r^í?.l*- •r-'-^^^^ MEMORIAS DA ACADEMIA. CLASSE DE SCIENCIAS MORAES, E BELLAS LETRAS. $Jâò'/.D /^. MEMORIAS D A ACADEMIA R. DAS SCIENCIAS DE LISBOA. Nisi utile est quod facimus, stulta est gloria^ TOMO XII. Parte I. *) LISBOA. NA TYPOGRAFIA DA MESMA ACADEMIA. 18 37. ( y /[ K /a n íT ,■■" ■ ■ 7 r M ? T4 .l:I). MEMORIAS D A ; ACADEMIA R. DAS SCIENCIAS D E L I S B o A. M E M O R í A Em que se pretende mostrar^ que a Lingiia Portngtieza não he filha da Latina^ nem esta foi em tempo algum a língua vulgar dos Lusitanos. Por d. Francisco de S, Luiz. H. E nosso intento examinar nesta Memoria se a língua Portuguesa he filha (como dizem) da Latina^ isto heí> (i) | Muito se inclináo á primeira opiniíío os nossos eru- ditos , que ou de propósito, ou por incidente tratarão 4sta matéria (a) c dous são os seus principacs fundamca^i tos (1) Sem niuito-BOs demorarmos-, -neste" lug-.ir" Ud TApficnçíhr das" expressões luetaloricas de lingua mãi , e lingua JiUia, eslabcltcemos a questão no sentido , em que eomnuiiuinente a tomão os escriptores íortiiguezes, que de propósito a tralArão. Sija cxcniplo , por iodos, Duarte Nunes de Leão', que na Chig. da liug, l'ortiig. ciij). VI. diz assim (i polo que vindo os Koiiiauos a lançar de Hespaulia os Cartha- ginezes, que occupavão grande parte delia, foi-lhes íacil haver o uni- versal senhorio de todos, e reduzir Hespanha em forma de província, como íizerão, dos quaes como de vencedores , não sónacnte os Hsspa- niiocs tomarão o jugo da obediência, mas as leis, os costumes, e a lingua Latina, que n^aijudks tempos se faluu jmra covio em li orna, e no mesmo Lacio , até á tinda dos Vândalos . Alanos , Godos , c Sue- vos . . . . » etc. (2) Dos escriptores Portuguezes, que temos lido, dous somente en- contramos, que úuzassem enunciar com franqueza a opinião confraria. O primeiro he o Senhor António liibciío dos Snutos, hojf faliecido, o qual na sua Memoria sobre nsorigejis e progrestios da Poesia Forlugue- za (Memor. de Litterat. da Academ. tom. \'il[. i)art. Jl.) diz assim: Mostramos cm nossa Obra das- orígins da antiga língua de Hespanha , e de seus nctuaes dialectos, que a nação Hespantinln conservou sfmpre o sfu idioma prinritivo , posto que alterado , em toilo o temjio do senhorio e dominação Romana. O segundo Iw; o Senhor João Pedro Kibeiro, nas suas Dissert. Chronol, e Viil. , tom. 1. Uissert. V. aonde se explica nos seguintes lermos iiEu porrm tnepersnado, qve a lingua original dos Hespanlioes se não erfinguio com a dominação dos Romanos , antes con- servando-se também a través da dominação dos Godos, Siicí-os, e Araheu, J'oi neste quarto período, que se subdividia . . . etc. d Esta opinião de dous Académicos Ião doutos em nossas cousas, e hum dos quaes tem visto e analjsatlo muitos milhares de documentos dos nossos archivos, e DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. I3 lando dos Cantabros, diz dcllcs o mesmo que tinha dito dos Turdctanos da Bctica , c de alguns dos Lusitanos , isto hc, que se fizcrão politicos ; que adoptarão a policia e civilisação Romana pela communicação e trato com os Romanos. Ferum (diz este Geógrafo no liv. III.) jam omuia bella sutit suhlata. Nam Cantabros^ iisqtte vicinos Cas' sar Âugnstus sitbegit .. . Et qiti Augusto successit Tiberius , inipositis in ea loca tribiis cohortibusy quas JltigKstus destina- verat , non pacatos modo , sed et civiles quosdam eorum rede- E não só os Asturianos e Cantabros viverão d'ahi em. diante sujeitos ao império, senão que também se con- servarão nessa sujeição, depois da entrada dos povos bár- baros, até oanno 612 em que elRei Sisebuto ossobjugou, jdc nwneira que se pôde dizer com Vaseo (ao anno 714, e seguindo a Paul, Emil. dereb. gest. Fraucor.) que sendo aquelles povos os últimos que se renderão ás armas Ro- manas , forão também os últimos que desta sujeição se afjstárão. Qtii mortalitim ultitni in Romatwrum potestatem ve- veratit, et nuvissimi ab eis defecerunt. Comtudo estes povos nunca falarão a' língua latina, nem o seu idioma he derivado do latino , ntfm tem com ellc parentesco ou affinidade alguma, como de todos he sabido. Mas venhamos ja a tempos hum pouco mais moder- nos , e concluamos com ellea esta parte do nosso assum- pto. Hc notório que depois que os Árabes entra'râo na Hespanha , e fixarão o seu dominio em, muitas de suas províncias, e determinadamente depois que começarão a estabelecer escolas, e a cultivar a poesia, a littcratura, e as scicncias, se introduzia juntamente com eJles (são palavras do douto Andrés) (17) o idioma Arábico., e dentro de pouco ■ , , tetti' 'o?) J/"./. de turia là Litterat. cap. XI. da traducj. Castelliana. Madrid IJS'!, cm 4.°. 14 Memorias da Academia Real tempo o ttsdrão as cidades sobjugadas , de tal wodo que po- dião bem chamar-se duas as linguas "vulgares dos Hespor- nboes. Álvaro Cordovês , que florecia pelo meio do século IX,, se queixava ja então amargamente desta espécie de fanatismo dos Hcspanhocs ; e chegou a affirmar que nao havia de mil christãos hum , que soubesse escrever hu« ma carfa familiar , senão em Árabe ; havendo innumera- veis, que não só cultivavão este idioma estranho, encllc cscrevião ; mas ate cxccdiao os próprios Árabes na sua poesia. Lingttam propriam (diz este escriptor) nescitmt christiani, ita ut ex omni Cbristi collegio vix inveuiattir untiSy in mitleno hominiirn numero, qiii saliitatorias fratri possit ra- tionahtlUer dirigere litteras : et reperitur absque numero mui» tiplex turba, qui erudlte chaldaicas verborum explicet pompas : ita ut tnetrice eruditiori ab ipiir gentthus carmine , et subli' niiori pulchritudine fiuales clausulas, iitiius liíterae coarctatio', ne dccorent ... etc. Terreros y Pando, na sua Paleografia Hespauhola, con- firma a justiça deste queixume do Cordovcs , dizendo, que naquclla parte das Hespanhas , que ficou debaixo Áo império dos Mouros, se fizera vulgar a lingua Arahe, es- quecida a Latina, própria (diz clie) da nação e da religião^ como lamenta em suas obras o martyr S. Eulogio , eleito Arcebispo de Toledo. E acrescenta pouco depois, que ainda no século XII., c até o meio do século Xlll. , a maior parte das escripturas de Toledo se outorgarão cm lingua Árabe, sem exceptuar as que ciao celebradas á vista, e em presença dos Reis catholicos : Qlic no arquivo d'aquel« la Igreja se conservão muitos documentos cm Árabe, cujo numero acaso chega a dous mil : Qiie no convento de religiosas Cistersienses de S. Clemente se i^uardâo mais de quinhentos: e finalmente que de todos elles a menop parte hc de Mouros, c a maior de Christãos, de religio- sas, de clérigos, c até dos próprios arcebispos: o que mostra bem claramente quam vulgar se havia tornado en- tre TAS SCIEMCIAS DE LiSBOA. TJ trc OS Hespanhocs o idioma Árabe , e isto por mais de ires séculos inteiros. Comtudo o resultado deste tao extenso , e tão dila- tado uso , auxiliado da communicaçao continua com os Mahumetanos, da frequência das suas escolas, do trato de negócios civis e domésticos, etc, não foi outro mais que ficarem entre os Hespanhoes muitos vocábulos , frases , idiotismos, e modos de falar Árabes, os quaes alterarão até certo ponto , mas não extinguirão o seu idioma natu- ral , nem mudarão o seu gcnio c indole , nem finalmente transformarão os seus essenciaes e distinctivos caracteres. E não se allcguem contra este nosso argumento al- gumas razões de diíFerença que se encontrão, tanto na si- tuação politica dos povos Árabes c Romanos acerca dos Hespanhoes , como no caracter e indole dos respectivos idiomas : por quanto, dado que algumas dessas differenças . pareção menos favoráveis á nossa opinião, outras circun- stancias ha , que a fazem de mais forçosa consequência , visto que os Árabes e Mouros não só dominarão por mui- to mais tempo que os Romanos algumas provindas das Hcspanhas, e conviverão em muito maior numero com os seus naturaes, renovando a cada passo a povoação Mahu- metana com innumcravcis famiiias Africanas j mas alêni disso fundarão na Península famosíssimas escolas ; cultivarão todo o género de sciencias, artes, e boas letras; traduzi- rão e cominentárão muitas obras dos escripto.res Gregos; e derramarão por toda a parte os seus escriptos : circun- stancias estas, em que forão mui superiores aos Romanos, com respeito á influencia que ellas devião ter sobre a cultura litteraria dos Hespanhocs, e consequentemente so- bre a alteração do seu idioma nacional. A este argumento tirado da dominação dos Árabes, podemos acrescentar ainda outro , ao nosso parecer , não menos concludente, e vem a ser o que nos subministrão os povos Cantabros , Catalães , Valencianos , Andaluzes , Gallegos etc. , que fazendo ha muitos séculos parte dos do- l6 Memorias caAcademiaRéal domínios Hespanhoes, sendo sujeitos ao mesmo governoj e ao mesmo systema de leis geracs, e tendo com os Cas^ telhanos frequentíssima communicação, alliança pacifica, e unidade de interesses communs, nem por isso tem deixa- do as suas línguas originarias, ou os seus dialectos, para tomarem o Idioma Castelhano, não obstante ser este mui familiar entre elles, falado geralmente pelas pessoas po- lidas e cortezãas, empregado quasl exclusivamente nas obras litterarlas , e usado nas ordens, diplomas, e leis, que emanão do governo. O que deve causar tanto maior admiração , c dar tanto mais força ao nosso raciocínio , quanto são notórias as analogias de quasl todos aquelles idiomas com o Castelhano , grande a semelhança do seu génio e organisaçao mecânica , e consequentemente fácil (se fosse possível) o transformarem-se em hum só , uni- forme, e idêntico (i8). Por (18) Aldrete Del orig, de la Iciig: Castcllaii. ]ib. I> cap. XV. cí en Cataluha (tliz) i nias en el reino de Valência iodos los sermones se hazen en romance (castelhano) el qunl snbe7i , o huhlan todas las persO' mis , que sou de algima suertc , si Inen la gente ordinária usa de la suia natural Ciilalana, diversa de la nuestra : en las qualcs partes, si se mira coil atteticion , se verá cl uso de dos lenguas Juntas, eíc. « O mesmo se pôde dizer dos outros dialectos das Hespaniias. O erudito e judicioso íiidal. go D. Francisco Manoel no Ecco Politico, im])resso ci.i Lisboa em IC-id, diz assim « A separação cia liiigua r.ão parece que está uoar- n bitrio dos Princi))es ; porque as palavras são expiessões do espirito, »e este não he governado nem dominado por elles. Os súbditos de «Cnstella coiiservão assuas linguas. Gallegos, Asturianos, JJiscajnlios, liGuipuscoanos, e AlabeZes todos coiiicrvão S(-Us idiomas naturaes. O 51 mesmo succede em Navarra, aonde jjoucos plebeos entendem, ou 51 falão o romance. Valência e Catalunlia usão ainda a Jingua Limo» jjsiiia, com mais ou menos corrupi;:no. Aragão senijjre falou o antigo «Castelhano. Os de Maiorca quasi o não entendem. Nápoles nunca 51 deixou a sua lingua pela Castelhana. Sicília, o mesmo. O Condado 5idcFlandr<' , herança deCastrlIa, dtsde Maximiliano pai do primeiro » Felipe, e iratando os Flamengos aos Hespanhoes cumo irmãos por «mais de 150 annos de companhia, governados por elles, c assistidos )» quasi scni^ire de Priucipes nascidos cm Ilcspauha , iiuuca loi possi- DA"S SCIENCIAS DE LrSBOA. . 'ij Por onde se vc quam difficil seja introduzir em hum povo numeroso a total mudança da linguagem , ou ainda - Tm. ^11 ' C al- *> verquc adoptassem a língua e traje hespanhol , usando os Hespa* jjnhoes talvez de industria e de podtr para este fim, mas em vãoíi E contiiiuaiido logo o douto escriptor u íalar de nós os Portuguezes, acriscmla /jue não ha em Heqmnha nação que tenha menos conhuimsiito da lingtia Castelhana do que a nossa, e que alguns que no tempo do captiveiro adoptarão alguns usos e trajes hespanlioes, causavão escân- dalo, e descontentavão os Portuguezes prudentes etc. Ejú que tocánioa esta niatcria, seja-nos pcrniitlido not.ir ainda mais , em confirmação du que lemos còcripto : !.•= Que a antiga iingua nacional da meuor-Iireta- nlin, abandonada por todos aquelks que querião agradar ao senhor Nor- mando, ou ao Suzerano Franccz, se conservou todavia coni mui pou- ca corrupção entre agente vulgar, e os aldeões, através dos séculos, com a tenacidade de memoria e de vontade , que he piojiria dos povos da origem Cdlica (Aug. Thierry, Histoir, de laconqiiête de Tjlnglct. par les Normands , liv. Vlll.) 'i.° Que hoje mesmo, sendo a Bretanha província de França ha três séculos, o povo das aldèas conserva a sua Iingua Céltica, e com ella a sua antiga ignorância, os seus cos» lumes grosseiros, o as suas preuceupações. 3.'^ Que aliugua Franceza dominou -lOO annos eni, Inglaterra, sem poder ualuralizar-sç, 4.° Que a vMs.icia faz parle da França des de o reinado de Luiz XIV., e sem *nil)argo de terem ja decorrido seis gerações, a Iingua Ailcniã he ainda predominante nas cidaies, e nas aidéas. 5.° Que a Normandia be Franceza des de Carlos Vil. , e comtudo a linguagem de buma lioa parte desta região ' hc totalmente inintelligivel ])ara Francezcs, Me, O douto Dui)in, no seu Trat. dus forças piodiidivas e commcrciaes da França , reflectindo que ha no seio desta nação muitos dialecto;; disparalacios, e grosseiros, que desligurão mais oti menos a linguagem nacional, c falando cm esjieeial das escolas primarias do Languedoc, diz : he para lamentar, tjhe os Governos , que se tem mcccdido em Fran» fa ha des séculos, h'ijão permittiJo , por incúria sua , que os povos falem dialectos dispamtados , com o gravíssimo inconveniente de fazerem inúteis para muita gente os escriptos que se jinl/licrto para instrucção de iodos. Nós porém , respeitando muito as luzes deste sábio escriptor, aparta- mo>nos aqui da sua opinião, e temos por certo, que a continuação dos dialectos de que elle se queixa , não he devida em França (nem em outra qualquer nação) á incúria dos Governos, mas sim .'i necessidade fysiea e moral das cousas e dos povos : e que todas as leis ou regu. lamentos que osGovernos fizessem para tornar perfeitan)ente uniforme a linguagem, não |)roduzirião mais eHeito do que tem produzido dés séculos de communicação e tracto contiíiuo com a França civilisada, polida, e sábia. i8 Memorias pa Academia Real alterar as suas fórmas características , as quacs de tal mo- do dependem dos hábitos contrahidas na primeira infân- cia, e da maneira de vêr , conceber, e arranjar o pensa- mento, que não he possivcl serem substancialmente alte- radas ou mudadas por qualquer causa cm força estranha j por mais enérgica que cila se supponha. E aqui temos , quasi insensivelmente, indicado outro fundamento da opi- nião que intentamos estabelecer. He actualmente reconhecida por todos os filósofos a intima e essencial ligação, que tem a linguagem com o pensamento, c a forma externa do discurso com o qua- dro interno das idêas, de que elle he a expressão. Por este simples principio se deixa entender , que hum povo, huma nação inteira, não pôde mudar de huma para outra linguagem , maiormente se ellas tiverem diffe- rente génio, Índole, e caracter, sem que primeiro se façs hum total e substancial transtorno c transformação em suas idéas e sentimentos ; em seu modo de aprehender , comparar, e ligar os objectos do discurso ; c finalmente quasi que em todo o seu caracter intcllectual c moral. E esta he, sem duvida, outra razão mui forte, pela qual nos parece impossível, não só difficil, a mudança total da lin- guagem antiga Portugueza para a Latina, ou (o que vem a ser o mesmo) o total esquecimento c abandono da pri' meira para adoptar a segunda. He mui visivcl a differença que ha entre o caracter c Índole da língua Portugueza e o da Latina; e patecc- nos, que o não se ter dado sufficiente attcnção a este ob- jecto, tem sido a principal causa de se vulgarisar tanto a errada opinião , que inconsideradamente se concebera , da inteira e total analogia destes dous idiomas, e da con- sequente dependência de hum a respeito do outro. P^rcceo aos nossos escriptores que a língua Portu- gueza devia de ser mais moderna que a Latina ; porque conhecião muitas obras da antiga litteratura Romana , e muitos documentos escriptos cm latim, e nada viáo escri- pto DAS SciENCIAS DE LlSBOA. ' I9 pto em Portuguez. Acharão no idioma nacional grande numero de vocábulos, cffec ti vãmente tomados do latim , e muitos outros que se reputavão taes, e como tacs se re- prescntavão a quem não conhecia os verdadeiros princípios da arte etymologica, a natureza original dos sons e arti- culações communs a todas as linguas , e a analogia que em todas ellas se observa , relativamente aos simplices e pouco, numerosos vocábulos, ou raizes , que constituem o seu fundo e primitivo cabedal. Ignoravão , pela maior parte, as linguas dos outros povos, cujo conhecimento e comparação os poderia melhor guiar em suas indagações ; € não davão a devida attenção a muitos vocábulos pró- prios da lingua Portugueza, que se encontrão nos nossoí mais antigos documentos, e ainda no latim bárbaro dos séculos precedentes á Monarquia , e que não podendo de maneira alguma derivar-sc do latim, naturalmente os con- duzirião a buscar em outra parte as origens da lingua ma- terna. Finalmente (scja-nos permittido dize-lo) deixárâo-se por ventura levar de huma espécie de admiração e respei- to supersticioso para com os Romanos, e talvez assenta- rão, que era glorioso i lingua Portugueza tirar a sua ori- gem de hum povo, que sobjugára tantos outros, e que em toda a parte fizera temidas as suas armas, e obedeci-, das as suas leis, E dominados destas preoccupações, e fal- tos , por outra parte , dos verdadeiros conhecimentos da origem, natureza, e relações das linguas, adoptarão a opi- nião, que mais parecia lisongcar a vaidade nacional, sem fazerem a devida reflexão sobre o génio e índole de cada hum dos dous idiomas, e sem advertirem que a sua total diversidade neste ponto se oppunha invencivelmente á presupposta filiação. Não se deve procurar este génio das linguas , nem por consequência a sua filiação c parentesco, nos particu- lares vocábulos de cada huma, considerados separadamen- te, e sem a forma , ordem , ligação , e emprego, que os tiiz servir á pintura e expressão do pensamento. Se por C z hum 2Ô Memorias da AcademPa Rxal hum tal principio houvcssemos de indagar a filiação da lingua Portugueza, nos veriamos extremamente perple- xos para determinar a sua chamada matriz; e por uiti* mo seriamos obrigados a dividir por muitos outros idio4 mas esta honrosa qualidade. O Grego sahiria com suas pretenções. O Fenicio , o Árabe , o Oriental allegarião tambcm alguns direitos ; c não faltaria nas próprias lin-* guas da Europa, naoderna quem sustentasse ter parte n4 divisão. tjív:iuii^!l .ith-Ju olnui.wjd De outro modo pois se deve proceder nesta matéria t de outro modo se deve julgar do génio das linguas, que he o que constitue a roais essencial differença que entre cilas ha: a saber, pela sua estructura e construcção ; pe» Ia ordem e ligaçáo com que cilas dispõem os seus vocá- bulos, a fim do fazerem mais clara e mais enérgica a ima-; gem do pensamento ; pelas differentes formas grammati* eaes , com que modificao os mesmos vocábulos ; e pelo emprego c lugar, que lhes dão no discurso, aptificando-os assim para bem desempenharem aquella pintura e expres^ são. Nisto he que verdadeiramente consiste a indole e caracter dos vários idiomas : nisto consiste aquelle pensar próprio de cada hum delles; e por este caminho se de- vem indagar as relações do seu inais próximo , ou mais remoro parentesco , considerando-os aliás a todos , comcy derivados de hum só e único primitivo, ainda que tão admiravelmente variado. Não são os vocábulos (diz a este respeito Mr, Girard) que as linguas tomão hunias das outras, nem as etymolo- gias, que nos hão de dar a conhecer a origem e o paren- tesco dos idiomas ; mas sim o génio e caracter de cada hum. A fortuna, que gozão as palavras novas, e a facilidade, com que as de huma lingua passão a outra, maiormente quando os povos se misturão, 8ão cousas que a cada passo nos enganáo sobre este objecto ; ao mesm». tempo que o génio, sendo independente dos órgãos^ e por issâ tneuno menos susceptível de alíeraçÕefj e ntudançasj se mantên» ;. „ . ' no nÀsSciENCiAs DE Lisboa. iz no meio da inconstância dos vocábulos , e conserva ao idioma o verdadeiro e o mais autinentico titulo da sua erigem. Comparando ora debaixo deste aspecto a lingua Por* tugueza com a Latina, quem não vê as muitas c grandes differenças, que ha entra estes dous idiomas ? O primeiro não tem (senão somente em alguns pro- nomes) aquellas variadas formas terminativas , a que os grammaticos Latinos chamao cases , e pelas quaes expri- mem, bem como oS Gregos, em hum só, e o mesmo vo- cábulo, varias, e diffcrentes relações da mesma idêa. Ca- rece, por consequência, também da ampla liberdade, de <]ue a lingua Latina usa na sua construcção ; e não pôde gozar da maior parte das inapreciáveis vantagens, que re- ^ultão desta liberdade, para variar o quadro do pensamento, sem dispêndio da sua clareza e precisão analytica ; para dar mais facilidade á expressão do sentimento, e á com- binação harmónica das vozes; emfim para fazer o dis- curso mais pictoresco, e mai> enérgico. Nem se allcguem contra isto as inversões , de que também usamos na nossa lingua : por quanto , alem de ser esta liberdade muito mais restricta em Portuguez , Jie certo, que os nossos escriptorcs, principalmente dos sec XIV. XV. e XVL , a tomarão da lingua Latina, Jalvcz com algum excesso, quando persuadidos de ser ella a matriz da Portugueza, entrarão no empenho de a trans- portar toda inteira para entre nós, cahindo por esta causa em notáveis defeitos, que o melhor conhecimento da ar- te de escrever tem corregido, e deve ainda corregir: sen- do por outra parte fora de duvida, que nos tempos mais remotos , em que se quer suppôr nascida a nossa lingua vulgar, tão longe estavão os Portuguczes de seguir a or- dem da construcção latina , que antes pelo contrario , o que mais frequentemente se observa nos documentos dessas idades he, que senhoreados os escriptorcs do génio e índole particular do seu natural idioma ^ pretenderão tra- 2i Memorias daAcademia. Rea^ trazer, ou trouxcrão o laritn á construcçao directa , escre- vendo por estes, e por outros semelhantes motivos, cm huma linguagem, que nem se podia chamar Latina , nem também era Portiioucza. Outra diíFerença não menos essencial dos dous idio- mas consiste no uso que cada hum delles faz dos verbos , espécie de vocábulos, que constituem huma grande parte da massa (digamos assim) das línguas , e que tanta in- fluencia tem na sua construcção, e no seu génio. Não he aqui lugar opportuno para entrar em longas e miúdas analyses grammaticaes : mas indicaremos somente entre estas differenças algumas mais notáveis, e que mais obvias se ofFerecem a quem reflecte, ainda levemente, so- bre o mecanismo destas duas linguas. i.° Tem os Latinos as vozes passivas dos verbos , formadas das próprias vozes activas , modificadas com di- versas terminações. Os Portuguezes carecem totalmente destas particulares fornias , não lhes tendo ficado da sua tão decantada filiação nem hum só vestígio delias j c vccm-se obrigados a formar as vozes passivas por meio de verbos auxiliares acompanhados de hum adjectivo ver- bal que determina a sua significação especifica (ip). 2." Os verbos auxiliares, que sendo empregados na for- (19) Parecc-nos pouco acerto dizer absolutamente (como dizem alguns dos nossos Grammaticos) que a lingiia Poiiugneza não tem vozes passivas. ISão as tem, lie verdade, á maneira dos Gregos, e dos KoiiKiUos : mas será por ventura liuni defeito, hunia irregularidade, cU hum erro na Graniiiiatiea Fortugueza tudo acjuillo, em que ella se desviar das leis da Granimatica [-atina, ou(irega? A Granimatica universal filosófica nos diz que a lodo o verbo activo corresponde necessariamente hum passivo. Assim , as linguas que tiverem o pri- meiro, hão de forçosamente ter o segundo, tie qualquer modo, e com qualquer forma que elle se enuncie. Por outra parte os que negão á }ingua Portugneza as vozes passivas, se quizerem ser consequentes , devem dizer, que nmalus sum, ama tus fui etc. não são vozes |)as£ivas do verbo Latino amo: o que nos parece que cUcs uão quererão cou- feuar. > DAS SriEKciAs nE Lisboa. ^' 25 formdçâo das vozes passivas, parece privarem a língua Por- tugueza da concisão dos passivos Latinos, lhe dão alia's tm outros casos a grande vantagem da variedade , e a outra ainda maior, c coramum ás vozes activas e passivas^ de augmentarcm consideravelmente o numero das varia-< çóes temporaes , distinguindo não só o tempo presente^ pretérito, e futuro, mas até periodos inteiros, que abran- gem hum certo espaço de tempo, c dentro desses perío- dos as relações difFcrentes que podem ter os objectos , de que falamos. Assim, por exemplo, em lugar da forma latina lego^ nós podemos dizer leio., estou lendo, atido a ler^ venho de ler , etc. que não se referem somente ao prc* ciso momento actual presente; mas a hum certo espaço, çu período de tempo, que consideramos como presente y e dentro do qual executamos a acção de ler. > 3." Tem os Portuguezes, entre os verbos auxiliares, o verbo estar com huma significação, de que totalmente carecem os Latinos, e que nos parece merecer particular reflexão, pelo mui extenso e filosófico uso, que se lhe dá na língua Portugueza. Nós, por certo, não duvidaríamos dcriomina-Io , de algum modo , hum como segundo verbo substantivo: por quanto, se elle não significa precisa e absolutamente a coexistência das duas ídôas da proposição, exprime comtudo essa coexistência no estado actual do su- jeito, e distingue por este modo o que lhe he essencial, ou habitual d'aquil!o que só lhe convêm na actualidade. Assim, estas duas proposições ,, Pedro he doente ,, Pedro estd doente,, cujo sentido em Portugucz he tão diíFerente e tão claramente exprimido, se as quizcrmos passar ao Latim com igual simplicidade, deixaremos o sentido ambíguo, e não mostraremos , sem dependência das circunstancias do discurso , a grande dííFcrcnça que ha entre os dous pensamentos na consideração metafysica. 4.° He tambcm digno de se notar o idiotismo par- ticularissimo , com que a língua Portugueza dá á forma dos verbos no infinitivo as inflexões próprias e caractcrí- sti- 44 Memorias pa Academia Rk al sticas das pessoas é dos números, fazendo v. g, doin* finitivo ser as formas pcssoaes e numéricas seret , sermos ^ serem ctc. as quaes (diz hum douto Grammatico) dt^o d nossa língua sobre as outras , a grande vantagem de evitar na expressdo muitos equivocas^ e faze-la mais breve e correu^ t0>f['desembaraçandoa da necessidade de repetir a cada passo o sujeito da oração infinita ^. quando não be determinado pelo verbo da oração finita, çtc. ,■: i; ■ ' "''\: ,cOíÁlas deixadas. jaes,tas diffcrenças, e omittidas mui- tas outras, que nssás mostrão que a língua fortugucza uão teve por modelo, a Latina na formação dos seus ver- bos, isto he, deste copiosissimo género de, vocábulos, que entrão, como dissemos, por toda a massa da linguagem ^ que animão o pensamento, e dáo ser e vida ao discurso, e que detcrminao por isso mesmo , em grande parte , o gcnio e o caracter das lingu:is : c vitido i consideração de outras diffcrenças geracS, que se achao entre os deus idiomas: Quem não admirará que sendo a lingua Portu- gucza filha primogénita (como se quer suppôr) da .Latina, não herdasse delia huma só das formas , ou terminações cm ter dos advérbios Latinos, adoptando em lugar delias a terminação mente, que por erro etymologico se tem preten- dido derivar do ablativo latino de mens ? Como se pódc comprehcnder que não pa^Eassem do Latim ao Portuguez as formas comparativas em or , de que só temos o pequeníssimo numero de trcs, ou quatro, nem as superlativas , ou ampliativas cm issimo , tão fre- quentes no latim, e de que a nossa lingua totalmente ca- rccco no supposto principio da sua formação , c ainda muito.'' séculos depois, adoptando-as tamsómente, no sécu- lo XV. quando começou a querer nobilitar-sc com aqucUe honrado parentesco ?— Q^tc a lingua Portugueza enjeitas- se igualmente quasi todas as terminações diminutivas c augmentativas dos vocábulos latinos, amando aliás tanto estas bcllas formas , de que adquirio , quasi com injuria da pobreza materna, tanta riqueza c variedade ?— Que tam- DAS SciENCrAS DE LiSBOA. i^ também enjeitasse desdenhosamente tantos destes (digamos assim) miúdos vocábulos, a que chamamos particulas, os quaes sendo destinados a ligar entre si as di£Ferentes par- tes do discurso , e consequentemente as differentes idcas de que elle se compõe , produzem o maior effeito sobre o quadro do pensamento, e lhe dao energia, calor, gra- ça, e unidade (20). Como poderemos explicar o grande numero de idio- tismos, isto he , de frases particularissimas á lingua Por- tugueza, e outro numero não menor de adágios, annexins, cu rifões, usados principalmente na linguagem do vulgo, os quaes não só não vicrão do Latim , mas nem ainda se podem traduzir neste idioma, senão abandonando o senti- do litteral, e recorrendo a outras frases, que debaixo de mui differentes termos exprimem hum sentido equivalen- te ? Como he em fim possível , que a lingua Portugue- za, esta filha orgulhosa, fosse buscar na imitação das me- lhores línguas da antiguidade os artigos indicativos o, íj, os , íis , que tão necessários são para tirar os nomes com- muns da sua significação vaga e indefinida , e quizesse ostentar por este modo, na clareza e precisão do discur- so, huma decidida superioridade a respeito da lingua mãi, aonde estes importantíssimos vocábulos são quasi de todo desconhecidos , e aonde a sua falta dá occasião a muitas ambiguidades, e talvez a gravíssimos equívocos ? . . . Não acabaríamos, se quizessemos notar todas as dif- fercnças, que os dous idiomas tem entre si, não em hum, ou outro vocábulo, mas em classes, e famílias inteiras de vocábulos , e nas notas e formas características , que os Tom. XII, D dis- (20) Ornais ligeiro, e superficial exame do nosso idioma he suffi- ciente para mostrar quantos desses vocábulos latinos enjeitou a lin- gua Portugueza, conservando os seus próprios, que ja tinha , ou ado- ptando outros, que certamente lhe não vierão do Latim. i5 Memorias da Academia Reai- distinguem conforme os seus liiffcrcntcs empregos. De maneira que cxaminaiido-se attcntamcnte , e sem anteci- pada opinião, o processo das duas línguas, assim na orga- iiisação do discurso, e ccnstrucçao das diÔercntes partes que o compõem, como na invenção das formas essenciaes de varias classes de vocábulos, nos veremos na forçosa ne- cessidade de reconhecer a diflfcrcntc marcha de cada liu- ma delias, e o seu dilFcrcnte gcnio e indole ; c de confes- sai', que asupposta identidade somente se verifica cm hum certo numero de vocábulos ou de formas, que a língua Portuguc/a tomou da Latina. Cumpre porem aqui advertir, que esses mesmos vo* cabulos , effcctivamcnto vindos do latim , nem são tantos em numero como se suppoe, nem servem todos para de- monstrar a suppoStá 'filiação. Não são tantos em >:uKero , como vulgarmente se sup' ^oe. E primeiramente, dtvim riscar-se desse numero aqucl- les, á que os Grammaticos dáo o nome de iiiterjeifões '. por quatitô sendo cllcs o producto necessário das rela- ções, que a natureza CftabelcceO entre certas .iffciçóes, e sentimentos da alma, e ceitos movimentos dos órgãos da Voz^ forçosamente se hão de achar , em grande parte, idcntíja-se o Diccionair. raisoimé dcs oiwmntoyécs Frauçaises ]>ar Clwrles Ncdier, Faris, 1B08, 1'réface , pag. XXL e segg.) Os Fortuguezcs ccns( rvão a nicsma raiz iniraitiva, adoçando hum pouco maivS coro odiphtongo a sua proiuiiicia(;ão. Se os voc.ibulos Poiíngucze» [vis tem luiina tão obvia, e tão facii analogia com as linguas mais antigas, e recusarão as terminações em ta-, próprias de Grtgos c Romanos, porqtse razão os luremos agora buscar ao Grego ou i,aiim , e os não dcriv-imnos antes das linguas Orientaes , ou dns do JNorte, ou em fiui da lingna priniitiva, que a todas eilas siibministrou o typo original destes vo- cábulos? A nizão não pôde ser outra senão a que ja dissemos: porque nada se via acima do Lalim. O Latim era o tioit plus ultra dos etymo- logistas. Da mesma sorie se pôde discorrer acerca de infinitos outros vocalailos, que se tem julgado derivados do Latim, e que sendo por ventura irmãos em ambos os idiomas, tem comtudo a sua verdadeira origem em outro mais iuitigo que ellcs. DAS SciENCIAS DE LiSBOA. 2^ so , ãoaito ) dunas , dama , dama , datnice , damejar , ada- ptado ^ etc. os quaes por certo ninguém dirá tomados do latim, salvo se por huma ctymologia e derivação inversa, cjuizcrmos dizer, v. g, que donztl c donzella vem do la- tim bárbaro domkellus c domicella^ quando este latim, pe- lo contrario, he que foi formado dos primeiros, e para os exprimir. Pertence aqui notar ainda, que quando se quer ava- liar ao justo o }iumero de vocábulos, que nos vierao do latim, se não devem meter nessa conta os muitos, que a lingua Portugucza pelo seu admirável e fccundissimo ar- tificio talvcx derivou e compoz de hum só, ou de poucos vocábulos latinos. Assim , v. g. , aindaque o Portuguez tomasse do latim o vocábulo pedra , nem por isso se de- vem (para o nosso caso) contar como trazidos do mesmo idioma os quarenta, ou mais vocábulos, que daquelle úni- co formamos por derivação, e composição, e que não existem no latim, tacs como pedregulho^ pedraria, pedriscoy pedraçay etitpedrar^ empedernido^ etc. etc. Ha finalmente ainda outros muitos vocábulos, que se devem tirar da lista dos derivados do latim, e são i/ os que nós c os Latinos tomámos da lingua Grega, e ficarão sendo communs aos três idiomas. 2.° Os que sendo pró- prios da antiga lingua Lusitana, ou da Hcspanhola, ou da Gauleza , ou em fim da Céltica , lingua geral da Europa Occidental c meridional, passarão ao Latim, e forão ulti» mamente augmcntar a lingua Romana, quando Lusitanos, Hcspanhocs ou Gaulezes começarão a ter tracto com os Romanos, ou militarão debaixo de suas bandeiras, ou con- tra cilas. Dos Gregos não podemos duvidar, que aportando a nossas praias em tempos antiquíssimos, fundando na Lu- sitânia c Galliza, e em outras partes das Hespanhas algu- mas colónias , e estabelecendo outras nas províncias da França nossas comarcãas , nos communicassem veicabulos , formas, e usos da sua lingua. Poderião fazer-se longos ca- ta- 30 Memorias da Academia Real talogos de palavras communs á lingua Grega, Latina, e P<>ftugiieza , c de outras muitas que nos vicrão do Grego e não existem no Latim, taes como por exemplo aculoiitnry ache, afouto, anafado, badulaque, bala, blasmo , bodega, bo- leo, cabidela, caco, calaça, esquerdo , leria , talo , tio , moca ctc. etc. (22). As nossas Grammaticas niostrão, por outra parte , os numerosos usos e idiotismos Gregos , que se achão no Portugucz , e até a própria pronunciação do í» por Vj que se tem conservado tenazmente nos povos da província do Minho , bem como nos da Galli/a , e das províncias meridionaes da França, parece indicar hum res- to da pronunciação Grega, que desconhecia a articulação do nosso V consoante. Pelo que toca porem aos vocábulos , que os Roma- nos tomarão dos Hespanhocs , Gaulczes , e mais povos , com quem tiverão communicaçâo, dá-nos boa prova disso Dcniz de Halicarnasso {/Intiq. Rom. Lib. L) , o qual men- cionando as varias nações, de cujos idiomas se foi pouco a pouco enriquecendo a lingua Romana , se admira eatn non esse omniiio barbaram redditam post receptes Opicos , Marsos, Saniuites, Etruscos, Brulies, I igiires, et Hi.ipavoriimy Callorumque multa niillia, aliasque insuper gentes iuniimeras-y vel ex Itália, et aliis locis aàveuas , livgtia , et nwribtis àis- souas ctc. E quaes fossem , em particular , as consequên- cias da mistura dos povos Hespanhoes com os Romanos o mostrão as muitas palavras, que dos primeiros pasfa'rão aos segundos, reconhecidas pelos próprios escriptores La- ti- ('22) No Diccioií. (la lingua Porlugueza tlc Moraes da 4." edi^'ão, vciii mais de cinco inil artigos de vocábulos Gregos, e compostos ou dtiivados dellos. Dos que não existem no l^íim, e nos vierão inime- diataiuente do Grego, ajuntou Kezende quasi quinhentos, como elle mesmo diz na sna Obra das Antiguidades Luútmi. Liv. I. E nós no nosso Glosiurio Lusitano-Grego , que algum dia poderá saliir á luz, teu)os recolliido cousa de quatro centos e ciucocnta , e poderíamos .ijuntar muitos mais, se tivéssemos uiclbor coiihecimeuto du liugua Grcsa. DAS SciBNCiAs DE Lisboa. gi- rinos, c seus etymologistas. Taes foriáo as palavras halu' ítty baro , hetonica , ou vettonica , hraca , carlasuj , carrus , canthíis , cclia , ou cena , cyma , falar ic a , gaesum , gurduSy iaticea, maníik, ou mantelum^ sagum^ spaiha, sparíum, tO' tneuíimi, tilex, ttrus, visais, viria, etc. aos quaes podería- mos acrescentar muitos ourros , se tivéssemos melhor co- nhecimento de nossas antiguidades, ou se os cscriptores Romanos houvessem tractado mais amplamente, e de hum modo mais filosófico, das origens da sua própria lingua- gem. Vc-sc pois por tudo o que temos substanciado nos precedentes parágrafos, que não são tantos, como vulgar- mente se presume, os vocábulos Portuguezes, que em ri- gor se possâo ter como derivados do Latim. Mas nós dissemos, a\êm disso, e agora repetimos, que muitos des'» ses mesmos, que em reo.lidade nos vierão d'aquelle idio- ma, fiíío servem para provar a supposta filiação, e disto da- remos brevemente o principal fundamento. Consiste elle em que a maior parte desses vocabu? los, sendo trazidos ao Portugucz muito depois da época, em que se suppõe haver o Latim sido vulgarmente usado cm Portugal, podem com eflPeito mostrar alguma analogia entre ambos os idiomjs , mas de nenhum modo a sua immcdiata filiação. Todos sabem quanto os nossos primeiros escriptores, maiormcnte os do scc. XV. e XVI. , trabalharão em for- mar , enriquecer , e polir o idioma pátrio, á custa (diga- mos assim) da lingua Latina, tomando delia tudo quanto lhes foi possivel , e talvez mais do que permittia o diffe- rente processo e caracter dos dous idiomas. Se fosse ne- cessário dar provas de huma cousa tão manifesta, basta- ria lançar os olhos ás obras, quê se escreverão em Portu- guez , ou se traduzirão do Latim , principalmente des de o reinado de elRei D, João \. em diante. Conhecião os nossos escriptores a grande pobreza , irregularidade, e rusticidade do idioma nacional, e estes der 51 Memorias da Academia Real defeitos se tornavão cada dia mais scnsivcis, á proporção, que se hião augmcntando entre nós as necessidades e com- modidades da vida , as relações dos cidadãos tntre si c com os outros povos, os conhecimentos das sciencias , e artes , e em geral tudo aquillo , que constitue os multi- plicados e variados objectos do tracto e conversação dos homens, quando elies não só vivem huma vida civil ; mas também por suas circunstancias tendem ao apertciçoamcn- to das instituições sociacs. Nesta situação era forçoso soccorrerem-se a algum ou- tro idioma, do qual, ou por sua riqueza e abundância, ou por suas analogias com o idioma Portuguez, se podessem esperar mais promptos e copiosos recursos. Nenhuma porem das linguas modernas da Europa estava neste caso. As mais delias nem fazião vantagem í Portugueza, nem estavão mais adiant;;das que cila. A Ita- liana, que mais cedo começcu a aperfciçoar-se, apenas po- dia servir de exemplo, e indicar ás outras o caminho que ella mesma tinha seguido para o seu melhoramento. As linguas Orientaes , postoque mostrassem algumas raizes primitivas , idênticas , nas quaes ainda agora achímos a verdadeira origem , e formal significação de muitos vocá- bulos nossos , tinhão comtudo seguido mui differente ca- minho em suas formas, e organisação, e alem disso erão pela maior parte ignoradas. A Grega , que pelo uso dos artigos indicativos, pelo grande numero de diphthongos, pela feliz distribuição de vcgaes sonoras , e por sua har- monia musical parecia approximar-se mais da indolc da lingua Portugueza, não era ainda cultivada em nossas es- colas, nem sabida de muitos escriptores nacionaes ; e por outra parte as suas riquezas havião passado , até certo ponto, para a lingua Latina, que delia derivara a sua re- gularidade e a sua maior formosura. Achavao-se emfim os Portuguezcs familiarizados com o Latim, já porque neste idioma estavão escritos os documentos e leis antigas ; já por ser a única lingua que se empregava nos actos do cul- to DAS SrlENCIAS DE LiSBOA. 33 to religioso; e já finalmente por se haverem compilado nclla as leis cr.ncnicas c civis , que n'aquclle tempo con- stituião o principal objecto dos estudos públicos. Assimque não foi difficil , antes era muito natural , inclinarcm-se os nossos cscriptores a demandar do Latim os subsídios necessários para o aperfeiçoamento da lingua- gem pátria, c isto com tanto mais ardor e empenho, quan- to he certo , que a língua Latina ofFerccia muitvis pontos de contacto, c muitas analogias com a lingua Portugueza, tanto pela identidade de origem, c pela semelhança do ca- racter moral dos deus povos, como pop outras algu- mas daqucllas circunstancias, que mais costumão influir na organisação mecânica das linguas. Mas o grande numero de palavras Latinas , que por este modo vicrao enriquecer a lingua Portugueza (23) bcn\ •que mostrem algumas analogias entre os dous idiomas , não podem comtudo mostrar a pretendida filiação ; assim como os muitos vocábulos, que igualmente adoptamos dos Italianos, Castelhanos, Francezes, etc. não podem mostrar que algum dos idiomas destes povos seja a origem do Portugucz; sendo certo que he cousa mui diffcrcnte ser huma lingua filha de outra, e ter nascido delia immedia- Tom. XII. E ta- ' (23) No tom. -1. das Mcinor. de Litterat. da Academ. pag. 37, aponta o douto Filólogo Francisco Dias Gomei! alguns seis centos vo- cábulos, nuo existentes, ou igiioidUos, ou de mui raro uso na língua Vor- tugucza, ate o principio de clRci D. Manoel, os quaes, na maior parte são Latinos. Em outro lugar lembra alguns vocábulos e frases trans- portadas do latim ao Porlugucz por Vieira. A Camões attribue Faria e Sousa cento e vinte palavras, todas Latinas, e por elle introduzidas na nossa lingua. Muitos outros cscriptores nossos, de posteriores épo- cas, especialmente Arraez, Lucena, etc latinizão a cada passo. Se neste ponto exfeudessemos as nossas indagações, e analyses até o ninado de elRei D. Diniz, ou ainda até o primeiro século da nossa Monarquia, c quiséssemos fazer lista dos vocábulos que progressivamente fomos tomando rio L .tun , scr-nos-hia necessário copiar liuiua boa parte dos iioisos Diccionarios. 34 Me MORiASD A Academia Real tamente, ou valcr-se da sua abundância para suprir a in- digência própria. Acresce ainda mai?, que muitos dos vocábulos, toma- dos immediatamenrc do Latim, pertencem á linguagem ec- clcsiastica , e muitos outros á da Jurisprudência , e todos estes , constituindo hum como idioma universal na Euro- pa , não podem provar a filiação de nenhuma lingua par- ticular, da mesma sorte que a não provão v. g. os termos scicntificos tomados do Grego , os termos muí-icos toma- dos do Italiano, os termos militares tomados do Allemão, Inglez, ou Franccz, etc. Assim que para se fazer alguma justa idêa dos vocá- bulos , que verdadeiramente nos ficarão -da lingua Latina- nos tempos cm que os Romanos frequentarão , ou domi- narão o nosso território , não temos outro mais certo e direito caminho, que examinar os mais antigos documen- tos Portuguezes dos séculos em que a lingua começou a figurar por si em publico, e a tomar alguma consistência e regularidade , e ainda os documentos anteriores a essa época, e escriptos em Latim bárbaro, nos quaes se achão a cada passo vocábulos da linguagem ccmmum, que os notá- rios já mal sabião alatinar, c ás vezes deixavão com suas vulgares terminações e formas. Mas este exame analytico hc o que ainda se não fez, ou somente se fez muito superficialmente , sobre princí- pios errados, e o que hc ainda pcor, com o espirito preoc- cupado, c prevenido a lavor do Latim. Os nossos etymologistas deslumbrados da gloria dos Romanas; instruídos des de a infância na lingua Latina, c sabendo que ella tinha reinado imperiosamente por qua- tro séculos nas Hcspanhas ; dominados aliás da antecipa- da opinião, não vião no Portuguez outra cousa mais que o Latim , c julgavão honrar muito os outros idiomas, o Céltico, o Grego, o Germânico, o Árabe, ctc. attribuindo- Ihes a origem de alguns poucos vocábulos , que de todo lhes não podião recusar. Lan- DAS SciEíiciAs DE Lisboa: 3^ Lancem-se os olhos ás listas etymologicas de Duarta Nunes, de Faria e Sousa , de Madureira , e de outros es- criptores Portuguczcs, e se verá c]uam longe elles cstavão do verdadeiro conhecimento das origens Portuguczas. Ali se acháo vocábulos, que se dizem próprios nossos , e que manifestamente pertencem ao Latim, ou a outras línguas^ ao mesmo passo que se dão por Lntinos muitos, que só com mui forçada etymologia se pedem lá hir entroncar. Huma letra , huma syllaba semelhante lhes bastava para decidirem da origem de hum vocábulo ; e qujndo acha- vão algum, que era, ou parecia comnium a diffcrentes lín- guas , ignoravão o modo de investigar a sua verdadeira origem (24). Nem só os nossos escriptores cahírao nestes erros, antes os achamos igualmente entre os estrangeiros; c ainda hoje que estes estudos estão em maior adianta- mento , encontramos em suas obras effeitos notáveis da prevenção do latinismo, quando coiTi ella se entra no exa- me analytico das linguas (25). Comtudo este exame analytico he, como hiamos di- zendo, o único meio de chegarmos ao conhecimento das origens da nossa linguagem , e de notarmos o que ella Verdadeiramente tem do Latim. E estamos convencidos de que hum tal exame não só nos dará longas listas de vo- cábulos, que de nenhum modo nos vierão do Latim, mas ainda huma grande maioria em numero a respeito dos E a que (2-1) B'ari.'i e Sousa, por exemplo, deriva alcatruz (árabe) do latim aqiiaeduclus : bolsa (Grego) de bulga ou brisa: rebique (árabe) de ru' brica : pagar de pacare : pela de puella : menagem áe omagio etc. etc. Ao mesmo tempo que suppõe próprios da língua Portngueza aucçam^ ausentar, caldo, frucio, mandar, minuta, praga, que todos são Latinos, e açoutar, alcaçuz, algoz, jubão, gatrafa, que todos são árabes. (25) Em Dicciouarios da lingua Aomaiia , ou do Romance antigo Francez, achámos derivador v. g. busquer (b\iscãt) depulsare: cabre- sto de caput striíigium : gabão de cajmt : cafre de caper : duelo de do- Icrc : abrigar de arbor : escapar de ex , e sepire: gabella de veciigal: ganhar át viiulicare, uu de vagina: lacaio de laqueaíor^ etc. etc. 3^ MiiAloniASDAACAPEMiAREAL que indubitavelmente sao latinos : c isto sem embnrgo i!s fe poder c dever presumir que os cscriptoies daOjUclles an- tigos documentos scrião das pessoas , que n'csses tem- pos se juigavão mais instruídas no latim, epor isso mais propensas para empregarem as expressões deste idioma nos documentos que cscieviao. De tudo pois o que ate agora temos ligeiramente tocado em prova da nossa opinião parece scguir-se : que a liugua Portugueza tem diffcrente génio da Latina : que os vocábulos que nella lia, derivados immediatamentc da Latim são muito menos cm numero do que vulgarmente se suppõe : e que outros muitos, que cffcctivamcnte tem essa derivação, não provão a filiação pretendida, mas ííí- niente algumas analogias (que não negamos) entre os dou» idiomas. Náo havemos por necessário fazer agora aqui exten- sa menção e analyse dessas composições affcctadas e ine- ptas (a6) , que se diz serem juntamente Latinas c Portu- guezas , e das quaes muitos escriptores, alrás judiciosos , tem tirado argumento da prcsupposta filiação. Diremos: tamsómente, que raes composições nem pSo verdadeiro» Latim, nem verdadeiro Portuguez ; porque não tem o caracter, nem seguem as leis de hum , ou outro idioma t e o leitor , que disto quizcr convcncer-sc , nco tem mais que ler com attcnção qualquer obra dos autores Portu- guczes ou Latinos , e observar se por ventura encontra nelles, não diremos hum pcriodo inteiro, mas nem ainda huma só frase de alguma extensão , que se pareça com taes composições , ou siga a mesma marcha (27). Elias não (26) Achão-se estas composições em varies escriptores nossos. Basta consultar João FVaiico JBarrcto, na Ortograf. da Lwg. Voriug, cap. IV. Faria eSonsa, }ui Eiirop. Poitiig. tom.^. pari. -1. cap. JX.etc, (27) Lcào-se as doze centúrias, que o nosso Amaro de Hoboredo» traz Ui» sua 1'orla de íiii^ms (Lisboa 16à3 4.°) e st verá qiic de uiil dasScienciasdeLisboA. 57 não constão em realidade senão de certo numero de vo- cabulos , que sao próprios de ambas as linguas , ou que cm ambas tem scitielliantes terminações, procurados de propósito, c postos em huma determinada combinação, íòra da qual desapparece a affectada identidade, e fica reduzida a nada a força do argumento. Elias mostrão , que ha nos dous idiomas vocábulos e formas semelhantes ; que ha algumas analogias em parte da sua organisação mecâ- nica ; em fim, que ha terminações idênticas em algumas de suas vozes. Tudo o mais que de tal argumento se pretende deduzir , somente prova ou a falta de conheci- mento da verdadeira grammntica de ambas as hnguas, e das suas mui difFcrentes leis , ou a prevenção , com que semelhantes composições (que melhor poderíamos chamar" jogos de palavras e frases) forão fabricadas por huns, e admiradas por outros, como provas da identidade doa dous idiomas Latino, e Portuguez (28). Ul- e (lozeiítas sentenças breves, poslas cm latim e Portuguez, nem huma só h.i , que se possa dizer com as mesmas palavras em ambos os iiliomas, havendo muitas , que inostruo bem claramenie a dillerença tlelifs cm vocábulos, génio, e construcção. (28) Também o iliuslre Darros cahio em trazer para prova da conlorinidade da liugua Portugueza com a Latina aquelles chamados versos : O'' quam divinos acquires terra iriumphos, Tam fortes ânimos alta de sorte creanJo: De numero sancto gentes tu firma reservas, etc. E não vio o sábio escriptor que se lhe podia fazer a censura que elle mesmo faz em oiUro lugar acerto letrado, que se prezava de eloquente, e dissera : da-tios, Sejihor, nquella, a qual omuudo udo pôde dru; paz; e a outro que escrevendo huma carta, posera na data: de>.ta de Lishoa cnd()a , ondr hn mczes sete que sou habitante. (Vej. a sua Gramimt. da Lingwt Portiig. aonde trata das figuras e vícios da ora» j-ão, e entre estes do cacosi/atheton , ediç. de Lisboa 17G5 em 12 pag. J70. c o Diitlogo em louvor da Lino- . Portug. nonusmo vcl. pag. 218 e 219.) Aos quaes exemplos se pode ajuntar outro não menos digno de censura, tirado das obras do douto Bispo Pinheiro (rdiy. de Lisboa i7iSõ em C." pag. 14^ o quai ua vida de Trajano, fosta á freuie da 3? Memouias DA Academia Real Ultimamente por não fazermos m.iis extenso, e tal- vez fastidioso este discurso, concluiremos com apontar alguns testemunhos de antigos escriptores , que, a nosso parecer, mostrao claramente a existência e uso dns lin- guas vulgares das Hespanhas no pcriodo da dominação Romana de que tratamos. i.° Até o tempo de Cicero basta citar este mesmo illustre orador , que querendo dar algum exemplo de hu- ina lingua inteiramente estranha e desconhecida aos Ro- manos, e cujas palavras inutilmente se profeririao no Se- nado sem interprete, vai buscar a comparação á lingua Púnica, e á Hespanhola: tanqtiam si Poeui (diz) aut Hispâ- nia in Seuatn uostro sineinierprete loqtterentin-j {De Dititiat.L,. 11. cap. LXIV. edit. de Oljvct.) sendo que a este tempo ja os Romanos frequentavao as Hespanlias havia perto de dozentos annos. Em outro lugar, falando em dcfcza de Pompeo, não duvida conceder que este grande capitão ignorava a lin- gua do povo de Cadiz j mas reflecte, que nem por isso se devia julgar que lhe fosse desconhecido o verdadeiro sentido dos tratados, que havia entre aquelle povo, c a Republica. Etenim (são as palavras do orador) cum ia Hispânia helltim acerrimtim et masinnim gesserat , qiio jure Gaditana civitas esset nesciebat ? íin ciijus Jiugiiam populi mn tenehat^ iuterpretationem foedcris uon uosset ? {Orat, pro Cor- nei. Balb. c. VI,) No seu Tratado de natiir. Deor. L. I. cap. XXX. nos dá ainda outro argumento da verdade que aqui pre- tendemos estabelecer , dizendo que os nomes dos Dcoses crâo vários, segundo os idiomas de cada nação, c que Vul- traducção do seu panegírico, começa deste modo: V/pio Trujatio, de noção Hcs]>'iiiliol , Ulpio de seu avôo , Trnjano lomou de seu pai/ etc. B poderamos citar muitos outros lugares senielli.iutes dos nos-sos escri- ^itoreS; dictados pelo cu>pciiLu de fazer Lutiiiu a liiiguu foilugueza. DAS SciEKCiAs DE Lisboa. 59 Vulcano, por exemplo, tinha hum nome na Itália, outro cm Africa , outro ua líapanha , svndo comtudo o me!^mo Deos, cm todas estas nações venerado; Oiiot hominum lin- guae (diz) tot iwwina Deorum : non enim , tU tu Fellehis , qttoamique veneris, sic idem in Itália Vulcanas^ idem in Jfri' ca, idem in Hispânia , etc. Finalmente na Oração pro Arcbia c. X. se queixa o illustrc orador de que sendo a lingua Grega conhecida cm toda a parte , c entre rodas as gentes , erão comtudo estreitíssimos os limites da Latina: Graeca (diz) leguntur in omnibus fere gentibus : Latina suis fínibus, exigitis sane , coutiiieutur \ expressões notáveis, que parece indicarem que a lingua Latina somente era conhecida e falada no Lacio, ou quando muito na Itália {stus finibus) , e das quaes o sábio orador não usaria , se já então a lingua Latina fos- se não só conhecida e falada, mas até vulgarmente usada nas vastas regiões das Hespanhas (29). 1.» (2!t) Das palavras de Cicero cilada.';, e de outras scinelliantes, que se léi-iu lias suas obras (V. De Finibus Ij. I. cap. II. u 111.) se pôde bem colligir, quam pouco cstiiuada era a lingua Latina dos projirios Bomaiios no tempo do illustre orador, e qnam pouco conhecida se- ria , quanto mais usada e falada vulgarmente dos estrangeiros. JNós' seriamos nimiamente extensos, se quizcssemos accumulur aqui todos us tcstcumnlios, que mostrão a preferencia, que não só em Koma, mas em todo o ini|)erio Romano se dava íi lingua Grega sobre a Latina, ainda no tempo, cm que esta havia ciiegado á sua maior perfeição. Ja acima notámos, que os escriptorcs sagrados do INovo Tistamento escreverão em Grego as suas obras, ainda mesmo aquellas, que erão particular e dcterininadaitiente dirigidas aos llomaiuos , como liuina das l';pistolas de S. Paulo, e (segundo opinião de alguns) o Evange- lho de S. Marcos. S. Clemente, natural de Koma, e Bispo de Homa, escreveo era Grego. S. Ignacjo escreveo em Grego as suas Ejustolas, liuma das quaes he dirigida aos Romanos. S.Justino JNlartyr dcfcndeo os (Jhristãos em (Vrego, em duas excellentes Apologias, cndrreradas aos Césares, no Scwijj , e no Po!:o Romano. Athenagoras também es- creveo em Grego a Apologia a favor dos Chrislãos, offerecida a Mar- co Aurélio Antonino, c a Lúcio Aurélio Commodo, imperadores Ro- manos. S. Ireneo , Bispo nas G.illias, usou da mesma lingua cm stu.s escriptos} «ec euim refutari merentur (diz Cave) qui Ircnacum latine 4o Memorias da Academia Real 2.° Estrabão, que escrevia em tempo de Tibério > nomeando na sua Gcograf. ;,Liv. 111.) al|^uns povos das Hcs- scripsisse voluiit. Em Grego forão escriptas as Actas dos primeiros Wartyrcs de Leão; e de S. Hilário, que llorecco no btc. IV. diz huia escrii)tor moderno, que foi o ptimcito , que ttctcveo on Latim sohie materiíjs thcologicaa , vcndo-se por isso obrigado a usar de iiaiitos ter- mos c frases dos Cjrcgos seus modelos, j)or uãoachar no Latim expres- sões correspondentes. Josepli , Judeo, de quein já tanibtiu lalamos, depois de ter escripto na sua iingua pátria a Historia da glieira Ju- daica, a traspassou ao Grego, em grai,a d'aquelles (diz elle mísnio) qiii Romniio império re.guiitur, e pôde dizer-se que escrevia uo palácio de \'espasiano. Da imperador Tibério nota Suetonio, que era prompio e fácil em falar o Grego, postoque se abstinha de o íazer no Isenado. Cláudio cscrevco cai Grego , e allectava tanto o gosto dos estudos e poetas Gregos, que por este motivo zomba dellegalautemente Séneca, na sua Claudá Caesaris airoy.oÁix-.iTUíK, Antonino e Alarco Auré- lio escreverão em Grego, e ao primeiro dizia Plinio: hominem Romã' tium tam griícce loqui! tion medimjidius ipsas Athcnas tam Atlicas dixe" rvn. Quid multa f iiivideo Graecis , quod iltormn língua saibere mntuiòti (L. IV. Lp. 111.). Antes de todos estes Albino, i*oljbio, Appiano, I)ion Cassio , Denis de Halicaruasso , e tliano escreverão as suas His- torias em Roma, c na lingua Grega; c conitudo Albino era Roma- no e nascido no Lacio ; Uenis de Halicaruasso tinha vivido vinte e dous aunos rm lioma , e tinha aprfudido, como elle n esmo diz, a Hugua ea litteratura Komana ; Poljbio era familiar de tícipião Afri- cano, e Lliano era Frenestino. O Juris-Consulto JVlodestiiio tsereveo em Lirego. O imperador Juliano, educado na Halia, e longo tempo Governador das Gallias, escreveo em Grego, e nesta lingua pronun- ciou os seus panegyricos, e alguns discursos públicos. Que mais dire- mos? as mulheris Romanas faiavão Grego no meio de Roma. .!uve- nal na Satyra VI. falando delias, diz com liuma espécie de indigoa- ^áo : Nam quid ranciditm, qiiam quod se tion putat ulln Foimosnm, iiisi qune de Tusca Graccula facto, eú ? De íiulnwiíeusi tuna Cecropis ^ omiici gracce, Cum iU lurpe magis tiostris ncícire Intiite. JIoc sermuue puvcut , lioc iram , guudia , curas, Hoc cuncta cffuiuluut auimi stcrcta. Quid ultra P CoucumbuiU gratce ctc. E na Satyra IIL T^oii possum ferre y Qui^ites, Gruccam urbcm, quamiis quota jturtio foccii Achaeac. dasSciencias i)E Lisboa. 41 Hcspanhas , c da Lusitânia , que havião recebido colonos Romanos, c i]ue por esse motivo tinhão adoptado muitos dos costumes Romanos, e até falavao a sua língua, acres-r centa que os de mais Hespanhoes continuavão a usar de difFercntes dialectos , c difFercnte grammutica : utuntur et reliqití Hispani grammatica non uiiius omites generis^ qitippe tie eodem quideni sermone ; por onde se vê, que á excepção tí'ac,ue - le pequeno numero de cidades , aonde era mais frequente o uso do Latim, e aonde mais reinaváo os Romanos cos- tumes, todas as outras conservavão todavia seus particula- res e naturaes idiomas. Outro tanto se collige do que nota o Geógrafo nò principio do Liv. IV. que entre o Gjronna e os Fyre- neos tamsómente existião povos Aquitanos , e que estes não tinjião nem a mesma linguagem^ nem os mcímos costu- mes, nem a mesma figura que os Gaulezes, antes a todca os respeitos erão mais parecidos com os Hespanhoes: com- paração , que o escritor não poderia fazer em quanto á linguagem, se os Hespanhoes tivessem adoptado, e faias- sem a Latina. 3." Plinio (Hist. Nat. L. in. cap. L) reconhece a affinidade que havia entre os Célticos da Betica, e os d» Lusitânia por terem huns e outros a mesma linguagem, os mesmos usos religiosos, c os mesmos nomes de terras: Célticos (diz) a Celticis ex Lusitânia advenissc matiifestum, est , sacris , lingiia , oppidorum vocahttlis , qtiae cognomintbus in Baetica distingmmtur. Tom. XII. j^ F 4.° Eis aqni pois como a língua Latina era universal no império Ruiiiniio ! e como os Romanos a introduzirão por toda a parte com as suas armas, e com a sua civilisação ! . . . (.tsse por liuni pouco a iN liisão, que ainda hoje nos fae o nome Romano; ponLa-se de parte a preuccupação inspirada pela vaidade escolástica dos nossos primeiros Mestres, e logo se reduzirá a mais justos limites a prevenção, com que olliamos a língua Latina , e com que exaggeramos a. tua univeisali- dade. 4i Memorias da Academia Real 4." S. Irciico , no seu Trat. advers. haereses , L. I. c. III. querendo provar a autoridade das tradições religio- sas, inculca a sua uniformidade no meio da variedade das nações c das difFercntcs linguas dos povos, e diz: iiam et si in mundo loquelae dissimi/es,- sed tnvicn Tiitus traditio' nis una et eadem est. Et neqtte hae^ qtiae in Cenfiania fim- díitae stint Ecclesiae , aliter creditnt , et alitcr trndunt ; ve- qiie bae qtiae in Iheris stint 5 neqtie hae , qiiae in Ceitis ; ne- que bae ^ quae in Oriente . . . etc. f." Tácito {Jmal. I. IV. c. XLV.) referindo o assas- sínio do Pretor Lúcio Pisão, perpetrado por hum Hespa- nhol Termestino , diz que o rco mcttido a t(;rmcnto, clama'ra por vezes errt alta voz, ena sna linguagem pátria,- que debalde pretendião extorquir-lhe a revelação cos seus' cúmplices: ctim tormentis ederc cônscios ndigcretnr^ roce ma- gna , sermone pátrio , frustra se interrcgari clamitavit. Das quaes palavras deduz com razão o douto Florez : que to- davia se tiiantenia alli Ia antigua lengtia espafiola. 6° O celebre Jurisconsulto Ulpiano, na L. XI. Dig. àe Icgat, et Jídeicommissis, di:c\dc, que os £dtieomii)is'Os se podem deixar em qualquer linguagem , não íó na Lr.t;na ou Grega ; mas também na Púnica, na Gauleza, ou na de outra qualquer nação: fideicomniissa qtiocuv.qtíe sem ove re- linqiii possante non soluin Latina lingva, vel Graeca^ sed etiítm' Púnica , vel Gallicana , vel alteritis ciijiiscunique gentis, \'y postoque nestas palavras se não faz expressa menção da lingua Hespanhola , ou Lusitana , bem podemos comtudò suppôr que huma e outra era comprchcndida no pensa- mento do cscriptorj visto não haver razão alguma atten- divcl, para que a lingua Latina não gozasse na Africa ou nas Gallias a mesma superioridade e preemiiíencia, qu'e se lhe pretende dar nas Ilespanhas.; -..:', 7.° O anonymO' autor áa Dirrsao das Gentes,, que es- crevia cm tempo de Alexandre Severo , e já no Scc. III, da era vulgar, aílirma mais de huma vez, que os Hespa- nhocs ainda então tinhão lingua própria, e próprios cara- cte- DAS SciElICIAS DE LiSBOA. 43 ctcrcs de cscriptura: c o mesmo repete depois dclle Jú- lio Afiicano, e outros escriptores , citados cm Pcllicer, Poblacioiíy y leugna primitiva d^Espa^a^ §. 91. 8.° S. Paciano , Hcspanhol , c Bispo de Barcelona, que florecia depois do meio do Sec. IV. , escrevendo a Sim- proniano lhe diz (na Epist. II. §. y e 6 da cdiç. de Flo- re/.) estas palavras : Latititn, Acgypttts ^ Jíheuae , Thraces , Árabes, Hispmi Deum confiteiitur. Omnes Ungiias Spiritus S. intelligit '. das quaes palavras conjectura o Ciar. Alayans, que no tempo do Santo escriptor ainda na Hespanha se conservava algtiua lengua própria de sus natura/es. {Orig. de ia Leng. Espaiiolay §. XXXII). DAS SclEKCIAS DE LiSBOA, 45 ERROS HISTORICO-CHRONOLOGICOS DE FR. BERNARDO DE BRITO NA CHRONICA DE CISTER, Correctos em 1034 Por António d' Almeida. Neminem illxsum fata Cransmittunt. Excerpla e librls SenecíC, E R R O I. O Senhor ConJe D. Henrique he filho de Guido Conde de Vcrnol. Jj mãy do Santo (Bcrnnrdo) . . . foy filha de Monseor Met' Bar, Primo coirmão de Cuido Cotide Fernoliense, pay, que foy do Conde Dow Henrique e auò delRey dom Afonso Henriques '. No Cap. XIIII. do Livro primeiro. Esclarecimento. O A, ampliou mais a ascendência do Srir. Conde Dom Hm- X4(> M'EMomAS CA Academia Real Heuriqtie declarando, que a Múi dcllc era Joantia Jilba de Cero/do Duque de Borgonha (i). Correcção. §. T. Oppõe-se ' a esta opinião primo não constar pelo testemunho dos Esciiptores que talldrão das acções de C«;Jí), queelle houvesse prole, nullns scriptcrum Gal- licauorum . . . cum e vichio Burgwtdkrwn Comiíum historias perseqtiaatur, et Rcgitia/di , aiqtie filiorum sirign/aíim vienú- tiei'iuty ullam Guidoni prolem assignant , fuse explicatis illius in Northmania gestis (i) ; oppõc-sc-lhc haver este Con- de fugido de Franca, e de Itiglaterra ,, por causa da sua perfídia para com Guilhernie o Conquistador Rey de hi' glaterra, e não se saber o fim da sua vida, nem constar tosse casado (?) ; oppõc-se-lhe ser Vlgnerio o único cs- criptor que faz o Conde de Vcrnol casado , dando no ca- samento com Joanna filha de Geroldo 1. Duque de Borgonha a certeza da falsidade de tal matrimonio . . . por serem des- conhecidos na casa de Borgonha Duque Geroldo , e sita filha Joanna (4) ; oppõe-se-lhe finalmente não constar houves- se dispensa, nem serem separados do matrimonio o òfir. D. ÂJfonso 7. e a Sfír.' D. Mafalda , o que era indispen- sável acontecesse, segundo a prática daqucUc tempo, por quanto estavão ainda em grão prohibido, sendo ver- dadeira a genealogia do ^. , ■çois Amadeu II., pai da Siir/ D. Mafalda, era filho Ác Humberto 11. Conde óe Sabóia, e de sua mulher Wella , ou Gisela, a qual era fiiha de Gui- lherme o cabeça ardente, Conde de Borgonha, que proce- dia de Guilherme o grande , irmão do Conde de Fernol Í5). (1) Elon-io I. dos Elogios dos Reis de Fortugal. (2) V.iscoiictllos Aii;ictJ)linleosis I. (3) Duarte Ribeiro. T. 11. a p.ig. 15. (4) Origem verdadeira do Conde D. Henrique a pag. 4 , c 47. D A S Sc I E N C I A s rs E L I S B O X. 47 (5-) , e por consequência fica a opinião do A. errónea, por não ser formada sobre documentos sólidos. §, II. Mas tjual lie a verdadeira origem do Snr. Con- de D. Henrique ? Duarte Ribeiro de 'Macedo (6) , e Fr. Ma" iioel de Figueiredo (7) deixarão esta questão acc.bada, filma- dos sobre o M. S. de Fkuri , e inquirições dos autlvires da arte de verificar as datas , c por isso somente se faz necessário declarar, que o Snr. D. Henrique foi quarto fi- lho de Henrique de Borgonha ^ e de Sihilla, filha de hum Conde de Borgonha ; que foi neto de Roberto I. Duque do Borgonha, c de J/iza, filha de Dalmas, Senhor de Se- mur ; que foi bisneto de Roberto I. Rey de França, e de Constança filha de Guilherme Conde de Aries , e por con- sequência terceiro neto de Hugo Capeta, tronco da tercei- ra Raça dos Reis Christianissimos, e de Adelaida filha do Duque de Guiena. Cumpre porem aqui advertir que a Mãi do Srír. D, Henrique não era filha do Conde Sobera- no de Borgonha, mas sim de hum Conde daquelle Paiz, pois havia outras personagens com este titulo, sem que fossem Ccndes Soberanos de Borgonha , do que se encontra huma prova no A. que faz ao Pai de S. Bernardo Conde cm Borgonha Condado (8). ERRO II. O Snr. Conde D. Henrique he primo segundo da Mãi de S. Bernardo. JLjE modo que o Conde do Henrique ; e a tnay de nosso P. S. (5) Origem verdadeira do Conde D. Henrique a pag. 45. (fi) Nascimento c Geucalogia d.o Conde D. Henrique a pag. 1 do T. 11. (7) Origem verdadeira do Conde D. Heuriqae. ^8) ]Nò Oi). XIII. ciudo. 4^ Memorias da Academia Real S. Bernardo ficão sendo frmos Scguàos y e o Sauto co elRey dom AJfouso primos terceiros. Dito Dito. Esclarecimento. Era parente (o pai de S. Bernardo) em gr do tnny che- gado dos próprios Duque i^ como afirma Frey Athanasio . . . e o testifica o próprio escudo de suas armas , que be o que trazê os Senhores da Casa de Borgonha (Ducado) e por ou^ ira via tinia ãescen.kncia da Casa Real de França. Dito Dito, Correcção, $. I. Náo sendo o Síír. Conde D. Henrique filho de Cuido Conde de Fernol (9) cessa inteiramente a x.\iío de parentesco do sobredito Príncipe cora S. Bernardo pela maneira que o A. declara. §, 11. Não obstante porem a exclusiva referida, con- servava S. Bernardo algum parentesco com o Snr. D. Hen- rique^ como procedente de Borgonha Ducado ; não sõ pela parte de seu Pai , como se jiísc no csciarecimento, mas também pela mãi a quem Chifkeio ^ e Mabillon entroncão na Casa dos Duques de Borgonha (lo). ERRO III. O Snr. D. AfFonso Henriques concede licença, c conta terreno para a construcçâo do Mosteiro de Tarouca no anno de 1 12c. Jllfonsus gloriosissimus Dux , et Dei gratia Portagaletisium Prin^ (9) 6. I. tia Correcção ao Erro f. (10) Origem verdadeira do Conde D. Henrique a pag. 5. DAS ScIEMClAS DeLisbOA. "49 Trinceps , . . facio "vohis Âhhati Joaiii Cerita , et fratribus , qui voOisctim sutit cartam, et canítwi , tie quis vos mpediat ^ quod vadatis et faciatis wonasterium orditiis Snncti Btnedicti de tiotia reformatione . . . Facta carta catiti apud Vimaranes cal. Mart. era iij8. No Cap. II. do Livr. segundo. Esclarecimento. Precede a este Documento a, apparição de S João Baptista em Claraval a S. Bernardo rcvelaiido-lhe convir mandasse ás partes mais remotas da Hespanha Monges pa- ra fundar hum Mosteiro 5 e a escolha que S.Bernardo fez de oito Rehgiosos para esta missão (i i). Refere mais o A. outra apparição de S. João Ba- ptista a João Grita em Portugal, revelando-lhe a próxi- ma chegada dos Monges, e o fim a que vinhã.^, seguindo- se o encontro, e a entrega da carta de S. Bemarao , em que lhe declara está elle escolhido pars chefe da nova edificação , e do acordo , que tomarão de pedir ao impe- rante a licença competente, donde procedco o documento allegado (,11). Correcfão. §. I. Este Documento he âpocryfo, porque nao cabe no Reinado do Snr. D. Jffonso (13), o qual principiou em 24 de Junho de 1128 (14), e não se mostrará hum só acto de Soberania praticado por este Soberano desde a morte de seu Pai cm 11 12; porque não concorda o titulo de Princeps com a data do documento, sendo tão Tom. XII. G coii' (11) No Cap. I. do L." lí. (12) No Cap. II. dito. (13) N.° 208, nota (ò) a pag. 71 dó T. Ilf. das Dissert. Cliron. (n) Chiou. Gothor. no L." ill. da Monarq. Lusit. a H. 273. p» ^o Memorias pa Academia Real constam e o titulo de Infatis . . . até d Era de ii 7 3 . • • qtie este e alguns outros Diplomas em que o ieiihor D. Jffovio se intitula Princeps, fazem entrar em duvida sohre a cxaciidiío da sua data (ly); porque até ao anno de 1147 não lu exemplo de que o mesmo Senhor usasse da frase Deigra- tia depois que assumio o governo de Portugal , servimio- se algumas vezes àcDei providentia (16); porque no anno indicado no Documento estava o Doador de idade de no- ve annos segundo a opinião mais concorde aos factos (17) , e por isso ainda inhabil para o governo. §. II. Sendo pois o Documento apontado falso, podem sem escrúpulo reputar-se falsas as circunstancias, que o precederão ; muito principalmente quando nellas se desco- bre o maravilhoso, que se não deve admittir sem grandes c severas provas. Da Carta que S. Bernardo escrcveo a João Cirita, ainda mesmo reputando-a verdadeira, se' não deprehende ter havido revelação alguma sobre a vinda dos seus discípulos para edificarem mosteiros nas fíespa- tibas, circunstancia esta, que não deveria escurecer-se para incitar mais o fervor do Cirita, e alem disto os Monges Cistcrcienses vicrao a pedido do Cirita , coroo consta de hum Documento original , onde se devem notar as ter« minantes expressões : Porro hac Regula et ordo Clara-Vallis Ecclesiíe , a me jam dndum a Trctiuilpinis partilus adzçctus (18) sem que se nomêe S. Bernardo, nem revelação para o encontro, constando sim que os mencionados Monges fdfão recebidos no anno de 1138 cm S. Christovão de La- foes , e que daqui os conduzio o Ciriía para o Eremi tó- rio ou Mosteiro de Fellaj^ia no anno de 1139, princi- pi an- il 5) N." 273 do Tom. 111. das Disscrt. Cbroii. a pag. 273, nota (A). (16) ^•'" 310, 323, 341, SCO, c -100 dito. (17) (iiron. Goth. liras 1163, e llCS ali. 272 e 273 da M. Lusit. P. III. (li;) Elucidário por Fr. Joaquim de S. Rosa. Vocab. Alcobaxa a pag. 77 do Tom. I. - " DA s SciENciAs DE Lisboa. 5-1 piando-sc logo no de 1140 a Abbndia de Tarcuca (19). Sendo muito para notar que se não guardasse no archivo de Claraval huma memoria tão gloriosa para o Santo, con- servando-sc apcnijs alguma tradição da vinda dos Discipu- los para Portugal (20). E R R O IV. O Snr. D Affonso Henriques usou do titulo de Dux. .lLm tntiytas doações antigas se chamava Dux ^ e noutras Príncipe^ dos quaes o primeiro titulo he comnium u Duque . . . mas como Dux em latim signifique Capitão , e e:te Priticipe se prezava tanto de o ser bom , a este fim cuido eu que o elle usava. Dito Dito, Correcção'. %. L He notável que o titulo de Dux ... sd appareçct {que eu saiba) em todo o governo do Senhor D. Affonso Hen- riques em bua sua doação . . . (21), Com testemunho rão acreditado fica sem valor o do yl. multiplicando do- cumentos com aquelle titulo, não devendo merecer pouca atccnção o encontrar-sc o outro documento no archivo de Tarouca. §. II. A razão que o A. allega a favor do titulo de. Dux não pode caber ao documento mencionado , por quanto hc datado do anno de 1120, no qual o Síir. D, Ãffunso não estava cm idade (22) de se lhe applicarcm as idéas do A, com o titulo indicado. G 2 ER. (19) Elucidário por Fr. Joaquim de Santa Rosa. Vocab.Ciritaapag'. 280 dito. (20) Tom. V. das Memor. de Litterat. Port. a pag. 319 nota (d). (21) Nota (1) a iwg;. 64 do Tom. I. das Dissert. CLronol. (22) §. 1. da Correcção ao Erro III, 5'2 Memorias da âcadsmia Real ERRO V. A Sfír.^ D. Thcreza hc chamadg Rainha por ser filha de Rcy. ia^iiSto ao mttie de Rajnha, que se dd a Dona Thercza, sendo seu marido CÕde , era naqmlle tempo cousa mtiy usada dar -se a todas as filhas de Rey nome de Raynhas , inda que o não fossem , e letido D. Jhereza filha delRey Dom Affonso o sexto, de direito lhe vinha o titulo qtie a doação lhe dd. Dito Dito. Correcção. §. I. Se este era ouso daqucllc tempo, porque moti- vo durante o governo do Snr, Conde se não deo á Síir.» D. Thereza este titulo , nem mesmo nos primeiros dous annos do governo da mesma Si1r/ , designando-se já por filha de D. Jfonso FL , já por Infanta (23)? Porque cau- sa se não denominava assim D. Urraca filha Jegitima do sobredito Monarca (24)? Sc o A vira tantos documentos em contrario, desprezaria a opinião do Arcebispo de 7o- ledo quando diz, Comes atitem Henricus ad petitionem uxoris sUíC TarasiíC ^ qu se lê. *^ . §. II. Sendo sem funda Ticnto as revelações de J". SíT/í/ir- ào ^ e de João Cirita acerca da vinda dos Cistcrcic.iscs para edificarem Mosteiros em Portugal (31), devem ter o mesmo caracter as appariçõcs de lumes, destinadas a confirmar aquellas, muito principalmente* por não se al- legar a seu favor documento algum. A appariçao dos raios luminosos por nove noites contínuas, o querer João Cirita obrigar a divindade a novos prodígios, attcstadojs por escripto, e por confissão pessoal de quem os vio, ião mais indicies de falta de fé, do que de verdadeira pie- dade. ER- (30) <>. I. da Correcção ao Erro III. (31) ç. II. dito. DAS SciENCtAS DE LiSBOA. JJ ERRO VII. O Snr. D. Affonso he Fundador do Mosteiro de S. Joáo de Tarouca no anno de 1122. ./l/ pêra dar a Deos parte da gloria que lhe dera, deter- minou de se fazer atitbor^ e principal fundador daqiiella Casa (S. João de Tarouca) .... E aos vinte e hm de Junho deste anno de mil e cento e vinte e dousj vespora de Santo Albiano Mártir. Lançou o Príncipe D. Afonso por sua mão a primei- ra pedra na Igreja , como consta do Letreiro seguinte , qtie estd na porta da Igreja : FUNDATA FUIT ISTA ERA : M:C:LX:II.KA.IVLII. E quer dizer. Principiott-se esta obra na era de Cezar mil e cento e sessenta, as onze Kalendas de Julho. Achouse prezente o Bispo de Lamego, q bezeu a pedra e fundamentos .... Acabada esta solemnidade deu o Príncipe ordem como a obra da Igreja fosse por diante , assinando despezas bastates pêra paga dos officiaes. No Cap. IIII. do Livro segundo. Esclarecimento. Segundo o A. a determinação do Siír. D. AJfovso foi consequência das victorias , que elle alcançou contra os Mouros , e que elle também attribuc á cooperação dos Monges Cistcrcienses , objecto que dará motivo a artigo separado. Correcção. §. I. Da inscripção lapidar não consta quem lançou a pcdr» fundamental da Igreja, nem quem foi o seu Fun- da- yé Memorias da Academia Real dador. E causa admiração que o J. de a II. Ka. IVLII. a interpretação de ii das KaJcndas de Julho, ou 21 de Ju- nho, quando deveria ler a 2 das Kal. de Julho, ou a 30 de Junho. Não he menos errada a lição da era, pois que se acha escripta M.G.LX. , e não como a copia o A. , o que faz ser a era aquella de iijio, ou anuo de 1151 (32) e não o anno de 1122. §. II. Depõe contra a data da inscripção , que o J. produz, a circunstancia de haver sido o Bispo de Lamego quem benzco a pedra fundamental, por quanto neste snno indicado ainda não havia Bispo nesta Cidade , nem mes- mo o havia akida a 30 de Novembro do anno de 1145' (33) sem que possão valer as conjecturas de Brandão y porque estas não prevalecem contra provas (34). p §, III. Alêm das provas referidas ha aquclia de não poder o Snr. D. ^ffotiso naquelle tempo praticar actos de Soberania pela falta de idade , e não ter ainda assumido o governo (35"), c devendo encontrar grandes diíEculda- des no seu procedimento, por isso que dominava então no maior auge do seu poderio D. Fernando Peres de Tra- va (36) que não deixaria de espiar os seus passos com ciúme politico. r.^; ,. ERRO VIU. Doação do Snr. D. AíFonso ao Mosteiro de Tarouca em memoria das Víctorias de Trancoso. ji- go Àlfonsus Portugalesium Princepf victoriosissmus » . . no- ttiin facitnus . . . quod Rcx Âlbucasan Rex de Badalhcuce xy- nit cum sua gete destruere nostras terras , et ctrcunidauie Iran- (32) Moiiarcl). Lusit. Cap. XXF. do L.° IX. da P. Jlí. (33) Elucidário. Vocab. Casar a pag. 246 do Tom. I. (34) . Mo Cap. XXI. do L.° IX. citado. (35) (>. I. da Correcção ao Erro III. (3t;) N.°' 2il, 13, 17, 32 do. Tom. 111. das Disstrt. Cl.ronol. dasScienhasdeLiseoa. '57 Trancostmu et multa alia castella de riiea terra âepcpuhmit , . . per tíbi ego ccagregavi vieos homines , et fui per iibi erattt fratres Sancti Joaimis de Barosa . . > et qiiia ccguoui Domi' tuim esse ctim illis , leiiatii de ihi Priorcin Ahk bertum , ut rogaret pro ?;;í, et pro mea hoste . , . et ipse adjiittíiuit ii:e iti prélio , sic heite quod cum oraret , ego vit:cebam. Et imo die reliqui mea hoste , et fui sine illo rixíire ciim Miwris y iii qtia rixa perdiui . .'. et muitos milites , et cum laseria re- cessi , propter qui rixaui sine oratione honi viri. Ego igitur . . .pro seruiíio Dei . . . do Monasterio Sancti JoaMiis . . . Fa- tta carta meuse Junio, era ii6o. Dito Dito. Correcção. §. I. Ainda que se queira suppor nesta data ter -se erra- do na copia o valor do X aspado , lendo era 11 Co em lugar de era 1190, o titulo Princeps accusa a falsidade do documen- to y em quanto o não afiançar Author mais verdadeiro (37). CombinanJo-sc pois este tao decisivo tcstcniunho com o qiie já se acha dito, e com o titulo de victoriosissimus to- mado por quem não havia ainda combatido inimigos, fica manifesta a impostura do Documento exarado talvez com o fim de f.izer acreditar os serviços dos Cistcrcicnscs aPor- tugal , mas sem huma previdência e cautela tal, que en- cobrisse a sua falsidade. Não sendo de pouca monta não se fallar nesta doação em foiío Cirita que se fez figurar na primeira licença e Couto (38), e delle se faz princi- pal menção na verdadeira Doação da era de 1178, em que se acha pro -vobis Abbate Díio foanne Cirita i>na cum fratribus vestris regulam B. B^iedicti tenentibus (^9). §. II. Sendo pois tal a reputação do documento refe- Tom. XII. H (37) IM." 224 nota (aj do Tom. III das Dissert. Chronol. (38) Erro III. (39) Escritura XVI. a foi. 285 da P. III. da Monarch. Lusit. ^ MkmoriasdaAcademiaReal rido, fica com igual caracter tudo quanto nellc se escrever sobre a jornada de Trancoso , da qual foi o A o primeiro que a tractou , e Brandão apenas encontrou hum trcslado não original, c com suas faltas (40). ERRO IX. João Cirita toma o habito c professa na ordem Cistercicnsc antes ou no anno de 1123. Jlj corno o Ahhaàe "joao thiesse deliberado côsigo de profes- sar a regra de N. P. S. Beto , e acabar seus dias no habito de Cister , quis elle ser o primeiro tiouiço ^ q e S. Joa y e e todo o Portugal entrasse nesta Sagrada arde . . . Foj o laçar do habito, e fazer da profissão no mesmo dia. No Cap. V. do L,° segundo. Correcção. §. I. Os Monges Cistercíenses vicrao a Portugal no anno de 1138, e o Mosteiro de Tarouca ccmcçou-se em T140 (41), como podia João Cirita tomar o habito c pro- fessar nesta Casa no anno de 1123 ? E R R O X. Ptrmitte o Snr. D. AíFonso a João Cirita edificar o Mosteiro de Lafócs, de que he feito Abbade. Jt^j vendose vestido vaquelle nouo trajo , tratou logo de fa- zer no sitio da ermida ... hÚ mosteyro da própria ordê , . . de licença do Abbade Alberto , se fny ver co o Príncipe D. Jifo- (40) Cap. XXI. rissi>no , . . tal devoçã tomou cos Santos Religiosos , tj todos os nuzes os viandaua visitar . ,,e lhe escreuia cartas . . . das quaes porá . húa. Spectàbili viro Aldeherto . . . Egeas Mmiius Triucipis /.l- fonsi nutritius , et terra intra Duriú et Minium tf fures . . . Totum annn cuperê quadragessima^ ut sitnttl cu treo Dio Al- fonso essem cu vobis^ sed negotia teme suay et lella de Ma::- ris, non dant locii st adi cttm pace . . . orate pro nr peciatcvej et pro mea consorte Domina 2beresa , qua miiltu agrotat ds magna febri ... Dito Dito, Correcção, §. I. Esta Carta que o Â. faz escripta no anno de 1125' contêm em si provas bastantes da sua supposiçati. Alem do estilo que se não conforma com o d'aqucire tempo ; do titulo que Egas Moniz se apropria , não se encontrando memoria de que elie tivesse tal dignidade , (47) Correcção ao Erro X. 6i MíMoni AS DA Academia Real principalmente na época em que D. Fernando Peres esta- va no maior auge do seu valimento, no qual decerto de- via haver grande ciumc e parcialidade por causa do Prin- cipe ; de se attribuirem ao Srír. D. JJfonso cuidados de que pela sua idade, c por não ter ainda o governo esta- va dispensado ; ha nella huma circunstancia falsissima , qual a de pedir rogativas aos Religiosos por sua mulher D. Theresa , da qual não ha memorias senão do anno de 1134 por diante, estando casado com D.Dorotbea no de 1120, e com D. Maria Onoriques no de 1130 (48). ERRO XIII. Filiação incerta da Snr.« D. Theresa. Jr^çy esta Senhora (D. Theresa) filha âel Rey DS 4foso o VI. q se chamou Empcrador de Espanha (segtido opinião d^al- gús) de legitimo matrimonio , e segundo outros filha natural. No Cap. VI do Livro segundo. Correcção, §. I. O J. corrigio esta sua indecisão na obra que escreveo com o titulo de Elogio dos Reis de Portugal^ que fez imprimir no anno de 1613 hum anno depois da pre- sente analysada (4»?) , dizendo que D. jíjfonso FI. casou,.. a D. Henrique com Dona Theresa que houve em D. Xin.ena Nunes de Gusmão^ dona de sangue tão illustrc^ que fez crer a muitos Authoresy que ElRei a receberia por mulher y e se' rião legitimos os filhos que delia tivesse (jc). §. 11. Depois que escreveo o 2. António Pereira de Fi- (48) Nova Malta Portugueza §. CCLXXII a pag. 474 da P. I. (49) Suminario da Bibliuthcca Lusitana a pag. 276 do Tom. I. (50) Elogio 1. , D.A? SciENCiAS DE Lisboa. 6y Ftgueiveâo nosso sábio Consócio (51), a illcgitimldadc da Siir.' D. Theieja, já não he questão, may sim verdade his- tórica. O testemunho de dous authores coevos como o Bispo de Oviedo D. Peiaio ^ e o Monge de FJeuri , hum nacional, c o outro estrangeiro ; a declaração positiva do author da Chrotiica Latina de D. Jffonso Vll.^ c a do Arce- bispo de lolcdo D. Rodrigo Ximenes^ aquclle coct.ineo da Snr* D. Theresa , e este pouco mais moderno do tempo do Snr. D. Âffonso Henriques, devem prevalecer a todas as mais Chronicas posteriores, sem que a Bulia de sepa- ração de Gregório Vil. faça obstáculo (se he que ella foi dirigida para evitar este consorcio illegitimo , c não ou- tro) por quanto admittida a sua verdade, sempre a Snr.* D. Theresa ficava bastarda por ser havida antes das provi- dencias Pontifícias que depois se prescreverão. ERRO XIV. Vem á Hcspanha o Srir. D. Henrique com os Condes de S. Gil , e de Tolosa. jL/ vindo o Conde Da Henrique a Espanha em companhia dos Condes DÕ Remou de Sã Gil, e D. Remon de Tolosa . . . Dito Dito. Correcção, §. I. Estes dous Condes referidos não são duas pes- soas diversas, mas sim huma só com dous titulos , como por authoridade de Paulo Jemilio prova Duarte Nunes de Leão (í2). §. II. Em companhia porem , ou na mesma occasião che- (51) §§. II. ale V. da Dissert. XIII, a pag. 274 do Tom. IX.P. í. das Meni. da Acad. (52) Primeira Parte das Chronicas dos Reis de Portugal a pag. 20, -22, e U, ^4 Memorias da Academia Real cViC"OU á Hespdtiha outro Raymundo de Borgonha^ filho de Guilhelme Conde de Borgonha (53). ERRO XV. Obtcm o Síír. D. Henrique em dote o Condado de Portugal. _/l / Rey (D! AíFonso VI.) casou três filhas . . . dando a menor , q era D. Jheresa, a Dõ Herique, e cÕ ella e dote o CÕdado de Portugal. Dito Dito. Correcção. §. I. O titulo de Condado dado aqui a Portugal nao concorda com aquelle que lhe dão os Documentos coetâ- neos tanto nacionacs como estrangeiros. Entre os noi-sos cncontra-sc na confirmação dos privilégios da Villa da Cor- itelhãa dada no anno de 1097 designado Portugal pela ma- neira seguinte : quia in nostro domínio . . . counstit porti.ga- knsis Provinda (5'4); c por igual modo se dcnom.ina na doação de Sueiro Mendes ao Mosteiro de S. 7hirso cm 1098 assignandose et gener ejus comes Dcmnus Hevricusy totius Provinde Portugahnsis Dominus {^^). Entre es Do- cumentos estrangeiros le-se na Chronica Latina de D. Jffcnso VIL fallando acerca do dote da Snr.' D Theresa^ dedit viaritatiim Enrico Comiti . . . dans Purtugakmem ter- ram (56). Ainda dous séculos depois o Historiador da /7íj- panha Rodrigo Ximenes lhe não deu vA tiiúlo , pois refe- ri n- (53) Primeira Parle das Cliroiiicas dos Reis de Portugal a pag. 20 22 e 2-1. (&■})' N.° l'i5 do Tom. 111. das Dissert. Chrouol. (5.5) N." 107 ditis. (5tí) L." 1. u.o 29. DAS SCIENCIAS DE LlSBOA* '6f rinJo a mnncira como o Snr. D. Henrique se foi Isentan- do da subordinação a seu sogro , diz : sibi jam specialem iiindicaus frincipatum (5:7). De cujos testemunhos fica evi- dente não ser Portugal conhecida por Condado y e como tal dado ao Siír. Conde D. Henrique. §. II. He provável que o Henrictis Comes, ou Comes Hen- ricus de que usava este Varão nas doações, e mais escri- turas publicas occasionassc este erro ; porém o Snr. D. Henrique antes de casar já tinha o titulo de Conde. Ha dis- to huma prova na Historia do Mosteiro de Sahagum coe- va aos factos, aonde se encontra una hija (de D. AíFon- so VI.) llamada Teresa , la qual el habia casa-lo con un Conde llamado Henrique . . , por lo qual el dicho Rey le dia con stt hija en casamiento a Coimbra, e a la Provinda de Por- tugal (jii). Ainda não havia obtido o governo de Portu- gal y que governava D. Raymundo, c na eleição de S. Gi- raldo para Arcebispo de Braga que foi anterior a 30 de Julho de lops- , e já delle se faz menção como Conde no Livro Fidei de Braga (59). Por estes Documentos do- mésticos se deve tirar a verdadeira accepçao , e sentido com que D. Pelaio {66) , a Chronica Latina de D. Âff'on- so Vil. (61) e Historia Compostelana (62) dão o titulo de Conde ao Snr. D. Henrique , que certamente era porque assim estava conhecido com este titulo honorifico, e não porque a posse do Senhorio de Portugal lho fi^ocssc al- cançar. Tom. Xn. I ER- (57) De Rebus Ilispaniae Cap. V. do L." Vlf. (58) Origem verdadeira do Conde D. Henrique a pag. 26, (89) N.o 94 .1 pag. 32 do Tom. III. das Dissert. Chronol. (60) A pag. 27& do Tom. IX. das Mem. d'Academ. P. I, (61) §. 1. do L.o I. (62) Cap. XXIV. do L.» III. 66 Memorias DA Academia Real ERRO XVI. ^orre o Snr. Conde D. Henrique cm Astorgaj íE faleccào cm Jlstorga àe sua enfermidade iw fívno de nos- ia redepção de 1112. Dito Dito. Correcção. Este acontecimento não consta por Dcciímcrtos cu Escriptores coevos, e nas Chronicns modernas se en- contra acompanhado de circunstancias incongruentes , in- verosímeis , e até falsas , c por isso se deve reputar lal- so (63). ERRO XVII. Entrega-se a Snr.' D. Theresa por morte de seu marido a huma vida toda Religiosa. X-j acabadas as exéquias se recolheu em Ciiimaraes , . . onde passaua a vida em orações e esmolas . . , e quando o Prir.cipe aiidaua na guerra contra Mouros, cu cÕtva cl Rry de Lião . . . ella cos pés descalços visitava as Jgnjas ,. . tudo o qtte ti' Ilha gastaua cõ pobres. Dito Dito. Correcção, ■ Ç. T. Por morte do Srir. Conde D. Henrique ficou o Snr. D. Affonso seu filho na idade de dous para trcs an- nos (<>4) , e por consequência inhabil para govcino c guer- ras. (C3) Exame Comparativo de pag. C8 até 71 do Tom. XI. P. 1.* das Mcm. tPAcaflein. (tí-l) CLrou. OotL. Era 11U6 a foi. 273 da P. 111. da Mou. Lusit. OAS SctBlTClAS DE LiSBOA. (57 ras, e as que teve com seu Primo forao depois de cllc haver tirado o governo a sua Múi cm Junho de n 1 8 (6j), e por tanto não he de presumir que esta fizesse ro- gativas a favor de seu filho então, muito principalmente havendo suspeitas de que ella havia implorado soccorros de seu Sobrinho Rei de Leãi. §. II. Além destas razoes ha aquclla de que a Sr.-» D- Theresa desde a morte de seu Marido em Maio de iiii até 24 de Junho dei 128 se nao apartou do governo, c ad- ministração publica (66), e que não só occorreo pelas vi- tualhas, que metteo cm Coimbra ao cerco que o Mouro Brafinii intentava contra esta Cidade {67) , mas que sus- tentou guerras contra sui Irmaa D.Urraca (68), c contra seu Sobrinho D. Affonso Vil. (69) , e que fez viagens fo- ra do seu Districto (70) , o que tudo se não compadece com a vida retirada que o A, lhe quer acreditar. ERRO xviir. o Conde de Trastamara quer obrigar a Snr.» D. Theresa a casar-sc com elle, e o Snr. D. Aflfonso o vence e prende. _/\ estas occtipaçoes . . . gaslaiia a Rainha sua vida , quando o Conde de Trastamara a veo visitar a Guimarães ... c de volta tratar co ella de segiido casameto . . . e . . , fuy tão mal aceito ... era com muitas ht grimas. Aos Eriges Sinhor aparece (94). A' vista pois da falsidade com que o A. reclama a authori- dade de Duarte Galvão , se pode julgar que cllc tambcm abusou da Chronica que existia em Santa Cruz deColmbray e por tanto que o facto da apparição ao Síir. D. Ajfonso 1. tinha no Século XVI.. cm seu abono a tradição, e não o juramento. §, V. Defende o A. z antiguidade do Ccelice por ser o pergaminho antigo , e a letra delle gastada pela anti- guidade, ao que oppõe o nosso Consócio o Síir. Fr, Joa- quim de S. Agostinho. A qualidade do pergaminho tamVini vão me parece à^aquelle século : attendida a cor e consistência dei' le , . . a razão mais decisiva he não ser a letra natural^ nem a do tempo em que se diz escrito o Diploma . .. A letra he moderna^ e contrafeita tão sensivelmente que posso segurar de boa fé , ser quasi impossivcl que Diplomatista entendido na sua profissão , apoias o veja não o repute logo apócrifo e su- posto (95). Outro Critico diz : O que não tem duvida he y que a letra , eovi que se escreveo este Documento falso he do òeculo J\T7. , e da mesma mão , que exarou o Fragmento do Concilio Bracarense chamado Antiprimeiro , e a Epistola de Al- .{94) A i)ag. 23 do Tom. V. dos liiedilcs da Ilist. PortugiKza. (95) Nota (b) do Tom. V. das Riem. de Liller. Poitug. a pag. 338, e 339, e uo texto. TAS SciEMCIAS DE LlSBOA, 79 ^Idehcrto para Samerio, c em outra parte conclue, não sub- screve á legitimidade do Diploma pela extravagância da Eruj (lo Pergaminho, da Letra, da ttnta^ e do Mio (96), §. VI. Quanto ás circunstancias dos scllos pendentes, repare-se no que escreve o Critico referido : A razão de ter sellos pendentes^ e tantos, he ainda htima nota porque este Documento se faz suspeito de falsidade, Sahe-se que na Hes- panha se não conhece sello anterior ao Século XII. , e que os sellos pendentes começão do meio do mesmo Século . . . Em Por- tugal não sei qtte haja algum do Reinado do Sitr. D. Affon" 10 Henriques, excepto este, e o da Doação a S. Cruz do CoU' to de Qtiiayos .. .de que também se pôde duvidar . . . Tendo eu examinado . . . alguns dos nossos Cartórios ...do Algarve y Alem-Tejo, Senado de Lisboa, Alcobaça, S. Vicente, e Mostei- ros a elle aunexos . . . tendo o Sr. Dr. João Pedro Ribeiro , . . examinado do mesmo modo quasi todos os Cartórios das nossas Provindas do Norte . . . nenhum de nós . . . encontrou hum só documento do I. Affbnso com sello pendente ... e por isso po 'e estabelecer-se por agora, como certo, ou ao menos como mais provável , que sello de cera pendente . . . he couza desconheci- da em Portugal nos annos do I. Reinado (97). Muito prin- cipalmente tendo o sello as armas ILeaes orladas com os Castcllos como lhos vio outro nosso Consócio Fr. Joa- quim de S. Rosa de Viterbo (98), e que depois se nota- rão raspadas, o que denota a má fé da corporação a que o Documento pertence, para illudir ainda a Naçío, tiran- do-lhe diante dos olhos huma prova decisiva da supposi- ção em que labora o seu presado Códice. §, VII, Além das notas palcograficas referidas , e suf- ficientcs a provar que o Documento do Juramento dito não (96) Elucidário. Vocab. Cruz. a pag. 329 do Tom. I. (97) A pag. 338 nota (b) do Tom. V. das Memor. de Litterafc Portug. (98) Elucidário. Vocab. Cruz. a pag. 329 do Tom. I. I 2o Memobias DA Academia Real não he autografo, ainda se encontrão outras que confirmío a sua sup posição. Como he possivel que no Congresso de Corres convocados pelo Srir. D. Âffonso I. para fazer publica, c deixar cm perpetua memoria a maravilhosa Âp- parição, que clle queria firmar por juramento, assistissem somente dous Prelados do Reino, quando neste anuo csta- vão providas as Dioceses de Lisboa^ de Liiwego, c r^- 4.»- D. Affonso III. > Ditos " 3. N.B. Estes dous Monarchas são filhos do Srir. D. Jf- fonso II. , c por tanto huma só geração, mas duas succes- Tom. XII. M soes 9© Memorias oa Academia Real sõcs numéricas, por haver morrido o Síir. D. Súiicho II. sem filhos. 5.=» O Snr. Rei D. Diniz - - - Dito 4.» 6» D. Affonso IV. Dito - 5 » y.a D, Pedro I. - - Dito 6.» 8, a .».._. D.Fernando 9 i .._..- D. João I. — i Ditos N.B. Estes dous Monarchas são filhos do Snr. D. Pe' dro 1. , e por tanto não devem fazer geração diversa ; e como o segundo succedco ao primeiro, ha somente suc- cessão numeiica. jo.» O Síir. Rei D. Duarte - - Dito 8.» ,,/_.._.- D. AíFonsoV. - Dito -----_ 9.» 12. 13- ^" — • - — ■ — M^^t xiiivyij^^v.* » • i-^jiv/ — — — — — — y* a __.- D. Toão II. - -) ,-.. IA AT I > Ditos- ----- lo.» .a 13. Manoel - -Ç N.B. Estes Senhores Reis não fazem gercçâo diversa, porque são netos do Snr. D. Duartey e por isso fazem so- mente successão numérica. 14.» O Snr. Rei D. João III. - Dito OSfír.Card.Rei A Inf. D. Isabel f^^-' O Inf. D. Duarte N.B. Todos estes Principes foruo filhos do Siír. Rei 2). Mciwel e de sua segunda mulher a Snr.» D- Alaria, e por isso não fazem geração differentc , mas só successão numérica pelas circunstancias. ij." O Snr. Rei D. Sebastião. • N.B. Este Monarcha hc successão numérica , mas não re- DAS SCIENCIAS DE LlSBOA. 9I 4e geração, porque he neto do Sfír. D. João III. por ser £lho do Infante D. João que morreo sem empunhar o Sccptro, e por consequência he segunda geração na or- dem da succcssão natural, c por isso O Inf. D. João - - - i2._ O Síir. D. Sebastião - 13,* líJ." O Srir. Cardeal Rei. N.B. O Siír. Rei D. Henrique que faz o numero XVl. da Serie dos Senhores Reis de Portugal pertence á ii.* geração depois do Sfír. D. Affonso I. , posto qu; reinou pela morte do Siír. D. Sebastião^ e por tanto temos 13.» geração, e não 16.^ j e por isso falha a profecia. Como daqui para diante se não pode dar passos sem encontrar escolhos diíliceis de vencer, vou tentar descobrir a chave da supposta profecia , que a meu ver , consiste cm numerar a geração masculini que cada Monarcha te- ve até áqucUe filho em quem se continuou a successãv> pela maneira seguinte : O Síir. D. AfFonso I. depois da factura do Juramento teve O Siír. D. Sancho- - i.» D.Sancho teve - - - - D. Affonso- - 2.» D.AffonsoIL - - - -5 n ^'í'''° "•" 3' ^ U. AlFonso - - 4.' D. Affonso III. 5í?^"^-?V^^''"'"'^°5'-' D.Diniz- ----.-- D, Affonso y* D. Affonso IV, - - - - fOInf. D. Affonso 8.» < - - D.Diniz- 9.» (o Snr. D. Pedro 10." ^4- ' Memorias DA Academia Real OSnr. D. Pedro do primeiro )0 Inf. D. Luiz- - ii.* matrimonio - - - - / ^ Snr. D. Fernando - 12.* rO Inf. D. Affonso - 13.' - - -do segundo matrimonio < D.João - - 1^.* (} D.Diniz- - ij.a O Snr. D. Fernando - - r - : -D.Biiccs- -16.» Aqui temos a 16. geração attenuada por acabar cm fêmea , pelas guerras qus; d'aqui se originarão ; c pela gloriosa acclamação do Srír. D. João I. durante a vida de I). Brites , e verificado o in ipsa attemicita ipse respiciet, et viãehit. Circunstancias que se podem applicar ainda mes- mo contando-sc a primeira prole masculina do Snr. D, Âf- foiíso Henriques, ou o Infante D. Henrique. E não concor- da isto com o que se disse no §. XIII ? A astúcia fez publicar a favor do Snr. D. João I. o sonho de seu Pai o i>rír. D. Pedro , a profecia do Erwit.w , c do Mouro de Ceuta., que muito que alguma mão hábil, c amiga qui- zessc dar mais impulso ao fanatismo politico do povo pe- la publicação de hum Documento que mais o clcccrizassc.^ §. XIV. Não basta na relação de factos admira-veis , e extraordinários produzir Memorias aiithenticas, an que elles se cotiteiibão. He necessário demais a mais couciliar-lhes fé com exemplos parallclos. As Memorias autheuticas- mostrão a existência dos taes factos. Os exemplos parallehs fundão a sua credibilidade (119). Sobre esta rcgn de critica quer o nosso Consócio António Pereirn de figueiredo c(msolidar a crença da milagrosa Apparição ao Snr. D. Ajfonso I. pro- duzindo quatro exemplos mais antigos , mas similhantes ao {l!9) Novos testeuiuulíos, i'. siÊUnda,por Antouio A*ercira UeFU gueiícdo. nAS SciENCiAS nr List;oa. pj 30 lia nossi historia. Como porem está dcmon<;trada a supposiçã.» da Memoria que se julgava aiitluntica, fica me- noscabada a furça do argumciun , c respondidos os dt.u3 prim»:iros exemplos p3ra!l:jIoJ. Nos acontecimentos cm qu3 se hz intervir a Divinc^aJe , ou o maravilhoso, cumpra haver hum critério muito escrupuloso, porque os homens propensos a acreditar prodigios em geral , c feriJos poc certos objectos c fins, os transmittem sem exame, e pela reiterada rebçlo os fazem acreditar com tal segur:!nça, que se authcnticao e canonisão por verdades cousas que forão producto ou da ignorancii, ou de fantasia exalta- da, ou do interesse particular. O terceiro e quarto exem- plo parallclo nos sub.ninistra prova não equivoca d'al'^uns destes motivos. A appariçao de S. Thiago a D. Ramiro 7. , e depois aq seu exercito na batalha de C/avijo , e o voto que este Mônarcha fe/, á Igreja de Compostella, he consignada nus Fastos Ecclesiasticos de Hespanha com festividade, e re- sa particular, mas nao obstante esta solemnc publici J.ide, o facto /'«.' poiíío mui controvertido entre os mclbjres críticos ^ disputa-se ainda o lugar da batalha, c qual dos Rumiros I. ou 7/. foi o vencedor, e por consequência quem foi o author do voto (120). Confessa Mordes nao apparecer o original do voto , c q.ie os exemplares que se encontras não passão do Século XII (121)' como poJcm estes ve- rificar o acontecido no Século IX. , principalmente ou.m- do hl interesse cm o fa/.cr acreditar? o abon-i que se pro- cura no Arcebispo de Toledo he pura ficção, pois que este author nada diz a este respeito (122). Fica logo o facto pc- (120) Argotc , Antiguidades da Chancellaria de Braga, n.° 7 do Cap. X. (121) Novos testemuubos, por Figueiredo, P. segunda, Exemplo terceiro. (122) De Rebus Ilispaniis, nos Cap. V. VI. VII. VIII. do L. V. P4 MemoriashaAcademiaReal pelo menos duvidoso , c por isso sem força persuasiva o terceiro exemplo parallclo produzido por Figueiredo. Nas cousas aonde intervém a Religião augusta de Jesus Christo deve haver muita gravidade c dccenci.^, o que se não acha nesta apparição de S, 7btago a cavallo com bandeira na mão animando as tropas , que se rescnte hum tanto de burlescoi Não he mais concludente o quarto exemplo parallc- lo que produz Figueiredo , ou a apparição da Santa Cru& na batalha das Navas de To/osa no anno de 1212. He este facto consignado igualmente nos fastos da Igreja de Hes- fanha com festa própria intitulada òo Triunfo da Sant a CruZy em cuja lenda se encontra Crux item in niedio cciifiictu y €um nostri tuaxime lahorare xideretitur ^ Alfonso quampluri- tnisque aliis visa est in aere (123): porem p Arcebispo de Toledo que na batalha andava tão próximo ao Rti , que por mais de huma vez lhe disse : Hic jlrchiepiscope tnoriamur descrevendo este facto refere Crux zero Domini qua coram Toletano Pontífice consueuerat bajulari , preferen- te eam Dominica Paschasii Canónico Toletano, per Jgarenorum acies miraculose transiuit, et ibidem illaso bajulo sine suis us- quc ad finem belli .) sicut Domino placuit , per dnrauit (124). Que diiFcrença não ha entre huma e outra narração! N'hu- ma diz-se, que a Cruz -se vira no ar, e na outra se re- fere que a Cruz conduzida pelo Cónego atravessara illesa por entre os esquadrões Mauritanos ! Mas esta maneira de SC ver a Cruz hc contada por huma testemunha de vista, cujo estandarte era a Cruz própria Ar cbiepis copal ^ e por tanto merece inteiro credito, quando a outra narração se deve attribuir a engano da imaginação, felizmente susci- ta- (123) Quarto Exemplo parallelo, nos novos Testemunhos por A; P. de Figueiríflo. (121) De Rebus llispaniae Cap. X. do L,' VIll, DAS ScTCKNtAS DE LtSBOA. ÇT tac!o, c que se sustentaria pelo prodigioso da víctoria. Hj logo o argumento de Figueiredo pelos exemplos p^r.iiLlos huma amplificação , que não prova a app"!riçao do Campo d'Ottrique. A batalha do Campo d^Ouriqiie não hc menos celebre do que as de Clavi/o, c das Navas de lolosa peli multidão de bárbaros que nella concorrerão , c pelo des- troço que elles soiFrcrão. Agradeçamos z Dcos obcn-.Scio; e fiquemos neste acto de respeito á Divindade, sem a cha- mar a colloquios, e prodígios, que não rcalção mais o seu poder c magestade. ERRO XXV. Pela Victoria de Valdevez iscnta-sc o Síír. D. Affjnso da sujeição á Hespanlu. í^ó na corte delRey Do Afonso de Castella nao foy tnnyta festejada (a Victoria de Ourique) por se saber o uotio titu- lo de Rey, que alli se dera ao Principe Dom JfjiisOy em vir- tude do qual se atita de stistctar na isenção e liberdade adqui^ rida pellas armas ; como já stistentaua desde o tempo , que •vencera a el Rey de Castella em húa batalha , que lhe deu junto aos arcos de Valdeuez . . . poucos annos depois da mor- te do Conde Do Henrique ... e . . . nunca dahi em diante se consintio entre Portugueses falar em reconhecimento ou vassa- lagemj qw; se deiiesse a senhor estrangeiro. No Cap. IlII. do L.° terceiro. Correcção. A victoria de Valdevez foi alcançada na era de 1178, ou no anno de 1140 (izf), c por isso não tem lugar o que (125) Chron. Gpth. a foi. 173 da P. III. da Monarch. Lusit. jí Memoivias da Acade-mia Reai. que o A. relata a este respeito. O Snr, D.Jffcnso como herdeiro do Siir. Conde D. Henrique governou antes de ser R.i com a mesma independência a Portugal como seu Pai depois do anno de 1109, e sua Mãi depois do anno de 1112 em que seu Marido morreo até que assumio u-^ de 1128 o governo para si (126). ERRO XXVI. Qucixa-se ao Papa Innocencio o Rei de Lcâo pelo titulo que o Siir. D. AíFonso tomou, e elle manda a Portugal hum Legado. Jjjl Rey Dom Afonso de CasteUa e Lião . . . se viandou quel- tcar ao Papa Inocêncio^ distendo, q hum vassalo seu ... se le- vantara por Rcy de Portugal ... e ... pedia a Sua Santida- de , que ouuesse por bê de constranger co cesuras Ecclesias- ticas ao noíio Rey , peva q deixando o titulo e nome de tal , o reconhecesse por -verdadeiro senhor ^ e fosse a suas cortes.., o Papa . . . despachou pêra Espanha hum Legado com autho- ridade plenária pêra cõpor estas contendas . . . Chegou o Le- gado a Lião . . . onde achou a elRey de CasteUa , e assenta- rão que com hum tributo moderado^ e promessa de vassalagem ficasse o Reyno de Portugal cÕ titulo que tinha , . . Com este assento se veo o Niicio a Portugal, e achado el Rey Do Afon- so em Coimbra , lhe propôs o negocio . . . mas como chegou a f aliar em parias e vassalagem, o atalhou . . , e tanto se cer- rou com isto , que o Niicio ... se partio da cidade dahi a poucos dias . . . deixando interditas as Igrejas de todo Rey- no : e quando . . . (ElRey) o soube . . . sepos a cavallo com hua lança nas mãos . ,. e seguindo o alcance, veo dar cô o legado pou- (126) Examcromparat. Primeiro, Art. VI. XI. Xll. e XV. apag, 60, 53| e õú do Toiu. XI. das i\lciu. da Acadeujia. DAS SciENciAs DE Lisboa, 97 poucas legoas de Coin/ora , í* o fez toi lutr cjras . '. . j1/qi1f dias o detetie el Riy, nof quais lhe cotuídeu grandes isetti^ões . , . e confirmarão do titulo Real , com ficar tributário da Igreja , a que prometeo dar cada etwio certas ouças douro em sinal de vassalagc, e lhe fez deixar pêra fioufa, que as confirmaria pello Papa, hum seu sobrinho . .. as bii/la< se coH' firmarão . . . saluo a investidara do Reyno^ que d instancia dei Rey de Canella se lhe não passou... Dito. Dito. Correcção, §. I. Nada se encorttra nos Escriptores contemporâneos acerca deste objecto, e os nossos do Século XVI. ou na- da escrevem , ou dao á missão do Legado Pontifi*;io ou- tro fim , que o mcsmr) yí. reprova, e que se deve reputar fabuloso pelas circunstancias de que o acompanhao : e co- mo as cartas seguintes são fabricadas sobre a tradição histórica, ou delias se originou a tradição, do seu exa- me deve dcduzir-se , e pender a veracidade da narração , que já fica sem o apoio dos Escriptores. §. II. Opp6e-se a esta narrativa, e queixa do Impera- dor contra o procedimento de seu Primíj a paz, que en- tre ambos se havia firmado por muitos ann-^ cm 1137 com igualdade reciproca , sem que se estipulasse cousa alguma relativa á Suzerania (127), e a entrevista que ambos tiverao com o Cardeal Guido a 4 de Outubro de 1140 no Concilio de Falhadolid (128), c não reconhecer D. Jlffonso Vil. a necessidade da cooperação Papal, quan- do se erigio Imperador (1*9). Tom. Xll. N §. (127) Chronica Latina de D. AÍTonso VIL L." I. (128) N." 344 nota (h) a pag. ll.i do Tom. IIL das DIssert. Chronoíog. (129) Jornal.de Coimbra N." LIÍI. a pag. 285 daP. II. do Tora. 98 Memorias DA Academia Real §. III. Quando também se cscrevco a historia do fa- cto referido, não se dco attenção ao caracter do Snr. D. Jjfonso. Como he possivcl que hum Alonarcha canonisa- do já por hcroe, pegasse cm lança, c corresse dentro do seu paiz em busca de hum Clérigo inerme para o íazer voltar para a Corte? não teria elle ministros civis ou mi- litares capazes de executar os seus preceitos? Sc o Mo- narcha era dotado do caracter fogoso que lhe attribue o A. , como deixou elle retirar-sc impune o Sobrinho do Cardeal , que havia ficado em reféns , á vista da denega- ção do Papa em confirmar o titulo pedido ? Fica logo o facto historiado sem o apoio dos Escriptores coevos, op- posto a's memorias verídicas daquella época, e ao caracter do Monarcha figurante. ERRO XXVII. Escreve o Snr. D. Affonso I. a S. Bernardo , e ao Papa Innocencio II. a pedir a confirmação do titulo de Rey. _# L/ pêra guiar hem seu negocio^ manãou el Rey chamar ao Abhade de Sam João ãe Tarouca., com quevi conutiunicou este negocio , e assentarão que se escreuesse a . . . Sani Bernardo . . . cujo theor he o seguinte, Âlfonsiis gratia Dei Rcx Por- ttigalhrum , Bernardo Abhati Claraualensi . . . de lono juditio rassalorã tneovú nome Regis accepi , quia Deus sic voluit. Qtierimoniam multa de hoc Jam misit Rex Castella ad Dum Piípã , et tile per Icgatú suú voluit me projicere de nomine Regis , 'vel ad minus f acere , quod dem pechú Regi Casíel- l^e, hoc nolunt niei vassali . . . et quia viclius erat dare tri- hutum Deo . , . promisi quatuor jincias auri siugulis anuis , beato Pctro Apostolo, tanquam ejus miles, Rex CasíelU con- tr adiei t hoc, et Dominus Papa est in dúbio. Peto, vt faciatis ista omuia, quod veniant ai finem bonum, et ipse nos confir- mei Regiam nomeu . . . Alem DAS SclENClAS DE LiSBOA. 95» ^lem destas cartas pêra o SantOj kuaua Dom Pedro eu- ira pêra o próprio Papa Inocêncio , cujo theor . . .hc o seguiii' te. Qi^iodcircíty Ego Alfonsns Dsigratia Rex Portugallix., per mantts Domini G. Cardiíialis Apostólica seãis Legatt Domini. nostri Innocentii Papa , terram qtioqtie meam . . . offero , sub annuo censti^ videlicet quatuor vnciartim auri , ea couditione ... vt omnes , qui terram meam post decessum meum temie' rint, jam pradictum cettsum beato Petro persoluat j . ..vt tam in me ipso^ vel in terra mea, vel in iis, qu do que esta copia do Letreiro aberto na sepultura de Egas MotiiZf o qual verdadeira e fielmente he o seguinte ERA: miLLESlMA: EEHTESIMA; i\XX S 11 SAX/TiHi i -^A ; siHow : svoa ; laa • saj : ins3iAÒ3>i .: m §. II. Como a pedra se acha damnlficada na conta numérica Romana pelas mudanças que tem havido neste monumento (144), devemos acreditar Fr. Leão de S. Tho- maz que a vio inteira, e lhe dá a numeração de LXXXIIII. Anno cm que elle ainda doou ao Mosteiro àe: Paço de Seií- sa largamente (i45'). E R. (143) Dissertação II. do T. I. das Dissertaç. ChroDolog. a pag. 6^ artigo [II. (144) A png. 127 da P.' 1.' T. XI. das Memor. d'Acadeinia, ^ (145) Benedictiua Lusitana a pag. 274 do T. 2." • VJ' . «../ DAsSciENciAs DE Lisboa. 107 ERRO XXXIV. D. Pedro Ramires, e D. João Ramires são fundadores de S. Pedro das Águias. f 'iiiiiãe todos ... o prazo If fizerno D. Pedro Ramtrez , e D. João Ramirez ambos irmãos ... cÕ os frades de S. Pedro de Taiwra ... E eu Pedro Ramirez beijei as mavs a el Rey D. Fcrnado ... . e pedi ha porteiro . , . e andei cS este porteiro podo marcos darredor da cerca do mosteiro , e eu e meu irmão fizemos a igreja de S. Pedro , e as casas , e at vinhas , e procuramos o mosteiro com nosso auer y e cõ nossa ajuda ... £ nós os frades de S. Pedro das Águias por nós . . . € por nossas conciecias a fortalezamos e firmemcte outorga- mos este prazo . . . Feito ... 1 j das Kalendas de Julho^ era de César de mil e cento e cincoeta e cinco ânuos . . . E quero aduirtir . . , que a data desta doação estd erra- da , e deuia de ser vicio de quem a trasladou porque . . . mostra ser feita antes do Conde Do Henrique vir a Portugal^ e a era inda que a computemos conforme ao anno 'de Cbristo^ be muyto depois da vinda do Conde, e inda depois delle morto. .Ale dessa rezao vesse o erro mais claro, porq estes primeiros fundadores fizer ao este prazo em acabando as ofjiciuas do mostei- ro ., e o Conde D. Henrique muyto depois d\lle fundado lhe CO firmou esta doação , . . A data desta , he na era de 1 loi. No Cap. XII. do Livro terceiro. Esclarecimento, D. Ramiro IT. Rei de Leão teve de sua segunda mu- lher o Inbnte Âlboazar Ramires, que teve perfilho D, Er' tnigioy e deste provierâo D. Thedon Ramires, e D. Ruuzen- do Ramires bisnetos daquelie Monarcha, que vindo á con- quista de ternis aos Mouros de Lamego, povoárfío e fortifica- rão aqucllas próximas ao rio Távora, c ahi fundarão huma Er- mida cm honra do Apostolo S. Pedro, D. Thedon que morreo O a sem ioS Memorias da Academia. Rkal sem succcssão mudou a Ermida cm Mosteiro, e D. Raie zeiulo Ramires teve filho D. Pciibom Ratizendo, este a D- Ramiro Petihones, que foi Pai do D. Pedro Ramires , c de D. 'Jodo Ramires^ quintos netos do Rei Ramiro II. , que fizerao a doação referida, c são reputados ascendentes dos Tavoris, Padroeiros do Álosteiro , como provão as inscri- pções das sepulturas .de pessoas de tal farnilia ahi enter- radas. Correcçãoi §. T. Não obstante as irregularidades notadas no Do- cumento referido pelo A. , persiste clic em lhe dar cre- dito fundado cm outro Documento feito pelo Síir. Conde D, Henrique na era de iioi em que confirmava aqucllc referido , e outro : mas isto hc o mesmo que pcrtcndcr se dê credito a huma falsidade fundamentado cm outra que tal , por quanto neste anno de 1063 ainda oSiir. D. Henrique não havia chegado a Hcspanha (146). Fica logo fantástica toda a narração da conquista , e povoação do districco do rio Távora^ bem como os amores, e sorte trágica da" Moura , surpresa dos regosijos do iS'. João ^ e edificação do Mosteiro de S. Pedro das Águias. O que tu- do he conforme a huma memoria que se acha no Archi- vo deste Mosteiro , escripra no mesmo tempo em que o A. ordenava a sua Cbronica de Cister , a quú Ico o nosso Consócio Fr. Joaquim de S.*" Rosa de Viterbo (147) em que se nega serem D. João c D. Pedro Ramires edificado- res do sobredito Mosteiro. §. II. Quer mais o author da mencionada memoria que o Mosteiro d<; S.. Pedro das Jgiiias era mais antigo do (146') A pag. 4G, 101 , c 100 cio T. XI. na T. 1." das Mcmoiias d^Àcademiri. '' (147) Memorias de Litícratura Portugueza uota (a; a pag. 302 d6 T. V. j5jlS Sciencias de Lisboa. 109 do que os áous fundadores que lhe dá Briío (148); c se acreditarmos Louzada, rcfcrindo-sc ao Livro V. d' a/em Dou- ro , já apparcce cm 387 Panãidfo lircmita de S. Pedro das Águias (1451), mas nesse anno não pfidiao 03 mesmos douá Irmãos D.Tbedon ^ e Ratizendo ssr fundadores da pri- meira Igreja de J. Pelro , porque scudía clles bisnetos de D. Ramiro II. que morreo cm çjro , não podião existir ainda , c os segundos são muito posteriores , por serem quintos netos do Monarcha. ^ §. III. Impugna mais a predita memoria o padroado dos Tavoras ao mencionado Mosteiro, dizendo que pelas Cartas do Snr. D. Affonso V. e D. Filippe I. cllc perten- cia á Coroa (ijo), e as inscripçõcs sepulcliraes por mo- dernas nada provão contra titulos. ERRO XXXV. Doa e encouta o Siir. D. Henrique com sua Mulher ao Mosteiro de S. Pedro das Açuias huma herdade em 1065'. JliU o Co de D. Henrique jttntamete com minha, molher et Raytiba D. Theresa . . . fomos contentes de nossa liiire vonta- de fazer hlí.i carta de doaçam . . . à igreja de São Pedro das Águias . . . Foy feita esta doação de encouto , e testamento na era de mil e cento e três , . , Henrique Conde : Theresa, Ray- fflja. No Cip. XIII do L.° terceiro. No- (148) Memorias de Litteratura Portugucza nota (a) a pag. 302 do T. V. (H9) Elucidário. Vocab. Abbade Magnate a pag. 34 do T. I; poiulo de parte a má fé de Louzada. (lõO) Memorias ditas. lio MemotiIas da Academia Reaií Notas. §. T. Mostra-se a falsidade deste Documento , por is- so que o Siir. Conde D. Henrique não tomou conta do go- verno de Portugal senão na era de 1133 (i5'i)> §. II. Mostra-se mais o apocryfo deste Instrumento pelo titulo de Raivha que ncllc se dá á Síír.» D. Thtresa em vida de seu Marido (ijz). ERRO xxxvr. Promessa do Srír. D. Affonso a 13 de Maio de 1147 a S. Bernardo na Serra d'Albardos. De 'epois de referir o A. os aprestos para a expedição de Santarém, como consta do testemunho do próprio Rey^ que está no mosteyro de Alcobaça no fim de hum liiiro , que tem as ohras de Sam Fulgencio , de quem he tudo o q vou contando . . . c detendose alli a quartajeira, se partirão d quinta . . . e se alojarão na serra de Alhardos, e como ao rõper da ma- drugada fosse el Rey praticando co seu irmão Dom Pedro »a empresa q leuaua entre mãos . . , lhe lembrou Dom Pedro ...a santidade de... Sam Bernardo... persua.iindoo que se encomendasse em seus méritos^ se queria ter a Deos propi- cio naquelle caso . . . leuantando os olhos e mãos ao ceo fez a promessa . . . Sc vós pellos méritos de vosso seruo Bernardo me derdes Santarém . ., de dar todas as terrns que vejo des- te monte agoas vertentes ao mar , pêra nellas se fazer hum mosteyro de sua orde . . . c rcfcrinclo o A. a revelação que desce voto teve S. Bernardo, c a sua apparição ao Slír. (151) N.° ao do T. 111. das Dissert. Chonolog. (152; Erro V. DAS SctENCIAS DE LlSBCA. 111 Sflr. D. Affonso que pertendc authorizar com a presença de figuras, e de pinturas do Mosteiro, c tradição, con- cluc : Acontecerão estas cousas todas no anno do Senhor, de mil e cento e quarenta' e setej aos treze de May o cvt hm quinta feira. No Cap. XVIIL do. Livro terceiro. Correcção, ■■■. ' §. I. O Documento com que o A abona a sua opi- nião faz pafte do Codcx CCVII. do Archivo do Mosteiro de Alcobaça y o qual pelo" exame palcografico foi julgado ser escripto em data que nâo pôde remontar acima do Século XVI. (i5'3) e por consequência he hum Documen- to apocryfo , que não augmenta , antes tira toda a fé á relação histórica do facto. Não sendo menos prova da sua ficção declarar nelle o Srír. D. Affonso y Siquidc auus meits Alfonsus Hispania que além das orações mencionadas havia também aquellas de outros conventos remotos ? Estas al- terações ao contexto do Documento provão que o A, quiz fazer acreditar o producto da sua imaginação antes do que ligar-se á verdade do Documento, que he míiis huma prova que contraria do que favorece a sua opinião. §. III. A tradição do Mosteiro, relevos, e pinturas, he tudo suspeito, por se encontrarem aonde se acha glo- ria , e interesse em propagar esta opinião , que não tem a seu favor Documento algum coevo, nem a mesma Doa- ção de Alcobaça aos Religiosos (xjS). §. IV. Não he menos incoherente o A. sobre o dia do voto que fez ElRei a S. Bernardo, declarando que fo- ra a 13 de Maio. A memoria que elle canoniza por au- tografa diz : capta est idus Marcii (159) , logo foi em Março e não em Maio aquelle voto, e he nisto o Do- cumento mais cohercntc, dizendo ser a conquista de San» tarem no mesmo mcz que nascco o primeiro filho do Con- quistador de Santarém, ex qua primogenitus est natus Hen- ricus filius meus iij Nonas ejusdem mensis, quo ciuitas capta est (160). He pois o principal fundamento do A. contra- rio á sua opinião, ainda pondo de parte a fabula de D. Pe- (157) Escritura XX. a foi. 289 vers. da P. III. daMonarch Lusit. (158) Cap. XXI. do Livr. 111. defiU Chroa. (159) Escrit. dita. (ICO) Ibidem. DAS SCIENCTÀS CE LrSBOA. II3 Pedro jíJ/biiJO, da qual se fallará com mais particularidade em outra parte. ERRO xxxvir. Conquista de Santarém de 7 para 8 de Maio. ./ ornemos ao famoso Rey Dom Afonso , que fazendo esíra- vhezas em armas , acabou ao romper da maãriígada de hum Subhado , nos Uns de Mayo , que são aos quinze , cSfurme a memoria de Alcobaça , inda que a tradição , que dura desde então na própria villa, estd em contrario^ porque se ajjirma.^ ^ foy entrada dos sete pêra os oito de Mayo , qite foy di.t de Sam Miguel . , . e ainda achei algnas memorias^ que dize^ Jdtts Martij, que fica sendo aos quinze de Março : tnas como a tradição estd em cõtrario, ficafnoshemos com ella , ., No Cap. XIX. do L," terceiro. Correcção. § T. He digno de reparo que o A. prefira a tradição Q hum testemunho que inculca ser feito pelo próprio Mo-> narcha ! Entretanto duvidou-se n^outro tempo ^ e sempre S9 poderá disputar a verdadeira época da conquista de Santa- tarem ., diz hum nosso Consócio (161)... buns datão a conquista a 1^ de Março^ outros « 7, 8, e 15 de Maio (do anno de 1 147) , dizem huns que ella fora no atino de ii^Si e outros em 1 144 (162). A Chronica Gottortim a faz quinta idus Maij ad ga/ii cantum illuscensente die Sabbati da Era de 1185: (163) ou a II de Maio. Parece que este testemu- nho deve prevalecer, por ser reputado coevo, c não os Tom. XII. V de (hyi) V^^^'"*"". de Litteraf. Portiig. a Jiag. 3IG do T. V. (liJa) Escritora L a foi. 274 vcrs. daP. III. da Mouarcli. Lusítt 114 Memorias da Academia Real de Alcobaça que até pela sua diffcrença cm designar o dl3 se fazem suspeitos alem do motivo allcgado, ERRO XXXVIII. Em consequência de revelações e Carta do Snr. D. Affonso , manda S. Bernardo Monges para edificar Alcobaça. JS o tempo que os Portugueses . . , fazia estrago nos Mouros de Sautarc... estava... Sam Bernardo ... itrpetranclo .. . z-itoria a el Rey Dom Afonso: estatiao com elle qtiaú todos os Religiosos do Conveto de Claraual , . . Qttanuofoy na menhãa doSabbado. . .cotneçou afallar, refere o^. a practica cm c]ue o Santo declara o motivo das rogativas , e a conquista de Santareniy e continua : Acabada . ,, a pratica. . . viandou cantar^ Tç Deum laudanms . . . mas não tardou o CnthoUco Principe tanto, que não prevenisse . . . ao Santo por hum hcme de Sita casa, o qual chegado a Claraual, pedio . . . mandassent Religiosos pêra tomare posse das erdades que el Rey lhe pro- metera . . . epera mayor fé .. . deu . . . híia carta dei Rey nesta forma. Alfonsus Dei gratia Portugalensium Rex . . . quia nos, . , . et proniisimus quod faceremus vobis monasterium vcstri or- dinis , qiiod parati sumus , ut ficiamus nostris snmptibus , . . Sam Bernardo. . . ordenou a partida de cinco Religiosos . . , e com tanta eficácia entendia ... em auiar . . . que . . . chegou seu irmão S. Gerardo a lhe pergíitar , porque se mostraua mais sollicito na fundação desta Abbadia . . . Partirãose no mes de Agosto do... anuo... de mil e cento e quarenta e sete . . . e vespora de Natal entrarão em Coimbra, onde opro' prio Rey estaua . . . e lhe derão Ima carta . . . Christianissimo et pio Alfõnso Regi Portugallorum . , . Resciuimus etiam in' gentem pietatem, qua conimotus, votunt de adijicando cenóbio Altíssimo deuovistis , quapropter mittinuis hos fitios . . . illud cadentes monasterium , in cujus duf.atione et integritate in- de- DAS SciENCIAS DE LiSBOA. IIÇ" delebile habehitis elogia Rcgni vestri , et in divisicne rediíuú Hiuideíiir à vubis corona vesira. No Cap. XX. do Livro terceiro. Correcção. §. I. Sendo a primi:ira revelação de S. Bernardo tao incerta, como infundado o voto da Serra à^Albardos (,164) £ca toda a narrativa exposta hum ente imaginário, como dependente do primeiro facto. Além disto consta cila de factos impossíveis. Como podia ser em 1147 ouvido S. Gerardo morto desde o anno de 1140 (i6y)? Nem tem menor difficuldade a assistência de S. Bernardo em Clara- val nesta occasiao pelos trabalhos interessantes a' Religião € ao Estado em que estava occupado. Hum nosso Consó- cio conclue a este respeito : N'biima palavra : as Cruzadas de Alemanha , e França^ as causas pessoaes , e erros de Gil- herto , e Henrique^ obrigar cio a S. Bernardo a passar de Ale- manha a Etamps ; daqui a Pariz , de Pariz a Tolosa , sem que apparcça depois de 6 de Fevereiro hum só dia , em que se possa dizer com probabilidade , hoje rezidia S. Bernardo em Claraval (166); por cujo motivo oviesvio M.mrique con- fessa não se poder salvar a Chrouologiu sem intervenção de prodígios (167). §. II. Sendo pois fantástica a revelação , bem como o voto , cessa o motivo da correspondência entre o Síir. D. AJfonso ^ e S. Bernardo^ e por consequência as duas cartas produzidas pelo A. devem rcputar-se hypothcticas. Obsta porem contra isto dizer este , porei no próprio la- tim em que estaa , o qual imagino ser do SantOy pella seme* P 2 lha- (164) Correcção ao Erro XXXVI. (166) Dito XX VIII. (I6C) A jiajr. 