Os mamíferos do Bio Grande de Sal PELO Dr. Hermann von Ihering } I I r r I — 3 (96) niaimuiferos do liso Grande pelo Dr. Hermann v. ihering. Nenhum dos outros estados do Brazil está actualmente estudado com tanto cuidado em relação aos seus mammiferds como o Rio Grande do Sul. Isto é devido primeiramente aos estudos que aqui fez o sabio Reinhold Merisel nos annos de 1863 a 1865. Hensel publicou como resultado de suas observações um extenso trabalho no qual enumerou, além de 12 animaes (mammiferos) domésticos, 74 especies indigenas no nosso Estado. Destas especies eliminei uma (Dasypm platycercus Hens.) aceres centando uma outra, que Hensel não reconheceu como especie differente, e que é o Coati- mundeo. A lista ou enumeração actual, baseada sobre as minhas inves- tigações de mais de 12 annos, comprehende 92 especies. Sem duvida este numero está longe de ser completo; por isso mesmo muito estimarei si a publicação que aqui faço der novo im- pulso ao estudo do assumpto. Muitas pessoas que tem interesse pela nossa historia natural poderão talvez ajudar-me com informações sobre a distribuição geo- graphica e nomes indigenas e mesmo fornecer-me specimens de mammiferos interessantes, seja em caxaça, como morcegos, gam- bàsinhos, camondongos, tuco-tucos e outros, seja em pelles com o respectivo craneo. ] ) Além de Hensel- e de mim occuparam-se com os nossos mam- miferos os Srs. Leche , A. Nehring , O. Thomas e II. Burmeister. A elles agradeço o valioso auxilio que me prestaram e do mesmo modo ao Sr. Prof. Theodoro Bischoff, na Colonia do Mundo Novo, que com especial interesse e grande successo dedicou-se ao estudo dos nossos mammiferos. Devo agradecer também aos Srs. Dr. L. Morsch , no Passo Fundo, e Prof. Chr. Enslen, da Colonia de S. Lourenço, pelos serviços que nestes estudos me prestaram. Certamente o resultado destas investigações seria muito mais satisfactorio si o Estado do Rio Grande do Sul fizesse por seu lado alguma cousa em seu beneficio. Para um simples particular é dif- ficil e mesmo impossivel reunir em sua casa todo um museu. Faltam-lhe os meios, falta-lhe lugar. No Estado Oriental e na Republica Argentina ha muitos museus provinciaes ou departamen- taes, além dos grandes museus do Estado. Nos nossos estados exis- tem também museus no Amazonas, Pernambuco, Bahia e S. Paulo, sendo este ultimo o único dos estados que tem agora uma vida sci- entifica energica. Ao passo que outros estados, além de museus, *) O que fof a mim destinado pode ser remettido por intermé- dio dos Srs. Fernando Rech & Comp., no Rio Grande, ou das casas filiaes destes Srs. em Porto Alegre e Pelotas. possuem escolas de minas, de pharmacia, polytechnicas , agronómi- cas, academias de medicina etc., aqui, no sul do Brazil, ao contra- rio, não temos nem museus, nem academias, nem escolas teclmicas, nem o minimo apoio official para os trabalhos scientificos. Seria muito para desejar que se fundasse em Porto Alegre um museu, que fosse o centro das investigações scientificas sobre a historia natural do Rio Grande do Sul, e isto se poderia obter com o dispêndio da pequena quantia de 15:000$000 rs. por anno, desde que se tivesse uma casa idónea para o museu. Não inclui na lista dos nossos mammiferos os animaes impor- tados entre os quaes ha alguns que ás vezes são encontrados fora das habitações, como o camondongo (Mus musculus L.) e o rato (Mus alexandrinus Geoff.). O rato migratório (Mus decumanus ) parece por emquanto limitado ás grandes cidades. Quanto á distribuição geographica dos mammiferos reporto-me ás observações que fiz no meu trabalho sobre As arvores do Rio Grande do Sul (pag. 165 — 166, Annuario do Dr. Graciano de Azambuja para 1892). A linha do Cebus, como o nosso mappa o explica, não alcança o 30° parallelo de Lat. S. Mammiferos que não vivem ao sul desta linha são os Micos (Cebus) e os generos Pliyllomys , Dactylomys, Seiurus, Lepus. Mais para o sul estende-se a distribuição dos Bu- gios, que existem na Serra do Herval, mas para os quaes como para a maioria dos outros mammiferos nada consta de certo sobre os seus limites nas margens do rio Uruguay e dos seus affluentes. E’ pois preciso estudar ainda a direcção da linha do Mycetes, i. é. do Bugio, como também da linha seguinte, a da Pacca, em relação ás regiões central e Occidental do Estado. A linha da Pacca que quasi se estende até o 32° Lat. S. in- clue a Serra dos Taipes com a florescente Colonia de S. Lourenço. E’ este o limite meridional da matta-virgem da região brazileira e é sem duvida por isso que alguns mammiferos também tem ahi o seu limite meridional. Nestas condições estão a Pacca, a Cotia e a Anta e provavelmente outros sobre as quaes nada consta de certo aetu- almente, visto que não temos informações exactas sobre os mammife- ros do Estado Oriental. E’ certo, no entretanto, que grande parte de mammiferos brazileirõs vivem ainda no Estado Oriental, sem pas- sar o rio Uruguay. Ao contrario o Viscacha (Lagostomus Tricho- dactylus ), commum na margem direita do rio Uruguay, falta no Es- tado Oriental e no Rio Grande do Sul. E’ pois evidente que o rio Uruguay representa outra linha di- visora das faunas, linha que chamei do Myrmeeophaga (Tamanduá). O que se refere aos Tamanduás applica-se também aos Ooatis e Mão- pellada. O rio Uruguay é pois na sua parte inferior uma linha di- visória e só na província de Comentes (da Repub. Argentin.) as di- versas linhas de que fallei passam do Rio Grande do Sul pelo rio Uruguay de um modo sobre o qual nada consta por emquanto de determinado. — 5 (98) — A, Marsupialia ou aplacentarios Este grande grupo de mammiferos distingue-se dos ínararaiferos placentarios pela vagina dupla da femea e pela falta de placenta no desenvolvimento da cria. O embrião não fica até o fim do seu desenvolvimento no utero, mas nascendo em estado pouco adiantado é applicado pela mãe a uma das têtas da bolsa abdominal. Os filhotes não chupam ali o leite para a sua alimentação, mas o recebem por meio da contracção de um musculo abdominal injectado na garganta. A bolsa ou marsupio, estendida entre os dous ossos marsupiaes, existe nas especies pequenas sómente no estado da gestação, e da maioria destas especies pequenas nem eu nem outros naturalistas iem até hoje visto femeas com crias na bolsa. Valeria muito a pena con- servar taes raridades n’um vidro com álcool (caxaça) si alguém as encontrasse em taes condições. Temos numero elevado de especies no nosso Estado, 2—3 sendo maiores e conhecidas sob o nome de gambás, algumas pouco maio- res do que os ratos e a maioria do tamanho dos camondongos. Es- tes gambásinhos são raros e muitas pessoas os confundem com ratinhos de que se distinguem facilmente pela dentadura que não tem os enormes dentes incisivos dos roedores. Estou convencido de que temos ainda no Estado do Rio Grande do Sul algumas especies des- tes gambásinhos até agora desconhecidas, e por isso mesmo presta- ria um relevante serviço ao estudo da nossa historia natural todo aquelle que conservasse em vidros com aguardente os animaes que encontrasse deste genero ou que, em falta de meios, conservasse delles o couro e o craneo (seccos) para serem enviados aos museus ou aos entendidos a fim de serem examinados. 