^ .^,v . ^. '••? ■ HISTORIA DA ^^t^lSIUI^ 1. BAB iiimtlâS um ^mmQ^ã.^ A mi iitilc «jíí qiiotl faciniUíi , síitlla ti/ •»•> ELOGIO HISTÓRICO no ILL. mo F. EX.mo SINR. CVPRLíNÒ RIBEIRO FREIRE. B«-i(:icido au nume do Snr. Cypriano Ribeiro Frei- re por isso não so estranho ter ompreifado parle do meu es- tiido nesta coroa, qne Vós deoj.lireis se n.ide assentar no bnsto da Sócio lallecido. TOM. XIII. p. I. H. .r-.-.uw II HISTORIA DA ACADEMIA REAL Na> í^rande csukto nos niereciào. Aqiiella mesnia aula esia\ii laniíiem no seu aug-e , pelo lavor da novidade, eseolha dos professores, e |)elo empenho do governo para ([ue fosse jiro- veitosa aos Porlngiiezes (*). De quanto para si o fosse, dca o Sílr. Cypriano i)leno testomunlio.juít^i:'.U-eXama>. 4^^^^^ cônio cosluiiiava |>:ira credito do novo esUiilo. |;e!o IMartjiiez ilf Pombal Sebastião José de Carvalho, que na distineçao «pie por issu lhe fez, tomando-o de parle , no íini do acto, c j)raticando comelle por algum espaço, mostrou ioço ((uerer abonar seu destino (v«). Èm Lodo tempo será de veiitagcm para a sociedade a crença que o mancebo tinha do ser aconi- ]);inhado em seus passos pela providencia do Governo , que velando seus estuflos , como que observa c combina sua ca- pacidade , para lho proporcionar a seu tempo emprego que lhe seja adequado. Não duvidava o Sflr. Çyprlano Ribeiro que algum lhe seria deferido na ordem da administração publica, ou nos estabelecimentos de commercio e industria que o zelo do Governo' quotidianamente estava promovendo , (juando cha- mado á Secretaria de Estado, o próprio Marquez de Pombal lhe disse achar^se escolhido para Secretario do Ministro Por- tuguez na Corte de Linidres , dando-llie por instruccão iicar escrevendo-sc particularmente com eile, no que aJli notas- se mais digno, em commercio, industria, linancas, e ainda j)olitica geral ; porque , o Marquez do Pombal querendo^res- taurar a ])ratica dú reinado preccdentç , de cpie elle mesmo era exemplo, de fazer instnnr siigoiios para os maiores em- jirciros do Estado , para tiuUo lhe tinha parecido (|uc seria idóneo nosso Consócio. A estes bons auspicio.-; não faltão cointudo nuvens teme- (») I'ela Lei lie 20 de Ajtosío dn 1770 acabiiva de receber toda a eflicaz re- conimenda(;ào o estudo desta aula. (•») Conlira-se a ostp Tesjw ito a Or.nrHO fnncbrc que nas e.xequi.T: do Siir. Cy- (uiano Ribeiro l-'ruire recitou Fr. Manotl do Xlonti» (Janiicllo, impressa em Lisboa no .iniio de lfi^.'>; bem como a E:c|io,ii.;âo qm- diis mesiuas e.vqulas se iuiiiriTuio nesse mesir.o aiinn. DAS SCIENCÍAS DE LISBOA. iit rosas. O nosso Ministro em Londres era o Sílr. I>uiz Pinto de Soiiia, piiniciro \'iácoiid(> de Balsemão, o qual vendo que o Siir. ('vjjriaiio Kibeiro Freire lhe preferia o su^oilo da sua «'scollia, por ello proposto para aquelle hií>;ar, todo se inti- >)iava em adniitli-lo na sua precisa confiança, muito mais sa- bendo da correspondência particui;ir (pie (/Mar(picz de rom- bal Ijie tinha recoinmendado. Cracas porém ;í inteírridade do A!ii!Ís(ro, parabém, esta vez, á sisudeza do hone^sto proce- «limeiíto. O Snr. Luiz Pinto vingou a temeridade dos juizos, que iiavia feito acerca i>boa. Aj)erto grande, acliando-sc bahladas nossas jus- tas recianiaçõos dirigidas ao governo Britamiico , porque o systenia que o dominava nào as adinittia ; e jíor isso, taes rcclainaçòcs, entravão como apponso no grande processo que o ])ublico de toda a nação Inglcza estava promovendo a seu ministério. Asjieças ou documentos para hum tal apj)enso ne- cessariamente devi;to ser domamhidos a nossos repieseut antes diplomáticos que alem disso tinhão de formar a tabeliã do valor das relações de Portugal com Inglaterra, argumento Carvalho, em parte attingio o golpe que se premeditava, e como diz n'huin ofTi- cio, que em ?0 d'Abril de 1776, eycrevia ao Ministro d'Es1ado Ayrns de Si e Mel- lo , que assistia ao despaclio d'elKoi em Salvaterra (e de que neste momento se tem presente o próprio autografo) , jã hnma Iriiclta lho tinha rcaclado , e por isso com inaudita diligenri:). , fez guarnecer as fortalezas da barra de Liíboa, augmen- tando a tropa da sua força, tomando as disposições necessárias para que se renovas- se logo o acampamento dos Olhos d'Agua onde o principal do nosso exercito co- brisse a Capital. E porque a ordem e acerto destas prevenções tcrnavão contingente a íacçiio da empreza, porque a resistência que devia vencer, se acompanliára do ris- co de derrota ; quando se tinhão tornado publicas nossas vehemcntes representações contra o escândalo de tão injusto e violento rompimento; o Marquez de Grimaldi , author de tudo, e que dirigia a seu arbítrio os destinos de Hesp.mha, com atrocís- simo arrojo , em menoscabo de quanto se estava negociando , levou sempre a elfei- to surprender-nos fazendo sahir aos 13 de Novembro de 1776 do porto de Cadiz huma forte divisão naval, destacada do maior armamento, composta de cinco nãos de linha, sete fragatas, quatro bergantins, e cento e deseseis transportes; levando a bordo perto de dez mil homens de desembarque, formando duas divisões debaixo do comniando de D. Pedro Cevalhos, devendo incorporar-se a esta força a que de- veria achar-se prompta em Buenos Ayres e Montevideo , e com que foi atacada e rendida a ilha de .Santa Catharina em Março do anno seguinte de 1777 , e a Co- lónia do P.icramcnto e ilha de S. Gabriel em .lunho do mesmo anno, suspenden- do-se as hostilidades com o Tratado Pri^^liminar de Faz do 1.° de Outubro do dito anno. No TomoCLXXXIII do Mercure historique et Politique de M.tva do mez de Junho de 1777, pag. 781 acha-se noticia da sabida de Cadiz da mencionada expedi- ção, e dos seus progressos no Brasil; e nos quadernos antecedentes as differentes noções do armamento referido. Pa tomada de Santa Catharina , e da Colónia do Pacrameiito , fez imprimir o Srir. J. J. da Costa e Sá, no sobredito nnno de 1777, duas relações em Francez , sem lugar nem anno da impress.ào , e sào os extractos succintos das diftercntcs p.-irtifipaçõcs ofliciacs iili'ci;iie a mesma Le-jacào aos 3 de Setembro do 178;í, na qualidade de iMieairegado de Ne- gócios, e neste exercicio contiiuiou até Setembro de 1785, cm que o Sfir. Luiz Pinto recolheu a seu posto; obtendo nos- so Consócio > por todos estes serviços, tal ora a ])arcim(inia do tempo, o lupar de ofTicial da Sccrt^taria (Uí listado dos Ne- gócios Estrangeiros e da Guerra ])or decreto íle l!i de Julho do dito aimo (le 1785, e por outro decreto da mesma tiata, o habito da Ordem de Saniiago da Espada , com doze mil réis de tença ! Não passarito três annos , qile nosso Sócio, pela ausência do Sfir. Luiz Pinto de Sousa , elevado a Ministro e Secreta^ rio de Eslatlo dos Negócios Estrangeiros no meado de 1708, de novo não tivesse de achar-se revestido do caracter de Re- preseidante de Portugal naquella Corte ; e para delle ajuizar- mos quando assim independente no exercicio de tão ponde- rosas funções, deveremos observar particularmente a iiature- 2a, que havião assumido as relações entre os dois Paizes. Não tinhamos sido com a Inglaterra na contenda que acabava de findar, antes nos tinhamos incluído na federação feita para a defeza da neutralidade marítima. Os actos de Portugal podião suspeitarse desvio do systenia de sua politi- ca ; isto, quando o Paiz , passadas as agitações do Reinado anterior, eslava solicitando vivamente alguns arbítrios em remédio de suas urgências e resgate da preponderância devi* da a' sua dignidade, lie da natureza do conunercio enfadar- se com qualquer novidade, e muito grande era a da reforma ou factura da nova Pauta das Alfandegas, (rabalho magis- tral , emprehendido e coordenado com discrijiçào e acerto. Lord VValpole , Ministro de Inglaterra em Lisboa , repre- sentou , mas amplamente foi satisfeito pelo Snr. Martinho de IVIelIo e Castro, liei sempre aos sentimentos Portuguezes , \ r por isso ao pontual desenq)enho de suas aiiianças. Acpieile espirito de discussão , que caracteriza o publico Iiiglez tinha alli porém elemento superal)undante ; pelo que era necessá- rio illustra-lo , e como dirigi-lo , segundo requeriào os nexos que subsistem entre os dois Povos; espirdiosa e gravíssima tarefa, (pie ao Síir. Cvpriano Ribeiro Freire especialmente ficou pertencendo. Em tacs nmtuas dis])osições, vem a scena successo de grandíssimo vulto. A Rússia e a Áustria acha- DAS SCIENCIAS DE LISBOA. vir v^ío-se libadas |)ar:i luim extraoulinario projecto contra a Turquia, projurlo que mal cabia na halaiira das forças da Jíuropa ; o ])or isíso dava sorios cuidados , e promovia todas (IS aj)prcliensòos dos estadistas Inglezcs. A' (irão-HreíanJia em todo caso, cumpria ii^uatar-se com o j)oder que tiidia ' oM Ruppuniia Irr na frento , p para isto parf!cia-iho como in- dispensável a alliaiiça com a Franca. iNíío abraçava o publico IVancez esta alliaiiça . mormente o objecto a que se dirigia acliaiulo-se como clectrizada toda a sua nação, j)elo extermi- liio dos Turcos com o eloquente discurso do sábio inspirado do l'almyra (»). O espirito do grande inovimeuto Europeo, de que a França era o foco, alli via a torrente ou a saliida ' que depois achou «a revolução. O interesse malerial das massas, promovido ou creado f)elas reciprocas relações dos há- bil ai. les do-; dois Estados, da França e da Inglaterra, era o úni- co correctivo que podia neutralizar tal iiKÍisposiçào , sopita- da a rivalidade qm? os divide, e que os políticos da Inglater- ra julr^avao dever ceder airor'a para se conseguir, com seguran- ça . hum novo systeina politico na Europa. O Gabinete das Tdiilarias nisso convinha , mas querendo sempre conciliar a j)ul)lica opinião mediante a ventagem das estipulações com- merciacs , neg-ociando primeiro a admissão dos seíis vinhos DOS portos da Grão-Bretanha com igualdade de direitos aos de Portugal ; compensação devida á entrada que muitos ar- tefactos Britannicos hião alcançar em Franca. Esta transacção punha com tudo perplexo o Ministério Britarmico, porque, semeHiante concessão era manifesta quebra, e infracção cla- ra do direilo excepcional que nos assistia em virtude dos Tratados ; a fim pois de occorrer a acto tão repugnante foi que se entrou na tentativa das negociações de novos Trata- dos de commercio com Portuiíal / allc^ando-se para isso as representações de alguns súbditos Britannicos, que só desse modo terião cabal provimento a suas queixas. Passo custoso, em que perigava a rnaxinia assentada havia muito de man- termos ille.sos de toda a minima alterarão os antigos Tratados de commercio e alliança com a Inglaterra : o em que, ga- _(*) Intitulado; Ccnfidirations siir ta 'jvcrrc dcs Turls f/i I78S, par Mr. Voãuy, íle c]ue a priini"ÍKi p.li(;.n() app.ireceii com a siippo6t:i J.it;i de Londres, de que depoii se repetirão outras, síndo i-ara consultar o aviso do Editor da ole 1807 que_«e srlia taml.cm a pag. .S51 d» Tomo JII. da:< obrai completas de Volnev da ertiçao Iatcrra com a 1"' rança tiiiliaiiios , com toda a previd«ncia, do acautelar o prejuizo que nisso poderia ter a exportação de nossos vi- nhos, e de lhe j)rDiiU)ver novos inorc;idos ; objecto urgentís- simo, porque, como (1<> lodos hc sahido, iiosviídios consiste o principal ou o iiiiico ramo da nossa riquoza. Quanto o Gabi- jiole Portuguez jiraticou neste conílict» , !'ormar;í sempre hu- nia pagina de credito e honra para a sabedoria de seus con- seliios , pagina lisongcira , mas falta de continuação! Ainda que o Snr. Cypriano Ribeiro Freire se regulasse com o que lhe insinuavào suas instrucçòcs , conformes ao que se eslava nej^ociando em Lisboa , a jirudencia com que soube guiar seus passos ^ prevenindo e acautelando a tempo, todo motivo da mais leve dcsintcUigencia , ou desconfiança, suggerindo quanto podia ser conducente para se manter a mais perfeita harmonia cníre os dois Estados , fizerão com <)ue a Corte significasse a singular apiirovacHo que lhe havia jucrecido, concedendo-llie aos 18 de Janeiro de 1793 a carta tle Conselho. Correspondia a esia contemplação o conceito que ao mesmo tempo desfrutava também na classe elevada de Inglaterra, onde havia sido admittido na Sociedade Real de Londres , nas Academias dos Antiquários , e do Commer- cio e Manufacturas da mesma Cidade de Londres, com o que lanto se comprova a distincção feita a seu merecimento. Por esse tempo tinlia-se formado naquella Metrópole a mui re- commendavei Associação dos Amigos da Humanidade, que chamando a seu seio nosso Consócio , lhe ficou incumbindo logo a correspondência com a nossa Academia , que ki par- te distincla de sua benemérita alliança, destinada ao soccor- ro de nossa mesquinha e misera condiçào ; alliança gloriosa , que interrompida pela guerra, de todo veio a acabar noCon- lineiile; e de que entre nós se extinguirão os actos com o bom espiri(o que os fomentava! A niesma Associação, en- tregou-lhe lambem a corresi)ondencia com o tnlendeisíe Ge- ral de Policia em Lisboa , que exige especial recordação pe- las suas providencias e dignos esforços de iiiai. tropia cbris- IS («). Admittido então o Síir. Cypriano Ribeiro Freire em (•) \'ejão-.se as Gazetas de Lisboa de 1791 por diaiite a este respeito nos mui- tos ca.->Oj qu-; apoiitão de naufragados, e apparenteinentu mortos rtstauraJos a vi- da. A nomearão vlo nosso iíocio para lus lurporafòus litteiarias e scientificas de Londres, alii também se refere. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. ix nossa Academia , ficou seiulo o intermndio das suas coiiimu- nicaçílli^s com a Sociedade Real de IjOiídros, c com o Sfir. Jo- sé Biinks , seu secretario , particular ainiço de nosso Sócio. Deixando a leçaçrio de Londres eiitreaue aoSíir. D. João do Almeida, depois Conde das Galveas, no anno de 1791 re- o.oliíeu a Lisboa , tendo-se desposado naquella cidade com Madame Lochyer, viuva de hum coronel Inglez , dotada de tão hollas qualidades , como de grande fortuna (») ; o que fi- cou proporcionando ao Shr. Cypriano Kibeiro Freire útil co- adjuvação a seu notório desinteresse. Chamado na Corte a dillereiítes trabalhos diplomatico-politicos no Ministério dos Negócios Estrangeiros , de que 1'oi parte o concerto da nova missão dos Estados Unidos d^America seplentrional para que estava nomeado desde 1790 («*) , para alii partio no anno de 1796 com o caracter de Ministro Residente, passando no an- uo de 1799 a ser nomeado Ministro Plenipotenciário junto dos mesmos Estados. Esta missão não era de pequena enti- dade , quando alli linhão as Nações da Europa de procurar recursos de subsistência na geral esterilidade sentida neste continente por vários annos consecutivos ; pertencendo á le- gação Portugueza a cathegorla da prepondei-ancia marítima que gozava sua Nação , porque era o cruzeifo que suas es- quadras fazião no Estreito de Gibraltar, que fechava os Bar- barescos no Mediterrâneo , e salvava o Oceano de suas de- predações ; serviço importante de que os Estados Unidos de- pois se lembr.-lrâo agradecidos (***), já quando, pelo grande augmento de suas forças navaes, delle se dispei.savão ; do que tudo o Snr. Cypriano Ribeiro Freire fez uso opporiuno , e a mais conveniente ponderação , no esboço para hum con- vénio de commercio entre os dois Paizes. Finalmente áhi lhe coube executar as instrucções do Ministério da Marinha e do Ultramar , para a acquisição de harpeadores de balea , e de vários objectos d'agricultura e industria úteis, se não ne- cessários , nas Colónias Portuguezas , no que o muito que se fez , sem fruto , desgraçadamente também se deixou per- (•) Veja-se o Siipplcmcnto á Gazela de Lisboa numero XXIX de2i! de Julho de 1791 artigo Londres. (*•) Veja-stí a referid.l citada Gazeta. (•»s») Veja-se a commemr)ra;;ào que as Follias puldicas fizcrão na oocasião do fallecimento da Augustissiina Rninha a Senhora D. Maria I. , e de que no Inves- tigador que se publicava era Londres, appareceo a Iraducçào de hunia nota\el men- sagem a seu respeito. TOM. XIH. P. I. níf X HISTORIA DA ACADEMIA REAL dor! A (lirecçíío do mancebos habilitados, quo o Governo rorliiçuoz tazia viajar p-elos listados Lluidos, a lini de solida- mpiile se instriiirem no que podia dizer resj^nito á agricul- tura, industria, e comiiiercio , foi outra íncunibeiicia que «lese III p^cn liou com esmero ijiual ao zelo do Keu patriotismo , mas de que a natureza do presente discurso não permitUí formal indi\ iduação. Hum daqueíles mancebos foi i[ij)p()lyto Jos«' da Costa dc^ Mendonça, que tào notável deixou -òeu no- me em nossos fastos, ao qual o Síif. Cypriano líibeiro dili- genciou orcasiào de passar ao México para tomar conheci- mento do impurlantc objecto da cochonilha, e liie fez outros partiiMilares serviços, de que o prO])rio llijijioiylo todavia nunca teve conhecimento (*). Para a melhor satisfação de tão Varias e imporlanles incumbências cooperava elFicazmente a Tíonvivencia qile o Síir. Cypriano Ribeiro Freire linlui com os í^aliics do paiz, o que lhe fez adquirir a nomeação de membro tia Sociedade Filoscjtica yVmericana estabelecida cm Filadél- fia (#*) ; obtendo alii ao mesmo tempo pratica e interessante conversação com os muitos sábios e estadistas notáveis , fino ■as eriqjçõPs politicas de França expellião db seu seio paia aquelle feliz usilo ; con'i[0 entre outros foi o Príncipe d^ Tal- leyrand, e o Ministro Barthelemi, de quem nosso Sócio cora tanta saudade sempre recordou o nome. Voltando ao Reino em 1800, foi a tí de Janeiro do anno sftouinie nomeado Enviado Extraordinário e 3Iinistro Pleni- potenciário ])ara a Corte de Copenhague , <|uando nosso Go- verno tentaVa restaurar as relações politicas e comm(>rciaes com o Báltico. Os successos porém da irnCrra da Hesjianha em Ififti mud.írão-Uie a c;>rreira , encaminhando nosso Sócio para Madrid como Ministro Plenipotenciário, isto na crise mais desesperada, em que, (consin(a-se dize-lo) , os vitaes interesses naMonarchia alii ião ser debatidos ; inas entregues íí discripçào deste seu Representante, forão defenflidos em tão melindrosas circunstancias por todo o anno de 1802 com o vivo empenho de todos os recursos da mais destra habili- dade. Porém se os seus arbítrios e esforços, para minorar a (») S'jbre p,<(es objectos esOreveo especialmente fres olucios nas datas de 20 e 2Í de Dezembro de 1793, e i!4 de Março de 1791). O mesmo Hippolyto .losé da Costa de .Mendon(;a assim o deckra em íilguns dos números do Correio l3rasiiien- sc. 1'erioilito MeD^^al'. que redigia hum PorUiguez em Londres. (»«) Veja-se o SiippUmenío ã CtuTcía de Lisboa numero XXVIJI. de l't de Julho de 1797 art. Lisboa. DAS SCIENCIAS DR LISBOA xi perda do lorritorio de Olivença (») , ficár/So para o Congrps- í5o de Ainiens : se a attenrão , que reclamou , sobre os ter- mos do ultimo Tratado de limites na America, foi sem effei- to ; não licíiuos com tudo prejudicados nas ventaijens que ti- nliamos oiitido por occasiào daquella «nerra no sui do Brasil ; e (l(Mx;ím'js acautelado , quanlo era possivel , a linha de de- marcação com a (irjiana Franceza , em presença das exigên- cias imperiosas de Luciano Buonaparte , quando seu Irmào era recoidiecido, pela Europa amedrontada, diclador da sorte dos seus Puvos. Ainda assim maior seria a ulilitlade de suas íiec^ociaçòes , quando se. ultimassem no dito Congresso d'A- miens ; porem os t(M-mos a (pie havião já chegado sanúrào gravíssimas diíTiculdades, na occurrencia das tréguas de neu- tralidad(í que subsequentemente concluimos com a Republi- ca, e com o Império Francez. Não se j)ermittia da uiagnar.i- midade do Senhor D. João VI. ficar este seu Ministro bene- mérito sem testemunho de contemplação, e aos 13 de Maio de 1802 teve a merco da commenda de Santa Maria de Cas- tello Rodrigo na Ordem de Christo. Achando-se em Lisboa, não em ócio do serviço publico, na occasião da dolorosa sabida da Corte para o Brasil , foi lembrado para huma extraordinária missão, sem elTeito, pelo conhecimento que occorreo dos artigos secretos dcTilsit(*»). Impedido de acompanhar o Monarcha , teve de arrostar-se impávido com os agentes do Governo invasor , e de salvar- se de custosos compromettimentos (*!«). Desta condição vio- IrMila resgata-o a feliz restauração de Portugal em 1808, a bem da qual coube logo áo Snr.Cypriano Ribeiro Freire ser- viços de alta valia; sendo, em 25 de Setembro deste anno, chamado para Inspector e Presidente do Erário ; e, em 20 do dito mez, encarregado do Ministério dos Negócios Estrangei- ros ; lugares ambos que estavão demandando a superioridade de hum génio fecundo e transcendente. A Fazenda publica tinha-se abysmado , substituído , como convinha a desvios fraudulentos , o systcma por que se regia : as fontes dos ren- iie (») Foi sobre este objecto que escreveo o seu ofTicio <\p ei de Dezembro 1 802 . que sérvio ile ta]\l;i [irevenção como ponderação ao Governo ; e que ainda agora talvez a deveria merecer. (»*) Kra para a Corte de S. Petersbourír. (»*«) O Siír. Cvpriauo tambimi havia sido designado para a deputação de Bayo- na, de que ft-Iizineiite se pôde sublrahir, como diz a £.\posição de suas exéquias que temrx-i já citado a pa^'. IS. »* 2 yii HISTORIA DA ACADEMIA REAI- tliinpiilos (l;i nação divprliflas , ou estancadas do lodo; nova coniljiiiaçào de interesses ainoacandu absorver os que escas- samente perinaueciào : com o pavor de nova e irresistível in^ vasào d(\sapparecoiido os capitães; s<>iido a acção do ijabjtari- le, que os (kn ia manter cin iíjro jjrolicuo, encamiiiliada só a linma resistência desesjierada , estéril para tndo mais. A or" dem politica da siia parte, em vez de conlbrto , a<.>gravando o desalento. Os Inglezet;, lie verdade, tinhão pelejado nas ba- talhas da Roliça e do \imciro ; mas o partido, que na Capi- tal da Cirão-lJrí^tanlia instava por diirercnle sysíciíia , na di- recção dos negócios públicos adiava esti'io, se r.ão grande força, em o novo aspecto ((tie tomava a iCiiropai As intervis- tas d' Krfurt , neste momento , erão de temerosa apparencia om todos os seus resultados. A hesitação , que faz o inter- médio das çrandes crises era patente, e o acto que a termi- nasse envolvia a solução politica da nossa Pátria — Ah! a quem he ella índiílerente ! — Não o foi, não o podia ser ao Sfir. Cypriano Ribeiro Freire. Pára elle a immediata restau-. ração da ordem na Fazenda era dupla em seus eíTeitçs. A força para resistir ao inimigo sá ahi se achava ; força , com que alias tínhamos de attraíiir a de nofsos Alliados para iiu- ma efllcaz cooperação , de que a salvação de Portugal seria a palma ; empreza aos olhos da Europa attonita , senão chi- merica, temerária. Não sossobrou o Síir. Cypriano Ribeiro Freire, com animo seguro entra na lide. Em 13 de Novem- liro secuinto , convocando o corpo do Comn;ercio ao Palácio do Governo, em discurso enérgico, não leve duvida de fa- zer o terrível esboço de tamanhas diíTiculdades , demonstran- do , que o recurso dos donativos era quanto permittia a af- flicção de nossas circunstancias. Etnprcstinios pedidos , e ju- ros promctiiths serião expressões íllusorias , diz o Si1r. Cypria- no Ribeiro Freire, de que eu inc não salierifi jamais servir, xeni calcular a possibilidade , c qunsi certeza de rffeiluar reli- qiosamente as condições offerccidas{^*). E estabelecendo o me- thodo de seaurar aos donativos fiel applicação, foi na corres- pondência que achou na lealdade Portugueza, sem contribui- ções, nem siibsidios estrangeiros, que superou as despezas extraordinárias do anno que durou sua administração; doi- >ando ainda a seu successor hum credito, no adiantamento (•) Este Ji-^uriO vem no segundo supplemento á Gazeta de Lisboa de Novembro de ISda. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. xm foito ao oxercito tio 8ir João Moor quando so nnlranhou ra H-'S i^ene- ros , que por isso mesuio alii tiiiliào do concorrer , si' mos- trava Outro recurso poderoso para o suprimento da falta das outras rendas publicas, independente do contribuições de guerra, que, em taes circunstancias, não se approvavão (»*). Para colher porém semtílliante recurso era indispensável manter o regulamento das alfandegas illeso das arbitrarieda- des annexas ao estado de guerra , re(]ucria-se , que o vigor da justiça e te tempo sahiho em Londres auija .nào he op- portuno ser mais e.\:plicito sobre to.la esta óccorrencia. (*»») VVja-íe o Currcio Brasiliense d'Outtibro de lílG. XVI HISTORIA DA ACADEMIA REAL pendiniento oní vão succede , soh pretexto Inconsequente , (lolles foi tlespojado a 12 do JunJio de 1ÍÍ21 (*) ; em reparo do r|iie , o Síir. D. João VI. Houve por hon» iioniea-lo por decreto de 24 de Açoslo do mesmo anuo, Insjiector do Real Collegio de Nobres; lendo tido por decrelo datado do Rio de Janeiro aos 25 de Maio de 1020 a nomeacjão ãc Presiden- te da .liinta dos Juros dos Empréstimos, l^^inalnienie por De- creto de 26 d'Ai;'osto de 182a íbi restituído aos lugares de Presidente da Junta do Commercio e I)isj)ecçào da Fabrica das Sedas , de que havia sido privado. Quando nossa Academia convocou alumia assenibliía ae- ral todos os sócios para deliberarem sobre o modo de se oc- correr na reducção que se tazia na sua dotação aimual ; o Síir. Cvpriano Ribeiro Freire com o zelo que .sempre nos j)roícs- sou , pedio, que mantendo-se em toda a intci^ridade este In- stituto , sem a menor interrupção continuasse suas transac- ções e traballios, acceitando-se-llie ])ara isso a jiroposta, que respeitoso fazia, de poder inteirar o deficit da dotac.lo daA- cademia. Toda a Assemblea annuio agradecida a otferla tao generosa , e pelo espaço que durou tSo escuro arbítrio , o Síir. Cypriano Ribeiro P'reire pontual satisfez sua nobre pro- posta, que deixou perpetua na gratidão de nossa Socieda- de (**)■ Com huma compleição pouco robusta , agora debilitado por enfermidades , em parte adquiridas pelo excesso do tra- balho de servir o Estado, no Tribunal da Junta do Commer- cio, ainda teve de presidir a questões graves naordem econó- mica do Reino, e suas relações politicas e commerciaes (***:) ; mas os projectos que o zelo de apurado j)alriotismo lhe lize- rão traçar, em proveito da nossa industria, furào mallogra- (•) Veja-se no respectivo Di.irio do Governo o D',> a rcvaccinaçrío Im iiulispnnsa- vel nos \accinaílos, cle|)oifi de certo |htíoi1o , e qual esse; tudo conlirmado por observaçòcs fritas nu nosso paiz, que não deixem duvida alguma sobre a necessidade da revaccina- cão , como uiiiinamente se tem affirmado e contestado. PARA O ANNO DE 1B42. SCIENCIAS EXACTAS. Em Calculo. Demonstrar completamente o methodo dos menores qua- drados. imap:inailo ])or Legendrc , para ileterminar os coel- ticiciitos constajites das equações que represciitao as leis dos fenómenos. Demonstrar completamente pela analyse as priucipaes pro- posições fundameiítaes da Geometria. Em Mcchanica. Simplificar o machinismo dos barcos movidos por vapor, evitando os inconvenientes das rodas de pennas, e o grande consumo de combustível. Em Astronomia. Exposir;to dos meios de delerminar , com segurança , e simplicidade, o priiicij)iu dus tnlipsca da Lua. Em Furtifica^ãu. Delinear a defensa do porto de Lisboa , que ponha esta cidade a coberto de tpiaUpicr insulto luaritinio , por vig^oru- Ro que seja. XXII HISTORIA DA ACADE311A REAL PARA O ANXO DE 1842. LITTERATURA. Em Sciaicias inotrtcs c politicas. Iliiin Ensaio Philosopliico sobre o incllior nielliodo de combinar a instntcrào coni a c(lucar:7o , de róriíia (jiie a mo- cidade lirc d'hunia e outra iguaes vaníagens. Quaes {levem rer as disciplinas , systenia , e metliodo de instrucção pojiiilar em Portugal. PARA o ANNO DE 184.3. Explicar pela historia politica, civil, e relig-iosa as cau- sas que concorrerão para a i;;randeza de Portugal , e depois para a sua decadência ; marcando distinctameute as épocas destas duas vicissitiules. Qual a base do melhor systema de Direito natural. PARA O ANNO DE 1842. Em Historia e Litlcralura. Apontar os erros mais notáveis em que al:;i!ns escritores de nota tenhào incorrido na comj)osiçào da historia que es^ crevessem ; seja dos chamados antigos, seja dos modernos de (jualqucr nação : mas preterindo sen)j)re algum escrilor nacio- nal na compilação d<> sua historia, a lim que se expurguem do prejuízo das falsidades que as deturjiãu. Huma dcscripção d'aiguns , ou (ralguin grande editicio antigo Portuguez, ou a memoria de ((ualquer successo notá- vel que lhe seja relativa; acouipanhaudo-sí! as noias liistori- cas , que lhes digào resj)eifo, de Iodas as ()l)ser\açues artís- ticas, sobre o caracterisl ic.o de sua arcliiteclura , orralos, ele. com a indicação du estado presei te do mesmo editicio» ou edifícios, c o que se oftereça sobre a sua conservação; DAS SCIENCIAS DE LISBOA. xxiii procuraiiflo-sc em iiir os exemplos que da.s mesmas temos na littcralura alemu" indeza, iUliana, e(.c. O Elogio liistorico do Infante D. Pedro, Duque de Coim- bra, com as relações das suas viagens. PARA o ANNO DE 1043. Huma memoria sobre a importância das relações polili^ cas de I ortugal com o Impr-rio de Marrocos debai-^^o do pon- to de vista commercial; e nao só com este império, mas tanibem com os territórios do interior d'Arnca, por meio das Cáfilas, que atravez do gran.le Deserto fazem a communica- çao entní os sobreditos territórios, e o mencionado Imperiu Hum exanie e juízo critico sobre o merecimento dos três escritores Jesuítas Portuguezes , Joào de Lucena , Ealthazar leiles, c António Vieira, em linguagem portugueza, histo- ria e eloquência ; e a vantagem que guardao entre si em qualquer destas três partes de litteratura. 4 ^^ÍT'^ descrijjçào dos monumentos chamados vulgarmen- te Célticos, que existào em Portugal, designando as suas di- mensn.es, forma de construcção, e^usos prováveis Huinahistoriasuccinta das controvérsias que tiverão Cas- telhanos e Portuguezes acerca das Molucas , tirada de docu- mentos authenticos. Assumpto extraordinário. Determinar a influencia da Nação Portugueza nos pro- gressões n.teliectuacs, e estado social e politico da Europa tj^le assumpto ser.í premiado com 168^000 rs. em obras da Academia, otlerecidas por hum Soei., que não quiz que se declarasse o seu nome. ' ^ Assumptos fixos , sem limitação de tempo. descripção económica e phvsica de alçuma comarca •ilorio considerável do Reino , ou Províncias uUrama- Fixar-se-ha a (í-poca por meio d'annuncios feitos nos pa- peis públicos , logo que algum concorrente mostre deseja-lo A ou território rinas. XXIV HISTORIA DA ACADEMIA REAL assim, apresentando A Academia, em caria fechada, e sem dcclara(;ão do seu nome , alaum pequeno trabalJio que indi- que occupar-se deste assumpto. O elogio ^e»»»«»»«««— MEMORIA EM aUE SE AJUNTÃO AS NOTICIAS , QUE NOS RESTÃO DO DOUTOR JOÃO DAS REGRAS, E SE TOCÃO ALGUMAS ESPÉCIES a' CERCA DA LEI MENTAL. POB B. FRANCISCO DE S. LUIZ. O Doutor JoSo das Regras foi hum varão tâo douto eirt Jurispnulencia , t3o benemérito da naçSo portugueza , e tão famoso na nossa historia pelos tins do século XIV, que causa admiração , que os escritores daquelles tempos somente nos deivassem delle escassas memorias , e que alguns mais mo- dernos até pretendessem desdourar o seu credito com refle- xões , e invectivas não só injustas e maifundadas , mas tam- bém aliiéas da moderação , temperança , e decoro , que deve esperar-so do escritor publico. TOM. XIII. p. I. A 2 MEMORIAS DA ACADEINIIA REAT. ».Iiid» nw xe{ii*o (LesUí Viíiig:jue > ^fÃy : ^òr ,íí^ JbiiO^ JÍjli?._, ^^Jí»rt- i;u ciediío e reputação. He consfantp nos nossos jçjiçritores , qiip o Doutor João das Rcçras n.-iscco om I.isboíi: e o aulor da His(. Gcneal. acrescenta utlc íamilift iioIjit de seu j/rojiriu cmmiliãp.Ji _Es- i^x-^x-ugusíjJjDcia tíl*z-«' y/erotsiimil , i-íiyit^ jieJlo l^ço, que Jqíío das Regras lt'vt> de cavallciro. e peíos cargos mui principaes, que o Senhor D. João I. Ihç ^ontiou , como pelo cazanieii(o> ípie mais depois houve j)or bem destinar-lhe. Com tiKhi não temos bastante certeza (J,e .ayf,ijj jCps^^m seus pais , e a-cea- «lentes. Fr. Manoel dos Santos, na 8.°?. da Monarq. Liisil. (l), diz que o a])pelii(lo ílas Rcf/ras ja se acha em huma doarão de elRcú X>,. 4stíftVSO Xí- rd* era Í2*3 isnt.}2l-i) , ç .que era certo congresso, que se fez na caza do Senado de Lisboa, em 8 d(> Novembro da era )402 (an. 1304), assigria entre os fidalgos Lopo Affonso (Iqs fícgjj^j que elle julga ser o pai do nosso Jurisconsulto. Diogo Barbosa Machado, na IJihlioth. LnsHan. , fala coni lAais individuação; mas não concorda com o Clironista. Diz, que o Doutor. loão das Uei;ras fora t< filiio áe Joáo udjjonso (las Rcijins , cidadão de l.isfioa , (cuja ascendência era igual- mente illiísirc que antiga, como se mostra de huma doação de D. AflVtnso fl. , feita em 30 do Março de 1214, em a qual assigna hum coin o appeilido de tí.ecjr.aír) .c de Sendil Es- teves, nela de Estevão Pcrez , irmão de Lourenço Perez , e pela materna de Fernando Annes . que aparentava com os ^UuíHUiti , FQga,ç#g, l^.Q,b»tv.s^ íí .Qvi.mejlJLMe , .Aiiçilie^s ^ pon]ie- cida nob.re/5ii. '?' Nyo saW^^ios !\\\?à fosse o MP^ pJ'Ç.cipo ,d,p n^cjirnenj,» jcle Juílo das J[l,eg;:3S , c só p(,>r ,c,9j)jectura jjodepios rasiejçir a vejrdiíde jicste jw^ty.- Geralijueute ííc diz.-, ppr t^sLejpunho dos jyitigOiS . oiie <Á\c faílecera , ,tondp .-80 ,jinnós i\s icl^fle : e como iws ,co;iia!.a , ^ge ..o ^av j:;à.\\cc).ifxei\ip /pi Mp ajuip 4e 1^0,4 , bem ^..„., ^ .> .^ .......v— ^. .. .ij;..^..uir.tr.T J.. ..../.., ..t i~t;.' (1) Liv. XXIII. Cap. X.\X1II. pa^. 7,<);i. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. R íK? concilie , que nasceria pelos annos de 1324 pouco mais ou menos. Coin esla data se conforma o que sem discrepância refe- rom os nossos escriton^s , isto lie , que o Doiiior Re|íras fora discipuii» (lo celebrei Harlolo na Italiu: por tpianlo , tendo JJarlolo ensinado em Piza des de 1339 até 1350, c depois em Peruzia até o anno de 1359 , em que falleceo (2) , fica sendo vorosimil , que o nosso Jurisconsulto , sahindo de Portuçal aos 15, 20, ou 25 annos de sua idade, ouvisse aquelle sábio in(ístre em (juahjuer dos annos, ou luijares do seu magisté- rio, e ainda tratasse com elle familiarmente, e lhe ganhasse a particular afleição , que lhe attribuem. Alguns escritores nossos supposerão , e escreverão (3) ^ que o Doutor João das Regras íallecôra em 1442, e hum ííeilcs (4) , vendo que geralmente se lhe davão 80 annos de vida, tirou a conscqu(íncia de que elle tiidia nascido em 1302, corísecjuencia justamente deduzida do principio supposto, mas em realidade tão falsa como o mesmo princijiio, e claramente (ao que parece) desmentida por factos indubitáveis. 1." Se o Doutor João das Regras nasceo em 1362 não po- dia ser discípulo do Bartolo , que falleceo antes desse anno. 2." Teria somente 18 ou 19 annos de idade em 138o ou 1381 , em que Fernam Lopez diz que pouco havia que elle viera do Egludo de Bolonha, e que fora consultado por elRei D. Fernando sobre o grave negocio do grande Scisma : o que j)arece inverosímil em tão curta idade. 3.° l*ela mesma razão não ])oderia facilmente haver con- cluído os seus estudos em Itália, e muito menos adquirido a pcricia , reputaf-ão , e autoridade , que era necessária para fi- gurar , como figurou , nas Cortes de 1385 , e para que o Se- nhor D.João I. lhe confiasse o importante cargo de Chancel- ler , e o fizesse do seu conselho. 4.° Ultimamente, he certo, e nós adiante mostraremos, que o Doutor Regras não falleceo em 1442 , como o escritor erradamente suppòe, mas sim em 1404, donde se segue, que se tivesse nascido em 13tí2, não morreria de 80 annos, mas sim d(! 42 , o que he contra a opinião geralmente recebida. Tauíbein ignoramos a ordem e progresso de seus estu- (2) CUnr/uriic , líist. Llllcr. d'Ilalie. ^ (;>) JiarUisa , BMíuÚí. Lusil. (1) Pinto de Sousa, Biblioth. Ilistor. , cdic. ilc 1801 pag. t. A a 4 MEMORIAS DA ACADEIMTA nr.AT. dos im Itália, o o tmipo preciso, om qiio volloii a Poiluoal. He certo porèni que recebeo o grau de Doutor em Joiispru- ílencia, (|ue ohteve dos escritores ])ortuçiiezes nntisos a qun- lilicaçào de (fimidc c itisiepic letrado, e muito eloquente, e que •J"ernaiii Lopez não duvidou caracicriza-lo « fnrâo de perfeita, mitoridade, c comprido de hoa arieiícia, viin ijrcmdc letrado cm •Leis . cuja sotilidadc , c clareza de bem falar antre os Letrados era tida em a»tta. « J%ste mesmo escritor nos diz (como lia pouco notamos) que o Doutor JoiTo das Rei>ras fora hum dos consultados pur elRei D. 1'eruaijdo no caso do Scisnia (;')), e que pouco havia tfte vehera do Estudo de Bolonha. D*onde inferirão alguns , que elle viera para Poruigai em 13R1 ou 1302, mas as pala- vras do chronisla admitlem iiitelligencia hum pouco mais lar- ga, c podem ser verdadeiras . ainda quando João das Regras tivesse vindo ])ara o Reino em 1380, ou alguns poucos annos antes. O certo lie que já então tinha trazido de Ralla, e adqui- rido em Portugal o gráo de credito, reputação, e autoridade, q^ue se requeria para ser admiitido ;! dita Consulta ; para nel- la sustentar e defender os direitos do legitimo Pontífice Ur- bano VI. , e para logo depois figurar tão distinctamente no grande negocio da exaltação do Mestre de Avis ao throno de Portusal , que foi o que oíTereceo ao illuslre Jurisconsulto a melhor opportunidade de ostentar os seus talentos, p seu sa- ber, a sua eloípiencia , e o seu patriotismo. Rem sabidas são as gravíssimas perturbações, que no Reino se suscitarão, logo que elRei D. Fernando falleceo em Outubro de 1383; e como sendo o Mestre de Avis (depois Rei D. João I.) a IG de Dezembro desse mesmo anno decla- rado Rer/edor c Defensor do Reino , nomeou })ara os mais im- porlanles cargos <Ío Estado , e da administração , e governo publico ])essoàs idóneas, rpie bem os desfMnpenhassem, e que com seus talentos, conselho, valor, e lealdade o auxiliassem nas ditlícultosas e árduas circunstancias, em que se via col- Jocaclo. Kntre estas pessoas foi o Doutor João das Regras no- meado i)ara servir o autorizado cargo de Chanceller , e ao mesmo tempo lhe deo o Mestre de Avis , Regedor e Defen- sor do Reino, lugar no seu conselho : prova abonada do gran- (6) Chron. ett elKti D. Fernando. ^ '• ■ -.''-«■ DAS SCIENOIAS DE LISBOA. S d»' roncoito , om que erão fidos os talentos , e a probidaile j e lldclidaclc dpslci illiis(r(> varào. No anuo sc<;niii(e d(! 13C4 , qiinrorido ó RouOntc provor .•í d('f(>ns;u> do lloino , dpíitinoii para Fronteiro da jlrovincia do Alciiitojo, amnaçada dos (]asloliianos , o grandtl Nuno Al- varez Pereira, munido de anipiissimos poderes; e diz Duarte Nunez, qiK! o Doutor Jo;To das Regras contr'ariavn isto mui- to , cotiu) homem qur a Nunnívnfez não era affciçoado , pelo (/randc liKjar, que lhe via com o Mestre , dizendo , que jjara iiquellc carqo era necessário liam homem de mais idade , c au- toridade , e sahcr, e que cdCm disso Nuno Alvar'e~ linha seus irmãos com os inimi/jos. Parece que o escritor intentou neste lugar , o nestas pa- lavras, insinuar algum género de ciúme , que o Chancelleí j.í então tivesse de Nuno Alvafez , e que depois mais desco- berlanumte lhe attribuirão , fundando-se em factos , acaso tào pouco concludentes , como este de que vamos tratando (C). N;to he impossível , nem seria difficil de acreditar , que o Chancellcr desse entrada cm seu coração a algum movimen- to de ciúme a respeito de Nuno Alvarez , a quem o Mestre de Avis com tanta razão estimava e dava provas do confian- ça. Este alTecto , com quanto parece pouco digno das almas nobres e elevadas , he comtudo frequentissimo nas cortes dos Priiici])es , e não poucas vozes tem proiluzido funestos elíei- tos , mui contrários ao bom governo da rejiublica. Mas não basta que isto fosse possivcl , e ainda verosímil , jiara logo se escrever na Historia como facto certo, e averiguado, não ha- vendo aliás provas bastantes que o afiancem. " As razões, qu(! João das Regras deo no donselho j erão dignas da sua prudência e do seu zelo, e podião ser expendi- das n'a<]uelle lugar, sem que d"ahi se inferisse o ciurne , a que as ({uercm altribuir. O heroísmo, verdadeiramente admi- rável, do grandes Nuno Alvarez, as suas raras, e sobreexcel- lentcs > irludes, o seu valor e pericia militar, a sua incontras- lavel lealdade , e finalmente a sua fortuna na guerra ainda iiào erào coidiecidas , nem experimentadas. EUe não tinha então mais que 24 annos de idade, e com efleiío com elRei de Castella andavão D. Pedro Alvarez Pereira, que fAra Prior do Crato , c Diogo Alvarez Pereira , ambos seus irmãos. - (C) Fr. .Manoel dos Santos, iia 8. P. Ma Jl/u/iac^uia , qu.ilificu o Doutor Ga- gtas de •" cirfih con/ieciJo DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 7 O aniio seguinú- ^so de Ax-imbuja , diz i' no solo eran estos três varones grandes para la toga , mas " 'jraiídcs p:ira cl antes. Era entonces menester igualmente el juicio ciente , y «í !■ puho KuUrOio; y esto supo bien eligir este valentíssimo, y entendido Príncipe. ■• .(10) Po lem ver-se os Discursos do Chanceller na Chrnntca de D. Joio l. por (Feíijiuu Lopez, ua V. B. da Monarq. , e np,5 Memr. dfi D- Jouq I. por Soavs^- i4a ..Silva. ■« MEMORIAS DA ACADE!\IIA REAL la parto, polo quo níío ropoliroiiios aqui o qiio lá cscn^vemos em abono das razõos o ariíuinoiílus do. loão das Koi!;ias. Con- 1on(ar-nos-lioinos tamsoniciito com rofloctir. que iião sondo as CArtos <.\o Coimbra compostas de gente ignorante , e inca- paz do avaliar as raz(~vcs do Chancoller ; c havendo nellas al- guns Senhores, que ao principio mostrarão scçnir ditlorontos opiniões; a solidez comtudo dos argiimonlos, e a eloquência do Doutor Heg;ras triunfou de t(jda a o|)posi('ão ; criou a una- nimidade que se desejava, o pòz tinalmento sobro o throno de Portugal hum dos mellioros Reis que o tem occupado, e honrado , e que ainda dej)ois da sua morte , quando cessão todas as lisonjas da do[)(Midto de Doutor, e cingida da espada de cavallciro , dan- do-nos por este modo a entender , que se a Hrspanha tem (como diz Faria e Sousa) os maiores jjremios para a lança e celada , e para os outros me'rílos dos fj7'aiidcs sv/ctlos em todas as acp'')rs da paz ; não se dev{> estranhar, (juo os alcançasse o Doutor João das Regras, que om huma e outra palestra os soube merecer. Estes prémios devem referi r-se , segundo o nosso pare- cer, ao anno, ou annos immediatamente seguintes ;í batalha do Aljubarrota; não só porque então hc que elRei D. João j)òde com mais desafogo deseni|)onhar a sua gratidão e libe- ralidade para com as pessoas que tão leal e felizmente o ti- uhão servido, mas também porque o illustrc (,'hancoller fez o seu cazamento pouco mais de três annos adiante, om 1389, e he verosímil que já então tivos.se de elRei a mercê dos bens, com quo pAde vir a cazar tão vantajosamonle. Os bons forão OS Senliorios de Cascaes , e da Louriíiliaa , os Morgados de. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. g 5. Matlheus ,edeS. Itrope (Eutropio) de Lisboa , o ttequen- tt.ss(ttto , que não fosse &iiifil/tn ou parente r e depois, descrevendo em geral o caracter delUei , diz que era de sva condiçòo lii heral ; que nunea doea cousas pouctts , como se ri díts muitas vil!a& e Untares do Reino , c herdades do pntrinioniti Kcal , que deo aos qitc o sercirdo nas guerras e nn paz, porque nlicnou os iruiis dos lur/ares, qvc aijora andáo jora da Corda, e tratros muitos , que se lornúruo a ella : e que dos serviços , que recebia , era tdo agradecido . que a muitos deo mais do que esperarão , sem arjuurJar que lho pedis- sem etc. F.m outra paríe diz que o Mestre era magnânimo , a que sempre o nurceo mais o honesto que o mil etc. E.sta lie a linguagem de todos os escritores acerca da lilieralidade dellíei, que até chegou a ser taxado lií. prodigalidade. E he a este Rei que Faria e íoasa cbajn.i ingrato e !)iesquiu/io\ ' DAS SCIENCIAS DE LISBOA, t )| com as obrigar.õos quo tinha, ropartio suas terras e benS coirt os liilaliius f cavalleiro.s r|uc o havião ajudado e servido, ã-' cando dle in ut pobre. E que postoque elRci acudio a isso , ! fnzendo-lhe tornar as terras que havia dado . foi isto (diz) cot)i,. tanto desr/osto seu, que estere para se ir fora do Reino, e não. se foi, porque satisfez clRei com suas obrigações, (mirjnando[ tenças aos que havia toniado as terras, c rof/ando-lhe muito que se não fosse. . Oá escrilores Ing:lezes da Hist. Univ. referem , çue o ( liancolior João das HoiíTas , que era grande polilico , ê mui Hi.qiH-nte, tentara mudar o animo do eIRei ;ícerc,a das gran- d<'s liln-ralidades, que tinha feito, e lhe apontara em parti- cidar as extraordinárias doações com que premiara o Condes- tavel, das quaes elle se não aproveitou, antes com Real ge^ iierosidade, satisfazendo aos que servirão debaixo das suaá bandeiras , se fizera em certo modo senhor do Alem,tejo e do Algarve: c concluirá dizendo a elRei, que Sua Alteza tinha ja muitos filhos , e podia ter mais ; e que nunca poderia dar- Ihcs hum património igual ao que o Condestavel iá tinha por favor da Real munificência. ^ Acrescentão ainda estes escritores, que elRei movido das razões do Chanceller, publicara huma lei, pela qual re- vogava todas as doações, que fi-era, indemnizando comtudo os Iczados, e que d'aqui resultí(ra o desabrimento do Condesta- vel, e o projecto que chegou a formar de sahir do Reino: projecto, de que elRci o desviou com a sua costumaíla i)ru- í, encia, communicando-lhe francamente em particular os ver- dadeiros motivos do seu procedimento, e dando-lhc taes ra- zões , que não só temperarão e moderarão o desgosto do il- lustre Cond(!stavel , mas o deixarão plenamente satisfeito e conforme com a vontade de elRei. ' Mr. de la Clcile narra também es(e facto , ornando-6 como costuma, com circunstancias falsas, inverosímeis e ate em parle contradictorias. Diz , que vendo o Condesta- vel que el Rei não tinha feito nada a favor d js grandes quê mais tmhao contribuído para elle subir ao throno, se desapos- sou em beneficio delles da 7naior parte dos bens , que el Rei lhe dera , exemplo raro de desinteresse , e de zelo da gloria (.o seu 1 rincipe ! E pouco deiiois continua dizendo , que ain- da lhe Jicavao muitas riquezas, beneficio que lhe fez elRei : é que (eiido-lhe aquella sua generosidade , praticada com os grandes, grangeado inimigos, quizerâo fazer-Uias restituir, e B 121 MEMORIAS DA ACADEMIA REAT. para isso diss'orão a elRci , que ei-a inicrexsc ão es lado lirár iodas as irillas c ttr7'as , que havia doado , áíinelles (jiie estavão de posse delias. Finalniciile diz , í]\\r o ('oiidcstavci clcse^osto- so por elRei tomar esta jjrovidciicia , quizera sahir do Reino, (fuei.rando-se, que não iinha com que passar a rida, e que o de- via hir jjrocttrar a oatra parte: mas (\\\o elRei conseguira que elle não sahisse do Reino , e que ainda assim l/ie tirarão parte dos scvs heyis , ctc. Comparando ora o conteúdo destas confusas e pouco co- hcrentes relações entre si , e com os factos da Historia, pa- rece-nos (se lambem nos he permittido dar o nosso jiiizo , e expor as nossas conjecturas) que se pode ter como mui pro- vável o seguinte : Que elRei D. João I. examinando com attençíto o esta-' do interior do Reino, e achando, que o principal , e mui im-;, portante ramo da fazenda publica eslava gravemente damui-' iicado , tanto pelas excessivas liberalidades de elRei D. Fer-; nando , como pelas suas próprias, que as circunslancias o ti-', nhão obrigado a fazer , e pelas inevitáveis despczas e diásípa- ções , que traz comsigo huma dilatada guerra . quiz occorrer â este mal, e começar a pòr em alguma ordem esta parte es- sencial da boa administração. Era para isto necessário (entre outros meios) estabelecer hum limile ás alienações dos bens da Corfta ; fixar as idèas «obre a natureza destes bens e suas prerogativas ; preparar e promover por meios suaves a reversão delles ;í mesma Co- ri^a ; e atalhar o arbitrário e abusivo emprego , quQ delles fa- zião os donatários , havcndo-os como bens patrimoniaes e he- reditários , de que podião dispor como bem lhes parecesse. Estas forão . a nosso juizo , as primeiras intenções de elRei , aconselhado dos seus Ministros, e mui es])ecial e provavel- mente do Clianceller João das Regras ; e estes parece terem sido os j)rimeiros traços , ou lineamentos da Lei Mental , de que logo falaremos. Parece que a generosa alma do Grande Condestavel, não se accommodando bem com estas economias , e vendo acaso que elRei se fazia mais reportado em suas liberalidades , e mais Vagaroso , ou circunspecto na remuneração dos serviços qué se lhe tinhSo feito , julgou que era da sua honra e gran- deza emendar este presumido defeito , e começou a desapos- sar-se de alguma parle dos muitos e grandes bens , que tinha da Coroa , doaildo-os ás pessoas beneméritas , que com elle , DAS SCIEXCIAS DE LISBOA. 13 e dobaixt» tio sni iiiando tinhiTío servido na guerra, e qué ain- da não liavião (ido romuneração compi-tenle. Jísto procedimento daquelie grande homem , com quan- to era inspirado, sem duvida, e dictado pelos mais nobres,' puros, e iniíenuos sentimentos, não podia comtudo deixar dô: flesagradar a elllei : I ." porque em certo modo censurava e accusava o vagar, a consideração, e a temperança, com quo elRei tirdia resolvido |)roceder na matéria das remunerações a vassallos beneméritos : 2.° porque as liberalidades do Con- destavdl, sendo feitas dos bens, que elle mesmo tinha da Co- roa , sem preceder licença de elRei , oj)punlião-se as id^as' que este Soberano já havia concebido da natureza e preroga- tivas dos mesmos bens , e aos projectos , que por ventura já (inha formado, de obviar a que fossem reputados como bens palrimoniaes das familias , e ])assassem como taes de humas a outras , ficando a Coroa defraudada , e privada do direito de poder jamais reuni-los ao seu património , e empregalos em premiar novos serviços que se lhe fizessem. Aqui he que parece ter lugar a circunstancia , tjío con- fusamente referida pelos Chronistas, quando dizem que elRei retwf/úra as doações que tinha feito , e fizera restituir os bens doados pelo Condeslavel. Revogou (entendemos nós) as doa^ r^ões feitas pelo Condeslavel ; porque das doações feitas por el- Rei nSo sabemos que houvesse tal revogação geral, como se suppõe : e fez restituir os b(.>ns doados polo Condestavel , isto he , tornnhjs no mesmo dúad')r ; ])ois sabemos, que esses bens continuarão a estar elTectivamcnte no dominio do Condesla- vel , e entrarão depois nos aniplissimos dotes , que elle fez , com approvação de elRei , a sua filha para cazíir com o Se- nhor D. AflTonso ; a seu neto D. Fernando , e a sua neta a Se- nhora D. Isabel: e não nos consta, que ao mesmo Condesta- vel fossem jamais tirados bens alguns dos muitos e mui im- j)ortantes, <|ue tinha recebido da Real Liberalidade e Gra- tidão. Pelo que , aquclla frase do Clironista u que o Condestavel ficara muito pobre >j e a outra de JNIr. de la Ciede « (jue elle nau tmha com que passar a vida , e por isso o queria hir bus- car a outra parte fora do Reino >■> são exagerações inverosi- incis , ■ que não devem ter lugar na Historia , e que no nosso paso parecera desmentidas por factos constantes : sendo cer- lo , que as extraordinárias liberalidades que elRei hav^a tido com este incomparável Varão , e as ricas doaçOíes , que lhe 14 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL tiuha feito , erão taes , qiio aiiula repartindo ello laraamente com os vassailos beneméritos , que o tiiiliào acompanhado na guerra, lhe devia ficar muito, com que sustentar o es|ilei)dstavel tinha querido premiar ; fez-lhe ver a elle mesmo os ■ (13) Pelos annos 1401 . lazendo-se o cazamento da Senhora D. Brkes filha unioa do Condestavel com o Senhor D. Affonbo filho de eIRei, e depois 1.° Duque de Bragança, lhe deo o Condestavel em dote "a villa de Chanes e seus termos, o Julíjíido de Montenegro, o Castelto de Montalegre , as terras de Barroso, lial- tar , Paços , c Barcellos com seus termos , honras , jurisdições , e padroados ; as quintas da Carvalhosa , Cocas , Canedo , Ferraçaes , Godijihães , »S'. Fins , e Tou- ffa ; os cazaes de Jiustcllo coni suas honras e coutos , e as is fez o jnesmo Condestavel doação á Senhora D. ls;ibel sua neta das terras de Lousada, Paiva, Trndaes , lilla de Almada, e rendas de Loulé tio Algaroe . como tudo coiista dos titidos e doações apontadas e extractadas na Hist. Oeneal. da C R. P. : e ainda cumpre reflectir que o Condestavel fazendo tão amplos dotes , havia com- mdo de reservar para o seu trato , e da sua caza , e para pagar e premiar os seus crúados, alguns bens que p.ira isío bastasseui, Ultimimente remiiiciainlo este gran- de Varão o mundo, e recolhendo-se ao convento do Carmo de Lisboa, que ti- nha fundado , edificado , e dotado com boa renda , e á sua custa , dizem ainda os escritores, e o diz Mr. de la Clede, r/ue distribuirá pelos pobres todos os bens, que ainda possuiu. A' visla do que tudo , poderá o leitor julgar se he verosirail , ou mais iiinàos gémeos do nictmo ventre. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 15 jusios motivos em que se fundava o seu procoder; o o Con-' deslavei, que conhecia bein o animo de ell^ei, desistio do projecto , que em alguns instantes de melancholia forui;íra do sahir do Reino , terminando-se deste modo a di jsensâo , quo tinha havido entre ambos, sem prejuízo de neidium : prova da cousummada capacidade , boa lií , e grandes virtude^ do Rei e do Vassallo ! Tocamos aqui tudo isto (que acaso poderia parecer e^i tranho a historia do Chanceller João das Regras) porque al- guns conjecturào ler elle sido autor dos procedimentos, alias justos, que elRci teve neste caso, e os querem attribuir, ■wein prova alguma, ao ciuine que lhe suppòem do Condesla- vel : e tambom porque, como já advertimo-í , nos parece se- rem estcá os primeiros lineimeatos da Lei Mental, que igual-» mente se attribue aos conselhos de João das Regras , e da qual , por consequência , devemos fazer lembrança neste lu- gar. Alguns escritores , tanto nacionaes como estrangeiros « parece não terem bem conhecido, nem a historia desta lei, nem o seu espirito , e a sua tendência politica. Os autorc? Inglezes da Hist. Univ. , falando da grande liberalidade , com (pie o Senhor D- João I. repartio bens da Coroa a muitas famílias, acrescentão : verdade seja, que ss diz , que elRci , anlcíi ile morrer , andava traçando como ani-* qul.lasse aquellas doações ; mas lie de crer que este projecto foS' se obra de João das Rcf/ras , por quanto he mais digno de hum letrado que de hum soberano. Se elRei anduvct traçando o projecto antes de morrer, não parece verosimil , que o projecto fosse obra de João das Re- gras. porque elRei falleceo em 14-33, e João das Regras ti- nha fallecido em 1404 , 29 annos antes delle. Comtudo não dizemos isto para livrar a João das Regraá da imputação que a este respeito se lhe faz : porque o proje- cto da 1-ei Alentai , de que aqui se quer falar, nem era (a nosso entender) impróprio de hum Soberano, isto he, de hum bom Politico, e justo e prudente administrador da republi- cai , nem deve desacreditar, ou deshonrar a qualquer letrado , que o concebesse e aconselhasse. E nisto nos apartamos to- liihuentp do juizo e opinião dos escritores Inglezes, posto ipic as reflexões, que a cada passo fazem na sua Historia, nos paroçâo em grande parte judiciosas e discretas. Segundo o nosso conceito , a Lei Mental foi hum dos K MEMORIAS DA ACADEMIA REAL proj«ctos mais sábios, mais pnideritps , e mais politicos , que. podiuo occorrer para bem do estado , nas circunstancias em que entíío se acliava a nação: e pode ser, que em nenhuma outra se encontre hum arbítrio, por huina j)arte tão útil, e por outra t;To moderado e tao justo, para pAr algum limite .-Is alieiíaçõos dos bens, rendimentos, e direitos da Coroa, e pa- ra trazer a esta, pouco a pouco , e sem violência, alguns dos que delia andavào desmembrados. Os mesmos escritores Inglezes , historiando depois o rei- nado de elRei D. Duarte , parece que varião de opinião so- bre a origem da lei, e acresceiítào imvos erros acerca da sua historia: porque dizem , que elRei D. Duarte, querendo re~ tncdiar os darmios das excessiuas lihcjalidadcs de cíRci seu pai, € a quebra cias rendas do estado, auejmentíida jKÍa jornada de Tanqere , consult;lra a João das Regras, e que este lhe apon- tiíra hum arbítrio, que foi (dizem elles) eflicaz cm Porturjal , e que em outra parte o não seria : e logo referem este arbi- trio , continuando a dizer, que João das Regras aconselhara a elRei D. Duarte, ejue publicasse , que elKei seu pai á he- ra da morte lhe declarara ser sua tenção , que as terras da Co- roa que elle doara , passassem, aos herdeiros dos donatários dr, varão cm varão^ cm premio dos serviços antit/os, c paia os ani-'. mar a o servirem melhor: masque e/ucmdo viessem afoitar he?'- deiros varões , se devolverião lotjo para a Coroa , donde se des- . tnemlirárão. " Tudo isto he pouco exacto , he contrario ;í verdade his- tórica, e parece escrito com grande negligencia, por quanto 1.° João das Regras uão podia intervir na promulgação da J.ei Mental por elRei D. Duarte , nem aconselhar este Prín- cipe íícerca delia , por((ue tinha lallecido em 1404, quando elRei D. Duarte ainda não tinha 13 annos deidade, e 29 annos antes que elle subisse ao throno. 2.° A Lei Mental não foi promulgada depois da jornada de Tangere , como os escritores sup])òem ; mas sim antes delia , e logo dentro do primeiro anuo do reinado do Senhor D. Duarte, em Abril de 14;i4. :í.° a mesmal Lei não tinha por objecto primário e directo augmentar as rendas do estado, nem reparar a sua quebra; mas sim fazer que os bens da Coroa, já que andavâo delia alienados , ^e couservassem suados e nulivisos ; servissem a promover os cazamentos legítimos dos grandes senhores, que os possuião; e a procrcação da prole lambem legitima ; crias* DAS SCIENCIAS DE LISBOA. ' 11 írivi uleis servidores do estado , e fijialmciite em caso de nàd poderem ter etnias applicaçues , revertessem ;í ÍJorAa para servirem de premio a novos ser\iços que se lhe fize-ssem. Se estas alienações fossem j)erpetuas , se os besis doados içassem para sempre como patriínoniaes e hereditários nas famílias dos donatários ; se nào tivessem reversão para a Co- roa senão nos poucos casos, e mui raros, de coiliscaçào, ou exíincção total de familia , em breve íe veriío os Pri. , cipos , como já então começavão a ver-se. sem meios de premiar os grandes e novos serviços , que ao estado se fiíc-sem , e qua- si entregues á mercê das fam lias que os possuiào. Nào comprehendeinos bein qual he o pensamento dos escritores Ina;lezes. quaudo diznm, que o nrbitrio da Lei Men- tal/(ira rfficaz cm P,jrlu(/al, e que em outra parte o nâ(> seriai ])orque se querem falar tia respeitosa acquiesceacia dos Se- nhores Portuguezes ás determinações da lei , e dar a enten- der que em outras nações nào succederia o mesmo , fazem nisto a honra devida á obediência, e lealdade Portuçueza» acreditfío a civilização do? Portuguezes, e o conhecimento que tinhão das razocís juridicas , e politicas da Lei, e das re* ctas intenções do Princijje , e parece que nào fazem igual .Conceito desses estrangeiros ou dessas nações , aonde dizem que o arbilrio não seria tão efficaz. Mas nesta mesma rellexão não parecem os escritores muito exactos; porque em outras nações, e até em Portu-» gal , sabemos que se procedeo e chegou ao mesmo , ou a hum semelhante fim por meios muito mais violentos, e com-' tudo cfficazcs. Henrique IL de Inglaterra (por exemplo) revogou abso- lutamente as doações que clRei Estevão seu aiitecessor havia feito em prejuízo do estado. Os Jurisconsultos apontão mui- tas semelhantes revogações , feitas pelos Reis de França , de Castella , de Aragão , pela Republica de Veneza etc. O Pa- pa Honório III. , respondendo a elllei de Hungria André II. , lhe dizia , que podia e devia revogar as doações feitas em prejuízo do Reino, aincln que firmadas fossem cum juramento. ElRei de Castella Henrique ÍV. revogou (dizem) em Cortes, e declarou nullas as doações , graças , e benefícios que elle mesmo tiidia feito, des de hunia certa data, ein prejuizo da sua Coroa. O nosso Rei D. Diniz . que foi hum dos Prínci- pes mais liberaes do seu tempo, revogou por Carta de 2G de 'Dezembro da era 1321 (au. 1283) todas as alienações , remis- TO.M. xiii. p. i. C 18 ME3I0RIAS DA ACADEMIA REAL sõeí5 de dividas . c ouiras ijraças , qiin hnvia feito indiscrrtn' tneiile , nos primeiros minos do sen fjovertio . sem iircessidade ahjuma iirt/ente , nem jasla cansa de utilidade pidjlica , isto com unaniiiie consenso, voto, e ajjprovação do Infante seu irniào , dos lidal^ros , e pessoas do seu conselho , e de muitos i^nrões sahios c/ne jul(/ou consultar (lá). O nosso Rei D. Fer- nando, cuja liberalidade chesou a ser notada de excessiva, rr>vo^'ou igualmente , ]ior Carla dada em Santarém a 20 de JVIaio da era 1413 (an. 1375), todas as doações dos Padroados das Iijrejas que llie pertcnciào , feitas des de que começou a reinar, por mais amplas, e expressas que fossem (IG) , etc. ele. Se pois todas estas revogações se fizrr.ão . e forão rffica- zcs ; porque o não seria huma jirovidencia muito monos ab- soluta, e muito menos violenta, quo nSo revogava as doações feitas, mas somente tendia a limitar alguns dos seus elfeitos, e a restituir á Coroa por meios suaves os direitos que real- mente , e de justiça lhe j)ertenci;'io .'' Manoel de Faria e Sousa lambem fala da Lei Mental com expressões pouco exactas, e em certo modo contradi- ctorias , para logo romper na mais iniqua , e quasi insensata , invectiva contra João das Regras, a quem trata sempre mal, c até indignamente nos t^eus escritos. No Epilome , na historia de elRei D. Duarte, começa dizendo, que este Principe , posto que não maios liberal, que seus ascendentes , ambicioso comtudo de mostrar com quanta consideração se devem olhar os bens da Coroa , vendo os niuí- tns que tiidião dado stnis dous ullimos ai!tece.ssores , ll/.era huma lei , para que nelles nào jiodessem succcder fêmeas . . . tendo em vista o exemplo de seu pai, que em quanto não foi Rei, deo muito do Reino para o ser, e logo que o conse=- guio , fez voltar á Coroa nào pouco do que havia dado , ou já do que vatjava de alquns , ou já co^nprando-o em vida a ou- tros , COMI o fim de restaurar modesto . o que dera prctcndcute. Até aqui ainda se pode presumir que o escritor não desapprova de lodo a lei, pois diz que o Senhor D- Duarte ' (15) Nora Malt. Portug. T. 2. §181. E veja-se também a Carta de 15 de Janeiro da era ISia no tom. ;>. das Disscrt. Chronol. c Crit. pag. 299, e Carta .de 6 de Novembro da era 1S25 no Liv. 1. de Dpi\(;ões de D. Diniz lol. 214 v. 110 U. .\rquivo. (16) Chancellar. de elRpi D. Fernando liv. 1. foi. 163 v. o Nova Mallu Fort, P. 2. § 22S. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. ia" qiiizera com ella mostrar , com quanta consideração se devem alhear os bens da Coroa : e posto que nota com lauta injusti- ça como falsidade o procedimento do Senhor D. João I. , e parece accusar os meios que elle empregou para subir ao throno, faz-lhe ao menos a justiça de confessar, que os bens, que em seu tempo reverterão para a Coroa , vierão ou por vacatura , ou por compra. Logo porém descobre o escritor o seu animo , e desenvolve todo o seu pensamento , mostrando aonde tcndião as suas reflexões. « Mental se chamou (diz elle) esta Lei publicada por »' D. Duarte , porque seu pai, que foi o autor delia, tendo-a » na mente, a executava sem a (er promulgaíio. Conselho foi » de João das Rcfjras , que da Jurisprudência tinha feito bú- >> lança dos prémios das grandes acções. Desditosas as que o » buscão em mãos, que nascerão mais para pedir, que para » dar! Castigou-o Deoí com dar-lhe huma stS fdha , para >» herdar os bens que gozava da Coroa , dos quaes a desher- 5> d.lra o seu conselho : e assim foi o primeiro que pedio a >i elliei recurso contra a sua própria rapacidade. Podáramos j> denomina-lo o Perilo Lusitano, que sendo inventor do tor- " mento do touro, foi o primeiro, que rielle perdeo a vida. » Faria e Sousa deixa-se neste passo arrebatar fora do to- dos os limites da justiça, da moderaf^ão , e do respeito devi- do aos grandes homens, e Aá. bem a conhecer quam cego es- tava e perturbado do ódio, que contra João das Regras ha- via concebido. Primeiramente toda a insolente e violenta invectiva do escritor vem a ferir não tanto ao illuslre Chanceller João das Regras, quanto a elRei D. João l. , e ainda mais a seu fdho o excelleute e virtuoso Rei D. Duarte : porque em fim João das Regras era simplesmente conselheiro , e não era único. Era (empo delRei D. Duarle já elle não vivia, e e;te Prínci- pe tinha no seu Reino muitos , e muito bons Jurisconsultos ; pelo que podia com o conselho delles emendar o que seu pai tivesse feito de mal com a pratica da Lei Mental , ou revo- gala, e não a promulgar, desprezando de todo os miíos con- selhos que João das Regras tinha dado tantos annot^ antes. Demais, nós não alcançamos que tamanha iniquidade foi esta da Lei Mental, que obrigou Faria e Sousa a comparar o seu autor ao impio, cruel, e bárbaro Perilo: senão he que o escritor quiz aqui satisfazer, bem ou mal , ao costume, fasti- diosamente praticado no seu Epitome, de applicar á. maior C 2 20 MEMORIAS DA ACADE3IIA REAL parte das acçõos e successos qiiR refere, outros successos, e acções parallclas;, tiradas da Historia aiitii!a, o atú du Fabula. A circunstancia (se he certa) de se ver Joào das Reçráá comprcliendido no caso da lei , e de ser obrigado a pedir dis-i pensa delia em lavor de sua fillia , riem o deslionra a elle , nem deve dar aos seus inimigos motivo de triunfo. Os e.-cri- torcs ínalezes também referem esta circunstancia . e depois de dizerem que Jo3o das Regras pedira a elRei a dispensa^ e que elRei lha concedera, acrescentào " o que. faz hmira ao Soberano ; mas o leitor- decidirá, se o Chanceller se honrou ou- tro tanto cm lha pedir. » INós não entendemos que João das Regras se deslionras- se cm pedir ao seu Soberano Inima dispensa, que lhe pare- ceo justa , e que a própria lei expressamente j)ermitlia em al- guns casos conceder. E ainda ousamos acrescentar , que deste facto da vida do Chanceller se pode tirar huma grande prova do zelo que elle tinha pelo bem publico , e da fidelidade que guarda\a ao seu Soberano, e ao nobre cargo de Conselheiro. Se João das Regras não fosse honrado c fiel Conselheiro, ii3o daria a elRei hum conselho , em que hia , ou podia hir contra os seus interesses pessoaes , e de sua filha e familia ; podendo já então antever a possibilidade de não ter filho va- rão , a quem passassem os bens que tinha da Coroa. O illus- trc Jurisconsulto esqueceo, ou pôz de parte (como devia) es- tes interesses , para aconselhar o que a sua consciência lhe dictava como mais útil ao publico. E como a lei admittia e permittia dispensa , 0)i espontânea do Soberano , ou pedida pelas partes interessadas , sujeitou-se á possibilidade de ne- cessKar delia, e de vir a pedila , c á contingência de lhe ser denegada. Nisto não se descobre (a nosso parecer) nem bai- xeza, nem falta de honra: o que se descobre e manifesta he 1." sacrificio do interesse pessoal, aconselhando a lei. 2.° ou- tro sacrificio, expondo-se a que a dispensa lhe não fosse con- cedida. 3." franqueza e nobre resolu(^ão em a pedir, parecen- do-lhe que era justa , e devida a seus grandes serviços. 4.° fi- nalmente , confiança na gratidão, justiça, e generosa bene- volência do Monarca. Quanto mais, que os escritores, de quem temos falado, não sabem , nem dizem , nem provão quando , e como , e em que pontos se começou a praticar a Lei Mental: não sabem se o Doutor Regras era, ou não era já fallecido :_ e conse- quentemente iguorão se elle , ou sua filha pedio a dispensa DAS SCIENCIAS DE LISBOA. ' 21 que se suppõe, ou se clRei fez vohintariaiiiente ;í filha a mercê dos bons sem se lhe pedir ; por quanto na l>ei Mental escrita diz elRei D. Duarte que as filhas não possão herdar, solvo por especial doação, ou mercC' , que elRet lhe queira fo' zer, scíjundo os contractos , ou doações , que os Reis seus unte' cessorcs , ou elle Jlzerão , ou ellejizer úquelles , a que assi des- se as ditas terras. Nós não temos motivo algum especial de parcialidade ou paixSo pelo illustre Chanceller , senão a convicção dos seus grandes merecimentos, e mui distinctos serviços. Não somos da sua profissão , o até ingenuamente confessamos , que nos faltão os conhecimentos de Jurisprudência, que seriào neces- sários para fazer hunia boa analyse da Lei Mental , e avaliar ao justo as suas utilidades politicas. Falamos por tanto neste assumpto , guiados tamsómente das luzes da razão e da his- toria , sem animo de decidir cousa alguma em tom dogmáti- co , nem de preoccupar o assenso de quem acaso ler este discurso : mas estamos certos que qualquer que seja o juizo que o leitor possa delle fazer , nunca jamais approvará as ra- zões , e expressões exageradas , descomedidas , talvez inde- centes , com que se tem pretendido, e quasi conseguido, manchar a reputação de João das Regras, e deixala, pelo menos, duvidosa nas paginas da Historia Portugueza , attri- buindo-lhe não só errados conselhos , (que podem ser proce- didos da humana fraqueza , e ignorância) mas também sinis- tras intenções em os dar , que he o recurso da astuta malevo- lencia, quando quer infamar as suas victimas .... Mas não ha que estranhar : he esta a sorte ordinária dos homens dis- tinctos e superiores , maiormente quando são julgados por quem não vai tanto como elles. Voltando ora ao que mais propriamente pertence á his- toria da Lei Mental , já dissemos , que a época das primeiras tréguas com Castella nos parecia ser o tempo , em que se eomeç.-írão a traçar as primeiras linhas para as dillerentes resoluções da mesma Lei , e agora acrescentamos , que de- pois , á proporção que a paz se hia julgando menos contin- gente, e os negócios internos tomavão mais assento, sehiriào também desenvolvendo os princípios da mesma Lei , e a pra- tica que delia fez o Senhor D. João l. lílRei D. Duarte nos dá fundamento a esta conjectura, quando diz no preambulo da Lei (Orden. liv. 2. tit. 35) que « se chama Mental por ser primeiro feita segundo a vontade 22 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL e tenção de elRei D. Joiío sími pai , a qlial €m seu tempo se praticou , ainda que não fosse escrita. E depois no § 15 ««porque era eerto , que tal foi a ten- ção de elRei seu senlior e pai, e as$i o vira por tile dctermi~ nar em alsjuns casos, que em sen tem])o acontecerão.'» E ainda mais claramente no § 17 «« por cpianto, como muitas vezes ouvira a elRei seu pai, as ditas doações pela maior parte forão feitas no tempo das guerras, em que não podião ser tão perfeitamenlo examinadas . como se requeria. E depois que os Reinos forão. com a ijiaca de Deos, postos em socetfo , achiíra que çuardando-se na forma que nellas se con- tinha, se seguiria grande damno, e prejuízo a' coroa do Rei- no. Por tanto ordenou com acordo de letrados do seu conselho, fazer em sua mente a dita Lei, porque declarou, e limitou as ditas doações, a qual declaração sempre mandou guardar . . . . a qual Lei, posto que não fosse escrita em seu tempo, foi porem sempre guardada , e praticada em, todo o caso , que de facto acontecia. » Destas palavras, que temos apontado, parece inferir-se : 1." Que a Lei Mental foi projectada não pela só inspira- ção do illustre João das Reeras , ainda que julgamos teria grande parte nella ; mas sim com approvaçâo e acordo de Le- trados do Conselho de elRei. 2.° Que já se guardava em vida de elRei D. João, e pelo menos (ao que parece) desde o anuo de 1411, em que se- concluio e assignou o Tratado de paz per])etua com Castel- la : postoque muito d'antes , e no temj)o das difíerentes tré- guas , se começassem (como he conjectura nossa) a praticar algumas cousas delia. 3.° Que o objecto da Lei não era revogar as doações fei- tas , mas sim declaralas , e limilalas , como pedia a natureza dos bens da Coroa, e os verdadeiros , e justos interesses do estado. 4.° Finalmente que o Senhor D. Duarte , logo que snbio ao throno, a fez pôr por escrito, mandando-a promulgar com addicões e explicações suas, em 8 de Abril de 14.34 da ma- neira que se vê compilada nas Ordenações do Reino , aonde recebeo alguma nova addição de elRei D. Aflonso V. e de elRei D. Manoel. Continuando o pouco que nos resta da vida e acções do grande Chancellcr João das Regras : no anno de 1399 , a 22 de Maio j doou elRei D. João 1. aos religiosos de S. Domin- DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 23 Ifos os paços que linha no lne;ar de Beiíifica, próximo a Lis- boa , para nelles fiintlarom caza cia sua Ordem , e diz que os dòa a rot/o cio Doclor João das Regras , do seu conselho. Ahi pe fundou com efleilo o mosteiro, e aiii íbi sepultado o Dou- tor Rei^r;is, em lionrado tumulo, que se pòz (segundo a pra- tica d'aquelle tempo) e ficou muitos annos fora do templo, donde depois o trasladarão para dentro (provavelmente quan- do se reformou a Í!;reja) e ao presente se acha ao lado direi- to da entrada da porta principal. Está em huma caixa de mármore , assentada sobre qua^ tro leões, e lavrada cm torno de escudos de armas, quartea- dos em aspa: nos campos alto e baixo, em cada hum, a cruz floroteada, como a da Ordem de Avis, e nos campos de am- bos os lados a serpe alada. Na tampa está em relevo a esta- tua de João das Regras , vestido de roupas largas , como to- ga, barrete de Doutor na cabeça, ao lado espada de caval- leiro , levantadas as mãos ante o peito. Aos pés está hum li- breo grande , com sua coleira , assentado sobre pés , em ac- ção de vigiar, que parece simbolo da amizade e fidelidade, ^a orla da tampa se lê , em letra allemãa minúscula , este letreiro : Aqui jaz João darcgas cavallciro : doctor : em Leys : privado: dclRcy : D. Joam fundador : desle : mosteiro' Finou III. dias: de: Mayo: E. M. ÍUI. XLII. No qual letreiro algumas cousas se offerecem á nossa re- flexão. 1.' O appellido do illustre Jurisconsulto, que parece ter sido nSo das Ret/ras . como vulgarmente dizemos, e escreve- mos, mas sim d'Aref/as. Fr. I-uiz de Sousa diz assertivamen- te que errão os que escrevem das Rer/ras , fundando-se prova- veiniente no epitáfio: mas elle mesmo traz huma memoria, contemporânea da fundação do mosteiro, em que o Chancel- ler he nomeado em latim nJoannes de Requlis, in utroque Ju- re doctor. »> Este he o nome ou appellido que tem prevale- cido. 2.' O titulo que se lhe dá do Privado de elRci , o qual, por se achar gravado em hum monumento publico, pode presumir-se não ser meramente expressivo do que chamamos valiijicnio , ou particular entrada com o Soberano; mas sim do huma espécie de oOicio , ou de huma certa primazia eu- 24 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL tro os Minif^tros, ou Coneellieiros do Rei , qiiasi como lioje úizemos prÍDicfro ministro (17). 3." A donoiiiina(;no de cavalleiro , que suppflc haver Jo/io das Rpj^ras recohulo a ordem da cavallaria , a qual se não icosUmiava dar naqiielles teni])0s sourio ás pessoas que por feitos de armas a tinlião merecido; por onde se confirma o que mais dií luima vez escrevemos nesta Memoria. 4." A data da sua morte . que agora se mostra indubila- vclmeule ser a era de 1442, que he anno de Christo J404: ])oronde também se vè que os ([ue alargarão a vida de João das Regras até o anno de 1442 se engana' rão , tomando a era por anno de Cliristo , contra a pratica bem sabida daquelle tempo. A Bihliolhecn de Barbosa Machado, no art. João das Re- firas, iras copiada outra inscripção , que está (diz elle) gra- vada em huma pedra embebida na parede da portaria do con- vento , fronteira á entrada da porta , e diz assim : í » Istud monasterium fuit per vicloriosissimum domí- j> num Regem Joannem nostroOrdini concessuni XXII. 5) Maii an. Dom. MCCCXCIX. ad preces Reverendo- 5) rum Patrum domini scilicct Joannis de Regulis , in j5 ulroque Jure Docíoris , et Fralris Vincentii , scien- j> tia, vita , et honestate magislri praeclarissimi , et .•5 fuit rece])tum per Fratres Ordinis noslri , ac Deo 5) dicatum XXIX. die praofati mensis Maii, in fes- 5) to C'Or|)oris ('iiristi, codem anno , Aera Caesaris » MCCCCXXXVII.» (18). Cazou o Doutor João das Regras (como já acima toca- mos) com huma iilha de Martim Vasquez da Cunha, distin- cto lidalço Portuguez , no aiuío de 1.3t)9. Esta senhora, que se chamava D. Leonor da Cunha, era j;í viuva, o íliha úni- ca lierdeira : mas como seu pai se retirasse a Castella no tempo das guerras (onde obteve o titulo de Conde deValen- (17) Quando isto escrevi.-imos , .linda niio tinha saliiilo á luz a Memor. sobre a intelligencia da palavTa Privado nos antigos documentos, impres.sa nas Collecçòes da Academ. R. lias Sciencias, e composta pelo seu Vice Presidente o tix.""" Snr. Trif;oso, a cuja opinião intciran'ente subscrevemos. (18) Fr. Luiz de Sousa traz esta mesma inscripção ; mas diz que a copiara de liuni papel , que e.xistia no cartório. A pedra ainda hoje existe na jiortaria do con- vento. DAS SCIENCIAS DE LISfeOA. 25 ça do Campos) e por este facto tivesse perdido os bens , el- Kei D. JoSo I. os tornou a D. Leonor, cazando-a com João das Regras. Deste òazamento nasceo também única D. Bran- ca da Cunha. Esta cazou com D. Aflonso de Cascaes , filho iJleijitimo do Infante D. Jo;lo , filho de elRei D. Pedro, ô de D. Igncz de Castro: e tiverão ainda outra filha única D. Isabel, que cazou com D. Álvaro de Castro, primeiro Con- de de Monsanto > etc. Dizem alguns escritores nossos ^ que elRei D. João I. encarregara o Doutor Joílo das Regras de compilar em hum volume, no idioma Portuguez , as Leis do Código de Justi- niano mais applicaveis a este Reino, e que elle assim o exe- cutara, ajuntando algumas declaraçOes de Accursio e Barlolo. Duarte Nunez refere esta noticia , mas assigna-lhe õ an- no 1425, em que o Doutor Regras era fallecido havia 21 an- nos , e d;í-lhe o nome de Doutor João Fernandes das Regras , sendo que em nenhuma outra parte o temos achado com es- te sobrenome patronymico. Diz mais, que João das Regras , pela grande affeição que tinha a Bartolo , cujo discípulo fora em Bolonha ^ ajuntara as ditas declarações, e aconselhara a elRei, que as approvasse para que fossem authenticas, e va- lessem como leis , e que daqui tivera origem a Lei , que mandava seguir a Bartolo, quando não houvesse texto j nem glossa, nem opinião commum em contrario; Mr. de la Cledo diz que elRei D. Duarte dava sempre boas mostras de disimcçâo a João das Regras (que tinha falle- cido 29 aiuios antes de elle subir ao throno) e que com o soc- corro deste Jurisconsulto fez hum Código >, que continha a ex- plicação e verdadeiro sentido de cei'tas leis, que se applicavão ã matérias muitas vezes oppostas. Quantos erros em tão poucaã palavras ! Nos Estatutos da Universidade de Coimbra dò Senhoí D. José L se recommenda ao Lente da Historia do Direito Civil e Pátrio, que ensine aos seus discípulos o que mais se ajustar á verdade sohre a Ordeiiação que se attribue ao Se- nhor D.João I. , e de que se dá por autor o Doutor João das Regras. Pelas quaes clausulas parece mostrar-se a incerteza com que falavão neste objecto os compiladores dos Estatu- tos (19). (19) Vejão-se as Reflexões Históricas pelo Scn/tor Conselheiro Joiío Pedro Ri- beiro, P. 11. N. 11 , impressas neste presente anno de 18S6 , muito depois de ter'' mos escrito esta nossa Memoria. TOM. XIII. P, I. D 26 MKMORIAS nx ACÀÍ3EMÍA REAL iVo meio doslas iMCorIczás o que nos parece verosímil he qao elRei D. .lalo 1. quernulo dar aígiiina oídcrn ao ca- hos em que se achava a l(>2:isl;><;Jlo pátria, e fii)Fovei(ar a grande perícia, que o Doutor Juào ána Ji»>i>ra.s tinhíi em .lu- rispriidencia . lhe cncarreGaria alsjuns Uabalhos , que ou ser- vissem ;í melhor inlelliíeucia . justa- iip|>r è diz o escritor' que o Ahhade Manoel de Sonsa Moreira lie qiKm o faz autor desta ohra no seu Thcatro Histor. Gcncalo(f: y Panee/yrico de la Casa de Sousa pag. 171. Barbosa na ^<7)/;oíA. Lusitan. tam- bém faz mejiçno deste Sum/tnario ., eàe alguns trabalhos ge-* nealof/icos de João das Regras. E eis aqui tudo o que temos podido alcançar acerca deste Variio illustre , digno da lembrança da nossa Idistoria.» l Ci -1 .í : ■- .h'sT DAS SCIENCIAS DÉ LISBOA. 2? MEMORIA •obre os SBCREtARIÕS DOS REIS E REGENTES DG PORTCGIL DE9DR O» ANTIGOS TEMPOS DH. MONtRaUlA ATe' A ACCLAMAÇÃO d'eLREI d. JOÃO IV. Lida na Sesaào ordinária de 7 de Novembro de 18S8. roa FRJNCJSCO MANOEL TRIGOSO D' ARAGÃO MOR ATO. J. ENbo lido nos três tillimos annos já decorridos peranlô esta Academia outras tantas Memorias (1) sobre os Ministroâ do despacho e expediente dos antiços Reis de Portugal , quaes forão os Conselheiros , e particularmente os Privados , os Chancelleres Mores , e os Escrivíes da puridade , conti- nuarei agora a tratar dô mesmo assumpto relativamente aos Secretários, porque ainda que na qualidade de Ministros do despacho do expediente fossem de data mais recente , com tudo vierSo pouco e pouco a ganhar grande influencia , até que chegarão a ser os únicos Ministros ordinários dos nossos Soberanos. Assim nesta Memoria ajuntarei as noticias histó- ricas que tenho podido alcançar a respeito dos Secretários dos Reis , e na seguinte ou seguintes as que pertencem aos Secretários d'Estado. Os Escrivães oU Notários precederão em antiguida- de aos Secretários. J<á disse em outro lugar (2) que até o anno de 12.58 , em que se concluio a obra das sete Parti- das do sábio Rei D. Afibnso X. , apenas erâo conhecidos os Notários e Escrivães d'ElRei , aos quaes se não dava o nome de Secretario. O officio d'aquelles assas se conhece das Leis 7." e 8.' do Tit. 9.° Partida 2.*, e já no tempo doe (1) Achão-sc impressai nos Tom, XI. P. I. , XII. P. I. e II. (i) Memoria sobre os Escrivãei da puridade, D 2 2a I\ir:MORIAwC; DA ACADEINUA RRAt. Árabes liiibào os Reis esles Ofliciaos . em cuja palavra rles- cancava a fé piililica, e })ara cujo ministério se escoiiiião pessoas do ejfperiíniMitada íionra , coimnuminniilc Rcclosias- ticos, e As vezes Monges depois de ordenados 8acerdu(es (3). O que se praticava em Hespaiiha quando teve principio o Reino de PorUii!;al , se praticou entre nós. No reinado de D. Aflbnso llenriqu(\s j,í liavia Notários «FElRei, e da ('or- le, e também Escri\aes d'EIKei (4), mas não tenho encon- trado que nem neste reinado , nem nos qiiatro soguintès se desse a estes Ofliciaes o titulo de Secretario. Rcinetilo de D. Diniz. Deo-se porém por primeira vez, que eu saiba, no reina- do de D. Diniz a Estevão da Guarda, o que se prova da ac- ceitação e ratificação feita ]ior ElRei no anno de 1319 da Bulia da crcação da Ordem Miliíar de Christo , onde entre as testemunhas vem nomeado — Stcphano de Guardin, pi-acdi- cli Domini Rcfjis Secretario (ó). A Carta Regia sobre o que se passou á cerca das Inquirições, que por três vezes ElRei mandara tirar sobre as Honras e Coutos, dada em Lisboa no 1.° d'Agosto do anno I31G, acaba assim: ElRei o mandou: Joham Domingues de portei a (Tez era de mil e trezentos e cinquoenta e quatro anos^Stevam de guarda (c). Porém como não he liquido o motivo por que EstevSo da Giiarda referendou este Diploma, antes deste tempo, is- to he , no anno de 1304 , se lè n'huma Doação Regia de Pa- droados— Elltci o mandou: Eslcváo da Gíiarda afez, sem a denominação de Secretario (") ; e como não acho nenhum outro Documento nem neste , nem nos dois reinados seguin- tes em que se nomeie pessoa alguma com o titulo de Secre- tario , inclino-me a crer que este fora dado a Estevão da Guarda para mera distinccão , por isso que era titulo então desusado, e que cabia bem n'luim sugeito tanto da estima- ção d'ElRei, e guarda tão iiel dos seus segredos. (S) MasJeil , Historia Critica de Espnna , Tom. XIII. (4) Veja-sé McnKirla sobre os Chancelleres Mores, .(õ) Pron. da Hist. (icn. Tom. 1. (fi) Livro j,T.inJft lia Camará do Porlo , íl. Cíiv. col. 2. (7) Mon. Lus. Tom. VI. ^„ DAS SCIENCIAS DE LISBOA. íjb •Nom se pode duvidar da j^rande estimariTo em qiie o ti* ■nha ElKei D. Diniz, pois que o lizera seu Eychfío e Escan- ção inór, hum dos seus Testamenteiros, e hum dos seus Pro- curadores na (reg-oa C concórdia feita com o Inlanle seu li- Iho. Fr. Francisco Brandão , que isto j)rova com documentos aulhenticos, protiuz a final huma doaç.lo que elRci lhe fizera de todos os Casaes , que tinha em Torres V^edras , da qual se conhece claramente a lealdade e bom serviço que sempre lhe mostr;íra e fizera Kstevílo da Guarda . e a muita conside- ração em que o tinha (8). Reinado de D. Fernando. Outro Secretario apparece no reinado de D. Fernan- do. O seu Chronista Fernão Lopes, tratando das avenças que EIRei fizera cora o filho do Rei de França para fazer a guerra a Aragão . diz que mandara a França Lourenço An- nes Fogaça seu Chanceller mór , e João Gonçalves seu Se- cretario, e do seu Conselho (9). Succedeo isto no anno de 1377, e muito antes havia sido mandado a Sevilha João Gon- çalves , do seu Conselho . para confirmar a paz tratada com EIRei D. Pedro de C.astclla (lo). Se esle João Gonçalves hé o mesmo João Gonçalves Tei.xeira , de que o Chronista falia em outros higares da sua Chronica , he claro , que também não he diverso do Escrivão da puridade d' EIRei D. Fernan- do, e que ou Fernão Lopes confundio estes dois tilulos , que ainda não erão legalmente distinctos , ou tomou o nome do cíTicio pelo que este significava. Reinado de D. João I. i\o reinado seguinte apparece outro Secretario d'ElRei, (pie foi Rui Galvão. Deste se acha memoria no anno de 1428, em que EIRei D. João L querendo tratar pazes com (8) Mon. Liis. Tom. VI. (9) Chroi). Cap. 37. (10) Ib. Cap. IS. 80 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL o de Castoila , mandou lií por seus Eml)aixadores a Luiz Gonçalves, e Pedro Gonçalvt^s , e o Dr. Uni Fernandes, in- do por Secretario Rui Galvão (N). De Secretario d'Jínibaixada passou Rui Galvão a Secre- tario d"ElH(u . e do seu Gonselho ; e assim o considera Da- mião de Góes (l"2) . dizendo que fora pai de D. Joào Galvão, e de Duarle Galvão, dos quaes adiante fallarei. Finalmente em documento de 1431 assina Rui Galvão, Secretario d'El- Rci (13). Mas o oflicio de Secretario sendo ainda novo entre nós , não tendo reg-imento alirnm , nem dependendo de oíFiciaes que o ajudassem no exj)ediente dos neçocios , parece inferior ao de Escrivão da, Camará, ou d'ElRei, e muito mais ao de Escrivão da puridade. Da precniinoncia deste no reinado de D. João I. jií dissemos bastante cm outro lugar (H)- Da im- porlancia dos Escrivães alleí;arejnos algiins exemplos. ; No Instrumento da Acclamação d'ElRei D. João I. em 6 de Abril de 1385 vem entre as testemunhas Lançarote Es- tevão, Escrivão (VElRti flUj; o qual em documento de 1394 se diz Escrivão da Cantara íV ElRei, e seu Notaria publico em todos os seus Rciíios flGj- Jím documento de 13U5 acha-se Pêro ylffonso , Escripvão d' ElRei (\i); e em outro de 140(> João Fernandes, Escripvão do dito Senhor fl6j. Azurara fallando da jornada de Ceuta (19) diz que Gon- çalo Caldeira surncnlc foi aquelle a que a puridade deste serjre- dofoi revelada , o qual era Escrivão da Camctru d" ElRei: isto porque Gonçalo Lourenço , Escrivão da puridade , cujo creado ellefora , não podia por si só escrever tanta Escritura. Em Instrumento feito em 7 de Novembro de 1424 (20) lé-sc : E eu Gonçalo Caldeira , Escrivão da Carneira do dito Scnlior Rei , e seu Notário publico que todo nisso dito em hum com as testemunhas fui presente . . . e este instrumento fiz es- (11) Azurara, Chrnn. do Conde. D. Pedro. (lá) Chroa. do Príncipe D. João. (13) Soares da Silva, Mcmor. de D. João I. (14) Memor. .cobre os Escrivães da puridade. (15) Provas da Hist. (Jcn. (16) IbiJ. (17) Ord. Affons. Liv. 5. (18) Ib. Liv. :'.. Tit. 64. (19) Chr. de D. João I. P. S. (20) Provas da Jlist. Gen. Tora. S. DAS SCiENCÍAS DE LÍSBOA, 3Í crever per mão de fiel Escrivão , de licença a mim dada por o dito Senhor Rei , porque eu era occupado de outras couzas de seu serviço ; e este por tnitiha mão subscrevi. Eis aqui o que erào oiitão os Rscrivàips (l,a Camará, ou d'IílRei, c o pouco que sabofnog qué fossem os Secrciarios: basta o pequeno numero destes para se conhecer Á sna jioil- ca importância. Em quanto ao cxpeclient;e tios Diplomas Re-; 2fi()s , lazião tanto ou menos do que os Escrivãtís da Camará d'ElRer; nem se podiào chamar Ministros, mas Ofliciaes: em quanto ao Despacho, he certo que os GIFiciaes d'líillef que o acomjianhavão ao Conselho, hião e estavão com eljej' mas mio davão voto cm quanto não tinhão ò titulo do Con* selho. ' "■" "";''";■■■ ;iP Reinado de D. Duarte. Pode-se ter pòr certo que Rui Galvfo fô^a Secretarie? d'ElRei D. Duarte, ])ois que Rui de Pina ha sua Chronicá' di*, que elle ordenara mui ree;radamento «siia Casai, em que >> como piedoso e virtuoso lilho récebeo os Criados d'ElRei' » seu pai, e cada hum nos officios , e cargos que tinhão. >»' Sabemos também qnaesèrJto as pessoas qiJe:formav3o o'seii' Conselho, que forTo as mesma-s" que vemos figliíar comotáes/ losfo dejíois da morte d' El Rei, no Accofdo que se tomou nas Cortes de Thomar sobre ó regimento do Reino, cujos nomes ee podem ver em D. António Caetano de Sousa (.21). Ulti-i itiaiiiente sabemos que neste Teihado (òifn.írà o mesmo Consè-j' lho maior regularidade, pois que aquelle Chronisia refeíre , que do Conselho, que ElRc^i D. JbHo seu Pai teve em Torres Vedras sobre a tomada de Ceuta , se costumou depois , que pela m(ír parte as pessoas prificipaès dessem votos , e conse- Ibos a derradeira ; e mais ádiartte diz, ffue ElRei D. Duarte fizera do seu Conselho a D. Duarte de Menezes, tilho nalu- raldo Conde D. P«dro, qne fora primeiro' Capitão de Ceuta, porque ainda em aquelle tempo se não' dava tal" bonra^ salvo' a- homens de limpo sajiguej-ê por si mui entendidos e \>v\i' dentes, iodas B Boiíííjo?! oiifciiipioq i '.!^.r!l>. '.tí'i)b .111'.' !"■ (21) yrora., da HUt, Gen. .rr.ol- ..oO .ValV ú> .. .'V (M) 32 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Remado de D. Affunso V. Morto ElRei D. Duarte em 9 de Setembro de 1430, scrvio-se a Kainlia D. Leonor então Rcj;'ente do Reino, com os mesmos Conselheiros , Officiaes , e Criados , de que se havia servido seu marido, segundo atlesta Rui do Pina (22) : mas nào durou esta Regência mais de dois mozes , i)ois que nas Cortes de Torres Novas, celebradas nos mezes de Outu- bro, e Novembro do mesmo aimo. movendo-se grandes con- testações sobre quem devia (er a Regência, querendo iiuns que ella pertencesse em solido ;í Rainha, e outros ao Infante D. Pedro, entendeo o Infante D. Henri([ue, que poderia pôr estas diflerenças em concórdia, por meio de huma Determi- nação á maneira de Regimento, e cuja substancia era que a Rainha ficasse por Tutor e Curador d'ElRci seu filho, com a administração das rendas e oíRcios ; o Infante D- Pedro ti- vesse cargo da defensão do Reino com o titulo de Defensor , e o Conde de Arraiolos , filho do Conde de Barcellos tivesse cargo da Justiça , e que na Corte onde ElRei estiveíse an- dassem sempre seis do Conselho, repartidos a tempos, e mais hum Prelado , hum Fidalgo , e hum Cidadão ; e que com estes seis do Conselho , e Ires dos Estados se determi- nassem todas as cousas que sobreviessem , com autoridade; da Rainha, e accordo do Infante D. Pedro, estando sempre pelas mais vozes (23). O Secretario des(e Conselho sem voto era Gonçalo da Silveira, filho do Escrivão da puridade Nuno Martins da Silveira (24). Esta Determinação não agradou a nenhum dos partidos, que por serem extremos não admittião conciliação , e assim hum anuo depois, em Novembro de 143U, o Povo e a Camará de Lisboa excluirão inleiramenle a Rainha do governo, dan- do-o em solido ao Infaji(e D. Pedro com o titulo de Rege- dor ; o que depois confirmarão as Cortes de Li.sboa celebra- das a 10 de Dezembro do mcgmo anno. .; ,,j Refere Rui de Pina que o Accordo das Cortes de Lis- boa fora testemunhado por quatro Notários asabcr,-Lop6 (■2Í) Chion. de D. AfTons. V. (SS) Chron. de D. Aftbns. V. — " (24) Proo. da llUt. Gcn. Tom. I. ,^,o ^,,.^^ ^ .^^.^ (jg;, DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 33 Anbnso i e Rui Galvão, e Martim Gil, e Gonçalo Botelho, OHioiaes da Gamara, e Fazenda d'ElRei, dos quaes os pri- meiros dois já ligiiravào no reinado d'ElRei D. Joào I. , e neste iiçurão como Secretários d' El Rei. Com efleito Lopo Aflonso , que acabava de intitular-se Escrivão d'ElRci, já em Outubro de 1440 era seii Secreta- rio , e então foi mandado pelo Regente por Embaixador a ElRei de Castella (25), e em Março de 1442 ainda conser- vava o lugar de Secretario , como consta d'huma Carta de privilégios qUe então obteve para seus caseiros , e lavrado- res , c os mais que frabaliiassem nas suas quintas, casas, e herdades , e seus criados e apaniguados serem livres de en- cargos do concelho (26) ; e também subscreve em 15 de Fe- vereiro do mesmo anno certos capítulos de cortes na qua- lidade de Secretario d'ElRei (27), mas já em 5 de Março de 1444 estava provido no OíBcio d'Escrivão da puridade , co- mo em seu lugar fica dito. Se Rui Galvão conservou nesta Regência o exérciciò de Secretario d'ElRei he para mim ainda duvidoso. He certo que elle se demorou no serviço da Rainha depois de ser ex- cluída da Regência, porque ém 1440 estando esta em Al- meirim mandou tratar por elle amizade com o Infante D. Pedro , mostrando fingidamente que o seu desejo era esquecer-se de todo o passado (28). Em 10 de Janeiro dé 1444 (e por tanto muito tempo depois da retirada da Rainha para Castella) datou-se huma Carta de privilégios concedi- dos ao Duque de Bragança, feita por João de Lisboa, e qiífe Rui Galvão, Secretario do Senhor Rei, e Cavalleiro de Sua Alteza fez escrever : mas como esta Carta ainda que la- vrada no tempo da Regência (se acaso a data he verdadei- ra) tem assinatura d'ElRei ^ ainda me persuado que ella não prova que Rui Galvão estivesse no serviço do Infante. Muito bem podia passar o Infante D. Pedro sem os Se- cretários , que até então apenas erão huns Escrivães mais autorizados , e que não tinhão n'aquella qualidade influencia alguma no governo do Reino ; mas não podia passar sem os Conselheiros , que entravão ordinariamente no despacho. (i.)) Rui de íina, Ghroiií (Í6) Hist. Gen. (á7) Collfcção Academ. das Cortes^ (áS) Rui de Pina, Chlt»n. TOM. XIII. g.l, C »i MKIVIORIAS DA ACADEMIA HE AL Vr. Manopl dos Santos na Alcoha^a illastràdá (liz, que aqiiel- \r Iiilaiilp locfo no |irinripio da sua roncncia cscolhrra cinco d\Mi(n' ollcs qiio vinliao a formar |)roj)rianien(o o Conselho d"ElRci. o qiic luun destes cinco fAra D. Estevão d'Agiuar, Abbade de Alcobaça: para prova disto produz a Carla que a este foi diriíjida pelo niesino Infante;, dalada em Lisboa a 9 de Janeiro de 1440 . peia qual o nomeia para o Conselho de El Rei , posto que lhe nm fosse dado jurainenlo , scf/undo sr, em tal oiito acostuma. Assim a Carta de nonicacào , e o jura- mento já então se consirleravão requisitos necessários para se ser membro do Conselho. Passemos j;í ao tempo do dilatado governo d"ElRei D. Aflonso V. onde começamos a ver o uso frequente dos Se- cretários , assim como j.á vimos em outro lugar o uso fre- quente dos Escrivães da puridade. Esle Monarcha sendo já de idade de 14 annos foi reque- rido pelas Cortes de l^isboa de 144G para tomar o regimen- to do Reino , ao que elle não annuio , tornando a entfega-lo ao Infante D.Pedro: o que se vê daCarta passada em 23 dè Janeiro deste anno, que Lopo Aflonso fez escrever (39), Po- rém em Maio do anno seguinte resolveo-se ElRei a tomar o governo , e então os emulos do Infante conseguirão indispo- lo de modo com seu Sobrinho , que só a infeliz batalha d*Al- farrobeira veio por fim ún desavenças assopradas com escân- dalo dos bons pelos inimigos d'aqueile grande Prijicipe. ElKei pacificadas as discórdias lioniesticas , governou o Reino, chamando para o aconselharem as pessoas mais ex- perimentadas dos Reinados passados. D. António Caetano de Sousa (30) publicou o Livro das Moradias da Casa deste •Rei, que começa pelos Cavalleiros do Conselho, cujos no- mes vem escritos pela serie dos annos desde o de 1462 até o de 1431 , ultimo da sua vida. Porém os que tinhão adquirido maior autoridade com ElRei, j)orque era seguido o seu con- selho nos negócios mais árduos, forão o Arcebispo e Cardeal D. Jorge da Costa (Alpedrinha) , e o infeliz Duque de Bra- gança D. Fernando, Deste consta particularmente que era ouvido sobre os negócios pertencentes á guerra, e que nem ainda das cousas que somente tocavão ao despacho ordinário, resolvia ElRei alguma scin ouvir o seu parecer (31): e do (2») Pratas da Hist. Gen. (30; lhi" DAS SCIENCIAS de LISBOA. 3f radias trElUei D. Joiio II. entre ós Cavalleiros Fidalçoá acha-se l't'nião Lourciiro, Escrivão ilaFuzauia, e mais abai- xo l'eriiãi) I. ou roliço ; Escrivão da Camará (41). 7. Pedro d'Alcaçova. O P. Sousa nas Memorias dos Gran- des , diz que fora Secretario d'ElRei D. Aflonso V. , e sogro do António Carneiro . de quem adiante faltarei. NSo me atrevo eu porènl a aíTinna-lo , pela duvida que jú expuz a resjjcito do antecedente. Encontro dois Diplomas lavrados por elle , hum em Ceila a 20 de Fevereiro de 1464, e outrd em Évora a 25 d' Abril do 1473 j sem qualificação do officio que tinha, e também encontro Pedro d'Alcaçova Escrivão da i'\izeiida figurando entre os Cavalleiros Fidalgos no Livro das Moradias d" El Rei D. João II. Com elleito o mesmo P; Sousa ém outro lugar (42) d;í Pedro d' Alcáçova por Escrivão da Fazenda dos Reis D. Af- fonso V. e D. João II. , e o Autor das Advertências feitas á, Nobiliarchia Portugueza (43) diz que Pedro d' Alcáçova fora Escrivão da Fazenda d'ElRei D. AfTonso V. , e muito seU valido; e que a mesma valia tivera com ElRei D. João II.: accrescenta , qutí casara sua filha D. Beatriz com AntoniO Carneiro, Secretario, e mui privado d'ElRei D. Manoel, ^ de D. João III. , Capitão da Ilha do Príncipe , de quem tevê Franci.sco Carneiro, irmão de Pedro d' Alcáçova Carneiro. Damião de Góes , na Chronica do Principc D. João, diz qne antes da jornada d' Africa do 1471 mandara ElRéi dissi- niuladamente a Arzila a Pedro d'Alcaçova , seu Escrivão dá Fazenda , pessoa de que muito confiava. .8. Álvaro Lopes, Cavalleiro da Ordem de S/ Tiago. Que f^líc fora Secretario d'ElRei prova-o o Autor da Historia Genealofjica com huma Carta de D. Affonso V. pela qual lhe accrescentou o escudo das suas armas, feita em Toro a 4 dé Abril de 1476. ii em 14G5 se acha outra Carta por elle lar vrada , mas sem qualificação alguma (44). 9. Duarte Galvão, filho de Rui Galvão, é irmão do Bis- po D. João Galvão. Diz o Autor da Historia Genealógica , que fora Fidalgo da Casa d'EÍRei, e do seu Conselho, e seu Secretario , como consta de huma ordem passada em 7 de (41) Provas da Hist. Gen. (•i2) Hisl. Gen. Liv. 14. (43) 1'rucas da Hist. Gen. Tom. (44) Proo. da Hist. Gen. 33 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Srtcmhro de 1479. Também em documento de 3 de Setem- bro do 14(ió , e de 2G de Maio dt; 1468 (45) se lè = E eu Duarte Galvão , Secretario do Sc7ihor Rei a fiz escrever. Tal he a serie dos Secretários d'F'ilRei D. Aflonso V. tanto certos como duvidosos , por ventura incorrecta e dimi- nuta » mas por certo mais exacta que a publicada por Da- mião António (46), que a reduz unicamente a Lopo AHonso, e Rui Galvão. Reinado de D. João II. KlRei D. Joíio II. soube governar por si mesmo sem privados nem validos; com tudo tinha Conselheiros, cujo pa- recer ouvia , escolhendo sempre o que tinha por melhor , e tomando muitas vezes por si só as mais importantes resolu- ções. No Livro das Moradias da sua Casa (47) achâo-se os irtomes dos Cavalleiros do Conselho no anno de 1484, quô erSo dezoito , e Garcia de Resende refere as pessoas princi- paes do Conselho , que com ElRei erão no tempo da sua morte. Os Secretários nest>e reinado forão os seguintes : 1. Rui Galvão. Parece que chegou a huma mui provecta idade . porque o Autor da Historia Genealofjica refere-se a huma Carta feita em Évora a 15 de Junho de 1482 , da qual consta que elle era do Conselho d'ElRei , e seu Secretario, 2. AlFonso Garcés. Como Secretario lavrou hum docu- mento em 1482 (48). No Livro das Moradias d'ElRei D. Jo.ão II. acha-se entre os Cavalleiros Fidalgos Aflonso Gar- cês Secretario. Delle faz também menção Garcia de Resen- de na Chronica , dizendo que ElRei fora a sua casa assistir êio casamento de huma sua filha. •3. Álvaro Lopes. Delle como de Secretario d'ElRei D. João II. fazem menção Rui de Pina, e Garcia de Resende nas Chronicas. Em documento de 5 de Janeiro de 1482 le- se: E eu Álvaro Lopes Secretario do dito Senhor Rei a fiz escrever por seu mandado (49). (4-j) Na minha Coll. ile Manuscritos. (46) Politica Moral . Tom. 7. (■17) Pronas da Hist. Gcn. (48) Dínsertaçocs C/tronol. Tom. 1. ■ - . (49) Na minha Collecção de Manuscritoj. fiAS SCIÈNCIAS DE LISBOA. 39 4. Duarte Galvão. O Abbadé fiarbosa(r)O) diz Cjiie í^lRei D. João II. o noinc;'ira seu Secretario, cujo iniiii.slfrio exer- citara , o mesmo aílirma o Autor cia Ilisluria Gencaloffica re- ferindo-se ao Noliiliario ile D. António de l.ima. \'è-se qud neslo reinado j.í conie<;ava a passar de j)ais a fillios o em- prcg^o de Secretario , e que Duarte Galvão o ti\ era no tem- po d'ElRei D. João II. como já o havia tido no d'ElRei D. Affonso V. , e como o tivera seu Pai Rui Galvão desde o rei- nado de D. João I. 5. Pedro d' Alcáçova- O P. Sousa nas Memorias dosGran- (lex diz que elle fòra Secretario dTdllei D. João II. , e na Historia Gcnealorjica chama-llié ÍLscrivão da Fazenda. He pois duvidoso se clle tivera nestes dois últimos reinados o emprego d' Escrivão, ou o de Secretario: porém he certo que não foi menos estimado d'ElRei D. João lí. do que já o fòra de D. Affonso V. ; pois que aquelle Soberano mandoU HO seu Testamento feito em 29 de Setembro dé 1495 , que HO que fosse necessário para o cumprimento deste , queria que escrevesse Pedro d' Alcáçova (51). Bem atrazado em noticias históricas estava Damião An- tónio, quando apenas conta por Secretario d'ElRei D. JoàoIL a Rui Galvão. Reinado de D. Manoel. ElRei D. Manoel, segundo a çrflndéza, e g-enerosidade d'animo dè que era dotado , augmentou prodigiosamente d nilmero dos seus Conselheiros , de maneira que no Livro da Matricula dos Moradores da sua Casa do primeiro quartel de 1.518 (52) achão-se não menos que 400 Cavalleiros do Conselho. D'aqui se conhece que este titulo, que no tempo dos seus Antecessores designava oflicio , passou desde então a servir de condecoráç.ão ; não sendo possível que os Reis pedissem conselho a hum corpo tão numeroso, ou que pre- scindindo da unidade das operações do Governo , chamassem ora huns ora outros para ouvir os seus pareceres. Estes Ca-* (50) Biilioth. Lusit. (51) Provas da Hist. Gen. , (5í) Veja-se Provas da Jlist. Gen, [ 4o BIEMORIAS DA ACADExMIA REAL valloiros áo Conselho nàío só venciao moradias , como sa vé do ci António Carneiro, g-enfo do antecedente, do Conselho d'l51Rei , e CapilSo donatário da Ilha do Príncipe. Vi a Car- ta original dVEllltei D. Manoel, dada em 16 d'Abril de 1509, que se acha entre os inanuscritos da Livraria da Casa de Caslello melhor , nfeta qual faz Sftt Secreinrio a António Cot- neiro , e lhe dá o dito Officio Cotn Iodas as graças , privilégios , e Uberdade , que sâo doiías e outofrjadas vos Secretários , e de que sempre usarão os Secretários dos i2«is seus Antecessores ; e que assim o nntijica a D. António seu sobrinho , e seH Escri'- vdo da puridade, jií antes disto havia serVido dô Notafio publico no Auto do Juramento do Príncipe D. JVIiçuel em 7 de Março de 14D9 (5?) ; e acha-se depois assinando como Secretario a maior parte dos diplomas deste Reinado, do que he escusado amontoar exiíillplos. Fúi também ellô qile escrtíveo o testa- mento e codicillo d'ElKei (58). Advirto que em diploma de 2 de Julho de 1520, è em outro? deite reinado , lê-ae simplesmente o Secretario o Jíz {óo) ; o que ainda he mais frequente nos do reinado se- guinte ; do .de se vê a superioridade de António Carneiro aos outros Secretários d'ElRei. 3. Duarte Galvíloi Na Chrorílca do Conde D. Henrique escreve Duarte Nunes que Duarte Galvão fora Secretario d^ElRei D. Manoel. Hr> milito provável que este conservasse o mesmo offlcio que j;í tivera nos dois últimos reinados , mas n<ão he crivei que neste o exercitasse por muito tempo , oc- eupado como foi por ElRei D. Manoel nas Embaixadas ao Papa Alexandre VI., e a outros Soberanos, como se pode ■Veí na Chronica de Damião de Góes. 4. João d'Affonseca. He designado Secretario no Auto dO Juramento do Príncipe D. Miguel , de que acimia fiz men- ção. 5. Jorge Garcez. Era genro de Duarte Galvão, como re- fere o P. Sousa (tío) : e que elle fosse Secretario d'KlRei consta não só do Auto do Juramento do Príncipe D. Miguel, mas da Carta de nomeação de António Carneiro acima cita- da, de 16 de Abril de 1504, na qual depois da data se lè : Jí assi como o he Jorrje Garcez nosso Secretario. '■ ' ' " ■ ■ — . ' — j — I ■ ' I II» (57) Proeas dil Iliat. Gen. Tom. á. (58) Pnvas da Hist. Gen. (5D) Proras da Hist. Gen. Tom. 4< (CO) Hi$t. Gen. Liv, 14. TQM.Xia. 1>.(. F 4í^ IMRMORIAS 0A ACiVDEMlA REAL c. Affonso Garcez. Foi. SecreUiio cCRlRei D. 'Manoel, como já o fora -dVElRei J), ,Joào IJ. , e aiuda exorcitava esteí ciiipreajo 0»3 aiino tie 1439,. .como aíHrma o P., Sousa na i/ís- tQriaGçncalofjica ((j]). : ,: • . t ,. •: ^ Damião António diz que fonlo Secretários il4'EIRei Dí" IMancMíl , Afl'onso Garcez ; Jorge Garcez, António Carneira i- e Pedro d'Alcaçova Carneiro, Conde das Idaidias, seiri refle- ctir que este Pedro d'Alcac;bv,a Carneiro, que foi Secretaria uos reinados seguintes , era filiio de Anipuio Carneiro , e ne- to |)or sua mài de Pedro d'Alca(.ova , que foi Secretario de- í:iRei.-D.,Manop],. ' fraurtM .' Hl y oLit/iiíiisr- í-íot;"'!.» r»--riior> 'I Reinado dp D ^ João III. ■ : ,, c;„.i q -jCi^m .,' •. .■ '>■"> -roh'. !T!B :: ' EIRei D. Manoel no seu Testamento feito no Mosteiro de Pêra lons:a a 7 de Abrili de 1517, tinha determinado que ao Príncipe seu fdho não fosse entregue o regimento do Rei- no, salvo depois que elle fosse de idade de vinte annos cum- pridos, e em quanto não chegasse a essa idade, nomeou De- putados ao Governo D. Diogo de Sousa Arcebispo de Braga, D. Diogo Qrtiz Bispo de Viseu, o Conde de Tarouca Mor- domo mór , o Conde de Villa nova , e os dois Veadores o Conde de Vimioso, e o Barão d'Alvito. Porém somo ao tem- po da, morte de seu pai faltavão mui poucos mezes para EI- Rei D. João cumprir os vinte annos, começou logo a gover- nar por si o ReiuQ. i Os seus Conselheiros forão os mesmos que seu Pai lhe havia indicado no Codicillo de 1521 , acima mencionado; e nunca mudou de Ministros de despacho e expedi^jite senio quando os lugares vagarão por morte delles (02). Os nossos Historiadores referem que D. Luiz da Silveira e D. António d'Ataide erão aquelles por quem EIRei repartia a sua pri- vança ; mas que pouco e pouco a fora restringindo ao segun- do, que quasi sepodia chamar o primeiro Mini.stro do Reino. Não era pequena a influencia que nos fins deste reinada tinha a Rainha D. Catharina nos negócios do despacho ; pois e despiiclios iinportantisíiinos á republica. " E poiíòo aci- ma: " Podem os naluraes do vosso Império faZer lembran<;a, " e memoria do excelleiite governo c Real cuidado que V. rt A. tem cm seus Reinos e Senhorios , ajudando a ElRei »» nosso Senhor em todos os despachos, assinando òs perdões, » e outras cousas importantes á administração da Justiça; e " com isso liça a S. Alteza mais tempo para acudir ás guer- )» ras , qub continuamente traz em Africa e Asiá. » Nos nos- sos dias temos visto tros exemplos de Raiiihas Soberanas chamando a seu Concelho seus Aueustos Esj)dsos. A lista dos Conselheiros d'ElKei , que pela maior parlo se podem chamar puramente honorários , acha-se nas Provai da Historia G.vicalof/ica , e cliea;;írào ao numero de 70. O expediente dos ncijocios corria, como no reinado pas- fiado, pelos físcrivães da puridade, pelos Secretários, ou pe- los Escrivães da Camará , ou da Fazenda. Apparece lambeni hum documento feito ptílo Secretario , e referendado pelo Escrivão da puridade (ti;}) ; e hum oflicio de Henrique dá 31ota, que era Escrivão da Camará d'ElRei, em 23 de Maio de 15.30, e dirÍ£;;irlo ao Corregedor de Traz os JMontes , fa- zendo por ordem dVElReí algumas declarações ao Alvar;í dô 12 do mesmo mez-, que mandava proceder ao Cadastro (64). Duas Cousas concorrerão para augmentar a influencia dos Secretários neste reinado : a primeira foi serem todos os Secretários d'huma mesma familia , isto he, hum pai, e doiS filhos , a segunda foi estar vago o Oflicio d' Escrivão da puri- dade ilesde o aimo de 1541 em que fugira do Reino o Bispo de Viseu , até o anno de 1-557 , que foi o da nlorle d'ElRei , servindo em todo este tempo o Secretario o oflicio de Escri-" vào da j)uridade. Os íáecrotarios deste Reinado sao os seguintes : 1. António Carneiro. Já tinha servido o oflicio de Secre- lario no reinado antecedente att- á morte d'ElRei , e depois tleila continuou a servir a seu filho D. João III. O V. Sousa diz (05) que António Carneiro fora Secreta- (63) Proeris rl,i flist. Gen. Tom. S. (di) J. r. Uilioiro, A(Wtamenlos ã Si/nnpsi-. (tíõ) Menor, dos Grandes. Hist. Gen. Liv. li, ' P 2 44 IMEMORIAS DA ACADEI\IIA REAL irio (^o ticsiiaclio universal dos Reis D. Atanool c D. Jofío III. Catharina o mandara ao Conselho (cousa a que ella deu » ))rincipio neste Reino no j)rincipio do seu governo) com " liuns papeis importantes que nelle se havião de ver; sen- " do então os do Consellio o Conde da Castanheira, o Bis- " po D. Julião d' Alva, o Conde da Idaidia , .Secretario cn- » tão, Martim Aflbnso de Sousa, D. Gileaiies da Costa, e " Jorge da Silva. » Donde se vé que o Secretario da Kainha que já assistia ao Conselho era Pedro d'Alcaço\a, (jue de- pois foi Conde das Idanhas , e que Miguel de Moura, que depois figurou tanto , não passava neste tempo d'huni OIR- cial de confiança. Teve lugar a ceremonia publica da eleição do Cardeal Regente no dia 2.3 de Dezembro ; e deste acto se fez hum instrumento , sendo presente a tudo Pedro d' Alcáçova Car- neiro , do Conselho d'EiRei e seu Secretario , que lhe en- tregou , e tornou a receber delle o sello grande das Armas Reaes (Ol). Posto que íòra da prlvança do Cardeal Infante , conti- nuou Pedro d' Alcáçova Carneiro a servir o lugar de Secre- tario d'ElRei pelo menos ate o anno de 1566, porque delle le- nho entre os meus manuscritos humal^orlaria original, escrita em Lisboa a 4 d'Ou(uhro deste anno, pela qual KIKei faz hiercé a Pedro Juzarte Coutinho casando com D. Maria d'A- larcão , filha de Jorge de Figueiredo, d'huma tença de ISOj^OOO réis. Poròm depois retirou-se , ou o fizerão retirar desgostoso da Corte , de maneira que delia estava ausente quando foi entregue o governo a ElRei. Com efteito no dia 20 de Janeiro de ia68, que foi ô destinado para ElRei tomar posse do governo , depois do Cardeal dirigir a ElRei huma breve falia, entregou-lhe o sel- (79) IA. e Premas da Hist. Gcn. (80) Impresso no N. 1. do Dcsptrtador Nacional publicado em Coimbra em 1821. (81) Barbosa, Mcm. Tom. 2. " DAS SGIÉNCIAS DE L KfiOAr - H lo,, (jiie lhe havia dado o Camareiro mór Martini Affonso da Miranda , e depois El liei o deu a D. Aleixo de Menezes seU \}o , por não estar presente o Secretario Pedro d'Alcaçova Carneiro . c D. Alejixo o entregou d'ahi a hum pouco a Pan- lalião .riebello , EácriviXo do Secretario ausente (8'J). . Tanto que o Cardeal Infante toinou posse do governo áo. Reino (diz o Autor da Chronica attribuida a D. Manoel de Menezes) instituio logo hum Conselho , que dahi em diante se chamou d' Estado; e aprovei(ando-se dos talentos e- independência de Lourenço Pires de Távora , que entào regressara a Portugal , o pscolheo logo para Membro do dito Conselho (83). Passemos jií ao governo d'ElRei D. Sebastião. Hum Rei que peia sua pouca idade (completava então os quatorze an- nos) não podia ter as luzes e experiência necessárias para governar o Reino , era natural que seg'uisse os conselhos de ^ua Avô e Tio , a quem successivamente havia sido entre- gue a Regência. Mas o génio isento e arrebatado de D. Se- ba^ítião, c a falta de harmonia entre a Rainha D. Catharina, Q o Ga.rdeal D. Henrique, causarão a infelicidade de Portu- gal. .- ElRel estava em Almeirim no principio do ánno de 15G9, e a G d' Abril voltou repentinamente para Lisboa; o tempo Bttostrou que a verdadeira causa desta súbita partida, fora separar-se da companhia com- elles mais dois dó Concellio , o poderão começar. " Que a Resolução que se tomar sobre as matérias que se » tratarem, as assentar;í o dito Secretario a que pertencer, »'iérn huma folha de papel, c que feitos c.assinados os ditos " assentos se trarão a Mim para Eu os \'èr ; e para éfTeito, " d'aquellas cousas que Eu aprovar, terá, o dito Secretario' "O cuidado de se fazerem as Provisões ilecessarias , sendo 'S de cousas que por elle liajão de correr, e para as que " houverem de ser feitas por outrem , se passarão Portarias. >^' Que cada hum dos Secretários ter;í hum Livro, em que "' se- lançaráõ as determinações , que se tomarem nos nego- »V^cios da repartição, em que cada hum delles me ser- >>' vem. (85). n D'aòui se conclue que foi ElRei D. Sebastião o primei-' fo , que fez fixo e permanente, dando-lhe o nome e regimen- to, ao Concelho de que j;l os seus Antecessores se havião ser- vido , para o aconselharem nos negócios que erão submetti-' dos ao despacho , deixando por isso sem exercício os muitos- Conselheiros que Elles havião nomeado, e de quem quasi se lião servião para o mesmo despacho. Nào previu porém El- Rei que pelo andar do tempo se escolheriSo entre os mes* mos Conselheiros dVEstado alguns para assistirem ao despa- cho ordinário dos negócios , nem que ainda mais adiante tí- òarião todos elles excluídos desta assistência , que veio uni- camente a peílencer aos Secretários d'Estado. Conclue-se também que no tempo d'ElRei D. Sebastião os Secretários dVElRei não tinhão voto no Concelho d' Esta- do, e somente assistião a elle, assentarão as Resoluções que ahi se tomavão, e as levavão a ElRei, para Elle tomar as suas Determinações , as quaes lançavão em Livro para isto de.stinado. Erão por tanto os Secretários Ministros do expe- diente , mas conhece-se a influencia , que já tinhão no despa- cho. Conclue-se finalmente que neste reinado começão a dis« tinguir-se Qs Secretários de diversas repartições, ainda quç dos documentos cpie tenho examinado não possa bem perce- ber quaes estas fossem , nem quaes fossem os Secretários >w. (85) Provas da Hist. Gen. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 46 que a cada huma delias perLenciílo. Entretanto entendo, que a do Reino, e Fazenda foi talvez a primeira divisSo, que se fez das Secretarias. O oflicio das petiç(5es parecia também próprio d'hum dos Secretários , mas era ás vezes exercitado por hum Escri- vão da Fazenda , escoliiido para as levar a ElRei , e despa- cha-las com elle. Hum paragrafo do Discurso de Miguel de Moura pode dar luz a esla matéria : " Governando a Rai- » nha, me quiz ella occupar no officio das petições por dar » então o ar a André Soares , que as tinha , lembraiido-lhe )» que fora aquelle oíTicio de meu Pai , a que tive por oppo- » sitor Janalvares dandradc, porque também seu pai tivera o " mesmo oflicio, mas não se lhe deu nunca , nenl eu o accei- » tei , porque sempre este género de occupação repugnon á » minha natureza; tanto que nem depois, sem haver àeiíra- u zer petições , me pude persuadir a votar nellas. . íl depois » governando o Cardeal , vendo que eu me nãõ 'afôòintnoda-' » va a estas cousas , encarregou deste oíRcio a Manoel Qua- u resma , que nem depois de ser Veador da Fazenda o lar- j» gou da»do-lhe ElRei D. Sebastião o segundo cargo para « deixar o primeiro. E ElRei D. Henrique, depois de o ser, p) dando es(e ollicio a Sebastião Dias, por Manoel Quaresma 'í ficar em Africa, quizcra despachar comigo somente, e me '* foi necessário fiizer-lhe grandes instancias para que me >} desobrigasse disso. )5 ' Passemos á serie dos Secretários d'ElRei D. Sebaslião; i 1. Pedro d' Alcáçova Carneiro. J;í fica dito que estava au- sente da Corte quando ElRei tomou conta do governo; e nesle tempo se tratava com elle que renuUciasse o oíficio , como se concluiu dahi a pouco, e se lhe deu, a seu prazimen- to, satisfação (86). Quando acabou o valimento de Martim Gonsalves da Camará com ElRei no anno de 1575 , ficando yago o lugar d'Escrivão da puridade, houve quem persuadis- ^ a ElRei que chamasse para aquelle emprego a Pedro de Alcáçova Carneiro. Annuio ElRei , mas nem por isso exer- citou elle este oíKcio , nem o de Secretario , porque foi logo Embaixador a Castella, onde ainda estava no fim de Novem- bro de 1575 ; e em Dezembro do mesmo anno entrou por par- te d' ElRei D. Sebastião nas conferencias que sé fizerão em Guadalupe com o Duque d'Alva , nomeado por parte do Rei (86) Vide Discurso de Miguel de Moura. TOM. XIII. P. I. Q 60 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL de Cas(ella. He provável que Poriío d' Alcáçova se rocólh*?!» se com ElRei a Lisboa no jirincipiõ do anno seguinte , e ôn» tão exercitasse o oflicio de Secretario , tendo também entfA- da no ConselJio d' Estado. Sâo notáveis os pareceres que deu a ElRei sobre 6 jornada d' Africa, e sobre a nomeaçAiô do Kuccessor da Coroa. Finalmente serviu Pedro d'AIc;w;ova A ElRei até ;í infeliz jornada d' Africa, como Secretario é Con- selheiro , de quem elle fazia a maior cstinlaçSo (87) 5 poíéfti com a morte d'ElRei acabou o seu vali) lento : ú como era de esperar, não serviu com o Cardeal D. Henrique. 2. Miguel de Moura. Acha-se assinado nMuun diplom* feito por Lopo Soares em 12 de Julho de 15G9 (08), e ji sérvia de Secretario desde o anno antecedente , fazondo-lhft ELRei esta merct^ quando Pedro d' Alcáçova Carneiro renun- ciott;0 oFlcio (89). No anno de 1575 em que lílKci visitoa algunb Iwgares do Alemtejo, levou comsigo a Miguel de Mou- ra seu'<íte*;relario (9o). Em documentos de 1574 apparecô assinado coift a qualificação de Fidalgo da Casa dVElRei, e seu Secretario (91). No Livro das Moradias d'ElRei D. Se- bastião do anno de 1576 contiruou no mesmo emprego (92). No iiiesmo anno o informa EíRei muito circunstanGiâdainen* te das disposições qu« fizera contra os Mouros, que infesta- /' ao a costa do Algarve (93) ; e eftectuando a 11 de Dezem- bro a jornada de Guadalupe , levou em sUa companhia este seu Secretario (94). Finalmente delle se achào muitas me- morias nos annos seguintes até á perda d' ElRei D. Sebas- tião (96). Com razão o Padre Baião lhe chama Secretario do Reino (96). 3. Duarte Dias de Menezes. N'hum Alvará d'ElRoi lê« se : Duarte Dias de Menezes meu Secretario, o fez cm Evo- (87) Barbosa Memor. Tom. 4.. Jomada e muerte d'ElRei D. Sebastian, saoaJa de las obras dei Franchi, por Fr. António de San líoman. Dell iinione dei Regn* di Portogallo alia Corona de Castiglia. Istoria de Franchi Conostaggio. (88^ Barbosa, Mem. Tom. .1, (99'j Vide Discurso de Migue! de Moura. (90) Barbosa, Mem. Tom. S. .Sousa, Hist. Geri. Liv. G. (91) Barbosa, Mem. Tom. i. Provas da Hist. Oea, (92) Provas da Hist. Gen. Tom. 6. (í).") Barbosa, Mem. Tora. i. (9-1) Ibid. (9») Barbosa , Mem. Tom. 4. (36) Portugal cuidadoso. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 51 ro a 21 de Outubro de 1573 (í*?). Entre os Cavalleiros Por- tuguezes que morrôrão em Africa conla Faria e Sousa a Duarte Dias de Menezes, Secretario (98). O mesmo com a mesma qualificaçiio vem no Livro das Moradias d'EiRei D- Sebastião no anno de 1576 (99). Em Carta de 2 de Junho de 157tj vem assinado Duarte Dias de Menezes do meu Conse- llio , e meu Secretario, e Escriv.ío das Confirmações (100). 4. Manoel Quaresma. Acompanhou ElRei como seu Se- cretario na visita que fez ao Aiemtojo no anno de 1573(101) ; e também na jornada de Guadalupe em 157(5 (102); e na de Africa em 1578, onde morreu (103). Baifio diz que elle fora Secretario das mercês. 5. Jorge da Costa. Entre os Cavalleiros Portuguezes que morrerão em Africa conta Faria e Sousa a Jorge da Costa, Secretario da Fazenda (104). tí. Lopo Soares. Miguel de Moura, no Eiscurso acima ci- tado, fallando do tempo cm que chegou a Lisboa a noticia da perda d'Ellvei D. Sebastião em Africa, diz que t< servia j> muito bem o Secretario Lopo Soares, que não foi com » El liei por ficar cá fazendo este oíficio ; e por elle me ti- » nha eu despedido de Sua Alteza, quando partiu. » Mais abaixo continua fallando nas boas qualidades de Lopo Soa- res j e accrescenta, « em vida de dois Secretários como forâo j' o Conde da Idanha , e Eu , nos succedeu no cargo ; e an- » tcs de ter este ilome , o chamavào os Reis D. Sebastião e ;) D.Henrique aos Conselhos. >5 7. Francisco Carneiro. Vem com a qualificação de Se- cretario no Livro dos Oíficios da Casa Real no anno de 1578 (105); e não acho delle outra noticia neste reinado nos documentos que tenho examinado. Estes são os Secretários que tenho encontrado no reina- do d'ElRei D. Sebastião ; todos elles forão desconhecidos por Damião António , á excepção do primeiro. (97) Hist. Gcn. Liv. 3. (98) Europa Portiuj. (99) Provas da Hist. Gen. Tom. 6. (100) Ribeiro, Mem. pura n Hist. das Confirm. geraei, (101) Hist. Gen. Livr. 6. Barboia Mem. Tom. 3. , (lOO lUrbosa Mem. Tom. -i. (103) Baião, Portugal cuidadoso. (10 1-) Europa Portug. . (105) Provas da Hist. Gen. Tom. 6. G a 52 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Resta failar nos Ministros das duas regências que liouvc? no fim deslo reinado, assim como já fallei nas duas que hou- ve no principio delle. Na primeira jornada a Africa , que foi em Agosto de 1574, deixou ElRei o governo do Reino entregue a seu Tio o Cardeal D. Henrique, que prestou juramento no dia 3 de Setembro , de que se lavrou Auto pelo Secretario Miguel dè Moura. Durou esta regência ate o dia 2 de Novembro , em que ElRei entrou cm Lisboa ; c serviu sempre o mesmo Secretario ao lado do Regente (106). Na segunda e infelice jornada d' Africa que foi em Ju- nho de 1578 não quiz o Cardeal Infante acceitar a regência, que talvez de má vontade se lhe oifcrecia , e se retirou des- gostoso da Corte : jielo que ElRei nomeou Governadores do Reino a D. Jorge d' Almeida Arcebispo de Lisboa , a Pedro d' Alcáçova Carneiro, que já era Vedor da Fazenda, a D. João Mascarenhas, e a Francisco de Sá de Menezes, todos do Con- selho d' Estado , com assistência de Miguel de Moura Secre- tario do Reino : o que foi partici|)ado em Cartas circulares aos Grandes , e Cidades , e Villas do Reino em data de 9 e 12 de Junho (107). Miguel de Moura no Discurso acima citado diz que elle como Secretario era igual com os Governadores no assento e no voto, e nas chaves da Caixeta do sinal d'ElRei, que lhe tinha entregue a elle só alguns dias antes da sua parti- da ; e que esf ava sempre na sua mão ; fechando-se depois que ElRei sahiu com cinco chaves que se entregarão aos Membros do Governo. Sahio ElRei do porto de Lisboa no dia 24 de Junlio , e perdcu-se em Africa com o seu exercito no dia 4 de Agosto* Assim que em Lisboa constou da perda da batalha, manda- rão os Governadores do Reino participa-la ao Cardeal Infan^ te , que estava em Alcobaça ; o qual recoUiendo-se logo a Lisboa, tomou posse do Governo em 22 d' Agosto , na qua- lidade de Tutor d'ElRei , por não constar ainda a sua mor- te ; porém chegando logo depois esta infausta noticia , foi coroado Rei no dia 28 do mesmo mez. (106) Barbosa, Mem. Tom. S. Faria, Europa Portug. (107) Id. Tom. i. Uibeiro, JJditàmento á Hi/nopit. Faria. Europa Portug, t)AS èCIENClAS DE LISBOA. 63 Reinado do Cardeal D. Henrique. Serviu-se este Rei d'alguns cios Ministros e dos Conse- lheiros d'Estado que achou , e nomeou de novo para este Conselho a D. Luiz de Lencastre , Commendador mór d'A- vis , a quem fez Ministro do despacho (Í08) ; mas timido e irresoluto , como o erão os seus Ministros , nào se atreveu a designar successor , e ai>enas nomeou os Governadores , que depois da sua morte devião decidir esta grande questão , os quaes prestárílo em Cortes juramento a ElRei de assim o cumprirem. Estes Governadores forão D. Jorge d'Almeida Arcebispo de Lisboa, D. João Mascarenhas, Francisco de Sá, Diogo Lopes de Sousa, eD;JoíloTelio de Menezes (109). Os Secretários deste breve reinado forão os seguintes : 1. Pedro d' Alcáçova Carneiro. Tendo sido Secretario d© ElRei D. Sebastião, e depois dos Governadores do Reino, foi mandado prendei? em sua Casa por ordem do Cardeal era 2 de Outubro de 1370, e nunca mais serviu os seus empre- gos na vida deste Rei (lio). 2. Miguel de Moura. Foi o primeiro Secretario désle rei- nado, e creio que o único em exercício. Como tal fez o Au- to do Juramento d'EUlei em 28 de Ago.sto de 1578 (111), e o dos Governadores do Reino nas Corles de 1579 (112) ; servindo assim d'Escrivão da puridade nos actos públicos da Corte. 3. Nuno Alvares Pereira, Secretario da Fazenda. No an- no de 1578 achava-se já em Badajoz com ElRei de Castella, sendo o primeiro Portuguez que nesta occasião passou a ser- vi-lo (113). 4. Baltazar da Fonseca. Faria e Sousa (114) diz que el- le fora Ouvidor e Secretario do Infante D. Henrique , sendo (108) Hlst Cen- Liv. 11. (103) Faria, Europa Portiuf. (110) Pranis di Dalucção Chfonolog. Vide Franchi ConeUggiú, Dell vinio< ne de\ Regro
