HISTORIA E MEMORIAS DA ACADEMIA R. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. ^JôÔ'!-^) /o. HISTORIA E MEMORIAS D A ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA. Nfsi utile est quod facimus ^ stulta est gloria. TOMOX. PARTE I. LISBOA NA TYPOGRAFIA DA MESMA ACADEMIA. 1827. . Com Ucença de S. MAGESTJDK ('^Mi^^: y/ HISTORIA D A ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA. TÁItA O ANNO OE 1825'. Discurso recitado na Sessão publica de 7 de Julho de iZi$ pelo Secretario José Maria Dantas Pereira. V^uANDO O homem , digno deste nome , contempla em torno de si o brilhantíssimo explcndor das suas obras, como deixará de extasiar-se : mormente se ao mesmo tem- po considera a marcha rapidissima do presente progresso destas obras ? Se principiou levando o flagello terrivel das bexigas a Tomo X. na- ir Historia da Academia Real nações menos clvilisadas , e até (por assim dizer) especial- mente dotadas de formosura , conclue preservando deile a humanidade inteira. Se esta humanidade succumbio antigamente ao dolo- rosissimo ataque da pedra , e depois escapou algumas vezes mediante a rasgadora operação da talha, hoje o immortal Civiale pulveriza dentro da bexiga aquelle cruelissimo ini- migo da nossa existência. So na primeira navegação tis índias orientaes, depen- dendo extremamente dos ventos e das correntes, empregou quasi hum anno , perdendo a maior parte da guarnição dos navios, e admirando assim mesmo o mundo civilisado; ago- ra vai communicar dentro de dois mezes, e sem perda sen- sivel o occidente da Europa com o centro da Ásia, po- dendo prefixar o andamento da sua viagem nesses dilatados e tempestuosos mares, assim como os nossos correios pre- fixão as suas jornadas dentro de Portugal. O homem rompe a terra , e lhe arranca as mais re- cônditas e duras entranhas, extrahindo ao mesmo tempo do seu tenebroso seio a luz com que nas maiores povoa- ções converte a noite em dia. EUe vai ao fundo dos mares , e os despoja de seus principaes adornos ; elle atravessa com igual intrepidez os enormes gelos dos poios , e os ardentes certóes da zona tórrida. Desde os mais remotos confins orientaes até os occi- dcntaes , igualmente se apossa da monada microscópica e da balêa colossal ; do cordeiro e do leão ; da perdiz e da águia ; em gumma o homem tem conquistado a soberania dos três reinos da natureza. Elle transforma vil arêa em vidro diamantino, o he- diondo trapo em finíssimo papel , a babugem de hum ver- me na seda mais preciosa. Aqui separa de hum insecto a porção tenuissima suf- ficicnte para pesar hum grão , e logo a subdivide em mi- lhões de partes visíveis: alli consegue subdividir ainda mais Bas Sciencias de Lisboa. IH mais outra igual porção de ouro , ou a dilata pela exten- são de mil passos ordinários. Elle sobe ás elevadas regiões da athmosphera , elle executa admiráveis navegações submarinas , com as quaes se lembra de conseguir que no mar não exista poder pre- - dominante. De ser transportado, já por animaes domesticados por elle mesmo, já pelo combate que elle suscita entre os ele- mentos, passou a fazer-se transportar pela simples expan- são de hum ténue vapor , que elle mesmo regula com a maior facilidade. Ha vinte e dois séculos pareceo a Sophocles, que o homem tinha elevado as artes mechanicas ao maior gráo de perfeição : que diria nos presentes dias aquelle grego im- mortal , vendg estradas e pontes de feiTo ; pontes suspen- didas por cima de altíssimos abysmos , e de caudalosos rios; caminhos abertos por baixo do alveo destes rios ; concor- rendo tudo para facilitar aos homens communicações reci- procas ) nas quaes também se pertende empregar navios dâ ferro ? O primeiro entre os auctores trágicos do paiz de Mi- nerva , quanto acima daquelles tempos , que julgou tão so- branceiros , divisaria o de nossos coevos que , inventando prodigiosas maquinas , tem não só multiplicado o nume- ro , e augmentado o vigor de nossos braços , mas estrema- do 3 delicadeza , a uniformidade , e a presteza do movi- mento dos nossos dedos ? Sim , parece-me ouvillo exclamar , cheio da maior ad- miração : (( Pasmoso progresso do espirito do homem , quem » poderá prefixar o teu limite ? Aonde te haverias remon- >» tado , se nenhum dos terríveis c multiplicados agentes » da destruição tivesse obstado á tua marcha , todavia ma- » gestosa , e procrcadora ! « Senhores , he na verdade encantador o espectáculo des- te progresso , contrastando os horrores das assoladoras guer- ras das nações ! Ah ! e que seria se as maiores contendas * I ii dos IV Historia PA AcAOEM IA R.EAL dos diversos povos se reduzissem a generosas porfias para obterem a preeminência na gloria, que resulta das bcmfa- zejas invenções , que dilatão cada vez mais as fruições hu- manas , ou o dominio das artes e das sciencias ? Assim mesmo, quero dizer, cm despeito de todas as contrariedades, o homem limitado anteriormente ao gros- seiro conhecimento da sua morada estreitíssima , está ven- do agora , sem sahir deste logar tão pequeno , a estructura inteira de todo o vastissimo universo ! AUi tem igualmente presentes o longinquo , embre- nhado, soberbissimo Potumujú , e as reptantes gramas que o rodeio; o monstruosissimo elefante, e o minimo insecto, que respirão milheiros de Icgoas distantes da sua habita- ção; o agigantado fuco ou sargaço de Linneo, e o musgo impcrccptivel , que vegetão nos mares outr'hora chamados tenebrosos, e hoje tão conhecidos como frequentados. AUi mesmo, isto he , sem sahir da sua pequena casa, não só se corresponde com todas as partes do nosso extcn- sissimo globo , cujas producções tão variadas como nume- rosas alli mesmo aperfeiçoa, multiplica, e desfructa ; mas também sabendo apenas huraa só lingua , pôde communi- car-se com todos os povos da terra, cujo numero de idio- mas conhecidos excede a três mil. Em fim o homem , alli mesmo , alli dentro da sua ha- bitação mesquinha , calcula e prediz o movimento e posi- ção de todos os orbes em qualquer prefixado instante : c não só descobre as propriedades de fluidos invisiveis , c impalpáveis, mas também os emprega, combina, ou regu- la em vantagem própria , chegando a parecer que dá cor- po ao nada ; e accrcscendo que prescreve direcção aos raios , inutilisando-lhes desta sorte a sua prodigiosa força , e ex- tinguindo o geral terror difiiindido pelas suas devastações horríveis. Porém, Senhores, a quem devemos tantas e taes ma- ravilhas? Não por certo á ociosidade, nem á ignorância. Ninguém deixará de convir era que tão grandes vantagens são DAS SciENCIAS DE LlSBOA. V são O benéfico elFeito do progresso das artes , e das scicn- cias. O ócio devora , e nao produz ; as trevas não sí^ímcntc nos privão de gozar a vista do bem , mas cobrindo os prc- cipicios, nos abysmão ncUes. Convém pois sobremaneira, que sejao animados cada vez mais, e pelo modo mais efficaz , aqueilcs estabeleci- mentos, que devem fomentar este importantíssimo progres- so , promovendo-o de sorte que possamos acompanhar os outros povos em sua velocissima carreira. Qualquer atrazamento sensível nesta carreira , não só nos privaria de vogarmos agradavelmente na melhor e mais elevada região da gera) prosperidade; mas também seria o principal motor da extracção dos nossos haveres, effeitua- da precisamente pelas nações mais íllustradas e activas. Nestes termos ponderando , que o progresso total he composto pela somma dos individuaes , e que descahindo estes não pôde aquellc sublimar-se , concluiremos que cada hum de nós deve esforçar-se em concorrer para o esclare- cimento dos homens , contribuindo assim quanto poder pa- ra o augmento da geral ventura : contribuição esta assas honrosa , que alem de ser tanto mais benemérita , quanto for mais considerável , encontrará na satisfação da própria consciência o maior dos seus prémios; crescendo este pre- mio tanto mais quanto menor utilidade a contribuição pro- duzir ao contribuidor. Mas , se a quaesquer individues incumbe , que não se- jâo o desar da civilisação humana , ou o escuro assombra- dor do quadro do publico progresso, muito mais cumpre, que seja preenchido este dever tão consequente pelos Só- cios de huma Academia dotada pelo melhor Soberano , pa- ra ser o centro impulsivo do movimento mais suave, e pro- veitoso ; do movimento que deve adiantar os Portuguezes pelo caminho luminoso , que conduz á genuína riqueza , e á mais brilhante gloria. Esta Academia Real tem com efieito procurado satis- fa-" VI HistoriâdaAcademiaReal fazer tão sobranceiras e amáveis obrigações , segundo mos- trei no anno próximo passado a respeito dos quarenta e quatro da sua anterior existência ; c segundo passarei a mostrar cm quanto aquclle, que finalisa presentemente, men- cionando em primeiro logar o novo alento dado á mesma Academia pelo seu muito Augusto e munificente Protector, mediante as ordens regias , que determiníío a entrega prompta dos livros importados para uso académico ; e a livre exportação de todos os nossos impressos. Entrando pois no relatório dos trabalhos da Academia, principiarei pelos individuacs, mencionando simultaneamen- te os ofFerecimentos do patriotismo portuguez , e da consi- deração estrangeira : depois referirei o que rc^speita á Ins- tituição Vaccinica , apresentarei as obras impressas no de- curso deste anno , direi quaes são as que ficao no prélo ; e passando em silencio as censuras litterarias, o exame dos es- critos deixados pelo Senhor Josd Monteiro da Rocha , e o que he concernente á parte administrativa, também omitti- rei notar o emprego de Sócios académicos nos exames re- lativos ao curso Physico-Chymico , e terminarei a presente conta com a leitura do Programma. O Snr. Manoel José Pires abrio neste anno a carreira littcraria da Academia, concluindo a leitura da oração pro Ligaria , vertida em portuguez : e proseguio emprehenden- do traduzir os principaes discursos dos quatro mais notáveis historiadores latinos, a saber: Sallustio, Livio , Tácito, e Curcío : empreza na verdade interessante, pois, alem do merecimento da execução, conduzirá os Portuguezes a po- derem comparar no seu próprio idioma aquelles distinctos escritores , formando cohercnte conceito dos diversos talen- tos delles ; bem como da comparação das Electras dos três auctorcs gregos podemos deduzir o correspondente juizo dos seus talentos. O mesmo Sfír. Manoel José Pires reproduzio huma das suas obras com addiçôes assas consideráveis; quero dizer, O seu Elogio ao Senhor Rei D.José, Monarcha immortal, de- DAS SciENCIAS DE L I S B O A. Vil de cujas virtudes o panegyrista procura exaltar principal- mente a humanidade , o patriotismo , c a magnanimidade , com hum estilo em que parece haver tomado por modelos o do celebre Mr. Thomas , e o do nosso Jacintho Freire de Andrade. O Snr. Fr. Fortunato de S. Boaventura , hum dos Aca- démicos mais zelosos em satisfazer aos respectivos deveres, enviou huma Memoria, que trata do Chronista mór Fr. Fran- cisco dos Santos ; e hum additamento á que compozera so- bre a litteratura hebraica em Portugal : litteratura cujo pro- gresso he mais appetecivcl á medida que o dos tempos, modificando traducções e desfigurando originaes , ou multi- plicando e variando interpretações , estabelece os antigos textos como único recurso ao indagador da verdade. O Snr. Fr. José de Santo António Moura, no seu ma- nuscrito sobre as dynastias Mahometanas, que tem reinado na Mauritânia , subministrou hum documento eitrahido de escritos árabes , nos quaes os Mouros contáo a seu sabor alguns dos encontros , que tivemos com elles , donde sahi- mos com varia sorte: esta obra he , pelo menos, hum im- portante documento demonstrador da critica com que de- vem ser lidos os historiadores , quando fallão das suas na- ções; alem de que offerece á contemplação dos homens o notável facto de haver sido governado aquelle paiz por seis dynastias , ou sessenta e nove Soberanos , era menos de no- ve séculos decorridos entre os aonos 788, e 16^6. Ao Sfír. Barão de Quintella , distincto fautor e cul- tor das bellas artes , deve esta Academia o franquear mui- to obsequiosa e promptamente a sua livraria , para se ex- trahirem todas as copias que se necessitassem a bem do ser- viço da mesma Academia : o que já se realisou em docu- mentos relativos ás primeiras leis gcraes da Monarquia. Pelo Snr. José Marianno Leal da Camará Rangel de Gusmão foi ofFerecido hum interessante , e bem conservado manuscrito que, tendo em resumo as actas dos povos, e em toda a sua extensão ^s dos outros dois bt^os , nas Cor- tes VIII Historia da Academia Real tes de i<)97 a 1698, habilitou esta Academia para poder adiantar consideravelmente a publicação daqucllas Cortes, principiada no tempo a que este relatório se reporta , e li- mitada por agora ás actas da Nobreza : cujo códice comple. to, relativo aos três Estados, se diz que existe na livraria do Sfír. Duque de Cadaval. Muito notável acquisiçao fez esta Academia compran- do a collecçáo dos manuscritos inéditos do Sfir. António Pereira de Figueiredo ; entre os quaes recobrou as disser- tações que este distincto Sócio havia lido em varias sessões ncademicas. Estas dissertações, agora impressas, mostraráõ o di- verso modo com que alguns assumptos da nossa historia forão tratados pelo auctor delias , e pelo SSr. António Cae- tano do Amaral , cuja falta nos he também assas sensível. Se nestes respeitos cabe reflexão alheia , não será es- tranho accrescentar , que o Snr. Amaral tratou grande par- te da historia em muita conformidade com o methodo , se- gundo o qual me parece que deve ser escrita , pois tomou por fundamento principal dessa parte a legislação daquei- íes tempos. Com effeito desta premissa deduz-se sufficientemen- te , não só a qualificação , estado , força , e andamento do systema social respectivo ; mas também qual foi o gráo dia vista dos seus consecutivos legisladores ; em que or- dem considerarão a importância dos objectos que divisa- rão, e se esta ordem ou graduação foi a que devia ser a bem do Estado: conhecimentos estes donde se deriva pre- cisamente o das cousas que deixarão de attender, assim co- mo o das que não contemplarão na occasião , e pela ma- neira mais conveniente; concluindo-se logo, se merecerão ser collocados entre os legisladores mais intelligentes , ze- losos , e activos. Tornando ao meu relatório , farei constar que o Snr. Kirckoff, nosso correspondente , remettendo-nos hum folhe- to impresso com o titulo Noticia histórica sobre a Acade- mia DAS SCIENCIAS DE LlSBOA. IX mia de pintura em Ànvers ; enviou juntamente outro folheto intitulado Noticia relativa a Jemer por Mr, Valentin ; c hum exemplar da collecção de fabulas do Snr. Barão de Stassart , conhecido aliás por outras obras impressas. O Snr. António de Almeida augmentou as multipli- cadas rem.essas dos seus escritos, enviando i.° hum voca- bulário portuguez das plantas , com a sua synonimia ; no qual adiantou o que fizera imprimir nos números J3 e se- guintes do Jornal de Coimbra 2.° huma descripçáo histó- rica e topográfica de Penafiel : manuscritos estes aos quacs accrescentou o offerecimento de hum exemplar da Historia de la Iglesia por Eusébio de Cesárea , traduzida em Cas- telhano , e impressa em Lisboa no anno i5'4i : monumen- to litterario, talvez o mais antigo do seu género, mas que por outro lado, pois nos lembra o seu auctor, também re- corda tristemente o muito que este Bispo differio do seu contemporâneo Santo Athanasio y assim na parte morai co- mo na existência civil. O Sfír. Frederico Luiz Guilherme de Varnhagen re- metteo da Marinha grande huma Breve noticia sobre o ca- racter exterior da superficie de todo o terreno do Brasil , com algumas reflexões, nas quaes , agourando áquellc vasto con- tinente a sorte da Africa , e da Arábia , em vir a constar de Oásis , ou de terras productivas , rodeadas por immen- sos e ardentes areaes, lhe faz indirectamente o serviço de chamar as attenções dos seus habitadores a prevenirem , por meio de plantações adequadas , e de conveniente regula- mento sobre os arvoredos existentes , que tão desgraçada sorte , ou não se realise , ou venha a verificar-se na mais remota epocha possível. O Snr. Barão d' Eschwege ofFcreceo huma copia do manuscrito, que intitulou Descripçáo florestal de i^2 diffe- r entes arvores^ que crescem no certao do Abaete ^ na qual có- pia diz haver depositado o original no museo do Rio de Janeiro em 1819, juntamente com huma collecção das ma- deiras alli mencionadas. Tomo X. ♦ a Na 3C Historia DA Ac ADEMiA Real Na livraria da Academia se encontra de agora era dian- te hum exemplar daqucUe Código posterior ao Christao , que sahindo das visinhanças deste, conseguio repartir com elle c com o paganismo o dominio espiritual de quasi to- da a terra mais ou menos civilisada : somos devedores ao Síir, Ignacio da Costa Quintella deste exemplar do Alcorão, encontrado em huma preza que fez no mediterrâneo , mui- to bem conservado , e parecendo muito bem escrito. O Secretario , havendo apresentado hum indice desti- nado a fazer que seja completamente portugueza a Flora do Snr. Jeronymo Joaquim de Figueiredo , offereceo para a livraria da Academia , e distribuio pelos seus consócios , vários exemplares das suas noções de legislação naval por- tucueza , addicionadas com outras sobre a historia desta re- partição importante, na qual tem a honra de servir. O mesmo Secretario offereceo também hum volumoso extracto dos trabalhos do Snr. Balthasar da Silva Lisboa » que podendo ser denominados ruraes economicos-nauticos são relativos ás matas da comarca dos Ilheos , e respeitão principalmente as arvores que fornecem madeiras para a construcçâo naval : offerecimento este a que foi conduzida pelos desejos de que seja conhecida a existência deste ma- nuscrito em tempo de não perder a prioridade competen- te; poÍ5 havendo sido apresentado ao Snr. Infante Almi- rante General em 1809, c adiantando em quanto ao Brasil o que fora estampado por Marchgrave , Pison , Plukenet , Raius, e outros, que vemos reproduzidos já em Palau, e no cultivador botânico, já em Bomare, e no ultimo dic- cionario completo de historia natural, dado á luz em Paris, se não fasse agora ou publicado , ou entregue a huma cor- poração litteraria, deixaria de concorrer para se formar jus- ta idéa do que se deve a hum portuguez ; e que talvez se encontre na obra impressa actualmente por Mr. de Saint Hilaire ; com a qual também conviria confrontar os escri- tos homogéneos do Sí5r. Alexandre Rodrigues Ferreira, e a Flora do Rio de Janeiro apresentada em Lisboa no anno 179^ nAsSciENcrAS DE Lisboa. xr 179a , pelo Padre Fr. José Marianno da Conceição Vcl- loso. Ao Sfír. Manoel José Maria da Costa e Sá devemos o offerecimcnto de varias amostras de prodiictos naturaes , colhidos em Angola, e Benguela, a saber; salitre, petró- leo, enxofre, e gomma que, sendo alli chamada copal, se extrahc alli mesmo da arvore montonge , semelhante á espongcira. O mesmo Sócio presenteou a Academia com hum ma- nuscrito authografo , intitulado Statistica dos rios de Sentia em 1806, o qual foi composto por António Norberto de Barbosa de Villas boas Truão , governador daquelles rios ; e sendo mais considerável do que o extracto impresso nas variedades estadísticas de Portugual, augmentará de mere- cimento mediante as notas com que destina cnriquecello o seu apresentador assas conhecido, e assas distincto, que brevemente vos lerá huma interessante Memoria sobre a his- toria do beroismo portuguez na jtfrica\ na qual memoria, en- tre outras noticias litterarias importantes , sobresahe a da Historia de Ârzilla ^ escrita por Bernardo Rodrigues. O Sfír. Joaquim Baptista , enviando-nos relatadas as ■observações meteorológicas que fez em Vousella, desde 1819 até 1824, não só deo mais huma prova de que se empre- ga em servir por mais de hum modo ; mas tan.bem forne- ceo hum novo elemento i comparação das observações ho- mogéneas praticadas no território portuguez : meio indis- -pensavel para se formar conceito das circunstancias physi- cas deste território , e se proceder com conhecimento de causa em tudo o que deve dimanar deste conceito, ou ter relações com elle. O Sfír. Luiz da Silva Mousinho de Albuquerque , de- ■pois de haver lido na sua Pbysica elementar os capítulos •que tratavão da acústica , offereceo hum exemplar desta sua composição; e lendo posteriormente a introducção á Chy- mlca , mostrou o systema desta parte do seu Curso Physic»- \íbymicoy e também offereceo vários exemplares daquella in-» * a ii tro« XII Historia DA Academia Real troducçâo a este curso impressa pelos seus discípulos, que desta sorte se mostrarão exemplares da veneração, que ro- dos devem tributar a seus mestres; ainda mesmo não sen- do estes tâo distinctos como he o nosso Consócio , que ul- timamente nos lêo huma dissertação , com a qual atrahi» as attenções académicas , apenas se ouvio que tomava por assumpto a influencia das artes e das sciencias no estado das nações. O Snr. Manoel Ferreira Tavares Salvador enviou nu- merosas, copias de hum mappa geral dos enfermos curados com as agoas mineracs de Cabeço de Vide ; no qual por hum lado puWica os factos demonstradores das muitas e graves doenças dissipadas por aquellas agoas, cuja analyse foi estampada por esta Academia ; e por outro lado patcn- tea os seus serviços tendentes a facilitar e a promover o uso das mesmas agoas. O Snr. D. Francisco de Almeida agmentou a biblio- theca da Academia com hum exemplar do seu discurso his- tórico , relativo ao Snr. José Corrêa da Serra , escrito em Franccz, e lido na Sociedade Philomatica de Paris: neste elogÍQ , o Snr. D. Francisco , referindo as obras daquelle sábio portuguez, não se limita a mencionallas simplesmen- te , mas sim procura fazer sentir o merecimento delias era relação ás circunstancias respectivas. O Siír. Brotero ampliou o nosso thesouro scientifico enviando-nos hum exemplar de cada hum dos dous folhe- tos que deu á luz no anno próximo passado , com os títu- los Noções geraes das Dormideiras ; Historia natural da or- siella ; escritos próprios de tão sábio naturalista , que tem aliás trabalh.ido muito consideravelmente na impressão da mencionada Flora pharmaceutica e alimentar portugticza. O Sfír. João Pedro Ribeiro , despedio-se cm certo mo- do por occasiâo da sua presente viagem ao Porto , dando ao museu da Academia huma grande pedra elástica , afor- moseada em huma das suas faces por numerosas dendrites. Hum Aviso da Secretaria de Estado dos Negócios do Rei- DAS SciENCl AS DE LrsBaA. "xin Reino accrescentou á nossa collecção de medalhas quatro de bronze, nas quacs se vê gravada a cfHgie do Cardeal • Gonsalvi , recém fallecido , c muito conhecido. Passando á classe mathcmatica mencionarei , que o Sfír. Almirante de Lowcrnon, Correspondente desta Aca- demia , offcreceo exemplares de dois folhetos , que impri- mira, intitulando o primeiro Extracto da relação de huma viagem no armo de 1 7 8 6 , para o descobrimento da Costa orien-i tal do Grosnland; e descrevendo no segundo huma viagem que fez em 1782 e 1783 ao Cabo Franccz, e ás Ilhas de Santa Cruz , e S. Thomaz. Os Senhores António Diniz do Couto Valente, e An- tónio Maria da Costa e Sá, oíFerecêrão á Academia dois catálogos das observações que fizerão no observatório de Coimbra com o zelo e saber que , sendo-lhes próprios , lhes tem adquirido a correspondente consideração académica. O Síír. Matthcus Valente do Couto Diniz apresen- tou concluído o calculo de huma parte da Ephemeride náu- tica para o anno 1817, mostrando zelo cm apromptar com a possível antecipação este precioso elemento , ou funda- ttiènto dns cálculos da pilotagem. O Sfír. José Cordeiro Feio , Lente da Academia Real da Marinha , offereceo a esta das Sciencias hum Tratado ele- wentar de Trigonometria recti/inea e esférica. ( O Snr. Rodrigo Ferreira da Costa 1, a pezar do máo es- tado da sua saúde, proseguindo em desvelar-se no cumpri- mento dos seus deveres, compoz huns Elementos de arithme- rica e álgebra , tratados promiscuamente ; e presenteou a Academia com hum exemplar impresàb destes elementos , etti cuja composição procurou seguir o methodo , que po- demos chamar Euclidiano. Os nossos tratados elementares da navegação , geral- mente considerados , não correspondem ao estado actual da sciencia ; huns são empyricos ou excessivamente rotineiros ; outros diminutos na verdadeira e precisa pratica , podendo talvez asseTerar-se , que nenhum resolve completamente 0$ pro- XIV Historia da Academia Real problemas náuticos ponderando todas as circunstancias em que no mar se carecerá da sua resolução, como indiquei nas memorias que imprimi no Jornal de Coimbra. Em França mesmo se tem publicado supplementos á navegação de Bezout; e a moderna Astronomia náutica de Mr. Rossel muito posterior , e superior em merecimento , assim á de Maupertuis, como á dos marítimos publicada pelo P. Pezenas , tem faltas no dito sentido ; accrescendo que não trata nem dos cálculos ordinários da derrota , pois não forão objecto daquella interessante composição ; nem dos principios astronómicos em qué os outros cálculos náu- ticos se fundão , pois os considera expostos por Mr. Biot. Reparando nesta falta de hum perfeito compendio de navegação escrito em portuguez , com toda a razão o Srir. Mattlieus Valente do Couto emprehendeo compollo: a Aca- demia vio parte desta obra , que , principiando pela exposi- ção methodica dos movimentos apparentes dos corpos ce- lestes , deve seguir com os verdadeiros , e com os subsequen- tes cálculos nautico-astronomicosi analisando cora o de hum completo diário náutico. Terminarei a narração do que corresponde a esta clas- se de mathematica , e á de sciencias naturaes , simultanea- mente contempladas , mencionando o modelo de nora offe- recido pelo Snr. Custodio José Roque; este modelo pare* ceo inferior ao estado presente das producçoes homogéneas, mas he indubitável que foi apresentado muito modesta e generosamente ; alem de que parece mostrar no Auctor pror pensão natural, e muito bons desejos. Em quanto á Instituição Vaccinica, posso apenas re- ferir, que servem activamente os três estabelecimentos an- nunciados no meu relatório de 1824; e que desde então nenhum facto occoreo, que deixasse de comprovar a virtu- de antivariolosa da vaccina , bera como a innocencia dos seus effeitos. Sem duvida conviria muito que fosse menos diminuto O numero daquelles vaccinados que, voltando para serem ob- DAS ScIENCIAS de LiSBOA. XV observaJos , até pagarião em certo modo ao futuro o que devem ao passado ; porem assim mesmo a Instituição aca- ba de enviar vaccina para Bissáo, e Cabo verde, concor- rendo desta maneira para preservar da morte milheiros de vassallos de Sua Magestade , que são aili presentemente ou- tras tantas victimas humanas do contagio das bexigas. Alem disto ainda mencionarei , que a mesma Institui- ção tem satisfeito , pondo em acção todos os meios que existem á sua disposição ; incluido o recurso a esta Aca- demia, para alcançar, como alcançou, com intervenção do paternal governo de Sua Magestade , que viesse de Ingla-» terra hum novo reforço de vaccina ; cuja remessa foi execu- tada com a perfeição correspondente á dos actuaes conhe- cimentos. Cumprindo tratar agora das obras impressas na Typo» graphia da Academia, desde Junho de 1824, tenho a hon- ra de apresentar' vos : i." O tomo IX das Memorias da Academia'. 1." As Actas do estado da Nobreza nas Cortes de i6<)j : 3.° As Ephemerides náuticas para o anno de i8a6: 4.° A segunda parte do tomo VI do Índice Chronologico remissivo : y.° A Flora pharmaceatica e alimentar , de que tenho tratado : 6.° A parte i.' do tomo i." do Cí4rso elementar Physico- Chymico do Snr. Luiz da Silva Mousinho : 7.° A terceira edição da Trigonometria do Snr. Mattheus ' Valente do Couto : 8.° O Diário da viagem do Snr. Francisco Xavier Ri- beiro de Sampaio , pelo Amazonas e Rio negro : em cuja obra se encontrão assas discutidas questões tão interessantes, como cumpre considerar, por exemplo, a dos limites do NO. do Brasil. Ficão no prelo as obras , cujos titules são : i." Memorias académicas ^ tomo X: 1.° Noticias do Brasil y ou deserip^ao verdadeira das costas díiqttelle estado : XVI Historia da Academia Real 3.° Cbronica d'ElRei D. Sebastião j pelo Capellao mór Fr. Bernardo da Cruz. 4.° Memoria sobre os foraes, reimpressa, e muito augmen- tada pelo seu Auctor. jT." Epbemeridet náuticas para 1827 : 6.° Hum resumo da historia dos Governadores de An- gola até o Barão de Mossamcdes inclusivamente. Senhores, a exposição do quadro dos serviços prati- cados pela Academia Real das Sciencias no decurso do ul- timo anno, está concluída; muito satisfeito ficaria, se o ti- vesse desenhado pela maneira mais capaz de excitar o ge- ral enthusiasmo : conseguillo hia sem duvida, se podesse avizinhar o meu merecimento ao dos meus antecessores neste logar; mas confio em que os defeitos da minha nar- ração tenhão sido amortecidos pela grandaza do assumpto ; e pela convicção inherente á consciência dos beneméritos ouvintes, a quem tenho a honra de fallar. Sim , Senhores , náo ha impulsão mais activa do que a proveniente da geral convicção , em todos forte , porém mais forte nos competentes juizes do objecto de que se trata: vós o sois em quanto ao valor das artes, e das scien» cias , donde resulta dizer-vos instantissimamente a vossa convicção íntima , que nada merece os nossos desvelos tan« to como o progresso dos conhecimentos úteis. Vós sentis dentro de vós mesmos hum estimulo vivis. simo , que não vos deixa socegar ; que vos precisa a pro* gredir de conhecimento em conhecimento, sem que jamais vos sacieis de conhecer: eis a origem de toda a sabedoria, ou de toda a prosperidade ; eis o vosso espirito , eis a di- vindade movendo-se dentro de vós ; e perante as decisivas impulsões divinas tanto importão os atavios da eloquência, como deve importar nas maiores fabricas o exterior da mais bella architectura. Cumpre-me pois ficar contente, se na vossa satisfação Cenho obtido a maior recompensa destes meus trabalhos lit- te- DAS SciENCIAS DE LiSBOA. XVII ternrios , dictados pelo amor das letras , e da terra portii- gucza , posto em activi>.í adc especial , assim pela nobre am- bição de merecer as vossas approvações , como pela sobran- ceira obrigação de concorrer para o maior dos prcmios que vos podem ser conferidos, relatando officiosa e verda- deiramente os vossos principaes serviços académicos , nà presente SessSo publica , perante o nosso muito Augusto e Munificiente Protector e Soberano, Tmo X • 3 PRO- PROGRAMM A DA REAL ACADEMIA DAS SCIENCIAS DE LISBOA, ANNUNCIADO NA SESSSO PUBLICA DE 7 DE JULHO DE 1825'. NAS SCIENCIAS NATURAES. Para o anno de 1816. E M ECONOMIA RURJL, CHYMICA, E MECHANI- CA APPLICADA A'S ARTES. A melhor memoria sobre as matas de arvores resinosas , que satisfaça às condições seguintes : I. uma enumeração exacta e comparativa das di- versas varie lades de pinheiros conhecidos^ com a comparação das vantagens offerecidas por cada uma delias ; os meios de as transportar ao nosso paiz , e o logar donde poderão im- portar-se suas sementes , assim como a maneira de semear e crear as plantas. II. Uma enumeração das variedades exis- tentes nas nossas principaes matas publicas e particulares. III. O modo de aproveitar as resinas dos pinheiros ^ e de pre- parar com a maior perfeição ^ e a melhor economia , as the- rebentinas , o alcatrão , e o pez. IV. O modo mais económico e expedito de cortar as madeiras de pinho , tanto em bar- rotes como em taboado ; com a descripção e os desenhos das machinas , que para o referido fim hajão de empregar-se. V. Qtiaes são os principaes estorvos ao augmento das matas resinosas , os meios de os remover , e de fazer prosperar es- tas matas , assim as publicas como as particulares. EU DAS SciENCIAS DE LiSBOA. XIX EM MEDICINA. Marcar qttaes sejõo os symptomas , que es' tabelecem o diagnostico das inflammaçÕes chronicas ; e se a dor e a febre devem reptitar-se sempre essencjalniente neces-^ sarias para caracterisar taes inflammaçÕes \ e qual o tra- tamento mais seguro para as debellar , logo que sejão capi- tuladas : devendo este tratamento ser comprovado por meio de observações. Determinar por observações clinicas em que differem os ejfeitos do lactucario dos do ópio. Para o anno de 1827. EM ECONOMIA RURAL , E DOMESTICA. Sendo reconhe- cida , nas nossas fabricas de tincturaria a necessidade , e uti- lidade da planta chamada Granza , ou Ruiva dos tinctu- reiros {Rubia tinctorum Linn.) : Em que terrenos prospera mais a sua cultura ? Qite outras espécies se lhe podem sub^ stituir , e se alguma delias merece a preferencia na tinctu- raria ? Por que modo , e em que tempo , devemos promover a cultura desta planta ? Quando estard nas circumstancias de se recolher para uso das fabricas ? Que parte da planta ser- ve ^ e como se deve preparar para este fim ? Que outros usos podemos fazer da mesma planta , alem dos que respeitão 4 tincturaria ? Que vantajens tirará o lavrador da sua cultu- ra , comparada com as differentes sementeiras , que podem ter logar nos terrenos , onde deve ser cultivada ? Que con- sumo fazem hoje delia as nossas fabricas ; e quanto annual- mente pouparíamos , se a tivéssemos de cultura própria , e não a comprássemos aos estrangeiros ? EM MEDICINA LEGAL. Determinar os pontos de tontacto , . que a sciencia da legislação tem com a medicina ; e quaes são os conhecitntfítes indispensáveis , que esta deve fornecer ao legislador para o cabal desempenho dos códigos. • 3 ii Pre- XX HisTOBiA DA Academia B^sal Prémios extraordinários sem limitação de tempo. Um epitome das leis agrarias portuguezas^ publicadas des- de o principio da monarchia _ até ao presente , e os aphorisinot polituo-economicos , que das mesmas ,je podem deduzir a bene- ficio da agricultura , povoação , e commercio dos Reinos de Por- tugal ^ e dos Algarves. A dieta obra deve ser composta segundo o methodo seguido por Mr. Fourncl na que imprimio em Paris no an- n'> dj 1819 com o titulo Les loix ritrales de la Fr atice ^ rangées dans leur ordre naturel. A memoria que for appro- vada , ou que pelo menos merecer o Accessit , obterá q premio de uma medalha de ouro do valor de 50:000 réis. Qtial he o methodo de curar radicalmente as dysetiterias cbronicas , de qualquer causa que procedão , fundado em prin- cípios, e confirmado por observações practicas. Este Programma tem o premio de 400:000 réis. Qttaes sejão as causas existentes ou occasionaes da fre- quência das ptysicas em Portugal , especialmente em Lisboa ; e qual a natureza ou espécie da que be mais geral , estabelecen- do-se OT meios de a prevenir f e o methodo de a curar d vista de observações practicas ? >^ Assumptos £xos para todos os annos* I. A dercripçao económica e physica de alguma comarca , ou território considerável do Reino , ou Dominios ultramarinos. II. A Historia da medicina Lusitana divfdida em epocbas y sendo a primeira desde afuridaçãa da monarchia até a acla- mação do Senhor D. João I. : a segunda desde esta aclama- ção até d do Senhor D. João IF. : a terceira desde este tem- po até d r^orma, da universidade : a quarta desde a ultima pre- OAS SCIENCIAS DE LlSBOA. ?ÍXI ^ecedeúte até os tioísos dias : na intelligencia de corresponder a cada epocba uma medalha. è NAS SCIENCIAS EXACTAS. Para o atino de 1826. EM CALCULO. Uma analy^e critica sobre a memoria de Phi- losophia. do calculo infinitesimal dada por Mr, H. Wronscki na sua Philosophia do infinito impressa em 1814: procedeu- do-se nesta analyse com aqitelles esclarecimentos que a dita memoria merece. EM MECHANICA Uma descripção circunstanciada das me- lhores macbinas de vapor empregadas na navega f ao , e em todos os trabalhos hydraitlicos : demonstrando y se o fabrico , e uso y de cada uma delias em Portugal de^e custar sensi- velmente mais do que nos Estados unidos , na Hespanba , In- glaterra , Hollanda , e França \ e quaes vantagens , ou des- vantagens j offerecem comparadas com os outros agentes j en> pregados agora entre nós em igtiaes serviços. Sem limitação de tempo, EM MATHEM ATIÇA. Um curso elementar completo àe ma- thematica pura e applicada ; escrito em português , e de sor- te que cada uma das suas partes corresponda ao estado actual da sciencia , versando as applicações especialmente sobre a marinha. EM ASTRONOMIA. Algumas observações de eclipses do Sal, ou occnltaçoes de estrellas pela Lua , feitas por navegantes portugueses em portos do Brazil ou da Ásia : especificando os meios e instrumentos , de que se servirão nestas observa'* coes. EM NAVEGAÇÃO. Uma derrota de navegação alta por tem- po de um mez ou maisj feita- em navio portuguez , cujo pritt- CS- xxu Historia da Academia Real cipal motor seja o fogo '. ou uma tnenwria , tm qual se evi' àencêe a possibilidade e vianeira de effeituar a mesma nave- gciçào vantajosamente nos navios mercantes , e em todas as circumstancias. Será preferível a memoria , que alem de des- empenhar este assumpto , considerar o motor empregado ao mesmo tempo na cozinha do navio , em distillar agua do mar para os usos ordinários delia , em renovar o ar do porão e das cobertas , em esgotar o navio , e em defendelo mediante a conveniente projecção de agua fervente , 4 similhança da executada pelos americanos inglezes a bordo da fragata Ful- ton (*). NA (*) A navegação por meio do fogo combinado com o vento pôde reduzir as guarniçSes dos navios, e as durações medias das viagens a metade das actuaes : donde resulta , que a despeza por este lado deve descer a um quarto ; e bem assim o espaço preciso para serem collo- cadas as munições de bocca , o qual ainda se tornará menor, applican- do-se também o fogo a distillar agua do mar para ser empregada nos usos ordinários. Esta distillaçSo poderá ser executada á maneira da que está descripta na Encyclopedia methodica. A navegação referida terá também as vantagens de fazer muito menos perigosas as travessias nas vizinhanças da terra ; de tornar prefixavel com muita aproximação a duração das viagens; e de augmentar os lucros do commercio, acce- lerando a marcha do seu giro. Alem disso porá em certo modo as pro- viiiciits do ultramar a meia distancia da metrópole , promovendo ou apertando assim a união daquellas com esta, e accelerando a rapidez da acção do governo , bem como a de todas as correlações de ambos os paizes. O uso de taes navegações deve pois ser singularmente van- tajoso ás nações pequenas e marítimas , que possuem grandes colónias. Abstrahindo a consideração das vantagens desta navegação nas guerras navaes , e nos soccorros a navios em perigo , vê-se aliás , que para al- cançarmos tão importantes fins nos basta ampliar o que está feito , e unir o que existe disperso; alem disto, pois fomos quem outr^hora se avantajou ás mais nações no tocante á marinha, parece, que pelo me- nos devemos não descahir muito áquem das mesmas nações em objecto tão ponderoso e consequente. Portanto, attendidos os referidos motivos, um sócio da Academia dobra o premio académico relativo a este programma, dando mais ciu- coenta mii réis em metal. DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. XXIU NA LITTERATURA PORTUGUEZA. Para o anno de 1826. EM HISTORIA PORTUGUEZA. A historia dos nossos its» cobrimentos em Australasta , e Polinésia , com a sjnouymia dos descobrimentos feitos posteriormente feias outras nafÚas enropéas nas mesmas regiões. EM LÍNGUA PORTUGUEZA. Uma cbrestomatbia dos mait acreditados auctores portugueses: ou coUecção dos passos mait elegantes e próprios para servirem de modelos de estylo ; ar- ranjados sobre o plano da obra de Heinecio De stylo cul*. tiori , e contendo os que servem de exemplo do melhor //* tylo epistolar , dialogistico , histórico , etc. EM HISTORIA PORTUGUEZA. Determinar o augmento, t diminuição de população nos Reinos de Portugal e Algarves lias diversas epochas da monarchia ; indicando as tausus , qtit se devem assignar d sua respectiva alterarão. Assumptos fixos para todos os annos. EM POESIA, E THE ATRO NACIONAL. Uma tragedia por- tugueza. Uma comedia de caracter em verso , ou em prosa. Os prémios ordinários consistem em uma medalha de ouro do peso de forooo réis : e todas as pessoas podem concorrer a elles , á excepção dos sócios honorários , e ef- fectivos da Academia. Abaixo destes prémios principaes , propõe a Academia também a honra do accessit , que con- siste cm uma medalha de prata : e ainda abaixo desta a menção honorifica da memoria , que só disso se fizer di" gna ; a qual menção será feita nas suas Actas e Historia. As condições geraes para todos os assumptos propos- tos são : Que as memorias, que vierem a concurso, sejão es- XXIV Historia da Academia Real escriptas em portuguez, sendo seus auctores naturaes des- tes Reinos ; e cm latim , ou em qualquer das línguas da Europa mais geralmente conhecidas , sendo estrangeiros : Que sejão entregues na Secretaria da Academia por todo o mez de Abril do anno , em que houverem de ser julga- das : Que os nomes dos auctores venhao em carta, fechada , a qual traga a mesma divisa que a memoria, para se abrir somente no caso , em que a memoria seja premiada : E fi- nalmente que as memorias premiadas não 'possão ser im- pressas senão por ordem , ou com licença expressa da Aca- demia ; condição que igualmente se extende a todas as memorias , que , não obtendo premio , merecerem comtudo a honra do accessit. Porem nem esta distincçâo, nem a ad- judicação do premio, nem mesmo a publicação determina- da , ou permittida pela Academia , deverão jamais reputar- se como argumento decisivo , de que esta Sociedade ap- prova absolutamente tudo quanto se contiver nas memo- rias , a que conceder qualquer destes signaes de approva- çáo ; porem somente como uma prova , de que no seu con- ceito desempenharão , senão inteiramente , ao menos a par- te mais importante dos assumptos propostos. LIS- DAS SCIEKCIAS DE LiSBOA. XXV LISTA DOS SÓCIOS Da Academia Real das Sciencias ^ em Agosto de 1817. PROTECTOR ELREI NOSSO SENHOR. PRESIDENTE O Sereníssimo Senhor Infante D. Miguel. FíCe-Presideute. Fernando Maria José de Sousa Coutinho Castello-branco c Menezes, Marquez de Borba. 1 Sócios Honorários. S. M. El-Rei da Gra-Bretanha. S. A. R. o Duque de Sussex. António de Saldanha da Gama, Conde de Por- to Santo, . . ... . . ... . em Lisboa. Arthur Wellesley , Marquez de Wellington , Duque da Vicroria , e Príncipe de Waterloo , em Londres. D. Caetano de Noronha, Conde de Peniche, no Lumiar, Carlos Stuart, Conde de Máchico , . . fora do Reino. D. Domingos de Sousa Coutinho , Conde do Funchal , " fera do Reino. D. Duarte Manoel, Marquez de Tancos, . em Lisboa. Fernando Luiz Pereira de Sousa Barradas, , em Lisboa. 7omo X. • 4 Fer- XXVI HiSTOKIA DA ACADSMIA R BAL Fernando Maria José de Sousa Coutinho Cas- tcllo-branco c Menezes, Marquez de Borba, cm Lisboa. Filippe Ferreira de Araújo e Castro, . . em Lisboa, Francisco Furtado de Castro do Rio de Men- donça , Conde de Barbacena , an Lisboa. D. Francisco de Menezes da Silveira e Cas- tro, Marquez de Vallada , em Lisboa. Henrique Teixeira de Sampaio , Conde da Po- voa ,.,.., evi Lisboa. Igaacio da Costa Quintella , em Lisboa. Joaquim José Monteiro Torres , em Lisboa. José António de Oliveira Leite de Barros, . em Lisboa, Luiz António Furtado de Castro do Rio de Mendonça , Conde de Barbacena , . . , em Lisboa, Manoel Ignacio Martins Pamplona Corte Real , Conde de Subscrra , fora de Lisboa. Manoel Marinho Falcão de Castro, . . fdra de Lisboa. P, Marcos de Noronha e Brito , Conde dos Arcos , em Lisboa. D. Miguel António de Mello , Conde de Murça , em Lisboa. D. Miguel Pereira Forjaz Coutinho, Conde da Feira , em Lisboa. D. Nuno Caetano Akares Pereira de Mello , Duque do Cadaval , em "Pêdrouços. D. Patrício da Silva , Cardeal Patriarcha de Lisboa , na Junqueira, D. Pedro de Sousa e Holstein , Marquez de Palmella , em Londres, D. Segismundo Caetano Alvares Pereira de Mel- lo, Duque de Alaf^es, ao Gril/o, Silvestre Pinheiro Ferreira, fora do Reino. Thomai António de ViUa nora Portugal, , em Lisboa, So' DAS SciEvrciÁs DB Lisboa* xxvu Sócios Estrangeiros, Christiaao Martinho Fraehn , . . .em S. Petersburgo. Frederico Bouterwek, em Gottinga. Jaime Edward Smith ......... em Londres. José Francisco dejacquim (Barão dejacquim), em Vienna á^ Áustria. D. Manoel Abella , ■ . . em Madrid. Maria Carlos José Pougens , em Par/s, Ricardo António de Salisbury , . . . . , em Londres. Sócios Feteranoi» Joaquim Pedro Fragoso da Mota de Siqueira, em Lisboa. Sócios efectivos» Na Classe de Sckncias Naturaes. Alexandre António Vandelli , Guarda mór dos Estabelecimentos da Academia, . ... em Lisboa. Fclii de Avellar Brotero , na Ajuda. Francisco Elias Rodrigues da Silveira, Vice- Secretario da Academia , etn Lishoa. Ignacio António da Fonseca Benevides, Dire- ctor da Classe , em Lishoa. Joaquim Xavier da Silva, ....... em Lisboa. José Bonifácio de Andrada e Silva , , . fora do Reino. José Pinheiro de Freitas Soares, . . , . em Lisboa. Thomé Rodrigues Sobral , ...,,. em Coimbra, • 4 ii Na KXVIII HiSTSRIA BA AcADCMlA RtAL Na Ciasse de Sciencias Exactas. Francisco de Borja Garção Stockler, BarSo da Villa da Praia , em Lisboa. Francisco de Paula Travassos , ..... «m> Lisbaa. Francisco Villela Barbosa , Marquez de Para* naguá , no Brasil. José Maria Dantas Pereira , Secretario y , , em Lisboa. Marino Miguel Franzini , em Lisboa. Mattheuâ Valente do Couto, Director da cias» se , e Thesoureiro da Academia ^ . . . íW Lisboa. Na Ciasse de Litteratura Portugueza. D. Fr. Francisco de S. Luiz, em Lisboa. Francisco Manoel Trigoso de Aragão Morato , Director da classe , em Lisboa. FradciSco Ribeiro DosguimarKes , . , , . em Lisboa* João Pedro Ribeiro, ....... .' w Porto, Joaquim de Santo Agostinho de Brito França Galvão, , » em Lustosa. Joaquim José da Costa de Macedo, . » . em Lisboa, Joaquim José Ferreira Gordo (Monsenhor Fer- reira) , em Lisboa. Manoel de Almeida e Vasconcellos , Conde da Lapa , * em Lisboa. S»cios Lavres, António de Almeida j .,.'....'. em Penafiel, António Diniz do Couto Valente, Substituto de EiTectivo na classe das Sciencias exactas , em Lisboa, Cândido José Xavier Dias da Silva ^ . . . n» Luz. Fr. t>A9 $CttV<2ÍA$ kt LfSftO*. XtfH Fr, Fortunato de S. Boaventura, t . . . etn Coimbra, D.Francisco Alexandre Lobo , Bispa de Viseu, em Lisboa. Francisco José de Almeida , efft Lisboâ,. Francisco Nunes Franklin , SulMtítKÉd^ de Effis- ctivo na cLisse de Litteratara, . ... em Lishoa. F^rnncisco Soares Franco , em Lisboa, Francisco Xavier de Almeida Piffreilfa, . . n» Satioaí. Guilherme, Barão de EschWege j . ... em Lishva. Jeronymo Joaquim de Figueiredo, ... .em Coimbra. Jiíã) da Cunha Neves e CarVâlhã,- .- v T r no Porto. D. Joáo de Magalhães e Avellar , Bispo do Porto , * em Lisboa. D. Joaquim de Santq Anna Carvalho, Bispo titular do Algarve , . . ^m Lishod. Joaquim Fedro Gomes de CWiveira , . . . etft Lisboa. Fr. Joaquim Rodrigues, * em Lisboa. José Accursio das Neves, Sfubstituta dé Efe- ctivo na classe de Litceratura Portugueza, em Lished, Fr. José de Santo António Moura , . . . , em Làjhod, José Cordeiro Feio , Substituto de Efectivo na classe de Sciencias exactas , ••..«» Lisboa^ Justiniano de Mello Franco, nt Brasil. Luiz Máximo Alfredo Pinto de Sousa , ViseOflK de de Balsemão, ......... ttâ Fott^i Luiz da Silva Mosinho de Albuquerque, Safe* stituto de Effectivo na classe de Sdencia* naturaes , em LifBòtk Manoel Ferreira da Gamara Betancourt , . . tfff Brasíí.- Manoel Francisco de Barros e Sousa dei Mef*' quita, Visconde de Santarém, . . ^ . ent Êiihéí* Manoel José Maria da Costa e Sá , Substituto dâ Effectivo na classe de Litteratara Porfugueii*, ttií LishonU Manoel José Pires , Substituto de Effecfivo ila classe de Litteratura Portuguezs , • . . eM Litb$1h Manoel Pedro de Mello, . . . . . y . tmCoimbrítt Fr. Mattheus da Assumpção Brandac, Su6st}* XXX Historia da Academia Real tuto de Effectivo na classe de Litreratura Portugueza ,--.--.---.(•«/ Lisboa, Paulo José Maria Ciera , Su})stituto de liffe- ctivo na classe de Sciencias exactas , - - em Lijloa. Pedro de Mello Breyner , .--,., cu: Lishoa, Timotheo Lccussaii Verdier , ----- <^m Lisboa. "VVencesláo Anselmo Soares, Substituto de Ef- fectivo na classe de Sciencias naturaes , - em Lishoa, Correspondentes. Agostinho de Mendonça Falcão, ' - - - em Coimbra. Mr. Ampere , --__.__. _.f,7j Frauça, António Feliciano de Castilho, -----«« Coimbrã. António Joaquim de Gouvêa Pinto , - - - em Lisboa. António Maria da Costa e Sá ----- f»» Lisboa. Augusto de Saint-Hilaire ,-»---.-• em Paris. Balthasar da Silva Lisboa, ------ «^ Brasil. Bento Affbnso Cabral Godinho, - . . . gf„ Évora. Fr. Bento de Santa Gertrudes lylagna , - . jw Porto. D. Blaz Martinez, ----.-. em Pamplona. Caetano Arnaud, ---.----_^;;, Chaciíti. Carlos José Pinheiro ,-------- fw Coimbra. Diogo de Toledo Lara Ordofíes , - - - - w Brasil. Eustáquio Joaquim de Azevedo Franco , - |m Azambuja. Félix José Marques ,-------- fw Lisboa, Fortunato José Barreiros, ------ íot Lisboa. Francisco António de Almeida Moraes Peçanha , em Lisboa. Francisco António Marques Giraides Barba , - fw» Lisboa. Francisco Ignacio dos Santos Cruz , - - -em Punhete. Francisco de Oliveira Barbosa, ----- no Brasil. D. Fancisco Xavier Cabanes, ----- ew Madrid. Francisco Xavier do Rego Aranha , • - - «« Elvas. Frederico Luiz Guilherme Varahagen, - ^ em Leiria, Gui- DAS SCISKCIA* »t LUBOA. XXXt Guilherme Muller, -------- í«i Lonàres. Jacob Grabcrg de Hemso ,------«»» Tangeré. João Adamson , --•^..«•.e»! Londres. João António Monteiro ,------ «/» Freyherg. Jouo Croff, ------. ----fíM Londres. João de Macedo Pereira da Guerra Forjaz , em Cattello-branco, João da Silva Feijó, --...-----. no Brasil. João Theouoro Koster ,------- f»j Londres. Joaquim Baptista de Sousa ,------«« V^uzella, D. Joaquim José António Lobo da Silveira, Conde de Oriola ,-------- em Berli». Joaquim José Vaiella , - - • - em Monte mór o novo. Joaquim Maria de Andrade, - . - * _ em Coimbra. Joaquim Navarro de Andrade, ------ no Porto. Joaquim Pedro Cardoso Casado Giraldes y - no Havre. Fr. José de Almeida Drak, ------ #»i Lisboa, José Avelino de Castro, ------- no Porto. José C.ilheJros de Magalhães e Andrada ^ - em Braga, José Egidio Alvares de Almeida, Marquez de Santo Amaro ^ ------_.. ^q Brastí, Xosé Feliciano Fernandes Pinheiro, Visconde de S. Leopoldo , -_---*-- n^ Brasil. José Jacintho de Sousa ,------* no twto, José Ignatio Paes Pinto de Sous» e Vascoft- cellos , -•-------_- ^m Lisbca. José Liberato Freire de Carvalho, - ~ ~ ' em Lisboa. José Lino Coutinho ,-------- no Brasil. José Manoel Ribeiro Vieira de Castro, " - em Lisboa. José Manoel de Sequeira , -«--.- j^f Brasil, José Marianno Leal da Camará Rangel de Gus- mão , -----»--.-... í»j Lisboa. D. José Pavon , ., ^ . gf„ Madrid. José Portelli ,-------- em Aldegallega, José Romer Luiz de Kirckoff, ----- í/w Anvers. José do Sá Betancourc ,------- no Brasil- D. José Valério , Bispo de Portalegre , - <«» Portalegre, ;cxx« Historia da Academia Real ' José Villela de Barros, m Br.uií. Mr. de Lowernon , ........ fw Dinamarca. Luiz António de Oliveira Mendes, ... no Brasil. Luiz Ganalli , an Perugia. Luiz Henriques , Barão de Block y .... em Dresde. Mr. Mablin , em Par:'r. Manoel Agostinho Madeira Torres, . em Torres vedras. Manoel Jacintho Nogueira da Gama, Marquez de Baependy , „o Brasil. Manoel José Mourão de Qirvalho Azevedo Monteiro, na Mealhada. Mirco António Jullien , em Paris. Mattheus Valente do Couto Diniz y ... em Lisboa. Pedro Celestino Soares , . . ' -em Lisboa. Pedro Geannini , g^ Bolonha. Pedro Machado de Miranda Malheiros (Mon- senhor Miranda) , ........ no Brasil. Pedro Sylvano Duponceau , .... em Philadelphia. Roque Schuch, no Brasil. Air. Savary, etn França. D. Thaddeo Manoel Delgado , . . . . em Hespanba. Thomaz Moore Musgrave , em Londres. Vicente Gomes de Oliveira , , .... no Brasil. Vicente José Ferreira Cardoso da Costa , . em Lisboa. Viceace Navarro de Aadrade , . . . . fora de Lisboa. RE- DAS SciÈHCIAS ÚE LiSBOA. XXXIII RELAÇÃO Dos Membros , e Correspondentes da Instituição Vaccinieá da Academia Real das Sciencias. Membros da iNSTiTUiqXo Vaccinica. Francisco Elias Rodrigues da Silveira , . , em Lisboa. Ignacio António da Fonseca Benevides , . . em Lisboa. Joaquim Xavier da Silva, em Lisboa, losé Pinheiro de ^'161138 Soares , , . . . tm Lisboa. Justiniano dc^ello Franco , no Brasil. Wenccsláo Anselmo Soares, em Lisboa. Correspondentes da Instituição Vaccinica. Dona Angcld Tamagnini de Abreu , . , , em Li , . . em Montalegre. Luiz DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. XXXV Luiz Cypriano Coelho de Magalhães, Medico, em Aveiro. Luiz Gaivzaga da Silva , Medico , . •. . em Santarém. Luiz Mendes Fortio , Cirurgião , . . . . em Jziz. Lui/. Soares Barbosa, Medico, em Leiria. Dona Luiza Adelaide de Magalhães Coutinho da Motta , em Filia Real. Manoel Coelho do Nascimento , Cirurgião , em Collares. Manoel Lopes de Carvalho , Cirurgião ^ . . em Bellas. Manoel José Malheiro da Costa Lima , em S. Vicente do Penso. Manoel José Mourão de Carvalho Azevedo Monteiro , Medico , na Mealhada. Manoel Vicente , Cirurgião , . . • • • • «« Guarda. Nicoláo de Sousa Galiião , Cirurgião , . em Lanhezes. Pedro António da Silva , Cirurgião , na Marinha Grande. Pedro António Teixeira de Pinho , Cirurgião , em Ovar. Plácido de Azevedo Tavares , Cirurgião , em S. João de Ta- rouca, ME- * XXX 04xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx jr MEMORIAS D A ACADEMIA R. DAS SCIENCIAS D E L I S B o A, MEMORIA APOLOGÉTICA (a) SOBRE O VERDADEIRO SENTIDO DA INSCRIPÇÃO, QUE SE ACHA NA PEÇA CHAMADA DE DIO, Por Fr. José' de Santo António Moura, ENDO o P. M. Fr. João de Sousa offerecido a esta Real Academia a Inscripçao , que se vê na celebre peça de Dio , acompanhada de reflexões históricas, e justificativas Tomo X. A da (a) Foi apresentada na Sessão da Academia de 11 de JSovembro de 1818. a Memorias DA Academia Real da versão , que delia fazia , tomou Mr. de Sncy da mcs"- ma o assumpto para a memoria , .que apresentou ao Ins- tituto Nacional de França no dia 3 de Thcrmidor do ii anno , c que se acha impressa no tom. 2. das Memoriai de litterattira desde pag. 5-96 até 611. Mr. de Sacy nesta Memoria emprega tão pouco 'respeito para com a copia do Mestre Sousa , que não duvida arriscar , como elle mesmo se explica , varias correcções , as quês alterando o texto deviáo produzir iiuma muito diversa intelligencia da Ins- cripção , e diminuir muito da alta reputação , que os gran- des conhecimentos do Mestre Sousa lhe havião grangeado na Europa. He de presumir que Mr. de Sacy não publi- caria taes correcções , se ainda vivesse aquelle sábio Ara- bista , e que antes o consultaria sobre taes reparos , o que sem duvida lhe conseguiria huma resposta tão completa pe- lo que pertence aos conhecimentos, como satisfatória pela eminente candura , que realçava suas eminentes qualidades. Nesta circunstancia da sua falta , me ordenou esta Real Academia examinasse de novo a mesma Inscripção, e á vis- ta delia ponderasse os fundamentos dos reparos ciiticos de Mr. de Sacy. E para que no futuro os eruditos não fingis- sem a seu arbítrio da mencionada Inscripção para a faze- rem dizer o que elles mesmos imaginarem , mas sim para que se empenhem na legitima e verdadeira interpretação do que ella contem , mandou a mesma Real Academia abrir huma chapa exacta desta inscripção existente ainda hoje em huma peça de artilharia , que he hum dos mo- numentos demonstradores dos antigos, e quasi incriveis triunfos Portuguezes nas índias Oricntaes. Náo DAS SciENCiAS DE Lisboa. 3 Nao devendo fiar unicamente do meu exame huma Ins« cripção , que motivava a diflferença de pareceres de dous tão celebres Arabistas , como o Mestre Sousa , e Mr. de Sacy , convidei o instruido Professor de Árabe Fr. Manoel Rebello , e o seu digno substituto Fr. António de Castro, e depois da mais seria observação concordámos, que a ver- dadeira lição da Inscripção he a seguinte , a qual traduzida Jitteralmente me parece dizer assim : A nosso Amo, Rei dos Reis do prezente Século, Vivificador da Lei do profeta do Misericordioso , Esforçado guerreiro na exaltação dos preceitos do Alcorão humilhador do fundamento dos Sectários do erro, destruidor das habitações dos adoradores dos Ídolos, Vencedor no dia do encontro dos dous Exércitos Herdeiro do Reino de Salomão , confiado em Deos Bemfeitor, e possuidor das Virtudes, o Soberano Bahadur Xah, esta peça, fundida a y de Dul — Kaada do anno 939, Se dedica, (corresponde a 29 de Maio de 1 5 3 3) Não devo reputar infallivcl esta minha intelJicrencia , por ser constante, que as mesmas palavras de lingoas Orien- taes , e muito particularmente as Arábicas , admittem sen- tidos diversos, todos conformes ao génio da lingoa, e ás A ii re- 4 Memorias da Academia Reai^ regras da Grammatica ; e ainda mais por estarem algumas letras encadeadas, ou çafadas , e faltas das pontos diacri- ticos , com que se differençao as semelhantes na figura , o que tem motivado a divetí^idade de interpretações e leitu- ras da famosa Inscripçao do Vaticano , da que se acha so- bre o Púlpito da Cathedral de Veneza , e sido a causa da pouca fidelidade , que tenho observado ter havido na in- terpretação de varias inscripções, impressas no tom. i. dus Viagens de Niebiibr , mas attcndendo maduramente ao todo da nossa Inscripçao , á rima , em que se acha , ao génio da lingoa, e particularmente á ultima palavra, que a ter- mina , ainda que se acha fora do paralelogramo que a fe- cha , não me parece ser a dita Inscripçao susceptível de outra mais expressiva , ou mais fiel interpretação. Confrontando agora a chapa com a copia do Mestre Sousa fica evidente o pouco fundamento , com que Air. de Sacy arrisca grande parte das suas emendas. Tributando a este Sábio o respeito e admiração , que me inspirao as Obras, com que tão distinctamentc tem enriquecido a li- teratura Arábica, elle me permittirá sem duvida, que em- pregue sobre as suas emendas a mesma liberdade , de que fez uso a respeito da Memoria do Mestre Sousa. Os trcs nomes últimos da primeira regra da Inscrip- çao original, que eu leio ^^Uj-^í c_<^' ^**»' Lesson-nate Na- hi Jrrahaman da Lei do profeta "do Misericordioso , leo o Mestre Sousa , segundo a sua copia , j,l^jJI Xa-J ^^_^'i^_ Ba- ni Lessatrahan dos filhos de Setrahan. Os trabalhos, a que se deo este Sábio, e as obras, que consultou para autho- rizar com factos históricos huma semelhante leitura, mos- trão bem , que conheceo toda a dureza , e a pouca união que tinha com o seguinte huma semelhante lição. Mas co- mo o, primeiro dente da letra u<* Sin do nome iX-J les- sowiate não está preceptivel , por se achar ligado com o i Âlef articular do ultimo nome, que está por cima delle, e na letra ^^, Nun do mesmo nome falt^ o ponto , o que a faz parecer mais hum dente do y. Sin , do que ^^^ Nun j DAÍ SciEKCIAS DE LiSBOA. J e O ^ Mim do ultimo nome õU=>^í Arfahaman está Im- perceptível a huma vista tão cançada , como se achava a do Mestre Sousa , quando a examinou , particularmente não lhe pcrmittindo as circunstancias servir-se de Microscópio , tudo isto fez , que se lhe não ofFerecesse duvida sobre a leitura , e que a sua inalterável fidelidade na exposição do sentido littcral, único que coiivem a estas matérias, lhe procurasse os trabalhos mencionados para a justificar. O Mestre Sousa , como se acaba de ver , liga-se á leitura , tal qual se lhe figurava na Inscripção , e sem se permittir a menor duvida da mesma se esforça por lhe fazer exprimir hum sentido natural : Mr. de Sacy porém julgando aquella leitura incompatível com o contexto intenta corrigir a Ins- cripção , altera em consequência as letras , e compõe pa- lavras a seu arbitrio , escrevendo ^^j> Din religião em lu- gar de cív>J Nabi profeta, e *\l\ Al-lah Deos cm lugar de ii-J lesion-nate da Lei , que vem a ser : não a interpre- tação da Inscripção da peça, mas sim huma nova, como se havia concebido. Estas diversas maneiras de proceder na exposição do texto offereccm hum notável contraste entre os dous Sábios Sousa e Sacy. O primeiro não muda de lei- tura, ainda que o sentido lhe não pareça totalmente exa- cto : o segundo não podendo ler de outro modo as pala- vras , nem accommodar-se á inexactidão do sentido que fa- zião, não tem diíficuldade em reformallas : o primeiro li- ga-se fielmente ao texto , não suspeitando que possa haver diíFcrcnte modo de o entender: o segundo seguro, de que diurna tal intelligencia não podia quadrar, não recea mudar o texto : a fidelidade illudio o primeiro ; a mudança arbi- traria não foi feliz ao segundo. Sc huns taes defeitos po- dem diminuir na reputação destes dous Sábios , os illumi- nados Arabistas decidirão qual dellcs perdeo mais. O que na verdade não augmenta a reputação de Mr. de Sacy he o pouco respeito , com que trata a fidelidade e exactidão do Mestre Sousa em suppór defeito da copia tudo o que se lhe não ajusta com as suas idéas. Observa- se 6 Memorias da Academia Real se isto na mudança que faz das duas palavras ^\jii\ Mcameo da segunda linha, c ^liH Alcáleo da terceira, trocando hu- ma com a outra, por ficar, diz ellc, assim mcllior o sen- tido , como se estes dous nomes trivesscm somente as si- gnificações, que elle lhes assigna, quando cada hum dcllcs tem varias outras na acccpçSo própria , c mesmo na figu- rada , como são as que eu lhes dou na minha traducçáo \ ainda que nesta parte conciuc , que pode ser que esta fal- ta seja da Inscripçao original. Este desejo de emendar a copia do Mestre Sousa , que parece dirigir a penna de Mr. de Sacy , apparece em maior evidencia no que este diz sobre a ultima palavra da Inscripçao, a respeito da qual se explica do modo seguin- te : « II ne me reste plus qu'une obscrvation à faire : c'est j> que sans doute on a omis dans les copies la fin de l'ins- j> cription, ou du moins un mot qui doit etre le nom de j> cette piece. Le P. de Sousa n'a eu aucun égard dans j» sa traduction, au dernier mot (^_^*u^, est nommé, et il » a traduir, ce que la grammaire he permit point , cette » piece a été fondue .... au lieu qu' il falloit dire : » ce cânon fondu le .... se nomme . . . . » Parece indubitável que Mr. de Sacy , quando escreveo esta passagem , não advcrtio no mesmo verbo , que tradu- zio por se nomme . . . pois que como podia ignorar tão grande sábio , que este verbo na primeira conjugação , aon- de se acha , significa , como diz Golio : Extulit se res illi ut conspícua evaserit , o que equivale a irí erigir-se , dedi- car-sc , consagrar-se , &c. , e que desta sorte devia necessa- riamente terminar o pensamento de toda a Inscripçao no mesmo verbo , sem necessidade de outra palavra , que seria totalmente inútil ? Parece pois que só por hum dos des- cuidos inevitáveis, em quem escreve sobre taes miudezas, hc que Mr. de Sacy exprimio o dito verbo na significa- ção ordinária da segunda conjugação , em que se encontra se nomme. O que admira mais nesta inadvertência de Mr. de Sacy hc que a Inscripçao principia pela partícula _J /f, que DAS SciENCIAS DE LiSBOA, 7 <)ue O verbo na segunda conjugação , cm que o supp6c na sua versão, a não admittc, mas sim a partícula »_j be. E como os Árabes ordinariamente não escrevem cousa algu- ma antes dos elogios e nomes dos seus Soberanos , a não ser o de Dcos , principiando assim a Inscripção, e com a particula _J / todas sinco para o Reino , aonde chegarão a salvamen- »» to , levando cm sua companhia a Náo S. Pedro , que j> se fizera na índia , de que veio de Capitão Manoel de >» Macedo, que trouxe o Basilisco, a que ca' chamarão o >» tiro de Dio , por se tomar ahi na morte do Sultão Ba- »» dur , Rei de Cambaia , com mais outros dous do mes- »» mo teor, os quaes forão dos iç , que o Rumecão, Ca- » pitão Mor da Armada do Turco , trouxe de Sues no *» anno de i5'34, quando deste Reino foi D. Pedro de Cas* 8 Meaiorias DA Ac ADEMiA Real »> Castclbranco nas doze Caravelas de soccorro,, que par- » tirão em Novembro. João de Barros confirma isto mesmo na Década I. Liv. 8. cap. 7., em que trata do despojo encontrado por morte do Soltao Badur. t< A artclharia , di/ elle , assi dos » navios , como dos almascs , era de grande numero de » peças de metal mui grandes , em que havião três basi- j> liscos de admirável grandeza, dos quacs hum que fora » do Soltam de Babylonia, que Rumechan trouxe quando í» veio a Dio , por ser peça notável , Nuno da Cunha man- j» dou ai Rei a Portugal (hc o que hoje está no Castello j> de Lisboa , que chumão tiro de Dio) e as peças de fer- >» ro erão sem numero , c delias mui fermosas c grandes. » Rm fim se huma tal asserção houvesse de ceder a con-i jecturas, em que ficaria a totalidade da historia antiga? O que deixo exposto parece sufHciente para se conhe- cer a injustiça , com que Mr. de Sacy trata o Mestre Sou- sa , e com que diz , que vai z:i retablir la veritable lectu- re , et Tinterpretation de celle-ci , qui n'a été jusqu'à prg- sent ni biçn lue^ ni bien expliquée. ME- DAS SCIENCIAS DE LiSEOA. M E M O R I A (fl) De cinco Medalhas africanas. Por F». José' de Santo António Moura. A. _chando-nie em Julho do anno de 1799 em Almodo- var minha pátria , soube que na Herdade chamada Horra das Moiras , freguezia de Santa Cruz , termo da mesma Villa , desenterrara hum Lavrador com a relha algumas moedas desconhecidas , mas que levado do seu interesse as íôra vender aos ourives, que he aonde ordinariamente se sepultão estes preciosos monumentos , que tão uteis pode- rião ser à nossa historia , e de toda a península. Não du- vidando serem Arábicas por outras provas que tenho de que aquella situação tora muito povoada, e estimada dos Mouros, fiz maior diligencia por conseguir alguma, e com effeito me vierão á mão duas, que ainda restavâo no mes- mo sitio , sendo as que primeiro se encontrarão mais de cem , segundo me constou depois , e das quaes só escapa- rão poucas , que forão oíFerecidas ao Ex."^° Snr. Bispo de Beja. São com efFeito estas duas Arábicas antigas, e muito bem conservadas. Tenho a honra de as oflferecer a esta sa- bia Sociedade , que tanto mostra prezar os mais pequenos monumentos , que possâo dar qualquer luz á Historia , ou seja nossa , ou estranha. Traduzirei a Inscripção de cada huma , que depois explicarei com os conhecimentos que me pode dar a Historia dos Mouros de Espanha , tirada em muita parte dos seus mesmos Historiadores. Com ellas Tomo X. B en- (a) Apresentada â Academia qo auno de 1800, IO Memorias DA Academia Real entregarei a esta mesma Academia outras três ', que eu trou- xe da Africa , as quaes também historiarei , e que podem ser igualmente importantes , em quanto por cilas se vê a verdade de alguns dos nossos primeiros factos históricos. MEDA13 MEDALHA N. 3. \ ;;^j m *M» í!l *JI -i! \My**j 4X«^A-« íU ^ifj^^S U->UÍ ^lj.JíH jmL ^» Syí ^ Deos he nosso Senhor Não ha mais que hum Deos , Mohamed nosso apostolo , Senhor de todas as coisas , e e o Alcorão nossa guia. em quem só está todo o poder. Esta moeda he de Adriz Abu Debusse , Soberano de Marrocos, e ultimo da dynastia dos Mohadins (unitários) i qual deo principio Mahadi , de quem acima acabei de fallar. Offendido Debusse de seu primo Mortada, Soberano de Marrocos , intentou usurpar-lhe a coroa. Para effeituar o seu desígnio , passou a Fez a pedir soccorro , contra seu pri- mo, ao Soberano daquelle estado, aonde já entSo reinava a dynastia dos Benimerines. Como lhe offerecesse parte do mesmo reino, se conseguisse destronar o dito seu primo, annuio o Soberano a sua proposta , e lhe entregou hum exercito, com o qual se encaminhou para Marrocos no an- no 66^ da hégira, 1267 de Christo. Mortada informado da vinda delle , fugio de Marrocos , aonde foi logo accla- mado sem difficuldade. Senhor, Debusse , da Soberania de Marrocos, recusou ceder ao Soberano de Fez ametade dos seus Estados , assim como tinha promettido , o que obri- gou a este a partir contra elle com hum poderoso exerci- to. Com effeito houve entre ambos no anno 667 huma terrível batalha na Província de Duguela, na qual foi mor- to Debusse , depois de derrotado o seu exercito , ficando a dynastia dos Benemerines , pacifica possuidora de todo o Império de Marrocos. ME- 14 Memorias DA Academia Real MEDALHA N. 4, u~"- O Principe dos crentes Não ha mais que hum Deos, Abu Mohamed Abdal- Senhor de todas as coisas, lá. Fez. Refereçi os historiadores Árabes muitos prodigios acon- tecidos antes, e depois do nascimento deste Principe, os quaes todos prognosticavão a sua exaltação ao Throno. Não me demorando em referir coisas tão inverosímeis, só direi, que tendo-se este portado com grande valor em todos os combates que teve com os valerosos Portuguezes , defen- sores das Praças de Mazagão , SafFy , e Santa Cruz , ad- quiri© tanta fama entre aquella barbara gente , principal- mente com a conquista desta ultima , que a maior parte das provindas dos Reinos de Marrocos, e Suz o acclamá- rão em 95-1 da hégira, 15" 44 de Christo. Esta acclamaçâo deo occasião a grandes combates entre este rebelde , e o seu Soberano, e por morte deste, entre o dito rebelde, e seu filho , até que por fim veio o rebelde a ficar paci- fico possuidor de todo o Império , acabando a dynastia dos Bcnimcrines, á qual succedeo a dynastia dos Xarifes. Mor- reo em fim Abu Mohamed em Tarudante no anno 963 da hégira, isto he , 115-6 de Christo, tendo sido apunhalado i traição por alguns Turcos, enviados pelo Grão Senhor pa- ra esse fitn , de concerto com a tropa Turca , que estava a soldo do dito Soberano. ME- DAS SciENCiAS bE Lisboa. if MEDALHA N. J. Abu Labasse Ahamed, Não ha mais que hum Deos, o ajudado por Deos. Senhor de todas as coisas. Este Abu Labasse Ahamed foi acclamado Rei no mes- mo campo da batalha , depois da morte de seu irmão , e seu sobrinho , conhecido hoje entre os Árabes pelo appel- lido de Masselogue , que quer dizer, esfolado , por seu tio o ter mandado esfolar , e encher a pelle de palha , a qual foi enviada a Marrocos, e alli exposta em huma praça ao ludibrio do povo, em cujo soccorro tinha passado a Africa ElRei D. ?3ebastião. Os Escritores Árabes contão de hum mo- do diverso dos nossos a morte deste nosso desgraçado Rei , porque dizem que tendo sido derrotado se puzera em fugida com as reliquias do seu exercito , e que hindo atravessar precipitadamente o rio chamado Uad Megazen , se afogara nelle com a maior parte dos que o seguiao , affirmando que depois fora alli achado entre os mais afogados , sendo bem conhecido pelos vestidos. Eu passei já o dito rio em Ju- nho , e em Julho pelo lugar aonde se conta fora a dita batalha , mas neste tempo era elle muito pequeno. Como porém lhe entra a maré poderá ainda no verão em muitas occasioes fazer-se caudeloso, e não se poder vadear. Hum dos sobreditos historiadores afirma , que a razão de se afo- gar fora por elle não acertar com o váo. Em tal caso não pareceria difficultosa esta infelicidade, e muito mais se na- quella occasião concorressem as agoas da marc. ME- i6 Memorias da Academia Real MEMORIA Do que se pôde acrescentar ao que corre impresso na Bihlio- theca. Lusitana sobre a vida e escriptos do Chronis- ta Mór Fr. Francisco Brandão. Por Fr. Fortunato de S. Boaventura. ^E alguma cousa podia servir de refrigério , ou distrac- ção á justa magoa dos apaixonados pela gloria destes reinos , quando tão prematuramente acabou seus dias o Chronista mor Fr. António Brandão , era certamente a lembrança , de que elle deixava na pessoa de seu sobri- nho o Doutor Fr. Francisco Brandão hum sujeito mui preparado e adestrado , para proseguir , e levar ao fim huma empreza em que ambos se communicárao indaga- ções , planos , traças e por ventura o próprio estilo , em que se a balança pender a favor do mestre , nem por isso ficará o discípulo sem a gloria de o ter imitado , e seguido de perto. Gaspar Salvado natural de Tavarede , e Anna Bran- doa irmâa do Chronista mor Fr. António Brandão , que no acto de professar o instituto cisterciense deixara a es- ta irmãa a legitima herdada de seu pai Rui Dias RcbeU lo , forão os progenitores de Fr, Francisco Brandão , que ao tomar o habito a 25 de Agosto de 1618 ; elegeo o nome de Fr. Francisco das Chagas , que parece ter mu- dado para o de Fr. Francisco de S. Anna em o dia de sua profissão a 28 de Agosto de 1619 ^: segundo consta do livro antigo das entradas , e profissões dos noviços , que se guarda no cartório de Alcobaça, {a) Seguidos pontualmente , e com progresso notável es- tu- (a) A foi. 22 / e 188. DAS SciENciAS DE Lisboa. 17 tudos domésticos, pela forma designada cm a Bibliorcca Lusitana , deo-se a estixlos maiores na Universidade de . Coimbra , onde fez acto de formatura cm Thcologia a 20 de Dezembro de 1^33 , o chamado Augustiniana a 29 de Novembro de 1634, os quodlibctos a 14 de Dezembro do mesmo anno , exame privado em 12 de Janeiro de 1635' , tomou o gráo de Licenceado a 13 do sobrediro mcz , e o de doutor a 13 de Abril de 1636 , recebendo o do Vice Cancellario D. Leonardo de S. Agostinho. Foi nomeado examinador das três ordens militares por despa- cho da mesa da Consciência em data de i8 de Fevereiro de 1641 , e figura como censor Régio em obra impressa , logo depois da restauração de 1640. Ja era Qi^ialifijador do Santo Officio em 27 de Agosto de 1642 , e foi pro- vido no lugar de Esmoler mór substituto, por Carta Re- gia de 27 de Junho de 166^ em virtude da proposta do geral Fr. Constantino de S. Paio , que por antigo costu- me era sempre attendida dos Soberanos destes Reinos , a proposta do esmoler mor proprietário , como de quem tinha mais razão de conhecer os dotes daqUelle de seus súbditos , em quem desejava que recaísse tão eminente cargo, >o que me pareceo observar, para que ninguém cuide , que esta nomeação foi algum premio dos relevantes perviços do nosso chronista. Em quanto ás duas vezes que foi geral da congregação de S. Bernardo, he de sobejo, que eu aponte, ó que sobre este particular nos deixou o chronista mor Fr. Manoel dos Santos , e reputo-me feliz de que em poucas linhas se encerre o muito que se podia dizer de Fr. Francisco Brandão em quanto monge e em quanto prelado , já que o meu intento he demorar-me com os trabalhos de chronistas e empregos que lhe tocarão por este lado. Eis aqui as formaes palavras do chronista Santos Tomo X. C em (6) Como se vê da Censura ao livro intitulado =: princípios dei Rei- no de Portugal = por Aatonio Paes Viegas :^ e que hé datada a 2 de Abril de 1641. i8 Memorias da Academia Real em a segunda parte da Alcobaça Illustrada — " «sendo >» aconselhado a Fr. Francisco Brandão , que proposcssc »» para seu successor no gcncraiato a seu sobrinho Fr. Gas- >» par Brandão , que era Icntx- da Universidade , e pessoa » benemérita , respondeo , que o gcneralato não era praso >» de família , e concorreo para que Ibssc eleito o que >» lhe parecia mais digno , qual foi Fr. Sebastião de Sotto- >> maior, que sahio hum dos prelados mais virtuosos, exem- »» piares , económicos , e amantes dos pobres , que tem ha- >» vido em a nossa congregação. '> Passando agora a considerar mais extensa , e meuda- mente os seus trabalhos históricos, antes, e depois de ser chronista mor j he de muito credito, para o mosteiro de Alcobaça, e para os prelados que nesse tempo o go- vérnavão , o cuidado e presteza com que , logo depois do fallecimento do chronista mor Fr. António Brandão , se puserão em campo a favor de quem sendo o melhor her- deiro de serviços , em que tivera grande parte , o devia ser igualmente do emprego de chronista. Foi nestas ideias que o presidente geral da congregação o Doutor Fr. Re- migio de Assumpção de mãos dadas como definitorio da or- dem transferio para Fr. Francisco Brandão , tudo o que os monges de S. Bernardo , poderiao c deverião merecer de benevolência real, em consequência dos serviços dos chro- nistas mores Brito , e Brandão. He tão curioso este monu- mento , e cede em tanta gloria de Fr. Francisco Brandão , que me não foi possível resistir ao dezejo de transcrever nesta memoria algumas das suas passagens mais notáveis. Depois de lastimar a perda tão sensível para o reino , e para a congregação de lhes haver faltado o chronista mor Fr. António Brandão , e de apontar a melhor de todas as consolações, qual era a lembrança de que elle já estaria gosando a vista de Deos , aponta mais outra : «« E junta- j> mente por que nos deixou a V. P. tão feito em tudo >» para lhe poder succeder no oíficio com que tanto nos >> authorizou esta ordem. Acerca das deligencias , que so- „ bre DAS SciENCIAS DE LiSBOA. I9 5» bre esta pcrtençao- se devem faser , tenho praticado >» com os padres do dcfinicorio , e com os nossos padres >» que forão geraes , e com o padre prior desta caza , c >» em todos conheci muitos dezejos de favorecer aV. P, » os meus não tenho eu que encarecer ; pois mereço a " V. P. que os tenha por maiores , e mais certos , que »» de todos. E assim dispuz as cousas na melhor forma >» possível para este tempo de tanto aperto •> Depois de algumas advertências sobre as commodidadcs do transporte de Fr. Francisco Brandão , e sobre a sua subsistência em quanto houvesse de residir na Corte de Madrid continua assim « Mando licença a V. P. para poder passar a Cas- » tclla , e huma provisão em que lhe applico por parte » da Religião os serviços do nosso R.'"° que Deos tem , » e de industria nomeo a V. P. por chronista da ordem, » por que conheçao esses senhores a estimação , que faze- >» mos do talento e das letras de V. P, para as chronicas >> que he o para que lho apresentamos, {a) C ii Quem Ía) Passados alguns dias , se IJie entregou a provisão seguinte a O )outor Fr. Remigio da Assumpção definidor maior da Religião do yi nosso padre S. Bernardo nestes Reinos de Portugal , com poderes ?) e vezes de geral por fallecimento do nosso reverendo padre o Dou- 51 tor Fr. António Brandão chronista mor de S. Magestade. Pela pre- :) sente aplicamos ao padre doutor Fr. Francisco Brandão chronista 05 geral da nossa congregação todos os serviços , assim do padre dou- 5) tor Fr. Bernardo de Brito, como do padre doutor Fr. António Bran- 5) dão chronistas mores , que ambos forão destes Reinos , para que os 11 possa requerer ; o que lhe concedemos , havendo respeito ás suas Tl partes, e talento, com que pode fazer muitos serviços assim á Re- 11 legião , como á Coroa de Portugal , sahindo á luz com seus escrip- 5) tos, c continuando com as obras do doutor Fr. António Brandão, ■1) nosso geral , e chronista mor , seu tio , por nos constar ter trabalha» 11 do, ajuntando muitas antiguidades, e a grande noticia, que tem ■>■> de todos os cartórios, e o continuo estudo do archivo Real, donde 1) assistia , para effeito de compor com licença de S. Magestade. E " para que a todos conste desta verdade lhe mandamos passar esta " nossa provisão. Dada neste nosso convento de Alcobaça sobre nosso " signal, e sello em os 2 de Dezembro. Fr. Manoel Machado Secre- " tario de sua reverendíssima a fiz & 1637 =: O doutor Fr. Remigio w da AssnmpçSo deíiuidor mor com vezes de geral. 20 Memorias da Academia Real Qiiím se attreveria a negar que Fr. Francisco Brandão companheiro indivisivel de seu grande tio , principalmen- te no exame do archivo Rea! , 'depositário dos excellentes inanuscriptos , c selectos apontamentos , em que clle pró- prio tivera grande parte , era sem controvérsia , o que reu- nia todos os requcsitos para succcder no emprego de cliro- nista mor ? Sem embargo de tão poderosas considerações, foi em vão toda a deligcnçia de Fr. Frnncisco , para se lhe verificar hum emprego por tantas rasoens merecido, o que bem prova qual era nesses tempos a justiça dos reis castelhanos para com seus vassalos portuguezes , que mais sobresahião em letras, e virtudes. Não foi todavia ociosa para elle a estada na corte , pois lhe deparou o conheci- mento , e trato do insigne Manoel de Faria e^Souza , que depois do grande antiquário Manoel Severim de Faria foi o sábio portuguez de que o nosso chronista se valeo mais para auxiliador da grande cmpreza com que andava entre maõs. Ainda escapou a voracidade do tempo e a ou- tro maior inimigo qual foi a invazão franceza de 1810 hum grande numero de cartas derigidas ao nosso chronis- ta pelo chantre de Évora , pelo já louvado Manoel de Fa- ria e Souza , pelo author do Agiologio Lusitano , pelo abbade de Pêra, e pelo padre Balthazar Telles, das quaes todas só me parccco , que devia transcrever as que sepa- rou para este fim , o chronista mor Fr. Manoel dos Santos cabendo o maior numero a Manoel de Faria e Souza que por ter escripto as suas differentes obras em lingoa caste- lhana excita a curiosidade de sabermos como elle se ex- pressaria na lingoa pátria, e creio que o extracto agora oflFcrccido ao publico renovará o justo pezar de que a Eu- ropa , Ásia , e Africa não fossem portuguezas , alem do titulo, que melhor ficaria a lingoa dos naturaes deste rei- no , para contar e engrandecer , as façanhas , e proezas dos seus avoengos. Tenho agora em meu poder algumas destas preciozas cartas , e não posso olhar sem a mais vi- va commoção para huma do próprio punho do famozo res- DAS Sci ENCiAS DE Lisboa. 21 restaurador da liberdade portugueza , do immortal JoJo Pinto Ribeiro , que nenhum melhor abono podiáo ter os leaes sentimentos do nosso chronista que o merecer elle a confiança deste outro João das Regras , que também nos livrou de dominio , e opressão estrangeira. Ainda , que não fosse , nem tão distincta , nem tão efficaz a parte que coube a Fr. Francisco Brandio nessa época das mais luzidas, que conta a nossa historia, nem por isso deixou de influir muito, para que fosse á vante a nossa independência de que se faltassem outras provas, seria exuberante a deligencia , que elle fez para authen- ticar o successo da forneira de Aljubarrota; pois se até as próprias mulheres fazem prodígios de valor, quando se trata de resistir ao poderio de Gastella , que deveriao faser os homens , e os homens portuguezes ? Outro serviço ain- da mais relevante fez o nosso chronista ao seu Rei , e a sua Pátria , e ainda , que elle dcscança meramente na au- thoridadc do chronista mor Fr. Manoel dos Santos, que vio , e tratou , grande numero de monges coetâneos de Fr. Francisco Brandão , nenhum motivo ha para o regei- tarmos , ou considerarmos por fabuloso. O Senhor D. João IV. que não demorou até 1649 o premio assas merecido por Fr. Francisco Brandão, como se lê na biblioteca Lu- sitana , mas que o tinha nomeado chronista mor do Rei- no por carta de 9 de Janeiro de 1644, a qual existe no archivo do mosteiro de Alcobaça , encomendoulhe a publi- cação das noticias , ou redacção da gazeta de Lisboa , e por ventura foi o nosso chronista o primeiro que as escre- veo nestes Reinos , o que desfaz completamente a opinião de muitos , que lhes dão outro principio , e as julgão de huma data muito mais recente {a) Por- ia) A primeira gazeta portugueza que tenho encontrado hé a se- guinte =: gazeta em que se relatão as novas todas, que ouve nesta corte , e que vie^ão de varias partes no mez de Novembro de 1641 -^ Lisboa por Lourenço de Anvets. Nw mais que vão correado até 1646 , z2 Memorias da Academia Real Por estes , e outros mais serviços , que constao dos próprios titulos das suas obras impressas , e manuscriptos julgou-se bem authorisado para requerer do Soberano destes Reinos outras mercês , e aqui será mais conveniente para o fim desta memoria , que deixe failar o próprio chronista » O doutor Fr. Francisco Brandão chronista mór j» representa a sua Magestade as ra/ões , que tem para » ser provido no cfficio de guarda mór da Torre do >» Tombo. » Primeiramente creariío o tal afficio os Senhores j> Reis de Portugal annexo .10 de chronista , e nesta o ti- >» verão Fernão Lopes , Gomes Annes de Zurara , o dou- >» tor Vasco Fernandes , Rui de Pina , Fernão de Pina , seu » filho e Damião de Gocs. Por esta causa disse João de j» Barros década 2. lib. 2. cap. 2. fallando doque obrou » o chronista Gomes Annes ibi. por ser guarda mor da j» Torre do Tombo oficio mais procrio dos chronistas ^, A cau- }> sa de se prover em pessoa distincta do chronista , foi >» porque aquelle lugar não pode estar vago, pelo conti- » nuo curso de papeis que deve despachar , e assim acu- » dião a proveio logo , e depois que se achava pessoa ha- » bil para chronista, como o lugar de guarda mor estava » occupado , não havia occasião para se lhe encorporar. » Isto coutinuou até vagar por morte de Diogo Casti- >j lho na qual occasião o doutor Fr. António Brandão , j> que então era chronista pertendeo logo o lugar, e ain- j> da que lhe acharão rasão , não foi ouvido , por certo >> respeito , que não convém declarar-se neste papel. Pro- não posso decedirine se forão escriptas por Fr. Francisco Brandão , porem na de Julho daquelle anuo , pór occazião de se tratar a liber- dade de consciências para os catholicos irlandezes , bem se conhece que o author deste papel era theologo de profissão , e como esta e as seguintes são as mais bem redigidas, pois até no frontispicio trazem hunia espécie de argumento , não he temeridade assinar-lhe por au- thor o nosso chronista , o que de mais a mais se convence pelo estilo mui semelhante ao de V e VI parte da Monarquia Lusitana. = DAS SciENClAS DE LiSBOA. 13 >» Proverão então o doutor Manoel Jacome Bravo, » e lhe succederão Gregório Mascaranhas Homem , Chiis- « tovão Cogominho , Christovâo de Alattos de Lucena, » e o doutor João Pinto Ribeiro, servindo Manoel Jaco- M me , niorreo o doutor Fr. António Brandão ; e eu fui j> provido no oíEcio de chronista por V. Magestade , ser- j> vindo de guarda mor o doutor João Pinto ; por sua » morte me opus ao lugar de guarda mór mas já a V. Ma- » gestade pareceo conveniente , que se provesse no piior » de Bucellas , hoje defunto. j» Repetindo a mesma pretenção acrescento que este » lugar pede suficiência , e noticia dos papeis do archivo »> da torre , e não haverá pessoa , que tenha vinte annos 3> de assistência nelle como eu , que o revolvi varias vezes j» e tenho copiado delle a maior parte , e disto dará tes- » temunho o escrivão da torre. Necessita mais este lugar >» de confidencia , e ainda que em todos os sujeitos a haja >» capas de maiores lugares , a nenhuma pessoa convém » mais, que amim a guarda de tudo; por que escrevo >» citando os papeis daquelle archivo, e se faltarem nelle >» julgar-me-hão por impostor , e íalsariõ. E que seja ne- » cessaria confidencia , e vigilância se mostra da próxima j) damnificação do mesmo archivo , alem das passadas. >> Acresce que o meu officio de chronista pede con- >» tinua assistência na torre ; e tendo eu assistência por >» esta via, desnecessária he outra pessoa, que assista co- « mo guarda mór , podendo eu fezer tudo , e tendo a M maior inteligência. » Alem disto tenho impressa ( sem custo da fazenda 3j de S. Magestade ) a quinta parte da Monarquia , e te- >» nho revista a sexta parte para se dar á impressão sem j» se me darem papeis alguns dos chroriistas passados , isto 5» alem de outros papeis , que tenho impressos como " forão o gratulatorio a S. Magestade, o conselho da '> Senhora D. Felippa ; e o assassino , que se intentou »> contra S- Magestade: e outros maisi Este serviço, que pa- 34 Memoriasda Academia R EA L j> parece de razão tenha recompensa , quando V. Mages- j> tade o queira remunerar com o cargo de guarda mór, >» que he o instrumento para melhor servir no de chronis- » ta , não parecerá cousa dissonante maiornicnte , que to- j> dos os sujeitos , que se propõem a V. Magestade , ou >» sejão de capa , e espada , ou togados , ou de barrete po- j» de V. Magestade acrescentar com governos, comendas, » officios , lugares de tribunaes , igrejas do padroado , e » por outros caminhos que a mim não competem , e na je- >> rarquia de chronista , tenho ascenso só ao de guarda >» mór, que lhe he tão conjunto. » He razão , que também seja presente a V. Mages- >» tade , que nas controvérsias da restituição de V. Mages- » tade , o mais furioso que se alega contra a intrusão de » Castella , he fundado no que se averiguou na III , IV e V >» partes da Monarchia , e nas que estão para se impri- 3> mir , se vai roborando com urgentes fundamentos , dedu- M sidos da certeza do facto , todos os casos de que Cas- >» tella quer valer-se , sem a qual certificação não podem os j» juristas fundar razões firmes. Assim que não deve estra- 3> nhar se , pretender o lugar de guarda mór da torre, j> pois mais , que todos tenho servido nella , c do que >» neste archivo, e em outros tenho alcançado resulta a- » confirmação da justiça de S. Magestade com tanto a >j certo investigada , e averiguada. Mas do acerto da re- >j solução de S. Magestade penderá o que mais convier » ao seu Real serviço &c. jj O chronista mór Fr. Manoel dos Santos, que nos guardou este precioso documento, ajuntoulhe estas pala- vras « Assim o memorial do doutor Fr. Francisco Brandão j» que visto por ElRei defferio-lhc como pedia, pelo que )> sérvio de guarda mór da torre em quanto viveo, mas j> não achei certeza do anno em que ElRei lhe fez mer- « cc. " Com tudo parece, tão somente sérvio na ausência da guarda mór era observância de hum decreto de a de Se- tem- DAS SCIENCIAS DE LlSBOA* 5f tcmbro (.Ic 1Ó44 j s^nJ-O indubitável que ninguém se apre- sentava naquclles dias ( alias fartos de varões , não menos curiosos que sabedores das nossas antiguidades) com os rcqucsitos expendidos no memorial , c que deveriiio ser ti- dos na mnior consideração por quem tomasse a peito a boa administração da justiça. A mcrcc de pregador dos Reis o Senhor D. João IV, o Senhor D. AíFonso Vi. e o Se- nhor D. Pedro II he comprovada por muitos documentos impressos daqucUe tempo, qnc seria ocioso referir, mas cumpre-me fazer a este propósito algumas reflecções com a imparcialidade , que sempre me acompanha. Ainda que os sermões de Fr. Fr.incisco Brandão , não cheirem ao ul- timo extremo de depravação do gosto da oratória sagrada, que começou no seu tempo, achãose toda via mui longe de acrescentar a sua reputação littcraria , c não duvido asse- gurar os meus leitores de que apenas seria hoje conhe- cido dentro dos claustros de S. lícrnardo o nome de Fr. Francisco Brandão se clle tivesse limitado á cadeira Evan- gélica as provas 'dos seus avultados conhecimentos. Reluz com cíFjito nos poucos sermões , que nos restão delle , Iiinna grande lição das escripturas , dos Santos Padres, c de muitos authores Ecclesiasticos , e até dos escritores . profanos , e se o que sobeja na erudição falta no bem te- cido do discurso, e nas graças da eloquência, que devem estremar hum sermão de huma prelecção académica , He mais defeito do século em que vivia o nosso chronista , doque matéria de arguição , ou rcprehenslo bem fundada contra clle. Dos seus apontamentos manuscriptos de que já mencionei grande parte cm a memoria sobre a vida, e escritos de Fr. António Brandão , se conclue quanto foi o ycu trabalho para beber nas mais puras fontes da sabedo- ria Christã , o que lhe fosse necessário , ou para maior fir- meza das provas , ou pira iTwior bcllesa dos seus discur- sos. Entre tanto se o chronista mòr não se tivera dedicada a esse importante ministério com os olhos fitos no provei- to de seos irmãos , eu desejara que elle se tivesse cm- Tomo IX. D per- '26 MEMOTlIASDAAcAnEMtAREAI, pregado inteira c exclusivamente nos rrabnlhos históri- cos, visto que no seu tempo não faltava, quem dignamen- te enchesse o ministério de pregador na CapcUa Real , e por ventura ficaria tudo no seu lugar se o insigne Padre Vieira, ou ainda o Augustiniano Fr, Christovao de Al- meida , pregassem mais huma du/ia de sermões e nós go- zássemos hoje a VII parte da Monarchia Lusitana escrita por Fr, Francisco lirandSo. Notei repetidas vezes cm os apontamentos de matérias predicáveis , que o nosso chro- nista, (que certamente se preparava com os subsídios ne- cessários para o excercicio do púlpito, já muito antes de ser chronista mór)poem as letras iniciacs R. S. á margem , que pelo conthcudo das passagens citadas , se conhece al- ludirem ao sempre chorado c saudoso Rei o Senhor D. Sebastião , o que nesse tempo , longe de suppor f;ilta de descernimento , só anniinciava os mais puros sentimentos de lealdade ao throno portuguez . Tudo o mais , que perten- ce ao nosso chronista , passou-se , como vem apontado na Biblioteca Lusitana , e só me tnlta ou corrigir ou addicio- nar o catalogo das suas obras impressas, e manuscriptaSi Advertirei em prnneiro lugar , que hé necessário emen- dar, o que se lé na Bibliotica Lusitana sobre a Relação do assassino Sc e que se diz impressa em 1641 , quando he certo que foi em 1647, nem podia ser antes, pois aquelle horrivcl attentado havia de se perpetrar a 20 de Junho deste ultimo anno. Importa , que depois da baixeza , ou mediocridade de estilo , que para os fins ali apontados são o caracter deste opúsculo, se acrescente, que nclle deo o nosso chronista mór , a mais clara prova de não ser infeliz na composição de versos Latinos* Já deixei notado em a memoria sobre a vida do chro- nista mór Fr. António Brandão , que os seus apontamen- tos , excedem muito em clareza , c boa digestão os de seu sobrinho Fr , Francisco Brandão. A necessidade cm que se via de fazer áo mesmo tempo extractos ora dos Santos Pa- dres como pregador, que era deElRei, ora de diffcrentes car« DAS SciEKCiAs DE Lisboa* 47 cartórios que examinava na razão de chronista , produzio nos muitos volumes de seus escritos , que se guardão na livraria manuscrita de Alcobaça , liuma confusão , e mistu- ra de cou/as que nunca poderá ser agradável aos que per- tenderem separar , e estremar os seus trabalhos históricos , dos oratórios, ou Filológicos. Vencido porem este impedi- mento não deixei de encontrar muitas cousas dignas de lembrança, e de que para meu uso particular, fiz alguns extractos , que por ventura postos em melhor disposição e or- dem , terão de figurar cedo, ou tarde cm os diversos as- sumptos , que heide escolher para o meu tributo annual , que espero só haja de concluir- se de envolta com a minha existência. Noticia das moedas antigas deste reino. Vem no códice ^<;^ , e hé da própria letra do nossa chronista , que. por certo mereceria , que o laborioso Padre D, António Caetano dcSouza o mecte-se no volume 4. da historia genealógica da casa Real , entre os mais Portu- guezcs , que forão conhecedores desta matéria se por ven- tura lhe chegasse á noticia. Parece-me que não será ingra^ to aos meus leitores hum fragmento desta obra. »» Áureos , e morabitinos erão a mesma couza , como >» se vé n'uma composição, feita na era de 1244 em Abril >♦ Regnante Rege Saneio ;^ posittim siquidem fuit , ut Ma' j> gister Templi Portugaliae et ejus fratrer aunuatim persoU j> vant Colimbriae Episcopo et ejus successoribtts in perpetimm » qninqiiagenta áureos hoc modo. De Ega X morabitinos de >» Rudina X morabitinos , de Pulttmbari XXX morabitinos j» Maravedi velho tinha 27 soldos, como diz Affon- »> so III mandando ao almoxarife de Lisboa que pagasse " os dois mil maravediz a Alcobaça , que seu pai deixou >» no testamento r= « mor vcterum de 2j solidis pro mora" >» bitino. >» Isto se declarou no foral novo de Ermcllo, e vai D ii se- a8 Mkmoriasda Ac ademia Real »» segundo a lei do Rei D. Manoel 48 rs. e 4 ceitis. » Maravedi portiigiie/, novo tinha dez soldos de va- >' lia. Em rcmpo de Áffonço IV havia maravedi de ijr »» soldos. »> Maravedi leonez tinha 8 soldos leoneses, foral de »» Chaves por D. Affonso III. » Maravedi de ouro segundo Rui de Pina no cap. j» ultimo da chronica de AíFonso III, e em vários lugares » da sua chronica , tinha o pezo e valia , que agora tem o » crusado, dos quaes 60 fasiilo hum marco de ouro. >» Se de hum marco de ouro se fasião 60 maravedis « de ouro, valia o marco 18450 rs. de agora, por que o »» maravedi de ouro valia justamente 25*2 rs. c meio de »' moeda de agora, a rasao de duas livras, e mea o mara- >' vedi. }> Soldo hé moeda antiga vai agora a rasao de prata >» j rs. e j ceptiis , porque se a livra velha , vai agora ( >» a rasão de 2340 rs. que vai o marco de prata ) 117 rs. " c a livra velha tinha zo soldos^ assi que 117 partidas j> por 20 fica a cada parte s rs. e j ceptiis. >» Livra na moeda antiga de Portugal a rasao do pre- >j ço de agora ( 2J40 o marco) vai 195' rs. partindo o 5> marco de prata cm 12 livras como Affbnço III declara »> na sua taixa. Havia livras e talentos de ouro no reinado »> do Senhor D. AfFonso Henriques. >» Mil livras de moeda antiga , vai agora 117 <2> que >» são 292 crusados, e meio, que erao outros tantos mara- »> vedis de ouro. j> O ceptil hé moeda de cobre sem alguma liga , das „ quaes seis fasem hum real corrente , e 20 rcaes corren- j, tes fasem hum real de prata , a que agora chamão vin- „ tem , dos quaes vinténs 117 fazem hum marco deprata &. „ ElRei D. Affonso III legislou sobre as moedas co- „ mo SC vê no livro dos extravagantes foi. 206. In jpri' „ mis marca argenti valleat XII libras monet. Portiig , et mt- „ cia de auro valeat XI libras Portug. tnonetae et mor- dasScienciasdeLisboa. 29- tnorabttíUHs r.ovuí de atiro valleat XXII sold, et morahhi- niís vctvs valleat XX^Il so/idos , et quadrattw de auro valleat 4j sold , wirabitius JJfousiuiis valleat XXX solid. „ Mealha era a mais baixa moeda, c de cobre, duas delias f.iZem agora hum ceptil , que se declarou que era hum dinheiro na Lei de ElRei D. Manoel , porem nos Foraes antigos hum Dinheiro valia 6 Mealhas. „ Barnuda valia 2 Soldos e 4 dinheiros Portuguezes. Grave 14 dinheiros Portuguezes. „ Florim em tempo de Affonso V,e D. Manoel, valia 260 rs. de moeda corrente. „ O conto de Livras éra 285'7i reis. Dobra de ban- da 25' o rs. (!)oroa i^e Ouro , moeda do cunho de ElRei de França y I20 rs. brancos. j, Justo 600 rs. no tempo de D. João II „ Em 1483 valia o real corrente, sinco seitis. „ Maravedi Portugucz , tinha iv soldos Portuguezes, „ vale agora justamente 27 rs. de 6 seitis o real. „ Outro Maravedi Portugucz de Sç' rs. corria em , Tras-os Montes , e entre Douro , e Minho &. Noticia das medidas antiçras deste reino , vem a folhas 1Ó3 "^ do mesmo Códice , e hé a seguinte. „ Quarta em tempo de D. Affonso Henriques tinha ,, 4 alqueires. „ Qjarteiro 16 alqueires. „ Alqueire vem no Foral de ^Ourem pela Rainha D. „ Tareja — et quartaritis sit de 16 alqueires. Em 1218, „ Quarteiro se declarou no foral novo , que vallesse o mo-. „ io da medida de agora 41 alqueires, e hum 7° de al- „ queire , que antigamente era moio de 64 alqueires. „ Meio alqueire hé do tempo de D, Affonso II. In- „ querições foi. j^r. „ Avia ■JO MEMORIASDAACAnEMIAREAr; „ Avia quarteiro de 14 alqueires. Foral de Attouguia yy por Guillelmo de La Corni. „ Tciga — houve muita variedade nesta medida. „ Almude de páo >— Sancho I. „ Medida velha t=: Era 1460 — avia medida velha, da qual 3 moios faziao pela nova 72 arrobas, e cm tei- gas crão 18 teigas , isto pela medida de Travassos, por outra medida erao dous quarteiros , a saber 32 arro- bas. „ Quinze teigas pela nova de então, crão 64. alquei- res; esta mesma conta era no tempo de D. Fernando, Pedro , e AflTonso IV. Humd teiga tinha 4 alqueires de medida , que então corria no feito entre Martim de Cras- to , e os moradores da aldeã de S. Miguel do Monte , em tempo de João II. „ Deus modios teigados , disse Affonso III no foral de Touro •— Era 1291. Parece que quando se media por teiga , media-se com rasura , e por isso se chamavão teigados , e quando por outra medida era com mão pos- ta , ou coguUo. No foral de Taloens deste Rei que pa- guem senhas moios de pão teigados , . e tiotn vião patas, „ Qiiarteiro no foral de Attougia 14 alqueires. Moio j, 4 quarteiros, e diversificava segundo estes. III. Noticia das Minas de Portugal. Ainda, que esta noticia vem espalhada por muitos dos Códices manuscritos de Alcobaça , nem por isso dei- xará de pertencer ao nosso Chronista a gloria de ter pre- parado os materiaes indispensáveis para o edifício. IV dasScienciasdeLisboa. •} IV. Noticias pertencentes ao Cnmmercio agricultura , e fabricas des» te nino em tempos antigos. Pertencem algumas destas ao Chronista mór Fr. Antó- nio Brandão , porem seu Sobrinho apontou os lugares , em que SC podião encontrar, e notou mui judiciosamente o que erão de industriosos os nos os maiores, que até fazião plan- tações de assucar neste reino. Quinta Noticia. Os Codecis da Livraria manuscrita do Mosteiro de Al- cobnça , e que se conhecem pelos números 442 = 443 t:: 448 45 3 = 4'^5' =: 45'7 =: 4^9 = 460 í=: 461 = sao quasi todos da própria letra do Chronista mór Fr. Francisco Brandão , e como os dois primeiros são em folio, e os mais em quar- to e mui grossos , daqui se pode coUigir o immenso cabe- dal de noticias históricas, que nellas se cncerrâo , e das quaes já me tenho approveitado e continuarei aproveitar pelo decurso dos meus trabalhos académicos. Cartas de Manoel Severim de Faria , de Manoel de Paria c Sousa y e João Pinto Ribeiro para o Chronista mór Fr. Francisco Brandão, I. Não há couza tão averiguada nas Scienclas humanas,' que não tenha opiniões contrarias, daqui nascem os diver- sos pareceres que V. P. tem ouvido sobre o estilo, com que deve continuar a historia da Monarchia Lusitana , porem pode-sc julgar que acerta , quem em semelhantes duvidas Se- gue o exemplo dos mais , e dos melhores Autores. Hé preceito da composição da historia , que o Au- thor f Memobias da Academia Real thor siga o estilo, que cónvcm ao argumento, que trata. Pelo que , os que escrevem Epitomcs , ou Elogios , nao se divertem em averiguar tempos nem tra/cr testemunhas do que dizem, por que supõem i.sto está feito nos Autores, q|Ue abrevião , como se vc nos Epitomes de Tito Livio Trogo Pompco, compendio da historia de França de Ro- berto Saguino , e dos Elogios de Ciovio. O mesmo acon- tece aos que tomao huma só acção , aque forao presentes como a guerra do Pelopone/o de Thucydides , conjursção de Catilina de Salustio , Rcbcllião de Granada de D. Diogo de Mendonça , que por serem emprczas notórias , c tocantes só a hum sujeito , podem estcndcr-se na maté- ria sem o impedimento de outras averiguações. Porem os que escrevem de antiguidades, e dão relações novas de noticias esquecidas , de força hSo-de autorizar o que dizem com cscripturas daquelles tempos ajuntando-os com a móf certeza , c demonstração que poderem E nem por i^^so fica a sua historia menos elegante , que as dos outros , que es- crevendo as couzas dos seus tempos , as Icvão mais conti- nuadas , por que como a historia ( segundo Tullio) hé cha- mada testemunha dos tempos , luz da verdade , vida da me- moria, annunciadora das antiguidades, para se cumprir com estas obrigações hó necessário confirmar o -que se disser com doações. Privilégios, Autores daquelles tempos. Epitáfios Tradições , c outros semelhantes testemunhos , para que co- mo diz Justiniano , Nihil antiquitatis penittis igtwretur. E quan- do se isto faz com certeza , então fica a historia corrente , e» sem duvidas, ou impedimentos, e muito mais elegante, por que assim como , ( segundo Aristoles ) hé muito maior a formozura , que dá a hum corpo a modéstia da virtude , tjue a que lhe pode causar a melhor proporç^-o dos mem- bros e suavidade das cores, assim a formosura da historia, c aplauso delia, mais se alcança com a verdade da narra- ção, noticia universal dos tempos, de que trata, que nao com a elegância das palavras, culto, e ornato da lingoa- gem, por onde continuando V. P. a historia da Monarchia Lu« DAS SciE>fCrAS DE L I S B O A. JJ Lusitaiid, e vida de ElRci D. Diniz, <]ue hé o texto, e cscriptiiia authcntica onde se hão de achar todas as cousas pertencentes dquellc tempo, tem obrigação de as expor fundamentalmente, e quantos maisescripros originaes trou- xer , tnnto se estimará a tal historia por melhor e mais en- requecida. Disto podem servira V. P. de exemplo os melho- res Autores de todos os tempos, e Nações da Europa; co- mo em Hcspanha o mestre Ambrozio de Moraes, eo Bis- po de Pamplona D. Fr. Prudencio do Sandoval em todas as suas obras, Rades de Andrade na historia das Ordens Militares, Fr, António de Yepes na de S. Bento , o P. Fr. Bernardo de Brito nas suas Monarchias , e Crónica de Cis- ter, o P. Geral Fr. António nos volumes que continuou da mesma Monarchia , o P.Fr. Luiz de Souza , na historia de S. Domingos, Escolano na de Valença , com outros Arago- nezes , c os mais que escreverão as historias das Cidades de Hespanha. Este estilo seguio Papirio Massono nos An- naes de França , e o Cardeal Ce/ar Baronio nos da Jgreja , e o mesmo se v6 em Plutarco nas vidas dos Gregos , e Latinos, em Diógenes Laércio nas dos Philosophos, Pausa- rias nas Respublicas da Grécia , e em Heródoto nas Mo- narquias da Azia. E tão própria , e universal he esta obri- gação que não corre só nos que escrevem historias dos tem- pos antigos , mas também nas do presente. Por que todas as vezes que as historias servem de textos fundamentaes da vida de hum Monarcha , ou do governo de huma N ção , e Republica , se escrevem deste modo , como vemos na Chroni- ca de Sandoval de Carlos V , que tratando de couzas mo- dernas , são estimadas pelas copias das Cartas discursivos, c relações originaes , que trazem , e do mesmo modo a historia de EIRei D. Felippe o prudente, escripta por Ca- breira. Em França sahe cada anno hum Livro intitulado Mercúrio por decreto do Parlamento, o qual quazi todo consta de papeis originaes , pondo ao longo os conselhos , Relações, Éditos, Manifestos e Sentenças tocantes aquelle anno. Semilhantes são os semestres Vernal, e Hiemal de Touio. X. E Fran- '34 Memorias da Academia Real Francforte, que tambcm naquella cidade, se escrevem cada seis mezes , nas duas cellcbcrrimas feiras que nella ha ; huma em Março, outra cm Setembro, onde concorrem de todo o Norte oy Estudiosos da liistoria , a trazerem cm pa- peis authenticos, os originaes de que poderão alcançar , suc- cedido naquclies scLs mezes , e tudo no semestre se im- prime até as taboas , e descripções das provincias, e lu- gares de que se trata. Pelo que , se a historia he a arte , que rnais perfeita- mente se professa nestas tão poHdas Provincias , e julgao os que bem sabem , que este modo de escrever he o que mais cumpre com a obrigação delia, ainda quando trata das couzas cm que todos forão presentes , com quanta mais razão deve V. P. seguir este estilo , quando quer trazer ao tempo presente couzas tão antigas , e apartadas da me- moria dos homens. Este o meu parecer, e com cUe satis- faço ao que V. P. me mandou. Em Évora a 24 de Setem- bro de 1639 í= Manoel Sevcrim de Faria í: &. II. Não respondi no Correio passado a V. P. por que não havia lugar para se fazerem as copias que com esta se- rão. Vai a relação da antiguidade do Carmo de Moura, em que se mostra , que aquelle he o Mosteiro mais anti- go que tem a Religião em Europa. V. P. o deve decla- rar assim , por quanto o Senhor Fr. António , quando mos- trou que Portugal teve primeiro Mosteiros de todas a» Rilegióes, que as mais Provincias de Hespanha, não fal- lou no Carmo , por que eu não tinha entSo esta noticia , e com tudo he este ponto tão verdadeiro , e notável , que o P. Manriquc nos seus annaes Cistcrcienses o confessa ao P. Fr. António. O segundo papel he o de Anjo , que me parece que está bastantemente provado, e que esta minha opinião fica sen- dasSciencíasúeLisboa'. 