionam, e se porventura pela sua transformação colagénea vão tomar parto nos j)rocessos de cicatrização, conten- to-me em notar a coincidência entre o retículo aden vor-se as Gitterfdsern dissociar-se em libras mais delgadas, torna rem-so a juntar mais longe, entrançando-se de tal sorte, que nos ieixes cortados iterpendicularmente elas simulavam um delicadís simo e abundante retículo colocado nos espaços intorcelularcs'. À medida que fui examinando sarcomas, em que se ia acentuando a tendência à formação de tecido fibroso, verifiquei ir paralelamente diminuindo a riqueza em tecido precolagóneo. Num sarcoma íuso- celular de elementos muito pequenos e com estrema colagóneo muito desenvoh-ido toda e qualquer descrição do retículo me foi m\)o^- sivel, tamanha era a abundância do estrema e tamanha a dificul- dade do fazer a destrinça das Gitterfaseni. Aspecto idêntico encontrei nos sarcomas fibromatóides, como nos próprios fibromas. E a Ôste respeito fiquei com a impressão de que quahiuer comparação entre as preparações impregnadas e as cora- das com a mistura de van-Gieson, para o diagnóstico .entre as (,'itterjasern e o tecido colagéneo, é absolutamente ilusória, pela euoniie quantidade deste quo esconde e mascara aípielas; nestes ca- sos, é mester contentarmo-nos com as diferenças de coloração obti- das com a imjiregnação argêntea. A disposição das Udterjáiiern nestes tumores é, pois, difícil de apreend(M--»e. conseguindo-se, con- tudo, observar que elas. acompanhando os feixes colagéneos. cor- rem 'ao longo das células fusiformes, tomando i)arte nas figuras que o tecido conjuntivo comum forma nos fibromas. Devo aqui irisar íiuc a diminuição na quantidade das Gitierjusern é real nestes tu- mores, mas que. em certos casos em que condiçOes mecânicas dis- sociam' os feixes colagéneos, o tecido n^ticulado torna-se visível e aparece mais abundante do que se i)od(U-ia prever; é o que pude observar num fibroma telangiectásico. onde grandes hemorragias infiltravam a massa do tumor, e em fibromas moles (pie o edema distendia. , i • i» i Mas, em sarcomas em que não há grande abundância, o retículo das Gitterfiixern aiiresonta-so por vezes em bem menor quantidade. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E ÍJATUKAIS 217 Assim num sarcoma fuso-celular da margem do ânus, cm que a dis- posição perivasal dos elementos neoplásicos era perfeitamente níti- da, havia uma abundante substância intercelular que. a impre^-naçcão deixava granulosa, deixando ver só em alguns pontos as Gitterfá- tícj-n, dispondo se sensivelmente como indiquei no sarcoma do braço, omquanto o sistema perivasal era abundante e se dispunha à volta dos vasos em elegantes arcadas. Num sarcoma da parótida muito degenerado onde a substância intercelular abundante raro apresen- tava um vago aspecto fibrilhar que não avermelhava com o van- Gieson, a impregnação argêntea revelava escassas fibras irregula- res, contorcidas e por vezes granulosas ; a pobreza do tumor om tecido reticulado podia, é certo, ser levada à conta de fenómeno do degenerescência, mas nos casos acima apontados, como noutros, essa razão não pode ser apresentada. Quanto a disposição e ordem dos elementos turaorais se vai tor- naiuio menos regular, vai se tornando a descrição do retículo cada vez mais difícil. Pode contudo diz(^r-se que o estroma precolagéneo ó, as mais das vezes, duma riqueza formidável; e a sua interferên- cia com a rede de tecido colagóneo forma o complicadíssimo retí- cnlo destes tumores. A inutilidade de qualquer tentativa de siste- matização do estroma, pela extrema varial)ilidado própria, e a que vem juntar-se a variável influência do estroma do órgão invadido pela neoplasia, pareceu-me óbvia, depois que examinei vários sar- cojuas fusocelulares e polimorfos. Km sarcomas giganto-celulares, as células gigantes estavam em g(U'al rodeadas de fortes fibrilhas precolagéneas, reforçadas ])or ou- tras, colagéneas, cpie as envolviam ; no emtanto esta disposição não é de modo nenhum constante, pois que vi muitas células gigantes, das que estão eventualmente esi)arsas nos sarcomas comuns, sem estarem rodeadas do tal anel fibrilhar, emquanto ela era principal- mente evidente num sarcoma de origem óssea. Talvez que o grande desenvolvimento do estroma, como a própria existência de células gigantes, que ele envolve, não sejam mais que as testemunhas do difícil e custoso desenvolver do blastoma num órgão talmente resis- tente que, obrigando o tumor a formas de resistência, vai por seu turno opondo ao seu aumento a excepcional formação de tecidos conjuntivos fibrilhares. E nos sarcomas menos vulgares que se encontram, no emtanto, as formas em que a formação das Gitterfâseni é exígua ou com- l)letamente ausente. Assim, no gru])0 dos mielomas como nos sarco- mas de elementos de natureza mal averiguada (tumores de Planina- zellen, e outros), a quantidade das Gitterfãsern é das mais variáveis. Nos sarcomas chamados alveolares, a dentro dos grupos celulares sarcomatosos, não há, em geral, segundo o testemunho de vários autores, uma verdadeira rede precolagénea, e até, às vezos, a obser- vação mais cuidadosa não consegue distinguir a mais delicada fibri- Iha entre as células sarcomatosas ; eu vi ura único tumor alveolar da perna, em que era fácil observar a entrada do fibras que, par- 218 JORNAL DE SCIÊNCIAS tidas do forto tecido cola^^óiieo da parede dos alvéolos, iam iiisi- uiiar-se entro as células Ijlastoinatosas. Quanto ao retículo das Gitterfãsem existente nos tumores con- juntivos benignos ou adultos nao tive ensejo de observar e estudar, a iitlo ser nos fibromas, a cujo sistema precolagénco já acima me referi, o nos miomas, em ([uo pude constatar que o tipo geral do aparelho reticulado se assemelha mais ou menos ao normal ; cm todos os outros posso ap"t)nas repetir as obsorvaçOcs dos vários au- tores, e é que nos conectivomas benignos a quantidade de Gitter- fãsem é em geral escassa e acompanha sem discrepância o sistema colagénoo do tumor. Do quo foi dito se podo pois concluir que nos sarcomas fusoce- lulares, como nos de células redondas, o retículo das (litterfásern, st) bem quo podendo variar entre largos limites e até mesmo faltar por completo, é em geral abundante e desenha-se em malhas, que, ex- traordinariamente variáveis em tamanho, encerram no seu interior as células sarcomatosas, às vezes cm grupos, outras isoladamente. * * * Silo periteliomas aqueles tumores quo, provenientes da evolução neoplásica dos vasos, são formados do células de várias formas, mas em geral