  • '(Il'5) Vide a liM. Lusit. (116) Faria e Sousa , Europa Portiig. "* (IIT) Sj/nnpse Chronol. 1'rOBns dit tlist. Gencal. (lis) Virle Historia dos Varões illubtres do appellido Távora. (119) Ribeiro. Mdhamcntos á Si/nopse. (lr;o) Na minha CoU. de -Leis. t)AS SCIENCIAS DE LISBOA. 63 Era D. António, Prior do Crato, filho do Infante D. t.uis: . que fofa Irmão do Cardeal Rei. Levado da ambição de reinar, e tendo a seu favor o povo , e alc^uns da Nobreza, e Clero j conseíjaiu ser acclamado Rbi de PorI uçal em San* tarem a 24 de Junho deste anno. Voltou dahi a Lisboa , õ apoderando^sc da Capital , fez que a Villa de Setúbal se de- clarasse por elle , obrigando assim os Governadores a fugi-* rem dalli para o Alçarve. Entretanto se preparava D. António pára resistir ás ar- hias de Filippe II. : mas o seu exercito composto de tropa bisonha , e mal disciplinada , foi desbaratado pelo do Duque de Alva no dia 25 de Agosto; e pouco depois se viu elle obri- íÇado a andar escondido por este Reino, até que delle sahid, correndo depois diversa fortuna; fãlleceu em Paris a 26 dei Aí2;oslo de 1595 , e se lhe poz o titulo de Rei no seu epitá- fio (121). Posto que D. António nomeasse Conselheiros d'Estado como forSo Diogo Botelho , e Cípriâq de Figueiredo de Vas- concellos (122), e OlKciatís da sua Casa, e do Reino, não sei que tivesse algum com o titulo de Escrivão da puridade^ nem talvez de Secretario : outros Offlciaes exèrcitariSo estes empregos. He porém certo que a elle forão sempre fistreitis- simamente unidos o Conde de Vimioso D. Francisco de Por-» tugai , seu Condestavel , e o Cavalheiro Diogo Botelho, seu Vedor da Fazenda (123), quo havia sido Porteiro mór do In- fante 8CU Pai (124) , e Faria C Sousa estíreve (125) que en- tre vários papeis que na Praça de Madrid se vendião , achíí- ra elle hum brazão d'armas bem illuminado , passado em Pa- ris a Thomé Cacheiro , escrito pelo Secretario Dioffo Bote-'' lho , rubricado pelo Conde de Vimioso , e assinado por D. António com o titulo de Rei. Em quanto a Filippe IL de <5asteHa , este depois dai morte do Cardei Rei, não cuidou n'outra cousa que níío fos- se em fazer-se Senhor do Reino de Portugal ; e fixando-se em Badajoz para mais de perto o poder conseguir , não só preveniu a Sentença dos Governadores mandando a Portugal (121) Faria e Sousa, Europa Portag. , e oufrcw. (I3í) Proeas da Ilist. Oen. Tom. 2. pag, 537. (13S) Proeas da Hist. Gcn. O»*) Eurofia Portug. (liiS) Prorat da Hist. Gen. T»m. í. p*g, 511, 5S MEMORIAS DA ACADEMIA REAL por sPíi Embaixador a D. Cliristovão dv Moura (12G); mas fez ao mesmo tempo entrar (liamlo-se mais jias suas armas que no seu direito) o Duque d'Alva em Portue:al á írente dê vinte mil homens : e tendo-se ajioderado do Alemlejo e Al- garve , e desbaratado o exercito do Priur do Crato , veio a ter sujeito todo o Reino. Foi entàio que entrou em Elvas, e que começou a despachar os negócios do Reino com dois Ministros Portuguezes , a saber, D. Chrlstovao de Moura, a quem fez seu Camarista, e Nuuo Alvares Pereira , aquém nomewi sou Secretario (127). Miguel de Moura (128) diz que ElRei estando ainda em Badajoz , o mandara chamar por sua Carta em Outubro ou Novembro de 1580, e que levasse comsigo o Soerei ario l,o- po Soares , de que elle tivera muito conhecimento do tempo dVElRei D. Sebastião, e do Cardeal Rei; o qual Miguel de Moura achando já em Elvas Filippe 11. em Dezembro do mesmo anno , ficara com EJRei , servindo-o ]>or tempo limi- tado de até quatro mezes, em que esperava que se concluís- sem as Cortes , que logo convocou. Havia feito Filippe II. esta convocação em Elvas por Cartas de 5 de Janeiro de 1581, para se celebrarem em Lis- boa, o que impedio aposte ; e demorou-se ainda naquella Ci- dade onde em 4 de Fevereiro do mesmo anno assinou o Alva- rá que prohibiu a moeda que mandara cunhar o Prior do Crato , o qual Alvará foi subscrito por Nuno Alvares Perei- ra (129). As Cortes ajuntárâo-se em Thomar a IG de Abril, e ahi se fez nesse dia o Auto do Juramento costumado, )ie- lo qual ElRei se obrigou a manter e guardar os foros, lib(>r- dades , e privilégios do Reino ; e recebeu o juramento de obediência e fidelidade dos Estados (130) : d'aqui deduzo cu a epocha do seu reinado em Portugal. Serviu d'Escriv;io da puridade neste Acto o Secretario Miguel de Moura (131). (126) Tenho entre os meus Manuscritos a Credencial original , que tem a data de 27 fie .lunho de 1580. (Ii7) Faria, Europa Portug. (128) Discurso litado. (129) Vide Additamcntos á Sinopse, (ISO) Sousa, Vida do Arcebispo. Vide os Autos impressos no anno de 1584. (131) Memor. sobre os Escrivães da puridade. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 57 Reinado de FUippe I. de Portugal, e II. de Castella. Neste Reinado , e nos dois seguintes foi inteiramente alterada a fórma do Governo deste Reino ; e por isso serei hum pouco extenso em referir o modo por que este foi or- ganizado , e as diversas pessoas , que nelle figurarão. E primeiramente j.í nas Cortes d' Almeirim de 1580, a 20 de Março , havia o Duque d'Ossuna D. Pedro Girão ofTe- rccido por parte de Filippe II. huma Capitulação aos Três Estados do Reino , que continha varias mercês , graças , e privilégios concedidos a Portugal. Não tendo porém isto en- tão ellçito , foi esta Capitulação approvada nas Cortes de Thomar de 1581 , o que ElRoi lhes mandou participar por Miguel de Moura, do seu Conselho d' Estado. Ultiinamente por Carta de Lei dada em Lisboa a 15 de Novembro de 1582, escrita por Lopo Soares , e referendada por Miguel de Mou- Xa, foi a mesma Capitulação solemnemente confirmada, com o traslado dos Capitulus tirados do original assinado pelo Du- que d'Ossuna. N'hum destes capítulos havia promettido ElRei , que estando Elle ou seus succcssores fora deste reino , trarião sempre comsigo hum Conselho , que se chamaria de Por- tugal , o qual se comporia d'huma pessoa Ecclesiastica , d'hum Vedor da Fazenda, hum Secretario, hum Chanceller Mór, e dois Desembargadores do Paço , que todos serião Portuguezes , e com elles se despacharião todos os negócios do Reino; e que quando ElRei viesse a Portugal , traria comsigo o dito Conselho. Em quanto ao governo local do Reino, prometteu ElRei que o Vice-Rei ou Governador de Portugal seria Portuguez, salvo se para esse cargo nomeasse hum Príncipe filho seu, irmão, tio, ou sobrinho (132). Os nossos Escritores dizem que os 25 capitules que con- têm aquella Patente são os mesmos que se contêm na Lei d'ElRei D. Manoel do 18 de Janeiro de 1499 , feita por oc- casião da sua succcssão presumida aos reinos de Castel- la (133); o que o nosso insigne D. Francisco Manoel de Mello (1.34) applica particularmente ao Capitulo que trata (1.S2) Faria e Sousa, Eur. Portug. (133) Ribeiro, M-m. de Licteratura, pag. 103, (134) ^ula Politica. TOM. XHI. P. I. Jl U MEMORIAS DA ACADEMIA REAL da instituição do Conselho tie Portugal. Mas o certo lic que nem este Conselho . que a Patente orc;anizou , era o niesmo que a Lei del-Rei D. Manoel havia organizado, nem o mes- mo que Filippe I. deixou estabelecido em Portugal , depois que se retirou para Madrid ; porque este constava (íegundo escreve D- Francisco Manoel) d hum Conselheiro de capa j e espada, " d'hum Veador da Fazenda, d'hum Ministro Clb- » rii^o da Mesa da Consciência , d' hum Deseriíbargadoç- do j) Paço, e de dois Secretários, hum d' Estado , c outro das >> Mercês , com alguns Ofliciacs menores , e este Conselho }> nSo tinha Presidente. Está mesma foi^ma se guardou intei- j) ramentc no seu tempo : mas os seus dois successores alte- » nírSo varias vezes este Conselho , introduzindo-lhe Presi'- » dente , pondo , tirando , e augmentando Ministros , confor- » me lhes parecia , e talvez desfazendo o Conselho , que por » alguns annos esteve suspenso. Chamava-se sempre Conse- " lho d'Estado de Portugal , sem embargo do Conselho de » Estado, que o Reino tinha, que foi obra d'ElKei D. Se- >> bastião. >» Até aqui aquelle Escritor. Depois de ter tratado em geral dos Vice-Reis etrt Por- tugal, e do Conselho d'Estádo junto à ElRei , ségne-se tra- tar dós Secretários do Governo que residia eiii Lisboa: é hãò fallarei dos Escrivães da puridade , porque já em outro lugar (13.5) disse o que bastava A cerca' dé Miguel de Mou^ ra , único que exercitou este oHicio nos reinados dos primei;^ i-os dois Filippes , mais jiot contemplação aos seus serviços, do que por necessidade , pois já de tempo antigo os Secretá- rios estavão acostumados a servir este oflicio. ' J-' Escreve Misruel de Moura (136) que quando ste lhe pas- sara a sua Carta d'Escrivão da puridade, isto he , cm 15 dè Dezembro de lyn2, havia três Secretários de Estado desta Coroa, doiá no Reino, e hum em Madrid. Assim apparecé logo desde o principio do Governo dos Filippes a denomina- rão de Secretários d'Estado, ou do Estado, como diziãò òk nossos antigos Escritores (137). Que a inlroduccão deste no* Vo titulo fosse moderna, e trazida de Castelta , íião se jyodé duvidar, porque os Escritores domésticos anteriores a este tempo uão dão aos qué éxpediãò as ordens. dòs.Réte outra (IS.í) Mem. sobre os Escrivães íla puricude^ ■ (ISG) Discurso já citado.' (1S7) -Sousa, Vida do Arcebispo. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. sp donoliiinarrio que nSo fosse a trEscrivães , ou a de Secretá- rios , e d'«MiLio para cá he que se encontra a de Secretários d'Hls(ado: at<; dos Francezos alguns reconhecem qiic este ti^ tulo fòra trazido de Hespanha para o seu paiz . escrevendo que no reinado de Henrique li. de França tratando-se da paz com IClKoi de Hespanha em 1559, os Francezes repara'^ ríio em que os Ministros que negociaVilo por Filip|)e H. se qualilicárão Secretários d'Estado ; o que por emulaçSo osSe^ cretarios do Kei de Franca tomarão também a mesma deno- minarão (l.'i8). Outroá Escritores porém defendem a maior antiguidade deste titulo em França (139). Com tudo ao principio elle não era constantemente usa- do, nem representava huma classe distincta da dos simples Secretários ; |)orque se observa que hum mesmo sogeito he designado humas vezes pelo titulo de Secretario , e outras pelo de Secretario d' Estado; nem os nossos Escritores são uniformes nesta denominação ; pois que Faria e Sousa diz que Nuno Alvares Pereira fora nomeado Secretario d' Estado quando Elllei cliegou a Elvas; e que depois das Cortes de Thomar fora nomeado Secretario ; e Fí. Lui2 de Sousa cha- ma duas vezes Secretario dVEstado a Lopo Soares, o qual nunca vejo assinado senão com o titulo de Secretario. He verdade que os Secretários neste reinado tinhão Car- la que passava jiela Chancellaria , pela qual pagavão dois marcos de prata , e vem referidos no Titulo dos Oíliciaes grandes do Keino no regimento da Chancellaria Mór de IG de Janeiro de 1589 : mas não creio que tivessem nem privi- légios úteis , nem distincções honoriticas : aquelles só os ad- quirirão no reinado seguinte , e estas ainda muito posterior- mente , porque Faria e Sousa diz muito expressamente que Nuno Alvares Pereira , ainda que tivesse igual poder aos dois Ministros, que ElRei nomeou qiumdo das Cortes de Tho- mar se recolheu a Lisboa, que crão D. António Pinheiro, Bis[)o (l(> Leiria, e D. Christovão de Moura, tinha como Se- cretario titulo desigual , e a Pragmática dos Tratamentos da- da por Filippe I. ao Reino de Portugal a 16 de Setembro de 1ÓD7 não d;í tratamento algum distincto aos Secretários, as- sim como lh'o não dá a que havia publicado para os reinos de Castella em 8 de Outubro de lóOG. (13íS) Viile Dlctionruiire de Trccour. (13!t) Viile Dtnn. e II. fallando das pertenções do Prior do Crato , no inter-i réííno que se se^^uiu ;{ morte do Cardeal Rei . escreve que se achara cm poiíer de Bartholoineu Froys , Secretario dT^s-^ lado ) huma Carta origina! d'KIRei D.Jofl[o para ElRei Hen- rique d'In!ílaterra, que levava Lourenço Pires de Távora, pa- ta tratar do casamento do Infai;te D. Luiz ; este achado foi no anno de 1580; e no de 1582 > vejo subscrita pelo mesmo Frovs , sem a qualificaç3o de Secretario , o que era^^^muito Usual por aquelles tempos, huma Carta de mercê á Camará do Porto (155). Damião António não Conheceu nenhum dos Secretários áesie reinado. Conselho d^Éstaâo em Lisboa, N3d tando cdméçacíct a formai a relação exacta dos Con-» eèUleiros d' listado , desde a creação do Conselho feita pof ElRei D. Sebastião , nílo tomarei agora este trabalho , e só èpentarei aquelles que casualmente encontrar. Taes são nes- te reinado os Governadores do Reino nomeados por Filip- pèi lí. em 159.3: a estes se podem ajuntar o Bispo de Viseu Ciapellào Mér (15G) , e D. Christovão de Moura^ Reinado de Filippe II. de Portur/al , e III. de Castella. Filippe II. de Portugal succedeu a seu Pai em 13 de Sé» tí-rnbro de 1598, e falleceu em 31 de Março de 1621. Veio hnnia vez a este Reino entrando em Elvas a 10 de Maio de Í619; celebrou Cortes em Lisboa em Julho do mesmo anno, é veltou em Outubro para Caslella. A principal obra do seu reinado, relativamente a Portu- fál , foi a publicação da Ordenação do Reino, feita por Lei e 11 de Janeiro de 1603 , a qual Ordenação ainda hoje está y— ' ~- — — ' 1 I (155) Carta de SÍ áe Julho de 1583, na CoUecçào Academ. das Coites. Gas- par de SeLxas a fez. Bartolomeu Froys a fez escrever. • (l.í«) Cahreta, Chron. Jc Filippe IJ. de Castella, 64 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL eni vigor. A forma da do Governo iiil«'rno do Reino foi em jiartes mui differeiite da que lhe havia dado Fiiippe I. Assim taulo da Lei iterai , como das providencias , que se guardâo manuscritas em diversos Cartórios , ou que são mencionadas por alguns Escritores , tirarei o que me parecer necessário para o assumpto que vou tratando. - j . E primeiramente a Ordenaçjlo do Reino no Liv. '2.° Tit. 59 que trata dos privileoios dos Desembargadores ," con- ta no § inicial entre os privilegiados , os nossos Secretarias , e a pessoa que cotnnosco elcspetehn as jKtiçóes do Estado; aos quaes se derão e.iitào de novo os ditos privilégios, que a Or- denação Manoelina no lugar correspondente a est*; lhes não liavia conferido. Semelhantemente a Filippina do Livr. 3. Tit. 5 § 2 permitte que tragào os seus contendores ;í Corte os Nossos Secretários , c a 2>essoa que comnosco despachar as pe- tições do Estado. Que pessoa fosse esta he o que resta averiguar. Pegas no Commentario á Ordenação, vendo que não pode ser o Se- cretario que hoje chamamos d'Estado , porque este se com- prehende na antecedente expressão Nossos Secretários , e vendo também que o Doutor Thomé Pinheiro da Veiga, Pro^. curador que fora da Coroa no reinado de D. João IV. diz ifhuma Nota lançada no exemplar das Ordenações do seu uso , que em Agosto de 1645 se não pudera averiguar nas Secretarias d'Estado quem era esta pessoa , e qual este oíE- cio, no feito julgado contra Duarte Dias , e Damião Dias dç Menezes , Escrivães das Confirmações , que pcrtendião ser o seu, entendeu que as Ordenações citadas se devera entender dos Conselheiros d'Estado ; o que he manifesto erro, porque antes do Alvará de 22 de Dezembro de 1G43 os Conselheiros d'Estado não linhão os privilégios de Desembargador. Conferindo mais d'huma vez esta matéria com o meu amigo e nosso illustre Sócio o Monseidior Ferreira, vi-o quasi propenso a decidir que a pessoa de que falia a Ordcf nação era o Secretario particular d'ElRei, que com elle des-- cachava os negócios de Portugal, não com])rehendidos na al- çada que se havia dado ao Conselho desle Reino residente jia Corte de Madrid, para o expediente dos mesmos nçgQcios na conformidatle do cap. 15 da Capitulação de 20 de Março de 1580, offerecida pelo Duque d'Ossuna nas Cortes d'AÍ- meirim. Eu porém entendo que a pessoa, que com ElRei despà* i .1. DAS SCIENCIAS DE LISBOA* «6 c^ava as petições ilo Estado , nem podia ser o Secretário do Conselho de Portugal em Madrid , porque esse só despacha- va com ElRei no mesmo Conselho os nea;ocios a este per- tencentes ; nem também o Secretario particular d'ElKei, que nâo tinha fé publica, e menos os de PortUí^al que esta- vão muito lonçe da Corte para despacharem com ElRei. As- sim Secretários d'BlRei erão os que residiào junto ao Gover- no de Portiia:al ; ea pessoa que despachava com ElRei as petições do Estado, era o Escrivão da Camará ou da Fazen- da , quo em observância do Ree^imento já citado de 27 de Abril de 1586 devião andar na Corte; os quaes segundo já notei no reinado de D. Sebastião, costumavão ser encar- regados da assistência a este despacho. Confirma-se este meu parecer com o Regimento do Vice-Rei o Cardeal Alber- to de 31 de Janeiro de 1583, no qual tratando-se da distri- buição das petições , diz ElRei que as que forem de mercês, do qualquer qualidade que sejão , se remetterão a Francisco Serrão , o qual só seria presente ao despacho delias. Já pelo Alvará de 25 de Setembro de IGOl estava deter- minado que se não fizesse obra por Portarias nem Cartas dos Secretários , que servissem no reino de Portugal , e que so- mente se facão pelas ditas Portarias e Cartas as Provisões necessárias pelas quaes se faria obra : o que novamente foi mandado observar por Alvará de 13 de Dezembro de 1604. Desta disposição legal que com maior generalidade se con- tém na Ordenação Filippina do Livr. 2. Tit. 41 , e na Ma- nuelina , que he a sua fonte , tem-se feito desde o reinado d' ElRei D. .José hum estranho abuso, até ao ponto de haver Leis revogadas por Avisos, e de se ensinar publicamente na Universidade de Coimbra que taes Avisos e Portarias tem força de Lei. i>ío anno de 1602 a 26 de Maio remetteu ElReí ao Con- selho de Portugal em Madrid, para nelle se ler e executar, hum papel assinado pelo Duque de Lerma. cujo original se acha entre os Manuscritos da Casa de Castello melhor , no qual determina que os negócios deste Conselho se repartão por quatro Secretários, a hum dos quaes se encarreguem to- das as matérias e negócios d'Estado, e de Justiça, em que se comprehende o provimento do todos os officios ; a outro tod.as as matérias e negócios Ecclesiasticos , e das Ordens Militares; a outro os do Património e Fazenda Real; a outro todas as petições de partes , e despacho delias. O único Se- TOM. XIII. p. I. I 4ft METMiORIAS DA ACADEMIA REAL tretario qiic enlSo havia ora Pedro Alvares Pereira ; e- ós -f(iia(ro então nomeados forão para a primeira Sccre(ariaMar- tini Aflbnso Mexia, para a sejíunda Fernando de Matos, pa- ra a terceira Luiz de Figueiredo , para a quarta Francisco d'Alineida. Estes novos Secretários despaciíavSo no Conse- lho, enviavão as Consultas a EIKei, e aprcsentavSo em Con- selho as respostas que elle mandava, O mesmo papel deter- mina que os Letrados Conselheiros deste Conselho não vo- tem em matérias d'Estado ; declarando que isto so não en- tende com os Doutores Pedro Barbosa, e Francisco Noçuei- ra , e só com os que lhes succedessem nos Ofiicios. Seí;'ue-se a resposta original de agradecimento dada pelo Conselho ao Duque de Lerma , datada cm 8 de Junho do mesmo anno, assinada pelo Bispo de Viseu D. Jorge d'Attaide , Conde de \\\ln nova, Henriípie de Sousa, Francisco JNogueira, e Pe- dro Barbosa. No anno de lG07 nomeou ElRei huma Junta para tratar dos negócios de Portugal. A Consulta original delia datada em Madrid a 22 de Setembro deste anno acha-se na Livrarid da Casa de Castello melhor , e tem á margem as Resoluções Regias sobre cada hum dos seus artigos. D'aqui consta que desde o anno de 1G02 crescera o numero, dos Ministros do XUonselho de Portugal, de maneira que em 1607 havia qua- tro lugares de Conselheiros supranumerários , e dois Secre- tários. Assim foi este numero reduzido ao antigo , constando o Conselho d'hum Vedor da Fazenda, hum Êcclesiastico , dois Desembargadores do Paço e dois Secretários. Deternii- nou-se mais que se desse Presidente .-(quelle Conselho , que fosse assim como os outros Ministros natural do Reino. Que os Conselheiros Letrados votassem nas matérias d' Estado è IMercôs. Que os dois Escrivães da Camará se reduzissem a hum : que hum dos Secretários tivesse a seu cargo as maté- rias d'Estado, as Ecclesiasticas , e as das OrdeiiS Militares, c a>s de Justiça e Governo, em que se incluião todos os provi- mentos de Governos 4 cargos, e ofllcios ; e que o outro teria o despacho das petições, de mercês, de provimento de Com- mendas , e as matérias de Fazenda. Para facilitar a reforma do Conselho propoz a mesma Jujita em outra Consulta de 31 fPOutubro do mesmo anno que Affonso Furtado de Mendon- ça fosse nomeado Presidente da Mesa da Consciência , e Henriíjuc de Sousa Governador do Porto. 'Na mesma Livraria tão rica em documentos pertencen- DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 6» tps ;{ nossa historia , existe a Consulta oris:inal d'huma Junta (lo Coninieruludor Múr de Leão , e do P. Confessor, em data de 3 de Janeiro de ICIO, relativamente á reforma do Conse- lho de Portugal em Madrid , sobre a resposta do Vice-Rei Marquez de Castdlo Rodrigo, que fAra primeiro ouvido. Lembrou o Marcjuez que se accommo. lasse o Conde de Sa- linas mandando-o para Catalunha; o de Ficalho com o ca- samento com a Du(jueza de Villa hermosa ; o de Villa nova dando-lhe o titulo para filho e noto, e Henrique de Sousa com o titulo que pertendia, e que fosse servir o seu governo do Porlo. Que a pessoa Ecciesiastica devia ser a que agora he ; e cham;ir-se para Vedor da Fazenda a D. Estevão de Fa- ro, que sahíra do Madrid com promessa de voltar ao dito Conselho. Que este tenha presidente , o qual sendo Prelado , devia ser ou o Bispo Inquisidor Geral , ou o do Algarve ; e sendo de capa, e espada, D. Diogo de Castro. Que devia haver só hum Letrado, e este achar-se no Conselho só nos dias cm que se Iralassem negócios de Justiça, para o que Sropnidui a Antoi.io Cabral, Chanceller do Porto; a Mendo a Mota do Conselho da Fazenda , e a Melchior Dias Preto, mandando-se Francisco Nogueira para sua Casa. Ouvido es» te parecer, propoz a Junta: Que o Conselho tenha Presi- dente, que seja Ecclesiastico, e que este lugar se dè ao Bis- po Inquisidor Geral , que já governara o Reino com salisfa- ç3o. Que se prova o Ofllcio de Vedor da Fazenda em Henri- que de Sousa , sem se tratar do titulo : que continue no lu- gar de Conselheiro Ecclesiastico Fernando de Mattos. Que haja só hum Conselheiro Letrado, que entre sempre em Conselho , e que este seja Mendo da Mofa. Que se declare, para evitar que se multipliquem os lugares neste Conselho , que não haja mais lugares que os que fic3o ditos ; e dois Se- cretários , como então havia , sem que nisto se fizesse alte- ração. Que finalmente saião do Conselho o Conde de Sali- nas , o de Ficalho , o de Villa nova , e Francisco Nogueira. O Parecer da Junta foi approvado por ElRei , e só suspendi- do em quanto se não tomasse Resolução sobre o Conde de Salinas , e Henrique de Sousa. Eis aqui o que sei e lenho encontrado relativamente íÍs providencias dadas por Filippe II. para o governo de Portu- gal : agora darei a relação , posto que imperfeita , das pes- soas empregadas neste governo. I 2 «8 MEMOKIAS DA ACADEMIA REAL Conselho de Portiir/al cm Caslclla. No anno de 1B02 compuriha-se este Conselho do Eispo de Viseu D. Jorge d'Ataide , do Conde de Villa nova D. Ma- noel de Castello branco, d'Henriquo de Sousa, de Francisco Nogueira, e de Pedro Barbosa, c Secretario do Conxelho Pedro Alvares Pereira , filho e succesíor do Secretario Nuno Alvares Pereira, o qual assina huma Portaria cm Valliadolld em 15 d' Abril deste anno (157). D. Francisco Manoel (158) diz que elle iòra Secretario d' Estado com voto. No mesmo anno se creárão , como já disse , quatro Se- cretarias , nomeando-se para a d'Eslado , e da Justiça Mar- fim Aflbnso Mexia , para a dos negócios Ecclesiast icos Fer- nando de Matos, para a da Fazenda Luiz de Figueiredo, pa- ra a de Petições Francisco d' Almeida e Vasconcellos. O primeiro assina como Secretario d'E6tado que era, hum documento em Valhadolid no anno de IGO.3, e outro em 1604 (159). Foi depois Bispo de Coimbra (160). O segundo assina como Secretario d'ElRei assistente na Corte , vários documentos de 1602, 1603, e 1607. Era Irmão de Affonso de Lucena, Secretario da Duqueza de Bragança D. Cathari- na ; e succedeu-lhe no cargo de Secretario do Governo de Portugal seu Sobrinho , filho deste seu IrniiTo . Francisco de Lucena , que o exercitou por alguns trinta annos. Foi tam- bém ao mesmo tempo o Secretario FernSo de Blatos Conse- lheiro Ecclesiastico no Conselho de Portugal em Castella (161). De Luiz de Figueiredo encontrei assinatura ern Diplo- mas dos annos de 1602, 1605, 1606 (162). Francisco d'Al- meida e Vasconcellos declara cm liuma representação ori- ginal feita a ElRci e datada de Madrid a 7 de Março de 1612 (16.1) que elle servia o cargo de Secretario das mercôs e fazenda havia mais de dez annos. Existem documentos por elle assinados em 16o8 , 1614, e 1615 (164). -. (157) Provas da Hist. Gen. (158) Aula Politica. (159) Hist. Gcn. Liv. 7. (li)0) Proeas da Hist. Gen. (161) Uist. Gen. Liv. 6. (162) Suriops. Chron. Provas da Hist. Gcn. (IC.í) Not. Ms. da C.n?a de Castello melhor. (16-t) l^rocas da Hist. Gen. DAS SCTENCIAS DE LISBOA. è9 Rntre o anno df 1602 , e 1G07 fizer;To-se neste Conselho varias allcraçòes. Aflbnso Furtado de Mendonça foi promo-» vido no anno de 1605 ao liií^ar Ecclesias(ico do Conselho de Porlii-íal (165), e nollc assistiu até o anno de 1608 (106). niMirl(|iu! de Sonsa que depois foi primeiro Conde de Miran- da , fra do Conseilio d» Portugal em 1607. Joílo Brandão Soares, nomeado por Carta Regia de 11 de Janeiro de 1605 Secretario das matérias Ecclesiasticas , para ser precedido pelos três Secretários que então havia no Conselho (167), assina como Secretario hum Alvará de 2 de Janeiro de 1606, e hunia Carta de 21 d'Ago3to de 1607. Em 1607 compunha-se o Conselho de hum Presidente, quatro Conselheiros , e dois Secretários. No intervallo deste anno até o de 1610 aclio Presidente do Conselho D. Diogo da Silva Duque de Franca Villa , Conde de Salinas e Riva- dcs , que servia no anno de 1609 : a elle dedica Gil Nunes do Leão a Dcscripção do Reino de Portugal , composta por seu Tio Duarte Nunes do Leão. Rui Dias de Menezes já era Secretario do Conselho' em 1609 (IC8), continuou a ser em 1616, e em 11 de Setembro de 1618 assinou como Se- cretario d'KsLaiio hunia Carta que veio de Castella ao Go- verno de Portugal (169). Erão então Conselheiros o Conde de Salinas, o de Ficalho , que depois foi Casado com a Du- queza de \'^illa herniosa , o do Villa nova, e Francisco No- gueira. Na reforma que se fez em 1610 forão estes quatro ex-* cluidos do Conselho ; e nomeou-se Presidente o Bispo Inqui- sidor Geral, que fora Governador do Reino, para membros do Conselho a Henrique de Sousa , Vedor da Fazenda : Fer- nando de Matos, Conselheiro Ecclesiastico ; Mendo da Mota para Conselheiro Letrado : continuarão a ficar só dois Secre- tários. Esta reforma porém foi suspensa. Dó anno de 1610 até o de 1619 achâo-se membros do' Conselho, e Secretários os seguintes: D. Aleixo de Mene- zes, que depois de sahir do Governo dof Reino em Julho de íCló, foi Presidente do Conselho de Portugal em Madrid , (16.0) Jlist. Ecchs. de Braga, Tom. 3. (16fi) ^Jist. Gen. Liv. li. (Ifi7) Ribeiro, índice Chron. (Itíd) Proeas -da Hist. Gtni Tóm. 8. ■ (169) Noo. Uiit. de Malta, Tom. ».-■ t» MEMORIAS DA ACADEMIA REAL ontle falleceo om 1617 (170). D. EstevSo de Faro, depois primeiro Conde de Faro, passou cm 1616 A Corte de Hespa- rha assistindo no Conselho de Portugal até o anno de KJI? , em que o largou , pela má vontade que tinha ao Arcebispo D- Aleixo de Menezes, Presidente do dito Conselho (171). D. Francisco de J3ragan<^ , tinha no anno de 1619 o lu- gar de Conselheiro Ecclesiastico do Conselho de Portugal , de que se lhe havia feito mercê no anno antecedente (172). O Conselho, como j;í íica dito, deu parte em 1612, es- teve fechado em 1613 , e abriu-se em 1614. Quando Filippe II. veio a Portugal no anno de 1619 trou- xe comsigo o Conselho de Portugal a saber, o Presidente D. Carlos de" Aragão e Borja, Duque de Villa hermosa , e Con- de de Ficalho. Pedralvares Pereira, e os Doutores Mendo da Mota de Valladares , e D. António Pereira de Menezes, Desembargadores do Paço ; Secretários Francisco de Lucena do Estado, e Francisco d'Almeida de Vasconcellos das Com- mendas e Mercês (17.3). Destes dois Secretários o segundo já servia havia muitos annos , como elle declara na representação acima citada : o primeiro succedeu a seu Tio pelo menos era I€14, ou 1615. Em Carta Regia para o Conde D. Diogo da Silva em 14 de Abril de 1619 , cujo original tenho entre os meus Manuscri- tos , declara ElRei que vem a Portugal celebrar Cortes , e lhe ordena que vá a ellas por si , ou bastante Procurador , de que avisareis a Francisco de Lucena, do ineu Conselho, e meu Secretario d' Estado. Vice-Reis e Governadores. 1. Dos cinco Governadores nomeados por Filippe I. em J593 quatro sobreviverão a elle, e destes quatro servirão dois até Abril de 1600. 2. O Vice-Rei D. Christovão de Moura, primeiro Mar- quez de Castello Rodrigo, entrou no Governo no 1." de Maio de 1600 ; e achao-se assinaturas delle até 13 d' Agosto de 1603. (170) Biblioth. Lus. Hist. Eccies. de Braga, Tom. 2. (1") Hi^t- G^f"- L'v- 8. (l'--!) tíist. Gtn. Liv. 6. Barboy. Mcmor.do Coll. de S. Paulo, (17S) Lavaua, Hage de Filijipe 111. i J . D AS SCIENCi AS 'DE LÍSBOA. ; r_ yi . 3. O Vice-Rei D. AflTonso de Castellobranco , Bispo de Coimbra, entrou no Governo a 21 d'Agos(,o de 1G03. O seu Rea^imeiíto foi ex|io(lido em 21 de Março do mesmo annoX* Rssína até 14 do Dezembro de 1604. 4. O Vice-Uei D. Pedro de Castilho, Bispo dé Leiria, entrou no Governo no 1.° de Janeiro de 1605. O seu Uégi- menlo foi expedido em 22 de Dezembro de 1604: assina até í^ de Janeiro de 1608. jA .i;df!ni!"í -.'•■! mu '. ^<: ;^' 5. O Vice-llei Marquez de Castelloftorlriço entrou se- cunda vez no Governo , em 2 de Fevereiro de 1608 ; partiu para JMadrid a 19 de Fevereiro de 1612i, e áhi morreu em 21 ae Dezembro de 16 13. < i , i ' -5'fi..- mO Vice-Rei D. Pedro de Castilho, Bispo de Leiria * entrou' sejfunda vez no Governo em Fevereiro de 1612, to- mando jurameiíl o nas niàos do seu antecessor em 19 do mes- mo mez : assina até 26 de Junho <,le 1614. 7. O Vice-Rei D. .\lèixo de Meiièzeá, Arcebispo de Bra- ga entrou no Governo a 6 de Julho de 1614: assina até 26 ae Junho de 1615. 8. O Vice-Rei D. Miguel de Castro, Arcebispd de Lis- hoa , entrou no Governo em 11 de Julho de 1615; e assina até 14 de Março de 1617. 9. O Vice-Rei D. Diogo da Silva e Mendonça, Marquez 1612. ■ > ii;(j Damião António apenas conta por Secretario d'Estado de Filippe II. a Fernfío de Matos, que como já disse, foi Se- cretario do' Conselho da Coroa de Portucal em Madrid. 'b" Conselho d' Estado em Portugal. om Segundo Lavaiia (184) erão Conselheiros d'Estado em Portugal no tempo em que Filippe II. veio a este Reino o Conde de Ficalho, Duque de Villa hermosa, Pedraivares Pe- reira , D. Diogo de Castro , o da Vidigueira D. Francisco da Gama , Almirante da índia ; Henrique de Sousa Conde de Mifanda ; D. Manoel de Castello branco, Conde do Villa no- va ; D. Estevão de Faro ^ Conde de Faro; D. Diogo da Sil- va, Marquez d'Alemquer, Duque de Franca Villa ; D.Miguel de Castro , Arcebispo de Lisboa ; Luis da Silva , Vedor da Fazenda. •«.';Í-(j1;.u;; 'íw, • ElRei ordenou que ás Audiências , e comidas publicas pudessem assistir os Titulos , Conselheiros d' Estado , Presi- dentes , Vedores da Fazenda , o Regedor , o Governador , os GíTiciaes da Casa Real de Portugal , e os Secretários d'Es- tado. (177) Jdditain, á Si/nopse. (1783 Provas da Hist. Gtn. (179) Ib. (180) Ib. (181) Collector. de Bulias do Santo Officio. (18i) Systema dos Regimentos , Tom. S. (183) Hi>toria dos Varões illustres do appellido de Tavota. (184) Obra cit. .1. DAS SCIENCIAS DE LISBOA, y," -is "' fteináih de Filippe Itt. ãe Ponufjàl , e IV. de Castella. Governou Filippe III. em Portugal tlesde 31 de Março de 1G21, que fui o (lia da lUorLe de seu Pai, aL«j o 1;° dia de Dezembro de 1640, que he eiilre nós de eterna memoria., porque foi o da feliz restauração . do legitimo, throno Portu- guezv Nada direi d'hum Governo moribundoj que niinca se fez amado , nem menos temido dos Porluguezes , e que só faci* Jitou a estes tomarem . No anno de 16íá2 o Marquez d'AIemquèr D. Diogo da Silva e Mendonça, depois de acabar o lugar de Vice-Rei em Portugal, e de partir para Madrid, foi Presidente deste Con- selho; e morreu em 15 de Junho de 1630 (185). A Francisco d' Almeida e Vasconcellos nomeia ElRei do seu Conselho e seu Secretario (como já o era desde o reina- do passado) no capitulo «rhuma Carta Regia dos Governado- res do Reino 5 datada em 14 de Setembro de 1623 (186). Em o anno dd 162G er3o membros do Conselho D. Fran- cisco de Bragança, e D. António Pereira de Menezes (187), dos quaes jií fallei , assim como continuava a servir no ante- cedente e seguinte Mendo da Rlota (188). Por este mesmo tempo era Vedor da Fazenda neste Con- selho D. Manoel de Moura Corte Real, segundo Marquez de Castello Rodrigo (189) : e referenda huma Carta Regia de 25 d'Agosto de 1626 (190). Em 6 d' Abril deste mesmo anno se ■deu novo Regimento ao Conselho (191). (185) Baibos. Biblioth. Lus. (18fi) Entre os meus Ms. (187) Ibid. (188) Índice Chronol. (189) Dedicatória dO Nobiliário do Conde D. Pedro. (1.10) Original entre os meus Ms. (191) Iiidicc Chronol. TOM. XIII. P. 1. K fn MEMOTlIisrTJA ACADEMIA REAL \o dp 1()31 passou para Governador do Reino D. Antó- nio de AUaide, Conde. da .CasUulioJra, .,quQ ^téíeijtão eça do Conselho de rortiinal (l92). '■'■ O Secretario Luiz Falc.TÍo era Secretario do Conselho em Madrid em Setenibro dê 16'3 1 j Mort-cu em .1 nnho de 1 G32 : por Psía- occasião escreveu o Governador Conde ao Coli- da Duque tio 1.° de Jnlho, que andavào os negócios des- ordenndos\-e confusos, por estar no ConseJlío de Madridvdií- vidido o estado da índia e o do Reino em dois Secretários/, sendo conveni«ínte que estivossoni juntos j' como sempre ha- viào estado (193). ^ . . , -;,, Gabriel d' Almeida assina em Madrid como Secretario das Mercf^s e Fazenda o Alvará de 28 do Julho do mesoio aimo de 1631. i • ' -- • ^ D.Miguel de Castro filho doVice-Rei D. Dioga de Cas- tro , Conde de Rasto, foi nomeado Bis])o de Viseu em J633 , sendo do Conselho . de .Castclla : estando ainda em Madrid , morreu no anno seguinte (194). No aríno de Ií34 ainda era Presidente do Conselho o Duque de Villa hermosa , como' escreve D. Francisco Ma>- iioel (195:); mas logo deixou a presidência , ficando sempre do Conselho. Já havia referendado como Presidente delle o Regimento de 15 d'Outubro de 1630, e o Alvará de 23 de Julíio de 1631. . O Conde de Linhares D. Miguel de Noronha foi nomea- do Membro de Portugal pelos annos de 1634. no mesmo tem- po cm que fora feito Secretario d'Estado Diogo Soares, com quem teve graves contestações (190). Desde entáo o Conselho de Portugal ficou quasi aniqui- lado , e quando se formou de novo em 1G37 , forão despacha- dos por novo Decreto Diogo Soares para a Secretaria d'Es- lado , e Gabriel d'Almeida para a da Fazenda (197). Neste mesmo anno voltou de Madrid para Lisboa Fran- cisco de Lucena, deixando por Secretario do Conselho a seu filho AíTonso de Lucena, o qnal se conservou em Madrid de- pyis da Acclamação (.198). , ^ _. . (19'!) Sousa, Hist. Geri. ' • (193) Entre os meu^ Ms. (194) Catalog. dos Bispos de Viseu na Collecção da Acad. (195) Epannf. Politica. (19G) D. Francisco Manoel, Juía Politica e Epanaf. Folitica. (197) Id. Aula PoVilkn. (198) _ Hist. Gen. Livr. 8. ; .1 ."i .'.::./.. .yLO- DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 75 No anno de 1G38 era Prcsiilente do Conselho D. Joio Coutinho, Arcebispo d'Kvora (199); e Membro do mesmo Coiiseliio Diog-o Lopes de Sousa , segundo Conde de Miran- da , que havia partido para Madrid neste mesmo anno , e lá falleceii a 27 de Dezembro de 1040 (200). Ultimamente no tempo das alterações d'Evora o Conse- lho conipunlia-se do Duque de Villa hermosa , do Conde de Linhares , de D. Francisco Mascarenhas , de Manoel de Vas- concellos ^ e de Cid d'Alineida (201). Diogo Soares nomeado Secretario do Conselho de Por- tugal em Madrid em JG;34. Creio qu(! a este reinado se devem referir os seguintes membros do Conselho, sem que possa precisamente determi- nar em que anno servirão : taes são Miguel Soares Pereira no lugar Ecclesiastico (202) ; Francisco Pereira Pinto , no mesmo lugar (203) ; Jorge Corrêa de Lacerda (204) ; e João Furtado de Mendonça (20ú). yiee-Reis , e Governadores. 1. O Vice-ReiMarquoz d'Alemquer, por Procuração d'El-»' Rei D. Filippe III., tomou em seu nome posse deste Reino< e acabou o seu governo, como j;í disse, em Julho de 1G21. 2. Os Governadores D. Diogo de Castro Conde de Basto, D. Nuno Alvares de Portugal, e D. Martinho Affonso Me-i xia Bispo do Coimbra , tomarão posse do Governo em 23 de Julho de 1621. O segundo assina até 16 de Dezembro de 1622, e mor- reu a 12 de Fevereiro de 1623. O terceiro assina até 22 de Julho de 1623, e morreu cm 30 d'Agos(o do mesmo anno. O Conde de Basto licou governando sem Collegas até 26 de Se- tembro. D. Diogo da Silva Conde de Portalegre entrou em lugar de D. Nuno Alvares de Portugal , e tomou juramento nas mãos do Conde de Basto em 26 de Setembro de 1623. (19D) Ib. Livr. U. (áOO) Catai, já cit. dos Cardéaes PortUff. (201) D. Francisco Manoel, Epanaf. Politica. (20 J) Catai, doi Collegiaes de S. Pedro, e do5 do Santo OíEcio na Collecçâo 4a Ac.id. (íOi) Ib. • (204) Catai, dos CoUegiaes de S. Pedro. (805) CaUl. dos Priore. de Guimarães na Collecçâo da Acad. K 2 ■wr MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Ambos coiítiiiuarao o ffovprno até 4 dr Junho do 1G2G ,' oiii que o Comle de Rasto ])artiu jiara Madrid , licando só D.> Diogo da Silva até 13 de Setembro do mesmo anno. D. Af- tarte a EIRei de estar parado o Governo, o quaí jior Carla de 10 de Junho recebida a 15, e dirigida ao mes- mo Secretario, foi entregue ao Conselho d'Estado. Adiante, direi as pessoas de que elle se compunha. Entre os meus Manuscritos conservo huifia Carta Regia original dirigida ao; Arcebispo de Rraga , (í assinada por cinco destes (.^oijselhei- ros (íovernadores . cm data de 25 de Junho de 1633: e em 3 de Julho do mesmo anno se acha resolvida jielo Conselho d'Estado huma Consulta do Desembargo do Paço (20tí). Du- rou este Governo até 22 de JuUio deste anno. ; .. . ; --6^ O Vice-Rei D. Diogo de Castro, Conde de Basto., Foi-lhe dado Regimento em 18 tie Julho de 1633: entrou no Governo a 22 do mesmo mez , jurando nas mãos do Inquisi- dor Geral D. Francisco de Castro ; e permaneceu no mesmo Governo até ri- chegada da- Princeza Margarida. 7. Governadora a Princeza de Parma Margarida, Duque-' (206) Coll. SÍ*áOíUen..do Liví. 1. Tit. 1. §-í5.-N. 8.... DAS SCIENCIAS DE LISBOA, ^r n 7,n (lo Maiitua , Viuvii d(; Viccncio Gonzaça, Duque cVaquel- le Ivslatlo, e Neta d'Ell\,ei Filippe II. de Hespaiiha. Jurou em Madrid, e entrou em Lisboa a 23 de Dezembro de 1634 : assisátiu-ilie o Marquez de la Fuebla, que veio de Madrid sem occu|)aç;lio . c só para a aconseliiar. Em 30 d' Abril de 1G39 lhe deu El Rei por adjuntos fixos ao Despacho o Arcebispo de Braija D. Sebastião de Matos e Norordia , e o Conde da Castanheira D. António d'Attaide : a mesma distincção já ti- vera desde o mez de fevereiro de 1C35 o Arcebispo de Lis- boa D. Rodrigo da(3uidia (307). Ao.ibou o Governo da Pria- ceza na maulii do primeiro dia de Dezembro de 1040, sendo obrigada a saliir do Paço para o de Xabregas, acom)jaahada do Marquez de la Puebla , logo depois para o Convento das Commcudadeiras de Santos , e ultimamente para Castella. Secretários cm Lisboa. 1. Christovão Soares. Continuou a ser Secretario neste reinado, como j:í o fora nos antecedentes. Como tal subscre- ve huma Portaria doVicc-Rei em 11 de Junho de 1621 (208) ; delle teidio luima assinalara em coi)ias de capítulos de variaS; Cartas crElilei, feitas em 1623 (209), e delle acho ainda memoria nos annoá de lG2tí (210), e 1630. Jaz na antiga Igre*. ja de Santo Eloi . com este epitáfio : Sepultura de Christovão Soares, do Conselho de S. Marjcsladc, e seu Secretario d'Esta" do. Faleceu em 31 de Maio de 1643 (211). 2. António Sanciíes Farinha. Ainda não era Secretario neste Reino em o auno de 1633. 3. Filippe de Mesquita. Já acima disse que era Secreta- rio no anno de 1633. D.Francisco Manoel (212) escreve que fora Secretario d' Estado no Reino de Portugal, e que no an- no de 1634 exercitava este cargo havia quatro annos pof. Christovão Soares seu Tio. Ainda servia em 1636 cm que co- me a Secretario lhe foi a (2-24). Longo e insano trabalho tive em colli^ir nesta Memoria tantas espécies históricas que se achão espalhadas ein muitos Documentos , e nas obras dos nossos Historiadores : em as- 'jumpto ainda não tratado não admira que se notem muitos erros e imperfeições , e a penna correrá com mais certeza , quando na seguinte Memoria tratar desta mesma matéria no periodo que começa na sua feliz restauração. (S24) UUt. Gen. Liv. IJ. c- A03BU sa aAID^^aiOâ EáQ ■1f|ti)'i| p,'o!i OíCiov , " ' ' ■ ' ■ ■' O- . , .y.:D í)b ohuoD loh:.. . ::-,, Íj5Tia'b -oirisf' PoL putiVh aoJnflmii>'Jt;mi eon oi-p )Cí>! t)l> cpiíWI sL -L. RJro osçi £ esEÍ)JifHuc OH oP.n o ; oiliio o Mf/^ivioa *oh£J •lusvo/i tb OG ob cJii;D aio uiJtuioi S8 9i)p o , íT,iif.&q jsinirjí .o;iíifi í>ni8'.>m oIj oíd *uol/i ab ocvoJfi - .111 eqqií .'.■■"■ r'i "■ íiaero'"'* ' ■ _/ ■íg •P 3q .i;i ....i ....■/ .\..\\ (,::í) OBSERVAÇÕES SOBRE A DIVINDADE GUE OS LUSITANOS CONVIECÊRÃO DEBAIXO DA DENOMINAÇÃO d'eNUO VELlCO. D. ANTÓNIO DA VISITAÇÃO FREIRE. A. .s INVESTIOAÇÕES scien(ificas sobre as Antiguidades de hum Povo , ao mesmo tempo que offerecem grandes attra- ctivos ;í curiosidade dos espíritos illustrados , envolvem ex- cessivas difliculdades em satisfaze-la. Nenhuns obstáculos fo- rào porem bastantes a desanimar os espiritos indagadores , •quando a Europa deixou de ser tão barbara , que se persua- dio , quo o melhoramento da nossa espécie estava essencial- mente ligado á cultura dos nossos entendimentos. No impul- so geral , que pelo renascimento das Letras a Europa sentio para ganhar illustraçao, vemos que a nossa historia litteraria nos deixou neste género de conhecimentos çrandes modelos, e importantes estinnilos para a imitação. Os illustres nomes de Barros , de Gouvea, d'Aíronso de Beja, de Rezende , de Barreiros, e de Eslaço com muitos outros, que ou os tinhão precedido, ou os seguirão, mostrão que a mesma Pátria, que nos séculos XV. e X\'I. produzio horoes , que a immortali- zárão para toda a duração da espécie humana, ollereceo igual- mente sábios não menos immortaes , que os seus guerreiros. Mas se tamanha consideração se deve a estes nomes ce- lebres , he mais pela gloria de vencer as terríveis barreiras , (jue dividião a luz da sciencia das trevas da barbaridade, do que pelas luzes oirectivas , (|ue provierão dos seus importan- tes esforços. Poròm a perfeição he íilha da paciência, e do tempo. Não se admire pois , que se nos deixassem tantas fa- digas , (juauflo se trata de adquirir os mais ténues conheci- TOM. xin. V. I. L 82 MEMORIAS DA ACADEMIA REAT. jiiontos sobre o estado dos primitivos homens, que habitarão a LiisilHíiia. O desconliecimento d'analyse, a indiffercnoa sobre o es- tado coniparalivo das Línguas , o desprezo dns indagações elyinologicas , o esj)irito do systema , a prevcneão pekis opi- niões tradicioiíacs dos Gregos , e Romanos euibaracavão o entendimento cm qualquer tentativa, que podesse esclarecer ís nossas primeiras antiguidades. O tempo qiiG tem melliorndo os melhodos, desvanecido grandes prevenções, lacilitado liunia conibinaçMO mais varia- da, mais ousada, e mais recta, (em insjiirado iguahncnte tanto maior confiança , quanto são maiores os nossos recur- sos : assim poderão agora cstés mesmos motivos diminuir a minha temeridade, quando me proponlio oficrccer ií contem- plação d' Academia observações novas sobre hum objecto das nossas anliíui(lad(>s, ([ue o génio de Rezende, com a modés- tia própria aos grandes homens , julgou superior aos seus il- lustres trabalhos. Tal he o conhecimento de hnma das Divindades, que os Lusitanos adorarão debaixo da denomiriação d^icNDOvELico , conhecimento tanto mais interessanlf; por nos iliustrar sobre o culto dos Povos, quo nos precederão r.a terra que habita'- Inós , como j)or dar hum assumpto qnasi ignorado dos antir gós Escritores nacionaes , e eslranireiros. Tinha corrido mais de ametade do século XVI., quando hum Príncipe ornado de todas as viriudes próprias da sua graiuleza, hum Príncipe, que sinçularmenf e a realçava pela decidida protecção, com que favorecia os i)rogressos do en- tendimento, hum Príncipe, qu(! deixara em especial recom- mendação aos seus Reaes descendentes tão relevantes virtu- des , o Sfir. D. Theodosio I. Duque de Bragança, querendo reunir em Villa viçosa todos os Moiuimentos d' antiguidade,, que o tempo tlnlia jioupado, e que se acliavão dispersos ein dillcrentes sítios d'Alemtejo, e onde havião existicío as mais notáveis habitações dos Lusitanos , fez trazer de Terena oito Lapides , cujas inscripções erão por diversos motivos consa- gradas a KNDOVKLrcO. O nome d'E>DOVELieo era novo a (odos os sábios , que sfe "finhão cançado ifeste género de indagações. O lUuslre Re- zende, depois de aventurar huma conjectura de que elle mes- tno parecia não conten(ar-se, desanimou hum grande numero "dè Philologistas , que 'então contava a nossa Pátria. Houvo ■' WÁS séíÈNCiAS t>E LISBOA. 83 iômtnrlo Dio^o Mondes de Vasconcollos assas conhecido na nossa historia lilleraria pelas suas addiçOes , e pelos seus Commentarios a Rezende , ípie expressafnenle desapprovan- do a corijecdira deste célebre escritor, que suppunha ser ENDoVKLico hunia divindade local de alíruma povoaçMO deste nOme , aventurou lalvez hnma supposiçíto mais arbitraria, entendendo ser KNDovF.Lrco hum Deos particularmente des- tinado a protegei a exttacÇilo das armas, que ficavSo introdu- zidas nos Corpos , que cfSo pot ellas feridos nos combates. Houverão ainda outros Antiquários daquella idade, que seguindo a rota batida das etyrnologias gregas, reput.-írão ENDOVELtco luima Divindade synonyuia do Deos termino Romano. Os poucos escritores estrangeiros , que se occupá- r3o deste objecto, nSo dcnlo mais Convincentes soluções. La Clede principalmente que os cita , e que os desapprova , não parece fundamentar mellior as asserções, com que pretende fazer passar endovklico pelo Deos do Amor. ' Com efleito no silencio absoluto dos Escritores Gregos , è Latinos , que nos Conservarão os poucos conhecimentos , que existem da primitiva Lusitânia, na falta de monumentos semelhantes aos quo em Terena se de;^cobrírão, com que ])o- derião formar-se comparações luminosas, o raciocinio não pode deixar de correr o risco de extraviar-se em conjecturas pouco plausiveis. Qualquer pois que seja o sutícésSo das minhas observa- ções, ellas sào unicamente o fnicto de huma combinação re- flectida sobre assumptos análogos, do estado comparativo de algumas lingiias , e do conhecimento de alguns escritos , qut? parecem destinados a fazerem huma epocha notável nes- te género de descobrimentos. Antes que as muitas e variadas colónias do Oriente se estabelecessem nas Hespanhas . já nellas vivia hum Povo, que em razão da sua grande anterioridade poderia denominar- se indígena. Povo pela maior parte nómade , dividido em tíibus, mas pouco diflTerençadu em usos, em linguagem, em culto, povo por multiplicadas relações comparado com os antigos í iermanos , de que Tácito nos deixou hum quadro tilo natural como filosófico. listas relações não apparecem unicamente entre as Hes- Panhas e a Germânia ; mas entre as Gallias , a Britannia , os ictos, a Hibernia, e lodo o paiz ao Oriente do Elba: n'hu- ma palavra em quasi toda a Europa, quanto mais remotamente L 2 I M MEMORIAS DA ACADEMIA REAL SC considera, tanto maiores são as analo^i^g de hujnn a outro Povo. Os Escritores modernos os reconhecem nfi sua gene- ralidade debaixo do nome de Celtas. -^ A caracteristica geral destes povos era a sua linguagem., linguajam, cujas filiações ainda que tSo complexamente em- baraçadas pela influencia do clima sobre a alteração das radi- caes, c pelas falsas analogias, (jue os génios sofísticos intro- duzirão na organização dos termos derivados , e compostos , ainda hoje dej)ois do tantos séculos , e entre os paizes os mais remotos mostra aos espirites attentos hum parentesco mais intimo do que n'ou(ro tempo se imaginara. Esta lin- guagem pois nas suas origens tão idêntica, e dej)ois Ião pro- diíiiosameiíte alterada , o veio a ser ainda mais na.s povoa- ções litloraes da Lusitânia pela successiva emanação das co- lónias Fenícias , e Carlhaginezas , porém ainda mais particu-? larmente pelas que lhe provierào da pequena, e magna Gre-^ cia. Neste tempo, os Gregos, que procedião dos Asiáticos combinados com os Celtas-Thracios , ou Pelasgos deverião trazer á nossa Península, com costumes mais civilizados, hu-^ ma linguagem mais complicada. A identidade das origens parecco perdida. A linguagem das nações coloniaes encheo- se rapidamente de pleonasmos , isto he , as nações que ulti- mamente chegavão, impunhão nomes novos aos objectos que dos indigenas ja' os tinlião recebido. Cada idea foi exprimida por dois vocábulos. A estas mesjnas circunstancias deve Por- tugal o seu nome. A ignorância dos Romanos fez dar íÍ en- trada do rio Douro o nome Portus , que já dos Celtas o ha- via no nome de Cale. O estudo da Geographia , e da My- thologia dos Antigos oHerece repetidos e.vemplos de pleonas- mos , ou hunionyniias semelhantes. Desta sorte fazendo a analyse do nome endovelico po- demos observar na sua terminação ;í latina hum nome celti- co-phenicio , que os Romanos modificarão segundo a Índole da sua linguagem. Nome donde extrahida a terminação se encontrão duas radicaes E)id c J cl ., cujos valores cumpre dçterniinar. A radical End destinada pelos seus elementos necessa-> rios na linguagem geral de lodos os povos j)rimitivos, e ain- da hoje mesmo de todos os j)ovos do Norte da Europa, e da Ásia até ao mar do Japão a significar o Ente-Principio, con- serva huma |>rodigiosa filiação , em que variando as vogaes pela influencia do clima se acha sempre exprimindo a Di- DAS SCIENCIAS DE LISBOA, li 9l vindade , ou os objectos sensíveis , que o sabeismo adoptou como symbolos delia. As circunstancias em que he repetida esla Memoria não me ptirinitte desenvolver aj^ora por exemplos repetidos esta verdade , cujas consequências j)odem servir a manifestar as homonymias de muitas Divindades de nomes dissemelhantes, mas aonde as propriedades são idf;nlicas. Convirá porém ob- servar, que em todos os primitivos Povos ^ em que o sabeis^ mo era dominanie, o verbo qu(; exprimia a actjÃo geral, ou a existência activa, exprimia igualmente o Se/- Principio, ou a causa universal da natureza. Tal era o sentido da inseri-. pçâo , que os Eçypcios gravarão em Sais no templo de Isis = Eu sou tudo o que he , jamais mortal alçum penetrou a tra\'€z o meu véo. = Nas taboas numismáticas das antiguidades d'Hcsnanlia de Velasquez so acha huma medalha com o symbolo crhuin joven-Deos imberbe com attributus que podem convir ou a ApoUo , ou a Marte. A sua legenda he em caracteres Bas- lulos. e a radical En designativa da Divindade. Radical que depois se transformou em applicações a Divindades reputa- das subaltern.is , ou a parliculares attributos do Ente-l'rinci' pio , taes o Jule dos [)rimitivos Gotas , o aisos dos Etruscos , e Esus dos Gaulezes , o Zeus dos Gregos , que os Latinos pronunciando Deus. A mesma radical Eiul designando Dorninus , e Deus s© conserva nos preciosos restos da linguagem Céltica , que as Hespanhas conhecem com o titulo de Vasconço , na Arraori- oa , no paióis do Languedoc , assim como em todo o resto dos povos , que menos corrompido tem o Céltico , do que nos fornece provas níio suspeitas o Glossarium de Ducange , com o Dircionario Céltico de Bullet. Com o nome de End., e de Endros foi adorado Baccho na Beócia, e Júpiter em Rhodes pelos adoradores do Sol, fi? g;urado na primavera debaixo do emblema do Toiro , e no ouiomno no da Serpente , segundo hum testemunho igual- mente não suspeito de Hysichius. O mesmo End no sentido de Diviis sérvio a ornar mui- tas inscripções que nos rest.lo dos monumentos Gregos, quaes algumas medalhas monogrammas d' Alexandre, assim como outras consagradas á illuslração de Cidades celebres na Asiat menor. Documentos coUigidos sem espirito de systcma pelo Allemão Rasche. $« MEMORIAS DA ACADEMIA HEAL Na mesma accepçào se applicoii i?nd aos Soberanos Gre- gos cjU(> reinarão nas diflerentes Monarquias formadas sobro a partilha das conquistas de Alexandre. Depois adjectivada esta radical formou o termo Endoxus, cuja applica(;ão a gran-- des pcrsoiiaí,^ens nào ignorão os homens versados na Littera- tura Greg'a. Assim na linguagem dos primitivos Lusitanos , c no seu conceifo mythologico End devia significar a Divindade mais notável do paiz , ou a Divindade por excellencia , idêntica talvez ao Deos sem nome , de quem diz Strabào = Estes , e os outros povos , r/?pnrco. Outra foiísteilacão (pie tainbein devia ter inimedialas ndaçcles Com Endnvrhco, ou com Marte cquinoccial he o Peg-aso, ou o ca- \allo celeste. Todos os povos Celtas, cujo culLo era seme- lhante ao dos Lusitanos, repuíavSo o cavailo consagrado a Marte ou ao Sol. Os Persas, diz Xenofonle na Cyropedia, offorocião em holocausto cavalios ao ^>'ol. Os Húngaros d'ho-. ma religião senudhante aos antigos Persas, mas sem templo íiem imagens, fazião o mesmo, diz Poultier. Asjathias dá dos Alemães o uiesnio testemunho. O nu^smo se lazia na Grécia. Heródoto no lim da Clio diz dos Massagetas, que ã sua di- vindade era o Sol a quem sacrificavifo cavalios, porque era razSo , diziíío elles , sacrificar ao mais veloz dos Deoses o mais veloz dos animaes. Segundo a aulhoridade de Ovidio íio Liv. 3.^ dos Fastos , os Pontifices de Roma mandavàío ce- lebrar as festas das carreiras dos cavalios sobre as bordas do Tibro cm honra de Marte no dia das nonas de Março , diá em (pie elles fixavito o nascimento Heliaco do Pégaso, pois que d;illi principiara o anuo de Rómulo tilho de Marte , oU começara a carreira solar. He também neste tempo em que o Pégaso ho o Paranatellon do SoJ, e que este Astro sdbõ á Equadfu- para a |íarte Boreal do mundo, he qno HefCJlles n* serie dos seus trabalhos passou ao Norte j)ara atacar ag Ama- zonas nos paizes boreaes , e jrelados dos Ciniftierios. A rai- idia das Amazonas era Ilippolyta, nome do grego HippõSj que signillea o cavailo. Ainda mais. Hippolyta èrá tíHÍa d0 IVÍarle, ou do Sol equinoccial da Primavera. Hum tesletíiU- uho porèin de maior forca nos dá Theon, pois entre vârioí? epithelos dados ao Pégaso, ou cavailo Apollineo , OU sotar, elle o desigim com o nome de cavailo de Endos , seudo está' railiciíl t<ão signilicativa de Marte , com a radical de Bel , oo! )^l sua sTuonyma . de que se organizou o nome atéiafinãtâ descoidiecido de Endovclico. ' •" fi;i'' • ^in; ' < 'iinloU? He «lesta sorte que julgiíei dar algtíiVia hizr á hiíiTí dtí.^ o<>p?cti>s mais obscuros e menos examinados das nossas pi* t- HÚIi\as antiguidades. No vastoOceátto de tio remoto tempo iiuo posso gloriar-me de haver tahez lançado a a'nct)i'a da wrdade. Mas pela serie dcsiae analdáiasf os grandes eácolhoa* DAS SCIENCIAS ÚE LtgBÔA. 61 talvez forão evitados. Se a Academia assim o julgar, pode- rei em outras cuiijuncturas procurar a honra de apresentar» lhe novas observações sobre o antiji^o Culto, e estado da nos-- sa Lusitânia ; c procurando desta forma ampliar o horizonte dos conhecinlentos humanos na nossa Pátria, cada hum dos Portuguezc? se tornará digao de aspirar á gloria dos sabioá que a honrarão. Mt f9 MEMORIAS PA ACADEMIA HEAT. •;,lí El aotiguo templo dei Dios EndoveUco , croe Resendft y los in;is Antiquaries PoxtugVP-ses, qoç estiibo situjido eu la rarro((uia (IcTemnia O locuas distante do Évora, y li ai pa-; nionie dei Guadiana. De el no se reconoccn vestígios algu- nos , poro se iniiestra cl silio ;í donde dicen que eslubo, un quarto de légua mas abaxo de la villa , sobre la niargeti iz- quierda dei rio llaniadoTcrenna ó Lucifece ; y se algur.as se- nales se pueden descubrir, son unicamente los cimieiitos de una hermita erigida à N. Sr." con la advocacion das Boas- Novas : falirica , á mi parecer dei niglo 13 ó ])riiiCÍj)ios dei 14 por la lorma de lo.s arcos de la bobeda, y por las puerlas, que son apunladas. Esla ca])illa tubo eu doble objeío, esto es, el de dar culto en ella á la virgen , y el de servir de de- fensa contra los enemigos que pudiesen introducirse por un vado dei Guadiana que, por aquella parle, se pasa muy bicn en verano. Me dá motivo a esta congetura , el ver que la parte superior de esta capilla es una plataforma ó azo- téa á la qual se sube por un estrecho caracol , cuya puerta cerrada no es posible ai enemigo trepar á la dicha azotéa que est;í guarnecida de almenas , y sobre las puertas tiene unos balcones volados y cerrados por delanle y abiertos j)or abaxo para arrojar combustibles, saetas, y piedras, sobre los que intentaseu forzar las puertas. Estos balcones estan sos- tenidos de canecillos de inarbol blanco que no es comun en el pav.s , y que es verosimil fueaen dei aniiguo ediíicio. Él pian dei moderno es una cruz griega ó de quatro brazos iguales, el ancho de cada uno de los quales puede ser de 8 baras portuguesas : y esta fornia poço couuin en el ticmpo en que se fabrico la de que vamos tratando , es la razon que teugo para sospechar si fue erigida sobre los ci- inieritos dei aniiguo temjilo de Endovolico : bien que tampo- co la dicha forma es comun en templos gentilicos. Dentro dei actual, y en el sotabanco dei aliar mayor , ai lado dei Evangelio , se halla embutida en cl niacizo de la pared , una piedra de marmol de Exlremóz de 12 pulgadas tle alto, y de 8 á 9 de ancho, con la siguiente inscripcion: t m DAS SCIENCIAS DE LISBOA bà SIYNIA QF VICTORINA IX VISVQSI ONIIIQVIISIRI PATKISVIVI EN DOVEIIICORO En la parlo anlerior de la capilla y esquina que mira ai Médio dia , hay oiro pedazo de piedra de Exlreinóz eu que se conserva parte de otra inscripcion ; y es ia siguiente : ENDOVEL I.IOO SACRVM TERENTIA CF STATVA El nombre de Luciroce dado á este rio me liace sospè-* char si habra sido tomado de la Divinidad á que se daba culto en su margen. Lácifeco se a])roxima bastante á Luci- feri , y este era el nombre con que se conocia cl Lucero ó Estrella de Vénus en S. Lucar de Barrameda, ;í donde tesiia un templo , que se vé acuPSado en las medalias de este pue- blo : y asi puedc ser muy bien que el Dios venerado en Te- renna baxo el nombre de Endovelico, fuese el Hespero ó Lu- cero ; sin que me repugne el que el nombre de Lucifero se hubiese dado ai Sol á á otra qualquiera divinidad lumino- sa ; y aun me acuerdo que eu la Disertacion sobre el Dios Endovelico que hace inuchos anos imprimio en Madrid el Académico de la Historia D. N. Pastor, decia que Endoveli- co eu lengua Céltica , valia lo niismo que cl que esta dentro dei ciclo ; y esto conviene a Apolo ó ai Sol. Lisboa 26 de Enero de 1801. Joseph Cornide. ^ MEMORIAS DA ACADEMIA REAL liíscripcioncs dcl Dios Enãovelieo existentes cn la miiralla dei costado dei Convento de Aquslinos Calzados de Villaviciosa , y no cn cl frente como dicen B.esende y cl P. Florez. Copió- las D. José' Cornide en 14 de Novicmbro de 1798. NOTA. Acompafian las variantes de Resende, y se ayuiitan otras ' que publico D. Miguel Pastor en la Disertacion publicada el afio de 17G0 sobre el Dios Endovelico , y que dice le co- munico el P. Florez , como recibidas de dicho Convento de Agustinos. 1." Es un cipo de vara de alto de piedra marmol ; y di- ce z DEO ENDO VEL LICO SACRVM BIANDVS CAI IIAL. RVFINAI SERVVS A. L. V. S. 2.' Está en otro cipo semejante, y dice: ENOBOLICO TVSCA OLIA TAVRI F. .PRO. QVINTO STATORIO TAVRO M V. A. L. S. 3.' Copia de Cornide. Idem de Resende. DEO ENDO VELLICO SAC DEO. ENDOVELLICO. SAC. IVMA FLAMINA VOTO SVCCE IVNlA. ELIANA. VOTO. SVCCE EI,\ IA MIEAS. MATER FILIE PTO. ELVIA. YBAS. MATER. ,SVE VOTVM SVCCEPTVM FILI/E. S\JE. VOTVM. SVCCE ANIMO. LIBENS POSVIT- PTVM. ANIMO. LIBENS. POSVIT. DÁS éCÍENClAS DE LiSÚOA. !)5 Eslá en una piedra de 3 qilartas de largo y a de ani^o. .' Es ôttó cipo; y dice: ENDO VELLI CO ,SACRV'M EX REI.IGIONE fVSSV NVMfiMS POJViPONIA MAUCELLA A. L. P. Comide Resende La 5.' esLií en oiro cipo, y eâ couio sigue : DEO. ENDOVEL LICO PRAESTAN 1'ISSIMI ET FKAESEN TISSlMI NVMINIS Sl^Tvs caccKivs CRATERVS HONORE NVS. EQVES. ROMA NVS. EX VOTO. DÉO ENDOVELLICO. PRAESTANTISSIMI, ET PRAESEN TISSIMI NVMINIS SÊXTVS COCCEIVS CRATERVS HONORINVS. EQUÈS. ROMANvà EX VOTO. Resende !.• ENDOVELICO ALBIA lANVARIA Pastor ENDOVELLICO ALBIA lANVARIA Lápis fractus IIYJ Siguen las dt^ Resende. 2." . . 'íl ENDOVELLÍet)" SAGRVM MARCVS IVLIVS PROCVLVS ANIMO I>IBENS VOfVM SOLVIT. '-4(^>-J7o ofii i>. ENDOVELLrCO S.¥. • : I 91 oup AI) RELICTICIVM. EX . I : ! T. NVMIN. ARRIVS. BA . i DIOEVS. A. L. P ^6 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL 4.' . . Q. SERVIVS Q. F. PAP. FIRMANVS VOTVM DEO ENDOVELLICO S. L. M. 5/ . . ENDOVELLICO CRITONIA MAXVMA EX VOTO PRO CRITONIA C. F. 6.* . ; . C. IVLIVS NOVATVS ENDOVELLICO PRO SALVTE VIVENNIAE VENVSTAE MANILIAE SVAE VOTVM SOLVIT Esta inscripcion no está en Villaviciosa. Dice Resende que fue conducida desde Terenna ai castello de la villa de Alandroal , á donde existia en su tiempo. Inscripciones publicadas por Pastor. 1.' . . . ; ENDOVELLICO SACRVM. MAR CVS IVLIVS í PROCVLVS ANIMO. LI BENS VOTVM SOLVIT uiosú Bff(BJ 2.' . . ENDOVELLICO SACRVM ANTÓNIA L MANLIO. L. A SIGNVM ARGENTEVM. 3.' . . DEO SANCTO ENDOVELLICO MVN ANIMO LIBENS VOTVM SOLVIT Las inscripciones que trahe Resende como existentes en iin templo dedicado á la Diosa Prosérpina , que reduce á la ierlesia de Santiago , ya no exiçtçn , y solo en el pórtico de dicha iglesja hay una lapida con uua inscripcion moderna DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 97 dedicaria ai Dios de los Dioses, que tiene apariencias de ha- ber sido uiiu de las que cita dicho Rescudc ; y dice asi : SOLI DEO HONOR ET GLORIA IN SECVLA SECVLORVM AMKN MONOS 001:02 20^02 Aqui um parece andubo la mano de Resende , y acaso el fuc el que hizo borrar o recoger las inscripciones de Pro- sérpina. Grulero en el tomo l.° pag. 87 trahe varias inscripciones dedicadas á Endovelico. La 9.*, lo.", 11.", y 12." son toma- das de Resende. La 6.", y 7." soii Ias que yo copie. La 8.* me parece inédita , y es la siguiente : ENDOVEL SACRVM ANTONIAL MANLIOLA E. V SIGNVM ARGENTEVM Las dos siguientes dice que Ias tomo de Èscaligérõi DEO SANCT DEO ENDOVE O ENDOVEL LIGO SACRVM LICO . M.V.M. BLANDVS SCAL ANIMO LIBE LIAE RVFINAE NS VOTVM SER WS SOLVIT A.L.V.S. TOM. XIII. P. I. íí MEMORIAS CHRONOLOGICAS, E HISTÓRICAS DO GOVERNO DA RAINHA D. TEREZA. Por D. FRANCISCO DE 5. LUIZ. tREFAÇÃO. T. ENDo a Academia aceitado com benevolência as duas Me- morias, quo lho oHercci. hunia sobre o nome, e limites ^eo- ffraticos de l^ortuçal no primeiro século da monarquia, e ou- tra sobre o governo do Conde D. Henri([ue ; quasi me con- stituio em forçosa obrigação de oírerccer-Uie também a pre- sente Memoria acerca do governo da Rainha Senhora D. Te- reza , e as outras que vou apurando sobre o governo de nos- sos prini('ir(js Reis, e sobre diversos outros assumptos daHis- toria Purtugiieza. Como porém a Historia Portugueza , e os objectos que lhe dizem respeito, tem sido tratados por muitos escriptores, e por este Jiiotivo poileria |)arecer inútil, ou supérfluo o meu trabalho, |)areceo-me convenieftle indicar aqui (já (jue o nào fiz nas primeiras Memorias) os motivos por que tomei esta t!inpreza , os lin)iles delia, e os meios de que me servi para »l(!seinpenhii-la. Creio ser cousa reconhecida por todos os Portuguezes versados nos estudos da nossa I-itteralura, que ainda nào te- mos lutma Historia de Purítt(/(il, que mersça este nome: e N 2 100 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL não (ligo só huma Historia cscrii)ta com lotlas ;is ciiialiJadíís è perfeições, que inciílcSo e aconselhSo os melhores mestres aradas com os pou- cos meios f I alentos ; 'que em mim ha para as desempenhar. 102 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL 2." Qiio tainbem não foi nicu iiitonto escrever totlos os fn- ttus íla nossa Historia, nem negar os que não refiro, nem en- trar em longas discussões sobre os que podem paíccor diivi- ilosos. "* 3.' finalmento: Que o meu (rabailio se reduz a Iium mero Índice cknniolof/ico dos successos da Historia Poríui^ueza, que me ]iarec<^rão bem veriíicados , fundados em títulos auLheiítl- cos. e fidedignos, e em que o futuro escriptor da mesma His- toria |)ossa confiar com sesuraiiça, ficandti-llie c^©è€ •€•€;•€•©( ANNO DE 1112, X c OR fallecimento do Conde D. Henrique em íll'2 ficou a Senhora D. Tere/.a sua mulher com o i^overno dos estados portuguezes , ou fosse como tutora de seu filho D. Aíionso Henriquez, (pie a esse tempo não tinha mais que três annos ; ou fosse que ella, couio viuva do Conde, se julgasse senhora proprietária das terras, que lhe tinlião sido dadas de juro e herdade, como em dote, por elMei D. Aflonso VI seu pai. Os autores inglezes da Historia (Jniv. dizem que a Rai- nha D. Tereza fez seu ministro a D. Fernando Perez de Tra- va , e que a grande capaciílade e moderação deste niinislro fora causa que os estados da Rainha não sentissem as ordiná- rias consequências das tutorias, ou menoridades ^ e do (joverno de mulheres; e que Portugal gozara por nove annos de total tranfiuillidade , nem nesse periodo houvera cousa digna de memoria , senão a fundação do castello de Soure , prevenção tão útil, que por todos os nove cumos não consta (dizem os es- DAS SCIENCIAS DE LISBOA. ioâ criploros) fpie nrjnella nação hellicosa (os Mouros) tentasse m^ quietar os Porliujucrjcs. ANNO UE 11 16. Tuilo isto poròin hft falso, e contrario a Itiomimentoá históricos de iV; iiuiiibilavpl. Por quanto : iioin o Conde For- nam PfTOZ veio |)ara Portugal s^enão alguns aunos depois de ter coin(M:ado o governo fia llainlia ; nein foi s(!u ministro no sentido cm ipu» parece dever tomar-se este vocábulo, antes forào bem diversas as relações que elie teve com esta Se- nliora (como diremos em Nota separada no lim destas Me- morias); nem finalmente houve em Porluoal os nove annod de total tranijidllidaile . (|ue os oscriplores suppòem. l'ela autoriílade da Ckronic.a Lusitana sabemos, que qua-" tro annos depois da morte do Conde D. Henrique, ós Mou-" ros, que desde 1111 estavíio senhores de Santarém, vierào sobre o castello de Miranda e o tomiírão com grave perda dos cliristãos (l), D'alii passarão ao de santa Jíuhiiia (perto de Monto mór o velho) e (ambem o tomáríío , levando gran- de numero do captivos christ/íos, que forão transportados a Africa (2). E por fim viri.ào fazfcr a mesma destruição tí fui-' na no castello d» Soure , se os seus habitantes , temerosos , o não desamparassem . lançando primeiro o fogo aqiiella antiga povoação (.3). Com as (piaes vantagens se julirárão os inimi- gos ass.ís seguros para cahirem sobre a cidade de Coimbra , e lhe j)Arem , como effectivamente pozerão , cerco a 22 de .llmho do seguinte aimo de 1117, capitaneados pelo Rei Ha- li-ben-Juceph , que de Africa havia passado a Hespaiiha . e com grande e numeroso exército viera intentar eáta facção. O (1) C/irnn. Lusit. " Aera 11 54. casiellum de Aliranda a Sarracents captvm tst , rt ningnn caedes et enpticitns in christianis Jacta est. ■> Este castello lie o i situado ao sul do Mondego sobre o rio Doessa. , (-2) /Alt/, 't Jcra 1154 nnnis Jidii caplum fuit castclliim S. Eolatie a Sarra- cenis , qufxl cst slltim s«'j Mimíe-Màinfe , et captits fuit ihi DidacUs . cognomcnto galliivt. et marjiM caplh-Uas chrhtiannrum indc tra:islata esl , etlam ullrii maré. •' Concorla exactamente com esta a C/irnnica Lameceiise . publicada nas Disscrt. C/ironol. e Crll. do Seulior João IVIro Ribeiro, tom. -t. Part. I. append. num. 1. (3) He constante nos nossos escriptorcs que Soure tbi restaurada em tempo da Rainha D. Tereza . estando desi)Ovo.ida e queimada liavia sete annos. E como a rcstauraçàd 1<>i peloí annos 112S, ou Ilá4, bem se conclue que a sua destrui^àtí W deve reíetir a este tempo , de que vamos escrevendo. 104 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL que som duvida era continuação do projecto, que os Mouros tiuiiào formado des de a morte de elKei D. Alloiiso VI. , de rr-cobrarem as terras de Hospanlia, ou ijeio nseiios aqiirllas, que liaviuo perdido nos uJlimos annus ' Acra 1155 Rex Sarracenorum Hali-lben-Juscp/i , veniens tlc vllra marc ctim mullo cjcercilu . obseJit Colimariam , adjumio sitiiul et omni ex- crcitu, (jui crut circa (lêa-se citra) mnrc , quorum numcrus entt inmimerahilis sic nt arena maris .... Ohscdit autem Collmhriam vit/in/i dicíus, ijUoliJic frliter iit tolo exercitii oppugnans eam : scd per colunlcitem Dei non poluil noecre , et cinitas illcsa rcmansit , et inkabiíantes in ca. » (5) C/iron. Conimbric. "In era 1155 obsedit Rex Ali Colimhrlam X. Kal.Ju- lii , cl Juit ibi per três hebdnmadas. ii (6) Clirnn. Larlirc. pnl)!!™^^ nas Dissert. C/ironol. c Crit. , tom. 4. Part. I. append. num. 1 «. AriU Rex obsedit Culimbriam per Ires septimanui -V." Kal. Jpri- lit , era 1155" aonde parece haver erro no nome do mti. TOM. XIII. V. l. O loc IMEMORIAS DA ACADEftlIA REAL rilln ao Prior de Santa Cruz de Coimbra í), Theotonio , que era Iiuni homoni santo , fazendo-lhe doaçiXo do espiritual , c temporal delia : que o Prior pusera ali por alcaide a Payo Go- terrc.-- ; o rmalnicnlo ([iie o infante, j)ros(ímii]ido pelas terras (los Mouros, Tòru tomar Torres-novas, e d"alii \oli;íra a Coim- bra , e(c. Xào lie faril ajuntar mais erros em fão pequeno espaço. Tudo quanto o escrij)tor diz, á ex(;e|)(;â'o da data do ceri',o> vai encontrado com as menmrias antigas, c coóvas, e com ;? razão dos tempos, que elie justamenl(-' aprecia, c muitas vo- zes segue com lelicidai^e, . 1.": neste anijiD de, 1Í17 tinha o Í!u'"ante D. AlTonso Hen- riquez tamsómente oito annos de idade, e não podia inten- tar, nem executar as cnqirczas militares, que o douto cliro- nisla atpii lhe atlrihiie. jireoccujiado da falsa idèa de liavcr o seidior D. Atíouso llenriquez nascido eailuy^, quando nem seus pais érão ainda cazados. .^.p ,, .,|jjl;[,; ,-,1 ij.iP'! 2.° : neste mesmo anno de ,1Í17, nemmnitos annos de- ]>ois, não estava fundado o mosteiro de Santa Cruz de Coim- bra , nem podia ser seu Prior D.' Tlieolonio. O mosteiro foi fundado quiu^c.p. ai^^os adiante», em 1132, como em seu lugar diremos. ,, ';,;,j ,^',, ^ ,,.,.,., 3.°: neste mesmo anno de 1117 não podia ter lugar a empreza de Lçiria, ijem podia ser expugnado o seu casteilo, que ainda' não existia. A Clironica Lusilana refere a funda- ção deste casteilo jior elRei D. Ailonso líemúquez, ao anno Íl3õ, expressando-se de hum modo, que claramente mostra que 'aqtielle sitio era hmna vasta solidão, ,e que clRei tome- cou a edificar ali o, casteilo para estabelecer a sua /rõulcira contra os Jlouros (le Santarém. Enião iiie pòz elRei (e não os cónegos de Santa Cruz) por goverjiadoí: Pay>) Gotterrez cavalleiro vajeroso , como refere a mesma chronicaVcjios também notaremos em seu lugar (7j. (7) Chrm': Lusii'.' ■■ Aera' 1173 (aii! 'll.'35), quarto idus De(;e'ml>rÍ3 , predictus l?e\ Doninus Xlfohsus coepít i-íV/tcarc caatelíiim Lcircnç, oiiiio legui sui septimo. \ iilens eiiim lreriuei'(teb iiiciirsiones et doprcliUiuiiíjs , que lioljaiit per canipuiii Co- limbrie, ft tronari cos volcns ii) manu Ibrli et íjraeliio externato, ijuesh''! Joc-um iJoiíeiím ad miiiilUnum rçí/iii mi; et .aptuiu ad delrimi-iituiii iniuiinirunv suonim : iriveiiit itaque nionteiíi illuin iit Inço rastuc soliliiiJítiis , iu cnuliuio. y:>uctarè]i) .ót Colimbrie pçwituin , distaus quibusdam a casteilo óanctarèiii quadraffintai, d(í Co- linibria vero fere quiuquaçinta jnjllijirjbas. Ibi jjrlmu íãiftcniHt .cmtaUum , e^co^ lo'eavif'íbi habi'ta*rite's "in eo ,. et préliàt iUis queudaiii inilileju shaimuin, nomine DAS SCIENCIAS DE LISBOA. I«7 Sobre todos eslcs anachronismos podemos ainda acres- centar, que Duarte Niuiez , pondo ah^^uns dos referijos fa- ctos lím vida da Rainha D. Tereza , e Ulo antecipados aos verdadeiros teni])os em que succedèrào , e dando ao senliur D. Allonso licnriquez vinte e três annos de idatle , (juaudo elle sóinent»; contava oito, se vê obrii^ado a passar vinte e dous annos sólidos, cm que nada diz deste Principe, alé che- gar ao de 1139, em que foi a famosa batalJia de Ourique: sendo que, pelos documentos contem|)oraneos , que vamos seg^uindo , jifío obstante serem demasiadamente concisos, e ommittirem muitas cuusas, que sein duvida enlào acontece- riào, se não acha (ão lona;a , e tâo inverosiniil intorru|)rJlo nas emprezas deste glorioso Rei , como se verá pelo extra- cto, que havemos de fazer, das acções do seu reinado. ANNO UE 1119. Na Historin dos Soberanos Mohametahos , escripta por Abu-Mohammed Assaleh, e traduzida pelo nosso digno Con- sócio Senhor Vy. José de Santo António Moura, achamos ap- plicada a este anno de 1119 huma nolieia, que nos j>arece ter sido desconhecida dos nossos chronistas, e que todavia he di- gna de attenção. Diz o autor (a pag. 181 da traducção) que no anno da Hégira 5i;í (que he an. de Chr. 1119) AJy lilho de Jus;;of, passara scqwida vez á Hespaiiha a prosc(/uir a guerra sayrada, e que tendo hido a CortKjva , e dado algumas providencias para segurança e bom govenio daquelias terras, passara a Lisboa, a qual tehe cercada ate' a (ornar de assalto, e d\tlii marchara a combater o paiz occidental j matando , captivando , cortando osjructos, destruindo as povoações . c pondo os povos em tanta perturbação, que fufjião adiante dclle , e hiãojortifi- car-sc nos castcllos Í7iaccessivcis. E que no anno .5 15 (ll2I) re- (jressou Ah/ para a Mauritânia , deixando governador de toda a Hespaiiha a seu irmão Tamim , que a (governou ate' o anno 520 (112(5) em que fallecco. Comparando esta narração com a que o oscriptor árabe nos tinha feito ao anno daJlegira 50-1 sobre a tomada de I.is- Polagium Guterrez ■ ab iHo erfjo virlib- et aiulacia Sarrai-enoruiii cepit iiifirmari , etc. ■■ Veja -se o que.dueinos nas Memoriai de elliti D. AlToiuo Hcnriquez ao aii, 1135 ■ . o 2 U3 V*«^lU Í08 OIEMORIAS DA ACADEMIA REAL boa pelos Sarracenos , de qur> fiz<>mos menção na=? Memorias do Co.irle D. Henrique ao an. 1111, c suppondo-as ambas verdadeiras, vô-se , que succeílco a l>isboa o mesmo, que ri"aqwelles tempos succedia facilmente a outras cidades, isto' he , que dentro de poucos annos foi tomada , e recobrada , ora pelos Mouros, ora pelos (.'liristàos , mais d(! luinia vez.' Por quanto tendo sido concpiistada em loo:i jior D. Aflbn-" so VI. , como dissemos, e recobrada pelos Mouros em 1111 ^ necessariamente se ha de siii)pòr outra vez tomada pelos Clirislííos em hum aiino, que nos he desconhecido, para ago- ra ter liniar a presente conquista, pela qual a cidade (ornou- ao ])oder dos Mouros, prova\elnien(e até o anno de 1 14 7, em que elRei D. Aílonso Henriquez se apossou delia deliriitiva- mcule. ■ - oíí «li ANNO DE 1121. Depois que Aly voltou para a Mauritânia neste anno de 1121 ,iião sabemos, nem as chronicas antigas nos informào , que os Mouros fizessem mais tentativa alguma nolavel sobre as terras de Portugal, até o reinado de elRei D. Aflonso Heiiriquez : antes parece que a Rainha D. Tereza se vio maia desassombrada delles, pois que no próprio anno de ITíl a achamos empenliada na guerra da Galli?a coutra soa intiãa a Rainha D. Urraca. í JNao nos he bem conhecida a verdadeira oausa desta guerra das duas Raiiihas irni.'ias : mas consta pela fTistnriti (Jo)npusl(U(ína , cpie D. Tereza. Rainha doa Porluquczes , .ie tinha apossado, tempo antes, da cidade de Tny , c dos h( tando os Portugnezes na margem Opposla. ■ > Os Gallegos , parto ejn barcas , e parte a nado , tentrírão a passagem do rio, e tomárSo a pequena hisua, que está nO ineio da sua foz : A vista do que os Portuguezes se retirtírão, e D. Urraca penetrou com o seu exercito em Portugal, rou- bando, destruindo, e queimando as. terras , aiii lar ccxcar a (.^) Hht. Canpostel. lib. 3; f.^vp. 40 <■ Nempc PortiKfahnsis Regina ÍW/e»t et circumquaL^ue olirn iiivítscrul , s.íiíi^ue ta inani: tpuiívat. " ■ . - . DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 109 "Raiiilia D. Tíífoza no caslollo do Lanlioso , acjndo se acolli^*'- ra , ularu[aiido-se eiitretanlo os Gallogos em correrias até o Douro (i Ohscde.nml Ipsam Porturfiilie Riyiiiwn !n castro, nomlni Jjimiosio, et caxlrri Ksquc nd DnrUtm proUihlcninl , etc. " Deste oerco tie Lnnlio- sn, cimjectiiramoi nós, que se originou a fabula da prisão da Kaintia D. Tereza ii.if]ueIleioastello . por ordem de seu fillio, depois de vencida por elle, e desapos- S;iHa do fíovjrno em lláS. A occasiào, as circunstancias, e a vcrJaieira época do coroo lurào cousis p juco coiiiieci.las dos no^ws escriptorl. cap. 26 e 43. (12) Ibid. cap. 46 e 32. (13) Hist. Compost. 1. 1. cap. -12 u Judita /frchiepiscnpi ncfandissima captio- ne , mox jirclthpiscopus Bracarensis , et Ejjiscopiis Aiiricnsis , qvi cum eo erant, j ariil);niios > 112 IMEMORIAS DA ACADEMIA REAL Rainha D. Terpza , c até graniicar a sua amizade e favor, a fiiii de ter proiiiplo Juim auxilio útil em casso de necessi- dade. Este nos parece ter sido o motivo , e esta a época do Tractado celebrado entre as duas Haiulias irmàas , cujo teor vem . sem dala . na Monarq. Lusit. V. 3. liv. 8, caj). 14 . e no Catai, das Rainhas de Barbosa pas;. 23 , extraliido do intitu- lado Libcr Fidei do arquivo da Catliedral de Rraga. Parcceo-nos dar aqui a sua integra , seg^undo a versão portuciie/a de Brandão , por ser breve , e importante á His- toria. Diz assim : <' I';sto he o jiu'amento e contracto, que faz a Rainha D. j- Urraca a sua irmãa a inlanta D. Tereja . para que lhe seja j) amisa á boa fé , sem múo engano , como boa irmãa a boa J5 irmãa. Que não trate de sua morto , nem prisão , nem dê >■ para isso consellio ; e se o tem dado , que o desfaça. E dá 3! a Rainha a sua irmãa Çamora com seu termo, Exemca com » seu termo, Salamanca c Ribeira de Tormes com seu ter- jj mo , Ávila com seu termo , Arevalo com seu termo , Man- 5) les com seu termo, Tudela e Medina de Zofrague com seu j! termo , Touro com seu termo , Medina e Pouzada com seu "termo , Seabra e Ribeira de Valdês , c Baroncelli com seu j; termo , Talaveira e Coria com seu termo , Simancas , e j) Morales. Que estão pelo parecer de Egas Gozendes , e de » Gucda Mendez , e com o que der D. Munio , p^ernam de í) Annes, e Exemeo l^opez , os quaes , se se poderem aver , » que seja assi : e se não , que lancem sortes, c as jurem , e >i estejão pela que cahir. È que soja esta a honra, que a Rai- " nha d.-í a sua irmãa , como outra que tem : a qual lhe jure » de a amparar e dcfoidcr contra mouros e christãos , por fá ;' e sem máo engano , ou a veja só , ou acompanha' ávidos por perjuros, des de o temjjo que a infanta quiser "atcnlar j^nr isto em diante. " Deste Traclado tira Brandão duas consequências: ) ." a soberania independente do reino de Porlugal: 2." a prelen- cão da Senhora D. Tereza aos reinos de Leão e Galliza , a DAS SCIENCUS DE LISBOA. 113 qiie sua irmãa D. Urraca qiiiz de algum modo satisfazer, por bem da paz, com a ampla nonces.sAo de lanlas (erras. Nós, nu quanto á seguiula consequência, ii/ío ousamos adiantar tan(o o nosso pensamento: e somos de parecer, que as circunstancias, em que por então se achava a Haiisha D. Urraca , Ibrão as que lhe inspinírào , ou lhe extorquirão , ta-^ manha liberalidade. J']|la se via ameaçada da perda dè todos os estados que possuía , do huuia parte (como já indicamos) por seu filho D. Allonso , e pelo façanhoso Arcebisjio Composlellano D. Diogo Gelmirez ; o de outra parte por elRei de Aragão, que tendo si(l(j seu segundu marido, era agora temido, e pode- roso inimigo. Jidgou pcjis prudente separar a irmãa da allian- ça havia conirahido, e conciliar a sua amizade e auxilio para qualquer futuro acontecimento : e a Senhora D. Tereza não se recusou a hum ajuste de que tirava tamanhos interes-í ses , alargando consideravelmente a fronteira dos seus esta- dos. Pode ser também que a Rainha D. Urraca levasse ain- da outro intento, qual era iisongear o Conde D. Fernando, que por este tempo viera para Portugal, e contrahira suas estreitas ligações com a Rainha D. Tereza, o qual sendo, como era, grande Senhor em Galliza, podia ali contrastar o poder do Composlellano , e favorecer mui utilmente o parti- do de D. LIrraca (lõ). Estas são as nossas conjecturas. O leitor ajuizar.í sobre os factos recontados , como mais acertado lhe ]iarecer , vista que os antigos e contemporâneos não quiserào informar-nos acerca delles com mais individuação. ■ > .1NN0 DE 1122 ate' 1125. A invasão de R. Urraca em Portugal (de que ha pouco» falamos) parece que não teve outras consequências senão as que ficão referidas : e cjue os Portuiruezes não largarão Tny (como dizem os autores da Hist. Univ.), nem os outros lu- gares que tiuhão tomado em Galliza , antes continuarão a es- tar senhores delles : por quanto . (Ifl) Já proinettenio-i mostrar em luima TVo/a separada , no fim dcta-s Memo- rias, «iiie tsle fil o tfmpo , em fjtie o Conde O, FeriuiiuUi rcin j>,ii;i 1'ortugal, 4 eoiUra/iio eslriitií amizade , e alliaiiça ptssonl cam a Ruinlia J), Tereza. TOM. XIII. P, I. P KA MEMORIAS DA ACADEMIA REAL 1.° No anno de 1122 a 17 de Fevereiro, concedeo a Rai- nha D. Tereza lí ig^roja do Oronsc alt^uiis privilc^ios , como consta da escritura d'aquella data, nuMicioiíada no tom. 17 da Esfxin. Sa(jr. . pagf. 81 da '2.* edi<;no. 2." Em Outubro de 1124 fez outra escritura a favor do mosteiro de Monte-ranw, no mesmo Biíspado de Orense, lem- brada no citado luí^ar da Espoú. Sor/?-. 3.° Em 1125 fez á Cathedral de Tuy duas amj)lissinias doações, em que confirma asaiitii^as, e nomóa individual- mente os bens j)ertencente.s .Iquella ií>r(>ja. Vem estas escri- turas no tom. 22 da Esj)an. Sagr. append. 4. e 5. : e he do notar que no íim da scgiuida prometle o Bispo , Cabido , e Clero tle Tuy observar C(M'tas coiidiçòes , declarando que oi prometi om á Senhora D. Tereza , como a ncn/iora c Rainha fsicut Domnac ac Itef/hiaeJ o que parece mostrar que ella fi- cou , e continuou a estar senhora d'aquellas cidades e luga- res da Galliza. Pelos annos de 1123 ou 1124 mandou a Rainha D. Ter&^ za reedificar o castello de Santa Eulália, e ode Soure, que tiíihão licado destruídos da ultima invasfio dos Mouros (comoí dissemos ao an. IIIC) e fez povoar Soure, que des de entSo» ficara deserta , encarreirando a sua defensíSo a Gonçalo Gon- salvez, e aj)provando que o Bispo de Coimbra (que entào erai D. Gonçalo) desse a iijreja do castello ao santo presbyteroi Martim Ayres, que por espaço do 21 ânuos a aílministroi* com grande ])rudencia. e notáveis exemplos de virtude, sen- do por fim levado captivo ])elos Sarrac(!HOs aSantari^m, et d'ahi a Córdova , aonde frdleceo (Ití) . e succedeiido-llie na igreja seu irmão IVIendo , que também tinha sido contempla- do na doaçào do Bispo. Perlence finalmente a este periodo o facto referido na Chron. I/usit. debaixo da era liu;5 (an. 112;j), a sabor, que o infante D. Aflbnso , tendo quasi quatorze annos de idade , tom;íra por sua própria mão , na Sé de Çainora . de sobre a allar de S. Salvador, e no dia santo de Pentecostes, as ar- mas mililares, e com ellas se cingira, da maneira que o cos- tuitiuvão fazer os Reis (n). Aonde .se devem notar duas cousas* (Ui) Vpja-se a / iJa de S. Murlinho de Soure, esirijita por Salvalo (ou Sal- iii. Fernando, feita ao Real convénio das Huelgas, 5ue vem na Eapan. Sagr. tom. 26. pag. 804, diz a data : ■■ Facla Carta die íl )ecemhrls, era 1-58, mino tcrtto reqni 7tiel, his tideUcrt diehus* qtti/ius ego pirae' fiitiis Ree F. . in dictn monastfrio .V. Mnriac Rcrjalis , inanu própria . in novum militem me nccinci. " E em outro documento do mesmo Príncipe , lavrado a 28 de Janeiro de 12Í0 , e cit.ido por Florez nas Mimor. de las Reyn. Catltoi. , diz as- sim a data; •• Facta Cartha apud Seyoclam , 1^. Kal. Fchr. era láSS, anno re- fjni mei tertio , eo ridclicct anno, ovo ego mcvioratus Ret Ferrnndus , in monaste- rio S. Mnriac Reqalis de Bitrijos, jnanu própria , me accinxi cingulo mifilar:, etc. (19) C/iron, Alpkom. f''JI. I, ) , " .Ihiit Zamorum , et habuit ibi collocutioncm, in Ricovado , cum Farasia RegiiM Portugalensium , «t'' ylitno inleqro et diviidio post mortcm Rc- qhme D. Urracae,,. Hev Alpkonsus , . . Rcqe ,^ntfjo?i€iis}um a Cu^ttlía cxjjulao , atifuc J)t(ftito , hnmensam cuia sua aiitUa VoftuijaUnsi Rtijina discurdiaiu htibuit. JUu eiúm fastii superbiac chila Itrniinos justiiiac cqredicbalur , eí nullum Rcji siiciliiiin de Rci/no ijuod nb tilo lencre dcbebat , exibcrc diynabalur \ imo viris, (trmiií . aft^Uf ttiubits pólens , Jines Gallecine urmain cxercitu i/:vadebrtt , et t.'iVaVa- tf» (líi/iie castra í^urltiyaiie wJjaceiítia , Tiidauí scilicct , et alia suo jiíri atfjíte do- ntifíio tiolcnter sít''jnt/abat : muiticipia cíiam nova in ipsii terra ad inquictandam et ad deeastandain palrUim , et ad rcbctlaiiditm Ruji aedlficuri /acicbat , etc. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 117 A NNO IM! 1 120. Depois qiio oCoiuleD. lleiíriquo fallecno (Jiz AChronic- Ltísit.) , (loixaiulo scii lilho em idade de tioiís ou tres ariiios , prelendèriio alçuiis hoineiis indifpios , e eslrangcitus aíeiího- rcar-se do reino, consentindo com eJles a Rainha D. Tereza, (|ne queria síovernar em lugar tic sen marido, e apartar o II- llio dos neuoeios do goveriu) (21). Peluqne o ílÍiuIo au dlia- t!o dos senhores l'(irtLii;u(>z(;s , (|ue não levavijo a bem o go- verno da llainlia , nem dos estrani^eiros , llic deo a batailia de S. JVIamedo junto a Guimarães a 2-\ de Junho de 1128, na qual os venceo , derrotou , e poz cm fuirida , e liindo em .seu alcance os prendeo , ficando deste jnoiio senhor do priiic:pa- d(), c inoiHirijuia do remo de PorltK/al (22). Tal he a sing^ella, c sobejamente concisa relacào, que deale imporlaiile aconte- cimento nos dá a referida chronica. A Hisl. Compostel. acrescenta alguma cousa mais; jior- que falando, ao anno 1130, da nova guerra, que então .se suscitou entre elKei ile Leão e ('asleHa D. AiVonso VIL e o de Portugal, coni('(;a a sua narração ])or estas ]ialavras : "O infante de Porlu' tíuUiain tndigni , et alienigenae oendicabani rcynuiH Pottwjallie , viatrc ejiis licijlmi I). Tarazia eis cuntcn/icnlc , Bolcns et ijiií't j(Hyjfr6f rcjfuirc loco iiuiriti sul , ttmnto filio a ne(jvtio rctjiii. ■' (íí) Ibiil, Kl cniilriti sii/it . et flevirti ah to, el fiir/crunt n facie ejus . et comprefieiulit eos. Ohtinuit ipsc jifincipatuin et motutrc/iiam reyni Fnrtinjuitis. >> (ii ) Hist. (JumjHisl. I. .'. tap. 2'1. 1'orliKjalensls infri/is . . . ari/uisiía l'ortu- gaUiisi patrii , et Feriianilo Pctride , Pelri ('omitis filio , ijui relicttt sua leso Henriquez , aon- de não SI) tem j)or fabulosos os amores , e até o cazamento da Rainha com o C!onde, e todos os mais factos e circunstan- cias, que (ra<[iii se occasionarão , mas também affirma que a Rni)ifui administrou e fjovcrnou o reino os annos que viveo depois Aa rnorle de seu marido, que forão (diz clle) dcsoito an- itos: no (jno es(e douto ('scriptor lie contrario a documentos fi monumentos de A' incnntes(av ' lio IMEMORIAS DA ACADEMIA REAL Ci(a ahi o douto Florez huma escriptura , celebrada no anno de 1189, c diz que delia consta ter o Bispo do Oroiise P. Diogo concedido vários ])rivilei;ios e l"oros .úpiclia cidade, com conseutuncnlo e approva<-.ào"da Rainha D. Lírraca , de seujilho D. Aííonso Vil. , ,> tje sua innàa D. Tcreza , que então tinha Limia com o Conde D. Fernando. Estas palavras « que tinha Liniia >, isto he u tenente Li- miani^'» e outras semelhantes, que a cada passo se lêem nos antigos documcnlos , como >' tenente Lcfjioncmy^ tenente La- niecum>, tenente Extre)naluntm>, etc. , luinca se aclião appli- cadas aos Reis, ou aos seus governos; mas sim, e tamsó-' mente ;ís lenencias , e governos subalternos de alguma cida- de, comarca, ou distriíto, que se governa ou adniinislra cm nome , por concessão, e debaixo da autoridade do Rei. E ainda hoje he csla a significação do vocábulo u tenente » e neste sentido se entende, tanto na linguagem civil, como na militar. Peloque parece , não se poderem aquellas palavras entender, no citado documento, de alguma época, em que a Raiidia D. Tereza estivesse senhora de Linda por conquis- ta ; mas sim de outra tencncia subalterna, que ella tivesse juntamente com o Conde por mercê de D. Adonso VII. seu sobriídio , o que somente podia ter lugar depois da sua des- graça. Os nossos escriptores dizem uniformemente, que o Con- de D. Fernando, depois do desbarato do exercito da Rainha, se retirou á Galliza , consentindo o senhor D. AlFonso Henri- (|uez esta retirada, com o Conde lhe promelter nào voltar a Portugal. E com efleito na Galli>:a o achamos , pelejando por p. AHonso VII., logo na guerra de 1130 e d'ahi em diante até il37. Parece pois verosímil, que a Raiidia se retiraria lambem com elle , e que eillei de Leão seu sobrinho lhes dana o governo e tenencia daquella terra de Lima , como parece indicarem as refi-ridas palavras. Pode dar algum pezo a esta conjectura o que se lô no liv. 1. Aos Teslamcnlos de Santa Cruz de Coimbra, citado nas Dissert. Chronol. e Crlt. , tom. 3. P. I. pag. loi , mini. 382 , aonde falando o escrij)tor da vacatura da" Sé Episcopal de Coimbra, e do desejo que muitos tinhão de que a eleição do Bispo recahisse no Arcediago Tello, diz, que esie, mesmo era o desejo e o empenho da Rainha D. Tereza e do Conde, e que assim viria a verificar-se , se nesse mesmo tempo não fossem expulsos do reinp a Rainha com q scii Conde, tomando DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 12I o filho posHo (lo iíovrnio nQuod cl tinic ficrci , Rcf/ina Tain- sia cl Comilc Fernando in lioc niloilihiis , iiisi divino nulu , IlFXnXA CUM SUO COMITÉ A R F.C, NO EXPULSJS, cjn^ fiíins fivornin', sen ainvoritin projj(i(/o dirjnissima, nno dic, /•ellnndo. f/itod furte ridehilar niirmn, snscipcrct }>rinn])fitu)n.» Talav ras e claubui;is, que o aulor da Hist. Eccies. Lnsil. (Scc. 12. cap. 8. §2. pag. 233) adoptou, c qiiasi copiou, rcrcrindo o fado. do qiio so trata n'aqiirllc documento, o dizendo iirualniciite, (pie o SímUioi" D. AiVonso Ilenritinez expni.suu do reino a Rainlui. e o Conde, u Arc/iidiurmins Tello (s;\o as suas ])alavras) nuiriliun cl vila honestior, a clero, et popnio precibus (jnerclmlur cpiscopns. Reninu Tarasia et Ferdinundus Comes in id nitehntitnr ; et. qnidem Jleret, ni.si Princeps Alfonsus Rc- ginam et Coniitem regno expellcret, et suum suííciperel i>rin- cij)alntn. » Sem embargo destas razões, que nos ])arecem muito at- ler.di\eis, o leitor aceitará, ou r(>jeitarií o nosso pen.íamento e conjectura . conforme llie parecer mais acertado. Doo a Hainlia D. Tereza Foraes a varias lerras do Rei- no. como a Barípieiros, Seruamcellie , S. Marlinlio do Mou- ros, Tavares, ele. Restaurou os ca-:lellos d(! Santa Eulália, e de Soure , que havião licado deslrnidos dos de o temjio da invasíío dos Mouros em lllG. Em seu tempo se restaurou a Catiiedral do Porto, a cujo Bispo D. Hugo fez a Rainha ain|)las doacues. inundou a alberu-aria (hoje cliamada \ elha) na terra da Feira no anuo de 1117. Fundou também no anuo de 1124 o mosteiro do Monle-ramo no IJispado de Orense. Acolheo no Reino e favoreceo os cavalieiros da Ordem Mi- litar do }losj)ital de S. João de Jernsalí^m , e os Templários, que logo come();írào a ser dotados : e parece que também no seu lenq)o (\ntr;!rão em Poriugal os Cónegos do Sanlo Scjiul- cro. FiiialmiMile governou de tal modo seus estados, quealiMU destas, e de muitas outras obras de liberalidadíí e piedade, que praticou a beneficio das corporações, e indi\iduos, não perdeo cousa algunui das terras, cjuo então perlencião aos seus domínios , e lhe ficjírão por morte do Conde D. Henri- que, antes couípiisiou algumas em fi:illiza, que por algum tempo se conservarão no senhorio Porluiíuez. TO.M. XI 11. p. I. 122 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Copia ãa Carta de Confirmação , r anipliução de Couto feita ao Arcebisjm de Brcj/a D. Payo e á sua Jt/reja e cidade j)ela Rainha D. Urraca e seu Ji lho D. Aj]'(,nso. Urnika ^ralia Dei Reçni IspuiiiaB Rrjj,ina alquc lllius meus adríbiísiis Rex eccletsie saneie maric bracharensis ac iiol)is aii-hic|)isco])o díio j)ela<;io coiiririiiamiis kaiiluin uestrinn (lUud aiileccssoros iioslri occlosi(! iieslre et iiibi (Ictlerunt, ac et insuper et nos adiiciímis incauto uestro per ilhiiu monteia de siuaris et per iliud niõn adeligeiredo et per jiortclauí de í(uisandi et per portelam de scudariis et aliam porlelani de lecciones et ad j)or ... de villacoue ac indc a pousaloles ac inde portela de bezerros atque inde ad terniimun de donT et inde per terniinum de louredo et inde ad ])orlelam sancti v(í- rissimi et per terniinum de inter mouri et autoaias usque in cadauum deinde jjer fluuium ipsum usque ad mocorome et deinde unde primitus incipimus et hoc dicimus tali paucione aut si aliquis liomo uel Jiropinqns quod extraneus lioc no- strum donun: uiolari opteiip.uierit sit excoiiiaiunicatus et cum juda dni traditore diniessus et liabcat partem cuni diabolo et angelis eius et insuper incurrat iram ipsius Regine saccte marie. E." í. c. L." viu. die xv." Kats. Julii. V Dnus (liJacus compostell" ciuitas Regnante diia \'rraka hanc cartam con- lirmat. aJetbnsus filius et rex — conf. KoJerious ueiluz — conf. aílctbnsus nujii/ comes — conf. R arcliicfs et sancte Konane a eccle legatus liãc cartam conf. petrus olioliix Pt carJin conf. pclrus enuidcs llisaun' allari Ijti Ja- cubi — conf. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. '.' 1^ NOTA. l Proincttcinos na prpcnclciite Memoria dizer alguma cousa, cin Nota sf^parada, acerca do Conde D. Fernando; da sua vinda |)ara Porliiçal; e da sua intima amizade, e alliança pessoal com a Senhora D. Tercza. Agora cumpriremos esta promessa, (í ajuntaremos algumas poucas palavras sobre D. iicruuulo , irmào do Conde, vistoque a noticia de ambos es- tos fidalgos gallegos he ligada com a Historia de Portugal nestes tempos de que vamos tratando. ' D. Pedro Froilaz, Conde de. Trava, aio de elRei D. Af- fonso VII. , e grande senhor em Galliza , cazou duas vezes: a priuieira com D. Urraca Froilaz (l); a segunda com D. Mayor, e com esta estava j.í cazado em 1110, quando teve a cargo a criação do menino D. Affonso (3), pelo que soiVe- rào ambos as perseguições e trabalhos . que os inimigos do seu Heal pupiiio lhe su.ícitárào , e conslao de vários lugares da Hisl. Conijxjsltllana (3). De ambos estes cazamentos le- ve o Cunde D. Pedro filhos e filhas, que não são do nosso assumpto. Os dons , de que somente intentamos dar aqui noliciay D. Rermmlo e D. Fernando , nasct^rão da primeira mullier D. Urraca l'"roilaz. De D. l-^ernando , he elle mesmo que o diz expres.samente em hum documento, que vem na Coinpos- tcllana Liv. 3. cap. 40 u Ef/o Fcrnandus Cumes, filius Comitis D. Petri Froylazi, et D. Urrucae Froylazi . .'. etc. » E de D. Hermudo o conjecturamos nós, por o vermos ou nomea- do, ou assignado com D. l'"ernanda . mas &emprc antes dei- le , e primeiro ipie elle como mais velho (4). Ambos estes senh , em companhia de s(mi pai , fize- rão a guerra a favor do Real pupillo no anno de 1116, sendo (1) HUt. Composlcl. 1. ,'?. rap. 40. (á; Ihid. 1. l. cap. ns. num. 4. (:!) /',; de n(jve annos ; e peloque agora acabamos de di- DAS SCIENCIAS DE LISBOA Í25 zor, s-p vA que precisampnte nossos novo annos ostevo o Con- de em Calliza, vindo somente ])ara l*ort,u2;al no anuo d(! 1121. O Doutor João Pinio Ribeiro, no tratad* que intitulou Iiijustns Siirreíisôes etc. §5. tamlx-m diz que o Conde D. Ter- nando de Trava tivera mmtu mão no governo da Rainha D. Toreza : (jue ella o adniiíliia no sru amsrlho com na favores i(/uaes d necessidade que dellc lixlia , e conveniências , (fico tempo lhe representava. E que d'assi A' \ ista destas (ão claras e terminantes frases da Com- postellana, os que ainda ()UÍsiTem negar o car:amcnto (illicito e adulterino) ila senhora D. Tereza com o Conde D. Fernan- do Perez, se verão obrigados a imputar á Rainlia o crime, não maior, mas certamente mais indecoroso, de tratar tor- 126 IMEMORIAS DA ACADEMIA REAL pps amores com o Coiule D. Forníindo ; e devcráõ ao mesmo ieni|»o t'X|)licar o verdaJeiro sentido daíjiiollas palavras utoli terrae priíicipabatur y> que ií primeira vista jiareco iiicii Iça- rem hum governo como do sailior e príncipe, já indicado pe- la outra expressão dos mesmos escripLores, quando o nomea- rão Consulein in PortiKjaUin. I^ste só ari;ument,o bastaria (a uosso parecer) para levar a hum alto gnío de probabilidade o segundo cazainento da Kaiiiha D. Tcreza com o Conde D. Fernando ; mas ha ou- tros muitos em lavor desta oi>inião , òs quacs aqui deduzire- mos com a possível brevidade. E ])rinieiramente : o ilouto Bonedictino Yepcs, no tom. 7. da chron. da Ordem de S. Bento , traz co|)iacla entre as escri- j)turas a num. 34. huma doação feita jjela Rainha D. Tereza ao mosteiro de Muiitc-ramo , por ella fundado , com a data de 12 das Kal. de Setembro da ora ll(i2 (an. de Clir. tl24) jia qual diz a Eao Teirasia , bonae memoriac jllfonsi Muíjiti Hispanicirum Remplação , que a não se sn])j)ôr entre estt;s senho- res huma alliança matrimonial , seria jjrova de nào pequena desenvoltura da parte delles, e de hum grande e escandaloso desprezo da ]iublica honestidade e decência. Taes são, entre nmitos (jutros, os seguintes documentos ((;). (5) Diisirl. Cíironol. e Cril. loiíi. .S. P. 1. p.nt;. 80 , imir.e.lS. (G) Veja-se a Mcmor. Polemica ilo nosso erudito Consócio o Senhor António de Almeida, no tom. 11. P. 1. das Mcmor. da Jaidcm. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 127 (l.°) Anno (](' 1121. Km floc.uniento do mosloiro tio Lor- vão, cil;i ( Dixsert. Clironol. e Crit. tom. 1. pai;. 2 17), aonde se vò que Paio Soa- res tinlia o caslfdlo dolJoaniver da mão da Rainha e do Con- de, c consequentemente a ambos havia de ter reiídido home- naí^em. (3.") Anno de 1127. Na Ciiron. latina do D. AÍTonso VIL íí Ahiil (Rox Alfonsus VII.) Z'rimorani . et hahiiit i!ii cMocu- tiunem m Ricovculo cnm Tarasia Reejina Porlnf/aleíistitm , et cnm Comité Ferdinando . fecilqne pacem rum eis. ?> Não só o Condo assislio á Conferencia, mas também se diz que o Rei de Lf;ão fez a paz com amhos " cum eis. ;■> (4.°) Anno de 1127. Em dociiinonto doR. Ardiivo da ora 1165 SC \(S i' Monio Mene.iidiz , M;j ordomo de illa Regina et de illo Comité . . . qni exeini.^ierunt terra de T^iseu per mundn- do de illa Rer/ina et de illo Cnnilc Doumus Fernandus •> fDis- sert. Chronol. e Crit. tom. 3. P. 1. pas;. 85. num. 2.52). He Im- nia inquirição tirada pjr ordem da Rainh^t e do Conde, e hum dos oncarroi;ados delia lio mordomo de amhus. (5.°) Anno de 1128. Estando no^lo anno vasra aS<'>Ca!l)e- dral do Coimbra, dizem as IVIemorias antigas de Santa Cruz de C/oimbra , que todos desejavão que fosse eleito o Arcebis- po Tollo ; que nisso mesmo erão empenhados a Rainha e o Conde; e (|uo assim viria a verificar-so, se nesse mesmo lom- ])o o Sonhor D. .\iroiiso Henrique/, nã) Unirasse do Reino a Rainha c o seu Cinle, e não tomasse a si o principado e o ijoverno. « Qnod fierct . Rer/ina Tarasia et Comité Ferdinando m id nitejilihus, »»>» dioi)io nula, Regina una cum suo Comi- té a Rogno expulsis , ejus filius .... su.lle , diz, que o coii.s('í;uío ]ior sua diliirciicia, Irubalho, o esíort^o , e não por votilado. o(i com auxilio do sem pais a tnw/ia sludio et labore suo, qitani paroi.liim volvn- tatt ant jiivauãne , udeptus esl rcfpnim Poituf/alliae in 7tianu forti" e diz mais, que alguns inditpios cslirnif/cií-cs prolcndifío apossar-so do reino c do governo, aniseiili)ido cota rltrs aRai- )tha D. Tereza, e querendo romovfM' o íilho da adiiiiiiis(raç;'ío dos negócios pnl)licos (-malre ejns Rcí/ina U. Tarasia, eis conscntieiítc , volens et ipsa superhc reipiare loco marili sui , auioto filio a necjotio refjni» etc. Fala-se aqui i\os pais do in- fante , que úquelle tempo não pottião ser outros senão a iiiúi e o padrasto: fala-se de cstraiKjdrcs itidif/uos , que preltMidião senhorear o reino, e não temos noticia de outro senão do principe (jeãlcíjo e seus adhercntes : fala-se finalmente da pre- ferencia que a Rainha dava a estes estrangeiros contra os in- teresses e os direitos do íilho, e não se comprehendc qual motivo a jiodia obrigar a tão estranho jiroccdiíueiito , a não ser o estreito vinculo que com D. F'ernaiido havia couírahido. Estes argumentos e documentos nos parecem mais que bastantes jjara pòr fora de toda a duv ida , ou pelo menos jia- ra dar a maior j)robabilidade, que em taes factos se pode fle- sejar, ao segundo cazanieiito da Rainha, alias já reco)!hccido por alguns escriptores Portuguezes de muila erudit^ão , e cri- tério. Depois da desfeita e desbarato do exercito da Rainha no campo tie S. Mamede, diz a Çhron. Liisil. que os que prle- javão pelo partido delia ^òrao vencidos, e fiu/irão , e f^rão aprisionados ])elo Senhor D. AlVonso llenriquez "CÍ devicli sitnt ah CO , clfuj/erunt , et cotnprehendit eos. » ^'c entrei est(;s prisioneiros se deve coniar o Coi;de D. Fernando (como i)a- rece) , he de necessária consequência dizer , tiue o Senhor D. Aflbnso por hum lanço de gtnierosidade próprio do seu grande animo, e acaso também peia liiial veneração e respei- to que t(.>ria a sua mài e padrasto, lhe restiluio logo a lib(M-- dade com a condição de saiiir do reino, aonde mais i;,'io vol- taria: e nós j;t em seu lugar not;ímos os fundamentos, que tinhamos jiara conjecturar, que não só o Conde, mas tam- bém a Rainha Jorão c.vpidsos do Reino ; que anibos se reco- lherão á Galliza, e cjue ahi provavelmente tiverão de elRei 1^. AflVinso \'II. a ((.'ncucia e governo da terra de Lima. O corto he que em 11:30, dous annos depois da batalha DAS SCIEXCÍAS DE LISBOA. 12'j (lo S. Mamede , estava o Conde D. Fernando na Calliza ; por (jiianto nesse mesmo aiino o achamos pelejando por el- Kei de Leão contra o senhor D. Allonso na guerra qnc en- lão UvenTío os dons piinios fllisl. Cutnpostel. l. ^. cap. '24) ; e no (h> 1134 oiilorooii as cscrij)Uiras, ipie \ em na mesma //w- tor. 1. 3. ca|». 10. l!m 1137 he nomeado Cotide dr Gatli^rn (Esprin. Sar/r. tom. 17. pa;^-. 28) , pode ser que por haver j;í lallecido o Con- de D. Pedro seu i)ai , fpie leve o mesmo titulo , e de cujo fallecimeuto. hemcnmo do de sua sf^gunda mulher D. iVlayor, íaz mencào ■.iCouiposliIlmuí 1.3. cap. 3. dehaixo tio anuo I l'2B. I'"inaliii(;nle sabemos pela Diascrt. ílislonc. de D. Mar- lin Fernandes de Navarrctc , impressa entre as da Academ. da Hist. de Madrid, tom. V. a paç. 4tí, q)ie cm duas occasiócs passou á Terra S- o Conde D. Fernando de Gnllizn , fillio da Conde D. Fedro de Traua., (do do Imperador D. yílf'o)i»o f II , aivalleiro tão usitpudado eui annas . como cm liiludc, e tjue sem duvida, cxcrcilou lá o seu valor, ristoípie notava como épo- ca mui asifjnaUcda a do seu reejrcsso de Jcrnsedcm, como se ob- serva na doação , que fez ao mosteiro de Sobrado , da Ordem de S. Jiento , tio \.° de Maio do anuo de Il.')3, acrescentando « anno ijuo e■> Hum escrij)tor Castelhano, mais moderno, lançou mão desta relação , e disse com nuiita gravidade , e serietlade : ti D. Fernam Píuz de Trastanutr cazou com D. Tcrcza Con- dessa de Portugal e da província de Coimbra, viuva do Con- de D. Henrique, estando cazada cnm seu irmão Bermudo Paez, o qual cttzou com D. Tercza. filha da mesma Conác,&:i'A de Por- tugal sua. mulher. Por esle direito D. Fernam Paez tomou o titulo de Conde de Portuqal e pretendei) a succcssão otc. Mr. de la Cletle não julgou conveniente excluir da sua Historia estas indignidades, e disse no liv.5. "que a senho- ra D. Tereza , esquecida do que devia á sua (jualideule , á sua cousciencuc , c ao saníjuc nohre . de qu< procedia, sr Sídtou á mais ahominavcl deras.-^ulãn . c se cazou ás escondidas com l''(írnam Paez Conde de Traslamara , (bísacreditaudo-se com este cazameiito , tanto mais indij^no , jmr ter andado de amo- res com D. Bermudo seu cunluido : c que não satisfeita com es- te incesto , deo occasião a outro cazamlo com esle mesmo Ber- mudo sua filha a Priuc.cza Urraca, <'lc. Faz na verdade pejo , e causa imliaiiação ler taes infâ- mias , e tão absurdas mentiras! Para as refutarmos complo f a mente bastaria pedir a estes escri])tores alguma prova so- lida e aceitável do que tão ousadanuMile aflirnião , ou algum documento ou escripto contemjjonineo , ou dos seculus im- «lediatos, em tpie veidia a relação de taes successos. Nós os não temos ateagora achado nem nas chronicas relações , ou documentos Portuguezes e estranueirns dacpiella idade, iicin na Historia Composlcllana , que sobre ser cscripta no ])roj)rio DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 131 tompo dos fados que se confão , fala com soboja soltura da sua Haiiiha D. Urraca, e certamente não pouparia a l*ortU- í;uoza , SC fossem verdadeiras as infâmias, que .«e lhe iin]Ml- tão , maiornuMití" quando referio o seu trado adultero com o Condi' D. 1'ernando. Os dous primeiros escriptores, que citamos, mostrSo-se de mais a mais tão iy-norantes das circunstancias dos factoâ que referem, que dãf> ao Conde D. l''ernanilo e a seu irmão o sohrenoinf! j)al roniniico d<< Paez. devendo dizer Pcrez, er- ro cm qu(í lamhem caliio la Clede , c pelo qual se vi; quam pouco instruidos estavão ;í cerca das j)essoas , de quem alias sabem , e notão com tanta miudeza as acções escamlalosas. Os mesmos dous escriptores i<;noravão igualmente o norne íla Prince/.a liilia do Conde D. Heuri<[iie, (pi(> cazou com D. líernuido Perez ; j)orque lhe cliamão D Toreza , sendo o seu jiome D. Urraca, como j;í tlissemos. O cscriptor Castelhano erra também èm denominar a senhora D. Tereza condct^sa de Portufjol e da província de Coimbra, titulo que nunca teve ; e o chronista Portiiguez er- ra muito mais grosseiramente , dizendo que por acjuellc jjcc- cado fora Jeito em Gallizu o mosteiro de Sobrado, sendo certo que este mosteiro estava fundado cousa de l.ío annos, antcg que existisse a Senhora D. Tereza. e o Conde D. Fernando ^ e seu irmão. O mosteiro de Sobrado, depois de vários casos, qu(í n;fere IHorez na Espan. Sar/r. tom. ID. , veio a caliir lia coriia de í.eào. A Hainha D. Urraca o doou aos dous irmãos D. l'ernanflo e D. Bernuido, qiu^ erão bisnetos dos anti f/os pa- droeiros. TMorecia no tempo delles a Congregação Cistercien- sc : e como o mosteiro se achassíi em decadência, resolverão com consentimento e concurso de D. Aflonso Vil., dirigir-se a S. Bernardo , que a pedido d(>lles mandou alguns de seus monges para restabelecer a disciplina monástica , jilantando ali a retorwa. l'oi isto pelos aimos 1142, e consta que o jiro- j)rio D. Bermudo se recolhera áquella clausura , e se fizera ali religioso {Florcz , lug. cit.). D. Bermudo governou \'iseu no tem|jo da Rainha D. Te- reza ; porcpie em huma escrijjtura de l das Cal. de Abril da er. 1 IGG (:JI do Março de ll'2(t) o achamos contirmando nes- tes termos « f^cruiudo Petris continentis fiseo, confirmo, n I'arece também que este senhor, apezar de ser irmão do Conde D. Fernando . se não achou na batalha de S. Mamede em wm, nem fui enião envolvido na desgraça 11(> , iiiteiitaiwlo acaso vii:qar a Rai- nha, e o irmão, e rcstabelec(?r o sen parlido : o ([iie foi proni- j)(amen(e atalhado pelo senhor D. Allonso Henriqnez, como consta da Clirou. JaisiL . e nós diremos cm sen hisar. Knião nalural parece qne D. JJtrnaulo luss(^ ()l;rii;ado a retirar-se para a Galjiza , aonde em 11;}7 lez a guerra jjor el- Rei de Leão contra Portugal , e foi hnm dos senliorcs apri- zionados pelos Portugiiezes no combate ác f^ullc-dc-vez , co- jno também em seu lugar se diní. Tantos desares, e pode ser que a morte da infanta sna mulher, lhe inspirarião desgosto tio mimdo- e u projecto de recolher-se ao mosteiro de Sobrado: depois |)(i(l<'ss(^in iul.iral-a , e confirinal-a. P^r fclici- tlado fiiooiílníiiios (li)Ciinit*iitus iiii|)rcs.sos o iiiaiiuscriplos , í; jiiiilns com clles iiovxs tradições relativas ao oUjct-lo ilfjsta nossa avoriiíiiaçào, o que tudo j.áo sciulo aiiula só por si ba» taiilfí para satislactorianiente decidir-iios, foi todavia suíli- cioiílo para dar ao nosso jiii/.o ali;um riiino do dirccrào. r.iilro os duciijiiciitos cMicoiitnínios impressos os quatro seguintes : l." DOCUMKXTO JMPRESSO. iiPelir.ào do P. ]>ar(liolomeu sol»re o Instrumento, que inventou para andar jxlu ar. e suas utilidades. •; i. Diz o l.iccncMdo Jiartli(jloiiieu Lounniço, que elle tem redescoberto hum instrumento |)ara andar pelo ar da mesma r> sorte , que jxda terra , e pelo mar, com muito mais brevi- » dade : fazcnuo-se nuiitas vezes duzentas e mais ie^íoas de j) camiiiiio por dia, nos quaes instrumentos se poderão le\ar J5 os avisos de mais importância aos exércitos e terras mais » remotas quasi no nuismo tempo, em (jue se resolvem : no « que intere.ssa a Vossa IMaj^estade muito mais que todos os » ouiros Principes , pela maior distancia dos seus Domínios; >5 cvilantlo-sc desta sorte os desgovernos das Conquistas, (pie » provém em g-rande parte de clie'4ar tarile a nolicia delles. jj Alen» dl) (pie , poderá Vossa Majestade mandar vir todo o » preciso delias muito mais brevemente, e mais seguro: po- « derão os iiornens de iNegocio passar Letras e Cabedaes a » todas as Pra(;as sili^idas : podrírão ser soccorridas tanto de .-) gente, como de viveres e niuiiict^es a (odo o tem])ú ; e li- » rarem-se delias as pessoas, ([ue quiserem, sem (pie o ini- j» migo o possa impedir. Dcscobrir-se-hão as Regiões mais « visinhas aos Poios do Mundo, sendo da Na(;;io lerliigueza " a gloria deste descobrinuMito. Alem tias iiilinitas couveiiien- j) cias, qii(! moslrará o tempo. E por(pie de.-íle invento se po- jmIoiu sei;uir muitas desordens, commettendo-s(! com o seu » uso muitos crimes, e tacilitaudo-se n.uitos na contian(.-;i de »se |)oderem passar a nutro Keino , o que se evita estando •; reduzido o dito uso a luinia só pessoa, a (|uein se mandem .•> a todo o tenqio as ordens convenientes a resj)eito do dito ') transporte, e prohibindo-se a iodas as mais sulire í^t) gra\es (<■) Sobre, assiui se lè no inipiesiu, <(iie liulmeiíte co|iiaraoT.. 130 ]\lE3IORIAS DA ACADEMIA REAL «penas ; r lir bom se remunere ao Supp.e invento de tanta » importância . 5) Pode aV.Mag.Je seja servido con- ?) ceder ao Supp.'" o privilcçio do que, » |)ondo por obra o dito invento, ne- j) iihunia pessoa de qualquer quali- » diide, que for, possa usar dclle em » iienhum touipo jiosto Koino, ou suas "Conquistas, sem licença do Supp. e, "OU seus herdeiros, sob peria deper- " dimento de todos os bons, e as mais " que a V. Mag'.J« parecerem , E R. M.ce „ íí Consultou-se no Desembargo do Paço aElRei com to- " dos os votos , e : scf/redo . que ruTo cpiiz declarar talvez por boas razões, que " para isso tivesse. O corto he . que o Autor era homem do » talentos e de grande capacidade , e que a tal Machina foi DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 137 » experimentada , segundo o testemunho de alguns velhos do j» probidade , que ainda vivem em a nossa Corte ; a pesar de » haver alguém, que o contradiga talvez por malícia, ou »por ignorância, etc. Lisboa na OíTicina de Simão Thaddeo » Ferreira 1774. Com licença da Real Mesa Censória.'» 3." DOCUMENTO IMPRESSO. Consta do hum Folheto, cujo titulo he o seguinte: « De- »scripç.~io do novo Inxento aerostatico, ou Macliina volanle ; j? do methodo de j)roduzir o gaz ou vapor, com que esta se «enche; e de algumas parLicid:iridades relativas ;ís experien- » cias, que com eila se tem feito : com a noiicia de luim se- » melhante projecto, formado cm Lisboa no principio deste » século, e peças a eiie relativas. Lisboa na Olíicii a de An- »>tonio Rodrigues Calhardo (parece deveria lèr-se G«//ío/t/o), »> Impressor da Real Mesa Censória: Com licença da mesma » Real Mesa " N.B. Este documento sem data he sem duvida posterior aos ensaios aeroslaticos dos irmãos JMontgolliers ; pois em tal documento já se fala nelies : e he por consequei.cia dos fins do secíilo passado, e ainda do tempo da Real iMesa Ce: so- ria, com cuja licença foi dado á luz. DcUe damos por extra- cto o scgui-ite : « . . . . Desejaríamos concluir esta matéria; fazendo honra »> ao engenho Portuguez , que j;í no principio deste século j> imaginou liuma Maciíina para viajar jiolos ares: mas ainda >» que he voz constante, que lalMachina cheg.íra a constiuir- j) se , e que até se diz que ella se elevara, ou voara do tor- " reSo da Casa da índia; não podemos achar documento al- "gum autheiítico , nem fidedigno, que atteste este facto. " AchSo-se em algumas Livrarias , e nas mãos de varias ])es- " soas , copias de huma Petição do theor seguinte . . . ;j N.B. Lí-se logo após neste Impresso a Petição pelas mes- mas palavras, com que atrás iica transcripta (Documento im- presso N. 1.°): e remata com as frases que delle continuá- mos a copiar fielmente. " Com estas copias se acha hum desenho da mesma Ma- » china , o qual por huma ex|)licação a elle annexa, mostra, II qual devia ser a sua constriicção. Ella , segundo alli se ex- » plica , seria da figura de hum barco, ou antes de huma » grande concha : seria forrada de chapas de ferro, e por den- TOM. xm. p. 1. 6 138 MEJMORIAS DA ACADEMIA HEAL )j tro de esteiras de tabila , . jiqra s<>re|in ;illra|ii(Lis liumas por j> pedras de cevar, e oiilras jior alambres. coHocados ua j^ir- J7 te superior da Mai-hina : esta sendo ele\ada pela dita at- » tracção , ou forças inaijiiotica e eléctrica, seria, mediante "humavela, iniix-llida pelo vejitt) , e, na lalta .dçstc , pelo "que se lhe subníinislrasse com folies , alli igualmente coí- " locadoà para esle ellcito j dirigindo-sp crumo por hum le- » me . i)osto na pApa , com humas l)ás , ou" azas ein ambos os "lados. Não lie poroni necessário ler muito cojilieciíiiento "de rhysica ou de Mecânica, para ver que por estes priíj- " ci])ios he absolutamente inijiossiye.l o eleyar-se bujna ijija.- » china volumosa e pesada: nem parece mesmo crivei , que ?> huma pessoa, que aliás deo outras provas de iiitelligeiícia e " de engenho , jiodesse jamais conceber a idèa de fazer voar "huma macliina de semelhante construcção. Como porouírji 5) ])arte ha huma constarite tradição, apoiada com a authoii- " dadc de varias pessoas sensatas e de provecta idade, que »assevcrão ter sempre ouvido, que a Máchina, de que fala- rmos, cheg;{ra a elevar-se , e a v.oar ao meuos ])or algum j! pequeno espaço; devemos crer, que ella fosse de outro j) modo construída; e ([ue o desenho, que agora vemos, não j) representa o artificio , que então se praticou. » 4.° DOCUMENTO IiMPRESSO. N.B. Este documento consta de varias poesias, copiadas exactamente da collecção impressa, intilulada Pinlo renaísci-r lio ... (Ac. , e compostas pelo muito festivo Jjoeta Thomaz Pinto Brandão, o qual, como he bem sabido, foi contempo- râneo do P. Bartliolomeu LbUrenço de Gusmão; pois nasceç no anno de 1664, e falcceo no'de 1743. Ao novo invento de andar pelos- ares. 1.* 'ii Esta maiòma escoiidiíia , Que abala toda a Cidade; Esta mentira verdade. Ou esta duvida crida ; Esta p.\alaç."io nascida [ No 1'artu.^uez Firiiiauiento ; i Rste nniKa visto invfiito - Do Padre Bartliolomeu , Asiiui 1'ôra Santo cu, Como elle he cuu:ia d« vento. <> DECIMAS. 2." >i Esta fera Passarela , Que leva , por mais que brame , Trezentos mil réis de arame Soincnle pura a fjayola ; Ejta urdida paviola , Ou eite t«'i(lo enredo ; Este das mullieres medo, E em lim dns liomens espanto , Assim Inra cu cedo Santo, Coniu ;íe ha de acabai cedo. >• .lax.Kuv DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 139 Ao Padre Bartholomeu, lendo na Academia. 1.' DECIMAS. 2.' «Meu Padre Bartholomeu, Eu , segundo o meu sentir, Não vi outro mais subir De quantos vi voar eu; O conceito lie como meu , Que o não pude achar melhor; Porém se como Orador Tanto sabeis levantar. Não me deveis estranhar. Que eu vos chame Voador. i> Tanto no ar vos remontaes , Que com delgadas ideai fazeis de alcunhas plcbeas Antonomasias reaes : E pois vos avisinliaes Mais ao celeste fulgor , Será tyranno rigor. Que eu também no ar não falle , E que na terra se calle , Que he huina Águia o Voador. 3.' i>Quem mais vòe não se vê , E se ha quem disto se gabe. Até agora se não sabe Qúe casta de pássaro he : S6 vós da vista e da fé Sois quem logra este primor; E pois tão alto louvor Não ha outro a quein se applique, Será força que eu publique. Que só vós sois Voado». " Por força do vowo estudo , Por geito do vosso estado Para tudo sois azado , Tendo penna para tudo : Assim lie estylo não mudo No estranho do meu louvor , E entendo do meu amor (Se o não tomais por lahéo) Que até chegardes ao Ceo Haveis de ser Voador. >• DOCUMENTOS MaNUSCRIPTOS. N.B. Os dons primeiros documeníos maniiscriptos, de que vamos servir-nos , forão extrahldos de huma Collccçào , que encontr;ímos em mão de pessoa erudita e muito curiosa, a qual Coliecção tinha por titulo : Papeis oritjinacs deste tempo (re- feriíido-sn aos primeiros aiinos do governo tl'elRei D. João V.) f/ue cxislião no Cartório do Snr. Manoel Coelho de Lima , di- gníssimo Official de Secretaria. l.° DOCUMENTO MANUScniPTO. « Meu Senhor ... ' A maior novidade, que de presente ')se offerece nesta Corte, he a que lhe constarei a V. S. da "Petição inclusa ( he a que deixámos copiada como 1.° do- »> cumento imjiresso) : está concedida a licença, pagos os Di- S 2 140 JMEMORIAS I>A ACADEMIA REAL jjreilos, passada ;i Provisão pela Chancellaria , c se trahallia >j na niacnina. K" \'. S. me teta sempre' pcoiirjiloi. . . . Decs "Guarde a V. S. muitos annos. Lisboa 22 ilo Abril de 1709. Menor amigo e servidor de V. S. » K.B. Esta Carla não (inlia nome. nem da pessoa, que a escrevco ; nem daqiiella, a' quem foi escripta. 2." DOCUMKNTO MAMJSCRIPTO. N.B. Oflerecemos por segundo documento mana^^cripto Inim Soiielo , que ])arece Inivi-r sido feito no tenipo , em que o P. Gusmão deò jxibliciclade ;í invenção da sua Machina , a <|ual pur isso mesmo que efa nova, extraordinária, e até es- se leni|)o inaudita. (e\e, como quasi semj)re costuma acon- tecer, (piem a pretendesse desacreditar, e delia escarnecer, áONETO. yío Padre BarfholohtcU , Inventor da navegação do ar. " ^'^eio na frota hum doente Brasileiro , Em tráge clerical , sotana , e c'fôa , Fez crer, que pelo ar' navega, e vôa N'luim barco sem [uloto e sein romeiro : Vai-se ao Marquez de Fontes mui ligeiro, Dechua-liie o segredo, este o apreçôa; Sahe a Consulta , pasma-se Lisboa , E em tanto esquece a foíne no Terreiro : Bem merece este doente eterno asse^ito ,-,/ ÍNa etlit''rea região , eu já lhe approvo A dial}riu"a do subtil invento j Pois hum milagre fez, ipie he mais que novo, FjIh manter tantas boccas só de vento , Fazendo hum Camaleão de tanto Povo. >? 3." ílQCUMliNTO MANUSCRIPTD, A.B. Este documerito in»portantisí5Í,mo e fidedigno, mais do que os outros todos , he o Ah ará expedido a favor do J'. Bartliolomeu Lourenço en\ vifita do seu requerimento para u navegação do ar,, ppr elle tiuuunqiada e promettivia ; docu-f DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 141 mento fiolinonte copiado na Toitr do Tombo da Ghaiicellaria d'tlRei D..I0/Í0 V. ==()flic.ios e Morccs , Liv. 31, fui. 202 v. " liu ICIIloy Taco saber, que o I'. Hartholomcu l^oureií- » ço me rejiresentoii por sua pol.it-ão , que ollc, tinl)a desco- «berio hmn instriiinoulo para se andar pelo ar, da mesma »sor(e que pela terra e jjelo mar, e com muito mais bre\ i- " dade , l'a/.eiido-se muitas vezes duzentas e mais legoas de » caminho por dia; no qual instrumento se poderiáo levar os «avisos de mais imj)ortancia aos exercilos e a terras mui re- " motas , quasi n(> mi'snu) (enqjo, em que se resolviíTo , no »que interessava Vai mais ber-se-hão as verdadeiras longitudes de lodo o mundo, que j> por estarem erradas nos mapas causavão muitos naufrágios; «alem de infinitas conveniências, (jue mostraria o tempo, e «outras que por si ijrào notórias, que todas mereciào a iNIi- «nha Real Attenção : e porque deste in\ento tão útil se «poderião seguir muitas desordens, comeltendo-se com o «seo uso muitos crim<'s, e facilitaiido-se muitos mais na con- " fiança de se jioder passar logo aos outros Keynos, o que se «evitaria estando reduzido o dito uso a liunia só |)essoa , a «quem se mandassem a todo o tempo as ordens> que fossem «convenientes a respeito do dito transporte, prohibindo-se a «todas as mais sohre («) graves penas: por ser justo que se "remunerasse a elle Suj)p.e invento de tania inqiorlancia , «Me |)edia llie fizesse merco conceder o jjriviiegio de que, «pondo por obra o dito invento , neidiuma pessoa, de quali- (•) Scguiinoi' á risca o .Manusciiplo ^la Torre Jo Toiíibo : o nicsnip iia pa?. se- gniiite liiili. 5. ,^ /^ ,0. ' ^ _ 142 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL jjdade que íòr , podesse usar dclln oin ii(>nlniin tempo nesle j> Reino e suas Conquistas, com quaicjuer ])n>(f>xto , sem 11- «cença delle Suii|).«, ou dc! símis ]u'r(l(!Íros . sul) pena e per- »dinieiito de todos os seus bons, aiiiotade para elle Suj)p.e , »e a outra aiiietade para quem os accusasse, c sobre as mais )' penas que a Mim me parecessem, as quaes Iodas terião j! luear, tanto que consliísse que alguém fazia o sol)re(lito in- j> stnim, ainda (pie jiào tivesse usado delle, para que nao «ficassem frustradas as ditas penas, auscntaiido-se o que as j) tivesse incorrido : E visto o que ailegou , Jley por bem fa- 5>zer-llie merco ao Suj)p.e de lhe conceder o j>rivilegio de jjque, pondo ))or obra o invento, de que trata, neidiunia pes- jjsoa do ((ualidade que fòr, j)ossa usar delle em lienluim l(!m- 5j po neste Reino e suas Conquistas, com qualquer pretexto, «sem licença do Supp.e , ou de seus herdeiros, sob ])eua de jjperdimento de todos os seus bens, ametade para o Supp.e, 5> e a outra ametade para quem os accusar : e só o Supp.t; «poderá usar do dito invento, con\o pede na sua petição. E 5> este Alvará se cumprirá inteiramente, como nelie se con- j) têm ; e valerá , posto que seu clVeito haja de durar mais de 3>hum anno , sem embargo da Ordenação do Liv. 2." Tit. 4.