321 do T. V. das Meiuor. de Littcraí. Porlug. (167) A paij. 3i0 do T. dito das ditas. ii6 Memorias da Academia Real Ihãça que te no estilo . . , ao que se responde com a deci- são de Alahillon dizendo, Ccrte Bcrnardi genitis, sti/tis, mo- déstia in eis desiderari videntur (i68), o que se confirma pela declaração dada por Bloy Abbade de Claraval em 178 1, que diz: que em nenhuma parte do Mundo lhe con- stava existisse escritura certa do próprio punho de S. Bernar- do , e por isso duvidava existisse carta sua original para ElRey D. Jfomo (169). §. III. Augmcnta-sc mais a suspeita da falsidade das referidas cartas pelos títulos de Dei gratia, c de Portugal- lorum , que nellas se encontra, titulos desusados (170): c como ellcs concordao com o fraseado da Carta a S. Bernardo (171), pôde sem escrúpulo admittir-se que a mão que exarou a primeira carta, tambcm fabricou esta cm questão. He alem disto bastante rcparavel que S. Ber- nardo mandasse Monges de Claraval em 1147 para a edi- ficação do Mosteiro de Jlcõhaca, quando desde 1140 exis- tia o Mosteiro de Tarouca , a que se seguio aquelle de S. Christovão de Lafões ^ como já se disse, e se não lem- brasse dos Monges residentes em Portugal. ERRO XXXIX. Principia em 1148 o Mosteiro velho de Alcobaça.' J_Si o segundo dia de Feuereiro . '. . do anno de Cbristo de 1148 mandou elRey abrir os fundamctos da Igreja . . . Qiiatro aiinos se gastarão na edificação da primeira Abbadia, e se acabou na era de Cbristo de 1 1 j 2 . como costa das me- mo- (168) Jornal de Coimbra a pag. 287 Chronica de Cister citada no lexto. ri8' Memorias ua Academia Real §. II. Estas provas não soíFrcm diminuição no seu va«; lor pela jnscripção lapidar que o A. transcreve, * E.MCXC. XI. KAL. OCTOB. por quanto esta tem cm si prova de não ser coeva come- çando TEMPLA DVO POSVIT FACTI MONV- META POTETIS ALFÕSVS . . . o que demonstra que a inscripção foi lavrada, e collocada depois da factura do segundo templo. Mas cm que tem- po? He verdade que a inscripção combina com o livro da Noa àc Santa Cruz de Combra com pequena diíFcren- ça de três dias (178), mas esta concordância não destroe a força das provas allcgadas no §. I. , porque esta obra não hc coeva, nem escripta pelo mesmo author, antes mostra ser luima compilação de memorias avulsas , e não contemporâneas algumas ao escriptor (179), c como tal não deve gozar de fé maior contra flictos que em seu abo- no tcnhão Documentos^ ou argumentos, que pelas suas cir- cunstancias tenhão força de maior probabilidade quando menos. ERRO XL. Fundação do segundo Mosteiro de Alcobaça cm ii$7. J: or tornar a falar no edcficio do mosteyro (o segundo) q^!ie se vão acabou menos da era de César de 13 16, que foy no (l^fl) Cap. XXXIÍ. do Livr. X. da Monarch. Lusit. a foi. 180. (173) A pa-. J06 do T. IX. f. I. das Altiuor. d^Academ. DAS SCIEWCIAS DE LiSBOA. 119 no anuo ãe Christo de 11^7. conforme a viclhor compiitaçaOy e menos errada , e as si se hão de ente der aqnclies dotis ver- sos , qiie estão ?ia pedra . . . inda q o Âiithor dellcs por itiad' vertencia diz que se lançarão os fundamentos da obra ni anuo em que elln se acabou . . . Cuja lignijicação he a segumti'. Mostra este dedo pintado abaixo a era em que se lançou ci primeira pedra dos fundamentos , a p/ff segúdo e súptuoso templo^ e foy na de César de 1216. que fica sendo no anuo de Christo de 11 86. aos dez dias do mes de May o, no qual tempo {como ja se disse) se acabou a Igreja e dormitório, que agora chamamos velho. No Cap. XXII. do Livro terceiro. Correcção. §. I. Qiie E.M CC.XVI.VI. IDVS MAT. sÍo dez de Maio de 1178, he matéria incontroversa; mas porque conforme melhor computação ,, e menos errada seja aquclU conta Romana cm huma parte o anno de 1157, c n'outra aquelle de 1186, não o declarou o A.., nem será fácil descobrir. Hir de frente contra o sentido da inscripção , que denota o principio do edifício, c dizer que nesta épo- ca foi a conclusão da obra , sem dar provas , he abusar muito da tolerância dos leitores, e confiar demasiado na indulgência da posteridade. ERRO XLI. He sagrada a Igreja de Alcobaça no anno de 1222, f ybegando o anuo de nosso Saltiador de 1122. reynando em Portugal Dom Sancho o primeiro do nome , vierao D. Aluara , Bispo de Lisboa , e D* Egas , Bispo de Coimbra , e cõ grade solenidade consagrarão a Igreja em louuor da Firge Alaria MS- 120 Memorias da Academia Real nossa Senhora aos vinte de Outubro^ sciido Abbade de AlcchO' {a D. Pedro Egas scpthno na orde dos Abbades. Dito Dito. Correcção. §. I. O Sfír. D. Sancho I. morreo a 27 de Março de 1211, c o Bispo 9^-^Lisboa D. Álvaro morico no primei' ro anuo do Reinado deste Monarcha (/8o), que princi- piou a 6 de Dezembro de iiSy, e por tanto não podia a Saaração ser celebrada no Reinado do Monareha indi- cado, nem intervir a ella o Bispo D. Álvaro por cstareai ambos já mortos. Não foi também D. Pedro Egas scpti- nio Abbade de Alcobaça , mas sim o quinto por se não achar memoria cerra de Ranulfo, nem de Fernando (i8i). ERRO XLII. Morre o Srir. D. AíFonso II. em 1224. J_J. Afonso oIL... cl} amado por sobrenome o Cor do , q fal' leceo no ano de \^^ 4, Dito Dito. Correcção, A morte deste Monarcha foi a 2% de Março de 1223, segundo todas as chronologias. ERRO XLIII. Casa segunda vez Egas Moniz com D. Thcresa. \.,yasou este cavaleiro (Egas Moniz)... segúãa vez... com (luí! }^*i'- '^^* ''° ^'^'- ^^- ^^ ^' ^"- ^^ Monarch. Lusit. DAsSciENcrAs iiE Lisboa. I2T c5 D. Theresa Afonso . . . co a qual eitatta casado , qiiã- do Portugal foy (Uido em dote ao Co7ide D. Henrique. No Cap. I. do Livro quinto. Correcfão. Do Cartório de Salzedas consta nao hiver memo- ria desta D. Thcreza senão do anno de 1134 p<^r dian- te, havendo-llie precedido D. Dordia cm 1105', D. Doro' thea em 11 10, e Maria Onoriques era 11 30 (182), alem da primeira D. Mayor Peres da Silva ; e por consequên- cia D. Thercza nem foi segunda mulher , nem com cila estava casado Egas Moniz quando o Snr. D. Henrique en- trou a governar Portugal em iO(^^. ERRO XLIV. Entrega o Síír. D. Henrique a seu filho o Snr. D. Afibnso a Egas Moniz e sua mulher. E quando lhe iiaceo seu filho primogénito D, Jfoso , o e»- tregon a sua molhcr D. Theresa Afonso , e a Egas Moniz , pêra q fosse seu Ayo. Dito Dito. Correcção. Em nenhuma das épocas a que se attribue o nasci-' mento do Sfír. D. Afonso desde 1094 até áqucUe de 1113 estava D. Theresa casada com Egas Moniz (183). Certa- mente confundio o ^. o strviço que prestou esta matro- na aos filhos do Siír. D. Ajfonso I. (104). Tom. XH. Ct ER- flfiã) 7-Nova aialta Portiigueza a pag. 474 da P. í. (Jtíi) Livro VIU. Cap, XXVII. da F. III. da Monarch. Lusit. 121 Memorias da Academia Real ERRO XLV. Dá o Snr. D. Henrique a Hccha Maitim a Cidade de Lamego que lhe havia conquistado pela sua rebclliao. J -go Heurriciis Portugalensiu Comes , siniitl aim nxore mea Regina Tharasia . . . facio cartam sectiritalh . , . Echa Mar- tin Dfis Lnmeca . . . de tota terra de Lameco, qnam ipse sem- per habuit de sms Paires Sarracenos . . . et quia ego . . . il' luni viv.Cí et subji/gatii trans nwtcm Finte in valle de Jlr an- ca ... et illtim incantenauit ibi bontis Miles Riais hoiiw Egas Monisy et prehendit jixam ^tiztiris . , , et . . . zol/iiit esse Chrisíianus, ta ipse qtiam A\a Aizures . . . Facta carta apiid Vuimarens era M.T.X.L. idtis Novembris, Ego Henrricus Co- mes . . . Ego Regina Tharasia. Dito Dito. Correcção, §. I. O titulo de Henrricus Portuga knsirim Comes único cm toda a Diplomacia do Síír. D. Henrique (185), c aqucl- le iic Rainha dado á Síir." D. Thcreza no anuo de iiC2 (186), são razões sullicienccs para se reputar apocryfo Cite Documento. §. II. Não encontrar Brandão no Archivo de Arouca senão huma copia, aonde o Â. dií vira lium pergaminho com este Ducumento , o silencio dos Historiadores acerca do acontecimento nelle referido ; c o caracter impostor do A, abonão a caractcristica de apocrytb com que elle foi marcado (187). E R- (1C5) rcriodo í. , e II. do Appendix IA'. 110 T. III. das Dissert. Clironnl. (líli;) Correcção ao Erro V. (187) Is. J20, c uoU (aj do T. III. das Disíert. CLroiiol. CAS SctENCt AS DE LtáBOA* tzj ERRO XLVI. Segunda rebellião e conquista de Lamego pelo Siír. D. Henrique. C>o esta doação se tornou Echa Marti» a seu Reyno ^ ê dtido que no principio o aceitassem seus vassalos . . . ordena- rito dahi a poucos mezes hã.i conjuração . . . por onde se re- belLirão claramete . . . e vendo jd a guerra descuberta, fugio de Lamego pêra o Conde . . . que . . . cõuocou a gente de suas terras ... e . . . os entrou por cobate , e se fez ncllcs cruel mortindade , . . Ficou Lamego sogeito, e sem forças^ pêra re- sistir mais aos Christaos. Dito Dito. Correcção, Toda esta narração he fundada sobre o DocunTínti antecedente , e por isso se deve reputar parto da imagi- nação fcrtii do A. ERRO XLVir. Edificação da Qjinta das Sal/edas, aonde D. Thcreza habitou com o Siír. D. Affonso. Lv como Egas Monis era o principal de to.-los , lhe fez (o Snr. D, Henrique) doação das terras entre Balsamao e Ba- rosa . . . que elle desocupou de Mouros . . . fez bua quinta , onde agora est d fundado o mosteyro das Salzedas , dentro de cuja cerca permanecem oje as ca 'as , que elle edificou . . . Aqui ficou Dona Tharesa com o Príncipe D. Afonso, que en^ tam criaua. Dito Dito. Ct i Co''- 114 Memorias dk Academia Real Correcção. Da Correcção aos Erros XLIII. , e XLIV. se colli- ge a verdade ou falsidade do que o j1. affirma. E quando se queira acreditar a doação a Egas Moniz j ha de facto erro chronologico. ERRO XLVIII. O Snr. D. Affonso reina depois da morte de seu Pai. JL assarãote alguns ânuos, em que succedto a morte do CoH' àe Dom Henrique ... e reinou seu filho» Dito Dito. Correcção. O governo do Sfír. D. Affonso I. não foi immediato a'quelle de seu Pai, como inculca o Â. , mas principiou a 24 de Junho do anno de ii;8, governando sua Mãi a Sfír.' D. Tbereza por espaço de 16 annos (i88). ERRO XLIX. Funda Egas ^loniz o Mosteiro de Paço de Souza. iMas como Dona Tberesa se "sisse entrada e diasy e seu marido ocupado em fundar o mosteyro de Paço de Sousa, Dito Dito. Correcção, Egas Moniz foi bemfeitor do Mosteiro de Paço de Í50U- (188) Periodo III. do Appead. LX. no T. III. das Dis»ert. Clm.~ nolog. DAÇ SclENCIAS DE LiSBOA. Tlf S vj^a, c nlo fjn.liJor, accribuinJo-se a fuadação a Troy- coieiiJj Guedes (i8yj. ERRO L. Priacipios do Mosteiro de Massciradio no anno de iiop. yfuue notempi do Conde Dom Henrique bum Mouro y Al- cayde de Lejria , chamado Alharacb . . . que . . . entrando . , « a correr as terrar de Coimbra ^ onde o Code e.taua , elle lhe sayo , e dinioe batalha , ficou Albarach 'j:ncido e catiuo em mão do Conde . . . pedio o baiuismo . . e se lhe deu . . . e engeitandj tudo pedio ao Religioso que o cmiuer- tera^ que lhe lançasse o habito de Anachorita .. . se par tio da corte no anno de mil e cento e mue ... e fundou ermida perto donde agora estd o mosteyro de Masseiradão . .. e viuendo af- li . . . oHuia alguas noites cantar no vale algúas 'jozes sua- uissimas . . . mudou a elle seu oratório , em que viiieo mitytos annos com grande opinião de santidade , d fama do qual se lhe ajuntarão algús discipiilos , a que elle fez tomar o babi- tOj e profissão da Regra de . . . Sam Bento. No Cap. IIII. do Livro quinto. Correcção. No governo do Snr. Conde nao haría ainda Castel- Jo de Leiria, e aqucllc território ainda no anno de 113Í estava deserto, sendo o Snr, D. Ajfonso Henriques o fun- dador do Castello. Comprova-sc isto pelo que escreveo este Monarcha ao Papa Adriano W. Obtuli namque ego et inter catera lotum Ecclesiasticum cujusdam Castri , quod xo- (189) BeoedicL LuíiU a pag. 251 do T. U. P. lllí. Ti6 Memorias »a Academia Real vocatnr Leirinny qmd Castrim cre datis reverá tm afmdamen- tis in terra deserta constriixisse (190): comprova-se mais pelo testemunho seguinte: Era 117^. Qiiarto Idus Decem- bris pradictttr Rex Donmis Alfonsus ccepit adif.care cnsteíluin LeireiííC , . . qti^siiiit loam idoneim . . . invenit itnque fíioutitn illiim in Joco vast.e solitudinis in ccnfinio Saiic tarem et CoUm- bria posiium Ci?')- Nestes termos fica sem fundamento a incursjo, prisão , e baptismo de Âlbaraque, a sua vida ccnobitica, visões, e principies do Mosteiro de Massei- radíio. ERRO LI. Pelayo Amado dá principio ao Mosteiro de Bouro. Jíintre os q innyto florecerão em santa vida, foy htim delleí Pelayo Amato ... na corte do Conde D. Henrique vmy prin» cipal , e conhecido ... O qual como visse morta a D. Munia (sua mulher) ... e ... sucedesse morrerlhe a menina (sua filha) se despedia da corle ... e yndose a Braga soube como poucas legoas dali viuia bum homem de santidade admirauel . . . que . . . duuidoso nos principias y porq lhe parecia Pelluyo Amado de muy fraca compreissão , . . vendo a constância com que se ohrigaua a tudo ... o vestia em hú pobre habito de Monge, no qual começou afazer vida tam abstinente^ eafer- tiorada que o próprio Ermita se admiraua . . . Rctcre o A. as lu/es que os Eremitães virão, a descoberta da Imagem da Virgem Senhora nossa entre as penedias d'aquel!e er- mo, a fundação da primeira Ermida que cllcs fabricarão, c a construcção do templo actual pnr huin Arcebispo de Braga, e como a Santidade dos dous Eremitães fosse notauel^ cuue pessoas principais , que se vier ao per a sua companhia^ e to- (190) Livro iJos Ttstaineiitos de Saiit.i. Cruz de Coiíiil ri a foi. IO, (19J) Cliioii. Gotli. a foi. ITÒ da i'. lil. tia iVlouari;!.. Lusit. DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. tlj tomarão o habito eremitico de suas mãos , de modo que em pouco tempo veo a parecer mais conuento que ermida. No Cip. VI. do Livro quinto. Correcção. Pondo de parte as noticias que se ronservao da exis- tência de hum Mosteiro em Bouro no anno de 883 (192); consta pelas memorias do Mosteiro de Reudrife , que no anno de 1088 dera o de Bouro três Monges para princi- pio c habitação do de Rendufe fundado por Ega^ Paes (193). Logo cm tão curto espaço de tempo como o que decorre de 1088 até ao tempo do Snr. D. Henrique^ não podia riscar-se da memoria a existência do Mosteiro de Bouro y nem pcrdcrcm-se as ruínas dellc a tal ponto que Pelayo Amado , e o outro Anachoreta já não encontrarão vcstigios delle, mas sim penedias, e brenhas incultas. Fica pois sem apoio o principio do Mosteiro de Bouro por Pelayo Amado , e a apparição dos lumes annunciado- res da presença da imagem da Senhora da Abbadia naqucl- las penedias. ERRO LIL Promctte Egas Moniz edificar huma Igreja dedicada á Virgem Mái de Dcos se voltasse incólume de Toledo. J j posto que o bom successo deste caso se atribua aos me- dianejros delle (os Conselheiros de D. Afiljnso VII.) toda- àiia se cre, que obrou aqui a mão de Deos, e o fauor da Vir- gc Maria Senhora uossa , a quem Egas Moniz antes de se partir tinha feito hú voto solennissimo de lhe fundar húa Igreja em (192) Cap. ir. do Livro XI. da P. III. da Moiinrch. Lusit. (11)3) Beuidictiua Lusit. Cap. J. da F. [L T. II. 128 Memorias da Academia Real éin sen lotiuoy, trazendo-o litire das viaos dei Rey de Castel- la . .. e lembrado da promessa que fizera antes de jr a Cas- tella , e como a muy de Dcos o luirara entam das milos de hum Rey indignado . . . quis cumprir a promessa, c fundar al- H hum templo cm louuor da Firgem Maria, No Cap. X. do Livro quinto. Correcção. Este voto foi por mim impugnndo cm outra Memo- ria (is)4) } c por isso julgo escusada repetição das mes- mas provas. ERRO Llir. Instituição, e Estatutos da Ordem d'Aviz em Coimbra no anno de 1162. JJ auoreceo el Rey Dom ÂfÕso estes princípios ... e ... de- túrmtuou de lhe dar rendas , e de a reduzir a hum modo de •vida semelhante d dos caualeiros de Santiago e do Templo : e pêra isto mandou chamar o Abhade de Sam loam de Ta- rouca , e outros Prelados do Reyno '. e juntos na Cidade de Coimbra , lhe ordenarão hum modo de vida , regulado confor- me a Regra do N. Padre Sam Beto, e reforma fão Cistercien- le... Nos loanes Cirit. Âbbas sancti loanis de Tarauca .. . im pr^eseutia uobcllissiRegis Aldefousi, aliorumque virorum sute curiiS . . . constituimtiSy et ordinamus militiam equitum . . . Qiiá: onwia ego suprunominatus Rex Jllfonsus, authoritatc n:ea ro- huro^ et confirmo^ et ego Guiscardus . . . et manu mea scripsi apud Colimbiitim Idibus Jugusti , Era. MCC. uírchicpiscopus Lracbareusis pro parte Regni . . . Epús Colinibriensis propar- (inj) A pag. 185 da P. I. do T. Xí. das Mcaior. d"Academ. DAS SCTENCIAS DE LiSBOA. I29 íe Curt E K R O LXII. Assiste D. Pedro na conquista de Lisboa , e batalha infeliz de Badajoz. J. ouço tipo depoit , indo el Rey seu irmão sobre a cidade de Lisboa , e tcndoa muyto tempo em cerco , Dom Pedro fc::i viarauilhiis , assim nos combates , como em catialgadas , q fa- zia tvi terra de imigos . . . Alem destas obras tam dignai de fama, qttãdo foy a batalha de Badajoz, em que el Rey Dom Afonso foy preso dei Rey Dom Fernando de Lia seu genro , fez Dom Pedro tais mar anilhas , sobre libertar a el Rey sen irmão , q até não cair atasalhado de golpes , e desfalecido das forças, pello muyto sangue , q perdera, nuca os Lioneses poderão prcder a el Rey. Dito. Dito. Correcção. §. I. Não constando das acções bellicas de D. Pedro senão pelo A. , que não produz testemunho algum que as aííiancc , ficão estas de Lisboa suspeitas como as de San- tarém, §. ir. Quanto á valorosa e fiel defensão em Badajoz he memorável que o A. assignasse a morte de D. Pedro no anno de iiój (219), e que lhe fliça obrar os prodí- gios militares na occasião da infausta batalha de BadajoZy que aconteeeo no anno de 1169 (220), ou quatro annos depois d'elle morto ! . . . ER- (213) Cap. XVI. (lo Livro quiiitu. (220) A pag. 311 do T. IX. das iMemor. d^Academia. dasSciencias de Lisboa. ^39 ERRO LXIII. Epitáfio de D. Pedro Affonso em Alcobaça. JlLíc requiescit Domiiiui Petrus Alfonsus Alcobatite M.na- {bu( fratri Diii Alfonsi illusí. primi Regis Portugaliie^ cuis Ia' hore . . . Cap. XVII. do Livro quinto. Correcc/ío. Urandão que merece mais credito do que o A. , escre- ve o epitáfio pela maneira seguinte : Hic requiescit ãoriiimis Petrus Alfonsi AlcohacÍ£ Monachtts F' doinhii Alfonsi ilhis- trissimiy primi Regis Portugalli^. Ejtis labire . . . (221). Quem náo repara que o Fí da inscripçaa que produz Bran- dm deixa em duvida ser filias, nufrater; c que o Petrus Alfonsi designa ant^s ser filho do Síir. D. Ajfuuso I. , do que Irmão pelo patronymico, e que o A. se descuidju de alterar na mesma inseri pçao, dizendo ^te Diím Pctrum Al- fonú\ Já não he a primeira vez quj se argue o A, de de- masiada ligeireza, ou m.í fé na copia de iiiscripçócs que ainda hoje reclamâa a sua autlienticidade (222). ERRO LXIV. Obrigou-sc o Síír. D. Affonso I. depois da sua prisão em Badajoz a hir ás Corres de Leão. A ois elle (o Síír. D. AfFonso) por sua ydade, epor r.ão ca- valgar em caualo , depois q em Badajoz foy preso em vião S 2 dcl (221) Cap. XXXI ir. do Livro X. da P. ilí. da MoDarch. Luslt. (222) Jirro XXXllL 140 Memorias da Academia Rea.l dei Rey de Lido., seu genro., per não ter causa de Ih? rfprir hú juramento ., q fizera, àe hir a suas cortes, ttito q it pu- desse pôr a caiKilo , não era capaz de fazer por si o ti nas outras batalhas costumava. No Cap. XYIII. do Livro quinto. Correcção, Este erro foi cabalmente impugnado por 5ríi7/iíí/o pe- la authoridade dos cscriptorcs Hespanhoes mais abalizados, que referem a concórdia dos dous Monarchas, c volta do Síir. D. Jffonso I. a seus estados, sem outra condição que a da entrega a D. Fernando das terras que se lhe haviao tomado na Galliza , o que confirma Rogério de Hovedem f que escreveo na mesma época (123). ERRO LXV. Institue o Siir. D. Affonso I. a ordem da Cavallaria da Ala no anno de 1167. S^. go JÍlfonsus Dei gratia Portugallcnsinm Rex . . , instituí' mus quãdam fraternitatétn militum in laude , et honoretn Do- tiiini . . . spccialiter zero sub iniiocatione sancti Michnelii Âr- chaiigeli . . . Dum ego es sem in Santarena, zenit contra me Jl- harcb Rex SibilHíC , cu ingenti mttltitttdine militum . . . et ego in oratiopem rogauc Angelum meum . . . et leatjim Ar- changclum Michaelem , quod veniret in meu auxiliú . . . quod quide accidit :.. .et cum in prassura pedibus pugnar t'., mirabile visu euenit iuxta me peccatore brachin pugnãtis , et adiímã- tis me , . .. et sumitate etvs cooperiebat alia tanquã Ângeli , . . Fictut est inimicus meus ... et ne obliuiscatur adiuio- riú (223) Cap. XIIII. do Livo XI. P. 111. da Mouaich. Lusit. I TIAS SciENCIAS DE LiSBOA. T4I rlíí sancti Michaelisy et Angeli vieij de cousilio supra dictoríi^ decruui facere unii ordmem et societatc mUitiim , qiii defe- rant supra cor Aliam purpuneam^ insignitam auro et fiilgore^ sicut visun: fuit, ocnlis tncis fiiisse illã, qtiam viderií in pvalio , . . Et qnia hAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 147 he hum dos mais estrondosos Oragos da Província. E quem sabe as mysteriosas circunstancias de que será reve- Rtid > este facto no futuro? Appareccrão lumes nocturnos, cancicos suaves, espantosos milagres! ...ca verdade só huma farça religiosa ) e fiquemos aqui. ERRO LXIX. Morre o Siír. D. AíTonso I. em 1187, tendo 91 de idade. ( / chamou Deot pêra si (ao Snr. D. Affonso I.) .. . setidô de Mventa e hum ânuos . . . dos qitaií regnou quarenta e seis com titulo real , e faleceo no de Christo de mil e cento e oy- tenta e sete* No Cap. XXVIII. do Livro sexto^ CorrecçãOi %. í. O livro da Noa de Santa Cruz de Coimhra faz acontecida a morte do Sfír. D. Jjfomo Henriques no dia 6 de Dezembro do anno de iiSy. Ohút Rex Ildefonstts Por^ tttgalensis VIU. Idus Decembris (25^), e o confirma mais de- clarando o dia em que o Srir. D. Sancho entrou a reinar (236), a que serve de additamento a Carta Regia deste Monarcha de Janeiro de 1186 de confirmação ao Mostei- ro de Santa Cruz de Coimbra (237). §. II. Fixada esta época , podem deduzlr-se as outras que o ^. marca com infidelidade. Nao decorrem quarenta c seis annos desde que o Siir. D. Affonso tomou o titulo Real no anno de 1139 até ao de 1187, mas sim 48, fi- T 2 can- ("ei l"'^'** ^^^ ^^ '^' ^''' ^^ Dlssertaç. Chronol. (237) K." 666 dito dito. 148 M H M o R I A S D A A C A D EM I A R E A L cando verdadeira a dcduc^-ão , verificada a morte do Mo- narcha no de iiof*. não vivco o mesmo Senhor 91 annos, porque de facto elle não nascco cm 1094 (238) , e co- mo o anno mais provável do seu nascimento Foi de 1 109 (139) , fica sendo o numero de annos de vida 76. ERRO LXX. Funda-se o Mosteiro de Lorvão em vida de S, Bento. SJonius nostra Lurhani constntcta fult vtvcte patrc nostro BenedictOy et ãedicata sanctis Martyribus Mamcti, et Pelagio, illi enim qui veueruut deferebant relíquias istorti, propter qiioà assunipsertiiit illos hi patronos^ et ftãt dedicaía et ecc lesta, il- lis quarto Kal. luuij . . . e foy dedicada a igreja em loiíuor delles aos 20 de Mayo. No Cap. XXIX. do Livro sexto. Correcção. §. L A memoria apontada pelo A aclia-se escripta cm hum livro , mas sem data, nem author, nem mesmo desi<'nia a era da fundação; c por isso não merece credi- to, e até se fjz digna de reparo a ligeiíev.a com que o Jl. designa o dia 20 de Maio para a sagraçao , transcre- vendo a memoria com quarto Kal. ^uuii ! . . . §. II. Sobre a fundação cm vida de ò Bento, cm quan- to não se produzirem provas mais terminantes , cinjo-me ao^que diz o nosso Consócio: 110 entanto os Cartórios do Minho uao oferecem prova decisiva a este respeito, anterior {19 Snr. D. Afonso Henriques (240) , sendo o primeiro do- cu- (2)G) A pag. CO da P. 1/ ilo T. XI. chis Memor. d^icadcniia. (2^i») A pag. 08 dito dit". (240) A pag. 17 da P. 11. do Tom. IV^; das Disscrl. Chronol. UAS SclENCIAS DE LiSCOA. I49 cumcnto expresso que cUe encontrou na era do ii6i (241;. ERRO LXXI. Ernulfo , Abbadc de Lorvão , assigna no Concilio Tolcdano quarto. J'^j quando se cellebrauao concilio!^ erao os Ahhades de Lor- mo chamados a elles como pessoas de miiyta importância : e no concilio Tolcdano quarto se achou em lugar do Bispo de Coimbra, Ernulpho Abbade de Loriião, que ally se assina como Vlgairo c Procurador do Bispo ausente. Dito. Dito. Correcção. * §. I, Não basta dir-cr o A. que os AbbaJes eraa chamados aos Concílios , era necessário que mostrasse quacs aqu;llcs cm que forão presentes, muito principal- mente quando se não sabe como acreditar ao A. se neste lui»ar , se cm outro aonde diz : e por Ernulpho Bispo de Coimbra , assistia Renato sen Acipreste (142). §. II. A' vista do que se tem referido se pódç dedu- 7.ir a desconfiança com que se deve ler tudo o mais que o A. declara acerca deste Mosteiro (245). ERRO LXXII. Faz D. Fernando de Leão doação em 10Ó4 ao Mosteiro de Lorvão. Iri.andoH logo (depois da Conquista de Coimbra) el Rey (D. (241) A pag. 43 (rt) do Tom. I. das Dissert. ditas. {•l^l) Cap. XXI. do Livro V[. daMon.irch. Lusit. P. lí. (21o) Correcção aos Erros LXVII. , f: LW.X. IÇO Memorias da Academia Real (D. Fernando de Lião) chamar o Jlbade de Loruíim... e lhe ojfereceo a cidade , e quanto delia quisessem . . , não qui- seram , . . mais q híia igreja com casas dentro em hum circui- to pêra se agasalhttrem . . . e lhe Jizesse mercê de lhe confir- mar os priuilegios e doações dos Reys passados . . . CÔfirmott- lhe el Rey todos seus priuilegios ... e de tudo quanto lhe couce dia y se fez carta e doação em forma publica . . . A data he no próprio mez de lulho , em que se ganhou Coimhra ua era de César mil e ceio e dous, que he no anuo de Christo mil e sesenta e quatro» Dito. Dito. Correcção. Este Documento , no qual se encontra toda a narra- tiva da conquista de Coimbra^ tem contra si os mais de- cisivos argumentos de suspeição, i .** por não ser origi- nal, estando escripto em lingua Franceza, alheia do reina- do do doador D. Fernando ; ^.° por não haver delle me- moria no inventario do cartório de Lorvão feito no Sécu- lo XVI. pouco antes de nellc entrar Brito \ 3.° por ser este A. quem primeiro faz menção desre Documento, e o seu caracter ser assas conhecido *, 4.° por não se encontrar copia delle no Livro das Doações do mesmo Mosteiro j 5'.° por se não poder mostrar outro d'aquelle reinado cm que se encontre tão longuíssimo e extravagante formulá- rio; 6.° pela expressão que nelle se encontra de Fratrnm qui ibi Deo et regula S. Benedicti seruierint, expressão no- va, e contra o estilo do tempo, e que só apparcce da era de 1161 por diante; 7.° pelo genérico da doação de huma Igreja na Cidade de Coimbra^ sem se designar qual cila era (244). (14-i) A pag-. 03 das Observações Diplomáticas^ eapag. 42 doT. I. das Disseit. Clirouol. I 4 OAS SciENCIAS DE LlSBOA. IJt ERRO LXXIII. O Slíi". ConJe D. Henrique doa metade da villa de Cacia ao Mobtciro de Lorvão no aiino de 1076. f / Conde (o Siír. D. Henrique) fauorecco muyto esta casa (Lorvão) t.. e ythha petsoalinere visitar^ lhe fez donfao da metade da villa de Cacia aos vinte e quatro de laiiciro da era de Cerar mil e cento e quatorze ... Dito. Dito. Correcção. O Documento a que se refere o y/. he apocryTo , pois não apparcce algu n outro, que prove o governo do Srir. D. Henrique em Portugal anterior ao de XV. das Kalendas de Janeiro da Era de 1133 (24?). Para Sulvar esta opiniãj de Brito, adverte Brandão a equivocaçao de SC rebater o verdadeiro valor ao X aspado ; porém o nos- so sábio Consócio redargue esta conciliação dizendo: He talvez o maior favor que a este respeito se pode fazer a Bri- to (Í46). ERRO LXXIV. D. Theresa filha do SfJr. Rei D. Sjncho íoi mandada apartar de seu marido no anuo de 1200. A Jona Tberesa, filha dei Rey dom Sancho de Portu^^l, e tie- ta dei Rey dom yífunso Henrriquez^ sendo casada com el Rey dom jífonso de Lião seu primo , sem licença do Papa, nem se jiit' (245) A pag. -íG da P. I. fio Tom. XI. das IJeuior. d" Atatlcaiia. (246) h.o iiò e 40 {a) do Tom. JU. dj< DisserL Uuoiíol. ijn" Memorias da Academia Reae . impetrar dispcusaçao , foy mandada apartar do marido por sentença Apostólica , no anno de mil e duzentos. No Cap. XXX. do Livro sexto. Correcção, Esta separação foi no anno de iif)S (*47)« ERRO LXXV. A Rainha D. Thcresa lic educada na companhia do Síir. D. AflFonso Henriques. ^4»Jauaa el Rey dom Afonso Herriqucz seu Âuô sobre todas as cousas da vida , e tanto que foy de sete amios , a leuou pêra seu paço . , , e chegando a idade de lhe dare casa e damas que a seruissem , o jIvò tomou tudo d sua conta . . : è assi forão as peças e armações de sua casa^ as mais ricas que teue Princesa nenhiia daquelles tempos em Espanha, No Cap. XXXI. do Livro sexto. Correcção, Toda esta narrativa he parto da imaginação do A. Vio D. Constança primogénita do Srír. D. Sancho 1. a luz do dia em JNIaio de 1182 ('48), e o Sílr. D. Af- fonso II. seu quarto filho, nasceo a 23 d'AbriI de iiSs" (249): D. Thcresa foi a segunda filha (25'o), e como en- tre esta e o Síir. D. Ajfonso II. houve huma terceira fi- lha, segue-se que o nascimento da Raiiilu D. Theresa cii foi em 1183 ou em II 84 ; e como o nosso primeiro Rei falleceo a 6 de Dezembro de iiSj, não se poJem com- binar as particularidades narradas pelo A. com a verdadei- ra chronologia , e fica sendo tuio fabuloso. (247) Caj). 18 do Livro 12 da P. IV. da Monarcli. Lusitana. (248) ;> (249) ), Cataloga das Rniuhas de Portugal a pag. 12G. (250) ^ tn MEMORIA BOBRE OS ESCRIVÃES DA PURIDADE DOS REIS t>E PORTUGAL, E DO QUE A ESTE OFFICIO PERTENCE. Lítla na Sessão ordinária de 4 de jVovembro de 1835 POR FRANCISCO JIANOEL TRIGÕSO DE ARAGÃO MORATO. kJe as noticias que sobre este assumpto nos deixarão o Au- tor do Epitome único da dignidade de gr:mdc e maior Mi' nistro da puridade (i), e Damião Anionio de Lemos no Tom. 7. da Politica moral , fossem veridicas e com- pletas , escusado seria este novo traballio : porém a in- certeza d'ell3S , e o pouco que esta matéria se acha tra- tada por estes e outros Escritores , não dcixao de tor- iwr interessante a presente Memoria. He escusado ir buscar a origi-m dos Escrivães da puridade nos primeiros tempos da JMonafciíia. Hum Rci- Tom. XII. V no ■ (I) Fr. Frmcisco do ^acrameuto : impresso eui ItiGtí. 15*4 Memorias DA Academia Real no nascente , pequeno em território , pobre em povoa- ção , cercado de innumeravcis inimigos externos , e divi- dido interiormente entre muitos senhores e poderosos , não podia dever aos nossos Soberanos outros cuidados, senão os de o estender , e consolidar , vencendo aqucUcs inimigos, e cohibindo a prepotência dos próprios Vas- sallos. As armas , e o conselho das pessoas mais expe- rimentadas do Reino forão os meios de que ellcs se ser- virão para conseguir aquelle fim. Rude c mesquinha era então a policia da nossa Corte , poucas as Leis ge- raes que se reduzião a escritura , e até poucas as pes- soas publicas que sabião escrever ou assinar o seu no- me ; e os diplomas desse tempo , quasi reduzidos ás Cartas de Doações , de Privilégios , e de Foraes , cráo ordinariamente autorizados e legalizados pelos Chancel- lercs d'ElRei ou da Corte , que são coevos com a Mo- narchia , c que começarão logo a ser Officiaes da Casa dos nossos Soberanos ; dos quaes , se assim o quizerem , se pódc tirar a origem dos Escrivães da puridade , por- que com estes vierao pelo tempo adiante a repartir o seu officio. He verdade que Damião António, no lugar citado, e o Padre Lima na Geografia Histórica , dizem que Ma- faldo de Beja fora Escrivão da puridade d'ElRei D. AfFonso II: mas nem o primeiro produz algum documen- to com que o prove, nem o segundo aliega outra cou- sa que não seja o testemunho vago d'dlguns Autores que não nomeia, e o Epitáfio que se lia na sua sepultura na Igreja de S. João de Beja , do qual não existe hoje vestígio algum. Assim não ousarei dar nisto credito a'quelles Escrito- res, tanto mais que segundo o que leio no Livro antigo das Linhagens , que publicou o Padre Sousa , nas Provar da Historia Genealógica^ os Malfados ou Malfadados de Beja, Senhores do Morgado de Santo Estevão, parecem ser de data mais moderna ; pois os dous Estevãos Malfados , Pai, DAS SCIENCIAS DE LiSBOA." '' l^J Pai, e Filho, vivião pelos annos de 1318 e seguintes, sendo este ultimo neto de Estevão Vasques , Cavallciro de Beja. Reinacb de D. Jffvnso III. MaLs propriamente se pode achar o principio dos Escrivães da puridade no fin deste longo reinado, a pe- sar de que mais tarde o vão buscar o commum dos nos- sos Escriptores , e especialmente o Autor do Epltome , e Damião António. Os dous documentos seguintes raostrão que Pedro Pires ou Peres fora Escrivão da puridade de i. P«dro ElRci D. AíTonso III. que este lugar começara logo a ^"*'* ter huma certa consideração, e que o primeiro que o serviu obtivera a estima daquclle Monarcha. No Auto das Audiências solemnes que ElRci D. AíTonso III. deu ao Núncio do Papa João XXI. sobre as contestações, que então havia com a Cúria Romana, não se acha a assinatura do Ghanceller; mas depois de as- sinados vários C;)nselheiros , o ultimo que assina he Petro Petri , scriptore Secretonim Regis, Este documento he do anno de 1277 , em que ainda occupava o lugar de Ghanceller Estevão Eanncs, que confirma hum documento do aiino seguinte (i). Fr. António Brandão que produz aquelle Auti (2) traduziu litteralmente Paro Perez Escri' vão da puridade : e cora razão , porque puridade em lin- goagem antiga significava segredo , e oflício de puridade o que obrigava a segredo. Depois da Audiência que ElRei deu ao Núncio , foi este á Sé , no tempo dos Oílicios Divinos , e paran- do ante a porta, mandou ler as Lettras Apostólicas, e alfixar o transumpto d'etlas nas portas principaes da Ci- dade. D. Rodrigo da Cunha , que traz a versão deste V 2 do- fl) Vrov. (la íhst. Geiíeal. (2) Mou. Lusil. Tom. i.°. IS6 Memorias da Academia Real documento (i), conta entre os que estavuo presentes a Pêro Pires Secretario da puridade. Quem fosse este Pêro Pires, c qunl su;i linhagem confessa Fr. Francisco Brandão ignora-lo : com tudo esto aponta hum documento do anno de 1278 , doqu»l con- sta que quando ElRci D, AíFonso III. dera Casa ao In- fante D. Diniz seu filho, lhe entregara certa prata, e o entrarão a servir certos Fidalgos, a quem se assinarão prcstimonios e soldadas : e entre elles se assinara annnatim in festo 1^ ata lis Bomiui Petro Petri , Scrihano Bomiui Re- gis j in prestimonio yo lib. in pauis. Não posso dizer mais nada com certeza a' cerca des- te Escrivão da puridade, nem sobre o que pertencia ao seu oflício. Sabendo porem que havia ja neste Reinado os Escrivães d'ElRei , que lavravao os Diplomas, c os Notários d'ElRei ou da Corte, que muitas vezes ose,vcre- vião e assinavão , inclino-me a crer que este Pêro Peres fosse hum Notário mais autorizado , que tomasse o titu- lo d'Escrivão da puridade, porque dclle confiasse EiRcL as Escrituras de maior segredo. Com cíFcito a lei 7. tit. 5». da Partida 2. que trata dos Notários d'ElRci, de- clara «í que se chamão assim os que fazem as notas dos pri- >» vilegios e das Cartas por mandado d'ElRci , ou do » Chanceller ; e que destes alguns ha que são postos j> porElRei para suas puridades. » Ora todos sabem que antes do meio deste reinado, e no anno de 1258 se con- cluiu em Hespanha a Obra das sete Partidas do Sábio Rei D. Affonso IX. as quaes quanta influencia viessem logo a ter na legislação e costumes de Portugal , ;:e co- nhece pelos muitos artigos que dalli forãv> depois tirados para a Ordenação AlFonsina. Rei- (1) Hist. Eccles, de Lisboa. (2) Moii. Lusit. Tora. 5°. DAS SCIENCIAS DE L«ÍSBOA. Ij/ y Reinado de D. Diniz, O primeiro Escrivão da puridade deste reinado pa-* rece ter sido Aires Martins. Muitas das Cartas deste So- berano se dÍ7,cm feitas por Aires Martins, sem se lhe dar '• A'rej aquella qualificação; o que se prova com os documentos dos annos de 1148 , 1279 , c 1283 , que publicou o Snr. João Pedro Ribeiro (i) : mas Fr. Francisco Brandão citando a doação que ElRci fizera cm Coimbra no i.° d'Agosto do anno de 1286 , do Padroado da Igreja de Santo An- dré de Lisboa a Aires Martins e a sua mulher Maria Es- teves, produz logo depois os letreiros que se achão na Capclla da mesma Igreja , cm que esta está sepultada ; dos quaes consta que o dito Aires Martins fora Escrivão da puridade d'ElRei , e seu Vicc-Chanceller ; e que mor- rera no caminho de Jerusalém , onde passara a visitar os lugnrcs santos (2). Entretanto examinando eu estes letreiros , que ainda hoje se conserva") naquella Igreja ja seculari/ada , achei que hum dellcs de letra Gothica e sem data, apenas diz que ellc fora Vice-Chanceller d'EIRei D. Diniz ; e só o outro muito mai3 moderno hc que lhe attribue o cargo d'Escrivão da puridade. Acresce que no Protesto da Rai- nha Santa Isabel feito cm Fevereiro do anno de 1297, que adiante produz o mesmo Brandão, vem assinado co- mo testcmuha Aires Martins Escrivão d'ElRei. De tudo isto concluo que este Escrivão não tivera como tal maior preeminência e dignidade , do que havia tido Fero Pe- res no reinado passado. O segundo Escrivão da puridade foi Martim de *• Matfin» Louredo. José Soares da Silva nas Memorias d'ElRei D. j^.'^"* João I. cita huma Carta d'ElRci D. Diniz j feita cm San- ei) Din-ert. ChroH. Tom. 2." e 3," (2) Moiiarch. Lus. Part. 5.' I j8 Memoriíis da AcADr. mia Real Santarém a lo de Maio do anno de 1298 por Martim de Lourcdo ; e diz que fora Escrivão da puridade, c depois Juiz dos feitos d'E!Rei. Fr. Francisco brandão rcfcrin- dose a esta Carta, diz que Martim de Louredo fora Es- crivão da puridade d'EiRci pelos annos de 1307 , como achou n'um Testamento, cm que clJe ficou por Executor com Mestre Pedro , Fisico d'EjRci ; e que depois ser- vira de Juiz dos feitos pelos annos de 1324 (i). Acaso será este o mesmo Alarthn Periz dito Lo!:redo, a quem D. Constança Gil apresentou a Igreja de S. Vc- rissimo de Luvigildi Bispado do Porto no anno de 1294 (2) ? Que elle fosse ainda muito posteriormente Juiz dos fei- tos d'ElRci , se prova por luima Carta de Sentença passada em nome d'ElRci D. Diniz no anno de 1321 , por Martim Lourcdo vieu CreligOy Ouvidor dos meus fec- tos (3). O commum dos nossos Escritores não fazendo men- ção de nenhum destes dous Escrivães da puridade, men- cionão alguns outros , que para mim são mui duvidosos , porque os não vejo abonados pelos documentos dcí-se tempo : tacs são Estevão da Guarda , e João Domingues de Beja. Em quanto ao primeiro, tenho encontrado documen- tos, nos quaes se lhe dá o titulo de Secretario, e de Escrivão d'ElRei , e isto pelos annos de 13 19 (4"), e 1320 (5); d'onde talvez procedeu que Fr. Francisco Bran- dão affirmnssc que clie servira o Officio tfEscrivão da puridade, (6). Em quanto ao segundo, provao os documentos que te- ci) Mou. Lmit. Part. ft. (2) Diíscrt. fltroiiol- 'rom. I. (3) Noua Jff.tf»: ,/,; Ti]„lta. (4) Fro'), (In JJislor. GtUKu!» (5) JWo/í. Liiiil. (6^ Mon. Luiit. Part. 6." DAS SCIENCIAS DELiSBOA. l^ àa líntor. Gencni, DAS SciENciASDE Lisboa. í6i quês sem outro appellido, assas denotao que nem hoii» ve outro do mesmo nome , nem no mesmo reinado. He verdade que Fr. Manoel dos Santos (i) diz que Álvaro Vasques de Pedra alçada fora Escrivão da puridade d'ElRei D, Pedro I. e seu Embaixador ao de Aragão, citando á margem a Zurita nos Âunaes d' Ara- gão, Lív. 9.° cap. 27. Mas o que Zurita diz n'aquclle lugar he que chegarão a Çaragoça dous Cavalleiros de Portugal que ElRci D. Pedro mandava ao Rei d'Ara- gão , os quaes se chamavão Álvaro Vasques de Pedra al- çada , c Gonçalo Annes de Reja , sem que diga que o primeiro dellcs fosse Escrivão da puridade. Quanto mais que no Testamento d'ElRei acima aiicgado , no qual fi- gura como Escrivã) da puridade Gonçalo Vasques, vem assinado como testemunha Álvaro Vasques de Pedra al- çada, com a simples designação de Cavalleiro. He também verdade que alguns Escritores nossos nomcião coítio Chanceller mor e Escrivão da puridade neste reinado a Vasco Martins de Sousa : mas sendo in- dubitável que ellc tivera aquclie primeiro emprego, ain- da não encontrei Cbronista antigo , ou documento algum que lhe attribuisse o segundo, Q^ial fosse ja a importância c influencia do oíEcIo de Escrivão da puridade no reinado de D. Pedro I. e qual a parte que este tinha na expedição dos negócios , co- nhcce-se claramente do que dizem os Chronistas e os documentos desse tempo : Fernão Lopes dá alguma ideia do modo por que ElRei regulava o seu despacho nos ter- mos seguintes: >» Na ordem de. todos os desembargo* » tinha ElRei esta maneira. Quantas petições lhe davão, >» hião á mão de Gonçalo Vasques de Góes , Escrivão " da puridade , c elle as dava a hum Escrivão , qual lhe Tom. XII. X »t pra- (1) Moii. Litiil. Part. 8. i6z Memoriasha AcademiaReal >> prazia o qual tinha cargo de as repartir,' c dar cada » uma aos Desembargadores, a que pcrtcnciao. As pcti^ »> çóes que erao desembargos de commum curso , squcl- »» Ics por que havião de passar, mandavão logo íazcr »» as Cartas a seus Escrivães. As' petições que cráo de " S^^^^ ^ mercê , que pcrtcnciao á sua fa7.cnda , fa/ia- >» as pòr um dos Vedores cm err/enta a seu liscriviío ; e »» escrito ficava na mão do Dcscmbargi^dor , que depois j» as desembargava com ElRci ; e o Chancellcr cbtava >» presente quando podia (i). " O que este Chronista refere em resum.o acha-se mais extensamente explicado nos dous Rcgiincnros scni data do Despaciío Real no reinado de D. Pedro I. que publicou o Snr. João Pedro Ribeiro (2). Conta mais Fernão Lopes que no castigo que EI- Rei dera ao Bispo do Porto tt entrarão no Paço para j» lhe valer o Conde velho , e o Mestre de Christo ; j» mas não ousarão entrar na Camará , pela dcíesa que 5> ElRei tinha posto , senão fora Gonçalo Vasqucs de » Gocs, seu Escrivão da puridade, que disse que queria » entrar, por lhe mostrar Cartas que sobrcvicrão d'El- 5» Rei de Castella a gião pressa : e por tal azo e fingi- j> mento houverão entrada na Camará. >» Tudo isto prova em que consistia , pelo menos em parte, o officio d'Escrivão da puridade, e a entrada fran- ca que este tinha com ElRei 5 ainda que no mais fosse subordinado ao Chanceller. Comtudo huma pratica, que então se começou a adoptar, foi a primeira or-gem de se diminuir insensi- velmente a influencia dos Chancellcres , c de te aumen- tar a dos Escrivães da puridade , nos negócios que não crão puramente judiciaes ; fallo dos Sellos de Camafeu, de que ja trata hum dcs Regimentos acima citados. Es- te (1) Cliroii. no 4." Tom. dos Iticdit, (2) Dw. Chron. Tom. 1." DAS SciENci AS DK Lisboa. 1(5j te Scllo servia para ElRci, quando estava ausente, fazer authcnticar as graças que outorgava; as quaes depois de por clle assinadas, e assim selladas , e carradas erao remettidas aos Ministros, a quem pertenciáo , que fa- zião lavrar as Cartas , e as enviavão para a Chancellaria. Adverte a propósito o Snr. João Pedro Ribeiro ('i) que >» a expressão de Scllo de Camafeu hs synonima de od-' j» lo da puridade , que segundo o rigor da palavra quer j> dizer Sello secreto , synonimos ambos da de sinete , e >» significando todas hum scllo pequeno, que não estava j> a cargo do Chanceller , e com que se expedião por )> via de regra os negócios particulares. « Destes Sellos da puridade ainda adiante terei occasião de fallar. Reinado de D. Fernando, O primeiro Escrivão da puridade deste Reinado foi João Gonçalves Teixeira, e ja o era no anno de 1374, '• J"^" como consta do Diploma de 12 de Março do dito an- i"^"^';'," HO , pelo qual ElRei lhe coutou a Qiiinta de Pancas (2). Continuou depois a servir até á morte d'ElRei no anno de 1383, pois neste mesmo anno a a d' Abril foi teste- munha do contracto de Casamento da Infanta D. Bea- triz com ElRei D. João I. de Castella (3); e também no mesmo anno a 9 de Janeiro lhe fez ElRei huraa doa- ção (4). He neste ultimo documento que se dá áquelle Ministro o titulo de Chanceller do Scllo secreto , assim como no antecedente se lhe dá o de Chanceller da puri- dade d'ElRei. N'uma Carta dada em Elvas a 1 jr de Ju- lho do anno de 1382 lê-se ElRei o mandou per Johant Tom. XII, X 2 Gon- (1) Diss. Chron. Tom. 1." (2) Mon. Luút. Part. 8. (3) llist. Gen. Tom. 1. (4) Mon, Lusit. Part. 3, 164 Memorias da Academia Real Goticallvcz de Teixeira^ seu Vassullo, e Cbaiiceller dos Sellos da sua puridade (i). Estes testemunhos devem Sem duvida prevalecer con- tra o silencio de Fernão Lopes-, que fallando cm vários lugares da sua Chronica de João Gonçalves Teixeira, nun- ca em nenhum dclles achei que lhe chamasse Escrivão da puridade d'ElRei D. Fernando , posto que diz que clie fora do seu Conselho , c seu Secretario ; que logo no principio d'estc reinado fora mandado a Sevilha, pára confirmar n paz tratada com ElRei D, Pedro de Castcl- la ; e que depois no anno de 1377 fora mandado Embai- xador a França na companhia de Lourenço Annes Foga- ça: comtudo na Chronica d'ElRei D. Jaão L falia del- le como sendo Escrivão da puridade da Rainha D. Leo- nor, Regente por morte d'ElRei D. Fernando. 2. João , O segundo Escrivão da purid.ide foi João Fernandc. Fernan es. Q^j-j^ pj>]Q contrario do antecedente não fallao os docu- mentos, mns falia o Chronista Fernão Lopes. Refere es- te na Chronica d'ElRci D. João I. que « ElRei D. j> Fernando , mandara ao seu Escrivão da puridade ( e » dizem alguns que foi João Fernandes)- que fizesse » humà Carta para o Infante (era o Mestre d'Aviz , qíie j> depois fui Rei D. João L ) para que desse ordem co » mo fosse morto o Conde d'Ourem ; e com a mesma » Carta outra ordem ao Alcaide Mór dé Coimbra para 5» que desse o Castello da Cidade ao dito Infante: que }> o Escrivão fizera as Cartas , e trazendo-as a assinar j> (ior ElRei, lhe dera as razões porque julgava que as >» nãó havia de rcmetter ; e que ElRèi parecendo-lhe es- >» tas justificadas , suspendera a ordem. »» José Soares da Silva (2) dá por certo que este Es- crivão da puridade se chamava João Fernandes, quando o antigo Chronista o põe cm duvida ; mas esta mesma du- (1) Mentor, de. Litternt. d.i Acadcni. Tom. 1." p.ig. 1C9. (2) Menu d'ElRct D. João í. CAS SciENCfAS DE LiSBOAj l6f duvida prova que no reinado de D. Fernando houve mais que hum Escrivão da puridade ; que hum dclles era João Fernandes ; e que passados aniios ja Fernão Lo- pes se não lembrava, quando escrevia a historia d'ElRci D. João I. com qual dos Escrivães da purnJade tinha soccedido aquelle caso, Qiie João Fernandes fosse soccessor de João Gon- çalves Teixeira não se pódc duvidar ; por quanto a gran- de privança do Conde d'Ourcm D. João Fernandes An- deiro com a Rainha D. Leonor data do anno de 1382 , quando ja era Escrivão da puridade João Gonçalves Tei- xeira ; c o facto que refere Fernão Lopes soccedeu quan- do forão levar a Infanta D. Beatriz a Elvas, para casar com o Rei de Castella , em Maio do anno de 1383. Assim pode-se soppôr que João Fernandes servia o car- go d'Escrivão da puridade , em quanto João Gonçalves Teixeira acompanhou a Rainha a Elvas. Pode ser que em quanto durarão as Embaixadas a que este ultimo foi mandado , servisse o cargo d'Escri- vão da puridade na Corte Portugueza Affonso Pires , pos- j. Affonso to que disso não tenha encontrado documento authenti-^''*'- CO. Comtudo o Autor do Epitotne refere que Affonso Pires fora Escrivão da puridade neste reinado : em tem- po mais próximo a nós aífirmou o mesmo o Autor do Ca- tnlogo dos Escrivães da puridade , que se acha na Sala dos MS. da Bibliotheca publica de Lisboa ; e o Padre Lima na Geografia Histórica , o qual acrescenta que as suas ca- sas, por culpas delle , forão dadas por ElRei D.João L sendo só Mestre d'Aviz, a Vasco Esteves seu criado, es- tando em Lisboa a 14 de Março do anno de 1384. Ul- timamente Damião António com claro- descuido marca a este Escrivão da puridade este mesmo anno de 1384. Quem tiver occasião de examinar aquella doação poderá fazer juizo mais seguro sobre esta matéria. Em quanto ao que pertencia neste reinado ao officio d'Escrivão da puridade, sabe-se que entÚo continuara o uso i66 Memorias da Academia Real uso do Sello de Camafeu , que no antecedente havl» começado ; e que este Sello estava em poder do Es- crivão da puridade. A primeira cousa consta do reque- rimento dos Povos a ElRei nas Cortes de Leiria do an- no de 1372, para que este expedisse as suas Cartas pe- la Chancellaria, selladas com o seu sello, como se pratica- va no reinado de seu Avô ; tendo-se multiplicado os exemplos no seu reinado , e no de seu Pai de se falsa- , rcm os sinaes, e os Sellos de Camafeu (i) : o que El- Rei lhes outorgou ; mas nem elle , nem o seu Socccssor o observarão , como adiante notarei. Consta a segunda cousa de que ao Escrivão da puridade se dava algumas vezes, como acima fica dito, o titulo de Chanceller da puridade d'ElRei , ou de Chanceller do Sello secreto. Continuarão pois neste reinado os Escrivães da pu- ridade 3 ganhar maior influencia , á custa da que d'an- tes tinhão os Chancellercs , nos negócios não judiciaes ; e não sei se por isso he que neste tempo começarão os Chancellercs Mores a assinar o seu nome, não no fundo do documento , como até ahi fazião , mas sobre a pri- zão do Sello ; o que dahi em diante continuou a obsef; var-se (2). Interregno por morte d^ElRei D. Fernando» Em quanto durou a Regência da Rainha Viuva D, Leonor , continuou João Gonçalves Teixeira a exercer o cargo d'Escrivão da puridade , como ja acima fica dito. Com effcito no mez de Dezembro de 1383 quando o Mestre d'Aviz voltou do Tojal a Lisboa para fallar á Rainha , com o pretexto de lhe pedir mais gente para a guerra, mas com o verdadeiro fim de matar o Conde de Ourem , tt chamou a Rainha aquelle Escrivão da puri- da- (1) Diss. Cfiron. T. 1." e Prov. da Hist, Geneal. (2) Biss. Chran. T. 3.° DAS SciENCIAS OELISBOA. íS? » didc para que desse li'^ta ao Mestre de quacs c quan- >» toá Vassallos ello quizcssc: no que João Gonçalves >» começou logo a entcn ler com os seus Escrivães, vcn- ii do os Livros dos Vassallos (i). « S.-.hindo a Rainha a if do mesmo me/ de Lisboa para Alemqucr, acompa- nhárao-na vários Fidalgos, e o Chancciler mór, e os Ministros do despacho. O mesm'> succedeu na ida d'Alcm- qucr para Santarém. Finalmente no principio de Janeiro de 1384 estando os Reis de Castella próximos a entrar nesta Villa, tratou-se em Concelho do modo por que de- vcrião ser recebidos, e ahi deu voto João Gonçalves Teixeira , que foi também encarregado pela Rainha de os ir receber fora da Villa (2). Acabou este simulacro de regência em 13 de T^- nciro deste anno , pela desistência que delia fez a Rai- nha D. Leonor a favor dos Reis de Castella 5 os qu.ies conservarão os Officiaes de Justíçi e Fazenda , e os ou- tros Empregados que acharão nos principacs lugares: as- sim ficou Escrivãj da puridade João Gonçalves, que ser- viu aquelles Reis, foi por elles remunerado, e os acom" panhou depois para Castella. Ja neste tempo havia sido o Mestre d*Aviz accla- mado em Lisboa Regedor e Defensor do Reino ; o qual deu principio ao seu governo creando novos Minis- tros c Officiaes : os nomes c empregos destes vem refe- ridos nos diversos Chronistas. Fernão Lopes não diz que então se nomeasse Escrivão da puridade : mas outros Chronistas referem , que logo teve este emprego AíFon- so Martins, o mesmo que o obtivera depois da acclama» ção d'ElRei. Rei' (1) Fern. Lop. Chron. (VElRei D. Jo^o T.'e Mon. Litút. T. 8.» (2) Feri). Lop. Cliron. ifElRei D. João I. e Mon. Lustí. T. 8.*! i68 Memorias da Academia Real Reinado de D. JoSo I. O primeiro Escrivão da puridade, logo depois da '• Afionso acclamação d'EIRci em 138^ foi sem duvida AíFonso ]\Iartins, que havia sido Abbade de Pomheiro ; o que affiiina o Chronista Fcrnap Lopes (i). Ainda servia no anno de 1391 , como se vê da Carra de rogo de 5 de Outubro deste anno, para a Camará do Porto fu/.cr seu visinho a Afibnso Martins , Escrivão da puridade , e Abbade de Paaçoo , que se cumpriu , dando este fiança aos encargos do Conceliio (a), a. Gon(;a. O seguudo foi Gonçalo Lourenço de Gomide, que *" ^"^'^^ havia primeiro sido Escrivão da Gamara d'ElRci , e uiide. Notário cm sua Corte (3) , e depois Escrivão da pu- ridade ; e como tal ja escreveu e assinou a Escritura do contracto do Casamento de D. Leonor de Sousa com Fernão Martins Coutinho , estando presente ElRei c a Rainha, cm 30 de Março de 1393 (4). Em diploma do anno de 1403 he tratado por Escrivão de nossa puri- dade (5"). Por elle foi também feito o Instrumento no anno de 1408, declarando as cousas que foi ão concordadas, e outorgadas a EiRci nas Cortes d'Evora (6) : c piaico antes (em 14 de Maio de 1404) havia passado cm nome d'ElRei, e na qualidade de Escrivão da puridade, hum Alvará mandando dar a Certidão do Foral de Murça , extrahido da Torre do Tombo (7). Fernão Lopes tam- bém (1) Chron. de D. Jo~to J. \>. 2. cap, 1. l2) Ribeir. Additamcnios d Sijnopsc, (■n Vej. Capdolos ds Cortes, e Leis que se sobre alguns delUs fcze* ram Impr. nii 1539, foi. XX. vs. (4) HU. Gewal. L. J-1. (íi) Cliron. dos Catmcidas. (8) T>iss. diron. T. 2.° e na minha Collecção de Documentos. (7) T>iss. Chron. '\\ 4."=. DAS SciENciASDE Lisboa. T69 bem faz menção deste Gonçalo Lourenço, dando-Ihe o titulo d'Escrivão da puridade. Entre os que acompanharão a ElRci na jornada de Ceuta, nó anno de, 141 y hia o Escrivão da puridade Gonçalo Lourenço de Gomide ; e alli foi feito Cavallei- ro por ElRci, chegando á porta da Cidade (i). Finalmente deste Gonçalo Lourenço como ja falle- cido , falia ElRei D. João I. com muito louvor no seil Testamento feito em 4 d'Outubro de 1426; dizendo que fora nosso Criado , e Escrivão de nossa puridade y e do nosso Concelho y e do Infante (2). O seu nome e emprego encontra-se no Livro dos moradores da Casa d'ElRei D. João I. (3) ; e Mattheus ' de Pisano , de hella Septensi (4) , nomeando-o varias ve- zes , o designa n'huma delias com o titulo de somnus- cam , consiltariumque stium (d'ElRei). O terceiro Escrivão da puridade foi João Gonçal- J- Jo'» ves de Gomide, filho do antecedente, que como tal he tra- de° q^^" tado em Carta de confirmação de doação de Villa Ver- de. de de 30 de Setembro de 1434 [(5'); na Carta de con- firmação do morgado de Villa Verde dos Francos em 14 de Novembro de 1435: (ó), onde se diz que fora filho de Gonçalo Lourenço ; e na Carta de confirmação de Com- posição entre o Tutor de seus filhos e outros sobre par- tilhas, em data de 10 de Julho de 1437 (7), em que ja era fallecido. O Padre Lima na Geogr. Hist. diz que se pode duvidar &e este he o mesmo João Gonçalves Teixeira , Tom. XII, Y Es- (1) Fern. Lopes, Chron. Azurara, Chron. Part. 3. (2) Prov. da Hist. Geiteal. (3) Soares da Silva, Memorias. (4) Inéditos da Acad. Tom. l."- (5) R. Arch. (6) R. Ardi. (7) R. Arch. Yjo Memorias da Academia Real Escrivão da puridade d'ElRei D. Ivrnandoj com o que mostra ignorar que este acompanhou para CastcIIà t)S Reis intrusos , como ja acima disse ; e que cm razão dis- so lhe haviáo sido confiscados os seus bens. Assim podc- sc ter por certo que este l£scriváo da puridade d'IiiRci D. João I. fora João Gonçalves de Gomide , de que dão noticia D. António Caetano de Sousa (i), José Soares da Silva (2), e Manoel Moreira de Sousa (3): e sem du- vida foi este o primeiro que em tal Oíficio socccdcu a seu pai , da qual soccessão houve nos reinados seguin- tes muitos exemplos. Alem destes Escrivães da puridade achão se mencio- nados outros , que são para mim muito incertos. O pri- meiro hc Gonçalo Leitão , de cuja existência não tenho outro argumento que não seja a menção que dcMe faz o Padre Lima na Geografia Histórica, citando huma Car- ta d'ElRci D. Duarte feita em Santarém a 6 de Março de 1437, confirmada no reinado de D. Affonso V. em 1439 : delle se lembrou também Damião António. Po- rem não encontrando no Real Archivo o documento a que Lima se refere, c tendo por certo que João Gon- çalves fora Escrivão da puridade até á morte d'ElRei , estou persuadido de que o chamado Gonçalo Leitão he c mesmo Gonçalo Lourenço , de que ja failei ; e de que ou o Padre Lima encontrou a abreviatura L." que leu Leitão , em lugar de Lourenço ; ou Gonçalo Lourenço tomava algumas vezes o appcllido de Leitão , que lhe pertencia por sua mãi chamada Ignez Leitòa. ' ' O segundo he Vasco Martins de Sousa , de quem se Jembra D. António Caetano de Sousa (4) dizendo que fora Escrivão da puridade d'ElRci D.João L que delle fi- (1) Hhtor. Gttieal. Tom. ].» (2) Mem. rle D. João I. (3) Theatro Geií. da Casa de Sousa, (4) Hist. Cie/í. L. 14.» DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 171 fizera grande estimação. O mesmo diz o Autor do Ca- talogo ja citado, que está na Sala dos MS. d.i Bibliothe- ca Publica de Lisboa, que talvez he o mesmo Padre Sou- sa. O Padre Lima diz outro tanto conforme algumas Me- nioriíis ; c Damião António refere-o no seu Catalogo logo depois de Gonçalo Leitão. Nen.ium dellcs aponta docu- mento que prove o que affirma. O terceiro he Rui Galvão. O Chronista José Soares da Silva diz que elle fora irmão de D. João Galvão, Bis- po de Coimbra , e que soccedera no cargo d'Escrivão da puridade a João Gonçalves de Gomide. Outro tanto aíKrma Manoel Moreira de Sousa (i). Mas a verdade hc que Rui Galvão f)i pai, e não irmão do Bispo D.João Galvão , e de Duarte Galvão ; e que se assinava com a qualificação não de Escrivão da puridade, mas de Se- cretario d'íilRei. Finalmente o Conde da Ericeira escreve com mani- festa equivocjção (2) que João Fernandes da Silveira fo- ra Escrivão da puridade d'ElRci D. João l. quando só o foi d'ElRci D. Affonso V. Em quanto ao que pertencia neste reinado ao offi- cio d'1'lscrivão da puridade , não lia pouco que dizer. En- tre os MS. da rainha Livraria existe hum não authcnti- co, c sem data, de que ha outra copia de letra muito an- tiga entre os MS. da Livraria da Casa de Castello melhor; c contem huma Carta, que Álvaro Gonçalves escreveu a ElRci D. AíFonso V. cm reposta a outra em que Í^IRei lhe fazia saber, que dos Ofíiciaes principaes da Corte, como erâo o Escrivão da puridade , e os Vedores da Fa- zenda , c o Vedor da Casa , era muitas vezes requerido , queixando-sc de que ElRei lhes mudava os encargos de olficios d'u,is para outros : e por isso mandava a elle Al- Y z va- ( 1 ) Theatro Gmcal, (;l) Vort. restaiir. 171 Memorias da Academia Real varo Gonçalves que lhe escrevesse o modo, por que cada hum tinha seu oficio no tempo de seu Avò c Pai , o que ellc tinha ra/ao de saber. Álvaro Gonçalves quei- xando-se de velhice , e por isso de falta de memoria , havendo muitos annos que estas cousas por si não vira nem praticara , reduziu a escrito pelas seguintes palavras aquillo de que se recordava. << O Escrivão da puridade >> Gonçalo Lourenço , recebia todo o dinheiro das Escri- " turas, c dava manícnça aos seus Officiaes , ou ajuda, j> segundo lhe parecia : Quando ElRei hia ao Conce- >» lho, Gonçalo Lourenço hia c estava com elle, mas » não dava voz , senão depois que foi do Concelho : E j> quando se mandavão fazer algumas Cartas do serviço >j de Deus e d'ElRei , a clle erao commettidas de as »j mandar fazer : Quando ElRci hia á Relação, tambeni jj hia e estava com clle : Também estava na Fazenda ao »> assentamento delia, e a todos os desembargos, e ao »t pôr das moradias , e aos desembargos dos Casameií- » tos: e trazia huma arca, em que guardava as Cartas, » e Tratos das tregoas e pazes, c outras Escrituras que » erão para guardar: Todas as Cartas e petições que »> davão a LlRci , elle as dava a Gonçalo Lourenço ; que » logo as abria ; e se algumas erão de trigança e para >» logo ElRei saber , lhas mostrava logo , e as outras 5> enviava a cada Desembargador, segundo pcrrencião: j> e as que pertcnciáo a ElRei para responder a cilas, » dcsembargava-as com elle. E tanto o achava ElRei »> soUicito c discreto, que de todas as cousas de que » ElRci tinha cuidado e aíFeiçao , assim como da Obra }> do Mosteiro da Batalha , e dos Paços de Cintra , c >» das outras Obras que em seus Reinos se faziao, com- 3> mettia-as a clle; e bem assim arrendava as Casas de j> ElRci. Por sua ordem se lazlão também- outras dcs- »» pesas extraordinárias; c assistia muitas vezes em lu- >» gar d'ElRei com os Vedores da Fazenda , quando es- » tavão em suas Contas , c depois lhe hia referir o que ?* acha- DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 173 » achnva , por escrito. Tambcni mandava lavrar os pri- j> vilcgios dos Besteiros de Cavallo , e dava-os a assinar »» a ElRci. j> Ate aqui o citado MS. pelo que pertence ao nos- so assumpto , do qual se conclue , que até o tempo de ElRei 1). AíTonso V. nao havia Regimento algum do offijio d'Liscrivão da puridade: que os encargos deste e de outros oíHcios da Corte muitas vezes se trocavão e confundião: que ja no tempo d'ElRei D. João I. era o Escrivão da puridade hum dos Oíficiacs principaes da Corte : que tinha Officiaes seus de quem se servia ; e que gozava das grandes preeminências e prcrogativas ordiná- rias e extraordinárias , que acima ficão referidas. Assim soccedeu facilmente que a maior parte dos negócios importantes corressem pela repartição do Escri- vão da puridade ^ que os scllava e expedia j e que na nomeação delle obrava ElRei com a maior liberdade ; de tal modo que requercndo-lhe nas Cortes de Coimbra de I3S5' os Procuradores de Lisboa que encomendas- se os seus Scllos Reaes , assim os públicos , como o da puridade a pessoa njtural de Lisboa , respondeu ElRei quo os Sellos públicos nao os daria a pessoa que não fosse d'ahi natural , mas o da puridade , daria a qual- quer outra que guardasse seu serviço (í). Do uso do Sello da puridade achão-se neste reina- do frequentes exemplos , sendo nelles usual a clausula : E por quanto nao era aqui o nosso Sello grande , mandámof sellt\r esta Carta com o nosso Sello da puridade j e outras vezes com o nosso Sello de Camafeu (2). Por este tempo se começão a encontrar Escrivães da (1) Feni. Tjop. Cínoti. e Moit. Luút. Part. 8." (2) Vej. os Documentos dos aiitios de 1392, no Additamcttto á Siinnpse ; de 1422 nas Du<íert. C/iron. Tom. J.": e de 142-í nas rroeas da Uisl. Geneal. 174 Memorias da Academia Real da puridade das Rainhas c Infantes ; assim o Chronista Fernão Lopes foi Escrivão da puridade do Inlantc D. Fernando, filho d'ElRei D. João I. (i) ; c João Yás Es- crivão da puridade da Rainha D. Leonor , mulher d'El- Rci D. Duarte (2). Reinado de D. Duarte. O primeiro Escrivão da puridade logo no principio i.OEispo jo reinado de D. Duarte foi o Bispo de Viseo. D. António Caetano de Sousa produziu hum Alvará datado em 30 d'Agosto de 1436, que copiou do ori- ginal que existia no Archivo da C^sa de Bragança (3), do qual Alvará consta, que nos apontamentos particulares que a Villa de Barccllos levara a ElRei por seus Procu- radores ás Cortes que então fizera na Cidade d'Evora , lhe enviarão dizer que o Povo da dita Villa recebia mui grande opprcssao com a coutada, que cllc tinha concedi- do no rio Davc ao Bispo de Visco, do seu Conselho, c seu Escrivão da puridade ; pedindo-lhe por mercê que descoutasse o dito rio como Q'antes era , e mandasse que a Carta da Coutada se não cumprisse : o que ElRei as- sim mandou. Quem fosse estQ Bispo de Visco hc o que resta averiguar. O Padre Sousa (4) entendeu que era D. Luis do Amaral ; e com razão, porque o seu Pontificado com- prehendc quasi todo o reinado de D. Duarte. Ha po- rem aqui huma duvida que custa a resolver , e consiste em que difficitmcnte podia o Bispo D. Luis do Amaral ser Escrivão da puridade nos princípios deste reinado , quan- (1) Azurara, Cliroii. (2) Carta d'a(lniiiiistração daCapella dp San- ta Catharina . termo i. 4. Dio;o O segundo Escrivão da puridade foi Diogo da Sil- da Silvei- yj^jra/ Teve Carta deste Cfficio em 4 d'Abril de 1455 (3), e nclia se declara que era filho de Nuno Martins da Silveira, Rico homem, do Conselho d'ElRei , Coudel Mór de seus Reinos, e Escrivão da sua puridade; o qual lhe pedira que deste Offijio fizesse mcrcè ao dito seu filho. Este Diogo da Silveira ja figura como Escrivão da puridade no Auto de juramento do Príncipe D. João, depois Rei segundo do nome, feito em 25 de Junho de 145' 5- (4) ; e referenda a Carta Patente de 30 d'Agos- to de 1458 , e a Lei de 9 de Janeiro do mesmo anno , que ambas existem por copia na minha Collecçao de MS. sendo estes os primeiros exemplos que encontro de serem assinados os Diplomas Régios logo depois da as- sinatura Real pelo Ministro por quem passa'rao, a que hoje se chama referendar. O Padre Lima (y) diz que ElRel D. Affonso V. confirmara a Diogo da Silveira a doação da Villa de Te- rena , que lhe fizera seu Pai cm 25^ de Junho de i45'4, e que dcllc ha também memorias nas Chancellarias dos an- ÍD Mcmor. dos Grandes de Voit. r^) fínt. Gcneal. Livr. 4." Cap. 1.» í-í> Existe !io R. Arcliivo. (■4) Vrovfts da Hisl. Ge/i. (5) • Geo^r, Ilistor. DASSCIENCIAS DeLiSBOA. l^I annos de T460 , e 1462. Damião de Gocs (i) di/. que a :o de Maio de 1455 dera ElRci o lugar de Gocs a Diogo da Silveira , Escrivão da puridade. Conservou este Ministro o mesmo emprego ate o principio do amio de 1464 , em que morreu na peleja da Serra de Benacofú , juntamente com o esforçado Con- de D. Duarte de Menezes (2). Nos impedimentos de Diogo da Silveira, servia este officio seu irmão Fernão da Silveira ; o que se pro- va d'um documento de 10 de Fevereiro de 14J9 (3) que assim termina : E/Rei o mandou per Feruam da Silveira , sen Condcl Mor destes Regnos , (jiie ora per sen especial mandado tem carrego ^Escrivão da puridade. A mesma clausula se acha em documentos de 27 Junho, e de 4 c 10 de Julho do mesmo anno, na minha Collecção de MS. O terceiro Escrivão da puridade foi Gonçalo Vás 5. tíonça- de Castello Branco, Senhor de Villa nova de Portimão , ''J^y^^n^* Monteiro Mór, Vedor da Fazenda, e Regedor da Casa da Uanco. Supplicnção. Este he o mesmo que rompeu primeiro a ba- talha de Castro queimado, que ElRei D. AíFonsoV. desba- ratou ; cnão se pôde duvidar de que fosse Escrivão da pu- ridade do mesmo Rei, porque assim o aJíirma Damião de Góes (4) fjllando de seu filho D. Martinho de Castello Bran- co, Conde de Villa nova de Portimão ; e consta expressa- mente da Carta d'Escrivão da puridade passada a Nuno Martins da Silveira "em j de Abril de 1464, em que se de- clara que na posse deste officio seconservaria Gonçalo Vás até que o dito Nuno Martins completasse vinte annos (5). Sousa na Historia Genealógica prova que Gonçalo Vás de Castello Branco tivera o emprego de Escrivão da^ ( 1 ) Cliioii. do Piiiicipe D. João. (2) Rui de Pina, Chron. de D. Affomo V. (;í) Kibeiro, Memoria para a Historia das Confirmações Re;Has . Doomn. «.• . o j (4) Cliroti. d^ElReíD. Manoel. Part. 4 cap. 70. (ó) R. Arch. ^ i8j Memorias da Academia Real da puriJadc , com hum Alvará passado cm Evorã a 23 de Julho de 1464; donde se deve concluir que clle fo- ra immcdiato soccessor de Diogo da Silveira morto no mesmo anno i e que occupára pouco tempo aquclle lu- gar, porque ja vemos este servido no fim do anno se- guinte pelo Bispo D. João Galvão. O Livro das mora- dias refcre-o entre os Cavalleiros do Conselho nos an- nos de 14Ó2, 1474, 1477, e i479 (O- ^''o Epitáfio da Sepultura de D. Affonso Valente , que estava na Igre- ja de S.Jorge de Lisboa feito no anno de ijéi (2) consta que este D. Gonçalo de Castcllo Branco , Senhor da Villa nova de Portimão, fora Escrivão da puridade e Testamenteiro d'ElRei D. AíFonso V. Este Epitáfio foi mandado pôr por D. Martinho de Castcllo Branco, bis- neto do dito D. Gonçalo. 6. D.João O quarto Escrivão da puridade foi D. João Gal- Gaiváo. y-g ^ £]]^Q Jq Secretario Rui Galvão , então Bispo de Coimbra, c depois Conde d'Arganil , e Arcebispo de Braga. De que este tivera aquclle emprego dá irrefraga- vel testemunho seu irmão Duarte Galvão (3) ; e que cllc o exercitara posteriormente a Diogo da Silveira , e a Gonçalo Vás , prova-se d'huma Carta de mercê feita a Nuno Gonçalves em 11 de Dezembro de 1465- (4) do Diploma de ly de Janeiro de 1466 (5-) por elle expedi- do na qualidade d'Escrivão da puridade ; e de mais três Diplomas , que se achão na minha Collecção de MS. dous de 4 de Março, c hum de ij de Setembro, todos do anno de 1473, que acabão deste modo: E/Rei o viandou por D. João Galvão , Bispo de Coimbra , Conde de Jr- (1) Trou. da 11 ht. Geií. (2) Moii. Liunt. P.'irt. 8. Álvaro Ferreira de Vera, "Notas ao JVo- inliario do Conde D, Pedro. (3) Clir. de T). jíifotiso Henriques. (4) Sousa, Hiit. Geií. (5) Ribeiro, Dissert. Chron. T. 3. DASSciENCIAS DE LiSBOA. iSj jirganil , do seu Conselho , Escrivão da sua puridade , e Vea- dor Mor de suas obras. João Garcez a fez. Ânuo de uas- cimento de Nosso Senhor Jezti Cbristo de 1473. P^^^^ ' \ • O Bispo Conde. Não consta porem o tempo cm que D. João Gal- vão largara este emprego: hc provável que ja o não exercitasse no anno de 1475', cm que acompanhou a El- Rci para Castclla; o qual logo da Cidade de Prazcnça o fez tornar com a sua gente por Fronteiro da Comarca da Beira (i). O quinto Escrivão da puridade foi Nuno Martins da 7. Nuno Silveira, de que teve Carta em ç d'Abril de 1464, co- '*'^"'".' "^^ mo acima disse. Consta d'huma Carta d'EIRci D. Affon- so V. passada a elle com a data errada de 1 1 de JjncÍ7 ro de 1488, devendo ser 1478 , que desejando ElRei que cm poder de Nuno Martins da Silveira , Fidalgo da sua Casa , Escrivão da sua puridade , e Vedor Mor das suas obras, a que ora entregava a posse dos di- tos Officios , segundo lhe delles tinha feito mercê por sua Carta, por fallecimento de Diogo da Silveira seu Pai , seja ainda muito melhor conservado , e tenha tão inteiramente o dito Officio d*Escrivão da puridade, co- mo o tiverão antes dellc o Bispo Conde , e Gonçalo Vás de Castcllo Branco, do seu Conselho, e Vedor de sua Fazenda: Ha por bem ctc. A disposição desta Carta fi- ca reservada para outro lugar: mas o que fica transcripto assas mostra que não me tenho enganado na serie chro- nologica dos Escrivães da puridade neste reinado. Ò sexto Escrivão da puridade foi D.João Fernan-g. p. toJo des da Silveira , creado primeiro Barão d'Alvito , de que femanVj se lhe passou Carta em 30 de Março de 1482, na qual „' '^"' se declara que era Escrivão da puridade (z). Foi filho de (I) D. Nicoláo de Santa Maria, Cltron. Rui de i'iaa , Chrou. (2_) R. Arch. 184 Memorias da Academia Real de Fernando AíFonso da Silveira , fidalgo muito estima- do d'F,lRei D. João 1." O dito D. João Fernandes foL Regedor das Justiças , ChanccUcr Mòr , Vedor da Fa- Vienda , c Escrivão da puridade de D. AíFonso V. (i) e servia esie ultimo emprego cm Maio de 1479:, como consta da ratificação do Tratado de paz, que se fez nes- se anno entre FlRci de Portugal , e o de Casiella (O- ç.AiirMue O sctimo Escrivao da puridade foi Anrique Ho- Homcm. ^•^■^c^, Na copia das mercês que fez ElRci D. Affonsc» V. c publicou o Padre Sousa (3), Ic-sc : Deu e fez Escrivão da puridade a /hiriqiie Homem , e Feedor Mor das Obras : e esta he a única memoria , que alli se acha dos Escrivães da puridade neste reinado. Não me consta po- rém quem fosse este Anrique Homem , que não aciío apontado no Livro das moradias da Casa d'ElPvei D. Af- fonso V. também publicado pelo mesmo Sousa, nem me con- sta o tempo em que teve o ojficio d'Escrivão da purida- de, e SC com eifcito o serviu. Mais augmenta ainda a minha confusão o Autor do Epitome, quando diz que Dio- go da Silveira tivera por socccssor no cargo d'Escr'ivão da puridade a Vasco Fernandes Flomem , fiiho segundo que fazem d'Henrique Homem : pois nem aponta docu- mento com que prove a existência deste novo Escrivão da puridade , em que mais ninguém falia ; nem tambemi tenho encontrado aquelle Vasco Fernandes Homem no Livro das moradias da Casa de D. AíFonso V. de que a- cinia fallei. Não tive pouco trabalho em arranjar esta serie chronoiogica, que se acha muito erradamente tratada pe- los (I) Sonsa, Mcmnr. dos Grandes: e Hist. Gcn. L.° 14, ('2) iSoiisa , líis/. Geii. (3) Froc. da llist. Gcn. DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. l8^ los poucos Escritores que fallao deste assumpto (i). Destes Djmião António, o Padre Sousa , o Padre Li- ma, e o Autor do Catalogo dos Escrivães da puridade na Sala dos MS. da Bibliotheca publica de Lisboa, al5r- mão que tivera este Officio Rui Galvão , que o ultimo dcllcs di/ que fora sogro de Rui Mendes de Vasconcel- los : porem não me atrevo a .introduz,i-lo neste Catalo- go, porque encontrando a cada passo nos documentos daquellc tempo a sua assinatura com a qualificação de Secretario , ainda não achei algum em que elle fosse de- signado com o titulo d'Escrivão da puridade. Tendo tratado até aqui das pessoas que tiverao es» te emprego , resta vêr o modo por que ellas o exercita- vão. Peio que fica dito he certo que ate ao reinado de D. Duarte não havia Regimento algum deste OíE.-io ; c que o us ) e costame he que regia em lugar de Lei. Quasi no fim da Regência do Intante D. Pedro , isto he em 28 de Julho de 1446, se acabou a compilação da Ordenação Affonsina , mandada fazer por ElRei D. João I. continuada por ElRci D. Duarte , e acabada no reinado de seu Filho. Achando-se no Livro i." desta Or- denação os Regimentos dos Officiaes do Reino, e da Casa , não se encontra o dos Escrivães da puridade ; os quacs nesta qualidade nem gozavão dos privilégios que por huma lei d'ElRei D. João L no Livro 2.° Tit. 64 havião sido conservados aos do Conselho , do Desem- bargo, e Chancelleres ; nem também do outro privilegio de que estes gozavão pelas Ordenações antigas de traze- rem seus contendores á Corte , que a Ordenação do Li- vro 3. Tit. 4." lhes havia conservado e confirmado. He verdade que a Ordenação Affinsina no Livr. i.° Tit. 2.° que se inscreve Do ChuncelUr Môr , diz que o Tom. XII Aa Chau- (1) Vfj. Damião Autouio , e o Autor do Epitome, e o Padre Li- ma. 1^6^ Memorias da Academia Real ChanceUer he o segundo Officio de nossa Casa d^aquelles que tem officio de puridade: mas o primeiro Oíficio nem he o de Regedor da Justiça , de que trata o Tit. i." por- que este nao he designado como o primeiro Officio da Casa , mas sim cotuo o maior e mais principal Ojficio da justiça em a nossa Corte ; nem o d'Escrivâo da puridade, como parece ter entendido o Autor da Nobiliarchia Tortugueza. O caso he que aquelle lugar da Ordenação tendo por fonte próxima a lei das Partidas (Lei 4. Tit. rf. Part. ;.) referia-se á Lei antecedente que trotava do Capellão d'ElRei , como sendo o primeiro Oíficio da puridade; e os Compiladores omittindo esta Lei, con- servarão muito impropriamente na seguinte a relação a ella. Assim o primeiro Regimento que encontro dos Es- crivães da puridade , posto que sem data e não authen- tico , he o que foi dado por ElRei D. Affonso V. a Nuno Martins da Silveira, logo no principio do seu go- verno. Acha-se huma copia nioderna deste Regimento entre os meus MS. e outra conforme, cm lettra coev.i, en- tre os MS. da Livraria da Casa de Castello Melhor. Consta deste documento que «< Nuno Martins , sobre » feito do dito seu Oíficio, por andar ck-partido c es- » palhado por muitas partes, lhe pedira lhe mandasse 5» dar Regimento, peio qual lhe declarasse a maneira >» com que havia de servir e usar delle ; c também os j> Secret.irios e Escrivães da Camará como lhe cbedece- » rião e cumpririão seus mandados nas cousas que ao »» dito Officio pertencem , segundo se costumou , e fa- j> zii , e tratou no tempo d'ElRei seu Senhor e Pai: » pelo que se lhe mandou dar o dito Regimento, que se »■> reJuz aos artigos seguintes: i." O Escrivão tem o j> Scllo maior, c com elle sella todas as Cartas, que se »» devem pt.r c!le seliar , c algumas outras que em cs- » pecial se mandarem ; e os Secretários devem mandar »> estas Cartas pelos Escrivães que lhe são apropriados ^^ sem DAS SciENCIAS DE LlSBOA. 187 »» sem as darem ás partes, a Cm de serem selladas. 2.° >» Todas as Cartas de Embaixadores Estrangeiros que forem « dadas a ElRci , Elle as não dará a outra pessoa que « não seja o Escrivão da puridade. 3.° Todas as Cartas » c Petições que forem dadas a ElRei , irão ao Escri- >> vão da puridade , para tomar aquellas que ]he perten- í» cem , e desembarga-las com ElRei ; e para enviar as » outras aos Desembargadores a que pertencerem , se- »» gundo o mesm ) Nuno Mirtins o costumava fazer cm »» tempo d'ElRei seu Pai, 4.'' Os Escrivães da Gamara j» que ElRci tomar serão apresentados pelo dito Nuno >» Álartins ; e daquellcs os que houverem de ter moradias »» devem ser quatro , como forão antigamente. Alem j> desces os dous que são ordenados a N.uno Martins, e » para que cUe ha mantimento , devem scr-lhe obedien- >> tes ; e qualquer Carta que trouxerem para a Real assina- » tura , estando Nuno Martins presente, seja elle o que >» a entregue, y." Oi dinheiros que se houverem pela >» feitura das Escrituras, serão entregues a elle Nuni >» Martins; e em seu juizo ficará repartir pelos Escrivães » aquilo que merecerem por seu trabalho , segundo cllc; » fazia cn tempo d'ElRei seu Pai. 6.° Q^iando algum » dos Secretários ou Escrivães trouxerem Cartas , que el- >» le Nano Martins lhe tenha encomendadas , para lh'as » mostrarem , c para elle as desembargar com ElRei , » ainda que este o não chame , se chegará a elle para >» ouvir e saber o que ElRci desembarga , como elle j> costumava fazer no tempo d'ElRei seu Pai. 7.° Qaaes- >» quer Cartas que assim forem desembargadas , ate que >» as trouxerem á assinatura , as mostrarão a Nuno M.ir- j> tins, que porá njllas seu sinal, e não o ponha outro » algum Escrivão. 8." E esta mesma maneira mandamos >■> aos ditos Secretários c Escrivães que tcnhão com Dio- " go da Silveira vosso filho , quando na Corte não for- " des , c lhe deixardes o dito cargo, para em vossJ " nome haver de servir. >» Aa 2 Até iSS MEMoniAS nA Academia Real Ate aqui o resumo do citado Regimento, donde se conclue que o Escrivão da puridade era neste tempo o primeiro Ministro do Dcspaclio c expediente d'L'"lRci. Entre as Resoluções tomadas por ElRci D. Affonso V. nas Cortes du Guarda de 1465, e publicadas por Alvará de 2; d' Agosto do mesmo anno , que tenho na minha CoIIecçao de MS. acha-se huma para que as obras dos Concelhos deste Reino se f:.çáo sempre por emprei- tada, a qual seja ajustada pelo Contador das obras da Ca- mará com accordo dos Officiacs delia . e sendo ahi o Nos- so Escrivão da puridade (era então cu Gonçalo Vãs , ou D. João Galvão) façãO'se por elle , fallando elle primeiro com os Ojjiciaes da Cidade ou Filia , arbitrando o manti- mento ou satisfação que hem lhe parecer. Na Carta passada por D. Affonso V. a Nuno Mar- tins da Silveira , neto d'aqueUe de que tenho fallado , com a data errada crevaninha da puridade , na Corte dos Pvcis meus an- ») tecessores , e meu j c as muitas prerpgativas e liber- j> dades de que antigamente sohião u?ar os Escrivães j» da puridade ; e porque desejava que em seus dias se M guardassem , e mantivessem ; havia outorgado ao Bis- » po de Coimbra, Conde d'Arg;iniI , e Piior de Santa j» Cruz, do seu Conselho, quando teve o diro Offiuio, >j huma Carta pela qual mandava aos Escrivães da Ca- 3> mara , que nenhuma Carta nem Alvará passassem, sem >> serem rctercndados pelo Escrivão da puridade ; nem j> algum dclies tivesse Escrivão outro, ou podcssc cscro- » ver na Camará-, s;dvo por si mesmo. E que o Escri- j» va> da puridade houvesse metade do dinheiro que a j» cada hum dos seus ditos Escrivães cm sua Escritura j> montasse: c que todas as Cartas c privilégios passas- sem DAS SclENCIAS DE LiSBOA. T8^ » sem por assinado do Escrivão da puridade, com Passe >» d'L{IKci; ou passassem por ementa; salvo se fosse >» Carta de Mercê de Castello, Villa , terra, ou jurisdi- » ^M , que resolvava para passarem com o seu sinal >» grande. >» Depois de tudo isto referido no preambulo da Carta , manda ElRei k que todas as cousas acima rclata- » das, que outorgadas forão aos sobreditos Bispo, eGon- >» caio Vás, e assim mesmo a Diogo da Silveira, pai de '> Nuno Martins da Silveira , este as faça perfeitamente j> cumprir e guardar e executar, de maneira que não pas- >» sem Cartas em contrario do que tem ordenado, ou por j» iinportunidade dos Escrivães, ou porque as suas occupa- >» çóes dellc Rei não dêm lugar de attcnder a isso ; e as- )» sim manda ao dito Nuno Martins que não passe por el- »» le Carta alguma , que não seja por ellc referendada : e >» lhe dá poder de suspender os Escrivães da Camará por >» quanto tempo lhe prouver, quando forem contra o que » nesta Carta se determina : e que na Camará não hajj, >» nem escrcvâo mais OíHciacs , nem outra pessoa sem " outorga , prazer c consentimento do dito Nuno Mar- >» tins , salvo os que ja cm cila escrevião no tempo »» que lhes a posse do dito Officio de puridade entrega^ >» mos. í> Os leitores não levarão a mal a diffusão com que tcnlio tratado esta matéria , observando que o Regimen- to dos Escrivães da puridade não era geral para todos , mas dado particularmente a cida hum dos que para este emprego se nomeavão , com faculdades mais ou menos amplas, segundo a vontade d'E!Rci. Em quanto ao exercido d'huma das principies obri- gações dos 1'Lscrivãcs da puridade que era scUar as Car- tas com o respectivo sei lo ; lê-se nMiuma Carta do r.° d'Agosto de 14^6, dada na^Villa da Atouguia, a qual se .nch:i entre os meus MS. E por quanto aqui não era o nox- so Scllo pcuilente mandamos sellar esta Carta com o Sclla IÇO Memorias da Academia Real da nossa puridade: e cm outra de 18 de JuHio de 147^ diz ElRci que vai por elle assinada e assellaàa com o ítello da puridade y por quanto houve assim por bem de se fazer se- cretamente , porque cumpria assim a seu serviço , e depoií íbe viandaria dello dar Carta na melhor forma que ser pu- desse (i) : O que basta para exemplo. Reinado de D. "^cHo 11. O primeiro Escrivão da puridade deste Monarcha i.OEatáofoi o Barão d'Alvito , D. João da Silveira, que ja occu- l> jiioda P'^''^ este lugar nos últimos annus d'ElRei seu Pai. Em Silveira. Carta de 12 de Janeiro de 1482 (2) lâ-sc : ElP,.à o man- dou por D. 'João da Silveira, Barão d' Alvito , do sen Conse- lho ^ e Escrivão de sua puridade. Morreu no anno de 1484. a. Fernão O scgundo foi seu fiiho Fcrnam da Silveira ; o qual da Silvei- entrou no caso do Duque de Viseo , e depois da morte "' deste cm 23 d'Agosto de 1484, pôde csccndcr-se , até que fugiu para fora do Reino , sendo depois morto cm França no anno de 1489 (3). }. Gonça- O terceiro foi talvez Gonçalo V;ís de Castcllo Bran- 'cluilo' ^^ •• ^"'^ J^ havia sido Escrivão da puridade d'ElRci 1). íranco? Affonso V: c quc também o fora no de D, João II. assim o affirmâo Damião de Góes (4) c D. António Caetano de Sousa (y): não dizem porcMii estes Autores nem quando começou, nem quando acabou de servir nquclle cargo: o que comtudo parece certo he que nos últimos annos da sua vida não tinha ElRei Escrivão da puridade , pois não tenho ainda achado alguém com esta qualificação nem nas Chronicas, nem nos documentos ; e Garcia de Resen- de (1) Trov. da Hist. Gen. (?.) Sousa, Jhst. Gen. (:i) G.nrcia de Res. Chr. (4) Chr. dT.lRei D. Manoel. (6) Hist. Gen. L 13. DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. Ipl de que refere com muita miudeza todas as peí?oas que com ElRci erão ao tempo da sua morto , não dii que alguma delias fosse Escrivão da puridade. He verd.ide que Faria e Sousa em dous diíFerentes lugares das suas obras (i) diz que Antão de Faria fora Camareiro , Escrivão da puridade , e Testamenteiro d'El- Rei D. João II. do seu Conselho , e muito seu valido... Também não vai longe disto D. Agostinho M.moel (2) quando fallando d'Antão de Faria , diz que fora elle quem por ordem d'ElRci copiara humas cartas que fa- ziáo cargo ao Duque de Bragança , por ser pessoa de quem ElRei fiava seus segredos ; e que no seu processo se apresentarão estas copias , que tornavão authcnticas a fé d'ElRei , e a lettra d'Antão de Faria. Acrecenta o mesmo Escritor que entre alguns Cavalheiros descenden- tes d'Antão de Faria achara huma tradição , que contra- diz o que traz Resende , porque quer que o Testamen- to d'ElRei fosse escrito por mão d'Antão de Faria , que affirma servira então d'Escrivão da puridade, c pelo me- nos fora sempre participante dos segredos d'ElRei. Comtudo nem o dito de Faria e Sousa a que não ajunta prova , nem a tradição que allega D. Agostinho Alanoel demonstráo o que se pretende. Tanto mais que Garcia de Resende que vivia muito familiarmente com ElRei D. João II. refere que Antão de Faria fora Cama- reiro, e Guarda-roupa d'ElRei quando era Príncipe ; e que depois de ser Rei, fora também seu Camareiro; sem que nunca lhe chamasse Escrivão da puridade : e em quanto ao Testamento affirma que fora escrito por Fr. João da Povoa, seu Confessor, ficando na casa de fora o Camareiro Mór Aires da Silva , e Antão de Faria Ca- ma- ( 1 ) Europa Fort. T. 2. p. 486, e nas Notas ao Nobiliário do Coif de D. Pedro. (2) Vtda y acciones d^ElRci D. Juaii el secundo. ipa Memorias da Academia Real mareiro ; que este Testamento ficara cm poder d'Antão de Faria ; c que depois fi/.era ElRei liuina Cédula com Aires da Silva , alem do Testamento. Ignoro SC os Escrivães da puridade de que acima fallo , tiveriío Carta deste Officio, porque ainda a não encontrei nos documentos que tenho consultado : e só me resta advertir que no formulário que ElRei ertabclc- ceu para a homenagem que havião de fazer os Alcaides Mores (i) era o Escrivão da puridade que lia alto esta homenagem , estando presente ao tomar delia , e a fazia escrever , e assinava. Disto ach.imos exemplo no In- strumento d'homcnagcm feita a ElRei D. João II. pelos Procuradores da Cidade do Porto em 15- de Janeiro de 1482 (2), e assinado pelo Barão d'Alvito , Escrivão da puridade do dito Senhor , que esta homenagem fez es- crever. Reinado de D, Manoel. I. Conde o primeiro Escrivão da puridade foi D. Diogo da ^^'^''^'■p'^' Silva , primeiro Conde de Portalegre creado por Carta godaSii-dc 6 de Fevereiro de 1498, que havia sido Aio deste ^■^- Rei , e depois seu Mordomo Mór , Escrivão da purida- de , e Vedor da Fazenda. O primeiro documento em que o acho considerado como Escrivão da puridade , he o de 8 de Fevereiro de 1496 (3). Continuou depois a exercitar o mesmo cargo , referendando os diplomos de 1497 (4) e 1498 (j) ; e ainda tinha este officio em Março de 1499 •> ^"* q"^ assistiu ao Auto do Juramen- to do Príncipe D. Miguel (6). O (1) 1'rov. da Ilist. Gen. Rui de Pina, Clir. de D. João II. {•i) Collecç.io Acadenjica. (a) Sousa, JILt. Gen. (4) rrov. da Hht. Gen. (5) Diss. Clir. Tom. 3.» (6) Pioc. da Jlist. Gen. Tom. 2." DAS SciENCIAS DE LiSBO A. Í93 O segundo foi D. António de Noronha , que de- 2. Cond« pois foi Conde de Linhares. Exercitava este emprego ''^ i"'"''*" . xT j n ■ » o rej D. An- no anno de 1501, JNo de 1508 ajustou o concerto que tonio de se fez entre este Reino e o de Castella , sobre as limi- ^oionha. tacões da conquista d'Africa. No de 1515' dcu-lhc EI- Rci a Capitania d'huma armada que mandou ao Rio de Mamora. Finalmente conservou o emprego d'Escrivão da puridade ate ao fim da vida d'ElRei, que muito o recom- mcndou no seu Codicillo , e a cujo fallccimento esteve presente : o que tudo refere o Chronista Damião de Gocs (i). O Autor do Epitome , e o do Repertório d Ordenação Tilippina (2) dizem que o primeiro Escrivão da puridade d'ElRei D. Manoel fora D. Martinho de Castcllo Bran- co , filho de Gonçalo Vás de Castello Branco ; mas nem o primeiro allega documento algum , nem os lugares da Historia Genealógica que o outro cita, provão o que elle pretende. , Não tendo presentes as Cartas d'Escrivão da puri- dade passadas ao? Condes de Portalegre e de Linhares , direi brevemente o que achei relativamente ás preeminên- cias deste emprego no presente reinado. E primeira- mente consta do Codicillo d'ElRei D. Manoel , que »» elle recommendára ao Principe seu filho que fizesse as »» cousas da governança do Reino com aquellas pessoas j» que delia tinhão mais pratica , e com que elle as fa- »> zia ; (e destas conta em segundo lugar a D. Antó- nio Escrivão da puridade ) pois lhe parecia que erão » pessoas de virtude , saber , e autoridade , e de muita »» presteza nas cousas do Reino (j). >» Refere Damião de Góes no fim da sua Chronica Tom. XII. Bb que (1) C/ir. d' El Rei D. Manoel. (2) Palavra Regedor, (3; Frov. da líút. Gcn. 1 94 Memorias ua Academia Real que « ElRei assinava trcs vezes, e algumas mais na \y semana , c cm publico ; c ao assinar estava o Escrivão » da puridade e os Vcadorcs da Fazenda em joelhos >» d'ambalas bandas da sua cadeira; e os Escrivães da »> Fazenda e Camará cm joelhos ao redor da mesa em »> que assinava: c que quando dava Audiência publica, » era presente o mesmo Escrivão da puridade D. Anto- »> nio de Noronha , irmão do Marquez de Villa Real , »> que depois foi Conde de Linhares , c hum dos Vca- >» dores da Fazenda , assentados cm joelhos á sua ilhar- >» ga. 3> Assim erão então os Escrivães da puridade os prin- cipaes Ministros do despacho c do expediente : elles ainda sellavão as Cartas com o Sello da puridade , co- mo se vê na de 12 d'Abril de 1500, que produziu o Padre Sousa (1); elles as refercndavão , de que temos exemplo nos documentos acima allcgados; e rcputava-se este Officio de tanta importância , que na Lei que El- Rei fez no anno de 1499 declarando o modo porque se havia de governar este Reino , socccdendo o Príncipe D. Miguel seu filho nos de Castella , se determinou que es- tando este fora de Portugal , sempre traria comsigo Chanceller Mór, Escrivão da puridade, e outros OfR- ciaes ahi designados , para por elles e com elles se des- pacharem todos os negócios de Portugal, em que lá se houvesse de entender (2). Em consequência desta importância tinhSo os Escri- vães da puridade insignes privilégios. A Ordenação Ma- noelina de iç2i. no Liv. i.° Tit. 2.° §. 37 determina que elles reccbao o juramento do Chanceller Mor : a mesma Ordenação no Liv. 2." Tit. 43 tratando das pes- soas a quem são concedidos os privilégios c liberdades ahi (1) H/sí. Gci. L.° 6. pag. 481. (2) l'i(w. da Hist, Gen, PAS SCIENCIAS HE LiSBOA. ' 19^ alii declaradas , conta por sua ordem o Regedor da nossa Casa da sopricaçam , Governador , e Escrivão da puridade , e Chanceller Mór: finalmente no Liv. 3.' Tit. 4.° Dos que podem trazer seus contendores d Corte per razão de setts privilégios , diz-se que este privilegio usarão o Es- crivão da puridade , c o Mordomo Mór. Ham dos deveres especiacs daquelle cargo era as- sistir a todos os actos públicos da Corte , que elles fa- zião reduzir a escrito c legalizavao: ás vezes erão nomea- dos Escrivães da puridade especiacs para esses actos. As- sim no Auto do juramento do Principc D. Miguel aci- ma citado, feito em 7 de Março de 1499 ^ « todas as » procurações dos que não erão presentes forao dadas >» neste acto a D. Pedro de Castro, Veador da Fazen- » da d'ElRci , que nelle serviu por Escrivão da purida- j» de ; e ficarão em seu poder , como a quem a bem do >» dito cargo pertencia. E tudo isto assim feito , íogo » D. Diogo da Silva , Conde de Portalegre , e Escrivão >» da puridade d'ElRei , em seu nome, para perpetua »» firmcra, e lembrança do dito Auto, pediu a nós pu- »» blicos Notários hum c muitos instrumentos, assim para >» os mandar pôr na Torre do Tombo , como para os » ter, guardar, oíFerccer , e apresentar, quando lhe re- »» querido e mandado fosãc , como a seu officio pcrtcn- » cia. » Reinado de D. João III, O primeiro Escrivão da puridade foi D. António t. d. An- de Noronha, que continuou a exercer este lugar, que ja ""''"''« exercera no reinado passado. Elle referenda o diploma de 14 d'Abril de 1^24 (i): e para o tratado de Casa- mento entre a Infanta D. Isabel , filha d'ElRei D, Ma- noel , c o Imperador Carlos V. fe/. ElRei D. João III. Bb 2 pro- (0 Piou. da líist. Gcn. Tom. 3. p. 11. 196 Memobias da Academia Real procuradores a D. António de Noronha , seu Primo , e seu Escrivão da puridade , e a Pedro Corrêa do seu • Conselho, cm virtude da Procuração escrita pelo .Secre- tario António Carneiro em 6 d'Outubro de 1^26 (i). Diz o Padre Sousa (2) que aquclle D. António, fi- lho segundo do primeiro Marquez de Villa Real , fora feito primeiro Conde de Linhares por Carta d'ElRci D. João III. passada em Setúbal em 13 de Maio de in^i e que morrera de 87 annos no primeiro de Março de 155:1. a. D. Mi- O segundo foi D. Miguel da Silva, Bispo de Visco, e guel da gipjo (]e D Diogo da Silva primeiro Conde de Portalegre, pò7c' v'i'' e Escrivão da puridade d'ElRei D. Manoel. Teve duas Car- *«°- tas d'Escrivão da puridade d'ElRei D. João III. huma sen- do este ainda Principe em 13 de Setembro de 1502 , e outra sendo ja Rei em 16 de Novembro de js^S (s)» Não me consta o anno em que o Bispo entrara neste emprego , sendo dellc allivi^do D. António de Noro- nha : sei porém que ja assinou como Escrivão da purida- de hum diploma feito em Évora a 27 de Maio de IJ34 (4), e que deste cargo foi demittido com grande estron- do em 15:42 , como se vê da Carta de 16 de Janeiro deste anno ; pela qual « ElRei attendcndo ao cviínc que » elle commettera , de se ausentar secretamente do Rei- 3j no (tinha partido no anno antecedente) indo a Roma, » c impetrando lá sem sua licença o Capello de Car- 5> deal ; deixando de entregar a ElRei as Cartas e Escri- j' turas de grande substancia -e segredo, que como Es- » crivâo da puridade que era , em seu poder tinha ; Hou- (1) And rada, Chron. Sousa, Hist. Gen. (2) Hist. Geií. Liv. 6. (3) Vej. ApjJcndix 2." (4) Prov. Hist. Gen. Tora. G."- DAS SCIENCIAS DE LiSTJOA. I97 »i Houve por bem priva-lo do OfEcio d'Escriváo da pií- » ridade , c desnaturaliza-lo »> (i). Na falta d'Escrivao da puridade era este OíEcio ser- vido pelos Secretários d'ElRci ; de que ha exemplo nas Cortes d'Almcirim de ij'44, em que foi jurado o Prínci- pe D. João , indo no acompanhamento d'l£lRei , e de- traz delie o Camareiro Mór, e o Secretario que servia d'Escrivâo da puridade (2). Era o Secretario que servia ordinariamente este OíHcio Pedro d'Alcaçova Carneiro , filho d'Antonio Carneiro , que havia sido também Secre- tario dos Reis D. Manoel e D. João IIT. e morreu no anno de i;4S '•> e talvez por isso em documento do an- no de i5'42 (3) he chamado o dito Pedro d'Alcaçova Secretario (CElRei , do seu Concelho , e sen publico Notário geral em todos os seus Reinos e Senhorios, Severim de Faria refere que elle servira d'Escrivão da puridade na occasiâo da morte d'EIRei (4). Outros ainda vão mais longe , pois que o Abbade Barbosa (f) diz que elle tivera este ÕfHcIo de propriedade; e o mes- mo ja tinha dito antes delle D. Agostinho Manoel (6). Este ultimo Escritor refere a este respeito huma es- pécie nova , que não se deve omittir. Diz elle que « Presidente do Desembargo do Paço commummente »» era por direito o Escrivão da puridade , Officio de J> grande confiança , e mui antigo naqucUe Reino (PortU' " S"^) j e que em nossos tempos (escrevia em 1638) não »> ha outro que lhe corresponda ; porque todo o des- '» pacho corria por suas mãos, de maneira que os Secre- ta- (1) Vem a integra desta Carta na Chron. d^Ândrada. (id) Vasco Pinto de Balsemão , Memorias sobre algumas antigas Corlas Portuguezas. Paris, 1032. (3) Frov. da Hist. Gen. (4) I^oticias de Po/Í. Discurs. 8." (6) liMwth. Lus. (6) Vida y aeciones d^ElRei D. Juan el segundo. ipS Memorias da Academia Real »> tarios hoje d'Estado ficaváo sendo seus Oiííciacs maiò- „ res. Achei no Archivo publico {continua eilc) que cha- „ mão Torre do Tombo, huma Cédula Real d'Ell\ci „ D. João III. passada a favor de Pedro d'Alcaçova, seu j, Escrivão da puridade , cm que Sua Altc/a lhe faz „ mercê de declarar como áquelle cargo compete de „ propriedade o Officio de Presidente do Paço ; c que j, em razão disto não o proverá em outro sogeito, sem j, ordem e licença sua. ,, Nada do que fica referido me parece exacto ; antes tenho por certo que até ao fim do reinado de D.João III. nunca o Desembargo do Paço teve Presidente ; e quando o teve posteriormente , nunca pessoa alguma sci viu este emprego , exercitando ao mesmo tempo o d'Escrivão da puridade. Quanto á que D. Agostinho Manoel chama Cédula, julgo que não he outra cousa mais que p Alva- rá feito em Lisboa a 30 d'Outubro de I5'64, e por tan- to não no Reinado de D. João III. mas na menorida- de d'ElRei D. Sebastião , sendo Regente o Cardeal D. Henrique , no qual <« ElRei havendo respeito ás ra/ócs »> que Pedro d'A!caçova lhe apresentou do prejuízo gran- í» de que se seguia á sua honra e quietação na matéria »» de se pôr Presidente na Mesa dos Desembargadores í» do Paço : ha por bem de não pôr Presidente na dita » Mesa pessoa alguma de qualquer qualidade que seja ; » e que parecendo-lhe todavia que não se pode escusar » o dito Presidente , em tal caso não porá a dita pessoa, j» senão sendo primeiro contente Pedro d'Alc.içova. »» Pode-se vêr a integra deste Alvará, e a confirmação do que acima disse no Repertório das Ordenações do Rei- no, (i). Assim nem o Alvará diz que Pedro d' Alcáçova fora Escrivão da puridade , nem algum outro documento lhe dá (1) Palavra Fraidente do Desembargo do Paço, DAS SciENCIAS DE LiSBOA. 1^9 di essa denominação, sendo só designado como Secreta- rio , e muitas vezes como servindo aquellc Officio. Ago- ra a razão por que cUe supplicou aquella graça ao Car- deal Regente, c por que este lh'a concedeu, nao pode ser outra senão porque receasse que o Cardeal não lhe sendo na- da aff..Mçoado, lhe quizcsse dar aquclle^ desgosto, que el- le tomava como injuria , por isso que servindo o cargo d'Escrivão da puridade , desejava ter a mesma influencia que estes tinhão no despacho e expedição dos negócios de graça. Mas o resultado de tudo foi que o Cardeal nunca nomeou Presidente para a Mesa do Paço ; e que DO anno de ijóy ou pouco depois se retirou Pedro de Alcáçova desgostoso da Corte , fora da qual ainda esta- va no principio do governo d'ElRei. Reinado de D. Sebastião. Nas duas Regências que houve na minoridade d'EI- Rei D. Sebastião , tanto na da Rainha D. Catharina , como na do Cardeal Infante D. Henrique, não consta que houvesse Escrivão da puridade ; c isto a pezar de terem na primeira requerido os Povos nas Cortes de Lisboa de ij6z que se fizesse Escrivão da puridade (i); e de ter na segunda requerido Lourenço Pires de Távora no papel que deu ao Cardeal Infante , conten- do advertências c avisos para bom regimento do Reino, que visse e considerasse bem se seria de muito serviço de Deos e d'ElRei restaurar o OJJicio d^Escrivão da purida- de (2). Estando pois vago este Oíficio , competia a serven- tia dclle , como ja vimos no reinado passado, ao Secre- tario d'ElRei para isso designado : assim assinou Pedro d'AI- d) Barbosa, Mcmoríis T. 3.° patj. 285. (■2) D. JMaiioel de JMenczcs CUroiu 100 Memouias da Academia Real d'Alcaçova Carneiro o Auto da declaração da Regência da Rainha D. Catharina (i) , c o da acclamação d'ElRci em i6 de Junho de 1557 (2); assistiu como Escrivão da puridade nas Cortes de Lisboa de 1562 (3), e no acto pelo qual se passou a Regência ao Cardeal Infante, a quem entregou , e de quem depois recebeu o scllo gran- de das Armas Reaes (4). Estando fora da Corte o Se- cretario quando ElRei tomou posse do Governo em 20 de Janeiro de ijóS , entregou o Cardeal a RlRci o scl- lo , que lhe havia dado o seu Camareiro Mór , que de- pois ElRei entregou a D. Aleixo de Menezes seu Aio ; e este o deu d'aTii a hum pouco a Pantalcão Rebcllo , Escrivão do Secretario ausente (j). ElRei D. Sebastião teve hum único Escrivão da pu- Martim ridade , que foi Martim Gonçalves da Camará ; o qual S°'(Siia- entrou neste emprego por influencia do Cardeal Infante, e n. com muito desgosto da Rainha, no principio do anno de ijíí^. Era irmão do Jesuíta Luis Gonçalves da Camará, Mestre e Confessor d'ElRei , e do primeiro Conde da Calheta ; e referenda como Escrivão da puridade a Car- ta de 28 de Fevereiro de 1^71 (t>). Teve Martim Gonçalves o maior valimento com ElRei D. Sebastião ; e por elle corrião os maiores negó- cios da Monarchia : porem não deixou de ter emulos , que elle quiz perder. N'hum Memorial que no anno de IJ71 dirigiu a ElRei , « notava-lhe este Ministro a j» continua conversação com homens molles ou pouco >i amigos de Deos , »> e assim concluía : « se isto , Se- » nhor, assim for, e os eíFeminados e pouco amigos do bem (1) Barbosa, Msm. Tom. 1.» (2) Ir'., e Cliron. «Jc D. Mauocl de Meneze». (3) Harbosa , Metn. Sousa , Vrov. da Hist. Gen, (4) Rarbosa , Mrm. Tom. 2.° (5) Barbosa Mem. T. :}.° Cunha , Jlist. Eccles. de Braga T. 2.' (6) CoUectorio das Bulias do Santo Officio. DAS SciENCiAs DE Lisboa. 20i »» bem conimum tiverem bom lugar ante V. Alteza, co- »» mo tem , corrcr-me-hei muito de eu também o ter , e » de estar neste em que estou ; que ainda que muito »» honrado, e muito desacostumado, c com continuas »» honras de V. Alteza , ainda isto me obriga mais a ter >» mais conta com o que toca á honra de Dcos , de V. j> Alteza, e bem de seus Reinos (i). » Na primeira jornada d'Africa que fez ElRei D, Se- bastião no fiin d'Agosto de i5'74, ficou Governador do Reino o Cardeal Infante ; c esta nomeação estimulou tinto a Martim Gonçalves , que aspirava nada menos que a ficar encarregado do governo, que se retirou para o Convento de S. Domingos de Bcmfica : e isto escandali- sou de tal maneira ao Cardeal , que nunca mais se quiz servir daquellc Ministro, nem no tempo do seu gover- no , nem depois no do seu reinado (2). Logo no anno seguinte acabou de todo o valimento de Martim GouçjIvcs com ElRei. Concorreu muito para isto a morte de seu Irmão Luis Gonçalves, soccedida em 15^ de Março de 15'7S'. Esta morte animou a D. Álvaro de Castro , D, Christovão de Távora , e Luis da Silva , que podião muito com ElRei , a persuadirem-Ihe que não admittisse á sua presença hum Ministro, que alFcctava o grande dominio que tinha sobre a sua vontade; e que em seu lugar chamasse a Pedro d'Alcaçova Carneiro ^ que vivia retirado da Corte : o que teve pronto efFeito. Finalmente correndo o anno de 1576 vio-se Martim Gon- çalves obrigado a sahir do Paço, onde nunca mais voltou na vida d'ElRei (5). Miguel de Moura foi Secretario d'ElRei D. Sebas- tião , e entrou neste serviço pelo mesmo tempo em que Tom. XI I. Ce cn- (1) Balt. Telles , Chron, dn Companhia. (2) Barbosa, Metn. T. 3." Faria e Sousa, Europi Port, Baião^ Portugal ciodadoso. (;j) Barbosa , Metn. T. 3.° Baião , Portugal cuidadoso. ■202 ' Memorias da Academia Real entrou no d'Escrivão. da puridade Martim Gonçalves. Es- creveu elle hum Discurso da sua vida e serviços, que nio:- dcrnamente se imprimiu (i) , e no qual refere noticias, que muito illustrao a matéria que &c vai tratando. Diz elle « que o officio d'Escrivão da puridade estava ja çx- » tincto por huma Patente de pergaminho , que tinha cn- 3» tre os seus papeis : que a pczar disso ElRci nomeara » para este cargo a Martim Gonçalves , para com este »» titulo presidir no Desembargo do Paço, cjue he huma >j das superioridades daquelle emprego ; c também na 3> Mesa da Consciência , em que ja servia como Dcpu- >» tado: que querendo por isso Miguel de Moura largar j> o lugar de Secretario , o Cardeal e D. Martinho Fc- íi reira o quietarão , dizendo-lhe que Martim Gonçalves »» não teria o inteiro uso do officio nas cousas do Esta- j» do : Que assim soccedêra , porque nem Carta , nem » Provisão deste officio tivera ; c elle Miguel de Mou- »> ra he que tomara sempre as homenagens e tivera o >» Sello da puridade ; nem Martim Gonçalves pozcra » nunca vista nos papeis da Secrcraria ; sendo todas cs- ?> tas cousas do officio d'Escrivão da puridade , como as- j> fez o dito Miguel de Moura quando depois teve esta j> cargo: Que de todas estas cousas soube Martim Gon- » çalves até certo tempo pelo lugar que lhe dava a sua 3> muita valia , e a maior do Mestre seu irmão ; e enten- 5» dia particularmente nas da Justiça , e outras , com >> mais jurisdição do que ncllas ninguém nunca teve. " Não vai longe disto o Autor da Historia Chronnlogica, ílo Reino de Portugal y copiada d'hum antigo MS. o qual no cap. j.° refere " que o Cardeal vendo a EIRci muito >» incHnado aos passatempos e á caça , tratara com os j> Padres da Companhia, de quem era mui devoto, co- » mo acudissem á necessidade do governo, e provessem a (1) íi.° l." do Despertador Nacional, publicado em Coimbra J821. DAS SCIEKCIAS DE LiSBOA.' lOJ „ a falta d' ElKei aos despachos ; e que ellcs orJenárâo „ metter nos negócios da Fazenda a D. Martinho Perei- „ ra ; a quem ElKei deu mui comprido poder para dis- „ por em tudo como lhe parecesse ; e a Martim G -nçal- „ ves da Camará, Doutor em Theologia , encarregarão „ de todas as cousas tocantes a Escrivão da puridade , e „ Presidente da Mesa da Consciência , e dos Des^mbar- „ gadores do Paço , com suprema jurisdição da adrainistra- „ ção da justiça. „ De tudo o que estes Autores referem só não posso acreditar que a Presidência do Desembargo do Paço fos- se huma das superioridades do Olficio d' Escrivão da pu- ridade, e que Martim Gonçalves tivesse neste tempo aquel- la Presidência ; pois só a teve annos depois por graçi dos Reis de Castella. Vej. o Repertório das Ordenações no lugar já citado. Nos Apontamentos dos Prelados deste Reino nas Cor- tes de Lisboa de 1562, que tenho manuscritos, requerião ellcs que houvesse numero certo e limitado de Desembar- gadores do Paço, e que segundo o numero que se limi- tasse , parecia que devia haver Presidente delles : e que na Mesa da Consciência houvesse Presidente , que devia ser Prelado de boa consciência, e experiência de negócios. Ainda neste tempo ninguém se lembrava que aos Escri- vães da puridade pertencesse a Presidência d*aquelles Tri- bunaes. Reinado do Cardeal D. Henrique: Neste curto reinado não houve Escrivão da puridade. Miguel de Moura no Discurso acima citado diz " que de- j, pois d' ElRei D. Henrique ser levantado por Rei, nem „ do nome deste cargo usou Martim Gonsalves, como o „ não podia ter ; e muito tempo havia ja que elle não „ entendia em nada, nem no Officio de Veador da Fazen- „ da , que ultimamente serviu ; e que clle Miguel de Ce 1 „Mou- 204 Memorias da Academia Real „ Moura nunca pedira este nome a ElRci, sendo então „ o primeiro homem na aceitação com cllc ; e sendo ja „ do Concelho d' Estado, que se adjectiva mais com Es- j, crivão da puridade, que com Secretario. „ Assim Miguel de Moura não foi mais que Secreta- rio d' ElRci D. Henrique ; e como tal serviu d' Escrivão da puridade nos actos públicos da Corte, durante o seu reinado. Reinado dos três Filtppes de Castella. Miguel de Filippc II. Instaurou o Officio d' Escrivão da purída- ""'*' de, dando-o a Miguel de Moura seu Secretario, por Car- ta de 15' de Dezembro de 1582 (i). Já antes disto elle havia servido este emprego nas Cortes de Thomar de lySi, lendo o juramento a ElRci , e pondo os Sellos da puri- dade sobre huma almofada, que estava no estrado peque- no, sentando-se elle no degráo do estiadinho junto da di- ta almofada (2). Depois d' Escrivão da puridade assistiu nas Cortes de 1583. No Regimento da Cháncellaria mór do Reino de ló de Janeiro de 15-89 (3), e no Titulo dos Ofiiciaes gran- des da Casa rcfcrem-se soccessivamente o Moidomo mór, o Camareiro mór, o Guarda mór, e o Escrivão da puri- dade, pela Carta de cada hum dos quaes se manda pagar na Cháncellaria dés marcos de prata. Foi adjunto no Governo ao Archiduquc Alberto em Janeiro de i^^^ (4), e nomeado hum dos Governadores do Reino em 159; (j) : continuou porém nestes empre- gos a servir o Officio d' Escrivão da puridade , c como tal he tratado no Regimento da Casa dos Contos.de 23 de (1) Vej. Appeudix 3." (2) Vej. os Au los impressos no anno de 1584. (3) ^a iiiiiiha Collfc^'ão MS. , (4) Faria, F.uropa Foitug, (5) Jbissert. Chi: T. 2." nAs SciENciAs faE Lisboa.^' iof de Março de lySp, na Lei de 7 de Outubro do fnesmo anno, no Regimento da Aposentadoria de 7 de Setembro de 1590, no de Presidente do Desembargo do Paço de ij" e 28 de Maio de 1590 , no da Mesa da Vereação de Lis- boa de 50 do mesmo mez e anno, e na Provisão de 10 d'Outubro de iççx (i): muitos destes Diplomas são re- ferendados por Miguel de Moura na c^ualidade d' Escrivão da puridade. No Discurso da sua vida escreve este Ministro «que j» ElRci lhe mandaVa passar Patente do Ojficio d' Escri- >» vão da puridade, na forma em que a teve o Bispo de « Visco D. Miguel da Silva, ultimo possuidor por Car- >» ta ; a qual Carta diz que aceitara, por haver três Se- j» cretarios d' Estado desta Coroa , dois no Reino , e j» hum cm Madrid , que posto lhe reconhecessem supe- j> rioridade , convinha que lhes fosse mais notória. »» No reinado de Filippe IIL de Castella continuou Miguel de Moura a exercitar o seu Officio d' Escrivão da puridade , como se vê d' huma Attestação de Gonçalo Pires de Carvalho, que se acha entre os Ms. da Livra- ria da Casa de Castello Melhor , e do Alvará de 24 de Julho de I5'99, 9^*^ ^^^ mercê a Francisco d'Andrada do Jugar de Chronista mcSr, tendo juntamente a superinten- dência da Torre do Tombo, de que o manda mctter de posse pelo Escrivão da puridade (2). Nas Cartes de Lisboa de 16 19 a que assistiu aquel- Ic Monarcha, exercitou o Officio d' Escrivão da puridade o Conde de Villa nova D. Manoel de Castello Branco , sendo nomeada só para este acto por Carta dada em Lis- boa 3 r 15 de Julho do mesmo anno; e nellas fez o mes- mo que fizera iMiguel de Moura nas de Thomar. A Ordenação do Reino publicada por Lei de 11 de Ja- (1) Vej. SysUm. dos Rep^imentos , Diss, Chr. Tom, 4.°, e na mi- nlia Cóllecpão; e 110 R:psrt. á Onlen. no lugar cit. ■ (2) Kibciro, Manor. para a Hist. do R. Archiuo, 2o6 Memorias DA Academia Real Janeiro de 1603 considera ainda o emprego d' Escrivão da puridade como fixo c permanente. No Liv. 1. Tit. 2. § 12. determina que o Chancellcr niòr lhe dê juramento de que bem e fielmente sirva seu Officio. No Liv. 2. Tit. 59. que tfata dos privilégios dos Desembargadores , conta entre os privilegiados o Escrivão da puridade. O Liv. I. Tit. 74. § I." manda que este tenha o Livro das homenagens que se tomão aos Alcaides mores , e que se lhe entregue o instrumento da posse. O Tit. 82. do mes- mo Liv. § 19. determina que clle não ponha vista nos Alvarás, sem estarem postas as pagas. O Liv. 3. Tit. 5". permitte-lhe trazer seus contendores á Corte. Finalmente o Liv. 5'. Tit. II. prohibe que ponha vista nas Provisões ou Cartas, que não forem feitas pelo Escrevente, que ca- da hum dos Escrivães da Camará tiver em sua casa pa- ra isso habilitado. No reinado de Filippe IIL de Castella não se pro- veu em Portugal o Officio d' Escrivão da puridade. Reinado de D. João IF. Havia perto de quarenta annos que ElRei tinha nasci- do, e que tinha morrido o ultimo Escrivão da puridade no- meado pelos Reis intrusos , quando chegou a época da sua feliz Acclamação. Não tinha pois este Monarcha mo- tivo algum para instaurar este Officio, que os crimes do Bispo de Viseo D. Miguel da Silva, e o espirito atrevi- do e fraudulento de Martim Gonçalves da Camará havião infamado. Assim assentou de organizar de novo o gover- no do Reino , o que fez escolhendo entre os Conselhei- ros d' Estado alguns para Ministros do seu despacho or- dinário ; e nomeando hum único Secretario d' Estado , o qual emprego começou desde então a ter aquella denomi- nação legal , para o expediente de todos os negócios. Três annos depois, e por Alvará de 29 de IVovem- bro de 1643 desmembrou ElRei da Secretaru d' Estado a DAS SciENClAS DE LiSBOA. iQj a das Merccs, e determinou que nos actos públicos de Cortes, ou semelhantes, fizesse o Secretario d' Estado o que tocava fazer ao Escrivão da puridade, quando o ha- via. Desde então se conservou até hoje , com huma só excepção, a denominação d' Escrivão da puridade applica- da aos Secretários d' Estado , que nas funcções solemnes da Corte fa^ião o oíEcio que d' antes pertencia áquelle Ministro, Reinado de D. Ajfonso VI. Este Monarcha assentou d' instaurar o Officio d' Es- crivão da puridade, e teve a fortuna de escolher para cl- Ic hum dos maiores Ministros d' Estado, que houve em Portugal, qual foi o Conde de Castello Melhor Luis decontíede Vasconcellos e Sousa. mT"'* O Autor da Catastrophe de Portugal, misturando cou- ^ '"' sas certas com outras falsas, diz « que aquelle Conde pa- j» ra fazer supremo o seu poder, começara a inquirir qual j» era o Officio d' Escrivão da puridade, esquecido em Por- »j tugal desde o tempo de Pedro d'Alcaçova Carneiro , » Conde da Idanha. Deste Officio não se achava Regi- >» mento, nem se lhe sabião mais prerogativas que ir coin >j a ultima assinatura a ElRei , pôr vista nas Cartas , » haver-se annexado no tempo d' EIRei D. Sebastião a j» Martim Gonçalves da Camará a Presidência do Paço; j> e no de EIRei D. Affjnso V. haver-se dado a Nuno » Martins da Silveira por emolumento o varejo das casas »> dos Mercadores ; que no d' ElRci D. Manoel em que >» o Cardeal D. Miguel da Silva occupára aquelle Officio, »» tivera elle grande autoridade em razão do favor d'El- *» Rei , ou da autoridade da pessoa ; e que no reinado >» d' ElRei D. João IV. se fizcrão exactas diligencias na 5» Torre do Tombo para a sua total averiguação, e se não j» acharão as noticias que se pretendião. » Muito de mais, e muito de menos se sabia no tempo em que o Autor da 2o8 Memorias da Academia Real da Catastrophe escrevia : rr.ais do que isro devia saber o Conde de Castello Melhor , pelos documentos da Tor- re do Tombo, e por outros inéditos que tinha em sua casa , alguns dos quaes tenho allegado nesta Memoria. Passou-se Carta d' Escrivão da puridade ao Conde cm 2 1 de Julho de 1662, e deu-se-lhe Regimento cm 13 de Março de 1663. Estes documentos achao-se por extenso nas Provas da Historia Genealógica (i). Na Car- ta: « Attcndendo ElRei aos merecimentos do Conde, e „ a que os Reis seus Predecessores tiverao sempre hum ,, Ministro, a quem chamavao Escrivão da puridade^ por j, cujas mãos e direcção corrião os maiores negócios do „ Reino , fiando-os do seu segredo, amor, e juizo : ha , por bem de lhe dar aquellc OfEcio , para o ter e lo- j, grar , e assim e da maneira que o tiverão as pessoas , „ que o occupárão, e melhor, se melhor poder serj com „ toda a jurisdicção , prerogativas , graças- e liberdades „ e franquezas que ao dito posto competem , e compe- j, tirão nos tempos passados* e com o ordenado, próes, „ e precalços que direitamente lhe pertencerem e com- j, petirão sempre. „ No Regimento referem-se as seguintes preeminên- cias c deveres dos Escrivães da puridade: <íi."NasCor- ,, tes e Juntas geraes dos Três Estados fiirão scuOfficio, „ como o fizerão as pessoas que o tiverão nos reinados j, passados: tomarão os juramentos de obediência e fide- „ lidade aos que nellas são obrigados a jurar, e por sua j, via se darão todas as ordens que para este acto forem ,, necessárias. Assistirão também aos actos e juramentos j, prestados pelos Estados aos Reis, ou aos Principes soc- ^, cessores do Reino ; e aos actos públicos de maior so- „ Icmnidade, e nos recebimentos dos Reis, enterros, e exe- ., quias das Pessoas Reacs , tomando lugar immediato a „ El- (1) Tom. 5. DAS SciENCIAS DK LiSBOA. 2O9 „ ElRci da parte cm que assistem os Officiaes da Casa; „ e sendo titulo, ElRci o mandará cubrir. >» 2." Expedir sc-hii pnr sua ordem e Officio todi a „ correspondência d' ElRei com outros Frincipcs e Esta- „ dos , cm matéria de paz , tregoas , ou guerra , contra- „ ctos , casamentos, allianças, instrucçoes , avisos publi- ,, cos ou secretos, que se derem a quacsqucr Ministros „ ou Agentes , que se despacharem dentro ou fora do „ Reino a negócios que toquem ao Estado : todos os j, Regimentos, Ordens, e Cartas que se houverem d'es- „ crevcr aos Reis , e aos Governadores das Provincias e „ 1'raças Ultramarinas, para o bom governo delias : man- „ dar Exércitos ou Armadas , assim para os mares do ,, Reino, como de fora : e finalmente tudo o que pertcn- „ cer ao Estado d'esta Coroa. „ 3.° Correrão por sua conta os provimentos dos Vice- „ Reis e Governadores assim das Provincias e Praças do ,, Reino e do Ultramar , Generaes das Armadas , Almi- j, rantes , e todos os Officiaes grandes de paz e guerra , „ como são os Presidentes dos Tribunaes, Conselheiros , j, Secretários , e Escrivães dclles, Desembargadores, Mi- „ nistros da Camará de Lisboa, e quaesquer outros de ,, igual poder e jurisdicção : criações de Titulos, nomea- „ ções de Bispados c Prelazias, Officiaes da Casa Real, „ lugares do Santo Officio , Reitor e Cadeiras da Uni- „ versidade de Coimbra : E tomarão os preitos e home- „ nagens de qualquer Governo, Fortaleza, ou Capitania: „ E terá em seu poder os Sellos Rcaes, e os Livros das „ homenagens. „ 4/ No recebimento dos Embaixadores ou Enviados „ dos Principes ou Republicas que a este Reino forem man- „ dados , assistirão também ^ como pessoa por cuja mão „ hão de correr as propostas , e repostas das Embaixadas. „ f.° As Consultas de todos os Tribunaes e Conce- „ lhos virão á sua mão, e depois de vistas as communica- „ rã a ElRei para com elle as despacliar. Tom. XII. Dd „ 6: í> 210 Memorias da Academia Real „ 6° Todas as Petições que se derem a ElRei ern j, audiência, lhe scrao entregues para as remctter aos Tri- jj bunaes a que tocarem, ou as dar aos Sccretjrios rcs- „ pectivos, quando houverem de ser despachadas na pre- j, sença d' ElRei. ,, 7.° Assistirá com ElRei á assinatura de todos os pa- peis; e postos os despachos nas Consultas e Petições, ,, lhas entregarão os Secretários para ElRei as assinar, e depois as enviará aos Secretários, para que as remettão yy logo aos Tribunaes a que tocao , e dem ás partes o „ despacho de suas Petições. „ 8.° Em todas as Cartas que se fizerem em nome ,, d' ElRei pelas Secretarias d' Estado e Expediente , ou „ sejão para o Reino , ou para fora , porá sua vista ; c „ assim mesmo nas Instrucções e Regimentos que se de- rem aos Embaixadores e Enviados. „ t)." Os votos que derem por escrito os Conselhei- j, ros d' Estado para as mercês que ElRci houver de fa- „ zer, hâo de se remetter á sua mão, para oe levar a des- „ pacho; e do que ElRei resolver fará aviso aos Secre- „ tarios , para estes o fazerem saber aos agraciados. „ io.° A's ordens que remctter em nome d' ElRci , j, debaixo do seu sinal se dará inteiro comprimento nas" „ Secretarias e Tribunaes , ^or ser o Escrivão da puridade ;„ buma voz Nossa. „ 11." Sem embargo de qualquer Regimento em con- „ trario terá entrada para chegar á presença d' EiRei, em „ qualquer casa e lugar em que esteja, posto que seja I „ em sua Camará. ■ „ 12.° Terá com este Officio o ordenado e propinas ^ „ que levão os Vedores da Fazenda: o que bc entenderá „ também nos mais Tribunaes e Concelhos em quanto „ ás propinas; e estas serão na forma que as levão os „ Presidentes, por assim se haver praticado com os Es' „ crivães da puridade passados. ,, Tacs forão OS . deveres e as prerogativas do ultimo Es- DAS SclENOIAS DE LiSBOA. 311 Escrivão da puridade : elles forao mais amplos talvez do que os concedidos aos seus antecessores, mas mui seme- lhantes a elles. E não deixarei de notar cjuc ncUcs não se incluía a Presidência no Desembargo do Paço, e nos ou- tros Tribunaes. Em quanto ao mais , a ampliação destes poderes procedeu sem duvida das diversas circunstancias que occorrião na pessoa e reinado de D. Affonso VI. Tam- bém hc certo que nenhum Ministro era mais digno de os exercitar : mas este cxercicio durou pouco tempo. O Conde vendo coUigados contra si hum grande numero de invejosos, e inimigos, da mais alta jerarchia, foi obriga- do a evadir-se da Corte e do Reino a 16 de Setembro de 1667 f indo receber em Paizes Estrangeiros as bem merecidas estimações e applausos que no próprio lhe ne- gavão. Dois mczes depois foi ElRei constrangido a fa- zer desistência do Reino na pessoa do Infante D.Pedro, seu Irmão. Assim acabou o Officio d' Escrivão da puridade : as suas obrigações forão distribuídas nos reinados seguintes ao principio pelos três Sectetarios, d' Estado, das Mercês, c Expediente, e da Assinatura; depois do Alvará de 28 de Julho de 173Ó pelos três Secretários d' Estado então criados ; e ultimamente por todos os outros de que se foi compondo o Ministério. Os deveres mais Íntimos que elles cxercitavão junto á pessoa do Rei nos despachos e Concelhos, passarão desde o reinado d' ElRci D.José para os Ministros assistentes ao despacho. Comtudo ainda restava até aos nossos dias hum si- mulacro daquellc Ofíicio nas funcções publicas da Corte , nas quaes hum Secretario d' Estado , que sempre era o do Reino, huma vez que não estivesse legitimamente im- pedido, fazia as vezes d' Escrivão da puridade, como No- tário publico da Coroa , e da Casa Real. Assim Mendo de Foios Pereira fez o Officio d' Es- crivão da puridade no i.