fusiformos ou de aspecto cilíndrico e que, normal- mente implantadas na parede vascular, irradiam jiara a j)eriferia, conservando-sõ separadas da cavidade do vaso por uma camada oii- dotelial íntegra, ou, pelo menos, não nooplásica. > A. priori, o recordando a íntima relação das Gitterjanern com a advímtícia dos vasos o com aquelas formações perivasculares mal definidas a (juo se dá o nome de peritélio, antolha-se-nos de ca- ])ital importância o estudo da sua disposição nestes tumores, cujos elementos celulares derivam da aberração blastomatosa dos ele- mentos periteliais, produtores normais de Gitterfàsern; assim se]tôdo prever que nos periteliomas escasso ou nulo deveria ser o retículo ])rocolagéneo, pela perturbação de propriedades que o processo tu- íuoral teria produzido nas células dos p(>ritélios. Kcalmcnte a obser- vação veio, duma maneira geral, a confirjuar a previsão de alguns, se bem que igualmente Jiestes tumores se possa assinalar uma certa variabilidade na riqueza do retículo dum tumor a outro. Foram sete os ])eriteliomas quo tive ensejo de estudar, tumores de vários órgãos, cuja distribuição é a seguinte: Peritelioma do rim * . (F) Poritelioma da mama (F) Poritelioina da dura-niat(M- (F) Poritelioma do testículo (/cuker) Peritelioma do fígado (Zenker) Peritelioma do pulmão (niotastaso do antecedente) . . • (Zenker) Peritelioma do fígado (K) MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 219 Nestes blastomas e derivadas da parede vascular e mais deter- minadamente da zona que está colocada entro a camada endotolial o as cólulas neoplásicas, divergem, insinuando-se entre os elemen- tos periteliomatosos, delicadas fibrilhas, em geral isoladas, formando, em certos casos, com fibras concêntricas ao vaso, raras e finíssi- mas arcadas. Esta disposição encontrei-a eu tanto nos periteliomas, cujos elementos divergiam à volta dum vaso central, como naqueles em ([ue as células se dispunham como que em alvéolos, cobertos na periferia pela camada eudotelial ; neste último caso, é evidente que as Gitterfãseni visíveis (muito poucas) tenderiam a convergir para o centro do alvéolo, sede, em geral, de fenómejios degenerativos. Este aspecto das Gitterfdsern nos periteliomas é perfeitamente comparável ao que vários autores descreveram nos tumores vas- culares benignos, nos angiomas. Em dois dos periteliomas que vi, ofereceu-me o retículo preco- lagéneo aspectos especiais e diferentes dos que acabei de referir. Um deles, peritelioma da mama, era íormado por elementos poligo- nais de protoplasma transparente, fortemente apertados uns contra os outros, dispostos radialmente à volta de vasos ; neste tumor, assim afastado do aspecto geral dos periteliomas e de certo modo arremedando uma formação de tipo hiperneróido, não pude descor- tinar o mais leve vestígio de formações fibrilliares entre as células. Devo acrescentar que nele so dava, o que aliás ó frequente nos blastomas desta espécie, uma notável degenerescência hialina da parede dos vasos. E ocasião de lembrar, sem querer de modo nenhum estabelecei? definitivamente relações de causa e eleito entre a degenerescência dos vasos e a ausência de fibrilhas, que as Gitterfãseni tiram a sua origem dos elementos periteliais como dos endoteliais, elemen- tos até possivelmente da mesma natureza, e que, por consequência, num tumor em que os peritélios se tornaram incapazes, por trans- formação blastomatosa, de fazer fibras e os endoteliais se encontram degenerados, não é talvez extraordinário não se verem quaisquer formações fibrilhares. Outro peritelioma em que o aparelho precolagéneo se me mos- trou diferentemente organizado, foi um do rim, em que, ao contrá- rio do caso antecedente, era abundante a quantidade de Gitter- fãseni nele existentes. No ponto em que a disposição dos elementos à volta do vaso era evidente dispunham-se arcadas fibrilhares como as que acima descrevi; noutros, em que o tumor se apresentava como cordões do elementos mais ou menos fusiformes limitados dum lado e doutro por vasos providos de endotélio, com uma disposição, pois, semelhante à dos tumores de Grawitz, as Gitterfãseni então eram abundantes o apreseutavam-se como fibras anastomóticas, cjue, insinuando-se entre as células, iam estabelecer ligação entre dois ca[)iiarcs vizinhos e paralelos. Assim, como resultado do exame dos sete periteliomas, posso tirar a conclusão de que, nestes tumores, o tecido precolagéneo ó em 220 JORNAL DE SCIÊNCIAS gorai escasso, oforocondo uiim corta variabilidade, senão na sua dis- posição pelo menos na cpiantidado, quo pode ir dcsdo a ausôncia total^ até relativa abundância. K também esta a loiíchisílo a (|ue os vários iiutoi'es chegaram estudando o retículo dos blastomas periteliomatosos. Diferente é já a opinião dos patologistas sobro o retículo preco- lagóneo dos cndotcliomas, e ató Martelli, confrontando, sob ôste ponto do vista, os periteliomas o os endoteliomas, compara os pri- meiros aos cancros o os segundos aos sarcomas, querendo assim significar quo, emquanto naqueles o tecido precolagéneo é escasso ou está ausente, nestes a riqueza das Gitterfascrn ó comparável à usual nos sarcomas. Vi muito poucos endoteliomas, mas foram sufi- cientes para me convencer de que a fórmula de Martelli ó por demais simplista e que nem sempre se pode verificar. Se em alguns dos tumores desta espécie ou pude. por exemplo, constatar que da adventícia, empurrada para foia pehi proliferação anormal do endo- tólio vascular, continuavam a irradiar delicadas fibrillias precolagé- noas, que por vezes o sistema era rico e formava verdadeiros retí- culos pela interferência das Gitterfasern provenientes dos vasos nílo neoplásicos, do tecido conjuntivo do estrema preexistente, e final- mente de fibrilhas existentes eiitrt? o endotélio blastomatoso, tam- bóm observei um endotelioma dum rim em que o tumor avançava oní cordftes compactos por entre um estrema fibroso, cheio de fibras colagéueas e Gitterfasern, afastando-as, aparecia sem que fibrilhas algumas penetrassem entro os elementos tumorais, ainda que por vozes atravessassem os cordões celulares como pontes. Porque vi somente três endoteliomas dos vasos hemáticos, um das partes moles da perna (F), outro do rim (F) e outro do paladar (Zenker), não posso, do tani exíguo número, tirar conclusòos gerais; posso apenas avançar, como fiz já, que também nos endoteliomas o retículo das Gitterfasern parece pouco disposto a seguir fórmulas certas e constantes. Finahnonto, num liufo(>ndotelioraa í|UÍstico ])samomatoso (K) dos centros