35* senJo Jc muiii honra lio Reino, e da Ordem áe Aviz; Tanib.:m vai a dcf5cripção de Portalegre , que me custem mais trabalho, que tuio, por que as relações, que tinha não cráo do sitio , e foi-me necessário andalo inquerindo O Livro de Rizis está enxerido nesse Livro de V. P. de modo, que nem o principio, nem o fim do Livro he de Razis, senão daquellc capitulo, que começa. Dizem que as Ilespanhas som duas ^ c dahi vai descrevendo tudo, o que na H.\spanha obedecia aos Reis de Córdova por 35" Cipiti.dos, depois entra a narração da sua historia no ca- pitulo, que começa: Depois da morte dei Rey Pirus ; e vai seguindo por 25- Capítulos, sendo o derradeiro , o que começa : Este morto levantarão por Rey bum filho de Ahede- nalit: e ac iba o me^n:) Capitulo disendo : Este Miramo- lim fez meter em escripto , a vida , e a morte dei Rey D. Ro-~ drigo , e /vs campar este Livro ; as authoridades , que o P. Roí triz na hi^torii de E são tiradas de Rasis de^ta sua Geografia , c do mesmo modo as de D. Thomas Tamaijo e entendo que hade ser esta obra do apendiz mili- to estimada , e se V, P. poder meter no apendiz os escritos de Gomes de Briteiros , também serão muito estimados. O Infante D, Luiz , depoisr que foi Prior do Crato ,■ trouxe as Freiras Maltezas a Estemoz ; não ale ancei o an- no , em que isto foi , nem o referio Gonzaga , ainda que trata deste Mosteiro , quando relata os da Província do Algarve ; cuido eu que já ouvi nesta matéria alguma cou- za ao Licenciado Jorge Cardoso , e pode ser que estará disto melhor lembrado. Tenho respondido a tudo. V. P. me mande boas rio- vas suas , e do estado , em que tera o seu Diniz , e quan- do hade hir a rever. Deos Guarde a V. P. Évora 18 de Março de 647. Também me parece , que ponha V. P. no texto, ou no Apêndice huma Relação de cada Ordem mi- litar , os nomes das Comendas , os nomes dos lugares de que tem Senhorio , e os Benefícios , ou rações do Conven-. to maior, por que disto não ha nada impresso, e perten- E ii cc ^S Memorias" da Academia Real ce a D. Diniz toda a Ordem de Christo ; e da de S. Tiago , e Aviz do mesmo modo , pois então íícaiáo Or- dens per si , sendo d' antes huma anexa das de CastclLi ^ Manoel Severim de Faria &. (a) t III. Senhor Fr. Francisco Brandão. Pouco me devera V. P. por esta Carta, por que verdadeiramente a escrevo mais por amor de mim : por que me acho mui desabriga.» do desde que V. P. me desaparccco , e assim dezejo emen- dar esta descomodidade por meio da escriptura : remédio de tristes. Será grande rcgabofc para mim o saber que passou V. P. as estradas com saúde , a que se acha com cila , e com descanço , e gosto, que deste ultimo he grande fia- dor o haver deixado esta desencadcrnada Babilónia , em que tão pouco se cuida do que mais cuidado merece. V. P. não deixe por isso de levar avante os seus empregos nas nossas historias , por que a virtude, como V. P. melhor sabe , he premio de si mesma. Ainda alguns dias depois de V. P. partido se não acabou esta nossa im preza, que tanto me-afiigio. Já agora haverá em Lisboa alguns Tomos que se levarão daqui. Ao Senhor João Pinto Ribeiro digo , o que tem parecido, e /• (a) Depois de transcrever esta carta, pouderou Fr. Mauoel dos San- tos o seguinte a Também conservamos escriptas ao mesmo P. Brandão 3» Cartas de Jorge Cardoso Autor dos Agiologios Lusitanos do P. 3í M. Fr. Gil de y. Bento Monge negro , Autor da satisfação Apologe- íi tica contra o Chronista Fr. António da Purificação, do Abhadc de 3í Pêra JoãoSJalgado de Araújo, de João Pinto Kibeiro , do insigne Me- 3) dico, e Astrónomo Francisco Rodrigues Cassão , e de outros Sábios, 3> todos seus contemporâneos. 5? Do elegante Manoel de Faria, e Souza também conservamos car- 3> tas , nas quaes consultava, e se valia do nosso Chronista , escrevia 9) excellentemente , e notava com discripção , dou as seguintes parA 9> ornato da miuba historia. DAS SciENOrAS DE LlSBOA. 3^ c outras couzas que nío rcpitiiei, por que ellc não escon- de nai-ia a V". P. quanto mais as minhas , que tão pouco nionr.ío. V. P. sabe demim o meu humor , e a minha obriga- ção ao seu serviç) , c assim não tenho que ofFerecer, o que eítá ofFerocido sinceramente , se não só desejar que SC lhe antoliie , o mandar-me que lhe obedeça desde quá em alguma couza , que o terei por boa dita. Deos me guarde a V. P. como desejo Amen. Madrid em 2^ de Abril de 639 s=: Manoel de Faria &. IV. Senhor Fr, Francisco Brandão. Com o correio pas- sado havia eu pedido ao Senhor João Pinto Ribeiro , me dissesse , que era feito de V. P. adonde estava ? que fa- zia ? por que estar tanto tempo sem saber de taes sii,'eiro«, quem chegou a conhecelos hc grande penalidade. Doj-me o parabém de ter V. P. tão á mão para lhe pedir a sua doutrina , quando os cazos me obrigarem a isso , por que sou grande reconhccedor delia. Não ha cousa no mundo por mais perfeita, que seja^ que não tenha seu defeito , e que não ache vontades , que lhes achem mais das que tem. Com este suposto , digo , que eu mesmo me admiro da aceitação do Comento' e que com esperar , que a não tivesse piquena , nunca me pas- sou pelo pensamento que fosse tanta ; por quo os próprios inimigos, que a desejão abocanhar, a cellebrão. E i>to he commum. Por ahi se diz, que tem hoje o livreiro mui poucos tomos, para vender, que h- também gasto, que nunca imaginei. Tudo são virtudes do Poeta. Seja elle mui- to louvado , como sempre será de quem não for tolo. V. P. me dá duas novas as mais solemnes , que eU podia ouvir de mui gosto, a primeira he o aumento de honra , e utilidade , que o bom amigo recebeo de seu amo, que desde hoje he para mim amo estimadíssimo; ^B Memori AS DA Academia Real pois tãtn bem empregou essa mercê : a segunda lie a viva esperança de ver impressa huma obra tão desejada , e que he força esteja perfeita , qual em fim do Archctypo , que a creou. Dera eu qualquer cousa boa se a tivera para ser o Revedor, Bem pode V. P. crer , que lhe tenho gentil inveja a essa lambuçada. Ora por desconto das rcmoelas que me faz com essa boa dita , me contento com que aperte muito por que se imprima presto j por que me não acerte de morrer sem brindar. Faço queixume a V. P. de não poder alcançar o que hei mister para dar fim a esta historia da índia , e princi- palmente o resumo da oitava, e nona Décadas de Coutto; com que está parada a copia j que tenho já limpa até aquelle tempo. Senão houver remédio será necessário impri- mir agora ate ao tempo , em que feneceo as suas quatro , o grande Barros, por me ver livre da obrigação, que me fez fazer este. Estes dias hove boas novas , ainda que todas não fo- rão certas. E a da vinda da frota , que já senão esperava foi de summa alegria, e huma insigne mercê de Deos. Depois se agoou este gosto com a nova de ser tomado hum castello em Frandes , e muito mais com a que hon- tem chegou de ser tomado Salses que cauzou grande en- fado. Hoje ha quem diz, que se melhorou esta desgraça: praza a Deos seja assim. Senhor Doutor meu amo , falla- rei com V. P. chammente como seu fiel devedor acerca do que V. P. me aponta sobre o que achou naquelle lu- gar em oposição ao Senhor Doutor Fr. António. Digo que o dizer-me V. P. o que me disse de S. Estevão não foi occasião de outro que estava eseripto desde que sahirâo as Monarchias , antes foi occasião de moderar muito o que estava eseripto naquelle lugar, e em outros, e de tirar alguns inteiros. O negocio he que eu, me achava grande- mente escandilisado , de que fallando de se o Conde Hen- rique foi a Jerusalém com Geofredo , ou de pois , Sua Pa- ternidade tocou nisto com hum desdém daquella opinião, • I DA.S SpíEMCÍAS DE LiSBOA. J^f t do nosso escripto. E ainda me parecco , que o dcsprc- sava mnis, quando trazendo as cartas, por que consta, que o Algarve não foi de Castella , antes ao contrario diz , que ningiicm as achou. Sendo assim , que cu as im- primi tinto primeiro no meu Epitome adonde precisamen- te as havia visto, pois lie certo que o revolveo, com que claramente deu por indigno de ser citado , e de ter es- timação as nossas deligcncias. Já V. P. ve o muito , que semiihantes cousas alterao a compostura , ea modéstia ; jun- to pois isto , a que eu sou de contmrio parecer em mui- tas couzas , e pugno por avcriguallas fui faltando em mui- tos lugares conforme aos dous humores com que me acha- va. Tinha já impresso , ( dous me parece ) quando a co- municação crm V. P. me começou a obrigar: logo come- cei a modcrar-mc esaisando alguns lugares in totum , e nos outros o temperei muito do que estava, que já sabe V. P qu; sou colérico. De maneira, que a obrigação cm que V. P. me poz com os seus méritos, e mercê qi^e me faz forao os moderadores daquellas iras. E nisto devo eu mais a V. P. que V. P. amim, por que me escusou da aparecer tão irado, e tantas vezes. Do que não pude ven- cer em mim a de mais do vencido , pesso perdão a V. P. posto que o principal foi dito , quando não tinha mais obrigação , que amim mesmo. E mais não me havendo o dezejo da satisfação obrigado a óporme vãamente : por que o que dizia , e disse , pode-se sustentar , e seguir. E a da hida Ao Conde com Geofredo achei em hum pedaço de Ghronica de tanta velhice, que estou firme em não dar credito a outra couM , sem que mo impida o máo ajustamento dos annos , por que na verdade não ha ne- nhum bom , logo que anda em opiniões. E com isto as outras rasoes , que lá dou , que não são desasadas. E bem sabe V. P. que no que não he de fé, cada hum pode procurar o colmo ao seu juizo , e a opinião; e em che- gando a istQ logo se arma o dizello com chanças , e mais se o animo se adia cscandelisado , no modo que eu me jul- ^C Memorias oa Academía Real julguei. Sobre tudo aqui ha viva esperançn de que esta maquina se tornara a imprimir presto : c cu já vou repas- sando-a , e acrescentando e dirrtinuindo couzas , e cerarei obediente , nas que V. P, me advertir se faça alguma mu- dança , e feito discipulo de suas Letras, e de sua modés- tia. Deos me guarde a V. P. com os aumentos , que me- rece. Amcn. Madrid 26 de Julho de 1639. Maior servo de V. P. Manoel de Faria. V. P. como he entendido , e sabe ser amigo teria por loucura louvável, o ver-mc tornar a menino na Carta de parabéns , que escrevi a nosso excellcnce amigo , debu- xando palmas: por que quem fica mais scsudo cm taes oc- casiôes he tonto Aq per eninia sectila saecnloritm. Pois saiba V. P. que eu de louco com aquelle prazer dei cm pasmado com outra cousa , que elle agora fez que cu pesso a V. P. sai- ba delle ; sobre que não saberei dizer mais , senão que creio redeimt Saturnia régua : por que achar-se nesta idade hum homem que tendo mão com hum Principe, lhe acon- selhe , que a estenda liberal , sobre outro homem a quem nSo deve nada , hc signal que torna a idade de ouro. Em fim eu estou pasmado ; e assim em quanto se me não res- titue a falia , pesso a V. P. me faça mercê de ver se acha que lhe dizer em fazimento de graças de tal acção. Por vida de V. P. e minha , que me deve por amor e respeito o animo com que me diz está , e outros ami- gos de acudir a defensa desses escriptos ; porem mais o deve asi próprio , por que cuido eu que todo entendido , ainda apaixonado deve accudir por ellcs , já não por que tem muito, que o merece, senão em reverencia do altis- simo Poeta : por que se o que eu sobre elle digo , não he assi , de necessidade se confessará , que escreveo insi- gnes desparates , e ainda heresias. Porem he assim o qus eu digo. E inimigos meus que aqui o accusárão antes de o DAS ScTENCiAS DE Lisboa. 4^ o ler o tiverão por maravilhoso depois de lido. Dous ou trcs me discm estão escrevendo contra mim , por que rai- vão pelo que lhes pica. E eu me estou rindo , por que os vejo morder pedras. O que eu disse não se pode dcsdiser com justificação, he bem verdade, que se poderá melhorar despois de dcscubcrto , se o tratara outro , que tivesse mais estudos, e mais engenho. E todavia hum dos mes- mos inimigos me chegou a diser antehontem , que se cu não dissera certas cousas, ouverão muitos de andar com o Comento nas mãos disendo : Venite , et adoremus ettm. E eu lhe respondi , que só por ellas o havia impresso ; e que mais queria velos rabiar a elles , que verme adorado amim. Comunique V. P. este Colóquio ao amigo. Amim até agora não me passa pelo pensamento , res- ponder a. cousa que se mediga sobre isto ; por que depois de farto defallar, meto em casa o ouve vé ecala, viveras vida folgada. Poderá ser que algum estudioso , queira mos- trar engenho sobre isto, e amor ao Poeta. Todavia o de que se me arguir me ensinará o que devo faser , e entre tanto me chucho o melsinho de ver andar a rodopio tan- tas cargas de tontos em toda a Hespanha , só de desatina* dos com o Comento , que se elles não forâo tontos , ouve» rão de calar só por não gloriarme. Beijo a mão a V. P. pelo desejo , que tem de me soccorrer para acabar esta historia. Tenho entendido que o Conde de Miranda fas traser aqui as suas décadas do Couto , por me faser mcrcé , e antão nos farão só falta as do Bocarro , como V. P. bem sente. Folgarei saber , que talento he o desse homem j se se eleva mais que o Couto V. P. me diga se vio esses seus escriptos , e o que lhe pa- recem. Se D. Lagostinho os tem a tanto já não deve que- rer restituilos. Se de algum modo se podessem alcançar , ( e não sendo largos ) faser que se copiassem , de qual quer letra a la legera , fora bom : que em eíFeito despois de nos servirmos delles , não faltará quem os compre. Tomo X. F Con- 42 Memorias da Academia Real Consoloumc V. P. com me diser, que tem nesse esta- do esse seu trabalho. Diici a V. P. o que sinto , e vejo sentir a alguns judiciosos das historias , que são esariptas como as do Doutor Fr. António , e ainda do Doutor Fr. Bernardo. E he que taes modos de escrevelas lhes fas perder o nome de historias , e ficarse com o de argumcn-, tos; e de cansadas pela. maior leitura do necessário, a que ellas precisamente obrigão. Bem vejo , que elles tam- bém precisamente sâo necessários , quando concorrem cou- sas não certas , e havidas , por taes , de modo que para desfaser a primeira crensa, que sempre lança grandes raí- zes, que he o que destrue a corrente da lição, aqual des- truída a faz fastienta. Para remédio disto , se eu me ex- pusera a semilhante modo de cscriptura usara assi. Todas as veses , que me viesse couza que me obrigasse a desfa- ser o recebido commummente , o refirira historicamente como cousa assentada sem argumentos; e alli na margem pusera hum numero, e esse mesmo despois nas provas da novidade lançando-as no fim , e se fosse necessário algum argumento sobre ellas o pusera também. E no prologo ad- vertira , que usava desta industria , e o por que. O que V. P. pode ter por certo , he que lhe desejo todo o maior acerto , e que amo a sua pessoa , só pelo seu talento vi- vo , bons estudos , e judicioso socego , e que se em mira ha forças para me offcrecer , e ajudar , tomara estar ao la- do para acudir ao que V. P. me mandasse. Deos Guarde a V. P. como desejo. Amen. Madrid em 24 de Agosto de 1639. Maior Servo de V. P. í= Manoel de Faria. VI. Em nenhuma cousa se ve tanto a verdadeira inclina- ção dos ânimos a outros , como no muito , que se lhes re- presenta o pouco : daqui resulta parecer ao amante mais bcUa, que todas a 6ua amada , que he menos bclla, que mui- i DAS SciENcíAS DE Lisboa. 4j muitas. Empenho a fé de homem de bem a V. P. que es- timo tanto esta mercê, que me faz e o bom, ou para me- lhor diser único amigo, c homem, que tomo esta ventu- ra por bastante recompensa das minhas desventuras. E aca- bo de conhecer com isto a mesericordia Omnipotente , que nunca faltou com hum soccorro aos afligidos. O Conde de Miranda se resolveo a esta gentileza e cuido, que presto serão quá as de Couto. Trabalhemos athe onde ellas derem de si , posto que tenho grão parte delias a pedaços desde que corri aquella fortuna ; que dan- tes tudo tinha e pode ser melhor do que farei hoje. De- maneira que isto he separação , e não fundação. Eu não só digo estas cousas a meu modo , senão que lhes dou nova forma , de sorte que estas historias não são para mim mais de aparato , como para os Autores delias o forão os papeis de que as produsirão. Trez Décadas de Couto são em mim huma mão de papel , sem ficar devendo nada ao caso , ao juiso , a politica , e a malicia. Somente João de Barros me leva míis papel , me faz seguir a mesma or- dem , por ser a sua qual convém , e necessário tudo o em ■> de ce pays, soit en langue Árabe , soit en diflerantes langues d^Eu- ■)i rope; ccpandniit il nos aquHm seul auteur vraiment classique , et 5) qui nierite le titre d''liistorien des Maures. Cest Abou-Mohammed 5? Abdel-.Salam Ben Abdel Ahalim el Garnati, natif de Grenade. » N. B. Este discorda no appellido do author, dando-lhe o de Abde- Saiam em lugar de Assaleh , o que certamente procedeo dílle, ou de quem lho decifrou tomar a ultima letra por outra, porque alguma cousa se assemclhão, se-aão se escrevem com euidado. I dasScienciasdeLisboa. 49 mencionados manuscritos árabes, pelo qual se podesse co- nhecer o nascimento, acclamaçao , e morte, ou deposição de cada hum dos soberanos das respectivas dinastias , e não menos as mais notáveis acçÔes , e feitos, que obra- rão, especialmente nas diversas invasões, que fizerão nas Hcspanhas contra portuguezes , e hespanhoes. Procurei sempre accommodar-me á frase e maneira , com que tudo era referido pelos authores originaes , donde era tirado este extracto ; e isto advertido bastará para náo se esperar sempre huma apurada verdade, nem se estranhar a discre- pância, que se achar entre elles, e os nossos historiadores, A PARTE mais septentrional da Africa, conhecida pelo nome de Barbaria , c que vemos hoje quasi embrutecida , e entregue a costumes ferozes , he a mesma, que nos tem- pos antigos disputou porfiadamente a Roma o poder, e a civilisação. Nella se propagou felizmente O evangelho ^ c floreceo a igreja catholica , sustentada por insignes es- criptores, e santos padres dos mais illustres, entre os quaes bastará nomear Tertulliano , S. Cypriano , Santo Agostinho , e S. Fulgencio, a quem consagramos o maior respeito, e escutamos, como mestres os mais illustrados. Por huma re- volução porém das mais espantosas degenerarão aquelles povos , e se submergirão na njais crassa ignorância , e. barbaridade , depoisque derão entrada á infame seita de Mohammed , e forão governados por principes mohamme* tanos , dos quaes passamos a fazer succinta enumeração pe» la ordem , com que succedêráo huns aos outros. Tomo X, )0 Memorias da Academia Real I. Principia Primeira dinastia dos Edrisitas com treze soberanos, extractrdo Origem desta dinastia. Cartaz. Tendo-se Abdallah Abu Mohammed , descendente de Abutaleb, tio de Mafoma, feito acclamar soberano na cidade de Medina no anno 145' da hégira (762 da era christá) (rt) para se oppor ás violências, e tyrannia do califa Abugcafac Almansor, descendente da dinastia dos Abbasidas, enviou este contra elle.hum numeroso exercito, e não somente o derrotou, mas obrigou a fugir para a Ethiopia, onde se con- servou até á morte do dito califa. Cobrando então animo com esta noticia , voltou a Mecca nos dias da peregrina- ção, e procurou artificiosamente ganhar a boa vontade dos povos para o acclamarem novamente ; enviando ao mesma tempo quatro de seus irmãos a diversas províncias para as disporem a reconhecc-lo , o que com effeito conseguirão* Tantoque o califa Mahadi , que tinha succedido a seu pai Almansor, soube destes movimentos, cuidou logo de os ata- lhar , expedindo para isso hum poderoso exercito , que en- controu a Abdallah em Fag-ge, distante duas legoas de Mec- ca ; e travada a batalha , este não somente a perdeo , mas nella também a vida. Deste destroço se salvarão seus dous irmãos mais moços Ebrahim, e Edriz , dos quaes o segun- do, acompanhado e assistido dos conselhos do seu aio Ra- xid , fugio para a Efriquia, e dalli para a Mauritânia com direcção á cidade de Ulila, não muito distante de Maqui- nez pelo lado oriental, da qual hoje apenas apparecem ve- stígios, sendo então metropoli da província de Zarahon. • Foi (a) Fique por hunia vez advertido, que- o computo fechado 110 pa- rêntesis marca a era christã, que corresponde á liegira : mas não faça confuzão dar-se alguma vez ao mesmo auno da hégira outro differente da era christã ; nasce isto de não serem iguaes , e não corresponderem entre si, começando muitas vezes hum auno, segundo hum computa em huma parte , quando já , segundo o outro , vai mui adiaate na ou- tra f rincipiando em mez diflerente. DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 5'I Foi Edriz muito bem recebido pelo gov^nador de Ulila , e desde logo tão cuidadozamcnte recommcndado áquelles povos, que o acclamárão, e receberão por seu so- berano , tendo deste modo principio a dinastia dos Edri-. zes, que governou por espaço de duzentos e dous annos e cinco mezes, isto lie, desde 172 (789) até 374 (984), na qual se contao os seguintes soberanos. 1." Edriz , nascido na Arabea pétrea , passou dalli á Mauritânia , depois da derrota de seu irmão Abdaliah , e foi acclamado na cidade de Ulila no dia 4 do mez do Ra- madan do anno 172 (789), e falleceo envenenado na mes- ma cidade por ordem do califa Raxid da dinastia dos Abasi- das no primeiro do mez de Rabialaguer do anno 177 (793) y tendo reinado somente cinco annos, e sete mezes, os quaes empregou todos em continuas guerras contra os christaos, judeos , e majusseos habitantes naqueiles paizes , obrigan- do-os á força a abraçar o mohammetismo, e fazendo a\À-< tar os que se recuzavão a isso. a." Edriz II , filho de Edriz , nasceo na cidade de Ulila no dia 3 do mez de Rageb do anno 177 (793), dous me- zes depois da morte de seu pai Foi seu tutor Raxid , aio de seu pai , o qual o fez acclamar soberano no dia 7 do mez de Rabialaual do anno 188 (804), tendo então onze annos de idade. Como a cidade de Ulila fosse pequena, e não tivesse proporções para alli coUocar a sua corte , for- mou o projecto de fundar a cidade de Féz (a) , para nella a estabelecer com apparato , e esplendor , onde podesso^ alojar a sua tropa, e magnates, e recolher também a mui- ta gente, que de todas as partes lhe acudia. Falleceo nelU no anno 213 (828), tendo trinta e seis annos de idadej ç vmte e cinco de reinado. G ii 3.» (a) Os authores dão varias etymologias a f ste nome : a mais pro« vavel he ser do nome Faz, que significa o alferce , ou picareta, de que Edriz uzava, quando estava edificando a cidade, paia com o seU (xemplo excitai os operários ao trabalho. jri Memorias DA Academia Real 3.° Mohammed, filho de Edriz, foi acclamado logo de- pois do fallecimento de seu pai ; e tendo reinado por espa- ço de oito annos c hum mez , falleceo no mez de Rabia- tani do anno 221 (836), havendo nomeado no mesmo dia a seu filho Aly por seu successor. 4.° AI}' , filho de Mohammed , foi acclamado soberano no mesmo dia, em que falleceo seu pai, tendo então no- ve annos e quatro mezes de idade. Tendo seguido a mar- cha dos seus maiores , falleceo no mez de Rageb do anno 234 (849), depois de haver reinado perto de treze annos. $.° lahia , filho de Mohammed , succedeo no throno a seu irmão Aly por disposição deste , e foi acclamado logo depois do seu fallecimento. Tendo crescido no seu reinado a população em Fez , por terem alli concorrido gentes de toda a Mauritânia , Efriquia , e Hespanha , fez edificar nclla , e nos seus arrabaldes muitas casas , e promoveo a edifica- ção da celebre , e famosa mesquita de Caruin. {a) 6° lahia II , filho de lahia , foi acclamado logo depois da morte de seu pai. Como tivesse péssimo procedimento com huma hebrea , e por isso fosse procurado pelo povo para o matar , retiroU'se do bairro de Caruin para o de Andaluz {b) na mesma cidade, no qual morreo de susto na mesma noite da sua fugida. 7^ (d) Esta mesquita foi edificada no anno 245 (859) á custa de hu- ma mulher, clianiada Fatema, e constava então de quatro naves somen- te com o seu claustro no raeio ; e o seu comprimento de leste a oest© era de cento e cincoenta palmos. Tendo tido depois vários accresciraos, consta actualmente de dezeseis naves na direcção de norte a sul , e de oeste a leste , sustentadas sobre duzentas setenta e duas columnas ; e tem qutnzc grandes portas para entrarem os homens, e duas mais pequenas para as mulheres. Diz o author, que nella podem orar junta- mente mais de quatorze mil pessoas sem incommodo humas das ou- tras. Eu passei por ella, quando em 1797 estive a primeira vez naquel- ]a cidade ; mas corao me não era permittido entrar na mesma, nem pa- rar para a observar com alguma attenção , o que só posso dizer he, qut- me parccco ser quadrada , e muito extensa ; mas demasiado bai- xa cm proporçilo do sea comprimento ,■ e largura. (h) Estes dois bairros, de «[Ue coiuta Fèz, estão divididos por hum rio. DAS SciENCiAS DE Lisboa. j-j 7.° Aly II, filho de Ornar, succedeo no throno a seu primo lahia. Tendo sido acciamado na cidade de Féz , re- voltau-se logo alli contra elle Abdcrrezaque , natural da Andaluzia , o qual tendo adquirido hum grande partido nos subúrbios da dita cidade, se dirigio contra Aly ; e ten- do-o derrotado , fugio este para a provincia de Auraba, O author não torna a fallar deste soberano, nem nos diz quantos annos elle , e os dois precedentes reinarão , e em que tempo fallecérão. 8.° lahia III, filho de Cassem, succedeo no throno a seu primo Aly, ao qual mandarão chamar os habitantes do bairro de Caruin depois da fugida deste , e o acclamárao. Partio logo a atacar ao sobredito Abdcrrezaque no bairro de Andaluz, de que se achava senhor, e o derrotou. Ten- do depois tido varies combates com os habitantes de Sa- faru , regressou para Féz, na qual se conservou soberano até ao anno 291 (904), em que o veio accommettcr Ra* bia Bcn Soleiman , e cm cujo ataque foi morto, 9.° lahia IV, filho de Edriz, subio ao throno logo depois da morre de seu primo lahia, filho de Cassem. Postoque este fosFC o mais poderoso dos descendentes de Edriz, e senhor de mais extensos estados na Mauritânia, com tudo, tendo Abdallah Axaiai , senhor da Efriquia , enviado dalli contra elle hum exercito , commandado pelo seu general Messald , este o derrotou , pfendeo , e desterrou para Ar- zila, donde fugio para a Efriquia; mas tendo sido aprchen- dido no caminho por Mussa , filho de Abulffia , este o en- carcerou em huma prizão. Tendo sido solto delia passados vinte annos , proseguio para a Efriquia , e havendo-se alli achado na revolução, e sitio da cidade de Mahadia, fal- leceo nclla de fome e miséria no anno 332 (943). 10.° Al-has'san, filho de Mohammed, foi acciamado na capital de Féz no anno 310 (921), e falleceo no anno 312 (924) , tendo governado perto de dois annos, todos de continuas guerras contra Abulafia, que foi reconhecido sobe- rano em Maquinez, e por varias tribusj e lhe disputava a co» roa. ii,« j'4 MemokiasdaAcademiaReal n.° Alçassem Guenun, filho de Mohammed, foi accla- mado soberano da Mauritânia no anno 328 (939) depois de huma assoladora guerra entre Mussa , filho de Abulafia , o qual tinha arrogado a soberania da maior parte da Mau- ritânia, fazendo-o acclamar nella no anno 313 (92^) os ge- ncraes de Abdallah Axaiai , senhor da Efriquia, e os descen- dentes de Edriz. Tendo reinado por espaço de nove annos , falleceo na fortaleza de Hajaren no anno 337 (948). 12." Abulaiaxi Ahamcd , filho de Alçassem Guenun, succedeo no throno a seu pai , e foi acclamado logo de- pois da sua morte. Era dotado de tão bellas qualidades , que entre os descendentes de Edriz mereçeo o epitheto de excellente. Como Annasser, Rei de Córdova, não desistis- se do intento de conquistar a Mauritânia , e não cessasse de enviar para alli tropas , tapitaneadas pelos seus mais fa- mosos generaes, com esse mesmo fim, observando Abulaiaxi , que com effeito o tinha conseguido , escreveo. a Annasser , pedindo-lhe licença para passar á Hespanha a empregar-se na gazua contra os chrlstãos. Tendo-lha este concedido , entregou a seu irmão Al-hassan o governo daquella parte dos seus estados , que ainda lhe obedecião , e partio para a Hespanha , na qual falleceo em hum combate no anno 343 (95'4)» t^"*^o reinado por espaço de seis annos. 13.° AUhassan II, filho de Guenun, e ultimo da dinastia dos Edrisitas, foi acclamado na Mauritânia logo depois da partida de seu irmão para a Hespanha. Passou todo o tem- po do seu reinado em continuas guerras contra os generaes de Haquem , Rei de Córdova ; e tendo sido por ultimo abandonado dos seus, que se deixarão comprar por Galeb , hum dos referidos generaes , refugiou-se no castello de Ha- ger-cnnasser , onde foi logo estreitamente sitiado pelo mes* mo. Neste aperto foi-lhe forçozo capitular com Galeb , es- tipulando a segurança da sua pessoa , e dos seus ; e que passaria para Córdova , e nella ficaria residindo. Com estas condições entregou a fortaleza , e elle acompanhado de to- dos os descendentes dos Edrizes vierão para a Hespanha, on- DAS SciENCiAs DE Lisboa. yy onde Haquem os recebco muito bem , e lhes assignou grossas pensões para se tratarem com decência , as quacs lhos forão exactamente pagas até ao anno de 365 (,975), em que as mandou cessar. Neste anno sobreveio grande des- gosto entre Haquem e Al-hassan , por este ter recusado dar-lhe hum grande pedaço de âmbar, que pela sua exces- siva grandeza lhe servia de travesseiro, do que elle se scn- tio de maneira, que não só lhe tirou as pensões, que lhe assignára , mas o vexou de todos os modos, e despojou do resto dos seus bens , rematando com o desterro para o Egypto. Chegado alU em estado de tanta desgraça , co- movco a compaixão de Nazár , Ben Moadde, senhor daquel- le paiz , que não só o liospedou amigavelmente , mas pro- metteo-llie auxilio , com que se restaurasse das oppressões , que Haquem lhe tinha feito. Cora effcito no anno 373 ( 9S3 ) passou-lhe o seu diploma (a) para ir governar a Mauritânia , e mandou ordem a Balquin, seu governador na Efriquia , paraque lhe apromptasse as tropas necessárias , que o devião acompanhar neste intento. Este em cumpri- mento da ordem que recebera, lhe forneceo três mil homens de cavallo , com que entrou na Mauritânia, onde conseguio facilmente , que o seguissem as tribus dos bárbaros. Alman- sor porém , vice-rei d' ElRei de Córdova , fez partir da Hcspanha grandes forças para se lhe oppor ; e isto bastou para Al-hassan cahir no maior desalento, e oflFerecer a sua submissão , e voltar segunda vez para Córdova , dando-lhe segurança da sua pessoa. Sendo acceitas estas condições , elle as pôz logo em execução , mas Almansor o fez assasinar no camit>ho ; e assim acabou o infeliz Al-hassan no anno 375: (985'), ten- do (a) Niío cauztí admiração dizer-se, qne Nazar passara o sen diplo- ma a Al-hassan para ir governar a iVlauritania , porque este se achav* despojado da coroa , e o principal fim de INazár em aUxilia-lo era pa- ra lhe ficar depeodeníe , e diminuir assim uaquelle paiz o poder d' £1* Rei de Córdova. 5'6 • Memorias da Academia Real do reinado da primeira vez dezaseis annos , e da segunda hum anno e nove mezes. II. Segunda dinastia dos Almagratmenses AUafermenses com oito soberanos: succedêrao aos Edrisitas os Almagraunenses Aliafenmenses. Descende esta dinastia das tribus de Almagraua , e Aliaferun, pertencentes á provincia de Zanata , a qual rei- nou na Mauritânia por espaço de noventa e quatro annos, isto he , desde o anno 368 (978) até ao anno de 461 (1069), e se contão nella chronologicamente os seguin- tes soberanos. i.° Zaidi, filho de Atia, tendo sido reconhecido soberano pelas mencionadas duas tribus no anno 368 (978), estcndco o seu dominio ás mais provincias da Mauritânia, e foi accla- mado na cidade de Féz no anno 377 (987), mas com sugei- çío a Almansor, vice-rei de Hexam, Rei de Córdova. Ten- do-lhe sido ordenado por este no anno 38a (991) de passar a Córdova , assim o cumprio , deixando a seu filho o gover- no dos seus estados; e desta maneira ganhou as boas gra- ças de Almansor , que o condecorou com o titulo de seu visir, e o confirmou novamente na posse dos estados que possuía , paraonde voltou sem demora. Da sua auzencia se tinha aproveitado Laddu , filho de Lala , seu primo , para senhorcar-se de Féz no mez de Dul-kaada do mesmo anno , contra o qual se dirigio Zaidi sem perder tempo ; e depois de porfiados combates entrou na cidade no anno 383 C993) s Ví^^\3i matou a Laddu. Alterou-se depois a boa intelligencia , que em Córdova parecia ter-se corrobo- rado entre Almansor e Zaidi , porque este , desvanecido com a victoria , que tivera de Laddu, conccbeo o projecto de sacudir o jugo da sugeição, e obediência, que promet- têra a ElRei de Córdova. Este pois, tantoque assim acon- teceo; caminhou a Algeziras, e dalli expedig para a Mau- ri» DAS SciENCIAS DE L I S B O A. f7 ritania hum poderoso exercito, capitaneado por seu filho Abdclmalcq Álmodafar, o qual derrotou completamente a ZaiJi , que se vio obrigado a fugir para Sahara , onde morrco no anno 391 ( 1000), e a cidade de Fez abrio as suas portas ao vencedor. a." O fim desastroso deZaidi não estorvou, que seu fi- lho Almoazze lhe succedesse ; mas para isso prcitou pri- meiro obediência ao Rei de Córdova , obrigando-se a dar» lhe annualmcnt: certo numero de cavallos, e quantidade de dinheiro, e de reter aiii seu filho em reféns, onde se con- servou até á dissolução da dita dinastia em Córdova. Falle- cco Almoazzc no mez de Jumadiiaual do anno 422 (1031), tendo reinado trinta e três annos. 3.° Depois deste Almoazze foi acclamado Hamama , fi- lho de hum seu primo, que também se chamava Almoazze. Tendo-se levantado contra elle Tamim , filho de Zamur, sahio de Féz a combate lo ; c depois de hum terrível com-* bate entre elles , derrotou Tamim a Hamama , o qual fu- gio para Ugcda , e Tamim entrou em Féz, 4.° Tamim, filho de Zamur, foi acclamado em Féz no anno 424 ( 1033 ) , em que seu primo Hamama fugio pa- ra Ugeda. Flagelou osjudeos, dos quaes matou mais de seis mil, senhoreando-se de seus bens, e captivando suas mulheres. Foi incançavel em combater os Barguatas , que seguiáo huma seita particular ; e por isso conta o author vários prodigios delle depois da sua morte. Retirado Ha- mama de Ugeda para Tunes , por o terem abandonado alli os seus; e tendo-se-lhe unido nella os Almagrauenses , par- tio com elles para Féz , da qual se fez senhor , e onde fal- leceo no anno 440 (1048). j'.» Dunas, fi;ho de Hamama, succedeo a seu pai, e tendo reinado quasi doze annos em tranquillidade, socego, •e abundância , ialleceo em Féz no mez de Xaual do anno 45-2 ( 1060) 6." Alfjtoh , filho de Dunas, tendo subido ao throno depois do fallecimento de seu pai, c fixado a sua residen- 7omo X, H cia qui para a provincia de Sanahaja em Sahara , que he o deserto da barbaria , que se estende desde a Ethiopia até ao Egypto, e á Núbia, e fixado nella a sua residência no campo chamado Lameta , tomou por isso o nome de La- metuna , perdendo o seu nome original. Desta tribu descen- de a dinastia dos Morabctins , assim chamados, por se te-» rem unido vários individues delia ao doutor Abdallah Ben- lassin , para por elle serem instruidos na religião, em hu- ma ermida , de que era ermitão , que em árabe se chama moraber , cujo plural he morabetunj por isso forao assin» chamados. Serie chronologica dos soberanos desta dinastia , que rei' nárâo na Mauritânia. \.° Abubacar, filho de Ornar, príncipe das tribus de Sanahaja , invadio a Mauritânia , acompanhado do ermitão , ou marabuto Abuabdallah , Ben-lassin , seu director e me- stre , no mcz de Rabia-tani do anno 448 (1056), e con- quistou nella o paiz do Suz, as cidades de Agmar, e Ta- dela , e a provincia de Tamessená , derrotando nella as tri- bus dos B-irguatas , pelas quaes o sobredito morabuto foi morto cm hum dos combates no dia 24 do mez de Rabia- laual do anno 45'i (io5'9). Tendo-se Abubacar retirado da mencionada provincia para a cidade de Agmat , e recebido alli hum correio dando-se-lhe parte da indigência, em que se achava Sahara , partio immediatamente a cuidar em re- mediar a sua sorte, deixando na Mauritânia a seu primo H ii lus- 6o Memorias da Academia Real lussof, Ben-Taxefin , seu tenente rei ; e dalli passou á Ethio- pia a emprchender a guerra contra os infiéis, onde faleceo cm hum combate no mez deXaaban do anno 480 (1087). 1." lussof, Ben-Taxcfin , nasceo em Sahara no anno 400 (1009), e governou a Mauritânia desde o anno 45^ 3 (106 1) depois da partida de seu primo para Sahara, até ao anno 500 (1106), em que fallccco. Achando-se senhor de toda ella desde as ilhas de Benibargata {a) até á Ethio- pia , e tendo edificado a cidade de Marrocos , recebeo car- tas no mcz de Rabia lagucr do ànno 475- (1082) de Be- nabbad (Benabet), Rei de Sevilha, e de outros régulos da Hcspanha implorando delle soccorro contra Affonso VI , Rei de Gastelia , que já lhes tinha tomado muitas provín- cias, e cidades: e observando Benabbad a AfFonso senhor de Toledo , e sitiando estreitamente a Saragoza , passou á Mauritânia a encontrar-se com lussof, Ben-Taxefin. Ten- do-se avistado com elle perto de Tanger, dirigindo-se pa- ra Ceuta, que pouco tempo havia tinha sido conquistada por seu filho , e informaftdo-o de ter D. Affonso VI á fren* te de hum poderoso exercito de Francezes , Biscainhos , Gallegos , etc. arruinado , e devastado toda a Hcspanha , lhe respondeo lussof, que se retirasse, e fosse cuidar en\ apromptar-se , porque elle partia no seu alcance (b) . No meado do mez de Rabia-laual do anno 479 (io8ó) embarcou lussof, Ben-Taxefin em Ceuta com o seu exer- cito a primeira vez, e no mesmo dia ao meio dia desem* barcou em Algeziras, donde partio pouco depois a encon- trar-se cora ElRei D. Affonso. Tendo-se avistado com esto nas (et) Ignoro quaes sojão estas ilhas: parece serem uo Mediterrâneo. (i) Do que tica dito parece se pôde colligir ser supposta acarta de D. AfFonso VI de Castella, escrita por instancias de seu sogro Benabbad a lussof, Ben-Taxefin, pedindo-Ihe nella viesse auxiliar este contra oé mais regulas roo liam metanos da Hcspanha, da qual Mariana, Savedra» e outros escriptores hespanhoes fazem menção : e também he falso teC sido o dito Benabbad derrotado pelo general , que lussof tinha envia* do antes de poisar á^ Hcspanha. ■ dasScienciasdeLisboa. 6% nas visinhanças de Badajoz , acampou-sc junto desta praça , e D. AíFonso no lugar de Zaiaca (Casala , ou Caçah) , não muito distante, medeando entre os dous exércitos somente o rio Guadiana. Na madrugada do dia 12 de Ragcb do mes- mo anno teve Benabbad, Rei de Sevilha, informação dos seus atalaias , de se ter posto em movimento o exercito de D. Affonso para accommetter , do que dco logo aviso a lussof, e elle com os outros régulos de Hespanha se dis- poíerão para o receber. Atacou com effcito D. Affonso os régulos , e os derrotou , excepto a Benabbad , que com Daud , Ben-Aixa se defendião com firmeza , aos quaes lus- sof mandou reforçar com novas tropas ; e elle com o gros- so do seu exercito se encaminhou para o acampamento de ElRei D. Affonso, o qual queimou; e sem demorarse foi no alcance da cavallaria , que o defendia , a qual fugio pa- ra o Rei , a quem consternou a noticia da perda do arraial. Travou-se então huma batalha geral , em que D. Af- fonso foi inteiramente derrotado, escapando delia gravemcn* te ferido , e somente com quinhentos cavalleiros. lussof ufana com tão insigne victoria intitulou-se principe dos mos- selemanos , e voltou logo para a Mauritânia , por ter sabi- do da morte de seu filho Abubacar, que ficara enfermo cm Ceuta ; e caminhou para Marrocos , onde se conservou até ao fim do anno seguinte 480. Recobrando D. Affonso no- vas forças, insistio a incommodar os estados de Benabbad , Rei de Sevilha, do castello de Alagueto , que elle tinha tomado; e por isso Benabbad passou segunda vez á Mau- ritânia a pedir soccorro a lussof contra elle , o qual este lhe prometteo. Passou lussof segunda vez de Ceuta a Algeziras; e no mez de Rageb de 481 (1088) foi pôr cerco ao castel- lo de Alagueto , onde se lhe unirão Benabbad , Rei de Se^ vilha , e Abdelazir , senhor de Murcia ; porém este ultimo pouco depois, descontente dos mãos tratamentos, que ex- perimentou da parte de lussof em favor de Benabbad , não somente se retirou do seu campo, mas lhe fez hostilida- des. 6i MemoriasdaAcademiaRead des. Durou o sitio por espaço de quatro mczcs em toda o rigor sem afracarem os que defendiao o castello ; e co- roo estava o inverno chegado , e as provisões lhes erao in- terceptadas pelas tropas de Abdclaziz , rcsolveo levantar o sitio , donde partio por Lorca para Almeria , embarcando alli para a Mauritânia , cxesperado contra os régulos de Hespanha, por não terem acudido ao sitio do dito castel- lo. No anno 483 (lopo) passou lussof pela terceira vex á Hespanha com direcção a Toledo , na qual se achava en- tão D. Affonso. Sitiou-o nclla, e pôz a ferro e fogo toda a sua comarca , destruindo todos os seus fructos. Observan- do que os régulos se lhe não vinhão apresentar, nem ti- nhão tido com elle attenção alguma , escaúdeceo-se contra elles , levantou o sitio, e partio a pôr cerco a Granada, por ter Abdallah , filho de Balquim, senhor da mesma, fei- to a paz com ElRei D. AflFonso , e ligado-se com este contra elle. Depois de dous mezes de rigoroso sitio , es- creveo-lhe Balquim , pedindo-lhe segurança , e oíFerecendo- Ihc o seu reino. Aceitou lussof a offerta , e o enviou com seu irmão Tamim , senhor de Málaga , e suas mulKeres , e filhos para Marrocos, onde fallecêrao, o que dêo motivo a desconfiar Bcnabbad de lussof, o qual se retirou para a JMauritania no mez de Ramadan do mesmo anno, deixan- do governador de Hespanha a Sairi , filho de Abubacar. Postoque lussof não deixasse a Sairi ordem alguma , con- tinua o author, a respeito de Benabbad , com tudo a sua primeira direcção foi para Sevilha : e como este o não vies- se esperar , e tratasse de fortificar-se para lhe resistir , es- creveo-lhe Sairi ordenando-lhe , que se sugeitasse , e lhe en- tregasse o reino. Tendo-se elle recusado , poz-lhe o asse- dio, e principiou a combate-lo, enviando ao mesmo tem- po o seu alcaide Bati contra as mais cidades do seu reino , o qual conquistou Gaen , Córdova , na qual se achava Ma- roon, filho de Bcnabbad, Baeça , Alvalade, Almaden, e outras povoaçõss : de modo que no fim daquelle mez só re- nAsSciEiTCiAS DE Lisboa. (■j restavão em poder de Bcnabbad Carmona , c Sevilha. Yen* do-sc este em tanto aperto pcdio soccorro a EiRci D. Ai'~ fonso , o qual enviou logo hum exercito em seu auxilio. Informado disto Sairi , destacou contra ellc dez mil homens de cavalio, capitaneados por Ebrahim, 13cn-Exahaq ; e tcn- do-sc encontrado junto do castello de Almodovar, c com- batido-se vigorosamente de huma e outra parte , ficarão a final victoriosos os Almorabides. Em quanto isto se passa- va , estreitava Sairi o sitio contra Sevilha atcque entrou nella no dia 22 de Rageb do sobredito anno, tendo antes prestado segurança a Benabbad, c i sua familia, enviando-os a lussof para Agmat , onde se conservarão até morrerem. Continuarão os Almorabides a conquista de Hespanha , e com tanta rapidez;, que em menos de dous mezcs sugeitá- lão os estados de cinco régulos: de Benabbad, Benabbu- ce, Bendaud, Benbacar , e de Benmoncad. Vendo-se lussof senhor da maior parte da Hespanha , fez acclamar a seu filho Aly cm Córdova no anno 496 (1102). 3.° Aly III, filho de lussof, nasceo em Ceuta no anno 477 (1084), e foi acclamado em Marrocos no principio do anno 5-00 (1106) , tendo então vinte e três annos de ida- de. Dous annos depois da sua acciamação acontcceo a bata- lha de Uclez tão infausta , e funesta para a Hespanha. Eis- aqui como o author a descreve : u No anno ^oa (i 108) sahio » Tamim , filho de lussof , irmão de Aly, e governador de >» Granada, a invadir o paiz dos christãosj e tendo acam- a pado junto da fortaleza de Uclez , na qual havia gran- >» de multidão de christãos, a sitiou até lhes tomar a mes- »» ma praça , refugiando-se estes para o castello. Infor- }■> mado ElRei D. Affonso deste acontecimento , tratou de 5» se apromptar para os soccorrer ; mas sua mulher lhe acon- j» selhou, que enviasse antes o principe seu filho a oppor- >» se ao principe Tamim. Tendo abraçado o seu conselho, " enviou a seu filho D. Sancho á frente de hum poderoso j» exercito, composto da principal nobreza dos seus esta- >» dos , o qual foi marchando até se aproximar a Uclez. Sa- bcn- 64 Memorias DA Academia Reai- >» bendo Tamim da sua proximidade, quiz levantar o sitio, » e rctirar-se; mas Abdaílah, Ben-Mohammcd , e Moham- *» med , Ben-Aixa , e outros alcaides dos«Almorabides lhe » aconsclhaVão, que se niío retirasse, e que se conservas- »> SC no seu posto ; e para o animarem , e lhe fiicilitarem » o seu parecer lhe disserão : não temas, porque clles vem » somente com três mil homens de cavallo , e entre nós » e elles ha a distancia de hum dia de jornada. Obede- » ceo-Ihes Tamim ; mas não tendo acontecido assim , por- » que no mesmo dia ao pôr do sol se lhe apresentou em j> frente o exercito dos christãos de muitos milhares , quiz; >» retirar-se , e evitar o combate : e como não achasse meio >» de poder salvar-se , fez partir immediatamente os ditos »» alcaides ao encontro do inimigo , para o combaterem. » Encontrados os dous exércitos , houvcrão entre si por- » fiados combates, como nunca se ouvirão, nos quaes Deos »» desbaratou o inimigo , e ajudou os mosselemanos , mor- » rendo o filho d' ElRei D. Aflbnso com vinte mil chri- » stãos , que o acompanhavao ; e entrarão os mosselemanos »» por assalto no castcllo de Uclez, no qual forão marty- y> risados muitos destes. Tendo chegado esta noticia a El- " Rei D. Affonso, angustiou-se pela morte de seu filho, » entrada dos mosselemanos nos seus estados , e destrui- >» ção do seu exercito j e por isso adoeceu, e morreo pas- í> sados dous dias. >» No anno 5-03 (1109) passou Aly, príncipe dos mosse- lemanos primeira vez á Hespanha á frente de hum exerci- to de mais de cem mil homens de cavallo. Dirigio-se a Córdova; e depois de ter descançado ahi hum mez, par- tio para Toledo , e a sitiou. Tendo assolado toda a sua co- marca com contínuas correrias, e tomado nella vinte e sete castellos , voltou para Córdova. No mez de Dulkaada do anno 504 (im) o seu general Sairi conquistou Badajoz, Évora , Santarém , Lisboa , e todas as mais povoações de Portugal e Algarve, e voltou para Sevilha, onde falleceo no anno 507 (ms). Pas- DAS SciENCIAS DE LlSBOA; 6f Passou Aly segunda vez á Hespanha no anno jij (iiip) á frente de hum numeroso exercito; c tcndo-se-lhe unido cm Córdova considerável numero de tropas de to-« dos os seus estados na Hespanha , partio para Lisboa ; c havendo-a tomado i força (a) , sahio delia fazendo incur- sões em todo o Portugal, matando, captivando , saquean- do , e cortando os fructos , vendo-se os povos obrigados a refugiar-se aos lugares inaccessiveis , e a fortificar-se nos castellos. Iguaes scenas repetio seu filho Taxcfin no mesmo paiz no anno yio (1126), onde conquistou ," segundo o mesmo author, trinta fortalezas. Tendo Aly regressado pa- ra a Mauritânia no anno 5:15' (1121), falleceo em Marro» cos no anno s i7 (1142) (^) • 4.* T.ixefin , filho de Aly , foi acclamado por disposi- ção de seu pai no mesmo anno ^^7 pouco antes da sua morte. Tendo apparecido na Mauritânia os Muhadins (Al- muhades ) logo no principio do seu governo , foi por isto o seu reinado de tribulação, e continuas guerras contra el- Ics , os quaes tcndo-o perseguido até Orão , e posto ahi cm apertado sitio , sahio de noute a ataca-los no seu acam- pamento ; mas tendo sido repellido, e perseguido por el- les , como a noute era chuvosa, e tenebrosa, precipitou-se do alto do monte, immediato a Orão, para o lado domar, onde foi encontrado morto na manhã do dia 28 do mez de Ramadan do anno 539 (1144), cuja cabeça lhe foi cor- tada , e dependurada em huma arvore junto de Tainamal. Tomo X. I A (d) Postoque o aiithor não faça menção de Lisboa ter sido reto- mada por nós, depoisque Sairi a conqnistou em 1111, não podia dei- xar de assim ter acontecido, porque se observa aqui ter sido tomada Dovaraente por Al^'; mas isto não sirva de embaraço, porque elle oc- culta muitas vezes, e quanto pôde, as vantagens dos chrístãos sobre os mouros. (A) No reinado deste principe em 634 (1139) aconteceo a gloriosa batalha do campo de Ourique, da qual o author não faz menção, ou porque foi tão desgraçada para os seus, ou porque só entrarão nella ,i1guus re^^ulos da tíespanba , o que be mais provável. 66 Memorias pa Academia Real A decadciicia desta dinastia, diz o author, data do anno y 19 (^1119), em que Mahadi , chefe dos Muhadins, appareceo na Mauritânia , porque desde então ficou impos- sibilitida de continuar a enviar auxílios a Hespanha ; e por isso os seus estados nella enfraquecerão, ficando entregues aos seus próprios recursos. Reinou ella na Mauritânia por çspaço de noventa e hum annos , isto he , desde o anno 448 (loyó) até 539 (1144). IV. Quarta dinastia dos Muhadini , Altnohades , com quatro so- beranos. 1° Aos Morabetins succedêrao os Muhadins, Almoha- des. Mohammed , Ben-Abdallah Mahadi , que se disse ser descendente dos Edrisitas , foi o fundador desta dinastia. Tendo nascido na província deMossameda, e dedicando-se desde a sua infância aos estudos , passou depois ao Orien-» te, para se aperfeiçoar nelles , donde regressou para a Mau- ritânia no anno fio (11 16). Chegado a Telamessan , estai bcleceo-se em Tajura , villa daquella comarca , onde se lhe veio apresentar Abdelmumen , para se instruir com elle, c o servir, por ser o único sábio daquelle século. Principiou alli a publicar, que elle era o príncipe Mahadi, que havia de vir no fim do mundo encher a terra de justiça, decla-» mando ao mesmo tempo contra os Morabetins , aos quaes tratava de infiéis, e instigando os povos paraque lhe ne- gassem a obediência. Passando dalli para Féx , onde pregou as mesmas doutrinas, sahio delia no anno 5-14 (iiío) com' » direcção a Marrocos, onde então residia Aly, príncipe dos mosselemanos , na qual continuou as suas pregações , en» tornando o vinho, ondequerque o encontrava, e quebran-» do- os instrumentos músicos , cousas vedadas pelo Alcorão , sem ter para isso authoridade do soberano , nem dos seus ministros. Gomo continuasse , não obstante ter sido re- prehendido , e Aly temesse , que semelhante impostor ai» lu- " DAS SCIENCIÀS DE LiSBOA. 67 lucinasse o povo, ordenou-lhe que sahisse da cidade, o que cumprio , indo construir fora delia no meio do cemitério huma barraca para sua morada. Concorrendo alli os sábios , e outras muitas gentes a instruir-se com elle , infamava, e insultava os Morabetins na sua presença, chamando-lhes ca- fres. Noticioso disto Aly , ordenou que fosse preso , e mor- to. Informado logo Maiiadi desta resolução , partio imme- diatamente para a cidade de Tainamal , na qual entrou no mez de Ramadan do anno ^14 (11 20), e nella se estabe- leceo com os seus dez companheiros, e discípulos, hum dos quaes era Abdelmumen, onde se fez acclamar no dia 16 do mesmo mez. Expedio logo os ditos seus discípulos para diversas províncias , a fim de as persuadirem a prestar- Ihe obediência , as quaes todas o acciamárâo , protestando obedecer-lhe até morrerem. Fez sahir a Abdelmumen á frente de dez mil yalcrosos Muhadins com direcção á ci- dade de Agmat, o que sabido por Aly, príncipe dos mos- selemanos , enviou o seu general Alehaual Annader cora hum numeroso exercito a combate-lo , o qual foi derrota- do, e perseguido até entrar em Marrocos, ficando morto o dito general, o que acontece© no anno yi6 (1122). Ten- do os Mohadins regressado para as montanhas , tomarão depois sobre Marrocos , e a sitiarão por espaço de três an- nos ; e não a tendo podido conquistar , voltarão para Tai- namal , onde forão bem recebidos por Mahadi , o qual ten- do depois adoecido , nomeou a Abdelmumen por seu suc- cessor , e falleceo no dia 25" do mez do Ramadan do an- no 524 (11 30), tendo dez para onze annos de reinado. Foi Mohammed Mahadi homem muito sagaz, e astu- to; e entre os seus estratagemas se conta o seguinte: ten- do oi seus desanimado por causa dos muitos que delles morrôrão em huma batalha contra os Morabetins , fez en- terrar entre os mortos no campo da batalha alguns dos seus sequazes de maior confiança , deiíando-lhes hum res- piradouro, e promettendo-lhes prémios, paraque, sendo per- guntados , respondessem , que tinháo alcançado de Deos I ii gran- 68 Memorias da Academia Real grande premio , por terem morrido batalhando contra os Morabetins ; e tendo-o clles assim cumprido , lhes tapou logo os taes respiradouros, paraque não divulgassem o caso, e morrerão. 2. Abdelmumen , Ben-AIy , natural de Tagir , lugar distante trcs milhas de Orao da província de Zanata , des- cendia de familia humilde , e seu pai exercitava alli o of- ficio de oleiro. Dedicado desde a sua infância ao estudo do Alcorão , quando Mahadi , seu antecessor , regressou i Mauritânia , aggregou-se a elle , e foi o seu mais fiel dis- cipulo, e general. Tendo-o Mahadi escolhido para seu suc« cessor, congregárão-se os outros seus discípulos logo de- pois do seu fallecimento, e o acclamárao particularmente, não obstante ser Abdelmumen estrangeiro, e desejar cada hum dellcs com a sua respectiva tribu succeder-lhc no thro- no. Julgando elles conveniente occultar por algum tempo ii morte de Mahadi , cuidou entretanto Abdelmumen em do- mesticar hum leãozinho, e em ensinar a huma ave a se- guinte cantilena: «t A continuação das victorias , e conqui- »> stas, e a sua estabilidade só competem a Abdelmumen, >» príncipe dos crentes. » Passados dous annos convocou este os chefes dos Muhadins, e os congregou em huma sa- la, que para esse fim tinha mandado construir fora de Tai- namal , na qual mandou dependurar a gaiola com a dita ave , tendo também antecipadamente ordenado ao guarda do leão , que o soltasse , quando alli se achassem congre- gados. Junta a assemblea , principiou aquella a sua canti- ga, e entrou o leão todo arrogante, o qual fez afastar as- sustados a todos os círcumstantes , menos a Abdelmumen , para o qual se dirigío , fazendo-lhe festa com a cauda, e roçando-se por elle. Observado tudo isto pelos Muh'adins, exclamarão dizendo: ««Se os irracíonaes assim pratícao, que » outra cousa nos resta senão acclama-lo ? >« Tendo com «ffeito sido reconhecido por elles soberano no dia 20 do mez de Rageb do anno J26 (1131), não cessou de com- bater a Aly, e a acu filho TâxefiÁ, últimos soberanos dos Mo- DAS SCIENCIAS DE LiSBOA, íff Morabetins até ao anno 5 39 (1144)*, cm que este ultimo fallcceo, precipitando-sc , como fica dito, do monte junto a Orão; na qual entrou Abdelmumcn , e donde fez logo passar hum exercito de dez mil homens escolhidos a su- ■geitar a Hespanha , sendo a primeira conquista, que nella fizerâo, a cidade de Gerez. Continuou Abdclmumen as suas conquistas na Mauritânia, e Efriquia até chegar a Tu- nes , onde foi também logo acclamado. Tendo regressado para a Mauritânia, dirigio-se no anno 556 (1161) a Tan- ger , donde embarcou para Tarifa , passando desta a Al- geziras , e dahi a Gibraltar, onde se demorou dous mezes. Depois de o terem alli vindo cumpriíjientar os alcaides, e xeques da Hespanha, ordenou logo a invasão da parte Oc- cidental da mesma , onde os Muhadins conquistarão Tran- cozo , Badajoz , Beja , Évora , e Alcaçar de Abudanis (Al- cácer do sal ) ; e tendo nomeado governador desta parte da Hespanha a Mohammcd, Ben-AIy, regressou para Mar- rocos. No anno fjS (1162) sahio delia com direcção a Re- bate com intento de passar segunda vez á Hespanha ; e alli «nio hum exercito de mais de trezentos mil homens para esse fim ; mas frustrou-se esta expedição , porque adoeceo . e morreo nella no dia 2 de Jumadi-laguer, do mesmo anno , tendo sessenta e três annos de idade , e perto de trinta e quatro de reinado. ?,.° lussof II, filho de Abdelmumen, nasceo no dia 3 de Ragcb do anno 5'33 (1139), foi acclamado no anno yyS (1163), e falleceo no anno f8o (1184) junto de Algezi- ras de resultas das feridas, que recebeo na batalha de San- tarém , tendo 47 annos de idade , e 1 1 e alguns mezes de reinado. Passou este príncipe duas vezes á Hespanha á fren- te de numerosos exércitos , alem de outros que em diver- sas occasiões enviou contra a mesma, commandados por seu irmão Abuhafece, e por outros generaes. Foi a sua primeira passagem em y66 (1170) (» Tendo atacado a guarda dos negros , os derrotarão , e se dirigirão sem demora para atenda do principe dos crentes, e a rasgarão ; e tcndo-lhe cravado huma penetrante ferida , cahio em terra. Gritando então as suas concubinas, c escra- vas, acudirão os que o acompanhavao ; e. obrigando os chri- stãos a afastar-se da tenda , trava'rão com ellcs hum vigo- roso combate , atéque os involvêrao , e obrigarão a entrar na villa , deixando mortos muitos no campo , dos dez mil que delia tinhão sahido , não sem grande mortandade da parte dos mosselemanos. Partio immediatamente lussof em grande confusão , e desordem com direcção por Sevilha a Algeziras ; e tendo- se-lhe aggravado as feridas , falleceo no caminho não mui- to distante desta no dia lo do mez de Rabialaguer do an- uo 5:80 (1184), foi transportado o seu cadáver para Tal» namal , e alli enterrado junto da sepultura de seu pai. (a) 4.° lacub Almansor, filho de lussof, nasceo na cidade de Marrocos no anno SSS (1160), foi acclamado em 5-80 (1184), e falleceo na mesma no anno ^jif (1198), tendo quarenta annos de idade. Foi summamente operário, tendo sido edificadas no seu reinado muitas mesquitas, collegios, hospitaes , pontes, eic. , tanto na Mauritânia , como na Efri- (quia , e Hcspanha , na qual também fundou a celebre cida- de de Alarcos , e o castello de Albalate. No anno 583 (1187) passou Almansor peia primeira vez á Hespanha com o U ■ I II» . ' (a) Postoque a descripçSo desta batalha seja tão succinta , o que he usual nos escriptores moham metanos , quando referem successos, que lhes não são agradáveis , e favoráveis aos seus , comtudo bem se conhece pela sua uarra^ãQ qu$o gloriosa foi a menciooada batalha pa* ra os poctuguezes. yt Memorias da Academia Real o projecto de subjugar o paiz Occidental da mesma (PoN tugal ) . Dirigio-se a Santarém , junto da qual se acampou, e dalli mandou fazer incursões sobre Lisboa , e por toda a comarca, matando, captivando, ateando fogo ás povoações, e ás cearas, e cortando os fructos. Depois de ter commet- tido toda a espécie de hostilidades , esforçando-se cm ferir e matar (talvez em vingança da morte de seu pai), reti- rou-se para a Mauritânia , levando comsigo três mil capti- vos de todos os sexos e idades. Constando-lhe depois, que os Portuguczes tinhão retomado no anno y86 (1199) ^^ cidades de Silves, Beja, e Évora, escreveo immediatamen- te abrazado em cólera aos alcaides de Hespanha , arguin- do-os , e ordenando-llies , que sem demora passassem a re- conquistar aquelle paiz ( Portugal ) ; e segurando-os , de que com brevidade se acharia com elles. Estes unidos a Mohammed , Ben-Iussof , governador de Córdova , marcha- rão á frente de hum numeroso exercito com direcção a Sil- ves , a qual atacáráo , e tomarão , bemcomo a Alcácer do Sal , Évora , e Beja , donde regressarão para Córdova , le- vando em cadêas três mil christãos, e quinze mulheres, o que aconteceo no anno yS/ ( 1191). Tornou Almansor a passar á Hespanha no anno fpt (1194), por lhe ter constado, que os christãos não ces- savão de inquietar, e repetir as incursões nos estados dos mosselemanos , sem haver destes quem se atrevesse a op- pôr-se-lhes. Tendo desembarcado em Algeziras no dia 30 do mez de Rageb do mesmo anno , partio immediatamen- te desta para a cidade de Alarcos , onde ElRei D. AíFonso de Castella estava acampado ; e havendo alli chegado no dia 9 do mez de Xaaban do mencionado anno , acampou em huma planície em frente do exercito d' ElRei D. Af- fonso, que se achava acampado em hum outeiro defronte daquella cidade; tratou de pôr era ordem de batalha o seu exercito , e o atacou. Depois de hum porfiado , e obstina- do combate, em que morrerão milhares de soldados de hu* ma e outra parte , voltou ElRci D. Afionso as costas , en^ trou DAS SclEMCIAS DÈ LláBÕA. 7; trou na cidade , c sahio delia fugindo pelo lado , deixando em poder de Almansor as suas riquezas, armas, munições, mulheres, e crianças, e vinte e quatro mil captivos dos seus principiaes cavalleiros, aos quaes Almansor dêo liber- dade; e proseguio dalli para Sevilha matando, e captivan- do sem a menor opposição da parte dos christãos. Entr;indo o anno ^92 (iipj) pôz-se pela terceira vez em campo, e tendo conquistado Calatrava, Madrid, Uclez , c grande parte da comarca de Toledo, que também foi por clle estreitamente sitiada , dirigio-se para Salamanca , a qual tomou por assalto, matando nella todos os homens, e captivando suas mulheres : e depois de saqueada , e demolidas suas muralhas, regressou para Sevilha, e desta passou i Mauritânia. Tendo chegado a Marrocos no mez de Xaaban do anno J94 (1197), entregou o governo a seu filho , e conservou-se retirado no seu palácio até o an» no seguinte , cm que falleceo, 5.° Mohammed II dito Annasser , filho de Almansor, foi acclamado no dia 22 do mez de Rabia-laual do anno S99 C'198), em que falleceo seu pai. Informado elle das TÍctorias do Rei D. Affonso de Castclla , alcançadas dos mohammetanos, e do abatimento, em que estes alli se acha- ■vão , partio de Marrocos á frente de numerosas exércitos •com direcção a Alcacer-seguer. Logoque ahi chegou , dêo principio ao embarque das tropas, e do trem,*2 petrechos de guerra , operação que durou desde o primeiro do mez ■de Xaual até quasi ao fim do mez seguinte de Dulkaada do anno 607 (1211), concluída a qual, aportou Annas- ser , e desembarcou no dia 25" do dito mez em Tarifa , onde o vierão cumprimentar os alcaides de Hespanha, e os doutores da lei. Partio passados três dias para Sevilha i frente dos seus exércitos , os quaes erão tão numerosos , que cobrião montes, e valles , sendo somente o numero . dos voluntários cento e sessenta mil. Admirado de tão cres- cido numero de gente , e dividida esta em cinco exérci- tos , marchou á sua frente para Sevilha, aonde chegou no Tomo X, K dia 74 Memorias da Academia Real dia 17 do seguinte mez. Divulgada esta noticia por todos os paizes christãos , pozerao-se estes na maior inquietação , e os corações dos seus Reis em extrema agitação, cuidan- do huns em fortificar-se, e outros em pedir-lhe a paz. Sahio Annasser de Sevilha no anno seguinte com direcção a Ca- stcUa , e passando pelo castello de Salvaterra, o sitiou, as- sestando contra elle quarenta catapultas , e pondo em gran- de consternação todas suas visinhanças. Sendo passados ou- to mezes de apertado sitio , sem nada poder conseguir , acabadas as provisões, e as forragens para. os cavallos, e chegada a estação do inverno, principiarão os ânimos a es- friar , e desanimar. Noticioso disto ElRei D. Affonso , e desejoso de se vingar , mandou arvorar a cruz em todos os paizes para signal de reunião; e tendo acodido os ou- tros Reis christâos , dirigio-se com elles para Calatrava , a qual lhe foi entregue por capitulação pelo seu governa- dor, depois de repetidos assaltos, e de se desenganar, que não era soccorrido por Annasser , a quem tinha escrito re- petidas vezes para esse fim, o qual tendo-se dirigido a Sal- vaterra a apresentar-se a Annasser, este o mandou injusta- mente matar por persuasão do seu ministro, por ter entre- gado aquelle castello , o que fez grande sensação nos al- caides de Hespanha. Insistindo porém Armasser na con- quista de Salvaterra , e tendo-lhe esta sido entregue por capitulação nos últimos dias do mez de Dulkaada do an- no 608 (12 12); certificado ElRei D. Affonso deste acon- tecimento , partio immediatamente com os outros sobera- nos naqueíla direcção. Sabido isto por Annasser, sahio-lhes ao encontro para os combater , em consequência do que se seguia a batalha de Alaacab, chamada pelos Hespanhoes ãe las Navas de Toloza, DescripçSo desta batalha pelo author árabe, CoUocada a tenda de carmesim em hum outeiro , e entrado Aanisser nella, foi esta rodeada pela guarda dos DAS SCIEMCIAS DE LiSBOA. 75? negros , todos mui bem armados. Postárâo-se na frente des- tes as diversas divisões do exercito em numero de quatro- centos cincoenta e hum mil soldados , alem dos Zanatas , Árabes , e outros , que estavão armados de piques. Logo- que o exercito dos christaos chegou a certa distancia, sahí- rão ao seu encontro os cento e sessenta mil voluntários, e se arremessarão sobre suas fileiras ; e tendo sido envolvidos pelos christãos , se portarão com heróico soíFrimento, e fo- rão todos martyrisados , semque se deliberassem a ir spc- corre-los os Muhadins , Árabes, e alcaides de Hcspanha ^ que se conservarão pacíficos espectadores , sobre os quaes todos carregarão depois os christaos ; mas os alcaides de Hespanha fugirão na força do combate com as suas tropas em vingança da morte , que Annasser tinha dado ao gover- nador de Calatrava em Salvaterra. Vendo os Muhadins, e os Árabes os voluntários mortos , e os alcaides de Hes- panha em retirada ; e que os christaos cada vez mais se multiplicaváo , fugirão para junto da tenda de Annasser , indi) os christaos no seu alcance. Estes não podendo pe- netrar no circulo dos negros, e familiares de Annasser , vol- tarão as garupas dos cavallos contra as lanças dos ditos ne- gros , e penetrando deste modo nelles, matarão dez mil na presença de Annasser , o qual permanecia assentado diante da sua tenda repetindo estas palavras : Sadec^ Arrabaman ca- deb axxattan , que querem dizer : A verdade be do miseri- cordioso, e a mentira do demónio, Aproximando-se então hum árabe de Annasser , montado em huma egoa , lhe disse : j> Até quando permanecerás ahi assentador a sentença de j» Deos he chegada , a sua vontade satisfez-se , e os mos- » selemanos fenecerão. >» Levantando-se então Annasser pa- ra montar no seu cavallo , apeou-se o árabe da sua egoa , e lhe disse: «Monta nella, que te não ha de desagradar, »» porque he fogosa , e ligeira , poisque na tua salvjçâo >» está todo o bem : talvez Deos de magestade te salve » nclla. »> Acceitou Annasser a offerta do árabe, o qual mon- tou no seu cavallo , e fugirão ambos acompanhados d' hum K ii gran- •ji) MemofiasdaAcademiaReal grande esquadrão dos negros. Tendo continuado a mortan- dade dos mossclenianos até i noute , dos quaes apenas es- capou hum de cada mil, dcsappareceo nesta época de 609 (1212), em que se dêo esta batalha, a felicidade dos mos- selcmanos, e estcndôrão os christãos os seus domínios (a). Concluída a batalha, partio ElRei D. AflFonso para Ubeda, e a tomou por força , passando á espada a todos seus ha- bitantes ; e Annasser retirou-se para Sevilha , e dalli para Marrocos , na qual morreo envenenado por disposição dos seus ministros no dia ri de Xaaban do anno 610 (1213), tendo quinze ânuos e quatro mezes de reinado. 6.° lussoflU, filho de Annasser, foi acclamado no mez de Dulkaada do anno 609 (12 12) no regresso de seu pai da batalha de Alaacab para Marrocos. Como era de menor idade , quando seu pai foi morto , ficarão governando em seu nome seus tios e ministros juntamente com os xeques dos Muhadins , motivo por que se conservou seguro o seu impcrio, sem que houvesse quem se atrevesse a pci turba-lo, até tomar as rédeas do governo. Tratou então primeiro que tudo de dispersar aquelles, nomeando-os para diversos go- vernos na Efriquia , e na Hespanha , e chamou para seu lado homens sem credito , nem reputação , o que augmen- tou a decadência do seu poder. Tendo, os Portuguezes Po- (a) Esta foi liuma das mais memoráveis batalhas de christãos con- tra mouros, que se dêo na Hespauha, que foi no dia 16 de Julho de 1212. ElRei U. Aflbnso obteve do pontífice Innocencio líl huma cru- zada, que D. Rodrigo Ximenes Arcebispo de Toledo foi pedir a Ro- ma ; e forão cm seu auxilio os Reis de Aragão , e de Navarra , e mui j)oderosos príncipes de França, Alemanha, e de muitas outras partes da eliristajidade , nem de outra sorte se poderia obstar ao ímpeto , com que an)ea.;avão tomar de novo a Hespanha. Ficou a victoria da parte dos chiislãíos com morte de quasi duzentos mil mouros , e prizão de outros muitos. No Arcebispo D. Rodrigo, e em D. Lucas de Tui de- vem principalmente ler-se as circumstancias, e signalados sucessos del- ia, por serem authores, que nella se acharão especialmente o Arce- bispo, que foi o que mais trabalhou. Neste anno reinava já em Por- tugal Elllei D. Affonso ÍI genro do mesmo Rei , que a ganhou , pa- rente , e veuoho , e que. da mesma victoria. recebia grandes interesses. DAS SciBNci AS DE Lisboa. yyt posto em apertado sitio Alcácer do sal , noticioso lussof disto , mandou em seu soccorro as tropas de Sevilha , Cór- dova , c Gacn , as quaes ao aproximar-se dos sitiadores , nâo se atreverão a accomette-los , lembradas ainda da der- rota de Aiaacab , e voltarão a fugir. Perseguidas então pe- los sitiadores , forão por elles derrotadas , e todas mortas no anno 614 (12 17), os quaes voltando depois a proseguir no sitio do castello , o tomarão por assalto , e matarão a todos os mosselemanos, que nelle encontrarão (a). Falleceo lussof em Marrocos da cornada de huma vacca brava no dia 11 do mez de Dul-hej-ja do anno 620 (1223), sem ter deixado successão , e apenas huma concubina pejada , ten- do então dez annos e quatro mezes de reinado , passados todos na molleza, frouxidão, e occiosidade , deixando a ca- da hum dos governadores reger a sua respectiva província ao seu arbítrio , e como independente, . 7.° Abu Moharamed Abdeluahed , irmão do avô do prc» cedente soberano, fui acclamado contra sua vontade pelos Muhadins na alciçova de Marrocos em o palácio de Al- mansor , sendo já v.-lho , no dia 2 do mez de Dul hej-ja do anno ■620 (1223), e successivamente em todos os ou- tros estados da Mauritânia , Efriquia , e Hespanha , menos cm Murçia, onde era governador seu sobrinho Mohammed Aladel , que se recusou a prestar lhe obediência , aconsc'» Ihado pelo seu secretario, que lhe fez entender pertencer- Ihe de direito a coroa, por ser filho de Almansor, e do- ta- (a) Para esta gloriosa conquista , e derrota dos mouros cooperarão 68 cavallciros Templários, e também as guarnições das armadas iu- Elcza , franceza, e flamenga, que naquelle tempo tinhão aportado a isboa , convidadas pelo Bispo da mesma D. Sueiro , segundo referem jnuitos dos nossos historiadores, e alguns dos hespanhoes. Vejão-se en- tre elles principalmente Brand. Monarch. Lusit. parte IV liv. 13. cap. 70. e seg , U. Rodrigo da Cunha Hist. Ecclesiast. de Lisboa parte U çap 25. , Cardozo AgUtl. Lusitan. dia 29 de Janeiro let. b. No reinado deste soberano padecerão com invicta constância os jnnrtyres de Marrocos, e discípulos do glorioso S. Francisco a 16 de (Janeiro de 1220. 78 MemoRi Ãs DA AcA DEMi A Real tado de bellas qualidades , instigando-o a que convidasse os Muhadins , paraque o acclamassem ; e tendo convocado os doutores da lei , os xeques , e mais Muhadins , residentes em Murcia para esse fim , condescenderão todos com a sua vontade , reconhecendo-o por seu soberano. Escreveo de- pois a seu irmão Abu-laala , governador de Sevilha , fazen- do-lhc esta participação , e convidando-o também , paraque o fizesse alli acclamar; e postoque os Muhadins nella exi- stentes o reconhecessem por tal , os seus habitantes se ne- garão a isso , conservando-se fiéis ao sobredito seu tio. Ten- do feito igual proposta aos Muhadins , residentes em Mar- rocos, promettendo-lhes sommas consideráveis, e os primei- ros empregos do estado , condescenderão com a sua vonta- de, c forão ter com o seu soberano Abu-Mohammed , ao qual ameaçarão com a morte , se não abdicasse a coroa , e reconhecesse a seu sobrinho , ao que elle se prestou , man- dando logo chamar o juiz da lei, doutores, e xeques, per- ante os quaes abdicou a coroa , e prestou o juramento de sugeição, e fidelidade ao dito seu sobrinho no dia 28 de Xaaban do anno 621 (1224). Não satisfeitos os rebeldes com a sua abdicação , forão , passados três dias , ter com ellc, e o estrangularão, roubando-lhe os seus bens, e vio- lando suas mulheres, tendo então outo mezes e nove dias de reinado. 8.° Abdallah Aladel, conhecido pelo appellido de Abu Mohammed , filho de lacub Almansor, e de huma escra- va das captivas em Santarém , foi acciamado em Murcia , onde era governador, no mez de Safar do anno 621 (1225), e em Marrocos , e mais estados da Mauritânia no mez de Xaaban do mesmo anno, assimcomo nos diversos estados de Hespanha sugeitos aos mohammetanos , menos em Valên- cia , Xâtiva , e Dania , onde governava Abuzaid , e em Cór- dova , Gaen , Qiiezada , e mais castellos das suas comarcas , de que era governador Abu Mohammed , irmão deste , que foi também alli acciamado , appel!idando-se Baecense , por se ter levantado em Baeça. Ateadas as discórdias entre os d es- 1 DAS SciENCiAS DE Lisboa. 79 descendentes de Abdelmumen, enviou Aladel hum exerci- to, capitaneado por seu irmão contra Bacça, e sugeitou a Abu Mohammed. Este pcdio depois soccorro a ElRei D. AfFonso de Castella contra Aladel ; e tendo-lho elle presta- do com a condição de lhe entregar vários castellos, e en- viado hum exercito de vinte mil cavallos , sahio á frente dclles ao encontro do irmão de Aladel , e o derrotou. Cer- tificado este cm Murcia da derrota de seu irmão, e receoso do Baecense , encarregou o governo de Hespanha ao dito seu irmão , e partio para Marrocos. Aproveitando-se o re- ferido seu irmão da sua retirada , fez-se acclamar em Sevi- lha , e nos mais estados da Hespanha , que lhe erão sugei- tos, no mez de Xaual do anno 624 (1227). Não parou aqui a sua amb çáo : escreveo logo aosMuhadins, residen- tes cm Marrocos communicando-lhes o acontecido , e cxci- tando-os á rebelião contra seu irmão, paraque o acclamas- sem. Movidos elles das promessas , que lhes fez , dirigí- ráo-se a Aladel, e lhe instarão, paraque abdicasse a co- roa ; e tendo-se negado a isso protestando-lhes , que havia morrer Rei , mettêrão-Ihe a cabeça em hum repucho d'a- gu.i, amarrando-o com a facha do seu turbante; e nesta posição o conservarão até morrer , o que acontcceo no mes- mo anno de 624, tendo três annos, e pouco mais de sete mezes de reinado. 9.° lahia V, filho de Nasser, foi acclamado pelos Muha- dins em Marrocos no dia 28 do mez de Xaur.] do anno 624 (1117), tendo então dezeseis annos de idade, por se recearem que Abu Laala se quizesse vingar delles, por ha- verem morto a seu tio Abdeluahed , e a seu irmão Aladel. Passado apenas hum mez depois da acclameção de lahia , amotinou-se contra elle o povo de Marrocos , c os Muha- dins , e acclamárão a Abu-Laala , o que o obrigou a fugir para Tainamal, donde regressou passados quatro mezes, en- trou em Marrocos, e matou o seu governador. Ao sétimo dia tornou a sahir delia , e foi-se acampar em o monte de Aigclan á espera de Abulaalâ, com o qual não cessou de com- 8o Memouias da academia Real combater-sc , e depois com seu filho Raxid , atéque o ma- tou hum árabe desertor nas visinhanças de Tadela no dia 28 do mcz do Ramadan do anno 633 (1236), tendo no» ve annos c nove dias de reinado. IO." Edriz III, Abu-Laala, filho de lacub , nasceo em Málaga no ahno 581 (ii8y), e foi acclamado em Sevilha no dia 2 domez de Xaaban do anno 624 (1227). Concluida esta ceremonia, escrcveo aos Muhadins, residçntes em Mar. roços , persuadindo-os , que matassem a seu irmão Aladel , e o acclamassem , ao que elles se prestarão. Informado do bom êxito do seu convite , dirigio-se a Algeziras com o destino de jíassar á Mauritânia; e como alli soubesse, que os Muhadins tinhão violado o juramento de obediência , que lhe tinhão prestado, acciamando a seu sobrinho lahia, escrcveo a EIRei de Castclla , pedindo-lhe auxilio de tro- pas , que elle lhe prestou com as seguintes condi\;Ões : »» de »> fazer edificar em Marrocos huma igreja para oschristãos, j> e de não permittir, que algum destes abraçasse o moham- » metismo , nem embaraçar a conversão de qualquer mouro » para o chnstianismo. »» Tendo-lhe chegado as referidas tropas em numero de dez mil cavalleiros no mez do Ra- madan de 626 (1229)» nomeou hum tcnente-rei para fi- car governando na Hespanha em seu lugar , e embarcou para Ceuta, donde partio para Marrocos. Ao aproximar-se, sahio-lhe ao encontro seu sobrinho lahia; e travado entre elles o combate , ficou este derrotado no dia 25 do mez de Rabia-laual do anno 627 (1230), e entrou Abu-Laala em Marrocos, onde foi acclamado pelos Muhadins, depois do que subio ao púlpito a pregar ao povo, e amaldiçoou a Mahadi (a) , chefe desta dinastia , accrescentando , que lhe não chamassem defensor, mas sim vil seducior, por- que somente Jesu Christo era quem dirigia á verdade da Re- * ^ ■ (a) Mahadi era hum fanático, chefe da dinastia dos Muhadins, que com o pretexto da religião se levantou contra os Alniorabides, e os desthronou, fazeudo-se acclamar, couio se disse em seu lugar. DAS SciENCIAS DE LiSBOA. 8l Religião. Recolhido depois ao seu palácio, sahio dellc pas- sados alguns diaá , e convocou os Muhadins ; e tendo-os reprehendido das suas desordens , e revoltas , e de haverem morto a seus irmãos, e tios, os mandou m^tar a todos. Logoque Abu-Laala se auzentou da Hespanha , perde- rão nclla os Muhadins no mesmo anno todo o dominio, c passou este para Benohud , que já se tinha levantado com parte delia ; e Icvantou-se com Ceuta Abu-Mussa , filho de Almansor, contra o qual Abu-Laala logo se dirigio, Apro- vcitando-se lahia da sua ausência , baixou das montanhas , entrou em Marrocos , onde destruio a igreja dos christaos , matou milhares de mouros, e judeos, e acolhêo-se para as mesmas, levando comsigo todas as riquezas do palácio, o que obrigou a Abu-Laala , ao receber esta mticia , a le- vantar o sitio de Ceuta , e partir apressadamente para Mar- rocos. Retirado este, acclamou Abu Mussa , governador da dita praça, a Benohud, reconhecido na Hespanha, o que causou tanto desgosto a Abu-Laala , ao receber esta noti- cia , que morrco no caminho de paixão no ultimo do mez de Dul-hej-ja do anno 629 (1232), tendo sido o seu rei- nado de cinco annos e outo mezes todos consumidos em guerras contra os seus parentes. ii.° Aba-Muhammed II, Abdeluahed Arraxid, filho de Abu-Laala , foi acclamado no primeiro do mez de Mohar- ram do anno 6^0(12^2) por influencia, e valimento do ge- neral da tropa Hespanhola no mesmo lugar, em que morreo seu pai , tendo então quatorze annos de idade , donde mar- chou para Marrocos , levando comsigo o corpo de seu pai , para alli ser sepultado , onde entrou triunfante depois de derrotar a lahia , que para alli tinha regressado. Conscr- vou-se em socego até ao anno 633 ^123^}, em que tendo mandado vir á sua presença os xeques da tribu dos Golo- tes , e matando cinco delles , foi este procedimento causa de SC amotinar a dita tribu, entrar na cidade, saquea-la , e obrigar a Abu-Mohammed a fugir delia com a sua tro- pa para Sagelemassa: e mandando a mesma chamar depois Tmio X» L a 8» Memorias da Academia Real alihia, lhe entregou a cidade ; mas muito pouco tempo se conservou nclla, porque tendo regressado Abu Mohammed de Sagclemassa , e saliindo-lhe lahia ao encontro , ten- do siJo derrotado , foi morto no caminho , fugindo para Taza , pelos seus , os quaes trouxerão a cabeça a Abu- Mohamnied. Fallecco este em Marrocos afogado em hum tanque no dia 9 do mez de Jumadi-lagucr do anno 640 (1242), tendo sido o seu reinado de dez annos e cinco mezes. 12." Abul-hassan Assaid , filho de Edriz, foi acclamado em Marrocos no dia primeiro do mez de Jumadi-Jaguer do anno 640 (1242), e falleceo no ultimo do mez. de Safar do anno 646 (1248); vindo a ser o seu reinado de cinco annos e quasi nove mezes , entretidos todos em guerras com os Benimerines , que já então tinhâo apparecido na Mauritânia, e dominado todos os campos. 13.° Ornar, filho de Ebrahim Exliaqque , foi acclama- do em Marrocos no dia immediato ao fallecimento de As- said. Tendo sido derrotado pelos Benimerines junto de Ma- quinez , fugio para Marrocíos, onde se conservou até ao anno 66$ (1266), em que foi morto por Abii-Dubbusse , depois de ter reinado perto de dezenove annos. 14.° Edriz IV, conhecido pela alcunha de Jht Dalbusse^ e ultimo soberano da dinastia dos Muhadins, era filho de Abuabdallah , c de huma christa , que tinha abraçado o muhammetismò. Querendo Ornar mata lo por cousas que delle lhe contarão, escapou-se , e dirigio se para Féz a en-* contrar-se com Abu lussof , quinto soberano da dinastia dos Benimerines, que já então estava reconhecido como tal na maior parte da Mauritânia , e lhe pedio auxilio contra Omar , o qual elle lhe concedeo com a condição de lhe entregar metade dos estados , que lhe tomasse. Poz-se cm marcha para Marrocos cora este soccorro, ao quil se hiao unindo varias tropas pelo caminho ; e tendo alli chegado , posto- que lhe fechassem as portas da mesma , nem por isso dei- xou de çommunicar-se com os que occupavão a alcáçova, com DAS SciENCIAS DE LlSBOA. 83 com OS quaes tratou da sua entrega. Sabido isto por Ornar, retirou-se para Azamor, onde se achava seu sogro gover- nador por nomeação sua , o qual lhe foi infiel , e o prendeo , dando logo parte do seu procedimento a Abu-Dabbusse , o qual o mandou buscar, e matar no caminho. Certificado Abu lussof das victorias , e conquistas de Abu-Dabbusse ^ escreveo-ihe exigindo dclle o cumprimento, do que com el- le tinha pacteado ; e respondendo lhe este altivamente, nc- gando-se á sua execução, partio Abu lussof no anno 667 (ii68) á frente de todos os seus exércitos a ataca-lo. Sahio- Ihe ao encontro Abu-Dabbusse na província de Duquda ; e tendo-se travado entre elles hum porfiado combate , foi nelle morto Abu-Dabbusse , o seu exercito derrotado, e to- do o acampamento tomado. Acabou com a morte deste a dinastia dos Muhadins (Almuhjdes) , depois de haver reinado por espaço de cen- to e cincoenta e três annos, isto he ^ desde o anno 51^ até ao anno 667. V. ■ Quinta dinastia do Benimerines com vime soberanos. Origem desta dinastia^ e motivo da sua vinda d Mauritânia. Aos Muhadins succedcrao os Benimerines. Descendem os Benimerines da mais distincta tribu da extensíssima pro- vincia de Zanata , situada na parte meridional da Africa no paiz de Sahara desde a província da Efriquía até Sage- lemassa. Não tinhão estes povos em outro tempo sugeiçâo a príncipe algum, desconhecião a agricultura , e o commer- cio ; e unicamente se occupaváo no exercício da caça , no ensino dos seus cavallos , e nas incursões em os paizes ví- sinhos : e o seu sustento erão tâmaras , carne , leite , e mel. Alguns destes povos comtudo passavão no verão á Mau- ritânia a apascentar nella os seus gados, onde se demora- yão até Outubro, era que volta vão para o seu paiz. L ii Ten» 84 Memorias tja Academia Rpal Tendo vmdo deSahara no anno 610 (1213) na forma do seu costume , e encontrado a Mauritânia quasi despovoa- da de seus habitantes , por haver fallecido a maior parte delles na batalha de Alaacjb (das Navas ) , fixarão nella a sua residência , e escreverão a seus irmãos , informando-os do acontecido , e da abundância , e fertilidade do paiz , e convidando-os para virem estabelecer-se nelle. Acceitárão estes o seu convite, e partirão com direcção á Miuritania atravessando os dezertos , montados sobre seus cavallos , e camellos; e a invadirão entrando nella no mesmo anno em grande numero á maneira de caudalosos , e impetuosos rios. Serie genealógica dos soberanos desta dinastia. " 1.° Abu Mohammed III, Abdel-haqque , filho de Abu Galed, foi acclaniado pelos Bcnimerines no anno 592 (1 196) logoque falleceo seu pai na provincia de Zab , donde des- cendia, de resultas das feridas adquiridas na batalha de Alar- cos , comandando nella os Zanatas. Tendo invadido com el- les a Mauritânia , os destacou pelas suas comarcas , donde principiarão a fazer incursões nos paizes, que se conserva- vão sugeitos aos Muhadins, Informado disto lussof , seu so- berano, enviou contra elles hum erercito de vinte mil com- batentes, os quaes forâo derrotados pelos Benimerines jun- to do rio Tacur com grande mortandade , apossando-se de hum grande despujo. Animado Abu-Mohammed , e os seus çom esta victoria, proseguio nas suas conquistas até ao an- no 614 (12 17), em que falleceo na batalha contra as tri- bus de Raiah , e Beniassecar , as quaes depois forão der- rotadas pelos Benimerines , sabendo vingar a morte do seu principe. 2." Abu-Said Othoman , filho Abdel-haqque , succedeo a seu pai, e proseguio nas suas conquistas, as quaes cres- cião com rapidez, diminuindo em proporção o império dos Muhadins, os quaes ']Á então erão apenas reconhecidos em algumas cid^iii;^» Foi morto no anão 638 (1240) por hum ar- DA.S SciEKCIAS D£ LiSBOA. 8$? arrenegado , que havia crcado., tendo de reinado vinte c tfcs annos e sete mczes. . 3.° Abu Maruf Mohammed , irmão de Abu-Said Otho- man > foi acclamado logo depois da morte deste , o qual proscguio nas conquistas com igual ardor, não cessando de combater com os Muhadins até ao anno Ó42 (1244), em que, tcndo-se encontrado com elles, foi morto pelos mes- mos , e os Bcnimerines derrotados. 4.° Abu-lahia, filho de Abdel-haqque , tendo sido ac- clamado pelos Benimerines depois da morte de seu irmão, proseguio a guerra contra o Muhadins : e posto sofresse nella alternativas, augmentou comtudo o seu poder com a conquista de Fez, e de varias províncias. Tendo adoecido na dita cidade no mez de Rageb do anno 6^6 (i2j8), fallecco poucos dias depois , havendo reinado dez annos ^ e alguns mczcs. y.° Abu-Iussof lacub , irmão do precedente soberano , nasceo no anno 609 (laii) , e foi acclamado no anno 6; 6 ii2S^) 'og" depois do fallecimento do dito seu irmão, ten-f ^o então quarenta e seis annos de idade. Senhor da cida- de de Marrocos , e dos outros paizes , que ainda reconhe» ciáo os Muhadins, ficando consequentemente extincta esta çinastia , passou a primeira vez á Hespanha no anno ójz (1274) instado por Ben-Al-hamar , senhor de Granada , que lepctidas vezes lhe tinha representado as desgraças , e o aperto, a que os christãos ali) tinhao reduzido os mossele- inanos. Tendo desembarcado em Tarifa , dirigio-se a Al- fjeiiras, onde o esperavâo Ben A]«hamar, e Ben Aiequelu- a, senhor de Málaga, com as suas tropas. Tendo despe- dido estes para os seus estados , partio á frente do seu exercito para as margens do rio Uadelquebir (Betis), onde fnandou fazer incursões nas comarcas de Sevilha, Córdova, tJbeda , e Baeça. Depois de haver queimado, saqueado, ma- tado , e captivado indistinctamente sem attenção a sexo , ou idade, e conquistado os castellos de Bollea , Almodo- var, e outros, nçs quâfiS fipçontrou iaiownsas riquezas, pas- sou 86 Memokias da Academia Real sou para Ecija. Vindo os seus exploradores dar lhe alli a noticia, de tjue D. Nuno de Lara, homem grande per* seguidor dos mouros, e muito estimado dos christaos, por terem sido sempre afortunados debaixo do seu commando , se dirigia contra cUe á tVente de hum numeroso exercito , dispoz o seu em ordem de batalha; e depois de lhe aren- gar, inflammando-o , e animando-o para a peleja, avançou immediatamente contra os christãos, e os derrotou depois de hum obstinado combate , ficando morto no campo da batalha o seu general com dezoito mil christãos, e dos mou- ros somente trinta e dous. (a) Ganhada esta batalha , a qual teve lugar no anno 674 (iiyf)» regressou para Algeziras , levando encadeados os chefes dos christãos em sinal de triunfo , donde enviou de presente a Ben-AUhamar a cabeça de D. Nuno de Lara , "a qual elle enviou a ElRei D. Affonso, querendo render- Ihe nisto serviço , e mostrar-lhe a sua amizade. A preza nesta campanha , diz o author , ( parece incrível ) constou de setecentos vinte e quatro mil bois, de seiscentos qua- torze mil cavallos, e bestas muares, de innumeravel gado lanigero, e de sete mil outocentos e trinta captivos de to- dos os sexos, e idades. Não satisfeito com esta victoria , tornou a sahir para Sevilha ; e depois de novamente sa- quear a sui comarca , queimar varias povoações , e demo- lir alguns castellos na mesma, voltou para Gerez , na qual comnietteo iguaes barbaridades, donde regressou para Alge- zinis carregado de despojos, e com tantas mulheres capti» vas, que se vendia alli cadahuma delias por ducado e meio. Reduzida a Hespanha á maior penúria , e não tendo o bár- baro comque sustentar nella o seu exercito, voltou para a Mauritânia, e chegou a Féz naquclle mesmo anno. No principio do mez de Moharram do anno 676 (1177) pas- (a) P6de ver-se a relação desta batalha em MariaDna liv. 13. Zur rita, liv. 3. çap. 98, e Garibai j liv. 39. cap.. 13. DAS SciENCIAS DE LiSBOA. 87 passou elle segunda vez á Hespanha. Tendo desembarcado .em Tarifa no dia 28 do mesmo mez, dirigio-se logo a Al- geziras , e desta a Ronda, onde o vierão encontrar o fi- lho de Ax.iquelula , senhor de Guadiz, e Abu Mohammed , senhor de Málaga , com os quaes se encamiuhou para Sevi- lha, junto da qual se acampou no i.° do mez de Rubia- Jaual do referido anno. Achando-se ElRei D. Affonso cer- cado nella, c conhecendo scr-lhe indispensável dar batalha a Abu lussof, sahio da cidade á frente do seu exercito, ar- mado todo de capacetes , elmos , e saias de malha , e fez alto junto do rio. Tendo Abu-Iussof arengado aos seus pa- ra os animar, e inflimmar contra os christãos, dirigio-se con- tra elle , e o accometteo , e derrotou , captivando huns , c matando outros, sendo tantos os feridos, que se lançarão" ao rio, que as suas aguas parecião sangue. Terminada esta acção , proseguio a sua marcha por Alxarafe , Niebia , e outras povoações , matando , captivando , e saqueando até Algeziras. Tendo depositado nesta o despojo, voltou para Gercz , na qual mandou cortar os olivaes, as vinhas , e to- das ás mais arvores , e destruir as searas , o que igualmen- te praticou nas comarcas de Córdova , e Jaen ; e tendo con- quistado Rota, S. Lucar, e outros castellos , regressou pa- ra Algeziras. Vendo-se ElRei D. Affonso em tanto aperto, enviou-lhe alli alguns sacerdotes a pedir-lhe a paz, a qual elle lhe negou. Tendo Abu-Iussof, depois de convalescido da moléstia, que alli o accometteo, regressado para a Mau- ritânia no principio do anno 677 (1278), aprovcitou-se ElRei D. Affonso da sua ausência , e emprehendeo o sitio de Algeziras com hum exercito de trezentos mil infantes, e trinta mil cavallos , e com quatrocentas embarcações de guerra entre grandes e pequenas {a) . Vendo-sc os habitan- tes (o) Posto se não possa acreditar semelhaute exageração , comtudo a Corona gótica , e outras historias hespanholas dizem , que a armada dos christãos constava de vinte e quatro navios de alto bordo , e de uiteota galera*. 82 Memorias DA Academia Real tes de Algeziras em circumstancias tão criticas , recorrerão a Abu-Iussof, o qual enviou immediatamente a seu filho para Tanger a apromptar a armada, o qual tendo unido em Ceuta setenta galeras, as fez passar a Gibraltar, donde se dirigirão contra a dos Hcspanhoes, que bloqueava Algezi- ras. Aterrados estes , e desanimados , por ter parecido ao seu Almirante, c oflíciacs, que as galeras dos mosi-elema- nos passavâo de mil , (o que o author attribue a prodígio) deixáráo-se vencer com morte de huns , e captiveiro dos outros, sendo do numero destes o filho da irmã d' ElRei D. ASinso. Foi ganhada esta batalha , ficando desafronta- dos os habitantes de Algeziras , no dia 2 do mez de Ru- bia-lauil do anno 678 (1279). Passou Abu-Iussof terceira vez á Hespanha a instan- cias de ElRei D. ASbnso a auxilia lo contra seu filho D. Sancho, que se havia rebelado contra elle com grande par- te dos seus vassallos. Desembarcou em Algeziras ; e tendo encontrado os christãos divididos em partidos, encaminhou- se para Zahara no reino de Granada , onde o veio encon- trar ElRei D. Affonso, o qual tendo sido por elle bem re- cebido , lhe representou a desgraça , e pobreza , em que se achava , e que não lhe restando senão a coroa , que herda- ra dos seus antepassados , ahi lha oflferecia em penhor de algum dinheiro, que lhe quizesse emprestar, ao que se prestou, subministrando-lhe cem mil ducados ; e partio im- mediatamente para Córdova , onde se tinha encerrado D. Sancho; e dando a volta por Toledo, e Madrid , mtando, e devastando quanto encontrou , regressou dalli para Alge- ziras , e desta para Málaga , na qual entrou no principio d(» anno 682 (1283); e depois de tomar vários castellos, embarcou naquelle porto para a Mauritânia. Regressou Abu-Iussof quarta vez á Hespanha , o qual tendo desembarcado em Tarifa no anno 684 ( iiSy), pas- sou delia a Algeziras, desta a Gcrcz, e daqui a Sevilha, destrqindo , e abrazando tudo quanto encontrou ; e o mes- mo praticarão as diversas partidas de tropa , que destacou por DAS SciENciAS DE Lisboa. 89 por toda a Andaluzia, nao deixando, comquc os seus habi- tantes SC podessem alimentar, o que obrigou, e resolvco a Abu lussof a regressar para a Ãlauritania, fazendo pri- meiro vir a sua armada, para obrigar a dos christaos , que cruzava no estreito para llic interceptar a passagem , a rc- tirar-se , o que com cfFeito conseguio. Entretanto enviou- Ihe ElRei D. Sancho alguns sacerdotes a Algeziras a pe- di r-lhc a paz, que ellc lhe concedco com as seguintes con- dições: I.* não commetter para o futuro hostilidades con- tra os estados dos mosselemanos , fossem ou não seus vas- sallos , nem contra as suas embarcações : 2.' reconhecer-se por seu súbdito, obedecendo-lhe em tudo: 3." consentir, que os mouros andassem de dia , e de noute commercian- do cm todos os seus estados, sem serem incommodados, nem obrigados a pagar algum imposto , ou alcavala : e 4.' não fallar contra os mosselemanos , nem asscntar-se na sua pre- sença. Depois de concluído este tratado, adoeceo alli Abu- lussof; e tcndo-se aggravado a moléstia, fallecco no dia 2a do mez de Mohurrpm de 68 y (1286), donde foi transpor- tado para a Mauritânia, e sepultado na cidade de Rebate, tendo reinado por espaço de vinte e três annos , emprega- dos quasi todos em iniquidades, e barbaridades contra 03 chriscáos na Hespanha. 6." Abu-Iacub, filho de Abu-Iussof, nasceo no anno ^38 (1240), e foi acclamado em Algeziras no mesmo dia do fallecimento de seu pai , sendo então de idade de quarenta e seis annos e oito mezes. Achando-sc a esse tempo na Mauritânia , onde recebeo esta noticia , partio immediata- mcnte para Algeziras, donde sahio poucos dias depois pa- ra Marbelha , e delia enviou hum mensageiro a Ben-AI- hamar, senhor de Granada, para vir alli ter com elle , o que cumprio. Depois de lhe ter dado os sentimentos pela murte de seu pai , e os parabéns pela sua exaltação ao thro- no, ajust)U Abu lacub com elle a paz, restituindo-lhe em virtude delia todos os seus estados, á excepção de Alge- 2iras , Ronda , Tarifa , e Guadiz com as suas respectivas Tíffw X. M CO- 9Q Memorias DA Academia Real comarcas, que reservou para si. Coiicluido este pacto, rc» grcssou para Algeziras , onuc o espcravao os enviados de ÈlRei D. Sancho, com os quaes ratificou a paz, que este pouco antes tinha ajustado com seu pai. Chamando depois a seu irmão Abu-Atia , o encarregou do governo da Hcs- panha, recomçndando-Ihe muito a sua recta administração; e partio para a Mauritânia , na qual se tinhao rcbellado contra elle varies dos seus parentes, sendo deste numero seu filho Abu-Amor, que se tinha feito acclamar em Mar- rocos , aos quaes todos vcnceo , e subjugou. Dissolvida a paz entre ElRci D. Sancho, e Abu-Iacub, no anno 690 (1191), partio este immediatamente para Al- caçar seguer com o intento de alli embarcar para a Hes« panhí ; mas obstando-lhe ao embarque a armada de D. San- cho , que se achava cruzando no estreito para esse fim , fez Abu-Iussof vir as suas galeras para se lhe opporem : c co- mo fossem dispersas , e destroçadas por hum temporal , e a maior parte da sua tripulação morta , conservou-sc naquella fortaleza até as mesmas se reformarem ; e no mez de Ra- madan do mesmo anno passou a Tarifa , e desta ao castel- ]o de Bejar , que teve em apertado sitio por espaço de três mezcs , destacando dalli partidas das suas tropas a fa- zerem correrias nas comarcas de Gerez, e Sevilha , concluí- dos os quaes, se retirou, para Algcziras, e daqui para a Álauritania , por se fazer nella indispensável a sua presen- ça. Desembarcado nella no anno 691 (1292), continuou na eijipreza de subjugar os revoltosos até ao anno 70o (1306), em que foi morto de huma estocada no ventre por hum seu eunuco. 7.° Anicr Abu Tabet, filho do príncipe Abdallah, nas- ceo no, anno 683 (1284), foi acclamado no anno 706 lo- go depois do fallecimento de seu avô Abu-Iacub, e falle- ceo em Tanger no anno 708 (1308), tendo hum anno, e três raezes de reinado. 8.° Soleiraan Abu Rabia , irmão do precedente, foi ac- clamado cm Tanger logo dep-ois da morte do mesmo, ten- do I DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 9I do então de idade dezenovc annos e quatro mczes, e fal^ leceo de moléstia no castcUo de Taza no mez de Jumadi- kguer do anno 710 (1310), havendo reinado dous annos e cinco mezes. 9.° Othoman Abu-Said, filho de Abu lussof , nasceo no mez de Jumadi-laquer do anno 67J (1276), e foi accla- mado no castcllo de Taza no anno 710 logo depois da morte de Soleiman. Fez diversas expedições contra a Hcs- Pfir-ciriái I I 1 ■ , , . i-r< • r I °s extrattos panha; e tendo perdido na ultima a lanra, occupou-se de-ja lustoria pois unicamente na administração dos seus estados na Mau ài funda- ritania até ao anno y^t (1330), em que falleceo. ^^os_* "' 10." Abul-hassan II succedeo a Othoman, o qual tendo felizmente extendido as suas conquistas até Tunes, ensober- becido com tão prósperos successos, resolveo proseguir as conquistas na Hespanha , para a qual enviou logo a seu fi- lho Abdclmaleq á frente de hum exercito. Postoque este principe fizesse grandes estragos na Andaluzia , foi a final derrotado pelos hespanhoes ; e aindaque podesse escapar da batalha , teve a infelicidade de ser depois encontrada na sua retirada por alguns christaos , os quaes o matarão com duas lançadas Sentido Abul-hassan da trágica morte de seu filho, determinou ir vinga-la, e passou a Andaluzia com hum exercito de sessenta mil combatentes, não obstan* te as eíRcazes diligencias da armada hespanhola para lhe obstar , a qual tendo atacado a dos mouros na mesma bahia de Gibraltar , foi por esta derrotada , ficando a maior par- te da mesma em poder delles , e o seu general ( Affonso Tenório) morto. Unido então Abul-hassan ao rei de Gra- nada marcharão a sitiar Tarifa ; mas os reis de Castella e Portugal voarão em seu soccorro , e a salvarão , tendo derrotado completamente os mohammetanos junto do rio Saiado. Pôde com tudo escapar-se Abul-hassan para Alge- ziras , donde embarcou para Ceuta j mas tendo os mouros principiado a muruiurar contra elle, por ter perdido a ac- ção, aproveitou-se seu filho Abu-Annan, principe inquito, da occasiáo, rcvoltou-se contra elle, e o obrigou a reti- M ii rar- 9* MErtoniAí o.A Academia Real rarse para Sagelemassa. Tendo reunido nella hum poderoí?o exercito , voltou contra seu ingrato filho : e como fosse vencido por este nas montanhas próximas a Féz , rctirou- sc , c foi morrer ao monte de Haxeta na comarca de Alar- focos no mez de Rabialaual do anno 752 (1351)-, tendo* vinte annos e quatro mc/.cs de reinado. ii.° Abu-Annan Fares tendo-se rebellado contra seu pai , ficou depois que o derrotou junto de Féz , pacifico possuidor dos seus estados até Tunes. Falleceo este prín- cipe no dia 24 do mez de Dul-hci-ja do anno 759 (i35'8), tendo encSo trinta annos de idade, e sete annos e nove me- 2es de rcin r espaço de dous annos, e três mezcs, falleceo no anno -'62 (1360). 14.° Abu Ornar Taxefin succedeo a seu irmão Abu-Sa- lem , e reinou somente três mezes. 1^.° Abu Z>àan Mohammed succedeo a seu irmão Abu Ornar ; e tendo reinado por espaço de cinco annos , falle- ceo em 768 ( 1 3iao gninioSf e quatro intrusos. Ortgem desta dtnauia, os extractos . do maniis- Aos Benimerines succedêrao os xáiifes Saadias. Havia Já d,^\jfi* na província de Daraa ( Numidia ) hum mouro chamado f'-'sSaaai;:5,e Abu Abdallah Mohammcd , que se intitulava xarife da „^^t';"''\gjl descendência de Mafoma , mas falsamente (diz hum es- nante até criptor árabe ) , o qual tinha três filhos chamados Abdel- 2°\\J->. ' cadcr {a) , Ahamed , e Mohammed. Destes d!)us últimos contão os authores árabes a seguinte fabula : Andando ellcs na escola , e estando hum dia assentados á porta de seu mestre, de repente salta hum gallo sobre suas cabeças, e principiou a cantar. Admirado o mestre de tao estranho acontecimento , o communicou ao paif dos mesmos. Este foi-sc ter com hum sábio ancião , propoz-lhe o caso , e pe- dio-lhc quizesse explicar-lhe a significação de tão extraordi- nário acontecimento, o qual lhe respondeo, que seus fi hos viriuo a ser grandes homens , e possuidores de dilatados Reinos. 