1.) Didelpliys Azarae Temm. Gambá (macho) ou raposa (femea). Hensel , p. 111. Burmeister , S. U. p. 131 ; D. ph. p. 189. Thornas, p. 328 (D. marsupialis var. Azarae Temm.) Cope, p. 129 (D. marsupialis Azarae (Temm.) Thos.) Este gambá é a unica especie que existe no Sul do Rio Grande. Elle se encontra em duas variedades: 1. ) com os cabellos grandes do dorso, chamados grannos, pretos. 2. ) com os grannos em grande parte brancos. Esta ultima variedade, que não se encontra na Republica Ar- gentina, me parece uma especie ou variedade distincta, para a qual proponho o nome de Didelphys Lechei var. nov. Achei-lhe algumas differenças no craneo; mas não sei si ellas são constantes. Na Taquara do Mundo Novo encontrei também outra variedade que determinei sob o nome de D. albiventris e que tem toda a bar- riga branca. Thomas considera esta variedade como synonyma de Azarae, como D. poecilotis Wagn., Pelzeln e leucotis Wagn. Sô quando tivermos no Rio Grande do Sul um museu com boa collec- 6 (99) ção de pelles e de craneos pertencentes ás mesmas pelles, só então será possível estudar e liquidar esta questão com successó. ' 2.) Didelpliys aurita Pr. Wied. Burmeister., S. U. p. 130; Erl. p. 64 Taf. III. Hensel , p. 114 (D. cancrivora Gm.) Cope, p. 129 (D. marsupialis aurita (Wied.) Tlios.) Este gambá grande differe do precedente pela orelha escura, quasi preta, ao passo que D. Azarae tem a orelha carnea, quasi branca, com algumas manchas escuras. As trez riscas pretas, uma da freute e duas dos olhos são muito bem pronunciadas, comtrastándo com a cor ferruginosa da cara. Esta especie apparece tàmbem em duas variedades, uma com os graimos pretos e outra os tendo em grande parte brancos. 8.) Dhlelpliys líoseritzi sp. n. . Difíert a precedente capite concolore nigro-bnumeo , macula sub-rotuncla ochracea postoculari instructa. E’ ao Sr. Th. Biselioff que devo o conhecimento doesta especie, differente da aurita pela falta das trez riscas longitudinaes na cara. Atraz dos olhos, entre as orelhas e o fim da bocca acha-se de cada lado uma mancha redonda de cor escuro-amarello, munida de 4 — 6 grannos pretos compridos. A cabeça escura é quasi preta com ex- cepção de uma mancha amarello-parda nos beiços. Estou conven- cido de que o craneo também ha de mostrar-se differente, mas não tenho meio de o verificar porque o não possuo. Estimaria muito obter amostras desta especie, i. é. o couro e o craneo. Tenho duvidas sobre ser esta especie idêntica a D. cancrivora (Gm.) Burm., da qual ella se distingue pelos grannos mais longos e pretos, côr .e desenho differente da cara. Creio que Cope e Tho- mas erram quando reunem todas estas especies em uma só sob o nome de D. marsupialis. 4.) Metachirus opossum L. Guaquica. Hensel , p. 120 (M. quica Teinin.). Burmeister , Erl. p. 70 Taf. 7 e 8 (Did. quica Temin.). O. Thomas , Cat. p. 329. O comprimento total de um macho ainda não velho era de 505 m/m, chegando á cauda aos 265 m/m, sendo a extremidade desta na extensão de 11 cent. branca. Tive outro exemplar com o comprimento de 570 m/m. Sua cor é escuro-cinzento em cima e branco-amarello em baixo. Pode ser que haja duas especies pareci- das; achei pelo menos grandes differenças em alguns craneos, mas como não tive as respectivas pelles, nada sei de certo. Este bichinho, bonito e meio manso, não é raro na Colonia do — 7 (100) — Mundo Novo. Nunca o vi, nem me consta que tenha sido encon- trado no Sul do Estado, onde a especie seguinte é còminum. Mon- toya diz que o nome indígena do gambá é Guaqui. 5.) Metachirus crassicaudatus Dcsm. Hensel, p. 121. Burmeister, D. ph. p. 190. O. Thomas , Cat. p. 334. E’ uma especie parecida com a precedente, mas não tem a man- cha clara em cima dos olhos como aquella, possuindo a ponta da cauda branca só na extensão de 2 — 3 centímetros. A barriga é de côr vermelha, mas esta côr tão pronunciada emquanto o animal está vivo, desapparece logo que elle morre. Vi uma femea que tinha o comprimento total de 500 m/m, dos quaes 250 pertenciam á cauda que nos primeiros 10 cm. era grossa e pelluda, depois pellada, preto até a extremidade branca. Parece mais rara ao Norte de Porto Alegre do que no Sul do Estado, onde os camponezes bem o conhe- cem pelo seu caracter selvagem e feroz. Existe também na Colonia de S. Lourenço. 0.) Mieoureus pusillus Desm. Hensel , p. 124 (Grymaeomys agilis Burm.) Burmeister , Erl. p. 82 Taf. XV fig. 1 (Gr. agilis); S. U. p. 139 (agilis Burm.) e p. 140 (pusillus Desm.). O. Thomas, Cat. p. 348. Um exemplar da Colonia de S. Lourenço tinha o comprimento da cabeça e corpo de 69 m/m, e da caftda de 102 m/m. A parte anterior de côr meio vermelha; os olhos se acham em duas manchas pretas. Existe em Porto Alegre e Colonia de S. Lourenço. 7.) Peramys dimidiatus Wagn. Hensel , p. 122 (M. brachyura Hens. nec Schreb.) Burmeister , Erl. p. 86; D. ph. p. 194 (D. brachyura Burm. nec Schreb.) O. Thomas, Cat. p. 355. O comprimento da cabeça e corpo é de 147 m/m, o da cauda de 63 m/m. Em cima é cinzento, nos lados é amarellado. E’ esta a especie maior dos Peramys do Eio Grande do Sul, que pelo rabo curto facilmente se distinguem dos Grymaeomys que sempre tem o rabo mais comprido do que o corpo. Peramys é synonymo com Mi- crodelphys, applicado per Hensel e Burmeister , e assim também o aceito seguindo a autoridade de O. Thomas. S.) Peramys Henseli Thomas. Hensel , p. 123 (species intermediaria). O. Thomas , Cat. p. 370; Diagnoses p. 159. — 8 ( 101 ) — Comprimento da cabeça e corpo 108 m/m., do rabo 55 m/m. A cor é cinzento-amarello, a da face côr de canella. Todas as es- pecies descriptas por Hensel ou achadas por mim provém do centra deste Estado e do Norte de Porto Alegre. No Sul não achei até agora especie alguma de Microdelphys, mas, como são raros, é pos- sível que outros os achem. 9.) Peramys sorex Hensel. Hensel , p. 122. O. Thomas , Cat. p. 362. Pl. IV fig. 1. Cabeça e corpo medem 72 — 73 m/m., o rabo 46 — 41 m/m. A côr é pardo-vermelho, na garganta côr de canella, no dorso mais escuro. 10.) Peramys Iheringi Thomas. O. Thomas . Diagnoses p. 159 (Did. (Peramys) Iheringi); Cat. p. 364 Pl. IV fig. 2. Corpo e cabeça 77 m m., o rabo 43 m/m. Tres riscas longitu- dinaes correndo sobre o dorso tornam bem notável esta bonita es- pecie nova. que é muito parecida com a M. americana Miill. (=tris- triata Kuhl., Burm.), porém menor. Só obtive um exemplar e esse enviado da Taquara do Mundo Novo. 11.) Chironectes palmatus Fiscli. Hensel, p. 120. Os pés posteriores, nesta especie, tem entre os dedos uma membrana natatoria. A pelle, branca na barriga, é cinzenta em cima com uma risca preta longitudinal e outras riscas pretas tam- bém e mais largas atravessadas. Encontra-se na Costa da Serra e na Serra do Herval. B. Placentarios 1. Ungulados 12.) Tapirus americanus L. Anta. Hensel , p. 101. Burmeister, S. U. p. 331 ; D. ph. p. 486 (T. Suillus Blumenb.). A anta ainda existe em algumas partes da Serra dos Taipes r mas muito poucos serão os seus indivíduos que tem de ver o sé- culo futuro. São mais abundantes na Serra Geral onde os caçado- res distinguem duas raças, uma de côr parda que chamam anta lubuna e outra um pouco menor com o pello preto e em parte branco. — 9 (102) 18.) Dicotyles torquatus Cuv. Tatette ou porco do matto taitette. Hensel, p. 93. Burmeister, S. U. p. 327; D. ph. p. 473. E’ das duas qualidades de porco do matto a menor. A linha basilar do craneo, i. é. a distancia da extremidade anterior da quei- xada superior até" o bordo anterior do foramen magnum (i. é. o bu- raco pelo qual passa a medula espinhal) é de 180 — 190 m/m., em- quanto na especie seguinte mede 220 — 227 m/m. O tatette não é raro nas mattas da Serra Geral, mas falta no Sul do Estado. 