nervosos não vi o menor vestígio tio formação fibrilhar entre as células neoplásicas. Terminando assim u rápido ridato do (|ut' vi nos tumores con- juntivos sobre a descrição e ri(|ueza do retículo das Gitterfasern é tcmj)o de passar ao exame do (»stroma dos tumores epiteliais. Nos tumores a que me vou rcderir não encontraromos, em geral, fibras conjuntivas doutro das formaçóíís ej)iteliais. Todas as que MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 221 existoui na massa do blastonia pertencem ao cstroma o nunca se poderão lazor derivar, como nos sarcomas, dos próprios elementos celulares neoplásicos. Seguindo a jnesma norma adoptada (|uando tratei dos tumores conjuuiivos, vou escrever a lista dos tumores epiteliais que ol)ser- vei, valendo ainda as iniciais postas à frente dos tumores o nome do fixador usado: Cancro malpigiano do lábio (F) Cancro malpigiano do prepúcio (F) Cancro malpigiano da língua . . = (K) Cancro malpigiano do pónis (Álcool) Cancro malpigiano do colo uterino (K) Cancro de células basais da pele (Álcool) Cancro de células basciis do colo uterino (F) Adenoma da mama (F) Adenoma edematoso da nuima (F) 4 fibro-adenomas da mama (F) Adeno-carcinoma da mama (F) Epitelioma simples da mama (K) Epitelioma quístico da mama (F) Adeno-carcinoma das glândulas pilóri(;as (F) Cancro glandular do estômago (K) Cancro glandular do estômago (F) Adeno-carcinoma da próstata (F) Carcinoma glandular da próstata (F) 5 eiúteliomas uterinos (K) Epitelioma vegetante uterino (K) Adeno-carcinoma da glândula snbmaxilar (K) 2 carcinomas infiltrados do }»âncreas (K) Cancro })apilomatoso da parótida (F) Cancro primitivo do fígado (K) Cancro biliar do fígado (K) Adenoma da glândula tiroídea (F) Adenoma supraronal (F) Hipernefroma do rim (Kegaud) ílipernefroma do rim (F) Epitelioma papilomatoso da bexiga (F) l^]pitelioma infiltrante da bexiga (F) Epitelioma papilomatoso da bexiga (F) Epitelioma papilomatoso da bexiga (Zcuker) Epitelioma papilomatoso da bexiga (Formol) Querendo começar pelo estudo dos tumores dos revestimentos pavimentosos, deveria descrever o sistema das Gitterf cisem nos ])apilomas e naquelas lesões de hiperplasia opiteliai e conjuntiva (jue tantas vezes precede o nascimento do e[)itelioma, como a kui- coplasia e outras, o a que caberia o nome comum de lesões pre- 900 JORNAL DE SCIENCIAS cancerosas ; não pude fazer estudos especiais sobre o assunto ; só fortuitamente tive de observar uma peça tirada duma língua cance- rosa, mas em zona nao blastomatosa e que apresentava, com a pro- liferação epitelial, com a exageração da disposição papilar e a infla- mação fibrosa do córion, as lesões usuais do estádio precanceroso dum epitelioma da língua ; nessa peça o que ««ra principalmente de notar-se era a grande quantidade de fibras colagéneas e precolagé- neas existentes no córion, sendo freqíicnte observar-so delicados retículos precolagéneos em zonas infiltradas perivasculares, e ])or toda a parte verdadeiros tufos de fibrilhas. Semelhantemente h dis- posição que ó normal o epitólio cons^ervava-se isolado do córion por uma membrana basilar nitidamente fibrilhar e constante. Nos casos em que a proliferação atípica do epitélio, a sua cor- neificação anormal e irregular, a invasão das zonas sub-epiteliais pelos cordões epiteliais transformou já o processo hiperplástico num verdadeiro processo blastomatoso, a disposição das GitterJ'a])ilomas da Ijexiga ([uc vi, todos eles malignos, as formações papilomatosas conservavam-se sempre rigorosamente separadas do sou eixo conjuntivo o vascular por uma membrana basilar, cuja constituição fibrilhar a impregnação de Bielschowsky- -Lovi punha sem[»re íacilmeute em evidência. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 223 A intonsa proliferação opitelial, abafando o sistema conjuntivo, deixando-o limitado às vozes a delicadas fibras, restos da adven- tícia dos vasos axiais, produz aspectos que poderiam impor-se como prova da existência de fibrilhas dentro das massas parenquimatosas. Factos desta ordem tornam-se mais freqiiontes ainda ao exami- nar tumores que tendiam a enfiltrar-se e a perder em grande parto a forma papilomatosa ; aí, por exemplo, vi muitas vezes no meio do massas compactas e irregulares de cólulas epiteliais um sistema do fibras paralelas circulares, vestígio evidente da formação axial da disposição papilar perdida. Ainda nestes tumores infiltrautes as massas epiteliais tendem a conservar-so isoladas, separando-so dos tecidos circunj acentos, não já por membranas delicadas o procola- góneas, mas por fortes o espessas formações fibrosas. Descrições idênticas, o que por consequência seriam ociosas, te- ria agora do fazer dum epitelioma glandular papilomatoso, derivado da parótida. Na capítulo dos tumores do origem glandular, terei de começar por falar das Gitterfãsern do estrema dos adenomas ; o delas só me interessam as que, mais próximas das formações glandulares, to- mam parte nas chamadas membranas basilares. Duma maneira ge- ral, a disposição o semelhante à normal; os ácinos como os canais excretores ficam separados do estrema por membranas não diferen- tes das normais, descritas em todas as glândulas. Num adonoma da mama, em que o edoma tinha dissociado as fibras, a disposição fibri- lliar da membrana basilar dos ácinos nooformaJos, fibras que pro- vinham de outras periacinosas, que, tendo perdido a sua disposição usual concêntrica à cavidade glandular, por efeito do edema inters- ticial, so dispunham normalmente à membrana basilar, unindo-a, assim, nitidamente ao restante estrema, èra das mais evidentes. No emtanto, por vozes, pode-se encontrar um- tal ou qual esi)essamento da membrana dos adenomas, comparada com as das respectivas glândulas normais, espessamento que corresponde a uma parcial metaplasia colagónea das Gitterfãsern da vítrea glandular; mas à medida que se vai fazendo a transformação carcíjiomatosa do ado- noma, é que so vê o gradual espessamento o condensação da mem- brana basilar à volta dos ácinos que proliferam ati[)icamonto. Este facto vi-o eu em todos os adeno-carcinomas que observei ; pudo comparar as glândulas simplesmente adenomatosas com os alvéolos irregulares do carcinoma constituído, seguindo os termos do passa- gem duns aos outros. Se no epitelioma completamentií constituído, alveolar ou do as- pecto glandular, como no e])itelioma cilíndrico tíi)ico do intestino ou estômago (adenoma destruens) não so encontra já, ])or via de regra, uma membrana basilar, mas uma sim])les membrana fibrosa limi- tante, deve depreender-so