° de Dezembro de 1697 nasí^oi'- tes, cm que foi jurado o Príncipe D.João como h^-rJei- Dd 2 ra dii Memorias ha Academia Real to da Coroa (i). D. Thomaz d'Alnici !a no duto de le- vantamento, e juramento d' EiRei D.João V. no i," de Janeiro de 1707 (2), Diogo de Mendonça , então Secre- tario d' Estado dos Negócios da Marinha, no auto de levantamento d' ElRei D.José O Visconde de Villa No- va da Cerveira no auto de levantamento da Rainha D. Maria I. : o que basta apontar para exemplo. Tenho concluido esta Memoria, que ofFercço á Aca- demia, sem me lisongear de ter feito huma obra comple- ta: para isto seria necessário ter outros auxilio", que não tive , e consultar outros muitos Livros , e Docunienros inéditos, que não estavão ao meu alcance: mas n' hiinia matéria tão pouco e tão mal tratada pelos nossos Físcri- tores , aquelle que diz mais do que elles, e com melhor critica, merecerá talvez algum louvor, e pelo menos be- nigna desculpa.' (1) Hist. Gen. (2) Jíísí. (ien. Liv. 7."» DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. '" II3 ^1 A P P E N D I X 1." Copla tirada da Torre do Tomho. Dom AflFonso &c» A quantos esta Carta virem fa- zemos saber, que nós consirando os muytos serviços que lopo afFonso tem feitos aos Senhores Reis meu avoo e padre, cuja alma deos aja, e cujo criado foy, E eSO mesmo que fez a nds, E esperamos que nos taça ao di- ante; E confiando da sua gramdc bomdade c lealdade e descripçom que o fará bem, e como compre a nosso ser- viço , E ao bem do povoo. Tecmos por bem, e fazem )- lo noso scripvam da puridade , asy e pela gisa que o era nuno martins da silveira em vida delRei meu Senhor e padre que deos aja. E queremos que ell dito lopo af- fonso tenha com o dito oficio todollos encarregos e abro- ridades, e scripturas, e prooes, e dereitos que teverom , e ouverom os outros scripuaaes da puridade, que ante eí forom dos ditos Senhores Reis meu avoo , e padre , que deos aja , e ora cl tem : e eso mesmo quaaes quer outras cousas que pertencer posam ao dito oficio ; e que tam- bém aja, e posa aver, e gouvir de quaees quer previle- gios, e liberdades, e franquezas, e eixençóes que per di- reitos e leis, c hordenações lhe som outorgados, e dcvern davcr os que tal oficio tem: e mandamos que lhe sejam gardados em todo pela gisa que em eles he conteúdo , por que asy he nossa merece sem outro enbargo, O qal presente nos jurou que bem e lialmente nos servise em o dito oficio , e guardase os segredos e cartas que lhe mamdasemos , e com Rezom forem pêra guardar. E cm testemunho jiesto por sua garda lhe mandamos dar esta no- ^14 Memobias da Academia Real nosa carta: dada em a cidade de cojnbra primeiro dia de inayo, per autoridade do Senhor Jfantc dom pêro Regen- te , &c. pêro de lixboa a fez , Anno do Senhor Jczus Christo de mill quatro centos e quarenta e cinco. Está conforme. ^osé Manoel Severo Aureliano Basto. A P P E E D 1 X a.* Copla dò mesmo Real ArcMvo, Dom Jòam &c. Faço saber que dom migcll da syl- Ua, do meu conselho, me apresentou huma carta delRey meu Senhor e padre, que santa groria aja, da quall o teor tall he como se segue. ::í dom manuel por graça de deos Rcy de purtugall e dos algarves daquem È dalém maar em africa senhor de guine , e da comquista, navegação , comercio de tiopya, arábia, persya, e da Imdia , a quan- tos esta nosa carta virem fazemos saber, que comsyrando nos aos mui grandes e mui continoados e estremados ser- vyços que temos Recebidos do conde de portalegre &C. e como sam dinos de por yso Receber de nos e asy seus filhos toda honra, mercê, e acrecentamcnto, querendo nys-v to em alguma parte lho agalordoar, como a nos cabe fa- zer aos que nos bem servem , e por lhe fazermos mercê e asy a dom migell seu filho, temos por bem e por esta prezente carta fazemos ao dito dom migcll seu filho es- cripvão da poridadc do princepe meu Sv:b .; todos muito amado e prezado filho^ com todollos podcu s^ soperiorida- de, DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 215' de, pryemyncncias , autoridade , mnndo , homras , graças j privilégios, e todas outras cousas que ha o dilo oficio dcscripváo da poridade pcrtcmcem , e Como tem o noso scripuam da poridade, c sempre o tiucram os scripvaes da poridade dos Reis, e princepes destes Rcynos que an- te nos foram , e asy mesmo com aqucUa temça e foros que ao dito oficio descripuam da porjdade sam ordena- dos , e que sempre ouueram os scripvaes da poridade. Porem Ilie mandamos diso dar esta carta per nos asyna- da e asclada do noso scllo, pella qual ao dito dom mi- gell fazemos asy scripuam da porjdade do dito primcipe meu filho como dito hc : e dagora pêra aqueile tempo em que ho dito oficio ouuer de começar de seruir, o ave- mos por esta carta metido em pose dele , sem pcra elle lhe ser mais necessário outra autoridade : e Rogamos e cmcomendamos e mandamos ao dito primcepe meu filho que por seu scripvam da poridade o Receba e aja, e elle servirá e usará do dito oficio em todo e per todo asy entciramente como por bem delle o deve fazer ; e man- damos aos scripuâes da camará do dito princepe meu fi- lho que lhe obedeçam e acatem como o elles devem fa- zer: e elle dito dom migell quando for tempo de e dito oficio seruir, fará juramento que bem e verdadeiramente o serva , guardando o scruyço do princepe meu filho , e fazendo o que deve. Dada em a villa de simtra a vinte c três dias do mes de setembro. António Carneiro a fes, anno de noso Senhor Jczus christo de myll quinhentos e dois. =; E junto do synall grande do Senhor Rey meu padre cstauam humas regras scriptas de sua mão , que dizem =2 esta valerá como se fose aselada , =5 e abaixo o seu synall pequeno. Pedindome o dito dom migell por mercê que lhe mandase dar mynha carta do dito oficio de meu scripuam da poridade , por lhe pertemcer e ser seu por bem da dita carta do dito Senhor Rey meu padre , e vagar por .seu falecimento ; e vendo eu a dita carta esguardando os mujtos servyços que o dito dom mi- gell ii6 Memorias da Academia Real gell lhe fez em corte de Roma, homdc o enviou por seu embaxador, c asy a my depois de seu falecimento, e como he Rezam de por yso lhe fazer mercê, e por esperar e confiar dcllc que no dito oficio e em todas as outras cousas de que ho encarregar me seruirá com muj Imtei- la fielldade, e como em tall caso se Rcquere e o deve fazer, e me dará de sy toda boa comta c Recado, e por folgar de lhe fazer mercê , tenho por bem e lhe dou fa- ço mcrcc do dito oficio de meu scripvam da porydade asy e pela guisa e maneira, e com aquelles poderes, so- prioridades, priminencias, autoridade, mando, honras, gra- ças , privilégios , mercês , franquezas , e todas as outras cousas que ao dito oficio de scripvam da poridade per- tencem ; e como todo rinha e de todo vsaua dom Antó- nio que foy scripuam da porydade do dito Senhor Rey meu padre, e como sempre o tivera e serviram os scri- puaes da poridade dos Reis meus antecesores , e milhor se elle com direito o milhor pode servir e delle vsar. E com a temça , foros, percallços, direitos, e Imtercses que sam ordenados ao dito oficio e avia o dito dom an- tonio, e sempre ouueram os scripuaés da poridade. E por esta carta o ey por metido em pose do dito oficio sem mais outra autoridade nem mandado. E mando aos scri- puaés da minha camará e a todos os outros oficiaes e pessoas a que esta minha carta for mostrada, e o conhe- cimento delia pertencer, que daquy em diante o ajam por sciipu.im da minha poridade , e lhe leixem servir o di- to oficio e usar delle , e lhe obedeçam e lhe acatem e cumpram, todo aquello que por bem de seu oficio devem comprir e guardar, e como a meu scripuam da porida- de o devem fazer sem duvida nem embarguo algum que a cllo ponham; o quall dom migell jurou na minha chnncellaria aos samtos evangelhos que bem e verdadei- ramente e como deve hobrc e use do dito oficio, guar- dando a my meu seruiço , e as partes direito c justiça. Dada na mynha vylla dalmeirim a xbj dias de novembro. Bcr- DAS SciENCIAS DE LiSBOA. 2t7 Bcrtolameu Fernandes a fez , ano de nosso Senhor Je^us Christo de mill e quinhentos e vinte e cinco. Está conforme. ^osé Manoel Severo ^retiano Basto. Appendix 3.* Copia do mesmo Real ArchivOé Dom Phylippe &c. Faço saber aos que esta minha carta virem , que avendo eu Respeito aos muytos e muy continuados serviços que miguei de moura do meu con- selho destado fez a elRey dom João meu Senhor, e aos Senhores Reis dom Sebastião e dom Henrique, meu so- brinho e tio, que santa gUoria aja, e a mim, e a seus muytos merecimentos e callidades, pellos quais Re<«peyros dcuo com Razão folgar de lhe fazer honra e mercê con« forme á muyto boa vontade que por clles lhe tenho, es- perando delle que todos os cargos e cousas de que o encarregar e lhe cometer me servirá a tanto meu con- tentamento e satisfação como sempre os ditos senhores Reis e eu delle tivemos; me praz e ei por bem de lhe fazer mcrce do oíficio de meu escryvão da purydade, assi e pello modo e maneira, e com aquclles poderes, supe- riorydade, prchcMninencias , autorydade, Honrras, graças, priuilegios , mercês e franquezas, e todas as outras cou- sas que ao dito officio descryvão da purydade pertencem, com que sempre o tiverão e servirão os escrivães da pu- ridade dos Reis meus antecessores, e milhor se elle com direito milhor o puder ter e servir, e delle uzar, e com Tom. XII. Ee a 2i8 Memorias pa Academia Real a tença , foros, prccallços, direitos, e Jntcrcsscs que sáo ordenadas -AO dito officio : e por esta minha Carta o cy por metydo em posse dellc, c mando a todos meus cffi- ciaes e pessoas a que o conhecimento delia pertencer que o ajao por meu escrivão da purydadc , e lhe obede- ção c acatem , e cumprão, e guardem tudo aquillo que pêra bem do dito officio dcuem cumprir e guardar, e co- mo a meu escrivão da puridade o devem, e são obriga- dos fazer: e elle Jurara em minha chancellaria aos santos evangelhos que bem e verdadeiramente, e como deve use do dito Officio, guardando a mim meu serviço, e o di- reito das partes : e por firmeza de tudo lhe mandei dar esta Carta por mim assinada e seliada do meu sello: da- da na cidade de lisboa a quinze dias do mez de dezem- bro. Lopo soares a fez, anno do nascimento de noso Se- nhor Jezus Christo de mil quinhentos e oitenta e dous. Está conforme. ^osé Manoel Severo Âtireliano Basto. MEMORIAS DA ACADEMIA. CLASSE DE SCIENCIAS NATURAES, J B 3 A ó JL'ÍV>\ si i OBSERVAÇÕES PARA SERVIREM PARA A HISTORIA GEOLÓGICA DAS ILHAS DA MADEIRA, PORTO SANTO, E DESERTAS. OFFEKECIOA3 t A ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA POR Luiz da Silva Mousinho d' Albuquerque, Archipelago âa Madeira, A. .s Ilhas da Madeira , Porto Santo , e Desertas for- mão um pequeno archipelago comprehendido entre os parallclos de 33° j' e 32° 2j' de lat. boreal, e entre os meridianos de 17* 20' e 16° 15-' de longitude occidental do Observatório Real de Greenwich ; correspondendo as- sim proximamente ao Cabo Gantim no continente d' Afri- ca , do qual dista 354 milhas com pouca differença. Tom. XII, X £.v. a Memorias da Academia Real *~ Extensão , e perímetro da Ilha da Madeira. A Ilha áa Maácira, a principal do Archipclogo, c cuja Capital a Cidade do Funchal situada na sua Costa me- ridional está cm 32° 37' 42" de lat. boreal, 16" 55' 42" long. Occidental de Greenwich, tem no seu maior comprimen- to , desde a Ponta de S. Lourenço até d Ponta do Pargo na direcção O. ^ N, proximamente 44 milhas, e 14 a ly milhas na sua maior largura , tomada entre as Pontus de S. Jorge e Cabo Grajão na direcção sensivelmente N. a S. A partir da Ponta do Pargo corre a Costa meridio- nal da Ilha da Madeira ao S. E. até á Ponta do Jardim , apresentando nesta extensão algumas pequenas baixas, e penedos mui próximos á mesma Costa , particularmente diante do Paul do Mar , e do mesmo Jardim. Segue de- pois a Costa a direcção de E. S. E. até á Ponta do Sol , e dali ate á Ponta da Cruz , a mais meridional da Ilha , corre na generalidade, e prescindindo das sinuosidades, e pontas menores, na direcção E. S. E. j E. Da Ponta da Cruz até ao Cabo Grajão, onde se acha a bahia do Fun- chal, he a direcção ,da Costa proximamente E. ^ N. , c passado este Cabo , e até á Ponta dos Picos d'Aralaya torna-se esta sensivelmente E, N. E. , e dali até ao Cani- çal na origem da Ponta de S. Lourenço hc a mesma di- recção geral da Costa N. N. E. j E. Partindo da Ponta do Pargo para o N. começa a Costa por correr primeiro na direcção de N. E. até á Pon- ta de Tristão, onde principia a Costa Scptentrional da Ilha, dirigindo-sc pi-oximamente a E. S. E. até S.Vicen- te, e dali tomando a direcção E. N. E. até á Ponta de S. Jorge, donde volta á direcção gcral de S. E. até ao Porto da Cruz , quasi na origem scptentrional da Ponta de S. Lourenço , a qual termina a Ilha na sua extremi- dade oriental , estendcndo-se para o mar com huma mui DAS SciENCiAs DE Lisboa. j pequena largura por espaço de três milhas proximamen- te, c na direcção de O, a E. O mar hc profundo e limpo d'escóIhos em quasi toda a sua extensão; cxccptuando^sc tão somente: i.' a parte rcintrante da Costi do N. onde ha alguns baixos e rochedos ilhados , entre os quaes sobresahem o Ilhco da Ribeira da Janclla , e o Ilhco e baixo do Porto de Moniz; 2/ a Ponta do Pargo, onde se estende ao mar hum baixio, sobre o qual a vaga rebenta com ventos medíocres , obrigando os barcos a afastar-se considera- velmente da terra para dobra-la ; 3.° O Ilheo do Gorgu- lho , Baixa do Carneiro, e Ilheo fortificado nas visinhan- ças do Funchal , e finalmente a extremidade da Ponta de S. Lourenço , circumdadas d'alguns rochedos ilhados , e pequenos cabeços de rochas, que as agoas cobrem. Configuração do terreno da Madeira» A Ilha da Madeira apresenta no sentido do seu maior comprimento huma elevação geral , ou massa de montanhas consideravelmente levantadas em quusi toda a sua extensão, e sobre a qual sobresahem diversos picus, c cristas, estreitas , que marcão , por assim diior , a sua linha culminante, determinando geralmente a pirtilha das agoas entre as Gostas meridional e septentrional da Ilha. Esta serrania principal he quasi toda irregular, sinuisi, e cortada profundamente pela maneira a mais variada ; sendo a partilha das agoas determinada muitas vezes por cristas de huma insignificante espessura , terminada do N. eS. por precipícios profundos, e formando assim, como paredes divisórias. A única planície hum pouco extensa delle , que se encontra no cume destas montanhas , he o denominado Paul da Serra , que fica por cima de parte da Frcguczia de S, Vicente , c das Freguezias do Seixal , e Ribeira da Janella na Gosta do N. , e Ponta do Sol , Canhas , c Arco da Calheta na Costa do Sul. Esta pla- z ii ni- 4 Memorias DA Ac ADEMiA Real nicie acha-se, segundo Bowdich, (Exairsiotts in Madeira and Porto Santo) era $'.1$^ p^ís d'altuia acima do nivel do mar. O cume mais alto das montanhas da Madeira he a sumidade do Pico Ruivo , situada proximamente no cru- zamento do parallelo da Ponta do Pargo com o meridia- no da Ponta da Cruz; a sua altura , segundo Bowdich, (obra supra citada) he de 6:164 pés pelo resultado de hu- ma observação barométrica por elle feita; e de 6:303 pés, segundo huma determinação trigonométrica por clle pra- ticada; mas na qual entra hum elemento de distancia ho» rizontal , que me não merece a precisa confiança. Os vertentes da Serrania da Madeira para o lado do N. são geralmente muito mais abruptos que para o do S. , e por esta razão as escarpas da Costa muito mais ele- vadas, e aprumadas em muito maior altura na primeira que na segunda das ditas Costas, o que, junto á raridade das praias , das enseadas , e aos ventos dos quadrantes do N. , que na maior parte do anno soprão com violência nestas paragens , tornão a referida Costa do N. da Ma- deira totalmente inhospita para os navios, e difficilmente abordável , e pouco segura para os barcos ; tendo apenas dois portos de refugio contra o tempo, hum no Porto de Moniz , e o outro no Porto da Cruz. Abordada pelo N, a Ilha da Madeira apresenta ao Navegante um aspecto em extremo magcstoso, e d'uma bellcza severa ; desenvolvendo aos seus olhos pela longa extensão da Costa as suas gigantescas escarpas de côr es- cura , á maneira d'uma muralha immensa, na base da qual rebentão as ondas d*um mar quasi sempre levantado; mu- ralha , que coroa na parte superior uma verdura copada e viçosa, devida á frescura, e methodo de cultura seguido naquellas partes da Ilha, cuja producção principal consis- te em vinhas altas , sustentadas sobre arvoredo. Acima desta cinta inferior apparecem as alturas successivas do terreno subindo rapidamente até aos cumes centraes ; cu^ mes DAS ScIENCrAS DE LiSBOA* J nics calvos, descarnados, e cortados variadamente por um multiplicado numero d'cxcavaçoes, e ravinas, tudo inter- rompida pelas nuvens, que ordinariamente repousão á al- tura de meia montanha , c verificando a paizagem a côr ora avermelhada, ora denegrida das rochas pyrogeneas, e a verdura intensa da vegetação, tudo alumiado pela luz brilhante d'um Sol meridional. Os vertentes para a Costa do N. e as escarpas gi- gantescas da mesma Costa sâo profundamente rasgadas até ao nivel do mar pelas agoas , que reunidas no inver- no em ribeiras , se prccipitão dos cumes da serrania cen- tral ao longo da rápida inclinação dos declives do Nor- te , descendo pela maior parte quasi perpendicularmente á direcção da Costa. Destas ribeiras são as principaes a do Porto da Cruz, a do Faial, a de S. Jorge, e a de São Vicente, a da Ponta Delgada, a do Seixal, e a da Janella. A serra decliva ( como dissemos ) para a Costa da Ilha da Madeira mais suavemente que para a do N.itte ; donde resulta serem os terrenos deste lado um pouco mais assentes , que no ladt) opposto, e as escarpas sobre o mar geralmente menos altas, e menos aprumadas, excepto nas extremidades dos maciços ou contrafortes , que da mon- tanha central se estendem sempre elevados até ao mesmo mar, e que deixao entre si valles, ou antes bacias quasi semi-circulares, cheias de montículos, e assentadas mais baixas ; e como são entre outras a bacia do Funchal , e Gamara de Lobos , entre as alturas dos Cabos Girão e Grajão, o arco da Calheta, os Terrenos de Santa Cruz, o Valle e Bahia deMachico, etc. A' mesma causa se de- ve também serem as ribeiras, que correm para o Sul, mais compridas, e mais sinuosas do que as que se dirigem pa- ra o Norte. A Costa do Sul tem também mais enseadas, e lu- gares de desembarque do que as do N. e N. O, , o que junto ao abrigo, que contra os ventos dominantes produz a massa geral da Ilha, faz com que os navios e os bar- cos i6 Memorias DA Academia Rea L cos encontrem nesta Costa a segurança c abrigo que a ■do Norte lhes nega. Assim na 13ahia do Funchal, entre os Cabos Grajão c Ponta da Cruz, lundeao os navios cm plena tranquillidade, e segurança com todos os ventos, que não sejao os dos quadrantes desde o S. O, até ao S. E. pelo S. As encostas da Ilha da Madeira sáo porem, em ge- ral, tão inclinadas, e mergulhão no mar tão rapidamen- te, que não ha na Costa nem praias extensas, nem bai^ xos prolongados; e as praias que existem são formadas inteiramente de penedos, e calháos rolados, mais ou me- nos grossos, e destituídos quasi completamente de aiêas ou detritus d'um grão miúdo. Cortão a Costa do Sul, bem como a do Norte, Ri- beiras amiudadas , c profundamente encaixadas no terre- no ; as quaes secas, ou quasi secas no Verão, tomão no Inverno grande copia d'agoa , cuja densidade, augmenta- da pelas terras e pedras, que o seu rápido declive lhes pevmitte arrastrar , lhes dá a força suíficiente para pro- duzirem amiudadas vezes estragos consideráveis. As prinr cipaes Ribeiras da Costa do Sul são, Ribeira de Machi- co , que desce das vizinhanças da Portella do Porto da Cruz (garganta da Serra central) a Bahia de Alachico , Ribeiras de Santa Cruz , Ribeira do Porro Novo, Ribci^ ra do Caniço. Três Ribeiras da Cidade do Funchal , Ri- beira dos Soccorridos, que nasce na base das Torrinhas, passa pelo Corral das Freiras , e entra no mar a E. da Camará de Lobos, Ribeira Brava, Ribeira d'Atalaya, Ri- beira da Ponta do Sol, Ribeira da Magdalena , Ribeira da Calheta , Ribeira dos Marinheiros. Alem destas Ribeiras principacs d'uma e outra Cos- ta , ha muitas outras , que descem perpendicularmente ^0 mar, c que juntamente com as affluentes das primei- ras, rasgão a superfície do Solo em todas as direcções, e dão ao paiz uma irregularidade, e uma aspereza , que tomão o transito de summa dificuldade. Mas DASSCIENCIAS DE LiSBOA. J Mas se por uma parce estes cortes amiudadas, e re- petidos, pr>)tundos, c gcialmcnte fragosos empecem o caminho do viajante j por outra apresentão aos seus olhos, e á sua imaginaçáii as formas , os sitios , e as paizagens as mais pitorescas; descobrindo-ihe umas vezes cumes, csc;upas , c precipicios d*uma grandeza, e magcstade as- sombrosa , c terrivcl ; outras valles e retiros d'uma bel- Icza amena , e d'uma graça e variedade , que pôde díf- ficilmcnte ser igualada, mas não excedida; e se a mão deva^radora , e imprevidente do homem não tivesse des- pojado a quasi totalidade dos monces, e das encostas da sua antiga , c rica verdura , sem a substituir por novas plantações ; a Ilha da Madeira fora sem duvida um dos paizes mais formosos , e mais agradáveis do Universo. Odiando deixadas as sinuosidades dos Valles, e as bordas das torrentes , se sobe aos cumes, e ás partes ele- vadas das montanhas , a Ilha da Madeira apresenta a ca- da passo vistas extensas, e variadas, cuja descripçao ex- cede as forças da eloquência, e da poesia, c das quaes nem o lápis do paizogista, nem o pincel do pintor po- dem dar mais que uma mui imperfeita idea ; assim tam- bém he mister para aprecia-las ter visitado as alturas da Senhora do Monte , as Gargantas dos Picos sobre o Cor- ral das Freiras, os desfiladeiros que conduzem ao Jardim da Serra , a Portella do Porto da Cruz , a Lomba entre Santa Anna , e a Ribeira de S. Jorge, o Cume das Tor- rinhas , e do Pico Ruivo , e outras posições singulares , que pagão sobejamente a um amante das bcliezas naturaes a fadiga necessária para chegar a ellas. A constituição do terreno, e a presença por toda a parte de assentadas de bazalto em columnas vcrticaes re- pousando sobre camadas de rochas pouco consistentes, amiúda os saltos e ribanceiras perpendiculares nas encos- tas, c com elles torna frequentes as Cascatas c quedas d'agoa nos leitos das ribeiras , dos regatos , e das fon- tes ; entre estas são dignas de particular attençao pela sua bel- S MemoíiasdaAcademiaReal bellcza , e dimensões, as fontes do Rabaçal, a Cnsccta do Paul do marj e a que se acha por cima da 1'undoa nas proximidades do Funchal. Geognosia geral da Madeira. A Ilha da Madeira na quasi totalidnde da sua super- fície, escavações e escarpas, apresenta ao observador geo- lógico uma formação bazaltica , em que o bazalto com- pacto alterna variadamente com conglomerados de natu- reza bazaltica, e contendo fragmentos de rochas j-yio- gcneas , mais ou menos grossas , mais ou menos escori- ficadas , c mais ou menos compactas. Eazaltos. A maior parte do bazalto acha-se estendido em ca- madas de espessuras diversas, geralmente divididas por fendas próximas a' direcção vertical, commummente irre- gulares; algumas vezes porém dividindo-se a camada em prismas polygonaes regulares. A massa do bazalto he ge- ralmente dura, a sua cor d'um cinzento denegrido, a sua textura quasi homogénea, e sem crystaes bem pronuncia- dos, e discerniveis (N. i) (N, 2). Na parte inferior das camadas apresenta-se quasi sempre o bazalto mais ou me- nos escorificado e poroso (N. 3) , e nas fendas verticaes a superfície do contacto das massas divididas acha-se ordi- nariamente alterada, e coberta d'um pó avermelhado, con- tendo uma considerável quantidade de peróxido de fer- ro (N.°* I e 1). Algumas vezes he o bazalto dividido em laminas por fendas parallclas, e toma assim a apparencia das rochas schistosas (N, 4). Distinguem-se frequentemente na massa do bazalto crystaes bem distinctos de Pcridot olivina (N. 4) , e tam- bém o mesmo Péridot alterado tenro lamcloso , ou pul- verulento (N. 5). Os crystaes de amphibolc bem dis- tinctos são muito menos communs nos ba/altos da Madei- ra; achão-se com tudo, e particularmente na Ponta de São Lourenço por cima do Caniçal, bazaltos em que a am- phi- D AS Ser ENci AS DE Lisboa. 9 phybolc , e o Pcridot são dlstinctamentc installzados ; e que constãy quasi unicamente de crystacs destas duis substancias, e à'uma bem pequena quantidade de massa , ou cimento d'apparencia homogénea (N. 6). Além do bazalto cm camadas alternando variadamente com os difF.-rentes conglomerados , apresenta -se este fre- quentemente na Ilha da Madeira em filões , que atravcs- são não só as camadas succcssivas de conglomerados, mas também as camadas bazalticas intermédias. Este modo de estar do bazalto , obscrva-se em multas partes , mas he sobremaneira apparcnte nas elevadas escarpas verticaes , que tcrminao sobre o mar a elevação do Cabo Girão. O bazalto dos filões he quasi sempre dividido cm lami- nas por planos parallelos ás faces do filão , c na nature- za da sua massa em nada se distingue do bazalto das camadas (N, 7). O bazalto da Madeira he pela maior parte nimia- mente duro para ser lavrado em cantaria ; ha porem ca- madas, em que o grão e massa do bazalto são mais gros- seiros, mais tenros, e por consequência se prc.tão ao tra- balho do Canteiro; tal he o bazalto das vizinhanças da Ca* mar.i de Lobos , conhecido pelo nome vulgar de cantarii rija (N. 8) ; esta variedade de bazalto encontra-se também em outros lugares, e delia se faz uso em toda a Ilha pa- ra cunhaes, dcgráos, vergas, e hombreiras deportas, etc. Em alguns lugares, particularmente nos declives vi* sinhos i Senhora do Monte e Trapiche, etc. sobre o Fun- chal, acha-se um bazalto tenro, mollc, e incoherentc, de uma côr cinzenta clara, c contendo o Péridot olivina na mesma consistência tenra , e pulverulenta , assemelhando- sc o todo a uma argilla silicosa. Este bazalto offcrecfi umas vezes a apparencia de massas informes divididas por fendas irregulares (N. 9) ; outras tem a forma globulosa , c dividc-se com a maior facilidade em camadas concên- tricas , cuja disposição he inteiramente apparente á vis- ta (N. 10). Esta rocha parece não ser outra cousa mais Toi». XII, j que IO MeMokias da Academia Real que um bazalto alterado pela acção dos gazes, c vapores; hc porém muito para notar o achar-se elle intercal^ido entre rochas compactas , e duras, sem vestígio algum de alteração ; o que só se pode explicar ou pela direcção do transito dos vapores atacantes , ou por um pcriodo parti- cular de formação. Os bazaltos da Ilha da Madeira ofFerecem frequentes vezes nas suas cavidades internas a mezotype crystalliza- da (N. ii), e bem assim se encontra nelles com frequên- cia a aragonite íimas vezes mamelonacea ou emereciona- da (N. 12), outras vezes crystallizada em agulhas delga- das, porem tão ténues, que he diilicil determinar a va- riedade a que pertencem (N. 13). Encontra-se finalmente o bazalto no interior dos con- glomerados umas vezes ém "fragmentos angulosos c irre- gulares, outras vezes em fragmentos rolados, roas idên- tico na sua massa e textura, como as variedades anterior- mente dcscriptas ; outras vezes porem apresenta-se intei- ramente celluloso , e como cariado ( N. 14); outras em fim toma a forma globulosa, e a textura em camadas con- cêntricas (N. 15); este bazalto globuloso he muitas ve« zes tão abundante no conglomerado , que os globos to- cão-se, e constituem quasi per si sós a totalidade da ro- cha. A grandeza dos globos varia desde alguns pés de diâmetro até á grossura do punho. O bazalto nas suas assentadas, e na sua juncção com os conglomerados apresenta amiudadas vezes fendas , c cavernas ; e nestas se encontrão matérias heterogéneas ; as- sim se acha cm muitas partes a aragonite emerecionada , c crystallizada na superfície, c nas fendas do bazalto, que forma as paredes, as abobedas, e os fundos destas esca- vações ;'e na Ponta do Sol em huma cavidade se acha èm abundância o ferro olygisto especular (N. 16), e o mesmo ferro olygisto especular com aragonite (N. 17). Conglo- Os conglomerados que, como fica dito, altcrnão con- jnerados. tinuamcnte com as assentadas de bazalto, e são atravessa- dos »AS Sctkwcías DE LiSB0A« :/ ÍI Bos paios filões- daquella rocha , constituem a maior par- te da massa das montanhas, como he fácil de ver, tan- to na superfície do- terreno, como nas escarpas das cavi*. dadcs do interior , é nas Costas da Ilha. Todos os conglomerados da Ilha da Madeira tem entre si uma grande similhança , não só porque em to- dos ellcs se encontrão fragmentos constantemente perten- centes a rochas pyrogeneas , mas até porque quasi todos contêm fragmentos das mesmas variedades de rochas, li* gados e aglomerados por uma maneira muito análoga, e d'um aspecto muita similhanto ; cóm tudo estes conglo- merados tem entre si differcnças, e alguns delles parecem ter caracteres distinctivos d'uma formação aquosa ; e em quanto outros podem, quanto a nós, ser exactamente con- siderados como o producto de erupções lodosas , e por conseguinte podem ser olhados como partindo dos mes- mos focos , donde podemos imaginar provindas as assen- tadas bazalticas. O conglomerado mais frequente e o mais abundan- te da Madeira he aquelle em que se encontrão os globos de bazalto, que atraz ficão descriptos, e que varião em quantidade desde o ponto de constituírem quasi sós a massa do conglomerado, até apparecerem áquem e á\cni isoladamente nelle. Alem dos globos de bazalto, encer- ra este conglomerado fragmentos angulosos , c irregula. rcs de bazalto compacto , e de bazalto mais ou menos celluloso e carcado. A quasi totalidade das montanhas da Camacha , Santo António da Serra , as Encostas da Paul da Serra tanto para o Sul , como para o Norte , as terras altas do Porto Moniz, e Ponta do Pargo, etc, apresentão por toda aparte camadas poderosas deste con- glomerado , que alli constitue a camada superior , e for- nece o terreno arável. Este conglomerado pela sua alte- ração superficial produz terrenos vermelhos , tenazes , e pruductivos, nos quaes a vegetação prospera muito quart- 2 ii do \i MEMoniA.s nA Academia Real do a sua dureza pôde ser contrabalançada , e vencida pelos regadios frequentes na estação calmosa. Apoz este conglomerado , o que nos parece mais abundante na Ilha hc o que chamaremos conglomerado scoriaceo; por isso que consta quasi inteiramente de sco- rias mais ou menos duras , mais ou menos leves , c mais ou menos vitrificadas, de cor geralmente vinosa ou ro- xa , e apresentando a cada momento os vestigios da sua fluidez, ianca. Tal he o conglomerado que constitue o Pico de S. João , e alguns outros Cabeços na Frcguczia de Santo António ao N.O. do Funchal (N. a8). Ao mes- mo conglomerado pertence a poderosa camada, que for- ma o Pico da Cruz e vizinhos ao Oest do Funchal, Pi- co quasi inteiramente formado de scorias leves pososas d'um vermelho escuro vitrificadas , e conservando na su- perficie os mais claros indícios de fusão (N. 19). Em alguns lugares o conglomerado scoriaceo he for- mado de fragmentos muito mais miúdos de scorias , no qual caso a sua consistência e coherencia augmenta a pon- to de poder ser talhado, e trabalhado como cantaria, de qualidade porem sempre inferior , e de pequena duração quando exposto á athmosfera , e sobre tudo ao choque. Tal he a poderosa camada que existe no Cabo Girão , e donde se tira a pedra , denominada no Funchal Cantaria molle (N. jo). Este conglomerado lavravel do Cabo Gi- rão contêm disseminados na sua massa nôdos considerá- veis de scorias duras, vitrosas, e coherentes, cum vestí- gios de fusão na sua superfície (N. 21). O conglomerado (vulgo Cantaria mollc ) do Cabo Girão, he atravessado por amiudados filões de bazalto , e nas vizinhanças e contacto com os filões acha-se muitas vezes o conglo- merado alterado, com uma cor denegrida, e uma cohe- rencia menor que no resto da camada (N. 21). O conglomerado scoriaceo do Cabo Girão hc cober- to por uma camada .d'um outro conglomerado , de grão nnis 1)A's ScienciAs de Lisboa. 13 mais fino, de côr parda mais ou menos clara, disposta em laminas parallclas á direcção da camada, o que lhe dá a apparcncia listrada visto na sua totalidade. Este con-; glomcrado hc mais duro, que o conglomerado scoriaceo, sensivelmente sonoro pelo choque , .e contem fragmentos mui ténues de scorias negras, e amarellas, vitrificadas, e de outras de côr cinzenta clara, assas analogoiS n'appa- rcncia a fragmentos de pomes (N. 23). Este conglomerado acha-se immediatamente debaixo do bazalto , o qual alternando com o conglomerado sco- fiaceo commum, forma toda a massa superior do inesmo Cabo Girão. Encontra-se a aragonite rhamelonacea neste mesmo conglomerado (N. 24). Entre os filões , que em grandíssimo numero cortaq as camadas de conglomerados, e bazaltos da elevada es- carpa do Cabo Girão, existe um, situado a E. da queda d'agoa denominado na Ilha cf Eiró, o qual he muito no- tável pela natureza , e disposição das rochas que o con- stituem. Sobe este filão quasi verticalmente desde o mác a travéz das camadas, tendo na sua secção apparente 10 pés proximamente de espessura, e he formado de duas como paredes delgadas de bazalto , cuja massa nada of» fcrecc de particular ; este bazalto he dividido em lami- nas parallelas ao plano das mesmas paredes, as quaes são também sensivelmente parallelas entre si , e encerrâo e isolâo das camadas adjacentes uma rocha particular, composta de grandes crystaes de Peridot , envolvidos em uma massa de natureza bazaltica escorificada , e com um começo de vitrificação, que a assemelha muito à tra-p chytc. Tanto a massa geral , como os crystaes de Peri-» dot, são permeados de veias de cal carbonata sedosa. Es- ta rocha apresenta á primeira vista a apparencia d'uma brecha formada de fragmentos alternativamente cinzentos denegridos, e amarellos ; tudo com veias brancas, ou es-» branquiçadas; o contorno porem dos fragmentos amurei- los hc sempre um polygono terminado por linhas sensi- velr 14 Mèmouias da Academía Real vclmente rectas (N.« 15^ e i6). Esta rocha, ou este ba- salto porfyrico, tem uma consistência variável, sendo mais dura nas bordas , que no centro do filão , e tanto mais frágil ) quanto nella abundão mais , e se tornâo mais po- derosas as veias de cal carbonatada. O conglomerado commum com glóbulos de bazalto alternando com assentadas de bazalto compacto, cm pris- mas mais ou menos regulares, e atravessado por filões e diques da mesma rocha , constitue , como já dissemos, a maior parte do corpo das montanhas da Madeira, e par- ticularmente as que fido ao N.E. do Funchal, e a E. da mesma Cidade. As charadas dos montes da Camacha, de Santo António da Serra, as escarpas das ribeiras, que cor- tão estas montanhas, as da ribeira de Machico até á Por- tella do Porto da Cruz , apresentão por toda a parte o supradito conglomerado. Encontrão-se nelle veias d'um gráo mais fino, pequenas camadas quasi d'argilla dúctil, e igualmente nodos, e camadas do bazalto incoherente (N.°* 9 e 10). Quando porém se começa a descer da PorteUa do Porto da Cruz para o N. , lugar onde a montanha desce para o mar com uma rapidez considerabilissima, e onde o declive he profundamente cortado por um grande numero de ribeiros e regatos, observa-se que o conglome- rado começa a perder da sua consistência , tornando- se mais argilloso, e ao mesmo passo o bazalto começa a apre- sentar-se como embebido d'um sueco siliceo-ferruginoso , que o torna por extremo duro, de fractura conchoide, e dividindo-se irregularmente por fendas , que parecem cobertas d' um verniz do mesmo sueco siliceo-ferrugi- noso (N. 27). Os fragmentos de bazalto do interior do conglome- rado tem perdido a sua consistência , e achão-se conver- tidos em uma argilla tenra, que se deixa cortar com a fa- ca , e atacar com a unha , por pouco que se ache hume- decida (N. 28). O conglomerado acha-se permeado do mesmo sueco argilo-ferruginoso, que inverniza^ por assim . di- DAS SciENCi AS DE Lisboa. ly láizcr , a superfície dos fragmentos que o compõem , e o que he mais singular, encerra no seu seio crystaes de quartzo-hyalino ( N. 29 ) . Examinando porem attenta- mcntc estes crystaes contidos no conglomerado , acha- se que todos elles são fracturados, faltando-lhes sem- pre um dos cumes do crystal , o que mostra que elles não forão formados no interior do conglomerado, mas que despegados violentamente da sua primitiva posição , forão envolvidos na massa , onde ora se achão no acto mesmo da sua aglomeração. Em toda a parte onde o sueco siliceo-ferruginoso penetra a massa, a consistência do conglomerado torna-se mais considerável, e isto tanto mais, quanto foi mais pe- netrado do mesmo sueco (N, 30). Quando pelo contra» rio o sueco faltou, a consistência diminuio, a massa tor- na-se mais homogénea e mais tenra , e o conglomerado apresenta um veio, em ninho d'argilla (N. 31). -Alguns destes veios argillosos, tal como o que se encontra junto ao ribeiro do Gambão ao pé da crista do terreno deno- minada a Lomba dos Leaes , contém uma considerável quantidade de ferro sulfuretado , a maior parte em crys- taes tenuíssimos disseminados na argilla ; a's vezes porctn em grupos, e crystaes de maiores dimensões (N. 32). Alguns dos conglomerados da Ilha da Madeira tetn (como acima dissemos) um caracter pronunciado de for- mação aquosa , e em quanto uma parte delles , como os antecedentemente descriptos (exceptuando o quartzoso) se apresentão em camadas macissas sobrepostas umas ás ou- tras, mas sem que cada camada apresente uma stratifica- çãó bem marcada ; outros são inteira e perfeitamente stra- tificados, em stratos geralmente delgados, e por fendas de stratificação parallelas ás superfícies da camada. Estes conglomerados stratificados apresentão-se frequentemente nas partes mais baixas da Ilha, e nas escarpas do mar, especialmente nas que limitão as bacias semicirculares ou proximamente taes, que se comprehendem entre os ramos ' ■ . sa? i6' Memorias da Academia Real salientes da montanha central f e ás vezes na extremida- de das pontas. Assim por exemplo , o Cabo Grnjão apresenta na sua extremidade um maciço formado de camadas de con- glomerados perfeitamente stratificados , entre os quacs se nota lima variedade de conglomerado contendo fragmen- tos miúdos de bazalto composto de scorias , e uma gran- de quantidade de pequenos fragmentos de Péridot altera- do , inconsistente, e pulverulento ou terroso (N. 33). Es- ta stratificação he atravessada , e, por assim dizer, corta- da por um filão estreito de bazalto , que apparcce d'um e outro Jado do Cabo , e que mais consistente do que os conglomerados que corta , subsiste em relevo sobre a ponta do Gabo, á maneira d'um muro vertical ; esta pon- ta he aquella a que os navegadores Inglczes dão o nome de Braisen head por causa da sua côr avermelhada , devi- da ao conglomerado scoriaceo vinoso, que entra na sua formação. As camadas dos conglomerados, e as fendas ou planos de stratificação mergulhão nesta ponta para o S. O. , sendo a sua inclinação considerável. Ao Oest da ponta formada de conglomerado sco- riaceo, e de bazalto compacto, denominada a Pontinha, e que termina por aquella parte do Oest a enseada do Funchal , existe uma formação em camadas parallelas, e stratificadas , assas dignas d'attenção, e que , assim como a da ponta do Cabo Grajâo , entra no numero daqucU las que indicão uma origem aquosa. Consiste esta for- mação , a partir do nivel do mar , onde se torna appa- rente, em uma camada de conglomerado stratificado, ou antes em um deposito pouco coherente de pequenos fragmentos de pomes levemente alterada , e amolleci- da ( N. 34), sobre esta camada repousa outra também stratificada d'apparencia também térrea , e de côr dene- grida , a qual he coberta por outra camada formada quasi inteiramente de fragmentos mui tcnues de scorias leves, yitrosas , e de côr negra igualmente stratificadas na DAS SCIENCIAS DE LtSBOA. r tj Pi SU3 espessura , e mais ou menos aglomeradas por ura cimento d'apparcncia térrea (N. 35). Cobre esta camada outra d*um conglomerado de cor parda de aspecto tér- reo, contendo na sua parte inferior muitos fragmentos miúdos de pomes (N. 36), e na parte superior permeado de cal carbonatada grosseira, a qual forma tuna crosta nas fendas da stratificação , e quando adquire maior grossu- ra , apresenta fragmentos de raizes vegetacs petrificadas , c convertidas cm carbonato de cal carregado de silicia (N. 37 e 38). Este conglomerado, com as camadas de calca- reo, e os restos vegetacs calcarco-siliciados, liga esta for^^ mação com as que adiante mostraremos aprescntarem-se cm um perfeito desenvolvimento na Ponta de S. Louren- ço, Ilha do Porto Santo, e terreno immcdiatamcnte so« branceiro á Praia Formosa. Acima deste conglomerado calcarizado existe uma segunda camada de scorias negras incoherentcs em fra- gmentos ténues, e sobre estas uma argilla endurecida de còr vermelha, dividida em prismas pentagonaes de di- versas grandezas, e cujos eixos sãjp sensivelmente perpen- diculares ao plano da camada (N. 39); finalmente sobre a camada argillosa se estende uma ajsscntada d'alguns p<ís de espessura de bazalto compacto dividido cm prismas, e massas mais ou menos regulares. Estas camadas mergulhão para o S.O. com uma in- clinação moderada, occultando-sc inteiramente debaixo de uma espessa camada de bazalto, pouco alem da margem direita do Ribeiro seco, no alveo do qual, assim como na escarpa do mar , se pódc verificar por um longo es- paço a evidente superposição acima relatada. A Praia Formosa, enseada que fica á Ponta da Cruz para o Ocst, aprcsenta-nos igualmente uma succcssao no- tável de camadas, , a, maior parte delias stratifícadas, e cu- ja successãtt,.,be a .seguinte, a partir da p.-írte inferior visivel acima do niycl do JMar. ,^ i." Conglomerado scoriaceo cor de vitíhoy contendo sco- T. Xllf j rias fj Memokias íiaAcademiaIIeal rias, algumas roladas, outras cm fragmentos anguloso», Icvcs , porosas , e vitrificadas (N. 40). 2.° Conglomerado terroso de cor parda com fragmen- tos de pomes alterada semelhante ao do (N. 36). 3." Conglomerado , ou antes deposito stratificado de scorias negras incoherentes, em grãos tenuíssimos, simi- Ihantc ao (N. 35-). 4." Conglomerado stratificado terroso , e negro , con- tendo na parte inferior grande numero de fragmentos an- gulosos de bazalto compacto, e pedaços de bazalto no meio do conglomerado (N. 41). j." Conglomerado duro de côr roxa, grão fino, divi- dindo-se em placas delgadas parallelas ao plano da cama- da (N. 42). 6." Conglomerado terroso de c6r parda mais ou me- nos clara; contendo fragmentos de pomes, stratificado por stratos miúdos , com cal carbonatada no interior das fendas da stratificaçao , cstendendo-se como hum ver- niz nas superficies dos stratos do conglomerado (N. 43). A identidade deste cortglomerado com o das carhadas vi- sinhas ao Ribeiro seco ^c òonseguintemente com a for- mação calcarea da Ponta de S. Lourenço, e do Porfoi Santo he completamente manifesta. Estas camadas mer- gulhão para o S. O. , c na extremidade Occidental da Praia parecem mergulhar debaixo do bazalto; mas tornao a apparecer por partes no meio de diques, camadas, e ninhos bazalticos, que por uma maneira extremamente confusa jazem eiurè as duas formações regularmente i-uif- tificadas, qvc acabamos de descrever, e proseguem alem da Praia Formnsa até encontrar a masSa elevada das altur ras do Cabo Girão. ' ','/ A Ponta de S. Lourenço hc a parte da Ilha da Ma- deira , onde a formação Jo calcarco grosseiro com si- licia aprescntí um desenvolvimento" máis completo, e sé torna por consequência crddara d'um estudo mais parti*^ tular. E A dasScienciasdeLi3hoa. r^ A Ponta de S. Lourenço, que, eomo dissemos no começo da presente Memoria ,, se extende por perto de trcs milhas ao mar na direcção O. para E. com uma mui pequena largura ; he composta d'uma successão de rectos de montes, que parecem haver sido destruídos pela maior parte : e logo que começa a ser mais estreita, pouco de* pois de passada a povoação do Caniçal, apresenta geral- mente os rectos de camadas , que mergulhão para o S. ou S. O. , e que da parte do N. se achao súbita e ver- ticalmente cortadas, formando o corte escarpas quasi ver- ticaes sobre o mar, como se vê (Fig. a). A origem da Ponta, e a maior parte dos montes que it constituem, são formados de assentadas de bazalto, e cama- das de conglomerados, tanto daquclle que encerra globos de bazalto, e que predomina a Ilha toda, como de conglo- merado scoreacio roxo avermelhado; sendo estes conglome- rados atravessados de veios argillosos, que fornecem a me- lhor argilla da Ilha, c com a qual se fabrica telha. No meio destas camadas e assentadas se levantao alguns cumes desta- cados, formados de bazalto columnar , com conglomerado scoriaceo , como v. gr. o montículo da Capella de Nossa Senhora da Piedade. Observao-se também diques mais oa menos espessos, c filões de rocha bazaltica. Na proximidade porem do montículo da Capella a for- mação bazaltica acha-se coberta pela formação de calca^ re<í grosseiro silicioso, inteiramente desenvolvida, e per- feitamente pronunciada: deixando vêr as camadas bazalti- cas sobre que repouza , tanto na Costa do Sul quasi ao nivcl do mar ; como na Costa do Norte a uma altura 3 ii con- ta Memoki AS DA Academia 11 EA L considerável; e o terreno bazaltico que se eleva das partes do E. e de Oest, limita, por assim diaer, a depressão, Talle ou bacia, que se acha cheia por esta formaçiáo. N» parte inferior da formação calcarca apparecc um conglome- rado de fragmentos de rochas pyrogencas com ura cimen? to fortemente impregnado de cal carbonatada (N. 44) , o qual se pôde considerar ou como aglomerado no acto mesmo da formação do deposito calcarco , ou como um conglomerado preexistente , penetrado posteriormente á sua formação pela solução geradora da cal carbonatada. Este conglomerado vai successivamente augmentan- do em matéria calcarca , e perdendo os fragmentos de rochas pyrogeneas, e passa finalmente á cal carbonatada grosseira (N. 45-) , a qual se apresenta sempre com uma stratificação evidentemente marcada, A arêa silicosa começa a penetrar a cal carbonata- da, e bem depressa interrompe o seu tecido, e a faz passar ao estado de folhas, ou laminas alternadas de cal carbonatada grosseira compacta , e cal carbonatada arena- cea , ou silicosa (N. 46). He nesta cal carbonatada silicosa que se encontrão ainda em pé na sua situação natural os innumeravcis res- tos d'uma vegetação anterior. Os restos de troncos, que se reduzem a um ou dous pds acima do coUo das rnizcs , nos individuos menos destruídos , apresentão-se erectos , c coUocados como os que se vêm em um bosque ou mata reccm-cortada ; conservando ainda frequentes vezes o começo dos ramos lateraes ; e o terreno inferior está 'jior toda a parte permeado, e entretecido das raizes mr.is grossas, das da segunda ordem, e- finalmente das capilla* res ténues daquclla vegetação. A m,iteria orgânica dcsap. parecco porem totalmente, e o espaço por ellas anterior- mente occupado, o he hoje pelo suceo aglomerado caK careo-silicoso. Em alguns troncos, e raizes, somente (1 tasca apparecc convertida cm pedra, e o lenho interior offcrecc um vasio completo, ou cheio de arêa incobcrcií- tej nAS SCIENC! AS nELfSBOA. 21 te ; n'outras o lenho acha-sc também transformado, ou antes substituído pela matéria calcarca. Estas plantas sio evidentemente d icotyledoncs , c seria para desijar qiic utn botânico hábil podesse pela apparencia do seu tccii do, c disposiçJo de seus ramos, determinar as espécies a que pertencem (N. 47). A natureza animal deixou igualmente resíduos neSta formação , os quaes pertencem aos mòlluscos. Poucos são os que se encontrão envoltos na parte ainda compacta do calcarco ; porem achão-sc abundantemente á superfície da formação; ç critre estas conchas Mr. Bowdich deter- minou as seguintes : Delphinulia próxima á D. Suleata do Lamarch , varias hélices pertencentes ao subgenero helicostyla de Ferussac (N. 47 a). ; Nas extremidades da formação calcarca, isto he, on- de ella he limitada pela formação volcanica que a ro- dea , e nos lugares onde a formação volcanica atravessa a sua espessura, acha-se uma argilla endurecida com veios de calcareo (N. 48) , e bem assim um grés siliceo-ferru- ginoso d'um grão tenuissimo, e facilmente reductivel a pó (N. 49). Na extremidade da Ponta o terreno tem sido for- temente despedaçado , as camadas deslocadas , e lançadas fora da sua inicial posição, formando montículos, e ro- chedos , alguns dos quaes inteiramente ilhados ; os con- glomerados do resto da Ilha encontrão-se nesta parte , assim como restos de diques, e de assentadas ba/alticas: entre os conglomerados apparece porem um muito notá- vel, e que he formado de fragmentos de rochas p)'ro- geneas com cimento de aragonite lindamente crystalli- zada em agulhas tenuíssimas , principalmente no interior das celluhs, e cavidades do conglomerado (N. 50); a mesma aragonite se acha, tanto mamelonacea , como crystallizada , na superfície, nas cavidades, e nas fendas das massas bazalticas. Na Costa do Norte entre S. Jorge e Santa Anna nas li Memorias daAcademia Rxal nas margens da Ribeira de S.Jorge; ou antes nas írum dos seus affluentes denominado Ribeiro do Tabaco, ap- parece uma camada de lignita negra consistente, c arden- do com huma chamma clara, e vapores acides (N. ji). E^ta iignira repousa sobre uma camada d*argilla endureci^ da , permeada de matéria lignitica , a qual assenta im- mediatamente sobre o bazalto que em uma grossa as- sentada cobre cllc mesmo a camada lignitica. Segundo as observações do Conde Vargas de Bédmar, sábio Dinamarquez, que neste momento visita, e estuda o archipelago dos Açores, e que o mesmo Conde teve a bondade de communicar-me com aquella urbanidade, c amor da scicncia , que sobremaneira o caracterizao , esta camada lignitica parece nao estar na sua posição inicial , mas ter corrido d'uma altura superior até ao seu jazigo actual. • ' •'' ;■ '-.i c-ib ',;, Existe igualmente na Costa do Nofte junto a Sáa Vicente um grande ninho de calcareo branco duro, ic lu- zente , no interior do qual se acha um ninho menor de bazalto dividido em prismas formados de camadas con- cêntricas á maneira de bazalto globuloso , de que atraz temos fallado ; calcareo evidentemente subordinado i for-, mação bazaltica, em que se acha intercalado, c inteira- mennte destituído e separado da formação calcarea , de que fizemos menção, tratando da ponta de S. Lourenço, visinhanças da Pontinha junto ao Funchal , e Praia For- mosa. Poeto San- A Ilha do Porto Santo tem uma constituição intei- *"* ramente análoga á da Madeira , todos os seus cumes , c as escarpas de E. são formadas de rochas pyrogeneas-, bazahos , conglomerados, c outras, entre as quaes se no- ta a roclia do Pico do Castello, que parece ser uma pho- fiolite. Na parte do Oest da Ilha aprcsenta-sc a forma- ção de calcareo grosseiro arenaceo com os vegetaes cal- carizados , que mencionamos na Ponta de S. Lourença, com um grande desenvolvimento, exortada por £lões, e • di- nAS SciENCIAS DE LlSBOA. IJ diques âe bazalto em varias direcções. O Ilheo baixo , que termina ao Oest a Bahia principal do Porto Santo , he quJsi totalmente formado de calcarco grosseiro, e dalli se extrahe toda a pedra para os fornos de cal estabele- cidos na Ilha da Madeira. Neste calcareo grosseiro en- tontrasc a cal sulfetada tanto crystallizada, como emere- cionada (N. ji), e bem assim alguns pequenos fiiòes , ou Veios de soda muriatada (sal marinho minera!) (N. J3). As três Ilhas denominadas Ilheo cham. Deserta, e Bugio não oíFerccem producto algum , nem disposição alguma geológica, que não seja análoga á das duas Ilhas principaes. Concliisão4 Logo que o exame dos terrenos da Ilha da Madeira me deo a conhecer a natureza p}'rogenea das suas rochas, procurei attentamente, como era natural, investigar se íia Ilha encontraria vestigios , ou fortes indicios não só de erupções modernas, mas de antigos focos de erupção ; porem apezar de haver percorrido quasi todos os pontoa da superfície da Ilha da Madeira, não achei cratera algu- ma bem pronunciada ; nem ainda correntes d^ covas mo- dernas , que me indicassem direcções de erupção com al- guma espécie de analogia com a configuração actual do terreno. Não só as camadas de bazalto não tem referen- cia alguma com a presente inclinação das encostas, e si- nuosidade dos vallés , mas nenhum deposito de conglo- merados obedece, ou se refere ás ditas desigualdades do solo. Os Vaíles actuaes , os leitos profundos escavados pelas ribeiras, cortao as assentadas de bazalto, e do con- glomerado, e rctalhão a totalidade da formação, e as ca- madas cortadas apresentão a sua secção nas escarpas al- tíssimas dos precipícios. Daqui SC infere necessariamente, que os valles actuaes, quaJqucr que seja a sua origem , forão cavados posterior- «icn- i4 Memorias da Academia Real mente ao deposito da totalidade, ou quasi totalidade das rochas, que constitiicni o archipcbgo Madeirense. Poiêm SC reflectirmos que no meio da pouca regu- laridade da formação , c da posição das diversas cama- das , geralmente se observa uma tendeficia geral á incli- narão para o S. O. se pensarmos attcntamcntc sobre o que sé observa nos cumes os mais altos , e r.tc no Pico Ruivo , onde nada indica um foco de correntes diver- gentes, mas que consta, como todo o resto da Ilha, de camadas de conglomerado, c bazalto, alternando entre si, e. cortados pelos valles c escavações existentes , pcrsua- do-mc que se será conduzido a pensar como cu penso, que a parte do archipelago da Madeira , que ainda hoje exis- te sobranceira as agoas das marés, não- he senão os restos d'uma região muito mais extensa, que cm parte dcsappa- recco, ou se abatco por uma serie de causas, que he im- possivcl assignar. E uma parte da sua formação , como V. gr. o conglomerado do Porto da Cruz, onde os cry- staes de quartzo fracturados se aglomerarão promiscuameií- tc com 06 fragmentos de rochas evidentemente pyrogc- neas , • he huma nova prova das violentas revoluções de que o antigo solo, de que não posso deixar de consi- derar o archipelago da Madeira como um fragmento, houre de spffrcr em tempos remoiissimos. Os bazaltos estendidos regularmente em camadas , ou poderosas assentadas com huma inclinação geral de S. O. independente do solo actual , escorificados nas,- suas superfícies superjor e inferior, mostrão evidentemente, que no estado da fusão ignea baixarão d'um ou aiiiis fo- cos á sua prespntc situação. Do mesmo modo a maior parte dos conglomerados estendidos igualmente cm ca- madas, cheios de nódoas globolosas de bazalto,. de Ira- gmcntos de scorias evidentemente vitrificados, e que eil não posso considerar á vista da sua natureza, e da su,j situação, ja sobreposta , ,ja alternada com os bazaltos, senão como o resultado de erupções lodosas dos.nieímos DAS SciENCIAS DE LiSBOA. '1^ fôcos d'onde os bazaltos provierão , descerão igualmente deçscs focos ao seu actual jazigo, por uma maneira mui- to mais poderosa e forte , mas talvez análoga áqucíla , por que ainda hoje se vêm formar nos vertentes dos vul- cões modernos camadas alternadas de covas pétreas, e de tufos volcanicos. Estes poderosos fc^cos , que arrojando assim alterna- tivamente matérias cm fusão ignea, resfriando-se para for- mar bazaltos, e matérias em solução ou suspensão aquo- sa para constituir conglomerados pela exsiccação ; estes grandes focos, digo, de que o terreno actualmente exis- tente nos não mostra a presença , nem se quer nos ensi- na a posição, os podemos collocar? Em nenhuma outra parte sem duvida , senão naquella que o tempo , e as catástrofes naturaes fizcrao desapparecer, ou descer abai- xo do nivel dos mares. Quando dos cumes das escarpas da Madeira consi- derava com pasmo a profundidade assombrosa dosvalles, c das escavações, em que correm a maior parte dos Ri- beiros da Ilha, e particularmente a Ribeira dos Soccor- ridos , quando alli meditava sobre a pouca extensão do seu curso , e pequeno volume de suas agoas , tinha diffi- culdadc em persuadir-me que estas gigantescas escava- ções podessem ser inteiramente attribuidas d evasão das agoas , e efectivamente o corroer tantas e tão espes- sas camadas de bazalto o mais duro com um tão pe- queno esforço como a acção das agoas reunivcis em vol- tas , e pregas de terreno de tão curta extensão , exige uma tal grandeza no factor do tempo para produzir este enorme producto ; que a própria imaginação recua diante desta consideração. Porem nada ha que se op- ponha á supposição , de que 03 abalos produzidos pe- las catástrofes poderosíssimas , por tantas outras obser- vaçfies indicadas , podessem abrir nas camadas grandes /endas , nas quaes as agoas reunidas , achando uma •entrada fácil , e uma consistência alterada , escavassem Tom. XII. 4 em i6 MEMoniAs nAAfcADEMrA RtAi, em muito menor tempo os profundos leitos ^ cm que hoje correm. i Os diversos viajantes, que visitarão, € com mais ou menos attenção estudarão o archipclago Madeirense, vi- rão todos a interessante formação calcarea, que se ciicon* tra na Ponta de S. Lourenço , e na Ilha do Porto San- to repassando sobre a formação pyrogenea , e cortada mais ou menos por filões, e diqiies de rochas desta for- mação; porém julgo ter sido cu o primeiro que verifi- quei a existência desta formação no seu desenvolvi?- mento menor nas escarpas junto á Pontinha ao Oest do Funchal na Praia Formosa ctc. , e que alli vi a referida formação mergulhar evidentemente debaixo de assentadas de bazalto , e de conglomerado de natureza scoriaceaj; e pyrogenea. a:::. Desta observação se infere evidentemente uma ver- dade importante relativamente áquelles terrenos, e vem a ser o reconhecer na formação pyrogenea duas epochas evidentemente distinctas, apezar da homogeneidade dos productos d'uma e d'outra epocha. Cofft efféito os bazaltos, e conglomerados inferiores ao calcareo podem áem duvida ser o resultado de eru- pções alternativamente Ígneas , e lodosas d'uma mesnia epocha ; mas he necessário admitrir , que posteriormente á sua formação, e já quando ncUas vivião plantas dicor tyledoncs em abundância, e molluscos terrestres, como as hélices do calcareo de S. Lourenço, e Porto Santo, uma solução cnlcareo-silicosa cobrio, c lapidificou aqucllcs ca- tes orgânicos; e a causa productora dos productos pyro- gencos retomou de novo a sua acção para cobrir d'uma nova ordem de ba/altos, è de conglomerados á mesma formação calcareosilicosa , e os entes orgânicos nelld se* pultados. He muito para desejar que o calcareo da Poa- ta de S. Lourenço, e do Porto Santo, por meio de -tesi» duos orgânicos que encerra, e dos seus outros caracteres", possa ser assimilhado a alguma das formações calcareis coíi- a)AS SCIBNCIAS DE LlSBOA. í? contincntacs d'uma ordem da antiguidade conliecida , o . 1^'j 29 MEMORIA SOBRE O MELHORAMENTO DAS PROVIDENCIAS PARA ATALHAR OS INCÊNDIOS, E PARA O AUGMENTO D'AGOA EM USBOA. Pelo Barão d' Eschwege, O 's exemplos frequentes de incêndios em Lisboa , em consequência dos quaes se tem perdido edifícios magní- ficos , e ultimamente o Palácio grande do Rocio ; ja fa- zem por si só julgar que as providencias para atalhar os ditos incêndios são def^-ituosas ; e com effeito quem tem prcsenccado estes desastres , e observado o andamento das providencias nestas occasioes, nâo pôde deixar de no- tar que os grandes progressos dos incêndios são devidos em grande parte a hum systema detcituoso, isto he , á falta de providencias , e de boa ordem. Nesta occasjão tudo he desordem e confusão , todos gritão , todos man- dão, e ninguém sabe a quem ha de obedecer, nem o que deve fazer ; e o resultado he fazer cada hum o que bem lhe parecer. Hum quer salvar objectos preciosos, e os deita das janellas abaixo, fazendo-se em mil pedaços; outro quer apagar o fogo, c lhe dá novo alento; e du- rante esta confusão , c desordem , na qual hum Inspector dos Incêndios debalde se quer fazer ouvir para introdu- zir alguma ordem, tem o fogo feito tantos progressos ^ 4 "i S*' Ç6 Memorias n a Ac adem i a Re a l ganhando cada vez mais força, c]uc as diíllculdadcs crescem para o atalhar, c por fim nada mais lhe resiste $cnão as paredes solidais de pcdrn c cal. Pôde di/er-se que S() a estas paredes mestras se deve a salvação dos edificios con- tiguos , c não ás providencias dadas ; pcis tudo com que se pôde atalhar o incêndio, até a mesma agoa, aqui falta , havendo não só poucas bombas, c muitas delias em mão estado, como succedeo no ultimo desastre, mas tambcm falta inteira de utensílios, ou instrumentos próprios para se salvarem os diffcrenics objectos das casas, c a metade da Cidade se queimaria, como em Constantinopla, se os seus edifícios fossem construídos de madeira como naquel- la Cidade. Julgo por tanto fazer algum serviço , dando nesta memoria algumas noções das providencias usadas contra os incêndios cm outros paizes , applicando as aos melho- ramentos que a este respeito se poderão introduzir cm Lisboa. São trcs os objectos princlpacs a que se deve attcn- der para atalhar incêndios: i.°, a promptidão dos soccor» los : 2.°, a boa ordem na sua applicação : 3.", a abundân- cia dos marcriaes para apagar o fogo, que são: ago.i , terra, enxofre, c palha. Até hoje os soccorros principaes ( o que faz vergo- nha a Portugal) cm Lisboa, estão confiados aos agoa- dciros Gallegos , que estão debaixo de hum único Inspe- ctor dos Inccndios, e que devem acudir com as bombas, c com a agoa necessária para cilas, assim como com as escadas de salvação ; e quando nesta occasião se acháo nacionaes que prcstão soccorros, são huns por vontade livre, c outros forçados, sendo para isso conduzidos por soldados. O mal necessário da conservação dos agoadciros , por ora não pôde ser remediado em quanto Lisboa não tiver huina tal abundância d'ago3 , que cm todas as ruas hajão fontes , e poços , dos quaes qualquer habitante se pos- D AS SCIENCIAS D E Lis BOA. gt •possa prover da agoa nccessjrij para o seu uso ; por tan- to B conservação das bombas , c os mais apparelhos exis- tentes , assim como o fornecimento d'agoa ficará por ora confiado aos agoadeiros, mas hc necessário dar-Ihcs hum melhor regulamento , e vigiar com todo o rigor na suá execução ; para que cada huiTi dcUcs cumpra com a sua obrigação. Mas he Impossivel que hum único Inspector dos Incêndios possa vigiar sobre huma multidão de gen- te sem subordinação, e possa dar promptos soccorros em todas as partes de huma Cidade tão extensa ; extensão tal, que o incêndio muitas vezes já tem feito os maiores es- tragos, quando o Inspector chega ao seu lugar para dar as providencias necessárias. He por tanto sobre tudo ncccs- éario , para evitar este inconveniente , haverem pelo me- nos alóm do Inspector quatro ou cinco Sub-Inspectores Engenheiros, havendo tantos quantos são os districtos da Capital, dos quaes hum assistirá em Belcm, outro cm Al- cântara , outro no Rato , outro no Campo de Santa An- na , outro no Campo de Santa Clara , e o Inspector no centro da Cidade baixa. A estes Inspectores será confiada a execução de to- das as providencias contra os incêndios, recebendo para isso os meios necessários da Camará Municipal , que te- rá a inspecção superior como até agora, e á qual os Sub- Inspcctores darão conta regular, por via do Inspector. | As providencias mais efficazes para os promptos soc- corros, e boa ordem, são a criação das Companhias cha- madas ile Incêndio em cada huma das Freguezias da Ci- dade , a cargo do Inspector, das quaes pessoa alguma de i6 até yo annos de idade se deve excluir, sendo intima- da para nellas entrar: sendo exceptuados só os Mditarcs dos Corpos de linha, e as pessoas que tem defeitos phy- sicos. Estas Companhias não ncccssitão de huma gran- de força, e basta só que tcnhao loo até 150 praças ca- da huma , cm proporção da população das Freguezias. Cada Companhia será dividida em trcs Cohortes, c ca- 5* MEMORIASDAAcADEMIAREAr, cada Cohorte terá o seu distinctivo ou divisa, que con- sistirá n' huma faxa ou listra larga de cores diffcrcntcs, no braço direito com a letra iniciativa do nome da Fre- guezia , e o numero da praça que tem. Cada Cohorte terá o seu Conimandante, e hum Ajudante, que se disr tinguiráõ por huma divisa da mesma cor da Cohorte re- spectiva , sem o numero que usão as praças. A primeira Cohorte se chamará a de Salvação^ c não terá outra occupaçao, senão de cuidar no salvamento das pessoas nos edifícios incendiados, e dos seus bens ; esco- Ihendo-se para isso com preferencia a classe dos Cidadãos mais esclarecidos, e ao mesmo tempo aíFoitos ; devendo vir munidos com cordas grandes , e pequenas para amar- rar objectos, e desce-los pelas jancilas; com saccos para nelles mettcr cousas miúdas, e ancinhos para tirar ob- jectos que já estão rodeados do fogo ; alem disso deve esta Cohorte ser provida com dous vestimentos (i), que resistão por algum tempo ao fogo , os quaes serão vesti- dos por aquellas pessoas que forem mais affoitas. A segunda Cohorte se chamará a de Artífices ; esta se elegerá entre os Cidadãos com officios mecânicos, principalmente Carpinteiros, Pedreiros, Marcineiros, Ser- ralheiros, Ferreiros, limpadores de chaminés, ctc. etc. Cada hum deve vir munido d'alguns instrumentos prin- cipaes do seu officio, tanto de corte, como de força, para dei- (a) Estes vestimentos consistem nMuima camizola curta de panno de linho grosso, que clicguc pouco mais a baixo da cinUira ; onde será apertada com huma cinta, com n)angas compridas que cubrão as mãos, pantalonas largas, botas curtas com solas grossas, hum bar- rete de sola acolclioado por dentro com abas grandes, e com huma carapuça de paimo de linho pegado nella , que defenda o pescoço. Os hombros, e a maior parte da cara, prendendo-a por baixo da bar- ba. A pequena abertura que fica para os olhos será tapada com húna crivo muito lino de arame, ou com huma folha de mica transpa- rente. O preparo de todo o vestimento consiste somente em nietello n''huma solução de |)edrahumc^ molhaudo-a na occasião que se qui* zcr passar pejas chammas. D A s SciENcr AS DE Lisboa. 33 deitar abaixo telhados e paredes, para abrir ou tapar por- tas c janellas , ctc. ctc. 2-' A terceira Gohortc se chamará a de Soe corro , * se- ní a mais forte; os seus indivíduos se elegerão entre 'a classe dos Cidadãos , que vivem de trabalhos braçacs e grosseiros ; destes a maior parte deve vir fornecida com cestos pequenos , e baldes de couro , outros com picare- tas, enchadas , padiolas, e escadas de salvação, das quacs cm cada huma das Freguezias deve haver duas. Todos os utensílios fornecidos pela Camará Munici- pal (dos quacs os respectivos Inspectores nos districtos formarão huma relação) serão entregues, e repartidos en- tre os indivíduos das Cohortes , os quacs ficarão respon- sáveis por elles em quanto estão debaixo da sua guar- da ; mas quanto aos que se perderem , ou se inutilizarem durante o incêndio , não terão responsabilidade, com tan- to que dêm logo parte aos seus Commandantes , e estes aos Inspectores. Assim que haja signal de fogo n' huma Freguezia , cada hum dos individuos da respectiva Cohorte deve pôr o seu distinctivo no braç") , e correrá com o instrumento que lhe foi confiado ao lugar do incêndio. Os primeiros passos que devem dar os da Cohorte de Salvação , e dos Artífices que apparecerem, (e em quanto não chegar hum Inspector, ou Commandante) he apressarem-se em fechar todas as janellas e portas , principalmente do lado don- de sopra o vento, procurando huns salvar o que podem, e outros abafar o fogo com os poucos meios , que ainda •estarão ao seu alcance : as escadas de salvação devem ser encostadas logo á casa, c os da de soccorro principiarão im- mcdiatamente a abrir huma cova para tirar terra; entretan- to chegarão os Mandantes, as Cohortes se completcráõ ; e cada hum deve guardar o mais profundo silencio para se ouvirem os mandados dos Inspectores. Neste tempo a Guarda Municipal deve estar postada nas entradas da rua onde he o incêndio, e nella não deixará entrar ninguém Tom. XII, j que j4 Memorias da Academia Real que não for morador da rua , ou que não trouxer o dis- tinctivo das Cohortes : não servindo de ordinário os es- pectadores , c a gente supciflua senão para estorvar os mais, introduzir desordens, proteger roubos, c fazendo o maior barulho, o que por modo algum deve ser tole- rado. Se o fogo ainda se conserva dentro dos limites de hum quarto , se deve sacrificar tudo que está dentro do mesmo , tapando todas as aberturas pelas quacs se poderá introduzir o ar que alenta o fogo; pois faltando este alento, o fogo não pode faZcr progressos, e infallivel- mente perderá toda a sua força. Ainda que não se apa- gará de todo, com tudo deixará entretanto tempo para se salvarem os mais objectos da casa , e para dar as pro- videncias mais efficazes para livrar o resto do edifício , e líiuitas vezes mesmo os objectos os mais preciosos den- tro do quarto incendiado se tem por este meio preserva- do dos estragos; mas por desgraça até agora quasi sem- pre se tem aqui cabido no erro de abrir logo portas e jancllas para acudir com agoa. Este facto que sem ar o fogo se apagOj e a obser- vação, que os Carvoeiros para produzir carvão , cobrem as ieiíhas incendiadas com terra, suggcrio a idca que nos incêndios se poderia applicar a terra para produzir os mesmos effeitos, e publicando no anno de 1704 a Aca- demia dasSciencias de Amiens hum programma, promet- tendo hum premio de òoo francos a quem apresentasse huma memoria sobre o melhor mcthodo de apagar incên- dios, foi Mr. François Cointeraux, que apresentou a di- ta memoria , recommcndando para este fim o uso da ter- ra ; a memoria foi premiada, e o meio proposto reconhe- cido efficaz pela Real Sociedade de Agricultura em Paris. Mas como de ordinário acontece com as innovações pro- postas por Sábios, que ellas não são attendidas pelos em- pregados administrativos muitas vezes estúpidos, assim também succcdeo com esta innovação ou invenção, e por tan- nAs SciEirciAs de Lisbojíííí 35- tanto nao se lhe deo a attenção , que mereóco em todo este espaço de tempo ; só ha poucos annos para cá he que ella principia a gcncralizar-sc, e com o maior pro- veito, tanto na Alemanha, como na França, devendo a sua introducçáo ser da maior utilidade em Lisboa, onde ha falta d'agoa. O methodo para se atalhar incêndios com terra he o seguinte : Assim que a Cohortc de Socorro chega ao edifício incendiado , logo escolherá o sitio mais próximo e van- tajoso para abrir huma cova, enchendo os cestos peque» nos com terra solta, e estes cestos passão de mao a mâo dos individuos que estão postos d formiga cm distancia de dous passos hum do outro, ate o lugar onde se ha de deitar a terra, tornando os cestos vasios por outra filei- ra, até o lugar onde se encherão de novo. Esta terra nao sò se applicará, cubrindo com ella os objectos incendia- dos, que immediatamente se apagarão sem pegar de nj- vo o fogo, mas ella também he o maior preservativo contra o fogo para as partes não incendiadas , principal- mente dos soalhos das casas , que com ella deverão ficar cobertos, e que por este motivo não podem pegar fogo, ainda que o tecto da casa abata , e as brazas caião sobre elle. Com isto se ganhará hum pé firme, e tempo bastan- te para apagar as lavaredas nas paredes , sendo também de grande efEcacia jogar contra estas sobre os lugares in- cendiados , terra molhada. Desta maneira hum pé cubico de terra fiirá mais eíFeito que dez pés cúbicos d'agoa , pois esta se evapora n' hum instante , alenta o fogo não sendo em grande abundância, e augmentaa fumaça; mas a terra, onde ella cahe, e onde ficou pegada, nao dá lu- gar para se incendiar de novo a mesma parte, e diminue o turno. Por este motivo devem vir os Pedreiros munidos com as suas colheres, jogando contra tudo o que he ma- deira nas paredes as suas colheradas de terra molhada, e ra maior abundância. 5 ii Alais ■36 Mem OEíAS DA Academia Real Mais fácil he apagar hum incêndio que labora de cima para baixo , do que no caso contrario , mas em to- dos estes casos se devem observar três regras: 1/ Cortar quanto puder ser toda a corrente d'ar. 1," Evitar a propagarão do fogo, principalmente para os cdificios visinhoS) cortando a communicação. :{.* Cubrir todos os soalhos de hum edifício com terra SUÍÊciente , assim como çs tições cabidos, e soalhos já abatidos, para evitar o effeito das faiscas. Tudo o mais depende da presença de espirito , e bom senso dos Inspectores para fazer jogar a agoa das bombas nos lugares competentes, para arrazar e deirar abai- xo telhados, ou paredes onde for necessário ; ou para de- fende-las, (o que he mais possivcl) cuidando sobre tudo na boa ordem e socego nos trabalhos. Aos materiacs para apagar os incêndios pertencem , como já acima se notou, alem da r.goa, e terra , o enxo- fre, e a palha; o que á primeira vista parece hum para- doxo ; entretanto he hum facto incontestável. Do enxofre se faz uso quando ha incêndio n' huma chaminé, ou n' hum quarto pequeno, que se puder tapar bem. Havendo incêndio n' huma chaminé, toma se hum arrátel de enxofre cm pó , o qual se acccndc por baixo da chaminé incendiada; por cila subirá o fumo espesso do enxofre, c este abafará immediataniente o incêndio; da mesma forma se pode fazer uso dcUe n' hum quarto incendiado, accendendo huma igual porção de enxofre dentro do huma frigideira Jarga de ferro, introduzindo-a no quarto, que logo deve ficar muito bem tapado, e o fumo do enxjfre ajudará a abafar mais de pressa as cham- iTiis. Seria por isso recommendavel que cada inquilino de huma ca^a tivesse sempre guardada por precaução huma porção de enxofre, para acudir logo com este icmcdio, e até que os Inspectores fossem providos d' alguma por. ção. A respeito da palha, não se poderá fazer grande uso dei- tiAS SciENCiAS DE Lisboa. 37 tfeTfa em Lisboa , cumo cm outros paizcs , por nao se achar prcparaila para isso. Bem se s:^.bc que bitJtiJo-sc hum braçado de palha sobre humas bnizas, cila i-nmcJi:- tamente se accenderá fazendo hiima ljvrrv.d.i grande. Mis não he assim cortando-se a palha em pedaços miudop, que não tcnhao mais qu,: o comprimento de huma pole- gada , como SC costuma cortar a palha na Alemanha pi- ra o sustento dos cavallos , c vaccas. Tomando-sc hum braçado desta, c cobrindo as brazas com cila, se apagirácS logo, sem que a dita palha pegue fogo. Fiz na Al.m.i- nha a experiência seguinte : escondi no meio de hum montão de palha miúda matérias incendiarias, cnx jfre, sa- litre, e pólvora em pequenos saquinhos, acccnd.ndy so- bre a mesma palha e á rjda delia huma grande foguei- ra, atiçando-a até se queimir toda a lenha; a palha su- perior ficou somente tostada , e denegrida , ficndo inta- cto o resto da palha, e por consequência também as ma- térias incendiarias. Por causa desta propriedade he e!Ia usada actualmente para preservar documentas , ou outras preciosidades contra incêndios, mcttendo estas em capsu« las, ou caixões de folha de Flandres, que devem ter lar- gura sufficiente para se poder applicar á rod.i dos obje- ctos huma camada de palha miúda; bem entendido qua não deve ser palha , que for machucada pelos pés dos animaes; senão cila perderá a propriedade de não jacen- diar-se. Para que na occaslão de qualquer fogo in-^ignifícan" te não haja huma concorrência desnecessária das Cohor- tes , deve ficar determinado, que no primeiro toque de sino acuJirá somente a Companhia da Frcguezia respecti- va ao lugar do incêndio , juntando-se a Companhia di Freguezia visinha ás portas dos seus Commandantes pa- ra cstar prompta a marchar para o mesmo lugar , ouvin- do-se o segundo tique do sino ; c neste caso se toc-rá também o sino desta Freguezia para avisar por este ^'f i > a Freguezia visinha, e assim acudiíáo pouco apouco tan- ta:) 'jS Memorias da Academia Real tas Companhias quantas o Inspector acl|iar necessário man- dar avisar. . . ;./| , . Huma das principaes difficuldadé's para atalhar incên- dios em Lisboa, tem sido até agora a grande falta d'iigoa. Os chafarizes são poucos, c ficao muitas ve/cs em gran- de distancia do lugar dos incêndios; e sendo este grande e aturado, ainda que se ponhao em movimento com o seu passo lento todos os oito mil agoadeiros, que dizem ha- ver na Cidade , com tudo não he a agoa suíHcicntc para -fornecer as bombas , e até muitas casas ficão em dias se- melhantes sem huma pinga d';)go3 , o que também acon- tece a muitas famílias pobres quando em tempo de ycrao 41S agoas diminuem de tal maneira, que ella sobe consi- deravelmente ao preço que aqucllas não podem pagar, ícando-lhcs a alternativa de padecer sede , ou fome. Por todos estes motivos se devia em primeiro lu- gar, e antes que se cuidasse em aformosear a Cidade, cui- dar no augmento das fontes d'agoa doce, que são objecto da primeira necessidade, tanto para acudir aos incêndios, como a's necessidades dos habitantes, aucmcnt;indo as agoas para os incêndios com o adjutorio das agoas do Tejo. Sendo mui dispendiosa a conducção d'cigoa doce por meio de aqueductos, vindo de grandes distancias, poder- 5eha com tudo augmentar esta tão consideravelmente eni Lisboa, que t.ilvez todas as ruas da Cidade poderão ser providas com fontes, c só por meio dos poços Artesianos, A doutrina destes poços he fundada sobre a proprie- dade que tem todos os fluidos, de procuror o conservnr se de nivel v. gr. se do grande deposito d'agoa nas Amo- reiras se conduzisse hum cano tapado para a Cidade bai- xa, e dahi se fizesse subir ao Castello, deixando correr a agoa p )r este cano, cila subiria no lado do Castello tan- to quanto importou a sua queda perpendicular; c achan- do-se 3 boca do cano no Castello só meia linha mais baixa que o nivel das agoas do deposito das Amoreiras , ha- DAS SciENCi AS DE Lisboa. 39 haveria agoa corrente no GastcUo. Tanto mais baixo do nivel do deposito tor a boca do fim do cano , com tan- ta mais força saiiirá dcllc a agoa. Vamos agora applicar esta doutrina aos poços Artesianos. He bem sabido que a precipitação das agoas da At- mospiíera hc a principal origem das fontes, e como esta precipitação hc maior nas terras montanhosas pela sua attracção, que nas planícies, e tanto mais quanto mais el- las são cobertas de florestas, que são o maior absorvente da humidade da Atmosphcra , se encontrão mais olhos d'agoa nas encostas, e as faldas das serras, que em terre- nos assentados. A humidade absorvida da Atmosphcra se filtra pouco a pouco pelas fendas dos rochedos para o seu interior, e penetra para toda a parte, onde acha huma abertura, até finalmente achar huma sabida, formando hum olho d'agoa mais ou menos forte, conforme a maior ou menor affluencia das fendas de rocha em que pene- trou, e da qual está recebendo. Depende por tanto muito da construcção das rochas para dar a's agoas absorvidas hu- ma certa direcção no interior da terra, e esta direcçãa fica com preferencia prescripta pela inclinação das cama- das das Rochas. As difFcrentes camadas, sobrepostas hu- mas ás outras , formão planos achatados pouco adherentes huns aos outros, e pelos quaes a agoa penetra com faci- lidade , c sempre pelo lado da sua inclinação : e pene- trará para a profundidade até encontrar resistência , fi- cando reprimida , mas achando alguma fenda ou fresta , pela qual possa subir por meio da compressão que soffre das agoas superiores, rebentará em fim na superfície da terra , c esta he a origem das fontes correntes , que se acha cm terrenos baixos e planos. A inclinação das cama- das obra por esta forma do mesmo modo, como a agoa conduzida por hum cano de huma altura para hum lugar baixo, para dahi subir outra vez para hum lugar alto. Atravessando então estas camadas por hum furo per- pendicular, feito com a verruma da terra, a que se cha- 40 Memorias daAcademta Real ma abrir hum poço Artesiano ou Artesto (da Província de Artois, onde se fez a primeira applicaçao) se ajuntarão todas as agoas que se achão entre as diffcrentes camadas de Rocha neste poço, e subira'õ por clle tanto, ate que se ponhão de nivel com a sua origem. Se esta origem for situada mais alta do que a boca do poço , as agoas rebentarão por ella , e desta maneira já se tem alcança- do repuxos de 30 palmos de altura de agoas cxcellen- tes, em lugares que anteriormente sofFrcrão grnnde falta. Se a origem for mais baixa, a agoa não trasbordará pelo poço, mas poder-se-ha tirar por meio de huma bomba, o que já he grande vantagem onde ha falta delia. Veremos agora quaes são as esperanças que ha para augmentar a agoa doce em Lisboa por meio dos poços Artesianos ; questão que só pode ser resolvida pelas ob- servações geognosticas do terreno de Lisboa , e dos seus arredores. Miudamente tenho examinado este terreno ; c os resultados das observações forão publicados na Historia e Memorias da Real Academia das Sciencias , Tomo XL Parte I. Segundo estas , e as posteriores que tenho fei- to , está a maior parte da Cidade edificada sobre hurn terreno pertencente ás formações terciárias , que suo as mais modernas , e que consistem em differentes camadas de pedras calcareas, marnosas, e siliciosas, de bancos de ostras, de arêa verde, e de argilla plástica, c todas ellas misturadas em maior ou menor abundância de Petrificados de conchas marinhas, e algumas fluviaes , assim como em algumas partes com ossos fosseis de animaes maritimos- Hc por tanto este terreno hum producto, ou sentimento do mar; e todas as nascentes d'agoa, que nelle tem a sua origem , dão por este motivo huma agoa salobra , n^o se podendo por tanto delle esperar agoa boa, a qual deve ser procurada nas formações sotopostas a esta. Os limites deste terreno, que se acha sobreposto ás rochas de pedra calcarea Jurássica^ principião pelo Poen- te na subida da Calçada da Boa-Vista ; extendem-se para Bue- DAS SCIENCIAS DE LrSBOA. 4t jinra Bucfnos-Ayrcs , dahi liáo volta para Santa Isab;.! , dingiiidu-Sw; para Vallc de Pereiro ate alem do Car.ipj Grande, occupnndo todo o terreno intermédio da Cida- de pelas margens do Tejo para o nascente. O resto da' Cidade alem daqucUcs limites para o lado Jo Poente c do Nurd-Oeste, hc edificado sobre a dita pedra ealcarca , que se entende pela margem do Tejo abaixo até ao mar, e na direcção de Nord-Oeste c Norte at^. o Estoril, e alCm de Queluz até Cacem onde apparçcc so- toposía a ella a formação do Grés de Nebra. Todas as' camadas destas difFerentes rochas tem com intervallos horizontaes e onduiosos , a sua inclinaçao^de iq° até zj' para o lado do Tejo ; por tanto todas as agoas que tem a sua origem nellas, se dirigem para esta parte; e co- mo o solo ou chão desta origem se acha cm Cacem , pouco mais ou menos, 900 palmos mais alto que o nivel do Tejo , he claro que atravessando-sc com hum p'iço Artesiano todas as, camadas superiores , até encontrar as camadas do Grés de Nebra ^ se encontrará agoa, que tal- vez poderá subir ^os sitios mais altos de Lisboa. Huma prova evidente que. as agoas que tem a sua origem no Grés de Nebra , penetrao até por baixo do solo ; desta Cidade , he a grande fonte das agoas sulfú- reas , que rebentou no Terreiro do Paço , e depois de tapado este olho , rebentou de novo no Arsenal da Ma- rinha. Esta agoa he em tudo análoga ás agoas das Cal- das da Rainha com a differença de ser esta quente, c a- quclla fria ; mas esta mesma diffjrença da temperatura he hum indicio mais da sua .origem homogénea. As agoas das Caldas brotâoimmediatamentc no Grés de Nebra, onde he produzido pela decomposição do sulfureto de ferro, que se acha nesta formação em grande abundância, juntamente com carvão de pedra , e a sua nascente he mais próxima do lugar do seu grande laboratório chymí- co , em que recebco o seu elevado calor j mas as agoas Tom. XH. 6 do ^4', Memórias ta Academia Real âó Arscnaí pcrdârâo o seu calórico peta grande 'distatt^. cia que forâo obrigadas a correr, atravessando outras formações , até finalmente achar huma s^hida á flor., da terra. '-^ "^' ''■«•■jjv.íU eu!-.i') ab ^' Esta fonte do Arsenal vencco todo^ os obstáculos fàra rebentar neste sitio , vindo de grande distancia , por tanto ajudando a natureza , afastando-sc os obstáculos i!iaíorcs por* meio de poços Artesianos, para dan huma niais facil sabida ás agoas qnc contem o Grés de Ncbra^ SC pode esperar os melhores resultados de similhantcs poços em Lisboa. Do Grds de Nehra não somente rebentão estas agoas sulfúreas , mas também as agoas férreas de Bellas , c MontachiqUe , assim como as agoas salinas do Estoril , e ínuitas fontes de agoas mais puras ; e poderá acontecer que em íuun ou outro poço Artesiano se encontrem aquel- ias agoas mineraes ; mas como ellas são mais raras que as agoàs puras, ha maior probabilidade de encontrar es- tas. Podcr-se achar em Lisboa por meio de poços Ar- tesianos agoas boas , e em abundância ,- z\é com repu- ixos , ja para mim não oíTerece duvida alguma ; mas a spgunda questão he , qual será a maior profundidade , 5^úç ■ àè deverá dar a estes poços, é estaserá-mais. diffi- cultosa a responder com acerto ; entretanto os conheci- mentos gcognosticos ajudão muito para resolver este pro- blema , e aproximar-sc á verdade. Se a inclinação das camadas tanto da pedra Calcarea Jurássica , como do Grés de Nebra continuassem com a mesma inclinação das camadas de 25° pouco mais ou menos, como tem ambas Vs formações nas alturas de Cacem , seria necessário áb'rir hum poço Artesiano em Lisboa que tivesse pelo mcnps !<; mil pds de profundidade até cbcgar ás cama- dáfe' dó Cr^j de Nehra'. mas pelas observações geognosti- "^cas se sabe que o Grés de Nebra nunca conserva huma tãii constante inclinação das suas camadas, a qual so- DAS SciENCÍAS DB LiSBOA. 43 mente toma , encostando-se a huma montanha de forma- ções mais antigas, as quaes sempre tem maior inclina- ção das suas camadas, que esta mais moderna, que quanto mais se afasta das alturas de formações antigas ) toma menor inclinação até ser horizontal ouondulosa, e as ca- madas sobrepostas de outras formações , tomao este mes- mo parallelismo horizontal e onduloso. Assim se observa que as camadas de pedra Calcarea Jurássica tem ao pé de Cacem esta mesma inclinação das camadas do Grés Je Nebra ; mas seguindo dahi a estrada de Lisboa , se achará que esta inclinação hc cada vez menor , chegan- do a ser perfeitamente horizontal c ondulosa nas visi- nhanças de Bemfica, e no valle de Alcântara. O seu leito, que he o Grés de Nebra , tem infallivelmcnte a mesma posição horizontal e ondulosa , e por tanto em vez de iacharem-se estas em Lisboa ij mil pés por baixo do ní- vel do Tejo , podcrião ellas achar-se logo á flor da ter- ra ; o que não acontece assim por se acharem ainda na parte occidental coberta da pedra Calcarea Jttrassicay e na parte Occidental de formações terciárias ; mas ambas es- tas formações não costumão penetrar profundamente por baixo do nivel das partes mais baixas de hum paiz , e sendo a fonte das agoas sulfúreas hum dos principacs indícios da proximidade do Grés de Nebra , e fortificada esta conjunctura geognostica pela grande fonte das agoas mineracs das Alcassarias, e das agoas puras que rebentão por baixo de huma das casas da rua da Prata , ambas as quaes assim como outras em alguns poços não podem ter outra origem se não no Grés de Nebra ; estou cu persua- dido que nesta parte oriental de Lisboa faltará a forma- ção Jurássica ; e o Grés de Nebra he só coberto pelas formações terciárias , as quaes com facilidade se podem atravessar com poços Artesianos , e cuja pousança maior por baixo do nivel do Tejo não passará de 4J0 palmos para encontrar o Grés de Nebra ; c profunJando-se depois os poços mais 200 até ajo palmos nas camadas do di- 6 ii to 44 Memorias D A Academia Real to Grés, importará a tnaior profundidade dos pecos em 700 palmos , e com isso se alcançará com toda a proba- bilidade o desejado fim. Os poços , que se abrirem nas partes altas da Cida- de, serão tanto mais profundos, quanto maior for a sua elcvjção sobre o nivel do Tejo , c não haverá grande dificuldade de chegar a esta profundidade, mesmo usan- do-sc da antiga verruma da terra; mas melhor ainda- pe- lo novo mcthodo de brocar com a verruma pendente n'uma corda; usado ha três annos para cá na Alemanha, c com o qual se executa este trabalho em metade do tempo, com metade das dcspezas, e com menos difficul- dades ; mas he necessário empregar neste serviço traba- lhadores que scjão experimentados , e que saibão reme- diar todos os desastres que de vez em quando aconte- cem. Seria por tanto acertcdo mandar vir d'Alcmanha três trabalhadores peritos, com o seu mestre que os di- rigisse somente por tempo de deus annos; assim como todo o aparelho necessário que he menos dispendioso que o da verruma ordinária. Este pequeno sacrificio das dcspezas annuaes com estes trabalhadores e o seu mestre, com o qual talvez se alcançará que em todas as ruas principaes houvesse agoa corrente e em abundância , não he nada em comparação das grandes obras de Aqueductos ^uc se tem feito e ainda se estão fazendo , e com as quaes não está em. proporção a diminuta porção d'agoa por elles conduzidos para augmentar as agoas do Aquc- dueto principal. Estas são as mesmas ídeas a respeito do augmento da agoa doce para todas as necessidades dos habitantes: resta agora tratar do augmento d'agoa exclusivamente pa- ra os incêndios , e como se acha estabelecido em todas as Cidades grandes da Europa. Consistem estas provi- dencias no estabelecimento de Engenhos que levantao e condu/cm por meio de cahnos de ferro para as ruas principaes as agoas de hura rio. - ^« Em DAS SciENCiAs deLisboa. 45" Em Londres v. g. cxi:stc;ii oito Companliias grandes, alem de outras pequenas as qiucs foriíccein toda a Ci- dade com as agoas do Tamisa para todo o uso , condu- zindo-as primeiro para depósitos elevados por meio de Maquinas de Vapor, com liuma força até de cem Cavai- los , e destes depósitos conforme a sua clcvaçâi; , he conduzida até aos últimos andares das casas. Contao-se cm Londres i8o mil casas, das quaes 176205: tem a agoa dentro, c nos difFcrcntes andares. Por hum termo media recebe cada huma das casas quotidianamente 164 Ciloes, ou dous barris; ou 750 barris por anno, que não custão mais que sÒ7^° "• ^ ^^ quaes em Lisboa custiío pelo menor preço 1^^000 em beneficio dos Cdlcgos. Isto he pelo que respeita á repartição das agoas cm geral para o uso , mas quanto aos incêndios em particu- lar, ha em Londres alem desta agoa hum deposito se- parado no litle Primrose-Hill j que se acha lof palmos sobre o nivel do Tamisa , c que contem 88 mil Ton- neis (6380000 almudes) d'agoa , donde he conduzido para todas as ruas principaes em cannos de ferro que tem de espaço a espaço torneiras que se abrem na occa- sião de incêndio. De similhantc maneira se podia prover Lisboa com agoa para os incêndios , conduzindo agoa do Tejo para dous depósitos grandes dos quaes hum de- via existir nas alturas de S. João dos Bem Casados, e o outro nas alturas do Convento da Graça. Para hum e outro deposito ser provido d'agoa seria talvez suiEs;iente huma única Maquina de Vapor com a força de 200 Ca- vallos , collocada no Arsenal da Marinha , e como náo ha sempre incêndios , sobejará tempo para que ambos os depósitos com os seus cannos estivessem sempre cheios, podendo esta maquina ser utilisada nos inteivallos para outros trabalhos fabris do dito Arsenal. fiitn'» D A S S C l£;Np I A S D,^ X IS B O,*», jjf 47 4.W ./ -í ■ . ' * , I I ' . ~ •; r ,1 ,: .■,,' REFLEX^ÕES Acerca da Memoria do Silr, Barão d'Eschwege, sobre o melhoramento das providencias pcCra atalhar incêndios y e para o atigvicnto d^agoa em Lisboa, VELO VISCONDE DE VILLARINHO DE S. ROmXo. ^ A Memoria cie nosso Illustre Consócio o Siír. Barão d'Eschwcge, he digni de se imprimir, segundo cu en- tendo; porque tem muitas cousas utcis, e novas entre nós. Elle propõe hum melhor methodo de arranjar com- panhias de gente para acudir aos incêndios do que aquclle que está em uso , e posto que o seu plano precise de alguma modificação , com tudo , a lembrança he útil , e boa , pode despertar a attcnçao do Governo , e da Ca- mará Municipal, c adoptar-se cm fim com mais, ou me- nos alteração. Aapplicação do enxofre em certos e limitados casos, quando o fogo está confinado n'huma chaminé de por- ta, que se possa fechar, ou se tenha ateado dentro de ' /. hu- 4" MáMORr'A'siA Academia Real huma sala, a que se possão cerrar as portas e jancllas, pode ser de muita utilidade por causa da promptidao com que obra , absorvciuló o iDíygenco do ar confinado entre as paredes da chaminé ou da sala , c bem evidente cou- sa hc que mais depressa se pode lançar a hum incêndio principiado hum pouco ,"de pó de enxofre do que puxar huma bomba de longa distancia, c applicar hum débil ja- cto de agoa, que raríssimas vezes pode fazer o cffcito de- sejado por causa de ter ja o fogo destruido muitas ma- deiras , tcr-se incorporado muito , e produzido grarlde quantidade de carvão, aonde a agoa se decompõe íbgo por causa da alta temperatura do mesino carvão , e de- pois alimenta o fogo em vez de apnga-lo. O enxofre po- de-se também empregar reduzido a vapores , como diz o Auctor j mas hc preciso que não haja forces correntes de ar. A tqrra muitas vezes se tem empregado entre nós; mas assim mesmo he bom lembrar este soccorro que he de todos o mais prompto. A palha só em certos casos e mui limitados hc que pode prevenir a communicação do fogo: o mesmo Auctor da Memoria adverte que es- tando trilhada como a de Lisboa não pode servir. Para evitar o incêndio he preciso que esteja muito unida e bem ) calcada ; pois sendo hum corpo muito máo condu- ctor do calórico defende os outros corpos combustiveis não lhe deixando tomar a alta temperatura , necessária para a combustão. A parte mais interessante desta Memoria hc aquel- la em que o Auctor propõe a abertura dos Poços Arte- sianos para obter fontes abundantes e de repucho acima da superfície do terreno , tanto na parte baixa da Cidade como na alra , e não somente fontes abundantes; mas até de bellissima agoa potável. Eu creio que ellc tem ra- zão, e posto que não prove as suas conjecturas. acerca da incIin.içáo dos bancos de grés, he por ccrt(| ríiateria mui digna de 5cr discutida. Não DAS SoiENciAsoE Lisboa. 49 -1.x 'Não posso aífirmar, nem tenho sufficientes pfovas de que. por toda a extensão desta Capital se exteudáo os ditos bancos pela maneira indicada no desenho junto; roas he certo que elles existem cm algumas partes, co* mo por exemplo junto da porta principal do Arsenal do Exercito , aonde eu mandei fazer trcs furos de sonda du- rante o ultimo cerco que nos puzerão ca rebeldes , e achei agoa em todos três ; mas hum dellcs rompeu o banco de grés que se encontrou a doze pés de profun- didade, e saliiu logo huma abundante veia de bellissima agoa potavclé AUi se devia fazer húra Poço Artesiano , que desse a agoa por tubos de ferro fundido , e recurvados á su- perfície do terreno, de maneira que despejasse na praia junto de huma casa arruinada que alli existe: assim se faria hum novo chafariz da melhor agoa potável , e hum bellissimo tanque para as lavadeiras , obra de que muito se precisa. Ora assim como appareceu naquelle sitio hu- ma ondulação dos bancos de grés de que falia o AuCtor, por que razão não havião de apparecer em outras partes ? Eu os supponho em todos os locaes aonde apparecera nascentes de agoa potável; porque são estas as pequenas veias que andão correndo nas camadas superficiaes dos predictos bancos, e sahem por alguma pequena fenda que encontrão a geito. He provável por tanto que se fizes- sem l-^oços Artesianos com feliz successo no Largo de S. Luiz Rei de França , e por toda aquella encosta até ao Campo de Santa Anna , da mesma forma desde as Ja- ncllas Verdes até i Ponte de Alcaíitara, e desde os fornos de cal, que forão de Manoel Alves do Rio até Belém, Igualmente se podião abrir com bem fundadas espcrart- ças desde a estrada e despejadouro de Valle de Pereiro até á Calçada das Vaccas , e por outros muitos sitios al- tos da Cidade procurando sempre as abas dos montes ^ cm que houver poços ordinários de agoa potável, Cu devo advertir que, ainda mesmo no caso de que Tom. XII, y os ^ fà Memorias DA AcAíJEMiA Reai, os bancos de grcs estejiío a 200 palmos de profundida- de abaixo do nivel d.is agoas do Tejo , nao se segue que corrão horizontalmente até aos locaes da Cidadt-, cm que se abrão os poços, antes hô natural que subão e si-, pão as ondulações do terreno sobreposto ; pois se assim^ n5o fosse não se encontrariao tanto á superfície do terre- no as agoais potáveis dos poços de Valle de Pereiro nas ter- ras que forão do Visconde da Bahia , nem -o faRioso po- ço de S. Vicente de Fora. Dado porém que os bancos de grés existão a 200 palmos de profundidade abaixo do nivel das agoas do Tejo, e que se extendao horizontalmente por debaixo dos montes mais elevados desta Corte , assim mesmo nao era impossível , nem muito dispendioso abrir os Poços Artesianos no cimo delles, porque a Igreja da Graça es- tá a 2S"2 pés, que são 378 palmos, acima do nivel do mar , e por conseguinte o poço que se abrisse deveria ter f78 de altura, ou quando muito 600, e bem sabido he , que com a sonda pendente se podem abrir de maior profundidade , como propõe o Auctor , sem ser necessá- rio para isso que vcnhão operários estrangeiros. Quando os furos de sonda a travessão camadas de terra vegetal, e bancos de argilla.compacta, como se en- contrarão no poço que mandei abrir no quintal da Fa- brica dos Pentes ás Amoreiras, e-bem assim no outro junto da cerca do Collegio dos Nobres, que deu bastan- te agoa potável , não he preciso revesti-los interiormen- te de manilhas de ferro fundido ; porque a agoa sahe dos bancos de 'grés com muita força, e vem á superfície da terra a maior parte das vezes sem se misturar com ou- tra; mas se acaso se encontrarem primeiramente algumas nascentes de agoas salobras antes de romper os ditos bancos de grés, e achar agoas puras, então faz-se neces- sário o emprego das manilhas de ferro. A braça destas manilhas, tendo oito polegadas de diâmetro vasio, e hu- ma de espessura circular de ferro custa 24:000 reis aqui ncs- DAS SclENCIAS DE LiSBOA; j^I nesta Cidade , e assim mesmo custa o revestimento de 600 palmps somente 1.440:000 , o poço nao chega a is- so ; mas dado que chegue, vem a importar 2.880:000 reis , e pode dar elle só muito mais agoa do que traz o Aqucducto das Agoas Livres durante o Verão , 6 da-la em repuxo á superficie do terreno. A' vista de tão pequena despesa , para alcançar hum resultado tão útil , não seria bom que se tentasse a abertura de Poços Artesianos por conta do Estado debai- xo dos principies que o Auctor da Memoria aponta , e que eu deixo hum pouco esclarecidos ? Ninguém poderá nega-lo , e tanto mais se reforçará o meu argumento, se se ponderarem as grandes despe- sas que he preciso fazer nas Obras da Buraca"" para met- ter no Aqueducto Geral mais 12 anneis de agoa; porque não será possivel conclui-las com solidez sem dispender 2 20.000:000 reis, em que estão orçadas. Quanto á ultima lembrança do Auctor , de formar dous grandes depósitos de agoa em S. João dos Bcm- casados e na Graça, sendo-lhe esta fornecida por hunn só maquina de vapor collocada no Arsenal da Marinha para a tirar do Tejo, e faze-la elevar por tubos de ferro até aos sobreditos depósitos, digo que não ha nada mais gigantesco, que não he impossível; mas que não temos dinheiro para tão avultada despesa ; porque a maquina e o seu assento com as obras necessárias para se poder accommodar, custava mais de 200:000:000 reis, e depois as manilhas de ferro para levar agoa a sitios tão distantes, e outras muitas ordens delias para a distribuir por todas as ruas da Capital, calculando a braça a 24:000 reis, impor- tava em huns poucos de milhões , attendcndo tambcm ás obras necessárias para as assentar por debaixo das ruas, e ao custo dos depósitos. Neste caso o juro de tão avultados capitães, e a despeza annual da manutenção de tacs obras, seria muito superior ao prejuízo que nos cau* são os incêndios. Duvido também que huma maquina da 7 ii for- fi Memokiasda Academia Real força âe 200 cavallos fosse capaz de elevar duas coliinmaS de agoa do mar ás alturas sobreditas ; porque a de S. João dos Bemcasados tem 516 palmos ou 344 pés de altura perpendicular sobre o nivel do mar , e para lhe fornecer huma só polegada de agoa corrente , isto lic , huma polegada circular, seria preciso empregar mani- lhas de mais de 8 de diâmetro ; porque os atritos dcs- falcíío tanto a vêa fluida, que se a superfície interior da3 manilhas não fosse bem lisa talvez não chegasse a cor- rer huma só gota; estes cálculos porem não se podem fazer sem previamente experimentar quanto hc o desfal- que da vea fluida em cada 1000 palmos de huma dada qualidade de manilhas. Por conseguinte , embora em Londres haja' esses estabelecimentos feitos por compa- nhias, entre nós não me parece possivel que os possa haver , porque alli tem o dobrado destino de fornecer agoa ás casas dos particulares e de acudir aos incêndios , e aqui naó podião ter senão o ultimo, que nada interes- sava aos emprehendedorcs. São estas as reflexões que me occorrem , sem que o meu fim seja criticar; mas sim esclarecer huma Memoria que julgo muito interessante, e digna de ser impressa, como disse no principio,. MEMORIA GEOGNOSTICA PELO BARaO d^eschwege. PROSPECTO GEOGNOSTICO DOS ARREDOHKS DE SETUBAt* Villa de Setúbal está situada em huma pequetta planície banhada do lado do Sul pelas agoas do Rio Sado, que forma aqui hum grande lago, separado do mar por huma lingoa de collinas arenosas, que deixou entre si e o promontório da Serra d'Arrabida, huma cm- boccadura estreita para a communica5ão das agoas; da parte do Poente he limitada pelas alturas do forte de S. Filippc ; pelo Norte se clevão as Serras de S. Luiz c de Palmclla com os seus amenos Valles , semeados de casas de campo e quintas agradáveis ; e finalmente para o Nascente se extendc hum terreno onduloso, e cstcril que acompanha as margens do Sado na extensão de legoa c meia, ate se perder na planície agreste e baixa, onde se achao as Salinas famosas, cujo producto faz o principal Commer- cio da Villa de Setúbal, He também por este lado onde SC tem projectado a communicaçâo do Tejo com o Sado, com- 5'4 Memorias daAcademiaReal communicação qiic de certo ja existio nos tempos remo- tos, quando o Tejo ainda tinha a sua emboccadura na lagoa de Albofeira, sendo os principaes indicios desta supposição, o terreno de Alluviáo pouco elevado sobre o nivel das âgoas dos dous mencionados rios, que se exten- de entre ambas , de maneira que todas as alturas desde Palmella até o Cabo de Espichel formarão huma Ilha. O terreno desta Ilha apresenta varias formaçõ.-s de ro- chas , sendo a formação secundaria a predominante e characteristica, que consiitue a ossada das elevações. O grés vermelho, {gr^f rotige dos Francczes ou Rothtodt-liegende dos Alemães ) faz a base de tidas as mais rochas desta Ilha , e se eleva do lado do Sul des- de o fundo do mar, a huma altura de 300 até 700 pés; humas vezes se apresenta como hum conglomerado for- mado de fragmentos grossos de rochas primitivas, e de pedras siliciosas de differentes cores , conglutinadas por hum' cemento ferruginoso vermelho, que dá a toda esta formação hum aspecto avermelhado; outras como huma rocha arenosa de grão fino com camadas distinctas, c inclinadas do Sul para o Norte, o que não acontece no primeiro caso com o conglomerado, no qual não se dis- tinguem camadas. Este grés vermelho apparece em toda a extensão da Costa desde o Cabo de Espiche! até ao forte de S. Filippe, e ganha a sua maior altura na Serra de S. Luiz, e de Palmella, sendo-lhe sobreposta a pedra ciílcarea alpina , que constitue as maiores elevações da Serra d'Arr3bida , e das mais nomeadas. Já se notou que este conglomerado antigo , princi- palmente onde elle he composto de fragmentos grossos, não mostra accaviadapes visiveis , devendo-se ainda acres- centar que elle forma Tochedos inteiriços muiro rijos, de maneira que se tem usado delles para varias obras de Architectura nas Igrejas da Villa de Setúbal, e das quaes SC distinguem principalmente o portal , e as columnas in- J A DAS SCTEiíICI AS DE I/ISBOAk?A ffi interiores da Igreja do Convento de Jesus, c julgo tam- bém que as duas magnificas columnas na CapcllaMór da arruinada Igreja de S. José cm Lisboa, tem a mesma origem das pedreiras antigas de Setúbal. Somente nas camadas superiores desta formação , que são de hum grão mais fino , se observão a direcção, e a inclinação geral das suas camadas : a primeira se dirige do Nascente para o Poente , a segunda se preci- pita do Sul para o Norte com huma inclinação de 4J^ ■pouco mais ou menos. Nos terrenos mais baixos , nas enseadas das eleva- ções desta formação, para o lado do Convento de Bran- canes , c na encosta do forte de S. Filippe , se encontrão sobre ella aqui e acolá, formações mais modernas, e cm pequena extensão , pertencentes ás formações terciárias , as quaes consistem principalmente em hum grés calcareo marnoso , pouco rijo, e misturado . com fragmentos de conchas , não merecendo maior attenção. Como a formação do grés vermelho sobe a huma nltura considerável na Serra de S. Luiz e de PalmcUa, achando-se separada a primeira da Síírr3.d'Arrab!da em meia altura , por hum valle agamellado que tem o seu declivio para o lado de Setúbal , de maneira que as cor- rentes das agoas , que se dirigem todas para esta parte, causarão hum estrago tão grande nos rochedos de pouca consistência, que quasi começara oa destruir a união da Serra de Palmella com a de S. Luiz. Entre ambas estas Serras se abrirão profundos fossos , e quebradas em dif- ferentcs direcções , segundo a maior ou menor resistên- cia das rochas , c de certo teria sido interrompida toda a communicaçáo entre ellas, se pelo lado do Is^orte não corresse hum estreito espigão de pedra calcarea alpina mui rija, que resistio á influencia destas agoas, conser- vando-as ainda unidas. He por este lado baixo e cortado , que he própria a direcção de huma nova Estrada de Lisboa para Setúbal núo "^5 Memorias da Academiji.. Rea t não obstante as despezas grandes que causará , para evi? tar as subidas e descidas íngremes de Palmella, ou a grande volta , rodeando-se a Serra pelo l^do do Nascea? te. jfjsq 2í A pedra Calcarea Alpina (Magiiesian ímestone dos Inglczes , Zechstein dos Alemães ), constitue, como ja se notoii, as maiores alturas desta Ilha, e se eleva na Ser- ra d'Arrabida segundo as minhas medições barometricas , até 1744 P*^^ sobre o nivel do mar. Ella he mui rija; a sua fractura he conchoida chata, e laa:osa ; jaz em ca- madas de diffcrentes grossuras , que correm parallelamen- te á direcção principal das alturas, de Nascente ao Poen- te, ca sua inclinação , marcada pela base do grés ver- melho, he de Sul ao Norte, cm contraposição á inclina- ção das camadas do Calcareo Alpino encostado na Serra de Cintra. Observe-se alem disso que esta inclinação he maior no declivio da Serra do lado do Norte nas vizi- nhanças de Azeitão, onde ella chega a 75°, sendo por este motivo grande parte deste declivio desprovido de toda a qualidade de vegetação. Raras vezes se encontrão nesta pedra calcarea petrificados de conchas , e os que se achâo , são tão unidas com a rocha , que não se po- dem determinar a que género pertencem. t He incontestável que a qualidade das rochas, a direcção c inclinação das suas camadas, dão ao paiz hum certo caracter ou fysionomia, pelo qual hum obser- vador attento pode ainda a grande distancia reconhecer as qualidades das formações de que he composto , pois ■muitas formações mostrão hum terreno escabroso, corta- do, onduloso ou plano, e cada paiz tem a sua fysiono- mia particular; da mesma forma exercem as diííerentes rochas huma influencia sobre o solo ou terra vegetal , e por consequência sobre a vegetação que serve de en- feite á sua superfície, pela decomposição das rochas so- topostas , e qualquer formação tem por este motivo a sua vegetação particular , as suas plantas predilectas , que nei- BAS SCIENCIAS DE LisnOA. J7 nella vegetáo com preferencia , e desta maneira observa- mos varias fysionomias dos terrenos vizinhos de Setúbal. — Em geral todo o lado meridional das alturas he pito- resco , a encosta ou declivio da grande Serra he escabro- so e Íngreme , mostrando grandes e profundos quebrados , as camadas das rochas apparccem neste lado no seu to- po, e se aprescntão humas sobrepostas ás outras, e por tanto a superfície do solo tem grandes irregularidades , alti-baixos , promontórios c valles , o que lhe dá aquel- le caracter pitoresco , apresentando-se d'hum lado a nu- dez dos fragosos rochedos , e do outro huma vegetação viçosa. Nos terrenos onde predomina a pedra calcarea , he a vegetação menos fértil , o chão he calvo em grande parte , mas não he assim naquelles onde o grés ver' tnelho predomina; pois he nelle a superfície mais suave, e fértil , os promontórios são da forma de meia laranja , os valles amenos e cobertos de terra vegetal , e nellcs se cultivão cereaes, vinhas, muitas arvores de espinho , e a oliveira, o que dá hum aspecto, e huma fysionomia que agrada á nossa vista. Observando-se porem o lado opposto da Ilha , isto he o lado do Norte, se descobre hum aspecto inteira- mente differente , reina deste lado huma monotonia ex- traordinária no aspecto , causada só pela inclinação das camadas da pedra calcarea para esta parte , que não dei- xou lugar, principalmente pela sua aspereza, para apre- sentar vJricdades, nem na formatura das alturas, nem na vegetação j quasi he huma uniformidade em tudo, que en- tristece o coração. Toda a Serra por este lado parece hu- ma parede inclinada e liza com pouca vegetação , que brota miseravelmente nas fendas das rochas ou sobre al- guns assentos de pedras , consistindo toda esta vegetação de querctts bumilis , Pistacia lentiscus , Arbiitus unedo , lau- rtis etc. etc. e só no pé da Serra, nos declives mais sua- ves e assentados, onde a terra vegetal conduzida das al- Jovi.XU, ^ tu- jS Memouias da Academia Real turas próximas se ajuntou cm abundância , com O acon- tece com preferencia, no declive da Serra de Palmclla , onde cresce com todo o vicio a oliveira com ò seu ver- de melancólico. Nas visinhanças da Villa de Azeitão hc o aspecto mais avivado, pela apparcncia deformações terciárias y que aprescntão huma vegetação com variedades, mas na- da tem de pitoresco ; os olhos logo se perdem sobre o terreno baixo e arenoso de alluviao que formou o leito das agoas do Tejo , pouco ou nada cultivado, e no qual aqui e acolá se achão alguns pinheiros , mas mormente são estes terrenos cobertos de Eriças, Cistus , Thymusf Èavendiila etc. etc."' ■ ••'■•'•' Porem' tornemos 'dtí fioVo a Setúbal: Tão variado e agradável he o terreno para o Poente c Norte desta Villa, tão agreste, estéril e monótono he á vista para o lado do Nascente. Já as ultimas casas da Villa se achão sobre collinas arenosas , que se extcndem pelo Rio Sa- do acima, e se perdem finalmente na planicie que com- munica com o Tejo. Estas collinas formão hum terreno onduloso , somente cultivado nas suas baixas com algu- mas vinhas , e sobre as suas alturas crescem poucas oli- veiras, c pinheiros mal tratados; estes últimos princi- palmente povoão a collina que acompanha o Rio Sado por espaço de legoa e meia , rodeada em grande parte por huma enseada, onde se achão estabelecidas as cal- deiras principaes para a producção e fabric;ição do sal marinho. As arêas destas collinas são productos de alluvião, consistindo mormente de partículas siliciosas ferruginosas c niícaceas y unidas por huma leve conglutin;ição , que facilmente se desapega, apresentando, estando sem ve- getação, huma arca solta, mas sendo este solo o ele- mento de muitas plantas próprias dos climas quentes , como v. g. os Jgaves , Cactos etc. etc. Neste terreno nada se offcreceria de notável e in- ter- DAS SciBWCiASriE Lisboa. '/^ 5"!? tercssante , se não fossem os grandes depósitos de Turfa que SC achao rodeados por cllc nas suas partes inunda- das , os quaes até agora náo tem merecido contemp'açáo alguma, nao obstante a grande escassez e carestia do combustível que se experimenta todos os annos cada vez mais cm Lisboa, e de balde tenho eu procurado pro- mover a sua exploração. Mas este he objecto que não interessa tanto a hum Geológico , como a observação de hum notável rochedo que se acha sobreposto ás arcas soltas da collina próxima d Villa , ç das margens do Rio, e que hc conhecido debaixo da denominação de Pedra furada , distinguindo-se pela sua configuração grutcsca , aspecto escuro , e superfície carcomida e áspera , cavada por huma immcnsidade de cavernas e buracos, formando hum contraste extraordinário com arêa solta de que he ro- deado , e que lhe deu a origem. Este rochedo se acha saliente no declive da collina arenosa, e terá na sua maior altura 8o palmos sobre o nivel do Rio que banha a sua base, que consiste de arêa solta ou pouco conglutinada. O seu diâmetro pari todos os lados terá 40 até 50 palmos , e todo o lado que está encostado á collina se acha ainda encerrado nas suas arôas. As partes constituintes deste rochedo são as mesmas que as arcas vizinhas , com a difFercnça serem congluti- nada por meio de hum filtro , serido as suas partes constituin- tes de aspecto granuloso , redondas , e mechanicomente unidas humas ás outras , por hum glúten , no qual obrou huma acção chymica ou talvez huma acção de fogo elé- ctrico , e naturalmente vem á lembrança do geólogo -a formação dos Fulgnriteí. Entretanto se olharmos para os Fulgnrites verdadeiros que se tem descripto até agora, e que encontrei nos Mcdões da Adiça , (Tom. XI. parte I. da Historia e Memorias da Real Academia das Sciencias de Lisboa) se nota huma diíTerença extraordinária entre estes canudos , e dos da Pedra furada. Aquelles em com- paração do seu diâmetro, tem só huma casquinha mui delgada que facilmente quebra , e a casca destes he de huma grossura excessiva e mui rija. Mas a diíFerença principal consiste na sua posição natural nas arêas soltas, T-sn-iS aqucl- €i Memorias, da Academia Real :aqiielles formão ramificações , que partem como as raízes de huma arvore , de hum tronco principal , tanto para a profundidade das arêas cm direcção vertical, como para os lados sendo divergentes. A matéria eléctrica se espa- lhou , e se ramificou , e qualquer faisca que se separou., formou hum pequeno canudo. Mas não he assim com es- tes , pois não SC ramificão , e estão vcrticaes e parallc- Jos huns aos outros. Naquelles hum raio só prodiizio centenas de canudos grandes e pequenos; aqui se tiles fossem productos de raios, cada canudo devia ter sido formado por hum raio particular , e este he o objecto principal que faz duvidar de serem productos de raios. Seria hum phenomeno muito singular e extraordinário se este lugar no seu tempo tivesse sido tão attractivo pa- ra a electricidade, que servisse de conductor a tantos raios quantos canudos aqui se encontrão; porem não se lem- brando ninguém que nos tempos modernos tenha cahido raio algum sobre este rochedo, qual seria o motivo por que clle havia de perder esta attracç.vo á matéria eléctrica? tanto mais que no estado actual da sua isolaçáo deveria estar mais próprio para attrahir raios , do que no seu es^ tado primitivo, quando as agoas do Sado não tinhao la- ■rado e transportado as arêas nas quaes estava enterrado e envolto. Admittindo que este rochedo estava na sua primiti- va posição , enterrado nas arêas , e que as agoas cobrião estas, facilmente se pode conjecturar que mesmo neste terreno de ailuvico, por huma acção c.attracção chymi- €3, SC pôde formar hum deposito de mineral de ferro paludoso, unindo comsigo as partículas arenosas , envoj- vcndo-as, dando-lhes consistência, visto que aindu se pro- duzem e^tes mincr..cs de phosphato de ferro nos ttrrtncs húmidos ', mas hum enigma geológico será sempre esta apparen.ia dos canudos, entretanto procurarei dar alguma explicação a rcspçito da sua origem, (jue patfice, ter aliju- ína probabilidade. ,-i .luí tci oiaiifioi I: -iu.i,.. Lcm- I DAsSciENciAs DE Lisboa. ffj Lembro-me rcr encontrado nos sertões do Brasil, on- de predominava o grés vermelho , que mostrava em algu- mas partes cabeços isolados de mineral de ferro verme- lho , alguns pequenos canudos soltos, muito similhantes a estes , c não se achando lá arcas soltas como aqui y era por tanto impossível que os raios os podesscm ter produzido; mas com tudo, os canudos existiao e dcvião ter alguina origem, c me inclino a admittir, que a sua configuração he devida a vcgct-ics que forao envolvidos nas dissoluções ferruginosas que endurecerão á roda dcl- Jes mais que em outras partes , pela maior attracção das suas partículas , apodrecendo com o tempo o seu nú- cleo vegetal , tomando o seu lugar huma arca fina que se introduzio pelo seu orifício, e apresentando-se por fim com a configuração de canudos debaixo de diíFerentes formas, como também os achei no Brazil em hum terre- no dcschisto argilloso ferruginoso, onde tinhão a configu- ração de raizes de plantas. Admittindo agora , que este terreno baixo e paludoso de Setúbal , antes de ser cober- to pelas arêas de alluvião , estava coberto de vegetação c principalmente de canas , que são próprias a simi- Ihantc terreno , ficando muitas delias neste sitio do ro- chedo em pé , forão ellas embrulhadas na dissolução fer- ruginosa e arenosa, qu^ dcrao a origem a estes canudos verticaes , e dos quaes alguns são algum tanto curvos ou pouco inclinados. O orifício redondo ou ovado tambctn tem toda a similhança com o corte transversal de huma cana, e as paredes íizis no interior são conformes ao exterior da mesma. Alem disso os depósitos de Turfa nestas visinhanças , parecem comprovar a existência de huma vegetação de plantas aquáticas , e paludosas , que com o tempo foi coberta pelas arêas conduzidas pelas correntes das agoas do Tejo e Sado , e amontoadas cm coUinas pela contra-acção das ondas do mar visinho. MEMORIA SOBRE A CULTURA DOS PINHEIROS , E EXTRACÇÃO DE SUA MATÉRIA RESINOSA, quE A' ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS JOAQUIM LUIZ DA CRUZ. Dos Pinheiraes e suas proàtu^oes. D 'ívidimos este Capitulo em dous parágrafos : no pri- iTiciro fallaremos de hum modo genérico , dos pinheiraes e suas producçócs : no segundo faremos conhecer miu- damente a espécie de pinheiro de que se compõem; e diremos duas palavras sobre cada huma de suas produc- ções , como também o methodo que se usa para as conseguir. Alguns leitores acharão talvez ridiculo , que fatie- mos de huma cousa conhecida de todos , porém pedi- mos-lhe o favor de observar, que se este Opúsculo sahe de nossa esphera, aqucUes que o lerem, nos agradecerão de os ter posto ao alcance de poder aproveitar utilidade que nosso methodo lhes offerece ; como também o fazer-nos conhecer aquelle que julgar prcferivel. Tom. JCiL q ca- 66 Memorias da Academia Real CAPITULO I. Dos Pinhciraes em gerai. Entcnde-se por Pinheiraes , a serie de Matas de pi- nheiros que se encontrão por exemplo , no termo de Leiria, ao Sul de S. Pedro de Mucl , ate ao lugar da Vieira, e que tem pouco mais ou menos trcs Icquas de comprimento , e duas de largo , e a que chamáo o Pi- nheiral Real. As matérias que cllcs produzem , consiste : 1.° Resina molle ou Thcrcbentina Producto directo. 2.° Galipole ou Barras (i) . . He a mesma substan- cia. ■ ' f' Producto da distilla- 3.° Essência de Therebentina . . < ção da Resina mol- (. Ic ou Thercbefitina. o T> S Restos da distilisçâo 4. Breu secco < j n • u' ) da Resina molle. Mistura de Bíeu sec- co , c de Galipole, da qual as di^-posi- 5:.' Resina amarella . # . . ^ ções das moléculas he cafres»ada- por huma addi^ão de •ngoa. (1) Galipole ou Barros, he a resina que fica coalhada nas incí- £ucs do pinheiro. 6° Pez (breu gordo) . e outras ma- y." Alcatrão DAS SCIENCIÁS DE LiSBOA. 