14.) Dicotyles laMatus Cuv. Porco do matto queixada branca ou tajaçú. Hensel , p. 93. Burmeister, S. U. p. 325; D. ph. p. 472. Esta' especie encontra-se ao Norte de Porto Alegre como tam- bém no Sul, na Colonia de S. Lourenço. Na Serra Geral existe uma variedade delia de pello ruivo-pardo que denomino var. rufa e que me con- sta existir também no Norte da Repub. Argentina. Afíirmam os caçado- res que os porcos desta variedade são mais ferozes do que os outros. O cra- neo não me parece bastante diíferente do craneo do labiatus para distin- guil-o como especie ; porém só fazendo cpmparação de mais exempla- res será possível esclarecer-se e determinar-se a relação que entre elles ha. Os brazileiros os chamam queixada -branca e parece que o nome indígena Tajaçú ou Tanicati não é mais conhecido no nosso Estado. 15. Cervus (Blastocerus) paliulosus Desm. Cervo. Hensel, p. 95. Burmeister , S. U. p. 313; D. ph. p. 460. O cervo já é bastante raro, mas é encontrado ainda nos banha- dos ao Norte de Porto Alegre como também no Sul do Estado. 16. ) Cervus (Blastocerus) campestris Cuv. Yeado branco ou veado do campo. Hensel, p. 96. Burmeister, S. U. p. 314; D. ph. p. 463. O veado campeiro acha-se no centro e no Sul do Estado, nos campos. O chifre de cerca de um pé de comprimento tem em geral trez galhos, sendo menor e mais fino do que o do cervo, que sendo ve- lho tem 4 ou ás vezes 5 — 6 galhos. Reunem-se no sub-genero Blastocerus os veados de chifres ra- mados e no genero Coassus os veados menores com os chifres sim- ples. — 10 (103) — 17.) Cervus (Coassus) rufus F. Cuv. Veado pardo. Hensel , p. 97. Burmeister , S. U. p. 816; D. ph. p. 465. Cope, p. 148. O veado pardo é commum nos mattos da Serra Geral e na Ser- ra dos Taipes, como também o veado virá. O veado pardo é o maior. O seu pello offerece variedades entre as quaes sobresahe o veado preto, que deve ser muito maior do que o pardo, segundo commimicação que me fez o Sr. Th. Bischoff. A linha basilar mede 190—200 m/m no veado pardo, 163 — 180 m/m no veado virá, e 153 — 158 m/m no bororó. 18.) Cervus (Coassus) nemorivagus F. Cuv. Veado virá. Hensel , p. 98. Burmeister, S. U. p. 317; D. ph. p. 466 (C. simplicicornis 111.). 19.) Cervus (Coassus) rufiuus Pucli. * Veado bororó ou de mão curta. Hensel , p. 99. Burmeister S. U. p. 319 (C. nanus Lund). A. Nehring , Ueber die Cerviden von Piracicaba, Sitzungs Ber. Ges. naturf. Freunde, Berlin, 1884, p. 132. Esta pequena especie de côr pardo-vermelho tem o comprimento de 2 pés e a altura de 1 V 2 pé. Creio que não o conheço; ao me- nos fui obrigado a considerar craneos de veado virá os que me en- viaram como procedentes do veado bororó. Uma especie ainda me- nor, que vive na Rep. do Chile, tem os chifres de 35 m/m. de com- primento e a linha basilar do craneo só de 126 m/m. O veado bo- roró distingue-se pela mão curta dos pés. O Sr. Bis- Thoff me afíirmou que na Serra Geral do Rio Grande do Sul existe uma qualidade bem rara de veado bororó que não tem a mão curta e que é talvez ainda menor. Talvez seja o C. puclu ou ou- tra especie parecida e até agora sem nome. Para estudar esses veados seria preciso obter o seu couro, craneo e os ossos da perna pelo menos de um lado. Os caçadores que matarem veados bororós me prestariam as- signalado serviço enviando os couros, craneos e ossos das pernas; assim puderia ser solvida esta questão de historia natural. Os nomes indígenas dos veados parece que não são mais conhe- cidos no nosso Estado. Só o do virá é que subsiste. Este nome não vem de virar , como se crê, pelo facto de ter este veado o cos- tume de mudar repentinamente o rumo em que corre, quando se vê perseguido. Mas vem da lingua guaranj^. Na Republica do Para- g-uay o veado virá tem ainda o velho nome «guaçu-birá». A pala- vra birá parece corrupção de abará. A. R. de Montoya . (Tesoro de — 11 (104) — lalengua guarani, Ed. novapo r Platzmann, Leipzig, 1876), não tem guaçú-birá, mas sómente «guaçú-abará», que quer dizer veado do matto. Ibirá significa inatto. íl. Cetáceos 20.) Tursiops tursio Fabr. Boto ou peixe-boto. Burmeister, D. pli. p. 535 (Tursio cymodoce Gray.). Giebel, Die Sáugethiere, Leipzig, 1859, p. 99 (Delphinus tur- sio Fab.). O bôto do porto do Rio Grande do Sul é a mesma especie que vive na metade septentrional do Oceano Atlântico. Burmeister que a considera como especificamente differente da especie européa, diz que e.lle entra ás vezes na bocca do Rio da Prata e que é commum na Costa do Oceano, no Estado Oriental e no Brazil. Tenho visto muitas vezes este cetáceo no Canal do Norte, perto do Rio Grande, mas nunca me foi possivel obtel-o. Recebi apenas um craneo que tinha 22 dentes de cada lado na queixada. Em geral este delphim não passa de 10 pés de comprimento. 21.) Stenodelpliis Blainvillei Gerv. Toninha. Hensel, p. 110. Burmeister , D. ph. p. 533 (Pontoporia Blainvillii) ; Annal. dei Mus. publ. de Buenos Ayres, T. I p. 305 ft. e p. 389 tf. Pl. 23, 25, 28. Obtive a toninha no Rio Grande comprando no mercado um exemplar que foi apanhado em rede por pescadores. Recebi também um craneo que foi encontrado na Costa da Lagoa dos Patos, perto do porto dos Taipes, ao norte da Barra do Camaquam. A toninha não vive sempre na Lagoa dos Patos, entrando sómente algumas vezes do mar pelo canal do Norte. O meu exemplar tinha 101 cen- tim. de comprimento, e a especie em geral não é maior de 3 — 4 pés. As queixadas compridas tem tanto em cima como em baixo 53 dentes agudos de cada lado. III. Desdentados 22.) Myrmecophaga jubata L. Tamanduá-bandeira. Hensel, p. 109. Burmeister , S. U. p. 305; D. ph. p. 448. O grande tamanduá já quasi desappareceu totalmeiite nas par- tes mais habitadas do Estado. Na Serra dos Taipes, si ainda existe já é mui raro. 12 (105) — 2o.) Myrmecopliaga tetradactyla L, Tamanduá-mirim. Hensel , p. 109. Burmeister, S. U. p. 307; D. ph. p. 448. Cope, p. 132 (M. bivittata Desm.). Existe no centro como no Sul do Estado, mas também já vai te tornando raro. A razão é que o povo tem o costume de rnatal- o todas as vezes que o vê, abuso contra o qual as leis do Estado deviam providenciar do mesmo modo por que prohibem matar os uru- bus ou corvos. 0 couro do tamanduá é de mui pouco valor, a carne não se come ; não ha portanto absurdo maior do que matar constan- temente animaes tão uteis como os tamanduás, que só de cupim (Térmitas) e formigas se alimentam. A mesma observação cabe aqui fazer em relação ao abestruz, que no Estado Oriental é prote- gido pelas leis, e que aqui no Pio Grande vai diminuindo sensivel- mente. 24. ) Praopus novemcinctus L. Tatú. Hensel , p. 103 (Tatusia novemcineta L.). Hensel, p. 105 (Tatusia platycercus Hensel). Burmeister, S. U. p. 296 (Dasypus longicaudus Pr. Max.). Cope , p. 134 (Tatusia peba Desm.). 0 tatú é commum na Serra Geral como na Serra dos Taipes e também é ás vezes encontrado nos capões do Sul do Estado. Um exemplar com rabo mutilado foi descripto por Lund como Dasypus uroceras e o mesmo erro foi commettido por Hensel, visto que a variedade platycercus não me parece outra cousa mais do que um exemplar anormal com rabo mutilado no extremo. Hensel diz que o Praopus platycercus tem 5 dedos nos pés anteriores, sendo o quinto muito pequeno, mas instructo com uma unha pequena. Como Hen- sel diz que só uma vez observou esta pretendida especie e nem Bischoff nem eu podemos confirmar a observação de Hensel, acredito que o Das. platycercus ha de entrar na synonymia. 