da evolução das vítreas nos tumores das glândulas que, à proliferação dos e|)itólios, o estrema opõe as suas costumadas e não específicas reacções, a hi[)er[)lasia e hipertrofia das Oitterfdsern, a que precocemente se vem juntar a metaplasia 224 JORNAL DE SCIÉNCIAS eolagóaea, o, por consequOiiciíi, a vítroa transforma-so, cuiifundo-se com o outro tocido colagóneo com quo compartilha as reacções (|uo aiiula pode opor à invasão do neoplasma. Assim, nos carcinomas alveolares e nos tumores infiltrantes as formações opitoliais não estão se])aradas do estroma j)or um siste- ma regular de fibrillias procolagéneas, mas i)or formações irregu- lares fibrosas, em cujo seio existirilo eventuais GiUerfãsern não organizadas em liguras especiais. Desta irregularidade das camadas limitantes dos ninhos e]elo con- trário, o tumor pelo seu crescimento assume formas nitidamente atípicas, a separação entn^ os epitélios faz-se por membranas fibro- sas mais ou monos espessas, mais ou menos irregulares. E nestas últimas formas que se i)odeni então encontrar fibras curtas e irregulares parecendo estar dentro dos ninhos epiteliais, mas que em todo o caso nâo tôm a íntima relação com as células l)arenquimatosas que facilmente se podem observar nos tumores sarconiatosos. Tara terminar, vou relatar, separadamente dos outros, o caso de alguns, poucos, tumores especiais que podem merecer, talvi;/, quo neles demoremos um pouco a nossa atenção. K o primeiro um tumor raro, cancro primitivo da célula hepá- tica, em que o aspecto variável dum ponto ao outro do tumor o torn.-iva uma peça verdadeiramente preciosa, ])or mostrar a trans- tornuK.-ão gradual da formação normal em cancro atíj^ico. Para tomar em consideração agora dois dos estádios da lesão, tive ensejo de observar (pie nos pontos em íjuo o tumor (M"a um (qiitelioma ainda trabecular, em (pie só difert^nças no tamaidio o as- pecto das c<''lu1as, a organização menos regularmente radiada das trabéculas, (^utí tendiam jjiuitas vezes, a meio do lóbulo, a lormar MATRMÁTTOAS. FrSrfAS V. XATUliATS 225 íigiiras arrodoiidndas, como que acinosas (teudeucla para a forma- ção do adoiio-carciíioma aciíioso), diforençavam o tumor do tecido normal, as GiUcrjvseim sofriam uma dimiiiníQâo glol)al nítida no seu númoro; |)rincii»almoiito as Umspinrtend eram em grande parto de- sa[»arocidas, o que de certo modo so relaciona,va com a aíipia do sistema capilar intralobular ; as Radiarfãsern subsistiam om. parte, mas eram objecto de evidentes fenómenos de hipcrtroíia e de meta- plasia colagénea, emquanto a sua disposição se diferençava da nor- mal no mesmo sentido do das trabéculas celulares neo})lásicas. Nos outros pontos em que o tumor era formado de massas de células monstruosamente irregulares, massas a que fcMióraenos de degenerescência escavavam o centro, e que estavam apertadas por espessíssimas zonas fibrosas de cirrose, aí já ncão se encontrava, dentro das massas celulares, o mínimo vestígio de formações tibri- llian^s. Ksta obsorvaçcão concorda com as, já apontadas, descrições do Kon sobre os tumores não infiltrados do fígado. Noutro tumor hepático de origem biliar, pude observar, com fe- nómenos do cirrose do tecido hepático não canceroso, as mesmas transformações hiperplásicas, hipertróficas e metaplásicas das suas (litterfãsern, emquanto os nódulos e acinos Idastomatosos eram limitados por formações fibrilhares reticulares e colagéneas que se organizavam num estrema riquíssimo em fibras. Só para contrastar com estes exemplos, recordo aqui um sar- coma do fígado que vi, em que o estrema reticulado era abundan- tíssimo, disposto entre as células neoplásicas; à volta dos nódulos sarcomatosos, as Oitterfãseryi dos lóbulos hepáticos vizinhos, em- purradas pelo tumor, tomavam uma disposição concêntrica e para- lela ã circunferência do tumor, ao mesmo tempo que sensivelmente diminuíam a sua espessura e as suas sinuosidades normais. Estudei um adenoma supra-renal em que a disposição dos ele- mentos, semelhante á da camada cortical da glândula, pouco se afas- tava da normal ; sobre o estrema nada de especial tenho a dizer, a não ser que observei um certo espessamento das paredes alveola- res, excepto nos casos de grande distensão dos elementos adenoma- tosos ; não pude ver se havia penetração de fibrilhas dentro das formações epiteliais, talvez por inconveniente fixação com formol, tida para o caso como a pior das fixações. Num hipernefroraa, as células grandes, poligonais, fortemente apertadas umas contra as outras, dispunham-so radialmente à volta dos vasos ; entre elas não vi nenhuma fibrilha, apenas os contornos celulares estavam fortemente impregnados de negro. Vou fazer muito breves considerações sobre as metástases dos tumores. Estudei uns nove gânglios com metástases cancerosa» e um nódulo sub-cutâneo provindo dura epitelioma ovárico. Neste úl- timo, que apresentava a estrutura nítida do carcinoma glandular, não vi fibras que penetrassem ou formassem retículos dentro dos alvéolos carcinomatosos, havendo contudo bastantes fibras, que pas- 22(*> JORNAL DK SCIKNCIAS savaiii coim» pontos sôhrc; as rnrmarnos hlastomatosan, lif^ando os alvóolos \i/,iiilu)S. C^uaiito às motastascs ganglionaros quo vi, ficou-iiic, do sou oxaino, a iiiijjrcssílo, ali/is conforme í\ dos ivutorcs quo do assunto so ocuparaiu, da oxtroiua vai'ia])ilid;ido do rcicçao do tecido do gânglio à invasão do neopl.-isiua. A facilidade do o tumor provocar a rápida trausforniaçílo do retículo adenóido oní tecido colagónoo é grand(s do uiodo quo, em certos casos, todo o cstroma da motastaso «'; libroso; noutros a transformação n^o so fa/ o o tumor aproveita o retículo do gânglio agoitando-o, por exemplo, om membrana iibri- Ihar ;\ sua volta; noutros ainda o comportamento das O/tterfnsern do gânglio é completamento ]t;issivo (í elas apresentam as transfor- mações t, deveria sit bem mais duro qmi um osso, que tam poucas tem ! (^uero eu di/er (pie a infiurMicia do tecido precolagéneo na dureza dum ór- gão só pode ser avaliada no mesmo e nfio tomada absolutamente ou comparada em tecidos diferentes uns dos outros, como sito os tumores. Da concep<,'íío simplista da riqueza das (litterfnsern nos sar- comas, da sua pobreza ou ausência nos tiuiiores «q)iteliais, nasceu a idea de aj)rov(utar esta diferença fundamental, como cómodo ele- mento de diagnóstico entro essas duas (espécies de tumores, nos casos difíceis. Aíigura-se-me que seria por' si só suticiento a descri- ção qu(í tem vindo a ser feita ntístas i)ágiiias, para demonstrar como tal