° «em contrario. E pagou de novos direitos quinhentos e qua- «renta reis, que se carregarão aoThesoureiro delles a fl. iGO «do Liv. 1.° da sua Receita; e se registou o Conhecimento «em forma no Liv. 1.° do Registo geral a fl. 149. José da «Maia e Faria o fez em Lisboa aos 19 de Abril de 1709. Pa- «gou desta quatro centos reis. Manoel de Castro Guimarães «o fez escrever. = REY. ^ Conferido. Patrício Nunes: E «comigo Joseph Corrêa de Moura. » 4.° DOCUMENTO MAMSCRIPTO. N.B. Foi extrahido este documento por copia i'iel de hu- ma Obra manuscripta, em dous volumes de 4." |)cqueno, na qual pela ordem dos dias do anno , a começar desde os j)ri- meiros annos do século decinn) oitavo , se achào recopiladas varias noticias pertencentes a Portugal, etc. O seu autor foi o Beneficiado Francisco Leitão Ferreira , Prior da Igreja do Loreto de Lisboa, e Sócio da Academia Real de Historia Portugueza , de cuja erudita penna sahírào as Nulicias Chro- nolotjicas da Universidade de Coimbra, e outras Obras mais de merecimento. Nasceo em Lisboa a 19 de Maio de 16G7 , J." DAg feCIENCIÁ» DE LISBOA.'^ ¥é e morreo Pin 1735; e foi consftçuintomonte contemporâneo tio P. H)4rU>()loin<=« l.iHirpiiro >ro (foi eiioano de LeiLSo Ferreira; por quanto o individuo, 5>de que trata, era natural da V^illa de Santos na Provincia •>»de S. Paulo, como atraz fica dito), em que lhe concedeo » j)rivile^io , para que elle scimente , e seus herdeiros podes- »sem usar do instrumento, que se olfereceo fazer para ua- Mvegar pelo ar; })ronie'tendo luinia nova iiavegaçSo degran- »de utilidade para o Doiniuio Portu^uez. Estamos esj)eran» ?'do o efTeito e experiência deste inaudito invento.)» Nota marginal do mesmo Autor. "Fez a ex]>eriencia em 8 de Acosto deste anno de 1709 «mo paleo da Casa da índia diante de Sua Magestade, e »i muita Fidalguia , e gente com hum globo , que siiblo sua- »vemeiite A altura da Salla das Embaivadas , e do mesmo «modo de^reo , elevado de cerlo material , que ardia, e a •ique applica o fogo o mesmo Inventor. » E continua dejjois : "Esta experiência se fez dentro da Salla das Audiências. >> Taes são os documentos por escripto, que j)odf'nios des* cobrir, e que nos servi r.l!o de fundamento para formarmos hum juizo, pelo menos provável, ;( cerca do invento das INIacliinas-aeroslaticas . fructo da sasacidad(> de insenlio Ao célebre P. IJartholomeu Lourenço deGusmào. — Passaremos agora a fazer algumas curtas reflexões sobre estes documen- tos, e a elles acrescentaremos de])OÍs o argument > deri- vado da tradição , relativa ao niesmo invento ; para deduzir- mp.s a final ^ á. vis(a do ç^ue licar poiíderado, a nossa opiniào sobre este assujnplo. 144 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL REFLEXÕES a' cerca DOS OITO DOCUMENTOS. :, Reflexão 1.* Dos oito documentos, que ficão copiados, os quatro úl- timos, isto he, os manuscriptos, e o primeiro e o quarto dos impressos , apresentão-se , conforme delles se deixa vêr , co- mo coevos ao invento , de que dão noticia : o segundo po- rém e o terceiro dos impressos são de huma data muito pos- terior ; e devem por isso ser havidos na conta de memorias meramente tradicionaes , que forão postas por escripto e pu- blicadas pela imprensa muitos annos depois do acontecimen- to. Não nos cançaremos em provar aauthenticidade dos do- cumentos manuscriptos N.os i.° 2.° e 4.°; pois baldada em- preza seria o pretender leval-a á evidencia : diremos somen- te a seu respeito , que , não contendo elles matéria de inte- resse para huma supposta invenção, maiormente entre Portu- guezes , por desgraça tão desapegados deste género de glo- ria ; de mais , que tendo sido os dous primeiros documentos manuscriptos encontrados com o titulo de Papeis Oiigiiwes do tempo do yoverno d'ElRei D.João f^. no cartório de hum OÍIicial de Secretaria d'Estado tão geralmente reconhecido por curioso , como foi Manoel Coelho de Lima : parece-nos , que não será abusar das regras da boa Critica philosophica o have-los por authenticos ; acrescendo , que a matéria , de que tratão , além de outros sólidos fundamentos , tem hura muito plausível arrimo na tradição assim da gente Portugue- za desta Capital , como da pátria de Gusmão no Império do Brasil , conforme adiante se mostrará. Quanto á authenticidade do 4.° documento manuscripto, extrahido da Obra do Beneficiado Francisco Leitão Ferrei- ra , dizemos : que , attenta a descripção , que desta Obra nos fez primeiramente de bocca, e passados alguns ai, nos em huma Carta, escripta de Lisboa para Coimbra em 7 de Fe- vereiro de 1818, o Sflr. José Bonifácio d'Andrada e Silva, seu possuidor (») , não tivemos difficuldade em consideral-a (") ■! Vamos agora ao Manuscripto do P. Leitão Ferreira , que possuo : devo »dizer-lhes que não tenho toda a certeza de ser authographo, mas he pelo meno» DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 145 como autlionlica, quando não seja aiitoírraplia : e (emos por sem duvida ser cila a mesma, que o Aufor da Bihliothcca Lu- sitana, no seu artii^o relativo ao JJciieficiado Leilão l'"errei- ra , menciona em ultimo loirar ontre os seus Manuscri|)tos dcliaixo tio titulo díí Ephctneridc Ilislorical , Chro7wlo(/ica , Jjiisilnna, na qual pur dias e. annos ac referem vários successos históricos e memoráveis , acontecidos em Portwjal e nas suas Conquistas, com outras memorias notáveis a este fflorioso domí- nio pertencentes: l. 2. Tom. 4." MS. ; da qual Obra, diz o ci- tado Autor da liHiliothrca Jynsitana, que tirara a.s memorias, que na([uellií artii;o 'leiva oscriplas. Pelo que re.spcila porem ;í autlienticidadc do 3.° docu- mento manuscripto , essa he incontestável ; por ter sido co- piado escrupulosamente tios Livros da Cliancellaria d'elRei D. Joào V. , depositados na Torre do Tombo. Rejlcxão 2.* A' vista de todos os oito documentos apresentados ; e da antlientitíidade , sequer provável, que reveste os três, d'eii- Ire os manuscriptos , l.° '2." e 4.°, e da indubitável do 3.°; talvez não parecer;í temeridade o concluir, que o P. IJartho- lomou Lourenço de Gusmão foi o inventor das Machinas-ae- rostaticas : por quanto abona esta conclusão em primeiro le- gar a Petição do mesmo P. Bartholomeu Lourenço , feita a clilei D. João \\ (documento impresso N.°l."), (pie consti- tue também huina parte da CoUecção de Papeis Orisinaes MS., perlenceiítes ao Cartório do OíFlcial da Secretaria do Estado Manoel Coelho de Lima , dos quaes ou de outros iguaes seria extrahida a co])ia , que se fez publica j)ela im- prensa; documento este (jue se encontra copiado igualmen- te , posto que com leves alterações , no Al\ ar;í (relRei Ú. João V. j)assa(lo a favor do P. Bartiiolomeu Lourenço (do- cumento MS. N.-S."). Abona esta mesma conclusão a Consulta do Desembarco do Paço , e a Resolução delRei a favor do inventor da I\la- cliina (dt)cumento impresso N. 1.°). •■ Jc certo liuma copia daquelle tempo pela letra : e iieiilumia duvirla tenlio que se- "jii a Eplicmtrlilt llistoricat . .. ele, de que falia Barbuii : pois lic em dom to- ■• nioi de quarto pequeno, inas nào traz titulo ak'um . nem Pretaç.io ; e lòi lem- •• branca minli.i dar-lhe o de Diário Histórico. « (5 da Caita do tínr. .loóé Boni- fácio-d' Aiidrada o Silva, mencionada no te.\to.) TOAI. XUJ. P. I. T 146 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL São outro sim hum (estemunho rle bastante pezo para corroborarfiii esta concliisno os versos salyricos ou eiico- miaslicos (docuniento impresso iN." 4.°, e (Jociitneiito M8. N.°2.°); pois não se faz crivei, que os autores destes versos tomassem para assumpto de snas mofas, ou esicoinios obje- rto tào extraordinário e inauilito , se acaso elle nao tivesso htinia certeza e notoriedade publicas : atites iie nmitu crivei, que este dos ^eroslatos pela sua mesma extraniieza e novi- dade , fosse hum d'aqu('lies , que, segundo o costume, faria mover as iinffuas e as peimas dos Vates da Capital, tanto pa- ra o vilup<"rio , como para o louvor. Falando porém mais particularmente das poesias extra- hidas da Obra cnnteniporanea , intitulada Pinio renascido, as quacs constituem o Documento N " 4.°, iiTij)resso em 1702, isto lie, durante ainda ávida do seu autor, Thomaz Pinto Brandão; dizemos com toda a franqueza, que a favor da realidade da invenção dos Acrostatos , por nós atí ribuida nes- ta IMemoria ao P. Gusmão, não apresenlão de certo huma prova decisiva íÍs duas primeiras Decimas , que tem por epi- ^raphe == -io novo invento de andar pelos ares.= Por quanto do seu mesmo contexto se infere , que forão feitas anterior- mente ao primeiro ensaio aerostatico do a)mo de 1709, e sem duvida no tempo , em que o mencionado P. Gusmão andava trabalhando na coiistrucção da sua Machina , cujo promet- tido efleito podia por consequência cliegar ou não a reali- zar-se. Outro tanto dizemos acerca do argumento, qne o autor de hum artig^o do Periódico o Panoraina iX/SO, ii.tilulado: AeroMaUis , Invenção Porliu/ncza , pretende deduzir das pala- vras da prinieira das quatro Decimas feitas aoP. Gusmão len- do na Academia , isto he , das ] alavras : Não vi outro tnais subir ; asseverando o mesmo auíor, que he este htnn tcstemujiho ir- recusável, por ser de hum autor coevo, que podia ser desmentido facilmente , se este successo fosse huma mera fabula: pois bas- tará ler com alijunia attwnçào a Decima inteira , onde aquel- las palavras se encontrão , para cabalmente se conliecer. que liuma tal cxprcsiíão he tomada alli pelo poeta tropologica , e não propriamente ; visto alliulir á eloquência remontada , com que o mesmo poeta diz vir.a orar na Academia Kcal do DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 147 J[istoria Portu^ueza ao P. Gusmíío, da qual era Sócio, e não já á sua ascíMiçilío aerostatica. Aleiu do que, para iiicllior se «©iihecer, que iiào lio desLa passa!;i>m das poesias dcTliouiaz Pinto Brandílo , qut; pode coiifluir-se a vcírilioarào ollfctis a do Invento por ii(>s atlriliiiido ao P. GusnwTío . o nioslra coui clareza o verso iinniediatu ao citado Jia pouco, iias palavras, De quantos vi voar eu ; assim como os dons versos mais abaixo , Porém se como orador Tanto sabeis remontar, ele. Todavia donde parece deduzir-se hum art^umento mais concludenle a lavor da proposição , que vamos suslenlando nesta Memoria, he dos dous |)rinieiros versos da se^undii De-- cima das quatro sobreditas, que tem por (ilulo = ^oP. Ba?-- íholomcH lendo na Acad€mia = , as qiiacs forão feitas nuiitos annos depois do de 1709 , ei7i que elle realizou , segundo en- tendemos, o seu primeiro ensaio aerostatico, feilo em publi- co ; visto dever aquella Academia a sua creação ao anno de 1720 : e são os dous versos os seguintes : Fazeis de alcunhas pleMas Anlonomasias reaes ; por quanto nclios pnrece dar claramente a entender o poela, que a alcunha de (■''oador , com (]ue ]ior antonomásia era de- siiínado o P. Gusmio, não fora devida nieranieiile a hum ca- pricho popular; porém que tinha o sou tundanunito em hum facto real, a saber, no da invenção Aerostatica. l O ."5.° documento, ou o Alvará d'elRei D. Joito V. a fa- vor do P. Barlholomeu Lourenço, no qual lhe concede o pri- vilegio de somente elle ou soas succtíssores poderem fazer uso do Livento , promettido pelo sobredito P. JJartholoineu Lourenço , de hunia navegação aérea , com todos as vanta- gens por elle anniuiciadas, prova de sobejo não só a existên- cia da concepção das Mac-hiuas-aerostaticas havida poraquel- le PortngU(^z engenhoso nos princípios do século decimo oi- tavo ; njas lambem a veriti<'3ção , pelo menos muito prová- vel, daquelle pensamento: pois não he de presumir, que hum T 2 148 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL homem fias relações sociaes do P. Gusmão se atrevesse a apresentar tal requeri meulo, como o i»or elle dirigido a lium Jiei e perante toda huma Corte, sem que íivosse feito anti- cipadamente alguns ensaios, que assegurassem hum êxito fe- liz das suas promessas, tão explicilauieiih; desenvolvidas pe- rante o mesmo Rei r.aqu<;lle seu requeriuienlo. P.ntre toa!a- vras da Nola marginai: u Fez a experiência.... com lium » globo, que subio suavemente ató a altura daSalIa das Eni- j' baixadas , e do mesmo modo dcsceo , elevado de certo ma- »terial, que ardia, e a que applicava o fogo o mesmo ín- jíventor. ;) Outro tanto se coiiclue das palavras do docu- mento impresso N.° 2.", onde diz: «Com tudo não he a sua «elevação por força da virtude attractiva ; mas sim pela for- jica do gaz , que os mesmos globos tem dentro.» (O autor deste documento escrevia na hypothcso , todavia inadmissí- vel, de ser a Machina, de que o 1*. Gusmão se sérvio, si- milliatite á que se encontra descripta uo documento impres- so N.° 3.°). IN em jios parece longo da verdade o admiti ir, que, por quanto o P. Gusmão fazia hum segredo (documento imf)resáo U."'l.°) dos agentes, que emprs^gava para a elevação da sua lUacliina , divulgaria, coin o liin de satisfazer ;í publica cu- riosiilade, que ella era elevada p(ilas forcas magnética e elc- Irica, isto he , pelas aitracçoes combinatias do iman encer- rado dentro do globo ou globos , e das enfiadas de alansbres pendentes sobre as tábuas (documento impresso N.° 3.^). Além de que, pretendendo o mesmo V. Gusmão, que elRei D. João V. lhe concedesse o privilegio exclusivo da construccão e uso das Machiuas , de que era inventor , con- forme na sua Petição requer (documento inqjresso N." 1.°), movido muito provavelmente das vistas de interesse , que deste seu invento esperava tirar; he fora de duvida, que fa- ria todo o jicssivel para encobrir o segredo , de que dej)en- dia a elevarão das mesmas iNiachinas , e jjor cúii.-eguiníe a \erificação do esperado lucro; empregando para isto Ioda a casta de patranhas, que no vulgo corressem , as quaes nãi) DAS SCIENCIAS DE LISBOA. isi prà difficil de serem acreditadas nesse tempo em Portugal , que se achava atrazadissimo em conhecimentos physicos, ]ía- traiihas com que chegou elFeclivamente envolvido pela via da tradição o fundo da verdade do lacto até o anno de 1774 , pm que apparecoo , segundo consta, a primeira noticia im- pressa de^te sublimo invento l'ortnguex, acompanliado po- r^m de hum desenho imaginário da Machina-aerostatica do P. Gusmjío. Brjlexáo 4." Resta-nos falar do argumento , fundadrt na tradiçíio tan- to desta Capital . thoatro dos primeiros ensaios de asconçftes- aeroslaticas , como do império do Brasil , particularmente na Ciilade !m primeiro logar, pelo que pertence á tradição derra- mada por Lisboa, sem sahirmos dos documentos produzidos, vimos que olla se encontra exprossamenie enunciada nas pa- lavras do documento impresso N.° 2.% no fim do qual se lê: «que a tal Alachiiia foi experimentada, segundo o (estemu- » nho de alg^uns velhos de probidade , que ainda vivem em a " nossa Corte ; a pesar de iiaver alguém , que o cor.tradiíja "talvez por maticia , ou por ignorância." E também pelo documento impresso N.° 3." nas palavras spffuiutes : '< mas ») ainda que he voz constante , que tal IMachina cheçiíia a j) construir-se , e que até se diz , que ella se elev.íra , ou j>vo;íra do torreão da Casa da índia. . . . n E proximamente ao fim do mesmo documento : « como por outra parte ha hu- ') ma constante tradição, apoiada com a autoridade de aliru- » mas pessoas sensatas e de provecta idade , que asseverão »ler sempre ouvido, que a Machina , de que falamos, che- " gára a clevar-se e a voar ao menos por hum pequeno es- "paço, devemos crer. . . , etc. » Ao ar-rumento da tradição, deduzido dos dous documen- tos impressos, que acabamos de reproduzir , acrescentare- mos: Que esta mesma tradição se encontrava ainda ha pou- cos ânuos na memoria do algumas pessoas anciãas , de cujas boccaa a ou\imos por ditlerentes vezes, sendo huma delias o Shr. Timutiíeo Lecussan Verdier, nascido em Lisboa, e 152 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL ha poucos aniios fallecido nesla mesma Cidade quasi octo- genário, snjoito aliás uuiilo rccomiiiPiidavcl por seus grandes talentos e liLteratiira , e iiiini dos illusires Sócios dtisla Real Academia, o qual nos asseverou, que muitos aimos antes do de J 783 , cm que se attribue aos irmãos Monti^rulliers a in- venção dos Aerostatos, Rernardo Simões Pessoa, ex-Consul Portnijuez em Marrocos , homem bem conhecido dos seus coulemporaneos nesta Caj)ilal , coutava ter elle mesmo ob- servado luima ascenção aerostatica em Lisboa, cujo balão se eleviíra da torre de S. Roque, e fora cahir junto :í costa da Cotovia por detrás de S. Pedro d' Alcântara ; noticia esta <|ue o citado Sfir. Verdier nos asseverou ter ouvido da pro- j)ria bocca do Pessoa em tempos muito anteriores ao anuo de 1783. Da tradição da Villa de Santos e da Cidade de S. Paulo no Império do Brasil nos deo informações , entre outros in- >da esta taniilia foi dotada de tantos talentos, que na minha tenra mocidade aliid.T. >• me lembro ter conhecido huma sobrinha delles, que sabia peileitamente a Iin^!■a » Latina, e pasiava por senhojra muito instruída e discreta.» (^. da carta citada a pag, 145) DAS SCÍENCIAS de LISBOA. 153 s^. fpz publica pela Imprensa huWa hoticia deste famoso In- vento Porliiu:iiez (dociimeiíto impresso N.°2.°).' l'or quanto, alem de ser este argumento meramente ne- gativo, e por isso de pouca monta na presença dos positivos, siibminislrados pelos documentos, que deixrímos lançados no principio desta Memoria, mais particularmente pelo que se deduz dos documentos manuscriptos N.o-* :}.° e 4.°, e da tra- dição constante (Documentos impressos IV."'* 2.° e 3.°, e Re- flexíío 4.'); pode nniito bem ser, que o mesmo maravilhoso e extraordinário o inaudito de hum Invento, por ventura re- putado diabólico pelos contemporâneos do P. Gusmão, fosse parte para os determinar a deixarem sepultados no silencio assim a noticia do Invento, Como o nOine do seu Inventor; na persuasão talvez de ([ue da sua ]iub!icidaile viria a resul- tar alijuma nódoa ou labéo para a Nação, que os lia\ia pro- duzido : |)ois, segundo já ouvimos a pessoa noticiosa de mui- tas antiguidades , não faltou naquelle tempo quem , em razão tio Invento aerostatico , desse ao P. Gusmão o noitle de ma- gico ou feiticeifo ; em consequência do que se vio elle pre- cisado a expatriar-se , pára escapar aos caslig-os, de que as opiuiõcs d'aqucile século pouco philosopliico entre os Portu- guezes o julgavão merecedor. , ,■,,„,.. ,.,„.„^,„ Nem deverá parecer destituída de nindanícnto esta sus- peita, se reflectirmos em que liuui Jiomem de tão abalizados talentos, e ^randes estudos, como era o P.Gusmão , secun- do o testemunho do próprio Barbosa Machado nà Bihlio- ihcca Lusifana , ao qual não aponta hum único defeito , en- tre as muitas e excellentea qualidades, que lhe attribue ; hum homem , irmão de Alexandre de Gusmão, desse Minis- tro famoso , ao qual se havião confiado negócios diploiilaticos da maior importância, para serem por elle tratados jiasCor-. tes de Paris e de Roma; sem embargo de tào disLinclos me- recimentos peKaoaes, e de tão boas relações de familia, nem assim pà<\e escapar ao ódio dos seus inimigos, o qual o obri- gou a saliir deste Reino , e a if- acabaf os seus i.ias ua indi- gência em território estrangeiro j como consta da noticia ^ que se lè em huuia Nota do Poemeto O Aovo yín/onaula pe- las palavras seguintes : « Entre nós osqueceo , assim como «esquece, que ó primeiro Aeronauta foi Bàrtholomeu Lou- » renço de Gusmão, que morreo no Hospital de Sevilha. .•> (*), - . . . -■ ■ ■■ (•) O Novo Argonauta jwr José Agoótinhu de Macedo, pag. 24, NotS OV " TOM.XIU. V. I. U 154 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL E quem sabe, se a inveja, a qual trabaliia incessaiite- menle por esconder as illuslres acc-cies de seus ('íiuulos, quan- do lhe juio he possível o deslustral-as , e enegreccl-as , não seria a que agrilhoou as pennas dos couteuiporaueos de Gus- ínão , oppriniidos com a gloria inimensa, que o muito famo- so Invento dos Aerostatos havia de grangear infailivelmente ao seu Autor ? De qualquer maneira pois que se pretenda interpretar o silencio dos nossos escriptorcs sobre hum assumpto, que tão apregoado deveria ser entre Portugueses e Brasileiros ; p;irc- ce-nos, que hum tal silencio nao poderá de sorte alguma lan- çar por terra a opinião , allàs suílicientemente estabelecida , que ao illustre Portuguez-Rrasileiro attribue a inveni^ào e primeira execução das Maclúiias-aerostaticas (*). Conclusão. Por tanto , á vista dos documentos , que nesta Memoria deixamos transcriptos, e das curtas Reflexões, que sobre el- ies temos feito , julgamos , que não deverá merecer o nome (*) Já a presente Memoria estava debaixo do prelo, quando chegou ás nossas nãos hum Impresso , sahido da fypografia do Instituto Historico-Geograpliico do Brasil no anno de 1841 , o qual tem por titulo =Da Vida e Feitos de Alexandre de Gusmão , e de Bartholomeu Lourenço de Gusmão =: Composi(;ào do Sâr. Vis- conde de S. Leopoldo , Presidente do mesmo Instituto. Na parte deste Escripto, pertencente ao segundo dos dous Gusmões, dú o seu muito erudito Autor liuma na- tici.-i tão circunstanciada, como llie fora possível obter, da invenção dos Aeroslntos pelo sobredito Bartliolomeu Lourenço : e em a Nota A do mesmo Escripto he cor^ roborada esla mesma noticia çom alguns dos Documentos, de que nos servimos pa- ra confirmal-a. Documentos subministrados , segundo lealmente declara o 'muito erudito Autor supracitado , por huma Jlemoria nossa , que o acaso , diz , lhe lizera deparar. A Memoria , de que alli se trata, he sem duvida a mesma, que agora apparece á luz publica neste Volume, huma copia MS. da qual, posto que nella o as.sumpto se acha menos desenvolvido , do que aqui , foi por nó'? communicada no Hío de Janeiro em 1833 ao Snr. Conselheiro José Bonilacio d'Aiidrada e Silvai Em obsequio ao Snr. Visconde , e em retribuição dus expressões, com que nos hon- ra no seu Escripto, inserimos nctte logar, e.xtrahido do mesmo E.-cripto , hum tes- temunho de Autor Francez (e por isso sem suspeita) , do qual antes nào tinhamo5 conhecimento, que serve p.ira mnis corroborar a Proposição, que tomámos para as' sumpto desta nossa Memoria. As siuas piílavrás, copiiuias da Biograpliie Univcrsel' le (J<- Mic/iauíl, Tom. 1.0., são como se seguem: " Qunique . bitn avant le 17. iisiecle, divcrs autenrs eussent proposé diflerents moyens pour s'elever dans les airs, >• il parait cependant certnin que loiít doit au P. GusmSo les prcmieres 'é.xpcrièn- uxes úitá hãUoua aercutatiquiu , leuouveleés avec un si grand succè:) soixantv am >.aprw ssoiorti' ,, _^ ,^,_ .,.__ ^,,^, ,,,..j_ ^,.; ..,,, i.. ..>.... . . ^..... 'J . , U* " .1 ."i .IIIX.WOT DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 155 de tnmerario , quem ao P. Bartholomeu Lourenço do Gus- mílo attribuir, como nós, se quer com grande proí)abilidade, aftribuiinos , a invenção das Macliiiias-aerositaticas : a qual, couforine ao que acima fica dIO DA SUA TRADUCÇÁO DOS LUS1ADA!>. POR D. FRANCISCO ALEXANDRE LOBO. jMPRiMro-sE em Paíla, jíí em 1841, huma tfaducçâo dos Lu^ siadas cm prosa Franceza ; eui cuja fienle vem a vida de Luiz de CamOes , por M. Cliarles Magnin, Membío do In- stituto. Entre outras fontes de que tirou noticias , cita este Biografo a Memoria á cerca de Camões , que compoz Fran- cisco Alexandre Lobo j e que foi publicada, em 1821 ^ na Collecçíto da Real Academia das Scicncias de Lisboa; e no decurso da sua Biografia , bem se conhece , que fez uso de algumas noticias da dita Memoria. Mas se com isto, e algumas expressões de louvor lhe faz honra , não deixa comiudo de censurar vivamente, por esta occasi:-io , o Autor. Nilo se pode reputar, nem se repu- ta, o Autor infallivcl na sua diligencia e nos seus juizos: e nesta certeza se veria tranquillaniente censurado, e até ac- ceitaria com agradecimento a censura, se ella com i'azão o arguisse, ou de diligencia menos esmerada, ou de mal for- mado discurso. Toca porém em pontos , que o Autor tem por mais delicados; e em certo modo aiaca a rectidão das suas inlem^ões, e seu amor da jitsli(;a, o até o melindre do seu patriotismo. A Memoiia , diz M. Magnin, he allamer.te parcial flj, e composta evidcntt mente cm capiríta de maUpie- (1) 11 pst |jrot'on(l»ment regrctiible "Causa profunda magoa ver. que no que le travail de M. Francisco Alcxan- i/iraballio de M. Francisco Al. Lobo, «ire Lobo, intitule = Memoria histórica -i .Memoria iMstorica e critica eic. ,"a im- 153 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL rvnça contra Camões (1) , apostada apolor/ia de todos os inimi- ffos tio Poeta fs): e se tal he , com elVeito , a Memoria , nem as iii(en(;nes do Aulor podião ser rectas, nein clle se gover- nou por amor da justiça , nem mereceo bem da pátria , de- primindo acinten;ente o maior brazão de alto engenho, de t]ue a pátria se. gloria, e autes insultando-o por a]iostada apo- logia dos seus inimigos ! ! A (So amarga censura nSo he licito ficar indiflerente ; e sem faltar ao respeito de M. Magnin , o Auior da Memoria pode, ou, para melhor, deve desfazer tíío peitadas accusaçòes, se julga, como julga na Verdade, que as pddo ■ ta cm espirito de malquerença e inve- réaction contre Camões etc. «ctiva contra Camões etc. (3) M. F. Al. Lobo. apologiste ju- " M. F. Al. Lobo apostado apologis- ré de tous les enneniis de notre poete, "ta de todos os inimigos do nosso Poe- vem etc. "ta, pertende etc. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. íág mãos olhos o homem insigne, que a íleo a Portii mas nisto só , pudera competir com Camões. Seriào estas ponderaçr^es bastantes para desmentir a per- lendida malquerença. Que ser.í, fjii.Tndo se attender ao theor in'eiro da JMemoria .-^ Que recoiiimendaçõés, que louvores, que gabos do homem, do l*alriota, do Poeta.'' Alio enge- nho , igual quasi sempre , e as vezes maior, que os maiores : l'alrio(a, de quem o Patriotismo foi a principal Musa para emprehender os Lusíadas ; que o Patriotismo inspirou em lautos pensamentos , em tão notáveis lugares do seu grande J'oenui ; que ao ver as desgraças da Pátria acabou a vi , advertir e (•orri;j;ir sem injuria. Outra coiza não fez o Autor da Mcuiuria. Dizer que Mic;uel Hodriiíues F'ios-scccos foi oflicial de marinha com Í)restimo e serviços , e foi homem nobre e rico , sei^undo se A nas Décadas de Coito , não he de certo apoloi^izar o im- pedimento , que elle , menos cavaiheiramente , poz á soltura do Poeta. Tocar, sempre fundado na liistoria, a nobreza, as qualidailes e honradas obras de Francisco Barreto, não he do- fendello do desterro de Camões. Não poderia o Autor da Me- moria, sem passar ))or apostado apologista de Francisco Bar- reto, soltar ali^umas palavras de compaixão á cerca do seu fim triste 6 lastimoso luts inliosjiiUts ribeiras do rio Cuama .'* Não |)()deria dizer, r[ue foi ainda mais triste e lastimozo que o de Camões ? O Autor da MetiiOria, que quiz ser francamente impar- cial j tanto no que resj)eita ;í historia, como no que respeita :í critica, a fim de por este mesmo cumprimento das obrií^a- ções de exacto e honrado, levantar a mais alto, mas devido, ponto, a estimação do Poeta, e a gloria Portugueza , he tra- tado de parcial , de inimigo de Camões , d de aj)aixonado a favor dos seus inimigos ! ! Errou completamente o alvo ; se são justas as observações do Biografo. Mas são ellas justas ? Decidão os outros, á vista do que fica dito, e mais que tu- do , lendo a Memoria. O seu Autor disse j e pensa sempre do mesmo modo , que entre as glorias littcrarias de Portugal sobresahe , em alto engenho e obías iiiimorlaes, o Autor dos Lusíadas ; que CS Estrangeiros devem olhar com res])eito (e na verdade as-* sim succede) para (!ste illustre Poema, se quizerem fazer jus- tiça. Nao lhes occultou por^Mn os seus defeitos; ou quando os achou j;í pot elles notados , conVf io singelamente , e para isso. (piando foi necessário, até impugnou v.las dcfezas, ima- ginadas pehi prejuízo Nacional . e errado enlhuziasmo de al- guns compatriotas. D'esta maneira, parece-lhe que em vez TOM. XIII. P. I. X 162 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL de inculcar nialquorcnça pvitlonlo, dro inosíras do amor T>eiTi entendido; ((ue cm vez de se enlrfi;nr a |)arriííli7. de iminoliar, sem jus- tiça., algum mérito dos seus inimigos, ou havidds por taes, ;í honra de Camões, o vincou, scni iaitar cmiiludo ao devido res])eito ; como se deve su|)pòr qut» o faria a iiotierozidade do mesmo Poeta, se pessoalmente tomasse á sua conta o des- agravo. Não proseçue esta defeza da Memoria sol re I^niz de Caniòes : porque a defeza princijial e substancial está nella mesma, lida sem ])revençào e bem altcjidida ; e jiorque , no que fica dito, se asseçura, sem rejiiica. a rectiílào de inten- ções e amor da justiça do Autor, e o seu respeiío ao Poeta, unido com ardente alTecto da Pátria. (íloria a Luiz de Ca- mões ! Gloria ao Reino de Portugal, onde ellc nasceo; e que Ião altamente illustrou. ■>3i;lfn viJ >r4 TH/^g ira lã. ♦••••••«•«« »»4=o5.®^^cá^(S^S>#^j4 •»•«•♦•« •«•••• CLASSE DE SCIENCIAS NATURAES. :3 :i'j MEMORIA Sobre o uso das iiossas aguas mineraes sulphurosas nas ntoles^ tias cutâneas, comprovado por observações tanto dos médi- cos antigos coiiio modernos , e destinada a generalizar a sud applica^ão tiestas enfermidades. Lida na Sessão Litteraria de 21 de Março de 183&. PELO DOUTOR ANTÓNIO ALBINO DA FONSECA BENEVIDES. X ENDO sido tão geral o esquecimento em que entre n{53 tem ficado a applicação das nossas aguas sulphurosas, ther- niaes , e frias nas differentes moléstias cutâneas , que mal posso atinar com o motivo deste desuso , quando no estudo dos nossos authores antigos, tenho verificado na pratica dos melhores dclles, quanto he proveitoso o emprego de similhan- tes aguas em grande numero de molestiais cutâneas , confir- mado por muitas observações clinicas modeínas : he por es- te motivo que desenvolverei nesta Memoria as razíies, por Qiie os nossos médicos antigos fazião hum uso tão grande destas aguas nas moléstias de pelle, com decidido proveito no eeu tratamento: para mostrar a necessidade que ha de renovar e estender este uso mais frequentemente do que de ordinário eefaz, apontando as nascentes de aguas sidphurosas que entre nós existem , como capazes de preencher o fim a que se des-* linào no tratamento das moléstias cutâneas. Nào esquecerei nesta Memoria apontar a maneira de empregar estas aguaá facticias , todas as vezes que a estação , a natureza da doen- ça, e a possibilidade do doente não permittem hir ao lugar aas naturaes ; remédio que em muitos casos tem aproveitado TOM. xui. P. I. 1 2 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL decididamente , com preferencia ;ís aguas sulphurosas to- miãSS JB!3SrÈixãg:ííSSte'ntcs. Porliiçal , coino diz o nosso Dr. Tavares, he , relativa- mente ;í exlensclo do seu território, o paiz niais abundante em aijuas niineraes Ihermaes; porém igualmente em paiz aiçum hc menos conhecida a sua natureza ch^mica do que futre nós. De todas as caldas (jiie temos, somente as Cal- i!as da Rainha estão suíTicicntemcnte analysadas ; de algumas outras apenas possuímos ensaios analyticos. Apesar das im])erleições destas analyses , pena he que o Governo nilo haja encarregado os nossos chy micos da analy- so destas aguas sulphurosas que entre nós tanto abundão; devendo-se a esta falta a pouca applicação, que se tem feito das aguas sulphurosas nas doenças cutâneas, nào dependendo menos da confusão que tem reinado na classificação destas enfermidades, e pôde dizer-se ([ue só depois dos grandes tra- balhos de Alihert, Jfiliiams, Betlati, e outros, e ultimamen- te do nosso fallecido consócio o Siir. Dr. Bernardino António Gomea , he que os práticos tem podido distinguir e conhecer com mais exactidão a natureza destas moléstias e os meios therapeuticos para asdebellar; no meio do labyrintho c mul- tiplicidade destas afleccões cutâneas, que ainda hoje tanto af- íligem a espécie humana. Antigamente reinava maior numero de moléstias cutâ- neas do "que actualmente, estas erão tratadas por metho- dos irracionnes e emi)iricos , sem que todavia se abando- nasse o uso das aguas sulphurosas , e se obtivessem melhoras decididas dehumas, e a cura radical de outras. Moderna- mente , hc verdade , tem-se feito maior applicação das aguas (hermaes com pequeno gráo de calor, mas não das aguas sulpluiro.sas, como ainda hoje se ajjplicão as de Estoril e rimiciío , que sem duvida se n.^o podem chamar suiphurq- sas, porque nSo he o gaz hydrogenio sulphurado que as mineraliza, mas sim o gaz acido carbónico, como consta da analvse das aguas do Estoril, que se acha impressa no Jornal da Sociedade das Sciencias Medicas de Lisboa, Vol. ■2." pag. 21.'-, (*). '*') O Governo foi posteriormente authorizailo pelas Cortes para incumbir aana- ]y$e das aguas niineraes rio Keino , á Sociejade Pliarniiiceutica Lusitana , a qual eín desempenho deste encar^jo já analysoa as aguas térreas da Cabeça e Bellas. ^ne se arha publicada no Jornal da me^iiij Sociedade, e sobre a dita analjbe esU Academia deu também o seu parecer pedido jielo Ministério do Keino. DAS SCIENCIAS DE LISBOA 3 Entre nós existe huina grande variedade de aguas mine- raes , que se podem reduzir, segundo as classiticacues mo- dernas as mais racionaes , a seis, a saber: 1." A(juas cfazozas acidulas, isto he , aquellas que são caracterizadas por hura sabor acerbo, e pelas bolliaa de gaz acido carbónico que se des- envolvem : coutôm matérias salinas em pequena proporção, e sobre tudo ferro em pcíquenissima quantidade : 2." Àrjuas salinas , que são caracterizadas pela abundância de saes que contèin , ou pela presença de matérias salinas sem acido car- bónico : algumas vezes contem ferro , e mesmo hydrogeiíio aulphurado , mas em tão pequena quantidade , que não nos obriga a classitica-las de ferruginosas ou de sulphurosas : 3.' Aguas feri Uífinosas, que facilmente se rcconiiecem pelo seu sa- bor : são caracterizadas pela presença de grande quantidade de ferro , que faz com que tenliào hum sabor de tinta de es- crever muito pronunciado : ellas subdividem-se naquelJas que tem o ferro no estado de sulphato, que são as menos empre- gadas , e naqucllas que são mineralizadas pelo carbonato de ferro: quasi todas são acidulas: 4." Acjuas sulphurosas, que são caracterizadas pelo cheiro hepático, que o devem ao hy- drogenio sulpliurado livre, ou a hydrosulphatos : subdividem- se naturalmente em aguas hydrosulphuradas- isto lie. aquellas que contém o hydrogenio sulphurado ; e em aguas hydrosul- phakidas, isto he, aquellas que contêm hydrosulphatos: aguai hgdrosulphuradas acidulas , que contém ao mesmo tempo hy- drogenio sulphurado , e acido carbónico : aguas hydrosulpha- tadas acidulas, que contêm ao mesmo tempo hydrogenio sul- phurado, e acido carbónico, e hum hydrosulphato : aguas sulpliurosan ferruginosas, que contêm ferro: 5.° Aguas acidas, que não são empregadas em Rledicina ; e contêm acido sul- phurico , sulphuroso , hydrochlorico , e sulphato de alumina : 6." Aguas ioauradas , que contêm iodo, e bromo. ARTIGO I. Do emprego das aguas sulphurosas pelos iiossos médicos antigos nas moléstias cutâneas. Se remontamos a epochas anteriores vemos que os mé- dicos que nellas viverão , tinhâo ideas pouco exactas sobre i « € MEMOKIAS DA ACADEMIA REAL a naluroza das aa:iias sulphurosas , ignoramlo inleiraiiieiite os verdadeiros princijiios que as iniiíeralizrio : a ])Oz;'r disto co- iihecião por experiência as suas virtudes coniiruKidas pela observ,arrio , e peia pratica, as suas propriedades benéficas cm grande numero de moléstias cutâneas ein que se appli- cavão. Não hc necessário citar todos os authorcs , que delias fizerão uso , porque todas as obras que se jiublicárão naquel- le tempo , abundào cm observações de moléstias cutâneas curadas por estes meios; nào deixando em cada huma del- ias de se consagrar algum artiuo sobre a Ibrniaçào das aguas sulphurosas artiliciaes , pelos conhecimentos daquelle tempo, o que prova até que ponto contavão com as suas virtudes,, quando não podião por circunstancias usar das uaturaes na 2)roximidade das suas nascentes. Eiilre os médicos nacionaes merecem particular men- ção, e grande respeito, aquelles que viverão nos séculos 16.° 17.° 13.° como Zacufo Lusitano, o D.or Fonseca Hemiques , e António Ribeiro Sanches , e outros muitos que florecêrão em differentes epochas. Se consultamos os seus escriptos a- chamos, que fazião huma applicação externa desta classe de aguas sulphurosas nas moléstias cutâneas; com eiíeito a expe- riência lhes mostrava, que não devião arrepender-se de o te- rem feito , po^que os resultados correspondião ás suas inten- ções ; não sendo reprelitnsiveis as explicações Iheoricas , so- bre o modo como elles se persuadião, que curavão as mo- léstias cutâneas , visto que os conhecimentos de Chymica na- quella cpocha, e bem assim os progressos da Physiologia , e Pathologia erão muito escassos , em comparaçáo dos que ao depois fez a arte de curar. A maior parte dos médicos anti- gos applicavão as ditas aguas naquellas moléstias , em que predominava como causa primordial , e complicante o vicio psorico, ou naquellas que erão positivamente psoricas ; por- que a virtude especifica da cura pelas aguas sulphurosas era attribuida ao enxofre que se acha nestas aguas , que era co- nhecido por mineralizante por excclleiícia ; relativamente ás aguas hepáticas tinhão razão, isto he, naquellas em que o en- xofre se acha debaixo da forma de hydrosulphato : porém nas aguas hepatizadas , o gaz hydrogenio sulphurado he que domina , consequentemente itquellas que tem o gaz hydroge- itío sulphurado, he que se deveria attribuir acura destas doenças. Tentativas posteriormente feitas com outras aguas DAS SCIENCIAS DE LISBOA. S e em outras moléstias cutâneas, generalizarão mais esta prati- ca em alçumas destas moléstias, e assim conseguirSo guia- dos pela experiência curar radicalmente moléstias , que ti- nhào sido rebeldes ao mais bem dirigido tratamento adopta- do naquelle tempo. As moléstias cutâneas especialmente do género herpes e dartros , apresentSo ainda hoje muita diversi- dade , formando grande numero de variedades como mais a baixo se verá. Os antigos não distinguirão bem as moléstias cutâneas, nem deixarão descripções exactas , não só deste , mas do outros géneros de moléstias cutâneas, transmiltindo- nos assim iiuma grande confusão nos seus caracteres, de ma- neira (|ue diflioilinente se pode julgar hoje dos seus caracte- res , porque alem disto accrescia darem dilVerentes nomes á mesma moléstia , segundo era observada nos diversos perío- dos do seu estado de agudeza , ou de hum estado mais ou menos chronico, o que não podia deixar de escurecer o mais possível o seu diagnostico o tratamento. A pezar disto aconselhavão nas moléstias cutâneas o uso das aguas sulphurosas thermaes e frias , hepáticas e hepati- zadas; especifico assim estas aguas, nào porque os antigos as soubessem distinguir pelos conhecimentos chymicos que pos- suião , mas porque das suas observações consta , que assim fazião uso de humas e outras em diílerentes circunstancias. Entre nós existe huma immensidude de nascentes desta a- gua , que desde hum tempo immemorial se faz uso jjara este hm. Entre os médicos nacionaes aquelle que entendeu , e as soube applicar, foi certamente o Ú.o' Fonseca Henriques , o qual fez huma descripçao das diflercntes fontes de aguas mi- neraes sulphurosas, que temos em Portugal, como se pode ver no seu ^(jiiiler/io Medicinal , e Medicina Lusitana , que antes que o D.ot Tavares escrevesse as suas Cautelas praticas sobre as afilas mincraes do Reino , era a melhor cousa co- nhecida neste género. Grande numero de moléstias cutâneas deixa decurar-se, porque se iião tem generalizado a pratica dos banhos sulphu- rosos , tanto naturaes como artificiaes. A Sarna, c suas di- versas complicações , necessita para ser curada radicalmente do emprego das aguas sulphurosas: tendo mostrado a expe- riência , que não basta o uso do enxofre por via de fricções, para ser curada.. Todas as espécies de Dartros, á excepção da variedade .ojpliililica , exigem o uso dos banhos das aguas suljdiurosas , naturaes ou artUiciaes. t MEMORIAS DA ACADEMIA REAL As espécies de Dartros , que mais frequentes vezes se curào |)olo uso das aguas sulplui rosas , são o Dailros Jiirfu- racco (herpes fuifuraceusj , c algumas das suas variedades scg^uudo Alibert. O Dartros escamoso (herpes sr/uamosusj , e a variedade Dartros cscainoso húmido ( herpes squamosus nia~ didiisj. O Dartros crustáceo (herpes crustaceus ,, e as varieda^ des Dartros crustáceo meloso (herpes crustaceus JlavesccnsJ . O Dartros pustnloso ( herpes piistxdosus ) , e variedade Dartros pusluloso militar (lierpes pustuloòus miUiaris). O Dariros pus- tnloso disseuiinodo (herpes pusiulosus dissemutatusj. O Dar- tros phlycteuoideo (herpes phlyclenoides), e as suas variedades, segundo Alibert. Vede o seu Tractado de Moléstias de pelle. A observação constante tem mostrado, que o emprego in- terno destas aguas he também necessário para conseguir os re- sultados felizes dehuma cura, sendo certo que estas aguas não obrão só de huma maneira tópica sobre a vitalidade do órgão cutâneo , mas que he preciso corrigir o estado dos humores , que não podem deixar de estar viciados nas diflerentes mo- léstias cutâneas , com particularidade naquellas , que tem a- lacado todo o systema cutâneo. Deve-se depositar a maior confiança naapplicação interna das aguas sulphurosas, porque a experiência tem mostrado, que o tratamento pelos remédios mais recommendados tem sido infructifero, e só se tem podi- do conseguir huma cura segura pelo emprego das aguas sulphurosas, constantemente applicadas segundo os precei- tos médicos melhor entendidos. Não só nas moléstias herpeticas, e psoricas he que apro- veílão as aguas sulphurosas, mas também igualmente aprovei- tão em muitas outras erupções anómalas , e ainda por classi- ficar , em que são de huma decidida vantagem ; quantas ha que cederão ao seu uso , sem que se lançasse mão de outro tratamento ? A Lepra incipiente, eas diffcrentes espécies de Elcphan- tiase , tem sido curadas pelo uSo destas aguas, como mostra- rei por algumas observações. Pelo que temos dito , se vê de quanta utilidade será o generalizar , e estender mais a pratica dos baidios das aguas sulphurosas; principalmente de muitas fontes naturaes que possuimos, e de que os nossos antigos tanto uso fazião, e se conhece ainda hoje da tradição desses tempos remotos em algumas das províncias do nosso Portugal. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. ARTIGO II. Das diversas nascentes de arjuas sulphurosas , que entre nóé existem , como mais úteis no tratamento das moléstias cutâneas, com os seus diversos gráos de calor. Para se fazer huma exacta relaçSo das nascentes de a-» guas sulphurosas , que entre nós existem , seria neccessario que se tivesse feito huma analyse chymica de todas as aguas de que abunda o nosso Portugal , a lim de que ao depois por observac^ões praticas se podesse verificar a utilidade , e mesmo a preferencia, que em casos idênticos, devião ter hu- mas sobre outras ; por estes motivos na resumida averigua-* Sào , seguirei o que ha de mais positivo sobre as suas virtu-» es nas moléstias cutâneas , fundado sobre a cx|)eriencia dos práticos , qne exercem a clinica na proximidade daquellas nascentes. f !•' Na província do Minho são as de Santo António das Tai-i pas, que consta dos seguintes poços, 1.° do Carvalho, que marca 24° i 11. 2.° dos Leprosos, que marca 24" e i , R. 3." do Figado , que marca 25° * R. 4.° do Rheumatismo , que marca 20" R. 5.° de António de Sousa, que marca 24" R; As Caldellas de Re)iduffe. Contando do poente para o Nascente , os poços marcão 25", 26°, 26° 4 de R. . e as duas fontes marcíTío 24", 25°, R. As de Canavezes marcPto 27° a 28° R. As de Entre Rios cujo gráo de calor se ignora. As de Guimarães. Os banhos que existem destas aguas e.^o os seguintes: o 1." Moreira que marca 29° i R. O 2.° Rameira , que marca 26°. O 3° Medico que marca 29° i R. O 4." de Tliomaz da Rocha que marca 27' 5 R. O õ.° Hu^ manidade que marca 31° * R. O 6.° Eleutherio que marca ^5° 1 — 31° 1 R. O 7.° Quatro Cabeças que marca 35° i R. O 8.° Meia Lua que marca 33° l R. O 'J." Contraforte que marca 36" i 39° R. O 10.° Forte que marca 39° 46° R. O Il.° Fonte que marca 46°. As de Padreiro , cujo gráo de calor nio está determina- r MEMORIAS DA ACADEMIA REAL do ; tiumas são sulphurosas hepáticas , outras licpalizadas mais ou menos thermaes. Consta pur muitas ul)s(irvações cli- nicas , que grande numero de moléstias cutâneas , particu- larmente quando havia alguma complicação, tem sido cu- radas ])elo emprego das aguas sulphiirosas áv Entrc-Rios. Os médicos estabelecidos nas localidad(^s destas aguas tem tido occasião de verilicar a utilidade delias , no trata- mento dos doentes atacados de alguma espécie de Darlros , que haviào sido rebeldes ao tratamento Iherapeutico mais ra- cional. §. 2.' Na província de Trás os Montes, notão-se as nascentes de aguas sulphurosas de Carlão , que marca 21° ^ a 22 i R. Pombal de Anciães que marca 23° a 29 R. As de Poente de Cava que marcão 16° a 18" i R. As de Rede que marcão 23° e i , a 30° i R. Estas aguas são mais ou menos quentes, e pela obser- vação dos práticos sabe-se que ellas lem sido uleis no trata- mento de grande numero de moléstias cutâneas. O D.or Ta- vares, e Fonseca Henriques , fazem merçào de alguns casos de moléstias cutâneas curadas pelo uso destas aguas. A província da Beira possue entre muitas nascentes de aguas sulphurosas as de Alcafache , que marca 39° * de R. As de Aldeã Nova , que marcão o gráo de calor natu- ral. As de Almeida cujo gráo de calor não está determinado. As de Alpreada , Aregos que comprehende diversas nas- centes cujo gráo de calor he o seguinte : o tanque de Al' hergaria marca 42° R: o tanque de Santa Lnzia marca 30° R. O outro tanque, que parece encher-se do antecedente marca 39° R. A Fonte onde bebem marca 38° R : a outra Fonte onde costumão depennar aves 49° R : o Tanque da Fi- gueira marca 35° R : a outra nascente de que poucos se ser- vem, 46° R. . As aguas sulphurosas de Canas de Senhorim marcão 26° j a 28° R. As de Carvalhal comprehendem diversas nascentes cujo DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 9 gr.^lo de temperatura he o stçuinle. A primeira nascente da casa do banho tem 31° R. A segunda nascente de behcr terrt ,To'K. A terceira que fica distante para o Norte 20 passos mar- ca 29". A quarta mai.s distante também para o Norte marca 20" 11. A quinta para o lado do iNorte, fronteira á casa do ba- nho , marca 28" i R. As de Freixialinho cuja temperatura niío está determinada. As de S. Ge.mil marcão 39' R. As de Linhares cuja temperatura não está determinada. As de Manteifjas cujaj temperatura igualmente se não a- cha determinada. As de Penamacor que marcão 15" i de R. As de Rnpoila de (Joa que marcão 30" de Ri As de Unhaes daScrra que marcão 20" de R. Estas nas- centes são aquellas que a experiência tem mostrado serem ap- plicadas com vantagem em grande numero de moléstias cu- tâneas. Com as Caldas deS. úemil ttJm-se curado a. Lepra no seu principio, e algumas vezes a Elephantíase pouco adiartada. Pas- sa mesmo por tradição nestas caldas, que quando se descobri- rão , os indivíduos atacados destas duas espécies de molés- tias se banhiívão na agua dos poços , que cavavao na arêa do rio Dão , que lhe passa junto da sua nascente ; pelo tempo adiante loi-se aj)plicando esta agua em muitas outras enfer- midades, taes como o Rhcumatismo, porque a experiência ca- sualmente foi mostrando, que não só era útil nas moléstias cutâneas , mas também em maior numero de outras , para o que depois tem sidorecommendadascom vantagens decididas. Ainda hoje consorvão igual credito muitas outras nas- centes daquellas, que acabamos de mencionar, como capa- res do curar grande numero de moléstias cutâneas , verifica- do isto j)ela experiência de grande numero de doentes j qufi a ellas aílluem , e experimentão melhoras consideráveis, o decididas nos seus padecimentos. §■ 4.' Na Província da Extremadura ha as seguintes aguas mineraes sulphurosas. As das Caldas da Rainha. A tempera- tura dos banhos destinados para as mulheres he de 27 i a 28° de R. Os banhos destinados para os homens marcão 26 a 28' de R. V TOM. XIII. p, r, 2 <10 MEMORIAS DA ACADEIVIIA REAL As aguas mineracs sulphurosas das Guieiras que marc*io As aguas sulphurosas das Alcuçmius em Lisboa luarcão 24* R. As de S. Mamede cuja toinperatma nào esL;í determinada. As de Monte Real (pie marca 16" j R. As do Povoa t/e Coí:: ()ue niarciíiu ly" h \\. As aguas miacraes sulpliurosas de Rio Real que marcão 18^ I R. ' As de f^al de Flores que marcão 23° R. Estas aguas s3o as que mais recummcndadas tem sido iio tratamento das mo- léstias de pelle. F^m geral afi Caldas de pequeno gr;(o são as que aprovei- íão mais; neste caso estão as de D. Clara nas Alcaçariaa, de que lia huma infmidade de observações de moléstias cutâneas curadas pelo seu uso em grande numero de Duitrosfurfura' eco , e em muitas das classes das Ephclidcs de Alibert. No Herpes pustuloso . no Herpes meloso também t&m sido re- conimendadas. Daqui se pode inferir que as Caldas sulphu-» rosas, que mais se devem aj^plicar nas moléstias cutâneas, são aqueilas que tem hum calor brando , taes como as das Alcaçurias. As Caldus da Rainha Como tem maior grdo de calor , raras vezea tem sido applicadas nas moléstias cutâ- neas; (í se algumas vezes se tem administrado he porque ha- via decompaidiia aílecção rheumatica, ou desordens de diges- tão para que então erão aconselhadas ; por isso possuimoa poucas observações a respeito destas aguas usadas nas mo- léstias cutâneas : he cerlo que raras vezes se mandão os doentef jiaici Cíite iij;i áqucllas Caldas; por quanto elles pre- ferem hir ás mais próximas ; evitando despezas , incommo- dos de jornada para huin lugar tão distante da Capital, com incerteza de bom resultado. A Província do Alemlí^jo tem as seguintes nascentes de aguas !r.i;;craes suíphurosas. As de A?-cz , cuja temperatura náo se acha determinada. As aguas minerat^s sulphurosas de Cabeço de fide , que marcão 20° i a 2i j R. As de Gavião cuja tejnpcratura também se nSo acha de- terminada DAS SCIENCIAS DE LISBOA. ll As de Monte de Pedra cuja temperatura também se não acha dclormitiada. As de Porlaleqrc cuja temperatura lambem n3o está determinada. Poucas observações medicas existem deslag aííuas applicadas jias moléstias cutâneas , á excepção das de Gavião , que tem curado ali,'uns casos de Elcphantiase , e herpes ulcerados : deste gcnero se pode \tt huma carta fes- cripta polo Snr. Francisco Xavier Pimenta ao Sur. D.r Cas- tilho, que vem inseria no Jornal de Coimbra N. 42 pag. 251, e que foi o objecto de curiosa observação. Das outras nascentes de aguas sulphurosas thermaes níio tenho noticia de observações , que se tenhão feito de doenças cutâneas cUi'adas pelo úso destas aguas ; porem he natural que os médicos , que vivem na proximidade destas nasceiíf es , tenhao tido occasiâo de verificar a sua utilidade cm diversas moléstias cutâneas. : §• G.° A Província do Alcjarve he a mais pobre em nascentes de aguas mineraes sulphurosas , pois que apenas existem as de Monchique cujo gráo de calor se eleva a 25" i , e 27° i de R- Estas aguas gosão de grande reputação na Província do AUjarvc , e tem sido recommendadas com decidida vantagem eia grande numero de mohístias cutâneas , e de que existem algumas observações que provào a sua utilidade. , Todas as aguas sulphurosas que acabamos de mencionar, cofno vantajosas nas moléstias cutâneas , humas sào frias ou com muito ppqucno gráo de calor, outras j)orèm são muito c|uenles. líumas são hepáticas, outras hepatizadas , isto he, humas tem enxofre em forma de sulphuretò , que mineraliza estas aguas; outras tem o gáz hydrogenio sulphurado por mi- nérali/ador principal. Ainda que não existem da maior parte dfUas senão conhecimentos imperfeito^ , he com tudo o que íp pode coUigir de pequenos ensaios analyticos , e de expe- riências mais ou menos consideráveis, a que tem procedido dilfercntes práticos em diversas cpochas. 2 * lá MKMORíAS DA ACADEMIA REAL ARTIGO III. BcsuJtado de ah/umas analyscs chimicus feitas nas aguas niincrues sulphuroxas , mciicionaó.as 710 arlKjo antecedente. §. l." Caldas da Rainha. 1795. Dnstas aguas thermaes temos algumas analyses fei(as em cli\ersns épochas. Taes são as tio D.w Josc' Martins da Cunha Pessoa, tio D.or José Nunes Guc/o, c de Jaaquvni Ipia- cio de Seixas, e as do D.ur Guilherme Jíitheriny. Todas ellas combinào no que he mais essencial , e que dá ás aijuas as grandes virtudes de que são dotadas, isto lie, o cjaz hydro- fienio stilphuTudo que as mineraliza. Port-m de todas as ana- lises a mais exacta he a do D.or Withcriíig : por ella sabe- ixibsjque em 128 on^as , ou 8 libras civis desta agua , ha: ' Gaz acido carbónico Ontjas. 1 * ^Gaz hydroeenio sulphurado 6 * -"Carbonato de Cal Grãos. 12 * "' de Magncsia 3 i Ilydrosidjdiureto de Ferro 2 j t Alumina ..,..,. 1 j -SiJicia ( i-Sulphatb de Cal 44 , — . dè Soda 64 t Hydrochlorato de Soda. 148 A quantidade de Gaz Iiydrogenio sulphurado , que cor- ríespõiíde em cada libra de 16 ouças lie de seis oit.ivas e ireiu; assim como a do Gaz acido carbónico, de huma oita- \á e uieia. §. 2.* ÀijuaS de S. Gentil. 1806. No Tomo 5.° das Memorias da Academia Real das Scieiícias de Li.sboa , acha-se inserto o resultado da analyse , t^ue meu Pai, o Snr. D.or Icjnacio AiUomo du Fonseca Benc- DAS SCIENCIAS DE LISBOA: 1» vides fez das acuas mineraes sulphurosas de 5". Gemil , na rrovincia da líeira , no districtu Administrativo de riseu , o qual hc o seguinte ; 100 Lib, de agua, Gaz hydrogenio sulfurado Pol. Cub. 610 acido carbónico 520 Muriatu de Magnesia Gràos. 70 (ie Suíla 65 Siilt)liato de Magnesia • G8 ,|{, Cal 30* Carbonato de Magnesia 19* de Cal II ♦ de i''erro 7 * Terra siliciosa 13 Aluinina 3 JMaicria corante 2 Matéria extractiva (*) *• ARTIGO ÍV. Àâvertencias , e preceitos que se devem ter cm vista na applicaçiio das a/jttas sulphurosas nas moléstias de pdic- Resta-nos dar as regras e preceitos , que se devem sé- p-nir na applicação das a^uas sul])luirosas nas inolestias cutâ- neas , como resultado daquillo que ternos dito nesta parte dd uosso trabalho. Em todas as moléstias dò pellej se observ3o dois estados Qii jieriodos de moléstia , que vem ser agudo , e chronico. O est.ido ou periodo agudo destas moléstias, raras vezes he observado pelo medico , porii(ioza, nào po- de ser tratada jx-los banhos de aguas sulplnirobas , que nào farião entSo mais do que augnientar a jjliloginasia cutânea, pela sua acçào toiíica e estimulante. Cunipre eiitíio lançar inào dos anli|)liloi;islicoS , taes (-(imo os lavatórios einoilien- tes , e narcóticos, lendo procedido evacuações sunauincas geraes ou locaes, conforme o estado de inflainmacão Cutânea, o estado do pulso e forças do enfermo ; quando se tiver conseguido calmar a irritação cutânea, sóentào sé poderão ap- ])licar os medicamejitos brandamente estimulantes, fazendo uso dasaguassulpliurosas, debaixo de differentes fórm;is de iianho, emborcação , lavagem , etc. Esta reera geral he aj>plicavel a todas as moléstias darí rosas sem excepção, e algumas outras quando est.ào no seu jirincipiO; Daqui se deduz , que são contraindicadas as aguas sul- phurosas nas rnolestias cutâneas no seu estado agudo, quer naturaes , quer arliliciaes, (.pientes ou frias. A terminação das moléstias dartrosas he em gera] pela dcscamação ; e sendo esta a terminação de todos os darlros , fcegue-se que remédio algum he mais conveniente para a conduzir a esta solução, do qile o uíO dos baidios c embor- cações das aguas suljjhurosas , porque pelo seu esl imulo mo- derado, excitào as jiropriedades vitaes do sy.slema dcrmoi- deo , que neste estado chronico as moléstias cutânea.? se achão em inércia e atonia , e ])or consequência as secreções da pelle no estado morboso. Não só convém então estas a- guas , mas também as pomadas irritantes , cuja l)ase seja o enxofre. As aguas sulphurosas são mais convenientes neste esta- do das moléstias cutâneas , não só pelas razões que acaba- mos de expor, mas também porque não he prudente curar as moléstias cutâneas no estado agudo por estes meios , que não d»'ixai'ião de repercutir a moléstia sobre alguma viscera j c ])roduzir maiores males , do (jue a moléstia cutânea que pertcndiamos curar. Ha iiiolciitiao do pelle que não convém curar , taes são as que ser\ em de crise a alguma liiolestia interna , e tão lon- go esiarião de cura-la as aguas sulphurosas, que não cossa-- rião de aggravar a moléstia, de que ella servo de termina*- çào ou solução. Casos há, em que muitas vezes a indicação curativa he lixar no systema dermoideo a aíRecção cuta- DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 15 nea critica, e nSo crilica. Exoinplo-? dostus poderíamos citar de Tísicas produzidas por vírus ht-rpclicos, e outros reper- cutidos sobre o puluiào, seroin curadas pola jirovocuçrío dos- tf>s para a pelio , e lixa-los alli , sem que ousássemos cura-los em ca-^o al£>uiu dostu natureza, sendo então conveiiieiílo en- tretc-los , na pelle , usando apenas dos meios suaves pa- ra mitiçar os incommodos desta alVecção rebelde. He evi- dente que nestas circunstancias , he preciso muita jíruden- ciu na sua adinini.-^tracfio , df.neado ser reprovada , e inad- niissivel a forma de emborcações , e somente o uso dos ba- nhos e lavagens. O uso das aguas sulphurosas não dcvtí ser limitado so- mente ao exterior; porque luim grande numero de moléstias cutâneas , parecem sem duvida , ser devidas a vicios orgâni- cos , e de secreções das vísceras abdominaes com particula- ridade do iigado , porque lie raro que esta entranha se não ache de qualquer modo alíectada nos indivíduos atacados de moléstias de pelle , por esíc motivo he muito conducente no plano geral da applícaçào das aguas sulphurosas, usa-las tam- Dem embebida, alem de outras razões therapeuticas, que sal- tão aos olhos no tratamento destas enfi.Tmidades. As moléstias cutâneas, com especialidade os dartros , eàio muito susceptíveis de recahida , por isso cumpre não fiar na segurança da cura , e por este motivo a prudência exige , que se faça uso das aguas sulpliurosas muito teijipo depois da sua cura , a fim do evitar as recahidas , que são tão fre- quentes no outomno, e na primavera ; e não he raro ver vol- tar estas doenças nas supracitadas estações , passando pelos fnesmos estados de agudeza , e chronicidade. Esta vigilância tleve ser tanto maior, quai.to o for o numero dos botòes es- palhados por algumas partes do cor[)0 , os quaes são o come- ço da renovação da mesma moléstia ein outra éjiocha , quan- do SC reunirem causas physicas e moraes , capazes de a des- erivol/crem ; he por falta desta uttençSo j que se tem per- petuado moléstias de pelle , que se terião curado com a maior facilidade, pondo em pratica o uso dos banhos de a- guas sulphurosas a grandes intervallos, depois da completa desapparição destas enfermidades. lia indivíduos que se dào mal com o u.so das aguas sul- phurosas , sendo então necessário alterna-las com os banhos doces tépidos , como acontece aos que tem o systema der- inoideo demasiadamente sensivel e irritável. Com tudo he 9jS JMEMORIAS DA ACADEMIA KEAL digno de notar-se , como diz Alihert , que muitas vozes não ílevumos dar iiiúila attenção ;í sensibiliJado do doonte , por- que em nuiilas occasiões, lie fazendo luun estimulo na vi- talidade da pelle , que chegamos a mudar esla s^ensibili- dade viciosa , que entretém as moléstias herpeLicas. Os doentes enlão accusão maior prurido, c ardor na cútis, pe- la applicação dos primeiros banhos , mas pela continuação delles, os dattros desapparbcem pouco a poiJ(ío, e a cura jies- le caso he segura , quando á primeira vista parecia , que os banhos das acuas snlpliurosas erào nocivos. Ha circunstancias , em que as moléstias cutâneas tem resistido á melhor dirigida applicação das a^uns tliermaea sulphurosas naturaes , e tem cedido ás aguas sulphurosas ar- tiiiciaes ; isto parece ser devido ao esLimulo das primeiras nào ser suíliciente j)ara excitar as propriedades vilães da pel- le, e tira-las do estado de, entorpecimento em que exislião, sendo necessário o uso das segundas para o conseguir , visto que pelo metiiodo artificial se podem fazer mais fortes , e ílar-lhes maior gnío de calor; supposto que as aguas sulphu- rosas aproveitem mais em baixa temperatura , marcando '20° a 25° no thermometro de Reanmur, o que depende em taea casos da maior ou menor antiguidade da moléstia cutânea, do estado de constituição do individuo, da simjjlicidade uU complicação da moléstia cutânea , como no caso de rheuma» tismo , arthrite, etc. Alguns motivos pode liaver , para que em outras cir«' cnnstancias individuaes sejão preferíveis as lavagens daí aguas sulphurosas aos banhos, e as emborcações, vice-versa ; como no caso da segunda observação adiante mencionada, a qual cedeu com a maior facilidade ao uso das lavagens sul* ])iiurosas; entre estas foi mais proveilosa a formula seguin* te : tome-se duas onças de agua distillada , huma onça de acido sulphurico diluido , misture-se , e ponha-se em frasco .tapado, e guarde-se para o uso que logo indicaremos. To* jne-se igualmente huma onça de sulphureto de potassa, dis^ solvida em quatro onças de agua distillada. X jnancira de fazer uto vem a ser, tomar de cada licor duas colheres de soj)a, e deitaf-se seis quartilhos de agua bem quente em lui- jiia bacia; cada hum dos licores deve deitar-se com o ir.ter- ■vallo 4o'hum^ quarto de hora, e molhar-se bem com espátula de p.-ío ; molh;'io,-se então as mãos ao docnie para lavar as parles afleçtadas ,. ou melhor ainda com hujpa esponja fina. DAS SCIENCIAS DE LISROA. 17 li;ualn>oiite se podem deitar oslos licores em cosimonlo de iiialvaisco , quando a sensibilidade cutânea do individuo he niiiilo ox(|iiisi(a, qiu! não pode siip])or1ar o estimulo bran- do destas lava;;ons, segundo o mclhodo de Dupuijlren , para curar as alVecròes j)soricas. A formula dos banhos artificiaes sulphurosos , que a ex- jieriencia tom mostrado ser a melhor, he a seguinte: tome-se de siilj)luir("to de potassa, feilo pela via secea, huma onça, e outro tanto de sulpliiireto di; soda, feito da mesma maneira : condiiza-se em vaso (apado, no momenlo cm que se acabao de fa/.er, para se lançar n'ae;ua tépida, ou naquella tempe- ratura em que fòr conveniente , para preencher alguma indi- cação particular complicada , como quando existe algum rhcíuniatisuio ou artiirile de companhia com as doenças cu- tâneas ; porque neste caso não só con\cm esta temperatura jnais elevada, mas também convém igualmente, que os ba- ldios sejão mais saturados. Neste caso igualmente são úteis as aguas sulphurosas, em emborcação, com lium gráo maior de calor. A duração dos banhos , isto he , o espaço de lem- ])o ()U(J os doentes se devem demorar nelles , deve ser des- de hum (piurto atíí huma hora; tendo em vista sempre o con- servar as forças do doente, para que elle possa tomar o maior numero de banhos possivel , convindo estabelecer bum in- tervallo de rej)ouso entre certo numero do banhos , poden- tlo então fazer uso de alguns outros medicamentos externos, supposto que não haja inconveniente algum cm applicar huns «! outros simultaneamente. Nada concorre mais certamente para o bom resultado da cura das moléstias cutâneas , do que Imma applicação bom regulada destes banhos , que se pode fazer cm todas as eslaçò(>s ilidis! iiiclamcnte , tendo attenção ás regras die- téticas. Os indivíduos atacados destas enfermidades , devem evitar todas as causas physicas e moraes, que podem ag- gravar e perpetuar as moléstias de peile , durante a applL- cação deste tratamento niethodico. Por estes motivos deve- so procurar sempre a habitação de hnm lugar saudável, li- vre de humidade , em (jue se respire hum ar jiuro ; a ausên- cia destas circunstancias hygienicas torna rebelde a cura de muitas doenças cutâneas nos hospitaes mal situados. Deve haver huma boa escolha de nutrição, que em todos os casos deve ser mais vegetal do que animal, excepto nos indivíduos cachnticos, atacados de huma debilidade extrema , que eii- TOM. XIII. p. I. 3 18 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL iiio dcvcni lazer uso de alimentos de carne do fácil digestão, como vitella, vacca, carneiro novo; havendo sempre o maior ciiidadocni evitar alimentos iiitlii;estos . jiicantes, e salgados, caj)azes de irritar mais ou monos , ou augniejiLar a phlegma- sia cutajiea. ARTIGO V. De algumas observações clinicas , que confirmão a utilidade tUts aijuas sulphurijsus 7ias moléstias cutâneas. §. 1.» FRIMEIRA OESERVAÇÃO. (Herpes escatnoso húmido) d'Alibert. Historia. M. J. * * Mulher de 40 annos de idade , de huma con- síituiçào robusta, tomperamento sanguineo-bilioso , ainda re- gularmente menstruada, tendo huma vida sedentária, e passailo a maior parte da sua juventude reclusa em hum Mosteiro austero, constrangida, e entregue a desgostos do- mésticos, sahindo do claustro, mfidou de estado, casando com hum homem de vida sóbria, e regular, e passados quatro amios , tendo antes tido hum aborto , comeíjou a ser ataca- tla de doriís de estômago em lornia de cardialgia, que se es- tendiao sobre o ligado, e que cederão em virtude da applica- cào de medicamentos evacuantcs. JNesta mesma occasião ap- pareceu huma Zoria-ir/nca sobre o baixo ventre , com botões rubros, inilainmados , aconq)anhada de hum jirurido insup- jiortavel, (jue desapparereo completamente sem se fazer re- médio algum; por/^MU passados seis mezes começ.irão a a])pa- rccer erupções nos dedos das màos, que igualmente se dis- siparão ; mas ao depois tornou a apparecer a mesma eru- pção , qufí se tornou geral em todo o cor])o . cujos caracteres crão os seguintes: tumefacção extrema de toila a pelle , tan- to nas extremidades, como na cabeça, composta de immensi- IDAS SCIEXCIAS DE LISBOA. 19 (lade (In pontos rubros, iniiilo elovados , exiialando hum piís cAr (lf? iiu-1 , viscoso, lorniiiiaiido no íiiii do trfs ou qualro dias pola doscamarAo luriíiracea ; as escamas cm algumas parles erão de. Imma grandeza prodi-íiosa , chdgaiido ater diia-;a(,é Ires polegadas desuperlicie; passado esLe período os holõos ficavào ainda avennelliados com hum prurido iiisiijjpor- lavel. lOm al:;unias |)arl('s , aonde havia maior traiispiraçào , como nas axillas, parles ^^enitaes, c á roda da rcgiáo mauima- ria . a]ipai"eciào goljies ou soluções longiludinaes da pelle , (pie (iej)ois do terem dado huma suppuração mellosa, deixa- v.io fendas e asperezas, que deitavão sanifue a maior parte das vezes. Os legiiinentos do craneo . (jue são cobertos do pi^los, apresenlavào liMina su])])ura(;.âo iniiito mais abundante. Os olhos saliiíio das orbitas, apresentando hum aspecto lie- diondo, as colhas ficárào destruídas, e as unhas cahirào no liin da moléstia. Os músculos docoUo tinhão huma rigeza no- s ; o mais commummen- le em toda a j>elle , e neste caso os doentes sollrem mui- to com hum prurido doloroso e iiicomnKjdo. Ksla exlen- sa moléstia cutajiea era acompaidiada de huma lesào gran- de dè fioado , por quanto a dor do hypochondrio dirtiilo <|ue se ramificava ao estômago , que seirqire existio durante a moléstia, e huma extrema scisiibilidade, (piando se tocava esta roi^irio, provavão hum estado de inllamuiaçàn, (puMnuda- va as suas secreções naturaes , sendo manifestado este esta- do essencialmente pelos vómitos biliosos. Esta complicação que foi tratada pelos remédios adequados , em nada fez mudar a aflecção do ori^ào cut aneo , antes parece que seria mais huma causa conjuncta da sua maior exacerbação. As causas já mencionadas produzirão não só o estado mórbido do ti^aclo, mas também induzirão a hum estado maior de sen- sibilidade da pelle , para que a moléstia cutânea se apresen^ tasse no seu estado agudo j)or duas recahidas succiissivas no inlervallo de quatro mezcs , sendo huma na Primavera, e a outra no Outomno , que ambas deverão a sua cura ao uso das aguas thermaes sulphurosas artiliciacs, lendo precedido remeilios appropriados ao estado de complicação de fígado. Tratamento. Duas indicações esscnciaes havia a nl tender no trata- mento therapeulico desta moléstia: a 1.' era combater a iu- llammação do fieado, e desconiplicar a moléstia ])riiicipal do systeina dermoideo: a 2.' era diminuir o estado de erilhysmo deste systema , promover a descamarão , (pie parece ser a indicação principal na therapeiitica das moléstias cuta- nea.<. Àchando-sc o figado em hum estado de excessiva irri- tabilitlade e sensibilidade, a circulação muito activa , foi conveniente empregar os indicados que satisfizessem a esta indicação, calmando o systema arterioso por meio das san- DAS SCIKNCIAS t)E LISBOA. 21 grias' locaos considipraveiá ^ prios evaciiaiitos bramlos , e os (líMUulcciílí-s tiipicamuiite na regiào hopatiiii: assim as ti- sanas de cevada j labaça aj^iida , com a addioílo dos saes iictilros, lacs como os siilphalo de soda, de potassa, o as ca- tiii)liismas d(' liiihara feitas (Mii cosimontos do j)laiitas eiiiul- licntca , curarão radicalmente a inflammação do tie^ado , e a jiratide reac(;;X() do svstenia saiiijiiiiieo. A «('g^iiiida indicação <]iio era a priiici|)alj foi satisfeita íião só pelos remédios pre- scri))los na |)re.seiite indicação, inastambem por a(|iielles tira- dos lios depuraiites , taes como cosimentos de fumaria, sal- sa parriilia , didcamara, coiri o sc^ro de leile, a que ajuntei alguma pequena porção dé sublimado corrosivo (deuto-clilo- refo de mercúrio). Èxtenianiejite os banhos de fumaria e sim.|tlices. Apezar deste tratamento que durou quatro mezcs, pouco proveito se iiroú 110 estado cliroiiico da moléstia cutâ- nea , e só pela applicação dos bai,hos das aguas sulpliurosas hrtificiaes , durante o espaço de três mezes , com intervallo de repouso, c luima diela a])propriada , foi capaz de cu- rar a moléstia radicalmente em cada huma das recahidas qiie houvoriío. Os banhos sidphurosos artificiaes forão feitos jie- lo sulphureto de jJotassa, e de soda ])ela via secca, dissol- vido na agua do banho, quando estava na temperatura de 23" Reaumour. Immediatainente o doente se mettia no ba- nho, onde estava jjelo espaço de dez minutos até meia hora , nos sessenta banhos que tomou em dias alternados. Du- rante esto tempo tomou também as aguas das Caldas da líainiia . com a tisana depurante, outras vezes com o leite. Dois fonticulos, hum no braço outro na perna, termin;írão a cura desta moléstia , com a indicação de supprir por e.'>la9 Ttlceras artiíiciaes a grande excreção de humores que pela pelle a natureza se tinha lialiiluado a eliminar, e que seria p(}rigoso interronqiíM- rapidamente, sem se ter desviado para outra parte eslas fluxões , as quaes forão estabelecidas por via dos fonticulos abertos nos lugares ]ií indicados. Da observaçíXo exposta se colligrt quanto aproveitarão os banhos sulphurosos artiíiciaes , e o uso das aguas sulphu- rosas naluraes em bebida , na cura desta enfermidade cutâ- nea , a qual ticou estacionaria por muito tempo, em quanto se não fez uso das a^uas sulpliurosas; as quaes só ajiroveita- rião neste estado mais chronico de moléstia de pelle , do que no seu estado mais agudo, em que mais conviídião os eva- cuatites , os eraoUientes, e calmantes em geral ; porque o es- fl2 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL tado de grande sensibilidade cutânea estando já diininiiido , o estimulo d;is atriiaá lic eiilào niai.s cunvenienlo , j>ara pro- mover a descamarão , e reduzir ao seu typo normal as pro- j)riedades viCaes do systema cutâneo. §• 2/ SEGUNDA OBSERVAÇÃO. (Da) lios criulacco avutnUo) iVAlihcrl. liii^toria. j\I. « -í IMnlher de idalla voltava o cabello , as pai Itss allecladas jecobravão a sua còr natural, e apenas arrojadas junio ás virilhas, e mesmo nas axillas , persistirão por algum tiiujx), com suppuração de tumores pJilei;monosos no i(?cido celluJar, junto das glândulas axillares, os cpiaes cicatrizarão perfeita- mente , não deixando vesiigio algum tlesta grande enfermi- dade cutauca. As forças voltarão ao seu estado normal , em I DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 23 liiima palavra loilas as riincçõos .se fizprão como no eslado <1(' sandc. Hosla nolar <[UO a dooule siilirr-u na idade de vin- te e seis aiiiios, liiiiii lítunimali. ino artieidar inuilo violento, <|iie llie atacava as i,naiidcs eas peípienas aiiiculações, o qual ■SC dissipou pelos remédios aj)piopriados , teiido-sn passado liiini intervallo de dois aniios até ;í invasão da moléstia , cuja historia acabei do exj)or. Diagnostico. Pela an(eoedent(> exposição não pode deivar de inferir- se que havia a tratar hum dartros da terceira espécie de Aliberl. lícrpcs cruslnccus Jhivcscens, ou Dartros crustáceo ainaifllado , cuja variedade o mesmo autiior caract(;riza ua maneira seguinte. Este Dartros he o residtado de hum suor crustáceo, cuja còr amareila apresenta o aspecto do mel, quando está secco ou de suecos gommosos de certas arvo- res. .V sua inarclia tem ali;uma analogia com a da erisipela. O tecido he alijam tanto entumesciílo ; e mais commummen- te manil*esta-se sobre huma ou duas faces. O couro cabeliu- do , a n^iiião frontal forão as mais atacadas desta atrecção cutânea. O Hheumatismo antecedente pode ter concorrido |>ara a formação desta mijlestia , visto que antes delia não se tinha manifestado esta erupção; para isto concorrerão as cau- sas physicas e moraes, (pie existião naíjiKlla uccasião , sup- ])osto (|ue em muitos casos sejão desconhecidas as causas, que provocào as moléstias cutâneas. Tratamento. Esta crave doença cuianea correu os seus periodos de .letamente, foi seguido com muita regularida- de , de que resultou a desaj)j)arição completa desta erupção , e a volta do cabelio , e a pelle ganhou o seu colorido natu- ral. Em geral todas as fuucções se restabelecerão completa- mente. Aconselhei á doente o uso dos banhos mornos de agua do mar de quando em quando , visto que estávamos na estação quente, a fim de tornar a dar ;í pelle a verdadeira energia, e acti- \idade, que jielas consequências da moléstia, e tratamento de- bilitante tinha j)erdido. Da observação antecedente se mostra o i)oder que tem os banhos das aguas sulphurosas artiliciaes ou naturaes , quando são bem appíicadas no tratamento dos dartros , moléstias as mais fr(M:|uentes entre nós, com parti- cularidade nesta Capital , aonde as causas jihysicas e mo- raes se reúnem ao ultimo gráo , para o maior desenvolvimen- to destas moléstias. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. • 25 f 3.- TERCEIRA OBSERVAÇÃO. Dartfos furfuraceo d'Aliherl. Hisloria. M. T. Mulher de idade de 40 ánnos , ainda menstruada, casada, sem ter filhos, de hum temperamento bilioso-lym- f>hatico. Estando em Veneza ha 16 annos , foi atacada pe- a primeira vea , entíXo na idade de vinte e quatro annos , e por occasiào de affecções moracs deprimentes j de hu- ma erupção cutânea atraz das orelhas, com pontos rubros, com prurido , e descamaçuo , que sé estendia em parte ao couro cabelludo ; algum tempo depois achando-se ém Roma , consultou o Medico StuiHuti , que lhe aconselhou alguns re- médios, em que abrandou muito o estado açudo da molesi- tia, restando apenas huma leve erupção atrae das orelhas, e conducto auditivo externo : eala continuou sem alteração ou diminuiçcKo por espaço de dois annos , que esteve emi Londres , donde veio para esta Capital , a qual quando se apresentou á minha direcção, tinha os symptomas seguintes: erupção violenta de botões rubros elevados, com supura- ção, amarella em algumas partes » e esbranquiçada em ou- tras, com prurido incommodo que sé estendia não só ao pes- coço, e i região frontal, mas também aos braços, e axillasj couro cabelludo, acompanhado de hum estado erythematicc» da face : febfe com pulso forte , e desenvolvido : os botões por ultimo terminarão pela descamação furfuracCa , ou simi- Ihantes a farellos. L Diagnostico. Esta moléstia cutânea deve ser classificada, segundo Ali- bert, Dartrõs furfuraceo (hei-jMS furfuraccua) a qual descre- ve com os signaes seguintes : dartros manifestando-se sobre huma ou muitas partes dos tegumentos por leves exfoliações da epiderme , qub se assimelha ;is moléculas de farinha , ou escamas de farellos. Estas pequenas escamas humas vezes es- tão nuiito adhereates á pelle , outras vezes se deslacàu com Tou. XIII. r. I. 1 26 IMEMORIAS DA ACADEMIA REAL facilidailo. As causas cspociaes qne parecem ter dado luoar ao ap[)arccinieiilti deslo dar.lros, lir> a miulanca da aOiiuos- phora j)cla variedade d(> climas que liabitou , a proxiinidadíí do termo da iiteustruaçào , a qual iie ciilào causa elas aguas snlpliurosâs , do qual se fez menção no Jornal de Coimbra N.42, pag. 2''>1 em huma carta do Dr. Pimenta, J\l('diro no Sanloal , a liiim dos Redactores daqnelle Jornal , (■ujo extracto lie o seguinte, a Hum individuo cjue só conheço por me ter vindo consultar varias vezes doTermo deViJla de Rei, de idade pouco mais^ de tb aniios sobre huma Elcphan- tiase que padecia, foi tr:\tailo pelo mercúrio gommoso de 1'lenciv, e depois o manflei tomar banhos nxi fonte de Fede- gosa íle Reher (aguas que eu tenho uaadoj que são sulphu- rosas fri.is. ConsegUio-so diminuir os progressos da moléstia, c'.issip;írào-se varias ulceras, que tinhào apparecido pelo cor- (^,) I Ciuninuaicada pelo buc. Ut. .líimenta. J DÁS feCIENCIAS DE LISBOA: " 2r> pá, e s6 lhe réstotl á contracção de alçtins dedos das mãos, que ainda não tem movimento, mas conservando o sentimen- to. O verão passado o mandei tomar banhos das Caldas da Uainha s(Wnen(:e ;{s mãos : porèni veio sem os tomar, persua- dido que o Medico daqucUa terra lhos prohibio, por não en- trar hnm leproso aonde entra tanta cento ; eu julço que es- te foi o' mhíivo, mas podia toma-los iVira do banho, se o Me- dico imprudenteníente lhe não dissesse que a sua moléstia iria a {leior com o uso destes, e que se admirava que tal re- médio lhe tivessem acoliselhado. Então o fiz voltar aos ba- nhos de Fedfegòsa,e ficou pelo seu uso sem sigual de molés- tia, èxiéepto iioS movimentos dos dedos, que ainda actual- méht-b sfe executão tom alguma d i (li cu Idade. » (i Huma outi'a observação similhante , e sobre a mesma moléstia vem referida na mesma carta, curada i^rualiuente pelos banhos Sulphur'dsôs ', e vem a ser: Huma rapariga de Vilíar dè líuiVo , Termo de Villa de Rei, veio-me consultar conduzida pelo mesmo individuo da observação antecedei. te, e achava-se atacada de amenorrhea e ele])hantiase. Fiz re- stabelecer a menstruação com pilulas gommosas de ferro; de- pois entrou no uso do mercúrio gommoso ; sobrevierão-lhe terçãs ; interrompeo-se o mercúrio , e depois de curadas as terçãs , foi aos banhos das agoas de Fedegosa , e tinha antes tonlado alguns no Zêzere. Acha-se aqui livre da Elephantia- ee, mas persiste o mesmo torpor e contracção dos dedos das mãos : este anno ha de continuar com o mercúrio e banhos , veremos como fica , mas não vai ás Caldas , por não succe- der o mesmo que ao outro. " §. 6.' SEXTA OBSERVAÇSO. Lepra (VAlihcrt (»). M. J. Homem de quarenta annos de idade, robusto, de hum temperamento sanguíneo, passando huma vida muito ir- regular , durante a sua primeira juventude , tendo tido algu- mas moléstias syphiliticas e psoricas de máo caracter na ida- (•) Comiiiunieada por meu Tio q Sãr. Dr. José Lourenço da Foiíseta eSoura. ^p. MEMORIAS DA ACADEMIA REAL de de vinte annos , as quaes se curarão imperfeitamente , fi- cando-Ihe hum dartros sobre o baixo ventre, que progressi- vamente foi atacando as extremidades superiores e inferiores e face , em cuja parte apresentou no fim de quatro annos o aspecto de lepra escamosa liranca do Dr. Alibert, no momento em que foi observada pelo Síir. Dr. José Lourenço da Fonseca e Sousa, o qual comnmnicou apresente observação a meu Pai em 181 C. Esta moléstia cutânea que foi abandonada pelo es- paço demais dedoze annos, reputada incurável pelos práticos do paiz , apresentava-se com os caracteres seguintes : esca- mas mais ou menos largas de forma orbicular , deixando hu- nias malhas levemente brancas, como verrucosas e duras ao tacto, e circumscriptas porhuma aréola avermelhada. A mo- léstia foi reputada lepra escamosa branca de Alibert. Os co- zimentos sudoríficos forão dados com muita vantagem ; as pí- lulas alterantes de Plumer ; depois foi mandado fazer uso das aguas sulphurosas das Caldas de S. Gemil , e de Vai de Ma- deiros, as quaes fizerão desapparecer as escamas e as malhas inteiramente. mmmãéB *•—*•——»•— ^fi^-^^^t^MxJ'^'^^^^^»*»*»»—^*—!!* CLASSE DE SCIENCIAS EXACTAS. :i88AJ3 .^ATOAXa 8/ í;(!/n.) í MEMORIA SOBRE OS TRABALHOS GEODÉSICOS EXECUTADOS EM PORTUGAL. Publicada por Ordem de Sua Magestade POR FILIPPE FOLQUE. Advertência. t ' Em consequência das Ordens de Sua Magestade, que ahai' xn transcrevemos , e que nos forão communicadas pelo Ex.im Marechal de Campo Pedro Folque , Commnndnnte Geral do Corpo de Eiu/enheiros , 7ios atrevemos a publicar a presente Memoria , levados unicamente pelo espirito de obediência devi- da ás Determinações de Sua Maqestade, A Quem respeitosa- mente tributamos os maiores agradecimentos pela honrosa con- fiança , que lhe merecemos ; Dignando-se encarregar-nos deste importante trabalho tão superior aos nossos conhecimentos. Ministério da Guerra. =2.''Direcç;'5o:^2.* Repartição = Sua Magestade a Rainha a quem foi presente o Cfficio que o Marechal de Campo Graduado Pedro Folque , Com- niandanle interino do Corpo do Engenheiros, dirigio a este Ministério em 24 de Março ultimo, remetiendo o mappa es- tatistico dos trabalhos executados jio Archivo Militar durau- TOM. XIII. r. i. A 2 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL tp o anno próximo findo, c bem assim o rclalorio dos Iraba- ifrns^l^eTOar^TrDS , er topográficos da Carta do Reino, fp^tIivo» áfiuelle periodo : Manda pela Secretaria di; Estado dus Ne- gócios da Guerra communicar ao referido Conimandante , quo , em vista do que expO^ no mesmo relatório, fica aucto- rizado a faz(M- imprimir e publicar tudo quanto diz respeito a estes trabalhos , não só jielo auxilio que podem })restar ao progresso das Mathcmaticas em Portugal, ni^s tímibem para que no futuro se não j)ercão ; e Ha outro sim a mesma Au- gusta Senhora por bem encarregar p Doutor Filifipe Folque, Lente de Astronomia, e Geodcsia na Escola Polytechnica , de escrever a historia dos trabalhos geodésicos desde a sua origem neste Reino , a fim dê que sendo apresentada á Aca- demia Real das Sciencias , ^le que he Sócio effectivo , possa ser censurada, impreSáa , e jutita Á coUecção de suas Me- morias, huma vez que a mesma Academia a julgue digna de publicar-se. Paço das Necessidades, em 5 de Maio de 1840, = Conde do Bomfim. ■ Está conforme. .ri:). Secretaria do Commando Geral da Engenharia , G de Agosto de 1840. I. J. Alves Chianea. Secretario. DAS SCIENCIAS DE LISBO/V. — =>«€«€«€«€«C«€^€«C«€«C«€«€«<8=— DISCURSO PRELIMINAR. G Jrandiís esforços fez o espirito liumano desde as primei- ras épocas do mundo civilizado para determinar algum dos principaes elementos geométricos do globo terrestre : não faremos huma longa exposição dos resultados successivos destes esforços: mas para bem se perceber a imj)ortancia da matéria , notaremos resumidamente a ligação dos conheci- mentos nesta parte. Ninguém duvida das ideias, que os philosophos da anti- guidadí! liverão sobre a figura da terra considerada em ge- ral, dizendo huns , que era plana, acrescentando outros ser também quadrada, e ])retendendo alguns , que fosse cylindri- ca ; com tudo meditando-se mais sobre os factos , todas es- tas primeiras illusões se dissiparão , e com sofriveis funda- mentos se persuadirão , que a terra era espherica. Partindo deste principio tentarão niedir-lhe a circumfe-' rencia , e depois de muito se ter estudado o modo de resol- ver este interessante problema , se reflectio finalmente , que as alturas nieridianas dos astros mudavão com o horizonte: foi este facto que suggerio aos geómetras a idêa da possibi- lidade de achar a grandeza da circumferencia da terra, e por meio delle chegarão os antigos a determinar, posto que d'hu- ma maneira muito imperfeita , a grandeza da dita circumfe- rencia. Assim permaneceo por muitos séculos o principio da |>erfeita esphericidado da terra , e .i proporção que as scien- cias e as artes se forão augmentando, também os methodos e processos se melhoravão , os instrumentos se aperfeiçoa- vào , e dosla mutua protecção das sciencias para com as ar- tes, resultou aproximar-se cada vez mais do seu justo valor a grandeza da circumferencia da terra ; com tudo os resulta- dos dos diversos geómetras ainda offereciuo diflerenças muito notáveis. A 2 4r RílíMORIAS DA ACADI<:MIA RI:AI. Nesle estado de cousas começou a rrança a tornar par- te iiiiiilo activa nesta iiiter(>sKaiiti' (|Uostão : a Academia Keal d(^ l'ari.s veiulo (|uajito era iinportaiiti! a tlet;eriiiinação tlu i^ráo do ineridiaiio, fe/ varias re|ii-(.>seiil,ações a (;ste respeito, o em consequência delias o Goveruo encarregou a Mr. Picard a determinação do referido gráo , trabalho que de.sem|)enhou com todo o desvtdo , empregando os melhores nuLliodos , e inslriin-entos , (jiie havia no seu teinpo , o j)or consequeiu!Ía não se esperando maior aproximação na pretendida ii^rande- 7.a , julgou-so ])or isso complelamen!.c resolvido o problema da determinação da circumlerencia da terra. Neste tempo , porem , coiiio já se attendesso mais ;í na- tureza , e observação do suas leis, do que aos principies es- ppculati\os dos ])hiloso])hos , itnauir.ados no siltMiino »le seus gabinetes , principiou-se a duvitlar da perfeita esphericidade da terra , e muito mais ainda quando se notou , <|ue hum mesmo pêndulo transportado de hum para outro lugar do glo- bo , não regulava neste como naquelle , levando mesmo em conta as dilierenças de temperatura: era jiois forçoso admit- tir como flicto de observação, que o peso d'huni mesmo pên- dulo variava com a latitude , isto he , que o j)eso augmenta- va do equador para os poios : então Newton e Huygens fun* daudo-se neste facto, confirmarão com elle a existência da força centrífuga, por meio da qual demonstrarão pela ma- neira a mais victoriosa , que a terra não era huma esj)hcra , mas sim hum espheroide achatado. Tão certos estavão des- tas consequências Newton e Huygens , que at(5 se persuadi- rão de que por meio de ex])eriencias exactas sobre a dimi- nuição da rra era hum espheroido alongado, e nào achatado . como os <'eometras íiiítIczcs pertendiào. lista terrível contradicçiTio nas consequências dos traba- lhos de homens tão celebres, produzio tio estrondoso efleito, qno (tri<;inando-se partidos , derão lugar a bellas e interes- santes memorias dos sal)ios francezes e inçlezes. No meio desta commo(:ão scienlilica, em ({ue se achavão empenhados (>s ])rincipaes talentos da Europa, e em que necessariamente muito devia ap[)arecer de todos os lados o espirito nacional , l)or(ju<" a sciíMicia não nos priva inteiramente de nossas pai- xões ; suspendiservaçòes, na verdade feitas com os melhores instrumentos d'aqnelle tempo : por isso assenta- rão , que as operações t^^eodesicas executadas em hunia par- le única do líUdjo não erão sufllcientes para se concluir in- contestavelmente se a terra era hum espheroide alongado oa achat;uJo, pela proximidade em que ficavâo os ffráos do me- ridiano , que se comparavão. I'^.m consequência destas judiciosas reflexões , torna a Fraiuja a entrar em nova lide, e he nesta occasião que o Go- verno levantou hum monumento de eterna gloria para a Na- «So e para os Sábios encarregados destes trabalhos. Duas expedições se prej)arão , huma comj)osta de JMaupertuis , (."iairaut , Oamus , e outros saiiios , cpie parte para o norte onde sofre todos os trabaliios , e privações projirias dos gela- iia.s e cada.slrae3 . obtidas pe- ]ps deliutdu.s proccs>us da Qeod|eiiia. (f IVIEMORIAS DA A€At)EMlA REAL do-se assim as nações, que conhecciti e avaliSío a importân- cia destes traballios; e nlcsmo para que a todo o teinpo, qiio se quizessem continuar, se soubesse (Juál o çnfo de conilan- ca que deviSo merecer, nada disto se fez : deixa-se morrer o Dr. Ciera, e sete dias depois de sua morte he que D. Mie;uel Pereira Forjaz manda a seguinte Portaria a Paulo José Ma- ria Ciera, irmão do fallecido =u Merecendo a S. Alteza "Real o decido apreço os Trabalhos Scieulilicos doDr. Fran- j> cisco António Ciera, ulliniamenle fnilccido , resjjcctivos á "Carta Geral do Reino, e á Direcção dos Telegraphos , que >» lhe estava contiada : He o Mesmo Augusto Senhor Servido "Ordenar que V. m. fique responsarei de todos os Manu- " scritos respectivos aos dois objectos de Geodesia e Telc- " graphia , que ficarão por morte do dito Professor; c Detcr- » mina que V. m. proceda com a possivel br.cvidade a for- 5> nializar huma Nota Oíficial de tudo quanio achar sobre es- .-> tas matérias , com à maior exacção , e clareza , a qual No- " ta deverá remetter a est^ Secretariu de Estado dos Nego- » cios Estrangeiros, e da Guerra, logo que esteja concluída, " a fim de que se mande delia extrahir huma Copia , verifi- í^ cada a Original por hum dos Lentes da Academia Real da "Marinha para ser depositada no Real Archivo Militar. O .•) que participo a V. m. para sua devida intelligencia e exe- -" cução. Deos Guarde a V. m. Palácio do Governo em 13 "de Abril de 1814. = D. Miguel Pereira Forjaz. = Snr. Paulo "José Maria Ciera. = Registado. = " Tutlo isto nos constou por informações de huma irmã do Dr. Ciera , nas mãos de quem vimos a Portaria que acima fica transcripta ; bem co- mo nos certificou a eflectiva entrega de todos os papeis rela- tivos a estes objectos. Assim ficíírão abandonados e esquecidos os trabalhos da Triangulação Geral do Reino desde 180.3 até 1827, epocha da Regência da Serenissima Siir." Infanta D. Isabel Maria, em que, sendo Ministro da Guerra o Ex."»» Cândido José Xavier, appareceo na Gazeta a Portaria do theor seguinte, pela qual o Governo parecia querer dar algum andamento a este negocio = << Manda a Serenissima Senhora Infanta Re- " gente , em Nome d'ElRei, que o Brigadeiro Inspector dos Telegraphos na digressão, que vai começar para estabelecer >' as linhas telegraphicas de Lisboa |)ara o Alemtejo e Pro- "vincias do Norte, examine o estado em rpie se aclião as » pyramides ou pontos , que se fixarão para estabelecer a DAS SCIENCIAS DE LÍSBOA. 9 ■») triaiifijulaçào , que forma o osqiu-leU) da Carta Ccographicíi » (lo RíMno ; principiamlo poios ilous pontos tia base ilc veri- » ficar ao Batel e JMoiilijo, e tendo particular attenrào corti ;)(>sle iihhno, o qual consta achar-se om risco de so perder; M '^ mesmo Hrieadeiro conta desla (liiii>'encia , ;í pro- j! porção que a for concluindo em cada Provinda , (5 projion- j> do as proviíloucias , que entender necessárias para que se »> conservem sempre dislinctos os referidos pontos. Faço em 11 "de Abril de lí)-27=^(/andidoJosé Xavier. =^" Dcvsgraçada monte «ó na Gazeta aj)pareceo a vontadí' do Governo, porque pode- mos asseverar, (jue o Marechal l<\dque nenhumas onlens re- «•ebeo a tal resj)eilo. Jidgamos também a propósito mencio- nar a s(>uiiinte carta, que pouco depois da Portaria acima o >Sfír. Timotheo Verdier diri^io ao Snr. Visconde de Santarém então Ministro de 1'^slado, com a qual nos brindou o nosso conq)atriola e amigo o Sur. Filippe Zagallo, alem das infor- jnaçòes , de que lhe somos devedores , .sobre a Estatística Geodésica de Portugal : esta carta he niic só interessante por nos mostrar o caminho, que devíamos seguir no descobri- mento dos mamiscritos do |)r. Ciera, e pela.s judiciosas refle- xões, que faz á cerca destes trabalhos; mas porque se vâ nella a lini;uagem leal e franca d'luim homem verdadeira- mente iiule[)endent(; , e que do âmago d'alma desejava a prosperidade (le Portugal. = í.- III.'"" e líx.mo SRr. = Persua- j) dido de que V. ííx.' deseja promover o bem, e a felicidade "do Reino pelo INÍinisterio de que S. Alteza a Sereníssima "Senhora Regente o incumhio, e sendo a todos notória a V vontade, que V. Ivv." maiiifesta de alcançar informações " iiistorico-statisticas dos div(;rsos ramos que administra ; per- " mitta-mc V. Ex." apontar-lhe hum , que lhe nem haja tal- " vez Ieud>rado, bem (jue indis|)ensavelmente necessário ;í "boa Administração do Reino, isto he , a conclusão dos Tra- " balhos (rcodesicos empreheudidos ha mais de quarenta an- » nos em Portugal, suspendidos perto de seis, continuados "depois com notável perfeição, e adiantamento, e quasi fin- " dos ha vinte e quatro aimos sondo delles promotor D. Ro- ."drigo de Suusa Coutiniio: mas logo (pie elle sahio do Mi- " nisterio , ir.teiranuNite postos de parte até agora. "Com tudo o Deputado Miranda fallou ao Ex.mo Candi- "do José Xavier, que então servia o Ministério da Guerra, ae em ttí de Abril vi na Gazeta huma Reeia Provisão, que «encarregava o iJrigadeiro Pedro Fohpie de proceder ao des- TOJM. \iu. r. I. B ,10 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL >■> cobrimcnto, e fixação ila Base de verificações em seus pon- .» (os extrrmos = Montijo e Balei. = Não mo consta que » essa ordem i)aja tido execução, e que essa falta deva ser í' imputada ao dito Brigadeiro. 'j Os referidos pontos dessa Base existem marcados em »» lages profundamente enterradas, ha mais do (rinta e cinco » annos pelo Dr. Francisco António Ciera , que já falieceo : "dos que assistirão e cooperarão a esses trabalhos, sá cxis- " tem hoje o Marechal de Campo Caula , e o Brigadeiro Pe- j) firo Folque ; mortos estes, se o Soberano quizer hum Map- ." pa exacto do seu Reino (qne o não ha !) terá de mandar «proceder á medição de nova Base, a novas expedições de j» observação , a novos cálculos, etc. etc. ; e de todo o tra- » bailio j;í feito ha (auto tempo, e com tania despeza desde »o Algarve até Aveiro, jioiico ou nada se aproveitará, afora j> as pvramides, que mandou lazer D. Rotirigo. " A vontade do Soberano então sofrerá grande demora » na sua execução , quando não seja outra suspensão como a j> presente , a qual haja de tornar inútil finalmente quanto se j) tem feito até agora, e quanto em futuro se houver de co- »meçar, sem determinada conclusão do que já existe ence- » tado. Nem pertendo, Ex.mo Sfir. , induzir a V. Ex.' a que » prosiga já já á continuação dos Triângulos maiores desde a " Serra da Estrella , Caramulo , Bussaco , e Aveiro onde fin- " d;írão até os limites Norte das Províncias do Minho eTraz ') os Montes : os meus votos por ora são mais moderados , "desejo somente o que mandou S. Alteza pelo Ex.mo Candi- " do José Xavier. "Por tanto permitta-me V. Ex." lembrar-lhe o que se » pode e deve fazer actualmente. l." 5' Encarregar o Brigadeiro Pedro Folque do descobri- » mento dos dois pontos da Base já marcados e enterrados » nos sitios de Montijo e Batel. 2.° » Mandar proceder em Cascaes ou Paço d' Arcos ao apa- •j relho de duas Pj ramides de vinte palmos de Base , e qua- » renta de altura , de obra lisa de enxelharia , sem ornato ai- DAS SCIENCIAS DE LISBOA. u }■> gfum : csla cnxelharia e mais aviamentos , mais facilmente Me a prec^o mais conveniente serão transpor! ados por mar » aos Ingares das ditas 1'yramides. ') Attendentío a que nesta obra interessa (ambeni o Mi^ xnistro da Guerra, e que deste dependem Pedro l''olque, e "! os mais Ofíiciacs Enj^eniieiros que elie Jioaver de pedir pa- " ra o ajudarem , e que com elle ou apoz elle , devi-rão pro- » seguir na conclusão fecção da Carta do Reino; convêm que V. Ex." proceda •> nesta empreza de mãos dadas com o Ex.mo Ministro da »> Guerra. 4.° "Devo dizer a V. Ex.' que todos os Papeis, Mappas , "Memorias, Calculas, etc. etc. da Geodesia do Reino forão j) por Aviso do lvx.n"J D. Miguel Pereira Forjaz transporta- ?) dos ao Deposito do Pateo das Vaccas em Belém. Parece » que seu competente lugar deve ser o do Archivo Militar j »' onde acharião melhor conservação, e algum aproveitamento- »> Bem pudera V. Ex.'' ordenar em nome de S. Alteza » aos Corregedores, Juizes, e Camarás, em cujos termos, e >'jurisdicção se achão as Pyramides levantadas em 1801 e " 1802, que informem á cerca do seu presente estado, que " vigiem sobre sua conservação, e qu(! tratem do seu reparo. "V. ICx." dará a estas minhas observações o peso, e a «execução que bem lhe parecer. Se pela módica somma de 5» seis centos a oito centos mil réis V. Ex.' conservar agora a '1 Portugal o meio de proceder ein futuro a hum Mappa ex- j) acto do Reino, fará a este hum grande serviço, e poupar- " llie-lia huma grande despeza , e maior tardança, quando o j> Soberano houver de mandar que se faça o liito Mappa. » Dando V. Ex." execução ao que aponto, de certo não "Seguirá o exemplo dos Ministros seus predecessores, que " por inveja, ódio, ou amor próprio, deixarão de proseguir "a obras, que lhes incumbia acabar, para emprehenderein Í2 BIEMORIAS DA ACADEMIA REAL » outras quo sons siiccessores lambem não concluirão: tanto " no physico comu no moral este Reino abunda de ruinas » ticsse gonero. "V. Ex.° existindo Mappas hislorico-statisticos do todos >' os ramos do seu Ministério prova seu judicioso desejo de » obter o conhecimento cabal tio que administra ; mas sem »lnim bom Mapjia do Reino (Topog-ralico ou pelo menos ex- j! aclamente Geográfico) como poderá V. Ex." demarcar ler- " ritorios , jurisdicções , dispAr emprezas de caminhos, pon- " tes , canaes , encanamentos do rios e ribeiras, etc. Recor- " rerá sem duvida V. Ex." a informac^ões , e estas seràio sem- "pre exactas e fundadas em razão e economia? não jjoderão » ser dadas pela ignorância ou jielo pri^ ado interesse ? l>ogo » V. Ex." obrigado a não ajuizar de per si , administrará á jf maneira de seus predecessores, que com vastos e profuu- 5» dos conhecimentos de paizes estrangeiros, do seu apenas >'de quando em quando lobrigavão Cintra, Mafra, Caldas da •) Rainha , e Salvaterra de Magos. "Tenho dado a V. Ex.' hunia conta breve e resumida, » mas assiís exacta da Estatística Geodésica , isto he , do es- >i tado em que se achão os elementos , sobre que devemos "fundar as esperanças de alcançarmos hum bom Mappa de ») Portugal. " Falta porem a parte histórica dessa Geodesia , para 5) que V. Ex.° possa conhecer as crises assas curiosas, que "desde 1786 (cm que começarão trabalhos tão interessantes) » sofreo esta empreza até ao anno de 1804 em que íicou sus- » pensa até agora. "Somente direi, que em 1814 meu amigo Mr. Arago, >í Astrónomo do Observatório Real de ]'aris, ignorando, que " se houvesse procedido a trabalhos geodésicos cm Portugal, "foi por mim informado delles em huma Memoria que escre- "\i em Francez : conservava o borrão delia, e em 1824 o " Major Engenheiro Agostinho José Freire , quiz copia-lo , e >) m'o restituio ; mas não o acho agora entre meus papeis. " Por tanto este Engenheiro poderá siipprir essa falta » com a copia que tirou, e o Brigadeiro Folque emendará al- "gumas falhas, que nella possa achar. "V. Ex.' me fará a justiça de acreditar, que nem sou "levado por interesse algum meu particular, a fazer-lhe es- " tes apontamentos, nem pertenço ao Real Corpo de Enge- "iiheiros, nem pretendo adiantamentos , postos, empregos. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 13 >»officios, nem mesmo graças ou mercôs ; pois de nenhuma, <) |)os(,oque ha muito j)rometti(las, sou devedor, nenhuma » tenho soUicitado, e algumas jd deixei de acceitar, por(|ue «entendia e ainda entendo, que favores bem que Régios, j>nào componsão injustiças. » l']spero que V. Ex." me n.lo levará a mal as minhas ob* » servações , ou antes petições a bem do Estado , e ás quaes » me julgo autliorizado peio § 28 do Art. 145 da Carta Con- ■» slitucional. ;•) Se V. Ex.' achar minhas expresscHes pouco cobertas de í) verniz aulico, queira, por bondade sua, desculpa-las por "veridicas, sinceras, e desinteressadas; e lembrar-se de que í» a Verdade por ser calmosa, sempre se pintou nua. Tenho a "honra do ser com respeito = III. mo e Ex.mo yfir. Visconde »de Santarém. = Do V. Ex." aitento e obediente servidor j>=Tiniotheo LecussanVerdier.^ Lisboa 4 de Setembro de » 1827. =j> Desta carta mandou o Sfir. Visconde de Santarém dar os 8ens agradecimentos ao Síir. Verdier, dando-lhe como a en- tender , que accederia a seus patrióticos desejos ; porém o dito Visconde só persistio no Ministério mais três dias. Estas exigências do Snr. Verdier , qno t3o rascáveis erão tanto pelo lado scientilico , como económico , bastantes vezes forào repetidas ao Governo antes do niesmo Sfir. ])or meu Pai o Marechal Folque , conseguindo a final . que se expedissem as ordens necessárias ao Inspector das Obras Publicas, que nenhum resultado ti verão. N.ão progredirão ])ois os trabalhos geodésicos em 1827, e assim ticárão em completo abandono até 1833, epocha fe- liz da restauração do Reino pelo Immortal Duque de Bra- gança o Snr. D. Pedro de Alcântara, sendo Ministro da Guer- ra e Marinha o Ex.mo Agostinho José Freire, cujos talentos e grandes serviços ninguém poderá contestar, mas sim inve- jar, e que melhor se avaliarão, quando de Portugal tiverem desapparecido as violentas paixões dos partidos, consequên- cias necessárias dos deploráveis tempos, em que pouco se atlende á justiça e merecimento. Então S. M. Imperial, e o seu esclarecido Ministro , dando toda a importância aos tra- balhos já feitos, entenderão que se devia ordenar ao Mare- chal Folque, nesse tempo ainda Brigadeiro, o que se vê na Portaria seguinte =<• Manda o Duque de Bragança, Regen- »te em JNome da Rainha, participar ao Brigadeiro Pedro *» MEMORIAS DA ACADEMIA REAL -vFolqxie, qiio Homo por bem nomear para seu Ajiiílanle ao >j .Segundo Tenente da Armada Iwlippe de Sousa l''olqne , a "fim de o coadjuvar não só na Coininissào de Inspector dos j' Teleexafos , , de que se acha especialmente iTicarregado , •■' mas j)ara que o mesmo Secundo Tenente com os seus co- »' nhecimcnios geodésicos o ])ossa auxiliar na compilaçíío de "trabalhos, que provavelmente ter;í sobre a triangulação de -•) parte do Reino, em que o dito Brigadeiro esteve emprcga- " do debaixo das ordens do Lente da Academia Real da Ma- "rinha Ciera : ficando na intelligencia que será nuiito do "agrado de Sua Magestade lm|ierial Mh' que hum trabalho "tão bem dirigido na sua origem e de tanla dcíjxv.a para a " Nação . não liça em consequência de omissão indesculpável " sem aquelles esclarecimentos, que o podem tornar de sum- " ma utilidade para o futuro , e sem os qiiaes se não pode "marcar o grão de confiança, que observações j.í fei = 7Vgostinho José Freire = registado." Passado hum anno não contente S. M. Imperial com es- te primeiro impulso, que deo aos mencionados trabalhos, jul- gou que devia pôr em eifectivo andamento esla emproza , para o que reccbeo o Marechal Folqiie a seguinte Portaria t< = Sendo necessário concluir a Triangulação do Reino a fim " de que hum trabalho tão bem dirigido em seu principio , e " de tanta despeza para a Nação, não fique, por huma omis- "são indesculpável, sem .iquelles esclarecimentos, que o po- " dem tornar de summa utilidade para o futuro , e sem os " quaes se não poderá marcar o gráo de confiança (pie mere- " cem as observações já feitas: Sua Magestade Inijierial o "Duque d(í Bragança Regente em Nome da Rainha Jle Ser- "vido Determinar, que o Brigadeiro Commandante interino " do Corpo de Engenheiros , Pedro l'V)lque , seja encarregado " de continuar os trabalhos da mesma Triangulação; o que "espera o dito Brigadeiro desempenhará cabalmente por as- " sim confiar do seu zelo , conhecimentos scientificos , e ex- "periencia adquirida de taes trabalhos: e He outro sim o » Mesmo Senhor Servido Nomear para servir debaixo das "siias ordens nesta importante Commissão o Capitão addido "do referido Corpo, Filippe Folqne.= Deos Guarde a V. S. "Paço em Queluz em 13 de Setembro de 1834.= Agostuiho "José Freire. = Snr. Pedro l''olque. » ,,;L'..Taes são as ordens, que se tem passado no Reinado da ^ DAS SCIENCIAS DE LISBOA. U Senhora Dona Maria Seg;unila a respeito da Triangiilaçílo Ge- ral (lo Reino, alem d'oiilras secundarias, a (jiie as diflerentes Administrações, que selem succedido (honra lhes sejafeita!) sempre com j)romptidíío , e com a melhor vonfade se tem prestado. Achando-nos por consequência encarregados da compi- lação dos trabalhos feitos sobre a Triangulação Geral do Rei- no, e da sua continuação, dunde depende a formação da Car- ta Geographica, e as operações do Cadastro, fontes de gran- des recursos para o Governt). pela falta das quacs em muitas ditnculdades se deve ter achado nos diversos ramos da admi- nistração publica, tratámos immcdiatamente de procurar to- dos os instrumentos, e jjadrão da Braça, de que se sérvio o Dr. Ciera , o que tudo achámos no Real Archivo Militar. Quanto aos manuscritos do Dr. Ciera parecia , em conse- quência da Portaria expedida no tempo de D. Miguel Perei- ra Forjaz, e da carta do Sfir. Verdier. que deixamos transcri- ptas, que os devcriamos achar na Academia Real da Mari- idia ou no Real Archivo Militar ou no Archivo do Pateo das Vaccas em Belém, onde em 1020 ainda existião segundo as informações dadas nesta mesma epocha ao Marechal Folque pelo Porteiro daquelle Estabelecimento ; porém pelas indaga- ções , a que ofFicialmente procedemos , soubemos, que aos dons primeiros Estabelecimentos nada tinha sido remettido; e só depois d'hum trabalho immenso no Archivo do Pateo das Vaccas he que encontrámos dous documentos de grande importância, assignados ])elo Dr. Ciera, firma que o Mare- chal Folque perfeitamente reconheceo , sendo estes docu- mentos os Diários das medições da Grande Base entre Buar- cos e Monte-Redondo , e da Pequena Base de verificações entre o Montijo e Batel, das quaes tirámos copias. Alem destes documentos temos outros , que vem a ser a Carta dos pontos da serie dos triângulos para a medida do Gráo do Me- ridiano entre os parallelos de 37° o' e 43° 45' de Lat. Norte, escolhidos na visita gerai do terreno nos annos de 1790 e 1791, cujo original se acha na Bibliotheca da Cidade do Porto, e a ('arta dos Principaes Triângulos das Oper.ições Geodésicas executadas cm Portugal , publicada por ordem de S. Alteza Real o Principe Regente em 1803, onde appareccm nas mar- gens lateraes algumas reflexões do Dr. Ciera. assignadas por elle mesmo. Os mais papeis, que possuimos são copias dos registos dos ângulos observados pelo Dr. Ciera, que o Maré- ^ IMRMORIAS DA ACADEMIA REAL .chal Folque conservou vseiii])rp (mii sou poder, excepto os ân- gulos ohs(M■^ ados c\n Sicíi . (1(> que o Snr. Coronel Fraiiziui teve a bumlade d(> nos dar luima copia. Tanibein falíamos aos Ex."wt! Agosliiiho José Fieirc e Carlos Friderico de Caula sobre este objecto , mas infeliz- mente as pei-seguições , que ambos sofrerão, causúrão-lhes a perda de nuii(os papeis, entre os quaes se achavào alíjuus re- lativos aos trabailuis do Dr. Ciera. Di%idirenios pois a historia dos (rnbalhos geodésicos ex- ecutados em ]'orlugal em duas epochas , na primeira faremos a exjiosiçâo verdadeira e frajica dos trabalhos dirigidos pelp Dr. Ciera desde 1700 alé 1803 com toda a exaclidão, que jius ])ermit(ireni os documenlos, e mais ])a|K'is , ()ue alcanc^á- mos, acompanhada com o nosso juizo critico: na segunda, que teve realmente princi|)io em 1835 , apresentaremos fiel- mente a descripção das operações praticas , das observações , dos instrumentos, e dos methodos analylicos, que emprega- mos. Quanto á historia da parle iopographica e hydrographi- ca , ninguém a pode escrever nieiijor, e com meljiores funda- mentos do que o Sfir Coronel Franzini , como Director do Real Archivo Militar , e autor da belhi Carla Hydrographica da Cosia de Portugal. Na verdade, gostosa tarefa hc para o homem de talen- tos o descrever c reduzir a systcma quacscjuer trabalhos scientificos , quando tem todos os elementos precisos para o fazer; o contrario acontece quando fallào os meios intelle- ctuaes , e aquelles com que nos habilitamos a fallar do pas- .«ado. isto he , documentos: confessando a mingua, que pos- suijnos d'huiis e d'uulros, por certo nada dirianios dos traba- lhos íjeodesicos executados em Portugal peio Dr. Ciera, se liào ibsse a j)Osiç;io furçada , em que nos achamos, e que a isso nos compelle , ])or quanto entendemos, que se não po- dem continuar, sem llies fazermos certas correcções indis- pensáveis. Concluiremos o nosso discurso pedindo ;í Academia Real das Sciencias, que, assim como foi a ])rimeira , que animou os trabalhos to])Ographicos cm Portugal com alguma regula- ridade , resolvendo que alg\ins de seus membros se encarre- gassem de hnantar a Carta To])ographica da Comarca de .Setúbal, Concorrendo geni.'rt)samenle com os meios pecuniá- rios,, e que outros forn)judo,,hu,ina cpmmissão, apresentassem I DAS SCIENCIAS DE LISBOA. I 17 o molliodo para a r.onslnicçào do mappa topos^raphico da {)arti' s(>pU'iitrioiial do reino, continuo em tão louvável em- penho; e tomando debaixo da sua eflicaz protecção estes int portanlf^s (lal)alhos, talvez possamos aprescutar resultados de aiguiua utilidade. TOM. XIII. P I. Ifl MEMORIAS DA ACADEMIA REAL PRIMEIRA EPOCHA. Exposição (los Trabalhos Geodésicos dirif/idos pelo Dr. Fran- cisco António Ciera , começados em 1790, e suspendidos em 1803 , com a anal l/SC do (jráo de confiança, r/ue devem me- recer. E. ím 1790 sahio de Lisboa o Dr. Francisco António Ciera com Carlos Frederico de Caula, e Pedro Folquc servindo de Ajudantes , para fazerem o reconhecimento geral do Reino ; os resultados desta viagem forào as seguintes observações copiadas dos cadernos de meu Pai, e d'ouO. Avre S. 32 O. Minde S.55(). Nazareth. . S. 71èO. Castello de Pom- bal N.740. Alvaiazeres S. 30 li. Ourem S. 29èO. Redinha N. Monte Galha- no N. 5lE. Ega N.3iO. Castello de Lei- ria S.ceO. IMontemor Ve- lho S. 13èE. Cume da Lou- za N.03iE. Estrella.. .N. 544 E. Bussaco e Louzâ Ayre e IMelriça IvOuzã ed.* JMinde e d." Louzã e Snr. da Serra Monte-Junto e Ajre 0 41 1 49 II 0 65 44 0 63 36 30 83 44 0 31 6 0 37 43 0 A manhíi de hoje esteve nublada e choveo : as obser- vações tizcr;lo-se de tarde ; mas continuando a atmosphcra a estar nublada , e o ar assas grosso para o N. , as obser- vai;"es são hum pouco duvidosas. Esta montanha he muito pedregosa , mas he accessi- vel, e subimos a cavallo até quasi ao seu cume, o qual he cuberto de penhascos que apenas se ])ode andar por elle : fazia venio rijo, e o pratico nào era bom. Monte-Junto dizia-se ser as terras de Nazareth, eMin- ?4 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Datas Estacões Rumos ohservados ■^ng, ohs. (ie ser Monte-Junto , conhecido também por Espinhaço de Cão. Pela inspecção destas serras e dos iiimos a que demo- rão, SC assentou, que a Serra ciianiada Monte-.laiitu era a (la IVazarelli, e que Minde devia ser Muiile-Juulo. A' di- reita de Monte (íalhano se avistou Jmma Ermida, que di- ziào sf>r do Siir. da Serra; por ella se tomou a direcção da Estrella , que não se avistava. Em 16 de Maio Serra de Bussaco Sici^ 8. 381 O. Estrella. ... S. G4 E. Louzà S. 51iE. Serra d' Alvito N.r,2E Caramulo. . N. 50 E. Sicó vio-se distinctamente. A Serra da Louzà ou da neve he linnia ])arte da cordilheira da Eslrelia. Por Estrel- la tomámos a parte que nos par(>(eo mais elevada, e onde se via a neve. A Serra de Alvito dizem ficar próxima a Si Pedro do Sul. Em 19 de Maio Em Monte- Muro , 2 le- e^ias de Cas- tro d' Aire Estrella S. Serra N. 3o E. Lousã S. .tu; o. Serra N.(;oE. N.45E. (rt) N. 2\íi E. S. 44 E. S. 5oE. N 80 E. N.loíO. J DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 99 Datas Estações Rumos observados Foi enfadonha a viagem de hoje, ás 4 horas da manhã nos puzeinos em marcha : o Escrivão da Camará de Cas- tro d*Aire nos levou pelos caminhos os mais escabrosos que eu mais vi. Passjímos a ribeira de Paiva, e ás 7 horas e meia clieg;;ímos a hum Iu;çar chamado a Povoa deMonte- Muro , o qual liça j de légua distante do mais elevado cu- me desta enorme montanha : levámos d'ahi dous práticos , que para nada servírSo. Nào avistámos a Serra de Bussa- co , e ainda que na descida , que foi por outro caminho melhor , é mais breve , nos parcceo que se avistava , com tudo dirigindo para la o óculo não descobrimos cousa, que nos induzisse a crer que o fosse. Vio-se o Marão, e outras serras para Lest , e para o Minho. (a) Disse hum dos taes práticos ser a Serra ou Monta- nha de Alpedrinha. Alpedrinha he huma Villa, que fica na estrada da Guarda a Castello Branco. Aqui se terminarão as observações desta segunda via- gem : de Castro d'Aire partimos na tenção de ir a Mon- corvo , porem em Freixo de Nomão mudou-se de parecer por causa dos excessivos calores, e reliránio-nos. 179J Em 18 de Sete mb. S. Mamede Serra de Gal- iiza Eslrella S. è O. Gerez S. 85 O. Serra S. 74 O. O.N.O. N.N.O. N. 35E. Fizerão estas observaç«~es o Dr. Ciera e D. Manoel Herrera : não se pôde contar com estas observações , por- que não tiverâo pratico, e o Gerez não era ainda conhe- cido do Dr. Ciera. TOM. XIII. P. I. itf MEMOTIMS DA ACADEMIA REAL Datas Estáçócs Rumos observados Elh 23 Setemb. Em Pièo Sa- cro a 2 lo- guas de S. Tiago, e*de Casa Blanca S. Mamede .-.»; í-jin^vi,-.!.S. 3»' J']. Goféz .'. ni'i .!•. . S. 61 O. Monte-Farello . . .1. ■.-r;-; . S. 60 fí. S. Tiago N.184 0. Pico Sacro he huni monte isolado; no cume exislé hum antigo Castfíllo ou Atalaia já arruipada , è hiim pou- co abaixo vê-sc huma Ermida de S. Sebastião. As obser- vações fizerão-se de tarde estando o horizonte muito nu- blado. A serra que se julgou ser o Gerez ou. pertcpcer a elle via-se pela esquerda de Pena Corneira , serrai da Gal- liza. iii. :-.l Em 24 de Sele mb. Pico Sacro N. H- E. ^^-^' N.77 E. — — N. 10 a Fizerão-sé estas observaçtíes pela manhS , a atmosphe- ra eslava muito nublada : depois marchámos para S. Tiago. Em 27 de Setemb. No Farello , Montanha da Galliza. Pico Sacro .i-y ^í* ^-60 O- S. Mamede..'..'.." S. 9 E. Carba N. 44 E. Carbasin.; N. 41 E. Pena Corneira. . . . . ... S. 50 O. ': Serra . ,..,.f,,^,^ . ,« ^..y ., N. 024 E. O horizonte nào estava muito \\xtífi() , òhoveo é trove- jou: recolhemos a Assiaz, pequeno lugar, que ficava pOtí- ro dislan1<> : aqui se terminarão as observações em compa- nhia dos Oíliciacs Hespanhoes. DAS SCIEXCIAS DE LISBOA, 21 Datas Estações Rumos obsetvados Em 1 de Outubro Na Monta- nha Larouco, 2 leçuas ao N.E. de Mon- talegre S. Mamede N.&liE. Pena Corneira N. 20 O. Marào S.31 O. Huma Serra com vários Picos S. 13 E. Outra Serra .... S. 27 para 33 E. Monte-Muro S. 33 O. Serra com dois Pi- cos S. 33 E. ponta do N. D.* 2.° Pico S.27E. d/ do S. Via-se muito bem o Marão , e outras muitas serras , que não se conhecerão : aqui acabarão as observações des- ta terceira viagem. 1792 Em 12 de Março No Castello de Evoramonte Évora S. 59 O. Arraiolos N. OOO. S. Giães na Serra d'OssaS. 51 E. Estremoz N. 77 E. Vimieiro N. 35 O. Monsaraz S. 16 E. Monte-Junto N. 45 O. Avre N.20O. S." MiíTuel (Alvito) S. 45 O. Estrelia (») N. 26 E. Arrábida N- 84 O. Sicó (*) N. 8E. Serra de Portalegre. . . . N. 49E. Portalegre N; 44 E. Montes de Viana S. 49 O. Pela manhã nevoeiro , de tarde horizonte claro jiara o N. As observações notadas (*) são duvidosas. A serra que D 2 28 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Dulas Estações Rumos observados chamamos a Estrella he provável que o seja , pdr se avis- tar no seu cume quantidailc deueVe.ISão avistamos as Ser- ras de Monchique. Esta obscrvac/ío da Arrábida foKa jic- io Sfir. Ciera nào se j)ode repetir mais vexes por auçmon- tar a névoa. A observação de S. Miguel (Alvito) fez-se ás 7 horas da noite , que se vio o fogo que o Snr. Folque foz em S. Miguel, onde também observou a direcção de S. Miguel ;í Fova , e achou que jiroduzida a dila flirecção para o N. jjassava alguma cousa a Lcst de tlvoraiiionte. Aqui nos separ;ímos , os Sfirs. Ciera e Folque partirão para o N. : eu (Caula) fiquei encarregado de examinar se se avistavSo entre si as três Serras da Arrábida , Foja , e Ossa. Em 31 de Marco Formozinho Serra de Monchique. . S. 11 O. Arraiolos S. 85 E. Montemor S. 81i E. O horizonte estava hum pouco claro para oS. , e mui- to escuro ])ara o N. : com difficuldade avistei hòmatí Ser- ras i|ue me parecerão ser as de Moncliiqtie pela grande distancia cm que se vião, e pela sua còr esbranqiiiçadà. He ]irovavcl (jue eu cortfandisse a Foya com ai» Serras do Cercal, rpio me par.eciào formar com aquella liuma só Cor- diHioira : he de advertir porém qiie isto não pode causar receio de incerteza na observação que fiz , pois caminhan- do para Villa-Nova do IVIil Fontes a 3 léguas ao N. desta ViJIa avistei a Foya por detrás das' Serras do C^ercal , e de juiiria còr ainila mais esbranquiçada , do que quatido a ob- servei do l''ormozinlio , e demorava ao S.8iO^ A Serra da Arrábida via-se muito bem , e o terreno em que eu me achava era muito baixo sendo a raiz das Serras -"■•. e;i ■'..: t rj '. i. .'.»:-<: i'i /i''.' ■'.-'. \^*j i-.íjij' 'OU M<>^"'' DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 20 Datas Estações Rumos observados Em II (!è Abril AKura da IVIosquita iia Foya Beja N.G2E. Aljustrel N. 51 Fl Castro N. 74E. Cercal (Serras) N. loE. Silves S. 17 E. Barra de Villa Nova . . . S. 12 E. Ponta da Piedade S. 42 O. Faro S. 36 E. Albufeira S. 17 E. Depois de me achar na Foya sobrex eio hum nevoeiro muito denso ; íiquci até ás 5 horas da tarde , níío vi a Ar- rábida , nem a Serra d'Ossa, a qual será diflicil avistar-se sem ser por meio de al^um sinal. Albufeira não se avista , mas \'\ três moinhos de vonto , que ticào próximos. Huma Serra que fica junto a Loulé S. 38 E. Em 12 de Abril Messejana ........... N. 49 E. Sag-res S. 72 O. O horizonte muito escuro : por Messejana jnlgo ter tomailo huma Igreja que fica a i de légua para O. desta \ illa , a quul está sobre hum outeiro elevado. Fm n do Abril Arrábida N.lOiE. Castello de S.Tiago de Cacém N. 19E. Alçaria; N. 31 E. Aljuslrd N. 52E. Alvito (supp.') N.53E. Sines .'.'VJ...'... . N.3iE. so MEMORIAS DA ACADlSiVllA HHIAL Dalas Estações Rumos observados Eslava o horizonte alguma cousa limpo para oN. , to- davia custou-me descobrir aArrabida; aindaque a náo avis- tasse, não padece duvida que se deve ver da Foya , por- que se avista Sines , e lodo o terreno , que lica entre esta Villa e as Serras do Cercal, de Cacem, e Grândola, as quaes Serras seguem pouco mais ou menos a configuração da costa. Os montes que me parecerão de Alvito , pare- cião pouco elevados, e terminavão logo para O. Em 14 de Abril d." Serra . N. 47E. Vento sul , e por tanto muita névoa na Serra , as nu- vens corrião com huma extraordinária velocidade. Não avistei mais do que esta Serra, que me pareceo da pri- meira grandeza. Em 18 de Abril Em Messe- jana d'liuma Torre arrui- nada junto á Matriz Foya S. 5lO. Aljustrel N. 77E. Alvito (supp.") N.45E. Via-se a Foya muito bem com a sua côr esbranquiça- da , 0 que provêm de estar ccibe-rta de grandes ])enhascos de pedra branca que reflecte muito a luz. Veja-se a nota á observação do dia 12. — d.' Em N. Sfir.* do Castello de Aljustrel Foya S. 5lO. Picota S. 45 0. S. Miguel d' Alvito.... N. 38 E. Esperança N. 19 E. i J/DAS SCIENCIAS DJE LISBOA;. 91 Datas Estàçíies Rumos vli^f^vados ^ Vifio-sf; a Foya e a Picota muito bem : níloi avistei a Arrabitia ; o hurizonte estava muito escuro para esse lado ; o vPnto era íurioso. EVi\ i\ de Abril t>|Jt.>»f;oI S. Miguel de Alvito 93 oSu í^ii\. Em 25 de Abril Em S. GiSes na SerratrOssa Arrábida N.8HO. Arraiolos . N. 71 O. 8. Miguel - S. 67 O. S. Pedro de Portel ... S. 36 O. Évora S. 78ÍO. Castello de Montemor N. 79 O. Esperança N . 83i O. Eí-treila N. 241 E. Serra de Portalegre . . . N. 42 E. Moiite-Junto.wv>ií/!. ,-• N. 46 O. Ayre ...'.... N. 23 O. Todas estas observações são boas : Arrábida não se via sem óculo : o horizonte estava ale um tanto limpo , po- rém não avistei Serra alguma alem cios montes de Viana, e Alvito. Persuado-me que não avislarei o fogo, que ama- nhã se deverá fazer na altura da Mosquita na Foya , por- que nic parece ficar S. Miguel mais elevado que a Serra d'Ossa ; e isto he fácil de concluir observando, que se de S. Miguel se via a Foya com a simples vista, de S.Giàes, que quando muito distará 8 léguas norte d'aquelle monte, SC avistaria igualmente bem com o óculo. Em 2G de Abril Sinal de Formosinho. Melriça (sup.°) .... ..N.810. . N.SiO. A's cinco horas da tarde vi o Sinal assim como se vê ao longe hum fumo j)ouco denso, que sobe verticalmente. De dia não avistei a Foya não obstante e.slar o horizonte muito claro; conservei-me neste ponto até ;ís 10 horas e i da noite . e não vi o fogo. O Ermitão de S. Giães reside na Freguezia das Reliquias. Aqui se terminarão as minhas observações (Caula), , cheguei a Lisboa no dia 30 de Abril de 1792. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. C »z I As' sfigiiintcs observações forffõ umcamònfe fbítãsT peldl Dr. Ciera e o Marechal Fol(|iie. ' Dalas Estacões Rumos observados 1792 Em 21 de Abril Caramulo Ayre S. 42 O Monte-Junlo S. 51 O. Sic<5. S. 48 0. Biissaco S. 59 O. Coimbra S. 5oO. KsLrella S 45 E. Viseu N.88 E. Serra para Valência . . . N.TZ^E. Monle-Muro Torre de Moncorvo . . . S. 82 E. ? Arouca , E. O. Cabreira N. 10 O. Hum Caramulo S. 46 O. Estrella N. S. Marão N.41 E. Larouco pouco mais ou menos N. 20 E. Larouco . N. 45 E. Marão N. 63 E. MonLe-Muro E. O. Cabreira, N. 23 E. Estrella S. 17 E. Caramulo S. 17 O. Bussaco S. 33 O. Buarcos r, .(..í.< « . . . S. 60 O. Froita perto de Arouca Em 3 de Maio Penedo de Lares Ser.' d'AlquIbidek .... S. 42 E. Louzà (bico de S.) . . . . S. 45 E. d." (d.° do N.) S. 60 E. Figueira (Igreja) N. 54 O. TOM. XIII. P. I. M MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Datas Estações Rianos observado "^ Em IC de Maio Monte- Junto Peninha S.57 0. Arrábida S. ly (.). Cabeço para Leiria. ... N. 45 F.. Ayre N.G7E. Em 18 de Setemb. Pena (Cintra) S. António do Tojal N. 89 E. Monte-Junto N. -58 E. Monte para Leiria N. 5'2E. Ayre N.62E. Mafra N. 43 E. Cabeça ._._..._, ^ N. 53 E. Arrábida S. 13 E. Pahnella S. 34 E. Cezimbra ^ . . S. ÍVE- Almada S. ^^,. Cabo Espichel (Far.) ..S. GOO.-^ Arrábida S. 35 O. Observatório do Castello em Lisboa . . . ....... N. 67 O. Pena N. 55 O. Montachique N. 27 O. Monte-Junto N. lo E. Palmella S. 14 O. Arrábida S, 68 O. A(alaya N. 80 O. Lisboa N. 70 O. Pena ... vj_'_-.-4 .... N. 00 O. Montachique N. 45 O. Monte-Junto N. 10 O. Ayre . . .N. 25E. Montemor S. 40 E. Em ]8 de Outubfo Sftf.^daAta- laya Em 20 do Outubro Canhft nos dous pinhei- ros DAS SCIENCIAS OE LISBOA 36 Datas 1794 Em 16 de Maio Eslac ■oes Rumos observados Melriça Estrella N. 54i E. Loiízã N. 20 E. Sicó ,. N. 31 O. Ayre E.O. Moiitp-Junto S. 77i O. Santarém S. GG O. Arraiolos S. 32 O. Evoramonte S. 2i O. Marào N. lOjE. Monle-Muro N.S. Freita N. 28 O. Caramulo N. 40 O. Bussaco N. C2 O. Louzã S. 82 O Melriça S. 55 O. Castello Branco S. 13 O. Monsanto S. 3 1 ¥.. Gata S. G7 E. Observ." de Coimbra. . N. 36 O. Bussaco N. 24 O. Caramulo N.21 E. Monte-Muro N. 34 E. Estrella N. 85 E. Melriça S. UO. Em 31 de Maio Em 12 de Junho Serra da Estrella Serra da Louzíl í: 2 Por meio das observaçõRP, que acabamos iln m(>ncionar, se procedeo a huma primeira escotiia ílo pontos Xlig- !