0;í/ido pelo pai tão grato annuncio, continuão oS Biesmos authores , tratou com todo o esmero da sua edu-» cação com a esperança da felicidade , que lhe foi progno- sticada ; c quando chegarão á idade varonil , os enviou á peregrinação de Meca , para merecerem mais consideração entre os mouros. Affcctando elles no seu regresso hum ex- terior religioso, forão com effeito recebidos com o maior respeito por elles, correndo á porfia a venera-los como a santos. Lognque o pai vio a sua reputação bem estabele- cida , não duvidou envia-los a Féz , para os fazer alli co- nhecidos, na qual se apresenfáráo ao soberano, oflFerecen- do- (a) Abdeloader foi morto pelos portugnezés etn hum combate per- to de Safy. çó Memorias PA Academia Real do-sc-lhc para promoverem agazua (a) contra os portugiie- zcs. Tcndo-lhcs ElRei agradecido o seu zelo , pcdírão-lhc hum dos seus estandartes, e hum tambor com o pretexto ,de mais facilmente poderem congregar, e animar os povos contra os portuguezes. Como elle não exercia authoridadc alguma, como já se disse, sobre as provincias do sul, nem suppunha nos ditos xarifes intenções sinistras, deferio á sua supplica , mesmo contra a vontade de seu irmão Moley Nas- ser, que lhe mostrou não lhe convir de modo algum facul- tar-lhcs aquellas insígnias, porque com ellas poderião at- trahir a affjição dos povos, e sublevar-se contra elle, lan- çando-o fora do seu reino , o que com eíFeito assim acon- teceo, e muito mais, porque a final o matarão, e a todos os seus parentes , á excepção de Abu Hassun , que lhes es- capou , como depois se verá. Dirigírão-se os dous xarifes á província de Duqualla , donde proseguírão até ao Suz , pregando a gazua , e exci- tando os povos contra os portuguezes, cuja ambição exage- ravão ; e a sua missão produzio o effeito , que desejavão^ porque grande numero de tribus, que se governavão porsi, se apressarão a seguir as suas bandeiras ; c a mesma cidade de Tarudante, que tinha sido assolada por alg'.iinas tribus errantes , enviou alguns dos seus doutores , e principaes a seu pai Abu Abdallah Mohammed a rogar-lhe os quízesse ir dirigir nos seus combates contra os christãos da fortale- za de Santa Cruz , e outras , o qual condescendeo com a sua vontade, e fez acclamar em 918 (lyiz) a seu filho Moley Ahamcd. Como os portuguezes deSafy, e os mou- ros seus alliados fazião então repetidas incursões nas pro- víncias de Duqualla , Haha , e Xiadema , e levavão o ter- ror até ás muralhas de Marrocos , enviarão estas duas ulti- mas os seus xeques ao dito Abu Abdallah a rogar-lhe qui- zes- (a) Gazua he para os mouros hum bando, ou declaração de guer- ta da mesma sorte , que era a Cruzada paia os christÃos. DAS SclENCIAS DE LiSBO A. 97 zcsse vir com seu filho dirigi-los na expulsão do inimigo; e tendo clle acceirado o seu convite, deixou a seu filho Mo- Jey Mohammed governando o paiz do Suz , e partio para Xiadema , onde fallccco pouco depois no lugar de Abugal , em que tinha fixado a sua residência, deixando a seus filhos o cuidado, e encarrego do complemento dos seus proje- ctos. Serie genealógica dos soberanos desta dinastia. i.° Moley Ahamed Alarege (o coxo), filho de Abu Abdallah Mohammed, nasceo em Daraa no anno 891 (1486), e foi acciamado por disposição de seu pai , como fica di- to, no anno 918 (1J12). Senhor do paiz do Suz, e de varias outras províncias confinantes com Marrocos , escre- vco-lhe o governador desta, e os xeques da tribu de Han- tata, protcstando-lhe obediência. Dirigindo-se logo á dita cidade, e tcnio sido nella acciamado em os últimos dias do anno 930 (1^14), escreveo immediatamente a elRei de Féz , annunciando-lhe este successo. Ao receber esta par- ticipação, dirigio-se com o seu ministro e primo Messaud, Bcn Nasscr para Marrocos a atacar o novo soberano. Este, conhecendo a sua falta de forças para lhe sahir ao encon- tro, fortificou-se na cidade. Cercada esta por Merini, che- gou-lhe pouco depois a noticia de se haverem os seus parentes revi)ltado em Féz, o que o obrigou a regressar na manhã seguinte para ella ; e não tornou mais a Marrocos, como então lhe pronosticárão , porque posto o tentasse de- pois de soccgarFéz, por duas vezes foi derrotado, a pri- meira em 935- (15:18) junto de Tadela , e a segunda em 943 (iJsÓ junto do rio Uadelabid por Moley Ahamed com grande mortandade de huma e outra parte. Estas des- graças moverão os sábios , e homens de probidade a pro- porem aos dous contendores a divisão do império entre am- bos, a fim de se evitarem tantos males; no que convierão, ficando os xarifes governando desde Tadela para o lado de Marrocos, Suz, e mais províncias occidentaes, e os Beni- Tomo X. N me» 9? Memorias DA Academia Real merines , ou Beni Otazes para o lado de Féz , e mais pro- vincias orientaes. Reconhecido Molcy Ahamed soberano , conservou a seu irmão Moley Mohammed ao seu lado na (qualidade de seu ministro e conselheiro , por ser dotado de grande penetração e valor , vivendo ambos na melhor harmonia até certo tempo , em que tendo havido desinteU ligencia , e desunião entre ambos , se dividio a tropa por huma e outra parte , e se seguio hum terrível combate , no qual ficou victorioso Moley Mohammed, o qual despo- jou a seu irmão do sello real, e de todos os seus thesou- ros , e riquezas , e o encerrou com seus- filhos em huma prizão em Marrocos, fazendo-lhe subministrar nella todo o necessário , na qual se conservarão desde o anno de 946 (i5'39) até ao de 964 (ijyy), em que Moley Mohammed foi morto pelos turcos, como depois se dirá, porque ha- vendo chegado esta noticia a Marrocos , mandou o seu go- vernador Ameli , Ben Abubacar , matar j. j referido Moley Amed , e a seus filhos na mesma prizão , por recear que os habitantes da mesma o soltassem , e o tornassem a ac- clamar. Reinou por espaço de vinte e oito annos, depois dos quaes esteve dezoito em prizão. 2.° Abu Abdallah Mohammed Xeque nasceo em Daraa no anno 893 (1484), e foi acclamado em Marrocos, e mais estados sugeitos até então a seu irmão, no anno ^^i (1J44). Havendo emprehendido a conquista de Féz, e ex- pulsado delia a Merini , fez a sua entrada na mesma no anno pjó (i5'4o); e tendo havido depois ás mãos ao dito Merini , e a seus filhos , os fez matar ; mas escapou-lhe hum destes , chamado Abu Hassun (a) , o qual passou a Argel a pedir auxilio aos turcos contra o usurpador do rei- (o) Este veio a Portugal pedir auxilio a ElRei D. João III contra o usurpador do reino de seu pai. Decidio-se em conselho , que passas- se a Argel, e tomasse alli tropa turca a seu soldo; e que filRei lho pagaria. Assim o fez, e tomou seis mil turcos, com os quaes derro- tou o xarifc cm Fez , e senhoreou-se delia. DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 99 reino de seu pai; e tendo obtido o soccorro, que pedi,:, dirigio-sc com este para ¥&£ , donde , depois de porfiados combates, obrigou a fugir o dito usurpador, e fez nella a sua entrada em o dia 3 do mez de Safar do anno <;6i ( I5'54), na qual foi muito bem recebido pelos seus habi- tantes. Pouco tempo porém durou o seu governo nella , porque vendo-se na necessidade de despedir a tropa turca por causa das desordens, e desenvolturas , que alli pratica- va , e constando logo isto a Moley Mohammed , voltou de Marrocos á frente de hum novo exercito, que nella orga- nizou , houve entre ambos hum porfiado combate junto de Féz no sitio chamado Mosselama , no qual ficou morto Abu Hassun , e tornou Moley Mohammed a entrar triunfante na cidade no dia 24 do mez de Xaual do referido anno. Se- nhor este de toda a Alauritania , e enthusiasmado com as sujs victorias, começou a publicar o projecto, que havia concebido , de passar ao Egypto , a expulsar dalli os tur- cos, chamando a Soleiman , seu soberano, imperador dos pescadores. Noticioso este de tudo isto , mandou huma mensagem a Moloy Mohammed, na qual lhe mandava, que se lhe fosse apresentar. Tendo este respondido aos mensa- geiros, que dissessem a seu amo, que tencionando elle ir atacar o seu paiz , ahi se encontraria com elle , escreveo Soleiman ao receber esta resposta aos turcos de Argel, or- denando-lhes , que lhe trouxessem a cabeça deste príncipe. Escolherão elles a Taleha para executor desta ordem , o qual se dirigio á presença de Moley Mohammed, pretex- tando fugir com a sua companhia de Argel com o intento de entrar no seu serviço, o que elle facilmente accreditou, alegrando-se com a sua vinda. Tratou Taleha de se mao- communar com alguns turcos, que vierão com Abu Hassun, e se tinhão alistado debaixo das bandeiras de Moley Moham- med , e maquinarão a sua morte, cortando-lhe a cabeça cm huma das campanhas , a que o acompanharão para o lado do Suz, no dia 29 do mez de Dul-hej ja do anno 964 (lys"'), a qual levarão ao dito seu amo, e o seu corpo foi coudu- N ii . zi- ICO Memorias ra Academia Real zido para Marrocos, onde foi sepultado no jazigo dos xa-' rifes, depois de treze annos de reinado, occupados todos em guerras contra os portuguezes, do poder dos quaes ar- rancou o palz e fortalezas do Suz , que lhes tinhão estado sugeitas por espaço de setenta e dous annos , ohrigando-os também pelos continuados incommodos, que lhes dava, a tomrirem a resolução de evacuarem Arzila , Azemor , e Safly. 3.° Abu Mohammed IV Abdallah , filho de Ahu Ab- dall.ih Mohammed, foi acclamado no anno ^óf {iS57)y e falleceo de afflixão no coração no dia 29 do mcz de Ra- madan do anno 981 (i5'73), depois de haver reinado por espaço de dezaseis annos. Os principaes feitos , que o au- thor conta deste príncipe, são os seguintes: ter morto al- guns dos seus parentes, por se recear delles, e haver en- tregado aos hespanhoes o presidio de Alucemas na costa de Rife , para o livrarem por aquelle lado das incursões dos turcos de Argel ; e aos portuguezes o castello de Tite na província de Duqualla. 4.° Moley Mohammed, filho de Abu Mohammed Ab- daliaii , foi acclamado em Marrocos e Fez no mesmo anno 981, em que falleceo seu pai. O seu reinado durou pou- co mais de dous annos , porque tendo seu tio Moley Ab- delmaleq regressado de Argel , paraonde se tinha refugia- do receoso de seu irmão Abu Mohammed, á frente de qua- trocentos turcos, e unindo-se-lhe a maior parte do exerci- to do mesmo , fugio de Féz , onde era a sua corte , para Marrocos. j-." Moley Abdelmaleq , tio de Moley Mohammed, en- trou em Féz nos fins do mez de Dul-hej-ja do anno 983 ( 157 j ) á frente dos sobreditos quatrocentos turcos , de- pois da retirada de seu sobrinho para Marrocos. Concluí- da ncUa a sua acclamação , despedio os ditos turcos , de- pois de lhes ter satisfeito o que com elles tinha ajustado, ç partio para Marrocos no alcance de seu sobrinho. Informado este da sua marcha contra elle, sahio de Mar- DAS SciENCÍAS DE LtSBOA. lOI Marrocos ao seu encontro. Avistados os dous exércitos jun- to de Salc , e dada a batalha , foi Molcy Mohammed der- rotado, e fugio para Marrocos, e dalli para os montes Atlânticos, indo sempre seu tio no seu alcance, e continuan- do a persegui-lo : e depois de incessantes combates entre clles por espaço de quasi sete annos , vio-se o mencionado seu sobrinho em tanto apuro , que tomou o arbitrio de pas- sar a Portugal a pedir auxilio a ElRei D. Sebastião contra clle , o qual lho prestou , passando em pessoa á Mauritâ- nia , a fim de o restabelecer no throno , com a condição de lhe ceder todas as praças marítimas. Eis-aqui como o author descreve a batalha , dada por ElRei D. Sebastião aos mouros entre o rio denominado Uademegazen , e Alcaçarquebir , a que estes chamão Al- caçar Alquetaba, tão infausta para Portugal. >» Tendo ElRei D. Sebastião desembarcado na Mau- V ritania com hum exercito de sessenta mil homens , e se- »» gundo outros de cento e vinte mil , sem contar os tre- >» zentos mouros sequazes de Moley Mohammed , e cora »> duzentas peças de artilheria , e vinte mil carretas, acam- j» pado junto do rio Tahadarte (a) mandou fazer correrias V no paiz vizinho, com que obrigou os seus habitantes a »» fugir para os montes : e como ellcs escreverão logo pa- »> ra Marrocos a Moley Abdelmaleq , informando-o da fu- »» ria, e raiva do inimigo, escreveo elle immediataménte » huma carta a ElRei D. Sebastião , concebida nestes ter- j> mos : A tua passagem á Mauritânia indica inimizade : se »> tu por tanto ahi permaneceres até á minha chegada , me- í» tecerás o nome de verdadeiro , e valoroso christão , aliás r o de judeo, ou de hum cão. Tendo D. Sebastião rece- >» bido esta carta , e sabido o seu conteúdo , encolerizou- >» se, e consultou os seus conselheiros sobre este objecto, >» e se deveria alli permanecer até chegar o resto do sea ** ei- (a) O rio Tahadarte dista de Tanger qnatra horas de jornada, pou» CO mais ou menos, paia o lado de Arzila, loi Memorias da Academia Real » exercito. Respondendo Moley Mohammed , que era des- >» se parecer, e que era muito conr^niente irem apossar-se >» de Tctuão , Alcaçar , e Larache , onde não só achariâo >> copia de armas , e riquezas , e se ajuntaria a armada , >» mas até se lhe virião unir as províncias, agradou este j» conselho a todos menos a ElRci , porque tendo rcccbi- »» do a esse tempo outra carta de Moley Abdelmalcq , cm « que o estimulava , paraque avançasse ao menos hum dia >> de jornada , porque elle tambcm andava dezaseis dias j> para alli chegar, estimulou-se , fez levantar o acampa- j» mento, e partio para^lcaçar. Tendo passado com seu jj exercito o rio Uademegazen pela sua ponte sem obsta- ^ »» culo algum, e acampado na planicic do outro lado, de- ti stacou Moley Abdelmaleq, que já então se achava acam- >> pado com seu exercito defronte de Alcaçar junto do » rio Uarur, hum corpo de cavalleria de quatro mil ho- »> mens com milhares de trabalhadores na seguinte noute , j» para irem demolir a dita ponte, porque, dizia elle, co- » mo a passagem do rio he difficil em razão das suas ri- j> banceiras, quebradas, e outros embaraços, se os christãos í» forem derrotados, nenhum poderá escapar. Concluida esta j» operação sem obstáculo , avançou Moley Abdelmaleq , j> postoque se achasse gravemente enfermo , com seu exer- í» cito , composto de trinta e seis mil homens (a) de todas >» S3 armas , e tendo fallecido na sua liteira , em que se ti- » nha feito levar , no principio da batalha , occultou seu j» camarista o arrenegado Raduan a morte de seu amo, e >í continuou a dirigir o combate , aproximando-se repeti- >» das vezes da dita liteira, e fingindo receber as suaç or- » dens , voltava dizendo : Manda ElRei , que foâo faça » is- (rt) Pela descripção que o author faz a respeito das tropas, que se uuíj^o a Moley Abdelmaleq desde Marrocos até Alcaçar, e das que seu irmão trouxe de Féz, onde era governador, e de todas aquellas provincias , se conhece evidentemente a falsidade desta proposição. O mesmo se deve eute;ider do numero do nosso exercito , em que tam- bém uão ba vetdade. DAS SCTENCIAS t)E LiSBOA. TO3 >» isto, OU aquillo, &c. ; e assim continuou, até se dccla- j» rar a victoria pelos mosselemanos , voltando os chrisrãos »» as costas , sobre cujos pescoços aquelles dcscarregavão »> as suas espadas ; e fugindo em direcção á ponte , para >» por ella passarem o rio, cncontrando-a destruida, se pre- j» cipitárão no mesmo, em que morrerão muitos afogados; » mas a maior parte dcUcs tbrâo mortos pelos perseguido- j> rcs. Terminada a acção apparecêrão também afogados >» defronte da ponte Molcy Mohammed , e EiRei D. Sc- >» bastião , do que derão parte a Moley Ahamed , o qual >» ordenou , que ElRci D. Sebastião fosse enterrado em lu- " gar marcado , para se poder saber onde existia , quando '» houvesse de ser procurado ; e que Moley Mohammed fos- »» se esfolado , e a sua pelle , cheia de palha , se fizesse » girar pela cidade de Marrocos , e outras , o que se cum- " prio. Teve lugar esta batalha no fim do mez de Juma- »» dilaual do anno 986 (ifrS), na qual morrerão três so» »> bcranos : ElRci D. Sebastião , Moley Mohammed , e seu >» tio Muley Abdelmaleq, cujo reinado durou somente qua» >» tro annos. »» 6." Moley Ahamed II Almansor, irmão de Moley Ab- delmaleq , foi acclamado logo no mesmo lugar , em que se dco a batalha , por todo o exercito , na qual elle mandou a tropa de Féz ; e tendo regressado depois para esta victo- rioso , e triunfante , foi nella acclamado no dia 10 do mez de Jumadi-laguer do mesmo anno 986 (i5'78), donde es- creveo immediatamente ao imperador de Constantinopla , e e aos soberanos , e potentados seus vizinhos , noticiando- Ihes a grande victoria , que tinha alcançado sobie os infiéis (assim chamâo os mohammetanos a todos aquelles, que o não são ) . Logoque receberão tão agradável noticia , ex- pedirão os seus embaixadores a congratula-lo, sendo o de Argel o primeiro que se apresentou. Chegarão depois deste CS enviados de D. Henrique , tio d' ElRei D. Sebastião , os quaes lhe offcrecêrão hum rico presente de preciosas e finas roupas j trazendo também três mil caixinhas de pezos du- 104 Memorias DA Academia Reai. duros (provavelmente para o resgate dos captivos) ; c apoz elles os d' ElRci de Castella , conductores de outro pre- cioso presente , em que se incluião grandes crisolitas , es- meraldas , e outras pedras preciosas ; de modo que os povos não- sabião a qual dellcs dessem a preferencia (a) . Segui- rão-se os embaixadores do Gram Senhor, d' ElRci de Fran- ça, e de outros soberanos , todos com seus presentes , o que encheo a Almansor de satisfação , e complacência. Concluidos estes cortejos , partio de Féz para Marro- cos, na qual entrou no anno 989 (iffii), donde expcdio no anno seguinte hum exercito a subjugar a Ethiopia , o qual havendo chegado áquelie paiz depois de setenta dias de marcha, sugeitou ao domínio do seu soberano vários príncipes , e potentados do referido paiz , os quaes lhe fi- carão tributários, vindo-lhe dalli naquella occasiâo quarenta cargas de ouro em pó , e quatro sellas de ouro maciço , ra- zão porque elle foi appellidado Adahabi ^ que quer dizer » senhor , ou possuidor do ouro. >» Não consta ter havido em todo o tempo do seu reinado , que foi de vinte e seis annos, revolução alguma, o que he raríssimo na Mauritâ- nia, porque a tentativa de seu sobrinho Moley Nasscr, de querer, contando com o soccorro de Filippe II, Rei d'Hcs- panha, sublevar os povos em seu favor, não se pôde cha- mar revolução , poisque ninguém o seguio , o que prova a estimação , e respeito , que merecia aos seus vassallos. Ten- do sido accomettido da peste, falleceo delia em Féz no anno 1012 (1603), donde o seu corpo foi transportado pa- ra Marrocos, e ahi sepultado no jazigo dos seus antepas- sados, desfc-pparecendo com elle o soccgo , e tranquillidade nos seus estados pela ambição e desordens de seus filhos, como se verá. (a) O objecto da missão dos embaixadores destes dous soberanos parece ter sido o resgate do corpo d^ElRei D. Sebastião, e dos que £cárão captivos na batalha de Aicaçar. I^isto convém todos nossos lii- storiadores. DAS SciENCiA s DE Lisboa. ló^ 7." Moley Zaidan , filho mais moço de Moley Ahamed , foi acciamado em Féz no dia 16 do mez de Rabia-laual do amio 1012 (1603). Escreverão immediatamente os ha- bitantes desta cidade aos de Marrocos , paraque também o reconhecessem por seu soberano ; mas estes recusárão-se a isso, e acclamárão a seu irmão Moley Abu-Fares, governa- dor da sua cidade , no dia 20 do mesmo mez , e anno. Oc- cultou Moley Zaidan a morte de seu pai, e mandou buscar a seu irmão Moley Xeque , que se achava preso em Ma- quincz por mandado de seu pai , por ser vicioso , e revol- toso, não obstante have-lo antes feito reconhecer por seu successor; mas o governador desta cidade não o quiz en- tregar, e o enviou para Marrocos a seu irmão Moley Abu- Farcs, o qual também o conservou alii preso. Frustrada a prisão de Moley Xeque, ordenada por Moley Zaidan, par- tio este logo para Marrocos com o intento de sugeitar a Muley Abu-Fares. Sabendo este da sua marcha , e proje- cto, fez soltar a Mulcy Xeque, por lhe constar, que só elle era capaz de obstar aos projectos de Moley Zaidan , recon- ciliou-sc com clle, c confiou-lhe hum corpo de tropas para Jhe ir sahir ao encontro, encarregando ao mesmo tempo a alguns individuos da sua confiança , que o acompanhava» nesta expedição, que, no caso de Moley Xeque vencer, lho levassem preso, por se recear também delle, o que não poderão cumprir. Encontrados os dous exércitos junto do rio Morbea, ficou Muley Zaidan derrotado, por o ter desamparado a maior parte da sua tropa , e alistado-se debaixo das bandei- ras de Moley Xeque, vendo-se por isso precisado a fugir para Féz com o intento de se defender nella contra seu ir- mão , que hia no seu alcance ; mas os seus habitantes re- cusárão-se a isso ; e por esta razão se retirou para Tela- messan , donde mandou pedir auxilio aos turcos de Argel contra seu irmão , o qual lhe foi denegado , razão por que regressou para Sagelemassa, desta paraDaraa, e daqui par ra o Suz. Tmo X. O Jea-r io6 Memorias da Academia Real Tendo Moley Xeque sido bem recebido em Fez , e nella acclamado , mandou retirar para Marrocos o exercito, que dalli o tinha acompanhado, fez prender os criados de seu pÁ , dcspojando-os das suas riquezas, extorquio dos ne- gociantes sommas consideráveis a titulo de empréstimo, e praticou nella toda a espécie de iniquidades com o pretex- to de apromptar hum exercito de oito mil homens, que enviou para Marrocos contra seu irmão Abu Fares , com- mandado por seu filho Moley Abdallah , o qual tendo ven- cido a seu tio no dia lo do mez de Xaiban do anno loi^ (1606), obrigando-o a fugir para Massifiua , entrou na cidade , e permittio nella o saque aos seus soldados , em .quanto elle se entregava a toda a espécie de vicios , e li- bertinagem. Exasperados os ânimos dos habitantes da cida- de com taes procedimentos, escreverão para o Suz ao seu soberano Moley Zaidan , convidando-o para vir unir-se a elles , ainda que elle viesse só. Assim o praticou j e tendo entrado na cidade , sem ser presentido de seu sobrinho , unio-se aos conjurados , e matarão o governador da mesma , em consequência do que sahio Moley Abdallah delia com o seu exercito; mas tendo sido estreitado pelos mesmos en- ,trc os muros das fazendas , e feito no seu exercito grande mortandade, escapou com o resto da sua tropa, dirigindo-se para Féz. Esta derrota não desanimou a Moley Xeque, nem o fez desistir de desthronisar a seu irmão Moley Zaidan , pois tornou a mandar seu filho mais de huma vez contra elle ; mas tendo sido a final derrotado por seu tio junto do rio Barcarque no mez de Xaual do anno 1017 (1608), e destacado este o seu baxá para o perseguir , certificado ^oley Xeque da derrota de seu fiJho, e da proximidade do dito baxá a Féz , tomou o expediente de se retirar para Alcácer qucbir; mas tendo o dito baxá sabido, ao chegar a Féz » da sua retirada , proseguio com o seu exercito no seu alcance. Vendo-se Moley Xeque em tanto aperto, pas- sou a Larache , onde embarcou com a sua familia , c alcai- des para Hespanha. Tendo contrahido hum empréstimo -i. T cora DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. IO7 com O seu soberano ( Filippe III ) com a condição de lhe entregar Larache, regressou á Mauritânia, e de Alcácer se- guer mandou ordem para a entrega da dita praça aos hes- panhoes, o que se verificou no mez do Ramadan de 1019 ^i6io). Causou esta entrega tanto sentimento nos mou- ros , que alguns dos mesmos alcaides da tropa do dito Xe- que o matarão no seu mesmo acampamento perto de Te- tuão no mez de Rageb do anno 1028 (1619), deixando alli o seu corpo nú por enterrar , atéque vierão , passados alguns dias, os habitantes de Tetuão sepulta-lo, e a al- guns outros dos seus filhos , e familiares. Semelhante sor- te teve Molcy Abu Fares , o qual foi suffocado em Féz por Moley Abdallah , filho de Moley Xeque , depois da re- tirada deste para a Hespanha , fazendo-se acclamar naquel- la cidade. Moley Zaidan porém tendo sobrevivido a tantas revo- luções, e alternativas, as quaes só servirão de arruinar, e despovoar a Mauritânia , falleceo no dia 10 do mez de Moharram do anno 1037 (1627), e foi sepultado em Marro- cos no jazigo dos xarifcs ao lado da sepultura de seu pai. 8." Moley Abdelmaleq II , filho mais velho de Moley Zaidan, succedeo a seu pai, e foi acclamado logo depois da sua morte. Teve huma vida licenciosa, e desordenada, que mandava buscar as mulheres dos principaes de Marro- cos, e outras que podia descobrir do mirante do seu palá- cio , e de que se agradava , para se servir delias ; e tão apaixonado era do vinho, que estava continuamente em- briagado , fazendo-se por causa destes vicios suramamente odioso aos seus vassallos. Foi morto no estado de embria- guez por hum dos seus escravos no dia 6 do mez de Xaa- ban do anno 1040 ( 1630), depois jle haver reinado qua* tro annos; c foi sepultado no jazigo de seu pai. 9.° Moley Alualid , filho de Moley Zaidan , subio ao throno por morte de seu irmão Molcy Abdelmaleq , e foi acclamado no dia 6 do mez de X^aban do referido anno de 1040 (1630). Mostrou este principe tanto agrado, do- O ij çu- io8 Memokias SA Academia Real cura, affibi 1 idade , e religião, que se fez merecedor por isso da estima dos seus vassallos , assim nobres , como ple- bcos : fez comtudo perecer a maior parte de seus irmãos , e primos , filhos de seu tio , por se recear dellcs. Tendo vivido sempre satisfeito com os estados , que herdou de seu pai , sem ambicionar mais augmento , foi .morto no dia 44 do raez de Ramadan do anno de 104^ (163;) por qua- tro dos seus escravos , escandalisados de ter respondido a todos , quando lhe pedirão alguma gratificação, _«» que ti- >» nhão que comer, e era bastante.» ?cib r S. João do Prado foi martyrizado em Marrocos neste reinado. io.° Moley Mohammed 11, filho de Moley Zaidan , foi sacado da prisão, em que seu irmão Moley Alualid o tinha encerrado, receoso de que pretendesse despoja-lo da coroa , logo depois que clle foi morto. Postoque ao prin- cipio os povos hesitassem sobre a eleição deste principe , convierão depois era reconhece-lo por successor de seu ir- mão, e o acclamárão em Marrocos no dia if do mez de Ramadan do anno de 1045" (i6^s)- Posto fosse de caracter modesto , afaveJ , liberal , inimigo de efusão de sangue , e inclinado aosocego, nem por isso o seu poder se extendeo além da comarca de Marrocos, onde falleceo no anno X064 íi6^S)t tendo reinado por espaço de dezenove annos. ii.' Moley Ahamed IJI, filho de Moley Mohammed Xeque, foi acclamado em 1064(16^3) nos estados sugeitos ao domínio de seu pai , menos na tribu de Axebana , a qual toinou no seu reinado tanto prcdorainio , que se de- clarou independente , e o sitiou , e estreitou em Marrocos por espaço de alguns annos. Como sua mâi era natural àesta tribu , observando que ella cada vez o punha cm maior aperto , pcrsuadio-o , que fosse ter alli com os seus parentes , captivasse com boas maneiras seus ânimos , e fi- zesse desterrar de seus corações todo o rescntimcnto , qufi podcssem ter contra elle. Assim o cumprio , mas elles a nada se moverão j e senlioieaado-se delle fraudulenta, e alei* vo- DAS SciEMCIAS DÈ LiSBOA. IO9 vosamentc o matarão, o que acontcceo no anno de 1069 (lójS), dirigindo-sc immediatamcnte para Marrocos, na » A' mais nobre e poderosa dos reis christãos Dona >j Maria , rainha de Portugal , dos Algarves , etc. Pelo nos- j> so servo Mohammed Anaia, que enviamos embaixador á »> vossa presença , vos remettemos seis caixotes de roupas » fabricadas neste paiz, que recebereis em signal da nossa « sincera amizade , e da grande estimação , que de vós fa- »» zemos , a qual he em gráo tão elevado , que a ella ain- M da não chegou sequaz algum do Messias : e por estar- » mos também certos da vossa pura, e sincera amizade pa- » ra comnosco, vos enviamos pelo mesmo embaixador cem M caixote» com duzentos mil duros, para ahi ficarem de« » positados , atéque lhes demos destino. Foi escrita em j M de Setembro de 1780. •> Muitas outras demonstraçòes de singular consideração , estimação , e generosidade dêo elle .em diversas occasiões aos soberanos de Portugal : referirei para exemplo a franca > e DAS SCIEMCIAS DE LiSnOA. II7 e ampla concessão de víveres , e de tudo o mais necessá- rio, e livre de direitos, para as nossas esquadras, não ob- stante acharcm-se cruzando contra as potencias barbarcscas sequazes da sua mesma religião. Postoque este príncipe fosse tão politico, e perfeito conhecedor dos seus interesses , como deixo dito , commet- teo comtudo hum erro indesculpável , que , alem de o desacreditar, lhe hia sendo fatal, que foi ir vizitar a pra- ça de Melílha na província de Rife em 1774 , que perten- ce á Hespanha , estando em paz com ella , pretextando , que a paz entre ambas as nações era somente por mar , porque tendo esgotado o seu erário nesta expedição, vio se na dura necessidade de onerar os seus povos com novos im- postos , de que resultarão perigosas commoçoes , que lhe custarão a aplacar, especialmente a da tropa negra em Ma- quinez no anno de 1778, a qual chegou ao excesso de con- vidar a seu filho Molcy Aly para o acclamar ; e tendo-se este escusado, e retirado para Rebate, chegarão depois a acclamar a Moley Eliazid; mas por fortuna oppoz-se-lhe a tropa dos udeas , e lhe resistio até chegar Moley Moham-. med de Marrocos á frente de hum poderoso exercito, com o qual suífocou a rebellião, dividindo a tropa revoltosa por diversas cidades , e províncias, onde a fez desarmar , e dar terras para cultivar, fazendo também partir o dito seu filho para a peregrinação de Mecca a expiar tão enorme culpa , c attentado; mas o fructo delia, assimcomo das outras duas peregrinações , que depois fez , foi crescer nas suas desor- denadas paixões até ao excesso de extorquir , dos que o acompanhavão , parte dos cabedaes , que seu pai por elles enviava , pára se repartirem em Mccca pelos xarifes e po- bres em expiação da sua rebellião, afim de fomentar os seus vicios. Receoso este de seu pai , fixou na volta a sua resi- dência em Tunes; mas aquelle bei o fez dalli sahir a in- stancias de seu pai, por este recear, que elle alli fizesse alguma desordem. Tendo com effeito regressado para a Mau- ritânia , em lugar de se ir apresentar a tão benigno pai j foi ii8 Memorias da Academia Real foi refugiar-se no santuário de Moley Abdessalem , situado nas montanhas próximas de Tetuão , onde procurou adqui- rir sequazes , e ajuntar hum exercito , comque podessc ir desthronar a seu pai. Conhecendo este o seu caracter, e receando que sahisse dalli a invadir os seus estados, onde poderia encontrar sequazes , como já tinha da tropa , que havia destacado para observar os seus movimentos, não ob- stante ser commandada por dous de seus irmãos , rcsolveo- se marchar contra elle, não obstante achar-se no maior aba- timento , e frouxidão , para se fazer respeitar. Tendo sabi- do neste estado de Marrocos no primeiro de Abril de 1790, e aggravando-se-ihe a moléstia no caminho, falleceo no dia 1 1 do mesmo mez junto do rio Xarate quatro legoas an- tes de chegar a Salé , cuja morte o seu primeiro ministro occultou até chegar a Rebate , a fim de salvar nesta praça as riquezas de seu amo , na qual publicou a sua morte , que causou hum geral sentimento ; e nella foi sepultado no pateo do seu palácio, como elle mesmo tinha disposto. 7.° Moley Eliazid, filho de Moley Mohammed , nasceo no anno de 1748, Mostrou este príncipe desde a sua tenra idade hum espirito fogoso , guerreiro , e generoso , o que lhe attrahio a estimação , e a preferencia sobre todos os seus irmãos : e foi talvez por isto , que a tropa negra o elegeo soberano em Dezembro de 1778, esperançada, de que o seu reinado lhe fosse mais favorável. Foi acdamado nas cidades de Salé, e Rebate no dia 14 de Abril de 1790, depois do corpo de seu pai se ter dado á sepultura , ten- do sido o ministro deste para isso o principal agente , por observar que quasi toda a Mauritânia o desejava , não ob- stante conhecer elle o seu péssimo caracter, e estar cer- to , de que cedo , ou tarde havia ser por elle sacrificado pela única razão de ter sido creatura de seu pai. Informa- do Eliazid do fallecimento deste, sahio immediatamente do lugar do seu retiro , e dirigio-se a Tetuão , onde foi rece- bido com vivas de prazer de todo o povo , e nella imme- diatamente acdamado. A cidade de Féz enyiou-lhe logo ai- dAs SciEKCiAs DE Lisboa. 119 alli trezentos deputados , dos quaes era chefe o grande dou- tor da lei, a comprimcnta-lo, e render-lhc obediência cm nome dos seus habitantes ; c o mesmo praticarão successi- vãmente as mais cidades , viilas , e provincias de todo o reino , menos a cidade de Marrocos , que acclamou a seu irmão Moley Haxam , que seu pai , quando sahio delia , ti- nha deixado seu governador ; mas foi de pouca duração o seu reinado, porque tendo elle observado, que a maior par- te dos moradores da referida cidade tinha as miras em seu irmão Moley Eliazid , tomou a resolução intimidado de se retirar para os montes Claros , ou Atlânticos, que ficão di- stantes da mesma dia e meio de jornada, donde regressou passados mezes d frente de grande multidão de gente ar- mada sobre Marrocos, e provincias vizinhas, que já tinhão reconhecido a Eliazid , e apossou-se da cidade , na qual foi pouco depois surprehendido no seu mesmo palácio por dous mil soldados negros de cavallo, enviados por Eliazid , dos quaes ainda pôde escapar-se por huma porta travessa do dito palácio. Querendo Eliazid obstar ás incursões de seu irmão , escrcveo a Abdcrrahaman , Ben Nasser , baxá da província de Abda , ordenando-lhe , que as obviasse por meio da força armada, o que elle executou, e com tanto acerto , que soube conservar cm socego todas as provincias vizinhas de Marrocos mais com o seu respeito doque com a força , ás quaes fez pagar os impostos , ou tributos ordi- nários , de que Moley Eliazid percebeo sommas considerá- veis , e grande quantidade de camellos, cavallos , etc. Em- quanto Ben Nasser se occupava neste serviço , se entrega- . va Moley Eliazid a toda a espécie de desordens, excessos, e paixões desordenadas , e brutaes em Tetuão , e seguida- mente em Maquinez , Féz , e outros lugares , não lhe es- capando as mulheres as mais honestas, permittindo á tro- pa o saque das casas dos judeos, que deixava as mesmas hebreas nuas, no que o tyranno achava a maior complacên- cia , despojando os criados de seu pai, os governadores das provincias e cidades, e outras muitas pessoas principaes de suas lao Memo BiAS DA Academia PvEAii suas riquezas , e cabedaes , exercendo em todos , e nos seus parentes e amigos toda a espécie de crueldades, uzando mesmo da tortura nos peitos de suas mulheres e filhas , co- mo praticou com as mulheres de Abdelmaleq , governador de Tanger , para lhe declararem onde os ditos cabedaes existião ; e matando depois a maipr parte delles, como pra- ticou com o general de seu pai, quando lhe foi prestar obediência , com o ministro do mesmo em Féz , e com o governador de Tanger na província de Algarbe , por ter permittido o embarque dos hcspanhoes em Tanger. Tendo dado huma breve idéa dos sentimentos bárba- ros do tyranno , não me parece fora de propósito contar também aqui os que elle tinha a respeito das potencias eu- ropeas , e especialmente para com a Hespanha. Havendo os cônsules europeos , residentes então em Tanger , passado logo a Tctuão a cumprimentar o novo so- berano , este os recebeo com ar de desprezo,, e indignação , intimando-lhes na mesma occasião, que estava decidido a declarar a guerra a todas as potencias, menos a Inglaterra, e a Raguza : e desta maneira os despedio, depois de ter recebido delles' avultados , e ricos presentes. Esta tão so- lemne declaração não deixou de inquietar os ditos cônsu- les, e não menos ás suas respectivas cortes, ás quaes elles communicárão sem demora o que tinhão passado com o ty- ranno, e principalmente á Hespanha, e Portugal em razão da sua vizinhança com hum paiz de huma costa tão exten- sa , c com tantos portos no Occeano, e Mediterrâneo ; mas elles cônsules souberão haver-se em tão criticas circumstân- cias com tanta politica, e manejarão os seus negócios de maneira tal por meio de alguns sacrifícios pecuniários , e promessas de futuro, que Eliazid aplacou a sua fúria, e re- solveo que as cortes lhe enviassem os seus embaixadores, para tratar com elles este negocio. Querendo porém elle distinguir Portugal, escreveo então mesmo a seguinte car- ta á rainha fidelíssima de saudosa memoria, dando-lhe par- te do fallecimento de seu pai , e da sua exaltação ao thro- no. DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. J2% no. t* A* muito poderosa , e magnifica Senhora D. Maria >» Francisca Izabcl , Rainha de Portugal. Seja na vossa in- »» telligencia , que meu pai e senhor, cujo espirito Deos >» santifique, passou deste mundo para a habitjçáo commum >» a todas as creaturas , ao qual nós succedemos , elevan- >» do-nos Deos ao throno pela sua bondade , e não pela í» nossa força, ou poder; porque elle tira os reinos, e os » dá a quem quer, como senhor absoluto, e que não igno- »» ra couza alguma. Como o vosso cônsul Jorge Collaço se >» veio encontrar comnosco , e nos pedio , que nos conser- »» vassemos comvosco em paz , e harmonia , como na vida » de meu pai , condescendemos com a sua vontade , con- »» servando-nos comvosco do mesmo modo : enviui-nos por >» tanto o vosso embaixador, para concordarmos com elle o í» que convém obrar, devendo vós ficar na intelligencia, de »» que hade ser recebido por nós , e que distinguimos a »» vossa nação de todas as outras. Saúde. Foi escrita em it 15^ do mez de Xaaban do anno 1204. » Corresponde a 26 de Abril de 1790. Em consequência das intenções manifestadas por Elia- Zid nesta sua carta , tratou Portugal de lhe enviar o seu embaixador, o qual partio do porto de Lisboa em Dezem» bro do mesmo anno , a quem eu acompanhei por ordem de Sua Magcstade para ficar em Tanger aperfeiçoando-me no idioma arábico, e instruindo-me nos costumes daquelles povos. Como o referido embaixador foi o primeiro que se lhe aprezentou em Maquinez no dia 24 de Janeiro de 1791 , esmerou-se Eiiazid cm fazer-lhe toda a qualidade de obsé- quios , os quaes custarão caro a Portugal , porque não con- tente elle talvez com o prezente , não obstante ser rico , e de valor, mandou nessa occasião pedir a Sua Magestade cincoenta mil duros emprestados , os quaes lhe forão re- metcidos pelo cônsul geral Manoel de Pontes; mas nunca forão pagos. Seguio-se ao nosso embaixador o de Inglater- ra, o de Dmamarca , Suécia , e outros , com os quaes tam- bém ractificou os seus tratados. Tom X, iX, Co 121 Memorias DA Academia Real Como a corte de Hcspanha teve a parte principal na perdição e morte de Eiiazid, parece-me justo fazer espe- cial menção da marcha dos negócios entre estas duas cor- tes, porque pretenciei a maior parte delles. Tendo Eiiazid conseguido com as suas boas palavras , e promessas illudir a António Satmon , viceconsul , e então encarregado do consulado geral de Hcspanha em Tanger na auzencia do cônsul geral seu irmão João Manoel Salmon , foi este em virtude das suas participações nomeado embaixador para ir da parte de Sua Magestade catholica congratular a Eiiazid pela sua exaltação ao throno , levar-lhe os prezentes do co- stume , e ratificar o tratado da pa». Eiiazid , que não po- dia dissimular o seu ódio e rancor contra a Hcspanha , li- zongcou-se ao saber desta nomeação, e até parece que o dêo a perceber, de ser chegada a occazião de poder exercer a raiva , que tinha concebido contra a Hespanha , na pessoa do seu embaixador, e da sua comitiva, mas ficarão frustra- das as suas esperanças, porque houve pessoa assalariada pe* la Hespanha (a) , que fez immediatamente esta comniunica» ção á mesma, e também ao seu embaixador, que a esse tempo se achava já na bahia de Tarjger a bordo de humi das duas fragatas de guerra, que conduziao hum rico prezen- te, e duzentos e cincoenta mil duros, importância dos di« teitos das cargas dos cincoenta navios, que Moley Mobam* med Ía) Eira hum alemão, chamado Francisco Segur, que tinha abra- o o mohammetismo na vida de Moley Mohammed , e tomado o no- tite de Caid Edriz , o qual passou á Hespanha depois da destruição de Eiiazid para receber o premio dos seus serviços, ohde abraçou o ca* tholicismo ; e depois passou a rezidir em Lisboa, não sei por que mO'i tivo; mas he certo, que passados tempos foi aqui prezo pela lutenden- cia, e SC matou, disserão, na prizão com huma navalha de barbear. No que não ha duvida be, que elle foi o principal motor da revolu* cão nas provindas de Abda e Duqualla contra Eiiazid em favor da Hespanha ; e que a sua correspondência com esta, passava pelas mãos de dous francezes , e de hum portuguez , os quaes forão depois tam* bem premiados por ella. ... J DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. %t^ med tinha concedido livres de direitos á Hespanha , e que cila queria gcnerozamente offcrecer a seu filho. Certificado o referido embaixador da traição de Elia- zid , suspcndeo o seu desembarque , e escrevco-lhe arguin- do-o , e pcdindo-lhe satisfação, do qoe tinha commettido contra a sua nação opposfo , ao que tinha jurado a seu ir- mão , de que continuaria com cila ,. como na vida de seu pai , quando estava fa/endo transportar grande quantidade de artelheria grossa contra Ceuta. Tendo continuado esta correspondência por espaço de mez e meio , sem nada se poder concluir, suspendeo o dito embaixador o seu desem- barque , e regressou para Cadiz , levando comsigo a seu ir- mão, e aos missionários, e mais hespanhoes, que se acha- vão em Tanger , e que arteficiozamentc poderão embarcar. Não se pôde explicar a raiva, que Moley Eliazid con- cebeo ao saber, que lhe tinha escapado tão rica preza. Os pobres hespanhoes, que ficarão na Mauritânia, por não po- derem evadir-se , que o digáo ; a morte do governador de Tanger, por deixar embarcar os prizioneiros , e os repeti- dos ataques contra Ceuta, sem fructo, e que forão a cauza da ruina do tyranno , que o attestem. Vcndose a Hespanha tão oScndida , e ultrajada por elle ; e ao mesmo tempo convencida, de que não teria socego , emquanto não acabas- se com o mesmo, approveitou-se do sobredito Caid Edriz , seu agente , que soube manejar a revolta de tal maneira entre Moley Eliazid, e Abderrahaman , Ben Nasser, go- vernador da província de Abda , que aquelle se deliberou mandar primeiro hum dos seus confidentes, e depois a hum de seus filhos com fortes partidas de cavalleria para enga- narem a Ben Nasser , e lhe trazerem a cabeça ; mas tendo este descoberto a traição , revoltou-se contra elle , e cuidou em attrahir ao seu partido os governadores da provincia de Duqualla , c das outras do lado de Marrocos até ao Suz. Certificado Eliazid desta revolta , levantou o sitio de Ceuta , dirigio-se a Tetuao , e desta a Larache , acompa- nhado somente de oito mil homens, continuando em toda (iii a 124 Memorias DA Academia Real a parte na sua devassidão , donde expedio o baxá da pro- víncia de Algarbe , que tinha prezo, e fez então soltar, com dous mil homens da sua provincia para Ceuta , acom- panhado de hum celebre Axaxe, que tinha sido almocreve de seu pai, homem atrevido, com ordem de fazerem to- do o estorço por matarem o interprete da dita praça. Para mais facilmente o conseguirem , içarão bandeira parlamen- taria ; e sahindo o dito interprete por ordem do governa- dor sem a tropa necessária para o guardar, por lhe ter si- do negada pelo governador, o qual não conhecia a má fé daquelles bárbaros , foi morto immediatamente com a maior aleivozia pelo referido Axaxe. Perpetrada esta morte , que Eliazid julgou ser hum triunfo , seguio de Larache a sua marcha para Rebate , onde esperava elevar o seu exercito ao numero de vinte e oito mil homens. •' ■ Entre tanto Ben Nasser animado com a esperança do au- xilio da Hespanha, que se tratava de desembarcar em Safy , cuidava de se pôr em estado de acabar cora o tyranno. Co- mo elle julgava conveniente, e indispensável pôr á frente do seu exercito hum príncipe para conter os árabes em respei- to, expedio duzentos cavalos em pequenos destacamentos de acordo com o referido agente, que subministrava aos mesmos o dinheiro precizo , ao santuário de Moley Abdessalem para conduzirem a Moley Salama , irmão uterino de EUazid, que alli estava delle refugiado , e o acclamarem, Tendo-se porém este recuzado a sahir dalli com receo do dito seu irmão, fez Ben Nasser logo acclamar a Moley Hexam , que elle já a esse tempo tinha mandado chamar, e se achava go- vernando em nome de Moley Salama, cuja acclamação foi annunciada ao exercito por huma descarga geral de artilhe- ria. Informado Eliazid de tudo , e provido pelo novo go- vernador da provincia de Tamessená dos víveres, e forra- gens necessárias ao seu exercito para hum mez , proseguio de Rebate a sua marcha no dia 2 de Janeiro de 1792 com direcção a Marrocos. Chegado ao rio Morbea , fez alto , por se achar o exercito inimigo acampado do outro lado em DAS SciENCIAS DE LiSBOA. JIJ" cm tres divizões , commandada huma por Moley Hamam , ourra por Abderrahaman, Ben Nasser, e a terceira por Ala- xemi Belarossi , governador da provinda de Duqualla. Abdallah Arrahamani , governador da provincia de Rahamcna) occulto partidário de Eliazid , que para disfar- ce destes sentimentos tinha enviado seu sogro com cor- po de tropas auxiliares a Moley Hexam , as quaes eíFecti- vamente se achaváo encorporadas com o seu exercito, pôz- se em campo , e partio á frente de cinco mil cavallos , e oito mil infantes com direcção ao exercito de Eliazid para proteger a sua passagem , e se unir a elle. Sentido Ben Nasser da traição de Arrahamani , destacou contra elle hum forte corpo de tropas do seu exercito. Tendo-se revol- tado ao mesmo tempo o sogro deste com as suas tropas, o que cauzou grande confusão no exercito de Moley Hexam, approveitou-se Eliazid deste momento favorável , passou o rio com o seu exercito , e dirigio-se sem perda de tempo para Marrocos por caminhos quasi intratáveis, por se re- cear ser perseguido pelo exercito inimigo, o que lhe não aconteceo, por este em cazo tão inesperado não ter podi- do encontrar transportes sufficientes para a conducção dos víveres indispensáveis a tão numeroso exercito ; e porque o máo tempo não tinha permittido , que António Salmon , commissario Hespanhol , fizesse desembarcar das suas duas fragatas de guerra , que no dia lo de Janeiro estivcrao em emminente perigo de darem á costa, com o dinheiro, e to- da a espécie de petrechos , e munições de guerra , que a Hespanha enviava em soccorro do exercito de Moley He- xam contra o dito Eliazid, seu irreconciliável inimigo. Chegado Moley Eliazid ás vizinhanças de Marrocos , mandou intimar á cidade, que se rendesse, ao que os seus habitantes se negarão , tomando logo as armas para se de- fenderem ; mas tendo sido atraiçoados, entrou Eliazid nella no dia seguinte. Permittio ao seu exercito o saque da mes- ma , na qual forão mortos todos os indivíduos , que nella se encontrarão, sem distincçâo de sexo, ou idade, sem ha- 126 Memorias da Academia Real haver mizericordia por espaço de dous dias. Mandando Eliazid chamar depois a Abdclazir , Ben Amza , cadi da mesma cidade, e pcrguntando-lhe , com que aulhoridade o tinha deposto da realeza, nomeando em seu lugar a Mo- ley Hcxam , elle lhe rcspondeo publicamente , c em tom claro: c]ue a lei do profeta o tinha obrigado a isso, por cllc Eliazid a não seguir, nem observar em preceito algum , porque SC embriagiva, e comcttia toda a qualidade de in- justiças, despojando dos bens, mutilando, e matando sem legitimo motivo, c abuzava não só das mulheres, que ti- rava a seus maridos , mas até das de seu pai. Enfurecido Eliazid com tal resposta , dada em publico , ordenou que o esfolassem vivo, e lhe cortassem as pernas, braços, ctc. , e dependurassem tudo na cimalha sobre o pórtico da sala das audiências : e para inspirar maior terror , enviou cento e vinte camellos , carregados de cabeças dos desgraçados habitantes daquella cidade para diversas províncias, e cida- des da Mauritânia. Nunca Eliazid commetteo tão horrendas barbaridades, como nesta occazião em Marrocos ; e para prova destS as- serção bastará dizer somente, que tendo arrancado hum me- nino de idade de anno e meio, chamado Eliazid como el- Je , dos braços de sua mãi , filho de seu irmão Molcy He- xam , o esfolou com as suas próprias mãos , e que mandou esquartejar a dous christãos , creio que erao canteiros, que a Suécia, e Dinamarca tinhão para alli mandado ao servi- ço de seu pai, pagos á custa daquellas coites. Enthuziasmado Eliazid com a conquista de Marrocos , e certificado da aproximação do exercito inimigo , sahio da oidade á frente do seu exercito a's quatro horas da manha do dia 12 de Fevereiro a encontrar-se com elle. Gomo po- rém Moley Hexam , e Ben Nasser não acreditassem a par- ticipação , que Belarosse , governador de Duqualla , lhes ti- nha feito no dia antecedente, de vir Eliazid actomette-los com tão poucas forças, não se acautelarão, e tendo údn aprcl^endidos por elle,.apanhando-os descuidados, e a sui ca- DAS SciENCIAS DE LiSBOA. I27 cavalleria ao prado, chegou a confuzão no seu acampamen- to ao maior auge ; e por isso Eliazid se senhoreou delle sem difficuldadc. Reunido depois o exercito inimigo , se- guio-sc a batalha a mais sanguinolenta , na qual Eliazid fez prodígios de valor ; e , postoque fosse ferido nclla grave- mente , teve a coragem de ligar a ferida com o seu tur- bante : e reanimando os seus para se vingar do inimigo , lançou se sobre o exercito de Moley Hexam. A matança foi então terrivel , mas ninguém pôde rezistir i cavalleria de Abda ; e por isso o exercito de Eliazid se vio íjbrigado a fazer hum movimento retrogrado, mettendo-se debaixo da protecção da sua artilheria. Nesta occasião reccbeo Eliazid outra ferida de huma bala , que lhe quebrou o osso da co- xa , o qual não podendo supportar as dores , metteo-se na sua liteira, e voltou para Marrocos, tendo já então regres- sado o inimigo para Safy, na qual entrou no mesmo dia iz de Fevereiro. E continuando alii as suas barbaridades , e devassidões falleceo no dia 14 do referido mez, depois de terríveis convulsões , tendo então quarenta e quatro annos de idade , e vinte e dous mezes de reinado , consumidos quasi todos no sitio de Ceuta , origem da sua ruina. : Chegada a Safjr a noticia da morte de Eliazid no dia 16 do mesmo mez, e de se ter desfeito o seu exercito, foi Hcxam novamente acclamado rei de Marrocos ao estron- do de duzentos tiros de artilheria. Moley Salama, que se não tinha atrevido a sahir do santuário de Moley Abdessalam , quando foi chamado por Ben Nasser para ser acclamado, sahio ao saber da morte de seu irmão Eliazid , e fez-se acclamar, protegido por Sid Aly marabuto de Uazan , em Tetuão , Tanger (a 25), La- rache, Alcaçarquebir, e províncias vizinhas. Tendo fixado a sua rezidencia no mencionado santuário de Uazan , e es- creveo daili immediatamente aos cônsules rezidentes em Tanger a seguinte carta : " A' junta dos cônsules rezidentes em Tanger. Sabei , ft que nós nos conservamos comvosco do mesmo modo y f* ^ue xa8 Memorias DA AcADEM IA Real »» que na vida de meu pai ; e que temos nomeado o nos- >» so servidor Taher Peniche, actual governador dessa pra» »» ça , para por sua intervenção somente se tratarem os ne- »» gucios, que entre nós e vós se oflFerecerem. Foi escrita >» cm 14 do mez de Rageb do anno 1206.» Corresponde a 8 de Março de 1792. Com data de 29 do mesmo mez escreveo elle mesmo Molcy Salama a todas as cortes da Europa, communicando- Ihe o fallecimento de seu irmão, e a sua elevação ao throno. Eisaqui a carta que o mesmo escreveo á Rainha fidelissima : »» A' Rainha Dona Maria. Sabei , que meu irmão »> Eliazid passou já d outra vida a buscar o perdão , e a >» mizericordia de Deos; e que este Senhor me fez herdei- >» ro do seu reino, do que vos informamos, dando-vos os >» sentimentos da sua falta. >» Nesta occazião escreveo também aos cônsules , orde- nando-lhes, que se dirigissem á sua prezença, enviando-lhes para os acompanharem hum dos seus alcaides , chamado Mohammed , Ben Larbilaula, e o negociante genovezjoâo Chiappe. Como porém elles o não consideravão seguro no throno, por haver outros com igual, ou mais direito ao mes- mo , escuzárâo-se , como poderão : e para o adoçarem , lhe mandarão hum prezente pelos referidos mensageiros. Esta escuza, e ainda mais a de não se prestarem ao empréstimo, que lhes mandou pedir pelos mesmos , irritarão por extre» mo o dito principe, como manifestou depois em huma car- ta aos ditos cônsules, e ainda mais na que escreveo particu- larmente ao cônsul de Veneza, chegando a ameaça-los, de que os havia pôr fora dos seus estados, o que certamente não praticou , por não se considerar seguro no throno , de que ficou privado poucos dias depois, retirando-se para a Turquia , onde ainda hoje se conserva. Sabido em Féz, e Maquinez o trágico fim de Moley Eliazid , em Marrocos congregárão-se os seus principaes com o xeque Mohammed Uaziz, governador das tribus doa ^elohas, e acdamárao a Moley Soleiman sub eiano da Mau- DAS SCIENCIAS DE LiSSOA. ÍÍ9 ritania em Féz no dia 14 de Março de 1792 , e successi- vamentc cm Maquinei a ip do mesmo, em Tanger a ir de Abril, c cm Rebate a 14, por o considerarem o mais benemérito de todos os seus irmãos. Como este era o mais cordato de todos os seus irmãos , c o mais bem visto dos mouros, em breve prevaleceo a todos elles, e veio a ficar pacifico possuidor de quasi toda a Mauritânia; e por isso o tratarei como successor de seu irmão. Eliazid, omittindo os outros dous , por os considerar intruzos, 8.° Acciamado Moley Soleiman , como deixo dito, em Féz, Maquinez, e provincias vizinhas, temeo-se dellc seu irmão Moley Salama ; e como observava , que o seu parti- do hia diminuindo á proporção, que o de Soleiman augmen- tava , tomou o partido de se retirar para o oriente , por se recear ser aprehendido , do que rezultou ser Soleiman tam- bém logo acciamado cm todas as cidades , e provincias , que antes tinhão reconhecido a Moley Salama desde Tetuão e provincias de Rife até ao rio Morbea , que corre junto de Azcmor, e pouco depois em Mogador , e mais provin- cias vizinhas de Xiedema, e Haka , e na de Suz até Santa Cruz , conservando-se por seu irmão Moley Hexam unica- mente a cidade de Marrocos com a sua comarca, e as pro- vincias de Abda, e Duqualla, por os seus governadores Ben Nasser (a) e Belarossi talvez se recearem de Moley Solei- man em razão de se haverem revoltado contra Moley Elia- zid , tendo sido a causa da sua morte ; mas desenganados a final, por terem conhecido as bellas qualidades de Solei- Tomo X. R man, (a) Em Setembro de 1794 ainda Ben Nasser escreveo á nossa So- berana , oírerecendo-lhe a sua amizade, e franqueza de commercio aoá portiiguezes no porto de Saíy , oíTerta que Martinho de Mello e Ca- stro , Secretario de Estado da marinha , e domínios ultramarinos , Ibe agradeceo da parte de Sua Magestade, mas que não acceitava, visto reconhecer a Soleiman único soberano da Mauritânia, a quem eíle de- via prestar obediência; offerecendo-lhe ao mesmo tempo a mediação da mesma Senhora para se reconciliar cora Moley Soleiman , de cuja resposta este logo foi informado , ficando-nos por isso muito reconhe* eido. O certo he que Bea Nasser prestou-lhe depois obediência. 130 Memorias da Academia Real man , e as suas pacificas intenções ; o que lhe attrahio o amor dos seus povos , também lhe prestarão obediência , assimcomo Moley Hexam , a quem clles sustentavão no throno. Hum dos primeiros cuidados de Moley Solciman foi rcconciliar-se com 9 Hespanha , attrahir ao seu partido os cônsules europcos , e fazer constar ás suas nações as suas pacificas intenções , como bem se coUige da seguinte car- ta, escrita aos mesmos cônsules: «A* junta dos cônsules j> das nações christas , rezidentes na praça de Tanger , a » a qual Deos defenda. A paz desça sobre aquelles, que se- >> guem o caminho recto. Como nós nos conservamos com- » V03C0 em paz , e harmonia , como na vida de meu pai e 5> senhor, cujo espirito Deos santifique; por isso ordená- js mos já aos nossos servidores em todos os nossos afortu- » nados portos , que se conservem comvosco , como até »> agora: portanto aquelles d'entre vós, que quizerem im- j> portar, ou exportar mercadoria^ de algum dos referidos j» portos , o poderáõ fazer sem obstáculo , ou violência. 5» Igual ordem lhes dêmos também a respeito dos hospa- í> nhoes vossos irmãos, emquanto se nos não apresentar »» o seu embaixador, porque se Deos bemdito então per- M mittir, que se conclua a paz, muito bem : portanto , em- >» quanto algum delles não chegar, os consideramos segun- » do a antiga paz e amizade, assimcomo vos considera- »» mos a vós. Saúde. '» Foi escrita em 18 do mez de Ra- madan do anno de 1206. Corresponde a 24 de Abril de Não satisfeito este príncipe com a mencionada parti- cipação aos cônsules, enviou-lhes cinco dos seus principaes arraizes para os certificarem dos seus paeificos , e puros sentimentos , remettendo-lhes por elles a seguinte carta : »» Sabei , que os cinco arraizes nossos servidores, » que se vos apresentarem, vo los-enviámos ordenando-lhes , >» que vos participem , de que seguimos a mesma mar- » cha, c dispozições de meu pai, do qual Deos tenha mi- » ze- DAS SciENCIAS DE LiSBOA. IJt »» zericordia , permanecendo com os hespanhoes , e com as >» outras nações christâs no mesmo estado , cm cjue se cun- >» servavão com elle ; e que, as que se quizerem assim con- >' servar , verão de nós com o favor de Deos o mesmo , 5> que delle viao ; e querendo seguir outra marcha , Deos »» bemdito he o ajudador da sua lei, e religião, no qual »> nós confiamos , que nos ha de livrar do peccado. »» Foi escrita a 20 do mez de Ramadan de 1206. Corresponde a a 6 de Abril de 1792. Esta mensagem cauzou com razão muita satisfação aos con-íules, os quaes derão logo parte ás suas respectivas cor- tes da politica, e benignas intenções deste principe, ao qual dirigirão huma carta de agradecimentos, e brindarão os cin- co arraizes, mensageiros da sobredita carta. Não tendo po- rém estes ficado satisfeitos com os donativos , que os côn- sules lhes offerecêrâo , os tratarão com arrogância , e com expressões indccorozas. Escandalisados elles de tão irregu- lar procedimento, julgarão do seu dever, e decoro exporem ao soberano na mesma carta de agradecimento o procedi- mento dos referidos arraizes , o que pozerão em execução. Em consequência desta queixa escreveo logo Soleiman as seguintes cartas , que me vierão á mâo , as quaes eu aqui transcrevo, paraque melhor se conheça o caracter do mes- mo, e os seus briozos e elevados sentimentos, tanto mais admiráveis, quanto elles são raros entre mosselcmanos. Resposta deste príncipe d queixa , que os cônsules lhe Jízerao, » O louvor seja dado a hum só Deos. »> >» A' junta dos cônsules. A paz seja sobre aquelles , >» que seguem o caminho recto. Recebemos a vossa carta, >» e ficámos inteirados do seu conteúdo. Quanto ao que ex- j> pondes nella a respeito dos arraizes, que vos enviámos, >» sabei , que não concedemos direito algum sobre vós a » todo e qualquer , que se vos aprezentar da nossa parte , » nem lhe ordenamos , ou damos esperan9as de receber R ii i> cou- i^a Me MORiAS DA Academia R EAi, »» couza alguma de vós, porque a todos aquclles, que vos » enviamos, ou lh<;s damos do nosso, o que lhes basta, » ou escrevemos aos nossos servidores nesse porto , para- '> que lho subministrem do que he nosso. Nós dêmos a " estes arrai/es, que vos enviámos, huma abundante gratifi- » cação, para tirarem o pensamento de vós, e dos mais a »» quem os enviamos. Finalmente se nos constar, que aquel- »» Ics , que vos enviamos , procurao obter de vós alguns »> donati/os, se lhes dará a reprehensão , e castigo propor- »» cionado , paraque sirva também de exemplo aos mais ; j» pois he dever nosso tratar-vos com beneficência por mui' >» tos motivos: i.° por vos achardes nos nossos estados, e »» serdes nossos hospedes, emquanto existirdes nelles ; e a »» beneficência para com elles he huma das couzas, em que >> concordão todas as religiões : a." por estardes separados , í» e auzentes dos vossos paiees por cauza do seu e nosso « bem; e por isso deveis ser attendidos; e o 3." por scr- j» des grandes , e principaes das vossas nações : e cada qual »» deve ser collocado no seu lugar, conhecendo-se nelle a » sua dignidade , e não se defraudando o seu direito. Em j» huma palavra , emquanto vós permanecerdes no nosso ?» paiz , estais debaixo àa protecção de Deos , e da nos^ »» sa: não haveis portanto experimentar, querendo Deos, }i couza desagradável , mas sim o que vos der gosto , e j> prazer. Foi escrita a 10 de Xaual de iao6. >» Correspon- de ao primeiro de Junho de 1792. Carta do mesmo soberano aos alcaides de Tanger j com a mesma data. >» A todos os alcaides do povo de Rife {d) , nossos >» servidores. A paz , a mizericordia de Deos , e a sua ben- >y ção desção sobre vós. Sabei, que os cinco arraizes, que »> en- (a) Quando a praça de Tanger foi evacuada pelos inglezes, vierão povoa»!» o« povos daa tcibus dft Eiíe» DAS SciENGIAS DE LiSBOA. j^^ >» enviámos aos cônsules, rczidentes nesse porto, os esco- n Ihemos dentre os outros nossos servidores , por pensar-. »» mos , que as suas conversações, e encontros com os chri- >» stãos seriâo convenientes, e os seus sentimentos elevados, >» e despidos de ambição, e de vistas, de que lhes dessem >» donativos ; o que ainda quando elles lhes oíFerecessem >> alguma couza , a não acceitarião : mas aconteceo o con- » trario , porque forão elles os que lhes pedirão dadivas j >» e não contentes com o qqe lhes derão-, lhes disserão pa- j> lavras , com que os angustiarão. Era portanto da vossa >» obrigação , vendo que não resultava proveito das pala- j» vras dos ditos arraizes , adverti-los , e dizer-lhes , que » não lhes convinha tal , e prohibi-los de fallarem com »» elles em semelhante matéria ; e mesmo admoesta-los, por- » que isso não vos seria occulto , visto terdes conheci- »» mento dos costumes dos christãos , pelo muito trato , 5> que com cllcs tendes tido; poisque a religião moham- >» metana não permitte aos seus sequazes, senão que as suas » mãos scjão liberaes. Esta negligencia portanto procedeo >» delles , e também de v» Aos arraizes Ben Mobareq, Ebrahim Lobares, Aljr « Turqui , Hansali , e Sabia. Será possível , que ti.ndo-vos >» nós escolhido d'entre todos os nossos servidores, e en- >» viando-vos ao porto de Tanger a tratar dos nossos ne- »» gocios , sendo hum delles com os cônsules , por jul« » garmos , pela confiança, que tínhamos da vossa probida» >» de , e pelo dilatado serviço com meu pai e senhor , de >» quem Deos tenha mizericordia , e me faça participante j> da sua graça, assim por terra, como por mar, e por nos >» parecer, que éreis os mais dignos e mais capazes de faU >» lardes com os christãos, visto conhecerdes as suas ma- »> nciras de tratar , razão por que criamos , que os vossos »» ânimos tuo ambicionando delles couasa^ alguma y e que »» ain- 134 Memorias da Academia Real j» aindaque vo-la quizessem dar de livre vontade , a não j> receberíeis , por serem os vossos sentimentos ir.ais elc- »» vados , que chegásseis ao estado , de serdes vós os mes- j> mos , que lhes pedistes donativos , obrigando-os com pa- >» lavras infames a darvo-los? Tal procedimento he em de- n trimento da vossa dignidade : e se eu não quizera , que >» acontecesse tal ao mais infimo, quanto mais a vós! Re- » stitui-lhes portanto, o que vos derão , e não fiqueis com » elle j mas de modo , que não percebão , que o fazeis » com indignação. Componde em fim com elles, o que des- >» compozestes , como cumpre á vossa boa reputação de » maneira , que vos separeis delles , como convê á vossa » graduação. Saúde. »» Postoque este príncipe continuasse a dar repetidas pro- vas a todas as nações da sua sincera amizade, e animo pa- cifico , para o que concorreo certamente ter a seu lado no principio do seu reinado a Mohammed , Ben Othoman era qualidade de seu primeiro ministro, homem perspicaz, politico , e pratico na diplomacia, por haver estado embai- xador em varias cortes da europa no reinado de Moley Mohammed, e ainda no de Moley Eliazid em Hespanha, onde se conservou até ao seu falleciraento, o que o salvou das suas garras ; com tudo Moley Soleiman , com o qual ratificámos a paz na cidade de Féz em 22 de Julho de 1798 (**)» ^'■*^o^ sempi-e com particular distincçao a corte de (a) Tendo Sua Magestade a Senhora D. Maria I de saudoza memoria rezolvido mandar congratular Moley Soleiman pela sua exaltação ao throno , e ratificar com elle a paz subsistente entre as duas nações , nomeou seu embaixador a Jorge Pedro Colaço para ir desempenhar tão honrosa commissão em consideração de suas eminentes qualidades, e ao perfeito desempenho do emprego de cônsul geral , que exercia desde muitos annos nos estados de Marrocos. Achando-se este rezidindo em Tanger; como eu tinha sido nomeado para o acompanhar na quali- dade de secretario e interprete nesta missão, fui incumbido do prezen- te, e de fazer embarcar com elle o trem indispensável para se viajar era hum paiz sem povoações, nem estalagens, e destituído de todas as çommodidades na fragata Tetis, de que era commandaate o capitã» DAS SciENClAS DE Í.ISBOA. 13^ de Portugal. Em prova desta verdade bastará sdmente lem- brar , que cllc lhe concedeo vários portos privativos para commerciar , e a exportação de trigos e gados , ou com módicos direitos, ou sem elles; que negou estas exporta- ções, quando cm 1808 os francezes se achavão em Por- tugal ; que nos dêo livres de direitos vinte mil fangas de trigo, e dous mil bois em Janeiro de 1809, logoque lhe constou terem os ditos sido expulsos do reino ; e que man- dou òfforeccr dinheiro de empréstimo á junta do Algarve em prejujzo dos referidos francezes, offerta , de que a su- prema junta do reino não julgou conveniente aproveitar- sc ; mas que lhe mandou agradecer. He igualmente indu- bitável , que nós também lhe dêmos muitas , e repetidas provas do nosso reconhecimento; mas as principaes forao estas três: i.' Não querer a nossa soberana reconhecer â Aloley Hexam , e prohibir o commercio com os portos de Safy e Mazjgáo, como Ben Nasser pertendia; a 2.* a boa recepção da princcza Laila Amina , mulher de seu irmão Moley Abdessalcm , dos seus dous filhos , e três filhas , e de outras princezas , e de toda a sua comitiva , que ao to- do de mar e guerra José Pedro Pereira Leite , a bordo da qnal eu tam- bém embarquei , depois de ter concluida a dita diligencia , com a co- mitiva indispensável, que constava de hum tenente, hum sargento com dfzeseis soldados, seis muzicos da caza real, hum barraqueiro e selleiro da fundição, hum cozinheiro, e outros familiares indispen- sáveis , fez-se de \è\È a dita fragata para Tanger no dia 5 de Maio de 1798. Tendo ahi desembarcado tudo no dia II do mesmo mez, sahi- mos para Féz , onde rczidia o soberano , no dia 4 do seguinte mez de Junho, e chegámos a ella no dia 13 do dito mez, e fomos hospeda- dos no real palácio, chamado Dar-debibag, situado nos subúrbios da- quella cidade oní distancia de meia legoa. No dia 17 fomos admimit- tidos á primeira audiência , e no dia 22 ratificou-se o tratado com o artigo addicional ; tivemos a audiência de despedida do soberano no dia 25; sahiinos para Maquinez no dia 27 do referido mez, e daqui no dia 2 de Julho para Tanger, aonde chegámos no dia 8 tendo re- cebido do soberano as maiores demonstraçSes de amizade, e dos seus ministros , e cortezãos , assimcomo de todos os baxás , e alcaides Hft Bossa ida, e volta toda a qualidade de cortejos, e obséquios. 136 Memorias da Academia Real do crâo duzentas e vinte pessoas , as quaes tendo ertibaí- cado no porto de Santa Cruz em 13 de Abril de 1793 com direcção ao de Salé , e f dando-lhes o tempo contra- rio, foráo arribadas ás ilhas da Madeira, e de S. Miguel, e depois a Lisboa, onde entrarão no dia 15 de Julho, e se demorarão até 9 de Agosto segui.nte , obsequiadas sem- pre pela nossa soberana , por toda a corte , e por outras mais pessoas de todas as classes , em que embarcarão para Tanger , indo acompanhadas pela náo Meduza , como me- lhor se pôde ver na relação então publicada por meu me- stre Fr. João de Sousa impressa em Lisboa na offii-ina da Academia Real das Sciencias em 1793 coi" ^ titulo de Narração da arribada das frincezas africanas ao porto desta cidade de Lisboa ; e a 3.* haver sido 3 mesma Senhora a primeira, que o reconheceo , enviando-lhe o seu embaixa- dor a ractificar com elle a paz, a qual foi assignada em 21 de Junho de 1798, Aindaque o reinado deste príncipe fosse dos mais pa- cíficos, em razão da sua prudência, e moderação, não dei- xou comtudo de ser repetidas vezes incommodado pelo fla- gelo da peste , que lhe levou a maior parte dos seus vas« sallos ; e também pelas rebellióes de algumas províncias , e cidades, que nos últimos annos da sua vida se declararão a favor de dous fdhos de seu irmão Moley Eliazid, accla- niando a hum depois do outro ter morrido , mas que elle a final subjugou em Março de 1822, concedendo amnistia aos habitantes de Féz , que conservavâo , e defendiâo nella ao segundo Moley Hossein levantado, e perdoando a este o seu crime , acção até então desconhecida entre aquelles bárbaros; e talvez nunca praticada pelas mesmas nações ci- vilizadas. Pacificada esta revolta, dirigio-se a Marrocos com o intento de apagar o fogo da rebellião, que também se tinha ateado por aquelle lado do império; e tendo adoeci- do gravemente, falleceo nella no dia 21 de Novembro do mesmo anno , deixando escrita huma espécie de proclama- ção, cm que eihortava com a maior energia os seus vas- sal- DAS SciENCIAS DE LiSBOA. 137 sallos , paraquc acciamasscm a Molêy Abderrahaman, filho de ícu irmão Moley Hcxain , por concorrerem nelle as qua- lidades necessárias para bem governar ; e paraque se não deixassem illudir por algum dos descendentes de Moley Eliazid. Esta proclamação concorreo muito para a acclama- ção do dito Moley Abderrahaman. 9." Moley Abderrhaman , filho de Moley Hexam , foi acclamado em Marrocos logo depois do fallecimento de seu tio, como este tinha recommendado , e o mesmo se prati- cou em Féz , onde elle era governador , nos principios de Dezembro de 1822, em Tetuão em 19 , e era Tanger em 21 do mesmo mez , e successivamente nas mais cidades, e provincias da Mauritânia 5 de que prezentemente se acha senhor pacifico , segundo as noticias , que dalli tem che- gado até ao actual mez de Setembro de 182^^. Pelas cartas deste soberano, escritas ao corpo consular, e ordens expe- didas aos governadores e administradores daquelles portos, paraque subministrem tudo necessário ás embarcações eu- ropeas , que alli aportarem , e facilitem ás mesmas o com* mercio , como em vida de seu tio , se conhecem os seus sentimentos, e o dezejo de se conservar em paz com to- das ellas. F I M. Tomo X, S ^ 138 Memorias da Academia Real índice chronologico DOS SOBERANOS DA MAURITÂNIA PELAS SUAS DIFFERENTES DINASTIAS. 1. Primeira dinastia, Edrisitas. 3- S Edriz. Edriz II. Mohammed. 4. Aly. lahia. 6. lahia II. 7. Aly II, filho de Ornar. 8. lahia III, filho de Cassem. 9. lahia IV, filho de Edriz. 10. Al-hassan , filho de Mohammed. 11. Alçassem Guenun. 12. Abulaiaxi. 13. Al-hassan II, filho de Guenun. ^ Segunda dinastia , Mniagrauenses Aliafermenses» 1. Zjidi , filho de Atia. 2. Almoazze , filho de Z:.idi. 3. Hamama , filho de Almoazze. 4. Tamim , filho de Zamur. y. Dunas, filho de Hamama. 6. Alfathoh, filho de Dunas. 7. Moanzar , filho de Almoazze. 8. Tamim II, filho de Moansar. .••'\ : Ter- Cl DAS SciEiíciAs BE Lisboa. 139 4 Terceira dinastia , Morabitins {Almorahidej) . 1. Abubacar, filho de Ornar. 1. Iiissof, filho de Taxcfin. 3. Aly III, filho de lussof. 4. Taxefin , filho de Aly, ^ ^ Quarta dinastia, Mtihadins {Almuhades)é I. Mohammcd Mahadi. 2. Abdelmumen, filho de Aly. 3. lussof II , filho de Abdelmumen. 4. lacub Almansor , filho de lussof. y. Mohammed Annasscr II, filho de Almansor. 6. lussof III , filho de Annasser. 7. Abu Mohammed Abdelitahed. 8. Abdallah Aladel , filho de lacub Almansor. 9. lahia V, filho de Nasser. 10. Edriz Abu-Laala III. 11. Abu Mohammed Abdeluahed Arraxid II. 12. Abul hassan Assaid. 13. Ornar, filho de Ebrahim Exahaque. 14. Edriz Abu-Dabusse IV, Quinta dinastia , Benimerines. T. Abu-Mohammed Abdcl-haqque III. 2. Abu Said Othoman , filho de Abdel haqque. 3. Abu Maruf Mohammed , filho de Abdel-haqque» 4. Abu lahia , filho de Abdel-haqque. y. Abu lussof lacub. 6. Abu lacub, filho de Abu lussof. 7. Amer Abu-Tabet. 8. Solciman Abu-Rabea, 9. Othoman Abu Said, S ii 10. i^o Memorías da Academia Real lo- Abul-hassan II. 11. Abu-Annan Fares. 12. Abu Bacar. 13. Abu Salem. 14. Abu Ornar Taxefin. ly. Abu Zaian Mohammed. 16. Abu Fares Abdelaaziz. 17. Mohammed Said. 18. Abu Taxefin Abdcrrahaman. 19. Abu Said II. 20. Abdel-haqque , filho de Abu Said. Sexta dinastia, Xarifes Saaâias. 1. Moley Ahamed AUrege. 2. Abu Abdallah Mohammed Xequp. 3. Abu Mohammed Abdallah IV. 4. Molçy Mohammed, filho de Abu Mohammed. jT. Moley Abdelmaleq , tio de Moley Mohammed. 6. Moley Ahamed Almansor II. 7. Moley Zaidan. 8. Moley Abdelmaleq II, filho de Moley Zaidan. 9. Moley Alualid, filho de Moley Zaidan. 10. Moley Mohammed Xeque II, filho de Moley Zaidan. 11. Moley Ahammed III, filho de Moley Mohammed. Sétima dinastia. 1. Moley Mohammed III, filho de Moley Aly Xarife. 2. Moley Raxid. 3. Moley Esmail. 4. Moley Ahamed IV, Çlho de Moley Esmail. 5:. Moley Abdallah, filho de Moley Esmail. 6. Moley Mohammed IV, filho de Moley Abdallah. 7. Moley Eliazid, filho de Moley Mohammed. 8. Moley Soleiman, filho de Moley Mohammed. 9. Moley Abderrhaman, filho de Moley Hexam. t)AS SCIENCIAS DE LiSBOA. 14! MEMORIA Sobre o Pentateuco Hebraico impresso em Lisboa tm 145)1. Por Fr. Mattheus da AssuMPqSo Brandão. E, JiNTRE as preciosidades, que possue a Bibliotheca da Academia Real das Sciencias de Lisboa , merece particu- lar contemplação a Obra dividida enijíious volumes de fo- lio pequeno , que tem por titulo ou rotulo : Pentatcuchum Hebraicum cum Targum et cum Rase. Ulissipoiíe in membranis an: 14^1 (a). Para avaliar a importância desta Obra cumpre cxpli* car o seu titulo , attender á sua antiguidade e perfeição t)'pografica. Pelo titulo logo se vê que nesta Obra não se comprchcndem todos os Livros da Biblia Sagrada , mas tão somente os primeiros y do Antigo Testamento : Gé- nesis , Êxodo , Levitico , Números , e Deutoronomio , que se costumão designar pela palavra Grega Hl Pentateucho. ^ O Texto, em que se achao escriptns estes $ Livros, Jie o Original Hebraico, tal qual se acha hoje em muitas Edições assaz conhecidas. Alem do Texto Original contem esta Obra hum Com- men- ((») Esta Obra foi comprada em 1818 pelo Sr. Alexandre António áas Neves Guarda-mor dos Estabelecimentos , que então era desta Aca- demia na niSo de Borel Mercador de Livros em Lisboa, que diz te-ia comprada «m Pariz no Leilão de Mx. Macarty. Costou-lhe 192JÍOOO is. 141 MemokiasdaAcademiaReal mentario ou Paráfrase em Lingoa Caldaica a cada hum dos 5 Livros do Pcntareucho , e outro Rabbinico. O Caldai- co está escripto com caracteres perfeitamente semelhantes aos do Texto Hebraico, com a única differença de serem algum tanto mais miúdos: porque ainda auc estas duas Lin- ^oas Hebraica e Caldacia diffirao huma da outra em quan- to á sua syntaxe e vocábulos , ambas usao dos mesmos ca- racteres depois do famoso Captiveiro da Babylonia , onde os Judeus estiverâo por 60 annos, e de tal sorte se acos- tumarão aos caracteres Caldaicos , que quasi perderão ouso dos caracteres próprios da Lingoa Hebraica (que são os chamados Samaritanos ) e veio a fazer-se necessário trasla- dar os Livros Santos em caracteres Caldaicos para maior facilidade do Povo. Este Commentario Caldaico faz a columna da direita , e o Texto Hebraico a da esquerda na 1.* folha desta Edi- ção , e assim se vão alternando nas seguintes até o fim de cada volume , exceptuando as ultimas 3 , que são todas cs- criptas em Hebreu sem Commentario algum. O A. deste Commentario, que em Lingoa Caldacia se chama Targtm y he Onkelos, que se presume ter vivido no i." século da Igreja , e que commenrou e traduzio nesta Lingoa tão so- mente os primeiros y Livros da Biblia , com huma exacti- dão tal , que tem sempre merecido a estima , não só dos Judeus , mas também dos Padres da Igreja. Não se pode admittir que este Commentario ou Targum seja o Jeroso- lomitano : porque desse , como incompleto e truncado , nun- ca os Rabbinos fizerâo apreço ; e muito menos o Targum de Jonathan , por quanto este tão somente abrange os Pro- fetas maiores e menores, e nada de Pcntateucho. O 2." Commentario ou Paráfrase, que illustra o Tex- to Original , e que dá mais alguma singularidade a esta Obra , he o que se vê por baixo das columnas do Texto Hebraico e Caldaico, e algumas vezes por cima dçllas, escripto com aquella forma de caracteres , de que usavão os Judeus estabelecidos em Hespanha e Portugal, que dif- fe- DAS SciENCIAS DE LiSBOA. 143 ferem dos que usavâo os de Alemanha e de outras Nações , c que SC chamão caiactercs Rabbino-Hispaiiicos. Este Commentario hc o que se designa no rotulo pe- Ja palavra Rase, a qual hc hum termo composto , ou huma abbrcviatura de 3 palavras , cujas iniciais são i? -- xr ã — e /; e reunidas se pronunciao Rase , ou mais propriamente Ras- cbi. A i." Letra 2?, que corresponde ao i dos Hebreus he inicial da palavra "^1 que pronunciamos Rabbi e significa Mestre , Sábio , Explicador , Grande &c. A 2.* Letra sch , que corresponde ao 0 he a inicial da palavra que iò'7(i' pronunciamos Schalomó , ouSalomó,ou Salomão , e vem a ser o nome proprjo do A. deste Com- mentario. A 3.* Letra i, que corresponde ao ? dos Hebreus, he a inicial da palavra pns' que pronunciamos Itzaak ou Isak, e vem a ser o cognome ou appellido da Familia a que pertencia o A. do Commentario. Vem por tanto a Abbrcviatura Raschi a significar Rab- li Salomão Isaak, E com effeito que esta seja a verdadeira jntcUigencia dessa Abbrcviatura se manifesta logo na 1." li- nha do i.° volume , que corre horisontalmente sobre as * columnas do Texto Hebraico ,e CaJdacio começando a lêr da direita para a esquerda ; e ahi se vê escripto em cara- cteres hebraicos o seguinte : Peruscb Rahhimí Sehalomó Zacharú Ló Am Izaàk que em linguagem Portugueza vem a dizer: « Commentario 3J do nosso Mestre Salomão (Lembrai-vos delle ) intitula- » do de Izaak ou da familia dos Izaaks. » Cumpre agora saber quem fosse este Rabbino ou Mes- tre, cuja memoria tanto aprecião ainda hoje os Judeus. Wolf na sua Bibliotheca Hebraica Part. III, pag. 1042 faz expressa menção delle e referindo-se a Bashuysen diz que era filhQ de Itzaak , e que apezar de ser Itzaak o seu no- 144 Memorias DA Ac ADEMi A R E A L nome patronímico oudafamilia, costuma ser citado por to- dos com o appeliido de Jarchi : t< vulgo vocatus R. Salomó Jarchi y et sub boc nomine ab authoribus antiqtiioribus' allega- ri consuevit. »» Com este mesmo appeliido de Jarchi tam- bém o cita o Sr. António Ribeiro dos Santos na sua insi- gne Memoria I. sobre a Litteratura Sagrada dos Judeus Portuguezes, e igualmente o citão Calmet no seu Diccio- nario Biblico e todos os AA. que delle tem fallado. Era natural da Cidade de Troycs na Provincia de Champagnc de França, onde nasceu, segundo se presume, em iioj; e morreu cm 1180. Viajou pela Itália, Alemanha, Pales- tino , e Egypto para indagar as Tradições dos Judeus de diversos paizes, ; e de todos os seus escriptJS o mais ap- plaudido pelos Judeus e por Nicolau de Lyra he o seu Commentario ao Pentateucho. O seu estylo poiém , se- gundo diz Wolf na citada Bibliotheca Part. I. pag. 1062, he escuro , cheio de palavras exóticas e Francczas ; e em quanto á doutrina , que espalha no seu Commentario , nota- se-lhe propensão para o fabuloso , e demasiado apego ás Tradições Talmudicas e prevenções Judaicas. Estando já patente e decifrado o titulo desta Obra, e a verdadeira intelligencia da palavra Rasch segue-se mos- trar que foi realmente impressa em Lisboa , e no anno de 1401 como se lê no rotulo década hum dos volumes ; que he o que muito recommenda esta Obra. Assim consta effc- ctivamcnte da ultima folha do 2.° volume, aonde depois de feita a enumeração dos versículos de cada hum dos Livros do Pentateucho, apparece huma epigrafe em 58 versos de caracteres hebraicos sem pontos ou vogais, que contém grandes louvores a esta parte da Biblia , que os Judeus chamão Torhd ou Lei ; e ahi se vê que fora o Im- pressor desta Obra rr Zacheu filho de Rabi Eliezer e que se concluiu esta Impressão em Lisboa no mez de Ab no an- no de 2^1 segundo o calculo a que se ajuntao cinco milha' res. "iZ O mez Âb mencionado nesta data corresponde ao nos- so I DAS SCTENClAs DE LlSBOA. 14^ so mez de Julho ; e o anno de 25 1 com mais yooo ou j 2 y i corresponde , segundo a nossa Chronologia mais corrente , ao anno da creação do mundo 5491, «u '49' do Nasci-. mento de Jesu Christo : por quanto a este numero de an- nos declarados pelo Impressor desta Obra se devem accresr centar mais 240, como se costuma sempre fazer para re- duzir a chronologia dos Hebreus i nossa : pois he bem sa- bido que estabelecem o Nascimento de Jesu Christo no an- no de 3761 da creação do mundo , «endo que, segundo a Chronologia geralmente adoptada pelos nossos chronologis- tas , este Nascimento se deve collocar no anno de 4000 cu de 4004 dá creação du mundo , e não 240 annos antes era 3761 como pertendem os Judeos. Accrescentando pois 240 annos á data declarada pe- lo Impressor viremos a ter que esta Obra foi impressa em I491, como justamente se lê no rotulo ^ ou titulo de ca- da volume. Que a Terra onde foi impressa seja esta Cidade de Lisboa também não pôde entrar em duvida , posto que o nome que apparece escripto seja njotCN que se pronun- cia biícbbona : por quanto consta das datas de vários outros Livros impressos pelos Judeus nesta Cidade que elles cos* tumavão trocar a letra h correspondente ao nosso (L) pe» la sua aspirada ( n ) de maneira que em lugar de pronun- ciarem lisbma pronunciavam bischhona. E tanto mais se de- ve isto acreditar p.)r não ser possível indicar outra Terra , que tenha mais semelhança de nome com esta , e onde os Judeus tivessem huma synagoga ou reunião tão celebre , co- mo foi a de Lisboa até á época da sua expulsão deste Rei- no. O respeito e consideração de que gozava a synagoga de Lisboa entre todas as outras , assaz o expressa o Edi- tor de outra Obra impressa em Lisboa em 1495: (o Avu- draham ou Serie das Preces de todo o anno ) no fim da qual se lê que fora impressa « em Lisboa no meio da qual >» está situada huma synagoga que he o amparo e a mãi »» de todas as principaes synagogas. >» Tomo X, T Da 14^ Memorias da Academia Real Da celebridade desta synagoga de Lisboa , e da apu- rada Littcratura dos Judeus de Portugal oíFeicce copiosos testemunhos o Sr. António Ribeiro dos Santos nas suas eru- ditas Memorias de Littcratura dos Judeus Portuguezcs &c. impressas no 2.° Tomo da CoUccção das Memorias desta Real Academia , onde mostra que os Judeus de Portugal estabelecerão nesta Cidade huma Gfficina typografica para os Livros da sua Lingoa , poucos annos depois da inven- ção desta Arte e primeiro do que em quasi todas as 01** tra» Cidades da Europa habitadas por Judeus; pois consta e se prova com evidencia que já em 1485: se tinha im- presso aqui huma Obra Hebraica ou Rabbinica intitulada Livro do caminho da verdade : assim como se imprimio em Leiria em 149^ outra Obra Hebraica intitulada Os Profe- tas primeiros. Em vista de tudo isto tanto mais acreditável se faz que este Pentateucho fosse impresso em Lisboa em i4i;i , pois_q.ue sem questão já em 1485' havia aqui Typografia Hebraica. Esta porém (tocarei de passagem) não prece- deu a Typografia Portugueza : por quanto segundo mos- tra o douto Sr. António Ribeiro dos Santos na citada Me- moria; já em i479forão aqui impressas as Epistolas e Evan- gelhos de todo o anno traduzidos em Portuguez ; e antes des- ta (provavcifíventíc em 1464) já tinha sido impressa aqui mes- mo huma Carta Pastoral de D. João Manoel Bispo da Guarda, Comprova-se finalmente que o Pentateucho , de que trato, fosse impresso em Lisboa em 149 1 , com a expres- sa rpenção x|ue delle faz o Sr. António Ribeiro dos San- £{>s.'ria citada Mctnoria , onde se refere a João Bernardo Rossii insigne .H«braista moderno de Parma cujas Obras pos». sUó^ tC cnDtí ellas a que trata De Hebraicie Typographite Oiigine et primitiis &€. Este dá hucna exactissima noticia ^esta Edição do Pentateucho de 1491 que quadra perfeita- tncnte com todas as circumstancias do que actualmente pos- ^c a nossa A^demia ; e por tanto deve ficar £úra de to- da a duvida ser verdadeira .« titulo desta Obra. ${í oiv c Qo DAS SciEhfCIAS DE LlSBOA. 147 Do primor c perfeição typografica desta Edição Lis- bonense de 1491 dão testemunho Wolf na sua Biblmheca Hebraica ; Lc Long na sua Bibliotbeca ò'acra , chamando-lhe elahoratissimam rarissimauique ; Lonzano na Obra intitulada : Or Torhd onde diz Ediíio Lusitana est omtiibus Editienibus accuratior. O que concorda com a ideia que todos os crí- ticos sempre fizerao dos Códices e Edições dos Judeus an- tigos de Portugal e Hespanha , que passaváo pelos mais apurados de todos nas suas producçóes deste género , de sorte que aos Impressores Judeus se propunha sempre co- mo modello da perfeição de suas Edições esta Lisbonense de 1491 ; e ainda hoje são tidos em grande monta os Es- criptos dos Rabbinos Portuguezes para decidir quaesquer duvidas que occorrão sobre a verdadeira iição de varian- tes. He por tanto sem razão que o Annotador anonymo da Bibliotheca Critica de Ricardo Simonio diz que esta Edição nem he exacta nem recommendavei pela nitidez de seus caracteres : o que só serve de provar que tal A. nunca a viu , pois se a conhecesse não poderia deixar de admirar a sua exactidão e perfeição typografica. Para abonar em fim o primor e excellencia desta Edi- ção algum tanto poderá contribuir o juizo de hum Rab- tino oujudeude Mazagão , que casualmente encontrei aqui em Lisboa , o qual apenas a viu , logo me pedio que lha vendesse offerecendo-me 8o45)ooo réis , e sem saber o quan- to ella he rara hoje na Europa. Que esta Edição seja rarissima , e por isso mesmo tan- to mais estimável , o assevera o já citado J, B. Rossi que he de todos os Hebraistas ou Filólogos modernos o que conseguio ajuntar o maior numero de manuscritos e Edições de Livros Hebraicos e Rabbinicos ( como se vê do seu Jpparatut Biblicus impresso em Parma em 1782) e este diz que apenas havia 4 Exemplares de tal Edição: hum na Bibliotheca Real de Pariz , outro na de Londres, ou- tro na Loja de Moisés Fòá Livreiro de Reggio, e outro na mão do mesmo Rossi , que segundo elle confessa no T li seu 148 Memorias da Academia Real seu TrataJo de Hebraic^e Typographue origine &•€. impresso em 1778, lhe havia dado Ehas Levi Prefeito da synago- ga dos Judeus de Alcxundria de Itália. Qual desses seja este Exemplar, que actualmente pos- sue a nossa Academia, não he mui fácil decidir; e pro- vavelmente será o que pertenceu 30 Livreiro de Rcggio Moisés Voi. Mais interessa saber se este Exemplar será alguma reimpressão dessa primitiva Edição de 1491 ; e a alguém as- sim talvez occorra á vista da censura e reviíao que se vêem escriptfts com letra de mão na antepenúltima e ulti- ma folha de cada ,hum dos 2 volumes. A censura cuja letra be muito pouco legível , e que .parece estrangeira ,e talvez do Século XVII. , vem a dizer : ^go Fr. PauUit Vícecomes Alex."' OrdJ' pradicat.^"' Le- 1,3 y,^^tor ,eic compius.' R/' Inq.' VercHJ' recignovi prasen- tem librt^,fitq^e n íifiê/Us expurgavi. £ xnai^ abaixo h\ima assignatura rcom outra letra. Fr. iÇyprianus Urb." inq.'' A nota ou despacho do Revisor eptá coocebida nes- jfas poucas palavjas : << Revisto por António Francisco Enriques. Aless.* 16S8. >» A letra desta nota , algum tanto mais legivel do que aprqcedente, parece Port^gueza , assim como a lingoagem e nome do Revisor. Qupni fosse porém este Portuguez, que , Emer^jo da {.^ Sat. de Jup. • . ^ Emersão do 1." Sat de Jup. • . - Do,." Sat. d» Jup. /^'""««W . Emersão do i.' Sat, de Jup. - - - Emersão do i." Sat. d* Jup. Emersão do ).° Sat. de Jup. Innmersáo do }.° Sat. de Jup. » » Emersão do 1 .° Sat. de Jup. » - Emersão do i." Sat. de Jup. •, • _ , _ firam, no limbo escuro ' *' lEtjiers. 9" 16' 33" (Boa) 6 19 4S (Boa) { \% $ (Boa) « 7 14 (Muito boa) 10 II 8 (Boa) 7 31 57 (Boa) 7 *6 5 (Muito boa) 6 iS 44 (Muito boa) E 19 10 (Boa) % 6 46 (Duvidosa) % 26 13 (Menos má) 12 19 48,7 (Instant.) - Í-'C-"- . (Nuvens) Ju- (*) Estas observações são a continuaçío dw que já se achão imprensas nos Tomos antecedente; da Academia Real das ScitocÍAi àe Li boa. O tempo de-tas observações foi regulado p«r altuws c(i(r«]poiideqtes do soj , tomada; (pelo segundo Ajudante Ray- ;imndo Josí da Silveira. I>'1 IS22 Julho II 16 29 ■V-rosto Memorias da Academia Real r- -H Plato mm. 110 limbo illumin. - . Em. 110 limbo escuro - . - Immersáo do z.° Satcllite de Júpiter - - • Emersão do }." Sat. de Jiip. - - . . . Immersão do i.' Sat. de Jup. - - - . ECLIPSE DA LUA. Já se percebia a penumbra espalhada pelo dis- cn da Lua ........... A penumbra bastantemcnte scnsivei . . ■ A penumbra já muito densa, indicava oprin- clp. do Eclipse ........ O Eclipse de certo tinha começado - - Toca a sombra Sinin Iridum .... Iminersão de Aristarchus . . . - - ttnmersão Galileus ....... fToca a sombra .--.-. ( Todo na sombra . - . . - Immersáo de Ricciolus - - - - - - Immersáo de Keplerus .----- r Toca a sombra . - . - GrimaWus < Metade na sombra - - - C Todo na sombra . . - Immersáo do Aristóteles ..... Immirs.ío de Eudoxus ....-- Toca a sombra . - - . Metade na sombra ... Todo na sombra . - - - ÍToca a sombra • - " iTodo na sombra *í. *I ^Manilius - . - . j Menelaus . - - - ImmersÓes de < ^^^.^^ _ ^ Dionysius . - - - C Toca > sombra - - Maré ctisium -^ Metade n» sombra - CTodo na sombra Ccpemicus Po^sidoniu: .■;}'. T. Verd. I j*" j ' 24" (Menos má) 14 17 I (Ii stant.) 15 J I 42 (Menos má) 14 fi 2J (toa) 14 46 10 (Muito boa) ph 5i' 0" IO 4 0 10 12 0 IO 16 0 10 24 58 IO 26 8 IO J' S 10 M 8 10 J» 8 IO i6 38 10 i7 5» IO i1 52 10 4« iS ro 4S 8 10 40 6 10 42 20 10 45 8 10 44 18 10 45 J» 10 51 41 10 M 38 10 S4 >} 10 55 42 10 59 28 1 1 5 2J II 5 5} II 9 58 II '4 10 Ma' 1X32 DAS SciENCrAS DE L IS BOA. Maré Iiiimorum Immersóes Toca a sombra - na sombra j^ f bullialdas - - • fracastoriu! {ioca a fl!et;id< I : huUU , Tatur»! {Toca a ; Todo u (. Tatuatius Toca a sombra ua sombra Agojto 12 «4 21 Sepíeinláro 6 6 íTo/íi* X, ■ Ç Apparec? ----..- GrimalJus J Metad; fóra da sO;nb:a - - CTodo fora ...... ÍRicciolus --.... Bullialdus Gallileus --..._ Aristarchus - . . » . , , , ''Copcrnicus - . . . -etaoe na sombra < \ Plato emersão de Mvnelaiis -----.. Apparece fliare crisium -----.. Fim no eclipse -------.. -V. B. As ultimas oiito observaçóes deste Eclipse da Lua foráo feitas ao travez de nuvens mais ou iiènos densa; , pòr causa das quaes se não poderão observar as outras Emersões correspon- dentes. Do 2." Satèllite de Júpiter /^"""<^">o {_ Emersão - Imraersáo do 2.° Sat. ' de Jup. - Inimersio do i." Sat. de Jup. - Immersão do i.° Sat. de Jup. - Do j.° bat. de Jup. ^ (^Emersão _ . „ . , f Immersáo - . . . Do 2." Sat. de Jup. J (^Emersão . . . . . , j _ , f Immersáo - - . Occult, de Taygeta pela (f < (.Em. do limbo escuro T. Verd. ís-s 11» 8' 0" 11 17. 2 11 14 IO 11 '4 IO 11 ii 28 11 JJ 8 11 S6 4d II $8 iS 12 o S« ' I I 59 43 1 2 5 jS 12 13 JX 12 2á 48 12 Í4 8 12 54 S 12 57 ss 'J «J S8 '} »9 4» 12 15 IS »J «4 12 '4 12 J5 '4 40 ia CMenosmá) 15 42 (Duvidosa) 18 41 (Muito boa) i I j (Menos má) S8 j5 (Muito boa) i 2 21 (Boa) 56 24 (Muito boa) 44 J (Duvid.) 9 44 - - (Nuvens) o I j (Instant.) Septem- If4 Septembro li 1 J 20 Outubro 6 i i 10 M IÇ S4 29 J> jí »» Novembro i 9 3} 37 )o Dezembro 4 9 II i6 iS ai 3{ 3$ Memorias da Academia Real Immersao do i.° Satellite de Júpiter - - Iminersão do i.° Sit. de Jup. . - - - Immersao do 2." Sat. de Jup. - - . - Immersao do i.° Sat. de Jup. - . - - Immersao do l." Sat. de Jup. . - - - Inimersáo do i.° Sat. de Jup. - . . - Immersío do 2.' Sat. de Jup. . - - - f Immersao - - - Do i.° Sat, de Jup. -i ^ ^Emetsao . . - Immersao do i.°Sat. de Jup. . . - - Immersao do 2.° Sat. de Jup. - - . . Immersao do i." Sat. de Jup.- . - - . Immersao do 1.° Sat. de Jup. .... Emersão de Alcyone no limbo esc. da Lua Emersão de Alias no limbo esc. da Lua - Immets.ío do i.* Sat. de Jup. . - - . Immersao do i.° Sat. de Jup. - - - - Immersao do 2." Sat. de Jup. - . - - í Inimersão no limbo esc. *■ l Emersão no limbo Uium. Emersão do a.° Sat. de Jup. . . . - ^ -fi H Emersão no limbo escuro - - Emersão do 2.° Sat. de Jup. Emersão doi.°Sat. de Jup. Emersão do 2." Sat. de Jup. Emersão do i."Sat. de Jup. Emersão do i .° Sat. de Jup. Emersão do j." Sat. de Jup, Emersão do i.° Sat. de Jup. Emersão do i.° S«t. de Jup. loimersão do j.° Sat. de Jup. T. Verd. ij" ig' j6" (Duvidosa) 15 14 20 (Muito boa) i( 14 j2 (Muito boa) 17 10 j6 (Muito boa) 15 J« >5 (Muito boa) IO 0 5 (Muito boa) 12 n 9 (Duvidosa) M 5 2 (Muito boa) "S 10 25 (Muito boa) 17 25 46 (Duvidosa) ■5 1 1 47 (Muito boa) 8 >9 9 (Eoa) M 45 5 (Menos má) « 10 i? (Instar.t.) 6 i9 4' (Instant.) 10 U 50 (Muito boa) i 21 10 (Duvidosa) 12 aj )6 (Muito boa) 9 }7 5 (Instant.) 10 1% 1} (Menos má) 9 37 4» (Duvidosa) 7 J3 S6 (Instant.) II , 39 (Menos má) 10 4Í 39 (Duvidosa) 14 ií i« (Menos n»S) 12 n 59 (toa) 7 I 43 (Boa) 7 12 27 (Duvidosa) 14 35 5 (Muito boa) 8 ii 9 (Muito boa) i S' J7 (£oa) 3»- l32) Janíiro 17 Fevfríiro 2 9 Kacp i 4 >7 20 «I- Abril 12 29 Maio 6 Julho 23 DAS^CIENCIAS DE LiSBOA. Eir.ersáo do i.° Satellite de Júpiter Emersão do i.° Sat. de Jup. - -• Emersío do l.° Sat.' de Jup. - - Emersão do j," Sat. de Jup. Emersão do i." Sat. de Jup. - Do j." Sat. d* Jup. J ^ ^ Emersão Emers.ío do i.° Sat, de Jup. - Emersão do 2.° Sat. de Jup. Emersão do i." Sar. dç Jup. -mers.lo do f." Sat. de Jup. '.mersão do 1." Sat. de Jup. linmersio do }.' Sat. de Jup. Emersão do 1." Sat. de Jup. Emersão do j.° Sat. de Jup. Emersão do a." Sat. de Jup. -.-.... ECLIPSE DA LtTA. {12 52 20 T. V. (Duvidoso) 12 5 5 40 T. ,V. (Havia começado) , . Imoieisóes T. Veru. Grimalduj i 2 5S 40 Galileu» . I 2 JO 10 Atistarchus i i S 27 Gassendus 1 3 í 27 Keplerus - 1 ) 6 IO BuUialdus 1 J IJ 0 0 5 14 20 Copernicus < 1 i 15 10 Ci i i(^ 10 Pitatus - 4. } 18 ) 19 20 as (metade na sombra) (total) T. Vep.d. J7' S 20'' (Muito boa) 19 (Muito boa) 3 o (Boa) 7 7 7. 15 8 47 Ji ií 9 10 o 52 24 17 29 24 54 O li 47 (Menos m.i) (Menos má) * >(Menos mis) 14) ji (Muito boa) 59 (Muito boa) 46 (Boa) . I 52 12 7 12 (Boa) (Boa) (Bo.^) (Eoâ) (Menos má) 7 $4 í4 CEoa) Emersões T. Verd. 15 44 50 15 45 40 >5 46 40 ij . 5» 40 16 10 Ja» XS6 Memorias da Academia Réai, Julho Agosto Septembro 2 ig •9 a} s$ 36 Tycho - . Timocharis Plato - - , Manilius • . Meuelaus - . Dionysius - . Plinius • . . racastorius '.'rocJus - . - 'lare Humorum 1} 'í M U M H Ware Serenitatis ■ 1 ' Maré Tranquilitatis < Immersóes T. Verd. 21 O 21 22 27 29 29 JO s» J6 40 41 42 51. 4 9 (metadff na sombra) ((ótal) 4J 48 57 Maré crisium - N.B, O fim do Eclipse não se pode observar, -., . , f Principio . - - - - Obscuracao total < IFim --•--.- 50 (metade na sombra) 50 (total) 25 10 ----- . io 10 • • ■ - - . JO $0 (total) o 2} IO (total) - - - IO ----- - 40 (total) 10 IO (total) 5° o (total) Immersáo do í.° Satellite de Júpiter Immersáo do 1." Sat. de Jup. . - - - - Immer>ão do k." Sat. de Jup. - . . - - {Immersáo - - - Emersao - - - - f Imm. no limbo illumin'. Occult. e Y (£■<„ , , l Emers. no limbo escuro. - Immersáo do t° Sat. de Jup. - - - - - Irameisão do }.° Sat. de Jup^ - - - - - Emersões T. Verd. 16'' 14' 50" ij 56 10 16 16 «5 50 50 16 2} 2$- «5 16 16 55 3 25 40 40 40 59 39 O 14 44 IO (Menos lai «4 15 " J lâ 14 1$ »7 49 10 10 I 23 2 6 II 50 i8 (Boa) (Boa) ;;}cM. ito boas] 5 5 (Eoa) 42 (Muito boajl 2j (Duvidosa) 14 (Muito boa) Ou- BAs SciEiícrVs Dfi LíSBoa.' ^57 iZn Outubro 9 11 -y Novembro 5 z > D;zembro IO 14 Inimetsío do 2° Sac;llíte de Júpiter Imm;rsáo do 2.° Sat. dj Jup. - - I:niDeróo d» i." Sat. de' Jup. - - Eintttsáo do^j." Sat.- de Jup. - - Iminsisão du i." Sat. ds Jup. - - 1 Do ;. Sat. de Jup. ■< I (. Emirsáo 15 '9 1S24 mmersao rsáo Inmijrsáo dj z.° Sat. de Jup. - - . . liiimersáo do i." Sat. de Jup. - . . - Immsrsáo do i." Sat. de Jup. . . . . Im.niersád do z." Sat. de Jup. - . - . Imrtifrsáo do i." Sat. de Jup. . - . . Imfners.ío do i.* Sat, de Jup. . - - ■ Iinincr'ião do i." Sat. d; Jup. - . - . Iinmetfáo do 5.° Sat. dj Jup, . - - . f Im.n. no limbo escuro Merope < , ,. , l Emers. do limbo illumin. ^ , ., f Imin. 110 limbo escuro C \ Alcyone .* Ihmers. do limbo illumin. f Imm. no limbu escuto t Emers; do limbo illuinin. Immersâo do 1.° Sat. de Jup. - - . Imnieráão do 2.° iíat. de Jup. ... T. Verd. iih 4(5' 8" CBo») 14 24 44 (Boa) 1 j 25 5 5 (Muito boa^ 12 S )0 (Menos md) 17 15 28 (Menos míj í Janeiro 6 6 IS 17 '9 Emersão do 1.° Sat. de Jup. - - ■ Emersão do 2.". Sat. de' Jup. - - • Emersão do 1.° Sat. de Jup. - - Emersão do j.^ Sat. de Jup. - ■ ■ UO 4, Sat. de Jup; -í t Emersão - • j, flmm. no limbo illumin, ^ '' (.Emers. do limbo escuro Emersão do 5.° Sati de Jup. - - n 12 '} (ftiuitoboas) lú 7 59 i 1 1 34 >7 .(buvi.losa) M 42 45 (Muito boa') 8 10 l-i' (Muito boa) 8 59 J4 (Muito boa) 17 2J S8 (Duvidosa) 1 1 52 2 ' (Muito boa) ' i 47 4J (Muito boa) 12 52 59 (íluito boa) '4 45 0,6 (Instaiit.) 12 59 8 (Menos má) I 2 ii .'9,8 (Instant.) 1} 26 )6 (Muito hoa) li 16 11, 1 (Instant.) «4 19 »7 (Boa) IJ 41 S8 (Duvidosa) 16 20 ss (Duv idosa) g JI 54 (Boa) M 50 0 (Boa) IS 55 2} CEoa> 7 40 Í7 (Muito boa) •i 2 24 (Boa) í$ 0 5 5 (Boa) 8 16 5 (Menos mã) S II 51 27 (Boa) }i s& (Boa) t?8 1824 Jineiro 32 34 37 39 Fevereiro I 7 Memorias da Academia Reai, 12 Maríp 6 9 10 EmersSo do 1.° Satellire de Júpiter - • Emersão do 1.° Sat. de Jiifí. . • . - Emersão do 3.° Sat. de Jup. . - - - Emersão do i.' Sat. de Jup. . . - - Emersão do i." .Sat. de Jup. - . - - Tmmersão do 4.' Sat. de Jup. - - - - Emersão do 2.° Sat. de Jup. - - • - ' {Immersáo no limbo escuro Emersão no limbo illumijv _ . f Immersáo no limbo escuro C < Alcyone •< , . . ^ i Emersão no limbo illumin, ( Immersáo no limbo escuro { Emersão no limbo illumin. Emersão do i " Sat. de Jup. . 1 - - Emersão do j." Sat. de Jup. - b * • «5 33 {Immersáo « - - . Emersão - . - . Emersão do 2." Sat, de Jup. - . - - Emer»ão do i.° Sat. de Jup. - . - - Immersáo do j." Sat. de Jup. - . - - Emersão do 2.' Sat. de Jup. - - - • J IminersJo no limbo escuro S ■- (.Emersão no limbo illumin. ^ • f Immersáo no limbo escuro *- l Emersão no limbo illumin. Emersão do l." Sat. de Jup. - . - • Emersão do i." Sat. de Jup. - - - • Emersão do 2.° S»t. de Jup, . t. - - s; T. Verd. lah ,5' io'' (Eoa) 6^ 4) 44 (Menos mi} 7 56 5S (Boa) 14 8 26 (L'oa) i- 8 j6 40 (^IVluito boa) 6 59 14 (EfO I j 8 j2 (Muito boa) 5 s6 l8 (Iiistant.) 7 14 15 (Menos mi) 6 s j 41 (Instant.) 7 47 14 (Eoa) Não se pode observar. 8 5J 5 5 (Eoa) 12 2 ç 1 j (Eoa) 7 39 io C^oO s ?l 4 (Boa) II 42 2 (Boa) IO 21 39 (Muito boa) 12 4} 44 (Boa) 12 J2 54 (Boa) n 0 41 (Menos má) 6 30 22 (Instant.) Nuvens. 12 21 24 (Instant.) «5 17 9 (Menos má) 9 9 49 (Eoa) II 7 41 (Menos má) 7 )6 J« (Muito boa) AbrU' DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. T» 1S24 Abril 7 7 % 1825 Fevereiro 25 25 Ká-ço 4 11 II 17 iS 20 24 Abril 3 12 19 ai Emersío do 2." Satellite de Júpiter - l." Sat. immersão - - 2." Sat. iiiimersão - - Principio da immersão Ç oc;ult. 'llf ^Fim da iminersão - . )." Sat. immi;rsão - - Principio da emersão - FiiTi da emersão - - Emersão do }.' Sat. de Jup. . - . Emersão do i.' Sat. de Jup. - - . „ ., , , 1 Immersão - - . 4." Sat. de Jup. < „ 1 Emersão . . - . Emersão do 1," Sat. de Jup. - - - Emersão do 2.° Sat. de Jup. - - - T. Verd. í^-"^" Immírsão no limbo escuro. Emersão no limbo illumin. EmersSo 4.' Sat. Emersão Emersão Emersão Emersão Emersão i." Sat. do 1.» Sat. de Jup. , _ I Immersão de Jup. J \ Emersão - do i." Sat. de Jup. do 2.' Sat. de Jup. do j." Sat. de Jup. do 1.° Sat. de Jup. do i." Sat. de Jup. j Immersão de Jup. < i Emersão - — u . Emersão do i.* Sat. de Jup. - - - Eraertão do i.° Sat. de Jup. - - - Emersão do i.° Sat. de Jup. - - - (Immersão do limbo escuro. lEiners.ío no limbo illumin. I Emersão do 2.' Sat, «le Jup. - - - IO*" 15' 4i" CBoa) It 6 20 (Instant.) 11 9 IO (Instant.) 1 1 15 42 (Boa) II lã 4) (Muito boa) 11 "9 55 (Inscant.) 12 4 41 (Duvidosa) 12 5 JO (Boa) 7 56 46 CEoa) 9 J2 ig (Boa) 7 10 20 21 :> (Bois) 6 25 22 (Boa) 9 9 12 (I>luito boa) 9 lô 17 (Instant,) 9 2J 27 (Boa) l 22 27 (Muito duvidosa) 7 22 3 (Muito boa) 12 0 44 (Muito boa) 10 '7 7 (Muito boa) 14 27 II (Muito boa) 7 12 H (Boa) 12 '5 44 (Muito boa) 6 4» 57 (Boa) 7 40 52 (Menos mi), II H 59 (Muito bqp) 10 }6 49 (Boa) 7 ) •7 (Menos má) S 59 51 (Muito boa) 6 52 27 (Duvidosa) 7 57 íi (Menos má) i 59 49 (Muito baa) Maio Maio 6J 7 13 Junlio 4 JulhD } Septembro 4 «7 Outubro IO a? io Novembro 1 I 4 II 1{ J7 24 X>ezembto 26 27 30 31 Memorias da Academia Rbal T, Verd; j." Sat. de Jup. -l ^ l fc.niers:i() - ' - - - Emersão do i." Satellite ds Júpiter - - Emersão do i.' Sat. de Jup. - . . . Emersão do j.» 5at. de Jup. . . . - Emersão do i.' Sat. de Jup, . . . - Emersão do z." Sat. de Jup. - - . . I I k V Immersáo no limbo illumin. -, ^ I J Immsfsáo no limbo escuro. " ' l Emersão no limbo illumin. - Immsrsão do 2." Sat. de Jup. • . . - Immersão do i.° Sat. de Jiip. .... C. f Immersão no limbo illumin. I Emersão no limbo escura - Principio im - Emersão no limbo escuro dã ^ J l Fii Emersão do j." Sat. de Jup. - - - . Immersão do i.' Sat. de Jup. - - . - Immersão do 2." Sat. de Jup. .... Immersão do 2." Sat. de Jup. - - • . Immersão do 4.' Sat. de Jup. - . - . Immersão do i." Sat. de Jup. .... Immersão do i.° Sat. de Jup. - - - - Immersão do i." Sat. de Jup. - - . . J 2 a ^g• Emersão no limbo escuro. - í e ó2 Immersão no limbo illumin. - linmetsão, do 3." Sat. de Jup. - - - - 7 4S 4z (Duvidosa) II 21 3 > (Boa) II J7 J9 itoii) 9 lá 57 (Boa) t 4) 24 (Boa) 9 28 57 (Boa) 8 17 7 (Menos má) 12 24 29 (Duvidosa) 6 24 18 (Instant.) 7 J9 27 (Duvi^^o:*) 17 )6 40 /(Duvidosa) 16 j j2 (Menos má) 16 55 s 6 (Boa) 18 4 ií (Instjnt.) 8 7 44 (Boa) 8 8 59 (Boa) 15 3 ji (Duvidosa) J7 57 48 (fliuito boa) 14 J7 17 (Duvidosa) 17 9 i4 (toa) 1} 51 5 2 (Duvidosa) 16 II 28 (Boa) 18 } 12 (Menoi mA) 14 19 24 (Boa) 18 18 2Í (liistant.) 14 2j 2j (Em) 10 47 j (Boa) Obser- DAS SciEKCIAS DE LiSBOA. l6l Observações feitas no Real Observatório da Universidade de Coimbra (*) por António Diniz do Couto Valente , em Tempo Verdadeiro Astronómico , determinado pela Meridiana filar , e aUurtfs correspondentes do Sol. iSi; Fevereiro 9" 9 lâ 25 Marido 3 4 • 4 II 1 1 17 iS lO' 24 27 29 Abril I 19 Tom» X. Emersão do i.' Satellice de Júpiter Eiiwrsão do ).' Sat. de Jup. - - Emersão do i.° Sat. de Jup. - - Emersão do i.' Sat. de Jup. - - Emersão do i.' Sat. da Jup. . . . . - Emersão do i." Sat. de Jup. - . . - . Emersão do %." Sat. de Jup. - . . . . „ „ , ' ( Immetsáo - . , Do 4.» Sat. de Jup. < _, (.Emersão • . . . Emersão do 1." Sat. de Jup. - . . - - Emersão do 2.° Sat. de Jup. - . . . - Emersão do j.° Sat. de Jup. - - - - - Emersão do i." Sat. de Jup. - . - . - Emersão do 1.' Sat. de Ju(X - - - - - Immersão do j.