idea não é mais que uma esperança ilusória ou pcdo menos de restritas aplicações e utilidades. K que, em geral, as dúvidas do patologista não nascem ao tentar discernir ura cancro malpigiano da língua de um sarcoma linfojnatóido do intestino ; f^ que importa que aqui o retículo prccolagóneo se disponha num e noutro caso duma fonua completamente diversa, se não vem a necessidade de o estndar para se fazer o diagnóstico? K nas formas em que a orga- nização dos cancros se assemelha à dos sarcomas, de tal sorte que am])OS usam até as mesmas designaçOes, como acontece nos tumores alveolares, nos medulares, etc, ípio um critério que os pudesse fazer distinguir era preciso e útil; infelizmente, nestes casos, a analogia dos blastomas é completa e vai até o estroraa, sendo umas vezes o sai'coma (jue se apresenta sem fibras precolagéneas entre os seus elementos, como nos sarcomas alveolares e em certos endoteliomas, outras é o cancro, cujos ninhos celulares contêm poucos eleme(itos, que apresenta com o seu abundante retículo um aspecto perfeita- mente análogo ao de um sarcoma. Num endotelioma renal, a que já me referi, as células dispu- nham-se em cordões compactos, o que, junto ao seu aspecto franca- mente epitelióide, o faria perfeitamente assemelhar a um cancro iníilírante, se em certos pontos não fosse j)Ossível perceber a deri- vação endot(dial dos eleuKMitos Cídulares; se tal derivação não fosse visível, não seria o exame do retículo j)recolagéneo que faria certa- mente afastar o diagnóstico fatal do cancro, pois que não era pos- sível ver-se quaisquer librilhas entre as células, que permaneciam separadas do estrema por uma formação fibrosa, donde, se se sepa- ravam fibras, era para passar como pontes sobre os cordões endo- teliais o nunca ])ara se insinuar entro as células. Também num poritelioma do rim por muito tempo o dia;:;nóstico hesitou entre hipornefroma e poritelioma; jioutro tumor da mesma espécie da mama o aspecto semelhava nitidamente o de um tumor hipernefróide. tendo sido pelos caracteres cídulares (pie se fii^mou o diagnóstico efe peritelioma; i)OÍs bem, igualmente nestes casos, o MATEMÁTICA S, FÍSI(!AS K NATURAIS 229 examo tio ostroiiia não era capa/ di; osclarccur o assunto. Em pri- meiro liij^ar o (í priori, por um lado a varial)ilidado do comporta- mento das Gitterfdsern nos poritoliomas, por outro a possibili- dade de as fil)rilhas virem no contacto dos elementos celulares supra- -r(^nais torna evidentcimenttí falaz ([ualquer tentativa de dia|;"nóstico íiiadada na relação do retículo o dos elementos celulares. No hiper- netroma que vi, cujos elementos se dispunham radialmente à volta dos vasos, como os do peritelioma da mama, nenhuma fibra se ])odia oliservar entre, as células iieo{>lásicas, escapaudo-se assim qual([uor possibilidade de diafçnóstico pelo exame do estrema reti- culado. No emtanto, casos haverá em qiio o auxílio do estudo do retículo seja útil para íirmar um diagnóstico, pelo que a impregnação deverá s<^r st^mpre íeita nos casos duvidosos. Haruzo-Kuru (õO) considera o método perlbitamt^nto capaz e próprio para fazer a distinção entre os sarcomas e os cancros, e menciona um caso dum tumor mixto condro-sarco-carcinoma, em que pOde, com o estudo do retículo precolagéneo, distinguir as par- tes umas das outras. Licini (20);, igualmente, tem o método por bom e suficiente para destrinçar os tumores conjuntivos dos epite- liais. Romano (19) o Martelli (21) chegam a conclusões que os fa- zem considerar a dificuldade ou mesmo a impossibilidade de apro- veitar o estado das Gitterfasern nos tumores para diagnóstico entre os sarcomas e os epiteliomas. Resumindo, e como conclusão do que pude observar e do que colhi das observações dos autores, posso assentar as soguintí^s proi)Osições : I. — O método de Bielschowsky-Levi, pelas esplêndidas imagens que dá das mais finas e delicadas fibras conjuntivas, é muito con- \eniente para o estudo do estrema dos tumores. II. — Dum modo geral, o retículo das Oitterjdsern é abun- dante nos tumores conjuntivos, escasso ou nulo nos blastomas «q)iteliais. III. ^ — A extrema variabiKdade do estrema reticulado em tumo- res da mesma natureza torna-o incaracterístico do uma dada espécie de blastomas. IV. — Esta variabilidade e o facto de nos sarcomas e carcino- mas de aspecto semelhante e confundível a analogia persistir na disposição do estrema, torna o estudo das Gitterfasern, com fim de obter o diagnóstico entre sarcomas e carcinomas, insuficiente, jus- tamente quando dOlo haveria mester. V. — No emtanto, pôde, em certos casos, o estudo do estrema re- ticulado dos tumores trazer dados importantes para o seu diagnós- tico; por isso ele não deve nunca deixar de ser feito em casos de diagnóstico difícil. Julho de 1913. 230 JORííAL DE SCIÊNCUS BIBLIOOlíAFIA 1. KiiPFFER. — «Uel)or (lie St(MMi/. (1. Sfiiip^olicro». [An-hlr f. iiiilr. Anat., H.l. 12, 187<".. 2. «Uobor dic sog. S(4ath. Ges., 12 Tag., Kiol 1*908). 17-A. «Ul). das. Gitterf. u. s. \v.». (Sitznngsb. d. Grs. f. Morph. II. Ph//s. in Minv-hen, 1908). IS. u. YoscniDA. — oDas Gitlerf. d." TiXmph. ii. s. w.». (Zieglcrs Beit.. Bd. 45, 1909i. \\\. // sistema delle Gitterf. ron eupxc. riguardo ai lorn svihippo nei tumori, 1912. 20. 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IviiiHKiiT. — GescJmmlstleJire, 3*^ Auílago, Vogol, Loipzig. 65. lÍAUBA(!(;i. — 2\(mori., sendo esta sciência a que presido í\ produção das substcâncias orgâ- nicas à- custa das substâncias minerais do meio cósmico, o seu estudo tem de iniciar-se', dum lado, pelo conhecimento dos organis- mos, agentes dessa transformação; doutro lado, pelo conhecimento do moio, terrestre e aéreo, onde esses organisnios vão buscar os elementos que têm de transformar. Sondo o meio, em que vivem as plantas, o solo o o ar, a Física Agrícola compreende duas partes: o estudo do solo e da sua acção física sobre as plantas, do que se encarrega a Agrologla; e o estudo da atmosfera e da sua acção física sobre o solo e sobro as plantas, o quo ó o objecto da Meteorologia Agrícola; uma e outra basoan- do-se, por seu turno, na Geologia o wd Meteorologia geraL Muito antes da fundação do Instituto Agrícola, jit no nosso país muitos homens de sciência se dedicavam a estudos de agricultura. Desde os fins do século xviir, e ])rincipalmente depois da reforma da Universidade de Coimbra, pelo Marquês de Pombal, e da fun- dação da Academia Eeal das Sciênciás, muito numerosas são as obras publicadas e muito concorreram para o desenvolvimento agrícola do começo do século xix