25. Praopus hybridus Desm. Mulita. Hensel , p. 107. Burmeister, D. ph. p. 432. Burmeister, reune no genero Praopus os Dasypodidos nos quaes os escudos cuticulares da couraça são mais numerosos do que os es- cudos osseos, ao passo que o Dasypus tem cada escudo osseo coberto só de um escudo cuticular. Os nomes de todos os nossos tatús são tomados á iingua portngueza, de sorte que não se conhece mais os nomes indígenas destes animaes na Iingua guarany. A mulita produz 8 — 11 filhotes e eu já chamei a attenção dos naturalistas para um facto" curioso a saber, — que todos os filhotes da — 13 (106) — mesma cria (mesma barrigada) são do mesmo sexo. Como o chorion, i. é. a pelle embrional exterior é commum a todos os embryos, é claro que todos os filhotes da mesma cria provem de um só ovo, que sendo do sexo masculino só pode produzir machos. O mesmo caso se dá ás vezes nas mulheres que parem gemeos incluidos n’um mesmo chorion, e que são então do mesmo sexo, em outros casos os gemeos sendo de sexo differente ou idêntico conforme o acaso, si el- les provem de um ovo cada um, tendo então cada um o seu proprio chorion. O que se dá com a mulita acontece também ao tatú com a diíferença que o tatú não produz mais de 4 — 5 filhotes de cada vez. O embryo deste animal é curioso pelo facto de nascerem as unhas como os cascos do cavallo e não como as unhas do cão, si- gnal de que os desdentados descendem de ungulados e não de un- guiculados. A mulita, pois, não é sómente uma apparição agradavel para os camponezes, ella é também interessante para a sciencia. Não ha outro mammifero com o qual mais se occupe a poesia popular. O tatú e a mulita são constantemente cantados em verso e por isto mesmo recommendo aqui aos amadores a seguinte quadrinha que encerra proposições verdadeiras: O tatú, mais a mulita, E’ lei da sua creação, Sendo macho não pode ter irmã, Quando femea não pode ter irmão. 26.) Eupliractus sexcinetus L. Tatú pelludo. Burmeister , S. U. p. 290. O tatú pelludo éo E. sexcinetus, como me affirmou o Sr. Bur- meister , comparando um craneo que lhe mandei. Até agora nunca pude obter o tatú pelludo inteiro ou ao menos com a cabeça, cou- raça e pés. E’ bastante difficil a distineção d'esta especie e de uma outra chamada E. villosus Desm. Giebel diz que esta ultima não tem dentes incisivos; mas Burmeister affirma o contrario dando como 9 9 — — r-para cada uma o numero dos dentes, dos quaes o primeiro de r/y 10 — 10 cima está no osso intermaxillar. Burmeister diz que os escudos das cintas’ tem 10 — 12 sedas no bordo posterior no E. villosus em vez de 2 no E. sexdentatus. Si o que me informam é verdade, o D. sexcinetus só vive e anda aos casaes , mas o D. villosus em varas. Não me consta si no E. Oriental vivem estas duas especies, pois * n’este caso pode ser que no Sul do Eio Grande exista também o D. villosus, como Hensel (p. 108) presumia. D. sexcinetus é com- mum no Brazil- D. villosus é commum na Kepublica Argentina. 27.) Xenurus gymnurus 111. Tatá do rabo molle. Rensel, p. 107. Burmeister, S. U. p. 282 (Dasypus 12 cinetus Schreb.). Vive como o precedente no Sul do Estado. Creio que algumas pessoas o denominam tatú canastra , mas essas se enganam, porque o verdadeiro tatú canastra (Prionodontes gigas) não tem o rabo molle, mas sim com couraça e tem 12—13 cintas como o tatú do rabo molle. Bastante difierente é a dentadura, pois na metade de uma queixada tem o tatu do rabo molle 8 — 9 dentes e o tatú canastra 22 — 24 dentes. O verdadeiro tatú canastra, cuja couraça mede 2 l / 3 pés, não existe no nosso Estado, vive no Norte do Brazil ' e na Republica do Paraguay. IV. Roedores 28.) Sciurus aestuans L. Caxinguelê. Remei, p. 26. Burmeister, S. U. p. 146. Tem-se encontrado este animal algumas vezes na Colonia do Mundo Novo, mas falta no Sul do Estado. 29.) Hesperomys (Holoeliilus) brasiliensis Desm. Rensel, p. 32 (H. vulpinus Licht.). '? Burmeister , D. ph. p. 210. Vive na Serra Geral e no Sul, onde o tenho achado nas ilhas do Rio Camaquam. Vou dar para esta e para as especies seguin- tes -3 medidas, das quaes a primeira é o cumprimento da cabeça e eoipo, a segunda o do rabo e a terceira o do pé posterior exclusive as unhas. Para esta especie estas medidas são 175—210—47 m/m. Creio que Burmeister descreve sob o mesmo nome de vulpinus Licht outra especie, visto indicar 9" para cabeça e corpo, 7" para o rabo, o que representa proporções bem differentes. Quanto á espe- cie do Rio Grande do Sul a- determinação de Rensel e de Thomas para o exemplar que possuo não pode soffrer duvidas. 30.) Hesperomys (Nectomys) squamipes Licht. Rensel , p. 34. Burmeister , S. U. p. 164 (H. robustus Burm.). Leche , p. 690. Este especie, que vive perto cPagua na Costa da Serra, é nr tamanho parecida com a precedente, da qual differe pela membrana natatoria entre os dedos dos pés posteriores, reunindo mais ou me- nos os dedos, i. é. até a metade. As medidas são 190—210—48 m/m. A linha basilar do craneo 34—39 m/m. — 15(108) — 31.) Hesperomys (Calomys) ratticeps Hens. Hensel, p. 36. Leche, p. 692. Foi por mim collecciónado no Mundo Novo e em S. Lourenço. As medidas são 155—210—34 m/m. Linha basilar do craneo 25' — 33 m/m. 32.) Hesperomys (Calomys) bimaciilatus Waterh.) Burmeister, D. ph. p. 224. As medidas são 75 — 50 — 20 m/m. Achei um cazal nos arredores da cidade do Rio tirande, onde o tirei do ninho, bem foirado.com feno, ao qual conduzia um cami- nho subterrâneo tubular com l, m 50 de comprimento. A especie vivç- tambem na Rep. Argentina e no Estado Oriental. 33.) Hesperomys (Calomys) flavescens Waterh. Hensel , p. 37. Burmeister, D. ph. p. 221 (H. longicaudatus Benn.) Leche, p. 694. Synonymo é H. longicaudatus Bennet, como Thomcis afíirmou. As medidas são 92—115—25 ou 91 — 129—24 m/m,, variando um- pouco o comprimento do rabo. Linha basilar do craneo 19 — 21 m/m. E’ a especie mais commum no Estado. Ignoro si o H. flavescens Burmeister (D. ph. p. 224) é esta mesma especie ou é outra um pouco menor. 34.) Hesperomys (Oryzomys) dorsalis Hens. Hensel , p. 42. Leche, p. 695. A medidas são 135—124—27 m/m r e 25 m/m. para a linha ba- silar do craneo conforme Hensel. Os exemplares que obtive no Mundo Novo -tinham 130 — 140—27 m/m. Leclie distingue uma va- riedade: Obscura Leche com o rabo mais curto do que a cabeça e- craneo, e côr mais escura, ao passo que os outros tem a cór mais claro-cinzento cora uma linha escura no espinhaço. 35.) Hesperomys (Oryzomys) latieeps Burm. var. intermedia Leche. Hensel , p. 48 (H. Darwinii Hensel nec Waterh.). Leche, p. 693. As medidas são 125—145—32 m/m. e 27 m/m. para a linha basilar do craneo. A côr é pardo vermelha em cima, branca em baixo; também o rabo é de duas cores. 36.) Hesperomys (Oryzomys) pyrrhorhinus Wied. Burmeister, S. U. p. 172. Não encontrando as minhas notas sobre medidas , dou as de- — 16 (109) — Burmeister que são 112—190 m/m. Este animalsinho é facil de eonhecer pela côr vermelho-caiielía do nariz e da orelha. E' provável que esta especie descripta como existente na Bahia tenha o seu limite meridional no Bio Grande do Sul, onde vive na Costa da Serra e na Colonia de S. Lourenço. 