° Sat. de Jup. - - - -. - Emersão do 1.° Sat. de Jup. - - - - . Emersão do 2.* Sat. de Jup. - - - - - Emersão -do i ."' Sat. de Jup. Emersão do i." Sat. de Jup. T. ,Verd. V S" 9' 26' (Muito boa) 1 1 iJ jo (Muito boa) IO 4 «i (Muito boa) 6 2S ii (Duvidosa) M 54 n (Muito boa) g 2J )6 (Boa) 11 SO 3i (Muito boa) 7 24 2 (Muito boa) 12 5 29 (Menos má) 10 19 56 (Muito boa) 14 iO 0 (Boa) 7 16 0 (Muito boa) 12 lâ 37 (Muito boa) â 45 48 (Muito boa) 7 44 8 (Muito boa) 8 42 55 (^a) 9 8 51 (Boa) '° )9 41 (Muito boa) 9 2 44 (Muito boa) Obset- , ( * ) Por trr sido Mandado por Ordem de S. MagciUde praticar no sobredito Obser» v)torio da Universidade de Coimbra, I^Z Memorias nA Academia Re a l Observações feitas tio Observatório Real da Universidade de Coimbra (*) por Jntutito Maria da Co 'ta e Sd , em Tempo Verdadeiro Astronómico , determinado pela Meridiana Filar , e alturas correspondentes do Sol. 1825 Fevereiro 9-1 9 16 ig Mano Abril i »9 Kmersão do i." Satellite de Júpiter Emersão do }." Sat. de Jup. - - Emersão do i." Sat. de Jiip. - - Emersão do 2." Sat, de Jup. - - 2 Emersão do i." Sat. 4 Emersão do i." Sat. 4 Emersão do 2.° Sar. 9 Immersão do 4.° Sat 9 Emersão do 4.' Sat. 1 1 EnuTsáo do i.» Sat. II Emersão do 2.' Sat. 17 Emersão do j." Sat. 18 Emersão do i." Sat. no Emersão do i.» Sat. 9* Emersjo do 2.° Sat. 34 Immersão do j." Sat. 27 Emersão do i." Sat. ^-9 Emersão do 2.' Sat. de Jup. de Jup. de Jup. . de Jup. de Jup. de Jup. de Jup. de Jup. de Jup. de Jup. de Jup. , de Jup. de Jup. de Jup. Emersão do i." Sat. de Jup. Emersão do 1." Sat. de Jup, T. Vero. gh 9' 57" (Boa) 11 I j jo (Muito boa) 10 4 24 (Boa) 6 jj 5° (lio») JJ 54 JS (Boa) i 2J 40 (Boa) 1 1 51 5 (Muito boa) 7 2Í 59 (Muito boa) 12 5 7 (Menos má) 10 19 52 (Muito boa) 14 50 4 (Boa) 7 »5 59 (Muito boa) 12 16 i6 (Muito boa) 6 45 41 (Muito boa) 6 29 56 (Boa) 7 44 12 (Muito boa) g 42 51 (Boa) 9 g 51 (Boa) I 10 J9 56 (Eoa) 9 2 49 (Muito boa) (*) Por ter sido Maudado.por Otdem de S. Majestade praticar no sobredito Obser» oiioltA da Universidiide de Coimbra. DAS SciENClAS DE LlSBOA. láj MEMORIA HISTÓRICA Sobre as Obras do Real Mosteiro de Santa Maria da Victoriay chamado vulgarmente da Batalha, Por d. Fr. Francisco De S. Luiz. PREFAÇÃO, H. .avendo-se-nos offerecido opportunidade de examinar de espaço , e com toda a miudeza , a grande Obra do convento da Batalha , e tendo-nos sido franqueados sem reserva , por attenciosa benevolência do Prelado e ReligiO' SOS da caza , os documentos do seu cartório • foi-nos fá- cil achar noticias até agora desconhecidas , e outras que servem para rectificar alguns descuidos do elegante chro- ntsta Fr, Luiz de Souza , e dos mais escriptores , que fallarão da mesma Obra. Humas e outras coliigimos nesta Memoria , que agora offsrecemos á Academia , havendo , que fazemos algum serviço ao publico em lhe dar melhor a conhecer este in- signe monumento , e que pelo menos mostramos á Aca- demia o desejo, que temos, de a auxiliar (se nos fosse possível) nos fins da sua instituição. X u CA' id4 Memorias DA Academia Real CAPITULO I. Da origem e principio da fundação do Convento. (Sotiz. H. de S. D. P. I. L. ri. C. XII.) B __ cm sabido he , que foi o senhor D. João I. « que fundou esta magnifica c sumptuosa fabrica , obrigado da promessa que fizera á sanússima Virgem Mãi deDeos, no memorável dia 14 de Agosto de 1385-, estando para dar a famosa batalha de Aljubarrota, em que alcançou do exercito Castelhano a mais completa , e assignalada yicto- ria. O grande animo , e generosa piedade deste augusto Prinuipc nao lhe permittio demorar o cumprimento do seu religioso voto ; e postoque nâo sabemos ao certo , nem hoje parece possível averiguar, o anno , mez , e dia preciso ) em que teve principio a obra do magestoso tem- plo, sabemos comtudo , que já era começada, quando ElRei esteve sobre a praça , e castello de Melgaço , se- gundo consta da verba do seu testamento , que Fr. Luiz de Souza trás copiada n j lugar citado. E como esta expe- dição militar fpi emprehendida e executada nos primei- ros niezes do anno de 1388 , nao será errada a conjectura, que fazemos, de que no anno de 1387 , ou quando muito no de 1386, se deo principio á fabrica do edifício, gas- tando-se o tempo , que tinha decorrido desde a época da batalha , em escolher e comprar o terreno j (a) em prepa- rar (a) Foi o raosteiro edificado na Qmntaã do Pinhal, que ElRei comprara a Egas Coelhp, e Maria Feruandes de Meira sua mãi , como consta da carta de doação feita por ElRei ao raosteiro , e dada em Coimbra a 14 de Janeiro de 1436, a qual vem copiada em Souza no cap. XXI. do citado livra. Esta quintãa abrangia o terreno em que está o edificio , com parte da sua actual cerca, e alguns chãos era roda delle , aonde consta terem existido o caza do mestre, a caza das medidas , a casa da féria , a caza da carpiíUarm , da vidraria , da DAS SciENCIAS DE LiSBOA. lájT rar os desenhos correspondentes á^ vastas idêas do iJJus- tre fundador; em designar os mestres que havião de diri- gir a obra ; e em ajuntar as achegas necessárias para a sua execução. Não tinha ElRei applicado ainda a alguma das fami- lias religiosas do Reino o templo c caza , que mandava edificar : mas no mesmo tempo , cm que esteve sobre Mel- gaço , acordou e lhe aprouve de ordenar encommehdalo e doalo á ordem de S. Domingos, a pedido do Doutor João das Regras , do seu conselho , c de Fr. Lourenço Lamprêa seu confessor , p religioso dominicano , que en- tão o acompanhavão. A carta , que ElRéi logo mandou lavrar desta doação , he datada da cidade do Porto , a 4 dias de Abril da era de 1426 j (anno de Chr. 1388) e vem copiada por Souza, com pequeníssimas differenças do original , que se conserva no cartório do mosteiro. He bem de crer , que logo por p.rrte da ordem se to- masse posse , como affirma o chronista ; mas não parece igualmente certo o que ahi acrescenta , e depois repete no cap. XXXVI. , que fora mandado assistir no lugar o P, Fr. João Martins , mestre em tbeologia , e pessoa de grande nome neste Reino em virtudes e letras : por quanto deste Fr. João Martins achamos a primeira memoria em documento do anno de 1443 , com o titulo de bacharel em íheologia'^ iogo depois em 1445' até i447 com o titulo de mestre em tbeologia e Prior do mosteiro-^ em 1448 e 145' 7 com o cargo de Provincial j e finalmente çrn 1460 até 1469 com ferraria, os fornos de cal, telheiros Src. Os quês chãos, como ao princi- pio fossem destinados para estes serviços, e se não julgassem compre- hendidos na citada doação , forão depois novamente doados pelo se- nlior D. Manoel por carta de 10 de Dezembro do anno de 1499 , com a condição, qne os religiosos se não aproveitarião delles , em qiiantoi durassem as obras , e os chãos fossem para ellas necessaiios. Quando a fabrica das obras diminuio , ou de todo acabou , forão-se dando es- tes chãos de aforamento a pessoas particnlares , com a expressa clau* sula de levantarem cazas , que hoje coostituem parte da povoação. 166 Memorias da Academia Real com o emprego de provedor das obrar , e ornamentos das capellas do mosteiro de santa Maria da Fictoria por ElRei nosso senhor : c não parece verosímil , que vivendo ellc até o referido anno de 1469 , fosse já cm 1388 não só frade professo, mas alem disso de grande nome neste Reino, e tão assignalado em letras e virtudes , que merecesse por esse motivo ser escolhido para assistir no novo mosteiro, (a) O certo he , que em alguns centenares de titulos do cartório, que examinamos, e aonde se nomeão não só os Priores do convento, mas também muitos dos religiosos, que pelo decurso dos tempos nelle residirão , não encon- tramos memoria alguma de religioso d'aquelle nome, an- tes dos annos acima referidos. Poronde entendemos , que o chronista ou foi enganado por informações pouco exa- ctas , ou fundou conjectura sobre hum documento da era de 1445" (an. de Chr. de 1407) em que na verdade se nomêa hum Frei Joanne , frade de V. Domingcs, estatite no tmesteiro , que o dito senhor Rei mandou fazer , e procurador dos (a) Não só o Mestre Fr. João Martins vivia era 1ÍG9, mas tam- bém consta , que alguns annos autes , no de 1460, fora pcssodliiiente a Évora requerer ao Senhor D. AíTouso V. lhe mandasse dar o trasla? do de huma cartado illustre Infante D. Henrique, então fallecido, e de algumas verbas do seu testamento , que pertencião « ordenança das missas , que se havino de cantar na capdla do dito senhor : o que tu- do lhe foi dado em instrumento de 3 de Dezembro do dito anno de )4(;0 , inostraudo-se por este facto, que o Mestre Fr. João Martins es- tava n''aquelle tempo com bastante vigor para cmprehender huma jor- nada dilatada, em tal estação do anno, o que seria por certo diffícil , se já então tivesse perto de 90 annos, coino era necessário para ser r>-Ii'''ioso professo eíii 13í?8 , e vir assistir, como tal, nas obras da Ba- talha ao principio da sua fundação. E já que tocamos neste documen- to, não perderemos a occasião de advertir, que elle só por si seria baslante para resolver a duvida, que houve, sobre o anno preciso do fallecimento do Infante D. Henrique , de que tratou Soares da Silva , nas Memorias de ElRei D. João 1. 1. 1. c. LXXV ; por quanto a car- ta do Infante , copiada no documento , mostra ser elle ainda vivo a 30 de Setembro de 14G0, e o mesmo instrumento o suppSe já fallecido a 3 de Dezembro do próprio anno. A carta he datada deste modo it Feita em a minha villa Villa do Infante , 30 dias de Setembro, anna de nosso Seuhor J. C. de 1160 n DAS SciEIíClAS DE LiSBOA. 167 dos frades do dito moesteiro ; mas nem se lhe dá o apptlli- do de Martins , nem se lhe attribuc qualificação alguma , que mostre a identidade dos dous sujeitos. Mais crivei nos parece, e mais natural , que o Dou- tor Fr. Lourenço Lamprca, a quem o senhor D. 'Joio I. na citada carta de doação encommendou particular, e ex- pressamente , que tomasse posse , e encarrego da dita cazci e moesteiro , fosse ahi fazer a sua ordinária residência : c isto se confirma de algum modo , por que o achamos nos annos de 1401, 1402, e 1409 (a) nomeado Prior do con- vento , sem d'ahi em diante tornar a apparecer o seu nome em documento , ou memoria alguma do cartório. Com razão adverte o chronista , no fim deste capi- tulo , que os Padres , que no mosteiro existiao por aquel- les tempos, não davao voto, nem traça, nem ordem cm cousa alguma das obras , que todas corriao por ministros Reacs, não fazendo os religiosos outra cousa, senão resi- dir ali como em caza sua , dizer missa , e pregar nos dias de festa. Para estes officios ecclesiasticos se edificou huma pe- quena capella, de que ainda existem as ruinas , não longe da entrada principal do mosteiro , a qual em muitos docu- mentos do cartório, desde o anno de 1429 até o de 1494, e ainda depois, se denomina, ora a igreja de santa Maria , òra a igreja velha , ou a igreja de santa Maria , a velha : e sem duvida sérvio , não só para nella celebra- rem os religiosos o santo sacrificio da missa , e pregarem a (a) Na era de 1439 (aii. de Ch. 1401) concedeo o senhor D. João I. certos privilégios a ftlattheus -Lourenço c sua mulher , moradoris em Pombal, por haverem doado ao mosteiro todos os seus bens: e diz El Rei , que faz esta graça a pedido do Doutor Fr. Loureiífo Lam- jiràa , Priol do nosso moesteiro da Batalha, lie datada a carta em Santa- rém a 13 de Maio. Em outro documento de 5 de Julho da era de, 1447 (aii. de Chr. 1409) se faz aioda menção de Fr, Lourenço Lam- prèa , de Ooar , Priol do moesteiro : poroude se vê o erro de Fr. Fe- dro Monteiro, que o suppõe fallecido em 1388. (Claiistr. Domijaic. pag, '104.) i($8 Memorias da Academia Real a palavra de Dcos ; mas tapibem para d'ali se administra- rem os sacramentos aos officiaes , e pessoas empregadas n'aquellas obras , em quanto o augraento da povoação fixa e permanente não obrigou u erigir o lugar em villa , e a criar ncUa paroquia separada , edificando-se em sitio mais conveniente igreja parochial , que ao presente existe, e he da invocação ,de Santa Cruz. (a) Qiie as obras porém corressem por pessoas escolhi- das e nomeadas por ElRei , consta de muitos documentos do cartório, nos quaes se faz frequente menção do veedor j 011 veador díis obras por ElRei nosso senhor^ que talvez se denomina também provedor das obras , e talvez juiz de toãolos servidores delias , ou juiz das obras , e dos servido- res c officiaes delias, apparecendo algumas vezes separados, e cm diversas pessoas , os cargos de veedor , e de provedor das obras , e havendo também escrivão e almoxarife , pa- ra as cousas de seus officios , e homens das obras ,• a. quem ElRei pagava mantimento, C A P I T U L O. 11. Do sitio da Morteiro, e dos Mestres que presidirão ã's Obras. {Souza, Cap. XIII) N. âo havemos por necessário acrescentar cousa alguma ao que diz Fr. Luiz de Sousa sobre as razoes, que El- Rei (a) Em documento do niez de Jaueiro de 1498 ainda o lugar era <3o termo de Leiria : luas em 'OUtro de 28 de Julho de 1499 já se vê e!evi;do á <^radnação de villa: e era carta de 17 de Marjio de 150Õ lhe (leterniinou ElRei D. Manoel o destricto , e regulou os limites da jurisdição civd, criminal, e económica. A paroquia foi erigida em JÕI2 , desinembrando-se da de santo Estevão de 'Leiria, a que d\nnte8 |)erleiicia. Acabou de construir-se a nova igreja parochial em 1532, segundo parece por esta mesma data , que está gravaria no seu frontes- picio. Tem vigário coilado da apprcscntação dos Bispos de Leiria, e consta ao presente de 433 fogos, e 1600 pessoas, pouco mais on nieiios , teudo em outro tempo chegado a 600 fogos, e mais de 2000 pessoas. DAS ScrENCIAS DE L I S B O A. 169 Rei teve para edificar, em tal sitio ^ fabrica tHo maravi- lhosa. Tinha promettido levantar á honra da religião este monumento (que o havia de ser também do valor, da in- . dependência , e da gloria da monarquia) em sitio proxi ^^o áqucUc , em que recebera o beneficio do ceo ; e não era fácil achar outro algum, mais accommodado a este desígnio , sendo sem duvida huma de suas principaes e mais artcn» diveis commodidades a agoa do rio Lena , que banhando a planície, em que está assentado o mosteiro , e fertilizan- do suas aprazíveis veigas, oíFcrccia também desde logo fácil e indispensável auxilio aos trabalhos das obras , e ás necessidades e usos dos religiosos , e mais habitantes do lugar. Mais quereríamos nós que o elegante chrcnista se alargasse em explicar o que no principio deste seu cjp. XIU. nos diz em tão poucas linhas, isto he , que ElRei chamara de louges terras os mais celebres arquitectos , que se sahiíío ; rofivocdra de todas as partes vfficiaes de cantaria des- tros e sábios \ convidara a huns com honras , a outros com grossos partidos , e obrigara a outros com tudo junto. Em verdade que bem merecia esta grandiosa Obra , que o douto e avisado escriptor examinasse com mais cui- dado , e nos dissesse com individuação, quem forâo esses arquitectos e mestres chamados de lovges terras para a tra- çar, e dirigir: e por certo que lhe não, seria dificultoso, cm seu tempo , entrar com fructo neste exame , que ago- ra , sobre duzentos annos mais de antiguidade, e depois de tantas mudanças , e alterações dos tempos e das cousas , nos he absolutamente impossível e.mprehender com igual successo. Este silencio , ou descuido do chrcnista , e a ligeire- za , e incerteza com que fallárao do assumpto outros ai' guns escriptores , junta com a eswanha negligencia de nossos naturaes sobre as cousas da pátria {a) , e com a la- Tomo X. Y ti- {'^) iNão podemos escusac-nos de uotar aqui em prova desta uegli* 170 Memorias da Academia Real titude , que as palavras de Fr. Luiz de Souza parece da- rem a conjecturas e arbítrios, tem sido causa de que a presumpção , e o orgulho estrangeiro se hajao arrogado a gloria da primeira traça, e lavor desre soberbo edifício, náo apparecendo portuguez algum, que saia pelo credito da Nação , e havendo muitos , que ou por sobejo affccto ás cousas alhêas , ou por outros motivos ainJa mais re- prehcnsivcis , acquiesccm facilmente a opiniões aventuradas com pouco fundamento , e sustentadas com menoscabo dos Portuguezes. Não he nosso animo attribuir a evtes a gloria , que lhes não pertence, nem tampouco roubar aos cstn.ngeiros aquella , a que podem ter justo direito. Reconhecemos e respeitamos o mereciment>, em qualquer sujeito, que clle se ache ; e quando vemos os estrangeiros avantajados em alguma cousa aos nossos naturaes, limitamo-nps a sentir profundamente a nossa inferioridade , sem comtudo negar a alhêa vantagem. O primeiro nasce do cntranhavel amor, que temos á nossa pátria : o segundo seria effeito da vil inveja , que nunca teve entrada em nosso coração. Mas tornando ao ponto , de que por hum momento nos desvia- mos: nâo vemos, em realidade, razão alguma attendivcl , que nos mova a duvidar da capacidade dos nossos nacio- naes , gencia , que sahiii'Jo agora mesmo á luz publica huina Coílccçuo de m-^mnrim rel'UhtK ás virias dos pintores , esculptores , architectos , e ;fr«- vnlores Poríu-gujzes , e dos estrain^áros , que eslioerão em Portugal , se não .diga cm toda esta obra huina só palavra sobre o magnifico edi» ficio da Batalha (senão somente a pag. 299 , que Benjamin Comte abri- rn o seu proapr.cto ) iiein se falle ao menos uo nome de Mattheus Fer» «íUíiírt , já bem conhecido entre nós; e isto quando a pag. IGl julgou o antor, que não devia omraittir a noticia, que nos dão os estrangei- ros, d« prricia de S. Gonçalo de Amarante em arquitectura! Na ver- dade que este silencio de hum artista tão benemérito nos fez mais adinira^-ao do que todos os outros defeitos, que notamos na sua obra; porque não seiulo possível que clle ignorasse o superior merecimento deste sumptuoso edificio , nem que lhe fossem desconhecidas as bellas çstampas do arquitecta Mui^hy , não sabemos a ^ue causa attribuic tão uotavel oinmissão. DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 17! nacs, e a hir mendigar a dos estranhos, para a execução de qualquer grande obra, em hum século, em que nenhu- ma nação da Europa , excepto somente a Italiana , estava mais adiantada que nós nesta e nas outras artes; e nenhu- ma absolutamente nas sciencias , que lhe subministrao prin- cipios thcoricos , e regulão o seu bom e cabal destmpu- nho. Porem , posta de parte esta consideração geral , que todavia nao deve parecer inútil , e deixadas outras , que poderamos accrescentar em sua confirmação; daremos aqui o catalogo (Jos Mestres das Obras da Batalha , e de outros que merecem lembrança , e achamos mencionados nos do- cumentos do seu arquivo , para que por elle se veja o que nos pertence a nós, e o que pertence aos estranhos, e para que também , á vista deste resultado de nossas in- dagações , se note quam fácil teria sido achar, em tem- pos mais próximos á fundação , memorias circunstanciadas de hum objecto, que não he indiferente á gloria nacio^ nal. I. CATALOGO. Mestres das Obras da Batalha* I. Affonso Domingues. H. .E este o primeiro mestre, de que achamos fazer-se menção em documento lavrado a 7 de Dezembro da era de 1440 , que corresponde ao anno de Chr. 1402 , des* crevendo-se a medição de hum terreno , que possuia Mar» garida Auncs , ama que fei de Affonso Domingues , viestre da obra do mosteiro. E se reflectir-mos que a obra tinha sido comcçE LiSBOA. Í75 que com a senhora D. Filippa nos veio de Inglaterra a traça para o edificio, e a habilidade pata o dirigir c exe- cutar, (a) III. Mestre Marfim Vasquez. Ainda que nosnío he possivel determinar precisamen- te o tempo cm que o Mestre Ouguet , ou Huet presidio á direcção desras obras, sabemos com tudo, e já acima notamos, que elle tinha este cargo no cnno de 1402; que ainda o conservava em tempo do Senhor D. Duarte ; e que em i45'o e 1451 havia jd alguns dnnos que era fal- lecido. A esses annos pois , immediatos ao seu fallecimcn- to , he que pertence o Mestre Martim Vasquez , de que agora tratamos , e do qual se faz menção ( também como já fallecido ) em hum documento do anno de 1448 , em que figura Brites Lopes ,^ mulher qtie foi de Martim Vasquez , t?ies- tre que foi das obras do mosteiro de santa Maria da Flcto- ria : poronde se vê que elle dirigio poucos annos a fa- brica do edificio 5 e que a sua existência , como mestre das obras, se deve collocar entre o anno de 1438, (em que falleceo ElRei D. Duarte ) ou pouco antes , e o anno de 1448, em que elle mesmo era já fallecido, e tinha suc- ccssor naquelle cargo , como vamos a ver no artigo seguin- te. IV. Mestre Femãa de Évora. No citado documento de 1448 se faz já menção de Fernão de Évora , sobrinho de Martim Vasquez , e mestre das (a) O arquitecto Murphy , a quem Portugal deve o haver perpe- tuado pela estampa os desenhos deste magestoso edificio, traslada para o iuglez as próprias palavras do Académico Soares da Silva , e quan- do chega ao nome do Mestre David A^uetíf tiausfoima-o em JDavut líaket, sem dai xazão desta muda^^a. 174 Memorias da Academia Reai. daí obras do mosteiro: e com este ultimo titulo vem de- pois frequentemente designado em documentos do anno de 1449, i45'o, 145" 1 , &c. até o de 1473. V. Mestre Mattbeus Fernandes. Deste mestre , mais conhecido entre nós que os pre- cedentes , achamos a primeira noticia em documento do anno de I5'03, {a) aonde se nomêa o muito honrado Mat- thetis Fernandes., vassallo de ElRei , Juiz Ordinário na villa do mosteiro de santa Maria da Fjctoria , e mestre das obras do dito mosteiro por ElRei nosso senhor. Delle continuão ns memorias cm documentos dos annos de I5'04 , ijo6 , e de alguns dos seguintes até o anno de lyiS' , em que falleceo a 10 de Abril, segundo se vê da inscripção esculpida na sua sepultura e de sua mulher , que existe no pavimento da igreja , logo ao fundo dos degráos , que descem da por- ta principal para dentro, {b) Esta data , que se lê na cam- pa, (a) Posto que seja este o primeiro documento, em que achamos expressamente nomeado Mattheus Fernandes , temos com tudo por certo, que já elle tinha o cargo de mestre destas obras no principio do rei- nado do senhor D. Manoel , e assim parece persuadilo também outra documenso de 1497, em que se nomêa Margarida Fernandes , Jilha do Mestre. He de crer , que Mestre Mattheus Fernandes succedesse a, » Fernão de Évora, ou im mediatamente á sua morte, ou pouco depois delia, e que já estivesse na Batalha em tempo do Senhor D. João II. (i) A. inscripção que está gravada sobre a sepultura de Muttheus Fernandes, diz assim : 55 Aqui jaz Mattheus Fernandes mestre que foi destas obras , e sua mulher Isabel Guilhelme , e levou-o iiosso senhor a dés dias de abril de 1515. ella levou-a e falta a data da morte de Isabel Guilhelme, não por defeito da pe- dra , mas porque provavelmente não teve ella quem lhe solicitasse es« fea memoria depois de fallecida. Ciauza grande admiração , e comprova o qué temos dito da oegligencia dos Fortuguezes , que nenhuma das DAS SciENCIAS DE LlSUOA. Jyy pa , em letra allemâ minúscula, e de cuja veracidade se não pode duvidar, concorda com hum documento do an- no seguinte de ijió, em que figura Isabel Gnilhelme , do- na viuva , e mulher que foi de Mciííheus íernandes mestre àas obras deste mosteiro , cuja alma Deos haja , c com ou- tro do anno de 1522, em que os padres do convento fa- zem renovação de prazo de certas propriedades , que forão de Mestre Mattbeus. Por onde claramente se convence , que o outro documento do cartório, que se diz lavrado ein Thomar a n de Dezembro de 1525 , e no qual se nomca como outorgante mestra Mattbeus Fernandes ^ mestre das obras pessoas que escreverão da Batalha, tenha feito (que nós snibaiiios ) menção deste monumento, que está tão patente e obvio, e que até se faz notável pela larga cercadura floreteada , que guarnece a campa, tudo obra do próprio tempo e sem duvida hc o mesmo, que em outro documento de lyji se nomca António Gomes , pedreiro , mestre das ditas obras , donde pa- rece concluir-se, quejá então não havia no mosteiro obras, para cuja direcção não bastasse hum mestre pedreiro. VIII. Mestre António Mendes. Em documento do anno de 15:78 , que he huma car- ta de compra , figura como comprador António Mendes , cavalleiro fidalgo da caza de ElRei nosso senhor ; e na certi- dão de siza , que ahi vem copiada , se diz ser comprador António Mendes , mestre das obras de ElRei nosso senhor : no- va prova , ao que parece , de que o cargo de mestre das obras de nada já então servia , senão de titulo jpara vencer o ordenado , que lhe andava annexo. Es» DAS SciENCIAS DE LiSBOA. I77 Estes são OS mestres , de que achamos memoria nos docu- mentos do arquivo, com a genérica e expressa qualificação de mestres das obras , ou da obra do mosteiro de santa Ma- ria da Fictoria da Batalha por E/Rei nosso senhor. Outros muitos porêní se nomeao nos mesmos documentos com o titulo de mestres das vidraças , ou de outras artes , ou simplesmente com o titulo de mestres, sem mais designa- ção alguma , dos quacs todos daremos aqui relação indi- vidual , com a nota dos annos em que viverão, por nos parecer que não será esta noticia desagradável aos leitores amantes de nossas antiguidades , nem de todo inútil , as- sim para o conhecimento da obra , como para a historia das artes em Portugal. II, C A T A L O G O. Mestres das Vidradas da Batalha. I. Mestre Guilhelme, O primeiro que achamos nomeado com a qualificação de vidraceiro , ou vidreiro , ou mestre das vidraças de El" Rei nosso senhor, he Mestre Guilhelme, do qual se faz menção em documentos dos annos de 1448, 1463, e 147?» acrescentando-se em hum delles o sobrenome, ou appellido de Bellés , e em outro o de Èolku , diflferença que julgamos proceder da impericia com que ordinariamen- te se pronuncião e escrevem os nomes estrangeiros, como este parece ser. II. Mestre João. Em documento do anno de 1489 se nomêa Mestre João vidraceiro , que ora com este mesmo titulo , ora com o de vidreiro , continua a apparecer em vários outros Tome. X. Z do* 178 Memorias D A Academia Real documentos até o anno de 15^28, em que se vê ser já fal- lecido , c pelo contexto do documento se conclue , que o seria no mesmo anno , ' ou quando muito , no precedente. III. Mestre António Taça. • Quatra oQ cinco annos depois de fallecido Mestre ^oao y achamos, no de 1532, memoria de António Taça, vidreiro de ElRei nosso Senhor , o qual com esta mesma qualificação vem mencionado em documentos dos annos de isiS ■> ^ 15-36; e em outro de i y 3 8 se designa mestre da vidra' ria, constando que já era fallecido em i5'43. IV. António Taça , 2.° Pelos documentos de is-,? e 15-38, apontados no nrtigo precedente , sabemos que António Taça tinha hum filho do mesmo nome , que se designava '» o moço " E co- mo o pai fosse já fallecido em i5'43 » "^° podemos dei- xar de entender do filho o nome de António Taça , que ou- tra vez acb-iinos mencionado em documentos de 1569, 15-83, c 1^9^ •> com o titulo de mestre das vidraças deste ccnvento ^ ou mestre das obras das vidraças de. ElRei nosso senhor. Era já fallecido no dito anno de 15-96. V. António Taça, 3.° No anno de ióo8 torna a apparecer o mesmo nome de António T(ica , vidraceiro , como fallecido de mui pou- co tempo, e pode ser que do mesmo anno: pelo que conjecturamos que seria filho do 2.° , e neto do i.° , e x^ue succederia ao pai e avô na direcção das obras das yi- draçis, e na administração da caz^ da vidraria^ de que se faz mienção em hum dos precedentes documentos. VI. I PAS SciENCIAS DE LiSBOA. I7j|l VI. António Vieira. Achamos finalmente António Vieira com o titulo de vidraceiro em documento de 1617; e por outro de 165:9 consta ter fallecido nesse mesmo anno , ou no precedente. III. CATALOGO. Mestres, cuja Arte, ou Officio se hxo acha desi-» GNAno NOS DOCUMENTOS. I. Mestre Conjati : docum. de 1428, 1431 , 1443. II. Mestre Miguel: docum. de 1440. III. Mestre Boutaca , ou Botaca , cavaleiro da eaza àe ElRei: doe. de lyop, ifi2, í5'I4> ií'9— já falle- cido em 1J28. IV. Mestre Thomaz: doe. de 15'xa, V. Mestre Conrato: doe. de 1J14, IV. CATALOGO. Officiaes de algumas Artes , ou Officios mais notá- veis , DE QUE FAZFM MENÇÃO OS DOCUMENTOS. I. Gil Eannes y imaginaãor. 146^. II. Affbnso Lopes y imaginário. 1^34, 15'44, ^SSS' III. Duarte Mendes, entalbador. i$lS. IV. Hanrique Francez j entalbador. 1^35". V. João Gonsalves da Rua y entalhadar. ij'36. VI Pêro Taça j entalbador. i5'49. 15 61. VII. Francisco Taça, pintor. 1^66. VIII. Álvaro Mourato , pintor, ijgi. {a) Z ii CA- (aj Reservamos para este lugar ollerecer aos nossos leitores hu» ma boa prova da pouca fidelidade , exac^ão , e imparcialidade , com» i8o Memouias da Academia Real CAPITULO III. RefiexSes sobre os precedentes catálogos. §. I. Examina se previamente , em que tempos , e reinados se fi- zerão ai differentes partes do edijicio. lir Ur'ida da ig-reja estão os nomes dos seguintes artijices , que ahi forão enterrados : Trimeiros mestres das ohras: Mestre Mattheus , Vortitguez. 1615. Mestre Congeati , estrangeiro, Mesbe Cojirado , estrangeiro. Primeiros mestres das obras das vidrafos; Mestre Ugado , estrangeiro. Mestre JVitaker , estrangeiro. Taes suo as novidades que nos dá este estrangeiro , depois de ter estado por alguus mezes na Batalha , examinando o edifício , e tirando BAS SCIENCIAS DE LiSBOA. l8l queria para fazer executar convenientemente huma obra tão vasta na sua extensão , tão regular cm suas proporções e niediJas, tão delicada nos seus ornatos, e tão perfeita e acabada em todo o ecncro de lavor. Seria portanto de grande utilidade conhecer exacta- mente o temp*o , em que se fez e acabou cada huma das referidas peças , e as mais do edifício , para assim avaliar- mos o merecimento dos mestres , que dirigirão as primei- ras , e o compararmos com o dos outros , que se lhe forao seguindo no mesmo cargo. O que todavia não parece fá- cil , tanto por nos faltarem informações , e memorias cer- tas deste objecto, como pela variedade de opiniões que se encontrão nos curiosos, e eruditos, e ainda pela incer- teza e pouco fundamento de algumas tradições vagas , que se conservão entre os religiosos , que habitão o mosteiro. Diremos com tudo a este respeito o nosso juizo , e fare- mos polo autorizar com razões, ou documentos, quando nos for possivel. Quem lança os olhos com alguma reflexão para as P±_ os spns rfesenhos. Sobre o que observaremos 1.° que nem perto , nem longe da entrada da igreja se acha, nem esteve nunca, sepultura alguma dos mesfres das obras, com iuscripção que assim o indi- casse , senão sómeute a de Mattheus Fernandes , de que já falía- mos: 2.° que mal se pode contar Mattheus Fernandes entre os pi-imei- ros mestres, quando o próprio Murphy escreve adiante do seu nome o anno de 1515, em que na verdade íalleceo, e que era o annoI28, ou 129 da fundação do mosteiro: 3.° que não ha fundamento algum para se dizer que Mestre Congeate , e Mesfre Curtrado fossem mestres das obras: 4.° que não ha em parte alguma noticia de Mestre Tlga- do , nem de Mestre Witaker ; e que se Murphy quiz designar Ouguct por TJgado , e Boutaca por Witaker , nem assim he verdadeira a sua noticia; porque mestre Ouguet foi cm realidade mestre das obras , e não das vidmças ; e mestre Boutaca nem he certo ter sido estrangeiro , antes com fundamento o temos por portuguez, nem consta que fosse mestre das obras, ou das vidraças , &c. &c. Poraqui se fará juizo do credito , que nos devem merecer os estrangeiros , quando tratão de nossas cousas, e quando confiados (ao que parece) na nossa ignorân- cia , ou na nossa negligencia , e quasi iiidifferença , nos dizem falsida- des e absurdos sobre aquillo mesmo , que temos aos nossos olhos , e que facilmente podemos examinar. iSi Memouias t)K Academia Real primeiras obras nomeadas, asaber, igreja^ e capella Real y capitulo , e clauitru primeiro , não pode deixar de reconhe- cer cm iodas ellas hum aspecto e caracter idêntico, ou se considere a sua delincação , ou o seu consummado lavor. Em todas apparece a mesma grandeza , elevação , e subli- midade de pensamento ; a mesma formozura casta , sim- ples, c nobre nas decorações, e ornatos; a mesma solidez e firmeza , não pezada e baixa , mas esvelta , elegante e mage<:tosa ; a mesma perfeição proporcionada nas grandes massas e nos miúdos enfeites; em fim o mesmo primor cm tudo. O espectador sente.se invencivelmente possuido de hum profundo sentimento de respeito , admiração , e assombro, que parece não poder ser produzido se não pe- lo verdadeiro sublime da arre, misturado com a austera simplicidade e gravidade religiosa, e pela unidade, e u- niformidade de concepção e desempenho, {a) Por esta simples razão estivemos sempre persuadidos, que as referidas obras tinhão sido indubitavelmente exe- cutadas sem interrupção, e debaixo do mesmo plano, no tem- (n) Não be do nosso assumpto discutir aqui qual fosse o verda- deiro caracter da arquitectura gothica , ou norraano-gothica ; quaes as alterações que iiella fez a arquitectura árabe; e quaes as vanta- gens, ou defeitos, que se lhe podem notar. Ainda menos nos pertence trat.tr a questão da inferioridade , ou preferencia desta arquitectura a res|)cito da grega, e romana. Faltão-nos conhecimentos da matéria, c quando os tivéramos, a natureza do nosso trabalho não consentiria essa digressão. O que porem dizemos he , que o profundo sentimento, que o soberbo edifício da Batalha imprime no animo do espectador , e o religioso assombro, que lhe inspira, uão parece que possaser dif- fcreiíte do que costumão produzir as obras semelhantes do mais con- summado desempenho. Pelo que diremos por elle, á seraelhença do que já se disse por huma obra de litteratura : não seja embora hum eíiiíicio grego, nem romano: não seja construido com aquellas pro- porções e medidas, que a natureza e o gosto somente revelarão a es- s.s (lous povos privilegiados: chame-se a sua arquitectura nimiamen- te alia e magra , e diga-se que não he arquitectura: mas he hum edifí- cio grandioso e sublime, que eleva a alma do espectador, que exalta a sua imaginação, que o enche de profundo respeito, e que lhe rou- ba invencivelmente toda a sua admiração. DAS SCIENOIAS DE LiSBOA. 183 tempo do grande e ínclito Rei fundador, e quç nella^ apparecia (se nos hc permittido expressar assim o nosso pensamento) a nobre simplicidade, e magestoza elevação da sua grande alma. E nâo foi pequeno o prazer que ti- vemos , quando na planta geral deste mosteiro , tir^jda e. estampada pelo já citado arquitecto Mtirphy , observamos que elle tivera , como axtista , a mesma opinião , que nós , sem conhecimento da arte, havíamos formado pela simples inspecção ocular, e pelo caracter externo das diversas par- tes do edifício , entre si comparadas, (a)- Mais porem nos confirmamos em nossa opinião, quan- do agora notamos , que nos remates das abobadas , não só do cruzeiro da igreja , e da capella Real do augusto fun- dador, mas também do capitulo, e de hum dos ângulos do claustro Real se acha lavrado em relevo o escudo d'ar-' mas do senhor D. João I. , o qual se não pode confun- dir com outro algum, porque além de ter as quinas Reaes assentadas sobre a cruz da ordem de Aviz , e por timbre , sobre o elmo e coroa, o dragão alado, que foi particu- lar accrescentamento seu ; vê-se também em todos os ditos lugares o escudo inclinado , denotando a quebra da illegi- tiraidade , circunstancia bem notável , e que desmente s generalidade , com que a este respeito fallarao alguns es- criptores , asseverando que o senhor D. Jo. I. , depois de accla- ' —i («) Alêni do que se pode ver na planta geral de Mtirphy , diz elle na prefação, it Na igreja deste mosteiro não se observão neuhunias :) daquellas supérfluas e ridículas esculturas , que mui frequentemen- 11 te desfeião os outros edificios gothicos : neste são os ornatos empre» » gados judiciosameute , e com parcimonia , especialmente no interior , 1) que he notável por sua casta , e tiobe su>gcleza , sendo o grande e su- }) bbme effcUo , que produz , derivado, não de ornamentos meretridos , mas » sim do intrínseco mérito do desenho. » E logo depois. » Mostra o todo w deste edifício buma correcção e regularidade , que evidentemente « se conhece ser o resultado de hum bem concebido desenho original: c * he igualmente evidente , que p desenho foi invariavelmente seguido » e exectUado em progressão regular , e sem as alteraçSes , e interrupções, )> a que ordinariamente são «u jeitos os grandes edificios. :) 184 Memorias da Acabemia Re^i, acclamado Rei , começara a usar do escudo direito , c nun- ca mais o usara de outro modo. Vindi) porém mais cm particular a cada huma das re- feridas peças : he certo que o corpo da Rainha senhora D, Filippa foi depositado na capelía' maior da igreja em 141 6, como consta do seu epitáfio, e do de ElRei seu marido : c isto prova que o grandioso templo já nesse tem- po estava de todo concluido. Ein 1426 fazendo o senhor D. Jo. I. o seu testa- mento, (a) ordena, que o moesteiro se acabe âe crasta , ca- zurias , e de todplor outros edifícios , que a seu bom compri- mento forem necessários : e não sendo possível que ElRei se esquecesse de nomear expressamente a igreja , sacristia , e capitulo, se ainda estivessem por fazer, bem se con- clue , que estas peças estavaojá acabadas, ou pelo menos, em grande adiantamento. No mesmo testamento , dispondo ElRei o lugar , em que havia de ser lançado seu corpo , designa a capella maior, em que jazia a Rainha, ou a outra (diz) qtie nós ora mandamos fazer j depois que for acabada. E também d'aqui se coilige , que se andava então fazendo a magnifica, e verdadeiramente Real capella, chamada do fundador ^ a qual sem duvida se acabou ,nos sete annos , que ainda decorre- rá ) desde a data do testamento até á morte de ElRei , visto que no anno de 1434 , subsequente ao do seu falle- cimento, foi o seu corpo, e o da Rainha deposto nessa mesma capella , em particular monumento , aonde ambos jazem até o dia de hoje. A própria crasta , que pelas citadas palavras do testa- mento pareceria estar ainda por fazer , ou por acabar , na- quelle anno de 1426, he muito natural que se concluísse no decurso desses sete annos , que ainda ElRei teve de vida : se não entendermos , que pela crasta quiz elle de» signar (a) O testauR-nto de ElKei vem copiado por inteiro nas Mentor, d** Academ. Soares da Silv. liv. I. cap. LIV. liAS SciENCIAS DE LiSBOA. 185' signar também a segunda ^ que se fez em vida de seu neto o senhor D. Affonso V. , e que havia de ser , como foi , acompanhada das cazarias ^ e mais edifícios necessários á ac- commodação dos religiosos. O que se torna mais provável , por quanto achamos no arquivo alguns documentos ante- riores ao fallecimento do senhor D. Jo, I. e até anteriores á data do seu testamento , os quaes se dizem celebrados va crasta , ou dentro da crasta do mosteiro. Finalmente em duas cartas mandadas escrever pelo se* nhor D. Duarte , depois da morte de seu augusto pai , a Fernão Rodrigues, vedor das obras do mosteiro, sobre al- gumas cousas , que ElRei D. Jo. I. deixara ordenado que se fizessem , não só senão diz cousa alguma a respeito das partes principaes da obra , de que vamos tratando , e que mais deverião merecer o seu cuidado ; mas até se suppõe estarem já concluídas , ao menos no essencial ; pois somen- te falia de alguns accessorios , que ainda se deviao fazer , como erão certos reparos nos maineis das frestas , o iagea- do das varandas do claustro , a torre para o relógio sobre a porta principal , o arco começado em frente da caza primeira ( que nos parece deveria servir de communicaçâo para a portaria , ou entrada principal da caia ) e a conducçao da íigoa para o lavatório , ou chafariz , que se vê em hum dos ângulos do claustro Real , próximo á caza do refeitório , e que já devia estar concluído , bem como o mesmo refei- tório , e claustro. No fim desta Memoria daremos a copia da resposta do senhor D. Duarte á segunda carta de Fer- não Rodrigues, porque poí sua maior individuação -he a que serve ao nosso assumpto. Se depois de tantos argumentos podesse ainda restar alguma duvida a semelhante respeito , ella se desvaneceria de todo, reflectirttlo-se i." que o claustro segundo, alem de representar obra em todo o sentido muito inferior ás peças referidas , tem em differentes remates de suas abo- badas o rodízio , que foi divisa mui conhecida do senhor D. AíFonso V. , e em dous dos seus ângulos as armas Reaes , Tomo X. Ai da i86 Memorias da Academia Real da forma que se usarão era tempo deste Monarca, (a) 2.° que tudo o resto do edifício, que comprchcnde os dormi- tt)rios , e officinas, mostra ser, em parte, da mesma data do claustro segundo , e em parte , obra mais moderna , feita pouco e pouco , sem plano regular , e ( o que mais faz ao nosso caso ) sem desenho que tenha analogia , ou relação alguma com as obras primitivas , ou que indique igual magestade e grandeza em sua concepção. . Duas razoes com tudo temos ouvido allegar em con- trario do que levamos estabelecido. Primeira: que nas vi- draças da grande caza do capitulo , e nas bandeiras lavra- das em pedra, que ornão o vazio dos arcos d) claustro Real, (0) se vêem manifestamente a cruz da Ordem de Chi isto , e a esfera , que são divisas próprias do senhor D. Manoel , e que acompanhão e caracterizão quasi todas as suas obras. Segunda: que em hum dos ajigulos do capi- tulo , aonde começa hum ramo dos arcos , que sustentao a sua famosa , e admirável abobada , se nota o busto do mes- tre Mattheus Fernandes , que sem duvida viveo em tempo do mesmo senhor D. Manoel. Porem fácil he de ver que as vidraças do capitulo podião ser reformadas, e até postas de novo, no tempo daquellc venturoso Monarca , sem que por isso sejamos obrigados a attribuir-lhe a própria caza. (c) E pelo que res- (a) Fr. Pedro Monteiro no seu Claustro Dommicam , 6. XIX. pag. 2fc"5 attribue este segundo claustro ao senhor D.João II. , mas não traz fundaniento algum desta sua opinião, e he tão pouco exacto em outras notici.is semelhantes , que nos dispensa de o refutarmos mais larga- mente. (6) Chamamos bandeiras a. estes ornatos , poiyjue lhes não sabemos dar outro nome. Vcja-se a estampa de Murphy , que mostra a secção da ctzd do capitulo , e ahi se achará delineada hcima das pe^'as a que nos referimos. (c) Sc nos houvéramos de governar pelas vidraças, para ajuizar- mos do tempo, em que se faoricarão ds differehtes peças do edificio, seria forçoso attribuilo todo , ou quasi todo ao senhor D. Manoel ; por* nAs SciENcrAs de Lisboa* 18/ respeita ás bandeiras que guarnecem os arcos do claustro Ív;m1, também não hc liifficil not;ir , que tnnto na quali- ci ulc da pedra de que são fabricadas , como no cnracter da i>[ira , e nos lavores que as adornão, desdizem inteirairien- re das outras peças de que vamos fallando , c do próprio claustro: pelo que parece haVerem ali sido accommodadas em tempo posterior, c depois de feitos e acabados os ar- cos: e isto mesmo se convence ainda mais, porque em todas essas bandeiras se obscri-a , que as pedras , de que se compõem , não tem dependência natural das outras , que formão o arco , posto que algumas estcjão ainda hoje de tal modo juntas pelo ligamento da cal, ou argamassa , que quasi cnganão a vista, c represcntão hum só todo com o mesmo arco. (a) Mais fácil he ainda satisfazer aos que argumentao A a ii com que ate em algumas frestas da igreja, ae. achão vidraças, que tem os Sv us diibleiíi.ik, c (livis.is. (a) Fr. Pedro Moiikiro no C/nustro Deminic. pag. 267. affirma sem lipsit.içâo qiif KIKci D. .\latiofI mandara fazer o primeiro e principal claustro, e diz que isto se conUvce peln:i afcras que forão empreza stia e pela cruz da O. de Chr. de que era grão-mekre. Já no texto deixamos refutada esta razão ; mas he notável , que o autor attribua o claustro a ElRei D. Manoel , por se verem nelle as suas divisas, e ao mesmo tempo supponlia que as capellas imperfeitas forão obra da senhora D. Leonor, estando ellasclieias de divisas e emblemas do senhor D. Ma- noel. iNão he menos para notar, que tendo este escriptor attribuidò o claustro segundo ( eheio de divisas do senhor D. Affonso V.) a ElRei D. João li. , nos diga agora , que o claustro primeiro he obra de El- Kei D. Manoel: por quanto além das razões, que jii demos em contra- rio, não he preciso entender muito de arquitectura para ver claramen- te , que o primeiro claustro foi feito antes do segundo , eque este não teria firmeza alguma pela parte do sul , se não estribasse nas paredes que formão a grande caza , que hoje serve de adega; nem estas pode- rião ser levantadas, setn que ao mesmo tempo se fabricasse o lanç-o do norte do primeiro claustro. Assim que a simples ligação das diífè* reiítes partes Ao edifício mostra, se não as épocas precisas da sua con- strucção, ao menos a ordem jirogressiva , em que se forão fabricando. Feio que, sendo o segundo claustro, indubitavelmente, obra do se- nhor L). Affonso V., ate por esta raião se conclua, que «claustro Heal foi feito , e acabado autcs deile. i88 Memotíias DA Academia Re AL com o bu? to de Mattheus Fernandes ; porque estes errão na fórma essencial do discurso, suppondo o que liaviao de provar, para d'a!ii deduzirem como conclusão o que já em realidade tem posto como certo. O caz-o he , que não ha razão ou fundumento algum que nos persuada ser aqucU le busto de Mattheus Fernandes : e se com cffeito he (co- mo parece) do mesíre que fe/ a soberba obra do capitu- lo , forçosamente havemos de dizer que representa algum dos mestres mais antigos , visto termos mostrado que a di- ta caza foi obra do Rei fundador, e não. se poder de ma- neira alguma sustentar, que estivesse por fazer até o tem- po do senhor Rei D. Manoel. A* vista pois de tudo o que largamente deixamos ex- pendido , temos por cousa fora de duvida , que o grande e magestoso templo com a capella Real , que faz parte delle , a sacristia , o capitulo , e o claustro primeiro , cha- mado Real, com o grande refeitório, e caza que serve dç adega , que o acompanhão , e sustcntão pelo poente e nor- te, são obras do augusto Monarca fundador, e cm seu tem- po acabadas. Mui pouco accrescentou-, nem podia accrescentar i obra o senhor D. Duarte, porque o seu reinado foi bre- ve e desditoso ; e he de crer que se não fizesse então mais que aperfeiçoar alguma cousa do que ainda restasse imper-" feito nas referi Jas partes do edifício, e lagear as varandas ou terrado , qiie cobre o claustro Real , que era huma das cousas recommendadas nas cartas, de que acima fizemos menção. Scoulo-se o extenso reinado do senhor.D. Affjnso V. , durante o qual se fez o claustro segundo , que tem as suas armas c divisas , como já dissemos , c com elle as ca- Sías e uíHcinas baixas e altas , que o acompanhão pelo nas- cente , norte , e poente, as quaes alem de serem necessá- rias á accommodação dos religiosos , o erão também para fazer encontro ao pezo das abobadas , e para dar mais fir- meza e consistência ao edifício. • Do DAS SciENCI/tS DE LiSBOA. 189 Do senhor D. Jo. II. não sabemos que accrescentasse cousj alguma ás obras do mosteiro. O governo deste gran^ de Príncipe não foi de longa duração ; foi agitado com pcrtutb-içóes internas , e foi affligido , quasi continuamen- te , com o tcrrivel flagcllo da peste: ecomo por outra par- te estivessem concluidas as principaes partes do mosteiro, e feitas também accommodaçôes sufficicntes para os reli- giosos , não havia ali cousa , que excitasse a attenção de ElRci , cujos altos espirites se dirigirão quasi totalmente para a grande e gloriosa empreza de segurar, ampliar, e fazer úteis os novos descobrimen-tos de Africa Occidental, da Azia, da Erhiopia sobre o Egypto &c. Succedeo-lhe o senhor D. JSianocI , e cm seu tempo se começarão, e levarão ao ponto, em que. ainda hoje es- tão , as chamadas capellas imperfeitas , que parece haverem sido destinadas na mente deste feliz Monarca, para jazi- go seu , dos Reis seus predecessores , c dos Frincipes , cu- jas respeitáveis cinzas estavão como em deposito na igre- ja, e capitulo, sem accommodação própria e convenien- te. Mas ainda que geralmente se convêm no tempo da construcção desta bella e magnifica obra , não ha com tu- do opinião bem assentada sobre quem fosse o seu verda- deiro autor'; porque muitos a querem attribuir á senhora D. Leonor^irmã de ElRei , e viuva do senhor D. Jo. II. , c o próprio Fr. Laiz de Souza parece ter estado indeter- minado e perplexo a este respeito , e haver por ventura dado occasião á presente incerteza com o que diz no cap. XIX. , não longe do fim- Nós não duvidamos do grande e religioso animo des- ta augusta senhora , nem tão pouco da saudosa contempla- ção, que lhe mcrecerião os prezadissimos penhores, que tinha , sem jazigo próprio , na caza da Batalha ; mas não julgamos , que esta só razão seja bastante para lhe attri- buirmos a fundação daquella obra , nem achamos monu- mento , ou testemunho algum que a isso nos persuada ; achan- ipo Memohías bA AcAbEMi* Real (a) achando na mesma obra^ e (por assim dizer) cm ca- da huma das suas pedras, muitos e chiros indícios, que npontão o senhor D. Manoel como seu único autor e fun- dador. Logo nas duas aberturas , que do norte e do sul dão entrada para o pateo cubei to , cm que está o vcstibulo da capella , se nota da parte de dentro, em relevo, a crua da O. de Chr. , acompanhada das esferas , e por baixo del- ia a tarja e cifra, de que falia o chronista no citado cap. XIX. , a qual cifra , tivesse ou não tivesse o sentido e ten- ção mysteriosa , que Fr. Luiz de Souza pretende nella des- cobrir, he cert > que mostra como cousa apparcntemtnte principal o „ E „ prim*;iia letra de Emniauiiel , nome de ElRci, e usado em seu tempo em outros monumentos. Nos remates da abobada do mesmo pateo se vêem igual- mente a cruz e esferas. Passando d*aqui á grande portada da capella , obser- vamos , por entre os slus mui variados c primorosos lavo- res , repetida de alto a baixo , em formosas tarjetas , a letra ,, tãyas erey „ a qual posto que escrita cm allcmâ minúscula , e defeituosa , como se vê , na orrbografia , pa- rece referir indubitavelmente as duas palavras gregas ,, Tav/«í £g6( „ allusivas ao empenho de indagar novos e remrtos paizes , que era o que então occupava os cuidados do Mo- narca , e a attcnçâo e curiosidade dos Portuguczes. {b) En- (d) Damião de Góes na 4.' Part. da (Jhroii. de EIRci D. Alanoel, tratando ein particular no cap. XXVI. das obras pias., e fuudafões da Rainha D. Leonor , nada diz sobre estas oapellas da Batalha , as quaes Deni podiào ser desconhecidas ao chronista contemporâneo, nem uierc- ciào ser deixadas em silencio. Veja-se (ambeui Resende, vid. de EIR. D. Jo. IT. cap. CLXXIX. (6) No alto quando fundou pata seu jazigo e de outios Reis , ejilhos 6 194 Memorias DA Academia R EA L Depois de suspensa a obra das capelLis imperfeitas , não sabemos que se tratasse de accreseentamento algum notável no edifício do mosteiro até quasi ao meio do rei- nado do senhor D. Jo. Ill, e anno de i5'4o : no qual anno achamos, que pedindo-se ao papa Paulo III. licença para se venderem algumas das pratas , e preciosos orna- mentos , que o magnifico fundador tinha dado para ornato do templo , e serviço do culto religioso ; se allegava co- mo motivo desta supplica , que chovia na igreja^ capellas y e crastã! ; que nao havia retabolos ; que o choro estava damnificado por muitas partes ; e que se carecia de dormi- tório , livraria , enfermaria , hospedaria &c. Defcrio o sancissimo Padre a esta supplica por hum Breve dado no 3.° anno de seu pont'ficado , nomeando pa- ra executores delle os Bispos de Lamego , de S. Thomé , e de Tagasto ; ( e não Targa , como diz Souza ) e sendo cncommendada a cíFectiva execução aos dous primeiros , e achando elles que em realidade havia as faltas allegadas , se resolverão em separar alguns dos miis ricos ornamen- tos , e muitas peças de prata de mais de oito centos mar- cos de pezo , para se venderem, e do seu producto se com- prarem bens de raiz, com cujo rendimento se acudisse aos reparos, e fabrica da igreja, e mosteiro, {a) Mas nem por isso se augmentou então cousa alguma ao edifício: e só no anno de ifyr , vendidos com as ne- cessárias licenças, e com certas condições, os foros da capella do Infante D. João ( fílho do senhor D. Jo. I- ) e de sua mulher a Infante senhora D. Isabel , e ajudando El- wío.f de Riis , a capella Real, em que jaz, fórn do corpo da igreja , prohibindo ao mesiuo tempo que pessoa alguma fosse sepultada na ca- pella principal. («) Uc dada a sentença em Lisboa a 7 de Setembro de 1540, eni nome de D. Fernando Bispo de Lamego , primo de El Rei , e seu capei- Ino mnior , do sru conselho (já então eleito Arcebispo de Lisboa ) e de D. Dingo Ortiz de Vilkegns , Bispo da cidade de S. Thomé , Dayam da caiidla do dito senhor , e outro sim do seu conselltí). DAS Sc lENCi A s DE Lisboa. 195' EIRei D. Jo. III. com cem mil réis cada anno de sua fazenda , se edificou o grande dormitório do nascente , que fechando por aquelle lado a quadra do mosteiro , deo largo espaço ás officinas que ainda faltavao , e á accom- modação de muito maior numero de religiosos. Deste dor- mitório , e de suas vastas dependências somente hoje exis- tem (com principio de algum reparo, que por escacez de meios se não continuou) as paredes e ruinas, que o in- cêndio de 18 II não pôde devorar, e consumir de todo. {a) §. II. Faz-se brevemente jiiizo dos mestres âas obras , conteúdos no 1° catalogo. Agora que temos determinado (ao nosso parecer) com sufficiente certeza , e clareza as épocas , em que se edificarão as differentes partes do edifício , não he difficul- toso a quem tem conhecimento delle , graduar o mereci- mento dos mestres que o dirigirão, e presidirão á sua exe- cução. Segundo o nosso conceito, o mestre AfFonso Domin- gues , o mestre Ouguet , ou Huet , è o mestre Mattheus Fernandes preferem a todos os outros em mui alto gráo , e Bb ii me- (a) No aiino de 1574 mandou o senhor D, Sebastião áit para ajuda de SC acnbiir a captlla dos Reis ( imperfeita ) quatro centos mil réis an- nuaes pela caza da índia , impostos no contracto da pimenta. O con- tracto durou cinco annos , mas nada se pagou daquella pensão. Em 3581 , sobre vários requerimentos dos religiosos, ordenou EIRei D. Felippe II. que sabido o que se devia da obra pia , me se tnetteo por or- dinária no contracto da pimenta em 1 574 , para se despender na capelía dos Reis , se mandasse ver o que a capella precisava , e Sua Magesta- de mandaria dar o dito dinheiro. Estas diligencias, ou se não íizerão , ou não tiverão consequência alguma, e a capella íicou no mesmo es- tado de imperfeição até o dia de hoje. Em 1608 ainda os religiosos renovarão seus requerimentos, pedindo que o dinheiro se applicasse aos reparos da igreja , e telhados : o eâeito foi o mesmo. 1^6 Memorias DA AcadkmiAReai. merecem que seus nomes sejão collocados em lugar distin- cto entre os melhores arquitectos: os dous primeiros, por- que dirigirão as obras primitivas no tempo do augusto Rei fundador : e o terceiro porque presidio á fabrica da capella imperfeita no reinado de ElRei D. Manoel. Do diíFerente estilo e gosto de huma e outra obra devem jul- gar os professores da arte. Ssguem-se em muito inferior gráo mestre Martim Vas- quez , e mestre Fernão de Évora , que pertencem ao reina- do do senhor D. AíFonso V. , e executarão o segundo claus- tro, e obras adjacentes, nas quaes não achamos outro me- recimento senão o da firmeza e solidez. Collocamos em terceiro e ainda mais inferior lugar o mestre Aivtonio Gomes , que certamente dirigio a obra do tempo do senhor D. Jo. III, em que senão descobre per- feição, ou difficuldade alguma arquitectónica, que não se- ja commum a outros edifícios vulgares da mesma natureza , ou que indique superiores conhecimentos da arte , tanto no seu desenho , como na sua execução. E finalmente não incluímos na lista dos arquitectos o mestre António Mendes ; por não sabermos que dirigisse obra alguma , e porque segundo as circunstancias da sua pessoa , e o tempo , em que delle achamos memoria , nos parece que áómente teria o cargo de mestre das obras co- mo titulo, que lhe dava direito a haver o ordenado com- petente. §. III. Sobre os mestres das vidraças. Huma das cousas, que neste grandioso e venerável edifício soem excitar a curiosidade dos espectadores, são as vidraças , que guarnecem e cerrão as frestas da igreja , capella Real, c capitulo, as quaes todas mostrão huma espécie de illuminação ou pintura de vivas e finíssimas co- res. DAS SciKNCIAS DE LiSBOA. I97 rcs, em que se vêem representados alguns passos da vida deJesu-Christo , e da Santíssima Virgem sua mái , e outrcs das sagradas historias, bem como, cm lugares competen- tes , os escudos de armas , emblemas , divisas , e letras de ElRei n. Jo. I., de seus illustres filhos, e de ElRei D. Manoel , e por acaso alguns outros ornamentos capricho- sos , sem particular allusao , ou significação conhecida. Estas vidraças, que hoje se achão mui damnificadas, e já , a lugares, suppridas por vidros ordinários, ainda com tudo vistas com boa luz, e de lugar e distancia con- veniente , produzem o mais Sello e agradável effeito , e causão hum certo gráo de admitaçao no espectador , tmto pela novidade e raridade do objecto, como pela opinião, que facilmente se concebe, de serem aquelles desenhos e bellissimo colorido entranhados na massa do próprio vidro, e não obra de pintura, ou illuminura, meramente externa e sobreposta. Esta opinião todavia nos parece errada. Nós tivemos oportunidade de haver á mão alguns pequenos fragmentos daquellas vidraças , e examinando-os de perto , ficamos ple- namente convencidos , de que a massa do vidro nada tem de singular na sua intrinscca composição, senão somente ( ao que parece ) hum gráo de consistência e solidez su- perior ao que geralmente se acha nos nossos vidros ordi- nários de igual grossura: e que toda a sua bella apparen- cia e representação he mero effeito da illuminura ou pin- tura sobreposta , a qual em desenho , e colorido imita mui- to a que no sec XV. se usou frequentemente em perga- minho, e de que temos exemplos nos bellos manuscriptos daquella idade : sendo porém esta das vidraças praticada com tal arte , que não obstante terem ellas sofrido em al- guns lugares o embate violento dos ventos e das tempes- tades , e a humidade do lugar , e das névoas e chuvas , e isto por alguns séculos , nada disto tem bastado para alte- rar , ou damnificar a pintura , nem para demudar a formo- sura e viveza de suas lindas e finíssimas cores. Di. 1^8 Memorias DA Academia Real Dizemos por alguns séculos : porque rendo reflectido de espaço nestas vidraças, e observado attcntnmentc o ca- racter da pintura, os objectos representados, a uniformida- de ou variedade do desenho e colorido , ente os sçus mais particulares ornatos e letras , temos por certo que a maior parte das que ainda restâo , e ora existem na igreja c ca- pclla Real , forão obra dos tempos immediatos á funda- ção, renovada e reformada em parte, e segundo a neces- sidade, em tempo de ElRci D. Manoel, c que as do ca- pitulo são inteiramente deste ultimo reinado , depois do qual nos parece não ter havido nas vidraças mais que con- certos ou retoques parciaes , e de mui pouca importância, os quaes nos deixarão inteiro o desenho e colorido antigo (que por ventura já não sabião imitar) e todo o caracter primitivo deste género de obra. Não nos compete a nós ajuizar mais particularmente das perfeições , ou defeitos desta illuminura , porque não temos para isso conhecimentos bastantes , posto que algu- mas cabeças das vidraças primitivas se nos representao de excellente desenho. Aos artistas pertence estudar este resto de huma arte , que parece ter sido pouco commum entre nós , e hoje estar de todo esquecida e quasi extincta. No- taremos somente , para satisfazer ao nosso propósito , que entre os mestres das vidraças , nomeados no segundo cata- logo , temos por principaes e mais distinctos os três pri- meiros , que abrangem pouco mais do sec. XV. , isto he desde os tempos immediatos á fundação até ElRei D. Ma- noel , e são mestre Guilherme , mestre João , e mestre António Taça pai , sem com tudo pretendermos por isto negar o merecimento, que poderião ter os seus successo- res , de que não podemos formar conceito algum. DAS SciEKCiAs DE Lisboa. 199 §. IV. Sobre os otaros mestres e artífices. Dos outros mestres e artífices nomeados no 3.° e 4.' catalogo nada mais podemos dizer, senão o que lá summa- riamente apontamos , fundados nos documentos do cartó- rio. De huns ignoramos em que arte ou officio fossem mestres; e dos outros não conhecemos obras que se lhes de- vão attribuir. Os primeiros presidirião, por ventura, aoà diversos géneros de trabalhos parciaes, v. g. de canteiros, assentadores , escuiptores ou entalhadores em pedra &c. Os segundos excrcitariâo suas artes no que era próprio delias, e convcnjí^nte ao adorno do edificio. Mas tudo o que a este respeito aqui disséssemos, seria mera conjectura , que quando he arbitraria , e não estriba em algum provável fundamento , não pode ter lugar neste género de traba- lho , nem conforma com o intuito que tivemos em o em-! prehender. CAPITULO IV. Dos MUNUMENTOS MlSTORICOS DO R. MOSTEIRO DA Batalha. §. L No interior da igreja ( Souza , cap, XIV. ) OMECjA o illustrc chronista este capitulo, dizendo que o primeiro nome que EiRei dera ao convento, quanto ao sitio , fora de a par da carneira^ como parece da doação ^ e quo o que lhe ficara depois de edificado, fora da causa da sua fundação, chamando-se da Batalha, POU' aoo Memorias da Academia Real Pouco importante poderá parecer a discussão deste assumpto ; mas já que nos proposemos rectificar algumas cquivocaçóes do douto e elegante chronista , diremos tam- bém aqui mui brevemente o que a este respeito nos mos- tráo os documentos. Odiando ElRei D. Jo. I. na citada doação diz que fundava o mosteiro a par da canoeira , bem se vê que lhe não quiz dar esse nome, mas somente indicar o sitio , que então não era povoado , nem tinha denominação particu- lar , dcsignando-o pela visinhança de huma aldêa , não mui distante , povoada , e conhecida , que se chamava a Canoei- ra , c que ainda hoje se conserva com esse nome. Mas o mesiifo Real fundador, que assim designou o sitio do mosteiro , também logo na própria doação lhe deo o verdadeiro nome^ com que quiz que elle fosse nomeado e conhecido , chamanJo-lhe o seu mosteiro de santa Maria da Fictoria, (a) E daqui vem que pelo decurso dos tempos , e antes que o lugar fosse erigido em villa , o nome, qye ■niais frequentemente se lhe dava nos documentos, era o de mosteiro de santa Maria da Fictoria , denominando-se as- sim não somente o próprio mosteiro, mas também todo o lu<»^ar e povoação, que acerca delle se hia edificando, e estabelecendo , e que outras vezes se chamava mosteiro de santa Maria da Fictoria da Batalha, e também simples- mente , e por abre^'iatura , mosteiro da Batalha. Depois que o lugar fai erigido em villa , chamou-se icqularmente villa do mosteiro de santa Maria da Fictoria , accrescentando-se também ás vezes da Batalha , e abrevian- do- (a) En Iiuni Breve do 'S. P. Bonifácio IX. com data do 2.° das uonas d(; Março, auno 2." do seu pontificado, em que a pedido do senhor D. Jo. I. se concede aos padres licença para possuir bens de raiz, vai o Papa narrando como ElRei fundarão mosteiro &c. , e ac- cr-esoenta tt qui quidein locus vulgariter nuncuparetur santa Maria da Vi- ctorin » Vem este Breve copiado no cap. XX. da cbronica com erro na data. Foi dado á execução por D. João Bispo do Porto , e passada a stuteuja em Vizeu u 6 de Marf o de 1392. DAS SCIEMCIAS DE LiSBOA. 20Í dose outras vezes a expressão com se dizer Ftlla de nossa icnhora da Vic torta , ou Filia de santa Maria da Victor ia , ou cm fim Filia da Fictoria , e Filia da Bata/ha , o qual ultimo nome he o que parece ter sido adoptado com pre- ferencia , e pelo qual a povoação he actualmente nomeada , e conhecida. Não he do nosso intento ( nem o poderia ser sem temeridade) dar agora huma nova descripçâo arquitectóni- ca desta grandiosa fabrica , cujas maravilhas forão pintadas neste e nos seguintes capitulos pela elegante e delicada penna do chronista , e hoje se achão superiormente dese- nhadas , e postas aos olhos do publico , em vinte e huma bellas estampas , dadas á luz pelo tantas vezes citado ar- quitecto James Murphy na sua collecção publicada em Lon- dres pelos annos de 1792 e seguintes. Continuaremos pois tão somente com as nossas obser- vações históricas , conforme o plano , que até agora temos seguido, e diremos alguma cousa do que pertence ás ca-» pellas da igreja , segundo o seu estado actual. E primeiramente a capella mais próxima á sacristia (que he a primeira de que falia o chronista, e que diz ser dedicada a santa Barbara) não tem hoje retabolo , nem altar , nem ahi se vê a sepultura baixa , que elle diz ser jazigo de bum cardeal ^ provavelmente chegado d caza Real fortugiieza. Acha-se porem neste lugar hum grande tumulo de pedra , que mostra ter tido em cada huma das três fa- ces da tampa dous escudos de armas, os quaes se vêem picados e apagados , com mostras de o terem sido de pro- pósito , ou por ordem que para isso houvesse , ou por ou- tro algum motivo. Hoje he impossível adivinhar cujas cin- zas ali estejâo depositadas.'* Segue-se a segunda capella , que he a que fica imme* diata á capella maior do lado do evangelho , dedicada a nossa senhora do Rozario , e aonde actualmente está o ve- nerável tabernáculo do santíssimo Sacramento. Aqui se vê fio alto do sopedaneo, á parte do evangelho, hum tumu- Temo X, Ce I9 202 Memorias da Academia Rbal lo pequeno de mármore branco , lavrado por todas as fa- ces de flores cm relevo , e em cada face o escudo das ar- mas Reaes, assentadas sobre a cruz de Aviz , e acompa- nhadas do banco de pinchar. Os quaes caracteres parece indicarem pessoa de pouca idade, e pertencente á família Real do senhor D. Jo 1. ou de seus filhos ; eo banco de pinchar indica que seria infante. Não achamos memoria certa de quem ali fosse depositado : mas temos por mui provável a opinião de Fr. Pedro Monteiro, que fallando deste tumulo, e notando com razão o erro de Fr, Lui?:- de Souza , que disse estarem nelle as cinzas da senhora D. Isabel mulher de ElRei D. Affbnso V., assevera positiva- mente que o Príncipe D. João filho destes Reis, primogé- nito , e fallecido em idade pueril , he o que jaz nesta se- pultura. Na capella mor, que he a que se segue na ordem que levamos, está junto ao sopedaneo do altar, cortando em duas partes os degráos delle , e nelles embutida, a caixa de mármore , em que repouzao as cinzas do senhor D. Duarte, e da Rainha senhora D. Leonor sua mulher, ten- do em cima os seus vulr)s , também de mármore , em re- levo inteiro , não em todo o primor da esculptura , como diz o chronista , mas em esculptura mui grosseira , e hum pouco mais rústica ( se assim podemos expressar-nos ) do' que outras da própria idade. Este tumulo tem hoje na ca- beceira , que faz frente para a capella mór , huma inscripção latina , em letra romana , maiúscula , floreteada , e doura- da , que pelo caracter se vê ser muito moderna , e diz as- sim : H. y, Eduard. I Fortug et Alg. Rex , et Regina Ele^ onera Uxor ejus. Passando da capella mór á outra qoe lhe fica im- jnediata para o lado da epistola, e^ue he dedicada a nosf sa DAS SCIENCIAS DE LrSBOA. 103 sa senhora da Piedade (em outro tempo N. S do Pranto) achamos ahi o tumulo , em que estão depositados os restos do senhor D. João II. , como já em tempo de Fr. Luiz de Souza , e muito anccs , estava o seu corpo , trasladado da se de Silves em 1499. Subia-se a este tumulo por sete dcgráos de madeira postos em quadrado , chapeados de bronze ; e a caixa ex- terna do tumulo , que sobre elles estava , e também era de madeira , e do mesmo modo chapeada , tinha três cha- ves , de que erão depositários o prior do convento , o sa- cristão mór, e hum padre dos mais anciãos. Achamos em lembrança antiga , que a duqueza de Aveiro , visitando o tumulo cm i5'44, o mandara reformar do sobredito mo- do. O que he certo e indubitável he que ali estava e es- teve, por mais de 300 annos , inteiro o corpo daquelle soberano, que nós mesmo, no anno de 1809, por benigna condescendência do prior que então era , vimos , e com nossas mãos apalpamos, não lhe achando outro defeito mais que a extremidade do rosto, na barba , já hum pouco gas- tada do tempo. Na invasão do exercito francez , em 1810, padeceo este respeitável deposito os eflPeitos da barbaridade , cot^ que a soldadesca sacrilegamente violou todos os Reaes túmulos ; e hoje somente se conservão os restos informes , <:jue a religiosa piedade do actual benemérito prior ( que também o era então ) o P. M. Fr. Francisco Henriques de Faria , pôde recolher de entre ruinas e entulho , e que ali tornou a depositar, reformando os degráos e caixa de madeira , tal como ora existe. A hum lado deste tumulo , e bem junto á sua base , no pavimento da capclla, está huma campa raza , e nella em relevo hum escudo de armas com cinco estrellas em aspa y que podem trazer á lembrança familia de Cantinhos ; mas uão tem mais ornamento , cu letreiro algum. Segue-se finalmente a ultima capella da parte da epis- Cc ii to> 204 Memorias da Academia Real tpla , próxima á porta travessa da igreja, a qual diz Fr, Luiz de Souza , que a dera o augusto fundador a D. Lopo Dias de Souza mestre da Ordem de Christo. Nós não acha- mos vestígio algum desta doação , nem da época , em que ella fosse feita , antes temos motivo para duvidar da sua existência, {a) O que porem se não pode negar he que se vê ali aberto no grosso da parede do lado da epistola hum grande arco , e dentro delle o bello e magnifico mausoleo de Diogo Lopes de Souza , conde de Miranda , e quarto governador da relação do Porto , obrado de jnosaico , em nurmorc preto , que parece não ser muito antigo. Assen- ta s.)brc três leões de bella esculptura , cujas mãos repou- são sobre huns ovados de mármore preto , e tem por ci- ma de todo o mausoleo o escudo d'armjs desta illustre fa- , milia, com coroa ducal, tudo da mesma matéria e artifi- cio. Na face do tumulo havia huma larga inscripção lati- na em letras rominas maiúsculas , de que somente existem os princípios e fins das nove linhas de que se compunha, e poronde se vê ainda que continha o nome e elogio da- quelle fidilgo: mas como a soldadesca franceza arrombas- se o monumento por esta mesma face, está hoje o rom- bo fechado de argamassa , e desappareceo a inscripção. (í») Acima delia estavâo as letras iniciaes : X. . (a) Veja-se o que diz António de Souza de Macedo , Flor. de Espana, Excelknc. de Poriug: cap. VII. Exceli. V. (6) Vem esta inscripção no tom. 12. da Hist. Gcneal. 1. XIV. cap. XVI., donde nos pareceo trasladala para este lugar, sem afiaa- çarinos a sua exactidão: diz assim : X. R. P. M. H. S. E. Didacns Lopes de Sousa , Mirandensis Comes , Regi a sanctioribus con- siliis: universo Fisco, per triumviros olim , et nunc administrato , uni- cus Praefectus: Urhis Portugalensis Armatus, Togatusque Moderator: Atavis cditus Regibus: Magni (si fas est dicere ) niiijoribuí; major, Sibique soli par: In superos religiooe, ia Regem iidé, iu Patriamcba- DAS SCIEKCIAS DE LiSBOA. 20J X. R. P. M. H. S. E. as quaes, por tradição conservada entre os religiosos do mosteiro, e já recolhida por Murpby ^ se suppõt: que si- gnificaváo : Decima Regia Persmia Masculina Hic Sepulta Est. O altar desta capella hc também de mármore lavrado de mosaico, com seu retabolo da mesma obra, eaobdo do evangelho , defronte do mausoleo principal , está huma grande caixa de pedra , em cujas faces se vêem escudos d'armas da mesma família, em relevo; mas não sabemos quem ali foi depositado , nem achamos noticia alguma de se conservarem n.iquella capei la as cinzas do mestre de Chri>to D. Lopo Dias de Souza , como afErma o chronis- ta. {a) Pelo t:stemunho delle nos consta também haver ali sido deposto o corpo de D. Mecia mulher do conde de Miranda Henrique de Souza : e por hum documento do cartório, escrito em 6 de Maio de 1628, sabemos que no dia precedente ao desta data, tinha sido sepultado na mesma capella o próprio Henrique de Souza conde de Miranda e governador do Porto. Finalmente presumi- mos que também ali jaz Vasco de Souza filho da mesma familia , que fallcceo sendo Reitor da Universidade de Coim- bra , ri ta te , iii omnes profusa vel comitate, vel beneficentia : Viventemnul- la liou virtus secuta ; nulli pro meritis honores, nec laudes ullae con- sequentur. Kiuorlui cineres, inter Régios mérito qulescentes, et glo- riara adhuc spirantcs, opera filji Arcbiprn.MTios que se venderão, em I5'40, obra dj 8ix mircos, ficando ainda então sessenta peças de prata de difflrentcs grandezas e usos y que pelo mesmo /documento se vê que chcgariáo a 300 marcos de pezo , não sendo por consequência exagerado o calculo do chro- nista , que avaliou o pezo total primitivo cm 1200 mar- cos. Das relíquias , o que podemos aqui apontar demais no-.- tavel hc que as mandou a EiRei D. João I, o Imperador de Constantinopla Manoel Paleologo , estando em Paris , e que ainda existe no cartório a authentica que as acom- panhou : a qual he escripta na face de huma folha de per- gaminho , em latim e em grego , e assignada da própria mão do Imperador, em grego , com tinta vermelha. No fim desta memoria daremos o texto latino , e huma amos- tra do grego, julgando que não será isto desagradável aos leitores curiosos. O sello de ouro já não existe. Im- treinados serviços , que recebi , e recebo , e espero de receber do meu fiel e bem amado conselheiro Diogo Gonsalucs de Travassos , do conselho delRey meu seiílior , ayo de meus filhos , regedor de miiihas tetras &c. He dada esta carta em Montemor a 2 de Dezembro de 1446. Os bciis forão de- pois doudos ao mosteiro por Diogo Gonçalves, e delles tomarão os re- ligiosos |)osse , por seu fallecimeoto, em 20 de Março de 145 J , pcronde se vê que não sobrtviveo ellc niiiilo á triste catástrofe do seu illtistre bemfeitQr e amigo. O claro que deixamos na data do epitaphio, acha- /se assim mesmo na pedra , que não tem ahi falha alguma. 214 Memorias da Academia Real Immediata á sacristia se encontra a admirável caza do capitulo , cuja arquitectura só pode ser bem avaliada pelos professores da arte. Estão nomeio desta grande caza dous túmulos: hum elevado spbre sete degráos de madeira , em quadrado , e nelle depositados os restos do senhor D. Affcnso V., e os de sua virtuosa mulher a Rainha senhora D. Isabel , fi- lha do grande duque de Coimbra. O outro, elevado na mesma forma sobre sós seis degráos , encerra as cinzas do Príncipe D. Affonso, filho herdeiro do senhor D. Jo. II , que morreo desastradamente nos campos de Santarém , na flor de seus annos. (a) As vidraças , que guarnecem a grande abertura , que dá luz a esta caza, são do tempo do senhor D.Manoel, como mostrão as suas insígnias ; mas não assun a própria caza , segundo em seu lugar deixamos provado, (b) Em hum dos ângulos delia , no ponto donde nasce hum ramo dos arcos , que vão formar a abobada , se vê o celebre busto , ou antes corpo inteiro , de esculptura , vcs-? tido talar, cingida a cabeça com huma touca, e regoa na mao , (a) Por carta dada em Lisboa a 5 de Janeiro de 1492 , mandou o senhor D. Jo. lí. dar ao convento vinte alqueires de azeite cada anuo, para três alampadas, que devião arder para sempre na capella do Prín- cipe seu filho. (ft) Entre as insígnias delRei D. Manoel que se vêem nesta vidra- ça, achiíose nos ângulos sobre a base da fresta os escudos de suas ar- mas , osquaes são partidos era dous , mostrando á direita as armas Reaes de Portugal, e á esquerda as dos Reinos de Castella e Aragão; pro- va de que as vidraçíis forão postas ali nos primeiros annos de ElRei , e no tempo , em que elle teve direito á successão daquelles estados por sua mulher a Rainha Princeza senhora D. Isabel. Donde se pode deduzir outra prova de que a caza do capitulo não foi obra deste Mo- narca; porque era impossível haver-se ella feito e concluído em pou- co mais de dous annos , nem as vidraças se h^vião ali de pôr , senão depois de coacluida a obra. CAS SCIENCIAS DE LiSCOA. Sff miío , representando , ao que parece , o mestre , que levan- tou esta estupenda obra. {a) He manifesto , que esta estatua não pode ser de Mrf- thcur Fernandes^ como se tem asseverado sem exame, e sem fundamento : e nós já mostramos que se devia attri- buir a algum dos primeiros mestres. Agora accrescentamos que , segundo a ordem dos tempos e da obra , não pode ser se não de Jffbnso Domingues , ou de mestre Oitgnet (ou Huet)y por serem aquelles , debaixo de cuja direcção julgamos haver corrido toda a obra primitiva. E mais cri- vei nos parece que seja do segundo, visto que sendo Affon- so Domingues já fallecido em 1402, não lie verosímil que então estivesse adiantada a obra do capitulo. Sahindo desta caza encontra-se o claustro Real , em que não achamos nada que notar de monumento histórico , alem do que já fica dito dos seus ornatos. E somente nos parece accrescentar , que a portada que hoje se vc na ex- tremidade oriental do lanço do norte , e dá serventia para o interior do mosteiro, mostra pelo modo ,. e estilo de sua construcção e ornatos , ser obra mais moderna que o mes- mo claustro , e posteriormente ali mettida , fsegundo nos- so parecer) em tempo do senhor D. Manoel , e do mestre Mattheus Fernandes , cujo gosto e estilo imita. Poronde entendemos , que esta peça , e as bandeiras dos arcos , de que acima fizemos menção , accrescentadas ao claustro em tempo de ElRei D. Manoel , forão as que derão occasião á tradição , ou antes voz vaga , que se ficou conservando , de ser o mesmo claustro obra deste Monarca , sendo aliás o seu estilo e arquitectura totalmente diversa. No pavimento do claustro, não longe da caza do ca- pitulo, se vê huma sepultura, que tem cm letra allemí minúscula esta inscripção : JÍqui (o) Veja-se , entre as estampas de itfwyAy, a dosornaíof, /eíraí&c.j aonde vem desenhado este fiagoieoto , a aum, 22. 2i6 Memorias da Academia Real ^qui jaz dom Justo bispo que » foy de cepta. He este sem duvida o benemérito religioso domini- cnno , que o senhor D. AíFonso V. fez vir de Itália para encarregar-lhe a composição de nossas chronicas em lín- gua latina, e que depois foi nomeado Bispo de Ceuta, (a) Ha ainda no mesmo claustro vestígios de outras ins- cripçóes sobre sepulturas , que se picarão e apagarão ( se- gundo tradição ) por ordem do senhor D. Sebastião, que veio a esta caza em ifá^ , e mandou, ou permittio que somente se conservasse a do referido Bispo, {b) Mas não temos noticia , nem motivo de presumir que alguma del- ias fosse de pessoa notável , e que merecesse ficar aqui em memoria. §. (a) Deste D. Justo faz menção Damião de Góes na chron. de ElRei D Manoel , p. IV. cap. XXXVIII, copiando as palavras da carta que lhe escrevera João Rodrigues de Sá de Menezes, alcaide mór do Por- to , em que este illustre e douto fidalgo lhe dizia u asd foram as chro- nicas dos Reii passados de Portugal , que se perderam em poder de Frei Justo , Bispo de Septa , Italiano , que elreí dom ^ffotiso mandou buscar a Itália pêra lhas screuer em latim , e elle morrco de peste em Almada , e ahi se pzrdcram. n Custa-nos a crer , que morrendo D. Justo de pes-te em Almada, fosse o seu corpo transportado para o claustro da Bata- lha, havendo em sitios mais próximos alguns conventos da mesma Or- (dem: com tudo não devemos contradizer hum testemunho antigo e res- peitável. O Bispo vivia ainda em 1488, como se vê por hum docu- mento do mosteiro benedictino de S.Romão do Neiva, de 24 de Abril do mesmo anno , aonde vem nomeado com o titulo de Bi-^po de Cepta, Primaz em Africa, e assigna hum contracto, que fizera com os mon- ges daquella caza. Segundo Barros, Dec. I. 1. III. c. VII. era ainda vivo em 1489. Vej. a chron. de S. D. p. II. 1. VI. c. VII. (4) Elsteve o senhor D. Sebastião na Batalha em 25 de Agosto de 1569, porque deste lugar, dia, e anno he datado hum alvará, que ^ssignou em favor do mosteiro. Aqui vio então o corpo do senhor D. Jo. 11., como refere Souza no cap. XXXIII, e no mesmo anno fez a visita dos túmulos de seus antepassados no mosteiro de Alcobaça, de que falia Brandão , na Monarq. Lusit. p. IV. 1. XIII. c. XIXr DAS SclEKCIAS DE LiSBOA. %l^ §. IV. Na Capei la imperfeita. {Souza, Cap. XIX) Já no cap. III. § I. falíamos deste bello e magnifico edlficio, a que pelo estado incompleto, em que ficou, se tem dado o nome de capella imperfeita , e então mos- tramos como fora fundado , e mandado fabricar pelo senhor D. Manoel. No mesmo lugar dissemos também alguma cousa de seus ornatos historieis ; mas para de todo cumprirmos com o nosso propósito , individuaremos aqui brevemente os emblemas, insígnias, e divisas, que se observáo cm cada huma das sete capellas , de que elle se compõe , c acaba- remos com algumas reflexões igualmente breves. A primeira capella , começando ao lado direito da grande portada , tem no fecho da abobada as quinas rcaes , coroadas , ornadas dç caçtellos , e guarnecidas de ra» mos de carvalho. Na segunda immediata se vêem as quinas reaes do mes- mo modo , mas com elmo, e coroa, e sobre ella o dragão alado, A terceira tem as quinas formadas dos cinco escude- tes em posição recta , orla de sete castellos , elmo e co- roa, CO dragão alado por timbre. O tecto he todo or- namentado de cordões de folhagens e flores , é mostra era hum dos remates o pelicano , rasgando o peito com o bi- co, e os filhinhos esperando o alimento, e em outros dous remates dous açnfates com fructos. Debaixo do arco da frente ha hum escudo de armas partido em dous , e de ambos os lados tem as quinas portuguezas, coroadas , cora os sete castellos na orla. Finalmente na frente está outro pelicano , na forma que já dissemos. A quirta capella que he a do meio, fronteira á en- trada principal , mostra no meio do tecto o escudo de ar- mas com as quinas inclinadas , assentadas sobre a cruz de Tomo X. £e Avis; 2i8 Memorias DA Academia Real Aviz , e o dragão alado por timbre sobre o eimo e coroa. Em roda se vêem alternadas a cruz da ordem de Christo com a letra » in hoc signo vinces »> a esfera com a letra spe- ra in domino ^ e três tarjetas, ou laçadas com a letra tany- as erey. A quinta tem no fecho da abobada as quinas reaes , coroadas, com os escudetes direitos, e por orla nrve cas- tellos. Vê-se também ahi a cruz de Chr. e a esfera com as letras respectivas. Mostra a sexta capella os mesmos ornatos , que a an- tecedente, excepto que o escudo das armas reaes tem por orla sete castellós , e sobre o elmo e coroa o dragão alado. A septima finalmente, e ultima, que fecha o circu- lo , e fica ao lado esquerdo da portada tem no remate central da abobada o escudo das armas reaes , orlado de sete castellós, e coroado. E nos outros remates a cruz da ordem de (]hr. e a esfera com as letras já referidas. Cada huma destas capellas , á excepção da terceira , mostra na frente sobre o arco, ora a cruz da ordem de Chr. , ora a esfera : e no interior se vê também em CAáí huma delias hum arco m.tcid-j n> grosso da pared;; , cujo deJtiiio ignoramos , e se crê que seria para altar , e do lado opposto huma pequena porta de entrada para o es- paço qujsi triangular e vazio, que a disposição circular das capel'ias deixa entre huma , e outra , dos quaes espaços diz Mitrphy , qu« erão evidentemente destinados para sepul- turas. Vejão-se na sua collecção, e na estampa dn planta geral os espaços notados com a letra >» V »> Ainda que a variedade destes ornatos, e principal- mente a que se nota nos escudos das armas reaes , pou- co conforme com as leis da armaria , já então mais deter- minadas pelo senhor D. João II , parece indicar antes o arbítrio do mestre da obra, do que algum positivo dese- nho: julgamos comtudo que da breve descripção , que te- mos feito, se pode concluir: i," que foi com effeito o senhor D. Manoel o único autor desta obra , na qual ap- pare- i DAS SciEKCIAS DE LiSBOA. 21^ parecem por toda a parte as suas divisas : 2.° que parece ter sido o seu primeiro intento mandar depositar n'aquclle mausoleo os corpos e reliquias dos reis e principes , que rcpousavão na igreja e capitulo , dispersos , e sem jazigo conveniente: 3° que a terceira capella fora destinada para o senlior D.João lí. , visto que tem o particular ornamen- to da sua divisa. Em quanto á capella do meio , que por mostrar em maior numero as divisas do senhor D. Manoel , se tem julgado ser destinada para stu próprio jazigo, nada pode- mos affirmar com certeza : por quanto sabemos que o mos- teiro de Belém se começou pelos annos de 1500, certa- mente muito antes de se assentarem os ornatos destas ca- pellas , e os nossos escriptores parece que suppõe haver ellc sido des de logo destinado para jazigo do monarca fundador , e da rainha senhora D. Maria sua mulher. Igualmente temos por incerta a opinião geral , que attribue a cessação desta obra da Batalha á preferencia , que o senhor D. Manoel começou a dar á de Belém : vis- to que ainda depois de começada a caza de Belém , se trabalhou nesta da Batalha por espaço de nove annos , até o de 1J09, que he tempo bastante para se entender, que EIRei não havia desistido da segunda , por ter começado a primeira. Se neste ponto (alias pouco importante) ha lugar a conjecturas, nós pen<:amos, que a obra da capella imper- feita cessou, quando Mattheus Fernandes, por ventura, se impossibilitou de a dirigir , e por experiência se conhe- ceo , que não havia mestre assas hábil , que a continuasse com igual gosto , e desempenho. Esta conjectura não he meramente arbitraria. Por cima da cimalha , sobre a gran- de porta da entrada , se vê hum pequeno principio de continuação de obra , cujo gosto e estilo he inteiramente diffcrente do que até ali se havia seguido , donde parece deduzir- se menos pericia no mestre , e quasi impossibili- dade de acabar esta grande obra , e sobre tudo de a fe- Ee ii char 220 Memorias da Academia Real char com huma abobada , que forçosamente havia de ser da maior difficulJade em arquitectura. Isto he o que nos parccco mais digno de se notar so- bre a grande obra do convento da Batalha, E ainda que demos a este nosso trabalho mais extensão , do que acaso quererião alguns leitores , dcve-se-nos desculpar esse ex- cesso , não só pela grande paixão que sempre nos me- receo este grandioso edifício , mas também , e especialmen- te , por ser elle o mais bello monumento da arquitectura gothica entre nós , e hum dos mais respeitáveis padrões da gloria Portugueza. DO- bAS ScienciaS d£ Lisboa. 221 DOCUMENTOS. I. Carta do senhor D. Duarte para Fernão Rodrigues vedor da obra. ERNAM Rodrigues. Nós ElRey vos enviamos muyto iaudar. Vimos a carta que nos escrevestes per Ruy Fer- nandes vosso filho sobre certas obras , que dizeis que erão ordenadas por ElRey meu senhor que Deos haja que se fizessem logo nesse moesteiro , e que quereis saber o que nesta cousa haviamos por bem que se fizesse , convém a Saber, em vir a agoa da fonte dos valles, ou da jardoei- ra , ou da calvaria para o lavatório do dito moesteiro, a que respondemos, que se tome donde o dito senhor or- denava , e se o não terminou , vós todo muy bem com es- ses officiaes o acordai , donde o acordardes dahi se tome e traga ao dito moesteyro : e quanto ao arco da caza do palratorio , que já está começado cm rosto da caza primei- ra , queremos que se acabe ; e quanto ás varandas que se havião de ladrilhar, o^lageardc lageas portaes , faça-se as- sy como o dito senhor tinha ordenado; e quanto aos mai- neis das frestas que era mandado que se corregesscm , assy queremos que se faça ; e quanto á torre , que se havia fa- zer na porra principal pêra o relógio , também queremos que assy se faça , como tinha ordenado o dito senhor , e vós olhay sempre bem por estas obras , que se façam como de- vem , e cumpre a nosso serviço , e em especial nos dias , em que lavrao per jornaes , assy da bondade da obra , per maneira , que sempre pareça que tudo se faz como deve , e de vós confiamos, e tervolohemos muyto em serviço. Escripta em Setuval aos 10 dias de Mayo. Joham do Por- to a tez. Aono de X436 „ Rcy ,, — E quanto he a tor- 2ti Memorias da Academia Real re , se achegue este anno as achegas , e pêra o anno que vem se porá a mão na obra , como ElRcy mandar , e por agora lavre-se no lavatório, e no ladrilhamcnto das varan- das „ Joham do Porro „ — Sobre carta — Por ElRcy a Fernam Rodrigues seu Escudeiro, e Vedor das Obras da Batalha. ,, II. Epitaphío do senhor D. João I, In nomine Domini. Serenissimus et scmper invictus Princeps ac victoriosissimus et magnificas re''plendens vir- tutibus Dominus Johannes Regnorum Portugallie decimus, et Algarbii sextus Rex , et post generale Hispanie vasta- nten primus ex christianis famose civitatis Cepre in Afrjca potentissimus dominus presenti tumulo extat sepultas. Excellentissimus iste Rex nobillissime ac fidelissime civitatis Ulixbone ortusanno Domini M.° CCC."LVIII.° (a) ex- (a) He bem notável a incerteza que os nossos cscri|)tores derrama- rão sobre a chronologia ilo senhor D. Jo. I. , quando as suas principaes épocas se podião bem determinar por este epitaphío, e pelo da senho- ra D. Filippa, que ambos forão esculpidps eni tempo de seu filho o senhor D. Uuartr. Deixada a opinião de huns poucos , que sem fun- damento al^uni o fiztrão nascido em 1350, muitos outros assignarão ao seu nascimento o anuo de 1357, e o próprio académico Soares da Silva, que reconhece a authenticidade do epitaphio , segue, não obs- tinte isso , a mesma opinião , e pretende conciliala com a verdadeira , por meio do seu systenia de annos completos e emergentes , asseverando que o mesmo he dizer que ElRei nasceo em 1357, ou em 1358! e de- pois de sujjpòr idênticas estas duas expressões, prefere.com tudo a pri- meira , porque aliás ( diz elle ) não teria ElRei cazado de 29 ânuos , como djz o epitaphio da Rainha, nera teria fallecido aos 76 de sua vi- da , como escrevera todos os historiadores. INão he menos para admi- rar , que tendo o conde da Ericeira , na vida deste Monarca , seguido a verdadeira época do seu nascimento em 1358, e a da sua morte em 1433, diga com tudo que elle fallecera com 76 annos e 4 mezcs de idade, mostrando assim (ao que parece ) ter estado preoccupado do erro yulgar, que punha o nascimento em 1367, porque só neste cííso DAS S CIÊNCIAS DE Lisboa. 333 extitjt per sercnissimum Regem Dominum Pctruni suum genicorem militaribus in etate quinquennii ibidem dccora- tus insigniis : et suscipiens pose deccssum Regis Feinan- di frarris sui ipsius Lisbonee urbís et aliarum cotnpluriutn muiiicionum que se illi subdiderunt guberiiamen : obscssam personalitcr per Regem Castelle novem mensibus Uiixbo- nam mari grandíssima classe et per terram ingenti valla- tam exercitu , et plurimis Portugallensium Regis Costelle potcntiam roborantibus circumseptam adversus íeras et mul- típlices impugnationes ipsam Ulixbonam civitatem strenuis- sime defensavir. Dcinde nobilis civitatis collinbrice anno Domini M. CGC. LXXXV. jocundissime sublimatus in Regem , per SC, et per suos bellicos próceres miranda exercuir guerra- rum ccrtamina , et pluries adversantium dominia et terras intrando, glorinsissimus triumphavit: et precipu..m et re- giam circa istud monasterium victoriam est adcptUb : ubi Re- he quf JilRci podia passar «Je ?« annos em Agosto de 143a, em que falleceo. O certo he , que ElKei nasceo em 1.158, como à\t o epila- phio, e que cora esta época se ajustão todas at niais dasua vida, sem a mais leve duvida ou difficuldade. 1.° O chronista Fernão Lopes na chron. de ElRei D. Pedro I. cap. I. diz, que o senhor D. Jo. I. nascera em Lisboa onze dias dabril ^ aas três horas dcpos meo dia , no primeiro aurto do reinado de seu pai. E sendo certo que ElRci D. Pedro I. começou a reinarem Blaio de l.ji57, só podia cahir no seu primeiro anno de reinado o Abril de 1358. 2.' Convém os historiadores que ElRei D. Jo. I. fora acclamado Rei aos 27 de sua idade, e assim he que tendo nascido em Abril de 1.358, tinha de idade 27, menos cinco dias, quando foi acclamado em G de Abril de 1385. 3.° Consta do epitaphio da Rainha que ElRei cazára com ella sen- do de 29 annofi : e como o cazaraento foi celebrado em Fevereiro de 1387, claro está que desde Abril de 1358 Unhão decorrido os 29 an- nos , menos somente dous mezes. 4." Finalmente dizem as chronicas que ElRei fallecera aos 76 an- nos de sua idade : e também esta época se ajusta com a do seu nasci- mento ; pois em realidade , falleceudo ElRei em Agosto de 1433 , já desde o Abril desse anno tinha entrado nos 76 de idade. Pelo que tudo se convence que a época determinada no epitaphio be a verdadeira , e a uoica que ee deve adoptar. >24 Memorias D A Academia Real Regem Castelle Dominum Johannem , suorum máximo fir- matum rob ire nativorum , et plurium Portugallcnsium et alioram extraneorum fultum subsidiis, iste invicrissimus Rcx , virtJte Dei omnipotentis , potentissime debellavit : et quamplures istius regni municiones et castra jam sub hostium rcdacta potestate , viribus recuperavit arm^orum , usque in sue vite terminum virtuosissime protegendo. Et Deo recognoscens , gloriosissimeque virgini Marie domi- ne nostre potissimam victoriam , quam in vigília assumptio- nis obtinuit , in mehse Augusti , hoc monastcrium in eo- rum laudera edificari mandavit, pre ceteris Hispanie sin- guiarias et decentius : Et soli Deo optans hnnorem et glo- riam exhiberi , et tanrum ipsi , aut propter eum , maiori- tatem fore cognoscendam , descriptionem , que , suorum predecessorum temporibus , in publicis scripturis sub era Cesaris notabatur , decrevit sub anno Domini nostri Jesu Christi fore de cetero annotandam. Hoc actum est , era Cesaris MGCCCLX, et annq Domini MCCCCXXII tem- poraliter dcfluentibus. Iste felicissimus Rex non minus reperiens, que susce- perat, regna illicitis subjecra nioribus , quam sevis hosti- bus , ipsa expurgavit cum diligentia salurari , et propriis acribus virtuosis usitata facínora extirpando, pullullare fe- cit in his regnis probitates honestas , et sollicitus ad pa- ccm cum christianis amplcctendam , candem ante proprium decessuin pro se , suisque subcessonbus obtinuit perpetuara. Et subcensus fidei fervore iste chrístianissimus Rex, comitante cundera sereníssimo Infante Domino Eduardo suo filio primogénito et herede , et Infante Domino Petro , et Infante Domino Henrico, et Domino Alfonso comité de Barcellos prefati Regis filíís , et ingenti suorum naturalium et impávida sociatus potentia , cum máxima classe plas- quam ducentis viginti aggregata navigiis , quorum parsnu- mcrosior miiores naves et grandiores extitere trieres , in Afri- cam transfrctavit , et die prima, qua telluri Afrorum im- pressit vestígia , nobilem et raunitissimam civitatem Ceptaoi obpu- DAS SciENCIAS DE LiSBOA. 225" obpugnando in suam potcstatcm redegit mirifice , etpostmo- dum eidem urbi , plusquam centum mille, ut asseritur , Agarenorum ultramarinis et Granate pugnatoribus obsesso , idem gloriosus Rcx suos illustres genitos Infantem Do- minum Henricum et Infantem Dominumjòhannem , et Do- minum Alfonsum comitcm de Barcdlos , et alios domi- nós , et generosos in subcursum misit, qui fugantes de obsidione Agarenos, quamplurimos in ore gladii trucidan' do , ipsorum classe submersione , incêndio , et captura con- quassata , predictam libafavit civitatem Ceptam , quam de- cem et octo annis , minus octo diebus, anno Domini MCCCCXXXIII. , in mense Augusti , vigília assumptio- nis sanctissime Virginis Marie terminatis , adversus belli- cos Agarenorum multiplicatos insultus validissime presidia- vit. Mcnse autem et vigília prcdictis iste gloriosus Rex , in civitatc Ulixbone , assistentibus suis filiis, et aliis quam- plurimis generosis , vitam feliciter complevit mortalem , rclinquens notabilem urbem Ceptam sub potestate altissi- mi et potentissimi Domini Eduardi filii ejus , qui pater- nos actus viriliter imitando , eandem in fide Jesu Christi nititur prospere gubernare, Iste autem excellentissimus et virtuosissimus Rex Do- minas Eduardus transtulit hqnorandissime corpus christia- nissimi Regis patrrs. sui , assistentibus eidem suis germa- nis Infante Domino Petro Duce Gollinbric , et Montis maioris domino, Infante Domino Henrico Duce de Viseu, et domino Coviliane , et gubernatore magistratus Christi , Infante Domino Johanne Comitestabili Portugallie, et gu- bernatore magistratus sancti Jacobi , et Infante Domino Fernando , et Domino Alfonso comité de Barcellos filiis prefati Regis Domini Johannis , qui tempere sui obitus alios non habebat , preter duas filias , quarum una erat do- mina Infans Elisabeth Ducissa Burgundie, et cómitissa Frandrie , et aliorum Ducatuum et Comitatuum , alia do- mina Briatrix cómitissa Hotytô , et Arandel in suis tcrris Xomo X, Ff per-» 226 Memorias da Academia Real permanebant. Habebat autcm predictus Rex Dominas Jo- hannes nepotes , qui dominice translationi aíFuerunt, Do- minum Alfonsum Comitem dé Ourem , et Dominum Fer- nandum comitem de Arrayolos filies comitis de Barccllos: et habebat ncpotem Infantem Dominum Alfonsum primo- genitum Domini Eduardi , et alios nepotes et pronepotes, qui annumerati cum filiis erant viginti , tempoie quo de presenti século migravit ad Dominum. Affuerunt etiam hujus translationis cclebritati omnes , qui tunc in cathedralibus ecclesiis istoium regnoruni pre- lati erant, et alii quamplures cum multitudine clericorum. et rcligiosorum copiosa, et domini, et generosi hujus pa- trie , civitatum etiam et municionam procuratores extitcre presentes. Fuit etiam venerandissime delatam Regium cor- pus cjus ad istud monasterium trigessima die Novembris anno Domini supradicto , et in capella maiori sepultam cum excellcntissima , et honestissima , et christianissima Regina Domina Philippa, ejus única uxore , predictorum Regis Eduardi , et Infantum, et Ducisse illustrissima ge- nitrice. Anno vero sequenti , die decima quarta mensisAu- gusti fuere per Regem Eduardum , et Infantes , et Comi- tés prelibata corpora predictorum Regis Johannis , et Re- gine Philippe cum honore mirifica ad hanc capellam dela- ta , quam cdificari pro sua sepultura imperavit. Huic dedu- ctioni extitcre presentes altissima et excellentissima Prince- ps Domina Lyanor horum Regnorum Regina , et Infans Domina Helisabeth Ducissa Collinbrie , et Infans Domi- na Elisabeth uxor Infantis Domini Johannis , et precipua et potior pars Prelatorum , Dominorum , et generosorum istius terre ^ qui interfuerunt sepulturis predictorum Do- minorum Regis et Regine , quibus Deus sua miseratione et pictate íargiri dignetur sine fine felicitatem, Amen. III. DAS SciEKCIAS DE LiSBOA. zzy III. ^ Epitaphio da Rainha senhora D, Tilippa. Sereníssima et cxcellentissima ac honestíssima et val- de devota Regina Domina Philipa Serenissimi Eduardi An- glie peroptimi Regis et Regine consortis sue extitit cla- ríssima neptis. Et ex utroque parente Henrrici quarti An- glorum serenissimi Regis {a) illustrissima soror, et filia do- mini Johannis ducis Lancastrie filie et heredis unice domini Henrrici Lancastrie peroptimi ducis. {h) Iste autem dominus Johannes magnus Lancastrie dux post obrtum dicte domine Branche (c) domini Petri Castelle Serenissimi Regis matrimonium , ob quod jus habens ad ipsum Castelle Regnum non modice pretendebat , et sub hoc titulo et régio nomine vcnit cum potestate gentium domin anglorum in navibus et galeris altissimi ac potentissimi principis domini Johannis Portugalie excellenti^simi regis, et in galleciam transfre- tavít , ibique obtinuit municionem et villam de Crunha et alias municiones , que illi tanquam suo legitimo regi obe- dierunt. Et veniens predictus Lancastrie dux in Portugalliam videre prefatum dominum Johannem regem invictissimum , eidem in matrimonium copulavit prelibatani, dominam Phili- pam suam priorem genitam illustrissimam , anno Domini M. CCG. LXXXVII. erat nempc tempore dicte despon- sationis dictus Rex etatis XXIX annorum , et dieta autem domina Philipa etatis XXVIII.° , et ípsi ambo príncipes Ff ii in- ca) As palavras Anglorum serenissimi Regis são suppridas da copia do academ. Soares da Silva, por se acharem gastadas no original. (6) As palavras que vão em itálico fallão em Soares da Silva. (c) Faltão três ou quatro palavras, por falha qne ha na pedra, c deveiiSo ser „ iiátt eum CotUitaiUiaJilia „ ou outras semelhaote*. 122 Memorias da Academia Real intrarunt pariter regnum Castelle , varias municiones subji- cicndo , tam árdua quam magnifica opera peregerunt, tan- teque in dicto Castelle Rcgno perseverarunt , quod altissi- nius et cxcellentissimus Dominus Johannes Castelle potentissimus Rex tracta- vit cum prefato Lancastrie duce quod infans dominus Hcn- ricus ejusdem Regis filias primogenitus uxoraret cum do- mina Caterina dicti ducis filia , et domini Petri Castelle Regis nepta. Deditque dictus dominus Johannes Castelle Rex prelibuto domino duci pro fatis expensis sexcentas mille dupras (a) auri, et se obligavit singulis annis vite dicti ducis qudraginta mille dupras eidem soluturum , et cum hoc tractatu redierunt prefati domini in Portugaliam ibique per serenissimum dominum Johannem istorurn regno* rum gloriosissimum Regem exritit dictus Lancastrie dux quamplurimum honoratus et multimode festivaliter jocun- datus , et magnifica {b) munerum dittributio per hunc Re* gem , et baroncs , et próceres , et ceteros elargita , et do- naria prout deccbat regiam majestatem impensa , gratissi- rre universos indeíFectibiliter jocundarunt , et disposita per dictum Portugalie Regem potenti et tuta classe , regres* sus est ad dominium anglie , in eadem , dux prelibatus, mani-"nte domina Philipa ejusdem ducis filia cum Rege do- mino Johanne, istorurn regnorum gloriosa Regina. Hec felicissima Regina a puellari ctate usque in sue terminum vite fuit Deo devotissima , et divinis officiis ec- clesiastice consuctis tam diligenter intenta , quod clerici li- terati , et devoti religiosi erant per eandem sepius eruditi , in oratione autem erât tam continua quod, demptis tem- poribus gubernationem vite necessariis , contemplationi , aut lectioni , seu devote orationi totum residuum applicabat. PIm- (a) Neste lugar accrescenta Soares da Silva a clausula: (hoc est francos), julgando /m«coj o mesmo que dobras! {b) Ein lugar de magnifica , diz Soares da Silva ), magnifi^atus „ e ominitte tudo o mais até o fim do paragrafo. DAS SCIEWCIAS DE LlSBOA. íl^ PUiriítium vero et fidelissime dilexit proprium virum , et inoralissime próprios filios castigando virtuosissime doctri- tiavit , et bona temporalia circa ecciesias et monasteria dis- Iribuendo , pauperibus plurima erogabac , generosis domi- cellis tnaritandis manus liberalissimas porrigebât. Erat enim integra populi amatrix , et pacis plena dcsidcratrix, et effi- cax adjutrix ad pacem habendam cum christicolis universis, et libenter assentiens in devastationem infidelium pro Dei injuria vindicanda , et tante prona erat ad indulgentiam , quod nunquam accepit de sibi errantibus , nec conscnsit vindictam fieri aliqualem. Virtuosíssima ista Domina extitit feminis maritatis bè- ne vivcndi rcgulare exemplar , et dôraicellis directio , et totius honestatis occasio , cunctisque suis subjectis fuit cu- rialis urbanitatis moderatissima doctrix. In his autem el aiiis quamplurimis perseverando virtutibus , quarum pliirai- tatem hujus lapidis brevitas nequiret ullateniis prcsentare^ dictim et continue meliorando , pervenit ad istius vivende mortalis limitem ordinatum , et sicut ejus vita fuit óptima et valde sacra , sic mors extitit preciosa in conspectu Do- mini , et nimium gloriosa , et receptis laudabiliter omnibus ecclesiasticis sacramentis , próprios filios benedixit , com- mendans eisdem que intendcbat fore ad divinum obsequium , et honorem , et profectum istorum regnorum , et que in eisdem sperabat causatura crementum indubie virtuosum. Taliterque hujus mundi labores finaliter adimplevit , quod presentes , et absentes , qui relata audierunt , firmam sue salvationis spem retinent singularem. Obiit autem decima octava die Julii anno Domini M." CCCC. XV. " et in monasterio de odivellis ante chorum ínonialium decima nona die mensis ejusdem extitit sepul- ta , et anno sequenti , mensis obtobhs die . . . nona (a) fuit (a) Parece que Se deve ler „ decima noiía „ mas ha hUma peque- na falha na pedra , e havia huma abreviatura , que não deixa belQ couhecet a verdadeira lijSo. « 230 Memofias da Academia Real fuit pretiosum corpus ejus desepultum , integium ínven- tum , et suaviter odoriferum , et per victoriosissimum Re- gem dominum Johannem eius coniugem et per illustrissi- mos infantes scilicet dominum Edduardum , 5Uuiíi primoge- nitum , et dommum Petrum Collimbrie ducem , et domi- num Henricum ducem Viseensem , et dominum Johannem , et dominum Fernandum , et infantem dominam ElisabetK ipsorum gloriosissimi Regis, et felicissime Regine filios , sociante prelatorum , et clcri , et religiosoríim copia nume- rosa, et dominis, et generosis dominabus etiam et domi- cellis quamplurimis comitantibus, fuit corpus dicte Regi- ne honi>randissime translatum ad istud monasterium de Victoria , et tumulatum in capella maiori , et principalio- ri , die mensis obtobris decima quinta , anno Domini M.