67 / Producto da com- \ bustão que se faz <^ a fogo coberto, dos ) filtros V_ terias. Producto da combus- tão que igualmen- te se faz a fogo coberto , dos Pi- nheiros velhos, e das raizes desta ar- vore, tudo cortado em achas. Todas estas matérias resinosas podem produzir 03 Pinheiraes , quer sejâo do Estado , quer particulares , e não temos necessidade alguma de ser tributários do Es- trangeiro. Por que razão , em lugar de lhe pagarmos sommas enormes , não faremos gozar delias a nossos compatriotas, e não lhes facilitaremos o gasto e venda de hum producto que temos em nossas mãos ; cuja venda fará a prosperidade dos habitantes dos lugares em que cilas se produzem ? A parte meridional do districto da Sarthc, a 6 Icgoas da Cidade de Mans em França, era a mais árida possivel , e esteve por muito tempo incul- ta ; a industria fez utilizar esta terra ingrata , empre- gando-a na cultura do Pinheiro maritinio , c hoje está este districto coberto desta arvore tão proveitosa. Alem de que , o alcatrão tal como deve produzir em Portugal, rivalizará ao melhor estrangeiro, se o proprietário das Matas o soubesse cultivar , e fosse animado na sua pre- paração , e tivesse a certeza de o poder vender , por- que o proveito he certo. Pouco diremos sobre as outras producçõcs , taes co- mo taboas , madeira de Carpinteiro, de construcção, etc. etc. etc. , porque ellas são assas conhecidas j porem o 9 ii que 69 Mem oníAS nA AcA DEMiA Real que farei obscrvnr he , que se deve considerar todas es- tas matérias como objecto de prosperidade publica , e infinitamente interessante , e que fará o único recurso da parte do território o mais ingrato dos district^s de Portugal ; devendo haver huma Lei para a conservação desta arvore tão preciosa , que em todo o tempo que cresce , fraca na sua origem , excita a voracidade dos animaes , e he frequentemente destruida pelas cabras , que são devastadoras; cuja destruição, ou an menos a sua expulsão total d'aquelles sitios , deve ser ardente- mente desejada por todos os proprietários de Pinliciraes , • porque ellas se nutrem da casca das Pinheiros novas quando não podem alcançar os ramos. Apezar destes in- convenientes, a Administração das Maras está sugeita a antigos regulamentos viciosos ou imperfeitos, e sempre insufficientcs para a sua conservação. As mesmas causas impedem os Pinheiracs a repro- duzir mais promptamente do que o não fazem , logo que são cortados, ou destruidos por outro qualquer acci- dentc. Não devo occulrar o desleixo completo em que os proprietários deixão abandonado á natureza o cuidado de tornar a semear por si mesmo, os espaços desprovi- dos de Pinheiros, e sua falta de cultura, e por isso pode alguém admirar-se de ver crescer de dia em dia os luga- res áridos por falta de Pinheiracs ? Nenhum objecto de- ve fixar mais essencialmente a attençâo superior , do que este , seja pela sua utilidade em geral , seja no interesse dos proprietários, pois a necessidade de entreter huma I»larinha , quer de Guerra, quer Mercante; o augmcnto que deve haver na população, e a precisão geral que os Portuguezes tem, em melhorar suas habitações, faz pre- ver , que para o fim do Século , haverá em todas as Províncias huma falta muito grande de madeiras, não so- mente de construcção , mas também para queimar. Ninguém ignora , que se deixa apodrecer nos lu- gares «m que estão , huma quantidade incalculável de Pi- DAS SCIENCIAS DE LiSBOA; 69 Pinheiros, seja dos que se cortão para aclareccr a Mata» seja d'aquclles que o vento abate. Os primeiros podem ser convertidos eni carvão, e os segundos cin taboas para obra de carpinteiro , ou de construcção , que muita gen- te compraria em todas as Cidades do interior. Para iito seria necessário pôr em execução o projecto que se não deve desprezar, de formar alguns Portos auxiliares • tor- nar as Lagoas navegáveis; estabelecer entre todas huma communicação fácil , e acrescentar a tudo isto Canacs de narcgação, que una huns Rios aos outros. CAPITULO IL Dí? Pinheiro e suas producções em particular. Rigorosamente fallando , deve ençontrar-se huma só espécie de Pinheiro nas nossas Matis ; as outras só se encontrão por acaso , ou por terem sido semeados. Po- rem será esta espécie a mesma denominada pelos autoras Pinheiro Marítimo} he muito provável j c.om tudo, o que a este respeito temos lido, e as configurações que temos consultado, deixando-nos alguma duvida, nos de- terminou a dar a seguinte descripção. Pinheiro de Portugal, Foliis acto vel novem poUicarihus : Strolilis conicisfoliit Suhduplo brevioribus ; Subsessilibus ; binisy ternis, quatertfit , raro quinis vel senis , verticillatim dispositis , ápice rertirvisj aã terram versis, Floret maio : ab arena quartzi ; circa lit- tus tarbellicum. Arvore de 80 a 100 pés, enramada des- de a base com ramos assas juntos da arvore , quando he pequena: quasi horizontacs na idade avançada: dispostos cm verticulas indicando o numero de annos que o tron- co tem: os primeiros ramos morrem cedo, deixando comi tu- 7à Memorias da Academia Real tudo os signaes de haverem existido : todos os troncos dos ramos sao igualmente verticulados, e indicão a idade de cada hum delles. A raiz hc cm parafuso se o tcncno o permitte, do con- trario, procura a superfície quando cila encontra tufos ou pedras. A casca he vermelha quando o arbusto he novo; torna-sc cinzenta de hum até quatro annos: muito rachada quando he velha ; de hum negro escuro exterior , e de hum vermelho cor de tijolo escuro interiormente, e cm camadas. Os rebentões novos são despidos de folhas por alguns mezes , e somente cobertos de escamas : são lan- çados para fora pela ponta , ralos no pé da arvore , e muito juntos na cxtreinidade. As folhas de Pinheiro velho nascem duas a duas , e tem de comprimento 73»? polegadas, e huma linha de largura-, são bicudas, chatas interiormente, convexas exteriormente, de hum lindo verde, riscadas longitudi- nalmente ; as bordas sensivelmente denticuladas persistin- do muito agarradas á arvore durante três annos, separa- das e dispostas em torno dos ramos, e da aste principal na distancia d& três linhas humas das outras. Sementeira do Pinheiro, O Pinheiro raramente he semeado no nosso paiz, porque a natureza faz esta despcza. Para as grandes sementeiras desta arvore deve la- vrar-se a terra , fazendo regos que tenhao 5: a 6 pés de largo, e a mesma distane^ia de intervallo huns dos outros sem se lavrar; depois lança-se a semente, que se cobre de terra o menos possivcl. Nas visinhanças de Boideos empregão mais semen- te para poder obter no fim de 6 a 7 annos , pãos finos ou latas, que lhe servem para atar horizontalmente, e fa- zer huma espécie de cadêa para sustentar a vinha. Os Pinheiros devera semcar-se nos mezes de Fevereiro c Mar- DAS SciENciAs deLishoa, fl Março, e mesmo cm Abril, se a Primavera não hc sccca. A semente desta arvore, pode conscrvar-se muito tempo, e ha mesmo quem a tcnlia semeado no fim de •6 aniios , porém a nova sahe muito mais promptamcntc que a velha , e não corre tanto risco. A semente hc sempre boa, quando se colhem as pinhas depois do Inverno, as quaes se devem fazer abrir ao Sol do Estio, guardando todos os dias em lugar scc- co os grãos que vão sahindo. Mu;tas vezes colhem as pinhas verdes, por exemplo em Dezembro, ou bem as põem ao Sol da Primavera cm grande quantiiladc ; a se- mente que sahe , apanha humidade da terra , e mesmo chuva , o que a faz fcrm.cntar , e lhe dá as propriedades reproductivas , de sorte , que emprcgandose o triplo desta semente, não ha a certeza que a Sementeira seja sufficicntcmente guarnecida. Quando se quer renovar hum Pinheiral destruído pelo machado, ou pelei fogo, deve afastar-se d'alli o ga- do de toda espécie ao menos por 4 ou $ annos , e as cabras por 10; se não tomarem estas precauções, os pi- nheiros novos são comidos, c com elles se perde a espe- rança de hum futuro Pinheiral , a não ser que o se- mêem de novo , ou tomem as precauções que acabo de indicar. Digo "que basta tomar estas cautelas, porque por muito grande que tenha sido o incêndio , este não dcs- truio as sementes que estavao debaixo da terra antes dcs« te accidente. Nas Matas do Estado , que ha cm alguns districtos, se deve semear os pinheiros a grandes distancias huns dr>s outros ; e as arvores a que cortarem pouca lenha , "serão mais bellas que as outras; remos visto plantações, cm que deixarão as arvores a huma grande distancia (i). Cul- (1) Edí geral , os proprietários em França , julgão ter mais pro* 72 Memorias da Academia Real Cultura do Pinheiro. As terras arcosas , ligeiras, c sobre tudo aqucllcs sitios que vão em dcciivio, são os que melhor coa- vam para a cultura desta arvore : para as obter boas , he necessário desbasta-las de y até lo annos ; antes e de- pois desta época, os ramos inferiores morrem, e supre o desbaste ; conseguintemente basta destruir os pinheiros novos produzidos das primeiras sementes , porque elles tolherião o seu desenvolvimento. A 20 annos devem es- tar á distancia de huma toeza huns dos outros. Algumas pessoas estão no uso de desbastar as matas somente no fim de 8 annos , para tirar melhor partido da lenha que cortão ; porem esta' demonstrado, que este uso he perni- cioso , e que a arvore privada do ar cresce somente pa«; ra cima , e fica fraca. He necessário observar , que o pinheiro arranca-se facilmente nos primeiros 3 annos , mas he mais provei- toso corta-los , porque a arvore não arrebenta mais , e não se corre o risco de destruir as raizes dos outros que ficão. A poda exige muito cuidado, pois muitas vezes Jhe tirão muito , e mais cedo do que he necessário ; a expe- riência tem mostrado, que senão devem podar os pinhei- ros senão a 10 annos, e na parte inferior até á terceira parte de sua altura ,65" annos depois he que se deve renovar a mesma poda , deixando os ramos até a metade superior da arvore. Quando huma plantação tem 2c annos , basta dei- xa r- voito semeando muito junto para depois destruir. Este uso lic contra- rio is regras que seguem nas grandes plantações cm Inglaterra, por- que as arvores a grandes distancias são muito mais bcllas, e delias se tira no fim de poucos annos hum beneficio que os indeniniz.i aui- plaineute. Walter tícott publicou iiunia Memoria a este respeito. TIAS SCIENCIAS D'E LiSBOA, 73 xnr-lhe a 5.* parte da sua totalidade de pinheiros, o que faz com que engrossem, c não subiío, do contrario, to- da a seva llie vai para cima, e faz com que só sirvão pa- ra queimar. O pinheiro de 40 a ^o qnnos, he o melhor para cortar , c fazer em traves , barrotes , ou taboas. Tempo em que se deve podar o pinheiro , e sua duração. Em todos os tempos se podem podar os pinheiros, porem a lenha que se abate nos mezes de Fevereiro c Março, tem mais valor. Se a arvore hc nova, he neces- sário esperar que os grandes frios ou neves passem ; com tudo , he nestes dous mezes que se devem podar, porque mais tarde, a resina e a seva se perdem pelos lugares cortados ; além de que , se a ponta da haste se quebra por qualquer accidente, todos sabem, que cahindo a pon- ta do pinheiro , a arvore não pode crescer senão pelos ramos lateraes , e então vem disforme : aconselharia Sempre fazer cortar cora cuidado , e o mais próximo possível do tronco da arvore , os ramos dos pinheiros que são destinados a qualquer obra , porque se os cor- tão i distancia de algumas polegadas do tronco princi- pal , os restos que ficão pegados á arvore , apodrecem, e pelo tempo se achão serrados no tronco, que engrossa-, c então as taboas , barrotes , ou vigas, que se obtiverem da arvore , achão-se defeituosas. Hc bom observar a este respeito, que os mesmos inconvenientes se apresentáo a respeito dos carvalhos quando os podão; se a arvore hc muito forte, cos ramos que se querem supprimir não são grossos , devem cortar-se muito próximos do tronco, porque antes de dous annos a casca torna a òobrir o lugar onde os cortarão. O momento para abater os pinheiros marítimos des- tinados a fazer taboas , barrotes , ou vigas , e mesmo pa- ra mastros , exige muita attenção : o uso antigo limita-se Tom. XI 1. 10 a 74 Memorias daAcademía Real a abater os pinheiros na lua cheia, sem lhe importar em que tempo ; mas está demonstrado , que esta arvore deve ser abatida em Dezembro , Janeiro ou Fevereiro y nos grandes frios ou neves. Todas as experiências feitas nos pinheiros abatidos nestes três mczes , derão hum re- sultado bem scnsivcl na differença de sua duração ; por conseguinte devem cortar-se nas luas cheias , porém nos mczes acima indicados , porque abatidos no Estio , sao promptamente atacados pelo bicho, e furados. Ha muita gente incrédula sobre a influencia que faz a lua na du- ração das madeiras , mas as muitas experiências tem mo- dificado os da opinião contraria. Depois do resultado dê tantas observações , o peior tempo para abater o pinhei- ro he a Primavera , época em que a seva tem mais acti- vidade , sobre tudo na diminuição de lua desta esta- ção : o pinheiro assim abatido pica-se do bicho no fim de 3 annos , c mesmo ja o virão picar no fim de ly dias se o conserváo na casca , em quanto que cortado no Inverno por hum tempo secco e frio , só he picado no fim de yo annos: farei observar, que quanto mais velho for o pinheiro , menos apodrece , e mais dura. O pinheiro de 20 a 30 annos adquire toda a força sufficiente para satisfazer os desejos do cultivador ; os re- sineiros assim ojulgão, sobre tudo quando elles estão junto a huma arvore, e a podem abranger com hum dos braços sem que possão ver a ponta dos dedos. Presume- se que não dura mais de ijo a 200 annos, porque nun- ca SC deixa chegar a esta idade , visto que dá muito pouca resina quando he velho, e he a razão por que en- velhecendo , ou sendo abatido por algum outro motivo , junto acile se deixa crescer outro, para o poder supprir; desta maneira o mesmo pinheiral pode durar por sécu- los , porque se renovão as arvores á medida que se vão destruindo. DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 7; Extracção da Resina. Quaiulo SC julga que hum pinheiral pode ser pos« to em cultura , a principiar do mez de Fevereiro até Outubro, os resineiros cortao junto ao pc da arvore, e sem tocar na madeira , hum pedaço da casca grossa , ta- zcndo-lhc huma superfície ou incisão de 4 a 6 polega- das de largo, e iz a 18 de altura, a quil se renova hu« ma ou duis vezes por semana , fazendo-as mais compri- das , mas nunca mais largas, sem com tudo passar de 18 polegadas em todo o anno : estas incisões prolongão-se ate a altura de 11 a 14 pés, o que acontece no espaço de 5" a 6 annos, e a's vezes menos. Nesta época principia-se huma nova incisão paralle- la c contigua á primeira até que chegue á mesma altura; depois huma terceira , huma quarto", e assim seguida- mente até fazer a roda de toda a arvore. Durante este tempo , tendo-se fechado as antigas incisões, se praticai novas sobre as cicatrizes , que estáo inteiramente cob.T- tas, e fazendo-as com precaução, pôde obrer-se resina de huma arvore por 60 annos , sendo bem tratadas. Alem disto pratica-se huma pequena cavidade da capaci- dade de hum quartilho de agoa no pé da arvore , em huma de suas raizes grossas para receber a resina que corre , a qual se chama therehentina l/ruía , cuja cavidade se enche ordinariamente todos os mczcs. Ha huma por- ção de resina , que no Estio fica pegada á superfície das incisões, a qual se despega no inverno, e a que dão o nome de Galipote ou Barras. Se o resineiro, ou proprietário, julga que os pi- nheiros são numerosos, para os destruir, e tirar delles partido ao mesmo tempo , talha-os á roda do tronco to- dos os annos, sendo os cortes a huma altura triple dos outros: estes pinheiros são os que devem ser abatidos, para delles se extrahir o alcatrão. Algumas vezes deixa* 10 11 SC f6 Memobtaí da Acatemia Rkal se dcscnnçar o pinheiro quando tem dado resina jirr 4 ou f annos, porém fa/.-sc de luima niancira sensível, pa- ra nao SC ficar privado inteiramente da eolheita: se a'} contrario, hum pinheiro he muito vigoroso, fí;zcm-sc- Ihe duas incisões ao mesmo tempo. Escuso lembrar, que para fazer as incisões até á altura de que acabo de iA- ]Br , prccisa-se de huma escada, aquella de que se ser- vem os resineiros no districto das Landes, he de huma pe- ça inteira , ao longo da qual tem praticado entalhes pa- ra metter o pc , tendo toda ella 16 a 18 pés de altura. A maneira de servir-se hc o seguinte. O resineiro muni- do de huma machadinha , cujo fio deve ser de bom aço, encosta a escada a hum dos lados da arvoro ; supponha* mos que seja o esquerdo; neste caso segura a escada, ora com huma , ora com outra mão , sobe por cila com a mesma presteza como o faz hum carpinteiro com a sua escada ; chegando á altura a que se propõe , passa a perna esquerda entre a arvore e a escada , apoiando ^ ponta do pc esquerdo contra o pinheiro , e mettendo o pc direito cm hum dos buracos da escada , que tem for- temente cerrada contra a arvore: nesta posição pega n^ machadinha com ambas as mãos, e faz a incisão iiO pi- nheiro com tanta facilidade como se estivesse apoiada r.o chão, ou que a escada estivesse contra a arvore ordinai riamentc. Colheita da resina. O pinheiro produz duas çspecies de resina ou thcre- bentina : a primeira hc aquella que se coalha pelas in- cisões abaixo, c he de hum branco que atira ligeira- mente para amarellado , da consistência do mel , de hum cheiro forte , e sabor acre c amargo , mais ou menos es- pessa como a cera, com a qual muitos a misturão. para fazer velas , a fira de dar-lhc mais flexibilidade c firme- za; a esta espécie lhe chamão Galipote ou Barras, e se colhe huma vez por anno , pondo-a em referva debaixo de I dasScienciasdeLisboa. 77 de telheiros. Em França , no districto das Landes , lie onde se cxtrahe mais quantidade , e onde produz mais substancias resinosas. A segunda espécie he thercbentlna bruta^ ou a resina misturada com outros corpos cstisnhos; esta se apanha ao menos huma vez todos os mczcs nas cavidades prati- cadas na raiz das arvores , e se guarda cm reservatório^ feitos na terra, da capacidade de ijo a 200 barricas: estes reservatórios são guarnecidos no fundo c pelos la- dos , de taboas de pinho muito grossas, juntas de ma- neira que não deixe sahida á therebentina. Resina molle , ou therebentina bruta. A resina molle, ou therebentina bruta, misturada com muitos corpos estranhos, submettendo-a á distillaçao, se obtém a essência de therebentina , e o breu secco ; a es- sência passa pelos recipientes, e o breu secco, ou Calo- phanc , fica no alambique no estado liquido , e esfriando, vem solido, escuro, e quebra facilmente. De 250 ar- ráteis de therebentina se deve tirar pouco mais ou menos 30 de essência, e por conseguinte 220 de Calophane (breu secco) , de que se podem formar pães que pezem de quintal e meio a dous quintaes. Resina amarella. A resina amarella se compõe pouco mais ou me« nos de huma parte de Galipote, e três de breu secco: esta mistura se faz em hum tanque de madeira, para on- de se deixa correr o. breu secco bem quente sahido do alambique, e alli se lhe junta o Galipote; logo que es- teja misturado , se passa pelo filtro para outro tanque maior , deitando-se-lhe por cima huma quantidade de agoa maior ou menor ; ordinariamente he asextaparre, do que resulta hum grande dcsenvolvimctito de vapor , e hu- yS Memorias raAcademia Real tiuma mudança de côr cm roda a matcria , que ycm de hum bello amarcilo de ouro , a qual se trabaiha no tan- que até principiar a coalhar para se pôr cm pães. Inda SC pode fazer outra resina mais bcUa que a pre- cedente, chamada resina de botica, compondo-a quasi toda de Barras ou Galipote , porem fazendo-a sempre da nics- ma maneira. Pez negro. Na palha que se emprega para fazer os filtros, e que se deve deixar ao ar livre depois de ter servido, fi- ca pegada huma certa quantidade de thcrcbcntina, e ma- terias resinosas , que servem p;ira fazer o pez negro j para este effeito, lança-se successivamenre esta palha em molhos, em hum forno cuja forma he sensivelmente oval, c tem de lo a ii pés de altura, e pouco nais ou menos y a 6 pés de diâmetro, na sua maior largura: este forno apresenta duas aberturas, huma superior as- saz gr..nde, pela qual se carrega ; e outra inferior c mui- to mais pequena,' pela qual corre o pez; esta que se acha no mclo :do ladrilho , não he por assim dizermos , senão huma cavidade quadrada, ou reservatório, no fun* do do qual está adoptada huma goteira vcitical, que es- tabelece huma communicação entre o forno e huma cu- ba ou tanque, que serve para receber o liquido. Qiiando huma carga está quasi queimada, lança-se-Hie outra, c assim successi vãmente , cujo trabalho pode durar ly dias: então hum obreiro entra dentro do forno, lim- -pa-o', c SC pode de novo principiar o trabalho. De cada carga se tira certa quantidade de hum liquido viscoso negro , que saiie pela goteira para o tanque ou cuba , e he a que chamão /)es gordo, do qual se servem depois, para fazer. também o breu gordo, como abaixo diremos; e para se vender no Commcrcio, he necessário fazc-lo co'4er. çm huma caldeira de ferro fundido , até que tome •uá con- DAS SciENciAs DE Lisboa. 79 consistência depois de frio: he ordinariamente em for- mas de terra negra , que' o conscrvão para o expedirem , quando o não querem mctter logo nos barris. Pez amarello , ou pez de Bourgogne, Algumas pessoas pretendem , que esta espécie de pez seja unicamente o Galipote derretido, e posto em contacto com o vinagre. Nas Landes prepara-se algu- mas vezes huma matéria análoga, fazendo derreter o Ga- lipote, e juntando-Ihe huma pouca de essência de there- bcntina , passando tudo por hum filtro. Jlcatrão. Ha huma época na qual as arvores ja não são capa- zes de fornecer a therebentina ; então servem para del- ias se tirar o alcatrão; para isso corta-se a madeira era bocados, da grossura mediocre de meio palmo, e 2 pés de comprido, e quando estão seccos a hum certo gráo, tornão a cortar-se de maneira que se possão dividir conve- nientemente na grossura de huma polegada. Os pinheiros cortão-se ordinariamente no Inverno, e he na Primavera que se procede á extracção do alcatrão. O aparelho para fa- zer esta extracção, da-se-Ihe o nome de forno ^ e se compõe de trcs partes principaes , a saber : da eira , ca- va ou recipiente , e da goteira. A eira he huma super- ficie circular, hum pouco concava, apresentando huma abertura redonda no centro, a qual he ladrilhada de ti- jolo onde esta esta abertura , até ás duas terças partes do raio , e alem disso coberta de barro em todo o sentido ; a cava, ou recipiente, he hum fosso posto algumas po- legadas por baixo da eira , e o seu interior he guarne- cido em todo o sentido, de madeiros quadrados, e per- feitamente juntos. Em fim a goteira he hum conducto que 8o Memorias da Academia Reai, <]ue se adopta a abertura da eira, c que estabelece hú- ma communicação entre clle e o fosso. Quando se quer extrahir o alcatrão, principia-se por collocar na eira, e no orifício da goteira, huma vara h;n- ga verti cal' j depois põcm-se os bocados de páns ao re- dor desta vara pouco mais ou menos como fuzem os carvoeiros: estabelccem-se assim 4 ou j camadas, hiimas sobre as outras, c vao-se estreitando de maneira que forme huma sorte de cone troncado; este cone, que varia mui- tas vezes em suas dimensões, seja na largura e alf.ira , toma o nome de estancia : cobre-se com terrdes de rel- va , e 24 horas depois tira-se-Ihe a vara, e p6c-se-lhe fogo nas aberturas praticadas por cima, á roda desta es- tancia, tendo o cuidado de as tapar, depois que tudo esteja inflammado, e ha signaes que dão a conhecer aos obreiros se a operação vai bem. Juntaremos somente ao que "aca- bamos de dizer o seguinte : 1° Que a thercbcntina escorre pouco a pouco dos bocados de páos , e perde huma parte da sua essência , c se junta na eira , tendo a goteira fechada. 2." Por este meio a therebentina se altera , e toma huma cor negra ;• transforma-se em alcatrão, e separa-se da agoa e do acido acético , que a madeira pode formar decompondo-se. 3.° Somente no terceiro dia he que se abre a goteira pela primeira vez, e que a datar desta época, se abre duas ou três vezes por dia. 4." Qiie os alcatrões das Landes preparados desta forma , são tão bons como os do Norte , aos quaes o Commercio da* a preferencia. 5.° Que sempre se pode melhorar aquelles que são de má qualidade, tornando-os a cozer, para vaporizara agoa ou acido phyroliginoso que os altera , mudando-os depois de estarem de infusão, para lhes separar a arca, e matérias terrosas com as quacs ordinariamente estão misturadas, 6." ' bAs SciENciAs De Lisboa. íí 6." Que em fim , no caso em que não sejao assaz Vi" qiiidos, basta misturar-llie huma pouca de essência de tlie- rcbcntina , para lhes dar ográo de fluidez conveniente. Breu gordo. De partes iguacs de alcatrão, breu secco , ■• e pez» cozido tudo em huma caldeira de ferro fundida , se for- ma o breu gordo , o qual se mcttc em barricas , ou se faz cm formas: se juntarem a esta mistura maior quun- tidadc de breu secco, se tórma o pez bastardo. Final- mente, ha outro producto que se prepara nas Landes, e he os pós de sapatos : a operação consiste em queimar matérias resinosas, por exemplo, breu secco. Faz se hum quarto de madeira forrado de serapilheira grossa , depois põc-sc o breu secco em potes de terra ou marmitas dé ferro, ao qual se põe fogo, fcchando-se o quarto em quanto dura a combustão : esta dá lugar a hum fumo espesso , que passando a travez da serapilheira , deposita nella o negro, que se apanha de tempos a tempos. Todos os corpos combustíveis que se apanhão nos pinhciraes , por estarem cobertos de resina, os filtros de palha, os restos de breu secco, raizes ou cepas, e todo e qualquer corpo que tiver resina , serve para fazer o pez gordo ; e quantas mais cepas se lhe juntarem , mais gordo he. Ha outro producto que resulta da operação do al- catrão, e he o carvão, o qual he de qualidade muito inferior áquelle, preparado pelo proceder ordinário, porem vende- se aos ferreiros do paiz muito mais barato, ou ser- ve para o uso de casa. TcM. XIL it 1^1*- t% Memorias d\ Academia Real Numero de Pinheiros que bum homem pode talhar ^ e cultivar. Cada homem pode encarregar-se do trabalho de três mil pinheiros , os quacs se estiverem soíFrivelmcnte bem situados, darão de 8 a lo barricas de resina nioUe , e algumas vezes mais , porem raramente menos ; e de af a 30 quintaes de barras, sem contar as outras pro- ducçõcs de que ja falíamos. Meios de atalhar os progressos do incêndio em hum Pinheiral. Quando pega fogo cm huma mata de pinheiros , o que acontece muitas vezes pela negligencia dos pasto- res , ou pela malevolencia de alguma pessoa , p6e-se fo- go em outro ponto da mata mais ou menos distante do sitio em que está ardendo, e dos progressos que este tem feito: desta forma se estabelece huma corrente de ar, de hum a outro fogo , e reciprocamente todas as cham- mas vão sobre as arvores que existem entre os dous fo- gos , as quaes se consomem , e o fogo se apaga por não ter alimento, fi.ando por este modo conservado o resto da mata. (Veja-se a Historia natural sobre o carvalho, por Mr. de Sécondat , Paris, Dubure p.ig. 35.) Noticia sobre a cultura do Pinheiro Marítimo d''Jmerica do Norte (Pinus Âustralis) conhecido pelo nome de Piuus palustris , ou Pinheiro dos pântanos. A cultura das arvores verdes nas nossas terras in- cultas c charnecas, que estão cobertas de tojo, devem perfeitamente produ/ir algumas espécies de Pmheiros, tão agradáveis í vista como productivos para os proprie- tários que fizerem a .experiência , cm os semeando ou plari- I DAsSciENcrASDE Lisboa. ^ 83 plantanJo nos lugares estéreis, ou rebeldes a toda a sorte de cultura. ■- O pinheiro maritimo d'Anierica do Norte merece ser contado no numero destes, que sao vantajosos de multiplicar. Mr. Micliaux , conhecido pelas suas cxccllentes me- morias sobre as arvores dos Estados Unidos , tem feito ú Sociedade Real e central de Agricultura de Paris , hum informe sobre esta arvore interessante : daremos delia hum pequeno extracto ; assim como das observa- ções publicadas por Mr. Soulang-Bodin , Director do Instituto de Fromont, perto de Ris, sobre a sua cultura. Esta arvore chamada por muitos authores Pinheira dos pântanos , não se encontra nas terras pantanosas , el- la cresce naturalmente nas partes baixas e maritimas da Virgínia , das duas Carolinas , da Geórgia , c das duas Floridas ; o que comprehcnde huma extensão de 203 Jcguas de comprimento, e 30 a 40 de largo. O terreno em que cila se acha , offerece em todas as partes huma superfície plana , e he tão hgeiro, e tão areoso , que os pés dos cavallos , que nunca se ferrão nesta parte dos Estados Unidos , estão sempre cobertos pela arca, na qual se entcrrão, por muito pouco que sejão frequentados os caminhos. Este Pinheiro crece a huma grande altura ; seu tronco bem proporcionado , he muitas vezes dcsguarne* eido de ramos , desde a raiz ate 40 pés de sua altura : suas folhas de hum verde claro e lustroso , são muito mais longas do que as de outra espécie de pinheiros, o que lhe dá huma folhagem espessa, e faz própria pa- ra ornamento dos jardins. A madeira he fina , unida , c bastantemente embebida de resina , o que lhe dá to- da a força necessária , sem augmentar muito o seu pe- so : estas qualidades bem conhecidas na America, fazent com que de todas as espécies de pinheiro deste pai/,, cila seja a madeira que mais se empregue nas construc- II ii ções ^4 Mbmorias daAcademiaReal çõcs navaes, cm certos ufos cspççiacs , e haja Iiuma grande exportação dos Estados A5eridioiiacs pcra os outros Estados do centro e Norte. Tcm-se conhecido, que as taboas desta madeira são as melhores para fazer os convézcb dns embarcações, e pelos mesmos motivos , para os soalhos das caz-s. Nesta parte dos Estados Unidos , a madeira de carpin- teiro destinada para a construcçao das casas , tanto das V Cidades, como dos campos, he quasi toJa tirada desta arvore, que hc igualmente a única na America, da qual se extrahe o alcatriío , que cmprcgão os Constructorcs Navaes, e o resto constitue hum artigo de exportação. Ella supporta muito bem os frios dos nossos invernos, e pode piantar-se com succcsso em todos os sitios on- de o nosso pinheiro marítimo produz. Em França ja ha muitos pés plantados em Montrouge prrto de Paris, e que resistirão aos rigorosos invernos de 1829 e 1830. Em Moulins , no Departamento de Allicr, fizerão huma sementeira dclle em 1827, que produzio muito bem, A cultura desta arvore tem sido até agora in- cógnita no nosso Paiz. Mr, Soulang-Boòin , guiado pe- los sentimentos mais honrosos , para fazer conhecer o gosto das plantações úteis e agradáveis , tem publicado humas observações interessantes a respeito desta cultu- ra , e tem ao mesmo tempo multiplicado as sementes deste pinheiro, nas terras diffcrcntcs , e em estacões variadas, de sorte que ellc pode ja fornecer ao Publico. UMBia DO CALCULO DAS RAÍZES E POTENCIAS INDICADAS. Por José Cordeiro Feioí A Mathematica pelo rigor de suas demonstrações, e evidencia de seus princípios, tem merecido o nome de Sciencia exacta, ou Sciencia por excellencia : a sua lingua- gem particular pela simplicidade de suas expressões mui- to tem contribuido para o desenvolvimento da mesma iíciencia , e deducçâo de regras geraes e claras, que ser- vem ao Mathematico de guia segura em suas especula- ções. Para simplificar ainda mais a referida linguagem , tem-se adoptado expressões abbreviadas , que parecem inin- tclligivcis, e algumas até absurdas ás pessoas pouco ver- sadas na metafysica da sciencia : v. g. a expressão , menos for menos dd mais, parecerá a alguém ininrelligivcl e inexacta ; a denominação de expoentes fraccionarios e ne- gativas llics parecerá contradictoria com a definição de expoente: ctc^ He da maior importância que! os alumnos tenhão idcas claras da linguagem mathematica, e de suas expres- sões abbreviadas , para que procedao nas operações com conhecimento c inteliigcncia ; e convencidos do rigor dos processos tenhão nos resultados toda a confiança. Julguei pois que faria algum serviço se exoozesse o calculo dos radicaes com clareza e exactidão, visto que nos livros clc- Tmi' XII. A men- ij, Memorias daAcademiaReaií mentares se acha exposto, de maneira que um collega meu versado na metafysica da scicncia , c de cujos talentos faço todo o conceito , não duvida asseverar que se naó acha convencido com as demonstrações que tem visto , nem mesmo com as que dá cm suas prelecções. O objecto mencionado parecerá talvez de pouca importância; -mas para que melhor se ajuize da péssima influencia , que a inexactidão dos principies e sua confusa exposição tem no espirito dos Leitores , citarei a memoria impressa no Tom. X. das Memorias desta Academia , respondendo ao Sr. Silvestre Pinheiro, que na sua Psychologia a pag. 66 diz « Os defeitos sem exemplo da nomenclatura mathe- matica tornão esta parte, da que por antonomásia chama- mos Scicncia , muito inferior á que lhe corresponde em ,todas as outras sciencias nioraes e fysicas : pois nestas nunca se pcrmitte usar de uma expressão em dous senti- dos differentes , . . e naquella uma expressão chega a ter oito significações.» E depois de pretender mostrar com exemplos o que acaba de asseverar , conclue «< Eis-aqui os niathemaiicos dando nada menos de oito definições pa- ra a expressão +, e sete para a expressão—. Sei que em todos os elementos mathematicos se pretendem demons- trar estas differentes definições ; mas também sei, e todos os matheaiaticos de alguma distincção reconhecerão commigo, que todas estas prercnJidas demonstrações são paralogis- mos.» He para sentir que um Portuguez, tão respeitável por seu saber, escrevesse em desabono da raathematica com tão pouco conhecimento da matéria, mostrando ape- nas possuir aqucllas idéas inexactas, que compêndios pou- co claros produ/em nos Leitores, que não profundão a metafysica da scicncia ; não duvidando asseverar que os próprios authores das demonstrações , que clle denomina definições , concordarão em que suas demonstrações são paralogismos! Ora, se pessoas de talento c applicação, fazem idéa tão imperfeita da nomenclatura mathematica, o que. poderá esperar-se de alumnos, pela maior parte de ■ mui I DAsScTENCrAS DET^ISBOA. f mui pouca idade ? E donde procederão escas falsas ídéas» senão da pouca clareza na exposição dos elementos da s.icncia ? E que graves inconvenientes não produz isto no espirito dos alumnos, e no desenvolvimento de suas idcas? Concluo pois que terei teito algum serviço se for claro e rigoroso na seguinte deducção das regras por que se cxecutão as operações sobre as potencias e raízes in- dicadas. Das operações das potencias e raízes indicadas, §, I. Convenções. As letras f«, «, r, x representara'o números inteiros e positivos;/», q números positivos in- teiros ou fraccionarios ; Xj z, y, it quaesquer números po- sitivos, negativos, inteiros ou fraccionarios : logo p=:m : H !s==+p etc. §. 2. Conv, Os algarismos romanos escríptos i es« querda de qualquer formula ou equação , servem para a designar, quando for necessário cita-la ; e os que se escre- verem á direita são citações dos §§ ou formulas , em vir- tude das quaes a respectiva equação se deduz da sua an- tecedente i e finalmente os algarismos escripros por bai- xo dos factores de um producto servem para exprimir o numero dos factores, que vão desde o primeiro da esquer- da ate áquellc , por baixo do qual se achao. §. 3. Definições. As expressões da forma A'' chamão- se potencias indicadas^ sendo A a sua raiz , e a' o grdo ou cxpoefite : em consequência A" hc a potencia do gráo m da raiz A ., e Ic-se A elevado a x. §. 4. CoroUario. Sendo dado o expoente e a raiz indi- ca-ye 3 potencia escrevendo o expoente por cima da raiz : V. g. SC for dada a raiz A e o expoente x de qualquer potencia ?, será P=:A' A 2 $• 4 Memokias DA Academia Real . §. 5". Gonv. Sendo dada qualquer potencia P e o set* expoente .r, indicai-sc-ha a sua respectiva raiz por meio do signal y/ , que se denomina radical, escrevendo a po- tencia dada por baixo do radical, e o expoente na aber- tura angular: v. g. se for A a dita raiz, será ^i) ■. - .V X A-MP-y^' 4 §. 6. Corol. As expressões da forma \j'2 são raízes indicadas, sendo A apetência c a? o expoente : isto he §.4. §. 7. Corol. Expoente de radical exprime sempre o gráo a que se ha de elevar a respectiva raiz para produ- zir a potencia que está por baixo do radical: hc isto o que X evidentemente exprime a equação antecedente {\/ A)" — A, Em consequência a intclligencia das expressões radi- caes será sempre deteriViinada pela significação das po- tencias indicadas, de que pasmamos a tratar, §. 8. Conv, I.' Expoente inteiro de potencia indicada designa o numero de vezes, que a raiz se deve alli imagi- nar escripta como factor successivo : isto he A'^AAAA; A'=AAA ' A"=:A.4.AA A, 2.' Expoente fraccionario indica elevação a potencia e extracção de raiz ; sendo o numerador o expoente da po- tencia , e o denominador o da raiz : isto he , A~= v*7/« 3.° Expoente negativo exprime que a potencia deve passar para muiciplicador , se estiver como diyisorj t: vi- cc-vcrsa: isto hc • •■ D A S S C I E N C I A S D E L I S-B o Aí ;' a Ç >> .V r » §. 9 — Theorema; ■(V^)'=\' A<=A Demonstração. .v_ . ! l — jr .V V^^-VÍ . . V . ç Logo ( V yí)"^:= V A'' — A. ..q.e. (i. m m m §. ia— Th. i/^vjzzza.b > Dem. , . >« mm {ao) z=:n será = B^'"-''^bW li — JS .,.([. e. a. Seja a.° . . . ?/>í» será ^B^"-"'^ 8.3.' = r:: ^.e.d. §. 14— Th. {B'"y=B""* Dern. (m\n «I m m m B ) =B, B,B,. . .B„ 8 ni+n<+m .... 4-n» -^ 11 m.» , = j8 . , , í^.e. d. §. 15— Th. l/^^~B = l^B CAS SCIENCIAS DE LiSBaA. ' ' "J Demonstração. m m n {f;,í):=\rs. ,., 6 m '^ mn n n (rC^)=(KI) .4 = B vtn m _ mn mn ffl ntn y\'B — yB .. . . . q.e.ã. . . . y n n m VI §. i6 — Th, \W'={\/ B)=^B " Dem. (,MB)-\V \/B'") . .. . .* ST rí =iVB- = B'^ . .q.e.d.. . . 6eS §. 17 -Th. jÇ"- ^n.r Dem. "Ji B-^^Yb'" 8 n ^ -\^\J'ÇB^' ■ 15-6 14 ~yB"'=B''. ..q.e.d. j-eS H Generalizemos os theoreiuas antecedentes. ~S Memorias da Academia Real §. i8 — Thcorema. A potencia de producto he igual ao pro- ducco das potencias dos seus factores : isto he ,3C (al>) ~ a. b 'Demonstrarão, m ^ iab) — síXãbT . . . V . . . 8»2.'' n ^ z=.\/ a"'.b"' . IO n n =:V<7"; V^™ • . • • • • -li I. {ah)^- a\b^ .■ I e 8 iab)" =1 -.{ali' . .8;vr = i:(/^'') I. \\.{ab) - ã\b~^ 8»3* zb" ib" ib* , . . {ah) ~a .b. I. 11 (ab) =: a. b . . . . q.e.d . . . i '■' §. 19-^ Th. A potencia de quociente he igual á rotcncia do dividendo dividida pela potencia do divisor: isto he, (a:b) =a -.b Dem, Seja a: b^::q; será az=.b.q a =-(bq) ■r=.h,q 18 S ' q ^^ {a : b) :=■ a -.b . , . q. c. d. Logo -^^ / s^ •''•■« §. 20 — Th. A raiz de producto he igual ao proJucto dasrai- zes dos factores: isto lie SC X _ X DAS SCIERCIAS DE LiSB O A. ,., J^ ; -ç Demonstração. (Ví-V^)"* 1 • ' S»b^\fa.yf...q.e.ã. ..... y §. il ^TIi. A. raiz dô quociente he igual á raiz do dividen- do dividida pela raiz do divisor: isto he Sa:b — S7: ST ' ' " ...,•.' • . . . .1 , . r>._, ^^ fi. S. <■ " V JJení, Seia a:h — i^; será a=.b.í[ \J a — \/ b. ^- e- à, * ^- X ^ X . ar _ Logo .• «• .- \ \ ^z\j a\a-=:. \la:S a=-i §. 22 — Th. O expoente de producto de potencíag indicadas com a mesma raiz, depois de effeituada a operação, he igual á som- nia dos expoentes de todos os factores: isto he, X y t x4-y-t-ií-f- «te. ■-'- B. B. B etC. =:B Da». B.B=B .B ij w^ r»s tjs m ={\/Ji) .(\fB) 16 tts rns-Urn -(V-B) i> Tom. XII. B vio Memorias da Academia Reac ~B "' . , . ^ 16 O . . , . ( ■ S. B = B Suppondo/'^^ será P -1 (/>-?)+« -? B.B^B . B ~;V IL B.B-B TTãv -ri I 5 .£ B''.B"' 8>»3' £.£=-;;r^ , r-.;. ..... II -. . . "S ■-- . - • -p 1 '-p+l III. . . . . . B.B= B . . t:y.,y. . . . . 8»3» -P -1 -P-I IV. .';=.-. . B .B=B Reunindo as equações I»5lI»III»5lV, resulta • £" .B~B V. . . . . . B. B=.B s z y 14-Í y B.B.Bac. = B' . B.stc. ..... V ■ - " ■ =5 etc V - . . . =:B q.e.d. . dAs Sciemcias de LrsBOA. ii 5. 23 — Th. O expoente de quociente de duas potencias indi- cadas com a mesma raiz, depois de eíFeituada a divisão, lie igual ao expoente do dividendo menos o do divisor : isto lie , XI X-» B:B = B Demonstração. B:B=zB -.B ...... X— « X t = £ . B : B , , , l i f '. Z% = 5 . . , q.e.d, §• 14 — Th. 'O expoente de qualquer potencia, cuj» rjúz fof outra potencia indicada , depois de effeituada a elevação , lie igual ao prct^uçto .dos expoentes das ditas duas potencias : isto he, ...... .(B'')'^=B''^ • Dent. ni.r ,n (b'')zz{\/B'" y. ...... . 2>n.' ■■=\B'"'-. . . , 14 B ")= B— , , , 8»2.' (b"~") = (i:B~) ...... .8..3; = i':{b') X9 ntr • ~i:B" I9„I n : . . . . (b ")-B^. . . . >,Ví' . . . 8m3.- B")^=^{Bt,^ ........ 16 « 2 %t Memorias da academia Rbai, = \/B— I,- ==f^V^ ,■ .- i6 = V^^ 15- (íw . r nir bV^=b~"' 16 {b~)'={i.B~)' 4 .... í S'.»3.* = !:£'". . , . i , » . i9»iir. fi "J ' = i'.\B ">.-.. .-^,0^ ÔMj.' = 1 :5 "-' ......... IILJV. Y . . . . \B ") '=3^/" ; . 8.»5.». As equações III, IV, V, c a nota prováo otheorema em questão. ' §, 2J — Til. O expoente de qunlquçr raiz, cii)a potencia for outro radical, depois de efFcituada a extracção, lie iguji ao produ- cto dos ?>• i Problema. "^ "^ ^'^ Indicar um systema de fortificação, que sendo appli- cavel á maior parte dos sitios militares, e exigindo a me- nor despeza na sua construcção , tenha pelo menos um grão de força egual aos systemas mais bem conceituados. Eis aqui como procurámos satisfazer ás condicjoens exigidas. ^ _ Sendo a projecção horizontal do systema um rectân- gulo , é não só fácil de deliniar no terreno , mas também por tal modo , que o influente o seja o menos possivel. 'j;;-.;. ;. ,:b:v:;.-n3 Zj.\-j7 :\í.'\^'-- ^ o jlri^Jí'.!*) oí V _■ Gdmiò"siS ''í?mjí)^ègaVfidá'a terra e ós v&^ctaés ^ c' não augmcntâmos o numero de obras, cousa alguma pódcser mais barata. " ^'^P ' ^M ^ e ''I-jJíví^ j Vi-' .. ^^ ^ . , . . iic gos de revcz , e de flanco, dirigidos contra a brecha, e. contra os, trabalhos da passagem, cxtensissiflia, do .íossor.. ?vi!20pt.'j sunadc znioJnm inq miz 9 ^ESaiulAfi dsq eoLciirn; 4-" DAS SciKNciAS DE Lisboa. ij 4-° Como as únicas partes subjcitas aos ricoclictcs são mascaradas por pequenas matas, c ha alem disto uma Tor- rc-iMartello sobre cada capital, claro fica que se diíficiilta a direcção precisa a similhantcs tiros, c, cm parte, o ca- minho dos projectiz ; logo o eíFcito poderoso de um tal meio será minorado consideravelmente a respeito do sys- tenia que apresentamos. A expoziçáo que faremos , e os dezenhos que lhe irão unidos , darão precisas idcas das suas vantagens. Tractarcmos primeiro do traçado ; depois do relevo; c a final indicaremos o modo porque as difficuldadcs se succedcm , á medida que o atacante se aproxima do re- cinto principal. Traçado. Delinie-se o rectângulo de lados eguaes, ou deseguaes, segundo as localidades, circumstancias concomitantes, ctc. , porem sempre múltiplo de 300 metros, e mais no di- ctos sobre cada extremidade : divida-se cada porção de 300'" cm duas partes eguaes, e por todos os pontos rt, h etc. se levantem as perpendiculares indcfinitas aa' , ha' etc. : tomem-se sobre aa' as grandezas ab , e «r de 70 e 1^1 metros, c tirc-sc & aa 3. parallela rrr etc. na distan- cia e 22 metros: pelos pontos >• , em que algumas das perpendiculares cortam esta ultima linha, e pelos pontos b, se tirem as rectas indcfinitas br ^ ir etc. , sobre ellas , tn a. contar de b, se marquem as grandezas bd de 84, e fa- zendo centro cm r, e com o raio rd, se descrevam 03 flancos de que terminem no lado aa: pelos pontos r c e se tirem as rect:;s rç , que indicarão as golas destes pri- meiros baluartes destacados. Tirem-se de c para /; as linhas eh, e com o raio ri menor que rb 18, se descrevam os arcos «», que serão c 2 os 'iio Memokias t)K Academia Real os flancos pnra fogos de revcz dos baliiaitcs adjacentes imemi. Prendam-se os ângulos de espalda vim com uma recta ; descrevam-se dos pontos em que estas cortam as m rectas ra' ^ arcos de circulo de 30 de raio, c do mesmo modo dos ângulos flanqueados dos baluartes; tircm-se re- ctas tangentes a estes arcos, as primeiras dirigidas aos ân- gulos de espalda w; , e as outras parallelas ás f.iccs dos baluartes ; teremos assim o alto da contra-cscarpa, que pa- ra os baluartes será ainda determinada , cm parte , pelas rectas que dos ângulos flanqueados se dirigirem a 8 dis- tantes dos flanqueados das tenalhas, contados sobre as fa- ces destas : * As tenalhas deliniam-se com a condição dete- rem as faces dirigidas aos ângulos rcintrantcs dos baluar- tes j de excederem 10 as linhas que prendem os pontos me íí ; e de terem 20 de spessura : a porção excedente é para perfeitamente cobrir o recinto , que seria visível por entre os ângulos de espalda destas duas obras , e nao lhes damos maiores dimensocns a fim de náo privarmos o recinto dos fogos de revez que os flancos curvos submi- nistram. As Torres-Martcllo , dcliniam-sc com o raio de 10, fazendo centro em T, distante do angulo flanqueado do baluarte destacado 98; o circulo projecção da base, dcs- m crcve-sc com o raio de 22 : tangente a este arco, e dis- m tantc 22 do angulo flanqueado da tcnallia , tira-se uma recta que indicará a aresta interior do contra- fosso, fican- do a exterior parallcla a esta, e tirada pelo angulo fian- quca- * Usamos do nome de tcnallia pela situarão destas obras entre os baluartes. DAS SciETíCIAS DE LtSBOA. 2T queâdo W. O fundo do contra-fosso é cm rampa , a fim de ser razado com o fogo de artilheria da tenalha , c de fuzil, da praça de armas reintrante ; e todo clle c planta- do de uma sebe viva c spinhosa, a fim de ser impenetrá- vel ao atacante. A porção angular em frente das Torrcs-Martcllo , é defendida pela mesma specie de sebe , e as espaldas das Torres até á linha parallcla ás faces dos baluartes desta- m cados, e distantes delias 22, são cobertas por pequenas matas, que lhes mascararão os prolongamentos. O cimo das arvores destas matas, que occultarem aos defensores das Torrcs-Martello os reintrantes entre os contra-fossos, seri decotado em altura conveniente. As praças de armas reintrantes tem as faces paralle- m las á contra-escarpa, e distantes delia 12 a 14, O cami- n iiho coberto tem 10 a iz de largura, e é perfeitamente parallelo á contra-escarpa. O recinto delinia-se do modo seguinte. Faz-se cen- tro cm jÍ, equidistante dos pontos rr , e com o raio de 122 dcscrcve-se um arco de circulo que termina na linha rr : por estes pontos tiram-se as rectas ry/ , que são os prolongamentos de dbj sobre ellas, a contar dos pontos r, m notam-se as grandezas de 60 , e nos extremos levantam- se perpendiculares que terminam nos arcos. Por este mo- do temos deliniado tuJo quanto pertence ao lado rr. As linhas pontuadas que cortam o baluarte C, indi- cam a cortadura feita no caso de ataque, a qual é defen- dida pelas porçoens 03 u' dos dous baluartes lateraes. Os prolonganicntos das rectas rdi ^ indicam a separação da parte cavalieira dos baluartes destacados, a qual é defendi- da pelos fogos convergentes das porçoens V V' ^^^ cortinas. Oo mesmo modo , a linha AA' parallcla a rr , e dis- m tante delia 80, indica a situação do quartel, seu fosso, e . 2S Memorias DA Academia Real e cortaduras, as quaes são defendidas pelos fogos de en- fiada das porçoens /Jy'. Esta construcção suppocm-sc re- petida cm todos os baluartes do recinto. As matas das espaldas das Torrcs-Martcllo , devem preparar-sc para a defensa , construindo um parapeito- á prova do fuzil, parallclo ao contra-fosso , e juncto a' sua aresta interior: por este modo se tornará mais perigosa pa- ra o atacante qualquer empreza feita sobre os rcintr.uucs, e se protegerá melhor a entrada das tropas empregadas nas sortidas. Pelo que respeita á construcção das obras dos ângu- los, é a seguinte. Terminada a fortificação uniforme até aos baluartes contíguos aos ângulos do rectângulo , tomaremos sobre a diagonal, a contar do angulo interno Af, 230, este pon- to S scra o vértice do angulo flanqueado do baluarte, cu- jas faces se dirigirão aos reintrantcs dos baluartes lateracs. Distante do ponto S 140 , e pelo ponto q\ angulo de flanco e cortina, se tire a recta kq', que indicará a dircc- ção da face do baluarte cavalleiro, a qual tem 124, a con- tar do ponto k: faça-se centro em q , e como ralo qk m menos iS , se descreva o flanco curvo ini. Dcliniado assim o baluarte, prendam-sc os ângulos de espalda iin com uma recta ; Icvante-sc-ihe ao meio uma perpendicular indefinita, e sobre ella a contar do ponto III o SC notem 5-0; o ponto z assim indicado, será o vérti- ce do angulo flanqueado da tenalha , que terá as taces dirigidas aos pontos O.ÍY , distantes dos reintrantes 40 e 18 , c excederão as linhas S^W c íif. jo, a fim de cobrir perfeitamente o recinto. Todo o resto da construcção , pelo que respeita ao contra-fosso, Torre-Marteilo, contra-escarpa , c caminho CO- PAS SciENCIAS DE LlSBOA^T'1 ij coberto, é análoga á que já indicámos, exceptuando as praças de armas reintrantes , cujas faces se dirigem sobre as matas latcraes , a fim de menos se prestarem aos tiros de ricochcte. „, Distante do angulo M 46, note-se o ponto f , que será o vértice do angulo flanqueado do baluarte intermédio, cujas faces são dirigidas aos pontos X da cortina, distan- i tes 18 dos ângulos q ; os flancos sao a intersecção da cor- tina pela recta que prende os pontos A A'. Distante 40 da gola deste baluarte , fica o angulo flanqueado do baluarte do recinto, cujas faces são dirigi- das aos ângulos q' c terminadas pelo encontro da cortina. Se acaso se julgar possivel, ou mais favorável o ata- que contra as cortinas q'xG , dirigindo-o por entre os dous baluartes K,SM j pôde modificar-se a dieta cortina dando-lhe o novo flanco FP , perpendicular á face etc. ; mas nós julgamos não ser precisa esta cautela, porque os pontos da cortina que fossem batidos em brecha, também seriam batidos de revez pela tenalha D uns, e outros pe- lo baluarte cavalleiro aa'. '''' .r\ As matas tp tem por objecto encobrir òs^lífdílonga- mentos zz' das faces das tenalhas, que sem esta cautela seriam facilmente ricochetadas: a disposição das arvores é como se vê indicada na planta, a fim de serem os inter- vallos enfiados pela artilheria do baluarte MS. Os parapeitos dos flancos curvos dos baluartes des- tacados, principalmente as porçoens próximas aos ahgulos de espalda, podem ter tão pequena spessura, que os sol- dados mergulhem facilmente o seu fogo de fuzil no fos- so : esta circumstancia permitte que com muita prompti- dão se descubra todo o reparo do baluarte que se ha de separar, e o inimigo fique exposto aos fogos dominantes da porção cavalleira, e do recinto principal. As communicaçoens podem fazer-se como se indi- can\ na planta, ou por outra qualquer maneira ; não nos de- 24 Memorias daAcademiaReal den-oramos sobre este objecto , pela facilidade com que o systema se presta á construcçáo de taes obras. Relevo. Damos 15', 5- metros de relevo ao corpo da praça, porçoens cavallciras dos baluartes destacados, etcnalhas; o resto tem ii,^ metros; mas a fim de não perdermos a superioridade dos commandos, rebaixamos o fosso conve- m nicntemente. O corpo da praça tem 9,^ de commando ; vt as porçoens cavalleiras e tcnalhas, Z,^ ^ e os baluartes que se hão de separar tem 7,5' : por este modo podem os fogos de fuzil do caminho coberto, e de artilheria dos baluartes ser simultâneos, ainda mesmo sobre a capital Yd^ até que o atacante chegue á recta que une os salien- tes dos dous baluartes. Sobre a diagonal do rectângulo , como temos uma obra mais , daremos de commando ao »< baluarte intermédio Ojj sobre o balunrtc destacado, fican- do o recinto só com cgual commando sobre o intermédio. Os quartéis constam de dous pavimentos abobadados á prova, e fornecem trcs oixlcns de fogo, sendo o do pia- no térreo para obuses ou pequenos morteiros : o perfil cor- respondente mostra a importância desces fogos, e a utili» dade da situação dos quartéis. As Torres-Martcllo, podem ser armadas com duas ou trcs peÇ2S de grosso, calibre, tendo todos os reparos uma cavillta, commum no centro do reducto. Se a experiência mostrar que o parapeito sofi^re muito com a explusão , pôde então dar se a cada peça uma situação particular, la^endo-a disparar pelo modo ordinário unida ao parapeito. A-' I ■■' "cbtvjl r.' :, '•.•:';'jíKL o;.MÍ POR , ■J(J bSOO '' -' '-ir/u FRANCISCO PEDRO CELESTINO SOARES.^ .. i:-J! A experiência mostra, que a fricçáo d difficuldade de formar o vácuo perfeito nas bombas aspirantes , e a fricção nas comprimcntes , são dous defeitos que con- vém eliminar , a fim de obter destas maquinas a maior vantagem : cogitámos pois sobre este objecto, c os cíFei-» tos barometricos nos suscitarão as ideas que vamos expor, e que submettcmos á prática. Formamos uma caldeira comporta de dois cylin-» dros concêntricos , unidos pelos topos inferiores OE , e fechámos o alto do interno completamente : adaptá- mos neste logar dous tubos de igual calibre , o pri- meiro Aí fechado com sua válvula r, e o segundo JV, curvo , fechado também no altò do braço exterior com outra j: o primeiro tubo era de aspiração, e o segundo communicava com o canal conductor Y, cm que se ajus' tava o extremo U. Formámos depois outro cylindro, que entrava dentro da caldeira , mas aproximando-se mais da parede exterior, a fim de que os volumes de fluido com- prchcndidos entre este ultimo c as paredes di caldeira fossem proximimente iguaes : o cylindro R que funccio- na- 22 Mkmobias daAcademiaRkal nava como embolo , era fechado, na rarr<^.SaíU^i[;A, ^^' forçado com um cone oco 0_ , aoncTe descahçãvã 'ã"' has- te de ferro G , atracada ao tecto pela fêmea t : atravez destas duas ^obwti^ras .passavsi un;\ tttbo fechado na parte exterior com uma torneira 7/V^ ' '^ *" ^ ^^ Isto feito, .lançáiTios mercúrio na caldeira até á al- tura de quatoi^e pollcgadas^' t fomos' levantando o em- bolo até á altura de dezouto dietas, por ser esta a gran- deza que tínhamos arbitradora cada embolada: tivemos cuidado de ir deitando mais mercúrio a fim de poder sup- prir á colunTOa;; íií. ,^V,Ó .. 3f OBSERVAÇÕES ASTRONÓMICAS .; ob .mS lildA. Feittts no Observatório da Marinha de Lisboa por Paulo José Mana Ciera , yijudante do Observatório , e. commwitcadas n Academia-fi Real das Sciencias jjelo Director do Obseroaioiio ,i MATTHEDS VALENTE DO COUTO. 1Í26 Janeir. 9 21 Fever. 1 2 8 10 12 17 20 Março 5 7 21 29 JO fO Ahril 6 6 Immefsáo do 1." Sat. de Júpiter . Immersáo do 1 ." Saf. de Júpiter '. {Imm. ■. . Em. . . . Immersáo do 2.° Sat. de Júpiter . Imm. do j." Sat. de Júpiter . . Imm. do 2.° Sat. de Júpiter . . Imm. do i.° Sat. de Júpiter . , ímrn. do i.° Sat. de Júpiter . . Imm. do I." Sat. de Jupiter . , . {Imm. no limb Em. no limb. Em. do í." Sat. de Jupiter . Em. do i." Sat. de Jupiíer . Em. do j." Sat. de Jupiter . Em. do I." Sat. de Jupiter . Imm. do 4.° Sal. de Jupiter Em. do 2° Sat. de Jupiter , Em. do i.° Sat. de Jupiter Em. do t.° Sat. de Jupiter . Em. do 1.' Sít. de Jupiter . esc. ill. >:eIC. Tempd Verdadeiro ' 17." 59-' 14. 17- t). i6. «7,. 39- 10. 14- 12. 14- «. 17- 9- 10. 1 2. 1 1. íj. 15. 1 i- 10. li. «} a- íj. 48. 22, so- lo. 5 4- 4i- 49. iS. 45- 10, ao. }• )5- 42. .■n3 I +i 4" (muito boáj" Ji (muito boa^ si (boa): *■ 2S (boa) 2? (muito boa) 47 (muito boa) i; (multo boa) (duvidosa) (boa) (boa) (boa) 27 }5 26 46 26 (duvidosa) i; (duvidosa) S (boa) 57 (muito boa) 1 8 (menos má) 1 i (boa) 18 (muito boa) jo (muito boa) j8 (boa) 46 (muito doa) E ii 3fi 1826 Abril «S 15 ]6 Maio ] 1 Junlip 4 Julho 9 Agost. 10 Out. 6 Nov. 2.% jo Dez. 6 14 22 22 29 Memo r. IAS da Academia Real Tempo Verdadeiro Em.do i." Sat. de Jupitít {Imm. nolimb.esc. Ein. no liinb. ill. Em. do 3° Sat. de Júpiter .'..... Em. do i.° Sat. de Júpiter . . í^^il 4P' • {Imm. nolimb.esc. Em. no limb. ill. Em. do i." Sat. de Júpiter . Em. do 2." Sat. de Júpiter . Em. do i.° Sat. de Júpiter . Em. do 2." Sat. de Júpiter . Imm. do 3.° Sat. de Júpiter Em. do i." Sat. de Júpiter . Occult. de I I de -^i^ pela j/ Imm. nolimb.esc Em. no limb. ill. OcçuIt. de 5 8 de Oph. pela (£ Em.nolimb. ill. Principio do Eclipse do 0 Era. do j.* Sat. de Júpiter Occ«lt. dei.Kde ^íp^-^í-íè:: Imm. nolimb.esc, imb. íR. Imm. do I.* Sat. de Júpiter Imtt). do 2.° Sat. de Júpiter Em. do 4.° Sat. de Júpiter . Imm. do 1.' Sat. de Jiipiter Imm. do I." Sat. de Júpiter. S.*" o.' 4j" (muito boa) 9. 47. jo (iiist) 10. 9- 9- 10. 12. 9- 17- 17- M. M- 17- 29. 47 56. 56. 1. 1} 26 45 24 (muito boa) (boa) (muito boa) (inst.) (menos má) 8. I?. 15 (duvidnia) 9. 5!i. 6 (muito boa) 8. }o. 44 (muito boa) 9. 45. 9 (muito boa) 10. 37. 38 (menos mi) ^' 49- 15 (duvidosa) > (menos má) 8. 21. 3jJ 8. 21. 11 (menos má) 21. 16. 19 (muito boa) 16. 56. 40 (mei)os má) I. 9- "4- 5!- 46. 21. 5 S (inst.) 24 (menos má) 6 (boa) 5 3 (muito boa) 21 (boa) 3 ) (niuito boa) II. 25 (muito boa) 1827 i827 r- - Jincir 12 14 19 Ftver 6 10 Ji 15 32 24 27 Marqo 5 6 n «7 «7 «9 20 JI Abril 4 7 S 1 1 20 Maiu DAS SciENCIAS DE LiSBOA. 37 Tempo Verdadeiro f Imm. . Em. . Imm. do 1." Sat. d« Jupitet Imm. do j.' Sat. d« Júpiter j.» Sat. de Júpiter J ' Imm. do i.''Sat. de Jnpiter {Imm.no limb. esc Em.nolimb.ill. Imm. do i." Sat. de Júpiter Imm. do 1.° Sat. de Júpiter Imm. do I .' Sat. de Júpiter Em. do j.° Sat. de Júpiter f Imm. Em. .. 4." Sat. de Júpiter^ J/J imb. ill mb. esc Imm. do 1." Sat. de Júpiter Imm. do i." Sat. de Júpiter Imm. do 2." Sat. de Júpiter Imm. do 1 ." Sat. de Júpiter . n I J ^ J * , ^ í í"""^- "° Occult. de A de -J^- i>elaR < lEm. 1101 Imm. do i.° Sat. de Júpiter Imm. do 2.° Sat. de Júpiter Em. do 2.° Sat. de Júpiter Em. do j." Sat. de Júpiter Em. do 1.° Sat. de Júpiter Em. do 1 .° Sat. de Júpiter Em. do a." Sat. de Júpiter Em. do j.° Sat. de Júpiter . Em. do i." Sat. de Júpiter Em. do i.» Sat. de Júpiter Occult. de J- de n^J pela c/ '"""• "° ''™''- "'■ \Em. no limb. ill. Em. do i." Sat. de Júpiter .laml , Mfi 19.' 47 "(boa) lã. l(. 6 (muito boa) "1 5. 19. 5S (muito boa) 17. aó. 6 (muito boa) 15. 2i. )7 (muito boa) II, 17. 9 (menos má) 17. 1 1. 1 í- li- 1 J- 14- 10. 1 1. ij. 1 t. 14- M- i. 16. 10. 1 1. 14. 8. I }. IS. 10. 7. 16. 45 (boa) 4i- 2ã (menos má) J9- S9 (duvidosa) 54- jO (menos niu) 34. 5i (bc.) i6. i (boa) 3. 57 (boa) 2. 47 (miiio boa ) 40. lâ (muito boa) SJ. 5 4 (uienos má) 26. 14 (menos má) S. 10 (inst ) 22. 49 (menos m.-i) 15- iS (boa) Í4. 4 (duvidosa) 50. 7 (duvidosa) 26. J7 (menos ma) 55. 9 (boa) JO. 2 (boa) 49- 21 (duvidosa) SO, 57 (muito boa) IS. 17 (muito boa) lá. 44,0 (inst.) I J. 5 S (menos má) 24, 7 (menos n;») a? 3'R _ Memorias DA Academia Real 1S27 Maio Junho } 12 26 Julho ? Agost 29 Scpt. 7 Nov. J Dez. 2 8 25 1S2S Jane ir 17 26 51 Fever. 2 i 10 Em. do !." Sal. de Júpiter . Em. do 2." Sat. de Júpiter . Em. do l.° Sat. de Júpiter- . Imm. do j.' Sat. de Júpiter Em. do l.° Sal. de Jupiterrflii Ç' .ir: . ' ; . I Jíi.din' Occult. de 4^ de Oph. pela Lua— Jmm. linib. esc. Occult. de t de )( pela ( { Imm. no Jimb. ill. Hm. no liiub. esc. Fim do Eclipse da (f . Imm. do I.'' Sat. de Júpiter .... r\ u j , . j ^ . ^ flmm. limb. ill. Occult. de U) de í^ pela (£ -i l Em. limb. esc. Imm. do 1.' Sat. de Júpiter .... IVmpo \''erdailolro n.h 17.', 45" CboO 10. 26. ij (boa) 9. j2. 4; (muito boa) 8. s8. 51 (menos má) 9. 4c. 24 (menos má) I 7. 44. í» (inst.) 11. s- I 5 (boa) 12. 5. j (inst.) 6. 9. 1 9 Imm. do ].° Sat. de Júpiter Imm. do i." Sat. de Jiipiter Occult. de 2 a de ^ pela £ Imm Em. do I.' Sat. de Júpiter .• Em. do i.° Sat. de Júpiter . Imm. do 2." Sat. de Jiipiter }.° Sat. de Júpiter*; l Em. . . Imm. do I.' Sat. de Júpiter limb. i8. 12. 44 (menos má) 15. J4- '! (duvidosa) 16. 42. ji (inst.) 18. 10. jU (duvidosa) 18. 9. 48 (muito boa) 14. 29. 9 (muito boa) II. 59. IO (boa) i£. 21. 14- 4- 15. 20. 15- 52- 18. 1. 12. 42. 50 (nniito boa) o (boa) J2 (muito boa) v(menos má) 29J 38 (duvidosa) (*) Esta Immers.ín foi observa.ia pelo quarto Ajudante A. D. do C. Valente ás IJ*" Jj' 56' T.V. com a nota de (muito boa). t>'^ÁsSciENci As nt l;rsEO*»:iM 99 líiíi-T -'"^'' oqttisT Fcvet. Watío 5 M 17 19 *4 23 Abril Ji 14 ao 20 Main 2 8 9 27 29 j> ii Junho 5 4 7 1 1 2) í% Ju|l'J Ifnm. iò I.* Sat. de Jupker* i t * >•' Imm. Ho i.° Sat. de Júpiter .... Imm. lio 2." Sat. de Júpiter .... « . . . f Irnm. . . * • . j." Sat. dejupitcr< (Em. . « ".5JI, "Íjí; ' Imm. do I." Sat. de Júpiter .... „ , , . , u ■ , i 'ti- noliinb. esc Occult. de k de H pela t-S ^ ,. . .„ V Em, no limb. ill. Imm. do i.° Sat, de Júpiter Imm. do \.° Sat. de Júpiter Imm. do 2." Sat. de Júpiter , , , , u , ^ f Imm. nolimb. esc Occult. de A de R pela K ^ ^ ,. , .„ l^F.m. no linib. i" Imm. do i.° Sat. de Júpiter .... Em. do 3." Sat. de Júpiter . . Em. do I." Sat. de Júpiter . , Em. do 2.= Sat. de Júpiter . . Em. do 2° Sat. de Júpiter . . Em. do I ." Sat. de Júpiter . . Em. do I.' Sat. de Júpiter . Occult. de I p Je rr pela C Em. no llnib. esc Em. do i.o Sat, de Júpiter Em. do j.' Sat. de Júpiter Em. do l.° Sit. de Júpiter Imm. do f.° Sat. ds Júpiter Em. do i," Sat, de Júpiter Em, do 3." Sat. de Júpiter Em. do 2." Sat, de Júpiter 16 Em, do 1." fat. de Júpiter 17 j Em. do j." Sat. de Júpiter jo ' Em. do 3.° S.\t. de Jiipiter Tempo VerdadeM^í ; S r 'jt* !«*:"«" (duvidosa) 13. 5 4- !6 (rtiuitp boa) M- 5 9- 5 (boa) 1 1. 47- 4! (muito boa) tj. fi- 4Í 4. 44 (duvidosa) 10. 50. JI (menos m.i) 8. >o. 29 (menos má) 9. 18. 5 5 (menos ma) 7- S^' 5 5 (duvidoM) J^<ç Memorias daAcademtaReal 1828 Âgost. Em. do >.' Sat. de Júpiter . 1 ^ 1 • Tempo VcidadeifO ^ , gfi i.' 4(i'' Cb**) N.Bé Erta foi a ultima Observação que fez o Siír. Cieta. 41 CONTINUAÇÃO DAS OBSERVAÇÕES ASTRONÓMICAS Fdtax no Olncrvatorio da Marinha de Lisboa pelo yljudante do èolredi^ to Ohscnmtorio AnUmo Ditih do Couto Valente, e comvtunicadas á Academia Real das Scimcias peto 'Director do Observatório MATTHEUS VALENTE DO COUTO. 182? Agost. Oijt. 16 1829 Jansir. Fsvcr. JO Marco Abtil Maio 2 9 Em. Ao i." Sat. ctí Tj: . Iinm. do j." Sat. de TP . Oceult. ieÇ,ái% pela C< Imm. liinb. esci Em. limb. ill. 4 Occult.de 9 3- S9 ('"^a) í. )(• I» (inst.) 1 i. 29, 47 (menos má) «4 DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 43 ll)C r--^ AUio 14 In»m. do 1.° Sat. 6e fr . , 3 1 Imiii, do 1.» Sat. de -J/r . Junho 5 Imm. lio a.' Sat. de ^ . 6 liiim. do 1.» Sat, de -{ff . Jullio S Em. do 1.' Sat. de -j^ . 18 .Em. do i.' Sat. de -y; . 3í , Em. do i,« Sat. de íff . 24 Eih. do i." Sat. de ^ . 3J Em. do j." Sat. de T/t . ) I , Em. do I.' Sat. de V . Agost. > Em. do 2." Sat. de "jy , , » . . . . 7 Em. do 1 ,' Sat. de -í? , , 9 Em. do 2.» Sat. de l/r . !6 Em. do I ." Sat. de ^T ; 2} í Imm. do 4.° Sat. de -jy l Em. do 1.» Sat. de -jc 26 Em. do 2.° Sat. de t^ i^ Em. do j." Sat. de y; Sept.' 1 Em. do I.» Sat. de 1^ . 3 Em. do 2.0 Sat. de Tff . «}. Tempo Verdadeiro 5.' t i" (duvidosa) 59. }6 Qmuito bo*) 11, 4S, 1} (^oi) 12. « j. 4? (''"a^ 10. i6. U (duvidosa) 8. 5. J8 (muito boa) 14- 45. } (menos má) 9- H- 4S (muito boa) 12. 5- 59 (muito boa) 11. 9- 31 (muito, boa) 10. 52. 59 (boa) '}• 4- S4 (boa) 7- J)- 40 (boa) 9- JO, 4 (menos má) 1 1. 0. JO (msnos má) 11. *?• 10 (menos má) i. I. IJ (menos má) i. 14- 42 (boa) S. 54. 12 (boa) 10. }%. J9 (menos má) EcLrPSE DA L V Aí Dia 2 de Septembto. Ifomet Ja$ Manchai. tmmtnSei Principio -.-....-.. {Principio ....-, Meio •-..•-. Fim ....... F 3 Nuvens Emeriiet, 10'' 50' 4j' )■; 54 i » 54 4S » 5 S 2 1 3 44 4 6 1) II 20 15 l6 J7 24 F 26 28 25 22 29 31 27 J2 37 58 40 3S Memorias DA Academia Real l^omes (/ ') 10'' 5> )i 1 1 25' 4i" » 26 48 ^ 3) 27- iO Jl JO í8 „ 35 ii) )J • ÍJ 2^ 5J í; ''1 » 36 S3j Í5 i6 28 >T i7 3» 5 3.5 38 7> 41 3) íl 46 45-^ 2J } J' 47 9> 48 )1 49 '3 » 49 15 5) 56 46 ?> )3 )j 5) 52 40 )5 í! 3 53 S4 59 35 Si >9 55 55 48 35 57 23 55 S6 )i 35 59 5 35 )' ?» 55 3 33 35 4 ij 35 5 3 35 57 i' 3 15 M i3 M 14 ji 15 '7 lú 17 18 22 26 56 34 )i 30 2Õ 27 35 jí 55 58 43 48 4J. 2{ 51 2} 13 13 5 + 48 23 4? 5« 54 <:S 5 3) 48 43 2j dasScienciasdeLisboa. 4^ Ktmes dat Manchai ImmcrsSei EmtriStt Mate crisium J Principio . - - • . Meio ..---- Fim >-..••.- Jã se nSo distinguia O' claro no limbo (£ Fim do Eclipse da Lua ..•--« 7 "C ll'' 44' 2J'^ 9 }i -> i> 9» 5) II 77 í) í» J> 12 }) )> 49 3! iV'. B. Alguma? Nuvens, e |>or isso se não pftde observar o principio do Eclipse, e pela mesma causa se não puderão observar algumas das Emersões, e por havetenj alsuMja» Nuvens da manciía de Eratostlienes por diante. iSfo Sept. 24 27 Òut. 5 Fever. "D 23 Abril 14- Junho 6 9 i8 21 . a; Era. do I.' Sat. de -j^ Em. do 2." Sat. de ■y;' Occult. de"V dí Tauro pelac| Irtim, limb. ill. Em. liríib. esc. f' , , _ , , r Imm.Iimb. esc. l Occult. de Y de Tiuro pela C< ^ ,. , .„ j lEm. limb, ill. Í Occult. de 1 9 das Hyades Imm. limb. esc. Occult. de 2 6 das Hyades Imfn. limb. 4sc. -, , . ^, j „■ , r i liim-liiiib. ill. Occult. ds Y de Virgo pela i-^ ( Em. linib. esc. Imm. do I ." Sat. de 7^ . . , . , . s Iinm. do 2." Sat. de fff Imm. do i." S.it. de Xff Imm, do-i.' Sat. de í^ . I Jccult. de Y de I.ibra pela 1 J I""".'''^''- "^- lEm. limb. ilL 'imm. do !.• S.-.t. dei;: ..,.., , Tempo Verdadeira . A. S." 17.' )i" (boa) 7. 54. 17 (boa) 10., ij. i. 9- 12. 12. 12. '}• IS- 1 1. s. 9- )9 (boa) (inst.) 7- 12. 21. 25- M. 27- 20,í C'n'f-) S í (boa) J7,S (inst.) I 4 (inst.) iz (Boa) 1 9 (Inst,) 15. t. 51 (menos m^ 4S. 27- 47. •4. 46. 40. 40 (muito boa) 6 (muito boa) (menos mi) (Inst.) (boa) (muito boa) 10 4S 2{ a 4« Memorias da Academia Real lS{i r'- Jullio I II 18 Agost. 2S Sept. j 4 ao Out. 6 32 *} 3.<) Nov. 3 14 31 34 Fev. % Matç. 19 Imm. do 2.» Sal. de Ti" . Imm. do 2." Sat. de % . ^ linm. do I.' Sat. de TT ^Inim. do 3.' Sat. de 7/7 Imm. do 1." Sat. de 1C . Em. do j." Sat. de T^ Em. do 2." Sat. de i;: Em. do I ." Sat. de Tf Em. do 1." Sat. de "W Em. do 1.» Sat. de f^ Em. do i." Sat. de íff Occult. de Aldeberám pela ^ ^ Em. do 1.» Sat. de Iff Em. do }.' Sat. de Tff Em. do 1.' Sat. de Jff Em. do i." Sat. de -jr Em. do 2." Sat. de Iff Imm. limb. !l!. Em. limb. esc. Occult. deu da Baleia pela (4 J .. ■' '. ^ *■ I Em. limb. ill, n 1 j »-j t-L 1 ^ I Imm. limb. ill. Occult.de 1 5 de Libia pela J.^ ^ ,. , *^ I Em. limb. CSC Tempo Verdadeiro ' —^ , IO.»" 45. H" (miiit. duv.; H- 19. 41 (boa) 1 1. 5J- 5 i (inciios má 12. 49- 44 (duvides.!) 'í- 47- 1 6 (menoi má) 9- i. 47 0>0i) 12. $4. J9 (muito boa) II. 6. J2 (menos mi) 9. Ji. 46 (boa) 7- 57. '9 (muito boa) í. 21. J9 (muito boa) 12. 2J. 8 (boa) H. I. 56 (inst.) 8. 17- 5S (boa) 9- 4- iS (boa) 6. js. J (boa:r S. 52- ') (muito boa) 6. $7. 45 (muito boa) . . . . (muito dia) 5. 42. 5} (bo.i) M. 8. 18 (menoamá) 14, ji. 46 (inst.) DAS SCIENCIAS D£ LlSOOA. 47 iSji 4e í Jiiniic i) >9 Julho I 6 IO 22 2S i(, a? 29 Agost 1 2 7 27 JO Sept. 28 19 Ouí. 8 12 IS 16 19 2) J!4 .(- 4'' ImiTl. Contactos f Exterior 1^ Interior Cjss. de Mercúrio p;lo 0 nos dias ) ,„ _ [Interior ' f i 'i Em. Contactos < (.Exteilor Iinm. do I .' Sat. de ^J; Imm. do j.' Sat. de XC Imm. do =.° Sat. de 7;r Imm. do |.° Sat. de ^" Imm. do 4.° Sat. de '^ Imm. do 1.° S.T. de •}/; Em do j." Sat. de ip Imm. do 2.' Sat. de 7,^ {Principio Fim . Imm. do i." Sat. de X^ Imm. do i." ^it. de Tfí Imm. do 2.° Sat. de %' Imm. do i." Sat. de 7;" Imm. do a.*» Sat. de ^J; Imm. do i."Sat. de T^ F.m. do zP Sat. de ?£■ Em. do i.° Sat. de 1J r.m. do 1.° Sat. de Xí" Em. do I." Sat. de 17 Em. do j." Sat. de "tí" Em. do 1." Sat. de "U: Em. do 2.° Sat. de IT Em. do j." Sat. de 17 Em. do 2." Sat. de /i" Em. do i.» Sat. díi tp Em. do 2." Sat. de XC Tempo Verdadeiro» Náo pude avaliar 20.'" jc' 6" J. 12. 21 j. 15. 21 ' ). 1 i. 1 I. I I. u- IO. o. 2. if- ')• t2. 10. IO, IO. 9- 1 1. 9- IJ. 7- 'J- 9- 9- 12. (boal) I J. 24. 9 5 (menos ma) 1 (. 54. 20 (muito boa) 1- 29. 4i. 44' 2. I I. JS. 43. }3. •J. )}■ 14. 50, '9- 17- JO- '}• 7- Í4- 44. 40. 20. I í (menos má) 22 (miiifo boa) 5 7 (boa) 4 (boa) S ) (boa) 49 (duvidosa) !9 J (boas) 4 (muito boa) S }. 42 (duvidoja) 49. 4 (muito bo») 1 . J I (boa) o. 7 (muito boa) 18. JO (menos im) j 5 (boa) I (muito boa) 29 (boa) 0,6 (muitoboa) 59, j (muito boa) 47 (duvidosa) o (muitoboa) o (boa) 1 2 (boa) 6 (boa) 20 (muito boa) 48 Out. 3' Nov, 7 9 17 2i i8jí Jane ir, ! 6 17 20 27 A,<;ost. ) l6 28 Sept. ]8 2) 27 28 29 Out. 4 II 17 Memorias da Academia Reaiv Em. do I .• Sat. de 7;r . Em. do 1." Sat. de Xí ^ „ , . , ^ I Imm. limb. esc. Occult. de F da Baleia pela C< ^ ,. , .„ l fcin. noiímb. ill Em. do 1° Sat. de Tj: I Em. do j." Sat. de 7^: 1 Em. do 2." Sat. de -JJ Em. do J." Sat. de ^J . Eclipse da Lua. Principio Imm. ílo j." Sat. de 7^ Em. do i.° Sat. de It Em. do 2." Sat. de 7a . Em. do 2." Sat. de IT . Imm. do 1." Sat. de ^/: Injm. do j.° Sat. de f" imm. do i.° Sat. de Iff Imm. do 2." Sat. de ^' Imm. do i.° Sat. de ^J^ Imm. do I ." Sat. de 1j^ Imm. do i." Sat. de Tj; „ „ , f Imm. í." S.!t. de ^r <( (Em. . Imm. do 2." Sat. de 'J^ Imm. do i." Sat. de "Jí Imm. do 1.° Sat. de 7" Imm. do 2.' Sat. de Tf; Tempo Verdadeiro I.'' j6.' ç" (miiitoboa) J7 44 o, 41 48 ili. 18 (bca) «7 (nniito boa) 12 ^meiíosniá) 4S (muito bo,\) 24 (boa) 0 (muito boa) J2 (muito boa) 18. 4. 40 6. 46. 21 (boa) 8. 24. 49 (boa) 5. 44. j j (muito boa) 8. 20. 20 (boa) II. 45. 55 (boa) 11. jQ. jo (boaj_ 11. 59. 56 (muito boa) 12. jíi. 40 (muito boa) 12. 17- 45 (menos mií) 14. 14. 40 rica) 8. 4i- !2 (muito Iva) 1 2. 0. 5 (muito boa) 14. I i- 52 (duvidosa) I 2. }S- iO (muito boa) 10. 40. JJ (muito boa) 12. j6. 54 (boa) 7- 1 1. 41 (duv idosa) Nov. DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 49 1»5J| r-" Nov. 5 II 12 31 Ee?. 2 7 9 12 27 jo Jane ir. 21 22 38 29 Fevcr. 14 22 Ollt. lã 21 2} 25 Nov. M 15 i4 Dc7. J Em. do 1.» Sat. de tíT Em. do 2.» bit. de 1/: Em. do 1.» Sat. di %■: Em. do i.» Sat. de V Em. do 2." Sat. de 7a Em. do 1." Sat. de Tff Em. do j.» Sat. de Vir Em. do 1." Sat. de Tj: Em. do 2.' Sat. de 7i" i:m. do 2." Sat. de Tj: Em. do ].« Sat. de 7,í Em. do l." Sat. de %: Em. do 2° Sat. de Iff . Em. do i.'' Sat. de ^p . Imm. do j.° Sat. de 'Zff . Em. do i." Sat. de ^ . Em. do 1." Sat. de K Em. do 2." Sat. de 7;7 . . Imm. do i." Sat. de Iff , Imm. do )." Sat. de 1P . Imm. do I .<■ Sat. de "Jir . Imm. do 2.' Sat. de T/: . Occult. de Y de Piseis [lela J ^ Imm. do i." Sat. de 7_7 . . Imm. do 1.0 Sat. de :^ . . Em. do 1.0 Sat. de 7^ . . f Im. nolimb. e^c, Em. nolimb. ill, Tempo Verdadeiro 1 — — ^ , 9-' 2,.' II' (boa) 6. 40. 54 (muito boa) 11. 34- 1 1 (boa) 7- 46. 28 (muito boa) '4- ih 59 (boa) 6. 0. 51 (muito boa) 6. 22. J9 (boa) I i- 2). Í5 (muito boa) 6. Ji- 0 (muito boa) 1 1. 17- 50 (boa) 1 1. JS. 27 (muito boa) 6. 6. 55 (muito boa) To>/!. XII. 6. 7- IO. i8. 12. 12. 8. 9- 12. 9- I í- J7 C""i''o boa) 1 4. 47 (boa) II. 53 (menoí má) 9. 2$ (muitj bua) 29. }) (meiios mi) 5 2. 47 (boa) 4- 32 Cboa) i% (boa) 22 (boa) 8. 26 (boa^ 29. 10 (inst.) 48. 49 (boa) 4j. 1 j (menns m.í) 3. 48 (menos ma) };. 47 (menOí ma") » yo '^* Memorias DA Academia Real Dez. li «9 ^^-^ Jane ir 2 9 22 aj Fever. I } t2 i6 >7 2) 5 12 ao 21 Abril 21 Im. nolimb. esc. Em. nolimb. ill. Im. limb. esc. imb. ill. OcculC. de jO de Piseis \^h C (boa) 8. 41. 9 (boa) 16. }• 5S (b«) iS. j6. 47 (boa) 17- 44. I (boa) 18, 42. 26 (menos mj) 10. )l. a7 (duvidosa) 8. 45- iS (muito boa) 6. 49. 47 (menos má) 10. iS. 2 (boa) 14- 1 1. 13 (mtnoj má) G ii iti6 y» Memorias da Academia Real i!t{(S Tcn po Verdadeiro r-'-^ ' > ^ V Jane ir. 14 Em. do I.» Fat. de Xí • * • • 9> ».' 25 ' (boa) 16 Em.. do a." Sat. de Xff . . . . 10. 6. 22 (boa) ai Em. do I.» Sat. de ^p $. 2i- 10 (boa) 29 Em. do }.■> Sat. de íff • • • • 1 1 1. 54- 47 (boa) Fe ver. ,} 6 Em. do 1." Sat. de ^ > * • st', 10. V« (boa) li Em. do i.° Sat. de Ij: • • • ■ 1 1. s. Í5 (muito boa) 17 Em. do 2." Sat. de "Jír • • ■ . 9- 49. $5 o. 10. 11 (boa) 17 Em. do 3.° Sat. de Tff • • • • 7- 57- IO (boa) Maio . 1 IS Eclipse do Sol í ^""^'P'° • ■ (.Fim ... • • • • I. 4. 7- 0. 19 i (boa) (boa) . Sept. 21 Imm. do i." Sat. de ^J: M- }• >9 (boa) Out. >4 Imm. do I .' Sat. de ^^ . . . • • . . '!• «9- '7 (muito boa) 26 Occult. de A de Tauto pela C"S ^Eni. . liinb. ill. li mb. CSC. 8. 9- 17. 16. i6 55 (boa) (iiist.) JO Imm. do 1.° S,it. de T/: . . . . . . . U- ,6. '9 (boa) Dez. 15 Imm. do 1." Sat. de ^ . . . . . . . li- i9- 55 (muito boa) 33 Imm. do 2.' Sat. dei 'Tf . , . «... 1 1. 4Í. 42 (boa) t-í» Imm. do 2.' Sat. de. 7^ . . . .... 14. 16. I (muito boa) OB- ^i OBSERVAÇÕES Feitas no Observatório da Marinha de Lisboa por António Maria da Costa c Sá, e communicadas á Academia Real das Sciíu- cias pelo Director do Observatório MATOIEUS VALENTE DO COUTO. '■ Agost'. 29 Oiit. ló 1829 Fever. i 10 i) Maio iS Jiinlio 10 19 ?o Ag05t. 4 30 Sept. I 1 X 20 2Õ Immersáo do j." Satellite de Júpiter f Immersáo no limbo escuro l Emersão no Jimbo illumin. 5 ««{! Tminersáo no limbo escuro Emersão no limbo illumin, Immersáo tio 2." Satellite de Júpiter Immersão do 1.° Satellite de Júpiter Imnierção do i.° Satellite de Júpiter Immersão do i.' Satellite de Júpiter lmmer<;ão do j.° Satellite de Júpiter Emersão do i." Satellifc de Júpiter Em^risão do 1.° Satellite de Júpiter Emersão do 2." Satellite de Júpiter F.mer^são do i." Satellite de Júpiter Emersão do t.° Satellite de Júpiter Emersão do 2.° Satellite de Júpiter Emersão do i." Satellite de Júpiter Emersão do j.« Satellite de Júpiter Emersão do 2.° Sat. de Júpiter. Tempo Verdadeiro . -^ . 7.'' 21.' 41 '' (boa) S. 24. 28 (inst.) 9, 28. 1 1 (muito boa) í. 5 5- ■+»,? (instant.) 9. 55. $4,0 (boa) 16. 56. 7 (muito boa) 15. 3í- 9 (menos má) 12. 42. 44 (muito boa) IO. 5 9- 44 (boa) 10. M- í (muito boa) IJ. 19. I (menos má) 9- J9- 55 Cbca) 9- 27. i8 (muito boa) 10. 5. % (menos má) 8. 24. 26 (muito boa) 8. 56. 26 (boa) 8. 46. js (muitoduv.) 8. j8. 22 (muitodjv.) I. lâ. J7 (duvjd.) Ou. 5'4 '1S29 Out. 28 Nov. iSjo Jane ir. >5 Março 20 Abril $ ia Main 5 14 21 28 Junho 5 6 12 'i >9 39 JO Julho 8 li •jO Memorias da Acadejiia Real Emersão do i.' Sàtellite de Júpiter . t r-^ flmmersão 110 liinbo illumin. ^ ^ Emersão no limbo escuro . f Immersãô no limbo escuro t Emersão no limbo illuminado o / Immersáo. . . . . . l Emersão no limbo escuro .^ /\ ..„ f Immersãô no limbo illumin, ^ Emersão no limbo escuro. Immersãô do i.' S.-itellite de Júpiter . ^ T lí^ . . Emersão no limbo illumin, Immersãô do i." Satellite de Júpiter . Immersãô do 1.° Satellite de Júpiter . Immersáo do i ". Satellite de Júpiter . Immersãô do ;." Satellite de Júpiter . Immersáo do 1.' S.itellite de Júpiter . Immersáo do 2.' Satellite de Júpiter . Immersãô do l.° Satellite de Júpiter . Immersãô do 2.° S.itellite de Júpiter . Immersãô do i." Satellite de Júpiter . 4.° Satellite de Jilpiter f Immctsã (. Emers.lo Immcr?.ão do J." Satellite de Jiipiter . Immersáo do i." Satellite de Júpiter . Immerjáo do 2.' Satellite de Jupiçeij . ^ Emersão do i." Satellite de Júpiter , Emersão do j," Satellite de Júpiter . Tempo Verdadfiro . ^\ . S."" 5i.' I j" (duvid.) 15- '6. 2 (mejioj niã) 1 ;. ji> 4 ^duv idosa) 5. 45. 58,4 (instant.) 6. 57. i6,« (boa) De baixo do horizonte 10. 7. 40 (boa) 16. JO. 19 (muito boa) 17. jg. 10 (instant.) I $. 1 }. 15 (meijos má) 7. IX. i; 29. I I. 12. 14. 14. 1 1. ' J- ).{• o (menos m.i) 7 (menos ma) I )'. 4j. 30 (muito boa) 12. j. 4i (menos m.i) 'i- 5 9- J5 (mu^o boa) ' !• i2, 5 j (muito boa) 48. ij. 2 i. 6. 59- 27- 5 9- 19. 4c. $2. 5. (menos má) (boa) (muito boa) (boa) (boa) (muito boa) (muito boa) 58 (ruelas má) 1 1 (menos má) a (muito duv.) S7 (muito duv.) DASSCIENCIAS DeLiSBOA. f> iS)o Julho 22 2! }1 Agost. 7 9 2J 26 S:pt. I ' 2 6 9 24 27 22 Out. 5 lo 29 Nov. Emersão do !.' Satellite de Jupitef Kmerúo do i." Satcllite de Júpiter Eiiieríão do j.» Satellite de Júpiter Emersão do i." Satellite de Júpiter EiiiersSo do 2." Satellite de Júpiter Emersão dõ 2.* Satellite de Júpiter Ei>1ers;ÍO do 1.° Satellite de Júpiter Emersão do I." Satcllite de Júpiter 1 Imniersão do 4.° Sal^elliíe de Júpiter I Emersão do i." 'Satellite de Júpiter Em;rsao do 2.° Satellite de Jnpiter Elriersão do j." Satellite de Júpiter EiTlersJo do i," Satellite de Júpiter Eiilersâo do 2." Satellite de Júpiter Inimersáo do j.' Satellite de Júpiter -. . .1 . • í Imniersão no limbo Xi fj. dí Baleia ■< l Emersão 110 limbo escuro. Emersão do 4° Satellite de Júpiter Emersão do 1.° Satellite de Júpiter F.dietsão do 2." Satellite de Júpiter Emerião do i." Satellite de Júpiter 3) T de Tauro 1 El Emersão do i.° Satellite de Júpiter . ; . mmersão no limbo illumin. Emersão no limbo ilkiniin. mmersão no limbo illumin. Emersão no limbo illumin. ÍY dasHyadas< l En 1) Aldeberan < lEi mmersão 110 limbo ilhim. Emersão no liiribo escuto. J Aldeberan . . Immersão no limbo illum. Erriersão do i.° Satcllite de Júpiter . . . Emersão do 2.° Satellite de Júpiter . . . Tempo Verdadeiro 14.'' 4i.' 17" (menos má) 9. 14. II (muito boa) 12. 5. 2S (muito boa) II. 8. s 9 (bua) 10. 52- 29 (boa) I). 4- 51 (inennj má) 7. J4. S (nniito b a) 9 jO. 14 (boa) 10. í8. 49 (menos ma) I I. 27- '9 (menos má) S. I. íi (An\ idosa) S. 14. 58 (boa) 7- 5!- S» (boa) 10. Í9- 14 (menos mi) 9- 0. 6. (boa) 10. J2. 30. (boa) 10. 48. ÍJ (instanr.) %. JC- 2} (muito boa) S. 17- 44 (menos má) 7- 54. 10. (menos m.i) 10. li. 4S (menos ma) 9. 2 5. j8 (boa) 10. 15. 12 (instant.) 17. 47. 28. (muito boa) 6. 42. J2 (muito boa) 7. 47. 44. (menos má) 7. o. 47 (muito boa) 6. 46. 6 (menos má) 7. 42. I i (boa) Nuvens 4a. %. í 5 (menos nu) iSjl ^, 56 Jansir. 25 Fev. 19 19 '9 28 Abril 24 Junho 6 9 18 21 2$ Julho 1 2 II II 18 Agost. 4 Sept. II 20 Out. 6 32 aj 2Í Memorias da Academia Real Aldcberan {Iinmersío no limbo escuro Emersão no limbo illu)iiin. J Immcrs.ío no limbo csciiro 5 Y cie Tauro< . i- i ,, I Emersão no limlio illumin. 5 1 D das Hyadas Immersão no limbo escuro 3) 2 SdasHyadas Immersão no limbo escuro l Immersão no limbo illum. í Y de Viríro^ „ . • ,■ 1 *■ ' l Emersão no limbo escuro Immersão do i.' Satellite de Júpiter. . , Immersão do 2." Satellite 'de Júpiter . . Immersão do 1." Satellite de Júpiter . . , Immersão do i ." Satellite de Júpiter . . . , r Immersão no limbo escuro T Y de Libra J ^ ...,., ^ J Emersão no limbo illumin. Immersão do i.° Satellite de Júpiter . . . Immersão do 2.° Satellite de Júpiter . . Immersão do 2.°. Satellite de Júpiter . . Immersão do i," Satellite de Júpiter . . Immersão do j." Satellite de Júpiter . . Immersão do 1." Satellite de Júpiter . . Emersão do i." Satellite de Júpiter ; . - . . , I Immersão lio limbo escuro C Y de Libra-Í ....,., ... ( Emersão no limbo illumin. Emersão do 1.° Satellite de' Júpiter. . . Emersão do 1." SatelFite de' Júpiter . . Emersão do I.° Satéllfté de Júpiter . . Emersão do 2." Satellite de Júpiter . . j Immersão no limbo illumin. ff Aldeberan.^ ..,,., l Emersão no limbo escuro , Tempo verdadeiro Níiveiis 9-'' 54.' 4J",! Cmtiitoboa) ^- 7 20,j (instant.) 9- I J. 21 (menos mã) 12. 21. J7,5 (instant.) 12. 2i. 14 (instant.) '2. ) j. Ji (muitnboa) iJ. 27. ipj, (instant.) ' !■ 8. 5 6 (menos niá) IJ. 4?. )6 (muito boa) M- 27. 6 (muito boa) II. 47. I i (menos m.í) 8. .4. 46 (instant.) 9. 46. 24 (boa) IJ. 40. 2 (muito boa) 10. 4;. IJ (muito duv.) 1 J. 19. 5 J (muito boa) "• 5 J. Si (menos mã) I 2. 49. J7 (muito duv.) ' i- 47- 7 (menos m.n) 10. 59. 24 (menos mã) 8. ;i. 40 (inst.niit,) NuvL-ns 9. Ji. 42 (bo,!") ■ih OÇJIVi'^ • I nh nçtiyri.i 1 , ^ 7. <7. 2} (muito bo.i) 6. 31. Jj (muitobo.i) 7. 17. 41 (muito boa) 12. 2 j. 1 j (hó.i) ij. 1. 56,1 (instant.) 29 DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. ?7 Out. 29 Nov. } 14 ai 24 Dez. )6 jo Fever. 8 15 Março 19 Maio 4e 5 Junho I i 14 19 19 Julho 1 6 10 Emersão do i." Sat. de Júpiter Emersão do j." Sat. de Júpiter . Emersão do 1.* Sat. de Júpiter . Emersão do i.' Sat. de Júpiter . Emersão do 2.' Sat. de Júpiter . Immers.io do j." Sat. de Júpiter Emersão do 1.* Sat. de Júpiter . _ , -, , . I Immersaó no limbo escuror J K da Rileia -i ^ , ,.,.„• I Emersão no limbo illumin. _ _ , 1 Immersão no limbo ilkimin. J Regulo ■<. , ,, . 1 Emersão no limbo illumm. -. >. I > M f Immersão no limbo illum, 5 í 5 de Libra^ ^ ^ Emersão no limbo escuro r49)2 (boa) II. 8. 2! (menos má) 14. }i. 46 (inst.) Não se pode avaliar 20. jo. 16 (_boa) ). 12. i. 15- 2i '9!4T ,^^^|-(m.-boas) ij. 4). J3 (mertosmi) '5- 5 5- 21 (boa) 15- J5- 24 (muitoboa) 16. }6. 24 (duvidosa) 16. 45. 7 (boa) 'i. ). 12 I }• 29. 2} 12. 44. 1 II. 44, 22 H (mennsmã) (muito boa) (boa) (muitoboa) 35 58 iSja Jullio 26 27 Agost. I 2 7 31 27 Sept. li aS 39 Out. 1 S ■ 12 1! 16 17 19 22 24 51 Nov. 2 9 »7 »7 2) Memorias da Academia Reat, EmersSo do 5." Sjtellfte de Júpiter Iminersáo do 2.° Saiellite de Jiipiter _ ,. , -w í Principio . . . Eclipse do 0 < ' ( tim Inimersáp do i." patcUitç df Jypijet Immersão do j." Satellite de Jiipiter Imnrjrsáo do 2.° Satellite de Jtipiter Immersão do 1.' Satel)ite de Júpiter Immersão do :.° Satellite de Júpiter Immersão do 2.° Satellite de Júpiter J 2 5 da Baleia . . Emersão no limho esc Emersão do 2." Satellite de Jupiter Emersão do 1.' Satellite de Jupiter Emersão do 1.° Emersão do i.° Emersão do j.° imersão do i.° Kmersão do 2.° t"mersáo do 1.' í.° Satellite de Rmersão do 2.' Emersão do i .° Emersão do i." Satellite de Jupiter Satellite de Jupiter Satellite de Jupiter Satellite da. Jupiter Satellite de Júpiter Satellite dii Jupiter ( Immersão Júpiter J (_hmersrio . Satallite de Jupiter Satellite de Jupiter Satellite de Júpiter Emersão do iS Satellite de Júpiter . ÍI™"^"^'''-'' "" limbo illum } u da Baleia s , ,, (Emersão no liir.bo illumir Emersão do i." Satellite de Júpiter . Emersão do j.» Satellite de Jupiter . Eiwisão do. 2." Satellite de Jupiter Emersão do i." Sattllite de Júpiter . Tempo Verdadeiro !?.'• 2.' sí" (lioa) 10. 11. 51 (duvidosa) o. 38. 4 (1-oa) 2. 4i. 14 (muito boa) I j. j8. 6 (muito boa) IJ. 57. 17 (muit. duv.) 12. 49. S (muito boa) 10. I. 2(5 (boa) I j. 52. 49 C'™) 10. 17. j6 (menos mi 9. 27. 24 (instant.) 12. i4. 7 (duvid.) 14. 50. o (muito boa) 9 20. 9 (boa) u . 16. 58 (muito boa) 9 iO. i5 (muito boa) iJ li. >í (muitn boa) ' 7 7- Si (muito boa) 7 4). 2Ú (muito boa) 10 54. 10 (menos má) 1 1 i4- 29 (boa) 9 44. 48 (menos má) 9 40. 14 (menos má) 1 1 }6. 10 (muito Loa) 6. 5- 18 (boa) 7 57- 18 (muito boa) 8. •1 \- 16 (menos má) 8 0. S2 (muito boa) 5 42. 26 (menos má) 6 48. 29 (muito boa) 6. i8. 27 (muito boa) Der, i3;3 V<:i. I 2 s 9 19 Jane ir. 5 6 '9 Agost. DAS SCIENCIAS DE LiSP.OA. Immerç.To do j.» S.itellife de Júpiter límersão do i.' Satdlite de Jiipiter Immersio do 4.» Satellite de Júpiter Emerdo do i ." Satellite de Júpiter , E.iiers.1o do 2.» Satellite de Júpiter . FmetsSo do i." Satellite de Jiipiter Emetsão do j." Satellite de Júpiter . • 1 rs E DA Lv A. 5-9 Principio Inimetsáo do ,." Satellite de Júpiter . Emersão do 2.» Satellite de Júpiter . Immersão do i." Satellite de Ju piter , Tempo \ erdadeiro \ 10.' 47.' ,-8" (boa) 3. I 2. 25 (boa) 9- I. 10 (muito boa) 10. 6. 14 (boa) 6. 16. 5Í (muito boa) 8. 18. SS (boa7 !• )5. 14 (muito boa) 4- 2J I 6. 45. 50 (muito boa) 5- 44- 5 7 (muito boa) "• 4). J4 (boa) i t5t MEMORIAS, QUE SE CONTâM NA I.' PARTE DESTE DUODECDIO TOMO. CLASSE DE SCIENCIAS MORAES, E BELLAS LETRAS. M. EMORIA em que se pretende mostrar ^ que a Liugtia Portíigueza não he jilba da Latina, nem esta 'foi em tempo algum a liugtia vulgar dos Lusitanos, Por D. Francisco de S. Luiz Pag. í Erros Historico-Chronologicos de Fr. Bernardo de Brito tia Chronica de Cister ^ correctos em 1834 por An- tónio de Almeida. ^j» Memoria sobre os Escrivães da puridade dos Reis de Portugal ,, e do que a este officio pertence. Lida na Sessão ordinária de 4 de Novembro de 1835' por Francisco Manoel Trigoso de Aragão Morato. : xjrj CLASSE DE SCIENCIAS NATURAES. Observações para servirem para a Historia Geológica das Ilhas da Madeira., Porto Santo^ e Desertas. Of- ferecidas d Academia Real das Sciencias por Luiz da Silva Mousinho de Albuquerque t Memoriei sobre o melhoramento das providencias para atalhar os incendias , e para 6 augmento d^agoa de Lisboa. Pelo Barão d' Eschwege 1^ Reflexões acerca da Memoria do Snr. Barão d'Escb'Uiegef sobre o melhoramento das providencias para atalhar incêndios , e para o augmento d^agoa em Lisboa. Pe- lo Visconde de Villarinho de S. Romão. ... 47 J\fIemoria Geognostica pelo Barão d' Eschwege. . . jj Memoria sobre a cultura dos Pinheiros, e extracção de sua £% Índice. sua matéria resinosa^ que d academia Real das Scien- cias oferece Joaquim Luiz da Cruz íj CLASSE DK SCIENCIAS EXACTAS. "Do calculo das ratzes e potencias indicadas. Por José Cordeiro Feio i Ensaio sobre a Fortificação térreo vegetal ^ ou segundo Systema Português. Memoria apresentada á Academia Real das Sciencias de Lisboa pelo Sócio Francisco Pedro Celestino Soares 17 Observações Astronómicas feitas no Observatório da Marinha de Lisboa por Paulo José Maria Ciera , Ajudante do Observatório , e communicadas d Aca- demia Real. das Sciencias pelo Director do Observa- tório Mdttheus Valente do Couto 3^ Continuação das Observações Astronómicas feitas no sobredito Observatório pelo Ajudante do mesmo An- tónio. Diniz do Couto Valente^ e communicadas d Academia Real das Sciencias pelo Director do Ob- servatório Mattheus Valente do Couto. ... 41 Observações feitas no sobredito Observatório por /luto- nio Maria da Costa c Sá , e communicadas d Aca- demia pelo Director do Observatório Mattheus Va- lente do Couto 5*3 ; HISTORIA E MEMORIAS DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA. Nisi utile est quod facimus , slulta est gloria. TOMO XII. PARTE II. LISBOA NA TYPOGRAFIA DA MESMA ACADEMU. 1839. HISTORIA DA ACADEMIA. i DISCURSO RECITADO NA SESSÃO PUBLICA DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS EM ij DE MAIO DE i8j8 POR FRANCISCO MANOEL TRIGOSO D' ARAGÃO MORATO, Vice-Presidente. O SENHORES. que desde a restauração da Academia anciosamente desejávamos, aquillo a que éramos obrigados pelos nossos Estatutos , que mandão celebrar huma Sessão publica ao menos huma vez cada anno, e o que desde o seu esta- belecimento nossos Sócios constantemente praticarão, sal- vo quando tempos nebulosos lhes não permittião dar ao publico o testemunho do seu progresso nas Sciencias que cultivavâo ; conseguimo-lo neste fausto dia , tendo a for- tuna de apparecermos por primeira vez em publico (por- que em audiência particular muitas vezes nos coube esta distincção) na presença de Sua Magestade Fidelíssima a Senhora D. Maria II. nossa Soberana e especial Protecto- ra ; de sermos presididos por Sua Magestade o Augustis- simo Rei D. Fernando II. extremoso amigo e honrador da Academia ; e de assistirem a esta solemne acção huni' grande numero das pessoas mais sabias e distinctas desta Corte. Não direi quaes forão as causas d'aquelle tão diutur- no retardamento : circumstancias externas e domesticas o motivarão ; e querer especifica-l,as, apenas serviria para sa- Tom. XII. P. II. a tis- n Historia da Academia Real tisfazcr huma inútil curiosidade, c também para funestar este dia com a triste recordação da perda irreparável de grande numero de Sócios, roubndos á Academia por mor- te ou ausência , no meio da sua carreira Litteraria ; cujos lugares só serão preenchidos, quando (o que muito dese- jamos) outros Sábios Portugue/es anhelarem a associar-se comnosco , para com esfoiços communs penetrarmos no alcaçar da sabedoria , e ahi renovarmos o sagrado fogo da illustração , que nossos maiores accendêrão com gran- de gloria da Pátria. O que porem nos importa saber, e o que pelo pro- gresso desta Sessão podeis facilmente conhecer, he que no espaço de quatro annos que tem decorrido desde que a Academia foi restaurada, posto que Ella não falasse em publico, para o publico continuou sempre a trabalhar; e os seus Sócios, longe de se deixarem adormecer nas ca- deiras da sala das suas Sessões particulares , rivalisárão comsigo mesmos, e com os outros que os havião prece- dido, em frequência e applicação ; e não só apresentarão muitos trabalhos, que já estão impressos, alem de outros mais volumosos , que as atenuadas forças do nosso cofre não pcrmittem senão muito lentamente publicar; mas au- xiliarão o Governo de Sua Magestade na resolução de al- guns negócios públicos , sobre os quaes lhes foi pedido o seu parecer; renovarão, e estenderão muito a quasi ex- tincta comniunicação com os Sábios, e Academias Estran- geiras ; e tiverão a grande fortuna de possuir com per- manência hum dos mais grandiosos edifícios desta Capi- tal, que com tudo apenas he bastante para unir aos seus próprios Estabelecimentos as numerosas adquisiçôcs que depois lhe accrcscêrão. Na verdade quem voltando á pátria depois de lar- gos annos d'ausencia delia , se não admiraria de ver tro- cado por hum magestoso edifício os mesquinhos e incertos apozentos que esta Sociedade d'antes occupava ? Quem reconheceria a sua antiga livraria , para conter a qual ape- DAsSciEKciAs DíLiSBOA. nr apenas bastavão duas pequenas salas , vcndo-a unida a ou- tra muito mais ampla e magnifica, formando ambas tal- vez o melhor estabelecimento deste género que ha nesta Corte? Q;_iem o seu pobre Museu, enriquecido com im» mensos productos naturaes, que a generosidade da nossa Soberana fez transferir do Real sitio da Ajuda em igual beneficio da Academia e do publico ? Quem finalmente vendo de novo huma vasta coUecção de pinturas , hum Museu de artefactos , de moedas , e de medalhas , deixa- rá de abençoar a memoria d' hum sábio Religioso , que ha muito nos havia deixado a administração destas pre- ciosidades, e de que só agora por beneficio de Sua Ma- gestade nos podemos apossar ? Por certo quem tudo isto com assombro visse , debalde procuraria a Academia den- tro nella mesma. Forçoso he pois tributarmos hoje os nossos louvores aos sábios Portuguezes, e á maior parte das Sociedades litterarias da Europa , e ainda de fora delia , que tem sollicitado c agradecido a nossa correspondência , e que nos tem presenteado com as suas dadivas , com os seus escritos , e com as suas numerosas collecçôes. Mis (dizemo-lo sem huma baixa lisonja, que aos Príncipes sábios e virtuosos nunca pôde ser acceita, e só fundados cm factos certos e notórios ) , quem mais me- rece o nosso cordeal agradecimento , e a quem de boa vontade todos cedcráô a primazia na estima desta Socie- dade , he sem duvida a nossa Augusta Protectora, Her- deira do Cetro da virtuosa Rainha D. Maria I. e do bonissimo Rei D. João VI. não só os imita no amor que estes dois Soberanos sempre mostrarão á Academia , e nos insignes benefícios que lhe fizerão, mas de tal ma- neira em tudo isto os avantejou, que creio não seria pos- sivcl que em iguaes circumstancias outro algum Príncipe a pudesse exceder. O Ceo felicite o reinado de tão vir- tuosa e amável Rainha ! Em quanto a nós , penhorados toda a nossa vida de tan- ir Historia da Academia Real tantos benefícios já recebidos , e que a generosa mão de Sua Magestade não cessará de nos continuar, não afrou- xaremos o nosso zelo e os nossos trabalhos no sei-viço da nossa Soberana , e na cultura das Sciencias ; e longe de procurarmos huma gloria vã e stulta , ambicionare- mos só a verdadeira gloria, que se adquire fazendo cou- sas úteis , e dignas da estimação dos sábios, e do louvor da posteridade : que tal he o mote e devisa da Academia. DifT DISCURSO RECITADO NA SESSSo PUBLICA DE i i DE MAIO DE iSjS PELO SECRETARIO PERPETUO JOAQUIM JOSÉ' DA COSTA DE MACEDO. E N H o R E S. Jjao passados mais de seis anrtos depois que a Academia Real das Sciencias de Lisboa deu pela ultima vez conta de seus trabalhos. Motivos que a todos são patentes, e que he dolo" roso recordar , causarão tio longo silencio , em que as Lettras Portuguezas tivsrâo a sorte de tudo o mais , ge- merão, esmorecerão, e ameaçarão por muito tempo to- tal esquecimento de sua passada gloria , e impossibilida- de de seu futuro progresso. Mas que singular contraste se apresenta entre Portu- gal e o resto do Mundo civilizado durante este periodo ! Em quanto uma espécie de atrofia moral embotava os ta- lentos, e decepava os espirites do génio creador , o vôo da sciencia se elevava rapidamente nos outros paizes : os descobrimentos se succedião uns aos outros: novas theorias assentadas sobre observações mais exactas davão uma face diversa a algumas sciencias , e faziáo entrever verdades , que apenas assomão no horizonte da sciencia, mas que ji despertão idéas e concepções do mais alto interesse , e das mais portentosas consequências. .. ., Os trabalhos de Herschel , de Arago ^ e de outros 7om. XII. P.II. h ' ' As- VI Historia da Academia Real Astrónomos celebres, devassando o espaço incommensura- vcl em que vagueão os elementos , e as producções sem numero da creaçáo , procurão satisfazer a nossa insaciável curiosidade ; aventarão conjecturas plausiveis sobre a na- tureza dos Cometas, das nebulosas, e das estrellas ; dão esperanças de poder medir-se um dia a sua distancia á terra, e de vir a alcanÇar ò conhecimento da verdadeira formação daquelles corpos celestes, cuja appâriçSo enchia outr' hora d'espanto e de terror os que os obserravâo ; e induzem a suspeitar nas estrellas errantes um novo mun- do Planetário. A Chi mica tem dado passos de gigante pelos esfor- ços de Gai Lussac , de DAvy , de Berzelius , de Totnpsm y de Dalton y e de outros j com tudo a thcoria da sciencia ainda fluctua : e a Phisica de mãos dadas com ella faz pro-» gtessos iftimensos, e confirma a theoria já presumida da erigem vegetal do dianlante. A rtfracção dupla observa- da nas lentes de diamante para microscópios simples de grande força , ê de pequena aberração espherica incitoa 0 eiârtle niais attento da Suà structura. Achou-se que era composto dè listas ou veios parallelos , alguns dos quaes rcflectião a luz com mais intensidade do que ou- tros, o que revela no diamante uma natilreza particular, e apoia a opinião da sua origem vegetal. Huma imper-- feição notada no diamante relativamente ao objecto para que se quíria àpplicar, patentca melhor a sua contextu- ra, e as observações combinadas de Pritchard, de jliry, de MaccHllagh , e de David conspirão para o mesmo fim. Assim o erro conduziu d verdade , como bem vezes tem accontècido ; e o accaso foi o principio d*um grande des* cobri mertto. A linha d'obscrvações magnéticas que se vai estabe- lecendo por toda a Europa , e que se estenderá ás mais partes do Mundo conhecido, fará mudar a face das theo-' rias dos grandes agentes da natureza. Não tira ainda a Geologia a coliecção de factos ne- ccs- DAS SciBNctAS DE Lisboa. vit ccSsarios para firmar princípios inconcussos, o que tem dado lugar a systemas arbitrários , que se succcdcm com a mesma facilidade com que se destroem; porem a Geo- gnosia que lhe serve de base, descobre -nos um modo an- terior ás épocas históricas. O que se passa na fundição do ferro nos fornos de alta temperatura, observado por Hautmann, cncaminha-nos a julgar, por analogia, das ope- rações da natureza no grande forno terrestre , e explica por meio da sublimação , e da penetração das matérias , em estado de vapor, muitos phenomenos geológicos: e os estudos paleonthologicos, tanto no estado normal, co- mo no estado pathologico, nos conduziráo talvez um dia a formar a historia do nosso globo em diversos e remotis- simos períodos da sua existência, tirada dos documentos que a terra esconde em suas entranhas, e que, por isso mesmo , se conservão felizmente com mais resguardo do que aquelles que as revoluções politicas destroem nos archivos , ou que podia subministrar-nos a tradição mal segura dos povos, que tem desapparccido da superfície do Planeta que habitamos. Então series de entes difFeren- tissimos dos que actualmente se conhecem , e outros que por gradações insensiveis se aproximão dos que agora existem , rcsuscitaráó a nossos plhos admirados o mundo zoológico antigo : e como estes phenomenos são intima* mente ligados, em grande parte, com a constituição phi- sica do globo , mostrar-nos-hão a posteriori qual tem si- do essa constituição em diversos periodos , e chegaremos em fim a reconstruir a cadêa da creação, e da vitalidade desd'a primeira animação da matéria orgânica até nossos tempos ; c comparando o que foi com o que he , pode- remos rastrear o que hade ser. A gomma elástica desce* berta por Boyíe nas plantas chicoreaceas, lobeliaceas, apo- cineas e em outras , em algumas das quaes he abundan- te, dará novo desenvolvimento á industria, e livrará a Eu- ropa de ser tributaria á America por este producto de ^ue as Artes fazem tanto uso. As viH Historia da Academia Real As viagens que d'uni a outro polo rcm atravessado o globo em desvairados sentidos, quantas riquc/.as para a scicncia tem desentranhado de regiões incógnitas! Qtian- tos conhecimentos tem augmentado i Geograpliia ! Quan- tas luzes tem dado á Historia ! Lm quanto desabrigados n'uma cabana coberta de sete pés de neve sólida , sem cama, sem cobertura, sem alimento animal, arrostáo uns as intempéries da terra mais inhospita, e a custo de pri- vações sofridas pelo espaço de nove mezcs, adquirem pa- ra a Geographia no descobrimento da Boothia Félix, e e dos paizes adjacentes uma parte do continente da Ame- rica, quebrando tão somente a monotonia desta vida pe- rigosa o espectáculo das Auroras Boreaes ; e tendo por único alivio , c por único estimulo para levantar-lhcs as forças abatidas os olhos na Pátria, e o reconhecimento da posteridade. Em ^quanto outros combatidos por mon- tanhas de gelo, que lhes embargão os passos, não podem levar avante seus projectos de descobrimento. Em quan- to, por outra parte, os exploradores da Groenlândia attes- tão a existência de factos que a Historia contestava, e a forção a declarar o segredo que guardava , e que tradi- ções confusas e apagadas davão antes motivo de duvidar do que de acreditar. Outros entrando por paizes ou em que a natureza alardea a gala mais pomposa, e mais louçã de suas producçõcs , ou férteis em recordações históricas grandiosas, ou notáveis pela resistência que tem constan- temente opposto aquelles que ousarão pizalos, e quasi pô- de dizer-se que contão tantos viajantes como victimas , conquistavão para a sciencia thcsouros immensos em todos os ramos dos conhcciaientos humanos, e voltando de suas conquistas, obtinliao um triunfo abençoado pela gratidão, e não execrado pelo ódio das Nações, em que a humanida- de, só folga e não geme, em que só se ostentão elemen- tos de vida e de creação, e não despojos da rapina, do extermínio, e da morte. Triunfo em que o homem se mostra o bemfeitor, c não o. algoz de seus semelhantes;. Oh DASSciBNCIASOELtSAÕA. I)C Oh que inexgotavcl profusão d'objectos, nem se quer nunca imaginados, fere por toda a parte a nossa vista ! Os polypos com seus trabalhos acérrimos fazem sahir dos mares na Oceania novas terras, que talvez tornem no futuro esta parte do mundo um vasto continente , como outr'hora parece telo sido , occupando-se incessantemen- te em reparar o que destruiu a natureza , que constante nos seus principios de vitalidade geral e de procreaçao , só varia nos modos que aflPectão a existência, apresentan- do sempre uma serie de creaçoes, e de catastrophcs. As tribus selvagens da Oceania , c os restos de an- tiga civilisação que ali se tem encontrado , manifestão que este, também chamado Novo Mundo, he o resto d*ou- tro Mundo muito mais antigo, que as revoluções do Glo- bo fizerâo desapparecer em grande parte ; e estas ruinas da humanidade, se assim podemos chamar-lhes, c da terra que ella habitava, e uns escaços vislumbres da tradição , pas- são muito além das épocas históricas , e revelão-nos o que ellas não podem dizer-nos. Prodigiosas ruinas que a America depara em diver- sas partes , e principalmente nos Estados Mexicanos , em que ha pouco se descobriu, em Ytzalane, uma cidade com dez legoas de comprimento e duas de largo, que revolu- ção espantosa vem fazer em todas as noções sobre a His- toria do Continente Americano , e que extensa carreira tem dado ás hypotheses sobre os seus povoadores 1 Qiie sementeira de conhecimentos novos não lança no vasto campo da Sciencia ! Que novas idéas não desperta sobre as antigas relações dos dois Mundos ! Matéria quasi vir- gem, terreno que apenas começa a desbravar-se, promet- te abundosa colheita aos talentos indagadores e ferrenhos no trabalho , e que com grande provimento de paciea- cia e de illustraçâo se propozerem a cultivalo. As medalhas dos Reis da Bactriana ultimamente descobertas dão, para assim dizer, o desenho d'um novo alcaçar a que se abrigue dos estragos do tempo aHisto- Tom.Xn.P.lI. c ria ;Í4 ,n^tiga ícQSsada ^a furi» das devastações , e põem os fundat>ientos do edifiç'tí qpe a racsm§ I^i^toria ajuda taror. bcíTi depois 9 eonstryir. Esta sçienc» por |t)uito tempo pç^reitíjd? á sijTipleç e dç^carnada enumeração dos acon-pj tecimentes ciyis, ou a publicar os fagtos guerreiros, liga'^ agora a burnanidade cm todas as sugç pl\f>se$ 30 thçattQ> çm que çUâ se desenvolva , aos outros çntes da nature?*, com qi^em esta em contacto, e 4 in.numeravcl nfiukiplicit^ dade dç corpos que so qiovem no eap^ÇQ, e de que 9. nosso globo he cg?no hum pequeno atomq. He de certd» modo o cimento quç su|teata, e 9 matriz em que estáo çngastadíts todas as Scieqçias. Mas tambera as Sciencias tem os seus devaneios. Os infinitameote pequenos de differentes ordens, banidos da Alathematics pelQ rigpr da exacçw, acharão guarida e^ Medicina, c a Medicina teve os scys infinitamente pcr Quenps. A doutrina hpmoeopathica , inculcada com em-a phase, admittida sem examç, e prgcUmada com fanatis-»; mo, grangeou proselytos, e gozou da celebridade ephc-, Oísra , que alcançao qs system.as cercados da aureola de certo apparato scientifico phosphorico, que fascinão por (jlgura tempo, porem não consentem analyse severa. Hu- ma medalha d'ouro coroou o Doutor Des Guidi, que pfir» raeiro a introduziu em França ; o ridiculo acabou de der-. ■ ribar o quç a raz^o devçria ter rejeitado desde seu prin^ çipio. Q turbilhão immcnso da Sciencia, durante esta épo- ca, envolveu paizes que pareciâo estar para sempre affer- relhadqs pela ignorância ; ç a Europa vio com assombro est*belecerem-se imprensas, e publicar-se por ellas até o Alcorão na Pérsia, e os Principes da mesma Pérsia, do Egypto , e de v^riís partes da Ásia correrem á porfia a alistar-sç nas Sociedades lyitterarias da Europa. Tal h^ % força irreaistivel do século , que se insinua por onde jvrecia impossível penetrar, g^nha insensivelmente raizes , vigora , se , e apsejihgrea-se do terrenp que o es- DAS SciENCiAS DE Lisboa. xi pirito das trevas occupava, que lhe disputava com obsti- nação , e que foi obrigaJo a ceder lhe. bscaç) de cabedal de sabedoria, e circumscripto aos limites que me prescreve a natureza deste discurso, nem sei, nem posso traçar o quadro magestoso e vastissimo do progresso dos conhecimentos humanos desde 1831, qua- dro que nem sequer, leve c mui superficialmente, esbocei. E que fazia entretanto Portugal , e a Academia ? Portugal , estranho ao movimento geral da Sciencia , co- mo que estava fora da cspheri da sua actividade. Portu- gal mostrava a apparencia definhada e mortal d'uma des- organização completa , e a hebetação mental acompanha- va o marasmo politico. A Academia orfá d'uma parte de seus Membros , agrilhoados em masmorras , desterrados e dispersos , caminhava lentamente por uma inanição gra- dual á sua total dissolução ; e posto que dava ainda al- guns signaes devida, acodia de vez em quando com acc"- dcntes tão mortaes , que desbaratavão toda a esperança de remédio. Porém o génio da Sciencia velava sobre el- ]a ; e o progresso das letras, que tinha sofFrido uma d'a- quellas perturbações, que parecião desvialo da lei do seu movimento, tornou a seguir o caminho que essa mesma lei lhe assigna, e que jà não he dado ao homem alterar. Huma serie de prodigios trouxe a Portugal o Senhor D. Pedro, e o Libertador da Pátria não podia deixar de pro- curar ser também o restaurador das Letras. Constando-lhe o abatimento a que se achava redu- zida a Academia , mandou pela Portaria de 9 de Maio de 1834, que eila nomeasse uma Commissão para formalizar um Plano de reorganização em harmonia com o que se pratica nos paizes mais cultos da Europa , o que a Aca- demia executou propondo um Plano de novo Regulamen- to, que fez subir á Presença de Sua Magestade Imperial cm 2 de Julho do mesmo anno ; porém o estado deca- dente da saúde do Duque de Bragança não permittiu que elle visse coroados plenamente os seus desejos, nem que c a des- XH HisTORTA DA Academia Re AL desse á Pátria mais um testemunho de seus desvelos por cila. Pouco antes de nos ser roubado para sempre , re- volvia ainda na lembrança a Academia que amava , que intentava levantar a um alto gráo d'esplendor , e de que queria ser Presidente. Mas á Senhora D. Maria II. , Herdeira dos senti- mentos , e das virtudes de seu Excelso Pai, he que esta- va destinado restaurar a Academia ; e por uma coincidên- cia singular e única na Historia das Nações , uma Rai- nha veio dar nova existência á Instituição que outra Rainha Sua Augusta Bisavó, e até do mesmo nome, ti- nha fundado para o adiantamento das Sciencias em Por- tugal. A mudança de circumstancias exigia também al- guma alteração nos Estatutos , que subirão novamente á Presença de Sua Magestade.em 8 d' Outubro, e baixarão approvados em 15: do mesmo mez. Porém não bastava reorganizar a Academia, era mister tornala estável , livrando-a de andar como foragi^ da buscando continuamente onde acolher-se; e habilitai» com meios pecuniários , que suprissem o desfalque que , em consequência da extincção de seus privilégios, tinhão sofrido as suas rendas. Estas duas pedras angulares de prosperidade nãopodião ser desconhecidas a Sua Magcsta- dé , e a providencia foi tão prompta , que atalhou o mal antes de poderem sentir-se os seus effeitos , concedendo- Ihe por Decreto de 27 d^Outubro de 18^4 o edificio do extincto Convento de Nossa Senhora de Jesus da Tercei- ra Ordem da Penitencia, para seu estabelecimento, e ele- vando a sua dotação a seis contos de réis , em lugar de quatro contos e oitocentos mil réis. Huma razão de pre- ferencia militava para a Academia vir occupar o extincto Convento de Nossa Senhora de Jesus. Ali estava o Mu- seu d' Historia Natural, Medalhas, e Pinturas, colligido pelo P.« M."= Fr. José Mayne , e de que a Academia he administradora ; c a Livraria daquelle Convento era cm grande parte composta de obras compradas pelo mesmo DAS SciENCIAS DE LiSBOA. Xlll P.e Mayne, e de que a Academia tinha tambcni a admi- nistração. Separar o que pertencia ao Instituto Maynen- se era impossível ; e por isso Sua Magcstade, sempre so- lícita cm augmentar os meios de facilitar a applicaçao , providcntemcnte ordenou peia Portaria de 23 d'Outubro de 1854, que a Bibliotheca do extincto Convento de Je- sus fosse administrada do mesmo modo que aquelle insti- tuto , e que unidos estes estabelecimentos aos análogos da Academia, se franqueassem todos ao publico em be- neficio das Letras. A Academia penhorada e agradecida foi levar re- speitosamente a Sua Magestade o tributo do seu reconheci- mento por tamanhas mercês ; e o acolhimento gracioso , e a resposta benigna de Sua Magestade derão maior real- ce aos favores recebidos. (N. i) Porém nao se restringirão só a estas as graças que a Senhora D. Makia II. liberalizou á Academia desde a sua reorganização. Mandou-se-lhe dar da Impressão Regia uma collec- çao completa da Legislação novissima. Dcterminou-se ao Marquez Mordomo Mor, que se lhe guardassem no Paço as distincções que lhe tinhâo sido concedidas. Entregou-se-lhc uma collecção mineralógica, que se achava na Intendência das Minns. Ordenou-se que , depois do Bibliothecario Mor da Real Bibliotheca Publica ter recebido um exemplar de cada uma das obras que faltassem na Bibliotheca Publi- ca , e existissem no Deposito geral de S. Francisco , se praticasse o mesmo com a Bibliotheca da Academia. A instrucçlo publica reclamava imperiosamente a re- moção do Museu da Ajuda para sitio, onde podesse ser consultado mais commodamente pelos estudiosos; e por isso Sua Magcstade , assentindo á opinião geral , Houve por bem incorporalo no Museu da Academia , por Decre- to de 17 d'Agosto de 1836, ficando debaixo da sua in- spec- j(iv Historia DA Academia Real specção scicntifica e económica o Jardim Botânico da Aju- da , cujo Director deve reger uma Cadeira de Botânica , onde pela mesma Academia liic for designado. Este lu- gar destinado para o Museu da Ajuda , era tanto mais apropriado para elle , quanto a abertura da aula de Zoo- logia crcada pela Academia, em cumprimento da vonta- de legatária do V.' Mayne , demandava exemplares de muitos objectos que havia naquclle Museu , e de que estava de todo desprovido o da Academia. Pozerão-se á disposição da Academia as Cercas dos extinctos Conventos de Nossa Senhora de Jesus , e dos Paulistas, a fim de nellas se estabelecer um Jardim Bo- tânico , promettendo-se-lhe os subsídios necessários para realj'/ar este projecto. E derão-sc-lhc vários instrumentos de Phisica, e vá- rios productos d' Historia Natural, que havia no Depo- sito das Livrarias dos Conventos extinctos. Todo este bem -fazer, e os reparos e preparativos necessários feitos pelas Obras Publicas no edifício da Aca- demia para accommodação das suas diversas officinas, e do Museu, são effeitos manifestos da constante generosi- dade com que Sua Magestade agracia uma Corporação , que se compraz de proteger. l'.:,<: Com os novos Estatutos nomearâo-se os Officiaes da Academia, e forão eleitos: Vice-Presidente o Senhor Francisco Manoel Trigoso d' A» ragâo Morato. Secretario perpetuo Joaquim José da Costa de Macedo. Vice-Secretario perpetuo o Senhor Francisco Elias Rodri- gues da Silveira. Thesourciro o Senhor Marino Miguel Franzini. Guarda mór o Senhor Manoel José Pires. Director da Classe de ScienciasNaturaes q Senhor Igna- cio António da Fonseca Benevides. Director da Classe de Scicncius Exactas o Senhor José Cordeiro Feio. E i^ DirçctoP da CMss.,' de Sciencias Moraes e Belks Le- tras o Seuh >r Fraijwisjco Ribeiro Dosguitnjráes. Preenchi.'r4ij-se os lugares de Sucios cffcccivos, pro- movcndo-se si4cçes;viv4(neiite a ^$te gráo \ n^ Çla^e de Scieacias N CiAraes os Síohores : Vvscoude de ViUannhQ de S. R.om.1 ) , Barâ > de Inhomerim , Francisco Soare^ FraOiÇQ, e Luiz 4a Silva Mi>uzinho d'Albuqucrque ; na Classe de Sciencias Exactas os Senhores : Antonjo Lopes da Costa c Almeida, Francisco Pedro Celestino Soares, e o Doutor Filippsí Folque ; c na Classe de Sciencias Moraes c Bcllas Letras os Senhores: Manoel José Mar^a da Costa c Si, Manoel José Pires, e José de Santo António Mou- r^ ; e pela falta temporária d'alguas Sócios effectivos fo' rio eleitos Substitutos de effectivos; na Classe de Sciep- cias Naturaes o Senhor Barão d' Eschwcge, na de Scien- cias Exactas o Senhor Fortunato José Barreiros , e na de Sciencias Moraas e BelUs Letras o Senhor José Libeçata. Creire de Carvalho. E forao também promovidos a Só- cios livres os Senhores : Manoel Agostinho Madeira Tor- res, Joaquim Pedro Cardoso Casado Giraldes, Agostinhq Albano da Silveira Pinto, e Mr. Fraehn de S. Petersbourg. Ficou vago o Cargo de Presidente, por não haver nenhum Príncipe da Familia Real Portugueza , a quem, segundo os nossos Estatutos, podesse conferir-se ; porem logo que chegou a Lisboa S. A. R. o Príncipe D Au- gusto, a Academia considerando que a qualidade de Es-, poso da Senhora D, Maui^i II. unia o Príncipe á Farai-» lia Real Portugueza, tornando-o Membro delia, o nomeoi^ seu Presidente; nomeação a que Sua Magestade prestou o seu Real consenso com expressões de tão singular be- nevolência, que lhe derão mui alto preço, e que o Prin^ cipe acceitou com mostras de tanto agradecimento nas palavras com que respondco 4 Deputação Académica que foi participar-lha, que honrao igualmente o Príncipe, pe-i Jo amor das Letras que nellas reluz, e a Academia a quem sç Rndfireçárão, (H. 2) O xvr HiSTOBiADA Academia Real O fallecimento de S, A. R. o Príncipe D. Augusto trouxe por idêntico motivo ao grémio Académico para ' nosso Presidente S. M. o Senhor D. Fernando II., que, por serviços feitos ás Letras, se anticipou a alcançar por títulos próprios o que lhe era devido como a Príncipe Portuguez. (N. 3) Reorganizada a Academia, começou desde então uma nova época para o progresso das Sciencias em Portugal. Até ali a Academia quasi separada da communhão do Mun- do erudito , reduzião-se a quatro as suas relações littera- rias, que erao a Academia Real das Sciencias de Berlim , o Instituto de França, a Sociedade Philosophica America- na de Philadelphia , e a Sociedade Real de Litteratura do Reino-Unido , que nunca nos desampararão no meio de nossas vicissitudes politicas. A Academia Imperial de' S. Petersburgo já nos tinha riscado da lista dos Corpos com quem se correspondia : a Academia Real das Scien- cias de Turim o ultimo volume que nos tinha mandado das suas Memorias era o que sahiu á luz em 1830 : a So- ciedade Geológica de Londres desde 1814, que não nos remettia as suas Transacções : e as relações com a Aca- demia Real das Sciencias e Bellas Letras de Bruxellas ti- nhão cessado havia mais de deicseis annos : porem o im- pulso dado por Sua Magestade á Academia resoou em to- do o Mundo, e todo o Mundo participou delle. A Academia de Bruxellas, e a Sociedade Geológica de Londres vierão re- novar suas antigas relações : a Academia de S. Petersbourg , e a de Turim enviarão-nos todos os volumes de Memo- rias , que nos faltavao , todas as Actas das suas Sessões , e algumas outras producções de grande valor : a Acade- mia Real da Historia de Madrid com quem, apezar de tanta proximidade, nunca nos correspondemos ; a das Scien- cias Naturaes também de Madrid ; a Imperial e Real dos Georgophilos de Florença ; as Academias Reaes d' Irlan- da , de Munich , de Nápoles , e de Stockholm ; a das Sciencias e Artes de Boston ; a das Sciencias de Maryland j a DAS SciENCIAS DE LiSBOA. XVII a Associação Britânica para o adiantamento das Scien- cias ; o Instituto dos Paizcs Baixos; a Sociedade Philoso- phica de C-.imbridge ; a Sociedade Real das Scicncias de Copenhague, a de Edimburgo, a das Sciencias Phisicas e Naturacs de Genebra, a Hollandeza das Sciencias de Harlem , a Linneanna de Londres, a Mcdico-Botanica da mesma Cidade, a Imperial dos Naturalistas de Moscou, a Real e Central de Agricultura de Paris ; as dos Anti- quários de França, de Londres, e do Norte em Copenha- gue; as Asiáticas de Londres, c de Paris; a Astronómi- ca de Londres; as de Gcographia de Londres, e de Paris; as Históricas de Massachusetts , e de Rhodc-Island ; a Sociedade para a cultura da seda em França ; as Socie- dades das Sciencias Medicas , e Pharmaceutica de Lis- boa ; e a Sociedade Litteraria Portuense , abrirão igual- mente communicação com a nossa Academia, remettcn- do-nos as suas obras. Já a Academia não he aquelle corpo caduco, sumi- do n'um canto da Europa, ignoto ou desestimado ; já se ergue magestosamente; já campeã entre os outros de se- melhante instituto; já nos relatórios dos Corpos scienti- ficos com quem se corresponde he considerada como uma das principaes da Europa ; já he procurada ; já abrange em suas relações todo o orbe Littcrario. Quarenta e duas Associações dedicadas ás Sciencias estão em commercio activo com ella ; c com mais nove estão encetadas as re- lações. ^* E a quem se deve tão rápida mudança no esta- do da Academia? A' illustrada munificência da Nossa Au- gusta Soberana. Tal hc a força magica da Sciencia, que a voz de Sua Magestade reuniu , para assim dizer, n'uni momento Paizes tão distantes , e ajuntou na Academia uma massa de meios de instrucção qual nunca houve em Portugal. Gloria eterna á Senhora D. Maria II.: o seu nome durará em quanto durarem as Letras. Porém não se limitou aos Corpos scientificos esta espécie de commoção eléctrica: discorreo por toda a parte, e a lista dos do- Tom. XII. P, II. d na- Jtviii HisTom A DA AoA DEMi A Real nativos com que a Academia tem sido presenteada sâo a prova mais exuberante da grangcaría de reputação que cila fez em tão apertado tempo. E posto que a sua abun- dância não permitta espcciali/.alos aqui individualmente com o ckvido tributo de nossos agradecimentos, não pos- so com tl^do deixar de particularizar alguns, que pela sua importância merecem distincta menção. Taes são por exemplo a Collecção dos documentos publicados pela Commissáo Real dos Archivos da Gra-Bretanha, obra que rcune o luxo typographico á valia scientifica , pro« jecto digno d'uma Nação grande e poderosa, que conhe- ce quaes são os mananciaes cm que pôde saciar-sc a sc« de de instrucção em todos os ramos da Historia Pátria, c que satisfaz a uma necessidade Nacional relativamen- te aos tempos passados, levantando um monumento de gloria á geração presente. Tal hc também o generoso desapego com que o nosso Sócio Monsenhor Ferreira se privou d'uma grande porção de Livros raros , e custosos da sua escolhida Bibliotheca para enriquecer a da Acade- mia, o que he mais um sígnal do amor que sempre pro- fessou a esta Corporação. Porem não só os donativos scientiiicos são credores do nosso reconhecimento. Ha outros que sendo o penhor d'uma afFeição especial, c pelas saudosas recordações que dospertão incessantemente em nós , tem mais subida cs« timação. Tacs são os retratos do Senhor D. Pedro IV., e de S. A. R. o Príncipe D. Augusto, com que S. M. Imperial a Duqucza de Bragança mimoseou a Academia. A magnificência dos ornatos ostenta grandeza real ; mas o motivo da dadiva, e a memoria do que representão são infinitamente mais preciosos , e constituirão sempre titu- los indeléveis de gratidão para a Academia. Tem também direito á nossa gratidão as pessoas de quem recebemos obsequiosos officios , bem como os Se- phores Bento Pereira do Carmo, Bispo Conde Resigna- tario dç Coimbra., Agostinho José Freire, c Luiz da Sil- va DAS SciENCIAS DE LiSBOAí 3fl)f va Mousinho d'AIbuquerque , que cm quanto exercerão os lugares de Ministros e Secretários d' Estado dos Ne- gócios do Reino, derão á Academia as mais decisivas pro- vas de interesse e de consideração : os Senhores Visconde de Sá da Bandeira, Manoel da Silva Passos, e Júlio Gomes da Silva Sanches, a quem igualmente somos devedores : os Senhores Visconde da Carreira , Barão da Torre de Mon- corvo , e José Guilherme Lima , Ministros de S. M. nas Cortes de Paris , Londres , e Madrid , que com uma ef- ficacia constante, e um desejo nunca interrompido d'obri- gar a Academia, se prestarão com a mais benévola von- tade a tudo aquillo em que ella careceu do seu auxilio nos paizes onde residião ; sentimentos que os Senhores Visconde da Carreira , e Barão da Torre de Moncorvo deixarão como vinculados nas pessoas que lhes succedêrâo nos lugares; e o Cavalheiro Carlos Purton Cooper, que a Academia conta entre os seus Sócios, e que a pesar dos embaraços da sua profissão , e do emprego de Secre- tario da Commissão Real dos Archivos da Grã-Bretanha , nos tem feito relevantes serviços em Inglaterra. A Aca- demia lhes rende publicamente as graças pelo que. prati- carão com ella. Tantos e tão variados estímulos não podião deixar de despertar a Academia do lethargo em que jazia, nem de accendcr em cada um de seus Membros o fogo do enge- niio, avivando o ardor quasi extincto com que outr'hora cultivavão as Sciencias, que pareciâo ter abandonado. Vi- çosos fructos produziu sua applicação , e para relatar os trabalhos apresentados na Academia desde a ultima Sessão publica , começarei pelos do Senhor José Maria Dantas Pereira, que leu duas Memorias Históricas , uma sobre o Padre João Chevalier, e outra sobre o Ministério do Mar- quez de Pombal no tocante á Marinha de Guerra Portu- gueza, um resumo systematico da Legislação criminal Por- tugueza, seguido por outro, no qual extracta e compendia a parte mais essencial d'um projecto de Lei relativa ás d 2 dcs- XX Historia da Academia Real deserções na repartição da Marinha; e Portugal em Map- pas , Cartas , e Plantas. O Senhor Mattheus Valente do Couto , vencendo os incommodos habituaes de sua de- licada saúde, offereceu á Academia uma breve exposição dos princípios d'Oprica , que muito auxilião os que se dcdicão ao estudo das Sciencias Phisico-Matheniaricas, c uma Memoria sobre a aproximação das formulas da pre- cessão dos equinoxios. O Senhor José Cordeiro Feio des- envolveu n'uma Memoria a theoria dos cálculos das raí- zes e potencias indicadas, reduzindo a a regras claras, e sugeitando a a demonstrações rigorosas. O Senhor Fran- cisco Pedro Celestino Soares leu o seu Ensaio sobre a Fortificação térreo vegetal ; a descripção d'uma nova bom- ba denominada Porrugueza , aspirante e compiimentc , em que se propõe obviar os defeitos que produzem a fricção e a diificuldade de formar o vácuo perfeito nas bombas aspirantes, e a fricção nas comprimentes ; e uma Memoria sobre os barcos movidos por vapor , acerca de cuja construcção faz diversas reflexões, mudando a collo- cação da força motriz, e procurando remediar os incon- venientes da complicação do machinismo , seu grande peso, e attritos, etc. O Senhor Fortunato José Barreiros, leu o principio do seu Tracrado d'Artilheria , uma Me- moria sobre a reducção reciproca dos pesos e medidas de Portugal, Hespanha, Inglaterra , e Fr.inça , e compoz os Princípios geraes de Strategia, e de Castrametação, obras que faltavão para o ensino elementar dos alumnos da Es- cola do Exercito. O Senhor António Maria da Costa c Sá continuou seus trabalhos Astronómicos, dando-nos to- dos os annos os Annuncios das occulraçõcs das Estrellns visíveis pela Lua, e alêni disso o calculo da passagem de Mercúrio pelo disco do Sol , e as observações feitas no Observatório da Marinha. O Senhor Diogo de Teive e Vasconcellos Cabral mandou-nos uma Memoria sua sobre a applicação dos princípios theoricos á construcção dos reparos da Artilheria, O Senhor João de Fontes Perei- ra nAS SCIENCIAS DE LiSBOA. XXI Tl de Mello escreveu o seu Tratado pratico de Aparelho com vários additamentos , que tornâo esta obra indispen- sável para os que seguem a vida do mar. O Senhor An- tónio Lopes da Costa e Almeida proseguiu na publicação do seu Roteiro , e os Senhores António Diniz do Couto Valente , e Mattheus Valente do Couto Diniz occupá- rSo-se na publicação das Ephemerides Náuticas calcula- das para o Meridiano do Observatório da Marinha , era que o primeiro destes dois Senhores fez também obser- vjçôes astronómicas , impressas na collecção das nossas Memorias. Não foi a Ciasse de Sciencias Naturaes menos fe- cunda. O Senhor D°' Carlos José Pinheiro mandou-nos as suas observações meteorológicas feitas em Coimbra até ao fim de Junho de 1834, e os seus Ensaios sobre um novo modo de ligar a artéria no aneurisma, segundo Asley Gowper. O Senhor 0.