•) aj)re- , sentados, pelo JDx.^Ciera 4ebaixo do titj,il,o «i Carta dos pontos da serie fie Triangfulos para »a iiioj Abril, Maio, Setembro, ç Outubro de 1701 jjpor Fr-ancisGo António Ciejra. » O oriçinal desta Carta existe actuajmento na Bibliotiicca da Cidade do Porto, e foi mandada lithografar em \í5lil -pelo Ex.w Manoel Passos então JVJiiyistrp do Reino e Fazenda. Estes primeiros ensaios i.ndiepensaveis no cpmeço i!os trabalhos geodésicos , e que dejjpip se desprezão , são com ludp no nosso caso de bastante interesse, porque Ccndo cho- cgadq somente a Aveiro , Caramulo , e EsúveUft a Triangula- iÇiio , que o Dr. Ciera ultimamente appfiQVQu. pipdem estas .obsprvá,ções servir-nos aincjg. df? grancie auxilio para & sua coiitinuaçã,o até á GaHiía. bppóis desta primeira escolha dos pontos, cpnhecco o Dr. Ciera , segundo elle mesmo çjeclara nas margens da a Carta dos principaes triang^ihis daf; operações «geodésicas execulailas em Portugal piibiicaila ?) por ordem de lá. A. Real o Principe Regente V em 18D3. !> que as extremidades do Reinp 59 podiào ligar por meio do finco triângulos , idéa que felizmente abantionou , não so pe- a muita diíTiculdade de observar bem os ângulos, mas j)ur- flue devendo estas operac^ões server principalmente para a, çonstrucção d« Carta Geographica, não era por certo hunv ipumero tão diminuto de triângulos . o que mais convinha pa- ra este objecto , e por isso fez a escolha dos ])onl(js designa- dos na fig. 2 , que nem todos ap|irovamos , por formarem; jriangulos, cujas condições não sãç muito boas para a sua Resolução : achão-se neste caso os scfguintes : JADAS SCIENCUS UE LÍ^BOÂ. ^ iWelriça , A,yTfí , e Santarém Siiiitarcin , Moiite-Juiilo , ò Palmnlla ]\Iuiit<"-Junt(> , PaliíK-lkt, e MouU>-Serves Paliuella , ÍÍIoutc-Scrves , e Batel. PjinT.e .:í -pciíORira visla , qtff Saiíiflréta nSò <*ra iHitA 'atís pontos priíiripacs ila tritintivIsçíTò , pfltvjtíe TíJó -v*»*!!^ H(j«íf!j;Híf- (lo como tal na Carta acima mencionada, com tudo vt-remos adianto , í|ne o Dr. Ciora com as observaçíles qne foz , não podia deixar do se servir dolle , e dos triângulos acima nota- dos para a verificação da triangulação. Não approvamos lambem alguns outros triângulos, por serem de dimensOies muito grandes , o que torna muito dif- ficil e imperfeita a observação dos ângulos jjohi fraca luz, que as faces dos Sinaes reflectem j destes triângulos os mais no- táveis são : Estrella, Melriça, e S. IMamcde Melriça , S. Mamede , e Montargil S. Mamede , Montargil , e Ossa. Conchiido o reconhecimento do Reino, P a flefermíná- ção deliniliva dos píjntos , que devião servir de vértices aos grandes triângulos, tratou o Dr. Ciera da e.scolha do terreno j)ara a grande Base das operações , e para a pequena Base »le veriticações ; para a primeira julgou próprio o terreno, que fica entre a Serra de Buarcos, e Monte-Hedondo ; e pa- ra a segunda adoj)tou o terreno situado ao sul do Tejo entre Montijo e Batel. Este ultimo foi bem escolhido, segundo nos parece , porque tem a vantagem de ser em geral quasi pla- no e horizontal, e estar muito próximo do oceano, o que .permitte grande facilidade no nivelamento referido ao plano \áa>i aguas medias, operação indispensável para a reducção rdas Bases ao dito plano. Quanto ao primeiro tendo (ambem ^algumas vantagens, com tudo o terreno lie tão cortado de pequenas lagoas, que a Base alli medida foi interrom])ida oito vezes , sendo necessário medirem-se outras tantas Bases subsidiarias ; não fallando no Mondego , que também a cof- ia; dando origem a huma outra Base subsidiaria, e a opera- 38 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL çSes de bastante consirlpracuo , para se poder concluir toda a distancia que vai do sul do Mondego ao Sinal da serra de Buarcos, por consequência este terreno devia ter sido com- pletanicnle abandonado. Depois de ter acabado estes trabalhos preparai orioe , que demandão sempre muito tempo , começou o Dr. Ciera em 1793 as observações dos ângulos com hum Circulo Repe- tidor de Adams, as quaes fielmente copiámos dos cadernos de meu Pai , que mostrão o seguinte : ijÀs scitNciAs DE Lisboa; 39 KSTAPAO = Cabeça de MoNTACiiiauE. l'i>nlo jínijillns 0' ■íti 41 Srf jí)3 3.5 ^•i 7U4 23 10 M 13,0 58,7 S6,fi 48,0 II 2,ó 51/2 CU 32 11 42;i 3 45 G34 35 40 846 7 5 105 4C 6,0 45 56,2 53,3 53,1 50.0 5t;.2 54.1 50.0 I i Sinal de Ser- Vf5 , e Sinal do Batel 70 37 32 141 14 45 33 18 46,0 41,2 18 41,0 47,5 Puna- (Cint.)i e ^^pu•llel ri-..:.; 104 ÍO!) 313 418 35 45 11 20 46 49 21 57 5Í 17 52,5 50,0 47.0 44,6 Pena fCint ) Sinal da ? i Arrábida Pena (Cint.) e Sin:.' do Montijo 1 -'..'' 48 15 íP7 Í6 O Ua 2f 12 595 10 55 743 58 2 8P2 46 35 í rTíTfi- 4flr íS" SS7 35 20 505 21 45 67.'> 9 40 8<; 5C 5'i 74 24 23 7,5 0,0 52,0 51,8 48,2 52,9 8* 23 27,5 50,0 37,5 42.5 41,2 17 40,0 40.0 50,0 46,8 52,5 2.5 4.n,5 4 8,2 49.7 50,0 23 S5,0 41,5 40,8 38,8 •!3,3 40 IVIEIMORIAS DA ACADEMIA REAL ESTAÇÃO ^ Cabeça de Montachiôue. 5; PonlQS O Jitgiilos obserpados Observações Múltiplos Simples Ocular Ohject. o Sinal do Montijo , e Sinal do Batel 1 2 3 i 5 o 1 II •4S 40 0 87 20 0 131 0 0 174 40 0 218 20 0 0 1 II 21 60 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1 II 49 50,0 50 0,0 5,0 3,1 3,0 Olis. do Cast. 1 74 41 45 37 20 52.5 52,0 £1 0,0 1,2 2,0 20 50,0 57,5 21 3,0 20 57,5 21 0,0 1 em Lisboa e Sinal do Batel 2 3 -i 5 149 23 28 224 6 0 298 48 10 373 30 20 Sr. Pena (Cint.) e Sinal de Monte-Junt-i 1 2 3 4 5 29C 1 20 592 2 5 888 2 45 1184 3 50 1480 5 0 148 0 40,0 31,3 27.5 28,9 0 27,5 33,8 35,5 31,8 ',"■"■ '" \' • i ! 50,0 ç 3 7 Castello de Palmella, e n 3 215 37 32 491 15 30 736 52 18 122 48 4G,0 52,2 •■ 43,0 4í,6 46,2 41,0 43,7 47,5 45,0 43,0 tt.-.llllllO 5 S32 JO" 5 1228 7 42 j Castello dp Palniejla, v. Pena (Cint.) 1 (J S 4 5. 178 20 32 S5fi 42 20 535 3 32 713 25 20 89 10 16,0 35,0 35,3 40,0 10 35,0 ■30,0 40,0 3fi,2 ^S,5 1 i 1 ■891 45 35 35,5 1 I Pena (Cint.) e Sinal do Batel 1 2 4 5 212 28 25 424 55 55 6.!7 23 25 849 51 18 inilá 18 22 106 14 12,5 IS 58,7 1 54,1 54,7 50,2 13 52,5 57,5 55,8 50,6 52,5 1 S oo . 1 . I press A atmosphera ões do3 pontos sem obs< (ire empf>eirad írvados: todos 1 durante os ã\i Oi ângulos ante IS de obse cedentes 1 rvação ; açora sej;iiem-sc as Alturas e De orào observados do centro da estação, 1 Í)AS SCIENCIAS DE LISfiOA. 41 ESTAÇÃO == Cabeça de MoNtAfcHiauK. 5 yíntfulos observados Pontos â .SVm;./fs Observações 0 O jiful/in J *A Ivl 1 * ê-f • -^ r Orutar 0l,j,:c1. o 1 II o 1 II 1 II . AltiiM il<; 1 0 \:í 0 U 21 30.0 21 40,0 As primeiras quatro observações sào de pouca le, pula desconfiança de se [J Moiite-.Iuii- a 1 25 12 13,0 7,5 to .s 2 e 20 3,3 7,5 não ter tomado o verdadeiro Sinal , por estar o tempo nublado ; as outra» tem toda a certeza. Depressão 1 0 46 40 0 23 20,0 23 2;5 &■ Je o I 32 55 17.7 22;5 Altura do Sinal de Montacíiique . , . 3,6 Braças Serves 3 2 20 15 22,5 1Í).I Depressão 1 1 l-T 15 0 5i 37,5 53 27.5 (6 do Observa- 2 S 31 0 52 45,0 52 53,0 O fono do Cas- S 5 15 43 37,5 31,1 § tello de Lis- i 7 0 0 30,0 33,8 cr 3 boa 5 8 44. 40 28,0 20,0 Altura do 1 0 28 40 0 14 20,0 32,5 cume da 2 0 58 0 30.0 22,5 1 =• Peiia(Cint.) S 1 íR 40 26,6 29.1 P •i 1 r,6 10 31,5 2G.S ó 2 24 15 «5,5 28,5 Depressão 1 0 6 0 0 3 0,0 2 45.0 do Sinal da 2 0 10 40 2 40,0 43,7 Arrábida 3 0 18 0 3 0,0 65,0 :í- 4 0 23 10 2 53,7 58.1 >: 5 0 SO 55 3 5,5 3 2,5 6 0 Sò 45 3,7 7,1 7 0 44 45 11,8 9.6 Depressão 1 1 59 30 0 59 45,0 59 S5,5 do Sinal de o 3 57 45 2t;,2 S8,7 O. Montijo S 5 õi 25 58 54,1 58 51,6 fa 4 7 51 48 53,5 59 5,0 5 9 50 35 59 3,5 1,0 1 r. 11 49 45 8,7 11.6 n IS 50 8 17,7 10,8 • TOM. XIII. P. I. 42 i^IE3I0RIAS DA ACADEMIA REAL I ESTACÃO = Carixa de Moívtachique. f Pontos Cr- yífifj rdos observados Observações Múltiplos Simples Ocular Oljject. 00 o Dopre-são Ho Sinal de PalmclU 1 o O 1 II 0 -ii 0 1 íi 0 Si 4 SO 1 II 0 21 0,0 '-0 45,11 45.0 1 II 20 42,5 51,2 40,0 a. Depreíf.io do Sinal do Batel 1 J> ,s 1 41 111 3 21 10 5 í 15 0 50 S5.0 17.5 2Í,5 50 25,0 27,5 20,8 DAS SCIENCIAS DE LÍSSoA. kò ESTACÃO = MoNTE-SfeRVES. Pontos ylnijulos ohsffruikis Mulliplos ,)>!mjJi í Oculn Objcct. Observaçõks Mi-mto-Jun- to e MonUi- CI1Í4UO D I II 187 43 1-i 375 27 íá SSS 11 fi 7,')0 53 30 9S 51 52 9:; 3 i-l O Si;, O 5,1.0 50,8 18,7 12,0 10,6 55.0 51;, 6 1U.2 15,. O 10,0 Pena (Cint.) Monto-Junti) Palmella e A- VIonte-.Iunto Palmella e Pena (Cinl.) Pena (Ciuí ) e Batel 2-ií 8 SO 484 17 25 72n es .to 9118 ,S5 12 1210 44 25 1452 55 40 1G95 2 20 297 594 892 1189 1487 1784 SO 45 ■í: O 40 <4 40 121 15,0 212 25,0 24,0 2C,5 S8,3 S7,l 20,0 28,7 21.0 25,0 SI, 5 2li.(! 28,5 148 42 15.0 11,2 7.0 7,5 4,0 0,3 180 2C StíO 53 541 19 721 45 55 902 12 S 1082 39 O 5 O 12tíS 207 10 15 414 20 O 621 29 32 828 S9 45 1035 49 20 90 13 10,0 ló.O 10.0 14,4 12.2 12,8 Si,0 10,0 S,G 5,2 7,5 13 25,0 8,7 17,0 11.2 16,2 16.-4 15,3 103 35 7.5 0,0 34 55.3 58, i 66. U 35 0.0 5.0 5fi.fi 56. 2 59,0 t • ^ I# MEMORIAS DA ACADEMIA REAL ESTACÃO =^ Monte-ServeS. ;j- /'aiiíos yliu/ultm observados Múltiplos Simples Observações c b» Ocular O/ijcl. « 0 1 11 o 1 II 1 II »3 Pena (Cint.) 1 207 10 10 103 35 5,0 Só 27,5 (T e 2 414 20 S5 8,5 7,5 O c B»tel 3 «21 SO 15 2,5 4,1 Arra Ilida 1 AC IS ÍO 28 9 15,0 9 25,0 o. c Batel o 112 S6 55 lfi8 55 10 13,7 H.tí 12,5 8,3 1 ^ 4 225 IS 17 9,G 8,5 5 281 31 27 8.7 11.5 tí) Montijo 1 151 13 35 75 38 17,5 ,38 12,5 t. e í S02 32 10 2,0 10,0 fí Pena (Cint.) 3 45 3 48 40 6,6 4,1 i i C •i 605 4 32 4,0 4,7 1 1 5 756 20 28 2,8 7,5 1 c 6 907 37 12 6,0 4,1 ■: 1 55 54 0 27 57 0,0 56 54,0 O 111 47 30 56 52,5 57 0,0 ' Montijo 3 167 41 25 £4,2 0,0 1 e 4 223 35 32 56,5 0,0 c Battl a 279 SO 0 67 O,0 56 58,5 » 6 335 23 40 56 58,5 iti.S 7 391 18 0 57 0.0 57,8 8 447 11 20 56 57,5 58,8 9 503 5 10 57.2 58,9 10 558 59 30 58,5 57 0,0 i .\!onlc--Jui>- 1 270 41 5 135 20 32,5 20 42,5 to , e Batel 0 541 22 45 41,2 37.5 1 c^ 3 812 3 45 87,5 37,5 p 4 1082 44 38 34,8 40,3 5 1353 2fi 33 3.9,3 42,0 6 1624 b 0 40,0 37.5 i Das sciencias de lisboa. 4S ESTACÃO = Monte-Serves. Pontos \lorit.u:liii|iie e Batel Palmella, e Torre ilo Se- ininar/o de Santarém Obser\atorio do Caxtello em Lisboa , c Batel Pena (Ciní ) e Espichel (Farol) ^-Ingulos observailos Múltiplo; tUniple. Ocula • I II 'Jfil 34. 50 5S3 9 32 78-1 -iõ 8 lO-ití 20 3^ l;i07 Ó5 38 225 56 42 ■t51 53 O 677 48 32 303 -it 43 1129 40 20 1355 36 15 96 30 25 193 1 20 289 32 S5 386 4 O 482 34 10 579 4 55 Pena (Cint.) e Arrábida 108 5 27 216 10 13 324 14 50 432 19 55 540 25 20 150 52 30 SOI 45 50 452 38 5 60S 30 45 754 24 25 130 47 25,0 23,0 81,3 84,0 33,8 Object. 47 22,5 30.0 31,3 81,9 3a,0 112 58 21,0 15,0 6,3 6.0 2,0 1,5 68 15,0 13,8 11,3 5,8 5,0 3,3 48 15 12,5 20,0 25,8 30,0 25,0 £4,6 54 2 43.5 33,2 28.3 29,4 32.0 75 26 15,0 27,4 20,3 S0,6 86. 6 15 22,5 32,5 25,0 26,5 28.0 27,1 30,0 28,0 33,3 28,8 £9,2 26 30.0 22. S 22.r' 22.4 23,0 Observações Seguem-se as Alturas, e Depressões dos Pontos observados de.=ta Estação. TOM. xni. P. I. «16 IVIEMORIAS DA ACADEMIA REAL ESTACÃO == Monte-Serves. 5; O c p- /■díiícs .ínguloR oitsírraãús Múltiplos Simples Observações Ocular Ohject. . ' Altura ilo Sinal <(e Moiitachique I o S i o J II 0 4(1 IO 1 33 0 2 19 0 :5 6 2 „ 1 II 0 23 5,0 15,0 10,11 15,;; 1 II 23 22,5 5.0 15.8 10,G et' a. Altura da Pena (Cint.) 1 o s 4 0 29 50 0 58 0 1 28 0 1 50 20 0 14 55.0 30.0 40.0 32,5 14 35,0 38,8 33,3 5G,3 Depressão do Iís])ithel (Farol) 1 o 4 1 2 3 4 0 48 15 1 36 38 2 25 38 3 14 0 0 £4 7,5 9,5 1C.3 15,0 23 52,5 24 17,5 10,0 19,4 5" Deprí^são rio Ob^. doCast. em Lisboa 1 27 40 2 56 45 4 24 ;;5 5 53 ÍO 0 43 50,0 44 11.3 5.8 11,2 44 10,0 2,5 12,5 7,5 ? Depre.*ão do Sinal do Montijo 1 O s 4 5 1 57 IO 3 52 58 5 51 0 7 45 5S 9 45 IO 0 58 35,0 14,5 30,0 12,2 19.0 58 17,5 25,0 25,0 17.5 15,5 p Altura de Monte-Junto 1 0 4 0 55 40 1 52 IO 2 4fi 5 " 42 45 0 27 50,0 28 2,5 27 40,8 50,C 28 10 0 27 52,5 47,5 45,6 fr Depressão da Toiro do Se- minário de tjaiitareiH 1 á 3 4 0 51 25 1 44 10 2 35 10 3 28 15 Q 85 42,5 26 2,5 25 5I,G 26 1.9 36 5,0 25 52,5 5C,G í?,5 DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 47 ESTACÃO = Monte-Serves. !> Ji:(ji los ohscrtaihs I" Pontos SimjiUs Observa; ÕES io Oculítr Uljjcct. o 1 II o 1 II 1 II o> Altura do 1 0 0 10 0 0 5.0 0 2V,S £>- SilKll d.l o 0 ': io 35,0 25,0 c c Arrábida a 0 a á:> 24,2 30,u •i 0 5 5 Sii.l 33,1 Depressão 1 0 .-iS 15 0 16 7,5 15 45,0 c. de o 1 3 5 15 46,2 55,0 1 u Palmella S 1 3+ 55 4.1,2 42.5 4 2 6 20 47,5 51,9 Depressão 1 1 +4 40 0 52 20,0 52 37,5 do o G ;ll 0 45,0 35,0 V Batel o õ 15 45 37,5 4i,2 ■i 7 1 55 44,4 40.0 5 8 46 50 41,0 45,0 48 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL ESTACÃO = Montijo. Pontos y/ri(/ulos ofjsrrrndos Muh s ooscn^ftc los Múltiplo. Simples Ocula Oí,jcct. Obsebvaçôes Arrábida Batel Palmella e Serves o 1 II o 1 II iU 8 10 lOtí 34 5,0 iiS IG 55 13,7 639 25 47 17,8 S5-i 34. 0 15,0 10G5 42 40 1G,0 li!78 50 55 Í4,6 U9'i 0 20 18,tí 1705 B 45 17,8 34 II 20,0 13,7 15,0 20,0 14,0 17.5 17,5 18,1 297 50 55 595 41 10 893 32 O 1191 3G 18 1489 17 15 1787 7 2084 58 58 42 2382 49 45 148 55 27,5 17,5 20,0 47,2 4S,5 S9,8 37,3 36,6 55 20,0 23,7 26,7 49,4 42,0 37,5 36, t 38,1 Arrábida e Pena (Cint.) 235 50 12 117 56 6,0 471 41 5 16,2 707 32 0 20,0 943 22 15 16,9 1179 12 40 16,0 5a 22, .T 25,0 16,7 20,2 18,5 Arrábida e Palmella 62 47 10 125 33 45 183 20 15 251 / 7 313 54 35 376 41 40 31 23 35,0 26,2 22,5 23,4 27,5 28,3 23 32,5 53,0 27,5 23,4 25,5 25,8 O 'Sinãrdo '^Tónlijo'cít.í'ihcTina•,lo para o lado do Norte de 0,2 da Braça ; seguem as Alturas e De* presiòts dos (joiítos observados desta Estação ; todos os ângulos aciuia são observados do centro. To.M. xni. r. I. f«> 3IEÍMORIAS DA ACADEMIA REAL ESTACÃO = Montijo. V Jiiíjul-is ofjsi-rrac/n:: 1 /"ON/OS C MuUip. Sim^ihít Oi!se:rva ÇÕES Ocular Ol.jert. IO Altura rio Pill.ll lio Batel I s 4 o l II 0 -2.1. m 0 õl 5 1 u; SO 1 42 42 o 1 II 0 13 22,5 4.G,2 -i.5,0 50,2 1 II 12 4;, 5 37,5 5S,S 4(1, ;i Altura do Sin.il de Serves I O ;i •i- I 41 20 3 21 ;■> 5 1 40 C 41 20 0 50 40,0 16,2 1G.7 10,0 50 27,5 as.s 12,5 14,4 o. Altura do Sinal do ilontachique 1 3 '1 1 41 20 S 20 50 5 1 30 G 41 SO 0 50 40,0 12,5 18.3 11,2 50 25,0 26.2 13,3 21,7 i '^ 'i' r; Altura da 1 1 41 SO 3 21 20 5 3 10 G 43 20 0 5Q 45.0 20,0 31,7 25,0 50 S2,5 ! 1 Pena(Cirit.~) 2 1 30.0 27,5 38,1 |. M : ' '' o. Altura (Io Sinal da Anabida 1 4 2 10 0 4 20 10 6 29 SO 8 40 0 1 5 0,0 2,5 4 55.') 5 0,0 5 17,5 4 55,0 5 0,0 4 55,0 í «tiJ c r-') Altura de Palmclla 1 O 3 ■i 1 efl 15 2 52 50 4 19 0 5 46 0 0 « 7,5 ' ' 12,5 10,0 15.Q. 4S ÇO.O K,2 16,7 11,2 ui- íâ- 'ore 3 *í,..-.. 1 [ I.OJUOvl tvi .-J DAS SCIENCIAS DE LISBOA. &i ESTACÃO = Batel. Pon tos .Inijuhi ohscrrarío. Múltiplos Simples Ocular OI,jcct. Obsebvaíòes o. Montijo Servos Montijo e Palmc-lla « I II 156 3Í I.) :í13 4 55 •ÍG9 37 20 626 9 55 782 -ii 45 939 15 10 1095 48 20 1252 20 20 7ã IG II 7,5 13,7 13,3 14,4 16,5 15,8 18, G 1C,2 16 20,0 11,0 1G,7 14,4 15,2 17,9 16.J 18,2 Serves Montacliique Serves e Obíervatorio fio Castcllo em Lisboa 147 27 O 294 54 45 442 21 38 589 48 50 737 16 48 884 43 40 27 47 35 55 34 40 83 21 45 111 8 50 138 56 O 124 34 45 249 10 O 37 3 46 5 498 21 15 622 57 7 73 4S 30,0 41,2 3C,S SC, 3 40,8 38,3 13 53 ■47,5 40,0 37,5 36,2 S6,0 43 45,0 40,0 St!,3 40,0 37,8 40,8 32.5 33,7 33,3 38,7 39,0 GS 17 22,5 30,0 40,8 39,4 42,7 17 30,0 34,5 35,0 41,9 44,5 Serves c Pai lucila S03 55 0 G07 50 50 911 46 25 1215 42 0 1519 37 40 1323 S2 25 2127 27 4S 2430 2S 0 151 57 30. -42, 44 45 4G 4' 42 41 45.0 42,5 40,0 42,5 45.5 4G.2 44.3 42,5 5a MEMORIAS DA ACADEMIA REAL ESTACÃO == Batel. PoilíJS to ,intjulos obíii:rvtidos 1 Múltiplos SimplcR Obsekvações Ocular Olject. 10 a O Montijo e Montuchiqiie 1 2 3 4 5 6 1 II 128 44 55 257 30 25 386 15 25 515 0 0 643 45 32 772 31 $5 o 1 II 64 22 27,5 36,2 34,2 30.0 S3,2 37,9 1 II 22 42,5 35,0 29 2 3S.7 31,2 37,1 Í8 p ralmelhi e Airabida 1 £ 3 4 40 44 45 81 29 30 122 14 2 1G2 58 45 20 22 22 5 22 5 20,3 20,6 22 12 5 22,5 25,0 24,4 p Serves e Pena (Cint.) 1 o 3 4 5 6 88 57 33 177 55 0 226 53 0 355 50 30 444 48 20 533 45 20 44 S8 46,0 45,0 50,0 48,7 50,0 46,7 28 46,0 52,5 50,0 46,3 50,0 50,0 J-llVÍUií. i. \': Cl o- c 9- 3 Serves e Monte-Junto 1 S 4 5 6 53 15 20 106 31 15 159 46 28 212 1 50 266 16 35 319 31 8 26 S7 40,0 48,7 44,7 43,7 39,5 35,7 37 50,0 45,0 38.3 40,6 39,0 38,5 0 Uitl • 1 7 " 0 Ol â 8í- M IS 6«* Serves e Arrábida 1 3 4 5 6 263 10 40 526 21 52 789 33 15 1052 45 10 1315 55 55 1579 7 0 131 35 20,0 28,0 32,5 38,7 35,5 35,0 35 17,5 37,5 32,5 35,6 37,5 S7,5 ■ . 1 ■ i Correcção proveniente da inclinarão do Sinal do Montijo 8, "6 • todos os ângulos acima forão obsec vados do centro: .sejjueni-se as Alturas e Depressões dos pontos observados desta estajão. i 1 i . i . ^^ 'I>Ã&' SCIENClAS t)E LISBOA, ès •ESTACÃO = Batel. '^, ./nr/ii /os tt/jsen-a ir; b'^ U ftS í-í. 0 '.N IS I iiô I 1 s 6 1- Oh oh íi.ni?. oj,itiioK ■' I . ', . , ^ 1 1 i cl uê ^ í '1 71 0 :? 0 ' t I S a i ' 1 ■, . nr M t í oh nrí*fA i 0 cl i 9Ul . f ■■; I .,•• 1 1 1 .1-1 c , ; j t 1 ) ae 9 I I t; I " '■ TAIDAS SCÍErWTlAS DE LISBOA. •M JíSTACAO = CAStÉLLO DE ?AiMEtLAS Anfjulns obstrcuetos ^ Pnnfo$ S SimpUt OjliiBRVASÕEa j C Múltiplos ■., ■.: ■ ■ \' z 1 <0 Oculiir Objeet. \ ' 1 '» ( : ! 1 „ 1 II o i II 1 1 II M B 1 (li 11 r.j 31 5 47,.i fi 0,0 V h 10 Montijo i> le* >I3 Sd 54,5 5 50,0 0=FrInstr. V-,^ /,' V. s 18(i S5 H 52,0 47,5 J' = Centro \ ^N^ // s- Ciwl 4 «W 4« 7 4.5,9 •W,2 Pa==0, I Braça \ '-^ /; Q 5 3tO 57 5.1- 45,3 47.8 Pb = 0,7 dita \ ^ -f G 7 37S 8 57 •135 20 -15 4-t,7 4G,1 48,3 4fi,4 \/ O 8 497 32 33 47,1 45,9 v^- 1 pi- y-a P' ^S ) 70 50 45 35 25 22,5 25 2á,0 v.^ ScrVes 2 Ul ■í\ 4« «7,0 33,7 0 = lnstr. \ *\ h e 3 2H S2 4i 37.0 31.7 1' = Centro \ ^-.^ li ^ Pena XCiot.) i 58:1 24. Í5 »4,4 31,9 P.-» = o.45 Braça \ *v 1 1 rV 5 Só4 15 S« 33,0 S0.5 Pb=l,10 dita \ /a 6 425 6 12 Si,0 30,6 \/ ' Vr V s M I 27 19 35 13 S9 47,5 39 32,5 / 10 Serves 2 5-t S8 58 44,5 39,5 © = Instr. y\ / 1 1 ^ S 81 58 38 ,4G,3 4G.7 P = Centro \ ^x " Monte-Junto -i 109 18 35 49,3 51,1 Pa = 0,1 5 Bmça \ \ / 1 O e 5 13G 38 8 48,8 51,0 Pb = 0, 40dita \ \ / » / 1 3 / 1 1 í p 56 aiEiMORIAS DA ACADEMIA REAL ESTACÃO = Castkm.o de Palmella'. Pontos Moiltadlis o/iserctjílos Muhlplo. Simples Oiitlar f I h 50 27 O 100 53 5-5 151 20 -ió 201 47 SC 252 13 50 302 40 20 T6 42 35 153 25 S 230 7 46 soe 50 55 383 S3 40 460 15 55 IS 80,0 ea.7 £7,5 2t;.' 23,0 21,7 Uòitit. 0BSERVASÔE8l-.\Hri'\ l II 38 21 17,5 15,7 17,5 £1,9 2-2,0 19,6 13 44,0 22,5 2-1 2 21, ;i 24,0 23,3 0 = Instr. 1' — rCeiitlO Pii=0,il5 Braça Tb =1,05 difa 21 22,5 23 2 £2 5 19,4 19,5 22,1 0 = lnsfr. P = Centro Pa = O, 43 Braça Pb = 0,40 dita Segiiom-se as Alturas e Dei)re3sò«i dos pontos observados desta estacão , os ângulos acima forào ob- servados lora do centro da estai^ào. DAS SCIENCIAS DE LISBOA; ^^^ 57 IvSTACAO = Casteliío de Palmella. «^ Ponl^is (4 ^■I/iiju/os o/jsirvaUos 1 ^ Múltiplos Himples \ Obssbvaçôes """'^ 1 Oculitr 0'jject. •o ç l)i'pri'^.."u) do Siii.il «lo Batel I o 3 4 ,, 1 11 1 24 15 .2 50 0 \4 14 15 5 40 25 1 II 0 42 7,5 30,11 22.5 S:;,l 1 II 42 25,0 9:^,7 28,3 29,4 IVprc^sào do SiiKil íScr\cs 1 -j 0 4 15 0 7 0 0 10 411 U IS 45 U 2 17,5 1 45,0 46, T 43,0 1 52,5 ■ ' 52,5 41,7 4G,0 ^.0 tff; ftí 4^ t ^ Altura do Sin.il de Montacbiiiue i! o 3 4 0 2 35 0 4 10 0 ■ G 45 0 g 25 0 J 1 17,5 2,5 7,5 1 2,5 ro.o 2 5 5,0 ' p Depressão do Sinal do Moiilijo 1 4 1 40 30 S 20 10 5 1 10 6 40 15 0 50 15,0 2,5 11.7 1,!) 50 0,0 12,5 7,5 6,2 — ir' DcpTCísão ,0 50,0 43,:! 3 52,5 4 41,2 4», 3 o. o o < Dopre-sào lia Torre do Seminário dt Santíircm 1 3 0 47 45 1 S5 0 2 22 5U 0 23 52,5 45,0 48,3 3.-Í 32,5 52,5 42;5 Altuva do .Sinal no Castello de Paliiiella 2,6 Braças. TOM. XUI. P. 1. II MEMORIAS DA ACADEMIA REAL ESTACÃO = Farol do Cabo de Espichel. ■-, Àny ulos odserroíhfs i » Pontos 5 Ç 5, Multip. Siinjihs OnsERV.lÇÔES Ocular Ol.jerl. o: 1 1 II 17» 0 -la o 1 II 89 0 24,0 1 II 0 15,0 P ?r Arraliui.1 o :iõfi 0 40 10,0 21,2 s y z e S 5Si 1 55 19,2 15,1) ,v o Peiui(Ciiit.) •l 71Í 1 S5 11,9 18.1 / , ■y 3 5 8í)0 2 10 13,0 11,2 / // ' 3 6 1068 1 35 7,9 11,5 l// ^A 1 44 18 38 22 9 19.0 9 32.5 .■■■■' àTjf"—- Montachiqur b> 83 37 15 18,8 18,7 ij L — ■"""^ a- e 3 13Í 5i; 42 27,0 23,0 A — ' ; sí Pena (Cint.) 4 177 15 35 26,9 23,1 \ E / 5 221 33 52 23,2 21 2 fi 2(;5 51 55 19,6 21 2 ^''"-« -'"'" t. Arrábida e Observatório 1 3 113 IO 40 22G 21 40 339 32 55 56 35 20,0 25,0 29,2 S5 36,0 32,5 25,8 E = Centro P = Pena A = Arrábida E0=l,4 Braça S0A = 94° 34' P0A = 89 0 do Castello em Lisboa 4 452 43 32 565 54 15 S6,5 S5,5 28,7 30,0 Diz o Marechal Foique nos seii>; cadernos, que por huns cálculos, chel ter de altura desde o vert.ce até ao mar 76, 18 Braças. Nfeita ostaç.io não huuverio observações de Alturas e Depressões. 1»,.? 13.3 C -^ Centro \ ^\ / ( " raliuella •t 21i; 10 55 21,9 18.1 C0£'=52''1O' \ \ / ■' 5 270 12 50 17,0 18.0 C0 = 0,875 Br. \ \ / 1 õ" 6 .S2-t 15 30 17,5 20.4 \ '~y 1 c_ t .;78 17 50 16,4 18. G \ /\ ' §: 8 iii 20 S5 16,6 16,8 \ / ^^» ' 5 C^ s li I 138 5S S6 6 9 26 47,5 26 36.0 V / Batel i2 277 46 15 33,8 41,5 © = Instr. y\^ í\ r> e 5 41G 39 38 8G.3 38,3 C = Centro \ *•, / Cl, n Serves •i 555 32 50 36.2 33,1 C0S=8"1 1'30H \ \ / •> 5 694 26 55 85,5 38,5 C3 = 0,8 Braça \ \ / 0 6 833 19 50 39,2 37.5 c~"--- 't) B r 1 98 10 30 49 5 15,0 5 27,5 y. Batel 0 196 20 43 Í0,8 22 5 © = tnstr. y-. / c 3 294 31 35 15,8 13'.S C = Centro \ "• / a. Paliiiella 4 392 41 55 14,4 11.2 C0B = T7°:G' \\ / V: 5 490 51 50 11.0 1.Í.0 C0 = 0,8 Braça \ \ / . 6 589 2 15 11,3 i:;,7 c"---^ > 60 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL ESTACÃO = Observatório do Castello de Lisboa. ronlos yínrjulos oOstirvaíkts Múltiplo. Simplc, Ocular Objecl. Observações Arrábida c Espiclicl (Farol) 146 219 ias ■Ml 581. I II 1 15 o j20 3 íà 3 50 4. 33 5 55 7 O 8 12 c I Stí 30 II 37,5 1 'h 30 20,0 35,0 31,': 34,2 29,7 28,7 32,5 27 3 ?1,5 29, i; 29,2 SU,0 28,8 30,7 29,5 O ultimo angulo observado não sabemos se era ou não do centro , porque o caderno nada dizia a este respeito : no caso de não ser do centro , talvez que os dados do angulo antecedente séjào os que lhe conveiiliào ; seguem-se as Alturas e Depressões dos pontos observados desta estação. ; DAS SCIENCIAS DÈ LISBOA. €1 ESTACÃO == Observatório do Càstello de LisbOA. p ■>; Âiujnl os nfiaervatlos V untai O CO Multiploi Slmphs Observações w Ocular Obju-t. — o 1 II o 1 II 1 II Altura 1 i i: 25 0 36 17,0 36 4,0 ~ .lo í> 3 2-15 1.2 10,0 Cl Sinal (lo li 3 57 25 14,2 G,7 O Seno-; -i. •i. -48 -18 C,0 10,6 Di-pr 0 10 -5.5 2 41,2 45,0 fcj E-i>vliel :', 0 li; \M 43,3 36,0 (1-arol) ■í 0 iO ÍO 3G,2 4U,0 Altma .1.) 1 1 22 Í5 0 41 12,5 41 27,5 d- Sinal lia t 2 -IG 45 41,2 36,2 p Arrábida s 4 9 50 38,3 43, S •t 5 3i 5 45,0 43,1 Altura rio 1 1 28 50 0 4-l! 25.0 44 45,0 Cl. Sinal >m 106 20 52 212 41 S Sia 1 15 Palinella o Torre .lo Seaiinario de Santa- rém 71 58 45 143 15 50 214 53 10 28li 30 O 358 7 12 423 44 25 184 3 52 3í;8 7 45 552 12 3U 736 IS 20 920 21 30 1104 25 20 97 20 25,0 7,5 15,8 1C,9 20,0 31,2 31,7 33,! 27,7 2G.!I 41.2 45,8 44,0 20 15,0 15.0 12,5 19,4 10 26,0 15,7 15,5 10 17,5 12,5 17,5 35 48 52,5 57,5 51,7 4fl,0 43,2 42,1 56,0 56,2 5.0 2,5 9,0 C,7 48 56,0 52,6 48,7 48,7 ■Í6.2 .42,5 I 47,5 o •? " 1,7 6.5 6,0 10,0 0 = Instr, M = Centro Ma := 0,43 Braça Mb = 0,40 dita Eíta conecijão pertence a estes seis ân- gulos. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. £3 ESTACÃO = MoNTE-JlINTO. Pontoa ^Jriffitha observados Múltiplos Sítiiplcs Ocular Objtcl. ObSERVííCÔES Pena (Ciul.) e Evp;rh,'l (Farol; Palmella Serves I II 49 51 O 99 42 S5 149 3â 4» 199 25 5 C49 15 45 24 bô 30,0 S8,8 38,0 r.6,1 S4,5 55 40,0 33,7 55,0 35.4 35,0 ÍO=Ii)str. M = Centro Ma =i; 0,25 Braça M • 35 16 45 70 32 35 105 49 5 141 5 35 176 21 30 211 38 30 2411 54 55 282 11 45 17 38 22,5 ;i8 10,0 6,3 8,4 10,8 15.8 11,9 15,6 9,0 12,0 12.5 16.2 12,5 l-i,9 li.l H,8 0 = Instr. M = Centro Ma =0.3 O Braça Mb = 0,43 :i 55 2 45 5 4 8 SO 3 31 20 o 1 II 0 40 57,5 41 1G,3 23,3 26,0 1 II 41 17,5 11,3 30,0 21,2 ? Depressão ■ J.1 Pena (Ciiit.) 1 O 4 0 41 10 1 23 45 2 5 45 2 47 20 0 20 35,0 56,2 57,5 58,8 20 20,0 SI e,3 20 52,5 21 1,9 ^ Dopresíào do í^inal de 1 0 20 0 0 40 30 1 1 20 0 10 0,0 7,5 13,3 10 15,0 0,0 18,3 !^ Deptessào (ia ToiTê do Se- minário de Santar-m 1 0 3 ■i- 2 C 55 4 11 15 6 18 25 8 23 47 1 3 27,5 2 48,8 3 4,2 2 58,4 2 37,5 56,2 59,2 3 3,8 £•■ De]>res.são do Sinal de ralniella 1 3 •1 1 8 20 2 18 15 S 27 55 4 38 45 0 34 10,0 33,8 39,2 50,e 34 25,5 27,5 4'i,2 4fi,9 DAS SCIENCIAS DE LISBOA, t;- 65 ESTACÃO == Serra D'AyRE. Pontos Anijuhs ohserraJos Múltiplos tStriiple. Oculttr O0J..CI. OBSEaVAÇÕES Pinai (Ifi Mclri(;a o Sinal de Sicó O 1 li Uí 38 45 2^7 17 10 340 54 38 454 Si 50 5fiS 11 10 681 48 55 » I 5li 49 11 2ie,5 '17,5 6,3 6,3 7.0 ■i.C II 17,5 13,8 li!,0 5,6 4,0 6,7 Montc-Junto e Torre ílo Seminário de Santarém Melriíja e Torre do .Seminário do Santarém 13G 48 25 205 12 15 S41 59 55 410 24 10 273 56 O )■% 12 6.2 2,5 11 59,5 12 0,5 0,0 12 1,2 0,0 2,5 3,0 2,5 10 lá Id 45 2S9 478 717 28 50 956 38 1195 48 119 S5 6,0 56,6 48,3 49,4 45,0 0,0 65,0 53,3 48,7 48,0 Q = Instr. A = Centro Aa = 0,65 Braf;a Ab = 0,lj dita (5 =Tnstí. A = Centro Aa = 0.55 Braça Ab = 0,53 dita Seguera-se as Alturas e Depressões observaJ,is nesta estaçà". TOM. XIII. V. t M ífe' MEMORIAS DA ACADEMIA REAL ESTACÃO = S URU. V d'Ayre. Pontos Depressão s5o lio Sinai de Melriça y, .liitjulos oli^crr.ndos Muhh « I )i 0 .".fi rn 1 14. 10 1 6.'. 1.-. 2 51 o 0 SI 35 J 2 2,'i 1 S-i. 40 ..2 G O 1 Simples Ociílnr Ohjcrt. OnsERVAÇÕES o I U 18 II 5,ffl St2,5 52,5 52,5 O '15 47,5 SG,.". 46,7 45,0 ' I II 18 ,20,0 •2Í,5 5.*, 8 48,9 15 20,0 40,0 41,5 48,6 Depressão do Sinal de - Monte Jim(c»- J)epressão da Torre do Se- nfinario de' Santarém . O 2* 4.5 0 50, 55 1 l(i IQ^ 1 4.2 -Sá_ P \í yy,õ 40,8 41,7 12 S7,5 SS,7 46,7 44,4» 4 U 10', 6 '8 6 li'50 '8,|í'.í5' .■!,2,5 ■47,5 á8,3 43,1 .4.7,5 '41,2 Í6,0 .40,0 I ^I <^l P»2 / .n.r-^tlia ílt^a 'i.Laviwxío f9Õis"*iq'>Q s (f.wtiA su sB-moir^!- Ifi T ,'í li; /. .1.. jjOAS SCIENCIAS t)E LISBOA. C7 ESTAÇÃO = Melríça. -'■ '-^ Jiii/ ihiit ofjstrcatlos 1 I'o)ltns O Miihiplos Simples OBSEBVAÇÒE3 ^ Uculur Oíjcct. L Sinal 290 IG 40 4S5 24 55 580 SS 25 725 41 10 « 1 II 72 84 22.5 10.0 S.i lO.G 7,0 1 a 33 57,5 34 lO.Ó 9,2 5,6 6.5 r Sinal de Bu.iRos Villaverde 1 2 S 4 õ 153 26 25 30G 54 40 4li0 2? 0 eis 48 50 7u7 16 20 7G 43 12,5 40.0 40,0 36. 2 38,0 43 30,0 31.2 40,0 37.5 33,8 Soguo:ii-5a as Alturas e Dcjiresiõei do; pontos observados. ;. Altura do Sinal dl- Buarjos 1 *2 4 10 40 8 38 30 12 58 £0 2 9 50,0 S7.5 43,3 9 35,0 47.5 35.0 ^. Altnra do Sinal de Salinas 1 0 G 50 0 15 30 0 3 25.0 52,5 3 55.0 50,0 o. Altura (Io Sinal de Villaverde 1 2 17 0 4 31 0 1 8 30.0 SO.O 1 8 40.0 20,0 Altura do Sinal do Cabcdpío C,"- Bi.ir.i--. TOM. XIII. P. I MEMORIAS DA ACADEMIA REAL ESTACÃO Sinal de Salinas. Ponfos Bii.ircos VilUverde Ângulos observados Múltiplos Shiiple, Ocular o I II ll.i .-!3 15 227 6 5 340 S8 SO 454 11 30 567 43 55 I 41; II 37,5 31,2 25.0 2G.2 23,5 Obje.ct. Observ^^ções 46 27,5 22,5 30,0 25,6 20,5 O = Instr. S = Centro SO=0,6 7Braça 608=123° 14' C.ibeilelo e Villaverde 157 314 471 623 785 O 25 a O 3 O 4 15 6 O 78 30 12,5 30,0 30,0 31,9 36,0 30 25,0 20,0 30,0 31,9 32,5 O = Instr. S = Centro 80=0,67 Braça COS^lOl-SUi Se^'ueiii-se as Alturas e Depressões dos pontos observados. Altura do Sinal Je Buarcos 1 3 5 45 1 32 52,5 S2 32,5 2 G 10 55 43,7 4à,7 Altura do ''mal de VilUverde Altura do Sinal do C':ibei'.ci'j 2 20 O 0 7 0 O 14 45 1 10 0,0 10 5,0 30.0 41,2 3 45,0 30,0 Altura do Sinal da.4 Salinos 2,0 Braças. DAS SCIENCIAS DE LISBOA, 71 ESTACÃO = ViLLAVERDE. a Pmilns O jliujulos observados Observações Múltiplos - Simples Oclílrir OOjcct. vT. 1 s 4 5 172 32 40 .U5 5 52 517 38 0 690 11 30 862 43 30 1 II 86 16 20,0 28,0 20,0 26,2 21,0 1 II 16 35,0 18,0 15,0 21,2 2.-;,o • o. Salinas e Cabedelo 1 4 5 6 57 57 0 115 51 20 173 44 45 ii\ 38 30 289 51 50 317 25 35 28 58 30,0 57 50,0 27,5 18,7 11,0 7,y 58 ,37,5 57 47,5 21,7 15,0 12.5 10,8 Segiiem-se as Alturas e Depreasôes observadas nesta estação. Depressão do Sin.il lie S.llllUS 1 2 l 11 40 4 21 40 1 5 50,0 25,0 5 35,0 33,: Depressão lio f^inal (lo Cabedelo 1 0 2 8 3U 1 4 15.0 4 37. -i 0,0 4 16 10 •,í a. Altura do Sinal Buarcos 1 t 1 2 (i 2ii 4 13 50 1 3 111,0 27,5 3 25,0 17,5 r«te Sina! de Villaverde tinha huma inclinação para o sul de 0,3 Braça ; porém lioje se corrigio tornando a pôr o Sinal vertical. JMEMORIAS DA ACADICMIA REAL ESTACÃO = Monte-Redondo. > Pontes 1 J/f ruins ohstrrnihs Observações MuWip. Silnji/is Ocular Ohjc-t. o 1 II li-5 41 55 « 1 II 7i 50 57,5 1 li 51 5,0 íD 0 SDi 2-i 40 51 10,0 5.0 iVJ Ayre 3 437 7 0 10,0 5,8 n e ■i 58i 49 S5 11,3 13,7 •^ Sicó 5 7i8 3-2 45 IO, 5 13.5 tí 874 15 10 15.8 I3,3 o 7 8 1019 57 50 1165 40 ;!0 l(i,4 li;. 8 14. 3 15,0 1 1G9 9 25 84 34 42,5 34 47,5 o 338 19 10 47,5 35.0 Buarcos .'5 507 28 5 40,8 44,2 c- e ■l-* 616 37 40 345 47 0 .42,5 42,0 38,7 r Sicó 5 44,0 6 1014 57 35 47,3 45,8 7 1184 7 30 4P,S 4G,4 8 1853 17-80 50,6 50,0 Buarcos , e 1 15 53 10 7 5(i 35.0 ÕQ 45,0 O- alio (la Ser- S" ra de Cabo ■ " ^ Mondego — — — — Scguem-se as j Mtm as e Depresiò ;í observadas n esta estaçà 0. I . ol. il.r;- .j '.,-1 '.iS t.O sb.im o *T«q «íftnii^ni «otuil i. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. Í3 ESTACÃO =í= Monte-Rkdondo. gj a Poiítoi <5 .'Iriffufns obsfrrndos Observações 1 Múltiplos SiiiijiUs Ociíhr 1 Ohjcrt. -o o AltUM du fiiiial de A \ r.: 1 o 1 II 1 li 55 2 39 30 o 1 II 0 37 27,5 22,5 1 II 37 --5,0 12,5 ■ — ■ O. P Altura do Sinal de Sicó 1 2 1 62 30 3 42 20 0 50 15,0 55 35,0 55 52,fi. 35,0 Altura do ãinal de Buar<-os 1 O 0 11 0 0 23 0 0 5 30,0 45,0 5 45,0 33,7 AltiL'a do íiil ia! t le Monte-Kejo ndo 5, 0 Braças TOM. xni. r. I. u MEMORIAS DA ACADEMIA REAL ESTACÃO = Buarcos. Pontos > Ângulos ohierrados Mui tis Sicó e Moiitc-Re- dondo Sicó e Bussaco (era hum.i crnz que ser- via de Sinal) 79 lóS 238 S17 S37 •i7tí I 29 ÕS 27 57 27 56 Simples Ocular Ohjcct. Observações Observatório d« Coimbra UG 27 O 292 5S 50 439 20 Si 585 47 30 7S2 IS 40 878 40 50 1025 6 35 36 44 S5,0 32,5 35,8 41,9 42,5 40,0 73 13 S0,0 27,5 25,8 £6,2 22 O S4,2 19, G I >i 44 2-1,5 40,0 37,5 36,9 38.5 40,4 13 10,0 26,2 27,5 21,2 24,5 20.0 20,7 44 s5 22 89 51 0 134 46 10 179 41 45 224 37 15 Salin.-is e /iUaverde 73 50 S5 147 45 50 221 41 so 2!) 5 0,1 25 3C9 33 10 443 28 35 517 2.'J 40 591 19 35 665 15 35 739 11 35 Sâ s? 49,5 45,0 41,7 43,1 43.5 35 55 17,5 56 27,5 55,0 67 10.6 19,0 22,9 24,3 28,4 11,9 S4,7 S7 47,5 45,0 S5.0 3C.2 38,5 0,0 35,0 58,2 7,5 15,5 21 2 26,1 29,1 29,4 32,5 Estas quatro observações forão do cen- tro da estação, .1 . C .!nr/!i/os flhstrrfuJos 1 Mldlrplos SimpUt Observações Ocular Oòja-t. ■-0 Sin.il tl.i .Serra .1' do- sa , e .Sinal ilc Moiirurudo 1 .s 4 1 o i II 109 SG 10 219 12 25 323 43 30 438 24 35 o 1 11 54 43 5,0 6,3 5.0 4,4 1 II 47 50,0 51,2 48 7,5 5,0 o o o. Mehi.;i e Sautartfin 142 31 45 71 15 52,5 10 2,5 Com a Torre da direita ou mais ao N. c tíaiilaroin 1 liS 3 20 71 SI 40,0 r.l 17,5 Com a Torre Ja esquerda ou mais ao 6. : a qual julgo ser a do Seminário por Citar próxima a liura terraço ou editco , qu» o parecia. o. Mulriça 1 o 4 5 C 245 44 25 485 29 5 723 14 40 970 59 25 1213 -14 U use 30 2.5 121 .22 12,5 lfi,2 2n,7 ■ 25,l)- 24.0 32,0 22 12,5 lt;.2 17,5 25, G 24,0 27,5 Mi^Melrça ]\ M ==:Cei)tio 0= Instr. I M3M'=n.S°í7' Mo=l,4Brasa IsV Se^juein-ie as Alt aisís e Depress* >es observadas :oi)i Iium IheO'lolite. TOM. XIII. r. I. 7« MEMORIAS DA ACADEMIA REAL ESTACÃO = Montargil. 1' Pontos < O Anc/utos ohscrtados l Múltiplos Simj/lis Observações Ocular Object. Altura do Sir.al de .Melriça 0 1 li 0 2 0 1 1 m 1 ■ ^ I Altuia do Sinal de Serra dOssa 0 10 0 o. Depressão do Sinal de PalmelU 0 19 0 o. Depressão lie Santarém 0 n 0 o. p Monfurado 0 0 0 ■■ DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 79 ESTACÃO === MoNFtJRADo. Voiitos .Itif/ulos ofjsf rvudns Múltiplas ^lllljilfs Oailur Ohjtxt. Obscrv.mjSes Montargil r.ilinella Sinal lie Aljustrel e Sin.il <\e Alvito ISO 39 'iO r,iU \i 10 541 57 15 "il 35 14 I II ao ia 40.11 Si,5 3Í,5 13 10.0 SC.'J O A í) 25,1) M'=: Mf^ntirgil P = P:ilmella G = liiotr. Ai = Centr. iM0=O.2 Braga 48 21 55 9i 43 Sj 1S9 4 45 lá5 25 55 2:51 47 45 278 8 30 23 10 57.5 5.H,8 47,5 44,4 4R,5 42 5 II 10,0 10 50,0 40,0 se,.') 40,5 39,3 He do centro M' 0 31 Alvito p Oísa Montargil c Oíix 170 21) 45 340 58 25 511 23 40 681 57 30 14 52,5 ;;(j\3 4C,7 41.3 30,0 41.3 3i;,: 44.4 tie do centro 139 44 O •J79 28 5 419 10 50 558 55 O 69 52 0,0 1,3 51 48,3 53,1 51 40/) 5:-, 5 ! 0 = ínsfr. 50,8 1 i\l = Centro 45,0 M0=O.25 Braça /M e> Sejjuem-se as Altura'; e Depressões observada? com huru Ihoodulite. 80 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL ESTACÃO = MoNFiiHADo. •^ ronfoji 0 Ariqnlns obsfrvnths Observações Muhip. Siitijil 'S Ocular Ohjcrt. • c Cl. a Dt^pre-íão do Sinal de Montargil 0 1 11 0 23 0 ST Dcprí^íção do Sinal dff FalnicUa 0 E2 30 Depressão do Sinal de Aljuatiel 0 21 0 Depressão do Sinal de Alvito 0 16 30 fj Altura do Sinal da Sena dOçsa 0 10 . i ! ! i i 1 ? \iraii\ii. iL t, DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 81 ESTACÃO = Alvito. 0^ Poitlui c o yJiK/ulos observados Múltiplos Simples OaSBRVAÇÕES 0<:ular Objcct. S^= .Siír." d'Araceli 5 Aljustrel e Snr,' d'Ara- celi 1 2 -l 5 0 1 II 67 5(1 -40 115 41 55 17S .Sá 35 231 24 IO 289 14 55 „ 1 II 28 55 20,0 28,8 35,8 31,2 '29,5 1 II 55 30,0 2í,'i 2(5,7 25.0 29,0 0 = A = BE aF 0F AG = liistr. 1 Centro da Ermida = na = 2,9 Brac^as = 2,25 ditas = 1,05 ditas = C.5'0' o s 1 274 45 10 137 23 35,0 22 25,0 Beja 1 / '^ Aljiutiel e 2 3 549 30 40 824 IS 20 40,0 43,3 45,0 40,8 } 1 1 \ / Monturado 4 1099 2 35 49,4 42,5 / Õ 5 1373 48 35 51,5 48,0 a ] E ,,..1 fe b 1648 34 15 51,2 52,9 A/ j t i Ossa e Monfurado 1 118 59 35 59 29 47,5 29 22,5 0 s 4 237 58 35 S56 50 55 475 5C 5 38,8 29,2 S0,6 27,5 31,7 26,2 \ _^_r/ 1 1 ^ ^\i/ _ s> S«guem-se as Alturas e Deprescôes observadas nesta estação com hum Theedolite. TOM.XUI. P. I. B3 MEMORIAS DA ACADEJMIA REAL ESTACÃO = Alvito. Pontot > r o ângulos observados Observações Múltiplos Simples Ocular Ohjccl. 2! Altura do rtuial de -Moiilurailo 0 1 li 0 3 30 f? Altura d'j Sinal da Serra dOssa 0 i 30 I a. Depressão da Síir.* d-Ara- celi 0 15 30 Depressão do Sinal de Aljustrel 0 13 30 j t DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 83 ESTAÇÃO = = Aljustrel. Fiintot c í 1 3 4 5 yíiK/iilos oOstrvados Observações Multip. Sit/ipUs 0 filiar Objcc-t. c ^iV.' d'Ani- cpIi , e Sin.il de F..va a 1 II 17D 29 10 358 56 50 538 25 17 717 53 S5 897 22 5 c 1 II 89 44 35,0 12.5 12.8 11,9 1 II 44 10,0 17,5 5,0 14,4 12,5 8,0 Este (il(irao angulo he i&uito duvi- doso. f Snr.* (l"Ara- celi e Alvito 1 2 3 4 5 206 27 45 412 56 40 619 24 20 825 52 45 10S2 21 20 103 13 52,5 14 10,0 9,3 5,6 8,0 14 20,0 13 56,3 14 1,7 3,8 8,8 rt Alvil.i e Moiiliirado 1 38 57 15 19 28 S7,5 23 47,0 Seguem-se as Alturas e Depre»9Ôes observadas com hum TheoUolite. 04 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL ESTACÃO = Aljustrel. ^ £< ^ Pontos 1" O to Anrjulos oiserfulos 1 Múltiplos Simples Observações Ocular Objcct. O. o Deprcsíào do Sinal de Monfiirado 0 1 II 0 7 SO p Depressão do Sinal de Alvito 0 S 20 c. Depressão da SiV." de Araccli 0 4 0 p Altura do Sinal de Foya 0 11 30 DAS SCIENCJAS DE LISBOA j^*: ÔS Examinando as observações . que acabamos de apresen- tar, não j)odeino9 deixar de fazer algumas reflexões. A con- strucção (lo Circulo Kejjelidor, as (li(>orias cm que se funda o seu uso , a atteiicSo que se deve ter sobn; as circunstan- cias das observações , são cousas (ào conhecidas |)reseiilc- luente , que já nenhum observador se satisfaz com Jiuma se- rie , em que não venha o aníulo vinte vezes repetido , apre- sentando huma certa ren;ularidade, em auçmento ou diminui- ção. (> onde a tinal appareça o an£;^ulo como estacionário, os- cillando entre certos limites , que em circunstancias favorá- veis são décimos de se^ujido : quando pnis o andamento da serie se ttianifeòla deste modo , sem apresentar saltos , que excedão os erros prováveis de pontaria e leitura, pode dar- se a serie por boa , e o angulo como bem observado. As refracções lateraes , produzindo nos ângulos irregula- ridades de alguma consideração , de que ainda se ignora a lei, fazem que nos não possamos fiar n'luima única serie, por muito regular que seja, por quanto a experiência mostra (como teremos occasião de ver na 2." Parte desta Memoria comparando os resultados das diversas series d'hum mesmo angulo), que observando-so diversas series d'hum mesmo an- gulo, a pesar de serem muito regulares e bellas , com tudo os resultados não são idênticos, aprcsentão diíTerenças de al- guns segundos, as quaes são mais a temer, quando o terreno em que se fazem as observações , he cortado de rios , e que as estacões sendo pouco elevadas , tição os raios visuaes ra- zando quasi a su[)erlicie da terra : maiores irregularidades se manifcístão ainda no sentido vertical , e para que isto não pa- reça gratuito , apresentamos as seguintes series da distancia zenitàl do Batel observadas recentemente no Montijo , onde SP verifica huma irregularidade immensa , devida unicamente aos elVeitos da refracção , e que de propósito alongámos, pa- ra provar o que levamos dito. TOM. xin. P. I, 86 MEMORIAS DA ACADEMIA ív£AL ESTACÃO = Montijo. Dia 31 ; nunca para liiiiu iiiveiameato rigoroso dos pontos prinripaes da triangulação. líiu Abril de 1794 começou o Dr. Ciera os delicados tra- balhos das medições das Bases, principiando pela de verifi- caçõí-s situada éiilrc Montijo e HaUl ; nosla operaçiTo empre- Igou as Rei;'oas da invenção do Dr. José Monleirii da Rucha, 'cuja descripçào reservamos para a segunda parto desta Me- moria: as Reboas erão quatro, tendo cada lunua três braças de comprimento , e por consequência cada lance das quatra Regõas valia doze braças: ajuntamos também acopla fiel do diário da medição executada naquellc tempo. MEDIÇÃO DA B.\SE DE VERIFICAÇÕES SITUADA ENTRE MONTIJO ' E BATEL FEITA EM ABRIL DE 1794. -jíí; w Data Tcmper. Lances Braças Medidas Abril 5 6 2 Io 34 408 7 77,0 60 720 8 68,6 37 444 12 66,0 8 96 14 78,0 51 612 15 81,0 õl 612 17 7()>0 57 684 18 70.0 52 624 19 60,0 48 3 Re ff. 1,5 pãl. 585,15 Somo na 4785,15 ji DAS SCIRIVCIAS DE LISBOA. 89 A físta inediíjTtr» faremos is s(»giiiiitf>s reflexões: 1.° lIc |iar;i admirar, que o Dr. Ciera não verificasse es- ta medií^ãi)^ execntando-a segunda vez em sentido contrario, assim como praticou na inediçào da tarando Base : he hf-ni verdade , qim em Abril do anno antecedente tinha elie f(!Íto o sen primeiro ensaio, medindo (;sta mesma Baíe ; porèni tíío pouca conlianna lhe meroceo o resultado, e as primeiras Res>;oa^s do qne se sérvio, que tudo desprezou completamen- te ; por conse(|uer>cia não ]>tídia comparar o resultado desta primeira inedicHio. (jm que Iiouver;Tu alem disto reducções de distancias leitas com a plaiicheta , com a segunda ojxiraçào f^xeculada coiu outros cuidados, e exactidão, e com Regoas muito melhor construídas e imaginadas. '2.' Os extremos das Regcas , ájustando-s'^ por moio de prumos, cxiHJstos ao ar livre, secundo fomos informados, sii^ içeií-js por c(m!«onuencia ao iiiij)ntso do mais leve vento, já se VI' ([uanio dillicil e incerta seria a coincidência da linha de priuno com os ditos pontos , e ainda qntí houvessem al- e;umas compensardes' d'erros no resultado linal , nada havia, que garantisse a nSo existência dhum erro de consideração. 3.' Também nos parece, qite foi ocioso tomurem-se aS teuijjeraluras no acto da niediçíto de cada dia, por quanto o Dr. Ciera não reduzindo á temperatura do g-elo fundente, ou 8. quahjuer outr.i , que fosso cortstaníe ^ âs mediçf^es diariaâ feitas em diversas temporatitras , d somniando-as todas in- distinctament.e, não usou por onsequencia delias, o que não approva-inos em trabalhos d Diário do Dr. Ciera e Marechal FoLauE. fír. Horas e Tlttrmomctro Oòscrvaçócs , Notas , (te. 34S O) cr ásGl''m. .. 51°» as irin. Esta me;lii!a lie feita de Norte para Sul , tem prin- cipio em huiiia pedra de Moinho situada no Cabe- delo. eic CB=3G ,1785 ásfil^-m. ..«0° ás 11 ra. . . 7i N CJ Base subsidiaria •^ CA = 2.í. bracaí. \,'' Ângulos obser- vados com o Tlie- Á odolite A =:S4.'' 2' O", B=41" 17' O". CB he huma lagoa que se nào pode medir efectivamente. 283 ás 8''m. ..51° M I'E=:108,Ci39 J.. 7- ás 11 m . . . 73J Base subsid. PM=72 brac. Ângulos observa- dos'M=3r': 2 1 O". Tvi- — õ ir — Um , .8i 1932,8024 Ai 56i htdcpf ««tá o pavilhão das Regalhciras. Noi dias antecedentes não se jiòde trabalhar. 92 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL IG CB = 52,5506 ás7'>m...5ir « Ba«e subsidiaria ^ AB = 48 braças, ^^ '\ _, Ani,'ukis observ. AT ^ . '"- — * r — 'íM°n'o'i C -ft A = 71°llS0li. CB he huma lagoa. 0 vento forte não deixa traba- lhar. 15G ás Si*" m . . . 54° Ba.se subsidiaria IV B as; AC— gfi hr.nrnc ^\ ^^^ Ângulos observ. "■^ C=98"59' 30". C B = 53''55iOll, AB he huma lagoa. TV "fj "Tl tí Base subsidiaria ^; Y" DF = GO braças. / Ângulos observ. 'v/ E = 2G°9'57ll. P f'=:79°13i45ll. DE he huma lagoa. 18 AB=117,S28-l 1B2 DE=13S,66G4 ás 12''ra...75'' 10 576 ás e^-m. ..553 ásUim. ..79 A's 558 br.iças está o S.° pavilhão (de Covos). 20 PQ=5á,9570 ás ll''m...63i -|yj- Base subsid. MQ=60 >, braças, .^ ^-■■'''^ \ Ângulos observados í^ 13á 2 45 t 72Í. S 8-í. d 23 m 2 10 t Cll 07" 6 252 CO-i 8 40 m 2 45 t 55 j 69 7 30 m 4 0 t 7 216 3Ô 62 6 8-| 9 324 7 Om 3 15 t 58i G5| 12 2 1G 2 0 t 651 H 6r',0J-J2 7 30 m 4r.i Ponto onde termiaou o vértice sul do triangulo B;ise subsid. de Foute-Cova. 15 Í68 lU 6 30 m 4 0 l G 3 Ponto du partida e Aertice norte do triangulo. Ifi 20 4 15 t Ci Ponto onde teirainou o vértice sul do triangul». s 2 96 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL 28,S7ó-t 7*' 10' m 62^ 7ií Base subsidiaria dos olhos d'ag^a. Puiitõ da paitida o vértice norte do triangulo. IS 13 S52 108 :; 25 t 312 C 45 m 61 iíO 2SS 96 6 30 m 4 45 t 63.;- 66Í ■ 21 103 7 Om 64 22 39fi 8-4 - 6 Om 3 20 t 56i 72" 23 324 6 30m 56a 25 372 7 Om 5Sl 27 216 G 20m 5'-3 23 600 6 Om ■'' 3 C9 430 5 45 m 58 192 6 Om 55 tí 600 6 30 m 48L 7 432 6 30 m 49 DAS SCIENCIAS DE LISBOA. »7 D 3CI. 6 15 m 3 45 t 5i; 6G 1-í IfiH G CO 111 *^: 180 6 Om 52 17 1:;;), 033.9 5i,4236 6 0 111 5 0 t 55J GG Ponto onde terminou 0 vértice sul do triangulo. Ba- se subsidiaria da lagoa da Regalheira. 18 3i8 « 30 m 58i 23 516 5 15 m 55a 24 C7G 5 n in 4 15 t 5G 65^ ■ 25 749,2550 5 Om 57 Ponto onde terminou no centro da mó do norte. 11381. 6576 = Comprimento da Base entre a pedra do sul e do norte. Base subsidiaria do Cabedelo. 0 Braças Horas T/ierm. Obscrva^ófs. 27 40-2 5''45'hi 4 23 GO7,1920 4 45m 58i 10311, 19iO 98 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Base subsidiaria de Monte -Redot^o. to o 25?" 106,3650 8 45 m 4 30 t G24 G3Í S5S,3G50 1 31 558,3450 A mesma Base medida segunda vez era sentido con- trario. 8 20ni 58l (■ DÀS SCIENCIAS DE LISBOA. 99 Pelos diários , que acabamos de apresentar , se vô que as reflexões 2.' e 3.*, que fizemos á cerca da medição da pe- quena líase de veriticacões , também tem lugar a respeito desía. Vejamos agora como se obteve a distancia cnmprelieiuli- da entre o extremo sul subsidiário e o verdadeiro extremo em Monle-Redondo. Seja S (fiaj. ;í) o extremo sul Subsidiário , que servia de orie;em á medição eíTectiva das Regoas; M o sinal de Mon- to-Kedondo ; supposto isto, marcou-se no Theodolile huui angulo do GO", e collocando o Instrumento no ponto S , man- dou-se pôr bandeirolas na direcção de SF, depois cònduzio- se oTlieodolite comeste mesmo angulo pelo alinhamento .Çi^, até se conseguir hum ponto jPtal, que fizesse SFM = 60° ; achado este ponto , medio-se com as Regoas a distancia SF, c como o triangulo SFM he (equilátero, resulta SM=i=SF dis- tancia medida. Eis em que cônsistio a operação pára obter a distanci» SM, a qual posto que tenha por fundamento verdades theo- l"icas, com tudo na pratica nem sempre correspondem como se de.seja. C3om efleito o essencial desla operação era marcar 110 Theodolite hum angulo exactamente de 60° ou proxima- mente tal , de forma que o erro nunca excedesse de alguns tegundos ; ora com huín Theodolite , cujo nónio era dé mi- nuto , uãG admira que se commettcsse hum erro de hum mi- nuto, proveniente dos erros de marcação do angulo, de pon- taria, c de alguma irregularidade de graduação; he fácil de ver, que este erro produz sobre os outros lados hum erro de quasi dous palmos , que se não pode desprezar em trabalhos deste género. Julgamos portanto, que se procederia com rigor, se depois de ter formado o triangulo SF3I proxima- mente equilátero, se observassem os três ângulos com o Cir- culo Hopcítidor, e se resolvesse o triangulo SFM, de que se conhecia o lado medido SF, e assim se obteria com toda a confiança a distancia SM. Como os trabalhos geodésicos para se poderem verifi- car, e comparar, he necessário reduzi-los ás mesmas circun- stancias , o (jue por certo não ignorava o Dr. Ciera , por isso que fez (odas as observações , e determinou todos os ele- mentos para este objecto , vamos por tanto concluir o que eile não acabou , começando pela reducção da pequena Base de veriiicaçõt's á temperatura do gelo fundente. 100 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Reservando a tlescfipçSo iilinuciosa dsis Regoas para a 2.° parte desLa Memoria > diremos com tudo, que sendo as Regoas de madeira , e as distaiicias entre os pontos moveis das mesmas Regoas verilicadas todos os dias iio principio dos trabalhos pelo Padrão da Bra^-a , que era, huma barra de fer- ro forjado , necessariamente a Braça copiada do Padrão , e transferida nas Regoas, se devia resentir do olVeito das di- versas tem])eraturas ; estas sendo dadas pelo Thermometro de Farenheit, que acusa 32° na temperatura do gelo funden- te , he claro , que para íeJiaos a dilatação do Padrão desde o gelo até huma dnda temperatura, tiraremos dessa tempera- tura 32°, e multiplicaremos o resto |)ela dilatação correspon- dente a cada grilo deste Thermometro : ora o ferro forjado dilata-se (Puissant Tom. I. pag. 376) por cada griío de Reau- mur 0,00001026 e como gráo de Farenheit = ^ de Reaumur , teremos , que a dilataçâío do ferro forjado por cada gráo de Farenheit , ou d=:.o, 00000678 Attendendo por tanto ao que acabamos de dizer, temos, que o Diário da medição da pequena Base de Verificações (pag.88) se reduz á tabeliã seguinte. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 101 Base de veiuficações medida entre Montijo e Batel NO ANNO de 1794. Dia.s de trab. Tempcr. Brnças medidas Faclor D Hat. para os tjráos Dilat.paru as h/ciras 1 2 3 4 5 G 7 H 9 62,0 77,0 68,5 66,0 78,0 81.0 76,0 70,0 66,0 408 720 414 96 612 612 684 624 585,15 30,0 45,0 36,5 34,0 4G.0 49,0 44,0 38,0 34,0 0,00020340 3U510 24747 23052 31188 33222 29832 25764 23052 0,0820872 0,2196720 0,1090767 0^0221299 0,1908706 0,2033186 0,2040509 0,1607674 0.1348888 Somma 4785,15 Somma 1,3285621 Donde concluiremos o se*uinle Hasc meiliila 4785,15 Braça'! Correcção de temperatura 1,3285621 dilas Basfí reduzida á temperatura do çelo fundente ; 4786,4785621 diías Tratemos ajora de a reduzir ao nivel do mar. Sendo (Puissant Tom. I. pag-. 203) a correcçSo, que se deve applicar rí Base medida , e reduzida ao gelo iundcnte , expressa por p _ BI, \. p pm que B representa a Base , /( a semi-somma das difTeren- <;as de nivel entre o mar c seus pontos extremos , e p o raio T0.M. .\in. p. I. T m MEMORIAS DA ACADEMIA REAL de lorra sujiposta osplu^rira avaliado na mesma unidade , em quo estiver B c ft ; is(o he , em Braças, delennineinos o seu valo^ , ' j£ Scg-undo PuissanL (Tem. f. paç. 37ri) (emos, que p''= tíaíUUnn Melros. Na Carta do.« principar.s Triângulos pidjlirada em \ í) >.>:■. , rjU(> j;í cit/nnos, diz o Dr. Ciera , que 1000 Brue.is = 22H;CI26 Metros donde se conclue , fjue Braça = 2,2148126 Metros. Não sabendo nós como o Dr. Ciera determinou esta íiela-i ^ão, trat;lmos de a veriiica.r, para o que fomo.s á Officina de Iiistrum<>nt.o.s Physico-Matliemaíicofí do Arsenal do Exercito j oiide ciicoiitr.ímos hum bello IMetro de latão dividido, e sub- dividido em Decinietros , Ccntinietros , e Millinielros, con- fclruido pur Lcnoir, hum ex«ellento Syntel , e Microscópios de força, eutào comparando com toda a delicadeza e o maior cuidado põssivel o mesmo Padràío dji Eraça, de que se sérvio o Dr. Ciera, com o dito Metro, achámos a relação seguinte : j> Braça de Cíímm = 2.1 03O Melros » >7 na Temperatura de 20" de Reaumur?? O estado dõ Tliermomelro quando T>enoir comp.nrou e.«;- te Metro com o IVIetro Deíuiitivo em França, naiia Constava a este respeito na dita Oliicitia . por lanto nào podemos con- cluir a relação da Braça de Ciera ou do, Fajdriíio couâ o Me- tro Definitivo , rciação indi.^pensavel para avaliarmos os la- dos de nos.sos trianiiulos em Melros Deíini' ivps,. , .;,, , Vé-se por tanto, que a relação deteriuinada pelo Dr. Ciera está defeituosa de , 0,01C8.do rUetro , . ., qjtantidade muito altenuivel, e ininiensaa?i(?nt!5, sppQFÍOT ao erro, que podia mos. co;i)rnetl.er ,n;> processo, que emjireg.í- mos na comparação , que aíliançamos alt- ;! 4." casa decimal. Com estes dad<)S he fácil concbiir, que o raio da terra avaIIa luim dos oxtremos =^BAJZ Ji = a.' d." do UM Iro exlrumo =lMBZ^ C = Angulo no ceiíLro da tcira =^BCM Como M e B leprosenlão os vértices das pyraniideí5 do MonUjo é Ba(ol , Perá j)reci.so que as distauòias íenilaes ob- servadas, se rediizao ao que eilus seriau, se fossem observa- das dos mesmos vértices M e B. Sendo pois (fig. 5) i e i' as distancias zenitaes observa- das, c e c' as suas correcções , consta da Geometria, que onde as coírecções serão dadas pelas analogias seguintes : Sen. i:K: : Sen. c : Mm — Mi; Sen. i' : K : : Sen. c' : Bh—B? mas como o inslrumento, com que se observarão as distan- cias zenitaes, era o mesmo, e alem disso as pyramides erão iguaes , teremos Sen. i: K : : Sen. c : / Són. V : K : t Sen. c' : l e porque c e c^ são ângulos muito pequenos , serão /. í>en. / . /. Sen. i' c= K Seu. 1" A', .'^fii. 1" porém Mtnz=^Bb~= -í braças, Mi = Bi' = 0,6 braças, logo i?u:=ií'=/ = 3,4 braças. Quanto aos valores dos ângulos ? e i' , notaremos, que como o Dr. Ciera não lia o estado das duas Alidades no prin- cipio de cada observação, no que pouco j)erdemos . vista a discordância dns series dadas por liumu e outra Alidade , o T 2 104 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL que por certo não acontccoria se as leituras dos Nonios fos- sem feitas com mais cuidado. ]i(ir(|iio i-iitão a mesma diílV'- rença, que apresentassem no principio, devia a()paroccr com pe((uena diflerencja cm todas as conjncadas até ao fim ('a ob- servação, j)or isso tomaremos sei!i])re o valor nieuio, dos que mostrão as Alidades na conjugada extrema, e \an- tanto tere- mos pelo Registro das antii^as observações (paij;. 50 e 53) t;=89° 47' 11,"5 ; í'=00° 1.3'43,"7 : iir= 4780,5 fazendo o calculo por logarithmos , teremos lg. / 0,5314789 0,G.T14fi89 C. íg. A' 6.3199819 «,3199819 C. lg. Sen. l" 5,3144251 5,3144251 lg. Sen. i 9,9999970 lg. Sen. i' . . 9,9999965 C=: 146,"51 2,1658829 c'=146,"51 2,1658824 Por tanto como as correcções c e c' são iguaes , podemos empregar na formula acima i e V em lugar de á^ e S\ por is- so que entra nella a differença entre ^ e J"', e não as suas grandezas absolutas. Quanto ao angulo C (íig. 4) formado no centro da terra (Puissant Tom. I. pag. 348) sabemos que tem por expressão em que K ho a Base medida e reduzida ; R" he o raio das Taboas em segundos ; e f o raio da terra ; mas como p. Sen. 1" fazendo o calculo por logarithmos , temos Iq.K. 3,6800181 C. Ig.p 3,5381477 C. lg. Sen. 1" ... 5,3144251 C=340",87 ...2,5325909 DAS SCIENCIAS DE LISBOA. io5 Determinados todos os elementos, que entrio na formula de diHerenca do uivei , teremos y == 90° 13' 43", 7 J" = 89 47 11,5 í' — ,^ = O 2(i iz ,2 i (y—S') ^0" n' ic,"i C ^ o 5 40 ,9 í'— Í4-C= o 32 13 ,1 iCÍ''— á^-f-C) = 0 16 6,5 substituindo estes valores }ia formula citada, e fazendo o cal- culo por logarithmos , teremos lg. iC 3,6800181 Ig-.Sen.iCÍ'— à^) 7,5865414 C lg. Cos. i (^ ' — j H-C) . . . 0,0000048 dN= 18,474 1,2665643 Por tanto a dilTerenra do ni\el entre os extremos da pequena Ease de veritica^ões he dN = 18,474 firaças miar ; Tendo o preciso para calcular a formula B. h ? resta advertir , que estando a base do sinal do Montijo col- Incada, se pode dizer, na superfície das aguas, segue-se, que /t = i(iiV, c como B = K, será pois 9_ K.dN Fazendo o calculo por logarithmos , achárcnlog lg. JC 3,6800181 Ig.í/.V 1,2665643 C. lg. P 3,5381477 C. lii. 2 9,6989700 't) ^ = 0,0152651 8,1037001 / 1D6 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL donde devemos concluir Base reduzida á Tenip." do çelo lundentc 4706,4705021 Correcção ao nivcl do mar 0.0152G51 Base reduzida líTeniperalura do gtdo fundon- f e , e ao nivel do mar 47f)0,4G;3207O Tal lic om Rracjas o valor deiniilivo da pequena Base de ve- rilicações entre o Montijo e o Batel , que o Dr. Ciora lujs devia apresentar , dcduzidt) de suas próprias observações, e que <>lle diz ser de 4785 Braças : na sotjiinda parte desta Me- moria ver-se-ha esta medição verificada pela comparação com as oj)oracões modernas dirií^idas por meu Pai. O que acabamos de fazer a respeito da pequena Base de verificações , appliquemo-lo também á çrande Base das ope- rações , e por tanto reduzamos a tabeliã os Diários do Dr. Ciera e do General Caula. f DAS SCIEXCIAS DE IJSBOA. 107 (JK.WDE fÍASr. F-NTUF. OS F.VTRKiMOS SfRSI niARroS, JIF.DIDA DO ÍV. PARA O .S. riOLA liUIGADA UiniCDJA rF.LO Du. ('llKA. Diiaíação pura os (iráob de j actor Dilatupío das Bravas medidas Dias de tiiib. Tem per. vhserv. Brnras invilidas Factor para cot rec. 1 G4,5 348,0000 32.5 0,00022035 0,070682 '2 (i2,0 252.17í!f) 3 0.0 20340 0,05129:5 ;5 (;.í.5 39G,(;239 30,5 200 79 0.082017 4 57..> 27(5:0000 25.5 17289 0.047717 5 íir<,2 iJGO,0000 33.2 22510 0, 148300 C 51.7 52,555i; 19,7 13350 0,070193 7 (;4.5 598,994U 32,5 22035 0,131987 f! GT.:? 57(1,0000 35,3 23933 0,137834 n 63,5 58,95 70 31,5 21357 0,012591 IO C4,7 720,0000 32,7 22 1 7 1 0,159631 1 1 04,2 700,0000 32.2 21832 0,154570 \L (i(>,7 504. 0000 34.7 23527 0.132692 I:J 71,5 9 72,0000 39.5 2G70I 0.200312 14 r.c.o 720,0000 34,0 23052 0,1G5974 1.-1 (iO.O 93G.0000 28,0 18904 0,177090 \i\ 5y,2 828,0000 27,2 10442 0.152099 1 ; (;7.o 490,9501 35.0 23730 0,110401 i« «7,5 40 1,0992 35,5 24009 0.110982 19 (14,7 492.0000 32.7 22171 ((.109081 •20 o.;,2 984,0000 34,2 23188 0,228109 Soiiuiia 1382,5839 Suiiima 2,300902 Logo r 72.5 132,0000 40,5 27459 0,036246 3 64.2 288,0000 32.2 21832 0,062877 4 C2,2 4ÓG,0000 30,2 20476 0,093370 S G5,2 252,0000 33,2 22510 0,056725 fi G2,l 492,0000 30,1 20408 0,100407 7 G5,7 21o, 0000 33,7 22849 0,049353 8 4ít.7 192,0717 17,7 12001 0,023050 9 53.7 432,0000 26,7 18103 0,078205 10 GO.O 20,0000 36,0 23052 0,004610 Jl 07,3 383,8754 35,3 23933 0,093068 12 t;i,o 312,0000 29,0 19G62 0,061345 13 G.5,0 384,0000 33.0 22374 0,085916 li G4,0 160,0000 32,0 21696 0,036449 1.3 G4,3 480.0000 32,2 21832 0,104794 16 50,7 324,0000 24,7 16747 0,054260 17 5 8..'. 372,0000 26,5 179G7 0,066 837 18 57,3 216,0000 25.3 17153 0,037040 19 57. G 6 00,0000 25.6 17357 0,104142 20 58,0 480,0000 26,0 17628 0,084614 21 55,0 192,0000 23,0 15594 0,029941 22 48,6 600,0000 J6,5 11187 0,067122 •2.'{ 49,0 432.0000 17,0 11 526 0,049792 24 58,7 732,0000 26.7 18103 0,132514 26 54.2 168,0000 22 2 15052 0,025287 2G 52,0 180,0000 20.0 13560 0,024408 27 Co, 7 647,4575 28,7 17459 0,125988 2« 58,5 348^0000 26,1) 17967 0,062625 29 55,7 516,0000 23.7 1G0G9 0,082916 30 G0,7 528,0000 28,7 19459 0,102743 31 57,0 749,2530 25.0 16950 0,126997 V, soniina . . 1 1381,6576 Súiiima . . 2,080342 k ' DAS SCmNClAS DE LISBOA. 109 Logo l]asó medida .....:... 11331,G5lfG Correc(;.;lo de TempPratiira 2,08o;H2 Base enlfê õs^exlrcnios siibsidiarios íediízida i ■ ao irdo niiidenio . . , 1 1:383,737942' ('iniii).iiai)ili) os resultados, que .acabaitios de achar, temos iMedicàu do Dr. Ciem 1 13C5,150Ht;-2 Pita do Geucral Caula 1 1383.737942 bifferenç^,cías,dyjig,fl5^f^Yq9f. • j • 1,412920 1 . |. . I ^^ ^ 1 Por rsla difliTf^iira se vA claramente vfrilicada a 2* re- flexão., que 1'izeinos ;í niediçíio da pequena Base de veriíica- ^ões , a qual por certo níto procedeo de outra causa, por quanto a correcção F.!.f>. Medição Tcmji. Mcdio Braças medidfis Factor Dilatação pura os (/ráos do factor Dilatação para hru- çaí^ vicd. l.' 6 8,5 1099,3020 36,5 0,00024747 0.272043 2." 58,2 õ«,3 492.0000 607,1920 2G.2 26,5 0,00017764 17967 0,007409 0,109092 Somma .... 1099,1920 Sonima 0,190501 Logo Basn subsidiaria do Cabedelo medida pelo Dr. Cicra, e redu/ida ao gelo fundfMite 1099,57484.3 Dila dila medida pelo General Caula 1099,388501 Diflerenra 0,106342 iMca por consequência nesta base do Cabedelo A incerteza de 0,093171 da Braça. Não podemos dti.xar de dizei, qud sondo o erro com- mettido iiosta liase de qiiasi hum jialmo, devia o Dr. Ciera tornar a verilica-la , e muilo mais jxir ter de passar peia re- so1u(-"k) de dous trianguKis , para concluir a grandeza do lado BS: loiuaudo jiois o mediu dos dous valores, leremos Base media do Cabedelo reduzida ao gelo ftin- tlente 1099,481672 Pela observação dos ângulos, vrr.''io dos valores dos lados, teremos, quo os angulus observados no Cabedelo e Salinas precisão de certas correc- ções, de que vamos primeiro tratar: os ângulos em Buarcos como forão observados , depois do Sinal de Villaverdc se te;r coliocado na \erdad('ira posição vertical, como se declara no Kegi.*tro das observações, nào precisão por consequência de correcção alguma. A graiuíe Base achando-se sensivelmente na direcção iiorte-sul, será v (lig.6) a projecção do vértice, de maneira que seja yv = 0,3 da Braça : o triangulo Cf^v sendo sensi- 114 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL relmente rectançulo , c chamando dC ri correc<;.;io , quo so ileve fazer aos ângulos observados em C, será a sua cx])res- são ^r - ^'" "^ — cy. «en. 1" Quanto ;l correcrão dos ângulos observados em S , como o angulo Cfv he proxinianienLe recto, o o lado .S*/^ sensivel- mente igual a Sf^, e sendu o angulo CF5'=28° 57' 9" como consta do Registro das observações , ser;í o angulo 5Ti; = 90°— 28° 57' 9" = 6I° 2' 5l" e chamando ^5" a correcção em S, leremos facilmente a sua expressão , que he a seguinte Fv. Sen. SFv ^^ =~SP\ Sen. 1" calculando as correcções dC e dS por logarithmos, teremos l,:51442-) 1 fv ■ ■ 1è"== — 123," 17 2,0904974 applicando esta correcção ao devido angulo teremos, qiie CSr. red. ao centro =78" 30' 9," 2 — 2' 3," 17 = 78° 28' 6," 03 Na estação de BuarCos tdinbem o angulo observado en- tro Cal)odello e Villaverde não foi do centro, o que não acontecco ao observado enire Salina.s o Villaverde , como consta do Registro das observações, portanto teremos (fig. 9) Bo = r=\,2 Braras; 00^=0 = 45° 56' 57,"o ; ^oF=j/ = 88" o'o";Br=G; BC--=D fazendo o calculo , acharemos lg. 1,2 0,0791812 0,0791812 C. li:. Sen. 1" .'>,3144251.'. . < -0, 3144251 lg. Sen. 133° Õ6'57,"0 . . 9.8573059 lg. Sen. 88° 9,9997354 C. lg. 5C' (pag. 113) 0.5838004 C'. Ig j5F(pag.l 13) 6,5206039 -4-G8," 35. ........ . 1,0347126 — 82," 03 1,9139456 logo e = G3,"36 — 82," 03= — 13, "68, por tanlo scní CBr. red ao centro = 45° 5G' 57," o — 13," 69 =r- 45° 56' 43. "31 Reduzidos os ângulos aos centros das estações, reduza- mo-los agora ao horizonte , e comecemos pelo triangulo Ca- bcibílo , Salinas , e Villa% erde. Sabemos (pie a expressão de correcção que se deve aj)plicar aos ângulos no plano dos trcs DAS SCIRNCIAS DE LISBOA. 117 vórtices para termos os horizontaes (PuissantTom.I. pag.tso) a;=p*Tg. jC. Seti. l" — 7*Cot.*C. Sen. l" sendo /j = (90 :t— J e 7= — npplirando esta formula ao dito trianírulo , teremos (fiír. g) sfi;iin(lo o Roe:istro das obs( = 3, 3442154 lg. 7= 3,2995945 lg. Sen. 1" 4,0856749 4,6355749 2 lg./> 0.0884308 2 lg. f/ 6.5991890 lff,Tg. iC 9,9119953 lg. Cot. ' C 10,0380047 19, 320 1,2860010 — 23. "592 1,3727686 log.j j; = — 4," 27 TOM. XIII. P. I. X IJO I\IE3I0IÍIAS DA ACADEMIA REAL Por tanto 5" red. ao lior. = 70°28' o,''o3 — -tZ-iT^vo" 2í;' l,';ti Também tereiiics (pag. 114) yCS ou C= 72" 34' 35,"5 ; Alt. do À^= 0° 3' 5 1 ,"2 ; Alt. de F=V f3' 25,"0 logo i C=3G" 17' 17," 7 J == 89° 5f)' 8,"8 l'= nc 51 35, O l-J^y^i-.n 47 43, 8 l0gO4 (<5^4-í')=89"23'51,"[); ;;=2IGb',"l ^^— y= l 4 33, O \ (J-— J')= O 32 IG, í) ; 7=193G, 9 logo lg.p=3,33G0793 Ig 7 = 3,2871072 lg. Scii.l". 4,fi855749 ". 4, (1855749 2 lg.;j G.G72158G 2 lg. r/ G, 5742144 Ig.^Tg. i C 0,8058403 lg. Cot. i C 10,1341517 -t-lG,"733 1,2235818 — 24,"77l 1,3939410 logo X = — 8, 04 Por tanto C red. ao hor. = 72° 34'35,''5— 8,"04 = 72"34'27,"46 Como os triângulos, de que nos occupamos , são taes, que o excesso esphorico se pode reputar nuUo , vejamos se a somma dos três ângulos lio 18o", a diflerenca que houver, será o erro CMnimettido na observação dos ângulos, o qual devemos repartir igualmente ]ior elles , por isso que toilos nos merecem a mesma conliança , teremcis pois Frcd. aohor.=:^28"57'28,"lG rcorrcct. p."calc.°=28"57'29,"o3 S d.° d." ^78 28 I, 7G 5* d.° d." =73 28 2, G8 C d.° d.°=72 34 27, 46 C d.° d." =72 34 28, 30 179 59 57, 38 Erro . . . 2, G2 .1 •J.V)'. Devemos confessar que os ângulos deste triangulo furão bem observados : tratemos agora de o resolver. Vimos (|)ag. Ill) (]ue a Base subsidiaria do Cabedelo reduzida ao gelo fundente , lie 1099 , 4817 Braças lendo por tanto o valor do lado CS' (iig. 6) será DAS SCIENCIAS DE LISBOA. lis» CS. Sen. C sr Sen. K logo lg. 1099,4817 3,0411941 \— j t o 31 52, 5 i(J— J-')= O 15 56, 2; r/= 956, 2 logo lg. p = 3, 6548885 lg. 9 = 2.9805487 lg. Sen. 1" 4,6855749 4,0855749 2 Ig.p 7,3097770 2 lg. 7 5,9610974 Ig.Tg. i C 9.5240074 lg. Cot.èC 10,4759926 -l-33,"064. 1,5193593 — 13,"264 . . 1,1226649 logo ar = -t-19,"80 por tanto B red. ao hor. = 36° 57' 33,"60 +■ 19,"C0 = 36° 57' 53,"40 Vejamos o que dá a somma dos três angules DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 121 S reà. aohor. =56°4G'23,"18 ; S corr. p.'calc. = 56°46'3C,"02 r d." d." =86 15 4,89;^ d." d." = 8G 15 17,73 JS d.° d.° =36 57 53,40;/? d." d.° =30 58 6,25 179 53 21, 47 180 O O, 00 Erro. . 38, 53 O erro que acabamos de achar de 38,"93 lie inadmissível rm oj)erações geodésicas d<^s(a ordem : o Dr. Ciera devia fonjosameiíte repetir as observac^ões dos ângulos , o que não fez , e lhe não podemos perdoar , porque hoje , ainda que se quizessoni repetir estas observações, j;í nnío podia ser por- que também j.í não existem as pedras coliocadas em Salinas e Cabedelo • nestes termos não ha remédio seuâo servirrao- nos destas observações. Resolvendo pois o triangulo Bf^S (fig. 6) temos feeu. JS por tanto lg. SJ^ (pag. 119) ... . 3,3357941 lg. Sen. r 9,9990716 Clg. Sen. B o, 2208551 Ig.BS .5,5557208 Logo a di^ítancia que vai desde Salinas até á Serra de Buar- cos , ou i?5'=359õ,1820 Braças. Como o valor de -BS* acabado de achar, nos não pode merecer Imma inteira confiança, e visto os ângulos do trian- gulo Cf^S terem sido muito bem observados, e por conse- quência serem dignos de credito os valores acima achados dos lados Sy e Cf^; determinemos também JiS , fazendo a spgiiinle combinação. Com o valor de CA^ resolvamos o trian- gulo BCf^; então determinado rigorosamente o lado BV , com este resolveremos novamente o triangulo BSf^, donde concluindo BS , a sua comparação com o valor já achado, nos dettírminará o cráo de perfeição de todo este processo. No triane-ulo BCV (lig. c) como não temos o angulo V observado isoladameule : o que também não he bom , deter- 122 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL mina-lo-hemos tomando a diíTorciK a eiilre os tlous aii;;^ulos , qup j;! cntr;írão na resolução dí^liiiiliva dos triângulos C/''i' e JiSf^; por tanto será no trians^ulo BCF Fred. ao hor. =80'' 15' 17, "74 — 28" 57'29,"03 = 57° 17' 48, ''71 o angulo CBV já se acha reduzido ao centro pag-. IIG por tanto B red. ao ccnlru=:45" 5tí' 43,''3l O angulo BCl" foi observado do cenlro como consta do Re- gistro das observações, por (auto nào resta senão reduzir ao horizonte os ângulos CBf^ , e liCf^; para o que (emos ' jB=45°56'43,"31; Depr. de C=2°3'25,"0; D('=176 41 56, 7 logoi(Í4-J^')=80°20'58,"3, p=594],"7 ^—^'= 1 113,3 i(^— í')= O 30 36, 6; 7=1836, C logo lg. /i = 3, 7739107' lg.7 = 3,2640146 DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 123 lg. Sen. 1" 4,0855749 4,G855749 2"l!r.;J 7,5473214 2 lg. 7 6.52H0292 Ig.Tg. i C 9,89U41G7 \g.Cot.iC. . 10,10158.33 -(-135,"4G1 2,1318130 — 20,"662 1,3151074 logo X^-^ 114,"80 por tanto Crotl. ão hor. = 76''4,3'7,"9 |-l/54,'*80=76''45'2;'70 Nojamos o que mostra a soinma dos três ângulos F red. ao lior. = 57" 17'48,/'71 ; Fcorr. p. calc.=57"l7'5o, ''i;2 B l\.° d." =45 57 2, 8tí ; Ji d." ti." =45 57 4,77 C tl.° d." =7G 45 2,70; C d.° d." =7G 45 4, Gl 179 59 54, 27 180 O O ,0 Erro .... 5,73 Taiiiljoin se \è polo erro de 5, "73 que estes ângulos forãd soilVivclinente observados: continuando pois com a resolução do triangulo BCV temos CF. Sen. C BF^ Sen. B I050 lg. CF (pag. 119) 3,3473392 lg. Sen. C 9,9882844, C lg. Sen. B 0,1434222 lg. BF. 3,4790458 teremos por tanto BF= 3013,3235 Braças Com e-;(e lado Bí^ resolvamos novamente o triangulo BFS, rnjos ângulos j;í se aclião promptos para o calculo pag. 121/, teremos „c. BFSotlF feeu. o 124 MEIMORIAS DA ACADEMIA REAL logo Ig-. BF (pag. 123) a, 4 7904. '8 ' Ig Sen. f^ y;yo"jo7i(j C Ig-. Sen. 5* 0,0775126 lg. JiS 3,5556300 por tanto teremos novamente 5,5*= 3594,4300 Branas. Por consequência mo nos merecendo mais confiança a pri- meira comhinação de triângulos . do (pie a yei;und:i , pelas razões (pie levamos dilas, dev(-^nios tomar hum valor médio; e como a base subsidiaria do Cabedelo se acha reduzida ao gelo fundente , e ao nivel do oceano , pois cpie aos seus ex- tremes quasi que lhe chegava amare, devemos tirar por conclusão , que Distancia de Salinas ató ao Sinal da Serra de Buarcos, redu- zida ao gelo fundente e ao nivel do mar 3594,liOt;o Bra(;as. Ficando com tudo neste valor médio huma incerteza de 0,37G0 da Bra(;a. Procuremos agora reduzir ao nivel do mar a por(;ão da Base comprehendida entre Salinas e Monte-Redondo , para isto sabemos que Distancia de Salinas ao extremo sul subsidiá- rio. i)ag. lo9 11384,444402 Distancia do extremo sul subsidiário a Monte- Redondo, pag. 110 358,425091 Distancia de Salinas a Monte-Redondo reduzi- da ao gelo fundente 1 1742,800493 Como não temos distancias zenilaes ret-iprocas entre Sa- linas e Monte-Redondo, mas sim entre Salinas e FJuarcos, e entre Buarcos e Monte-Redondo ; por isso como Salinas está ao nivel do oceano, calcularemos j)rimeiro a diHercn(;a de ni- vel (íntre Salinas e Buarcos, d("|)ois entre Buarcos e Monte- Redondo, o (pie nos far.í conhecor a diirereni-a de nivel en- Iríí Salinas e Monte-Redondo , elemento indis])ensavel para a reducçào que procuramos. l DAS SCIENCIAS DK LISBOA 125 ComPCpmos pois por Buarcos e Salinas, e para isto re- iliizanios primeiro as distancias zenitiiaes reciprocas destes pontos ao qno pilas sprinin, se fossem obsí^rvadas dos vértices ilos Sinaes : enlão peio Begistro das antit:as observações, e poios elementos que já temos calculado , acharemos (fig. 10) ?t=fi8''27'l3'',8; Alt. do Sinal B = 4,3 Braças i'='Jl 31 J3, 7^ d." do d." .S'=2,0 ditas d/ do Instr." —0,6 ditas BS =3594,8 Fazeíido i'J=/; /'^'r=/'; BS=Ki já n'outro lugar achamog /.Sen.» , /.'Sen.í' c = "— A".Sen. 1" ~ K.beu. l" e como í=-l,4; /' = 3,7; substituindo, e fazendo o calculo por logarithmos , teremos C. lg. Sen. 1" -. 5,3144251 5, 31442.il C.lg.K 0,44432.53 6^4443253 lg. / 0,1401200 Ig, /' 0,5082017 lg. Sen. i 9,99íí8419 lg. Sen. i' . . 9,9998470 C = 80",30 1,9047203 <í'=2l2,"22. . 2,32G799Í Consta da Geometria, que ^^^i-^-c; ^' = t' -hc', logo y =88° 23' 34," 1 ^' = 91" 34' 45," 8 Também já vimos n'outro liiear, que f< ^ P . Sen. 1" por tanto fazendo o calcido por logarithmos, teremos lg. -ÍT 3,5.-)5G747 C lg. p 3,5381477 C. lg. Sen. 1" 5.3I442ÓÍ lg. C 2,408247à TOM. XIU. P. I. 126 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Por tanto o angulo formado no centro da terra será C = 256,"00 =: 4' 1G,"0 Passando agora ao calculo da formula JT. Sen.i(J.'-c^) ^-^— Cus.i(á-V. j-+C') teremos 5>> =88''28':í4,"l ^^'■' = 91 :V4 45, 8 ^'—^ =3 tí 11, 7 logo i (^'—^) = rz3' 5," 8 C = O 4 IG, O 2'— í-i-C = 3 10 27, 7 logo j(J'— ^-)-C)=l 35 13 8 por tanto Ig- -K" 3,5556747 lg. Sen. i (^' — í) , 8,4;3'2G072 C. lg. Cos.I C^'—^+C) . . . 0J000166tí 1". £ÍiV 1,9884485 Logo diflerença de nivel enire Buarcos e Salina<5, ou rfi\'=: 97,379 Braras Procuremos agora a diflerença de nivel entre Buarcos e Monle-Redoudo : |)ara is|,o precisamos conhecer a distancia entre e.^les pontos; portanto soniinemos a distancia entre 3Ionte-R(^(loii(lo e Snlinas, com a distaiicia de Salinas a Buar- cos determinadas na pag. 124 : enfão p<;lo (jue acabamos =89° 55' 15,' O ^'=90 20 16, O y—^= 0 26 1,0 logo i (S-' — S^) = 0'12'30,"6 C= o 18 12, 3 y~^jfC= o 43 13, a io^oi(y^y^C) = o 21 ae, 6 Y i 128 IMEMORIAS DA ACADEMIA REAL por tanto Ig- K 4,1857002 Ig-. Sen. Kí'— í^) 7,5Guí»24r> C. li;- Cos. i (y—^-\-C) cooooofii; lg. clN' I ,74(;Gí»3:{ Logo ílilTerença do nivel entre Buarcos c Monte-Redondo, ou dA''= 55,808 Braças Das duas difleri-nras de nivel clN e dN' tiraremos o boguinlo resultado Scjão (C\g. 12) jB, S, M os vert:iro.s dos Siiiaos cullocaJos nas estações Buarcos , Salinas , e IVIonte-Redoiido , tereiíio^ Diflerença de nivel entre Buarcos e Salinas, ou dN. . .' = Bs=: 9-!, 31 ti DilVerença de nivel entre Buarcos e Monte-Re- dondo, ou dN' z:z/?/H— 55,808 Logo Diflerença de nivel entre Monte-Redondo, e Salinas = »ís = 41,5B7 Altura do Sinal de Salinas :=iso =i 2,noo Logo Altura de Monte-Redondo sobre o oceano :r: mu =: 4;3,5i; 7 Obtida a diflerença do nivel entre Salinas e Monte-Redondo. calculemos a correcção, que se deve a])|)licar á distancia en- tre estes pontos, e que segundo dissi^nios a png. 124 hr- 11^42. 8K9493 Braças : então como a dita correcção tem por expressão ? — ^iJLíL >>~ 2.p substituindo e fazendo o calculo por logarithmos , teremos lg. íTrr 11742,9 4,0697755 lg. £/iV"= 43,57 1,G3"JI876 C. ig. p 3,5381477 C lg. 2 9,6989700 lg. ^- ■ • •, . » f):\y: • • • 8,9460808 DAS SCIENCIAS DE LISBOA. i2í logo a correcção, que se deve applicar, lui ? = o,0883'24 de Braça pnr (anto 1 oremos Distancia entrn Salinas f; Muiito-Redondo redu- zida ao uelo fundente . pai(. 12-1 11 742,80 9 493 Corrocç:Tio j)ara a reducção ao nivei do mar . . . o.ofíiiáii ]-()í;o Distancia entre Salinas e Monte-Redon- ilo reduzida ao çelo fundente e ao nível do mar ". i 11742,781109 Distancia entre Salinas e o Sinal da Serra de Buarcos , reduzida ao gelo fundente e ao ní- vel do mar , pag. 124 3594,8060 Soniniando os dous números antecedentes , teremos em ulti- mo resultado Grande Base das OperaçSfes entre o Sinal d;i Sferra de Buar- cos e JMonte-Redondo, reduzida ;l temperatura do gelo fun- dente , e ao nivel do mar 10337,587169 Braças í:il he o resultado definitivo, que se deve adoptai". IVão reduzimos esta Base á corda, porque presenlemeíi- te estando abandonados os methodos de Dclambre , e tendo*- se adoptado o de Legciidre. então para a resolução dos triân- gulos íjeodesicos não he precisa esta reducção. Mas entre que limites cahirá o erro desta operaçiío d» Grande Base .'' lembrando-nos dos erros das operações par- fiaes , teremos Incerteza que achamos pag. 109 proveniente das medições feitas j)elo Dr. Ciera e General Caula na distancia entre os extremos subsidiários de norte e sul 0,706400 Incerteza que achamos pag. lio proveniente das medições iieilaa pelos mesmos na distancia entre 130 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL o ox(ronio sul subsitliario e o Sinal il.2 ditas Siipposlo islo, lie claro, que sendo 1 197(i Braças = 6 Legoas ■ — 79, '2 Braças verifica-so exactamente o que diz o Dr. Ciera, ser o numero I4;t7n I>r.*;ras pouco inonor de 6 I.egoas. o que nào podia di- zer SP tivess(> achado o numero que jiós obii\enios, que he Ió3.'í7,(; Braças = G Leg(»as -\- 202,6 Braças que he maior do que 6 Legoas. IMas j)or que cxtraiiho motivo diminuiria o Dr. Cierà RGl.C Braças ao comprimento eíleclivo da grande Base?!! Antes de exj)ii('armos o^ia extravagância, notemos as próprias palavras, com que eile se explica na citada Carta publicada em 1803 : " Os três ângulos de cada triangulo nào tem sido obser- «vados: muitos si> o Ibrito com hum Tlieodolite ordinário; "alguns mesmo sem Sinaes; de sorte 'que os lados calcula- •) dos n;To s;"io mais do que aproximações, que sèrvirSo para "as reducções ao centro." Mais adiante coutinna dizendo : í. Para 4odas as observações fazemos uso de Círculos Re- ?; ]ieti(l(ir(>s d(^ 16 a 18 polegadas de diâmetro, construirlos ■1 j)<)r artistas inglczes : comestes instrumentos, mulliplicando " cou\'eni<'n(emenle as observações conjugadas, temos acha- " do os ângulos a l" de erro , etc. A' vista da exposição do Dr. Cierà. a que deveremos at- tribuir esta falia s jtdga st> jiroprios jiara so empiegarem nos cálculos de varias correcções precisas na pratica da geoilesia .? Provirá por ventura dos ângulos observados? INão pode ser, porque • Me os aliança com o erro de l", erro na verdade muito pe- queno. l'rovirá dos cálculos «las resoluções dos triângulos? 'Pambem nfio pode ser, porque adiante os veremos rectifica- dos : qual sor;! ])ois a causa do «'scrupulo do Dr. Cicra ? Es- tamos persuadidos que tem jior origoni o sciiUiTite. 132 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Sendo o principal uso tias Bases de veriíicarues , recli- ficãr as triangulações . devia ))or euiiscH|iieiicia o Dr. Ciera, dp)>ois do medida a Cirando liase e)iLr<í Buarcos e IVIunlc- Rcdondo, o d(^|)ois ãf observados os aiigulos dos Iriangii- IqSji Calcular pela resolução successiva da cadêa Irigoiioine- Irica a grandeza da píí(|iiena Base; medida entre Montijo e Batol ; porém como esta indagação llio di''sse a conliecer , ([MO havia o erro de lld Braças entre a extensão medida e a calciiiada, (como veremos no jirocesso do calculo (jue adian- te mencionamos) erro na. verdade muito attendivel , em ly- gar de fazer o que devia, construindo pyramides nos pon- tos, em que conviessem, e observar escrupulosamente com o Circulo Repetidor os Ires ângulos de cada triangulo, a lim de , attejideiido ao excesso esjjherico, ])oder ajuizar dos erros comnieti idos nas observações, contentou-se simples- mente em empregar o grosseiro meio de diminuir na gran- de Base liuma quantidade tal de Jsraças , que o numero restantí! dt'sse, pela resoluçcão da cadêa dós triângulos, huma grandeza jiara a pequena Base de verilicaçòes igual á que se achou pela medição eflectiva. Com eíleito, sendo a grande Base=: 15337 Braças, acha- se pela resolução successiva de triangulação (como adiante veremos) que a pequena Base deviater de extensão 4901 Braças ; porém, o Dr. Ciera pela medição eiVectiva achou que esta Base tinha 4785 Braças; logo para conhecermos a extensão que deve ter a grande Base, de maneira quo com ella, assim modificada, deduzanms peio calculo a graii- deza de 4785 Braças para a pequena Base, (aremos a se- guinte proporção : 4901 : 103-37 : : 478-3 : Base modif. = 14976 Braças por tanto ficando a grande Base com menoí: 3(51 Braças, ne- cessariament.e todos os lados dos triângulos . (pie lurmão a cadèa, se duvião resenlir deste enorme «rro, e por isso o Dr. Ciera declara que os seus valores são aproximados. Dissemos, que o erro resultante da comparação da pe- quena Base medida, com a exlen.*ão que mostra a' resolução successiva da triangulação, suppon(k) a grande Base de ir)337 Bj-aças, era de lltí Braças: ))ara ifnlrarnios nesta averigua- ção, notaremos que se adnultirjaios o valor de 14976 Braças j)ara a grande Base , e o calculo dos triângulos mostrar que DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 133 a pequena deve ter 4785 Bra(;as , ontilo forçosamente deve- mos concluir, que o verdaileiro valor I.j:{:57 Hracas da grande Base não |)odo dar para a jjetpiuna o \ alor de 47C3 , achado directamente pela medição s(!^undo o Dr. Ciera. Suppostas estas idcas, admittamos, que a i,^randc Base le- nha H97G Braças, e tratemos da resolução dos triângulos, (|U(í formão a cadèa , até (hífkizir pelo calculo a extensão da ])equena Base de verificações. A cadéa , que mostra a fiç. 1 3 he a única , que pode ter lugar, segundo as (escassas observações, que o Dr. Ciera fez; onde se nola Santarém como hum dus jjuntos da triangula- ção : apresentamos unicamente os dados e os resultados do calculo para cada triangulo: quem quizcr pode repeti-los, e achará a mesma cousa. Advertimos que nos faltão os ângulos observados em Si- có , porque nesta occasião achava-se doente o Marechal Fol- que , e por isso se não encontrão no seu cadenio. O caderno do General Caula copiado pelo Coronel Franzini ajiresenta alguns ângulos observados em Sicó , mas desgraçada mente nao sao aquelles , do que precisamos. Comecemos pelo triangulo seguinte : N.° 1. Buarcos , Monte- Redondo , Sicó. Neste triangulo conhecemos o que se segue : BM=li9'76; B obs. docentro = SS" 44,' 40,112 ,■ J/ obs. docentro = 86° S4l 50,"$ AltUKi de .S'= O 19 57, 5; Altura de .V..., = O 55 35, O Depr. de jl/= O 13 i;6, 2, Altura deií.,..= O 5 39, S Com estes dados acharemos B. red. ao hor. =39" 44'21,"3 M d.° d." =84 34 53, 1 124 19 14, 4 5 d." d." 55 40 45, 6 Logo 3/5"= 11592,36 ; 55"^= 18052.03. TOM. XIII. P. I. 134 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL N. 2. Monk-Rcdoudo , Sicó, e Aire. Nps(e triaiií;ii](> kío conhecemos senão o ani;ii!o 71/, e o laclo MS calculado acima : faz-nos por tanto muita falia os an- fiulos observados em Sicci ; mas como servindo-nos do valor de AM , que se acha escripto na citada Carta manuscripla , obtemos, para os lados do trianíjiilo immciliato, valores idênti- cos aos qn(> l;í se encontrão, podemos sem escrúpulo adoptar este meio : por tanto teremos 71/5*= 11 592, 3G ; M obs. do cenlro==72" ól' 15," 9 y/J/=lU830,00; Altura de S == O 55 35, O Altura de.-i = o 37 17, 5 Com estes dados obteremos il/red. ao hor. =^72° 5l'41,"6 ; lago y/5'= 19íi02,29. N. 3. Aire, Sicó, Mchiça. Neste triangulo não podemos fazer as rcducções ao ho- rizonte, porque nos faltAo as distancias zenitaos de S e A ob- servailas da estação M: por isso julganios mais a propósito resolver o triangulo formado no ])hino tios três vértices, do que reduzir A ao horizonte, e M não ; com tudo liào nos de- vemos esquecer, de que o pequeno erro, que datpii resulta, íiecessariamente deve ter alguma inlluencia no resultado fi- lial : teremos pois Aohs. f(')ra do centro=5tí" 49/ 5," 6 Reduccào ao centro = -h 4, 9 A reduzido ao centro =5(; 49 lo. 5 M obs. do cenlro .... = 57 37 4(i, I ■ ,.,;.,•..;.;. ! -Ii4 2t; 5U, U S do centro ......... =65 33 3, 4 AS = 19002,29 DAS SCIENCIAS DE LISBOA. i35 Logo -í4M=:-21M3,28; SM=ld622,08. N. 4. Melriça, Aire, e Santarém. Como neste triangulo faJtão as distancias zenilaes de A V S' observadas de M, verificão-se as mesmas reflexões, que fizemos no antecedente , e jjor tanto teremos J obs. íára do centro. . 119° 35' 46," 5 Ueducçào ao centro ... — 4,2 A red. ao centro liy 35 42, 3 M obs. do centro 24 37 34, 6 t i44 13 li;, O S' do] centro . .. 35 4G 43, 1 • JM= 21343,28 Logo MS' = 31743,11 ; AS' = 15211,87. N. 5. Aire, Saniarem, e Monte-Junto. Neste triangulo advertiremos , que a correcção para a reducçSo ao centro na estação A he a mesma que emprcoa- nios no 3." triangulo , como se adverte no Registro das ob- serva<;Ôes ; por tanto teremos A obs. tVira do centro . . . 34° 12' 1,"2 Rediicrào ao ceutro + 4, 9 A red. ao centro 34 12 G, 1 Depr. de 31 O 12 46, 5 d.' de 6' 1 2 41, 5 M obs. do centro 35° 48' 44," 9 Reducçào ao centro ... -H 2, 6 M red. ao centro 35 48 47, 5 Do])r. de A O 10 15, 8 d.^ áe S' i 3 1, 1 z a 136 MEMORIAS DA ACAÍDÈMIA REAL Com estes dados acharemos A red. ao lior 34* 1 r38,"2 M d." d." 35 48 15, O 69 59 53, 2 S^ a: d." 110 O 6, 8 AS^ = 15211,87 Logo AM = 24434, 02 ; S' M = 146 13, 28. N. 6. Sfintarem, Monte'- Junto , t Palmella. Neste triançiilo notaremos a má pratica de observar al- gumas vezos dous anguleis, para conhecer ])or tneio delles o valor d'hum terceiro por somma ou diminuição dos dous pri- meiros, como se verifica no angulo S'PM deste triangulo: Ijtí por este e outros motivos análogos , que o Dr. Ciera não oli(ovo o rcsrdlado que desejava : teremos por tanto como consta do Registro das observações S'PS obs. não do centro 38° 21' 20,'' 8 Red. ao centro — 7,0 S'PS red. ao centro 38 21 13, 8 De})r. de S. o 1 45, O d.° de y O 23 45, 4 S^PS red. ao hor 38 21 8,6 MPS obs. não do centro 13 39 49, 9 Red. ao centro — 1,7 MPS red. ao centro 13 39 48, 2 Depr. de ^ ; O 145,0 Alt. de ikf o 4 45, 8 MPS red. ao hor 13 39 4(i, 6 Lego 5'P^/.. ..24" 41' 22," O DAS SCIENCIAS DE LISBOA. hl7 por tanto leremos S'MP red. ao hor 92° 2' 50," 6 S^PM d." d." 24 41 22, o i 116 44 12, 6 MS'P d: d." G3 15 47, 4 MS' 14613,28 Com estes dados acharemos P7l/'= 31244, 50 AS"=349i;2,78 N. 7. Montè-Janto , Serves, c Pahnclla. Neste trians^ulo o angulo em P yÁ se reduzio ao liorizoa* te lio triangulo ãntecodente ; teremos pois M obs. nSío do centro 17° 38' 13," 4 Red. ao centro ■+- 1,9 M red. ao centro 17 38 15, 3 D(>pr. de S: O 41 23, I d." de P O 34 48, 7 ^9 obs. do centro 148 42 0,9 Alt. de M O 27 48, 1 Dep. . de P O 15 49, 7 logo teremos .^/ red. ao hor. 17°38'l7,"8 » 3f corr. 1'?°38'15,"2 A^ d " cj." 148 42 3, 4 >^ S d.° 148 42 O, 8 P d." d.° 13 39 46, 6 » P d.° 13 39 44, O < 180 O 7, 8 180 O O, O c como PM = 31244,59, teremos 3/5= 14205, 33 PS= 18222, G2 138 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL N. 8. Serves, Balei, e Palmella. Npste triangulo os aní^iilos siÃo observados do centro , mas tem o mesino vicio que o triangulo u." BSP' do centro 103° 35' o," 4 " PSP' do centro 90° 13' 14," 3 Alt. de F o 14 34, 4 •! Ali. áe P' 0 14 34, 4 Depr. áe B . . . o 52 43, o » Depr. de P . . . 0 15 49, 7 55P'red. aohor. 103 34 52, 8 » P5'P'red. ao lior. 90 13 10, 3 logo BSP red. ao hor 13" 21' 42, "6 B do centro 151° 57' 41," 8 Alt. áe S o 45 16. 5 d.° de P. o 35 32, o B red. ao hor 151 59 34, 8 por tanto teremos 5* red. ao hor 13 21 42, tí B à.° d.° 151 59 34, 8 1(55 21 17, 4 P d.° d.° 14 38 42, 6 e como P5';= 18222, 62 teremos BP=89G3, 12 .È.S'= 981 1,92. N. 9. Sc7'ves , Batel , e Montijo. Neste trlangido todos os ângulos são observados do cen- tro. ** 5" do centro 27° 56' 57," 4 " M do crntro 73° 46' 29," 7 Dei)r. de M. . 0 58 17, 2 » Alt. do jB O 12 48, 5 d." de i? 0 52 43, O » á.' áe S O 50 12, 2 DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 139 B (lo conlro. . . 78" IG' 8/' 6 Dopr. (lo /!/. . o 1:1 43, 1 Ali. de 6' o -1 5 1(1, 5 Com estes dados obteremos o seguinte ^V rcd. .10 hor. .. 27 57 IO, 2 S corr 27" 57' 17,''5 M d.° d." . .73 4(; 34, G 3/ d." 73 46 41,8 Ji d." d.". .. 78 1.5 53, 4 li d.' 78 16 0,7 17t) 59 38, 2 180 O O, O e coiiin JÍS = 0811,92 teremos iJf.l)= 10004,80 JBiW= 4790,09. Taos síio os gross(?iros valores dos lados dos trian^^iilos , (d)ti(lus pelas próprias obscrvafjõos do Dr. Ci(íra ; di/.cniog íírossoiros , porque alem do ser raro o triani^ido , cm que se ol)Sf'rv;ír;lu os tros anirulos , o que dcv(» j)roilu'/.ir erros ád coiis(;queucia , lambem a maior parte delles rcuiie m;ís con- di(;(")es. Comjiarando pois o valor de 2fM^ 4790 bra(;as , que actibamos de achar, com o de 4785 que o Dr. Cicra Ilie as- similou, nola s(! a diffcrerif-a df? 5 bra(;as, que devemos attri- buir a i;ào se l(;rem j.odido reJu/.ir ao horizonte os triaugulos 3." e 4." Se pois admidindo 14976 bra(:as para a extensão da gran- de Base. resultou pelo calculo 4785 j)ara a pequena . qual scr/i a extensão desta, sendo a d'aqueíla 15337 bra(:as .f" he o (jue facilmente se pode obler por huma proporção , a qual daní Pequena Base = 49 01 que diflerc da extensão 4785 braças , que o Dr. Ciera achoií jicla uiedi('ão edectixa, de 116 bra(;as, como dissemos acima. Tarcce iuqiossivel , que o Dr Ciera commcUesse huma tal falia df> rran(|U(,v,a , «3 que pretendesse acreditar as sues (jp(Ta(:òes geodésicas á custa (rhum tão enorme erro, que iniuiediatamente devia apparecer, logo que, acreditada a trian- líuhu^ào da l.°orilem. se passasse As da 2.°, 3.*, etc. , e ultima- ineute iís opera(j-ões de (iotalin;: ainda c Dr. Ciora sondo reconhecido pt-Ios hoiimns da sciencia . niiiilu antes de começar esles trabalhos, isto baslava para lhe segurar abem merecida reputação litteraria, de que sem- pre gozou ; e ousamos dizer, quo os talentos, de r[ue era do- tado , muito mais brilhariào, se nos descrevesse os trabalhos geodésicos, de que foi encarregado, com a((uella boa critica, de que a sua esclarecida razào era capaz. Parece j)or tanto inquestionável, t|ue a grande Base en- tre os Sinacs de Buarcos e Montc-Redondo, reduzida á tem- peratura do gelo fundente e ao nível do mar, deve ter a cjc- teusuo de 15337,707109 Braças. ' 5 ( Continuam.) Ca i» rov(-te oju uma caniara composta de dou.s cones M o P, unidos perfeiLamenle jielas bases, que serão abertas. A meia ali ura do ciuie inferior, que .será sos- tontado por um jxí de .suHicienle resistência, liaver.l um ou-' Iro cóiie (í) bastante agudo, que será destinado para rt^c.r- b(^r a car:;a de ))olvura peio funil («O- No veriice do c(jne -ifwjy.-A Acaiieriía ittlcrtiiihòu qtie' s« ir«))rimu8e''e3ká 'NÍeWiôi^iii pára l!ie jàr a puliitcida/iie c(iiv.t:iiieote,.)Uí,-ptndc-ndo pai ora o seu juiío até aí |)('u>iis' Joi éhsaio?^ tom'. XUl. P. I. AA 1 143 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL inferior se adaptHr;í nni tubo fechado com nina toiíioir.T (q) , para façiIinon(e &o poder exlraiiir a pólvora íjuc hc não iiiflam- inar. \}m (nbo de ferro heiíi calibrado DCBA, formado de dons; hra<;os \crticaes. e um horizuntal, sení adaptado ao co- ne inferior, a mais de meia ali ura , no ponto (/'>'): o ramo externo deste tubo devení ter pelo menos 04 poUegadas , e o interno 32. A aberiura da camará jiara este tubo scr;í res- guardada por um ralo, on rede de arauir d(> jnidlia muito ti- na, afim de evitar que a jiolvora nào iiiflamnuida ])asse através delle. Um candieiro (í/) de dupla concule de ar, com tubo de vidro, c f)ara spirito de vinho, será conveiiientementc disposto para que a aceno da chama se dirija ao vértice do p(>([ueno cone (i) , que ha de conter a])ohora. No tubo aii- euiar se lançanl juercurio alé ;í altura de 28 j)ol('gadas , e sobre este. no ramo externo, se applicar;! uiua liaste de me- lai muito delçada, sostentada por uma bucha dcjamngo de sa- bugueiro. No cimo da haste , e proxijiio d^ boca do tubo , se adaptará um pincel circular, o qual se endjeliení em tinta gorda, como mais ]iegajosa : também se addicionará, tani^en- cialmcnle ao tubo, uma lamina de metal, graduada até Il- idias, e cuja altura acima da boca do tubo. será igvial áquel- la que desta boca vai até á superlicie do mercúrio: a liaste do cursor jiassará jior um oriticio aberto em chapa delgada, que atravessará a boca do tubo. sem o fechar, ajim de a guiar no seu movimento. E' ^cora claro, que o pincel circu- lar apresentará sempre a mesma resistência , e deixará por efleito da tinta um vestígio na eacala, indicando assim a altura, a que subiu ; do mesmo modo que. parando no des- censo, mostrará (dentro de um tempo igual para todas as experiências) a altura devida á força iutriuseca da pohora. Islo jioslo . e preparado o provete de modo que tique hermeticamenle fechado, abra-se a torneira («) e deite-.se pelo funil («Oi f'"! jiezo , a poiçào de pólvora, cuja força se quizer conhecer; torne-se a fechar a torneira, e applique-sc o candieiro de modo que a chama se dirija ao vértice do cé- ne (í) : com o lempo chegará este vértice ao rubro, e a pól- vora se inflammaní , derramaiido-se ofluidp elástico portoda a camará , primindo a columna mercurial , e fazendo ascíMi- der no ramo exterior do tubo, tanto o mercúrio, como o cur- sor, moslraiidp a força relativa da polvuni submettida á ex- periência. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 143 Feita .1 jirinioira descarga alira-sn a foriioira (g) para re- colher a pólvora que se não iiiflaininou , e descoiile-se o seu peso (lo peso (laqiiella Coin (jiie se carregou o instriiinento. R<'sfrie-se este para (pu! a sua ttMiipi-ratura se reiluza á pri- mitiva , o que se coiiIn>cer.í pela iiilroduceílo íle um delirado iheniioiTietro pela torneira (>«) no interior da camará: repi- lam-se as experiências, e confronteni-se os seus resultados. P(do |)roc('sso que deixamos indirado '• faoil de ver, que as circunslancias são sempre as mesuias. e que as ])olv(íras nào iiillamuiadas poilem ser apreciadas, indií^audo por isso. nào S() as forças das j)úrções f[ue |)roduzirani os fluidos elásticos, como aquellas que s3o de mais prompta inflaminaçào. .í.í dissemos ([ue este proveio iiào pôde servir j)ara as experiíMicias em i;randi' , mas para ínjuellas a que se df\sti- nani os jirovetes (jrdiíiarios d(ive o nosso ser preferido, |)ois alem da cxaclidão que suj)pomos aos seus resultados, é de fácil consLrucçào , é de fácil transporte, e pode uzar'se del- le em qualquer local. AA 2 S A A MEMORIAS Que se contôm na I. Parte tio Tomo I. tia II. Serie. HISTORIA DA ACADEMIA. Jjjloqio Histarico do Illuslrissimo c Éxcellcntigninio Sãr. Cij^iano iliheii'» Freire. Recitado nu ^ssemhha Pu- blica de 'i5 de Maio de 183» pplo Conselheiro Manoel José Maria tia Co.sta e S;í C Proíjrcimiiia da Aceuleniia Real das Hciencias de Lisboa iniblicado, em líi4l. xxi CLASSE DE SCIÇNCIAS MOKAES E BELLAS LETTRAS. Menuyrin cm que xe ajuntuo as noliciaé, (fuè' iios restão do DoHlur João das Rcrjras , c sc loCao (díjiimas espécies á cerca da Lei Mentcd. Por D. Francisco tio S. \m\7.. . . 1 Memoria sohrc os Secretarias dos Reis e Rcf/entes de Por- tuc/al rfíví/c os antiífos tempos (Ui Monarrinia ate' á accla- ■maçfío d' Kl Rei D, João IK. Iiida na Sessão ordinária de 7 de Novembro de 1838. Por Francisco Manoel Tri- í;;oso *»^'W>v Memoria sohre os tràbal/ios (jeoaesicos c.trcxitftnos em l^or" tiif/ed. Publicada por Ordem dè Sila Mat/cslade por ¥i- lijtpe l'\ilque 1 Pnirete Porlnr/iiez. Memoria offerecida ú Jcademia Real das Sciencias pelo Sócio Francisco Pedro Celestino Soa- rf>c A '' ' •■' ; v':- ,-; . ■- -141 x: ;íA 9h iSAoi^ a HISTORIA E iM®)m, DA Nisi utiU tst quod facimus , stulta est gloria. 2.' SERIE. TOMO I. PARTE II. NA TYPOORAFIA DA MESMA ACADEMIA. 18447 AIÍIOT8IH t'. ti. V51^ aiiâ DA lTSV wmiM.. à, i.a DISCURSO LIUO EM 22 DE JANEIRO DE 1843 NA SESSÃO PUBLICA DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA PELO SECRETARIO PERPETUO JOAQUIM JOSÉ DA COSTA DE MACEDO. ►e" SENHORES. N, i.\ ESTE mcz complelou a Acafleinia Real das Sciencias de 1/isboa sessenta e dons annos de sua existência. A sua crea- <;;To foi huina necessidade a que era mister acudir, e que o estado das iettras ein Portugal altamente reclamava; o tem- po a justiticon ; e o progresso de seus trabalhos tem provado a sua utilidade. As doutrinas d' Aristóteles , que inflaiíío poderosamente na instrucção primaria, e tinhão atí^ estendido o seu predo- mínio a todos os ramos das Sciencias, erão combatidas nas aulas da Congregação do Oratório, a quem st; devem os pri- meiros esforços para sacudir o Jugo Aristotélico. J.-í come- çavào a Icr-se , e a saborear-se as obras de Bacon , de Des- cartes , de Locke e dos outros j)liilosophos da escola Ingle- za ; mas a força do habito , e o poderio de muitos annos dis- pulavão-llics o terreno passo a passo , e a auerra das idéas jiovn« roíiira as id('as veliias prolongava-se. For outra parto 2.' SERIE. T. I. P. II. • 1 ir HISTORIA DA ACADEMIA RFAL a faha de nexo nas maiorias, a irrc£>ularHlado da applicação, o defeito dos nielliodos , a imperícia fi empirismo de muitos dos mestres danavào o estudo das faculdades , lornaudo-o mui diflicii o quasi inútil , e au^uuMitavão o vácuo que se sentia na massa dos c em todo o Tíeii:0 o systema de pesos e nieiUdas , e iuima Comniitssíio íla.-Aciado- luia foi incumbida deste assiimjito. ■ , Os primeiros ensaios do opjej;açõos tojiograpliicas ; as primeiras observações astronómicas reguliires e seguidas,, que houve em Porlugal; loi"ao devidas ;! Academia, que 110 meio destes trabalhos não desanijíaroii ninilos outros ([iio se manifestão cm suas Memorias , c nas obras t|ue loi impri- mindo. Tantos serviços íeilos ás lettr^iB e á Pátria parece que tleveriào tcr-lhc grangcado constante alTeição e reconhe- cimento, único jiremio a que a.spjra , o cujo gozo Iranquillo seria mais hum incentivo ])ara seguir a carrtMra qiu; tinlia encetado; porém aconteceu-jlie como a todas as instituições humanas , nem sempre rai;ír3o sobre elia dias bonançosos. Tempo houve em qiie a inveja, ou o despeito, ou nào sei SC niqtjvo ainda mais ignóbil, quizerão indircclamcnte aca- bar com a Academia , começando por tirar-liio gran(io parto dji sua dotação. F']m]iora l>um (■■.iiiipnudio por(|ue ainda lioje se ensina na Universidade de ('nindua, saJiitio ila Academia, apregoasse que a esta se devia jiarte da iiistrucç;io (pie ali se alcançava: embora os trabalhos releridos e outros muitos, que ommitti, por não ser este o iu^iir dt^ la/er a jiisloria da Academia, dennjiístra.ssem a sua, utilidade, nada foi capaz do es|)alliar atormenta (pie <,Mit;"(o n ameaç'ava : p{jr(pie nào quer ver, nem ouvir, ([uem só |>õe a niira em desbaratar; porém a Academia oj)j)oz a esta borrasca a consciência de ter cum- prido com o que devia a si o á Pátria, e a sua constância: achou no seu seio hum .Scjcio (jue leve a eraudeza de abna dl! facilitar-lhe tudo quanto necessitava para nao abrir nuTu de suas tarefas : a tcímpcsíade passuu : e aqueila espécie de vandalismo litterario não pôde levar á vante os seus proje- ctos. A quem perguntasse o que fez, ou o (pu; faz awVcade- DAS SGÍENCIAS DE LISBOA. v mi;i . poflp olla rpsponrlor rom 224 vníiiitíes q/ic Icm iltégofa piihlicailo , e qiio flffi) maior tirado do que as vozes de sons delracloros. Ni'nliiima Academia lez in.nis, iionliuiiia fez tan- to, nonhiima loz nem moladn no mf smo lenij)o ; e o que. PortuEfal fi^nira no Orbe Litteràrio , deve-0 inconlestavcl- mento ;'i Acadomia. S(Mn se afas(ar da estrada qiie hnnia vez trilliou , por el- Ja tem prosepraido com affinco a Academia desde a ultima Hessãi) Publica. Na Classe (^e Sciencias Natnraes deu-nos o Síir. Anlo-f nio Albino da Fonseca Henevides liuilia Memoria sobre o uso das nossas acuas sulfurosas nas moléstias cutâneas, e outra sobre ns emiu^rações zoolot(icas , h\un Dieciouario de Glo.sso- logia Holanica, e outro dos lermos íechnicos de Zoologia, Anatomia, e Fisioloi^ia conqiarada , até á lettra F. O Sílr. ' Alexandre Augusio cie Oliveira Soares leu os seus Quadros históricos de Medicina al(5 á fundarão da Monai^cliia' l*ort,à-- gucza ; e hum Discurso sobre os melhoramentos da IMedicf- na. O Srir. Harão (ri'!sch\vege escreveu humaMemoria so- bre os Poços Artesianos, |)or occasiàio do que se principiou' a abrir nesta Capital. O Síir. Francisco Adolfo de Varulia- gen compoz huma Memoria sobre a cultura, e fabrico do cluí. O Síir. Manoel .Tose IMaria dá Costa e Sá leu luima no- la sobre o Elneoflcndron y1r(jan , c o Piínis Ccdrus , que se dão no Império d(> Marrocos , e que conviria transplaritar para as Ilhas de Cabo verde. |<] o Síir.^^isconde de Villari- nho de S. Rom3o fez hum Tratado cm que rCunio a theoria, e a pratica de construir fogões de sala económicos e salu- bres. iVa Ciasse de Sc-iencias l-^xacías tivemos do Snr. Dr. Fi- lij)pe l'ol(pi(} huma interessante 3Iemoria sobre os trabalhos geodésicos executados em Portugal. O Snr. António Maria da Costa e Sá fez a construcção graphica do eclipse do Sol visível em Lisboa em [H de Blarço de 1839. O Snr. Francis- co Pedro Celestino Soares, conhecendo a insufilcieiícia de lodos os instrumentos at('<;ura usados para medir exactamen- te a força da pólvora, inventou hum a (pie chamou — Pro- rclr PortitfjKcz'. — e que descreveu n'hnnia IMenioria. O Snr. iMaltReus \';ilente do Couto mandou-nos huma Memoria so- bre a arqu(>açào dos Navios, estabelecendo a lV)rmula para medir a sua ca))acidade , por huma espécie determinada de tonelada. O Síir. I'"ortunati> Josò Barreiros leu a parte do VI HISTORIA DA ACADEMIA RKAl. seu Compendio d'Ar(illicria que (lala do iisu da |)()lvovii e bocas de fogo ; c liiiiiia iMcniuria solirc os piiiicipacis inollio- ramentos qvie tem recebido a espingarda d»- InOuilaria desdo a paz geral, em 18Iú , atéí^ura. O Sfir. António J^opes da Costa e Almeida tem continuado com incansável actividade o seu Roteiro geral. E o Snr. Mattlieus ^'identc do Couto Diniz nào tem cessado de occuj)ar-s(i na ])ul)lica To)iio ;!." dn CoUerrão de Noticias para a Historia c Gcafjrajjliia das fa- cões Ultramarinas =, em que se corrigem e aclarào muitos passos daquella obra , e se ijidaga o seu verdadeiro author. O Síir. Francisco Manoel Trigoso (VAragão Morato concluio a sua ultima Memoria sobre os Ministros do Despacho e F.x- pedientc dos nossos Reis. O Snr. António d'Almeida remei- leu-nos huma Memoria sobre a legitimidade ou illegiliniida- de da Senhora D. Tereza , mulher do Conde D. Henrique. O S.^r. Manoel José Maria da Costa c Sá, constante no in- tento t|e conservar as memorias e elevar o merecimento género em Poesia denominado Romântico , c sua comparação com o denomina- do C/a.«fVo; outra sobre a antiguidade e emprego da artillie- ria em llespanha ; (! movido de seutimentos pLilriolicos , re- vindicou para a Nação Portugueza, ifoutra Memoria, a glo- DAS SCIENCIAS DE LISBOA. vii ria o ((ue Mr. Magnin diz de Camões no discurso preli- minar d'hunia nova edi(:3o da traducção que fez Mr. JMillié dos Lusiadas em prosa Franceza. — E o Secretario leu hnina Memoria em que perlende provar que os Árabes so couhe- cí^rào as Canárias, antes dos Portuguezes , pelos authores Gregos e Romanos. Nem forão somente estes os trabalhos da Academia, empregou-sc n'outros que o Governo de Sua Magestade lhe incumbiu. Renielleu-se-lhe , pelo Minislerio do Reino, liuma por- ção d'argilla e de zinco da Ilha das Flores para fazer proce- der aos devidos exames e ensaios, e deríio conta deste en- cargo os Senhorias Jgnacio Anloiiio da Fonseca Renevides, Visconde de Villarinlio de S. Romão, e Rarào d'l"'.sch\vege. Pelo mesmo iMinisl(.'rio se mandou á Academia j)or(;ão d'hum musgo chamado Cupe\ vindo fias Ilhas de Cabo verde, j)ara se fazer k sua analyse , que foi commeltída aos Seidio- res Ignacio António da Fonseca Benevides, Visconde de Vil- larínho de S. Romão, e Barão d'Eschwge. F,irviou-se-lhe hum follieto impresso sobre hum novo processo j)ara a conservarão dos grãos, a tim de que a Aca- demia o tomasse na consideração que julgasse conveniente. Nomeou-se para o examinar huma comuiissão comjiosta dos Senhores Ignacio António da l'\»iiseca Heiie\ifles, Barão de Esch\vei;e , e do Dr. Francisco Soares l''ranco. Os coiiduclores eleclricos de cuja remolissínia antigui- dade i\ír. Paravey pertendeu achar vestígios nMium fragmen- to de Ctesias, conservado por Phocio, e nos livros chinezes, e ipie o I)r. Somerhausen intentíju provar que já existião em Hcspanha no seculoXllI. , fundando-se n'hum passo do Com- VIU HISTORIA DA ACADEMIA REAL menl.irio ao Pentalheuco feito pelo Rabbiiio Behaié, natural de Saragoça , gozárào por muito tempo irhiima cclrbridafle que parecia inabalável como ])resorvalivos dos cííVcitos dos raios nos edifícios a (jue se a|)plicavão ; porf;m alguns exem- plos de edifícios damnificados pelos raios, ajiezar tio estarem armados do conduclorcs, e talvez a pergunta de lium dos mais abalizados physicos da J^uropa ;ícerca da propriedade de altraliirem os raios, começarão a suscitar duvidas sobre a sua eílicacia, e mesmo a faze-los considerar até como prc- judiciaes , pela circumslanria reconhecida de que os raios alacão principalmente os objectos mais elevados, i; com pre- ferencia os metallicos, terminados cm ponta. Nesta accusa- ção conlra a virtude dos conductores não se tinha rm conta a esplicra de acti\idade dentro da qual clles ])ode;m obrar, e cujo máximo não lir' ainda bem conhecido, o seu estado d» oxitlação , a magnetisação do ferro, etc, e que os conducto- res bem construídos , e bem conservados , aj)ezar de attra- liirem a matéria eléctrica, a absorvem, c a conduzem á ter- ra , ou as nuvens , segundo o raio he descendente ou ascen- dente, sem nenhum estrago dos edifícios que protegem. O ]Minislro da Guerra, desejando ter cm semelhante assumpto Jiuma opinião em que podesse descançar , oíliciou á Acade- jnia , pedindo-lhe o seu parecer sobre se serião ou não úteis os conductores eléctricos nos paioes de pólvora , e especial- mente no paiol da pólvora da líatcria do Bom siiccesso. fa- rá responder a este oílicio forão nomeados os Senhores Igna- cio António da Fonseca Benevides, Marino Miguel Fran/.ini, Fortunato José Barreiros, e Barão d'Esch\vcge; e o voto da Academia foi tanto a aprazimcnto do Ministro da Guerra, que lho agradeceo em nome de Sua Magestade. Tendo a Lei de .31 de Julho de isao authorizado o Go- verno para mandar a França ali;uns alumnos estudar, como l)(ínsionistas do Estado, as Sciencias applicadas as Artes, es- pecialmente Chymica, Physica , Engenharia civil. Agricul- tura , e Operações Cirúrgicas , Foi Sua Magestade Servida , pela Secretaria d'Estado dos Negócios do Reino , incumbir á Academia hum projecto de Regulamento , ou Instrucções para o mais fácil deseiujienho desta Lei, declarando a aj)1i- dão e obrigações dos alumnos, e tudo o mais que fosse con- ducente para se levar a eflbito com a maior utilidade publi- ca, tão importante objecto. A Acatlemia commetteu este trabalho aos Senhores Bispo Conde Resignatario do Coim- Í)AS SCIÈNCIAS r>E LISBOA ■T-» IX bra , Ifinacio António dia FoiísPoa Roneviclos, Jos(! Cordeiro Feio. l'"ortunalo Josi; Barreiros, Francisco Pedro Celestino Soares , n ao Secretario da Academia. O estudo dos phenonienos magnéticos, cultivado com ardor, havia muito tempo, |)or JVIrsi o Banlo d'JInniboldt , Araío , e Kupfler, e depois por JMr. ííauss, fez attentar j)e- ja n(>cessida(l(í de estabelecer o maior numero possivel de cstaçfles em ipie se observassem e medissfMU as lre o q>ie julga de interesse publico, preparou hu- ina expediçílio, commandada pelo (,'apitào Hoss, para fazer oliservacões magnéticas nos mares do polo antarclico; o mandou estabelecer estações yiagneticas em Santa Helena, Mont-Ueal , Cabo da Boa-es|)erança , e na Terra de \'an- Diemen : mais longe foi ainda a Sociedade Real de Londres : conseguiu dí> Conselho dos Directores da Com])anhia das ín- dias Órienlacs, ipie as mandassem erigir em JMadrasla, Bom- baim , e no Monte Himalaya ; e convidou a nossa .Academia para concorrer da sua parle para o imj)ulso geral dado pelo 2." SliRIU. TOM. I. P.ll. »t X HISTORIA I>A ACADEMIA REAL íminilo Ihtprario a este iiiiporlantissimo ramo fios conhnci- iiionfos liiuiiaiios. A Acadoiiiia levou ;í Auí;iist,a l^rcsctit-a do Sua Magestado a iui])ossibilidade de acoilar o oauvilc da So- .ciodadoReal de Londres, ])or faJU de metos para causlruir hum observatório magnético, c fornece-lo dos instíunientas necessários. O Governo de Sua IVlagestade exigiu liiini or(;a- niénto do que seria preciso gastar jjara o (lui proposto: para formar o orçamento escolhèrão-se os Senhores José Cordeiro Feio, António Lopes da Costa e Almeida, António Diniz do Couto Valente , Dr. Filippe Folqufc , e o Secretário da Aca- demia : e o orçamento subio em Iti de Marco de 1840. O Capitão Ross, Command.lnto da expedição composta do Erebo e do Terror, quG sahiu de Inglaterra j)ara os ma- res antárcticos, conseguiu determinar a |iosiçào exacta do polo magnético austral rjue dista li; miriametros do ultimo ponto a que chegou. A Rússia publica annualmenie hum grosso volume em 4.'' grande das Obseívações magnéticas e meteorológicas, feitas em toda a extensão daquclle vasto im- pério. pelo Corpo dos Engenheiros das Minas, dirigidas e ordenadas por Mr. Kupller , debaixo dos auspícios do Conde Cancrine, Ministro e Secretario d'Estado dos Negócios da Fazenda. A Bélgica disí.ingue-se nos trabalhos magnéticos pela iassidua applicação com que a elles s(; dedica o nosso Sábio Consócio Mr. Quetelet. A Euroi)a , por toda a parte , e até a Africa , a Ásia , e a America , concorrem ;í porfia com o seu contingente para adiantar esta parte da Ph) sica : E Por- tugal no meio deste movimento geral, fica iinmovcl ; esta fo- ra da communhao scientilica. Portugal a quem a Euro|)a e o Mundo devem as primeiras observações dos |)riin'i|>afs plie- nomenos magnéticos, porque a variação da agulha forão os Portuguezes os primeiros que a conhecerão na Europa ; por- que , antes de Halley ter expendido a theoria dos quatro po- ios magnéticos , j;í desde o século XV os Portii-juezes sabião que havia quatro linhas em que a agulha maanetica inA ÀiGADEdVMA «EAL Confiou o Síir. Coiidp do Lavradio ;l Acadríuia lu^n Ma- nuscripto iii(i(ulado = Tractudo sohic a ncninrcfição doíi Itr fuitcs na America Meridional ^=^ r julgaiidu-s!,' ijii|(iilajiiíç , niandou-se iiiipriíjiir ; j)orèm coukj o iVla)lu^cM■ijJ!^) <;ra l);js- lajiteiupiitte iiiforfeclo , e a |)arlL' (las oljarivaròes aslruiiuuii- cas demandava muitas tímoiulas, sínij aàtiiiacs so h)riisv^o dp pouca utilidade , presLou-sc a /"aze-Ias o íjjfli". Dr. Í''ilii'i)ç l'\'l- que , e pu)a|icou-sir; na = CoUcc^uo de Noliciaa pfJiu a Hislo- yiu e Geoyiaplíia das Na^:ôç^ Ultra»iarinus= >ta e S;í , Francisco lie- Cfoio , e do Secretario, ^'ai eniríir no prcjo ^. = Uistnriei da Praça d'ArzilIa, cpm a ifotiçia dos cquscis ç/tç sé piissárâf) c^n ^fricq desde o anno de \;>os qte lúlJl , escripla por Bernardo Jiodrie/ves, Cavalleiro A/ricano^= , d<í que a Acailpmia pos- sue huma copie}, tirada do .RIss. quB o Snr. Manuel José JVIa- tjã ,da Cps,t^ e ^á ^hp fapUitou , . e cuj^ coníerencia com <> jMgs. q^i^e sçfvio de origiiial tt^nio.u a si o mesmo Síir. Nao se descuidou a Acaciemia dus seus di\ersoS! e,sta]j(j- Iccimenlos. Pelas repcítidas mudanças do local , ante,'? tie se lixar d.Q- linitivamen.te a Af-idpniia no .edifício do e.vljndo CojiVcnto fie Je^us , ^inlj;iío-s.e inntilisado mpitas das y)ncj)ii)as do sen Gabinete de Pljty^íica , e jtlcsarranjadu quasi todas. Para cui- dar de seu reparo noineárào-sp ps Siu"s. Alitonio J^niz do í!,oulo Valente, \'isconde dp Mllariídiu de S. Uounío, e o Ur. I''ilij>pe Folqin.' , e recorrou-se ao Síir. ,G'ispar Jo»é Mar- I DAS SèlENCUS DE Ll§BOA. I jcfu f|iics, q)ie com a melhor vdi^tade, e ornais constante fismero, 1Í}C tem prestado os auxílios que a sua periciíi iios ^iljanç^.va- Muitas dag pinturas que ornâo a nopsa Gf^leria jazido ajnoiítoadas cm quartos ícchados. o grande parte estíjiva ejfi tal pstado , que mal se distiniruia o que r<'pres,entavào. jCpo- çluida a casa que o Governo de Sua i\Iagi.'.slade mandou j)r,ç- jiijrar j)ara cilas , collocírão-se (JL^.v.idií^mg/itV > iii!)P$'''âP:í''^ j .® p Publico pôde ^gora §^o7,a-lasi , , .i , >. ■ ■..'■' .1 O Museu engrandecido diáriarnenie cpçi avultada quan- tidade de artii^os novos, requeria as accoinmodaçijc.s inilis- pensaveis para se alargar. Sollicitou-as a Academia do ("O- vcrno de Sua Magestade , que géneros* e j)rom()tajnei,tc lli,e niaiidou lazer liuma nova sala , que logo se encheu , e huma Galeria para os objectos mineralógicos , que está quasi ter- niinífda, jnostrando o mais dccidi:lo zelo no melhor desem- penho e acabamento desta pbra o nosso Sócio o Shr. Luiz da Silva Mousinho d' Albuquerque , Insjjedor Geral das Obra* publicas. ^'clo que respeit^ a este estabelecimento cumpre a Ac;^- demia huma obrigaçíto sagrada , tributando a Suas Magest^- des as devidas graças ppla singular protecção e muniticei cia com que tem locupletado o Museu , mandando-lhe preciosaa .cóUecções que de fórçi io Re;no se lhes tem oDerècido, sçn- do a ultima de 475 aves do Senaar no alto Egypto, que {i est.í preparada ç collocada i;ia Sala das avçs. í) Goven.o dé Sua Ãlagestade rçmetteu á Academia hum Sqtialus tnaxinius, .aj>anhado em Vianna, fi muilo raro nas nossas Cosi as ; e mu/- (as pessoas NacionaoSí e algumas Estrangeiras tem presei^- teado o Museu , distinguindo-se particularmente os nossos Socf«s op Silrs. Jo<|o de Foiíles Pereira dé Mello, ém quando foi Governador de Cabo A'^erde , e Duque de Palmella ; e qs Síjrs. Francisco Rodrigues Batalha , o Director da Alfande- ga Granup de Lisboa, Carlos Cardoso Aloniz ('açilellobranco lJac;e)larí o Go\erno dç Goa, ^ o Conselho dy Saudc iNavaJ. He ^láis Jfiun documeuto de qu& á vo^ da Pátria nunca ^ôa (Iç Piaíde no coraçáo dos PortugueZp^ , quando ijivoca o sou adjutpno a favoí- do hem publjco. O Museu da Ajuda quaij- do SC reuniu aò da Acadeipi^j , e ao Mayncnse . que ella ad- iuinif.lra, contava ap^énas tj^S ave? , deaçié .entào tem acres- ciidò ao Museu 1:39J, e em Ipdos os outro? ffiinos tem cres- cu\o por l;il modo, que sj^o pr<^cis^s i^õy^,,^a/as para o ac- ^y HISTORIA DA ACADEMIA REAL As Academias e Sociedarlrs scionlificas com quem a Academia se corresponde, e mtiitns Sábios roniíMIoiído-iiDS as suas obras, aiign)eiita'r;"ío nolavelmenle a nossa Hibliolhe- ca , que ouiros Ihcsouros iitterarios vierào enriqufcfr, rece- bendo de diversos Governos e Corporações , tesloinuiihos de particular consideração lào estremados, quacs ni\o leve eiii nenhum tempo, nem costumão dar-so aos Corpus sciíMilificos. Sua Maçestade o Imj)eradur do Brazii lu\orL'ceu-a cuiu }ium exemplar da Flora Fluminense. S. A. Imperial e Real o Crào Diiqtie de Tuscana j)re- senteoii-a com as Actos da pritucira rruniúu dos SaJxtvs Ita- lianos celebrada em Pisa , e com os Ensaios de c:xperiencias iialuracs , feitas na Academia do Cimento, c 7wlicias históricas da mesma Academia. A França ostentou a sua liberalidade, mandando-nos : O Ministro dos Neiroeios do Reino a grandiosa obra so- bre o Egypto em 23 volumes , de que a maior parte he em formato atlântico , monumento do poder de Buonapartc , e do apreço que fazia dos trabalhos Iitterarios executados na- ■quelle paiz , debaixo das suas vistas. O Ministro da InstruccSo publica a Collecçiío dos docu- mentos para a Historia de França , até agora impressos em 28 volumes de 4.° grande; e os 'Arcliivos do Museu d' Histo- ria Natural. E Mr. Lebrun, Conselheiro d'Estado, e Director da Im- prensa Regia de Paris , oflereceu-nos a CoUecçào dos Au- ihores orienlaes que se publica por conta do Estado , e de que já remetteu o 1.° Vol. Porem nàio deve occultar a Academia que estes mimos do Governo Francez se devem em grande pane .-Is diligen- cias do Snr. Visconde da Carreira , e do nosso Consócio o Sílr. Visconde de Santarém , cuja incansável actividade não cessa de promover tudo o que i)óde por qualquer modo aproveitar á Academia. pareCcMido que a distancia que o se- para de nós accrescenta de dia em tlia novos quilates ao aí- fecto que sempre lhe consagrou; e cujo patriotismo se tem empenhado em desaggravar a gloria Nacional, allVontada per escriptores, ou prevenidos, ou suspeitos. O Conselho dos Direclures da Companhia das índias Orientaes enviou-nos 91 volumes de grandíssimo valor, nu- pressos fpiasi todos na Ásia em lingoas orientaes. O Conde Caucrine, Ministro da Fazenda da Rússia, tem- I DAS SCIENCrAS DE LISBOA- i rjcr nos rfirirltido, todos os atuios , os volumes dfls observações magnéticas, e iiioteoroloi^icas, leitas em todos os observató- rios (lo Império. A Commissâo creada no mesiao Império para tixar os pesos e medidas , niandoii-nos os seus trabalhos redigidos por Mr. Kupller em 2 vol. em -i/ urande. li a Clommissíto Real d'Historia da líelgica briudou-iios com as suas pulilioaçòes. Táo ciiescklo numero de obras, e a falta de Catalogo, loriiavão se iiào iinpossivel. ao menos mui diUicil o uso da Bi- bliotheca da Academia, e exisião iiuma providencia, que a Academia deu . nrandando forniar o Catalogo da sua Livra- ria , (pu; vai muito adiantado, porque já se tirárào os bilhe- tes de vinte mil volumes. Al(!'i» das provas de benevolência menciouadas recebeu a Academia outras não menos valiosas. O espirito de aasoeiação que se tem diffundido pot toda a Europa , jíl creando Sociedades para tratar de objectos es- peeiaos , já despertando a idca de Congressos Scientilicos , que começando na Alemanha, lavrou para a Trança, e ad- quiriu tod-) o seu vigor em Inglaterra , produzindo a Asso- ciaoSo Britannira para o adiantamento das Scieucias , aricnal onde se accumulào maleriaes immensos para a grande fabri- ca do progresso intelleclual , abrangeu também a Itália. A Itália, que tanto figurou na restauração das Lellras , e que nunca deixou de occupar hum lugar distincto na cultura de todas as partes do saber humano , reconheceu as vantagens que ]>odem colher-se do contacto d(! grande numero de Sá- bios , e da coinmunicaçâío de suas Iuz(ís ; transplantou jiara o seu solo a idéa Alcmà dos Congressos scieiítiticos , de que já tem c(ílebrado quatro em Pis;i , Turim , Florença e Pá- dua; e para todos elles foi convidada a nossa Academia pe- los respectivos Presidentes. Ao que teve lugar em Florença, que he o ultimo de que já se publicarão as actas, assistirão 888 sábios. Italianos pela maior parle, mas também muito.s (lo toda a l^uropa, e dos Estados Unidos da America, huns como particulares, outros enviados por diversos Corpos Scien- tificos, e até pelos Governos, como seus representantes. Os Senhores \'^isconde da Carreira , Barão da Torre de Aloncorvo . e José Guilherme Lima, jirestárão , com a mes- ma assiduidade, os seus bons oflicios á Academia, nas Cor^ tcs de Paris, Londres, e Madrid, e são por isso credores do nosso reconhecimento , que igualmente se devo ao nosso XVI HISTORIA DA ACADEMIA REAL iSocio o Sfir. Colide Grabeig de Homso poK) jnuito qiio tem trabalhado nas (^orrespondcncias Académicas , não só dos •Corpos scientificos, mas de muitos sábios que, por sua mcr tiiaçào, otierecèrão as suas obras á Academia; e a Sir Ale- xandre .lohnstoii, Vice-Presidcnte da Sociedade Keal Asiáti- ca de I/ondres, (pie interveio na dadiva do Conselho dos Di- rectores da Companhia das índias Orientaes. Diversos litleralos, estríinhos á Academia, llie commu- nicírào producçõcs suas Mss. ; a saber : O Sfir. Joào LourenCjO Ursulo IVIachado duas Memorias, hunia sobre a esj)iiituaiidade da aUna ; e outra sobre se os brutos tem ou nào alma., , O Siir. Robert Carr Woods huma Memoria sobre os progressos da Philosophia , e suas relações com as Aries o Sciencias. O Sfir. Joaquim Pedro Celestino Soares huma obra inti- tulada = Exiraclo Plirtnodiaco de huma derrota ás Colónias J^orliu/uczas da Asia=; o a Memoria sobre hum Farol de facho j)ara a barra de Aveiro. O Snr. José d'Avellar Brotero huma Flora Portuffueza, O Snr. Simão José da I>uz Soriano huma Memoria ex- pondo as razões por que as sangrias não são aconselhadas nas moléstias puramente chronicas. O Snr. José de Freitas Teixeira Spinola Castello-branco os seus Elementos d Alffclira supeiior. O Snr. Ayres de Síí Nogueira hiimas observações ."(cerca (los productos encontrados perti.i da Fregiiezia de S. Salva- dor áqucni de JMarvão , no Outeiro da forca em Portalegre , f na Herdade das Ameixoeiras na villa d'Assuinur ; e huma Memoria sobre a Cidatle denominada Aramanha , junto ao prado de Marvão. A Academia sente não poder annunciar cjue merecesse ser coroado algum trabalho sobre os assumptos propostos pa- ra prcuiio. Na Classe de Sciencias Naturaes veio a concurso huma Memoria sobre o mcthodo de atalluir a propat/ação da Syphi- lis nas casas publicas de prostituirão , cpje seu aulhor retirou. Na Classe de Sciencias Exactas vierão a concurso hnnia Memoria i|ue tinha por objecto a = Eaposi^ão sobre a ver- dadeira iulellu/encia das quantidades ueijalinas e ittiai/inarias, c a demonstração das rerjras por iiuc se pralicão as suas ope- rações = , e o = Comjiendio de Mathernaticas puras escript» i DAS SCIENCIAS DE LISBOA. xvii em Porlugnr:^ = ; poróm (endo-^n dado a conliocor seus Aii- thoros , cujos nomes, segundo a condirão expressados pro- granimas , devem vir em carta fechada que s6 se abre , quando as obras são premiadas , não pAde a Academia pro^ ceder ao exame destes escrij)Los , e forâo restituídos a seus donos. Na Classe de Sciencias Moraes e Bellas Letlras aprc-^ sentou-se o Elo(/io histórico do Infante D. Pedro, que níio foi julgado digno de premio. Desgostos mais pungentes opprimírão a Academia du- rante o tempo decorrido d('pois da sua ultima Sessão publi- ca. Sofreu a j)erda de muitos dos seus Sócios , seiulo mais para lamentar a do seu Vice-1'residente o Sfir. Fraiicisco Ma- noel Trigoso d'Araí:ão Morato. Amando-a sem|)re cordeal- mente , desde que foi admittido entre nós , tomou-a o Síir. Trigoso quasi como a sua única occupação . logo que deixou a vida publica: as suas fadigas, os seus tiesvelos lodos se di- rigião a ella ; e t«!ndo-]lie . i)ara assim dizer, consagrado a sua existência, morreu, como tinlia vivido, no serviro da Academia, atacado de huma apoplexia fulminante, no Paço, onde tinha hido levar a Sua Magestade o Síir. Kei D. Fer- nando, nosso Augusto Presidente, huma representação da Academia. A Academia sabe que lhe deve muito, porque, não a esquecendo nunca, até a contemplou no seu testamen- to com a riquissima Collecção de Legislação Pátria Civil e lícclesiastica que possuia, e com huma collecção de 349 me- dalhas e diniieiros ; porém muito mais llie deve que imnca saberá. poPípie a delicadeza assim o exige. Funesto foi o dia II de Dezembro de lOao. Nelle j)erdeu a Pátria hum dos seus mais probos e mais iulelligcMites servidore.s , a Acade-- mia hum dos seus princi|)aes esteios, e eu hum dos meus mais antigos, e mais fieis amigos. A sua falta serií sempre chorada , e mui dilficilmenle suj)ritla. Perdemos tambcMii o Snr. Dr. José Bonifácio d'Andrada o Silva, Mineralogista respeitado em toda a l^Airopa , e hum dos ornamentos da nossa Academia tie quem foi Secretario. (.) esplendor dos grandes cargos a que os seus merecimentos o subirão não alterou a singeleza ilo verdadeiro sábio , lar- gou-os com desapego, |)ordro Lo|)es, e o Padre Joa- quim AUbnso Gonòalves, celebre Sinoloço. IJem qnizera eu inculcar .i posleridadé os mcircimcntos do (aiilos var("iés recomnuMidaveis por suas luzes; |)orèm cm- barga-mo a cstreit(>za dos limites em qne he forçoso conter- me ; c por isso restriní^i-mc tíío somente a noinea-los. IVlas de muitos delles proferir o nome he técef o èloçió. J Os nossos acdiaes Estatutos sé permiti em que se admit- títo para Sócios líonorarios os Príncipes daFamilia Real Por- tiiíjueza , e os Soberanos t I*rincipes Estrangeiros com quem a Academia quizer ter essa conlenq)laç;Tio. Em laes circuns- tancias não tinha escolha a Academia ; ])orqnc n;1o podia dei- xar de dedicar os seus primeircis votos a S. M. O Imperador do Brazil , a (|uom erào dcnidos pelos vínculos que o lij^íío ri Família Real Portufueza, c pelo amor que professa .-is Scien- cias ; e S. M. I. diiínou-sê acceilar o Diploma de Sócio Ho- norário que a Academia teve a honra de oflerccer-lhc. Para preencher os lufares vaços na Academia , e para dar a alg;uns sábios estrangeiros hniíi testemunho do valor em qne estima suas apjilicaçòes , eleíêrào-se Sócios Corres- pondentes os Senhores João Baptista da Silva Lopes, Fran- cisco Adolfo de Wirnhafíen ^ Francisco Freire de Carvalho , Dr. Vicente Ferrer iSeto Paiva, Joaquim Aflonso (jonçalves, Manoel Rebello da Silva , António de Castro, Dr. Àdriào Pereira F(Hjaz de Sain|)aio, e Conde de Lavradio; e para Só- cios lístrauiiciros o Barào W^alckenaer , Secretario j)erpetuo da Acailemia das Iiiscripções e Bellas í-ctlras no Instituto de França; Mr. Oersted, Secretario per|)etuo da Sociedad(; Real das Sciencias de Copenhague ; Mr. Burnouf, Membro do Ins- tituto »le França; 3Ir. Augusto Boeckh , Secretario da Aca- demia Ri^d das Sciencias de Berlin ; o Cavalleiro Costanzo Gazzera , Secretario da Academia l\eal das Sciencias de Tu- rim ; o Cavalleiro .\ées von Esenbeck , Presidente da Aca- dcMnia (,'arolina Leopoldina dos Curiosos da Natureza de Bresláu ; Mr. Moreau de Jonnès , Correspondente do Insti- tuto de França j e o Cónego Januário da Cunha Barbosa, « 3 ii XX HISTORIA t)A AÇkfiFMiA WAh Socreí$rio perpsíiie do Instituto Hifitorioo Qopgí-aplijco do' Brasil, Eis-aqui, Senhorps, a breve reseiiliA ;ua do Gerez j e a sua utilidade no curativo das moléstias. Em Veterinariaé A descripçilo das moléstias, que tem ultiniamonto ala- cado os ])orcos , e aljjuris outros aiiimacs , como bois, ele, e o seu melhodo curati\o. xxa HISTORIA DA ACADEMIA REAL Em Botânica. Mostrar se em Porfne-al oxislom mais planias do que aqnellas que (lescr(>vco o Dr. Brotero na FJora Lusilaiia, e outros quo tem viajado em Portui;ai ; sendo essas jílaul as clas- sificadas seijundo o inolliodo por ello seguido, coujur.clanien- te com as lamilias novamente adoptadas , a que ellas possSo pertencer. Em Hyrjienc publica. Mostrar praticamente se a revaccinaçâo he indispensá- vel nos vaccinailos, de])0Ís de certo periodo , e qual esse; tudo confirmado por ohs(>rvacoes feitas no nosso paiz , que não deixem duvida alijuma sobre a necessidade da revaccina- çâo , como ullimameuttí se tem aílirinado e contestado. PARA o ANNO DE 1844. Ètn Chiinicá ápplicada ás Artes. Huma analyse chimica da Urzella das nossas possessões ultramarinas , com a demonstração pratica da sua utilidade nas fabricas de tinturaria , comparada com a de Cabo verde Em Ayricullura. Designar os terrenos de Portugal em quG pode dar-se a Cochonilha do México , indicando as plantas oiiile se cria o insecto, com as regras instructivas ])ara a sua cultura, a fim de introduzir entre nós este ramo de industria agrícola, que já est.l adiantado na Ilha da Matleira. Descrever o metliodo de imitar o vinho da Madeira ^ Champagne , e de Xerez em alguns dislriclos vinhateiros de Portugal , fundado em experiências e observações pratica- mente adoptadas. I DAS SCIENCIÂS DE LISBOA. xiin Etn Mincrulotjia. Mostrar se omPorliigal cxislo o Asplialto srinellmiito ao Ho Sois.xí'1 , que o possa sulistitiiir nos usos «mu (jiie actual- iiieiito lin ap|)licailo. Dcscrijjção de novas minas do Carvão de pedra , de f|ue receiíleniente se tem achanda Publica ; e aqneiia (pie só deve re- ceber soldo em tempo de guerra ; designando também a or- ganisação que se ha de dar a hunia e outra, as relações que d<'v«Mn guardar entre si, e Iodas as mais circunstancias que fundamentem o projecto que se apresentar, e justifiquem a sua possibilidade c conveniência. Em Hyãraulica. Desie:nar, de <»ntre os trcs meios de manter navegável o Tejo até Abrantes (ÍMicanamenlo , Canal lateral, e Carreira no leito do rio) aquelle que se deve preferir; dando os mo- tivos da preferencia , tanto pelo que respeita ;í economia , como pela facilidade de execução: juntando hum orçamen- to , mais ou menos aproximado , da despeza que cada meio exigir. rARA o ANNO DE 1843. SCIENCIAS MORAES E BELLAS LETTRAS. Em Scicncias mo7'aes e politicas. Explicar pela historia politica, civil, e religiosa as cau- sas que concorrerão para a grandeza de Portugal, e depois ^ DAS SCIENCIAS DE LISBOA. xxv para a s\ia decadoncia ; marcando dislinctamente as épocas destas duas vicissitudes. Qual lie a base do melhor sysl.ema de Direito natural. . Hunia memoria sobre a importância das reiai^òes politi- cas de Portugal com o Império de Marrocos debaixo do pon- to de vista commercial ; e não só com este Império , mas também com os territórios do interior d'Africa, por meio das Cáfilas, que atravez do grande Deserto fazem a communica- ção entre os sobreditos (.erritorios , e o mencionado Império. E)n Historia e LitlercUuia. Hum exame cjuizo critico sobre o merecimento dos três escritores Jesuitas Portuguezes , JoJio de Lucena, Balthazar Telles, e António Vieira, em linguagem portugueza, histo- ria, e eloquência; e a vantagem que guardao entre si em qualquer destas trcs partes de litteratura. Huma descrip(^ão dos monumentos chamados vulgarmen- te Célticos, que existão em Portugal, designando as suas di- mensões, forma de construcção, e usos j)rovaveis. Huma historia succinta das controvérsias que tiverão Cas- telhanos e Portuguezes acerca das Molucas , tirada de docu- mentos authenticos. PARA o ANNO DE 1844. Scie7icias moraes. Examinar, em todas as suas differentes relações, as cau- sas e os elíeitos do edicto do Imperador Domiciano , man- dando banir de Roma os filósofos. Qual foi a natureza , e os elíeitos políticos da jurispru- dência dos antigos foraes. Bellas lettras. Determinar as interpolações que os Árabes fizerâo no texto da geografia de Ptolomeu. Comparar entre si as três epopéas portuguezas, a saber, a Malaca conquistada, o Affonso Africano, e a Ulyssea, esa- 2.