° CGGC. XVI. ° , et postea fuit translatum ad hanc capel- lam , in hoc tumulo reconditum , cum corpore gloriosis- simi Regis domini Johannis sui coniugis virtuosissimi , sub illa forma , que in suo epitaphio continêtur. Horum au- tem personas Deus omnipotens glorificare dignetur perpe- tua felicitate. Amen. IV. Amhentica das Relíquias, Emanuel in christo Deo fidelis Imperator , et Mode- fator Romeorum Paleologus , et semper Augustus. Omni- bus et singulis has Imperiales litteras inspecturis. Salutem in eo qui est omnium vera salus. Pius saluator etredemptor noster dominus ihús xpCís , offerens seipsum Deo patri hos- tiam imraaculatam in ara crucis in memoriam suorum mi- rabiiium eius passionis patibula fidelibus reliquit. Nos igi- tur habentes nonnuUa ipsius nostri saluatoris sanctifica , quam- pluriumque sanctorum eius venerandas reliquias in nostra ciuitate Constantinopolis , ut traditum habemus a nostris progenitoribus serenissimis Imperatoribus , per autentiqua do- DAS SciEMCIAS DE LtSBOA- 2^1 documenta et crónicas approbata§. Que omnia per ipsos et nos diligcnter ac reuerentcr custodita et conseruata sunt. Nouissime vero proprcr pcrsequciones et opprcssioncs tur- chorum horrendorum hostium nominis Jcsu christi. quod sanctissimum nomcn de terra et prcsertim in Romane par- tibus tuto posse abolcre nituntur. Ad hjs occidentcs ho- ras , céterasquc christianorum regum et principum occiden- taliuin regiones nos causa conduxit pro presidio et iuua- fninc orientalium christianorum a dictis infidchbus opprcs- soriim. nobiscum quedam de dictis reliquiis et sanctificiis deferentes , scientesque recte zelum fidei et christiane reli- gionis feruorem vigerc in illustrissimò principe domino Johane Dei gfatia Rege Portugalic nostro honorando con- sanguíneo. Et idcirco cupientes deuotioncrii eius semper in domino crescerc de predictis sanctificiis Dei nostri du- ximus cidem quedam tribuenda. Nunc ergo donamus ejdem sercnissimy principi crucem auream paruam , intus quam sunt Rcliquie beati Petri apostoli. bcati Pauli. beati geor- gii. et bcati blasii. et in médio dicte crucis est parua par- ticula sancte spongie , qua christus fuit in cruce felle et acceto potatus. In quorum omnium premissorum certitudi- ncm et cautelam has nostras patentes litteras eidem sere- nissimo principi fieri precipimus subscriptione proprie ma- nus grecis in rubeo litteris , ut nostri imperii moris est. et nostre auree pendentes bulle grecis litteris suprascripte mu- nimine roboratas. Data in ciuitate Parisiensi decima quinta die mensis Junii. Anno Domini millesimo quadringentesimo primo. Ceterum dedimus prefato regi particulam tunice re- demptoris nostri Jesu christi , quasi blaui coloris , eius sci- licet vestimenti , cuius fimbriam tangens mulier , que flu- xum sanguinis paticbatur, continuo sanata est. Y. aji Memorias da Academia Real V, Principio da Juthentim em grego. líl^F^^^ Cp j^ rw âco Tfiç-t}ç -€aa , como o Unucaprci , Paramussi ; o grande rio Caroni , sahindo da encosta do N. da Serra de Cananaru ^ leva o mesmo caminho. A serra Canauaru ou Nevada , limite a estes nossos domínios , também vai tomando nome , conforme o paiz pa- ra onde manda seus differentes ramos ; como , de serras Tauiana , e Ganapuxi , que deitao as suas aguas no Parima ; a famigerada serra dos Christaes, levantada entre o Smu- w» , e o Mahit ; serra Xauidau , que torneiao os rios T?<- cutum , Piraya , e Rupumiiini. Das aguas , que as montanhas Cunauaru, propriamente assim chamadas, entornao contra o Sul, forma-se o Urariquera, de que a primeira fonte he na cadea Pacaraima. O leito deste rio vai como encaixa- do entre elevados montes , pelas quebradas dos quaes , sa- bem a render-lhe tributo os rios Uraricapra (a) , que nas- ce no monte de Santa Roza , Majari , Parima , todos da banda do Norte ; do Maracd , e do Cama que lhe vem ao encontro da parte do Sul , {b) isto , afora outros , que não sendo riachos, são com tudo de menos significância, O rio Urariquera , assim enriquecido e poderoso deman- da o Tuctttu , {c) e encontrando-o junto do forte de S. Joaquim , ambos misturao as suas aguas , e n'uma só cor- Gg ii ren- (d) Ou Uraricapará , que em varias relações apparece com o nome de Curaricará. N'uma memoria que tenho escripto que emprehende no- ticias bibliográficas da geografia , e descobrimentos da America Por- íuo^ueza , trato d''advertencia que deve haver no que diz respeito aos nomes dos rios , serras &c. porque , varia , segundo o modo porque fo- rão feitos os descobrimentos , se do centro para o litoral , se dahl para o centro ; conforme as Nações índias de que se ajudarão os descobrido- res ; e conforme a época em que tudo isto se fez : He dahi que nasce a confusão que reina nas cartas geográficas , do que não são isentos os mesmos trabalhos modernos. (6) Que vem das serras de Marauau onde habita o gentio Tapica- ry , Capinam &c. (c) Os Hespanhoes muitas vezes coufundião este rio comoMao, ou Mahu seu cooíluente. Í36 Memo&ias da Acaçemia Real rente vem ao rio Negro , trazendo o curso de mais cerai léguas , com o nome de rio Branco , ao qual os índios chamão Qitecenene {a). A nascente do Tuctttu (h) he na serra Caraumá , que se levanta fronteira á de Ganauarú , sendo o vale que ha de permeio, por onde se escoão di- versas correntes , que vão fertilizar o mesmo Tticutu nas toltas que depois faz. _ Este vai contra o N. em senti- do opposto ; mas correndo parallelamente com o rio Bran- co, e na sua confluência com o Mahu , que lhe despeja, um bom accrescimo a suas aguas , forma um cotovelo , e voltando para traz na direcção de S. O. recebe successiva- mente o Uriua , Surtimu do lado do norte , bem como da banda do sul já acceitará a corrente ao Saraurus , que des- ce por um vale , lavando as abas á serra de Xiriri ; e as- sim abastecido eaugmentado, he que forma a sua juncção com o Vrariquera no sitio do forte de S. Joaquim. Aqui principiâo as terras com outra configuração , di- rigindo uma comprida assentada de N. S. onde achão lei- to muito capaz as aguas daquelles dois Rios , que nesse mesmo sentido juntos ambos , vem ao rio Negro. Com tu- do a margem esquerda do rio Branco vai mais afrontada com as elevadas serras que por ahi discorrem , como são Serras de Caraumá , de Ghauidá , que chega a sublevar as mesmas aguas do rio , na grande caxoeira de S. Felippe , três léguas acima da povoação de Santa Martha. He tam- bém deste lado que recebe o tributo do Rio Unauatt^ que engrossado de alguns outros rios , da serra de Uaçari ca- minha a entrar no rio Branco , um gráo lat. N. defronte da (a) Também se chamava Paraviana, que he a nação dominanle do 8eu território , segundo o uso d'America de appellidar os rios , e ser- ras conforme as nações que os habitão. (b) Os Gentios da parte superior do lio Branco, principalmente os Macuxis , mudão o nome a este Rio : desda sua foz atè á boca do Mahu chamão rio Irem , e dahi até as Cabeceiras chamão Rio Aua- raurú; que he, ao que os Hespauhoes, pionuaciando mal, chamavão Abaruarú. I DAS SciENCIAS DE LiSBOA. 7.^y <1a pequena povoação chamada Pesqueiro. Não he assim a margem direita , cujo terreno chão a perder de vista , for- ma uma extensissima leziria : porque , deixando a serra de Cnmu , que aliás he continuação das que no declive que tem para o Norte servem de leito ao Úrariquera , e don- de também se verte a corrente do Mocajahi y que com 14 léguas de curso entra poderoso no rio Branco , e assim alguns outros Rios de menos valor , que dahi ressumbão : deixando esta serra , donde também sahe o poderosíssimo Rio Caraterimmi , que trazendo a mesma direcção de N. S. como o Rio Branco, nelle desemboca 8 léguas acima da povoação do Carmo ; delia , até a foz do rio Branco , da margem direita, vai uma assentada , que forma ura pantanal , um gráo acima do Equador ; o qual se dilata por extensas distancias , no tempo das aguas, em que o Rio Branco tras- vasa e perde o leito. — Apenas o pequeno trajecto de duas léguas separa o Rio Sarauru que entra no Tucutu , do Ru~ pumuni {a) , que vai a Domínios Estranhos, (b) Este paiz , que pode ser comparado ao da Suissa , no- (a) Ou Repiinuni , Opononí &c. (b) Tendo-se no texto descripto os confluentes do rio' Branco tomai, dos da sua origem, julgo opportuno deixar aqui. uma breve nomencla- tura daquelles mesmos e dos mais ribeirões que o engrossão , princi- piando da sua foz ou barra no Rio Negro : Pela margem oriental vem pois a seu encontro : M^oaré ou Macuary , Mencueni ou Mercueny , Agniprera, Curineú , Paraná-mirim , Uaduaíi , Taráuau, Tucutú , Pa- rima , Maiari , cahindo estes já quando vai com o nome de Urarique- re : além disto fronteiro á Povoação do Carmo ha o lago Matamatá que» he considerável. Sampaio assigna ainda mais outros dois lagos como sejão Uaracurá, e Cupií mas he d'advertir que também dá o nome de lagos , a alguns daquelles Rios reconhecidos por taes em subsequentes observações : Pela margem Occidental recebe os seguintes : Sereuini , ou Sereueui ou Serivini , (he d^observar que o terreno em que vai este rio faz com que em mais de um lugar communique sua corrente com a do rio branco no tempo das aguas , sendo notáveis destes , pois sãoper- iiianecentes , os que offerece chamado Furo de Amayaú logo acima da Foz, e outros dois acima da Povoação do Carmo ;) Caratirimáni , Anauini ou Eneuni , Mossuepavá ou Massiupau Ayaraaí ou Jaiani , Acaiaéná , Ca- namé ou Mocajai &c. &c. 238 Memorias da Academia Real no seu aspecto fysico pode ser considerado em serras al- tas f assentadas , logo contíguas , onde vivem certos ín- dios , que por medo do mosquito , jamais descem a beira dos grandes rios, sustcntando-se da caça, e do baju que apurão da mandioca que cultivâo ; assentadas por onde dis- corre o Urariqiiera , Tticutu , e rio Branco até á caxoeira de S, Felippe : (a) e o resto do terreno dahi ao rio Negro , que he uma espécie de assentada cobertas d'espesso arvore- do do lado esquerdo : No seu curso forma este rio visto- síssimas ilhas cheias d'arvores , e agradáveis montes : Vin- do em parte por entre serras , de que ás mais distantes estende a sua cheia ao tempo das aguas , por todas ellas se notão curiosas grutas , que servem d'habitação ao gentio Uapíxâna , e Mjcuxi que vive em suas margens. — Todo este paiz he fértil nos dons da natureza. — As montuihas são cobertas de espessas matarias, onde se en- contrão animaes de muita espécie. — As campinas oflFere- cem os mais excellentes pastos , variados em muitas sor- tes d'hervagens , que no escoamento das aguas dão pasci- go a uma prodigiosa quantidade d'alimarias, — Entre aquel- las hervagéns, muitas plantas se tem achado proveitosas pa- ra a tinturaria , e outros usos das artes. Em uma palavra , todo este terreno , com usura corresponderia aos cuidados do agricultor. Os madeirps daquelles íjosques , alem de pró- prios para a construcçâo naval , no variado , e brilho das suas cores, e no compacto e rijeza do seu lenho, são ópti- mos para a marcenaria, — O pau cravo , cacau , algodão , e arroz silvestre , e outros productos destas Regiões , ahi vem expontânea e abundantemente. — A cultura do algodão , anil , e café tem ultimamente medrado , com vantagem e conhecido proveito, — Os rios vão cheios de muitos gé- neros de pescados ; e o rio Branco de modo abunda em tartarugas , que só a manteiga que se extrahe dos seus ovos (a) Abaixo desta (Jaxoeira de nioau o apertão os luontes que dei>eus lados se levautão , q^ue sua corrente se toma veloz e perigosa. DAS SciENCIAS DE LiSBOA. 239 OVOS forma um ramo interessante de commercio , e de em- prego a muita gente que vive do seu trafico e conducção. Toda esta prodigiosa fertilidade de objectos próprios a alimentar o homem , serve para sustentar a immensa povoa- ção gentia que occupa tão dilatado certão, do qual darei uma idea , ainda que abbreviada. — Em* muitas Nações ou tribus se devide toda aquella immensa povoação gentia , as de que temos mais clara no- ticia sâo {a) : Parauanas , Paravianas , ou Pauxianas. Paravilhana {b). Guainamarás. Araaquís. Tapicarís. Parauás. Saparás (c). , Aturahis. Uayrús. Cha- (a) Esta relação he segundo o extracto das memorias que o Sr. Dr. Alexandre Rodrigues Ferreira escreveu em 1790 sobre os gentios do rio Negro e seus confluentes, e que o meu illustre e sábio Amigo o Sr. Dr. José Bonifácio d^Andrada e Silva se dignou communicar-me: A Pessoa que as redigiu, e o serem posteriores a todas as outras que possuo , fazem com que lhe assigne a preferencia que por isso mere* ce: Todavia, como adminiculo ao estudo destas espécies, ajuntarei a nomenclatura que dos mesmos geutios oíTerece Francisco Xavier Ri- beiro de Sampaio, assim nodiario da sua viagem impresso em 1825 , co- mo Ha relação geográfica do rio Branco MS. que de novo foi confe- rir , ella he a seguinte : Paraviana, Uapixana, Saparâ, Tapicari , Uaiu- mará, Amaripá , Pauxiana , isto hedasque havia indivíduos aldeados: Cariponá , Macuxi , Uaicá,Securí, Carapí , lpuracntú,Sepurú , Umaia- na, ainda pouco conhecidas: Duas outras nações se podíão accrescentar a estas, segundo as relações fabulosas dos índios Paravianas, a saber: Tipiti, e a Guaribana-Tapuya : a primeira dizem ser uns Índios altos e magros , que parecem esqueletos ; a segunda uns índios que tem ra- bo como o macaco chamado Guariba; he porem de ponderar a tendência que todos estes selvagens tem aos contos maravilhosos , revestindo-muitas vezes a verdade de adjunctos senão inverosiveis , ao menos extraordinários. (6) Esta he a INação dominante : assignalão-se cora hum risco pre- to , da testa até á barba , e outro que sahe dos cantos da bocca para as faces. (c) Estes índios , e os Uaiumares , e Pauxianas , oijião o peito com tiscos que com direc^So obliqua vSo terminar nas costas : Trazem as 240 Memorias da Academia Real Chaperus. Amaribas. Uapixanas (a). Caripúnas (b). Sucurís. Amaribas. Yariúmas. Arinas. Carapís. Guioáos. Uaiacás. Pericoty , e alguns Macus Macuchís ouMacuxí. dispersos. Todos estes índios devem distinguir-se dos da contra encosta ao N. desta Cordilheira , que cahe na demarcação das Guianas das outras Nações , estas que ficão ao Sul , são dóceis , e por extremo habilidosos , em quanto os ou- tros são mais esquivos ao civil trato e vida sedentária (f). Os da demarcação Portugueza mostrão porem na lingua- gem, orelhas furadas, e nos buracos pedaços de flexas ; as mulluics porem lhe introduzem o caroço da fructa, Tucumá. — Aquelles riscos são feitos cora espinhos agudos, expremendo-lhe o sumo de uma certa fo- lha que lhe deixa a còr preta perpetuamente. As mulheres dosprimei- ros usão de faxas d''aIgodão; os homens das folhas de certa Palmeira, (a) Elstes índios e os Macuxí ou Macuchís, furão o beiço inferior, e introdusindo na abertura que fazem um osso do animal chamado ca- piuára , os dentes do qual também lhes servem de pingentes para ore- lhas; nenhuma outra nação destes índios tem distinctivo caractcristico. (b) Usão d^armas de fogo que recebem dos Hollandezes, preferin- do sempre os bacamartes : Pertencem á nação dos Caraibes. — As suas guerras são para tomar escravos que n^outro tempo veadião aos Hollan- dezes; são taxados também de ser autropophagos. (c) Accrescentarei esta nota em maior noticia destes Povos , segun- da a que offerece Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio na sua Rela- ção geografica-historico do rio Branco , e que de novo conferi. Ne- nhuma destas nações usão de vestido , os Paravianos , JVlacuxis e Uapi- xanas porem , cobrem-se por diante com uma facha pendente de panno d''algodão ; e as mulheres ornão-se de missangas grossas , pelos braços e pernas, e algumas atiracol ; por diante usão de uma espécie d'avan- tal também de Missangas. Todos estes Povos com os mais d'America propendem para o Atheismo. Com tudo os Paravianos respeitão um Ente com o nome de Maurí , mas ao passo que o adorão como Deos , lhe applicão noções absurdas : dizem que este Ente , escapando do Dilu- vio universal , vendo-se só , creára uma mulher para sua companheira for- mando-a da resina de uma arrore : Igualmente dão noticia de um espi- cito máo a <^ue cLamão Umcmari: Oaosso Author depois d^afirmar que DAS SciENCIAS DB LtSBOA. 24! na linguagem , nos usos e modo , e ainda na configuração , grande differença com os mais que morão ao Sul do Ama- zonas , mostrando também por isso que não pertencem á grande Familia do Tupy , que antes povoara o Brazil , pa- recendo talvez restos de antigas nações , que o valente Tupinambaz successivamcnte acossou e fez afugentar para Tomo X. Hh aquel- esta Nação usa da pratica da circumcizão, de que miudamente descre- ve os ritos que nisso observão, diz em quanto aos ritos funeraes , com pequena alteração o que do geral destes Povos, extrahido d^outras me- morias, levo referido no texto desta memoria, accrescenta : As Festas desta nação são umas computações apparatosas : ao som de flautas, e tamboriuhos seagitão em movimentos circulares, até que cedem á vio- lência da bebida e fadiga , acompanhando estas danças de certas can- tigas , de que servirá para dar alguma idea a seguinte bachica : — Váuáxkarú Xicarú , priué-priué. Carimananté. Yacámeiíá , Yacámenâ, aritarué, yacátnená. O sentido da qual hc : Em quanto estamos cora saúde , brinque* mos, e cantemos; porque, quando estivermos doentes , não podemol brincar , nem cantar. Os chefes desta Nação que nós chamamos Prlncipaes supposto que dispoticos , em certos casos tem a sua authoridade limitada: Os maio- res crimes entre este Povo são : homecidio , e a feiteçaria , os quaes tem pena de morte : Os outros crimes menores tem por castigo banhos de pimenta de insofrível ardor, e tal he o castigo dos adúlteros, as adulturas porem são atormentadas , applicando-lhe uma espécie de for- miga, cujas picadas são vivíssimas: Ofurtohe castigado, fazendo cer- tas incisões nas costas do ladrão , qne depois he mettído no banho das pimentas; á mulher applicão-se-lhe as formigas. Os casamentos se celebrão com authorização do Principal : a noiva conduz a sua hamaca ou rede para casa do noivo onde se celebra uma solemne bebedeira , com o que se dá o casamento por feito : Só o Principal pode ter mais de uma mulher : As guerras que estas nações fazem umas com outras }ie para fazerem escravos. Os Paravianas conhecem um grande numero de estrellas a que dão seus próprios nomes: Contão os mezes pelas luas: a lingua a fácil pronunciação , por causa das muitas vogaes longas: Ao sol chamão Udú ; k Lua, Noné , ás estrellas, Siriaurii; às Plêiades Turramani, ao arco-ires Cauaranari , que quer dizer, cousa de muitas cores ; ao trovão , Carapiri , isto he estrondo medonho ; ao raio Uiui , que quer dizer pedra de trovão ; ao relâmpago uarucuntanari , que signi- Áca coisi espaatosa. 341 Memorias da Academia Real aqiicllas montanhas , que lhe servião de guarida contra os ataques de seus enraivados inimigos. EIlcs talvez mostrão dizer respeito aos Carijós , ou a outro tronco principal da geração Indigena da nossa America. Todos estes índios , são como disse dóceis , e por extremo habilidosos. — As cuyas , cestinhos e bandejas de palinha , differentes na for- ma e lavor daquelles que fazem os índios do Pará , por certo são engraçados e curiosos. — Fáceis ao nosso trato muitos tem descido a aldear-se , e a morar com nosco , o que tem sido de grande vantagem ao estado. Talvez não se- ja impróprio referir aqui algumas particularidades que servem '' de prova e illustraçao ao que destas gentes em grosso aca- bo de afirmar. Os InJios Macuxis , que povoao o mais alto da Ser- ra Parauiia , fazem roças em que cultivão a mandioca , e do baju que delia extrahem , alem d'uma espécie de be- bida formentada , fabricão certo pão ou bolos, que guar- dão mettidos em grandes cestos ou alcofas, que dependu- rão nas arvores da serra , onde se acolhem fugidos ao mos- quito que divaga nos vales , e «le que sobre modo se dão por incommodados. N'uma expedição que fizemos para reconhecer e de- marcar o paiz desta fronteira sahio-nos ao encontro um Ca- cique ou Principal dos índios, dizendo: que quereis vós que sois , e levantando a mão , mostrou os dedos extendi- dos , o que quereis, repetio a esta terra que he nossa, on- de , abaixando-se tomou uma mão cheia d'area , e espalhan- do-a no ar , concluio onde nós somos tantos ! mostrando nisso a differença que havia do numero de uns ao dos outros. — Perguntando o Sr. Dr. Alexandre Rodrigues Ferreira ' a um índio morador no rio Branco, quantos rios se mistu- ravão na sua corrente : O índio para o satisfazer , foi for- mando , com uma piassa o tronco principal daquelle rio , e a um e outro lado , ia deixando tantos e tão propor- cionados filamentos , quantos erão os rios que nelle desaguão, Eoi CAS SCIENCIAS DE LlSBOA. 243 Em cada filamento dava um ou mais nós, conforme o nu- mero das povoações que nelles seencontravâo j e deste mo- do lhe figurou o rio Branco , e todos os seus confluentes. O Sr. Dr. Alexandre ajuntou-lhe por escripto os nomes com que o índio explicou esta carta geográfica de uma nova torma. (a) Ignoro se ainda existe este curioso docu- mento, de que me deu noticia o meu honrado amigo e col- lega Joaquim José Cavalcanto d'Albuquerque Lins , pes- soa muito conhecedora do- Brazil , que algumas vezes o vio e examinou. Em certos penedos da serra do rio Branco estão es- culpidas figuras idênticas ás que se observão nos rochedos do plano que cercão os rios Orinoco , Atapaho , Negro , e Cassiqtiera , e que indicão adiantados conhecimentos , e o uso d'instrumentos de ferro e aço , hoje absolutamente desconhecidos aos selvagens que por alli vagueião. {b) Não deixarei os índios sem que ainda refira o modo por que o Gentio Miranhas que habita sobre a margem do N. do rio Solimôes , entre o Yupurd e o Yça faz as provisões de pei- xe de que se sustenta. Como aquella paragem em que mo- ra he muito falta delle , vê-se obrigado a descer abaixo da caxoeira que alli faz o Rio para fazer na sua vasante aquel- las provisões. E como não tem sal que chegue para gran- des salgas , por que o pouco que tirão peia combustão das plantas , alem de não ser da natureza do sal marinho , ape- nas basta para temprarem o comer, estendem o peixe in-' teiro como o pescão , em um giráõ, que são umas grelhas feitas de páo , ao fumo , para lhe dessiparem a humidade , Hh ii o (a) O Gentio de todo este iramenso certão possuía o conhecimento do uso dos quippos ou da escriptura por meio de nós , de que a des- cripção referida do rio Branco, serve também de exemplo. Veja-se o Tom. IX. da Voyage aux Regions Equinoxiales du Nonveau conti- nent par Alexandre de Uamboldt Paris 1825 — pag. 47. (i) Na minha memoria sobre certas letras descobertas no Brazil compilo todas estas noticias: Veja-se o ciUdo Mr. Humboldt no volu- me iudicado a pag. 19. 244 Memori'as da Academia Real o que conseguido o escamão , e estripão , e cortadas as ca- beças a uns poucos de peixes os vão unindo em figura celin- drica , cingindo-os por fora com a casca dos talos da pal- meira , pacova sorroca ; de maneira que ha celindros que pe- são boas três arrobas, as quaes carregao as mulheres ás cos- tas , que são as que entre este Povo mais trabalhão. Os Tndios que morão nas bordas do rio Negro , do lado do Norte , c chegao ás do rio Branco , guardão em grande veneração os seus Finados : Persuado-me que náo será destituida d'algum agrado accrescentar aqui esta bre- ve noticia dos seus ritos fúnebres. — A palhoça , habita- ção de hum Principal ou Cacique commumente he a sua sepultura , e nella com o cadáver , enterrão o arco , fre- cha , tanga , ornatos , e tudo mais que pertencia ao de- funto. A este acto , succedem as exéquias , que os paren- tes vem celebrar dias depois junto á sepultura ; as quaes consistem em uma terriyel bebedeira geral dos seus vassal- los, e no meio delia o Tugi , vai recitando as acções he- róicas do defuncto , ao que todos , no fim de cada pcrio- do , a modo de coro , respondem , que assim era o que el- le diz. A cova que lhe abrem he redonda , e sentado en- terrão o cadáver : depois , quando o suppóe consummido vão desenterrallo para lhe pintarem os ossos e os arruma- rem dentro das Iguaçabas , onde os conservao segunda vez enterrados. Iguaçabas he o nome que dão a umas talhas de barro já grandes , ja pequenas , bem tapadas e gruda- das por fora , onde guardão os ossos dos seus finados , uns simples como elles são, outros pintados deurucu, ou Ca- rajuru , todos dispostos de maneira, que as caveiras são as que rematâo toda esta arrumação, A esta cerimonia , singular a cada defuncto , succe- de a geral do anniversario dos mortos , e que do mesmo modo he outra grandíssima bebedeira que tomão todos á vista dos ossos , ou de alguns cadáveres myrrhados ao fogo , e ao fumo que para semelhantes acções conservao de pro- pósito. Não deixa de ser curioso o modo com que reseccão os CAS SciENCIAS DE LiSBOA. 245" OS cadáveres , e os reduscm a umas taes múmias. Encostado o cadáver a um poste , em proporcionada distancia dcUe accendem uma fogueira , e logo dois índios pouco a pouco vão correndo as máos por todo elle, comprimindo ora a pelle do corpo , ora a do rosto , conforme o suor , que acção do fogo faz destilar daquelle corpo: E cuidadosos nesta tarefa persistem até que consummidas e estancadas todas as particulas húmidas só a pelle e cartilhagcns re- scccas restão sobre a ossadura: e para que isto melhor se consiga não se descuidáo de ir aproximando o cadáver do lume pouco a pouco, até de todo o enxugarem. Depois, trazendo-o alguns dias ao sol , guardão-no n'um volvedou- de folhas de palma , com o que o tem capaz para aquel- las ceremonias , e para o levarem nas diflfcrentes marchas e emigrações que querem fazer. No terreno da villa de Barcellos capital do rio Negro , que fora uma antiga e populosa aldeã d'Indios , encontrao-se muitas das taes Igua- cabas , e assim algumas outras coisas dos índios , hoje in- teiramence perdidas , e até ignoradas, (â) Estas noticias , ainda que tâo levemente apontadas , servirão também de corregir o que alguns Escritores disse- rão , que os usos dos salvagens destas comarcas eráo tão desconhecidos como erão os próprios salvagens , de que nada se sabia : e foi para subministrar um semelhante «ddi- cionamento , que comraetti esta digressão , que deixo pe- lo fio do meu discurso. He falso , que esta cordilheira , apenas só ha trinta an- nos , seja atravessada , como também afirmou Pessoa alia'3 conspícua ; assim como , que o lugar das Cataratas , seja o único transito , que do Orinoco venha ao Amazonas. — Por quanto, os Portuguezes , que des dos annos de 16^^ subião o rio Branco , até ás suas vertentes principaes , vie« rão encontrar índios que lhe deráo noticia dos HoUande- zes (a) Yeja-se o Diário da Viagem da Capitania do rio Negro deSam* paio receutemeate impresso. 2^6 Memorias da Academia Real zes com quem contratavão , como diz Berredo : Os Hol- Jandezes , procurando adiantar o seu commercio e inrro- ducção no paiz , nâo se descuidarão de animar o escambo dos productos destas terras, com os artefactos equiquilhe- rias Europeas que chegarão ás mãos dos Portuguezes : E foi des dessa época que , os nossos governadores , ahi fron- teiros , andarão precavidos em fechar as entradas por onde as Nações Europeas estabelecidas por aquellas bandas po- dião descer a inquietar-nos. Pelos annos de 1720, Fr.Jeronymo Coelho Religio- so Carmelita, e Missionário da Aldeã dosTurumas, a pri- meira do rio Negro , mandava fazer resgates com os Hol- landezes por meio daquelles rios. _ Nos annos de 1739, confirmada a comniunicaçao do rio Negro com o Orinoco , as differentes avenidas que davão entrada aos dominios de Portugal forão todas cuidadosamente espreitadas , ordenan- do-se por parte do governo do Pará , a um official Engenhei- ro que alli estava em serviço , uma representação ou memo- ria , que eu possuo , declarando os passos que aquella ser- ra nevada offerecia para a nossa America , bem como to- das as outras entradas que devião ser vigiadas e defendi- das. Isto tudo foi causa as providencias que então e depois se forão tomando para cobrir e guardar a nossa fronteira do lado desta serra : Confirâo-se as Instruções de 27 de Junho de 176$ ao governador Fernando da Costa d'Almei- da Teive , assim como a ordem mandando edificar a forta- leza de S.Joaquim sobre o rio Branco em 175'» : As expe- dições armadas que successivamente forão mandadas rodar rio acima , explorar o terreno circumvezinho &c. pelos an- nos de 1765'. — Ha muito mais tempo, sem duvida algu» ma , que os Hespanhoes da Nova Granada , vierão con- tender com nosco ao rio Branco , isto he na descida já para o vale do Amazonas. Em 1769 vierão os mesmos Hespanhoes , mandados pelo Governador da Guiana Hes- panhola, e novas povoações do alto e baixo Orinoco Ma- noel Centurião Guerreiro de las Torres ^ á margem do rio Bran- DAS SciENCIAS DE LiSBOA. I47 Branco , onde tcntavao estabelecer-se , e para este fim , com o grande trem que trouxerão para estas partes, vierão algumas pequenas peças d'artilheria — A esta expedição se- guio-se uma violenta contestação que durou ainda por mui- tos annos depois da derrota em que pozemos os Hvspanhoes , a qual foi muito energicamente bem sustentada por escrito entre o Governador Portuguez do rio Negro , e aquelle da Guiana Hespanhola : Ora a tudo isto foi principio e fun- damento a passagem que dão os desfiladeiros destas serras , que inexactas informações fazem julgar que só recentemente se conhecerão. Confira-se o que acerca da expedição da Go- vernador Manoel Centurião dixa nota com que illustrei o Elo- gio do nosso Sócio o Sr. Dr. Alexandre Rodrigues Ferreira, (a) As espingardas, machados, facas , e outras ferramen- tas Hollandezas são communs aos índios da alta serra do rio Branco ; O Sr. Dr. Alexandre na occasião da sua via- gem a este rio comprou uma espingarda de fabrica Hol- landeza a um índio, a qual ainda possuem seus herdeiros. Esta memoria , vai já por certo muito extensa , para que se possa entrar em uma individual noticia dos nossos estabelecimentos nestas paragens , por isso me contentarei de fazer uma simples enumeração das Povoações regulares que ahi temos, e são: Povoação do Carmo , com S. Martinho. um Parocho , e um Di- S. Joaquim , Fortaleza. rector dos índios. Nova Povoação de S, Felippe. Povoação de Santa Maria. Santa Martha. Dita de S, Felippe. Santo António, Dita da Conceição. . Majari. Is- (a) N'uma memoria em que trato dos conhecimentos e descobrimen- tos geográficos d^america Portugueza , aponto quanto he sufficiente a comprovar a razão do empenho que a Corte de Portugal teve no roais miúdo conhecimento desta parte da sua america , o que sérvio d''admír ta;ãa a Mr. Humboldt: Veja-se g Tom. X. da iur citada viagem. 24^ Memorias da Academia Real Isto afora outras Aldeiotas de índios , Roçadas , e Fazendas de Gado. {a) Convém lembrar ainda que hoje está muito mais augmentada toda esta povoação. Daqui se convence o engano , quando se afirma que o terreno que bordão os rios Negro , Branco e Amazonas he inteiramente deserto á nossa povoação , e só entregue aos salvagens Indigenas do paiz ; engano manifesto, de- pois do que acabo de expender em que cahirão vários geó- grafos. Para que melhor se convenção disto mesmo , bas- taria advertir que o algodão , café , e anil dos rios Ne- gro e Branco , hoje constitue , um ramo distincto de com- mcrcio , regulando-se no mercado o preço áquelles géne- ros como produzidos e vindos originalmente destes paizes. Alem dos antigos exames geográficos que se fizerão por nossa parte , em todos estes territórios , no anno de 1781 foi ahi mandada uma expedição de Engenheiros e Astró- nomos Pprtuguezes de bom nome : o que se repetio se- gunda vez em 1787. Na primeira foi empregado o nosso Sócio o Sr. António Pires da Silva Pontes que levantou uma Carta de todo o território do rio Branco: O Dr. em Mathematica e Capitão de Engenharia José Simões de Car- valho na segunda expedição , tendo á vista os trabalhos da primeira , levantou também uma Carta Topográfica do mes- mo Território , da qual , fez depois a reducçao a uma pe- quena escala , de que eu tenho uma copia por mim tirada do original que pertencia á Sociedade Real Marítima. Deixando as escassas noticias que deste Paiz offere- ce Berredo nos Annaes Históricos dos Estado do Maranhão , Domingos Teixeira na vida de Gomes Freire Governador do mesmo Estado , e das que se encontrão tão resumidas na Corografia do Brazil , ha vários Tratados MSS. em que pur miúdo se individuão suas coisas. O (a) Deve-se accrescentar o estabelecimento de dois Pesqueiros que sehaviSo formado neste rio, eque servia de provimento á villa deBar« cellos capitai do rio Negro. -r. DAS SCIENCIAS HE LiSBOA. 24(> O Bacharel Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio , Ouvidor que foi do rio Negro escreveo : =: Relação Gco- grafica-Historica do rio Branco d'America Portugueza. MSS. de Folio de que ha muitas copias, uma das quaes se encon- tra na Livraria do Convento de Nossa Senhora de Jesus: Com tudo todas estas copias faltas de Mappas e Dese- nhos que acompanhão o original , de modo algum satisfa- zem a perda que delle houve, (rt) Manoel Lobo d'Almeid3 : escreveo : Descripção relati- va ao rio Branco e seu Território , acompanhada dos Docu- mentos necessários , e são copias da correspondência que hou- ve entre o Governador do rio Negro e Governador da Guia- na Hespanhola. MS. deFolio, que vi em 1 8 lo e de que pos- suo um extracto ; não sei se existe ainda. José Simões de Carvalho, Doutor em Mathematica pe- la Universidade de Coimbra , e Capitão d'Engenhciros , alem da Carta Corografica que deixo apontada , escreveo varias annotações á Descripção de Manoel Lobo d'Almeida. O nosso Sócio o Sr. Dr Alexandre Rodrigues Ferrei- ra também escreveo = Tratado Histérico do rio Branco: Diário do rio Branco. Diário das Plantas que se recolherão no rio Branco. Individual noticia do rio Branco : Do todas estas obras dou noticia no Catalogo de seus escritos que juntei ao seu Elogio. Eu alem do que deixei apontado a este respeito na illustnção constante da Nota de pag 12 do Elogio do mesmo Sr. Alexandre Rodrigues Ferreira tenho um maior trabalho MS. sobre este lado da nossa fronteira, {b) ' Tomo X. li Do (a) Consta-me existir uma outra copia com differentes outros debu« xos , a qual se prometteu facilitar ao meu conhecimento : depois que • homens , em despeito de Kk ii na,- zéo Memo» IAS DA Academia Real nada menos doque8o(í) combatentes, notarei que dá 25- (J) habitantes a Braga andando estes pori4<^; e que de Vian» na do Minho diz ser a Nobriga Nomentonarum ^ nome de que não tenho noticia , e que não descubri na Encyclope- dia, assim como em Vosgien , e em vários mapas ou tra- tados que consuhei : accrescendo que no mapa breve da Lu- sitânia antiga se encontra haver sido Vittania o primeiro nome desta villa ; e das tabeliãs que formei na minha mo- cidade colhe-se que foi denominada Feniata. Em quanto á provincia de Traz-os-montcs assevera que Fórum Narbasorum foi antigamente a denominação da Torre de Moncorvo , discordando nisto do nosso P. Francis- co do Nascimento Silveira , e do que se vê no Atlas pu- blicado por Mr. Filippe e outros em 1787: sendo tam- bém notável que dê á mesma Vi^la Sé episcopal, e 13.000 habitantes, quando estes andão por pouco mais de 1600, e de Mr. Balbi podia colher que a Sé da provincia existe em Bragança , cidade a cujos 3.600 moradores subroga 16^ ; attribuindo aliás quasi 10^ a Chaves, que se compõem de II 85- fogos. Passando i Beira vê-se , que reduz a povoação de La- mego a quatro ou cinco mil individuos , havendo alli per- to de nove : que de Vizeu diz haver sido chamada Feru' nufíiy talvez querendo dizer Verrurium ou o Verurium de Ptolomeo , denominação refutada pelo auctor do referido mapa breve : que á teira chama Tetra , e dá 4(jÇ) habitantes havendo alli 1.660 ; e que reduz a povoação da Guarda a cipco oitavos , assim como a de Castello Branco a menos de trez quartos da realidade. O auctor não parece mais feliz, ou mais exacto, quan- do trata da nossa Estremadura ; pois afiBrmando na pag. a07 que he tão despovoada como a hespanhola , tem an- tes asseverado que conta 1001 '- habitantes em cada legoa quadrada, e na pag. 270 attribue á de Hespanha só 35-7. Nem se pode conciliar, ainda mesmo na hypothese de haver descontado mentaLuiente a cidade de Lisboa em quan* DAS SciENCIAS DE LiSBOA. t6t cuanto á nossa província: comeíFeito a povoação desta pro- víncia consta de 6^2.490 indivíduos, e a de Lisboa ha formada por 210.000; em cujos termos descontando esta daquella, correspondem mais de 679 indivíduos a cada le- g>ã quadrada; seguindo-se que mesmo assim se deve repu- tar a Estremadura portugueza duplamente povoada em re* laçao i hespanhola. Relevemos embora a Mr. de S. Vincent publicar em 1826 que o nosso Monarcha residia ordinariamente no seu palácio de Belém; aonde nunca habitou ordinariamente, desde que se queimou o palácio em Novembro de 1794; todavia daqui se conclue o merecimento das fontes a que Mr. de S, Vincent recorreo ; e o da investigação deste es- critor, que nas pag. 214 e 215- censura os coevos aucto- rcs das belezas da historia portugueza , por as extrahirem de livros portuguezes , aonde os absurdos a cada passo 6s* tão pullulindo. Pfosegue Mr. de S. Vincent levando a povoação de Leiria quasi ao dobro da existente; e redusíndo a de Tor* rcs Vedras a menos da terça parte. Além disto imprime ex. gr. que Santarém foi denominada antigamente Praii- àiwn-ZiUum em vez de Prasidium Julium; o que junto a outros semelhantes defeitos como Tacahis por Tacubis , Nu* tantia por Nabantia ^ Leucobriga por Lacóbriga &c. mostra pelo menos a perfeição da correcção typographica da sua obra. Entrando agora com o auctor na província do Alem- tejo , e deixando-o dar a entender , que alem he synoni- mo de Sul , mencionarei que augmenta hum sexto á poToa- ção de Portalegre , hum quinto á de Elvas , e metade á do Crato , passando a dobrar a de Ourique. Finalmente na descripçao do Algarve, segue sim com razão o sentido genuino desta denominação , impresso aliás nos vestigios da lingoa arábica publicados á custa , e de- baixo do privilegio desta Real Academia; porém não dei- xa de parecer-me exagerador quando affirma , que produz aquelle Reino todos os íructos dos paizes quentes. Ac- i6z Memorias DA Academia Real Accresce levar a povoação de Lagos a trez mil habi- tantes quando apenas conta 1900; augmentando semelhan- temente hum quarto á de Faro, a quem chama Taro; e diminuindo quasi metade á de Tavira : em cujas alternati- vas de augmento, e diminuição, evidencêa também o con- ceito que compete ás suas investigações. Relevante se mostra aliás o merecimento scientifico de Mr. de S. Vincent , e com toda asatisfiição o reconheço, não menos do que a genuina eloquência dos seus elogios aos nossos maiores. Nestes termos, parecendo-me que tenho preenchido sufficientemente o objecto da presente memoria; e julgan- do que taes escritos devem antes perder por breves , do que por excessivamente longos , finaliso esperando , que Mr. de S. Vincent considere os seus contemporâneos de sorte , que nenhum deva deixar de acreditallo no tocante ás ou- tras nações , em consequência da pouca exactidão , e da muita injustiça, com que tem tratado a grande familia por- tugueza. c HEGA até hoje a fama deste Grande Rei ; a sua pos- teridade , todos os Historiadores ^ fallao delle com respei- to, e com admiração : e entre os grandes lom»ores dizem que elle fez povoar muitas terras , que adiantou muito a Cultura, que foi hum sábio, ehum Legislador ; mas pou- co mais dizem que isto. Temo-nos contentado com o uzo antigo de lhe darmos o appellido de — Lavrador =. Este uzo da Cavallaria tinha hum certo sublime , porque dava aos Monarchas hum appellido , para dar nMiuma palavra a historia das suas maiores acções. Com tudo não nos deve isto bastar , he fazer huma homenagem á sua Gloria , tra- balhar por saber o porque he elle chamado por antonomá- sia = o Lavrador =. Es- DA» SctíMClAS DE LiSBOA. 163 Esta indagação he custosa , porque este Senhor não fez Ordenações geraes de Cultura c]ue principiou a fazer o Senhor D. Fernando , mas a sua Legislação consiste em resoluções dispersas para humas e outras Terras : e pre^ cisão que se entre no seu espirito , e observe a relação que ellas tinhão com o todo da Legislação e com as cit*- cunstancias de cada Terra , e daquelle tempo. Mas quan» do se chega a ajuntar huma suiBciente Collecçáo, logo sé entra a ver na sua mesma variedade hum espnito de sys- tcma tão bem ordenado , a proporção com a economia de cada Frovincia tão bem tocada , o impulso que se dá ao adiantamento das cousas tão torte , por meios que parecião tão ligeiros, que fazem admirar a penetração de hum gran» de Legislador. Entremos em matéria para não perder nada de tempo. He do Sr. D. Dinis a primeira reforma dos Foraes do Reino. O Sr. Rei D. AíFonso III. examinou muitos para dar a confirmação Real áquelles que tinhão sido feitos por particubres, deu tambcm muiljs de novo fundando Ter» tas , mas foi do Sr. D. Diniz o renoVar a maior parte daí Fundações, e o fazer muitas por todas as Provincias, de forma que se lhe pode attribuir a primeira reformação , que depois se fez geralmente a todas as Terias do Reino pe- lo Sr. D. Manoel. A fundação das Terras pelos ForaeS foi o principio do seu maior ou menor progresso até o tístado actual. Po- de adiantar-se esta proposição , que pode provar-se por hu^ ma observação. Pelos mappas que lemos do território das Provincias , e pela numeração geral t^Ue ha de Carvalho na sua Corografia , ainda que tudo pouco eicacto , com tu* do sempre basta a mostrar que a Povoação delles está na seguinte proporção. O Minho tem líoo pessoas por legoa quadrada. A Estremadura i íõõ. Tras-os^Montes 800. O Alemtejo 400. E a Beira tem hum numero tnedio de 1000 pessoas por legoa. Vendo agora os Foraes , ainda ^óe cada hum he por seu 2^4 Memorias DA Academia Re A.1 seu diverso naodq, sempre nesta variedade se descobrem 4 diffcrentes modos de fundar, que se podem chamar 4 diversos systemas , predominando cada hum delles em sua provincia; e na Beira todos 4 entrão igualmente, segun- do a contiguidade em que está com as outras Provincias. Achando-se pois hum resultado de Povoação tão diverso j aonde são diversos estes systemas, e médio aonde estes sys- temas entrão por igual ; cuido que não he proposição atre- vida jttribuir aos Foraes o principio do melhor e peior , que ha nas Provincias , e que esta causa primeira que logo velo no systema da fundação , he o fundamento das outras com- binações económicas. A povoação he o indice infallivel do estido económico de huma Terra, pois he o resultado de todas as cau?as fyzicas , e moraes , que se combinão para a f j^er prosperar ou decahir : mas agora não he tempo de desviar para seguir as provas desta asserção. He sim de entrar a ver que systemas forão estes a que se jttribue tanta força ; para ver se a razão concorda com esta espécie , que apresentãa os números dos habitan- tes , e entrar a observar a Legislação do Sr. D. Dinis , que tem nisto a maior parte. Em cada Provincia quasi os dois terç )s dos Foraes são no systema preponderante , o que influe sobre a sua economia geral. Eis-aqai o da Provin- cia do Minho , principiado pelo Sr. D. Affonso III. , e re* novado pelo Sr. Rei D, Dinis. Dava este Sr. hum certo districto a 10 , lo , ou 30 Povoadores para elles fazerem ahi 10 , ao , ou 30 Gazaes , cada cazal pagando de foro tan- tos alqueires de pão, tantas gallinhas , tanto em dinheiro com muita variedade , o ordinário he 20 alqueires de pão a gallinhas 36 réis cm dinheiro &c, ea Lutuoza , ou algum semelhante foro feudal por morte do Cazeiro. As regras neste systema erâo — ser cada Cazal huma sufEcicnte por- ção de terra , que tinha bom e máo terreno , terreno de lavoin, logradoiro para pastagem, e maninho para romper. _ Tudo o que se achava cultivado , se repartia entre os herdeiros do Foreiro ou Cazeiro, — E cada herdeiro intei- ra- basScienciasdeLisboa. • aój rava com o seu quinhão de foro ao Cazeiro principal que era o encabeçado , e era elle só o obrigado á Lutuoza. — Em consequência não ficavâo maninhos para a Coroa, ou Consellio , ou Senhorio , senão ou aquelle terreno que fi- cnndo no districto do termo , não tinha sido repartido p;ira os Cazaes ; ou o Cazal que se despovoava , que se chamava ficar em Reguengo , e que o Soberano novamen- te podia aforar. Eis-aqui temos hum foro bem proporcionado ao traba- lho de hum Lavrador j assim quanto mais se repartia , mais suave ficava , tanto mais favorecia o cultivar-se e povoar- se a terra , e vir a fundar-se de cada Cazal huma Povoa- ção. Isto hc o que sucedeu no Minho. De mais, como os herdeiros repartião tudo o que se cultivara , quanto mais se cultivava dos incultos , mais se repartia : ficarão assim muito poucas terras em commum , porque estes communs erão subordinados a hum direito de propriedade que os fazia re- pnrtir em se cultivando. Este he o resultado que hoje ve- mos naquclla Província , tudo cultivado e povoado , e os incultos já no tempo do Sr. D. Manoel erão tão poucos, que na sua reformação dos Foraes , a sua legislação foi que senão rompessem naquella Província mais terras , porque já fazia damno ás cultivadas. Parece que isto he hum effeito natural daquellas de- terminações , e que não custa á razão o reconhecer a van- tagem deste Systema de fundar. O Sr. D. Diniz nisto foi amplo ; a qualquer terreno que fizesse 3 ou 4 cazaes , elle o erigia em conselho, e lhe dava Foral: disto procede se- rerti tantas as pequenas Villas; mas he certo, que agora vendo-se os Foraes , he o que basta para saber se huma Terra he bem povoada e cultivada , basta ver-se se a sua fundação foi com distribuição de Cazaes. Segue-se em quantidade de povoação a província da Estremadura : ainda que nesta ha mais princípios a concor- rer , sempre se conhece o Systema da sua Fundação. O Systema nesta Província he o das Jugadas : não he este or- Tetm X. U di- 366 Memorias da Academia Real diiiario ao Sr. D. Diniz , he do Sr. Rei D. AíFonso Hen- riques e do Sr. Rei D. Sancho. Bem se sabe como he eS* te modo de fundar , que he pagando cada Lavrador por Jugo de bois de 12 até 36 alqueires de pão, que era o moio antigo; ou pagando o 4.°, 6.°, ou 8.° dos fmccos. Este modo de fundar tem dois eiíeitosnaturaes. i.° Qiie o Lavrador havia buscar os melhores terrenos, aquelles que podessem com ò tributo : em consequência havia cultivar em retalhos, dispersamente, porque a terra a cada passo offerece diversas qualidades de chão : a esta cultura dis- persa , havia seguir-sc huma povoação também dispersa em muitos e pequenos Lugares. 2.° Que o Lavrador havia pro- curar a cultura dos arvoredos com preferencia á cultura da terra. Isto he o que vemos nesta Província, lugares disper- sos , muitos olivedos ; mas também muitas charnecas, e, como propriamente nesta Província se lhe chama , muitos Baldios sem cultura. Não ha aqui Foral do Sr. D. Dini/i á excepç^ de Chileiros , e Colares : vejamos por .tanto a outra Província que se segue em numero de Povoação. Disse que em Traz-os-Montes parecia ser o numero de 800 pessoas por legoa quadrada : esta fundação quasi toda he do Sr. D. Diniz, mas o Systema que aqui seguio já não he o do Minho , á, excepção de Villa Real , e al- gumas Terras. Aqui o seu Systema foi dar o terreno a hum Povo, rematado 014 lotado em hum Foro certo, ou de pão, a que chamao foro cerrado , ou em dinheiro , de tantas li' bras por todos os direitos , que os moradores repartem en- tre si , como hoje se reparte a Siza. Nada parece mais favorável a huma larga cultura, e boa Povoação, mas o effeito mostra que ficou em terceiro lugar. Eis-aqui a ra- zão. Nestes aforamentos foi huma regra necessária, que to- do o terreno dado ficava próprio daquelle Povo ; mas fi- cou próprio em commum : quando foi crescendo a Povoação , foi crescendo a força de todos para que nenhum se apro- priasse huma parte ; pois quantos mais fossem , mais o precisavão. Por isto se vê nesta Provincia haver muitos in- cul« \ DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 367 cultos , e não das más terras, mas de terras boas e excel. lentes, que se disfrutao em commum para pastagens, ou para lavoira por hum anno somente, porque em sendo mais annos já o Povo a embaraça. Conhece-se nisto a influencia, deste systema , mas fica em curiosidade que motivo teiia o Legislador , para deixar nesta Provincia de seguir o seu Systema favorecido , que usava no Minho. Não he fácil conhecer isto; mas pelo que hoje ainda pode observar-se nas terras daquella Provincia, Jugares aon» de os Povos conservâo mais tempo os seus antigos usos, acha-se que elles ainda tem muitas acções em commum, que nas outras partes tem já dividido o progresso da So- ciedade. Por exemplo : o forno de cozer pão he commum para toda huma Aldeã , o moinho também he commum, a guarda dos gados , o serviço publico dos caminhos , das pontes , ainda a mesma cultura he em grande parte feita em commum, por vizinhança , e não por jornal. He certo c|ue aonde huma sociedade está em hum estado decommu- nião , he mais natural pagar também os tributos em com- mum. Estabelecer-lhe hum Systema que os separasse era não unir a disposição da Lei com a indole do Povo. Se esta não foi a razão , não chego a percebe-la. Mas o que deve notar-se , he que conhecendo-se ago- ra que este Systema não teve hum effeito tão vantajoso como o outro ; nem por isso então mesmo escapou á per- spicácia do Legislador que nelle faltava alguma cousa pa- ra a sua perfeição , e precisava de huma Providencia que o corrigisse. Em hum dos Foraes vem esta disposição dizen- do = Que os maninhos ficavâo de todo o concelho, se- gundo cada hum podesse e quizesse tomar ; mas não se toraarião senão sendo primeiro vistos pelos Sesmeiros =r. Com esta faculdade he que quiz balançar o effèito da pro- priedade em commum : ainda hoje ha o costume nestas Terras , de terem obrigação os vizinhos de huma Aldeã de dar terreno para huma Gaza , e huma horta a qualquer que ahi queira ir habitar : o tempo fez esquecer a Lei , . LI u e i6S Memorias da Acadxmia Real c conservou-se este vestígio como costume antigo , tendo sido huma instituição do Sr. D. Diniz , e que era huma Lei precisa neste Systema de Fundação , que deixou d< prosperar , porque perdeu a observância huma parte delle. No Alemtejo : o Systema da fundação ainda hc mais diverso. O principio desta fundação he do Sr. Rei D.San- cho-, mas o Sr. D. Diniz, que fundou ou deu Foral a ij Vilias, seguio nestas fundaçfíes o Foro de Évora , Systema estabelecido pelo Sr. D. AfFonso Henriques , e que se tea geral nesta Província. A forma da distribuição he toda feu- dal ) e naturalmente se estabelece huma distribuição feudal em hum paiz de conquista , porque he huma distribuição Militar. He por este modo. Em roda de cada Povoação ha hum districto dividido em pequenos prédios para as plan- tações e fazendas dos moradores , o mais do Termo he di- vidido em Herdades, e nos extremos do Termo ha huma, duas , ou mais defesas , territórios ainda maiores que Her- dades , que ou são do Conselho , ou do Senhorio. Todas estas terras , (á excepção de poucas Vilias) são livres , sem foro, nem Jugada. Para a especulação parece que he este o melhor de todos os Systemas ; em tal desafogo parece que a Cultura hadc cxceder-se em producções , e como a povoação he se- gundo a quantidade das subsistências , que hade exceder» se era Povoação. EíFectivamente tem Lavoira , porém nem tem Povoação , nem Cultura, He com tudo certo que a to- tal divisão das Herdades não he logo feita no primeiro es» t.ibeIecimento das Terras , como de ordinário o era a dis- tribuição em Cazacs , que se praticou nas outras Províncias ; mas foi feita progressivamente pelo Offieio dos Sesmeiros dos Povoadores, dos Meirinhos das Serras, Juizes das Cou- tadas , e outros OfEciaes , mas foi sempre debaixo do mes- mo plano de grandes divisões, e por isso não alterou o cffeito. Assim está n'huma contradicçao apparente este desa- fjgo da Cultura com o pouco progresso delia: a razão da di- DAS SciEN e as Nações adiantáo em seus proveitos e acre- ditão-se com os estranhos,. Tamanhas conveniências , ou antevistas com sagaz pe- netração ou reconhecidas no exemplo alheio , tem deter- minado os Soberanos da Europa a crear nos seus Estados Academias mais ou menos celebres ; mas todas com direito bastante á estimação e ao agradecimento do Mundo. Os Monarchas Portuguezes nSo podião desprezar este meio no- bre de utilidade e credito para os Seus Reinos ; e desde b principio do Século XVIII. teve Lisboa huma Academia ÚQ Historia Nacional , em que se reunirão muitas pessoas de DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. IH de abalizado merecimento , e de cujos trabalhos nos restão monumentos, que a critica ponderada e justa terá sempre na conta de respeitáveis. Com mais largo plano se fundou esta nossa Academia das Sciencias sob os auspícios da Rainha Fidellissima, a Senhora D. Maria I. , que a honrou e favoreceo com par- ticulares diátincções e mercês. Os Sábios Académicos cor- respondera) , como he notório, ao alto favor do Throno , e por muitos escritos de grande valia merecerão bem da Pdtria e do orbe literário ; assim nas Sciencias Naturaes e Pozitivas , como na Ge igrafia , Historia e Antiguidades Portuguezas, na Eloquência, na Poética, e na importante noticia e critico exame da Lingua materna, Durão e hão de durar estes valiozos escritos , e são familiares a todo o leitor de alguma instrucção. Descabe porem e adormece a natureza quando o astro que a vivifica se retira do horizonte : e os nossos Augustos Príncipes retirárão-se de Portugal nos luctuozos dias de confuzão , que foz recear com muito fundamento a inteira subversão do Mundo politico , e ao menos a de toda a Europa. Acrecerão aos males da nossa orfandade os de huma invazão aleivoza ; seguidos logo dos cruéis estragos de guerra tão activa como porfiada. E quando principiáva- mos a desfructar os benefícios da paz , e a dilatar o coração com doces esperanças, surgirão funestas perturbações no interior do Reino , que novamente mas será mais acertado pôr aqui termo á recordação de tão infaustos acontecimentos. Mui diversas recordações, Senhores, tocão a este dia gloriozo e para sempre memorável. Horas são jd de acordar do dilatado somno y disserão no dia de hoje ha quazi dois Séculos os Nossos Maiores , com engenhoza , e não indigna , applicação das vozes ou brados da Igreja ; e não houve para elles desde aquelle momento, senão desprezar perigos , acommetter montes de dificuldades, abraçar com trabalhos Ímprobos , sem que as incertezas , as contrariedades da for- * z tu- iM- Historia da Academia Real tuna remmittissem o gentil denodo, sem que o mesmo poder do tempo atroxasse a constância ; até que por fim os cmpenlios cm defeza de huma justa cauza forão coroados com triunfo insigne , de que a mais cega parcialidade não ouzaria contestar-nos a gloria quazi singular. Gentil denodo sim, rara C' sublime constância! cuja imitação eu me animo a propor hoje á nossa Academia. Se não he possível que a natureza deixe de se resintir com a auzencia do seu primeiro astro , ao surgir elle de novo , eu posso dizer a todos os nossos Sócios: Académicos, chegjda he a cccaziao de recobrarmos o antigo vigor , e até de dobrarmos a valentia da primeira rezolução , imi- tando, nesta nossa Carreira, a generozidade daquellcs Por- tuguezes. Renasceo o Astro vivificante : outra vez sentimos o dezejado effeito de Sua força Creadora. Como pode, ao provarmos a inâuencia suave mas poderoza da Sua prezen- ça , continuar em nossos peitos o dezalento ? Que diffi- etildades podem imaginar-se tão empeçadas , que nos aco- bardem ? Que trabalhos tão sobre-humanos, que nos so- çobrem ? Porém quando a minha voz , Senhores , por minha e em razão disso débil, não valha para tão alto effeito; re- ceba ella a energia victorioza que eu lhe não posso com- municar, tornando-se o órgão dos dezcjos e das intenções do Nosso Augusto Soberano e do Nosso Prezidente. Por mim vos chama boje , por mim vos convida e anima áquel- la cultura das letras de que devem rezultar o aumento , força , lustre da virtude , da honra c da prosperidade da nossa Pátria , por quem são , como disse desde logo , os primeiros votos de Sua Magestade. Para melhor os reali- zar , não se contenta de ser Nosso Protector ; quer e vem prezidir-nos , quer , associando-se comnosco , dirigir-nos nas emprezas árduas e nobres, nas honradas fadigas, nas victorias gloriozas. Assim hum Príncipe também do Sangue do ínclito João I. (outra recordação bem própria deste momento e des- ' «AS SciENçiAs -DE Lisboa. r deste lugar) hum Principc nunca assaz admirado pela vas- tidão do Seu gcnio, pela magnanimidade dos seus pensa- mentos, pelos prodígios da sua constância, o Geuerozo Henrique , prczidindo e encaminhando os seus Sábios nas vizinhanças do Oceano , e com elles observando os Ceos , traçando emprezas , achando rA-eíos , rezõlvendo duvidas , preparava, com profundo e assombrozo conselho, a maior revolução , de que ha memoria entre os homens , e assen- tava sobre os rochedos do Promontório Sacro a primeira pedra da Fabrica grandioza da Civilização, de que agora se desvanece o Mundo, Não faltareis vós Senhores , ao chamado , ao convite do Augusto Prezidente. As Sabias Memorias , com que neste mesmo anno tendes enriquecido a Academia, e que dentro em pouco tempo serão ofFcrecidas ao Publico , não nos deixão duvida alguma do vosso ardente zelo , e das vossas luzes tão copiozas , como bera dirigidas. Que nâa podemos pois promettcr-nos com o impulso, para Portuguezes irre- '/istivel, da voz Soberana? Cantava o nosso Poeta, que não ha estorvos tão incontrastavcis , tão perigozas aventuras , tamanhos medos , que possão deter Portuguezes quando os anima a voz do Seu Rei : e he forçozo reconhecer neste conceito , mais a singella verdade da Historia , do que os estudados encarecimentos da Poezia. DIS- ^1 Historia da Academia Real DISCURSO HISTÓRICO li Recitado »a Sessão Publica do i." <íe Dezembro de 1829 PELoVicE -Secretario Manoel josk maria da costa e sá. ^^^uATRO annos tem passado depois que demos conta, cm publico , do que tinhamos feito para o progresso dos co- nhecimentos humanos em serviço da Pátria; porque, á fi- neza do amor que lhe consagramos repugnava nos entre- gássemos a este acto da nossa festa , cm quanto a vísse- mos angustiada e duvidosa. O Senhor D. João VI. , que , pela elevação da Sua Alma munificente , sempre nestas occasiões se dignou ex- altar-nos com a Sua Augusta Presença , vindo ao encontro da homenagem da nossa pura e fiel vocação , falleceu , deixando-nos , com o seu povo , em triste orfandade : E o encerro divido á dor de tamanha perda não tardou cm ser também preciso á mágoa de todas as mais afflições publi- cas : A ser possível , dobrarão ainda mais as saudades do Nosso Excelso Presidente que de hum modo singular nos havia distinguido Tomando a nossa frente. Hoje, mil gra- ças á Providencia Divina , que não só gosamos o in- comparável beneficio da Sua Poderosa e animadora Presença, mas ainda que do Seu Real Animo e esforço Portuguez nos fez alcançar a alta , e tão urgente mercê do benigno deferimento ás supplicas do Seu povo para que Fosse ser- vido fixar os destinos desta Monarchia como sabiamente dispunhão os seus Foros e o seu Direito Publico: Hoje cumpre pois attcndamos pelo desempenho do nosso insti- tu- DÁS SciENCIAS DE LrSBOA. VIT tuto ) fazendo publica resenha do que lhe pertence no período mencionado. Todavia , se humas taea circumstancias , sempre one- rosas e sempre malignas a lodo o estudo e applicação , poderão influir d'algum modo para que o fructo da que nos compete não satisfaça a nossa vontade , e appareça menos luzido, a esperança da restauração da Pátria tam- bém dá grande alento , e serve de fiança ao desejado ex- plendor da Academia.' Esta com tudo fiel ao sagrado dever do seu respeito- zo reconhecimento não faltou em celebrar , no termo do luto pesado pelo Muito Alto , e Muito Poderoso Senhor D. João VI. de saudosa memoria , huma sessão extraordi- nária destinada ao panegyrico do Seu Nome : Empenho grave para que foi nomeado orador o Sr. Fr. Matthpus da Assumpção. Felizmente a este acto fúnebre succedem os que tan- to confortão os votos do nosso patriotismo : Obtendo a Academia a honra de felicitar a Sua. Magestahb pela sus- pirada restituição de Sua Augusta Pessoa ao Reino , alcan- çou depois a mercê de huma singular audiência e beijamão pelo faustissimo motivo de ser exaltado ao Tlirono : Então foi que a Academia ouvio da Sua Real boca : que acceitav/i as expressões da Academia , e reconhecia os seus bons senti- mentos '. que em todo o tempo não deixaria perder occasiao al- guma de lhe dar provas seguras da Sua especial protecção. Depois da munificente graça de tão lisongeiras expres- sões , nenhuma outra recompensa parecia restar mais ao nosso xelo ; mas a excelsa generosidade d'ELREi Nosso Senhor , se não contentou só com aquella promessa augus- ta ; quiz ainda estimular mais e mais a fidelidade de nossas obrigações, na verdade de absoluto rigor, por isso mesmo <]ue livremente as adquirimos : Por hum Decreto , que for- mará hum dos titulos irrcfragaveis á gloria do Seu Nome, abrindo época distincta na historia das letras , Foi Servido conceder á Academia , c aos seus Sócios entrada no seu Re- VIU Historia da Academia Real Real Palácio na Sala reservada só aos altos Foros e Digni- dades do Estado , aos quaes , por este modo , Houve por bem de nos igualar : Tão claro testemunho da generosi- dade do Nosso Magnânimo Soberano, e excelso Presiden- te , não só nos deixa penetrados da mais respeitosa e pro- funda gratidão , mas também possuidos de bem graves re- flexões (*) : Assim he que a condição da Academia fica hoje sendo mais brilhante e lisongeira; porém ao mesmo passo muito severa , condição em que todos os estudiosos Portuguezes alias parece dcvtm julgaise comprehendidos : Pelo que pertence á Academia , não se duvida , ella sabe- rá dar plena satisfação de si : Os seus trabalhos e os seus primores antecedentes o promcttem , e nós ainda assim tam- bém o veremos do que , nesse mesmo espaço decorrido , apresenta em cada huma das três classes por que divide a sua applicação , a saber : Na de Sciencias de Observação. O Sr. Joaquim Pedro Fragoso leu huma memoria , em que o Author individua todos os meios , e proporções que assistem a Portugal para o indemnizar de suas perdas , e fazello voltar ao gráo de prosperidade que teve quando foi celebre e preponderante entre as mais Nações. Do Sr. Joaquim Baptista de Sousa, tivemos: A se- gunda Memoria sobre as caldas de Alafoes e sua origem vol- canica ; e a continuação das suas Observações meteorológicas feitas em Vouzela nos annos de 1825", 16 e 2-j : matéria en- fadonha que o estado dos conhecimentos humanos por ora designa para ulterior emprego: Reflectindo-se que humas taes observações tem por objecto a simultânea acção do Ceo com as differentes localidades , acção que sugeita e :-. r. . r ,. do- ■ Pn l" i - • i ( • ) A estas mercês accrescentou ElRf.i Nosso Senhor a das obras de Jurisprudência e Theologia que existião duplicadas na Keal Biblio- tbeca Publica para complemento da Bililiotheca da Academia poi avizo de 21 de Fevereiro de 1829. DAS SCIEVCIAS DE LiSBOA. IX domina tudo o que respira e he creado j e attenta a va- riedade de regiões porque se estende a Monarchia Portu- gueza ; humas semelhantes observações não deixaráõ de ser promovidas pela Academia em mais ampla escala. O Sr. Barão de Eschwege apresentou corrigida e augmentada a Memoria da sua viagem geognostica e montanis' tica de Figueiró dos vinhos ds provindas do iwríe: E rambem : Breves noticias da mina de carvão de pedra no districto do Porto , e vantagem que tem dado d Real Fazenda e ao Es» tado administrada feia Intendência geral das Minas e Metaes do Reino. Neste assumpto , que vivamente interessa a economia publica desta Monarchia, tivemos do Sr. Alexandre Antó- nio Vandelli , o Compendio da Arte das Minas , ou montanis- tica ; e do Sr. Joaquim Pedro Fragoso a introducção á sua Tentativa metálica ; e os Elementos para a arte das fundições de ferro. O Sr. António de Araújo Travassos , de Paris , onde se acha residindo ha annos, não se esqueceu da Academia enviando-nos : huma Memoria sobre hum aparelho de distila- ção continua ; outra sobre bum relógio d" agua ; outra sobre hum phylacrase ou guarda temperatura ; e finalmente outra sobre hum aparelho para a formação do etber sulphurico. O Sr. José Maria Dantjs Pereira leu a primeira das suas Memorias a bem da restauração da Marinha de Portu- gal, fructo da sua applicação em tão importante objecto. Do Sr. Frederico Luiz Guilherme Varnhagem rece- bemos duas memorias , huma sobre o singular habito de al- guns moradores do Brazil comerem terra ; e outra sobre a ce- lebre formiga siuva que por alli faz os seus estragos. O Sr. Ignacio António da Fonseca Benevides con- cluio a sua primeira Memoria Medico-Botanica das Plantas Venenozas indígenas de Portugal:, apresentando-nos também o seu Ensaio Pbysico-Medico das aguas mineraes do Gerez. Foi sobre este recommendavcl objecto de aguas mi- neraes que o Sr. Visconde de Balsemão leu a primeira par- T.X. P.II. ** te X Historia da Academia Real te da sua Memoria Historica-Geographica eu. da Freguezia de S. Thomé de Caldeias , e das suas aguas thermaes , onde QS yestigios de antiguidade, principalmente Romana, pa- recem accreditar o uso que hoje se lhes procura. O Sr. Doutor Carlos José Pinheiro transmittio-nos as seguintes memorias : Huma sobre certa prenhez extraordi- nária de mais de vinte aunos ; outra sobre vários objectos de Ânatomia-Pathologica ; c outra d cerca de huma hérnia da li' nha córnea , com dislocaçao da grande fouce da peritoneo. Q Sr. Manoel António da Fonseca , Cirurgião mor da Capitania de Moçambique remetteu as suas Observações clinicas sobre as enfermidades endémicas da Cidade de Mo- çambique : Não he permittido passar adiante sem nos pro- mettermos de que os felices auspícios que hoje favorecem a Academia serão profícuos a promover tão necessárias ob- servações , realizando-se o projecto que a Academia tinha disposto a este respeito , e que as circumstancias que são notórias embaraçarão até agora. De Rostock veio remettido á Academia huma MemO' ria sobre o methodo de impedir que os navios fossem ao fundo pelo fogo da artilheria , inapplicavel em razão dos meios que para isso exigia. O Sr. José Barbosa Canaes mandou-nos a Discripcão Topograpbica da Filia de Soure. O Sr. José Pinheiro de Freitas Soares leu-nos huma Memoria sobre a utilidade e nobreza da medicina , que tere- mos o prazer de ouvir ler ao seu benemérito Author. Manoel José Maria da Costa e Sá leu a Discripcão que o nosso fallecido Sócio o Sr. Doutor Alexandre Rodrigues Ferreira fez de duas grutas que se encontrão no Brazil na Provinda de Matto Grosso. Na classe de Sciencias de Calculo. Da infatigável applicação do Sr. José Maria Dantas Pereira tivemos : Reflexões sobre o celebre problema da eo' DAS SciENCIAS DE LiSBOA. Xl roa de Hieron : Memoria sobre a solução do problema das lon- gitudes no mar : Huma servindo de revindicaçiio á exac^ão da nomenclatura em linguagem mathematica ; ourra sobre o cabres- tante applicado ás noras chamadas mouriscas j e finalmente huma , que teremos a vantagem de ouvir ler a seu próprio Autlior , sobre a precisão de refundir o Roteiro do nosso Pi- mentel. O Sr. José' Cordeiro Feio deu-nos a sua demonstração das principaes formulas da Trigonometria espherica , necessária , porque os Authores servindo-se de alguma deilas como ge- ral , a construcção de que vem deduzida não o sendo de- mandava differente prova : igualmente tivemos da sua appli- cação huma Demonstração do binómio de Newton. Do Sr. Joaquim Maria de Andrade recebemos o seu Tratado de Trigonometria espherica para servir de introducção d astronomia physica de Biot. O Tratado do movimento dos projectis applicados ao tiro das bocas de fogo ^ e hum Ensaio sobre a sua pontaria, forío as provas que do seu estudo nos deu o Sr. Fortunato José Barreiros. O Sr. António Lopes da Costa e Almeida deu-nos o seu Tratado de Jrtilheria Naval: E he certo que lembran- do-nos do desenvolvimento que os nossos maiores derao a tão importante objecto, em que particularmente tomou par- te o Sr, Rei D. João II. nas repetidas experiências que fa- zia executar na sua presença , não debalde deve o seu es- tado, nos progressos que hoje faz, ser recommendado aos nossos , ofBciaes : O mesmo Senhor nos communicou tam- bém o seu Piloto instruido. O Sr. António José da Silva Paulet enviou-nos a Dis- cripção dos methodos que se empregarão para levantar as car- tas hydrographicas e geograpbicas do território do Ceard ; que só poderião ser bem avaliados na presença das mesmas cartas. O Sr. Maximiano António da Silva Leite remetteu-nos do Rio de Janeiro o Resultado e detalhe da observação do ** 2 ecly- 5«i Historia da Acaôemia Rxal edypse do Sol que foi inteiramente visível naquella Cidade «í i^.ia 16 de Jítttho de 1825 ; e as Observações ahi feitas dos sattllites de 'Júpiter no anm de 1827. O Sr. Paulo Joisé Maria Ciera cotitinuou-nos a conta das Observações Jstrottomicas feitas no Real Observatório de Lisboa j por elle , e pelos Srs. António Diniz do Cou- to Valente , e António Maria da Costa e Sá desde 1822 a 1825' ; continuando o Sr. António Diniz o calado das Ephe- merides que se achão impressas até ao anno de 18 31. Finalmente ainda nesta classe nos cumpre mencionar outra vez o Sr, José Maria Dantas Pereira , pelo examâ do Mappa da America meridional segimdo as observações de Spix e Martins de que se encarregou , comparado com butros mappas de maior crfedito , dos quaes, em pontos fessencialissimos aquella desdiz : E á vista de hum mappa de muito merecimento no estado actual dos conhecimentos respectivos , confiado á Academia pelo Sr» Thomaz Antó- nio de Villa-Nova Portugal , foi que o Sr. José Maria Dantas interpoz o seu juizo , em huma Memoria, que leu, sobre a posse pacifica do Rio da Prata , pelos Porttíguezes des que o descobrirão em 1 5 11 até à invasão Hespanhula em 1580. Na classe de Litteratura Portugtíeza. Recebemos do Sr. Fr. MattheiiS da Assumpção, huma Memoria sobre o exemplar do Pentateiico hebraico , impresso em Lisboa em 1491 existente na bibliotheca da Academia: G Elogio fúnebre do Sr. D. foHo VI. : fuizo dos codicer das chromcas d'ElRei D. Sebastião por Fr. Bernardo da Gruz , e António Vájená: E huma Memoria sobre os ma- nnscriptos de Ignacio XjollAço de Brito què tierewíos o gosto tde lhe ouvir ler. • 'Maneira de obter e de conservar com exactidão tio Rei" «o espécies Statistico- geneologicas ; Reflexões comprovativas dn Memoria do Sr. Fr. Matthetis da Assumpção acerca do i»emplar do Pentateuco hebfòiá?', Segwida e tepceira parte V' - .1 *'* da BíTs ,SciE«ciA"s DB Lisboa. xui da fft* Discripfao de Feuafiel j- íofsio o tesítemuQho que d& s^la applicaçáo iicw quiz dar; o Sr. António dc Almei- da que tão cthpenhado se aiostía éemprc peio augmento 4a Academia. Nâo são menos positivas w provas do interesse que Monsenhor Ferreira toma pela Academia : Mandou-nosos seus preciosos Aponta>nentt>s para a noticia da vi^a do celebre pintor Portugtíez Francisco de He/landa: Outros de grande valia perteaceatefe á vida e escritos do nosso faUecido St>cio o Sr. yíntonio Ribeiro dos SaHtos , do qual nos deu a co- pia de hum manuscripto ; e hum grande e importante addi'' cionamento ao índice Chronologico da legislarão P^rtugueza do Sr. João Pedro Ribeiro. ^j-?:!*! â^o] 1j Os Additamentos e retoques rf Itympse chromlogica da nossa legislação'^ a continuação das suas Dissertações diploma- tico-historicas , com a promessa de lOutros fructoâ da sua incansável diligencia litteraria , vierão augmentar a noara gratidão para com o nosso laborioso Sócio o Sri Juãd Pe- dro Ribeiro. h nJaoIJ sb li.o\ miiipKoT .-vi O Do Si-. António Joaquírti de Gouveà Pintoi tivenros : O exame tritico e histórico sobre os direitos d 's Expostos y que lhe mereceu desempenho análogo á gravidade do as- sumpto : E o índice Chronologico dos tratados dé Paz e Con- venções , com a legislação qice lhe corresponda , entre Pet' tugal e os diff^rentes Estados do mando ; além disso en- carregou-se do trabalho sde Teduzirl a huma só serie os Índices Cbronologicas legislativos do Sr.\jQão Pedro Ribeiro ^ enriquecendo-os das consideráveis- addicções que lhe tem subministtado o seu estudo - particular.. > • . O Sr. Visconde de Santarém p^ròpoá-se aáxiliar a Aca- demia com hum Tratado sobre os d^sctdfrihiemos âe Amerrco Vespacio y thandando^ios a copia da ^ua ctorrespondeftcia à este respeito com o Doutor Navarrete de Madrid. A interessante Memoria histórica sobre as obras do Real Mosteif-o de Si Maria áa Vfctoria^ vulgarmente' èhamddo da Ba- tnlbut, Addit>âmeul0s aoí vestigior arai}iiiròt''vmvontt tinguager»\ cou- XIV Historia da Academia Reai^ continuação do Ensaio sobre os Synonimos da lingua Porfugiie' rtí ; e Notas \ illustrativas d vida de D. João de Castro j por Jacimbo Freire de Andrada , acompanhadas de vários docu- mentos inéditos concernentes aos stic cessas alli relatados ^ são o fructn da efficaz cooperação que sempre nos prestou O- Sr. Bispo Titular de Coimbra. "* ' ^t\W-jO Sr; José Maria Dantas Pereira ainda nesta classe nos rnosfroii. o sca /ztelo dedicando-se a rebater o que menos reflectidamente disse á cerca de Portugal o Sr. Bory de Saint-Vincent no seu compendio geographico ■ ajuntando ao seu trabalho o esboço da Legislação económica do nosso im- mortal D. Diniz. O Sr. Manoel José Pires oíFereceu-nos as suas Refle- xões sobre a orthograpbia da lingua Portugueza. Do Sr. Paulo José Miguel de Brito tivemos a Memo- ria politica sobre a Ilha de S. Catharina e a parte do continente que pertence ao seu governo , assas interessante á geographia e á historia. O Sr. Joaquim José da Costa de Macedo communi- cou-nos as suas Investigações históricas sobre as Finanças de Portugal \ e em particular a historia e origem dasjugadas^ im- posição que sobe á fundação da Monarchia. •'.('• O Sr. Francisco do Recreio cnviou-nos : Fundamentos da neologia applicados d lingua Franceza. ■ , l-íoik^vj Manoel José Maria da Costa e Sá apresentou acom- panhado de varias reflexões o authografo das viagens do nosso hem conhecido. Padre. Jeronyitw Lobo., que nos faltâo em Por- tuguez correndo imjjressas em outras linguas : leu algumas Dissertações concernentes aos povos. Africanos das duas costas d^ Africa do Dominio Português ; bem como outra pertencen- te aos índios do Brozihy recitando também o elogio do Sr. José Corrêa da Sertã., ^ue foi .nosso. diátincta. Secretario.. .\Á-.\j,h\ oh oj^-iipv M vi:?L'c)(! c it;oo 0jÍ-)'[','ji 'Av.^í X&^jA «\i ^1l■»''\c1i, t^^íJ,^/. a-ihft1tk\ fthciWiVi. sins^rLn-; iu -^^- Os Srs. 'Directores destas trè§ classes",' cóm o Guarda Mor :de nossos estabelecimentos o Sr. Alexandre António -no-j Van- DAS SCIENCIAS DE I^ISBOA. XY Vandelli , Monsenhor Ferreira , a que depois de ouvidos os Srs. Bispo do Porto , e Joãq Pedro Ribeiro , se ficou unindo o Sr. Fr. Mattheus da Assumpção formarão a com- missãp a que se commetteo a proposta do mesmo Sr. Guar- da Mór, e que a Academia logo abraçou, de huma meda- lha pelas singulares mercês que ElRei Nosso Senhor Se tem Dignado liberalizar-nos ; o que , sendo benignamente acceito pelo Mesmo Augusto Senhor , não tardará em appa- lecer em publico. A commissão encarregada da publicação de nossas an- tigas Cortes recebeo para o seu trabalho importantes docu- mentqs do Cabido da Sé de Braga. A Instituição vaccinica procede louvavelmente na sua incunjbencia , não (oenos recommendada pela caridade christã do que pelas razões do Estado. Deu a Academia fiel conta das diíFerentes informações e trabalhos que por ordem superior lhe forão determinadas. Das Academias, Sociedades litterarias , e dos sábios Estrangeiros tem recebido a Academia neste espaço evi- dentes provas de consideração , como até se comprova vendo a lista dos donativos que hoje se distribue. Cumpre porem a triste recordação de nossas perdas, não menos fataes á Academia do que á nossa amada Pátria : Huma e outra mais não possuem os Srs. Ricardo Raymundo Nogueira , Conde da Feira , Ayres de Saldanha Conde da Ega , Pedro José de Figueiredo, Rodrigo Ferreira da Cos- ta , José Feliciano de Castilho , o Doutor Felix de Avelar Brotero, Luiz Gomes de Carvalho, Paulo José Maria Ciera, João Silvério de Lima , Fr. José de Almeida Drack , e dos Sócios Estrangeiros perdeu também o Sr. António Lourenço de Jussieu , Renato Justo deHauy, José Banks, Samuel Parkes , Frederico Bouterwek , Lowenorn : Varões todos beneméritos da mais viva saudade. Como dignos cooperadores que mostrarão ser para tra- balhos Académicos forão admittidos os Srs. António Feli- ciano de Castilho, Joaquim Maria de Andrade, Francisco Igna- xvr Historia da Academia Real Ignacio dos Santos Cruz, António Joaquim de Gouvêa Pinto , Fortunato José Barreiros , o Doutor Agostinho Al- bano da Silveira , Carlos José Pinheiro , António Lopes da Costa e Almeida , D. José Pavon de Madrid , Mablin , e Jullien de Paris, Musgrave de Alemanha. Nas eleições a que se procedeu passarão de Corres- pondentes para Sócios livres os Srs. D. Joaquim de Santa Anna Carvalho , Bispo Titular do Algarve , Fr. Joaquim Rodrigues , Jeronymo Joaquim de Figueiredo , José Accur- sio das Neves , José Cordeiro Feio , Visconde de Santa- rém , Francisco Ignacio dos Santos Cru/ , Joaquim Baptista de Souza. Para substitutos de eíFectivos sahírao os Srs. Manoel José Pires, José Accursio das Neves, José Cor- deiro Feio , Wencesláo Anselmo Soares , Fr. Mattheus da Assumpção. Para Director da classe das Sciencias Naturaes ou de observação sahio o Sr. Doutor Francisco Elias Rodrigues da Silveira; para a classe de Mathematica ou Sciencia de Calculo o Sr. José Maria Dantas Pereira ; e o Sr. Fran- cisco Ribeiro Dosguimaraes para Director da classe de Litteratura Portugueza. O Sr. José Maria Dantas Pereira , que por hum modo tão conspicuo desempenhava o lugar de Secretario da Aca- demia , rendido á moléstia que dolorosamente scffre ^ e não menos cm razão das suas gravíssimas occupações publicas, completando o triennio solicitou successor: Cahio a eleição na pessoa do Sr. José Accursio das Neves , que não accei- tando , foi motivo para que na qualidade de Vice-Secretario a que a benevolência da Academia me quiz então elevar, tenha tido de satisfazer ás difficeis funcções de seu Secre- tario, para as quaes desgraçadamente não sou sufEciente, mas em breve este lugar será dignamente supprido. Disse. DIS- DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. )lVi| DISCURSO Que lio dia i de Março de 1828 na audiência que no Real Palácio de Nossa Senhora d' Ajuda foi concedida d Acade- mia Real das Sciencias pelo Seu Augustissimo Presidente por occasião do seu feliz regresso a estes Reinos recitou o Vice-Se- cretario Manoel José Maria da Costa e Sd servindo de JV-# cretario d' Academia, sereníssimo senhor. A Academia Real das Sciencias , prezando a incompa- rável honra de ser presidida por Vossa Alteza , e guiada pelo seu fiel patriotismo , vem hoje expressar a Vossa Alteza o seu affecto , commum a todos os Portuguezes j pela sua chegada a estes Reinos. A prosperidade da Pátria, Sereníssimo Senhor, he o principal empenho dos trabalhos académicos a que Vossa Alteza preside, a útil applicaçao dos quaes, passa também agora a ser immediatamentc presente a Vossa Alteza como Regente do Reino : novo estimulo , a ser preciso algum mais , aos esforços académicos em tão nobre empreza ; por que servir a Pátria , sendo acceito a seus Principes , he do que só se satisfazem os elevados pensamentos Portuguezes. Este vinculo , na verdade de mui subido preço , de Vossa Alteza com a Academia deve despertar as melhores esperanças a toda a Monarquia. Os estudos públicos , e a cultura das letras e das sciencias delle cobraráõ nova vida, de que o Estado alcançará todos os outros vários benefícios quantos são os que alli se encerrão. T. X. P, II. **• Ah! )£rnr Historia da Acabemia Re al Ah ! a Providencia Divina que predestinou a Vossa Alteza para socõito desta leal nação , attenda nossas pre- ces , e nos continue esta benção , fazendo feliz o governo de Vossa Alteza. A este discurso dignou-se o Senhor Infante Regente de responder: Agradeço as expressões à^ Academia , que deve ficar certa do interesse que tomo nos seus progressos , a bem dos quàes farei qtMnto em mim couber. DIS- DAS SCIEHCIAS DE LiSBOA. XIX DISCURSO Dirigido d Magestade do Senhor D. Miguel Primeiro por occasiao da Sua exaltação ao Throno desta Monarquia ; pronunciado na audiência que para esse fim o Mesmo Au- gusto Senhor Foi Servido conceder d Academia Real das Sciencias de Lisboa no dia i ." de Agosto de 1828 pelo Fice- Secretario Manoel José Maria da Costa e Sd. MUITO ALTO E PODEROSO REI E SENHOR NOSSO. A Mercê, que Vossa Magestade acaba de fazer a es- tes Reinos, assumindo a Coroa, conforme as Leis Funda- mentaes delles dispunhâo, a fidelidade dos Povos supplica- va , e a salvação publica requeria , sendo , para os que se en- nobrecem do illustre nome Portuguez , objecto de pleno contentamento, muito mais he, para os que tem a singu- lar honra de pertencer a esta Sua Real Academia. Unidos pelo voto de servir desinteressadamente a Pátria , felicitâo-se vendo-a restituida á estabilidade , único principio da ventura dos Estados; e desvanecem-se , que tão assignalado beneficio seja devido a hum Príncipe , que pela Sua Magnanimidade Se tinha dignado Querer ser seu excelso Presidente : e ainda mais , quando da Real bene- volência de Vossa Magestade, possuem penhores da maior estima , análogos á fé com que a Nação toda hoje invoca o Seu Augusto Nome. O Génio , que nos levou a descobrir e a conquistar o Mundo, Muito Alto e Poderoso Senhor, ganhou animo nos *•» 2 fe- XX HlSTOBIA DA AcADEMlA REAL felicíssimos dias do Senhor Rei D. João I. , de boa me- moria , ao Reinado do qual , ç. em mais de huma circums- tancia, o de Vossa Magestade começa simiihante : O Paço Real foi então Academia universal de todas as sci- encias, necessárias a tão árduas emprezas : as virtudes que nos fizerão heroes , dispertarão-se no cuidado que merecia a historia da Pátria , servindo a severidade do seu exame para alcançarmos a sizuda gravidade Portugueza com que fomos distinctos : de taes elementos sahirão os prodígios desse Reinado glorioso , de que com tudo huma Rainha celebre ( *) se não admirava, pois os via próprios de hum Pai rodeado de seus filhos. ^^'l^^^ '}r^f\\' A Academia Keal das bctencias de Lisboa pertence esta recordação lisongeira , vendo , em Vossa Magestade repetido seu exemplo. — Vossa Magestade será o Pai da Pátria : a Providencia Divina continuará o seu auxilio , e a Pátria será restaurada á prosperidade de que he sus- ceptível , e que tanto merece. Todos os Portuguezes o dezejão , e esta Real Academia com o empenho dos seus desvelos e fadigas : Vossa Magestade assim Ha por bem avaliallo e reconhecello , quando Se digna deferir-lhe a sin- gular graça de querer acceitar esta pura homenagem do seu profundo respeito , acatado reconhecimento , amor , e- jamais desmentida fidelidade. Ao que ElRei Nosso Senhor com o modo mais aíFa- vel e gracioso Se Dignou responder : yícceíto as expressões da Academia; e Reconheça os seus bons sentimentos ; em todo o tempo não deixa" rei perder occaziao alguma de lhe dar provas seguras da Minha especial Protecção. CO- (a) A Rainha. Isabel de Casíella. DAS SCIENCI AS DG LiSBOi. QCXI Copia âo Decrete que ELREI NOSSO SENHOR Foi Servido expedir em mercê da academia e dos seus Sócios. ENDO a Minha Real Academia das Sciencias de Lisboa a consideração que desfrutou a Academia Real da Historia Portugueza , fundada pelo Senhor Rei D. João Quinto de gloriosa memoria , achando-se nâo só debaixo da immediata Protecção Soberana , mas gozando ainda da mui singular honra da Minha Presidência : E sendo próprio destas tâo relevantes circunstancias a contemplação de que se faz digna, e merecem os seus Membros, pela assidui- dade , desvelo , e desinteresse com que se empregão na cultura e estudo das letras , e sciencias , era beneficio , e serviço geral da Monarchia , e adiantamento dos conheci- mentos humnnos , com o que se fazem distinctos , não sen- do menos dignos pelas suas outras qualidades : Querendo dar-lhe hum testemunho do Meu Real apreço , e da esti- mação que de Mim merecem os progressos scientificos que tanto Desejo animar: Hei por bem , que todos os que go- zarem de Carta de Académicos da Real Academia das Sciencias de Lisboa , na concorrência ao Meu Palácio , e Morada Real sejão admittidos á Sala do Docel com as Pessoas, que pelos Foros , Jerarchias , Empregos, e Postos Militares ahi tem enrrad.i : E nesta intelligencia o Marquez de Torres Novas, Meu Mordomo Mor, faça expedir as ordens necessárias para que assim se fique entendendo , e execute. Palácio de Nossa Senhora d' Ajuda em 31 de Julho de 1828. Com a Rubrica de SUA MAGESTADE. No- xxH Historia DA Academia Real Noticia da Sessão Publica da Academia Real das Sciencias do i.^ de Dezembro de 1829. E. /lRei Nosso Senhor , Augusto Protector e Presidente da Real Academia das Sciencias de Lisboa , Tendo Deter- minado, que a Sessão Publica da mesma Academia fosse •no dia i.° de Dezembro de 1829 Faustissimo Anniversario da Restauração desta Monarquia pela Serenissima Casa de Bragança , assim se praticou na Sala dos Actos do Real Col- legio de Nobres , aonde no centro do Corpo Académico se achava levantado o Régio Throno de Sua Magestade. A's 5" horas e meia da tarde chegou ElRei Nosso Senhor ao edificio do dito Collegio, sendo recebido á porta pelo Corpo Académico , que foi acompanhando aSuA Magestade até á Tribuna Real da mesma Sala. — E logo que foi admittido o numeroso concurso dos espectadores , o Ex- cellentissimo Marquez de Borba , Vice-Prcsidente da Aca- demia , leo o discurso da abertura da Sessão , seguindo-se a conta d;is transacções ou trabalhos da Academia nos últi- mos quatro annos decorridos , pelo Vice-Secretario Manoel José Alaria da Costa e Sd ^ que se acha no exercicio de Secretario ; depois lêrão-se successivamente as seguintes Memorias : huma sobre a necessidade de refundir o Ro- teiro do nosso Pimentel, por José Maria Dantas Pereira : outra sobre a utilidade e nobreza da Medicina por José Pinheiro de Freitas Soares : outra sobre diversos manuscri- |)tos authógrafos e inéditos do Jurisconsulto Português Ignacio Collaço de Brito , por Fr. Mattheus da Assumpção : outra sobre a historia da antiga imposição , conhecida pelo nome de jugadas , por Joaquim José da Costa de Macedo ; e faltando o espaço para a leitura da conta dos trabalhos do DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. XXUI do Observatório Real da Marinha , por Mattheus Valente do Couto ; fechou-se a Sessão com o elogio histórico de José Corrêa da Serra , que foi Secretario da Academia , pelo Vice-Secretario Manoel José Maria da Costa e Sá : pelos circunstantes se distribuirão os Programmas da Aca- demia para os annos de 1830 e 1831 , e a lista dos do- nativos com que nos referidos quatro annos forao enrique- cidas as GoUecções Académicas. PRO- PROGRAMMA D A ACADEMIA REAL DAS SCIENCTAS DE LISBOA, ANNUNCIADO NA SESSÃO PUBLICA DO 1.» DE DEZEMBRO DE 1829. Nisi utile est quodfacimus , stulta est gloria. Para o anno de 1830. ±Í/M ECONOMIA RURJL. Qttaes são os primipaes estorvoí ao augmento das matas resinosas , e quaes os melhores meios de os remover; assim como , de fazer prosperar estas matas, ou Jf- jão publicas , ou particulares. EM MEDICINA Marcar quaes sejao os symptomas , que esta- belecem o diagnostico das inflammaçoes chronicas ; e se a dor e a febre devem reputar-se sempre essencialmente necessárias para caracterisar taes inflammaçoes ; e qual o tratamento mais se- guro para as debellar , logo que sejao capituladas : devendo es- te tratamento ser comprovado por meio de observações. EM CALCULO. Huma analyse comparativa de tudo o que tem sido publicado pela imprensa, em quanto d solução geral das equações de todos os grãos. EM MECHANICA. Huma descripção circunstanciada das me- lhores machinas de vapor empregadas na navegação , e em todos os trabalhos hydraulicos : demonstrando , se o fabrico, e uso de ca- DAS SciENCIAS DE LiSBOA. XXV cada huma delias em Portugal deve custar sensivelmente mais do que nos Estados Unidos , na Hespanha , Inglaterra , Hollanda , e França ; e quaes vantagens , ou desvantagens oferecem , compa- radas com Os outros agentes, empregados agora entre nós em iguaes serviços. EM HISTORIA PORTUGUEZJ. O estado da marinha , e da navegação portugueza , desde o descobrimento da Índia até a en- trada dos Filippes em Portugal. Para o anno de 1831. EM ECONOMIA RURAL , E DOMESTICA. Indicar as plan- tas que podem servir de alimento , e supprir em annos estéreis as que servem de ordinária sustentação: quaes são as que se dão melhor no nosso clima ; e quaes as que poderão cultivar-se nelle com vantagem , segundo a natureza dos diversos terrenos de Por- tugal ; mencionando os usos a que as mesmas plantas poderão ser destinadas , quando não sejao precisas para o mencionado fim. Mostrar qual seria o methodo mais vantajoso para a cultura do linho cânhamo em Portugal, especificando todas as circunstan- cias essenciaes para a sua melhor producção e qualidade , e in- dicar ao mesmo tempo o meio mais adequado de o preparar , afim de poder servir com mais utilidade e aproveitamento nos usos or- dinários ; tudo comprovado por princípios e experiências repeti- das e judiciosas. EM MEDICINA LEGAL. Determinar os pontos de contacto, que a sciencia da legislação tem com a medicina ; e quaes são os conhecimentos indispensáveis , que esta deve fornecer ao legisla- dor para o cabal desempenho dos códigos. EM CALCULO. Huma analyse , e comparação circunstanciada dos me t bodos de calcular a resistência dos fluidos. EM MECIíANICA. Entre os methodos de aproveitar a força das marés , determinar o mais vantajoso nas diversas paragens do nosso Reino. EM LÍNGUA PORTUGUEZA. Investigar a sui filiação , ou origem primitiva ; e o seu desenvohimento , e aperfeiçoamento progressivo nos primeiros quatro Séculos da Monarquia. E dc' T. X. P. IL *♦•* ter- XXVI Historia DA Academia Real terminar a sua affinidade , e relações com a Língua Latina , da qual vulgarmente se acredita ser filha , e herdeira. EM HISTORIA PORTUGUEZA Memoria Critica , que de- signe, e corrija, segundo as ultimas e mais apuradas investi- gações , os erros históricos , chronologicos , e geográficos que se achão divulgados em alguma das Compilações mats conhecidas da Historia de Portugal: v. gr. na Monarquia Lusitana , na de La Clede , na composta em Inglez por huma Sociedade de Littera- tos , traduzida por Moraes Silva ; ou em qualquer outro Histo- riador conspicuo. Assumptos fixos sem limitação de tempo. Hum epitome das leis agrarias portuguezas , publicadas desde 9 principio da Monarquia até ao presente , e os apborismos poli- tico-economicos , que das mesmas se podem deduzir a beneficio da agricultura , povoação , e commercio dos Reinos de Portugal , e dos Âlgarves. A dieta obra deve ser composta segundo o methodo seguido por Mr. Fournel na que imprimio em Paris no anno de 1819 com o titulo Les loix rurales de la France, rangées dans leur ordre naturel. A memoria que for approvada , ou que pelo menos mere- cer o Accessit , obterá o premio de huma medalha de ouro do valor de 50:000 réis. Ouaes se ião as causas existentes ou occasionaes da frequên- cia das ptysicas em Portugal, especialmente em Lisboa ; e qual a natureza ou espécie da que he mais geral, estabelecendo-se os meios de a prevenir , e o methodo de a curar , A vista de observa- ções practicas ? A descripção económica e physica de alguma comarca , ou território considerável do Reino , ou Dominios ultramarinos. A Historia da medicina Lusitana dividida em epochas , sen^ do a primeira desde a fundação da Monarquia até a acclamaçag do Senhor D. foao I. : a segunda desde esta acclamação até d do Senhor D. João IV. : a terceira desde este tempo até a reforma da universidade : a quarta desde a ultima precedente até os nossos dias : na intelligencia de corresponder a cada epocha huma me- dalha. Hum curso elementar completo de mathematica pura e appU- cada ; escrito em portuguez , e de sorte que cada huma das suas par- DAS SciENCIAS PE X^ISBOA. )(XVII partes corresponda ao estado actual da sciencia\ versando at applicaçÕes especialmente sokre a marinha. Algumas observares de eclipses do Sol, ou occultaçSes de eS' trellas pela Lua afeitas por navegantes portugueses em portos do Brazil ou da Ásia : especificandq os meios e instrumentos , de que se servirão nestas observações. Huma derrota de navegação alta, cujo merecimento se mos' tre distincto ou pela determinação exacta de algum ponto nota' vel, ou pela duração da viagem ser sensivelmente menor de que a ordinária , tudo em consequência dos princípios que para a mesma derreta se tenhão adoptado. O elogio de algum Portuguez i Ilustre. A historia philosophica do reinado de algum dos Senhores Reis de Portugal, comprovada com documentos authenticos. Huma tragedia portugueza. Huma comedia de caracter em verso , ou em prosa. Assumpto fixo, sem limitação de tempo, e com premio dobrado. Hum plano de canal para aproveitar as aguas de algum ria de Portugal na irrigação dos campos, com as nivelaçSes e cálcu- los para que a Academia possa conceitua-lo. Assumpto sem limitação de tempo, e com o premio extraordinário de 400 ooo réis. Qual he o methodo de curar radicalmente as disenterias chronicas , de qualquer causa que procedao ; fundado em princi' pios , e cnfirmado por observações practicas. Os prémios ordinários consistem em liuma medalha de ouro do peso de forooo réis : e todas as pessoas podem concorrer a cUes , á excepção dos sócios honorários, e efFectivos da Academia. Abaixo destes prémios principaes, propõe a Academia também a honra do accessit, que consiste em numa medalha de prata; e ainda abaixo desta a menção honorifica da memoria , que só disso se fizer digna ; a qual menção será feita nas suas Actas e Historia. Aí condições geraes para todos os assumptos propostos são: Que as memorias, que vierem a concurso, sejâo escriptas em portu- guez, sendo seus auctores naturaes destes Reinos; e em latim, ou cm qualquer das linguas da Europa mais geralmente conhecidas, sendo estrangeiros : Que sejão entregues na Secretaria da Academia **•* 1 pjr xxvni Historia da Academia Real por todo o mez de Junho do anno, em que houverem de ser jul- gadas : que os nomes dos auctores venbâo em carta fechada , a qual traga a mesma divisa que a memoria, para se abrir somente no caso, em que a memoria seja premiada : È finalmente qus as memorias premiadas não possao ser impressas senão por ordem , ou cora licen- ça expressa da Academia ; condição que igualmente se extende a todas as memorias, que, não obtendo premio, merecerem comtudo a honra do accessit. Mas nem esta distincção , nem a adjudicação do premio , nem mesmo a publicação determinada , ou permittida pela Academia , deverão jamais reputar-se como argumento decisi- vo, de que esta Sociedade approva absolutamente tudo quanto se contiver nas memorias , a que conceder qualquer destes signaes de approvação; porém somente como huma prova, de que no seu con- ceito desempenharão, «enão inteiramente, ao menos a parte mais importante dos assumptos propostos. LIS. DAS SciEHCiAs bfi Lisboa. xxix LISTA DOS DONATIVOS Oferecidos d Academia Real das Sciencias de Lisboa desde 7 de Julho de 1825' até o u" de Dezembro de l82p. E. fLREI NOSSO SENHOR E AUGUSTO PRESIDENTE — Mandou dar por Aviso de 21 de Fevereiro de 1829 da Keal Bibliotheca Publica 82^ vol. de differentes obras. A Academia Imperial das Sciencias de Petersburgo — Os 3p volumes das suas Memorias desde o anno de 178 1 , até 1826. — Recueil des Actes de la Séance solennelle deTAca- demie Imperiale des Sciences de Sc. Pétersbourg ténue à Toccasion de sa Fête séculaire le ij Décembre 1826; — Huma medalha de prata , que fez cunhar por motivo do sobredito anniversario ; — e o exemplar do poema que á mesma festividade dedicou hum dos seus Sócios. A Academia Real das Sciencias de Berlim — 20 volumes das suas Memorias pertencentes aos annos de 1786, a iSij, e inclusive. —Memoria de concurso da mesma Aca- demia sobre a exacta medição do angulo nos cristaes : por Adolfo Theodoro Kupffer. — Informação das Viagens de Historia Natural feitas pelos Senhores Ehrenbag e Hem- prich, no Egypto , Bengala, e Arábia, nos annos de 1820, a 1814 , lida na dita Academia pelo Snr. Alexandre de Hum- boldt. A Sociedade Real dos Antiquários do Norte em Cope- nhague — Hum exemplar do Relatório dos seus trabalhos e transacções pertencentes aos annos de 1825', 1826, ei827, com XXX Historia da Academia Real com a copia de huma inscripção Runica existente na Groe». landia. A Congregação do Oratório na Caza do Espirito Santo — Memorias para servirem á Historia do Reino do Brazil: pelo Padre Luiz Gonçalves dos Santos. O Exc, Snr. Duque do Cadaval — Franqueou ao uso d'Academia o códice da Chronica d'ElRei D. Sebastião por António Vajena. O Exc. Snr. Conde de Basto — Franqueou ao uso da Aca- demia hum Códice coevo da Chronica de D. Pedro, pri- meiro Governador de Ceuta. O Exc. Snr. Visconde de Santarém — Offereceo três exemplares das suas seguintes Obras : Analyse-historico- nummismatica d'huma Medalha de ouro do Imperador Ho- nório. — Memorias chronologicas authcnticas dos Alcaides mores da villa de Santarém. — Memorias para a historia e tlieoria das Cortes Geraes , que em Portugal se celebrarão pelos Três Estados do Reino. O Exc. Snr. Conde do Rio-Pardo — Deu dois manus- criptos em linguagem, e caracteres Siamezes : hum tratan- do do calculo dos Eclipses , e dos movimentos do Sol : e outro hum Poema em seu louvor. O Exc. Snr. tbomaz António de Villa-nova Portugal — Hum exemplar da Obra d'Architectura Toscana , de Gram- Jean , cm folio grande. Pariz : 1 8 ly. — O Desenho da Pra- ça do Commercio do Rio de Janeiro: obra do mesmo A. — A Obra : L'Italia avanti il dominio dei Romani. Floren- ça 1810. 4 vol. 8.% e hum d'estampas. — Huma grande pelle cortida de huma cobra do certão do Rio de S. Fran- pisco no Brazil. O DAS SciENCiAS DE Lisboa. xxxr O Snr. Silvestre Pinheiro Ferreira — Ensaio sobre a Psychologia. — Obscrvations sur le Manuel Diplomatique de Martens. — Synopsis do Código civil. — Collection des chroniques nationalcs trançaises par Buchon. — Histoire abre- gée dcs Sciences metaphysiques , moraies et politiques, trd- duite de Tangiais par Buchon. O Snr. Barão da Filia da Praia — Mandou , por melo do Snr. José Maria Dantas Pereira , o manuscripto = Na- vegação feita da cidade doGram-Pará, até a boca do Rio Madeira, no anno de 1749; por José Gonçalves da Fon- seca , no mesmo anno : com a condição de ser entregue se não fosse impressa. — Hum vidro contendo hum verme intestinal. O Snr. Félix do Avelar Brotero — Os exemplares das suas obras = Noções Botânicas das espécies de Nicociana mais usadas nas Fabricas do Tabaco. — Historia natural dos Pinheiros Larices , e Abetos. — Historia natural da Or- zella. — Noções geraes das Dormideiras, da sua cultura, e da extracção do verdadeiro ópio , que ellas contem. O Snr. Conselheiro João Pedro Ribeiro — Hum Livro manuscripto = Plantas do Certao do Gram-Pará. O Snr. José Accurcio das Neves — Dois exemplares das suas obras — Entretenimentos cosmologicos , geográficos, e históricos. — Noções históricas, económicas, e adminis- trativas sobre a producção , e manufacturas das Sedas cm Por- tugal. — Cartas de hum Portuguez aos seus concidadãos sobre differentes objectos de utilidade geral. — Vários exem- plares da =: Descripçãod'hum Bote de vida, traduzida do In» glez : por A. Barão Mascarenhas , de Ordem da Real Junta do Commercio , Agricultura, Fabricas, c Navegação. XXXII Historia da Academia Real O Exc. S»r. José Maria Dantas Pereira — Vários exem- plares das suas seguintes Obras : Memoria sobre a preci- são de se concluir a composição da Ordenação Naval , com a maior brevidade possivel. — Reflexões sobre hum parecer acerca da competência do Real Conselho da Ma- rinha. — Quadro comparativo da Despeza da Marinha Portu- gueza em 1826, conforme o que a este respeito existe impresso. — Appendice á Memoria sobre a precisão de se concluir a Ordenança Naval. — Memoria sobre os princí- pios de Calculo superior. — Escritos Marítimos e Académi- cos , a bem do progresso dos conhecimentos úteis , e mor- mente da nossa Marinha , Industria , e Agricultura : im- presso em 1828. — Additamentos ás noções de Legislação Naval Portugueza. — Memoria sobre as Longitudes. — En- saio sobre huma comparação das Marinhas Portugueza , e Sueca. — Carta demonstrativa , de que felizmente ainda bas- ta combinar a melhor receita com a melhor despeza , para conseguirmos anniquilar as dividas publicas de todas as classes. — Huma vinheta lithografada. O Snr. Conselheiro Manoel José Maria da Costa e Sd — Oflereceo o manuscripto antigo em lingua Castelhana: Descripção, e descobrimento do Rio da Prata. E para se copiarem os seguintes manuscriptos : — Historia da Praça d'Arzilla , com a noticia das cousas que se passarão em Africa desde o anno de 15-08 até ijéi : composta por Ber- nardo Rodrigues. Anno de ijói : — outro relativo ao Rei- nado d'ElRei D, Sebastião : e outro — Appendice ao Diário das Viagens que em visita e correição das povoações do Rio Negro fez o Ouvidor , e Intendente Geral da mesma Capitania Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio. — Deo para o Museu da mesma Academia — huma porção de en- xofre ; e outra de sal das Ilhas de Cabo verde , assim como varias Aves , conchas , e zoofitos das mesmas Ilhas ; e hum vidro com sementes da preciosa arvore de Teka. Mott- DAS SciENCiAS DE Lisboa. xxxni Monsenhor Ferreira Gordo — Offereceo : Projecto do Pa- lácio Real — Doações , Privilegies, Isenções e Franquezas, concedidas ao Snr. D. Duarte , filho do Infante D. Duarte, e neto do Snr. Rei D. Manoel. He manuscripto copiado pe- la sua mão d'outro antigo, que lhe pareceo ser original, foi. — Evangelho de S.Marcos , traduzido por João Ferreira de Al- meida com Summarios dos Capítulos da letra e composição do Snr. António Ribeiro dos Santos, mss. 4.