37.) Hesperomys (Oxymycterus) nasutus Waterh. Hensel, p. 43. Burmeister, D. ph. p. 214. Leclie, p. 700. Registrei as medidas 115—95—22 m/m. A linha basilar do craneo mede 22 m/m. Porém Burmeister descrevendo a mesma es- pecie com as medidas 180—100, vem a ficar ella muito maior. Ti- ve um exemplar com 145—95—24 m/m. Este ultimo tinha os tu- bérculos metatarsaes do mesmo tamanho mais ou menos, ao passo que os outros tem o tubérculo externo rudimentario e situado mais adiante. Determinei este grande individuo sob o nome de O. rufus Besm.; mas o Sr. Thomas está disposto a crer que são idênticos. Será portanto necessário fazer observações sobre outros exemplares a fim de tirar a questão a limpo. O subgenero Oxymycterus distin- gue-se pela cabeça alongada e aguda, pelas unhas compridas e pela unha que existe também no dedo pollegar dos pés dianteiros. Bur- meister affirma que nasutus e rufus são synonymos. 38.) Hesperomys (Scapteromys) tumidus Waterh. Hensel , p. 46. Burmeister , D. ph. p. 213. E’ esta a unica especie que nunca consegui apanhar. E’ um rato de côr cinzenta quasi preta que Hensel achou perto de Porto Alegre. Elle dá as medidas 118 — 116—32 m/m. e a linha basilar 27 m/m. de um exemplar não adulto. Burmeister dá as medidas de 168 — 158—37 m/m. Hensel diz que o tubérculo metatarsal ex- terno falta a esta especie, e que o dedo pollegar tem uma pequena unha. 39.) Hesperomys (Habrotlirix) arenicola Waterh. Hensel , p. 39. Burmeister , D. ph. p. 216. Leche, p. 698. Uma das especies mais communs. A determinação de Hensel é correcta. A côr é cinzenta, as medidas são 96 — 89 — 23 m/m., e a linha basilar 20 — 24 m/m., sendo o comprimento um pouco va- riável. Encontra-se na Taquara e em S. Lourenço. Registrei as medidas 100—80—24 e 105—80—22 m/m. 40.) Hesperomys (Habrothrix) obscurus "Waterli. Burmeister , D. ph. p. 217. Aceito esta especie que confundi com a precedente, fundado na autoridade de O. Thomas que a reconheceu entre os exemplares de S. Lourenço. Burmeister dá como medidas desta especie, conhecida em Montevideo e Maldonado, corpo e cabeça 113 — 131 m/m., rabo 56 — 63 m/m. Na especie precedente a Côr é cinzenta em cima, amarella nas costas, e nesta é mais escura quasi preta nos lados. O pé mede 23 m/m. 41.) Hesperomys (Habrothrix) subterraneus Hens. Hensel, p. 44. Leche, p. 697. As medidas são 77—41—17 m/m. comforme Hensel. Eu notei 90 — 41 — 18 m/m. e a linha basilar 21 m/m. Leche descreve os ex- emplares do Mundo Novo como uma nova variedade (var. Henselii Le- che), que diífere nos dentes e na côr mais amarella. Não estou conven- cido que Leche tenha razão neste ponto e julgo necessário fazer mais observações para pronunciar-me definitivamente. 42.) Phyllomys dasythrix Hens. Hensel, p. 49. Hensel dá as medidas 180 — 210 — 35 m/m. e 39 m/m. para a linha basilar. Os cabellos compridos, i. é., gr anuo s tem no lado an- terior um pequeno sulco. A côr é parda em cima, branco-amarello- suja no ventre e branca na garganta. Vive nas arvores. 43.) Daetylomys amblionyx Wagn. Rato da taquara. Hensel, p. 54. Cope, p. 136. Burmeister, S. U. p. 190. A linha basilar do craneo é de 51 m/m. Este grande rato não é raro sobre as taquaras nos mattos da Serra Geral; mas não existe no Sul do Estado. Encontrei em cima de um taquaral o ninho feito de palha e folhas seccas, contendo uma femea com os seus filhotes. 44.) Ctenomys torquatus Licht. Tuco-tuco. Burmeister, S. U. p. 215; D. ph. p. 239. Nehring, Ueber eine Ctenomys etc.. (Ct. minutus Nehr). O tuco-tuco é encontrado na Costa do Mar e nos campos cen- traes do Estado. Não pude obtel-o até agora. Ficaria agradecido 2 — 18 ( 111 ) — a quem m’o enviasse a fim de poder determinar a especie.que Neh- ring considera como uma variedade nova do Ct. magellanicus. 45.) Myopotamus eoypus Geoffr. Katão do banhado. Hensel, p. 55. Burmeister , D. ph. p. 235. A nutria dos Argentinos. Não é raro nos banhados do Sul do Estado. A femea tem as tetas situadas aos lados do peito, atraz dos hombros, e isto corresponde ao costume dos filhotes de continua- rem mamando mesmo quando magua. 46.) Cavia aperea Erxl. Preyá; Sandhaas dos colonos allemães. TT fM&d p 59 Burmeister , S. U. p. 243 (C. aperea); D. ph. p. 269 (C. leuco- pyga Brandt.). Cope , p. 139. Os exemplares do Sul do Estado tem a côr da pelle da barriga cinzenta. Não creio que sejam difíerentes dos do Bio da Prata e assim creio que a separação em duas especies não é exacta, sem poder comtudo decidir a questão por falta de material. 47.) Hydroclioerus capybara Erxl. Capivara ou capivary. Hensel, p. 61. Burmeister, S. U. p. 238; D. ph. p. 264, Cope, p. 139. Commum em todo o Estado. Os argentinos a denominam «Car- pincho», os colonos allemães «Wasserschwein.» 48. ) Coelogenys paca L. Paca. Hensel, p. 58. Burmeister, S. U. p. 227. Cope, p. 138. A nossa melhor caça do matto. 49. ) Dasyprocta aguti L. Cotia ou Aguti. Hensel, p. 57. Burmeister, S. U. p. 232 e 233. Cope, p. 138 (D. Azarae). Burmeister descreve D. Azarae e D. Aguti como duas especies distinctas, mas Hensel as reunio em uma e creio que com razão. — 19 (112) — 50.) Spliig-giirus villosus F. Cuv. Ouriço-caixeiro. Hensel, p. 56. Burmeister. S. U. p. 221. Cope, p. 136 (Sph. sericeus Cope). Cope descreve uma nova especie da qual não indica a patria, mas como elle presume que Hensel a confundio com D. villosus pa- rece que provém do Rio Grande do Sul. Cope diz da nova especie: em baixo sem espinhos com os ca- bellos como de seda, brancos menos a parte basal que é preta. Os espinhos de 36 m/m de comprimento, pretos na base, amarellos em cima. Os espinhos da cabeça e dos hombros são brancos e só no meio pretos. Não estou por emquanto convencido de que Cope tenha razão, faltando explicações positivas e certas sobre as differenças do cra- neo, estando assim disposto a crer que o S. sericeus é apenas nas cores uma variedade do D. villosus. 51.) Lepus brasiliensis L. Coelho (ou Tapiti?). Burmeister , S. U. p. 252. Hensel , p. 62. Recebi um exemplar que fora morto perto do Passo Fundo pelo Sr. Br. L. Morsch. Me affirmaram que existe também na Costa da Serra na região do Cahy; mas falta no Sul do Estado. No Brazil chama-se o coelho domestico — «coelho-franeez». No Rio de Janeiro encontrei o Lepus brasiliensis no mercado, á venda, como animal de caça. Não comprehendo a razão pela qual Hensel, que não encontrou esta especie neste Estado, a incluio na lista dos mam- miferos do Rio Grande do Sul. Seria por causa de sua existência no Rio de Janeiro ? Elle diz que nos banhados proximos de Santa Maria ha um gutiá dos banhados com orelhas compridas que elle presume ser o coelho, no que aliás não posso crer. Valia pena sa- ber o que é esta cotia dos banhados. V. Chiropteros ou morcegos Das 17 especies aquh mencionadas as primeiras seis (52 — 57) pertencem aos Phyllorhinos, caracterisados pelo appendice que tem por cima do nariz, ao passo que os outros destituidos do appendice (Gymnorhinos) pertencem ás duas famílias Brachyura e Vespertilio- nina. Aquelles (nrs. 58 — 60) tem o rabo curto e em grande parte livre, os vespertilioninos (nrs. 61 — 68) ao contrario tem o rabo incluído na membrana interfemoral que se estende entre as pernas e rabo. 2 * — 20 (113) — 52.) Desmodus rufus Wied. Hensel, p. 21. Burmeister, S. U. p. 57 (D. fuscus) ; D. ph. p. 78 (D. mordax).