* SERIE. TOM. I. P. II. » 4 5txvi HISTORIA DA ACADEMIA REAL minando-se analyticamente qual delias prefere vm pureza de frase, propri«»(lade de estilo, e desempenho completo das re- gras da poesia épica. Assumpto extraordinário. Determinar a influencia da NaçSo Portugueza nos' pro- gressos intollectuaes, e estado social e jjolitico da Europa. Este assumpto será premiado com ItíS^^Scoo rs. em obras da Academia > otíerecidas por hum Sócio que não quiz que se declarasse u seu uome. Assumptos fixos , sem limitação de tempo. A descripçJío económica e physica de alguma comarca, ou território considerável do Reino , ou Provincias ultrama- rinas. Fixar-se-ha á época por meio d'annHncios feitos nos pa- peis públicos, logo que algum concurrente mostre deseja-1» assim , apresentando íÍ Academia , em carta fechada , e sem declaração do seu nome , algum pequeno trabalho que indi- que occupar-se deste assumpto. O elogio de algum I'or(.uguez illustre. A historia philosophica do Reinado de algum dos Senho- res Reis de Portugal , comprovada com documentos authen- ticos. Huma tragedia Portugueza. - .-|íuma comedia de caracter em verso, ou em prosa. Assumpto fixo, sem limitação de tempo, e com pre- mio dobrado. Hum plano de canal pàrá aproveitar as aguas de algum rio de Portugal na irrigação dos campos , com as nivelações e cálculos necessários para verificar a sua exacção. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. ixvit Assumpto, sem limitacilo de tempo, e cotn o premio extra- ordioario de 400m , o primeiro de melhorar a condição dos defensores do Estado ; e de oíTerecer no segundo ao publico enião assustado pela existência da epidemia em Cadiz , al- guns arbítrios que lhe fossem profícuos ; não deixarei de particularizar as annotacões que leo nesta Academia ao esti- mável Ensaio sobre a Beneficência que o celebre viajante Alemão Conde de Berchtold nos deixou em testemunho de sua filantropia . e que ser.í o mais seguro penhor da saudade que todos os Poriuguezcs saberão conservar da sua memoria. Foi ilahi que tomou mais altos pensamentos , oflereoen- do-se :í Academia para a molesta e desagradável empresa de ir visitar as Cadeias do Limoeiro, a fim de se proporem os melhoramentos de que necessitava. Sc o Sftr. Alexandre An- tónio mostrou toda a sagacidade para desarmar as opposi- çòes e subterfúgios que lhe podesscm esconder a verdade , e conseguir realizar o seu exame : o modo por que soube di- aer o que se passava cm lugar tâo infecto e horroroso , será sempre hum titulo ;í gloria devida ao seu nome. O projecto porém que esta Academia havia tomado á sua conta de me- lhorar aquella habitação da desgraça , feneceo em flor : o es- t rondo ila guerra começou a soar mais de perto: e com o nosso illustre Presidente , nos arredou muitos benemérito? XXXVIII HISTORIA DA ACADEMIA RKAL Sócios : e as iHíTiciildadcs com que já enliio luctava a Aca- demia, como activo om lhe promover toda a casta de soccorros, no que despen- deu quanto lhe permitíia a sua escassa fortuna. 5íão farei cargo niiida de outros seus trabalhos Acadé- micos , como a organisação da Instituição Vaccinica , Com- juissão dos pesos e medidas , a que mui desveladamente se •ledicou, c reforma da suaTypografia, porque todas as incum- bências Académicas sempre o encontrarão de bom animo na >'ua execução. Tão eminentes qualidades, e o bom desempenho que ilesintcressadamente havia dado ao que lhe fAra ordenado por ordem superior , não erão para o deixar no laborioso ócio da applicação das sciencias : a causa publica 6 estava recla- mando; e o nosso Sócio successivamenle , alem do emprego de Guarda Mór da nossa Sociedade, teve que satisfazer ao de Deputado e Secretario da Junta da Direcção dos Provimen- los de Roca para o Exercito, Director da Junta da Direcção Ivitteraria na OíTicina Regia, Director das Reaes Bibliothe- oas do Kcal Paço d'Ajuda, Provedor da Casa da Moeda de DAS SCIENCIAS DE LISBOA. xxxix Lisboa , e fuialmente Monibro da Coniinissao da Divida Pu- blica : caia;os qu« aervio com aquella exacc^ão que era pró- pria do luim caracter pontual e fiel ás suas obrigações. Nilo perieiicoiido a<(ui declarar mais nada a este resiieilo , huiiia circunstancia se ollerece , que pelo rospeilo devido á sua Hieinoria , u;V> se deve oiniitir : tallo do desinteresse com que deixou de cobrar os ordenados tle Director da Biblio- theca d' Ajuda, e de Guarda IMór da Academia; aquelle por- que nSo lhe offercícia exercício , e este porque nSo satisfazia ;í condição das denionslrações publicas, e (jue a Academia não ))0!lia sustentar: exemplo na verdade bem raro. A lleli^ião , que tanio llie animava estes bons propósi- tos, veio fuialmente receber hum dij^no tribulo da sua litte- ratura, na empresa de traduzir a Traiicdia J'sllier de Racine em versu Portuguez , que ainda que fosse como cllc diz na sua atlvertencia, para mostrar perante a Academia que fazia diligencia para estudar a lingiui Portugucza , e que ella não cedia ás outras línguas em riqueza e elegância, o seu fim principal era decantar as maravilhas da Religião tão suave- mente celebradas pelo Trágico Francez. Aos esforços pois com que promovéo o bem do próxi- mo unia o Sur. Alexaiulre .\ntonio a mais extremosa carida- de, dando quanto adquiria nas esmolas com que, muitas ve- zes por hum modo engenhoso , ia dcsiiertaf a consolação ao centro da miséria que estava devorando famílias honradas e recoliiidas : neste ponto passou a actos de verdadeiro entlui- siasmo , como quando se despojou da própria camisa para a dar a hum necessitado : talvez isto seja entrar em miudezas excessivas, mas ellas vem honrar a humanidade. A concisão e clareza do seu estilo, e propriedade com que escrevia erão próprias da direitura do seu caracter, sem fasto, nem ostentação: alfavel no traio, e de suave e meiga conversação , era estimado de todos os que de perto o co- nhecião : com lastima geral delles , e de todos os que sabiào avaliar as suas virtudes, foi arrebatado da carreira brilhante em (pie proseguia aos 5 de Fevereiro de 1622, victima de hum atacjue apopletico , e que a melancolia que lhe desper- tavão as alllicçòes da j)alria talvez concilára. — Os homens iielle perderão hum bemfeitor : o Rei hum benemérito va.s- sallo : a I'atria hum dos seus ornamentos : e esta Academia o seu mais zeloso amigo , aquelle que outra cousa não to- mara a peito, senão os seus progressos e esplendor. A sua XL HISTORIA DA ACADEMIA REAL memoria vinculada com as mais úteis empresas desta Aca- ílemia sempre llie será saudosa , e pedia outro paneijyrista mais próprio do que eu ; mas o amor que consagro as suas virtudes , e distincto merecimento deixarão desculpada a in- sufficiencia com que hoje venho no seu sepuicliro expargir estas poucas flores , misturadas com lagrimas de huma justa saudade. Disse. ESTADO DO PESSOAL DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA EM 22 DE JANEIRO DE 1843. PROTECTORA SUA MAGESTADE A RAINHA A SENHORA ^ WfBPfM fl PRESIDENTE SUA MAGESTADE O SENHOR ■*»■*# -t "'c VICE-PRESIDENTE. D. ErancÍ9CO'de SL • Luiz , Patriaícha Arcebispo eleito de Lisboa. ?.i -•..:.. i" 2.''sERIli. TOM. r. P. U. « 7 XLn IVIEMORIAS DA ACADEMIA REAL SECRETARIO PERPETUO. Joaquim Jos(5 da Costa de Macedo. VICE-SECRETARIO PERPETUO. Francisco Elias Rodrigues da Silveira. THESOUREIRO. Wencesláo Anselmo Soares. GUARDA MÓR. Manoel José Pires. .... Aaío director da classe de scienclas naturaes", Luiz da Silva Mousinho d' Albuquerque. DIRECTOR DA CLASSE DE SCIENClAS EXACTAS. José Cordeiro Feio. DIRECTOR DA CLASSE DE SCIEfíÇIAS MORAES E BELLAS LETTRAS. Manoel José Maria da Costa e Sá. (*) SÓCIOS HONORÁRIOS. Sua Magestflde D. Pedro 11. , Imperadot do Brasil. Sua Alteza Augusto Friderico , \puque de Sussex. Sir Carlos Stuart , Conde do Machico, e Marquez d'Angra , em l^ondres. (») Os Olliciaes da Academia, í)ue dfependem d'cleição, luráo eleátos na 9cl- sã<5 dé Elíe^etiVdí áè 18 de Novembro de 1840. .VI .1 .1 .U-O-V .niíin ■ DAS SCIENCIAS DE LISBOA. xliii Sir Aitliur Wellesley, Duque da Victoria, e Principe de Waterloo , em Londres. .^^- D. Pedro de Sousa e llulstcin, Duque de Palmella , em Lisl)oa. D. Seii^ismundo Caetano Alvares Pereira de Mello, Duque de Lafões , em Paris. Filippe Ferreira de Araújo e Castro , em Paris. José da Silva Carvalho, em Lisboa. Silvestre Pinheiro Ferreira , em Lisboa. l''rancis(',o Furiado de Castro do Rio Faro e Mendoça , Con- de de Barbacena , em Lisboa. António de Mello da Silva César e Menezes , Conde de S. Lourenço, em Lisboa. D- Diogo de Menezes Ferreira d'Eça, Conde da Louzâ, em Lisboa. SCCIOS ESTRANGEIROS. Barão Walckenaer , Secretario perpetuo da Atíademia Real . das Inscripções e Bellas Leltras , no Instituto de França. Mr. Hans Christian Oersted , Secretario perpetuo da Socie- dade Heal das Scicíncias de Copenhague. Mr. Burnout", Membro do Instituto de França. Mr. Auiiusto Boeckh , Secretario da Academia Real das Sciencias de Berlin. O r.ivalleiro Costanzo Gazzera ^ Secretario da Ácademiii Real das Sciencias de Turin. O Cavalloiro Nées von Esenbeck , Presidente da Academia Leopoldina Carolina dos Curiosos da Natureza de Bresláu. Mr. Alexandre Moreau de Jonnès, Correspondente do Insti- tuto de França. O Cónego Januário da Cunha Barbosa , Secretario perpetuo do Instituto Histórico Geographico do Brasil. * 7 u XWV HISTORIA DA ACADEMIA REAL SÓCIOS ÈFFECTIVOS. Na Classe de Scicncias Nalufaeí. Francisco Elias Rodi'Í2;ues da Silveira > Decano da Clasate , e Vice-Secrelario perpetuo da Acadeniia , em Lisboa. Ignacio António da Fonseca Benevides , em Lisboa. Francisco José d'Aimeida, Barão d'Aln)eida, em Lisboa. AVencosláo Aiisehno Soares , Thesoureiro da Academia , eln Lisboa. António Lobo db Barbosa Ferreira Teixeira Girão, Visconde de Villarinho de S. Romão , servindo de Directur da Clas- se , em Lisboa. Francisco Soareá Franco j, em Lisboa. Luiz da Silva Mousinho d'Albuquerqufei Director da Classe, cm Lisboa. Guilherme , Barão d'Eschwege , em Lisboa. Na Classe de ScienciaS Exactas- Matthens Valente do Couto , Decano da Classe , em Lisboa. Marino Mij^uel Franzini , em Lisboa. António Diniz do Couto Valente, em Lisboa. José Cordeiro Feio , Director da Classtí , em Lisboa^ António Lopes da Costa e Almeida , em Lisboa. Francisco Pedro Celestino Soares, em Lisboa. O Dr. Filippe Folque, em Lisboa. Fortunato Josò Barreiros , em Lisboa. Na Classe de Sciencias Moraes e Mellas Letlras. .loaquim José da Costa de Macedo , Decano da Classe , e Secretario perpetuo da Academia , em Lisboa. D. Francisco de S. Luiz, Patrisrcha Arcebispo eleito de Lis- boa, Vice-Prcsidente da Academia, em Lisboa. Manoel José Maria da Cosia e S;í , Director da Classe , em Lisboa. Manoel Jo.sé Pires , Guarda M6r da Acadt>mia , fem Lisboa. José Liberato Freire de Carvalho , *m Lisboa. DAÍ5 SÇIJ5NÇIAS PB IJSBOA. yj-v sociíQS Livnus. Joaquim de Santo Agostinho de Brito França Galvão, el» Lustosa. Francisco Vilicla Barbosa, JVÍafquçz d© Paranaguá, no Rio de Janeiro. Alexandre António Vandeili, no Rio dç Janeiro. Vicente Navarro dAndradS: Barão d'Iuhoinçritn , çm Paris. D. Francisco Alexandre i-obo , Bispo de Viseu, em Pariç. Joflo da Cunha Neves e Carvalho , em Lisboa. Manoel Francisco de Barros e Sousa de Mesquita de Macç- . do Loitiio a Carvalhosa, Visconde de Santarepi, em Paris. FrancijiCQ Ignacio dos Santos Cruz, Substituto dEffectivo na Classe de Sciencias Naturaça , em Lisbo*- António Maria da Costa e Sá , em Lisboa, ('arlos José Pinheiro , fora de Lisboa. D. Francisco Maldonado dAzevedo dá Gama Lobo, em Lis- boa. D. Joaquim José António Lobo da Silveira Quaresma, Con- de d'Oriola , em Berlin. João Theodoro Koster, em Londres. Bahhasar da Silva Lisboa, no Brasih iF-^rÍp"^ o>rt. Vicente Gomos da Silva , no Brasil. P. Forlutiaio dç S- Boaventura, fora do Reino. O Co/ide Cavalleiro Jacob Graberg de Hemso, em Florença. José Romer Luiz, Visconde de KirckhoíT, em Anvers. Joaquim Pedro Cardoso Casado Giraldea , ero Génova. P. Elas M;irtinez, em Pamplona. Pedro IMachado d^ Miranda Malheiro, no Brasil- Roquo íjchuçh , fòrá do Reino. José ViUçhi de Barros , no Brasil. João AdamsQn , em Londres. Ciiristiauo Martinho Fraehn, em St- Petersbourff. Jose Ljuo Coutinho , no Brasil. José Feliciano Feruandçs Pinheiro , Visconde de S. Leopol' do j no Brasil. Pedro Silvano Duponceau, em Philadelphia Jorge Tichnor , Esq.', em J3oston. L sclvi historia da academia real Augusto Sainl-Hilaire , em Paris. D. .losé Pavon, em Madrid. Mr. Mablin , em Paris. Tlioniaz Moorc Mtisgrave, cm Londres. I.,ambort Adullo Jac(jués Quelelel, em Bruxellas. Carlos iMidciico Filippe de Martius , em Muiiich. Uarão de Morooues , em Orleans. Mr. Francocur , em Paris. Carlos Purton Cooper , em Londres. Sir Guilherme Betham, cm Dublin. ]\Iarcos Anlonio Jullien, em Paris, A^osliidio Albano da Silveira Pinto, eiti Lisboa. Mattheus Valente do Couto Diniz , em Lisboa. Evaristo Jusé Ferreira j em Lisboa. Joào de Fontes Pereira de Mello, em Lisboa. António Albino da Fonseca Benevides , Substituto d'Effe- ctivo na Classe de Scieucias Naturaes , em Lisboa. Francisco Recreio , em Lisboa. BÓCIOS CORRESPONDENTES. Bento Affonso Cabral Codinho , em Évora. José Avelino de Castro, no Porto. Manoel José MourSo de Carvalho Azevedo Monteiro, na Mealhada. Ca(;tano Arnaut , ém Cliacim. João de Macedo Pereira da Guerra FotjaZ, em Castéllo branco. Bento Alvares de Carvalho , no Porto. Joaquim José Varella ^ em Montemor o novo. Francisco António JMurques Giraldes Barba , em Lisboa. Joaquim Eustachio d'Azevedo Franco, na Azambuja. Ai^ustinho de Mendoça FalcSo , lora de Lisboa. António Feliciano de Castilho , em Lisboa. José Luiz Gonzaga de Sousa Coutinho Castello-bránco e Me- nezes, Conde do Redondo, em Lisboa. Francisco de Queiroz Pinto , cm Braga. Augusto Xavier da Silva, era Lisboa- José Joaquim da Gama Machado, em Paris. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. XLVII Joaquim Luiz da Cruz , fura de Lisboa. Isidoro Jaciníiio Mairo , em ]'"raiK;a. D. Tlicodon» Monlicoiii , em Nápoles. Jriiu) |}a|)li.sla da Silva Lopes , em Lisboa. l'Vancisco Adolfo de Vanihagen, em Lisboa. l'"raiicisco Freire; de Carvalho , cm Lisboa. Vicente Ferrer Neto Paiva, em Coimbra. Manoel Kebello da Silva, em Lisboa. Anionio de Castro, em Lisboa. Adrião Pereira Forjaz de Sampaio , em Coimbra. D. Francisco d' Almeida Portuj^^al , Conde de Lavradio, Cm Lisboa. isnoms^i DA [Mim «Uni% «•••^^9^39pa^^9'^>4 **•>"**'*'**** CLASSE DB SCIENCIAS MORAES E BELLAS LETTRAS. 10 MEMORIA SOBRE A INSTITUIÇÃO DA ORDEM MILITAR DA ALA, ATTRI- BUIDA A ELREI D. AFFONSO IIENRiaUEZ. POR D. FRANCISCO DE S, LU1%. XVEFEREM muitos (los nosso3 cscripLores, que depois tio cá" so de Badaji^z , em quo eIRei D. AtíTouso Heniiejuez loi njiri- sionado por oIRei de Leão, o o seu exercito derrotado, to- mando os Mouros grande ousadia por esta adversidade das armas portug-uezas , vierão mui poderosos e soberbos sobre Santarém , aonde elRoi estava , e lhe poserào cerco : mas que saliindo elRei D. AlTonso a cUes , o sendo yisivelmento auxiliado ilo Coo, no combale, pela apparição de hum bra- ço alado , que elle julgara ser do anjo S. iMigucl , os vence- ra , e destroç.-íra ; e que em memoria deste prodigio insti- tuíra logo a Ordem mUitar da Ala. Esta hc a substancia do facto, quo anda na nossa histo- ria , e sol)re cuja verdade e existência se nos oflereccm al- gumas duvidas, que inleiílamos expAr neste breve discurso. Mas para melhor iiitelligão , accommetlera e derrotara os Mouros etc. Este escriptor tam- bém não lala da milagrosa a])pariçí!o do braço e aza do san- to arcanjo, nem da insliluirào da Ordem da Ala; nem tam- pouco se lembra delia, quando mais adian((> reiere as outras Ordens militares, que elRei acollieo oniustiluio no seu reino. Duarte Nunez de Leão também reiere o caso de Bada- joz ao anno de 1179, e logo cojitimia dizendo, que Alboja- que. Rei de Sevilha, animado com este infortúnio do monar- ca portuçuez , viera com grande poder de i;ente cercalo em Santart^m , aonde se achava , e que enlâo viera também el- Rei de Leão em auxilio dos Portu^juezes ; mas que elRei D. Aflbnso, antes da chegada do Leonêz, sahira centra os Mou- ros , e os derrota'ra. E este cerco de Santarém (diz o chronis- ta) /oi no anno de 1181, sendo elBei de C(i annos. Refere de- pois o outro cerco de Santarém de Il!l4; mas em nenhum clelles fala da instituição da Ordem da Ala , nem do milagre <]ue se snppõe haver-lhe dado occasião. Fr. Bernardo de Brito, nos Ehxjios , diz que elRei D. Aflbnso Henriquez , junto a Santarnn , rompeo a Alharaque , Rei de Sevilha , on halrdha campal , com favor de S. Alipiel , ( do seu anjo da f/narda, em cuja lembrança insliluio a caved- laria da Ala, na forma (diz) que já contei na chronica de Cis- ter. Nesla Chronica tinha Brilo lançado o documento da sup- posta instituição e estatutos da Ordem da Ala, achado por elle no cartório de Alcobaça , donde parece colliiíir-se , que foi Fr. Bernardo de Brito o primeiro, que iiitroduzio esta no- ticia na nossa historia. Manoel de Faria e Sousa põe o caso de Badajoz aos 75 annos da idade de elRi^i D. Affoiiso , que era, ))ela conta delle , o anno de 1)69. Diz que este infortúnio de elRei de- ra ousadia aos Mouros, e que Albojaque , l\*ei de Sevillia, o viera cercar em Santar('*ni , tendo elKci então 06 annos de idade , que vem a ser pela mesma conta do escriptor no an- \ DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 3 no de 1180, onze ou doze annos depois do succesgo de Ba- daj(5z. Acrescenta, que elRei fôra no seu carro dar batalha aos Mouros , e que os derrot.ira , etc. Immediatamenle refe- re o outro cerco de Santarém de 1185, o mais adianie, em outro lugar, diz que eIRei D. AfTonso fundou a cavaliaria de Évora , e a outra da Ala , em memoria do successo de Albo- jaque, o do braço alado, que então vio em seu auxilio, mas que esta, por falta de rendas, acabou com os primeiros que a professíirúo. Manoel Soverim do Fiaria, nas Noticias de Portug. , Disc. 2. § 17 , tratando das ordens militares em Portugal , e tendo falado da de Avis, que elle julga ser a mais antiga do reino, diz, que elRci D. AfTonso iiistituio outra milicia no anno de 1169, em graças da victoria qu<í alcançou , por mão do anjo S. Miguel, no campo de Santaróm, de Albaraque Rei mou- ro de Sevilha, que o tinha cercado com grande exercito, co- rno se conta (diz) larffamente nu 3." P. da Monarq. Lusit. E logo acrescenta, que destes (cavalleiros da Ala) e dos primei- ros que instituíra (os de fCvora, depois de Avis) fizera eIRei hum convento em Évora no castello antigo , dando-lhe por orago o arcanjo S. Miguel , etc. Mr. de la Clede , na Hist. Qtnér. de Portug. liv. 6. , põe a batalha de Badajoz em 1168 : refere, que a victoria ahi al- cançada por elRei de Leão suscit.-íra contra elRei de Portu* gal os Mouros commarcãos , e que Albaraque , Rei de Sevi- lha , viera com muita gente , atravessando todo o Alemtejo , e posera cerco a Santarém , sendo elHei D. AfTonso Henri- quez de quasi 88 annos (que pelo calculo do escriptor vem a dar no anno de 1131 ou 1182, treze ou quaforze annos depois do successo de Badajoz); e acaba dizendo, que eIRei lhes dera batalha, e os desbaratara, e que passando a Alcobaça, aonde esteve hum niez em exercícios de piedade, instituirá então a ordem da Ala , por huma visão . que tivera na bata- lha. D. Thomaz da Encarnação , na Hist. Eccl. Lusilan. Sec. 12. cap. õ. § 2. refere a instituição da ordem ao anno 1167, por occasião da recente victoria , que elRei milagrosamente alcançara dos Mouros com o auxilio de hum braço armado, e alaao , que o ceo lhe enviafa, tendo elle invocado o favor dos santos anjos , e especialmente o de S. Miguel : e diz que depois da victoria fAra elRei a Alcobaça e instituíra a or- dem : e tendo copiado o titulo da instituirão, e os estatutos, A 2 « MEMORIAS DA ACADEMIA REAL concilie com dizer, que a ordem se cxtiiTSfuíra jior falta de ri'ndas " ordo islc omnino cxiinclus est , (piod reyiis donationi- bus iion esset diltitus. " iMnalmenLe Joào Ba|i(is(a de Casiro, iio Hínpjm de Por- Htf/al , diz que a ordem da yjza de ò'. Mújuel foi insliluida por cíRei D. Jifonso Hoiriquez no aiino de IK;?, em jiicolmça, tm memoria de ser C(i)ioraneas , ó\x quasi contemporâneas de elKei D. AfVonso Henriquez, as quacs fa- zem mençào dos principaes acontecimentos gloriosos a elRei c aos Portuguezes , e nào deixào de referir os qiie talvez j)a- recerào milagrosos. ' '' Bem vemos que he este argumento hum dos qne clia- mão negativos, e que por esse motivo jwder.í parecer ineífi- raz contra o facto positivo da instituição da ordem da Ala, maiormente em presença de hum documento, que trata da mesma insliliiição. e expõe os motivos delia. Mos, ;ílem do que loco dire]nos acerca do documento, não jiode deixar do j)otar-se com alguma admiração, que hum acontecimento tão extraordinário pelas suas circunstancias, tão glorioso aelReí, e que deo occasião ;í instituição solemne de luuna nova or- dem de cavallaria , não merecesse aos autores d'aquel]as an- tigas chronicas menção alguma, e que os primeiros chnmis- las dos tem|)os mais Jnodernos também não achassem memo- ria, nem informação de tal aconteciniento ,'Óu o nSo júlgas'- sem (lii,'uo do se referir. - ■ ■ ' • ■ ' > <> Hum dos escript(>res,'-iqBi8 citartíòs^ jiarerh "que quiz des- vanecer dt! alffum modo a r>straidreza deste silencio, e A ou- lc4. que rcsultji jda. prompíaé.xtinci^ão da ordem , ajuntando DAS SCIENCIAS DE LISBOA. \ 011 coiifiindinda ()^; cavalloiros da Ala com os do Évora (que dopoiti sn oliain irão de Avis) ; porcjue diz, que de huiis e de outros se forin;íra a cavaliaiia d»; livora , olc. Mas esta opi- nião, que lie moderna, o singular, e labora em outras diíTi- cuidades insuperáveis, exoila-iios a reflectir tauibciu sobre outro silciicii) \uo menos osl ranho o in\erosiinil que o pri- meiro, e he o f|ue se obs(írva nos mais antigos litulos da ca- vallaria de ÍCvora, aonde se não acha inencfío alguma dos ca- valloiros da Ala, como naturaimojite se acharia, se ostes ti- vessem entrado na fundação, ou feito parle dcUa nos ::Cus princípios. A seíTunda duvida que se nos oíTerecft he a prompta ex- tiricrão ihi orilcm da Ahi , tendo s.iilo criada por tal Hi-i , e j)or.l.al motivo, iraria e Sousa, que ;icaso nolou csla invero- similhaiiça. pretende occorrer a ella com dizer que a ordcnt acnhou pur falia de rendíis , com os primeiros , que a professa- rão. Mas este descarte au^inenla mais a duvida, em ligar «le a desvanecer: porqut; he incrível, he moralmente impos- 8Ívcl , que eJKei D. .\ll"onsõ Henriqur-r , de quem dizem que estabeleceo, e começou a dotar os cavalleirosdc Évora, e que sem duvida acolheo , e lani'>ein dotou os de Santiago, os do Templo, e os do Hospital de S. Joiío, que erão ordens estrangeiras, ilei.vasse de at(.ei]d(?r com is;ual ou maior ger.e- rosidade a Imma ordeni de sua j)roj)ria fuudaç.níú , emj)enho, e devoção, e de tal modo se houvesse com ella, que porfal- ta de rendas viesse a íIo todo se extinguir logo no seu prin- cipio . e com os primeiros que a professarão- E esta iiiverosimilhança he tal , c lio palj^avel , que a ella quiz provavelmente occorrer, como já dis.emos. o <íuuto .Stjvcrim , julgando m(Mios iaconí;e(]iiente , ou monos digno de reparo querer elRei unir em huina só as duas ordens, do que deixar e.\tiuguir huma delias por falta de rendas. IVIas j;cm com isto ri.uioveo a ditriciiidade : porque a cavallaria de Évo- ra, ou de .Vvis, segundo opinião de escriptore.-i nossos, foi fundada pelos auiuis di' l\4J, ou 1147, reiluzida a forma re- gular coin estatutos em 1 162, e trasladada a Évora, logo que ■esta cidade foi conquistada em lltíU,(») E tudo isto he ante- (•) ' 1^ fit-' : liiqui ilizfiiifK (!.•» cavnllaii^ j e;iTÍpJor.ts 6 que cites mosiiioà aifirniào, e ti;in por cerlo, ailiJa^ue ■j'ar*- piMW túia ftíjii; ■ Afóslráiiioi a. ihcoliifrciioJa com iiuc tllci lalàíii. . -^ i.. 6 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL rior ao anuo de 1167, em que he datado o supposto titulo da fundação da Ala. Pelo quo não he crivei, quo clRei fun- dasse esta nova ordem com tanta solemnidade para loco a hir unir á outra, e a unir de tal modo, que delia não ficasse nem o nome, nem a insígnia, nem a invocação, nem outro alsíum vestígio. A terceira duvida, que se nos ofTerece , resulta das va- riações e incohercncias , com que os escriptores se explicão sobre a época e circunstancias desta instituição. Faria e Sousa , e com ello Mr. de la Clede põem o cer- co de Santarém por Albojaque em 1181, ea essaéjioca attri- buem o milagre, que deo occasião ;í instituição da ordem da Ala. Mas primeiramente, este cerco de 1181 não consta de memoria alguma antiga, e parece ser mera equivocação , ou confusão nascida, ou do outro cerco do 1184, em que os Mouros forâo desbaratados , ou das duas grandes invasões que elles llzerão em 1179 e 1180, na primeira das quaes po- serão cerco a Abrajites e forãó repellidos , e na segunda ca- hírão sobre Coruche, e destruirão o seu caslello. Seja porém o que for, e ainda suppondo que houvesse os dous cercos de Santarém em 1181 e 1184, a nenhum destes annos se pode attribuir nem o milagre , nem a fundação da ordem , porque a supposta instituição he datada da era 1205 , anno da era vulgar 1167, quatorze annos antes do imaginado primeiro cerco de Santarém , e desasete annos antes do segundo. Estes escriptores caheni ainda em outra inconsequência ou contradicção , e vem a ser, que pondo o infortúnio dos Portuguezes e de elRei, acontecido em Badajoz, no anno de 1168 ou 1169 , e attribuindo a este mau successo a afouteza dos Mouros, e o cerco que vierão pôr a Santarém em 1181, mettem entre hum e outro facto o intervallo de doze ou tre- ze annos , que era tempo mais que bastante para os Mouros terem esfriado do seu primeiro ardor , e ousadia , e para cl- Rei D. Affonso se haver reparado da precedente quebra, e os esperar, e repellir com vantagem. Manoel Severim de Faria (ed. de 1791) diz que a ordem da Ala fora instituída cm 1169 em graças da victuria alcança- da por elRei no campo de Saniarím , etc. Mas lambem esta época se não j)ode sustentar de maneira alguma : 1 ° porque a instituição da ordem he dous annos anterior ao de 1169, conforme o titulo que se nos dá por primitivo: 2.° porque não lemos coticia alguma de victoria , que elRei alcançasse DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 7 fios Mouros no campo de Santarém, nesse anno do 1169 : 3.' porque esse próprio anno foi o da desgratja de elRei em Ba- dajoz , succedida antes do moz do Julho. KlRci esteve ])ri- sioneiro até Setembro, e em Novembru estava nas caldas de Alafões ; pelo que iiáo tica tempo bastante (ao (|ue jjarecej para clllei receber os Mouro.s em Santarém, darllies batallia e vencclos, passar a Alcobaça, aonde esteve (dizem) 33 dias em exercícios esj)iriluaes , e fundar no lim de tudo isto, e ainda na tnestiw anno, a ordem da Aia. João Baptista de Castro parece que atlvertio em toda-s estas incolierencias e contradicções, e que tentou corlar o nó, que não sabia desatar; porque, pòc a fundação da ordem em 1107 conforme o documento; mas deixa em silencio o cerco de SantiriMU de llii9, ou de 1188, e a victoria de el- 'Jiei contra Albujaque , e vai buscar a conquista de Santa- rém , que suppoe ser cio 8 de Maio, dia da ap|)arição do ar- canjo, ctijo poderoso braç't (diz) cohei'lo de hiinui aza foi visto pclrjar em ílefeza de cLRci. O escriptor porém foi mui j)ouco feliz nesta sua nova invenção. I .° porque Santarém não foi conquistada aos ^Mouros no dia 8 de Maio, e nem mesmo he certo que o fosso no mez de Maio. 2." porque esta cofiqnista flão foi, como o escriptor .suppõe, em 1167. inas sim em 11-17, « não parece verosímil que elHei instituísse hunia ordem mi- litar em memoria dessa conquista, vinte annos depois du siic- ccsso. ;}.° porque o documento da instituição diz ex|)ressa- niente (jue elKei estava em Santarém com pouca af^ e isto sup- poe (pn^ a villa era tle elRcí, e estava por elle, e elle den- tro delia , (.' não ((ue hia conquistala. 4.° finalmente , porque nenhum dos nossos escrij)tores antigos ou modernos, faz men- ção de milagre algum, que acontecesse na conquista de San- tarém , nem de hatalka campal, (pic então houvesse: e a in- stiluiçào tia ortli-m da .Via su|)|)ne cxpressamenlt! huma bata- lha cam|)al, a hum milagri; \isi\el, com (pie o ceo favoreceo a elllei no <;ombale , e diz que em memoria delle se fundara a ordem , etc. Emfim , que são tantas as inverosimilhanças , inconse- quencías , e anachrunisnnjs que os nossos cscriptores accu- muião sobre este facto , e sobre a «.>poca em (pie o suppòem acontecido , que parece dillicil não o ter por iabuloso , por- B MEMORIAS DA ACADEMIA REAL que só as fabulas mal inventadas , e mal tocidíis costumito trazer de companhia tantos erros e tantas contradicc-òes. Mas acrescentemos ainda huma rellcxão geral. QuasL lodos os escriptores , que falrto íla instituiçiio ila ordem da Ala, a attribuem ao milagre acontecido, quando Albnjame veio cercar elRei em Santarém, e qnasi todos dizem ijue es- !♦' cerco foi consequência da afoutezá , e ousadia , que 03 Mouros concebèrAio, vendo elRei aj)risionado em Badajoz, e o seu exercito desbaratado. Log-o o cerco , o milagre , e a instituiçSo devem ser posteriores ao caso de Badajoz : e co- mo este foi indul>itavelmente cm 11()9, claro está, que a or- dem da Ala lia\ ia de ser instituída depois deste anno. Mas a data do docuinenio da institnição lie , como j;í notámos, o anno 1107 (era 1206), anterior dons annos ao referido caso de Badajoz : pelo que , ou se ha de dizer que a instituiçiiío ^a ordem se referio a hum milagre futuro ; ou se hão de ai* terar todas as circunstancias de que ella se reveste ; ou em fim se ha de inventar outro cerco j)o£to a Santarêui antes de 11G7, e outro infortúnio de elRei, que desse aos Mouros ou* sadia para o virem accommelter. E não se diga que tudo poderia succeder antes da bala-' lha de Badajoz , e que os escriptores se enganariSo nesta pe- culiar circunstancia: porque elRei mesmo, no suppo.sto ti* tulo da instituição da Ala, diz j que estando no combate, e vendo tomada pelos Mouros a sua bandeira, saltara fora do carro, em que andava (dcsilit de curruj , e a pé se mettera na peleja. Esta circunstancia de andar eiRei e7n carro, e não a cavallo , he manifestaniente aiUrsiva ao que geralmente se cré, que cl Rei depois do infausto successo de Bad/ijòz minca mais cavaUfára ; e até pode ser, que a expressão se introdu- zisse de propósito no documento para confirmar isso mesmo , presumindo-se por ventura, que com o artificio, ou fingimen- to, que attribuem a elRei, de não tornar a cavalgar, se re- balião, ou se frustravão as pretensões dos Leonezes , ou se tornavão inúteis as imaginadas promessas de vas.sallagem. Falta-nos expor por fim as duvidas, que ao ler o docu- mento da instituição nos occorrèrão sobre a sua authentici- dadf, no (|ue não entramos sem algum receio, por qnam dif- iicil he ajuizar da legitimidade dos antigos documentos , e negar-lh(\s fé e assenso sem gravíssimas e bem provadas ra- zões. Diremos coniludo francamente o que se offereceo ao nosso espirito, sem interpor juizo algum decisivo , e deixan- I DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 9 do ao leitor a |)lena liberdade , quo a este respeito lhe coni' pete. O documento foi publicado por Rrilo na Chronirn deCi.i- tn- L. 5. cap. ly , e vem copÍ!i> na Hi.sl. Ecclcii. ImsíI. de D- Tliomaz da l'wicarnaç;'io . no his^ar acima apontado. Logo ao primeiro e simples aspecto deste documento nos fez alu:uma eálraiiheza , cpie hum diploma, em rpie el- Rei, por moti\os irio relevantes, iiislidiia liuma nova ordem militar, com conselho c lUlil/cracáo do ahLddi- de Al(-oliuça ^ de muitos moii(/es dat|uella Rr.-al caza, e dos oraiides da sua cor- te (et nostrue Curiue RcclonanJ, se achasse, ou venha copia- do com a só data da era (era I20ój , sem especilicacào de dia e niez . sem desiy-nação de conlirinaiiles ou testemunhas, s(nn sinal |)iit)lico ou stíllo , sem as comniinaç<"Íes ^ e execra- (^•ões ct)stiinia(lafl n'a(|uelles tenijios , c linalmcnte sem outra alíiuma das lurmidas, ou soleuuiiilades com (jue se costuma- vjio authenticar os documentos, ainda os de muito menor im- portância , e interesso publi<;o. Também nos fez novidad(i e estranheza a primeira clau- sula do documento << In Dei nnmine , .S'. Michaelis Archnntfe- li , et S. yliK/eli Caslodis '■> aonde se pòe na mesma Unliu , c quasi iíj unidade , o Nome de Deos com o dos SS. anjos: por- quanto, tiMido nós visto alirumas cenlenas de documentos , iiào nos leiniira ter achado hum só , em que se tizesse a es^ pecie de mistura, que a(|ui \(Mni>s praticada («). Eulrando mais na siibsí anciã do documento, pareceo-" nos diuno de nota, (pie elRei D. Allonso llenriqucz, estabe- lecendo de novo huma ordem, contraria, ou sociedade reli- giosa fijuandani Jrulernitalcni mililum . . . unum, ordinem et societfiliin niililiiinj, lhe desse leis, e [(rescrevesse rezas, ele. sem fazer menção alauma de presente ou futura conlirmacão apostólica, ou i'piscopal . qile parece s(> dí-via pedir, ou esr perar para(jue tal inslituiçà(j tivess»; validaile. E isto nos pa- rece ainda uiais notável, (piaiido reflectimos, que criando el- Rei (como se quer suppòr) , cinco atnios antes, outra nova (•) Nos diiciinienlua uiitl,t;oj actiuniiH a cada passo •• fi> Dei nnmine •< Iií nomi- ne JJtnnini- In itominc S. 'i( iiuliokliMe 1'rinilittis " In namitie I'. <■/ F. et Sj). fi.x Jtt C/iristi iiomine :• In iioin, D. i\'.J.(.'hr. etc Acliauiuj tanibcni alguiiiiid ■\'fizei •< Tri Dri nomine , il In honnt'c .S'. Míiriíu /'. , OU S.S'. aposlolorum , ou HS. tniyi l<)rU!ii , ou S'weli N. <■(>■. Iiirocnttrin o nome tie Doos , e dando honra aos san-' tos. Ma.-; invocar o noaie d« Metyi , e o do^ Santos , ou anjiM , rrn igual caltijoria , iiào o ttjuios adiado senão neite documento. •2.' SKRIE. T. I. V. II. lí lo MEMORIAS DA ACADEMIA RIÍAL ordem tlé oavallaria (;i do Évora"! , o ((iu'i'(!iido dar-llio leis e pslatnlos, imocoii para isso a aiiloridaiU» do i'oii(irice, ou do st;u loi;as(raidio ainda nos parocOo ; 1.° rpio rlRoi dósáe ao abl)ad(^ do Alcobaça jurisdiccàO sobro os cavalloirosj e poder, não só do os rej)re!n'ndor. mas também de os excom- muníiar (poterit illos excommunicare ) . i." que vedasse aos cavalieiros as se()im(kirdeiro do primeiro mairimonio. 3." s civis ou niililarcs, as intenções, com que elle vinha. Ultimamente pòe o remate ;í inverosimilhan- ça o dizer-se , que elllei D. AlTonso , já depois de vencidos os Mouros , ainda ignorava as intenções do Leonês , e ainda se preparava jiara dar-lhe batalha . quando em fim lhe con- stou ([ue elKci de Leão vinha como ami^o e auxiliador, e cpie sabendo {pie os fllouros licavão vencidos , hia já de vol- ta (s(>ui mais ccremonia) para os simis estados ! Todas estas estranhezas , e ainda algumas outras que aqui se ommittem , nos inspirarão ali^um escrúpulo sobre a authenticidade do diferido documento; e ajunlando-se a isto o silencio tios nossos escriptores mais antig-os , a prompta e iuverosiniil extincção da ordem ressos , qiit' pod<'inos lia\ ci" ;í ni;io . á fazem remontar aos primeiros aiinos do mesmo século Xlí. da Era Christã. IVlunidos de avultado numero de testemunhos, (pie hu- ina aturada diliicertcia cliesfou a subminislrar-nos sidjre o as- stimiito, iiào lH'siir!mos em ooordenal-ns em forma de Memo- ria , a qual ortferau^m&s i A«adeiiiii» Roa^ das Sc-ienciaít de 14 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Lisboa, de qiip (rnios .1 lionra de sor Sócio; a fim do qiio ol- ia faça do trabalho por nós oUerecido o uso, que enlonder mais conveniente , na certeza do que noilo não levamos em vista outro fito, que não soja a çloria da l'atria, que nos vio nascer, desenterrando dopo do esquecimonio antigos bra- zõps do seu esclarecido nome , que a bom conhocida e j)ro- vorbial incúria dos seus iiaturaos tom deixado jazer desco- nhecidos e como mortos. Entrando pois já nas j^rovas das duas partes jirincipae^, que constituem o objecto da presente Memoria ; dej)ois de trabalharmos jior mostrar, que as datas da ap|)licarão da pól- vora á Artilharia romontão na Hospaidia, o soguiilaniente em o nosso Portugal tão longe, como tomos indicado acima, e não a huma cpocha tnui próxima ao tempo dos FilipjKs , co- mo ha pouco se escreveo , e imprimio em Lisboa ; mostra- remos também ; que somente volvidos muito mais do conto o cincocnla annos , foi que huma tal apjjlicaçào começou a ter uso entre as outras Nações da Europa , com quanto al- gumas delias se achem hoje muito mais adiantadas em difie- rentes Sciencias , Letras , e Artes , que Portugal , ])or des- leixo e incúria nossa. Dilferentes passagens, extrahidas de Autores de reco- nliecido mcrito litterario , as quaes serão corroboradas com todos os mais documentos , que huma curiosa investigação pòz ao nosso alcance , subminislrar-nos-hão argumentos em confirmação das três Proposições, a que pretondomos dar al- guma luz nesta Memoria : 1." Que a applicação da jiolvora ;( ArUlharia remonta nas Ilespanhas om geral a huma data muito anterior ácpiella , a (pio anda vulgarmente attribuida; isto lie , remonta quasi aos princípios do século XII. da Era Christã : 2.'' Que a mesma ap|)licação se achava já usada, sequer com grande probabilidade , em Portugal nos fins do mesmo século XII. , o sem ihnida nos fins do XIV. 3." Que o emprego da Artilharia só comoçou a ter logar entre as ou- tras Nações da Europa longo tempo de|)ois de haver come- çado o seu uso na Ilespanha, e om Portugal. 1.' PROPOSIC.\0. A noticia mais antiga, que havemos encontrado do uso da Artilharia feito em Hesi)anha por (.'hristãos contra Maho- metauos, pertence aos principios do século XIÍ. , e acha-se DAS èiírÈN^tííÀS DE LISBOA. 15 cònsi^^nada na iniiilo iriiportan(ó obra , qiip (em portilulo: Historia f/f la ãmninacion de los Avalies en Espana, cuinposla pelo Dr. D. José António Conde . discipulo oiilr'ora tio noá- so illnstre Consócio, ha niuilo fallecido, Fr. João de Sousa, e jjublicada no anno do 1820. Nesta Historia, refcriíido-sc o Antor ao anno 1110 da Era Christã , na qual os Cliristãos (oníiírào Saragoça, dolen- dida pelo liei Mouro Aniad-Dola, sé conta =- qil6 os sitia- dures a combaterão (íonnaes |)alavras) con torres de madcra, ifue condnckin con lineijs , y tas accrcalian a los muros, y po- ninn snhre ellas trncnns y oiras rintc nunpmias [l]. A ]nda- vra trucnos, (pie corresponde sem duvida .'í Portumieza Troni, com que nos anli^os lempos era designada entre nós a Arli- lliaria (V'id. lUnlinu Diccionar.) , parece indicar claramente o uso (la mesma .Vrlilliaria na tomada de Sarae;o(;a nò anno li 18. que o Autor vai narrando na Historia citada. O nosso Ptirliiiriie/. João IJaul islã de("as(ro no seu Map- pa dr Portuijnl.. falland!» da, fortilicação antiga c moderna de Lisboa, cpiando cliega ;i l'ort(i denominada do Sol, diz ó é>?gUinle : «< Fina junto d.i Igreja dfc S. Br^z. Nó adro desíà >> Igreja sé V(* ainda eiii cima de linma éepultiira jnima gran- **de bala dií jjedra . que fny atirada aos nossos pelos iMoiiros >ícom os seus Canhões pedreiros, de que usav3o na ultima >j defensa desta Cidade ?í [2]. He confirmada esta noticia pêlo c('lebre documento coe-' laneo e authentico , isto he , por huma Carta Latii.a , escri- p(a por .\rniilfo, ]\essoa distincla que vinha na Armada dos Cruzados, de que se ajudou ellíei D. Aílonso Henriques na tomada de Lisboa, Carta por elle dirigida no anno em Latim, e verlida laiubeni em l'orlug;u(iz no citado Mttpj/a de PortUyal (!<• .1. B. de (.'astro [3j. As palavras deste importante documento", que parece conruiuaríMu a sobredita noticia, Irin-se em os n."í 19, 20 , (Ij Toin. 11. Cap. 25. p.ií*. 209. [fi] Tmii. II. (.'a|i. 9. § s'. cdiòSo de i. [i\ Ibid. ^ J. 16 MEMORIAS DA ACADIÍMIA RIÍAL c 25 da Carla nioiirionada, o sãu como sos(>i;iinni : " . . . . po- xròni robalidus )iào só do vento coidrario , mas dos í>í«Í7'h- !í ínclitos hcllicos, com que nos sariidiâo , nos rd iramos com " algum damiio '> [•!]. — iMais adiante: " Loí;o com certa uin- J> quina começámos a romjier a muralha, o quo vendo os "Mouros, lançando por cima delia togo ol(>o^iniiso , a redu- " zinto a cinzas, cx|)orimenlando-se (Nilão do jtarle a jjarto •'j innumeravel mortandade. qnecansa\ão os arremessos das ■'.seitas e os tiros de outras anuas a[j |)eleijava na ior- » taleza da torre , utormeiítada com a.s descarr/as dos Surrace- » íiOí , se mostrou então com menos alento» [Oj. Verdade lie, C(ue em nenhum dos três loj;ares da Carta de Arnulfo , que deixamos cojiiadus , se fala claramente do uso da pólvora nas machinas , de que na defensa de Lisboa se servirão os Mouros contra os Chrislãos ; porém, pro\ ado como íica, J)ela passagem (]a Historia de la dainiiiacion de los Árabes en Espana, acima Iranscripla, o por outras que adian- le havemos de transcrever, que os Mouros de Hcs])aidia já conhecião o emprego da ])Cilvora na Artilharia aníeriormenlfi ao anuo da tomada de Lisboa por elRei D. Aílbuso Henri- ques ; fica sendo pelo mencs juuito provável a opinião de que a bala arremessada pelos Mouros contra os Christãos na ultima defensa de Lisboa no anno de 1147, de que talla o citado J. B. de Castro; bem assim que os instrumentos hcl- licos , com que os ])rimeiros sacudião os segundos ; os tiros c outras armas ojfensivas , c as díscarr/as com tjue os aíormen- íaváo . mais antigo o uso da Artilharia entre os Persas e os AlYi- >' canos ; e que he por isso verosímil, que o conhecimento é »em|)re2;o da pólvora fosse transmiltido dos Árabes para os » Hespanhoes , e destes para os Francezes , entre os quaes «adquirio maior perfeição» [7]. Rm conhrinaçào desta sua opinião continua produzindo dif- forcnt(>s ducumentos extrahidos dos Coilices Arábicos JMS. da Bibliotheca doEscurial, entre outros, do CodexMDCXXXV, cujo autor, aliás iliustre , que vivia nó anno de Cliristo 1249, descreve nelle varias espécies de peças de Artilharia, usadas pelos Árabes no seu tempo, pelas palavras seguintes: Ser- punt, sussurranlfjue scorpioncs circumlif/uli, ac pulvere nitra- lo incensi, unde e.zplosi Julf/ttrant ac incendunt. Jam videre erat Manganum excussum veluti nuhcin per aera extendi , ac tonilrús instar horrendum edcrc frar/orem, iqnemque undcqun- qiiam vomens , omnia dirumpefe < inccndere , in cinerem redi- gere. O niuilo iliustre D. Fr. Manoel do Cenáculo, nos .seus Cuidados Litlerarios do Prelado de Beja [8] , emprega lam- bem este documento em prova do uso da Artilharia entre os Mahometanos das Hesj)anhas j;í prio meado do século XIIÍ. Novo testemunho da applicaçào da pólvora á Artilliaria em Hespaidia no correr deste mesmo século olTcrece a j,í ci- lada Historia de la dominacion de los Arahes en Espaíin. (ra- tando do anno 1257, em que Aflonso X. o Sábio, Rei de Castella e Leão, sitiou, e (omou Nlebla^ onde os Mouros da Cidade, commandados por Aben-Ubeid, se defenderão va- lerosamente , e diz a mesma Historia , que elles o fizerãa lanzandíj picdras y dardos con maquinas y tiros de trueno con fueijo [9]. Lè-se mais nesta Historia em referencia ao anno 1280, que rebellando-se o Príncipe D. Sancho de Castella contra [7] Tom. II. pag. 7. [8] Artigo Histurla Ecclesiastica, pag. S81. (9J Tom. III. Cap. 7. pag. ti. 2. "serie. T. I. P. I. C / H MEMORIAS DA ACADIÍMIA llEAL sen pai , o meánio Rei D. Afloimo X. , * ciste Ihè ikbra çunr- ra. ajudado do Rei de Marrocos; e (jue (eiido^o ccrosuio em Córdova, com cujo Rei se ajlijlra , coiiibalèrão e.ita ('idade perto do hum mez con wuchas inaijuitias y trucnas [10>:).- ■■•' ■ Corrobora igualmenle a nossa JVoposicfio o jioela Gra- nadino do XIII. século Abu-IlasHan-beii'l>ia , o (jnal descre- vendo as armas e os instrumentos beliicos, usados no seu tem- j)o poios IIes|Janlioes , íaz ver, que e]l<'s já então se servião da pólvora como meio de ataque c de defensa [li]. Passando ao século Xl\. mais acrescido ainda he o nu- mero dos documentos , com que pode ser confirmada a nos- sa primeira Proposição : ajjoiitaremos segmente os poucos se- guirjtes. Seja o ])rimeiro extraindo da tíwloj-ia lanlas vezes cilada, escri|)ta por D. José An(oi;io Conde, e do logar, on- de trata dos acontecimentos pertencentes ao anno JiiOii : alii diz , que , reinando em Casteila e Leào elRei D. Fernando IV., fora sitiada e tomada aos Mouros Gibrallar, lendo sido combatida coti in(fenios y matiunias de (rucncs [12] Nos annos de 1312 e 1323 autoriza Casiri o uso da Ar- tilharia entre os Árabes com o testemunho de hum nobre Escriptor Granatense, chamado Abu-Abdaila-Abu-Alkhathib, iia sua Historia de Hespanha, o qual he como se segue : 11- Ic (videlicct Ahnlvalid Istnocl Bcn Nasser , Grcautta; him tem' pons Rex) casíra mot^ens , multo milite ho^tiin)!. ur]>em JBnza ohsedit , uhi mac/miam illam maxitnarn Naphlhd et (j lobo in- structam , admoto iyne , in munitam arcem cum slrepilii ex- plosit [13]. Do anno de 134."? dá fé o Dicrionario de Blulenn na pa- lavra Pólvora, (piando diz: " Ksorevom ouiros (autores) (\\w. "110 anno de 1343 os iMouros cercados por Aflonso ,\I. , Rei " de Casteila , dispararão tnorteiros de ferro , (pie com o cs^ >' trondo atrouvão os campos. » Ultimamente o erudito Casiri na Obra, Tomo e paginas por diUerentes vezes nesta Memoria citados, oíferece-noíí hum documento imporlanlissimo em prova de que no meio do século XIV. j;í os Mouros de Mespanha faziòo uso não só da Artilharia , mas até já empregav/ío nella baias tl(> ferro : [10] Tom. Hl. Cap. 11. paL-, 70. fll) Vid. Mi-mnrial Historiai de la /Irlillnria Espnfiohi , Cap. 3., impresso em M.idriíl em 1831 . seu autor D. Ramon de Sal;is, [12] Tom. Hl. C.np. l-i. pa:;. 8.1. [13] Bibliot/ícccc .íribico- Hispana: Escurialcnsis , Ton\. 111 pag. 7 c 3. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. n por quanto transcrevendo luinia passaa;em da Chronica Hos- j)anlu)la d'elHÓi D. AIVoíiso XI. , em cujo capitulo 22:5 Irafa do cerco posto pelo mesmo Rei á villa de Algeziras na Era .1380, (anuo de Christo i:H-2) [14] diz: Miilla Mauros ah op- pido iti e.vercitum displosisse loniírua, quihus férreas pilas ma- lis Malianis prwr/randihiis purés emillehant , idque Iam lonffC , ul alia" ohsidenlium copiar um slationem, pratcrircul , aliw ip- sns offcnderenl coptas. Do todos os toKios , rpie ficito transcriptos , por ncís cni- ligidos lie dillereiíles impressos de auloridade mais C)U menos respeitável, entre elles de hunia Historia havida pelos Lil- teratos de todos os paizes como diçna de sàa reputação ode justo apreço , por ter sido escri|)ta j)or Autor do rei-onheci- tlo mc^rito, (> fundada cm docuineiitos de i>Taii(ic jx-zo ele [15]; se concluo, (jue a applicaçào da pólvora á Anilharia remonta íias Hespanhas em geral quasi ao principio do século XII. , e pelo menos aos Hns do XI\'^. Por conseíjucncia ^ que a in- venção desta arma lerrivei data de hiwn tempo muito ante- rior ao governo dos Filippes om Portugal , e não desde hu- ina epocha mui próxima ao mesmo 'governo, como Ibi |)ro- palado ha pouco pela impfcusa Portugueza. fl-i] Eiu confirmarão ilo que dizcinoi a jiay. ^3 e 2S d<;»ta Memoria, a sa- bor ; Que a opinião corrente até ha poucos aniio-f a e-ta parte era , que o um/s, e troiitros sábios Hespa- nhoes , he que são devúlos os conheci mentos precisos sobre esta matéria , citaremos aqui, para exemplo, a pxssagem da llisloria dUcspanha do Inglcz o não admira que and.issem ás cegas sobre esto ponto histórico. [15] Eis como se expressão acerca deyta Historia, e do seu Autor, a:! hiuito interesBanle^ Memorias do Príncipe- dn Paz, D. Mtmorl Godnt/ , liuque d' Alça- dia. etc. , Tom. 11. a pag. SU , .\rl. Liticratur.i Árabe. <• Klle (D. José Antó- nio Conde) suciumblo debaixo do pczo da sua desgraça , e morreo com o pez.ir de uào ver n publicação da sua graule obra histórica, no género dn de Banque' ri , porém nuiito mais curiosa e brilhante ; obra de longos amios de investigação e de trabalho, que toda a iíurop^i conhece e aprecia, a Hittnria dn dominação do» Arahcs em liespcinlui. " (li lição Je l'aris de láSti em -4 vol. de 8.°). C 2 20 3Ii:i\I01líAS DA ACADEMIA UEAL Alem (1(^ qiip, parece íVtra f tiravan muchos huaios de fver/o , lo cpial > si assi es, devio " ser artilleria , aun que no en la pcrfecion de agoríi , y ha «esto mas de quatrocicntos aíios. » , ; No anno de Chrislo 1180 fez fambem emprego da Arti^ Iharia o Hei dos Almohadoí! Addelnnunen no sitio daCidado de Malicdia, situada junto do Mediterrâneo nfío Ioi)g<^ de !?o- na , a qual Cidade tomou , depois do a Jiaver balido (diz a Historia, a que nos referimos) com truenos a^si jM>r mar, co- mo por la parle de médio dia [l7l. Do grande nitmero de doíVumfntos , sublninistrados por diíferenles Escriplores, e por nó,s fielmente coj)iadps nes- ta JMenioria. se d<'duz sem violência: 1." Que, muito em- bora sejiío desconliecidos o Invenlor da pólvora, a epo- cha da sua invenção, e a sua primeira apj)licaçiL0 ;í Artilha- ria; com tudo parece ser fado innegavel , que huraai tal ap- plicação e uso fonlo conhecidos e postos cin j)ratica peloá .. [15]' Vid. Memorial Histórico de hi Jrlillnriu lUprmoln , lior D. Hamon de Salas, Cap. 2. [17] Historia de la (loiíiinacion lU /"t Arnljrs ai Esjiniín , Tom. II. Cap. -14, pag. 353. DAS SCIRNCIAS DE LISBOA. «'^ -2* Árabes desde muito antií;os tempos : 2.° Que dstes .1 deíilo a coiiliecor aos Mafimrietanos da Africa, os quaes a commu- nicárão depois aos Hespaulioes : 3. ' Que em Hospanha foi usada desde o anno da Era Chrislã 1118, e muito provavel- iiieiile iiiiiiliis ânuos antes que tivesse jogar o seu empre-^o nos outros pai/<'s da l'uroiia. á excepção de Portugal, como mais extensamente se mostrará nas provas da segunda, e da terceira Proposição i 2.' Proposição. Sendo cerlo. como fica provado, que forão os Árabes ou Mouros os primeiros que nas Hespaniias tlzcrão uso da Artillia- ria , e que o ensin irão aos líespanhoes ; faz-se de mais dis- to muito crivei que, de todos os outros povos da Europa, fossem os Portuguezes os primeiros . para os quaes passaria o conhecimento , e por conse(|ueucia o uso desta mesma Ar- ma. Serve de grave fundamento para humà tal credibilidade a nossa mais próxima e frequente communicação com os Mouros . com (juem andávamos em continuas guerras , c de quem por isso, lie (íHiibem de crer, aprenderiamos o uso de lodos os instrnmcnto.ii bellicos , de que elles se serviâo con- tra mis para ataque e defensa das Praças. Na Chronica d'elRei D. Sancho I. , escripla pelo bem conhecido Ruy de Pina,- encontramos elTectivamenle o pri- meiro emprego, feito |)or Portuíuezes, desta Arma formidá- vel no cerco e tomada da Cidade de Silves, Reino do Algar- ve , proximamente ao liui do século XII. , correndo o aimo de 1183 ou de llíiO. isto he , qiiasi quatrocentos annos antes (lo gover»') (los Fdippes cm Porlurfol. O Chronista nó Capitulo lo." tratando do cerco posto j)eio !VIonarcha Portuguez ;1 Cidade de Silves, depois de con- tar desde o princi[>io do Capitulo , que o cerco durava ja por espaço de três semanas com victoria tluvidosa entre cer- cadores e cercados , acrescenta que , isto não obstante , de- terminara o Síir. D. Sancho não o levantar , sem comnietter lodos os caminhos j)ara a Cidade : " e vendo (palavras da "(Jhroiiica) que os ^louros tinham para o rio huma cotiraca .■jde muros muito fortes e bein torrcjada , pela qual se pro- " vião abastadamente sem perigue dagoas, com que eram por •muitas cousas, e em suas necessidades muy refrescados, )) determinou sobro conselho e acordo bemconsirado do j)oer í!2 MEMORIAS DA ACAOEMU RRAT. «lopio suas forcas oní cobrar lia <'oiirara . para a qual cori- 5> cortados todolos oiiijorihos , nrfillinrias , o todas- as outras 5? cousas, qnc conipriauí . . . . etc. » Conliiul.i depois dizendo, quaos as disposições, que forão íeilas para aiiipararein e dc' fenderem aos quo trabalhassem em pirar o muro da coura- ça, seutlo, entre outras, hunia manta de trav(\s o vigas mui- to fortes, que pegavão com a torre . jiara df^baixo delia pi- carem o mesmo muro no logar , que ficava sobre hum íjran- do poço de agua doce , afim de jior alli se ai)iir (Milrachi na Cidade: mas que os Mouros, quando se virào perlo da sua desfriiição, correrão a lançar das ameias sobro esta manta muita lenha, e sobre cila vários materiacs de fogo, com quo a manta foi ])rt)inptainen(e (pieiíDada e reduzida a cinzas: »í E lio foguo (paia\ras formacs de Kliv de l'ii:a) fov Iam for- ?' te e tam juiilo da torre, que com a força dclio abrio cila j> loguo por muitas partes, em que também se mostrou outro ■»» verdadeyro caminho de mais ccria destruiçam dos contray- » ros , pela qual ElRey (merecem particular aHenç;"ío as pa- » lavras seguintes) lhe mandou lo(/uo tirai- com firandes tiros >^ c rjrossos de palimra , com que a poucas horas foy derrota- "da. . . . etc. » [18] ' Deste logar pois e passagem da Chrrtnica de Ruy de Pi- na , que julgámos conveniente transcrever ]Tor extenso , na j! qual se encontra enijiregada a palavra arlilliaria . e mais claramente ffrandes tiros c nrossos de jmlrma , ])arece poder inff>rir-se sem a menor duvida, que na tomada de Silves j)or eIRei D. Sancho I. , isto he , no anuo de IIííB , como (juer Erandào na Monarchia^ ou no de 1109, conforme António l'ereira de Eigueirodo no (hvij/rndio dns Epoclius.v.Ãfí s<.i es- tava invenladu a pólvora, mas que ora já coiiliecida (anibnm em Portug-al a sua applicaçào ao uso da Arlilharia, como meio de ataque e de defensa das Praças de guerra. He certo nos não conkta , que haja outro (hronista ou Escriptor Portugiiez. que, historiando os acontecimentos da- quelle cerco, de hum lai fasto íb"- noticia : mas, segundo as regras da sãa Critica pliilosophica. nem por i.«so deve deixar de ser haviílo , sequer jior grandiMuenlfí provável, o facto, que he narrado por hum llistoriailor , a quem , como a Ruy 111 > i-.-i ! jiil •. :; ii,í • i [18] Alem Ha Chronioa impressa, vimos liiim r,\i-mj'lar MS. da mesma, que inculca grande anticuiiUuIe , oinlc se lím sollioute as palavras .= c'0»/ í;rf)íso« tiros árpolvnra. ' '^K M .ji: J ' DAS SCIRXCIAS DE LISBOA. 23 de Pina, níío compila o epilhelo de lové ou de mentirosc, e (|U<; de mais a mais, por s(ír Cliroiiista-inor do Kcino , e Guarda-mór da Torre do Tombo, se achava nas circiinstan- rias de ter á uião os mais puros o abundantes documentos históricos da sua Nação; muito embora nao coiifcm esse mesmo facto outros historiadores, mórmcMite quando nem huns , nem outros sào coevos do acontecLiiiento , de que se trata. , Acresce, que a Chronica d°elRci D. Sancho I., com- posta pelo citado Ruy de Pina, foi conservada em nianuscri- pto até o anno 1727, em que pela primeira vez sahio á luz; e não so faz absoliitament'; incrível , quo (iell;i deixassem de ter conhecinionto os (^hronislas, e Historiadores, que depois delle escreverão os acontecimentos do reinado d'aquelle JMo- jiarcha, quaes Christovão llodriçnes de Acenheiro , Duarte ISunes de Leão, e Fr. António Brandão, deixando por isso de commemorar muitas das noticias, que na Chronica de I'i- iia fio a sua expedição (19), a gloria deste grande feito d'armas , qual foi a conquista de huma Cidade, liavida naquelle tempo por huma das mais fortes e ];o|)ulosas da Mourisma nas líespanhas. O que bem deixa patente, quando mais não seja, a grande parcialidade, com que foi escripto hum tal documento. Isto posto , não parecer.-í tal- vez conjectura desarrazoada o dizcr-se , que o autor do do- cumento citado calara muito fie propósito o enqjrego, feito pelos Portuguezes , da yJrtil/im ia c da pl!oa no ijoverno d'elUei D. AlFonso Henritjues , dizendo a pag. IB = //acc lli.ri/ioiia opulenta et tnaç/tttt r>a1de ante c/Uiidraginla et (juatuor ânuos it pcregrhiis noslris capta , evm adia' centiljus cnstris subiaeet domínio Pr>rtuyalcnsium = ; E a pag. SO , falando da Cidade de Tortosa , dií = Naec civitas prima Christinnormn est , quam Pisaiii et Januenses . tempore guo I lirlbona a nontris est capta , ceperiiut. . . DAS SCIENCIAS. 15E LISBOA. 28 verlSo ter roíicnrriílo para a tomada da Cidade. Corrobora esta inesina coiijcclura o dizer o autor do documento a pag. 22, lalando das inachinaB CMiipre^adas contra a Cidade, qutí == duas inacliinaH du rei, ainda i(uc jii-quenas, faziílo bastan- te danmo ao sitiados, f|ue dentro a delendiào == Pructerca machinac duac rci/is , licct parvae , salis infestahuiit popillum mlrinsccus. Vj porquií não seriào essas iiuichiuas pequenas , que baslanleiuento daniniticavào.a |)ovoação de Silves, taes ou quaeá peças d"ArLil!iaria ; j;í nesse tempo usadas pelos Portui;uezes f Cons(íqucn(cmente entendemos, que, em quanto pp não mostrar com toda a evidencia que o tlocumeiíto mencionado iiào lie composição fabricada de pioposilo j)ara attribiiir a gloria desta conquista exclusivamente ao estorço ex(rane;ci- ro, como aliás j)ar(?ce nelle inculcar-se ; continuaremos a dar maior credito ao primeiro Ebcrij)tor Portuguez, de quem le- mos noticia historiasse as circunstancias do cerco e tomada do Sihes, governando o Sflr. D. Sancho I. , isto he , ao j os- so Chronista Huy ilo Pina, o qual, alem ue outras partes, qiic o tornão di;jfuo de ser acreditado , estava, como atnís dissemos, por sua posição de Clironista-mór do Reino, e ue go da Artilharia em Portugal no meado do século \IV. , e são ás pala\ras deste documento aí? se- guintes : 'i De huina carta do Corregedor d'líntre Douro c Tejo 5>de22 de >,'ov(>mbro da Era de 1397 (anno de €'hrtsto t3áy), ;>> e de hum instrumento de Dezembro do mesmo anno con- .-?sta ter-se intentado, em execução tle huma Carta d'elKei, •>a obra de duas torres, luiina da pane do Porto, e outra "do (iaya , no sitio em que chamão o iJicallio, passando-se vhunja cadí^-a entre as «luas torres, e pondo-se nella hunx >■: ti (il)U(fur!t: e besteiros, para defensa doPortd eGaya ÍIO]. » |-o| Vúl. lirpnsilijrio Litemrio da .Sotiehhie das Seiencias MeJkas e de Liter.itura do PoiKi. h. 9, i)oiniii{;o 15 di' Fevereiro de 18S5, debai.xa da <-(ii;.;u^dl« = AiiecJolas Ailtlreitticís para a ili.-loria Economica-Politica da Gija- dc do Tiirlo |>or liiãu Pcdm Uibeiru. 2.''si:rie. t. f. p. n. D ti MEMORIAS 1>A ACADEJIÍA REAL Nos lAnnacs dn Aínrhtha PorhiJjucza^ obra do noâso (am- b(Mn falleci«lo Consócio, o Vice-Almiraiito Ií;nacio da Costa Qiiintella, mandada imprimir por rsla lloal Aradnmia, quan- do so traia dos aconleciuientos Tiaiiticoa do aiino dfí I3S1, no í|iial . governando elRci D. J'Vrnaii usados na((uellos tempos, defendida a entrada com duas »> grossas cadáas^ que a atravessavão ; e de huma e do onira 5> parle na terra próxima muita gente com Itmis , e engeidios »para os proleíjer [2J].f> Mas se acaso se não provasse , como acabamos de o fa- zer, que o uso da pólvora apj)licada á Artilharia era conhe- cido em Portugal nos aimos atrás apontados , ninguém de certo ousará pAr em duvida, que elle era já conhecido pra- ticamente neste Reino três annos depois do ultimamente in- dicado , isto he , no de 1384 : por quanto na defensa de Lis- boa, correndo este anno , quando elRei D. João I. de Cas-* teJla veio sobre esta Cidade para sustentar o supposlo direi- to de sua mulher, a Rainha D. Beatriz, filha d'elRei D. Fer- nando, contra o Protectorado. c Regeticia do Mestre d'Aviz, depois Rei D. Joio L 'do Portugal, temos do sobredito uso o documento fidedigno , que nas 3ffniunãs deste Rei escre- ve© José Soares da Silva, Livro lí. Capitulo 137, numero 807, pielas seguintes 'palavras : '■ lí ja que failcy em Artilharia, V não posso deixar de dizer, que o primeiro qlie a usou no íimar, foy JoSó Gonçalves Zarco, ainda que não teve oc- -•! cRsião de combater com ella : e assim o primeiro tam- » bem , que a exercitou no sitio do Lisboa, toy João Rodri- -•> glK^s de Sá: por^m ainda então não tinha a proporção de- 'jvida, que depois lhe aperfeiçoou a Arti(? : tirava bailas do . u t -^ ■-' ■■ — ■■ <- '■ "■ ' '■ ' ' ' ~ — ■ [3Í] Vid. TBiti. I. píij. i28. Na Clirbnica d'fc!Uei D. PSilro, bscripta por Fer- t.hi I.bpes. Gnp. 26, lè-SR lumi tacto aiiulrtglii acoiltfctíido tio aiiiin de 135D em liunia Cidade niacitinia d'lle>.pardia , eis as suas palavras : «iPartio Elltcy (D. Pe- "dro de Castella) dalli com trtda a Armada, e chegam a Ban^elona , onde estava "KIliey de Arajào, e atlinii doie fral^- artnada«, e ilào a« ponde tomar, porque "SC pozcrdo Indat atravcz junto com n ciihidr. c ilalli scdffenJião com muita Ocs- >' taria e tiros, n ■í l t>AS SCIENCIAS DE LISBOA. 27 ?> pedra [22], e até os nossos tempos se conservava huma "(lestas peças iia Torre de 8. Jiili;Yo tia Barra» ['lii'^. Sei^undo ducumonto u favor dcsla nos^^a Proposição le- mos no mesmo logar. acima citado, das Memorias de Soares da Silva , onde i, faiantio das (lisj)usições leilas pelo (xmdes- lavel D. Nuno Alvares Pereira para a tomada do \'illa-\'iço- ía no anno de 1334» j;í aj)ontadoj diz assim : " h^lle (Condes- vtavel) íicou em Borba, aonde ajuntando mais alguma gen- :i\o ^ e mandando vir (KElvas hnma peca de bater (que se ;: chamava Troin , como se diz no ( 'apilulo 254, numero 1414, »e tão jioucos annos antes iiivcntaila, como se refere no Ca- j' j)itulo 237, numero 1613), tornou |)ara Villa-\'iç(jsa. » Terceiro dociímento nos oíTerecem as Manarias sobre- ditas no Livro III. , Capitulo 237, numero 1318, onde se fa- la da tomada de AlcnKjuer lambem no mesmo anno de 1304, cujas ]ialavras são como se seguem : « lí entendendo o iVIes- » tre , que a não le\aria senão ;í força de arriías, mandou vir »de Lisboa alguma Artilharia (invenção diabólica, que tão 5> poucos annos antes havia começado [24], no de 1332, con- >j forme Illescas , ainda que IMoreri e Blutcau a trazem no «anno de 1300 [20], e outros muitos Autores a fazem mais }ianti(/a, sem darem por cerio quem fosse o inventor) , que "não custou pouco a conduzir. . ^. «, Hum quarto documento noè lie finalmente suhministra- do pelas ditas Memorias no Livro III. , (]a])i(ulo 204, nume- ro 14 15, quando, tratando da batalha de Aljubarrota cm 14 de Agosto do 1335, diz o seguinte: <; Depois disto, dado , „ [22] Do ulliirio dociitiiento I |>or nós proJuzido em prova da primeira Pro|)osi- «;ào, e que nos tòi subníinistrado pela obra dfc Casiri , sr vè. que no anno de Í:MS já em He.^p.inha se fazia uso de balas ilc ferro na .\r(i!liaria. (Vid., a paç. 18 in fiii.) [.Í3| " . . . . tm Pctrtugal fiíi conliccida (a pólvora) no sitio de Lisboa no tem- .ipo d'elliei D. .loào o pílmeiro, de qiie eu vi ainda na rórtale^a de S.Julião. da X Barra a.-i primeiras peças muito informes, iliamadas Viwisj í|ae atlravão com ba- ilas lie pedra. " (Nota íOõ á oitava 80, versií 8. t\(i (,'aiUo IV. do Poema Ilcn- riqueiílii pelo Conde da Ericeira D. Franiiseo Xavier de .\Iencze.s. [2-4 1 Con fronte m-se estas palavras com as impress,is ha |>ouco tempo em Lis- boa = no trin/xi dos Filijipes . por ser nljiirlhi /-/«iir/i!/ mui prorimn á Ju inrençilo da .-IrtHharui. = Mui próximo o intervallu de perto de duzento-i annos ! ! ! O des- prezo . em qiie jaz o estudo da nassa Litteratitra , lie quem Já occasiào a taes des- cuidos. [2.'>] ,As- palavras de BInteau (ÍJiccionar. vocábulo ../rfiM.rrm) íão' as sci^uin- tes : "A .-artilharia Ccuu biilLis e |iolvcira foi inventada só nos annos de 1S80 (jor •j Constantino Anclilzen, natural de Friburgo, ou por Bertoldo Jmarte, religioso "de h?. tiancisco, chiniico, anno liii (segundo Voasio). •• D 2 a» MEMORIAS DA ACADEMIA REAL o pelo inrmioo o sinal do aroortimpltef-tiOs, iiHonloii este prl- » moiro, soiiMo ilrscoTiij)òr-nos , aloiTioiizar-nos , (Ii.-!|)araiitlo a >»siia Artilharia (nijo (roín conslava do doZfsf-iíí peras do "Campanha, sognndo a noliria nal ao projecto; porqtje si» ferio hum sol- "dado Iiii;léz , o malou dous Porhiguezes, nmhos irmíloá , njiiiilo ao Cumiofifavel. " Destes rpiatro docuíilenfos extraliiilos das Memorias, es- rripl.as \toT José .Soares da Silva, se conchu^ coin toda a cla- reza , que ètn Portugal se achava j;í introduzido o uso da yVrliiiiaria com polvoi'a e liala pelo menos nos llns do século XIV., e por ií!So quo \w deylituida de fundamento a noticia que se lê no Relatório do mnnuiíiento, mandado levantar cm Sagres !Í menuiria ito Infante D. Ilenri(iue, onde A\7,=^qiie a epocha dn inimá-m da Arldhnria era mui próxima ao tempo mé Fiiippeè. Acrescentclt-fettios íiirida, para confirmação das provas, que firào h prihcipio expendidas , que, coin qnaiito o Autor (ias Mniiòriús diga , fuildado iio testemunho de Ille.çcas , ijuo á iriVchção dá AflilhàriA tlátiíra do anrio 1382, ou dò de 1380 segiiiKlo O teste'ninrího de Mòreri c de Blnte.iu , a saber , dons, ou, quando muito', quatro íinnos antes <|ue ella fosse empregada na defens.fo de Lisboa em 1384, o que, até j)cla pi-oxiníid-.ide da supposta cpochti dtsto invento, .so torna j;í itienòs *'riyií>! , biehi quV> ficrijsfcí^nl^ âO hlesltiò teilipòj t[úç óidrns liúntds yfntóYfíi ojazt^th máii rmfif/o ; lieni jxir í.Vso en-' tendemos, que os teslí^munlios dr llh^scas , de iVloreri, c de Hhiteaii sejiTo b.isiantemente ponE LISBOA. èi) da feria Chpotiica de Riiy do Pina, contida no lo^ar, qiio dei- la *ix:íiuos copiado. Alem do (|iif, Illcscu'?. Mnrori, n Blu- Ifaii , a.s.sini como fSoares da Silva , ([up nnllus .sn apoia , sp- ^■uiào a torrente da opinião do sími tempo, que atlribuia a iiivençíTo da pólvora ao frade Alemão Schwartz, ou talvez ao Iniçlez Rogério Bacon, em eras muito recentes, por se não haver dado ainda a verdadeira luz a esta quostào, examinan- do e estudantlo com assidua applicacào os documenlos Ará- bicos , que ollerecern as ricas Bildiotliocas de Hespaniia , e cuja diligencia c trabalho Ímprobo he dc\ido em tempos mais próximos a nós aos muito beneméritos ('asiri, Conde, e ou- tros Sábios modernos. A fim de fazermos mais patente ainda a pouca exacçrío, com <[UG he altribuida a tempos mui próximos dogmtrno iloS FilijJjics a invenfjào da Arliiiiaria , e por consequência a sua/ introducçSo em Portugal , apontaremos mais alguns docu- mentos , tanto do século XIV. , como do XV. , exíraliidos dó fontes puras, quaes as seguintes, alem de outras, que por brevidade omit timos. No Elucidário das Palavras, Termos, e Frases, que eirt Portugal antigamente se usiírão , o seu laborioso Autor , re-" feriudo-se ao anuo do 1339 , oflTerece-nos hum novo testemu- • nho do emj)rego da Artilharia em Portugal no fim do século XIV., quando escreve: «E desle mesmo tempo parece ser »a monstruosa Bombarda o\i Canhão, que ainda se conserva no Castello da Cidade de Pinhel [27]. Do uso da mesma Artilharia em Portugal no anno de 1437 temos hum antigo aboiíador nas p.ilavras do Ref/irncnío, escrij)to pelo próprio punho d'elRt'i D. Duarte, e por ello entregue a seu irmílo o InlanteD. HiMiri<|iie, no acto de par- tir com o Infante D. Fernando para fazereni conquistas na Berbéria , o qual Brr/iinoitu se acha copiado iielnienl e da Chrouica do sobredito IMonarchu nos Ârimtrs da Marinha Porliiijite.-ra [•2'ii] : d(dle as palavras, que arpii vem a propósi- to, são as seguint(>s : i; lí como aa fruta derdes este avia- j» mento, ordenay logo toda a outra gente por terra, com j> aazes regradas, enviando diante quinhentos cinetes , que "Tègoa c liíea , còniolnclhor virdes, vaão diante pelos |)or- jstos mais seguros (jue sou)jeraUvra ^r/i(Aari«, impresso cm I79y. |2aj A pa:,'. da du Tum. I. ■ . ^ . - ■ ao MEMORIAS DA ACADEMIA REAl. » çar ; porque como fordes sobr'cllo , scf/inulo a mnila ar!i- y>lharia c liôos apanlhos (/iic Icvfiacs , loi^o , coni ;i graça tle » Dcos , som srçuro dt^ vós, c de vossa i;oiil.n. » Continuando a escrovor do mesmo aimo U.n, |ii.>r occa- sião de narrar a desgraçada e\|tedieão dos sobredilu.s Infan-' les contra Tançer , faz o citado Autor dos Annaes da Mari- 7iha Portuguc.':a repelida commemoraçíio da Arlilharia eui- jiregada nesta mesma exj)edieà(> ['iyj ; e o que lie mais, até já tio uso lambem da espinf/firildiin pelas seguintes palavras : «No dia 5 (de Outubro), aehando-se reparadas as escadas, ?» e construído hum I'orte de madeira , guarnecido de csjiin- « gardeiros . . . . » [30] . No anno de 1445, diz o mesmo Autor: "que o Infanlf» » D. Henrique mand;íra ar)nar huina pequena ('ara\ella nova >;de quarenta o cinco toneladas com (íhjuinas pcj^as de Arti- sjlhaiia [3l] , para nclla se embarcar Luiz de Cadamosto; a >> fim de continuar os descobrimentos da costa occidentai da " Africa. " No anno de 144G dá claro testemunlio do uso da Arti- lharia em Portugal a Chrouicn do Descobrimento c Coiiquisla de Guine por Gomes Eanes de Azurara, pela primeira vez impressa em Paris no corrente anno de 1841, expressando-se assim: "C em chegando aos navyos , que jaz3-am ancoradí^s, >' armarom seus trõos e suas collohreUis , com as quacsjazyain » seus tiios em sinal de prazer de seus coraçoões » [3'iJ. Finalmente o Chronista Góes subníinisUa-nos outro do- cumento, relativo ao anno de 1458, quando escreve : « . . . o j> Infante D. ílenrí(|ue, como bom soldado e pratico nas eou- )'sas da cuerra , determinou de tomar outro caminho jiara •i com menos perda e trabalho ganhar a Villa ((rAlcaCer), f:mamlundo assestar Inima homliurda f/rossa, onde llic pareceo !i (]ue o tiro faria mor dano, a (piai ma)ulou ao bombardeiro , » que carre(/assc bem , proinetendo^-lhe que lhe faria mercê , -•) se com ella fizesse entrada no nuiro , o que elle lez muito »á vontade do Infante: porque do jrrinieiro tiro derrubou »Lum bom lanço delle ; e continuando em sua obra, virào [£91 A pag. 92, 93, 93. e 99 do Tomo I'. [su] A pag. Si do niciiiuo Tom. I, [31] A pag. 11.'; id. [3i] Cap. j-l, pag. 24-9 da ediç. de 8.° DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 3i ;> os Mouros, que contt^a a furta dacjuella bombarda não ha- "via resistência» \jA'i]. \> ConiliiiriMiios aqui a (lrinonstraç;To da scí^unda Proposi- çjlo desta Memoria com di/.íTmos, que nos parece ter prova- do (]ua!itij ho haslant(!, (|ue o uso da Artilharia com pólvora coiiioçoii em Porlueal muito anterioriuente á epocha , que pehi vulíi^ar opiniào lhe ho adixada : por quanto, pondo de j)arte lodos os mais documenttis por n<'>s |)roduzidos a favor da antitfa data do emprego da Artilliaria em Portiiíral já nos lins dosecido \II. , o com Ioda a certeza iios do século XIV. , ninffuem pod<"r;! chamar nuii curto ao iiilervallo de 122 :uuios, (qiMí taiilos são os (|ue tlecorníriío desdi; a data do ultimo do- cumento . jjor ni')S ajiroseutado , alé o anuo de 1580, em que Fdippe II. do Hespaiiha con«jçou a tyranizar-nos) nem de certo haver por mui {)roxinios os oxlreníos de hum tal intcr- •vallo de tenijio. 3.' PROPOSIÇÃO. S^g^e^^se O éxhibirmos as provas da nossa terceira Pro- posi^tlo , cujo enunciado he = Que Ionizo tempo , depíu^s de ha\er começado o emprego da Artilharia em Ilesjjanha e Por- tugal , foi sò que ella entrou a ser usada nos outros ])aize.-9 da Europa. = Principiando pela I*' rança , prodtizimos em abono desta ■possa Propi)siç;To o testemunho copiado do Glossário de Du- f,aiií>e na palavra Domimnla , primeiro documento que certi- íica o euipreiro da Artilharia neste para. Nelle Ducançe [34], fitando dos resistros da ('amara das Contas a conta dada por Bari holomeu du Drach , Thesoureiro das s^nerras no anno de 133(:. apreíiLMila a verba se;^iiinte: '.A líenri de Faumechon "pour avoir poudres e( aiitres ciioses necessaires aux canons, '»qui estoienl «levant l'uv-Giiillaume. " Toilavia a opiniào ge- " ral dos .Autores, assim nacionaes , como exiraneeiros , até o presente se^fuida sem conlradii-.ío . que nós saibamos, assi- irna o primi-iro uso da .\rtiltiaria cm Fraiica no silio de Clau- din-fossa ao anno de 1370, conforme hiins, e ao de 1380 con- forme outros; sejíuindo-se por legitima conclusiío , que em [:").J] Cliriiiiina do Prini'i|)f l). JoJo, Ca|). 1.1. [3 ij Viil. Casiri , loc. siipru uitat. ii (wg. 3. 02 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL •França o oiiiproço da pólvora na Artilh.iria n;T[o remonta, (jiiaiidn nuiilo , alcni du iiieailo do srculo \IV. Quanto á. Inj^lalerra, hp opinião corpontc, qiie o priínoi- ío uso da Artilharia, foito por trnpiís desta Narão, foi na fa- inosa batalha de Creci em l'ran(a no armo do 1377. Com tu- do Walter-Scolt na sua. Historia dii Escada [35], narrando as i|;uerras dos l']scocozcs com os Iiii^lczes . dos qiiaos os pri- meiros tinhão á sua frente o Rei Roberto Rruro , e os se- gundos o seu Rei fíduardo III. , e isto correndo o anuo de 1327, diz assim : «Os Escoc'(>zes notarão nos seus antaíçouis- jítas duas invenções, que tiverão sem duvida bem diíicren- V tes deitinos nas guerras posteriores; mas ipie sào me/ cio- )) nadas pelos contemporâneos como igualmente nuiraxilhosas^ >* A |)rimeira consistia aj)enas em hum certo modo de unir a j) cimeira ao eapacete » a que davíio o nome de twderinff ?) (coiistrucção de páo). A segunda , pelo contrario , era o >i meio, ali'- osso tcinj)0 desconhecido, de arremessar os pro- í) jecteis j>ela explosão de huma maleria singularmente iiiflam- » mavel e comprimida em hum tubo de ferro: era, em hu- »ma palavra (coníiniía WalterScott) , a descoberta do prin- í' cipio fundamental j sobre que assenta hoje o mecaiiis- » mo de huma espingarda e de ])uma jxra d'Arlilharia : .') com tudo (vai proseguindo) as armas de fogo rieviào ser » ainda bastaiitemente grosseiras, os títlV^tos que j)rocUiziao -•' er3o bem pouco terríveis , nem podia contar-se ainda com "> a revolução., que ellas viriuo a produzir; porquanto são jj commemoradas aj)enas como huma novidade, que corria >} parelhas com hum modo recentemente adoptado jjara or- »nalo dos capacetes," ^ A primeira ijolicia» que se enconlra do uso da ArtilJia- ■ria em Itália, anda na C/iroiiica de Trcviíji , a qual refere, <|ue delia fize-ra emprego 1'^iancisco Garrara contra os \'ene- zianos no aniiO de 1373: mas de huma jjassagem de Petrar- <'lia no seu I-ivro De rcincdiia tilriusi^itc fortmue [3g], e Dia- logo, que tem ])or titulo De inachinis et hulistis , se infere, que as armas de fogo erão j;í conhecidas neste pai2 no anuo de 1344. De lodos os documentos evhibidos en> prova desta ter- ceira Proposição, se conclue claramente a sua verdade : j)ois [36] tap. lú. [36J Uiutogo 3». DAS SCIENCÍAS t>K LISBOA. nrí sn nm França a primeira ver. , que sr fala no uso da pólvora, applicada á Arlilliaria , he ua passaj;niii citada do Glossário de Diicaniic com relVrenria ao anno d(í !;!.'i8, ou pouco an- tes do m(^ado do século XIV. So em Inglaterra o mesmo uso não antecede ao anno de l;V27, seu;Miidu WaKer-Scolt , aj)c- iias onze annos antes da sua j)rimeira nciíicia em l'Vança : Se cm Itália elle data de hum tempo ainda mais moderno, isto lie, do anno de i:J44 : lí aliás deixámos provado por docu- mentos lidediunos em confirMiaçào das nossas duas primeiras Pro|)osic(Tos , que em Hespanlia si- íizera uso da ]5u!\ora ap- plicada ;í Artilharia desde o aiuio de 1118 na tomaila de Sa- raijoca pelos Christítos ao.s Moui'os; e em Portugal desde o anno' de 1108, ou 1189 na tomada de Silves também aos JVIouros por elRei D.Sancho I.: He lei;iliina conclusão, que o primeiro pai/, da l"-uroj)a , onde se vio este íormidavel in- vento, foi a Ilespanha, se^uindo-se logo apils Portugal; o quo somente depois de vohido século e meio, foi que aj)|)a- rccco o seu uso cm Inglaterra, onze annos depois em ("'ran- ça, c seis ainda mais tardo em Itália. Quanto ;í Alemanha , de dons de seus Escriptores , que consultiímos , liuin do presente scculo , o Historiador João Henriípie '/opf , e o outro do século XVII. , o grandementfj erudito Daniel JorgO Morhofio , npnhum deiles attribae a in- venção da pólvora , como corre entre o vulgo dos escripto- res , c menos a sua apjilicaçáo á Artilharia, ao seu nacional 'Bertoldo Schwartz, frade l-^ranciscauí), oriundo de Fribur;;o, que viveo pelo meio do ricculo XIV. , ou pelos fins do XIII. j antes, pelo contrario, o primeiro dos dons Esci'iptores men- cionados diz = Que forão os Árabes, o» Persas , os índios, e os fiiinOzes, quem fez uso tia |)ojvora antes dos séculos ultimamente a|)ontados ; e tpie aos C-hinezes lie quo perten- ce com iiiaior probabiiidudíí a siiíí invenção: e conlimía di- zendo, quo o primeiro enijirego da pólvora nas hiachinas de guerra fOira feito pelos Árabes pm Hespanha no principio do século XIV. [37: , e que daqui paí.s;íia pai:i França e para outros paizes da Eurojia : ultimauienie , tjue as esjiin^ardas [38] são invenção do século XVj= [39 j. Pelo (pie pertence [ST) t>ui|tii jfc JeL\a vpf o fonco coiiliecinieiiM, que em .^loni.inha havia do uso antigo ilu .Vrtilliaria em IU's[)aiilia aimla lu principio do presente spcuIo. [33] O u. II. E 34 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL ao cilado JMoiholio , pslc , falamlo só da invenção da pólvo- ra, he do oj)iiiiào, que cJla iòra di'\ ida ao ingciiho do liigloz Rogério Racoii, jior mãos PorLu- guezas , liem sequer, ao escrever-íe aquella frase, occorres- sem os versos do nosso Homero nos ÍAisiadas, j)or exemjilo : Aâ bombas vem de fo^o , e juníamenle As paneilas sulpluireas tão damnosas : Porèin aos de Vulcano não coiisenie , Que dèm fogo ás bombardas (emerosas. [4JJ Eis noy bateis o fogo se levanta Na furiosa e dura artilharia, J. A plúmbea polia mata , o brado çspania , Ferido o ar retumba , e assovià. [42] Arrombam ns miiuias bombardrtdas ' Os pangaios siibtiz tia bruta gente , [43j etc. etc. etc. Orq os versos do Poeía (que. como' he bem sabido, es- tão nesta parte eni harmonia coni as noticias i\vs nossos His- toriadores), dizem relaçào ao anno de I49g, iíSte he, a quasi linm seí-iilo antes do governo dos lMlip|)es em Portug^al; è de certo ninguém ousará aliiijiiar , «pie o anno de 1498, a (jue Camões se refere, fora iniii iiroxnno ao d<> l5íto, primei- ro do governo dos Filippes em Portugal. Tanto he verdade, que frequentes vezQS se prwpalílo dqulrinas as menos exa- ,1 I . ■ . ' . II rt . . . . etc, Iradiilt de r.Mleui.iiiil dapiV-í l« 20. eilitiim , Timi. II. Cap. 38, pa?. SO.H. . . [40] Poli/lihttir Lilla-arius i l'liilosçphicuí , vt /'nulicut , Tom. II. Liv. 2. Cap. 38, § 3. l + l] C:vnto í. Est. 68.." \ii] M. Eíit. 8í»'. f-iSj Id. E>1. 02, .11 'I 1.1 ■'•:: DAS SCIENCIAS DR LISBOA. 35 cias ou j;í ))or iiiciiria . ou já por rurloza infelizmente an- jiexa ;í natureza humana ! Anlcs (Ic coiicluirinos esla ]\I atrás deixámos sullicienlemente provado; ainila assim he i>lle nio- ilernissimo em relarão ao tcMiipo . em tpie se diz fora usado na Ásia Oriental [44), e particularmente na China , a cujo paiz , confornuí lambem deixámos tocado [45] , a opinião ni.iis seiTiiida atíribue a invençíto da |)olvora , e ontle (se- };undo Dio^-o Lfano , citado por D. Ranion de Salas [4*;] ) a su i applicucão á Artilharia se achava j,í (MU uso desde o an- no t!5 da lira Christà , tendo sido seu inventor o liei \'itey , ijue delia se servira contra os Tartaríjs. Funda-se |)riticipalnHMite esta opiíiião em hnma Helaoãa das maravilhas do Império Cliinez , enviada por Tr. André seu inventor [47]. E acrescem a o mesmo Dio- [ii] \"u\. a pap. .S.'> (loíta Memoria: E ilernais o erudito D. Miguel Casiri (loco pa^sim cilat.) , rcferiíiilo-io a Tliomaz Hyjc (in Ili?lor. Scliarhiluilii , pa;(. 175) , apresenta a opiíiiãu .le sarem os IiiiliO!.- os iiivdnliirM ila pólvora e da Arti' Iliaria , dat qiiacs rfcebòrào d scii mo os Chiiit!Zes ; aiTesr.-nlanio , que os Sarrace- nos a recehírào ilos Cliiiieze;, p que de taes meios de di'slnii(;iio já pelo meado do século XIII. seseriiràn aquelles na guerra contra S. l.uiz , liei de Franija, dia (di/ Uliitcau no Í)iccio!iar'i)i vocal). JrtiUaria) (oy ••muito mais aiitiiro o uso da pólvora: porque, segui. do escreve Mattlieus ParisienJ •ise na Vida VilfV . para se deleiíder dt>s Tarlaros. i( E 2 3« MEMORIAS DA ACADEMÍA RKAI. í^o Ufano, t|iio testas noíicias da jiolvora forXo dadas ao fratíé Aloiiiào Urrlnlilo Sclnvarlz por Inuis ['ordigiiczes , que ti'- iiliào Yiajado pelas índias OiitTilnos. S(>ndo por lanlo vt-rdadcira »'sla noticia, a nnal fc.i por nós cxtrahida úo y.í imitas vvv.e^ cíVmIo Matiorinl Histórico de hl ArHllaria JHespcaiola, csoiiplo por D. Uaiiion úo Salas, Ca])ilulo 2.", Obra iiii|Ujr(antissiiiia . <|iic nos Icin siiljiniiiis- Irado hiinia boa parte dos ílociimoiilos cni|)r<\i;ados nosta JMomoria ; ainda mais clarainento sr, pa,tciit<ía o quanto estií distanto da verdade a noticia iiicideiitomente ian«;aíla no Re- latório do Monumento de Sagres, a saber = Cine o tempo dos Filipp^s. três do mesmo nome, es qnaes roinírào simiil- laneamente em Portugal e H(;s|ianlia desde o ann > I5í?0 até o de 1G40, era mui próximo ú epochii da invenção da Arti- lharia. = MEIMORIA EM aCE SE PERTENDE PROVAR ÔUE 03 ÁRABES fTAO CONHE- CERÃO AS CAXARIAS AXTES DOS POKTUC: lEZES. Liila na Scsílo de 13 de Jullio de 18lá, e nas seguinte?. JOAQUIM JOSÉ DA COSTA DE MACEDO. .1 Te opiniíto ílos que modernamenie tratrínlo cotihecêrãrt as Canárias, ou lliias ArurUinadas, pelo que delias acharão jios l'!sciiplores Gre:;os e Romanos. Frodnzinú os meus ar- gumeatos sem referencia áa ideas dos outros ; porque nflo he meu iijtcnto empeuhaf-me em polemicas pessoacs, afim dtí alcançar hum (riumpliO, mais |u\)prio para favorecer a vai- dade do que para adiantar a Scicjicia. Perlendt) Ião somente reviíidicar [lar.i a iVarão Porlui^ueza huma nloria que tem querido usurpar-se-lhe ; o se cons(>>;uir pro\ar a uiinha Ihe- se , coiitonlar-me-liei com a parte dessa eloria a que tenha d^ireito como Portuiiuez. 38 JMEx^IORIAS DA ACADEMIA REAL São tlois os fuiulanicntos cm ((nc sp íirmrio os quo asse- vpríio quo os Ar.nbcs conhocòrSo c navegarão as Canárias iiá idatle media. 1." Os j)assos dos Aiilliorcs Árabes que fallão nas Ilhas Canárias > ou Afortunadas. 2.° A viagem dos Maelirurinos. Antes de analysar rada luim destes riiiidamentos , pare- ce-me que não será fora de |U"0|)(isii() examinar oc|ue na an- 1i:,Miidade se cnlcndeo j)or IJlias Afortunadas; o coidiecimen- anhoes forào acha-la nas l''ilij)pinas, cujos habitantes assen- tavão qne nenhuma mulher, casada , ou ])or casar, podia sal- \ar-sc, sem ter hum afeiçoado que acudisse na outra vida a dar-liie a mão n'hum |iasso nuii perigoso d"hum rio que não tem outra poiUe suais do ipie hum nuideiro mui estreito, e que se havia de atravessar para pr.s.-^ar ao descanço , que chamavão Culualhalian [2j. [1] Ephiulrun , n.i ohra de Ltnvth — I)f surrn pncsi Hcivnnnim — p. 197 do T. 1. da ejicàu de L^psia (Leipzig) 177U, cilando na iiola (#) Jo. Lvcae A'ic- citmp liisinrutm >iiixsi'iiilx iii Índia Oiicntall , P. 1., Cap. \, . § 15. [í] Dolrina cru svmhrada por cl ihn.wúOy fii alc/tinas , i invcliiis destas /*■- Ins ; i auii cren que en loilns ; ipic no Sc pndu^ sahiiir fiur.sc cnsmla . o por cnsnr la mu(/cr , (jiie (íi tuv''cssc nlf/tíil afuiomij". J'nrt/iic i/vc rslc aciiJia en la otra vida, a dtirlts In m/mo cn citrlo jiasso de uri rin itiiti pelifjroso , que no tie- 7ic puciitc ; sino íin mt/ílrro piui cíiií/osIo , /:/ qual .vc /uidf jHissar , p'iriji passar ai dísctnro que li.-rnrin Calualliatiaii. Rfhiiion de liis JsUis Filipinas i de lo qUe e,n ellas lian Ifthip do los Padres de la Coiiipanla de Jems. Del I'. PeJro Clii- liiio. iioiíia IGOl-, 4.° \>. 'íõ. BAS SCIFATIAS DK LISBOA. a» Eslatloiitrina, ftspalhada pela Ásia alem do Indo , adniil-' lida na Assviia a ('lKikli>a af,<)inf)iiril)a sorios , in(,rodii/.ii)-sf! na 1'ersia [:)J . cujos huIíuqs liahitanlns acrediíavito qno Millira eslava na ponto Ti-liinavad oiiTcliina- \ar, íici)in|)anlia(lo dos i/ods [4] Rí-slin « .Sornsli [ú] , jnlifan- i\o as boas ou ni;ís act-òi-s dasaiuias. S<í as boas pesavâo mais «lo fpio as ni:ís , ainda f|ur> fosso sti o peso d'liiini cabcilo ilas pestanas, niandaviTo as almas para o l'araiso ^'ij . quo (ira jinina cidadf amenissima o bellisHÍnia , ulem «lo rio em ípie eslava laiirada a poiíle Tchinax ad , ondo havia arvores cheias do fruclos, fontes d'ae;o;i, jardins, prados, > irirons sem man- cha, e que não podiào ser manchadas, mas servi/lo só para serem vistas e angmontarem , com u sua |i!CS(^nr.a , a ameni- dade do liiijar [7]. A ponte Tcliinavad tinha nove lanças de !ar|>;o , o cada fan<;a nove covados [3]. Da Ásia ewtondeo-se esta doutrina para o Egyjito , onde era crença ant ifiiiisHima ipie as almas d(^s mortos, par.i clie- gareMTi á sna habitar.uj, liaviílo de passar hum rio, ou hum mar, alem do qnal estava o Paiz dos bemavenlurados • eaté para se dar sepidlura ao3 morlos (ira necessário atravessar hum lago. sendo levados n'hum barco, cnjo patrão se chama- va Charon . na lini,'-oa do Mgvpto. Michaidis perlende mesmo explicar por meio d(»stii mytlio al;;uns liii^ares dos Livros de Moysivs , dos Salmos, e <ío Livro de Job [9]. •' i Do Reyplo , 011 da Ásia Menor, passóo eslá doutrina; por huma ]iarte . para a Grécia, e da Grécia para o Occi- [:!] Mr. rélix" Laj.iiJ . iia >u.i .\I>;iiioria ^obrc dois BaJ.xus felevos Mitliriajcí^ (I(«fol'Rrto>; na TransiJvaiiia , diz que a creh(^,i iloi Persas vtio da As^yria . e da Cliáldo.-i. Mrinoires dt V Insfittit,' AcadiMie Rfy^ttlt -de» InKr\ptiont el Bellet íetlrt^ T. 14. P. í.' , :.■■ "I ''.• I ->■--'. I •L',Hii > •■'. v' [ l] Iz<; 1 , ou I/,il si^iiifiiM lia liii^'i>a 7.en\ dm antigos Persas = Deos infe- rior, geiíio bom, díMoen li iite da raçi oelisto do^Deos •s = Silvejtrc Je Sac)- , Mc'- moires tUr (litíirsrs imlii/iiil/f ilr la l'n'se. Pílris 1?98^^ 4.*'{i. 9W. ' r5[ CamftMi ciudo jJDr Hyde, Historiít llcliijiõnii" f^etei^úM' P/lHíiffim, O-VOi nii 17fiO, p. 4t0. . \ '.. 1 flad-der, [KinusíS, l.*, íD,^ « lOÒ. 'tttt^tip» ^pWf*tíy(tóv i." c.p.'48â, '4«,461 . .: 511. '' .-■ V"^ . '>■>•■ 'M «. N\>-!.. ■....O;. : . '. ■ [fi] flvile I. r. , (). 541. id<'m il)id. i>. 403 , citailU.) CaiirAil :■ 'fttd'«dtír V , port* '1.*,' iru lim desta MviiiorV.'' '. [7 1 Carnisi , en* HyJe , 1. c. )a. i09'- SuMit; píJrtaS 'í « ^!^ , tw H/Jíí ]."í!. p. 45-1' e46t. ••'■''-•-■'.''•'••■'•"■■,•'•; ' "' i ' •■ -i '■ [8] Sad-dcr, porta 89, em Hyde , I.c. p-^joè. ' [9] L. r. T.il. 1». 196 t: segliiíStfs ; fiainte Croi.x. Rccfic^cícf /iisloi'iaiàs ttcriti' (yiiis sur Us Mi/strr-s Ju l'a de lá clieiíDU até ás iNacòes visiiihasidos Aoliaiitis , que acreditão serem os mortos transportados ;'is margens d"l\uin ianioso rio, no interior, onde Deos exami- na a sua vida passada , e julga se tem observado exactamen- te os dias de jejum , se se tem abstido dus comidas proliibi- das , e se forào lieis aos seus juramentos. 8e o rosidtado lie favorável, permitte-se-ilies passar para a região da felicidade, e no caso cojitrario , são lançados ao rio , e conde ninados eternamente [lo]. He estranho ao objecto (pie me proponlio discutir, pro- fundar esta matéria . e por isso termino a reseiijia dos 1'aizes onde se admittio a doutrina de ser necessário que as almas dos mortos ])assem hum rio antes de chegar á região dos bemaventurados , resenha que só liz para indicar a universa- lidade desta crença ([ue , sob diversas formas, grasnou por alem ilo q-ual , ena extremidade da terra, es- 4ava o campo Elysio, que habitava Rhadumaiito , onde não havia neve, nem inverno asj)ero , nem chuveiros , massopra- vão do Oceano brandas virações do Zéfiro [12] ; e também era necessário atravessar muitos rios , e primeiro que todos p Oceano, e a região das trevas, para che:;ar ;! casa de Plu- tão [I3J, em que Ulysses encontrou a sombra de Hercules [14] ; [10] S'imf uj tlie níi//íljuiirhiri luitions (ilos AcliaiUis) bclieve thal tlie JeaJ are iransporlcã iinmediatili/ lo tltc (junks of (i famous ritcr in íhe interior , v/tcrr (ind eraniiius thrir jinst hfe , nud juilges if tln-y harc ernctlt/ ohserred tke ilai/s of jnst, if tlny linsf abslainrd from llir jnoliihitcd meais and kcpl l/irir oat/ts . if lhe rcsult is fiwnirahle , thii/ are. alluioed tu jiass oter lo a hafipi/ countrijf ; if iiot , lAci/ are ptmujed inlu tlic ricer and losl for a>er. Bowdiíli. ^n Etsai/ on t/ic supersiitinns , cHs/oms, aitd íris, common to t/ic aticiínt Ef/y- j/tinns, Ahyssiniaiís, .and ..Isliantçes. Paris Ifil — -i." , p. 43 (nota) [11] miada, I.. 18, V. 60(;; I,. 00 . v. 7 ; Odyssea L. U , V. G38 ; L. 12 v. 1. [12] Olví^ca . L. 4. V. 568, e se^-uinles. .-, (IS] Q maisespe('ialmente naPhenicia, como aelymoloí^ia ii(d)rai- 5> ca do nome dos Cimnierios poderia fa?.P-lo presumir etc. [I7j ; ]ior('m aliandoMOU esta opinião, econlinuoii a considerar co- mo fai)idas, j)roduzidaá pela imaginação dos Poetas Gregos, o Elysio e as Ilhas Afortunadas [18] ,'attribuindo , tanto ellè como Visconti , a Homero a idf^a d'hunia lilia dos BiMiia- venturados , que me parece não existir nas obras daquelle Poeta, mas tão s(imente a de campo Elysio [19]. A opinião de Malte Bruii e d(í Visconti, foi já emittida por Sfirvio, estribaudo-sc n'hum passo da Odyssea, em (jun não se trata de Ilhas Afortunadas, e allesrando-a como de .Sal- lustio , na fé d'hum fragmento incerto, que, por isso mes- mo, torna duvidoso se Salltistio assim o entendeo [20]. [1,3| He)ne, Ecciírsus XIII iui L. 6. d;i Eneida de Virgílio, T. 3. da ed. de Leipzig', ISOO, p. Zi'.) c seguintes. . [IGJ Ilftiio.U Opera et Dica, V. 171 ; Piudaii Oli/mp. 2, Ant. -t, v. 77 e 78 da od. de Boeckli. [17 I Uuc ces fictlons aleiít eu pnnr hase . une allrr/nric morale, ou la relation ohscurc ilun naeiyateur cyarc ; quellrs soieat ne'es cn (irèce , ou , comme V itifmo- itir/ic /.('.níiyiíc (lu nom ilcs Cimmericiia pourniit le fairc prisumer , duus lOrienC et jilus spicialcmcnt cn Phcnicie etc. Trécis de la GeOfjrapliie Uiiiverselh:. £d. de Paris, ia:U e sef,'uiiiles, T. 1. p. »6. [U!| Idem, 1. c. pag. 37. Zi5 e 2iG. ;inj Idem, 1, c. p. 32.5, iii iiiie ; Visconti, Iscrhion! Trioppce , p. 332 do 1. vol. d:is = Oy;crí: A'<íric = Milano 1827 e segiiiijlt^s. [iiOj ^ //,»«,■,■«,, campos Elyslos ad insulas l''>rtunntas esse teííatur Iiis versi' lus. (San os ver>n.9 oS.i a .'jGj do L, 4. da Od.ViseaJ. Conimentario ao v. (iiO 2.* SLKID;. T. 1. I>. II. " p 42 MEJWORIAS DA ACADEMIA REAL Porêm nas Ilhas Afortunadas cie Pimlaro não ha nem o fraco imlicio (jue nt-llas encontra Miille Brun , para fazer lem- brar as Canárias. ]'intlaro (refere Malte Brun) diz quo = í< jun- ,•; to das libais lantas maritiaias fluctiiào sobre a superflcie }> do Oceano "= [21]. Eis-aqui o passo de Pináaro , traduzido lilteralmente : Os que a triple carreira Da vida tem passado , conservando A sua alma sem nmncha , De Jove pela estrada, Vão demandar o alcaçar de Saturno, Nas Ilhas deleitosas Dos Bemaventurados , onde soprão As auras dò Oceano ; Onde áureas flores brilhão , Humas na terra cm arvores formosa.s , Outras na ae;oa creadas. DoUas formão grinaldas com que adornXo As màos e as cabeças [22]. Parecc-me que no paíso de Pindaro não ha as expressões que Multe Brun lhe attribue , nem alhisào alguma ;ís Caná- rias , e que só trata do Paraizo cm que liiSo gozar da bema- venturanoa etlinica as almas dos justos , o que se exj)lica pe- de L» 6. da EiieiJa, p. 101 do T. S. da ed. de Virgílio de Burni.nnno. Anistel. 1746. tnsuíní Fnrtunatae qunsqtie ait S(ãhiftius frnrfm. incert. inrlytas esse Ho. mcri cirminiluis. Comment. ao v. 735 do L. õ. Ja Eiitida, p, 689 do T. 2. da ed. de Burmanno. [21] Mcmc nprès tfue larelalion DAS SCIENCIAS DE USBOA. 43 Io fraírmpnto rio Tlireno 1. , em que outra vez falia no mes- mo sciitiilo [23J. H(í por consequência evidente que as Ilhas Afortunadas n3o er.to hum Paiz conhecido, onde podessc abordar-se , maa pelo contrario hum Paiz mystico, hum Paiz a que as Nerei- das , conduzidas pelos Tritões , acumpanhavão as almas dos IJemavcnturados (jue para ali se dirigião [24] , hum Paiz a que nunca ninguém tinlia hido , e j)ara o qual, bem como |)a- ra o dos Hyperboreos , nem por mar , nem por terra , se acha- va caminho [25]. Assim continuarão os Gregos a considerar este Paiz , transmittindo as mesmas noções aos Romanos , cujas idéas a respeito delle orão , ainda no século segundo da era Chrjstâ, bem conformes ;ís de Pindaro, porque na inscripção deJVIar- cello em louvor de Kegilla , mulher de Herodes Attico, que floreceo pelo meailo daquelle século, diz o Poeta quc=íiRe- j) gilla habita , em companhia das Heroinas, ou Semiileosas , M nas Ilhas Afortunadas , onde reina Saturno , fazendo-a » Júpiter transportar pelas virações dos Zéfiros para o l^ly- » sio , onde estií debaixo do Governo de Rhadamanto que era jjali Juiz. [26] » Hum Paiz que entrava no systema theologico dos Gre- gos e Romanos quiz-se tornar hum Paiz real , e como ne- nhum dos Poetas antigos lhe assignava , nem j)odia assignar-' lhe , localidade determinada, porque era hum Paiz mystico, pôde applicar-se-lho o que Plinio dizia dos Jardins Hesperios =• 3ue as fabulas Gregas faziuo andar vagando = [27]. Colloca-* o, por tanto, onde a fantasia de cada hum o figurava, ap- pareceo na Ilha dv. Leuce , defronte do Boristiienes [28] ; no lígypto [39] ; n'hum dos Oásis da Africa (a que Heródoto [ÍS] rind.iri FV-i^m. , T. 4, p, 620 da cil. citada* [2+J \iscoiiti, Musco }'io Clcmcntino, T. 4, [i. 208 a 110, na ed. dasObraa de Viscoiiti .\lilano 1818 e seguintes. [25) Horácio, EjioJ, IG , v. 59 e seguintes ; riiidaro, Pylh. 10, Jnt. 2. [iC] Viscoiiti, hcrizioni Triojjpte, lnscri|>ção J/, T. 1 das= Opere Acaris dii ed. citad.i, p. 272, v. 3 e 9 , 21 , 22, e 47. [27] {'aijantibus Gracciae fabulis. Plinio, Jlist. Nat. L. 5., ^. 5., pag. 29S do T. 2., e,l. de Franz , Lipsiae 1778 c seguintes. [28] Plinio JI. N.. L. 4., §. 27, p. 181 do T. 2; Dionysio Periegeta v. S-il e sc!;uintps , p. .■(4 «la ed. de Bernliardy , Lipiiae 1828. [291 ''^- Joilo Clirysostomo, Troic. p. 188 C , citado por Gesner — De veterum naoi gio algum dVdificios ; tem nos montes hum lago e arvores ;> semelhantes áferula, de qu> mesmo nome. Depois a Capraria cli(.'ia de grandes lagartos. j> A' vista delias está a Nivaria , nebulosa, que tomou este 'uionie por estar sempre coberta de neve. A que est;í pro- "xima a esta chama-s<í Canária; pela multidão de cães de »> excessiva grandeza de que levarão dous a Juba , e appare- "cem ali vestigios de edifícios. E abundando todas em toda j>a casta de fructos e aves, a Canária abunda também era "jialmares que dão tâmaras, e em pinheiros. Ha igualmente "abastança de mel, e j)apyro ; e nos rios ha siluros. Os "monstros marinhos que o mar ali arroja continuamente, "apodrecendo, infestão o ar [4o]. " Ex|)licada a origem do nome de Bemaventuradas , dado ás Ilhas Canárias, \ejamos os coidiecimentos positivos que delias teve a antiguidade. Geographos modernos , abusando da sua erudição , ou querendo ostentar huma perspicácia superior, dão as Caná- rias como conlu;cidas desde tempos remotíssimo s. flíalte Brun , V. gr. , lundado nas authoridades d'huma obra attri- [40] riiiiio, Ilist. iVii/. L. C. , cip 37, T. 3 , [1. 774 e seguintes. V. o N. II. lio Ai>[n'nji\. 4G MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Iniifla a Aristóteles, e de Diodoro Siciilo , pcrsuadio-se de c]iio os Carthaginozes conhecião jiarte das Canárias [4l]; po- irm a mim parece-me que nenhum conhecimento tiverão «lelias ; e, para o provar, examinarei os passos dos A. A. em que Malte Brun estriba a sua opinião. Eisaqui o passo da obra attribuida a Aristóteles = "Di- »zem que os Carthaginezes acharão no mar, alem das co- jílumnas d'Hercules , huma ilha fértil e deserta, abundante »em bosques, e em rios navegáveis, e admirável em todos 5) os fructos , distante do continente muitos dias de viagem. "Dizem que tendo os Carthaginezes principiado a ostabele- 5) cer nella casaes , e a habita-la , em consequência da ferti- "lidade do terreno, o governo de Carthago prohibio , com j>])ena de morte, que ninguém mais fosse á ilha, e expulsou 7> delia os habitantes , para que não conseguissem , por meio »> d'alguma conspiração, asenhorear-se da ilha, e privar os » Carlliaginezes daquella ventura [42]. = Diodoro Siculo diz o seguinte: "Depois de termos cor- j> rido as Ilhas áquem das columnas d' Hercules , passare- 5) mos ris que estão alem delias no Oceano. Para a parte da » Africa jaz huma grande Ilha, no vasto pélago do Oceano, 7' a muitos dias de navegação da Libj'a , declinando para o 5) occidente. O terreno , que he ali fértil , levanta-se , em » grande parte , em montes : porem não tem pequena parte jj em campos, e esta parte sobrcsahe cm amenidade, porque »> por ella correm rios navegáveis que a refrescão. Tem mui- j) tos jardins d'arvores de todas as qualidades, e innumera- »veis pomares, cortados d'agoas doces. Tem tarnbem quin- ai tas ornadas com eiUlicios sumjituosos , e nos jardins ha ca- nsas para bebidas curiosamente jireparadas, c aqui vem passar j) o verão, porque aterra oíTerece, em abundância, todas as 51 commodidadcs para os prazeres e delicias. A região monta- " jihosa tem nuiitos e grandes bosques, e vários géneros d'ar- '> vores fructifcras, e ])lanicies, e fontes proj)rias para recreação j) dos montanhezes. Esta ilha he, j)or tuda aparte, regada de j> nascentes (Fagoa , o que não só ]iruduz agradável deleite [41] L. c. T. 1., p. 88 e 'iiS. [tí] Lihr.r de ÈliraWilius Atismltntionilus , ed. de Beckmann, Gottingae 178G — 4.°, ca[>. 85, pag. 17í2. Esta determinação do governo de Cartliago pare- ce-me (|ue devia ser relativa aos Estrangeiros est.Tlielecido, naquella iilia, e aos que quizessem ir para ella, e sò neste sentido he <|iit juide entender-se o que diz o A. V. o N. III. do Appendix. I DAê SCIÉNCIAS DÊ IJSBOA. 47 »aos que nella vivem , m.iS rontribiie fambom muito para a >» saúde e vigor. A caça de Ioda a espécie de aniuiaes e fe- bras he ali mui co[)iona, e por isso nào ha nunca falta delia, »nem para o regalo, nem para o apparato dos banquetes. j» O mar que banlia osIh ilha lein nitihichlío de peixes; por- !> que o Oc<,'aiio . p',ir sua natureza, em Ioda a parle abunda j)em vários f^^eneros de pescados. A tf'm|ieratura d<> ar Ik; "brandíssima, o que faz com que, na maior parle do anno, j> d(ím as arvores quantidade de fructos diversos e formosos, j) e he tal a felicidade que nella se ^oza, qiu^ n):iis parece " habitaçíto dos Deoses que dos honieus. Vo\ antii';ainente ?> desconhecida , por estar n)ui apartada do resto do Orbe, aporem achou-sc pelo modo seguinte. Os l'henicios , em j? tempos antiquíssimos, fizerito , por oceasi.lo áo seu com- » mercio , fretpientes navegações, o por isso esfabelecèríío » muitas colónias na .\frica , e iifio jioucas naqiu;llas partes » da Europa, que olhão para o occidcnte, e proseguindo nos "seus intentos, oj)ulentos com immensas riquezas, sahírão jjfóra das columnas d' Hercules para o mar que se chama «Oceano, e ])rimeiramente junto ao mesmo estreito das co- «lumnas, fuud.írão na F dade a que denlo o nome de (íades ; na qual, alem de ou- viras cousas convenientes ;í(piell<> lugar, ediiicínTIo humtem- » pio sumptuoso consagrado a Hercides, roín oflicinas magni- » liças, para a pratica dos ritos sagrados dos Phenicios. Ksia » templo foi tido em summa veneração, tanto nos séculos «antigos, como nos modernos at*'- aos nossos tempos, a pon- "to de que muitos Homanos, illustres por sua nobreza, c » pela grandeza de suas façanhas, lizerão votos áquelle Deos, '> e forào paga-los, depois de terminadiis felizmente os seus ."> negócios, Por este motivo , investiijando os Phenicios as j) regiões alem das columnas. e costeando as praias da Afri- >! ca , for.ão lançados, pela força dos ventos, a grande dis- "lancia de navegaç-io pelo Oceano, e acossados da tempes- » tade j)or nuiitos dias, aficntárao á ilha dequ(> ja faJl.ímos ; e "Conhecida primeiro |)or elles a sua natureza e bemavcntu- " rança , derão noticia aos outnis ; e por isso, depois qtie ai- j> canç.trào o domínio do mar T) rrlieiío ,• dostin:írão para rlla j> huma colónia, ponun opposerão-se-Uies os ('artliaí^inez<>s , j: ])or(|ue rt-ceárào que nuiítos dos seus cidadãos, attrahidos «pela bondade da iíha,^ emigrassem para i.í ; e quizerào tam- " bem ter nella proinpto luiiu refugio para qualquer accidcii- 48 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL nie inesporatlo da fortuna , so a Republica cl(! Carlhaço ox- >» periínenlaíise liuiii icvc/. doslruidor ; porriur- coiiliavào que, j; sendo ainda [)o;ler(>sos no mar, j)oderi;ui iraiisporlar-.so, com »> todas as suas familias , para luinia iljia incoyuila aos ven- » cederes. Mas, visto que já lalláinos do Oceano Africano "C das suas ilhas, traiaremos tia JCuropa , olc. ;: [■i'3] A simples leitura dos passos Iranscriptos parece dispen- sar fiiialqu(M- outra rellexàcj. O inndo da Historia de Diodoro he tirado da obra altribuida a Aristóteles, ou tia nionia fon- te , só com a dillereiíça de ajuntar mais alcumas circunstan- cias. A ilha do falso Aristóteles era deshabitada , a de Dio- doro habitada, com liiidas casas de campo etc. ; porèiu seria falta de siso (ravar brii;as com fantasmas , e só accroscenta- rei o que diz VVess(;lin^• em luinia das suas notas ao jiasso de Diodoro = « Qual seja esta ilha do Oceano para a parte »)da Lybia não o direi. De certo n;Tío pode ser nenhunia das "Canárias, porque lhe obsta quasi tudo o que delia se aprc- !>gòa = !> ["*•*]■ Quem tiver tenq)o de sobra poderá procurar esta ilha onde lhe parecer. Alem das authoridades acima expendidas , podia Malte Brun allegar huma tle títrabo , que vinha melhor ao seu in- tento; jiorque positivamente diz que os Carthagiiiezes co- iihecèi"ão as Iliias Afortunadas, e hií a seguinte rz " Também j) fazem menção (os Poetas) das Ilhas dos RemaveuUirados , » e sabemos que ainda agora a|)])arecem , não mui distantes » da extremidade íla Mauritânia , defronte de Gades. Digo » que os que indicarão estas cousas forão os Phenicios que , «anlcs da idade de Homero, occujjárão a melhor parle da "Africa e da JJc.spanha, e forão fciiliores daqiiellas terras » até que os Romanos lhes acabarão o Inq)irio » := |^-15j. Este dito dcStrabo não assenta sobre fado nenhum liis- torico, e por consequência lie a sua opinião particular sobre os primeiros que tcrião tido noticias das Ilhas Afortunadas, ou talvez a mesma tradição referida pelo A. da obra attri- buida a Aristóteles, e j)or Diodoro .Siculo, applicada ás ilhas jnythologicas que a cxistewnia das Canárias . ha jiouco reco- f4S] Dioiloro Siculu, JiiU. L. ò. , jiag. S Í4 .!o T. I. da vd. citada. V. o N. IV. do Appeiidix. [4-í-j Qitac 7iniris Oceant ronlra Li/Líroposito pa- ra as descrever, como refere Plinio [úo] , dando- lhes nomes pregos, o que prova que não os tiidião Cariliaginezes: ac- [W] h. c. T. I. , p. 227. [47] Ibiil. p. 229. [•Í3J .^iMiniaiio Marcelliiio L. 22, cap. 15, p. 300, T. I. da edj de Wagner. Li|)siae IfiOS. l^J V.iiro De Re Rusticn, L. 1. , câp. I. , p. 1S2 do T. 1. dos Ra Rustlcaé Scriptores Felcres Lilini. el. de Sclineider. Lipiiae 17;i-í. p sejrninteíi. t>alliiitio, GurrM de Jiigurtha, cap. 2u , p. 7íi do T. 1. da ed. de Havercamp, 'Anisfelardami 17-12. Cullumella, De Re Rústica, I,. 1. , cap. 1. . ■§ 13 e 18 , p. 38 c 39 do T. 2. Rei Riislícne Scriptores Ictcres Lutini, da citada ed. .Mela, L. 3. , cap. 9, p. 104 e H)5 do T. 1. da citada ed. Pliiiid, Hist. Aat. L. 2. , cap. C7, p. 3S< do T. 1. da eci. citada. SoliiiO, Cap. 2-1, p. Si do Tom. I. iian Pliiiiaiiac Kxercilattones iii Sotinum de Saiimai* , Trajecti ad llliemiin 1G89. iiuib ]'eito .\viei)o. Oní Murilima v. 117, 383, 412 a -ilS, p. 118G, 1234, 1238, u 1239 do T. 5. dos roctae Latiiii Minores, ed. de Wernsdorl, Altenliur- íji , e Hi'liiistadii 1780 e tcfjiiiiite;. \av] llisl. Nal. L. 6 , cap. 37 , p. 774 do T. Z. da ed. citada. 2.° siiKiii. T. I. i>. ri. G 50 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL crosro .1 is(o o (eslomiinho <1p Mimilroii Cartliag^inoz qiio no- riÍHÍni;i pnlavra diz ,-1 rcrca drllas , aii(os l)nni Ionizo (l'is.so aponta as i;iai)ilÍ8sinias diUiciildaíÍPS da nav(>i;arão do Oceano, al(>iu das colnmnas [õl]; o accrcsce mais o síI2]. Quando digo quo os ]'lieiiicios o Cardiagiiirzrs não ti- verão conhecimento das Canárias , (jiusro quo se entfMula que não ha monumentos Jiistoricos escriptos que tal nos afiancem; e quo, por consequência, ueuhuin raio de luz nos refiectio dollos, que possa ahimiar-nos cm semolhanto matéria. Que as Canárias ajiresenlarão aos seus primeiros «lescrdiridores , na idade media, vesligios d"hunia civilisacão an(i(pjissima , que não se compadece com o estado selvagem em que as acharão, heinnegavel: ^- mas cjuem hc que sabe ainda a ver- dadeira historia dos Povos? Alraz .fica demonslrado [SS] , que as Illias Afortunadas de Pindaro nenhum indicio dão ReniavenI (irados, cantada ]Vor Honioro. ^i^orfíu) os (luanclio)?, í)habilanlrs das Canárias, iiíío as poesias dn Honioro? Nisto -•> hc que nào pensou o bom Phitarcho. Os Romanos eirAò í> os Canários he que derão ás duas Ilhas de Sertório onoiuç » de Afortunadas = [62]. . O 1." vestisio destas Ilhas Atlânticas encontra-se li'htim fraíiniento de Saliuslio , conservado por Nónio, c he o se- guinte =« Do qual constava que duas Ilhas visinhas entre a, si> e distantes 10 estádios de Gades produzião espon- ta laneanicnte o que he necessário para a vida = » [03] Esle ])asso , combinado com outro IVagmento do mesmo Salluslio, conservado por Acron que diz assim =;= u Con- j>la Salluslio, na Historia, que Sertório vencido quizera ir í»para as Ilhas Afortunadas = » [64] Sfio os único» indicios íla historia das informações dadas a Sertório d cerca das IlhaS Afortunatlas, expendida mais amplamente ^or Plutarcho, na forma seguinte : , ■ ' ' "Aqui (pouco acima' da foz do Guadalquivir) forSô teí » com ello (Sertório) certos navegantes , chegados havia pou- *> co das Ilhas Atlânticas. Estas Ilhas são duas , sejiaradas *> por hum muito pequeno estreito, distilo da Africa 10:000 "osladios; e chamào-se Aforhlnadas. Tem chuvas inodera- j> das , mas poucas , as mais das vezos tem v(miíos brandos » com orvalhos: e por isso o solo , nào só he bom efcrlil pa- rira as sementeiras e plantas, tuas também produz, sem cul- íitura, fructos que podem sustentar , abundante e agrada- .j>vclroeille,-]iuxiia população ociosa , smn os trabalhos c fa- [iZ] L.i.:, p. !Í4S. V. o N.° VI do Aijpenrli^í. [.C3J Cttjus duas. insulas prnfiituivas iiUcr se, it ilrccm stnãium pnxn! aOaili' lus titas , constahc.t sunptc iiujcnio alimenta inmlalihiis (/{'jnrre. Nónio Marccllo Pfí Humeris el ^(tsiOm: í^eilaJii IGli, p. Ifl.T, in fine. ■ [fi i] Iiisulao forliinal'te ml qnns Salliístins in ílislnrin. dicit riclum vnhilsse ire Scriurium =-- Acíoii ao Ií|kkI. Ui de Horácio, ti. Ifid v. , da ed. de Veneza IVJH. Anilou tatus |)aii duas «Illias Lancerole e Forlavontiira, com os fios ilholos d' »Allo^ranza, Ciara, v Lolios , rojiresniitão o vcr*ladoiroi;rii- » po das IlhaíS Afortunadas, e ois-aqui como conciliamos en- » tre si , e com o estado real das suas posições , as trez re- n laçííes de Seboso , de Juba , o de J*Loloi jmto. ,, Nomes modernos „ Allegranza „ Clara j, Lancerote „ liobos „ Fortnvcntura Seboso Jiiiionia 1'iiivialia Capraria Juba .liiiiõiiia |)arva Oinljtios .luiionia Capruria Plolomeo A prós i tos .lunonia Fluitaíia I Capraria „ AIom dfstas Ilhas Aforluiiadas , diz Plinio , ha outras; „ mais abaixo explira-sp assim : avist;lo-so das praias das Ilhas ,, Afortunadas as de Nivnria e de Canária, que sJo, seijun- ,^do se persuadem todos os Geoc;raplios , Tenerife e Cana- „ria, e s3o fambom a Commllis , e a l*laiunia de Seboso, „que dá a estas duas Ilhas oxclasivamonte o nome de Afor- „ tunadas, restrin?^ido por .luba ;ís(piatro precedentes. Aqui „par3o os descobrimentos de Seboso, e de Juba ; e aqui se „ termina também a ç^eograpliia de Ptoloineo. Os antigos nflo jjCOnhecenTo as outras ires Canárias, ou j)elo menos, são „ inúteis para explicar as relações (pie d<'ilas nos deixaríSo. „ Na ex|»licaç;1io que apresentamos conserva-se . quasi inlei- „ ramente a ordem dos nomes, rcconlicce-se a posiçfío norte „snl das Ilhas Afortunadas; c encontr;1o-se iijualmente os ca- ,, ract.er<>s jiliisicos, porque a única fonte ^tle fecundidade de ,, Lancerote , ou Pluvialia , sào as chuvas periódicas. Se re- ,,stão ainda dilFiculdades resultào das medidas dadas por Se- ,, boso , medidas (pic; (TAnville nãojul^^ou susr(>ptiveis de ex- ,, j)lica<;;'io , e que frosseliu só poutle explicar por meio de jjSupposições eni^enhosas, mas arbitrarias " iu^]. Desliar com miudeza a explicação de iVíalte Rrun seria gastar tempo inutilmente ; e por isso limitar-me-hci a breves reflexões. [69] L. c, p.-ÍSil e -iii. V. o N." VIU d» Apiieudix. 56. MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Em 1.° lugar: Juba falia explicilaniente de 6 Ilhaâ , ,&. ])õo a Junonia menor juuto á outra Junouia. Ora a Ilha de Lobos, a que Mallo Brun chama Junouia, he entre a Ilha de Lanzarote e a de l^^iorlrvcndira , o não na visinliaiit^.a d(í Santa Clara, que JMaUe líruu chniun Jinionia píirvn , entre a ([ual e a Ilha de Lobos se melte Lanzarote, de maneir* que nem podem avislar-se huma á outra; lo^o Santa Clara não pode ser a Junonia parva de Juba, que devia estar ao pé da Junonia. Em 2." lugar: O grupo das ijhas e ilhotes que termina em I'\u'rtevenlura , comprohende , como j;í dissemoí! , f! ilhas «llholes, Alegranza , Roque d'Oeste, SaníaClara, Gracio- sa, Roque dei, este, Lanzarote, Ilha de Lobos marinhos, e Enorlevenlura. Roíjue d'Ocsle , e lloque de Leste são 2 pe- j)ha.-;cos ; jiorèni. a Graciosa he maior do (pie Santa Clara o do qu(> a Ilha de Lobos [7o] ; e jior isso não ha motivo pa- ra se omiltir neste grupo , senão lor o espirito de syttèma que obrigue a ver só 5 onde ha G. Em 3.° lugar: Plínio não diz que alem das ilhas a c[U0 Malte Brun applica exclusivamente o nome de aíurtuiiadas , lia outras, e (jue Ais j)raias das Ilhas Afortunadas so avistão Tenerife e a Canária: vai descrevendo as seis Ilhas, e di^ que ;í vista da Capraria e da Junonia menor está a Nivaria, (in coiispccluj , e ])roxima a ella a Canária [7i]- A explicação do Malte Brun he hum exenijjlo da perti- nácia com que os modernos querem á forca dar como certaij as relaçòcs «jeograpliicas df>s aniigos, e até achar exactas as suas medidas. ()s antigos forão homcms , errarão como nós, e err;írão mais do que nós, em muitos pontos geographicos, porque tinhíio menos meios para acertar. Se ainda agora ha tantos erros em Geographia , como não havia d'havè-los en- tão P Quanto a mim he huma cliimera procurar a exacção das medidas ilesdo Promontório Sacro até Thiuae, em que muitos se tem afadigado. E não será huma obstinação cega fazer os antigos ainda mais exactos do que elles mesmos o querem ser ; jiorque , a cada passo , estão dizendo que não [ÍO] A Graciosa tem quasi três niillias de comprido, eduas de largo : e.illlia He Loiíos Mariii!ios tuin qii.isi liuiiia lci.;na úv. circiiidorencia. Cl.ivijo, JVolkius de la Historia (Icncnil de las Islns df Camtrlii. T. 1 , p. 45. Em qualquer carta se verá que a Graciosa lie taridiein iiiaiur qim Santa Clara, [7Ij llist. NuC, L. li. , cap. 37, p. 771;; DAS SCIENCIAS DE LISBOA, ' ST respondem pelo que escrevem ? Todos os Gcoçraphos anti- gos se contrailizeiu , so emendão, se explicilo muliianiente) assim como hoje acontece com os viajantes, e com os Geo- graphos modernos. Se Kratosthenes, collocarido Syene e Ale- xandria no mesmo meridiano, se enganou n"hum gráo , por- que Syene está hum gráo mais a Leste do qu<; Alexandria : 'se poz Méroé do Nilo, a Ilha de Rhodes , Cysancio , e a liorysthenes no mesmo meridiano, eslando estas posições em meridianos dilFerentes : se a estas latitudes , mal deter- minadas , ou talvez somente mal traduzidas d'ali;uma carta d'hum antigo j)ovo navegante, os Geographos d' Alexandria referião todas as latitudes dos outros Paizes , que ás vezes adivinhavão pelas indicações, tSo pouco seguras, d'hum gno- mon , mas as mais das vezes pela estimativa dos viajantes , segundo a natureza dos ventos e das producçdes, donde nas- cerão os erros das tliversas posições do globo , como nota Malte Brun [72] ; a cahir no tempo di; Julja, porque Cicero morreo no anno 711 U. C. , iuim anno de|iuis de César, e Catullo era mais moço do que Cicero dezenove annos , por ter nas- cido no anno 667 LI. C. [79j ; por tanto não admira que Es- tacio Seboso alcançasse muita parte do tempo de Juba , e quo tivesse as primeiras ideas confusas dos descobrimentos de Juba , mesmo antes delle os escrever , o que lhe seria tanto mais fácil se , como diz Malte Brun , Seboso estava em Cadiz , quando as obteve [8o]. Esia opinião ganha maior força ; por huma parte , pela identidade de alguns nomes das Afortunadas de Seboso e de Juba ; e por outra parte , pela desordem da relação de Se- boso que mostra bem que não tinha ideas exactas a este re- speito , e quo só teria rastreado alg^umas noticias vagas do descobrimento das Canárias mandado fazer por Juba. E tan- ria sf^/jrc as verdfulciras épocas f»* que prlncípittruo as nossas Ktivcçfaçoes , tf Dcscohrimtntos no Ociyvto Jtlautico, s |>. 189 ila P. 2. do T. XI. das Memorias da Acíidemia Real d;is Sciencias de Lisbo.i; mas, consiilerando novamente esta niateiii) , julgo mais atertado o (|u<; agora digo, c deseiivolverri nos 'J§ seguintes). Iluiii dos [irincipaes motivos da opiíiijo que então emitti foi não ter advertido qu9 Juba escreveo em Grego. [7fi] Et patruin nosirorum actatc Rti Juba. Hist. Nat. , L. 25 , cap. 38 , p. CSkidoT.T. [77] Appiano , Hisl. das Guerras cieis dns Rnmunos , L. 2. , cap. lOl , p. 31-1 do T ii. da ed. de Schweighaeuser. Lipsiue 171)6 ; Plutarcho, César. Ed. de Keiske, T. i. , pfl^. 286. r78] No Index dos A. A. citados por Plinio, T, 10, pag. S52. O lugar d» Cicero he o seguinte = Eccc cx altera parle Scfjosus , ilU Catulli familiaris . t/uò nié ceríam ? ==_L._S. adjilicum, Episl. U. p. S73 doT.S. da ed. da Vet- burg. , 1724 — 4.° [79] V. a ViJa de Catullo, § XXIII. da ej. deVolpi. Patavii 1787 — ■t.''_ [80] Statius SebosUs recueãlit [84] , claramente dá a entender donde tirou esta noticia. Mola, no seu Comjtendiu Geograpliico, diz que as Ilhas Afortunadas , defronte do Atlante , abundão em producçõca espontâneas , que se rcnovão continuamente para sustentar «s seus habitantes , que não (em cuidado da sua subsistên- cia, mais felizmente do que acontece nas outras terras cul- tivadas; que huma delias he mui notável pela singular (pia- lidade de duas fontes que nella ha : os que beberem d' hu- ma desalão a rir até morrer : e o remédio dos que tive- rem sido acommettidos por esta moléstia , hc beber da ou- tra fonte [8.0]. [81] Menrjue omnia circa hacc (as Illias Gorgones c Iir!a'pcrira])hicas, e íalla de duas íoiites tle que nenhum outro A. laz menção. Talvez lenha isto relação com as agoas amargosa o agradável ])ara liobcr. que, scíruiido Ju- ba, se tiravíTo das arvores da Ilha Oníbrioii , n que as jiri- meiras noções do descobrimento das Canárias lhe fonseni transniil tidas oralmente, e [wr isso nào Tossem Ião exactas como depois as escrcveo Juba [86]. Quantas vezes tem suc- cedido , mesmo nos tempos modernos, serem as primeiras noiicias que se recebem (rhum pai/, novamente de.scoberío bem difTerentes do que de{íOÍs se veriíicão cm no\as via- gens .'' Plinio he quem nos conservou as descripções de Juba e Seboso [87]. Ptolomco parece discordar de Juba no nome d'aloumas das Canárias ; porém observa-se tanta variedade nos nomes que os diversos Aut.hores dão a estas Ilhas [80] , que enten- do só dever concluir-se delia a muita discrepância que ha- via nos Mss. da fonte onde todos Ibrão beber , que he a tiescripção de Juba, a qual junta á pouca exacção das in-* formações dadas a Seboso, e talvez á infidelidade da traduc- ção , p. *0. L 11 I I DAS SCIEXCIAS DE LISDOA. r.i seu impprlo nSo estondí-TÍto aló lú as suas navoyaçõos ; c q tlescobriínonlo das Canárias foi eslcril para a Goou;raj)hia , e J)ara o Coniinercio. Strahc) , a.ssevRrando-nos , no passo acima (ranscriplo, qup as Ilhas AforUinadas apparcciílo , iioseii li3iii[)o, nãoiiuii distaijles da oxlreinidado da ?>íauritaiiia, dofronlo de Cadiz ; o (cndo-nos dito antcccdoiiteuieiitc que o ponto mais occi- deiital , não s<) da Europa, mas até de (oda a terra liabila- da , c^ra o promontório sacro (o cabo do S. Vic(>n(o) ; mani- fosta-nos a sua j)orfeita ignorância da posição dacpicllas Ilhas ['JOj. PÍinio, apesar ílc nos transiiiitiir a rolarão do Juba, d;(- nos huma prova de que, no seu tempo, nada se sabia das Canárias, porque tratando das Ilhas Atlante, Cíorgones, e Hes- pérides diz=Tudo a rtísj)(;i(o delias lie incerto=:, e mais abaixo = Nem ha mais certeza daslllias da Mauritânia = [91]- Ora se jjão se couheciào as Ilhas da Mauritânia , como ha- vião .Xat KXt TÍ- ôtyotiulit;< ârríir^ ffrtjjaT^r, L. S. , p. iiOI. [91] Omnla cirea hacc incerta siint. .. . Ncc MuurUnniac insulurum ccrliof fama est. Ilist. Nat. . L. 6., Cap. 3G , p. 771 ilh T. C. [P?] L. i. , Cap. 6., p. 127, eil. de Bertius. [il3] Dolwell. Dissertaliincs de Oi-orjriiphot^um netatc, etscriptis, a p. 158 c I.ííl (lo T. 2. dos Geoyrtp/ii Graeei acirres M-norts. [;il] Jrriíni Pcrifliís. . . . ^yal/ieiiieri Jli/poli/jinses Genr/rnphiae etc. cà. de Honhiaiiii. Lipsiae IS-tí , prefação p. IX a XIH', XVI e XVlII. [n.j] TttTo dl í^Ti To ÍtÒ ráyytf ToTaaw iiiC&>.?f t5 í» 'l»^or< iit^mnxTy iirí ri ívri- Kiwrflircf Trí c*^»}; oíxBaí.r; à>t;or:;pi^i , S att^uTon fj.)r Itfli , TÍí AfflTalía? Jí /;Tif õiy-toi^ TÍ í'Í(t1 tíi Hfall^lac rr^í» oyT«ÍTf;íii' j-ímÍb; r« Tfi()(i>.'uit. Ed. de Huffiuílili citada, !.. i., Cap. 1., p. .".-W. ['Jú] Fabrício BiUioihcca Latiim T. C, p. á-iO, (M. He IWS, seguindo 6S MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Eunienio , no liin do soculo III. , [97] Juvidava se exis- tião as Illias Afordinailas [98J. Dioiíysio IVriegola, que \\\vo iiollin do século líl. , ou no principio do IV. [99] , soc;ue Scilax , c \n<(: na Ilha de Cerne o limite da terra habitada da parte da Africa, alem das coluninas [loo]. 3Iarciano de Heraclea , que lie taniheni dos Ijur do sé- culo III. , ou do principio do IV. , acreditando na existência das ciilunmas de Hercules , nenhuma certeza tiidia'°da sua localidade; porque se ex|)riiuc assini=tiNa Ilha de Gados jj consta que estão as coluninas de Hercules. Alguns ha que «dizem que estas coluinnas estão postas junto ao monte Cal- -•) pe , no estreito de Hercules; outros dizem que estão junto )! i Ilha de Gades , como o Gco!íra|i!io Artcmidoro ; porem j> nada obsta a que o jieriplo da Hespanha comece do monto j> Calpe , onde a maior parte quer que estejâo as columnas "de Hercules 'j= [loi]. Rufo Festo Avieno que, no meado do século IV. [102] nos dei.Kou cm I.atim , debaixo - wlijuirere. Panogjtico de Coiiblantino Aujj. , Cap. 7., nos Pancgi/rki f-'ilcrcs , ed. Atnizenii , T. 1., j>. i>*í7 . [í'9] Sigo a opinião do. Bcrnliardy, na sua edi';ào de Dlonysio. I.ipsiae 1823, p. 51S a aiè. Alguns Autliores allucinados jior hum passo de 1'linio (L.6., Cap. 31 , p. 710 do T. 2.) em que nientiuna Dionysio ifÃle.xaiidria na .Susia , escri- jitor lio século I.. confundirâo-no com o Dionysio Perie^eta , a quem assignárão , jjor isso, a mesma idade. Malte Brun (T. 1., p. !J17j rejeita a identidade dos dois Dionysios; porem insJ.ite cm que provavelmente operiegcla lie do soculo I., apoiandu-se em Scaliger, Eusébio etc. ; porém a mim parece-nic que 1'criiliaxJy prova a sua oi)inião. [100] V- 219., p. 19, da ed. citada. [101] Ed. cie .Mdier, |). (i-i. V. o Appendi.\ \." X. [104] Wernsdorl', Pndac Liilini .Uliiorcx. T, 0. , 1'. 2., p. i.-t2 .nJií. |103j TiriHtnus Jcthi^piim popxdus ailil ultim" Cfrne. V . S28 , p. 71)1 do T. 5. P. 2. da ed. de VVernsdorf. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 63 tyui — adopta a opini;to do Carlhaffiiiez Ilimilcon , que saliin* ;ulo 4." [106| //icic (pojt Hi.spani.tiii) occa'Ms essedicilur, citjus. partes nullus homi' niírti potiiit cmirrurc : cst enim eremi aoKluJo , tt sicul aiunt , «ti cst Jinis munJi, Idem, ibid , p. XVII, §. 35. [107] Kt hiec quitem sccundum possi'illtt'ttirm hamiruim dcscripsimui. Si enim líiíuerunt nns fiiil pt-ooincircules. [ll4] Marciano Capclla , que viveo no tempo de Leilo Tlira- cio [115], e por (anto pelo meio dosecuío V., resume Pli- iiio em poucas palavras , e apresenta differenf^as nos nomes das Ilhas Afortunadas, alguma das qnaes procede, ou . de não ter lido bem o texto de Plinio, ou de erros introduzidos pelos copistas na obra de Marciano [116]. A Cosmographia atlribuida a Ethico , que se julga ser Campi Eli/sii ant apud Infcrns sunt , nul in insulis Fortunatis , aut in lu^ 7iari circulo. Sérvio ibid. commeiítario ao v. 6 10. [UOJ Fallamlo a respeito de S. Martinlio diz = hoc Àcgt/pius fntctur , hoc Syrla, hoc Âet/tiops coniperlt , hoc' Indiis aikJwit , hoc Parlhus et Persa nove- ritnt , uca igunrat Arménia^ Bosporus r.rclusa cnqnorit , et postremo siqmn aiit tbrtunatas insul.is, aut g:lacialem írequentat oceaiium. Dialogo 1.", p. 94 do T. 1. das Obras de Sulpicio Severo, ed. de Prato. Wroua 1741. [111] D. Joseph Rodrigues de Castro, Bibliothcca Espanola . T. 2., p. 237 a Si47. [112] Ultimus witem finis cjus (Africae) csf rnons Atlas , et insulae quas Forluiuitas vocniit. Ed. de Havercamp, Lugd. Bat. 1738, p. IS. [113] V. Tcstimunia de Júlio Honório Oralorc et Adhico , a p. 687 e se- guintes da ed. de Mela, Lugd Bat., 1722. [114] Flurius Mrdtla nascitur sub insulas fortunnlas circiíiens extremam partem Mauritaniae interdicens inter Barbares et Uneuates vergit in 7nari tjHod appcllatur columne erculis. Julii Honorii Oratoris. Frcerpla quae ad Cosmogra- jJiiam pcrtincnt , p. 700 da ed. de Mela 1722. V. 2 Nota (B), no fim desta Mem. [115] Fabrício, Bibliotheca Latina, T. 3., p. 21,5, Lipsiae 177S e 1774. Mr. le Baron Wakkfiaaer. fies de phisieurs Pcrsotimun^s célebres. I.aon I8S0, T. 1., p. 137, du que hum critico moderno entende .ser .Marciano CapeUa Ho •Tiieado do século S.'; potèm seja do S'.' ou do 5,°, isso nada influe para aque»- tào de que se trata. [116] Ed. de Grocio. Ludg. Bat. 1599, p. ?".-. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. oõ tio secalo V. [ll7], repete as jpalavras do Oroslo [ll8]. Prisciano, que iio tempo (IcJiisliniano [llllj, o. por con- sequência noscculo VI. , fez hunia versSo livre da I'cricgosis de Dionysio, omittindo, muilando , e accrosceutando o qu(^ lhe paroceo [I20] , tamb(ím dá ("criie como o iiuiitc do I.i- bya , e não falia nas Canárias [I2l]; antes , tanto ello como Avieno . seajuindo a DionvsiOj põem as Ilhas Bemaventura-' das na Ilha de Leuce , defronte do Boryslhencs [l'í2j. Sauto Isidoro de Sevilha, author do VII. século, lij^ou a descripção niytho!oo;ica que os Poetas fizcr.