°"^ Franciso Soares Franco leu uma Memoria sobre pastos communs ; tivemos do Senhor Vis- conde de Villarinho de S. Romão uma Memoria sobre a urgente necessidade que ha de concertar as estradas que vem do Porto para Lisboa , umas reflexões acerca da Me- moria do Senhor Barão d' Eschwege sobre o melhoramen- to das providencias para atalhar os incêndios, e para o au- gmento da agoa em Lisboa ; e também nos communicou a vsua traducção da Viagem de Deaborn ao Egypto. A con- Ktrucção das estradas mereceu também a attenção do Se- nhor Barão d'Eschwego, que fez algumas considerações sobre este objecto, e compoz alêra disto uma curiosa me- moria Geognostica sobre os arredores de Setúbal , outra sobre o melhoramento das disposições para atalhar os incên- dios , e para augmento da agoa em Lisboa, que deu lu- t»ar ás reflexões do Senhor Visconde de Villarinho de S. Romão, e ultimamente outra sobre a Historia moderna da administração das Minas em Portugal. O Senhor Luiz da Silva Mousinho de Albuquerque, apezar das fadigas do seu emprego , não se esqueceu da Academia , e remet- teu- xxn Historia da Academia Real teu-nos as suas observações para servirem para a Historia Geológica das Ilhas da Madeira , Porto Santo , c Deser- tas, em que nos dá a dcscripção Geognosrica daquella interessante porção do território Portuguez. O Senhor Fre- derico Luiz Guilherme de Varnhagen enviou-nos um es- boço demonstrativo sobre a necessidade que ha d'orga- ni/ar um systema de Matas em Portugal , e leu uma Me- moria sobre o estado da Fabrica das Ferrarias da Foz d'Algc ; e imprimiu-se-lhe na OíEcina da Academia o seu Manual de Instrucçôes praticas sobre a sementeira, cul- tura, etc. dos pinheiros. O Senhor Alexandre Augusto de Oliveira Soares apresentou uma Memoria sobre a Medi- cina cutânea, as bases d'um Plano de regulamento para a policia sanitária das meretrizes, e parte da Historia da Medicina Portugueza desd'o principio da Monarchia até á fundação da Universidade. Mr. Maire dcu-nos uma Me- moria em Franccz sobre a Organogénie Générale. O Senhor Joaquim Luiz da Cruz enviou-nos uma Memoria sobre os pinheiros, e suas producções. O Senhor António Albino da Fonseca Benevides tomou i sua conta a nova edição do Compendio de Botânica do Senhor Brotero, com os ad- ditamentos que exige o estado da Sciencia. E o Secre- tario fez huma Memoria Archeologica e Lithologica so- bre os vasos murrhinos. A Classe de Sciencias Moraes e Bellas Letras não foi também escaca em resultados scientificos. O Senhor An- tónio Joaquim de Gouvea Pinto apresentou uma Memo- ria Histórica sobre os Escrivães da Puridade desd'os pii- meiros tempos da Monarchia , e outra para servir de sup- pkmento e adjutorio á Historia da Marinha Portugueza. O Senhor António d'Almeida, progredindo nas suas tare- fas históricas, mandou-nos uns additamcntos e retoques á Primeira Parte do Exame comparativo das Chronicas Por- tuguezas relativamente ao Governo do Senhor Conde D, Henrique, e uma Memoria sobre os erros historico-chrono- logicos de Fr. Bernardo de Brito na Chronica de Cister. O DAS SCIEVCIAS DE LtSBOA. XXIII O Senhor João Fedro Ribeiro, a quem não canção os an- nos, rcm-treu-nos uma Memoria, que contêm o extracto critico e analytico do Cartulario da Sé do Porto, vulgar- mente chamado Gw^nsual , e outra sobre a economia dos Juizes da primeira instancia no nosso Reino, desd'o go- verno dos Reis de Lc3o. O Senhor Bispo Conde Resigna- tario de Coimbra, D. Francisco , incançavel nos seus es- tudos de Litteratura Portugueza , e das antiguidades Pá- trias , compoz um Glossário dos vocábulos Portuguezes, derivados das lingoas Orientacs, c Africanas , excepto a Arabc; uma Memoria sobre a instituição da Ordem Mi- litar da Ala attribuida ao Senhor D. AfFonso Henriques ; outra, em que se pretende provar que a lingoa Portu- gueza não he filha da Latina ; outra, em que se trata da origem do nome de Portugal e seus limites em differen- tes épocas ; umas Memorias históricas do Senhor Conde D. Henrique ; outra Memoria, em que se ajustao as noti- cias que nos restao do O."^' João das Regras , e se tocâo algumas espécies acerca da Lei mental ; e umas Memorias chronologicas e históricas do Governo da Rainha D. Te- resa, O Senhor Francisco Manoel Trigoso d'Aragão Mo- rato, aproveitando o tempo que lhe restava de suas graves occupações, leu huma Memoria sobre a verdadeira signi- ficação da palavra Privado; outra sobre os Escrivães da Puridade , e do que a este ofHcio pertence ; e outra so- bre os Chancelleres mores dos Reis de Portugal , consi- derados como primeiros Ministros do Despacho e expe- diente dos nossos Soberanos. O Senhor Manoel Agostinho Madeira Torres terminou a sua Descripçao histórica c económica da Villa de Torres Vedras, de que recebemos a segunda parte. O Senhor Ignacio da Costa Quintella es- creveu os Annaes da Marinha Portugueza. O Senhor José de Santo António Moura concluiu a sua traducção da via- gem de Ben Batuta, viajante Africano do XIV. século, e de que não ha impressa, nem a obra original, nem tra- ducção completa em nenhuma das lingoas da Europa. O jçxiv Historia da Academia Real O Senhor Manoel José Maria da Costa c Sá, não desistin- do da sua patriótica empresa de transmittir á posterida- de as noticias de nossos fallecidos Consócios , teceu o elogio do Senhor Cypriano Ribeiro Freire. E o Secretario fez uns additamentos á Memoria , cjue já tinha publica- do, sobre as verdadeiras épocas em que principiarão as nossas navegações , e descobrimentos no Oceano Atlân- tico. Litteratos que não pertencem á Academia , lhe of- ferecôrão também o fVucto de suas vigilias. Recebemos do Senhor Frederico Guilherme Schutzc um Opúsculo De arte hermenêutica \ e do Senhor João Baptista da Silva Lo- pes uma Memoria sobre a Cochonilha , e outra Econó- mica , Estatistica e Topographica do Algarve. •í>;; Porem não se reduzem só a estes os trabalhos Aca- démicos. Honrada pelo Governo de Sua Magestadc com repetidas provas de confiança, tem sido a Academia en- carregada d'objcctos , e consultada sobre assumptos , que depcndião de noções scientificas para se resolverem com o devido conhecimento de causa 5 e por isso se lhe man- dou : Propor pelo Ministério do Reino três dos seus Mem- bros para formarem uma Commissão d'exame do estado da Intendência das Minas e Metaes do Reino, e darem, sobre o que convinha fazer, um parecer motivado. Com- missão para que forão nomeados os Senhores Visconde de Villarinho de S. Romão, Ignacio António da Fonseca Benevides , e o Secretario da Academ.ia. Examinar uma amostra da Urzella de Bcnguclla, tra- balho que foi commcttido aos Senhores Francisco Elias Rodrigues da Silveira , Ignacio António da Fonseca Be- nevides , e Manoel José Maria da Costa e Sá. Incumbir trcs dos seus Membros d'examinar o esta- do do Jardim Botânico da Ajuda , e propor o melhor modo de sua direcção, e administração. Forão escolhidos para este exame os Senhores D.°' Francisco Soares Fran- co DAS SciENCIAS DE LiSBOA. XX^f CO , Marino Miguel Franzizi , e o Secretario da Acade- mia. Conhecer da proposta da Commissao permanente do Congresso Medico de Bruxellas acerca do modo de evitar a propagação da syphiilis , interpondo o seu parecer sobre a conveniência de se communicar com a dita Commis* são, e indicando os meios de que para isso carecia. As* sumpto que foi tratado pela Classe de Sciencias Naturaes. Formar uma relação de todos os edifícios pertcncen* tcs ás extinctas Ordens regulares, e hoje incorporados nos bens da Nação , que se fazem notáveis peia época da sua fundação , factos históricos com que tem intima relação, monumentos fúnebre?, ou relíquias d' homens cí- Jebrcs que encerrao, ou finalmente pela sua architectura , e por qualquer destes motivos se tornão dignos de serem conservados pelo Governo como monumentos públicos, a fim de se poder sobrestar a tempo na venda , alienação , ou desorganização destes objectos de interesse Nacional, Para satisfazer esta determinação de Sua Magestade no- meou-se uma Commissao composta dos Senhores Francis» CO Manoel Trigoso d'Aragâo Morato , Bispo Conde Re- signatario de Coimbra D. Francisco , Visconde de Villa* rinho de S. Romão, Manoel José Maria da Costa e Sá, António Lopes da Costa e Almeida, e do Secretario da Academia , que ajudados de pessoas instruídas e zelosas da honra Nacional, salvarão da destruição grande numero de Monumentos. Consultar os Requerimentos de Francisco d'Assís de Carvalho, do Encarregado do Deposito das Livrarias dos Conventos extinctos, de João Carlos Feio Cardoso Cas- tello-branco, de José Barbosa Canaes de Figueiredo Cas- tcllo-branco, do Senhor Visconde de Villarinho de S, Ro- mão, de José Romão Rodrigues Nilo, e de José Vaa Zellcr, em que ou se sollicitavão providencias, ou se pre- tendiâo privilégios exclusivos, ou se pedião faculdades para diíFerentes objectos. 7om.XlI.P.II. c Pro- xxvr HrsTORiA da Academia Real Propôr um projecto das medidas sanitárias, e de po- licia, que so devem adopnir para atalliar a syphilis, o qual foi organizado pela Classe de Sciencias Naturacs. Propor um projecto de reforma e melhoramento do Jardim Botânico da Ajuda, em que trabalharão os Senho- res Francisco Soares Franco , Marino Miguel Franzini , c o Secretario da Academia. Grear uma Commissâo permanente annual de trez dos seus Membros para a inspecção scientifica e económica do mesmo Jardim Botânico, para a qual tem sido nomea- dos os Senhores Visconde de Villarinho de S. Romão , Ignacio António da Fonseca Benevides, e o Secretario da Academia. Propor um projecto d' Estatutos para o estabeleci- mento da Academia das Bellas Artes, o que foi encarre- gado a uma Commissâo formada pelos Senhores Bispo Conde Resignatario de Coimbra, José Cordeiro Feio, e Francisco Pedro Celestino Soares. Analysar duas porções de terra vindas de Ponta Del- gada na Ilha de S. Miguel , em que se suppunha haver ouro. Occuparão-se desta analyse os Senhores Ignacio An- tónio da Fonseca Benevides, Visconde de Villarinho de S. Romão , e Barão d' Eschwege. Analysar a Cochonilha produzida na Ilha da Madeira. Analysar umas amostras de Zinco carbonatado, e de argilla vindas da Ilha das Flores. Ambas estas analyses tomou á sua conta a Classe de Sciencias Naturacs. Fazer o programma do concurso para o provimento do lugar de Director do Jardim Botânico da Ajuda, que também foi obra da Classe de Sciencias Naturaes. Todas estas incumbências desempenhou a Academia de modo que mereceu não sò a approvação de Sua Ma- gestadc , mas ate elogios públicos feitos no Seu Real Nome, e impressos no Diário do Governojp f^a Um acontecimento, que estabelecerá sem duvida uma época notável nos fastos Académicos , fez empenhar a \l,1.' Aca- DAS SciENCiAS DE Lisboa. xxvrt Academia em novas tarefas. Sua Magestade o Senhor P. Fernando II., sollicito em testemunhar á sua nova Pdtrii o cuidado com que attenta por tudo o que pôde cngrandeccla, e á Academia o conceito que lhe merece, participou á Academia os desejos que tinha de concorrer para alguma empresa útil ás Lettras Portuguezas , e de que a Academia lhe indicasse os meios de effeituar esta generosa intenção. A Academia sobremaneira favorecida por uma contemplação tão honrosa para ella , como pro* ficua para a Nação , propoz como obra de utilidade mais immediata, e mais transcendente a publicação das anti- gas Cortes , para cujo trabalho e publicação nomeou uma Gommissão composta dos Senhores Bispo Conde Re- signatario de Coimbra D. Francisco, Francisco Ribeiro Dosguimarães, e do Secretario da Academia, correndo por conta de Sua Magestade costear toda a despeza da impressão. A Commissão tem promptás para se dar ao prelo todas as Cortes que se celebrarão quasi até ao fim do Reinado do Senhor D. Diniz. Tanta prosperidade não foi isenta d' infortúnios.' A vicissitude das cousas humanas alcançou a Academia, que tem que lamentar perdas mui dolorosas , sendo a mais fatal a de S. A, R. o Príncipe D. Augusto. Nomeado para a Presidência da Academia , de tal modo se identi- ficou com ella o Principe D. Augusto, que parecia ser essa a sua única occupaçao. Cultivando com predilecção a Entomologia enriqueceu o nosso Museu com um cresci- do numero d' insectos preparados pela sua mão : zeloso pelo bem da Academia, e promovendo com fervor o seu augmento, tinha mandado colligir em suas extensas pro- priedades todos os objectos zoológicos que nellas se en- contrassem , e queria fazer transferir para Lisboa o Mu- seu que tinha em Munich , e que, dos particulares, era talvez o melhor da Europa: assiduo em nossas Sessões, a sua aflCabilidade natural era ainda mais suave para os Só- cios da Academia, que tratou sempre com particular dis- e ii tine- xxvnt Historia ra Academia Real tincção. Lagrimas d'orFandac1c prantearão a falta do Pro- tector, do Sábio , do Companheiro. A sua memoria nâo acabou com elle ; uma saudade , que o tempo não con- some, o procura em váo. Já não o vemos, porém a ima- ginação no-lo representa vivamente , e elle nSo sflhiria nunca de nossos coraçfies magoados, se ó nosso Augusto Presidente não nos afiançasse dias da maior ventura. Perdemos também o Senhor José Maria Dantas Pe- reira, Chefe d' Esquadra da Armada Real. Nascido du pais, que nada tiverão que agradecer á fortuna, deveu só a si tudo quanto foi. Admittido na Academia em 175» i, passou por todos os gráos Académicos , tendo sido o ul- timo Secretario delia antes da sua reorganiração. O estu- do foi a sua paixão desd'os mais tenros annos; indefesso no trabalho , commeteu muitos ramos das Sciencias ; e nSo o desacompanhando nunca o amor das Lettras , e da Academia , ainda lhe fez serviços fora da pátria , onde circunstancias politicas o levarão , e onde terminou a car-« reira da vida. O Senhor José Accursio das Neves , Sócio livre , substituto d' effectivo na classe, de Litteratura , curioso aproveitador de noticias estatísticas sobre as Fabricas do nosso paiz , e sobre outros objectos de interesse publi- co , que tratou cm suas obras. O Senhor Manoel Agostinho Madeira Torres , Sócio livre. D." na Faculdade de Direito Canónico da Univer- sidade de Coimbra , e oppositor ás Cadeiras da mesma Faculdade ; largando a vida da Universidade pelo Priora- do da Igreja Matriz de Santa Maria do Castello da ViUa de Torres vcdras, d'onde era natural, dedicou-se inteira- mente ao exercício de suas obrigações Parochiaes ; e ten- do dado em todo o decurso da sua vida continuados exemplos de saber, de piedade, e do exercício das vir- tudes christãs, acabou em 28 de Janeiro de 1836 d'uma prolongada moléstia. Escreveu, c offercceu i Academia a Descripção histórica e económica da Villa de Torres ve* dras ;, DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. XXtX rfrâs, dividida em duas partes, que se imprimirão na nos- sa GoUecção ; e para dai-llie mais uma prova do muito t|Ue prezava a Sociedade, repartiu com ella parte da sua Livraria ; e ella será sempre grata á sua memoria. He ainda tão recente a falta do Senhor Joaquim José Ferreira Gordo , que não pôde recordar-se sem grande amargura. Entrando na Academia em 1789, consagrou- lhe o fructo de seus estudos em diversas composições, principalmente juridicas, que correm impressas; e tanto Se lhe affeiçoou, que só estava satisfeito quando lhe pro- digalizava os seus thesouros lirterarios. A Bibliotheca da Academia foi por cile locupletada com excellentes e nu- merosas obras , que testemunhão a sua generosidade , e que não deixaráõ nunca apagar a nossa saudosa lembran- Perdemos além destes, na Classe dos Sócios Honorá- rios, o Senhor Marquez de Borba, desde 1810 Vice-Presi- dente da Academia, por quem incessantemente se desve- lou ; o Senhof Marquez do Funchal, a quem a Academia era tão cara , que lhe deixou em legado a sua preciosa Livraria, e o seu Museu, de que a Academia não está ainda de posse , por difficuldadcs que tem suscitado os seus herdeiros ; c os Senhores Conde de Murça, Marquez de Tancos , Conde de Subserra , Conde da Povoa , José António d'Oliveira Leite de Barros, Joaquim José Mon- teiro Torres , Duque de Cadaval, Marquez de Vallada , João de Mattos e Vasconccllos Barbosa de Magalhães, e Luiz de Paula Furtado de Castro do Rio de Mendonça. Perdemos o Sócio Veterano o Senhor Joaquim Pe- dro Fragoso da Motta de Siqueira. Na Classe de Sócios effectivos temos que sentir a fal- ta dos Senhores Conde da Lapa, José Pinheiro de Frei- tas Soares , e Joaquim Xavier da Silva. D'cntre os Sócios livres faltão-nos os Senhores Joa- quim Pedro Gomes d' Oliveira, que pertencendo-lhc, se- gundo os costumes Académicos, ser elevado a Sócio Ho» ao- XXX Historia da Academia Reai, norario, recusou esta distincçiío, prezando mais a que tif. nha adquirido pelo seu merecimento litterario, do que a que lhe era oflFerecida pela sua graduação civil; e os Se- nhores Timotheo Lecussan Vcrdier, D. João de Maga- lhães e Avcllar Bispo do Porto, Visconde de Balsemão , D, Fr. Joaquim de Santa Anna Carvalho Bispo do Algar- ve, Cândido José Xavier Dias da Silva, o D.°' Fr, Joa- quim Rodrigues, Francisco Nunes Franklin, Substituto d'effectivo na Classe de Litteratura, o D.""^ Fr. Mattheus da Assumpção Brandão, igualmente Substituto d'efFectivo na Classe de Litteratura , e António Joaquim de Gou- vea Pinto. Dos Sócios estrangeiros perdem^os Mr. Pougens. E da Classe dos Correspondentes fallecêrão os Senhores Fé- lix José Marques, Vicente José Ferreira Cardoso da Cos- ta , Pedro Celestino Soares, Marquez de Santo Amaro, o D."' João António Monteiro, hábil Mineralogista , José Mariano Leal da Camará Rangel de Gusmão , Joaquim Maria d'Andrada, Paulo José Miguel de Brito, Diogo de Teive de Vasconcellos Cabral, Luiz da Cunha Castro e Menezes, D. Luiz António Carlos Furtado de Mendon- ça , e Joaquim Dâmaso. Com quanto prazer não queimaria eu algum incen- so aos talentos de tantos Consócios beneméritos! Mas o dever de aecommodar em curto espaço grande multidão de matérias , impoem-me penoso silencio. A tantas desventuras accrescia a da falta de succes- são da Coroa, que inquietava a todos os bons Portugue- zes ; porem a esta necessidade publica , que todos anhe- lavão por ver satisfeita , acudiu a Providencia conceden- do-nos um Príncipe; e a Academia ligada á sua Augusta Protectora , c ao seu Excelso Presidente por tantos vín- culos de respeito, de amor, e de gratidão; não podia deixar de caber-lhe grandíssimo quinhão no jubilo uni- versal , e de procurar remir uma obrigação levando aos pés do Throno as suas reverentes congratulações por tão fau- DAS SciENCIAS DE LiSBOA. XXXI fausto successo ; mas o Senhor D. Fernando II., preve- nindo delicadamente os desejos da Academia, quiz fazer- Ihe a honra de apresentala a fcHcitar a Sua Magcstade a Riinha pelo nascimento do Príncipe Real, e Sua Magcs- tade Dignou-se acolhê-la com a sua costumada Benevo- lência. (N. 4) Para reparar a perda de Sócios que a Academia tem sofrido desde Dezembro de 183 1, forão admittidos para Sócios livres estrangeiros os Senhores Quetelet, Secreta- rio da Academia Real das Sciencias e Bellas Lerras de Bruxelias , Barão de Morogues , Francoeur , D."" Martius de Munich, Carlos Purton Cooper, Secretario da Com- missão Real dos Archivos da Grâ-Bretanha , Sir Wiliam Bctham , Secretario da Academia Real da Irlanda ; e pa- ra Correspondentes os Senhores José Joaquim da Gama Machado , Alexandre Augusto d'01iveira Soares , Isidoro Jacintho Maire, Joaquim Luiz da Cruz , António Albino da Fonseca Benevides , e D, Theodoro Monticelli , Se- cretario perpetuo da Academia Real das Sciencias de Ná- poles. Com taes ajudadores he de esperar que floreça ca- da vez mais a Academia. Sirvão os louros colhidos pelos antigos trabalhos de incentivo a novos esforços. O cami- nho da Sciencia he largo, porem agro c cheio d'espinho3 difficeis de romper j mas superar os obstáculos he a vos- sa missão. E quaes serão os que poderão estorvar-vos guiados por vosso Excelso Presidente , e amparados por vossa Augusta Protectora, sob cujo império, para me va- ler das expressões d'um grande escriptor nosso, respirarão os estudos das Lettras^ e receberão espirito e sangue ? Deixai a vossos herdeiros um legado , que os acci- dentes da fortuna não podem acanhar , que os homens poderáõ invejar, porém não usurpar-vos , a gloria do vos- so nome, que será repetido com admiração, e respeito na mais distante posteridade. DIS- «AS SCIENCIAS D£ LiSnOA» XXXItl (N. I) DISCURSO Repetido pelo Secretario perpetuo da Academia Real dás Sciencias de Lisboa Joaquim José da Costa de Mace- do na Real Presença de Sua Magcstade A Senhora D. M\RiA II., em 12 de Novembro de 1834, na oc- casião em que a mesma Academia foi beijar a Mão a Sua Magestade pelas mercês que lhe tinha feito. SENHORA. S E O beneficio recebido constitue obrigação de agrade- cimento , ninguém , por cerro , tem maior motivo para satisfazer a esta obrigação do que a Academia Real das Sciencias de Lisboa. Combatida ha muito tempo pelos vaivéns politicos^ estava próxima a sossobrar ; porem appareceo V. M. sen- tada no Tlirono de Seos Maiores; e a Pátria, e a Aca- demia forão salvas. Não se contentou porem V. M. de amparar a Academia : a magnanimidade do seo coração abrio o tlicsouro das graças , e espalhou-as sobre ella com mão larga ; c a historia de Portugal , já fértil em acontecimentos extraordinários, apresenta á Europa espan- t.ida o facto único nos annaes djs Nações de serem as Rainhas destes Reinos as mais decididas, e mais firmes Protectoras das Lettras. A Senhora D. Maria I., Augusta Bisavó deV.M. ^ Tom. XII, P. 11, f le- xxXiv HistoBiA DA Academia Real levantou um padrão eterno á sua Gloria , fundando a Academia Real das Sciencias de Lisboa ; porêin não he menos o que agora se deve a V. M. reorganisando-a, e facultando-lhe novos meios de continuar a ser útil á Pá- tria. Receba pois V. M. o tributo de gratidão que a Aca- demia fervorosamente lhe consagra, e por ella o da Na- ção inteira , pelo desvelo com que V. M. se empenha no adiantamento das Sciencias ; e o Nome de V. M. uni- do ao de Sua Augusta Bisavó, penetrará os mais remo- tos séculos, acompanhado do respeito dos Sábios, do amor, e da saudade dos Povos destes Reinos, e da ad- miração da posteridade. Sua Magestade Dignou-se responder á Academia : Aceito com particular satisfação as expressões, que a Academia acaba de dirigir-me ; e Posso dizer, que as Mereço pela efficaz Protecção, que Desejo dar á Acade- mia, c ao progresso das Sciencias, e das Lettras, a que ella tem feito relevantes serviços, e de que depende em grande parte a prosperidade dos Estados. O exemplo de Minha Augusta Bisavó será sempre poderoso motivo para Eu ter em especial consideração a Academia que Ella fundou, e para aspirar á mesma Gloria, que por es- se Titulo tão justamente Adquiriu. E por se achar presente neste acto Sua Magestade Imperial a Senhora Duqucza de Bragança Viuva, o Vice- Presidentc lhe dirigiu o seguinte Discurso : Senhora. A Academia Real das Sciencias de Lisboa estima muito a opportunidade de ofFerccer a V. Magesta- de Imperial a protestação do seu respeito e veneração. Ella se lembrará sempre de que o immortal Duque de Bragança , Augusto Esposo de V. Magestade, pelo amor que DAS SciENCtAS DE LiSBOA. XXXV" que professava ás lettras , e pela estimação que fuzia dos Sábios Portiiguezcs, niío só foi o primeiro que abriu o caminho para a sua actual regeneração ; mas se pro- punha , o que eu attcsto, de acceitar de bom grado o cargo de Presidente perpetuo desta Sociedade , que de direito lhe pertencia , e que hoje se acha va"o. A esta recordação dolorosa une hoje V. Magestadc Imperial hum puro sentimento de prazer , vendo aquella obra apenas encetada por seu Augusto Esposo, proseguida com con- stância, e levada ao fim por Sua Magestade Fidelíssima nossa benigna Protectora , com grande gloria do seu reinado , e credito immortal do seu nome. Ao que Sua Magestade Imperial respondeo : Agradcço-vos infinitamente as expressões que aca- bais de dirigir-Me, assim como agradeço, bera do fun- do do Meu coração, á Rainha, minha Augusta Filha o restabelecimento da Academia Real das Sciencias de Lis- boa , fundada por outra Soberana do mesmo Nome • re- stabelecimento que o Duque Meu Saudoso Esposo, como quem tanto Sc Interessava no incremento das luzes, e na diíFusão dos conhecimentos humanos , desejava arden- temente eíFcctuar logo depois da feliz terminação da guer- ra civil, o que EUe poucos dias antes de expirar confes- sou a hum dos vossos illustres coUegas. f j, DIS- DAS SciENCtAS DB LiSBOA. 3CXXVII (N. 2) DISCURSO Qiie o Secretario perpetuo da Academia Real das Sciencias de Lisboa Joaquim José da Costa de Macedo dirigiu em 25 á(? Fevereiro de iSjf a Sua Magestade em nome da Deputação que foi agradecer-lbe o assentimento que deu d eleição que a Academia tinha feito de S. A. R. o Príncipe D. Augusto para seu Presidente ; e participar a S. A. R, a mesma eleição. SENHORA. F AZER mercês he próprio dos Reis; mas fazêias de tal modo que a benevolência de que são acompanhadas lhes dê hum immenso realce, e as torne só por essa cir- cumstancia do mais subido quilate , estava reservado pa- ra V. Magestade. A Academia Real das Sciencias de Lisboa desejaria agradecer devidamente a V. M, , não só a approvação que V. M. Se Dignou Dar á nomeação que ella fez de S. A. R. o Príncipe D. Augusto para seo Presidente , mas igualmente as expressões graciosas com que V. M. a honra na Portaria em que Houve por bem Mandar communicar-lhe esta Sua Real Resolução, e que são hum novo penhor do apreço com que V. M, contempla sem- pre a Academia ; porém achando pouco tudo quanto a esse respeito dissesse , entende que a melhor prova de gratidão que poderá dar aV. M., e a mais conforme aos Hn- xxxviir HrsTORJA da Academia Reai. sentimentos deV. M., será o desempenho de soo Insti- tuto; e por isso a Academia trabalhando incessantemen- te na cultura das Sciencias, procurará com todo o ardor fazer-se digna dos honrosos termos com que V. M. tão liberalmente a exalta. Sua Magesíadc Dignoií-se responder: A Approvação que gostosamente dei á eleição de Meu Augusto Esposo para Presidente da Academia, foi inspirada pelo alto conceito que faço das illustres quali- dades deste excelso Principe, e pelo interesse que tomo pela gloria da Academia. E as expressões , de que acom- panhei o Meu Real Consentimento, são merecidas pelo zelo, e bem logrados esforços, que a Academia tem em- pregado em promover as Sciencias, e a Littcratura nacio- nal. Tenho firme confiança de que este zelo, e esforços tomarão ainda maior actividade, tendo a Academia á sua frente hum Principe, que álêm de amar apaixonailanien- te a sua nova Pátria , conhece que a prosperidade pu- blica he inseparável do progresso das luzes, e dos co- nhecimentos úteis. Depois disse o Secretario a S. A. R, Senhor. A qualidade de Esposo da Nossa Augusta Soberana a Senhora D. Maria II. tornou a V. A. R. Principe Por- luguez ; c por isso a Academia Real das Sciencias de Lisboa julga satisfazer a huma obrigação nomeando a V. A. R. para seu Presidente, o que vimos communicar a V. A. R. da parte da Academia , que agradece á for- tuna este meio de poder dar a V. A. R. hum testemu- nho DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. XXXIX nho da consideração que lhe merece , e do respeito que lhe consagra. A Academia espera que V. A. R. lhe fará a hon- ra de aceitar este cargo Académico , e que a sua efficaz cooperação para o adiantamento das Sciencias em Portu- gal será mais hum beneficio feito por V. A. R. á sua no- va Pátria , e mais hum titulo para a sua Gloria. Ao que S. A. R. respondeo : A eleição que a Academia R. das Sciencias fez de Mim para seu Presidente, e que Eu aceito com reconhe- cimento e gratidão, he hum authentico testemunho da benévola Consideração da Academia para commigo, e hu- nia das mais distinctas fortunas, que devo á honrosa e alta qualidade de Esposo da Rainha. Farei por desempenhar os deveres de tão nobre Car- go , e terei sempre gloria de ver o Meu Nome, associa- do ao de tantos sábios , tomando parte no progresso das Sciencias e das Lettras na nossa Pátria , e concorrendo deste modo para a sua prosperidade , que he o constan- te objecto de meus ardentes votos. DIS, xu (N. 3) DISCURSO Recitado em ai de Maio de 1836 pelo Secretario perpetuo da Academia Real das S ciências Joaquim José da Costa de Macedo , quando a Deputação da Academia foi agrade- cer a Sua Magestade A Senhora D. Maria II. ter an- miido d siípplica que lhe tinha feito de approvar a eleição de S. A. R. o Principe D. Fernando para seu Presidente. SENHORA. V « Magestade Dignando^se confirmar, com tão hon- rosa Benevolência, a eleição que a Academia Real àas Sciencias fez de S, A. R. o Principe D, Fernanho pa- ra seo Presidente, deo á Academia o maior testemunho da sua protecção ; porque as provas que já temos do em- penho do Augusto Esposo de V. M. no adiantamento das Lettras. em Portugal, são hum penhor seguro do muito que cilas podem esperar de S. A. R. A Academia, extremamente penhorada e reconhecida pelas amiudadas mercês recebidas de V. M. , vem tribu- tar-Ihc os seos mais respeitosos agradecimentos por esta nova Graça , e ousa augurar por ella a V. M. hum fu- turo , que illustrará o feliz Reinado de V. M. , e que transmittird aos seos successores os mesmos sentimentos de amor ás Sciencias , com que seos Augustos Maiores as tem constantemente promovido e amparado. J Tom. XII. P. H. g Ao xMP HisTOTiiA DA Academia Real Ao que Sua Magestade rcsponden : Assegurai á Aeâdemiit [Veal das Sciencm, que Me são mui agradáveis os agradecimentos, que em seu nome acabais de dirigir-Me, e a que sempre corresponderei in- tcressando-Me cm tudo o quô poder contribuir para o adiantamento das Lettras. Depois disse ú Secretario a S, At R. : Senhor. Determinando os Estatutos da Academia Real das Sciencias, que o sco Presidente seja sempre hum Princi- pe da Casa Real Portugueza, iião podia deixar de re- cahir a eleição em V. A. R. que , por vinculos sagrados e indeléveis, pertence á Augusta Familia Reinante ; porem hum titulo mais lisonjeiro, e mais apreciável para a Aca- demia fez desejar ardentemente o cumprimento deste de- ver , e a gratidão exigio o mesmo que o preceito orde- nava. V. A. R. , sollícito em concorrer por todos os meios para a felicidade da sua nova Pátria, náo podia csqiie- cer-se de íomcntar a cultura das Sciencias , e quiz que a Academia sentisse os efFeitos da sua generosidade ain- da antes de ter a hortrâ de o ver i sua frente. Agrade- cida pelo beneficio feito ás Lettras, e artciosa por entre- gar a V. A. R. a direcção de seus trabalhos, eiicarrega- nòí a Academia Real das Sciencias de pedir a V. A. R. queira aceitar o cargo de sco Presidente. Guiada por V. A. R, a Academia proseguird com affincO em sua lon- ga tarrcira, e participando da gloria dê V. A. R. mfc»S- tlará aos vindouros O que pôde em Portugal para o adian- tínicnto das Sciencias, o exemplo e O favor do Priticipe D. LtRNANÚO. Ao DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. XLIIt Ao que S. A. R. respondco : Expressai a Academia Real das Sciencias o Meu re- conhecimento pelas expressões que Me envia, e dizei- Ihe que Aceito com particular satisfação o Cargo de seu Presidente , cm cujo exercício procurarei dar^liie provas assim da Minha consideração por tão respeitável estabe- lecimento, como do Meu empenho cm promover o adian- tamento das Lettras na Minha nova Pátria. g í DISí r- H DAS SCIENCIAS DE LiSBOAé XLV (N. 4) DISCURSO Repetido pelo Secretario perpetuo da Academia Real das Scien- cias Joaquim José da Costa de Macedo^ em 6 de Novem- bro de 1837, sendo a /Icademia admiti ida d Augusta Presença de Sua Magestade a Senhora D. Maria 11. pa- ra cumprimenta- La pelo faustissimo nascimento do Principe Real. SENHORA. O FELIZ nascimento do Pkincipe Real veio satisfa- zer huma necessidade Nacional , e encheo de jubilo o coração de todos os verdadeiros Portuguezcs. Mas este contentamento publico, que he hum testemunho do amor que os povos destes Reinos consagrão a seos Soberanos , he de mais a miis para a Academia Real das Sciencias huma divida, e he o complemento de seos mais arden- tes votos. Penhorada pelas continuas mercês com que V. M. a tem agraciado, e ligada a V. M. e ao Seo Au- gusto Presidente pelos vinculos do respeito, e da grati- dão , a Academia vem pedir a V. M. queira de novo honra-la aceitando benignamente as suas reverentes con- gratulações por este beneficio da Providencia, e vem re- novar a V. M. os protestos da sua mais pura e mais fer- vorosa devoção á Augusta Pessoa de V. M, Herdeiro das virtudes de seos Maiores , o Principe Real fará as delicias de seos Augustos Progenitores , e a xLvi Historia da Academia Real a ventura da Nação. Será o cultor das Scicncias; c por consequência o firme esteio da Academia : c fará reviver os séculos de gloria e de illustração cm que Portugal fez soar o brado de seu nome por todo o mundo. Ao que Sua Magestade se Dignou responder : Com especial agrado tenho mais d' huma vez rece- bido o cortejo da Academia Real das Sciencias, e ago- ra principalmente muito me lisonjeao as felicitações que esta distincta Sociedade me dirige pelo feliz nascimento do Príncipe Herdeiro da Coroa. Accresce a tão pon- deroso motivo ser Presidente desta respeitável Corpora- ção o mco prezado Esposo. Ambos nos empenharemos em fomentar os progressos das Lettras , protegendo a Real Academia das Sciencias, que tanto por cilas se des- vela. PRO, DA s SciENciAS DE Lisboa. jíLttl ■■ — ~~— ^ — — ^- PROGRAMMA DA REAL ACADEMIA DAS SCIENCIAS DE LISBOA, ANNUNCIADO NA SESSÃO PUBLICA DE 1 5 DE RÍAIO DE 1838. Nisi ulile est quod facimus , stulta est gloria. Para o anno de 1839. SCIENCIAS NATURAES. .il/M Cbimtca applicada ás Artes. Huma analyse chimica da Urzella de Moçambique, cora â demonstração pra- tica da sua utilidade nas Fabricas de Tinturaria, com- parada com a de Cabo verde, que hoje he de tão gran- de consumo em Inglaterra , e Ffança. "Em Agricultura. Designar os terrenos de Portugal , ém que pódc dar-se a Cochonilha à.o México, indicando as plantas onde se cria o insecto, com as regras in- structivas para a sua cultura , a fim de introduzir en- tre nós este ramo de industria agrícola, aue já eátá adiantado na Ilha da Madeira. "Em Hygieiíe publica. Methodo de atalhar a propagação da Syphilis nas casas publicas de prostituição, estabelecen- do regras policiaes regulamentares em harmonia com os xtviii HisToniA DA Academia Real os nossos costumes, e instituiç5es, tendentes a melho- rar a saúde , c moral publiea. Em Mineralogia. Noticia dos chamados Jacinthos de Bel- las , sua descripção mineralógica; de que modo ellcs apparcccm ; ha quanto tempo são conhecidos; se ain- da hoje são procurados ; c que uso se tem feito delles. SCIENCIAS EXACTAS. Em Calculo. Exposição sobre a verdadeira intelligencia das quantidades negativas, e imaginarias, e a demon- stração das regras por que se praticão as suas opera- ções. Em Mcchanica. Deducçao das regras praticas por qUe se calcula o porte , e capacidade dos navios, e daquellas por que os constructores tração a figura de qualquer navio sobre três planos orthogonacs. £;« Navegação. Exposição critica e circumstanciada do methodo mais exacto de medir no mar a velocidade do navio , e das correntes. LITTERATDRA, Em Litigua Porttigueza. A Historia da Lingua, e da Lit- teratura Portugueza no século XV. EmHistoria Portugueza. O Elogio histórico do Infante D Pedro, Duque de Coimbra, com a relação das suas viagens. Em Sciencias moraes. Mostrar que o progresso das facul- dades intcilcctuaes do homem, isto he da scicncia, hc essencialmente dependente do progresso, e aperfeiçoa- mento da moral. "iza ?6ri -jii ^ilduq zs!ÍB3 8.nn eiliriqvc iiiB3n^' " •' Pa- XLIX Para o anno de 1840, SCIENCIAS NATURAES. Em Zoologia. A descripçâo dos animaes indígenas , que tem exclusivamente uso na economia rural e domesti- ca , e a maneira de os educar ou criar, estabelecendo todas as regras hygienicas necessárias para a boa con- servação das raças, mormente no Alemtejo, Em Geologia. A descripçâo geognostica de qualquer di- , stricto do Reino , ou das Províncias ultramarinas , at- tendcndo principalmente aos jazigos metalliferos, que podem ser explorados com proveito do paiz. Em Botânica. Mostrar se em Portugal existem mais plan- tas do que aquellas que achou e descreveo o Doutor - Brotero na Flora Lusitana, e outros que tem viajado em Portugal ; e quaes são essas plantas , classificadas segundo o methodo por elle seguido, conjunctamente com as familias novamente adoptadas, a que ellas pos- são pertencer. LITTERATURA. Em Língua Portugueza. Determinar o que se deve enten- der por author clássico , com respeito ao estudo das linguas : fazendo applicaçao desta doutrina aos escri- ptorcs Portuguezes , e dando hum Catalogo dos que merecem aquelle nome. Em Historia Portugueza, Huma Historia succinta das con- trovérsias que tiverão Castelhanos e Portuguezes acer- ca das Molucas , tirada de documentos authenticos. Em Sciencias Moraes. Determinar quaes forão as relações poliricas de Portugal com as outras Nações nos Rei- nados de D. Fernando, e D. João I. , e quaes forâo os result.idos que daqui se seguirão para a civilização mú- Tom.XII.P.U. h tua L Historia DA Academia Real tua de Portugal , e dos outros povos com quem ho-i- ve essas relações. 'k****»-*^*^*'^*.**.*-! W W^iVV Assumpto extraordinário. Determinar a influencia da Nação Portugueza nos progressos intellectuaes , c estado social e politico da Europa. Este assumpto será premiado com i62ij)ooo rs. em obras da Academia , offerecidas por hum Sócio , que não quiz que se declarasse o seu nome. Assumpto fixos , sem limitação de tempo. A descripção económica e physica de alguma comar- ca , ou território considerável do Reino , ou Provineias ultramarinas. Hum Compendio de todas as Mathematicas puras , escripto em Portuguez , e que nas nossas Escolas seja preferível á traducçao de qualquer dos Compêndios es- trangeiros mais acreditados. Fixar-sc-ha a época por meio d'annuncios feitos nos papeis públicos , logo que algum concorrente mostre dcscjalo assim, apresentando á Academia, em carta fc- chada , e sem declaração do seu nome , algum pequeno trabalho que indique occupar-se deste assumpto. O elogio de algum Portuguez illustre. A historia philosophica do Reinado de algum dos Senhores Reis de Portugal , comprovada com documen- tos authenticos. Huma tragedia portugueza. Huma comedia de caracter cm verso, ou em prosa. As- I dasScienciasdeI/ISboa. lil Assumpto fixo, sem limitação de tempo, e com pre- mio dobrado. Hum plano de canal para aproveitar as aguas de al- gum rio de Portugal na irrigação dos campos , com as nivclaçocs e cálculos necessários para verificar a sua exac- ção. Assumpto, sem limitação de tempo, e com o pre- mio extraordinário de 400(^000 rs. A Pathologia c Therapeutica das Dysenterias chro- nicas , comprovada pelo menos com vinte observações bem verificadas, que não deixem duvida alguma sobre a cura desta entermidade , de que foi victima o nosso Só- cio o Senhor Luiz de Siqueira Oliva, que deixou á Aca- demia hum legado para se pagar este premio. vvw^^^^ %«% V % V v^ %v^v^ « Os prémios ordinários consistem em huma medalha de ouro do peso de 50(^000 réis : e todas as pessoas po- dem concorrer a clles, á excepção dos Sócios honorários, e cfFectivos da Academia. A baixo destes prémios prin- cipaes, propõe a Academia também a honra do accessit ,, que consiste em huma medalha de prata : e ainda a bai- xo desta a menção honorifica da memoria , que só disto se fi/,er digna; a qual menção será feita nas suas Actas c Historia. . As condições geraes para todos os assumptos pro- postos são : Qi-ie as memorias , que vierem a concurso , sejão escriptas em portuguez, sendo seus auctores natu- raes destes Reinos; e em latim, ou cm qualquer das lín- guas da Europa mais geralmente conhecidas, sendo estran- geiros: Qiic sejão entregues na Secretaria da Academia h 1 por UT Historiada A cadkmiaReal por todo o mc7, de Junho do anno , em que houvcrern de ser julgadas : Qiic os nomes dos auctorcs vcnhão em carta fechada , a qual traga a mesma divisa que a me- moria, para se abrir somente no cí^so em que a memoria seja premiada: E finalmente que as memorias premiadas não possão ser impressas senão por ordem , ou com li- cença expressa da Academia ; condição que igualmente se cxtende a todas as memorias , que, não obtendo premio , merecerem comtudo a honra do accessit. Mas nem esta distincção , nem a adjudicação do premio, nem mesmo a publicação determinada, ou pcrmittida pela Academia, deverão jamais reputar-se como argumento decisivo , de que esta Sociedade approva absolutamente tudo quanto se contiver nas memorias, a que conceder qualquer des- tes signaes de approvação ; porem somente como huma prova , de que no seu conceito desempenharão , se não inteiramente , ao menos a parte mais importante dos as- sumptos propostos. es; DAS SclEMCIAS DE LtSBOA. LIIÍ ESTADO DO PESSOAL DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA EM 15 DE MAIO D£ 1838. PROTECTORA SUA MAGESTADE A RAINHA A SENHORA D, MARIA 11. PRESIDENTE SUA MAGESTADE O SENHOR D. FERNANDO U. Vice-Pkesidknte Francisco Manoel Trigoso d'Aragâo Morato. Secretario perpetuo Joaquim José da Costa de Macedo. Liv Historia DA Academia Reai. Vice-Stecretario perpetuo Francisco Elias Rodrigues da Silveira. Thesoureiro Wenccsláo Anselmo Soares. Guarda Mor Manoel José Pires. Djrector da Classe de Sciencias Naturaes Ignacio António da Fonseca Benevides. Director da Classe de Sçiencias Exactas José Cordeiro Feio. Director da Classe de Sciencias Moraes E Bellas Lettras D. Francisco de S. Luiz, Bispo Resignatario de Coim- bra, e Conde d'ArganiI. (*) Sócios Honorários Sun Magestade Augusto Friderico , Rei de Hanover, e Duque de Sussex, Sir ('') Os Officiaes da Academia, que depcntleni d''eleiç3o , forão eleitos iia Sessão de eífcctivos de 29 de JSovembro de I8'i7. DAS SciENCIAS DE LiSBOA. LV Sir Carlos Stuart , Conde do Machico, cm Londres. Sir Arthur Wellesley, Duque da Victoria, c Príncipe de Waterloo , em Londres. D. Pedro de Sousa c Holstcin, Duque de Palmella, em Londres. Tliomaz António de Villanova Portugal , em Lisboa. D, Segismundo Caetano Alvares Pereira de Mello, Du- que de Lafões , em Paris. Filippc Ferreira d'Araujo e Castro, em França. Igiiacio da Costa Quintclia, em Lisboa. José da Silva Carvalho, em Lisboa. Manoel Gonçalves de Miranda , era Lisboa. Silvestre Pinheiro Ferreira, em França. D. Patricio da Silva, Presbytero, Cardeal da Santa Igre- ja Romana , Patriarcha de Lisboa , em Lisboa. António de Saldanha da Gama, Conde de Porto Santo , em Lisboa. Fernando Luiz Pereira de Sousa Barradas , em Lisboa. Francisco Furtado de Castro do Rio Faro e Alendoça, Conde de Barbacena, em Lisboa. António de Mello da Silva César e Menezes, Conde dô S. Lourenço , em Lisboa. D. Diogo de Meneses, Conde da Louzã, em Lisboa. Sócios Erfectivos Na C/asse de Sciencias Naturaes, Francisco Elias Rodrigues da Silveira , Decano da Clas- se , e Vice-Sccretano perpetuo da Academia , em Lis- boa. Ignacio António da Fonceca Benevides, Director da Clas- se , em Lisboa. Fran- liVi Historia DA Academia ReAIi Francisco José d'Almeida , Barão d'Almeida, em Lisboa. AVenccsldo Anselmo Soares , Thesoureiro da Academia , em Lisboa. Vicente Navarro d'Andrade , Barão d' Inhomerim , em Paris. António Lobo de Barbosa Ferreira Teixeira Girão, Vis- conde de Villarinho de S. Romão , em Lisboa. Francisco Soares Franco , em Lisboa. Luiz da Silva Mousinho d'A Ibuquerque, fora do Reino. Na Classe de Semeias Exactas. Mattheus Valente do Couto, Decano da Classe, em Lis- boa. Francisco Simões Margiochi. (*) I^arino Miguel Franzini , em Lisboa. António Diniz do Couto Valente , em Lisboa. José Cordeiro Feio , Director da Classe , em Lisboa. António Lopes da Gosta e Almeida, em Lisboa. Francisco Pedro Celestino Soares, em Lisboa. Filippe Folque , em Lisboa. Na Classe de Seiencias Moraes e Bellas Lettras. Joaquim José da Costa de Macedo, Decano da Classe, e Secretario perpetuo da Academia , em Lisboa. Francisco Manoel Trlgoso d'Aragão Morato, Vice-Presi- dente da Academia, em Lisboa. Francisco Ribeiro Dosguimarâes, fora de Lisboa. D. Francisco de S. Luiz , Bispo Resignatario de Coim- bra, Conde d'Arganil, Director da Classe, em Lisboa, José de Santo António Moura , em Lisboa. Manoel José Maria da Costa e Sá , em Lisboa. Ma. (*) Morreo a 6 de Junho de 1838. DAS SciENCIAS DE LiSBOA. LVII Manoel José Pires , Guarda Mor da Academia , em Lis- boa. Sócios Livres Josd Bonifácio d'Andrada e Silva , no Brasil. Manoel Ferreira da Camará Bittancourt e Sá, no Brasil. Joáo Pedro Ribeiro , no Porto. Joaquim de Santo Agostinho de Brito França Galvão-, fo- ra de Lisboa. Francisco ViJIela Barbosa , Marquez de Paranaguá , no Brasil. António d'Almeida , em Penafiel. Alexandre António Vandelli, no Brasil. D. Francisco Alexandre Lobo , Bispo de Viseu , em Pa- ris. Guilherme, Barão d'Esch\vege, Substituto d' Effectivo na Classe de Sciencias Naturaes , em Lisboa. Francisco Xavier d' Almeida Pimenta , no Sardoal. João da Cunha Neves e Carvalho , fora do Reino. Manoel Francisco de Barros, Visconde de Santarém, fo- ra do Reino. Francisco Ignacio dos Santos Cruz, na Villa da Constân- cia. António Maria da Costa e Sá , em Lisboa. Carlos José Pinheiro , fora de Lisboa. D. Francisco Maldonado d'Azevedo da Gama Lobo, em Lisboa. D, José Joaquim António Lobo , Conde d'Oriola , fora do Reino. João Theodoro Koster , em Londres. Balthasar da Silva Lisboa, no Brasil. Vicente Gomes da Silva , no Brasil. Fortunato de S. Boaventura , fora do Reino, Tom. XII. P. II. i Ja- LVin HisToixiA RA Academia Real Jacob Grabctg de Hcrnso , çm Florença. JoíC Romcr Luiz de KirckhoíF, cm Ãnvcrs. Joaquim Pedro Cardoso Casado Giraldcs, em Gcnova» D. Blas Martinez , em Pamplooa. Pedro Machado de Miranda Malheiro, no Brasil. Roque Schuch. José Villela de Barros, no Brasil. João Adamson , em Londres. Chrisrijno Martinho Frachn , em S. Petersbourg. José Lino Coutinho , no Brasil. José Feliciano Fernandes Pinheiro , Visconde de S. Leo^ poldo , no Brasil. Pedro Silvano Duponceau, em Philadelphia, Augusto Saint Hilaire , em Paris. Mr. Ampere , em França. Mr. Savary , em França. D. José Pavon , em Madrid. Mr. Mablin , em Paiís. Thomaz Moore Musgrave , em Londres. Lambert Adolfo Jacques Qiictclet, em Bruxellas. Carlos FridcricQ Filippe de Martius, cm Munich. Barão de Morogucs , em Orleans. L, B. Francoeur , em Paris. Carlos Purton Coopcr, em Londres. Guilhernje Betham , em Dublin. Agostinho Albano da Silveira Pinto, no Porto. Cor b esponde n tes. Bento Affonso Cabral Godinho , em Évora. José Portelli , cm Lisboa. José Libcrato Freire de Carvalho, Substituto d' Effecti- vo na Classe de Sciencias Moraes e Beilas Lettras, em Lisboa, Jo- DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. LIX Josíf Avelino de Castro, no Porto. Manoel José Mourão de Carvalho Azevedo Monteiro, na Mealhada. Caetano Arnaut, cm Chacim. João de Macedo Pereira da Guerra Forjaz , cm Castello branco. Bento Alvares de Carvalho, no Porto. Joaquim José Varella , em Montemor o novo. Francisco António Marques Giraldes Barba, cm Lisboa. Joaquim Eustachio d'Azevedo Franco, na Azambuja. Agostinho de Mcndoça Falcão, fora de Lisboa. Frederico Luiz Guilherme de Varnhagen , cm Leiria. Mattheus Valente do Couto Diniz, em Lisboa. António Feliciano de Castilho , em Lisboa. Fortunato José Barreiros, Substituto d' Effectivo na Clas- se de Sciencias Exactas , em Lisboa. Francisco Recreio, em Lisboa. José Luiz Gonzaga de Sousa Coutinho, Conde do Re* dondo , fora de Lisboa. Evaristo José Ferreira , em Lisboa. Marcos António Julien , em Paris. Joaquim José Pedro Lopes , em Lisboa. Francisco de Queiroz Pinto , em Braga. Augusto Xavier da Silva , em Lisboa. João de Fontes Pereira de Mello , em Lisboa. José Joaquim da Gama Machado , em Paris. Alexandre Augusto d'Oliveira Soares , em Lisboa." Joaquim Luiz da Cruz, fora de Lisboa. Isidoro Jacintho Maire, em França. António Albino da Fonseca Benevides, em Lisboa. Theodoro Monticelli , em Nápoles. i » LIS- Lx Historia da Academia Real LISTA Das Obras publicadas pela Jcadcwia Real tUs Sciencias de Lisboa, desde Dezembro de i'S^i até 15 de Maio de 1837. Em 1832. Ephemcridcs nnuticns para o anno de 1833. Occultaçõcs das estrellas pela lua para os annos de 183} e 1834. Collccção de instrucçõcs sobre a Agricultura, Artes, e Industria, desde N. y até N. 14. Em 1833. Ensaio sobre a Cholera-morbus epi.dcmica. Direcção sobre o curativo da mesma. Ephcir.crides náuticas para o anno de 1834» Em 1834. Epbemcrides náuticas para o anno de 183?. Occultaçoes das estrclUs para o mesmo anno. Em 1835'. Ephçmcridcs nnuticas para os annog de 1836, e 1837, Occultaçoes das estrellas para 1836. Memorias d'Academia Real das Sciencias, T. 11. P. 2. Vida de D. João de Costro , com notas e documentos, por D. Francisco de S. Luiz. Roteiro geral dos Mares, Gostas, Ilhas, e Baixos reco- nhecidos no Globo. P. I. .f?' ■; Con- DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. LXt Considcrnçõcs I'"ysiologico-praticas sobre a Medicina Cu- tânea. Em 10^6. Ephcmeridcs náuticas para o anno de 1838. Dissertações Chronologicas c Criticas , T. 5". Collecçíío de noticias para a Historia e Geografia das Na- ções Ultramarinas ctc. T. 4. N.°' 2. 3. e 4. ; e T. j. Tratado pratico do Aparelho dos Navios. Principies de Óptica applicados á construcçiío dos Instru- mentos Astronómicos. Instrucçõcs sobre o modo de preparar, e conservar acci- dentalmente os dilFcrentes exemplares zoológicos. Em 1837. Ephemerldes náuticas para o anno de 1839. Memorias da Academia Real das Scicncias , T. 12. P. i. Roteiro geral dos Mares, Costas, Ilhas, e Baixos reco- nhecidos no Globo, P. 3. T. 1. Glossário de vocábulos portuguezes , derivados das lín- guas orientaes , e africanas, excepto a árabe. Ensaio sobre os Principios de Strategia , e de grande Táctica. Compendio de Botânica, T. i. Em 1838. Princípios geraes de Castrametação applicados ao acam- pamento das Tropas Portuguezas. Memorias sobre a Historia moderna da Administração das Minas em Portugal. j1 Lista dos Donativos vai tio fim do volume. \ MEMORIAS Dá. ACADEMIA, CLASSE DE SCIENCI^S" MORulES E BELL AS LEIRAS. . ixAnUNíh .AIi,i. - PVA4l^~li Tv ^-^If.,. X MEMORIA Em que se tracta da origem do nofne de Portugal , e dos seus limites em differemes épocas', quando se separou Portugal da Galliza Romana : quando se chamou Reino : e quando os seus primeiros Reis tomarão este titulo. Por d. Francisco de S. Luiz. Artigo i. Origem do nome Portugal. O NOME de Portus-Caíe f qUe depois se disse Portucale ^ foi primeiramente dado a hum lugar situado ao sul do Douro, na margem esquerda deste rio, no sitio, pouco mais ou menos , aonde hoje esta' a povoação de Gaya , o qual , porque era ancoradouro de barcos c navios , e ti- nha no alto o antigo castello de Cale , conhecido e com- memorado pelos escritores Romanos , começou a deno- minar-se PortusCale f e depois com pouca alteração Por- tucale y Portugale ^ e ultimamente Portugal. Era natural que na margem opposta do rio, ao nor- te dellc , se fosse pouco a pouco estabelecendo (como em semelhantes circunstancias costuma acontecer) outra Tom. XII. P. II. A igual a Memorias D aAcademiaReal igual povoação, tanto para.commodidadc dos poVos que habitavao luima e outiu margem, como para facilidade do trato commcrcial e marítimo com as terras, que fica- vão mais ao interior das provmcias, que o rio separava e demarcava. Neste liignr e no mais alto delle se fundou também castello para dcfeza , segundo a pratica d'aquel- les tempos. E como pelo decurso dos annos crescesse e prosperasse mais esta povoação , foi ella tomando , e fi- cou conservando , quasi exclusivamente , a denominação de Portux-Ca/e, dcsignando-se nos antigos documentos ora com este simples nome; ora com o de Castfum Portucale ^ ora com o de loctis Portucale, e chamandosc talvez cas' trum iiovtim para differençi do outro Portticale , que se dizia Cíistrum antiquum (i). Este mesmo lugar continuou a crescer em povoa- ção, e chegou a ter igreja cathedral, e Bispo, de sorte que já no concilio III. Toletano , celebrado no an. de 589, anno 4. do Rei Recaredo, se nomêa Portucalense ^ tanto o Bispo catholico Constâncio, que a clle assistio (2) , como o Bispo Ariano, intruso por Leovigildo, que ahi ab- jurou a heresia (3). E d'ahi em diante nos concilios To- letanos, no Bracarense provincial III. , c em outros es- critos se achão frequentes subscripções , ou memorias dos Bispos Portucalenses ^ assim denominados da cidade capi- tai , que deo o nome á Sé , e da qual se extendeo (co- mo era pratica) a toda a diocese , que também se cha- mou Portugaknse. /R- (I) V. hlatii Chron. ao an. 457. 459. 4GI. Isidor. llist. Gothor, etc. (2.) Coustmtius Portucaleiísis Ecclesine Ephcopus sub cripsi. (.1) jirgiocitm in Christi iiomine ciuitatis Poitu^ale.uís EpLcofUS, aiuitlicmalizatu hacrdii Ariatttic dogmata . . . ele. DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. ARTIGO II. Atites do casamento do Conde D. Henrique já o nome de Por- tíícale se extendia a hum território mais amplo que a diocese, O douto Fr. Henrique Flore/, diz nâ sua Èspaiíd Sa- grada, que o iiome de Portugal se não extendeo fora do Bis- pado do Porto até ao cazamento do Conde D. Henrique com a senhora D. Tereza : mas esta observação nos pa- rece pouco exacta, e contrariada por muitos antigos docu- mentos , pelos quaes se mostra, que muito antes da re- ferida época do cazamento já o nome de Portucale , e Por- tucalense , ou Portugalense , tinha sahido dos limites pre- cisos da diocese , e se dava a hum destricto civil , ou militar, muito mais amplo, de que era capital a cidade de Portucale. Apontaremos alguns destes documentos. I." Nos fins do sec. IX., em que eIRei de Leão D. AíTonso III. alargou os limites de seus estados pda parte do Douro, achamos Hermenegildo, avô de S. Ro- zendo, nomeado Conde de Tuy e Portugal ^ e com este ti* tulo assistio á sagração da igreja de Santiago , como re- fere a chronica de Sampiro « Ermenegildus Tu de et Pot^ tugale Comes >» (4). E como estes condados , posto que se denominassem das cidades capitães , tinhão comtudo hum território, a que se extendia a jurisdicção , e gover- no dos Condes , bem podemos conjecturar pela referida clausula , que o nome de Portugale começava já a attri- buir-se, não precisamente á diocese ecclcsiastica , mas sim a hum território, ou destricto civil, c militar, que hia confrontar com o de Tuy. Ai 2/_ (4) Chron. de Sainpir. , no tom. 14. da Espana Sa^i . da 3. edição pag. -156. §. y. 4 MEMoftíASfoAAoADfeMrA Real 2." Confirmío esta conjectura as palavras, que se lêem na igreja de Santo Isidoro de Lcao sobre a sepaluna de clRci D. AíFonso V., fallecido no anno de 10:8 , e di- zem íí interfectm est sagitta cpnd Visevm in Fortiignh^ (5), as í)uacs repctio o Bispo D. Pelayo no seu ciironicon «» : e ainda que não he im- possivel que a herdade doada tivesse algumas pertenças na diocese do Porto , comtudo a clausula da escritura parece indicar que estas pertenças crão contíguas , ou próximas , e que estavão situadas parte tia terra de Li- ma, em Galliza , e parte no território contiguo e con- finante , que hoje pertence á provincia Portugueza de En- tre Douro e Minho, e então pertencia (segundo parece) ao destricto civil da cidade de Portucale , ficando comtii- do muito fora da sua diocese : e isto se confirma ainda mais pela outra clausula , que logo se segue « e no valle do rio Vez » , porque este valle ficava também sobre o rio Lima, e no mesmo território de Portticale , aonde ainda hoje conserva o nome , e o dá á vilia dos Arcos- de valle de Vez, que nunca pcrtenceo á diocese do Porto. 6." No anno de 10 j 3 a 12 de Janeiro (pridie idus Jr.iiííar. era 1091) achamos huma sentença dada por el- Rei de Leão D, Fernando I. , na qual se refere , que hum Egas Erotes habitara « in terram Porttigalensis cinn getn saa , in logo predicto , inter Dorio et Vaiiga .... ad viultis vero diebíis siirrexit du>í Menendus Nttniz in terram Portiigalsnse , . . . et ad plnrimis temporibus egredittim fttit Rex Domno Fredenaudo in terram Portugalensis in villam suam Tatiquiniam . . . ctc. » uas quaes clausulas vemos o ter- (y) F.spaiM SasraU. tom. 22. nppcnd. L 6 Memorias haAcademiaReal território ao sul do Douro , entre este rio e o Vouga , denominado terra Portugaleuse y c para a banda do norte a 'vilia Toiígiiinha , que he da diocese de Braga , collo- cada igualmente na terra Portugalcnsc : e da integra do documento se vê também que a questito versava sobre terras ou herdades situadas inter v.rbinm Dtirio et Litnk {xo)^ sendo que a diocese do Porto nunca chegou ao rio Li- ma. A' vista destes testemunhos, e de outros que omit- timos , parece poder-se ter por certo, que muito antes do cazamcnto do Conde D. Henrique com a senhora D. Tercza , já o nom*^ de Portugal , e Portngaleiísc se applicava algumas vezes a hum território civil , e mili- tar , extenso , que tanto para o sul , como para o norte do Douro sahia muito fora da diocese , ou território cccle- siiutico Portucalense. A K T I G o Ilt. O território de Portiicale ^ já antes do casamento do Conde D. Henrique , figurava algumas veies sobre si , como se fosse separado da Galliza Romana. Mais difficil será resolver outra questão , que aqui pode suscitar-se, e parece ligada com a precedente, c vem a ser, se este território Portugalense chegou a con- sidcrar-se , antes da referida época do cazamento , como separado da Galliza , e figurando sobre si , ou se pelo con- trario se reputou sempre incorporado com cila, e fazen- do parte delia. Antes de dizermos acerca disto a nossa opinião, pa- rc- (10) Disscrt. Chrotiol. e Ciit. tom. 1. png. 215 num. 10, e vcja-se também loiíi. 4. F. 1. pag. !26. dasScienciasdeLisboa. 7 rece-nós conveniente apontar com brevidade algumas es- pécies geraes sobre a geografia antiga da Hcspanha , prin- cipalmente no que toca aos territórios, de que aqui fa- lamos, e ao especial objecto da nossa discussão. Sabido hc , que antes do império de Octaviano Au- gusto considcravão os Romanos a Hespanha dividida em duas partes : huma que chamavão clterior (com respeito a Roma) cujo limite era o rio Ebro : outra ulterior , que comprehcndia todo o resto da Peninsula áquem deste rio. Depois que Augusto teve o impcrio , fez huma no- va divisão de todo este grande território. Formou na Hespanha ulterior as duas províncias Betica , e Lusitânia , e incluio tudo o mais na citerior ^ alargando muito os seus limites , e dando-lhe a denominação de província Tarraconense (i i). Nesta divisão ficarão sendo limites da Lusitânia pelo meio dia o rio Ana (Guadiana) que a separava da Betica j pelo norte o Douro , que a separava dos Bracaros e Gal- legos ; pelo poente o oceano; e pelo nascente huma li- nha que subia des de hum pouco ao oriente de Medel- lin sobre o Ana , dírigindo-se também hum pouco ao oriente da Ponte chamada hoje do Arcebispo, aonde cor- tava o Tejo : d'ahi passava pelo oriente de Ávila , dei- xando incluída a Vettonia ; e finalmente hia terminar , quasi linha recta, na margem meridional do Douro, na altura de entre Toro e Simancas. Do Douro para o nor- te ficava a Galliza , Leão , Astúrias , etc. , tudo então pertencente á província Tarraconense. O imperador Hadriano fez algumas mudanças no nu- mero e destrictos dos magistrados, que adininistravão es- tas províncias ; e por isso alguns o quizerão fazer autor de huma nova divisão : mas o que nos consta com cer- te- (II) Foi esta divisão fie Augusto no seu 7. Consulado, anno 727 de Roma, 27 antes de Jesii-Ciíristo. 8 Memo riasdaAcade MIA Real teza hc que Constantino Magno, observando a grande extensão da Tarraconense ^ e querendo flicilicar a admini- stração da justiça, e a expedição dos negocies públicos, dividio novamente a Hcspanlia em seis provincias , a sa- ber, huma em Africa, que era a Mauritauia Tingitana^ e as cinco no continente da Peninsula cm lugar das três que d'antes havia. Deixou pois no continente a Bélica e Lusitíiuia com os seus antigos limites, e dividio a 7ar- raconense em três , com os nomes de provincia Tarraco- nense , provincia Cartaginetise , e provincia da Galltza, cu Bracarense (12). Esta ultima conservou o limite que a separava da Lusitânia pelo Douro; e ficou comprchcnden- do pelo norte e nascente as Astúrias com a cidade de Leão, e a Cantábria até o mar (13). Depois da invasão dos povos do norte nos princi- pies do sec. V. (anno de Chr. 409) , e durante o go- verno dos Reis Suevos , sofrerão estes limites alguma al- teração ; porque os Suevos , não podendo nunca dominar pacificamente toda a Galliza pela parte oriental (14), e cxtendcndo-se , ao contrario , pela parte meridional para o território da Lusitânia , até ainda álêm da linha do Mondego, agregarão estas porções, que possuião, da Lusitânia e Galliza, e fizerão de ambas huma como pro- vincia , ou antes reino , cuja capital era Bniga , acnie ti- (12) Foi feila esta divisão entre os anu. de Chr. 330 e 332. (13) Vnul. Oros. L. tí. cap. 21. « Cautahri ei Asturcs Callaeciae moviíicmc portio sunt , qica extentum Pyreiíaei Jtigum , liautl proctil se- cwido Oceano , sub septemtrione deducvtur Vcj. S. hidor. Etltymolog. L. 14. cap. 15. (14) Os limites do dominio dos Suevos pela parte oriíntajj e niu- d.-i pelo norte da Galliza líomana , não são bem conhecidos. Dizem aliTuns, que elles dominarão até o Ezla, inclusa a cidade de Leão. Outros são de i)arecer que Leão esteve sempre no poder dos Roma- nos até o tempo do Rei Godo Leoviíiildo. Outros pensão que tam- bém as Astúrias c Caiitibria nunca forão dominadas pelos Suevos, ctc. Vej. Florez e Risco, na Esjian, Sagr. tom. 4., u tom. 34. pag. 106 e segg. DAS SciEKciAs DE Lisboa. 9 tlnhao a sua corte : de maneira que na ordem ccclesias- tica (de que temos melliores informações) as cathedraes de Lamego , Viseo , Coimbra , e Idaiiha rcspondião na- quellc tempo ao metropolitano Bracarense , seguindo a or- dem do governo civil, e politico (15). Dc-struido no anno de 5 85' o reino dos Suevos pe- lo Rei Godo Leovigildo, que unio debaixo do seu impé- rio , e em huma só monarquia , quasi toda a Hcspanha , continuarão as cousas ainda por algum tempo no mesmo estado , ao menos em quanto á ordem ecciesiastica , até que no reinado de Receswintho, por diligencia do me- tropolitano da Lusitânia Oroncio, entre os annos 649 e Tom. XII. P.ll. B 6f6, (15) A grande extensão de tcrrilorio, que por este modo ficou coiupctiiido á metrópole Bracarense, deo molivo, ou occasião a que em tempo do ínclito metropolitano S. Martinho , attendendo-sc ás distancias das igrejas, e ao grave iucommodo, que sofrião os Bis- pos, concorrendo aunualmente aos concilies provinciaes, se fizesse di- visão de todas as suíFraganeas em dous partidos, que os Padres cha- mavão synodos, Jliim delles era composto dos Bisjios que licavão ao sul do Minho até os limites dos domínios Suevos, e estes concorríão a Braga para os referidos concílios annuaes. O outro partido, ou tynoclo constava dos Bispos que ficavão ao norte do Minho, os quaes dcvião concorrer a Liigo para o mesmo fim. D^aqni veio dizer-se , ou dizerem alguns escritores, que a província ecciesiastica da Gal- Ji/.n, ou Bracarense se divídio em duas, ou que n"uma só se estabe- Jecôrão' dous metropolitanos: que hum delles foi o de Lngo ; que a igreja de Lugo foi elevada a metrópole, etc. Mas tudo isto he pou- co exajcto. Os 1'adres nem dividirão a província em duas, nem es- tabcltcèrno dous metropolitanos em hunia só província. Aquclla di- visão teve por único motivo a commodidade dos Prelados na cele- bração dos concílios annuaes, e só para este fim era Lugo o lugar a que devião concorrer, e o Bispo de Lugo o chefe dos concorrentes. IVenhuus outros direitos meiropoliticos teve, nem lhe forão attribuí- dos iiaquelle tempo. A única metrópole de toda a Gallíza , e da parte da Lusitânia possuída pelos Suevos , era , e continuou a ser só- jnente Braga, a cujo Bispo pcrtcncião sem divisão todos os direitos próprios, e cssenciaes dos metropolitanos. Assim mesmo esta provi- dencia não durou muito tempo, porque suppondo-se dada efii 5tí9 ou 070, logo em 585 conquistou Leovigildo o reino dos Suevos, e u uuio ao dos Go:los , e eutão tornarão as cousas ao autigo estado , c cessou aqucUa divisão. IO Memorias daAcademiaReal Ò56 , se restituirão á metrópole de Mcrida as igrejas ca- thedraes ao sul do Douvo , ficando consequentemente a província ccclcsiastica da Galliza rediuida outra vez a seus antigos limites (16). E he mui natural que a mes- ma mudança se fizesse na ordem civil , terminando a Gal- liza no Douro , e começando d'ahi para o sul a Lusi- tânia. A funesta invasão dos Árabes nos princípios do sé- culo VIII. veio transtornar e confundir tudo. As con- tinuas alternativas de captivciro e liberdade, a que esta- vão expostas as terras e cidades , maiormente nestas par- tes occidentaes e aquilonares da Hespanha (17), não permittiáo muito que se conservassem divisões , e limi- tes fixos , c invariáveis de territórios c províncias , nem que houvesse nesse ponto regularidade alguma, tanto na ordem civil , como na ecclesiastica. Das antigas memo- rias (IC) Consta fins actas do concilio provincial Emcritense , celebra- do no anuo cie ijtit;, que era o 10. ile Keccswintho. (17) Siindoviil na llist. de D.Vdnyn cita hum chroiiicon, em que se lia, que no anuo 716 toni/ira Abdclazi'! Lisboa, PnrUicale, bra- ga , Tuy , e Lugo a Abãtlams cqiil Onaljonam , Vortucslc , Brncnm , Tudan , hucum. 35 i'onc<)s annos depois conir^ou a ninúr nas Astú- rias D. AHbiiso, o Cathoiico, e dclie dizem as Chronicas Albclden- sc , e do D. Srbasjião que « civil ates nh eis olim oiip>r!:sns cejrit , id est , Lucum, Tudan , Foi lucalan , . . . , omites quoquc Arahcs oCLiipa» iores pracdictíirum civilaíurn iidcrficicus , cliristianos sicum ad patnam du3.it. D*aiii a mais de liuin Sfculo recobrou D. Aílbnso III. e tor- nou a fazer povoar Braga, Porto , Orcnse , Eminio, Viseo, e Lanie- ga , como consta do clirou. Albeld. num. 62. « Kjus tempere (diz) Ècclesid crescit , et reg:'Wii ampimtur. Viúds quoqua lirucarcmis , l'oi' tugalcnsis , Aurieiíòis , Einiiiieiísis , Viscnús , atqtie Lomcccusis n chri%tin- lãs populauliu: >; lí o cliron. de Sanipiro §. 3. u lunc edomuit Rcx jíitoncam simul et Ventosam, Coiiimbiiamqiie ab imtnids obscssam de- fcndit , suoqua império siihju°avit. » e no § -i u rjus qiwrjtie tempere cccle- út ampUata est; urbes iiamquc Fúrlu^ntitsis , Bracarensis , Viseusii, Flaeiciisis , Aurienús a christtnuispopuliJHliir.il Depois da invasão de Aliuaiizor, tornou D. 1'Vrnando I, a recobrar Lamego, Visco, (Coim- bra . iseia , e outras muitas terras na província, que hoje chamamos da Beira, como consta das chronlcas antigas, etc. etc. I DAS SCIENOIAS DE LiSBOA. H rias consta, que Tuy , Orcnse , Braga, Porto, Cuimbra e Lisboa forão por vezes entradas , saqueadas , tomadas , e recobradas por christãos e inficis. Os Reis de Astú- rias, Oviedo, c Leão nem sempre tinhão forças bastan- tes para conservar , e guarnecer as terras que conquista- vão , c lhe ficavão mais remotas; pelo que ou as deixa- vâo destruídas, e deshabiradas , ou as tornavão a perder, sem que podesscm estabelecer nellas permanentemente povo christão , nem Bispos , nem Magistrados civis , ou militares , que as governassem. Os Bispos de algumas cidades conservavão sim os seus titulos , e successão , mas pela maior parte vivião retirados nas Astúrias , e sem ex- ercido de jurisdicção immediata sobre os povos respe- ctivos. Os Magistrados, e Governadores militares (se os havia) tinhão hum território demarcado (digamos assim) pelas circunstancias, em que se achavao as terras, e nun- ta fixo , como nos tempos de paz e socego publico. For outra parte a própria província da Galliza christãa tinha sofrido grande alteração no seu território e limites pela erecção do reino de Astúrias , que logo passou a dcnominar-se de Oviedo , e depois de Leão , as quaes ci- dades e territórios , elevados a mais alta categoria , já se não podião considerar como partes integrantes de hu- nia provinda. Este foi quasi o estado de nossas cousas até á mor- te de Almjnzor pelos fins do sec. X. ou princípios do XI. , conservando-se comtudo a lembrança das antigas di- visões, e limites, como se collige do modo, com que ás vezes se exprimem os documentos d'aquclles escuros e desgraçados tempos. No sec. XI. começa'rão os christãos destas partes da Hespanha a respirar com mais algum desafogo , maior- mcnte depois das conquistas de D. Fernando I. que le- vou as suas victoriosas armas, para a parte do sul, até alem do Mondego, e pela linha oriental a Seia, Viseo , Lamego , e terras circumvisinhas. Então tiverSo as Sés B 2 de ri Memorias da Academia Real de Braga , Porto e Coimbra (posto que com interrupções) Bispos residentes , que restaurarão a christandade nas suas dioceses : e ainda que nos não consta que se celebrasse concilio algum provincial , por onde possamos ajuizar dos limites das provincias na ordem ecclesiastica , he certo comtudo que se conservava a memoria das antigas divi- sões , como ha pouco dissemos. Na ordem civil , dado que também não estivessem de todo esquecidos os limites antigos, vemos comtudo os territórios da Galli/a, de Entre-Douro e Minho, e de Entre-Douro e Mondego divididos em condados , já mais , já menos extensos, sem demarcação fixa, e sem respeito preciso ás antigas divisões : por quanto achamos (por ex- emplo) ora hum Conde de Portugal somente; ora hum Conde de Coimbra e Portugal \ ora hum Conde de Tuy e Por- tugal : e achamos também hum Conde de Portugal gover- nando ao mesmo tempo Fermoim na provincia Bracaren- se, e Terra de Santa Alaria ao sul do Douro, e hum Conde ^ Alvazir ^ ou Cônsul de Coimbra y comprchendcndo no seu governo a maior parte do que hoje he provincia da Beira , e ainda mais para o sul até os limites dos Mouros (i8) , etc. Suppostas estas breves noções , e tornando ora á questão que acima proposemos « Se o território de Portu- cale (ou do Porto) chegou a considerar-se sobre si , e como separado da Gallica , antes do cazamento do Conde D. Hen- rique : OH se pelo contrario se reputou sempre incorporado com ella , e fazendo parte delia? Parece-nos poder-se dizer, e ainda provar por documentos, huma e outra cousa, que he o mesmo que dizer, que não havia nisto cousa fix.i , e invariável, e constantemente seguida; mas que depen- dia (18) Não pretendemos aqui adoptar ou confirmar a fabulosa di» visão de Portugal em doze condados, inventada por Louzada , sobre a qual basta ver a Hbl. Eccl. Liuit. Sec.X. e XJ. cap. I. paragr. 2. e as Dissert. Chroiiol. e Crit. tom. 1. pag. 46. DAS SciENCIAS DeLiSBOA. IJ dia a consideração geográfica destes territórios , e as suas denominações , quasi do arbitrio e particular considera- ção dos escritores, que disso falavão , ou dos notários que escrcvião os documentos. Por huma parte as terras que restaváo da antiga Gal- liza Romana (já cerceada pelo norte e nascente) até o Douro , e estavão no dominio dos Reis de Leão , con- tinuavão a ter a denominação de Galliza em conformida- de com a antiga pratica. E como as outras terras, que se hião conquistando para o sul do Douro, pertcnciáo á antigi Ltts ií atita f e esta estava ainda, pela maior píirte , no poder dos Mouros, não admira, antes era natural, que essas terras fossem consideradas por alguns quasi co- mo accessorios da Galliza , nomeadas talvez como partes dellj , e incluidas debaixo da mesma denominação geral , por não terem ainda denominação particular , nem se lhes poder dar, sem grande impropriedade, o nome de Lusi' tania , de que somente erão hum pequeno retalho. Por outra parte, como a cidade de Pormcale era já dcs de muitos tempos capital de condado com limites extensos, posto que vários, e talvez se ajuntava com o governo de Coimbra , e talvez com o de Tuy ; succe- dia também, que ás vezes se considerasse o seu territó- rio, como território, e destricto particular, com denomi- nação própria , e como separado da Galliza , e que des- ta se falasse como já em certo modo limitada e termina- da pelo rio Minho. Nem esta espécie de variação deve fazer estranhe- za : porque , como não havia demarcação de territórios determinada por lei , nem ainda por costume invariável e geral j e como a demarcação antiga estava de facto al- terada por muitos modos, e em particular pela criação e nomeação de governadores , ou condes com diversos e variáveis destrictos , vinhão as denominações a ser, até certo ponto, arbitrarias (como já indicamos) e quasi de- pendentes do juizo dos escritores e notários. E se assim não 14 Memorias da Academia Real não fosse , também clles não poderião ampliar o nome de Galliza ás terras d'alcm Dcjuio para o sul , as quaes nunca no tempo antigo lhe tinhao pertencido, nem por disposição alguma legal (que saibamos) lhe forão agre- gadas. Adoptando se este nosso pensamento , cxplicao-se facilmente algumas frases dos antigos documentos , que aliás parcceriáo menos intelligiveis , ou talvez contradicto- rias. Por exemplo : I. Na doação de D. Mumadona ao mosteiro de Gui- marães no an. de 968 (era ioo6) se di/ o mosteiro sita ctini finibiis Calleciae {Dissert. Chronol. e Crit. tom. 4. P. i. pag. 2 i). E em outra doação de D. Ramiro 11. ao mosteiro de Lorvão no an. 953 (era 971) se diz o mesmo mos- teiro situado in Jinibus Galleclue (ib. pag. 20). Temos pois os fins ou limites da Galliza collocaJos ora em Guimarães , ora em Coimbra , pontos , que dis- tão muitas legoas hum do outro, e isto em documentos do mesmo século , e lavrados em annos não mui distan- tes. O que somente se pode entender e conciliar , di- zendo , que o notário do primeiro documento scguio a antiga demarcação , segundo a qual Guimarães se podia. na verdade dizer situada in finibiis Calleciae , pela pouca distancia que vai d'ahi ao Douro , quasi como já Idacio tinha dito de Braga , que era a ultima cidade da Galli- za {aã Br acaram extremam civitatem Galleciic) (19). B que o notário do segundo documento air.pliou esses li- mites até Coimbra , por não ter nome especifico que dar ás terras que ficavão ao sul do Douro, e por abreviar a expressão , chamando a tudo Galliza. Pode confirmar-se nesta parte o nosso discurso com o que refere a chronica Albeldcnsc , que D. Affonso III. 10- (19) Idut. chrou. au. 456., no toui. 4. da Eipaiui Sagr, DAS SciENCIAS DE LiSIíOA. IJ" tomou Coimbra , e depois a povoou de gallcgos « Co- nimbricnm ab itiimicis possessauí eremavit , et gallecis postea popítlavit » aonde seria ociosa a palavra gallecis , se Coim- bra fosse parte da Galliza , porque nesse caso bastaria di- zer que a povoou , ou que a povoou de gallcgos trazidos de outras terras da mesma provinda. 2. O Conde D. Raymundo, em doação de Abril de 1094 (era 1131) se intitula íi totiiis Gallecite àominus >» {Diísert. Chronolog. e Crit. tom. 4. P, i. pag. 21). Em Agosto do mesmo anno se diz u dominante Co- limbria et Porttigale '» (ib. tom. 3. P. i. pag. 29. num. 87). Em outro documento do mesmo anno « /k Colimbria Comes Raymundus »> (ib. pag. 30. num. Sp'*. E cm Novembro do mesmo anno tt Comes , et totsus Calleciíe Princeps (ib. num. 90). Todos estes documentos são anteriores ao cazamen- to do Conde D. Henrique , e nelles se vê o Conde D. Raymundo nomeado, ora Conde, Senhor, ou Principe de toda Galliza ; ora dominante em Coimbra e Portugal ; ora somente em Coimbra : por onde parece que os terri- tórios de Portugal e Coimbra , por eile governados hu- mas vezes se incluiao debaixo da denominação genérica de Galliza , e por isso se não espccificavao ; outras ve- zes se consideravão sobre si , e como separados delia , e se designavão por seus particulares nomes. E notc-se que no anno antecedente ao dos referidos documentos, isto he , no anno de 1093, tinha o Conde sido também encarregado do governo de Lisboa , Santa- rém e Cintra ,f então conquistadas por D. AfFonso VI. seu sogro (20). E como este governo se não pode reputar (rigorosamente falando) incluido nem na expressão « to- da a Galliza »» nem na outra «< Coimbra e Portugal » , vê- 6c , que os notários dos documentos não crão escrupulo- sos , (•20) Chron. Lnsit. era 1I3J. i6 Memorias daAcademiaReal SOS, ou miudamente exactos a este respeito, c que usa- viío de hum certo arbitrio , contcntanJo-sc talycz coin dar a conhecer a pessoa por algum titulo que julgavão mais principal , ou mais conforme ao objecto do docu- mento. 3. O mesmo Conde D. Raymundo , já depois do ca- zamcnto do Senhor D.Henrique, pelos annos 105)5". 1097. e 1100. continuou a intitular-se a íotius Caltectae Comes 't totiíis Galleciae Princcps et Domhttis » Gal/ecoriim omiiiiim Comes. f> {Dissert. Chronol. e Crit, tom. 3. P. 1. pag. 30 até 43. num. 91. 92. 102. iij. 127. etc.) As frases «« totius Galleciae Comes »> Gallecortim omnium Comes '» são as mesmas , de que algumas vezes usava o Conde antes do cazamento de seu primo , e parece da- rem a entender, que se não tinha feito mudança algu- ma nos limites da Galli/a , porque na verdade seria hu- ma grande impropriedade dizer-se « totius Galleciae Co- mes >> quando a Galliza chegava até Coimbra , e conser- var o mesmo titulo, sem declaração alguma, quando a Galliza não passava do rio Minho. Esta mcoherencia po- rem , ou impropriedade des.ipparcce, suppondo-se , que ora se chamava Galliza todo aquellc grande território até o Mondego , e ora se suppunha a Galliza propriamente di- ta , já limitada pelo Minho , e os territórios de Porttt' cale e Coimbra como separados delia. 4. A chronica latina de D. AíFonso VII., contem- porânea , falando do cazamento da Senhora U. Tereza , diz que elRci D. Aflbnso VI. seu pni a dotou magnifi- camente, dando-lhe a terra de Portugal de juro c herda- de. « Qiiam Rex , dilectionis et hoiioris causa , dedit niari- tatam Eurico Comiti^ et dotavit eam magnifice ^ dans Ter- ram Poitugalensem jure hereditário " (21)' ^ste modo Je falar parece suppôr que a Terra de Portugal já se re- pu- (21) Chroii. de D. JJJlns. VII. na Espana Sagr. tora. 21. DA-S Ser ENCI AS DE 1 Tom. XII. P.II. G 5". i8 Memorias da Academia Real y. Cbron. do Silense , §. 8j « Rcx (Fcrnandus) de cam- pis Gothorum movic , et Portuga/em profectns est. >» 6. Cbron. de D. Pelayo diz que D. Fernando I. dera a seu filho D. Garcia <« totam Callíieciam una cimi totó Por- tíigale " e que seu irmão D. Sancho , depois de se co- roar cm Toledo u perlttstravit jístiirias, Galleciam^ sed et Povtucíilem. j. O epitáfio de elRci D. Garcia f;illecido cm 1C90 « H. R. Domnus Garcia Rex Portngalliae et Gallaeciae , filius Rcgis Magni Fernandi. » etc. 8. Hist. Compostel. liv. i. eap. ly « Fliiviíis eiiim iste (Minius) Portiiga/ensem terratn distermhiat a Gallciecia " c no liv. 2. c. 2. ti Alfonsus Rex bonae memoriac , et Co- mes Raymundiis gencr ipsius Rcgis, qtii ttiuc Gallacciam et Portiigalcnsem teriam , et honores possidcbat, et rcge- bat. " etc. A estes documentos se podem ajuntar os que acima citamos para outro fim (Art. lí.) : porque de todos elles se colli"e o que aqui pretendemos , isto hc , que Portu- gal (a cidade do Porto com o seu território) já ás vezes figurava sobre si , e se designava por huma denominação própria, e especifica, quasi sem respeito á Galiiza , e como se fosse huma provincia, ou (digamos antes) huma comarca, ou hum território particular, separado delia. O sábio autor das Dissert. CbrciwL e Crit. , que tan- tas vezes temos citado, no tom. 4. P. i. pag. 25^, re- flectindo que alguns dos documentos apontados forão es- critos no sec. XII. quando já o Conde D. Henrique es- tava cazado com a Senhora D. Tereza , diz que « não he de admirar que estes escritores contemporâneos do Conde D. Henrique e da Rainha D. Tereza , tempo em que já Por- ttiiral se distinguia da Galiiza , designassem as terras pela geografia do seu tempo , posto que naquelle , cm que succede- rão os factos que referem , as mesmas terras pertencessem a diíerso território , ou tivessem outro nonte. Esta reflexão porem, postoque judiciosa, nao nos de- DAS SciENciAS DE Lisboa. 19 demove do nosso sentimento : r. porque nem todos os ditos documentos são do scc. XII., antes he certo que alguns forão escritos muito antes do cazamcnto do Conde D. Henrique, 2. porque ainda os mesmos do sec. XII. são de differentes lugares , terras , e pessoas ; e seria bem notável que todos conspirassem em se expressar segundo a geografia do sen tempo , e que esta mesma fosse adopta- da na Galliza , e cm Leão , semque nenliúm dos escri- tores fizesse declaração , ou allusáo alguma , nem empre- gasse huma só palavra , por onde entendêssemos a diffe- rcnça da geografia antiga. 3. porque da mesma soríe nos parece notável (como já advertimos) que nenhum escritor daquelles tempos diga que Portug.il foi desmembrado da Galliza, nem que os limites da Galliza forão alterados, ou estreitados pelo dote da senhora D. Tereza , c isto ainda quando tinhão alguma occasião , e razão para o di- zerem , maiormente escrevendo no próprio tempo , em que se fez a separação , e quando hum delles diz que o rio Minho he demarcação entre a Terra Portugalense , e a Galliza (acima num, 8.j, aonde com somente acrescen- tar o monosyllabo niinc , salvava a equivocação geográfi- ca , declarando o antigo e moderno estado da provinda. 4. finalmente porque não vemos que da nossa opinião se siga inconveniente algum, antes achamos que cila he con- forme ao que analogamente se praticou a respeito de ou- tras terras (21), cm que alterados, ou preteridos os li- C a mi- (22) Traremos aqui, somente para exemplo, o que se observou a respeito de Leão, por ser o que achamos mais análogo a Portugal, no ponto rie qiie se trata* Leão não era nos seus princípios mais do que hun)a cidade, bem como Fortucale. Depois da divisão de Con- stantino Al. jicon pertencendo á proviucia da Galliza Romana, assim como Foilufile lhe pertencia. Quando teve Bispo, este e a sua dio- cese se chamou Legwueiise , do mesmo modo que o Bis))o ea diocese de Portucale se chamou 1'ortuculense. Pelos secc. IX. e X. achamos Condes de Leão, e he certo, que havião de ter hum districto civil e militar, assim como vimos que o tiuhão os Condes de Portucale. 20 Memorias HAAcAiiEMiAREAt, mites antigos , se fizerao igiiacs mudanças na ordem civil c militar, conscrvando-se apenas as demarcações primi- tivas na ordem ecclesiastica por causa da dependência das igrejas suffraganeas. ARTIGO IV. Portugal he desmembrado definitivamente da Galliza, Ampliação de seus limites, A. Terra Portucalense, ou de Portugal, que como aca- bamos de mostrar , já des de muito tempo se nomeava ás vezes sobre si , como se fosse separada da Galliza , ficou cffcctiva, e definitivamente dcsmcnfibrada desta antiga pro- víncia , quando elRci D. AlTonso VI. a deo em dote a sua filha a senhora D. Tercza Jure hereditário (segundo a frase já citada da chron. de D. Aff. VII.) encarregando do governo delia o Conde D.Henrique, marido da mes- ma senhora. Os antigos documentos não nos permittem dar a es- te cazamento huma data mais antiga que o anno lopj , como cm seu lugar diremos. E dcs de então hc que acha- mos o Conde D. Henrique figurando como senhor de Por- tugal, ou de toda a Provinda Partngakuse; mas dando-sc já a esta denominação limites muito mais amplos do que anteriormente tinha tido , como se verá pela dcducçaj que vamos a fazer de alguns documentos , dos quaes nos ser- Por esses tempos ainda às vezes se nnl^va Leão > Anno 1096: escritura de 13 de Setembro, da era 1 1 3 4 : confirma D. Henrique Conde de Portugal e Coim- bra, ty Espana Sagr. tom. 26. pag. 232. a >» An. 1097 »» Ego Henrictis Comes Portugalensis. Dis- ser t. Chronol, e Crit. tom. 3. P. r. pag. 36. num. lof. a >» An. 1097 " Comité D. Henrico . , . dominante a fiu- tnine Mineo usque iu Tagum. ib. tom. 4. P. 1. pag. 142 in fin. 4» An. 1098 << /« Colimhria et Portugale Comes Hetiricus n' ib. tom. 3. P. I. pag. 36. num. 106. j » An. 1098 " Comes D. Henrictis íoíiiis Provinciae Por- tugalensis Domimis. Disser t. Cbronol. e Crit. tom. 3. P. I. pag. 36. num. 107. 6 >» An. 1099 " Henrique Conde de Portugal e Coimbra gen- ro de elRei. Esp. Sagr. tom. 26. 7 >» An. 1 100 K D. Henrique em Portugal e Santarém. íb. pag. 23f. 8»» An. II 00 it Régnante in Toleto et Gallecia Adefonso^ in Colimhria Comes Henricus. Dissert. Chron, e Crit. tom. 3, P. I. pag. 38. num. 113. 9»» An. iioo ti Henricus Portugalensis Provinciae Comes j Regtsqne gener. Esp. Sagr. tom. 36. append. 41. 10 » An. 1103 t< Obtinente . . . Henrritio Portugale et Colim- bria. {Dissert. tom. 4. P. i. pag. i5'4. num. y66.) II >j An. I icy " Duce Henrico Portugaliam tenente, ib. tom. 3. P. I. pag. 43. num. 127. 12 » An. iioó n Ego Comes Henricus Portugalensis Patrie Princeps.^y (ib. num. 130) 15» An. H09 « (Fevereiro da era 11 47) Sub Jdefonso Principis , et gener ejus Enricho Imperator Portugalen- se.» ib. tom. i. P. i. pag. 49. num. 141. 14" An. 1109 (fulho da era 1147) (í Itertim capta fuit Cintra a Comité D. Henrico. Chron. Lusit. ii Memorias da Academia Real ly » An. 1109 (Agosto da era 11 47) a Ego Heiíricus Dei gratia Comes , et totius Portugalis Doiiiiiuis. Dissert. Chronol. e Crit. tom. 3. 1'. 1. p.ig. 55. num. 152. 16 j> An. 1 109 (Setembro) <« Imperante Portugal Comes Heii' richus ■>i ib. num. i$i. 17» An. 1 1 1 y *< Reguante tn Portugal Regina Tarasía >» ib. pag. 64. num. 189. 18» An. II 16 ii Infantíssa Tarasia . . . . Domina tctius Portngdliae. Hist. Compostel. 1. r. cap. 111. 19 »> An. 1 1 17 << £^(7 Infant Domia Tarasia Regina de Por» tiigal, " Dissert, tom. 3. P. i. p;ig. 69. num. 202. ao »> An. 1122 u Magna fames friit in civitate Colimbria y et in tota Porttigaleusi regioue a Mineo usqtie ad Ta- gum, »» (Chron. Lusit.) Y)o complexo de todos estes documentos parece-nos poder-se colligir : 1. Que o nome de Portugal era o que figurava no primeiro e principal lugar , quando se qucriáo designar os estados do Conde D. Henrique. 2. Q(.ie quando este nome se escrevia scS por só nns documentos, incluia todos os meamos estados dcs de o Mi- nho até o Tejo (num. 3. 7. 14. e 20). 3. Q;je ás vezes se dava a esses estados o nome de Provincia Poríugalcnse ^ e outras vezes se dcsignaváo pela expressão n todo Portugal ty por onde se vê, como a ap- plicação deste nome se foi graduilmentc ampliando, até chegar, como logo chegou, a denominar o Reino intei- ro, e as terras, que ou por conquista, ou por outros mo- dos, lhe hião acrescendo. Alas quacs erao os limites precisos destes estados, quando o Conde D. Henrique começou a goveinal(^s ? quaes , depois delle, no primeiro século da monarquia? até onde podiao os Reis Portuguczes ampli.u- as conquis- tas que fazião aos Mouros.'' Sobre tudo isto dircmt.s al- guma cousa no seguinte artigo. AR- DASSCIKNCIAS DeLiSBOA. I3 ARTIGO V. Noticiar fiara se determinarem os limites de Portugal tio tempo do Conde D. Henrique , e no primeiro século da Monarquia, Os nossos escritores , falando dos estados , que ao principio teve o Conde D. Henrique, explicao-se ordina- riamente com muita generalidade , c trazem algumas no- ticias táo pouco exactas , que deixao esta matéria em grande incerteza. Duarte Galvão na Chron. de clRei D. AíTonso Hen- riques cap, I. diz , que D. Affonso VI. dera ao Conde D. Henrique , quando cazou com a senhora D. Tcrcza , Coimbra com toda ha terra atée ho castello de Loheyra , que hée htima legiioa dlem de Ponte vedra em Gualiza , e com toda. ha terra de Fiseo e Lameguo j que seu pay D. Fernando e elle guanbarao nas comarqiias da Beyra. E logo acres- centa " De todo ho que lhe assi deu fez Condado , chamado ho Condado de Portugual ... £ ainda lhe assinou mais terra da que hos Mouros possoyam , que a conquistasse , e toman- do-a , a acrescentasse em seu Condado. Fr. Bernardo de Brito , nos Elogios^ diz " Derao-se >> cm dote a D. Henrique as terras, que em Portugal >j crao ganhadas aos Mouros (algumas das quaes são ho- s> je do reino de Galliza) com titulo de Condado, e a >» conquista das que ainda tinháo usurpadas , que era a »> maior parte do que hoje he reino de Portugal , sobre » a libertação das quaes o Conde fez tantas obras vale- »> rosas, que rompendo em batalha a clRei de Lamego, 5> ao de Viseo , e a outros senhores de menos conta , »» que havia pela Beira, desoccupou as terras que ha en- >» trc os rios Douro e Mondego , que então servia de >» raia entre Mouros e Christãos , etc. >» E mais adian- te t« As terras , de que o Conde deixou por absoluto se- »y nhor 24 Mkmorias da AcademiaReal » nhor a seu filho D. AiFonso forao todo Entre Douro j» e Minho , e por detiíro de Galliza até o canello de Lo- }> beyra , e muito maií a dentro contra as Astúrias : A ter- }> ra líc Tra-los- montes , e a Beira até o Mondego : de »> todas as quaes terras era a cidade de Braga cabeça no » espiritual , e Coimbra no temporal. Pagavao-lhe tri- j> buto os Alcaides de Leiria e Torres-novas , que depois >» da sua morte se rebelíárão , e custarão muito a do- j> mar. »» Mariz , no Dial. 2. cap. 3. diz que elRei D. Affon«- so VI. deo ao senhor D. Henrique com o titulo de Conde . . . todiís as terras , que naqnelle tempo em Portugal erao possuí- das de Christãos , e for ao as cidades de Coimbra , Braga , Forto , Visco , e Lamego , com toda a mais comarca da Bei- ra ^ e Trás os-montes y e toda a terra ^ que está de Guiina- rães até o Castello de Loheira , duas léguas dlem de Ponte •vedra em Galliza . . . concedendo-lhe mais , que toda a mais terra que elle em Hespanha conquistasse de Mouros , de Caim' hra até o rio Guadiana . . . a podesse senhorear como sua. Faria e Sousa no Epitom. ed. de 1Ó28 di/ , qnc D. Affonso VI. casou sua filha com o Conde, e lhe deo em dote a cidade do Porto e sua comarca , que era então a me- Ibor parte do que estava ganhado em Portugal. Rckre de- pois não sei que batalha vencida pelo Conde D. Henri- que junto a Córdova., e continua << que elRei prcmiador de grandes feitos lhe fez mercê de novos lugares e terras em Portugal , e lhe deo licença para que viesse a possuilas com sua mulher. Ultimamente acrescenta ainda, que el- Rei D. Affonso, consideradas as grandes façanhas de Hen- rique , e o dcscanço que seus annos e fadigas já merc- cião , lhe acabou de dar tudo o que em Portugal estava ga- nhado aos Mouros , que erao as cidades de Coimbra e Visco ; as três regiões de Entre Douro e Minho , Beira , e Tras-os- montes ; em Galliza até o castello de Loheira , e faculdade para que podesse conquistar até o Algarve >» Mr. de Ia Clcdc Hist. Génér. de Portug. 1. j". depois de DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 1^ dc referir que a senhora D. Tcreza teve em dote o Porto e suas annexas ^ que Sancho e Affonso tinhao tomado a seu irmão Garcia , mistura muitas cousas totalmente dcstitui- das de fundamento, entre ellas o nascimento do senhor D. Affonso Henriques cm 1094, e logo acrescenta, que o avo estimou tanto o nascimento deste novo Principe , que em attenção a isso deo a Henrique e sua esposa Porto ^ e tudo quanto possuía na Lusitânia. Finalmente os autores Inglczes da Hist. Univ. dizem ao principio , que os historiadores Portuguezes c Hcs- pnnhocs concordao que D. Affonso VI. dera sua filha por mulher a D. Henrique, e juntamente a provinda frontei' ra , que conquistara aos Mouros , e fica ao sul do rio Mi' tibo , com o titulo de Condado. Mais adiante discorrem, que hc dc crer, que quando elRei deo Galliza ao Conde D. Ray- mundo , daria a D. Henrique o governo das fronteiras , e da parte que fica ao sul de Galliza , com cargo de o pôr em bjm estado. E ultimamente referem , que quasi dons an- nos depois da morte da Rainha D. Constança , elRei D. Affonso cazára D. Henrique com sua filha D. Tere- za , e que em favor deste casamento lhe concedera a plena propriedade {segundo os historiadores Portuguezes) das terras de que até então fora governador, com o titulo de Conde , e permissão dc conquistar quanto podesse aos Mouros até o rio Ana , ctc. Por este extracto se vé , que além da pouca exac* çao, com que os citados escritores falao do assumpto, e álcm dos erros, falsidades, e até contradicçoes , que ncl- Ic misturão, são também as suas expressões tão vagas, c indeterminadas no que respeita aos limites geográficos das terras dadas ao Conde D. Henrique , que nos não subministrão luz alguma para bem os determinarmos , an- tes nos deixarião em igual ignorância , e maior confusão da matéria , se por elles nos quiséssemos governar. Ponhamos pois de parte estes escritores com as suas fantasias : e consideremos separadamente cada hujn dos Tom. XII. P. II. D qua- 1(5 Memorias da Academia Real quatro lados cardeaes destes estados, a ver se assim po- demos, com o auxilio dos antigos documentos, rastejar alguma cousa de seus precisos c verdadeiros limites. Pelo lado Occidental não ha duvida que c: tos esta- dos cntestavão no oceano, correndo des de z fóz do Mi- nho para o sul , por toda a costa , até o Tejo , como ex- pressamente notão os documentos apontados no Art. IV. num, 3. 7. 14. e 20 n a fltimine Mineo usqtie in Tagtim ^* etc. , dos quaes também se vê, que das conquistas feitas mais ao sul por D. AíFonso VI. em 1093, tinhão ficado Santarém , Cintra , e Lisboa em poder dos christáos , e nelle se conservarão quasi até ao fim do governo do Con- de D. Henrique. E com eíFcito sabemos pelo chronicon Lusitano, que em 1109, rcbcllando-sc os Mouros de O'»- tra , o Conde marchou sobre elles com grande celerida- de , c novamente os sohjugou. E a respeito de Santa- rém e Liíboa consta nos pelo mesmo chronicon, e peU Historia dos Soberanos Muhametanos, que ró no an. de III I, penúltimo da vida do Conde, forão recobradas pelo Rei Ciro (ou Sairi) estando o mesmo Conde occu- pado em outras facções na Galliza. Pelo que se vê que estas praças erao do seu dominio, e pertencião já então aos estados que elle governava, c a que se dava muitas vezes o nome genérico de Portugal, A'lêm do Tejo parece que não havia limite algum determinado ás conquistas dos Portuguezcs , ao menos pela banda do poente , até ás praias occidcntacs e meri- dionaes do que hoje chamamos Algarve : porquanto sa- bemos que o senhor D. AíFonso Henriques conquistou Palmclla , Alcácer, Évora, Beja, Moura, Serpa, e ou- tras terras d'aquclla província : que seu filho D. Sancho L proscguio da mesma sorte , tanto em Alemtejo , como no Algarve, aonde tomou Silves, e outras praças c cas- tcilos, intitulando-sc por isso (cm quanto as possuio) Rei de Portugal e do Algarue\ e tudo sem contradicção algu- ma, que nos conste, dos Leonczes. O DAS SclEMGIAS DE LiSBOA. ^^ O lado oriental do reino , cm tempo do Conde D. Henrique , e no primeiro século da monarquia , tambcm se poderá determinar com o soccorro das antigas memo- rias c documentos. E primeiramente: he sabido que ao tempo do caza- mento do senhor D. Henrique percenciáo a Portugal por este lado o castello de Sèa , Visco , S. Martinho de Mou- ros , Lamego, Penalva, e outras muitas terras visinhas , que haviiío sido conquistadas por D. Fernando I. junta- mente com Coimbra (23), c forão governadas pelo Con- de D. Sesnando , por seu genro Martim Moniz , pelo Conde D. Raymundo, e ultimamente peio mesmo nosso Conde D. Henrique. Em hum documento de 30 de Janeiro de 1088 se achão designadas pelo Conde D. Sesnando as terras do seu governo pelos seguintes termos « Teuipore i/lo , qiio serenissimus Rex D. Feniandns , ego Cônsul Sesnandus acce- pi ab illo potestatem Colimhrie , et omnium civitatum , sive castellortim , qtie suut in oiiiiii circititti ejus , scilicet ex La- tneco iisqtie ad maré per aqtiam fluminis Durii , itsque ad terminoSf qHOs cm diffvMcntes tempos foraes a Trancoso , Pinhel , Sernamceihe, Pencdono , Castciçao, Linhares, Guarda, Felgosinho , Covilhaa , Penamacor, Alpedrinha, e Ida- nha a veliia : as quaes terras , com as que acrescerão álêm do Goa em tempo de elRei D. Diniz, (2;) fazem ain- da (2ó) Disséii. Çhrcml. e Crit. íom. -}. P. 1. pag. 154. nOrtí. ?6Ô B Dii.r Viieiíris Ue.iU ComUis Jiliiis . . . . ohtmeiite Impcratorc A(l.'.fonso rsgnuui Sprjuk diràliononwi , GnnerB fjue Heiírilio Fvriugaíe et CoUiH' hriíi , mb (iiiibus et Munio Vf.iln:: Vhco dique viáiias. {i'6) Vej. às Dissôrf. Chroiiol. e Cril. tom. 3. P. I. pag. 5fi. iitim. lin , p.ig. 73. num. 2\e , pag. 7!), iiuiu. 2;J;J , e pag. C5. mim. 252. ctc. (27) Pflo Tratado de yllcnni^es , ajustado cm Sctrml-.ro de 1297 (de que a spu tern|)o liaveinos de falar (mii outro lugar) rcconhtceo clRei D. Fernando IV. de Castella e Leão. q^ue elHei de Portugal ti-:'iu direito em aluiiiii Íu::^ares dos cfslcllos e vilíus do ò;iím»vjí , c Al- fininlit, e de. ('a!iti:l-Rmlit:(o, e. rUlar-iinio'-, e de Cmt.í-hotn , <} íÍM'- tiièt/da , e c/& Casttl-mdlior , e Monforte c d: outrof l:i^ates de Riba de Coa: pelo que ccdeo os ditos castellos, villas, e lugares a ellici de D A S SCI EM Cl A S DE Li SBO A. 2$) da hoje a fronteira orient:il do Reino n';:quclla parte. E hc digno de nòtar-se, que cm hum documento do an. 1199, SC diga que clRei D, Sancho dominava des de o rio Minho até Évora , e des de o mar occideutal até Ida- tiha (28). O que mostra que a Idanha estava já cntao , como está hoje, no extremo da fronteira, c que foi no- mcida no documento como ponto mais afastado do mar, e por isso o mais saliente , c o mais oriental na mesma fronteira. Pelo que respeita á continuação desta linha álèm do Douro para o norte, podemos conjecturar que ella não discrepava da actual, isto he , que o lado oriental da provincia de Tras-os-montes era des de o principio o mes- mo que hoje a termina por aquella banda. Já no an. de iiij se menciona huma doação do Couto de Riba-Ttta feita pela senhora D. Tercza á Sé de Braga. O foral de Nomao , dito Monforte , foi dado no anno de 1130, e ncllc se rlomêâ hum governador cm Bragança e Lampazas U imperante itt Portugal Infante Domno Alfonso ^ Potes tas in Bragancid et Lampazas Feruan- diis Mendiz »» {Dissert. Chronol. tom. 3. P. i. pag. 99 , num. 296). A elRei D. AlTonso Henriques attribuem alguns a fundação , ou povoação de Miranda , e o foral que te- ve cm 1136. Em iTUg;nalione Ri- gii Legieneiisis. a Docuiu. do IMaio da era 1237. 30 Memorias daAcademia Real Anciães (sobre o Tua)^ c no anno seguinte foi cm pes- soa livrar Bragmça da oppugnação de clRci de Leão» como ha pouco dissemos. No mesmo anuo de 119JJ ha- via governador, ou senhor de Bragança., posto p'.lo mes- mo Frincipe n Fernam Feriiandiz, qui sub nuiniis Regis Dom- ni Sancii àominliun Brigantiae tento " {Dissert. tom 3. P. 2. pag. 113). ctc. Tudo isto mostra que a província que hoje denominamos de Tras-os-montes y era já então toda Portugucza , c que a cidade de Bragança denotava hum dos pontos mais notáveis na sua fronteira oriental. Assim que no primeiro século da monarquia , e pela maior parte já des de o tempo do Conde D. Henrique e da Rainha D. Terc/a , era a fronteira oriental do rei- no designada quasi pelos mesmos pontos , que actualmen- te a dcmarcão, des de Bragança e Miranda em Tras-os- montes até Idanha sobre o Tejo , a que somente acres- cerão , cm tempo de elRei D. Diniz , as terras de álêm- Coa , como já advertimos. Nem esta fronteira se podia (ao que parece) alar- gar já então muito mais para o nascente : por quanto Ça- mora tinha sido conquistada , reedificada e murada por D. Fernando I, , e pertencia a Leão : Salamanca c Avila íorão povoadas por D, AíFonso VI. : Lcdesma c Ciudad- Rodrigo forão mandadas povoar por D. Fernando II. de Leão pelos annos de 1162: Coria tinha sido tomada por D. Affonso VI., e foi novamente recobrada do poder dos Mouros em 1142 por seu neto D. AíFoiíso VII.: Alcan- iara^ que também fora conquistada em 11 66 por D.Fer- nando II. foi outra vez recobrada em 12 13 por D. Af- fonso IX. de Leão , &c. De modo que todas estas ter- ras , em outro tempo da Lusitânia , pcrtcncião ora ao reino de Leão, e ficavâo em frente da linha Portugueza , que descrevemos , c não muito distantes delia. A fronteira oriental de Alcmtejo só mais tarde se veio a fixar ; porque a visinhança dos Mouros , e as suas continuas incursões e correrias não permittião limites per- ma- DAS SciENCrAS DE LiSBOA. Jt manentes. Sabemos que o senhor D. Affonso Henriques, depois de tomar Santarém e Lisboa , e despejar de Mou- ros toda , ou quasi toda a Estremadura Portugucza , ao norte do Tojo , adiantou as suas conquistas ao sul deste rio, aonde tomou Palmella , Alcácer, Évora, Beja, etc. Deo foral a Abrantes em 1179, reedificou o castello de Coruche, etc. Mas sobre a fronteira, de que aqui tra- tamos , somente nos consta que conquistou Serpa, c Mou- ra. Em ii6'i adiantou-se a tomar Badajoz; mas não lhe foi possivel sustentar esta praça por causa da infelicida- de que ahi lhe aconteceo em 11^9, e que o obrigou a restituiu a elRei de Leão , então alliado com os Mou- ros , ou defensor delles. Seu filho porem tomou Elvas , que he hum ponto mui notável da mesma fronteira, e hoje a mais forte e importante praça de toda a província. Também no an. de 1199 fez elRei D.Sancho L doação de Motitalvo de Sor, entre Tejo e Caia aos Francos,^ a quem jd dera a povoar Sezimbra e Alieziras, e aos mais que vies- sem {Dissert. tom. 3. P. i. pag. 198, num. 6yo). Este documento parece fixar outro ponto daquella fronteira , e dar-nos algum indicio de que o território entre Tejo e Caia , naquella linha , já se reputava do dominio de Por- tugal. Por outra parte Cáceres era do reino de Leão. Me- rida tinha já sido tomada pelos Leonezes em 1190, e cahindo depois em poder dos Mouros , foi novamente conquistada em 1230 e 1232 juntamente com Badajoz y M ou lanches , Tntxillo , Medellin , e Alhange , etc. Por estes princípios se pode fazer alguma idêa , pos- to que imperfeita, da fronteira oriental da província, que chamamos do Alemtejo ., a qual porem somente cm tem- po posterior tomou definitivo assento, e limites fixos (29). O (29) Se nos fosse fácil examinar maior numero de antigos docn- inentus, podtriamos também uielLor determinar esta fronteira orien- 31 MEMoniAS DA Academia Real O limite meridional do Reino não era ainda dctcr- mlnndo naquclics primeiros tempos. Já dissemos que el- Rci D, AíTonso Henriques não passou, segundo parece, de Beja , Serpa , e Moura em suas gloriosas conquistas por aqucUa banda. As de seu filho porem no Algnrve, posto que se não conservarão , e as de elRei D. San- cho tal de Aleintrjo. Por huina carta de elRei D. AlFonso II. do an. 3222, declarou este Príncipe, que lhe pertencião as kziras de Fooce de Ctii/(i, e proliibio que iieDluiui parlicular se mettes»e a cultivalas [Disserf. C/iionol. e Cri.f. tom. I. pag. 202 docuni. num. 4'.)). Por outra Carta de elHei D. Allonso III. do an. 1264 consta que o cas- tello de Arronches era da coroa Portugurza (ib, tom. 3. png. 74. luim. 24). Por outro instrumento do an. 12G5 se v6 que Mvitsarríz y Portel, Serpn, Moura, Elvas, e Estremoz erão de Portugal (ib. tom 1. pag. 20-5 , num. 71) etc. Pelo Tratado de Aleanizes, já citado, fei- to cm 1297 reconheceo elRri deCastella, que os castellos e villas de jirouahe e Araccna pertencião de direito a Portugal e seu senhorio j pelo que em troca delles e dos fructos havidos des de a indevida oc- cupnção , cedia a elRei D. Diniz c seus successorcs Olivença e CamjJO- viainr , que. são a par da Badajoz, c 5. Felices dos Gallegcs, e Ouguc- la , que lie junto n Campo-maior com suas pertenças, terUios, rendi- mentos ctc. , e elRei D. Diniz ctdeo dos ditos castellos, e villas de jirouchc e Aracena , etc. Duarte ^uncs de Leão na chron. de tlRei D. Allbnso III. faz menção desta transacção, c diz u Em 1297 se en- jj tregárão a d Hei U. Diniz Moura, Serpa , Mourão, e Noudar , que :: D. Alionso í?aI)io deo a sua filha D. Beatriz, quando estava coiu 1) clle em Sevilha: e a entrega se fez já em tempo de Fernan- >i do IV No mesmo reinado de Fernando IV. se soltarão a » Portugal Camjio-maior , Ouí>nela, Olivença , e 5. Felices dos Galle- 51 írot, em satisfação das villas de Arctiche e Aracena, e suas rendas « i!e muitos annos, que os Reis de Castella as trouxcíão usurjia- 11 das " etc. Por occnsião de tocarmos este ponto, não st rá alheio delle advertir desde logo, que a doação das villas de Moura, Herpa, Mourão, Noudar, c Niehla feita por D. AJIbnso , o Sábio, a sua lilha D. Beatriz, não foi puramente gratuita, nem tampouco excessiva, co- mo dizem os escritores Castelhanos, calumniando í\k pródigo aquclle Rei, c querendo acaso com isso justificar a rebellião , que contra cllc maquinarão, lançando-o do throno. INós mustr.-iremos em lugar competente quc algumas daquellas villas crão de Portugal, c llie andavno iniquamcnte usurpadas, e que no resto a doação foi retnu- >icrato)ia, não só de amor e serviços, mas tauibem de grandes dcs- pezas, que sua filha tinha feito eio beueíicio delle. DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 33 cho II. e de seu irmão eIRci D. AíFoiíso III. mostrão que os Poituguczcs podiáo alargar-sc até ao mar atlân- tico, vindo pela costa meridional ate á foz do Gj:.dia- nj , c ainda p^^netrar nã Andaluzia, nas terras possuidas pelos Mauros, As questões que depois em tempo de el- Rci D. Affonso III. se suscitarão a respeito do Algarve, não são para este lugar; mas tivcrao sem duvida motivo mui diíF.renre do que lhe attribuem , os que suppõem , c di- zem , que aquelle território não pertencia ao que elles chamão conquista de Portugal (30). Tom. Xll. P. 11. E Rcs- (30) Muitos escritorrs tanta Poríuguezcs como Cnstelhanos iisão a cada passo desta expressão conquista de Portus^id , quando dizem que tíies ou taes terras caliião na conquista de Portugal, e que tats outras cai)ião fora delia: como dando a entender, que ao piiucipio se tinliSo fixado e demarcado certos limites, até os quaes pouião os Portuguozes levar as suas conquistas feitas aos Mouros, e .llêin dos quaes lhes não era permittido passar. INós temos esta idèa por qui- uierica, e deslituida de fundamento algum solido : e somos de pare- cer que nas terras, em que confinávamos com os Sarracenos, nenhum limite SC pòz As nossas conquistas, senão que nos era livre guerrear os infiéis até onde nos fosse possível fazelo , respeitando somente as conquistas jA feitas pelos Leonczus , e a linha de demarcação, que ellas liião traçando. Os fundamentos desta nossa opinião consistem 1.° no silencio total e absoluto dos antigos a este respeito : 2.° no fa- cto positivo dos nossos Príncipes. Por quanto, sem falar de elKei D, Aíibnso llenriíiues, que sabemos haver conquistado Seipa p Mow ra , álèm tio Guadiana, e já fi>ra da antiga demarcação da Lusitâ- nia, he constante que elUei U.Sancho I., ainda em vida de seu pai, levou as suas armas até Seoilha , e jiòz cerco a Niehla, e que elKei D. Sancho II. e seu irmão tomar.To AtjamoiUe, Arouche , e Araceiía na Aiidaluna , conquistas, que os fíeonezes e Castelhanos nunca im- pugnarão com o fundamento àc ficarem álèm da nossa dcmarcição , e que depois no Tratado de Alcanizes forão reconhecidas como legi- timas, e valiosas. Badajoz mesmo foi tomada por elKei D. AíTonso Henriques, e a guerra que a este respeito lhe ftz elRei de Leão te- ve dillerentcs e particulares motivos, de que em seu lugar falare- mos. Se os Portuguezes não passarão estes limites, he porque as cir- cunstancias lhes não permittirão adiantar-se mais; e assim mesmo não fizcrão pouco: ao mesmo passo que os Leonezes c Castelhanos, muito mais numerosos, e poderosos, forão pela su.i banda tomando terras , e estabelecendo assim a demarcação da Irouteira que já uos uãu era licito transgredir. 34 Memo?. IAS haAcadémiaReal Rosta-nos finalmente falar da fronteira aquilonnr dos estados Portuguezes naquclles antigos tempos : sobre o que sáo assas escassas as noticias que nos deixarão os pri- meiros chronistas , nem os factos da historia nos pcrmit- tem fazer hum juizo totalmente seguio. Contentão-se os autores da Hisior. Compmtellana ^ e outros contemporâneos com dizer que o rio Minho sepa- rava a terra Portiigalcme da Galliza ; que o Conde D. Henrique dominava des de o Minho ate o Te.}o\ que pas- sado o Minho se entrava em Portugal, etc. Mas o rio Mi- nho, na sua foz, somente demarca huin ponto da fron- teira, c se subirmos por ellc acima até á praça de Mel- gaço , apenas teremos determinada huma linha de mui pequeno comprimento. D'ahi começa o que chamamos raia sécca , porque a direcção ascendente do rio inclina para o norte , e não pode servir de divisão entre os dous reinos. Acresce , que o nome de Minho parece poder-se ap- plicar tanto a este rio que inclina para o norte , e tem o seu nascimento entre Lugo c Moiulonedo y como ao Sil |)í-nJ. 4. e 6. Dissert. Chronol. e Crit. tom. 3, P. 1. pag. 80 , nuui. 238. DAS SciENciAsDE Lisboa. 37 aqiiibnar da província do Minho, c toda a de Tras-")-;- iTiontes Parece natural porem que isto se fizesse logo no próprio tempo da sep.iraç,1o dos reinos , e que se ti- vesse em vista e se desse attençao aos limites que scpa- ravão as dioceses de Orcnse e Astorga do tcrr tDrio da metrópole Bracarense , que então abrangia toda a provín- cia transmontana, e que tainbem se tomassem como li- nha natuial de divisão as serras , que guarnecem pelo norte a raia de Portuiial. ARTIGO VI. Qiiando começou Portugal a chimar-se Reino ? Otiando tomou a senhora D. Tereza o titulo de Rainha , e o senhor D. Af' fonso Henrique! o titulo de Rei de Portugal y ou dos Por- tuguezes ? Os estados , de que até agora temos falado , nao to- marão logo ao principio a denom nação de Reino , n.-m o Conde D. Henrique se chamou Rei em documento al- gum , tinto dos lavrados cm seu nome , como dos de pessoas , ou negócios particulares ; antes constantemente no seu dictado usou do titulo de Conde ^ ainda depois que por morte de seu sogro D. AíFunso VI. começou a go- vernar Portugal com poder soberano e independente, seni sujeição alguma aos Reis de Leão. E post) que algu- mas vezes se lhe deo o titulo de Cônsul, Princeps ., Dux f e até Tmperator , e se lhe applicou nas datas de alguns documentos a palavra imperante , vê-se comtudo pelo uso daquclles tempos , que estes vocábulos se não tomavão sempre na rigorosa significação , que hoje lhes damos ; mas tamsómente exprímíão o mando, governo, e senho- rio de algum considerável território, ou de alguma pro- víncia inteira (34). Du- (34) Em docum. do aa. 1109 se diz de Egas Gozeudis, que era 38 Memorias da Academia Real Durante a vida do Conde D, Henrique , diva-sc a sua mulher a senhora D, Tercza o titulo de lufãtir , ou Jnfantissa , talvez o de Coinifissa , e mais ordinariamente SC nomeava nTarasia^ filia Regis Adefomi a T ar asta filia Aàefonsi Regis Magni , ctc. Logo porém que clle falleceo, começou a senhora D. Tereza a denominar-se Rainha^ titulo, que des de o anno iiis' se acha regular e quasi constantemente em documentos conhecidos e incontestáveis, posto que ainda alguma vezes se lhe dá o de Infanta , e outras vezes se ajunta este com o de Rainha (34). Com effeito a cada passo se lê nos documentos desta época Regina Tarasia »» Ego Regina Tarasia j> Ego Regina Donna Tarasia »> Impe- rante Regina Tarasia , etc. Comtudo não he d'aqul que nós pretendemos tirar argumento para o nosso assumpto; porque esta denomi- nação , que anteposta ao nome próprio parece meramen- te honorifica, também n'aquelles tempos se dava ás filhas dos Reis, posto que solteiras, e talvez no berço, e até aos Intantes, que nao erão successores do Reino, como frequentemente se observa em muitos documentos da- qiiclla idade. Também nos não serviremos de outros documentos, que com serem mais expressos, podem comtudo admittir ainda alguma interpretação, como, por exemplo, os se- guintes : I. Uomhifltnr et Vrinceps da terra de S. Salvador, e de Tcndacs pelo Con- de D. Henrique (Dissert. Chronol. e Crit. tom. 3. P. 1. pag. 03 num. 154). Na Hisior. Compostel. se dá o titulo de Cônsul ao Conde L). Fernando, e a outros senhores particulares. A ehrou. de D. Allbii- so VII. chama Priucipfí a Kernain i^aniies, que governava a Terra de hinin , e outras vezes o denomina Dux Limine. JSa mesma Chronica se chama Rodrigo Gonsalvez Priíurps Toletanorum , etc. ctc. (34) V. Dissert, Chronol, c Crit. toiu.2. pag. 200, e tom. 4. P. 1. pag. 140. 1 DAS SciENCIAS DE LiSBOA. 39 1. An. de iiiy (i Regnante in Portugal Regina Tarasia. y* (Dissert. Chrunol. tom. 3. P. i. pag. 64, num. 189.) 2. An. II 17 " Ego Regina Tarasia de Portugal, ly (ib. pag. 68 , num. 198.) 3. An. 1 1 18 í« Regnatite Príncipe uostra Regina Tarasia Por- tugaleiíse. »> (ib. pag. 70 , num. 205".) 4. An. H22 t( Stih Principe Regina Tarasia imperante Por- tttgale.-»* (ib. pag. 77, num. 227.) y. An. 1124 í( Regnante in Portugal Infante Tarasia. f> (ib, pag. 8 I , num. 239.) 6. An. II 26 " Regnante Rege Domno Adefonso in Toleto y et Legione , in Portugali Regina Domna Tarasia. „ (ib. pag. Sj, num. 25- 1.) Postos porém de pnrte estes documentos , apontare- mos muitos outros , em que a senhora D. Tereza , mui expressa e positivamente se denomina " Rainha de Portu- gal „ Rainha dos Portugtiezes „ Rainha Portugalense , ctc. „ que he titulo, não já meramente honorifico, mas sim de autoridade e poder Real , e que nunca , por semelhantes termos, se dco aos Infantes, ou Infantas, nem a outra alguma pessoa , que não tivesse própria e effectivamente a dignidade Real. 1. A Ilistor. Compostel., escrita por autores contemporâ- neos , e não suspeitos, nos oíferece disto algumas provas. No liv. 2. cap. 40. fallando da entrada que D. Ur- raca fc/, cm Portugal , refere o motivo delia , que era " ad contítndendas sororis suae Reginae Portttgaliae vires, ctc. E no cap. 42. " ob^edenint ipsain Portttgaliae Reginam in castro nomine Lauiosio ,, e ainda outra vez no fim desse cap. " insuper Reginam Portngaliae Tarasiam ,, etc. E mais no cap. 8j diz que D. Affonso VII. " intmensant ctim sua amita Portugalensi Regina discordiam hahuit ,, etc. 2. OS. P. Pascoal II. cm BuUa do an. da Encar- nação de II 16, nomeando as pessoas a quem dirige ag SUJS letras apostólicas, põe entre ellas '■'■Tarasia Regina ,y Disserí. Chronol. tom. 4, P. i, pag. ij/, num. 766.) O 40 Memorias da Academia Real O Cardeal Legado Boson , cm carta dirigida á se- nhora D. Tereza no an. de 1121, começa ^^ Boso Dei gra- tia S. Roín. Eccl. Cardinalis et Lcgattts Tarasie veuerabili Rcgine Portugalensi. (ib. pag. 167, num. 807.) O S. P. Calisto II. em Breve do an, 1122 nomêa a senhora D. Tereza «« Porttigalensis Regina Tarasia „ (Hist. Compostel, L. 2. cap. jS.) 3. Em Carta de couto da villa de Osséloa feita pe- la mesma senhora a Gonçalo Eriz na era de iifj' (an. 1117) SC diz " Hec est Karta benefncti et firmitndinis Catiti que jtusi facere ego Infant Domiia Tarasia Regina de Por- tugal. »» E no fim « Ego Infant Domna Tarasia Regina Por- tíigalie ■>■> e ainda mais na letra do sinal publico ti. Regina D. Tarasia^ Regina, if { Disser t. Chronol, e Crit, tom. i. pag. 343 , documento num. 36.) Em outra carta de doação feita pela mesma senhora á igreja e Bispo de Tuy no an. de ii2j', promette o Bispo, e o Cabido guardar certas condições, e dizem cjue lho promcttem como a senhora e Rainha n vobis egre- gae Regivae Dottmae Taraúae . . . promitto siciit Domittae ac Regiiuie.f» (Espana Sagr. tom. 22. appcnd. y.) A chronica latina de D. Affonso VII. liv. i. §. 2. albcrgueiro o privilegio de não pagar calumnin cm todo o seu Reino <« et non pectet calumpniam in totó tnco regnv. >» A segunda he deduzida de outras semelhantes ex- pressões, comque a mesma senhora, na doação também já citada do an. 11 15:, concede á Santa Igreja de Tuy, c ao seu Bispo e Cabido, que o pão, vinho, animaes^ roupas , e outros objectos que lhe pertencerem possão ser transportados por todo o Reino de Portugal, sem paga- rem portagem « ahqtte pedágio deferantur per totttm Re- giium Portugnliae. » A terceira prova he tirada da Hist. Coinpostel. liv. 3. cap- fi, aonde falando os autores acerca da guerra, que em 1136 havia entre Portugal e Leão, dizem que o In- fante (D. Afibnso Henriquez) não contente com o Reina de Portugal, invadira os estados do Imperador (D. Affun- so VII.) e tomara a cidade de Tuy , c outros castellos «» Regno Portugalensi coiitentttm esse non pertitlit ; sed para- to suo exercitu , ferram Imperatoris intravit , et bellica ma' nu Tudensein civitatem violenter ohtinitit, et quaedam castra. >» Mais difficil poderá acaso parecer a resolução da ou- tra questão , que ainda nos resta para dar fim a este ar- tigo , a saber •« quando começou o senhor D. jiffouso Henri- ques a ser nomeado com o titulo de Rei ? porque a maior parte dos escritores dizem , que só depois da grande e glo- riosa batalha de Ourique he que elle teve este titulo por ac- íhwiaçdo do seu exercito , acrescentando alguns , que pre- cedentemente se chamava Conde , e até que só des de en- tão he que Portugal se denominou Reino. Tudo isto porem he desmentido por documentos de incontestável fé, que hiremos apontando; mas para maior clareza pareceo-nos dividir o assumpto em duas partes : j.' quando começarão os Portuguezes a dar o titulo de Rei ao Senhor D. Ajfonso Henriquez ? 2." quando asstimio elle mes- mo esse titulo nos diplomas lavrados em seu nome ? Em quanto á primeira : lemos como fora de duvi- Tom.XlI. P.ll. F da» 4A Memorias da Academia Real da , que logo depois da batalha de S. Mamede junto a Guiiiiaraes , vencida no an. do iiaS pelo senhor D. Af- fonso Henriques contra o partido de sua mãi , ou quail-i do menos depois da morte da Rainha senhora D. Tcreza ;em II 30, começarão os Portuguezcs a dar o titulo de Rei ao senhor D. AfFonso (que até então se chamavS In- fante y e nunca Conde, nem Duque) e começarão' também a contar os annos do seu reinado em monumentos e do- cumentos públicos , como época , e nota chronologica. Eis-aqui os principaes argumentos, em que nos fundamos. i." A chfonica Latina de D. Affonso VII. , escrita por autor coetâneo , diz mui positiva e expressamente , no jium. 22 , que fallecido o Conde D. Henrique, os Portu- •guezes derão o titulo de Rainha a sua mulher D. Terc- za ; e que fallecendo também ella , denominarão Rei a seu £lho , como depois o foi , para assim honrarem o seu no- me << Mortuo atitem Heiírico Comité , Portugnlenses vocaví- riint eam Regiuam : qua defuncta , filium stiimi Regem , si^ cttt et postea fiiit , ad honorem nominis sui dixerunt. » O próprio autor da chronica , conformando-sc com a deno- minação que os Portuguezes davão ao seu soberano, lhe -dá também constantemente o titulo de i?«, ou fale dé factos anteriores á batalha de Ourique em 11 39, ou de factos posteriores a esse anno. 2.° Na inscripção lapidar, que em caracteres próprios do tempo se esculpio sobre a porta da igreja de Santa -Alaria do castello de Soure, aonde ha annos a vimos e copiamos, se diz restaurada a igreja no an. de 11 38 (era de I 176), reinando ÂJfonso filho do Conde D, Henrique , e correndo então o decimo anno do seu reinado «< Era 1 176 , regnante Comitis Henrici filio Adefonso, decimo anno regni sui. " 3.' O douto Benedictino Yepes , no tom. 7. da Hist. da Ord. de S. Bento, traz huma escriptura de doação (num. 9.) em cuja data se diz ser feita em Samora , aos 4 das nonas de Outubro , no tempo em que o Cardeal da Igreja Romana Guido celebrou concilio cm Vallado- lid,. DAS SciENCiAS DE Lisboa. 4J JU , e foi d'ahi assistir á conferencia , que teve o Rei de Portugal com o Imperador, na era 1175", (an. 1137): « Fãcta Carta donationis Samorae , quarto nonas Octohris , tempore , qiio Guldo Romanae EccJesiae Cardinalis concilium in Valleoleti cekbravit ^ et ad colloquium Regis Portugalliae cum Imperatore venit ^ era vijS' " E aqui vemos que an- tes da batalha de Ourique, e fora de Portugil, no pró- prio Reino de Leão, se dava já ao senhor D. AfFonso o titulo de Rei. 4. A antiga Chron. Lusitana^ que os nossos chamarão chronica dos Godos ^ escrita no scc. 12., e publicada no tom. 14. da Espan. Sagr. , e no 3. da Monarq. Lusitan. y dando ao senhor D. Affonso o titulo de Infante, em di- versos artigos, até a era 1169, an. 1131, d'ah; em dian- te não só lhe dá constantemente a denominação de Rei, mas também, entre as outras notas chronologlcas , conta a cada passo os annos do seu reinado y começando des de 1128. 5". Em huma doação, que se acha entre os pergami- nhos do antigo mosteiro de Pedroso , no cartório da Fa- zenda da Universidade de Coimbra , apontada nas Dissert. Chronol. e (Jrit. tom. 3. P. i. pag. 104, num. 308, cora data do mcz de Julho da era 1169, que lie an. de Chr. iiji, diz Sueiro Tclliz (^ sed si ego in hac via migra-je- rit in qua Dominus meus Rex juhet ire , scilicet ad Campus^ eatis pro me , et sepeliatis corpus metint in monasterio » quer dizer « se eu morrer nesta jornada , a que me manda hir meu senhor elRci , etc. poronde se vê que o senhor D. Aff.mso Henriques , a quem o doador chamava Dominus meut Rex, preparava então alguma expedição militar, e que Sueiro Tclliz receando perder nclla a vida, fazia as suas disposições com respeito a esse possível aconteci- mento. 6. Em outra doação de ij das Kal. de Junho , era 1177, (18 de Maio do an. de 1139), diz o doador n et si obiero in exereitu Regis. « {Dissert. tom. 3. P. i. pag 116, F ii num. 44 Memorias daAca.demíaReal num. 35'4.) Aomle vemos outra vez que o doador, dií* pon«lo-sc para outra expedição militar (provavelmente a própria de Ourique) e receando morrer no exercito de e/Rei j se prevenia para esse caso, étc. . "lí 7. Huma escritura de prazo do mez de Maio da era 1173 (an. ii3f), se diz feita u jn tempore Regi Âlfouso, VI CoHmhria Bemaldo Episcopo.tf {Disseft. ibid. pag. iii, num. 33?. ' , 8. Brandaoy na P. 3. da Monarq. Lusit. liv. 9. cap. 17.' diz que antes da batalha de Ourique se vê o senhor D. Affonso nomeado algumas vezes Rei: e no 1. 