- Porto Alegre e Barra do Camaqnam. Não tem rabo. A den- tadura é de V 2 -{- Vi + ~U i- é, de cada lado um dente incisivo em cima e dous em baixo, um canino e dous molares em cima, e um molar mais em baixo. Este pequeno animal é um dos mais damninhos entre todos que temos no Estado pelo costume de sugar sangue aos cavallos. Não conhecemos outro morcego que tenha o mesmo costume. Vivem em baixo dos telhados , onde se eseondem r assim como nos ranchos abandonados, tapéras, etc. E’ muito con- veniente que elles sejam perseguidos e mortos, de vez em quando r todos os que poderem ser agarrados. 53.) Artibeus perspicillatus (L.) Burmeister, S. U. p. 45 (Phyllostoma perspicillatus.) Encontrei esta especie, não rara no Rio de Janeiro, na Taquara* do Mundo Novo, devendo a determinação delia ao Sr. Günther do „British Museum“. A membrama interfemoral, desenvolvida só no meio no Desmodus, nesta especie é maior mas com incisura pro- funda no meio. Dentadura % -f* Vi “7 4 /s- 54.) Sturnira lilium GeoftT. Hensel, p. 21. Burmeister, S. U. p. 49 (Phyllostoma lilium e excisum); D^ ph. p. 72 (Phyllostoma lilium.) Taquara, S. Lourenço e Camaquam. O rabo e a membrana interfemoral não existem. Dentadura -j- Yi -f- 5 / 5 . 55.) Clirotopterus auritus Pet. Hensel, p. 20. E’ o gigante entre os nossos morcegos, medindo entre asas 48 centim. Dizem que tem rabo, embora pequeno ; mas eu não o noteL Denta dura 2 /i Hr Vi “7 V.v Santa Cruz e Colonia de S. Lourenço. 50.) Orlossaphaga soricina Oeoffr. Hensel, p. 2 o . Burmeister , S. U. p. 54 (Gl. amplexicaudata.) Porto Alegre e S. Lourenço. Na superfície dorsal da mem- bran interfemoral observa-se o rudimento de um rabo. Dentadurs Va + Vr + 5 /«. 57.) Lonchoglossa caudilera Geoffr. Hensel, p. 20. Burmeister, S. U. p. 54; D. ph. p. 76 (Glossophaga ecaudatg* Geoffr.) — 21 (114) - 0 nome de Geofroy indica que ás vezes existe um rudimento 4e rabo, o que nos meus exemplares reparei tão pouco como Bur- meister nos seus. Dentadura -/.» -f- 7i *i“ Ve- 58.) Noctilio leporinus (L.) Hensel, p. 22. Burmeister, S. U. p. 60 ; D. ph. p. 82. Porto Alegre. No Sul não encontrei esta especie que talvez siga a linha do Cebus. Dentadura 2 /i -}- 7i V.v 9 ^, e ^° su P e " fior grande e um pouco pendente sobre os lados. À côr é amarella como de couro. O rabo é curto, mais curto do que a membrana interfemoral, mas livre na extremidade. Ao contrario, nos generos Nyctinomus e Molossus o rabo é comprido e pendente, livre por fóra um bom pedaço. E’ por esta razão que estes dous últimos. ge- neros formam a familia dos Gymnura, que tem as orelhas unidas no meio da cabeça, orelhas que são separadas e distantes na fami- Jía dos Brachyura á qual pertence o Noctilio. 59.) Nyctinomus brasiliensis Geoffr. Hensel, p. 24. Burmcister, S. U. p. 74; D. ph. p. 86 (Dysopes naso). Cope, p. 131. O beiço superior é enrugado, a dentadura é Vs -f- Vi -f* 5 //>- Pma das especies mais communs e distribuída desde a Patagônia até o México. 60.) Molossus obscurus Geoffr. Hensel , p. 24. Burmcister , S. U. p. 71 (Dysopes fumarius.) Cope , p. 131 (M. rufus Geoffr.) Porto Alegre e S. Lourenço. O beiço superior é liso, a denta- dura 7i -f 1 / 1 -f Vb* 61.) Atalaplia noveboracensis var. Frantzii Dobson. Hensel , p. 25, Burmcister , D. ph. p. 93 (At. bonaêrensis Burm.). A dentadura é 7 3 -f 7i + 5 / 5 - Esta variedade distingue-se ,áo typo somente pelas orelhas mais curtas. A membrana interfe- moral é pelluda sobre toda a face dorsal. Por este caracter e pela côr ruiva ou vermelho-cinsenta se distingue ella das outras -especies. Porto Alegre e S. Lourenço. 62.) Atalaplia cinerea Pal. Beauv. Hensel, p. 25 (Montevideo.) Mundo Novo e Barra do Camaquam, A côr não é de um ver- melho tão vivo como na especie precedente, que com esta muito se parece; mas antes amarello e cinsento, sendo à ponta dos cabelloS' preta. No cotovelo um tufo de cabellos amarellos. 63.) Atalapha ega Gerv. Atalapha egregia Peters. Pelotas e S. Lourenço. A eôr do pello é amarello-sujo. A metade posterior da membrana interfemoral é pelluda na face dorsal. Dentadura 2 / 3 -|- 1 / 1 -j- 4 /«v Burmeister (D. ph. p. 96) diz que At. egregia Pet. vive na ilha de Sta. Catliarina. Esta especie dif- fere da At. ega pela membrana interfemoral nua no y 8 posterior. Assim ella tem nua 2 / 0 em vez 3 / 6 na At. ega, diíferença que se junta com uma ligeira diíferença de côr, porém que não julgo suffi- ciente para distinguil-as como especies. 64.) Yespertilio nigrieans (Wied.) Dobson. ? Burmeister, D. ph. p. 97 (V. Isidori Gerv.) Este pequeno morcego tem o comprimento de 70 m/m., dos- quaes 33 m/m. no rabo. A largura entre azas é de 205 m/m., o braço anterior mede 34 m/m. A ponta do rabo não é livre. Pode ser que Yespertilio Isidori (Gerv.) Burmeister (D. ph. p. 97) seja uma variedade um pouco mais vermelha desta especie. Si Dobson tem razão identificando esta especie com a de Wied , é duvidoso, visto que delia não se conhece a dentadura. Assim Pelzeln e Bur- meister fizeram da especie de Wied um Yesperugo, genero que tem a dentadura 2 / 3 -j- Vi + 5 /o? sendo a do Yespertilio 2 / 3 -j- 1 / 1 -f- O genero Vesperus differe de Yesperugo pelo numero dos molares de 4 / õ em vez de õ / 5 . 65.) Yespertilio albescens (Geoffr.) Dobs. Hensel , p. 25 (V. leucogaster Hensel nec Wied.) Não conheço esta especie um pouco maior que a precedente, O segundo e terceiro premolar superior estão situados um pouco ao lado dos outros, As ultimas l 1 /^ vertebras do rabo não estão in- cluídas na membrana interfemoral. Wied attribue ao Y. leucogaster 5 / 5 molares. 66. ) Histiotus velatus Geoffr. Hensel , p. 24. Burmeister, S. U, p. 79; D. ph. p. 101 (Yespertilio velatus.) Porto Alegre e S. Lourenço. E’ facil de conhecer esta especie pelas orelhas enormes de 24 m/m. de comprimento. Dentadura 7 , + 7i + 4 / 5 . 67. ) Y r esperus Hilarii Geoffr. Hensel p. 25. Burmeister , S. U. p. 77 (Y. derasus). A especie mais commum nas colonias de S. Lourenço. A orelha — 23 (116) — é comprida e, apertada contra o rosto, attinge a ponta do queixo O comprimento do braço anterior é de 36 — 41 m/m. O compri- mento total do corpo e rabo é de 83 m/m., a largura entre azas 260 m/m. 68.) Yesperus Dutertrei Gerv. Hensel, p. 25. Cope , p. 131 (V. arge Cope sp. n.) A orelha é mais curta e não attinge a ponta do queixo. O braço anterior mede 51 m/m. Creio que esta especie é idêntica com a que Cope denominou V. arge e da qual indica como compri- mento total (61 38) 99 m/m., disendo que é pardo em cima, e mais claro em baixo e que a orelha apertada na cabeça sobrepassa os olhos. Hensel e eu tivemos muitos exemplares de Yesperus de diversas partes do Estado, e assim não me parece provável que entre as 3 especies que somente Cape obteve no Rio Grande do Sul haja alguma que por nós não fosse encontrada. Y. Dutertrei é a especie mais rara entre os Vespertilioninos do Estado. VI. Carnívoros 69.) Felis onça L. Tigre. Hensel , p. 68. Burmeister, S. U. p. 84; D. ph. p. 118. O Jaguar ou onça, o jaguareté dos índios, já não existe mais no Sul do Estado, nem na Costa da Serra, ma* somente em Cima da Serra. Linha basilar do craneo 215 até 247 m/m. 70.) Felis concolor L. Leão. Hensel, p. 68. Burmeister, S. U. p. 88; D. ph. p. 130, Mesma observação que a respeito do precedente. Linha basi- lar do craneo 135 — 155 m/m. na femea (Hensel). 