ío das Ilhas Albrtu- nadas com a situação que lhes assigna Plinio [l2.3]. Dicuil, que escreveo no priticipio do século IX. [124], copia Júlio Honório [125] , e reproduz depois a dpsrrij)rão deSoliao, omittindo parte delia (que forma huma irrande lacuna) , ou porque não existia no texto de Solino de que se sérvio, ou porque falta nos Mss. de Dicuil [12G]. O Anonymo de Ravena , que também he do século IX. [127] , n'huui lugar põe as Ilhas Afortunadas no estreito ai , cantadas em verso , de que se servo , dá a entender que a ephémera existência geograpliica das Canárias tinha volta- do á sua existência poética. Depois d'Eustathio até que as Canárias forão descober- tas pelos Portuguezes , no século XIV. , e mesmo posterior- mente , os Escriptores doseculo XIII. eXIV. , ou não fallão ncllas, como Nicephoro Blemmidas, mencionando alias as Hes- ])erides [132]; ou reproduzem as idéas dos antigos, como Vincent de Beauvais, que descrevendo as Canárias copiou Santo Isidoro de Sevilha, e Marciano Capella [133]. Poróm que admira não estarem bem instruídos acerca das Canárias os AA. do século XIV. , e ainda os do principio do século XV. , se em 1548 huma edição da Cosmographia de Gemma Phry- sio diz que, as Ilhas Afortunadas, ou Canárias , são dez, dc que sé sete são habitadas , traduzindo em Latim alguns dos seus nomes que as fazem desconhecer totalmente [l34] .'' As- eel Insulac Forlunalae. Anonymi Ravenatis Gcorjraphln, na eil. de Mela Lugd. Bat. 17Í22, p. 795. [129j In ipso rjuippc mcridinno Oceano, pcst Aethiopum pntrlam , ditersnc etistunt insulac, cx (juiOtts alunuintas nominurc roUunus , ul tst , jl zn vazia , Pi- cíoit, Stat/uc, Ca[)r:arias, T/icalrum, Iviíicaria, Lunonis, &opuUs, Thcnc. IJein» ibi. SIO. [ISOj V. a nota J!l. [131J u^Ti tri^ti^ viç^ui Xiyirai ^ AiVKn avrvi fi?rc$ , úfvrip iríroi /xaxocpwi a! i> Ti* iavtçíu vfíitQviJi.íiiut uy.íxf^t EJ. de lierriliardv . |>. -l~. i. [132] Duo Upuscuía G eor/raphica , eJ. dc Spolin , Lipçiae 1S18. Nns He.^pe- ridcs fulla a p. I». ri33j .S'/}ft«/iiHi Naturalc, Vcnetiis l-iS-t, I,. 32, ciip. 117, íl. 411 )^. , e o me.-iiiio repete no .S/iecu/iim IJisloriatc , I,. 1., cap. 79, p. 10 da ftl. citada. ^1.14] Scquunliir ticcem insulac foriunatae Mlaateni aspi,'icr,tcf monlcm: etiairé CaHariae tlictcK. . . . tiuac autem incoluntur sunt . Fracltt lancea . Magna sors. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. C7 sim o vislumbre de realidade das Ilhas Afortunadas, queal- voreceo nas obras de Juba, foi-sc apaíraiido successivameu- te alé se sumir de todo na escuridão dos toin])os anlicos , e a existência destas ilhas famigeradas reduzio-se a hum facto cuja veracidade nào foi sellada com o cunho de reconheci- mentos posteriores. Sem entrar na indagação de ser , ou não , fabulosa a Ilha de Cerne, cntetido que a Cerne de Scylax, a que se rele- rem Dionysio, Avieno , e Prisciano he a Cerne de Ilannon a três dias de naveg;a(;ão dorioLixus [135] , eque Poljbio, re- ferido por Plinio , situa defronte do Atlas , na extremidade da Mauritânia , distante oito(!stadios da terra [l3(j] ; ea mes- ma que Plolomeo põe adjacente ;l Libya , muito áqueni das Canárias [137]. Eiu ([uanto , com a destruição do Império do Occiden- te , se hiã era tão decidida que , para serem applaudidos , entenderão (Jran Canária, Tcneriffa , Gienera, PaJnm ti Prrrum ctc. .Será diliicil , para <)Uein nào souber uliii^iia Castelhana, atinar ijiic Frncta luncea e Mayiut sors sio Lanzarote e Kuerteventura , e ainda mais diliicil rc-onhecer Gomera ei:i Oienera,= De principiis Àslronomiac et Cosmographiue , Antuerpiae 15+8, ti. 52. [IS.Oj Ilannoniá Pcriplus , iio> Geoijraphl Graeci Alinorcs, i.t1. do Gail, Pa- ris ISCi; e se';uiiites , T. 1., p. 115, §. 4." [136] Hisi. Natural, L. G., cap. 36, T. 2., J). 769. [1S7J L. -i. , cap. 6., p. 126 da ed. de IÍ'.Ttius. 1 " 68 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL «que (leviào conformar-se com olla. E o saliio Mabillon de- belara que, na Normandia o na Bretanha Armorica , se ti- " nhiío alterado as lendas dos Santos, mais do que em parte j> nenhuma das outras Províncias da 1'rança ; o que não lie de » admirar, relativamente aos Brotõns . que descendendo dos "anlii;os Celtas, tiidião conservado com os restos da sua my- » thoioi;ia , a sua credulidade , e o seu gosto do maravilho- «so; e ainda he menos de admirar relativamente aos Nor- >■> mandos (jue ilescendendo d'hum Povo , que só achava glo- »ria nos feitos arriscados, eno meio dos perigos, quizerão, ') sem duvida, que os seus Sanios fossem homens prodigiosos "e'1ão extraordinários como osseus luiroes [l38j = » Porém a mim parece-me que os Poetas não fizerào mais do que pòr em verso as lendas dos Santos , que j;í de muito tempo cor- rião entre o vulgo; não duvidando de que, algumas vezes, accrescentassem circunstancias suas, que nào se achSo nes- sas lendas , do que poderião produzir-se exemplos. He o que aconteceo com a vida de S. Ercndan [139] , que viveo no fim do século VI. , na Irlanda, onde fundou a Abbadia àe Cluainfort , ou Cluaín-fert , cuja festa se cele- bra em 16 de Maio [140] , e cuja lenda em Latim publicou Mr. Jiibinal , tirada d'hum RIss. do século XI. Nesta lenda relata-se hiima viagem de S. Brendan , que os Bollandistag não quizerão inserir na sua obra, chamando-lhe = cÍ€/íri05 tipocryphos = [I4l] , e que se reduz ao seguinte. Vindo S. Barinto visitar S. Brendan, pedio-lhe este que lhe contasse alguns dos milagres que tinha visto no Oceano. S. Barinto diss(!-lhe que hum dos Monges que elle governa- ^a, por nome Mernoc , desejando fazer vida solitária , achou huma ilha , muito deliciosa , onde se estabelcceo ; e con- stando , passado tempo , a S. Barinto -que com elle estavâo [1.18] La Rue — Essais hislorirjurs stir Ics Hardet , les Jonghur» et les Trnmh-es Normanãs et j-lnylo- Nurmanjs . Caen 1S3-1, T. 1., p. 154 a 156. V. o N." XI (lo Apiíendix. [IS9J Este 8aiito hcchamado Brandan, BranJenci , (Brandaines em Francez) BoruUiion, e Brendan. V. Mr. Achille Jubinal na jjrelação á sua obra = La Lé- t/enJi: latine de S. Brandaiues ele. ISitj — B.", Claviji) — Notkitis de la His- loria General de las Jslus de (Janaria. T. 1. , p. 78 v seguintes, e S62. Ado- ptei Brendan por ser o nome que lhe dá a lenda publicada por Mr. Jubinal , que lie o mais anti{,'0 iMas. das lendas deste Santo. [140] Mr. .fubinal , l.c. , Pref.ição p. III. [141) Dcliramenta ajioeryjj/iu , litudo.- JWT Mr. Jubinal na prpr.«i;3a da siui obra, p. XI. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. C9 muitos Monges, e que Deos obrava, por meio delle , mui- tas coisas niaravilliDsas , J'(íi visita-iu. í'ln,'^ado á illia convi- «lou-o MoriKJc a nietter-se com elie n'liuma einliarcaijão , e a navegar para o Oriente , para a ilha chamada da terra da j)romissão dos Santos, que Deos havia de dar a todos ossuc- cessorcs d'ainl)os, no ultimo tempo. Tondo-se embarcado ambos e principiado a navegar, forào cobertos por lunna né- voa tão os|)essa que apenas podi;lo ver a pApa (í a pr(^a da embarcatjãastor ? O nosso Abliado (McrnocJ freciuentemente se ajtarla de nós, para ir a algu- ma jiarle, e lá se demora, humas vezes hum mcz , outras vezes duas semanas, ou huma, ou mais ou menos. Ouvindo ?o MEMORIAS DA ACADEMIA REAL is(o comeroii S. Barinto a ooiiforta-los , dizpndo-IliPs : Nào siispeilfií-', innrios, qiic nisto ha alguina cousa que ii;lo seja boa. \'ÚB estais atite asportasdoParaizo. Aqui porto eiítá a Ilha que SC chama a terra da j)roniissSo dos Santos, onde não hanoi- tfí , e nunca acaba o dia, e esta he a que frequenta oAbba- de Mernoc , j)orque os anjos de Deos a guardão. Não co- nhecestes no cheiro dos nossos vestidos que estivemos no Paraizo de Deos? A isto rcspondíírão os Monges — Abbade, coniiecemos que estivestes no Paraizo de Deos; porque mui- tas vezes a fragrância dos vestidos do nosso Abbade conser- va-se no nosso olfacto, quasi quarenta dias. A isto lhe tor- nou S. Barinto : Ali estive duas semanas com o meu filho (espiritual Mernoc) , sem comer , nem beber. Tivemos com tudo tal saciedade corporal , que parecíamos muito reple- tos [142] etc. S. Brendan, :í vista do relatório de S. Barinto, determi- nou-so a ir procurar esta ilha da promissão , que sá achou depois de sete annos de viagens , em que lhe acontecerão muitas aventuras. Finalmente , atravessando a mesma névoa que S. Barinto encontrou, foi cercado da mesma luz, e des- embarcando na ilha da terra da promissão , que descreve do mesmo modo que S. Barinto, quando chegou com os seus companheiros ao rio, appareceo-lhes hum Anjo que disse a S. Brendan que aqiiella era a terra que buscava, havia tan- to tempo , e que não a tinha achado logo , porque Deos lhe linha querido mostrar diversos segredos seus no grande Ocea- no ; que voltasse para a sua terra , e que levasse comsigo dos fructos da ilha edas pedras preciosas quanto podesse ca- ber na sua embarcação. S. Brendan, tomando dos fructos da terra, e das diversas qualidades de pedras preciosas qnenel- la havia, voltou para o seu Mosteiro [143 1. O Paraizo Kthnico , ealgumas das qualificações do Pa- raizo terreal forão o prototypo da ilha fantástica de S. Bren- dan, nas vifiinhanças da Irlanda, para o occidente da qual se transportarão as Ilhas Afortunadas dos antigos . em algu- mascartas dosfmsdoseculoXIIf. , ou principio do XIV. [l44] ; e á medida que os mares da Irlanda forão sendo mais nave- [U^l Air. .lubinal, 1. c, p. 1 a 5. [143] Idem, ibid, p. 51 a 53. [Hi] As de Marino Sanuto , o Velho. V. Zurla — Di Marco Polo, c dctjli allri fiatfjiatori FenezUmi. Venezii J818 e 1813, T. í. , p. fiOTi DAS SGIENCI.VS DE LISBOA. 71 gados, não se achando ndies a Ilha Afortunada de S. Bren- «an , e descobrindo-so depois as Canárias , romovórào para a sua proximidade a ilha de S. Brnndan , situando-a mais ou menos remota dollas , segundo niellior aprazia á imaginário da cada Goographo; e como esta illia estava cercada d'hu- ma névoa espessa , por isso nào apparecia quaiulo se procu- rava. Tal he a oriçem da ilha do S. Brandão, ou Borondon , marcada nas cartas hydrographicaS e geographicas dos sécu- los XIV. , XV., eXVl., eainda emalgumasdoseciilu X\ II. , porque esta espécie de Odyssea Monacal* como lhe chama Mr. Jubinal, teve tamanho séquito na idade media, que foi tradu- zida , em prosa e verso , em muitos dos antigos idiomas da Europa [145], embaixo Allemrío , em Flamengo, em lin- goa allemjl da idade media {mittclhochdeiitsh), cm baixo Sa- xonio , em Irlandez antigo, em lingoa de Wales, em Espa- nhol antigo, em Inglez, em Ançio-Normando , e em Fran- cez [116] ; e anteriormente a todas es(as versões, na antiga lingoa da Bretanha Francesa , como pôde colligir-'se d'hum passo do Romance da Raposa, o que favorece a conjectu- ra de JMr. Goerres, que a lenda de S. Brendan provf;m , em grande parte, de tradições Brctonas [147]. Algumas das ver- sões da lenda de S. Brendan dizem que, quando ellc vol- tou íí sua pátria, escreveo a relação das suas viagens, e qiio a depositou no seu convento [140] , o que deu lugar a attri- buir-se a este Santo huma obra sobre as Ilhas .4fortuiiadas. Mas o que he singular he que Mr- TAbbó la Rue acre- dite seriamente n'huma viagem de S. Brendan ;ís Canárias -.= íí Nesta época (diz clie) huma viagem até ás costas d'A- " frica podia ])assar por huma viagem longa , e o navegante "devia esperar ser interrogado sobre os paizes a que tinha "abordado, sobro os que tinha corrido, e em fim sobre tu- -•'do o que tinha visto extraordinário e curioso. O que ello "Contasse das terras que linha visitado, e sobre tudo do "aprazível clima das Canárias, havia agradar, e admirar os " homens que vivião na atmosphera húmida e sombria da Ir- [145] L.C. Prefiição. p. I. [Ufil Mr. Juliiiial , 1. c. Pref.içào, p. VI. e seguintes. [l-iT] iMr. Jubinal tran landa. S. Brondan escroveo para clles , soguiulo o Bispo jjTanner, hunia iclaçào interessante == Parece-me que á vista da parte da lenda que transcrevi, ninguém poderá duvidar de que a Ilha dos Bemaventurados que S. lirendan foi demaiidar , se figurava existir nos mares da Irlanda , perto da ilha deliciosa onde residia , com os seus Monges , o Abbade Mernoc , a quem S. Barinto foi visitar, e onde aportou S. Brendan, na volta da Ilha dos Bema- venturados para a Irlanda [150] : eesta era até a o]»inião cor- rente da idade media ; não só pelo que já notei de se acha- rem as Ilhas Afortunadas collocadas ao Occidente da Irlanda em cartas geographicas dos fins do século XIII. , ou do prin- cipio do X\V. ; mas até porque a traducção franceza, que no século XII. [I5J] se fez da lenda latina, termina asslin = ííAqui acaba de S. Brendan, e das maravilhas que achou -•3 no mar d'lrlanda [152] ;» e porque Tzelzes, escri|)(or do sé- culo XII. , arruma as Ilhas Afortunadas entre as Ilhas Britan- nicas [153]. E que esta lenda fabulosa de S. Brendan foifa- bricada no século X. , ou no XI. , prova-se por Dicuil , que descrevendo na sua ohra. = Medida da terra = , composta (j^y] Essais hhtory^ms siir IcsBardct etc. T. 2., p. C7 a6S. V. o N. XII Jo Atipendi.";. flSOl Mr. Jubinal , l.c. \). 55. [151) Idem, ibid. , frefUçio , p. V, [152] Clii de fine de sains Braiidains et des mcnrcilhs li'íl trnuva enhmtr tllrlwule- Mr. .liiljinal , l.c, p. lud. Eile final retert-ae ;iti titulo da tradui<;ão= De Saiiil liriinJuiiics U moine = iljlá. , p. 57. [15S] Nos scliolius a Lyi.o[)liroii . aoá v. li 90 p scyiiinles, p. !?■!■ da rd. ci- tada dn PolttT. J DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 'n em 825, as ilhas visinhas Á. Incriatorra, c á Iflanda , cm al- gumas lias quaos diz tnrom hriliitado Moiii^es . cem aiiiios aritef* , iiilo falia em S.Brendan, nem no seti Paraizo [l;')4] ; e talvez a ilha dos carneiros da lenda do S. Brendan lenha o seu Iyj>o nas ilhas dfíserlas, onde Dicuil diz que havia hiima innumeravcl quantidade delles, e onde íiiilião estado os Mon- ges, que M. Letroimc jnlya serem as Ilhas do Féroer [155]. Ha em muitos AuUiores nomí^nrlatiiras estéreis dos Es- criptores que fallanlo das Canárias; porcMn a Historia cfitica deste afamado Paiz , o modo por que se operou a transição de Ilhas m} tholoçicas para iilias geògr'aj)hicas , e , para as- sim dizer, a sua genealogia, eas diversas phases da sna exis- tência myljioloçica e real, n.ão a encontrei oompl(>ta em ne- nhuma parte ; e como nesta falta de critério tiverão origem as opiniões desvairadas que acerca delias se espalharío , em diversos temj)Os , parcce-me que se me desculpará esta di- Íl^ressão, se pode jiilgar-se tal , è que ali;ís he intimamente igada com a matéria de que trato. Noções sohre as Canárias, que, se encontrão nos Authores Árabes. Examinemos a^ora o que dlssei^íío das Canárias os Es- criptores Arahes , cini^indo-me unicamente ao meu assum- pto, e occiípando-mo o menos que ser possa , de qualquer espécie que occorra nos passos desses Escriptores, e que hou- vesse do suscitar outras reflexões. I O primeiro Author Árabe que me consta terfallado das Canárias hc Mas'údi, escriptoi' do meado do século X. [I56j. Diz elle na sua obra = Os pradux tConrn , e as minas cie pe- dras preciosas = a X terra cultivada considerá-sescr desde as u lUias eternas (Ilhas Afortunadas) no Oceano occidental , ;o que hchum çrnpo de seis floridas ilhas, e cstender-se até á «extremidade da China [157]. [151] De Mensura Orbis Tcn-ae , ej. de Mr. Letroiine , Paris 1314, p. 37 é S9. [155] Idem, ibid. p. -iO* V. as otwervaçõcs de Mr. Letroiine sobte e»te pas- so , K sobre os da nota antece lente, de p. I'29 a líG rias 3{as =^ Rechtrches Ota- graphique$ et critiques sur Dicuil; e a p. 91 de Dicuil. [lf>(i] Df Guii,'nes = Notices et Exiraits des Mss. de la BiLliothèijue Ju Roi — , T. 1.. p. 2. fl.i?; El-M.is"úJí's, Historical Encyclopaedia . cn. of gems = /ronsía/ídyVom M<- Jrabic by Ahi/s Sprenger , M. D., 2.' SERIE. TOM. I. P.H. K 74 MEMORIAS PA ACADEMIA REAI. "Declara PtoJomeo na sua Gcogfapliiti qim o mar clolm-' » perio Byzanliiio , e Uo Egvjtto (o Mediterraneu) prirtcipia ^> jio mar dos ídolos Je cobr<' (das coJtiinMas de Ilerculee) (ise), !i JVos limites em que se ajiiiilao ostos dois iiiarfs (oMe- » dilrrraiino, c o Ocnaiio) levajilou o Hei Hirakl, o gigante, )j coliniiuas de cobre e pedf;is, Sobre c.s<,as coliiiiinas ha in- "srripçõcs e lic;uras, que moslrão com as suas mJ<_'9 qaon3o j) se pôde ir mais adiante, e que he impraticável iiaTCgar do » Mediterrâneo para este mar (o Oceano); porque nenhum ;> navio navega nellc; : não i)a ntes humanos; e o mar não tom lifnitcs , nem na sua pro- » fundidade , nem na sua extensão; ponjue o seu fim he des- » conhecido. He o mar da escuridade . chamado também o » mar verde; ou o mar circumdante. Dizem ala;uiis que estas 5> columuas não eslao neste estreito , mas n'hunia8 ilhas drt ?> Oceano , o das suas costas. Contào-se algumas historias «maravilhosas relativas a ellc , para saber asquaes remette- J5 mos o leitor para o nosso Livro Akhhar cz-czmáu : e ali » achará huma relação dos navegantes que arriscarão a sua » vida sulcando este mar , dos que escaprírâo , dos que nau- !> fr.-igíirão , e também do que encontrarão e virão. Hum des- fites aventureiros foi hum mouro de Hesjianha , por nome ?j Khushlíhash. Era hum mancebo natural de Córdova que , » tei>do ajuntajido alguns mancebos, forão para o Oceano "uMium navio que tinhão preparado, e ninguém soube, por .•>nnii(o tempo, o que tinha sido feito delle.s ; mas finalmcn- -•) te vi)ll;írão carregados com huma rica preza. A sua hislo- " ria lie bem conhecida entre o povo úr Hespanha [159]. •» He claro queIVIas'i'!dí ignorava in(reiiger ; no e.\tracto que desta Ohratcz DeGuigneí, inserto no l.''vol. das iVb/íce» et Erlrailc Jcs Msi.etc.; cno exlracto da outra obra do mesmo Maí'ridí = 0 Irulícarlor e Híonitor=. l>ito por Mr. Silvestre de Sacy , que se aclia no T. 8. da mencionada coUccçâo de Noiicrs et Exiraits etc. , p. 132 e seguintes. K 2 ,9j9 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL corapanlieiros tivessem hido áquollas ilhas, farei algumas re- flexões sobre a viagoin de Kkoshkha^lt.. Ksta liisturia , quu Mas'údi diz ser bem conhecida na Ilespanlia , poderia- íal^ ye/., sem olfensa da verdade, ter U mesma ccrlcza que es- tar assentado, pelaauthoridadf! de Wahb Ben Monal)bih , ter vivido Alexandre dej)ois de Christo [itíl] : chamar-se o Rei de llííspauha , antes do Islamismo , Lodrich (Rodrigo), nome commum a todos os Reis de llespanha [l02] : Vir o Tejo do Paiz da Galiza, e dos Bascos [l63] : abundar o mar de Hespanha cm âmbar gris que das Costas dcsLe mar chamadas Shantarin (Santarém) e Shodannah (Si- dónia) SC ex])orla da Hespanka para o Eg ypto , e para ou- tros ]'aizes [liiij. E outras muitas fabulas, de que esfá recheada a obra de Mas'údí = " porquo he co3tume dos Historiadores Ara- w bes , e parLicularmente des(e A., expenderem as diffe- 5j rentes Iradií^òes que receberão, litteralmente como cheg;í- '» rão ao seu conhecimento, ainda que possào ser convenci- «das de falsas. Nellas funda elle também a sua authorida- ') de [I6õ].'> = E por isso nâo licariito grandes remorsos a quem considerasse a historia de Khoshkhash como a da PrincíV.a Mangalona , e a da Imperatriz Porcina ; e como muitas outras que o povo de todas as Nações transmittc de pais a filhos , e que nem por isso tom o caracter da infallibi- lidade. Se os Cordovezes vagárào tanto tempo peio Oceano que he o que virão ? Que contarão da sua empresa ? Era bem natural que dessem relação de cousa tâo maravilliosa , e tão temida como a navegação do Allaníico; e esta relação deveria andíur na bocca do todos. Mas siipponhamos que cxistio a viagem do Cordovez. Sejia dos pobríssimos Caná- rios que elle traria huma rica preza ? O mar tcneliroso ba/« iJia , tantp as costas da Europa , como as da Africa occi- [lfil| Tradueçài» citada , T. 1., p. 127. |IG5;| Idem, ibid. , p. 369, e mais claraiiipiito a p. -ISO. Eile erro não hcsó de M.is'údi , lie commum a, Ibnu-Ilajjaii., a Il)mi-Ha'(l)ltúwiíl , e a outros His- toriadores da Hespanha. Gayaugoj. TraUacruo de .fl-mtdkuri . Lo/idoii 18-iO, T. 1., p. i'Zf) , nota GO. [ICS] Ideui, ibid., p. .170. Na nota ■♦ á\7. .Sprénger que o nosso A. não dis- tingue bem o Tejo, eo Eliro, [UJí] Idem, ibid., p. i~ :>. I IGó] Idem, ibid. p. 127, no^i » dt \Ir. .Sprencer, .'reaa, forào provavelmente biisca-la oii ús costas d'Hespa- iiha, que erão possuídas por Chrislâos, ou ás costas da Fran- ca , como piralas qne fazião invasdes nas t(!rras , ao que os aiitliorisava a sua rclii^ião, que olhava como obra meritória fazer saltos nas terras dos Cliristãos, assim como também os Christãos achavjlo justo fazer saltos em terras de Mouros. Se a viaçem não foi As costas dWIespanIia, ou de 1'Vari- iça , pareci'-me natural que esta fabula tenha origem n'ou- tra referida por ]Vlas'údi. Diz elle que = u se aflirma , ♦t pela authoridade da tradiçiio (do Propheta) , que no meio » do mar verde (he o Oc(.'ano, ou o mar tenebroso) ha to- adas iin espécies de pedras preciosas curiosas, c oui-ò , so- >>bre quatro columnas de rubim , saphira , esmeralda, o »»chrysolita , que de cada huma das columnas sahc hum rio, »e que estes quatro rios vão ])elo Oceano para as quatro «parte^í do IMiuido , sem se misturarem com a ajoa dò »> mar [l6C]. »= Seria aqui onde oCordove/. foi buscar a ri- queza , posto que a expressão = rica preza = pareça incul- car mais hum roubo do que outra cousa. Ha na Hibliolheca Real de Pafi» o fraçmcnlo d'hum Mss. Árabe iutilidado.<4Â.7i/OTr az-zanãn. que se jidga não ser a obra do mesmo nome a que Mas'iidí se refere [167] ; po- rtim copiarei o passo relativo ao mar atlântico , e pl-ovará que o Aulhor Árabe ignorava completamente o que aquelle mar coutiidia, e por consequência a posição das (lanarias. í. \este mar (o atlântico) existe a Ilha de Salomão, onde 5) se acha o corpo desl a personagem n'hum casleilo maravi- :! Ihoso. Ha neste mar lugares que lanção coni ínuamente fo- j> o<> da altura de cem covados ; achão-se também nelle cran- !)dcs p(Mxes de comprimento immenso , e animaes de cilr e •) forma cslrauhas, e cidades que fluctiiào sobre a agoa ; c ?> tem igualmente três ídolos feitos por Abrahali (anliiío Rei »dos Arabos himyaritas) : huma destas estatuas he amarel- »la, e faz sinal com a mão. Como se .<<; diriíjisse n nltfiinn, or- « dciiando-lhe r/nc voltasse para traz. A segunda estahia he ver- flfifil I.le:n, iliid. . paj. 2f>4. jlU'] Est.- Ii« o parpcer ilo f^nr. Bar3o íle .Slaiie , liMiUma noUi que teve a bondade da elunar-me sobto o Mhhar a-.-Zrmán. 78 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL M de , e tem o braço levantado e estendido, como se quizeg- j>se perguntar = onde hc que vais? A terceira he negra, e » aponta com o dedo para o mar , como para advertir que íu^ucm passar deste lur/ar será afogado. Esta eslatua tem no >i peito a iitscripção sc(/uinte : Feita por Ahrahah Zul-Moiar n }> Hiinyanta , a seu senhor o sol , para conciliar o seu fa- })Vor»^= [itís]. II. Bekri , escriptor do meado do século XI. [169] , diz que ^ " Defronte de Taudjah (Tanger) , e do monte Atlas, »> estão as iliias afortunadas , isto he felizes, assim chamadas » porque os matos e os bosques são unicamente compostos »d'arvores que produzem fructos magnilicos , e excellentes , >} sem ter necessidade de se ])lantarem , nem cultivarem ; e a .•) terra dá cereaes, em lugar d'herva ; e, em lugar de cardos, » plantas odoríferas de toda a qualidade. Estas ilhas, situa- «das ao occidente do ]iaiz dos Berberes, estão espalhadas »pelo Oceano, a pouca distancia humas das outras [170]. » = Parece-me que ninguém desconhecerá nesta descripção as ilhas mythologicas dos Gregos e Romanos , e a sua posi- ção reconhecida por Juba, conservada por Plinio , e dada como defronte do Atlante nas obras de Mela, Ptolomeo, etc. Eekri servio-se de AA. que escreverão em Latim , porque lhes dá o nome de ^j«;L_Ãls^ Frináns , Fortunans , que he a palavra latina Fortunatae, escripta em caracteres árabes; e como jj»j\__;Llsj,i Fortunans nada significa em Árabe , explica esta palavra traduzindo a expressão latina, e por isso acres- centa ou íj>Ajt>Jl Sahida — Felizes. Não me cançarei , por tanto, em provar que Bekri não linha conhecimentos positivos das Canárias. Se os tivesse não as descreveria por aquelle modo. III. Edrisi , que acabou a sua obra geographica em Ja- iníiro de llõ4 [l7l] , e ])or consequência he do meio do se- flCS] Rechcrchcs sur la prhriti de la díconi^rrlc Jcs Pays sitvcs sur la co'íc oiridentnlc d' yífrique , au-dc-là dxi Cup Bojador etc. do meu sábio Consó- cio o Snr. Visconde de Santarém, |i. ClI. Vej. o N. XIV. do Appendi.x. [11)9] Descripção da Africa. Extracto feito por Mr. (iiiatremère, e inserto no T. 12 das Noticiis et Exlràits des Mss. p. •4-38, C58 e sesjuiiite-i. Gayanf^os na su.i Traducçuo de Al-makkri , T. I,, p. 313, nota 7, diz qile Kekri naseeo em 1040 — W41 , e niorreo em l094 — 1095, citando Jdh-dhohí . f o .\utlioT do Kaláyidu-V- ikiyúnfi makáseni-l-a' ayan. (Collarev d'oiiro nas brilliante^ acções dos illiístraê). (170] Bekri, 1. c, p. 5C4, V. o N. XV. do Vppeiidix. [171] Traducção de i\Ir. Jaubert, T. 1., prííaçào , p. X\U. lie o vol. 5. e I 15AS .SCIÉNCIAS DC LISBOA. '^ ^ Culo XII. , falia da manoira seguhile das iíhas do imat tene- broso ; 1. » cipia a contar as longitiuies. Dizem que cm cada hunia ha jjhuma estatua de cem covados d'altura [172] , feita de pe- «dras, e sobre cada estatua huma fii^iira de bronze que in- jidica com a mão o espaço que fica para trás. Os idolos des- »ta natureza s5o seis, sei,'undo se conta. Huma das Ilhas he »a de Cadizj ao oeste da .\rHlaiu7,ia : ninguém conhece as » terras habitáveis (iali por diante 1173]. 2. « Dizemos pois que a presente seccSo do 2.° clima (a 1 .') «começa na extremidade dooccidente, isto he , nomartene- jtbroso: ignora-se o que existe alem deste már. A esta sec- >»çào pertencem as ilhas de JVIaslahan c dfe Lamghoch , que » fazení j)artc das seis de que falíamos , debaixo da designa- Mçjlo de (ilhas) eternas, e donde Ptolomeo prihcipià a con- otar as longitudes dos 1'aizes. Alexandre o Grande foi até » ali , e voltou de l;í. "Quanto a Masfahaii, o A. do Livro das maravilhas re- .1 fere 5 que no centro desta ilha ha huma montanha redonda r5 sobre a qual se vô huma estatua de côr vermelha, elevada 5» por Rsaad abu-Kerb el-Hairi (Aletándre dzurcarnein , de r> que logo fallaremos) na sua exj)edir3o , e que sè dá este -'nome ((rabu-lverb el-Hairi) a todos os viajantes que chc- " gárão iís duas extremidades do numdo. Abu Kerb el-Hairi " fez pôr ali aqiiella estatua , para indicar aos navegantes «que, para alem deste ponto, nSo ha caminho, nem lu2;ar «onde se desembarque. Acresceiíla-se que na Ilha de Lam- » uhoch (ou de Lagos) se vô também huma estatua de mui «solida construcção, a que he impossível chegar. Diz-se que « aquelh; que a fez erigir morreo lá : e que os seus herdei- « ros lhe fizerão hum tumulo n'hum templo fabricado de mar- «more, e de pedras de cores. Conta o mesmo A. que esta C. (lo Kecucil de l oi/iges et ile Méinoirr.s de la Societé de Géographie de Pa- ris, e lie a que eu citarei, todas as vezes que tratar de Edrisi. [IJi] V, na nota C . no fim desta Memoria, a razáo por que traduzi estatua, e não base , como vcrtco Mr. Jaubert. [ITSJ EJri-i, T. l. , (.. 10. V. o íN. XVI. do .\pppndix CO MEMORIAS PA ACADEMIA REAL "ilha lio povoada do fZ-ras, e que so passão iiolla cousas tjue " seria imiito longo descrovor , c que a razão ropiigjia ad- .•>iniUir. [:,'!!;. : "Nas praias destas ilhas, e-, afamada na Africa occidenlal , oudo se vende jjor alto pfe- » (}o , para o jiaiz de Lamt.uiia , cujos habitantes perlendem •jque ijucm a traz lie bom succedido em todas as suasempre- "sas: diz-se (ambem que esta pedra tem a propriedade de »> prender a lingoa. » Acha-se nellas também grande numero de outras pe- .;>dras de formas e cAres variadas, (|ue são muito prociira- »das, e que sào objecto de commercio , por entrarem, se- " Imundo se diz, na comjiosicão de muilos remédios excellen- "tes. Taes são as que se empregão em combater os liumo- j> res nocivos, e em acalmar promptamonte as dores que del- ;> les resultão : as que facilitão os partos : e aquellas jior cu- »jo meio obrigão as mullieres ou os meninos a seguir quem "lhes faz hum sigual. Os habitantes destas iliias possuem » muitas pedras semelhantes, e tem nomeada pelas opora- " ções magicas que praticão (servindo-se destas pedras) , e "em que são iniciados [17-4]- 3. A 1." parte do 3." clima começa no Oceano tenebro- "so, que banha a parte occidenlal do globo terrestre. Hu- " ma das ilhas deste mar lie a de Sara, situada cerca do mar " tenebroso. Conta-se que Dhu'l Carnain (Alexandre) abor- " dou ali , antes das trevas terem coberto a superfície do "mar, e passou nella liuma noite, o que os habitantes da "ilha acomineUèrào os seus comjiaidieiros ;ís pedradas , e "lhe ferirão muitos. lia outra ilha (pie se chama 8aa'li, cu- "jos habitantes mais parecem nudhires do que homens; os » dentes sahem-llies dabocca; relampejão-lhes os olhos , o "as pernas tem a apparencia de jiáo (jueimado, fallão huma " lingoa inintelligivel , e guerreào os monstros marinhos. A' "excepção das partes genitaes, ncnliuma diflerença caracte- " riza os dous sexos ; porque os homens não tem barba : os "seus vestidos são de lípjhas d'arvores. Noia-se depois a ilha "de Hasran , de considerável extensão, dominada por huma " montanha , junto da qual vivem homens do còr escura , de •) j)equena estatura , e com barba (|uc llies chega aos joe- [174] Idem, ibid. , p. 104 e seguintes. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. ai 5j lhos : tom o rosto largo e as orelhas coinpriflas : vivem dos »»vcí>;etaes que a terra |)r(>(luz es[)ui)laiieainente , e que |)ou- >» CO dilVereui daqueiles de (jiie se nulrem os aniniaes. Ha «nesta illia luiuia |)(!qu(Mia ribeira d'a<íoa doce que i)rota da »> inontaiiha. A Ilha de Ghoiir, iiruainienle considerável, j; abunda cm hervas e |)lantas de toda a qualidade. Tem rios '>e lagos, e bosqu(íS (jue servem ile abrigo a asnos selva- wgGnS) e a buis que tem cornos d'extraordinario comprinien- »to. Não longe delia estií a Ilha de Moslachiin. Diz-se que »csta Ilha he povoada, e que tem montanhas, rios, muitas «arvores, frucLos, fc campos cultivados. A cidade que ali »e.\ist(; he dominada por huma cidadella. Conla-se qn(í , n' » huma épocha anterior a Alexandre , ha\ ia nesta Ilha luim 7> dragão que devorava tudo quanto encontrava, homens, j> bois, asnos, e outros animaos. Quando Alexandre ali abor- » dou , queix;írão-se-liic os habitantes dus damnos que lhes » causava o dragão , e implorarão o soccorro do heroe : o « monstro tinha já devorado a maior parte dos seus reba- "nhos, pnnhão-se-lhe, todos os dias, junto ao seu covil deus "touros mortos, sahia para os devorar, e retirava-se depois » até ao outro dia, esperando novo tributo. Alexandre per- 'jgunloii aos habitantes se o monstro tinha por costume sa- ') hir por hum só lugar, ou por muitos, c rospondèrão-lhe •» que saliia sempre pelo mesmo lugar. Alexandre fez com "que se lhe mostrasse o lugar, e foi l;í , sosruido de muitos "habitantes, e acompanhado de dous touros: o monstro cn- ■í camiiihou-se immodialanionle jiara ell(!s , semelhante a hu- " ma nuv(;m negra: relampejavão-lhe os olhos, e vomitava "chammas; devorou os touros e desappareceo. No outro " dia, e no seguinte, fez Alexandre pO>r dous bezerros junto " da caverna do monstro ; mas osta preza não ba.stou para " saciar-llu! a fome. Alexandre mandou aos insulares que es- tiolassem dous touros, ([ue lhes enchessem as |)elles «riium " mixto de azííite , enxofre , cal , e arsénico , e que os ex- •; |)ozessem no lugar indicado. O drairào sahio do seu retiro, " e devorou esta nova preza ; e passados alguns instantes , "senlindo-se envenenado, com a com|)osi«;.ão , cm que tain- •j b(;m se tiidião mcttido ganchos de ferro, fazia todos os es- "forços imagináveis para vomita-la; porém ti-ndo-se-lhes "agarrado os ganchos á garganta, lançou-se por terra, com " a bocca aberta, línlão , na conformidade das disposições "feitas por Alexandre, aquec^írão huma barra de ferro, até 2.'SKRIE. T. I. p. H. L 82 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL "ficar em braza , c pnndo-a sobro biima chapa do mosmo ?» metal , lanc;lrão-iia pela bocca do inoiíNlro, que, inflam- "inando-se-llie nas eiitranhns a composiç;T(>, (»xpirou. Por os- '» le modo fez Deos cessar o flagolio (pi(> alHii^ia os habitan- "tes da Ilha que rendéríio as o-racas a Alexandre, mostr;U " ríio-lhe s;rande afleicão , c oflerecerão-lhe prtvseiitos , qiic " consistião em diversas curiosidades da sua Ilha: derão-llie, >>en(re oulras cousas, hum pequeno animal (pie se parecia '> com huma lebre , mas cujo péllo era anjarello , brilhaníe »5 como o ouro. Esle animal, chamado a'radj, tem hum cor- " no ne£!;TO , e só com a sua presença, faz fugir os leões, as «serpentes, os animaes selvas^ens , e os pássaros. " Acha-se no mesmo mar a Ilha de Calhau , cujos habi- '5 tantos são de forma humana, mas tem cabeças d'animaes: »mergulh;To no mar, tirão dos seus abysnios os animaes que !5 podem apanhar, e sustentão-se delles. Outra ilha do mes- ■' mo mar chama-se a Ilha dos dons Irmãos maciços Cher- j>liam, e Cheram. Couta-se cjue esles dous Irmãos erão pi- •« ratas, e atacavão todos os navios que passavão por junto :»da sua Ilha, captivavão-lhes as equipagens, e tomavão-lhes >? as fazendas ; mas Deos para os castigar , transformou-os jjem dous rochedos que se vem levantailos na borda do mar. »> Depois deste acontecimento, tornou a Ilha a ser povoada '5 como dantes. Est;í situada defronte ilo porto de Asafi (Sa- •: fim) , a huma distancia tal que, quando não ha névoas na j>atmosphera que cerca o mar, pode, seí o seu nome por causa delles. A nan;u'ão desLa aventura »he bastautemente loni;a, c reservanu)-la j)ara quando tra- » tarmos de Lisboa. >» Neste mar existe igualmente huma lha de vasta ex- » tensão e coberta de espessas trevas. Chamão-lhe a Ilha dos "Carneiros, porqu(! tem muitos; porém a sua carne heaniar- " t;os;i , a (ai ponto. (]U(! não he possível come-la, se he que -•> deve dar-se credito aos Maghrurinos. Perto da ilha que DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 83 » acabamos de nomear, acha-se a Ilha de Raça, que lie a }> ilha dos pássaros. Diz-se que ha iiella liiima espécie de >} pássaros semelhantes :ís águias , vermelhos , e armados de jj tjarras , que se sustentcão de mariscos e de pei.xes , e que >5 imnca se afaslao deslas ])arag;ens. Diz-se lambem (|U(! a «Ilha de Kaca pruduz hiima espécie de fructos, semelhanles "aos ligos da (íasta grarubí, e qut; serve daniidoto contra us "venenos. Conta o A. do Livro das maraviliias que hum " R(!Í dos IVancos , informado deste lacto , mandou hum na- "vio buscar o fructo , e os pas.saros ; porem o navio j)erdeo- }>se, e depois nunca mais se tallou nelle. " Pertence mais ;í presente secção a Ilha de Chaslond , » que tem de comprimento quinze dias de caminho , e de "largura dez. Havia nella , n'outro (empo, trca cidades, "grandes e bem |)ovoadas ; abordavão lá navios, e demora- jj vão-se j)ara comprar anibar e pedras de diversas cores; " mas em consecpiencia das revoluções e guerras que liouve "no l'aiz , morreo a maiyr parte dos habilaules ; e muilos "passarão o mar, transj)ortando-se para o continente da Eu- " ropa , onde a sua raça subsiste ainda muilo numerosa, na "época em que e.-jcrevemos. Tornaremos a lallar nella, quan- » do tratarmos da lilia de Aralanda. " A Ilha de Laca produz muito p.ío d'alocs : pertende* »se que alli não tem cheiro, mas que o adquire, sendo èx- » portado , e atravessando o mar. Este páo he negro e mui- " to pesado. Os mercadores vão a esta Ilha buscar o aloés, »e le\ào-iio para longes terras. Os Reis da parte mais oc- " cidental da Africa compravão-no aqui, n'outro Icnipo. Con- " ta-se também que a Ilha de Laca era antigamente habila- "da ; porem que dei.\ou de o ser porque as serpentes si; nuil- "liplicárão nella excessivamente. Soi^undo o que nos ensina "Piolouieo de Pelusa , o mar lenebroso contc^m vinte e sete " mil Ilhas, povoadas e não )iovoadas. Julg;ímos dever fallar "SÓ de aljíumas delias, cpio estuo situada.s na visinhanra du "terra firme, e que gozão d'hum c(>rto gráo de cultura e do » civilização [175]. 4. "Toda esta secção (a l.'d() 7.° clima) comprehende \nu » ma parte do Oceano tenebroso, e diversas ilhas desertas e >5 inhabiladas que nelle se achào. \ mais considerável he a "Ilha de Berlanda (Irlanda), de que já fizemos menção. De [175J hleiíi, ibid. T. 1. , p. 197 a 20-2 L 2 84 MEIMORIAS DA ACADEMIA REAL •> liuma das rxlreinidades dcsla çraiide Illia ri paríe superior )) da terra do Urotanlia coiitno-.sc (rcs dias c moio de nave- 'i^ação, o. da oiilra ;í Ilha deserta de Soosia (Escócia) dous »dias. Com tudo o Autlior do Ei\ro das maravilhas refere »qiic havia antigamente nesta nltima Ilha (na líscocia) três » cidades ; que a lilia era habitada; qiie os navios ali abor- jjdavão e ancoravão para comprar âmbar e pedras de côr ; e » que , pertendendo os seus habitantes subjugar e dominar » huns fios outros, seguírão-se daqui guerras civis, inimiza- rdes, e devastações , em consequência das quaes huma par- '5 te dos hal)itantes emigrou para o continente, de modo que » as cidades ficarão desertas c arruinadas [170]. 5. » Apresente secção (a2 ' do 7." clima) comprehende a j> parte do Oceano tenebroso em que est.í a In.giaterra [177]. G. j> Afardik (Berwick) , outra cidade situada a certa dis- j) (anciã do Oceano tenebroso , e para a parle da extremida- »de da Ilha d'Escocia que he contigua á Ilha d'Inglaterra. .•) A Escócia estende-se em comj)rimeiito ao Norte da !■> grande Ilha , não tem habitantes , nem cidades , nem al- »deas [178]. . 7. •> Entre a extremidade da Escócia , ilha deserta, e a «extremidade da Hirlanda (Irlanda) . contão-se dous dias de r navegação, dirigindo-se para o occidenle [170]. 8. » No oceano tenebroso ha quani idade de ilhas desertas: .•)ha com tudo duas, que são habitadas, e que tem o nome .-.de Ilhas (rAmraines dos Madjus. A mais occidental he po- :> voada d'homens tão somente , n não ha nella mulheres ; e «a outra lie habitada só por mulheres, e não ha nella ho- ;>mens. Todos os annos , na Primavera, passão os homens Mcm barcas á segunda ilha, cohabilão com as mulheres, e »)iicão ali hum mez , pouco mais ou menos, e depcus voltão M para a sua ilha , onde residem até ao anrio seguinte , época «em que cada hum vem ler com a sua mulher, e assim suc- » cessivamenlo , todos os armos : este costume he conhecido » e constante. ;>0 ponto mais visinho desías ilhas he a cidade d' Anho, :jque dista delias três dias de navegação. Pode também ir- [i:6] Mem, T. i. , p. 42-;. [177] Mem, ibil. , p. i-lí. 1178] Idem, ibid. , p. 'i^,'! [179] Idem, ibid., p. 42tf. DAS SCIENCIAS DR LISBOA, 08 »»se para l;í por Calmar c Da^hw-ada (Daço) ; poriam h(i dif- "ficil íil)or(la-las , o ho raro chegar a ollas , por causa da fre- '» qiiencia dos luívottiros , e tias profundas Irévas quo roinilo » neste mar. " [lito]. Anho hc , segundo Mr. Jauberl. , Imnia cidado da Eslho- nia [181]. Reuni todos os passos d'Kdrisi , om que falia das Ilha'J do mar tenebroso, para moslrar a confusão com que as des- creve, sem distinguir, nuiitas vezes, an que lic.ío enco.^ta- das d Africa, c á F-iiropa, e as que estão espalhanebroso duas Ilhas chamadas Afortunadas , e (pie , em cada huma delias, ha huma estatua [iSí]., accrescenta logo, que as estatuas são seis , o que não poderia en(cnder-se se mais adiante, tratandí> das Ilhas de JMa.sfahan , e de Lanig- hocli [no 2.° passo), não dissesse que fazem parle das seis ilhas de que falíamos dííbaixo da d(?signação de = eternas = [l83] ; porem Edrisi só tinha faltado de duas, e por tanto fal- ta no primeiro passo [104] a parte a quí; elle se refere neste. Em segundo lugar parere-me escusado demonstrar que Edrisi não tinha conhtíci mentos j)ositivos das Canárias, e só misturou as noções tra(liciona(!S de Ptolomeo . e d(í outros com as fabulas Árabes. Como, s(!gundo iVIas'iídí, citado nuii- tas vezes por Eilrisi [135] , as columnas d'Hercules erão de cobre e pedras, coni estatuas em cima; c estas columnas, confornu; a ojiinião (Talguns, não estavão no Estreito, mas sim n'humas Ilhas do Oceano e das suas costas [186] , e co- [180] Iilem, ibid. , p. 433. fiei) I.lem, ibi.l. , p. 4S1 e 4S2 ; e nota (1). [I8iJ Nesla Memoria, p. 79. [183] Nestii Memoria, p. 79. |134] Nesla Memoria, p. 79. fl8,')J Alem das citações do Livro das m.^ravilll.^•7 de Mas'údí , qde se eticon- Irão nos pastos traiiscnpto», vid. T. 1. p. 299 , T. 2. p. 4Í4, SSO, ele. [lac) Ne?ta Memoria, p. 7-V. ii.ltiiik> ás mesmas columnas ha duas pcqueius Ulias, a huma das quaes dia- " mãi> o templo de Juno. Alr/uns tlâo-Ue o nome de columnaf- Strabú, ed. ritail:!. 86 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL mo, por outra parle Jiavia Geoeraplios (|ii(^ as liiilião ])oslo junto a Cadiz , e (Mii Cadiz [187 | , eiiibrulliou lulrisi tudo is- to, a seu i:;eito, e fez de Cadiz luiuia das Ilhas Afortunadas. Teinos outras duas nas Ilhas d(! MasIVdian , e Lainglioch. Quem for curioso de espordiçar teiiijio pôde procurar as Ires restantes entre as mais d(; que elle , apoiado na autlioridade do Livro das maravilhas, assoaliia tantos despropósitos^ co- mo das Ilhas de Maslahan e Lanii;iioch. As noticias curiosas que os Maghruriíios dcrão da Ilha dos dois Irmiíos mágicos Clierham e Cheram , niio se encon- trão na relaçSo que da sua viai;em nos (kíixou Edrisi ; e por isso só observarei qu(! a particularidade de se ver de Salini o fumo delia que lídrisi j)òo na bocca deAhuied lieii-Oniar, cognominado Raccam el-A^ez [188] , prova que até pouco antes do tempo em que Edrisi escreveo , nâo se conhecião as Canárias , nem se navegava além de Safim ; porque esto >' L. 3. p. 256 ; e mais adiante , a p. 258. " Alguns tem j-or coluninas o Calpe e o Abila .... outros Inimcts pequenas Il/ias tisinhns a ambos estes montes, a liunia da-s qiiae.s thamão a Ilha tle Juno. Arteniidoro faz iiieii<,ão da Ilha e do templo de Juno. Vid. a nota D no fim desla Memoiia. yJt/icniensts dicit Enetemrm ilcm Non esse suxa , aut vértices fissíirycre Parte e.v utroqite. cespilem Lihj/c^' soli Eurnpae et oram mcmornt insulas eivas Intcrlacere ; nuncupuri lias Ilcrculis Ait eolumnas; Rulb Feito Avieno Ora maritima v. .".50 a ."55, EJ. de Wornsdorf. cita- da, T.5. , P. 3., p. I'i2!). [187] Junto a Cadiz. ttôa T£ x«i r'/>^an TTípi Tiçf.taçt> Hç'ax>.?oç Dionysio Pcriegela , v. C-i e G5 , j). 1'.: da e.l. de Bernh.irJy Em Cadiz: Scylax Périplo, p. 24.Í da ed. de Klausen. Marciano d'>lcrao!ea , Ed. de Miller, p. 1)4. = Europetc in Hispânia oceidcníalis oeeanus tertniniis rst apnd GaJes insU' Iam, nbi HercuUs visuntur eolwnnae, A Co,-in<>!,'raphia atlrihuida a Elhico, p. 7ÍS da ed. de Mela. Lugd. Bat. ITÍÍ. Ordinc principium crtpicns Atlantis ab tinda , Ilcreulco celekrant fjuaiit mctac mitnrrc Gades , CecliferasqUc tcnet stans .^tlas monte coUnmta^. Prisciano , Pcricgesis , v. TS a Ti, ed. de Kri-lil. Lipsi.ie )»1!) c laSO, T. 2., p. 484, [188] NesU Memoria, p. 82. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. C7 Commanilante »la frota de Ali ben-Jiisuf heu-Tasclifiii qiiizir Ycrlticar a exisLeucia tlesta Illia o o que so dizia delia, oquií, apezar de eslar tão porto de Salim , não ne conhecia. Ora Ali beií-liiíjur bon-laschriíi siibio ao tiuoijo ein lioi; , íMiior- reu em 11-42 ['H'''] ) f Edrisi acabou de escrever a sua fíeo- grapliia em Janeiro de 1154, como já se disse; logo o pro- jecto da viagem do líaccam el-Avez ;í Ilha dos dois Irmãos mágicos devia verilicar-se ontre 1100 e 1142; e |Jor conse- quência nfio muitos ainios antes da época em «jue Edrisi es- creviío. E na época em que eile escrevco tan)bem não se Iiia muito alòm de Safim . porque nos aflirnia que Asafi (Sadni) era antigamente a ultima estação dos navios , o que nosseus dias se passava mais avante quatro jornadas maritimas [I90J. Temos , por (auto , que o termo ilas navegações dos Ára- bes, na cosia occidental da Africa, no tempo de Edrisi era quatro jornadas marítimas adiante de Salim. l'or nniitos pas- sos tle Edrisi se manifesta que a viagem niarilima d'humdi.i era calculada ein cem milhas [iDl] ; e posto que podesse ava- Jjar-se exaclamcnie esta distancia em nn^didas Europcas, lo- iiiando a diUcrenta entre dois pontos cujas jiosições estejão .determiiiailas , ou referindo-as a huma distancia conhecida ; com tudo Considero desneciíssario este trabalho; porque, qualquer que seja a grandeza da milha arábica, quatro i'em mesmo , muito tem- po depois de Edrisi , as navegações dos Árabes alcança\ão até ao Cabo de Bojador, porque, nos fins do século XI\^ , ainda paravão a quem do Cabo de i\ão , como se coUie de ibii-Khal.inn [lOil. lluin passo da Descri)ii;ão da Africa de Ibn-llocal , que eslava nacpielle Paiz em 070 para 971 . e que compoz a sua [189] Assaleli hen'.\hde\-lÍ3.]im = Historia dos SoberfMs Moliamttanos . fra- iluzida pelo iiosso Consócio o Snr. .losí de Santo Antooio Alouia. Lisboa 1828, |.. 173, e 1«2; Casiri , T. 2., p. 218, col. 1.' iíiul T. I., p. 220. iiaij T. I., p. 0S4, 279, 290, íífi , 298; T. «... y. «7, 138, 400. eti-. MD;:! Via. a p. 101 desU Memoria. • ' 66 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL obra goograpliica cm 97G para 977 , ou em 977 para 978 [19."?]. confirma, até certo ponto, a asserção de Edrisi. Diz Fbn-llo- cal que Salé era o limite dos estabelecimentos niusulinanos : Que este lugar se compunlia d'luim iil)at [l9-ll , em que ha- via huma guarnição nuisuJniana , e d']uima cidade nuiito an- tiga chamada Salé velha, mas que enião estava arruinada: Que se habitava nos rihates da visinhanç.:a , e havia nelles guarnição ; e que :ís vezes havia ali mais de cem mil homens para guardar o Paiz contra os Berghawatas [195]. Os Bergiiawatas , ou Barguatas, erão huma tribu Ber- bere que iiabitava as costas do Oceano , desdo as visinhau- ças de Salé até aos limites da Iribu de LamtUna próximos a Nu) , ou ao cabo de Não [196]. Esta tribu foi perseguida constantemente, como herética pelos musulmanos daAfricaj a tal j)onto , que Tamim a guerreou duas vezes cada aimo , desde 1033 até 1056, e foi finalmente dispersada e subjugada pelos iVIorabitins da tribu de Lamtuna em 1059 [197]. Nes- te estado de cousas não parece natural cjue houvesse commu- iiicação e commercio com os povos alem de Salé , que erão Berghawatas , o que só teria lugar depois da sua destruição c engrandecimento da tribu del.amtuna donde sahírão osMo- rabitins que dominarão a Africa e a Hesjianha, e que che'- gou ao cume do poder no reinado de Jussof ben-Taxefin, de- pois da batalha de Zalaca , junto a Badajoz, em 1086 [198]. lístabelecidos os Lamtunenses nas terras da tribu de Berg- liawata em 1059, hc que era ])rovave] que se traficasse nos j)ortos daquella tribu até Safini , e isto hum século pouco [!!):>] Uj'leiibroeck — Irncne Pcrsicac Descriptio. Liisduni Bativorum 18ií. — Dlssertntin de Iljn-llducliuli opirc qeorjraphlco , p. 15 a 17. [ly-i] Rihates erão primitivamente quartéis lòrtificados , que se roíistruião naí fronteiras do Império etc. V. a nota U de Mr. le Baroii M. G. de Slaiie a p. 168 da áua trailucrão da Dfscripçáo da africa pnr ILn-Hocal , que vem no T. IS da 3.* Serie do Journal .-Isialiqiic , iV. 71 , F,'crur 184Í. Vid. também Conde Des- cripcion d' Espana de Xerife --ilcdris, p. 202 ; e Sprengci na nota (t) a p. 241 da sua traducçào de Maii'údi , onde explica o que era Itifmt e indica ventagcns, tan- to mundanas, como celestes, que tinliào para os mii-;ulmauos estes bigares. [195] Dcseriplion de V ylfrique , par Ibn-Haucal, traduceão de Wr. o Baron de Slane, 1. c. p. \'MJ. [19C] Idem. ibid. p. 209 N." 72, Mnrs 1842: lUíloria dos Soberanos jl/u- /lametanos , abaixo citada. Sobre a Tribu de JicryhaKala oaliaraglí leattah. Vid. G.ivanjos na sua Tradurçâo de Al-makkarí ^ 'f. 1. , p. S33 , notas 2B e 27. [197] flistoria dos Soberanos Moliamctanos , p. 117, 130 a 144. [193] Idem, ibid. p. 159 e 160: Casiri , Bild. Arábico Hispana Escurialen- sis, T. 2., p. 816. I I DAS SCIENCIAS DE LISBOA. ' 8» mais ou menos antes de Edrisi ; e que coin o andar doa tempos fossem correndo os outros portos, e chegassem até Nul , ou i\un, qutí, segundo Edrisi, era a única cidade da tribu de Lanituna [199], o que, seguindo as simiosidades da costa, não dislará menos dce o que ha í) alt^ni delle. Tem grandes ilhas, e muitas habitadas, de 5> que lallaremos quando ciiegarmos ao capitido das ilhas. j> Duas delias chaujào-se as Ilhas Khaledat c.'j1j^!^ =i (peren- »nes, eternas), emenda huma dasquaes ha liuma estatua hum homem, de bronze, voltando a mão para o (pie fica 5> por detraz delle, para indicar que para ali não ha nada, 7> nem se acha caminho. Ninguém sabe quem fez, e levan- »tou estas estatuas [20'>]. " J'] no capitulo das Ilhas diz== " Entre as iliias do mar circundante estão as ilhas cij1>.!^ =i 5) Khaledat (|>erennes , eternas), e em duas destas ha duas es- j> tatuas de pedra muito dura, de altura de cem covados, o » em cima de cada huma delias está huma figura de bronze, 7) apontando com a líiào para traz, como quem diz = Volta, jjque jiara ali não ha nada == Estas estatuas forão levantadas j> por Dul-]\íenar El-liamiri de Tcbiíb/ia , que não he o mes- jj mo Dul-carnain de que se faz menção no Alcorão "= ['20C]. Estes dois passos contradizém-se algum tanto ; porque lan^ter , Operis CosmoijrnTihlci Itn RI y^ardi ctiput primnm , de Reglonibtis et Oris. I.uiidae 132:1, i)rfi;.(.'ão, p. VllI. e IX. [205J HylaiKler, i. c. , p. 4. Vi.l. o iN. 'XV!!. do Ajipenilix. [206] Ms3. N." 539 da líibliotlieca Real de Paris, fl. 48. Vid. o N." XVIU. do Api)eiidix. Kste p-isío de Ilm al-WarJi, e oatros de diversos escriptores Arahcs, que apontarei em seus lugares, ibrão-me mandados jielo í^i\r. ]>;aão Mar Giukin de SIane , por inturveiioão do S/ir. \'isconde du Santarém. O Srír. Barão de Slane , com extrema Ijonilade , fez-jue a inrrcè nàu «ó de copiar os pasion dos Escriptores Arabeí, mas também de soltar alguiiias ditfimilda.les quenelies me eiiibara(;avào, e sobre que o consultei. Queirão ambos receber os meus cordiacs agradecimentos, o meu illiistre Consoci^j por mais e>tc obsequio quc llie ilevo de me dar relações com o sábio Orientalista ; e o .Snr. IJarào de Slani: pela graciosa bencvolenciíj com que ine tein obrigado. A traducçiio deste, e de todos oç outn>,-; textos dos Autbores Árabes, he fei- ta pelo meu Consócio na Academia Real das Sciencias d« Lisboa o Siir. 1'. An- tónio de Castro , que teve a condescendência de comliinar commigo todos os pas- sos que olferccião alguma duvi.la ; e que, n.ão limitando a este tr.ibalbo osseus bons olliiios, me penhorou ainda mais tomando a seu cargo ropiar os Icxtos que vão no A])pondix. Aceite o meu sábio Conweio o testemunho da minha gralidiío, por todos estes favorís. DAS SCIENCIAS t)E LISBOA. 91 no primeiro aflirma-se qne n3o se sabe quem erigio as esta- tuas; e no secundo dcclara-se quem as levantou. De Guignes refere, pelo modo seguinte, as palavras dõ íbn al-VVardi = <í Diz que este mar (o tenebroso) rontèin muitas iliias j «algumas das quaes são habitadas (; outras df!serlas, e que » se conhecem sú dezesete Se elle indicasse as suas distan- í> cias respectivas, poderíamos melhor juli;'ar da extensão das n navegações dos Árabes ; mas toda esta narrarão he » clieia de fabulas, e remetto para o htii desta noticia tudo » o qiu^ he concernente ás ilhas dos diirorcntes mares ■? = [-207] . E dej)ois , quando trata das ilhas , continua assim o seu extracto = llluts lU) Oceano ao occidaitc da Africa e da Europa. ■ 1. "As Ilhas Khalidat ou Afortunadas (as Canárias). Btíli-^ íjalWardi só falia de duas Ilhas , a que parece juntar outraá »duas, a de Laus e a de Saali. Esta ultima he grande. Oá « homens são comd as mulheres , e não se prideni distinguif -•) delias: tem dentes compridos, olhos muito brilhantes, fal- )) Ião huma lingoa que não se entende, os seus vestidos são Jide folhas de arvores, e sustentão-se de peixe. O Mss. N.' í» 956 di:< o mesmo; o Author faz tairibem menção d'ou(ra »ilha que não vejo aqui; chama-lhe a ilha de Sfeifhan , no «meio da qual está huma montanha, em cujo cunio hahumá «estatua, levantada por Saad Abukarb o Hemiarita , o nics- « mo que Dhulcarnaín. 2 >í A ilha de Hasarat he muito extensa; tem humainon- « tanha muito alta junto á qual habítão homens de côr ania- »rellenta, cuja barba lhes chega até aos joelhos ; tem o ros- » lo lariro e orelhas grandes , e sustentão-sc de hervfls. Ha «nella huma pequena ribeira, de boa agoa. .3. ') A lUiA de Aur; muito comprida, e muito larga, o « clitua de arvores e do fructos. 4. 5j A Ilha de Muslaschkin , por outro nome das Tinijia ■ [207] No extracto de Ibii .il-Wardi, que vejii no T. 2. da.s — Notices rt Éjc traits (iet Mss. ele. — p. 48. Vid. o N.* \1X. do Appendi.'C. M 2 92 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL » ou (lasSerponles , íiranile, iibundanlc iFaiíoas o Jo fyuclos, ;> Tom liiinia citladc oin que si; \è huina suij)cale , morta íj (segundo se^ iliz) por AJo}(aii(lre. 5. -■> A ítlia de Calhai. He grande , o o rosto do seus ha- jjbitaiites assomelha-se ú face dqs aiiimars. 6. » A Ilha Al-akhuain Al-.sahcriu , ou Ilha tfc.í dois Ix"- 'Jinãos mafjicus , liuin dos quaes se chamava Schurhum , e q »oulro SchaJjiíDn , que aprisiouavào os navegantes; mas dc- 'j ))ois forão translormados oní rochedos , com que se cqflr "slruio huuia cidade. 7 !> A Ilha de Tuiur , ou dos pássaros. Ila nella passa- «ros que se asscmclhào a águias vermelhas, tem garras, o -■íbuscão a sua presa no mar. Ha nesla lliia luim liucto (juo » se parece com hum ligo, o que lio excellciite contravene- JMio. Conta ilucaili que hum Rei dos Francos mandou l.í » hum navio para ter destes fructos e pássaros , mas o navio » naulVagou. a. )i A Ilha de Sasil ou Dadhil ; tem quinze dias de ca- jrniiuho do comprimento, o dez de largura. Tem três cida- » des grandes , que erão bem povoadas , mas as guerras ci- j) vis tlerão cabo de parte de seus liabitantes, outros retira-? jjrào-se para o Paiz de Rum, e ficarão poucos na ilha. Os •! uuTcatíorcs vão lá comprar carneiros, e pedras de varias » cO)res. 0. ;? A Ilha de Laca, ouAca, grande e gintigamente mui'' » lo povoada , mas agora deserta pelas prodigiosas serj)ontes :>de ((ue he info.stada. Ha nella o aâd, espécie de p.^ío. O jjAuthor do Mss. iX.° Oútí confundii-a com a Ilha dos pas- •jsaros. 10. 5) A Illia dos Nuzja, ou Nuria: tem bosques , e rios; •' j)orrm não tem habitantes » = ['20!)]. Comparando a descrijjc;3o das Ilhas do Oceano tenebro- so de Ibn al-^Vardi com a de Edrisi , lic manifesto que aquel- le Aulhor a lirou (íiu grande parto, ác Edrisi, rt\sumindo-a, c variaudo-a cm ali^umas circuiistancias. As Ilhas Afortuna- das são duas , como as de Ediisi. Po Guigiuís diz que Ibn al-VV'ardi parece juntar a es,tas du^s as .de Laus c de Saali. Laus faz lembrar Lagos ou L.imghoch , (jue Etlrisi põe en- tre as Aforíunadas; mas ÍSaali kc descripta por F.drisi , sem a contar como tal; porém como Do Guignes não pruduzio poSJ l.c:(p. 55 fí?. ' Q^S Í^CIEffCIAS £(F LISBOA. 03 o lexto tle Ibu al-\Vi»rdi , iii?iJ)uni juizo posso formar a se- moUiaiito rusppito. E tanto se serviu ll)ii al-V\'^ar(U de |']iou a^ suas mcBuias palavras eniprogauílo «i^ saiunnon para ox))riiiiir as estatuas que susteutavão as ligu- rasj ua.v lUuis Alurluiiadas. Pevo uotar-se quo o uoine de Canárias, dado por Mr. tívluiider ás lUias Klialedat, he inserido por cUo na sua ver- tàu , j)onjue não existe jio texto aral)n [209], e que Ciiale- dalaii (K/uilcdalan) lie o dual Entre as ilhas do niar occidental estão as chamadas >' iihas perenncs (eternas) Gczair el Khaledat , que inlerna- » das no mar distão dez gráos da terra firme, e São em gran- » de numero. Batlimus (Ptolomeo) tomou das suas cidades " as loneitudes. Dizem que se submergirão, e que delias riSo " ha noticias. Diz Ibn-Said que as Ilhas Afortunadas Saádat " ficão entre as Ilhas Eternas al-Khaledat e a terra firme , e »que se achão dispersas nos climas 1.°, 2.°, e 3.°, e que, ao "todo, são vinte e quatro; porém que asna historia se tem 'j por fabulosa . >:= [218]. Parece-me que estes passos d'Abulféda não carecem de commentario. Assim he que o Author, cuja sciencia era tão apregoada em todo o Oriente, conhecia as Canárias [219], iriuuna época tão pro.xima áquella cm que os Portugnezes i;í abordarão pela primeira vez [22o]. Noiarei tão somente jjiies, Nollccs et Extralís dcs ^/ís. , T. 2. , p. 19 e 20; lljlander, l.c, prefa- ção, p. Vlll. e IX. [214] Notices et Extrnits des Mss. , T. '.'. , p. 390 e ;i91. [Í15] O Snr. Visconde de SanUrem nasuaiiiiporlantis^ima obra = /Jec/ierc/i« sur la priorité de la décoiiecrlc ilcs Pays siliirs sur la cote occidnúah d'./fnqUe au-dilà du cap Bojadur «/c. = Paris lii42, p. XLl. e 9Í. IZlti] Ed. . XXXV., dizem os editores que AbuHéda deo a ultima demão á sua Gcograi)liia em 1321. [il7] On dit , de plns . que le mntide halitalU commcnce du edti de Vocct- dcnt , une iles Klcnictles , lieu t/u! . du reste, est aujurd'/iui inhabité. Traduc- ção de Mr. íleinaud , p. 9. [SIS] Ed. citada, p. 183 do texto árabe. Vid. o N. XX. do Appcndixí [219] Vid' a prefação da ed. titsda, p, XXXVI. [2 20] Vid. os JJJilumenlos á l.' Parte da Memoria sobre as verdadeiras e/)0- , DAS SCIENCIAS DE LISBOA. '/I ffSi cjue Khalfdal sii;iiifica />ercM?2e, eterno, c. r[\ic tom alhisSo a(V liontino iii\ tholouico das iliias Jus beinaveiilurados ctlinic.o.s ^» como j;í observei [22 ij ; e que Scuklat he a l.iaa tomar as K))ii;itudes dos Faizes ; jiorôm não exis^tcm na }> extensão i\o clima, lie venlade c^ue no mar circundante ha "muitas ilhas, j)osto que as nniiorcs e as mais conhecidas wsâo siJmeute trcs. Dizem que são habitadas. Chegou-iios á »» noticia que as n.íos dos Francos pass.írão [)or ellas no mea- j^lo deste século, que j^uern^drão os seus habitantes, aj)ri- "sion.írão e ca])tiv;írão alguns que venderão como escravos « seus nas praias do mais remoto occidente , e passarão para »o serviço delRey. Depois que aprenderão a linçua occi- » dental, manifestarão a situat^ão e estado da sua ilha, ondo ndiziào que, por falta de ferro, lavra vão as terras de semen- »»teira com cornos; que o seu sustento era cevada, (jue os 7>aniniaes quadrúpedes erão cabras; que o seu modo de pe- ?>leijar era com pedras que arremessavão para traz; que o jjseu culto religioso consistia em adorar o sol, (juando nascia j» sem saberem mais cousa alguma de religião; e finalmente »que não se aportava áqucUa ilha senão por acaso, e nunca vde propósito [223] •> = Ibii-Khaldun Ik; o único Escriptor árabe que apresenta noticias positivas das Canárias , e tudo o que refere he con- firmado pelos Authores que delias escrevc^rão depois. As terras erão lavradas com cornos de cabras [224^. A cas em que principiarão as nnssis Nanegaç<íes e Descobrimentos no Oceano Atlân- tico. iiad Memonas da Acaduniia Real Aa» Scieiíi-ias de Lubua. T. Xl , P. íi. , p. 193 [í;21] a p. 75 deáta Memoria. [-íii] Hingraphic Uniccrsclle , T. 'M . |i. liS e scijiiintes. fííSI Devo a copia, do te.xto deste pas^^o de tbii KLiialdun ao .Sfir. Burào de Slniie. Vid. o N".' XXI. o modo de pelei- jar caraclerizào perfeilamenlc as Canárias; e que adoravSo o sol e a lua lie atl estado por Cadamosto [227]. O texto de Ibn-Khaldiin traz = Depois que aprendÍTão a liTifioa arabe=; porém tradnzio-se = Depois que aprenílô- rão a linijoa occideiitai = por m(> parecer quo se leria escri- pto v_,j.jj| alarbi , em lugar de alyarbi ,_,jii\ , o que só diflbre u'lnim ponto, cjue se teria omittido, escrevendo «, em lugar de i, persuadindo-me a isso as razões seguintes : I.* Depois das guerras das Cruzadas, os Árabes e Orien- taes designavão por Francos todos os Europcos [22»] ; e guesto, scne servioano invccc de' biioi per ararc la terra, et snno assai piu ejrosse dellc nnstre. Benzoiíi. La Historiti dei Aloniln JVuovo. Vuiielia Ifl72, 12. p. 179 3?. jít Hispani .... cum in cam (Caprariam) principio victriàbns armis penr- Irassenl ; adeerlcnmt , laetisninias scgetes non aralrn , non vomere , nnn bidentc òipaliofjitc , vel sareulis , ac ne botim epíidem unqulis , exerceria scd (qtwd stU'- peasj cupris in juga sociaíis , et ituiequalcs ramosos que trancos per juijera tra/tcn- ttbiis , inJifjenns frcgisse terram , et comminuissc glebas. Caprino practcrca cornit, nec alio pastino , spectis et latibula montium, in /ii/ehiis tmffuffia, tamrpiam domof aperirc soliíos. Bissclii , Aryonauticon ylmericanornm , sire Historine periculorutu fctri de licloria , ac sociorum cjiis , Libri XF. Monachii , lC'i7, p. 13. Para arar la tierra les costaba mucho trubajo ; porque con cuernos pontia-' gudos y largos, puestos en un paio, y con pujoaes , y palas de tca, aravan t/ rompian la tierra. Nunez de la Pena, Conquista y antiguedades de las Ca- nárias. Madrid li;7G, p. 12. Una partida de veintc o de treinta Catiarios, arando unafanegada de tier- ra , cada qual manejando un garrote de seis palmos , armado de una hasta de cabra por cl cetremo, a modo de reja. Clavijo , Xoticins de la Historia Gene- ral de las Islãs dr Canária, T. 1 . , p. 157. L. Mariíieo Siculo. De rebus Jlispaniae memorahilibus. Compluti 1553, fl. lOtJ jf . , diz que lavrarão a terra com comos de bois := Terram cnlebant bovi- nis cornibus = ; porém oqiiivocou-íe , porqoe cm nenliiim dos EscTÍ|Ttorei primiti- vos das Canárias se encontra noticia de liavcr hellas bois, antes de os levarem pa- ra l.í os Hesj)anlioes. [225] Os Escriptores que tratào das Canárias dizem que esta era a comida or- dinária dô seus habitantes. [i2C] Bontier et le Verrier , Hisloire de la premièrc descnurertc et conqueste des Canaries, p. 131 ; L. .Marineo Siculo I. c. ; Benzoni , no lii^'ar tr.mecripto na nota antecedente etc. O modo de peloijar com peilras he attestado por lodos os que escreverão das Canárias . entramlo neste numero Azurara nu Chroniea do descobri- mento e conquista de Guiné p. 377. [227] líamusio, riaggi T. I., II. lOG , ed. de 1554. Noticias pura a Histo- ria e Geograp/iiadat Nações Ultramarinas ele. T. 2. , p. 1 3. [228] '.MaVúdi, T. I., p.414, nota (#) V. também o que diz .\Ir. De Gui- gnes na nota a Bakui, p. 528 do T. 2. liasNotices et Jiitraits des Mss. etc. Ain- DAS SCiENCIAS DE LISBOA. 9T Abulfíula assim noinAa os povos, des(l'o canal do (Constantino- pla at(^ íí parto occidciilai do mar firciimdanto [229] ; o por consoquoncia orão coniprehendidos nesta denominação aHes- panlia c l'ortiii^al- 2.* Não ha noticia de neniuima outra expedirão do Eiiro- peos ás Canárias , pelo meado do século WX. , pouco mais ou menos, senão das dos Portiiguezes qno , ni) Ueinailo de D. Aflonso IV. , freqnentavão aquelles mares , d(;s(rant(>s do 1336, e fizerão diversas excursões a ellas, de huma dasquaes', executada em 13-11, existe huma relação qiie, naqiielle tem- po , se espalhou pela Europa ['Í30] ; e por isso não parece entrar em duvida que Ibn-Khaidun se rellra a huma destas excursões, e provavelmente á de 1341 , que he a mais pró- xima ao meado do século XIV, ; mas nesta excursão tom.írào- sc unicamente quatro Canários, quevierão para Lisboa [-231]. Sííquizesse referir-se a noticia dada a Ibn-Khaldun a ou- tra exjiedição anterior a 133tí, mencionada por D. AfíoiisoIV. , na sua carta a Clemente VI. cm 134-5, delia diz iirualmenle o Monarca Portug;uez== "mandámos lá as nossas gentes, c al- » gunias náos para explorar a qualidade daquella terra, as jjquaes abordando ás ditas Ilhas se apoderarão , por força , ,v de homens, animacs , e outras cousas, o as trouxerão «'om "grande prazer aos nossos líeynos >> [232] ; = consequente- mente também desta expedição nSo forão vender-se escravos da actualmente em Kliiva chamào á Europa Frankistan. Mouraviuu , ynyage en Turcnmanie et <\ Khiva . 1819 a 1820. Paris iSi.S, p. 391. ]E29J JJn piit/s des Francs , à partir Ju canal de Cunstanlinoph jusquà íá partie occidcutale de la mcr enmronnantc. Trailucoào guerrearão ctc. = », a circuuislancia de serem luíos, e niio luim só na\ io , dá a entender mais iitinia e\|iedi<;;io do que hum successo casual, não uhslante accrescentar no fim = " que só se aportava áquella ilha por acaso , c nunca de pro- jjposito. " = 3." A denominação isini"j)'ijj'«-« Mofirch ai aksa , extremo occidcnte , aiiplicava-se não só á extremidade da Africa até ao Estreito de Gibraltar, mas também á Hespaiiha, e até a parte da França [233]; porque t_,j.i« Mofjreh^ em ge- ral, designa todo o occidente [234] ; e Conde, refutando Ca- siri, cuja- opinião he que pela jialavra ij^jUl AUjarh se enten- deo sempre o occidente da Hespanha , e por >~j^\ -Âl- maf/reb o da Africa, diz = «em geral uza-se j.i de huma, j;í «de outra indiUerentemente» = [235] ; e por tanto applican- do-so a (íxpressão = iVíoí/rei ai aksa, extremo occidente, ;l Jlespaidia, jiarece que ali não havião os caplivos aprender a lingoa árabe ^jj^^ii ^^ ~JOi lissan alarbi, mas sim jjjj.iil ^^ «Jít lissaii alf/arhi , a lingoa occidental. A isto pôde oppor-se que, frequentando os Portuguezes as Canárias desde antes de 1336 , em alguma outra das suas excursões, sem ser nem a de que faz menção D. AllbnsoIV. na sua carta a Clemente VI. , nem a de 1341 , podião fazer captivos que fossem vender ao Império de Marrocos, e que lá aprendessem a lingoa árabe ; mas alèra de não haver meio de determinar-se a época deste facto ((ue , sendo indelinida- mente anterior ao anuo de 1336, se iria afastando muito do [if.j] Bakui Notices et Kxtraits dcs Mss. ele. T. 2. . p. i;,2 , -iÇí.' , e 505 ; Ben Aya?, ibid. , T. 8., p. 11. O passo dt- Bakui , p. iG:: , allude bera clara- mente aii laudes de Bordeaux. [S34J De Giiignes Noiiccs et E'lratts dcs Mss., T. 2., p. SOS, nota (e) ; Bakui , ibid., p. 42G , 4-13 etc. Gayanjjo-:, TradiK^-ilo de ,'fl-makhiri , T. 1., p. 319, nota .SO, dizqu(! = "03 escriptrvi('s Aralics ciimpriílioiídera tieipicntemen- >>te a Africa ea líespanlia debaixo da denominação coral lia MurjhrJj Co occidente) — lhe Àralúan mriíers nften comprisc .■Jfrica and Sj.iain vndcr tJic ijciicral deno- minntion nf Maçlireb ( Ifest). (•235] ylqui debo notar que no es cierto In que dicc Casiri eti su lUhlxothcea fseurlitlense , que por Vj*^' Algarb cnticndcu siempre occidente de Espana, ypor (_>^X4.!1 Alinagreb cl de jljrica ; lo ijeneral es usar yit de Li una i/n de la otra sin dijfireiícia. D. Joáepli António Conde, Descripcivii de Espana d» Xcrlf Ale- dris , eoii traducion i/ notas. Madrid 17D9, p. Ijl. DAS SClENClAS Dí: LÍSBOA. 99 meado! (lo século XIV. qiio Ibn-Khaldun llio assi^na , ôstá objecçSo h(í , quanto !i mim, sujeita a gravfjs reparos. Km 1." lui;ar niíò parece provável f[ua}'aiigos, TraducçAo Jc .íl-mijikarí , T. 1 . , p. S 11 , nota 4. [ift')] Vid. oí ./tiilit(tinentos citados. Memoria:^ da Academia Real das Scien- cias de Liiboa, T. \I., P. a.', \<. 178, N 2 100 MEMORIAS DA ACAniíMIA R1:aI. luim laoto iepugnau(.e , e por isso tic rprto modo iiuicic-dita- vel ; |)ortjue queiu pcrLeiíde vejider tiscravoa não os leva ds praias d'luini paiz , mas aos pavios e terras delle. Considtaiuio sobre csLe ]>oiito o .Silr, liiirào do Slano, c c\))(,iiuio-lli tratava de JVÍarro-' » cos , cdalingoa Árabe; porem que todavia não o afllrina- j) ria de huni modo positivo »== [240], Respeito tanto a opinião do Sfir. Barão de Slane , que não me atrevo a proj)òr a minha senão como huma conje- ctura. Mas supponhamos que não houve equivocarão nem em Ibn-lvhaldun , nem nos que lhe derão as noticias que relata; ((uc os Canários forão effctivamente vendidos no Império de fliarrocos ; e até que íbrão lá conduzidos , no meado do século XIV. , por outros Francos que não fossem os l'orlu- jiuezes ; isso mesmo prova que os Árabes não nave£:árão ;ís Canárias prim(íii"o ([ue os Portusuezes , q>ie ant(>s dessa épo- ca as tinhão descoberto; jiorque os Árabes souberão delias tão somente pelos captivos que os Francos dalli Irouxerão , e ainda assim mesmo não as ficarão conhecendo, visto asse- verar ibn-Klialdun, no lim da sua narrarão, que só poraca- [í iU] Qunnt u V erpi^dil ion portvgnise anx ilcs Canarics, toirc conjecture me piimit Ires pluusiòlr : crpcndant je dois futre uiserner qu llin-Khaldoun cm- pioic consi'itnmenl Irs viola iiiaglirel) el-aksa poi.'/" dcsu/ni.r la partic mèridionncUc de r Empíre de Muroc , comme 11 se scrl iiicarinhlemeiíl du mol de el-andeloiis , ijUaiid il parte de la peninsuh Espagnole. D'aille!irs Ic mnt c\ (iliarbi (í>íjij' ticsclruiire pas daiis scsourrarjes (wec la siijnijicuiíon (jiic rnus lui assirfiicz. La tjuestíOn cst dilficilc, mtiis jc suis nssez jiorli', à iriiire ijnlt s'a(/il ici du Mu- r'jr ti Ue talu/ir/ae arahe ; loutefois jc nesdiíriíis Viiffiiwier d' nnc maiiitre pwittee. (,' fií iiH pinnt rpii ne saiirait rtre mieiíc éciairci tpic par vns jiropres rcchrrches , Air. Ic Cummandeur , et ecst sur h resultai de volrc trnvnil (jUe je forme.rai mon "pinion sur cc sitjct curieuz et imporlanl. Carta de 25 íCAfrostii iIh 1842. DAS SCIENOIAS DE LISBOA. loi so se chega áqupllas ilhas, quando no anuo d(i l:í77 em que i-ompAz os stMis |)rc)|r>i>-.)ni('nos , (inliMO hiilo já miiilas ve/es (lemaiida-las do |>roj)osilo os PorluiiUf/os, e talvez outros Kuroj)eo8 [241] ; e não só elle continuou a respeito jVo" ). lra>- íi;r= Ibii-klialiluii Uistoirc iJcs fícrôères , citada pelo Snr. Vi^tonde de Saiilii- lem n.TS >i\i,is = liec/ierches sitr Itt ilécouecrle Jes l'uiis. . . . aa-delà ducnp Boja- dor, p. 102, O^ pjrigos de que fiilla Ibn-K.lialdun sâo 03 que refere n"oiitro passo, tran- firiplo a p. lifi desta Memoria. He notável a cniiuideiiiMa das di^taiiciaj entre os Cabos de Nào e de Bojador qiic se ciKonlra em Ibn Khaidun e Duarte Taclieco no seu Esmeraldo (I,. 1., Cap. íí) ; porque ambos a avaliào em sessenta legoas , o que {Mídcria lUzer pensar que as Icgons maritim.is Árabes e Portui-uezas erSo identiiaí. [í l-t) De Guiifues, Notices et Krímlts c/fs A/ss. , T. 9., p. S88, di/ que Ba- kui vivia em 14QS , e que lizvra a sua obra em 1 Wl! , p. 390. ['24.''] Mr. De (; iiiijnes di/, p. 397, nota Ci), == 0'j/ro» Ihcciíamúo Kh:ilidat.= Aiiulcdat , OH A/inlidat (se assiui quizereni pronmieiar; be o nome que lodos osEs- i.r.i;!wes Otienlae^ derào ás Canárias, e nào outro. Mr Do Guit;iies nào reparou W2 aiF.MORIAS DA ACADEMIA REAT. "primeiro gráOrdas longiLudes. Sào seis , vjsinlias lium.is tlaa 5' outras: as plantas, c as arvores tlào-sé ncllas som cultura. » Tudo o que lem lie bom (! agradável. Jmu caíla iljia fia hu- j> ma estatua de oom covados d'aitiira, que lie como liiim » larol para dirigir os navios, e avisa-los que além delias " não ha caminlio" [2-ie]. = Jíakui e Cazwiui , a quem Bakui Hanscrevei,-como fica dito [2471, resumirão as descripi;;òes de Í5(.'kri e de Etlrisi; com a uitica ilillereni-a tle omitlirein as Hauras em cima das csiatuas, talvez por não (jiiercrcm pOir estatuas sobre esta- tuas [248]. De Guii;nes já. tinha notado .qae Cazwini se ser- via das palavras de Bekfi .[249]. ...i-iln X. SclieUis eddin Moiíauimed ad-Dimischki , Aiithor dos j>riucipios do século XV'. , traz na sua Cosmogiapiíia [2õo] este j)asso = « Abu-()bajd-cl-Bekri, no seu livro inlitulado^=(las via- j>g:ens e dos impérios = , tratando das ilhas afortunadas e jjperennes, a que os Gregos chanião ^J»JlAl3Ô Fortianús ou )■> Furtianas , diz que oslas Ilhas licavão ileironfe de Tanger; 3> porém que forâo submergidas, fxcepto hnma , que se cha- « niou jjjvAX.,»!! Sa/iicia , feliz, porque .seus matos, e emara- » ranhados arvoredos produzião , sem plantação, nem cultu- ara, exccllentes fructas de muitas qualidades; e também jjnascião nella ,■ em lugar de cardos e espinhos, hervas aro- 'jinaticas de difierentes espécies de que ninguém se utilisa- j! va ; que prefazião o numero de seis, e ficavão ao Poente j)do paiz dos Berberes, divididas entre si , sern distarem .-> muito huinas das outras; e que huma embarcação obriga- «da de hum forte temporal, falii;ad()S ja, os na\'egaiitcs de ,•) marear , sem poderem encontrar (erra, forão correndo com 5)0 ten)j)0 até c;icalliarein em huma iiha , onde os que esca- que o Copista da obra de 15akui repetio, por engano, no nome dis [lhas, o Oim a. (lujo som alguns representão por — Dg. — ) da palavra Dgezirel, pomlo-o em lugar de Jc ai, que fe pronuncia como o — J — Castelhano ; e por isso escreveo Dgia- liJnl , em lugar de Khriíhhit. [246] No extracto feito por Afr. De Guipnes = AVr/i-cs el P.xlraits dcs Mst. , T. a., p. 397. Vid. o N. XXII. do Appendix. [247] A p. 94 de»ta Memoria. (a-íS) Vid. a nota (C) , no fim derta Memoria. [e-l.l] Nnllres et Ertrahs r;io (las lilias qiif! liavia ahaii ila(jin;lla , e carrcij/irão o seu «navio de ludo o que lá achárãu de mais admirável o me- «Ihor. As gentes daquelia ilha, maravilhando-se de os \dr , jíllies disserão : nunca vimos que alguém, antes de V(')S , aqui » tivesse vindo das partes íIo liriente; e estávamos j)ersu:idi- » dos de que l;í não haveria senão a agoa que cerca tudo. Teu- "do chegado a embarca(;ão , depois dt; cslar muitas vezos a •' ponto iie se perder, a terras d'Hespaídia, EilRoi lhes pcr- "gunlou donde vinhão , e como houverão o que traziàocom- "sigo, 30 que elles responderão , iiiformando-o de tudo oquc «lhes tinha acontecido. Então l']l liei enviou huma e.xjiedi- í>(;ào d'alguinas embarcações, (juc não topiírão com a ilha , » e a maior parte delias se perdoo , pela braveza do mar e "ferocidade dos vejitos. Pela observação daquelles que ti- -•5 nhão chegado na primeira embarcação, se soube qne adiõ- "tancia que ha entre a ilha e a primeira praia do território -•? hes|)anliol , he de dez gráos » = [252]. Schenis eddiíi co|)iou Bekri , como clle mesmo confes- sa; porem apresenta circuuistancias que , ou não existião rtO texto de Bekri de que se sérvio i\Ir. Quatremère , ou que este omittio no seu extracto [íóii]. Como quer que seja , Schems eddin admittia (pie das Ilhas Afortunadas se tinhão submergido cinco, ficando S(i huma a que applica todas as (jualidades das Ilhas Albrtunadas mythologicas. Quanto á Ilha em que se abrigarão os navegantes, o Au- thor não diz ({ue fosse alguma das Ilhas Albrtunadas, liCm me ))ar«'ce que o podia ser ; porque : 1.° Se a ilha em (pie íbrão encalhar foss(^ alguma das Afortunadas, não poderiuo ali saber de outras ilhas que hou- hum exemplar incompleto da obra de Schcras eddin MojiammeJ, que esiste na Bibliotheea de Leyde, intitulado neihahat ad-dehr , Mr. líeinaud pensava que es- ta obra tinha sido coiiiix)sta no anno '00 da He^'ira (1300 de J.Cj; porém, se- gundo o exemplar ile Leyde , a olira lie, pelo menos, cem annos posterior. Esta noticia toi-ine comraunicada [«lo Siir. Baiio de Stane, em carta de 85 d'Agosto de 18-4Í!. "ic [25 Ij O texto traz as palavras C— 4jj-« . Entendeo-se que poderiào sct iS'^(-_f* '• epor isso se traduzio = os que esc.ipárào. = i;.)-Ji Mss. N.° 581 (fumlo antigo) da Bibliotheea Real de Taris, fl. RS. O Siir. liarSo de SIane lie quem me enviou o texto ilesfe passo. Vid. o N." XXlII. do Appeiulix. [2ãSj Vid. a p. 78 desta Memoria. 104 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL vcssc , alem daqiiclla. Por hypotliese linliiio-se submergido todas, ficando só lidiiia. a.° Ainda que não se tivessem submergido , os Canários em nenhuma illia podião ilar-lhcs noticias das outras. He ík- cto attestado por iodos os que escreverão das Canárias, que os habitantes destas iliias nenhuma communicação tinhão en- tro si, que não tinhão barcos, e que mesmo os d'alguma illia nem sequer sabião nadar ['254] ; o por isso ^ como ha- vião dar aos navegantes noticias d'outras ilhas ? 3." Suppoiíhanios (jue os navegantes tinhão meios de com- prar na illia ludo quanto quizessem i como liavião de com- prar o que lá acharão de mais admirável e melhor , se nas Canárias unicamente havia pelles e cebo de cabras , quei- jos, e cevada, e urzela que só em tempo muito posterior foi objecto de commercio [255] ? Esta carga não era de cer- to para admirar. Escravos não podião traze-los ; ponjue ho- mens derrotados por liuma tormenta não estavão era estado de praticar actos hostis. 4.° Os viajantes vinhão do oriente. O paiz ao oriente das Canárias he a costa d' Africa, o Paiz dos Eerberes, ao poen- te do qual ellas estavão, segundo Bekri. Ora como he possi- vel que os navegantes lançados por huma tempestade n'hu- nia ilha desconhecida, não procurassem, para voltar ao seu destino , o mesmo paiz donde tinhão vindo, que era a costa í r Africa , e fossem , em lugar disso, demandar a Hcspanha, cuja distancia á ilha em que (inhão aportado ignoravão , e a ijue não ousarião dirigir-se pela diíiiculdade de atinar com ella , em consequência do modo por (]ue então se navega- va .^^ E tanto he isto assim que a expedirão mandada i)aia a ilha pelo Rei d'Hespanha, não a descobrio. Nem se diga que os navegantes voltarião á costa d'Africa, e de lá para Hespanha. A circumslancia de terem observado que a ilha a que abordarão distava dez gráos da primeira praia do ter- ritório Hespanhol , mostra que a navegação foi feita em di- reitura da ilha para lá. 5." Como sabião os da ilha que a agua cerca tudo.'' Ho [254] Os Guanched em suas torrentes ha pedras preciosas e pérolas [257]. Es- »tas Ilhas eslào b(;m cultivadas, e j)ovoada8 : quem huma » vez lá. entrou nunc.i mais quer sahir ; e isto pela salubrida- 5> de dos ares , doçura das agoas , belleza das figuras de seus ?» habitantes, e outras muitas boas qualidades. Na praia des- » te mar ha trez estatuas de pedra para a parte do Norte, 5>de tíiíura horrivel, e as pedras de que são feitas forão la- jjvradas nas suas planícies, e tiradas das suas montanhas. 3> Cada huma delias está apontando com a mão para a face «do mar, dando a entender que nelle nJo ha caminho, da 5) mesma sorte do que ha na Ilha de Cadiz , na Hcspanha , e «nas Ilhas Afortunadas, dentro do mar Allahlúha , aonde as jjtres estatuas estuo ii^ualmente a})ontando para dentro do 5) mar circundante occidental, qiu^ali está proximi» " = [258], Schems eddin Mohammed seí;;uio aqui diversa tradiç.io acerca das Ilhas Afortunadas, quesuppõe serem mais dehu- [•:5G] A p. 74 desta MeJiioria. [C.')7J As pérolas não se eriào nas torrentes . mas no mar; c por isso talvez conviesse trailuzir = iias suas agoas = , o que eoniprelienjcria asagoas Jo mar q>ie circunda as ilhas, eas que nellas nascem ; porèni a palavra \__jjÍ<,*«« significa tor- rentes ou correntes d"agoa. \' . Golio c í'rejtag. [258] Fl. 65. O Siír. Barào deSIane, m.tnilanilo-me copia deste passo, acom- ])anhou-a da nota seguinte z=tiOn til ilans 1'histoirc Jcs Bcrhcrs de Ihn-KhaU i> Joun que celtc partic ile locran enclronnnnte qui tuuche >|M lietrolt de GihraUar <• se nommc yrKuUsl (aknabos) {ccst àJlre y.^.^-»jV jJJl ou kXJ^JIll al-iel.mt ou juVa!) al-tclanct i> = Lê-se na historia doo Berberes de Ibn-K.lialdun que a parle du oceano circunclanie , qne toca no estreito de Gibraltar, chama-se atiiahos . isto he okianos . e na lingoa dos Francos chama- se, segundo elle diz, ai Baiana, ou al-Hataba, que be talvez liunia .ilteraíjiSo da palaviaii(/,i,i/(co, que se escrevia em árabe nl-atlani , altelant , ou al-telanet. *i.* SKRIE. T. I. P. II. O 106 ftlEMORIAS DA ACADEMIA REAL )na; e priíicipaluieiitc pela circmislancia das estatuas ciiiCa- es «•itados iiesla Memoria, lie o único em que ella se encon- tra [25'.)]. E não admire adoptar o Autlior duas opiniões diflercn- tes a respeito do hum mesmo objecto, porque os Árabes, como jíí se notou , [2B0] , costu mão expender litter.dmenlc as tradi(;ões que cliegárão ao seu conhecimento , posto (juo encontradas sí^jão, c que atópossão ser convencidas de íaisas, n com cilas se authorizão. li isto encontra-se até nos Escripto- res mais famosos : quanto a Abulfúda observa Mr. Reinaud que as mais das vezes refere as opiniões dos diversos Autho- res, sem se inquietar com as concordar entre si [261]. Ptolomeo n;"ío falia nas Ilhas Saila , e Schems eddin si'> poderia ter noticia delias [jolas obras deste Geoi^rapho tras- ladadas em árabe, einque se inserissem os additamentos quo os Árabes costumavão introduzir nas versões que fazião dos Authores Gregos e Romanos [262]. Este ]>asso he mais hum exemplo da Geographia symmc- Irica dos Aralies , que inventarão luima espécie de identida- de de circunstancias locaes em pontos oppostos do Globo. Assim , V. gr. Fiçuravjto hum mar tenebroso no mais remoto occid(*n- tB, em que não i)odia navea;ar-se , pela sua escuridão, e por outros perigos que nelle se corriSo. E no mais remoto orien- te outro mar com o mesmo nome, e em tudo semeliiau ■ te [-263]. A ultima terra conhecida na Africa , aooccidente d(í So- fala , chamava-se Uac uac , junto á qual havia iiuma ilha do mesmo nome. A uliima terra conhecida nos mares orientacs da Ciiina ei'ão as Ilhas de Uac uac [264]. -' {25U) Nesta Memoria p. 79. ■\ [£bOj Ibid. p. 76. [2G 1 } Mvulfcda rapporlc h plns souecat Ics opinioas, iles dieers auteurs., sws sinuUKtcr de Ics meltn d'acc(irã eItscjnOlc ^ Tradiiçção da (h-r. 1 , -2 , e ?.r,.-, : T. I., 87, 491 e Aita; T. 3., ]). 439 ele. .ScliciiK eitdiíi , no lii(;ai Iraiiíicriptc). [iH] Ma^^úli, Noticcs e.t lirlrniu des iMís. etr. T. 1., p. 15. KilrsV . T. 1. , p. 79 e 92. Jbu al-WarJi Aii((>rí rt Kitraits d(s Mss. etc. í". í. , p. 41), 41, e 5u.. Bakui ibid. p. 999. Vi.l. a iiota ;»;^ no liiii ilcsta Ai«moria. . 1 . DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 107 Na extremidade do oceano occidental estav;io as Illias Aforlunadus [-juõ]. Na («xtremidadc do oceano oriental ha- via outras lllias Afortunadas , com as mesmas estatuas etc. [2G(!]. ^ _ , XI. Soyuti , Aulhor da seirunda metade do século XV. [2(17] , diz no sou Merusid , que he huma espécie deDiccio- iiario Geograj)Iiico = « As ilhas ^ijlssO) cã Khalcdat (pcrennes) são as ilhas "CliljuJI fií Shudut , (afortunadas), de que fazem menção » os Astrónomos nas suas obras ; e achão-se internadas iir> "mar circundante da jjartc do ])oente , perlo de duz<.'ntas »farsangas: dizem que estão inteiramente desertas '.- [268].=; XI I. lien Ayàs na sua. ohvã= Ckeiro das Jhii es nus rna- raiul/ius do Universo = , feita no principio do século XVI. [2G'j] , escreve = « A parte occidental do globo começa no oceaiio tene- ♦> broso , que cerca a terra : chamão-lhe mar tenebroso ; a »sua agoa he turva, e ninguém se atreve aarriscar-se aello >j pela tiilliculdade de o navegar. Tem com tudo , grande >! numero de ilhas , humas habitadas e outras desertas ; en- » tre estas ilhas distinsíuem-se duas chamadas lllras Afurlu- j' natlas , em cada hunia das quaes ha hum idolo de |)cdra, » de cem corados d'altura , e em cima de cada idolo huma n estatua de latão que indica com a niào , què , alem delias , j> jião ha nada. Estes iilolos furão levantados por Chédàd , fi- "Iho de A;k1 , quando |)(Mietrou nestes j>aizes. [270] " = i. Defronte ilo mar da índia , jiara a parle do occidenle, »sahe outro mar do oceano, ao occidenle dopaiz dosZindjes, »e termina junto á montanha das rolas. Neste mar desem- " boca o Nilo (Nia| O Snr. Barão de SIane lie quem me mamlou copia do original deste pji-so. V. o N." XXIV do Appendix. (iG9j Ajr. Laniriès, Noticcs et fltiraits des Ms$. ele. T. 8., p. *, diz qne 1{< II fiyjs acabou a sua obni em Setembro de l.ilC. (;70] Extracto leito por Mr. Lanjilès-, inserto no T. 8. das AoíiVes et Ec- troits lies Mss. etc, p. 5. V. o N." XXV. Jo Appendix^ [1Í71J 1. c, p. 13 in/ine. O 2 108 JME3I0RIAS DA ACADEMIA REAL Bcn AyAs copiou liKcralinenle Ibn al-Wardi , cliflTci in- do delie tão somente em dizer que as estatuas forão postas por Ch»'dàd, lilho de AAd , quando Ibn ai-Wardi diz, que íorão erií;idas por Dul-JMcnar VÀ liamiri de Tt'l};íl)aa : Edri- si , atlribue as estatuas a Alexandre^ (l)'hui f arnain), que os Autliores Orientaes confundem com luim liei do Ycmen , por nome D'iil-Karncín [272]. Pocock tliz que olillio de Ad SC chamava Slieddad , ou Shaddàd , que he o (Jliédàd de Beu Avàs [273]. Dlui'l Karnain era tilho de KAyesli , neto de Ad, c por tanto bisneto de Ad , e como Pocock diz de Sliatld;\d cjne = «' chegando até ao ultimo (iccidente deixou muitos ves- «tioios doseu j)oder " = [274] , confundio BenAyàs Shaddàd com Diiu'l Karnain, eattribuio áquelle o que se dizia deste. Parecerá estranho , que luim Aiithor que escrevia no sé- culo X\ I. , ignorasse completamente o que erão as imana- rias , jií nessa época tão frequenladas pelas Nações Enro- péas , mas a verdade he esta ; e mesmo os Mouros da Ber- béria souberão da existência delias só pelas entradas que os Européos ali estabelecidos flzerào nas costas Africanas su» geilas ao Império de Marrocos. Nenhum monumento histó- rico dá razão de terem os Berbcriscos aportado ás Canárias, senão depois de 1.524 [27õ]. XIII. Al-makkarí , que principiou a compAr a sua Histo~ riii das Dxjnastias Mohammedunas na Hcspanha em 1628, e acabou de escrevé-la em IG29 [27«] , diz = [i'2] iMas'iid!. T. 1., |i. 12T, nota ile Sprcn{;er. (Í73) Spccimen Hislorlae Jriilnm. Oxoiiiae 1S0(J , ]>. 3fi , e ;>9. Íí74] 1. c. , p- .'59; e ahi mesmo = rnas (Al-khúlidúl ) ^ que são sct" , e •' que jazcMii ao oc-cidciite de Salé. Estas ilhas podem ver-se ■'a iiiaiide distancia no mar; e nos dias claros do verão, "qiiaado a atinosj)liora está inleirameiítf! pura, e lim|>a de >> vajxjrcs ou névoa , descobreui-se elovaiido-se ao lon,2'(í so- '> brc o liorizonle. So>;undo o(rouc;raplio llinu-l-V\'anli lia eui » cada liuiua deslaS ilhas hunia torre de cein covados de altura, • no cimo da quul está hum idolo de cobre , apontando com 'j a mão para o mar, como se quizesse dizer == não so passa .'lalem dfstas ilhas. = Accn^sciuita Ibnu-1-V\'ardi que iiào po- »de len)brar-se do nome do Rey que ediiicou estas torres, 3> mas achanu)s que Edrisi attribue a fabrica delias a Isk.an- " der dhú-l-karneyn. »]N'es(e nua- (Oceano), e mais adiante ])ara o Norte, es- ») tão as ilhas chamadas yís-saádfjit (as afortunadas), em que »>ha nuiilas cidades e vilias ; e daqui vi<'rào os Majús , que » são huma naçào de Christãos. Destas ilhas a mais proxim.i »>he aíAvBirlunnujak (Hritannia), que está nomeio doOcea- " no , e (|ue não (cm montes nem rios. Os liabitantcs bebem »agoa da chuva e cultivai) a terra !>= ['-í"?]- Que e.xtrema confusão de ideas sobre as Ilhas Afordina- das ! Aos outros ]'iScriptores Árabes só adianta Al-makkarí o conhecimento positivo de que as Canárias erão sele. Seijuiii- do Ibn-Said, ou Abulféda [278], distingue ilhas perennes , e ilhas afortunadas ; e j)òe as afortunadas nos mares do Norte da luirojja , talvez porque, em alguma carta dos séculos XIil. ou W\. , as visse marcadas ao occidínte da Irlan- da [279 I , en( consequência das ideas que vogarão depois da invenção da viagem fabidosa de S. lirendào; porém que mui- to he que Al-makkari tão pouco soubesse das Canárias, se eslava de tal maneira atrazadu nílativanuMile ;í Iniíl.iterra i\w. a comprehende entre cilas, aílirmando não ler montes, uem rios ! Duas noticias colheo Al-niakkari de Ibn al-Wardi. e de Edrisi, (|ue não se conformão com o que nos resta das obras destes Authores. Um Mohiiaiincd Jl-niakki:ri. . . Iraiislulcil by Puscual de Lliiyanyos, Luiuliin 13'10 T. 1., p. SDS , e prolaçjo j). X\'I,, nola 9. {í:77] idem. il)id. p. 7á. V. o N. X.WI- do A(.|xmlix. |-278] V. a !>. 9i ilesta Memoria. [ii7í'J V. a p. 70 desta Mciiiorij. lio ^MEMORIAS DA ACADEMIA REAL 1.' Qiic Ibn al-Wardi não podia lembrar-se do nomo do Rei <]iic editicou as torres sobre que oslavào os idulos nas ilhas Khiílidát (perennes, eternas). 2." Que Edrisi attribue cslas construcções a Iskandcr dlu'i-l-Karneyii. Quarito ;í j)riineira: he verdade que Ibn al-Wardi, no capi- tulo das Reijiòes, diz cpie não sabe quem fez e levanlou as estatuas nas ilhas Kli.tiidát ; porem, no capitulo das Ilhas, diz que forão levantadas por Dul-Menar El-hainiri de Tebábáa, que não he o mesmo Dul-Carnain de que se faz menção no Alcorão [•2»o]. Quanto ;l segunda: Edrisi unicamente faz menção d'hu- ina estatua de còr vermelha elevada por Alexandre na Ilha deMasfahan, e não iiasouíras; antes, pelo contrario, diz que a pessoa que fez erigir a estatua na Ilha de Lamghoch mor- rco lá [281]. ]Maju's significa propriamente ilfrí(/os , adoradores do fo- co, e j)or extensão Idolatras: e os Árabes applicárão este ríomc atodas as Nações do Norte, coniprehendendo os Nor- mandos [282]. XIV. Produzirei também o testemunho do mais antigo Geographo Oriental até agora publicado, de que lenho noticia. Scheich Abu-Ishak El-Faresi , riJr/ò El-Issthachri . que escreveo em Árabe, no seu livro dos climas, composto mui- to no princij)io do século X. [283] , não falia nas Canárias. l^.ste argumento he negativo , mas torna-se positivo , por que, desembocando o Estreito para a cosia d' Africa, a ul- tima terra de que faz menção no texto he Asila (Arzila), [284] e conhecia tão pouco oliltoral da Africa, edaílespanha, aliMii do Estreilo que, da banda da Africa põe Sus el-Acsa abor- da do Oceano , na segunda e na quinla Carta geograjdiica ; e do lado da Fíespanha , caminhando do Norte jiara o Sul , a a primeira terra que traz he , ,)j^m Salri/i [Santaròn) , e de- [230] Nesta Memoria a p. 90. [281] Idem, p. 79. [282] Cayanyos, I. c. p. 79 e 80; SIG, unta 17; 3C3, noia 48: e?82, no- tas ly e 14. [28.'?] Libcr climatum íí»c/orc SclieicliO Alni-r.-luiko F, 1 ■ F;i rpq , r.u/yò El-Is- stli.Khri ad siinllitudincm vodicis Gothani accuratlssimc ddiniundviii. cl lajjidi//i's c.ri>rim,ndiim cunwit. Dr, .1. H. Moelli-r. Gothae 18S9 i." El-Ií^th.-itliri psotc- veo a >>iia oUra entre os aunoj du 91 j a Vil , Prefacio, p. 22. [284] Idem, p. 19. r. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. Ill pois Ahxbuiiia (Abschbuiiia) Lishoti , Axl)ilia (Afichbilia) Se- vilha, Sadiina {ãfrdtiia Siilonia), Aliif/.ira ele, tuil'» ;1 Ijunia fio mar, pondo GibraUar mais j»i-la leira deulro, iio os|)ai;o tròiiteiío á costa entre Alt;;eziras e Medina Sidónia [atiú] , em liii;;ar de o situar na Costa. Loio jJjav, Satrin, e dijío que he Santaròni ; porijiie a soirutxla Juiia da palavra ^^^^^ [2(tG] , por falta dos pontos diacrilicos, pnorancin das terras ai^-ra do Estreito, por huma parte; e por outra, n/lo citar nenhtjm Escriptor GrO!2;o, pro- v3o a liíeti vér, que Issthachri nada sal>ia das ('anarias ; por- que não tinha lido os líscriptores Gregos que delias tratavào. Este passo do Issliiachri confirma, até certo ponto, o que fica apontado a respeito dò termo das navegações dos Árabes pela costa d' Africa. fW^i do Estreito [-290] . Mencionarei mais hnm l'jScrip(or que, posto nflo seja Ára- be , mas Forsa, vé-se claramente que tiroii dos Árabes oqu^i diz das Canárias ; e vem a ser Ali Kosligi , que viveo no tempo de Ulug- Beia;. R por tanto he da primeira metade do século XV^. [iSl]- Diz este A. quo = i*.). l)'ll«rl>elol, Bi' bliiit/icijiic Orientale , p. 90V e 905 diz , qiie Uliijj Bci^ foi ruortn i» annó 85S . na paráfrase da Perie^-esis de Dii>nysi<) , diz: Que nu estreito <|iie separa a l'>uro])a da Africa, lia es- tatuas (riiuma e (ruutra l)ai,da : Que o |)u\ o iMauriisio lial)ita na extremidade fia l.ibva , junto ;ís ondas de Tethys , onde estão as estatuas d'Alcid(;s: Que a terra da Ibéria toca o oceano ocridental , e que Calpe sustenta huina das extremas estatuas d'lierculí;s: E nlium ; mas o consenso de todos os Mss. e edições antig^as de Prisciano, á excepção do atiruma em que se afastarão de |)roposito do original , pelo consid(>- rareiu errado , provão que o texto geiiuino de Prisciano tem statuas nos lugares apontados ['290]. [297] Esl primas tsastis qui pontut Ibericus undis Jihirlit Europeu Lihi/it , communis ulrique. Hinc aíijiie hiiic statuae sunl : ambae lilora cernuni ; > Hui'c Libífcs , katc Eítropes , adversa luendo. V. 7j a 78. Scd summam Líbi/en luihilant ad Telhyos uiidas , j-JIciiliie tjua sunt statuiic , Maurusia plebes. V. 174 e 175. .SVi/ lume» (Kcnnum cnntiyit Ibérica tcllus Otxiduttjn t Culpe fjua summam sustinel unam llerculis e statuis : V. 3.tS a SjS. Est irjiliir pnnto telltis circumf lua prima , Cui nomen Ciades. Statuas /uiec Ucrculis inler A Ti/rlls coUlur. V. -Ki l a 468. Eli. ilf Ivrelil , T. á. , |). 48i, 4aii , 490. o 49S. Cifo esta e.lição cora pe- fcreiícia á ile \\ Cnudorf, porque adio inaii uxaclo, e com niellior |Kiutuaçàu , o texto ili^ Krelit. [■inrtl St;>tiiae sic omnes codicet preuter À. Vide notns Pap. .Stelae haient ei méis fí et T. Alquc /loc rctinerem , si libri eclust! addi<.erint , I\'am .statuae cíi satis diijnum rohimiiis llerc. vocabulum , ntc iib aliis scriptoribus sic usurptitun memini, Poi^tae Lallni .Minores, T. 5., p. 27G , iiaj vari.inlc<. E Papio , nas notas ao v. 77 (ibiJ. p. 4i7), sialuae » /« ^cta poz sobríí o Atlante huina coiumna de bron/e que cliegava até ao ceo ; e Strabo diz que alguns entendem serem as columnas de Hercules as columnas de bron- ze de oito covados d'altura que estão em Cadiz , no templo de Hercules etc. [303] ; porém , ou porque as columnas ser- vião muitas vezes d(! baze ás estatuas» ou porque os cippos funerários, que se denominavào rí>, stelc , erào frequente- mente substituídos por estatuas [304] , ou j)or quaUjuer ou- tro motivo, foi esquecendo o sentido primitivo de coiumna da palavra tím slele , e dco-se-lhe a sigiiificação de estatua; e foi esta accepçào tão geralmente recebida no século VI. e dalii por diante, que traduzindo constantemente Kufo l^esto Avieno , no texto de Dionysio, a palavra ri>.t stelc por co- iumna, Prisciano , pelo contrario, nunca lhe deo esta signi- ficação, vertendo-a sempre |)or estatua, excepto duas ve- zes que a trasladou jxjr »if <« , eni|)rcgando a palavra coiumna huma só vez em que Dionysio usou do vocábulo «:«, kion , e não de r^^i stelc [30.j]. [-'tos] TMÇ H^(XKXittf{ r*]X«;* e*ioi , ávràí n^íiç iivai ^aàit' oí ^ » vpòçXf^fiara. oi et Tiir )}7rf t^A'» âxpa^ ,' cl Oí ^ TÓX!t;« x^ct oí ^ir ol» , oí ot TçiT^ , oi ci ^íxr . o! oi Ttffjaceíf , Kd. de Ailiert. T. 2. , col. Iiii7. [SO-SJ V. .ilwixo a nota 676. Stfabo L. S. , T. 1., p. 259. [S04-] Aj)olk>nio Sopli!»la, Lcxicon Graecum IliaJis cl Odi/sseac , p. 7SS , 0.1. de Villiiisoii. Paris 17Tâ. Siiidas, p. .'!7S e 87-1 do T. 3. da ed. de Kuster. Jiilio Polliix, Oiiomasticon , L.!?., cap. 19, segm. 102, p. Sil doT. 1.; L. 8. , cap. 14, segm. liC , p. 9fi8 doT. 2. da ed. citada. V. Daiiiin. Lejicon Graecum Homcri et Pindari. Beroliiii l"ljj, col. i2G7 , iii fine. V. a nota (D) no Hm desta Memoria. [305] í>Da Tl uai «TTÍXíti «iç* ri^fjLaffti H^axXno^ ffTo^if , iJLÍyx õat/^Aix , irx^ í^^aTÍuna TÁattca . ri^l Tl ksl] ^áXjítio; i( oú^aiòt la^Xfxi xív» ii\',0xTt:; , V. 64 a G8 da ed. cilada. Priiciano verte Hercúleo celchrant qunm metae munere Gadcs , Coelifcrastfue tenct síuns j-ítlas monte columnas, V. 73 e 74. Além lios pa.>sos apontados na nota 268, lia mais os seguintes em que Piis> ciaiiú traduz rnXn sícle por estatua. P 2 1)6 MEMOUrAS DA ACADEMIA REAL Poròm o que liP muito notável lio que apreneiitariflo Stii- íías tantos exemplos de ^^im stele ii^síaaccepção; encoiitrando- sc no mesmo sentido em iium dosLexions Gregos ([ueexis^ te n'huni Mss. do século X. úa. Bil)lio(heca Reiíl de Pariz ;, o ([ue prova que era vtilffar naqueile significado [soo] ; » vertendo-a até por eítatua Hf>nisterliiiis , em dnis passos de .luiio Pdilux , relativos a monumentos fniiel)res [307 j; nSo a Iracíto comsemellianie acreprao Henrique Estevão, Scapula,' Hecieric da edição de Earcher [308] , ii(;m nenhum dos Dir- cionarios (iremos modernos que examinei, excepto o Diccio- nario de Danun que, com tudo, parece applica-la mais re- striclamenle ás estauias que se punlião em lugar dos cippos funerários. Admira que os Editores Ingiezes de Henrique Estevão se contentassem com reproduzir o texto do seu Author [309], cm huma das acc(>p(ões que dão á palavra cjii^r, síc'/c = a Diz -) Suidas que he huma peilra ou bronze levantado ao alto, de wfignra quadrada, e eíie faz menção de muitas cn\x, stelai Pav.liilim traliilur tamen /ince Oricntis aJ oras ; Orenmis statuas Jicicc/ii fjua Inntjtre fertw, Finihus hiclnrum postremis. V. GIG a 618. //ic via , quam cclchrat noinen , Dionijsia , Bacchí , Cui statuas dcdcrat victoria finihus ilUs. V. 105í e 1057. O outro pauso deDion^sio , em cjue 1'i'isciano trailuz rÍT.»! slcle jior meta, lic o seguhrte = ày^'jV eTTi>>citL't fj-f/a-èí^f-uv Ê6vo; lp>;£wl' j V. Í81 e S8ÍI. Prisciano vevteo a!.viin = Àã cujus summum prope metas HcrcuUs álti ]\[a(/7iniii»iar r/cntcs, dederal queis nmnen Ibcrus. V. ÍG8 > 2t;9'. Meta, nc4e lugar, e no vergo 7S , podia equivaler tanto a columna como 3. eo- ta mão da palavra meta, para nào repetir, com muita proximidade slatua , que vem loj,'o maií abaixo no v. T7. ' ' . ' Hinc atqur. hinc statuae sunt. ' • ; /' _ ' [306] AiliKÍ» TÍç rçafifiaTiKÍç , {)lli>1icadô ■àflf^ísâ 'í sè{;iili)tes do T. 1 . doi y/nccdota Gracca de Bachmann , a p. ^18 , faa pálaVra r^; .Aiífiáç : o-tÍXi ««Íçií , '-^=^ jíndrias : rslataa d' homem. O .Mss.'(l(íi1(le foi tirado C^le Le.\icon lie do sciulo X. (V. p. XI da )irefa^io de líadiiuann) : e por con^jcqueueia apalavra arí^ii str'- U , no sentido de estatua, era vulgar antes áfi século X. [S07] Unumasticon , L. S. ,'c'ap. 19, segm. 102 , T. I., p. .".21: L. S. . cap. U, scgm. 14i;, p. 968 do T. 2. da ed. citada. [áOS] Londiíii 1816. ■ • ■ in09J Segunda edição, T. 1., col. 1805. " I r DAS SeiENCIAS DE LISBOA. 117 «de «livcrsas mullicres e homeus illustres >»=: [3lo]. Isto não se eiilerido. Se os novos edilores tivessem verificado a ciLa- çâo de IIenri(|ue lístcvilo, veriào que o passo de Suidas lie o seguinte. Depois de ter mencionado, quando assigua a ffTÍ^1) stele a si^nilicarSo |>or metapbora, lirada de «tím slele, que he huma pedra ou •> bronze (hum padríio de ])edra ou bronze) pbjojigo, con- "síruido em ft>rnia quadrada, em que se inscreviao as nial- » dades daquello a <|uem se queria infaniur. Também se in- » screvem , muilas vezes, uas ilelas os benefícios daquclles a «quem somos obrigados »== [:J1 1], Daqui se deprehende que Henrique Estevão, quando ti- rou de Suidas os apontameulos para o seu Diccionario , tão resuniidainenle o fez que coid'undio o que era relativo a duis siçiiilicados da palavra inárão também estatuas nas terras maig occidenlaes, nos limites do mundo que (segundo os Gre- gos e Romanos) erão as Ilhas Afortunadas; e até no (ermo ii que chngjírào as suas excursões, como se pódc ver em Ibn-Khaldun [312] , e em Bak.ui [313]; e traduzindo os Au- [Slo] Sittil. r\sc flirií LnjiiUcm <íut Ats in nlliim errctuih Jiqura (ju^iãriita : «/'• quem fii'r(:t'S'>ru-n illtislrturn virorutn ac foemitinríim criíXai sttlai coinmcmorun- /u)-=Eili<,ào de Londres laifi e seguintes, T. 4. col. -ifiSi. [^Uj Suidas. T. S., p. S74, col. 2., ed. cilada. [31í] "Os do Yonicii dizem que elle (.lásir) levou a?=uas armns ao Occidente, "c chegou ao Vádí'-r-lvanil (valle das arèas) onde até então ninjuem tinha pene- " trado , e onde a çv.mile quantidade d'aréa não perniitlia achar raminho. Alpun.s "dos seus coniiiaidieiíiji p.iviárào além; porém não voltáiào. Por i:«o mandou elle "lazer hum idido de bronze, que tbi posto na exlremiilade do mesmo valle, es- »crevendo-sc-lhe no peito em canicleris mnsnnd este /ic o idolo tVc Jisir-Airiíii "Hiinjarita: nle'm deste idnlo nán ha camin/io, ejtor isto ninejaem coinmctta eite itjierifjoso passo, se náo quer mnrrer. » J Je.m> Hespanha, No reinado de Abiijasir, quando estepriniipe foi aooccidente, tlie- s. gou a liuin lugar que era liuma torrente de arêa que iiào pôde atravessar, ])orque "as arcas corriào como agoa , fez levantar ali hunia estaOia. , debaÍNO d'hunia c«- »pu1a de cobre, e fez gravar nellu hunia inscripçào que aninuiciava que tinlia sido 1' obrigado a parar naquelle lugar. » Ouadi arrami , torrent de sable. Datis Ic pays de Mmjrcb . an-dclà de cclvi d' Jndníoví, f^oiis lerrrjne d'À}imt- i/nt!r, eeprince, en alUtnt datis te Mcijrcb parvint à un cndnil Cjui éloit vn tor- rttit desalile cjuil ne pui trarcrser , pjurcc que icssablcs couloiciit cmnme de l'eau, ■il 1/ úl élircr une siatiie sous vn ddmc ifairain, el y fil nie/tre iine inscrlptinn çtii iimieinçoit que cétolt là Vendroil oii il atoit tté vbliijt de «'aovífr^ Noticcs et Kxtraitá desMss. etc. T. 2. ,,p. 4G'J. [:'il-il Hdrisi , ed. de Ilolina, 1." clijiia , 1." socçiio. Ibn al-Wardi, ed. de Hy- lander, p. 4. Ben Ajâs , ISloiices el Exíraits dcs Mss. T. 8. , p. 5 , onde Mr. Lan- glès traduzio — idole — , e nilo colunina, porque achou no original — sanumon — ; e lie provável que a uie^inia pala\ra eiiipregassein Mas'údí , e Bakui. ■ [310] V. a Nota (C) noiiiu de>la Alenioiia. • [316] ^u reste Ics iradiieíeurs Jrabes, étitienl fetrt coutiimiers de houteterser êt alttrcr les fiuzrtvjes quils Iniduisoient. Montucla , Hisífdre dcs Malhcmati' tjucs , T. 1., p. ilSG , ed. de Tan VII. II est encere ã jiripi'" d'observer nueces tnidncteurs Árabes ont te plus soiinent fort défiifUrc Irurs originaux ; etmcmeon pciit dire qnordinairemint , nprès avoir passe par leur filière, ilsont presguen- ticrcmciit perdu leur p/iysioiíamie yrecipie. Idem., ibid. , p. 373. Mr. Cauius, Hur IJIisíoirt dct animaux dÀristote, traduiic par Seolo , íez DAS SCIENCIAS DR LISBOA. ii9 A Geoirraphia de Plolomoo, alterada e inlerpolada em diversos toinints, o por (li(l"»hfia lai^ea , (pie era híi home encima dt; hu cauallo em os- >' so , e lio home vestido de hua ca|)a rpiouio Ijedcin , sem «barreie, com hua mão na coma do cauallo, e o braço di- " reito steudido , e hos dedos da mão encolhidos , saluo lio ;> dedo segundo a que os Lathios chamam index , com que "apontava para ho ponèle. Esta imai^em que toda saliia ma-* »(;i(;a da mesma laj^ca mãdou el lley dom iMiianuel tirar p(!- 5> lo natural por hum seu criado debuxador, que se cliainaua "Duarle dariuas , e dej)ois cpie vio ho d(íbuxo , mãdou hum » home engenhoso natural da cidade do l'orlo , que andara ') muito em I''ran<;a e Itália, que fosse a esta Ilha pêra cõ apare- "llios que leuou . tirar aípiella anl igualha, ho f|ual (piãdo "delia tornou dixe a el Rev qu(! ha achara desfeita de hua "tormenta (pu> fezera ho iiuierno passado. iVlas ha verdade "foi qiH? a (piebrarã per máo azo, c trouxerão pedaíjos del- »la .s. a cabeça do nome, e ho braço direito c("> a mão e " hua perna , e ha cabeça do cauallo , e hila mão que staua "dobrada e alcuãlada, e liu pedaço de hua perna, ho (pio "tudo steue na guarda roupa dei Rev alyus dias, mas hoque "Se d(!pois fes destas cousas, ou onde se puseram eu nam » ho |)ii(le saber. Esta Ilha do Coruo, e santamlam foram de ííjoam da fonseca , scriuam da fazenda dei lley dom Ema- " iiuel , e dello lias herdou seu tilho Pêro dafonseca , scriuão menção dosles passos de .Moiitucla, Ao/ic« et Extraits ilts Mss., T. iI. , p. -Vi-i. A respeito dj DXXIX, has foi ver, e soube dos moradores que na rocha, "abaxo donde sleuera ha si adia, slauam laliiadas na mesma » pedra da rocha hnas letras, e por lio lugar ser perigoso >5 pêra se podiu' ir oiule ho letreiro stá , fez abaxar algils Jio- »'mès per cordas bem atadas, hos quaes imprimirSo has le- niras que ainda ha aiUiguidade de todo nam tinha cegas, cm "cera que pêra isso Icuaram, com tudo has (pie trouxeram "impressas na cera eram já mui gastadas, e quasi sem for- " ma , assi que por serem taes , ou j)or ueutura por na cõpa- •' nhia nã liauer pessoa que tiu(\sse conhecimèto mais que de " letras Latinas , e esto imperfecto , nhu dos que se ali acha- " ram presentes soube dar reza , nem do que as letras dizia , 7) nem ainda poderã coidiecer que letras fossem [:318]. Duarte d'armas he o que fez o Livro das Armarias, e o Livro das plantas das Cidades , Villas , c Praças de Portugal e d'algumas da Africa, que se guardão na Torre do Tombo. Diz o Sur. Abbade Castro que neste ultimo Livro está =«o j? desenho da estatua equestre de mármore achada na ilha do « Corvo. "== [319]. 8e isto assim fosse, leriamos hunia prova bem authentica da existência daquellc! jnonumento ; porém posso assegurar que no Livro das Plantas das Cidades ele. não ha semelhante desenho ; com tudo Damiào do Góes era coevo; o que elle conta he revestido de circunstancias taes; p quando imprimio a sua Chronica erão ainda vivas tantas testemunhas dos lactos que refere , que repugna ás regras da boa critica suppò-ios invenção sua ; consequentemente de- ve-se dar por assentado que houve na Ilha do Corvo a esta- tua de que falia Damiào de Góes. Mas quem he que a poz i\\\[? Forào os Phenicios , os Carthagiuezes, os antigos Povos da llespaniia, os antigos Árabes atiles do Islamismo, ou ou- tros Povos.'' As viagens de Chi^lad , filho de Aàd e de D'ul- Karnein serão inteiramente imaginarias, sem nenhum funda- mento histórico , e stigmatizadas com o ferrete de patranhas de Ad com que Mas'iidí as designa [320] ? [318] Chronica do Priíiciíie D. Joam. Liaboa 15C7. 11. O^í, col.l.* e seguin- tes. \M9] Carta fliriojiila aSaliistio, aniailor de antiguidades. Lisboa, T/pogra- pliia de A. S. Coellio ISÍií) , »." p. 5. [3.ÍOJ Historiai (la Dj/misliu dos Ismaelitas da Pérsia, traduzida por Iilr. .lour- I DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 121 Bakui falia d'huma cidade, na extremidade do Mogreb, ou do paiz do ponente (da Africa occidental) , que tem por nome Dgiabalca , cujos habitantes descendem dos Árabes chamados Ad [32 1]. A lingua antiga dos habitantes de Ad era desconhecida aos Árabes do tempo dMídrisi [322], o que inculca huma origem remotissima, e ditíerente da dos outros Árabes. No paiz de Mahra , na Arábia , fallava-se , no tem- po d'Abu]féda , huma lingoa que ninguém entendia [323] , e que Mr. Reinaud presume ser provavelmente o dialecto he- myarita sobre que Mr. Fresnei deo noticias interessantes no Jorna! Asiático de Julho e Dezembro de 1038. Mr. Welles- ted , e outros viajantes Inglezes , descubrínto ultimamente muitas inscripcjões , em caracteres desconhecidos, nas partes Bieridionaes da Arábia [324], que Mr. Gesenius procurou de- cifrar por meio do alphabeto hemyarita , ajudado da lingoa hebraica [325]. E os Escriptores Gregos e Romanos conser- vào-nos vestígios da anti(iuissima civilisação de parte dos Árabes (de que talvez ainda hoje existSo monumentos [326] que , pelo menos , parecem ter siiio o vehiculo por meio do qual os conhecimentos do Oriente se introduzirão no Egy- dain =zNotices et Extraits des Mss. «/c. = , T. 9. . p. liM , fallando da origem de Has-in filho de Mohammed , filho de Biuurc-uniiJ , diz = Àfat isto he cousa absurda, he hum conto dos tempos antigos. = Na nota (i) diz Mr. de Sacy = o texto trás = huma mentira de Ad = , istn he hum cunto semelhante a tudo o que te di% do século de Ad. Mr. Hain.iker diz = que os Árabes attribuiâo todas as coi^fa^ antiga», e de origem desconhecida, aos tempos de Ad — ^ qtute [traditioj omnes res vetustas et irjinHae originis wl Aditas rcfcrt andores. — De e.\piigna- tione Memphidis et Alexandriae , p. iO , nota — Ibid. v. 15. — V. também o Ab- bade Ani , na traducçào citada, p. S5 a S7, e nota (2) de pj S5. [Sii] Notices et Eitraits des Mss. T. 2. , p. S97. (ses] T. 1., p. 49. [325] Gêographie , traducçào Franceza de Mr. Reinaud, p. 1S3. \i'i4\ Cest probahlement le dinle<:te hemi/art/lc , sur le qwl Mr. Fresnei a donné des ditatls interessants (.lournal Asiatii)iie .le juillel et décembre 1858). Dans ces derniers temps , Mr. 1^'ellesled et autres voyayeurs anrflats ont di- counert plusicurs inscriptions . en car'ictèrcs inconnus , dans la partie mcridiona- le de i Arabie. Traduclion de la Géographie d'Aboulleda, p 158, (nota 2) So- bre as línguas antigas da Arábia, e sobre as Iettra.s mosnad . ou desconhecidas, v. a obra citada do Abbade Arri , p. IS nota (6), p. 47 nota (I), p. 71 nota (2), c p, lOi nota (1). [3-5] The Himyarilic Alphahet discooered , and portions of Himyaritic In- scriptions deciphered : in a Letter from Professor Geseniai to the Secretary of the Royal Geographical Society. Journal of lhe Jioyal Geographical Society of Lon- dnn. T. XI. , P. 1. , p. 118. A carta hè datada de U de Junho de 1841. [3i6] V. Mr. Reitnud, Traduttion dt la Oíographie dAboulféda, p. US (nota 6) a.'sEaiE. T. I. p. tu Q A 122 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL pto, na EUiiopia, e n'ouíros paizes do Occideiile. As inscri- ])ções Numidicas s.ão o resto da civilisarão dos Povos que habitarão outr'hora aquella região [327]. E as figuras que se observão na Rocha dos idolos no Zaire , próximo a Taddi Ema::zi , mas na margem opposta do rio, se são taes como SC representão, pareco-me que não pode dcsconheçer-se nel- Jas Juinia inscripção jeroglyphica , |)0sta ali por gentes bem diversas da que hoje occupa aquellas terras [328]. Não sei desembaraçar-me deste enleio , e he melhor confessar fran- camente a minha ignorância, do que engolfar-me no mar das conjecturas, sem esperança do aferrar porto. Porém nada disto destroe a prioridade dos nossos des- cobrimentos. C) que se passou ha dous ou três mil annos, ou sabe Deos quando, de que nenhum rasto histórico é clirono- logico existe , foi liuma luz que se apagou ; e por consequên- cia tem tanta originalidade os descobrimentos dos Portugue- zes , como os daquelles que primeiro penetr;lrão nos Paizes por elles depois trilhados; e fica sempre em seu vigor a pro- posição = Que dos Povos de que ha documoitos históricos, são os Portitgiie.~cs os primcÍ7-os que descobrirão as Costas d" Afri- ca , alem do cabo de Bojador, e as Ilhas do Oceano Atlântico. Viafjem dos Marjhrurinos . Tratarei agora da viagem dos Maghrurinos, começando por transcrever os passos dos Escriptores Árabes que delia falhírão. [327] Il.imaker, Diatribe Pkiloloqico-Critica, aliquot Monumentorum Puni- ctriim , nvper in Africa repertrirmn ivtcrjirelationem ex/ti/icns etc. I.iigil. Ratav. ]32': — 4.° Idem, Misí-dliineaPhoemcia. Lugd. Batav. 1 SÍS. Sir Grenv.lle Tem- ple , On Phoenicinn Jiiícriptions , in a Lctttr adreturií to t/ic Secrelari/ of the Royal Asiatic Sociely. Journal ul' tlie Royal Afiatic 8ociely. T. 7. , p. 135. Gese- llilis', PaUor/rap/iitc/ie Sludien uLcr phinizische und pwiische Schrift.Lii\\is\(\\8iò — -t." Kleiíi Scriptiirnc Linrjuiieqnc P/iOcniciae Monumcnlaelc. Litisiae 18.37 — 4." E Mr. Fr. de SaiiIcy , Leiíre svr V insrription bilingue de Tvurjrja , a p. 84 e se- ^miUes do Jmirnal Asiatique , Février 1B4;>. [328] Tuckey, Narratier. of an ci pedi tion to explore lhe JUtser Znire etc. Lon- don 1818, p. 9ft a 97, 294 a 29C, a80 a 382 ; e as estampas para as p. S80 e 38í;. Tuckey, e seiís companheiros de viagem, chainão a esta roclia Fetiehc roei;, e etl chamo-lhe Eoclia dos Ídolos, nào só porque Fetiche lie tiiclo aquillo (]ne toma cada Nrcro da Africa para objecto do seu culto, cuinn rliviinlade tutelar, mas também porque a p. 380 se diz, que Fetirhe rock lie coasiderada como a rosidemía parti- cular do Scembi , o espirito que pre>ide ao rio. DAS SCiÈNClAS DE LISBOA. i2á Edrisi he o primeiro (quo eu saiba) em que se encontra a relação desta viat;eiii , pelo modo seij^iiiiite : "De l.ishoa Im que parlírào os Maglirurinos para a sua «expedição que tinha por objecto saber o que contem o "Oceano, e qnaes são os seus liniiLes. Como acima disse- rmos [329], existi! aindii (Mn Lisl)(>a, ao pé dos banhos quen- » tes , hiima rua que tem o nume ilc rua (ou caminho) dos "Maghrurinos. " Eisaqui como isto se passou : reunír;to-se eiti numero 5) de oilo, todos parentes chegados (litterahnente primeis com "irmãos), e tendo construido luun navio de Iraiispurle, met- j> tí^-rão-ilie agoa e maiitimenlos para luiina navegação de » muitos mezes , e largarão do porto, logo que principiou a » soprar o vento Leste Depois de terem navegado onze dias, 3J0U perto delles , chegarão a hum mar cujas ondas espessas » exhalavão hum cheiro fétido , occultavão numerosos reci- cles , e erão frouxamente alumiadas. * Julgando que morre- « rião » [330] , mud.írão de rumo, correrão para o sul, por «espaço de doze dias, e cheg;írão .-í Ilha dos Carneiros, as- »sim chamada porque nclla pastão numerosos rebanhos de j> carneiros , sen» pastor, nem oulra alguma pessoa que os j' guarde. " Tendo » demandado esta ilha e desembarcado nella * «acharão luima fonte d'agoa corrente, e figueiras bravas: «tomarão e matarão alguns carneiros; porem tinhão a carne 3> tão amargosa que era impossivel comerem-na. Aproveitá- » rão só as pelles ; navegarão mais doze dias » com vento «sul * [3-il] , e descobrirão em fim huma ilha * em cpic vi- « rão habitações e campos cultivados * de que se aproxima- « rão |)ara * examinarem o que nella havia -. Em pouco tem- « ))0 forão rodeados de barcas, feitos prisioneiros, e coiidu- « zidos », na sua embarcação, » [3:?2] a huma cidade silua- «da ;í borda do mar. Desembarcarão para huma casa em [3-2í(J T. 1., p, ioo e iOl. [SSOJ Nos i)asso9 incluidos entre os asteriscos, substituio-se i traducçào de ^[r. Jaubert, -a traduição litter.il. [.ÍSl] O texto árabe traz »jyLs!!l)c.< \fjL»i). t]ue Cunde fradiizio = y ron- tiiiiiriron à lo parte meridional doce uiVia = ( Descripcinn de Espana de Xerif Jhdris p. ii); purcrii o texto repuj,'iia a cjta ver.-.ào; e Ibii al-\Vatdi , cujo paMO adiante se transcreve, diz também que =. partirão du Ilha dos Curnciroi .uíií vento sul.:^ [ij-\ ilc o que pareço ter a traducção litteral. Q 2 124 MRMORIAS DA ACADEMIA REAL jjquc virão hoineus de cslatiira alta, cli> côr arriiivada * com » j)oiicos cabellos, mas compridos* (lilLcralmcnte sem serem » encarapinhados) , e mulheres de rara belleza. Nesta casa j> * estivcrão encarcerados * três dias, e jio (|iiar(o virão vir •ihiim lioinem , que fallava a lineoa árabe, que lhes j)errgnntas , a que responderão do mesmo «modo que já o tinhào feito ao ijiterprtHe , qne se (inhão 5> aventurado ao mar para conhecer as suas sinGiilaridadcs o » curiosidade.? , e j)ara verificar os seus últimos limites. •; Quando o Kei os ouvio assim fallar , poz-se a rir , e ?» disse ao interjjorte : e.\i)lica a essa gente que meu Pai, ton- ado (n'oulro tempo) ordenado a alguns dos seus escravos .-> cjue se empúgassem neste mar, discorrerão por elle na sua "largura, durante hum mez , até que laltando-Uics inteira- ;> mente a claridade (dos ceos) * voltdrão sem conseguir cou- -vsa alguma, nem tirar proveito nenhum *. O Rei mandou «alem disso ao interprete que segurasse aos Maghrurinos a j)sua benevolência, para que formassem delle huma boa opi- vnião, o que assim se fez. Voltarão á sua prisão, onde ficá- jjrao até que, levaiitaiido-se hum vento Oeste, tapando-lhes 3> os olhos, os mottèrão n'huma barca, e fizcrão-nos vogar al- j:gum tempo pelo mar. Corramos, dizem elies , três dias e 3) três noites, e abordamos depois a huma terra em que nos 3> descnrbarcárão com as mãos atadas atrás das costas, n'lin- 'í ma praia em que nos abandonarão. Ficámos ali até ao nas- .•; eer do sol, no estado mais desgraçarlo , em consequência "das prisões que nos aperla\ão fortenienie, e nos incommo- 5>davão muito; e tendo ouvido gargalhadas, e vozes huma- j; nqs, pozemo-nos a grilar. Ahínns habitantes do Paiz vierão " então ter comnosco , c encontrando-nos cn*i tão miserável j! situação, desprendèrão-nos , e tizerão-iios diversas pergun- titas a que resjjpndemos , refcrindo-lhes os nossos succcíssos. •> I'>ão Berberes ; e disse-iius hum delles = PalxMs a distan- .•)CÍa (juevos separa do vosso Paiz ?= Respondendo-lhe nega- »>tivamento, tornou elle ^= Entre o ponto em que vos achais " e a vossa pátria ha dous mezes de caminho. = A pessoa » que entre elles parecia de maior consideração dizia (conti- "imamente Wasali (ah!); ei.saqui j)orque o liome dcitc lu- DAS SCÍENCIAS T)E LISBOA. 123 » çar he ainda hoje Asafi. He o porto de qile fall.-ímos [.333] >; como extremidade do ocoidenle'5 [33-4].= 11)11 al-W^anli, refere tainbein esta \ iai^em , exprimindo- se assim = « Sahirão da cidade de Lisboa os Mogarririns , enibar- » cando-se no mar tenebroso, que liça no mais remoto occi- "tiente: este mar he í^ramlf^ e terrivcl , suas açoas crassas c ?> turvas, e as ondas miii(o elevadas, o que tudo faz sumina- " mente dillicnltosa a sua nav e ilação ; e por isso nincuom se " atreve, cm attenção ;í escuridão das suas aí^oas, altura das »suas ondas, frequent(!s e perigosas tempestades, imjjetuo- "sidade dos ventos, e temor úq ser atacado pelos monstros «marinhos que neile ha, a entrar neste çrauflo mar, e na- " voiiar por elle. Tamliem ninijuem sabe quanta seja a sua "profundidade , nem o que existe alem delle, senão Deos. "Elle he hum profundo abysmo que cerca tudo , e de »que não ha noticias certas; ])orque ning'ucin o (em nave- » nado , en!iolfantlo-se por elle , porquanto as suas ondas, "clevando-se como montaulias, não se quebrào ; e posto que »se quebrassem, iiào se poileria navegar, não digo intcrnan-' j' do-se por elle , mas nem ainda pela costa , pois só pela ex- "tremidade das praias se pode passar; finalmente o riiido "das suas agoas he tão grande que parece o estrondo d']mm " trovão. Historia. "Con(a-se que huma companhia de oito homens, filhos "del.isljoa. e primos com irmãos, ajusiando-se entre si, j»aprompt;írào huma grande embarcação em que mettèrão «viveres para muito tempo, e que depois se embarcarão " nella , engolfando-se por (íste mar , para descobrir o (pie "houvesse no tim delle, e ver tudo o que fosse mais raro e " maravillioso , e ao mesmo tempo junírão huns aos outros "(pie não vollarião em quanto não cli(>c;assem ás terras mais " occidentaes , ou que morrerião. Assim partirão, entrando " neste grande mar por esjiaro de onze dias ; ])orcm como as " ondas erão muito encapelladas , e a derrota tenebrosa pela "profundidade das agoas, e agitação dos \entos, e até mui- [^^Ai] T. 1., [). ito. [Ío-í\ T. 2., p. 2G a 29. V. o N." XXVII. do Appeiidix. 126 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL "to ])crigosa pelos inonslros niarinlios que ])or ali liavia " ijijti' [335] , asseiitilrão que cerlaineiite se poideriào , " no meio tle tantos perigos , j)elo que se fizenio na volta do » mar jiara o sul [33()] , por esjiaeo de doze dias , até que " vierão a entrar na Ilíia dos Carneiros , onde esta qiiali(!adc »de gado he innumeravel, e como ali não lia gente, a ilha nito "tem dono. Entrarão por ella dentro, matarão muitos car- « neiros , mas como as suas carnes erão amargosas , não as í> poderão comer; tomarão somente as jielles que |)odérão le- " var comsigo, e fizerão agoada em liuma fonte d'agoa doce "que lá acliárão. Partirão dali, com vento sul, e assim Ib- '^rão navegando por outros doze dias, até que avistarão hu- " ma ilha, que era habitada, e indo demanda-la , eisque , " quasi sem o perceherem , se acharão rodeados de muitas j' barcas , carregadas de gente , que os toiuárão , e levarão "para a ilha, e na cidade, que liça á beira mar, os mettè- j>rão em huma casa. Virão que nesta ilha e cidade os ho- j' mens erão arruivados , e muito altos, e que as mulheres j) erão dotadas d'huma excessiva e inexplicável formosura. 5) Passados três dias, veio ao quarto dia ter com eiles liuni "sugeito que, como interprete, lhes faliou em lingoa ara- íj be, e lhes perguntou quem erão, e os motivos da sua vin- 5j da , ao que tudo responderão. » Porão depois apresentados ao Rei, a quem o interpreto "informou de tudo o que elles lhe tinhão contado; e então " rindo-se, disse ao interprete ^dize a esses homens que eu já "daqui mandei vassallos meus para me trazerem a noticia i\o "que achassem de maravilhoso neste mar, e que tendo na- " vegado para o occidcnte, ])or tempo tle hum m<'Z , viudo- "Ihes a fallar a luz, andavão como em huma rioi(c tentjbro- "sa, e voltarão sem terem a|)roveitado nada. = () Rei |)romet- " teo-lhes todo o bem, e i)or isso fic.írão ali c(jm elle , até "lhes principiar a so))rar venio favorável; mandou-os então "n'huma barca com iuariuh(;iros seus, que llies amarrarão "as mãos atraz das costas, e lhes veudárão os olhos, e des- " ta sorte forão navegando, por algum tempo, que ell«!s não [335] (jijJ .'Inimal marinum , nuod mciuu/it coetc.ra omnia. Kam. , níieiliiis ohnnxium eusquc frangcns. Doinair. iSiinaliís carr/iiiritís. F(H>I<. iltíscr. rinhn. \ Jll., 80. Freytag , Diccionario Árabe. O iii/ualus cnrchurius de Cuvicr lie n lirijum , Tubarão. £S36j Litteralraente = e volláião coin o mar 110 sul. = > DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 127 »»souber3o dizer quanto seria. Lanç.^rilío-nos depois na praia »»e se retinirão; e iou^o que elles ouvirfio fallar gente fírit.í- »» r;lo ; e vierào ter com elles, desalárão-llies as vendas dos » olhos, e corUÍrào-ihes asprisdes, econtiírão-lhes (os aven- jítureiros) tudo o que lhes liniia acontecido, e lhes declarú- " rílo do que terra erào. » Pcrij^untarào-lhes se elles saboriío que distancia Jiave- » ria dalli para a sua t('rra ao que respond(^rào que n/lo ; dis- 5» serão então aqaelles homens, qUe era muito mais de hum » mez de viaçjem. Voltarão finalmente para a sua terra, que » era Lisboa, onde tiiihão iinni bairro, ainda agora bem co- " nhecido pelo bairro dos iMoaarririns'>= [;jr57]. As narrações de Edrisi e delbn al-Wardi , posto qnese- jão conformes na generalidade dos factos , discrepào em al- guns pontos. Edrisi chama aos navegantes Maghrurinos : Ibn al-\^'ardi chama-lhes Morjarririns. A j)riuieira j)alavra he o parlicipio do verbo =^ (jctrrn enganar, na primeira forma, e significa us que forâo cnqanadoa. A segunda he o participio do mesmo verbo na segunda forma j^í f/nnrira , expor-se a algum peri- go para conseguir alguma ci>isa , e significa proj)riamente aventureiros [3:5fi]. Condo chama-lhes Àlmof/aivaritics , Mou- ros assim nomeados , como st; se dissesse os valentes nas al- çaras ou correrias hellicas [339] : porém o texto de Edrisi que segue , que he o da edií^ão dp Roma , traz bem clara- mente, a p. 51, duas vezes, ^j_^jjyUil. Edrisi diz que os Ãlnghrurinos , sahindo de Lisboa, na- veír;!rão |iara o occidento por esj)aço de onze dias, e to- m.^rão dc})ois o rumo do sul , em que and.írão doze dias até chegarem A ilha dos Carneiros: Ibn al-Wardi diz que, sahindo de Lisboa, navegarão onze dias, sem dizer em que rumo , pelo mar tenebroso , onde encontrarão grandes |)eri- gos , c assentando que se perderião, lizerão-se na voUa do mar para o sul , por espaço dé doze dias , at<í entrarem na Ilha dos Carneiros. [.1S7] Devo o texto de Ibn al-Wardi, acima IradiuiJo, ao Snt. Barão Je SIane, que teve a borulado de cnpiar-mo. V. o N.° XXVIII. do Appeiidi.'!. f.138) 1.* Drcepil. tiictirit itinní spe ední» eí rebus. 2.* Srmcl jierlctih exí- lio r/ue exposiiit. Oolio, Freyla». [.■*."s atsi Uamadm; cnmo »i dizcramni, los valion- tes en las algaras ó correrias bélicas. Dctcripcion Je Etpaila dr Xirife Jltdriã. Madrid 1799, p. «08. 