10. cap. 10. • torna a affirmar , que eIRei D. AíFonso antes da batalha de Ourique se nomeava jd Rei , postoque raramente , e que depois delia se intitula Rei em todas as escrituras. Estes argumentos nos parecem bastantes pcra mos- trar , que muito antes da batalha de Ourique já os Por- tuouczes da vão ao senhor D. Affonso o titulo de Rei. tanto em documentos , como cm monumentos públicos. Pcloque não teve o douto Fr. Henrique Florez sufficien- te razão e fundamento para dr/er (na Espana Sagr. tom. 2.1, tratando do Bispo do Porto D. Pedro Rabaldiz) quí pelos annos de 1141 ti andava jd D, Jffonso lisongeado com o titulo de Rei , que os capitães mais engenhosos e politicar do exercito inventarão para animar a tropa na hatalhd de Ou- rique y^ porquanto, se este titulo era capaz de lisongtar a nobre c grande alma d'aquelle invicto Príncipe , já mui- to antes de 1141 gozava elle essa satisfjção , semque fosse necessário que a politica , e o engenho dos capitães do seu exercito se empenhassem na invenção. Vindo em fim á segunda e ultima parte da questão que propusemos, e eximinando a época, em que u senhor D. Affonso Henriques assumia o titulo de Rei nos documentos lavrados em seu nome? diremos brevemente o nosso pare- cer , guiando-nos pelo sábio autor das Dissertações Chro- nol. e Crit.y que tantas vezes temos citado, porque nada mais, nem melhor podemos acrescentar ou dizer. Diz DAsSciENciAS DE Lisboa. 4? Diz este douto e juJicinso Académico que o scnhcr D. Affjnso Henriques tomou o titulo de Infante até at> m^'Z de Novembro do aii. 1136 (era 1174): o de Prín- cipe até o an. 1140 (era 1178): e o de Rei d'ahi em diante, isto hc , des de a batalhi de Ourique (3Ó). l-il acha ta.) constantes estes dictados em documentos de dif- fercntcs arquivos , n.is épocas respectivas , que chega a duvidar da exactidão das datas de alguns , em que se vc alterada aquclla ordem (37). Nós nao seriamos tao severos a respeito desses pou* cos documentos, porque nos parece que os dictados dos Reis nao tinhão naquelles tempos hum firmulario de tal modo fixo e invariável , que não íosse algumas vezes al- terado ou pelo arbítrio, ou pcii impcricu dos notários. Seja porém o que fôr a este respeito , hc certo que os litulos de Infante^ Príncipe e Rei são os que prcv.iiecem jios documentos nas épocas, ou períodos respectivamente assignalados. O de Infante era o que competia ao senhor D. Af- fonso , como filho da senhora D. Tereza , Raiuba de Por- tugal ^ c seu successor no throno : e he de presumir que elle ou por modéstia, ou por politica o não quiz logo deixar, ou alterar. O de Príncipe .^ tomado no an, 11 36 pode ter algu- ma relação com a guerra que então havi.i com Leão , e acaso com o titulo de Imperador ^ que elRei D, Affon- so VII. tomara no anno antecedente de 113J. Finalmente o de Rei foi adoptado decisivamente apôs a grande baralha c gloriosa victoria de Ourique, defe- rindo o senhor D. AfF^nso (como hc verosímil) ás instan- cias , que então lhe fariâo os capitães do seu exercito , e condescendendo aos desejos dos Portugue/es, que já des d e (36) Dissert. C/iionol. e Crit- tom. 2. pag. 206. {■i7) Ibid. tom. 1. pag. (Jí , not. 3. e toin.3. P. 1. pag. Oí, not. S. 46 MtMORiAs DA. Academia Real de muitos annos o denomiiiaviío Rei .^ como temos pro- vado. Des de a época daquclla batalha , e ainda mais determinadamente des de o an. 1141 be tão comtaute o titulo de Rex , e são tão repetidos os diplomas indisputareis de diversos cartórios^ em que clle se encontra , que até julgo desnecessário especificalos , diz o autor referido, no tom. 1. pag. 65. D'aqui SC collige i." que nem no an. de 1142, nem no de 1144 podia o senhor D. AíFonso pedir á Sé Apos- tólica , nem aguardar que ella lhe concedesse o titulo de Rei, que os seus vassallos já des de muito tempo lhe davao, e que elle mesmo já tinha tomado antes dos di- tos annos. Collige-se 2." que as palavras do Papa Innocencio III. quando disse «< que o senhor D. Jffonso era chamado Du.v até o tempo de Alexandre III. , e que então merecera o ti- tulo de Rex >) se devem entender com respeito á pratica da chancellaria Romana , que por muito tempo insistio naquelle primeiro titulo ambiguo de Dux ^ e só em 1179 (tempo de Alex. III.) reconheceo no senhor D. AíFonso o titulo de Rei, e lho começou a dar. Em outro qual- quer sentido seriao falsas as palavras de Innoc. III. por ser certo, como temos mostrado, que cousa de 50 an- nos antes de i 179 era o senhor D. AíFonsc denominado Rei pelos Portuguczes : 40 annos antes já elle mesmo to- mava esse titulo: e pelo menos 23 annos antes lho dava o próprio Rei de Leão (38). Col- (.38) No .inno de 1156 (era II9-4) confirmando cIRei de Leão a divisão que o Bispo e Cabido de Tny tinlião feito entre si dos bens, e rend.is daqiiell.i igrej.i, diz que o faz u ex coisrimt Domiii Aldc- fonsi liegis Poriu^alline 7) com consentimento de D. Aífonso Rei de Fortugal . consentimento que era necessário, por ter a igreja de Tiiy bens, rendas, c direitos no território de Portngal. (Espan, Sngr. lotn. 22. append. 13. pag. 273j. Alias a inteiligencla que damos ás j)alavras do S. P. Innocencio III. restringindo-as ao mo dn clwvcella- ria Romana, pode confirmar-se rellectindo , que em neulium doeu- DASSCIENCIAS DeLiSBOA. 47 Collige-se finalmente 3. que conceito se deva fazer òo que diz Faria e Sousa « que como o titulo de Rei havia sido dado por Deos ao senhor D. Âffonso Henriques , justa- mente fora depois confirmado pelo seu Vigário Alexandre III. » Por quanto , sem entrarmos na questão , se Jesu- Christo , na appariçao do Campo de Ourique mandou ao Senhor D. Affonso que aceitasse o titulo de Rei (cir- cunstancia que s6 consta da escriptura apócrifa do Jura- mento); parece cousa indigna dizer-se , (\\ic Deos déo hum titulo cm II 39, e que o seu Vigário somente o quiz confirmar d'ahi a quarenta annos em 11 79. mento dos nossos cartórios se acha dado a elRei D. Affonso Henri- ques, vez alguma, o titulo de Dur , excepto era hum único docu- mento, cuja authenticidade não he averiguada (Dissert. ChroHol, tou. 1. pag. 64, not. 1.^. DAS SciENCIAS OE LiSBOA. 49 MEMORIAS HISTÓRICAS, E CHROINOLOGICAS DO CONDE D. HENRIQUE. FOR D. Francisco de S. Luiz. O Conde D, Henrique he o tronco da Familia Real de Portugal, e o primeiro fundamento desta monarquia, que em seu tempo, e pelo seu cazamento com a Rainha D. Thereza ficou definitivamente separado dosoutros Rei- nos de Hespanha. Nascco este illustre Prirtcipe, segundo a opinião re- cebida , no anuo de 103? ( i ), na cidade de Dijon, corte do Ducado de Borgonha ( i ) : e posto que por Tom. XII. P. 11. G ai- (1) Os escriptores Portuguezes são concordes em dizer, que o Conde fallecera aos 77 annos de sua idade no de 1112. Veja-se com- tudo o Exame Coinparatioo do Snr. Antod. de Almeida , nas Memor. «la Acad. lo/u. XI. part. 2. |)ag. 33. e a Ait de verifier ks Dates nos lugares respectivos aos Reis de França, e aos Duijues de Borgonlia. (2) Isto quiz dizer o Arcebispo (íe Toledo D. Rodrigo Xiinenes, quando escreveo, que o Conde D. Henrique era ex partibiis Buonti' his , das partes de BL'zaaçon. Bezauçon era cabeça e corte do Condado á Hcspanha. Era frequente n'aquellcs icnipqs,. que. a pjo- dade dos Príncipes se honrasse de acudjr ás guerras de Hcspanha coritra os Mahumetaaos. , maioritxinte quando nos próprios estados rtao tinhão occasiao de. exercitar o seu valor, e de ganhar gloria pelas arma^i Os Princi-pes Francezes dcrão algumas vezes auxilio ási armas Hcspa>- nholas contra os infigis. Por outra parte sabemos que no anno de 1080 veio D. Constança,, fi'ha: dç Kobcfto L do nome , Duque de Borgonha , e Tia do nosso Henri- que, cazar' coiii D. AfFonso VI. Rei de Leão, Castella c Galliza ; e parece verosimil que o Duqucy f^ai de Cons»- tança , e avô de Henrique , o mandasse acompanhar a dita sua Tia, quando elle não estivesse jáí na-Hespanha por algum dos outros motivos. "•-' y<.L'.:z'j trln:; Como quer que fosse , Henrique arídou por vários annos , e pelo menos desde o de 1080 (4), -no sei-viço , f.T-fnf ••■•loíi •;;, . -.. fi , :,-.. ■:[) i.A--. Aè primeira RaymunJo deo sua filha D. Urraca, -hariíia ba:rRainha D. Constança, e em dote os estados da Gjliza*. Ao segundo Raymundo , Conde de Tolosâ e S. Gil,.. deo D. Elvira, e em lugar de dote ( porque o Conde tinha estados seus próprios fora' de Hespanha ) lhe deo (.diaera os escriptores) grande somma de díphci- io e, jóias, , com que o Conde se rccolheo a suas terras > e depois passou com; sua mulher á Terra«sancta. Ao nos- so Conde D. .Henrique, deo sua filha D. Thereza, doan- ^o-lhs, jurcK hereditário , como se explica a Chronica dç D. AiFuaso VII. , os estados de Portugal (7). Estas duas ultimas scnI\oras D. Elvira e D. Thereza forao havidas €m D. Ximen.i Nuncz de Guzmão ( bisneta de D. Ber- piud® II., Rei de Ljao) cujo cazamerato com D. AíFon- 60 VI. foi dissolvido por autoridade do Papa, como Jogo diremos. Tros pontos SC costumão controverter neste lugar , os quies tocaremos summariamcnte por serem importan- tes á Historia : •'*''' t.° Se D. Tliereza e sua irmãa D, Elvira forao fi- lhas legitimas, ou illegitimas de D, AlFonso VI., isto hc. p) Dotairit ratn maí^íiificr, daiis Portugalensem terram jwé hereditá- rio , diz M Chiou, de Aj}. K//., ua Esiian. Sagr. toui. XKl. §. 29. l>ag. a-18. -DAsSciENciAs OELisno*."" 5'f;' he, SC çUe foi, ou não cazadocom l). Ximenp rníí de arabaSb oaioa otiverl »z (^[oá nbníc a) aoqrnsj ?.Ahvpb'ii 2." Se o estado de Portugal foi dado ao Conde D*: Henrique com s.ijciçao feudal aos Reis da Leão. •r,.T 3.° EiTi que aono foi o ca7jmt'nto do Conde, e quando coijieçoU clle a governar os seus estados. Sol/re a ieghimidadâ , oU illegitimidade da Rait:ha o ^z?xA t^ ,13. Tbereza, \y^ ) '^ ^'íi-' Em qiiantd «1 este primeiro pntitò i he certo que a opinião da illcgitimidad»; -fcm muitos e graves testemu- nhos antigos a seu favor, posto que a contraria tamhem tem alguns : e 3rt\bas tem sido seguidas por escriptnrcs modernos de muito nome , de huma e outra nação Cas^ telhana e Portuguesa. , . A nós fazem -riQ3 gratíSe' for^a por parte da legitimi- dade ( no sentido que logo se hírá vendo ) dous princi- pães fundamentos. Hum dellts He que D. Affonso Vli ioi obrigado a scparar-se de D; Ximena , ipai de D. El- vira Ç Ó. Thereza por huma Bulia do Papa S. Gregó- rio VII., que ycm nos Annaes de Baronia a p anno 1080, e cm Sandoval c Aguirre. E diz o S. Padre que o tnã' (rimottio era nullo por se haver contrahido sem dispensa- ç|o do parentesco que havia entre a actual, e outra pre- cedente mulher de H. Affonso: illicitum covniibiiim ^ quod cttm uxoris tuae comanguinea inisti , penitus resptie. »» Estas palavras da Bulia mostrao' que houvera, e existia cazainento , e ao mesmo tempo cxplicão os teste- munhos antigos que dão a D. Ximena o nome de ccncu- hiuii de elRei , e a suas filhas a qualidade de Ulcgitimaí. Ambas as cousas se podiao em certo modo dizer com verdade , visto que o matrimonio foi annullado e dissol- vido: mas não se pode dizer, nem defender com justi- ça que a mãi fosse concubina, e muito menos manceba j nem' as filhas bastardas no sentido rigoroso, e indecoro- so, ^4 Memorias DA Academia Real so , em que se costumao tomar estes vocábulos ; porqud n'aquellcs tempos (e ainda hoje) se havião como legíti- mos por direito, e até erão successores de seus pais, os filhos de matrimónios, que se dissolviâo por falta áé dispensação do impedimento de parentesco (8). F. por certo que ninguém ousará dizer que D. Urraca filha det D. AfFonso Hcnriquez fosse concubina de D. Fernando II. Rei de Leão ; nem que D. Terèza filha de D. San- cho I. ( hoje canonizada por Santa ) fosse concubina de D. Affonso IX. também de Leão ; nem que D. Mafalda outra filha de D. Sancho I. ( hoje também beatificada) fosse concubina de D. Henrique L Rei de Castelia, &c. , e comtudo todos estes cazamentos forão dissolvidos , e o filho primogénito, que nasceo do primeiro, foi Rei sem contradicção. O ciar. autor da Hesp. Sagr., que parece fugir de chamar casamento ao de D. Ximena, e lhe dá ás vezes o nome de iilicitos amores ; comtudo , quando fala do da Rainha de Portugal D. Tereza com o Conde Fcmam Perez diz , que não deve obstar o licito ou illicito para o facto de se lhe ter dado o nome de casamento j coma convence (diz) o de D. Urraca com elRei de Aragão^ que se effeitíiou , e era adulterino pelo parentesco. E como o douto escriptor vio que se lhe podia notar huma espécie de (8) João Pint. Ribeir. , Injustas Successões 8lc. §. 5. n nascer aquel- la Viinceza ( fala da Senhora D. Tereza) de matrimonio, qile se se- parou, não cansava irtrpediniento a sUns filhas pafa llies pertencer a herança , e succcssão de leu pai. Todo o Direito Canónico e Civil ensina, que os filhos nascidos de aiatrinionio putativo, declarado de- pois por invalido, são havidos por legilimos , e que succedem a seus pais em todos os seUs bens, lionras, e dignidades, sem difierenç-a al- guma dos que são nascidos de matrimonio valido. i) Kybel , Jus EC' cies. De Stat, conjug. §. 3C7. Effectus viatrimnnii noscilur is esse prae- cipuus , itl ilide nati legUimi sint , et$i matrimomum esset putativum ; et tiali quoque ex parentibus , quorum matrimoiiium sul/sequebatwr , legiíimi habeantur. DAS S C I E N C I A S DE 1. 1 S B O A. ^^ l:£ , è ovo delia dos figas , la iiifaut dona Elvira , è la iiifant dona Tcreza ti A Cliron. de D. AlFonso VII. ij Adcfonsiis Fortugaliae Rex , fdius Comilis Heiírici , et Tarasiae Reginae i) &c. Dos documentos de Portugal parece escusado citar algum , porque em muitos se achão as mesmas denominações : mas não deixareiaus de notar ( porque lie digno de reflexão ) que o próprio Papa Calixto II. no an. de 1)22, denominava a Senhora D. Tereza « Fortugalensis Regina » , como se vê das Letras apostólicas, copiadas na Compos- teliaua Liv. 2. cap. 58. O douto Klorez também aqui nos salie ao encontro, e diz que nem sempre se dava á Senhora D. IVrcza a deno- minação de Rainha. Nós concedemos a restricção , e havemos por bastante que se lhe desse aquelle nome muitas uczes , o que Floitz não ue"a, nem pode negar. Diz também que ás vezes nem o prono- me de Doita se lhe dava: mas esta reflexão, aliás verdadeira, nada faz ])ara o nosso assumpto: parque se a falta do Dom influísse na nobreza, ou legitimidade das Rainhas, nenhuma se poderia dizer no- bre ou legitima; [jois lemos a cada passo, e pode dizer-se que as niai;; das vezes >; Regina Urraca » Regina Tarasia ii Regina Sanccia k &c.; e isto tanto nos documentos, que crão lavrados em nome des- tas Senlioras, como nos particulares, nas suas próprias asifiguatur.is , «a menção que delias fazião os Reis seus maridos, ou seus íillios , c até nos escriptores das Chronicas &c. (JO) Poderá acaso fazer alguma estranheza, queconfessando nós que o cazamento de D. Ximena com D. AlTbnso VI. foi dissolvido pelo Papa, sustentemos cointudo a legitimidade d.Ts íilha.aixadorcs a Roma com a esmola de dez mil marcos de prata. O S. P. UoniFacio VIII. revalidou o matrimonio por snas Le- iras apostólicas de 13 de Setembro de 1301 , seis annos depois da jnorte de hum dos cônjuges, e diz o douto Florez, que com isto Ji- cdrão todos os li //ws sem nota alguma. Façamos agora a comparação. D. Ximena chama-se concubina de D. Aílonso VI., porque este Prín- cipe se ajuntou com cila cui má fé, sendo admoestado do illicito pe- lo parentesco. — D. iMaria não foi concubina, sem embargo de co- nhecer o illicito pelo parentesco, porque esperava obter a dispensa. D. Xiiucna obedecco ao Papa, e nenhuma das filhas foi havida de- jjoi.s que o S. P. dissolveo o matrimonio. — D. Maria não obedeceo, contiuuuiL a viver n.i desobediência e contumácia por doze annos, e «;nlão. teve íiUios e filhas. iSJão obstante tudo isto, as fillias da pri- )neira são ilk-gitimasi, e os íillios da segunda .^camo sem nota por virUíde de huir.a dispensa intempestiva. — Tal lie a ditlereuça que ha eutre huma Ilainhu de Castelia, e outrit de Portugal 1 &c. 6o Memoria s~d a Academia Real d*aquclla idade parece cm certo modo favorável ás preteri- ções , que os Lconezes c Castelhanos tivcrao a este res- peito. Os muitos e grandes senhores , que então havia cm Leão, Castella, e Galiza, e governavão algum grande território com o titulo de Coudesy cráo sujeitos como fcu- datarios aos Reis, e lhes rendiao vassnllagem. O Conde D. Henrique, ainda depois de ser senhor de Portugal, con- tinuou a servir a D. AiFonso VI, , em quanto este Prin- cjpe foi vivo. Algumas doações, que clle fez cm Portu- gal , trazem clausulas que mostrão alguma dependência do mesmo Soberano seu sogro, e parece supporem a nc- ce!^sidade da sua approvação, e confirmação. Os próprios Portuguezes lhe davão algumas vezes nos seus documen- tos o titulo de Rex twster^ e diziao que o Conde gover- nava debaixo da sua autoridade, sub eo (12). Finalmente a Rainha D. Urraca , depois que elle falleceo , intitula- va-sc muitas vezes Rainha àe toda a Hespauha (totius HiS" faniae Regina)^ como quem.se reputava ter succedido cm todos os direitos da soberariia de seu pai. Os autores da Hist, Compostellana falando da guer- ra , que elRei D. Affonso VIL teve com seu primo o senhor D. AíFonso Henriquez, notão que o Portuguez iuío qttiz sujeitar-se d dominação de Aff'onso (Reg/s domina - tioni sitbjici nohtit) , antes se levantou arrogantemente contra elle y érc.: e já tinhão usado de similhante linguagem a respeito da Rainha D. Tereza , tratando da outra guer- ra, que ella tivera com sua irmaa D. Urraca : u milhim (di- zem (12) Ein doação de Soeiro Mendes de X. das C.ilend. de Abril .da era ll3tí (23 de ÍNlarço de 1098) se diz w cantuin quod niilii í'e- cit doiniiius uieus llenririis Couies cuin cônjuge sua. . .. et coiiíiiuia- vit , roboravilque iliuni niiclii ipsc don)iniis gloiiosns R^x uwstf.r Adefonsiis Catliolicus . . . . et gener eJQs Comes doiniiius ilcnricus , totiii!) provinciae l'ortiigaiensis doniinns. » Km outro documento da era I H-") (an. 1 107) se lô « Regnante Kex Adetonsus, et sub eo Prín- cipe uoslro Loinitc Uuojnus Anriciis » &c. DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 6l %em os escriptorcs) Regi servititim de regiio , qnod ah tilo tenere debebat , exhibere dignabatur. »» Hist. Compostel. 1. 2. cap. 8j. e 1. 3. cap. 24. Donde parece coiicluir-se que havia da parte dos Leonezes a prercnçao da vassjl- lagcm, posto que positivamente negada e recusada pelos Fortuguezes. Algumas discórdias , que houve naquelles tempos entre os dous estados , e cujos motivos não constão da Historia com assas de clareza e individuação , forao at- rribuidas á mesma origem pelo commum dos escriptores. E sabido he que alguns antigos suppozerão a condição da vassallagcm renovada entre elRci D. Affonso Hcnri- qucz, e os Leonezes, quando elRci D. AfFonso foi apri- sionado em Badajoz no anno de 11 69, A qual circunstan- cia , posto que falsa , e até inverosimil (como cm seu lugar mostraremos) indica qual era a persuasão dos chro- nistas , que a mencionarão, e que ainda, depois reprodu- zirão o mesmo pensamento a respeito do Algarve. Sem embargo de tudo isto, deve por certo parecer notável , em favor da opinião contraria , que se não te- nha achado até o presente, nem allegado hum só titulo, ou documento extrahido de algum dos arquivos de Leão, Cjstella , ou Galiza, pelo qual conste a pretendida de- pendência c sujeição , e que delia não hajão feito men- ção as numerosas chronicas d'aquelles tempos , á exce- pção tão somente das palavras, que já notamos, da His- toria Compostellana , na qual, além de singular, se ob- serva hum estilo , e modo de historiar , tão exagerado a outros respeitos, e ás vezes tão manifestamente apaixo- nado , que nem sempre grangêa o inteiro assenso do leitor- Por outra parte os Príncipes Portuguezes , depois do fallecimento de elRci D. AfFonso VI, em 1109, nunca jamais dcrão mostra, ou indicio algum de sujeição aos successores d'aquellc Monarcha , antes se houveiâo sempre como soberanos independentes em seus estados. Nun- 6l' MemoriasdaAcademiaRea.l Nunca forão ás Cortes de Leão : fazião doações , davão Foraes ás terras, ordcnaviío regulamentos de governo, punhão governadores nas cidades c comarcas, &c. , sem i]ue nos títulos ou escripturas se indicasse , ainda leve- mente , a necessidade de consenso, approvação, ou con- firmação dos Reis de Leão ; nem se notassem os annos dos seus reinados ; nem finalmente se desse hum único signal de dependência, ou de subordinação. Da mesma sorte ajustavão allianças com os Reis de Aragão e Na- varra : fazião a guerra aos próprios Reis de Leão , e ajustavão com elles a paz , quando lhes convinha , serri que nos conste, que os Lconezes os accusassem jamais de rebeldes em documento algum público , nem que nos ajustes de paz se tratasse da supposta sujeição , ou vas- salUif^em. Finalmente depois do an. ii^Si em que D. AíFonso VIL tomou o titulo de Imperador , costumando nomear em alguns documentos públicos os Principes que lhe rendiâo vassallagem , como erão o Conde de Barce- lona , o Rei de Navarra , o Rei de Murcia , &c, , nun- ca metreo neste numero o Rei de Portugal ; antes em hum documento da era 1194, anno iij6, confirmando a divisão , que o Bispo e Cabido de Tuy tinhão feito entre si dos bens e rendas d'aquella Igreja , diz que o faz ex consensu Diii Aldefonsi Regis Portugalliac , porque a Igreja de Tuy também possuia bens e direitos em Por- tugal. (13) •; Também não parecera inútil para intelligencia ,.(6 resolução desta controvérsia , nem certamente he alheio do assumpto , trazer aqui á lembrança algumas noticias mais antigas. E primeiramente : he bem sabiiio, que os Suevos go- vernará > a Galiza e parte da Lusitânia, qiiasi .ité o Tejo, ■com poder\soháano e independente ^ até que -o. Rei Godo : jÍj rn.;; '. . . Lui 10 ,GiJ^,orfr rti-JÍ.' úr.n-, LeO- <. w ' :'? cj7.it; . i:i'-.;l:.. . . •' (13)' P.lraú. ^agr'. toro. 2l , Jippcnd. XIIÍ. pag. 37;f. j-; ;■- ir DAS SCIENCIAS DE LlSBOA.-'^ éj Leovigildo, no an. de fSy , usurpou estes estados, e os unio á Monarquia Goda. Em tempo d'clRei Egica tornou, cm certo modo, a scpararse , ou a instaurar-se o reino dos Suevos , que Egica deo a seu filho Witiza, como se lê na chronica de Sebastião n filium stiiim Witizanem in regno siht sociutn fe- Cít , eumque in civitate Tudensi , provinda Galleciae , habi- tare praecepit , ut pater teneret regttum Gothornm , et filius Suevorum, " O mesmo Witiza , por morte de seu pai , passou a Toledo , e regeo ambos os reinos novamente reunidos. A invasão dos Árabes, nos principios do sec. VIII. veio pôr tudo em confusão : mas em 909, ou 910, sendo já D. AfFonso Magno senhor dos reinos de Oviedo, Leão, c Galiza , fez dclles divisão , repartindo-os entre os três filhos que tinha, e ficando a Galiza, que então se exten- dia até o Douro, a D. Ordonho , que delia foi e se cha- mou Rei , até que em D. Fruela , seu irrhâo , se torna- rão â unir os mesmos reinos. •'• -^ ' No século segumte, anno aé 1037, accresceo a ei- les o reino de Castella, reinando em todos D. Fernando I. (chamado também D. Fernando Magno) por si , e por cabeça de sua mulher a Rainha D. Sancha. Mas este Principe tendo entrado pela Lusitânia, e conquistado aos Mouros, Lamego, Viseo, Coimbra, e outros muitos luga- res e Castcllos, julgou conveniente fazer outra vez divi- são dos seus nimiamente extensos estados , entre os seus três filhos D. Sancho , D. AfFonso , e D. Garcia , e deo a este ultimo o reino de Galiza com as terras que havia conquistado em Portugal (14), das quaes foi senhor sobera' no , (H) Chron. de D. Pelayo « Dedit domino Ganeaiio totam Gallae- ciam , una ciim ioto Portugnle. 11 Chron. Compo<:*eAlana , no tom. 23 da Espaii. Sn^, 11 Garseae autem natu miiiori Griiteci/tm curn Portuga- li, et Hispaíeusem Regionein cum ciuilate Badaiiotii in profrtain hercdi- ^ Me MO Kl AS DA Academia Re AL «o, e iiidepeudentef e se chamou Rei, aiiula que por -po\i-" co tempo, porque seusirmnos llias usurparão (r5)'. i '■ g , Pe|os atjnos 109a a 1095: , nSo obstante tiírfclRci D. Affonso VI. cazado successivamente com qiiatro,.. ou cinco mulheres, estava comtudo sem filho algum varão , que lhe succedessc , e já adiantado em annos :. pelo que desejando, ao que parece, prover á conservação de seus vastos domínios na sua caza, c em pessoas da sua famí- lia , e evitar as perturbações , que naturalmente haveria por sua morte, no casp x^ue suas filhas ficassem solteiras, c em pequena idade ; resolveo renovar o projecto , já outras vezes executado , da divisão dos mesmos domí- nios : c cazando as duas filhas D, Urraca e D. Tere/a com os senhores que dissemos, dotou a huma os estadas c reino da Galiza , e a outra os de Portugal. Reflectindo-se agora , á vista de todas estas noti- cias, que a Galiza antiga, e parte da Lusitânia tinhão formado, por vezes, reino independente e soberano: que elRei D. AíFonso VI. não poderia deixar de ter reconhe- cido a difficuldade de bem reger, e muito mais de bem defender estados tão extensos, e cercados de inimigos: que os Príncipes, com quem tinha cazado suas filhas, erão senhores de alta esfera, ;alIiados por parentesco com ellc mesmo , e que tão leal e gentilmente o tinhão ser- vido por muitos annos: Reflectindo-se, digo, em tudo isto, e ainda mais no especial amor, que elRei, segun- do relação dos contemporâneos, tinha a sua filha D. Te- reza ; não parecerá estranho, antes natural, que dando- Ihe tatem concessit , licet tum temporis a Samcenis poteutative teiifrenttir , qui siiprarlicto Regi , scilicel Ferdinnndo , sicut Cesaraugmtani , el To- iettvii , tributum awmnlim persoluòant, 11 (15) O titulo de Rei he dado a cada passo a D. Garcia nos mo- numentos históricos contcn)poraneos. Vcjão-se no tom. 23 da Espníi. Sagr. os Aiuiaes Compo\teUanos , /i era 1129, a Chiou, de Cardena^ n. II; e outros que parece superlluo apontar. J) A S SciEN C I A S OE L ISBOA. 6^ lhe os estados de Portugal , lhos quizcssc dar com a in- dependência e soberania , que já cm outros tempos ti- nhão gozado. (i6) Nem isto era alheio da prática d'aquel!cs tempos ; porque álcm dos exemplos que temos apontado , consta pela Historia, que D. Sancho, o maior, de Navarra, que falleceo em 1053' , também dividio o seu reino entre os Infantes seus filhos D. Garcia, D. Fernando, e D. Ramiro: Que o próprio D. AíFonso VII., dito Im- perador , também repartio os seus estados entre os dous filhos D. Sancho e D. Fernando , dando ao primeiro o reino de Castella , e ao segundo o de Leão e Galiza , que possuirão com soberania independente, elles e seus successores , desde 1157, em que seu pai falleceo , até 1230, em que tornarão a unir-se em elRei S. Fernando: E finalmente que ainda no sec. XIII. D, Jaymc I. , Rei de Aragão , dividio os seus estados , dando ao primeiro filho o principal da Coroa de Aragão , e ao segundo Máyorca , e o estado de Rossclhon. Suppostas todas estas noções, faça o judicioso leitor o conceito que mais acertado lhe parecer. Nós não jul- gamos que deva ser objecto de pundonor nacional sus- tentar tenazmente hum ou outro partido , desprezando razões c/aras (se apparecerem) em contrario, e muito me- nos inventando, ou esforçando razões falsas, como mui- tas vezes se tem feito. Havendo-se comtudo por certo e indubitável , que os Príncipes Portuguezes, desde a Tom. XII. P.II. I mor- (Ití) Pode notar-se aqui, que depois da morte do Coude D. Kay- mundo, marido de D. Urraca, seu sogro D. Affbnso VI. deo ao ne- to pupilio D. Affonso toda a Galiza para o caso que sua mãi passas- se a segundas núpcias: e declara, que dclle não exigia sujeição al- guma (nec ah eo , etiam mihi ipsi , ulla nUcriíis obsequia deposco) , to- iiiindo aos Grandes, que estavão presentes, juramento de defenderem o K. Pupiilo. até contra elle próprio Rei doa do Coim- bra , e produzido na Bleuioria do Senhor Francisco Kibeiro Dosgui- niarães beneuierito ÍSocio da Academia no tom. 4. d.-is Mcmoi: da mesma Acad. part. 2. pag. 147. He liuina sentença dada a lavor do mosteiro de Lorvão, sobre o castello de Santa Comba , aonde se Jéeni estas clausulas 11 pei iienimus discordantes coríim coiisulU-us terrae Swirio Meiíeridiz , atque ii.rore Cotmlis Hcuricii Tltnraãa , i>tclis Adc- fonsi Imperalons .... hnluhsct mquu iid veiiitum Cotntln dn Jenunlim 'ub> erat.. . &c. ;; Uado em Maio da era JNl , (au. 1103). (Di.ixíTt. Cliroiiol. c Cnl. tom. 4. p. I. pag. 1.54. , num. /(iíi). Hilm dos prili- cipaes fniulamcnlos , com que alguns impugnarão esta jornada, era que no estado, em que se achava a llt-spanha, iiTio parecia verosimil, que o Conde fleixasse os seus senhorios expostos ás iiivíisões dos bár- baros, físta raz.io svria certaiiicnte boa, se o facto não fosse provado por hum documento tão autheniico. Mas álôni disso cumpro rtílc- clir , que uaquelle tempo se aposfou não so dos grainles ociíhores, luas tiiinbem dos cav.MIeiros, e até da gente popular, lium enthusi- asino tão geral , quc todos querião como á poríia , ir visitar aquel- Its lufares sagrados, e talvez exercitar ntUes o seu valor contra nAsSciENciAS DE Lisboa. <>9 Anno de r 107. Alguns escriptores Portuguezes, acaso por não acha- rem basunres! memorias das acções gloriosas do Conde D. Henrique , parece que lhe quizerão actribuir algumas sem o apoio dos antigos monumentos, que sao os únicos que nos podem guiar seguramente na historia de tempos tão remoros. Assim, por exemplo, Faria e Sousa diz, que cUe resisíio ao trabalho de incessantes baterias ^ em dotis prolixos cercos , que os Mouros pozerão a Coimbra , dos quacs alias nao temos noticia alguma. Outros contentá- rão-sc com só hum cerco, c o atrribuirão ao an. 1107 (19), Mas as chronicas contemporâneas somente fazem menção do cerco de Coimbra do an. 11 17, quando já o Conde era fallecido, como diremos nas Memorias do Go- verno da Rainha D. Tereza , ao dito anno. Nós , deixadas as noticias , de que não achamos testemunho nos antigos , faremos aqui mençar» de hum facto mui notável da historia do Conde D. Henrique , omittido commummente pelos nossos escriptores , e comtudo digno de memoria. Queremos falar do Pacto de Fa- os iiifi<'is, tendo isto como acção religiosa, c de grande merecimento. K.i l]rs|)niiha chegou a tanto este movimento geral dos espíritos, que o Pap.i i'ascoal 11. mais de liiima vex vedou aos cavalleiros Ilespa- nhoes atjuella viagem , recomineiidando-lhes que exírcitassem a sua devoção, pelejando contra os Mouros, que tyrannizaveio o seu j).iiz ; fazendo até voltar alguns , que .já estavão em camiaho; e or- denando (o que he notável ) fyue H//!?//em ousasse, infamar , ou cnlum- )ú'tr Cites que assim voltarão. Vej. a iíwí, Co-nfiostellan. 1. 1. cap. 39. (19) Admira que o douto e judicioso Ur.indão , no tom. 3. da Motarq, 1. 8.'- cap. 24. , fizesse também menção deste cerco ao an. 1107 , fundando-se na i^hroincd dns Godos, que segundo a copia que clle mesmo delia nos dá no Appendicc d'aquelle tomo , põe o cerco na era 1I5.> que he anno 1117, e não na era 1145 anno de 1107. Nós mostr«reiuos cm seu lygar , que o cerco loi rcalmcute eiu 1117. 70 MemouiasdaAcademiaReal Familia mccessorio , ajustado entre elle de huma parte , e bCLi primo , e concunhado D. Raymiindo da outra. Neste Pacto i.* Jurarão os dous Condes reciproca e perpetua amizade , c defeza dos corpos e das vidas. 1° Pronietteo e jurou o Conde D. Henrique , que depois da morte de elRei D. Affonso VI. defenderia pa- ra o Conde D. Raymundo , c o ajudaria a adquirir, contra quem quer que a isso se oppozesse , os estados do mesmo Príncipe seu sogro. E que se chegasse a apos- sar-se , primeiro que seu primo , do thcsouro de Tole- do , lhe daria duas partes detle , e reservaria para si huma. 3." Jurou e prometteo o Conde D. Rnymundo, que depois da morte de D. AíFonso VI. cederia ao Conde D. Henrique a cidade de Toledo com todas as terras , que lhe pertencessem, com condição que Henrique as ti- vesse delle em feudo, c por ellas o reconhecesse senhor, e que depois de estar de posse delias , largaria a Ray- mundo todas as terras de Leão e CasteJla , e hum a ou- tro se defenderiâo de quem quer que lhes movesse guer- ra. Jurou mais que se primeiro se apossasse do thesou- ro de Toledo, tomaria para si duas partes delle , e daria a terceira a Henrique. E ultimamente, que se não podes- se dar-lhe Toledo na forma promettida, lhe daria a Ga- liza, com tanto que Henrique o ajudasse a adquirir Leão e Castella , que neste caso ficarião inteiras a Ray- mundo. Esta he a substancia do Pacto, que ambos os Con- des communicárão ao abbade de Cluni Hugo , de quem hum se denomina ^/^o, e ouuo familiar ^ e com cuja ap- provação , concurso, ou conselho parece ter sido feito e ajustado o Tractado. A integra deste notável documento , cxtrahida do arquivo de Cluni , foi publicada por D* Âchery no seu Spicilegiiim , por Aguirre na Collecçao dos Conditos de fíes- patjha , e pelo senhor João Pedro Ribeiro nas Dissert. Cbro- DAS SciEíiciAS DE Lisboa. 71 Chronol. e Criticas,, tom. 3. p. i. pag. 45". num. 138., aonde vindica a sua authenticidadc contra alguns escripto- rcs que a qui/,crao pôr em duvida, sem se fundarem etn argumentos próprios da Critica Diplomática, e só porque interpretarão mal algumas de suas clausulas, ou entende- rão erradamente , que ellc contrariava certas opiniões , por cllcs adoptadas. Em quanto á data do Tractado , que não vem nclle expressada , tem sido varias as opiniões dos eruditos. D'A:hcry o attribuc ao anno circiter 1094 , acaso por suppôr, q'.ie nesse anno forao , ou estavão celebrados os ca/.amcntos dos Condes com as duas irmáas. Aguirre, no tom. 5". da Gollccçuo dos Concil. de Hcspanha pag. 17. da ed. de Roma de i/fj". o artribue ao anno 1093. Finalmente o senhor João Pedr, Rib. parece que se in- clinou a determinar-lhe a data de rio8 , não só porque colloca o documento (sem data) entre outros da era 11 46, que he o dito an. de 1108 ; mas também porque na nota, que a elle faz, conjectura que o Pacto seria ajustado por occasiSo da morte do Infante D. Sancho tia batalha de Vclés ^ que aconteceo na referida era. No meio desta variedade e incerteza diremos também o nosso pensamento. Primeiramente nos parece , que as datas de 1093 , ou 1094 se não podem sustentar, visto que então ainda não era cazado o Conde D. Henrique com a senhora D. Tcreza , de cuja cazamento achamos as primeiras memo- rias cm documentos do an. de 1095'. Também nos parece , que se não pode adoptar a data de 1 108 , por quanto segundo a chronologia de Florez , na Hist, CompostelUina , já no antecedente anno de 1107 tinha fallecido o Conde D. Raymundo , que foi huma das parte:; contractantes. D'aqui resulta , que a data do Tractado se deve pôr cm algum dos annos , que decorrerão desde lopy ou 1096 até 1107, e que nesie intervallo de cousa de n an- 72 Memouias «aAcademiaReal aniios he cjue se deve buscar huma época, em que os dous Condes julgassem conveniente íazcr a alliança e Pacto de tamilia , de que tractamos. Duas épocas se nos oíFerecem dignas de attençiío a este respeito. A pritneira y quando elRei D. AíFonso VI, tomou e teve por mulher a Çaida filha de Abenabctli , Rei Mouro de Sevilha , entre os annos lopy e icpy. A segunda, quando em 1107 falleceo D. Isabel, quinta mulher de elRci, ou em algum dos annos proximamente anteriores. Nà primeira época: parece natural que o cazamento de elRei D. Affonso com huma senhora fillia de Rei Mahumctano , posto que baptizada , desaprouvesse aos senhores Castelhanos , e em geral aos povos Hespa- nhoes , e ainda mai-s aos dous Condes Raymundo e Henrique , maiormente depois que virão , que deste ca- zamento nasceo hum Infante; que elRei o tratava como tal, e o destinava a ser seu successor no Throno ; e que mais depois o pôz por Governador em Toledo , como refere a Histor. Compostellana , L. i. cap. 29., ctijus ctis- todiae , secundtim patris imperiítm , Toleti doniiiímm erat commissíiin. O ódio natural , que os povos christaos , especial- mente os da Península , tinhao aos Mahumetanos , seus irreconciliáveis inimigos e oppressores: o receio de que o Infante, chegando a reinar na Hespanha , fosse mais favorável aos Mouros seus naturaes do que aos Hespa- nhocs e Christaos seus adversários: a magoa e despeito, que conccberião os dous Condes , vendo que a herança de tão vastos e ricos estados , a que por suas mulheres tinhão direito, lhes escapava das mãos, ficando clles e ellas não só na condição de senhores particulares , mas álêm disso sujeitos a hum Príncipe, que era , sim , filho de cIRei, mas estranho , e em certo modo inimigo pela origem, pelo sangue, e pela educação materna , e talvez occultamente inclinadç a huma seita inimiga da chrisran- da- DAsSciENCiAS deLisboa. 73 dadc , por cuja liberdade c exaltação ellcs tanto tinhão trabalhado: tudo isto, digo, devia influir nos povos e nos Condes hum grande desgosto do cazamento de el- Rci , e inspirar a estes o pensamento de se prevenirem por huma alliançi reciproca contra futuros acontecimentos que lhes podcssem ser adversos. Este desgosto e desagrado que suppômos nos Hes- pnnhocs a respeito do cazamento de elRci com a Infan- ta Moura não parece meramenfe conjectural. O caza- mento celcbrou-se por contracto publico^ e com dote solemnt de varias cidades e castellos, como forao Cuenca , Huete^ Cousuegra , Ocana , Moura , Uclés , Alarcos , etc. , c na verdade não he vcrosimil, que o Rei de Sevilha desse sua filha a elRei D. AíFonso VI. com tanto apparato para a fazer sua concubina, nem que ella mudasse de religião somente para esse fim. E comtudo os Hespa- nhoes como que se pejavão de a denominar mulher legi' tinia de elRci, e lhe davão a denominação de concubinaf o que se não pode attribuir senão ao desgosto que lhes causou huma similhante alliança. O douto Florez dá tormentos ao seu juizo para ex- plicar esta espécie de contradicção. Suppóe, que D. Af- fonso recebeo a Çayda , ou Zaida , como por mulher ; não por legitima Rainha , e esposa em realidade ; mas sá com apparencia de o ser exteriormente , a fim de fazer suas as cidades que lhe offerecião em dote: Diz mais, que elRci nao consentio «9 matrimonio , c que as formalidades exter- nis forão observadas para cumprir »o exterior com o Rei Mouro; porém nao de sorte, que elRei , e o Reino dos Christãos a tivessem por mulher igual e legitima. E depois , para conciliar com esta sua opinião a circunstancia de ser o Infiinte D. Sancho reputado e chamado herdeiro de cIRei , diz , que não estorvaria á successão a realidade de illegitimo pela exterioridade do matrimonio , que em falta de outro filho refundia neste a reputação de herdeiro I Em verdade que não sabemos como o erudito e ju- K di- 74 M E M o R I A S D A A C A D E M I A R E A L dicioso Florcz se empenhou cri cxpliciçocs tao incolie- rentes, e tão alheias da boa razão. Sc elRei D. AíFoiíso VI. recebeo a Zavda como por fiiulher , com todas as cere- monias exteriores , por contracto ptihlico , e com estlpidação do grande dote , que recebeo \ como se pode dar por niil- lo este matrimonio, só por força de huma restvicçao men- tal , de huma repugnância interior, de hum não consen- timento occulto ? Se esta repugnância e não consentimen- to toi occulto , e se para cumprir com o Rei Mouro ( isto he , para o enganar ) era , e ioi necessário guardar todas as formalidades externas ; como souberao os escriptores contemporâneos que a Znyda era conctibiua do Rei , e só o io-norou o Rei de Sevilha, pai da Senhora tão vil e dolosamente illudida , e que devia punir pelo decoro c honra de sua filha , e pela restituição do grande dote , que lhe tinha dado ? Em fim , se clRei não consentio no matrimonio, como podia reputar seu successor e her- deiro o filho illegicimo , ou como podia rcfiindir-se nelle pela exterioridade do matrimonio a reputação de herdeiro , com prejuizo das filhas legitimas e mais velhas, que não tinhão nnpedimento algum para herdar o reino ? Na segunda época, que acima denotamos , isto he, quando a Rainha D. Isabel fiilleceo em 1107, ou al- guns annos antes, quando ella , depois de ter duas fi- lhas , cessou de ser fecunda ; também era natural , que os dous Primos Condes, vendo a clRei seu sogro sem successão varonil (senão o Infante filho da Zayda ) e já mui provavelmente impossibilitado de a poder ter por seus longos annos, pois passava de setenta e tantos ; era natural, digo, que se lembrassem de assegurar a vasta herança de seu sogro nas Infantas su.is mulheres, prcmu- nindo-se a tempo contra a ambição dos Senhores Caste- lhanos, Leonezes , ou Gallegos , que por ellas serem se- nhoras , e seus maridos estrangeiros , poderião maquinar por morte de elRei alguns movimentos contrários aos in- teresses politicos dos dous primos. Is- DAS SciENCiAs DE Lisboa. 75: Isto lie o que nos occorrco em quanto i data do documento. Sc alguém agora nos perguntar, porque mo- tivo foi este Tratado communicado ao Abbadc de Cluni, responderemos , que S. Hugo , que então tinha esta di- gnidade , dlêm da grande influencia , que as suas virtudes llie havião grangeado , e que o seu mosteiro gozava desde muitos annos sobre os negócios tanto ecclesiasticos, como políticos de vários estados da Europa , era irmão da avó paterna do Conde D. Henrique , por serem am- bos filhos de Dalmaz senhor de Semur, e de sua mulher Arembcrga de Vcrgy ; c era tio de D. Constança que fora mulher de D. Affonso VI., e tia do mesmo Conde D. Henrique. Demais : era mui respeitado e venerado do próprio D. AíFonso VI. , sogro de ambos os Condes , o^ qual confessava ser devedor ao Santo Abbade de se ter visto livre das mãos de seu irmão D. Sancho (que o privara do reino de Leão e o tivera prisioneiro) e de poder retirar-se ao desterro de Toledo (20) ; pelo que augmcntou em favor do mosteiro de Cluni o censo an- nual , que já seu pai D. Fernando lhe pagava ; fez-se fíimi/iar y ou confrade dos Cluniacenses ; quiz ter em sua companhia por algum tempo hum monge d'aquella caza ; e dava ao santo Abbade o titulo de pa:. Por todas estas diflFerentcs relações de parentesco, • amizade , filiação espiritual , e dependência politica , nao somente os dous Condes se denominavão , hum Jílho y e outro faini/iar do mesmo Abbade c seu convento, ou congregação de Cluni ; mas também o consultavao , e ouvião seus conselhos e avisos , preparando por este modo huma poderosa protecção e auxilio para qualquer futura contingência de seus negócios e interesses poli- ticos. K ii Pe- (20) Veja-se Baillet , na sua excellente Obra das Vidas dos Sati' las, aoade traz a Vida de S. Hugo, Abbade de Cluni. y6 MemoriasdaAcademiaReal Pelo teor do Tratado até parece (como já indicá- mos) que os ajustes delle forão inspirados, e deter- minados pelo Abbade de Cluni : o qual , sem duvida , considerando a situação politica da Hespanha , teria cm vista firmar o senhorio e posse de tao vastos estados , por huma parte cm D. Raymundo e sua mullicr D. Ur- raca, e por outra no Conde D. Henrique e sua mulher D. Tcreza , que todos erao respectivattiente , por con- sanguinidade ou affinidade, sobrinhos seus, e todos filhos espirituaes , familiares ou confrades , e bemfcitores do seu mosteiro. Ultimamente advertimos aqui , que este Tratado , que naturalmente ficaria em profundo segredo ; que por morte do Conde D. Raymundo perdeo toda a sua força e valor; e que tem sido ou ignorado, ou desprezado da maior parte dos nossos escriptores; pôde comtudo explicar até certo ponto algumas das posteriores pre- tenções do Conde D. Henrique , da Rainha D. Tcre- za, e de elRei D. Affonso Henriquez , e dar talvez al- guma lua aos factos históricos d'aquelles remotos tem- pos. Anno de 1108 , e 1 109. Em 1 lOo foi a infeliz batalha de Uclés, na qual não sabemos positivamente que se achasse o nosso Con- de D. Henrique, posto que alguns o disserao , ou con- jecturarão, não sem verosimilhança: mas a derrota, que ahi padcceo o exercito christao, c o faliecimento de el- Rei D. Affonso VI. acontecido logo no anno seguinte de uoj? (21) > levantou a coragem dos Mouros, e deo ao (21) Na Hist, dos Soberanos Mohametanos , escripta por Abu-Mo- baiuiued Assaleh , c traduzida do Árabe pelo douto Arabista, nosso digno CoDsocio, o Senhor Fr. José de Santo António Moura, Lisboa, dasScienciasdeLisboa. ^7 ao Ínclito Conde D. Henrique occasião de assignalar a sua prudência e o seu valor. Já acima notamos, e consta pelo uniforme testemu- nho das antigas chronicas Lusitana, Conimbricense^ Com- plutcnse , e de D, Polaya , que no anno de 1093 tinha clRci D. Affjnso VI. tomado aos Mouros , entre outras praças , as de S.intarcm , Lisboa , e Cintra , e posto nel- las por governador o Conde D. Raymundo , seu genro , e debaixo da autoridade dellc a Soeiro Msndcz (22). E aindaque pela nimia brevidade, com que n'aquellas anti- gas clironicas se rctcrem os successos , não tenhamos exacta noticia do resultado destas conquistas , he certo, comtudo , que Santarém e Cintra ficarão no domínio do Conde D. Honrique , ao tempo da morte de seu sogro, e parece mui verosímil que Lisboa seguisse a. mesma sorte. Logo que elRel D. AfFjnso falleceo , começarão os Mouros a rcbellar-se , sendo os primeiros nesta mo- vimento os de Cintra, no próprio anno de 1109, em que 1828, se refere o êxito desta batalha nos seguintes termos.?; Tendo-se encontra lo (os doiis exércitos ) depois de porfiados combates, como já mais SC Oiivirão , ajudou Duos os mosselemanos , e deshurnlou o inimigo , fica}ulo morto o filho de Affoiíso ^ e mnís da vinte três mil chriftãos , e entnirno os mosselemanos por assalto em Vc.lés , em cujo assalto morre- rão muitos. Humildo checado esta noticia a Affonso , angustiou-se pela viorte de seu filho , entrada do inimi'j;o no seu paiz , e dcslruição do seu exercito , e tendo adoecido de desgosto , morreo vinte dias depois deste successo V iVc. (22) Chroii. Lusit. n ylera 1131 , II. Calend, Maii, sahhatho , hora nona , Rex Domnus Adifonsus cepit civitatem Santarém , anno re- gni sui 28. , mensfí quinto , secta die mntsis. Et in eadem hehdomada , jiiídie nowis Maii , ferii quinta , cepit Vlixbonam, Post tertiam autem dieni , oclaoo iilus Mad cepit Sintriam , praeposuitque €i.v gcncrum suum Comitcm D. Raymun Iam , et sub miuu ejus Suarium Mcnendi: ipse autem Rex leversns est Toluum. .v Ve.jão-se também as Chronicas Conimbricense, c Complutense, à era 1131. A de D. Pelavu, referindo as praças, conquistadas n''aqiiella occasião por D. AUonso \'I. aos Mouros , nonièa Cauriam , Olisboaant , Sijntriam , Stncta-lrem. 78 Memorias daAcademiaReaI:, que clRei fallccco, c no mcz seguinte immcdiato ao seu fallccimcnto. Alas o Conde D. Henrique foi com a rapidez do raio sobre .nquclle castello , c de novo o to- mou CíSobjugou, como consta da Chion. Lusitana (23). Anno de II 10. Era muito de temer , que o mesmo espirito de rc- bcllião se communicasse ds outras praças fortes e visi- nhas , que reciprocamente se auxiliaviío e apoiavíío , c que todas ficavão remotas do centro das forças , e do senhorio Portuguez. E parece que o Conde D. Henrique, receando que assim succedcsse crn Santarém, quiz asse- gurar esta importante praça , ou mcttendo neila mais numerosa guarnição, ou mandando gente , que contivesse em respeito os Mouros , e acudisse a qualquer insulto por ellcs intentado. Isto, ao menos, lie o que parece colligir-se da Chrouica Lusitana , que nos dá noticia do mdo successo desta expedição , dizendo que neste anno de iiío (era de 1148) indo os christãos para Santsrcm, forão subitamente salteados , e derrotados pelos Mouros , com grande perda dos christãos , dos quacs forão mor- tos, entre outros, o seu capitão Sociío Fromarigucs , e Mido Crcsconiz , pai de Dom João Midiz (:4). Qiian- (23) CliTon. Lustt. V Aera 1147, mmse Jtdio itcrwn capta fuit Siittiia a Ccniite Dom Henrico, género D. Alfonsi liegis, marito jiliae suae Reginae Domime Taiusiac. Audicutes liuini Sarraceni viortcm Re- gis D, Atjoiísi, coepenmt icbellan:. ii A era 1 H7 lie anuo de Chr. J109, em cujo intz ilc Junho falleceo D. AUbiiso \'l., [jor oiuie se \è a celeridade com cjUe o Conde cahio sobre Cintra, c a tornou a sobjugar. {'íi) Chron. Lusit. v Aera \\A^ faclum est magtium itiforlumum su]ini christiancs , qai ibaiU ad Saiictarúm , iii loco qui dicitur Vatalan- di. Dum enim vellcnt iLi vhriitiani figcre tentaria, et rcquicscere , cum tuhito, cx improviso, multitudo Sarracenorum , et Moabitarum , et Ara- lum , audito numero euruin , vencruut auper eos repante , et imjutratos n A S Sci K NC I AS DE f/lSBOA. 79 C^i.indo isto succedia , cst.iva o Coneie D. Henrique cm G.iliza (scgunJi) parece da Hist. Cumpostel. L. i.cap. 48) aonde fôra clumado , e consultado pelos scniiorcs, que scguiãi) o pnrtido do menino D. AfFonso (depois D. Affonso VII.) a fiiTi de liie assegurarem o reino de Gali- za, d;.' que o l\c:i de Aragão, e talvez a própria Rainha mãi do Infante, com alguns que a seguiao, parece que intcntavao despojilo. R di/cm os autores da Compostcl- lana, que o Conde Pedro, aio do Infante, e seu constan- te e leal dcfensnr, seguira n'aquellas melindrosas, c diffi- ccis circun^^tincias os prudentes conselhos do nosso Con- de D. H.-nriquc. Mas nada mais referem a respeito delle njquella occasiao, e até a narração, que ali váo fazendo dos acontecimentos da Galiza he tão embaraçada que difficilmente se pôde delia tirar para o nosso assumpto mais do que o pouco , que deixamos dito (25). Anuo de irii. No anno seguinte de 11 11 achamos o Conde D. Henrique auxiliando o Aragonês na batalha do Campo de Rspina , junto a Sepúlveda, aonde derão a morte ao Conde D. Gomes Gonsalvcz Salvadores, de quem se di- zia que tiatava amores com a Rainha D. Urraca. Os Ânnaes Comphttenses fazem menção deste acontecimento , c com ellcs concordâo os Annaes Cumpostellanos (26). Os cos im-enientes , viterfiverwit e.v tis plurimoi , ihique niortuus fuit Suarius Fromarigis, pater ifonini Nuno Suarh , cVc. 8o MemouiascaAcademiaReai, Os nossos escriptores Portuguezes narrão com al- guma confusão e variedade os feitos do Conde D. Hen- rique neste penúltimo anno da sua vida ; e alguns até suppócm que o Conde fora ao principio contra o Rei de Aragão , e em favor de D. Urraca ; mas que depois tomara diflPercnte partido, &c. O que nos parece mais verosímil, c mais conforme aos citados testemunhos, he que o Conde D. Henrique foi ao principio contra D, Urraca e o Aragonês (então cazados) quando elles pretendião despojar o Real Pupillo D. AíFonso do reino de Cíaliza , e talvez da liberdade e da vida (27). E que depois auxiliou o Aragonês contra o (27) O que aqui dizemos dos intentos de elRei de Aragão, con- tra o Real Pupillo D. Aflonso, por grave que pareça, dediiz-se com tudo da Histor. Compostcl. L. 1. cap. 48, e consta uiais cxprcs- saiueiite dos capp. 62. e C4. E como seja certo, que ifaquclle tempo estava a Rainha D. Urraca em boa uuião com o Aragoiiôs, ho diíl'!- cil salvar esta senhora de alguma complicidade nos projectos que se forniavão contra seu filho. He verdade que o R. Pupillo foi coroado e ungido Rei de Ga- liza com coiisputimento e a|)provação de s\ia mil! . a quil , por con- feronr a vida do filho (diz Risco) o ai'c,^iiroii com bnn ciislodiu no /or- le castello d<: Orsilloii , defendendo-o deste tunda de lodoi os que o per<;e- guião , entre os quncs elRci de Aragão liii/ni pretendido mntato , a Jim de sen/iorear-se com Jiieiios embaraço dos reinos de Lf.ão e Castctln. Alas a este tempo já a Rainha estava cm grande desavença com elKti de Aragão, c por isso he que promovia os interesses do filho , li- hongeando ao mesmo tempo os Senhores Gallcgos, que lhe convinha ter da sua parte. E se elRei de Arag.lo iiitha pretendido (como rlla iiusma diz no cap. (i4 da Compostcllana) tirar a vida ao menino Rei, expressão que se refere a hum tempo anterior, parece não se poder duvidar que este bárbaro projecto fosse formado no tempo da es- treita alliança do Aragonês com a Rainha, nem he fácil crer que ella de todo o ignorasse. Como quer que seja: a Rainha nem sempre se mostrou affei- çoada a este fillio j antes iiimiaraeiíle zelosa da própria autoridade, partceo por vezes csquecer-se do amor de mãi , e suscitar contra o filho as discórdias e partidos que na Hist. Compostel, se referem. ( Vcj. o Liv. 1. capp. lOC e 111. Liv. 2. cap. 42. etc.) O douto Fr. Manoel Risco, na W/ví. de ias Reyes de Lcon , DAS SciENciAs DE Lisboa. St o partido do Conde D. Gomes, infamado de communi- caçocs menos honestas com D. Urraca , a fim de evitar as facilidades, imprudências, ou inconstancias da Rainha, e vin<^ar a afronta da que era mulher de hum , e cunha- da do outro. Flore/ pretende defender a Rainha com razoes , ad nosso parecer , pouco concludentes : comtudo como o nosso fim he táo somente referir e aclarar as acções do Conde D. Henrique , contcnramo-nos com apontar aqucllas, cm que cUc se achou, ou teve parte, segundo as citadas chronicas. Oi Mouros , que no anno precedente tinhão der- rotado os christãos na sua marcha para Santarém , apro- veitarão agora a ausência do Conde, e vierâo neste pró- prio anno de 1 1 1 1 sobre aquella forte praça , comman- dados pelo Rei Cyro (Sairi) : e como a achassem menos guarnecida do que convinha , tiverão a fortuna de a to- ítiar a 24, ou 2^ de Junho (28), depois do que não tornou ao poder dos Portuguezes, senão 36 annos depois, em tempo do ínclito Affonso Henrique?,, que a conquistou enr» 1147 , como em seu lugar diremos. A Histeria dos Soberanos Mohametams , que acima ^ citcimos, diz que no mesmo anno tomou o dito Rei Tom. XII. P. 11. L Sai- fsforça-so a persiiadir-nos as virtudes de D. Urraca, a quein dá o nome de grau Reina ^ e dSo acha iiella seuão cousas dignas de lou- vor, c até de admiração. Florez não lie tão exagerado, porque o Bispo Gflmirpz era o sen heroe ; mas também defende a Kaiiilia acerca das leviandades que se ibe imputarão. Nós não temos empe- nho al^um de deslustrar a fama desta Princcza : mas a verdade de- ve preferir a tudo, e he a alma da Historia. Léa-se a Compostclla- iia : rebaixe-se quanto quizerem na sua narração : ainda ficará de sobejo para se acreditar, que D. Urraca não inereceo os encarecidos louvores de Risco. O Chrouicon Cornpostcllan. diz que D. Urraca rei- nara tyraiiincey et muliebritei- , e ainda acresceuta .alguma cousa inais. (i»«) Chron, Lusit.i^ Atra 1149 Rex Cyrus cepit Santarém, septi- mo Cal. Julii. j> V. a Chron. Conimbric, 82 M EMO«I AS DA Ac A nEM I A R.E A L Sai ri Lisboa , Évora , e Badajoz , e todo o paiz occiJen- tal. ♦» No iiuz de Dul-caada (são as palavras do cscriptor Arabo) do an. J04 (iili) expitgtion o Princtpe Sairi ^ filho de Abu-Bacar , Santarém , Badajoz , Évora , Lisboa , e lo- do o paiz Occidental , do que informou o Principe dos mos^Çf Ifiiianos Aly ^ filho de Jrissof. »> Donde parece collegir-se que estas cidades e terras estavÚo em poder dos chris- tãos desde o tempo de D. Affonso VI., e que pelo me- nos Lisboa tinha passado ao domínio do Conde D. Hen-r rique , perdcndo-&c agora era consequência da tomada de Santarém pelos Mouros. Anuo de 11 12. A vantagem que elRei de Aragão alcançou no Cam» po de Espina parece ter-lhe aberto caminho para passar de Castella a Leão, e pôr cerco a Astorga , segundo se colligc da Hist. Compostel. 1. i. capp. 73. e 84. A Rair nha D. Urraca acudio logo em pessoa cora o seu exer- cito; obrigou o Aragonês a levantar o cerco; e foi clU mesma ccrcalo em Carrion. A este cerco de Astorga po-r de conjecturar-sc que o Conde D. Henrique acompanha- ria a elRei de Aragão, bem como o tinha acompanhado e auxiliado em Campo d'Espiua; e acaso seria a sua mor- te huma âí\§ causas que concorrerão para que o Aragonês levant95sp 9 cerco e se retirasse, O certo he que os cs- eriptoies Portuguezes dizem uniformemente que o Conde D. Henrique estando no cerco de Astorga , enfermara de morte, c ahi falleccra neste anno de 11 12, posto que não concordão sobre os motivos que o levarão a este cerco, de que nós também somente falamos por conje- ctura , comparando os tempos e os successos , e tendo sempre em vista o pouco, que com sobeja concisão nos dizem os contemporâneos. Tues são as escassas noticias , que temos achado do illustre Conde D. Henrique, comprovadas com docu- nicn- DAS SciENCiAS DE Lisboa. 83 incntos antigos de fd indubitável : mas bem se pódc tom grande probabilidade ajuizar, que serião muito mais os feitos em que clle se achou por si, ou por seus capitães , e que se não devem ter por exagerados os louvores, que em geral se dão ao seu valor, ás suas em- pre/as contra os Mouros, e ás victorias que delles alcan- çou em beneficio de seus estados. E para se ver que não falamos assim sem algum fundamento, lembraremos aqui (somente por exemplo ) que fa/.endo-sc em tempos modernos mercê do titulo de Marquez de Marialva ao Conde de Cantanhede D. Luiz de Menezes, c dando-sc-lhe alguns estados da caza de Marialva , achámos resalvado » que em caso de haver a respeito delles sentença pela Gaza, contra a Coroa , lhe serião rcstituidos com equivalente por estimação , por serem' as terras litigiosas ganhadas aos Mouros em tempo do Conde D. Henrique , por D. Garcia Rodrigues , e D. Payam seu irmão , a quem o Conde as coutou. >» E á similhança deste poderamos referir muitos ou- tros factos, se os documentos, ainda hoje sepultados mis arquivos , se expozessem ao exame dos eruditos : mas bastará notar para o nosso caso , que quasi todas as emprezas de elRei D. Aflíonso Henriqucz contra os Mou- ros se dirigirão ás terras entre Mondego e Tejo , e entre Tejo e Guadiana , o que parece mostrar, que a fronteira oriental da Beira e Tras-os-montes , e todas as terras no interior destas províncias, e na d'Entre Douro e Minho, ficarão, ao menos na maior parte, conquista- das c asseguradas des de o tempo do Conde D. Hen- rique. O corpo deste respeitável Príncipe foi depositado na Cathedral de Braga, em capella particular fora da igreja, como era pratica n'aquelle tempo, e ahi esteve, juntamen- te com o de sua mulher a Rainha D. Tereza, até o an- no de ijij, em que forão trasladados para o interior do templo, onde ora jazem. L ii A'ccr- 84 Memorias da Academia Re ai, A'íerca dos filhos Icgitimos do Conde , havidos na Rainha, nota-se alguma variedade nos nossos esciiptoies ; mas como este nos não parece o lugar próprio para lar- gas discussões genealógicas , diremos brevemente o que achamos nos antigos, e temos por mais certo. A chronica de D. Pelnyo, Bispo de Oviedo, e?cripta no próprio tempo da Conde D. Henrique, ou logo de- pois da sua morte, falando das filhas, que D. Affonso VI. houve em D. Ximcna Nuncz, nomêa i.° Elvira, que foi mulher do Conde Ravmundo de Tolosa, e teve dellc At- fonso Jordão: a." Tereza, que foi mtilher do Conde Henri- que , e teve delle Urraca^ Elvira^ e Âjfcuso (29). Por este testemunho vemos que D. Pelayo dá ao Conde D. Henrique ( álêm do filho varão o senhor D. Aífonso Henriques, de que adiante havemos de falar) as duas fêmeas, que nomca Urraca e E/vira. Porem ou D. Pelayo se enganou , ou huma destas senhoras teve dous nomes: porquanto i.° em huma doa- ção do Burgo do Porto feita pela Rainha D. Tcreza ao Bispo D, Hugo , nas Cal. de Maio da era i ij8 (an. de Chr. II 20) diz ã Rainha que a faz >» ex consen.ai filii mei Ildejonsi^ et filianim meartim Urraca^ et Saneia (30). 2.° Em outra doação e escambo entre a Infanta D. Sancha, e a igreja de Villanova das Infantas, de 12 das Cal. de Fevereiro, era de 1200 ( an. de ii6i) se lê >» Ego Infans D. Saneia , soror Doniui Rcgis Âlfousi , filii Comilis Donini Anrrit (31). (2!)) Chioii.de D. Pelayo, no tom. H da Espaii. Sagr. 2.' ediç. pag. 490 » liabiiit etiain ( Al|)hoiisi!S VI.) duas concubinas, taiueii Iioljilissiinas , priorem Xcinetinm Muiiionis , cx qua genuit lilvirani, iixoroni Comilis Hayinuiidi Tolosani, patris cx ea Adefonsi Jordanis: et TnraHam , uxortm llenrici Comilis , patris ex ca llrracae , Geloirae, et Adefonsi. n (aO) Disscrt. C/ironol. e Crit. tom. 1. pag. 160. num. 20. (31) Diísert. Chronol. e Crit. tom. 3. f. 1. pag. HO. nura. 4C5. DAsSciE N Cl ASDE Lisboa. Sj 3.* n Livro velho das linhngctif, tambcm diz » (32). Destes testemunhos parcce-nos podcr-se colligir : i.° que as duas filhas do Conde D. Henrique se chamarão Urraca , e Sancha. 2." que a Sancha, sendo cazada com D. Sancho Nu- nez, lhe foi furtada por D. Fernam Mendez : e que d'a» qui vem a variedade, com que delia falao os nossos escri» ptores , fazendo-a huns cazada com D. Sancho Nunez , c outros com D. Fernam Mendes, grande senhor em Ga* liz.i &c. 3.' que o mesmo notável facto, on ignorado, ou disfarçado pelos escriptores das Memorias mais antigas, foi occasião de que ns nossos chronistas lhe chamassem huns D. Sancha Henriques , qne he o seu verdadeiro no- me ; outros D. Tereza , confundindo-a com a filha D. Tereza Sanchez , cazada com D. Gonçalo de Sousa ; mas nenhum D. Elvira , como diz D. Fclayo. Alguns attribuem mais ao Conde D. Henrique hum filho havido fora do matrimonio a que dão o nome de D. Pedro Jffbnso , de quem dizem, que estivera com seu irmão elRci D. AfFonso na entrepreza de Santarém , e referem outras noticias, que havemos por pouco exa- ctas. (32) Livr. Velh. nas FiO'j. da llist. Geneal. tom, 1. no titulo .- Do liiihiige. dot Brrtgituçuo!:. 86 Memorias da Academia Real ctas. Em outro lugar tocaremos este ponto, que. nos pa- rece não necessitar de grande discussão. Doo o Conde D. Henrique Foraes a varias terras de Portugal como forao Panoyas de Constantim , Catam , Coimbra , Soure , e Guimarães. n Foral (diz lium cscriptor Portuguez) era hum regi- mento particular de como se haviao de governar as ter- ras, a que s» Outro cscriptor diz mais brevemente, que o Foral era a ki , que o fun- dador , conquistador , ou senhor do território dava d cidade^ villa, concelho, ou julgado^ dcerca da policia, tributos, jtiizo, condição civil, privilégios, etc. , pela qual se havia de regtr a mesma terra e seus moradores. Por estas explicações da palavra Foral se vê a razão, comque aqui os apontamos para mostrar, que ao mes- mo passo que o Conde D. Henrique e seus successorcs liião libertando , oa assegurando do poder dos Mouros as terras de Portugal, também se não esquecião de prover ao progresso da civilisaçao dos povos, estabelecendo cer- tos direitos municipaes ; dando regras para a administra- ção da justiça, quanto o comportava a barbaridade d'aquel- les tempos; e concedendo aos povos algumas franquezas, e liberdades comque começavão a ser cidadãos, e a gozar direitos e interesses tanto communs , como individuacs. Com cfFeito os Foraes ( de que já anterionviente achamos exemplos na Hespanha ) com quanto nelles se observáo muitos vestígios, e restos da precedente barba- ridade, forão comtudo n'aquellcs tempos hum dos grandes meios , que nossos Príncipes oportunamente empregirão para a civilisaçao dos seus vassallos , e paraque estes gozassem de muitos direitos e interesses de que até então estavão privados. Os lugares, que gozavão o beneficio dos Foraes, • for- DAS SCIENCIAS DE LlSBOA. 87 Ibrmavão des de logo hama espécie de cemmuuidade, que promovia e zelava o bem do toclo , e de cada hum dos imlivldiios. Gozavão da propriedade dos seus bens em commum e em particular , postoque delles fossem obri- gados a pagar certas pensòcs, ou tributos. Darão aos Principcs hum certo numero de homens de armas, quan- do lhe era pedido para a defeza publica , a que depois se dco o nome de tropas concelheiras , isto he , do cmce- Iho , ou da commum y e ultimamente tomarão o nome de Ordcnauç/ií, Fora destas, e de algumas outras obrigações, impostas e cspecificadjs nos Foracs , erão aquelles luga- res , ordinariamente regidos em justiça por juizes seus naturaes , c da escolha dos homens bons do concelho , a que depois forão succcdendo em muitas terras os juizes mandados pelos Principcs , que por esse motivo vierão a ehamar-se juizes de fora, Mantinhão a policia civil e ru- ral dos seus destrictos por meio de regulamentos feitos iem commum , a que ainda hoje se dá o nome de postu- ras. Dcrramavâo entre si os pedidos t fintas , comque ha- viáo de contribuir tanto para as necessidades da commtim^ como para as despezas geraes do estado, quando o So- berano o exigia , &c. Em alguns destes Foraes se estabelecia a liberdade das cazas dos habitantes , comminando graves penas a quem nellas entrasse contra vontade dos moradores. Em outros erão os habitantes isentos de pagar portagem de suas fiizendas em qualquer parte do reino , com o que se facilitava o commercio e trafico interno. Em outros erão isentos de certos serviços públicos, ou só obrigados a elles em certas circunstancias , e com certas condi- ções , etc. Huma porem das consequências mais importantes da instituição dos Foraes era, que as liberdades por elles concedidas , e a vantagem da segurança , e defeza com- mum , e dos interesses que todos gozavão , attrahiâo habitantes , davão principio a lugares , e villas populosas e 88 Memorias da Academia Real e notáveis , com o que os povos , menos separados huns dos outros, participavão dos commodos gcraes, tormavao repetidos vinculos domésticos e sociaes , communicavao entre si idêas , reflexões, c sentimentos, e hiao por es- tes e por outros modos, meltiorando , e apcrteiçoando os meios da commum felicidade. Al(Tuns escriptores tem attribuido «o Conde D. Hen- rique o restabelecimento das cathedraes de Coimbra, Viseo, Liimego, e Porto, e a restauração da dignidade metropo- litana de Braga, e dizem que conseguira isto de D. Ber- nardo Arcebispo de Toledo, e Legado Apostólico. Mas ha nestes escriptorts gravissima equivocaçao e erro. A cathedral de Braga estava restaurada , e tinha Bispo des de o an. 1070 , muito antes que o Conde D. Henrique fosse senhor de Portugal , nem ao menos esti- vesse na Hespanha. He de crer que o Prelado tratasse logo de recobrar e exercitar os seus direitos metropoliti- cos, e já algumas vezes o achamos com o titulo de Ar- cebispo nos documentos contemporâneos. Os mesmos di- reitos porem lhe forao expressamente restituidos, e man- dados guardar por Bulia do S. P. Pascoal II., que o san- to Arcebispo D. Giraldo apresentou no concilio de Palcn- cia, no an. de 1100. Nisto não teve parte alguma o Ar- cebispo de Toledo D. Bernardo , nem ellc foi muito af- fciçoado á Sé de Braga, e ainda menos ás suas legitimas, e canónicas prerogativas. A cathedral de Coimbra foi restaurada depois da conquista da cidade, e em 1080 já tinha por s u Bispo o illustre D. Paterno, muito antes que o Conde D. Hen- rique governasse Portugal. De Viseo achamos noticia que tinha Bispo , quando D. AflFonso M. conquistou Coimbra, em 1064 : e Lamego também o tinha no an. de 1071 , em que o seu Bispo D. Pedro confirmou huma doação da Infanta D. Urraca , irmãa de D. Affonso VI, á Sé de Tuy {Espuíía Sagr. tom. 3 2. append. i.), tudo muito antes que o Conde tivesse o DAS SciENciAS DE Lisboa. 89 o senhorio de Portugal. Comtudo estas duas Ses, ou por não terem as commodidades necessárias , ou por se não reputarem bastantemente seguras para a residência dos Prelados, ou por outros motivos, forão encommendadas em iioi pelo S, P. Pascoal II. aos Bispos de Coimbra, e assim estivcrão até cjue elReí D. AfFonso Henriques lhes fez dar Bispos próprios pelos annos de 1144. Finalmente a cathedral do Porto teve o Bispo resi- dente D. Scsnando , cujo nome apparcce em vários do- cumentos incontestáveis des de o anno de 1048 até 1070, ou i07f. (Dissert. Chrottol. e Crit. tom. 4. P. 2. Dissert. 18.) D'ahi em diante não se acha memoria de Bispo algum do Porto, cuja cathedral foi governada por Arcediagos, ao menos por alguns annos. Em 1115 he que teve por Bispo D. Hugo , sendo já fallecido o Conde D. Henrique, e governando cm Portugal a Rai-. nha D. Tereza. Tom. XII. ?. 77. M MEMORIA Sohre os Chancelleres Mores dos Reis de Portugal ^ conside' rados como primeiros Ministros do despacho e expediente dos nossos Soberanos. Lida na Sessão da Academia de 21 de Dezembro de 1836 POR Francisco Manoel Trigoso d'AragÁo Morato. O ofFicio de Chanceller Mor foi recentemente extin»- cto : d'aqui em diante podem-se considerar como pura- mente históricos, c não como legislativos, os Titulos dos três códigos das Ordenações do Reino , que tratâo das prerogativas e deveres destes Magistrados , e da sua grande influencia nos negócios de Justiça. Com tudo não he na simples qualidade de Magistrados que eu considero nesta Memoria os Chancelleres Mores , mas sim como primeiros Ministros que erão do despacho e expediente dos nossos Soberanos , o qual emprego servirão desde os primeiros reinados ate o d'ElRei D. João I. A prova desta asserção , e a relação ou catalogo dos Chancelleres que houve neste longo periodo de tempo, he o único objecto que tenho agora em vista. Pouco ha que confiar nos modernos Escritores que tratâo desta matéria. Elles pela maior parte não sabião distinguir os tempos , e apenas se contentarão com os M ii ca- ^z Memokias DA Academia Real catálogos muito imperfeitos dos Cluinccllercs Mores, que sem legitimes fundamentos p^tiblicárâo nas suas obras (i). A época certa da introducção deste OlEcio nas Hes- panhas foi a restauração destas do jugo dos Árabes , por- que os Reis anteriores a e«te tempo contcntavão-se com os Notários da Corte, que ao mesmo tempo scrvino de Escrivães e de Secretários d'aque]les Soberanos, e authen- ticavão os Decretos e Privilégios Reaes (2). Mas a' pro- porção qae as Hespanhas erao restauradas , começarão os Reis de Castella , e Leão a nomear Chancelleres , que refcrendavão os Diplomas escritos pelos Notários ; talvez imitando nisto aos Franc^/.es , entre os quaes já desde o meio do Século IX. os Chancelleres gozavão de bastan- te consideração (3). No governo do Conde D. Henrique, e principal- mente no de sua mulher a Rainha D. Tcreza , erão os Diplomas indisiinctamente assinados ou ainda pelos No- tários, ou já pelos Chancelleres. No ultimo anno do governo do Conde em 111 1 acha-se o foral dado por clle e sua mulher a Coimbra , escrito pelo Notário Tel- lo , Presbytero (4) : e se com eíFeito Regnario foi seu Chanccller , como ha quem affirme (j), não creio que tivesse permanentemente este officio , ou que elle tivesse a consideração que depois tiverao os seus successores. Outro tanto se pode notar acerca do governo da Rainha D. Tereza. Àpparecem neste tempo os Diplo- mas escritos ou subscritos já pelos Chancelleres, já pe- los Notários da Corte ; e estes dizião humas vezes que os escrevião, outras que os notavão, outras que os pin- ta- (1) Vpj. Damião António, e o Efrilotne. (2) Miisdeu, liistor. Crit. d'Esp. Tom. 13. (3) Dom de Vaines, Dictioiínaire de Diplomatique. (4) Dissert. Chronol. Tom. 2, ' Mon. Lusit. Tom. 3. p. 387. (5) Epitoine tmico da dignidade, e maior Ministro da puridade, çag. 43. DAS SciENciAs DE Lisboa. 93 tavao. Mostrâo claramente esta irregularidade hum Do- cumento do anno de 1 1 1 2 notado pelo Presbytero Ber- mudo (6); outro do anno de 1121 notado pelo Chancel- ler (7); outro de 1123 também notado pelo Chanceller da Rainha Mcnendo (8); outro de 11 24 em que subscrc' ve Pelagio Arcebispo de Braga , Capellâo e Canccllario da Rainha (9); outro de 1125 pintado por Menendo , Notário da Corte (10). Isto basta para não amontoar inutilmente mais exemplos. No longo reinado de ElRei D, AfFonso Henriques d. AfTomo arreigou-se em Portugal a instituição ainda nova do of- "«""l"»'- ficio de Chanceller. Este tinha a principal parte na au- torização e legalização dos diplomas, era Official da Ca- sa de ElRei , e para assim o dizer , seu Conselheiro na- to. Os Chancelleres de ElRei ou da Corte faziao es- crever pelos Notários, indistinctamente escolhidos entre os Clérigos , os Monges , e os Leigos , ou pelos Escri- vães de ElRei, já então conhecidos (11), os Diplomas Régios , ou os escrevião ellcs mesmos como Notários , ou os confirmavâo , ou os subscrevião , e também escre- vião ou pintavão os sellos rodados, que ein alguns docu- mentos suprião as assinaturas (12). Não he pouco diíEcil escrever com exacção a serie chronologica dos Chancelleres deste reinado. Sendo ella formada á vista dos Documentos dos nossos Cartórios , que publicarão diversos Escritores, e de outros ainda iné- ditos , e não me sendo possível examinar esses documen- tos nas suas fontes , he sempre de recear que na data del- (6) Dktert. Chronol. Tom. 1. (7) Sonsa, Provas da Hist. Geiíoftl, (8) Figueiredo, Nova Histor. de Malta, Tom. 1. (9) Cunha, Histor. Eixles. dn Braga, Tom. í. (10) Flor. Esp. Sagr. Tom. 22. (11) Vej. Documento do anno de 1141 nas Dissert. C/iron. Tom. 4. Part. I. paR. 70. Moii. Lusit. Tom. 3. pag. 393. (12) Dissert. Chron. Tom. 1. Sous. Hist. Gen. Tom. 1. 94 Memotviastia Academia Real dellcs , ainda quando rodos se devão reputar gcnu inos , haja algum erro procedido ou do descuido de t]ucm leu , copiou ou imprimiu os ditos documentos, ou da cquivo- cação da era de César com o anno do nascimento de Christo , a qual he mais fácil de encontrar neste reina- do, por isso que clle durou muito mais que jS annos. Talvez de alguma destas causas proccdes.se acharem-se pessoas do mesmo nome, e creio que as mesmas, escre- vendo como Chancelleres diversos documentos cm annos não successivos, mas interpolados: se por ventura nSo tem aqui applicação o que já notou Fr. António Bran- dão (13), a saber , que os officios da Casa Real erão ao principio removiveis , e por isso se encontrão grandes mudanças e variedades neJles ; e que não só havia a va- riedade de se mudarem ora huns ora outros no mesmo of- ficio , senão que á mesma pessoa se darão em diversos tempos difFerentes officios. He pois a serie dos Chancelleres deste reinado a seguinte , segundo a noticia que tenho podido colher dos docum.entos citados em nota : 1." Pedro, Cancellario do Infante, nos annos de 11 29 cm Março (14), de, 1130 em Julho (ij), e de 1131 em Outubro (16). 2,° Ermigio Pires, no anno de 1132 em Julho (17). j.** Pedro, que será provavelmente o mesmo que o primeiro, e que como elle se chama Cancellario do In- fante em documento de 1133 C'^*)5 ou só Cancellario em outro de 113J (19), ou com cognome de Moniz em ou- (13) Mon. Lus. Tom. 3. pag. 99. (H) Fr. Bernardo da Costa, HUtor. da OrtUm Mil. de C/iristo. (lô) Mon. Lua. Tom. 3. pag. 128. Diss. Cbon. Tom. 4. P. 2. pag. 94. (I(i) Entre os meus documentos inéditos. (17) Dissert. Chiou. Tom. 3. (18) Disscrt. Chroii. Tom. 3. Part. 1. png. ]08. (19) Figueiredo, Nova Historia de Malta. UASScIENCIASDEI. ISEOA. 95? outro de 1139 (20); ou finalmente Chancellcr d'ElRei'* no de 1 140 (21). i' 4.° Elias com o titulo de Chanceller , e ás vezes ' também com o de Capelláo , apparcce mencionado em documentos de 1141, os quacs forão por elic passados, c escritos por Pedro seu substituto, é por Soeiro (22). E aqui temos, para o notar de passagem, o primeiro e antiquíssimo exemplo de Vice-Ghanceller. f." Mestre Alberto, Francez de Nação, começou a ser Chancellcr d'Ell.\ci no anno de 1141, e continuou sem inrcrrupção are ao anno de 1169, corfto se conhece de grande numero de documentos, muitos dos quaes vão allegados cm nota (23). 6.° Pêro Feijó. No anno de 1174 acha-se o nome de Pêro Feijó , Chanceller d' ElRei D. Affonso , no Fo- ral de Mauraz , que se conserva no Mosteiro de Lor- vão (24). Será provavelmente o mesmo Petrtts Fasiotíj Notarins Regis, que confirma duas doações Regias feitas aos Templários nOs mezes de Setembro , e Outubro do anno de 1 169 (25'). 7.° Fernam Pires Fasiom. Acha-se com o titulo de Cancellario d' ElRei no Foral de Penella, dado no an- no de 1175- (26). 8." Julião. Fr. António Brandão cita huma doação que ElRei fizera do lugar de Ceira a seu grande Priva- do o Chanceller Julião no anno de 11 80 (27). Porém es- (20) Figueiredo , Nova Historia de Malta. (21) Hloii. Lus. Tom. 3. pag. 393. (22) Figueiredo, Nova Historia de Malta: e a minha Collecção de MS. (23) Mon. Lus. Tom. 3. Dissert. Cliron. Tom. 3. pag. 293 e 310. (24) Mim. Lus. Tom. 3. pag. 352. (2-')) Fr. Bernardo tia Costa, Histor. da Ordem Militar de Christo. (2U) Mon. Lus. Tom. 3. pag. 344. (27) Ib. Tom. 4. pag. 4. citando o Livro pequeno dos Foraes no R. Arch. foi. 23. 9<í Memorias da Academia Real este mesmo Julião em documento do anno de 1183 cha- ma se Notário d' ElRei (18), e em outro de iiSj- No- tário da Corte (29). D. Sancho Com csta mesma variedade o acho depois nomeado em todos os documentos do reinado de D.Sancho I, (30) nem apparcce em todo este tempo algum outro Chan- cellcr que não fosse o mesmo Julião , o tjual era o úni- co Ministro empregado na imposição dos sellos penden- tes nos Diplomas, que então se começarão a usar (31), e em cuja presença ElRei deferia as causas que perante elle se tratavão : disto he boa prova hum documento do anno de 1197 (3^)) ^^ 1^^^ consta que o Abbade de Lorvão com alguns dos seus Frades se fora queixar a El- Rei do Frior de S. Pedro de Coimbra , e que elle lhe deferira coram principibuT suis , et Cancellariis , videlicet co- ram Joanne Fernandi , et coram domino Juliano , et coram Alfonso Priore de Lessa , et coram multis aliis cum filiis suis. Taes forão os principies , e também a importância do cargo de Chanceller d' ElRei ou da Corte nos pri- meiros dois reinados em Portugal, D Affonso No seguinte d'ElRci D. AíFonso II. foi ainda maior "■ e mais visivel esta importância , pois o Chanceller não só continuou a ser o Ministro encarregado de autorizar c expedir os diplomas, mas a elle foi assinado o ter- ceiro lugar entre os officiaes da Casa Real , immediato ao Mordomo e ao Alferes, o que se mostra de diplomas dos annos de 1117 e 1221, e de 1222 {,1^) ^ o ultimo dos (28) Moií. Lus. Tom. 3. pag. 359. (29) Mon. Lus. Tom. 3. (30) Sous. Frov. da Hist. Gen. Moit. Lus. Tom. 4. p. 27, 509, 28j 610, 92, I0(j. Part. 6. pag. 577. Dívi. C/ir. Tom. 2. e 3. Sous. lUst. de S. Domingos. Cunha, Catai, dos Bispos do Forto. Uistor. da Ord. da Trindade. Inéditos Tom. 5. (31) Vej. Diss. Chron. Tom. 1. Í32) Eenediclina Lwi. Tora. I. Nooa Uist. de Malta. (33) Ribeiro, Diíí. C/ír. Tom. I. Figueiredo, Nova Hin. de Malta. DAS^SciENCiAS DE Lisboa. 97 dos quaes até concede a estes três officiacs a faculdade de nomearem serventuário nos seus impedimentos (34), di. qual os Chancclleres muitas vezeS usarão. Dois sao os únicos Chancelieres deste reinado que encontro nos antigos documentos, ; a. j5aber : o Mestre Ju- lião , que sem duvida he o mesmo que figura desde o fim do primeiro reinado, e que subscreve hum diploma de 30 de Junho de 121 1, chamando-se Ghanceller da Corte (35'); e Gonçalo Mendes, que subscreve outros de 1214, 1217, 1218, 1220, e 1222 (36), intirulando-se ora Ghanceller da Gorte , ora Ghanceller da Casa d'El- Rci , ora simplesmente Ghanceller. Do Ghanceller Julião dizem os nossos Historiado- res que fora filho o Mestre Gil ou Egídio , Cónego de Viseu , e o primeiro Cardeal Portuguez ; ao qual ElRei D. Affonso II. fizera a 5: de Dezembro de 121 1 doação das Villas de Gervella , e Figueiró, pelos grandes servi- ços qua o Ghanceller Julião fizera a seu Pai e Avô, e a Eile mesmo (37). O Ghanceller Gonçalo Mendes, de que ha pouco d Sancho fallei , continuou a exercitar este officio nos primeiros an- H- nos do reinado do infeliz D. Sancho II. o que provão os documentos de 1223, 1224, c I225' (38). Por sua morte apparece o Ghanceller Mestre Vicen- te, que se intitula Ghanceller, ou Ghanceller de ElRei , Tom. XII. P. II. N ou (34) Ribeiro , Additam. á Syiwpse. - (35) Sousa, Prou. da Hist. Geií. Moa. Lnsit. Tom. 4. p. 513. (36) Fr. Bernardo da Costa, Hist. da Ordem Militar de Chrúto. Sousa , Piov. da Hist. Gen. Mon. Luút. Tom. 3. p. 248. Tom. 4. p. 209. Nova Hist. d» Malta, Tom. 2. (37) Cunha, Hist. Eccles. de Braga, Tom. 2. Mon. Lus. Tom. 4. p. 127. D. Mau, Caet. de Sousa, Catai, dos Cardeaes Portug. naColI. da Acad. D. Tliomaz da Eiicaruação , Hist. Eccles. Lusiían. Tom. 4. (38) Mon. Lus. Tom. 4. p. 226 e 529. Sous. Hist. de i>. Domin- gos. Cunha, Hist. Eccles. de Braga, Tom. 2. Diss. Clir. Tom. 1. 3>6 MeM"0'R'IA« &'À AfcAI>EMl*A ^EM, OU 'dia Cbite em documentos do anho 'ât 1^26 , 1 219, e ií3t6 (59). Havia -sido iprlm^eiKaniehte DeSo ^ia 'Sé dè Lisboa, depois eleito Biápo da Cuarda , e ukinlhnierite sagrado ncfeta i-gíéja, «exercitando assiín mesmo o lugar d'e Ghah- oelieí. (A este isucccdeu Ourando Froyaz , que 'já 'sJe assina Conce'Ilario da Cortc 'ewi dòcumfenfo dé riyp (4Ò), e qhfc SC conservou neítfe e^nprego afé o fim db ^ovferno d''El- Rei^ o qual erti recoitiptnSa da sua fidelidade, fexercita- dia tn boa c nvá fortuna do Soberano , 'llib deixou htifti importante legado no scu testamento f&ito éiíti Toledo 'a. 3 de Janeiro de '1248 (4i)' D Affonso ^ imico ChanCcllèr que houve Ho reihaéò âe D. Af- III- foftso EH. foi E^reVão Cannes. Este apphrtcfc òu com6 Gonsellieiro , ou como confirmànte , ou <:omo Míniistrò de despnctio ^ ou do expediente , ou cori>o GhartcfeíHèr di Corte ^ k>\i d' ElRei em todos 'ús dipldrtiás deste tem- po, muitos dos quaes erão passados de mandado d' EI- Riei pelo míe&mo ChàhcèHer, que assinuva no fundo dos dw:um^ntos ; è erlo laVradois pelos Nbtaríofe dà Ghancel- laria , e éssittados pèloS Escrivães delia ; "que hurís 'e ou- tros começSó la "sèr 'conhecidos no mesmo reinado (42). Era este EstèvSo Earmes filho de D. João Garcia \43), Amo d'BlRei D. A#onsío III. e tão seu valido, tjUé es- te Princine o nomeou hum dos seus Testamentei- ros (44), e lhe havia já doado o Castello de Porchcs no Aígàrvc roTTi TOdo^s 10"S "Seus diTeitõs é pertenças (4^). Nãt) (.39) Mon. Lus. T. 4. p. 23H , 237, 324, 532. JSova Hist. de Malta. (^40) Weií. Lua. Tom. 4. p. 532. (4n Ib. p. 538. (42) Véjuo-se os documentos que se nchão nas Prov. da BVíí. Geti. , Tia MoH. Lns. , e nas Dks. Chroh. Tòrfi. 2. e 3. (43) Mon. Liíf. Tom. 2. (44) Ib. Tom. 4. png. 545. (45) Neva Hiit de Malta, Tonj. 1. Mon. Lus. Tom. 4. OASSclENCIASnELlSBOA. 99 Nâo deixarei de notar duas espécies novas a respei- to dos Chancellercs deste reinado : a primeira encontra- se no Foro de Beja dado por- D. Affonso III. no anno de ií5'4, cm que sao confirmantes , entre outros, dom stevã eanetf chanceler da Corte , . . . Johã feniandis , teen- te o seelo delrey . . . Jolm paãiz , escrivã delrey ; sendo o Foro escrito por João Fernandes , Tabellião da Corte (46). A segunda espécie acha-se no diploma do anno de izjS, em que figura como testemunha o Vice-Chanceller João Ferreira , como confirmante o Chanceller D. Estevão Ean- nes , e como Notário da Corte Domingos Peres (47). Assim hia crescendo cada dia a importância dos Chancellcres , tendo subordinados ao seu emprego os Es- crivães e Notários da Chancellaria , os Vice-Chancelle- res, e os Guardas dos sellos. Era ElRei D. Diniz hum Principe muito entendi- EiRei d, do para diminuir a consideração que tinha o cargo de ^'"'^ Chanceller ; e se já no seu reinado , e ainda nos fins do passado começao a apparecer os Escrivães da puridade , já disse n'outro lugar, que esta instituição exaltou a re- presentação dos Notários ou Escrivães d' EiRei , mas não diminuio a influencia e a autoridade dos Chancellercs. Tinha morrido ElRei D. AfFonso III. em 1 6 de Fe- vereiro de 1279, e pouco lhe sobreviveu o Chanceller Estevão Eannes, pois que em 2^ d' Abril do mesmo an- no SC deu o traslado do seu testamento ao Ministro da Ordem da Trindade em Santarém (48). Por sua morte foi nomeado Chanceller Mestre Pedro , que pouco depois foi Bispo de Coimbra, e que assina os diplomas de 1280, e 1281 (49). Seguiu-se a este D. Domingos Annes N ii Jar- (46 J Inéditos da Academia, Tom. 6. (47) Nova Hist. de Malta. (48) Catalogo dos Bispos de Coimbra, nas Memorias d^Acad. da Historia, (49) Mon. Lvs. Pari. 6. f. 50 e seg. Nova Hist. de Maka , T. 2. lOe ME.MOTltAS DA AcAÔElAtA Real Jardo, Goflego d' Évora . depois Bispo d' Évora , e ulti- mamente de Lisboa. Delle se achao rnemorias em alguns documentos, e muitos dos nossos Escritores dizem que iàta grande Privado d'ElRei (yo), Brandão refere que a ip de Julho do anno 1181 lhe dera ElRci os scl- los (fl); e com cíFeitÀJá assina como Chanceller os do- cumentos deste anno (5-2) e dos seguintes, até o de 1287 (n)- T^ - O terceiro Chanceller foi D.João d'Alprâo, qUe depois foi Bispo d' Évora, e delle se achão memorias pelos annos de 1288 até izpj' (54). Seguiu-se a este Esteve Arines Bochardo, que n'hum documento se diz Arcediago de Santarém, d'ondc era natural; e delle ha memoria cios afínos de 1296, 1297» e 1299 (ff): sem duvida he o mesmo Chanceller D. Estevão, Bispo de Coimbra , que confirma huma doação d' ElRei ao Bis- po do Porto t). Giraldo no anno de 1304 (y6), e ou- tra ao Mosteiro de Tarouca no anno de 1306 (sy). Mor- reu em Novembro de 13 18. Já no anno seguinte de iji^ era Chanceller Francisco Domingues, Prior da Al- cáçova de Santarém, e se conservou neste emprego até á morte d' ElRei , assinando o seu Testamento no anno de 1324 (yS}. Taes forão os Chancelleres deste reinado. Servirão nos seus impedimentos Ayres Martins, Vice Chanceller, de quem já fallei na Memoria sobre os Escrivães da Ptiti" (50J Mou. Lus. Nunes, Chronica de D. JJfoiíso IV. Hist, £c. efo-. Je Lisbon , T. í. Ceo aberto na terfa. (.51) Mon. Lus. Part. 5. f. 50. (52) Ib. Part. 5. (53) 76. (54) Mon. Lus. P.irt. 5. (55) Jb. Part. 5. (iS<5) 7*. Part. 6. H/ií. Eecles. dt Braga, Tom. 2. (Ò7) 3Ion. Liis. Part. C. ' - (68) Ib. Part. d. < 6. I DAS SciENOlAS DE LlSBOA. TOI Aade , 6 Affonso Martins em logo de Chanceller^ de que ha memoria nos annos de 1302 , i 303 , 1 306 , e 13 15 (5'9). No reinado de D. Affonso ÍV. havia já os Vedores piRei d. da ChanccHaria , e como tal se assina João de Fornello Affonso no Testamento deste Monarcha (60). Os Chancellercs que ^^* reputo indubitáveis forão Miguel Vivas, eleito de Viseu , que no anno de 1332 expediu huma Portaria, por ordem d' ElRei , a qual se acha na Orden. Affonsina , L. 2. Tit. 25 ; e já se assinava como testemunha no segundo Testamento da Rainha Santa Isabel feito a 22 de Dc- acmbro do anno de 1327, deste modo: Miguel bivas, al- hade de tratmires ^ e Chanceller d'elrei {61). A este se seguiu Pedro Docem , de que ha memoria pelos annos de 1336, 1337» e 1338 (62). E foi seu successor João Durãcs , que assinou como testemunha o Testamento d' ElRei no anno de i^^^f i^i)' Foi diminuída , mas não extincta a influencia dos EiRei d^ Chancelleres no reinado de D. Pedro I. Já apontei na ^*'^° *• Memoria sobre os Escrivães da Puridade as causas d'aquel- la diminuição, a saber, a importância que então se co- meçou a dar a este ultimo emprego , apenas conhecido nos reinados passados ; e a introducção dos sellos de ca- mafeu, que não estavão a cargo do Chanceller, c com os quaes se sellavão alguns diplomas sobre negócios ou pessoas particulares. Comtudo o Chanceller assistia ao despacho das graças e merccs , e verificava se as Cartas que se expedião erão conformes com a determinação d' ElRei. Mas dos Regimentos do Despacho Real neste reinado (64) aissás se conhece quanto a repartição de gra- (59) Jb. Part. 5. Biss. Chron. Tom. I. Tom. 4. Part. 1. Nova Hist. de Malta. (60) Pio», da Hht. Ge». (ei) Ib. (G2) Nunes, Chron. de D. Aff. IV. Sousa, Prov. da Hist. Gen. (63) Fr. Bafael de Jesus, Jíwí, Lus. Part. 7. (64) Dissert. Chronoí. Tom. I. loi Memouias da Academia Real graça se achava ainda confundida com a de justiça da ultima instancia, de sorte que o Chanccllcr, c outros JSlinistros do despacho tratavao promiscuamcntc d']iuma e outra: muito tempo depois lie que ellas se distingui- rão , e separarão. Vasco Martins de Sousa , e Álvaro Paes forao os ' Chancelleres deste Rei : o primeiro tinha este emprego pelos annos de 1360 (65-), e a elle deu ElRei os bens de Pêro Coelho , hum dos matadores de D. Ignez de Castro (66). O segundo foi seu successor, e não só ser- viu até á morte d' EiRei , mas continuou a servir no rei- nado seguinte (67). EiRei D. Permaneceu no reinado de D. Fernando , e nclle se Fernando. j-aí^JcQU ainda mais a nova instituição dos Escrivães da puridade, que levantava a antiga dos Escrivães d' EiRei , e deprimia hum pouco a dos Chancelleres : mas conti- nuarão também estes como no reinado passado a assistir ao despacho Real tanto de graça como de justiça : e ti- verão este emprego Álvaro Paes, que segundo os Chro- nistas Fernão Lopes , e Fr. Manoel dos Santos conti- nuou a ser Chanceller mór neste reinado , como o havia sido no antecedente , até que foi aposentado cm razão das suas moléstias : o Mestre da Ordem de Christo D. Fr. Nuno Rodrigues d'Andrade, o que Fr. Francisco Br.indão , e Fr. Manoel dos Santos provão com hum do- cumento do anno de 1372 (68): Vasco Martins de Sou- sa , que segundo refere o mesmo Santos , serviu outra vez o mesmo emprego , até que entrou de propriedade Lourenço Annes Fogaça , que era d'antes Vedor da Chan- cellaria. Deste faz muitas vezes menção Fernão Lopes nas suas Chronicas , nomeando-o já Chanceller mór no an- (65) Prov. da Hist. Geií. (66) Keriião Lo])es, Chron. (67) O mesmo na Chiou, de D. João J. , e Mm. Lusit. Part. 8, (U8) Mon. Lusit. Part. 6. e 8. I DAS S ClfelíCI AS DE Ll^BÒA. fOJ anno de 13?/'» e di/cndô que fôra o único Ministro que ficara com RlRci cm Maio dè 1383, quaíido a Rhínha D, Leonor foi com a Infanta D. Beatriz para Elvas. Por morte 'd' ElRei D. Fcrhando continuou a é5te'r- cítar Lourenço Aiines ò seu emprCgò de Chartccller mór, acompanhando a Rainha de Lisboa pnra Afcrhquer, e dalli para Sanraróm ; e passando ao serviço dos Reis de Cas- tcUa cm Janeiro de i 3^4 quando a Rainha D. Leonor desistiu a favor dellcs da Regência de Reino. Não es- rcve porâm itiuiro tempo no Serviço destes Reis estra- nhos, porque bem dcprcssíi se acolheu i sombra do Mes» trc d'AvÍ7, , já então acclamãdo em Lisboa Regedor è Defensor do Reino, e foi bem recebido por este Prín- cipe , que lhe deu a 'embaixada de Inglaterra , e nomeoà seu Chancelíer mór ao celebre Doutor João das Regras ^ a quem tomou para 6 seu Concelho , e como tal assi- nou o Accordo pelo qual o Mestre coneedêra notáveis privilégios á Cidade dé Liáboa no mei de Outubro dè 1384 {69). Acclamàdo ElRei D. João L ftas Cortes de Coim- eircí d. bra do anno de 1385', fòi íestituido áò emprego de Chan- JoáoL cellcr mór Lourenço Annes Fogaça , o qual durando à sua ausência em Inglaterra foi substituído pelo Doutor João das Regras, que nó principio da Regência do Meà- rre tivera este officio dfe propriedade (70). Voltando po- rém a Poriagâl Lourenço Annes , conieÇou logo a iservi- lo , e ddfe cotnò Chancellet mór hã ihemoriá no annò de 1396 (71). Segui râo-§e à este Álvaro Gonçalves , dè quem se faz menção em dotumertCos dos annos de 1399, 1401, 1404, e 1406 (72). Fernão Gonçalves, Licen- cia- (69) Fernão Lopes , Chron. de D.João í. , e Mon. Lusit. T. 8. (70) F£i(ião Lojje», Chron. de D. João I. (71) HL^loria da Ordem da Trindade. (72) Collec^ão Académica de Documentos, e na minha ColIecçSo. Orden. Affons. L. 3. Tit. C4. 104 Memorias da Academia Reai, ciado em Leis , por quem se passarão Cartas nos annos de 1408, e 1410 (75). Gomes Martins de Alvarenga, que foi do Concelho d'ElRei , e Juiz da Coroa , como consta dos Livros da sua Chancellaria do anno de 1412, e também Chanceller mór de Portugal , como se vê do epitáfio da sua sepultura , que estava no Convento ue Nossa Senhora da Graça de Lisboa (74). D. Fernando da Guerra , Bispo do Porto , sobrinho d' ElRei , c do seu Concelho, por quem passou huma Carta em 22 de Fe- vereiro de 1416 (75)' Finalmente o Doutor Gil Mar- tins, que teve o Officio de Chanceller mór nos annos de 1427, e seguintes até 143 1 (76). Aqui fecharei o Catalogo dos Chancelleres mores , porque tanto basta para o assumpto que me propuz tra- tar ; pois estou persuadido de que desde o tempo d'El- Rei D. João l. cessarão os Chancelleres mores de ser Ministros do despacho , e expediente dos nossos Sobera- nos , restringindo-se ordinariamente ás funcções de Ma- gistrados superiores e Ministros de justiça. Digo ordinariamente , porque não desconheço que a dignidade e poder dos Chancelleres mores chegarão ao maior auge no tempo de D. Fernando da Guerra , Arce- bispo de Braga , c Chanceller mór dos Reis D. João I. e D. Duarte; que padecendo quebra nos seus successo- res, torna'rão outra vez a augmentar-se no tempo de D. Álvaro, filho do Duque de Bragança D. Fernando, no- meado Chanceller mór em 1475"; l^is ElRei D. João II. nomeara depois em seu lugar ao Doutor João Teixeira , para servir este emprego com menos autoridade, e difFc- rcn- (73) Collecção Académica, c na minha. (74) D. António de Lima, Nobiliário. D. António Soares d'Alar- cão , Relaciones Gcntaíogicas de la casa de los Mart/uezes de Trocifal. (75) Collecção Académica. (7C) Na ininlia Collecção. Proo. da Hist. Gen. Soares de Silva, JVÍem. de D. Joãu I. Oíden. Affons, L. 5. Tit. 114. DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. lO^ rente estilo (77) i e que finalmente ElRei D.João III. privou os Chancelleres mores d* huma grande parte da sua jurisdicção , ainda como Magistrados, repartindo«a pe- lo Desembargo do Paço, e Chanceller, e Juiz da Chan- cellaria da Supplicaçáo , de novo criados (78). E que muito he que ou pela dignidade da pessoa , ou pelas ne- cessidades dos tempos, tivessem por vezes poderes extra- ordinários os Chancelleres mores do Reino, quando con- sta que ElRei D. Duarte em vida de seu Pai , quando era Infante e Regedor da Justiça , fazia muitas Disposi- ções, Alvara's, e Leis, as quaes tinhao força de Leis ge- raes, e passavão pela Chancellaria , ou se assentavão nos Livros delia (79) ? Comtudo , não duvidarei reperl-to , por mais auto- rizadas que fossem as pessoas, que neste reinado e nos seguintes exercitarão o cargo de Chanceller mor, e por mui grande que fosse a sua influencia não. só nos negó- cios de Justiça , mas na publicação das Leis , he certo que deixarão de ser considerados como Ministros do des- pacho e expediente , ainda que aliás continuassem a ser do Concelho dos Reis , e a ter assento com voto no mes- mo Concelho. Não pôde duvidar desta verdade quem reflectir no que já disse na Memoria sobre os Escrivães da Puridade do reinado de D. João I. pois que então estes Officides erão sem duvida os principaes Ministros; e erao elles , e não os Chancelleres mores, os que assistião ordinariamen- te, já neste reinado, ao despacho Real. Accresce a isto, que depois do estabelecimento da Casa da Supplicaçáo , havendo hum corpo fixo c perma- nente em que se tratavão e sentenceavão os negocio? de justiça , e do qual o Regedor era o primeiro Magistra- Tom. XII. P. II. O do , (77) Sousa, Hist. Gnn. L. 9. (78) Dus. Chron. Tom. 1. (79) Vej. Additamentos áSyiwpse^ e Nova Hist. de Malta, Tom. 3. io6 Memorias d.v Academia Real do , c o Chaiiceller o segundo , nao podia este nssistir diariamente ao despacho Real, sem faltar ás suis ohrig.1- ç6cs judiciacs. Nem admira que ainda por al-rum tempo os Chancelleres servissem de Ministros do Gabinete do!J nossos Príncipes, e assistissem ao seu Concelho, porque o mcsrno succedeu aos Desembargadores do Pjço , que tendo cxercicio no contencioso, e despachando nestes ca- sos na Casa da Siipplic.ição , presididos peto Regedor , servião também como Ministros do Gabinete nas maté- rias de graça , cm quanto nao constituirão Tribunal se- parado (8o). Finalmente o que prova decisivamente que de^te rei- nado em diante os Chancelleres mores já não eráo os principaes Ministros do despacho e expediente, he o exa- me e confrontação dos Títulos das diversas Ordcnições do Reino , que tratao dos oOicios e deveres dos CI',an- ceUeres. A Ordenação AíFonsina começada a compilar no reinado de D. João I. tratando do Chanccllcr mór no Tit. 2. do Livro I. posto que o reconhece ainda como segundo Official da Casa Real d'aquelles que tem ofiicio de puridade , por isso que o paragrafo inicial do dito Titulo he traduzido ao pé da letra da Lei 4. Tit, 9. Partida s. tempo em que os Chancelleres erao conside- rados aqui e em Hespanha como Officiaes da Casa , com- tudo em todos os outros paragrafes deste Titulo não con- sidera os Chíucelleres senão como Magistrados superio- res , que conhecem de negócios e pessoas de Justiça. K no Código Manoelino não só se conservarão e amp!ia'rão seus poderes judiciacs , mas foi o seu ofHcio considerado não já como o segundo da Casa Real , mas como o se- cundo da Casa da Supplicação, e após o Regedor delia, que era o maior c mais principal officio de Justiça nes- tes Reinos. Re- (80) Dissert. Chron. Tom. 4. DAS SciENGIAS DE LiSBOA. I07 ivfsta-me reduzir a poucas palavras o que fica dito nesta Mcmorii , assim como nas outras que tenho escrito sobre os Privados , e sobre os Escrivães da puridade. Os Reis de Portugal sempre tiverao conselheiros, cujos votos ouvião sobre negócios de importância : destes os que mais vezes erão ouvidos , ou em cuja fidelidade os Soberanos mais descançavão , chamavao-sc Privados. Os Chancelle- res mores assistiao ao despacho Real , e dirigião o ex- pediente. Esta era a pratica estabelecida desde o tem- po de D. Affonso Henri-|ucs até o de D. João I. Então começou a grande autordade e influencia dos Escrivães da puridade , que succedèrao na direcção do despacho , e expediente aos Privados , e Ghancelleres mores , e que durarão, ainda que com interrupção, ate o reinado de D. Sebastião. Accrescentarei agora qu^ com estes Escrivães co- meçarão a apparecer os Secretários d' ElRei , aos quaes se seguirão ultimamente os de Estado : huns e outros darão matéria a outras duas Memorias, com as quaes con- cluirei tudo o que diz respeito a este assumpto tão cu- rioso , como imperfeitamente até aqui tratado. MEMORIAS DA ACADEMIA. CLASSE DE SCIENCtJS NATURAES, Tom. XII. Part. 11. >. .TtJV-ÀÍ^^-aT MEMORIA SOBRE OS VASOS MURRHINOS LIDA NA SESSÃO DE 21 DB MARÇO DE 1838. POR JOAQUIM JOSÉ DA COSTA DE 31 ACEDO. l?M' O. °s VASOS murrhinos, hum dos artigos que figurou erti primeiro logar na lista dos objectos do luxo mais exqui- .sito dos Romanos , foriío por muito tempo as delicias do Povo mais poderoso da antiguidade ; e forao , de- pois da destruição do Império do Occidente, o tormen- to de todos ,os que procurarão conhecer e explicar a ma- téria de que erão formados. Tão variadas e tão oppostas tem sido as opiniões a este respeito que seria mui longo e enfadonho enumera- las todas. Succcdendo-se humas a outras , e ás vezes reproduy,indo-se debaixo de forma diííercnte , ou com maior apparato de erudição e de argumentos especiosos , ti verão a sorte de toJas as hypothcses que não assentaó cm bases seguras ; forão combatidas e não poderão sus- tcntar-sc. Huma destas opiniões he a do Snr. Cavallciro Bossi Tom. XII. P. II. I que li Memorias da Academia Real que nas suas observações sobre o vaso que se consen'ava ém Gcrtora com o nome de Sacro c atino (r) pcrrcndc pro- var que os vasos murrhinos erão de vidro. A reputação do Siir. Bossi , conhecido por muitas obras em que bri- lha huma erudição profunda, poderia dar á sua hypothesa a força que resulta d'huma autlioridadc respeitável; c por isso me proponho mostrar que não tem fundamento so- lido ; e applicando ao Snr. Bossi o mesmo que elle diz relativamente a Mr. Hager, e que adiante se verá, su- jeitarei á suâ opinião ã hunl exame rigoroso mas impar- cial , e explicarei depois o que penso acerca da matéria dos vasos murrhinos. Porém como o Snr. Bossi expende e combate as opi- niões dos que precedentemente tratarão deste assumpto , para dar huma idea geral delle, em logar de repetir com palavras minhas o que outros referirão , transcreverei o que diz o Snr. Bossi., e continuarei apresentando a sua doutrina com as suas mesmas palavras (2). »> Exporei aqui algumas das minhas observações e í» conjecturas sobre os vasos Murrhinos , já que huma y digressão que sobre este objecto tinha inserido na mi- >» nha dissertação de Malluvio , &c. não seria própria »» deste lugar, e se tornaria mui longa no texto. » De tudo o que PUnio escreveo a respeito destes " vasos que provavelmente vinhão tanto do Egypto , co- »» mo do Paiz dos Parthos (posto que Mr. Patrjn pcrtcn- » da (1) Observations sur le vasc que Ton conservait à Gínes soiis lo noni de Sacro calino, et sur la note pubiiée sur ce v.ise par Mr. Mil- lin. &. Pàr Moiisieur le Chevallier Bossi Turiíi 1807. De Pim- primeriè de Jcan Giossi — 8"". (2) Je me permettrai ici dVsposer quelqucs unes de mes obser. vations , et de mes conjectures sur les vases Murrhiiis ; allendil qn^une digression sur cet objet, que j\ivais iiisérée dans ma disser- tation de Malluvio &. serait ici déplacée , et me mencrait trop loíA dans le texte. De tout ce qoe P/we a écrit aa sujet de ces vasos, qui apparem- hient yeuaient autant de TEg^ple, que du pa^s des Parthes^ et que nAS SCIENÓIAS bE LíSBOAi 5 h da que os Egypcios os fazião só espúrios) unicamente »> podem colher-sc os dados seguintes : i.° que os mur- >» rhinos appareccrão pela primeira vez em Roma na oc- »> casião do terceiro triunfo de Pompco : 2." que fo- » râo , desde logo, procurados cOm afinco, e compra- j> dos por grande preço pelos particulares : 3.° que se j> deo por huma laça , ou por hum copo desta espécie , j> o preço exorbitante de 80 sestercios, que montão, » pouco mais ou menos, a i;i8ogf)ooo: 4.° que no tem- »» po de Nero se conservavao como raridade os fragnien- » tos d'huma destas tjças que se tinha quebrado : y." » que o Cônsul Petronio , quando estava para morrer , »> quebrou hum prato mitrrhino ^ que tinha custado 500 » sestercios, para que não passasse para a mesa do Im- 5> perador , mas que esta perda fora reparada por Nero íi que comprou logo outro pelo mesmo preço de 300 >j sestercios , convertidos equivocadamente em talentos » pelo P. Hardouin : 6° que os vasos tnurrhinos vinhão >> do Oriente do Reino dos Parthos , e sobre tuJo da »» Carmania, hoje Kerman : 7.° que de ordinário erão da >» capacidade e da grossura d'hum copo para beber : S.' I ii " que cependant Mr. l'auw a prétendu n''avoir été que contrefaits par les lOgyptieiís; 011 ne pcut recueillir , que les données suivantes: 1.° que les Munliiiis paiureiít à Ronie pour la preraière fois à Tocca- sion (lu troisicnie trioiíiphe de l'ompi':e : 2° qu^ils fureut aussítòt re- clierclics, et aciíetés à graiid prix par les particuliers : 3.° que Voa paya d''une coupe, oU d'uii gobelct de cette espèce , ]e prix exorbi- lant de SOsexterces, ce qui rcvient à peu-près à 0:000 fraiics: 4.° que l'oi) gardait, couinie uii objet de rareté du teinps de Ntron , les fraginents d^une de ces coupes, qui avait ctécassée: 5.^ que le Cônsul Pétrone eu inourant, cassa uii bassiu murrhin , qui avait cou- te 300 sexterces, pour qu'il ne piit|)asscr à la table de riimpereur, ce qui pouitant ftit réparé par Ncroii , qui en acbeta aussitòt une autrc jjièce pour le aiêine prix de 300 sexterces, que le P. Hurãoum «■■a eu garde de chaugcr en talf;ns: tí." que les vases murrlwis \e-' naicut de TOrieut, du Hoyaunie des Parllies, et sur-tout de la Car- inanie, aujourd''liui Kerman: 7." qu''ils étaieut ordinairenient de la capacite, et de Tépaisseur d"ua verre à bgire: 8." qu'ils avaienj 4 M E M o R I A S pA A C A D E M I A R E A L V que tinhão huma espccie de esplendor sem brilho , oit >» lustro e limpidez mais propriamente do que csplcn* >» dor: 9.° que crão estimados pela variedade das côrcs, j> humas vezes com manchas brancas e purpúreas, outras » com chamas de fogo , outras com reflexos de luz e » cores como as do arco celeste: 10.° e que em fim li' j> nhão pequenas protuberâncias á flor da superfície , e » até algum cheiro agradável. » Em tudo isto não ha, como he claro, huma só » palavra concernente á substancia de que erao feitos »» estes vasos, donde nasceo a multiplicidade de questões j> e d'opiniôes differentes em que até agora se tem di-» >» vidjdo os sábios , e que distribuiremos rapidamente »i em três classes distinctas. A i." comprehende os que » julgarão , como le B/otid , que os vasos murrhinos crão » de sardonix cortada transversalmente , e não no scn- j> tido das camadas. Mr. Millin, que no seu Diccionario sj só disse huma palavra sobre estes famosos vasos, pare« » ce abraçar esta opinião ; e accrescenta que o gabinete » d'Antiguidades da Bibliothcca Imperial possue muitos M vasos bellos de sardonix. A segunda he dos que julgá- jj rão une sorte de spleiídeiir sans cclat , ou de la netleté , et de la limpi- ditc pliitòt, que de la ^pk■Ildellr: 9." qu''ils ttiieiít estimes par la varicté dfs coiílcnrs, tíiiitôt avec des taclies Lliinches, et pourprcea taiitót avec des ílamnics coulfur de fcu , laiitòt avec des reílets de luinière, et de couleilrs, comine ceux de Tare ei) ciei: 10.° Enfia qu^ils avaitiit des legères protubéraiices à fleiír de lasurtace, et niè- uie qiiclqiic odcur agrcable. Daiis tout cela , coinrae on le voit, il ii'y a pas nn seiíl mot conceniaul la substance , dont ces vases étaiciit coniposés. De-là le nombre de qiiestions , et d^opiíiioiís diflcreiítes , qui ont divise jus- qu^ici Ics Sçavans. INous les rangeroiis rapideiiieiit eii trois classes riistinguées. La prcmière coniprend ceux, qui ont cru, comine le Blond , que les vases murriãns étiient de saidon^-x faillce transver- saleraent, et non ensuivanties couches. Ur. Millin, qui n^a dit qu'uu mot Fur ces fanicux vases dans son Dictionnaire , semble partagcr eettc opinion ; et il ajoule, que le cabinet des Antiques de la Bi- bliolhèque Impériale posséde plu»ieurs beaux vases de sardoiijx. D AS Sci ENCIAS DE Lis BO A. f ít ráo, como Mariette, que os vasos murrhinos erão por- « celana da China. Esta era também a opinião de Car- I» dano^ de Scaliger^ e de Bayfius. A terceira classe com- »» põe-sc dos que tendo á frente Christius , que publicou » huma obra particular só de murrhinis veterum , imprcs- j> sa cm Lcipsick em 1743 , sustentarão que estes vjsos »» erão feitos d'huma pedra , talvez calcarea , ou gypso- »> sa que se aproximava do gcnero da alabastrite e da »» onychite. Poderia formar-se huma quarta classe dos que »> pertcndcrão que esta pedra, para coiiverter-se em 8ub- »» stancia viwrbina ^ se preparava e modificava por n^cio »» da introducção d'huma matéria colorante, e cndureci- ♦» da depois ao fogo n'hum forno; e huma quinta dos »> que distinguirão, como Mr. de Paww , os verdadeiros •»> murrhinos da Garmania , feitos d'alaba5itrite , e os mtir- •» rhinos espúrios do Egvpto adulterados com alguma com- »» posição de vidro corado. Mas he mui fácil demonstrar »> immediatamente a falsidade de todas estas opiniões , e »» dos raciocínios em que as apoiarão. í» Começando pela primeira que suppoem a sardonií >» in- L.1 seconde est de ceux , qui ont cru, comme Mariette , qne les va- ees tnurrhiiis n^étaient, que des porcelaiiies de la Chine. Cétait aussi ro))iiiioii de Canlaii , de Scaliger , et de Bayfius. La troisième ciaste ee conipose de ceiíx , qui avec C/iristius à la tÊte , qui a pubiic ua jouvrage dctaillc de murrhinis vcteruin , imprime à Leipzick eii 17-13, out soineiiu , que ces vases étaient formes d"'une pierre , probable» Jueiit calcalre , ou çypseuse , qui approcliait du geure de Talabas- trite , et de roíiycliite. Ou pourrait faire une quatrièiiic classe de ceux, qui oiit préteudu , que cette pierre, pour devenir une substance murrime , avait été préparée, et modifiée par l''iiitroduclioii de quel» que matière colorante, et ensuite durcie au fcu dans un fourneau ; et une ciuquièine de ceux, qui ont distingue, comme Mr. de Pauw, «nlre les vcritablfs muirhins de la Carmanie, formes avec Talabas- tempo, no uso de trabalhar, e até. de esculpir, ou Si gravar vasos em pedra , e atò em pedras finas , e em íj sardonix de que tcriáo passado alguns para Roma com 9» as mercadorias ou com os despojos da Grécia, antes da » época em que Pompeo triunfou dos Reis e dos pi- »» ratas Asiáticos. Vc-se pelo mesmo texto que os f?nir- »y rbluos vinhão do Oriente , c do Reino dos Parthos; » e esta não era a pátria da sardonix , nem o paiz das J> artes em que podessem fabricar-se vasos de scmelhan- jj te pedra. A sardonix tambcm nao admitte as man- í> chás purpúreas, nem as chamas, nem as cores do arco j> celeste de que Plimo faz menção descrevendo os miirrhi-' » nos. Mas o que he ainda mais decisivo he que , se- » gundo o testemunho de alguns Clássicos, e sobre tu- 5> do de Propercío , estes vasos erão cosidos no forno no » Paiz dos Parthos , o que não aconteceria a vasos de •s» sardonix, He verdade , que Propercio falia n'outro loí^ar » do qiié par le nora de murrliin; l^on voit par le texte de Pline, qiie les viunhins iie paruient à Roínc , que lors du troisiènie triomplie de Fompiíe; et que les Grecs étaient depiiis long teni|js daiis l'li.ibitude de travailler, et niènie de sclilpter , ou graver dts vases eii pierre, et iiiíiiie eu pierrcs fines, et en sardonix , dont quelqiies-uns anroiit passe à Uome, avanl répoque du trioniphe de Pon)i)ce siir les Kois, et les piratcs Asiatiques , avec les niarcliandises , ou nvec les dé« pouilks de^ la Grèce. L^on voit j)ar le niônie texte, que les murrhins venaieiít de TOrient, et du Rojanrnc dcs Partlies : or cc ii^ctait pas ]à la patrie de la sardonyx , ni le pays des arts, ou Pont pút tra- vailier des vases de cctte pierre, La sardonjx n^admet jjas noa phis les (aches pourprées, ni les llaninics, ni les couletirs de Vutc cu ciei dontF/fi/e tait nieution en décrivant \fsinurrlwis. Mais ce qui cst en- core plus frappant, c^est, que d''après le lénioiguage de quelques ■Classiques, et sur-tout de Properce , ces vases etaient cuits dans le four cliez les Partlies, ce qni ne serait jamais arrivé des vases de sardonjx. II cst vrai que Proiierce parle ailleuis de Couyx tnurihiii; CAS SCIENCIAS DE LiSBOA. f ff do otiix murrhitio, mas isto pode eiitcnder-se ou do va* »> so d'onix que cheirava a myrrha, ou d'alguma seme- }> Ihança com as chamas, esplendor, preço c estimação » da onix, cm logar de que no primeiro passo se falia » precisamente n'hum processo sobre que nenhuma duvi- »> da pode rccahir. » A opinião que tende a identificar os vasos mur- >» rhàios com as porcelanas da China , já refutada por » IViucke/matin, cahe por si mesma, reflectindose qua f» nenhum motivo havia para conhecelas em Roma peU ** primeira vez na época do terceiro triunfo de Pom- »> peo ; que se diz que vinhão do Oriente, do Paiz do3 » Parthos, sobre tudo da Carmania , c não de alguma »» terra incógnita, como era então a China; que os tnur- »» rhinos não erão pintados ou matizados de cores com »> o pincel , como a maior parte e mesmo todas as an- j» tigas porcelanas da China ; que a porcelana da Ásia , »> que hoje tem hum preço mui baixo , nunca poderia >» ter chegado a hum preço prodigiosamente caro na an- »j tiguidade , sobre tudo quando os Romanos commer- '» cia- mais cela peut s''etiteudre, ou du vase d^onyx, qui sentait la myrrhe,' on quelcjue resseniblaiice avec les ílammes, la splendeur, le prix, «ft le méritt; de i''oiiyx ; au lieu , que dans le pretnier passage Ton })arle avec toute préciáiun d''UD procede, sur le quel il ue peut tom< ber auciin doute. L''oi)inion, qui teiid a identiíier les vases mnrrbins avec los por- «elaiucs de la Chiiie , dòjà rcfutée par W vtckelmaiia ; tombe d^elle uiêiue , si Von remarque, qu^ii iPy avait aucun raotif de les coimai- •trc ;\ Konie pour la premiCre fois à Pépoque du troisièmo triumpbe e mandavão navios até no Ganges , c ao Golfo de » Cambaia , donde poderiao ter tra/ido carregações mui j» ricas das mercadorias da China ; c que finalmente as jj porcelanas não tem veios, ou manchas, nem chamas, » ou a cor de fogo, nem o aspecto d'Iris , ou opali- »» no de que Plínio fazmenção. Rccorreo-se á porcelana j> que tem o nome de estalada , cm que se vê huma in- finidade de pequenas linhas que se cruzão em todos os sentidos e que dão aos vasos a apparencia de serem rachados por toda a parre. Porém não he esta a es- sência do viuryhino. O mesmo succede a respeito da 3j porcelana vcnturina de que fallou Mr. de Patiw , pos- }» to que supponha que nunca foi vista na Europa , e jj que se chama na China Yfío-pien , isto he transmuta- j> cão. Esta porcelana que não teria com os vasos miir- » rhiiios nenhuma outra relação mais do que alguma sc- » melhança com a agiitha , que também não era mate- jj x\^ niiirrhiua ^ hc effeito do acaso, c procede para as- -3S sim dizer , d'hum capricho do forno , sem que para >» isso concorrão os fabricantes, c contra sua vor.tade. >5 Dc- fi íIps par la mer Erylhréo, et piivoy.Tifnt íies vnissp.mx jiisqne snr le u r.ippor- ler (ies cargnisoiis três riclics des niaiclKiiidises de la Cliii)e ; ron nu Tait jamais vne en Kiirope , et qu'it pas non plus une inatière murrhinc ; liVst qu^in produit du hasard, qui arrive pour ainsi dire par un ca- price du founieau, à riiisi,'U , et contre le gré dcs ouvriers. Jlest DAS SciENciAs DE Lisboa. (> j» Deveria por tanto examinar-se se este accidente a- » contcceo n'huma época mui antigaj e quando tudo isto » SC demonstrasse, ainda não seria verdadeiro viiirrhino, >» Os nmrrhinos também não erao d'3labastrit'j , ou » d'onicliite, como supposerão Cbristiiis e outros Sábios ; >» porque i.° a matéria não era tão rara que fizesse su- » bir estes vasos a hum preço exorbitante , tal como o >» que Plinio annunciou : 2." podcrião fazcr-se desta ma- >» teria vasos do maior diâmetro , sem se limitarem ordi- >» nariamcnte a taças ou copos: 3." esta matéria nunca j» teria reflectido as cores do aico celeste : 4.° trabalhan- » do-se no forno nunca poderia offerccer á superfície as >» pequenas protuberâncias que PJinio dcscrcveo : 5." igual- >» mente não poderia conservar , por muito tempo , o í> seu lustro sem se embaciar , nem tcna nunca hum j> grão sufficientc de solidez por ser de natureza calca- » rea , ou gypsosa , ou mediastina , conforme a expres- » são de alguns Naturalistas : 6.° finalmente não a co- j» zerião os Parthos no forno de cozer louça de barro , » como indica Propercio. O mesmo acontece a respeito Tow. Xll. P. II. 2 » da donc ;\ voir , si cet accident est arrivé à une époque bien anclenne ; et l» niurrhina era o cacboloiig, pedra provavelmente desco- 3> nhecida dos antigos , e que não apresentaria ncnliuma » das propriedades assignadas por Plínio aos nmrrhinoí ^ >» nem alguns dos caracteres annunciados por outros Clas- » sicos. Por isto hc que Mr. Millin na sua introãiic^ão >í ao estudo das pedras gravadas ^ observou judiciosamente » que a tliese de Mr, Motigez não estava demonstrada. j> Outro tanto pode dizer-se da opinião de Mr. de l^el- » íbàm que pertende que os vasos murrhiuos erão feitos j> do talco glafico dos Chins , e da do Príncipe de Bis- »> cari j que assegura que a opala era a matéria destes >j vasos. Huma espécie de steatite mui branda , c que >» não he nem nobre , nem rara , nem preciosa , não po- >» deria interessar o luxo mais caprichoso dos Romanos, j> sem entrar em linha de conta que não preenche os cara- s» cteres assignados aos vasos murrhinos por P/z'«;o, Propercio^ « Marcial^ e pelos outros Clássicos. Qiianto á opala sou j> de parecer, e até já o demonstrei n'outra parte, que it a opala de Plínio não era a nossa opala que se acha . »» lia Ungria ; e que os antigos não conhecerão a opala » cam- W. Mongez , qiii croit , que la iiiatière murrhiue étoit le cucltoloiig- , jii<;rrc probableuient iiiconiiuc aux ancicns, et qiii iie prcseiifcrait nti- cline des projirietés assigiices par Plwe aux murrhhis , iii aucviii rfes caracteres anuonccs par li^autres Classiques. Cest à cause Ac cela, que JM. Nillin dans sou infroduction à Vétiulc des pierres gravér.s, a obser- ve judicicusenicnt que la thèse de M. Moiigez n^était iiulleiíieiit dé- niontrce. Ou pourroit eu dire autant de l\issertion de M. de Vel- theim, qui prctcud , que Ics vases murrkins ctnient faits de picrre de Jard Chiuoise ; et de celle du Priuce de Biscnri, qui a avance , que ropale étoit la inatière de ces vases. Uneesjièce de steatite trcs niol- le , et qui nVst ni noble , ni rare , ni ])rccieuse , n^aurait |)as ])U iii- téresser le luxe le plus capricieux des Koniains; sans comptcr, qnVl- )e ne remplit pas du tout les caracteres assignés aux vases mwrhiiis par Pline, 1'roperce, Martial , et les autres Classiques. Quaut à Popa- 4c, je suis d^avis , et je Tai mêine dénioiítrc ailleurs , que Popale de Vline iPctait pas Topale de nos jours , que Pon trouve en Hon- grie; et que les ancieus n'out poiut connu cette opale cliaiigcaatc , DAS SciENCIAS DE L I S B O A. Tl ■» cambiante e acatasolada de que nunca se achou jazigo » no Oriente , o que fez dizer a Mr. Brogniart que os »» ourives chamão impropriamente opala oriental á da Un- j> gria , cuja mina visitei cm 1790. A mesma opala que '* M.r. Hasselqtiist achou no Egypto, c que suppoz oricn- » tal ^ era segundo a sua descripção, huma opala d'Un- >» gria, cujas cores, reflexos, apparencias e accidentes va- » ríâo infinitamente 5 e tanto basta para demonstrar que >» os murrbinoi não erao d'opala ; ao que poderia accres- » cenrar-se que nunca se vio opala tamanha de que po- » desse tirar-se não digo hum prato de mesa, mas nem j» sequer o mais pequeno copo para beber , sendo até >» da natureza da formação desta pedra não poder appa- » recer, com todas as propriedades que a tornão de pre- >> ço , em dimensão hum pouco considerável. j» Devo demorar-me hum instante com a opinião »» de Mr. Hager, que ponho na 3.' classe, que faz con- ifc sistir os vasos ntiirrhinos y ou a matéria murrhina,, na pe- >» dra Chineza chamada Yu. He a these que estabeleceo , " com muita erudição, no cap. 17 da sua Numismática i ii M Cbi- et iririée, dont on n''a jamais trouvé le gisement en Orient ; ce qui a fait dire à Mr. Brogniart, que c'est 1'opale de Hongrie, dont j'ai vi« site Ja mine en 1790, que les joailliers appellent improprement oriai- tale. Cette opale raême, que M. Husselquist a trouvé ea Egypte, et qu'il a soupçoiíné orientale, n^était, d'après sa description, qu^une opak de Hongrie, dont les couleurs, les reflets , les apparences , les accidents , varieut à Tinfini. Cela sufíit pour dcinontrer , que les murrhins n''étaient pas d^opaJe ; à quoi Ton pouriait ajouter, que l'oa n^a jamais vu d''opale si grande , d'ou Ton piit tirer non pas un bas« sia , mais pas inêrae un verre à boire le plus petit , cela ctant mê- me dans la nature de la formation de la pierre , quVile ne peut ja- mais paraitre avec toutes les propriétés , qui en constituent le prix , sous une dimension tant soit peu considérable. Je dois m^arrêter un instant à Topinion de I\I. Hager , que je range sous la troisièrae ciasse, et qui fait consister les vases wmrr/iw,í, ou la niatière murrlãne dans la pierre Chinoise , appellée Yu. Cest Ia tlièse, qu^il a pose avec beaucoup d^érudition daus le cbap. XVH 12 Memorias DA AcADEMi A Real f» Ch:»eza , e que vcsumio 119 cap. 9 do sta Pautbí^an » Chi/iez, Sinto muito pão po4t:r concordar com o parc- 5> ccr deste Sábio que mp honia roíji a sua amizade , c » que acaba de ser nomeado Frofessí^r de Lingoiv Gráeií- ?» taes na Universidade de Pavja, Primeirâincnte part'cc- ?) me que nem scguio , nem eitou bdm exactamente o jj texto de Pímio^ que frequentemente interpretou a seu « sabor, creando algumas ve/.ps caracteres para aproxi- j> m.ir á sua pedra Ghine/a os ".mirrhinos. Não suscitarei j> difficuidade sobre a extraordinária dureza das pedras i> de Ytt; ipas onde .foi a dureza snnunciada como hum j> dos caracteres dos vasos mitrrhinos ? Convenho cm qu<í 3» ha pedras de Yu de todas as cores ; porém ha no mes- ?» mo pedaço desta pedra a passagem rápida da côr da » purpura para a branca, desta, para huma terceira côr »> brilhante cqmo o íogo , do branco de leite para o » vermelho mais feçhgdo, para os reflexos de luz, e pa- ?> ra as cores do arco celeste, que Plinio nos descreve ? 