° — Bibliothe- ca Riberiana , ou Catalogo Systematico das Obras do Snr. António Ribeiro dos Santos , escrito por elle mesmo , e copiado pelo dito Monsenhor, mss. foi. — Memorias para a vida de Francisco Dolanda , célebre Pintor Portuguez do século desescis , colligidas , e relatadas pelo dito Mon- senhor, mss. foi. — Memorias para a vida do Snr. António Ribeiro dos Santos, colligidas, e relatadas pelo dito Monse- nhor, mss. 4.° Alem das obras, que ficão referidas, offereceo as se- guintes para copiar , com reversão para o seu poder depois de copiadas : Annotações ao Evangelho de S. Marcos , pelo Snr. António Ribeiro dos Santos, mss. 4.° — Privilégios de que gozâo os Portuguczes residentes na Cidade de Macáo. mss. 4.° — Primeira e segunda Parte do índice Chronologico Re- missivo da Legislação Portugueza, do Snr. João Pedro Ribei- ro , addicionadas , e corrigidas mui respeitosamente pelo so- bredito Monsenhor. — índice Chronologico das Leys Portu- guezas dos séculos 17618 pelo sobredito Monsenhor, mss. 4.° — índice Geral da Legislação Portugueza, relativa á Bul- ia da Cruzada , pelo sobredito Monsenhor, mss. 4.° — índice Geral da Legislação relativa d Real Bibliotheca Publica da Corte , pelo sobredito Monsenhor, mss, 4,° O Snr. Fr. José de Santo António Moura — Hum exem- plar da Historia dos Soberanos Mohametanos , que havia traduzido , e a que accrescentou o origmal Árabe ao lado da dita traducção. T.X.P.IL ***** O xxxiv Historia DA Academia Real O Snr. Ignacio António da Fonseca Benevides. — Hum exemplar dos Estatutos da Universidade de Coimbra , da edição de 165*4. O Snr. Aitonio d^ Almeida — Hum exemplar da Obra do Arcebispo António Agostinho , sobre as Antiguidades Romanas e Hespanholas. — Ordenanças Reales , impressas cm Sevilha em 14515. — Autos da Barca do Inferno, por Gil Vicente, impressos em 172?.— Julii Caesaris Bulen- geri Historiarum sui temporis Libri tredecim. Lugduni 1619 , I vol. foi. — Joannis Stobsei Sententix ex thesauris Grsecorum selectx &c. Tiguri 1543 , i vol. foi. O Snr. Barão d'Eschwege — Relatório abbreviado sobre o estado actual das Minas de Portugal. — Hum exem- plar da sua obra em Allemão, impressa em Brunswich em 1824. — O Brazil ou o Mundo novo em sentido topo- gráfico, geognostico, montanistico &c. O Snr. Jtitonio Joaquim de Goiivêa Pinto — A Collec- ção das suas obras impressas , a saber : Resumo Chrono- loeico de vários artigos de Legislação. — Tratado de Tes- tamentos e successôes. — Manual de Appellaçóes e Aggra- vos. — Memoria sobre o Direito e pratica das Licitações usadas nos Inventários. — Providencias sobre a creação e educação dos expostos. — Demonstração dos Direitos do Snr. D. Miguel ao Throno Portuguez. — E a reimpressão que fez da Carta de Privilégios da Nação Portugueza, ratificados pelos Filippes. O Snr. D. José Pavon — Systema Vegetabilium Flor» Peruvian» et Chilensis-Laurographia , e os esqueletos de 13 espécies novas de louros. l)As SciENciAS DE Lisboa. xxxv O Snr. Julien de Paris — Vários Números da Revista Encyclopedica , e vários exemplares do seu Prospecto. — Le Tombeau d'un jeune Philhellene. — L'émpIoi du Temps — Essai general d'cducation Physique, morale, et intel- lectuelle &c. O Snr. De Lowermn — Duas Cartas: Huma da Islândia , c outra da Groelandia, com o seu roteiro ; e mais três exempla- res de Ephemerides para os annos de 1815', 1826, e 1827, O Snr.Mablin de Paris— %o Exemplares do Folheto: Lettre à 1' Academia Royale des Sciences de Lisbonne sur le texte des Lusiades. Paris 1826. O Snr. Musgrave — Hum exemplar da sua traducçâo dos Lusíadas em verso Inglez. O Snr. jígostinho Albano da Silveira — Hum exemplar da obra: Primeiras Linhas de Chimica e de Botânica, . O Snr. António Feliciano de Castilho — Hum Exemplar das suas Cartas de Echo a Narciso. O Snr. José Feliciano Fernandes Pinheiro — Hum volume de Annaes da Capitania de S. Pedro no Brazil. O Snr. Joaquim Pedro Cardozo Cazado Giraldes — Os 3 volumes da obra: Tratado completo de Cosmografia, e Geografia histórica , íysica e commercial , antiga e moder- na : e o Compendio de Geografia histórica antiga e mo- derna, e chronologia; para uso da mocidade Poriugueza. ■ ■ ' '' 'y I O Snr. José Avelino de Castro — Hum exemplar da Ora- ção que recitou em 26 d'Outubro de 1827, Anniversario de Sua Magestade. xxxví Historia DA Academia REAt O Snr. Alberto Carlos de Menezes — Hum exemplar da soa obra : Plano da reforma dos Foraes. O Snr. yf. Menezes de Drtimnond — Huma obra acerca d'Africa antiga e moderna : varies exemplares de humaOde aos Gregos em Portuguez , e outros exemplares d'huma re- presentação sobre a escravatura', pelo Snr. José Borrifacio d'Andrada e Silrai O Snr. Ferdinand Denis — A sua obra sobre a Litteratura Portiigueza. O Snr. José Joaquim de Miranda — Huma Funda aper- feiçoada , acompanhada d'huma Memoria que lhe serve de exj^icação. ' O Snr. Carlos Chrétien Rafn , Doutor em Filosofia , e S^cfiiafio da ' Sociedade Real dos Jntiqtiarios do Norte — O exemplar da sua edição de Krákumal , er etc. , isto he. Ode de Kraka ou canto do cisne de Ragnar Lodbrok, Rei ide Dinamarca. o Snr. Francisco Evaristo Leoni — Hum pequeno volu- nié de Poesias Erotitâs, úvu.v.i .1 ^i,xV. O Snr. Vicenzio Mazza — Dois v^umes do seu Curso completo de Cirurgia vôterinafia;impres$o «rai Nápoles em 18274- . '.' ' ■•■'-' "'- -O o Guarda Mor dos Estabelecimentos 7- Recolheo para^ o Museu, vários Petrificados dos arredores , de Lisboa , eaU guns fosseis que trouxe da Villa das Caldas da Rainha. •! i.iv. . ; :-:ii , ■■• ' ju'ó òt 019 XKJJÍotn aiip ot;? DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. XIUCVII DISCURSO Pronunciado na Sessão Publica da Academia Real das Scien- cias de i^ de Dezembro de 1830. PELO EX,»" MARQUEZ DE BORBA, VICE-PRESIDENTE. N. A ultima Sessão Publica da Academia e neste mesma lugar nos promettiamos , que chamada , convidada do Au- gusto Protector e Presidente , posto que pelo crgão de huma voz fraca , acudiria sem demora , responderia com perfeita submissão , e com dobrado ardor proseguiria nos seus empenhos iitterarios ; levando os olhos fitos na gloria c proveito da Pátria , e no serviço e approvação do Mo- narcha. Fundavâo-se as nossas esperanças no brio honrado de toda esta illustre Sociedade , no pessoal conhecimento qtte temos das luzes , nobres estímulos e lealdade de cada hum dos seus Sócios ; e de mais a mais na efficacia ma- ravilhosa j que teve em todos os tempos , e certamente conserva ainda hoje , o brado do seu Rei sobre os corações de Portuguezes : e nâo podiâo ser esperanças vaas , ag que, assentavão cm tão solido fundamento. Não o forão na verdade : e sem embargo do diminuto numero de Sócios (diminuição causada por notórias circun- stancias) , sem embargo de outras difficuldades , que também Rio sío desconhecidas , o zelo , o respeito e o amor rora" pe- \ xxxviir Historia da Academia Real perão por tudo , e supprindo com esforço o numero , al- cançarão victoria das difficuldades. Mostrallo-ha logo a re- lação dos seus trabalhos no decurso deste anno ; e confia- mos que o Publico ficará convencido de que não encare- cemos a valentia do esforço , e por isso mesmo de que nem errávamos no conceito egrégio das pessoas , nem da sua honra e préstimo esperávamos com imprudência. Não forãó os trabalhos da Academia no presente an- no só recommendaveis pela valentia do esforço e victoria das difficuldades ; mas particularmente o forão pela grave importância de seus objectos. Cansado e indignado está o Mundo de vêr esperdiçados os trabalhos de homens de engenho em fúteis especulações , em temerárias emprezas , que por seus funestos resultados perturbâo a sociedade hu- mana , deshonrão os Estudos , e talvez levão as pessoas , que pensão menos profundamente , a ter em desprezo a nobre profissão das letras , e a olhar com desdém para as suas fadigas; tão merecedoras aliás de louvor , e mesmo de applauso , e de agradecimento , quando são governadas pela discrição. Nem he esta a primeira vez que o desatino de sofis- tas deshonra e quasi que envilece a verdadeira sabedoria : os antigos Gregos e Romanos o presenceárão e lamenta- rão, quando a Soberana Authoridade se vio obrigada a des- terrar os Filósofos. Mas que tem a liga com a natureza estreme do oiro ? Golhe-se todavia destas advertências da antiga Historia e da nossa própria experiência , não sei se ainda mais severa que a dos antigos , que se não guarda modo , a mesma sabedoria se infatua ou se torna insânia , e que para o guardar he necessário que a Authoridade So- berana seja vigilante, tome cautelas, e applique discretas restricções , não para impedir hum voo generoso , mas para atalhar o precipício da temeridade. Desde a sua instituição se governou por estas ponde- rações a nossa Academia , tomando desde logo por divi- sa , que onde não ha real proveito da humanidade , não po- DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. XXXIX pôde haver bem entendida gloria ; e pede a rigorosa jus- tiça que reconheçamos , que nem hum só passo tem dado em desvio da sua divisa. Sempre coherente , não era de esperar que deixasse de o ser agora ; e os seus trabalhos , como hiamos dizendo , forão neste anno particularmente re- commendaveis pela grave importância de seus objectos. Daremos por testemunho , entre outros , a Historia da Ma- rinha Portugueza , offerecida por hum Académico respei- tável , que não pôde , ainda mal , ser presente a esta Ses- são , mas que não cessa de dar provas da sua erudição e talentos , do seu puro e leal patriotismo , e do seu affecto á nossa Academia. A Historia da Marinha Portugueza he a da gloria im- mortal destes Reinos. Por seu meio descobrimos novos ca- minhos i communicação do Mundo, por seu meio fomos hum tempo os árbitros do Oriente , por seu meio fomos os exemplares , que incitarão a emulação dos outros Povos da Europa ; e todos elles sabem que estes desafogos do nosso zelo , não são ostentações de mentirosa jactância. Oxalá que as recordações da nossa gloria marítima nos incitassem á pontual imitação de nossos maioi^s ! Oxalá que tornássemos a surcar com o mesmo ardor o caminho da hon- ra e prosperidade , que a sua sabedoria nos mostrou , e a que nos chama , não só convida , a nossa situação e a nossa condição actual ! Nós o esperamos do sábio e paternal affe- cto , com que se desvela o Monarcha pela verdadeira feli- cidade e esplendor de seus Reinos: e até esperamos, que a tão altos fins sirva a Historia offerecida pelo nosso res- peitável Académico ; que nao poderamos produzir maior argumento da sua importante gravidade. Académicos, vós sabeis que o nosso Augusto Presi-, dente está satisfeito de vossos trabalhos , por sua direcção encaminhados : elle reconhece a vossa briosa cooperação , e tem por certo que continuará sem differença assim no ardor do desempenho , como na gravidade das emprezas. E nós só podemos accrcscentar que com o louvor relevante de hon- XL Historia da Academia Real honra e sabedoria que até aqui grangeastes , vos tendes obrigado a procurar igual e ainda maior louvor para o fu- turo ; e que não temos nem sombras de receio , de que falteis hum ponto ao cumprimento de tão sagrada obri-. gação. DIS- 'das Sciencias de Lisboa. xu DISCURSO HISTÓRICO Recitado na Sessão Publica de 13 de Dezembro de 1830. PELO V I C E -S E C R E T A R IO MANOEL JOSÉ' MARIA DA COSTA E SA\ E, íi.Rei Nosso Senhok , Excelso Presidente desta Acade- mia , que Se Tiaha Dignado contemplar a sollicitude com <]ue procuramos executar nossos deveres , em face de emba- raços de varia espécie, sem aspirarmos a outra recompensa mais do que á satisfação da própria consciência; Houve por bem que obtivéssemos a inapreciável honra do esplen- dor da Magestade de Sua Augusta Pessoa na conta publi- ca de nossos trabalhos , testemunho elevado e mui positi- vo da Real Munificência com que He Servido Acceitar o humilde tributo da nossa leal applicação , e da mercê com que Se Apraz acolher os serviços da ordem litteraria : mo- tivo plausível porque se transferio para hoje esta Sessão: Entregues aos sentimentos do mais puro regosijo e de não menos profundo e respeitoso reconhecimento para com a benevolência Soberana que assim nos faz distinctos , e nos remunera , demos principio a este acto com a singela exposição de nossas transacções , segundo a classe a que pertenção. T.X. P.II. ****** Sci~ SSK Historia da Academia Real Sciencias de Observação. O Snr. Joaquim Pedro Fragoso leu a interessante — ConsnJtn. da Jntiga Jtmta de ^gticultura ê Mitiaí que houve veste Reino acerca das Ferrarias de Thomar ; as Memorias , qite tem colligido das Plantas Oleosas , ou de que se pode ex- trahir azeite, especialmente da Faya , c do Loureiro; eh uma sobre a cultura do uiniieiro ; objectos todos assas recom- mendaveis á "hossa industria agricola , e que jusiificáo a as- sidua e zelosa applicaçáo do seu author. O Snr. Barão de Eschwege participou-nos a sua == Correspondência com o Barão de Humboldt sobre a riqueza das Minai de alluvião do Brazil , comparadas com a das Monta- nhas do Ourai ^ que o mesmo Barão de Humboldt acabava de visitar por ordem da Corte da Rússia ; apresentou-nos hum Mappa das alturas de alguns montes e terras do Reino ; e leu huma interessante Memoria Geognostica dos circuitos de Lisboa^ objecto ainda pouco tratado entre nós, e de que teremos a vantagem de ouvir ler o seu extracto, feito pe- lo Snr Dr. Francisco Elias, Director desta Classe. Do Snr. Dr. José Pinheiro de Freitas Soares tivemos a = Memoria das qualidades e deveres do Medico, O Snr. Luiz da Cunha Castro e Menezes remetteo- nos huma pequena = Memoria das Analyses das Aguas Mi- iteraes da Comarca de Castello Branco. O Snr. Ignacio António da Fonseca Benevides apre- sentou-nos os seus trabalhos para huma =: Biografia , e Bi' hliogrnfia dos nossus Médicos , Cirurgiões e Boticários ; obra que demanda laboriosa diligencia , e que concluída , dará grande nome ao seu author , servindo de auxilio á historia da Medicina Lusitana do nosso consócio o Síír. José Ma- ria Soares fallecido na flor da sua idade. Do Snr. Alexandre António Vandelli , Guarda Mór da Academia recebemos importantes =: Additamentos d Flora Farmacêutica e Alimentar do Sitr. Jerojiymo Joaquim de Fi- guei' DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. XLUI gueiredo ; e que comprehendem as propriedades e usos das ditas plantas , que são huma talta essencial naquella obra. Manoel José Maria da Costa e Sá , leu huma = Col- he f ao de Noticias que colligio sobre o Cabo do norte na Costa Occidental d Africa ao sul de Benguela j que tanta attenção nos deve merecer ; e do fallecido sócio o Snr. Alexandre Rodrigues Ferreira a Memoria do Gentio Mura habitante dos certões doBrazil. Sctencias de Calculo. Do Síír. José Maria Dantas Pereira tivemos a interes- sante = Memoria principalmente dedicada d Hydrografia do Brw sil j e do conceito que corresponde aos trabalhos respectivos de Mr. Roussin , fructo de sua infatigável applicação c zelo Académico , e não menos do seu patriotismo em querer rcvindicar a reputação dos trabalhos dos nossos astróno- mos e navegadores : Nós teremos a satisfação de lha ouvir lêr. Do Snr. Francisco Pedro Celestino tivemos = Hum iiovo Systema de Fortificação , a que chama Portuguez ; dois Opúsculos sobre o ^.° volume ã" Ârchitectura de Ântoni ; três volumes d* Architectura militar : Quando reflectirmos na atten- ção que hoje merece entre as outras nações o novo pro- gresso que apresenta a sciencia da Fortificação , em recom- mendação divida cumpre tenhamos os estudos do Snr. Ce- lestino, sobre hum objecto, que, por mais de hum titulo, nos he capital. O Snr. Evaristo José Ferreira enviou-nos = Esclare- cimentos sobre o Tratado de Hydrominanica de Mr. Bossut. O Sfír. Mattheus Valente do Couto como Director do Real Observatório da Marinha , continuou a communicar- nos as ■=:: Observações Astronómicas alli feitas pelos Snrs, António Maria da Costa e Sá , c António Diniz do Couto Valente. O Snr. António Diniz do Couto Valente proseguio no .xLiv Historia da Acaoemia Reai calculo das = Epbemerides de que se a chão no prelo as de 1832. O Srir, António Maria da Costa e Sá dedicou-se ao laborioso = Calculo dos Eclypses das Estrellas pela Lua, ejá nos deu os do anno que findou, e os de todo o anuo pró- ximo de 1831 que jd se achão impressos. O Snr. António Pussich enviou-nos a sua = Hydrogra- fia das Ilhas de Cabo Verde. TM ter atura Portug«eza. O Snr. António d'Almeida , de Penafiel remetteu- nos o = Exame Comparativo de Cbronicas Portuguezas re- lativamente ao governo do Sfír, Conde D. Henrique, testemunho seguro da sua applicaçao, e do seu desempe- nho annual para com as funcçócs de Sócio benemérito. O Snr. José Accursio das Neves leu parte das suas — Memorias sobre os Estabelecimentos Ultramarinos da ilação Portugueza. Do Snr. Ignacio da Costa Quintella recebemos a = Historia da Marinha Portugueza , que chega já até ao fim do Reinado do Snr. D. João II. ; e em que prosegue com indisivel fadiga , e louvável diligencia : Obra de grande primor e esmero , que a nossa superior gloria marítima ha muito parecia reclamar de hum seu Oííicial que soube com intrépido animo e pcricia , cm desesperado conflicto, sustentar immune o antigo brio Portuguez. Do Snr. Fr. Joaquim Rodrigues tivemos o = Elogio a ELREI NOSSO SENHOR. O Snr, Fr. Mattheus d'Assumpção principiou a leitu- ra de huma interessante — Memoria sobre a Indu.tria e Com- mercio de Portugal na primeira época da Monarchia , isto hc , do governo do Snr, Conde D. Henrique até ao fim do Reinado ia Sftr, D. Àffonso ni\ da qual teremos o gosto de ouvir ler parte ao próprio Author. O Snr. José Manoel Ribeiro Vieira de Castro, enviou-nos a DAS SCIENCIAS DE LtSBOA. XLT a sua =: Traducfão em veno da Epistola lo ão Livro i." dg Horaci». Do Sfír. Joaquim José Pedro Lopes tivemos = Noticia de buma viagem d Grã- Bretanha por Manoel Gonçalves de Lis- boa , escritor desconhecido aos nossos biógrafos; e a vergão de huma nota sobre os Descobridores da Nova Hollanda te- rem sido Portugueses. Manoel José Maria da Costa e Sá leu o =r Elogio Histórico do Síír. Pedro José de Figueiredo Sócio d'Atade- mia nesta mesma Classe. Reunida em sessão extraordinária a Classe das Sciencias de Calculo para se pôr em execução o projecto do Snr. José Maria Dantas Pereira seu Director, da rcfundiçáo do Roteiro do noxi:< Historia da Academia R.£al -oncweA ^uco m.-.íiU í! I- ,,".> 'íiJ^' .■ - ]/■ "'^ ""ttSIE j;Ss' PO N A T I V o s. ...u A» ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS ohr , cirníbeoA f,b ,DE LISBOA'' \o^-> oo 11 ^j3 3d-uoa^iQ Desde o i.° de tàe&efnbro de 1^20 . até íi de Dezembro de f" '^ o -fc— »p ^ 2?ea situação Geográfica e Topográfica de Arrifana de Sousat §. I. V-/ Lugar e Villa de Arrifana de Souza ^ ho- je Penafiel , está situada , segundo as observações mandadas á Academia Real das Saencias de Lisboa, em 40.° 18' de T.X.P.II. A lat.. 2 Memorias DA Academia Real lat. , e IO." de longit. {a) Porém esta posição varíà mui- to entre os Geógrafos: por quanto Rodrigo Mendes da Sylva a colloca em 4i.°io'de lat., e ç.^jVde long. Ro- berto em 41.° 10' de lat., e 9.° 2j' de long. Jacpcr Nen- teat em 41.° 24' de lat., e 8.* 3' de long. Jefftrys em 41.° 13' de lat., e 7.° 19' de long. §. II. A variação nos gráos de latitude não deve cau- zar admiração , por quanto pende esta da situação do pri- meiro meridiano , a qual he variável ; não acontece porem o mesmo com a longitude , que tem no Equador hum pon- to fixo e immutavel , e por consequência a diíFirença de gráos em os Mappas he erro indispensável em algum del- les : e se a differença somente de hum gráo não he indif- ferente , quanto o não será a de dous , e até de três. Eis aqui huma prova da imperfeição da nossa Geografia. Po- der-se-ha pois remediar o mais aproximadamente possível esta falta pela maneira seguinte. Determinada a latitude e longitude da Cidade do Torto , como Arrifana de Souza fica a leste desta Cidade na distancia de seis legoas , se accrescentará á longitude da mesma Cidade a terça parte de hum gráo; ou 20' pela medida de 18 legoas Portuguezas a cada gráo; e ficando ella ao norte da mesma na direcção visual de duas legoas quando muito , se accrescentará a latitude marcada mais a nona parte de hum gráo, ou 7' e 27", arbitrio que so- mente tem lugar na falta da medida Geográfica da Acade- mia. §. III. Marcada a posição Geográfica segue-se agora determinar a Topográfica pela maneira seguinte. Acha-se ^Arrifana de Souza no Reino de 'Portugal e na Província de Entre Douro e Minho , passando pelo meio delia huma das estradas mais frequentadas do Reino, qual a que da Cidade do Porto sahe para a maior parte da Província de Trai («) Geografia de fiego T. L pag. 320. DAS SciENCIAS DE LiSBOA. y Primeiramente a mirif.amma não era bandeira quadrada, mas sim pendão farpado : (a) em segundo lugar se ella era signa! de victoria contra os Infiéis, como foi ella dadiva do Ceo aMefOuâo também Infiel, porquanto elle foi Avò de CJovis o primeiro Monarca Catholico da França ? (b) em terceiro lugar a mencionada bandeira era insígnia par- ticular ao Mosteiro de S. Diniz , sendO levada pelos Con- des de Pmtoise ^ como defensores do mesmo Mosteiro, nas guerras que occorrião , quando o território ou bens delle erão invadidos (f) ; sendo Lui% o grosso o primeiro M.jnarca que introduzio o costume de receber a auriflamma do altar de S.Diniz por occasião da guerra, que em 1124 lhe moveu o Imperador e seus alliiidos {d) Cbmo pôde julgar-se verídica huma etymología fun- dada em tantos erros históricos ? e quanto mais absurda cila não hc na supposição de ser FaiÕo Soares o fundador de Arrifaiia ? por quanto neste caso a etymologia era doua séculos anterior á vinda dos primeiros Francezes ao Porto. §. III. Não contentes com esta etymologia que não im- pugnâo, vão outros buscar aquella de aurifana.OM templos de ouro , e que os Mouros corromperão em arrifana , voz significativa aíiudindo aos templos ricos com que seria orna- da , encontrando na palavra Bethelem , imposta tantos séculos antes de se preencher o seu significado , hum abono des- ta etymologia, {e) ' Esta derivação porem não tem lugar não so perfazer subir a existência de Arrifana ao tempo dos Romanos ^ o que senão prova , como se disse no §. II, do Cap. II. , mas também porque duas Igrejas e três Capellas são insigni- ficante objecto para ser profetizado. X (a) Blntean vocábulo Auriflamroa. (ô) Dictionaire historique. Merovée, Cbilderiqne , e Clóvis. (c) Bluteau. vocab. Auriflamma. (d) Siecies Chretiens T. V. pag. 53. (e) Alguns M. S. que ha sobre Arrifana de Souza* 9 Memorias da Academia Real §. IV. Ainda he mais fantástica a etymologia que llie dá o Padre João de Meirelles Beça dizendo que Arrifana provêm do vtjcabuloflm Arab CO que significa dd ca , efana Latino ou templos , nome assim imposto pelos Árabes pe> las muitas riquezas- dos templos que encontrarão nesta po- voação {a) •, não so por se ver reproduzido o que impugna- mos no §. III. deste capitulo ,, mas também peia falsida- de da significação do vocábulo arri ^ que sendo imperativo do arrd ^ quer dizer move-te ^ anda ^ desperta-te. (b) §. V. Não falta quem deduza este nome Arrifana do sitio e lugar que occupa a Povoação , dizendo assim Airn- faina ou trabalhos de Átrio ^ por ser chamado o monte em que está edificada a Povoação Airio ^ ç faina significar trabalho , e por tanto custosa subida ou descida do mon« te Airio (c) Porem que provas se produzem para mostrar ser o monte , em que está edificada Arrifana , o monte Airio ? Mas tal he o desejo de querer fazer conhecida a sua pátria , que não duvidão despojar outras terras para adornar a sua. Fi- que embora o Concelho de Penafiel de Bastião no termo de Barcellos sem o seu monte Ayró (d) , huma vez que al- guma semelhança de nomes possa encobrir o roubo. §. VI. Deduzem outros a mencionada etymologia dos vacabulos Portuguezes arre e fana ou fanada ; encontrando •a origem nas figuras que em relevo se achavão no cunhal de humas casas desta Povoação, declarando que huma das figuras era a cabeça de hum jumento sem orelhas , e por isso com impropério aos moradores lhes dizião arrefana ou fanada. Tão rústica fantasia não merece refutação , e em ou- tro lugar se falará acerca destas figuras. §. (a) Arrifana de Souza Illustrada. M. S. (è) Vestígios da Língua Arábica em Portugal, vocábulo arre, (c) Arrif. de Souza lUustr. {d) IJobiliarclúa fortugueza de Sampaio Cap. IX. pag. 91. DAÍ SCIECIAS DE LiSBOA. ^ §. VII. Fr. João de Souza dá a Àrrifatia de Souza ety- mologia Arábica dedu^indo-a de ^rraè^zw^í , que significa Ãor- ta (a) , e ainda que em nossos dias não se encontra exacta correlação com o significado , com tudo isto não he bas- tante para lhe tirar huma etymologia que tem a seu favor huma auctoridade tal , e que se conforma tanto na pronun- cia; e muito principalmente porque sendo tantas as ^rri' fanas , pois so Cardoso conta treze (b) , se ignora qual del- ias fosse a primeira edificada , e a cuja imitação fossem as outras assim denominadas , ainda que a ellas não conviesse a primitiva etymologia , mas so certa circunstancia ou do local , ou da forma da edificação &c. &c. Corrobora mais esta etymologia e argumento o ver que todas as Arrifa- nas tem distinctivo particular para serem conhecidas como Arrifana de Souza : Santo António d'Arriifma &c. &c. (c) o que denota que o nome Arrifana he hum nome genérico , e que sendo applicado a differentes povoações carece de hum distinctivo para se não confundir. Não deve obstar a esta etymologia o titulo de Rifana y com que se encon- tra em alguns documentos , não so por ser fácil esta mu- dança entre Povos , mas também porque este nome não he tão genérico como o de Arrifana de Souza. Sendo pois mais provável esta etymologia aqui temos mais huma prova de que a fundação de Arrifana de Souza não he coeva com o tempo ào% Romanos ^ mas sim dos Ára- bes , ou dos tempos vizinhos a estes. §. VIII. Mas donde procede o titulo Joaza, com que Arrifana he particularizada ? Julgo mais natural attribuir es- te appellido ao Rio Souza , que banha terras immediatas á Povoação , do que á Familia Souza ; não so porque então era mais coherente chamar se ^rr/fawrt dos Souzas , mas tam- bém porque a denominação da Familia Souzas começou em T.X.P.II. B 107 1 {a) Vestisfios daLingua Arábica em Portugal. Vocábulo Arrifana- (6) Dicclonario Cpografico. Vocábulo Arrifana. ^c) Dicciouuiio Geograiico. Vocábulo Arrifana. IO Memorias da Academía Real 1071 em D, Egas Gomes, por este haver nascido e ser educ>ido nas terras do Rio Souza , {a) e je Arriiana hou-» vcsse tomado o appcllido da Familia Souza ^ era como tribu- to devido á sua edificaçiio , ou Senhorio, titulo que não se encontra em algum Genealógico desta Casa. CAPITULO IV. Da Forma do Governo d^Arrifana de Souza até ao anno de 17 ^i- §. I. X-/ EVENDo prestar-se todo o credito ao que as Ju-riças de Sua Magcstade, e homens bons áe Ârrifúiia de Souza , e Julgado de Penafiel declararão aos Corregedores da Comarca do Porto em acto de correição , desde o an- no de 165-0 por diante, conforme consta dos livros mais antigos que ha no Cartório da Camará da Cidade de Pe- nafiel, era de tempo immemorial a forma da governança pela maneira seguinte. O Lugar à'Jrrifana era Cabeça do Concelho de Pe- nafiel, e nelle-fazião Correição os Corregedores da Cida- de e Comarca do Porta por ser termo da mesma Cidade : nclle se fazião as audiências de todo o Concelho. Em 1671 requereu em correição o Ouvidor de fora do Lugar , que por ser o Foral do Concelho no Carvalho das sete pedras se deverião alli fazer as audiências do Concelho , e não no Lugar á'Jrr(fa»a ; porem o Ouvidor de dentro do lu- gar impugnou a sobredita pertenção allegando a posse e costume de muitos annos ; e deferindo o Corregedor que ■w usasse dos meios ordinários , não appareceu depois mais contestação» e ficou o lugar d'Arrifana continuando na pos*> se de ser o lugar das audiências , até que no anno de 1741 Pe-. ^ ■ _ . j • . - - ^ (a) Beiíediclina, Lusitana T. II. Tratado I. P. I. §. 11. pag^ 51. DAS SciENCIAS DE LlSBOA. Jl pela criação em Villa occorrerão novas mudanças politicas. As Justiças do Lugar á'Arrifana de Soíiz,a , c do Con- celho de Penafiel appellidavão-se cm nome cl'ElRei. Para a governança delles havia doiis Ouvidores ^ cuja alçada chegava até 400 réis , a saber hum para o Conce- lho fora do Lugar , e outro para dentro do Lugar , sendo este também Juiz das Sizas do lugar , do Concelho , c dos Coutos e Honras incluidos nelie , com dous Meirinhos hum de fora , e outro de dentro que também era Carcerei- ro. Estas nomeações erão feitas annualmente por pautas pelo Povo com ordem da Camará do Porto , que os con- firmava , e perante ella hiao prest ir o Juramento. Havia no Lugar e Concelho hum Juiz dos Órfãos com seu competente Escrivão , os quaes também servião no Concelho ÔL'Âguiar de Souza , sendo o Juiz nomeação da Camará do Porto. Havia mais no Lugar hum Contador , três Tabelliães , do Publico Judicial e Notas , e hum Escrivão das Sizas , os quaes todcs servião também no Concelho, e em alguns dos Coutos e Honras , e todos por Carta e mercê d'El- Rei. Havia também dous Almotacês , que servião dous me- -aes com seu Meirinho que era o do lugar de Arrifana. Erão estes nomeados pelo Povo , e confirmados pela Camará do Porto , que ordenava a sua nomeação , e perante ella pres- tavão Juramento. A sua Juri^dicção senão extendia amais do que vigiar sobre as qualidades dos géneros e fructos, que se vendiâo conforme as posturas da Camará do Porto. Pagavão-se os Direitos Reaes aos Donatários , a quem ElRei os conferia. Também havia hum Contador da Fazenda Real , que também o era do Porto e seu termo por mercê d'ElRei. §. n. Entre tanto este tempo immemorial não deve exceder ao anno de 1385', por quanto so nesta epocha he que o Julgado de Penafiel começou a ser termo da Cidade do Porto \ mercê que lhe foi conferida por ElRei D. João L B ii em ia Memorias da Academia Real em contemplação dos serviços , que os moradores da mes- ma Cidade lhe fizcrão no tempo da.Rcgcnoia {a), a qual depois lhe foi declarada por Provisão de 23 de Setembro de 1394 (i»). He huma prova muito convincente o não se encontrar no Foral , que D.Manoel deu acjjugado de Pe- nafiel no i.°dç Junho de I5'i9, ttr;m os Senhores do meí- mo Julgado Jurisdicção alguma politica , pois nem podião ter hum Porteiro (c). §. III. Q_iai era pois a forma de Governo de Arrifanà de Souza e Concelho de Penafiel nos ten)pos anteriores a esta epocha ? Deve julgar-se ser a mesma dos mais^ferritorios desic Reino que tinhao Governadores e Senhores Donatários , a quem se di/.ia Senhores de baraço e cutello , Senhores de pendão e caldeira , ou com Jurisdicção ctvel e crime , de mc" ro e tnixto Império. Qiie o Julgado de Penafiel teve Gover^^ nadares ^c mostrará nos Capitules seguintes; e que esteS tinhao a Jurisdicção mencionada além de outros documen- tos o prova hum do Cartório de Pafo de Souza do anno 1122, no qual se declara a entrega de qtiatuor áureos ^ quos dedi pro me a Domm Menendo Muniz, qui tunc tenehat Penafidelis pelo crime àç rousso commetúào cem D. Celdo {d). E não será também huma prova desta Jurisdicção o nome de Monte da forca, que ainda hoje seda a hum lugar emi- nente situado ao sahif de Penafiel para o nascente , e so- brmceiro á estrada publica ? Parece que não se encontrar em todo o Concelho de Penafiel outro lugar com este ti- tulo , nem ainda vestigios alguns depatibulo tão communs nesta Provincia , decide a favor delia. §. IV". Com a graça concedida á Cidade do Perto , co- mo (n) Catalogo dos Bispos do Porto P. íl. Cap. XXII. pag. 138. (è) Cartório da Camará do Porto L. A. folll. 74, e L. grande folh, 152. (c) For.J do Julgado de Penafiel folh. 33 f. no Cartório da Cama- rá. ((/) Memorias históricas de Pajo de Souza. M. S. por Fr. António d''Assunn'ção Meireiles. DAS SciENCiAs DB Lisboa. ij mo se disse no §. II., talvez cessasse a Jurisdicção plena dos Senhorios de Penafiel , pois logo na primeira conferen- cia , que D. João I. fez deste Julgado a João Rodrigues Pe- reira em 8 de Fevereiro de 1386 com Jiiriídicfão Civei â Crime, mero e wixto Império, reservou o Monarca para si a Correição e alçada, {a) A Provisão de 23 de Setembro de 1394 mencionada no §. II. declarando que não obstan- te a mercê feita a João Rodrigues Pereira ficava Penafiel pertencendo ao termo da Cidade do Porto, manifesta que neste intcrvallo houve alguma contestação entre a Camará do Porto e o Senhor Donatário, qucrtnuo talvez este assu- mir a Jurisdicção , a que estavão acostumados os mais Z)í?wá- tarios. He tanto mais para acreditar a contestação , quan- to talvez a restricçao que o Monarca fez nesta mercê se- ria a primeira , pois Fr. Joaquim de Santa Rosa de Fiterba referindo como os Monarcas Portuguczes se forao inves- tindo dos seus direitos Magcstaticos não produz documen- to algum anterior ao de João Rodrigues Pereira (b) , e so quem tiver a facilidade de ler os titulos das mercês do Senhorio de Penafiel he que poderá dizer ao certo o que houve neste particular. CAPITULO V. Do Julgado , Castello , e Cidade de Penafiel antiga. §. I. iTl E da maior probabilidade que o Julgado , ou Concelhr) de Penafiel , de que se disse no §. I. do Cap. IV. ira Cabeça Arrifana de Souza, comprehendia o mesmo ter- ritório, que actualmente conta , incluídos osCoutos dcBus- tello , de Pafo de Souza , e de Entr* ambos os Rios i bem co- mo (a) Livro graiiHe da Camará do Porto folh. 136. (6) Elucidaria T. 1. pag. ^42. 14 Memorias D\ Academia Real' mo as Honras de Barbosa^ e de Gallegos distribuídos em diíTcrentcs Freguezias como em seu lugar se dirá : igual- mente SC pódc acreditar que elle tomou o nome de Pena' fiel do Castello assim denominado, por isto ser o costume naquciles tempos anteriores á Monarquia , chamando- se os territórios conforme o lugar forte que os amparava e de- fendia das incursões inimigas. §. II. A existência do Castello de Penafiel comprova-se por se encontrarem no Cartório do Mosteiro de Paço de Souza documentos assignados ^ox Senhores do Julgado com o titulo de Governadores do Castello de Penafiel:, {a) por- que na doação que Sandino e sua mulher May dulce fize- rão no anno de 1078 ao mesmo Mosteiro da sua quinta à'Jveneda , a dizem sita Sub Castello Penafiel de Canas ; (b) e porque no Codicillo que D. Sancho I. fez no anno de 1181, elle deixa a beneficio dos muros de Bemquerença &c. &c. totum illud habere. ... et de Castello de Vermuy , et de Penafiel, (f) Ja hoje nao existe o Castello, mas ainda se dá este nome a hum pequeno monte izolado de todos os lados , situado próximo á quinta do Reguengo na Freguezia de S. Estevão de OldrÔes , o qual pelas vedorias dos pra- zos do Mosteiro de Pafo de Souza he o mesmo , onde esteve levantado o Castello de Penafiel , ficando-lhe pró- ximo o Carvalho das sete pedras , que era o lugar do Foral do Concelho , como consta dos documentos mais próximos á reunião deste território com a Cidade do Porto. §. III. Aqui cumpre notar-se que alguns Escriptores adoptando a opinião de haver sido edificada Arrifana por Paião Soares accrescentão que elle recolheu nesta o resto dos Povos , que escaparão á fúria Sarracenica na destruição da Cidade de Penafiel ., cujas ruínas dizem existir no lugar das Medas próximo á foz , pela qual o Rio Souza entra no Dou- {n) Diataiio de Paço de Souza M. S. a folh. 71. (6) Idem a folh. 41. (C) Elucidário T. 1. pag. 190. DAS SciEWCIAS DB LiSBOA. ZJ- Douro ; fundando-se na auctorldade de Auherto , que diz in urbe dieta Rupis Fidelis prope Durittm Jiuvium par si" sunt omnes hahitatures in ea (a). Ja no §. /. do Cap. II. se mos- trou o fraco da opinião que dá poí Fundador de Arrifaua a Faiao Soares ; agora para arruinar de todo este comple- xo de fantasias accrescento que nos Cartórios de Bustello ^ e Paço de Souza , que contão muitos documentos relativos ao território da imaginada Cidade , se não encontra couza que faça suspeitar a sua existência (b) ; bem como que ne- nhum dos nossos antiquários sensatos faz menção de tal Cidade (r), ficando assim a sua existência pendendo da fé de /íuberío y cujos escriptos são julgados obra da impostura com os dos Dextros e Luitprandos , nem mesmo o titulo de Cidade de Penafiel encontrado em algum documento da* qucUa era fazia prova so por si da existência da Cidade, por quanto he muito frequente dar-se este nome a Julga- dos , e a algumas pequenas porções de território (d). C A P I T U L O VI. De ^egíã. §. I. X^ EM sempre porem teve este território o no- me de Penafiel y mas sim formava parte do de Anegia-, por quanto este abrangia rnaior porção de terreno, a saber ao sul do Rio Douro tudo o que ficava aguas vertentes de Serra secca e montes d^ Arouca , e da parte do norte do mesmo Rio passava pelo monte d'arados , sobranceiro a Pendurada^ deixando á direita o Concelho de Bemviver ^ e daqui cortava pelo Tâmega , incluindo a Freguezia de Lu- (a) Arrifana de Souza lUustrada.' M. S. (6) Diatario a folh. 71. (c) Mappa brere da Lusitânia antiga, (d) Elucidário T. I. pag. 276. i<í Memorias da Academia Real cxVm, em direitura á Cidade actual de Penafiel e Faço ãe Souza ^ e daqui cortando o Douro abrangia o termo e ter- ras Á' Arouca {a). - §. II. Nâo posso determinar ao certo o tempo , em que este território largou o nome á^Anegia para tomar o de Penafiel .y pnrêm ja no anno de 1047 se respondia perante Garcia Moniz Governador de Penafiel de Kanas (b) , não obstante continuar ainda na parte esquerda do Tâmega e direita do Douro a denominação de território de Anegia^ pois que no anno de 1068 doou ElRei D. Garcia a Mu- nia Viegas varias terras Subtus ntons Eiras território Anegio dectirrente fiuvio Durio (c) y e por isso se deve presumir que esta mudança se originou daquellas Politicas occorridas pe- lo século XI. nas Hcspanhas , pois que também o nome d' Auegia desappareceu pelo fim do mesmo século (á). CAPITULO VII. Doí Governadores e Seniores da Julgado de Penafiel, §. I. X^ So mehe possível dar noticia exacta e chro- nologica dos Sujeitos, que tiverão o Senhorio do Conce- lho de Penafiel desde O seu começo até ao presente , por falta de guia que me dirigisse nos tempos mais remotos : mas nâo obstante referirei o que pude obter , com advertên- cia que a numeração que sigo he somente relativa aos Su- jeitos de quem faço menção , e não chronologica e histó- rica exacta. §. II. i." — D. Garcia Moniz. Viveu no tempo de D. Fer- (a) Elucidário T. I. pag. 275. (ò) Dissertações Chronologicas T. I. pag. 212 por João Pedro Ribei- ro. (c) Memorias de Litteratura Portugueza. T. VIL pag. 131. \d) Elucidário T. 1. pag. 276. DAS SciENCIAÍ PE I.ISBOA. í/ ^trilando I de Castella e Leão. ITa memorias delle no Car- tório de Pcndcfadíi ií'Iium documento do anuo de 1047 sobre o Padroado da Igreja de Santa Maria da VilJa de Bania do Valle de Av.egia ; C pelo que se disse no §. II, do Cap. VI. parece se pode reputar pelo primeiro Senhor ç Governador do Castello , c Concelho de Penafiel. 2.° — Mendo Nunes. Conta-se entre as prlncipaes Pet- sonagens que figurarão no tempo do Conde D, Henrique. Elle assignn como Senhor de Penafiel o Foral , que o Con- de deu á Certãa a 9 de Maio de 11 11. {a) He provável fosse este o segundo Senhor , ou quando muito o terceiro, porque no espaço de setenta e hum annos pouca mudança poderia occorrcr. 3.' — Ermigio Moniz. Acha-sc confirmando a doação do Castello àcGoes y que à Arnaldo Vestariz e a sua mulher Et' mezenda fi/erão no anno de 11 13 a Rainha D. Tbereza e seu filho D. Affonso Henriques ^ sendo ainda Infante, (b) Nio pôde haver duvida em admittir este por inimed^ato Succes- sor de Mendo Nunes no Senhorio , em attenção ao peque- no espaço de tempo que decorreu entre a assignatura dos dous documentos allcgados. 4-''— D. Mendo Moniz. Figura assignando doações ao «Mosteiro àe Paço de Souza desde o anno de 11 39 até o de 117I. (f) He pois o primeiro Senhor Donatário de Pena- fiel no tempo da Realeza Portugueza, e pôde contar-sc como immediato Successor "de Hermigio Moniz visto não mediar entre os dous documentos apontados mais de vin- te e seis annos. ^ .' ~ Ermigio Moniz. Deve considerar-se immediato Suc- cessor do antecedente, porque se encontrão no Mosteiro de Pap de Souza doações assignadas por cllc como Senhor de T. X. P. II. C Pe- ca) Monarquia Lusitana. P. Il[. L. VIII. Cap. 23. (A) Dissertnyõis Chro:iologicas T. IH. p>ig. 61, (c) Diatario de Pajo de Souza folli. 71. rt Memomas da Academia Real Penafiel no anno de 1171. (a) O Auctor do Diatario fez existir no mesmo anno Ermigio Mendes , e assignando como Senhor de Penafiel, {b) Não me atrevo a decidir que este seja diverso de Ermigio Moiiiz\ i." por não dar três Senho- res diversos assignam^o no mesmo anno, 2."porQue os des- cendentes de Mem Ahiiiz de Gandarey tomando o appelli- do de Mendes (c) dariao occasião a algumas confusões , as- signando-se humas vezes Mendes , outras vc7.es Moniz. 6.°— Infinta D. Branca. Nos Cartórios de Burtello , e de Paço de Sousa desde o anno de 1333 até 1341 encon- trão-se muitos documentos , em que se declara ser esta In- fanta Senhora de Penafiel, {d) Agora devese advertir que desde o documento referido a Ermigio Moniz até ao anno ^^ '333» °^ "° espaço de i6i nâo se encontra naquela- les Cartórios memoria de algum nutro Senhor de Penafiel., e por tanto he de presumir que o Senhorio estivesse na Coroa. 7.°_ Ajfonso Lopes de Texeda. ElRei D. Fernando lhe concedeu em Coimbra este Senhorio aos 4 de Fevereiro de 1372. (e) Ignoro se este foi Successor immediato da In- fanta. 2.°— João Rodrigues Pereira. Houve este a mercê de D. João I. no arraial de Sobre Chaves, como se disse no §. ir. do Cap. IF. Foi Successor do antecedente, porque seeuindo elle as partes de Castella perdeu o Senhorio. a." Rui Pereira. Apparece a sua assignatura como Senhor de Penafiel no anno de 1401 (/) , e por tanto pô- de considerar-se succedendo ao antecedente. io.°— Diogo Gons alves Peixoto. Obteve este Senhorio em compensação das terras de Travassos e Maya pelo Rei D. João (íi) Idem. (6) Livro dos Testamentos de Payo de Sousa folh. 13. (c) Nobiliário do Conde D. Pedro, Tittilo 36. (d) Mí^niorias M. S. de Paço de Souza. (e) Mouarq. Lusit. P. VIII. L. 22 Cap. 23 pag. 157. (/) ^ergaiuiahos volantes da Gamara do Parto N." 16. DAS SciENCIAS DE LiSBOA. tÇi ^oao I. (a) , c nesta Familia se conservou succcssivamence por espaço de trcs séculos. I r/— João Peixoto a quem chamarão o da Calçada suc- cedeu a seu Pai , e floresceu no Reinado de Affonso V. , e João II. de quem foi Veador e Mordonw-tnor. (Jb) 12." — Duarte Peixoto tC Azevedo. Viveu no tempo dos Reis D. Manoel., e D. João III., e a clle foi dado o Fo- ral, que ainda hoje governa no i." de Junho de ifiç (c). 13.° — Lopo Peixoto de Mello, Adailtnor do Reino sue- cedeu a seu Pai florescendo no reinado dos Reis D. Joã» III. e iJ. Sebastião, (d) 14.° — Pedro Peixoto da Sylva o das Galés, Succcdeu a seu IrmSo e alcançou o governo de D. Sebastião, D. Hen- rique , e D. Filippe I. Foi Capitão da náo que levou a Afri- ca o infeliz Monarca Portuguez. (e) 1$."— Manoel Peixoto da Sylva. Succedeo a seu Pai nas mercês e esforço (/). 16."— Pedro Peixoto da Sylva. Na falência de seu Pai disfructou o Senhorio , e seguio o partido da Nação na guerra da Acclaroaçao de D. João IV. {g) 17.° — Manoel Peixoto da Sylva. Conservou a merco de seu Pai de léjy por diante, conseguindo mais de D. João IV. o posto de Adailtnor do Reino, {h) li,"— Gonsalo Peixoto da Sylva Almeida Macedo e Car- valho succcdeu a seu Primo antecedente pelos seus Servi-» ços como Soldado particular na guerra da acclamaçáo em 1668. (í) \<)°—João Peixoto da Sylva Almeida Macedo Carvalho, Obteve as honras e mercês de seu Pai servindo a pátria C ii tan- I (a) Corografia Portugueza T. III. pag. 67. (i) idem pag. 68. (c) Idem. (d) Idem pag. 69. . (e) Corografia Portugueza T. III. pag. 69. (/) (ê) {h) Idem pag. 70. (t) Idem pag, 71. 20 Memovias DA ÂCADE MIA Real tanto no mar como na terra, e governando em 1704 a praça de Caminha (a). 20.°— Gonçalo Thomaz Peixoto da Sylva Almeida gosou por pouco tempo do Senhorio^ pois lhe foi revindicado pe- la Coroa, e nella persistio até ao anno de 1799, em que foi dado a 21." — Manoel José da Maternidade da Matta de Souza Coutinho com o titulo de Conde de Penafiel em três vidas por Carta Regia de 28 de Junho de 1799 ^™ compensa- ção do Officio de Correio-mor do Reino , que cedeu á Co- roa f (b) e que actualmente o disfructa. CAPITULO VIII. Do Foral do Concelho de Penafiel, §. I. J A no §. 727. do Cáp. IV. se disse e mostrou que os Senhores c Governadores do Castello e terras de Pe- nafiel tinhão Jurisdicção Civel e Crime com mero e mixto Império ; e como nos Foraes se lançavao as leis da gover- nança de cada território , a que se davão , he provável que naquelle, que o Conde D. Henrique deu a Penafiel^ c de- pois foi confirmado por seu Filho D. Affonso , tendo ja o titulo de Rei deste Reino (c) se encontrassem aquellas, que pertencião a este Concelho ; porem este Documento não existe entre nós: ha porem aquclle , que D. Manoellhe deu no 1.° de Junho de i5'r9, no qual somente se tracta sobre Rendas e Direitos Reaes , que nas sobreditas terras se devem pagar , e modo de ss arrec-adar {d) , havendo os Monarcas Portuguezes reservado ja para si os Direitos Ma- gestaticos , como vimos no §. IK do Cap. IF, §• (a) Idem pag. 72. (6) L. V. do Registo da Gamara de Penafiel folh. 176. (c) (d) Foral a folh. 3. DAS Sc I ENci AS DE Lisboa. 2t §. II. Estão as rendas e Direitos Rcaes do Concelho A5 SCIENCIAS DE LiSBOA. - - - I34Í »5 I 4 i6 5 I 17 97 30 34 30 ITULO XIV. Titulo xir. Na Freguezia de Rande em dez Casaes se paga : Centeio - - - - 22 j Galiinlias - - - - 7 Manteiga - « - - i Meado ----- 10 Milho ----- 4a Titulo xiii. Em Remozelhães nos dez Casaes se paga : Centeio _ - . - 30 Manteiga - - - - i Meado ----- j7 Na Frerruezia àcS. Adrião de Canas cm cinco Casaes se paga : Bragal - - _ - . 48 Centeio ----- j-o Manteiga - - - " i~ Meado ----- jo Pretos ----- 4 Reaes ----- ^.^^ Titulo xv. Na Freguezia de Marecos nos três Casaes se paga : Bragal - - - - Capões - - . - Centeio - - - - Cordeiros - - - Espadoas . - - Galiinhas - • - - . e Linho - - - _ _ ^ Milho - - - - Ovos - - - - - Patos - - - - - Pretos - - - - Reaes - - - - Vinho - - _ - Ml 3 z I ITULO XVí. 40 í z 137 14 Na Freguezia de Ganda' ra em quatro Casaes se pa- Bra- 34 M EM OK IAS DA > Bragal - - - 5^ Ccnrcio - - 6 Cevada - - - I Espadoas (de 9 cost.) - - - 4 Gallinhas - - I Milho - -' - 13 Pretos - - - 8 Reaes - - - i8z Trigo - - - 6 Titulo : XVII. Na Freguezia de Recezi- nhos em nove Casaes se :pa. f?'. Capões - - J I Milho - - - 28 Ovos - - - 10 Patos - - - ^ . Titulo xviir. Na Freguezia de Villa Co- va, em dezcsetc Casaes se paga: Bragal - - - 64 Cabritos - - 3 Cacifos - - - 7 Capões - - - 8 Carne (costas) 8 Carneiros - - 27 Centeio - - 4 Cy cacifo Cevada ( Caci- fos) - - • 10 Espadoas - • a cADEMiA Real Gallinhas --.--«• lá Maravidiz (moeda) - '- Meado - - - - - ')i>\ Miunça - - - - - ^e j Ovos ------ 70 Páo - - - . - - - i Pretos - - - - - 86 Rcaes _ _ - - - ji Vinho - - - - - 13 ; Título xix. Na Freguezia de Luzlm em vinte e nove Casaes se paga: Bragal 87 j Cabritos - - -- - z^-. Carne _ _ - - , 47 Capões ----,- 2 j Centeio - - . - - l "Cevada (alq.) - - - 15 í Espadoas (de 12 coSt.) i\ Gallinhas ----- 3 Linho ----- 5 Meado ----- j Milho ----- 2 Ovos ------ 20 Pretos ----- C Reaes ----- 7^7 Trigo ----- 2 Vinho ----- 7 TlTUtO XX. Na Freguezia de Boelhe em oito Casaes se paga ; Azei- DAS Sci ENCIA Azeite (Canadas) - - 2 Bragal - - - - . -'•30 Cabritos - . - - . ^ Capões - . - . _ j. Carneiros - ... - j Centeio - - - - - ^6 Cevada - - - , _ 2 --—(alq.) ... .4! Feijões - - - _ - ± Frangos _ - _ - . 4 Gallinhas - .... 4 Linho - - - - . -IO Milho . - - - - Ovos - - . _ - Peixotas (dúzias) - Pretos - - - - - 34 70 6 s DE Lisboa. 2^ Bragal . - » . _ y Centeio ... - - jq Espadoas ( de ^ cost. ) r Gallinhas - - - - 2 Lampreias - - . - 40 Manteiga - , ^ - , i Milho - ... - ly Pescado \ de tudo o que se pescar em algumas Pretos ----- 5 Reaes - - . - - ip8 Trigo y Titulo xxir. Reaes Trigo Vinho Titulo xxi. 4 5" 6j Nos cinco Casaes de Ce- bolido , e Abítureira se paga : Reaes - - - - .117 Trigo 3Í Na Freguezia de Rio de moinhos em sete Pesqueiras e Casaes se paga : Titulo xxiii. O primeiro Snvel , Lampreia , Solho , Eirôs , ou Truta grande nos três arinhos do Douro , e depois o quarto de toda a pescaria , que nelles se fizer {a). Titulo xxiv. Cada .hum dos três Tabelliães , que ha no Concelho , paga annualmente quatrocentos e oitenta réis (^). T.X.P.II. D Ti- (o) (ò) Foral dito folh. 32. ^"^ oó MíMORiAS DA Academia Rçal Titulo xxv. Pel^ coima dos damuos , que fizer o gado nas terras Reguengas , se recebe a parte competente ao arrenda- mento do Reguengo {a). Titulo ~xxvi. A Luctuosa somente pelo próprio possueiro encabe- çado, e não pelas mulheres, posto que per si herdeiras (E encabeçadas sej ao , nem também a pagaráõ os outros her- deiros , senão viverem e morrerem no tal lugar (b). Titulo xxvii. O direito àeportagem somente nas duas feiras annuaes da S. Miguel «m maio , e setembro no Lugar de Entr* MVihos os Rios , na feira de Pentecostes em Arrifana de Sou- sa y Q na de S. Vicente do Pinheiro , das couzas que á dita feira vierem ou forem em hestas, carros ou carretas, ou as que se comprarem ou venderem , não sendo vizinhos de Penafiel , nem de Etttr'ambos os Rios (c). Estão especifi- cadas as quantias que se devem perceber pela portagem conforme os géneros e carga , bem como das que não pa- gão j e a pena da contravenção {d). Titulo xxyiii. O direito do Relego, ou três mil e seiscentos réis annualmente por elle {é). ^a' T Ti- (a) ForaJ dito folh. 32. (t) (c) Foral. folh. J4. Id) Idem 37 até ãO. (e) Idem folh. 36. DAS SCIENCIAS DE LiSBOA, ^J Titulo xxix. A pena dVrna para o Alcaide-mor na forma da Or- denação com as excepções ahi declaradas (a). Titulo xxx. A pena do gado do vento, (h) §. III. Da relação exposta se deve deduzir: i.""— Que naqucUa epocha os grãos cereaes que se ^e- meavão, crão o milho , a que hoje chamamos miúdo ^ o centeio^ o trigo ^ e z cevada y cuja abundância era na ordem em que aqui se escrevem , sendo porem o trigo huma se- timi parte, e a cevada huma trigésima relativamente ao tni/bo. Não deve causar admiração a pequena quantidade , que se cultivava de cevada ; por quanto a qualidade pouco nutritiva , e menos saborosa do pão que delia se fabrica , e a pouca necessidade delia para o sustento dos animaes por causi dos pingues e abundantes pastos , que ha no território , assim o permittião : quanto porem á do tri- gt , devendo suppor-se que os Senhorios não igncravao a sua óptima qualidade nutritiva , se se nota exigir-se este fructo com mão parca, e somente em certos districtos, pô- de presumir-se proviesse isto da persuasão, eni que se es- taria , de que o terreno não era adequado para semelhante cultura y opinião que ainda hoje domina entre os agricul- tores deste paiz. Quanto porem não estava atrazada a cul- tura dos legumes y pois apenas se encontrão duas verbas a este respeito, e por ellas somente se exigia a diminutissi- ma quantidade de hum alqueire?... Ha hoje huma grande mudança na producçao dos ^rãíj/ D ii ce- (a) Idem folh. 36. ^6) Idem folh. 37. aS Memorias DA Academia Real cercaes e leguminoso-,, por quinto a maior abundância cora* . pftJ ao milhão t)ii vtilho grosso ,, depois ao centeio^ sendo o ír/go, niilbo miúdo ^ painço,, t cevada em pouca quantida- de , e nr^ feijão mediania. Como as prestaçõi-s exigidas não são c(>nformcs ao estado actual da cultura, origina-se da- qui hum dos vexames que soffrem os Porsueiros Reguengos , por se lhes pedir fruct;s, que não cultivao, e que para os sntisfazer se vem obrigados a cornpra-los , ou a paga-los a dinheiro, no que pela maior parte entra também a arbi- trariedade dos Rendeiros. Talvez a Commissao dos Foraes na construcção do seu novo 'plano adopte medidas que fa- cão cessar este vexame , que entre outros lhe foi aponta- do pela Camará desta Cidade a que fui addiJo por convi- te da mesma de lo de agosto de 18:4. 2." — Que a cultura do vinho e azeite editava bastante atrazada , pois qu; em vinte e duas Freguezias do Reguen-* go somente se impõe a contribuição do vinho cm seis y e isto na quantidade de seis pipas , quando hoje qua'quer delias entrega ao dizimo o dobro ; falta porem muito mais considcrabihssima acerca do azeite relativamente mesm» ao estado presente , donde se pode concluir não ser o ter- reno ingrato, mas sim os Cultores preguiçosos. E avista desta mudança não seria mais útil supprir os carneiros, ca- britos , patos , peixotas , marras &c. com estes dous pro- ductos rateados conforme a sua cultura, para se evitar assim também mais outro motivo da arbitrariedade e cobiça dos Rendeiros? 3.° — Qiie os linhos ]& erão bastante cultivados naqud* Ic tempo , pois a'êm de algumas mãos delles em r/ima se pagavão 5'Í3 varas de bragal. Tem prosperado muito a cultura dos linhos , bem como o seu fabrico em pannos j mas assim mesmo julgo seria mais proveitoso aos Possuei* ros pagar antes os linhos em rama do que fabricados , por q\ianto não estando ja çmusoo bragal , evitavao-se as- sim contestações excitadas pela cobiça apezar de explica- ções sobre a intelligencia do mencionado artefacto. 4" DAS SciENci AS D E Lisboa. 2^ 4.°_ Que o direito de portagem nas quatro feiras in- dicadas está cm desuso por haverem acabado as duas do S. Miguel e a de S. Vicente do titiheiro , conscrvando-se somente a de Pentecostes nesta Cidade , a qual está quasi a acabar. Introduzio-se porem a dita contribuição na feira de S. Martinho y que se faz em -novembro ; e ignoro se por corruptela , p que julgo mais provável , ou por de- cisão de auctoridade competente : e não seria melhor abo- lir huma pratica , que se oppôe á prosperidade do com- mercio ? CAPITULO IX. De algumas providencias publicas anteriores d creaçSo do Lugar de Arrifana de Sousa em Filia. §. I. Jr\. falta de documentos anteriores aos da Cor- reição , de que ja fiz menção no §. /. dò Cap. IF. , não pcrmitte satisfazer á curiosidade subindo a tempos mais re- motos : exporei pois o que encontrei nestes até á epocha da creação do Lugar em Villa. §. II. A solemnização da Festividade do Corpo de Deos occupando a attençâo do Povo Portuguez , não devia ficar em esquecimento entre os moradores do Lugar àe/lrrifana de Sousa y que no anno de i66i ja contava quinhentos vi- zinhos. Esta solemnidade he muito antiga , pois ja em 1676 se deixou em Capitulo de correição se fizesse na for- ma do costume antigo , visto haver enfraquecido a devo- ção dos Povos ; ignoro porem' o tempo da sua instituição. Seria por occasião da mudança da Parochia de Moazens para Arrifana cm ijAp?... Seria pela instituição da Con- fraria do Sacramento na Capella do Espirito §anto no lugar ác Arrifana pelos annos de 15'40, ou collocação da Sagra; da Etícharistia na mesma Capella perennemente , o que na- quelle tempo era muito raro ? Qualquer destes objectos era xne- jo Memorias DA Academia Rea t merecedor de interessar a piedade dos Povos deste lugaf para imitar a pratica dos outros. Acompanhavão pois a Pro- cissão as Cruzes e Guiões das Freguczias vizinhas , que pa- ra isto cráo avi^adas pelo Juiz da Confraria Geral. Seguia-se a Imagem de S. Jorge a cavallo com o seu competente acompinhamento de escudeiros , e cavallos ade- reçados á custa dos ferradores. Precediâo a dança da Retorta feita por homens e mu- lheres mascaradas com seus arcos acompanhados por gaita de folie dada pelo Juiz da dança. A dança das espadas com gaita , tamboril , e pandei- ros dada pelos ferreiros. A dançi dos moleiros com figuras de homens e mu- lheres com violis, dada pelos moleiros» A folia dada pelos mercieiros , e officiaes de sirgaria. Outra folia dada pelos tendeirosj e rendeiros por ca- pitulo de Correição de lè^c;. Por capitulo da mesma Correição se determinou hou- vesse corrida de touros na tarde do mencionado dia , sendo cada marchante obrigado a dar hum touro , e os carpintei- ros , e forneiros a fazer a tapagem do curro. Para o desempenho destas demonstrações de alegria piednça todos os annos no mez de janeiro a Camará com u Ouvidor , e Escrivão fazia a eleição dos Juizes ou Im~ peradores dos i fficios que crao obrigados a ellas , os quaes na véspera de Corpo de Beos devião apresentar a sua dan- ça prompta perante a mesma Camará. §, III. Relativamente a politica. Emi(í44, e 1645- se determinou que 0% Almotacês não sn fosscQi eleitos da classe das pessoas principaes , mas timbem qu; soubessem ler , ao menos hum delles, não sen- do ambos os eleitos novos, mas sim que hum delles ja tivesse servido o mesmo cargo. Em t6^7 se mandou que pessoa alguma possa vender fão^ vinho, c azeite j sem que primeiro se obrigue á venda- gem dos mcs.njs géneros por todo o anno , com a excepção dos DAS SCIENC lASDE L 1«B0A. gi dos dias de feiras , ou das pessoas que venderem os seus próprios fruetos. Em 1648 a beneficio dos enfermos se mandou que os marchantes matassem cada semana dous carneiros. Em 165-7 se providenciou que não fossem mortos os bois no mesmo lugar onde se cortar a carne. Ja naquel- le tempo se matavão seis a oito bois cada semana. Em 1662 se determinou que á custa dos sobejos das sizas se fizesse açottgue publico. Parte da primeira determinação mostra a pouca civili- Tiação dos Povos naquelle tempo ; a segunda destinada ao abastecimento dos povos indica que o espirito de commer- cio estava ainda muito frouxo entre elles j as mais sendo ■úteis , e saudáveis ainda hoje estão por executar. Tal he a inércia de alguns Povos para aquillo mesmo que redun- da em sua utilidade ! . . . §. IV. Relativamente a agrktiltura , além das providen- cias gcraes , e de pura formalidade de mandar plantar ar- vores fructi feras , e as próprias para madeiras , bem co- mo concertar caminhos , pontes , fontes , e presas ; Em 1644 se prohibio fazer as vindimas antes do S. Miguel. Em 1647 se providenciou que os gados não andem a pascer soltos sem pegureiro. Em 1648 se determinou se não deteriorem as arvo- res , que podem ser empregadas no Serviço de S. Mages- tade , por detoros , descascamentos , ou perforações. Em 165- a se prohibio pascerem cabras-, porém esta prohibiçâo foi depois modificada em 165:8 relativamente aos Povos da Capella , de Canetlas , e Pedrantil por terem •montados capazes para isto. Em 1653 se mandou se vedem as terras cultivadas com paredes, que tenhão seis palmos de altura. Em lóyg se determinou que toda a pessoa que tives- se commod idade plantasse bwtat. Em 3i Memorias da Academia Real Em 1660 SC prohibio lançar bestas destravadas acs montes. Em i66t SC mandou que cada lavrador que cultivar hum casal semeie huma quarta de painço ^ e aquelle que tiver meio casal semeie meia quarta , para por esta ma- neira obviar á falta das palhas originada de se haverem os lavradores applicado á cultura do milho grosso. Ainda que a primeira determinação pareça ser contra- ria ao direito da propriedade , he ella com tudo de muita utilidade ao proprietário, por quanto neste paiz ha somen- te as uveiras de enforcado , e a qualidade que mais abun- dava era a verdelha , que amadurece muito tarde ; e para evitar a má qualidade do vinho he que se lançou o pre- dito capitulo de Correição. São tão úteis as determinações de 1647, 1652 , i6f3 , e 1660, que se faz cxcusada toda a reflexão sobre ellas. O abuso , que se pertende evitar pe- lo capitulo de 1648, merecia correcção, por isso mesmo que para o serviço, a que se destinavão as arvores, se pre- cisa de certas configurações , medidas , e grossuras , as qiiaes se perdiâo pelos detoros , e mais cortes que nellas se pra- ticavão. Talvez estas deteriorações fossem suscitadas pelo abuso que os fragueiros fazião do seu poder , não so pela diminuta avaliação que orçavao , mas também pela parcia- lidade da escolha. O capitulo de 1661 he da mais saa economia publica , e he hum manifesto indicador de gran- de mudança da agricultura do Reino em bem poucos an- nos. No §. ///. do cap. FUI. se declarou quaes erão os grãor cereaes que se semeavão no século XFI. , e entre el- les ainda se não fazia menção de milho grosso ou milhão ; e agora no meado do século XFII. ja se faz necessário modificar a do milho grosso^ e excitar a do milho a bem do penso dos animaes pelas suas palhas, o que indica que a cultura do milho grosso se introduzio neste meio tempo. Yv., Joaquim de Santa Rosa de Fiterbo diz que hum certo Paulo de Braga vindo da Índia o trouxe para a sua terra tivl I no DAS SciENCIAS DE L I S B O A. 35 no século .XF7Z. (a). Sendo assim he pasmosa a sua in- troducção neste districto , attento o aferro com que os Lavradores sustentâo os seus costumes ruraes , c pouco tem- po que havia entre a introducçao mencionada , e a provi- dencia de 1661. Bomare declarando que este grão he India- no , faz provir a sua cultura na pAiropa e mais partes do Globo , da Turquia {b) ; porem esta asserção não he verdadei- ra para com os Portuguezes , como se acaba de dizer. Mas qual he o Escriptor estrangeiro, que fale das nossas cou- zas com acerto ? * §. V. Quanto a objectos commerciaes encontrão-se pou- cas determinações , a saber : Em 1647 a prohibição de comprar couros com cabcl- ]o para os tornar a vender : Em 166 1 a prohibição de se quebrar portagem dos géneros vindos a vender ao Lugar i excepção das feiras que o Foral marca : Em 1668 a providencia de deverem ter as téas de fanno de Unho , que se venderem , huma vara de cumprido nas dobras, para por esta maneira se evitarem as fraudes das tecedeiras , visto não se poderem medir na occasiao da com'* pra as mesmas têas. He evidente que a primeira providencia se destinava a facilitar a compra dos couros na primeira mão , e que es- tes tinhão sabida no emprego certo, que excitava a cubi- ca dos atravessadores , mas qual era o destino dos cotwos ? Haveria nesse tempo alguma fabrica de curtimento? O no- me á& presa dos pellames y que ainda hoje existe, parece faz acreditar a existência deste fabrico. A segunda providencia he huma manifesta barreira á rapina dos Rendeiros ; e a terceira mandada publicar na feira dos dez para conheci- mento das tecedeiras não so faz patente as fraudes, que se fazião na medição das têas, mas declara que o contra- r. X P. 77. E cto (a) Elucidário T. II. pag. 134. (4) Dictionnaire universel d^flistolie natuieUe T. l. pag. 556, 34 Memorias DA AcademiaReal cto do panno de linho ja era tão grande naquelle tempo ^ que os compradores se fiavão na palavra das teccdeiras , e para evitar o prejuizo que daqui lhes provinha , imaginarão o sobredito expediente , que requererão ao Corregedor pa- ra lhes dar provimento. CAPITULO X. Da Erecção do Lugar ^Arrifana de Souza em Filia , e da sua Governança. §. I. JL R. Gil de S. Bento no M. S. , acima citado , diz que se encontrão no Cartório do Mosteiro de Bustel- lo documentos , que denominão Filia a Arrifana de Souza ; porem também no mesmo Cartório se achao outros docu- mentos que lhe dão o titulo de Burgo , segundo me infor- mou Fr. António d^ Assumpção Meirelles na occasião , em quo revio o mesmo Cartório. O titulo de Filia dado naquel- les tempos a alguma Povoação não a caracterizava Filia se- gundo a frase moderna , mas era estylo daquella era , sendo commum a qualquer Povoação Mosteiro, Igreja y ou Casal; (a) e mesmo dentro do território de Penafiel se en- contra huma prova decisiva, por quanto a Rainha D. Ta^ reja na doação que faz de Fonte arcada aos Templários dix assim: Filiam qua vocitant Fonte arcada in Portugal circa Pe* unmfidelem {b). Ja no §. I. do Cap. IV. se disse que Arri- fana de Souza era conhecida como Lugar , e não Filia ; e ElRci quando a creou em ^///<í , como logo se dirá, igual- mente lhe deu o titulo de Lugar. Errarão pois todos os Escriptorcs quer Nâcionaes quer Estrangeiros , que antes da cpocha , que logo marcaremos , intitularão Filia i Po- voa- (a) Elucidário T. II. vocábulo Villa. (6) Compí iiuio de Pedro Alv. P. II. paj. 171 uo Cartório do Con. vente) de Cbt>«to. DAS SciEMCIAS DE LiSBOA. 3^ roação de Arrifana de Souza , tendo porem desculpa os se- gundos , por não estarem ao alcance de indagar com mais escrúpulo a verdade , o que se não pode relevar aos pri- meiros : mas tal he a simplicidade , ou boa te com que se escreve , que ainda hoje se dirigem officios a esta Cidade por Funccionarios públicos pelo Correio com o titulo de Villa de Penafiel'^ e o Auctor de hum Mappa Geográfico de Portugal ^ c^MC pertendia estampar no anno de 1824, escre- vendo ao Reitor desta Freguezia rogando-lhe a sua assigna- tura como Subscriptor, se lhe dirigia pelo Correio aoiíe- verendo Sr. Reitor â'' Arrifana de Souza ! . . . E que tal era a exacção geográfica de tal Carta ? . . §. II. Foi no dia 7 de Outubro de 1741 que o Lugar à^ Arrifana de Souza entrou na posse da prerogativa de Vil- la , porque nelle deu o primeiro Juiz de Fora da Villa por ordem expressa de ElRei posse aos primeiros Vereado- rer delia , e estes immediatamente a conferirão ao mesmo Juiz de Fora em consequência da Caíta de nomeação por S. M. , que elle lhes apresentou {a). ElRei D. João V. ha- via attendido á Supplica , que lhe fizerão os moradores do Lugar d' Arrifana f para que fizesse Filia o mesmo Lugar com Juízo do Geral separado da Cidade do Porto ^ allegan^ do que o sobredito Lugar era populoso, cheio de No- breza , e a quem se fazia assaz penosa a dependência em seus pleitos daquella Cidade por lhes ficar em distan- cia de seis legoas ; e por Carta de 14 de março de 1741 annuio aos desejos dos moradores , precedendo as informa- ções do estylo , concedendo-lhes o titulo requerido de Vil- la com Juiz de Fora e Órfãos em toda a Freguezia de S. Martinho de Arrifana , e de S. Tiago de Sob Arrifana com Jurisdicçâo separada do Geral do Porto , e a quem logo ar- bitrou oitenta mil réis de ordenado annual , que mandou se separasse no Lançamento das Sizas (b) , e que depois se E ii augmen- (a) Livro 1. das Vereaçõesi a lolh. 2. {b) Veja-se o Documento N." 1. a pag. 36 Memorias DA Academia Real auomentou com mais doze mil réis annuaes para aposenta- doria por Provisão de 4 de Julho de 1743 (a). Aqui cumpre notar-se que posto que pela Carta da erecção do Lugar à^Arrifana de Souza em Villa se dá por termo á mesma toda a Freguezia de S. Martinho (TArrifana , é Freguezia de S. Tiago de Sob Arrifana , não ficou com tudo sendo termo todo o território desta ultima , mas so sim aquella parte da dita Freguezia , que ficava situada na margem esquerda do Rio Souza , porque também somente esta he que fazia pertença ao Concelho de Penafiel ,' e por tanto termo da Cidade do Porto ^ donde se desmembrou o termo da Villa novamente erecta , ficando o resto da Fre- guezia situada na margem direita do mencionado Rio fa- zendo parte do Concelho de Lousada , e Comarca de Bar- cellos. §. III. Como o Contador da Fazenda não fez a sepa- ração das Sizas da Villa , e Concelho de Penafiel , recor- rerão os moradores de ambos os districtos a S. M. , a qual pelo Concelho da Fazenda ordenou ao Contador que fizes- se a mencionada separação por dous Louvados hum pela parte da Villa à' Arrifana , e outro pela parte do Conce- lho na presença delle , e que feita ella ficassem a Villa e o Concelho obrigados a pagar as quantias determinadas , ficando dahi por diante sendo o Juiz de Porá da Villa tam- bém Juiz das Sizas na mesma Villa e termo, e o Ouvidov do Concelho de Penafiel também Juiz, das Sizas do mesmo Concelho , sendo os moradores da Villa d^ Arrifana e seu termo, e os do Concelho de Penafiel^ Avençaes em am- bas as partes, como até áquelle tempo o erão, e assim o havião requerido continuar a ser Qj), Em 28 de feverei- ro de 1742 ja a separação estava feita, (c) e desde en- tão (a) L. I. do Registo a folh. 36 J^. \b) Veja-se Documento N." 2, pag. (c) L. I. das Vereações folh. 35. i 'i CAS SciENCIAS CE LrSBOA. ^7 tão o Juiz de Fora e Órfãos da Villa à.'Arrifana de Souza e seu termo o ficou também sendo das Sizas. §, IV". Ficou a administração publica da nova ViÍ!a à^Arrifana de Souza pela maneira seguinte : Era a Villa à^ElReij a eíle se pagavao os foros c Di- reitos Reaes , e por ellc se appellidavão as Justiças : Havia nella hum Jniz de Fora , que também o era dos Órfãos e das Sizas com os Escrivães mencionados no §. /. do Cap, IF.'. havia huma Camará composta de três Verea- dores , hum Procurador , e seu competente Escrivão , dous alníotacés nomeados pela Camará , e perante a qual prcsta- vão juramento , que servião por três mezes tendo também Escrivão privativo , (a) sendo acompanhado tudo do com- petente cortejo de Juizes de Vintena , Meirinhos , Porteiros , Qtiadr ilheiros ^ c mais Officiaes necessários para a execução da Justiça , e manutenção da boa Ordem : Continuou a fazer parte da Comarca do Porto , e aqui vinhão elles fazer Curreifão , tendo o mesmo Contador da. Fazenda y ainda que sedividisse oCabefão, como vimos aci- ilia : e desta sorte permaneceu até ao anno de 1770 , em que sendo condecorada com o titulo de Cidade fará obje- cto da segunda parte desta obra. §. V. No tempo que decorreu desde que Arrifana de Souza foi creada Villa, até ao anno de 1770, em que com denominação á^ Penafiel foi elevada á categoria de Cidade, houverão nella quatro Juizes de Fora, a saber: i.° — O Dr. Francisco Teixeira da Motta. Tomou posse a 7 de outubro de 1741 {b) , e sérvio por seis annos. Não continuou mais no exercicio da Magistratura. z.° — Manoel Soares Barbosa. Tomou posse aos 2a de junho de 1747 W- -Acabado o seu triennio foi nomeado Juiz de Tombo do Reguengo de Penafiel , em que se con- ser- (a) L. I. das Correições da Vilta anno de 1750. (i) L. I. das Vereações folh. 2 -p, (c) L. II. daa Vei. a folh. 22. 38 Memorias da Academia Real servou muitos annos , e acabado este não foi promovido mais. ^.°~ António José de Brito Freire. Tomou posse a 26 de novembro de 1750 («) , e aqui se demorou por 15 an- nos , não continuando mais no Serviço. 4.°— Luiz Rodrigues Passos. Tomou posse em 10 de janeiro de 176'^ {b) , e sérvio por cinco annos até á crea- çao da Villa em Cidade. Foi promovido a Ouvidor de Braga , e depois a Chanceller da Relação Ecclesiastica da mesma Cidade , em cujo emprego acabou a vida. §. VI. Ainda que Arrifana de Souza ' fosse Povoação po- pulosa cheia de Nobreza , e nella se fizessem ja as au- diências de todo o Concelho de Penafiel ^ e houvesse Ca- deia , com tudo os edificios destinados para estes actos es- tavão muito arruinados, e por tanto logo por acórdão da Camará de 1 1 de outubro do anno de 1741 se determi- nou que as Sessões da Camará fossem feitas na residência do Juiz de Fora {c), o que assim se praticou até 1758 , em que o Corregedor da Comarca proveu em Capitulo de Cor- reição que se alugassem casas para tal ministério (d) , em quanto se não concluião as obras , para as quaes se tinha impetrado hum real em cada arrátel de carne , e em ca- da quartilho de vinho, que se vendesse na Villa e seu termo (e) , e por este modo permaneceu mesmo depois de ser a Villa creada em Cidade por muitos annos, como em seu lugar se dirá. CA- ÍA) L. II. das Ver. a folh, 163. (ò) L. VI. das Ver. a folh. 85 ]^. (c) L. I. das Ver. a folh. 7 jt. {d) L. I. das Colreições d' Arrifana I7S8. (e) L. I. do Registo a folh. 126. DAS Sciencias de Lisboa. 39 CAPITULO XI. Providencias que a Camará e os Corregedores da Comarca derão para o bom regimen da Filia. §. I. V^ OMo jírrifana de Souza foi elevada á gradua- ção de Filia , cumpria se dessem algumas providencias mais conformes ao seu estado politico , que se podem dividir em economico-politicas , commerciaes , e agricolas. Quan- to ás primeiras : Imitando a Camará do Porto se determinou fosse le- vada a Bandeira Real da Camará nos actos públicos pelo Vereador mais velho da Camará antecedente, sendo a No- breza avisada por pregões para a acompanhar {a). Decorrendo occasiões , em que se faça ouvir a Nobre- za c o Povo em acto da Caniara , se assentou fosse a No' breza avisada pelo Guarda da Camará ^ e o Povo convocado por pregões (b). Elegeu-se hum homem da classe do Povo com o ti- tulo de Procurador do Povo para requerer o que fosse a bem delle (f). Por se haverem mudado as audiências do Geral de- signou a Camará a 22 de julho de 1747 ^s segundas e quintas feiras de manhãa para a audiência dos Jlmotacés (d). Para que os Almotacés fossem reconhecidos , se lhes fa- cultou usarem de Vara vermelha no braço ou bolço- da ca- isaca , sendo as Varas grossas destinadas para as Correições , íeiras , e funcções publicas (e). Or- (a) L. I. das Ver. a folh. 56. (6) L. II. das Ver. folh. 33. (c) L. I. das Ver. folh. 3. (rf) L. II. das Ver. folh. 32. \e) Idem folh. 59. 40 Memoí^iaS DA Academia Real Organizou-sc a policia dos Officios mecânicos nomean- do-se os Juizes de cada Officio (a) ; obrigando-se aos Ojji- ciaes que tiverem loja aberta , a que se examinem do seu Officio {b) \ e dando Regimento aos alfaiates, holacheiros ^ candieireiros , carpinteiros , estalajadeiros 5 ferradores , fer- reiros , çapatciros , serralheiros , tecedeiras , moleiros (c), Acautelarão-se as fraudes dos jornaleiros impondo pe- nas aos que faltassem havendo promettido ; {d) e as dos marchantes prohibindo matar-se rez alguma sem ser exami- nada pelo Escrivão dos Almotacês , e Procurador do Povo (e). Evitarão-se as contestações sobre as agoas dos chafa- rizes da Senhora d^ Ajuda, das Chãas , e áí Piedade , marcan- do a quantidade d'agoa que competiria a cada hum (/) ; e que quem usasse das vertentes dos chafarizes no verão, as recebesse também no inverno (g). Determinou-se que todas as lojas de vendas estejao abertas , e com luz até ás nove horas da noite {h) ; que nos Domingos e Dias Sanctos de guarda estivessem todas fe- chadas á excepção das dos comestiveis , que terão somente os taboleiros fechados; (í) não se podendo vender vinho aos moradores da Villa nas tabernas para ahi o beberem (k). Para evitar o gravame dos moradores da Villa cora o aboletamento dos soldados , se proveu em que elles fos- sem para as estalagens , e a despesa regulada se rateasse pelos moradores do termo, quando lhes competisse (/). Pro- (a) L. I. das Ver. folh. 3. \b) Idem folh. 16. (c) Idem folh. 51 , 56, 58, 66,78, eL.II. folh. 13, «25, 99, 102^ (rf) L. I. idem folh. 12. (e) L. VI. idem folh. 24. (/) L. II. folh. 18. (0-) Idem folh. 176. (A) L. I. das Ver. folh. 9. (i) L. IV. idem a folh. 112. {k) L. II. idem a folh. 4. (O L, V. idem a folh. 60. DAS SciENCIAS DE LiSBOA. 4I Prohibio-sc liavcr nas ruas da Villa Casas de colmo por telhaJo (a). Mandou-sc ao Rendeiro da Commenda declarasse , e ti- vesse piompt» a terça da Dizimaria , que noanno de 1754. foi de trcs carros de pão (l^). Estas providencias são conformes ao estado politico do Reino, e imitadas das leis, ou regulamentos munici- pacs de outras terras dcllc , á excepção da nomeação da- quclJe homem do povo, a que ao depois se deu o titulo de Procurador do Povo , cujo emprego se continuou a con- servar até estes dias fazcndo-se a eleição todos os nnnos. Não consta dos Livros da Gamara ter tile outro ministé- rio alem do expressado ao tempo da primeira nomeação , c o de hir com o Escrivão^dus Almotaces observar o gado que se deve matar para os talhos públicos , bem como a.qucUc que veremos, de lacrar os batoques das pipas de vinho aos Vendeiros. O primeiro hc inteiramente excusado , porque perten- ce aos Officiaes da Gamara , e quando nestes haja algu- ma omissão , fica ao povo o recurso aos mesmos da repre-» sentação por esc ri p to ; e o segundo he aiêm de excusado, abusivo , e prejudicial : excusado e abusivo por ser obriga- rão dos Almotaces , os quaes com esta providencia se esqui- vão a fazer o seu dever , e prejudicial, por quanto he mais fácil a corrupção n'hum homem sem educação, nem res- ponsabilidade , do que em Empregados feconhecidos pela Lei da Nação , e sobre os quaes toma conhecimento Au- Ctoridade Legal. Deve causar surpresa que esta instituição se fizesse com Magistrados á testa ; pois se era imitação do Juiz do Povo, que algumas Gidades tinhâo , ellcs de- vião saber que isto era graça especial , e que a nova Vil- la não apresentava igual mercê do Imperante; mas em fim dado o primeiro erro he fácil a sua continuação , c es- T. X. P. 11. F te (a) L. V. idem a folh. 37. (*) L. IV. idem a folh. 21, HZ Memorias DA AcADF, MIA Real te homem he huma maquina que serve para em certas oc- casiões jogarem com cila aquelles que tem interesse em lhe untar as molas. Entre tanto o Procurador do Povo figu- ra em algumas correiç^õcs dos Ahnotaces : nao tem lugar , nem voto especial , quando a Nobreza e Povo he ouvido na Camará. §. II. Para objectos commerciacs se encontrão as pro- videncias seguintes : O estabelecimento Áí feira mensal do dia 24 em 23 de agosto de 17 49 (a). A prohibiçáo de metter estacas , ou fazer cobertos pa- ra ã feira do S. Martinho sem licença da Camará {b) : o regulamento da medida dos assentos , e o preço competen- te a cada hum {c) : marcar o lugar certo que deve servir para posta r-se o gado (d) , bem como arruar as teudas em lugares determinados conforme as suas Classes (e) ; e de- terminar duração certa á mesma feira, a saber do dia dez até ao dia quinze (f). A declaração de que as hortaliças ^ fractos y pão, aves^ e mais géneros da primeira necessidade não pagão siza ; fazendo-se sciente o Contador da Fazenda para nos futuros Lançamentos não terem os rendeiros que allegar (g). A determinação de haver numero certo de vendeiroí proporcional ao consumo dos viveres {h) , a qual foi con- firmada depois por artigo de Correição de 1761 (i) ; obri- gando-se os vendeiros á taxa que a Camará lhes pozer (k) , e (a) L. II. das Ver. a folh. 131. (é) L. I. idem a folli. 145. (c) Idem a folh. 106. (d) L. VII. idem a folh. 19; (e) Idem a folh. 20. (/) L. III. idem a foJh. 55, (g) L. II. idem a folh. 13. (A) L. I. idem a folh. 3. (i) L. das Correições da Villa d^Arrifana àe Souza, {k) L. I. das Ver. a folh. 3. bAsSciENcrAS D K Lisboa. 43 e daftdo fiadores a mesma obriga (a) , e devendo ter n'hu« ma taboleta publica escripta a raxa que a Camará tiver ar- bitrado aos viveres que verjderem (b) '• esta faculdade po- rem da taxa foi restringida por ordem ò.^ElRei de 9 de outubro de I75'4 , pois que forão excluídos todos os gé- neros que houvessem sido alfandegados , ainda mesmo ven- didos em segunda mão , bem como então se prohibio le- varem os Almotaces aberturas {c). A modificação de ser almotaçado o vinho somente ás segundas feiras de cada semana {d) ; e á consequente frau- de dos vendeiros em lançar outro vinho nas pipas se obviou com a assistência do Procurador do Povo ao lançar o viuho nas pipas , que depois se mandavão lacrar {e). A permissão de se almotaçar, e vender aos arráteis o peixe fresco (/)* A prohibição de se comprar carvão para o revender (g) : bem como a de se fabricar pão para vender fora da Vil' iãy attendendo ao consumo de lenhas que motivava a carestia destas (h). A prevenção de não Vir a vender pão de trigo de Ca- tiavezes senão de preço marcado de 20 , ou 40 réis para evitar a fraude dos Vendedores , que ja tem o lucro que os padeiros lhes dão (f) ; bem como a de se não ven- der outro algum género nas casas y onde se vender vinho do seu cutello {k). O acautelar as fraudes das tecedeiras em venderem as têas de pamo de linho com menos varas do que declarão , F ii ou (a) L. IV. das Ver. a folh. 160. ~~ (è) L. VI. das Ver. a folh. 25. (c) L. I. do Registo a folh. 209. (d) L. II. das Ver. a folh. 97. (e) L. IV. idem a folh. 69. (/) L. I. idem a folh. 3. \g) Idem a folh. 31. \h) Idem a folh. 7. li) L. II. idem a folh. 12. {k) L. IV. idem » f«Ui- «a» 44 MemoriasdaAcademiaReal ou com panno no interior delias de qualidade inferior ás varas primeiras c da amostra (d). O estabelecimento de novas feiras , e regulamento delias he de utilidade particular ás terras, onde se estabele- ce , não so pelo consumo que seda aos viveres , mas tam- bém pelo augmento do commercio , a que serve de estimu- lo. Se a multiplicidade delias he ou não prejudrcial ao Es- tado em geral pelo ceio , e vidos moraes a que dá moti- vo , he matéria que demanda outros conhecimentos que não tenho, nem este he o objecto a que me proponho. Entre tanto não deixo de me conformar com a providencia de marcar os dias da feira do S. Martinho , porque a prolon- gação delia se faz prejudicial até aos mesmos negociantes, que podião fazer em cinco ou seis dias aquelle interesse , que hoje fazem em dez dias , que tantos são os que hoje dura a mesma feira, em cujo tempo não so elles fazem maior despesa , mas está como paralysada nos mais afaze- res a mesma Povoação, em que ella existe. As providencias acerca de se obrigarem os vendeiros ; das taxas ; numero certo ou proporcional delles não so era a pratica geral da- quelle tempo , mas também era d'alguma sorte necessária n'huma. Filia novamente erecta , em que ijiáo havia pessoas dedicadas a este trafico, precisando-se pois não so a segu- rança da persistência uelle para não haver falta na venda- gem dos géneros da primeira necessidade , mas também a coarctação no numero para evitar o desamparo dos mais officios mecânicos , a traficancia , e adulteração dos géne- ros , o que deu motivo ás determinações da assistência do Procurador do Povo no fornecimento dos vinhos , e as mais pertencentes ao pão &c. Foi necessária para acautelar a rapina dos rendeiros a declaração de se não pagar siza dos géneros da primeira necessidade , bem como de muita utilidade a de se vender o peiífe ao arrátel , porém es- ta (a) Livro das Correijões da Vilfa asno de 1750. i dasScienciasdeI^isboa. 45* ta ainda se conserva em desuso á excepção da venda da raia c congro contra o bem da sociedade principalmenre dos pobres. §. III. Relativamente a agricultura e pescaria ha as de- terminações seguintes : A prohibiçáo de andarem bestas destravadas , porcos sem pastos , c cães daninhos (a). Marcar-se o tempo da vindima depois do dia 26 de setembro , impondo-se penas a quem trouxer vara de mais de cinco palmos de comprido, ou se encontre colhendo uvas , castanhas , ou landes (Z»). A obrigação de trazer perante o Almotace em dia certo do mez de maio , e aprazado huma dúzia de cabeças de pardaes cada lavrador que agricultar terras (c). A marca da rede com que se pode pescar nos Rios Souza e Cavalluvi (d). São tão conformes algumas destas providencias com as referidas no §. IF. do Cap. IX. , que se faz desne- cessária outra qualquer reflexão alem do que ahi se ex- pendeu , á excepção do artigo da obrigação de apresentar cada lavrador as cabeças de pardaes, medida geral, e cuja utilidade he manifesta por ser a sobredita ave muito da- ninha. Assim ella não estivesse em desuso, CAPITULO XII. Da População da Filia de Arrifana de Souza. §. I. VJTrande variedade se encontra nos Escriptores acerca da população desta Ftlla , desculpada porem peia dif- (a) L. I. das Ver. a folh. 64. (ò) Idem a folh. 69. (c) L. IV. idem a folh. 100. \d) L. lí. idem a folh. 33. 46 Memorias da Academia Real difficuldade que ha em obter relações verídicas atai respei- to. Qiicm ha que ignore o methodo imperfeito da designa- ção dos fogos adoptado pelos Parochos , única fonte onde se pôde recorrer , e onde se pôde encontrar alguma vera- cidade ? A esta difficuldade geral accresce a particular de se dar por própria do Ltigar , e Villa de Arrifana a Po- voação de toda a Freguezia de S. Martinho de Arrifana : o que eu emendarei quando couber no mappa , que apre- sento : j dasScienciasdeLisboa. 47 §. II. Mappa da Povoa-çao de Arrifana de Souza. A IMAS Nascimentos Mortos. Fogos. Maiore» Mínorfs Legitimes Vatiirae* ti 1^ Maiores Anno. 0 2 2 i 0 < c S :r c = r: õ a 3 0 0 3 M E s <« 2 'J õ .3 = lf.3i (■') ( 174 ^i9 .;Si P re .10 40 — — >í(3 ioc • - 1^,5 )0C 1 (0 600 'SU V ló i! 1 4« 1 2;f: iy4o 2f !! < 4.^ > 12 0 17 12 24 40 iSjí 2) I7H 529 S9 61R 1)50 1 26; 489 IS09 1)8 71 209 2018 1 41 14 «? 1745 (/) (■i 259 74Í 4Í4 414 >7'9 329 [29 3S8 2IO( 2S ii 6/ 8 2 10 61 1 1 27 |-(5 úl? (&i 798 1 J4'' 1700 99 «2 161 iSCi i- 20 í2 ^.8 Ir ,, i;1o 1 {/") ■Í27 176 So, I)2Ç ti) 17S2 S8 79 167 19».; 10 ! >! 1! = r ,, iS i' 1766 So^ 1970 (rt) Catalogo doi Bispos do Poito. P, II, Cap. 46 pag. q63, {Ii) h\v. das Correiqões de Arrilana. Anno i6j3. (c) Agiologio Lusitano T. I. paj, 523. (d) Mappa na Coiistituiqão do Bispado do Poito. \e\ Lista do Marquez d^Abrantes. -{f) Kol dos confesiadoi da Fceguezia , e livros dos assentos de baptismos , casaaíntos , e mortos. {g) Ariifana de Souia illustrada. M. S< 4? Memorias DA Academia Real §. III. Do presente mappa se collige que desde o an- ho de 1623 até o de 1742 progrcdio a população em augmcnto de 732 almas \ e que daqui por diante tornou a haver diminuição , se bem que augmento em fogos,. Não podendo alcançar o motivo da diminuição da popula-, ção , par«ce-me que se pode attribuir o augmento delia d maior civilização, que os Povos forão tomando neste Rei- no , e rnuito principalmente pelo impulso dado pela Ci- dade do Porto y que com o progressivo augmento do seu commercio animava os Povos comarcãos, e particularmen- te aquelles , que demoravão em lugares ou pontos interme dios por onde gyrava o mesmo trafico. Se combinarmos porem a mencioiíada população com o numero àos fogos li na epocha mesmo do seu maior augmento , ou no anrko de I 1742, acha-se haver a proporção de 2-^:1, quantidade as- saz diminuta relativamente a' população de outros Estados àa Europa , em que se tem encontrado dobrada. Este augmen- to porém de fogos ^ e consequente diminuição proporcional de almas he a meu ver apparente, e nascida da maneira, com que o Parocho conta os fogos no rol dos cmifessados y o qual consiste em considerar como fogo á parte qualquer pessoa existente e mesmo unida a huma familia , huma vez que não seja mulher, filho, ou domestico do chefe de fa- milia , donde se occasiona que pela morte de hum chefe de familia que fazia somente hum fogo , se escrevem dahi por diante no mesmo rol três , quatro , è ás vezes mais fo- gos , pratica nascida para multiplicar os benesses, que os íreguezes pagão como chefes de familia , ou fazendo hum fogo separado. Sendo este motivo commum a todos os Pa- rochos ^ está rrtanifesta a origam da imperfeição dos mappas Estatísticos de Portugal neste particular, e dasdeducções,^ que delles se possâo tirar relativamente ás mais Nações. CA- DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 49 CAPITULO XIII. Das armas antigas e modernas da Villa. §. I. X^ So ha nos livros da Camará da Villa de Ar^ rifatia de Souza documento algum que indique quaes erão as arma! que a Villa tinha, ou quaes as que tomou, po- rém o Padre João de Meirelles Beça , que tão extensa e prolixamente escreveu no anno de 1766 a sua Arrifana de Souza Illustrada diz que os moradores desta Filia nesta sua «ova creação além de tomarem por Padroeira a Virgem Nos- sa Senhora da Conceição tomarão tambtm por armas huma Imagem da mesma Senhora (a). Merece este Auctor todo o credito por ser coevo , e até natural da mesma Villa , e por isso o seu testemunho fica supprindo a falta que houve na Camará em nlo fazer menção desta innovaçáo \ testemu- nho que se vigora com a tradição actual de que nas li- cenças dadas pela Camará se achava estampada a Imagem- da Senhora da Conceição. Ignoro qual fosse o motivo desta escolha , que parece ou eflíeito da piedade dos habitantes expressada pela Camará na sua determinação , ou imitação das armas dal Cidades de Braga e Porto , que também tem a Virgem estampada, se bem que acompanhada com outros emblemas. Mas tinha Arrifana armas antes de ser Villa ? , qual a sua origem ? Eis aqui mais hum assumpto para ele- ctrizar a imaginação dos amadores de couzas singulares. §. II. Rodrigo Mendes da Sylva dá por armas a Arrifa^ na de Souza duas espadas com a ponta para cima parallelas dentro de hum escudo , e no meio delias huma crtíz com huma águia por cima , (i) mas sem indicar donde extrahio esta noticia, nem qual seja o motivo delias. Fr. Gil de S. T. X. P. II G Ben- (a) A folh. 198 do M. S. l}) Fgblacioa Genexai de Espana cap. 116. ^ Meuokias da A.CAO£MrA Real to contemporâneo deste Auctor nâo se apartando do expos- to entra na explicação delias pela maneira seguinte {a). §. III. Aquelles , que derivâo o nome Ârrijiina de ^»« rifiamma semelhante ao Lábaro dos Romanos , deduzem as armas acima referidas da cifra que elle tinha inscripta, a saber ^t » pondo porem em lugar de X duas espadas encru- gadas , e coroadas pela cruz : porem esta deducçáo he tão precária , como a derivação de Arrifana o he de Âurifiam- wrt, como se provou no §. II. do cap. IIL § IV. Aquelles, que fizerâo ou acreditarão ser Fayão Soares tronco da casa dos Souzat , e fundador de Arrifana , ▼íj buscar a origem das armas a três factos diversos da mesma familia Souza. 1° Para eternizar a memoria de haverem entrado na celebre batalha das Navas de Tolosa dada no anno de 121a Gil Fasques de Souza , e seu irmão fedro Dias de Souza \ denotando as espadas as armas de cada hum ; ucruz a ima-. gem da que appareceu no Ceo naquella arriscada cmpre* sâ ; e a águia o symbolo do Concelho de Aguiar de Sou-' «(», do- qual bem como de Arrifana os Souzas erao Senho- res. Esta derivação porém fica sem valor á vista do que se expendeu no §. /. do cap. II. ; bem como porque senãa produzirá hum único monumento , que mostre haverem os Sou- zas possuido o senhorio de Arrifana (b) , e eu chamo em meu abono a rodos os genealógicos da Casa de Souza. Além de que he chimerica a existência de taes Souzas na epocha mencionada (c) ; assim como o he , ou pelo menos muito duvidosa a apparição da cruz na sobredita batalha , celebre muito embora a Igreja de Toledo este facto {d). a." Por concessão de D. João 1. segundo refere Ma- noel (a) M. S. jã menciouado nesta obra. (b) Veja-8e o cap. VII. • (c) Historia Genealógica da C. Real T. XII. P. I. L. XIV, Cap, I. e seffuiutes. (d) Histoire Ecclesiastique de Fleuri. T. XVI, L. 77. e Elemens d'UÍ£toire Generala de MiUot. T. VI. l!:pecb. V. Cap. VIU. DAS SciENCIAS DE LiSBOA. ^l noel de Fatia e Souza nas suas Empresas militares dizendo D. Lopo Dias de Sosa depois de ligitimados sus hijos por el Pontífice pidio ai Rey D. Joan 1. armas para la Villa de que era setior el qual le concidio la niisma cruz de su orden e dos espadas. Este D. Lopo era oitavo Mestre da Ordem de Chris- to pelos annos de 1430. Porem esta origem está em mani- festa contradicção com a superior , pois se ell^s forão toma- das cm 1 1 1 2 , como as pedio D. Lopo Dias de Souza ? e labora no mesmo erro de que Arrifana era senhorio dos Souzas , e por consequência tão imaginaria esta como a pri- meira, He verdade D. Jeúio I. legitimou os filhos de D. Lopo , mas isto foi á hora da morte deste {a) , c bem pou- co se deveria elle interessar n'hum objecto que nada tinha de consciência n'huma hora tal , ainda mesmo que a Villa de que era Senhor fosse Arrifana , o que Faria não expres- sa: nem este Auctor escreveu tal obra , mzssltn Ac{oespoli' ticas y militares , nem nessa occasião Arrifana era Villa , co- mo está demonstrado no cap, X. 3." Para perpetuar o facto acontecido entre Martim Affonso de Souza e o grande Capitão Gonsalo Fernandes de Córdova , por quanto sendo aquelle mancebo mandado por seu Pai acompanhar ao grande Capitão y este em agrade- cimento lhe lançou ao pescoço hum collar de ouro , por cujo motivo o Souza tanto se affrontou , que para o desaggra- var lhe cingio o Córdova a sua própria espada , ficando des- ta sorte Martim Affonso com duas. Mas quem abona este acontecimento ? ou que Martim Affmiso foi o representan- te oesta scena? Forão coevos zo grande Capitão Martim Af- fonro de Souza quarto Senhor de Mortagoa (b) ; Martim Affonso de Souza o primeiro Senhor de Govea (c) • e Mar- tim Affonso de Souza irmão illegitimo do antecedente (d)j G ii alem (a) Histor. Geneal. T. XII. P. I. L. XIV. Cap. 7. (b) Historia Genealógica T. XII. P. II. L. XIV. parte UI. Cap. X, (c) Idem Cap. XI. pag. 198. {W) Idem pag. 800, ^7, Memokias da Academia Real alem de que cm quanto senão provar evidentemente o se- nhario âos Souzas tmArrifana^ o que julgo impossível, fi- câo sendo insubsistentes codas as opiniões , que a este xes« ' peito se possão imaginar. §. V. O Padre João de Meirelles Beça recorre a inter- pretação symbolica , sem se lembrar áo% Souzas ^ ededuias duas espadas mostrando as duas Commendas da Ordem de Cbristo desta Villa reunidas n'huma , cuja união se caracte- riza pela cruz ^ não se esquecendo ainda de symbolizar as três virtudes theologaes , ou as quatro cardeaes {a) j mas tudo isto carece de refutação por se conhecer logo sev pas- ,to de imaginação. §. VI. Não contentes ainda os visionários da gloria da sua Pátria com estas armas vão buscar outras mais an- tigas pela forma seguinte : Purificada nesta Provinda a Lei Evangélica , e expulsada delia totalmente a gentilidade , he tra- dição que se edificarão nesta Villa três Igrejas , a que hoje são correspondentes a de S. Martinho de Moazeres , a do Es' pirito Sancto , e a de S. Bartholomeo , em memoria do que , e da sua grande fé , e veneração que tinhão aos templos , os mo- radores desta Villa labrarão para si bum escudo de armas em que gravarão as três Igrejas , de cujas armas usarão antiga- mente (b). He digno de admiração encontrasse o Juctir no- ticia destas antigas armas pela tradição em 1766, e que Rodrigo Mendes , e Fr. Gil nada encontrassem hum século antes. Huma asserção desta natureza exige provas mais au- thenticas do que a tradição confusa ja pela grande distan- cia dos tempos, ja pelas pessoas entre as quaes ella gras- sa. Mas que credito deverá merecer a opinião de hum Escriptor , que acompanha a sua exposição com factos in- teiramente falsos ? Diz elle que se edificarão na Villa de Arrifana de Souza três Igrejas. Custa a acreditar como hum Escriptor nacional , e quando menos morador a'huma Pre- gue- (a) (ò) Arrifaaa de Souza Ulustr. M. S. folh. 291. DAS SciBNCIAS DE LiSBOA. 5-^ guezia limítrofe possa dizer semelhante falsidade , pois neru no tempo que eíie escreveu , nem nos tempos mais remo- tos teve esta Povoação huma extensão tal , que abrangesse o que medeia entre a capella de Santa Luzia naquelle tem- po S. Martinho de Moazeres , e a capella de S. Baríholotngo de Louredo j porque isto a constituiria Povoação de tal con- sideração , que apezar de infortúnios , ainda hoje as suas ruinas inculcariáo a grandeza que tinha. Sabe-se muito bem , c a seu tempo se dirá que a capella da Senhora d' Ajuda , eadeS. Mamede , que hoje estão no centro da Cidade, erão ainda em. tempos não muito remotos situados em devesas fora da povoação ; que o chafariz hoje da Igreja era cha- mado de cima de Filia ; e que deste sitio para cima , c para as capellas mencionadas he hoje a parte mais popu- losa e nobre da Povoação: como pois havia em Ârrifaua de Souza como Villa aqucllas três Igrejas , que segundo o mesmo Auctor , e outros erão naquelle primitivo tempo Parochiaes ? Mas em fim digão-se couzas novas e singula- res , e pouco importa a verdade delias. Tal era o gosto lit- terario y em quanto a sâ critica não veio abrir o trilho da verdade. CAPITULO XIV. De certas figurat que bavião no ctmhal de bumas casas. §. I. X\ Ao parão ainda aqui os devaneos acerca das armas de Arrifana , não contentes ainda com a origem re- mota da Auriflamma pertendem achar no gentilismo novo obje- cto ás suas especulações. Porem que se encontra nisto ? brincos da fantasia , e nada de prova. No cunhal de humas casas sitas abaixo da Igreja Parochial na rua chamada na- quelle tempo da Fragueda , e hoje rua direita de sob Igre- ja j para o lado do norte se vião insculpidas três cabeças , que represeaca?io ser de homem, de mulher, e de bruto, e 54 Memorias DA Academia Real e nada mais he perciso para se dizer estas são asprimeiras armas que desde o tempo da gentilidade , e principio de que se não lembra tomou a Filia de Arrifana de Souza {a). Que sim- plicidade ! . . . . Se as figuras , que se vem insculpidas em alguns sitios das Povoações , fossem as armas das mesmas , haveria tal que contaria dez e doze armas , a que senão po- deria dar outra origem e significação senão a que a preoc- cupação dos Auctores suggerisse. Tal he a presente. §. II. Os amadores da gloria da sua Pátria vião nas cabeças humanas a de huma donzella , e de hum mancebo y e na outra a de huma balea , por haverem lido em Faria e Souza o sacrifício , que os Povos de Setúbal instituirão por haver o mar arrojado áquellas praias hum grande monstro marinho , que elles tomarão por divindade , e a quem annualmente sacrificavão hum mancebo e huma don- zella (b) : e os amadores do ridiculo encontravao nellas a de huma besta fanada , e as dos que a levantavão e tan- gião dizendo arre fanada. Não sei qual das duas opiniões he mais digna de desprezo , e mal se compadece como Arrifana , de que ha memorias somente do século nono por diante, fosse buscar as suas armas aogentilismo dedu- zidas de hum facto acontecido segundo Paria e Souza 1300 annos antes. He certo que depois da erecção da Villa de Arrifana em Cidade se mandarão picar e desfazer as taes figuras preferindo os habitantes da Cidade o esquecimento da exprobração á gloria da antiguidade que ellas inculcavão. CA- (a) Arrif. de Souza Illustr. M. S. a folh. 191. \h) Epitome de las Historias Portuguezas P. I. Cap. 17. DAS SctENCIAS DE LítfiOA. ff CAPITULO XV. Dar pessoas que mais se destinguirilo em Arrifana de SeuX$t §. I, ^ERiA bastante extenso este capitulo, se cu qui» zcsse memorar todas as pessoas de hum e outr» sexo, qu« forâo elevadas a empregos civis e honoríficos ; bem co- mo as que se distinguirão no exercício das virtudes chris- tãs ; e merecerão o respeito dos seus contemporâneos : niaií não he justo enfadar os leitores, e encher paginas coíti couzas ordinárias , dependentes de circunstancias particula- res , ou do conhecimento maior que cada hum alcançou dol seus deveres políticos ou religiosos, e por isso me limita* rei a publicar a biografia daquelles , em quem apparcccrctft virtudes mais relevantes , empregos mais honoríficos , litte» ratura mais ampla e conhecida , sendo abonada eom aucta* ridade que mereça fe. §. II. I. Affonio Fernanlts Barbuz ou Bariaã exerced o officio de ferreiro , posto que descendente de huma fami* lia illustre, o que lhe servia de maior incentivo no exer* cicio da sua humildade christâ. A sua charidade era tãa ardente, que não somente empregava o producto do3 seu* bens , e fructos dos seus trabalhos eíti acudir aos pobres principalmente enfermos, a quem recolhia também em sua casa, mas zeloso pela salvação do próximo empregava oâ Domingos e dias Sanctos na lição e explicação da TÍda dol Sanctos , expondo-lhe as virtudes , que mais ennobrecerão aquelles varões, nossos dignos exeftiplares. E pafa que na- da faltasse para achrysolar a sua charidade , elle mandava di« zer grande numero de missas pelas almas do Purgatório , encommendava-as de noite com campainha i% oraçócs doi fieis, e frequentes vezes vinha nas madrugadis lançar agoa benta sobre as sepulturas , e applícar-Ihes orações e suffrjgios. Tal chegou a ser a reputa|áo deste vaca» ^ ^u« ae diz,ia en- tre j6 Memorias da Academia Real tre os seus contemporâneos que as almas dos fieis finados se levantaTao dos seus jazigos nas sextas feiras para o acom- panharem , em quanto elle se empregava em as beneficiar. Prevendo a hora da sua morte se fez conduzir a sitio , don- de podesse ver o Ceo , e pondo nelle os olhos dormio no Senhor a 9 d'Abril de 1579 deixando em seu testamen- to vários legados pios. Attribue-se aeste a encommendaçáo das almas pelas noites, bem como o principio da Confra- ria das almas da Villa. (a) 2. António Barbosa abraçou o Instituto Jesuítico em 13 de março de 1624. Desejando empregar-se nas missões do oriente alcançou faculdade de seus superiores para hir bus- car aquellas regiões , e foi empregado na abertura da no- va missão da Cochinchina , onde converteu grande numero de infiéis para o rebanho de Jesus Chfisto ; mas não lhe, permittindo as suas forças fysicas a continuação de tão im- pori;ante serviço , por haver nelle adquerido huma tisica , vol- tou para Goa , onde descança até á consummaçâo dos sécu- los , offerecendo a Deos as primícias da sua nova cultura evangélica. Esta missão foi de summa utilidade aos mais Mis- sionários , por quanto Barbosa escreveu hum Diccionario da Língua Anatnitica (Lingua a mais ordinária da Cochinchina) o qual sérvio de principal fundamento para o Diccionario , que da mesma Lingua imprimio çm Roma na Latina o Pa- dre Alexandre Rhodes , como elle mesmo confessa, {b) 3. Fr. António da Resurreição era morador no Con- vento da Conceição de Matozinhos pertencente á ordem dos Frades menores de S. Francisco da Provinda de Portugal no anno de iS77 > quando os moradores de Arrifana opprimi- dos pela peste, e exhaiitos de auxílios temporaes e espi- rituaes implorarão o soccorro da Cidade do Porto. Então este valeroso athleta sahio a campo a acudir a seus desgra- çados patrícios , e por tempo de hum mez empregou o seu des- (a"» Agioloyio LusitaDO T. II. pag. 484. (i) Bibliotheca Lusitana de Barbosa. DAS SciENCIAS DB LiSBOA. J7 desvelo, e ardente charidade não so no serviço espiritual, mas também no corporal, por quanto elle era o Aledico e Cirurgião na applicação das mezinhas ; elle o enfermeiro ; elle o criado , que sobre seus hombros carregava com os viveres , que a piedade dos fieis trazia á Ponte Sepeda re- ceando avizinhar-sc mais do lugar apestado j elle o covei- ro , que com suas mãos ungidas abria as sepulturas , e dava á terra os restos mortaes de seus concidadãos , depois de lhes haver recebido os seus últimos suspiros com as admoesta- ções filhas do seu zelo pela salvação de suas almas. Quan- do o mal diminuía de forças, as empregou todas neste va- rão, que estimou ultimar o seu sacrifício cedendo á violên- cia do ataque em 25- de fevereiro de IJ77 cheio ainda assim mesmo da mais achrysolada charidade, porque logo que se persentio ferido do mal , se encerrou no lugar veda- do, fez vir hum Sacerdote que o ouvio de confissão da partft de fora , para que o seu hálito o não prejudicasse , e por dous dias contínuos entoou cânticos áquelle Senhor que pela nossa Redempção não duvidou sacrificar a sua vida. Foi seu corpo enterrado juncto á estrada, e os moradores de Arrifana agradecidos lhe levantarão hum tumulo , que ainda heje existe para eternizar as suas heróicas virtudes {a). 4. Fr. Bento da Ascensão ou Reimão foi Monoe Be- nedíctino , e Doutor em Theologia pela Universidade de Coim- bra ,• Abbade por duas vezes na sua Congregação , e fale» ceu em 1728. Escreveu Vida e Martyrio de Santa Quitéria Lisboa , 1722 ; e Novena de Santa Quitéria , Lisboa 1727 (i). 5. Fr. Bento da Cruz foi Monge Benedictino na Pro- víncia do Brasil. A sua eloquência o fez distinguir nos púlpitos do Reino , Brasil , e índias Hespanholas , merecen- do ser eleito Abbade duas vezes, e finalmente Definidor T. X. P. IL H da (a) Historia Seráfica dos Frades meuores de S, Francisco da Pro- víncia de Portugal. P. II. L. X. cap. 49 pag. 498, e Agiol. Lusit. T. I. pag. 517. * {b) J^blioth. Lusit. de Barbosa, fS Memorias da Academia Real da sua Ordem. Foi hum dos grandes cooperadores para a total expulsão dos Hollandezes de Pernambuco., e faleceu pelos annos de 1662 a i66y. Escreveu Sermão de S. Se- bastião., Lisboa 1646 (a). 