126 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Edrisi refere que o Rei da Ilha onde os fizerSo prisio- neiros ordenou ao interprete dissesse aos Maghrurinos, quan- do lhe forão apresentados , que também seu Pai linha man- dado explorar o mar tenebroso : Ibn al-Wardi applica esta exploração ao Rei , e não a seu Pai. Edrisi conta que desta ilha , assim que se levantou o vento Oeste , forão levados para o continente , com os olhos tapados ; que andiírão três dias e três noites no mar ; que os desembarcarão com os oliios tapados n'huma praia que ao depois se chamou Asati , pelo motivo que relata ; que kí lhes disserão que a distancia dalli ;í sua terra era dois mezes de caminho ; e não menciona a sua volta para Lisboa. Ibn al- Wardi diz que sahlrão da ilha, logo que lhes principiou a so- prar vento favorável, sem declarar qual vento; que nãosou- berão quanto tempo andarão por mar ; que na praia onde os lançarão lhes disserão que a distancia dalli para a sua terra era muito mais d'hum mez de viagem; que regressarão para. Lisboa ; e não falia em Asali , nem diz em que praia os lan- çarão ele. Não me consta que outro algum A. Árabe fallasse nes- te acontecimento. A discordância das narrações de Edrisi ede Ibn al-War- di mostra ou que havia mais de huma lenda da mesma his- toria , ou que Ibn al-Wardi , copiando Edrisi , oraittio al- gumas circunstancias , e alterou outras. Custa-me esperdiçar tempo em combater hum tecido de patranhas mal serzidas , e que descobrem a cada passo , até a pouca habilidade com que se inventarão ; porém espan- ta ainda menos a falta de artificio de quem as fabricou , do que o excesso de credulidade de quem as adopta como ver- dadeiras. He com tudo necessário desvanecer , por huma vez , es- ta sombra, para nunca mais embaciar a historia de nossos des- cobrimentos ; e por isso observarei á luz da critica a viagem dos Maghrurinos , tomando por texto Edrisi , que a narra mais circunstanciadamente, e que teve á vista a relação at- tribuida aos mesmos Maghrurinos. Posto que me propuz não combater especialmente ne- nhum dos Authores que seguirão a opinião de lerem os Ára- bes conhecido as Canárias antes dos Portuguezes , e por isso até agora , nem hum único citei dos que a adoptarão ; com tudo, pelo que toca á viagem dos Maghrurinos , permitta-se- DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 129 me copiar as reflexões sugejericlas por olla a Mr. de Guit^nes, ellcs os primeiros que l;í abord;írão , outros Árabes tiiiliàii >' já aportado nella, antes delles , e parece que se sabia iies- j>ta ilha quanto distava de Lisboa.» Suppunhamos verdadeira a viagem dos IVIaghrurinos ^ por- que na ilha a qne forilo ter se encontrou hum homem que lhes fallou em Árabe , segue-se que já ali tinhào ido outros Árabes.'' O que se segue he que aciuelle homem sabia a lin- goa Árabe, e tí'-la-hia aprendido em algum dos muitos Pai-» zes em que ella se fallava. Os Porlugue/.es , na si7a primei- ra viagem á índia, acharão em Calecut hum Mouro (]uecon^ versou com elles em castelhano ^ o lembrou-se ])or ventura «Iguem de concluir dalii que os Castelhanos forào aludia an- tes dos Porluguezes .^ Na ilha não lie fpie infofmárão os Msl- gliruriuos da distancia a Lisboa. A distancia mencionada por .Edrisi, e por Ibn al-Wardi, hc a da praia onde os lani^árào a Lisboa. ,; Mas onde acharia Mr. De Guignes , em todas as ilhas de.scoberias entre a Costa da Africa e a America, hu- ma cujos liabitantes sejão de cAr arrui\ada (cor (pie elio quer que seja a dos Americanos, pelo que adiante se segue), e de grande estatura, em que se falasse hunia lingoa diversa do Árabe , e onde houvesse ijiterprete Árabe .'' Onde achariít nas mesmas paragens, e com estas circunstancias hnina Ilha que diste de Lisboa mais de hum mez de viagem.'' Para sus- tentar esta fabula será necessário recorrer a alguma ilha qu(í se tenha submergido. 2." «Faz-nos vêr esta navegação (\ue os Árabes não seli- » uiilavão a seguir as cosias, mas que liverão a ousadia de jr aventiirar-se no Oceano para fazer dpscid)rimenlos : et|ue, >! com mais alyuma prc^sexcranca terião clirnfaílo á America. 5' Virào na iliia homens arruivadds, còr qtu- parece perlen- » cer com preferencia aos Americanos, e lia a])j)arencia que » se aproximarão muito do coulinente. O seu intento eradi- 'i.^SLlRIE. T. í. p. 11. R 130 MEMORIAS DA ACADRMTA REAL » rigii"-se ao occidcnte : fizerfío-no (auto quanto lhes foi pos- ?>sivel; e não pôde dizer-se que só querião reconliecer acos- » ta Occidental da Africa , porque frequenlavão as Canárias. >» Toilos os lestenuinlios históricos j)rovão o contrario do (jue diz JMr. De (hiigncs. Nem os Árabes, nem os outros navegantes daciuellcs tempos , nem ainda de tempos mais pró- ximos , até ao século XV., se atreviào a desabraçar-se das costas; e o mesmo Ibn al-Wardi que ]\Tr. DcCiui^nes extra- c(ou , que he do século XIII. , e por tanto posterior á sup- posta viageu) dos JVlaghnirinos , afiirma posilivamente quo ninguém tinha navegado pelo mar tenebroso (o oceano atlân- tico); que não só não podião os navegantes entranhar-se por elie , mas nem sequer coslea-lo; e unicamente se podia pas- sar pela extremidade das ])raias [340]. Mr. De Gnignes não se animou a conduzir os Maglirurinos até á America, con- tentou-se com levalus a huma ilha muito próxima do conti- nente ^ E quem embaraçou os Maghrurinos de continuarem a sua viagem.'' Acaso ha no oceano entre aEuroj)a e a Ame- rica , algum dos perigos que, segundo Ibn al-Wardi, os es- torvarão de ])roseguir cm sua demanda .-■ Huma ilha muito ])roxima do continente da America, onde no século XII., ou antes , havia quem faliasse árabe , c onde se sabia que dis- tancia Ília delia a l>isbca, he, como já observei, hum pheno- meno geograj)hico que muito estimaria que Mr. DeGuignes livcíse exjilicado .' Como he rjue Mr. De Guignes assevera, com tuda a securança , que os Árabes frequenlavão as Ca- nárias .'' O contrario he o que fica provado. 3.° í' A tei;tativa referida por Een al-Wardi pode não ser "a única de semelhante natureza em|)rehendida pelos Ara- '5 bes , no tempo cm que dominarão a Hespanha. Foi rt^pe- j; tida depois por dois Genovezes em 1291 , de que nunca "mais se ouvio fallar. Os Árabes jxrdrMão Lii-boa em 1147, "Consequentemente a sua tentativa deve ser anterior a esta j> época. O nome dado a hum bairro de Lisboa, nome que j) con.servava a memoria deste acontecimento, e que ainda sub- ."sistia no tempo de Ben al-Wardi, falhícido , na opinião .•;de alguns, pelos annos de 1358, podia motivar a expedi- •'ção dos Genovezes em 1291 ; em 1492, perto de cento e "trinta e quatro annos posteriormente a Ben al-Wardi, he " que Christovão Colombo emprehendeo os seus descobri- [340] \". :i i>. Iv!5 (lesta Memoria. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 13 1 "moiitosd Existiria ainda no sou tempo a Inmbranç.i da via- >'í;oiu dos Aralícs ánucllas costas, c daria motivo á novaex-' jjpedição de Colombo?» .,;,' ,,, . Devo notar-se que Mr. De Gui»ncs chama ao bairro de que faz menção =/>aíV/o dos que furão e)ifj(mailos=i3il]; mas 11)11 al-^Var(li cliama-llie= bairro dos aventureiros [342j. Da possibilidade ile hum faclo nenhum argumento pode tirar-se para a sua existência, mesmo dando-se a jiossibili- dade do facto. Não occorreo aMr. DeGuigucs, (pie a clau- sula da narração de Ibn aI-\V^ardi = /iu»i bairro ainda at/ora Ijeiíi conhccuUt pelo bairro dos Muijlirurinos ^\\e co|)iada tio Edrisi, fpie escreveo muito antes delle ; e que por isso , não j)arece dever referir-sc ao ten)|)o de Il)n al-Wardi ; e es- conhecidas dos Árabes. »'.\l('ím tlisto a narração de B(^n al-\V'ardi aprosenta-nos duas "tentativas, huma dos Árabes partidt)s Ai'. Lisboa, e outra j> precedente , feita pelos vassalíos do Rei da ilha , quede- ))via ter-se adiantado mais para o occidenle [345].» [.MlJ iYoíjcds (/ Exiraits do Mss. , T. í. , [i. i.'. [31.2] Nesta Memoria, |). Ií5. [:U3] Notkcs cl Eclrails det Aíss. , T. i. , p. 20. |».i-i] Idem, ibiJ. , p. 19. [iíi] Uera, ibid. , p. 25 e 2G. V- o N.° XXIX. do Appeiidi.J Kajiport fait à V JcndciHe HoyuU (les Inscriplioiis et ReVes Lcltrcs (Iiittilut (h Frciiicc) au siijct du picd Romain, par Mrs. le CaruJi VNjIcIíi;- DAS SCIENCIAS DE LISUGA. 133 millias arabns fazem liiim gráo e hum ter<;o , ou vinte e qua- tro Ifi^oas marítimas Portui^nczas , e por conseqiipnria, nos onze dias de navpga2a do vinte e cinco ao jjráo. fclíTt. T. 1.. ,\blli. í. p. 75 , citado por Mr. Hunibcdt=^ Krtime» íritique de l' Uiitoire et de lu Gcogrciphic du Nouecau Cu/i/iiiin( =. T. 2. , p. Hiú . i:ota (2). [JãO] riiuuntel Roteiro, p. iil das ed. de 1746 e 176S. 134 BIEMORIAS DA ACADEMIA REAL mandar o occitlente, porque era vento largo ; porem, segundo a rplafjào de Edrisi, em \ugnr de irem para o occidonto vie- rão para LesLe. Mas em qualquer rumo em que navegassem, andando duzentas e oitenta eoitolegoas, desde o ponto aquu os Maghruriuos devião ter chegado , caminhando as ])rimei- ras duzentas e oitenta eoito legoas no rumo do suJ , desde a ali ura dos Açores, uíío se lopa iliia nenhuma, excepto con- tinuando no mesmo rumo do sul em que, para andar duzen- tas e oitenta eoito legoas, havia deatravessar-sc o Archipo- lago de Cabo Verde , o de|)ois viria a parar-se no parallelo «l;ís ilhas de Loss , onde também não ha nenhuma Ilha; po- rem isto he contrario á hypothese, porque, com venlo sid , nào piule navegar-se para o sul. !Se a n)illia árabe fosse maior que a Romana , igualmen- te era im])raticavel a viagem dos IVlaghrurinos ; porque ne- nhumas ilha.-! ha no Oceano com que a sua derrota possa eonformar-se. E o mesmo succederia se a mdha fosse me- nor, ou se nos dias de navegação tivessem andado menos caminho. Em nenhum caso se encontrariâo no oceano Uhas qu.esatistizessem ás coudiçOes da derrota. ..Poderá oppor-se ás razões ponderadas que as viagens de mar sào incertas, que não adniittem ser calculadas exacta- mente; e que por isso dor-so-hia talvez oii(ra hypothese quo tornasse verosimil a viagem dos JMaglirurinos. Porém a islo rosponde-se que o calculo adoptado he o que mais a favore- ce ,. e o mais conforme com as idéas de Edrisi ; porque se nos guiarmos pelo que eflTectivamente se verifica nos factos jianUcos adiaremos ainda maiores provas da inqiossibiiidade desía viauem. Os Maghrurinos , demandando o occidente , ])artírão de Lisboa com venlo Lesle , e não se queixão da ialla de vento, ou de ventos contrários, para deixar de |)ro- seguir no rumo de Oeste, mas sim do cheiro fétido domar, dos recifes, e da escuridão; e islo só no lim de onze dias, pouco mais ou menos. Nenhum navio, com ven((j á jjòjja, posdi (jU(í ronceiro seja, deita só três milhas por hora, que jic hiinia legoa marítima Porlugueza ; o menos que deita são oito milhas, que fazem nas vinte e quatro horas cento eno- venla c duas milhas, ou sessenta e qualro legoas marítimas Portuguezas , e S(;ndo as singraduras de sessenta e qualro 1( aoas , vencerião em onze dias setecentas e (|uatro lesjoas . ou mais de trinia e nove gráos ; isto lie , serião lançados para o sul do Banco da Torra No.va , e navegando de lá no rumo 1 DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 135 do sul , por espaço do doze dias, iriào ter ao Sear.í , ou ;í sua [)roxiuiidadc [351]. São absurdos taos que cuslào até a referir: uciu se diga cjue , inilo ut! rumo do sul, não se se- gue que tivessem continuamente vento á ])òpa , e que fa- lhando esta circunstancia, falha também a baze do calculo; porque, em todo o progresso da viagem dos Maij-lirurinos , se \ò que se procurava S(;mpre vento de fciçào; pois ale- pa- ra atravessar da ilha em que forào feitos prisioneiros para a costa de Africa , espenírão que ventasse vento Oeste , o que prova que nSo querião, não podiào , ou não sabião na- vegar contra o vento; nem se poderia navegar doze dias successivos contra o vento, sempre no mesmo rumo: e ain- da que algumas das siiigraduras fossem menores , e por is- so mesmo, menor o espaço percorrido, essa diíTerr-nça só produziria tercm-se aproximado mais ou menos d'huma al- tura ao sul do Banco da Terra Nova, c ultimameule da Costa do Brasil. Demais se os IVÍaglirurinos tivessem feito esta viagem havião infallivelinente encojitrar acorda de \en- tos geraes que reina entre a Kuropa e a America , e que os desviaria do rumo do sul que levavão [352]. Notarei mais oulra impossibiliílade desta supposta via- gem dos Maghrurinos , nao absohila , mas relativa .-{(luellcís tempos. Não era possive! (pie os JMaobrurinos se empenas- sem no mar alto, em demanda do occidfnte. Todas as na- vegações, não só anteriormente ao século X 11. , em que st; figu- ra a viagem destes Mahometanos, mas até em temjios muito posteriores, se fazião sempre com o olho na costa. .\lem do passo de lim al-W^ardi ja apontailo [353] , prodir/.irci outros que deuioiístrão isto mesmo, principiando por Edrisi. «Esta primeira secção (a do 4." clima) começa na parlo >'do extremo occidente banhada pelo oceano tenebroso de jjque emana o mar da S\ ria (o Medilerraneo) que se csten- j) (íe para o OriíMite. L.í he que est:í situatlo o Paiz Amialuz, >)(pie os Christãos chaiiião I'"spanha . . . . A maior largura "íiesta píMiiusula he de perto de «leze.sete dias, partindo í>d"hum cabo do extremo occidente onde acaba a parte da (.151 J FíiM csliiiiar a (l> rrof.i do^ \l.i<;hriitHios , JNi>rie, de 183^, com os niidicioiíuiiiciitus ale 1.SS9. [352] Esti circiinslantia , que não mo ocrorria . Coiísocio o Siir. AiWonio Lopes da Co;>la o Almeida. [Sii\ Nesta Memoria p. lái. irvi-me da (arl.i lit J. \\ . Loiídon. foi-mc su^-irenda («lo me» 136 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL «terra habitada, cingida pelo mar oceano (o cabo de S. Vi- jjcente). Ninguém sabe o que existe alem deste mar: nin- » guem pòdc colher nenhumas noticias certas á cerca delle , » pelas (iiiricnldades que upjiõe ;í navegação a profumlidade j>das trevas, a altura das ondas, a frequência das tempesta- j) des , a nuiltii)licidade de animaes monstruosos, e a violen- » cia dos ventos. lia conitudo neste oceano grande numero « de ilhas habitadas e desertas ; mas nenhum navegante se j; aventura a atravessa-lo, nem a ongolfar-se no mar alto, N- !} mitãu-sc a costeu-lo , sem perder de visla as praias , etc. [354]. » Estes Paizes (os da Bretanha), sendo banliados, da par- j)te do ponente , pelo mar tenebroso, vem continuamente, j) desta ])arte , névoas e chuvas, e o ceo está sem])re cober- ?) to , jjrincipalmente no littoral. j> As agoas deste mar são espessas, e de cor escura; aa J5 vagas elevuo-se por hum modo espantoso; a sua profundi- »dade he considerável; nelie reina huma escuridão conti- 5) nua; a navegação he diílicil , os ventos impetuosos, o da j> banda do occidente , os seus limites são desconhecidos. » Existem neste mar quantidade de ilhas dcshabitadas. Pou- j) cos navegantes ousão aventurar-se nelle , e os que o fa- j; zem , ainda que sejão dotados dos conhecimentos e auda- ji cia necessários , só navcgão terra a tetra , sem se afastar !) da costa ; e o tempo favorável para estas expedições limita- »se tão somente aos mezes d'Agosto e de Setembro. Os »> principacs navegantes deste mar sào os que se conhecem «debaixo do nome de Inglezes, ou habitantes da Inglaterra, j; lUia co)isideravel etc. «= [3óã]. Ibi)-Klialdun na sua Historia dos Berberes == 41 (J Oceano Atlântico he hum a asto jnar , sem limites, «em que os navios não se atrevem a arriscar-sc,/oV« da i^is- )5 ta das costas , porque se ignora para onde os ventos pode- jj rião lança-los, visto que, alem deste mar, não ha terra «que seja habitada. Quanto aos mares, cujos limites são co- jjnhecidos, os navios navegão nelles , porcjue os mareantes «sabem, por experiência, onde os ventos j)odcm conduzi- [55^] T. 2. p. I e 2. P;iiec(.'-me qiip a tratliicrâo lifteral Jo ullinio perioilo seria, secundo a eiliVão • = [S55] T. i! , p. 355. V. o N. XXX. do Appemli.v. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 137 'lios; mas peloqup respeita ao Atlântico hc muito (lifTorento, ?> porque não conhecem os seus limites ; e posto qiu; coiilie- ')(;;io a (lirec(;;Xo dos ventos, içiiorào até onde elies impelli- ?» rião os navios , que poderiílo achar-se cercados de nevoei- » ros e naufragar. » [35(jj = E ainda todas as viagens de Helencourt nas suas incur- sões ás Canárias, na entrada do século \ V. , forão feitas cos- teando a Hesjjanha , atravessando o l'iStreito j pegando-se á cosia d'Africa, e passanilo d(,'pois para as Canárias. Jíonticr e le Verrier tlizem expressamente (jue o cabo de Cantim es- tá anietade do camirilio dis Canárias para a Hespanlia [357], o que lie , com pouca dilVerença exacto , contando da boca do Estreito, e prova que a derrota da Hespanlia para as Ca- nárias se fazia arrimando-se á Africa até ao cabo de Cantim, ou demandando a sua altura; e atravessando de lá para as Canárias, cingindo-se ainda algum tempo á costa, ou endi- reitíiiulo logo do Cabo de Cantim jiara ellas : e as nossas pri- meiras navegações forão todas ao longo tia costa. Bastaria talvez j)arar aqui para demonstrar que a viagem dos Maglirurinos não podia verilicar-se ; mas , para não dei- xar subterfúgio algum por onde qucirão cscapar-se os defen- sores da sua existência, apontarei mais outras provas intrín- secas da sua falsidade. O mar d'onilas espessas, de cheiro fétido, cheio de re- cifes , e com pouca luz , he o quadro da Hydrograpliia syste- matica do mar tenebroso de todos os Geoirraphos Árabes , herdada , em grande parte , dos Gregos c Romanos , que ti- verão dadifiiculdade e riscos da navegação do Atlântico ideas [i5Ci] Cest une vnstc mrr sans bornes, ou Irs nnrires n'osi-nt se hasnrdcr hort de 1(1 viie des critcs , parce qon ignore oit les vents jMurraietit Ics pousser , cá(]u' au de là de celtc mer il ny a point de terre ií /laOilce. (3ii«n/ aur mers dnnt les limites soni cunnufs, lei nneircs y naeiyiteiit. purce que les marins sa- vent par erjiéricnce ou les eeiiís peuoent les coiuliiire ; mal» il s'cn faut de hetiucOHp quil en solt aiiisi pour V .4lltinliquc , parce quils nen connaissent puint les txirncs , et i/uoiqnils connaissent la dlreclion Jcs tents , ils tgnorent iusnuou leur smlle pimsserait les fiaeircs, qui pourrnint se Irouver enrironnés d» Orumes , et fuire naufrage. O Sàr. Vi?conJe de Santarcm . na sua inlfreísante oljra = Hec/ierchcs sur la découccrte des Pai/s situét sur la cote occidentale d' Afrique, au de là du cap Bojador etc. , p. 102. [.•iáT] La lerre Jerme de Cap de Cantin , qui cst miooi/e d'ici (des Cana- rtes) et d Espagne. Histoire de la première Descouverte et Coiiqueste des Ca» naries. ]). 93. 2.* SERIE. TOM. I. P. II. S 138 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL semelhantes ás dos Árabes [358] ; e que niio erão de todo vaus, como em outro liiíjar mostrarei; e por consequência os que inventíínlo a tabula dos Magluurinos , para serem acreditados, fi7.<;rão-nos achar no mar tenebroso o que, j)elas jiocões da Hydrograpliia systematica, já d'antemrio sabiâo que ali havia. A empresa do Rei da ilha teve, pelos mesmos motivos, o fim que já se sal>ia qut> devia ter, em consequência das noções que vo^javâo nacjuelle tempo a respeito do mar tene- broso. Que havia elle descobrir n'hum mar em que, por hy- pothese , não se podia navegar ? Que maior prova se quer da insubsistência da viagem dos Maghruriuos do que esta imaginada ex])l(jração do Rei da ilha.^ D'luima ilha a três dias de distancia ao poente de Safim , navegando para o occidenie , por espaço de trinta tlias , deparar-se-hia com hum mar em que não podesse na- YCgar-se , por faltar inteiramente a claridade da luz ? Ho ocioso insistir mais neste oljjecto. Qual das Canárias quere- rá achar-se na Ilha dos Carneiros dos Maghrurinos .'' Que em todas ellas havia cabras, e que huma, a de Fuerte Ventura, era nluito abundante de.?te gado, cuja carne era mui gosto- sa, he constante pelo testemunho de todos os Historiadores das Canárias; portam neidium falia de Carneiros cuja carne não podia comer-se , por muito amargosa , e que vagavào , sem pastor, n'huma ilha deshabitada. Que ilha se oflereceo, com esta circunstancia, aos descobridores euro])eos em toda a vastidão do Oceano Atlaniico.'' Appareceo aos Magliruri- nos para se sepultar no abysmo d'onde nunca mais surdio ? Qual será a illia habitada a três dias de navegação de Safim em que se fallaya huma tingoa diversa do Árabe , em que havia homens de còr arruivada, mulheres formosíssimas, huma cidade á borda do mar, barcas, e hum Rei, que tinha luim interprete Árabe.? Das Ilhas Canárias, Porto Santo, Madeira, Açores, e Cabo Verde, que os Fortuguezes des- cobrirão no Oceano, entre a Africa, a Euri)|)a, c a Ameri- ca, sá as Canárias erão pf)voadas. Mas qual das Canárias aj)resenta as circunstancias da ilha em que os Maghrurinos forão feito» prisioneiros.'' He facto provado (como já se dis- se) por totios 09 qne escreverão das Canárias [359], que nc- _-_-___— . t_ ... — — . ■K.JSôSj iSf.wa.Nota (1) no firt desta Memoria. fS59J V. a p. lO-l desta Memoria. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 139 iiluiiuit coiuiiniiiicaçâo havia entre os seus habil.inícs , que fiào liuhão barcos , e que mesmo os de alguma ilha nem sa- bião nadar. A empreza do Pai do Rei da Ilha, para descobrir o 140 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL A passagem dos Mouros mi Hespanha , para a conquis- ta delia foi no anno 92 da ll(?i;ira [7 10 — 7 1 1 do J. C) , e por conycf|iiO!i(ia a viagem dos Maiiliruriíios iiSo podia ser senSo depois desola época; mas Asfi (íSatim) j.*! existia em 682 a 683, logfo lie falsa a etyinologia desle nome, que não deveo a sua origem á viagem dos Maghrurinos. Accrencenlarei mai.s huma reflexão para desenganar (se tanto lie mis(er) os que acredilão na viagem dos Maghruri- nos á.s Canárias. Ou os Maglirurinos conhecião estas illias ou parte del- ias, quando einprehoiidí^rào a sua viagem , ou não. No primeiro caso irião demanda-las directamente, ou ainda que não fossem demanda-las , não darião como cousa nova a ilha dos Carneiros, e a do Rei onde estiverão prisio- neiros , quando l;í diegárão , se quizesse , mal ou bem , sup- j)or-so qualquer delias alguma das Canárias, logo não as co- iiheciào antes de lá abordarem ; c isto mesmo se prova pela sua relação, dizendo que, avistando a ilha em que estiverão presos, forão demanda-la para examinar o cjue nella havia. No segundo caso não ficarão sabendo qual era a ilha em que os prenderão , porque , em quanto lá estiverão , conser- *árão-nos fechados dentro d'hun)a casa, donde sahirão uni- <;aniente para iallar ao Rei , voltando para a sua prisão : e quando os fizerão sahir da ilha atárão-lhes as mãos , e tapá- rão-lhes os olhos , de maneira que não poderão saber para ojule os levavão, nem dar noticia da terra donde sahião ; por tanto, em nenhuma liypotliese, ainda que a viagem dos Ma- ghnirinos fosse verdadeira, podia concliiir-se por ella que os Aral>cs conhecião , ou lioárão conhecendo as Canárias. Por ultimo Si') advertirei que Edrisi mesmo. a|)esar de Ioda a sua credulidade, duvidava do conto que rorria debai- xo do nome dos JMaghrurinos, porque, fallando «ia Ilha dos Carneijos, diz ^se he que 'an occídcntal ^ nu pays d' .'Isfi. Akhj ftt arancer snn rfteval jusipii' aíví" le burd dcs i-aux , t-t odrc-ssa sa pr 2re u Dizu ele- .Stitha-bcHdiíi AhiueJ ahuekri allinsi , Kitati yJldjumati, Livro itat perulaí, o:.traclo feito por M'. Silvvstre de Sacv. Noiices et fíxiraits dcs Mss. T i. , i>. 15S. [SCÍj V. a p. 82 desta Memoria. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 141 De tildo o que fica expondido julgo que podor.í taiu- beui concluir-s« que a viagem dos Magliruriíins parece ser lium conto forjado para provar a impossibilidade da uaveíra- çíio do oceano; porque a denoniina(;ào u ob .^nj cA ' NOTAS. NOTA — A — , p. 39, nota (c) *. Sohre o cão , guarda da ponte Tchinevâd , nos mythos Milhriucos. Mr. Félix Lajard ; citando o passo de Hyde , p. 244 , diz = « A legenda Persiana representa-nos Mithra sentado 5) sobre hum throno , no meio da ponte Tchinevâd, tendo a "seu lado o ized Raschné-rast , e julgando as boas e m.-ís 5> acções das almas. Estas apresentão-se, huma ahuma, dian- >i te deste tribunal divino, conduzidas, e protegidas pelo ized " Sérosch que , tendo-se adiantado a encontra-las , dispõe a " seu favor o cão que guarda a ponte ; e lhe fez conceder a «entrada deste lugar temivel. Ali, diz esta lenda , Mithra » pesará cuidadosamente , tanto as boas como as más acções , e }'se as boas excederem as inás, ainda que seja só no peso d'im~ » ma pestana, mandará as filmas para o Paraizo etc. " = Me- moria citada, p. 92. E na nota (l) , p. 9.3, diz : = <íAqui vê- "se claramente que a reunião do cão de Mithra aos Ires jui- " zes das almas sobre a ])onte Tchinevâd, situada entre a re- "gião do ceo e a dos infernos , constituo hum mylho que os " Persas deverião ter ido buscar ;í mesma fonte de (pio os 'j Occidentaes tomarão a idea do cão de três cabeças, que fi- ?> zerão guarda do inferno. ?>= O passo de Hyde. p. 244 , a que se refere Mr. Félix Lajard, lie o seguinte: Is cnim Mihr, que he o nome árabe de Milhra) in dic Jndicii cxtre- mi prae/iciendus est Ponli diclo Tclúnavad-pid , per qu.am tratisiturae sunt omnium, moritntiuin Animae, quas ibi in nie- * As pag. são as desta Memoria. ' DAS SCIENCIAS DE LISBOA. J45 dio Ponle sistil , et cum eis numeral pro anteacla vita ; cl in Dilance , l)ra de Zoroas- tes , traduzido por Hyde , que vem na sua Historia da Reli- gião dos antigos Persas etc. de p. 443 até p. 511 , onde mui- tas vezes ialla na ponte Tcliinavad , ora designando-a pelo seu nome, ora não, e também não a encontrei nos passos de llyde que examinei. Pode comtudo ser que se ache u'outro lugar que eu não visse. V. o N. XXXI. do Appendix. NOTA — B — , p. G4 , nota (114). Sobre hum passo de Júlio Honório em que falia nos Beríjhawalas. O opúsculo geographico de Júlio Honório Orador , a Cosmographia (pie anda em nome de Etiiico, e o opúsculo que tem por tilulo = Outra descripção de lodo o Mundo = Alia totius Orhis descriplio = , tem sido impressos juntamen- te , e ás vezes attribuidos todos a Ethico. O terceiro opúsculo he tirado do ca|). 2.° da Historia de Orosio ; portam o princi|)io da descripção da Africa, até cer- tis.nmum csl [a] , diliere do de Orosio [_h] , de que pode con- siderar-se antes a substancia do que a copia. A confronta- rão deste o])usculo com o cap. 2." da Historia d'Orosio ser- virá para corrigir mutuamente ambos os textos, em muitos [ti] Ethico, p. 730 (la eili(;à() de Mela, Lugd. 13at. 17ii, [ò] Ed. dl- flavercainp , p. ió. 2.*SIiIllE. TOil. I. P II. T HG MEMORIAS DA ACADEMIA REAL {»assos , o que hc objtícto il'hum pequeno trabalho que pu- jlicarei separailaiiienle. Dos Authores dos outros dous niío se sabe ao certo a idade. Dicuil cita-os nuiitas vezes, debaixo do nome da Cos- mographia feita seiulo Cônsules Jiilio Ce^ar (i Marco Aiitoiíio [c] , induzido talvez a este erro , ]ior se íallar na Cosmoiíra- ])hia attribuida a Elhico n'luima medida ila terra, mandada íazer uaquelle Consulado [c/J. iiir,)numas noções sobre este obje- cto consulte a Biographia universal [/]. O que ha mais notável nestes opúsculos he hum passo de Júlio Honório Orador cuja explicação mostrará que a par- te da Africa a que se refere era occupada, em época ante- rior a Júlio Honório, pelas mesmas tribus, e com os mesmos limites, que nella se conservarão por muitos séculos depois. O passo he o seguinte ^ " O rio Malda nasce na frontaria das Ilhas Afortunadas , » cercando a parte extrema da Mauritânia , separa os Harba- -•> res dos Uacuates , e vai lanrar-se no mar que se chama '> das columnas d'ílercules. » ^ [y] Combinando este passo com outro de Dicuil, em que \ em copiado [h] , e com a Cosmographia attribuida a Etíli- co [í] , conhcce-se que o Malda de Júlio Honório he o Mal- [c] in Cusmorjraphla , qunr suh Julin Cncsnrc et Marco .liitiviio Consuhbiis facta est Dicuil, eil. ilc Mr. Letronne, ]). 2U. [ a este rio Maluia , ou Mahiya [>i] ; mas desembocando no Mediterrâneo , entre Djerawa ebn- Cais e Melila [o], não he a([ueile de (jue Júlio Honório faz menção, e que diz vir lançar-se no mar das columnas d'Iler- cules. Júlio Honório confunflio n'hnni nó dons rios dilTercntes, em qu(; SC dão alyiuuas circunstancias análogas, o Maluya, e o Asinir. O Mahiya, c alguns dos seus affluentcs , nascem no Atlante, e vão desaguar nO Mfíditerraneo [p]. O Asmir, a (|ue Ilartmann d.í o nomt! de fadi al-Ra- man, c de Biirníjraíjo [7], e a qiMí o Shr. Graberg de Ilem- so chama Jiiiref/reg , li^t-Beijtrb , e mais correclamento liu- r-(juha, c Bureffieh [í], nasce também n'huma ramificação da cordilheira do Atlas j e vem sahir ao mar entre Salé e Kabatt [s]. O iMaluya dividia as duas Mauritanias Tingitana e Ce- «ariense. O Asmir era o limito entre os Barbares c Fama* tos. Mas quem são estes Barbares e Uacuales ? São os Ber- beres , e os Berghwatas oU Barguatas. Os primeiros erão as tribus Berberes que occupavão as terras dcsd'o Estreito até Salc ; e os segundos erão a tribil [t] L. 4.°, cap. 1.°, p. 10-i ). fo) Edriái , 1. c. Sliaw , nas suas viagens á Barbaria , c ao Levante, diz qiie o Maluya corre 5-t niillia.s ao .Sudoeste do cabo A' Honc, c tem a su.i foz defronte da Babi.i d'.llmcnpt)is do Júlio Honório; e com os mes- mos limites se conserva'rão até ao meado do século XI. em que os Cerghawatas ou Barguatas forão subjugados e dis- persados [/l. Ora como Pomponio Mela, e muitos Aulliores que o se- gnírào, situào as Ilhas Afortunadas d(>tVoii1e do Atlante, e tanto o rio Maluya como o Asmir ou Bureg^reb nascem no Atlante, e correm jia extremidade da Mauritânia, hum divi- dindo a Tingitana da Cesariense, outro estremando o Paiz dos Berberes e dos Berghawatas ouBarguatas, confundio Júlio Honório estes dois rios , e chamou ao Burcgieb Ma- luya , lazendo-o nascer na frontaria das Caiiarias , e correr para o mar das colunmas d'Hercules, em que só vem lançar- se o Buregreb , e não o Maluya , que tem a sua emboca- dura no Mediterrâneo. Eis-aqui , segundo me parece , como deve entender-se o passo do Júlio Honório, cuja exjjlicaí^-íío debalde se cm- prehenderia sem o auxilio dos Escriptores Árabes , que for- mão os anneis da cadeia dos conhecimentos geog-ra])hicos en- tre a antiguidade , e os tempos modernos. Da lição dos Authores Árabes , até agora mui despreza- da para este fim , pode tirar grandíssimas ventagens o es- tudo du Geographía. [t] V. a p. 87 desta Memoria. DAS SCÍENCIAS DE LISBOA. 149 Nota — C — , p. 79, nula (172). Sobre a siijuijicu^ão de ^ sananion. Mr. Jaiibfrt Irailiizio por teitre , cabeço, iVionticiiIo J elevação, ;i palavra |JL^ - st mamou , de que Ktlrisi se sérvio para imlicar adrisi se empreiia^a também ])ara exprin)ir a idea d'huma 5j base , (Klium pedestal. Esta ullima accepcSo resulla evi- j> dentemente do passo que jiomos diante dos olhos do lei- " tor , e justifica sullicieutemcnte , segundo nos parece, o >i modo ])or que julgámos dever traduzir a palavra ^ , sa- y>iiamon^ iia primeira parte da presente versão (l.° clima, ») 1." secção), e a respeito do qual rec(»l)er.ios de ftlr. de " Macedo , Secretario pcrjtetuo da Academia das Sciencias » de Lisboa, judiciosas e i)cuevolas observações )»== (c). Não sendo orientalisLa não |)oderia nem secpier lem- brar-mo de lazer rej)aros sobre a traducçào de Mr. .Faubert. A palavra ^ , sanamon j vertida conforme a significação (pie trazem tod't dant h (liiílcctf Jc VKdrisi on rciijilm/nil oussi /xiur rrfrlmer Viilée J'unc base, J' un piclestiil. CetU deriiilrr iia;cjilion frsittle ,'ríerj'tlvcl ele V Aceidimie dcs Sc'cnres de Lis/jonne, de juilicicusct et bicmcillantes obsirealious. T. i. , p. -íG , nota (1^. 160 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL vel ; o vemlo-ii traduzida pur tcrtrc, jkhIí a Mr. Jaubnrl, em caria do 5 de Agosto de líi37. que ma explii-asse. A iniiiha carta foi motivada pelo desejo do querer aj)ren(ler, c não pela indiscreta presuinprão de querer achar tlefeitos. Mr. Jaubert , não ti(i teve a bondade de responder-me mui poli- damente, mas justifica neste passo a sua traducção, com re- ferencia ás minhas reflexõtjs , o por isso julguei necessário que o publico soubesse de que natureza erão. O estudo dos Geographos Gregos e Romanos fez-me de- pois conhecer que os Geographos Árabes, empregando a pa- lavra j»Í3 , sanamon , não fizerão , a meu \er, mais do que transportar para a sua lingoa a palavra !">"i dos Authores Gregos que consuKárào , e que , no temj)o em que compo- zcrão as suas obras, tinha a significação de estatua; sendo esta expressão não só própria d'Edrisi, mas usada por outros Escri|)tores Árabes que tratarão da mesma matéria [d]. A significação de pcdcskd dlmrna estatua, dada a jJUj no passo a j). 4C do T. 2. , não me parece que represente fiel- mente o que Edrisi quiz dizer. O passo Árabe produzido por Mr. Jaubert he este = [*A».UJjJ ilX«,:»ljJl ivy< ^^j^3 s^r! Jl IiXxmA (jJ'' (jJ^ a*K> **aJV^ (vJ-* cs^£ _Xa-o ^'j fjy^ 'Uil A*!l (jjtj j^^^' oó^ lÁ^' ty* *iX=»'>'í .Sali ijg.i Ij»*jU V"ta*s jXtâlt J-?^'' IjJ^ «i^JW-o *j.*X^i jJ-US j^ yj^.j ^^yi ;'^uii ^ii _3yHj jWi i'ti ^5" Jv«*3y. ^i^ [*Ui] e a sua traducção he a seguinte =: "No meio desta cidade ha hum edificio quadrado, co- j) mo o jiedestal d'luima estatua, largo na sua base, estreito »em cima. Tem duas aberturas parallelas dos dois lados, que 5) se prolongão de baixo para cima. Para a parte do angulo ?) formado jjor hum destes lados está huma grande bacia ca- j> vada na terra, e destinada para receber as agoas conduzi- »das , de perto de liuma milha de distancia, por hum aquc- [(J] V. a |). 117 ilesta Memoria , e a nota .'i I i. DAS SCIENCIAS DE LISBQA. ': 16 1^ ». dueto cwiiposto «:H arcadas,,, construídas de pc- "dfas.ínuito duras. .-..].■ ., ..,',-,i,- , ...i -, "Os homens iii^lruidus do ol-Mankcb di/.cm que a aijoa »>subia, n'oiitro (empo, ao alto do obelisco ,jU»!l , e descia "dopoiri j)ara o lado opposto , ondo estava iuiiii pequeno " moinho etc. »>= [cl- ■ , , IMr. Jaubcrt oi)serva , cora ijijjjlo acerto , que esta de- scrij)c;u) correspondo perfeitamente ao que se sabe dos su- Itrazia [/ j ; |)or(5m, por isso mesmo, me parece que não po- de dur-se a ^ . sanatiion , a tii^ii'ú]ca(^ixo ,ác pedestal iVhuma tsialxo. raréçe-jne que a traducçãp lilteral do passo árabe, ^e-:^ ria==^ ,,.',',,,■,,, "No moio desta cidade (Ma nkeb) ha hnma construcção j> quadrada, st?melliante a hum obelisco, lafii^a na l>asc, e cs- »treila em cima. Tem esta construccào em dois dos seus la- » dvs hum cano que sobe desd'a sua ba.'íe até ao ponto maia «alto, c defronto de hum dos lados eslá no chão hum gran- ado lago, para ondo vem a agoa , na distancia de quasi hu- » ma miliia, por cima do luima grande arcada, construitla de " pedras muito rijas, travadas enlre si ; u a agoa se vem lan- » (j-ar naqiiclle lago. j> As j)essoas instruídas de IVIa nkeb, dizem que a agoa se «elevava at(:í ao alto daquelle obelisco, e que depois, cahin- 3) do para o lado opposto, corria para hum pequeno moinho. A j)alavra '\Xi , liciiaon , significa toda a espécie de con- strucção. Tomou-se neste sentido, porque pareceo ser mais próprio lio qne edifício , que tem huma accepcão mais re- stricla. Subs(ituio-se oZ/c/ísto a j/edcstal (Vhumn estatua, si- gnificação qne jVIr. Jaubcrt dá a f,Sj£> , sa)ifim'ni ; ])orque os su-tirazis são realmente , pela maicjr jjarte , hunias j)yrami- [e] Au miliru de cctte ville cst «n {diftcc carri comme h pifdetlal d'unr sln- tue. Uirr/c à sabitse, tlrnil à s'in ^mmet. II i/eristc dcux otiecrliirts paralliles des dtax cviés, et se prolongeunt de has cn /mui. Vcrs l\inijle fiirmé ]nr un de ces co'- lés esí un grand Oassitt crcust dans Ir so/ et deslitit' u ivcfcoir les eaur amcuées d'enciron l millc de dUtaticc par un a.jucduc compoic d'areadcs nombreuscs con- slriiites cn pirrrrs lr?s dures. Les Ilumines inslrutls dii jmi/s de cl-M. 4fi. [f] Cede descr:pli»n correspomlparftiUement nerc ee quon siiit dcs sou-tèra^ 7.\. t''ot/cz là-dessus louorayc de Jdr. le 'jiiUral JnUrívsii/ , i ral , Slalua, ac, solidae molis ej/l , sanamon [/].» = Sujeito estas reflexões ao juizo de Mr. Jaubert, que lhes dará o valor que merecerem. Al-makkan , referindo o qut; Ibn al-Wardi conta «las Ilhas Khahdat (as Afortunadas), diz (jiic em cada huma del- ias = " ha huma torre de cem covados d'aitura, no cimo da >tqual est.í hum idolo de cobre »= [?/ij ; por<èm a palavra de que SC serve Ibn al-Wardi para designar o objecto sobre que asseutavão os Ídolos de cobre, he »íao (sa)iamo)i) [n]. Como não posso consultar o original d<" Al-makkari, não sei que jialavra sul)stituio ao -íí*, (sanamon ) de Ibn al-War- di , e que Gayangos traduzio por torre ; mas dizemio fiayan- g03 = » [oj , pa- rece (pie no passo de Al-makkari, acima citado, não estaria f,Íjo , mas outra palavra; porque, se estivesse sanam, te-la- hia Gavan:;os traduzido por estatua nu idolo , sejuntlo a sua doutrina. Sendo isto assim , de tal palavra poderia usar Al- ■ [/] Estatua, figura Jc tnilto, ó corfiorea , lubnula â imiiacion JA nalurnl Statua , ae , soliilae nioli:i cirigics. Los mahumtlnnos no usan de estatuas , . 1 18, nota i\\. [o] Tkc irord sanam , loicA / /inoe generatli/ Irnnslntcd hy iilnl , is . jymperty spe tlíing, a st'ituc, bui amony Mohammcdans. tcho are arcrse tn Iminan figures, lhe vord is synonymous toith idol. Gayangos, Traducçdo d' Al-nuikkari. T. 1., p. 381« UUU i. 2.' SERIE. T. I. P. II. V 154 MEMORIAfe Í)A ACÀDÊMiA REAL makkari que confirmasse a significação de obelisco dada a »i« chamado hoje Trafulynr, como bem observou Mr. Gosselin j) (na traducçiio Franceza de Strabo , T. 1., p. 499 , notas); » e em terceiro lugar na Ilha de Gades , hoje Cadiz ; e daqni ;> nasceo a confusão dos lugares, e o maior numero decolum- »^nas [a].» Esta mesma era a opinião de Vossio , que Mr. Gail trancreve [h] ; e a Mr. Gail seguio Klauseii , repetin- do as suas palavras [c]. Não posso avaliar os fundamentos da asíerçíto de Mr. Gosselin , ))or não ter facilidade de consultar as suas notas a Strabo. Copiarei porém o |)asso deste Author , a que elle e iVlr. Gail se reportão , porque não sò concorre para ajuizar [ra] Nnn Ucet piares rjurim {Inns Columnas nwnrrnre. Jl qmtm, teste Stra7ionc, tre» susri-ptae Phrtaúcum .cijif.dilioius melam iirbis tcrrnrum ncchleiítdlctn maijia ac wagis removcrint , et Columnas Jlereiílis pnsueyhit , jirinium in Cafpc et Aby- la, secunilum paulo ulteriíts ad promnnloriíim iimie ilirtiim Tralalgar , «/ rect<^ «i- Jit cl. Gnsselimis {ml Lih. III. Slrn/i. p. SJJ.i, Tracl. IVanc. p. 4a9 , nota 3), tctlium ad iiisulafn Gmles , nwK Ciiilbc ; itule nrtà cmfiisin tocorum, et nniltiiile.v fuit Coluiimariiin miiiierus. Geographi Gracci Miiiore.s, T. 1., p. S28 , nota i. (4) Idem, ibi.l. [c] Na edição formão o e:5trei(o (e que a estes chama- " va o oráculo columnas) aporlárão dentro do estreito, n'hum "lugar onde hoje está acidado dos Axitaiios, ilzerão ali sacri- " ficios, e não dando as victimas auspícios favoráveis, vollárão " para traz. Passado aiçum tempo, mandou-se fazer outra "exploração: aquelles a(]ueni seÍTicunibio saliindo doestrci- " to , e chegando a huuia lllia distant(í deile mil e quinhentos "estádios, consagrada a Hercules, situada defronte de Ouo- " ba cidade da Hespanha, julgando cpie erão ali as columnas »5 sacrificarão ao Deos, o sendo pela segunda vez desfavora- " veis os agouros das victimas rccressárào para casa. Os que " vierão na terceira expedição, luiidár.io Gades , e edilicá- í> rão o templo na parte oriental da Ilha , c na occidental a " cidade. " Por isto pensão huns que as columnas são os promon- " tórios que formão o estreito; outros (pie são Gades ; e oii- " tros que estão postas mais longe, alôm de Gades. Alguns "tom para si ipie as columnas são o Calpe e o .\byla , moii- » (e (ia Libya fronteiro, e que Kratostheiies põem nos JMe- " tagonios, povo Numidico. Outros dizem que são humaspe- " querias Ilhas contíguas, a huma das (piaes chamão Ilha de "Juno. .•\rtemi(loro falia da lliia de Juno e do seu tem])lo : " liori^in diz qiu; são diversas de Abyla, que não he monte, " nem está no [«liz dosMetagonios. í'jaliiiins traiisporlão pa- «ra aqui as Planetas, e as Syinplegadas , pensando que são »as columnas a que Pindaro chama portas Gadiridas , dizen- " do qu(í forào ellas a ultima parte onde cheijoii Hercules. " Dicaearciío , Eratoslhenes , Polvbio, e muitos dos Gregos " declarão , (pie as columnas estão no estr(M(o; mas os Hes- "jiaiihoes e os Africanos dizem que estão em (íades ; por- " (]ue no Estreito nada ha que se assemelhe a columnas. Ou- " tros dizem que as columnas são as de bronze, de oito co- "vados, que estão no templo de Hercules, em Gadíís , cm V 2 T56 MEMORIAS DA ACADEMIA REAT, » que SC insculpirão as dcspezas f(!Ílas na ronsi ruccíTo do )>teuij)lo; porque l(>nilo \nKlo aípii, (eriíiiiiaila a sua na- )) vegação , fizerào sacriticios a llcrculos , o deil.írãu fa- » ma de que era ali o liin da terra e do mar. Pussidonio «entende ser esta a opinião mais provável, e que o oráculo »ea nuiilij)lioidade de ox])<>dirues niarilinias são mentiras -•) Púnicas. V, quanto a eslas expediruos não ha rasòes acrci- .-idilaveis para o aíFirniar , nem por Imma , nem j)or outra j> parte (isto he , nem para o adirmar, nem i>ara o nei;ar). '> Não deixão de ter senso os que dizem que estas ilhas e «montes não tem semelh;iiioa de columnas ; masque sepro- •j curão columnas rcaes nos limites da terra habitada, e das j) empresas militares de Hercules : porque os antigos costu- 3) mavão pôr limites desta natureza, assim como os d(> Rhe- »çio poserão hum columncllo, hunia espécie de torrinha, no «estreito; e a torre chamada de Peloro fica defronte deste «columnello ; e as chamadas aras dos Philenos, no meio tia >j terra enlre as Svrtes ; eno isihmo deCorinlho ha lembran- « ca d'huma colunina, posta antigamente de comnuim acor- » do pelos Jonios , que expulsos do Peloponeso , occupárão «a Attica e a Megarida , e pelos que se assenhorearão do «Peloponeso. Na parte que olhava para a Megarida tinha «a inscripc;ão = Aqui não he o Peloponeso, mas a .lonia = , « e na outra parte = Aqui he o Peloponeso, e não aJonia.= « Alexandre, na sua expedição á índia, poz aras como limi- « tes no ultimo ponto a (|ue chegou , entre os índios Orien- « taes , imitando Hercules e Baccho ; porque este era o cos- « turne. Mas he provável que os lugares (em que se punlião « as columnas etc.) tomassem estas mesmas denoininaçòfís «(de columnas etc), e muito principalmente depois do tem- « po ter destruído os limites postos. Não existem agora as «aras dos Philenos, mas o lugar conserva o nome; nem se «diz que se vejão na índia as columnas do Hercules, ou de .«Baccho; porém os Maccdonios , nioslrando-se-lhes certos « sitios , assent;írão que erão culunuias aqueiies rm ((ue en- « centrarão vestígios de memorias de Hercules, oudeRacclio. « Nem he cousa inacreditável que os primeiros que chegas- « sem aos mais aflastados e notáveis lueares construíssem nel- « les , como para desianar limites, aras, torres, ou colum- « nas (e são muito notáveis os estreitos, os montes que lhes «estão sobranceiros, e as Ilhas, |)ara indicar as extremída- «des, c os princípios dos lugares); <■ não subsistindo ja os DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 157 ■) moiiiimontos conslriiklos. ficarão os lugares conservando es- •) l(.".s iionics , quer scj;Ti) j)iM|uona.s illias, (|ner proincmlorios :> (|ui' formão o estreito. Mas In; difficil tletcrniiiiar a qual » destas duas coisas (ilhas c prouionlorios) convém a|)j)licar »o nome (de culii ninas) ; por(|ue ambas cilas sc assemelJião »a columnas. Digo que se assemelliãu , porque sc collocilo I) em lugares taes ([lie denoLào claramente extremidades ; v, ■> por Í.S.SO este estreito , e outros , se cliamão boccas ; porque »a bocca hc principio para os que enlrílo por clle , c Hm pa- » ra os qu(; saliem. V, as pequenas ilhas na bocca (do estrei- " to) , sendo laceis de circunscrever , e notáveis , não sem mo- j)(ivo pi')dem conqiarar-se a columnas; assim como igualmen- *>te os montes sobranceiros ao estreito ai)arenlão, em algu- !) mas das suas eminências, coluziinellos ou columnas. 1'^- por j) isso Pindaro chama, com ju.sta causa, portas Gadiridas as » Columnas, se s(! julg.a estarem na bocca (du estreito) ; por- » que as boccas são semelhantes ás |>orlas ; porem Gades não "está situada cm lugar cpie denote extremidade, mas no j> meio d'huma espécie de grande enseada marítima. Deri- " var o nome de columnas das quo estão no templo d'Hercu- » les parece-me menos conforme com a razão ; porque este jjnome, jioslo ao princij)io , não pelos mercadores, mas pe- 3) los Caj»itães (tias exix-dições marilimas), alcançaria prova- jjvelmenle fama, bem como as columnas Indicas. E de mais 5) a inscripção de que se falia, não indicando a dedicação do j> íenqilo , mas a importância da desp(>za , oppoem-se áqiiel- ') le dictame ; portpie as columnas de Hercules devem ser os 3) momimentos de suas grandes façanhas , e não dos gastos "feitos pelos Phenicios [d]." Strabo relata o parecer dos Gaditanos acerca da origem de Gades, j)arecer que não se atreve a seguir, nem a rejei- tar ; e que Possidonio linha por fabuloso. O que se conclue deste ])asso he ; Que os Tyrios . mandados pelo oráculo fundar huma co- lónia nas Columnas de Hercules, assentarão que esta expres- são sigiMficava= a extremidade da terra habitada = ; e pen- sando que Calpe era a extremidade da terra habitada, qui- zi-rào estabelecer ali a colónia. E que desenganados , pelos agouros das victimas, de não ser a(|n('lle o lu^ar (pi(> buscavào. forão mais adiante, [. 'Júó a iCO. ViU. o N.* XXXII do Appendix. 158 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL jvhuma segunda cxpcilirão, e lendo idêntico resiillriflo , só na t(>rrcira ach.irão o qne j)ro(ondião, isto he olim do inun- do Jiabitado, onde fundarão Cadiz. Mas o quo so colhe do mesmo passo he que o nome de columnas de Hercules já era conliecido pelos Tyrios antes da ordem do oráculo : o que ignoravão he onde ellas csta- vàoj e por tanto andárSo-nas procurando. A opinião de serem mais de huma as columnas de Her- cules , tanto da parle da Europa , coino da Africa , he muito antiga , e de muitos escriplores , antes c depois dn Strabo. Sc3'lax falia bem claramente em columnas tie Hercules, na Europa e na Africa, situando-as , não em diversas posi- ções, mas n'huma só; e por consequência entendia queerão mais de duas [c]. Possidonio , que esteve mui(o tempo em Cadiz [/"] , fi- gura mais de huma colunina de Hprcules da parle da Euro- pa , como se vê no passo de Strabo acima Iranscripto. Dionysio Periegeta, a Cosmoí;raphia altribuida a Etíli- co , e Prisciano [(/] ; Hesychio [/*] ; e Palaephato , citado por Vossio [í] , mencionão também mais de duas columnas. Parece-ine ocioso pcsquizar mais authoridades sobre es- te assumpto , e inquirir os motivos porque alguns julgarão serem mais de huma as columnas de Hercules, tanto na Eu- ropa como na Africa. Twi íy TÍ Ai^tJ) , — Começarei das cuíumuris dr Hercules fjxíc estão na Europfi, até (is columnas de Hercules fjuc esláo nii Lihya — E(li<;ào cleKIjnson, ]>. Ifi3. 'Ato "Hçax^iIci;» tnviT^tív tõ!» sv t^5 Ztç&íwi? f/A7róçia wo^Aà Kaçp^r.doííwi' , — yllem das columnas de llercvícs (jiic estuo na J^uropa ha muitos empórios dos Carllta- ijinezes etc. — Idem, ibij. , p. 164. naçíÁTC^iouç fit7rá(ri3Ç t«í Ei/çújitíjç àtiió 'í'[pa.y.'>^í^ut cttijXwp tôíp ív Tyj EyçwWíj ete. — O périplo de toda a Europa desde as columnas de Hercules ijUe esteio na Euro- pa etc. — Mem , ibid., p. 209 tn Jine. ccTíò TÍç ZiíçTt^o; Tííç iixç 'EçwE^íJflíç fAij^\ 'HçútJí^ííwf {T^l^wc é* Ai;3J>), — Desde as Syrtes c/ue estuo junto ás Hespérides , ali ús columnas de Hercules tjue estuo na Libi/a — Idem. ibid., p. íi45. \f] '1'ossidouii R/iodii Kcliijulae Doctrinac. Coller/it .hims Hake. I,iii;duni — Eatavorum 1810. p. lí , e 125. fjr] V. anota 187 deita Memori.T. [h] V. a nota S02 desta Wejiioiiii. [i] Na edição de Scyla.x Jmsteludrimt 1G3!), p. 1. das Notas. O passo de Vosiio foi copiado por Mr. Gail, como já se disõe na nota [a\. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. !59 NOTA — E — , p. 99, nota (23G). Sobre as (juerrtis com os Mouros d' Africa no Remado de D. Ajfonso IF. Das gnorras do D Aflonso IV. com os Mouros d' Africa ha noticias desde i;527. Em 1327 soccorrco D. AfTonso IV. a D. AíTonso XI. de Cíístella com hiiina armada contra os Mouros Granadinos e Warroq^ninos. Este facto nào se acha mencionado por ne- Tihíiin csòriptor Portuguez, nem Hospaiihol (que eu saiba); porí^MTi rcfere-o D. AlFonso XI. de Castclla na resposta que deo , cm 20 d' Agosto de 1.337, ás queixas qnc contra eile formou D. AlTonso IV. em IC de Julho do mesmo anno , e que apresentou a D. Affoiíso XI. o procurador dos Alcaydes de diversas fortalezas de Portugal , que as tinliào em reféns para se cumprirem as posturas ajustadas entre os dousReis. A resposta d'elRei de Castella lie a seguinte; «Quanto ao que diz das ajudas que lhe deo (D. AlTon- 55 so IV.); por itiar e por terra, venlade foi que lhe mandou 55 afalt^s por mar no anno (Mn que el Rey ganhou a Villa de 5>0lvera, e outros três cast(>llos do Mouros; e estando o seu 5) Almirante e elles esperando a fruta dei Rey d' Alem mar '5 que iiavia de vir pelcijar com elles, o seu Almirante e o* " qúe vinhàEo com elles nas suas galés , desamparárão-nos e 55 não (piizerão esperar, e log;o no ouiro dia o Almirante dei 55 Rey de Castella com a sua frota que t inha , peleijou com 55 a frota dei Rey d'Alem-mar, e louvado Deos , venceo-os, 55 sem a sua ajuda (n). ;5 = ^ (.a) A lo rjue dts itulos das queixas que D. Allnuso IV. tinli.a contra D. AlTonso Xl. de Castella, e- .13 respostas de D. Atroasn XI. V. o Dm-. N. 1. • . . . [li] Gaiibay, Compendio llislorial de Ias Chronícas il' Espana, ed. de Rarce- lona 11)28, T. 2., p. SRO , col. 1. Mariana, Historia d' Espana , ed. de \'akn- oia , T. 5., p. S40. Ferrefas, Historia d' Espana, P. 7., fl. \A0 ele. [c] 1. c. na nota precedente. [d] Eadem era (1327) cepit Rex à Pruna, ri Olrcra, et íiirrim dd A\2l- quim. et yfymont . in Junio anteredcntt. Flores Espana Sagr.ada T. 2., p. 215. Este Clironicon de D. .luan Manuel vem citado na nota(I), a pai;. S^ÍO do T.5. da Historia lie Mariana da ed. deValcílcia. Ferreras, Historia d' EspaUa P. 7., p. I-IO. Conde, Historia de la Dominacion de los .irahes en Espolia, T. S. , p. 120. pòe a tomada de Olvera, Pruna, e Ayamouto cm 1327. Mr. Marlòs , Traductor Je Conde, transtorna a ordem do? factos, attribuindo-os a 1S29. T. 2. , p. 182. [í] 1. c. p. 140 a U2 , citando a Clironica de D. Aflbnso XI., Zuiiiga ete. DAS SCIENCIAS DE LLSBO\. Idí por D. AlTonso XI. em Sevilha, aos 21 ipprir-se pela data (le outro Breve ad Juannem Ocetcnsem episcnjuun . siibre o mesmo objecto, que he dado em Avinhào 111 non, murlii anno XIII [Ra^iialdo ibi, mas depois do 1.°] o que faz acreditiir que o 1." loi escripto em 11 de Fevereiro, e o á.° em 6 de Março de 1329. [/(] V. o.s'Authorcs Portu!,'uezeíi e Hcspanhoes , que estrevírào as hisioria^ deste tempo; e o Quadro elementar das Relarnes Politicas e Diplomai icns de Bortnrfal com as dirersas Potencias do Mundo, feito pelo no«so sábio Consócio o Snr. Visconde de Santarém, T. 1., p. li.') e seguintes, onde « aponlào Do- cumentos authenticos que moitrào quanilo principiou a tralar-se o casamento de D. AlTonso na ratificação do Tratado cele- lirado em Agreda aos 9 d'Agosto de 13i)4 entre elRei D. Di- niz de Portugal, D.Jayme de Aragão, D.Fernando deCas- tella, e o Infante D. João de Castella, que era luinia dispo- sição preliminar |)ara a guerra contra os Mouros [k] ; ]ior- que naquelie Tratado se estipulou que fossem amigos do amigos, e inimigos de inimigos [/]. Outra prevenção tomou também elRei d"Aragào, que foi cuidar em tregoas com os Reis de Tunes e Tremeccm [m] : e não consta que em 1328 . fij Raynaldo 1. c. Anuo de 1328, N. 75 a 70 = et alios Suracciíoa , tam vicinos qiiam quoscumque alios, dum tcncrint in aiuilivm cornmdcm= N. 7G. [k\ Çurita, Annalcs de Jrmjon, T. 2., fl, 89 v. [l\ Monarcliia Lusitana, P. G. , p. 51, onde traz copiado o Tratado. [w] Çurita, 1. c. il. 90, col. y. Com ell{ei de Tunes era renovai.rio do Tra- tado de paz e commercio, feito em 1.S2S, por quatro annos. Capmany , TI/ctiu- rias histuricai sobre a Marinha, Commercio ctc, de Barcelona. T. i. p. 8S. DAS SCÍEXCIAS DE LISBOA. ib houvesse pfuerra com os Mouros nas Hespanhas , ao monos guerra em que eiitrassom os Reis. 1329. No nlliiuo de Janeiro deste anno confirmaVào no- vamente em A^ircda os Reis dí> Arníiío e ("astella. e os em- baixadores de Portugal a concórdia (|iie entre elies havia; o em 6 de Fevereiro se ajustou em Taraçona huma eonfedera- ^So entre os Reis de Castella e Aragilo para fazerem içuerra aos Mouros de Granada. Ruy de Pina confunde estes (lous acontecimentos [h] (a que assigna o anno de l;5'2f)), dizendo que «-inTararona se tirmoii a paz entre os trcs Reis , e a alliança para a guerra dosJMouros; porém Çurila traz minda e exactamente a cliro- nologia tio tudo quanto respeita ao casamento da Infanta D. Leonor de Castella com eIRei tfAracAo, e ;!s vistas que, por este motivo , houve entre os R(ms daquelles Reynos até se separarem; e por elle consta que a ralilicação díis pazes entre Portugal, Castella, e Aragão teve lugar em Agreda ; que a confederação de Taraçona foi só entre os Reis de Cas- tella e Aragão; e que tudo isto succedeo nas épocas indica- das [o]. A JMonarchia Lusitana segue, em subsiancia, Ruy de l^ina , diíleriíido unicamente em fallar na entrevista d'A- greda . em que elle não tocou , e em jiAr estes factos em 1329 [p]. Deo-se neste anno mais calor aos preparativos para a g^uerra com os fllouros. I^IRci d'Araí;ão coiicluio as treiroag com elRei de Tremcceni ; e elRei de Castella fez li:ra com elRei de Portugal , concordando-se que elle o ajudaria com quinhentos cavalleiros pagos á sua custa [7]. Alguns Escri- ptores Ilespanhoos pdem esta liga em 1330 [r] : portam pare- ce mais natural que se ajustasse em 1329, na occasião em que D. AlVonso de Castella veio entregar ;í Rainha de Por- tugal a Infanta D. Branca, que havia de s(>r mulher do Prin- cij)e D. P<ídro, e isto mesmo se conlirma pela resposta que o Papa João XXII. dco . em .'> de l''everoiro de 1330, a el- \n\ Clinmirn de D. .Afonso IF., 11. 4. col. 2. , e 5 v. |<)] Males lU AriKioií, T. 2., de fl. 92 cni diante. (//] P. 7., p. 28í"e 28.S. \q] Çiirita, 1. c, T. 2., fl. 9.S v. . col. 2. Mariana T. 5., p. 347. Xtwy de Pina, Chrnnira de D. Affonsn IT., H. 6 , col. 2. in fine. Monarchia Lusitana P. 7.. p. 2fS3 infine. [r] Garibay , T. 2., p. 2tí2 , col. í. in fine. Frrrcras, Hisloriíi d' Espana, P. 7., p, Itíl. X 2 1C4 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Rei de Castella lemlo-lho esle pedido, jiiiito com clRei de i'orUigal , as Decimas ecciosiaslicas , e a terça ])arte do rendimento de todos os Beiielicios occiesiasticos por cinco annos j)ara a guerra contra os Agarenos, para que estavào ligados. Achou o Papa cxliorbilantes e insólitas s(ímelhantes j>ertençues , e não deierio a cilas [s]. Sondo a resj)osta do Papa em 5 de Fevereiro de 1330, ílada a luima carta cscri- pla j)eios Reis anteriormente, cm que se relerem á liga en- tre elles feita, lie claro que esta liga se conlractou em 1329. 1330. Neste anno enirou em campanha clRci de Castella contra os IMouros de Granada, ajudado dos quinhentos ca- valleiros que lhe mandou D. Afionso IV. , conunandados pelo Mestre do Christo , fui cercar Teba Ilardales que , dc))ois de longo sij,io se lhe rendeo em Agosto [í] ; {)orêm a guerra não era só contra elRei de Granada; porque elRei d'Aragào mandou dez galés bem armadas para o estreilo, a fim de im- ])edir cpie os Mouros d' A trica j)assassem em soccorro dos Granadinos [n] ; consequentemente não havia paz jiem tre- gpa com os Mouros d' Africa da banda do Estreito , jmrque se a houvesse, não se tomarião precauções por jiarte tle Cas- tella e Aragão, para elles não virem auxiliar os de Granada. Tomadas as outras praças, fez elRcíi de Castella Iregoa iior hum anno com o de Granaac(>m [1/ , maudnu coiniiicKfr a D- AUonso IV. =íí(|ii(> ii/osse pazes com olle si'j)arailainr'ii- '' l« , para nenhum fazer damno ao oulro , nem aos de suas '(terras, dandcj-lhe |)ara isso Abul-Hassau grandes .sommas , '! e proinetteudo ajuda-lo coui certo numero de c-al<'s e ca- 1) vallcirus contra todos os do mundo que D. Aílonso I\'. qiii- j> zesse. »= Mas «'IKci D. AlFuiisolN . , conliecciído cpie es(a alliaiHja se dirigia contra ellíci de Caslclhi , com quem linha amizade, mo aceitou a proposta d"elHei de Fez, e partici- pou-a a ElKei de Castella. r.r] Çurila, T. í. , 11. 99 , col. infine. Gatibay , T. 2., p. S6G , col. 2. Fer- leiãâ, P^ 7., p. 168 c I7íi. [i/] Sobre Abul-Hasian v. Conde tlitloria de la dominacion de loa Árabes en Espana^ T. S. , p. \ii , e seguinUs; e a Memnria sobre as dinastias mohamme- tanas que tem reinado na Maiiriliinin , do nc^M) Consócio o Síir. Fr. José de San- to António Moura, impressa no Tom. i\. Jaí Memorias da ÀímUmia Kcal dai Hcicncias de Lisboa, p. 51. Mr. .Marlk , traduilor de Conde, allirma que Abul- Ha^jsan não foi liei de Marrocos, cokio se tem dito, nia.s lioi de Fez, e que ha huma grande conliísào de succesios nesta parte da iiistoria dHespanlia =^0s Es- cri/iturcs que delia se tem oixiipailo (continua Mr. Marlès) literán ali/iimns datas pOíitieas, fucrulas petas chronicas . nu pi ir munumrnlns , e cnr/iérdo os tnterviiltos que as sepnrrwijo com sticcessos que souberáo por tr'tdiruo , ou por outro (pialquer niOílo, assiynand"-Uícs épocas cuttformes ao sta si/stema, e muitas vc3fs pouco ajun' todas d ordem dos tempos. T. .". , p, 1S7 , nota (i). Pelo que respeita a Ahul-llassan engana-sc Mr. .Marins, porque foi Rei de Marrocos , como se prova pela Memoria acima cilada , e [nlas = Chartrs inédites en dialecte Cntaltm nu en .Irtibc , contennnt dcs 'Irnilis de ]'air et de ('ommerca convlus dwts les années \i'>) , li78 , ISli et l.S.S!) , cittre tes Unis Vhrrlims de Majnrque et les Róis M jures de Tunes et Alijcr , et de Muroc , no T. 2. dos DiKuments inédits sur iilistoire de Frnnie. jiubliés jtar ordre du (inuvernement. Míbinijes, nu liin da noticia do Mr. Kcinaul sobre a duiastia de Abu-llals de Tune6, e na nota (1) á traiucção que o uiesmo sábio léz do Tratado de ISS9, celebrado com Abul-Ilassan. E quíiulo aoí erros que Mr. Marlis nota na clironolopia dos Esoriptores llcspanhoci, a dos Árabes lie án vezes tão emluuUiada , e Ião faltos sio d'escru.' pulo neste |K)nto , que bem |)equena confiança se pode ter nelles. Examinando at^ Icntaiuenle a historia desta é|«jca, ficar-sc-lia convencido de que os A .\. Árabes lie que errarão na cbronologia , e em muitos factos, e não os IJespanliees. IGC MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Deste facto não ha memoria nos Escriptorcs PordijíHc- zes, nem Hespanhoes , mas r.onsta pelo Documento já cita- do [z']. Ora como a passassem das tropas Africanas para a Hespanlia foi nos fins do 1332, ou no principio de 1333, por- que o cerco de Gibraltar começou em Fevereiro de 1333 [ua], hc manifesto que a paz que Al)ul-Hassan queria ajustar com D. AíFonso IV. , e que era lium meio para fazer mais a seu salvo a j^uerra na Hespanha . e hum preparativo para ella, devia tratar-se antes de romperem as hostilidades, e por isso no aiino de 1332. Conclue-se de.ste facto que antes de 1332 não havia tregoas , nem paz entre os Reis de Portugal e de Fez, o que mais se confirma pela resposta dada por elRei de Castella ao de Portugal, que he a seguinte: :=í(Quan- jíto aos ajustes que lhe mandou commetter elRei de Fez, 7) bem sabia elRei dePortiiizal que era obrigado a não os fa- »zer, nem com outro Rei do Mouros contra Chrislãos , não » só como christão , mas 2>orqnc elRey de Fez iinlui f/uerra « com elRey de Castella ; e elle c cJRcy de Portucjal eruo ami- j-ifjos por contractos, e por (/randes parcjitcscos ctc.^'^ [hb] Daqui prova-se também que em 1332 continuava a guerra entre elRci de Castella e elRei de Fez; e que, em conse- quência dos Tratados, entrava nella elRei de Portugal , o [c] Et otrosy enbiando elltet/ de allen mar ai Rej/ de Porliir/al .«us mcnsrgtt/ros de los mas ourados que en la au terra aryn c de que cl mnys fiiivn com sus cartas e com su tierlo rccaudo porque lo enbiara rorjar c afincar que quisiese con cl pley- to c amor aparladamicntc pêra ser el cierto que non recchicsse dei uiii de los de la su terra daiío c por esto le faria scmcia/ile plet/to e scijurnmiento pcrn la su terra demas que el daria rjrand alqn de su arer e que lo aijudnrin com ciertas r/a- has e com cicrios covdlos contra todos los dei mundo contra qurtos el qziisiese Kt ElRey de Portoqal va/ciulo la cnicnciom que lo a es/o morya c tc^nieudo que si a ElHfi/ de Portotjal oriesse ajustado de su dano quc lo etiteuili/a a passar com JilUei/ de Casliella como a el cimpria , Fero lenitndo Klliey de Portoijal que ary:^ en ElRei/ de Casliella Jmii/o rerdndcro prra sirnpre dio jiasadn a esta pleitcsia e íion la quiso enbiando dezir ai lley de tjnstiella esto íjue el ElHey fie ytlen mar enhiaea mover e por qual f/uissa assy como el sabe, Iiwtruniento citado ii.i nota (a). [aa] Garibay, T. 2., p. 967, col. 1. M.nriana T. 6., p. 9 in fine , e nota (4): e p. 10. Çiirita T. 2., fl. 104 v. rol. 1. in fine. [66] A lo que diz dei pleito dclHei/ de allen mar que el etnbio cometer bien sabe Ellln/ de Portorjal que tenudo era el de non fazer pleito con el Key de alcn mar nin com otro ]iey de vioros que contra cliristinnos fuesse e que lo aeya arjuardar lo uno como cliristiann lo oiro porque ElRey de aliem mar avyci rpurra com Elflry de casliella El El c ElRey de Portof/al eram Amirjos por posturas e por qrandes dcudos que liam como todo cl mundo sabe etc. Instruniea- to citado nu nota (a). I n t)AS SCIRNCIAS DE LISBOA. l67 que igualmente se depreliende rer (Gil)raltar), achouque se tinliTo ausentado (os Portuirue- « 7.es) , dias havia; ])orèni cavalleiros bons de Portugal que j) hiao com elles , tendo vergonha ilisto, e por fazer servieo , » e conhecendo as obrigações que tinlião com elRei de Cas- j> tella , forão a Sevilha, e entr;írão l;í com elle. » = [dd]. O documento de f|ue transcrevi este passo he tão im- portante , e tem tal authoridade . que não posso dispensar- nie de fazer sobro elle ali^umu observarão , posto que ])are- ça estranha ao meu assumpto. Diz eIRei de Castella, que- rendo menoscabar o soccorro de D. .\lVonso IV. quando os Mouros cercarão Gibraltar, que as galés do Portugal estive- [cc] inns nuilca ia (abeiiencia) coin el (jiiiso ater, ibid. [íld] Otrossí/ í^uanilo los mnros cercetmtn n f/ihi\tUar tnbio ElReu de Cns' ticlla rnijir ul Rey de Porlngal que eitbiassc hi/ sus galtiis iii oyuilti de la sti finta pnrrjue em el irKerno Juerte e non se pnrlia accorrer por terra ijue la ter- ra es tal El Ellicy de Vortutjal enbin galras « estadieron hy com la íu flota «1111/ poço ticnpo e venieronise e finco la su fiola ala El quando ElHey de Cas- tiethi fue alia pêra le acorrer filh rpie eran tornados dias acie l'eh> cutalleroi bonos de forloijal que yoan con ellos aviendo verguenzn destn e por fazer ayui- suf/o e conoscftulo la wituraleza q aryau rom ElUcy de Castiella fueron cn ic- tii7/a et entrarom com cl alia. Instruiuunto citaju. 168 MEMORIAS ACADEMIA REAL rão ali niuilo pouco tempo; porrin o contrario se prova polo iiirsiiio (lociiiiKMito ; jiorqiic ijcllo se reluta: qlK^ se jxxlio o soccorro diis galés por ser inverno , e não po{l(>r soccorrer-so Gibraltar por (erra; que 1). AlVonso IV. as mandou; e que, quando elRei deCasleila foi acudir a Gibraltar, j;í lá não en- controu as galés de Portugal qiu? tinliào partido , havia dias. O cerco de Gibraltar jnincipiou em Fevereiro , como i^í fica ])rova(lo: (? neste tempo, tpu^ era o inverno, mandou D. Aflbnso IV. as suas galés a Cíibraltar , como confessa o Rei de Caslella ; 'mas este Rei , tenilo chegado a Sevilha a {) d«i .Junho [ec] , ])artio dali. para o soccorro de («ibraltar, e sa- bendo era Xerez que o Governador daquella praça a tinha entregado aos Mouros, dejKiis d'huni cerco que durou quasi cinco mezes [//'J , contimiou o seu camiidio até íiibraltar que sitiou [7/^1 ; logo, ausentando-se de Gibraltar as ga- lés de Portugal, dias antes de chegar ali cUlei de Castolla, Lc claro qiw estiverão em auxilio da frota delRei dn Castel- la (juasi todo o tempo que durou o cerco, ou attí mui pouco antes d'elie acabar. 1'. se D. AlVonso XI. só deo ]iela falta da armada de Portugal quando cheirou a Gibraltar, he ]ior- qno cila tinha largado aquellas j)aragens, havia pouco ; aliás, se ella tivesse desamparado o cerco muito antes, nSo podia ignora-lo elRei de Castella. O que D. AllbnsoXI. accrescen- ta, a resjieito tios l'or(uguezes que forào a Sevilha, he mais huma prova da elíicacia e extensão dos auxílios que lhe pres- tou D. Aílbnso IV. , ajudando-o por niar c por (erra; porém Le inadmissivel o modo p.or que o conta, dando a entender que parte , nias até concorda com o (jne refere D. Allonso (1(! Caslella. A Monarcliia Lusitana põe o soccorro para o cerco de Gibraltar cm IXVl; o diz que a armada hia pa^a, á custa de l'ortu!^al , por seis inezes .= ([itc foi o tempo que o CnstcUmno limitoa íiu (laxiliu cIc. [II] ; iiorèm como não aponta docu- mento ou razões em (juc se funde; nem pode sustentar-s(! a sua asserção , pelo que toca ao tempo por que forão muni- ciadas as galés, nem pode a sua aulhoridatle prevalecer con- tra a de todos os Historiadores llespanlioes , e contra a do Huy de Pina, quanto á época do cerco do Gibraltar, que aliiís se comprova pelo testemuidio d'lmm escri|)tor coevo, que he o Autlior Ao Chromcon Conimbricense; e por elle mes- mo consta que o soccorro de D. AlFoiíso IV. foi mui custo- so , e por isso mais para estimar, pela grande carestia de to- dos os géneros do Ueino , em consequência do que morria muita gente de fome [>rt)/i]. Fim de 1335 a liy.m. Compete a quem se propozer a escrever este pcriodo da nossa Historia , e principalminito da d'Hespanlia, apurar as tregoas que houve entre os Reis de Castella e Aragão, c os Reis Mouros, d'aquem e d'al(Mii mar, d(;sde cpie elRei D. Allonso .\I. de Caslella l(!van(oti o cerco de Gibraltar em 133;{ até ao fim do anno de l;j.'í<>, analysando e discutindo as diversas oj)iniòes dos Escriptores [/ih] Fiito tamhien D. Juan t/e la Cerda, hijo de D. Alonso< eon alyiino gin- te de Portugal, donde vivia. Llegó Elllty a Sevilla u U de Junio ele, P. 7., p. 184. [li] V. a nota [dd]. [kk] Chronica de D. Jffonso 1 f. , 11. 9 , col. i. [It] P. 7.. |.. SI7. \mm] Anno de l.S:!;?. No T. 2.t da Espaiín S.tgradn ile Flores, p. S-tS. V. o N. XXXIII. (lo Appenili.x. Servi-mo do texto de 1'lore-i, (i^rque o julguei prefe- rível ao que vem iio T. 1." das Provas da Historia Genealógica da Casa Real Por- tuguez.i , p. S75 e seguintes. 2.*SERIE. T. I. P. II. Y 170 MKJMOKIAS DA ACADEIMIA REAL qiio SP occiip;írão deste objecto, tanto Porlui-ticzcs e TTcs- jianlioes, o.oiiio dos Árabes extractados por Conde , e soltan- do algumas difliculdades que natiiralnuMitc liado achar para os combinar. O (jiie parece ser certo Ikí : Que Abid-llassan meditando a conqiiist.-i d(í Tremecem, fez aprestos para cila desde l:i^^ò , c que estes a|goas entre os Reis d' Aragão e Granada [<í] , que de\iSo igualmente acabar em 1342 [nu]. Como quer que seja , não ha memoria de que clRei D. AfTonso lY. entrasse em nenhuma destas trei^oas , nem que os Granadinos ou os Africanos as procurassem ler com eije , a pezar de estar ligado com os Reis tio Cjasl(>lla e Aragão para a guerra contra os IVÍouros, e a pezar de lhe ter conce- dido subsídios ])ara eila o Papa João X\ II. , que pedindo-lhe Piíilippe de França as Decimas Eccltjsiasticas de toda aChri- standade para a cuerra d'LIltrainar, Jhe r('spondf-o, em Hr(>ve datado «rAvinhão aos 28 de Fevereiro de 1333, que = (>m ([uanto ;!s Decimas de Casleila , Arai^ão, e Portugal, como [»«) RaynaWg , 1. c. Anuo de 1:536 , N.' «?. ' '' ' ' '■* ' ' [no] Garibay, T.2., (). 270, col. l. ÇuriU, T. i. , fl. 1 1 1 v. Mari;ina T. G., p. 18 e seiíiiintes. [pp] Craribay, I. c. Mariana T. iI. , p. lli. \im] RaynaUlo , I. c. na nota [«/ij. [rr] Garibay, T. •:. , p. 270, col. 1. .\Uri.iiia, T. fi., p 10, in fiu: FcT- rcraí. P. 7., p. «08. [ss] V. adiante o anno de 1S»9. [tt\ T. 9., fl. 117, tol. 2. in Jiiie. [iinj V. adiante o aniin de lòZíK DAS SCIENCIAS DE LISBOA. I7t os Saraccnos , tra({iicin c (raiom mar, tiiihão invadido eslcs Reinos, lhas tinhào pedido para esta guerra os Róis respe- clivos [vv]. = Também nilo consla que desde i:í34 até 1337 se inlen- lassem, ])or parte de Poriu^al, hostilidades contra os Mou- ros d'aquem ou d'alem mar, ou se tratasse de disposições ])ara ellas. O negocio do casamento do FrincijjO D. Pedro com a Inlanta D. Constança, e de])ois a guerra com Castel- la (pie durou até ao anno de 1337 , occu|).!rão de (ai modo D. Afloiiso IV. , (pie j)ouco lui;ar lhe licava |)ara outros cui- dados. ElRei de Marrocos, tranquillo pelu lado de Castella, cora quem contractara novas tregoas , levou avante em 133C os seus jjrojectos contra Tremeccm de (pie se assenhoreou. Em 1337 [jcx], no mez de Abril, e embriagado com o fe- liz êxito deste f(JÍto , voltou as suas vistas jiara allesj>anha, de (pie talvez jiresumio seria fácil apoderar-se pelas discór- dias intestinas que nella entào ferviào. Mão se occultárão os seus desígnios ao Papa Bencdiclo XII., que pretendendo conciliar os Reis de l'ortiii;al e Castella , certificava a esto Priíicipc que Abul-IIassan se preparava jiara accommelter a Hesjianha [iji/]- 1338. Sendo j;í publicas as inleiKjões dcIReí de fllarro- cos, c desejando eIRei d' Aragão p()r-se em estado de rcpeU lír o perigo que o ameaçava: Mandou em Abril deslc anno, propAr a eIRei de Cas- tella que se alijassem contra os Mourus d'aI(Mn mar, apare- lhando para isso as suas esquadras , que também devia aproinjitar eIRei de Portugal [;:^] ; o olRei de Castella res- [ct>] ErcclUntiam rcrjiam crcdimus nnn Utierc , ijuomi^ih Santcrni Iransmnri- vi cí cisiiiariíii reijnum Casleilue ntrociler intuserunt , et ijuornotlo se ilicuntur disjtoncre ijistim o^njlittis ririhus ctiin Saracciutruin innmcrnsn multiliuline inva- Jere et vastare: prujilcr (juuc filliis nustcr in ('hrisln cluiritsimus Alphoiisus Rex Caslelirte illustris misit rui ciiruim ]>rn declnuili et nlns sulislillis oilinenJis, et idem f'iciunt chnrissimi in C/iristu filii noslri -lljj/ionsua Kex Jrmjonum , et Al- p/toiísus Pnttitf/fdiae lieifrs iíluflres . aui Jamdin miseruiU tid airiítm pro símiti' òiis suhsidiis nlitincndis ele. Datiim II knl. Murlii tinno XI JI. Raynaldn , l.c. yJnno 13.S.S, N." iO. [xx] Mr. Iteinau.l na nota (l) á tra(luc(,ào ilo Tratado celebrailo em 1JS9 en- tre elKei de Majorca e Abul-Has, citada na tiota y). [yi/] Rajiialdo, 1. c, Anno de 1337, iN. ■;5. [33] (Jurila, T. 2., íl. 133. Y 2 J72 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL pondeo-Ihe que devião primeiro concertar-se as diíTorniicas entre olKoi d'Arag;lio e sua Madrasta a Rainha D. I.ooiior (Irmã delKei de CastoUa) , e os InAuites seus Filhos [uan] : Mandou, om Ajiosto, soilicilar clKei tra o Rei de Castella , que havia tempos obrava em con- '■ ' "^ ' • •• w [aaa] Idem, I. c. Mariana, T. G. , p. iíS. [bLb] Çurita, T. 2., fl. 136. íccc\ hlein, T. 2., fl. ISO v. col. 1. a fl. 18K [Md] Rajnaldo, l. c. Anno de l:!38, N. .'iS. [etc] Quadfo Elementar das lielaçóes Politicas e Diplomáticas de Partugnl do Snr. Visconde de Santarém, T. 1., p. 181 , citando a |>. ibi, nota (259), o Doe. <ÍQ AicUivo, Gaveta. 15, Maço 24, N. i. •1- £)AS SCIENCIAS DE LISBOA. 173 íjtrario nisto. E qiif» nílo se entondoiin rontra esta confe- » (IcrarSo a trei^oa fVita com olKci de ('astella, até ao Na- » tal próximo .seguinte, que elKoi de l'ortuijal ora obriga- ndo a i;;iiar(lar [f(/"\.!j = l*ertPnco aos Ilistoriadorcs do Portiiaal o Castella de- terminar exactamoiito quando principiou a tn^íjoa entre os dons Keinos, conciliando as opiniões discordes qne lia a es- te respeito. Que devia acaliar pelo Natal de 1338 consta, não só peio Tratado com Arau^.lo , mas ii^ualmenle pela par- ticij)açào quo delia Icz ao Pa[)a o seu Lee;ado íijgf/]- A guerra que havia entre l'ortugal e Castella fez pro- vavelmente esperar a Ahul-Hassan (pie teria em D. Allon- so I\'. Inim auxiliador contra elRei de ('aslella , e por isso renovou, neste mesmo anno , a tentativa que em 13.32 ti- nha fei(() |)ara trataf separadauiente j)az com elRei de Por- tugal, daiido-lhe agora presentes, e fazondo-lhe promessas^ para alcançar que não ajudasse elKei de Castella, ao que D. Allonso IV. não assentio , antes soccorreo a D. AíTonso de Castella, Deste facto não ha vestigio em nenhuni Escriptor Por- tuguez , nem Hespanhol (que eu saiba") ; poróm consta do Breve escripto por Bencdicto Xll. a D. AíTonso IV. , era 30 d'Abril de 1341. E que esta tentativa foi diversa da de 133'2 prova-se pela circunstancia dos |)rescntes , que na ou- tra não se mencionuo ; porque a outra tentativa era para fazer huma paz separada , e esta tinha por fim não ajudar elRei de Castella ; e ainda mais por dizer o Papa positiva- mente que eiRei D. Allonso I\'. , não só reiioitou as pro- posições de Abul-IIassan , mas ati' rxp.)z a sua pessoa e bens e os seus vassallos , conjunctanicnte com elKei de Castella, c que triunfarão dos Agarenos, matando e capti- vando nuiitos , como era notório; o quo só pode applicar- se ;í bataliia do Salado [It/ili]. [///] Arthivo d.i Torre do Tuíiilio. Ijav. 18, M. 8. N. 13. V. no fira desta Jlemoria o Doe. N. í. I?uy de Pina, Cht^onka de D. Jffonso W., 11. 44, col. •• , Icmbra-se desta paz , que [lôi; na mesma data, ISVÍl] Raynaldo, I. e. Anno de 1338, .N. 50. [AAAJ Qiiwlijue , licfl ille jirofanus et blits/i-miis llex Jijarcnorum de Benema- rln, inter lieycs lila:pheinos íiiiraccnorum jiolciilissimtis . tcrritus cz prnemistii , cum priJern aJ prrsrculionrm et cxlerminnlinnrm orlmlmorum Jidellum cilrn maré ad partes Hispanirtritin cuin citervis belUUiirtim úijidt-íinm iunitmcrabííibus tran- fertiictl , liOi per suos nuntios cl litteras diversa miincra , promlssiones , tuOsidiai 174 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Pcrsuado-mc de que esta li>ntaliva nito foi depois de 1338 ; porque teve lugar pridem antes da j)a:na tua pariter et subjoct.is ; ila . qiioil tu et Jictus Rex Ca-slelle, roliis Dei auxilio, cujas agelialur íicejníium suffrar/tiníe , de dictis lioá- tibus, sicut est toti minulo notoriuiii, vinliler i;t lelicitcr triumpliastis . infiiiitis ex «iieli-i hostibus, ç«i ad e.ritium C/irisliannrnm /nrentis et tniipii pn^pnsiti nr- maocraut roluntatcm, in ipso triuniplio in ore gla.lii interemptis , et niultis ex eis captis ac rc.Uictis in perpetuam serviluteni. Archivo I!. da Torre do Tombo, M. 5 de BuUas, N. 2. RaynaUlo, 1. c. Anno de 1341, N. -l e seguintes, traz esta Bui- la, em parte copiada, com algumas diUi.Ten(;as; e em parte extiactada. [iii] Bulia citada. [kklc] Çurita, T. 2., fl. l.ara ali se coucluirem , ao (pie tamt)em se prestava elRei do fíinnl ' Rny m<\ G:irilmv. T. 2. , |>. Í74, col. í. ■ :* ' ^"1 \. . M.imna T.C,. p. 34, ]pl>p\ rerror.ií P- 7., p. S.'ifi. l>l'lil\ lí.nMKillo, 1.0. .Vniio de ISSÍ), .\. 7C. [rrr\ C/iruiÚM Jc D. .-tffoniu I T. . 11. IV v. 176 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL rorlugal [sss]; porriu não ha cm Ríiynaldo iionluima noticia de que cllos fossem elTei-livaniente a Roma. Tiiilia rom]TÍ(lo em 1339 a çiierra dos Mouros deGrana- »(le l:í78, trimta dias de Maio, foi emtroçe p(*ra Portugal "P foi dada a tiila D. (Joslamsa Manoel; c PoriugiiC/es t; de »> Castella muitos a (louxorom a Portugal á Cidade de l.is- M boa o Agosto segimte , oiiilc IIk; llzerom graiude.s festas »» clc. [eeee] j» = Accnliciro confunde visivelmente adata em que se ajus-» tou que podesse vir a Infanta para l*ortugal, com a data em que se mandarão os Embaixadores a Castella. Depois de feita a paz soccorríu» D. Aílnuso IV. a elRei de Castella com huma armada de N;íos e Galos ; que este lhe mandou pedir [jf^jf]- Neste mesmo anuo foi a batalha do Salado, em que se achou pessoalmente D. Affonso IV. , em auxilio dei Rei de Castella. Em 1341 se congratulou o Papa com elRei D. AlTonso 1\'. pela victoria do Salado , oxhortando-o a não deixar a guerra contra os Mouros, antes a con(inua-la ['Jf/ffg], tendo- ihe j;í concedido as Decimas Ecclesiastioas, por dous annos, lanto para a guerra com o Rei do lienamarim (o de Marro- cos] , como contra o de Granada , quer fosse invadindo os ditos Reis as terras de Portugal, quer acommettendo elRei de Por(ugal as terras delles [hhhli]. Em 1342 enviou D. AlVonso IV. a elRei D. Aflonso XI. hum soccorro de dez çalés que , juntas com as de Castella, desbaratárào a esquadra de Abul-Hassan [wí]. Mariana, pou- co alVecto aos Portuguczes, e sempre disposto a baratear as nossas cousas, nào só deixa de fazer mençáo deterem os Por- tuaiiezes entrado no combate contra a esquadra de Abul- ](■««] Inéditos da Historia Portugueza , T. 5., p. 99. [ffff] Riiy Je Pina. Chrnnka de D. .iffonso 11'.. íl. 5i e 11. 53 v. col, 2. Gatiba)-, T."2., p. 275. (^urita , T. 2. , fl.' 1 iS , col. 1. .Mariana, T. 6., p. 87. Ha neste lacto aljjuma discrepância entre os lis< riptores Portuguezcs e Hespanhoes, que não trato de apiurar ; porque e.ítá tiíra do alcance do meu assinnplo. ['Wj\ Kaynalilo, I. c. Aiiiio^e l.').U , N. .S. [/i/i/i/i] Idem, ibid. N. -i e 5 = tam conlni dictum Rcrjnn de Rcnamarim et ntioscumrjue níios crKÍs hostes seqiuices ipsiiis , (jiium contrii Kcrjern Uraiialc cclc- ritsqne blasfemos ol/str/uentes eisdfm, sivc i/isos Reges blasfemos contra te et Keijna seii terras tua, sine te nnn snliim Rei/nn et terras tua pracdicta defendendo sed etian Rcrjna et terras eorum inradendo, seu impinjiiuiido, rjuerram moeere eon- thnjrrit covíra cos. Ibid. N. 5. [liii] Roy de Pina, Clironica de D. .'fffonso 11'., 11. 65 V., col. 2. Garibay T. 2., p. 280, col. 2. Çurila, T. 2. , 11. í.ii v., col. 2. m fine , e fl. 153, col. 1. Ferretas, V. 7., p. CPO a 2Í3. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. it9 Hassan , mas até não falia neste soccorro dado por D. AíVun- so 1\'. a D. AlVoíiso do Castella , c só diz (|ii(' os Pordi^uc- zes , d««|)ois da i)alaHia que S(; doo no rio (jiiadainccil , vol- tarão para Portugal , som qiio ein maneira nonliuaia potloi- sem sor detidos [Lkkk] ; porem I''erreras, lendo roferitlo niiu- daniontc o combate, accrescenta, (jik! fstaiido elU(>i deCas- Icila em Xerez, foi ali ter com elle (Carlos Peçanlia (Almi- rante d(; l'ortui;ai) . deixando em C^adiz a sua frota, e flKtn o recebeo com muilo ,a^osto j louvando seu lirande valor, e lhe deo de presente ricas alfaias, e despedindo-o , enviou com elle huma j)essoa a elRei de Porlujjal , j)ara llie jieilir da sua pa|-t(\ que o tornasse a mandar com a armada em es- tandfi re|)arada [////]. O mesmo, rnn snslaneia, dizem Kiiy de Pina, e (íaribay [mnimiu]. A IMonarchia Lusilana traz este facto cm 1341 [«/í»»] ; porrm tudo o que diz, a res])ei- to dos soccorros dados por estes tempos a olRoi de Caslel- la , he pouco exacto- Em 3 d'Aijosto poz elRei de Castella cerco a Algeci- ras [oooo] , para o qual lhe enviou outra vez D. Allbnso I\^ a sua armada , como clRei de CJastelIa lhe tinha pedido [pppp]- Garibay diz que as galés de Portugal, estando só três semanas em Algeciras , voltarão a Portugal j o que pa- receo cousa sem propósito [7777] ; e iMariana não falia neste soccorro; porém l*"erreras , citando a Clironic^a de D. Allbn- go XI. , e os Historiadores de CasLella, diz que Carlos Peça- nha veio com dez galés , pagas por dous mezes , com o que lendo elRei de Castella bem guardado o mar j e tendo já os [i/;ii] Porqite los Porliiguizcs ilrspiics Jc In balalhi que se tllií ett et rioGua- iliimccil, SC volmernn a Portugal sin que cn ninyuna mancra rimliessen ser dcte- Txiilús , T. K. , p, 4!). [llll] Estando clRcl en Xere2 .... nino Carlos Pezano , ilernnJo en Cmli: su jlntii : cl liei) lo recebia mui/ tjosloso, ij alahando su ijran rator, le diò de presente iinas ricís al/tajas , a quien despeditt , y con cl emhiò una pcrsnna a cl lirit de Portuijtd , pnra que de su parte Ic pediesse , le volviesse u vnbittr con la ar/nada , l/l estando rtjinrada ; ;>; 29.Í , I'. 7. [mmmm] Nos lugares apontados na nota [íí/i]. [minn] V. 1. , p. 49."!. [oooo] Garibay, T. í.. p. Í81 , col. 1. Çiirita , T. 2., fl. l.-iS, col. 1. Ma- riana, T. C, p. 49. Ferrtras, P. 7., p. 2!).5. líiiy de Pina, C/ironiea. de D. Af^ Jiinso n.. fl. GC , col. 2i , e a Monarchia Lusitana, P. 7. 11. 4.17, que o se- gue, dizem que o cerco principiou em 25 de Juiilio; porèiu deve estar-se pclw AA. Ile.spanlioeí, [pppp] Chronka de D. ÀJfonso ly.. fl. 166, col. 2. [qqqq] 1. C. T. 2., p. 281 , lol/ Z. Z 2 180 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL ntaqucs jiinfo fias niiirallias, flolprininoii bate-los com eng-e- iilios «'Ic. [rrrr]. A Monarcliia Lusitana {)õe eslo socoorro em Abril do iri42 [ss.m] ; porém enganoii-ne ; porque se o cer- co irAlgociraH começou em :? iPAgoslo, ou (ainda que se quizesse adoptar a opinião de Riiy do Pina e da Moiiarchia) em '35 de .funlio , como havia ser dado o soccorro par'i este cerco em Abril? A IMonarchia confunde os dous soccorros , pondo-os em aunos dillerentes , quando íorão no mesmo an- uo, e da(jui vem a equivocarão. Em 1343 foi ao cerco d'Algeciras o Prior da Orderti de S. João de Jerusalém em Portugal D. Álvaro Gonçalves Pe- reira , com muita nobreza, e vulgo [flft]. Em 1341 loir.ou elRci de Castella Algeciras, em Mar- co [uituu], e fez tregoas j)or dez ânuos com os Mouros, tan- to de Granada como (rAlVica [vvvv] , que depois fcrão con- firmadas com os Granadinos por elRei d'Aragão em Junho, e com os Marroquinos em 1345 [.r.r.r.r] ; e estas tregoas ajus- tarão-se sem o consentimento d'elKei D. Aflbnso IV. , a j)e- sar de ser huma das condições do Tratado , concluído com eIRei de Castella em 1340, não se fazer tregoa nem paz com elRei de JMarrocos sem ajiprovação d'ambos. Não querendo D. AUbnso IV. nejihuma concórdia com Mouros, pedio , para continuar a guerra d' Africa, as Deci- mas Ecclesiasticas que o Papa Clcment(> VI. lhe outorgou Em 1345, por Breve datado de Avinhão aos lo de Ja-" neiro [yyyy]- Sem constarem as liostilidadès , que devião continuar [rrrc] FARei/ de Pnrtnrjnl cmblú à Carhs Pczmo « ri Eslreeho con iliez ga- leras par/adns por dos intisfs , fim ijitc FAlUij D. y/loiiso tcntauín hirii fprardtuh cl mar, y temendo ya los ofnniics cerca de las ?unridlas , determino batirlas con in- genios etc, p. 2!)iJ , P. 7. [ssss] V. 7. p. 4.95. \ttlt] Monareliia í.iisitann , P. 7. , p, 509. [líuiiu] liiiy de Pina, Chronico. de D. .-IJJnnso IV., fl. £7 v. GaTÍbay, T. 2. , p. ih5. Çurita, T. 2., íl. 171, col. I. Jlariana, T C. , p. 5S. Ferreras , P. 7., p. ."-22 e iíi , citando a Clironica ile D. Alionso XI. [ciTc] Ruy de Pina, Gatibay, Mariana, e Feneras, nos luj^ares apontados na i-'Ota ])r(>('edpiite. [rrrr] (airita. T. 2., íl. 173 v. , col. 1., e 184, col. 2. Im/t/y] líaynaldo. 1. c. Anno de 1.''.44 N.5S. líaynuMo traz equivocadamentR este Breve no anno de 1344. O 1'ontifieailo de Clemente VI. principiou cm Maio de 1342, e pov consefineTicia //''. Idxts Januarii anno JII. corresponde a 10 de Janeiro de IS 45, e não a IS 44. . DAS SCIKNCIAS DE I.ISBOA. nu nbs annos subsequeiiles , entro Portiiçul e os Mouros ti' Afri- ca, visto nao so ter ío/to paz nern tregoa com elles, só cuii- sla f|uc : líni 1349 tleo ollioi D. Adoiiso IV. auxilio a elRci tle Caslella, |);«ríi o silio «(iic linha posto a Giljrallar [szzz]. Não ce.ssDii iioH aiinus scçuiiiles a guerra cum os Aíou- ros , antes lia noticia do (jne : l'>m 13.'i-i bunia esi|ua(lra tUí Mouros tomou liuma Villa (lo Aiçarve. Esto íacto consta ci'hiim lireve; ilo Innoconcio VI., datado do 27 de l''cvprpiro do l:Miò , imu tjuo concede a D. Alioiísu IV. melado tias Uccimas lOcclesiaslicas, [)or qua- tro annos, para a sjucrra com os Alouros [ttaiitKí'] . Do tudo o que liça <íX|)endido pari.-ce-me concluir-se que D. Aflbnso IV. teve cousi ante mente ;^uerra coai os Mouros, desde i;V27 até l.'i54, e que se dispiíniia a faze-la ainda jiur mais quatro annos, coutado.s do princi|)io de 1:3.35, que vem a sf;r alt; ao lim de 1358 (pois que ])ara isso alcançim sui)si- dios do Papa) ; e que, j)or consequência, não podiào asiNaos Portuguezas ir vender, durante esle tempo, a Jnim paiz ini- jnigo, qual era o Império ile Marrocos, jirczas feitas nas Ca- aiarias. Tratei mui jicrfuiietorianiente dos successos destes vin- le sete annos do Reinado (relllci D. AlVonso IV^. , e sú tan- [3:ij] Utiy de l'iiia, C/ironica de D. JJfonso IT., fl. 70, co!, 2. Moiiarchia Lusitan.1, P. 7., p. âlS. ['mriattj Ajarcni hostes cntcis , et entholicae jidci inimici, qunfJnm castra, qu ir í» fmilius rrrjuí C-islelliie iletinrnt occiípata se eellc munire dolosis mar/iiiia- tionibtts cnnfiiujenlcs , maipium in m:ire fjrilr.arum stoUvm jircpararnnt : imJ.uii Villain «le ipsiiu rc^is ilotiiiiiio , sit;iiu iii i'nitibii-! .M^iirl)!! , per violeiiti.un cíipienttís ilict.ini Villam, et i|>sius Kc- clc^ias botiis, el ornaiiiciitis «iiin omnibns !;pi)!i.itimt, ac miillis cx IiuidídíIhis diolue Villue ibiorquc sendo a data do Breve = Tfrtt" chnfnítlns Mnrlii , Ponlifualns iinslri niinn tertin=^, e lendo coineç.ído o Pontificado de Iniiocencio VI. eiii Dezenibixi de li5l , o S. anuo do seu Ponti- ficado .ícabav.i em Dezembro Je I S55 ; e pnr isio a data corresponde a 27 de Fe- vereiro de ];ijfi. 182 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL to quanto rra nocossario para oníiar a ordem dos acontcci- inentos cm relação ao meu assumpto ; com tudo assim mes- mo talvez SC julgue esta nota extensa em demasia; por(>m não ]>ude resistir ao desejo de elucidar, de algum modo, hum periodo da nossa liistoria pouco sahido, e que tinha tão immediala connexão com o objecto que me |iropuz tratar. Tirar a limpo qualquer ponto da nossa Historia ))arece-me que he servir a Pátria ; porque a Historia de Portugal , bem como a de Hespanha, estão ainda por lazer. NOTA — F — , p. 101, nota (241). Sohre iOn de Hcspanhocs ás Canárias. Clavijo à\f. : Que ha algumas provas de que huma parte do arma* mento, que D. Luiz tlc la Cerda dispunha contra as Cana-^ rias, se avançou dos portos de Cataluidia a observar o paiz: Que Luiz Benzoni, no seu Tratado das Canárias, incor- porado na Historia do Novo Mundo , aíTirma que duas da- (piellas embarcações penetrarão até estas Ilhas ; e que tendo invadido a de Gomera , tiverão de íetirar-se com perda con- siderável : E que o P. Abreu Galindo adverte nos seus Mss. que lambem havia na Gram (Janaria tradição e monumentos in- contestáveis de que, por este mesmo tempo (isiio), tinhão aportado áquella Ilha dous navios com trijnilação Malhor- quina e Aragoneza que , desembarcando em terra , huns fo- rão mortos , e o resto ficou prisiojieiro , entrando neste nu- mero cinco Religiosos de S. l"rancisco ; e que os Canários Iratc-írão bem os estrangeiros, nos jirimeiros annos do seu ca- i)tiveiro, em quanto se mostrarão submissos; mas que tendo mudado de procedimento, os mat;irão a todos [a]. Como Clavijo não aj)onta as provas de ter chegado a observar o paiz parte do armamento que D. Luiz de la Cer- [a] Noticias de la Historia General l, cliamado l>. Luiz de la Corda, lionicni » do grande experiência nas cousas de guerra, o qual, por wlhe Lerem sticceme de l'riiieipe da FonUiiia. Mste pcdio a elUei aju- jxla (' lavor para ronijiiistar as Ilhas ('anarias, c proviílo de '»dinli(;iro para armar duas earavellas , com ellas se partio »>]. Nào sei em que Historias d'elHei D. Pedro IV. d'Ara- bão achou líenzoni o que refere : o que sei he i|ue nada do quo diz lie exacto. Nem D. Luiz se chamou de la Corda (será talvez engano por la Cerda) ; nem veio a AragSo em 1334; nem se appellidou l'rinci|)e da Fortuna, por ser feliz em todas as suas empresas; nem armou cara\ ellas em Cadiz. D. Luiz de la Cerda , intentando concpiislar as Caná- rias , pedio a (Clemente VI. a soberania daípielh; paiz que o Papa lhe coucedeo , em Breve datado de Avinh;lo aos 13 de ['>] Si legr/c nrW I slorlf. dcl Re don Pictro d' .Irai/onn (juarto Ji queslo no- me; r.he Vimiii) MCCCXXXIÍÍI reniic <\ lai iin tjdUilliwjmu Spajnuulo , nomi- nnlo don Luiyi dalla Corda , huomo di t/ranJe ispcriciiza nelle cose deliu quer- ,ra; il qunie per csscrli tvcccsso tulte U sue impreae pruspcrairunle , tyli slet- «o, (irrognntemenie si huecort posta per sopriiitomc, Pri.iíipc dtlla Forlwui. Cus- tai domando iil Re uiut" , et fuore , prr coiujiiistare I Isole di Ciinaria , cl pro- veduto di dciuirl per armar due caraeclle , cvif (juclli se parti di Cálice, et in brcrte rjiunsc altn Gomcra; et ijuivi messo in terra tenfo, c rntti huomini , fu- rona da d'Hespaidia desístio da empresa que havia tomado da con- 5) quista das liiias Afortunadas, e que a gente se converteo » na defensa dos estados de Normandia, Bretanha, e Picar- j) dia [/].»== No mesmo sentido de ter D.Luiz de la Cerda deixado de seguir a suapertenção fallão Garibay [/)'} , c Ray- naldo , apoiando-se n'hum Mss. da Bibliothcca do Vaticano N.° 2040 [//] Por tanto parcce-me que contra laes authori- [c] líavnalJo, na coutiuuaí^ào Jos Annaes E eclesiásticos de Baronio, Anno de 1314, N.'39 a 47. [d] Mariana, Historia d'Espana, T. C. , p. 70, nota (1). fr] T. 2., fl. 18G V., col, 2., in fine. [f] No hc podido dcsctibrir , mmqiu lo he inquirido con diligencia , cl succes' so que tuvo esta empresa , siendo cn si cosa tau setlalada y memorahie . . . . f/ por las querra^ que dentro dei Herpio de Fraticin se font munron , se pucdr. Terisimilmcnte crecr ^ que se desistia por cl Principe IjUÍz d' Espaila de la empre- sa que havia tomado de la conquista de las islãs fortuna' las , y que lar/ente se con- vertia en la defensa de los estados de Normandia , Jiretana , y Picardia. Idem ibid. fl, 187. [ij\ T. 2., p. 287, col. 2. [k\ Hic (Clemente VI.) dominum Lovysinm de Hispânia frccrat atqiie coronn- verat de rerjixa insularam Fortunatarum: sed posse numquam kabuit , dum vixil, 1. c. Auuo de ISii, N." 47. DAS SCIF.NCIAS DE LISBOA. I05 (ladfs nSo tem peso a cio Bonzotii, e qiie se potle dar como c<>rlo que iieiiliuma parte .)U a ir i.í. Sem defender, ikmh iinpii^iiar o lacld firoiliizido por Ga- lindo , posto que pe|a,s cin-iinstaiicias de que he revestido haja maiores apparencias de ser lalíuloso do que verídico , não contesto a possibilidade de qne, dejKjis dos Portiic;uezes terem ido, varias vezes, ás Clanarias , mais alsinis líiiropeos- lá fosse lu , mesino antes dos ullimos vinte annos do século XIV. , em que os Escriptores Hespanlioes mencionào militas entradas d<; gentes d'Hespanlui naqueilas Ilhas [?1. O que acho singular hc o anaclironismo de Clavijo em liirar hum acontecimento de 13C0 com os preparativos que D. Luiz de la Cerda fazia em 1347 j)ara a expedição contra as Canárias, identificando duas é|)ocas tão sej)aradas , por meto da clau- sula = por Ctíte mesmo tempo = [k].- KOTA — G — , p. lOG, nota (2C4). Sobre IVahvak. A ultima terra da Africa conht^cida por Edrisi , sahinclo do mar vermelho, e encaminhandn-se para o orcidente he a terra de t_Jjl^sda qual se i^^nora o que existo. Com tudo os Chins abor-' .-> dão a ellas algumas vezes, mas raramente; he hum ajunta- » mento d' ilhas que sào habitadas só jior elephantes e mul- [I] Clavijo, 1. c. . p. S76 a 880. [k] 1. c. , p. 274. [a] T. 1., p. 79. [6j Notices et Eitraits des Mas. T. 1 . . p. 15. [c] Ibi.1. T. i. , p. -iO e 41. [í tiiliío de pássaros, lia iiollas iumia arvoro do qno Mns'údí !> relata cousas t.ào iiiverosimcis, qiio não !io ]ioí«sivel rocon- » ta-las : mas ein úm Deos ])ode tudo [e]. » = !'• '•''■''•* (^oiiio liiuile d;i torra conliociíla iio Orionto j;í Edrisi tí- nlia dado fCcdwak, dizendo ((iio =dos(l'o inãr voniKílho nt('í' ao ffuliivnk crào 4:500 |)arr.8niiças= f/j. Bakiii , fallando das Illjas de Ifakrvnk , conta qno = « Estfio situadas no inar da China, nfi^visinhanóa das Ilhas .•>do Zaiiedjíe. Diz-sd quo s;Tio I:(i00, 6 paVíi ir lá diriu^om-sé' » pela observação das estrellas : ha iiollas liiima arvore ex- 5> traordinnria , jóiito á qual so ouvn luima voz qno parece' » dizer ffukwak. Ha neste paiz' tão grande quantidade d'ou- "ro, que oè habit-antes fazem delle cadeas para os scns cães, ') e colleiras para os seus niara('0H ['/]•';== O nome de ffukwak ir(>|-.elido nas duas extrenii;1a:les do mundo conhecido , na Africa , é na Ásia , faz suspeitar que a sua sii,^niticaçao se refira ou ;1 j)osição deslas Ilhas, como limite, termo, etc. , paiz alem do qual não pode (ransitar- se , ou a huma advertência aos navegantes para não passa- rem daquelle ponto. (.Jil^Jj significa, segundo Golio , pai/í- dus , pusilanimus , et notncii qrhoris , et nomen rcf/ionis supra Sinas. Esta explicação de Golio parece derivar-so , em par- le , de Mas'i'idí, ou de Bakui; e neste caso Kak-IVuk não hc o nome d'huma arvore ; mas sim hunia voz que se ouve junto d'huma arvore , o que confirma a minha oi>inião sobre o significado de Jf^akwak , ([iw será talvez cave, time quia jicricuIiDu imminel , a!n , ne proijrcAilor ullra , ou cousa se- melhante. A' cerca destas minhas refioxoes consultei IVIr. Jaubert , [c] Jiiprcs cie (■<■ prii/s cst Vile de NV.ic\v.-ic , au Jciu de la quillc on iç/norc cr qui criste. Crprndaiit les Chiiwls y idiordenl . jM3. I DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 187 riUG leve a líontlade de respondos luí^ares indicados com o nomo de iVakwuc, o quanto á » oriíjom deste nomo, sào diíliculdados qiio, ha mnito lonipo, ;> fazem desesperar os orienlalislas. (Confesso todavia fjiie de "todas as conjecturas a que este nonir' teni dado hi!^'ar, a >í que me propõe me parece a mais piausiv(d : lonnaila , se- »^undo me parece, de duas interjeições, por que nào pode- '» ria este nomo sii^ailicar clVectivamente caie, lime f/inn pe- » riculum immincl^ |)or qur> não seria isto huma es])ecie de » ouomatojjeia destinada a imitar o irrito dos pássaros, de >i que bem ou nud se supi)õe que esles lufares são povoa- )> dos ? [/ti " = A ultima clausula da caria de ]Mr. Jaubert allude á pa- lavra ; Jij , que Golio lè < 'ij ivakhon , e diz significar =voz d'liuma certa ave = a que cliama colliirio sivc luniiis minor. As duas interjei(?ões do (jue JMr. .laubert julij;a formado O nome Jfuhvik , parece-me que j)oderiào ser a inlerjcição £aJ5 rvdika, ai de ti fP^ae tihij , repetida, como quem dis- sesse — ai de ti se passares deste iutcar , se quizeres ir mais avante — , sendo neste caso wak iiuma contracção de rvaika. Os Mouros de Berbéria quando ouvem huma cousa que lhes causa susto, terror, ou que, por qualquer motivo, os in- quieta cu desoosta muito, gritão com modo aíTlicto wakwak, como quem diz — não me atormentes, deixa-me etc. — Estas conjecturas terão talvez mais probabilidade rcfle- ctindo-sc que Edrisi situa as Ilhas de fVakwak próximas ás Ilhas de Sila (Saila de Schems eddin) , que estão a três ])equenas jornadas da Ilha de Sandji ; e nesta Ilha põe di- versas estatuas com o braço direito levantado , como para dizer ao espectador = «Volta para o lugar d"onde vieste, » porque por detrás de mim nenhuma terra existe onde pos- j> sas j)enetrar» =■ [t] ; que são as mesmas estatuas que [/i] CXit-mt à la sitikition des lieux itidi<]iifs sons Ic nnm de If^actoru , et tjuant à lurlyine de ci nnm, vous srwcz , monsifur cl clirr cjnfrfre, ue cepcn- dant que de toutcs les conjiclares ciii.r qtielles ce nom tt dntines lifu , cclU que rous pmposcz me paroit la plus plausibU : forme ce m« sem/de de deut interjeclions , pwir quni ce nom ne jiourroit Upas signifier en effet cave, limi- quia periíuluin iiuiDÍiiet? pour quni ne sernil ce paa une sorte de niiomulop/e deslinée à imiter Ic cri des oiseanx dnnt ã tort ou à ralson on supjmse que ccs lieux sont pcu- pUs? Carta de 13 de Dezembro de 18S7. [íj T. 1., i>. 33. O passo traiiscripto he o seguinte = On eolt dons ccite ile Aa i 188 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Schems edcliii \wc nas Ill)as ile SaUa cdin iileiiUco desti- no [k] , c qiio iiiclicáo o fim da (erra lial)i(ada , por aquel- la palie do globo. Ora como as Iliias de Muktvak erão lam- bem, por aquelJa j)artc , o liin do iniindo , alem das qiiaes se i^•norava o que existia [/] , juTo parecerá lolalmenle in- admissivel que Jtdhivak soja a representação arliculada do que indicavào mudameníe as estatuas , vindo a denotar o mesmo, tanto estas como o nome do j)aiz /i] , que Pococlv o appellida — a Ilha fértil em pro- dig;ios [n]. Hartmann (que cita Mas'iídí , Ibn al-\yardi, e Bakiii, nos j.iassos alrrís apontadas) [n] , situa o paiz de Wakivak entre o paiz dos Zindires e Sofala [p ] ; poròm parece-me que o contrario se deduz dos textos d'Edrisi, e de Ibn al- W^ardi ; i)orque Edrisi diz -• = 'i r-ll Ranès lie a ultima dependência dos Zindjis ; ella -•5 pega com Sofala, paiz do ouro [7l-" = = '.A cidade de Dagliuta hc a ultima de Sofala, paiz )>do ouro, .... Este paiz (o de Sofala) pega com o de Wak' " rvuk [r]. ;> = Por lanto, se a ultima terra do paiz dos Zindjis pega com Sofala , e a ultima terra de Sofala l)Oga com o paiz de JVnknmk , a ordem geographica destas regiões he Zind- ji , Sofala , e Wakwak ; e não Zindji , Wakvvak , e Sofala. Ibn al-Wardl diz : (cclle Je Samlji) ditcrsai stntucs pliicêes sur le boril Je la mrr; chacvne ({'fitrf cllcs tlei*t Ic oras droit cUct cnn.mt- jtcur tíirc nu sptxtatrvr : Ketourne au lieu d 011 lu es cc«u , car il ii\.t_isti: paiid i!crr<èrc vioi de Icrres ou il snit pnssible de ptitétrer. [k] V. a fl. 105 ileíta Memoria. [^j Edrisi r. 1., p. i)-l [m\ Epistola de Hui Ehn Vokdhnn. \L'\. de Pococlc. Oxonii 1700, p. ?6 , S7 , ttc. [n] J\fi'raculoním fcmz insula 11'akicak. N:i prefação da obra citaila. [o] Edrisi jífrita , p. 10*, e niitu (j) ; luã , e notas (A e >') ; p. 107; e p. 112 , e nota \s]. [p] Animi scntcntiam dcditrahu ..,.; rc(/ioncm l.ahuak nimirtim , partam €ssr. ncc mat/nl momcnti Itahendam , mi/ti ttjparerc , ac sitain iSofalaJn inti-r cí Zingitanam torram, nh anibaltus nulrm ilislincínm , I. c. p. 106. [»=: Consoquenteiiieiite o paiz do JVahvak ficava ao occi- doiite, e n/lo ao ori(!iilo de Sofala que. por fsto lado, r.oii- liiiava COMI as lerias dos ZíimIjís. V. a caria ((iic o Dr. \'\u- ceiíl publicou, copiada do IMss d'luliisi, que se conserva lia Bibliollieca Bodlciana , a uilima (erra que marca na Africa oriental, vindo do mar vermelho para o occidente , he Ouac Ouac [/]. NOTA — H— , p. 132, nota (348). Sobre a Milha Árabe. Reland diz que a milha Árabe hc^ pouco mais ou me- nos, a milha Romana [u] : Harlmann adopla a opinião de Reland que cila [h] : e JMr. Reinand he também de parecer que =iia. milha, em greço mí>.ií», era (rhuma insliluição Ro- 5) mana , e que o seu nome indica ao mesmo tempo a sua "origem, e o numero de unidades de que se compunha. A «niiliia ficou sendo a mesma entre os Árabes, e entre os "Romanos: compunha-se de mil passos , ou, para melhor "dizer, de mil braças; j)ori)m a braça variava segundo a ex- " tensão do covado ; e o covado regulava-se pelo numero de "dedos que nellc entravàoi A milha dos antigos era de Ires " mil covados , sendo o covado de 32 dedos; c entre os Ara- " bes foi de qiialro mil covados, sendo o covado de 24 de- "dos. O resultado era o mesmo, ])or que , com qualquer [s] Sijfiila eJilliali.^b, ou Suf') fere cunt llomanis miliarlbus cone«niunt. Pa- lacólhia. Tr-ijecti liatavoítini 17H, p. 8í!i. [c' que trata da milha Árabe) á dous aiinos , e tendo depois » feito para ella muitas notas, que estão ainda espalhadas, » e de que se servirá sei iio momento da impressão , ignora j»se este será ainda o seu ultimo sentimento a tal respei- » to [d] . = >f èe 3Ir. Reinaud tivesse j;í publicado a sua introducção, he bem natural que nada mais houvesse que desejar; porem como ainda não se imprimio, farei algumas observações rela- tivas a este objecto. Para que duas medidas d'extensão sejão iguaes he ne- cessário ou que as unidades por que ellas se avalião sejão em ambas idênticas, em dimensão c em numero; ou que, sendo as unidades diversas, tenhão com tudo huma relação dctcrminaila entre si, ou com outra unidade conhecida, que jiossa servir de termo de comparação para descobrir, j)or meio delia , que representão a mesma extensão. Appliquemos este principio is milhas Árabe e Ro- mana. Mas'údí diz que : [d] Lc tnillc, cn i/rcc MÍ>.ioi , cíoit d'ii)ií- instiiiilion romniih'. Son nnm indique u la fois son origine , et le nombrc des unitcs dont il se cojnposait. IjC viille resta lc mcmc clícz Ics árabes que clicz tea romains. 11 se composnit de miUe pas ; ou jjlutdt de mille Irasses ', mais la brasse varinit , suivant Vt.lendue de la coudic , et In coiidèe cllc mime cíoit reglte sur le nomhrc dcs doir/ts ijuon y fesnit cntrer. Le mille ctoit c/icz Ics anciens de trois mille coudées , à raison de trcnle deux doií/ts la eoitdce ; chez les árabes il fiit de rjualre mille coudées, i) raison de r,ini/t (juàlre doiyls chacune. Le rêsullat du reste clait le menie ; car nrcc Vun et 1'avtre 7iomhrc on arrltait a vn total de rjiinire ciiirjt seize mille doirjts. jdlnsi chez les anciens une brasse se comjjosait de trois coudées , et chez Irs árabes de quatrc, Celle introduction (à la Géof;r.Tj)llie d'AbulluJa) a ilé tcrlle il ij adrjà deu-e ans ; depuis cetle époquc fai rcltzé bcaueoup de notes, et cca notes, qui ne seront mises en ocuvrc , qu' au moment de Vimprcssion , se trouneiU éparses. J'i E o dedo 7 iír.Tos (de cevada) e *, postos liuns ao lado dos outros [/]. Edrisi diz que : A Parasanga tem 12:000 cnvadus : O Covado 24 dedo.^ : E o dedo seis u^riios de cevada, unidos e adheroiites hnns aos oulrod (liL'er. cosias com cos(as) : e como loiyo immediata- niíMite diz que a circunderencia da tíMTa , secundo a medida d/í IleraLes, ( Eratoslhcues P ) seria de .ifiooo miilias , ou 12:000 parasangas , seguc-se que a parasanga tinha :í milhas de (juatro mil covailos cada liuma. ( Jvsta mesma relação entre a millin, e a parasanffa rejie- tn depois lOdrisi, aílirniando que de Híissr a líai^dad se con- lão Ó70 |)arasan!;'as , ou 1710 milhas [jíI. ll)ii al-Wurdi diz que a circumferencia da terra he 24:000 milhas, ou C:000 parasangas ; porque a parasanga tem trcs iiiiliftx : A milha tem :>:000 dhcraa ou covados melikianos , isto he roaes : [e] Le mille est de l:000 coulécs , de ceUcs qunn nppelle a>oiui'1 [nu rmt' dccs noires] ; cla'jlies par U KItalif Mtmoun , pour mctiircr les élofet , let bati' nifW/s , et les routcs. La coiulie cst de ccnt vlnrjt ãoitjls. Notices et Extraits des Mss. T. 1. , p. 50. [/] Li prtrasange de douze mille dlieraa , ou coude'rs. Le ilheraa de qnarmte deuc doitjts. Lc floigt de sept griiins et deux neueiimes, ranges Vun ci cólc de Vaitlrr. IbiJ. p. .iS. [y] Char/iir dcgrc vaiit 25 pnrasanges ; ckaipic píirijsangc , láCliO coudecs; c/iiiryue coudf.c , i4 dniijts , et ch:ique doigt , 6 graiiis d'orge rangét et adherents les vnt niix milres (lilt. uos à dos], AI lis d'riprr.s Hérrttes [Eratosthfnes?] ijili mesiirt crtte circmférencc clle serail de jti.l^UO millcs ou de li 'W^ p fnirasaiv/rs , ce iji:i rquieaut ò 1710 milles. T. 1., p. Si».' 192 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Este covado leni três aschbar ou palmos ; cada aschbar tem 12 dedos: Cada dedo tem 5 schaira , ou grãos de cevada, postos lium ao lado do outro ; E cada schaira tem G pólos de macho [A]. Abullliaer Mohamíid Ben Abdelaziz, Ben Joseph Almo- radi, ScvHhano, vulr/h Ebn Algiab, que no 6/ sccuío da He- jS^ira escfeveo Analccta Gcomclrica supejficierum [i] , c que he o Anonynio de Golio [A] , diz n'liuni passo , qne es- te transcroveo e traduzio , o see:uiiitc t.-Aquelle covado clia- j> ma-se Haxomio , o lambem real, porque foi eslabelecido "no tempo dos Persas, o assim denominado em raziío do seu ?> Rei. Chama-se, por tanto Haxcraio, porque os Chefes dos » Haxemidas , de pia memoria, o empregarão na Geodesia , ■j e por isso lhe derão este nome. " Este covado vale covado e terça de mão justa fsegun- ;> ih lhe chamão). >■> O covado de mão contem seis punhos , ou palmos : í> Cada ]>almo 4 dedos , a saber , o index , o do meio _. o » ammlar , c o auricular , o que vem a fazer 24 dedos : !■> Cada dedo he igual a 6 grãos de cevada unidos no «sentido da sua largura: e cada grão de cevada he igual a >» 6 sedas (cahello (VanhnalJ. » Por este modo terá o covado Haxcmio oito palmos , » ou 32 dedos. ••) O covado negro he aqu(>lle por que se medem na Ci- 5) dade da paz, Bagdad, os tecidos de linho mais finos, <í as ;> niítrcadorias preciosas.... Chamou-se Negro, porque do » lodos Ds covados por onde se media na presença de Alma- jimon/de gloriosa memoria, não havia nenhum maior do jjque o de hum Negro, seu escravo; e por isso o Inipera- " dor mandou que se usasse delle , e tem G palmos e Ires jidedos, isto he , 27 dedos <>= [/]. [/i] La circonfcrancc de la Terre cst ile ccnt qiintrnnn^t millc staílcs, r/iii íont, Jit il (Ibii al-Wãrli), cíji^í qxiatrc millc milles, ou hnlt millc parasanç/rf ■ la pn- rasannr. clnnl dr Irois milles. Lc inille rst de trois millc dlieraa ou couiUcs vicli- kécrtncs, cest à dire royales. Cctíc coiuUe cst de tfnis :isclibar ou palnies; c/ia- qur .isclibar cst de douzr. doiíjts. Cliaque doirjt est de clnq scliaira ou ijrains d' orne placcs l'un à cõtê de lautre ; et c/inque schaira cst de six poils de mulet. Notices et Extraits des Mss. T. 1., p. i.u [('] Caíiri , Bibliothecn Escurlalcnsis T. 1., p. 565. [k] Ediíào de Alfrai;aiio. ,\mstelodaini IGôS, p. 7» d.is Notas. '[/J Culiitus quidcm ille Ilaxcmius dicilur ; atquc eliam Kcr/iim, quia tcmporc J/ DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 193 Notarei em 1." lugar: qiic — -mílo justa»— qiiGf diaor— " mão rcíçular , mão ordinária, o comiiuim das mSos. — ^ J'í III, iJ rst dUjilns XXflI. Golio . I. c. p. 74. [m] I. c. , [). SG6. --- = -_ [n] V. Golio, uai palavra; £,i, e «^i^. {6\ 1. c. . p. S6S. 2.' SERll!. T. I. P. II. Bb )94 ME3IORIAS DA ACADEMIA REAL uiQnçQrctio comi todo sobrt^ o valor do dodo , e iodos con- ') vem em dizer qne o dedo ]ie o espaço que occupariíto O » gríios de cevada de grandeza media, e postos hum junto t no outro. -j;ii ») A ditVerenca que existe a respeito do covaJo he real; "pórquíí os an(ii;os fazem o co\a(lo de 32 dedos, e os nio- íjftiprnoá somente de 24; por consequência o corado dos an-? » ti^òs tfSm mais oito dedos do quo o dos modernos. .» Quanto á milha, a dos antigos lie de 3:000 covados, >Vè a dos modernos de 4:000; mas esta differença he unica- » meitte nominal , e tanto hunia como outra , posto quo di- »i'Versas no numero de covados, tem hum valor idêntico, "pòrquo em aittbos ossystemas a milha contêm '.(6:000 tledos. »0s antigos e os modernos concordão em dar áparasan- >íÇa três milhas. Se em lugar de milhas se contar por cova- rdes, hav(^r.í huma dlflerenca nominal. l'olo calcido dos an- "tiííos seria a parasanga de 9:000 covados, e de 12:000 co- jjvados, segundo os modernos; mas por ambos os cálculos «Se obtém a somma total de 280:000 dedos [/?]. No te.xto árabe vem huns versos que cojitem o se- guinte : )) A posta compõe-se de 4 parasangas , e a parasanga de » três milhas. » A milha compõe-se de mil braças , e a braça de qua- >> tro covados. (")<] Lts anciens et hsmndcrncs diffircnt íç/alcment sur lavatcur que Von doit ilotmcr à l'í coitdée , au mille et à la parusanj/c. lis s'accordeiit nammoins sur la talrur du doújt , et ils xc réunisseiit Imis à diri- , (/"c Ir, duirjl cst V espace quoc- cuper^/eitt slr qrnins d'rirf)c de (jrandeur mni/erme et pnscs Vun cmitre 1'anlre. Ln d'iférénee qtii existe pnur la eumléc esl une diff,'rcnce rcellc , ear les an- ciens fn-nt~la comlée de trcnte-dcuz doiíjls . landis qne c/irz les modernes elle csí setdmi'-ní de vinr/t-qttalre. La coudéc chez les aiKieHS a dtmc hitit Jnlgls de plua que eh "^ les modernes. Qnint na mille, il est , chez les anciens, de tmis mille cmdées , et cites les mndernes dr qvntre mille. Mais cilte différence cst sexdemcnt nominale , et le miiU, chez les uns et l&s aulres , bicn que dlJjVrcnt pour le nnmljre des cou- dées.it toiíjours une r.aleur idcntiepie. l'lU rffet , d,ms Vun, et dans Vautre sys- tfme, le mille renfermc qnalre-vÍ3i;/l-seir.e mille dviijls. ■' Les a:le:ent et les nioderites saecnriUnt à donner à la parasunqe trois mil- les: >Slí nu lieu de males nn cnmpfe par cumlces, il siirvicnt une diffi'rence no- minale. En effel , d'aprh h caicid dcs anciens. la {larasanejc aroit de neiíf mil- le eoud,'cs, et de douze mille coudócs d'aprcs les mndernes. Mais d'nprcs ftin et laulre ctdeui on arr\r>e ò. la sommc lotaU de dcux eenls qmlrc-einrjt-liuit mille doiejts. Traducçào de Mi. Kcinaud , i>. 17. DAS SCIENCIAS DK LISBOA. 195 » O covado tem 24 dedos , e o dedo compAe-se : » Dn s cousa que iiao ailinitto contrailicçilo [7]. A pesar d.Vbiiiréila aOirinar que o.s antigos e os moder- nos todos convém em dizer que o dedo he o espaço que oc- cu|)ari;io G grãos de cevada de grandeza media, po.stos lium jiiiilo ao outro ; com tudo vè-.se |)elos passos dos Aiitliores Árabes traiiscriptos que esta asserção está bera iojige da ver- dade ; porque ]Mas'i'ulí dá ao dedo 7 gnlos e j Kdrisi 6 tlitos Ibii al-Wardi õ ditos ; c cada grão 6 p(Mos dé macho Ebn Algiab C dito.»? , e casla grão G cabellos de besta. E o mesmo Abulfr-da cita Iiiimà aullioridade contra prc- íhicaitcm , porque os versos que transcreve dizem, que o de- do SC compõe de 7 grãos ^ postos hum no pc do outro ^ qtic o grão cquimilc n 7 ptíus de macho ; e ([uc isto he cousa que não admitle contradicçáo. Temos por tanto que de cinco Escri-" piores que j)reccdôrào Abuiféda só dous, Edrisi c Algiab j dio ao dedo a extensão de 6 grãos de cevada, postos hum ao lado do outro, e os outros três diíTerem lodos entre si. O jiriíiiciro elemei.to das medidas Árabes lie a largura do crão de cevada, e consequentemente he este o que pode servir de unidade e termo de comparação para todas as ou- tras medidas , porque a correspondência do grão de cevada a certo numero de pèlos de macho, de cavaijo, ou de ca- m(Mo [/■] , só a trazem três dos I']s:crij)tores citados, e com di- v(!rsidade ; e não tem equivalente nas medidas Romanas. •Sem fazer reflexões sobro a ])ouca exaccão deste ele- mento , porque sào obvias j e concedendo que a milha usual [?) ^olci la truiUtcíion de ctnq ccrs ara^/cs inseres à In t'tiae 640 de i'èdi' tion Jn tcrtc : La poste SC compose de gnatre pnrasanrjts . ti la parasanrie de Ivis mtllet. Ijc mille SC compose de millc hrasscs , cl la Itrasse de nunire coudécs. Lici coudée est de viiufl-. O pasiO transir. ptd \rm a )>. LXXXVJI. [u-Ji KílutioHí Ue i Jitji/plí- par Abd-Allatif, p. iXi , iiotd (li). loa MEMORIAS DA ACADEMIA REAL NOTA — I — , p. 138, nula (358). Sobre as opiniões dos an1i(/os acerca da possibilidade da navegação do Oceano Atlântico. Os antigos liverão diflcrpiiles opiniões acerca da possi- bilidade da iiavei^ação do Oceano AllanUco. 1 ° Séneca linha para si que, em muito poucos dias, cora A'ciito favorável, se podia ir da Hespanha :'i índia [a]. 2.' Outros julgarão que só a grandeza e a solidão do Oceano he que embaraçava poder navegar-se da Hespanha até á Ilidia. Assim o pensarão Eratostlienes , e Strabo \_h]. 3." A outros infundia o Oceano Atlântico huma espécie d'horror sagrado; porque acreditavào que o sol, quando se punha e entrava nelle , fazia hum ruido semelhante ao que ])roduz a agua, meltendo-se-lhe dentro hum ferro em braza. Cleomedes attribue aos Iberos esta opinião \c] , o que parece confirmar-se por Possidonio que refere j e combate o dito do vulgo que afiirmava ser o sol, nas praias cio Oceano adjacentes .í Hespaidia , maior ,. quando se punha ; e que o mar fazia hum estrondo e sibilava , quasi do mesmo modo que mergulhando-se n'agoa Jium ferro cm braza, como se o sol se apagasse cahindo no fundo delle [í/J. [ij] Qnanliim enini est , (jiiod ni iiUlmis lllcrilus JJhpaniac usquc ad In- fios jncct ? Paitclssimorum dieriim spriliuin ^ si nfmcm suas vcníiis implrrit, N5eíaç (íç Tr,t ho'txv:i' eiià TCL' âuToí; wa^jt?.^í:Aúi/ =. Em StlilljO , L. 1., p. llá, T. 1. Strabo := OaXaTlj; , ixxy.íTí 9r?iMí6tx» Sv?a{Áí*n , íi» to ^/yíôo) y.cct rí)»- i^,[^'tet'i :=. L. 2., p. 17.S do T.l. [í-'] A>.?.À V-p f*t6a^iw yfaúoií wií Tsuaç , wç ttãt Ip^pw» iVrofo^i-Tw» , í^wíirroiTct Tcr icXKr Ttf (írxiaitj. 4^0^^" tfÀ.f:onTii ff^itivy.iH)!' t úç olccTrvoou 0'ia>;fov , È* t/uccTi, CleoJncdls Joclriíiae de ,iii/jlimil,us , LUri dun. ISil. de iial.e, Lui;d. Bat. 1820, p. 109. \d\ Aíytit vào o>j priçt rloíEioí^vioç Tol/ç ffo?,^ouç fitíÇaí oCiti» toi» íjAior Èv tí 'jraeuKíaf^TiM fiiTa •\fopov . Tfa^ctv^ítiffutii uía>íí ^'i^ovTOf , 7iv ilí?^áyoi^ Ktxrà c^sitt ai-Tiv út» to í/>(riVrfi« T>AS SCIENCIAS DE LISBOA. 199 Esta opini/lo he analoça á de Epicuro , quo cntoiídia que o sol se apagava, quando se jxinha ; c seaccendia, quan- do nascia [e]. VUno coii(a o horror que causava a viâla do sol, afun- dando-se no Oceano [/] ; a isto parece lainhom reporlar-sc Avieno [17] ; e á opinião atlribuida aos Ihcros allmleni \'ir- íjilio , Séneca trajico , Valcrij Flacco , Juvenal, Stacio , e Ausonio [/«]. •>( TÒ« í3u9ó». Posiihitli lUtodit lUlitjuiae doctriítac, lid. de Bakc, Lugi. Bat, 1810, 11. C). A palavra iri^-inni traz á lembrança, por onomatopeia , o chiar do ferro ar- ileiítt; ineríjulliaili) ira!,'oa , quu tem liiima espncie de soijo sibilante. [t] At^7í,>Ml xal ^C;(tí h^hou Hat ffty-rirnç v.ai TÍJt Aoitãív ãçrrvr ka) ^ctrí ãtta^t' yíiií&at ^y»xiT:íi kxI ií»rà a^hif , ToifltvTíjf túffrií yifiçráíriatfí , Pltysicd et Mcteorolo' rfi-i , Epistolii aj Pi/lliocUm , p. 3 1 , § 10 da ed. de Sehncirier , Lipsiac 1813. V. a nota p. 108. [/] Peraijralo cicíor Ocenni littore CDecimus BrutUa) , non /iriiis tigna con- vertit, fjtiam cvlcntcin in maria soícin^ obrutuinquc aauis ignctn^ non sine quotlatn sacrilcijii metu et horrorc ?^ò> , r.cu (pixoí, = ed. dc Klausen p. 248. í*lutarcho =: v 7r*?>.òç aVovíjç , ^ Xtvòiy.òí/ xftíoí , n ■jrsAayo^- «ETTíiyóç. = Tlieseo , ed. de Bryan, Lond. 1729', T. 1.: p. 1. V. as notas a p. C2. He notável que Bryan , pondo no texto xfia^ (gelo) , conservasse na traduc- ção latina jHya (montes, oiteiros). Jornandes = Oceani vero intransmcnhilis ulteriores fines , non soliim non dcscribcrc quis aijijressns est , «mm ctiam nec cuiquam licuit traiisfrelare : quia resistente uha , et venlorum spiramine. qiiiescentc, iinpermeahiles esse seiítitintur , et nulli coqniti, nisi soli ci, qui cos cnnstitnit. De rebus Geticis, cap. 1., que veiíi com Cassiodoro na ed. de Garet, Hotom.igi lfl7fl, T. 1., p. S97. Ideler, nos coramentarios aos Livros Meteorológicos de Aristóteles, Lipsiae 18S4, T. 1., p. 505 , diz que nunca vio citado este passo de .lornandes:^ Unius addftm , qune nusqn/im hanc in rem vidi e.reitulei , verba Jornandes = ; porém Beckuiann o transcreveo na sua eiliç.io do Livro == De MiralHibus Jusadla- tionibus , attribuido a Aristóteles, Gottingae 1736, p. 2U7 , tirando-o, como DAS SCIE\CIAS DE LISBOA. 2Dl Da qiialiilatle lodosa do mar , alem das columnas , se lembra ArisLoleles [m] : e de snr cheio d'alffa e j)!anlas ma- riliinas fazem incnç3o Theopliraslo , e o Aulhor do Livro = De Mlralnlilms Ansculldlionilms = [«]. Malle liiuii atlriliue taiiiUem a Heródoto a opiriiiio de se iiâo poder Iraiisilar pelo Oceano , por causa das plantas inarilimas do 1'ersa Sataspes, que, querendo rodear a Africa, foi im- j> pedido pelas liervas lluctuantes , nas visinlianças das Cana- )7 rias , mas etc.^'> [oj ; poriam Herudulo nào falia em her- vas flnclnanles , nem nas Canárias; diz simplesmente que = i< Sataspes dava como causa de não ter feito inteiramente a » cirnimnavegação da Africa, nriío poder o seu navio cami- "nliar mais por diante, porque foi retido = ') [p\; sem de- clarar qual foi o motivo que reteve o navio de Sataspes, nem onde elle deixou de poder naveerar. 6.* Outros assenl;ír;io que o Odeano tinha huma espécie d'immobilidade , c que n;Ío podia rompcr-se por causa do lodo, já apontada na opinião 4.'; p(;la carência de ventos, já supposta por Jornandes ; e por diversas outras circunstan- cias, Como H^^uras terríveis; cousas portentosas: luz confusa, f)ela írriínde escuridade ; nenhum meio de caminhar por elle, por falta de estrelias que servissem de guia, ou por iião se- Ideler, de Muratori, Rerum Ttalicarum Scriptores , T. 1., p. 191. Mr. de tíum- boldt , no J.vol. do seu Eramen critique de l' Uíatoirc de la Clcnqraphie du Nou- vcaii Conlincnl , p. 97 (nota), copiou o pasiO de Jornande», iitaudo Idclcr, e Beckmann. [in] Tò. ^'í^tí aTri\iJr ^f»;^!oe fMf ^si ròf «rijWr , íwFio» i''»ff7it it tf x«í^AI Trí 6aX)ç oiíirní. Mctorolorjicnruin , L. 2., cap. 1., '^ 14, p. 65 do T. I. da ed. de Meler, [ii] Tlieupliraíito = yl»irai í! i» lut t5 í|a t_5 vtft H^xXaúti a-ntjtt 6«ií/í«çt5f ti TÒ ftiy«9os àíí ^etíT» , xatí to wxároí /Air^of í 'tfiiXa*^Ti«t"'i». Jiiat. Plartt. L. 4. , ed. de Sdineider, Lipsiae 1818. T. I.. p. l.SS. ■V ^s TJrt e|«i T^q Vi;} 'H^cKAfíâc; ffríiXuí ró ti 'irpápr , «(Vip iifvtat , (^t'iTai. Ibid. p. lU. ' J)e Mirahilihus ÀuscuUationthus = Aiyoi/a» , Toiç ■t>(>í»«a,- Toij :atT9ixeDn'>{ ri 9Pacayitt:TÒan it; Tl»a( TÓirúv; ifVf*9tfÇ &fvan K«i Çí/ZiVí irXigiii;, = p. SOi da cd. de Be- ckmanii, [o] les Cartazinois ont non-seuUment appi'is à Hcroita. marinis Jam Hon felici Umiantlos sorte relinqui. De Naeifjalinnc licrmanici per Oceanum scplcnlrionalem, Poetae Latini Mino* teá, ed. de Wemsdorl', T. -t , p. 229 e seguintes. [*] Sic nulla late Jlafjra prnpcilunt ratem t Sii- seijnis humor aequoria piíjri stupil. yídticit et illad , plufimnm inter r/urr/itet E'slare fucum, et snepe eirrjuiti vice Retinefe puppim . dicit liic ni/tilominus , Aon in prnfundum terga demitti mrtris , Pnrcoqae aquarum cix supertexi solam: OOire scm/jcr huc et hic ponti feras, haviyia lenta et lanrjuide repinlia Internalarc belluas. Ora maritima, v. lio a 1:29, p. 1187 do T. 5.; P. S. da ed. de 'Wefnsdorfc porro in occiduam plagam Ah liis columnis (as d'Herciiles) rjurgitem esse intermtnum. Late patcre pelayus, extendi salum, Himilco trajlt , nullus haec adiit freta , Nullus carinas acquor illud intulit , Dcsint qWMÍ alto flahra propellentia , NuUusque puppim spiritus coeli jucet • Dcliinc quod nethram qwidam amlctu cestiat Callgo, semprr ncbula conilat yurt/item. Et crassiore nubilum prestei die. Oceanus iste est , orbis effusi procul Crcumiatrator, iste pontas mtuimus. Ibid. V. 380 a Í91 , p. 1234. tíunc usus nlim dixit Oceanum netas, Alterque dirit mos Atlanticum maré. Longo rxplicatar gurges hujus ambitu, Prodaciturque latere proliee eago. Plcramque porro ténue lenditur salum, Ut cix arenas subjacentes occulat. Etsuperat autem gurgitem fucus frequens, Atqae impeditur acstus hic uligine: yis belluarum pelagus omne intcrnatat, Multusque terror ci feris habitat freta. Ibid. V. 40» a 411 , p. HS7. [t] Ercursus II ad Aoieni Ora marilima, p. 14SS e seguintes do T. 5. , P. í, dos Poetae Latini Minores, Cc a 204 MEaiORIAS DA ACADEMIA REAL No que fica exposto apparece claramoiile o oslofn don- de se corUírào as tratli('ões sobre o mar tenebroso , que os Árabes recamarão de fabulas suas. ! DAS SCIEXCIAS DE LISBOA. eos DOCUMENTOS. DOCUMENTO i\/ I* Inslmmcnto , f/«« tirou Pedro ^ffonso em seu nome. , e como procurador de Marlim Loiírotço da Cunha e out7-ns , aos quaes forão entrcrjtirs por Elltei D. Jljfonso de Portii(/al os Caxlellos de Filia Fiçoza , Sortelha , Sclorico , Penamacor , Caslcllo Mendo , c Monte mor o novo , pnra oa- terem em fi- delidade ; ate' se cumprirem os priríos e i>ostnras , que havia entre o dito Rei , e o de Cnstclla D. Jlfonso^ em que se acha um Instrumento do dito Rei de Porluyal , em que requeria aos sobreditos , que lhe entrer/assem os ditos Castetlos , pot quanto El Rei de Caslella qnchranlnra os ditos pactos . ele, Em Coimbra a 1 1 deJu)iho da Era de 1376 (anno de 1338^- (Torr. do Ti)nib. Ciavi 18, in. i, n. 24^) En Nomo <1e deus Aincn. Sabliam iodos como na Erá de mil (■ trezentos e setoenta e seis Anos convém assabeí Onze (lias llo nos teneinos 011 arrehenea pêra ser guardados pleitos e posturas c abenencias c firme- dumbres que fuerom fechos c firmados entre el miiv alto e muy Nolile seTior Dom AltVoíiso Key do jiortoa-al e dei Al- garbe e el muy «tio e miiclio Noble aefior Dom AllVonso Rey de castiella fazemos e ordenamos e estabrcscemos por nues- tro cierto |)rocurador liiíitimo e Abondoso como mas conpli- damiente puede ser e mas valer ppdro alffonso alcayde dei castiello d(! villa viciosa pêra dezer ai dicho schor Rev de Casliella alfruenta que nos lizo el dicho seflor Rey de For- loi;'al dizi;iido (jue el enlrei;asemos el dicho castiello porque dizia que el dicho seílor Rey lie Casliella le ([uebranlara los pleitos posturas abenencias (jue con el avya porque el dicho castiello era puesto cn Arrehenes como dicho es fazicndo contra el gerras los quales som contenidos en un escripto dei qiioal le enbiatuos mostrar el Iraslado por <•! dicho nues- tro procurador ai didio seàor Rev de f^aslidla fecho e si- gnado per mano de lorenço inartines tabaliom general en loa Keguos de portui^al e «lei Alyarbe Et damos coniplido po- der ai dicho nuestro procurador pf>ra poiler pedir rrespuesta dei dicho escripto ai dicho senor Rey de castiella pêra ser nos cierto de lo que sobresto dixier Et prometemos a aver por tinne e j>or estable pêra siciipre todas las cosas e cada nna delias que por el dicho nuestro procurador fuer dicho e procurado on las cosas de suso dichas e en cada una deliam su obli^amicato du todos uucstroij bicnes fecha cu cotiliei 208 I\IEMORIAS DA ACADEMIA REAL branco rn los palácios (!<> la onlorn postrimero dia ilo Jiilio era ile mil c Irozieiítos osoloii(a c ([iiatro Anos tesligos mar- tini rriboro vassallo delRcy Álvaro martins e lopo pcres oy- dor tU'1 dicho inaestre vaasco gil su escrivani hiscardo vas- sallo dei Rey e otros Et yo niarlini .lordain tabalioni dcdlloy ou Castiel blanco que por mandado d(d diclio macslro esta prociiracion escrevy e mio signal aqui iiz que lai es. » Se- pan quantos esta procuraciou vieren como yo Gonçalo car- vallaes alcaide dei castiello de monte mayor cl novo , el qual casliello yo tenffo en arrelienes pcra ser guardados pleitos e posturas o abcnencias e firmedumbros que Inerom fechas e lirmadas entre cl uiuy alio c niuy Noble seíior Dom Altlbnsso por la gracia de dios Rey de rortog;al e dei Algar- be e el nuiy Noble Rey de Castiella ía^o e liordeno o esta- blesco por mio cierto procurador ligitimo e abondosso com» mays conpliilamientc puede ser e mas valer Pedro alíVonso alcaide dei castiello de villa viciosa pêra dezer ai dicho se- íior Rey de Castiella aflruonta que me fizo cl dicho scíior Rey de Portogal diziendo que el entregase el dicho castiello porque dezia que el dicho senor Rey de Castiella le que- blantara los ])leitos posturas e abenencias que con el avya porque el dicho castiello era puesto en arrehenes como di- cho es faziendo contra cl gerras los quales som contenidos en un escripto dei qual escripto enbio onde mostrar el tras- lado por el dicho mio procurador a el dicho scnor Rey ác Castiella fecho e firmado jjor lorenço martinos tabalioni ge- neral en los Regnos de l'ortogal e dei Algarbe Et do con- plido poder ai dtcho mio procurador |iera poder pedir Res- puesta dei dicho escripto ai dicho sefior Rey de Castiella pêra ser yo certo de lo que sobresto dixier , E prometo a aver por firme e estable pêra sienpre todas las cosas e ca- da una delias que por el dicho mio procurador fuer dicho e procurado en las cosas sobredichas e en catia una delias so obiiuamiento de todos mios bicnes fecha en Strenios en los palácios dei dicho senor Rey vyente e hun dia de Júlio Era de miei e írezientos e setenta e quatro Anos tcstigos 4opo feriiandes senor de ferreira Ruy garcia de casal Pedro dosem AlHonso estevam Et yo lorenço martines tabalioni general que esta procuracion a Ruego dei dicho gonçalo carvallaes escrevi e en el mio signal puse que tal es en lestimonio de verdade las quales cartas de procuraciones leidas el dicho Pedro alflonso mostro ai dicho Rey un es- DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 209 trumento escripto en pergatnino que parescia ser sin^iiado dei signo de loronr.o martines tabalion ijeneral cn el Re- Cfno de Portogal el tenr dei quoal es esto que se sie;c "Se- pan quantos este Gstionienlo vierem como en la Era de mil e tnízieiítos e .S(>tenta e quatro Anos (liez e sois dias de Jdlio en la villa de estremos en los palácios d''l muy Alto e muy Noble scftor Dom AIIFonso por la gracia de dios Rey de Portua;al e dol Alijarbe estando y presente cl dicho seíior Rey pressente yo lorenço martines tabalion ge- neral en los dichos sus Reinos e de los testii^os adelante escriptos presentes otrossy maftim lorenco de cunha Alcay- de dei castiello de sortolla Ruy vasqiies ribeyro alcaide dei castiello de pcfia mocor tornando alllonso do caanbra alcay- de dcl castiello de celorico e Pedro alllonso alcaide dei cas- tiello de villa viciossa el dicho senor Rey diko a los dichos Alcaydes que bien sabien ellos o (>ran riertos porque mane- ra e com cpiales condiciones tonian los dichos casliellos en arrohenes por razon de los pleitos posturas abcnencias lirnic- dunibres «juc entre el e EIRey de Castiella avya contra los quales pleitos posturas abenencias e firmedumbres dizia el dicho seiíor Rey de Portogal que el dich(j Rey de Castiella yva (! los ipudiraiilara Et por ende les pí^liaique jiues le el diclio Rey queblantara los dichos pleitos posturas e abcnen- cias que le diessem e entregassem los dichos sus casliellos. lit los dichos Alcaides le dixierom e pedierom qne les di- xiesse que gierras fuerom aquollas que le elHey de Castiella liziera ])orque dizia que lo (piebranlara lo» dichos pleitos e posturas e que ellos (jue lo verian e averian sobre ello con- sejo e farian todo aquolo que entendiessem que por sus ver- dades fuessem guardados Et entonce el dicho seíior Rey mando leer un escripto en que se contenya las dichas guer- ras, dei (jual escripto el tenor de vervo a \ iervo a tal es « Esto es lo que l']IRey de Portugal diz en que 1'IKey do Castiella le erro contra el pleito e amor que entre ellos es puesto e firmado o contra las buonas obras que le ha fechas » Primeramionte diz EIRey de Portogal que amando el ai Rey de Castiella verdaderamiente e faziendole obras de verdaile- ro amigo seyendo el de tal hedat que non avya tempo de reger la su terra nin poner en recado alsunas cosas que se hy fazian assy como en aquelo (pie recrecio entre los de ba- dalos e los de yelvas en dias delRey dom Dcnys que vyno el fecho a passo por aquelo que el y mandava fazer que los a.