3> Nunca A^r. Hagcr poderá provalo. Ha pedras de Yu p com manchas 5 porem muitas pedras tem manchas, e » com tle la Numismatier ne pourra jamais noUs prouvtr. II y a des pierres de Y* avec dcs taches; «lais bica de pierres oiit des taclits, que cepeu» dasScienciasdeLisboa. t^ »> comtuclo nunca poderão ser consideradas como mate- f* ria dos mtirrhmos. Os bcUos Yit , diz Mr. Hager, cuja ♦» côr hc uniforme, são os mais estimados dos Chinos c ■»» scriáo os menos apreciados pelos Romanos. O macio »» e o verniz de que Mr. Hager fiiz menção, c que refe- »» re ao nitor veiitis quam spleudor dos murrhinos de Plínio, »» nSo hc hum caracter tão particular , tão precisamente j» dcscripto , nem tão notável que possa estabelecer hum »» ponto de semeihançi entre as duas espécies de substan* »» cias. O vaso de F« da Bibliothcca Imperial, pintado »» em papel, que fez gravar em frente da pag. 168 da »» sua Numismática Oiineza , está carregado d'ornatos de >» que nunca se lembrão os Clássicos que fallao dos ♦» ntiirrbinor. Estes ornatos sempre salientes devera tor- »» nar desigual a superfície , se o desenho he exacto , e #» os murrhinos de Pliuio só tinhão pequenas protubcran- »» cias ou manchas em relevo em forma de boihinhas M que Piiftio indica pela expressão verriicae iicn emincii' » tes ■, pouco mais ou menos como as variolites do Pó, »» e da Durance. O peso he, pelo que dizem , hum dos » ca- clant Ton ne ftra p.is passfer pour la matière cies murrhins. Les beaiix Tu, dit encore Mr. Has^er , dout la teinte est unia, soiit les plus ^stlnica' (les Cliinois. lis aiiraicitt cté les luoius prisés des Koinains. JjBUr douceur , et leur vernii , dout Mr. Hngtr fait meation , et qiril rapportc au nitor verias quam spliMdor des niurrhias de 1'line ; n''est pas iiii caractere assez p.irticulicr , asscz i)récisciiieut décrit , ni asscz frappaiit, pour ctablir uu poiíit de rfsseinblaiice entre les deiix es- jjòces de iiiaiières. Le vase de Yu pcint sur jjapier de la Bibliotliè- íjiie Iiiipóriale , qu"il a fait graver vis-;i-vis la page ItíS de sa A'k- mismatinae Clwioisc, est chargé d'ortiernei)s, dont il nVst jamais quês- liou daiis ks Classiques, qui parleiít des iimrrlniis : ces orneniens íaillans par toiU , doivent rciidre sa òurlace raboteuse, si Ic dessein est exacto; et les niurrhini de Vima n'avaient que des petiíes protu- hérances, ou des taches relevérs tn bossc , en forme de vesiculcs, que VLíiu: indique ])ar le inot verrucae noit eminentes, à-pru-près com- ine lc8 variolites du Pò , et de la Durance. La pesanteur, à ce que i^on cjit , f&i uu dé^-caractères distinctifs de la pierre de Yu : luaia 14 Memorias da. Academia Real » caracteres distinctivos da pedra de Yu ; porem niío d j» encontro entre os caracteres distinctivos dos viurrhi- »'* nos 5 posto que esta qualidade por si só não bastaria » para provar a sua identidade com os Yu. A exprcs- j» são vmrrhasqiie graves de Estado não he de todo j» concludente , e tanto mais por sef duvidoso que j> neste passo se trate do peso , podendo referir-se ao » cheiro que os mtirrhinos tinhão conforme o teste- >» munho de P/itiio, Alem de que nunca viria á ima- j> ginação dos Romanos , dados ao luxo , a idéa de j> procurar por grandes preços vasos, cujo peso seria j> hum defeito, e não hum motivo d'estimação. A fra- >» gilidade destes vasos não pôde constituir hum cara- j> cter especial , nem hum ponto de semelhança còm as j> pedras de Yu. Os murrhinos nunca excedião a grande- » za ordinária das mais pequenas laminas para escrever, j> e falla-se em pedras de Yu do comprimento de 3 pés j» e meio. As pedras de Yu são conhecidas na China á >» muito tempo ; mas vimos acima que a pátria dos niur- » rhinos está indicada , e que não vinhão d'huma região í> incógnita aos Romanos , como o teria sido a China » no je ne la trouve pas entre les caracteres distinctifs des murrhins , quoique cela seul ne vaudrait rlcn pour constatar leiír identité avec les Yu. Le mot murrhasque graves de Stace n^est pas bien cunciuant, d''autanf plus qu'il est très-douteux , qu'il «'agisse dans ce passage de la pcsanteiir; cela pouvant ètre référé à ]'odcur, dont les mi/;-- rhins étaient doués d^aprí^s le tcmoignage de Fline, D\iilleiirs il ne serait jamais tombe dans Pesprit des Romains luxurieux Pidce de reciíercher aii plus grand prix des vases, dont la pesantcur eut con- stituc nn défaut, et non pas ua mérite. La fragilitc de ccs vases ne peut pas constituer un caractere bien particulier, ni un point de res» scmblance avec les pierres de Yu, Les murrkins uVxcédaient jamais la grandeur ordiíiairfe des tablettes à écrire les plus petitcs; et 1'on noiís parle de pierres de Yu de la longueur de trois pieds et demi. Les pierres de Yu sont connues depuis long-temps à la Chioe ; mais l^on a vu ci-dessus, que la patrie des murrhins est indiquée, et qu"ils ne vcnaientpas d''une cuiitrée incoanue aux Romains, telle que laCbi- DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. l^ « no tempo de Tibério e de Nero. Alem de que seria »j mui difficil provar , como Mr. Hager intcnrou demons- » trar , que os Seres , e os Sines dos antigos fossem o » mesmo que os Chins ; que a Cliina íosse conhecida }> dos Gregos, e que a Sérica dos antigos seja com pou- f> ca diíFcrcnça a Cliina actual. Eflfectivamentc os Gre- " S"^ quasi nunca falláião nos murrhinos. O preço cx- » traordinario dos vasos murrhinos e dos vasos de Yii , a >» disposição de huns e outros para receber os licores » quentes, que se pretende, quanto aos murrhinos, achar >» annunciada por Marcial e contrariada por Plinio ; a >» transparência de algumas partes dos murrhinos, e a se- >» mi-diafaneidade de algumas pedras de Yu , não são » signaes , nem caracteres de semelhança tão explícitos, *> c tão notáveis que facão determinar a identidade des- » tas duas matérias cuja distancia se pertendeu aproxi- » mar demasiadamente. Desejaria também que Mr. Ha- »» ger se tirasse melhor do embaraço que lhe causa o » verso de Propercio Murreaque in Parthis pocula cocta focis j « por» ne Taurait été du femps de Tibère, et de Néron. II serait d'aílleurs très-tlifíicile de prouver ce que Mr. Hager a essayé de démontrer, que les Seres, et Jes Sbies des aocieiís fussent la niême chose, que les Chiiiois; que Ja Chine liit comiue des Grecs, et que la Sérique des auciens soit à-peu-près la Chine d''aujourd''liui. En efltt les Grecs jl''out presque jamais j)arlé des murr)iuis. Le prix extraordinaire des vascs murrlaiis , et des vases de Yu ; la disposition des uns, et des autres à recevoir les liqiicurs cliaudes, que l^ont a prctendu (rouver quant aux murrhins , annoncée jwr Martial , et contridiíe par Pline ; la transparence de quelques parlies des munliius , et la sérai-diapha- iiéitc de quelques picrres de Yu , ne sont pas des traits , ni des cara- cteres de re^seniblance assez marquês, assez frappans, pour falre dé- cider ilc Tidentilé de ces deux malières, dout on a tro]) voulu rap- procher la distance. J\Turais nussi souliaité , que Air. Hager se (út lirc uu peu mieux de Tembarras , que lui faisait ie vcrs de Pro- jierce : Murreaque iit Vartiús pocula cocta focis ; 1 6 M E M o Ii ! A S D A A C A D E M I A R E A L ■» porque he da maior evidencia que se trata dos vnsos )) nittrrhinos cozidos nos fornos dos Parthos , como os )) de porcelana o são nos tornos dos Chins , e não de » vinho preparado ao lume que fizessem os Punhos, nem » de vinho quente lançado cm vasos tmirrbiws, que Mr. )) Hnger pensa que se preferião para esse fim , por não » expor os vasos de chrystal a quebrarem-sc. P.-.ra tirar » todas as duvidas a este respeito, c para rectificar so- » lidamcnte a intelligcncia do verso citado de Prcpercio^ » pedirei a Mr. Hager que attcnda a hum logar de Plt- » nio em que, tanto o murrhino, como o chrystal são cx- » chisivamentc indicados para as bebidas frias crystalli- ■» im et myrrhina frigidi potus iitraqne. Lib. 37. cap. 2. » Notarei aqui de passagem outra espécie d'erro em que )> cahio este Sábio, e também Mr. Píniw pelo afíinco ex- » tremamente forçado em accumular provas pr.ra defen- y> der a sua these , pretendendo que os Rotiimios nsovao •» com preferencia dos vasos mtirrhims quando ípierião Icber » vinho quente j fundando-se nestes versos de Mar ciai: » Si 'puisqu''!! est trop évident, cjiie c*'claie!!t les vd,ses murrliiiis , qui étaieiít ciiils tlans les fours lics l'aillics, coninic ceux ile poioclaine ]e soDt daus Ics fours desChInois; et que ce n^clait pas dil viu bru- lé , qifoii faisait clicz Ics Partlu-s, iii du vin cliaud veisó daiis les vases mwrhiiis , que Mr. Hager croit avoír c(c jnéfcrcs poiír c-.'! lisaijc , à Pobjcct de lie pas exposer à la fracture des vases de cris- tal, l^our ôtcr toulc sorte de doutes ;i Ce sujet, et pour rictifier so- lirieiíieiit riiitclligep.ce du vcis cilé de Vropercu ; je le pritrai de íaire atteiitiuii ;i 1:11 pasaage de 1'Hiic, oíi le inurrhin , de itiôine que le cristal , cst iivliquc exclusiveiiieiit pour ks ))r!(i()!is friiides : cnjs- tallinn , et mynhtmi frigidi Jioius vtraque. Lib. XX XVII Cnp. 2. Je relevcrai ici cii passaiit une autie csjièce dVrrcur, oii c;' Sç.ivairt est tombe avec JMr. Panw^, par un einpresscment trop force á ac myrrha y de que os antigos fazião muito uso, e com > que se tempcravão os vinhos mais exquisitos , como s o mesmo Mr. Hager reconhece no fim do seu capitu- X lo , citando até Eliano c Plinio , que dão a este vinho > preparado no lume e temperado com drogas o nome » de murrhinites e de murrhiua. Visto que as conjecturas •» são muitas vezes da alçada do Antiquário, e visto que ■» só por conjecturas he que se consegue illustrar algum » passo escuro , e descobrir algum mysterio da antigui» X dade, deve agradccer-se-a Mr. Hager ter proposto so- X bre hum assumpto que parecia esgotado , huma con- » jectura inteiramente nova esteada em muita erudição , X e em que foi algumas vezes arrastado pelo seu amor X e admiração dos monumentos Chinezes. No Panthéon X Chinea cap. 9. Mr. Hager toca outra vez nesse objecto, X mas unicamente para provar que o Yu-ché j ou a pe- Tom, XII. P, II. 3 dra S? calidum potas, ardeiiti myrrha Falenio CvnuenU , et melior fil sapor inde meroé Or dans ce distique il uVst pas du tout questioii des vases murr-hins; mais de la drogue elle mênie , de la nijrrhe , qui était d'im usage trcs-ctcndu clicz \vs ancieiís, et dont on assaisonuait les vins les plus e.xquis , comine Mr. Hager Ic recoiinoit lui même à la fiu de sou cliapitrc , en citant inême Elieit , et Pline , qui donnent à ce via brúlé , et assaisonnc avec des drogues , le nom de murrhinites , et de murrhiua. Coiume les conjectures sout très-souvent du ressort deTAu- tiquaire ; et comme ce ii'est, que par les conjectures, que l'on par- vient à éclaircir quelque passage obscur, et àdévoiler quelquc luys- tère de rantiquitc ; Ton doit sçavoir bon gré à Mr. Hager d'avoic propoié sur ce sujet , qui paraissait épuisé, uue conjectiire toute nouvelle , qu"il a étavé de beaucoup d'crudition , et oii il a été par fois cntrainé par soa ainour, et son transport pour les nionuniensCbl- nois. Dans le Vanthéon Chiuois chup. IX. Mr. Hager est encore re- venu sur^ce siijet; mais pe ^;a^été,| íiu§,í>9.ur pto,}iy^ft,V^fi,^f,j?^f*' r? Memouiasda Academia Real > dra de Yu, a pedra preciosa por excellcncia se acha yt tambcm no Tibet , na índia , c na 'fartaria ; e que es- » ta pedra tem sido comparada, liumas vezes á agatha , s outras a hum jaspe, outras a huma saphiro ; e isto he ntais > huma razáo para acreditar que não era esta a matcriâ > dos mtirrbims. Apesar do que tenho dito ouso lison- » jear-me de que Mr. Hager não levará a mal, que eu tenha > submettido a sua opinião a hum exame rigoroso, o que ■» entrava necessariamente no meu plano ; e isto prova o k apreço que faço dos seus escriptos e da sua erudição. » Rcsta-me dizer huma palavra dos que imaginarão » coser n'hum forno a alabastrite ou introduzir-lhe cores T» para fazer delia o murrhitio^ e dos que supposerão D murrhinos de pedra da Carmania , e mnrrhinos vitreos •» do Egypto. Parece que os primeiros não tinhão gran- » des conhecimentos de Chimica , ou que mesmo não ji sabião de que pedra fallavão. A alabastrite dos anti- » gos , segundo as descripçóes bastantemente circunstan- •a ciadas que delia tertios^ era cal sullFatada, ou cal car- » bonaiada. Nenhuma destas substancias cosida n^huiii ^•^' . » for- clié , ou la pierre de Yu, la pierre précieuse par excellence, se trou- ve aussi au Tibet , aux Intlcs , et eii Tartarie ; et que cette pierre a été comparée taiifôt à une agathe, tantót à un jaspe, taiitôt à un saphir. C'est une raison de plUs pour croire, que ce nt-toit pas là la matiére dcs murrhins. An reste j'ose me llatter, que Mr. Hager lie será pas fachc, qne j'aie soumis son oplnlon à un examen rigou- íeux : cela etltrait nécessairement dans nion plaii ; et cela prouve le cas , que je fais de ses Écrits, et de sou érudition. il me reste à dire un mot de ccux , qui ont imagine de cuire l'alabastrit6 dans le four, ou dy introduire dcs couleurs , pour en faire du munhin; et de ceui qui oiit supposé des murr/iiin: pierreux de Carraanie , et dcs niwthiiis vitreiíx de TEgjpte. II parait que lés premiers ii'avaient pas de grandes connaíssances dans la Chimie, oU qu'il3 ne sçavaieiít pas mème de quelle pierre ils parlaicnt. L'ala- bastrlte des ancieoi n'a clé, suivaot les descriplions asscz dctaillécs, que nons en avons, que de la cíliaux sulfatce, ou de la cliauxcarbo- nátée. Ni Tuab, àiTautre de eesdÊQxsubstauces, étaiit cuile dans uw HAS SCIEMCIAS DE LiSBOA; l^T » de louça de barro poderia ganhar neste processo : a » primeira convcrtcr-se-hia n'hum esmalte branco que se j» reduziria a pó no fim de algum tempo : vcrificar-sehia > a fusão no sentido das laminas , o que lhe daria huma X apparencia irregular ; poderia também fazer-se toda » branca no fogo e depois dcsfolhar-se : a segunda abrir- > sc-hia , formaria fendas, e transformar-se-hia em cal » viva. Quanto aos que pertendem distinguir os murrbi' ■» tios da Carmania dos do Egypto desejaria que dessem » provas mais concludentes da necessidade da sua dis- » tincção , c que tivessem pelo menos demonstrado a » pcrtendida falsidade dos vasos vmrrhinos que eriío com- » postos d'huma base vitrea. Piinio , no capitulo que )» consagrou quasi por inteiro aos vasos nnirrhhios , não > inserio huma só palavra em que se trate de falsificação » ou de adulteração destes vasos.. » Conduz-me isto naturalmente a propor em fim a » minha conjectura sobre a natureza dos vasos murrhi- v nos , conjectura que pôde achar-se plausivcl depois de í se terem desvanecido os motivos de credibilidade alle- 3 ii » ga- four de poterie , aurait pu y gagner: la première se serait fondue en uii email blaiic, qui serait tombe eu poussière au bout de quel- que leins: ia fusioti se serait même opérée daiis le scns des lames , ce qui aurait rendu 1'apparence irrègulière ; elle aurait pu aussi deveiiir toute blaiicbe au feu, et eiisuite «'exfolier: la seconde se se- rait entroiiverte, aurait forme des crevasses, et se serait changée en chaux vive. Quaiit à ccux qui prétendeiit de distinguer entre les munhiiis de la Carinaiiie, et ceux de rEgj'pte; je souhaiterais qu'ils eussent donné des preuves plus frappaiites de la necessite de leuc distinctioii, et qu'ils eussent au moiíis démoiitré la prétendue falisse- té des vases murrhius, qui étaieut coiii poses d'une base vitrense. P/i- nc dans lechapitre, qu'il a coiisacré prtsqu'cutier aux Mh&csmurrhins, u'a pas iuséré uu seul mot,í oii il soit qucstion de falsification , ou de coiitreraetioa de ces vases. Cela raamène naturelienient à proposer enfin ma conjecture sut Ja iiatnre des vases viunliins ; conjecture qui peut étie trouvée jilausible après (pe l'on a écarté les motifs de crédibililé, allegué? Wr MEifORIAS líA AcADEAtíA ReÍ^AL »' gndos a favor de algumas opiniões , e derríonstr.ulò á í iiwcrosimilhnnça de outras. Suspeito què os vasos ctí/T- a rbitios que, como jj vimos, não podião ser de snrdo- » nix, nem d'alabastritc,iiem de talco glafico, nem de opa- » }a, nem de outra ncnliii'md pedra, hefíí ínesmo de pedra » de i7/, nem de porcelana, podiSo simplesmente ser forma- »' dos de algum vidro factício que se fabricava pz-o^velriien- » te na Carmania e na Pérsia e também no Egypto, e que )) podia reunir todos os caracteres assignados pelos anti- » gos a estes preciosos vasos , hypothcse que nao rcpu- » gna a nenhum dos passos dos Clássicos que falldraa » dos miirrhinas, mas que pelo contrario os reúne todos, )) e estabelece entre ellés huma espécie de concordan- » cia. Vasos d'hum vidro muito raro, e muito precioso, » fiibricado na Ásia , podiSo apparccer em Roma pela » primeira vez na occasiao do 3." triunfo de Pompco y )i alcançado pclag íuas viíetorlas contra os piratas e con- ji tra os Reis e povos da Ásia e do Ponto Euxino ; a t sua raridade , e a sua extrema fragilidade , tornan- » do-os mui difficeis de transportar , não podião deixar D de augmentar-lhês o preço , c elevá-lo a hurna somma » pro- en faveiir de quelqu'opinion , et déinontré l'invraiseir)blauce de qílclquViiitre. Je soup<;o!)ne doiic fjiie les vases murrhins , qui , coiDiiie noiís Tavons vu , ne pouvaint être de sardonyx , iii dala- basti-itft , iii de pierre de lard , ili d'opale, ni (raiiciiiie autre pierre , pas même de pierre de Yu , ui de porccriiiie ; pou- Vaieiít être tout siinplurnent coinposcs de quclqlle verre factice , que Pon taliriquait apuarpitinuMit cii Carraanie , et eii Perse , aussi bieii qircn Kjjypto, et qui pouvait reunir tous les caractòns , assi- gnés par les aiicii ns à cfs va,'es prccieux. Cette liyjjolhèse ne repu- gne ;\ aucun dcs passagcs dcsClassiques, qui oiit parle des murrhins; aii eontraire elli; lis réanit tons , et établit entre ees passages uue espèce de coiicordance. Des vascs d'un vcrre Irès-rare, et très-pré- ciéux, fabriqné cn Asic , pouvaient paraitre á fioine pour la pre- inií're fois à i'()casion i!ii troisicme Irioinplie de Potiipéc , ohtenu par ses victoires sur les iJÍr.itfS, les Róis, et les |ieiiplcs de TAsie, et du 1'oiit Mnxin; leur rareté , et leur extreme fragilité, qui en reiídait três difticile le trausport, ne pouvaient quangiuenter leur prix , et Das SciENci AS DE Liseòa/^ ífl » prodigiosa, depuis de sie ter introduzido o luxo, e » dú rsrr lavrado a moda eríi Roma cora furor ; os fra- » gmcntos dcstcK vasos que, pela sua qualidade vitrea, » nao admittiao talvez coiicettò, podiao ser por isbO » mesmo guardados comQ hum objecto de curiosidade , » e sendo a matéria destes vasos tâo preciosa, quão aca- » bados crão a sua forma e trabalho , não podiáo os va- í SOS exceder nunca cerca dim::nsao, como precisamente » acontece em todas as fabricas de vidro: não tinhao » precisamente esplendor, mas tinhao hum lustroso agra- »/ davel que Plínio indica por estas palavras =; nhor ve- » r/«j- , qtiatn splendor-=i , e qUe he próprio do vidro, )) porque o brilho só he próprio das pedras e sobre tu- » do das pedras preciosas ; a variedade dais cores e o » que se chama cambiante , a gradação e as passagens » rápidas das cores , as chamas , os reflexos de luz , as » cores do íris são tudo coizas praticáveis no fabrico » dos vas;)s de vidro , maiormente recorrendo-se aos es- » maltes , ao mesmo tempo que seria impossivel reuni- 5> las n'huma pedra ; cm fim as manchas em relevo , as » le- le porter à une soinnic prodigieuse , d'a|)res que le luxe s'ctait in- troduit, et que la niode de ces vases avait pris à Koiiie avec fu- reur; Ics frugiiients de ces raéines vases, que leur qualitc vitreuse ne perijitllait p;is pcut-èiie de raccomoder , pouvaient être par cela lutiiie tjardcs coiniue uu object de cuiiosité ; la iiiatière de ces va- ses élaiit prccieuse , autaiit que Icur forme, et leur travail ctoit re- cherclic, ces vases ne pouvaient jamais exceder une certaine dimen- kíoii ; et c'cst prccisemeiít ce qui arrive dans toutes 'es verreriís: ils li'av.;ient pas précisci!ie;it de splendeur^ mais ils ctnient d'un luisaiit agreabie, que Vltiv: indique jMr ces mots — nitor ve.rius, quam splen- dor~ 1 et qui est pr<)|)re du verre , leclat ii'etant projire , que des jiierres, et sur-loul ilcs pierres précieuses; la varieté des couleurs , ce qu'ou appciic chaiigi-ant , Ics nuances , les passagcs rapides des coulcurs , les ilumines, ks rcílets de luniière, les couleiírs de Tlris, ce sout toutes des choses |)raticublís dans la fabric.ition leves protuberâncias, as verrucae de Plitiio só podiâo » rasoavclmcnte cxccutar-sc n'hutn vaso de vidro facti- j) cio, cm que era mui fácil praticar as diveisas grada- j» çõcs de cores , misturando vidros corados e espalhan- )) do sobre toda a superfície gotas de vidro , ou d'es- » malte levemente protuberantes. O vaso de vidro de iMr. » Incisa apresenta precisamente este género de trabalho, » e em toda a sua superfície se vem as ri verrucae nou yt eniineittes , ted in corpora pleritmque sessiles ~ assim co- j» mo a transparência parcial, degenerando n'huma espe» > cie de palidez, que era hum defeito dos murrbinos, se- )) gundo o texto de Plinio : não direi comtudo que o » vaso de Mr. Incisa seja hum verdadeiro murrhino. Sup- » ponho que sobre huma superfície de vidro , talvez de » algum vidro muito precioso, e mesmo de diffícil com- )) posição, d'hum vidro talvez opalino, se applicassem •» gotas ou mesmo feiches de pequenos tubos d'csmalte » de diíFcicntes cores: proviria d'ahi o lustro agradável )) da superfície, o nitor, a variedade de cores, a passagem > da purpura para o branco e para huma terceira mudança ■» cor de fogo, a purpura tornando-se pelo seu brilho » n'hum bosse , ces protiibérances Icgères, ces verrucae de Fline, ne pouvaient raisonnaL)lenicnt ètre placécs, que dans uii vase de verre factice, oii il clait t:èii-aisé de pratifjiier des nuauces par le mélange dcs verrcs colores , et de rcpaiidre surtoute la surfacc des gouttes de verre, ou d'éiiiail , légèrement protuberantes. Le vase de verre de Mr. Incisa presente piccisciiieiit ce genre de travail, et Ton y voit sur toute la Siirface ces verrucae noa eminentes , scd in corpore plcntmque sesúles ; on y voit aiissi cette transpareiíce partielle, dégéiiéraiite eii une es- pèce de pàleur, qui ctait un dcfaut dcs murrhim d'après le texte de Flitic: jc ne dirai pourtant pas , que le vase de Mr. Inciaa soit uu vcritable mnrrlwi. Je suppose, que sur une surface de verre, peut» étre de quelque verre três précicux, et iní^mc duiie coinposition dif- ficile ; d'un verre peut-ôtre opalisant , on ait appliqué des gouttes ou mcnie des faisceaux de petits tubes d email de dillercntcs coulcurs: de-là ce luisant agrcable de la surface , ce nitor , cctte variétc de coulcurs, ce passage de la pourpre au blanc , et à une troisième nuairce couleur de feu, ce pourpre rougissant par soii éclat, et «e DAS SciENdiAs DE Lisboa". ÍJ í vermelho acceso, e o leite alvejando de que falia PU' D nio , e que cm vão se procuraria em nenhuma espe- > tie de pedra , nem mesmo na opala. Daqui vem a in- > tensidade de cor na borda dos vasos que agradava a 5» alguns dos seus apaixonados, e que procedia provavel- yt mente da reunião do corte dos feiches d'agulhas ou a tubos d'csmaltc coloreado, que vinha reimir-se nas ex- » tremidades , os reflexos de luz e de cores semelhantes > Qo arco celeste, as manchas diflPerentes na forma e na Tl dimensão de que alguns amadores preferião as mais » apparentes =: his maculae pingues placent :=; manchas que » talvez nas fabricas se variavao, segundo se queria, o » que não podia ter lugar senão no vidro. Daqui pro- » cedião também os pontos pálidos , sem côr , e algu- ■% mas vezes transparentes que constituião hum defeito 3» nos mnrrhinoí , as manchas em relevo , de que demos » a explicação c o modelo ; a borda roida ou mossegada » dos dentes d'hu'.n bebedor extasiado com a belleza do » vaso, o que exclue inteiramente a supposição de qual- T> quer outra matéria que não seja a do vidro de que te- » mos fallado até agora. Fazem-se actualmente em Ve- > ne- lait bl.inchissant , dont parle Tline , et que Ton cherclierait vaioe- ineiit t-n aucuiic sorte de pierre , roême dans l^opale. De-là cette in» teiisité de coiileur sur le bord dos vases, qui plaisait à quelqu'aiiia- tear, et qiii venait probablement de la réiinion, et de la coupe des faisceaux d'aiguines, ou de tubes demail colore, qui venaieut se reunir aux exlrcmités ; ccs rellets de luinière, et de couleurs, pareils à ceux de 1'arc eu ciei ; ces taches diíférentes dans leur for- me , et leur diraension, dont quelques amateurs préféraient les plus apparentes ::^ hú maculae ping^tcs placent :zz ; taclies , que peut-être Toii variait à plaisir dans les fabriques, ce quine pouvait avoic lieu , que dans le verre. De-líi enfiu ces points pâiés, saiis conleur, et par fois transparcDS , qui constituaicnt un défaut des murrhins ; ces taches en bossc, dont nous avons donné rexplfcation , et le mo- dele ; ce bord du vase rongé , ou entaroc avec les dents par un bu- vtur épris de la beauté du vase , ce qui exclut entièreinent la sup- position de toute autre matière, que celle du verre, dont nons avons pAflé jusqa'à préseat. Oa fait même actuellement à Venise des bo«« ^4 Memorias da Academia Real » ncza bolas , pequenas laminas , contas e outros brin- » cos; fazem-se também pequenos vasos com feiches de » pequenos tubos de vidro ou d'csmaltc de todas as cô- « res que reúnem quasi todos os accidcntes de côr e » d'apparencia , as mudanças, os cfPcitos de luz, os re- » flexos, c o acatasolado annun,ciados por Plínio a respci- » to dos murrhiuos. •» A' minha conjectura só podem oppor-se os dois » passos de Plinio de que Mr. Hager faz menção , c pe- » los quacs parece que a matéria dos murrhinos era fos- » sil. Hum he tirado da prefação do L. 33 em que diz » =:: Murrhina , et crjisíallina, ex eadem terra ejfodimus ;=. : » outro do cap. 2 do L. 37, onde falia miudamente dos y> vasos murrhiuos, dizendo a propósito delles : humorem y> putant sub terra calore detisari. Parece com tudo que » não se deu a devida attençao a estes passos. Não ha X duvida que a matéria do yidro murrhino ou crystallino » se tirava, pela maior parte, da terra ; podia-se por tan- j) to no, primeiro passo fallar de duas espécies de vidro j, ao. mesmo tempo, cujas matérias primas se tiravao do ' V ,< » mes- les , des tablettes , des grains , et d'aiitres colificliets ; on j a fnít niénie des pttiis v.ises avec des fnisceaux de petits tubes de verre, ou d email de loutes los coulcuis, qiii réiinisseiit prcsqiie tons Ics accideiiE de coiileur, et d'apparence , Ics iiuaiices, lesjtux de Iii- inière , les rcílets , et Ics cliangeineiis , aniioncés par ¥linc au sujct des mwrhins. On tie pourrait opposer à ma conjecture , que les dciix passa- ges de Fliite , dont Mr. Hager fait nienlion , et par les qiielles il parait, que la nintière des murrliins étoit fossile. L'mi est tire de 1% préface du liv. XXXIII, oíi \\ est dit: Murrlnua, et crystailina , c.v enclcm tara eflodimus : Taiatre du cliap. 2 du liv. XXX Vil, o» il parle en détail des vascs miinhius , et ou il dit à ce piopas : humo- rem putaut sub terra calore densari. II parait cependaiit, que loii n'a pas fait assez d'attentioii à ces passagcs. II est hors de doute, que la niatière du verre niitrrltin, ou criiiiailiii , se tirait pour la plus graH- de partie de la terre ; on pouvait donc dans le prcmier passage par- ler de dcux sortes de verre á la fois , dont Toii tirait du inème eu- DAsSciENCIASCELtSBOA. If > mesmo logar , c isto concedendo gratuitamente a P/i- ■» iiio todo o merecimento da exacçao. O que prova que » neste passo se tratava de vidro hc a frase que se se- » gue á indicação dos mitrrhinos e dos crystalliuos , qtti- í bus pretium faceret ipsafragilitas. Como não pôde sup- » por-se que se tirassem da terra os vasos já formados, D iiypothcsc que comtudo favoreceria singularmenie a mi- » nha nova conjectura , Plínio jamais teria notado neste ]) logar a fragilidade do crystal de rocha , que nada da » frágil tem quando se tira dns montanhas , e cuja du- x reza reconhecco o mesmo Plinio n'outra parte , fazcn- » do-o até desenterrar cm alguns sitios com o ferro da » charrua. Mas o que prova evidentemente que neste » passo não se trata senão de vidro, ou d'huma matéria » fusivel que servia para o fabrico do vidro , he que a 5» pátria dos mmrbiitos he designada por P/iuio e colloca- j da no Oriente , no Reino dos Parthos , e na Carma- í nia : ora vai muita distancia daqui á pátria dos crystaes^ » indicada pelo mesmo Plinio^ e collocada no Oriente, D que hc hum termo muito vago , porém mais precisa- Tom. XIL P. II. 4 mcn. roit Ics matif-res prcinirres; et ccl.i en accordant gratuitcmeiít à 1'íiiie toiít le incrite de lexactitude. Ce qui prouve que dans ce pas- sage il nctail qufstion que de verre , cest la plirasc, qui snit Tindi- cation des mwr/iii's et des cristalíiiis, quibus pretium faceret ipsa fra- gilitas. Coinnie l'on na peut guère supposer, que l'()n tirãt de la terre Ics vases tout formes; hjpotlicse , qui cepcndant favoriserait singuliòrcnient ma iiouvelle coujtcture; Vlnic uaurait jamais remar- que daus cet endroit la fragilité du cristal tic roclie , qui n'cst rieu luoius que fragile, lors quoii le retire des montagncs , et dont le mrine IHme. a recounu ailleurs la dureté , en le faisaut même dé« terrer quelque part avec le soe de la charrue. Mais ce qui prouve íi révidence, que dans ce passage Ia il uVst question , que de ver- rc , ou d'unc niatière lusible servante à la verrtric; cVst que Ia pá- trio d(s murrliiiis est désiguce par Pliiic , et est piacée dans TOrient, le Hoyaume des Rirtiies , et la Cariuanie : or il y a bien loin de-là à la patrie des cristaux , indiquée par le même Pline , et piacée daus lOricut, qui est un tcrme tiès-vague, mais plus précisemcnt ■i& Memorias da Academia Real 31 mente na Índia , junto d'Alabanda e d'Ortosia , na » Ilha de Chypre , e sobre tudo nas nossas montanhas j» dos Alpes donde ainda actualmente se tirão os mais í bellos crystaes de rocha. Não se tratava portanto d'hu- » ma pedra quando di/ia tntirrhina^ et crystallina ex eadem •» terra effod'mu!\ porque o erro seria mui notável e •» mui grosseiro ; tratava-se d'outra substancia diversa , > d'huma substancia própria para fazer o vidro, ou mes- » mo d'hunia espécie de massa fundida, d'hum vidro já % formado , d'hum vidro volcanico. Qiianto ao segundo » passo , que dia respeito a condensação ou coagulação » d'hum humor debaixo da terra produzido peio calor » de que Pímio fallou a propósito dos mirrhinosj h^ evi- > dente que neste logar não quiz fallar senão no modo » porque se cosião os vasos miirrhims^ que talvez julgou « que fosse debaixo da terra, não tendo idea dos fornos 31 para obras de barro, ou das fornalhas Parthicas , ou 5» pôde ser que julgasse que esta operação se praticava ■» em fornos subterrâneos. O que tira toda a duvida a cs- » ta interpretação he que os antigos applicárão muitas » vezes a palavra humor ao vidro , pela sua semelhança » ap- dans l'Inde , prés d^Alabaiide , et dOrtosie, dans l^isle de Chipre , et sur-toiít dans nos moiitagnes des Alpes, d'oú lon tire les pliis beaux cristaiix de roclie niéine à prcsent. II ue s'agissait donc pas d'une pierre, lorsqu'il disait: mutrhina, et crystallina ex eadem tura effodi' vius ; puisqtie l'erreur aiirait élé trop remarquable et trop grossiò- re : il s'agi!ísait donc de toute autre substance , d'une substance pro- pre à faire le verre , ou nième d'une cspèce de fritle , dun vcrre toutforiuô, dun verre volcanique. Quant au second pnssage , qiii concerne la condensation, ou l'épaississenieiit d'iine hniiieur sons la ter- re, opere par laclialeur, àont Pline a parle à propôs áesmurrhhis; il est cvident, qu"il n"a voulu parler dans cet eudroit, que de la cuis- son des vases munhiiis , quil a cru peut-èlre opcrée sous terre, n* ayant pas d'idée des fours de poterie , ou des fournaises , qui exis* láient chez les Parthes; ou mèaie il a cru, que cette opération sexé- cutait dans des fours souterrains. Ce qui met hor? de doute cette interprctation cest que le niot humor a été tròs-souvent appliqné au verre par les aiicieiís, à cause de sa ressemblnnce appareule avec dasScienciasdeLisboa. %j » apparente com a agoa , e que quasi nunca se servirão » delia , fallando da concreção das pedras. Era por con- > sequencia hum vidro , ou huma massa de vidro que se 3» fazia co/cr debaixo da terra , ou em fornos subterra- » neos: não era huma matéria sui generis que se formas- t se nas entranhas da terra, e neste sentido he eviden- X te quão longe está este passo de oppor-se á minha » conjectura. > Provei até aqui que os vasos niurrhinos podião ser » de vidro ; e isto pela reunião dos caracteres mencio- » nados pelos Clássicos , que á primeira vista se apre- » sentão , suppondo ser esta a matéria que se emprega- » va na sua formação. Agora emprehcndo demonstrar •% que a matéria dos tnurrhinos não podia ser senão vidro. •jt Convém sobre tudo cingir-se aos passos de Plinio em > que occasionalmente faz menção dos murrhinos , sem 3» entrar em nenhuma explicação , como fez no cap. 2 do » L. 37. Nelles he que dá maior apoio á minha conje- » ctura. Fallando dos ornatos dos Templos e dos instru- » mentos dos sacrifícios, Í-. 3? cap. 12, diz que se fa- » zião as libações com pequenos copos , simpiivia , que 4 ii » não Tcau; et que Toii ne s^en est presque jamais servi en pariant de Ia coiicrction des pierres. Cetaitdonc un verre, ou une pâte de verre , que Pon faisait cuire sons tcrre, ou dans des fours souterrains : ce n"était pas une luatière mi generis, qui se furmât dans les entrailles de la tcrre ; et dans ce sens-là 1*011 voit , combiea ce passage est loiu de 8'opposer à ma conjecture. J'ai prouve jusqu'ici, que les vases murrhins pouvalent être de verre; et cela par la rcuniou des caracteres inentioiíées par les Clas- siqucs , que i'on trouve dabord daus la supposition de lenjploi de ceCte inalière pour ieur forniation. J'entreprends à présent de dé- montrer, que la niatière des murrhins ue pouvait être, que du verre. II faut sur-tout s'attacher aux passages de Pline , ou il fait mentioa occasioiíellement des murrhins, sans entrer en aucun détail , comme il la fait dans le chap. 2 du liv. XXXVII. Cest là, ou il prête le plus d'jppui à raa conjecture. En pariant des ornea)eiis desTempIes, et des iustrumens des sacrilices, lib. XXXF cap. 12 il dit, que Toa íaisait les libations avec des petits verres, simpuvia, qui iiètaieut pa« 70 Memoriasd A Academia Real » riíío crão murrbinos ^ nem crystaUinos y mas simplosmen- » te de barro cozido; logo tratava-sc aqui de vidro que » se equiparava de algum modo ás obras de olaria. Fal- » lando do vidro, da sua origem, das suas diffcrcntcs » qualidades etc. L. 36 cap. 26, falia do vidro obsidiano » com que se falsificava a pedra obsidiana de que indica » algumas obras e a pátria : falia do vidro branco e do » niurrhino : fit et albtim et mm-rbinum ; passa depois ás » massas vítreas com que se fingiao os jacinthos, as sa- » firas e todas as outras pedras preciosas de côr ; mas » quando falia do niurrhino , falia simplesmente como de » hum vidro, e não se trata nem de falsificação, nem » de fraude, nem d'imit3ção , como se diz, no artigo » ohsidiano. Era por consequência o murrhino hum vidro, » huma cspccie particular de vidro , hum vidro stii gene- » m, de que faliou no capitulo cm que trata do vidro, 1» sem tazer menção de nenhuma matéria prima que se s pertcndcsse imitar por meio deste producto dos for- » nos. Paliando no mesmo capitulo cm que trata dos » vasos marrbhios d'algumas matérias que nío crão pe« » dras murriííis, ou cmiallitis, mais toiite sim|)lement de terre cuite: ii étiit íloiic ici qiiestioii de vcrre , qiii était cn quelque façoii p;iriíió aux ouvrages eii poicrie. En ])ai)aiit dii verrc, de sou origine , de ses dilíertiites qualilés, etc. lib AXXFI cap. 'ití , il parle du verre ^bsiilkn , par le qlicl on falsiíiait la pierre obsidiciiiic , doiit il indi- que (|iiarle tout simplenieiit , conimc d^iii vi rre , et il n'ist queslioii r.i (Ic falsificatioii , iii de fraude, iii dlniit.Uiou , com- ine il est dita rarlicle roduit dis founii-aiix. Kii parlant daiis le inêuie chajjitre , 011 il trailc de» vases murilttfn , de qutlqucs matières, qui uétaiciit pa$ dcs pier» DAS SciENCIAS DE LiSBOA, 1? » dras, ou gcmmas propriamente taes, mas (jue de certo » modo eráo tão estimadas como as gommas , faz pri- 1 meiro menção do alambre , c pòc na mesma classe » as peças crystallinas e murrhinas , que por conscqucn» » cia não erão gemm.is, mas trastes de vidro. He essen- » ciai attendcr ás poucas palavras que se seguem, e que já » citei nesta nota: crystaUina ^ et fíturrhttia , frigidi poítis » utraqite. Isto tira toda a duvida de que Plinio queria » fallar neste passo d'huma composição vitrea, o que se s liga muito bem com o que tinha dito dos caracteres » do vidro— cst calor is iinpatiens ^ ni pr^cedat frigidns » Jiquor = e por isto lie que os vidros >7/«rrZ;/H0j erão re- » servados para as bebidas frias. Alem de que se tivesse í havido umrrhiuos verdadeiros de pedra , e t/iurrlj/iior fal- » SOS de vidro , como Mr. Paiiw , e outros supposerao , )• Píiiiio não teria deixado de observalo, e de notar que n os falsos, c não os verdadeiros, erão sujeitos a cstallar í com a infusão de licores quentes. He também digno ■» de nota que nos lugares , assaz numerosos , em que j Plinio reúne as duas indicações murrhina et crystallina , » se res , ou cies geiíimes i>roprement dites; mais qul étaient estimées h qutlqiréirard aiitaiit que Ics gemines, il tait premièreinent meiítiott «Ju sucxiii , et il range sous la mème classe les picões cristatlmrs et niurrhincs ^ qui netaient donc pas des gemnics, mais des lucnbles de vcrre. II est esscntiel de faire attcntion au peii de mots, qui suivent, et que j'ai dcja cites daiis cctle note: cryxtalUna , et munhú Ma, fri^iãi. potus iitraque. Cela met hors de douta, que c'ctait d une compositiou vitreuse , dout Vline voulait parlcr dans ce passagc ; et cela SC lie très-bieu à ce qu'il avait dit en ])ailant des caraclèies da verre : dl caloiis impatiens , ni pra;cedal frií^idits lit/uor ; c'e3t à cau- se de cela , que les verres murrldns étaient reserves aux j)otions froi- des, Dailjeurs, s'il y avait eu dos tiiurriiiiis vérjtablns en pierre , et des faux tnuirliiiis en verre, coinnie I\lr. l'auw , et d'auíres loní snp- posé , Flini; iraurait pas ni.Uiqlié do lobscrver, et de rciiiarquer, quo les faux, et noQ pas les vcritablcs, étaient sujets à éclatcr par liiifusion des liqucurs cliaudcs. 11 est aussi digne de remarque, que dans les passages assez nonibreux , daus les quejs Pliiie réiinit lea go Memorias da Academia Real » se trata sempre dos crystaes de vidro, servlndo-se » constantemente da palavra crystalltim , quando se trata » do crystal de rocha. Por consequência só havia hum j) vidro murrhino , e não havia nenhuma substancia pc- 5» trca , qualquer que ella fosse, chamada murrhhia de » que Pliiiio não teria deixado de fazer menção. No seu •» Diccionario de Lithologia , ou na sua indicação das a pedras por ordem alphabctica , fallou da pedra cha- j mada myrrhites , que tinha a côr e o cheiro da myr- » rha , mas desta pedra não he que se fazião os vasos > tntirrbtnos. Se ajuntarmos a tudo isto a authoridadc de » Propercio : Murreaque in Parthis pocula cocta focis , ver- •» se-ha que interpretando rigorosamente todos os Clas- » sicos , os vasos mttrrhinos , não podião ser senão de ■» vidro. He isto tanto assim que o nosso Folpi , preve- » nido por Varchi traductor de Séneca , no seu commen- 3» tario sobre Propercio^ deixou-se arrastar pela opinião de » Bayfius , que os vasos mtin hinos crao de porcelana ; » porque esta matéria tem huma espécie de analogia j) com o vidro. O distico de Marcial » Nos deux indicalions , murrhina, et cri/stallina, il est toujours question des crystaux de verre: peudant qu'il se sert constaniinent du noni de cri/statlum, lors qu'ils'agit d u cristal de roche. II n'y avait donc, qu'un verre murrlim ; il u'y avait pas une substance pierreuse quel- coiique, appellée miirrlme , dont P/we ifaurait pas oiiiis de faire nieiition. Daiis son Dictioiínaire de Lithologie , ou daris son indica- tion des pierres par ordre alpbabétique, il a parle de la picrre nom- mée tnyirhiles , qui avait la couleur et Todeur de la myrrlie ; mais ce ii'est pas de cette pierre, que lon faisait les vases murrhins. 11 uy a qu'à ajouter á toiíle cela Tautorité de Properce : Murreaque in Fartltis pocula cocta focis , et Toii verra, qne les vases murrhins , en interprétant tons les classiques à larigueur, nepouvaient élre, que de verre. Cela est si vrai , que notre Mr. Volpi , prévenu iiiênie cn ce- la par Varela, traducteur de Scncijue ; dans son conimentaire snr Fropcrce, sest laissc cutríiiner à Topinion de Bavfius, que les vases murrliiiis ne fusseiit , que de la porcelaine , parce que ccite niatièrc a une sorte d^analogie avec le verre. Lc distique de Martial, DAS SCIEMCIAS DE LlSBOA. Jf » Nos bibimus vicro, tu murra, Potitice ; quare ? » Prodat perspicHUs ne duo vina calin : yt nada oíFcrece que se opponha á minha conjectura. Os > convidados de Pontico bcbiao por copos que imitavão t o crystal ; Pontico bebia por hum copo murrhim , pa- » ra que os seus hospedes não podessem conhecer que í elle bebia d'um vinho exquisito , d'hum vinho diffe- » rente do que se servia na mesa. Ora nós vimos que 1 os vasos murrhinos , segundo a descripção de Plínio , » não erão absolutamente transparentes , e mesmo que a » transparência diminuia o seu valor j por consequência j erão opacos, ou semidiafanos, o que devia acontecer » se estes vidros fossem de côr, ou iriados, e se fossem j» cobertos d'algum esmalte. O vaso de Mr. Incisa, que » he semeado de pingos de esmalte branco, seria mui ■» próprio para encobrir a côr de qualquer licor; e sou ji de parecer que o mesmo aconteceria aos murrbinos. » Posso por consequência segurar com huma espe- » cie de confiança que a minha opinião a respeito des- » tcs vasos, longe de estar em contradição com os tex- » tos JVoí bibimus vitro , tu tnwra , Poutice ; quare ? Prodat perspicuus «e duo vina caliv : n'oflrre rien , qui s'opi)osc à ma conjecture. Les convives de Ponticus buvaicut (laiis des verres, qui iiiiitaieiít le cristal ; Ponticus buvaít dans uii verre murrhin ; et cela afiii que ses liótes ne pussent paa eappercevoir, qu'il buvait dHiii viu exquis, d'uii vin diiféreDt de celiii, que lon servait à la table. Or nous avoíis vu, que les vases munhins , d'après la description de P/ine , nVtaieiít pas absolument transparens , et que mème la transparence eu diininuait la valcur. lis ctnient douc opaques , ou séinidiaphanes ; ce qui devait arriver, si CCS verris étaieiít colores, ou iridés, et s'ils étaient enduits de quelqu^cinail. Le vase de Mr. Incisa, qui n'est que parseiné de gouttes d email blanc; serait très-propre à inasquer Ia couleur de quelque liqueur, que ce fut; et je suis davis , qu'il en a été de nièiiie des nwnhins. Je puis doiic assurer avec une sorte de confiance , que mon opí» ciou au sujet de ces vases , loin d'6tre en contraste avec les tex« 51 Memorias DA Academia R EA L ■» tos dos Clássicos que falldrao dos vasos nn.rrhinos ■, y) apoia- se em todas estas authoridadcs, e serve ao incs- » mo tempo para illustrar todos estes passos. Comtuda » proponho-a como huma simples conjectura , tolerável » depois de tantas outras que se tem imaginado a este » respeito. Acabarei advertindo aos meus leitores que y> Paiíiu falia de algumas particularidades curiosas que » se contêm no artigo Madre do Glossário de Dti Can- y> ge y que muitos modernos julgarão cíFectivamentc achar » os antigos vasos murrhinos nos vasos chamados pelos » habitantes da Gaula Hanaps de Madre \ mas que estes > pertendidos murrhinos erao de páo. Talvez se achem » em muitos Museos e gabinetes fragmentos de vasos » de vidro, que tenhao pertencido a estes famosos vasos » mrirrhíHOs, conhecidos e celebrados na antiguidade. Se- » ria necessário attentar sobre tudo pelos vidros iriados 5» e opalinos , em que tornarei ainda a tocar neste es- » cripto. Copia depois o Sr. Bossi huma nota do primei- ro volume da edição Italiana da .Historia da Arte de Win- tes des Classiqucs, qui ont parle des vases ninrrhins, ne fait que «'ap- piiyer de toutesccs autorilés, et sert en inênie temps à éclaircir tons ces passagcs. Cepcndaiit je ne propose cette opiíiion, que comine une siaijile conjecture, tolcraUle après fant dautres, que Ton a cnfaii- té à ce snjet. Jc íiiiirai par averlir nus lectcurs, que Páuiv parle de quelqnes délails curieux , oonttnus dans l\irticle ISlndre du Glos- saire de Du Caiio-e -^ que plusieurs des niodernes ont cru en elTct de trouver les anciens vases mi/n/íH/.v dans ks vases, noniniés par icsGnu- lois, Hauu))s de Madre ; mais que ces prctendus ?ímíT/íH/,v nétaient que de bois. Pcut-itre il se trouvc tlans plusieurs musces, et cabinels, des fragniens de vases de vcrre , qui ont ajjpartenu à ces faineux vases murrlii.is , connus , et célebres dans l'antiqnit6. II faudrait faire at- tention snr tout aux vcrres iridés, et opalisans, sur les quels je rc- viendrai encore dans cot ccrit. Bossi l, c. p. 68, nota 17. (3) Na muiha edição de IVitikelmaiw , Paiu 1802, vem o vaso fi- gurado ajl. 23, e a nota af. -Já do Tom. 1." (4) La citlà di bidoae, ai dire dei medtsimo storico, celebre si DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. JJ "Winlíelmann ( 3 ) em que Everhard Visconti, descreven- do hum vaso de vidro que tinha , e que por sua morte passou para a collccção de MMrs. Trivulzi , se expres- sa pela maneira seguinte zí (4) » A cidade de Sidon , como diz o mesmo histórico » (Plinio) , tornou-se celebre por semelhantes artefactos » (os de vidro) que, debaixo do nome de vasos mtirrhi- » nos , chegarão a tanto preço que , no tempo de Nero, t pagáráo-se dois por seis mil sestercios sr » Poucas coizas tenho que observar a respeito des- » ta nota. A primeira he que entre os pés ou bases que j devião por-se por baixo das taças que não os tinháo , •j, podia comprehender-se , mesmo conforme a intcrprc- » taçao do P. Hardottin , os abaci de que muitas vezes 3» falia Plinio , e de que diz serem feitos da matéria dos » vasos murrbinos '. abacis etiam , escariisque vasis inde » expetitií ; cujo tamanho nunca excedião : mirqiiam parvos •» exçedtmt ábacos, O que se punha por baixo das taças •» que não tinhão pé ou base, era humas vezes pequenas 1 laminas , outras vezes pequenos pratos covos ou con- » cavos ; e seria isto mais huma prova de que os famo- » SOS w usos murrbinos erão de vidro (Vej. a nota 17) Tom. XII. Part. II. $ » Admi- ■5) rcndette per sliTalti lavori , i quali sotto il nome di vasi tnurrhi- » ni crebbero in t.into pregio , che a teuipi di JNerone due ne furo- }} no pagati sei mila sesterzi:;. Je iPai que peu de clioses à observer au sujet de cette note. La premicrc c^est que du nombre de ces pieds , ou de ces bases, que l'oa devait appliquer aux tasses, qui en manquaient; pouvaient être , mciiie daprês Piíiterprétation du P. Htírdouiit, ces abaci, dont Fline parle très-souvcnt; dont il dit que Voa en faisait de la niatière idoii; il u'a jamais lait meniíon des nAsSciEKCiASDELrsnoA. 35r X vasos crystallinos e murrbinos depois de ter fallado do y vidro obsidiam , de cjuc se viáo em Roma obras mui > notáveis por sua grandeza , e depois de ter fallado j dos descobrimentos feitos em Roma na arte de fabri- > car o vidro no tempo de Tibério^ seria mais fácil e 3» mais natural acreditar que os tnurrhitios se fabricavSo 3» em Roma , c não em Sidon. » Estimo porem muito achar este erro n'huma nota > communicada aos editores da obra de IVinkelmann pelo » maior Antiquário com que a minha pátria pode hon- > rar-se. He hum signal evidente de que, antes de mim, > estava persuadido de que os vasos murrhiuos eráo de vi- 5» dro. Se não estivesse intimamente persuadido desta » opinião, que procurei demonstrar com evidencia, niío » teria feito sahir os murrbinos das fabricas de vidro de ■» Sidon , donde alfim só podia sahir vidro. » Talvez este homem celebre , cuja collccção de » antiguidades basta para o tornar immortal , suspeitasse » que a sua taça de vidro era hum verdadeiro murrbiuo y í e que a sua extrema modéstia o impedio provavelmcn- » te murr/wLS, IWiyaut mdme nommc Ics vases crystalliiis , et murrlwis, qi,rapròs avoir parle du verre obsklieii , dont on voyait à Rome des ouvrages très-remarquables par leur graudeur , et après avoir parle cies découvettes dans Tart de la verrerie, faites à Rome du teins de Tibèie; il scrait pliis aisé, et plus uaturel de croire, que loii a fait des miirrhius à Rome , et uoii pas à SIdoo. Je suis cepeudant channé de trouver cette errear dans une no- te commuiiiquée aux cditcurs de louvrage de Winckelmaun par le plus graiid des Antiquaires, dont iiia patric puisse s''honoror. Cest une marque evidente , qu'il ètait persuade avant moi , que les vases murrlwis u'ctaient que de verre. S'jl n'cíit pas étc intiinement per- suade de cette opiniun , que j'ai taclié de dpmontrer à levidence; }\ uaurait pas fait sortir les murriáns dps verreries de Sidon, d'oú il ue pouvait sortir à la fin, que du verre. Ptut-être cet homiue célebre, que sa seule collectioii d'antiqnc3 suffit pour rendre imtnortcl , soup^unnait il , que sa tassc de verre íúi uu vcritable uiurrhin, ce que sod extreme modestic I'a probable- 36 Memouias da Academia Real T, rc de dcclara-Io. Quanto a esta supposição direi huma Tt única palavra que já principiei a pronunciar no fim, » da minha nota sobre os vasos marrhims n.° 17. Disse » eu que talvez exista algum fragmento destes vasos > preciosos em algum gabinete da Europa. Se com ef- T» feito existe, e se se pretende examina-lo exactamente » á face dos textos de Plinio ^ e dos outros Clássicos, fi só nos fragmentos de vidro opalino, taes como a taça > de Trivu/zi he que poderá reconhecer-se a reunião de X todos os caracteres assignados pelos antigos aos mur- » rhinos. He verdade que a taça de Trivulzi tem aspe- > cto opalino em consequência de ter estado muito tem- » po enterrada, e d'hum começo de dccomposiç.lo do » vidro de que foi formada , mas o Snr. Abbade Trivul- ■» ziy pelo que vimos na nota Italiana, duvidava ainda que » não fosse isto côr dada pelo artista. Finalmente nos í fragmentos de vasos de vidro opalinos he que poderão ■» admirar-se as gradações rápidas e cambiantes das dif" •% fcrentes cores , os reflexos de luz , as chamas ; a côr y> de fogo que he própria da opala, vista a travez, as » cô- iiieiit retenu d'annoncer. A l'égar(l de cette supposition je ne dírai qirun raot, que j''ai déja pronoiícé à demi à la fin de ma note sur les vases miirrhiiu n. 17. J'ai dit, que pent-être y a-t-il quelqiie fragmeiít de ces vases précieux dans qnelqiie cabiuet de l'Kiirope. S'il y en a , et si l^oii eiitreprend d'en faire une recon- naissance exacte daprès les textes de Pliiie, et des aiitres Classiques; CO lie será que dans les fragmens de verre opalisaiis, teis que la tasse de Trivuhi , que lon pourra reconnaitre Ia rénnioii de tous les caracteres, assignés par les ancieiís aux murrldns, II est vrai, que la íasse de Trivulr.i nopalise, que par son loiíg scjoiír dans la terre, et par iin comnienceinent de decora position du verre dont elle a élé formce. Mais Mr. TAbbé Trívttlzi, à ce qu'on a vu par la nofeita» lienne , se doutait encore, que se ne fiit une couleur donnce par 1'artiste. Dailleurs ce n'est, que dans les fragmens des vases de ver- re opalisans, que Ton pourra admirer les nuances rapides , et chan* geantes des diilerciites coiilenrs; les reflets de lumière ; les flam- iiies, la couleur de feu , qui est pro))re de lopale vue au travers, les couleuis de Tare eu ciei, la sémi-transparrnce, les veiues', oit nAS Sc lENci A s DE Lisboa. 37 > cores do arco celeste , a semitransparencia , os veios » ou manchas , ora grandes , ora pequenos , conforme o ê< gosto dos amadores , as bordas ricas em cores , a le- X veza , a fragilidade , e todas as propriedades enumera- ■» das na nota 17. » Em Roma havia hum fragmento , pouco mais ou » menos no gosto da taça de Trivulzi j no gabinete do > Conselheiro de ReiflPenstein. » Nas notas addicionaes traz huma sobre a proprieda- de odorifera dos vasos murrhinos que diz assim (y). » Vimos na nota 17 que os vasos murrhinos goza- X váo , segundo o testemunho de P/mio , da proprieda- X de de terem algum cheiro : aliqua et in odore commeti- » datio est. A MMrs. Mongez e Hager não lhes deo isto mui- X to que fazer, e assegurarão que esta propriedade não po- X dia entender- se da substancia de que os vasos murrhinos erâo X formados em si mesma. Eftectivamente suppondo que » esta substancia fosse huma pedra , ou qualquer com- > posição, huma sardonix, ou huma porcelana, huma » opala, ou hum esmalte, huma alabastrite, ou hum vi- í dro de côr, será sempre mui difficil comprehender cor » mo taches , tantót grandes, tantót petites au gré des amatenrs , ]es borda richcs en couleurs, la légéreté, la fragilité, et toutes les propriétés, dout 011 a vu le détail dans la note n. 17. Uii fragmeut, à peu-près dans le gout de la tasse de Trivulzi, a été vu á Koine dans le cabinet du Conseilier de Reiffetutdn. Bossi. 1. c. nota 20 p. 105 e seguintes. (5) L^on a vu, uote 17, que les vases murrhins jouissalent, dVprès le ténioignage de Plirie , de quelque propriété odorante : ali- qua et in odore commendatio est. MMrs. Mottgcz, et Hager, se sont tires dafiaire tout de suite cn avauçaot , que cela ne pouvait pas se comprcndre de la substauce mêrae , dont les vases murrhi/is étaient formes. Era effet, que lonsuppose, que cette substance fút une pierre , ou une composition quelconque, une sardonjx , ou une porcelainc , une opale, ou un émail , nne alabastrite, ou un vcrre colore; ce sara toujours três diílicile de comprendre corament ces niatières par leur natura aient pu être consideres conime odo- rantes, bi uiême cette matière u''eút été , que de Talabastrite cuite , 58 Memoriasda Academia Real X mo estas matérias tcnhão podido ser coiisidcrodas chel- » rosas por sua natureza. Ainda mesmo que esta niate- » ria fosse a alabastrite co/.ida , c que na fundição lhe » tivessem misturado alguma droga cheirosa, esta pro- » priedade seria passageira , c fugaz , n'hum corpo que » não era esponjoso , com poros muito unidos e supcr- » ficie polida c lustrosa. » Plínio fatia no seu Diccionario Lithologico, no fim » do L. 37 da sua Historia Natural , d'huma pedra cha- » mada jnyrrhites (a que Mr. Hager dá o nome de aga- ■» tha myrrhada) que tinha a côr da myrrha, que não ri- » nha comtudo a apparencia d'huma gemma , ou d'hu- » ma pedra fina (o que prova exclusivamente que não » era agaíba) , que tinha cheiro d'unguento ou de per- » fume , ou d'hum unguento provavelmente de myrrha ; 3» que pela fricção dava até hum cheiro de nardo , ou j) d'oleo d'alflr/.ema. Ainda que não se procure esta pe- » dra exclusivamente entre as agathas, he certo que se- í ria mui difficultoso reconhecela em nossoè dias cm al- » guma espécie de pedra 5 e deve também observar-se » que et si Ton y eíit mélé dans la cuisson quelque drogue odorante; cette jjroprieté iPaurnit ítc, que passagère, et fugace, dans uii corps point du tout spongiLUx, avec dcs pores très-resserrés, et des surfaccs pa- lies, et luisantes. Pline nous a parié dans son vocabulaire Lithologique à la íin du 37 livre de son Ilistoire naturelle, d''une pierre , appellée myrriã' tes , ( dont Mr. Hager a parle sous le nom Wagatlie mijrrliéc ) ; qui avait la couleur de la myrrlie; qui n''avait pas pourtant l'apj)a- rtuce d'une gemine, ou d^une pierre fiue; ( ce qui prouve exclu- eivenient, que ce n^ctait pas une agulhe); qui avait 1'odcur d'onguen(, ou de parfuuj, ou d'un ongucnt, probablenient de injrriic ; qui par le frotteinent donnait ménie Podeur de nanl , ou dMjuile daspic. Quoique Ton ne doive pas clierchcr cette pierre exclusivenicnt entre les agatlies; il est CRrlaiii, qu'il serait très-difficile de la reccnuaitre de nos jours en quoique espèce de pierre, que ce fut; et il faiit obscrver aussi , qu'il n'cst pas dit , que la nii/irhites fút Ia uiatiòrç fies vases inurr/iiin, , :.n>t jji^j uu<.iui lú .tij4i>«* DAS SciENClAS DE LiSBOA. " 3^ y que nao se diz que a myrrhites fosse a matéria dos » vasos mtirrhinos. » Conhecemos mui poucas substancias térreas quç 3» tenhao cheiro. Conhecemos algumas espécies de cal D carbonatada, a cal carbonatada bituminosa , que he a » bituminifera de Mr. Haiiy^ e que peia fricção , ou pe- » lo calor deita hum cheiro a bitume , muitas vezes » pouco agradável ; e a cal carbonatada fétida de Mr» » Hatiy, vulgarmente chamada pedra ftdorenta^ ou pedra -» de porco, que dá pela fricçío hum cheiro fétido de y> gaz hydrogcnio sulfurado, análogo ao dos ovos chocos. » Ha também entre as ochres a terra de Bucaroí , mui- » to famosa em Hcspjnha , de que se fazem vasos que » communicão hum cheiro e hum sabor particular aos j) líquidos que nelles se pdem a esfriar. Poderia dizer se X destes vasos : aliqtta et tn odore cotumendatio est. O bi- )) tume elástico chamado catitchouc fóssil^ ou tnineraly y> que se acha em Inglaterra , e de que descobri alguns » pedaços na Bohcmia, tem igualmente hum cheiro bi- 3» tuminoso muito forte; porem he hum bitume, do mes- )) mo modo que o alambre , c talvez também a âmbar í gris, Nons nc conuaissons , que très-peu de substances terreiíses odo- rantes. Noiís coninis^ons quelqiie especa do cbaiix carbunatce : Ia cliaux cnrbonatce bittimineiise , qui est la bituminifire de M. Hauí/, et qiii répaiid pnr le frottcment, ou par la chaleur une odciir bi- tuniiiieiise soiivcnt peii agrcable ; et la cliaux carbonatée fétide de M. Hnui/ , vulgaireineut appcWee picrre pumif a , on pieire de porc , qui répand par le ftottement tine odeur fétide de gaz hjdrogène sulfure, analogue à cclle des (eiifs pourris. II y a aussi entre les ocres la ferre da Bucaroí , tròs-fAmeuse eu Espagiic, doiit oq fait des -vases, qui comiiuiniquent une odeur, et une saveur paríiculière aux liquides, que Pon y niet rcfraichir. On pourrnit dire de ces vascs : aliqiia et in odore com:wj!i'latio est. Le bitume élastique, nommé caiitclioiic fos.iUc , ou viíiii-rril, que lon trouve en An^^leterre, et dont j''ai découvert quclqu^éeliantilloii rn Boliòme; a aussi nne odeur bi- luiiiineuse trés-forte: mais c^est un bitume, autant que le succin, et pc^it-Ctre aussi i\-imbre jjris j et aucuoe de ccs substances ne parait 40 Memorias DA AcademiaReal ), gris , e nenhuma destas substancias parece poder refe- » rir-se á niyrrhites de P/itiio. Reflectindo todavia nas pa- )) lavras de Plínio, que a myrrhites não tem a apparencia )) d'huma pedra preciosa , ou d'iuima gemina , e que » exala o cheiro forte , humas vezes do nardo , outras )> vezes da alfazema, poderia isto conduzir-nos a conjc- > cturar que fosse o âmbar gris, que realmente não tem » apparencia de pedra ; que dá hum cheiro muito forte , i e hum perfume delicioso ; e que Theophrasto , que o X considerava como huma pedra, segundo a versão e as obser- y, vaçoes de///'//, annuncia tirar-se da terra na Liguria. » Prospero Alpino tinha aflirmado que nas visinhanças de » Matarea, cuja localidade corresponde talvez á Helio- > polis situada fora de Delta, se tirava, em grande abun- » dancia , huma argilla naturalmente odorífera. Porem , » como Mr. Pauw muito bem observa, as pesquizas fei- •» tas em diversas partes da mineralogia Egvpciaca não » produzirão nada satisfactorio relativamente a esta argil- » la cheirosa ; e em consequência parece adoptar a opi- j» nião de que os vasos , cujo perfume se apreciava , se- » fiâo pas pouvoir se référer à la myrrhites de Pliiie. Cependant, si l'on fait attciition à ces inots de Pline , que la mi/rrhite n'a pas Tapijareiíce d'ui)e pierre précieiise, oii d'(ine gemnie, et quVlle ri^ud lodelir for- te tantót du iiard , íaiitôt de Taspic; oii scrait teiité de conjecturer, que ce fút de Pambrc gris , qui ii*a pas réeleiíient rappareiíce pier- re use ; qui doune une odeur très-forte, et iin parfura dclicieax ; et àoat Tliéophrasie, qui la régardait coninie une pierre, snivaut ]a ver- sion , et les obscrvatioiís de Hill , aiiiionce , que oii la tir.iit de }a terre eu Ligurie. Frosper Alpin avait assurc, que l'on (irait en assez grande abondauce d'uiie argile naturelleineut odorifcraiite aux envi- rons de la Mataréc , dont Templacemeut répondait peut-étre à celui de rilfliopolis, située hors du Uelta. iMais comine Mr. Pauiu Pobser- ve très-bicn , les recherclies , faites sur dillércntes parties de la nii- néralogie Egyptienne, n^oiit rien produit de satisfaisant tuuchant cette argile parfuince. II sciiible donc adopter Topinioii , que les vases , doiit 011 apprcciait le parfum , nc fusstiit pas veriiissés, et que de cette manière ils pouvaient conserver assez long-tems niie odeur, qiú y était súremeiít incorpórea par des droguts Wwie íuLstaiice etrangère. DAS SciENciAs DE Lisboa. 41 » riáo envernizados , e que deste modo podião conser- » var por bastante tempo hum cheiro , que se lhes tinha > incorporado por meio de drogas d^huma substancia estranha, » Seria absurdo recusar hum verniz aos vasos miir- » rbinos , no caso de se supporem de porcelana ^ ou de » barro vidrado. Mas ainda quando se supposesse que » fossem de sardonix, d'agatha, d'opala ^ ou de vidro, ou » de qualquer matéria, por mais susceptível que fosse de » SC polir , não seria absurdo acreditar que no Oriente » SC fizesse contrahir a estes vasos algum perfume deli- » cioso , que conservassem por muito tempo , mas com ji pouca força em Roma , o que Plinio designa pelas pa- » lavras : aliqtía in odore commendatio. Vi na Turquia va- » SOS em que se tinha guardado por muito tempo essen- » cia de rosa, que conservavão o cheiro, apesar de es- » tarem á muito tempo vazios ; mas observei que o ala^ » bastro oriental o conservava muito mais que o vidro. » Se o nome de murrhinos dado aos vasos de que » não se achasse outra origem plausível nas lingoas que » conhecemos , viesse do nome da myrrha , cujo som » he quasi o mesmo em Hebreo , e na maior parte das Tom. XII. P. II. 6 » lin- 11 scrait abstirde de refuser un vernis aux vases murrhins , si on les supjíosait de porcelaine, ou de faience. Mais en supposant tnêine, qii''ils fussent de sardonyx, d^agatbe , d^opale , ou de verre, enfia de quelque matièrr, qiii fiit la plus susceptible de poliment; 11 ne serait pas absurde de croire , que lon fit contracter en Orient à ces vases quelque parfuin délicieux , qu''ils conservaient assez long-teras, mais faiblemeiít à Home; ce que Píiiie designe par ces mots: aliqua in odore commendatio. J''ai vu en Tiirquie des vases, oò Pon avait conserve long-tems de Pessence de rose: ces vases gardaieut le par- iu m , quoiquc vuidés depuis long-tems : j'ai observe pourtant, que Talbàtre oriental le couservait beancoup plus, que le verre. Si le noin de murrhins, doniié aux vases, dont on oe trouverait pas d'autrc origine plausible dans les langues, que nous connais- sons , venait du nom de Ia niyrrhe , dont le son est presque le niê- me dans Tllebreu, et dans ja plus part des langues de lOrient, que dans Ic Grec, et dans le Latin; je pencberais pour lopinioa de Alr< 4» Memorias da Academia Real » lingoas do Oriente , que no Grego c no Latim , incli- •» nar-me-hia á opinião de Mr. Hager ^ que pensou que » o cheiro que estes vasos exlialaváo era o da iiiyrrha, do > mesmo modo que outros vasos conscrvao por muito » tempo o cheiro do almíscar e da rosa. A myrrha esta* > va de certo em voga entre os antigos, que a considc- » ravão , como se vê claramente cm Petronio^ como hum •» dos mais poderosos aphrodisiacos: ad libidinis incre- ■» tnentunt viurrhiuum pocuhim hibisse. Tempcravlío com •» ella os vinhos mais cxquisitos , como vimos na nota 5» 17; suppunhão até que entrava na composição do ne- •» ctar ; c perfumavão com cila a maior parte dos un- ■» guentos , segundo jJtheneo. Não he por consequência X improvável que o nome de vasos mtirrhinos seja deri- » vado da myrrha, do mesmo que se chamavão mtirrhinos » os vinhos preparados com esta droga ; porque as pa- » lavras wurrhina, myrrbintmi , mirrhiuites, nmrrheiíSy mur- 3) rata , viurrina , murra, que se achão em Plínio, Petro- » «/o, Festo , Séneca , Marcial , Estado , Tibiil/o , Horácio , y» Litcano y e Propercio ^ segundo toda a apparencia , teia X huma origem idêntica. O passo que esclarece melhor » que Hnger , qni a cru, que c'ctait ]e parfum de Ia myrrhe , fjiie ccs vases exfulaiciit , úc la iiiÊiiie manièro , que d\iiitres vases ccjiiser- veiit pour asscz loiíg-teins l''odcur du inusc, ou de Ja rose. La iiiyr- rlie était sureiíient eii vogue chtz Icsanciensj ils Ja regardaifiit , aiiisi que l\»\ voit Irès-claireiíieiit eu FeiroHc , coninie uu aphrodi- siaque des plus puissans : ad libidinis incremenlum mirrhinum jioculum. hibisse; ils eu assaisuuuaient Ics vins Jes phis exquis, ce que iious avons vu à la note 17; ils supposaient luôme, qu^elle cntrát daus la composition du luictar ; ils eu parfun)aicnt la plus part des ongucns , suivaat Atliciine : il nVst doiic pas improbable , que le uom des va» ses murrhins soit dérivé de la inyrrlie, comine l'on a appellé vvir- rhins les vins parfuniés avcc cetle drogue; puisque les noins miitthi- na, myirhiiium , mirrhinitrs , munlieuí , murrata ^ wurrina, muna, que l''ou trouve dans F/ine , tctroiie , Fesiiis , Sáicque ^ Marlinl, Stace, Ttbiiíle, ílortice, Lucairi, et Propeice; u^on en toute appareiícc, qu'uue seule orjgiue ideutique. Le passnge qui cclaiuit inieux que toute b A S S C I E N C I A S D E L I S B o A". 4^ % que nenhum outro a matéria hc o verso de Propercioy > que sem razão se applicou aos vasos nmrrbinos : Et crocino nares murrheus ungat onyx. » Nâo se tratava aqui , como já vimos n'outra parte , •» d'hum vaso murrhino ; porque achamos em Horácio L. T, 4 Ode II. Nardi parvas onyx ^ e o nome de murrhens 3» podia applicar se ao vaso pela sua bella côr amarella , » que era a da myrrha, que Ovídio chama ftdvam'. trata- 3» va-se d'hum copo para beber d'onix , ou de sardonix, » que cheirava a nardo, ou a qualquer outro perfume em » cuja composição entrava o croctis ou açafrão, e a myr- j rha ; por isso he que o onix tem o nome de murrheiís^ jt myrrhado , como Passeracio mui bem entendeo, intcr- » pretando vas ex onyche gemma .... myrrha plenum ; que •» mais correctamente se teria dito myrrham redolens ^ do » mesmo modo que murrhens crinis âi" Horácio , e myrrhea 39 coma de Tibullo , que Passeracio citou por esta occa- » sião ; posto que Mr. Volpi tenha estropeado o passo de » Tibullo lendo myrtea em lugar de myrrhea ; e assim co^ » mo se perfumavão os vasos d'onix , de que os antigos 6 ii » fa- autre la matière , c'est le vers de Vroperce , que Ton a appliqnê très-uial à propôs aux vases munhins : Et crocúio liares murrhens ungat onyx, Jl nVtait pas question ici , comme nous Tavons vu ailleurs, d^un vase murrhm ; piiisque noas (rouvons dans Horace lib. 4 ode 12. Nai-- di parvas onyx; et le nom de rnurrheus ponvait être appliqué au va- se à cause de sa belle couleur jaune , qui était celle de la mjrrhe, qu'Ow(/e appelle /lí/taw: il était question d'un verre à boire ea onyx , ou en sardoiíie , qui sentait le uard , ou toiít autre parfum , dans la coinpositioii du quel ii eiitrait du crocus , ou du safrau , et do la myrrtie: c'est à cause de cela, que Toiíj-x porte le nom de inurrheus 1 uiyrrlié , comine Passeratius Va très-bicn entendu , en in- terprctant: vas ex onyche gemina., , . myrrha plenum; que Ton aurait dit plus contctement myrrham redolens, ainsi que le myrrheus crinis d^ Horace, et le myrrhea coma de Tibulle , que Passeratius a cite à ce propôs ; quoique Mr. Volpi ait gate le passage de Tibulle en lisant myrtea, au lieu de myrrhea: et de la mêine mauière, que lou par< i}4 Memouias da Academia Rsal » íaziáo uso mui frequente , como temos visto , podiao » igualmente perfumar-se os vasos preciosos de vidro de » cor que a antiguidade reconheceo , talvez por Iiusu » principio ctymologico idêntico , debaixo do nome de » vasos murrhims. Posteriormente ás suas observações sobre o Sacro Catino de Génova^ de que tirei o que fica transcripio, publicou o Snr. Bossi huma carta a Mr. Millin , data-- da de Milão de lo de Julho de 1808, em que se «xplica pela maneira seguinte (6) : » Senhor. —Ja que se digna entreter-se com as mi- í nhãs Observações sobre o Sacro Catino de Génova , e até » fazer delias hum extracto para o Armazém EncyclopC' » díco^ pcrmitta-me que lhe communique hum passo mui j» interessante relativo aos vasos mttrrhinos de que fallei » incidentemente naquella obra , e que serve para con- í firmar cada vez mais a opinião que emitti , cm conse- » quencia das mais diligentes indagações criticas , de j» que a matéria destes vasos não era huma pedra pre- » ciosa , nem mesmo qualquer outra pedra , e que se- » gundo toda a appareneia não podia ser senão vidro. » Sinto ter visto este passo só depois de concluída a » cdi- fumnit Ics vases en oiiyx , dontriisage, comnie noiís lavons vu , était très-fréqueiit cliez les ancjens; Ton pouvait de mêiiic parlumer les vases précieux eii verre colore, que lantiquité a rncomiu , peut- être d'aprè8 iiii iiiènie príncipe ctimologique , sous le noiíi de mur- rliiiis. Bussi I. c. nola (e) , Jing. 206 e seguintes. (6) Monsicur. — Puisqiic vous daigncz vous occupcr de mes Ohscrvations sur le Sacro Catino de Genes , et même cu disposer uii cxtrait polir le Magasin Encyclojié lique, permcttez-moi , Mr. , que je vous coinmiinique uii pnss.Tgc très-iiitéressant au siijetdes vases vilir- rhiiis , dont j'ai pirlc occasioncllcinciit dans cet ouvrage; et qui sert à coiiliriner de plus en plus lopinion, que j''ai éniise daprcs les re- clierches critiques les plus diligentes , et Ics plus miiniticuses , que la niatière de ces vases iiétait i)as une picrre précieiíse , pas inêine une pierre quelcouqne, et qu'elle ne pouvait Mre apparemnient que du vcrre. Je suis íàclic, que ce passage nc me soit tombe sons les -yeux , qu'après que l'édiliou de mon ouvrage snr le Sacro Cattno BAS SoiENCi AS DE Lisboa. 45* it edição da minha obra sobre o Sacro Catino ; porque » teria , sem duvida , dado muito peso á minha conjc-, » ctura sobre a matéria dos vasos murrhhwí. » Não SC dirá que os antigos Jurisconsultos fossem » muito instruídos em Historia Natural e em Litholo- X gia ; mas pôde bem accreditar-se que no seu tempo se » sabia ainda o que crao os vasos tniirrhinos ^ pelo me- » nos algum tanto melhor do que agora se sabe. Isto » hc evidente , e tanto mais porque no tempo dos anti- » gos Jurisconsultos se usavao ainda estes vasos, que oc- » corrião nas successóes hereditárias com codos os ou« » tros moveis preciosos ; que íorão nesta dpoca objecto » expresso d'huma ley ; e que os Jurisconsultos, occupan- » do-se em classificalos , c em verificar a sua natureza, X se apoiarão no testemunho de alguns escriptores mais > antigos. » Ora por hum passo das Pandectas de Jintiniano de- > monstra-se que os vasos murrhiitos não podião collocar- X se entre as pedras preciosas , ou gcmmas. Este passo » acha- se /. cttm aurum'. ff. de auro y argento., mundoy or» » na- était achevce : il aurait ajoulé , sans doute, beaucoup de poids à má conjecture siir la matière des vases murrhhis. On lie dirait pas, que les aiiciens Jnrisconsultes fussent bien sa- vans cu fait d''Histoire JNaturelle , et de Litbologie ; mais on peut bien croire , que Ton savait encore de Icurs tems ce que c^étaient les vases muiTidnt , un peu inieux au moins de ce qu''on nc le con- nait à prcsent. Cela cst évident d^iutant plus que du tems des au- ciens .lurisconsultes ces vases étaient encore eu usage ; quils passaient dans les successions héréditaires avec tous les nutres elFets précieux; qu''ils ont pu foriuer à cette époque Ic sujet exprès d'une loi ; et que les Jurisconsultcs , en s"'occupant de les classiíier et de vcrifier Icur nature, se sont appuyés du tènicigoage de quelques écrivaios plus aucicns. Or, par un passage des Pandectes de Justinien , il est déraontré que les vases murrhiiis ne pouvaient pas être ranges entre les pier- rcs précimiics , ou les gemmae. Ce passage se trouve /. cum aurum: ff. Ue auio, argento, mundo, omamentis , &., §. 17, 18, 13 et 20 j et i^6 Memoriasda Academia Real > namemis &. , §. 17 , 18, 19 c 20, c convém citá-lo » por inteiro, com o que precede c se segue á indica- » ção exacta que nclle se dá dos vasos murrhinos. » As pedras preciosas , diz o Juriscousulto Ulptano ■» §. 17 , são matérias transparentes , bem como as esme- » raldas, as chrysolithas, as amethistas: isto he dito pe- » lo testemunho de Sabino , que o escrevia a Vitellio , e y> que se fundava também na authoridade de Sérvio , que » tinha introduzido huma distincçao entre as pedrar » preciosas, a que se dava o nome de lapilli. Este Sérvio » observava que as lapilli erao d'huma natureza absolutamen- » te differcnte e até opposta á das gemmae, e para confirmar X esta observação procurava exemplos cm matérias que 3» erão provavelmente vitreas : lapilli atitem contrariae supe- j> rioribtis naturae , ut obsidiani, venientani (a). Sabino ci- » ta- ,, (a) Gotlwfiído pensa que deve ler-se veiíntani , apoiaudo-se n'lium p»sso d'Iii- j, Jiira L, 16. orig. cap. 2 em que se acha o seguinte: Vcicntuna Itniica '^cmnia est 'j, a Veientibtts reycrta ^ riigra Jacte ^ albis intenuicantibus notis. Esta pedra es- j, cura era provavelmente huma variedade da obilttiann , e a obsiJiaiia não era mais „ commuiii do que o vidro obsidiano , mencionado repetidas vezes pot PUiiíq^ e por „ outros Clássicos. Poderia talvez provar-se que todas as obsidianos erão vidros vok»- ,, nicos ou artificiaes. il est bon de le citer en entier, avec ce qni precede et ce qui suit rindication exacta que Ton y donne des vases murrldits. :iLes pierres piécieuses „ dit le Juriscoiisulte Vlpicn, §. 17,iice » sont des niaticres transparentes, tclles que Jes éméraiides, Jes cliry- ;; solitlies, Ics aiiiethystes : •>■> cela est dit d''après le témoignage de Sahiiius, qui écrivait cela à Viteltiux, et qui sctajait encore de Tau- torité de Servius , qui avait introduit une distinction entre les pierres précieuses , appellées du noni de gímmae , et d''aulres pierres, ap- pellées lapi/íi, Ce Servius observait, que les lapitli ét.iient d^ine nature tout-à-fait diffcreute, et méme opposée à. celle dos gem- niae , et il rn cherchait les exemples dans des niatières , qui étaient probableincnt vitreuses: lapilli autcm coutrarinc svprriori- bus iiaiurne, ut. obsi.tliain , venientani (a). Subinus cite de reclief dans Je (a) Gothofrediis croit , que lon doit lire veientaiii. II s'appuye d'un passage d'Jslílonii Lib. XVI. orig, cap. II. ou lon trouve ce qui suit: Vclcntana Itálica genima est a vcientibiis reperia , nigra focie , nlbii intermicaiiiibus imlit, Cette pier- re noiritre n'ctait appareniinent , qu'une variétc dobsidienne; et íoísidienne n'ctait pas plus commune, que le verre obildien , mentionnc trcs souvent par Pline , et par d'autres Classiques. On pourrait mcme prouver, que toutes les obiidiennei uc» taient que des vertes volcaiiiques ou artificieis. CAsScienciAsdeLisboa. 47 > tado outra vez no §. seguinte , diz claramente que as » pérolas não podião referir-se a nenhuma destas duas» » espécies , e que não etão designadas nem pelo nome > de genimae f nem peio de lapilli : loc. cit. §. i8. «. No §. 19 trata-se dos vasos murrhinos em par- x ticular , c decide-se , pela authoridade de Cassio , que ■» estes vasos não pertencião ás pedras preciosas : nmr- 7» rhinu atitem vasa in getnmis non esse , Cassius scribit, •» Por tanto nao erao pedras preciosas ^ gemmae i, porque o » texto hc bem licteral : também não erão lapilli ; por- » que só se falia nos murrhiuos depois de ter fallado das » pérolas que não erao nenhuma destas duas matérias | » nem gemmae^ nem lapilli, o que seria muito imporran- •» te observar se alguém se lembrasse de collocarna segun- 0» da destas nomenclaturas as pedras semitransparentes , ■» ou as pedras finas , c de entrever na obsidiana de Ser^ •» vio a pedra que tem este nome : por tanto j segundqi > toda a apparencia , erão vidro que na antigaí pedraria » nunca se acha designado com o nome pomposo de » gemmae ou de lapilli* » O parngraphc siiivant, dit ouvertement que les perles ne pouvaient ttvc référéfa à anoniie de ces deux espèccs ; et qij''elles n"étaient pas dcsiniiées ni par le iioiu án gemmae, ni par celui de lapilli: loc. cit, Dans le §. 19 il a^t question des vasas mmrhitis en particnlier ; et on r decide d^après Tautorité de Cassius , que ces vases n''appar- ficnneiit pas aiix picrres prcciciises: tmitrhina autcm vasa in gcmmis non esse , Cassius scribit. Ce n''élaient donc pas des pierres précieuses , des gcmmnc ; puisque le te\it est assez littéral : ce n'étaient pas non Íilns des lapilli, puisque Pon ne parle des murrhins , qu^après que '011 a parle des perles, qui r)"etaienl ui Tuiie, ni Tautre de ces dfiix inatièrcs , ni gemmae, ni lapilli; ce qu'il serait très-iinportant d''obscrver, si jamais quelqu^in s''avisát de ranger sous la secoiide de ses nomenclatures les j)ierres demi transparentes, ou les pierres íincs , et dVntrevoir dans Tobsidionne de Servias la pierrc qui porte ce noni : ce n''était donc eu toute apparencc , que du verre , qoe Voiv ne trouve jamais designe sons les uoms pompeux de gemmae, on de lapilli , de Taricieune jouaillcrie. 4? Memorias da Academia Real » O paragrapho seguinte , §. 20 , diz simplesmente u que auro JegatOf vasa áurea contiuentur^ et gemmis, gem- j) mea vasa : o que prova que os vasos tnurrhiuos, que aca- > bão de nomear-se, nunca podiao comprehcnder-sc n'hum y, leoado debaixo do nome de pedras preciosas. Convcm )) por tanto observar que se os Jurisconsultos, e a lei » acharão necessário decidir que os vasos mnrrhinos não » devião ser comprchendidos entre as pedras preciosas, » tinhão sem duvida a apparencia de gemmae , ou alguma í semelhança com as verdadeiras pedras ; o que em ne- ■» nhuma substancia podia melhor verificar-se do que cm » alguma composição vitrea, como conjecturei na minha y obra sobre o Catiito. » Também importa observar que , visto ser impos- n sivel suppôr que os vasa gemmea fossem d'esmeraldas, » de chrysolithas, de amethystas, provavelmente não po- » derião ser senão d'onix , d'agatha , ou de cornalina; e » com tudo os vasos mtirrhhws não se comprehendem •» tão pouco nesta classe , o que prova quasi até á evi- s dencia que só podião ser de vidro. » Se Le paragraphe suívant, §. 20, porte simplemcnt, que miro le- gai o , vasa aurca cmitineitiur , et gemmis , gemmea vasa: ce qui prou- ve que les vases murrhins , que Ton vieiít de nommer, ne potivaiciit jamais être coropris dans un legs sons le nom pieires prccieuses. II est pourtantboii d 'observer, que si les Jurisconsultes et la loi out trou- vé Décessaire de décider que les vases mwrhins ne dcvnieiít pas être ranges entre les pierres précieuses, ils avaient saiis doute quelqu' apparence de gemmae, ou quelque resserablance avec les pierres vé- ritables; ce qui ne pouvait se vérifier en aucune substance inieux . que dans quelque composition vitreuse , comme je Pai conjecture dans mon ouvrage sur le Calino. II est aussi important d''observcr que comme il est impossi- ble de supposer que les vasa gemmea fussent cn émcraudes, enchry- solithes, en amétliystes , ils ne pouvaient être probablement qu'eii onyx , en agathc , ou en corualine ; et cependant les vases murrhiiis ne sont pas non plus conipris dans cette classe, ce qui prouve pres- qu'à révidence , qu'ils ne pouvaient être que de verre. DAS SciENCIAS DE LiSBOA. 49 ) Se este passo do Digesto não esclarece de todo » a matéria, pelo menos, hc manifesto que poe fora da > duviJa c)ue a matéria destes famosos vasos não era hu^ » ma pedra preciosa, ou qualquer pedra fina, nem mcs- » mo huma pedra de Yu , como suppoz o Professor Ha- » ger , c como parece querer sustentalo , ainda depois s da publicnção da minha obra com mui circunstanciadas » iiotas sobre os mun-binos. Quanto á pedra de Yu , de que tanto se tem falla- X do por esta occasiâo , acabo de ler no Jornal de Phi- > íica, Cbimica^ etc. redigido por alguns sábios Professo- > rcs da Universidade de Pavia, huma carta de Mr. A. F. > Gehlen a Mr. Brugitatelli, cm, que se dá conta da ana- •» lyse feita por Mr. Klaprotb da pedra d'arroz (reiss stcin) s da China , que algumas vezes se tomou por huma t calcedonia , ou por hum cacholong , c que outras ve- » zes se confundio também com a pedra de F«, que o » escriptor Alemão chama problemática. Desta analyse re- li sultaria , como Mr. Kratzersteui de Copenhague tinha x affirmado, que a pertendida pedra de Yu he hum vidro Tom. XII. P.II. 7 »» mui Si ce passage dn Digeste n''éclalrcit pas entierément Ia matière, il cst constant aii mnins, quMl inét liors de doute, que la nialière de ces faineiix vases n^était pas une picrre précltuse, ou une pierre fi- ne qiielconqne , pai nièine une pierre de Yk, conime le Professeur H(i;j;er Va. supposé , et comine il scinble vouloir le souteiiir luôrae après la puhíication de mon ouvrage avec des notes très-détaillées Slir Ics murrhim. A proj)os de la pierre de Yu , dont on a tanf parié à ce sujet, je viens de lirc, dans le Journal de Vliisique , de Ckiinie , etc. redige par quelques savants frofcsseurs de TOnivcrsit-é de Pavie, une lettre deMr. A. F. Gehlen à ftlr. Bragnatclli, ou l\>n rend cornpte de Taua* lyse faite par Mr. Klaprolh , de la pierre de ris ( reiss stein ) de Ia Chinc, que_ Pon a pris quelquefois ])oiir urie ealcedoine, ou pour un "cacholong, et qnc lon a aussi coiirondii d'autres fois avec la pierre de Yu^ que récrivain Alieinaud appelle problématiquc. De ceUe ana- lyse ils rcsulterait, comine Mr. Kiut~erstem de Copenhague Pavaít aniriiic, que la préteudue pierre de Yu u^est qu'un verre très-fusi- yo MemoriascaAcademiaReal » mui fusível. He hum vidro de chumbo silicloso que » contem 41 partes de oxido de chumbo, jt; de sílice, « c 7 de alumina , não podendo as outras 13 partes » pertencer, segundo toda a apparencia , senão a algum » sal vitrificavel , que não pode reconhccer-sc pela pe- » qucnhez do pedaço analysado. A porção d'alumina cm- » pregada no fabrico deste vidro da-lhc , segundo os j) Chimicos Alemães, huma espécie de semelhança á- cal- » ccdonia. Mr. Klaproth até chegou a indicar o pn cesso ■» por que poderia imitar-se, ou alcançar huma pedra de » F;/, fundindo juntamente doses proporcionadas de oxi- s do de chumbo , de feldspatho , de silice , e de po- » tassa. {b) c( Mr. Hager teria motivo para suppôr a identidade •» da pedra de Yh e da matéria dos vasos niurrhivos se » se provasse , como parece , que estes famosos vasos » crão de vidro j porém não teria razão de faliar da » pe- (4) Jornai de Pavia, 5.° bimestre i2o8 , p. 442. ble. Ccst iin verte de plotnb silicieux, qiii contient -Jl parties d^oxi- de de plonib sur 39 de silice, et 7 d'aliiinine; Its 13 autres parties lie pouvant a})partenir, en toute apparence, qu\i quelque scl vitri- liable , que l''on n\i pas pu recoiinaitre à cause de la petilcsse du riorceau aualjsc. La ))ortion d'aluiiiine, empioyée à ia coníection de ce verre, lui donne, d^iprès les Chiiuistes Allemaiids, une sorte de ressemblance avce la calcédoine. l\lr. Khprolh a poussé I.1 chose jiisqirà indiqiier le procès, par le qliel on pourrait iiniter , ou oote- iiir une pierre de Yu , en fondant eiiseiiible des doses proportioiíel- les d^oxide de ploiiib , de fcldspath, de silice, et de potasse. (i) Mr. Hager aurait dono eu raisori de siipposer ridentité de la pierre de Yu , et de la matière des vasos murriáns, s'il était prouvó, commc il paralt, que ces fainenx vases irétnieiít que de verre: mais il aurait tort de parkr de la pierre de Yu, et d'tii douiier la descri,- {V) Gioroale di Pavia, j." bimestre iScí , p. 442. DAS SCIEKCIAS DE LISBOA. ft »> dra de F«, c de a descrever como se fosse huma vcr- »» dadeira pedra, e até huma pedra de grandíssimo preço. >> Parece comiudo mui provável ( e esta observação 5> he toda a favor de Mr. Hager) que se confundirão j» frequentemente a pedra d'arroz da China, a pedra ol- j> laria deste paiz , de que se tem feito tantos ornatos )» c brincos , e a pedra de Yu que talvez esteja bem » longe de ser problemática , sobre tudo recordando a jí identidade desta pedra com o spatho diamantino, iden- >» tidade que procurei estabelecer n'huma das notas ad- » dicionacs da minha obra. (c) A pedra d'arroz não de- » ve o seu nome á sua semelhança com o arroz puro e » claro, como o affirmou Bruckmann ^ citado por Gehle». j> Tenho-a visto de todas as cores , e he provavelmente >» huma massa artificiai, em que entra huma parte d'arroz, j> ou de mucilagem d'arroz. A pedra oUaria da China >» nada tem de commum com a pedra de Yu\ e o que 7 11 >» se (c) Nota (<0 P- 20). ption , comme si c'ctait une pierre vcritable , et même une pierrc d^uji très-grand prix. II parait cependant très-probable, (et cette observation est tou- te à l''avantage de Mr. Tínger); que Voa ait três souveiit confondu la pierre de riz de la CLine , la pierre ollaire de ce pays , dont oa a fait tant d''orncinens et bijoux; et la pierre de Yu, qui «''est peut- être rien moins que problématique , sur-tout si Ton retient Tidentité de cette pierre avec le spath adaniantin; identité que j''ai cherché à établir dans une des notes additiouelles à nion ouvrage. (c) La pierre de riz ne doit point sou nom à sa ressemblence avcc le riz pur et clair, ainsi que Bruclanítim, cite par Gehlen, Ta aflirnié. J^ea ai vu de toiítes Ics couleurs, et ce nVst probablement qu^une pâte artificielle , dans la quelle le riz ou le niucilage du riz entre pour quelque chose. La pierre ollaire de la Chine n^a rien de coramuni avec la pierre de Yu ; et ce qu^on a analysé était ap« (c) Note ((/) p. 20J. jri Memoriasda Academia Reai, Si analysou, era provavelmente coiza bem diversa da vcr- » dadeira pedra de Yu , ainda que possa suppor-se que j> os Chins tcnhão tanibcm falsificado esta pedra afa- j» mada , yervindo-se de algum vidro de chumbo silicio- » so. Possuo dois ornatos de cabeça do uso dos Manda- >» rins da China que Mr. H/iger vio em minha casa , 3> quando passou por Turim. Hum dcllcs só contêm pe- » quenas pérolas e grãos de coral e de malachita, do ou» » tro pendem grãos de coral, de malachita, e de madre j> pérola , e alem disto duas pequenas figuras humanas , s> hum frucco de pedra d'arroz , hum pequeno vaso de >j amcthysta, hum pedaço do tamanho e da forma d'hu- >» ma bolota de carvalho d'huma pedra amarellada , se- « nii-transparente, e dois pequenos pedaços d'huma pe» í» dra verde transparente, grosseiramente trabalhada. Es- j> tcs trcs últimos pedaços tem huma dureza extraordi- » naria , e podcriao facilmente suppor-se da verdadeira » pedra de Fh, que se acharia aqui associada á pedra j» d'arro7-, c a outras matérias bem diffcrcntes pela sua » dureza e natureza. Falta-me ainda fazer algumas obser- " va- paremnient tout aiitre chose qne la véritable pierre de Yu, quoiqiie Toii puisse su|)posc'r, que les Cliinois aieiít aussi falsific cettc pierre tròs-reiíommée à Taide dequeJqne verre dcploiijb silicieiíx. Je pos- s<'cle (leiíx oriíemciis de tète à l^usage des Mandarins de laChiiie, queMr. llager a vu chez moi ;i sou pnssage àTiirin. L"iiii des deus lie contieiít, que des petites perles, et des praiiis de corai!, et de nialacliiti; : de Tautre on voit pcndrc des gr.iins en corail , eii iiiala- cliite et ca nacrc , et par dessus cela deux petites figures Iiuinaines, et un fruit en pierre de riz , iin petit vase cu aniétlijsle, uu niorceau de la graudeur , et de la forme rPun gland de chêne , d''une pierre jauiiâtrc dcnii-transparente , et deux ])ctits niorceaux d^nne pierre verte transparente, grossièrenient Iravaillée. Ces trois derniers n:or- ceaux sont d^unc dureté extraordinaire , et on pourrait aiséuiciit les supposcr, coiiiine clant de ])ierre de Yu véritibie , que Pon trouve- rait ici associéo à la pierre de riz et à d'autres niatières bicn diíTé- rentts par Icur dureté, tt kumature. 11 me reste encore quclqu^ob- Bcrvatioa à faire sUf rãualogie de ces pierres avec le spalli ndaman» DASSCIENCIASDE LlSUOA. 5'5 » vaçõcs sobre a analogia destas pedras com o spatho » diamantino. Alem de que não hc raro achar entre a » pedraria dos Chins verdadeiras calccdonias , sem que » seja sempre a pedra d'arro7, que tire a cor de calce- » donia da porção d'alumina que contêm. Pode acredi» s» tar-se que no commercio da China se vendâo muitas >» vezes pedaços de pedra de F«, que sejao de vidro, »> c isto pôde ter servido para estabelecer huma relação »> entre a pedra de Ytt e os vasos murrhinos. Se o sábio » Chimico, que juntou a nota (i) á carta de Mr. Gehlen, j> SC tivesse dado ao trabalho de passar pelos olhos as »» minhas notas sobre os vasos murrhiuos , ou se tivesse »» examinado á luz da critica c da Chimica os L.*» 36, >» e 37 da Historia Natural de Plinio^ não teria, por ccr- »» to, fortificado a supposição da coexistência d'huma pe- »» dra preciosa tmirrhina, com a matéria vitrea de que se » fabricavão os vasos miirrhinos tão nomeados na anti- » guidade. >» No fiiii da minha nota sobre os vasos murrhinoi ^ >» a p. 90 das minhas Observações sobre o Catino etc, to- >» quci mui superficialmente nos vasos Gaulezes, chama- j> dos tin. D\TÍllciirs íl ifest pas rarc de trouver, parini les pierreries dea Cliinois, dcs véritables calcédoines, sans que ce soit toujours la pier» re de riz , qui eiupriinte la ooulcur de la calccdoiíie de la poition d'aluiuiiie , quY'Ile conticut. On peut cioire , que Pon a souvent de- bite , dniis le coniinerce de la Cliiue, des morceaux de pierre de Y«, qui uY-taient que du verre ; et cela a pn servir à établir uii rapport entre l.i pierre de Yu et les vases vnirrliiiis. Si le savant Cbiiniste, qui .1 njoutc la note (1) à la Itttre de Mr. GcUcn , eút pris la pel- iie de parcourir mes notes sur les vases mwrliins , ou qu^il eiit exa- mine les livres XXXVl et XXXVII de Tliisloire iiaturelle de Píi- ne, le ilambeau de l.i critique et de I.i chymie à la niain, il n\iu- rait pas sans douíe fortifié la snppasilion de la co-existence dYine pierre prccieuse vmrrhinc avcc la mnlière vitreuse , dont on fabri- quait les vases murrliins si renoaiiucs dans Tantiquité. En finissant ma note s\ir les vases murihiiis, à la page 90 de mes Obscrvations siir le Caliiio, etc. j'ai pasfé asscz légcrement sur les va- ses Gaulois , appelés Jfa«7j>i- de Madre, qUe Ton a quclques-fois ■5'4 Memoriasda AcademiaReal » dos Hatiaps de Madre , que algumas vezes se confun- >» dirão mui fora de propósito com os vasos niurrbinos \ e j» disse simplesmente que estes pretendidos viunbinos erao " de páo. Tornei depois a considerar nos vasos Gaule- >» zes, c achei que estes povos tiverao realmente v^sos >» preciosos feitos de páo , c especialmente de ma- » deira de bordo. Mas parecc-me que reconheci que os í> mais bellos vasos desta Nação a que derão o nome de í» nmser, tnazerina^ ou mazelina^ mazara , masdrinay uiar- >» drítia, niadrina j viadrata ^ e finalmente hanaps de ma- 5> dre , erão de madre pérola, de que se fazião também, jj debaixo do nome de madre, tampas, estojos, cabos de j» facas etc. , como agora se fazem. Confirma-se também >» isto observando que o nome de madre applicado á ia- í» dicação da Madre pérola passou , segundo parece , dos j> antigos Gaulezes aos Provcnçaes, e dos Provençacs aos í> Italianos que dão o nome de madreperla ao que os » Francezes chamão nacre , ajuntando outra palavra por- 5> que o nome de madre, só por si, seria mui genérico na 3} Itália. Talvez seja isto huma nova prova do que devemos >» á très-mal à propôs confoiídu avec les vases murrhins ; et. j'ai dit tout court que ces prélendtts murrhins iCíiitienl que de. bois. Je suis revenu ensuife sur ces vases Gaulois, et jai trouvé que réelcinent, il y a eu, chez ces j)cu[)Irs, cies vares précieux faits ca l)ois, et notamment cn bois cl'érable. Alais j'ai cru de nrappercevoir, que la niatièie des plus bcaux vases de cette nation , que l'on a appeJlé des noins de rwítcr , mazerina, ou mazeliiia, mazara , masdriíia, rnardriíia, madriíia, madrata , et endn , hanaps de madre ; ctait Ic nacre, dout ou faisnit aussi , sous le uom de madre, des couvercles, des étuis, des man- ches de couleau etc. , comme Tou eu fait à présent. Cela est aussi coufirmc par Pobscrvatiou , que ce iiom de madre ; appliqué à Pin- dicatiou du Nacre, a passe, à ce qu''il parait , des ancieus Caulois aux Provençaux , et des Provençaux aux Italieiís , qni «''appellent le uacre d\iutre noui que de cclui de madreperla, en ajoutaiit un autre mot, parcc que le nom de madre isole aurait été trop généri- , I — -» -j — — — — - - i CJ que eu Italie. Cest ))eut-être une uouvelle preuve de ce que nous la langue l'rovcnfale , aiusi que vous Tavez dernière DAS SciENciAS DE Lisboa. t;f Lingoa Provençal , como tendes ultimamente observa- do nas vossas indagações sobre esta lingoa. Com tu- do como a madre pérola tem a propriedade de refle- ctir as cores do arco celeste , e como por esta pro- priedade hc que sem duvida se confundirão algumas vezes os hanaps de madre ^ ou os vasos de madre pé- rola dos Gaule/cs com os vasos mtirrhims , serve isto de confirm;ir cada vez mais o que estabeleci na minha nota na pagina acima citada , que para se chegar a descobrir algum fragmento dos antigos vasos nmrrhi- nos , he necessário examinar sobre tfído os vidros com aí cores do íris e opalinos^ de que se encontrão pedaços nos gabinetes dos antiquários. « >» Tenho a honra de ser etc. Reproduzindo as ideas do Snr. Bossi não procurei elegância na traducçâo , propuz-me unicamente não des- figurar o Author-; e se alguém tachar de superfluidade, ou de gosto pouco apurado , tanto neste, como nos mais casos análogos, transcrever por inteiro o original, satis- farei a este reparo declaranda que estou táo cançado de ver observe dans vos recherches sitr cette langue. Comine cependant le na- cre a la propriété de refléchir les couleiírs de Tare ea ciei, et que c"'est, sans doute , á cause de cette propriété que Tou a cojifondu quelquc-fois les hanaps de madre, o« les vases nacrcs des Gaulois, avec les vases murrlnua , cela iie peut que servir à confirmer de plus en plus ce que j''ai établi à la liii de ma note, à la page cilée ci ilessus ; que si Toa veut parveuir à la découverte de quelque fra- gment des anclens vases murt livis , il faut faire aíteiiiioii surtout aux vcrres iridés , et opalisaiis , dont oa trouve des cchantillons dans les cabiacts des aiitiquaires. J'ai rhonncur etc. Lettre de Mr. le C/ievalier Bossi à Mr. Millin, Membre de Tln- stitut National et de la Légion d'Honneur, Couservateur des anti- qucs de la Bibliothèquelinpériale etc, au sujet de quelque nouvelle «bservatioa sur les Vases Murrldiis, Mttan, le 10 Juillet 1808. Sem lugar, nem anno, em O.» já Mf.moriasda Academia Real attribuir aos Escriptores coizas que nunca lhe passarão pela iden, c]uc julguei conveniente pr.iticalo assim para todos poderem ser juizes da fidelidade com que apresen- to as opiniões dos que cito. Sc alguém tiver empenho em conhecer mais miuda- mente os pareceres desvairados que tem havido sobre a matéria dos vasos murrhinos pode saciar o seu appetite consultando os Authores apontados pelo Conde Rczzoni- co (7); c por Ruhkopf (8), Wolf (9) Kuinoel (10) e ' Rupert (11) Principia o Snr. Bossi por conjecturar que os vascos murrhinos scriao d'hum vidro mui raro , c mui precioso c de difficil composição, d'hum vidro talvez opalino, fabricado na Carmania, na Pérsia, e também no Egypto ; e que sendo a sua matéria tão preciosa , quão acabados crão a sua forma e trabalho, não podião nunca os vasos exceder certa dimensão, fundando a sua conjectura em que esta hypothcse não repugna a nenhum dos palcos dos Clássicos que filiarão dos murrhinos , mas pelo contrario os reúne todos, e estabelece entre clJcs huma espécie de concordância. Assevera que todos os caracteres assigna- dos por Plinio aos murrhinos, são coizas praticáveis no fabri- co dos vasos de vidro, ao mesmo tempo que seria impossível xeunilos n'huma pedra, nem mesmo na opala. Aponta os dois passos de Plinio que podem oppor-se á sua conje- ctura e que são c:; Murrhiiia et crystallhia ex eadeni terra effodimus (12), e zz humor em putant sub terra calore Jensa' (7) Dàqtdsilioucs Tlinianae. Parmae 1763 e 1767, Tom. 2 p. 212, noia 15. (C) Nas notas a Séneca. Lipsiae 1797 e segiilutcs, T. 3., p. 392. (0) Nas noíRS a Siietoiíio. Lipsiae 1802, T. 1., p. 19c. ^^ (10) Nas notas a Pioporcio. Lipsiae ISio, T. I., p. 357. lj»;^ (11) Nos Coiumentarios a Juvenal, Lipsiae 1BI9 c 1820, T. ÍJ, p. 271». (12) Plinio. Hist. Nat. Ed. Franzii. Lipsiae 1778 e seguintes, L. 33 , eap. 2_, T. 9 , p. 5. dasScienciaS DE Lisboa. 5*7 r;=! (13); "ias para dissolver esta difficuldade observa que não se attcndeo devidamente a estes passos , e re- flecte o Quanto ao 1.° passo : Que não ha duvida qiíe a matéria dò vidro murrhino ," ou crystallino se tirava pela maior parte da terra, e que por tanto se podia fallar no primeiro passo de duas es- pécies de vidro- cujas matérias primas se tiravão do mes- mo lugar. ! Que o que prova que só -se tratava aqui de vidro, he a frase que se segue á indicação dos murrhinos e dos cry- stallinos z^ qtiibiis pretium faceret ipsa fragilitas — ; porque Plinip nunca teria notado neste lugar a fragilidade do crystal de rocha, que nada de frágil tem quando se ti- ra das montanhas , e de que elle reconheceo n'outra par- te a dureza , fazendo-o até desenterrar em alguns sitios com o ferro da charrua, E que sobre tudo o que mostra evidentemente que só se trata de vidro , ou d'huma ma- téria fusível que serve para o fabrico do vidro, he que a pátria dos murrhinos he designada por Plinio , e colío- cada no Oriente, no Reino dos Parthos, e na Carmania, de que dista muito a pátria dos crystaes indicada pelo mesmo Plinio , e coUocada no Oriente, que hc hum ter- mo muito vago, porem mais precisamente na índia, jun- to d'Alabanda e d'Ortosia , na Ilha de Chipre , e nas montanhas dos Alpes ; portanto não tratava d'huma pe- dra quando dizia := vmrrhina et crystallina ex eadem ter- ra ejfodimuí n: ; porque seria erro mui grosseiro ; tratava- se d'outra substancia diversa , d'huma substancia própria para fazer vidro, ou mesmo d'huma espécie de massa fundida , d'hum vidro ja formado, d'hum vidro volcanico, T. XII. Part. II. 8 Quan- ' — ■ » ( 13) Plinio , 1. c. , L. 37 , cap. 8. , T. 10 , p. 18. j8 Memorias da Academia RtAi, Quanto ao segundo passo : Que he evidente que a condensação de que se falia lie o modo de cozer os vasos murrhinos ,' que talvez Plínio julgou que fosse debaixo da terra, por não ter idea dos fornos para obras de barro, ou dag fornalhas Parthicas,^ ou póçle spf que julgíjsse que est^ operação S€ executa- va em fornqs subterrâneos. , i: ::.:'. Que o qiíç tira toda .a. duvida; aresta' interpretação he que os antigos applicarao frequentemente a palavra )!)«»;(»■ ao vidro , pela sua semelhança apparente com a agoa , e que quasi nuacA.se iSer-viráo! çleilafallãndo. da conçre<^ão das pedras, ^■■_.^,-.'-\ jv,-. •.»-Vi...^ Vs'híVyií>. iu;íi «aíera vasA in gemmis mn esse Casstiis scribitz^ (19)1 porque não sendo pe- dras preciosas, também não eráo lapilli que, segundo Sérvio (20) , crão d'huma natureza absolutamente diíFe- rente , e até opposta á das gevnnae , como as obsidia- nas e as Venientanas ; por que se falia dos murrhinos de- pois de se ter fallado das pérolas, que não erão nenhu- ma destas duas matérias (21); e por tanto, segundo to- da a apparencia , crão de vidro , que na antiga pedraria nunca se acha designado com o nome pomposo de gem- *» vava quasi trcs sextarios , c no tempo de Plínio não se^^ conhecia outro murrhino de maior valor. Este facto era'» recente, não só pela frase aníe hos amios , que denota' poucos annos decorridos ; mas também porque Plínio cal- ' lou o nome do varão Consular naturalmente , segundo' i pensa Rezzonico (28), para não dar a conhecer íPhcM-» mem que tinha feito a loucura de o comprar , e de Ihèí <• roer as bordas por hum excesso de furor, extasiado cortt ' a bclleza do seu copo. Plinio escreveu a sua Historia Natural no tempo de Tito Flávio Vespasiano , o Pai, e'\ offereceu-a a seu filho Tito no anno 9 a 10 do seu Im« > perio , 78 da Era vulgar (29), e por consequência mui- to depois da morte de Nero; mas alcançou todo o tem-> po de Nero , porque tinha 3 i annos quando elle foi ele-'- vado á dignidade imperatoria ; portanto tudo o que conta' he do seu tempo (30). Ora Plinio diz que sendo T. Pe-; tronio mandado matar por Nero, quebrara huma taça" murrhina que lhe tinha custado trezentos talentos , para não passar para a mesa de Nero , mas que Nero exce- deu a todos, como competia a hum Príncipe, compran-- do outra taça por 300 talentos. Por consequência com- binando estes diversos passos surge delles huma contra- dicção. Se 70 talentos era o maior valor conhecido, até ao tempo de Plinio, d'hum vaso murrhino d'huma gran- deza extraordinária e única , e que se dava por exem- plo do alto preço a que o luxo tinha feito chegar este ar- (28) Viri Consulfirís nomrn a Plinio reticetur : jiut/trcm , tie amici hominis siuiiitiam nppositis genfiliciis appcllaliumòus mugis damnaiet. Dis- qiiisitioncs Pliii. T. 2, p. 210, col. 2, nota 8. (29) Kfczzonico, ]. c. , T. 1 , p. 172 a 174, (30) Rezzonico, 1. c. , T. 1 , p. 99. DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 6^ artigo , como deu Petronio trezentos talentos por hurna taça de que nenhuma singularidade se aponta? E se Ne- ro deu a mesma somma de trezentos talentos por outra, como venceo a todos na profusão de dar preço exorbitan- te por hum murrhino ? O que se conclue dos números de Flinio he absolutamente o contrario do que diz o texto, c vem a ser que nem o copo do varão Consular era o de maior preço , porque 70 he menos do que 300, nem Nero excedeo a todos na mania de pagar vasos murrhi- nos , porque deu pela sua tiça o mesmo que tinha cus- tado a de Petronio. Rezzonico , com o auxilio de Mss, e edições antigas , emendou este passo , pondo em lugar de 70 talentos , oitenta mil sestcrciosj em lugar dos trezentos talentos da taça de Petronio, trezentos mil sestercios ; em logar dos trezentos talentos do copo de Nero , quatrocentos mil sestercios (31); porem declara que os Mss. e edições que cita tem 80, 300, e 400 sestercios (como lê também Landino (32)), mas que deve supprir-se a linha transver- sal por cima do numero, que indica milhares. Por este modo salva-se a contradicção dos preços dos murrhinos de T. Petronio e Nero; porem subsiste ainda entre os preços destes, e o do murrhino do varão Consular; e resta-me também , para mim , huma grande difficuldade relativamente ao preço dos murrhinos em geral, nos tem- pos de que falia Plinio. Setenta talentos são : segundo o calculo de Hardouin, 168:000 lib. tornesas, ou 26:88o(;J)ooo rs. ; c 300 talentos são 720:000 lib., ou 1 15:100^)000 rs. (33) : Tom. XII. Part. II. 9 se- (31) L. c, T. 2, p. 210, col. 1., nota 5; e p. 211, col, 1., no- ta 3, e col. 2. , nota 5. (32) Landino. Traducção Italiana de Plinio. Ed. de Veneza liSl, Oj>iis Pliilippi Vcnefi, assigiiatnra K. jf". col. 2. (3.3) riiuio. Ed. de Franiio, T. 10, p. \5, nota (a), e p. 17, no- ta (n). / íú MemoriasdaAcademiaReal segundo Ia Hjipc 210:000 lib. , ou 33:600(^000 rs, ; e 300—900:000 lib. , ou 144:000(^)000 rs. (34) : e scgur.do Broticr 336:812 lib., ou 51:209(^)920; e 300—1:370:625 lib., ou 219:300(^)000 IS. (35): sommas que excedem toda a credibilidade : mas coaver- tainos com Rez/.onico os talentos cm milhares de sester^ cios , assim mesmo teremos , segundo o calculo de Har- douin (36), c de Eisenschmid (37) 8:000 fr. , ou 1:280(^)000 rs. pelo preço do niurrhino do varão consu- lar; 30:000 fr., ou 4:Soo(3f)ooo rs., pelo de Petronio j 9 40:000 fr., ou 6:^00 Q)oco rs., pclp de Nero, Com este valor se conforma o Snr. Bossi , porque dá a 80 sestcr- cios (queria dizer oitenta mil) o valor de 8:000 fr. , pouco mais ou menos. Pelo calculo de la Harpe monta- riao os 80:000 scstcrcios a 16:000 lib., os 300:000 n 60:000 lib. , e os 400:000 a 80:000 lib. , que equiva»- km no nosso dinheiro a 2:5601^)000 rs., 9:600(^)000 rs. , e 12:800(^000 rs. (38). E pelo calculo de Brotier (39) 80:000 scstcrcios valerião 248:998(^)400 rs. , 300:003 scstcrcios 933:841(^120, e 400:000 scstcrcios 1.245: i2i(^6oo. He escusado impugnar a impossibilidaile dos uous últimos preços ; porem mesmo adoptando o primei- ro calculo, que he o mais baixo, PÍinio diz que os murrhinos se tornarão tão vulgares no tempo de Nero, co- (•34) Tradiicçíío du Suetojiio, César §. 54. Ed. de Paris 1005, T. 1.°, p. 15.9, nota (;J}. (:{õ) ^n ctli(;.1o de Plinio. Parisii.í , Barbou 1773, T. 6 , p. 458, notas 16, 20, c 21. (,«;) -iNa cdivrio de Franzio, T. 10, p. 25, nota (h). (•w) Citado por Gesiier— T/iesawus LiiigucB Latiiue — você— 4«- terlius, — (J8) L. c. , T. 1, p. lOG , nola 1 ; p. 110, nota 1 ; T. 2 , p. 226, nota I ; Uõ , itota 2 &c. &c. (.39) L. c. , T. tí, p. 458, notas 16, 20 e 21; posto que os nu- IQcrog uão coucordão bem coiu o texto. DAS SciENciAS DE Lisboa. if como elle declara; Sciicca , que foi Mestre de Nero, c por ellc condemnado á morte , refere o mesmo n Jd ro- dos tem machos , todos tem vasos crystallinos e murrlii- nos =: (40); e Marcial, que alcançou também o tempo de Plinio (41"), zombando de Mamurra, que sendo pobre queria aíTectar de rico , c andava apreçando o que havia de mais subido valor, diz que foi separar c pôr signal em dez murrhinos (42). Mas para andar escolhendo e se- parar 10 murrhinos , era necessário que nas logeas em que os procurou houvesse muitos mais , e não parece acreditável que huma logca apresentasse muitos objectos da mesma espécie do valor do 4:800(^)000 rs. , ou de 6:400(^000 rs., pelo menos não acontece isso hoje em nenhum dos mercados da Europa , ainda nos mais ricos ; e se os objectos erao vulgares, por isso mesmo não po- diáo ser de tamanho preço ; logo parece que não podião os murrhinos de Petronio e de Nero ter o valor de 300, c 40Q mil sestcrcios. PJinio parece confirmar esta opinião ; porque tendo fat- iado dos obeliscos do Egypto, continua =^ »> Acenem-se í» também as pyramides do mesmo Egypto , ostentação j> ociosa e estulta do dinheiro dos Reis >» =: (43); c enu- merando os Authores que escreverão das maiores accres- » centa — ■>■> que de todos elles não consta por quem foráo » feitas, ficando esquecidos, por justissimo acaso, os au- 9 ii tho- (40) Omites jam mulos habení , qiii crystallina et murrhina. Epistola 12o. líld. » miramo-nos das pyramides dos Reis . . . . P. Ciodio, que 5> foi morto por Milão, habitou huma casa comprada por » 2 36:ooO(Í>ooo rs., o que por certo não he menos de ad- jj mirar do que a loucura dos Reis » t: (46). Plinio só achou para termo de comparação da loucura do preço da casa de P. Ciodio as pyramides do Egypto, na construc- ção da maior das quacs trabalharão trezentos c sesssenta c seis mil homens, por espaço de 20 annos (47); e se 236:800(^)000 rs. seria hoje o custa d'hum palácio não rnui sumptuoso naquelles mesmos paizes da Europa era que não ha logcas que abundem de objectos idênticos do valor de 4:8001^000, e 6:400(^000 rs , como pode- rá suppor-sc que os murrhinos , em tempo em que jd crão vulgares, tivessem semelhante valor? Mais se cor- robora o que fica ponderado com o que reconta Plinio affirmando haver obras de barro que custavão mais que os murrhinos (48), consequentemente não podião elles ser tão caros. O (•H) Inter oinncs eos non cnnstat a quibiis faclae siiit , JuitisMIlo Ca- suohliterniis tuntw vaiiitatis auctoribus. I. c. , cap. 17, j). (>75. (4ó) Vcrwii et ad Vrbis nostrae miracula tramire couuenit I. c, cap. ^4, p. 694 e seguintes. (46) Pyramides rcg um miramur Publius Clodiíts , quem Mi lo ocádil , sestulium centies et quadrasics oclies domo cmiiía hábil aveiil : quod equidem iion secus , ac regum tmaniam miror. 1. c. , L. 36 , cai). 24, T. 9. , p. 697. (47) Pyrmnis amplíssima ex Arahiçis tapidicinis constai. Treíenta hXVl Itominum mitlia aimis XX eam coristritxisse proiLuntur. 1, c, SG , cap. 17 , T. 9, p. 674. L. (48) Qiiouiam eo peruenit luxuria , ul eliam fictilia plwis consltiit 'quarn tnunhina. Jliit. i\at. L. oõ , cap. 46 , T. 9, p. 656. DAS SclENCI AS DE LrSBO A. 6^ O custo de 300 e 400 scstercioí?, como lhe dao os Mss. c edições citadas pelo Conde Rez/.onico , que vem i equivaler a 4(^800, c 6(^400 rs , também he mui dimi- jiuto ; porém como no calculo dos sestercios humas ve- zes se subintcnde cem , outras mil, outras cem mil (49), SC neste passo se subintendessem 100, parece-mc que tu« do correria optimamente , valendo nesse caso (segundo a conta d' Hardouin ) a taça de Pctronio 3:000 fr. ou 48o mandou desbastar a borda d'hum murrhi- » no que levava três sextarios para beber mais facilmen- jj te, porque como a grossura da pedra era extraordi- j> naria , por isso mesmo , sendo maior do que as com- 3> muns, tornava-se incommoda aos que bebiáo « ^ (5'2) ; po- (51) E per amore gli avevarosogli orli e nienfedimctio per tale inju- ria gli era acrcxciuto U prezo rr E por gosto llie tinha roído as bor- das, c não obstante isto por t.il injuria tinlia augnientado o seu pre» ço. Landino. Traducção de Plinio. Kd. cilada, assignatnra K f. (52) Sed iniirrliiiii sextarios três nielientis labriun jlissit abrodi , \it facilins bil)eret ; nam qnanivis lapidis rara esset crassitudo ; hacc tamen coinmunilins major, bibenti evadebat iacouiaioda. /. c, T. 2, p. 210 , col. 2., tiola a. r>AS ScIENCI A S DE LiSBO A. 7t porêiTi náo occorreo a Rezzonico que esta explicação nem combinava com ser a borda do vaso roida por gosto ~ oí» ainorem =:y nem àcsuuia a contradicção de que hutn defeito fizesse augmentar o valor do vaso murrhino. Conjecturo por tanto que ou Plinio falia com a mesma ironia e mofa com que continua , comparando os peda- ços do vaso quebrado ao corpo d'Alexandrc, e motejan- do d'lnim Pai da Pátria beber por copo de tanto preço; OU então está este passo viciado , como immensos ou- tros do mesmo Author; porque, segundo Erasmo, quasi todos os Mss. são erradissimos (5'3). Em terceiro lugar : Não sei ligar hum sentido claro á expressão auferente li' beris ejtis Neroue Domitio rn ; porque não podendo ejui referir-se a Nerone , não tem a quem se refira senão ao varão consular. Mas se Plinio ( como bem adverte Rez- zonico a meu ver) quiz calar o nome deste varão, a cir- cunstancia de ter Nero tirado a seus filhos tanta copia de murrhinos que enchião hum theatro , e a de ser hum acontecimento recente r^ ante bos ânuos :=: desco- brem clarissimamcnte aquillo mesmo que se pretendia occultar j porque He impossível que tivesse havido muitos varões consulares com cujos filhos Nero pra- ticasse igual facto , c que por isso podcsse o nome daquelle que possuio a famosa taça ser confundido na ge- neralidade dos outros. Alem de que ^ como se compade- ce o grande preço dos murrhinos com huma abundân- cia delíes tal que enchião hum theatro ? E ainda que por » te (93) Nos ex vetutissímo quodani códice, sed ut fere sunt, depra- vatiisime scripto non pauca restitui mus. Na ej. da prefação de hcSo 1548^/., ex Offíciíia Godefridi et Marcflli Berengonim fratrum, cita- do por Gutbe Ucber deii Astrios — KHclstein des Cajus Pliiiius secun- dus , Eiiie aiiliquarisch — litognostisclie Abhaiidluiig;. Milucheii \Z\0 — 4.", p. 10, nota .3. — Dissertnçm archeologico — lit/iologica sobre a Aitrws, pedra preaosa Ue Vaio 1'luúo segwido^ Muiiicfi ele. 71 Memorias DA AcademiaReal theatro se entenda só o tablado, como presumo, porque a platea havia ser occupada pelos espectadores , c que tste tablado, sendo de hum theatro pequeno, fossç também pequeno j com tudo pnra encher de murrhinos hum tablado era mister grandíssima quantidade , quanri'- tlade que reunida nas mãos d'hum só particular parecô apresentar huma contradicçao entre este passo e o sc- j>uinte. Se tão crescido era o numero dos murrhinos no tempo de Nero, e por consequência se tão vulgares crão , como mandou clle guardar para se mostrarem co- mo se fosse o corpo d'Alcxjndre , os fragmentos d'hum copo que se tinha quebrado ? Nenhuma de^r.us reflexões assomou -aos Commentadores que consultei, antes Har- douin , sem hesitar , explica assim o seu texto :=; Que tirando Nero César aquclles copos aos filhos delle í2 (5- 4). Porem eu entendo que neste passo ha alteração , filhando ou sobejando alguma cousa, tanto mais que Lan- dino omittio na sua traducção tudo o que di/, o tex- to, desde ri Idem in rcliqnis ■;= aíó ~ cuucute se tr. (55)» o que prova que' nos Mss. de que se sérvio fahavao aquellas palavras. Em quarto lugar': Brotier tr'az — ; Vidi ttim adnumerãri ^ e diz que a primei- ra edição Je mal ir qtii tnnc vidit admimerari (56). E Hardoain explica ri /";; dohrem saeculi mvidiatuqtie fortú- n uae ;::: por este modo — Para que o século presente >» se magoasse e invejasse a fortuna do tempo passa- » do=; " ()"7j. » Não (54) (Ut auferente) Vt cim Naro Cnesnr eapoctila liheris cjus aii' ferrei — .[-"linio, 1. -c. , T. 10, p. 15, ool. 2, iioU (o). (56) Trnducção Italiana de Piiiiio, Ed. citada, assignatnra K S'- (ó6) Na edição de riiiiio citada. T. tí , p. -Jláíí , jiota VJ^ Mulé edilio priuceps , qui tum ctc. (ó7) Ut dokrct jiracsr.ns seculum , invideretque forinnae ntperioris actatis. Na ed. de Franziu T. 10, p. 16, col. 2, nota (h). ^ DAS SciENClAS DE LiSROA.iM 75 Nao me contenta nem a lição de Brotier, nem a expli- cação d'H3rdouin. ,,j..; '■^'■ A liçdo : porque Plinio quer fazer sobresahir o rIJiculo- de mandar Nero guardar para se mostrarem , como se fos- se o corpo d'AleXandre , os bocados d'hum vaso murrhi- no que se quebrou; e então o ridículo he muito maior assiicindo Nero á contagem dos pedaços do copo , para não escapar nenhum. E sendo evidente que Plinio em- pregou todos os meios de escarnecer a acção de Nero , pois. que aré , para sustentar melhor a comparação com o cprpo d'Alexandrc, chamou aos pedaços do copo mur- rhino membra , e com o mesmo intuito se sérvio da pa- lavra =: conditorio ■=:: que significa thesouro, casa onde se guardão jóias &c. , e sepultura , porque assim como o corpo d'Ali;xandre esteve n'huma sepultura de vidro para se ver (y8), assim também os pedaços do murrhino se guardarão no thesouro para se mostrarem ; como havia elle tirar huma grande parte da força á sua imagem escre- vendo =i Vidi tunc admimerari ? A explicação : porque principiando Nero a governar o Império no anno 8oé de Roma, c tendo Pimio oíFere- cido a sua Historia Natural a Tito Vcspasiano Filho , no anno de Roma 830 (fç), o facto a que se refere Plinio acontcceo nos 24 annos que medeão entre estas duas datas , e se fosse necessário podião estreitar-se mais os limites dentro dos quaes succedeo ; por consequência não lhe he applicavel a antithese do século presente, e a idade passada. Parece-me que Plinio , seguindo o sea systema de irrisão = credo — , quer dizer que Nero julgoa aquclle acontecimento como hum grande desastre, e que mandou guardar os bocados do murrhino quebrado para Tom. XII. Part. II. 10 que (58) Uardoiiia nas notas a Pliuio. Ed. citada, T. 10, p. IS, col. 2. , nota (i). (õ'J) Rczzonico 1. c, T. 1. , p. 90 , e p. 108. 74 Memoriasda AcademiaReal que as pessoas do seu tempo vcndo-os , tivessem lasti- ma de que a fortuna invejosa de que nelie houvesse c©i- za tão bella , fizesse com que se quebrasse. ' í^^ ^' Em quinto lugar: .itc.ij;^ ^.ij/inAjCin -jI.' A lição de x: veluti per transittin^ colorif,, in' pu¥pUra y íítit rubesceute lácteo in: não> me parece que offcrcça hum: sentido claro. Hardouin diz que assim traaem este pas- so todos os Mss, (6o) ; porem Rezzonico emenda pelâ' authoridade do Mss. I. da Ambrosiana z2 in purpura a ru- besceute lácteo tz , cita huma liçáo difFerente de outro Mss. da mesma Bibliotheca , e diz que Dalccamplo, á mar- gem da sua edição, notou como tirado d'hum velho, exemplar =;/i«rp«rfl catidesceiíte , aut lacte rubercetjte t^ ^ e que esta liçáo parece por certo menos dissonante do que as que até alli se tinhão publicado (61). E Landino, que para a sua traducçao se sérvio de Mss, e talvez do pre» cioso Mss. de Nápoles (62), traduz r; como quando, por » mudança de cores, ou a purpura se torna branca, ou a T> leite purpurino — (^^s)) o que concorda com a nota dé Dalecampio. O que Plinio quiz dizer he que a luz refle- ctida pelos vasos murrhinos mostrava huma cor de leite que, mudando-se a posição do vaso ou do espectador, se encendia,.e se convertia em côr de purpura; e que, n'outro reflexo e por hum motivo idêntico, a côr de purpura desmaiava e se tornava côr de leite. He este realmente o phenomeno que a natureza apresenta nas opa- (60) Na edição de Plinio de Franzio, T. 10, p. 18, col. 2., nota (t). (61) Dalecampius adlibri oram ex vetai exemplari adnotnvit z: pur- pura candescpDte , aut lacte rubesceute s id certè miiius díssonwn vi- detur , quàm Imc usqtie vulgata. Rezzonico 1. c, T. 2 , p. 213, uota 4., col. 1. A emi-iida in purpura iSf. vem na mesma p. col. 2. (02) Rezzonico 1. c. , T. 2 , p. 209, col. 2., nota 4, p. 364, o p. 244. (63) Chome qnnndo per mutntioiíc di colori o la purpura vieiíe ai hianco o el iacte ai jiorporúio. ]. c. assignatura K ^. DAS SciENCrAS DE LISBOA. 75* opalas &c. pelas razões que adiante exporei ; e por tanto pcrsuado-me de que a verdadeira lição de Plinio deve ser a que aponta Dalecampio ; e tanto mais por que Plínio usa d'cxpressões análogas , como por exemplo =3 uec sitie qnadam spe purpurae candore /« mintum trans eunte ~ (64) , albicante purpurae defecíu — (65-) &c. Para desculpar esta espécie de digressão que pode- rá ser censurada de ociosa , c que julguei indispensável para apoiar a minha interpretação, afastando-me do tex- to vulgar de Plinio , escudar-mc-hci com o parecer de Erasmo de Rotcrdam = que por hum lugar de Plinio emendado merecerá honesta memoria , quem desejar ter nomeada =: (66). Arrimado ás reflexões que tenho feito sobre o texto de Plinio , traduzirei assim. VII. »> A mesma victoria (a que Ppmpeo alcançou dos » Piratas e das Nações c Reys da Ásia, e do Ponto " (^7)) trouxe pela primeira vez a Roma os murrhinos, j» e Pompeo foi o primeiro que, daquelle triumpho, j> consagrou a Júpiter Capitolino pedras e copos, que M logo os homens entrarão a usar, appetecendo também » dcllcs laminas c vasos para a mesa. O luxo neste ob- n jccto cresceo de dia em dia a ponto de se comprar 5> por 80:000 sestcrcios hum çalix que levava quasi três >j sextarios. Por este cálix bebeo , nos annos passados , ,»» hum varão Consular que embellezado nelle lhe roeo 10 ii »> a (fi4) [Jist. ISat. L. 37, cap. 13, T. 10, p. 74, faJlando da Sar- multidão , que foi tanta , que os que Nero Domicio j» tirou aos filhos delle, sendo expostos ao publico, cn- >» chêrâo o theatro particular que tinha nos jardins alem « do Tibre , e que atulhado de povo qunndo Nero ali í» cantava , lhe bastava tíimbem para ensaiar-se para de- » pois figurar no de Pompeo. Assistio então Nero á con- 5J tagem dos fragmentos d'hum copo quebrado que, sc- >» gundo eu creio , para lastima do seu século , e prova » da inveja da fortuna, lhe parecco bem se guardassem »> no thesouro para se mostrarem , como se fosse o cor- »> po d'Alexandre. T. 1'ctronio , varão Consular , estando »» para ser morto por ódio que Nero lhe tinha , quebrou » huma taça murrhina que tinha custado 30:000 scstercios, » para privar delia a mesa do Príncipe; mas Nero, co- j» mo era próprio d'hum Principe , venceo a todos com- Jí prando Inim copo por 40:000 sestercios. Cousa me- »» moravel que hum Imperador, c Pai da Pátria bebesse .»*:por copo de tamanho preço! j> VIII. Os murrhinos vem do Oriente, porque se achao j> ali em muitos Jugares , que não são notáveis, maximò j> do Reino dos Parthos , e principalmente na Carmania, » Julga-se que são hum humor que se condensa debaixo >» da terra, por cfFeito do calor. Na extensão, em ncnhu- >t ma jjartc excedera, a de pequenas laminas (68), e lí T .f.i .ní.o " na (68) Ahacus significa Aparador oude se pÕe o comer , e os objectos que hão de scrvir-se na niezu : Laminas de qualquer matéria própria para isso , como as d\irdosia , etc. , para uellas se traçarem figuras, ou escreverem cálculos, que depois se apagão : Taboleiros de jogo : Laminas quadradas de mármore , vidro , ou de qualquer outra ma- DAS SCIEHCIAS DE LiSBOA. 77 » na grossura raras vezes a do mencionado vaso para be- j» ber. Tem hum brilho sem força , ou mais cxaccamen- >» re hum lustro e não hum brilho. O seu maior preço j» consiste na diversidade das cores , variando alternada- >» mente de quando em quando as manchas para côr de » purpura, e para côr de leite, e chamejando de ambas » ellas outra terceira côr , como por transição de huma >j para outra , tornando-se a purpura branca , ou a côr j» de leite purpúrea. Alguns gostao sobre maneira das »> extremidades , e de certos reflexos de cores como os » que se observao no arco celeste. Outros cstimão mais ii as manchas grandes. A transparência, e a pallidez são >j defeitos j assim como o são as jacas e as verrugas , >» não elevadas, mas entranhadas como acontece também »» algumas vezes no corpo humano. São também recom- »f mendaveis por algum cheiro. >» IX. Huma causa contraria a esta produz o crystal , j» que se coagula do gelo mais forte, porque de certo »f não se acha senão onde mais se enregelão as neves » do inverno : hc inquestionável ser gelo , e d'ahi lhe M provêm o nome que os Gregos lhe derão. Vem tam- " bem do Oriente ; porque nenhum se prefere ao Indi- >» CO. Nasce igualmente em lugares vilissimos da >» Ásia , para as partes de Alabanda , em Orthosia , e >» nos montes visinhos , c também em Chipre. Porem j» he estimado o das montanhas dos Alpes na Eu- >» ropa &c. rr. Agora seguirei, passo a passo, o Snr. Bossl. Erão os murrhinos : Hum teria, que se incrustavão nas paredes, e se ciupregavão como or- iKitos , íx maneira de embutidos, nos mesmos aparadores, e cm ou- tros trastes , etc. ele. Vede os Diccionarios Latinos de Gesnero , e Forcclliui. Sendo absurdo dar neste passo a abactis alguma das três prU inciras significações, só pode applicar-se-lhe a ultima, e he esta a que cu enteudo traduziodo — lauiiuas — 78 Memorias da Academia Real Hum vidro mui raroy mui precioso e de difficil com- posição, talvez d'bum vidro opalitio^ fabricado tia Carpjatiia, na Pérsia^ e tatnbem no Egypto ; c sen- do a sua matéria tiio preciosa quam acabados eríio a sua forma e trabalho, não podião nunca os va- sos exceder certa dimensão. Cada huma das clausulas deste período dá assumpto pa- ra extenso coinmentario. Resumir-me-hei todavia quanto poder. Não comprchendo o que seja hum vidro raro, mui precioso e de difficil composição. Conhecidos os conten- tos da composição do vidro, fácil era fazer delles maior ou menor porção de massa, segundo se quizcsse, e então por que havia de ser este vidro raro e precioso ? Tam- bcm não comprchendo como possa fazer-se vidro opali- no =: . A opala (69) deve a sua belleza ás suas imper- » fciçócs. Os reflexos tão agradavelmente coloreados que )) lança no seu interior, provêm d'huma multidão de » fendas , e rachas que interrompem a continuidade da j) substancia de que he formada , e deixão entre as suas )) laminas intervallos que reflectem diversamente os raios » da luz. Toda esta variedade de cores desapparece )) quebrando-se a opala. A causa physica de que depen- > de he a mesma que a do phenomeno dos anneis có- )) rados , observado por Newton com huma sagacidade > própria do seu engenho. Limitar-me-hei a expor o que » he (69) Le qiiartz .Tgathe opalin doit sa beaiité à ses iinpcrfrclions. Les reflets si agrc.ibletneiit colores qn^il lance ilniis sou intéricur; provieniicnt triiiic miiltilutle de ftiitfs tt de gcrçiires qui iiitcrroin- pent Ia contiiiuitc de sa inalière )jropre , et luissent entre ses l.nmes des iiitervalles , qui réflcchisseiit divcrseinciit les rajoiís de Ia lii- mière. Tollte ceUe variété de couleilrs disp.Troit dès que loii brise Jopale. La cause physique doiit clle dó|)eiid cst !a iiifníe que celle dn ])liéiioiiièiie des aniuatix colores, observe jiar Newton avec utic sagacité digne de sou génie. iNoils nous bornerons à 1'exposition de ce qui est csseutiel pour notre objet.. Haiiij. Tiúilé de Mincraiogie* Paris 1801, T. 2. }>. 