e para a })rópria fundação do nosso Instituto. São conhecidos, pelo menos dos que se dedicam n estes estu- dos, os nomes de Brotero, Correia da Serra, João Loureiro, José Bonifácio de Andrade o Silva, Mascarenhas Neto, Agostinho Al- bano da Silveira Pinto, António José das Neves, Francisco Soares Franco, Fragoso de Sequeira, Mendo Trigoso, Coelho de Seabra, 234 JOKNAL DE SCIÊNCIAS Iloiiriques do Paiva, Noves Portii;^'al, Estêvão Cabral, etc. ; mas as obras do agricultura, devidas a estes autores, versam todas sobro (jiiestões ^'erais, principalmente de ecouomia rural, ou silo mono- <;ratias de culturas, só incidontemonto se referindo a questões do terras e de climas. Como atendendo um pouco mais detidamente a estes assuntos, ou que com eles se prendam mais de perto, podem citar-so ': Descrição económica do territói'io do Alto Douro, })or Rebelo da Fonseca. Elementos de Agricultura, por Diogo do Carvalho Sam]>aio, onde há um capítulo sobre «Conhecimentos astronómicos o meteo- rológicos necessários à agricultura» e outro sobre «Terrenos e a sua preparação (179())». Observaçòes hotãnico-metcorológicas, ieitas em Tomar, iio ano de 1800, por Josó Veríssimo Alvares da Silva. Uma memória sobre a Agricultura do Algarvjs e outra sobre a Agricultura da provinda d'Entre Douro e Minho (1815), por Cons- tantino T.acerda Lobo. Deste último há também uma Memória sobre os meios de suprir a falta dos estrumes (1701), em cujas 1.* e 2.* partes, so ocupa, segundo as suas próprias palavras, «da íbrmaçãs dos princípios que constituem o suco dos vegetais e da preparação do terreno do forma que seja susceptível* de conservar aquela humidade propor- cionada à natureza de cada planta». Encontram-se nesta Memória várias considerações sobre a acção da água, do ar e do calor no solo arável, do calor, da electricidade o da luz sobre as plantas. Refere-se às experiências do abade Nolet so- bre a elcctro-cultura ; trata da diversa natureza das terras, das suas propriedades físicas o dos trabalhos mecânicos que as modiíicam. Em todas estas obras, porém, se há elementos o alguns do va- lor, principalmente na parto em que se referem a factos do nosso país, em nenhuma, contudo, se tratam estes assuntos com a exten- são e com a individualidade própria duma sciência já constituída. E claro que os estudos de Agrologia e de Climatologia agrícola em Portugal não poderiam começar, sem que o conhecimento geoló- gico do pais nem as (tbsorvações meteorológicas tivessem ad(iuirido entre nós a extensão e a duração indispensáveis. Com respeito á Meteorologia, temos desses antigos tempos as observações feitas em Lisboa o em Mafra em 1784 o 1785; a seguir as efectuadas em Lisboa por ^larino Miguel Franzini, de 181(> a 1821, e depois com maior regularidade do 1836 a 18i")5; as de Coim- bra, sob a direcção do professor do Física da Universidade, Lacerda Lobo, entre 1812 e 1821, com mais ou menos regularidade. Nestes mesmos anos, além destas e das de Lisboa, tomos também as de ' A maior iciite ilcstas obras cm-uiitraiii-sc publicailas nas Aíeviúrias da, iiussa Academia. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 235 Penafiel, Lobrigos eVila Nova do Portimão, pelos médicos Autónio de Almeida o José Nunes Chaves; as de Montalegre (1812 a 1814), pelo médico José dos Santos Dias ; e as do Porto, feitas por José Bonto Lopes em 1792, por um frade em 1818 e por Balbi em 1821. Mas todas estas observações, além de feitas sem fins agrícolas, pouca confiança podem hoje inspirar, a não ser as de Franzini. Restam-nos também desses tempos umas observações faenológi- cas sobro as épocas da floração de diferentes árvores de fruta, efe- tuadas em Coimbra, Lisboa, Porto, Chaves, Montalegre e Vila Nova de Portimão, por Brotero, Nunes Chaves, José dos Santos Dias o outros. Foi, porém, depois que o Lente de Física da Escola Politécnica Guilherme Pegado fundou o Observatório do Infante D. Luís', como anexo daquela cadeira, que as observações meteorológicas começa- ram a fazer-se com o máximo rigor e se estenderam por todo o país de modo a adquirirem toda a sua utilidade. Como ó natural, o Observatório dedica- se a fazer observações puramente meteorológicas e a publicá-las, pondo-as assim à dispo- sição de quem pretender servir-se delas nas diversas especialidades a qne a Meteorologia tem aplicação. O Observatório publica os seus Anais, onde se acham arquiva- das as suas observações e as dos Postos disseminados pelo país e que dele dependem; Coimbra, Ponta Delgada e actualmente o Porto têm Observatórios independentes, que publicam de igual modo os seus Anais. O Observatório do Infante D. Luís publica também diariamente um Boletirii com as observações de todos os postos, cartas do tempo e a previsão para o dia seguinte. Além destas publicações são conhecidos os trabalhos dos seus directores, de entre os quais citarei : As chuvas em. Lisboa (composição da água das chuvas), pelo Prof. Joaquim António da Silva (1859). La pluie à Lisbonne, por João Carlos de Brito Capelo (1879). Stthsidios para o estudo do clima de Lisboa (temperatura), pelo Prof. João Maria de Almeida Lima (1905). Le clímat de Lisbonne (contribuition pour le X Congros Inter- national de Goographie de Rome), pelo Prof. João Maria de Almeida Lima (1912). As chuvas e outros hidrómeteoros em Portugal, polo Prof. João Maria do Almeida Lima (1913). Pelo qud diz respeito aos estudos geológicos pouco temos desse tempo. Vários mineralogistas eminentes se contam em Portugal nessa época, mas os seus trabalhos versam exclusivamente sobre minérios e minas; o propriamente sobre geologia ])oiicu há dôsfees tempos, em que esta sciôncia se encontrava ainda na infância. 