6. Fr, Bento da Gloria singularizou-se tanto na Congre- gação Benedictina pela sua charidade , e boa administra- ção , que mereceu ser eleito Geral segunda vez passando hum so triennio contra as actas da Congregação. Era tão observante nas suas obrigações, que quando era Prelado , ja mais foi precedido por algum Monge nos actos de Commu- nidade. Trazia sempre presente , e recommendava aos mais Prelados as três máximas seguintes : Não faltar a Deos com o culto , que se lhe deve. — Não faltar aos Monges com o preciso para a vida e consolação. — Não faltar aos pobres com a esmola , e agasalho de que necessitão. Morreu em maio de 1672 (b). 7, Fr. Bento de S. Thomas, Monge Benedictino pelos seus merecimentos alcançou os cargos da sua Congregação até 30 de Geral com grande aceiraçap. Sendo Doutor em Theologia foi Lente de duas Cadeiras desta Faculdade na Universidade de Coimbra , conseguindo a de Véspera em concurso com outros Oppositores mais antigos , porem a sua litteratura sobresahia tanto, queElReiD Pedro II. não so lhe concedeu a Cadeira em questão , mas até em gratifica- ção lhe concedeu para hum sobrinho o Habito da Ordem de Christo com fO(^ réis de tença. Morreu desgraçadamente em junho de lópf precipitando-se do zimbório da Igreja do Collegio de S. Bento de Coimbra. Escreveu vários tracta- dos, em que mostra erudição e sã doutrina, e que ainda se conservai) M, S. a saber : — De Noe et arca = , De Abra- ham — , De Joseph — De Jacob = De Ruth = In librum Jttdicum ~ De peccato originali — (f). 8. {a) Biblioth. de Barbosa. (i) Elogio dos R.""" pag. 226. (c) Elogio dos R.'"<>'' da Congregação Beaedictina pag. 261, DAS SciENciASDE Lisboa. ^9 8. D. Bernardino dus Anjos professou o Instituto dos Cónegos Regrantes de Sunto Agostinho no Real Convento de Sancsa Cruz de Covnbra : graduou-se na Faculdade de Iheolo' gia da Universidade de Coimbra., foi Reitor naCollegio m- vo , e as suas letras e capacidade o fizerão conhecer a Fr. Gaspar Moscôso para o eleger D. Pmr Geral ^ cujo empre- go bem como o de Cancellario da Universidade , que lhe he anncxo ,. exerceu com o acerto , que delle se esperava. Mor- reu em 20 de outubro de 1727. Na livraria do Convento de Sancta Cruz de Coimbra se guardão com apreço dous vo- lumes in folio de sermões panegyricos , e nioraes deste va- rão [a). 9. Catharina do Espirito Sancto logo desde a infância se entregou á practica das virtudes , e com tal fervor , que não faltando á satisfação das obrigações domesticas todo mais tempo occupava cm fervorosa e continua oração na Igreja de Santo Antotiiu do Convento àosCaptichos desta vil- la. Occupavâo-na de tal maneira as meditações das couzas celestes , que começou a sentir com cilas humas suspen- sões de todos os sentidos taes , e com tanta frequência , que se fizerão publicas , e motivarão ser julgada por alguns como favorecida de Deos , e por outros que era o maior numero como embusteira , ou possuída pelo demónio : até que chamada ao Porto pelo Excellentissimo Bispo D. João de Souza , a quem foi delatada , ahi na sua presença á vis- ta da Imagem do Senhor Ecce Homo ficando extática na forma do costume confundio a malcvolencia de seus accu- sadores. Forão estes favores contínuos por espaço de qua- tro annos , e no dia das Chagas de S. Francisco mais públi- cos , por isso que ficou desde pela manha até á noite com os braços em cruz na sobredicta Igreja dos Capuchos , e pe- la instancia de seu confessor conseguio de Deos a commu- tação destes favores em dores e afflicçÕes, que dahi por H li dian- (a) BibUoth. LuúUoA. l $0 Memorias da Academia Real diante a perseguiâo principalmente nas festividades dos sagrados niysterios. Havendo sido convidada para se reco* Iher em algum Convento sempre se excusou dizendo se ha- via de recolher em casa própria da villa , a qual ainda náo existia , nem lembrava , mas que passados annos se realizou pelo estabelecimento do Recolhimento da Senhora da Conceição , onde^ foi admittida. Aqui a sua vida foi toda an- gélica pelas ásperas penitencias com que se macerava , tor- mentos que soffria, assiduaS orações a que se entregava, favores sobrenaturacs que experimentava , e predicções que fazia , até que cahindo enferma por espaço de seis mezes , e predizendo a sua morte para huma quinta feira em 173 1 deixou os despojos mortaes flexiveis, emanando sangue das chag is , que tinha , por espaço de três dias , não sem o prodigio de se illuminar a pobre cella , em que morava , com huma luz sobrenatural. Seu corpo esteve exposto por três dias ao povo, o que deu motivo a alguns motins, bem co- mo a dizer-se obrara alguns milagres. Estes factos constão dos apontamentos que a Serva de Deos deixou , do que es- creveu o próprio confessor , e do testemunho que derâo as pessoas que os presenciarão , e publicarão depois da sua morte {a). 10. Fr. Gaspar de Arrifana Religioso daProvincia da Soledade foi insigne na sua Ordem , nâo so por ser eleito oito vezes Guardião , mas também pelas suas virtudes chris- tâs , sendo da humildade a que mais o realçava , por quanto até mesmo depois de chegar a huma idade avan- çada se empregava assiduamente nos serviços mais baixos da casa , em os quaes era mais diligente do que os Coris- tas a quem p^tenciâo. Finalmente assistindo á festa de Sancto António no anno de 1664 , e acabando de lavar a louça perguntou aos Padres se queriáo alguma couza para o Ceo , e se retirou para o seu cubiculo j porém faltando el- '•{a) Historia do Recolhimento da Senhoia da Coucei;ão. M. S. do Caiturio do mesmo Recolhimeato. DAS SciBHCIAS DE LiSBOA. éC elle no coro, e mais actos de Communidade , e procura- do por parte do Prelado foi encontrado nelle morto de joe- lhos defronte do seu oratório cora as mãos erguidas para o Ceo ; para onde piamente se deve acreditar voaria a sua alma , verificaido a despedida que fizera aos seus compa- nheiros , e que elles attribuirão a galantaria antes do qu« a verdadeira ausência (a). 11. Gonsalt de Meir elles Freire foi Doutor na TacuU dade de Leis da Universidade de Coimbra , e na mesma Leii' te por alguns arjios ; passou a seguir os lugares da Ma- gistratura , nos quaes subio a Desembargador do Paço no Rei- nado de ElKei L. Pedro II. , distinguindo-se de tal ma- neira pela sua litteratura e inteireza , que por Decreto de i j de julho de 1679 foi hum dos Desembargadores nomea- dos para a nova Collecção de Leis desde a sua ultima refor- mação. Instituio o Morgado £ Avelleda dentro da Freguezia desta villa ., è morreu em 1755' (6). 1 2. Jeronymo de Souza Sanctiago foi Governador de C«- bo verde com patente de Capitão no tempo da acclamaçâo de ElRei D. João IV. e por consequência hum dos que cooperou para a reducção daquella Colónia ao domínio do seu legitimo Soberano. (í). 13. ^T. Jeronymo de Souza Sanctiago , Monge Benedicti' no , Doutor na Faculdade de Theologia pela Universidade de Coimbra , Qualificador do Soneto Officio , e Examinador das Ordens , foi muito perito nas Sciencias Mathematicas , cu- jas Cadeiras substiruio algumas vezes. D. Pedro IL o no- meou Arcebispo de Cranganor nos Estados da índia , cujo emprego rejeitou por achaques que lhe sobrevierão, e mor- (a) Chronica da Província da Soledade L. V. pag. 814. (6) Corografia Portugália T. I. pag. 38ó, e IcKike CbioHoIogie» Remissivo P. 1. pag. 225. (c) Dicciouuio Geográfico de Cardoso pag. 607t 6% Memorias da Academia Real morreu em 1720 , deixando em M. S. Jiâzo sobre o come' ta y que apparecett em 1680 ;e Panegyrico de S, Bento (a). 1 4. João de Meirelks Beça Cura da Igreja do Salvador de Novellas escreveu em 1766 hum M. S. in.itulado Arri- fana de Souza illustrada , obra sem critica, e:heia de erros, como se pôde colligir do que tenho até tqu referido. , 15". Luiz Freire graduou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra , em que foi lente. He digno de memoria o que refere o Padre Luiz Ca'do'0 deste Frei- re , pois menciona que de tempo muito remoto sempre ha- via na Universidade algum Lente natural de Arrifnna, (b) 16. Fr. Manoel da Ascensão Monge de .y. Bento adqui- rio hum grande nome pela sua litteraturi não somente na Universidade de Coimbra , onde por deiesete annos regeu varias Cadeiras de Theologia, mas também na Corte, dis- tinguindo-o muito D. João IF.^ e principalmente o Prín- cipe D. Theodosto y cuja estima provinha de elle ter obtido quasi todos os votos no Concurso , que k Cadeira de Escriptu- ra mandou abrir o mesmo Monarca. Foi Qualificador do Sançto Qfficioy e Vice Reitor da Universidade , e designado por El Rei para lançar a pedra fundamental do Real Con- vento de Santa Clara de Coimbra, cuja funcçáo se fez em 5 de julho de 1^48 com a maior pompa e solemnidade. Em fim para mostrar quanto todos o distinguião , até obte- ve licença do Ordinário para chrismar , e dar as primeiras ordens mesmo a pessoas , que não erão seus súbditos. Mor- reu em lóóy , e delle ha as obras seguintes: Compendio de exercidos espirituaes ■, Coimbra 165^4: Ceremonial da Congre- gação dos Monges negros da Ordem de S. Bento , Coimbra 1 647 : Tractíitus de Incarnatione , em França. Postillas de Theologia , M. S. forão lidas por muitos annos não so nas aulas da Congregaçã ) , mas Cambem nas da Universidade : Fidas de Fr. Leão de S. Thomaz, e de Fr, Fedro de Menezes , M. S. Bre- (a) Biblioth. Beiiedictina M. S. do Padre Mestre Meirelles. (6) Dicciunario Geog^rafico de Cardoio pair. 607. DAS SciENciAs DE Lisboa. 6] Breve Compendiam in Libros Pbysicorttm Aristotelis Stagirita ^ M. S. De Incarnatione Divini Ferbi 2 vol. de foi. M. S. De Scientia Dei : Foltintate Dei : Pradestitiatione : Angeiis '. Actibus humanis , M. S. 17. Fr. Manoel da Ascensão alêm de ser Doutor etn Theologia se fez digno de grande apreço pela sua grande eloquência no púlpito , merecendo áer chamado por ElRei D. João V. para lhe pregar huma quaresma na capella Real , e pelos Jesuítas para lhes tecer o Panegyrico dos seus Sanctos novos Luiz Gonsaga , e Estanisldo Kostka. Fa- Jeceu cm 1742. Escreveu Serwfío da Canonização de S. Luiz Gonsagaé^c. Coimbra 1728. Tractado de ser S. Bento o Prin- cipe dos Patriarchas , M. S. Compendium Phiíosopbia , M. S. {a). 18. Manoel Freire faleceu em t6^\ com fama de gran- de Medico thcorico , epractico na Universidade de Co/>«Z'rrf, onde foi Lente. Ha dclle Praxeos Medicce titilis tractatiis , M. S. de foi. {b). 19. Manoel Guedes Escacbena foi Lente de Medicina na Universidade de Coimbra , onde regeu varias Cadeiras com applauso universal, e morreu em 166:. Escreveu O^ cio da Puríssima Conceição Síz. em verso, Lisboa 1650. Com' mentaria in Libros Galeni de naturalibus facultatibus , et su- per Librum sectmdum de arte curativa ad Glauconem , et su» per libros de temperamentis et differcntiis fibrium , M. S. (c). 20. Manoel Leal foi Sacerdote de vida tão ajustada , que o Bispo D. João de Valladares lhe pedio celebrasse missa no altar da Senhora da Sylva por huma necessidade urgentíssima ; e acabada a qual o Bispo foi abraçar na Sa- cristia o Sacerdote para dar graças a Deos , por quanto ti- nha recebido noticia de estar remediado o negocio. Fale- ceu com cheiro de sanctidade aos 18 d'abril de 1638 (d). 21. Fr. Manoel Leal de Barros foi conhecido não so na (a) Veja-se a nota antecedente. (ò) (c) Biblioth. Lusit. de Barbosa. {d) Agiologio Luait. dia 18 (l''abril. 6^4 Memobias da Academia Real na sua partia , mas também nos paizes estrangeiros pela sua litterarura , que abrangia Línguas , Poesia , Antiguidades , TbeO' logia , e ambos os Direitos Havendo escolhido a Congre- gação de Sancto Agostinho para nella viver, foi á Universi- dade de Bordeaux , e ahi se douturou em Theologia. Sahio da vida presente em 1691 deixando-nos as obras seguintes: Noticias da Confraria de N. Senhora da Graça de Lisboa , Lisboa 1Ó70. Chrysul ptirificativo y em que se apura o Mona' chato do grande Patriarcha Santo Agostinho , e successao con^ tinuada de sua Ordem Eremitica y Lisboa 1674. Antiguidades de Arrifana de Souza , M. S. Cbronica da Provinda de Por' tiigul P. III. M S. (a). 22. Manoel dos Reis Pereira além da Jurisprudência Canónica , em que se formou na Universidade de Coimbra , te- ve huma séria applicação á Filosofia, Línguas vivas, e Bel- las letras» Foi Juiz de Fora em Angbla , e do Rio de Janei- ro, onde morreu por veneno em 1730 com créditos de homem sábio. Escreveu Cançam ds melhoras do Senhor D. João V. Lisboa 1742. Varias obras poéticas nas Linguas Latina, Ita- liana , Franceza , Hespanhola , e Portugueza , M. S. Traduzio do Italiano Estatutos e Leis da Religião de Malta, M. S. {b), a 3. Mathias Osório Rangel figurou na guerra da accla- maçlo de ElRei D. João IV. subindo ao Posto de tenente do Mestre de Campo General do Alemtejo , e depois da guer- ra foi Governador da praça de Jerumenha {c). 24. Fr. Miguel de S. Bento Monge Beneàictino , e Dou- tor em Theologia , foi preterido com tanta injustiça no pri- meiro provimento das Cadeiras da Faculdade , que ElRei D. Pedro IL lhe concedeu o titulo e honras de Lente , e vulgarmente era denominado o Padre a quem furtarão a Ca- deira , a qual depois regeu de propriedade. Era este homem insigne pela subtileza das suas duvidas. Morreu em 17 18 sendo Consultor do Sancto Oficio. EscievcM Commentarie' ao Mes- tre (a) (è) Bibliotli. Lusitana. (c) Corografia fortug. T. I. pag. 385. DAS SciENCiAs DE Lisboa. íy tre daí Sentenças em 3 tomos de foi. e 4 de oitavo , M. S. {a). ■ 2 5". Rodrigo Botelho Doutor na Universidade de Coim- bra segulo a carreira da Magistratura , e chegou ao Con- celho da Fazenda. A sua capacidade o fez nomear por D. João ly. pa.r2 a Embaixada , que este Monarca mandou á Rai- nha de Suécia por occasião da sua exaltação ao throno Portuguez. Celebrando-se em Mimster hum Congresso pa- ra a paz da Europa , quiz o Monarca que elle ahi assistis- se , e o condecorou com a dignidade de Desembargador do Paço , e ahi chegou a pezar dos esforços do Imperador £Jlle- manha , do Pappa , e do Rei de Hespatiha , que não querião apparecesse Representante algum Portuguez no dito Con- gresso. Foi porém infructuosa a sua difficil jornada , morren- do em 1643 na mesma Cidade pouco depois de haver a ella chegado {b). 16. Santos Garcez da Motta havendo sido consultado para Juiz de Fora foi por Secretario da Embaixada de seu primo Rodrigo Botelho a Suécia., em cujo serviço se compor- tou de tal maneira , que mereceu ser condecorado pela Rai- nha Christitia com hum collar de ouro , de que pendia hu- ma medalha com o retrato da mesma. Acompanhou a Em- baixada a Munster e Osnabourg , e ahi morreu também no anno de 1644, sendo os seus ossos conduzidos para esta villa por Mamei Garcez da Motta seu sobrinho (c). 2j. Valentim Ribeiro foi muito perito na Poezia, e delle ainda resta hum Poema em oitava rima intitulado Vi^ da de Santo António , M. S. {d) T. X. P. II. I DO- (n) Biblioth. Benedictina, M. S. e noticias que obtive de Coimbra. (6) Portugal restaurado , T. 11. L. VII. pag. 30. (c) Memorias particulares , e arvore Geaealogica de Gaxcezes. {d) Bibliotli. Lusitana de Barbosa. 66 Memorias da Academia Real DOCUMENTOS. N.» I. D. João por graça de Deos , Rei de Portugal , dos Algarves d*aquem e d'alem mar , em Africa Senhor de Guiné , e das Conquistas , Navegação e Commercio da Ethiopia, Arábia, Pérsia, e das índias &c. Faço saber aos que esta Carta virem que por parte dos moradores do Lu- gar de Arrifana de Souza Me foi apresentado hum Alvar rá por Mim assignado , e passado pela Chancellaria , de que o teor he o seguinte = Eu ElRei faço saber , que ha- vendo respeito e Me representarão os moradores do Lu- gar de Arrifana de Souza que aquelle Lugar era mui po- puloso , e ficava em distancia da Cidade do Porto seis lé- guas com muito prejuizo para os moradores delle em seus pleitos, e requerimentos, pedindo-Me lhes fizesse mercê fazello Villa com Jurisdicção separada: e" visto seu reque- rimento, informações que se houve pelo Chanceller da Relação do Porto , ouvindo os Oificiaes da Camará da mes- ma Cidade , e resposta do Procurador da Minha Coroa , e constar que o dito Lugar he mui populoso, e com mui- ta Nobreza , Hei por bem fazer mercê aos Supplicantes de o fa:jer Villa tendo por termo a sua Freguezia de S. Mar- tinho, e a de S. Tiago de Sob Arrifana com Juiz de Fo- ra, que o será também dos Órfãos, e com Jurisdicção se- parada , e desmembrada do Juizo do Geral e Órfãos da Cidade do Porto , como do que a Villa e termo pagaráò ordenado ao Juiz de Fora fazendo separação delle no Lan- çamento , tudo sem embargo das doações da dita Cidade do Porto. Pelo que Mando ao Chanceller da Casa do Por- to, e ás mais Justiças , a que o conhecimento disto perten- cer , o tenhão assim entendido , e cumprão este Alvará co- mo nelle se contêm , e pagarão de novos direitos que se carregarão ao Thesoureiro delle a folh. 2S2 do Lívio quar- to DAS SciECIAS DE LiSBOA. 67 to da sua receita , e se registou o conhecimento em forma no Livro quinto do Registo geral a folh. 8o. Lisboa Oc- cidental 25- de Fevereiro de 1741. Rei. Alvará porque Vos- sa Magestade Ha por bem fazer mercê aos moradore'^ do Lugar de Arrifana de Souza de lhes fazer o dito Lugar Villa com Juiz de Fora , que também o será dos Órfãos, com termo ejurisdicção separada da Cidade do Porto , co- mo nelle se declara. Para Vossa Magestade ver. Por reso- lução de Sua Magestade de 18 d'Abril de 1739. D. Mi- guel Maldonado. A folh. 19 do L. VI. ficão carregados da receita ao Thesoureiro delles. Em Consulta do Desembar- go do Paço. Gregório Pereira Fidalgo da Silveira. António Teixeira Alves , Gonçalo Francisco da Costa Sotomaior o fiz' escrever. João de Medeiros o fiz. Fica assentado este Alvará no Livro das mercês , e pagou quatrocentos réis. Pau- lo Nogueira d'Andrade. José Vaz de Carvalho. Pagou qua- torze mil réis pela mercê de se fazer o lugar Villa, e cin- co mil , e quatrocentos réis da mercê de haver nella Juiz de Fora , e aos Officiaes quatro mil réis. Lisboa Occiden- tal 9 de Março de 1741. D, Miguel Maldonado. A folh. 19 do L. VI. da receita ficão carregados ao Thesojireiro delles Manoel António Ferreira quarenta e dous mil réis , que ao passar peIa'Chancellaria este Alvará se achou mais dever de novos direitos , que com quatorze mil réis que ha- vião pago , faz tudo cincoenta e seis mil réis pela mercê de se fazer o dito Lugar Villâ , e assim pagarão mais cin- co mil e quatrocentos réis da mercê de haver nella Juiz de Fora. Lisboa occidental 10 de Março de 1741. Souza. Registado na Chancellaria mór da Corte e Reino no Li- tro dos Ofliciaes e mercês a folh. 41. Lisboa occidental 10 de Março de 1741. José Guilherme. Pcdindo-lhe em virtude do dito Alvará lhe fizesse mercê de mandar passar Carta de Villa , e visto o seu requerimento e resposta do Procurador da Minha Coroa : Hei por bem de fazer mer- cê aos Supplicantes de lhes constituir , como com eflfeito por esta Carta constituo o dito Lugar de Arrifana deSou^ 1 ii i^ 68 Memorias da Academia Real 2a Villa com Juiz de Fora , que o será também dos Orfâos , com termo e Jurisdicçao separada , e desmembrada da Ci- dade do Porto com o termo das duas Freguezias menciona- das no dito Alvará, e obrigação de pagar poranno oiten- ta mil réis de ordenado ao Juiz de Fora. Pelo que Man- do a todas as pessoas , a que o conhecimento disto perten- cer, que assim o tenhão entendido, e cumprão esta Car- ta, como nella se contêm , enãopagaráõ novos direitos pe- los terem pago no Alvará nesta incorporado, como constou por certidão do, Escrivão delles. Lisboa occidental 14 de |Nlarço de 1741. ElRei. Carta porque Vossa Magestade Hl por bem fazer mercê aos moradores do Lugar de Ar- rifana de Souza de lhes fazer o dito Lugar Villa com Juiz de Fora , que o será também dos Órfãos , termo ejurisdicção separada da Cidade do Porto, como acima se declara. Para Vossa Magestade ver. Por resolução de Sua Magestade de 18 d'Abril de 1739. ^"^ consulta do Desembargo do Pa^ ço. António Teixeira Alves , Gonsalo Francisco da Costa Sotomaior a fez escrever. João de Medeiros Teixeira a fez. Gregório Pereira Fidalgo. José Vaz de Carvalho. Nada de novos direitos da Chancellaria pelos haverem ja pagos pe- lo Alvará nesta incorporado , e aos Officiaes dous mil réis. Lisboa occidental 18 de Março de 1741. D. Miguel Mal- donado. Registada na Chancellaria da Corte e Reino no Livro dos Officios e mercês a folh. 46. Lisboa occidental 18 de Março de 1741. Joaquim Guilherme. Fica assentada esta Carta no Livro das mercês e posta averba necessária. Lisboa occidental 17 de Março de 1741 e pagou seiscen- tos réis Paulino Nogueira d'Andrade. &c. L. L do Registo da Gamara da Villa de Arrifaaa de Souza a folh. 2. N.» a. Os do Conselho de Sua Magestade , e do de Sua Real Fazenda em falta de Vedores deUa Sit* Fazemos saber a DAS SCIENCÍAS DE LiSBOA. fíg VÓS Contador da Fazenda da Cidade do Porto , que no Concelho da Fazenda se vio hum requerimento dos mora- dores de Anifana de Souza, em que rcfeiiao que quando o mesmo Senhor fora servido constituir Villa o dito Lugar, ordenara que nella houvesse Juiz de Fora, cujo ordenado fosse pago no Cabeção da siza , e para que os moradores do Concelho de Penafiel não concorressem indevidamente para este pagamento, se ordenara outro sim se separasse a quantia que hum e outros devião pagar, com que se perfi- zesse o computo do Cabeção da siza que pagavão , em cujos termos esperavao se vos ordenasse fizésseis esta sepa- ração , como Presidente do Encabcçamento. Em considera- ção do que , e da informação que á cerca do referido des- tes, do que tudo houve vista ao Procurador da Fazenda , se vos ordena façaes com que os moradores do Concelho elcjão hum Louvado, e os da Villa outro, para em vossa presença arbitrarem a quantia que hum e outros devem pagar , e quando nlo concordem nomeareis terceiro , e pe- lo que determinarem se esteja, e feita a separação fique a Villa pagando , e o Concelho a parte que lhe competir de Cabeção com declaração que o Juiz de Fora da Villa será Juiz das sizas delia , e o Ouvidor do Concelho Juiz das sizas delle , e serão os moradores da Villa Avençaes no Concelho , e os do Concelho na Villa como presente- mente o são antes da separação, visto que além de ser tudo nesta forma justo , o haverem assim requerido hum e outros. Cumpri-o assim. Rafael da Sylva Oliveira a fez em Lisboa a 31 de Janeiro de 1742 annos. Fernando José da Gama Lobo a fez escrever. António Sanches Pereira. An- tónio d'Andrade Rego. Passada por despacho do Conce- lho 'da Fazenda de 30 de Janeiro de J742. Cumpra-se e registe-se &c. &c. ' '■ '■.'" '."■^'■. Cartório da Contadoria da Fazenda dò Porto L. VIL do Registo a folh, 100. PAR' 70 Memorias da Academia Real PARTE II. CAPITULO I. Da Creafao da Filia de Arrifana de Souza em Cidade com o nome de Penafiel. §. I. JL. oi no dia 7 de Julho de 1770 que se abiio na Camará da Villa de Arrifana de Souza a Carta Regia pe- la qual ElRei D. José elevou a mesma Villa á Jerarquia de Cidade com o titulo de Penafiel, (a) Esta graça conce- dida por Alvará de 3 de março do mesmo anflo não foi obtida pelas rogativas do Povo da Villa de Arrifana de Souza , mas sim eflfeito da munificência Real , para que a Cathedral do novo Bispado de Peuqfiel se não estabelecesse com menos dignidade , que as mais do Reino ; e por isso ElRei liberalizou á Cidade de Penafiel os privilégios, , e li- berdades , de que devem gosar e gosao as mais Cidades con- correndo com ellas em todos os actos públicos , e gosando os seus Cidadãos de todas as distincfSes , e preeminências privativas aos das mais Cidades sem differença alguma :.{¥) e para augmentar mais o esplendor da nova Cidade , lhe concedeu ElRel por Termo todo o Concelho de Penafiel , no- meou hum Corregedor e Provedor de Comarca , que formou de novo j e mandou nella estabelecer Cadeiras para o ensir no de Grammatica Latina , de Rhetorica , e Filosofia racional , como se dirá em seu lugar. §. II. He verdade que poucos annos depois perdeu es- ta Cidade o esplendor de Cathedral, e a Cadeira de Gre-^. go'y (a) L. VII. das VereaçSes da Camará de Penafiel a folh. 37. (6) Veja-se o Documeuto ^," I. aa fim dest^ 2.* parte: i DA.S SCIEKCIAS DE LiSBOA. 7I go ; ficou porém conse-rvancto até ao presente todas as mais prerogativas e distiiicçôcs com que havia sido condecora- dj , e no anno de 1814 foi escolhida para quartel do Ba- talhão 6f de Caçadores. §. III. Nas crises politicas occorridas neste Reino des- de o anno de 1807 até ao presente tem Penafiel seguido a sorte das mais Cidades, e a historia destes acontecimen- tos desfigurada em alguns papeis públicos , e até em Do- cu/Dcntos , mereceria ser exarada com imparcialidade ; mas hc mais prudente por ora calar couzas, que podem /i2ser-;Kí conhecer por experiência os espinhos e perigos , de que be rodea- do q^uan escreve a historia do seu tempo (a). CAPITULO II. Da População da Cidade e Freguezia, §. I. J A nos §§. I. e II. do Cap. XI. da primeira par^ te desta obra se notou a imperfeição, que deve haver na formação dos Mappas estatísticos desta Povoação, em quan- to forem tirados dos R 4 3 43 Fre- 7S Freguezia DAS SCIENCIAS DE L I S S O A. . 72 Cazamentos ---_.. ^^ /'Maior. J^'''' ^''^ V \Fem. 23 Morros Natur. < r. \rem. fAIasc. Soma < T^, \rfm. Soma geral Cazamentos r,^ . fMasc. - Maior. < p Soma L Mortos Men. fMasc. - Lpera. Soma Soma If'''' - (.tem. Soma .ger»l §. V. Ahno db i8oO. \ 'Fogos - - - Maior. B'''' Cidade ■( Soma M en. fMasc. l^Fcm. Soma Soma geral Kii 7> 21 I í _iZZ 42 5 + 1 1 1 1 5i f£ c,a 16 '4 21 ij^ 37 30 37 73 6(}z 843 84Z i68j 94 ?9. 133 1818 Al- 7<í Memorias DA Academia Real Fogos .. • /Masc. maior. ■< p. Aldeãs < Men. <; ÍMasc, l Fcm. So ma Soma Soma geral 2J4 2 2, y 4po 39 577 r Fogos I Almas -l aior. ÍM Menor. Total da Freg. < Soma L=s''-{£f: : Nasc. s Nat. Soma jMasc. Fera. /Masc. - - l Fem. - - Soma geral 'Masc. Cazam. - - . fMaior. /i I |Fem. - - Mort. l Men. /í^^^^' " ' » iFem. - - jSoma /Masc- - L \tem. - - Soaia geral ()c6 220 )ÍÍ5 31 27 6 11. 6p It 19 31 29 20 48 yt 99 DAS SclElTCIAS DE LiSBOA. §. VI. Anno de i8io. r Fogos Maior. -< íMasc. - Cidade ■< Mcn, (^Fcm. TMasc. "ÍFem. Soma Soma Soma geral { Fogos - - .. . [Masc. Maior, -i r: \Fein. Aldeafí -; Soma I .T ÍMasc. ! Men. -i r> \Fem. Soma Soma geral 'Fogos * - - Soma Total da Freg. Cazamentos •• - - ! Masc. 77 Nàsc. ^Nat. «^. p /Masc, . ,2°"^* \Fcm, Soma geral 670 706 74 I- + 1741 250 . 187 437 - 44. 2054 210 2264 8 8? 68 125- 2Z. 2az To- -8 Memorias da A c a d e m í a R. e a l Totul da Freg, < ' Maior. < r ' Mort. i Meji. < ^ "^^* " " *- j i^rcm. - - 1 e TMasc. - - boma < , C (^bem, - - Soma peral i7 - 7 ii £4 §. -VII. Akno de 1810. fFogos -.-.V - 66^ Maior. < í Masc. (^Fem. Cidade < Menor. <; l' Fem. fFogos Maior. -< rMasc. i^Fem. Aldeãs -i ,. TMasc. '^^^"«'■- 1 Fem. ' i. •6oma Soma Soma geral So ma Soma Soma geral 794 997 I7j)l fMasc. --------- 45 ('7 1 10 I^C I — 1±L 44+ 3? ^9 64 508 íFogQS -------- 920 TotardaFieguezi.viAlmsKM''"''* ~'^^ ^ ; , i inenor. ----- 174 ■ ^ Soma 2409 To- DAS SciENClAS DE L I S B O A. Ct ■ fMasc. I ° \I-cm. - - ivT ' xT ÍMasc. • INasc. < Natur. < r- _ , . „ . ) I \rein. - - Total da rrc^uczia < íMar .[Soma 8 476 794 2{ leg. S. Maria de Coreixas. 40 93 108 201 \ leg. S. Maria da Eja. 48 96 113 209 2 leg. S. Maria de Peruzello. 109 343 3^3 671 I leg. S. Marinha de Figueiras. 4? 82 90 172 2 leg. S. Martha. 46 143 iji 294 fleg. S. Martinho de Lagares. 159 506 425: 931 li leg- S. Martinho de Melhun- dos. 42 129 14? 274 fJeg- S. Martinho da Cidade de Penafiel 710 1381 1343 2724 S. Martinho de Recezinhos. Na parte que pertence. 128 239 3C0 539 I leg. S. Martinho de Rio de Moinhos. 300 570 476 1046 I i leg. S. Miguel de Bustello. 311 446 740 1186 4 leg. S. Miguel de Entr'am- bos os Rios. 34 69 26 155 3 leg. tíOr DAS SclENCIAS DE LiSBOA NOME DAS FREGUEZIAS, FOCOS. HOMENS h MULHERES. TOTAU DISTANCIA KA CAJITAI.. S. Miguel de Paredes. 8o 108 138 ^58 I T le,'. S. Miguel de Passinhos. 38 64 9S 159 2 leg. S. Miguel de Rans. 8^ 150 194 344 Tleg. S. Miguel d'Urrou. No que pertence. „ 60 48 90 138 41J Tleg. S. Paio da Portella. 1-3 190 22J líleg. S. Paulo de Sebolido. 36 44 64 108 2 •; leg. S. Pedro da boa vista. 60 94 167 z6i I leg S. Pedro de Croça. lyi 21^ 186 401 1 leg. S. Pedro da Sobreira. No que pertence. "3 Í03 223 426 illeg. S. Romão de Villa Cova do Vez d'Aviz. 96 206 21; 421 I leg. S. Salvador de GaUcgos. 139 188 2j6 I444 1 leg S. Salvador de Gandara ou Cabeça Santa. ij8 281 310 591 I \ leg. S. Salvador de Novelias. Na parte que pertence. ^3 8z 102 184 Weg. 7. X. P. II, M PO- PQ Mf-mokias da academia Reae. flOME DAS FREGUESIAS. FOGOS. HOMENS. MVLHERES. TOTAl. DISTANCIA 1)A CAPITAI.. ' S. Salvailor de Pa^o de Souza. 509 76Z 903- 1667 I leg. S. Thiago da Capella. 109 ^39 -3 462 2 Icg. S.TIjiago de Fonte arcada. 5^9 269 263 53^ I ; leg. S. Tliiago de Sob Pena- fiel. No 'que lhe pertence. 18 3^ 3^ 64 \ Ifg- S. Thiago de Valpcdre. 162 288 313 601 I i leg- S. Thomé de Canas. 37 50 98 148 ^leg. S. Vicente de Erivo. ?8 180 - 222 402 ileg. S. Vicente do Pinheiro. íf9 282 250 5-32 1 4 leg- De cujo mappa se collige haver em todo oTermo de Te}iafiel jcbçSo fogos com 2i<í)3 24 almas: calculo que se deve reputar aproximado á verdade quanto ás almas ; pois que aquelle do nosso Sócio o Sr. Franzini apresentado em 21 de Março de 1823 he de 20^318 almas (a) o que dá huma differença em diminuição de 1^006 almas , e são bem patentes os motivos de emigração, guerra, e enfermi- dades que precederão , e que devião occasionar mudança na população: não assim aquelle dos Fogos ^ pois quem se capacitará de que na Freguezia de S. Thiago de Fonte arca^ da ha 529 fogos com 532 almas somente, quando aquella de (ffl) Diário do Governo de Lisboa. Anuo de 1823 N." 94 pag. 790. DAS SciENciAS DE Lisboa. ^\ de S. Salvadof de Paço de Souza com 509 fogos contcrrj 1^667 almas 4 e 5- 3 2 almas tem S, Vicente do Pinheiro corp 159 fogos ? . . §. VI. As FregUezias telacionadas no §. V. são perten- centes ao Terwo de Penafiel , incluídos porem o Couto át Bustello , e a Honra de Barbosa , porque cm ambos se re- conhece a Jurisdicçâo da Cidade no Crime. Sao excluidos os Coutos de Meinedo e Entr'ambos os Rios , aquelle porque ja mais teve dependência alguma de Penafiel como Capital do Termo , e este por estar em desuso , e como esqueci- do, depois que os Corregedores do Porto se introduzirão a praticar actos Judiciaes na Rua de Entr*ambos os Rios ^ que sempre pertencco ao Concelho de Penafiel , sobre o pretexto que sendo a mencionada Rua parte do Couto de Entr^ambos os Rios , cuja Capital está no Lugar do Turrão na margem esquerda do Rio Tantaga e Concelho de Bem viver , lhe competia toda a Jurisdicçâo , por isso que este Concelho he pertencente á Comarca do Porto. §. VII. Tem o Termo de Penafiel por limites os Rios Souza , Taniaga , e Douro pela maneira seguinte. Faz o Rio Souza o limite do Concelho de Penafiel pela parte do Poente desde o Lugar de Sotiza até á pon- te de Casconha , correndo de Norte a Sul , e abrangendo terreno pertencente ás Frcguezias de Bustello , Novellas , S. Thiago de Sob Penafiel , Cidade de Penafiel , Guilhufe , Ur- rou , Erivo , Paço de Souza , e Sobreira na sua margem es- querda , escparando-o dos Concelhos de Lnuzãda , e Aguiar de Souza que lhe demorão na margem direita. Da ponta de Casconha se tira huma linha correndo ao Sul demandan- do a Serra de Santa Iria ^ e desta descendo até ao Rio Dou' ro y ficando-lhe na direita o Concelho à* Aguiar de Souza ^ e depois o terreno pertencente á Villa de Melres , em cu- ja extensão toda terá o Termo quatro legoas. O Rio Dou- ro forma o limite do Termo de Penafiel pela parte do Sul na sua margem direita , subindo para o Nascente desde a yilla de Melres até ao Couto de Eutr*ambos os Rios , com- M. ii pre- pi Memobias da Academia Real piehendendo os Lugares de Estevada e Rio Mdo daFregue» zia de Pedourido sita na margem esquerda do mesmo Rio e Província da Beira , e as Freguezias de Sebolido , Canel- las , e S. Miguel ds Entr'ambos os Rios, na extensão de legoa e meia. O Rio Tamaga marca pela sua margem direita a di- visão do Termo de Penafiel pela parte do Nascente subin- do desde a sua foz no Douro até ao Ribeiro de Pedreiros com direcção de nordeste , e comprchendendo terreno das Freguezias do Turrão, Rio de moinhos, Pacinhos Boelhe', e Líizim em frente do Concelho de Bemviver que fica nft margem esquerda do mesmo Rio. Do Ribeiro de Pedreirof largando o Rio Tamaga segue com direcção de noroeste pela divisão da Freguezia de Villa Cova de vez d'Àviz até Portella do Coutç aonde acaba a mesma Freguezia , e toman»- do desde este ponto a direcção do norte pelo Castanheiro à^agoa de Frades até ao monte do Cracto na Freguezia de Duas Igrejas, em cujo espaço confronta com o Concelho de Porto Carreiro, desce depois com direcção ao nascente, incluindo parte da Freguezia de S. Martinho de Recezinhos^ e confina com a Freguezia de Bustello , occupando cm to- do este transito o espaço de quazi quatro legoas. A parte do norte do Termo de Penafiel he formada so« mente pela Freguezia de Bustello desde que sahe da Fre- guezia de Receziuhos até ao Lugar de Souza , aonde se co- meçou esta descripção , correndo de nascente a poente na extensão de três quartos de legoa , tendo confinantes o Concelho de Santa Cruz de Riba Tamaga, o Couto de Meitiedo , e o Concelho de Unhão. CAPITULO VL Da Jdministração Publica, §. L XTJLE Penafiel Capital de toda a Administração Publica distribuída em huma authoridade Ecclesiastica , enx duas TAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 93 dtias Civis , n'huma Municipal , e em duas Militares , de cada huma das c]uacs se traçará em particular capitulo. CAPITULO VII. Da amhoridade Ecclesiastica. §. I. J.XB Penafiel d^itú áa. Comarca Ecclesiastica de Penafiel , que faz parte do Bispado do Poi'to , e tem hum auditório contencioso composto de hum Vigário Geral ^ que também he jf/«s dos Cazamentos , e dos Resíduos , e Cban- celler , com 200(^000 de ordenado annual ; de hum Pro' motor , e Vigário geral nas vacantes com 80^000 de orde- nado annual , cujas quantias são pagas em dous semestres pelo Thesoureiro da Mitra do Porto j de dous Escrivães do Contencioso; de outro que he Contador y Distribuidor, Inqui' ridor y e Corrector de folhas ^ o qual também serve de Es- crivão do Registo ., de hum Escrivão dos Livros findos ^ a cu- jo cargo está o Cartório intitulado Camará Ecclesiastica exis- tente no Pafo do Bispo ; de hum Meirinho geral , e Solicita- dor das Justiças -j de hum Porteiro e homem da vara, cujos empregos todos são amovíveis , e da nomeação dos Ex.""" Bispos do Porto, Este auditório tem somente Jurisdicção ordinária edelle se recorre directamente por appellação pa- ra o Metropolitano de Braga ; tem audiência nas Segundas e Quintas feiras de cada Semana em caza privativa no men- cionado Paço do Bispo) e foi installado em 28 de Março de 1779 pelos motivos, que se expenderão em seu lugar. §. II. Desde çsta installação até ao presente tem havi- do no auditório quatro Vigários Geraes a saber: i.° João de Souza Pimentel., formado em Direito Canó- nico , e Abbade de S. André de Marecos : Varão sábio , e circunspecto que regeo o auditório até ao anno de 1781 , #m quç foi empregado em Vigário Geral de Malta. p4 Memorias DA Academia Real 2." Manoel de Souza e Silva , formado em Direito Ca- tiontco , e Abbade Rcservatario de S. Feris simo de Novogil- de j foi nomeado em 12 d'Abril de 1781 , e cxerceo este emprego com prudência até á sua morte em 1797- 3.° Theodoro Pinto Coelho de Moura ^ formado em /)í- reito Canónico^ e Abbade Reservatario de S.Nicoldo na Ci- dade do Porto , aonde era Desembargador , e Ministro da Ca' fitara Ecclesiastica , foi nomeado em 23 de Setembro de 1797 » e sérvio com inteireza e dignidade até ao anno de 1809, em que foi promovido a Provixor do Bispado do Porto f que ainda hoje exerce , havendo também governado o mes- mo Bispado como Vigário Capitular por morte do Ex.""" D» António de S. José e Castro. 4.° José de França Castro e Moura , formado e'.n Di- reito Canónico , Promotor , e Desembargador da Meza Epis- copal do Porto , entrou no exercido a 7 de Janeiro de i8ip > e ainda continua. §. III. Ainda que este auditório seja moderno , com' tudo a Comarca ou Arcediagado de Penafiel he bastante antiga , e tem nella havido algumas mudanças. Quando o Bispo do Porto D. Martinho Pires em iiSj unio o Arce- diagado de Penafiel ao Chantrado , huma das quatro dignida- des do Cabido que elle havia creado á imitação da Sé de Braga f estava então o Bispado dividido em dez Arcediaga- ííwasaber, i- da terra de Santa Maria ^ 2. da terra da Maia, 3. de Refoios , 4. à* Aguiar ^ j. de Penafiel^ 6. de Louzada f 7. de Govéa ^ 8. de Bem viver ^ 9. òe Baião y 10,' de Penaguião («) , sendo esta divisão Ecclesiastica confor- me a divisão Civil , ou pelos Julgados respectivamente ás Freguezias pertencentes ao Bispado que estes continhão :' quando o Bispo D. João Affonso Esteves d^ Azambuja em 1398 creou o Arcediagado do Porto ^ e lhe deo districto , tirou de Penafiel duas Freguezias , a saber S. Miguel de Bus- tel- ■ (o) Catalogo dos Bispos do Porto, P. II. Cap. VII. pag. 32. DAS SciENCIAS DE LiSBOA. pjT tello , e S. Pedro de Croça {a) : quando porem D. Fr. Bal- íbasar Limpo em i5'40 fez novas Constituições ^ encontrao- se nellas nomeadas somente quatro Comarcas , a saber a da Maia , a de Penafiel , ú^Eutre Douro e Tamaga , e da Fera e Gayii (b) , c assim se continua até nossos dias, alcerando- se somente na Constituição , que em 1690 fez o Bispo D. yoãa de Souza ^ o nome da Comarca de Entre Douro ^ e Ta- maga naquelle de Comarca de sobre Tamaga , e aquelle de feira e Gaia em o de Feira somente , como já erão designa- dos no Catalogo dos Bispos do Porto, (f) §. IV. Talvez haja quem repare na identidade de signi- £cação que dou aos termos Arcediagado , e Comarca : ao que respondo que esics vocábulos aqui são Synonymos, ao menos desde que se fez a nomeação das quatro Comarcas em 1540 , porque quando nas Constituições Synodaes de D. Fr, Marcos se trata dos Kisitadores ^ que hão de visitar em nome do Bispo , diz assim repartidos pelas Comarcas (d) ; e logo quando trata como se ha de fazer a visita, torna- a fallar nos Are edia gados ^ e que principiando-se a visita de hum Arcediagado se não deve passar a outro sem acabar aquelle principiado , o que indica ser o nome de Arcedia- gado e Comarca o mesmo , por quanto se caia Arcediagado deve ser visitado separadamente ; qual outro território com o nome de Comarca he aquelle a que devem hir os Visita- dores cm nome, e por impedimento do Bispo? Nas ultimas Constituições de 1690 já desapparece absolutamente o titu- lo de Arcediagado substituido por aquelle de Comarca. §. V. Comprehende a Comarca Ecdesiastica de Pena- fiel cento e três Freguezias , a saber quarenta e seis Abba- dias , dezeseis Reitorias , oito Vigairarias , trinta e dous Curatos , e hum Thesourado , como se expõe no Mappa se- guin- (a) Livro do Censual do Porto a folh. 61 .í^. (J) Livro dos que h5o-de ser presentes &c. Constituição l.Tolh. C.y (c) P. IL Cap. 44 e 47. Id) Titulo 33 Ckjnstituição 1.' folh. 140 ;^. 96 Memorias da Academia Real guinte imitado d'aquelle de Agostinho Rebello (a) mas com mudança notável principalmente na população segundo os mappas de 1801 , e i8ii , e notados com este signai. * fAROCHlAS. TÍTULOS. PADROADOS, FOGOS. ALMAS. RENDIMENTOS. CONCELHOS. S. Adrião de Conas. * Reitoria. Bispo. 150 749 100:000 Penafiel. S. André de Cristellos. Abbadia. Alternativa Papa. Bi»po e Convento da Serra. loS 1)9 600:000 • Louzada. S. Andió de Marecos. * Abbadia. Mitra. 168 72) \ 900:000 Penafiel. S. André de Sobrado. Abb. Caza de Paniplonas. 170 759 1 000:000 Aguiar de Souza. S. André de Villa boa de Guerei. » Reit. Caza de Bragança. i'9 1:363 400:000 Porto Carreiro. S. António da Lomba. Curato. Abbade de Melres. 9S 409 ío;ooo Couto de Melres. S. Christováo de Loucedo* Abb. Universidade de Coimbra. 116 )75 8^0:000 Aguiar de Souza. S. Christováo de Rio Tinto. Reit. Religiosas de S. Benro do Porto. 816 2:44! Jootooo •Idem. S. Cosme de Besteiros. Abb. Alternativa Papa Bispo. Conv. de Cette. 77 248 800:000 Idem. ■ ■■■ ■ ' f PA- («) Descripçã 0 topográfica, « ; histor ca da Cidade do Po rto pag. 156» DAS SCIENGIAS DE LiSBOA. 97 PAROCHtAS. TITUIOS. PAliROADOS. POOOS. ALMAS. RENDIMENTOS. CONCELHOS. S. Coime de GonJuinar. Relt. Mitra e Collegiada de Cedofeita, 652 f.sr-t 190:000 Gondomar. Santa Cruz de Juvim. Abb. Alternativa Papa. Bispo. SOS «77 600:000 Ai;uÍ2r de SuuzJ. S. Estevão de OlJrões. ♦ Reit. Universidade de Coimbra. 80 ))0 100:000 Penafiel. S. Eitevão de Vilella. Cur. Convento da Serra. 21( 6a9 120:000 Ag.ijr de Soiza. S. Eulalu de Conitance. • Abb. Mitr». 76 fU 400:000 Saota Cruz e Porto Carreiro. S. Eulália de l'a«8y J90 100:000 Idem. S. Martinho de Lagares. * Idem. Universidade de Coimbra. 2)9 9i> Io0:oco Penafiel. S. Mart-nho de Milhuiides. ' Cur. Mosteiro de Bustello. ■|2 V4 jo:ooo Penafiel S. Martinho de Parsda Je Todeã. Idem. Collegio da Graça Ct'imbra. 8j 516 6o;ooo Aguiar de Souza. S. Martinho de Penafiel. * Reit. Mitra. 710 2:754 500:000 Penafiel. S. Martinho de Rccezinhos. • Abb. Mosteiro de Bustello. 256 677 I.5oo:000 Idem e Santa-, Cruz. S. M>rtinho de Rio de moinhos. * Abb. Univernidade de Cii.-.ibra. )00 1:046 900:000 Penafiel. PA- I>AS SciENCIAS DE LiSBOA. lOt VAROCHlASt títulos. VADROaDOS. íOGCS. ALMA^. RENDIMf^r.TOS, COVCETHOS. S. Miguel de Bilcur. Abb. Ciza de Bragdn^a. 226 S76 600:000 H.vnra de BitJt. S. Mijuel d; Bustello. • Vig. Mosteiro de Buscello. }'« 1:186 1 50100} Couto de Bustello. S. Miguel de Beire. Abb. Marquei de Mari-ilvj. ";7 60J 700:000 Aguiar de Souza, S. Miguel de Criítello. Cur. AbbaJe de Vaiidoma. 63 225 50:000 Idem. S. Miguel de Entre oi rioi. * Abb. Mosteiro de Pjço de Souza. H >!i 400:000 Pena.iel. S. Miguel de Candra. Idem. Aliem Jtiva Papa Balis de Le<;a. 3oa 63(1 Soo :00o Aguiar de Souza. S. Miguel de Paredes. ♦ Idem. Mosteiro de Paço de Souza. So 2i8 400:000 Honra de Batboza. S. Miguel de Pamiiihos. * Cur. Abbade de Kio de moinhos. JS «S9 30:000 Penafiel. S. Miguel de Rani. • Vig. Colleeio da Grica Cuimbra. «í i44 60:000 Honra d-.- Barl-pz.i. S. Migue) de Rebordoza. Abb. Keal. n8 |:30; J J0:00O Ajuiar de Souza. S Miguel de Vrrou. • Cur. Mosteiro de Cette. 60 IJ8 J0:O0O ' Pennfiel e Aguiir de Souza. PA- lAROCHIAS. Memorias da Academia Real TITVLOS. PADROADOS- FOGOS. AI.MA5. RENDIMENTOS. COKCEIHOS. S. Paio de Çazass. Abb. .58 4iS 500:000 Afiliar de Siiuia. S. Paio d.< Portella. * Abb. Morpiado d'e Cavai leiros. is; 4f> 600:000 PeiL-ifiel. S. Paalo de Sebolido. • Ciir. Moíteiro de P3<^o de Souza. J1 108 }q:ooo Idem. S. Pedro de Atrigão. * Abb. Real. 2! 4 96 j 300:000 Ptirtíi Caireuo. S. Pedro da Arreigada. Cur. Conv^;nto ' da Serra. !í I64 50:000 Aguiar de Souza. S. Pedro de • Atahide. ♦ Abb. Alternativa Papa. Bispo. Mosteiro de Bustello, 66 29 s 300:000 Santa Cruz de Riba Tâmega. S. Pedro cia' Boa vista. * Cur. Reitor de S. Estevão de Oldrões. 60 261 $0:000 Penafiel. S. Pedro de Cette. Vig. Collegio da Grji^a Coimbra. 'J7 4S0 70:000 Aguiar de Souza. S. Ped.o da Cova. Abb. Mitra. MJ Í48 800:000 Idem. S. Pedro de Croça. * Cur. Mosteiro de BDStello, «!« 4ct 40:000 Penafiel. S. Pedio de Ferreira. Theiouraria. Mitra. S52 767 350:000 Couto de Ferreira. PA- DAS SciEKCIAS DE LiSBOA. 103 PAROCBIAS. rADROADOSl FOCOS. AIMAS. RENDIMENTOS. CONCELHOS. S. Hedro de Coiidelãos. Abb. Cunvento da Serra. 77 38 i * 400:000 A!;i.iar Souza. S. Pedro da Sobreira. Vig. J)eio da Se do Portj. )02 1:144 200:000' Jilem e Penatlíl. S. Romão de Aguiar de Souza. Abb. K. 14! !70 600:000 Aguiar de Souza. S. Koinio de Mouriz. Belt. Alternativa Mosteiro de Cette Collegio da Graça em Coimbra. }I2 ■ :034 350:000 Idem. S. Knmão de Villa Cov» de Vez d'AvÍ2. • Abb. Altern.tiva UiiÍTec»ida^de Peiíoio» ^e Guimarães, 96 431 500:000 Penafiel. S. Salvador de CaJtelOe» da Sepeda. Abb. Litigioia. 183 6.4 fío:ooo Aguiar . de Souza. S. Sa'v3dor dí ■ C.nt«lóes de Kecezinhos • Abb. Condi de Óbidos. lOj J?« 600:000 Santa Cruz de Riba Tamaga. S. Silvadot de Fanzeret. ViE- Cabido do Poito. 561 1:168 350:000 Aguiar t!e Soi.za. S. Salvador de, F!gueiras. Abb. Mitra. ■•7 ;6i 600:000 Idem. \ S. Sa'v»dor de Friamunde. Reit. Caza do Infantado. 334 666 50:000 Idem. l. PA- 104 lAROCHIAS. Memorias da Academia Real riTULOS. PADROAPO». FOGOS. ALMAS. RENDlMENTOf. CONCELHOS. S. S^ivadur de Giillesos. • Abb. Mosteiro de IViçn de Souí.i. >!9 44") 600:000 Penafiel. S. SalvaJor de Gandra , ou Cibe.;a Santa. Cur. Convento de S. £l<>i do Porto. <í8 S9> 80:000 Idem. S. S4lvadoi* de Lordello. Abb. Mitra. 288 8 66 1.40P1000 Aguiar de Souza. S. Salvador de Mt^ixuinil. Cur. Heitor de Pena maior. •!8 i02 90:000 Idein. S. Sjl>ador de Novellas. • Cur. Mosteiro de Bustello. (>} 171 40W09 Penafiel Louzada. S. Salvador de Paço de Souza. " Vig. Mosteiro de Paço de Souza. 5=9 1:667 601000 Penafiel. S. Salvador de Pena maior Reit. Alternativ» Papa : Mitra. 170 546 300:000 Aguiar de Souza. S. Thiago da Cjpella. • Ccir. Reitor de Lagare». 109 462 É:000 Penafiel. S. Tiiugo de Fonte arcada. ' Reit. Meza da Consciência. 559 103:000 Idem. S. Thiago de Modellos. Cur. Mitra. 76 34^ (OiOOO Aguiar de Souza. S. Thiago de Sob Penafiel. * Cur. Reitor de Penafiel. 18 64 jo:ooO Penafiel e Lcuiada. PA- PAROCHIAS. bAS SclENCtAS I3E LrâBOA. lOf >S. PADKOADOS. FOGOS. ALMAS. RENDIMENTOS. CONCELHOS. S. Thiago de ValpeJre. • Abb. Universtdíide de Coimbra. 163 £01 1.^00:000 * Penariel. S. Tliomi de Bitacães. Abb. Mitra. 12a 444 800:000 Aguiar de Souza. S. Tliomé de CaniS. * Cur. Monteiro de Paqo de Souza. V 148 JO^OOO Honra ue Barboia. S. Vicente de Boim. Cur. Mosteiro de S. Thyrso. 78 386 ■ 50:000 Louzada. S. Vicente de Erivo. • Cur. Mosteiro de Paqo de Souza. 98 402 50:000 Penafiel. S. Vicente do Pinheiro. * Abb. Peixotoi de Aletnquer. •59 51 = 1.400:000 Idem. S. Veríssimo Novogelda. Abb. Mitra. 'H 4«6 £00 :oeo Aguiir de Souzl. S. Verissimo de Valbom. Abb. Cabido do Porto. ,88 1 = 125 1.000:000 Idem. De cujo mappa se collige haver na Comarca Ecclesias- tica de Penafiel i6^<)^i fogos com ^7 ^^11 almas, po- pulação ainda que não exacta , com tudo bastante para me- recer hum Pastor que vigiasse sobre o espiritual delia com zelo e efficacia. r. X. p, II, CA- io6 Memorias da academia Real CAPITULO VIII. Da erecção e svppressao do Bispado de Penafiel. §. I. Jn AVENDO vagado o Bispado do Perto pela morte de D. Fr. Aleixo de Miranda Henriqties cm Maio de 1771 {a) solicitou ElKei D. Joze do Papa Clemente XIF, a erecção de hum novo Bispado na Comarca Ecclesiastica de Penafiel desmembrado daquelle do Porto , do qual a so« bredira Comarca fazia parte , excitado a isto não só pelos urgentes motivos que tinhão movido o Arcebispo de Évora a pedir a separação de duas das suas Comarcas Ecclesias- ticas (b) , mas também para ultimar a tentativa que seus Augustos Predecessores haviao feito com a Santa liV Após» tolica duzentos annos antes. Em 10 de Julho de 1771 foi concedida a graça de se erigir em Bispado de Penafiel a Co- marca Ecclesiastica deste nome com todas as prerogativas, privilégios, e padroados, que nella tinhão os Bispos do Porto ^ dos quaes o separa absolutamente, fazcndo-o suíFra- ganeo do Arcebispado de Braga; erigindo ao mesmo tem- po a Igreja da Misericórdia da Cidade de Penafiel em Ca- thedral y facultando poder nelle formar-se Cabido com Cone* gos e meios Cónegos , e Capellães , cujo Padroado bem co- mo o do Bispado seria Real (r). Havendo precedido parti- cipação á Camará de Penafiel pelo Ex."" Bispo de Penafiel não só da graça que EiRei lhe havia feito , e da sua Sa- gração , mas também de que hia a tomar a posse do novo Bispado {d) ; Belix Martins d^ Araújo Provisor e Vigário Geral do mesmo a tomou a 6 de Janeiro de 1772 em no- me (o) Descripção topográfica &c. do Porto pag. 90. (*) Documento N.° 1. (c) Veja-se Documento N." 3. {d) L. II. do Registo a folh. 227 f. DAS SCIENCIAS DE LiSBOl. 107 me do F.x.'"° e R."'" D. Fr. Ignacio de S. Caetano primeiro c único Biípo de Penafiel , na Igreja da Misericórdia com as- sistência da Camará' da Cidade , Prelados dos Mosteiros e Conventos visinhos , Âbbades e Clero com a Nobreza t Po' vo da mesma Cidade e Termo , penetrados da mais viva satisfação devida a tão plausivel mercê , como a que ElRei acabava de lhe liberalizar, (a) §. II. Odiando o Pontífice fez a sepanição da Comarca Ecclesiastica de Penafiel do Bispailo do Porto ^ enella creou o novo Bispado, taxou este na quantia de 341 y de f/onV/j-, ou na terça parte da taxa *do Bispado do Porto (Jj) , e El- Rei D. Joze por Provisão de 31 de Outubro de 1771 pelo Concelho da Fazenda mandou igualmente que em quan- to subsistissem na Mitra do Porto as doações , e Direitos Reaes , se separasse para a Mitra do novo Bispado também a terça parte dos rendimentos que a do Porto percebia, {c) e por esta maneira percebia o Bispo de Penafiel o rendimen- to annual de dezoito a vinte mil cruzados com i quinta do JPrado no subúrbio da Cidade do Porto ; o Padroado absolu- to de nove Âbbadias , de hum 7besourado, de dous Cura- tos e de huma Reitoria , e aquelle de alternativa em doze outros Beneficios. Proporcionou-se logo occasiâo para adqui- rir huma boa Casa e quintal para residência em frente da Sé , e esta pela munificência da Rainha D. Maria I. foi enriquecida de custosos e preciosos paramentos. §. III. Porem quão varias são as alternativas do Mun- do , e quanto inconsequentes os homens nos seus proje- ctos ! . . . Não tardou muito a desapparecer esta Scena glo- riosa e útil á Cidade nova de Penafiel y e aquella circun- stancia que promettia maior duração e honras ao Bispado no- vamente erecto , foi a que acelerou a sua abolição. Tratava ■o novo Bispo de rccolher-sc a sua Diocese para ahi residir , O ii e (a) Li. das Posses dos Excellentissimoa Bispos de feua£el a íolh, li (6) Documento N.° 3. (c) Veja-se Docunieuto N.° 4. io8 Memorias da Academia Real e subministrar ao seu rebanho espiritual o pasto devido, e rccommendado pelos Sagrados Cânones , porem a Rainha de quem elle era Confessor o não conscntio , e como se não acommodasse com a delicadeza do Bispo perceber os fru- ctos sem a essencial condição da residência habitual , tra- tou elle então de renunciar. Estavão ainda muito frescas as cicatrizes da desmcmbração feita ao Bispado do Forto '^ havia sido nomeado , e já governava o Bispado do Porto D. Fr. João Rafael de Mendonça^ Varão, que ás virtudes pessoaes unia aquella de descendente das nobilissimas Ca- sas de Fal de Reis , e Ângeja ; já não existia no Ministério o bem conhecido Marquez de Pombal^ sob cuja direcção se havia effectuado a mencionada separação do novo Bispado; e Penafiel ainda no berço não sabia advogar a sua causa : tantas circunstancias fizeiâo annuir o Bispo de Penafiel a renunciar o seu Bispado nas mãos do Papa , e a Soberana a rogar-lhe quizesse tornar a incorporar o Bispado renun- ciado áquelle , donde havia pido desmembrado pelos moti- vos de não estar ainda consummada aCathedral com Cabido ^ nem haver meios para assim se estabelecer no futuro; bem como por haver sido feita a dita desmcmbração com pou- ca cautella e aviso , pois o Bispado de Penafiel novamente erecto e %»ora renunciado estava situado dentro dos limi- tes daquelle do Porto. O Pontífice Pio VI. annuio ás sup-» plicas e pof bulia de 1 1 de Dezembro de 1778 abolio o Bispado de Penafiel incorporando-o aquelle do Porto , don- de havia sido separado , commettcndo a execução delia ao Arcebispo de Lacedemonia (a) , e proferindo este Sentença aos 25" de Fevereiro de 1779 {b) foi Penafiel despojada das insígnias, e prerogativas Episcopaes a 28 de Março imme- diato , dia cm que o Ex."'" Bispo do Porto tomou posse , e mandou installar o Auditório Eccksiastico , que ainda hoje se (o) Veja-se o Documento JN." 5. (6) Aclia-se esta no Cartório do Notário Apostólico Joaquim Joze cie Siqueira em Lisboa. ' DAS SciENCiAS DE LrsnoA. 109 se conserva , não gosando delias senão por espaço de oito annos , e não recebendo a satisfação de conhecer pessoal- mente o seu Pastor espiritual. §. IV. Este golpe fatal cortou em flor prosperidades tão bem esperadas. He verdade Sua Magcstade conservou a Penafiel as prerogativas de Cidade^ bem como a Ordem Civil neila estabelecida, mas isto he hum insignificante re- gato caudal que fertiliza pouco terreno , e este árido pela falta de industria , mas que pela creaçao da Cidade havia vegetado mais do que devia. Por este motivo sofFrem 09 Cidadãos com impaciência tal acontecimento, e tem apro- veitado as occasiões opporíunas das vacâncias no Bispada òo Porto para reiterarem perante o iTo^erawí» novas Supplicas , e Rogativas, sendo a primeira em 1793 por morte do Bis- po D. João Rafael de Mendonça (a) y a segunda em 1798 pelo falecimento de D. Lourenço Corrêa ^ {b) e a terceira e ultima em 18 14 na falta de D. António de S. Joze e Cas- tro (c) ; porem infructuosamente , ou seja porque o Minis- tério não julga conveniente tal separação , ou aliás porque tão importante negocio haja sido tratado com me'nos pru- dência , pouca assiduidade , e cõm aquelle desleixo próprio das Camarás faltas de meios conducentes para sustentar com efficacia a sua ultimação. He verdade que não se dei- xa de conhecer quanto deve ser odiosa aos Ex.""" Bispot do Porto a separação do cx-Bispado de Penafiel , olhada so- mente pelo que pertence á sua localidade , pois não só el- le ficava quasi encravado no Bispado do Porto ^ mas também, o que era mais sensível, porque o bairro do Senhor de bom fim até ao Poço das patas., qoe fazem a entrada da Cida- de do Porto , bem como a quinta do Prado , pertença dos {Tjnios Bispos delia, erão do Bispado áz Penafiel como par- te da Freguezia de Santa Maria de Campanhãa, (a) L. X. das Ver. a folh. 2-19. (*) L. V. do Registo a folh. 124. (c) L. V. do Registo a folh. 482, lio Memorias da Academia Real §. V. Posto que o Pontífice tornou a unir o Bispado de Penafiel áquelle do Pofto , não foi a sua intenção privar os Fieis habitantes delle dos soccorros , com que havia sido fa- vorecido , e por isso mandou se estabelecesse hum auditó- rio ^ e seu O^V/íí/ com authoridade Ficarii Generalis ad spe- ciale regimen animarum («) , e o jírcebi j>o de Lacedemonia na Sentença da execução da bulia diz , e para que a Cidade de Penafiel, que be populosa , não careça de competente soccorro ^ assistência , e fácil administração da Justiça por causa da so' Iredita união e incorporação: ordenamos e mandamos que nel- la seja comtituido e posto hum Yigãúo Geral e/eito pelo Ex."" e R.""" Bispo do Porto e seus Successores com toda a Jurisdic- ção^ poderes , e faculdades necessárias e opportunas , e com hunt sufficiente auditório para a bia administração da Justiça , e especial governo das almas dos Fieis , que residirem naquela las Freguezias eu Lugares agora reunidos , ' e incorporados aa mesmo Bispado do Porto , o qual Vigário Geral serd sempre y e em todo o tempo sujeito com o seu auditório ao dito Ex."" e R."" Bispo do Porto , e seus Successores (b) : condição que aceitou o Ex."*" e R.™" Bispo do Porto por si e seus Suc- cessores em 23 de Março de 1779, obriga^ido-se ígualmen- te a conservar hum auditório com seu Provisor , e Vigário Geral , na Cidade de Penafiel e seu território na forma das hetras Apostólicas ■, e determinação de Sua Magestade Fidelis' sima (c) ; cuja providencia era conforme á disciplina da Igre- ja na Itália , aonde os grandes Vigários , ou Provisores exer- citavão a Jurisdicção voluntária e contenciosa (d). §. VI. Installou-se , he verdade, o auditório Ecciesiasticò no dia 28 de Março de 1779 como se disse no §. I. do Cap. VII. desta Parte II., mas sem nomeação de ProvisoK , ou de Vigário Geral que tivesse a sua Jurisdicção , mas so- men- (a) Documento N.° 5. (ô) No Cartório ja indicado. (c) Documento N.° 6. Id) Idêa d^hurn perfeito Paiecho instruído T. I. P. I. Cap. VI. §. V. À DAS SciENciAs DE Lisboa. iii mente com aquclla ordinária, que lhe dá o Regimento da Constituição ào Bispado (a) y e pela inesma maneira tem con- tinuado até ao presente as nomeações dos mais f^igarios Ce- raes , que se tem succedido progressivamente , ficando por este modo reunida no Provisor do Porto como Provisor do Bispado todo y aquella que devia ficar conservada mComarca Ecclesiastica de Penafiel segundo o termo da aceitação , Sen- tença , e bulia referidas no §. V. apezar da representação feita pela Camará de Penafiel em Agosto de 1804 ao Ex.'"** Bispo do Porto para elle preencher, e dar execução ás men- cionadas condições (b). CAPITULO IX. I Do auditório da Correição, §. T. JLX e Penafiel Cabeça de Comarca. Civil. Quan- do EIRei creou esta Cidade e lhe deo Termo ^ como se dis- se no Cap. I. desta JI. parte , ficou ella ainda sendo perten- ça da Comarca do Porto y e a ella vinhão os Corregedores fazer Correição na forma do costume (c) , até que por Car- ta Regia de 15: de Maio de i??^ foi nomeado o primei- ro Corregedor e Provedor da Comarca de Penafiel com a mesma Jurisdicçâo que exerciâo os Corregedores e Prove- dores da Comarca do Porto , em cujo lugar elle foi subro- gado na Comarca novamente erecta, mas sem que se lhe assignasse demarcação de território , nem mesmo ordenado, (d) Entrando o novo Corregedor na posse do seu emprego a 28 de Junho do mesmo anno , como não tinha declaração al- ia) Uocunieuto iN.° 7. (b) L. XII. das Ver. a folh. 34. (c) L. If. dos Capit da Correição a folh. 2. (d) Docuoieaio JM.° 8. Ill Me MOFi AS DA AcA DEMiA Real fllglrma dos Concelhos que lhe pertencião , julgou deverem ser-lhe sujeitas todas as Freguezias que formavâo o novo Bispado de Penafiel , e daqui se originarão contestaçõçs entre elle e os Corregedores do Porto , e Guimarães sobre eleições de Justiças , arrecadações de impostos &c. &c. até que em f d*Agosto de 1776 se eíFectuou na Cidade do Porto por Ordem Regia na presença do Chanceller , e dos três Corregedores o auto de demarcação , em que ficarão de- signados precípuos para a Comarca de Penafiel os Conce- lhos de Penafiel , Unhão , Santa Cruz de Riba Tamaga , Go~ •véa , Gestaco , Honra de Filia Cahiz , Canavezes , e Ttihtas {a) sendo tirado á Comarca do Porto somente o Concelho de Penafiel y e os mais iát Guimarães. Por Alvará de 25- d'Agos- to de 1777 se arbitrou ao Corregedor para ordenado a quantia de i73(í)3 30 impostos no Almoxarifado das Si- zas da Cidade do Porto, (b) §. II. Desde a creação da Comarca Civil até ao pre- sente tem havido os Corregedores seguintes : 1. — Caetano Joze Lourenço do Falle Corrêa e Freitas tomou posse em 28 de Junho de 1775' {c) governou por trez annos , e nove mezes , e não continuou mais no Ser- viço. 2. Caetano Joze da Rocha e Mello substituio a es- te em 9 de Março de 1779 {d) e sérvio dous tricnnios. Continuou com o exercício da Magistratura , e morreo es- tando ja aposentado na Casa da SuppUcaçao. 3. — "João £ Almeida Coutinho occupou o lugar do an- tecedente a 9 de Junho de 1785- (e), e nelle se demorou' por cinco annos. Foi depois promovido a Desembargador da Relação e Casa do Porto , em cujo exercício morreo. 4' — ^— "^ ■ . (a) Documento N.° 9. ih) L. IV. do Registo a folh. 57. {c) L. VIU. das Ver. a folh. 44. (d) L. IX. das Ver. a folh. 13 fi (e) L. X. das Ver. a íolb. 29. DAS SciENCIAS DE LiSBOA. IIJ 4. . — Francisco Joze Antojiio Damásio succedco a este em 24 de Outubro de 1790 («) , e governando por qua- tro annos morreo depois aposentado na Relação do Por- to. . 5". — Bartholomeu José da Cunha Soares e Vasconcellos entrou a servir em 24 de Dezembro de 1794(6), e pou- co depois do seu triennio foi promovido a Desembargador da Relação do Porto , aonde morreo, 6. — l)r. José Joaquim de Moura Machado Gavichõ da Silva entrou neste emprego a 2 de Agosto de 1798 (c) por hum triennio , e morreo Desembargador na Relação do Porto. 7. — Rodrigo Bravo Cardozo e Torres substituio a es- te em 2 de Setembro de 1801 (íi) por espaço de quasi dous tricnnios , e rnorreo Desembargador da Relação do Porto. 8. — José Faz Pereira Pinto Guedes começou a ser- vir em 12 de Fevereiro de 1806 (e), e terminou no mcz de Junho de 1808 porser victima dos acontecimentos anár- quicos desta época. Hoje he Visconde de Filia Garcia crez- do em 23 de Julho de 1823 por haver sido hum dos pro- motores do levantamento da Província de Traz-os-Montes y e Membro do Governo que ahi se formou no mesmo an- no. 9. — Dr. Rodrigo Ribeiro Telles da Silva tomou posse cm 23 de Outubro de 1809 (/) e sérvio pouco mais de três triennios tendo no ultimo graduação de Desembarga- dor da Relação do Porto, {g) Morreo estando Heputado de Cortes. T.X.P.II. P 10. íà) Idem a folh. 180. (6) L. XI. das Ver. a folh. 23 f. (c) Idem a folh. 123 f. . (á) Idem a folh. 229. (e) L. XII. das Ver. a folh. 70 f. (f) Idem a folh. 168. (á-) L. VI. do Registo a folh. 207, e 266 f. 114 Memorias da Academia Real 10. — José de Meirelles Chaves. Succedeo a este em 8 de Junho de 1819 («) , e sérvio o seu triennio. 11. — Bernardo Vieira da Motta começou em 8 de Julho de i8í; (ti), e por Decreto de 17 de Julho de 1823 se lhe deo o lugar por acabado pelos motivos políticos nelle declarados ic) ; porem Sua Magestade cabahnenre in- formado dá sua conducta iilibada, e só arguida por pes- soas malévolas, o tornou a admittir ao seu Serviço, achan- do-se ao presente Corregedor de Coimbra com o predicamen- to competente. 12. — Joaquim Manoel de Faria Salazar tomou posse a 27 de Agosto de 1824 (<á) , mandado por hum Aviso no fim da alçada de Coimbra em que foi Secretario , a pe- dido do Juiz de Fora para ver se occorria as turbulências de partidos que occorriâo na Cidade fomentadas pelo Ve- reador Ignacio de Moura que tinha a Vara de Juiz de I;ó- ra , porém a sua conducta foi tal que obrigou o Ministério a suspende-lo no dia 6 de Setembro de 1825 pelo Prove- dor de Guimarães. 13. — Luiz Tavares de Carvalho tomou posse a 26 de Setembro de 1825-, e continua no Serviço. (í) §. III. He o auditório da Correição ãs Penafiel compos- to do Corregedor da Comarca , que também he nella PrO' vedor ' do Escrivão da Correição ; do Escrivão da Provedo^ ria (f) • do Contador , Distribuidor e Inquiridor ; do Meiri- nho Geral; de Porteiro e mais Officiaes da vara. Tem este auditório audiência nas Quartas feiras , e Sabbados de cada Semana. Habita o Ministro huma residência publica , cu- jos reparos são feitos pela importância das Sizas de Pena' fiel. (a) L. XIII. das Vereações a folh. 80 f. (6) Idem a folh. 161 f. (e) Gazeta de Lisboa do anno de 1823 N.» 169. (d) L. XIII. das Vereações a folh. 255. (e) Idem a folh. 278. {J) Creado por Decreto de 8 de Maio de 1778, como codsU do L. do Registro do Desembargo do Paço folb. 123. DA s ScrE>rci AS de Lisboa. ttf fiel. Este Edifício he de S. M. I. e R. e de tempos re- motos destinado para habitação dos Corregedores do Porca quando abrião aqui a Correição (a) bem como dos Conta- dores da Fazenda quando vitihao fazer o lançamento das Si- zas. §. IV. Extende-se a Jurisdicção do Corregedor da Co- tfiarca ao Concelho de Penafiel que comprehendc as Pregue- zias constantes do Mappa inserto no §. F. do Cap. V. des- ta segunda parte, e mais a Freguezia de Santa Maria de Meineão com loji almas, o que faz hum todo de 43 Fre- guc7.ias com 22(^375- pessoas em 6(í)52z fogos; e segun- do o calculo do Sr. Franzini sáo almas ii($)3i$i Ao Concelho de Unhão que contêm as Fregtiezias , e população seguinte , segundo os mappas dados ao Provedor da Comarca em 18 xr. NOME DAS FKECUEZIAS. FOGOS. ALMAS. CONCELHO E COMARCAS A çl'E MAIS l-ERTENCtM. S. Christina de Nogueira. 49 '77 Louzada. Comarca. Barcelloí. S. Cliristovão de Lordello. iS .8, ' S. João d'Ayão. 57 ■W S. Cruz e l-elgueiras. Com. Guimaráej. S. João de C«rnande. S6 J!5 Felgueiras. Com. Guimarãei. S. João de MacietrJ.. 98 !°) S. Mamede de Villa-verde. 6j 395 S. Cruz. S. Maria de Alenitem. 4« '99 S. Maria Je Airãei. 17 109 Felgueiraj. Com. Guimaráei. p i 11 NO- (a) L. II. das Correições a falha 30 y. ii6 Memorias da Academia Real NOME DAS FREGVEZIAS. FOGOS. ALMAS. CONCELHO E COMATCAS A rziella. (5 192. Felgiicir.is. Com. Guimarães. S. Pedro Fins do Torno. 40 466 S. Cruz , e Felgueir.is. Com. Guimarães. S. Salvador de Avelleda. '! i8 Lousada. Com. Barcellos. ' S. Salvador de Unhão. .48 5'4 S. Thiago de Cernadello. 2 Louzada. Com. Barcellos. S. Thiago de Rande. "S H4 Felgueiras Com. Guimarães. Soma — 19 996 4 ijo Segundo 0 Sr. Franiini. )748 Jo Concelho de Santa i NOME DAS FRECVEZIAS. FOOOS. ie Rib AIMAS. a Tamaga que contêm. CONCELHO E COMAHCAS A ÇUE MAIS PERTENCEM. S. Christina de Figueiró. 310 9;a NO- (a) Uiaria do Governo anno df iSs) N.* S4 P>S- 789« DAS SclEKCrAS PE LiSBOA. "7 NOME nA3 FIlEGVEZtAs; FOCOS. ALHAS. CONCELHO E COMARCAS A QUE MAIS PKKTENCEH- S. Chiistlna de Toufou. i7 <)7 S. Eulália de Cnnttatice, • 56 5»4 S. Eulalii do Banho. 5S 1,6 S. João de Ayáo. 44 185 Unhão e Felgueitis.Com.de Guimarães S. João de Louredo. 66 »)> S. Julião de Passinhos. i3 9» S. Isidoro. 116 566 S. .M.iniede de Kecezinhos. 132 49S S. Mamede de Villa-verde. 4 iS Unhão. Coni. Penafiel. S. Maria de Fregim. 906 l:(6l S. Maria de Villar do Torno. Jí 138 Unhão. Com. Pcnj(\c\. S. Martinho de M.mcellos. 4S7 350) S. Maninho de Receiinhos. 115 319 renaliel. S. Miguel de Freixo de cima. «4 6S Baito. Com. de Guimatães. S. Miguel de Vil la Cahii. 130 716 S. Paio de Oliveira. 64 ., 1 S. Pedro de Atahide. «6 395 S. Pedro de] Cahide de Rei, 113 716 NO- Ii8 Memorias da Academia Real NOME OAS FREGVEZIAS. FOGOS. ALMAS. CONCELHO E COMARCAS A QUE MAIS PERTENCEM. S. Komão de Carvalhoia. 9« 58! S. Salvador de Aveleda. >4 64 Unhão e Louzad,i. Com. de Barcclluj S. Salvador de Castelõei de Receiinhos. los )76 S. Salvador de Freixo de baixo. 54 Wi Basto. Com. de Guimarães. S. Salvador de Real. 170 775 S. Salvador de Travanca. J77 í:/!i4 S. Thiago de Figueiró. ;oo I 4!i S- Verissimo de Amarante, Í5 57» Amarante. Com. de Guimarães. São — 27 5:279 ■;!ii6 Segundo 0 Sr. Franzini. lo:j2o Jo Concelho de Covêa qtie contêm. NOME DAS FREGUEZIA'- FOGOS. ALMAS. CONCELHO E COMARCAS A qVK MAIS PtRTENCEM. S. Andrí de Variea de ovelha. 225 1:026 S. João da Folhada. 161 816 S. Maria de Sepelloi. 1J2 502 S. Marinha de Fornos. 31 92 Tuhias. Com. do Penafiel. NO- (a) Dlarlo do 'GoTeiao de iSS] M>? 94 p*;. 790. DAS SciElíCIAS DÉ LiSBOA. NOME DAS PREGVEZIAS. 119 FOGOS* ALMAS. CONCELHO E COMARCAS A (JVJE HAIS rERTENCEM. S. Martinho de Aliviada, J6 «77 S. MJrtiiiho de Soalhies. 154 's; Soulliães. Com. do Poito. S. Pedro da Lomba. , «7 jafi S. Salvador do Monte. "7 ;9o S. Salvador de Taboado. "7 S!" S. Simão. i8< 4') São — lo 1 :20l 4:546 Segundo 0 Sr. Fraiuini. 4=655 Ao Concelho de Gestapo que contêm. NOME DAS FRECUEZIAS. FOGOS. ALMAS. CONCELHO E COMARCAS A qVE MAIS PERTENCEM. S. Andrí de Padoinello. 96 586 S. Christováo de Candomil. 1:0 !)o S. Estevão de VilU Chãa. .180 SéJ S. liiJoro de Sanche. I30 47! S, Mamede de Buitello. IJO 1:466 S. Maria de Gundar. ,16 1:075 N0« (o) Idem pig. 7S9, e 790, xzu Memorias da Academia Real NOME DAS FREGVEZIAS. POGOS. AI-MAS. CO^!CELHO E COMARCAS A QUE MAIS PERTEKCtM. 5. Maria lie Jazente. 72 i'9 S. Maria MagJalena. 7' 276 S. Martinho de Carneiro. 87 ;s4 S. Martinho de Carvalho de Rei. 346 S. Paio de Anciães. 140 6)6 S. Salvador de Lufrei. «71 74 J S. Vicente de Canadello. 54 "4 S. Simão. ■ lã H7 Govêa. Com. Penafiel. S. João de Várzea. s; = 19 Bobadella. 88 506 São — i6 1)900 7=944 Segundo o Sr. Franzini. 6^!8 A^ Villa de Canavezes que contém. KOMB BAS FREGVEZIAS. FOGOS. AIMAS. CONCELHO E COMARCAS A QUE TAMBÉM PERTENCEM. S. Maria de Sobre-Tamaga. M7 504 NO- (ff) Diaiio do Governo. Anno de iSaj N.» 94 folh. 789 , e 790. DAS SfclEMCIAS DE LlSBO*. 121 NOME BAs FREGUEZIAS. FOGOS. ALMAS. CONCEIHO E COMARCAS Á qiJE TAMBtM rtKTENCtM. S. Nicolúo de Canavezes. 71 54S São — 2 3o8 8(2 Stgundo o Sr. Franzini. 625 ^0 Concelho de Ttihias que coutem. KOME DAS FREGUEZIAS. FOGOS. ALHAS. CONCEr.HO E COMARCAS A QUE tahbeh vertencem. S. Maiia 4o Freixo. S. Mirinha Je Fornoj. S. Aliguel Je Rio de G.llinhat. S. Salvador de Tuhiai. São -.. 10} 64 nj Segundo o Sr. Franzini. 408 H& = 71 í!} 1:756 Govêa. Com. Penatel. Ao Concelho de Porto Carreiro que contêm. tIOME DAS fREGUEZIAS. FOGOS. ALMAS. CONCELHO E COMARCAS A OVE \ Também pertencem. S. André de Villa boa de Querei. 5. Eulália de Conitance. H4 J» 1:242 97 S. Cpjz de Ri'ía Tamaga. Com. Penafiel. r. X p. 11. NO- (") (íj > D\v\o do Governo. Anno de iSlj N.» 94 pag. 7S9. Ill Memx)Rias da Academia Real KOME DAS FRE6VEZ1AS. FOGOS. ALMAS. COMCRIHO E COMARCAS A QUE TAMEEM PERTENCEM. S. Maria de Mauvellei. 89 )Í0 S. Pedro de Abragáo. 3j4 965 São — 4 7S9 3:644 Segundo o Sr. Franzini. 5:í;S; (■') CONCILHOS. freguezias. FOOO-í. alma:. Ar MAS ÇI 6UN'DO rPANZINT. CONVRARIAS. Cnnavezes. 2 3o 8 S(2 655 S Gestacjo. 16 1:900 7-944 6:458 i8 Govía. IO l:30I 4:546 4:655 i' Penafiel. 45 £:)92 22:575 21:555 '!• Porto Carreiro. 4 729 2:644 2:68) 10 Santa Cruz. 27 ,:279 .S:2í6 10: J2o 62 Tuhias. r' 410 1:580 2:756 1 Vnhíoí '9 cupou este emprego a 18 d'Agosto de ly^d^. (c) e nelle se demorou por seis annos , findos os quaes não foi mais promovido. 4 — Dr. Jfse Joaquim de Moura Machado Gavicho da Silva entrou a servir em 19 de Maio de 1790 {d)^ fe o occupou por seis annos. Foi depois promovido, como se disse no §. //, Cap. IX. desta segunda Parte. ^^■■ y. — Manoel Telkí de Menezes e Mello apresentou a sua Carta em y de Setembro de 1796 (e) , foi reconduzi»- do com prcdicarticnto de Correição ordinária , e se lhe ra- tificou a sua posse a 2$ de Julho de 1800 {/), e tornan- do a ser reconduzido com predicamento de priaieiro banco €m 21 de Swtombro de 1802 (^) não acabou o triennio por siui morte. ^. — Bento José de Macedo de Araújo e Castro come- çou a exercer e^-te emprego aio de Novembro de 1806 (&) Ho qual foi reconduzido com predicamento de primeiro banco pôr Decreto de 7 de Janeiro de 1815 , e daqui foi promovido a Desembargador da Relação e Cai^a do Por ta y c depois a da Suplicação , aonde se acha. 7. — Francisco de Sales de Barbosa e Lemos tomou pos» •' se (a) L. Vlir. idem a folh. 45. (£) L. IX. idem a folh. 49 /. (c) Idem a folh. 198. {d) L. X. idem a folh. 1S5 f. (e) L. XI. das Vereações folh. 68 ^, (/) L. V. do Registro folh. I8a f. {g) Idem folh. 270. (Ji) L. XI. das Ver. folh. 272 /-• ii6 Memorias da Academia Real se a 23 de Setembro de 1816 («) , e entregou a vara era 7 de Março de 1820 (i) para hir occupar a Correição da Feira , aonde ainda se acha com os predicamentos competen- tes. 8. José Joaquim Ribeiro Cerqueira succedeó a este em 2y de Outubro de 1820 (c) j e acabado o seu trien- nio ainda não continuou no serviço. 9. — José Cabral Teixeira de Moraes veio occupar o lugar em 31 de Outubro de 1823 (íf), e por motivos po- líticos lhe deo ElRei o lugar por acabado , mandando-lhe tirar residência. 10. José das Neves Mascarenhas e Mello tomou pos- se em 20 de Dezembro de 1825 (ei, e continua. §. IV. He o Juiz de Fora áe Penafiel Presidente da Cj- mara da Cidade ou da autboridade Municipal, que fará ob- jecto de Cipitulo particular. §. V. He também o Juiz de Fora Juiz das Sisas e Di- reitos Reaes , para cujo objecto tem Escrivão , Meirinho , e Porteiro privativos. Importarão as Sisas no anno de 1824 o seguinte: Sisas "das vendas dos prédios rústicos e urbanos da Cidade ,.-------- 288(2>445 Idem âo Termo - - - - --*- ' - a^óy^yóS Arrematação ^^^ Correntes da Cidade - - i:iio<3f)ooo Idem do Termo --------- 223(^)000 Soma total — 4:087(^)013 ^ qual tem suas applicaçoes , como se dirá em seu lugar , set^- do V«) L. XIII. das Ver. folh. 27. (i) Idem folh. 105 f. (c) Idem folh. 131. \d) Idem folh. 229. (€) Idem folh. 281. DAS Sc I ENCÍ AS DE LrSBO Ai t27 cio procedentes as Sisas das Correntes dos artigos declara* dos no Foral das Sisas de Penafiel (a). §. VI. He o mesmo Magistrado igualmente Adminis- trador dos Expostos e da Roda , ou Casa estabelecida para a recepção , e destino que se deve dar aos mesmos confor- me a Ordem da Intendência Geral da Policia de lo de Maio de 1783 {b). Tem a sobraàiti Roda huma pessoa destina- da para vigiar na entrada dos Expostos; fazer term ) em Livro destinado para este fim, do dia mez e anno , em que são expostos , bem como dos signaes , ou enxovacs com que se achão ; cuidar cm os fazer baptizar na Igreja Parochiulj participar ao jfa/s de Fora a sua entrada na Roda , e dar- Ihes o destino que elle mandar; e vigiar na sua lactação e limpeza, em quanto se demorarem nà Roda ^ para cujo fitrt ha na mesma Roda duas amas de leite ; procurar amas ca- pazes para criarem em suas Casas os Expostos^ a quem se der este destino, ou mulheres que ^s conduzao para a Ro' da da Cidade do Porto , por isso que o Cabeção das Si- sas não pode cora as despezas que lhes estão annexas. Per- cebem as amas da lactação 8(^)000 annuacs e divididos em quatro quartéis , em cuja occ isião são revistos os Fxposios pelo Juiz df FSra na prcsen^ft do Medíco e Cirurgião do Partido com assistência do Escrivão das Sisas ^ que lhes cn- tri:gi man 'ados , pelos qtiacs os Thesouretros d*s Sitas lhes pagão , do Meirinho e Porteiro das Sisas. Forão creadas por conta desta a-.^ministração da Roda de Penafiel no anno de 1824 o numero- de 379 crianças. He incerta a despeza que se faz com os expostos não só pelo numero, mas também pelo tempo porque são admittidos a ser contados na Roda; e (a) Documenío N." 10. \b) Documento JN.** II* t28 Mt.MORIAS DA AcADEMlA ReAL e por isso chegou a despeza noanno de 1824 a 1:063 (|-) Idem a folh. S3, , DAS SctENClAs DE LtSSOA. T^^ querimento dos Rendeiros das Sisas pelo perjuizo que lhes causava , e por se conhecer descontentam). n to no Povo pe- la mudança , não concorrendo nos dias novurnente marca- dos , fazendo- se as declarações seguintes que sendo impedi* do o dia IO se faça a feira no dia ii, e sendo impedido o dia 24 se faça no dia 23 , conservando-se a feira das Terças feiras , que se fará na Quarta sendo aquella impedi- da {a) : Prohibir-se a venda de vinhos nas Estalagens, por is- so que não estando sujeitos a's posturas da Camará dava occasião ao maior preço delles fora {b) : Declarar-se poderem os particulares vender os seus vi- nhos em suas Casas pelo preço que quizercm , mas não em tabernas , por ficarem então sujeitos ás taxas da Camará (f): Mudar-se a feira do S. Bartholomeu que he annual , do local de Louredo aonde se fazia , para o de cima de Filia y aonde tem terreno apto, que faltava no outro {d) ^ e con* eegair se ser de três dias por concessão de ElRei (e). §. IIL Relativamente a agricultura se mandarão pôr em execução as Ordens Superiores seguintes : Nomearem-se dous Inspectores para cuidarem na sémen* teira das amoreiras, que deveriao a seu tempo ser distribui* das pelos Lavradores do Termo na quantidade , efórira, que a Gamara determinar no Regimento competente (/) : Obrigar-se cada Lavrador que tiver mais producto enl pão do que o necessário para o seu consumo a semear hu* ma rasa de batatas annualmente; aquelle que tiver menos a semear meia rasa , e todos os mais Lavradores a semear huma quarta (g^). •m I 1 1 I ^M— — M.*— ^^— . (a) L. IX. idem a folh. 19 f, (6) Idem a folh. 4. (c) L. X. idem a folh, 195 f. Id) L V. do Registo a folh. 3fi0. (e) L. VI. idem a folh. 410. {/) L. VIII. das Ver. a folh. h9^ (g-) L. XII. idem a foUi. 107. 134 Memorias da Academia Real §. IV. Entre as providencias referidas no §. I. , a da nomeação de hum Inspector das obras publicas se bem que útil quanto ao fim , he escusada pela maneira com que se dá á execução , não só por não haver risco nem medição , a que o Inspector se deva referir, e por tanto tudo pen- dente da sua vontade , mas também porque até ao presen- te tem sido conferido a pessoas , que nada sabendo de ar- quitectura ficão por isso inhabeis para o objecto que os fez eleger. O arbítrio do Padrão he mais huma prova da pobre- za da Camará que o adoptou, do que zelo pelo beneficio e interesse da mesma. O haver hum Livro authentico , em que se escrevâo o3 preços correntes dos grãos cereaes nas duas feiras mensaes da Cidade , he digno de ser adoptado por todas as Cama- rás do Reino , pela utilidade que não poucas vezes offere- ce aos Cidadãos para não ficarem sujeitos ao preço pela maior parte arbitrário das Misericórdias , ou outras Corpos rações. Assim se verificasse também a execução da segun-. da parte do Acórdão sobre a Estiva do pão cosido : porem tanto este artigo , como o de terem as vendeiras do pão cosido balanças para cada hum verificar que o pão tem o pezo indicado na Estiva , estão em desuso vergonhoso. Fazer-se comnium a todos os moradores do Termo da Cidade o aboletamento dos Soldados que transirão por es- ta Cidade , he indispensável attendendo á pequena popula» cão delia , e ao grande numero de Soldados que a ella vem pernoitar em rasão de ficar em talhe de jornada tanto para cima como para baixo , como pelo motivo de ser esta Ci- dade estrada militar , c a mais frequentada talvez do Reino. He de muito interesse ao bem publico exigir-se ao Cirurgião a apresentação dos Instrumentos necessários pa- ra o exercício da sua profissão muito principalmente pelo desleixo ordinário delles em terras pequenas , porem des- graçadamente esta determinação não teve effeito logo na primeira occasião que occoríeo. DAS SCIENCIAS DE LlSBOA. 13^ Nada ha a observar sobre objectos Commerciaes , quan- to porém aos de agricultura he digno de observação o impulso que deo á cultura das batatas a providencia refe- rida, pois que apezar do esquecimento da Camará em a excitar, ainda continua a encontrar-se á venda nas feiras abundância de batatas j producto que n'outro tempo era bastante escaco neste território : a das amoreiras porém terminou com a nonfieação dos Inspectores. CAPITULO XIII. Da authoridade Militar, A Cidade de Penafiel^ e seu Termo estão dentro do districto militar do Partido do Porto ^ e por tanto dependen- tes dos Ex.""" Governadores das armas deste Partido no que pertence a'ssuas attribuiçoes , principalmente no Recru- tamento , depois que pelo Alvará de 24 de Fevereiro de 1764 ficou este território obrigado a fornecer recrutas para os dous Regimentos do Porto {a) , bem como a dar praças para o Regimento de Milicias de Penafiel. Ha para este fim duas authoridades militares dependentes dos Fx.""" Go- vernadores ditos, a saber hum Capitão Mor, e hum Coro» fiel de Milicias , de quem se tratará seguidamente. CAPITULO XIV. Da. Capitania Már de Penafiel. §, I. X. X E a Cidade de Penafiel Capital da Capitania Mor , que tem á testa hum Capitão Mór , hum Sargento Mór y (o) L. l. do Heg. a folh. 368, 136 Memorias da Academia Real M(ír , e hum Jjttdante. He a Capitania Mór dividida em dez Companhias , e cada huma destas subdividida em certo nu- mero de Esquadras porporcional á população do districto que forma a Companhia. Cada Companhia tem hum Capi' tão y hum Jlferesj hum Sargento f e tantos Cabos , como for o numero das Esquadras de que se compõe a Companhia. §. II. Antes da creação desta Cidade tinha o terço das Ordenanças íííPíWd^^/ porCommandante hum Sargento Mór, sendo Capitão Mór delle a Camará da Cidade do Porto ^ as- sim como ainda hoje continua a ser do Concelho à^Jgniar de Souza , e d'outros que são Termo da mesma Cidade. Ape- zar de ser a Cidade de Penafiel creada com separação to«i tal da Jurisdicção da Cidade do Porto não desistio a Cama- rá desta de sustentar a Jurisdicção militar fundada na pos- se , nos titulos da Doação d'ElRei D. João J. , e no Con- trato feito com o Conde de Fontes , como Alcaide Mór da Cidade do Porto e seu Termo , o que deo motivo a varias representações ao Soberano pela Camará de Penafiel , e par- ticularmente a de 2* d' Abril de 1780 , em que se quei- xava da demora interposta pelo Ex."'" Governador das ar- mas do Partido do Porto em responder sobre o mesmo objecto («) , e de que resultou o rerminante Aviso de 10 de Junho do mesmo anno, em que ElRei declara pertencer á Camará da Cidade de Penafiel a nomeação dos Officiaes das Ordenanças do terço de Penafiel , manda proceda esta logo á nomeação de pessoas idóneas para o emprego dq Capitão Mór , desfazendo todas as difficuldades qiue a do Porto oppunha {b). Fez-se a 6 d'Agosto de 1780 pela Camará de Penafiel na presença do Corregedor da Comarca a primeira nomeação {c) , e foi escolhido por ElRei José, Cardoso Pinto de Madureira Garcez , que exercia o pos* to (a) L, III. do Reg. a folh, 377 f, (è) Documento N." 11. (c) L. IX. das Ver. a folh. 63, DAS SciENCIAS DE LlSBOA. f}? to de Sargento Mór do mesmo Terço , {a) e governou até 4 de Novembro de 1810, em que tomou posse Joaquim Lei- te Serqueira Pereira de Mello Alvim ^ que actualmente ser- ve o mesmo posto , pela reíorma que obteve o antecedente primeiro Capitão Mór [b). §. III. A nomeação do novo Capitão Mór nao alterou a divisão territorial que havia, e por tanto ficarão perten- cendo ao Terço das Ordenanças de Aguiar de Souza as Fre- guezias deGíiilhufe, Erivo y eUrrou <\\iq fazem parte do^i-r- mo de Penafiel, c estão situadas na margem esquerda do rio Souza , que serve neste sitio de linha de demarcação , e divisão aos dous Concelhos; extcnde-se a Capitania Mór de Penafiel a toda a Freguezia de Santa Clara do Turrão ^ quando huma boa parte delia está situada na margem es- querda do Rio Tamaga , e por tanto fora dos limites do Concelho de Penafiel, a quem o mesmo Rio serve de li- mite; formar a Honra de Barbosa huma Coq;ipanhia de Or- denança pertence á Capitania Mór de Bem viver , quando a mencionada Honra pertence ao Termo de Penafiel , dentro do qual está encravada , e separada daquelle na distancia pelo menos de meia legoa nos sitios que mais se visinhâo. §. IV. Tem este Corpo passado -por differentes altera- ções tanto na sua organização particular, como á cerca da maneira de fazer o recrutamento, e Corpos para que de- vem ser mandadas as recrutas , como se pode ver pela va- riada legislação : De 10 de Dezembro de 15-70 15' de Maio de 1574 - ' 18 de Outubro de 1709 24 de Fevereiro! ^ , ' 7 de Julho >d^'7Ó4 { '^de Fevereiro de 1797 T.X.P.II. S De (a) L. III. do Reg. a folh. 439. • (6) L. VI. idem a folh. 124 j^. 138 Memorias da Academia Real De 21 de Outubro de 1807 14 de Novembro") , _ j T-» 1 ?• de 1800 15' de Dezembro J ' 17 de Junho ") , _ j A > de 18 10 ay de AgostoJ 8 de Maio de 181 1. 22 de Agosto ~> j - 29 de UutubroJ 1-1 de Fevereirol de Março ide 18 13 8 de Setembro' 10 de Outubro I de Maio") , „ ' j T iu >-dei8i4 4 de Julho J ^ 21 de Fevereiro de i8iá 23 de Setembro de 1817 §. V. Este he o Mappa das Companhias que formão a Capitania mòr das Ordenanças de Penafiel. ^ NVMERO. NOMES ECAVITAES. ESQUADRAS. fbegvezias (Jue a compõem. LVGARES. fOGOS. I. Penafiel. 10 S. Martinho de Penafiel. ....... S. ThÍ3go de Sob PenaHel. *-. . S 18 Soma i 68 <7! a. Buitello. IO S. Maria de Munedo. ' ........ 3 7 lã 39 16 6 r2 «7 127 ;io 13; 69 S. Martinho de Recezínhos. • - - - - S. Salvador de NoveIla>. ---.... Soma 6 . %(, 710 ii * As FieguezUl que leváo asteciíco tó peitcncem em parte i Capitania MAr. bÀs SciÊHCiAs DÉ Lisboa/ Í39' ■ T-ii.-.,- 5- Luzim. 7 '7 '! lã 1=4 M' M 116 S. Joio ue Kjnde, ........... S. Romão de VilU Cova i S ii 14» Memorias da Academia Real 9' Gallegoi. 7 S. Esieváo de Oldvões. .-.--..- 30 1 1 iS 24 M) ■41 1-14 S. Thiago de Valpedre. - - • Soma 4 7) ,Si IO. Mar:c()>. 6 ) + 1-8 1)4 205 6) S. Adrião de Caiiaj de Duas Igrejas. S. Maninho de Milhundos. Soma i «7 J99 Soma geral «7 js l>T i-"9 Do Re CAPITULO XV. cimenta de Milicias de FcmfieU §. T. JLjL e esta Cidade Capital de hum Regimento de Milicias com a denominação de Penafiel. Este Corpo era j bem como os mais , denominado Terço de Auxiliares , e seus Chefes intitulados Mestre de Campo de Auxiliares , até que por Decreto de 7 de Agosto de 179^ se deo ao Cor- po a denominação de Regimento., e ao Commandante a de Coronel. He provável que este Corpo se levantasse por occasião da guerra de 17Ó1 , por quanto da lista respecti- va a elle, que se acha no Archivo da Thesouraria ào Por~ to pertencente ao anno de 1766, se faz menção de elle ha- ver sido novamente creado. §. II. Tem havido neste Corpo desde asuacreaçao até ao presente os Commandantes seguintes : i.° — Rodrigo de Souza da Silva Alcoforado com paten- te de Mestre de Campo. 2." D. Luiz António de Souza com a mesma patente. 3-' DAS SciENCIAS DE LiSBOA. I4Í 3." — José Cardoso de Carvalho. Dito. 4.° — Gonsalo de Souza da Silva Alcaforaào com praça de Mestre de Campo em 16 de Fevereiro de 1773. l^^ssou a ser o primeiro Coronel do Regimento em 1796 , e foi Reformado por huma Resolução de S. M. de 1 de Abril de 1H03. 5".° — "^osé Ânastasio da Silva da Fonseca com praça de Coronel no i." de Dezembro de 1803 foi reformado por Decreto de 27 de Janeiro de 1810. 6.° — Alexandre Alberto de Serpa com praça de Coro- nel em 27 de Janeiro de 18 10 foi demittido por motivos politicos em 2 de Julho de 1823. 7." — Joaquim Pereira de Menezes com praça de Co- ronel de 2j de Junho de 1823 continua no Serviço actual- mente. §, III. Tem o Regimento de Milícias de Penafiel dous Batalhões, composto cada hum de quatro Companhias, cada huma das quaes se forma pela maneira seguinte : Capitão '._...-...»... X Tenente --.._.......«. i Alferes ----------.-__ j Primeiro Sargento - •? — = — * -•-_*--- 1 Segundos Sargentos - - •■^ - - -.-j. - . 2, Furriel -------------__ i Cabos ---.------.-.--__ 8 Anspeçadas . - - - - ^ - i. w -a ■ - . - . g Praças ------- ""------pó Tambor ------------._ i Soma praças ■ 121 As quaes slo fornecidas pelos Districtos constantes do mappa seguinte com a população existente noanno de 1814 tirada fielmente do archivo do Regimento. Prl- 14* Memorias da Academia Reai Primeiro Batalhão cuja Capital he Filia boa do Bispo. NUMERO. CAllTAL. FREGVEZIAS QIE DÃO RECRVTVS. FOGOS. CAriTA.NIAi HOKEt. I. Campello. Teixeitó. 82 BalJo. S. Pedro da Teixeira. 27 IJem. Tritouras. 119 Idem. Gestaqou. H9 Idem. Viariz. S( Idem. Loivot do Monte. 55 Idem. Tolões. jo Idem. S. João de Ouvil. ;o2 Idem. S. Marinha do Zêzere. 566 Idem. Loivot da Ribeira. 7' Idem. Trende. lOI Idem. S. Tliomé de Covella». ISO Idem. Valladarei. 'í^ Idem. Soma M I:S8S ». Loureiro. Campello. ?'5 Bjião. Soalbãei, 5'? Soalhães. Tuhiai. Gove. 248 Baião. NU- PAS SciENClAS DE LrSBOA. .J^ NUMKHO. CAPITAI. FRE0UE2IAS QUE DÃO RECRUTAS. FOGOS. }o8 CAPITANIAS nORF.S. 3. Loureiro. Santi Cruz ilo Douro. Baião. Grilo. S2S Idein. Ancede. Ancede. Santa Leocndia. 17a Baião. Mcjquinhata. 90 Id. Soma 8 alS7S i Aveiiadai. S. Romão de Paredes. 319 Baião. Paijot de Gaiolo. 271 Bemviver. Penha Longa. 1)9 Idem. Sande. i = 7 Idem. S. Lourenço do Oouro. 8) Idem. Rozem. 47 Idem. Manliuncellos. S9 Idem. Aveiiada*. !)« Idem. Maurelles. 89 Idem. Villa boa de Quirei. )!< liem. S. Eulália de Coottance, 18 Santa Crui. Recezinbof. '4 Idem. Soma 1 ia l'S4Í /vo NU- 144 Memosias da Academia Real NUMERO. CAriTAl. FREGUEZIAS QUE DÃO RECRUTAb. fOGO^ CAPITAMAS MOKE;-. 4- Rio át moinhos. Villa boa do Bispo. ]I0 Benivivcr. Favoes. Si Idem. Ariz. 127 Idem. Magrellol. 60 Idem. Alpendorada. 268 Idem. Mattos. 46 Idem. Várzea do Douro. >'J Idem. Torrão. 282 Penafiel. Rio de Moinhos. =76 Idem. S. Miguel de Paredes. 70 Bemviver. Passinhos. 42 Penafiel. Boelhe. 109 Idem. Salvador da Cabeça Santa. 161 Idem. Soma •} 1-949 O segundo Batalhão cuja Capital he Penafiel contêm as Companhias seguintes. I NVMERO. CAPITAL. FREGVEZIAS qVE D^O RECRUTAS. FOCOS. CAPITANIAS MORES. í- S. Martha. S. Martinho de Recezinhos. MS Santa Cruz, Penafiel. I NU- DAS SciENCIAS DE LlSIiOA. H? CA1'ITAL. I KEÓLCZIAS (^UE UÁO KtCRUTAS. S. Msrthi. Soma Meinedo. Buitello. Cr.ica. S. Maitha. UAPlTAMAb MORLb. j2o 'i'^ 78 Mclhundes. 7=> Kan-e. !! Duas l7rej:is. Villa Cova de Vez Je Aviz. Al>ri;40. Luzim, Feraicllo. 169 34S 126 loã S. Thoniií de Canas. Rans. 7í Oldrões. Valpedre. 16 Penafiel, S. Thiago de Sob Penafiel. Penafiel. 104 8;o Louídáa. Penafiel. lueni. Idem. Idem. Idem. Idem. Idem. Bemviver. Penafiel. Idem. Beinvher. Idem* Idem , e Penafiel. Penafiel. Penafiel. Idem. T. X. P. II, KU« Í4* Memouias da Acadf.mia Real NUMERO. • CAPITAI. /RBGVEZIAS QUE S>ÍO RECRUTAS. FOGOi. i6o CAÍ-ITAKIAS MORES. 6. Penafiel. Mírecos. Penafiel. Guelhufe. iSa Aguiar de Souza. Urrou. 79 Idem. Corei xa«. 4» Penahel. Erivo. 104 Aguiar de Souza. Mourií. H" 1 Idem. Magdalena. 59 Idem. Gondalãei. 9J Idem. Castelõea da Sepeda. 209 Idem. Soma II 2:128 7- VillJ Cova de Catioi. No*ell— ao Meirinho dito ------- ^0^000 í— — ao Porteiro dito -----'-- 8 gas, mas não som primeiro gastar toda a sua munição for- mado em quadrado. Em consequência deste acontecimento foi elle com os mais Officiaes de patente e Cadetes remet- tido para a Cidade de Montpellier , aonde esteve até á con- clusão da paz, e voltando para o seu Exercito embarcou cm Barcellona a 28 de Outubro de 1795" , e a 27 de Fe- vereiro do anno seguinte se restituio á Cidade do Port». Foráo remunerados esres Serviços cora a Cruz de S. Bento d^Aviz , e patente de Major graduado a/ d'Abnl de 1796, e com a de eíFectivo a 7 de Junho de 1797. Sérvio de Ajudante de Ordens por quatro annos no Partido do Porto , e a if de Outubro de 1804 foi mandado governar interi- namente a Cidade e Barra á' Aveiro, e encarregado da for- matura do Cordão Sanitário pela beira-mar desde Ovar para, o Sul, caqui permaneceo até 18 de Março de iSoj. Quan- do o Povo da Cidade do Porto pelo seu decidido amor a KlRei nosso Soberano sacudio o jugo Francez na memorá- vel dia 18 ô.f Junho de 1808 , foi elle hum dos Milita- res que se mostrou mais infiammado com esta heróica de- terminação , e por isso teve a gloria de ser escolhido na manhã do dia 19 para hum dos membros da Junta Provia tional do Governo Supremo , que na mesma Cidade se installou até ao restabelecimento da Regência , que ElRei havia no<* meado , e deixado no Reino,, em cujo exercicio foi pro- movido a 2 1 de Julho ao posto de Tenente Coronel gradua^ do , sendo cm Agosto seguinte reformado em Coronel a 27. Porém a mesma Cidade , que o havia exalta4o como fiel vàs- sallo , o vio arrostar os perigos no meio do enthusiasmo anárquico de 1809, chegando a ficar victima da sua ina- balável fidelidade na bataria do Monte pedral que comman* dava na infausta invasão do dia 2^ de Março* DOw t$% Memouias da Academia Rkal DOCUMENTOS. N.° I.- Carta de Lei da creaçao da Cidade de Penafiel. D '. José por graça de Deos , Rei de Portugal , e dos Algarves d'aqueni , e d'alem mar , cm Africa Senhor de Guiné , e da Conquista , navegação , comínercio da Ethlo- pia , Arábia , Pérsia , e da índia. Faço saber aos que esta minha Carta virem , que eu fui servido mandar passar o Alvará do teor seguinte : Eu ElRei faço saber aos que es- te Alvará virem , que havendo-me feito presente o Arcebis- po d'Evora o muito que a demasiada extensão das Diece- ses se faz incompatível com o governo deltas , e com a obrigação que os Pastores do rebanho de Christo tem de conhecerem as suas ovelhas, e de se fazerem delias conhe- cidos, para supplicar, que impetrasse, como tenho procura- do impetrar, as necessárias Letras Apostólicas para se des- membrarem daquelle Arcebispado as duas Comarcas de Be- ja, e Campo d'Ourique, ese erigir nellas huma nova Die- cese : cedendo desde logo em espiritual beneficio daquelles seus Diecesanos de todos os fructos, rendas e proventos das sobreditas duas Comarcas , e tendo com o motivo des- te louvável exemplo sido informado com toda a certeza de que a mesma disforme extensão impossibilita no Bispado vago do Porto a boa administração do pasto espiritual , que os Prelados delle não podem extender ao excessivo nume- ro dos seus Diecesanos no estado presente : Fiz supplicar ao S., Padre Clemente XIV. ora presidente na Universal Igreja de Deos , que com aquellas pias , e urgentes caudas haja por bem conceder todas as .necessárias faculdades pa- ra que do território do sobredito Bispado do Porto se des- membre a Comarca de Penafiel de Souza, e seja nella eri- gi- DAS SciENCIÀS DE LiSBOA. IJ^ gicJo hum novo Bispado , qiie tenha por território da suá Dicccse a sobredita Comarca , e por Cabeça a considerá- vel Povoação de Arrifana de Souza, e para que nella se possa mais dignamente estjbieleccr a Cathedraí da mesm^ nova Diecese : Hei por bem , e me praz que a dita Povoa- ção d'Arrit'an3 de Souza do dia da publicação deste em diante fique creada cn\ Cidade, que por tal seja tida e ha- vida , e nomeada com a denominação de Cidade de Pena- fiel , e que como tal Cidade haja e tenha todos o? mai3 privile^;ios , e liberdades de que devem gosar e gosao as outras Cidades destes Reinos , concorrendo com ellas ern todos os actos públicos , e usando os Cidadãos delia de todas as distincçócs, c preeminência, de que gosão os das outras Cidades scrn differença alguma : pelo que mando A todos osTiibunaes, Ministros, Officiaes , e pessoas aquém este for mostrado , que daqui em diante hajao a sobredita Povoação de Arrlfana de Souza por Cidade de Penafiel , e assim a nomcem , c lhe guardem, e a todos os seus Ci- dadãos , e moradores delia todos os privilégios , franquezas , e liberdades, que tem as outras Cidades destes Reinos, e os Cidadãos , e moradores delias , sem hTrem contra ellcs cm parte ou cm todo, porque assim he minha vontade e mercê: E quero, e. Mando que este meu Alvará se cum- pra e guarde inteiramente como nelle se contêm sem du* vida ou embargo algum , e por firmeza de tudo o que di-» to he, ordeno á Meza do Desembargo do Paço lhe mande passar Carta em dous differentes exemplares, que serão por mim assignados e passados pela Chancellaria , e sellado? com o sello pendente delia ; a saber hum delles para sq guardar no Archivo da mesma Cidade pjra seu Titulo , e outro para se remcttcr á Torre do Tombo, E pira que ve- pha á noticia de todos, mando ao Dr. João Pacheco Perei- ra do meu Concelho, e Desembargador do Paço, que ser- ve de Chanccller Mór destes Reinos, que faça estampar a dita Carta logo que passar pela Chancellaria , e envie as copias delia aos Tnbunaes , c Ministros a quem se costu- mão 0 Í6ô Memorias DA Academia Real hião remetter as minhas Leis para se observarem. Dado no Palácio de Nossa Senhora d'Ajuda em 3 de Março de 1770 annos. Rei. Conde de Oeiras. Bm observância do dito meu Alvará pelos respeitos nelle declarados hei por bem , eme praz que do dia da publicação desta em diante fique ere- cta em Cidade a dita Povoação d'Arrifana de Souza , que por tal seja tida e havida, e nomeada com a denominação de Cidade de Penafiel, e que como tal Cidade haja, e te- nha todos os privilégios e liberdades de que devem go- sar , e gosao as outras Cidades destes Reinos , concorrendo com ellas em todos os actos públicos, usando os Cidadãos da mesma Cidade de todas asdistincçóes e preeminências , de que gosão os das outras Cidades sem differença alguma. Pelo que mando a todos os meus Trjbunaes , Ministros, Officiaes , e Pessoas , a quem esta Carta for mostrada , que daqui em diante hajão a sobredita Povoação de Arrifana de Souza por Cidade de Penafiel , assim a nomeem, e lhe guardem a seus Cidadãos , e moradores delia todos os pri- vilégios , franquezas , e liberdades , que tem as outras Cida- des destes Reinos , e os Cidadãos e moradores delias , sem hirem contra elles em parte ou em todo , porque assim he minha vontade e mercê. E quero, e mando que esta minha Carta se cumpra e guarde inteiramente, como nella se con- têm, sem duvida ou embargo algum; epara firmeza de tu- do a mandei passar por mim assignada , e passada pela mi- nha Chancellaria , e sellada com o sello pendente delia , a qual se remetterá á Torre do Tombo , e do teor des- ta se passou outra na mesma conformidade para se guardar no Archivo da mesma Cidade para seu titulo. E para que venha á noticia de todos mando ao Dr. João Pacheco Pe- reira do meu Concelho, e Desembargador do Paço , que ser- ve de Chanceller mór destes Reinos , que faça estampar a dita Carta logo que passar pela Chancellaria , enviando as copias delia aos Tribunaes, e Ministros, a quem se costumão remetter as minhas Leis para se observarem. Esta se regis- tará nos Livros da Camará da dita Cidade de Penafiel , e nos DAS S ciEKCi AS DE Lisboa. i6r nos da Correição da dita Cidade. Lisboa 17 dias do me2 de Março de 1770. ElRci. Carta porque Vossa Magcsta- de ha por bem crear a Povoação d*Arrifana de Souza era Cidade de Penafiel com todos os privilégios e liberdades, de que gosão as outras Cidades destes Reinos j concorren- do com ellas cm todos os actos públicos, tudo na forma que acima se declara. Para Vossa Magestade ver ; e por Alvará de Sua Magestade de 3 de Março de 1770, e des- pacho do Desembargo do Paço de 17 do dito mez. João Pacheco Pereira , António José da Fonseca Lemos. Francis- co José da Costa Sotto-maior a fez escrever. João Pache- co Pereira. Foi publicada na Chancellaria mór da Corte e Reino. Lisboa 24 de Março de 1770. D. Sebastião Mal- donado. Registada na Chancellaria mór da Corte e Reino no Livro das Leis a folh. ifj-. Lisboa 24 de Março de 1770. António José de Moura. Manoel Caetano de Paiva. Cumpra-se e registe-se. Penafiel 2 de Julho de 1770. Pas* SOS. L. II. do Registo da Camará ãe Penafiel a folb, 127, N.« a. Carta ãe Lei da Concessão de Termo d Cidade de Penafiel. D José por graça de Deos Scc. &c. Faço saber ao9 que esta minha Carta virem , que Eu fui servido mandar passar o Alvará do teor seguinte : D. José &c. &c. Eu ElRei faço saber aos que este Alvará virem , que haven- do creado pelo outro Alvará de ? de Março do presente anno a Povoação de Arrifana de Souza em Cidade de Pe- nafiel com todos os privilégios e liberdades , de que go* são as outras Cidades destes Reinos y e devendo como tal determinar-lhe o Termo que deve ter: Hei por bem que daqui em diante lhe fiquem servindo do mesmo termo toi. T. X. P. U. X das i6i Memorias da Academia Real das as terras pertencentes á minha Coroa sitas assim no Jul- gado de Penafiel , como nas Honras de Barbosa , Bcatria de Gallegos , Couto d'entr'ambos os Rios, Villa de Melres, e Couto de Meinedo. Pelo que mando a todos os Tribu- nacs , Ministros , Officiaes , e Pessoas , a que este for apre- sentado , e o conhecimento possa pertencer, que daqui em diante hajão por termo da referida Cidade de Penafiel as sobreditas terras comprchendidas no referido Julgado , Hon- ras, Villa e Coutos, porque assim he minha vontade e mer- cê. E quero e mando que este meu Alvará se cumpra e guarde inteiramente , como nelle se contêm sem duvida ou embargo algum. E por firmeza de tudo o que dito hc , or- deno á Meza do Desembargo do Paço lhe mande passar Carta em dous difFerentes exemplares , que serão por mim assignados , passados pela Chancellaria , e sellados com o sello pendente delia , a saber hum delles para se guardar no Archivo da mesma Cidade para seu Titulo , e outro pa- ra se remetter á Torre do Tombo. E para que venha i noticia de todos mando ao Dr. João Pacheco Pereira do xneu Concelho , e Desembargador do Paço , que serve de Chanceller mór destes meus Reinos , que faça estampar a dita Carta logo que passar pela Chancellaria, e envie as copias delia aos Tribunaes e Ministros , a quem se costu- mão remetter as minhas Leis para se observarem. Dado no Palácio da Senhora d'Ajuda 328 de Junho de 1770. Rei. Martinho de Mello e Castro, E em observância do dito meu Alvará pelos respeitos nclle declarados Hei por bem , e me praz que do dia da publicação desta em dian- te fiquem servindo de Termo á dita Cidade de Penafiel todas as terras pentencentes á minha Coroa sitas assim no dito Julgado de Penafiel , como nas Honras de Barbosa , e Beatria de Gallegos, Couto d'entr'ambos os Rios, Villa de Melres , e Couto de Meinedo : Pelo que mando a to- Aós os Tribunaes, Ministros, Officiaes, e Pessoas, a quem festa minha Carta for apresentada , c o conhecimento possa pettencer, que daqui em diante hajáo por termo da refe-» dAS SciETHCrAS DE LlSBOA. lÊj rida Cidade de Penafiel as sobreditas terras comprehcndi- das no referido Julgado , Honra , Villa , e Coutos , porque assim he minha vontade e mercê : E quero c mando que esta minha Ca.ta se cumpra e guarde inteiramente , como nella se contem sem duvida ou embargo algum : e por fir- meza de tudo a mandei passar por mim assignada , passa- da pela minha Chanccllaria , e sellada com o sello pen- dente delia , a qual se remetterá á T.orre do Tombo , e do teor desta se passará outra na mesma conformidade para se guardar no archivo da mesma Cidade para seu titulo ; e para que venha d noticia de todos mando ao Dr. José Pacheco Pereira do meu Concelho, e Desembargador do Paço , que serve de Chanceller mór destes meus Reinos , que faça estampar a dita Carta , logo que passar pela Chan- cellaria, enviando as copias delia aos Tribunacs c Ministros , a quem se costumão remetter as minhas Leis para se ob- servarem ; e esta se registará nos Livros da Camará da di- ta Cidade de Penafiel , e nos da Correição.* Dada na Ci- dade de Lisboa aos 2 d' Agosto de 1770. ElRei. Caita porque Vossa Magestade ha. por bem declarai o Termo , que deve ter a Cidade de Penafiel novamente erecta por Alvará de 3 de Março próximo precedente, tudo na forma acima declarada. Para vossa Magestade ver. Por Alvará de S. M. de 28 de Junho de 1770. João Pacheco Pereira, António José da Fonseca Lemos. João Pacheco Pereira. Foi publicada esta Carta na Cancellaria mór da Corte e Rei- no. Lisboa 25- de Setembro de 1770. D. Sebastião Maldo- nado. Francisco José da Costa Sotto-maior a fez escrever. Registada na Chanccllaria mór da Corte e Reino no Li- vro das Leis a folh. 24. Lisboa 25" de Setembro de 17701 António Joé de Moura. Manoel Caetano a fez. « L. II. do Reg. da Cam. de Penafiel a folh. 1^6. X ii Rei- 164 Memorias da Academia Real Reinando o Senhor Rei D.José foi Penafiel separado do Porto para se erigir em Bispado por Bulia do Papa Cle- mente XIV., datada de 10 de Julho de 1770: abolio-se para se unir ao Bispado do Porto , como dantes era , por Bulia do Papa Pio VI. datada de 11 de Dezembro de 1778. NOTA. Não vão impressas as Bulias por integra , por nSo se te- rem podido baver copias exactas , a pezar de toda a diligencia. N." 3. Termo da aceita f ao da bulia pelo Ex:'" Bispo do Porto. A os vinte três dias do mez de Março de 1779 annos nesta Corte , e Cidade de Lisboa no meu Escriptorio aj>- pareceo pessoalmente João Evangelista , morador ao Calha- riz em Casa do Ex."'" Conde de S.Vicente, bastante Pro- curador do Ex.""" e R."^" Bispo do Porto, e da Ex."" Mi- tra , que mostrou ser pela procuração junta , e por elle iTie foi dito , que pelos poderes da mesma Procuração se obrigava em nome do Ex.'"" e R."'° Bispo do Porto , e da Ex.™* Mitra , e de todos os seus Successores Bispos que forem naquelle Bispado a pagar a pensão de dez mil cru- zados da nossa moeda Portugueza , pagos em dous paga- mentos iguaes de Natal e S. João de cada hum anno aa Ex.""" e R.'"° Sr. Arcebispo de Tessalonica D. Fr. Igna- cio de S. Caetano, Bispo que foi em o Bispado extincto de Penafiel , em quanto vivo for : cuja pensão lhe foi re- servada por bulia Apostólica do Santíssimo Padre Pio VI. na união que fez do referido Bispado de Penafiel ao do Porto que antes era , de que seu Ex."'° e R.'"° constituin- te DAS Sc lENC! AS DE I^ISBO A. I^^ te Bispo do Porto aceita a dita união do dito Bispado ex- tincto ao seu do Porto , e outro sim se obriga tanto elie Ex.