71.) Felis mitis F. Cuv. Jaguatirica (grosse Tigerkatze). Hensel, p. 70 (F. pardalis L.) Burmeister, S. U. p. 86; D. ph. p. 121. Hensel e outros reunem o F. pardalis L. com o mitis Cuv. Burmeister os considera distinctos, reservando o nome de F. par- dalis á do Norte da America do Sul. Hensel affirma que o desenho e côres variam bastante. A linha basilar do craneo no macho é de 121—136 m/m. — 24(117) 72.) Felis macrura Pr. Wied. Gato do matto (Tigerkatze). Hensel , p. 71. Burmeister, S. U. p. 87. Hensel tem razão quando diz que é este o gato do matto mais commum na Costa da Serra. Porém no Sul do Estado não o achei, sendo o gato do matto representado ali pelo Felis Geoífroyi. As manchas escuras do dorso formam aos lados riscos obliquos. O rabo é do comprimento do corpo sem a cabeça. O craneo não tem crista sagital e mede 77 — 83 m/m. (macho) ou 74 — 78 m/m. (femea.) 73.) Felis Geoífroyi D’Orb. Gato do matto. Hensel , p. 73 (F. guttula Hens.); p. 74 (F. Guigna Mol.) Burmeister , D. ph. p. 124 (F. Geoífroyi.) Cope, p. 144. No tamanho parecido com o precedente, porém com manchas escuras mais pequenas nos lados. Esta especie, commum no Chile e no Rio da Prata, não vai provavelmente mais ao Norte do que este Estado em sua distribuição geographica. Hensel julga diíferente um gato com as manchas pretas mais pequenas e numerosas. Pa- rece-me provável que seja engano e que F. guttula seja idêntico a F. Geoífroyi, especie que é um poueo variavel na forma do craneo nos numerosos exemplares que obtive da colonia de S. Lourenço, Linha basilar do craneo 72 — 77 m/m. 74.) Felis pajero Azara. Gato palheiro. Burmeister , D. ph. p. 128. Em S. Lourenço perto de um banhado grande matamos uma noite este gato que determinei como F. pajero, determinação que me foi confirmada pelo Sr. H. Burmeister. Creio que este gato, vindo de Entrerios para o Sul do Rio Grande aqui é bastante raro. O comprimento total é de 85 centim., dos quaes 24 pertencem ao comprimento da cauda. Hensel (p. 76) presume que este gato vive no Sul do Estado; elle diz que o craneo tem uma pequena crista sagital e uma linha basilar de 83 m/m., medindo 72 m/m. nos ar- cos zygomaticos. 75.) Felis jaguarundi Desm. Gato mourisco. Hensel , p. 75. Burmeister , S. U. p. 90; D. ph. p. 13o. Cope, p. 144 (F. braccata Cope). Costa da Serra e S. Lourenço. Este gato é unicolor , pardo. Cope descreve uma variedade com as pernas um pouco riscadas atra- vez na parte superior como especie nova. Pode ser que tenhamos no Rio Grande do Sul outro gato unicolor, de côr amarello verme- lho, F. eyra Desm. mas nem Hensel, nem eu o encontramos- 76.) Canis jubatus Desm. Lobo ou guará. Hensel , p. 79. Burmeister, S. U. p. 94; D. ph. p. 140. Embora o guará ainda exista no Sul do Estado nos ba- nhados grandes, não o pude ainda obter até agora, nem mesmo só o craneo. Sobre o craneo deste animal deu-se polemica entre Bur- meister e Nehring, provocada por um craneo subfossil que Burmeis- ter determinou como de canis jubatus. A linha basilar do craneo é 4e 200—230 m/m. 77. ) Canis Azarae Pr. Wied. Guaraxaim. Hensel, p. 79. Burmeister, S. U. p. 96; D. ph. p. 147; Erlaeuterungen p. 44 Taf, 28 e 29. Cope, p. 140 (C. entrerianus Burm.). Tenho observado bastante os nossos guaraxains e algumas ve- zes tenho sido levado a crer, em vista da côr, do comprimento do rabo etc., que ha duas especies, chegando sempre afinal ás conclu- sões de Hensel, isto é , que todos pertencem á mesma ^ especie. O Oanis entrerianus de Burmeister , que Cope aceita, não é como Bur- meister o declara (D. ph. p. 154) senão uma combinação errônea de C. eancrivorus (macho) e C. Azarae (femea). Creio que a maioria das especies do grupo do C. Azarae não são mais do que variedades de côr. 78. ) Canis eancrivorus Desm. Guaraxaim ou cachorro do matto. Burmeister , D. ph. p. 143, Erlaeuterungen, p. 36, pl. 27. Observei a especie, segundo acredito na Colonia de S. Lourenço. O craneo tem a fronte mais convexa, não sendo porém tão grande como Burmeister o figura. Achei a dentadura conforme as medidas dadas por Burmeister (D. ph. p. 154). Diz elle que o comprimento total é de 91 ctm., dos quaes 23 ctm. ou mais ou menos 1 / 4 corres- ponde ao rabo, i. é, ao corpo do rabo. Hensel, p. 81 dá medidas tão differentes das de Burmeister em relação á dentadura do Canis Azarae que a questão não me parece clara e liquida, e por emquanto não tenho material para estudal-a novamente. 79. ) Galictis barbara Wagn. Irára. Hensel, p. 82. Burmeister, S. U. p. 108; D. ph. p. 157. — 26 (119) — Costa da Serra e Colonia de S. Lourenço. Cope e Nehring acei- tam esta especie como um genero a que dão o nome /Galera. 80.) Galictis vittata Bell. Furão. Hensel , p. 84. Burmeister , S. U. p. 109; D. ph. p. 158. Cope , p. 140. Porto Alegre, Colonia de S. Lourenço e Campos de Camaquam. Nehring descreveu uma especie um pouco maior do que o furão, que elle denominou Gal. crassidens, que foi encontrada de Sta. Ca- tharina para o Norte e que provavelmente também existirá no Norte do nosso Estado. Galera crassidens tem no lado interno do dente carniceiro inferior um tubérculo que falta na G. vittata e tem a linha basilar de 82—88 m/m. de comprimento contra 70—72 m/m. em G. vittata. A côr escura da barriga faz um forte contraste com os lados mais claros na G. vittata, mas na outra especie passa suc- cessivamente de uma côr á outra. 81. ) Mephitis suffocans Liclit. Zorrilho. Hensel, p. 86. Sobre a fronte tem uma risca branca transversal, communican- do-se ás duas riscas compridas, longitudinaes do corpo que acabam no principio da cauda. Linha basilar do macho 63 — 68 m/m. Nos campos do Sul do Estado. 82. ) 3Iepliitis chilensis Liclit. Zorrilho. Hensel, p. 85. Burmeister, D. ph. p. 163 (M. suffocans). Hensel affirma que esta variedade encontrada em Cima da Ser- ra é bem diferente da especie da Campanha. A côr, bem preta, é mais lustrosa, as linhas brancas do corpo não communicam á frente e continuam até o meio da cauda. Linha basilar do macho 68 — 71 m/m. Inclino-me a acreditar com Burmeister que estas diferenças de côr não correspondem a especies distinctas. Porém Hensel affir- ma que os craneos se distinguem, razão pela qual provisoriamente aceito aqui as duas especies. 83.) Lutra paranensis Rengger. Lontra. Hensel, p. 87 (L. platensis Watch.) Burmeister , D. ph. p. 166. — 27 (120) Cope, p. 141 (L. platensis). Nehring, Sitzungs-Ber. 1886, p. 146. O focinho, completamente pelludo entre as ventas na especie seguinte, é pellado na lontra. Commum nos rios do Estado, assim como também a seguinte no Sul. A linha basilar do craneo é de 97 — 104 m/m. no macho. 84.) Lutra brasiiiensis F. Cuv. Ariranha. Hensel, p. 90. Burmeister , S. U. p. 113. Nehring, Sitzungs-Ber. 1886 p. 144. A arariranha tem os cabellos do couro mais curtos e o rabu um pouco achatado. E’ animal muito grande e feroz. A linha ba- silar do craneo é de 139 — 142 m/m. no macho. 85.) Procyon cancrivorus Desm. Mão pellada. Hensel, p. 67. Burmeister , S. U. p. 115. Cope, p. 141. Cope diz que os pés desta especie são todos pretos, indicando a «black-footed var. of Sclater.» Commum em todo o Estado. 86. ) Nasua socialis Pr. Weid. Coati-mirim. Burmeister , S. U. p. 120. Cope, p. 142 (Procyon nasua L.) Commum nos mattos do Estado, bem como a especie seguinte. 