1'3G JOUNAL DE SCIÉNCIAS YáridS estrangeiros, vivendo ou passando no nosso pais, fizeram alguns estudos locais o incompletos, como foram Vandolli, Dulo- mieu, Link, BowdicJi, etc. ; mais demorados e mais completos tra- balhos, abrangendo várias regiões do ])aís, são devidos a Êschwoge, Bonnet o Daniel Scbari»e, o podem ler-se os dois primeiros nas Memórias da Academia Real das Sciências, sendo esses os únicos trabalhos sobre geologia que ahi se publicaram ató 1850 e que hoje apenas tem um valor histórico. Há também uma Memória sabre a fjcolof/ia (la Ilha da Madeira, por Mousinho de Albuquerque, e em 1848 apareceram umas Considerac/oes gerais sobre a constituirão tjeolóijixa do Alto Douro, [xjr Rebelo de Carvalho. Mas só em 1857, depois da cria(;rio dos serviços geológicos ofi- ciais, devida aos esíorç(»s de Filipe Folquo, director dos trabalhos geodésicos, do Dr. Francisco Pereira da Costa e Izidoro Emílio Baptista, lentes da Escola Politécnica, e do depois insigne geólogo Carlos Ribeiro, é (|ue o estudo da geologia do pais tomou um sério desenvolvimento, como o atesta a enorme lista dos notabilíssimos trabalhos publicados por Carlos Ribeiro, Néri Delgado, Paulo Choffat o outros ilustres membros da Comissão dos Trabalhos Geológicos. De entre essas publicaçOes, citarei a Carta Geológica de í^ortn- (jal « a Carta hipso métrica, e o Relatório acerca da arborizarão geral do pais, que é uma descriçáo geográfico-física do pais, quo foi publicado em 1868, c onde se encontram observa<;5es quo tém sido de grande auxílio e larga aplicação em estudos subsequentes. Só dopeis de efectuados estes estudos basilares sobre a ]\Ieteo- rologia e a Geologia de Portugal é quo a Clintatologia Agrícola e a Agrologia ])odiani começar a ser estudadas. E só depois da fundação do nosso Instituto é que estas duas sciências se foram Itouco a pouco constituindo no nosso ])aís. Quando, em 1852, se fundou o Instituto Agrícola de Lisboa, logo estas matérias foram incluídas no quadro dos seus estudes. Criou-se então uma cadeira de — Elementos de sciências histórico- -natnrais, elementos de física e meteorologia, quiinica e geologia agrícola. \\ claro quo muito ])ouco desenvolvimento se poderia dar a cada um dôstes assuntos durante o período lectivo; em todo o caso estava chamada a atenção para esta ordem do estudos. (guando, em 18.55, so reformou o Instituto e se lhe anexou a antig.-i ICscola de A'eterinária, foram criadas duas cadeiras: a l.** em quo, sob o titulo do — Agricidttira geral, — so com]>reendiam yirincípios de Botânica, Mecânica agrícola. Geologia, Agrologia, ^'Sistemas de cultura e Cultura dos cereais, o a 8.*, (|ue tinha a seu' cargo a Física e 3feteorologia, a Qu-imica o a Fisiologia veteriná- ria. MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 237 Pouco se ganhou com uma tam hecterogénea mistura. A 1.^ cadeira era regida pelo Dr. Caetano Beirão e tinha por compêndio o Matinal do Cultivador, escrito pelo Dr. Josó Maria Grande, o primeiro director do Instituto. A 2.'^ cadeira foi regida por Ferreira Lapa, para a qual esto professor escreveu o Compêndio popular de Fisica e Qnbaica, pu- blicando ao mesmo tempo no Arquivo Rural (vol. v) uma notável sério do artigos sobre Meteoroíjnosia. Uma nova reorganização, decretada cm 1864, foi mais progres- siva; instituiu diversos cursos auxiliares, que eram dados no pri- meiro ano, entre os quais havia um de Física e Meteorologia, outro do Química e Mineralogia e outro de Botânica o Geologia. Alóm disso, na cadeira do Agronomia e Culturas arvenses havia uma parto consagrada à Agrologia, que maior explanação ainda tinha na cadeira de Química Agrícola. Esta cadeira, então criada de novo, o onde se agrupava a Química Agrícola com a Tecnologia rural, passou a ser regida por Ferreira Lapa o compn-eiidia uma parte de xígrologia, se bem que a maior atenção era dada ao estudo do solo, sob o ponto do vista químico. Ferreira Lapa escreveu então a sua importante obra, a Quimíca Agrícola, onde, pela primeira vez em Portugal, se tratavam ostes assuntos com todo o rigor scientílico, obra que foi })u])licada pela nossa Academia. Nesta obra, que servia de compêndio a esta parte da cadeira, ha 08 seguintes capítulos dedicados à Agrologia: «Introdução geológica». «Deduções agronómicas das diversas formações geológicas e sua distribuição em Portugal». «Aptidões agrícolas do solo português, segundo as formações de que ó derivado». «Formação dos solos agrícolas e suas propriedades físicas». «Análise mecânica o análise física das terras». Estava criada a Agrologia portuguesa e a nova reforma, em 1886, veio trazer-lho um maior progresso. Os cursos auxiliares, do 1." ano, oram su])stituídos pelas" matérias do curso dos liceus, que passou a ser exigido por completo para a entrada no Instituto, e encorporaram-se no curso quatro cadeiras especiais, uma das quais foi a de Física, Meteorologia, Mineralogia e Geologia. A Quhnica Agrícola soparou-se da Tecnologia rural, ])assaudo aquela a ser regida pelo i^rof. Rebelo da Silva, e aí continuou a fazer- se, como introdução, o estudo físico dos solos aráveis, (jue se completava na cadeira de Agricultura geral. O prof. Kebèlo da Silva, nesta cadeira, que ainda hoje rege, dwlicou-se absorvente- mente ã Química agrícola, seguindo as pisadas do mcíi^tre. Tem publicado sucessivamente, sobre as matérias da sua cad(ura, entre outras, as seguintes obras : Elementos de análitse química, apUcadM ao estudo das terras, águas e adubos. 238 JORNAL DIO SCIÉNCIAS Curso de (juimica agrico/a (que foi traduzido ciu ospajiliol por um j)roí'o8sor du Instituto Agrícola do Afouso XII, onde sorve do compôndioj. Análises dos solos aráveis. Estudos agrológicos e classificação de terras. Relatórios dos serviços das estuçòes quiniifo-agricolas. (Questões de quimica-agvícola. Discussíio dalgumas exporiências culturais. A cadeira de Física, Meteorologia, Mineralogia o Geogralia foi regida ató \SW pelo Prof. Augusto de Figuoirodo. Duranto os três anos Osto professor organizou o sou curso o fez a acquisiçílo do material de domonstraçílo necessário, colecções de minerais o do rnohas, instrumentos meteorológicos, otc-, o lez durante algum tempo observações meteorológicas no Ilôrto Agrícola do Instituto. Sobro assuntos da Cadeira publicou: -.1 região inferior de entre Vouga e Mondego, em que doscrevu as torras, o clima e as culturas desta região. Regas e odturas regadas. Colociouou grande soma de elementos para uma obra (pie inti- tulava Meteoros e climas, mas que não chegou a publicar. Inscreveu ainda, entre muitos artigos em jornais da especialidade, os seguintes: «Hntre o Tejo e o Mondego — Solo e clima». «Os terrenos do Minho». «As chuvas e o arvoredo». «O clima de Lourenço INIarques». Em 1891 deixei eu a Cadeira de Botânica, para que fora no- meado em 1887, e passei a reger a de Física, Meteorologia o Geo- logia, que vagara cm consequência de nova organização dada ao Instituto,, e a qual tenho regido consecutivamente até hoje. Xo íim (Io primeiro ano de regência publiquei um folheto intitu- lado A física agricola no curso agronómico-forestcd, -em (jue apre- sentava as minhas idóas sobre o que devia ser esta Cadeira, sua organização o programa. Xílo simpatizava com o título da Cadeira, que a fazia supor um Cíjujunto de cousas desconexas; manta de retalhos, alguém lhe cha- mou ; c procurei demonstrar que só na aparência havia desconexão, mas que, na realidade, um ponto de vista sintético ligava todos estes assuntos. D( facto, deixando a Física geral para os preparatórios licoais, tanto mais que dessa disciplina pouco poderia versar utibuente, o de- dicandome ;\s outras partes, como de maior importância, notei (|ue tratando a ^leteorologia dos fenómenos atmosféricos, o a Ceologia dos fenómenos torroetres, elas de facto estudavam as duas partes do meio em que vivem as plantas, e como este estudo, em qualquer das duas partes era Aiito sol» o ])onto de vista físico, aelun que podiam Iterfeitauionte ser reunidas sob o titulo geral do Física agrícola. 