™" Bispo , como em nome da Ex.'"' Mitra , e de seus Succcssorcs que houverem de succeder no mesmo Bispado do Porto conservar ao Ex.""" c R."'" Arcebispo de Tcssalo- nica de posse da Quinta do Prado com todas as suas per- tenças, como lhe foi reservado na mesma bulia Apostólica cm quanto vivo for , obrigando-se igualmente a conservar hum auditório com seu Provisor, e Vigário Geral na Ci- dade de Penafiel , e seu território na forma das Letras Apos- tólicas, e determinação de Sua Magestade Fidelissima , e como assim se obrigou a cumprir o Ex.""" e R.'"" Bispo do Porto por seu Procurador fiz este termo que comigo assi- gnou. Eu Joaquim José de Siqueira Notário Apostólico o escrevi = João Evangelista Machado de Oliveira =:. Extrabido do L, de Notas referido, N.' 4. Provimento do primeiro Vigário Geral de Penafiel, D Fr. João Rafael de Mendonça , Monge de S. Jero- nymo , e por mercê de Deos e da Santa Sé Apostólica , Bispo do Porto, e do Concelho de Sua Magestade Fide- lissima. Pelo conhecimento que temos das Letras e virtu- des, e mais merecimentos do Reverendo Dr. João de Sou- za Pimentel , Abbade de Santo André de Marccos , o no- meamos Desembargador da nossa Meza Ecclesiastica com a mesma antiguidade , e assento cm que se achava por no- meação nossa , quando delia sahio para Juiz dos Rcsiduos de Penafiel, com o exercício actualmente de Vigário Geral da Cidade e Comarca de Penafiel com ajurisdicção do Re- gimento de Vigário Geral dado pela nossa Constituição , e também de Juiz dos Casamentos , occupação que exer- ci- ■l66 Memorias da Academia Real citará em quanto o houvermos por bem , e não mandarmos o contrario, debaixo do juramento que tem tomado, e ven- cerá de ordenado duzentos mil réis por anno com todos os próçs , e. precalços que lhe forem devidos. Pelo que man- do &c. &c. &c. Dado no Paço Episcopal do Porto aos 27 de Março de 1779. Cartório Ecclesiastico de Penafiel L. I. do Registo a folh. Carta da. nomeação do primeiro Corregedor e Provedor de Penafiel. D José &c. &c. Faço saber aos que est.''. minha Carta virem que Eu hei por bem fazer mercê ao Bacharel Cae- tano José Lourenço do Valle do lugar de Corregedor da Comarca de Penafiel para nella exercitar cumulativamente per si , e seus Successores a Jurisdicção de Provedor na mesma forma em que a exercitavao os Corregedores, do Porto em cujo lugar foi subrogado o da sobredita Comar- ca novamente creada, o qual lugar elle servirá por tem- po de três annos, e o mais que decorrer em quanto eu não mandar o contrario , e com elle haverá o ordenado , prócs e precalços , que directamente lhe pertencerem : e por tanto mando ao Juiz , Vereadores e Procurador , Fidal- gos , Cavalleiros , Escudeiros , Homens bons , e Povo de Penafiel , e das mais terras da sua Comarca lhe obedeçáo , e cumprâo as suas Sentenças , Juízos e mandados , e todas as mais cousas que elle da minha parte e por bem da Jus- tiça e meu Serviço mandar, que serão comeffeito executa- das naquellcs que assim o não cumprirem , e nellas incor- rerem : e na Camará da dita Cidade lhe será dada a posse ' deste lugar pelos Vereadores e Procurador , ejurarána Chan- cellaria aos Santos Evangelhos de que bem , e ^verdadeira- mente birva, guardando em todo o meu Serviço, e áspar^ , tcs DAS ScÍencias de Lisboa. l£i-f tes seu direito , de que faraó os assentos necessários nas costas desta Carta , que por firmeza de tudo lhe mandei passar por mim assignada , e sellada do raeu scllo penden- te , que se lhe cumprirá como nella se contem , e pagou de novos direitos 33(^)407 réis do mais tempo que sérvio o lugar de Juiz de Fora de Barcellos , e deo fiança ao L. I. delias a folh. 139 a pagar da melhora que tiver do lu- gar de Corregedor e Provedor da dita Comarca por não estar ainda avaliado como se vio do seu conhecimento re- gistado a folh. 147 do L. 29 do Registo geral. Lisboa 15- de Maio de 1775. ElRei. &c. &c. t L. 111. do Registo da Camará a folh. 17^ f. N." 6. Auto de demarcação da Comarca de Penafiel. A, .NNO do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1776 a 5 do mez d' Agosto do dito anno nesta Cida- de do Porto , e moradas do Dr. António Alvares da Silva do Desembargo de Sua Magestade Fidelissima , seu Desem- bargador e Chanceller da Relação e Casa desta Cidade do Porto aonde eu Escrivão vim, alli por elle Dr. Desembar- gador Chanceller me foi dada a Provisão de S. M. F. que ao diante se segue, ordenando-me que a autuasse para se proceder na divisão , separação e aggregação determinada na dita Provisão de que fiz este termo eu Vicente Antu- nes Pereira Escrivão das appellações Civeis desta Relação e Casa do Porto , e nomeado para esta diligencia o escrevi. Provisão. D. José &c. i&c. &c. Faço saber a vós Chanceller da Relação e Casa do Porto, que falecendo o Corregedor des- sa i68 Memorias da Academia Real sa Comarca Bruno António Cardozo , e ficando substituin* do o seu lugar o Juiz de Fora actual António de Barboza Pereira , este me representara a grande perturbação que havia nos Povos dessa Comarca , as duvidas que se moviao na arrecadação da Decima , e Subsidio Litterario ^ as ques- tões que se altercavâo sobre as eleições das Justiças, e ou- tras cousas que quotidianamente occorriao , sendo a causa desta desordem a falta de divisão entre a Comarca de Pe- nafiel , e essa do Porto ; e querendo Eu obviar os absurdos que poderão seguir-se para o futuro , Houve por bem por minha Real Resolução tomada em consulta da Meza do Desembargo do Paço ordenar que da Comarca de Guima- rães se separassem o Concelho de Unhão, o de Santa Cruz de Riba Tamaga , o de Govêa de Riba Tamaga , o de Gestaço , a Honra de Villa Cahiz , e a Villa de Canave- zes e Tuhias , e se unissem e aggregassem á de Penafiel , ficando precípuos para a Comarca do Porto os Concelhos de Gondomar , Aguiar de Souza , Maia e Refoios , que sem- pre constituirão o Termo delia : e Hei outro sim ordenar- vos que com assistência dos três Corregedores do Porto Penafiel e Guimarães procedaes a autos de divisão, separa^ ção , e aggregação dos referidos Concelhos assignados poir todos, e os remcttaes á Meza do meu Desembargo do Pa- ço , exercitando no entanto cada hum dos Corregedores a sua Jurisdicção nos respectivos districtos , que lhes ficarem demarcados : cump.i-o assim. ElRei Nosso Senhor o man- dou por seu especial mandado pelos Ministros abaixo assi- gnados do seu Concelho e Desembargadores do Paço. Joa- quim José da Motta Cerveira a fez em Lisboa em s ^^ Julho de 1776. Francisco José da Costa de Soto-maior a .fez escrever. = Pedro Viegas de Novaes = Afltonio José da Fonseca Lemos = Por resolução de S. M. de i de Ju- lho de 1776 tomada em consulta da Meza do Desembar- go do Paço = Por ElRei ao ChanccUer da Relação eCa-, sa do Porto =:. Des- DAS SCIEKCIAS DE LiSBOA. l6^ Despacho, Autuada se proceda aos autos de divisão , separação , eaggregação na forma ordenada. Porto 5- d'Agosto de 1775'. =z Silva =. Anno de Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1776 aos 12 dias do mez d'Agosto do dito anno, nes- ta Cidade do Porto e moradas do Dr. António Alvares da Silva do Desembargo de S. M. F. , seu Desembargador e Clianceller da Relação e Casa desta Cidade do Porto , on- de eu Escrivão vim , ahi estavâo presentes o Desembarga- dor Chanceller António Alvares da Silva , e o Dr. Valério José de Leão Corregedor actual desta dita Cidade do Por- to, e o Dr. Caetano José Lourenço do Valle Corrêa de Freitas actual Corregedor da Cidade de Penafiel , e o Dr. Bento Borges da Cunha Botelho do Amaral Corregedor actual da Comarca da Villa de Guimarães , e sendo assim todos presentes logo elle dito Dr. Desembargador Chancel- ler lhes disse que ElRei Nosso Senhor pela Provisão jun- ta a estes autos que lhes leo de verbo ad vcrbum , expedi- da pela Meza do Desembargo do Paço na data de 5 de Julho próximo pretérito deste anno de 177Ó e passada por especial resolução do dito Senhor do 1.° do dito mez e anno , tomada em consulta da dita Meza do Desembargo do Paço a respeito da divisão, separação eaggregação das sobreditas três Comarcas do Porto Penafiel e Guimarães , foi servido ordenar que da sobredita Comarca de Guima- rães se separassem o Concelho de Unhão , o Concelho de Santa Cruz de Riba Tamaga, o Concelho de Gesraço , a Honra de Villa Cahiz , e a Villa de Canavezes e Tuhias , e se unissem e aggregassem á Comarca de Penafiel , precí- puos para a Comarca do Porto os Concelhos de Gondo- mar-, Aguiar de Souza, Maia e Rcfoios, que sempre con- stituirão o Termo delia. Pelo que elle dito Desembargador T. X. P. 11. Y Chan- i7o Memorias DA Academia Real Chancellcr em execução da dita Regia resolução de S. M. declarou aos ditos três Ministros acima nomeados que ha- via por divididos e separados da dita Comarca de Guima- rães os sobreditos Concelhos de Unhão , o Concelho de Santa Cruz de Riba Tamaga , o Concelho de Govêa de Riba Tamaga , o Concelho de Gestaço , a Honra de Vii- la Cahiz, e a Villa de Canavezes, e Tuhias, e os unia e aggregava todos á dita Comarca da Cidade de Penafiel, fi- cando assim entendendo o dito Corregedor de Guimarães que do dia de hoje em diante lhe não pertence mais Ju- risdicçâo alguma nos sobreditos Concelhos, Honras, e Villa, nem nelles devia fazer Correição , ou outro algum acto de Jurisdicção , por ficarem divididos e separados da mesma Comarca de Guimarães, e unidos e aggregados á Comarc;! e Correição da Cidade de Penafiel, e como próprios do território e districto delia , concedida a Jurisdicção ao Dr. Corregedor da mesma Cidade e Comarca de Penafiel , pa- ra em todos elles a exercer, e fazer a Correição na for- ma que a Lei do Reino determina , ficando entendendo o dito Dr. Corregedor de Penafiel que os sobreditos Conce- lhos coiTi a Cidade e Termo de Penafiel são os que consti- tuem a Comarca de Penafiel , e os districtos e limites da sua Jurisdicção , sem que a possa exercer nos sobreditos Concelhos de Gondomar , Aguiar de Souza , Maia, c Re- foios que sempre pertencerão á Comarca do Porto , e con- stituirão o Termo desta Cidade , e nelles todos hade exer- cer a sua Jurisdicção, e fazer Correição o dito Dr. Corre- gedor desta Comarca do Porto na forma que determina a Lei do Reino , e na mesma forma que até ao presente a exerceo , por serem próprios do Termo desta dita Cidade do Porto, e da sua Comarca e Correição. E nesta forma houve elle Dr. Desembargador Chánceller por feita a di- ta divisão , separação , e aggrcgação , e para que os ditos três Corregedores do Porto, Penafiel, e Guimarães, e seus Succcssores fiquem certos nos limites , e districtos de suas respectivas Comarcas , e Jurisdicçóes , e os respectivos Po- vos 1 DAS SciENCIAS DE LiSBOA. I7I VOS reconhecendo a obediência e sujeição que devem tef aos seus competentes Ministros, mandou elle dito Dr. Des- embargador Chanceller que a cada hum dos mesmos três Corregedores se entregasse a copia authentica destes au- tos , para a fazerem registar nos Livros das Camarás das Cabeças das suas Comarcas , e nos ditos Concelhos para em todo o tempo constar desta divisão, separação, e aggre- gação , ordenada por S. M. a fim de cessarem as duvidas que derão causa á Sua Suprema e Real Resolução , e se não intrometterem ja mais huns Ministros nos districtos, e Jurisdicçoes dos outros, salvo naquelles casos em que por disposição da Lei expressa são as Jurisdicçoes cumulativas, de que tudo elle Dr. Desembargador Chanceller mandou fazer este auto , que assignou depois de lido com os di- tos três Ministros Corregedores , e dou fé passar tudo na verdade. Eu José Vicente Antunes Pereira o escrevi = An- tónio Alvares da Silva = Vallerio José de Leão =: Cae- tano José Lourenço do Valle Corrêa de Freitas = Bento Borges da Cunha Botelho do Amaral =. L. III. do Reg. a folb. 131, N.° 7. Foral das Sisas das correntes de Penafiel. P oR cada besta muar ou c^vallar até iO(35)ooo se pa- gará -------... ,00 daqui para cima ----.--_ij.o asnal até io<][)ooo ------.__ ^o junta de bois ----------- 15^0 de vaccas ----------- 80 cabeça de gado miúdo ----«---10 porco de iO(2)ooo para cima ----- 40 porco de iO(i)ooo para baixo ------ 20 arroba de sumagre --------- f y ii Por I7Z Memorias da Academia Real Por cada alraude d'azeite ---..--..jq para fora do Concelho ------ 50 — — carga de cordas de linho -------100 ■ ■ Serguciro era feira - - - - -- - - -100 Sombreireiro de Ia fina em feira - - - - 100 baixa idera -------.- y© Tendeiro em feira --------- j'© . Çapateiro idem .■--.-.--.- j-q Caldeireiro idem --------- 100 . Picheleiro idem ---------„ 80 . fora de feira -------- -jq > Cuteleiro em feira ---_-, --__8o arroba de cera ----.---__ 70 E sendo menos a este respeito Por cada Peneireiro em feira -------- j-q Pentieiro idem --«•-,----. yo Sedeireiro idem ----.,--..^^0 Odre iro ou Borracheiro idem------5ro Correeiro idem -------,-. j-q Cúteiro idem -_,------- y carga d'alhos ----- huma mainça , e 100 dúzia de ferraduras sem cravos ----- 20 carro de cebolas .---------20 milheiro de laranja e limão ---.-- 20 De todo o panno de linho ou estopa , fita e massos pagarão as partes de fora quer na compra quer na venda por milhar ---.-rT----»i-20 E o mesmo pagarão os Avençaes comprando os mes- mos géneros por Commissão para fora do Concelho. Por todo o burel por milhar --------20 Por toda a obra de ferro assim de talha eomo de sçr-» ralharia pagarão as partes de fora que comprarem ou venderem por milhar --.-▼, ---20 E o mesmo pagarão os Avençaes comprando por Com- missão para fora do Concelho. Por cada couro de boi em cabello que for para fora 60 Por DAS SciEMCIAS DE LlSBOA. I73 Por cada arroba de la--- --._«__ ,q E sendo menos -.-_--_-____ ^ Por cada pipa de vinho maduro que vier a vender - 300 verde que se vender para fdra , ou vier a vender á Cidade pagará a parte de fora - - - 100 Sendo porém de Rendeiro , e fructo de suas rendas - o E se vier em cargas assim maduro como verde para tor- nar a vender, pagarão a esse respeito Por cada quintal de ferro ---------40 Que se for a vender ou comprar a este Concelho, pa- garão as partes de fora delle -------40 Por cada quintal de aço pela mesma forma - - - 80 E SC o dito ferro ou aço for pelo miúdo a esse res- peito Por cada cobertor >----.---_•_ 40 manta de burel ---------_ 20 ametade de sola curtida -------100 E sendo menos a esse respeito Por cada carga de carvão --------- 6 — — de tamancos --------- ^o —— saco de tamancos -------.-25' As partes de fora que venderem atafaes, bocelhos, pa- garão por milhar ------_____ jo Por cada carga de cal ---------- 6 arroba de sebo t 10 Toda a pessoa ainda que seja avençai que comprar boiadas por commissão para pessoas de fora, pagará a Sisa aforada neste foral aonde se falia de bois. Toda a pessoa que fugir da feira sem pagar Sisa do que comprar ou vender não sendo avençai deste Concelho, sendo achado pagará Sisa de vinte hum. E de todos os géneros que aqui não vão aforados, se pagará a Sisa de vinte por milhar. Alvar d de correr para a cobrança das Sisas da Cidade de Penafiel. N." 174 Memorias da Academia Reaii N." 8. Ordem sobre Rodas de Expostos, O Dr. Caetano José da Rocha e Mello, Cavalleiro Pro- fesso na ordem de Christo, do Desembargo da Rainha Fi- delíssima Nossa Senhora que Deos guarde , seu Correge- dor, Provedor, e Contador da Sua Real Fazenda , com pre- dicamento de primeiro banco nesta Comarca pela mesma Senhora &c. Faço saber a vossa Mercê dito Sr. Dr.Juiz de Fora da Cidade de Penafiel, ou a quem seu cargo servir em como por parte do Sr. Intendente Geral da Policia me foi enviada -a Ordem seguinte : Sendo o augmento da população hum dos objectos mais interessantes e próprios de huma bem regulada Poli- cia , por consistirem as forças e riquezas de hum Estado na multidão dos habitantes , se acha este tão esquecido nes- te Reino, que em algumas terras delle se vem inteiramen- te fechadas -e sem gente huma grande parte das Casas sem haver quem as habite , e sendo a origem entre outras de huma tão sensível diminuição os reiterados infanticídios que estão acontecendo todos os dias em todas as terras em que não ha Rodas ou berços para os Engeitados , que sen- do expostos de noute ás portas dos particulares , a quem íaltão ou os meios, ou a vontade para os mandar criar, são sacrificados como innocentes victlmas da indolência, com que os povos vêm perecer tantos Cidadãos, que poderião ser úteis para o Estado , e gloria para a Nação ; faz-se pois indispensável o dar a este respeito aquellas providen- cias que forem opportunas para a conservação da vida de tantos vassallos recem-nascidos , estabelecendo pelo modo mais fácil Rodas, em que elles sejão expostos, e creados i custa das Camarás , e dos Povos que lhes derão o ser , e isto até á idade de sete annos, em que elles livres dos im- ' DAS Sc I ENciAS DE Lisboa. 17J immirrentes perigos , que até este tempo os cercão, e em entrando cm idade capaz d'algum trabalho possao por meio dcUe ganhar o seu diário sustento e vestuário, para cujo cffeito vossa mercê logo que esta receber praticará o se- guinte : Hirá pessoahiiente a todas as terras da sua Comar- ca, e em cada huma das Villas estabelecerá huma casa, etn que haja hum lugar onde se possâo expor as crianças , sem que se conheça quem as leva, destinando huma pessoa coth o mesmo salário que se costuma dar ao das Albergarias ^ para a toda a hora, dia, e noute receber os engeitados que alli se forem expor , a qual será obrigada logo que entrar alguma criança a dar parte ao Magistrado da terra , seja Juiz ordinário, ou de Fora , ou a quem seu lugar servir, para este o fazer logo baptizar e mandaf criar por huma das amas que deve ter ja destinadas e promptas para este effeito pelo preço commummcnte na terra estabelecido , o que tudo será satisfeito pelos rendimentos applicados nas Gamaras para semelhante fim , ou pelo Cabeção das Sisas naquellas terras onde não houver aquelles rendimentos , e para o que vossa mercê , quando tomar as contas dos Con- celhos ,■ as tomará também de todas as despezas que se fi- 'zerem com as criações dos engeitados até a idade de sete annos , findos os quaes sahirão , distribuindo pelas herda- des, quintas, e fazendas das circumvisinhanças, observando nesta parte o mesmo Regimento que se pratica com os Órfãos , procedendo a prisão contra os Officiaes ordinários que no tempo que servirem deixarem de satisfazer as obri- gações , que por esta forma lhes são impostas , e intimará aos Juizes de Fora , que sendo caso não cumprão o que até aqui vai ordenado, lhes não mandarei passar certidão de residência , antes farei presente a S. M. o pouco zelo com que se cmpregão no Real Serviço. Passará vossa mercê re- vista geral a todos os engeitados, e em todas as veaes que for cm Correição , para averiguar se são bem tratados oú se tem incorrido por omissão ou descuido das pessoas en- carregadas da sua criação : no fim de cada hum anno vos- sa 176 Memorias da Academia Real sa mercê remcttcrá á Secretaria desta Intendência hum map- pa dos engcitados que se exposerão em cada huma das ter* ras da sua Coitiarcá , dos que morrerão , e dos que exis- tem vivos , declarando se os Juizes de Fora , e Ordinários cumprem com zelo o que lhes he encarregado a respeito da suá criação , e para que não aconteça concorrerem todos os Expostos a huma só terra por ignorarem os Povos que es- ta ordem e providencia he genérica por todo o Reino, vos- sa mercê mandará pôr Editaes nas terras da sua Comarca , em que declare aquellas em que ha Casa de Expostos com o nome das ruas e sítios aonde ellas são situadas, para que cada hum se dirija á Casa que ficar mais visinha , e se evi- te o incommodo de serem levados os Expostos de hum a outro Termo, como até agora se praticava com prejuizo imminente : e como os termos d' algumas Villas são dila- tados, e pode acontecer que ainda sem embargo desta pro- videncia se engeitem algumas crianças ás portas dos parti- culares só por não terem o incommodo de as levarem duas e três legoas á Casa dos Expostos da Villa ou Cidade re- spectiva , vossa mercê encarregará aos Juizes e Officiaes das Vintenas de todas as terras da sua Comarca , que sendo caso que no districto de cada hum delles appareça alguma criança exposta , a mandem logo conduzir á Casa dos ex- postos da Villa ou Cidade do seu districto por alguns ho- mens ou mulheres que tcnhão leite e alimento pelo cami- nho , os quaes conductores serão pagos em continente ca- da hum do seu Jornal conforme o preço costumado na ter- ra aonde apresentarem a mesma criança , para o que o Juiz de Fora ou Ordinário lhes mandará satisfazer sem demora pelo Procurador do Concelho : perguntará vossa mercê de- vassamente em Correição se os Juizes e OíEciaes das vin- tenas satisfazem ao que lhes he ordenado para proceder contra elles no caso de serem omissos; e para que se ha- ja de praticar esta diligencia em todo o Reino ao mesmo tempo vossa mercê a executará pelo que respeita á sua Comarca no termo de dous mczes , fazendo registar esta Cr- nAS SciEHCIAS DE LiSBOA, I77 Ordem em todas as Camarás delia , de que remeterá certi- dão á Secretaria desta Intendência' de assim se ter execu- tado , declarando o nome das terras onde se estabelecerão Rodas dos Expostos, para que findos os ditos dons mezes eu possa fazer presente a S. M. que se achão estabeleci- das todas as providencias necessárias para a conservação da vida de tantos innocentes vassallos , no que se disvela com maior cuidado a Paternal Clemência da mesma Senho- ra. Deos guarde a vossa mercê. Lisboa lo de Maio de 1783. z= Diogo Ignacio de Pina Manique rr Sr. Dr. Pro- vedor da Comarca de Penafiel. E he o que se continha na sobredita Ordem pelo que requeiro a vossa mercê, Meritis- simo Sr. Dr. Juiz de Fora da Cidade de Penafiel , ou quem seu cargo servir , da parte de S. M. que Deos guarde , e da minha lhe peço por mercê , logo que esta lhe for apre- sentada se sirva fazer executar a dita Ordem inteiramente com toda a exacção , pondo logo prompta a Casa que ella determina nessa mesma Cidade para se exporem as crianças, e huma pessoa capaz para as receber , e amas de leite pa- ra as criarem , tudo como a mesma Ordem declara , sem obstáculo algum que possa embaraçar o verdadeiro e Real effeito delia , que heide fazer executar tão inteiramente co- mo a mesma determina , e no termo de oito dias contados da data desta em diante se dará satisfação ao referido re- me ttendo-se-me certidão disso por mão do Escrivão que es- ta fez escrever, e esta mesma Ordem se registará no Li- vro da Camará , e se fará publica com pregões não só na sua primeira audiência, mas também nos Lugares e ruas publicas dessa Cidade, o que me será também certificado por fé do Escrivão que passar a referida certidão e do com- petente pregoeiro nella assignado , por cujo portador será juntamente remettido o Officio desta Ordem, conta, assig- natura, sello, e registo delia , que tudo faz importe de qua- trocentos réis &c. O que assim cumprindo-o vossa mercê fará Serviço a S. M. e a mim mercê. Dada e passada nes- ta Villa de Canavezes desta Comarca de Penafiel , por mim r. X P. 11. Z as- 17? Memobias da Academia Real assignada ,> e á falta de sello que de presente nSo ha nes- te meu Juízo , valerá sem sello ex causa a 23 de Junho de 1783, Manoel António de Basto Escrivão da Correição desta mesma Comarca afez escrever, esobscreveo, aquém se pagou de feitio o a margem por mim contado na for- ma do Regimento , de assignar e sello noventa réis , e do Registo quarenta , que tudo vai metido na soma retro. Ma- noel António de Basto a fiz escrever =: Caetano José da Rocha e Mello = Ao sello trinta réis. Valha sem sello ex causa = Mello =: Conta. Importa du/entos e quarenta réis, e da conta trinta e seis réis = Mello = Registada no Li- vro primeiro folhas sessenta e três = Basto =:. L, III. do Registo afolb. 433. N." 9. Aviso para a nomeação de Capitão Mor. . LL .""' e Ex.™" Sr. A Gamara da Cidade de Penafiel fez requerimento a S. M. em que pedia lhe determinasse o que devia obrar a respeito das eleições dos postos das or- denanças da sua Jurisdicçao , a que procedia a Camará da Cidade do Porto, ainda depois de se acharem desannexados os Termos , e separados os Governos publico e contencio- so pelo Alvará de 3 de Março de 1770: e José Cardoso Pinto Garcez , Sargento mór das Ordenanças da referi- da Cidade de Penafiel pertende o posto de Capitão Mór delia. Sendo V. Ex." ouvido sobre as sobreditas supplicas com resposta dos Officiaes da Camará da Cidade do Por- to , e pondo o Concelho de guerra tudo na Real presen- ça de S. M. em consulta de dez d'Abril do presente an- no foi a mesma Senhora servida resolver por Sua Real Re- solução de vinte hum do mesmo mez d'Abril que , como o DAS SciENCIAS DE LiSBOA. ly^ O mesmo mencionado Alvará, e pelo de 28 de Junho de 1770 se mandava crear de novo a Cidade de Penafiel com districto separado , desannexando-o da Cidade do Porto , com rasão requer a Camará da dita Cidade de Penafiel que nella se façáo as eleições dos Officiaes das Ordenanças , pa- ra o que ordena que a dita Camará proceda logo á elei- ^jâo de Capitão Mór segundo a forma prescripta pelo Al- vará de 18 de Outubro de 1709 , não se podendo duvidar que este mcthodo he o mais util no Real Serviço , pois assim se* dá a conhecer do mesmo Alvará, e depois que pelo de 14 de Fevereiro de 1764 forlo encarregados os Capitães Mores da factura das recrutas, íinda se considerou mais necessário hiver os ditos postos de Capitães Mores em todos os di-trictos. Pelo que pelo Alvará de 7 deju- lh> de 17^4, que sérvio de declaração ao que fica mencio- nado, se creaiâo Capitães mores para as Companhias fran- cas que os não tinhão , como foi em Azeitão , e Oeiras , e aonde não havia numero sufficientc para esse eíFeito se sujeitarão as Companhias francas ao Capitão Mór mais vi- sinho , advertindo que o mesmo Alvará determina no §. VIII. que as eleições dos Capitães e Officiaes dessas Com- panhias se facão nas Gamaras das Villas dessas mesmas Com- panhias , em que se demonstra que a intenção de S. M. he que as eleições se facão sempre nas Gamaras dos dis- trictos. Não pode obstar o que a Camará do Porto oppõe a esta representação , porque na doação que o Sr. Rei D. João I. fez do districto em questão se declara se entenda em quanto nossa mercê for, e quando adita Camará tives- se algum Jus, seria para se oppor á desannexação do. Termo doado, e como o não fez, ou lhe não foi attendida , não pode conservar a regalia de fazer as eleições das Ordenan- ças dos districtos que lhes não pertencem , muito menos da forma que o quer, porque se a Camará do Porto per- tende ser Capitão Mór , os Capitães Mores não fazem elei- ções , presidem a ellas , e assim nesta supposição deveria a Gamara do Porto hir presidir á eleição que se fizesse na Ca- i8o Memorias da Academia Real Camará de Penafiel , o que seria huma grande irregularida- de. Também lhe não pode servir de fundamento a trans- acção que a Camará celebrou com o Marquez de Fontes , porque cUe não podia ccntratar sem faculdade expiessa de S. M. a quem ella pertence. Além de que elle como Al- caide mór do Porto he que exercitava o posto de Capitão Mór no Termo de Penafiel por pertencer então áquclla Ci- dade , e como esse Termo se acha desannexado, falta á Ca- mará o titulo para continuar na mesma Jurisdicção". O que participo a V. Ex." para mandar proceder na Camará de Penafiel á eleição de pessoas para o provimen- to do posto de Capitão Mdr delia na conformidade da re- ferida resolução, e para constar a todo o tempo, e ter execução o que S. M. determina, fará V. Ex.^ registar es- te Aviso na Secretaria desse Governo das armas , e nas Camarás das ditas Cidades. Deos guarde a V. Ex." Lisboa ■IO de Junho de 1780 = Francisco Xavier Telles de Mel- lo = 111.""' e Ex.™» Sr. João d' Almada e Mello. L. III. do Regista, a folh. 382. ME- DAS SclENCIAS DE LiSBOA, l^J MEMORIA Sohre a nomencJaUtra , ou littgoagem mathematica , metios bem tratada pelo haOilissimo auctor do Ensaio de Psy- chologia impreiso em Paris no anno 1826. Por Joze Maria Dantas Pereira. E NTRE as Citações numerosíssimas, que se encontrão no Ensaio sobre a Psychologia dado á luz em Paris no anno i8z6 , existe a de Horácio: cui lecta potenter erit ret tiec facúndia deseret hunc , nec lucidus ordo : a qual contêm huma proposição pertencente á classe das que admittem inversa ; pois não pode haver facúndia , neC lucidus ordo em obra , cujo assumpto seja superior ás for- ças de quem o trata. Conseguintemente , contemplando a ordem lúcida , e não só a facúndia mas também a vastissima erudição , que brilhão a cada passo no dito Ensaio , quão extraordinário talento, e quantos conhecimentos ainda mais extraordiná- rios , devemos respeitar com a maior complacência no seu auctor , que demais a mais hc portuguez , e portuguez muito distincto em mais de hum sentido ! Com tudo este roesmo conceito que formo de auctor tão benemérito he quem me precisa a procurar combatello, em quanto á sua opinião sobre a lingoagem ou nomencla- tura mathematica : em relação á qual me parece que lhe T. X. P. 11. Ce re- içS Memorias da Academia Real recahe o quandoqtie honits dormitat Homeriis , que oxalá po- desse recahir-me semelhantemente. Com effeito o respeitável auctor diz~ na pag. 66 , e nas seguintes : « os defeitos sem exemplo da nomenclatura >» mathematica , tornao esta parte da que por antonoma- í» sia chamamos Scientia muito inferior i que lhe corres- » ponde em todas as outras sciencias , moraes e physicas : j» pois nestas nunca se permitte usar de huma expressão » em dois sentidos differentes . • . e naquella huma expres- >» são chega a ter oito significações. " « Perguntando-se a hum mathematico a significação í» da expressão -i- , e da expressão — , responde : >» » para ser accrescentada a outra quantidade ^ (por exemplo) : >» e que por isto aquella quantidade he chamada positiva. » (( j." Que — a designa dever ser esta quantidade sub- »» trahida : e que por isto a denominâo negativa. >» « 3.° Que 4- a significa a soma de huma grandeza » positiva com outra menor negativa j -ira = -\-b — Cy »> sendo c » « 8." C^e + = — : — »» «c o." Que tratando-se de quantidades geométricas , as » precedidas pelo signal — tem situação opposta ás pre- >» cedidas pelo signal +. »♦ «c io.° Qu,e — a designa a soma de huma quantidade >» positiva com outra maior negativa ; isto he , que — a >»c=è-t-(— f), sendo í > t. j» «< ii.° Que tendo supposto —a positivo, deveremos j» dahi por diante considerar + a como negativo \ — a =z »•—(-♦- a). DAS SciENCIAS DE LrSBOA. Içp t< 12.° Que — = -1- X — • " " '3'° Ql'c — = 4- : — . " " '4-" Ql"^ — = — : 4-. '» « Eisiiqui pois os mathematicos dando nada menos de >» oito dcfiiiições para a expressão h- , e sete para a cxpres- » são — . >» « Sei que em todos os elementos mathematicos se per- >» tende deimnitrar estas diíFcrentes definições ; mas também " sei , e todos os mathematicos de alguma distincçao reco- " niieceráo commigo , que todas estas pertendidas demoii" " strações são paralogismos. >> ít O mesmo auctor assevera que nas linguas vqlga- " rcs . . . não ha expressão da qual não se tenha dado, >» ou não possa dar-se huma boa definição. » Por tanto como estou comprehendido entre aquelles que tem publicado elementos de arithmetica universal , pro- curarei mostrar-me isento dossuppostos, ainda que não pro- vados paralogismos: e para esre fim analvsarei o que tenho relatado , expendendo ao mesmo tempo os meus respecti- vos raciocínios. Primeiramente noto que a palavra definição me susci- ta idea diversa da que lhe corresponde no benemérito au- ctor do Ensaio ; mormente quando affirma , que os mathe- maticos tem pertendido demonstrar definições ; e dão nada menos de oito definições á expressão +. Apesar da sua exposição relativa ás oito denominadas definições , ou estas concordão , ou discordâo. Se concordão , ou são idênticas , ou são precisas con« sequencias reciprocas , e por isso reductiveis a huma úni- ca , devendo preferirse para definição a mais simples : como ex. gr. na circunferência devemos preferir a defini- ção curva cujos pontos equidistao de hum existente no seu pia- no , como mais simples , ou mais geral e promptamente comprehensivel do que seria , por exemplo , a definição curva em cujo plano traçando duas rectas que se cortem deu' tro delia , e produsindo-as até d mesma curva , as partes dt Ce ii hur 300 Memorias DA Academia Rbal hiima formão extremos , e as da outra meios de proporção geo- métrica. Neste caso me parece ífue existi a jquestão do auctor , tratada genuinamente , como espero evidenciar , concluindo qu€ não he niathematica a iingoagem lespectixyj do mesmo auctor; pois o increpado transtorno, oudcfeito sem exem- plo f provêm tão somente do modo especioso, ou privati- vo , como que o referido auctor encara ou discute a ques- tão. No segundo csso , ponderado e não concedido , isto he , se as oito significações discordassem , ou extravagueas- scai , conforme o benemérito auctor assegura, como se leva- ria a inconsequência ao grande extremo de não designar ideas diflPerentes por meio de signaes diversos , maxime quan- do estes signaes equivalem a expressões vulgares , a cujo respeito o mesmo auctor diz, que nenhuma existe da qual não se tenha dado , ou não se possa dar huraa boa 'defini- ção. - Seria por desgraça privilegio exclusivo dos mathemati- cos ( contando mesmo neste numero assaz pequeno todos os mais distinctos ) não poderem hçmbrear por este lado até com o vulgo ? Mas eu vou entrar no recinto da questão , precedendo apenas a ponderação de que o auctor presta sete depnipet á expressão > e oito ao signal -h, sendo talvez a razão desta diffcrença a falta de completar o seu systema , apon- tando entre os n.*' 1 2 e 1 3 que _ = _ x -h , assim co-! mo no 14 apontou que — = — : -^-. Se o respeitável auctor, conceituando-me tal qual ma- thematico , me perguntasse a significação das expressões ^ e , responderia « os mathematicos , na sua escritura- j» ção scientifica , em vez das palavras mais , menos , escre- M vem '+ , — : por tanto, o que entenderíeis vendo escri- »> tas aquellas palavras , devereis entender aonde estiverem >» escritos estes signaes. »» Eisaqui tudo , e cisaqui o que passo a demonstrar nos ca- HÁS SciENCIA* t>n LiStiOA. 20I casos indicados pelo auctor, seguindo a ordem numérica prefixa, O vrilgo diz F. tem isto, mais isto, mais isto; oma- thematicu , designando cada isto diverso por huma letra diffciente , e a palavra mais pelo signal + , diria F. tem a -i- h 4- c : tal he a simplicidade do negocio controver- tido ! Qaem crerá que tem sido esta a origem de questões infinitas ? Passemos a ver se estas sahem do assumpto , se de quem o discute. " Assim como as propriedades da circunferência se de- duscm da fundamental preferida para servir de base á defi- nição daquella curva , assim também as accepçóes da pala- vra mais ^ ou do seu indicador -h na mathematica , são de- dusidas da primordial respectiva ; sem que por isso devão ser chamadas significações diversas , e ainda menos diver- sas definições. i." Supponhamos que da expressão F. tem a ■\- h + c abstrahimos F tem -f- e ; que deveremos entender se não Nestes termos a denominação positivas dada a taes quantidades , alem de ser convencional , quem não a vê fundada na voz latina positus derivada de ponere , que cor- responde ao nosso pôr , o qual significa também accrescen- tar , como por exemplo quando se diz z= pôr algum dinhei- ro da própria bolsa para completar o pagamento de algum objecto =: ? Que discordância pois se deve encontrar nesta deno-^ minação : ou que significação diversa da primeira ? 2.° Semelhantemente na accepção 'Oulgar , própria d:i palavra menos , esta voz he reportada a expressões depcn* dea- 201 Memorias da Academia Real dentes de outras, ou claras ou subentendidas: poi^ exem- plo, diz-se F tem menos tanto de altura, quando sequer asseverar , que a sua altura hfi inferior aquelle tanto , ou á que lhe tem sido attribuida , ou á considerada por quem está fallando , ou á que vai ser declarada, &c.; não acon- tecendo igual dependência na proposição = tem pequena (ou tem grande ) altura ^, Esta dependência tacita ou expressa, passou sem pa- ralogismo para o signal — indicador da voz menos', c por isso este signal anteposto a qualquer grandeza marhemati- ca , denota que esta grandeza se refere a outra explicita , ou implicitamente ; e se refere no sentido subtractivo , op- posto ao das quantidades positivas: o que se exprime cha- mando negativa a primeira grandeza ; sem que esta denomi- nação deixe de concordar com a definição do signal — 3.° Considerando agora a expressão h — c, convém pon- derar que principiou a existir mediante a generalisaçao de outras taes como j- _ 3 , 8 — 7 , &.c. , no que ninguém jamais encontrará paralogismo : depois , applicada a casos particulares condusio a outras taes como 3 — 5" , 7 — 8 , &c. efoi obvio reflectir , que sendo b, c geraes indicadores de quaesquer grandezas cumpria ajuizar de è — c , quando Z» > f , quando è = í, e quando h <^ c. Na primeira hypothese , nada se apresenta mais natu- ral do que concluir h — c igual á differcnça entre h ^ c \ concluindo também, que esta differença deve existir no sen- tido positivo , e expressando tudo por meio da equação a — h—c, a qual designa que c deve ser diminuído de h. Se alguns tem dito, que na mencionada hypothese + â significa a soma de huma grandeza positiva com outra me- nor negativa , nem serão os primeiros em adoptar especio. sidades , nem a semelhante especiosidade compete a quali- ficação de significação , ou definição geralmente seguida : e isto apesar de se parecer com a expressão vulgar de quem tratando, por exemplo, de dar bens e dividas a hum in- ventario , dissesse ao escrivão delic accrescmtai a divida c, 4." DAS SciENCIAS DE LiSBOA. 205 4.° O caso b — a :=. b + (— á ) igualmente especioso está comprchcndido no anterior , pois indica soma da quan- tidade negativa — a com a positiva -h b •, porem conside- rando mathematicamcnte a intervenção dos parenthesis a es- pcciosidade cresce , pois redusindo-se então o mesmo caso a b + i y. — a fica sobremaneira transformado , e pertence ao artigo 12.° em que se vê na lingoagem do auctor — = + X — t quando os mathcmaticos dizem apenas abbreviada- mente , mais multiplicado por menos dd menos '. expressão as- saz diversa de menos igual a mais multiplicado por menos. Em summa , seja qual for o artigo ou 3.°, ou 12.°, a que corresponda esta singular expressão b — a z=: b -^- {^— a) ,, he supérflua a sua consideração separada , e por tanto in* admissivel em discussão própria da mathesi. 5'.'' Affirma o benemérito auctor , que os mathcmaticos definem h- =: -t- x -t- » quando elles apenas asseverão , que mais multiplicado por mais dd mais , ou que -+- x -+- dá 4- ! Ora , huma vez que os mathcmaticos devem contemplar na representação geral das quantidades , não só as suas grandezas, mas também o sentido em que existem humas a respeito das outras , applicão esta contemplação á multi- plicação das quantidades ; e por tanto considerando o caso 4- X 4- discorrem acertada, e coherentemente , dizendo: «c a multiplicação ordinária , da qual a algébrica nada mais }> he do que huma indicação geral , constitue huma abbre- '»> viatura da soma; pois o seu resultado, chamado produ- »»'cto, deve equivaler ao da soma do multiplicando comsi- >j go mesmo , repetido tantas .vezes quantas são as unida- j» des do multiplicador : mas em -»- x -í- o multiplicando, » ou cada huma das parcellas, existe no sentido augmen- » tativo , e o signal do multiplicador mostra que devem jj todas ser repetidas neste mesmo sentido ; logo , visto »» dever ser positiva a soma de parcellas positivas , ou po» j> sitivo o todo composto de partes positivas , segue-se que »> o producto de taes multiplicações deve ser additivo, c íi conseguintemente o sentido da sua existência deve ser ia- ao4 Memokias da Academia. Real « indicado pelo signal -j- " o que exprimem concisamen- te pela maneira sobiemencionada , pertendendo assim dizer , que nas multiplicações , quando ambos os factores existi- rem no sentido positivo , o producto deve também existir no sentido positivo. 6." Tendo para multiplicar — por _, concluiria sem o menor paralogismo , que também deve ser -t- o signal do producto , servindo-me , ou de hum raciocínio semelhan- te ao que deixo expendido, ou daquelle que vou expen- der. O signal — reporta sempre a quantidade respectiva a outra, indicando que desta deve ser aquclla suhtrahida ; e somente por abstracção pode ser a primeira quantidade con- templada isoladamente : passemos pois a não abstrahir , e no resultado que obtivermos , em quanto ás quantidades abs- trahidas, encontraremos o que sempre lhes corresponde. («) Refira-se pois no multiplicando o signal — á quanti- dade c , que deve ser tirada de outra maior Z» ; e no mul- tiplicador á quantidade n , que deve ser tirada de outra maior m : o que poderei verificar em todos os casos ima- gináveis desta natureza , visto que bem são supponiveis a meu arbítrio ; e que por ventura o benemérito auctor do ensaio jamais encontrará neste raciocínio o menor paralo- gismo ainda mesmo quando quisesse abusar extraordinaria- mente da sua finíssima dialéctica. Mas desta sorte vêmo-nos redusidos a multiplicar ^_í por m ?/ , ou a somar m vezes a quantidade b — c po- sitiva, e da soma tirar « vezes a mesma quantidade. Considerando tão somente a subtracção, por ser apar- te da operação aonde entra _ « , concluiremos , que a mul- tiplicação de huma grandeza positiva b — c por outra ne- gativa — « equivale á subtracção da primeira praticada tan- tas vezes quantas são as unidades da segunda ; ou que -i_ax— n= — an, ou que + x — dá — ; mas nunca diremos — =4- x — > pois o signal = não significa dã nem j^oduz j e a proposição indicada pela expressão — = DAS SCIENCIAS DE LiSBOA, 20^ -í- X — differe essencialmente da que os mathematicos enun- cião como deixo repetido. Voltando agora á subtracção de b — c e&ituada tan- tas vezes quantas unidades ha em — «, com a maior faci- lidade comprehenderemos, que poderá ser efFeituada por dois modos: i.° tirando c de l/y multiplicando o resto por « , e subtrahindo o producto ; 2." tirando bn , e ajuntando ao resto a quantidade cti. Com effeito suppondo correspondentes a í , c , « os nú- meros 5", 3,7, redusir-se-hia o nosso caso a devermos ti- rar (j'_3)7;o que realisariamos , ou tirando i x 7 = 14 > ou tirando f x 7 > e accresccntando ao resto 3x7, que se reduz a tirar 35 e augmcntar ou restituir 21, ou a tirar 35 - 21 = 14. O primeiro modo he mais singelo mas singular ; o segundo he mais composto, porém geral, e único prati- cável com os caracteres algébricos , segundo aliás he pró- prio de soluçóes que devem comprehender todos os casos homogéneos: vemos pois que o producto deb — f por — «, geralmente considerado , reduz-se a — bn -t- ctt, Abstrahindo a parte em que tão somente entrãoíew, e vendo ser-)- a;, com razão Analisaremos concluindo , que — c multiplicado por — « deve produsir h- f» ; c por tan- to diremos sem paralogismo , que — x dá 4-, Aproveitando esta occasião notarei , que a demonstra- ção anterior foi mais longa do que seria se a proposição estivesse no seu lugar; o que não realisei em consequên- cia de haver seguido a serie prefixada pelo benemérito au- ctor do Ensaio. Este symptoma , por assim dizer , que podemos de- nominar extensão excessiva de demonstração , ja me tem servido para descobrir a falta da devida gradação , ou suc- cessão , nos consecutivos theorcmas expostos em diversas obras mathematicas : o que também pode ser indicado pe- las demonstrações indirectas, ou ex absurdo ^ quasi sempre designadoras de que a proposição respectiva não faz systema T. X, P. II. Dd com 2o6 Memorias da Academia Real com as outfas, ou precede algumas que deviâo preeedel- la. •j° O expendido pareee bastante para se concluir, que a proposição -t- : -+- dá +■ não he desenvolvimento de pa- ralogismo, nem nova significação ou dcfiniçdo dosignal-n^; mas sim precisa consequência de exacto raciocínio fundado na genuina definição do mesmo signal , e na da operação da divisão. Com tudo accrescentarei que , vistd dever o producto do divisor pelo quociente equivaler ao dividendo , como demais a mais cumpre considerar nas quantidades o senti- do era que existem , segue-se dever ser tal o signaí do quociente, que da multiplicação do divisor pelo mesmo quo- ciente resulte o dividendo, não só em quanto á sua gran- deza , mas também no tocante ao signal. Resulta pois deste rigoroso raciocinio que 4- : -f- de- ve dar -»-. 8.° . Do mesmo raciocinio também resulta , que — : ^ deve dar -t-. 9.° Huma vez designadas as linhas geométricas por ca- racteres algébricos, se por hypothese considerarmos como positivas aquellas , que deverem augRiêntar outra prefixa , ou que deverem ser-lhe accrescentadas , somente sendo in- consequentes a respeito da mesma hypothese , e de tudo o que fica expendido, poderemos deixar de indicar como ne- gativas todas aquellas linhas, que deverem encurfar a mes- ma linha prefixa , ou que deverem ser-lhe subtrahidas. Generalisando esta consideração como he próprio da mathesi , diremos sem paralogismo , antes sim como conse- quência precisa das noções anteriores, que no tocante ás linhas , e mais geralmente ainda em relação ás quantidades geométricas representadas por caracteres algébricos , se de- signarmos como positivas aquellas que sieguirem huma di- recção , ou tiverem hUnlà áituação prefixa , deveremos desi. gnar como negativas aqufellas que seguirem direcção, ou tiverem situação relaíiramente oppostaj e vice-versa (b). Ém DAS SciENCIAS DE LiSBOA. 20/ Em fim, julgando muito fácil a applicaçao dos prece- dentes raciocinios aos casos dos números lo a 14, que res- taria considerar, parece-me completamente destruida apro- va fundamentai da asserção , que pertcnde coUocar a no- menclatura da matheie muito abaixo das nomenclaturas de todas as outras sciencias, moraes ephysicas: devo pois re- matar aqui a presente memoria. NOTAS. {a) He claro que o estado abstracto sempre se deriva daquelle que existe , e pode ser chamado concreto : alena disto a ponderada abstracção nem altera as quantidades abstrahidas , nem o sentido relativo em que ellas existem , nem a operação tendente a nada mais do que mudar hu- ma expressão delias em outra equipolente : em fim , deven- do o producto ex. gr. de r por / ser sempre o mesmo , quer consideremos r como parte do todo f ^ r, quer de g-^r., &c. ; e assim também t como parte do todo ;:e -h í , ou de 3 H- ? , &c. ; he manifesto , que o dito producto , em qualquer das referidas hypotheses , deve ser, havido co- mo geral para todas as homogéneas , e não como privati- vo daquella que o produsio, (b) Pertendendo-se maior explanação a este respeito , consulte-se a lição duodécima dos = Elementos de Geome- tria Philosophica do Senhor Stockler , Barão da Villa da Praia = lição que fiz imprimir, e distribuir, em Lisboa, no anno 18 19. NB. aproveito esta primeira occasião de publicar que , de- pois de impressa a minha memoria sobre o que Air. Bory de S. Fincent escrevera d cerca da minha pátria , me certifiquei em que o additamento respectivo he obra do Ex."" Senhor Tho- maz António de Vilia-nova Portugal. Dd ii DE- 2o8 MeMòhias da âcademía Real DEDUCÇÃd ANALYTICA ,DAS PRINaPAES FORMULAS DA TRIGONOMETRIA SPHERICA. ; Por José Cordeiro Feyo. P, Ara Satisfazer aos amantes da exactidão resolvi-me a re- digir a premente demonstração analytica das principaes for- mulas da Trigonometria Spherica , a qual me parece dedu- zida Com toda a generalidade e rigor mathematico ; o que também jd pratiquei a respeito das principaes formulas das linhas trigonométricas. O metliodo , que segui , he o mesmo que ha annos costumo ensinar publicamente aos meus discípulos , para que' estes possão rectificar as ideas adquiridas na aula , as quaes difficultosamente conservão na memoria , quando as não tem cscriptas, o que mostra a experiência. Na demonstração se acha tambcm comprehendido o caso particular, em que algum ou alguns dos lados do trian- "ulo spherico for igual ac;o'j caso este que só porinduc- ção se tem demonstrada. Também supprimi todas aqucllas formulas , que na resolução dos triângulos sphericos costumão ser suppridas pelo triangulo supplementário , lembrando-me que : Nisí utile est , quod facimus , stulta est gloria. For- tsK& ScictrorAS de Lisboa. 109 Formulas das linhas trigmiometricas , a qtte a diaute havemos recorrer. I = sen.' A 4- COS.' A sec' A = tg.' A -^ l. t — tg. A. cor. A :.tg. A = sen. A : cos. A. i := cos. A. sec. A cot. A := cos. A : sen. A. sen. A= sen. (ido — A) cos. A = — co^. (180— .4). sen. O = COS. 0 = 1. sen. 90° =1 COS. po' r: o. sen. ( A^B) 2=. sen. A. cos. J3 + sen. B. cos. .^. COS. (-íí + ií) =: COS. A. COS. fi Z sen. 5. sen. .íÍ. sen. A+ sen. £ = a sen. j (A-^B). cos. ^ {A — B) sen. ^ — sen, fi = 2 cos. j (.,44-5). sen. -^ (^— £) ' cos. -4 -h cos. B —z cos. i (^-4-5). cos.4(^ — B) cos. B — cos. yí cr 2 sen. i (^-hU). sen. -^ (.4—5) sen. A^=.z sen. :^ .^. cos. -^ A. cos. .^í =- I — 2 sen.' t A. cos. .^í = 2 cos." i ^ — I *g- í (-^±-S) = (sen..íí + sen.£) : (cos. ^4- cos. 5). theorema fundamental. §. I. Coseno de lado de triangulo spherlco he igual ao coseno do angulo opposto multiplicado pelo producto dos senos dos outros I.OS. d 2 COS. az^i COS. b. cos. d-\-2 sen. b. sen. d. cos. A COS. a =: COS. A. sen. b. sen. d + cos. b. cos d. UAS SciENCIAS DE LlSCOA. 3X1 terminado por }> e / (*) , prolongamentos dos lados ^ b cd menores que 90°, continuados dos extremos do terceiro la- do a , até concorrerem Fig. III.* Neste triangulo cada um dos lados , b' e /, que comprehendem o angulo , he maior que 90°, por serem supplementos de í» e á j e he sen. b = sen. b' ; cos. b = — cos. b' -^ A =z jil sen. d = sen, / ; cos. d =z — cos. d.' E substituindo estes valores na formula (i) , vem (2) . . . cos. a — cos. J. sen. b.' sen. d' -4- cos. b.' cos. d' o que mostra a verdade do theorema fundamental na se- gunda circunstancia de ser cada um dos lados , b' q d', % maior que 90.' III." CIRCUNSTANCIA» Imagine-se em terceiro lugar o triangulo A B ly ( Fig. III." ) determinado por dí e «', prolongamentos dos lados d c a , continuados dos extremos do lado b até con- correrem ; no qual he o lado b < 90°, e o lado d' > 90° j e além disto he... — d): (sen. b. sen. d) . . 11." T. X. P. II. Ee E (*) . COS. a = (1 — 2 sen.' ^ ui) sen. b. sen. d. -\- cos. b. cos. d. 914 Memorias da Academia Real E também na dita formula (J) , em lugar de cos. ^ , es« creva^se 2cos.* ~ A ^ i , e achar-se-ha COS.' 5 ^ = sen./, sen. (/> — «): (sen. è. sen. — t) . sen, (f — J) ^ ' * * 4 sen.^ 4 "" sen.° A. sen.' «. sen." d t , sen.' D sen, p. sen. Çp — a) . sen, (p — &) . sen, (p — — 6) : (sen. 6. sen. d) DAS SciENCIAS DE XrlSBO A. aij da pelo seno do angulo comprehendido , mais o producto dos cosenos do dito lado e angulo comprehendidos : isto he (Q . . cot. a. sen. b — cot. A. sen. D 4- cos. b. cos. D DE.MONSTRAqSO. « Pelo theorcma fundamental he cos. d = cos. D. sen. b~. sen. a -f- cos. b. cos. a. e pelo theorcma segundo he sen. d = sen. D. sen. a : sen. A e substituindo estes valores na formula {A) , a fira de ele^ minar d, resulta (*) a formula {C) . . . q. e. d. • THEOREMA QUARTO. §. IV. Coseno de angulo de triangulo spherico he ' igual ao coseno do lado opposto , multiplicado pelo pro- ducto dos senos dos outros dous ângulos , menos o pro- ducto dos cosenos destes ângulos : isto he (D) . . cos. A — cos. a. sen. B. sen. D — cos. 5. cos. D DEMONSTRAqÃO. Pelo theorcma terceiro he ■ cot. b. sen. a — cot. B. sen. D •\- cos. a. cos. D Ee ii e (*) . . . COS. n zr cos. A, sen. h. sen. D sen. a : sen. A -H -\- COS. h. COS. D. seu. bt sen. a -f- cos.^ h. cos. a COS. a (1 — cos.'ò) rr cot- A. sen. 6. sen. D. sen. a -+■ -H COS. b. cos. D. sen. è. sen. a cot. a. sen.- irrcot. -á. sen. D. sen. è-f-cos. b. cos. D. sen. 3 cot. a sen. bzz.coi. A. sen. D ->-cos. b. cos. D . ... q. e. d. ti6 Memorias da Academia Real e pelo theorema segundo he sen. b = sen. B, sen. a : sen. A e substituindo estes valores na formula C, escripta na for- ma seguinte cot. a =. cot. A. sen. D : sen. b. -v- cot. b. cos. D a fim de eliminar h , resulta (*) a formula {D) . . . j- e. d. ANALOGIAS DE NEPER. §. V. O seno da semisomma de quaesquer dous lados de triangulo spherico he para o seno da semidiffercnça dos mesmos lados ; como a cotangente de metade do angulo comprehendido he para a tangente da semidifferença dos outros dous ângulos. O coseno da semisomma de quaesquer dous lados de triangulo spherico he para o coseno da semidifferença des- tes mesmos lados ; como a cotangente da metade do angu- lo por elles comprehendido he para a tangente da semi- somma dos outros ângulos : isto he sen. "-{a + b): scn.^a-b) : : cot. iD: tg. ^(A-B)Ky^ QOs.Í{a + b):cos.'-{a-b)::cot.^^D:tg.-^{A-i-B)Ç " ' DEMONSTRAqXO. Sabe-se que he . . . . tg. 1 {A ± B) = '^4Í^ E (*) cot. a = «ot. A. 8€n. D. sen. A : ( sen. B. sen. a ) -f- -h COS. D ( cot. B. sen. D: sen. a -J- cot. a. cos. D ) i _ /i 1 -r\\' e°*' •«*• S8n. -D. sen. À , cos. D. cos. B. sen. D COfcfl (l — COS.' D) n s 5 ^ ' sen. B. sen. a sen. JB. sen. a «,_. « o«» 2 T> COS. ^. sen. D cos. D. cos. í. sen. D COS. a, sen. JJ r: s = «en. £ sen. B. «osí ./l = COS. a. sen. JB. seu. D •>- cos. D. cos. B . • • q. e. d. D AS S cíEN Cl AS BE Lisboa. 217 E por meio do theorema segundo e quarto , e de algu- mas formulas das linhas trigonométricas, acha-se (*)... sen. j4-\-sen. B ~2 sen. A sen. j (a-hi) . cos. ^ (a — í) : sen. a sen. A — sen. B=: z sen.vf. cos. { {a-{~l>) . sen. { (a — f) : sen. a COS. -4 ■+- COS. B= 2 sen. ji. sen. i (íí + If) . cos. j{a-^li) tg. j D : sen. « E substituindo estes valores na equação supra tg. { {A-\-B) &c. , e pondo o resultado em proporção , vem as formulas IV.» , . q. e. d. REGRA DE NEPER. §. VI. Em lugar dos lados do angulo recto de qual- quer triangulo spherico rectângulo imaginem-se os seus complementos ; e fazendo abstraçao do angulo recto , con- siderem-se as outras cinco partes , cada uma das quaes se chame media ; tanto a respeito das duas que lhe ficão con- junctas , como a respeito das outras duas que são delia se- paradas : e he , regra de Neper « Coseno da media igual ao producto das cotangentes das conjunctas ; e também igual ao producto dos senos das separadas » isto he , suppondo A = po% será COS. (*) sen. A + sen. B ■=. sen. A + sen. b. sen. A : sen. a zz sen. A ( sen. a + sen. b ) : sen. a se». A -t-sen. Brzsen. A. 2 sen. \ (a-^b) . cos. j (a — 6): sen. a ...q.e.d. sen. A — sen. B ■=■ sen. A. 2 sen. j (a — 6) . cos. 5 (a-l-6.) : sen. a. . .q.e.d. COS. A ■+■ COS. B rr cos. a. sen. B. sen. D — cos. B. cos. D ■+- -(- COS. b, sen. A. sen. D — cos. A. cos. D =z rzsen. D (cos. a. sen. B-^cos. ò.sen. A) — cos. D(cos.-<í-<-cos. B) (cos. A 4- COS. B) ( 1 + COS. D) - sen. D (cos. a. sen. i. sen. ^ : sen. o 4- cos. i. sen. A) (cos. >í + COS. B) . 2 COS.- ^ D -sen. D. sen. ./4 (cos. o. sen. i + coj. b. sen. a) : sen. a (cos. ^ -t-cos. £) . 2 cos.^ j D:=: sen. D. sen. yí. sen. (a + ô) : sen. a COS. ^ ^ cos. ^- »«"• -^- "^"- i P- c°^- 4 P-^^s.n. i(a+ip . COS. { (a + i) 2 cos.^ 5- D. sen. a cos. A ■+■ COS. jB= '— tg. i D. sen. 3 (« -t- &) • cos. Ka -H i) • • • í« « í* ai8 MiMORiAS DA Academia Real ■ '.' : COS. a = cos, L COS. J = cot.jB. cot. D COS. B —■ cos. L sen. D = cot. ar tg. ;D' = 180 — d. Na dita taboa seguinte a primeira colunina vertical da esquerda contem as partes conhecidas no triangulo , que pertende calcular-se , ou no seu suf plementario ; e a segun- da comprehende as partes calculadas ou immediatamente no triangulo proposto ou no seu supplementário. fí 220 Memorias da Academia Real sen.' 7^= sen. (p—í) .sen,(p — d) : (sen. J. sen. li) II." j ou COS.- 3 A =z sen. i). sen. (p — a) : (sen. ò. sen. ti). ..111." 1 ^oua' £ou6' D ou d' smr ; Ã' = sen. {p' — b' ) . &c. II.' ou cos.' í A' =1 sea. p.' &c. 111.* a = J80" — A' a b D tg. 1 ( A—B) =1 cot. i D. sen. i(a — b): sen.l (a + 5) 1 ttt tjí.l {A-i-B) = cot A D.COS. ^ (a — b) : eos.^ (a ■\- b) f ^*- A-l^(A-^£)-^ÇiA — B);B-^^ {A-^£) — ^ {A—B) sen. d = sen. X). sen. a : sen. ^ . (*) I." jíoni' « ou 4 ./ou D tg. i (^' _ B') — cot. I D.'&c.-) T,,, a = 180° — ^ t°. 4 (^' + B) - cot. i £).'&c./^V- *= J80— JS' sen. (**) • Os dois casos notados são os únicos que me parece po- derem resolver-se mais facilmente algumas vezes ; dividindo o triangulo proposto em dons rectângulos , isto he , pelas formulas . . cos. D. tg. 6 rr tg. a: ; cos. d rz cos. b. cos. (a — x) : cos. x COS. D.' tg. è'=:tg. JC'; cos. d' =: cof. 6. 'cos. {a' — X') : cos.X' Q DAS SciENClAS DE LlSBOA. 12< MEMORIA Sobre a precisão de reformar o Roteiro de Pimentel. Por José' Maria Dantas Pereira* I UANDO me constou que se reimprimia novamente d Roteiro publicado pelo nosso antigo cosmographo Pi- mentel , pareceo-me que nesta edição reformalio^hião de sorte, que nSo podessc constituir mais hum pretexto áquel- les estrangeiros , que se mostrao sobre maneira afPerrados a tratarem os Portuguezes como faltos de conhecimentos, e conseguintemente como situados no infimo ponto da es- cala da civilisação. Este aíFerro , sem duvida muito parcial , talvez he por desgraça filho das suggestões de gente foragida , que diz do negocio como lhe vai nelle , e não como deve ser de- scripto. Com tudo a servil reimpressão do referido Roteiro deve concorrer para comprovar os dicterios daquella gen- te , ainda que com assaz especiosidade ; e por tanto hc tacto, ao meu vêr , merecedor da consideração desta res- peitável Academia , cujo notório patriotismo sem duvida tratará de proceder a este respeito pela mais adequada maneira, que existir ao seu alcance. Demais a mais o que pôde cohcorrer a bem do pro- gresso da nossa navegação, deve necessariamente promover o da prosperidade da nossa pátria , que navegando se en- grandeceo tanto , quanto ainda hoje se vê ; e que só na- vegando recobrará huma parte do seu antigo esplendor as- saz extraordinário : convindo sobre tudo mirar a que os Inglezes, situando-sc em Fernando Pó, estão no centro da Africa ; e desembarcando livres nesta parte do mundo os negros que as outras nações extrahem dalli cativos, como r. X. P. II. Ff que 232 Memorias da Academia Real que expedem avançados precursores , que vão preparar a seu favor os snimos daquelles povos , cujas relações e mais circunstancias procurão aliás conhecer , mediante emissários viajantes ; prevenindo assim mais hum recurso ao seu com- mercio , e talvez com exclusão dos europeos , que primei- ro pizárão as praias e os certóes da Africa occidental , e oriental. Embora , sujeitando-nos á suprema lei da necessidade , sejamos inferiores ás nações maiores no que depende do numero ; porém passarmos a grande inferioridade ex. gr. na sciencia , que he independente da grandeza numeral , deve tornar-se dolorosissimo a todos os corações verdadeiramente portuguezes ; e com especialidade aos Sócios de tão egré- gia Academia, instituida para dissipar esta inferioridade tão perniciosa e deshonrosa. Em cartas que publiquei no anno próximo passado , fiz sentir o muito que pareciamos inferiores no tocante á construcção naval ; anteriormente havia dado á luz no mes- mo espirito alguns escritos relativos a outros objectos ma- ritimos j agora tomarei por assumpto especial o menciona- do Roteiro , e concluirei propondo o meio que julgo mais adequado para obtermos a sua refundição , a bem da nave- gação , da reputação , e da prosperidade portugueza. Manoel Pimentel , Cosmographo mor do Reino , reím- primio em i7<52 > com emendas e accrcscentamentos , huma obra , cujo titulo mostra com assaz clareza as duas partes que a formão. . A primeira he: Arte de navegar ^ em que se eusinao as regra < praticas y e os modos de cartear ^ e de graduar a Ba- lestilha por via de números ^ e muitos problemas úteis d nave- gação. A segunda he : Roteiro das viagens e costas maritimas de Guiné y Angola, Brasil ^ índias y e Ilhas occidentaes e orien- taes. Em quanto á primeira, como estão patentes os gran- des progressos feitos desde 1762 nos methodos, nos instru- men- DAS SciENCflAS DE LiSBOA. 22^ m(?ntos , e em tudo o que diz respeito á Ârtc de navegar, segue-se i." que não he necessário fazer sentir a distancia .em que nos encontramos do uso da Balestilha: 2." que a dcs- peza com a reimpressão respectiva foi , por hum lado per- dida , por outro gravosa , e por outro imprópria para acre- ditar-nos. Além disto , a Taboada ex. gr. das latitudes crescidas encontra-se cm muitas outras obras ,- que vulgarmente an- dão nas mãos dos navegadores ; e a das latitudes e longi- tudes merece a confiança que lhe corresponde, attendidcfo que se tem adiantado, e melhorado, desde 1762, no to- cante ás determinações das posições gcographicas. Esta confiança 'pôde ser aliás manifestada pela . com- paração do que se encontra , por exemplo , em quanto ao Cabo de S. Roque , referido ao meridiano de Lisboa ; a saber : . , Latitude » Longitude no Roteiro 5° 6' 00" » 21° 30' 00" em Roussin 5- 28 17 » 26 -8 40 DiflFerenças , 22 17 7, 4 38 40 Daqui resulta, que esta prrmeira parte devia ser sup- primida , ja como antiquada ou inútil , ja como supérflua e muito incompleta , ja como errada e arriscadora. Esta ■ suppcessão também habilitaria par^ se melhorar sem maior despe,za a segunda e metios indispensável par- te , que constitue o Roteiro ainda hoje mais bem concei- tuado entre todos os impressos em portuguez ; e como tal o que tem maior voga entre os nossos rtavegadores. Com toda a vontade convenho em que merece ser distinguido pela sua exactidão , ^geralmente fallando , mas não posso conceder outro tanto a respeito de vários arti- gos, entre os quacs se encontrão alguns que, respeitando lugares , nossos e vizinhos , devem parecer assaz investiga- dos , como por exemplo a Ilha Terceira. Pimentel diz na pag. 222 , que esta Ilha tetn 13 /í- goas de comprido , c 6 de largo iia maior largura ; e alem Ff ii do 124 Memortas da Academia Real do surgidouro de Angra tâo somente menciona o da Villa da Praia. Estes sáo com effeito os principaes desembarcadouros, porém a Historia Insulana de Cordeiro , publicada em 17 17, alem de outros não defendidos por artilheria , assignala mais 4 a Leste de Angra, e 5' a Oeste, nomeando os de Pedreanes do Canto, da Ribeira Seca, da Villa de S. Se- bastião, Porto Judeo , Penedo do Alcaide, e Bahia de S. Mattheus. A mesma Historia, não obstante mirar sempre ao en- grandecimento das Ilhas , dá de circuito á Terceira so 17 legoas , accrescentando na pag. 305 : « Em menos de '» 24 horas se anda toda á roda pelos devotos do Santissi- j> mo , desde que se expõem o Senhor em quinta feira da " semana santa, até se acabar o officio da sexta feira; e j> a pé»» donde resulta ser incompatível que tenha 13 le- goas de comprimento. Segundo o mesmo Cordeiro deve ter menos de no- ve, pois dando 18 á de S. Miguel na pag, 131 , aífirma na pag. 302, que a Terceira tem menos de metade ; e assim se deduz da Carta de Fleurieu , quando alias se lhe encon- tra 7 na de Tofino , e 6 ^ na de Hcather. Conclue-se pois que o Roteiro , neste artigo , differe da exactidão nada menos de cento por cento! (1) São muito conhecidos, e muito bem conceituados os trabalhos de Fleurieu , e Tofino acerca das Ilhas dos Aço- res ; e com tudo estes mesmos auctores tão respeitáveis tem discrepâncias , que parecem attendiveis : sendo para lamentar, que cm muitos lugares nossos devamos a outras nações os conhecimcnios de que nos cumpria scr-lhes cre- dores: todavia o mesmo Fleurieu he quem diz ria pag. 5-62 da sua Viagem : « Angra , Porto novo , e Praia podem ser s» considerados como os únicos ancoradouros existentes no » contorno da Ilha; não fallando no das Ilhas das Cabras, >» entre estes ilhotes e a terra maior, pois não ha caso que >» precise os navios a demorarem-se nelle. '» (2) Am- I)A9 SciBNCXAS DE LiSBOA. aiíf Ambos os celeberrimos navegadores corroborâo cm cer- to modo o que diz Cordeiro acerca do desembarcadouro na Villa da Praia, e por tanto estão longe de se conforma- rem com o nosso Roteiro quando affiança y que toda a bahia he limpa : nem de outra sorte admitte boa explica- ção a fortificação feita de modo, que cm vez de obstar ao desembarque na parte que parece mais desembaraçada, podo ser flanqueada por quem saltar naquella parte. Os referidos Fleurieu, e Tofino ainda confirmão Cor- deiro dando á Ilha 3 ~ até 4 , e não 6 legoas de largura : donde se segue que formaremos cabal idéa da grandeza desta Ilha , Capital dos Açores , ponderando que o seu comprimento apenas iguala a distancia de Lisboa á Casta- nheira , ou a de Sacavém a Cascaeg ; e a sua maior largu- ra não excede a distancia da Torre de S. Julião ao Beato António , ou a de Alverca a Lisboa ; vindo por tanto a sua extensão superficial a ser menos do que 30 legoas qua- dradas , ou igual com pouca differença á do quadrado de ; legoas. Quaes sejão aliás as grandes faltas que no Roteiro devamos encontrar , ou quão longe está de completo na descripção hydrographica do globo actualmente conhecido , decidillo-ha com toda a facilidade quem observar , que seis annos depois da sua antiga reimpressão começou a primei- ra viagem de Cook , seguida pelas de Phipps , la Perouse , Vancouver, Freycinet, Dupeirey, Fraklin , Parry , e outros memoráveis descobridores , aos quaes convém aggregar Roussin , Gauthier , e mais alguns empregados na recti- ficação e ampliação das noções hydrographicas preexisten- tes. He pois inquestionável que convém refundir o nosso Roteiro , e que nesta rcfundição interessa ainda mesmo a nossa reputação litteraria. Não parece menos visivel , que o trabalho será mais fastidioso do que difficil ; pois se reduz a combinar , e amal- gamar , o que se encontra exacto no mesmo Roteiro de Pi. men- tí6 Memorias da Academia Real mentel com o que merecer igual conceito nos de Tofino , Huddart, Steel, Horsburgo, Roussin , Dussueil, &c. : de- vendo tambcm concorrer para o mesmo fim as obras dos referidos descobridores , algumas que se encontrão nos An- tiaes marítimos^ c mChronica naval., a deCoulier, e a que Romme publicou acerca das correntes , dos ventos , e das marés ; objectos estes a cujo respeito não desconvirá con- sultar Dcsmarest , e Bory de S. Vincent, pelo menos, em o seu Atlas relativo á Geographia physica. (3) Ser-nos-hia muito honroso , que também podessem prestar contribuição sensivel as derrotas dos nossos Pilotos, e as dós Officiaes da Armada Real 5 derrotas que devem existir nos Cartórios da Real Academia da Marinha , e do extincto Conselho do Almirantado , se tem sido executadas as previdentes regulações respectivas, entre as quaes men- cionarei a dos Estatutos de 1779 ) ^^ titulo t< De algumas >» obrigações dos Pilotos addictos ao serviço da Marinha » Real" e o Aviso de i de Junho de 1797, que mandan- do suspender os soldos aos Segundos, e Pineiros Tenen- tes , que não fi/,essem derrota..^ foi vigorado por huma Reso- lução baxada em Março de 1825. Fm todo o caso a refundiçao , que proponho , será sem duvida realisada , com grande vantagcyn do Estado , e gloria desta Real Academia, incumbindo-sc a hum Sócio, que felizmente vemos aíFciçoado a trabalhos semelhantes ; pois bastará fornecer-Ihe os meios que a Academia possue, e os que pôde alcançai", não desconvindo talvez affiançar- Ihe a entrega da primeira edição, com a única reserva das propinas académicas. Não dcixnu de lembrar-me que a Academia podia pôr esta compilação a concurso, com premio vantajoso ; mas es- te meio tem falhado incrivelmente nas actuaes circunstancias. Considerando a precisão e' vantagens desta empreza , offereço concorrer até com o trabalho , que me for possí- vel executar; pois sempre tenho mirado a concluir a mi- nha tarreira , satisfeito de haver contribuído attendivelmen- te DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. IVf te para a divulgação , e para o progresso dos conhecimen- tos úteis ; considerados com preferencia os relativos á mi- nha profissão , na qual interessa tanto a minha pátria , e por consequência o Paternal Governo de Sua Maoestade. NOTAS. (i) Não menciono a Corographia Açórica publicada era 1823 , porque sem grande .conhecimento de causa se des- cobre facillimamente a sua inferioridade ; e se conclue que deve ser-lhe preferido, em quanto ao meu assumpto, o pró- prio P. Cordeiro , que escreveo ha mais de hum século , pois relata hum facto notório para provar as dimensões , que diz ter a Ilha ; e estas differem muito menos das que se encontrão nos clássicos Fleurieu , Tofino , e Heather : mais depressa mencionaria as Instrucçoes praticas em forma de roteiro^ dadas á luz em 1821 ; mas este opúsculo, em quanto ás dimensões, repete Pimentel, que discordando dos clássicos tanto quanto relato na presente Memoria , torna assaz obvia a conclusão que em tal caso deve ser ti- rada pela boa lógica. (2) Ainda hoje conviria muito fazer o reconhecimento Geo-hydro-graphico-militar dos circuitos destas Ilhas , espe- cialisando o da Terceira, e não desconvindo praticar ou- tro tanto acerca das nossas restantes possessões ultramari- nas : serviço importantissimo , que poderia ser effeituado sem maior despeza , ou empregando ncUe adequadas em- barcações pequenas, ou addicionando-o ao daquellas que, sendo expedidas para as mesmas possessões, alli se demorão para outro fim. Com effeito a Terceira he residência do Go- verno de huma Capitania General , e assim mesmo parece haver discordância muito notável, até na denominação, po- aa8 Memorias da Academia Real posição, e numero de seus melhores desembarcadouros, en- tre Governadores, e Coronéis, que tem alli residido. Os seus historiadores não a contemplarão militarmente.; e no tocan- te á sua hydrographia, vemos que existe assaz incompleta , pois^pe ordinário os hydrographos contemplão tão somente os dois portos de Angra , e Praia. O próprio Fleurieu não completou o reconhecimento hydrographico de todas as Ilhas, ainda que se distinguio acerca do hydrographico mi- litar da capital, que todavia deixou imperfeito. Não pôde_ talvez Tofino completallo , pelas mesmas razões que não lhe pcrmittírão tirar o plano da barra do Tejo; e por outro lado Frezier he sim assaz satisfac tório , porém so no tocan- te ao Monte do Brasil , ao Castello de S. João Baptista , ao de S. Sebastião , e á Cidade de Angra. Em summa a terra e o mar não se tem considerado mutuamente como lhes convinha. (3) Desculpe-se esta digressão a propósito das marés, feita' com as vistas de attrahir reflexões dos talentos su- periores. ^ Porque motivo, devendo haver igualdade sensível na direcção e intensidade das attracçoes lunar, 6 solar, so- bre as agoas situadas no mesmo paralielo , estas agoas che- gão á maior altura no de Lisboa , quando são trcs horas na costa de Portuaal ; e só quando são onze lhes acontece outro tanto , assim nos Açores como na correspondente costa e concra-costa da America septentrional ; parecendo que neste ultimo longo espaço acompanhão o movimento diurno do nosso planeta , em despeito da corrente do golfo do México , e da interposição do extensíssimo terreno Ame- ricano? ^ A quaes descobrimentos nos conduziria hum ade- quado systema de linhas isochronas , em quanto ás marés , semelhante ao das isothermas de Humboldt em quanto ao caior dos diversos pontos da terra? ME- DAS SCIENCIAS DE LiSBOA, 21^ MEMORIA Com quatro appeiisos em dois volumes '. tendo por objecto princi- pal «Hydrographia do Brasil, e o conceito que correspoU' de aos trabalhos respectivos de Mr. Roussin. Por JosÉ Marta Dantas Pereira Em Maio de 1830. O Brasil foi descoberto pelos Portuguezes em ifoo, e ja cm 15" 89 haviáo estes descripto huma considerável parte do seu sertão immeiíso , mais a marítima que discor- re desde o Rio de Vicente Pinson até alem da Bahia de S. Mathias , situada muito ao Sul do Rio da Prata : facto assas patenteado pelo terceiro tomo da CollecçÕo de noticias para a historia e geographia das NaçSes ultramarinas ^ im- pressa de ordem desta Real Academia. Forão pois exploradas em tão pouco tempo mais de 1200 legoas de costas desconhecidas, e sertões muito ex- tensos , quando por outro lado nao formávamos nação gran- demente numerosa , e as nossas principaes attenções nos vi- ravão para as índias orientaes. O immediato predomínio dos Filippes , as repetidas tentativas hostis dos Francezes e Hollandezes sobre aquel- le mesmo vastissimo paiz, americano , e vinte e sete annos de guerra para recobrarmos a nossa independência , forão grandes obstáculos ao nosso re"spectívo progresso , que to- davia se verificou, como farei ver. (i) A viagem de José Gonçalves da Fonseca em 1749» executada com observações de latitude , e também publi- cada por esta Real Academia , (2) preludiou em certo mo- do as expedições de astrónomos, que posteriormente (desde i75'3 até I795') procederão a observações, mediante as quaes não so foi determinada a celebre e tão debatida linha de de- T.X.P.II. Gg mar. Ofjo Mkmobias DA Academia Real marcação , mas também se rectificarão e dilatarão cada vez mais os conhecimentos geographicos relativos áquelle paiz. De outra sorte, considerando a impossibilidade de in- vestigações desta natureza feitas por estrangeiros , ^ corno poderião Arroiusmitb e Faden produzir os mappas, que pu- blicarão ? O próprio Martius vio apenas huma pequenissima porção do Brasil , cuja extensão equivale á de setenta Por- tugaes , com pouca differença. (3) Com effcito , entre muitos dos nossos trabalhos rela- tivos á hydrographia e geographia brasilicnse, cump;-e ha- ver por especialmente dignos de credito os dos astrónomos enviados para marcarem os limites daquella região : destes chegou ao meu conhecimento no Rio de Janeiro , em 1808 ou 1809, huma collecção de mappas concernentes á Capi- tania de S. Paulo ; e da sua parte marítima extrahi para meu 'uso hum tal qual esboço. (4) Esta vai ser agora a unidade comparativa de outras determinações ou descripções homogéneas , sendo assim a base fundamental do conceito que mais provavelmente cor- responde á exactidão delias ; e seguindo-se , que conhece- remos precisamente quacs devemos preferir, em quanto á navegação dos mares adjacentes. Para este fim compararei o catalogo das latitudes e longitudes dos princípaes pontos maritimos do Brasil , de- vido a Manoel Travassos da Cesta ; o inserido posteriormen- te na Epbemeride Conimbricense ; e a parte correspondente do moderníssimo roteiro de Roussin. (5) Estas latitudes e longitudes nem sempre se referem todas aos mesmos pontos nos diversos catálogos ; e *Iravas- sos , reportando algumas a huma carta manuscrita , existen- te no Deposito da Sociedade Real Marítima , reporta ou- tras á de Olmedilhay copiada por Faden em 1799: porem assim mesmo he fácil a conclusão acerca da preferencia , que procuro fundamentar. :'-'^ Com eíFeito, referindo todas as longitudes ao meridiano do Observatório Real da Marinha , supposto 43',8 a O de Coimbra, veremos: i." DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 23I i.° Que os nossos astrónomos collocão a povoação de Paranaguá em 25-° 31' S, e em 39° 35' O; quando ií««j/<« situa a barra do S em 25-° 34' S, e 39° 18' O: a Ephe- meride Conimbricense dá-lhe ly" 24' de latitude, mas at- tribuindo-lhe 38° 22' de longitude; e Travassos., seguindo Olmedilha y situa a barra em 25- ° 3y' de latitude com 39® 51' de longitude: por tanto, e, por estar a povoação (con- forme as cartas dos astrónomos) 19' a O das duas barras, no médio parallelo delias , segue-se que destas determina- ções a mais próxima á dos astrónomos , e por tanto a que mais provavelmente se avizinha da exactidão, he a de Roussin j acontecendo o contrario com a Ephemeride : 2.° Que os mesmos astrónomos situão a povoação da Ca- nanéa em 25° o',6 S, e em 38° yj' O; collocando Ro/aj;« a ilha da barra em 25 ** 7' S , e em 38° 49' O ; quando Travassos , ou para melhor dizer Olmedilha , p6e o N desta ilha em 25:° 2' Se 38° 38' O, encontrando-lhe o mesmo Travassos na outra carta 25' ° y' de latitude cora 39° 33' de longitude; e achando-se na Ephemeride com 24° y8' S em 39° yi' de longitude; donde, e de existir a povoação 9' ao NO da ilha , cumpre concluir que dos quatro concorrentes Roussin he o mais exacto , e a Ephe* meride o menos : 3.° Qiie a villa de Iguape he coUocada pelos astrónomos em 24° 42',6 S com 38 ° 31' de longitude; porem a montanha mais alta da que Roussin denomina praia de Iguape, está, con- forme este distincto navegador, no parallelo de 24° 38',^ S, e no meridiano existente 38° 28' a O: da combinação do roteiro de Roussin com o esboço da carta topographica posso apenas colher, que a villa está pouco mais ou menos 6 a O da barra; porem como a do deposito dá Iguape em 24° 40' S e 39° 11' O , dando-lhe Olmedilha 24° 37' de latitude com 38° 8' de longitude , e achando -se-lhe na Epheme-. ride 34° 32'S com 37° 21' O, cumpre ainda concluir que de todos os catálogos he neste ponto mais exacto o de Roussin , e menos o da Ephemeride : Gg ii 4.° Zjt, MEM01t4'A6 D A ÂCADEMI A Re AL 4»" Que relativamente a Santos situao os astrónomos a villa em 25° 56',* Se em 37°ai',j' O; collocando Rotusin a ponta grossa em 23° 59',4 S e era 37° lí' O: a barra grande he situada pela carta do deposito em24°5:'S, e em 38" í,6'0; sendo-»o t^oy Olmedilha em 24'° 8'S e 37° i'0; e cncontrando-se-lhena Ephemeride 23** 5:9' de latitude com 36° 30' de longitude: por tanto devemos ainda concluir, que Roassin he quem mais se aproxima á verdade ; e que chegando a Ephemeride a discrepar setenta minutos na longi- tude dos outros pontos, neste discrepa três quartos de gráo. Resulta do expendido , que os trabalhos de Roussin merecem a confiança dos navegadores ; e que não se en- ■contra no mesmo caso o catalogo da Ephemeride Conim- Ijricense, ao qual parece preferivel Ohnedilha ^ apesar de haver acabado a sua carta em 1775", ^ ^ primeira Ephe- meride ter sido publicada em 1803. (6) Conrem todavia mencionar que no mesmo Roussm se encontrão algumas inexactidões , e laes como a de arrumar na direcção NS a costa meridional do Paranaguá , quando bs referidos astrónomos a collocão NE, SO. Alem disto nada diz ex. gr. de Ararapira , collocada pelos astrónomos em 25-° i^\s S,eem 38° jS' O; nem dos mares de Aririaia e de Tarampande^ que rodêao a Cananéa. Chama rio ao que pelos ascionomos he chamado com mais propriedade nmr da Cavavéa ; e o que estes denomi- não Ilha do mar , RouSsin denomina praia de Ignape. Não declara que o pequeno braço de mar , ou canal natural , entre esta ilha e o continente , pois tem 436 braças de profundidade até defronte de Iguape, torna pra- ticável chegarem alli todas as embarcações , que poderem nadar em três braças , visto ser este o fundo da barra da Cananéa. Também coUoca o montão de trigo (aliás monte de trigo ) ao N 17° O da liba dos Alcatrazes , quando os •stronomos arrumão aquella ilha ao NO j O da outra: em fim o canal de S. Sebastião, chegando a ter trinta braças de DAS SciEHCiA^ DE Lisboa. ijj de flindo nas cartas dos astrónomos , vem a exceder cinco hfa<^íís á maior prumada que Roussm lhe assignaia. Mas em alguns dos ditos factos refere-se a informa- ções dos que chama práticos j e desta origem procederão talvez as outras inexactidões, que, devendo pôr o navega- dor em algum resguardo, não debilitão sensivelmente o conceito merecido cm geral por tão distinctos trabalhos. Rematarei pois esta Memoria, repetindo a bem da que devemos ao Sereníssimo Senhor Infante Almirante Ge- neral, que DEOS chamou a melhor vida , quanto cumpre sentir a interrupção das investigações hydrographicas rela- tivas ao Brasil , principiadas de ordem de S. A. pela carta do porto do Rio de Janeiro, incumbida a beneméritos Of- £ciaes da Marinha Real ; e pela das costas do Brasil nos arredores do porto de Pernambuco , levantada por José Fer- nandes Portugal, cujo esboço também conservo , assim co- mo o concernente á costa entre Bahia e Rio Doce , cuja descripção original , ainda que muito moderna , está longe de ter o merecimento marítimo das outras. Se as mencionadas investigações houvessem prosegui- do, conforme se publicou nas paginas 16, 27, 6y, e 68, do Elogio de S. A. impresso em 18 13, ou as de Roussin não se terião verificado , pois serião supérfluas , e menos completas ; ou realmente deverião por este lado os Brasi- leiros aos Portuguezes ainda mesmo o que se encontra de- verem agora aos Francezes. (7) NOTAS. (i) Principiarei transcrevendo hum eitfacto do assento que fiz, quando em 1808 entreguei no Rio a preciosa col- lecção geo-hydro-topographica, que salwi da irrupção fran- cesa; a saber: huma pasta com o úoAo Classes 14 a lOf con- 134 Memorias da Academia Real contendo 324 folhas relativas á parte oriental das Ameri» cas ; havendo em quanto á meridional desenhos, que re- presentão a foz e curso do Amazonas , as entradas do Ma- ranhão e da Parahiba , as ilhas de Marambaia, Grande , e Santa Catharina , e a carta geral de todo o Brasil. Hum embrulho com a letra A , contendo 46 desenhos de portos, vistas assim de povoações como de costas do Brasil , a foz do rio do Espirito Santo , e o curso do Amazonas com os dos Rios Negro e Branco: havendo no 2.° rolo deste mesmo embrulho 40 desenhos , que mostrao o Piauhy , as costas do Maranhão , a Cidade de S. Luiz , parte do cur- so do Amazonas com os arredores da sua foz, e delia até Cayenna , os confins do Brasil, o Guaporé desde Villa Bella até o Mamoré , com o qual prosegue até o Madeira ; capi- tães, vários arraiaes, e os fortes do Cuyabá e Mato-grosso. Outro embrulho marcado com a letra B, era cujo rolo i.*> se encontrão fS cartas e desenhos, representando o curso de vários braços do Amazonas , e dos rios que communicão Mato-grosso com S. Paulo, mais as missões dos Ex-Jesuitas; encontrando-se no 2.° rolo 26 desenhos, que representao o Rio Grande, o Guaporé, o Negro, o Branco, huma grande parte do Amazonas, as plantas do Rio de Janeiro, Pernam- buco, e Victoria ; havendo também no rçesmo rolo 23 dese- nhos , que descrevem o Tocantins , o Uraguay , a barra do Rio Grande de S. Pedro do Sul, a Capitania de Goiaz, e a do Rio Negro, alem de que se encontra a planta da Ci- dade e porto de Pernambuco ; encontrando-se no rolo 3.** deste mesmo embrulho 37 cartas ou desenhos, entre os quaes se distinguem aquelles em que são descriptos o Pará, o Cuyabá , o Macapá com alguns dos seus edifícios e for- tes , a Colónia do Sacramento com os terrenos das anterio- res operações militares, o Sertão das Minas Novas e do Ser- ro do Frio ; as plantas de Villa Bella , de Barcellos , de Villa Nova de Bragança, de todos os fortes e fortalezas do Rio de Janeiro , de vários fortes em Pernambuco , Espirito SantOy Parahiba, Santa Catharina, e Sertão. O embrulho C com DAS SCIEKCIAS DE LiSBOA. 33^ com ly cartas de grandíssima escala, representando os Ser- tões de todas as grandes Capitanias deBeira-mar, a topo- graphia das interiores , as correntes dos rios mais notá- veis, e a Cidade de S. Salvador. Ainda notarei que con- vem contemplar também a este respeito os trabalhos publi- cados nas Memorias desta Real Academia ; e os deposita- dos no seu archivo, que forão executados pelo Doutor La- cerda , e peio Tenente-Coronei do Real Corpo dos Enge- nheiros João Vasco Manoel de Braun. (2) Na pagina xv do primeiro volume das Ptagem de Azara j impressas em Paris no anno 1809, se diz em ge- ral os motivos do recato praticado com estes trabalhos ; e se declara que servirão em Madrid para se construir alli a grande carta que chamiío de Olmedilha. Daqui e da pri- meira nota „ assim como do que htima arrazoada reflexão deve mostrar, cumpre concluir, que existem provavelmen- te outras viagens das quaes não tenho noticia, e outras cuja memoria tem sido destruida pelo volver dos tempos. Corn tudo aquelle mesmo recato veio a descahir de sorte, que pôde Arrovismhh construir a sua carta , entre cujos fundamentos sobresahe o das latitudes e longitudes obser- vadas pelos nossos astrónomos , impressas muito posterior- mente entre nós pela primeira vez no Patriota correspondente a Janeiro e Fevereiro de 18 14: jornal onde aliás se descreve o que respeita ao Guaporé, Mamoré, e Madeira, de sorte que se torna por isso mais notável a falta de exactidão relativa , que se encontra no recente mappa do celebre Martins. (3) Agora não posso deixar de observar, que sendo o nosso Reino tão limitado, e havendo-nos espalhado tanto pela Africa e pela Ásia, com tudo assim mesmo, apezar do muito que nos arguem, e de não haverem nossos maio- res praticado no Brasil o mesmo que Penn na Pensilvânia , elevamos aquelle Paiz a ser o que se vê , no curto espaço de três séculos, ou de 14 a ly gerações: quando nós mes- mos , sendo ja muito conhecidos nos tempos remotissimos da historia antiga, que nos' chamava Lusitanos, temos em- pre- z^é Memoria da Academia Real pregado milheiros de séculos para existirmos como existi- mos. Os máos mordomos não medrão menos do que os do- nos das casas que administrão. (4) Conforme noticia que devo ao Senhor Alexandre António Vandelli , extrahida da pag. 234 da ColkcçÕo de Memorias sobre os pintores , publicada em Lisboa no anno 1823, e escrita pelo nosso distincto ^\nx.or CyrilloWolkmar Machado , o Senhor D. João V. chamou a esta Corte os Doutores João Ângelo Brunelli, c Miguel António Ciera, com outros astrónomos engenheiros , hum architecto Bolonhez , e o desenhador Ponzoni, para irem fazer as demarcações na Colónia do Sacramento. Chegarão a Lisboa em 1750, depois de Sua Magestade haver fallecido ; partirão em 175^, po- rém alguns forão para o Pará , e Fouzoni ficou na Bahia. O Senhor Brunelli (meu mestre) navegou 600 legoas pelo . Amazonas , quasi até o Peru , e demorou-se naquellas re. giões até 1761. Accrescentarei : Ciera na parte meridional £gurou com distincção, até como desenhador. (y) Se os intentos do Sr. Infante Almirante General houvessem progredido, effeituaria agora com superior satis- fação a analyse comparativa destes trabalhos com os que S. A. determinava incumbir aos nossos Officiaes, quando con- cluissem a planta do porto do Rio de Janeiro, na qual ca- da milha maritima era representada por pollegada e meia da escala ingleza: trabalho este muito digno de menção nas Memorias publicadas pelo Padre Luiz Gonçalves dos San- tos, que referindo tantas miudezas não o relata ; e outro tanto executa a respeito da primeira Bibliotheca estabeleci- da no Rio de Janeiro, que foi a Nautica-militar franquea- da em 1810, como foi notório. Igualmente não menciona a primeira Academia scientifica instituída alli mesmo naquel- Jes dias , a qual foi a da Marinha , que principiou a servir em 1808 como Academia naval militar, e docommercio; podendo constar os livros então existentes na referida Bi- bliotheca mediante o índice systematico appenso, feito cora «s fins declarados no seu preambulo ) e produzido agora com DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 237 com o de se depositar no Cartório desta Real Academia , para prevenir quanto cabe no meu alcance, que nas idades futuras se apague a memoria não so daquelle tal qual mo- numento scientifico, mas também de haver sido erigido na Capital do Brasil por aquelles mesmos a quem as próprias imprensas brasileiras correspondem com exprobrações incrí- veis. Accrescentarei como indicio do regime da Bibliothe- ca, que alem do catalogo alfabético feito na forma assas conhecida, havia outro numeral de cada estante, para se poder passar promptamente a revista mensal ; e que o seu regulamento foi feito com grande attenção ao da livraria da Universidade; convindo aliás ponderar, que a Bibliothe* ca não tinha dotação especial. (6) No mesmo caso da Ephemeride se encontra a Taboa Cosmographica impressa na Coilecçío das auxiliares publi- cada á custa desta Real Academia ; pois em ambas as obras são idênticas as latitudes e longitudes dos pontos cotn- muns , a cuja comparação procedi : o que parecerá mais no- tável a quem ponderar , que foi a Taboa estampada era 1815", sendo então (pelo menos) ja publica e bem publi- ca a mencionada carta de Olmedilba copiada por Faden. As diflfcrenças entre as posições da Taboa e as dos nossos astrónomos , em quanto á costa do Brasil , assim como as que se encontrão entre as mesmas posições e as correspon- dentes de Rotissin , poderáõ ser sufficientemente deduzidas da comparação da Taboa com a que vai no fim desta Me» moria : destas a ultima trata do N. da Europa , e mostra que em mais algumas partes a nossa Taboa Cosmographica he ja consideravelmente inferior ao estado actual dos co- nhecimentos hydrographicos , recapitulados , por assim di- zer, em Coulier: convindo por tanto reformar esta publi- cação académica. (7) Para completar a Memoria do que nos he devido pelo Brasil em quanto á hydrographia; c para concorrer como Índice do que convém colligir para se formar outro deposito semelhante} ajuntarei o original, e circunstancia- T. X, P. //. Hh do 238 Memorias da Academia Real do recibo appenso , que contêm hum relatório da preciosa collecçâo hydrographica entregOe por mim no Archivo Mi- litar do Rio de Janeiro, conforme as ordens que para este fim recebi : alem disto, parecendo-me algum tanto coheren- te , ou nada desagradável , completar igual Memoria em quanto á Real Academia da Marinha, que alli mesmo esta» beleci, e dirigi, addicionarei o inventario escrito, e assigna- do , por João Henriques de Paiva , Secretario da mesma Academia ; e o que se vc sobescripto pelo Capitao-Tenente Nicoláo José Ribeiro : cumprindo-me declarar , que todas as folhas destes appensos estão rubricadas por mim. Do re- ' cibo concluir-se-ha que entreguei mais de mil cartas e pla- nos, em mil e duzentas folhas, fora cincoenta' e oito de va- rias perspectivas, e dois atlas ; tudo dos melhores Auctores , e do que naqueílcs dias era mais moderno: resultando que talvez não exista hoje no Archivo Lisbonense , e que se encontra no Fluminense , ex. gr. o plano da barra de Villa Real , o das Ilhas dos Açores com vários prospectos , o do canal entre Faial e Pico, a planta do Funchal e da costa da Ilha levantada em 1762, a da bahia e porto de Angra, a do forte de S. Sebastião e Porto das Pipas ; vários pla- nos da Bahia de Lourenço Marques, de Sofala , rios de Cuama , Quelimane , Querimbas , Moçambique , e toda a Costa Africaria Oriental, que ainda nos pertence ; o plano da Ilha de Goa , a carta da Ilha de Timor com as adja- centes a das Ilhas da China no mar de Macáo levantada por Joaquim José Pinto em 1801 , &c. &c. Chega por este lado a ser hum facto existir no Rio de Janeiro, e não em Lisboa, a chapa da carta da triangulação do território deste Reino , feita com tanto custo por astrónomos Portugue- ses ; a qual chapa contrafeita por Arrowsmith , deu a este Inglez o lucro de tão importante e dispendioso trabalho ! A taes transtornos conduzem as revoluções , sempre inop- portunas ; pois a opportunidade sempre marcha a propósito gradualmente , e por consequência nunca transtorna. Lisboa 4 de Maio de 1830. I.» DAS SCIENCIAS DE LlSBQA* »39 1/ T A B O A. Costado Brasi Lat. S. Cabo de S. Maria - - i^" j8',$ Castilhos I. i4 20,0 Rio Grande (barra) 32 j2,; S. Catliarina I. E. - - 27 26,2 Id. - . - - NNE - - 27 19,2 S.Fr."R. (Sd"f)arra) 26 6,6 Guaratuba- 25 52,4 Paranaguá ------ 2$ Ji,5 Ararapira ------ 2$ 14,5 Cananéa --... — 25 0,4 Iguape ---.--.24 42,6 Ilha Queimada - - - 24 ji,o Barra de Una - - - - 24 26,8 Conceição ------ 24 10,7 Forte da Trincheira - 24 0,0 Santos --.2j 56j4 Registo da Bertioga 2J 51,5 S. Sebastião- - • - - 2j 47,7 Ubatuba - ----- 2j 26,1 Pico de Parati- - - - 2} 19,5 Joatinga (Ilhote) - 2) lS,S Ilha GracJe (SO) - 2j 15,2 Gavia -----.--22 S9,o Riodejan. (Castello) 22 54,2 Id. Pão de Assucar --22 56,1 1. Redonda (cume) 2) ),8 Cabo Negro 22 57,2 Cabo Frio S - - - - 2< i,j Macahé (Frade) - - 22 12,2 I. de S. Anna (maior) 22 25,0 Furado (Monte maior) 21 50,0 Morro de Campo? S 21 22,6 Serra do Pico (cume) 21 1,5 Benevente ( morro ) 20 j 5 ,4 Guarapari (bahia. S) 20 45,9 Monte moríno - - - ao 19,4 Long. 0. Lat. S. rx)ng 0. » 44' 54,5 C Serra dos Reis Magos. 819° 50',5 „5«° M',8 »>44 18, }C Rio Doce - (foz. O) 19 J7,o » 5°. 42,9 11 42 já,9 L Id. S. Mattheus - N ig 37,2 „ 5° 36,6 „ )9 20,0 Abrolhos NE 17 57,5 „ 29 i5,5 „ii 40,8 Id, Paredes - - - - NE 17 56,8 „ a? 45,8 » J9 5',» ., i9 51,0 • Prado (Forte) - - - - 17 21,$ „ 29 5 5,8 » J9 5í,o* Monte Paschal (cume) 16 54,1 „ 50 16,9 » i8 SS.O- Porto Seguro (Igreja) 16 26,8 „ 29 54,8 „ J» SS,o* Belmonte ----.--15 51,1 „ í9 5Í,7 »38 j),o' Commandatuba (morro) 1$ 22,1 „ 29 5 9,1 » i7 51,0* Rio Cachoeira . • - S 14 49,8 „ 29 SOjí ■* Ilhcos (rochedo maior) 14 47,4 „ 29 50,í » 57 41 ,0* Villa das Contas - - - 14 18,6 „ 29 5>,í » 5 7 21,0* Ilha Quiepc ----- ij 51,0 ,,29 48,1 » 57 ai,S * Morro de S. Paulo - - - i j 21,9 „ 29 45, í . ^ Itaparica (Jaburu) - - 12 57,6 „ 29 27,» »5«5 1,0 • Itapuan (Signaes) - - - 12 57,1 „ 29 15,0 » 5 5 51,0* Garcia d'Avila (Torre) 12 32,4 ,,28 52,3 „ iâ i,i Rio Real- ----- S 11 28,1 ,,28 11,7 » 55 50,5 Seregipe d"EIRei - - S 11 11,0 ,,28 8,4 » 55 11,0 S. Francisco (Rio. S) 10 28,8 „ 27 14,9 » 54 14,2 MacayA -.-..--- 9 59,0 ,,27 55,8 » 54 9,0* Tamandaré - . (Forte) 8 4J,4 „25 56,$ » 54 6,0 I. de Santo Aleixo - - S J5,8 „ 2S $2,5 » 54 8,6 Cabo S. Agostinho - - 8 20,7 » 25 4?,2 „ 5 5 5<5,4 Pernamb.°(Recif.Fort.) 8 4,1 „ 25 44,a » 5» 54,8 Olinda -- (Torre. O) 8 1,0 ,,25 42,5 » 5 5 0,7 Capibaribe (Goiana Foz) 7 J7,7 ,,25 59,9 ;. 5» 57,9 Cabo branco ----- 7 8,4 ,,25 59,o,5 liahia Çormosa . - - S 6 2},2 „ 25 5",7 » 51 40,9 Rio Grande N (Forte) 5 45 ,0 ,,26 6,0 5) 5' 24,2 C. S. Ro,o ,,26 »8,J Hh ii idi ^ «40 Id Id. NO Ponta Calcanhar(cunie) Lavadeira (baixo) - - Urcas - . - Id. - - - Tubarão (^ baixo N) Morro Tibão • - . . . 3eari(I?re;a Torre) . Mondahu R. ( Duna ) Pira- í E (Iguaraçu) nahybal O ( Tutoya) Lençoes grandes - - É S."Anna I. CBaixo E) Mbmoríasída Academia Real Lat. S. Long. O. 4 $4,7 „ 26 Í3,7 4 5",! 5 í,8 4 49, J } 45,o i io,o 3 Sz,$ a 41, í 2 26,2 2 12,6 37 «7 ,28 IO,I >9,7 9,J » «9 a 5, 5 » iO 9,0 M i» a9,7 » ÍJ J>7 » ii $»,$ „ J4 21,3 Lat. S. Coroa grande (N meio) a° 1 o',8 Matanhâo (bandeira) 2 29,4 Baixo de Manoel Luiz O O $1,4 Vigia de J. J. da Silva o 32,0 Pará !...•..... 1 3j,2 Long. O. „ J4"49',a „ J5 S,4 „-5S 6,3 „ J$ «,9 « 39 59,3 NB. A letra C indica as posiçÓes extrahidas da obra de Con- lier y * as ly devidas aos nossos astrónomos, das quaes as primei- ras i 3 encontrâo-se publicadas tão somente (segundo me consta) na Taboa das latitudes e longitudes dada á luz no tomo 14.° dos Amaes de Sciencias e Artes , impressos em Paris : Taboa que me parece immediara na exactidão á de Mr. Roussin, a quem pertence o resto das latitudes e longitudes aqui referidas , menos a da bar- ta do Rio Grande do Sul , pois adoptei a daquella Taboa ; e por isso a designei com a inicial do appellido Lago do seu author. II.» DAS SCIEMCIAS OE LiSBOA. II.' T A B O A. Norte da Europa. 241 Wardhuus I. - - - yo°2i',6 ti 40?ií,'í E Cabo do Norte - - - 71 10,0 „ J4 58,8 Hammerfest I. - - 70 j8,4 „ ja {>,« Altengaard 69 55,0 „ ja 12,8> Sandsoe I. - - - - 68 56,3 „ aj 5»,$ Vigten I. SO - - 64 4,j „ 19 36,7 Drontheim - - - . . 6j 26,0 ,, 19 31,9 iierghen (Castello) - 60 24,0 „ 14 28,8 Stavanger 58 58, j „ ij S,} Linde 58 27,2 „ IS 44,<5 C Lindess-Ness - - - 57 s8,y „ 16 n,8 Chiistiansand - - - - 58 8,1 „ 17 11,7 Foerder ( farol ) - - J9 3,0 „ 19 45,7 Cliristiania 59 55,} „ 19 57,$ Ageroe I. (Castello) 59 1,0 „ 20 j,X Stromstadt 5? 5 5,5 ,,20 20,$ Sacloe (farol). - - 58 ii,o „ ao 34,0 Warstrand (id.) --57 5J.» „ «o 44,5 Gothebourg .... 57 42,1 ,,21 6,j ■Wingoaae,cu Wingo 57 jg,2 „ 20 46,5 KongVBacka 57 27,0 „ 21 i;,; Nidingen I. (farol) S7 i^,! „ 21 j,; Warberg (forte)-- 57 6,j „ 21 24,5 Kalmstadt ----- ;6 J9,8 „ 22 o,; Leholm ... 56 ^2,6 „ 2a 9,5 HallandVWaden N 56 26,9 „ 21' 41,0 Engelholm 56 14,} „ 21 J9,} Koll ou Kullen (farol) 56 18,0 „ 21 44,2 Helsingborg 56 2,9 ,, 21 46, S Landskroon ----- 55 22,5 „ 21 59,5 I.und (Observatório) 52 42,4 „ 22 21,2 Saltholm I. N - - - 55 41,0 „ 21 56,8 Malmoe -.-... 55 f6,6 „ 22 9,8 Falsterbo (farol) - - 55 2),! „ 21 57,8 Ystadt 55 25,5 „ 22 57,0 Bornholm (farol) - 55 18,0 „ 2j 57,0 Cambriti-liamn - - r 55° jj',5 N 2j° 29',} E Ahus 5 5 5Si5 „ 2J 24,8 Carlicroon . - . - - 56 7,0 „ 24 41,$ Christiarwjpol - - - - sá 15,7 „ 25 11, { Oland. I. N - - - - 57 22, j „ 26 15,0 14. Borgholm 56 52,2 „ 25 46,9 Id. S - 56 12,7 „ 25 55,1 Calmar 56 40,5 „ 25 54,8 Gothland C. Hogborg 56 56,0 „ 27 19,6 Id. Wisby ----- 57 J9,2 „ 27 j5,o Faro I. (Cabo SO) 57 56,0 „ 26 41,6 Westetwick - - . - 57 44,8 „ 25 48,8 Haradskar (farol) - 58 8,5 „ 26 7,5 Noorkoping 58 J5,o „ 25 19,? Hastringen (farol) - 58 35,7 „ 2Ó 27,0 Landcort I. (id.) - 58 43,9 „ 27 0,$ GrOiukar I. (farol) 59 i;,8 „ 28 Ii,o Stockolm ,-..--59 20,5 „ 28 12,0 Soder-arm (farol) - 59 46,0 „ 28 }5,a Orskaret I. (id. ) - 60 51,5 „ 27 25,2 Gelle - - 60 j 9,8 „ 2Ó 17,0 Hernosiind I. - - - - 62 j8,o „ 27 1,8 Tornéa 6i 50,8 „ J} 20,8 Biorneborg Si 29,5 „ 30 5'><í Abo -..--.-.go 27,0 „ )i 25, S Hango (farol)- - - 59 46,3 „ 32 6,5 Helsingfors 60 10,0 „ 34 8,8 Hog-land I. (farol) 60 3,0 „ j<$ i5,5 Fredericksliam - - - 60 31,7 „ )6 28,5 Lavenskar I. N - - - J9 59,° „ i7 2,5 Cronstadt ---..- 59 59,4 „ 37 2,Ç Petersburgo 59 56,4 „ !9 27,} Narva 59 22,9 „ 37 23,0 Revel 59 26,6 „ 3 8 4},7 Porto báltico - - - - 59 21,5 „ }4 8,} Dager-Ortl. (farol) 58 56»° » 3« ">* Hapsol ^4* Memorias da Academia Real Hapsol Arensbourg I. - - - 5 8 i j ,a Pernau ------- 58 21, j Riga 56 S7,o Libau ----56ji,6 Memel (Castello) - 55 41,7 Bruster-Ort (far. N) 54 57,6 Konigs-b«rg - - - - 54 42,2 Elbingen 54 8,5 Dantzik ------ 54 20,8 Colberg $4 7»o Camim --.....55 5 6,0 S8°S7',0 N J2°42',}E » J> }M 5> 3) Jô,» 3> 5i I6,J 5> JO J,» ») }o 16,7 5» 29 7,8 - )) 29 }7,X » 28 JO,S » 27 46,5 SJ 24 4S,8 Í3 24 *.9 Greifswalde - • Bergen (Igreja) - - S4 25,S „ Stralsund --. 54 19,0 „ Rostock ------ 54 0,0 „ Wismar SJ 49>4 „ Lubeck --.----sj ji,} - 54° 4',6 N 22<'j3',9E 22 j6,s 22 40,8 21 20,6 20 44,8 » 19 49,4 Travemimde - - - . 55 57,8 Kiel 54 19,7 Flensbourg 54 47,J Soiiderbourg 1. JUen 54 54,9 Norbourg 55 3,9 >9 ]8 18 18 0,2 ]6,8 H,4 55,7 54,4 ^.5. Estas latitudes e longitudes forão extrahidas da obra de Coulier y reduzindo porem as longitudes ao meridiano de Lisboa. P. S. Acabo de saber , que por hum acaso , feliz no seu gé- nero , voltou a este paiz a chapa mencionada no fim da nota ul- tima j e se encontra depositada no Real Archivo Militar, Erratas da Memoria sobre as dinastias niohammetanas y que tem reinado na Mauritânia ; por Fr. José de Santo JÍn- tonio Moura , a pag. 47 da I. Parte deste Tomo. 48 y8 59 70 71 71 73 84 90 92 ,111 117 IZ3 126 129 133 136 Erros, 3 1 nos 4 tendo 2 Canuin 14 lassin 22 lassin 1 3 onde 5 em numero de dez mil 13 muitos no campo, dos dez mil I pelo lado 30 Abdel-haqque '9 Abu-Amor 6 Jumadi-laquer 10 Dul-hei-ja 3 o seu paiz 8 vizitar 19 prizioneiros 1 Hamam 18 quasi intratáveis 2, Abdelazir 20 Haka 6 o que 28 Hossein Enxada'. n'y dando Caruin lassin lassin donde * em grande numero no campo mais de dez mil , dos que pelo outro lado de Abdel-haqque Abu-Amer Jumadil-aguer Dul-hej-ja a seu pai sitiar primeiros Hexam quasl impraticáveis Abdeláziz Haha e que Said ME- MEMORIAS, QUE SE CONTÉM NA II. PARTE DESTE DECIMO TOMO. H I S T o R 1 A. D IS CURSO pronunciado na Sessão Publica da ♦ Academia Real das Sciencias do i,° de Dezembro de 1829. PeloEx."" Marquez de Borba, Vice-Presi- dcnte. _---,_._- Pag. i Discurso Histórico recitado na Sessão Publica do 1° da Dezembro de 1829. Pelo Vice-Secretario Manoel José Maria da Costa e Sá. - - - - - - vi Discurso que no dia i. de Março dè 1828 na audiên- cia que no Real Palácio de Nossa Senhora d' Ajuda foi concedida d Academia Real das Sciencias pelo Seu Augustissinw Presidente por occasião do seu feliz re- gresso a estes Reinos recitou o Vice-Secretario Ma- noel José Maria da Costa e Sá servindo de Secre- tario d' Academia. ---------------- xvii Disciuso dirigido d Magestade do Senhor D. Mi- guel Primeiro por occasião da Sua exaltação ao Throno desta Monarquia ; pronunciado na audiência que para esse fim o Mesmo Augusto Senhor Foi Ser- vido conceder d Academia Real das Sciencias de Lis- boa no dia 1° de Agosto de 1828. Pelo mesmo Vi- ce-Secretario -.--__ -_. XIX Copia do Decreto que ELREI NOSSO SENHOR Foi Servido expedir em mercê da Academia e dos seus Sócios. _---.-._--. XXI Noticia da Sessão Publica da Academia Real das Sci- encias do 1." de Dezembro de iZkj. ------- xxii Pro- Programma da Academia Real das Sciencias de Lisboa , annumiado na Sessão Publica do i ° de Dezembro de 1829. -.- XXIV Lista dos Donativos ojferecidos d Academia Real das Sciencias de Lisboa , desde 7 de Julho de 1825" até o 1° de Dezembro de 1829. >.---- — .-. xxix Discurso pronunciado na Sessão Publica da Academia Real das Sciencias de 13 de Dezembro de 1S30. Pelo Ex-.'"° Marquez de Borba , Vice-Presidente. xxxvii Discurso histórico recitado na Sessão Publica de 13 de Dezembro de 1830, pelo ViceSecretario Manoel José Maria da Costa e Sá. -------- — - xli Noticia da Sessão Publica da Academia Real das Sciencias de 13 de Dezembro de 1830. - - - -'- - xlviii Lista dos Donativos offerecidos d Academia Real das Sciencias de Lisboa, desde o 1° de Dezembro de 1829 até II de Dezembro de 1830. -^--.- — - l Memorias de Sócios. n Descripção Histórica e Topográfica da Cidade de Pena- fiel. Por António d'Almeida. — -- i Memoria sobre a nomenclatura , ou Ungoagem mathema- tica , menos bem tratada pelo habilissimo auctor do Ensaio de Psychologia impresso em Parts no anno de 1826. Por José Maria Dantas Pereira. ----- jpy Deducção analytica das principaes Formulas da Trigo- nometria Spherica. Por José Cordeiro Feyo. - - - 208 Memoria sobre a precisão de reformar o Roteiro de Pimentel. Por José Maria Dantas Pereira. - - - - 221 Memoria com quatro appensos em dois volumes '. tendo 'por objecto principal a Hydrographia do Brazil , e o conceito que corresponde aos trabalhos respectivos de Mr. Roussin. Pelo mesmo. ._._._ 229 ^-ís^XV \^-'Í ^\-- Francisco Villela Barbosa , Sócio da Academia R^al das Sciencias. Segunda edição , 1 vol. em 8.° * -N.- 960 LI. Memoria para servir de índice dos foraes das terras do reino de Portugal , e seus domínios : por Francisco Nu- nes Franklin Segunda edição, i vol. em 4.° - - . - 480 I.II. Tratado de policia medica , no qual se comprehendem todas as matérias, que podem servir para organizar hum regimento de policia de saúde para o interior do reino de Portugal , por José Pinheiro de Freitas Soares , em 4. ° 800 LHI. Tratado de Hygiene militar e naval , pelo Sócio Joa- quim Xavier da" Silva, i vol. em 4.° ------ 40© LIV. Princípios de Musica , ou Exposição methodica das doutrinas da sua composição e execução , pelo Sócio Ro- drigo Ferreira da Costa: z Yol. em 4." , . - - . 2400 Catalogo. LV. Tratado de Trigonometria rectilínea e esférica , por Mattheus Valente de Couto, 'Terceira edição , i vol. 61114."' 360 LVI. Ensaio dermosographico , ou succinta e systematica descripçáo das doenças cutâneas, etc. por Bernardino An- tónio Gomes, i vol. em 4.° --.-...-- laoo LVIl. Memorias para a Historia da Medicina lusitana , por José Maria Soares, i vol. em 4.° ..--.- 500 LVílI. Ensaio sobre alguns synonymos da lingoa portu- gucza , por D. Fr. Francisco de S. Luiz, Segténda edição y I vol. em4. ° _....--_j----. 720 LIX. Grammatica philosophica da lingoa portugueza , ou princípios da Grammatica geral applicados á nossa lingua- gem, por Jeronymo Soares Barbosa, r vol. em 4.° - - 5160 LX. CoUccção de Cortes. Congresso do Braço da Nobreza nas de 1697 e 1698, I vol. bom papel -.-_-- ^qo LXI. Diário da viagem, que em visita e correição das po- voações da Capitania de S. José do Rio Negro fez o Ou- vidor e Intendente geral da mesma Francisco Xavier Ri- beiro de Sampaio , i vol. em 4." ------- - 360 LXII. Flora Farmacêutica e alimentar Portugueza, ou tra- tado daquclles vegetaes indígenas de Portugal , e outros nelle cultivados, por Jeronymo Joaquim de Figueiredo, i vol. em 4.° -..-..._._ 1440 LXI'T. Glossário das palavras e frases da lingua franceza, que se tem introduzido na locução portugueza moderna , por D. Fr. Francisco de S. Luiz, i vol. em 4.° " ," " " A^'^ LXIV. Noticia dos Manuscriptos pertencentes ao Direito Pu- blico Externo Diplomático de- Portugal, e á Historia, e Litteratura do mesmo Paiz , que existem na Bibliotheca R. de Paris , e outras , da mesma Capital , e nos Archivos de França, examinados, e colligidos pelo IL Visconde de San- tarém , I vol. em 4.* ------------ 300 Nova Carta do Brazil e da America Portugueza - - - 1100 Vendem-se em Lisboa nas lojas dos mercadores de livros na rua das portas de Santa Catharina^ e em Coimbra, e no Porto tam- bém pelos mesmos preços. L ^VO^Í- V fm.. 'H ■^t - ,vH J. .' ) '^'i.:*