87. ) Nasua solitaria Pr. Wied. Coati-mundeo. Burmeister, S. U. p. 121. Cope, p. 142 (Procyon nasicus). Hensel (p. 63) e Burmeister (D. ph. p. 180) reunem estas duas especies em uma só dizendo que o Coati-mundeo é o macho velho. Mas o Sr. Bischoff obteve uma femea de Coati-mundeo com 4 filho- tes, da qual me oífereceu o craneo. Hensel se limita a declarar que os diversos Nasua do Brazil formam nma especie com mais variabi- lidade no craneo do que a oíferece outro qualquer carnívoro no mundo. Mesmo assim os factos não se explicam. Tive craneos de Coati-mirim macho tão velho que dos dentes pouco mais do que as raizes existiam e por outro lado tive também craneos de coati-mun- deo adulto, mas jovem ainda, com os dentes de tubérculos intactos. — 28(121) — Não é possível entender estes factos se não aceitando com Rengger, Prinz. Wied e outros que lia duas especies difterentes. Creio que o Sr. Bisclioff tem razão affirmando que temos também o Nasna rufus Desm. nos mattos da Costa da Serra, mais semelhante ao N. socialis, porém que não é commum. Darwin falia na influencia que sobre os orgãos da reproducção tem as alterações do modns vivendi dos animaes selvagens em captiveiro e por isso convem aqui registrar um facto. Communicou-me o Dr. Graciano de Azambuja que em um hotel em Santa Maria da Bocca do Monte o Sr. L. Bor- taed, que tinha em gaiola vários coatis domesticados obteve delles criação (em 1889 ou 1890). VII. Piiinipedios 88.) Arctocephalus falclandicus Cray. Lobo marinho. A. Nehring, TJeber eine Pelzrobben Art. íf. Burmeister , D. ph. p. 528. Não vive só na Costa do Bio Grande do Sul, mas entra tam- bém ás vezes na Lagoa dos Patos e até na foz do rio Camaquam. A pelle tem cabellos grandes (grannos) e cabellos finos mais curtos como os da lontra. Existe na costa do Estado Oriental outra especie parecida, porém maior que tem só grannos: Otaiia jubata Desm. Nehring dá como medida da linha basilar do macho jovem 159 m/m. 89.) Otaria jubata Desm. Lobo marinho maior. Burmeister, D. ph. p. 526. Hensel, p. 91. Hensel vio a especie em Montevideo. Vive nas costas do Estado Oriental e também nas do Rio Grande do Sul. Quando morava na cidade do Rio Grande me aftirmaram que além do pe- queno lobo do mar de cerca de 4 pés de comprimento existe outro muito maior que é um animal tão forte que apanhado no laço pu- chou o cavallo, que o tirava, para o mar, — o que me não parece possível para a especie precedente. O couro de 7 pés de compri- mento e de 5 de largura, de que falia Nehring , referindo-se a obser- vações de Bischoff de certo provinha da Otaria. O Dr. Graciano de Azambuja me communica que em Torres, onde tem ido aos banhos de mar, lhe disseram que os lobos marinhos apparecem frequentemente e com mais frequência no inverno, para se aquecerem ao sol, sobre o rochedo ou recife que ali fica situado á distancia de uma milha da costa mais ou mrtios. Devem ser muito grandes para de terra serem vistos facilmente sobre o recife. Ahi rarameute vem á terra, onde no emtanto já tem sido mortos por mais de uma vez. Espero que estas linhas servirão para dar impulso aos meus es- — 29 (122) — nulos, pois que poderei recolher mais dados e receber craneos dos lobos da nossa costa marítima. A linha basilar do craneo é, como Henscl affirma, de 239 m/m. na femea e de 328 m/m. no macho. VIII. Quadrumanos 90.) Cebus fatuellus L. Mico, macaco. Hensel , p. 18 (partim). Burmeister , S. U. p. 25. Cope , p. 148 (Cebus cirrhifer G. St. Hilaire). Nos mattos da Costa da Serra. Temos 2—3 especies de Cebus, que Hensel confundio todas nhinia. Nesta especie o craneo do ma- cho não tem crista sagital. 91. ) Cebus Azarae Renggcr. Burmeister, D. ph. p. 52. Hensel, p. 18 (C. fatuellus p.). Esta especie mais rara tem os toífes sobre a fronte contínuos e diregidos para diante. A femea tem grannos brancos misturados ao pello do dorso, O craneo tem uma crista sagital no macho ve- lho. A especie é conhecida também sob o nome de C. elegans L Geoff. Devo as notas sobre ella ao Sr. Bischoff. 92. ) Mycetus ursinus Desm. Bugio. Henscl , p. 12. Burmeister , S. U. p. 22; D. ph. p. 51 (M. fuscus Geolfr.) Cope, p. 148 (M. seniculus L.) A femea é escura, quasi preta; o macho é vermelho. E 1 eom- mum na Costa da Serra e é também encontrado na Serra do Her- val não assim na Serra dos Taipes, onde só uma vez se mostrou um bando delles, que depois, ao que parece, se retirou outra vez sobre o rio Camaquam. pois actualmente ali não ha bugios. A distineção das especies é difficillima. Burmeister diz que Myc. caraya Azarae, o bugio preto, tem os cabellos da fronte dirigidos para traz e os da região occipital dirigidos para adiante. Forma-se assim sobre O' vertice da cabeça uma linha transversal de cabello ouriçado que deve existir também em Myc. seniculus, mas que nunca notei nos bugios da Costa da Serra, que creio todos pertencentes a uma só especie. E’ provável que Mycetes caraya, que vive em Corrientes, exista tam- bém na região visinha do nosso Estado, i. é. no Alto Uruguay. Isto poder-se-hia decidir facilmente si me fossem remettidospelles e craneos. — 30 (123) — A litteratura principal sobre os mammiferos do Sul do Brazil e espeeialmente do Rio Grande do Sul é a seguinte: Burmeister , H. — Systematische Uebersieht der Thiere Brasiliens. I. Sãugethiere. Berlin. 1854 (abrev.~S. U.). Burmeister, H. — Deseription physique de la Republique Argentine. Tom III. Mamiféres. Buenos Ayres. 1879 (abrev. D. ph.). Burmeister , H. — Erlaeuterungen zur Fauna Brasiliens. Berlin 1856. Cope, E. D. — On the Mamalia obtained by the Naturalist explo- ring Expedition to Southern Brazil. American Naturalist Febr. 1889 p. 128—150. Hensel, B. — Beitrage zur Kentniss der Sãugethiere Süd-Brasi- liens. Berlin. 1872 (Abhandlungen der K. Akademie der Wis- senschaften, Phys. Kl. 1872). Hevisel, R. — Beitrage zur Kentniss der Thierwelt Brasiliens. No periodico «Der Zoologische Garten», Frankfurt a. M. nos annos 1867 — 1879, a saber: VIII Jahrg. 1867 — N.° 8 Didelphidos; n.° 10 Monos. X Jahrg. 1869 — N.° 1 e 2 Monos, n.° 5 Chiropteros, N.° 11 Lutra, Felis. XIII Jahrg. 1872 — N. 09 1—3 Canis, Roedores, N.° 5—6 Desdentados. XVII Jahrg. 1876 — N.° 2—3. Gado vaccum. XX Jahrg. 1879. N.° 1 Veados. Este trabalho trata dos costumes, modo de viver (biologia), ao passo que o precedente se occupa com anatomia e classificação. v. Ihering, H. — Zur Kentniss der brasilianischen Mãuse und Mau - seplagen. Kosmos, 1885 II Band p. 423—437. v. Ihering H. — Ueber die Fortpflanzung der Gürtel-Thiere Sitz- ungs-Ber. d. Preuss. Akad. Wissensch. 26 nov. 1885. p. 1031 íf. v. Eiering, H. — Ueber «Generationswechsel» bei Sãugethieren. Archiv. f. Anatom. u. Physiol., Abth. Phys., 1886, p. 443 — 450. v. Ihering, H. — Ueber die Hausratten Brasiliens. Sitzungs-Ber. der Ges. naturf. Freunde zu Berlin, 1886, p. 102—107. Leche, W. — Ueber einige südbrasilianische Hesperomys-Arten. Zoologische Jahrbücher. Bd. I Jena. 1887. p. 687 — 701. Taf. XVI. Nehring , A. — Ueber Lutra brasiliensis, Galictis etc. Sitzungs-Ber. Ges. naturf. Freunde. Berlin. 1886. p. 144 — 152. Nehring, A. — Ueber eine Ctenomys-Art aus Rio Grande do Sul. Sitzungs. Ber. Ges. naturf. Freunde. Berlin. 1887, p. 45 — 47. Nehring , A. — Ueber eine Pelzrobben Art an der Kíiste Süd-Brasi- liens. Archiv. f. Naturgesch. — ■ 1887. Bd. I p. 75 — 95, Taf. II e Sitzungs. Ber. 1. c. 1887. p. 142 — 143. Thomas, O. — Diagnoses of four new Species of Didelphys. Ann. and Magazine of Nat. Hist. 1888. p. 158 — 159. Thomas , O. — Catalogue of the Marsupialia and Monotremata in the British Museum. London. 1888. Rio Grande do Sul, 20. IV. 1892.