1'iStá do há muito admitido o jkuuo ãc Física do glolio ]tara desi- gnai" a sciciici,! (|in' se ocuj>a dos fonóiuonos físicos, (juo tòm como MATEMÁTICAS, FÍSICAS E NATURAIS 239 sede o globo terrestre, nas suas três partes, sólida, líquida e gazosa. Ora seudo isto assim, não poderá decerto deixar de admitir-se este outro título de Física agrícola para designar a parte, ou antes, o ponto de vista especial dessa sciência, que considera os fenómenos físicos das três partes, sólida, líquida e gazosa, do globo, na sua influência sobre a vegetação e as culturas. Assim, pois, se estabelece a seguinte íiliação natural: Meteorologia . . . . | Geologia [ Agrologia . . . Geograti a física . . .) \ Física agrícola Mineralogia ) Climatologia agrí- Geografia física ^ . . | cola Em 189o, sendo Ministro das 0})ras Públicas o Dr. Bernardino Machado, e dispondo-se a introduzir algumas modiíieações na orga- nizarão do Instituto, expns-lhe as rainhas idéas, que éle aceitou ple- namente, e a Cadeira passou a denominar-se do Física Agrícola, cuja constituição racional e positiva resumirei do seguinte modo : Parte I — Do moio terrestre: 1 — Os materiais constituintes da crosta do globo Minerais e rochas. TI — Da forma externa da crusta do globo e dos agentes que a modificam. III — Da estructura interna da crosta do globo. IV — Estudo dos depósitos superticiais da crosta do globo — Agrologia. Parte II — Do meio aéreo. I — Os fenómenos atmosféricos o sua acção sobre o solo e sobre as plantas. II — Da previsão do tempo para a agricultui^a. III — Climatologia geral. IV — Climatologia agrícola. Mas, se há sciência que tenha de ser essencialmente local, é esta de que me ocupo; todo o conjunto de estudos que ela com- preende perderá uma grande parte do seu interesse e da sua utili- dade se não tiver como ponto de mira especial a sua inteira apli- cação no nosso país. Embora os estudos geológicos o meteorológicos, com referência a Portugal, não possam ainda considerar-so como completos, con- tudo já existe grande soma de elementos de valor para poderem servir de base aos nossos estudos. Aos trabalhos da Comissão 240 JORNAL DE SCIÊXCIAS Geodésica, da Direcção dos Serviços Geológicos, dos Observatórios iii(>teorolófíicos e aos do corpo de agrónomos oliciais se devo a já importante soma de conliecimc('iso criar-se um serviço de ]\Ieteorologia agrícola perfeitamente regular, e sobre este assunto escrevi alguns artigos no PortiujaL Agrícola, tendo tido a honra e a fortuna de ver secun- dados os meus esforços nesse sentido pela autoridade scientítica do Sr. Dr. dúlio llenri(|ues. Animado por êsti> valioso auxílio, pro|)iis em sessão onto de vista da agrologia e da climatologia agrícola. Tendo-se agitado durante anos estas idéas, vários agrónomos têm dirigido os seus estudos iirsse sentido, e numerosos slo os tra- l)alho8 por elos publicados s»"ibro estes assuntos. O Prof. ^'eríssimo de Almoida, entre a enormn variedade das suas publicações, tem nos jornais de agricultura subsídios de valor para estes estudos. O Visconde de Coruche publicou no antigo .!/•- (juivo Ixiiral uma série de artigos sobro Agrologia, muito bem escri- tos, como tudo o ([uo saía da pena de tam csclíjrecido agrónomo e agricultor. O ilustre engenheiro silvicultor Bernardino de Barros Gomes, ([ue foi o organizador dos nossos serviços florestais, tem as suas obras : Cartas elementares de Portugal e Condi(^óes Jloresfais (Le l'ort ligai; fez durante alguns anos observações meteorológicas na sua quinta em Alcanhões. e silo notáveis os seus estudos para a divisão do país nas diversas regiões agrícolas que éle caracterizou matemXttcas, físicas e naturais 243 sob o ponto ií\ai. dk scikncias \']ni todos estos trabalhos su tratu mais ou uicaos ili^tidanionto do solos (í climas, o com muito maior exloiisilo nas monoj^ralias dos coiieellios, publicadas polo Sorvi<,'0 da Carta Agrícola. Dostas ostao ()iil)llcutlas as dos coucollios do IVíja, Alvito, Vidigueira i' Cuba, polo Sr. ( Jerardo J*orv ; o juílo pessoal agrouóuiico da (,'arta Aj:;rí- cola as dos coucollios de S. Tiago d(^ (^'acéui, Aljustrel, l"'erreirn. Évora, Portol, Moura, Barrancos, Setúbal o l^arreiro. Na Jicnist.a A(/ro7iónu'ca ])ublic()u o prof. do instituto, Bernardo de Oliveira"" J^^i-agatoiro, as ol)SCr\a(;íi(»s por Tde (deetuadas no IVjsto Metoorglógico do ("al)inda durante o ano do lítOõ. No mesmo jor nal se encontram os rolat<'»rios das excursões uo interior da nossa Africa, pelo prof. Carlos Eugénio de Melo Ceraldes, J)e Ben(juela àít fcrrds da borracha, em 19()3, e JJe, ( 'atmiihe/a ao Alto Zaiiiher.c, em IQUÍ). Além destas obras, citarei ainda as seguintes, onde os assuntos dt* que se trata tôm maior ou menor (extensão : ^Como há-dc ^er est/nhtdo o vliina agrícola?, por D. António Xavier Pereira CJoutinbo. Os afoll/ameiítos ou cUma. aêco fí quente, por Alfredo Carlos Lecoeq. Da agua, suas origens e acção sobre os diversos solos, por José Gomos Varela. Traqox gerais de climatologia, ])or Albino Florido da Cunha Toscano. Estudos sobre a agricultura dos distritos de Leiria, Coimbra e Aveiro, por .Toaqnim ]\laiiuel Peixoto. Memória sobre a agricultura da Beira, por António Cardoso de Meneses. Meiuória sobre a economia agrícola da região que compreende os distritos de Aveiív, Coimbra e Leiria, pelo Prof. Joaquim Rasteiro. Sobre a região duriense, ])or .losé Carlos Correia Pinto da Fon- seca. Memória sobre a agricultura do Algarve, \>ov Francisco de Al- meida Bívar Weiuholtz. O Miuilo rund, ])or José Justino de Amorim. Estudos sobre a agricultura dos distritos de (hstelo Branco e Portalegre, })or Luís de i>arahona (.'aldoira Castol-Branco. Os distritos de Lisboa e Santaréui, por Carlos do Morais Pal- meiro. Memória económico-agricola da Beira, por Albano Nogueira Pereira Lobo. A Ilha do Faial, ])or José Nogueira de Freitas. A região de Manteigas {solo, clima e agricultura), por Augusto Sanches Barjona de Freitas. Kcologia Jlore,