^SliRIE. T.I. p. n. Dd 210 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL de badajos fmcaron en tamaíio daiio que fucra assas grande e estraíio si elRey de Portugal ({iie agora es scyeiido csLon- ce Infante lo non partiera asay coma es cierto e saliido Et iion solamieníe en esto mas drpues que fue Rey en Algunas otras maneras en que recrecieron empiecos ai Rey de Cas- tiella contra la sua voluntad c contra el su estado cn la su terra mesma e dotras partes tanibicn ante de tiempo que com cl tomase aquel deudo scrialadn que y ha como on el tiempo que el deudo se junto laziendole cl Rey do Portogal aver toda la heredat que fue dei Infante dom Pedro de qiic el avya grand voluntad pcra la cuUrar e que lo compila mu- cho dando por ella canbio en portogal a dona blanca en vil- las e en logares en la mas senalada caniarca e mas Rendable que y ha , íit otrosi faziendole despues aiudas por el mar e por la terra non rocelando costa grande de seu aver e de seus uaturales que a esto embio e nim afam e vení. (A) de sus cuerpos Et otrosy enbiando elR.ey de allen mar ai Rey de Portugal sus mensegeyros de los mas ourados que en Ia sii terra avya c de que el mays liava com sus cartas e com su cierto recaudo por que lo enbiava a rogar e afincar que qui- siese con el ]de}'to e amor ajjartudamiente pêra ser el cierto que non recebiesse dei nin de los de la su terra daíio e por esto le faria scmeiable pleyto e seguramiento pêra la su ter- ra dcmas que el daria grand algo de su aver e que lo ayu- daria com ciiava mover e por qual guissa assy como el sabe Et ])orque en esto en otras cosas osturas que entrellos suni íir- madas prinKManiyenle Avyendo Kllley de Castiella a çuar- dar onrra (> estado ala Reyna assy como a ssu iniiçer se taflo en el pleito jion es |)era negar que el eatatlo que elia devya a tener en la onrra e en la pro ecn la fiança e en el inostra- niiento de su voluntad e en ijuorer el que los dela terra ca- tassem por ella e la serviessem assy como era razom e como sienpre lizieroin todos los qm; fiicrom de l)iiena veiií. (c) de todo esto es el contrario e todo es tornado allur (! non tcrria l^llley de Portogal por estrafio quando el su niancebya qui- siesse fazer con atpiela muo;er com que la el faz o con olra de lo fazer nin otrossy ternya i)ur sin razon dei fazer merceJ e biem como cabia em tal razom como esta e como fizieroin aqílcUos a que esto avino uias de qual ijissa esto passa e so faz fuora do razon e de inanera esto- tam estraflo es quanto ee nou puede dezir por palabra nem solamiente en fazer a la Keyna fazer tal vida e tal passada qual passa e qual es avul- gada ))or el mundo de (jue el mundo non torna receio nia verifuenga de dios nin de los omPs mas aun en el poder e en la onrra e en la fiança que muestra a aquella muger com que bivo Vá oirossy en non ossar ningund nme de pro catar por la Heyna nin servilla e estes poços que com ella bivein en- tieiíden ipie ti(Mi lo.^ cuerpos a ocasion de nuierte assv como se mostro em alj^unos a que el tiro los oíFicios que delia te- nian e la desanpararon o se fueron Et los otros que la voz quisierom tener daqnella parte' en que el lien la voluntad luei;-o les mostro fiança e inercpíj e los trvvo p tien por siivos pêro que l''IRey de l'or(og-al es cicrto que aqnestos mesmos que esta bos aurora (ienen niascomplir a el volunlad e pop fazer su pro en lo de liieo qne por lo entender por razon que estos mesmos razonan entre sy e dizen en otras partes que es contra dios e contra razon recelando que de dins o dElRey mesmo o de all.ir les ha de venir darto por como es-- to passa Et veyendo al:;iinas maneras eslrahns (pie ha liem-' po que passaroin e sabieiído atras que estodierom en passo de se fazer de las quales fuerom e som miichas non som pê- ra callar estas que se diran. « Sabyda cosa es qne sevendo EIRey de Castiella en burs^os este dia de santiairo que aj^o- ra vyen avra quatro nuos e faziendo festa de su coronaciort (c^ veuluia. Dd 2 212 MEIVIORIAS DA ACADEMIA REAL fue fablado o acertado tlc coronar consigo leonor imncs o dei Ja tomar por inuger estando esto cn punto cierío porá se la- zer assy quÍBo dios que sovo estoncc a saber romo la Kovna era prcíiada e ])or esto ovieroni razoni aqiieilos bonos (iiie se estonce y accrtaroni do |)artir es(o fcclio peru que sabyJo es que desto fue estonce e es fama publica Et pcra se noa poder negar que non fue assy cierto es qnc vestido estava ElRey pêra se coronar e la Reyna non sabyn da(|urllo es- tando leonor ai cercado Et nou solaniicule fue esto sabido en c 'Sliella mas bieu aca en Portugal e en las otras parles assy lo ovyeroni por cierto Et olrossy ai tien)j)o que f-c acer- to en toro niuerte dei Infante dom fernom bu fijo dclRey de Castiella e de la Reyna dona maria su muger de la venydá a uu su fijo e d« letínor nunes E otrossy tomando a los ornes bonos de la terra e a los prelado» los lugares de las vlllas que liam e ovieroni sienpn? exenía- miente de que los fuerça e dessereda e lodo es com volun- tad que muestra j)era herdar e a|>or e sus fijos e en baxamiiçnto dei estado de la Reyjia e on dereda- niiento e desapoderamieuto dei Infante su fijo F^otro ssy en- de eubiava a la Corte cometer de avcr despensa<',ion de le- gitimacion pêra los fijos e qual «sta raeom es e quam «lesva- riada los oaies lu pueden entender Et {wr esto non ha agora por que se mas declare Et otrosísy en aquelo que agora fn* a Dom Johan fijo dei Infante dom mauiitl puniendo ie toi va e enbargo en la veni(hi que a\ya de fazer com doiía Costau- ça su íija que avya de aduzir pêra fecho de casaffliento dcl DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 213 IITantc Dom Pedro fijo delRey de Porlot;al Et otrossy en hir cercar a Dom Johati nunos acienfe por (luo sabya turas (pie ciilie eilos lia. El qual scripto asy mostrado e leydo los .sol)rediclios Alcaydcs j)edieroui ende el traslado pêra lo ver e aver sobrei conseia como dicho es Et cl dicho seuor Rey golo mando dar fecho en la ilicha lira mes e dya e logar sobredichos t(!stigos Dom Johaii loj)e fcrnaiídes scnor de ferreira Roy garcia de casai estevam da guarda AlIVoíiso stcves e oiros Et yo lorenço niartines tabalion sobrodicho que a estas cosas de suso di- chas com los dichos testemonios pres(Mite fuy e este stor- iiiento ])or mandado dei dicho scíior Rey com uiy maiio scre- vy e nel pusy mio signal que tal he eu testinioinho de ver- dad. Et el dicho lustroiuento leydo cl sobredicho senor Rey de Castiella e de leom mostro e fizo leer por mi el dicho no- tário uii scripto de resj)uesta el tenor dei qual es este que se sigue «Esto es lo que ElRey de Castiella diz a las cosas que ElRey de Portogal enbio dezir por sii cscrijjto a martiu lorezico de Cunha alcaide dei castiello de sortella e fernaiido- so de caanbra alcaide de celorico e Roy vasquez ribeyro al- cayde dei castiello de pena mocor e a Dom frey estevam gonçales maestre.de la ca\ aliaria de la ordem de Jhesu chri- sto alcayde dei castiello de caslicl mondo e gonçalo carvala- les alcayde dei castiello de monte mayor el novo e Pedro al- ffonso alcavde dei castiello de villa viciosa eu tpie dis que el fue cl Rey contra ei pleito e amor que entre ellos era pues- to e contra las bonas obras que el dis que el fizo e le a fe- chas » A lo que diz de lo que fizo por la conlienda que era entre lios de badajos e los de yelvas quand" ElKey de Cas- tiella era menor de hidat vcrdat fue qur. el que fizo hy bien pêro el fazya lo aguisado ca lales eran los deudos qut^ deso mio avyan que por dos conseios de cada unos dt.llos iíegnos Bcr entre sy de |)arados e aver contieiída sobre sus términos avya razon de lo asesegar ante que |)or cl yerro delos dexar crecer entre los regnos tlcj)arainienio e mal. A lo que diz en razon de la heredat que fue dol Inlanie dom Pedro biea sabe el Rey de Portogal que en las ])osturas que enlrellos anbos fuerom en tienipo que niovierom el casamiento de do- na blanca e dei Infante Dom Pedro su fijo que ElRey de Castiella querieudo la heredat que dona blanca avya en su DAS SCIENCIAS DE LISROA. 213 seRorlo que ElRey de Porlogal fiifse tciiiilo dn dar a duna blarica pues yva casar cori p1 Iiifanlo Dom Pedro su fijo ca- mio de heredaL eu Portog^al eiide entreira da ciento c médio que avya a dar Al Key de Castiella en casamienio com la Reyna su líja FA. de tal obra como esta e desta guisa fecha toilo home la faria a otro |)ues era poslura e devida como era esta. A lo qne diz de las aiudas que el fizo por mar e por terra verdat fue qne el cjibio galeas por mar el aiinp <|ue l'jlHey c[ano la vilia de olvcra e otros trcs castiellos de moros Et estando el su almirante e ellos esperando la flota delRey de alem mar (jihí avya de venyr :í pelear com eiios el su Almirante e los que venian com ellos sus galeaa fuerom se deiid«! e non los (juisierom atender l^t lu(>go otro dya (d almirante dellíey de Casiieila e com la su ílota que tenya peleo com los moros de la flota delRey de allen mar e loaorque es ElRcy de Castiella uquel de que mayor ayuda podya vcnir a mayor daiio que de otro mas nunca la com el quiso aver lít quanto en estas cosas sobredichas fjuando bicn lucre calado mayor |jro e guarda lizo EIRey de Portogal assy que el Rey de Castiella en el- lo porque sabe el e lodo el iiunido que a cada unos des- tes fechos poderá EIRey de Castiella dar salyda e cônscio com la merce|d de dios, A Io que diz que el fue contra las posturas que entrellos som puestas primeramicnte en que tliz que pusiera guardar onrra e estado a la Reyna assy co- mo a su mugcr e desto que era el contrario por muchas maneras que ali cuenta en su escripto A esto diz EIRey de Castiella que el contrario desto es la verdat ca el guar- do e guarda muy bien e complidamiente estado e onrra de Ia Reyna primeramiente en que el dio muchas bonas villas é nuichos bonos castiellos e muchas bonas rentas en que se mantoviesse muy onrradamiente e mucho abondadamien- te como lo faz que nunca tanto ovo Reyna cn Castiella fas- ta el dya de oy nin Reyna dona maria su avuela que ovo muy grand logar e muy grand poder en la casa de Castiel- la c fi/.o miichos mereciniientos e bonos pêra ela ser mu- cho hcrodada cn castiella lo primero por ser mug<'r delHcy dom .Sancho con que Iç a ella fue muy bicn. Et despucs por criança que fizo en el Rey dom lennon su padre e grand afam e grand coidando que passo por el ende los sus mcesteres. Et otrossy en la su criança dclRcy mesmo e por le guardar su terra e su estado nunca tanto pudo aver de heredat nin om Sancho su fijo. A lo quo diz que ElRey t^e Castiella que toma a los ornes bonos de la terra e a los prelados las villas e los castiellos que au e ovierom sienpre exiehtamien- te por fucrça e los desereda A esto diz ElRey de castiella que ol non desereda a orne bono de su terra nim a prelado liim a otro niiiguno nim poderá ninguno dei eu seuorio que- rellar esto nim lo dezir otro ninguno que com vcrdat fuesse. Ca esto que ElRey de Portogal dize es mas com voluntad de. lo assacar e a poner mala fama por acarretar le dano sy el pudicsse. De mas de lo que ElRey de castiella feziesse eu ell su Regno avya muy poço ElRey de Portogal de fablar en ello que sy ElRey de Castiella fablaíse que era razon de reprchender un Rey a otro de loque faze en su Regno quan- do a esto quisicse tornar bien fablaria en que el rej)rendo ende lo que él lizicra contra algunos de su linaje non a mu- cho tenpo. A lo que diz de lo que ElRey de castiella faze a Dom Johan fiJo dei InHinte Dom manuol e a dom Johan nu- nes en que diz que puso onbargo a dona Costança su fija que la non levasse a Portogal pêra casar com el Infante dom Pedro su lijo Et otrossy que puso enbargo a dom Johan nu- nes que avya de yr a las bodas porá fazer gervicio ai Rey de Portogal cuyo vassallo diz que es. A esto diz ElRey de Cas- tiella que esto es e| contrario de la verdat que quando dom Johan rijo dei Infante dom manuel le eiibio dezir que la que- ria levar a su lija pêra la casar a Portugal e que el mandasse por qu^l parte la levatsc , elRey que el respondio qne el piazia que la levasse e poro el quisiese Et en la levada delia DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 219 nol puso el enbargo nim gelo mando poner Et si dize que j)or la estada que esludieroni los maestros en su terra cabo Porlog-rd qi;e ante que lucsse lablado el casamionto com ElRcy de castie- la avya ia JílRey doxada iija do dom Johan e era coiítra el A esto diz jCiKoy de Cas(.if;lla que ante fue fahlado el casa- iiiieiífo de su tija com líllley de castieila que lo de la Iija de dom Joiíaii que bieii sabe cl qu(> a la reina dona maria su avueia fue cometido Et ai Infaute dom felipe e a dom Johan fijo dei Infante dom Johan (pie eram sus tutores despues que fino la Reyna dona maria Et que sobre esto se vio la reyiia ilona beatris com el Infante di>m felipe en yelves e quo a el mesmo fue eni>iado dezir estando en valladolid seyendo me- nor de liidat Et que sobe muy bien elHey tle Portogal que era ])leites desto pêro rodrygues de villiey;as Et dospues que Alvar nunes ovo de ver su fazienda porque fallo que este pleito andava afincado Et por alincamicnto que le dello fue fecho da parte de Portogal corno ElRey e la Reyna sabem le conseio dexar fqa de dom Johan Et |)orque la dexo dou Johan espediosse dei e lizol Ejuerra Et el ovo a ser conlra el e cercar le los sus loi;;ares Et quando el casam iento delRey dom la reyna iija delitey de Portogal se ovo a firmar el Rcy de Poríogal saco ende grand pro e onrra como el sabe en las posturas que de coiisuuo ovicrom segunile las nianeras que aule desto cntrellos avya l",t por eslas razones dizlíllley de castieila que el nou fue contra las posturas e abenencias que en uno avyan ElRey de castieila o ElHey de Portogal mas anie diz ElMey do castieila que cIRey le fue e va con- tra las |)osluras e abenencias que en uno avyan por mnchas razones (pie el mostrara en su ticnpo e cn su logar Et s(ína- ladamiente por algunas que todos vecn nianifu-stamente Ja una es que como ellos ovicsem posturas entressy de ser ami- gos de amigos e enemigos de henemigos que seyendo dom Johan nunes e dom Johan fijo dei Infante tiom manucl a su desservicio e trabajandose dei servir ticnpo ha ovicron falias o posturas e abenencias com l'^IHcy de Portogal contra el- Rev de castieila porque parece inaniliestamcnte que por Ia bos e por Ia ayuda e por lo esfiier(;o que dei toman le des- servein asora ellos Et sabicndo <■! que el desservem ellos ra- 2ôna el por ellos e fabra en su ayuda como por este escriplo DAS SCLENCIAS DE LISBOA. 22 1 parece p por las obras que el fas mavormiento qnc- dom .lo- íiaii tiji) (li*l liiraiilo dom maniiol que molio moros eii la (erra qiic teu consigo que corrrin la terra o poiiem fuee;o en ella o quebrantam las yt;k!si;is e ias ymaíenes quo cstam ot> ci- las e faztMii olras d(!sonrras on diiiiiiosto do la lo de los chri- Bliaiios e por esto [HK^de voer e entender lodo el mundo qiiam íjraiid yerro el Hev de Porto^;d fas Et sahe muv líl- Ke\ àr 1'ortoi^al e maijilifslo es a lodos que sv dom Jolian lijo (lei Iiilaiitt! dom maniiel fiie e es a dessorvicio delRevqiie fiie por el por el deiido que l'llRey de Castiella tomo com el Rey de Portotíal por(|ue teuva id carira de siianlar eslo quando no oviesse olras pisluras enlrellos. la olra razom en que VA- Rey íle Hortr)i;;al fue e va contra las posturas o abenencias que som entrelios os que enbio Kll<(!y tie Fortojral cartas 3 las cibdades c villas dei seíiorio ilEIRey de Castiella dizieii'* do contra el inuclias cosas quo fazva las quales non som ver- dat en ((ue lo enfama por lo ])oner en nial(]uerencia de la» gfeiite.s por Ic, meter bollicio e fscandalo en la su terra, la otra razoin en que i"IK<'v de l*ortos:al va contra las j)ostura3 e ai>enencias que som eutrellos que enbio sus cartas a cada una delias villas e logares que eslaiu en tialdat j>or omenajeà por iruaniar las piv-itui-as o abenencias que som enlrellos en que les eiibiava dezir a cada unos dellos muchas razones con- tra el por le enlamar que nou era assv faziendo les entender que eram quites dei omenajo que tizieroníi por esta razom como palabras enganosas que les enbiava dezir e que nom eram a-isy como por las olras que les en esla razom enbio par(\-;cer Et assv por ostas Razones que som luca^o manilies- tas e por olras f|ue jiv a las \ illas e castiellos dei senorio delRev de Castiella som quilos «lei omenaje Et las villas a castiellos que som dei seíiorio delRey de Portoçal som tenu- díis a cuardar lo menaie quo en esta razom fezierom ai Rey d'" castiella e a tenor se com el. Desto todo en como passo el diclio Pedro alfonso por sy e eh nonbre de los diclios al- caides cuyo ])rocurador es pedio a mi Poro femandes escri- vano e notário sobredicho que í»elo diesse si^nado com mio sisrno teslii;"os que estavam presentes marlin Fernandes de perto carrero mayordomo mayor de Dom Pedro lijo delRey sarcia laso de la veija .lusticia niavor en casa delRev mavor- douio mayor do Dom Sancho tiji» delHey fernand sanches de velasco Jolian alfonso de benavides portero mayor de terra íle leon sanclio sanches de rojas bollon mayor dcIRey fer-* £22 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL nand sanclies de valladolicl iiotarvo niayor de castiella j^ar- cia lernaiules de toledo guarda delUoy feriiaiid rodriges ca- niaroro delRov gonçalo niarliims dospeiisero inayor dtMKcy iiicni lopcs jiortcro niayor do la reyiia El yo Poro lY-riiaii- des scrivam c notário solírediclio foy presente ante el di- cho senhor Rey do castiella com los teslenioiíilios sobre di- chos e por mandado dei dicho seiior c de pediínenlo dei di- cho Pedro alITonso íiz scriver este publico scripto en stc qnaderno e signelo en cada plana e ti/ aqui mio signo en tcstinionio O qual qnaderno presentado o sobredito fornam gonçalves disse que o enteudya denvyar a outros iogarcs e que porque era en papel que se temya de se perder per fogo ou jier agua ou per traça ou per eonrrompimento de mures ou doutra caion que poderya recrecer de guisa que a memoria dei noni ficaria en sa firmydoe e pedya ao dito chanceler que desse a mim dito tabelyom sa octoridade que Ihy tornasse o dito quaderno en publica forma so meu si- gna] E o dito ChanccUer visto e examinado o dito stro- mento e veendo que nom era raso nem borrado nem an- trelinhado nem en nenhuma outra parte de sy sospcyto se- gundo en el parecia deu a mim dito tabelliom sa octorida- de que Ihy tornasse o dito quaderno en publica forma so meu signaí E presentes forora Affonso migueiz Juyaão do- minauez Gonçalo vaasquez e vicente anes scrivaàes delRey e Joham perez priol dalmassa e outras testemunhas. E eu martim stevez tabelliom sobredito a esto presente fuy e de mandado e octoridade do dito Pêro dosem e a rogo do di- to fornam gonçalvez o dito quaderno en publica forma tor- ney e so cada huma lauda meu signal fiz e meu signal aqui pugi que tal he en testemoinho de verdade =^ Logar do signal Publico. = Está conforme Jost Manoel Severo Aureliano Basto. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 223 DOCUMENTO N.' lí. Paz f confederarão entre KlRci D. Àjfonso de Porlufjal e Elliei I). Pedro de Ararjão. De í) de Novembro da Èra de iiT&'(annu de 1338/ Arq. R. da Torr. do Tombo, Gav. 18, Maç. 8 , Num. 19* En nome de dons Amen. Sabham (Quantos esta cart* virem como a nos Dom AfiToiísso pela grat^a de deus Rei de Portugal e do Algarve vcesse da j)arle do muy nobrd t miiyto lionrrado Dom Pedro por essa nieesma graça Rey dAragom miguei de let sou sobre coque e seu special nie- sagciro e procurador soHiciente peí liuma carta de ])rocu- raçom do dito Rey seelada de seu seelo , da qual procura- çom o lehor de vervo a vervo he tal. Nos dom Pedro pof la gracia de dios Rey de Aragom de Valência de Cerde- nya , e de Corcega , e Comlo de Barcelona , Por tenor de la present Carta fazemos constitui mos et ordenamos cierto e special procurador e mandadcro el Amado sobrecoch nues- tro migel de leet , A firmar por nos e en persona nuestra posturas alleguanças et confederaciones entre nos e el muyt Alto princep D^im Alfonso por la gracia de dios Rey do Porlogal e dei Algarve tractadas avenydas e concordadas com juro homenage e com Cartas publicas en Aquela ma- nera que el dito Rey de Portogal ordenara et querra et se- gunt ai dito nuestro procurador bicii visto será, «laudo a ol pleno poder de facer e firmar las ditas posturas e facor cerca aquellas todas cosas que nos facer jxxlriamos si per- sonalmcnte presentes fuessemos Et prometemos liaver por firme e valedero todo aquello que por cl dito procurador e mandadcro nuestro cu las ditas cosas e cerca de Aqucl- 224 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL Jas feito firmado jurado e obligado será bien assy como se por nos personalineide feyto fiieso et ad aquello non con- tra venrcmos por algiina nianera En toslimonio do Ja qual cosa faccmos en faccr esta Carta siellada con el nuestro siellyo colgado. Dada en Çaraíjoça a vcintc dias andados dei mes de Agosto En el Anno de nuestro senyor mil tre- zientos trinta c hucyto Pelo qual sobre dito messageiro e procurador a nos foy dito e recontado da par- te do dito Rey que eseuardando el linliage niuy assinalado e boons devidos que el e nos dessuum avemos e en como os Reys onde nos vynmos dessuum com ElRey Dom fer- nando de castelã entendendo por serviço de deus e por honrra e prol dos seus estados poserom e firmarom antre sy preytos posturas e llrmydoes pêra sdrem verdadeiros amigos e se fazerem aquellas boas obras que a elles per- tenciam no serviço de deus e na prol e homrra de seus stados e esto meesmo depoys do saymento daquelles Rex que os ditos preytos e posturas firmarom antre sy e foroni Í)er eiles aguardadas no seu tempo. Nos e ElRcy dom af- onsso seu padre posemos e firmamos semelhavilmente os ditos preytos e posturas dessuum com ElRey dom affonsso de Castella que ora he que veendo el e esguardando en como o dito Rey de Castela sayndo de maneira dos prei- tos posturas e firmydoCs se movera e queria mover a fazer contra nos e contra el alguittas cousas que tangiam muyto as nossas pessoas e os nossos stados e daquelles que a nos mais chegados som per devido natural e outrossy das nos- sas terras e senhorios , o porque nos avyamos razom aguí- sada de catarmos antre nos tal maneira qual a nos conij)ria pêra guardamento do que ditohe que por esto spccialmente nos envyava dizer e requerer davermos antre nos per cer- tas maneiras e firmedoès preytos e posturas damor pêra nos amarmos e ajudarmos come verdadeiros amigos também no serviço de deus e en exalçamento da nossa sancta fe contra os enmygos daciíristandade quando logar ouvessemos de o fa- zer assy come nos e os Reys onde nos vymos o fezerom e ou- verom voomtade de o mostrar per obra come contra o dito Rey de Castella que ha tempo que desto faz obra en contrai- ro. Por en Nos sobredito Rey Dom Aflbnso veendo e esguar- dando aquelo que nos o dito Rey dAragom envyava dizer contandonos verdadeiramente aquelo que antigamente pelos Reys onde nos vymos fora consyrado feyto c firmado e outro- 1 DAS SCIENCIAS DR LISBOA. 225 sy aqiioUo que cn cont.rayro se fezera e mostrara pelo dito Roy íí»^voj)ooou , voXXi)? fiSf o»(i- Vf)V , ouií òxíyrí» àl ■athoil»^ KoíWet òi»(p'spii(rx». oiauútofiípr; yxa •sro-' ']*f/.o7i ■srXcójoiç , Êk thtuv àoòiútT»i y xai voXXÚ(; ftl» t^ti irupa-^ àtKTnç Kctlx^úraç Trxíjoíoiç Sívípiff-i j •õraftTrXriStii os iir\itúai y Sisi^ XtifAjAifixi 'uSxiTi yXuKíTtv í7au'XE<; ri ■aoXv\iX6'i ta'{ hxjckduuxTí viTxpx^^Tiv er xuTv, Kai xxjoí txç ttrjviia; Keíjuxsijxci^e»» Kudoifiçrf çta , riji/ òiu^sTi» ctv9rjox» tXP^l'* i '^^ °'> ^' ^''^lot*vtTtt xajx r^i* ^Boíviív uax» tvoKxjpíQvJi f oatiyiXtiií Tijj x'^?'^^ 'Xfií^y*"''^i rà -apoi Tq» xToXxiKTi» xai T^\i}» Trxttjxx^ «-Xijáusi» Ttaflooxitu» l^^íiuv . KsdjAv is ^ tri^TOf fltúri; , to» vtaiKÚiAtvo* àip* va»JiXat íuitBxJav £;^KJ'as , rò wXeTo» fAtpo; tS Itix^i (peoei «Xr/io; aicçoòouu» xx] TU» cíxXu» TU» upxíu» ' u;i doxeT» raúrr;» àjit ^eu» ti»u» et/H (iyôouvuv Ciráoy^u» èittiul^to» j Si» Tr,» jjTTSoQoXrj» rt;; VjSxiiÁOftai , 2* SERIE. To.y. J. p. II. Gir 234 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL aj» i*cv a» rui; TraXainí XÇ'''^Í avívoejo; ijk, cícc toi/ uno TJjí oX)j; oocb^si/í;} t)cjo7Ti(rfÁiVy 'jçeoov o' tvpíéri Sià roíaúraç ulriaç , iPoiViKii éK TraXuicúv xf^"'^* o'^^^X"í Tr^eàvreç kut iunooiavy TtoXXait ftí» Kala T^v Aiêi/íjv otTtoDclaç 'nroiritraiílo ^ otjK oXlyoi; íí xa» ríji EuíaíffJjf CD To7i Tipòq Súiriv KíxXifutvoíí': fitúíiTi. TOúV o íiriQoXwy av^ ToTç KOíToc vnv waox^'9^0'!^'> ^ 7r>»TKí f^cyuXisç r,QgctZ'^v i^eyaXoTTpeTreTí , roTs' tu* ^oivIkuv têeíTt oioi>t}ífj,í«aç , tÒ oÈ lepòv awí^yi tuto Kai róre xai Kctra raj VEujePíls X9'^^^í Tifiaa'9úti ■Ktpirjortpov , f^ixP' ''"14 "*^ l',""'? i)AiKi'áç . woXXo» íi xai Twi» PciiLiaícDV lift(pxvBTí cívSpíç y xa) fJítyúXaç wpá^ei; Kctlsip" yoiirfJLtvoi y i7tfíi;ç x«( ^ií- Cíii xocJo-rrliiKravIeç y aTraa-i' yvuBifiiov tirói%(rav, oiò xut Tv^'^rivciiii ^cf. XarJoxpeclévTtov f xxi tfftfJiTreiv eiç uvrriv ' cfffOíKia» eviCxXofzevcav y ^têKíáXvirav auT^ç Kcepx'^Sóvioi 'tfjtx fjLiv evXói^isf^ívoi jtíi) om tíji» ajs- Tiji» tÍ; njVa ííToXXoi rcõv tx t?í Kao^ijosiío; £;j txúvfiv fjifixçcixriv j aftx Si WíjV tcÍ TrafláSoXai Tijí tÚ;(J)jj xájxçxíua^ófiSiioi xxjxtpuyriv , £< Ti viol T))V 'K.xo-)(y]S!>vx cXoJyj^lq ■jTXx^a^iia >tíÇ» '!tvt\jfía, *r,7^í , jcai r>iv ív yjjux'-';- j Tvpxuvíooí oíTrxXXaysiq y.on voXefiu» à-rráitTOúv , al(X^óy,tvci S'ol KiXíiííí, )íÔíii eio^iriç SeófjíBvoi uai cr^oMít àwà, wXar» xaí \a.(pmu'V ^ etç Ail2ijri» aTrínXeutruv ^ Aff-icccXiov 709 liç o» .ãv c i^ioruttoí ^ rov fjLt* riaKKiaKcii ccTríKTSivt» , Tijii Sè çodTicèt KoaTÍiífuys fitrà rãv àíiXipu* y l^i' VoXlÓoKTJITlV. tVTHuSx tÒv 'AuTxTov ol hl(i\Ji(; IçOBVITl }Lt7t'Òctlf Xfll TC» ráipov auri ZeerueiCf áiítritanj/s, to7; (^aoBapoi; aVijuii ôià fj,íye9o(» êVTXj-x^íúi Sè TU) (TuuoLTi tfr,')(^iiiv í^riKODTa f^tjKo; f uç (part xaTfnXayef Kai (T(pa.yíov evTtfjiàv y a\j\ii-j(b!iTi ro fji»iiu,cK y Kai Ttj* irtfi aCri ri* N. VIII. , p. 55. Alaltc-Brun. ...^ .q ..7J./. Les deux iles Lancerote Ct Forlavcntnra avpc les tróls ilots cl'AllosTanza , Clara et Lobos, roprcsoiitc-iit Ic vúrilable groiipe (ies iles Kortunées. Li voici coiniiifiit nous concilions entre elles , et avec Tétat réel des lieux , les trois relatioiís de Sebosus , de Juba et de Ptoléiiiée. Nomes modernos. Sebosus. Juba. AllegranZa Clara J^ancerotc Lobos Fortaventura Junoiíia Pinvialia Capraria JuHoiila parva ()iiibrioc5 JiiiKJiiia Capraria Ptolenteià Aprositoa Jiiiioiíia 1'liiil.uJia Casperia Aii-dcI;V de ces iles Fortunées, dit Pliiie , il y en a en- core d'autres. II s'expliqac |)luá bas : on voit, dit-il , du ri- vago des iles Fortunées , celles de Ninaria ot de Cmutria. Ce sont , coniíne tous les gcoirraplies Tont pense, TénérilTe et Canarie. Ce sont aussi la Cmvullis et la Phmariu de Se- bosus, qui domie à ces deux iles exclusiveinent le nom do Fortunóes, restrciut par Juba aux quatre precedentes. 238 MEIMORIAS DA ACADEMIA REAL Là s'arrêtent les découvtírtcs de Sebosas eldc Jubn; là, $e termine mèmc la géogr;i|)liie ilc IMolúiiico. Lcs trulsauti-es Canaries oiiL été iiicoiimic!) aiix anciciis, ou tlii niuiiis c^llrs sont de trop poiír cxj)liquor Jeiírs relatioiís. ^ ' 'Daiis rcxplicatioii que noiís pr(5sei)tons, l'ordr(> (i(> noiíis est presquo íMilit"^remcnl. conserve; la position dos iles Forlu- néns dii iiord aii siid cst reconmie ; lustraits physitpii-s se re- trouveut égalenicnl. , car LanceiuLe ou IMuvialia ifa d'autro source de lecondilé que les pluies póriodiques. S'il reste de? difficultés , elles résultent des mesures dônnées par Sebosus ; mesures que d'Anville ji'a pas crues susccptibles d"explica- tion , et que Gosselin n'a pu cxpliquer qu'au moyen desup- positious iugéiiieuses , mais arbitraires. •> A. v:\ ' N. IX., p. 57. Malte-Brun. 'A ces latitudes mal déterminées, ou peut-être seulement mal traduites de quelque carte d'un ancien peuple navi- gateur, les gí^ographes d' Alexandrie rapportaient toutes les la- titudes des autres contròes, qu'ilsdevinaient quelqucs fois d' àprès les indications si peu súres d'ungnomon, mais plus souvent d'après des estimations des voyageurs, et d'apròs la nature des vents et des productions. DAS SCIENCIAS PE LISBOA, 23» .N. X. , p. 62. Marciano d' Ileradea. U^uTti Se ri vria-o; l» Síriòi rx T^Sa^x Ksifiéini Tuyxá^ti^ £*í<< T«f H'oxKXeiouí a-TriXcc; tUcti . O» fih yàp Kxjà KaXwij» TO cfoj , eTTfj ivóoTt^ta TU» H potKXeiuv 240 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL N. XII. , p. 71. UAbbede la Rue. <<'A cette époque, Uh Voyage ]usqu'aux cotes de TAfri- íjue pouvait passer pour un voyaçe tle loiíg cours , el le na- vigateur devaits'attenclre à étre souvent iiiterrogé surlescon- trúes oíi il avait descendu, sur celles qu'il avait parcournea, et enfin sur tout ce qu'il avait vu d'extraordinaire et de cu- rieux. Les détáils qii'il du donner sur les lieux qu'il avait visites , et surtout sur les riants climats des Canaries durent plaire etétonner des hommes vivant sous ratmosphère humi- de et soinbre de rirlande ; alors St.-Braiidan , suivant Vé\è- que Tanner , écrivit pour eux une relation interessante de son voyage aux iles Fortunéeâ. Fabricius ne parle que de ses ouvrages mystiques. Toutefois en adméttant Topinion de Tévéque Tanner qni paraít fondéo, il faut dire qu'apr^s la mort de St.-Brandan, la fiction altera etdéfigura entièrenient son ouvrage • lesMoinea voulurent faire de leur abbé un homme à prodiges , capabla des entreprises les plus hardies , un béros toujours heureux dans Icur exécution ; aussi d'après la description qu'il leur avait laissée du beau clitnat des Canaries, ilsprirent ce paya pour le Paradis Terrestre, et ne balancèrent pas à lui en at- tribuer la découverte. Mais pour y parvenir, il fallait que le Toyage oITrit des aventures non moins merveilleuses ; aussi la route du Saint est elle, pour ainsi-dire, semée de prodiges.; DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 24* i N. XIII., p. 7.-). El-Masúdi. " The cultivatod land is considerei! to begin from lhe Eternal Islands (Fortunato Islands) cj1jJUísJ\ ^^v^l i» thfl Western Ocean, which is a group of six flourishuig islands, and to extend as far as lhe extreinitv of China. ít ííe (Ptolemy) states in his geography thát théséa of the Byzantine empire ànd of Egypt (the Mediterranean) bé- gins from the sea ofthe idols ofcopper fColumnae HerculisJ i "On thtí limits whére thése two séas , the MediterraJ nean and the Ooean join , piilars of copper and stone , havé beón eitected by King Hirakl the giant. Upon these piilars ãrtí inscriptions and figures , which show with their handa that one cannot gò fiirthcr, and that it is impraticable to na- vigate beyond the Mediterranean into that sea (the ocean) , for no vessel sails on it : there is no cultlvation nor a huinan being; , and the sea hãs no limits neither in its deplhs nor extent, for ists end is unknown. This is the sea ofdarkness, also called the green stía or the surrounding sea kcsvjl ^ jóa^íV' ) olAiáll ^«V- Some say that these pilIars are not oa this strait, but insonie islands oí* the ocean and their coast. >^ )>Theré are some wonderful stories related resnectingit, for which we refer the reader to our book theAkhoár ez-zeí- mán ; there he wili find au account of those crews who have 2.* SERIE. TOM. i. P^ll. HU 242 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL risked their lives in navigaling thissea, and who of Uiom havp escaped , and who have been shipwreckcd , also what they have encountered and seeh. Such an adventiircr was a Moor of Spain , of lhe namc of Khoslikhash ^i.^ij^. He Was a young inan of Córdoba : having asseniblod some youiig inen they wcnt on board a vessel wliich they had ready on the ocean , and nobody knew for a long time what had become of them. At leng(h they came back loaded with rich booty. Their history is well known among the people of el-Anda- los (the Moors in Spain).»» N. XIV. , p. 77. Akhbár ai!'Zemán. "Dans cette raer existe Tile de Salomon, oò se trouve le corps de ce personnage dans un château merveilleux. Dans cette mer il y a des lieux qui jettent sans cesse du feu à la Iiialiteur de ceht coudées. II s*y trouve aussi de grands pois- sohs d'unc longueur immense, et dòs animaux d' une couleur et d'une forme átranges, et des villes qui flottent sur Teau. II sV trouve encore trois idoles faites par Abrahah (ancieix roi des Árabes himyarites) ; une de ces statues est de cou- leur jaune , et ellefait signe avec la inàht camme si elle s'a- dressait à quelqu'un en tui ordoniiant de s'en relournef. La seconde statue est de còuleúr verte et tient le bras élevé et étendu cortime si elle voulait demander ou est-ce que vous al- iez? La troisième est noire , et fait signe avec le doigt vers la mer , comme pour avértir que celui qui passefa au dela 'de cet ètidroit será noye". Ctlte statue pòrté sur la poitrine cet- te inscription : Faite par Abrahah-Zul Menar le Himyarite , à son seigneur le soleil pour concilier safaveur. » ?.';•!•,; ..hf,.!-. líriví.i!-." ■..Tí>^?. eiB aiOf^T ■• 191 ow ; ,Ci'i.a cu.-v ci"yi^- '-.í' -1 '-'j )ii')oj ". .1-.. i>i I. "iv/ oíI o" ^H 'II ;í .1 .MOT .Bi. vi; DAS SCIENCIAS t)È LISBOA. ' U^ N. XV. , p. 78. Èekri. Vis-A-vis de Tandjah et le mont AÚas , dans l*oC(^án õc cidental , sont les iles ^j^LIsy , Foriunees , c'est-à-dire ^ Heitteuses , sj^jijt ainsi noinniéos parce que lès buissonS eL Ics fareis soiít unlquonient compostas d'arbres qui produi- sent dos fruits magnifiques etexcellens, sans aVoir besoin d'ôtre plantt^s ni cultives , quê la tcrre y porte des céréales au lieu d'herbe , et , au lieu de chardons , des plantes odori- férantes de touttí espèce. ties iles , situées ;\ Toccident du pays des Berbers , sont disséminées dans TOcéan, à peu de distance les uues des autres. N. XVI. , p. 19. Èdrisií 1. Ce climat commence à l*ouest de la mer occidentalé, qu'on áppelle aussi la mer des tént'bres. Cest celle au-tielÁ lie laquelle personne ne sait ce qui existe. II y a dcux iles , nonunóes les Iles Forttnice.t. d'oii Ptoléince commence à com- pter les longitudes. On dtt qu'il se trouvc dans chacune dei ces iles un tertre construit en pierres , et de cent coudées de haut. Sur chacun d'eux est une statue en bronze qui in- dique de la niain Tcspace qui sVtend derrière elle. Les Mo- les de cette es|)èce sont, d'après cequ'on rapporte, au nom- hte de six. L'une d'eQtre elles est celie de Cadix-, k TouBstr llh 2 tii MEMORIAS DA ACADEMIA REAL de TAndalousie ; personne ne connait de tcrres habitables au-tle!à. 2. JNous disons donc que la pr<'"spnlc section du douxifV 1110 cliniat coniiiience à rexlrnniiti^ deroccidciil, c'esL-;\-tiire à la mor UMióbrcuse ; on ignore ce <(iii existe au dela de coi- te nier. A cetle section aj)ji;vrUejifieiit loa lies de INJasta- haii y . ,\ ^iuMAi et de Lamghoch jiJUi 1"' ft)nL jiartie des six doiit iious avoíis parle sous hi desigual ioii des (iles) ctcr- nellcs et d'oíi 1'toléniéo copjuience à coinpter les longitudes des pays. Alexandre le Grand alia jiis(nielà et en revint. íí Quant à Masfaliaii , raiileiir du livre des Merveilles wrai)portc ,cju'aucea(rft dP cetle ile e«t uno montagne ronde, »ati-d0ssu$'de Itiquelje on \o\t une statiic de couleur rouge , «élevée ]iarEsfisd abou-lverb ,el-IIa'iri (Alexandre daouTcar- jjueiu), dont ij fizera quústion ei-après , dans son exptklilion, jjct qH'un'doní)c, ce nom (d'abou-Kerb el-Haíri) à touts les MVoyageurs qui gont parvenus anx deux bouts du pondo. 3) Abou-lverb el. Haíri lit placev là cette statuo , alui d'iiidi- «quer aui navigateurs qu'au dela de ce point il n'y a poiufc »>0 issue, poiut( de Jieu de débarquement. L'on ajoute que j> dans Tile de Lamghoch (ou de Lagos j_^yil ) on voit aufrj jisi une statue de construction tròs-solide, dont l'accès est » iiupossible. On dit que celui qui la fit élever y mourut , et 5» que ses héritiers lui élevèrent uu tombeau dans un teni])le ?' bati en niarbre et en pierres de couleur. Le mênie auteur íiraconte que cette ile est jieuplée de betes leroces, et qu'il >js'y passe des clioses qu'jl serait trop long de décrire , et »j dont Tadmission rcípugne à la raison. »Sur les rivages de cos iles et de plusieurs aulres, on » trouve de Tainbre de qualité supérieure, ainsí qiie la pier- » ro dite el-behet cIIa^aÍI reiioniiiH''e dans 1' Afrique occi- "dentale, oíi clle se ^end à très-hant prix pour le pays do 3> Lamtouiia, dont les habitants prétendent que celui qui en «est porteur rcussit dans toutes ses entreprises. On dit aus- '> si que cette pierre jouit de la propriétó de lier la lan-* « gue. "On y trouve aussi un grand nombre d'autros pierres de «formes el de couleurs variées, qu'on rechcrche beaucoup «et dont on fáit le comnierce , attendu , dit-on , qu'elles en- «trent dans^ la composition de plusieurs remedes excellents. "Telles sout cellos qu'on eniploio à conibattre les humeurs «;nuisibles et à calmer proaiplement ^s douieurs qui ea ré- J/DAS 5CIENCIAS-DT: LÍSBOÀJt/í 245 ííSiilfpnt; tcllcs sont cnconí ccllcs qiii ("acilitcnt los aCíMjii- <> cheinents ; celles au inoyoii ílrurjuelles , «nfaisunl an sieiíò «A (les feinmos on à des énlanlsj on s'uii fait Huivre. Leslta- 5» bitants de vc^ íIcb ptjs.sòdeiit, lioauroup do phyrrcs se»i))la- » bies cL soul ronoiíiintís puiir li»s opt^ratioiís mai;uiu<>íi fiu'il4 >> pratiqnent (u J'uide de ces pierrè») , «tibuxquellfs ils isont -»>ii\itiés. » , . ' i ' - 8. il^a prnmit^te pai-lie du tròisi^Tiio elimAt Comiliènce à Vocéan ténébroux rpii baisrne la parti»* cn'cidontalG dii a;lobtí -tertostrO. Du iiomlire des iles Ac ret oréan «»st colln df? Sara -«j^—-. situòe pri-s la mor (óntM)roiiso. Oii raconle qtid ■i)liou"lCarnain y al)orda avant qtie lo3lén^brcs rustenl cou- rxcTt la siirfaco dte ia mef, y passa une n\iitj et (Jtíie les habi- tants do cotle ilo asBaillifcnl sos cortipaj^dons dõ vo^aje ,\ coups de picrres p(, on blossòront phi.sieins. II pst une antro ílfi qui se noinine Saa'Ii J\ «^ , donl los liabilants resscm- ble plutòt à des féniinos qu'à des hoiiiines; lo-s dcnls leuf Bortoiít de la bon^lif , leiírfe J-el^* óljncellent coinme des éclairs et leui'3 jambes ont l';lppafíínre de bois briílé: ils par- lent un lang^a^e iiiintelligiblfí of foiít la giiorre aiix nionslreá marins. Sauf les partios de la gr-ii/Talion, nuHc différence ne caractórise los deiix sexOs, car les lioininos n'ont pas de bar- be; ieufs vôtemeíi<3 coiisistent W feuillcs d'arbres. Oh re- marque etisuile Tile dfí Hasrrtfi -Sj^, d'iifie óleiídue con- sidérable , doiiiinée jiar unò niriíiLa^nc an piod de laquellc vivent des homuies de roíileur bnmo. d'iine pelito faille et porlant une longne barbe qiii leur descend jusqn'aux ge- noux;'ils ont la face largB cl les oreillos longues ; ils vivent des végétaux que la (erre prodnit spnnlanéinent et qui ne difíèrent a^uère de ccux donL se nourrissont los aniinaux. ÍI y a dans roiin ile une polite rivif^re d'oan douce qui dócou- ie do la monlagne. I/ile dcGliourj^tíl, ég-alenicnt consi- dt^rable , abonde en hcrbes çt eu plantes de toule cspèce. II y a des rivières , des lacs et des forí(s qui servout de re- traite à des Anes sauvages et ;\ des bocufs qui purtent dcg eornos d'uno longnour extraordiíiairo. Xon loin delà est Tile de Mostachiin j^A.*ji,u«^. « Oji dit que celle ile est j)eu- >>plóe, qiril y a dês inontagnes, tles riviòres, beaucoup a ar-- »bros, defruits, de cliamps cultivos.») La ville qui s'y trou- •Vé estdomin»^e par uno citadelb?. « On racoiíto qu'à une ópo- 5' que antórieure à Alexandre, il y avait dans cctte ile un íidcaçoii qui dévorait tuut ce qu'il roncontrait , hoinfaies, 246 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL ) boeufS) Anes et ailtres anittiaux. Lorsque Alexandre y abor" ida, les babitaiis se plaignircnt. des doimiiages que leurcaii- > sait ce drãgon et ils iniplorèrcnt le sccours du hiíros ; ie > monstra avait déjà dévoré la niajeiíre partie de leurs (roíi- > peaux ; chaque jour on plac^ait aiipn^s de sa tauière deix j taureaux tués j il soilait poiír les dévorer, puis se retirait >jusqu'au leudeniain , cn atíoiidaut uii iiouvcau Iribut. Ale- jxaiidre demanda aux liabilnuls si le monstre élait daiis Tu- ) sage de sortir par un seul eudroit cu par plusieurs ; ils ré- «pondirent qu'il sortait toujours par le même. Alors Ale- ) xamlre se fit indiquer le lieu , il s'y rendit suivi de plu- ísieurs d'entre les habitants et accompagiié de deux iau- jrcauxj aussitòt le monstre s'avançd semblabe A un nuage j noir ; ses yeux étaient étincclants conime des éclairs et sa fueule vomissait des flammes; il devora les taureaux et isparu. Alexandre lit placer , le lendemain et le jour sui- ) vant , deux veaux aupres de sa caverne ; mais cette proie ) ne suffit pas pour apaiser la faim du monstre. Alexandra ) ordonna aux insuiaires de prendre deux taureaux , de les j écotchcr et de remplir leurs peaux d'un mélange d'huile , ) de soufre , de chaux et d'arsenic , et de les exposer à Ten- jdroit indique. Le dragon sortit de sa retraite et devora cet-» ) te nouvelle proie ; quelques instants après , se sentant em- , poisonné par cette composition , ou Ton avait , d'ailleurs , ) eu soin de mettre aussi des crochets en fer , il faisait tous } les efforts imaginables pour la Vomir, mais les crochets s'éi- > tant embarrasses dans son gosier, il se renversa la gueulo jbéante. Alors, conformément aux dispositions faites par > Alexandre, on fit rougir une barre de fer et, Tayanl pla- > cée sur une plaque de même metal , on la lajiça dans la ) gueule du monstre : la composition s'enflamma dans ses en- >trailles et il expira. Cest ainsi que Dieu fit cesser le fléau ) qui aíligeait les habitants de cette ile ; ils en remercièrent ) Alexandre , lui témoignèrent une grande affectioii et lui ) offrirent des présents consistant en divèrses curiosilés de jleur íle ; ils lui donnèrent , entre autres choses , un petit «animal qui ressemblait à un lievre , mais dont le poil était )d'un jaune brillant comme de Tor; cet animal, appelé a'- > radj ^\jt. porte une corne noire et fait fuir par sa suelo > présence les lions , les serpents , les betes sauvages et lea > oiseaux. » Dans la même mer se trouve Tile de Calhan ^L-^'». DAS SCIR.\CIAS DE LISBOA. 247 dont les habitanls sont do forme huinaine , mais [jorlcnt. dea lêtes d'aiiiinaux : ils plono^ont dans la iiier, retirent de ses abunes les atiiinaiix d jiil ils ohl pii so saisir et s'eii nour- KÍsscnt ensuite. Une antro ile de la môme mor s'appflle lile Aes deux frèfes magiciens ^^jj.a.UJI ^^^iH Sjjv:» Clierbara A^yii et Choram .\jj- «lOn raconlo (juo cos (leu\ frères ex- 5>erçaient la j)iraterio siir tons hís vaisseaiix qni voiuiient à » passer aupres de rile; ils róiluisaient en (*ai)Livit<'í 1(ís navi-» jjgateurs et s'omparaicnt do iours bions ; mais Dioii, pour j>le3 punif, les métamorphosa oii doux rochers qiio Ton voit »s'ólevor siir les bords de la mor. Apr^s cOt óvúneiiient , ^rile redevint pounh-i! coinmo auparavant. » Kllo est siliiéô en face du port d Asali Jii^,! , et à une distance teilo que ^ k)rsqiie Tatmosplière qui environne la mor Ost sans brouil-* lanl , on peut, dit-on , apercOvoir du continent la fuméo qui s'élè^e de Tile. « Cette pafticularilé a été radontóe par Aii- »> med ben Omar surnommó Raccam cl-Avez, qui charijé par « le prince des tklòies Ali boií-Iousuf boií-Taschtin du cora- j> mandenient de sa flote j voulait y abordor; mais la mort le r> sur|)rit avant qu'il eilt pu acconqilir ce jirojoct. On a re- j»cuoilli des dí^tails curieux , relativement à cette ile, do la >»bi)uclie des Ma:^hrouriu , voyageurs ile la ville d'Achbouna >> (Lisljunne) en Espagno ; lorsquo lo port d'Asari reçut ce 5> nom i\ cause d"eux. Lo récit (do cette aventure) est assez « long , et noUs aurons roccaaiou,,d'y revenir quand il será " qucstion de Lisbonno. >♦ (•. í • ' Dans cette mer il existe c^galomont tíne ile d'une vasttí étendue et converte d'épaisses ténèbres. On rappello iile des moutons ^s «wva» ? JMirde qu'il y en a beaucoup en ef- fet ; mais la chair de ces animanx est amère, à tel point qu'il n'est pas possible d'en manijcr , s'il faut ajouter foi au tècit des Mag1ii'oiirin. Pr^s do Tilo que nons vonons de nom- iner , Éa trouve celle de Raça L-j, , qiíi est Tile dOs oisean^d j^aIsH xjj>a.- On dit qil*il s*y tfouye uné espèce d'oiseanx semblables ;\ des aiç-Ies , tonz^ e( .'trm(^s de grifles ; ils stí Íionrrls'ínrit dd coquiflagtís et de poissons , et nc sVIoignent jârtíáís dè ces parares. On dit aus^^i que l'ile de Raça pro- duit nno esp''>ce de fruits semblables anx fiçues de la gros- *(♦ ^Spt»fíí*, fct dont on so sert coiilme d'un antidote Contra Jes poisou»!. " L'autour du livr*»* des Mervoillos rapporie •»qa'uri roi de France , informo de ce fait^ envoya sur les 240 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL >■: íleilx Un iiavirc pour obtenir le fruiL o(, les oisoaiix cir j) question > mais le vaisseau se perdit , et depiiis on Ji'en >» eiitenilit pliis parler. » A la presente section appaflient encore Tilo de Chas- lend juJLo^^JiJ! , dont la longueur est de 15 jouniées , sur 10 de largeur. II y avait autrefois trois villes gi'nndes et bien peuplées ; dcs navires y abordaient et s'arrôtaient pour y achetcr de Tambre et des pierres de diversos couleurs ; mais , par suite des révolutions et des guerres qui eurent Jieu dans ce pays , Ia pliipart de ses habitants périrent. « Beaucoup d'entre èux francliirent la mer pour se trans- ,) porter sur le continent de TEurope ^^j, oii leur race sub- «siste encore très-nonibreuse , à Tépoque oíi nous (ícrivons; «nous en reparlerons quand il será question de Tile d'Ara- j» landa íOv;^!^!- L'ile de Laca «^ pfoduit bcaílcoup de bois d'aloêS ; on prétend qu'il est sans odeur sur les lieux, mais qu'il acquiert du parfum aussitôt qu'il est exporte et qu'ii a tra- vefsé la mer. Ce bois fest noif et très-lourd. « Les mar- jjchauds se rendent à cettc lie pour se procurCr du bois jjd'aloes, ils en exportent au loin. Les róis de la pariie la >>plus occidentale de 1' Afrique Tachetaient jadis dans ce 7) pays. On raconte aussi que l'ile de Laca était autrefois jíhàbitée, mais qa'elie a cesse de i'(jtre , parce que les ser- «pénís s'y sont excessivement multi])liés. »> D'après ce que nous apprend Ptolemúe de Peluse , la mer Tc^nébreuse ren- ferme vingt-sept mille iles peuplées et non peuplées. Nous ne croyons devoir parler ici que de quelques-unes d'entre celles qui sont situées dans le voisinage de la terre ferme et qui jouissent d'un certaiu degré de cuiturc et de civili- satioli. . lí f 4. Toute cette section comprend une parlie do 1 océan Ténébreux et diverses iles desertes et iuhabitées qui s'y ' trouvent. " La plus considérable de ces jles est Tile de Ber- » landa sj^lS^ (rirlande) , dont nous avons déjà fait men- Mtion. De Tune des extremités de cette grande ile à la .•; partie supérieure de la terre de Bretagne , ou oohipte 3 jjjournées et demie de navigation ; »Et de Tautre à Tile deserte de Scosia JuIUeJÍ *M*yu; >»{d'Ecosse) , 2 journées. » a >i -.Cependant rauteur du livre des Mervcilles rapporte qu'il DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 249 existail autrcfois «cdans cotte dornicre ilo » (en Ecossp) troÍ3 villes; que Tile élait liabitée ; cjiie dcs iiavires y abonlaiciit et y jetaient ranore jjour y acliotir de raiiibrc et des j)ier- res de couleiír; que quelqucs-uiis (rcntre ses liabitanls ayant voulu subjuguer les autres et rógner sur eux, il s'eiisuivit des guerres civiles, des iniinitiés, dos ravages à la suite des- qnels une partie des habilaiits emigra sur le continent, eu sorte que lours villes rcstèrcuit tlesertes ot ruinées. 5. La presente section comprend la partie de Tocéan Té- nébreux oii se trouve TAngleterre. 6. Afardik Xiiji' (Berwick), autre ville silu^e à une cer- taiue distauCO de roCéan Ténébreux, et Vers l'extréinitd de l'ile d'Ecosse qui est contigue aXaoZí à Tile d'Anglfeterre. i.^ »L'Ecosse s'é(end en longuenr au nord dela grande ile. »I1 n'y a ni habitations , ni villes, ni villages. » • 7. Entre rextremitó deTEcosse, ile dt'serte, et Texf remi- te de luUirlanda sjò^yb (de I'Irlande); on coilipte '2 jouriiées de navigation , en se dirigeant vers Toccident. 8. » Dans l'océan Ténébreux il existe quantité d'iles dé- jj sertes. II y en a ccj)cndant deux qui soiit habitées et qui » portcnt le nom d'iles d'Amraines des MadjouSy^^jEsjl ^j,j^\^\. » La |)lus occidentale est peuplée d'hommes seulement ; on "n'y voit point de femmes. L'autre n'cst liabitée nue par jidcs femmos, et on n'y trouve point (rhommes. Tous les anSj "au retour du printemps, los hommes passent, au moyen ád »barques, dans la seconde ile, y cohabitent avcc les fem- » mes , y passent un móis ou envifon , puis retournent dana »leur ile, oíi ils résidení jusqu'i Tannée suivante, époque à »laquelle chacun vient retrouver sa femme , et ainsi de sui- » te tons les ans : cette coutuino est connue et constante. " Le point le plus voisin de ces iles est la villo d'Anho^í, » qui en est à trois joarnées àõ navigation. On peut s'y ren- )>dre aiíssi de Calmarei ^Xj- et de Daghwada ul^i (Dago) ; .•) mais Fabord en est difficile et il est rare qu'on y parvien-^ >»i^ç , à cause de la fréquence des brumes et des profondea >' ténèbres qui rògnent sur cette raer. 2.*RERIE. TOM. í. P. ti. 250 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL N. XVII. , p. 89 injine. Ibn ál-Wardi. j.S>Í 0»ÁC U>j.S5Í ['J t5^ Li iij-íU iSj^AA^i ^làc j.jí^» *J5 AJdii U jlíj ^^ u-.l*u (ji- .ky iy l«^ f^ 3^> ^>> í a^=^^- tV^ [^^ *K^ N. XVIII. , p. 90. Ibn al-Wardt. ^^., ^L*;^ I4*» QjylS^y» U*^ CL.ljJls^» ]aAsA\ yc,j^\ yjiy» (^3^ (1) Deve ler-se jjjLi e nào jL» (S) Ordinariamente escreve-se ju\^ a .q .1 .KOT .ais3;i DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 251 N. XIX., p. 91. Ibn al-Wardi. u U dit que cctlc mer contiont bcauroup tl*iles . iltnit quelques-unos soril habitées et les aiitres ct(''.sf!rtcs , et qu'oii n'eii counoit que dix-sept: s'ii indiquoit leur distance respe- ctivo, nous sorions plus en étal de jugcr de Tétendue de la navií^ation dos Árabes et du voyage de ces navií^ateiirs de Lisbonne , dont j'ai parle phis liaiit ; mais tout ce r('>cit est jiiôlé de fables, et je renvoie ce qui concerne les iles des dif* férentes mers , à la fin de cette notice. >t Isles de VOcean à Voccident de V Afrique et de VEnrope. 1. Les iles Khalidat ou fortuní^es (les Canaries). VoyeZ Yakouti et Cazvini , premier climat. Ben ai-ouardi iie parle nt li 2 262 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL lo visago largo et do graiidrs oroillos; ils vivonl JLsal! ^.ly» isi^^ )aKxi^ ):^^^ .^''y? tJ** JUí L*jL_*-i! cÍ*LiÍj1j^sva31 tíii CL>j^l ^1 ^t' AJ» 5^4*-« qj-^A' i5'>Í'' N. XXí. , p. 95. Ibn Kaldun. ■Ill • . . J^ Íj^Lm. j Çívajiyi 1__)^Í»!1 ^i>\y4^ »£>\j^\ j£íXj \^\j j ^í^ 3 fi^ f^^i.^^^y^ ^^ i:J^ 'j/í^' !r'=v^' 6*'*^' '>»i^' UXj ^ItJuJI .^j^ I 364 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL I N. XXII., p. 101. Bakui. Dgezirct ai Dgialidat , les ihs Dgialidat , les Canaries. Ces iles (1) sont situces dans TOcéan, à rexlremité cia Mogreb ou de 1' Afrique, c'est-là que les savans ont fixe ie premier degré des longitudes. Elles sont au nombre de six , voisiiies les unes des autrcs ; les plantes et les arbres y vien- iient naturellement sans culture , tout y est bon et agréable, Dans chaque ile il y a une statue haute de cent coudées , qui est comme un fanal pour diriger les vaisseaux , et Icur apprendre qu'il n'y a point de route au-delà. N. XXIII. , p. 102. Schems eddin. t \tiytí (j^jUbjj' ^ij^lL i^MO^ cijl.^Uwll jjlya. «:s^Ãl3 fjL i^Ult^ W^\í*" kí>i (jji £i)Áj >"*;,.m> xiXijuJI (i^tMJ* íái* 5 ii)o>^^1 '^\ *^1 j 2b» y» (^3^ s "Ím-^jÍ (jJjS ***ta5' *.Sl^i!l cJUaí l4Xâ> tj^l-i^ % (1) D"autres les nomment Khalidat. , DAS SCIENICIAS I>E LLSBOA. SiVi jj^ l^i Lo I^L»:» j l^i^ ii'>í" /^'>^' -i^ ^j*)^ j IjJ l^Uíl f Lj/nH l^< *7íV^ li^ '>/'^ f"*^ ^J'í'^ } 't**''>* Ví^^ (»-*J-*W "íJÍ^^ i»-*** Hj^iiJ 4jÂíyl >*^' tf****íí ír^^J'^' laAjcvH _^3:y.!' 3^L>« (_5.;-iil 45^' Á O^IaII f}i^^ ^^iJ1 ^'V^ 13*"^' jí'}'t^ C*m* y^xxtJf tjl= tlXi^x JLO ^aI «JU .^^XaII X^j Jt *jtlí.« fU^VÍ (_^^ *í*:Ji>íJ^» ^3=V j^^í" Cil^U-.» ^1>=CV ifJJL;^ 5 yJjoVt SiLi> iívjímíi 7P4>:i)i Uaj^u y,^^i i^J) iJ j.â> i^>:>.w «jt^' '^^^ 256 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL N.XXIV. , p. 107. U Soyulú ^^^ iSJ ^^^*^iU [^j^sÂi ui,lil«*.!l ^lya.^ ^1a3Usi!í ^j^^jjcvJ! N. XXV., p. 107. - "'^es «^^ L'auteur commence sa description dugíobe par lapartie ocçidentale. .« Elle commence, dit-il , par Tocéan lénébréux qui en- 5) vironne la tcrre : on Fappelle nier Ténébreuse ; Teau en !> est trouble, et persoiine n'ose s'y hasarder, à cause de la » diíEculté d'y naviguer. II s'y trouve cependant un grand « nombre d'iles, dont les unes sont habitccs etles autres dé- M series : parmi ces iles on en distingue deux qu'on nomme »> Ics ilcs F''ortunées ; dans chacune de ces iles se trouve uno » idole de pierre, haute de 100 coudées ; audessus de chaqne >» idole est une stalue decuivre jaune, que indique delamain » qu'il n'y arien au-delà. Ces idoies ont étò élevées parChé- 3> dàd , fils de A'âd, quand il penetra jusque dans ces con- « trées. " DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 251 « VÍ8-à-vi3 de la mor de Tlnde, du côté de l'Occideiit> »» une autre nier sort derOccau àl'occident du pays des Zin- » djes, et se termine aLi|)r'^s de la montaj^ne des toiírlcrelleu. » DanB cette mor se d»^cliar^u le Nil (^Niger) , qui vient de >» la partie la plus élevée du pays des Abyssins. A son extré-' » mdé se Irouvent les ilos fortunées, situées sous le parallè-* » le Occidental le plus éloiyntí. » N. XXVI. i p. 109. Al-makkarí. ín tlid same sea whcre lhe island of Cadiz stands there are others cailed tho eternal {Al-Kliálidal), which are seven in number^ and whicli lie to the west of Salé. These islands may be seen a g^reat distance ofTatsea, and in olear summer daySj when (he atmosphcre is quite puré and frce from vapours or niiít, tliey are discovered rising far above the horizon. Ac- cordiug to the geographer Ibnu-1-wardí , there is in each of these islands a tower , one hundred cubits hiijh , on the top of wich is an idol of brass , pointing with his band towards the sea , as if he meant << there is no passage beyond those islands. » Ibnu-1-wardí adds that he could not renicmber the name of the King whoefected those towers ; but we fuid that Idnsí attributes them to Iskander dhú-l-karneyn. In this sea (ocean) , and further towards the north , aro the islands cailed As-sa^-ádát (the foftunate), in which Ihere are maiiy cities and towns, and from whence the Majús, a hation of Christians, carne. The nearest of thcse islands rs that oí Britawúyah (Britain), which is placed in the midst of the Ocean, and has no mountains or rivers. The inhabi- tants drink raln-water , and, cullivate the land. 2.* SERIE. TOM. I. p. n. Kk 258 MEMOUIAS DA ACADEMIA REAL -i- r! ^'•. írr-i-aiV >> , ■; ' 3iJlus !>no < N. XKVII., p. 123. '- '- Edrisi. .,^ . ^, i»;n'ibÍ03o ol « íí Ce fut de I.isbonne que partirent les Maghrourin i^jjji^ > lors do Iciir cxpt-dilion « ayaiil poiír objel de savoir cu ijue j> renferiiic rOcóaii et (jiielles sonl ses limites. » Ainsi que jious l'avons dit jjIus haiit (l) , il existe (encore) à Lisbon- iie , auprès des íjains chaiids , une rue qui porte le uom de rue (ou de cheniin) des Maglirourin. Voici couunent la cKose se passa : ils se réunirent au nombre de liuit , tous proches parents (littéral. cousins-ger- mains) ; et aprcs avoir construit un vaisseau de transport ila y embarquèrent de Teau et des vivres en quantité suíEsante pour une navigation de j)lusicurs niois. lis niirent en mer au jircmier souffle (2) du vcnt d'est. Après avoir navigué durant onze jours oíi environ , ils ])arviiirent à une mer dont les on- dcs épaisses exhalaiení une odeur fétide , cachaieni de nom- breux recife et n'étaient éclairées que flaiblenient. Craignant de périr , ils changèrení la direction le leurs voiles , et cou- rureut vers le sud durant douze jours, et atteignirent Tile des Moutons ■^ii\ 'ij^y^ , ainsi nommée parce que ile nom- brcux trou])caux de moutons ypaissaient sans berger et sans personne pwir les garder. Ayant mis pied à tei're dans cette ile, ils y trouvòrent une sourcc d'eau courante et des figuiers sauvages. Ils pri- rent et tuèrent quflqu(!S moutons, mais ia chair en était tel- lement amère qu"il était impossible de s'en nourrir. Ils n'en gardèrent que les peaux , naviguèrent encore douze jours, et aperçurent cnfin une ilc qui paraissait habitóe et cultivée ; ils en approchèrent à íin de savoir ce qui en était; peu de (1] Voyez t. 1., p. 200 tt 201. (•) Le ms. A porte : *jJ>j.ÍJ! gljSI LTíJ^ i)^ is' '• •''"'' preiuiers fcmlUts Ju vent oriental. » •T DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 259 temps après ils furont entoufés de harqiies, faits pflsonniers et conduits à une ville située sur Ic bord de la uior. lis dea- cendirent ensuite dans une inaison ou ils vircnl des lionimcs de haute stature , de couleur rousso et basanée , pnrlaiit des cheveux longs (liltéral. non crépiís); el des remuios qui étaient d'iinc rare beaiilé. Ils rcstèront frois jours dans oòtte inaison. Le (juatrií-nie ils vircnt vfnir nn lu)niine parl.inl la langue árabe, qui leur demanda qui ils étaient , pourquoi ils étaient vénus , et quel «^(ait leur pays. Ils lui racontèrent toute lour aventure ; celui-ri lour doinia di- bonnos esperan- ces et leur lit savoir qu'il était interpròlo, Doux jours après ils furent présent('!S au roi (du pavs') . (jui leur adressa les mèines queslions, etauqiiel ils répoiídirerit, counne ilsavaient cle'jà répondu à Tinterprète , qu'ils s'étaient liasardí^s sur la iner ahn de savoir ce qu'il pouvait y avoir de singulier et de curieux , et afin de ctínstatei' ses Extremes limites. Lorsque le roi les entendit ainsi parler , il se niit à rirfl et dit à rinterprète: Explique à ces gens-là que mon père: ayant (jadís) prescrit à quelques-uns d'entre ses esclaves de 8'embarquer suf cctte mer , céux-ci lá parcoururent dans sa largeur duranl un niois, jusqu'à ce que, la clarté (des cieux) leur ayant (out à fait manque, ils furent obliiçés de renoncer à célto vaine entrojirise. Le roi ordonna do plus A rinter- prète d' assurer les Maghrourin de sa bienveillance afin qu' lis Gonçusscnt une bonne opinion de lili , ce qui fut fait. lU retournèrent donc à leur prison , êt y restèrcnt jusqu'à ce qu'un vent d ouost s'étant élevé on leur banda les yeux , on les fit enlrer dans une barqué et on les fit voguer durant quelquo temps sur la mer. Nous courumes, disent-ils, envi- ron trois jours ettrois nuits, et nous atteignimes ensuite uno terrc oíi Ton nous débarqua les niaíns liées de^ri^re íe dos , sur un rivage oíi nous filmes abandonnés. Nous y íestAme» jusqu'au lever du soleil, dans le plus triste état, à cause dos liens qui nous serraient forlement et nous incommodaicnt beaucoup; enfin ayant entendu des éclats de rire et des voix humaines, nous nous mimes à pousser des cris. Alors quel- ques habitaiits de la contrée vinrent ;\ nous , e( nous ayant trouvés dans une situation si misérahle , nous délièrent et nous adress(^reiit diversos questions auxquelíos nous rt^pondí- mes par le récit de notre aventure. Cétaient des Berbere.? L'un d'entre eux nous dit: Savez-vous quelle est la distan- ce qui vous sóparc de votre pays ? Et sur notre réponse nú- Kk. 2 cative , il ajputa : Eptre Je point 0(1 yqus vo,\is trotiv^ez et votre patriç il y » déu^f jpois dp c))emi]i. CvAni díei^Ue. ces íiidiviíliis qui paraissait le j)las c.oiisidérabjo disail (^.9i;g ces-r se): ^'asali (hélas!) voilà pourquui leuoii] de }ipy çsí pncore aiijoiird'Juii Ásafi. Ç'est ie pqrL doiit iious avpiig iléjà parle comnie élaiit à f ^g.jre|ij^ijl,« ,de roceideiit. ?> j^;, j,, ,,,, , , N. XXVIII. , p. 125. i, . ia 1 Ibn alrfKardi. Atà,\ j-a^-kí' V^^^j ti» tídjj*^' SJj^ C:,^^^' *^ *j^^it *v>-« lá-^i ,Js^3 isW*^' ÍíaXí ^■í'^ (►t'^* ^=^í >* J VJ*'"' ^Jaí çí^Aai'1 líii ifÂlt j JIju a)J1 i!l *iXii U *.J.xj 5) j »^j»j j«í.! (fcXjtj 51 j..-^>.H IJ^A j *jlji *j.S>jj f^ CLíj^^íJ >5 j j.»J^À'j 5Í ''=>^-Cj!l tSji j^Jàsl^ Juj lp.*=» j V-í^' '-Í^'J'-* ^i^^> (►c L»jl («^^^s j u"""' *íJU5 |»A ^ ^«jill j C«A*!I (JJi^ !*^j^' _j.x^5 r^*'' f-í-^^ j^^ lí' Í^Ls..Nj L«^ yíA jjijV<__)yLs\ll táij ^^svxll ^ 'y-5v' »7*l3*i'j <^^ aXSsI l^iljl ^ s^svlbtflj jijuai .Silj» ^^-« Ij^ui^ *>f>^' jjÁc 'U (^Ac 1^ lj.Xja.jj ^jColU UijLí. ,^^_y-o IjòvjiLí 3"^>J' ^ "j-* iLL»r l^j '^j^ '>^V' J^' '^^ J-'^ íí*-*' V>*>' í'* '^/'^"'J '■í*^ ^y-»» ^^jXs>j- l^ '-5jVj (^éí CJsl=>? jJí j 5H Sj^«~J A» U>j.x«i*» Wl (í\s »^f^syj ( — irjl( j^^c -j^àrvj Irjjui JUi* (^.*-«^ j .>í-Mj j ^! tsJJ! i^J-Jl -1^' \yjã=ÀS »J>j*.s\i »jj.Ajil» («^II^ (^^^ ^é^ s jAsvj <^^'Ui _;.=^>J1 ió>^ tí^i L«ji' ^•>-^ Liy* ^""^3 ^' r^ ^ Ò^^^J*^ *^á3l />.^£ ^Iiiul tívia. Ij^ QvAjjjLo Ij^ÍUkJ «__»jI:SV*!I ^^ *aJ L» ^\j^ ^iM.\ (^«N=> 3 «-N;^ }*^ u-« 'y-^í.í' (JJsll 3^S .V*^ t?' 'a>^^ Ôjjy ty» AjL*W>I y^ ^P 2-* (►■4**^» f4*Vj «-^«A* S?*=* ""'^ í^ljii 5>*j (.^ l^xíU I^U- U.U31 fi^^ tyu- Ui Vj-aiU >^LJI ^ j^i Õy IjJU il yiii jXâjí ^A^ j ,,.41*^ (►=, ^jjJj >A u«li" f^ V^" I i9i MEMORIAS DA ACADEMIA REAL N. XXIX. , p. 129. ^ if^ Ibn al-JVardi. Arrêlons-nous unmotncnl surcetle navigation extraordi- naíre ; 1.° les iiavigateurs Irouvcnt dans Tile un homme qui parle árabe , et qui leur serL d'intcrprèle ; ainsi ils ne sont pas les premiers qui y soient parvenus, d'aulres Árabes y a- voient pénétré avanl eux, etilparoil que Ton connoissoit dans cette iie sa distaiice de Lisbonne. 2.° Cette navigation nous fait voir que les Árabes ne so bornoient pas à suivre les cotes, qu'ils ont eu le couragé de s'embarquer sur cet océan pour allcr à Ia découverte , et qu avec un peu plus de persévérance , ils seroient parvenus jus- qu'en Amérique. Ils virent dans Tile des honimes rouges, cou- leur qui semble appartenir davantage à des Américains , et il y a apparence qu'ils se sont beaucoup approcliés du conti- nent ; leur dessein étpit de tendre à roccident , et ils Tont fait autant qu*il leur a été possible , et Ton ne peut pas di- re qu'ils ne vouloient que reconnoitre la cote occidentale de TAfrique , puisqu'ils fréquentoient les Canários. 3 ' Cette tentative que Ben al-onardi raconte, peut n'è- Ire pas la seule de cette espèce , entreprise par les Árabes dans le tenips qu'ils étoient niaitrcs de TEspagne. Dans la suite, en 1291 , elle a été répétée par deux Génois , dont ou n'a jamais entendu parler depuis. Les Árabes ont perdu Lisbonne, Tan 1147 ; ainsi leur tentative doit «^tre antérieure à cette époque : le noni donné ;i un des quarticrs de cette ville , qui en conservoit la niémoire , nom qui existoit enco- re du temps de Ben-al-ouardi , inort , suivant queiques-uns, vers Tan 1350, a pu occasionner Tcxpédition des Génois, en 1291 ; c'est en 1492, environ cent trente-quatre ansaprès Ben- al-ouardi, que Christophe Colomb entrcprend ses découvertes ; le souvenir du voyage des Árabes existoit-il encore de son DAS SCIENCIAS DE LI.SB04. 20» teflifis-tsbr ces cotes, et auroit-il doiuié occasion ála nouvel- le expódition d»; Colomb ? ... 4. II lie faut pas croiro quo cnsíles soient une desCana-^ ries, celles-ci útoient cotinues dvA Arabos. D';iillours, Id rú- cit do Benal-ouardi nous prósciito doux lotitalives. l'une des Arabos partis de Li.sl)i)Mno , Tautrc (pii la ]>réc(''déir , faile par les sujcts du roi de Tilo , qui oiit dú s'avanccr plus loin vcrs roccident. N. XXX.. p. 13.5. Edrisi, Cetle première section commonce à la partie do Toxlrâ- me occideiit baiy;rn';e par rocóaii Tciiébreux doiit emane la mor do Syrie (la Módilerran('-e ) , qui s'éloiid \(;rs Torient. Ccst làqii'est ssituó le pavá Andalous^ljjl ^y^ que los chrt'- tiens appelleiít líspa:riie ou prosqu'ilc d'Aiits/us»i;» ««Ta ttíXi» OrJ^ay T5JÍ Itijoía? ■ xoit »oui(ra»Ta!{ É»rauii» £<»«* raj f ijXaç, ^U(r«< tu íf íi ' f^T) ytvofjiivut Oi TTxXi» KxKuf Tuiv teoítci» j f7ra»íh.jsiv oíKaàt' tui ai ToiTO) çoXm Tou; a/áoi , kaTx f/«riiy ins Trjv fura^ò rusv ^votiuv yr.r . xat íttí tu itr^f/.a> Kooiv^íxxã ixvnji^ovBiiiTxi j-ijAíj Tií ííjUjttfH) tt^OTe^cv ^v eçija-av xoii^ èl Tr,» ArjiKr,» (Tvv TVj MtyaoíSi xaTa(r')(cvT(í lavei; y IhXadíVTSç Ix Trjí TlíXo-iTcviíTis f xai ol xceraa^^oVTí; riji' ntXoTióiiij^- > • « ' ' • _ ' f * TOTTUv (iç ouf vçciTov; vixov Touí íTTii^aiiEs-aTci/f (ciripotieçaToi oe ot 7rop3'£t!Ji , xa» Ta tviKeíiieva cprj , Kat aí nijo^idíf , ttocç to arro- otlAoyK iiry^xTixç tí xoei ao;^aj tottuv ) ocXíiiroT*'» cí Tay j^íiflOJC^ijTu» UTroMVíjtíarwi', .aíTéKe;)^?!?»»! Touvcfí» «tf Teuj T6W»U{, li rí Taç n;a"<í3f Tí{ iGauXsraí Xf^^ííK, ti te ra; íê«flaí -a; TTOicuffaç rov iropòu.ov, Tcxtro yuu Yiori òiopuaíT^cti ^aXíTròv y votíooiç ^PV '^pora^/ai rrf» cnttiXr,-' (Tji' , o.ct TO auípoTepoii lotKivai Ta; çr;\aí , Aeyu ai toixivai , eigri iv Toi; TciouTOiç lopvvTai ToTToiç , Cl (Taipiíç VTTayopujoutn rctí ((Ty^ot- Tiaj )ca-7 o Ka» fJAta: (ipijTai o Tfopjf^cí f ícai cuTOf y Koti «XXo/ ítAíiouç • TO de íouoc tiaoi fiív híttXouv a^x^ 'f » ""fí °' exttXoi;» ía';^aroi> . Ta aui/ ítti tu çóiÁOiTt vtiTÍha y txpvT» tj t:jiríoiyaap:» T£, Kai fttueiuSeÇj ou (paúXwí fiíXa/; ceTrtiica^oi ríí «» ' «{ í' «Út«í xai Ta íflij Ta é^Tiits/jusiía Ta vooBuíj , «ai f ja;^'?» T(»a r«iauTi)ii ntcpocivovra y Oiov ai f ijXidE; , ^ ai çnXat , ICai o Ilivaapo; ouTu; M Ôp^uí Xíyoi Ttúha; PaSiwÍTaíy ei fffi T»u çofíotres vooTito ai fijXai* TuXaif yoca íoikí tu ç^./áutx ' Tct os i xàlioct cu» t» TOiouTot; tÓPlf TUI TOTTOIÇ f uvT airooijXou» i)Xa{ , fiiir,u,i7» unxi St7 Tr,{ ixiirou ^fyaXoujyiaí , «v T<# 268 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL f N. XXXIII., p. 169. Chronicon Conimbricense. (( Na Era de MCCCLXXI. armo fuy tão inao anno por todo Portugal , que andou ò alquere do trigo à XXI. seitis , è o alquere de milho à XIII. seitis : e o centeio a desaseig per la medida Coiínbraa. Item en esse anno andou el almude do vinho bermelho àXXIIII. seitis: edoblanco, à XXX. sei- tis por la medida Coimbraa : ò bien assi foy menguado o an- uo de todos los outros frutos, porque se a gente havia de ma- teer : e neste anno morreron muitas gentes de fame quanta nunca os homes virom morrer por esta razon , nem viron nin nem ouviron dizer o omes antigoos dante si que tal cosa vis- sem , ni ouvissem : è tantos fueron os passados , que fueron soterrados em os adros das Egrejas , que non cabian cn el- les, e a nes os soterraban fora dos adros è deitavanos nas co- vas quatro à quatro, è seis à seis, assi como os achavan mor- tos por nas ruas è por fora. E esto foi asi todo do compezo do anno ata ò outro renuevo do anno seguinte. E bien asi foi este anno tam mao è muy peor por toda Casiella, è por toda Galileia : è neste anno passaron Mouros de alem mar è cor- reron toda à Audalucia, è feceron muito mal en Christianos, que mataron , é que cativaron è domais tomaron hun Castel- lo muy forte que chamão Gibraltar. E neste tempo era Rey de Castella D. Affonso, filho dol Rey D. Fernando èda Rey- na Dona Constanza, que foi filha do muy nobre Rey D. De- uiz. " E31ENDAS. l'ag. Erros Correc^dti S9. nota [i], 1. S — 1798 1793 ibi, nota [5], 1.1 ; nota [6], 1. 1 ; Leia-se em todos estes lugares — o Ca- e nota [7], 1. 1 -— Camusi mús 5S , nota [CSj deve accrescenlar-sc — V. o N. VII do Appendi.x G7, nota [1351, 1. 1 —fio de 71, 1. 15 — (mitlellíockãcutsh) (mittclhochdeutsch) 7 -t , 1.18 — cz-ezmán iz-zemán 78, nota [ItíS] , \.Í—etlte cote ibi, nota [liJS], 1.3 — Al-makkri Àl-makkart 82, 1. 38 — lha ilha 86 , nota [187] , 1. S — írap" TTCCf' 88, 1. 17 — Morabilins Morabetins ibi , 1.22---Morab;tins Morabetins 94, nota Í'il7], 1.2 — aujurcTIcui aujourd'hui 101, nota 243], 1.1 — urricrc arriire 103, noUi [250 , 1. 2 — nckhabat nekhhat 108. nota [274], 1.2 — Dull Dliul ibi '1 1» , 1. 9 — Arr! Arri 112, notas [293], [294], e [295] em lugar de^fl. leia-se p. 115, nota [303 — 27U 305 ibi, nota [305 , 1, 10 — 268 297 122, nola [327], 1. 6 — Lcipsiq Leipsij* 129 , I. 7 e 8 devem ter no principio das linhas » 137 , 1. 11 — aniet.ide a nieUde 139, nota [361], 1. 4 — 7U« qui 145 , 1. 11 , no |)rincl|< " >' — depois de C! comedis circulai i« - ibi, nota [d\. 1.2 — ««> noetà. - 199, nota [d], I. 1 — •!) ■ i'( - ibi, nota [<] , 1. 1 — «a! \ - ibi >» 11 , 1. S — qia gica - ibi . nota [A] , 1. 5 — 859 %i9 Disse a p. 105, nota [-J8] , reterinilo-mt; a liiiina Carla ilo Sí:r. iJaião deSla- ne , = " Lè-se na historia dos Kerberes .»ios, e na lingoa dos Francos cliama-se, seijiindo elle diz, ul-Halaiia, ou «/- tiliítiala, que he talvez hunia allera(;ào da palavra attaiillcu, que se escmia em í. árabe — al-adaiit , al-tclant , ou a/-/'iialniente o mais funesto, e atrazador resultado do sce- pticismo ig-navo, e or-jfuihoso. Eu preferiria dos dois extre- mos, antes a credulidade histórica, pia, e benévola, do que o dogmatismo desdenhoso, que enfeita tudo, o que n3o com- prehende : aquelia , ao menos , dilata a esphera á imagina- ção, e dá hum certo prazer :í alma. que naturalmente se de- leita com a contemplação de successos fora do commum , com a apparição ile j)henomenos raros ; este, pelo contrario, encurta, e amesquinha o exercício da intelligencia ; tudo o que he fora do vulgar, ou regeita, ou dá de suspeito; e apa- gando a ambiçSo nobre do exame , e discussão , ctirta o ca- minho único, seguro, de chegar á verdade, á evidencia. Felizmente que o successo, do qual vamos tratar, achou era dois de nossos eruditíssimos Consócios, vindicadores brio- sos tle sua j)ossibilidade, e congruência, históricas : forão es- 2." SERIE. TOM. I. p. u. Mm 270 MEMORIAS DA ACADEMIA REAE los, ò Srir. João Pedro Ribeiro, no tom. 3°, p. 1.', pai;, uí íle suas Dissertações; e o Sfir. Canlcnl Palriarcha , na.'? suas Memorias Históricas , c Clironoioçicas do CoikIo D.Henri- que, ex. j)ag;. cu. O lacto constava de documento doj)osita(lo no archivo de Cliini, d'ondc o cxtraliio D'Aciiery , no seu Spicilcffhim ; meiícionou-o o ('ardeal (VAgnirre na Collec(;ão dos Concilios de nesj)anha, e o copiou o primeiro daqiielles nossos Académicos, no logar cilado. Trasladado em vulgar, diz assim <• Ao muito pio, e venerável Hugo, abhade de Ciu- "ni, e a toda a Congregação do bemaventurado S. Pedro, "que llie está sugeita, o conde Raimundo, seu filho, e o " conde Heiu-ique , seu familiar (l) , envião muito saudar. "Sabei, charissimo Padre, que depois de havermos visto, e "tratado o Legado, que nos enviastes, assent.ímos , pelo "amor de Deos , e do Apostolo S Pedro, não menos que " em reverencia ;í vossa alia dignidade, tiepositar nas mãos do "venerável Dalniacio Gevet , o seguinte nosso concerto : = "Em nome do Padre, do Filho, e do Espirito Santo. Em " penhor de inteiro amor , e concórdia , que nos une , accor- " damos , e promettcmos , com juramento , hum ao outro , "nós ditos condes, Raimundo, e Henrique, o seguinte: Pe- "la minlia parte, eu o conde Henrique prometto lealmente, " e asseguro , sem sombra de dissimulação , e falsidade , ao "conde D. Raimundo todo o auxilio, e assistência, que em "mim couber, para a incolumidade de sua pessoa, para sua "liberdade inteira, com perfeita, e constante amisade, pon- "do-me em campo, se necessário for, para este effeito, o "que juro. Juro igualmente, que depois do fallecimento del- " rei D. Affonso , nosso sogro, defenderei, contra todos, lio- " mem , ou mulher, toda esta Terra de sua herança, afim de "que elle dito conde D. Rainnjndo , a possua, e atiquira , » como seu particular senhor. Da mesma sorte juro , que se "acaso me tocar haver ás mãos, primeiro que elle, o the- (I) Estas qualificações de filho , e familiar dos mosteiros , expressavào relações ■milito usal.is iiaquelles tempos de ^'rande devoção. Não só os senhores, c pessoas particulares procuravão , por meio de doações, serviços, e benefícios, obter estes tituloj de confrade, e familiar das casas religiosas, senão também os reis. Rober- to, o justo, rei de França, riifeuilou a M3. coroa ao mosteiro de S. Diniz; o nos- so fundador da raonarcliia , D. Aílonso Henriques , enviou carta de vassallagem a S. l'edro de Roma, isto lie , ao Papa : consta do breve de Celestino II. , registado nó archivo Bracarense , onde vem a formula, de que usou o mesmo soberano : Do- mino , et patri meo Papa homagium feci. .I/DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 271 jj souro existente dentro da cidade de Toledo , lhe entre- !■> ^arei duas partes , o só para mim rost-rvarei a terc(;ira. »>Amen. — K ou intentar irrogar-nos alguma injuria, sem que larguemos "as armas, até que adquiramos, e entreguemos hum ao ou- »tro as Terras supramencionadas. Juro tambení , que, suc- » cedendo entrar eu em Toledo primeiro, que o dito conde «Henrique, e me apoderar do ihcsouro alii e.xi.stente, entre- >;garei a este a terça, e guardarei as duas partes para mim.» ■■— E continua com huma espécie de additamento intitulado: Segurança fjiducia) , que o conde Raimundo promctle nas ■mãos do venerável Dalmácia Gervet. ^ E succedendo , que eu "O Conde Raimundo n;lo possa dar ao conde Henrique a ci- >i dade de Toledo , como liça estipulado , lhe darei em com- " pensaçiio a Galiza, com a clausula, de que elle mesmo me "ajude a tomar, e adquirir toila a Terra de Castella , e de "Leão ; e só entào , depois de eu estar de posse destas , he "que lhe dimittirci , e darei a Galiza. Assim Deos me aju- "de, e a Santa Iijrcja nos auxilie com suas pias orações, " Amen. " A primeira difficuldade na interpretação, e expli- cação deste singular documento , prov/ím de não ter data : d'Achery o attribue ao anno 1094 ; Aguirre ao de I093, mas ambas são insust(;utaveis . assim como a de 1107, a que se inclinou o Sflr. João Pedro Ribeiro nas notas ao dito docu- mento, reparo , que já fez o Sfir Cardeal Patriarcha , a pag. 71 das citadas Memorias. Entretanto, esta falta nenhum em- baraço faz, por agora, ao contexto, e apreciação do do- cumento; porque, sendo indubitavelmente anterior ao an- no 1107, ein que fallecòo o conde Raimundo, também não pôde ser anterior ao auuo 1097, porque faltava o motivo, e Mm 2 27á IVIKMORIAS DA ACADEMIA REAL razSo do dilo coticerlo, oii es|)<'oio do proUísto ^ oocasiotiaíly pelo nascimento tio infante D. JHnncho , lillio da maura Çai- da , successo (|nc vinha pôr em h;ii;tnras cos dirdilos adfjnirj- dus dos dois príncipes, pirr caberá, de snas nuilli(>res. E som gastarmos (eiitpo com averig-naçòos, è outros calciiloR c.lirn- nologicos , qne por agora iios não s;lo precisos , j)asíf mos á matéria do documento., e li sua explicação philosophica ; por ella será taci! tixar-lhe a dala. O Snr. Cardeal Patriarcha , com sna costumada exacti- dão, e talento histórico, levou já esta matéria a hum certo i>ráo de elucidação ; elle , porem , não teve então em vista , senão conciliar as diíTiculdades , e escrúpulos dos antaironis- tas do documento, com os succes^os do tempo , e dcilions- trar, pela exj)lanação , e fixação delles , que não pslavão oní desacordo com os motivos, que j)odião determinar o dito convénio com as circumstancias do Paiz , e contingências da successão dos Estados de Alionso VI. Era isto bastante para a historia, e chronologia do Conde D. Henrique, objecta das Memorias citadas: nós folgamos de seguir a esteira, que abrio aquelle Litterato illustre , e accrescentaremõs ás de- monstrações , e congruências históricas , as demonstrações , e conveniências jurídicas, isto he, mostraremos, què os sue cessos , e circumstancias particulares da epocha podiâo , de- vião mesmo produzir nos dois príncipes receios , e infundir- Ihes mediílas de prevenção, e precates para o caso do fale- cimento dó sogro, e eventualidades na successão de seus Es- tados ; na applicação dos remédios , nas cautelas de sua pre- visão, não lizerão mais os mesmos príncipes, do que usar dos direitos presumidos, ou legilimos, que julgavão assistir- Ihes, e daquellas prérogativas , e usanças do syslema feudal, ainda dominante , naa contestaçHes desta natureza. Esta ave- riguação he ulil, não sei pura comprovar a certeza, e eviden- cia histórica do citado documento, senão tauíbem para co- nhecer-se o espirito da jurisprudência da ej)ocha , sobre que tanto se tem dito , e tão pouco atinado. Para verificar a propriedade , a congruência do convé- nio, mostremos qual era então aposição social dos dois prín- cipes francezes ; colloquemo-los no seu verdadeiro ponto de vi^ta, pelo que pertence á Hespanha, e á cArte de Affonso VI. : e vejamos se sua condição actual ilies dava direito, ou pretexto ao monos , para terem vistas sobre â herança dos Estados de seu sogro, que erá o objecto expresso daquelle J DAS SCIKNCIAS DE fil.SBOA. (í73 pado sttccèssorio. OrdinariariKMile^ sío pd^sâ «Jr» saltd BoHrf* *y-» tas cunsidiT;ir;òes , que aliás s:lc< íiidisfíf usáveis para oiifràí i>a oxplicaçrlo de hiiiti phonomoiio traiiiiceiKltíiito, iiiiico íià meia idade peninsular, qual era vc»r toria Arabc , de que nos deo e.vtractos o nosso consócio Moura. Marianna, e os demais chronistas hespanhoes , estropeando aquel- la denominação , disserào , e escreverão Bcnabct. Mas o seu nome próprio era Al- mohatamad : Benabbad indica apenas a qualidade de filho de AbbaJ. Foi este mesmo o pai de Çaida, cowedida a AÍToiíso VI., mãi do infante D. Sancho. A Historia dos Soberanos .Moliamelanos do auctor Árabe, ./sseleh, publicada pela nossa Academia, em 18ÍS, chama a este rei Mouro de Sevilha, JlmohatamaJ. DAS SCIRXCIAS DE LISBOA. 275 lie armas; porque, aporias casado, se retirou da Hespanha , (' (la cansa hespaiiliola , e foi com sua inuliíer, j)ara a Syria, bapti/ar hum lillio no rio Jordílo. Por imina conducta opposta, os dois condes, Raimundo, o Ilenricjue, pernianecôrAo, e hcspanlwlárão-sc. Vamos ;í pro- va: encoutramo-ia jio mais anti^^o do>; poemas, em iingua vulgar tias Ilesjjanlias , no Cid , que pelo menos vai ler ao meio do século XII. , c ))or con«ei,aiinle escrito por auctor quasi coetâneo , c que podia ser itiforniado por testemunhas presenciaes. Este poema , que tem por objecto a desgraça do Cid , banido dos Estados de Castella por intrigas da ciNr» le , e as suas subseipu-ntes la<,-anhas . e aventuras, he hum moiuimento precioso de litteratura hispânica por differentes princij)ios , liisloricos, |)hilologicos, e topographicos. O sé- culo de Affouso \'I. , os costumes da corte, os dos grandes senhores e infanções da epocha , as idéas e tendências re- ligiosas, o espirito do tempo em fim , ahi he pintado com as cO»res vivas e singelas , que lhe pertencem. A nossa historia em particular , também ahi tem o seu quinhSo ; e he elle muito apreciável , porque se refere a hum periodo de nossos annaes , em que somos muito mingoados : referimo-nos á vi- da do nosso conde D. Henrique, de que tíío pouco sabemos. Entro os acontecimentos extraordinários da carreira bel- licosa de Rodrigo Dias de Bivar , por antonomásia , o Cid , foi , como he sabido , atravessar , depois de dcsgraciado , to- do o reino de Aragão , dominado de Mouros, c voar de cas- tello em caslello, de victoria em victoria , até Valência, da qual, s(')mente com seus vassallos , e valentes,. se fez senhor, vencido o rei Mouro do Paiz , Abu-Bucar, em batalha cam- pal : até aqui he histórico. Os iiijanlcs de Carnon , dois se- nhores Leonezes , denominados assim por serem descenden- tes de reis, forão alli pedir ao Cid suas filhas para casar, o que conseguirão com recommeodaçiio real ; mas como só erào levados dos fumos da vaidade, de enlhusiasmos momen- tâneos , mal formados para poderem avaliar méritos , e direi- tos , passado algum tempo , desgost.^írSo-se das esposas , que então lhes parecèrSo desiguaes ; não lhes agradou a palestra guerreira daquella Capital; e se despedirão para seus solares de Carrion, levando comsigo as duas fdhas do Cid, suas mu- lheres com tenção damnada. JMui perto já de seus Estados, as abandonarão n'hum bosque solitário, no Rubkdo de Car- pes , maltratadas , e desacatadas de bum modo sú próprio da 276 MEMORIAS DA ACADEMIA RKAL violência , e arrogância bruta de déspotas fíMidaes. O Cid scntio a aflVonta , e jurou viiii;aii<;a ; mas lioinem sizndo , e avisado, quiz levar este negocio pelus lueios le(/iliinos : de mais, eile devia recear ainda os ódios e ciúmes, que o allastárão do lado do soberano hespanliol , e preciso lhe se- ria ganhar-lhe o apoio por meio de defertMicia, e contem- pla<;ão de vassallaí^em. Mandou hunia deputação de seus mais illustres guerreiros .i corte de Toledo , ex[)òr ao ino- iiarcha sua queixa, e pedir rcpara(;ão condigna. A corte to- da tomou partido pela razão do Cid, e AHonso VI. deferio- Ihé com imparcialidade. Os infantes de Carrion forão empra- sados para virem a Toledo responder Ás accusações, que llies pezavão , em juizo competente, o dos seus pa7-es. isto, e o que segue, he romanesco; mas lambem pode ser histórico. Nós não ignoramos, Sejdiores, o que se tem dito, e es- crito lí cerca do Cid , e sua historia : aconteceo com elle , o que acontece com todas as grandes personagens antigas , da idade media, estas que tem feito no Mundo hum papel ex- traordinário. O rei Arthur , Carlos Magno , e outros , tem passado até nós acompanhados do maravilhoso, dos atavios tia imaginação , porque foi a poesia , que primeiro se encar- regou de sua historia. Os trovadores e provençaes , escre- •\êrão primeiro que os historiadores. Na espécie , de que /tratamos, outro tanto aconteceo nas Hespanhas : o poema do •Cid foi muito anterior á chronica do Cid, talvez mais de hum século; e he por isto, que Herrera , e outros historiadores, idesconliárão de sua historia. Se nós escrevêssemos , ou dis- cutissemos aqui os factos, e acções de sua vida, não busca- ríamos as provas somente no seu poema ; porém nós curamos de analysar, de comparar, nle explicar acontecimentos cer- tos, indubitáveis, e havemos procurar sua explicação nos cos- tumes , génio , e instituiç<5es da epocha. Nesta tarefa, nesta pesquisa, tudo o que forem documentos contemporar.eos iios servem , ou eiles sejão sinceramente escritos , relações sin- gelas dos factos, ou rasgos da imaginação, embellezamentos poéticos destes factos : como ninguém cria , nem engrande- ce, senão pelo typo, do que vê, do que sente, ou do que conhece , os poetas , no nosso caso , servem tanto como os prosadores. Assim, por exemplo, supponhamos momentanea- mente, que tal lide entre o Cid, e os infantes de Carrion não houvera, e que tudo quanto diz o texto , que idos ou- vir á cerca do queixume do Cid, da aleivosia dos infantes j DAS SCIENCIAS DE LISBOV. 2~7 das cArtes de Toledo , do combale de Carrion , foi huma crearnio poética : nem por isso eeria menos verdadeira, o fiel a pintiir;i do processo, do andamento desse negocio com suas circumslancias individuaes; porque, essa parle do quadro, devia necessariamente ser conforme ás idéas do tempo , aos usos, e costumes da epocha. N'liuma palavra, se houvessem cortes para semelhante julgado, serião necessariamente as- sim. O juízo dos seus pares , era huma das insliLuiçOes im- preteriveis, caracteristicas do syslema feudal : se nesse tem- po os príncipes houvess<;m do ser juis^ados, si Los |)iés e las manos vos besa el Campeador, » Elle CS vuestro vassalo , e vós sodes so schor , » (^asastes suas fijas con infantes de Carrion : » Alto fue cl casamiento ca lo quisiestes vós : " Hya vós sabedes Ia ondra (honraj que és contida a nos; » Cuemo nos han abiltados infantes de Carrion ; " Mal maiaron sus fijas dei Cid Campeador , >) Maiadas c desnudas a gran desonor : » Desamparadas las dexaron en el Robredo de Corpes , 2.* SERIE. TOM. I. p.u. Nn 270 MEMORIAS DA ACADKMIA REAL » A las bestias e a las aves dei nioiit. j) El Cid vos hesa las manos como vassallo a seilor;, "Que gelos lebcdes cá Fútás-, o á Juntas^ o a Corte'^. jíTienes' por desondrado , nlas la viitísUa es maior: »> Quo haya mio Cid derecha de infantes de Carricrt. Nolai, Senhores ) a exaclidíio , precisão, e dOrialidádé desta querela : hum jurista forense de nossos dias nào a con- ceberia mefhor. EUe he vosso vassallo, e vos íoís seu senhor: aqui esl;í assentada a conipiitencia , a certeza de juizo. f^ói casastes-lho ás iilhas côm os infantes de Carridn , e elles aá tnahratárâo , e ahandonárâo , expostas ás feras : eis o delicto , c delicto aleivoso, que feria a lionra, o pundonor dd Cid, e dos seus , Como nos kâo aviltado , diz a queixa. A conclusão nào se- faz esperar: pede-se-lhe fará justiça , derecha; e está justiça cm tribunal competente, em Vistas, Juntas, ou Cor- tes. Vistas , entendemos nós pelo reto , ou combale , modo iegal de decidir as contendas entre cavalleiros ; Ju7ilas , erSo o juizo dos seus pares, condição essencial do systema feudal ■ríos julgamentos judiciaes , o que muito melhor se dava eiu Cortes , onde se reunião as primeiras ordens do Estado. Proposta assim , e offerecida a el-rei , como o superior, d senhor suzerano de todos os fidalgos, e cavalleiros do seu ■ reino , a accusacâo , a querella do Cid , deferio-lhe AffbnsO VI. , dizendo : 5 -•> Ayiularle ha derccho , sin' salve el Creador. -» Andaràõ mios ])orteros j)or lodo mio Reino, .*> Pregonaran mi Cort pôra dentro én Toledo : »Que allú me baxân Cuendes e Infanzones. '5 IVIandaró como y vaian Infantes de Carrion , »E como den derecha a mio Cid Campeador: •} Decidle ^rQue destas siete semanas ádobeâ cort suS Vassallós « Vengão a Toledo , eslol dó de plazo. " Acabamos de vef, que el>-ei D. Affonso cscolheo para julgar eslã grande causa , o tribunal de cortes, o mais au- gusto, numproao , e au^torizado dé todos. Traíava-sé de di- reitos, e deveres à^ principes , e grandes senhores, a pró- pria auctoridade real estava compromeltida , huma reunião nacional deVia .©uvir as paftçfe , dí^culif ás razõè-s, e presen- DAS SCIENCIAS DlC LISBOA. 2:9 cear o julgado. Seguio-se a convocaçíto geral , fios que de- viílo ir a ellas , e ainda aqui temos que notar : = » Non lo detione por nada Alfonso el Castelhano: » Rnbia sus cartas para Leou e Santiaguo )! A los Portugaloses , e a los Galiciauos fR a los de Carrion . e a los Varones Castelhanos > '»Que Cort facie en Toledo aquel Rei ondrado : •) A cabo de siete semanas que y fossem iuntados : '> Qui non viniesse á la Cort , non se tovicsse pot- su vassallo. Reparai , Senhores , nesta ultima tíomminaçào : o que niío obedecesse ao chamamento , não seria mais vassallo áel- rei : tal era a [)ena da desobcdifíncia feudal. O vassallo pos- suía o bnie/icio; as terras, os caslellos, os senhorios, da mu- túticenria dos reis, e promettia/ot el homwatjc , serviço leal, e vassallacem : faltando o vassallo a esta comliçào, perdia o beneficio , deixava de ser vassallo. Vejamos quaes forâo os Notáveis, que figurárSo nestas cortes : = >) Legava cl plano , querien ir a ia Coft ; » En los primeiros vá el buen R(m Don Aflbnso, » El Conde D. jínrrkh , e el Conde Dou Remond , » El Conde D. FcUa , e el Conde J). Beltran ; '» Fiíeron y de su Regno otros muchos sabidores " De toda Castiella , todos los maiores. »> El Conde Di Garcia con Infantes de Carfion. » Al quinto dia venido és mio (.3) Cid el Campeado^ j >» Catando entan a »?ijb Cid quantos ha én la Cort, i> A la barba que avie longa e preaa en el cordon. Est.í visto , Senhores , que os dois principes francezes nào figurarão aqui de guerreiros estranhos , de aventureiros , qUe temerariamente vem ajudar huma empreza ■ aqui repre- (S) Mio, neste logát, nãd hé õ telativo meu : he hum titulo, tiuma qualifi- cação de honra, e (liatiiicçào, com que se exptlme a relevância, e alta jtr.Trchla lie huma peniimagem acima do ordinário , qual era o Cid. Mio. he huma con- tracção proveiiçiil de monsieur. Nos annaes tolelanos , está ■■ Friso Min CM. Va- lência, era 1152. .> Nos séculos seguintes divicrào rnoiícn, e .iwini cscrcveo Rui de Pinha: Mossen Bcltan de Claqucin. A ultima mulher de Egos Moniz se dizi« lí Miaiui D. ITicrtzax por raadama etc< Nn 2 280 MRMORIAS DA ACADEMIA REAL seiítão na còile do soberano hcspanhol , e os primeiros deU la, e represitjntíío ii'iitini nftçocio civil, de administração in- terna, n'luini coidieciínenlu , e julgado de hespanlioes entre si. NingueiD difí , pois , que estes dgis homens não fessera então já senão tambeni liespanhoes. Se acaso se I ratasse 3, contenda de braço a braço , de poder a poder ^ em campo , cm rcto , talvaa que cavolleiros estranhos, príncipes estran» geiros , podeeaem ser jnizes árbitros , competentes, porque as leis dos r^tus erâo lejs , e regulamentos de cavalleria , e esta estava (ambeni dentro do direito publico da epocba ; mas n'luun conhecimento, e julijado cm cortes, estabeleci- Hionlo privativamente nacional cremos , que só hespanhoes seriào competentes. Mas os dpis príncipes forâo ahi não âó personagens da corte hesjianhola, senliores com assento era cortes, m&s tam« bem juizes, e juizes commissionados para instaurai, e difi» yjr p processo. Reparai : =? "Esora se levo eu pie el buen Rei D. Alfonso: ' ' " Oid mesnadas , si vos vala el Creador : •vHyo dcs que fu Rei , non fis mds de dos Cortes 5 » La una fue en Burgos , e la otra en Carrion , 5) Esta terccra a Toledo la vin fer hoy , '' Por amor de mio Cid el que en buen ora nacic^. '>Que reciba derecho de Infantes de Carrion. » Alcades sea^n desto el Conde Don Anrrich , ç el Conde Don Reniond. *> E estos otros Condes que dei vando non aodes » Todos lUBted y mienles , ca sodes conoscedorea. "Juro por Sant Esidro , el que volviere mi Cort "Quitarnie ha el Reino, perderá mi amor. •> Con el que toviere derecho yo de esa parte me só. Seguio CQii) éíTeito o processo seu andamento, e o que era da essência , das garantias naturaes , indispensaveia de qual-- quer contenda judicial , se não omittio. Queixoso, e aggrest sores , tiverão seus > De Içs Infantes d« Carrioii que mMosondraron Un mal » A mtíJios da riebtos no los pucdo dexar- Forçoso uos he passar rapidajnenle sobre muitas circutfa- slancias curiosissimas , {\ue pintSo admiravelmente oe costo- i»eá do tempo neste género de neçocios, e as liberdades, que se permiti ião em lai caso os senhores feudaes, los In- /áxçoMfí da epocha. Os bravos do Cid, chamavíio fracos, aleivosos, o cobardes, aos infwites de Carrionj e isto s6 , sem fallar da injuria antecedente , era bastante para provo- » A deliiiò á el Conde D. Anrrich e el Conde D. Remond n Abrazólos tanbien e ruegalos de corazon. " etc. O Cid já meio desaffrontado , tira o capello . e a touca de BOJO , e de tristeza , como homem envergonhado , que al- li viera; desatou a branca barba, e foi abraçar seus juizes, fj3 dois condes. Deixemos, reptadas, e reptadores, no cam- po de Carrion decidir pelas armas a satisfação da injuria, e voltemos ao nOsso assumpto. Vov esta grande solemnidade feudal, eslK visto, Senho- res, que os condes D. Henrique, e D. Raimundo, erão já Beste tempo hespanhoes : ollcs acompanhàç) a corte do sobe- rano hespaiihol, sào nomeados juizes do processo, e jule.to com os demais parea em cortes ; elles sào reconhecidos pelas partes litigantes, e o Cid lhes agradece sua integridade. Não est;l tudo isto indicando, que ãhi erilo senhoros naluraes do Paiz .' Aqui nío nos he necessária a discussão de datas, que muito embaraçadas sàg por falta de docunierjtos históricos : 282 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL basta-nos sabor, que este successo (dos de Carrion) , foi an- terior ao casamento dos dois príncipes , o qual só teve logar poucos annos antes da morte do Cid acontecida em 1099. Não parecerá, por tanto, arriscada nossa conclusão, de que os mesmos ilois condes se ha\ ião naturalizado em Hespanha, e constituído senhores hespanhoes. Examinemos agora quaes erão os resultados naturaes , legítimos desta sua qualidade , juntemos-lhcs os que accres- cérão como maridos das duas infantas castelhanas , e peze- mos os direitos , que dahi lhes provinhão. Recorde-se neste Ijgar , que ao tempo deste consorcio, el-rei D. Aífonso VI. jino tinha outros herdeiros presum])tivos , e habilitados para succeder-lhe , senão aquellas duas filhas, D. Urraca, mulher do conde D. Raíjnundo, e D. Thcrcza , mulher do conde D. Henrique. D. Aflbnso VI., era então casado com a rai- nha D. Bcrtha , mas delia não tinha filhos : elle mesmo pare- ce, que hia tomando medidas, e dando passos para habilitar a representação , e cathegoria dos dois condes , a poderem hum dia partilhar entre si sua herança , porque hereditaria- mente deo a hum a Galiza, a outro Portugal, e ambos ahí governavão soberanamente , embora sob certa dependência feudal , reconhecendo hunia tal qual suzerania no soberano liespanhol. As cousas assim eslavão até ao anno 1007, em que Affoft- so VI. , havendo tomado a si a moura Caída, filha do Rei de Sevilha, delia teve hum filho, que se chamou D. Sancho j e ao qual seu pai, e a cArte, denominarão infante. Fácil he de conjecturar, quanto este successo seria jubiloso , e agradá- vel ao \ elho monarcha , que de quatro ou cinco casamentos não havia procreado hum só filho varão. Aqui he necessário notar duas cousas: a primeira, a data deste successo, pof- ue ella ajuda a fixar a causa, e o fim secreto do convénio os dois príncipes ; e seícunda , a qualidade illegitima deste filho de Aílonso VI. , e da moura Caída (4). INós dizemos, 2 (i) E não somente illegifimo, mas espúrio, cômd nascido em tempo do con- sorcio de el-rei D. AtTonso com Bertlia. Os cbronisLis lieápanhoes, assim como os noijos, ab.strahírão inteiramente Aos memorias, e historias árabes da Peninsula, e privár3f>-se assim de luim auxiliar poderoso, para verificar as datas dos aconteci- mentos, ponto, em que os escritores miisulnlanos são sempre cuidadosos. Tudo ahi vem chronologicamente. O resultado desta falta, fez A variedade, e o desacerto, com que talião do consorcio (connultio) del'rei com Çaida : até o mestre Flores le- va inconsideradamente este successo ao anno 1093, ou 1099, no intetvallo das DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 283 que o nascimento do ittfànle D. Sancho fora cm 1097, ou I09t5 , porque todas as liistorias concord;To, em quo inorròra de onze aniios , om llof), na batalha de llclrs, o que d.i na.- quella daia ; e dizemos mais, que este filho nasceo iUifjiti- tno , spurio, porque a Rainha D. IJerta í;ra então viva, e o tbi até ao anno 1099 ; pelo monos existem docuraenloa desda dat;i , em que ella subscreveu, sit/tianler , o da doaçào do mosteiro de S. Pedro do Kslonça, produ/.itlo pelo nosao me- ritissimo consócio, o Sfir. Joílo Pedro Ribeiro, no tom. 3.* de suas Dissertações, no Appendix 9.° pag^. 38 (5). Fixados estes dois pontos , confrontejnos agora com ei- les o convénio dos dois principes , e veremos como tudo se accorda , e harnu)nisa. Notemos ainda , que este casamento da moura Çaida, lie cousa <|uc tem d;ulo muito que fazer siibsequcas matrimomunt (6). A rai- ilws rainhas, Bortlu , e Isabel. Ora, be Uto repugnante aOs sucoessos. O rai mou- la >iu Sevilha, Beii abbaj , (.\luluitain.KÍ) (lc^ap|jareceo da Hespanha. com sua faiailia, em 1091 , destbruriaUn pelos Al muravidei, teiidu inmitinoiíte feito allian- ^ cuin Aflunso Vi. iio anuo aiUauod«iite. Lo(^o, postciiormonle áquella aiiiin de tua cutaslro|ibu , iie u be vvruiiuiil oudasjt: ullucecer huma liltia ao lei ca^elliaiio, Betu i|ue (rtttí a acceitOAie por mujher , e impossivel era ilar-lhe o sogro em dote , praças, e castelluâ. Cou>eqiuiiitcmtiiite liaveinos concluir, que veiu Çaida para po- der d« el-r«i D. Aironso eiu 109'>, cunio penhor de alliau^a; e « houve casamen- to, foi, como dizem, c.isainento natural, buiu coiiuubiuato , abarregjmento. O fi- lho, que ilahi uascao , filho de homem c.xiado, em 1097 , era pois espúrio. Vid. ilist. dus .'ii.Jjtr. Mtluimrt, , irad. do padre Moura, pag. Iii0atél71,eo8 extra- ctos do Ciirlaa , pelo mejnio auctor, nas Mem. Acad. (5) O mSfUe Flores, quando trácia desta rainha Beilha , na obra, que esore» veti ex prtftsso á corça dellai, di;»jUtio o ponlo, c concorda netita data. (i>) N i> citámos, muito de propósito, oi conmicntadores do padre Marianna , porque torão o correctivo iniispeusavcl da-i inexactidões deste hiítorialoT, que con- funile aa datas, e se não prt-nde oom as contrariedades. O casamento, de facto contrahido cmu a moura (^aida, não polia ser no tempo, que M.iriantui suppox, iinmediaVo á raiiilia Conslani,a, fallecida logo depois da tomada de Toledo, em 1086. Derkle eSíx data até 1090, leve lo$\r a IViriosa guerra da reacçSo, susten- tada cona o Miramolioi, vindo da Africa á Hespanha acoia|>anhado de todoe m reis mouras da Peniiuula , em que era principal guerreiro Benabbad , eu ficnabet , 284 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL nha Berllia era estéril : el-rei D. AlTonso , ou porque fosse cie temperamento a não se contentar com huma, ou porque arilia em desejos de haver lium fillio varão , associou a si a moura Çaida, em vida da rainha iiertha, e teve o lilho, que dissemos ; jiassados alguns annos, falicceo Berlha, e seu ma- rido desposou solomnemente a moura , baptizada antes com o nome de Eli.iahelh , Isabel. Temos a sua assignatura na carta de privilégios aos cónegos de Oviedo, exlractada pelo mesmo Académico , na obra supra citada , a pag. 43 , a qual começa : Ego Adcphonsus totius Hispânia lmpc?ator una cum cônjuge mea Elisabeth Regina. De modo que, alguns dos es- critores hespanhoes, achando hum filho ila moura Çaida, em tempo da rainha Bertha , e depois outra rainha chamada Isa- bel , fizerão da mesma pessoa dois entes , sendo realmente hum só: Çaida, quando teve hum iliho de el-rei D. Aflbnso ; e Isabel, quando publicamente desposada, como o estava em 1106 , que he a data daquella carta de privilégios (7). Razão, por tanto, havia para assustar os dois principes, Raimundo, e Henrique, vendo apparecer huma nova prole do velho monarcha, e prole varão, o qual assistido das affei- çòes, e ternura muito natural em hum pai idoso, e de mais, soberano , lhes vinha pôr em risco a successão de sua heran- (Moatamad) rei de Sevilha, e por tanto mal asado para conceder huma filha ao acérrimo inimigo dos Musulmanos em geral. Pelo contrario , o monarcha hespa- nhol , que procurava, e obtinha auxilio de francezes , casou (boa politica) com liuma princeza da casa real de França, a rainha Bertha, de que temos noticias certas, no nos30 Portugal, desde 1093 até 1099. O aspecto, porém, das cousas na Península, mulou neste intervallo : os reis mouros, ciosos da superioridade do Miramolim, separárào-se delle ; e D. Aflfonso VI., ajudaria verosimilmente esta disposição. Em 1090, o Miramolim, deícontente, passou o Estreito para a Afri- ca; e D. AfTonso VI., fez alliança com o rei sevilhano, e tomou-lhe a filha Çai- da, a titulo de mulher, e até com dote! (7) Os escritores hesp.inhoes teni-se cansado em balde por conciliar estas con- trariedades: até o mestre Flores, que na sua estimável (ibra : ti Memorias de las Reinas Cnlholicas " se encarregou de referir todas as opiniões, a final desistio de poder concluir alguma cousa certa, e terminou dizendo, sin ver originales no puc- dcn dissohir-se duclas de esla clnsse. O caso he , que ninguém até agora descobrio a filiação da rainha Isabel, supposta franceza, e com estranha leviandade , cada auctor a dá por filha de seu differentc pai: Luiz, Filippe, Henrique, reis de França, tem sido chamados para dar nascimento a esta pretendida princeza. Nos abrimos huma opinião nova, m.xs que concilia, e dá solução a todas as difliculda- des, opinião porém, que julgamos apoiada em bom documento : he o cpitaphio de sua sepultura na cathedral de Leão, que diz a.ssim: >ogo, usse em- baraijo . ouiro nilo podia sor, at-Miiío o do riasciíueato do lilho da uioura Çaida. Kastardu , ou nào bastardo, era varão, apoiado na predilecção patnnia , e que racionavelinente se devia esporar fosse iiislituido, por teslauiento , li«rdeiro da coroa; clles , os dois [>riucipes, nascidos estrang;eiros, txs syni|)alliias dos grandes senhores hespanboes muito incer- tas (l-5)j t)^ priucipios, tí regras successorias, mal definidas; e atti os casamentos tão pouco fixos, e determinados quanto H sua lotialidade , que quasi se não distÍQi«de o lilho de Aiiònso 111., ou o magno, alé Ueriniido IJ. , n'bura pcrio lo de menos de sessenta aiinod, foiào nào menos de jçi^ o-! soberanos, que. em prejuízo dos herdeiros le^itimos de seug antecessores, subt- rão ao throno: tiies forào, Ordonho 11., Froila II., AíTuiíso IV'., Ramiro II. Sancho, o gtosso, e Kcriuudo III. Todos sabem, o qtie sncceleo ainda, pasjidoá ilois século», com os fillvos do infante D. Fernando de Lacerla, supplantados po/ Sancho, o bravo, seu tio. Ha lumi l'aiti>, atlt^l.ido pela maior [Hrte dos ohronis- tás . e historiadores hespaivliocs , o qual evidentemente dei)òe da repugnância dos senhores, e inf.ini;3es da epocha , de que lallamos, p;ira com a ilevoluçâo da co- lèa a dyna,stia estranha , oii a linha feminina. Quando fallecco em Uclés o Infai)' lo D. Sancho, «iiandarSo -iiws deputaçòa-s a Affonso VI. . paia que ca.sasse a infan- ta I). Urraca, viuva já do cynd« D. Uaimundo, com a\^un dos priraetros «eolia- res de seus Est,idos; e apontavàg çiu p;irticular . o i-onde de C.mdwpiua, D. Go- ine.í Salvadores. Este empeidio, parcc«-no3, não era .sou.io dirigido 9 obier «irít» liuha de stucct^ào, inteiraiHcnte nacional, sem nióclaí estrangeira. 2Stt MFMORIAS DA ACADEMIA REAL posse dos Estados de seu soi^ro , defcndoiido-o , o ajudaiido-o contra todos , iioiiiem , ou mulher (outra íormiila do tempo feudal); mas (pelo que pertence ás novas ai-quisic^-ões , de que vamos tratar) , a reconlicco-lo j)or seu senhor suzerano , leal, e lielmonto. Era isto huma consequcneia de seu princi- j>io ado|)ladii , não menos, que de sua particular conveniên- cia; por quanto, se o conde Raimundo era, por sua mulher, o lei^itimo herdeiro, e successor do rei de Castella, e Eeão , vinha o conde D. Henrique a poder, som quebra de sua pes- soa, e cathei;oria , considera-lo investido na suzerania do so- gro , de cujos Estados sahiao taes desmeinbrrirões de terri- tório. Mas notai , Senhores , que este reconhecimento nào era absolutamente gratuito: naquelle tempo, a vassallagem, os serviços, não se prcslavão de i;rara: era necessário rece- ber primeiro o beneficio , para delle resultar a correspondên- cia : o esto me fidelis , e'sto me meus homo , não se dizia , nem obtinha, sem preceder huma mercê , hum emprego, ou hum dominio. O conde Henrique não se esquecco de si : elle se- gura huma quota na partilha do thesouro de Toledo, e o con- de D. Raimundo , além disso , lhe promettia augmentos de território. Prosigamos com as promessas da outra parte esti- pulante : Ec/o Comes Raimundus tibi Comiti Henrico tuoruni. niembro7itm satnlatern , tuce quce vilce integram dileclionem tui que carceris invitam occursioncm, juro. Juro etiam., quod jjost mortem regis Aldcphonsi me tibi daturicm Toletum, terramgue totam subjacentem ei , totam que teriam quom obtines modo a me concessura , habeas tibi pacto , ut sis mdc meus homo , et de me extm habeas domino ; et jwsquam illas tibi dedero, demit- tas mihi omncs terras de Leon et de Castclla : et si aliquis mi- hi vel tibi obsistere voluerit et injuriam nobis fuerit , guerram simul in eum vel unusquisque per se ineamos. O conde Rai- mundo ainda foi mais generoso, como quem tinha muito que dar, ou prornetter : promettia não menos, que a cidade de To- ledo, eseu território adjacente, huma vez, que o conde Hen- rique o ajudasse a recobrar Caslella, e Leão. E quanto ao the- souro existente naquella capital, diz, em confirmação, do que SC disse acima : juTo eliani si thesaurum Toleli prius te hahue- ro, tertiam parlem tibi dabo, et duas remanentcs mihi servaho. Por esta especial estipulação, á cerca do thesouro de Tole- do , se corrobora ainda mais , segundo o nosso parecer , a il- lação , de que o nascimento esperado , ou verificado do in- fante D. Sancho, foi o motivo único, e a occasião do coii- DAS SCIENCIAS DE LISBOA. Í91 vonio. Nada mais natural para os alTertos fie ternura pater- nal , (lo ({lie ir junlandu [xíciílio ao novo lillio; esta previsão pecuniária, não só era lios estilos do tempo, em (pie nào ha- via hum syslema de imposiíjiío geral , mas se tornava urgen- te no caso especial dclujm tillio vanío, superveniente aos ar- ranjamentos anteriormente feitos, e nas eventualidades de hu- ma snccpssAo, ílut^. alrhn rle outras ra/ões já expendidas, nSo seria provavelmente, sem embargos, e taívez , renhida luta. Está igualmente claro , e evidente , pelo mesmo texto do convénio n'hun»a addi(;ào dellc! , que tanto mais questio- nado, e dilíicultoso se rejuifava , adquirir o conde D. Rai- niiindo os reinos de Castella , e LeSo . mente podemos julgar de 392 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL falhíírão os cálculos da prudência, e previsnlo Juiinaiia , por- que, os Leoiiczos , e Castellianos, mal soUrôrão a direcção estrangeira ; levaiit;írão-se contra o Araj^onez. Os Galei;òs , que tinhão (,'m sua guarda o menino AlVonso Keimão , filho de Urraca , o acciainárão , e ungirão , em .Santiago do Coni- j)ostella, rei da Galiza; e o nosso conde D. Henrique se en- volveo nesta contenda , de difficil solução. Prevaleceo , em fim, o brio, e pundonor cavalleiroso dos Hespanhoes contra os Aragonezes ; e aquclle mesmo infante de três annos , que andou , no meio da violência das facções, refugiado de cas- telio em castello , de asylo em asylo , despojou sua mài , ân- uos despois , da governança do reino inteiro; exemplo , que no anno seguinte (1128), foi imitado il risca pelo nosso Af- fonso Henriques. suas derradeiras disposições , quanto a successor na córôa , pelo que nos contào as bistorias contemporâneas, ou quasi coevas. Dizem estas, que Aflonso VI. , estando no ultimo anno de sua e.xistencia , já sera forças , nem animo, para continuar suas expedições bellicas, desgostado com a perda do filho único varão, o infante D. Sancho, fora abordado pelo seu medico, hum Rabino de grande reputação, per- suadindo-o, a que casasse sUa filha D. Urraca, já viuva, com hum dos senhores castelhanos, que a amparasse, e defendesse na falta presente do primeiro marido, e na de seu pai , quando acontecesse ; que o monarclia regeitou feramente a pro- posta, desgraciou o medico, e por conselho do Arcebispo de, Toledo, D. Bernar- do, a casou com o rei de Aragão. Dispoz successivamente da sua herança , pelo modo seguinte = a D. Urraca o reino de Castella e Leão, e a seu neto, D. Affon- so Rei mão , o reino de Galiza, se ella tivesse filhos do segundo marido. = Seria esta disposição hum arranjo temporário , huma accommodação de família , ficando sempre o direito á coroa radicado ua pessoa do neto , ou haveria outras vistas í . . . lll©114i 9A r^^. ■«•««««««■■■«■».vi^iatgia'a^»é« CLASSE DE SCIENCIAS EXACTAS. I ■Tf RESPOSTA AO OFFICIO DA COMMISSÃO U ARaUEAÇÃO DOS NAVIOS , Offerccida A Academia Real das Sciencia.'^, com aprrtsinicnto dos Membros da sobredita Commissão , POR MATTHEUS VALENTE DO COUTO. Advertência. A Commissão d' Arqueação dos Navios , creada por De- creto de 21 de Janeiro de 1839, he composta actualmeute dos Membros seguintes : Os Senhores Marino Miguel Franzlni Presidente eleito. António Lopes da Cosia e Almeida. . .Secretario eleito. António Pinto de Vasconcellos Voi^al. Bento José Cardoso dito. NB. O Author deste escripto, que também foi nomeado membro da Comuiissjio, pedio ser dispensado delia; offere- cendo-se porem a dar o seu jKirecer por oscrijjto ; que he o seguinte. 2.* SERIE. TOM. I. 1». II. i 3IEM0RIAS DA ACADEMIA KlvM. X^JM resposta ao Officio cie 29 de Outubro do líÍ40, que me foi reme ttitlo pelo Illustrissiiuo Sccrcliirio ila Coauuiiinilo d' ArqnearSo dbá navios, no qual sr me faz a hoiiTa de que- rer ouvir o meu parecer so!)re a preferencia da iriellior For- mula algébrica para ealeular a Uíeiíeionada Arijuearao: le- idio a honra di- ex|)òr á ilhi.-lrc ( 'nuiuiissào o resuUado dos conheciaiento-s , que tcuUo podido obter sobre as muitas dif- fieuldadcs inhereales á aatur<."/.a do Problema sabre a tonc- l;ig(Mn dúrt navios , cuja folucao (como bt.Mn se sabe) dci)en- dc «'ssciícialuioiito de eonhecec as grandezas da cuiiacidude, e pórlc de (piabpier navio. 1. Estq Problema (.Viixqucação para avaliar a toneinnem dos navios (fallaudo matliematicameiítc) não piídc ter huma solução exacta e completa, nem se pode acliar huma formu- la geral e fácil de calcular (em to(b)s os casos) a capacida- de, e púrle d(í qualquer navio com a approximação suíFicieu- le para poder responder, com equidade , a todas as ques- tões impliciías sobre ajusta avaliac^ão dos fretes e direitos, que deveiu pagar-se. 2. E com (>lleito, ainda he huma questão problemáti- ca " (*) decidir, se a iiiq)Oi(ancia dos fretes, e dos inipo?- t os deve regida r-sp pela cfí^iatíV/f/í'': só meníe , ou pelo ^woVíí dos Ha,vios?'» Porque lU^íjuem ignora que a ca))acidade de hum navio ptWle esíar cheia, sem (pie esse mivio fique por isso conveiúcnlemenle Carregado: e j)ói!e hum navio estar carrei;ado, sem (pie a sua capacidade rasteja inteirameiito cheia O que drpeiide (como bem se sabe) do poso especi- fico daa dilieroiítes mercaibrias (algoildo , lãa , cíiumbo, fer- ro, biscoito, etc.) que dcveni coiupí^r a caríja do navio. D o (pie ainda he mais uotavel ; hi; pod»d(T . ao menos, formar tabeliãs das tarifas d' Alfandega. 9." Qual ser;t a rej:ra fixa para |K)der achar a jiisia |)rof)orçào entre a imporluncia dos impostos e direitos , e o lucro qne pôde resultar ao comnier-' ciante de suas negociações maritimas ? Taes sào as diíTicnl- dades , que, ordinariamcnite , se encontrão na solução do problema sobre a tonelagem dos navios. f I. 4. Permilla-se aeora, que (para abreviar o discurso) use da linguagem algébrica . da maneira seguinte : Seja .> = a superfície do plano de fluctuaçào , que resultaria da secçàu, que a superfície d'agua faria no exterior do corpo do iiaNio, quaiulo elle se acha carregado S(>inent'í do que he indispcií- Síivel para se podei* nave^^ar, como sáo = viveres , eqiiijia- gem, velame, amarras, etc. S' == a suporlicicí de outro plano de fluctuaçào, que se-' molhanleinenie resultaria no corpo de.sse navio , quando j.-í se acha convenientemente carregaóde adiiiittir carjja ; nias somente a par- te que desse volume se acha occupaja pela car^a. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 5 lo (n. 2) , haver dmis ou maia navios ♦ qiio tonJiãi» o mosino volume V , n diflVrontfís portos P, P' otc. : Soguc-se quo , sómciilo polf) coiilifciínoiílo da rapacidade do navio, não podomos (com equidade) estipular o (innnto se deve pat^ar pelos fretamentos, impostos, ou direilos: pois (pie a|o;uns são de parecer que se deve pagar pelo porlr, e nâo pela ca- pacidade do navio. 7. Do mais se for p]> oii<^23.n arráteis; ser.-í /'<^ou]> IV; isto he , se (por exemplo) for o peso p duplo, ou lri|)lo de 23,0 arráteis ; será o volume ^ metade , ou terço de fV; em geral o volume ^'^ segue a razào inversa do peso p. 8. Ora como o peso ^ == o quociente do peso total da carga lucrativa dividido pelo numero de palmos cúbicos con- tidos no volume V; e este volume /'he didiciilimo de conhe- cer em qualquer navio, especialmenie quando elle se acha carregailo : por isso diremos agora o que se tem feito para dar huma soluçâío aproximada deste Problema. §. 11, 9. Arqtienr hum navio he (geralmente fallando) medir a sua capaciddik, q porte; e a unidade, (|ue se escolhe, para o arquear chama-se Tonelada : mas como (na arqueação de que se trata) se deve desprezar certa porc.lo dessa capaci- dade, que he destinada para accommodartudo oqueheindis* pensavcl ])ara poder navegar : por isso Anincar qualquer na- vio he (ordinariamente fallando) averiguar , se (pelo n.' ■>) tem lugar a equac.io [B] , quo he a seguinte r p ■= p. 10. Ora pelo que fica dito, em os números antecedentes, se vè claramente , que as quaniidailes V c p são indclermi-" nadas, e somente se pcxle achar pela equação [A] o valor do P. E com elleito : sup|n)zenios (n.* 4) que hoV=V — u ; sendo u = V — f ; isto he , sendo u a diflerença dos vo- lumes exterior e interior de qualquer navio j a qual (segun- do se diz) pôde representar o espaço, qne [iroximamente sè precisa para municiar o navio, do qu«í he indispensável pa- ra a navegação. I^ogo, nesta supposição , bastará medir V jieias suas dimensões interiores: para ter o es])aço destina- do para a carga lucrativa. 11. Por«hn ainda que (por .ilguns methodos d<» mediç.^lo) se possa achar, em alguns casos, o valor de A^ com certa ajiroxiinação , com tudo o valor de p restará indeterminado 6 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL na fórmula peral d'arqiicarão : portiue o pv^o lota! das mcr- radorias , (|iie podcin compor as ditVcreiíles cargas, lie spín- pre variável. J2. Para illudir todas as mencionadas difriculdados dn medição tem escolhido , quasi todas as naçòcs illiístradas o coiiimercianíes , para unidade principal da arqueação liuma a jla imdida de peso c de volume coyijnulumenle , a que clia- nião Tonelada de dcslocdintiilo : c por isso lambem a Com- missão actual ; e P ='o ponhil , tí\\. altura d^sde çílo plano 'até- ;í quíllia; ser;í o voliirim do dito |Kirall<'lij>i|>i;do =:= C. /-./*. Seja agora í" O raid de hum circiilo , do' qíial Reja á luctadé' da sua suporficio - /'= /,./'. que Ijo o reo.taii!:;iilo forma-J. do por L o P , e quo suppomos estar a ineio de C. Isto ])osto : será o volume do parallelipipçdo C.L.P. = ~f-^Ç, que be o voluiuo de iiimi seini-cyliiidro reclo; cujos ^ dará. o volume do seini-ellipsoide inscriplo = á'. r^C=^ ~ C.L.P. Portanto, suppozeuius , que hc , coni al^uuia approxiluaeàu, « O volinne. du Carena = -3 t'. L. P. « .Secitrtfíh: Invei^tio-demos atrofa quíi porç.to de volnnrte' se dc-ve tirar da ran'na (em razào do jiniiiirjainento neces- sário ;í iiaveiiaçàu) para que reste outra pori,-ão , (jue (cheia d'agua do mar) possa rcprtísentar o peso, quo deve ter a earg^a lucrativa para que o navio Hque profuiHÍado até a sua linha d'a"^Ma carrei,^ad:i. Para conse;;uir i;-to : (enios consul- tado a Kncyclopedia metiiodica aobro a |>ala> ra Jíiiif/efie/f ; os yVnnaes mari(ini(>s de Ayoslo e Septeinhro de Iiily j)ag. 662, em que vem huma Memoria dp Mr. Davicl sobre este objecto; c(g. ; e havemos concluído, (jue « n Cnrqn dr (pinl- qner navio he o terço (e uinda menua ) de sua capacidade mie- rior. '1 O que veremos aigora cuuli miado j)ela aiialyse das lormuhis seguintes C J p ■ f^ i P a Formula rn^leza = ", '.'■ ■"■ ; Formula fraticezá^= ^7— ' ; mas (a res|)eito da Tonelaila de deslocamento e peso) he. . . '> Tonelada iniíleza = 40 pés cuh. , pesando íõi;;', arrat. ; , »> Toiíelafla fraiiceza = 2C pi''scub., pesando 20(10 arral. •(•). Loi^o introduzindo as difas toneladas nos denominado- res das sobreditas formulas ilarqueaí^ào teremos ^ , ■ , C.L.P. d.L.P. a Formula ingleza = -,3^= ijryTTo'-' „ u , r C.L.P. C.L.P. a tormula franceza = — ,, — Oiniltindo (nos denominadores os números 40 o 2ir) li- ção os volumes da canhia, ou do solido, (pic pôde conti-r (») Vcja-se na EnoycTo|>piIia metlio.lica o que iliz Mr. fíi-r a este n^^iieito so- bre = la Jatiycayc jjour ta .Mtiriíx. 1 8 MEMORIAS DA ACADEMIA REAL CLP C Íj P as ditas tontíladas , seguintes- .', ,Va ' , ^ \ '■'.- '. Donde se sejrue qiio o valor do volume , que pode ro]ir(!aenlar o poso da cari;a lucrativa , he luini pouco motor . que o terço do pornl- hlipipedo C.L.P. Ora como esta siip]iosiçào lie adniitlida ucrahiíer.lc , e confirmada (segundo diz Mr. Daviei na sua memoria Já cilada) por ])iim resultado niedio de exj)erien- oias feilas sobre 500 a tíOO navios de lórmas dixeisas: por isso ella servirá de fundamento jx\ra achar a nossa Formula d'ar(]ueação. Ferlih : Fundando-nos em todas as razões, que havemos antecedentemente exposto , achamos que para poder obltir a porção do voluniz ellipsoidico /" s C.L.P. ] da carèiia, que l)ossa servir para medir a tonelagem de hum navio ; deve subtrahir-se .) = '^(c.i.P.) i,ob l,oi( :j.jo C I, P = — J"3T" ' ^*"''='^''i'' "" ''■" ^ razão por que coiisenámos este numero S2-t para (liviíior úí formula DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 9 sua navegação . pela formula do (n." 4) (juc! lie a seíjuinte. . . ir. '23, C = P. Para islo : calcular-se-lia /F, que lie o vo- lume do navio, coinpieheiulido «Mitre us tlous plaiius .S' e 5", já definidos; assim: Meção-se as rtrtvw dtsstes dons planos em j)almos (juadrados , e a disla>ioin h (que ha entre elles) em palmos; acliar-se-lia (como lie fácil de mostrar) que lie ff''=í[S-i-S'] h; e multiplicaiulo por '2:j.!i para dar o peso P ; teremos a seguinte [yf] 12 [S-^S']h=P; esta formula d;í neste caso o peso P da carga lucrativa ; is- to he , o pezo das mercadorias , que o navio pôde carregar , sem perigo. Cluintò. Também algiimaí? vozes se '•pretende saber, que porção do volume do navio pode levar e accommodar carga lucrativa; neste caso, pede-se (pelo n.° 4) o valor de í^ da formula [B]. Para isso : tein-se escolhido (em diffe- renlcs nações) luuna corta unidade |)ara medir J^ , a que chamíío Tonelada de arrumarão , a qual s('mi)re he de ím- nia grandeza maior que a da Tonelada de deslocamento e de peso, que jálica antecedentemente definida: o segundo o que diz Mr. Daviel «< he preciso 1,7 do metro cubico para dar hum metro de arrumação r> portanio , no nosso caso, seria preciso hum volume de (Kío) jialmos cúbicos para dar a nossa tonelada de arrumação. Porem a antiga tonelada franceza de arrumação era tie 42 pés cúbicos, que vinha a ser 1,5 da tonelada do 28 pés cúbicos de deslocamento, e peso, suppondo que a primeira pesava 2000 Ib. como pesa a segunda. Portanto se lambem tomarmos 1.-3 dos (loo) palmos cúbicos teremos j> a nossa tonelada de arrumação = (lâo) palmos cúbicos.» Ora já vimos cm (Primo do n.° 15) que o volume da carona era /"'j C.L.PJ ; vejamos agora (jue porção de volu- me se lhe deve sublraliir para que reste oulra porção de vo- lume que seja=í^. Depois de varias investigações, que havemos feito, temos concluído, que era preciso tirar do volume da carêiia j-^ do seu valor, isto he , menos de J do seu valor, para achar a capacidade f^. que pôde admittir carga lucrativa, e que depois se deve dividir /''por (150), para achar o numero de toneladas de arrumação , suppondo 2." SERIE. TOM. I. P. II. 1 10 INir.MORlAS DA ACADEMIA REAL aiiula que cada luinia pesa 2380,8 arráteis: feilo este calcu- lo (*) adiaremos , quo he [P'] o numero de tonelailas de arruiração = ^^ ; por esta formula se pode achar o nuniuro de (oiioladas d'ar- ruinação , de (l-")©) palmos oiibicos cada liuma : dando esta o mesmo /)o;7c, que daria aformula[^PJ do(7V/7/ò doa." 15). Adccrtcncia. Parece lium paradoxo; que, sendo ôs se- ^■undos membros das formulas [P] e [P'] idênticos . possa a formula [P] dar hum numero de toneladas de (loo) pal- mos cúbicos, que \òm a ser o mesmo numero de toneladas de (150) palmos cúbicos, que !) pai:-'' inos cúbicos: e que he hum ])é Irancez ^ !,47(;54 palmou';" 1«Ç() hum pé cubico' iVaticez he :i= 3.2li'4 palmos cúbicos.' ' (' / p . . i . '.- ' Portanto como a formula incleza he ^ "^"í7)~ ^'^ P^^ » ^® * multijjlicarmos por ;'^'J, íicarif reduzida {A á seguinte ■ '^^l '^ (*) lÍ3tn< letras ií)icail;i» C, 7y',7?'>sl[.'UÍfloài> o nit^^íAiA , ^yi :t-! lífra*? (', A, /' DAS SCIENCIAS DE LISBOA. 13 CLP em palmos ; e como a formula franceza he = -^g^-- em pés , se 3 22 . . O L' I" a multiplicarmos por '^'-^ , ficará reduzida á seguinte ^^./^ ■ em palmos. Lo£!fo sommando os dous denominadoros tere- mos 345,8 ■+■ 302,7 = 648,5, e tomando a semi-sonima , te- remos o numero 324 (desprezando os decimaes). Tal he o divisor que havemos preferido para a nossa formula de ar- quoacjao. inf;lezeá, retkizem-se a palmos, multiplicando cada hum d03 números de jés in- glezes por 1,^5538, o que dá logo o numero de palmos, que em cada hum dei- tes se contem. E assim a respeito dos pés trancezes , de que abaixo se traia. c; MEMORIAS Que se contam na II. l'urte do Tomo I da II. Serie. Historia da academia. D, 'iscurso lido etri 33 de Janeiro de 1B43 naStssâú pu- blica da Academia Real das Sciencitís de Liihoa peio Secretario perpetuo Joaquim José da Cosia de Ma- cedo i 1 Procp-amma da Academia Real das Scioicias de Lis- boa , annunciado na Sessão jiublica de 22 de Janeiro de 1843 XXI Elogio Histórico de Alexandre António das Neves Por- tugal , recitado na Asseinblca publiCa da Academia Real das Sciencias de Linboa de 1 de Julho de 1824 pelo Conselheiro Manoel José Maria da Costa e Sá xxiX Estado do Pessoal da Academia Real das Sciencias de Lisboa em. 22 de Janeiro de 184;? xli CLASSE DE SCIENCIAS MORAES E BELLAS LETTRAS. Memoria sohre a inslilaiaío da Ordem Militar da Ala , attribuiàu a ElRei D. Ajfonso Hcnriquez. Por D. Francisco de S. Luiz l Memoria sobre a antiguidade do emprego da Artilharia em Ilespanha j e remota data da sua introducção em Portugal. Por Francisco Freire de Carvalho ^^ Memoria em que se. pertende provar que os Árabes não conhecerão as Canárias antes dos Porlut/uezcs. lÁda na Sessão de 13 de Julho de 1842, e nas seguintes, por Joaquim José da Costa de Macedo 3Í Memoria acerca ão convénio , ou pacto successorio , ce- lebrado entre o Conde D. Henrique, c seu priyno , o Coiuic D. Raimão, sobre os Estados de seu su(jro co7n- mutn, o Imperador D.yíffonso Sexto. Composta e re- citada na Academia por João da. Cuiilia JNeves e Car- valho Portugal 26 D CLASSE DE SCIENCIAS EXACTAS. Resposta ao Oficio da Commissão d' Arqueação dos Na- vios , offerecida á Academia Real das Sciencias , com aprazimento dos Membros da sobredita Commissão , por Mattheus Valente tio Couto