406. DAS SpíENCIAS DE LlSBOA. ; ' «" 79 » he essencial para o nosso objecto p. Assim se expli- ca Mr. Hauy ; e continyfl:;ja .mostrar a razão physica da diversidade das côrcs da opala. Ora como pode fazer-se hum vidro que satisfaça no sçu fabrico ás condições da. opala? Bera sabia isto o Snr.Bossi, mas fluctuando entre a evidencia das theorias, e a sgggestao do espirito de systema , humas vezes =; reconhece que o vidro estan* ■a do muito tempo debaixo da terra (70) , e a reacção •» dos saes e das outras substancias com que está enter- « rado bastão para lhe dar a mais bella apparencia do » iris. Deve então as suas cores vivas, e variadas, bem > como a verdadeira opala, ao modo por que a luz se í decompõe c Sie reflecte no grande numero de peque- » nas fendas que se formão na superficie do vidro , de- » pois de ter perdido o seu polimento, e que a atraves- » são em todos os sentidos. Que esta he a theoria ap- ]» plicavel a quasi todas as substancias iriadas, ou opa- » lisantes ; e que: o silex hyalino, ou crystal de rocha, » opalisa muitas vezes , mas só quando tem fendas ou » cavidades cheias d'ar a travez das quaes a luz se de- » compõe e reflecte »;—. declara que nunca se vio opala tamanha de que podesse tirar-se o mais pequeno copo para beber, por ser da natureza da formação desta pedra não (70) Cependant le long séjour du verre dans la terre , ét Ia rca- ctioii dcs seis, et des autres inatières , avec les quelles il se trouve eufoui , sufíisent pour lui doniier la plus belle apparence iridée. II doit alors ses couleurs vives, et varices, de même que Ia véritable opale , à Ia iDaiiière, doiit Ia lumière est décomposée , et réfléchie dans les nombreuses petites fissures , qui se forment à la surface du verre, après qu'il a perdu sori poliiuent, et qui Ia traversent en tout seus. Cest Ia tlicorie applicable à presque toutes les substanccs iri- dées, ou opalisaiUes. Le silcx liyalin, ou cristal de roclie, opalise três souvent: mais ce nVst que Iorsqu'il a des fissures , ou des cavitcs rciuplies dair, à travers les quelles la luruière est décomposée, et réílécbie. Bossi. Observations iur le Sacro Catiuo de Gêncs. p. 114. 8o Memorias DA AcadeMí^a 'RMal não poder apparccêr ,''fcíKÍi'ctdd'áS aá'p»fbprii?ciâdeá (]ue^a'< tornão de preço, senão erti 'dimensão mui pouco ■consi-^ deravel (71) ; — e confessa que as cores opalinas do vi-'^ dro são devidas a hum 'pi'incrpio de decomposição (72)*- outras vezes trata ô vidro como opalisante por sua nafu-* reza, e a pesar de todas' aé reflexões feitas, não se atre-" ve a decidir que não seja originariamente opalisante (73);' ma* prevalece por fim o espirito de 'systema , porque ias thcorias são communs a todos os qUe querem aprende* las , e os systemas são os filhos predilectos dos que 09 imaginão ; inclina-se a considerar como reaT a existência dos vidros opalinos (74) , e invocando em seu favor o testemunho de Plinio , decide que os antigos conhecião mui bem a arte de fabricar vidros opalinos , e que os Romanos falsificavão por meio delles as opalas (75). Go- mo o Snr. Bossi não indica onde achou isto em Plinio, não sei onde heide verifica-lo ; porem nos capítulos em que trata do vidro, sua origem^ manufactura <, etc. não diz que se fabricassem vidros opalinos, mas sim de fur- tabôres vei'sicolores , o que he mui diíFerente de opalinos (76) ; e quanto á opala, Plinio não diz que os Romanos a falsificavão , mas sim que onde melhor se f:ilsificava era na índia , por meio do vidro ; e pela maneira por que ensina a distinguir as falsas das verdadeiras , mani- festa bem que se fingião introduzindo cores no vidro , e não pelos motivos por que as opalas reflectem as suas cores acatasoladas {77). y- (71) Nrsta Memoria p. 1). (72) Bossi. 1. c. , p. 113; e nesta Memoria p. 34, e 36. (73) Bossi. 1. c. , p. 112 c 113.=: Jene sçaurai pourtant me décidet sur la composition dn vcrre tlc ce rragiiicnt, et jc nosiTai pns pronun- cer, qiie ce n\iit pas été originairemeiít uii vcrre opalisant, ele. , p. 1 13. (74) Bossi. 1. c. , p. 185 e 190. (7.5) Nesta I\lcm. p. 34'; c Bossi, 1. c. , p. 114. (7G) Hísf. iV«<. L. .ífi , cap. C5 a 67, T. 3 , p. 776 a 784 , e nesta ultima p. se lê o versicolores. (77) JNuJlosque magis ludla similitudine indiscreta vilro adulfe- DAS SCIENCIAS DE LlSBOA. 8í Pldro jabricado na Carmania , na Pérsia , e tam- bém no Egypto. Plinio não diz que os murrhinos viessem da Pérsia, nem do Egypto. Diz que vinhão de muitas partes do Orien- te, raaxime do Reino dos Parthos, e principalmente ^^ Carmania ; e se a Pérsia não conheceo antigamente fa" bricas de vidros, e a primeira que alli houve foi esta" belecida por hum Italiano , em época mui recente segun- do o Snr. Bossi (78) ; como quer elle que na Pérsia se fabricassem de vidro os vasos murrhinos ? E sendo a sua matéria tão preciosa , qtiàm aca- bados eriio a sua forma e trabalho , Sobre a preciosidade da matéria , sendo de vidro , nada tenho que acrescentar. Qj.ianto ao mais. Plinio não diz cm parte nenhuma que os vasos murrhinos tivessem al- gum trabalho que os tornasse apreciáveis , nem que se fizessem notáveis pela elegância da sua forma. O que os tornava preciosos era a matéria de que crão feitos, e as cores; alem de que o Snr. Bossi esqueceo-se de ter dito que o Reino dos Parthos não era o paiz das artes (79), e sendo isto assim ^ como se faziao nelle obras de vidro de forma e de trabalho tão primorosos como ellc asse- vera serem os vasos murrhinos ? não podião nunca exceder certa dimensão. A dimensão das obras de vidro tem certamente hum li- mite, por que, alem de outras razões , he necessário que possão sahir pela boca dos fornos ; porém estes limites excedem muito os de hum pequeno copo de beber vi- nho ; e os antigos apresentão exemplos de obras de vi- Tom. XII. P. II. II dro rat. Experiíueotum in sole taiitutu. Falsis eiiim contra radius libra- tis, digito ac pollicc unus alque idem translncet colos iu se coiisum- ptiis. Veri fulgor subiiulc vnriat, rt pliis huc illucque spargit, et fulgor lucis in dígitos fuuditur. Hist. Nat. L. 37, cap. 2'2, T. 10, p. 70. (78) Bossi, 1. c, p. 60, nota 14 , e p. 13C. (79) Nesta Memoria p. IJ. 8i M EMOBi AS DA Academia Re AL dro de dimensões mui superiores a tudo o que hoje se conhece. Sem failar das caixas sepuichraes de vidro em que os Egypcios guardavão as suas múmias, de que o Snr. Bossi se lembra (8o) , porque podião ser formadas de chapas de vidro mcttidas em caixilhos ; elle mesmo aponta obras de grande volume , como estatuas c até colossaes (Ui), que hoje não poderião sahir dos nossos fornos de vidro. A razão por que os vasos murrhinos não podião exceder certa dimensão he porque, como dia Plinio , a matéria de que erao feitos (a pedra) não da- va para isso , porque não tinha maior comprimento do que o de huma pequena lamina, e maior grossura, quan- do muito , do que a necessária para delia se tirar hum copo que levou quasi três sextarios ; se fossem de vidro nada impedia que a massa de que se fiiziao dez copos so empregasse n'hum só de muito maior dimensão. Mas o que deste passo de Plinio me parece que se pode também colher he que apparecendo os primeiros vasos murrhinos em Roma no 3.° triumpho de Pompeo , veio depois como mercadoria a matéria prima de que el- Ics se fabricavão , e forao feitos em Roma , alias não parece natural que Plinio tivesse tão exacto conhecimen- to das dimensões dessa mesma matéria prima , o que já o Snr. Bossi conjecturou .incidentemente , suppondo-os de vidro (S2). Para destruir o embaraço que contrapõe á sua hy^- pothcse os dois passos de Plinio í= Miirrhina et crystalli' na ex eadcm terra ejfodtiutis ^is e r: humorem putant colore suV terra deusari — , interprera-os o Snr. Bossi a seu gei- to ; e para elle. Quanto ao primeiro passo : Não (fio) Bossi, 1. c. , p. 50, nota 14, e p. )3C. (81) Bossi , 1. c. , p. -íSj e nota 12 ; p. 49 , e 65. (82) IScsta Memoria p. 3ú. DAS SciEMCIAS DE LlsBOA; 83 iTao ha duvida que a matéria de vidro murrliitio, OH crystallino se tirava pela maior parte da ter- ra , e que per tanto se podia fallar tio primeiro passo de duas espécies de vidro cujas matérias prh mas se tiravao do mesmo lugar. Prova-se que nes- te passo só se tratava de^ vidro pela frase que se segue d indicaçã» des murrhinos , e dos crjs- talliiios ^ quibus prctium facerct ipsa fragili- tas =: ; porque Plinio uutica teria notado neste lu- gar a fragilidade do crystal de rocha , que nada de frágil tem quando se tira das montanhas , e dé que elle rcconheceo n'ontra parte a dureza , fazen- do-o até desenterrar em alguns sitíos com o ferro da charrua. E mostra-se sobre tudo evidentemente que só se trata de vidro , ou d'huma matéria fu- sivel que serve para o fabrico do vidro ; porque à pátria dos murrhinos he designada por Plinio e côllocada no Oriente no Reino dos Parthos , e na Carmania , e que dista muito daqui d pátria dos crystaes , indicada pelo mesmo Plinio , e côllocada no Oriente , que he hum termo muito vago , poréni mais precisamente na India^ junto d^Alabanda e de Orthoiia , na Ilha de Chipre , e nas montanhas dos Alpes ; portanto não tratava d'huma pedra quando dizia =: murrhina et crystallina ex eadem terra efFodimus ^r ; porque seria erro mui grosseiro , tratava-se doutra substancia diversa^ d'huma sub- stancia própria para fazer vidro , ou mesmo d^hii- ma espécie de massa ftmdida., d^hum vidro já for- mado , d' bum vidro volcanico. Mas o peior hc que o Siir.Bossi, substituindo o que cl- Ic fantasiou ao que se acha em Plinio, cm lugar de ler singelamente o que alli se diz , desloca as palavras do Author Romano para lhe imputar coizas que nunca lhe vicrão á idea ; porém Plinio se .defenderá. Principia o Livro 33 da 'Historia Natural de Pli- II ii nio ?4 MsMORIASnAAcAnEMtAREAL nio (83) dizendo que vai tratar dos metaes , c das rique- zas que se procurao dentro da terra para muitos fins ; porque n'hun:ias partes se tirão para a opulência , corno o ouro, a prata, etc. ; n'outras para o deleite, como as pedras preciosas , etc. ; cm outras para instrumento de temeridade, como o ferro, etc. Que perseguimos todas as veias da terra, e vivemos sobre as excavações que nel- la (83) Metalla nniic , ipsaeque opes , et rcruni pretia dicentiir, lellurem iutns exquireiite cura inultiplici modo : quippe alibi divi- tiis foditur , quaerente vita auruin , argeutuin, electium , nes : alibi dcliciis geiuuias et paiietnm digitoniiiique pigmenta : alibi tenieri- tali ferium , auro etiam gratius inter bella caedesque. Persequiniur onnies ejus fibras, vivimusque super excavatuni , mirantes dehisce- re aliqiiàndo , ant intremiscere illàm: ceu vero nori hoc etiam indi- gnatioiíc sacrae parentis exprimi pdssit. Imus in víscera ejus, et ia sede Mnnjuin opes quaerimus, tatuquam parum beuigna fertiiique, quaqua secatur. Et inter liaec mininuim remediorum gratia scruta- luur: quoto enim cuique fodiendi causa medicina est f Quaraquam et haec surama sui parte tribuit, et minimc parca, facilisquc in onínibus quaccunique prosunt. ília nos jiremuiit, illa nos ad inferos aguiit, quae occultavit atque deniersit , illa quae iion nascuntur re- pente. Mens ad inane evolans reputet quae deinde futura sit liiiis se- culis omnibus exhauriendi eani : quousque penetrai avaritia. Qiiain innocens, quam beata, imo vero et delicata esset vita, si iiihil.aliuii- de , quan» supra terras, conoupisceret , breviterque, nisi quod se- ciim est ! 11. Eruitur aurum , et chrysocoUa juxta, tit pretiosior videalur, non natura. Parum erat unam vitae inveiiisse pestem , nisi in pretio esset auri etiam sanies. Quaerebat argentum avaritia : boni consuluit interirii invcnisse minium, rubentisque terrae excogitavit usum. lltu prodigiosa iiigenia 1 quot modis auxinius pretia rerunj ? Accessit ars picturae ad aurum argentumquc, quae celaudo cariora feciínus. Di- dicit liomb naturam provocarfe. Auxere et arteni vitiorum irritamen- ta. In poculis libidines caelare juvit, ac per obscenifates bibere. Ad- jecta deinde sunt haec , et sordere coepere : et auri argentique ni- raíum fuit Murrhina et crystalluia . ex cadem terra cffodinms , quibus pretiiim faceret ipsa fragilitas. Uoc argumentum opnm , haec ver-"* juxuriae gloria existimata est, habere quod posset statim totura pe- rire. JNec boc fuit satis : turba genimaruni potanius; et smaragdis teximus caljees: ac temulentiae causa tenere Indiam juvat: et au" rum jam accessio est. Pliido Hist. Nat, L. 32, cap. 1 e 2, T. 9, pag 1 e sp^íuintcs. DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. Sj" la fazemos, admirando-nos de que se abra algumas vezes c que trema. Que vamos as- suas entranhas , c andamos em cata das riquezas na habitação dos mortos. Que no meio de tudo isto poucas vezes a esquadrinhamos para descobrirmos remédios, porque ^ quantas ve/es se excava a terra para a medicina? Que o que nos afadiga, o que nos faz ir aos infernos he o que a terra occultou, e afundou , o que não nasce de repente. Qtie se arranca o ouro. Que a ambição procurava a prata ; porém que sii- bio desmedidamente o preço das coizas , vindo o buril a tornar mais caro o ouro e a prata. Que a arte augmen- tou os incentivos do vicio, abrindo-se nos copos por on- de se bebe scenas libidinosas. Que se deo de mão a tu- do isto, e começou a desprezar-se. Qiic tiramos também da terra as substancias murrhinas e as crystallinas, cuja fragilidade concorre para o seu valor. E que não bas- tando isto bebemos por huma multidão de gemmas , e cobrimos de esmeraldas os copos , etc. Creio que a vista menos perspicaz verá neste passo de Plínio, de que extrahi o sueco, mas que copiei por integra na nota que , assim como se tirava da terra o ouro, a prata, o ferro, as pedras preciosas, os objectos para usos da medicina , andando sempre os homens a es- quadrinhar o que está por baixo da terra, assim também se tiravão as substancias murrhinas, e as crystallinas; e que a expressão =3 ex eadem terra ts quer dizer da ter- ja donde se tirão todas as outras coizas de que Plinio faz. menção , da terra em geral , e não do mesmo sitio , ou de bum lugar determinado ; porque então servir-se-hia Plinio da palavra z^ locus ír como faz quando quer desi- gnar os sitios onde se dão os diversos objectos de que trata, sem os individuar pelos seus nomes gcographicos, e ás vezes acompanhando-os até desses nomes (84). De (84) 'N'gri sílices optimi quibusdam iii toeis et rubentes. Hist. JNat. L. 3(> , caii. -19 , T. 9 , p. 755. S6 Memorias da Academia Real De idêntica expressão usa Plinio frequentemente,' fallando dos fosseis que se cxtrahcm da terra (Sf). Creio também que he ficil de ver que Plinio de» clamando contra o luxo desordenada , e mencionando os dcgráos por que ellc tinha crescido nos copos para be- ber, enumera as matérias preciosas de que se faziáo, o ouro , a prata ; estes mesmos mctacs lavrados ao butil ; os murrhinos , e o crystal ; c ultimamente os copos em que SC engastava grande copia de pedras preciosas co- mo as esmeraldas, etc. ; c por tanto considera a maté- ria murrhina como huma matéria preciosa sni getieris des- entranhada da terra , hum fóssil , bem como he fóssil o crystal , o que excluc toda a idea de vidro. Prova-se que neste passo se trata de vidro pela fragilidade que Plinio attribue aos murrhinos c crystalliiios , porque o crystal de rocha nada de frágil íeniy reconhecendo Plinio a sua dureza quan- do se tira da íerra, fazendo-o até desenterrar em alguns sitios com o ferro da charrtia. ^ Pli^ hiveniuntur eitim ibi iu pluribus locis. L, 37, ca}). 8, T. 10, p. 17, fal- lando tios iDUrrhinos. Et iu Scijthia crui duohus locis. L. 37, cap. U, T. 10, p. 28 , fallan- do do alambre. Nnscitur circa Orlhosinm , tntaqiie Caria , ac viciíiis locis. L. 37 , cap. 29, T. IO, p. 07, fallando da Ijelinis. iSí;íZ incaãunlur compluribus aliis locis. L. 37 , cap. 31 , T. 10 , p. 89, fallando da sarda. Fostea phnimif! locis. L. 37, cap. 54, T. 10, p. 119, fallando da aga- tlu , ctc. etc. etc. Gngates lápis nomcn linbet loci. L. 36 , cap. 34 , T. 9, p. 731. 'N(ucilur in Jntlia, loco ejusdern iiominis. L. 37, cap. '^8 , T. 10, p, 84, faliaíido da sandaresa , ou Garamanlitcs. Loci vomen cusiodiaitem. L. 37, cap. 2ii , T. 10, p.,C6,' fallando da sandraston. ctc. (S5) E cuiiiculis efibssiun. Hist. Nat. L. 35, cap. 50, T. 9, p. 570, fallando do enxofre; e no mesmo cap. p.b7lvivnm cíTossuni, con- tinuando a failar (klle. F. tcrrn fodilur. L. 3(1 , cap. 59, T.9, p. 7G7, fallando do gesso. J« Ligurirt cílodi dixit. L. 37, cap. 11, T. 10, p. i8 , (aliando do alaiubre. ctc, etc. RAS SciENCIAS DE LiSBOA. 8/ Plinio não diz que a matéria murrhina c o crystal de ro- cha erão matérias frágeis , diz que os copos feitos da pedra murrhina c de crystal erSo ftagcis. Q-ialquer sub- stancia pode ser dura e frágil ; e isto mesmo acontece ao vidro ; porque a dureza não hc incompativel com a fragilidade. Os prismas de crystal de rocha , ou huma inussa amorphica de quartzo hyalino são mui duros ; po- rém se delle se fizerem copos, reduzindo-o á grossura do vidro ordinário, certamente serão mui frágeis. Vice ver- sa o vidro dos copos, das vidraças, ctc. he bem frágil ; mas de vidro se fazem os olhos de boi para os Navios por cima dos quacs passa huma carreta d'artilheria sem os quebrar. Do mesmo modo as diíFcrentes espécies de quartzo agatha são durissimas , porem as copas e taças que delle se fazem , e de que tenho visto grande quan- tidade , não soffrem a menor pancada ; se cahircm no chão , far-se-hão em pedaços , e por isso se encontrão muitas fendidas e com bocados fora. Observarei também que não he a opinião de Plinio que o crystal se desenterrasse com o soco da charrua. Pelo contrario acha estranha esta opinião, e não se ac- commoda a ella ; porque se explica pelo modo seguin- te (86). » He digno d'admir3ção o que diz Xenocrates j Ephesio, que se levanta com o ferro do arado (o cry- > stal) na Ásia , e em Chipre ; porque se julgava que » não se achava na terra , mas só entre os penhascos. » He mais verosimil o que conta o mesmo Xenocrates a que muitas vezes vem arrastado nas torrentes. » Mostra-se sobre tudo evidentemente , que só se trata de vidro , ou dlnnna matéria fusível que serve para o fabrico do vidro , porque a pátria dos (ftC) Mirum cst quod Xenocrates tradil Sphesius , aratro iii Ásia et Cypro c.i-cit,iri. Ntm euim hwenin in terreno, iiec iiisi inter cantes cre- 'dilum fucrat, Similius vero cst, quod idem Xenocrates tradit, torrcntibus saei>c deportan, Plinio llist. INat. L. 37, cap. 9, T. 10, p. 22. 88 Memouias da Academia Real dos murrhinos he designada por Plhiio, e colloca- da no Oriente , no Reino dos Parthos e na Carma- nia , e que dista muito daqui d pátria dos crys- taes, indicada pelo mesmo Plinio , e coUocada no Oriente , que he bum termo muito vago , porém mais precisamente tta índia, junto d^Àlabanda e de Orthosia , na Ilha de Chipre , e nas montanhas dos Alpes , por tanto não se tratava d^ h/nua pe- dra, quando se dizia =: murrhina et crystallina ex eadem terra effodimus í= porque seria erro mui grosseiro , etc. Concedamos, por hum pouco, ao Snr. Bossi o erro gros- seiro geographico de Plinio ; não sei como da diversi- dade da pátria da substancia murrhina , e do crystal possa seguir-se que a substancia murrhina he vidro, ou huma matéria fusivel. Não insistirei na explicação do := ex eadem terra efodimus ^ porque já tratei este ponto ; porem não posso deixar de advertir que nada ha mais expresso, mais explicito c mais claro, e que menos ad- mitta erro geographico , do que a doutrina de Plinio n este respeito. Começa o cap. 8 do L. 37. •« Os nuinhinos vem do Oriente , porque se achao ali » em muitos lugares que não são notáveis, maximè do » Reino dos Parthos, e principalmente na Carmania , » etc. o MemokiashaAcademiaReal Plínio julgou que fosse debaixo da terra , por não te* idea dos fornos para obras de barro , ou das fornalhas Parthicas , ou pode ser que julgasse que esta operação se executava em fomos subterrâneos, ^ue o que tira toda a duvida a esta interpreta- ção hc que os antigos applicavão frequentemente a palavra luimor ao vidro ^ pela sua semelhança apparente com a agoa , e que qnasi nunca se ser- virão delia fallando da concreção das pedras. E que por consequência era hum vidro , ou huma massa de vidro qtie se fazia coser- debaixo da ter- ra , ott em fornos subterrâneos , ê não huma ma- téria sui gencris que se formasse nas entranhas da terra ; e que nesse sentido he manifesto que es- te passo está bem longe de oppôr-se d sua conje- ctura. Para fortalecer a sua hypothese foi necessário ao Snr, Bossi assacar a Plinio a ignorância dos mais vulgares principios de physica. Nâo saberia Plinio, ao menos pe- la experiência, que a combustão não pode alimentar se sem ar ? e que por consequência não podia haver fornos subterrâneos para obras de barro , e para coser vidro ? Mas recorramos ao texto de Plinio, e ellc decidirá a. questão. No capitulo 8. do L. 37 diz Plinio, tratando dos mur- rhinos —<« Julga se que são hum humor que se condensa >» debaixo da terra , por cfFcito do calor =1 Humorem pu- » tatit sub terra calore densari (94). E no capitulo seguinte do mesmo Livro, tratando ào crystal , di% ^«Huma causa contraria a esta produz a » crystal que se coagula do gelo mais forte r:: Contraria j> buic causa crystallum facit , gelu vebenientiore concre- » to =; »» (95). Então qual he a causa contraria a esta ? Se- (94) Kcsta Memoria p. 76 o p. S;j. (95) Kc-s(a Memoria ]}. 77 c p. fi^ PASSciENCIAS DeLíSBOA. 9I Serão OS fornos subterrâneos da Parthia ? Parece-me que só huma prevenção cega podcrd desconhecer que Plinio, fallando das causas que produzem os murrhinos e o crys- tal , diz que os murrhinos são hum humor condensado debaixo da terra pelo calor ; e o crystal hum humor con» densado debaixo da terra pelo gelo , e por isso são pro- duzidos por causas contrarias , o calor e o frio. 1 ; Poderia dispcnsar-me de dizer ittais nada a este re- speito , com tudo sem me afadigar cm examinar nos A. A. clássicos se applicavão ou não a palavra humor ao vi- dro , c não ás concreções , acrescentarei só que não me lembro de ver esta palavra em Plinio na accepção de vi* dro ; pelo menos nos capitulos em que trata do vidro (96) não se serve delia certamente , nem em todo o decurso dos Livros 35 , 36, e 37 da sua obra em que, ou de propósito , ou occasionalmente , falia muitas vezes deste artefacto; ao contrario, alem do passo que acabo de ana- lysar, emprega btimor para designar a concreção das pe- dras , quando falia da pedra especular (97) , do crys- tal (98), da esmeralda (99), e também a applica á con- densação do alambre (ico). Examinemos agora os outros argumentos com que o Snr, Bossi quer provar que os murrhinos erao de vi- dro. P/inio fallando dos ornatos dos templos e dos inf 11 ii tru- (96) Hist. Nat. L. 3tí, cap. 65 e seguintes, T. 9 , p. 776 e seguin- fes. (97) Hiimorein hunc terrae quidam autumiiant crystaUi modo gld' ciari. Et iii lapidem concrescere manifesto apparet, Hist, JNat. L. 36 , cap. 45 , T. 9 , p. 749. (98) Caclesli huuiore, parvaque ttioe idjxeri iiecesse est. Hist. Nat. L. 37, cap. 9, T. 10, p. 22. (99) Nam et hoc genus reperiri, et in Cypro inventum ex dimidia parte smaragdum , ex dimidia jaspidem , nondum humore intoíum íraiis- figwato. Hist. Nat. L. 37, cap. 19, T. 10, p. 62. (100) Erumpit liuuioris abundantia: deiisatur rigore vel tepore au» tumnali. Hist. Wat. L. 37, cap. 11 , T. 10 , p. 34. 511^ Memorias da Academia Real trumentos dos sacrifícios diz que se faziiío as li' baçoes em pequenos copos que não erao miirrhinos nem crystallinos , vias simplesmente de barro co- sido ; logo (ratava-se aqui do vidro que se com- parava , de algum modo , ds obras de olaria. Não sei de que premissas tira o Snr. Bossi a consequên- cia de que comparando-se as obras de barro aos murrhi- nos dcvião estes ser de vidro. Plinio explicará melhor este passo. Principia o Livro 35' tratando da pintura ; passa a fal- lar das matérias de que se fazem as cores j enumera os pintores mais celebres e as suas mais famosas obras ; fal- ia depois dos que trabalharão em barro (loi); diz que de barro se fazião as estatuas , e que daqui se conhece que a arte de trabaUiar em barro he mais antiga do que a de fundir bronze ; que as imagens dos Deoses erao de barro , e que ainda em muitos lugares se conservavão as tses imagens (102); e que também em Ro^ia e nos Mu- nicípios se viáo frequentemente os remates dos fronti- spicios dos templos feitos de barro, maravilhosamente la- vrados , e que pelo seu artificio , e pelo tempo da sua duração , erão mais venerandos do que se fossem d'ou- ro , e decididamente mais innocentes ; e termina ir «< E »» nos sacrifícios , ainda hoje , a pesar das nossas rique- j» zas , não se fazem as libações em vasos murrhinos, j» ou de crystal , mas de barro (103). Portanto Plinio diz simplesmente , tratando de obras de barro de grande apreço , e do uso que antigamente se fa- (101) Hist. Nat. L. 35, cap. 43,T. 9, p. 540. (102) Ibid. cap. 45, p. 547. (103) Duraiit nitiic plerisque in locis talia simulacra. Fastigia qui' dení iemplorum etiam in urbe crebra , et mniiicipiis , mira caelatura , et arte nevique firmitate smictiora aitro , certe imocentiora. Iii sacris quidem etiam inter lias opes hodie non murrhiiiis crystallini.sve , sed fictilibus prulibatai siiiipuviis. llist. JNat, L, Í9 , cap. 46 , T. 9 , p. 547. J DAS SciENCIAS HE LiSBOA. 93 fazia dò barro para diversos objectos, — < que ainda no seu tempo, a pesar das grandes riquezas que havia, não usavão para as libações nos sacrificios vasos preciosos murrhinos ou de crystal , mas sim de barro. — . E como simpHvittm significa vaso de páo ou de barro , para tirar todo o motivo de questão, accrcscentã fictilibiis y a fim de não poder entrar em duvida que queria fallar de va- sos de barro. Logo tudo o que o Snr. Bossi figura a este respeito, combinado com o texto de Plinio, mos- tra que nem Plipio quiz fallar neste lugar dos ornatos dos templos em geral , como parecem indicar as pala- vras do Snr. Bossi , mas tão somente dos ornatos de barro ; nem falia dos instrumentos dos sacrificios , mas tão somente dos vasos das libações ; nem estabeleceo ne- nhuma comparação entre os vasos murrhinos e de crys- tal , e as obras de olaria ; e que he absolutamente gra- tuita c imaginaria a consequência que delle se quer tirac de que os vasos murrhinos erao de vidro. F aliando do vidro , sua composição etc. , falJa ào vidro obsidiam com que se falsificava a pedra obsi- àiana , falia do vidro branco e do murrhino — fie et álbum, et murrhinum — ; passa depois ds mas- sas vítreas com que se fiugião os jaciutbos^ as sa- pbiras e todas as outras pedras preciosas de cârj mas quando falia do murrhino, falia simplesmen- te de bum vidro , e não se trata nem de falsifica- ção , nem de fraude , nem de imitação , como se diz 110 artigo obsidiano. Era portanto o murrhino hum vidro y buma espécie particular de vidro, hum vidro sui generis de que fallou no capitulo em que trata do vidro , sem fazer menção de nenhu- ma matéria prima que se pretendesse imitar por meio deste producto dos fornos. Para desembrulhar o que diz o Snr. Bossi seria necessá- rio longo discurso para cada palavra j e por isso limitar- mc- 94 Memokias da Academia Real me-hei a rranscrcvier o passo de Plinio , a que juntarei poucas reflexões, i.soupii .;.uií:' :i usa Diz Plinio , depois de tratar do vidro obsldiano (i04)í' j> Por meio d'huma espécie de tintura fa7.-sc o vidro ob' jj sidiano para vasos diversos do uso da mesa, c hum vi- j> dro todo vermelho , c não translúcido chamado san- >» guinco. Faz-se também branco , e côr de niyrrha , ou j> imitando os jacinthos , as saphiras , e de todas as ou- >.» trás cores. Nem ha agora outra alguma matéria que 5» mais facilmente receba a pintura, e que mais accom- j> modada seja para cila , porem dá-se maior apreço aos 5> vidros cândidos e translúcidos, por serem mais seme- " Ihantcs ao crystal. >j Parcce-mc que toda a maquina do Snr. Bossi cahe por terra á vista do passo de Plinio , que só trata das diversas cores que se daviío ao vidro ; e que em muitos outros lugares da sua obra compara diversas substancias á myrrha na côr, como a Antipathes , a Aromatites, a Myrrhites (105-), etc. , circunstancia que deo o nome aos vasos murrhinos, como depois veremos. Fallanão no mesmo capitulo em que trata dos va- sos murrhinos d' algumas matérias que não crão pe- dras , ou gemmas propriamente taes , mas que de certo modo eriío tão estimadas como as gemmas j faz primeiro menção do alambre , e p5e na mes- ma (104) Fit et tincturne gencrc ohádianum , ad escoria vi.ta , et totum rubeiis vitrum , aífjue iiori traiislucevs , haematinon appellaliim, Fit et ai- hum , et murrhiiMin , aut hyuciíithos saphirosque. imitatum , et ommbus aliís coloribus. Ncc est alia nwic inateria sequacior , aut cliam lucturae accommodatior. Maximiis tamen honos in cândido transluceuíibus , quam jnorima cri/slalli simiUiudine. Plinio Hist. Nat. L. 3C , cap. 07, T. 9 , p. 782. (105) - Antipathes nigra non translucet. Experimentum ejus si coqua- iur iii lacte : facit enim lioc myrriiae simile immissa. Plínio Hist. JNat. L. 37, c.ip. 5-1, T. 10, p. 124. jíromalilcs . . . ubiquc lapidosa , et royrrliae coloris. Id. ibid, p. 126, Myrrhites ni^rrliae colorem habet. Idem ibid. cap. 63, p. 1,51. «AS SCIENCIAS OE LíSBdA. 9f éna c/asse as peças crystalliiias e miirrhinas que por consequência não erao geminas , vias trastes de vidro. He essência/ atteuder ás poucas palavras que se seguem — crystallina et murihina, frigidi potus utraquc =: o que tira. toda a duvida de qtte Pliuio queria faltar neste passo d^huma composição ■vitrea , e que se liga muito bem com o que tinha dito dos caracteres do vidro t=: est caloris iinpa- ticiis ni pracccdat frigidus liquor =: ; c por isso he que os vasos murrhinos erao reseriíados para ai bebidas frias. Se porque os murrhinos nao erao gemmas se segue que erão de vidro , pode com igual razão tirar-se das mes- mas premissas a consequência do que eião de páo , de barro, de ferro, etc. etc. ; mas vejamos o que diz Plinio. Depois de ter fallado dos murrhinos e de tef acabado de tratar do crystal no capitulo lo do L, 37, passa no capitulo II a tratar do alambre, e principia o capitulo pela maneira seguinte =; « Os alambres tem o lugar próximo nas delicias , rfas » mulheres só por hora; e tudo isto tem o mesmo apre- » ço que as gemmas por algumas razões : tem-no de cer- » to maior os crystallinos e os murrhinos (vasos) , huns » c outros para bebidas fiias (106). Neste passo não se encontra nada do que assevera o Snr. (106) Vroximum locum in deliciís, feminnrum Inmen adhtic tantum , Mcciíia ohihieiit : eamdetnque omuia haec , quam gemmue , uuctoritntem : sane inajurcm uliquihus de causis crystaUnia et murrlima , frigidi potws utrarjufi. Plinio Hist. Nat. L. 37. cap. II, T. 10, p. 26. No texío que cito traz ^z rigidi potus :=: e não zz frigidi pot tis ^1 ; c posto qne Har- douin diga qne todos os Livros Irazom r^ rig-ít/j rr (p. citada, col.2, n»ta (u) ); com tudo alli iiiesmo se aponta variante 'áczz frigidi-:^, e não ^rigidi^z ; e a edição de qne se sérvio o Snr. Bossi (que elle não declara qual he) tra2ia lambem ^zfrigidiziz. Por estas ra- z3es , e porque melhor concorda com as authoridades citadas nas no- las seguintes, puz zzfrigidi^r e não zzrigidi z= ; todavia ambas »s palavras querem dizer a mesma coiza. 96 MemoriasdaAcademia Real Snr. Bossi. Nem faz primeiro menção do alambre , an- tes pelo contrario só trata dellc depois de tratar dos murrhinos e crystallinos , a quem se refere a cLiiisula í:í tem o lugar proxinro — ; isco he próximo aos murrhinos e aos crystallinos; e igualmente a clausula =: tudo isto = que comprehcndc murrhinos, crystallinos, e alambres: nem põe na mesma classe dos alambres as peças crystal- linas e murrhinas, senão como objectos de luxo em ge- ral , dando até mais valor aos murrhinos e crystallinos: e por consequência nenhum argumento pode daqui tirar- sc para que fossem de vidro os murrhinos. E quanto á expressão hííns e outros para bebidas friíis em lugar de subtilisar huma interpretação nova para ap- piica-la ao vidro, acharia o Snr. Bossi o verdadeiro sen- tido deste passo no mesmo Plinio =: « quando se procura » nas nuvens o vaso para bebidas frias, e se cavão os ro- » chedos próximos ao ceo para se beber por gelo— (107).» E qual era a matéria destes vasos que Se hião buscar aos cumes dos penhascos ? Era o crystal que =; 9? Memouias da Academia Real stallina como adjectivo quando quer indicar obras de cry* stal , ou coizas que rem apparcncia de crystal , e a pa- lavra vítrea y quando quer indicar obras de vidro, ou coi- zas que tem apparcncia de vidro, e que por estas mes- mas palavras as designa , quando quer fallar de humas e outras ao mesmo tempo (iii). Demais admittindo a accepçao que o Snr. Bossi dá a murrhina et cryítallina, rcduzir-se-Uia tudo a vidro , quan- do os Authores, c com elles Plinio , distinguem mui bem os murrhinos, o crystal , e o vidro, apontando de cada huma destas substancias obras de grande valia, entre as quaes as de vidro ficarão relativamente pouco inferiores ás outras , porque recordando-se Plinio d'uma taça de cry- stal comprada por huriía niái de familias, e não rica, por ijo:ooo scstercios (112), que equivalem, segundo o calculo de Hardouin a 2:400(^00 rs. , menciona tam- bém dois pequenos cálices de vidro que se venderão por 6:000 scstercios ^6^000 rs. da nossa moeda (113), ou 48(^000 rs. cada hum , preço que hoje não alcançaria nenhum copo de vidro, por mais bem trabalhado que \m. .'O irlt.'ÍJ .\ÍÍU'JÍ> ^ r ■*' ■ • , -•• J';"'y --J V'í^.' Ml ,«>, III, iiniiiij iiti' h I ii' Ti i Tl I •■'iíi'''^'iJ (111) Além idos lijgares já discutidos, podem apoutar-se muitos outroK. .,..,,. Cry stallina pila adversis ■poiila Solis radús. Plinio Hist. Na(. ti. ÍÍ ^ çap. 10, T. 10, ]). 26, fallaiiilo do crystal. ''' ' Duos adices crijsl'dliiiOí ; e acnscLuta =: .IÍhvj ail úmiUludiíicm àccesr íe.ie vitrea , sad prodigii modo , ut suwn pctiian auxcriíit cnjstalli , ticn dirniiiueiiut. Idem , ibid'. Sunt et vilreis siindes. . . . Vitrei vero ut visu discerni non jxtíénl , ia» ctus dcpreliendit , tepidior in vitreú. Plinio Hist. ISat. L. 37, cap. í4, T. ÍO, p. lio, failaiido da Icucochrysi. Ceponides in jéerdidis jíttiriie , nunc pago, gvoudam oppiílo ,^ iiafcu^t- tur , miiltis coloribus trniislucaites , alias vitrcac, uliiis crijúaJUiiixe yolias Jaspidene. Plinio Hist. Nal. L. 37, cap. 56, T. 10, j), 135, etc.,etc. (112) jiliiis hic furor , (o dos crystaes) H— S.CL. M. ixullam unam non ante muitos ntmos mercatam a ipatre fattliliaSy itcc divite, Plí- nio Hist. Nat. L. 37, cap. 10, T. 10, J). 23. , " "''['' „,,„,../' (113) Nermiis priítcipatu repetia vitri arte !i''àÚa'é"modicçscaíiceí duos , (fuos a))petlal)fi7it pierotos , H — S sex mithbcs venderet. Pljoi^ Hist. INat. L. M, cap. 06 , T. 9 , p. 780. DAS SciENCiAs DE Lisboa. 99 fosse. O Snr. Bossi refere o ultimo passo de Plinio (114), e muitas obras famosas de vidro, como já se notou (115)» por tanto fjzendo-se objectos de vidro de grandissimo custo , não he necessário ir desencantar para artefactos preciosos de vidro huma matéria particular fantástica chamada nitirrhiua. Qite no seu Diccionario lithologico , ou na sua in- dicação das pedras por ordem alpbabetica , fallou da pedra chatnada myrrhiíes, que tinha a câr e o cheiro da myrrha , mas desta pedra não he que se fazião os vasos murrhinos. De não ter Plinio faliado da pedra murrhina no seu Dic- cionario lithologico, quer o Snr. Bossi concluir que não havia tal pedra. Mas vejamos o que he o Diccionario lithologico de Plinio. Plinio principia assim o L. 37 da sua Historia Na- tural ::í « Para que nada falte á obra começada , restão as >» gemmas (pedras preciosas)'» (116); e depois de ter indicado vários objectos e substancias de que se fazia o mesmo apreço do que das gemmas , posto que o não fos- sem , entra no capitulo 14 a tratar ex professo das gem- mas, continua ate ao capitulo j'3, e no capitulo 5-4 pro- segue =» Expostas as gemmas, segundo os géneros das » suas principacs cores, explicaremos as outras pela or- >» dcm alphabctica. =: »j (117). He manifesto que Plinio não fez hum Diccionario lithologico que abrangesse todas as pedras , como parece infcrir-se do que diz o Snr. Bossi ; mas depois de ter faliado dos murrhinos , do crystal , do 13 ii alam- (lU) Observations sur le = iSacro CaíMio rz de Genes p. 77. Nes- ta Memoria p. 82. (115) Jhid. p. 52 e seguintes, 130 e 141. (IIG) Vt iiihil inutituto opeii desit , geinmae supersunt. Plinio Hist. Nnt. L. 37, cap. 1, T. 10, p. 1. (117) Expositis per g-enera coloram priticipalium gemniis , reliquas lilterarum ordiiie explicabimus, Plinio Hist. JNat. , L. 37, cap. 54, T. JO, p, 118. loo Memorias da AcademiaReal alambre, etc. , e de muitas pedras preciosas as mais no- táveis, ordenou alphabeticamentc as que lhe faitavão, para as ir descrevendo segundo essa ordem , e que por consequência nao havia tornar a fallar dos murrhinos de que já tinha tratado antecedentemente , assim como tam- bém não falia das gemmas já descriptas. Nem mesmo este Diccionario lithologico comprehendc todas as gem- mas do que Plinio ainda nao tinha feito menção , por- que , depois de o concluir no § 70 do L. 37, continua nos §§ seguintes a relatar mais gemmas , segundo outras distincçóes. De mais Plinio não diz que a myrrhites tivesse o chei- ro da myrrha , mas só a cor , porque o cheiro era o do nardo (ii8). Oíie entre os pés ou bases que ãevião pôr-se por baixo das taças que nao os tiiihao , podião compre' hender-se, mesmo conforme a interpretação d'Har- douin ^ os abaci de que muitas vezes falia Plinio y e de que diz serem feitos da matéria dos vasos murrhinos : abacis etiam escariisque vasis inde expetitis ; cujo tamanho nunca cxcedião í=: nus- quam parvos excedunt ábacos. O que se punha por baixo das taças que não tinhão pé era , humas vezes pequenas laminas j outras vezes pequenos pra- tos (IIC) Mijirhítes myrrhae colorem habet, facie mbiima gemma: odo- rem attrila, etimn nardi. Plinio Uist. JNat. , L. 37, cap. C3 , T. 10, j). 1.51. lie tudo quanto diz da Myrriútes, He o que reiíetc Soliiio =: flli/""/"'"' Varthis familiaris est. Hunc si visu aestimcs , mijniiae color est , et noii habet qiiod afficiat aspectum : si peiíiíus explores , et allritu incites ad calarem , spirat nnrdi suavila- tem. Salmasii Exercitatioiícs Plinianae in Soliiium. Trajccti ad Rhe- Dum 1689. T. I, cap. 37, p. 48. £ he o mesmo que diz Prisciaiio Mijrrintenque , boiíum cum nardi reddit odorem. Perifgesis vers. 984. lid. Weriiídorf, Altenburgi 1780 e seguintes, T. 5 , P. 1 , p. 407. Poiêm he de notar que o texto de Dionysio que Prisciauo traduzio, uão falia em Myrrhites. í nAS SciENCIAS DE LiSBOA. ÍOl tcs COVOS ou concavas , e sertã isto mais huuia pro- Vil de que os famosos vasos íminliinos crão de vidro. A este argumento do Snr. Bossi só responderei que ain- da conccdcndo-llie tudo quanto elle diz , até mesmo que hunia taça sem pés possa sustcr-sc , para se fazer uso delia, sobre huma pequena lamina de qualquer matéria, não sei como possa daqui conckiir-se que os vasos mur- rhinos erâo de vidro. Parecc-me que ninguém adivinha- ria que de taes premissas se seguisse semelhante conclu- são. Faz o Snr. Bossi grande força para provar que os vasos murrhinos não erão de substancia fóssil , mas sim de vidro , no verso de Propercio Aíurreaque in Parthis focula cocta fieis: Salfliasio lê este verso Murreaque in Parthis poda coacta suis, e diz que as edições antigas trazem r: suis =í em lugar de :=:/om =s (119) o que, se assim fosse, acabaria a ques- tão ; porem outros , e ultimamente Kuinoel , rcgeitão o dictame de Salmasio , e observao que a lição constante de todas as edições he ^ focis =: (120). Algumas que consultei trazem. :=: fieis:::: (121), e não julguei que es- te (119) Sed veteres libri habent, suis. Exercitationes Plinianae in So- liiuim. T. 1 , p. 189 , col. 1. (I'i0) Uroukhiisio citado pelo Conde Rczzoiíico, Disqulsitiones Pli- nianae T. 2, p. 212, col. 1., nota (15) ; e por Volpi T. 2 , p. 1034, col. I, nas noias , que não o impugna. Kuinoel :^sfi(/ /od,v conUaiis omniuni librorum lectio est. T. 2 , p. 576. Mas Rezzonico cita Turnebo que traz r:íuw=: I. c. (121) A de Mureto. Lugduni apudGuilielmum Rovillium 1559 — 12, p. 121. A de Scaliger. Antuerpiae apud Aegidium Radeum 1582 — 12, p.2S7. A de Passerat. Parisiis 1608 ; e nas notas p. 615 , col. 2. A ad usum Delphini. Parisiis 1685=4.°, T. 2 , p. 720. A de Volpi. Patavii 1755, T. 2 , p. 1033. A de Kuinoel. T. 1. p. 357. E a de Lachinann. Lipsiae 1816—8.°, p. 364. loi Memorias da Academia Real te objecto merecesse maior investigação ; porque a liçao de E= síiis ;=; não me parece que oftercça hum sentido claro e que seja preferível a :::focís=:. Poderia aventurar-se huma emenda a este passo de Propercio lendo Mmrcaqiie in Parthis poda conda locis ^ que combinaria exactamente com o que Plínio diz dos murrbinos e da sua pátria ; e == coacta locis — não está tão longe de ^ cocta focis ;r; que podesse tornar inadmis- sível a emenda ; porém não he necessário recorrer ao ex- pediente das emendas , de que tanto se tem abusado > querendo de ordinário achar por este meio nos Clássicos Gregos e Romanos, não o que elles disserao, mas o que convcm para apoiar as opiniões dos que as fazem, O terceiro triumpho de Pompeo , que trouxe a Ro- ma os murrhinos; foi no anno de Roma 693 (laa), e Propercio nascco entre os annos de Roma 697 c 702, (123), c foi o primeiro que fallou em murrhinos; por consequência não admira que sendo elle tão próximo á introducção dos murrhinos em Roma , não se conheces- se ainda no seu tempo a verdadeira matéria dos murrhi- nos , (122) Varião os AiUliores na época do 3.° triunipho de Pompeo. Eutropio diz que foi uo anuo 600 de Roma, sendo Cônsules D. Juuio Silano e L. Mureiía. Ed. de Verliejk. Lugduni Batavorum 1793, p. 272. Dioii Cassio diz que foi no auno de Roma 691, sendo Cônsules Cíce- ro c António, llist, Rom. L. 37, cap. 21, Ed. de Reiraar. liambuigi 1750 e 1751 , T. 1, p. 125. Appiano diz que foi no anuo 692 de Roma. Bellum Muhridaticum , Cap. 116 , L;d. de ydiweigliaeuser. Lipsiae 1785 , T. 1 , p. 820. Porém Plínio no L.7, cap. 27, T. 3, p. 124; e uo L. 37, cap. 6,T. 10, p. 10, onde até transcreveo as actas deste triíimpLo , diz que elle se celebrou , sendp Cônsules M. Pisão, e M. Messaia, o que vem a dar no anno de Roma G93, e lie esta a opinião de Hardouin T. 3, p. 124, col. 1., nota (li) ; e no T. 10, p. 10, col.2 , nota (a); e a de. Jano e Krause nas notas a Velleio Patercuío. Lipsiae 1800, p. 229, col. J. (123) Kuinoel, na sua ediyão de Propercio T. 1. p.^XVU.e se- guintes, quer que elle nascesse no anuo 702. i.l;i,.t A> t. >' nAS ScienciaS de Lisboa. loj nos , c se julgasse que erão cosidos nos fornos Parthicos. De quantas outras substancias não tem sido desconheci- da a natureza , não só por muitos annos , mas até por sé- culos ? O crystal de rocha não foi considerado como for- mado de gelo, não só por Plinio, mas pela antiguida- de Grega , e por Scncca , Estacio , S. Basilio , Diodoro Siculo , etc. (124)? Não confessa o Snr. Bossi que mes- mo no tempo moderno , a pesar dos progressos da chy- mica e da lithologia, a pedra d'arroz da China foi jul- gada huma calcedonia , hum cacholong, etc, sendo tão somente huma composição em que entra em grande parte a mucilagem d'arroz (lay)? E á vista destes exemplos, e d'outros muitos , que poderiao apontar-se , hade se- guir-se, contra a verdade sabida, o juizo dos que pen- sarão o contrario do que he realmente ? E se o Snr. Bos- si não quer conceder gratuitamente a Plinio o mereci- mento da exacção (126), porque hade Propercio ter o privilegio de não errar , e por que hade a sua authori- dade prevalecer contra a de Plinio , e contra a de outros Authores que disserao que os murrhinos erão hum fóssil, huma pedra ? Deixemos portanto a Propercio com a sua opinião singular, já reprovada por muitos (12?), e en- cosccmo-nos á daquelles que viverão em épocas em que , tendo-sc vulgarizado os murrhinos, se conhecia melhor a sua natureza. O ultimo argumento do Snr. Bossi he o das Pan- dcctas de Justiniano. Murrhina autem vasa in gcmmis non esseCassius scribit, porque^ nHo sendo pedras preciosas ^ tam- bém não erão lapilli que., segundo Servia) erão de hu- (124) Citados por llardouin nas notas a Pliaio L. 37, cap. 9, T. 10 , p. 19, col. I. , nota (y), (125) Nesta Memoria, p. 49 e 51. (12'i) Nesta Memoria p. 25. (127) Vide Rczzoiíico, 1. c. T. 2, p. 219, col. 1 , nota 15. 104 Memorias da Academia Rsal buma natureza absolutamente diferente e até op- fosta d das gemmac , como as obsidianas , e as venient anãs \ porque se falia dos murrliiiios depois de ter f aliado das pérolas , qtie tiao erao venbutiia destas duas matérias ; e por tanto , segundo toda a appareiícia , erao de vidro , que na antiga pedra- ria nunca se acba designado com o nome pomposo de gemniae , ou de kipilli \ e se os Jurisconsul- tos acbárao necessário decidir que os vasos mur- rhinos niio devião ser comprebendidos entre as pe- dras preciosas , tinbao sem duvida a apparencia de gcmmae ou alguma semelhança com as verdadei- ras pedras , o que em nenhuma substancia podia melhor vcrificar-se do que em alguma matéria ví- trea ; importando igualmente observar que , visto ser impossível snppór que os vasa gemmca fossem ã* esmeraldas f de chrysolitasy ou d^amethistas, pro- vavelmente não podião ser senão d'onix , d^agatha , ou de cornalina ; e com tudo os vasos niutrhinos não se comprehendem tão pouco nesta classe^ o que prova quasi até á evidencia que só podião ser de vidro. Torno a repetir que não posso conformar-me com a ló- gica do Snr, Bossi. Não sejão os murrhinos pedras pre- ciosas, nem lapilli , nem pérolas, logo são de vidro? Como he que esta consequência se tira de taes princí- pios? Como he também que de se fallar dos murrhinos depois das pérolas, que não erão nem gemmae, nem lapil- li , se conclue que os murrhinos não gvao lapilli} Os vasa gemmea erão os vasos em que se engastavão pedras preciosas , o ^ turba gemmarum potanuts , et smura- gdis teximus cálices z^ e o gemmata potoria de Plinio (128); o (128) Hist. Nat. L. 33, cap. 2, T, ô, p. 5; e L. 37, oap.6, T. 10, p. H. DAS SCIENCIAS DE LlSBOA. 10^ O ittaeqmles beryllo Virro tenet phialas de Juvenal (129)5 e o Gemmatis alii per totum b ais ama lectuin Effiidere cadis. de Claudiano (130). Os vasos murrhinos erao de pedra, e de pedra de muito valor, que tinha o mesmo apreço que as gcmmas, posto que não o fossem (131), apre- ço que os Jurisconsultos lhe reconhecerão (132); e por isso julgarão necessário decidir que não erao pedras pre- ciosas gemniae , para evitar as questões que podiao sus* citar-se nas verbas testamentárias que versassem sobre gemmas. Mas visto que o Snr. Bossi lançou mão d'hum tex- to do Digesto para sustentar que os murrhinos erão de vidro, provar-lhe-hei que não erão de vidro com outro texto do mesmo Digesto e do Jct. Javoleno. >» Os vasos murrhinos e os de vidro , destinados para o uso de comer e beber y considerao-se como moveis '>{i-^7,). Logo he claro que os murrhinos erão de matéria diffe- rente do vidro , porque o Jct. faz menção dos vasos de vidro. Tom. XII. P. II. 14 Pa- (129) Ipse capaces Ueliailum crustas et inaequaUs beryllo Virro tenet phialas. Sat. 5. vers. 37 e seguintes. Ed. Ruperti. Lipsiae 1819, T. 1 , p. 00. (130) E])itbalamium dictuin Palladio et Celcrinae, vers. 121, Ed. Burnianni. Anistelaedarai 1760, T. 1 , p. .534 , etc. (131) Eamdemque omnia haec (os vasos murrhinos, os crystalli- nos , e o alambre) , quam gemniae , auctoritatem : sane majorem aliqui- bus de causis crystallina et vmrrhiiut. Piiuio Hist. Kat. L. 37, cap. 11, T. 10, p. 26. (132) Pandectas L. 33 , Tit. 10, 1.3, Paiilo ^ 4.°, p. 475 = Dá tniirrhiiiis et crystallmis dubitare potest , an deheant adnumerari supelle' ctili propter ea-imiitm usum et preíium, (133) Murrea autem vasa et vitrea , qiiae ad usum edendi et bibai' di caiisa parata esseiU , iii supellectili dicuiitur esse. L.33, T. 10 , 1. li, ■ p. 47e, io6 Memorias da AcadíiíiaRbal Pará acabar d'esclat-ecer cstG tósurtlpto farei ainda duas reflexões Primeira: Que se a substancia dos ftiurl-hiilôs fosse hum vidro de côr, ou qualquer outro piodlicfó dá arte ^ não teria Plirlio rtotado a pallidez, como hUhi defeito dos va- sos murrhinos :s pallere y vititim éH &i porque estaVa na mão do artista tirar-llie esse defeito, carregando mai3 ou menos de côr , á sua vontade , o vidro oU a liiassa de que os compunha. GonsequentdíTiente o defeito pro* vinha da qualidade da 6ubstQncia dé que se fabricavão os vasos. Segunda : Que por mais tratos que o Snr. Bossi appli- que ao distico de Marcial Nos bibimus vkro, tu nryí^ta, Pbntice^ quare ? Prodat perspicíiiís ne duo vina ínlix (134), não poderá dcsv^anecer à idêa obvia c natural que ellè flos dá dé que ò vidro e á matéria ifturrhiiia eraO diffe- Xentes. . :í .. Pârece-me que tenho demonstrado ^uc dos argu* mentos produzidos pefo Srtr-. Bossi neiiliurti lhe aprovei» ta para convencer que os murihinos erão de vidro ; fe quéi, pelo que fica exposto, pôde ajuizar-se cotn seguran- ça do peso das authoridades por elle citadas , e do que \à\tm pãíísos de Autliores Clássicos que, órfãos do que os precede , e desacompanhados do que se lhes segue , se lanção no papel como memtrôs esparzidos d'huni cor- po despedaçado. Resta mostrar de que sub&taneià crao os vasos mur- rhinos; porém antes dé passar a este objecto, farei Ver aihdà mais algumas cquivoca'çóes do Snr. Bo^si. Difc elle que os v3<;os múrrhinõs tinhao pequenas protuberâncias áíior da superfície; que a alabastrite, sen- do lavrada no torno, não poderia oíFerccer i superfície as (l54) L.4, Epigr. 86. Ed. Sniids. Amstclaedami 170J, p. 184. nAs SciENCiAS t>t LrsBOAí rõ7 as pequenas protuberancins que Plínio descrevco ; que os murrhinos de Plínio só tinhao pequenas protuberâncias, ou manchas cm relevo, cm forma de bolhinlips^ que as manchas em relevo , as Jeves protuberâncias , as verrucae de Plinio só podiâo razoavelmente pôr-se n'hum vaso de vidro factício . . . . , espalhando sobre toda a superfície gotas de vidro ou d'esmalte levemente protubcrantcs , e que o vaso de Mr. Incisa apresenta precisamente este gé- nero de trabalho , c cm toda a sua superfície se vem as verrucae non eminentes^ sed iit in corpore etiam plertimque sessiles ; c que já deo a explicação , e o modelo das manchas cm relevo (i35'). Creio que, lendo estes passos do Snr. Bossi , nin- guém deixará de persuadir^se de que, segundo a autho- ridade de Plinio, as manchas em relevo, e as peque- nas protuberâncias eráo huma das qualidades, dístincti-. vas dos vasos murrhinos ; porôm a verdade he que Pli- nio nunca fallou em manchas em relevo , nem tão pou- co fallou em pequenas protuberâncias em relevo, unica- mente descreve os defeitos dos murrhinos pelo modo se-t guinte ~ «< A transparência e a palidez são defeitos , as« " síin como o são as jacas e as verrugas, não elevadas ^ j> mas entranhadas , como acontece também algumas ve- >» zes no corpo humano»» (13^). Isto he que as verru- gas não fazião cabeça sobre a superfície do vaso, mas fi- cavão rasas com ella , como apresentando huma crystal- li/ação interrompida , ou a introducção d'huma matéria estranha. Por tanto o Snr. Bossi transformou hum defei- to, que se encontrava cm alguns murrhinos, n'huma qualidade distinctiva de todos os murrhinos , e revestio 14 ii es- (135) Ncst.1 Memoria p. 4 , !) , 13, 21, 23. (136) Translucere qmdquam aut pallcre vitium est. Item sales, ver- rucaeque non eminentes, sed ut in corpore etiam plerumque sessiles. Pli- nio Hist. Nat. L. 37, cap. 10, T. 10, p. 19; e nesta Memoria p. 63, e p. 77. , io8 Memorias da Academia Real esse defeito de circunstancias contrarias ás que Plinio lhe assignou. Diz o Snr. Bossi que pelo testemunho de alguns Clássicos, e sobre tudo de Propercio, os vasos murrhi- nos erao cosidos no forno no Paiz dos Parthos (137). ■ Procurei com bastante diligencia os passos dos Clás- sicos Gregos e Romanos que falláo cm vasos murrhinos, e em nenhum delles , alem de Propercio no lugar que já fica analysado, achei semelhante idêa ; e como o Snr. Bossi não aponta quaes são os outros Clássicos em que a encontrou , ha de permittir-me que duvide da sua as- serção. Diz que Volpi , prevenido por Varchi traductor de Séneca , no seu commentario a Propercio , se deixou ar- rastar pela opinião de Bayfio que os vasos murrhinos erão de porcelana (138). Porem Volpi não diz tal : diz expressamente o contra- rio, exprimindo-se assim ir «Se a opinião de Varchi (139) »> e de Pitisco (a de que os vasos murrhinos erão de por- >» celana) não fosse falsa , de nenhum modo poderião >» aquelles Quirites , tão espertos avaliadores destas coi- » zas , ignorar qual fosse a matéria destes copos. Basta- » va (137), Nesta Memoria p. 6. (138) ISesta Memoria p. 30. (139) Niliiloniiuus Benediclus Vnrchius , vir mf^vitMi , locitm Sene- cae itn verlere noa dubilavit : Veg^ovi tazze de Porcellana comme se BcUe supercbie spese si consuiuassi poço , se é non becssiuo Puna e Paltro iii tazze prcziosissime quel vino che poço dipoi debbooo tíbuttarC. Scd et Samuel Filixcus hd Suetoiii August. cnp. 71 adver- stis Baufii sentciifiam, de vasculis p^ 124. Biileugeri, de conviviis Vi. J3, et FanciroU , de veter. amias. cap. 7 vero próprias existimaf , itoS' ira esse porcellanta , quocuntque modo fiereut ; quamvis ea pararidi ra- lionein ignoraverinl Roínatii vetcres. Quod si Varchii , et Pitisci opiuio a veritate tiuii aberrarei, nullo modo ignorare potuissent Quirites illi, cal' lidi hartim reritm aestimatores , cujusmodi horum poculonim matéria es' set. Sati.1 erat vas tnurrhiiium frangerc : statim cognoirissettt , coctde es' se , ac Jictile , lúcida illa et vitri simillima crusta illilum et cooperium. Volpi. Propercio T. 2 , p. 1034 , col. 2. CAS SCIENCIAS DE LiSBOA. IO9 >» va quebrar hum vaso murrhino , c conheceriao logo » que era cosido , e feito de barro invernizado , e co- *i berto com aquella crusta lúcida e mui semelhante ao »» vidro. = >> Ainda mais : Volpi não só náo he da opinião de que os vasos murrhinos fossem de porcelana , guiado por Bayfio , como já vimos , mas nem sequer attribue a Bay- fio esta opinião, antes o allega para mostrar que não erão de tal matéria (140) ; nem effcctivamente ha em Bayfio huma só palavra relativa a porcelana no seu artigo dos vasos murrhinos. Bayfio , com as suas notas á Lei II s: De captivis et post- iiminio reversís =: publicou hum pequeno tratado dos va- sos dos antigos , e nelle fallando dos murrhinos , tran- screve Plinio , e ajunta unicamente í:: senta que daqui lhe vem o nome de murrhinos ;=; (142) »» Sen- (140) Baijfius ait , aetate nostra ea vasa nulla esse, vel nobis ignO' ia, nec esse quam Porcellanain vocant , 1. c. , p. 1034, col. 1. (Hl) In eadem §. Murrhiiia autem vasa. Orieiís murrhina mittit : inveniimttir eiiim ibi in pluribus locis, nec insignibus Parthici regni, prae- cipua tamen in Carmania : humorera putant sub terra calore densari. jiniplitudine nusquam parvos excedunt ábacos, crassitudine rara, quan» ta dictum est vasi potorio. Splendor his sitie viribus, nitorque verius quam tplendor. Sed in pretio varietas colorum , subinde circumagentibus se ma- Culis in purpuram , candoremque et lertiuin ex uíroque iguescentem , velu- ti per transitam coloris purpura , aut rubescente lácteo. Quas maculas vi- dere est in illo pisce , qui murena dicitur , uí nos vir illustrissimus simut et doctissimus docuit Janus Lascans. Annotationes in legem II — De captivis et postliminio reverm. . . Ejusdera Annotationes in tractatum. De auro et argento legato , quibus Vcstimentorum et Vasculorum gene- ra explicantur. Parisiis , ex officina Hob. Stephani 1536, em 4.°, p. 143. Creio que esta he a primeira edição, porque a Dedicatória dasr:^/»- «oíafjories =: feita a Francisco Rei de França, he datada =1 Lute/ia« Parisioi-um octavo cal. Septembr. Íbi6-=.; e a Dedicatória do tratado de Vasculis, feita a ^rzAntoido a Burgo, Galliarum Cancellario =:tein a data = ca/. Augusti 1536. rr (142) Esta clausula vem no resumo de Carlos Estevão (V. a no^ no Memorias DA Academia Real Sendo pt)is o sentimento de Bayfio , quanto aos vasos murihinos , tão alheio do t|iic vulgarmente se llie sup- põe, vejamos doflde se originou o engano. Carlos Estevão imprimio cm i)42 lium resumo do tratado dos vasos de liayfio, e diz no prologo que o compendiou com authoridadc do mesmo Bayfio que lhe permittio que r: «< o seu livrinho se accom^-nodasse á capa- » cidade dos meninos, c se fizesse mais claro "(143); e para isso poz Carlos Estevão de sua casa o que lhe pareceo , distinguindo com o nome de Bayfio, ou sim- plesmente com hum _ B — os artigos que crão próprios dcUe , como poderá convencer-se quem se der ao traba- lho de confrontar o resumo com a obra de Bayfio. Neste resumo he que Carlos Estevão addiciona á doutrina de Bayfio que (144) :r: vulgtis vofculatioyuia vocat aquam marinam : accedit cniin ad de- scriplionem flmii, quam de viuriliiito coiiscripsit, Caeterum : itlud tanliun addam , visa murrhiiia apud Aiiliquos summo in prélio fuisse : hinc ait Traiiquillus , ylugiiílum cx Alexandria capta uilul sibi praeler wium vmrrhinum calicem e.r instrumento régio retmuisse. De lãs uutcm videto J'liniam. Kesuuio citúdo ua uota preccilculc p. 20. TAS SciENCIAS DE LiSBOA. lII » Vencsa certos vasos que ouvimos costumavao trazer- }» se do Oriente , e que dizião que costumavao guardar- » se , não sei por quantos annos , em lugares no inte- »» rior da terra , até que se tornem transparentes antes j> que se tirem da terra , e que por isso nunca admit- »> tem veneno : o vulgo chama-lhcs porcelana, talvez por- >» que erão feitos daquelle p» lano , o qual se endurece e petrifica na agoa , de mo- »» do que vcnhão os Italianos a dar-lhcs hum nome que » SC assemelha a putcolana. Mas tudo isto he adivinha- )» ção , porque nada sabemos á cerca deste objecto. Nao j> sei se pode com razão conjecturar-se que o murrhino » he a pedra preciosa que o commum dos que trabalhão >» em vasos chama agoa marinha , porque se aproxima á 5> descripção que Plinio escreveo dos murrhinos. Alem s> disto só acrescentarei que os antigos fizerao grande » apreço dos vasos murrhinos ; e por isso diz Suetonio >» que Augusto, na tomada de Alexandria, só tirou para j> si , de toda a baixella real , hum cálix murrhino. Ve- >» ja-se a respeito dclles Plinio. zi >> Eisaqui como se apregoao opiniões de quem nunca as teve ; c como se propagão , sem tento , noções inex- actas. Se depois do resumo de Carlos Estevão, abraçou Bayfio a sentença delle , e a publicou em alguma obra sua, ou em alguma nova edição do seu tratado de Vasculiíy não o sei. O que posso afiançar he que nas edições que consultei deste tratado, e que todas são anteriores ao re- sumo (145'), não se acha senão o que transcrevi, e que a citação de Volpi a p. 124 ; não se ajusta a nenhuma dessas edições (146). Diz o Snr. Bossi que r^ Se o nome de murrhinos da- (145) A de Parisiis , ex oííiciua Rob. Stephani , 1536, j4 citada. A de Basileae, apud Frobeniutn, 1537, 4.°, p. 269. A de Basileae, apud Frobenimn , 1541, 4.", p. 269. (146) V. a noU 133. 112 Memorias DA AcademiaReal dado aos vasos, de que não se achasse outra origem plau- sível nas lingoas que conhecemos, viesse do nome da myrrha , cujo som he quasi o mesmo em Hchrco , e na maior parte das lingoas do Oriente que no Grego e no Latim, inclinar-se-hia á opinião de Mr. Hager que pensa que o cheiro que estes vasos exhalavão era o da myrrha , do mesmo modo que outros vasos conservao , por muito tempo, o cheiro do almíscar e da rosa (147). Mas a myrrha nunca se chamou assim em Grego , nem coiza que com isso se pareça. O seu nome em Gre- go hc f,uufi/a smurua, e tJmbem nos primeiros tempos da lingua latina se chamou em Latim sr?iyrtia (148). Quanto a terem os vasos murrhinos o cheiro da myrrha, e d'ahi lhe vir o nome, adiante trataremos des- te objecto. Diz qne com a myrrha temperavao os antigos os vinhos mais cxquisitos , como se vio na nota 17, e nesta nota referc-se ,a hum passo d'Aeliano citado por Mr. Ha- ger, que não impugna. Sem combater, nem approvar a opinião de que os antigos temperavao o vinho com myrrha , o que me em- penharia n'huma digressão em que não quero entrar, no- tarei tão somente que Aeliano não falia em vinho tem- perado com myrrha. As suas palavras são as seguintes nr te E não he isto huma prova do luxo dos Gregos ? Dei- j> tavão óleo cheiroso no vinho que bcbião , e gostavão í> sobre maneira desta mistura ; e chamavão aquellc vi- j» nho A.Ixrrhiiiitcs » —(149). Alyrrhinires significa de murta , preparado com murta , ou com murtinhos ; e por isso (147) Nesta Memoria, p. 4. (148) V. a nota (A), no lira desta Memoria. (r4y) Ti íi , *ufiW;," fr ^«upp/n;; conv esta significarão (ifb). Isto porém não quer diaer que ofe antigos hâd se-setviríò 'da -ftttífta' parai;' adubfar o vinho, o que muitas Vez^s usárãô , htas''iihrcá- ' mente que neste lugar -de Aeliano não se trata de seme- lhante preparação. "0 -j-o omo:i o oIyk» ^u^:Uil aíy RI Cita o verso déPróperôo"- - •^''^'-' "'!' "'■■?' 'oEt crocitto nafes murrbeus ungat ài^x>'(rfi). e abandonando a verdadeira intelligencia de que z:iti"òi MÍTiome de murrbeus podia applicar-se ao vaso pela suW' íí belia côr amarella, que era a da myrrha z:: » decide tíf' Snr, Bossi que^íítse tratava d'hum copo para beber dtí;* »»£.bnix.ou de sardonix, que cheirava a nardo ou a qual-^' jíiquer outro perfumçr' eifl cuja composição entrava ò' ■Tom. XII. P. II. -■lr^:r- .-.- j^ „ cro- ■■ - ' I ' ■ (150) 5> íi Tif «ai /itip!»i5 <"»o< , uífu tunfa/útat ^^ (j E havia também •>■> hum vinho Muriiiô , misturado cõin ofeo cheiroso. i= " Julii Pol- lucis Onomasticum. Ti.6, cap. '2, segment. 17, Ed. de Hemesterhuís. Anistelaedanii 1700, T. ],p. 573. O traduci. no meio da phrase cora ftl grande, dà a entender que era o nome próprio d' huma bebida, assim como hoje dizemos z= Ponche etc; e Aeliano escreve do mesmo modo esta palavra. V. o lugar citado na nota 149 desta Memoria. (151) L. 3." Elegia IO, verso 22, Ed. de Kuinoel, T. l, p.243. li TI4 MKlftORIAS-HA AcArDEMIÍ- R BA L >» crocus , ou o açafrão , c a myrrha =: »» , e que ■^ « porl ix isso hc que a onix tem o nume de tnurrheus , mjrc- »» rhado , çoijia Passeracio mui beiti enteiideo intcrpre-n M tando vos ex onyche gemma .... myrrha plennm^ que; >», mais correctamente se teuA.dko;-fmyrrbam redoletu ^f >»_ da rncspio modo que o murrbeus eritiis d'Horacio , e o. >> myrrhea coma de Tibullo, que Passcrat citou por esta j> occasião , posto que Volpi tenha estropeado o passo j> (Je Tibullo lendo myrtea em lugar de myrrhea » s (rfi).; ,- Parece-mc que a- opiniaQ de Passerat e do Snr. Bos- si não podp sustentar'Se. A traducção liiteral do verso de Propercio he =í «« E o or>lx côr de myrrha enche os »» narizes do cheiro do açafrão, c: >íí, o t.i r,r :,.-[ :«; p oJfi:m Os antigos davâo o nome de onix * -todas as pe-' dras formadas de camadas de differentes cores , como já observou Mr. Hauy (i5'3); e por isso. e5.te vaso de Pro- percio era provavelmente da onix alabastrite de Plinio de que ge fazião vasos para os unguentos, porque, se di- zia que os.conservavão optimamente incorruptos, e que tinhão a côr do mel (154); e esta côr^ mais ou menos desvanecida , com diversas gradações desd'o pardo la- vado d'am2rello, he a que tem algumas espécies da cal sulfatada d'Hauy, que corresponde á alabastrite de Pli- nio (1J5), e he igualmente a côr da myrrha. Mui- (r52) Nesta Memoria , p. 43. (153) Trailé de Miiicralogie , T. 2, p. 463. Plinio 110 cap. 12 do L. 36 , T. 9 , p. 6dõ , continuando a tratar dos mármores, falia do mármore onix, que diz que outro.ç chamão alabastrites (substancia calcarea) ; e no cap. 24 do L. 37, T. 10, p. 76, enumera entre as genimas muitas variedades de onix (agatba) etc. (154) Hunc aliqui lapidem (onychem) alabnstriten vocant, quem ca» vant ad vasa wigucniaria , quoiiiam optime servare incorrupta dicitur . . . Prcbanlur quam tnaxime rnellei coloris. Plinio Hist. Nat. L. 36, cap. 12, T. 9, p. 055. (155) Traitc de Miacralogie, T. 2, p. 279 e seguintes; e T, 4, p. 349. í>As SciENciAs DE Lisboa. ^ rijr • ••"'^Muitos dos melhores Cofttrtièntadores antigos e mo* demos d*Horacio reconhecerão no onix de tr Nardi fat*'^ 'eus ofiix da Ode 12 do L. 4, verso 17, a alabastrite (lyá)^' e alguns Commentadores de Propercio também são de igual sentimento, explicando o passo que analisamos, e outros do mesmo Author (ly^) ; e que o murrheus se referia á côr do vaso já o advertirão , tiâo só os Com- mentadores de Propercio, mas também os d'Horacio (lyS), transcrevendo este lugar de Propercio; e por isso o mur- rhetií crinis d' Horácio quer dizer , não cabello untado com olco de myrrha , mas z5 cabello louro s ou casta- nho mais ou menos claro, interpretação que, em todos os tempos , occorrco a grande numero de Gommentado^ res de Horácio (159). " 6íiii'J ""' ly ii E (lótí) Mancinello. Ed. Venetiis 1498, f. 137/. Torrentius. Ed. AntUerpiae 1608, p. 320, col. 2. Jano. Ed. Lipsiae 1809 , T. 2 , p. 481 , col. 2. Wetzel. Ed. LigDÍtii 1799, T. 2 , p. 162, col. 1. MiUcherlich. Ed. Lipsiae 1800, T. 2, p. 435, col. I. Doeriog. Ed. Lipsiae 1824, T. 1, p. 385, col. 2. Krnesti Clavis Horatiana. Beroliiii 1802 e 1803, p. 833 , col. 1. (157) Rectissime lapidem onychem distinguit ab onyche gemma. PlU nius L. 38, cap.8, e transcreve o lugar acima de Plinio. Broukhus. , citado por Volpi Ed. de Propercio, T. 2 , p. 691 , col. 2. Ubi onys pro vase wiguentario poiíiíur, intelhgeiídum est plerumque mar» moris geiius . . . alabastri appellatione frequentatum. v. Plínio &-c. Kui- noel. Ed. de Propercio. L. 2, Eleg. 13, verso 30 , T. 1 , p. 116. (158) Commentadores de Propercio Vocant vero myrrheum a colore flavo , qui in hoc lapide laudatissimus perhibetur. Piuiius ibid. myrrha aulcm probaiissima talem hahet colorem etc. Brouklius, , citado por Volpi, T. 2, p. 691, col. 2. Myrrheus a colore flavo ^ qui iii hoc lapide laudatissimus; myrrha eidm probaiissima talem habct colorem. Kuinoel Ed. de Propercio T 1 p. 243, col. I. ^ ' • » Commentadores d' Horácio Murrheum Properíii epithetoit coloris flavi. Gesner na Ed. d' Horácio. Lipsiae ]752, p. 240 , col. 2 , explicando a Ode 12 do L. 4. A esU opinião parecera aquiescer Zeunio, Wendler, e Bolhe que repetirão a edição de Gesner Lipsiae 1815 e 1822, porque aenhuma reflexão fazem sobre cila. (159) Acrou == Myrrheum pro/usum myrrha: aut inter ftavum et . ii6- Memorias da Academia Real ., E quanto á viyrrbe^ coma, a cujo respeito dht o Snr. Bossi que Volpi estropcara o passo de TibuUo , lendo tnyrtea cm lugar dç myrrbea; posto que algumas edições XTagío tnyrrhga coma^ que Torrencio citou ^ entendendo por esta expressão — cabcllo louro — (i6o), todavia não só Volpi leç mjrtea co»ia{i6i), mas Wunderlich, Hgschk e. Dissen, (í6a>) provão, com o testemunho dos Mss. , tiigrum : vel myirhei coloris, zn Eà. de Veneza i4B8 fl. 107 jí , á Ode ]'4 do L. 3. , verso 22. ' ' '■ Porphjrio :::: Colagem myrrheum in crinihus hoJie quoque dicunt : qui mctJÁns est inter flavum et ui^rwn. == Na luesma edição e folba acitua citadas. • ,■ • Torrencio zzMyrrhenm aUtein crinem vocot vet a colore Mjcrhae) uti étTibullus: cheiro d'açafr!ío » 1=^ não offercce sentido nenhum ra- soavel , quando pelo contrario S « hum copo d'onix côr » de myrrha enche os narizes de cheiro d'açafrão =: » he conforme ao uso mui constante da antiguidade, que nas mesas mais delicadas se servia do vinho adubado com o açafrão, ou com óleo d^açafrSo (163), que he precisa- mente o que nos apresenta o passo de Propercio : Sit mcnsae ratio ^ noxque inter pocula curral j Et crócino fiares murrheus ungat onyx. Passemos a determinar a matéria dos vasos murfhí- nos , sobre a qual já alguém reflectio. r^ « Conhece-se » o que não erâo os vasosi murrhinos ; porém he ainda * escuríssimo para nós de que substancia erâo forma- jf dos (164). A Myrrha chama-se em Árabe ^ Môrrott ; em He- braico -11^, n»D. 1'iD. na Morr . ou Murr \ e em Chal- duTço ■>'iO'N"»P'H?''0'N"l'i3 Morrhah , Morriah ^ Myrrhah y Morr ou Murr (lój) ; e a semelhança da côr da Myr- rha Huschk. Etí. deTibullo. Lipsiae 1819, T. 2, p. 470, e na nota col. 2, Dlsseii. Supplementum editionis Albi Tibulli carminara Heynio. — Wuadêrlichianae. Lipsiae 1819, p. 47, traz também a lijão do Cod. de Paris :z: myrthea. (163) V. Piinio L2I, cap. 26; Dioscorides cap. 25 , L. 1."; Plii- Urcho in Syniposiis VI, 2, VII; e outros citados nas notas ao Ní- grino de Luciano. Ed. de Heitz. Amstelodami 1743, T. 1, p. 72 , col. 2. , e p. 73 , col. I. (164) Da quanto ú è detto sbi gtd , si conosce quel che non eram i vasi muirini , ma qual fosse la matéria onde. eratio formati rimane tutta- via a noi Oícurisúmo. Epbcmerides Romanas do anno de 1740, Art. II, p, 230, citadas pelo Conde Kezzonico. Disquisitiones Pliuianae. T. 2 . p. 212 , nota 15, onde refere as opiniões de muitos A A. sobre a ma- téria dos V.1SOS murrhinos, e coDclue com o lugar das Epliemeridea acima transcripto. (ItíS) Golio. JJiecion. Atah, ii8 Memokias da Academia Real rha com a substancia de que se faziáo os vasos murríii- nos fez dar á mesma substancia hum nome d eiivado da- quella a que se assemelhava. A côr da melhor Myrrha era loura, leonada, /«/ivjw, como lhe chamou Ovidio (i66), e antes delle Dioscorides que , dos antigos , he o que melhor a descrevco : e posto que os traductores e cori- ment.idores deste Author deráo a côr csverdinhada á Alyrrha Trogloditica, que era a da primeira sorte (167), he porque náo se acordarão de que o C7róy^>>u^oí de Dios- corides significa não só tirando a verde, mas também amarellento, amarello, gemmado (168). Consequentemen- te o fundo da côr dos vasos murrhinos era amarello, leo- nado , e hum amarello vivo , porque a côr pallida era nelles hum defeito (1Ó9) , e sobre esta côr tinhão diver- sas manchas, como já notou Plinio (170), e alem delle Marcial (171). Os Gregos , que conheciío a Myrrha debaixo do nome de {f*vpm, conservarão com tudo á matéria dos va- sos Hebrew , Latin , and Englisli Dictionary ... by Josepb Samuel C, F, Frey. Londres 1815. Ldtin and Hebrew Vocabulary p. 37. Gnarin. Lexicoii Hebraicum etc. Lu(etiae Parisioruin 17'i6. T. 1 , col. 1054. Buxtorfio, Lexicon Chaldaicum, Talmudicum et Rabbinlcum. Basi- leae 1640 fl. Zanolini. Lrxicon Ciialdaico.Rabbinicum. Patavii 1747. (166) (iitassaque cum fu/oã substravit cimmma myrrha. Ovid. Met, L. 15, V. 399, Fttb. 37. Ed. Burniauni. Amstelodami 1727, T. 2, p. 1046. (167) Saraceno na traducção latina de Dioscorides. Ed. Wechfli ]5»8 . p. 4Z , col. 2. , traduz z^subvin 1 Hic pocula magno Prima duci , mr^trhasque graves , crysíallaque portat Candidiore manu : Stalii Silv. L.3, Cármen ÍV, v. 67, Ed. Variorum. Luffd. Bat. 1671. p. 166. * ' Noí bibimus vitro, Ui myrrlia, Pont ice , maré? Martialis. L. 4. Epigr. 86, Ed. Smid», p. 184. .... Quoties tnaculosae pocula myrrhae. Idem. L. 10, Epigr. 80, p.436. Et crocino nares murrheus wigat onyx. : Propertii L.3. Eleg. 10, v. 22. Ed. Kuinoel,T.l, p.243. Murrheaque in Parthis pocula cocta focis : Idem. L. 4 , Kleg. 6 , v. 26 , T. 1 , p. 367, da mesma ediçSo. Murrea auíem vasa et vítrea. Digesto. L. 33, J. 11, p. 476 etC. lao. Memorias DA Academia Re AL af>roveitcí da authoiidade de Plinio' que transcrevi Z5 «í^a»: » dem Victor ia primiim in tirbem mnrrbwa invexit : primu^^-i T>' qite Pompeim lapides- ffí/idf«/í» ex eodem trittmpba Jovi Ctinj » picolitio dicavit ■s. )» ('I7f) j porque sendo 'á liçáò;dc la^x pides contestada^ nao quiz j para defender a minha cai*!) sa , valer-me d' hum argumento que parecesse duvidoso Jj porém agora discutirei esta questão. Hardouin lê Japides^j seguindo hum Mss. da, Bibliotheca Real de Paris, ouiroí da Bibliotheca Colbertina', O' de Dalecampio ^ e' Qiím tros (176) ; e Rezzohico lê ^ sex pocula ex eodem trium-j pho z:: ctc. , conformando-se com os Mss. Ambrusiaii;o i-V Alericnse, de BerOaldo , de Landino ', e outros, e com au primeira è mais -antigas edições ;. mas confessa que o có- dice Ambrosiâno i." traz lapides^ e conjectura que a coa- ta Romana VI , substituída pelas Icttras sex^ se convçrir; terá depois por engano em /ap/á^j (177)., .Giéta a «con- ceber -como VI podesse converter-se por erro, não só em lapides^ mas em /rt/xViíJ-eí que he -a lição refutada..peloi. Conde Rezzonico. Porem de mais a mais Hardouin re- flecte mui asisadamente que: a lição sex pocula está nota- velmente, alterada , porque de sçis copos não podião fa* zer-se os ábacos ^ e os vasos para a mesa de que ao dian- te falia Plinio (178). Para annullar a força desta reflexão ..: :v >. sup- (175) JNesta IMtnioria p. G2. (176) A coflicum Jide ptcompirmite consemu non discedimns, Reg. 2.' Colb.3. veter.e Dalecampii exempiari, aliisque. Plinii Hist. Nat. T. 10, p. 14 , col. 2 , nota (x). (J77) VI pocula. Sequor Amhrosiwmm IJ codicem, Aleriensis, Be- rofildi , Lniidini , aíiorumque membranas , editionem principem , et vetu- stiores itidem impr^ames . . . Htirdaiiii lectioiíem in I Ambrodano Códi- ce inoeni. Futurem uolns VI, in Johnnis Spireuús exemplari nitentes : ab aliis po.itea characteribus sex reddilas, uti in Rnmaiiis, Parmensibus, sub- secutisque ediíiouibus: sensim in lapides fuissc dfformatas. Rczzoiíico. Disquis. riiniaiiai-, T. 2 , p. 209 , col. 2. , nota 4. (178) Typi hactciius mdgati id exibent solum : Pompeiíis sex pocula: insigiii admodum iniapolatioiíc : nam e sex poculis , ábacos et vasa esca- ria^, III quod stalwi uffirmatur et Plinio , coujlata umquam , autcoiiflaii umquam poste ,qm credatf 1. Ct.fla notfi (176). í 'hAs SciBNCiAS DE Lisboa. lit suppôe Rczzonico que Hardouin entende que os vasos oíFerccidos por Pompeo a Júpiter Capitolino fossem dis- trahidos contra sua vontade , e contra o costume , para o uso dos particulares (179); mas nem isso he o que diz Hardouin , nem o que se colhe do texto de Plinio. Pli- nio o que diz he que Pompeo trouxe para Roma no seu terceiro triumpho os murrhinos , e que offereceo a Jú- piter Capitolino pedras murrhinas , e copos murrhinos, isto he , oíFcreceo-lhe em bruto a matéria de que se fa- ziâo os murrhinos , e ofFcreceo-lha também já trabalhada em copos, como poderíamos dizer de qualquer outro ob- jecto precioso r: trouxe os alabastros, os crystaes , as agathas, etc, em bruto e já obrados — ; e só assim he que pode apresentar hum sentido claro e rasoavel o que se segue í=: « que logo que apparecêrâo em Roma os ob- » jectos murrhinos , começou a espalhar-se o seu uso , ■» appetecendo-se da pedra murrhina laminas, e vasos para > a mesa etc. » t^ ; porque aliás o iade de inde expeíitis j que diz respeito a lapides, não tem a que se referir (180), Por tanto , sendo a verdadeira lição ►— lapides — nenhu- ma prova se pode dar mais irrefragavel de que os mur- rhinos erão de pedra do que este testemunho de Plinio que tão sciente estava do que era a matéria bruta dos murrhinos , que até determina as suas dimensões e= nus- qtiam parvos excedunt ábacos etc.z^ (181). Tom. XII. P.Il. 16 Se- (179) Ad illa, quae congerit Hardtunus , objicerem Plinii narratio- nem vi eo sistere , ut kgeulibus aperiret post Pompejatium triumpfiutn tnurriana in homvmm usum iraiisiisse , iiempe poslquam sex pocula Jovi dicaverat Tompejus : rei iiovitate , et figurae eximia pulchritudine moti Momanorum Frvicipes ábacos, et escuna vasa sihi volueritit comparare. hcqtie emm credendum est , ut ea , quae Deorum Máximo Pompejus di' cjiuerat , contra ilhus voluntatem , atque coiisuetudinem in cieium usum dislrahereiítur. Adde quod stattm Historicus subdit murrhina privatorum usious viserviisse. 1. c. na nota (177). (180) INesla Memoria p. 62. (IBl) JNesta Memoria p. 63. 122 Memorias da Academia Rbal Séneca diz no L. 7.° de Rcneficiis , cap. 9 « Vejo os «f copos miirrhinos, como se fosse pouco notável í) luxo, » se não manifestassctn entre si, (os convidados, nu 3» mesa,) por meio de avultadas taças de gcmmas , que » havião de vomitara» (182); por tanto considera a matcria dos murrhinos como gemmas , e por consequên- cia como pedras. Considera-a como gcmmas, não porque fossem verdadeiras gemmas , mas porque tinhâo o mes- mo apreço que cilas, segundo Piinio (183); tendo sido por muito tempo contemplados entre os objectos mais preciosos, como consta, alem dos passos apontados, por outros de Séneca, Lucano , Juvenal, Marcial, Suetonio, Júlio Capitolino, Aelio Lampridio , Eutropio, e do Di- gesto (ib'4). Ap^, ; (1G2) Video tnunhma pocula : parum scUicet luxuria magno fuerit^ nisi quod vomant , capacibus gemmis iiiier se pronuutiaverint. Ed. Kvh» kopf, T. 4, p. 324. (183) Mesta Memoria p. 95. (184) Utnim dt aurcum poculum , au cryílallmum , an murrhinum: Séneca Epist. 11!). Ed. citada, T. 3 , p. 332. ^on auro , murrhaque hihunt : Lucano Pliarsalia L. 4, vers. 300. Ed. Weber. Lipsiae 1821, T. 2 , p. 26. Mcnse quidem hnimae , quo jam mercator Tason Clausus et armalLs- obstai casa cândida naiUis , Grandia iollunlur cnjstallinn , máxima riirsus Muniiina , deitide ndamas notisúmus et Bcronices In digUo factus pictiosior. Juvenal Sat. (J , verso 153. Ed. Ruperti T. 1 , i'. 102. Feiqiu: forwn juvcncs longo premit asscre Medos Emturus pueros , aigeiítiim , mwrhina , villas. Idem Sat. 7, verso 132 , T. 1 , p. 149. Áurea aolus habes ., miprlntia solus habes : Marcial L. 3 , Epigr. 26. Ed. de Sraids , p. 116. vende Argentam , memas , myrrhina , rura , domum. Idem L. 11. Epigr. 71 , p. 45. Epigr. obscoena. Ed. citada. Quitm et Alexandria capta niliil sibi praeter umim murrhinum calicem cx instrumento regia retinucrit. Suetonio. Augusti vita cap. 71. ííd. de Wolf. Lipsiae 1802, T. 1 , p. 196. DAS SciEííciAs DE Lisboa. íaj Appiano, na sua Historia da Guerra Mithridatica j diz que — no thesouro que Mithridatcs tinha em Talau- ris se acharão dois mil copos feitos de pedra onix, guar* necidos d'ouro ctc. ~ (iSf). Desta guerra hc que foi o terceiro triumpho de Pompeo em que alardeou as rique- zas de Mithridatcs, entre as quacs appareccrao pela pri- meira vez em Roma os murrhinos (i86); e como, por huma parte Appiano nâo faz menção especial dos mur- rhinos , e por outra parte a palavra onix era hum nome genérico que se applicava a diversas espécies de pe- dras (187), nem he presumivel que estes dois mil co- pos fossem todos da mesma qualidade de pedra, parece que nesses copos chamados d'onix se comptchcndiao os murrhinos que, por consequência, erão de pedra, e que varias vezes vem mencionados pelos Authores juntamen- te com os de onix (188). Assim o entendeo também o Conde Rczzonico, e tanto, que referindo-se a Appiano , 16 ii diz ■ ■ Quu7n aiitem ad hoc bellum omne aeranum exhausisset suum , neque m animum inducerct ut extra ordinetn provincialibus aliquid imperarei , iii foro dioi Trajani auctionem ortiamentorum imperialiumfecit, vendiditque áurea pocula et crystallina et myrr/iina , vasa etiam regia , etc. Júlio Capitoliuo. Vita Aiitonini Philosophi cap. 17. Historiac Augustae Scri- ptores. Ed. Variorniu Lugduni Batavorura 1671, L. 1 , p. 354. Eu- Iropio , Breviariutn Historiac Romanae L. 8, § 13. Ed. Verbeyk. Lu- gduni Batavoruni 1793, p. 393. Oims ventris auro excepit : myrrhinis et onychinis miiixit, Aelio Lam« pridio. Vita Heliogabaii cap. 32. Historiac Augustae Scriptores. T. 1, p. 772 da edição citada. De tnurrhiiiis et crystallinis duUtari potest , an debeant adiiumerari supclleclili , propler eximium mum et pretium. Digesto L. 33 , Tit 10, L. 3 , Paulo ^ 4 , p. 475 , col. 2. (185) E> ^í Taívatíf-ct; , nu Tiíat 7ró\ti ò MlôjJlíaTiíç li;,;! rXfjiuToi Tn; K-xTaçKiviíf , íi* íaí» UvjÚiaxtx Xítfev T?c òtvx^i-ri^o; AfyafAip>iç íypi&ii ^fV7ctó\?^rnot. Ed. dc Schw- eigliaeuser. Lipsiae 1785, T. 1 , cap. 115, p. 818. A tradncção la- tina traz rr ear onyche gemma — ; porém o texto grego diz n: de pe- dra onix ::3 >Mv t>,c I^xí-i^^í zz (106) Plínio Hist. Nat. L. 37, cap. 6 e 7, T. 10, p. 10 a 14; Ap- piano 1. c. , cap. 116, p. 820 , efe. (187) V. a nota (153) desta Memoria. (188) Aelio Lampridio 1. c. na nota (184). 1X4 Memorias da. Academia Real djz que Pompco achara no tliesouro do Rei do Ponto mais de dois mil vasos murrhinos (i8 morria (matéria dos vasos murrhinos) e quantos outros >» vasos os homens fazem de pedra , de barro , de cor- í« no, e de osso, todos se quebrao mettidos na agoa da M Styge. >» =: (190) He ainda mais concludente o passo de Périplo do mar Erythrco attribuido a Arriano. Este Author relacio- nando os objectos de mercancia que se importavao de Ozena para Barygaza , e passavão de lá a Roma , nomea pedras onichinas c murrhinas (191): e he bem extraordi- nário que o Snr, Bossi , citando o Périplo do mar Ery- threo para outro fim , calasse o que tanto lhe incumbia impugnar para sustentar a sua these (192). Bus- o Autlior do Périplo do mar Erytlireo attribuido a Arriano, apud Geograpliiae Vt-teris Sciiptores Graeci Minores. T. 1 , p. 28. (18U) Tum magis quòd duo millia munhinorum a Vomppjo fuisse in- venta €X Appiani Ãlcxnnúriíá lestimonio intelligamus. Disqiiisitionc..>icç xá) ^r>f'^ia HuX iaa. É;TÍv àyòfúiTTd^ ã>.\a Xí9ov voiíífiítx . xfle* Tw» ffxítwf Tu y.ífáwfa , 7íc f/í» lttÒ tÍjç J^xtyòí t*í v^utoç fír/ivrai , Ufania ^i xal iirTum , Pausunlas Afcadíca L. 8. Ed. Kubuii. Lipsiae 169G, p. 635 c 636. Esta edição traz í^^oç; em lugar de íoAot, o que he engano ma- nifesto; porque, nem a?^'.»? era nominativo, no principio da frase , iem a que se referir; nem o i«" y< xui tem a que se ligue lendo ó>vMí ; mas VXÍ.Í. Porém o que he singular he que Kuhnio, citando na no- ta p. 636 a lição ia^í;; pela authoridade dos Diálogos de Estevão Negro, e tr.iduziiulo em latim — vasa et pocuía vitrea — , conservas- se 110 tosto ãhMt contrario à versão. (191) ii-jyUr, >,i9ia xaifisff.iii Apud GecpripMae Veleris Scriptorc» Graeci Minores T. 1 , p. '28. (192) Observalious sur le Sacro Catim p. 127. DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. 11^ Busquemos agora entre as pedras conhecidas huma que não seja das descriptas por Plinio debaixo de nomes especiaes Que tenha a côr amarella leonada í Que tenha manchas maiores , ou menores í Que tendo a dureza necessária para ser trabalhada ao torno , possa ao mesmo tempo sofFrer a impressão dos dentes sem estalar e quebrar-sc, mas ficar só com amol- gaduras , ou mossas : Q|jc tenha lustro e não brilho nem transparência : Qiie não exceda as dimensões que Plinio assigna á sub* ttancía murrhina : E que ostente os accidentcs de luz do iris , e principal^ mente nas bordas. A condição de ceder i impressão dos dentes , sem quebrar , exclue as substancias da familia das Silicides que podiâo ter alguma analogia com a pedra murrhina ; e por isso recorrendo os mineraes que podem reunir todas as circunstancias acima indicadas , julgo que só poderrt dar-se na Fluorina , primeira espécie dos Phtorures de Beudant (193); Phtorure de calcium , primeira espécie dos Phtorures de Btondeau (194) ; cal fluatada d'Hauy (195)- Huma das côrcs da Fluorina he a amarella sobre que assentão manchas mais ou menos variadas em grandeza e em côr. Acha-se em muitos sitios, e até da Ásia, donde vinha para Roma, em pequenas massas, e novellos, e em cry- staes disseminados em diffcrcntes rochas (196); e por is- so k (193) Traité de Minéralogie. Paris 1830—1832, T. 2. , p. 517 a 619. (194) Mcinuel de Minéralogie, 3."" édition , par MM. D.** et Júlia de Foiítenelle. Paris 1831 , p. 184. n95) Traité de Minéralogie, T. 2 , p. 247, e seguintes. (196) Quelqites fois eUe est eu tiids , en rognons , cn cryUaux disse- mines, particulièrement dans les roclies crystaiines, (Cltamounix , Saint- 126 Memorias DA Academia Real so nunca a substancia munhina excedia certa grandeza : e não obstante ser actualmente commum a cai fluatada , não tenho visto objectos d'artc feitos delia muito mais volumosos do que os antigos vasos murrhinos , porque os pedaços capazes de empregar em obras de primor são raros. Em algumas das espécies de cal fluatada concrecio- nada ou amorphica lic que se encontrão os acesos c bri- lhantes reflexos de luz, e =; «< as cores vivas e agradáveis >» que parecem rivalizar com as gemmas z: »» (197) i e por isso he que os Romanos fizerão, por muito tempo, tanto caso dos murrhinos como das gcmmas (198). Em urnas de diversas cores que tenho visto destas variedar des , a pezar de não serem vasadas, apparece o acataso- lado produzido pelos accidentcs de luz, mesmo na su- perficie das urnas , em razão de serem cortadas as esca- mas que formão, para assim dizer, o tecido da pedra. A variedade amorphica , de que ainda hoje se fabri- cão os mesmos objectos que no tempo dos Romanos ^ laminas e vasos— abaci et vasa escaria-^ (^^99) {.^^ com a differcnça que os vasos modernos não servem para o uso, mas sim para ornato) =; contem porções crystalliza- das Gothard, Envciio, etc. dnns Ics Alpes; Odon-Tschelou mi Daouric, etc) Beudant, Tr.iité de Miiiéralogie , T. 2 , p. 519. Âs montanhas da J)aurla são a continuação da cadeia central das montanlias da Ásia, que se estende para a Sibéria, e cerca o lago Baiknl. Malte Brun Géoprapliie 2."' cdition. Paris 1812 e se- guintes , T. 3 , p. 339 e 3^0. (\'i'!) Kii Aiiglctcrre et ailleurs, on travaille les morccaux de chaux Jluatée d''uii vuliime ua jicu comidcrable , et fon eu fait des plaques , et des vases de diffi'rentes formes. Ccs ouvragcs , dont Ics couleurs vives et agréahlcs scmhtetit rivaliser avec celles des gemines , snut encore diuersi- fiés par des nssortimens de portioiís crhlalUées et diaphane.s , oichaiiton- jiées ddiis da espcces de cloisoiis dcmitransparentís ou opaques , quelque. fois d''unc aiilre mntiire , cn sorte que le toiít imite une pièce de marque- terie ou un tissu alvcoiúrc. Hauy Traité de Minéralogie. T. 2 , p. 2t>6. (190) Nesta Memoria p. 95. (199) V. a nota 177, e nesta Memorii p. 62. !>AS SciBNtíiAs DB Lisboa. íi7 j> das e diáfanas encravadas n'huma espécie de cellulas »j jicmitransparentes , ou opacas, algumas vezes d'outra « matcria , de modo que o todo imita hutna obra d'em- i> butido , e hum tecido alveolar :=j >» (200) ; e aqui te- mos os defeitos que nos murrhínos desagradavao aos Ro- manos , o x: translncere et pallere :=! as r=: verrticae , iion eminentes , sed ut in corpore etiam plerutnque sesstles í: de Plinio (201). Ha no Museo da Academia Real das Sciencias de Lisboa huma urna e duas pequenas agulhas ou obeliscos de cal fluatada amarella. Fiz representar exactamente, na soa grandeza natural , a urna , e huma das agulhas , para Confirmar o que fica expendido; porque a sua simples in- specção convencerá , melhor do que todos os raciocínios , da identidade da côr e das manchas com as descripções que dos vasos murrhinos nos deixarão os antigos. Huma estampa não pode dar a conhecer os accidentes variados de côr, em consequência dos reflexos da luz, que apre- sentavão os referidos vasos , e a urna mesmo os mostra imperfeitamente porque não he vasada por dentro ; po- jfêm se o fosse , a contextura da pedra , desunida em to- dos os sentidos pelos cortes do ferro no torno para a formar, descobriria o phenomeno explicado da opala, e por consequência os cambiantes e acatasolado do iris , e com mais força nas bordas do vaso cm que essa desunião hc ainda maior. A agulha (Est. i.) tem as cores mais claras, e as manchas mais pequenas ; c na urna (Est. 2.) vem-se as - niaculae pingues - porque huma das faces he quasi to- da sombreada com huma só mancha , que vai cscurecen- da até fechar era côr de sangue de boi. Unicamente não pode verificar-se na cal fluatada a cir- (200) V. a nota 197. (20 1) Nesta Memoria p. 63. I2í8 Memorias da Academia Real circunstancia de algum cheiro agradável (202) ; porem esta circunstancia não se dá em nenhuma das matérias de que se tem supposto que erão formados os vasos murrhinos ; e só pode explicar-se por algum cheiro for- te que nclles se tivesse deitado, e de que conservassem por longo tempo vestigios , como acontece aos nossos velhos contadores que, ainda depois de séculos, recen- dem ao almíscar que tivcrao dentro. Esta opinião pare- ce confirinar-se : Pela palavra ^ aUqua — de que Plinio se serve que denota, não hum cheiro forte, mas alguns eflúvios: Pela consideração de que Plinio parece artribuir o cheiro , não á pedra murrhina , mas aos vasos já forma- dos , e sendo assim , esta qualidade não era inherente á matéria murrhina j mas sim adventícia aos vasos: E pelo silencio dos Escritores Gregos e Romanos que tratarão de Lithologia relativamente a pedras que tivessem cheiro ; porque só assignão cheiro : Como qualidade que se manifesta naturalmente nas pedras — a cinco espécies que nós temos por fabulosas, e cuja existência em duas não aííiança o mesmo Plinio, podendo involver-se as outras nas despiedadas mentiraF que elle nota terem-se espalhado acerca de muitas pe- dras (203) : Como accidente que se desenvolve na combustão ►- a diversas pedras : E como eíFeito da mistura com outras substancias em que se ponha d'infusão, depois de triturada, — a huma só pedra (204). Pa- (Z02) Nesta Memoria p. 63. jiliqua et in odore commendatio est. (203) Et sunt mu/to plures (lapides), magisquc monstrificae, quibus larhari dcdere noiniiia , coiijcssi lapides esse. Nolis satis erit in his coar- guisse dirá mendacia llist. Nat. L. 37, cap. 73, T. 10, p. 168. (204) Como qualidade que se mauifesta naturalmente : Aromatites et ipsa in Arábia traditur gigni , sed, et iu Aegypto circa DAS SciÈNCÍAS t)E LiSBOÁ. H^ Parecerá talvez incomprehensivcl que tendo chega-» do até nossos dias restos das antigas manufacturas dos Gregos e Romanos muito mais frágeis do que os rasos murrhinos , como por exemplo o vidro ete. , desappare- TottuXlI. P.IL 17 ces- Fyras ^ ubique lapiílosa et mynhae coloris, et odoris. Plioio Hist. Nah L. 37, cap. 54, T. 10, p. J25. Atizoen in Índia et iii Perside ac Ida monte n.isci tradit, .... orfo« ris jucwidi 1 necessariam Magis regem constituentibus. Idem, ibid., p, Mynhites myrrhae colorem hahct, fade mínima gcmma : odorem at- trila, etiam nardi. Idem, ibid., cap, 63, p. 151, a quem se<'UÍrãO Prisciano Ed. de Wernsdorf T. 6 , P. 1., p.407; e Soliao cap. 37 , p. 48. V. a uota 118. Myrsinites meíleum colorem, hahet , myrti odorem. Plínio Hist. Nat. L. 37, cap. 63, T. 10, p. 151. liarcisátes venis et odore distincta. Idem , ibid. , cap. 73 , p. 164* Dionísio, na descripção do Mundo, Icmbra-se da INarcissites ~ «r (wiTfu!) fvovm ipiyylíí. la-fy-nTcmi zz gerão á iiarcissite , cuja côr he escurai: ; porêra nao faz menção da circunstancia do cheiro. Perie« gesis, verso 1031. Ed. Beriihardy. Lipsiae 1028, p. 56. E Prisciano na sua traducção só diz também : Haec generat narcissiten oriente sub ipso , Qui lápis est fuscus : Periegesis, verso 947 e 948. Poetae Latini Minores. Ed de Werns* dorf, T. 5, P. 1., p.402. Como accidenie que se desenvolve na combustão : Autachtes (espécie d''Agatha), cum uritur^ myrrham redolens. Plí* nia Hist. iNat. L. 37, cap. 64 , T. 10, p. 120, e posteriormente Mar* bodeo. Est et qui myrrhae succetistis spirat odorem (Achates). Na edição de Plinio de Franzio cap. 2, verso 18, T. 10, p. 73:r4 Ophires cujo cheiro, lançada no fogo, afugenta os reptis. Orpheo , de lapidibus. Ed. de Tyrwhitt. Londínl 1781, versos 466 e 4(;7, p. 62. 'Lipareo que queimada dá hum cheiro suave qtie abranda 09 dra* gSes , e deleita as serpentes. Orpheo 1. c. , versos 697 a 705. p. 88. Como elFeito da mistura com outras substancias em que se po' nh.i d'infusão depois de triturada. Zanthenem in Media nasci Democrifus tradit , electri colore , et si' quis terat in vino paltneo, et croco, cerae modo lentescere, odore magnas suavitalis, Plínio Hist. Nat. L. 37, cap. 70 , T. 10, p. 16i. jjo Memorias DA Academia Real cessem absolutamente os fragmentos destes vasos ; e que os Authoies dos tempos da decadência de Roma c da idade media , guardassem o mais profundo silencio a es- te respeito ; porem este phcnomcno archeologico podç explicar-se, a meu ver, pelos motivos seguintes: 1." Porque tornando-se vulgares forão perdendo o pre- ço , do que já os Authorcs Romanos dão indicio e até testemunho. 3." Porque as invasões dos Povos do Norte, e a ruí- na do Império Romano trouxerão comsigo a interrupção do commercio com os Paizes donde vinha a pedra mur- rhina. 3.° Porque sendo huma das grandes bellezas dos mur- ihinos o effeito da refracção da luz , qualidade que se perde quebrando-se os vasos, como já se observou (loj), os fragmentos que tenhao apparecido, náo apresentando circunstancia que os torne notáveis , tem sido natural- mente despresados ; e esta he mais huma razão para fa- vorecer o sentimento de que os vasos murrhinos erão de cal fluarada. » 4.° Porque, deixando a Fluorina de ser hum objecto de grande custo , os peáaços de vasos murrhinos que se encontrassem seriao desattcndidos pela prevenção de bel- leza e preciosidade que havia a favor daquclles vasos. y.° E pela decomposição a que estão sujeitas as ma- térias calcareas , conservadas por muito tempo debaixo da terra. He também por extremo reparavel que os antigos Escriptores Gregos que, ou tratarão ex professo de Li- thologia , como Theophrasto (206) ; ou que fallárão oc- casionalmente das pedras , como Dioscorides (207) , c os (205) Nesta Memoria p. 78. I'l0ti) Theoplirastus''s History of Stones. With an English version etc. By John Hill. Loiídon 1746. (207) I4o cap. 141 e seguintes do L. 5.'* da Matéria Medica. nAS SCIENCIAS DE LiSBOA. IJt OS Authores posteriores que, desd'o 4.° atd ao ii." sé- culo, se occupárão expressamente deste objecto, como o Author do Tratado attribuido a Orpheo, Pscllo, e Mar- bodco (208) , nao facão menção de pedra murrhina ; e que semelhante palavra não exista nos lexicographos Gre- gos como Júlio Follux , Suidas, Hcsychio, e Apollonio Sophista , no Etymologicon Magnum , e no Etymologi- cum Gudianum ^ nem nos modernos Diccionarios de Hen- rique Estevão , Scapula , Damm , e Hederico ; sendo is- to mais singular a respeito de Hesychio , cuja obra foi alterada e augmentada por muitas mãos {lo^) , e que traz não só palavras dos differentcs dialectos da Grécia , e dos povos dominados pelos Gregos , ou cm que se fal- lava a lingoa Grega, mas também vocábulos Egypcios, Persianos , Lydios , Scythicos , Célticos , e outros d'ou- tras Nações que nada tem de commum com a lingoa Gre- ga (210). Mas, quanto aos Escriptores Gregos antigos, estou persuadido de que os Gregos comprchendião a pe- dra murrhina na classe geral das onix , como já obser- vei a respeito do passo d'Appiano (211); e quanto aos do 4." século e d'ahi por diante , parece-me que niilitâo para elles os dois primeiros motivos apontados no § an- tecedente. 17 ii De- (208) Orpheo. De lapidibus. Ed. deTjrvvhitt, Loiídini 1781. Psclliís. De lapidiiin virtutibus graece et laliue , cuin notis Maussa* ci. Lugdiiiii Batavorutn 17-Í5. Marbodeo. Cármen de Gemmis. Ed. de Pliuio de Franzio T. 10 p, 735 e seguintes. ' * ' (209) Hesychio. Ed. Alberli. Prefação, cap. 1,°, § 4° e se- guintes, p. Hl. e ."leguintes. (210) Habet Hesychius non solum Lacónica quaedam, Ar. (213) II paralt coídeiit que c'él(út (la Fluorine) la suhstaiice avec la qualle on JaLsmt leu vasas murrhiiis, si célebres dans fantiquíté. Tr.iitc de Minér.ilo^-ie T. 2 , p. 51!(. (214) Fallíuiilo da Fluorina -^iTiaiis le Derbyshire en Angleterre , òíi elle est asse: commune, on en fabrique dcs vascs, des boites, des ctinii- dcliíTs et d''auires objets : on croit mcme qiCelle cloit c/iez les auctens em' ploi/ée à fitbriqiier Ics célebres vases niurrhins. Maite-Uruii, Géogra- pliit. Ed. de Uuot. Paris 1831 et suivauts. T. 2 , p. 301. DAS SCIENCIAS DE L I S B O A. I33 NOTA -. A - Súbre 0 nome ia Myrrha em Grego, e nos mais antigos Escriptores Latinos, A palavra Grega que, desd'a mais remota antiguida- de , significou sempre myrrha hc a-fiúpoa. Tal he o no- me que dão d myrrha Hippocrates, Aristóteles, Theo- phrasto, Dioscoridcs , Atheneo , Júlio Pollux , Suidas , etc. (a) ; e só Atheneo diz que os Eólios chamavão á C[i6pvai-íiúppx (b) , O que he confirmado por Galeno {c). Smyrna chamarão também em latim á myrrha Flau- to , Lucrécio , e o Jurisconsulto Marciano (d), O (n) Hippocrates. De superfoetatione, Ed. Foesii. Fraacofurti 1595, II. 46 in fine , p. 47. 4 vezes. dera. De natura muliebri p. 128. Idem. De morbis mulierum p. 193, 5 vezes, etc. etc. Aristóteles. Meteorologicorum L. 4, cap. 10. Ed. de Ou Vai. Paris 1G29, T. 1 , p. 597 in fine. Theopiír.isto , Historia plantarum. L. 4 , cap. G , p. 79 , L. 9 , cap. 1 , p. 169 e 170; cap. 4 , p. ]7-}, 2 vezes, p. 174, 3 vezes, etc. etc. Ed. lleinsius. Ltigduni Bitavonira 1693. Dioscorides. iMateria Medica. L. I, cap. 77 e 78, Ed. Saraceni. Fraa- cofurti 1.598, p. 41 , 42 e 43, etc. Atheneo, Deipnosophistarum. L. 15. Ed. de Schweigauser. Argento- rati 1801 o seguintes, T. 5 , p. 515. .Inllio Polliix. Onomasticum. Segm. 27, L. 1, cap. 1. Ed. Hemster- huis. AiDSttílaedami 1706, p. 18, Suidas. Lpxicon. Ed. Kustcri. Cantabrigiae 1705. T. 3, p. 243. (i) Atheneo, 1. c. , p. .012. (c) Galewo. Òbsoictarura Ilippocratis vocura explanationes, diz=: (MiffaO aU\:v:7> crij.{j , 1(1 CS t myrihnm, verte otra- iluctor; porém na nota (o) diz o Commentador = C/éi^ue ^/juíí IJip- jiocratem c^C;,x nutUt. Erotiani , Galelii et Herodoti Gloisaria in Hip- pocratem. Ed. Franzii. Lipsine 1780, p. 528 e 529. (br tanto vê-se que he itidifferente tatò , ou rart , I. c. ibid. do« u (j;. . . i}8 Memorias DA Academia Real • ■■ Quando o Snr. Tliiersch trata do uso da Mur,ra ado*'. pta a lição de capides et pocula^ n .populi B-Omm m<í yviírdç^::», ficiseH.V diz que T. Petronio possuio grande quantidade destes trastes (vasos murrhinos) que depois da sua morte forão tirados a seus filhos por Nero («). Persuado-me de que em tudo isto ha alguma equi- vocação, e alguma confusão. Pareceme que a lição de capldes (emenda que já occorreo a Saxio (sit. Plinianae. T. 2, p. 210, col. ]., na nota que vem de p. 209. (p) IVelier unten erziihlt P/inius , dass eine solche murriíia capis Ne' TO lun 30 Taleiíte (ungefdhr 66:000 Ji.J sich erwarb trtceutit taleiítu capidem wiam parando, idem p. 483. 14© Memottias nA Academia Real como veremos. Qiianto mais que nenhum Author nos in- dica que quantidade de murrhinos trouxe Pompeo da Ásia para o seu terceiro triumpho. Presume-se, e com bastante fundamento (q) , que nos a:ooo vasos de onix que, segundo Appiano , se acharão no thesouro que Mi- thridates tinha em Talauris , se comprehendem os mur- rhinos que naquella occasiáo vierão para Roma ; porém nunca ninguém disse em que proporção estavao os mur- rhinos com os outros vasos preciosos , nem mesmo se todos estes vasos forâo transportados para Roma ; peio que não julgo isatisfactoria a explicação do Snr. Thiersch que =: daquelle provimento se procurarão, não só taças, mas outras alfaias = antes me parece que involve huma espécie de contradicção. Se o que se vendeo a beneficÍ9 do Erário Romano foi (refcrindo-se a Appiano) a parte dos capides et pocula que não foi consagrada a Júpiter Ca» pitolino , como podiâo procurar-se daquelle proviment» em que , por hypothese , só havia taças , outra cousa que não fossem essas mesmas taças? Alem de que Plínio não falia neste passo em provimento , nem em venda : dia simplesmente que logo que appareceo em Roma a sub- stancia raurrhina que descreve, os homens não só entra» rão a usar os vasos murrhinos para beber, mas appete* c6râo também (etiam) delia (inde) outras alfaias, abacis ^ escariisque vasis. Por tanto o sentido genuíno deste pas- so parece-me que só pode ser o que resulta da lição ti lapides et pocula =. O Snr. Thiersch faz de Petronio e do varão Con- sular, que teve o cálix da grandeza extraordinária que Plinio aponta , huma só pessoa ; attribue á taça que Pe- tronio mandou quebrar, para não passar para a mesa de Nero, o facto de fazer Nero contar na sua presença e guardar os pedaços quebrados ; e diz que aos filho'; de Fe- - — ■ ■ ■ — '■ — - — "" -^-- ^ - {q) Vide nesta Memoria a p. 123. DAS SctEJTCrAi DE LiSBOA. 14» Petronlo he que Nero tirou os murrhinos que expoz no seu theatro , etc. ; mas parece-me que Plinio caracteriza distinctamente a diversidade destas pessoas e aconteci- mentos. Eisaqui a ordem em que Plinio os apresenta. i.° Facto. * Hum varão Consular teve hum cálix de extraordi* naria grandeza ) cujas bordas roeu extasiado na sua bel' Icza , etc. i." Facto. Nero tirou aos filhos deste varão Consular os muf» rhinos que elles tinhão e expô-los n'hum theatro. Veja- se a duvida que tenho a este respeito (r) ; e note-se ao mesmo tempo que Plinio não diz que Nero tivesse man- dado matar este varão Consular. 3.° Facto. Destes murrhinos que Nero expoz no theatro he que se quebrou hum cujos fragmentos mandou contar na sua presença e guardar , circunstancia positivamente determi- nada pelo =3 qui (Nero) vidit tmc adnumerari ;=, menciona- do logo immediatamente á exposição dos murrhinos no theatro ; e este murrhino quebrado não era o cálix do varão Consular, nem a milla de Petronio de que depois trata Plinio , mas sim outra espécie de vaso , hum scy pbíis. 4.° Facto. T. Petronlo quando estava para morrer por ordem de Nero, quebrou huma trulla que lhe tinha custado 300 talentos (texto d'Hardouin) para que não passasse para a mesa do Imperador; e esta trulla não era o cálix do va- rão Consular , pela differença dos nomes , e do preço ; porque a trulla tinha custado 300, e o cálix 70 talen- tos (texto d'Hardouin). O epitheto de Consularis não pode identificar T. Pe- tro- (r) Mesta Memoria p. 71. 141 Memorias DA ÂcADKMiA RsAt tronio com o vir Consularis que teve o caJix. Já adver- ti que Plinio não nos diz que este varão Consular tives- se sido mandado matar por Nero , e ainda quando isto assim se tivesse verificado, quantos outros varões Consu- lares não fez elle perecer? A qualificação de Consularis foi por tanto necessária a Plinio para designar qual T, Petronio foi victima da crueldade de Nero, porque aliás, havendo necessariamente em Roma muitos T. Petronios y era impraticável conhecer aquelle a quem respeitava o facto. Pelo que fica ponderado parece-me que nem a or- dem com que estes acontecimentos estão enunciados por Plinio, nem o modo por que elle se exprime, permit- tem que se duvide de que sejão diversos. Não podia escapar á penetração do Snr. Thicrsch íque o circumagentibtts se maculis in purpuram , etc. expli- cava as cores provenientes da luz reflectida, segundo a tlivería posição do vaso , e do espectador , porem preve- nido pela idea anticipada de que esta variedade de co- res era o effeito de ser a pintura natural dos murrhinos •de furta-côres {s) , dá como fundo da cor da substancia murrhina o vermelho e o branco (í), em lugar do ama- rei- (s) A massa dos tDUrrhioos fazia furta-côres :=: der Masse: dass er aber sogar spegelte und schillerte iii einer jlrt,] etc. Memoria do Snr. Thiersch p. 474 , ^ 3. As manchas erão de furta-côres — versicolores — . Idem p. 476, 2 vezes; p. 477 — Farbeitspiet — ; p. 479, ^GzrzFarbetispiel — . (í) Vermelho e branco ^: in Roth unU yVeiss. =z Ibid. p. 492. BrilhavSo as cores encarnada c branca, e huma mistura de ambas =: da die Murrinen des Plinius in Roth und fVeiss wtd in der Mischung VOH beidcn schimmerten. Ibid. p. 492. Branco e vermelhei er3o as cores fundaraentaes do^ murrhinos — Weiss wid roth waren die Grundfnrbcn der munina. Ibid. p. 501. As cores fundamentaes da murra erãu branca e vermelha, e nós vimos que estav3o misturadas cm humas , e distinctas n^outras, e fazia furta-côres =: Die Grundfarben der Murra luaren Weiss und Roth "uiid wir snhen;' dass in eimgen sie getreimet in anderii gemischt wartn wid m Farbmspiel bildeten. Ibid. p. èi7. DAS SctEHCIAS DE LiSKtJA. I43 rillo. O futta-côr procede da combinação de diÔ-.rentcS cores c]ue se misturão, se confundem, s^lum humas so-. brc outras, c se separao conforme o modo por que re- ; ccbeni a luz; mas pira se pn)da/ir o furtJ- ôr hc neceS' sario que as cores que cnnãj na combinaçã ) se prestem a cila , o qoe não me parece que possa Vs,-rifi,ar se n:> vermelho e branco. O furta-côr designa se em Latim p«- lí-palavra versicolor de que usou Plinio (») , 6 de que se serwi» rambem o Snr. Tliicrs.;h {x)\ m.s niío foi esta- a que o AutKor Romano empregou- na descripçá) dos murrhinos porque não era essa a qualidade que éMe que- ria designar, visto que a causa da variedade de cores que aprescntaviáo os murrhinos ^ mudando de p siçã > os vasiifi^-^nâo-eri-o ser de furra-côres a matéria de qu.- criío formados, mas sim serem os raios da luz refl.ct;d)S di-* WBrsartiente pelas pequenas camadas d'ar contidas nos in- tervallos que dcixão entre si as fendas c rachas que in- terrompem a' continuidade da marcria dos vasos murrhi- nos, circunstancia que não depende de côr nenhum i par-- ticular,^ porque se deriva d'!vjm principio geral d'.)ptica' applicavel a iodas, e por iss> se observa na opala quj Ije branca, e te, ; porque —«toda a matéria fljida ou so- >»''lida d'hum certo grdo de delgade/.a , e incluída entre » dois meios d'huma densidade diffcrente da su3,_reflj- ». ctirá , variando a sua grossura , huma serie de côres »» diveríás , è sendo constante, huma côr uniforme con- >' nexa com a força reflexa que resulta desta grossu- >» ra (j). í= " Por íantd úttí era necessário que o fun- . — ,jA ;, ij.n I i>t (u)"' Tvtgit >aisf^ veluti cum calettli fiwit , qiios quvlem ab iculo:t ap' prllant , aLitiuos etvtm plitribiis Jnodi.t ver tico lores , filiando d-o viJra. Hist. Nat. .L.3G', cap. «7, Tí 9 y p-Ve-l etc. ^ ( c) Veja-seia nola (.?).; ' - (yy Toute m-itiére ftuttis ou solida i, ayant uiv ceríaiit iLs^ré de témU té, et rcnfcrméc entre Ueuv mUieux (Cune deusité diffcrente de la tw/j- nCf réjíéchiru; n am épaisíat'' varie; táio-tuilè de couleurs diuer.íijiéís , et íi elle eíl constante, une ceuimr tonfwmi- asferlià ou peuimr réjiéduxs» 144 Mfmoriasda Academia Real do da cor dos vasos murrhinos fosse vermelho e brando para produzir o phenomcno da ^purpura candescente, aut lacte rubescente tr de Plinio (z) , cores que não tinha a myrrha , que era amarella , loura , fulva {ao) , de cuja côr se derivou o nome da pedra murrhina ; porque tinha a côr da myrrha {bb). E a mesma côr da myrrha tinhão outras pedras de que fazem menção os antigos (cc). Entende o Snr. Thiersch que as z3 maculae pingues tuií,' que agradavão a alguns , se oppõem a zzz maculis se cir- cumagentibtis — , e são por isso lugares com cores que não se reflecre:-n , ou sem cambiante, e por consequência de cores mais fixas , e mais opacas ; e que estas maa- chás mostrão huma côr de fogo escuro {dd), : '., Parece-me que Z5 maculae pingues sr são simplesmen-- te manchas maiores. Pinguis significa no sentido próprio , como todos sabem y gordo , e desta significação se derivarão diversas accepçóes translatas da mesma palavra , segundo os di- versos eflfeitos que podia produzir a gordura , e que con- stituirão as relações que se observarão entre o sentido próprio, e o metaphorico. Consequentemente: Porque as pessoas gordas são de coounucn obesas ^ 3b ocig o3i5a muri'b tbiicr; - ,L '.'i.rr^ú ííiíutVb 'mÚ-j!-! ■■'.]{)b tt sant qui resulte de cette épaisseur, Haiiy Traite de'MIn6raIogie,'lX2," p, 458. Veja-se desde p. 456. (r) Nesta Memoria p. 74. :;,;:..-< cxv(< <■« (aa) Veja-se a p. 118 desta Memoria, e a p.' 116. ♦. ^ . , (ii) Veja-se a p. 118 desta Memoria. (ec) A Aromatites, e a Myrrhites. Veja-se a nota 204, e a p. ÍOO desta Memoria. (dd) Offenbar werde.n die macitlae pingues j on welcken Eiuige Wohlgefalleii hiUtcn , den 77iaculis se circumjgeitíibus euígegetigesetzt , uiid sind nlso hunlc Stellai ohm Rrjkx óder fVechsel , also vori f éster wid stumpfer Farbe. Memoria do Snr. Thiersch , p. 479 , §6. ferner diè maculas pingues, was ouf duiikelgiáheHde Fárbung hinweiset, ibid. p. 493. •.;,'.: Dimehcn aba- lásset die Erxvdhnung der pingues macula^ iaiftme\GàU tu)ig mit duukier Fárbung schliessen: ibidsi av. ,;íí'. ij1;í\uj i.j oíí* ii \> DAsSciBHCIASDELtSBOi. J^f e de movimentos tardios , sérvio pinguif para designar hum engenho embotado , rombo , sem acumen {ee). Porque os animaes gordos são mais abundantes de suecos nutrientes, se disse que os campos mais férteis erão -• pingues — , de que ha tantos exemplos que não he ne- cessário cita-los. Porque o que he gordo tem mais grossura , e he menos delicado , deo-se p nome de pinguei aos tecidos de lã mais fortes e grosseiros {ff"). Porque tudo o que he gordo he mais volumoso, se chamou ao cabcllo muito abundante pinguissima coma (gg)» E porque (dando mais latitude i accepção antece- dente) o que he gordo he maior , se empregou pinguif para significar o augmento de grandeza , o que avulta , o que he maior , applicando este termo á chamma (bb) , ás palavras («) , e no modo adverbial pinguiter^ pinguius , T. XII. P. II. 19 em (ee) hac prece te oro , FÍDgue pecus domino fadas , et cetera , praetcr Iiigeuium. Horácio Satir. L. 2, Satir. 6 , v. 13, Ed. de Doeringi T. 2, p. 207; e na nota diz o Commeotador = ludit in você pingue > jtrimum proprie de corpore , deiíule per translcrtionem de ingcnio posita ; iii^^enium pingue est tardum, hebes et ineptutn , quia corpus queque pin- gue tardwn et rebus agendis ineptum est. zr Pingue sed itigeitium mamit uocituraqiie , ut ante, Rursus erant domino stolidae praecoraia mentis. Ovid. Metam. L. II, Fab. IV, e 148. Ed. BurmaDni, T. 2, p. 757 ete. (ff) Pingues aliquaiulo laccrnas. Juvenal Satir. 9. v. 28. Ed. Ruperti, T. 1, p. 180. Hanc tibi Sequanicae pinguem textricis alumitam , Quae Lacedotmoniurn barbara uometi habet. Sórdida sed gélido itoii aspenienda Decembri , Dona peregrinam mittimus endromida. JMarcIal. Epigr. L. 4 , Epigr. 19, v. I e seguintes. Ed. Smids p. IS4. Hieme qiuiteritis cwn pingui toga twiicis .... muniebatur. Suetonio. Octavius, cap. 82. Ed. de Baumgarten-Crusias. T. I, p. 343. (,gg) Insignes pinguissima coma et excellentissimo cultu pueri. Sue- touio. Nero , cap. 20 , Ed. de Baumgarteu-Crusius . T. 2 , p. 1 1 1 , e Veja-se T. 3 , j). 595. (Iik) Da mihi tura, pucr, \nog1\e3 facientia flammas. Ovidio Trist. L. 5. Elegias.', V. 11. Lkl. Burmanni , T. 3, p. 6(J9. («) Quare qui a Latiiãs exigit illam gratiam scrmonis Attici , det 14Í MemokiaS da Academía Real em maior porção, com mais grandeza, «Ã^r/»/, largius (Jl)") e neste sentido usou Plinio de pingues. > Por tanto parece-mc que maculae pingues nãO- quer dizer , em contraposição a maculis circmnagentibus ^ lugares com cores que não se reflectem , e de cores mais fixas « mais opacas, o que, até certo ponto, contradiz a ideâ dé gostarem alguns mais das maculae pingues ; porque consistindo a belleza dos murrhinos na variedade das cô* res ; não he natural que se estimassem mais os que me» nos tinhão essa variedade , e que nâo apresentavâo os visos brilhantes e acatasolados , que aformoseavão os oú* tros. E também esta opinião encontra a tlieoria expendi- da acerca da. causa do cambiante da pedra murrhina qu9 para se realizar não está sugeito á maior ou menor in-* tensidade das cores. Para concordar o verso de Propercio Murreaque in Parthis pocula coda focls , cõm a descri pção de Plinio reproduz o Snr. Thiersch a distincção, já feita por outros, entre murrhinos verdadei- ros, e murrhinos falsos, sendo verdadeiros oS que de- screve Plinio , c falsos os de Propercio ; e applica aos murrhinos falsos o fit et alhutn et murrhtnum de Pli- nio (mm). O empenho em sustentar a opinião de Propercio produzlo esta distincção que (em quanto a mim) nâo ex« iste , e que Plinio não menciona. Expuz na minha Me- moria o que julguei opportuno, tanto a respeito do lu- gar de Propercio , como do de Plinio («?;) ; e o Snr. Thi. Tíií/ií in eloqueitdo eandcm jucunditaiem , et parem copiam, Quod si ne- ^atum cst , seiíteulitis aptabimus , ncc rei um ttimiam tanálatem , ut non dicam pinguioribiis, foriioribus certe verbis miscebimus , iie virtus utru' ouepere.at ipsa coiifasione. (juiutiliaiio. Instit. Orat. L, 12, cap. JO , ^ aó , i£d. Gesiieri , Gottiiigíie 173íi, p. G2C. (II) Vejão-se os Oicciunarios de Gesnero c de Forcelliai. (mm) Slemoria do Snr. Thiersch p. 496 e «eguintes. (nn) I^esta Memoria p. 101 y e p,9i. J- DAS SciEMCIAS DeLISBOA. 147 Thicrsch me suggcre mais hum fundamento para nãd admitrir a distincção de murrhinos falsos e verdadeiros'. Diz elle =: <« Podia ter lugar huma pergunta : Como he »» que Propercio , devendo já conhecer os verdadeiros »> murrhinos, falia dos falsificados cm hum passo em que » se tratava de indicar as cousas melhores que dos Pai- »» zes Estrangeiros vinhao para Roma? B não se dcduZ 5» antes do contheudo do mesmo passo quê elle mencio- j» na as qualidades mais excellentes, e que apparecendo » alli os murrhinos como cocta ^ estes erao os verdadeí^ a» ros, e que o vidro murrhino era unicamente huma co- >» pia fraca dellcs {oo) ? =; »» E eu farei tnais outra per- gunta: iv.s-.i •■.•■> Como he que Propercio , que foi o primeiro que fallou em vasos murrhinos, e que era tão próximo á sua introducção em Roma , fiillou dos falsos e não dos ver- dadeiros ? Já no tempo de Propercio era tão conhecida a substancia murrhina que se sabia adulterar ; e já erao tão communs os vasos murrhinos falsos ? A resposta do Snr. Thiersch he que s: « não ha necessidade de tomar » precisamente aquella como a espécie mais preciosa dos » murrhinos. São presentes que a alcoviteira promette a » huma rapariga sem expericncia a quem quer alliciar, > estofas de purpura, vestidos da Ilha de Coz, urnas •yt 'de Thtíbas , e taças murrhinas dos fornos Parthicos ; e }) sé os verdadeiros murrhinos tinhão aquelles enormes 'j preços quê nós sabemos por ^linio , com difficuldade 19 ii x-pp^ní (00) ttoch liesse sích die Fragc eriíchen: wia Pioperíiiis dazu gehnm. meu , da ihm die achtcn Muifúien docli hekamtt ícyn mussteii, der uuVt- chteii in einer Stellc zu gedenkfii, in welcher dat; Beste, was die Frem- "de nach Rom licfert, soll bezeichnet werden ^ Jst iiicht vielmehr au/t die- sem Inhalt íeiíier Stelle íà erschen, da^s er das Vorzúglichste dor Gat- tung erwahnt und dass nho', da hicr die Murrinen ais coda ersclieiíien , diese gerade die beslen nlso die /ichten waren , vou welchen das murrinis- cite Glas nuf eine sc/iiadche Náchiiídung gal ? Memoria do Sur. Tbierscli, p. SOI. J48 Me mortas da Academia Real > podião csperar-se como presentes d'lium amante na- » quella occasião , ao mesmo tempo que , por maneira •» nenhuma, podiao ser dcllcs excluídos os miirrina cecta y » cm razão da sua belleza c valor, antes figuravao bem » a par d'hum vestido novo de Tyro , ou de Coi (/)/)). ;= » O assumpto da Elegia de Propercio , cm t]ue vem o verso que tanto tem dado que fazer , lie invectivar contra huma velha feiticeira e alcoviteira, que tinha mor- rido, e de quem o Poeta tinha tambcm ra/ões de quei- xa; e o passo por inteiro hc o seguinte : Consuliiitque striges nostro de satiguiuey et iti me Hippomanes foetae semina legit eqtiae , Exornabat opus verbis , ceii b/anda pererret ^ Saxosamque terat sedula Ijmpha viam : !í„"j Si te Eoa , Doraxanium , jnvat áurea ripa , Et quae sub Tyria concha superbit aqua : Eurypylisque placet Coae textura Minervae ; Sectaque ab Âttalicis putria signa toris : Seií qtiae palmiferae mittunt venalia Thebae j .,.,^ Murreaque in Partbis pocula cocta focis '. Sperne fidem y provolve deos , mendacia vincant^ Frange et damnosae jura pudicitiae {qq). imuá < Trata-se aqui de prometter a huma mulher, para a se" . :..:.^:.. < du-' (pp) Indess íst kàne Nothwendigkeit , dort gcrade die edelstc Gat- twig der Muirinen niizuiíehmen. Es sind Gaben, wc/che die Kupplerin dcm uiterfakreitcH MHgdlein verspricht , dds sie vcrlocken wiU , l'urpm:r stoffe, Coische Gewaiidc, Urneii aus Theheii uml murrinische Becher aiis pàrthischen Oefcu.nml wareu die Vtchten Murriíien voiijeiíen enormen Prei' sen , welche wir aus Ptiuius kèiinen , so konutcn sie kaitm bei solcher Ge- 'legenlieit ah Liebcsgahe erwarUt werdcn , und die murrina cocta zumal nucli hei iluteii Sciwitkeit und IVerth keincswcgs ausgeschlosscií sind, stehenganz fuglich neben eiiiem neuen Klcide ata Tijrus oder Cos. Ibid. p. 502. (qq) Propercio , L. 4, Eleg. 5, v. 17 a 20, EcJ. de Kaiap^J^,J^^l, p.'366. ..>........ .lOd .q DAS SciEKCiAs DE Lis BO Aí "'' 149 duzir, tudo quanto ha de mais precioso: ouro, pQrpu* ra , vestidos esquisitos e custosos, as figuras dos leitos Attalicos, vasos de vidro fabricados em Thebas, que são os toretimata Nili de Marcial (fr); e parcce-mc por con" sequencia que não podião escolher-se para acompanhai tantos ojjjectos do luxo mais ostentoso os vasos murrhi- nos falsos. O Snr. Thiersch julgará se a sua resposta satisfaz completamente á sua pergunta , á minha , e ás reflexões que tenho feito sobre este passo de Propercio. Termina o Snr. Thiersch a sua Memoria inculcan- do como murrhinos os fragmentos de dois vasos de que apresenta a figura (Estampa N. 3) ; porém pertencendo á classe dos murrhinos falsos , p. ^o^ a S'^9- Como eu não admitto semelhante classe de murrhi- nos , farei huma única observação a este respeito. Nem Plinio , nem nenhum Author da antiguidade indicarão nos vasos murrhinos ornato algum que cubris- se , ou de qualquer modo occupasse mais ou menos , a sua superfície ; antes pelo contrario estes ornatos enco- bririão a belleza dos vasos que consistia na variedade das cores , como se colhe de todos os passos dos Au- thores Clássicos produzidos nesta Memoria ; e por isso os sábios decidirão onde haverá mais similhança com a matéria dos vasos murrhinos , se na substancia dos ar- tefactos das estampas i e 2 , ou na da estampa 3 , que mostra, como se vê da mesma estampa, e o Snr. Thiersch o declara, dois fragmentos d'huma massa de fundo azul sobre que assenta, em relevo, outra massa branca em que se abrirão figuras } E se devendo os artefactos com que se pretende arremedar os productos verdadeiros, chegar-se quanto for possivel á natureza , huma massa de fundo azul tem alguma parecença com a pedra mur- rhi- (rr) Tolle puer cálices tepidique toreumata Nili, L. IJ, Epigr. 12, V. I , Ed. de Smids, p. 452: os vasos de vidro que do Egj'pto vi- nhuo para Koma. i;o Memorias DA Academia RíAi. rhina, cujo fundo (mesmo segundo a hypothese do Snrj Thiersch) era vermelho e branco. A mim parece-me que estes 'fragmentos pertencerão a vasos de barro ou de vidro sobre cuja superficie se es- tendeo huma camada de massa branca , que pode com- pararse , até certo ponto , á de que se fazem os cama- fcos , e que neila se cortarão as nguras. [línia l sb: b iwv . 02BV fob f..\il.vd £ oãrind ob KC2 '" "" ' u moo i:5n£fi!irriÍ8 zrtm fciavEf! 'abnd .:;b aoidc?. ;■ •jt. ^c• ■ ■ ■ j i.n;«3m tb âv S2 omo3 ,BiJ2om l;jii; ' hpvjl 3Ú n. ■ ' O ,E1BÍD3b O- m-j Eoneid taatíii :■ i..» - .»-).:_,>> 3iip sido? níOD 7V'í'y''\iii!i 2o obn5vr. . í zciugâ otinde oz 3t'p _v íiojouboitj 1 nsiiG sfjnuraiq 02 oup if -li , s"T;i<:r,n b í-j .•! oJ!ici.p ' "■ ^ DAS SciENCIAS DE LiSBOA. Xft EXPLICAÇÃO DAS ESTAMPAS. Estampa i.' A face B he op posta á face A. A face C, e a que lhe he opposta, sâo idênticas, e fi* cão lateraes ás faces A t B, aa são jacas. bb representão o tecido alveolar. ccc são as verrttcaey non eminentes^ sed ut in corpore etiatn plerumque , sessiles. Estampa 2." A representa a urna vista por hum lado. B representa o outro lado da urna com as maculae pin- gues. As manchas brancas e amarellas, que estão defronte das Icttras a c by representão o eflfeito da luz cahindo so- bre a supcrficic lisa da urna. Estampa 3." ^ e B sâo dois fragmentos de vasos. b mostra a fractura dos dois fragmentos, em que se vem claramente as duas massas azul e branca sobrepostas huma a outra. S'J' DAS ScrEWCIAS DE LiSBOA. ORGANOGENIE GÉNÉRALE. PAR MR. IS[DORE HYACINTHE MAIRE. D. M, P. Peit Je philosophie mène a Vathehme, Beaiicotip Je flúloiophie raminc à la Jiviniié. BACON. P, lacez-vous par la pensée hors de Ia planete que nous habitons , dans uii point que jc supposerai Ic néant , ou- bliez un instant que vous êtes dépendant de cette vaste nature qui vous environne , soyez pJus qu'un homme, et jetez un coup d'oeil analytíque sur ce point inaperçu dans Tespace, oíi le sort rous a placé. Dans la croúte inéga- lement dechirée , qui revet la surfacc du globe , vous remarquerez bientôt deux états opposés ; ici la matièie vous paraitra immobilc , permanente , inévitablement at- tachée aux ossemens primitifs de la Sphère;. là vous la verrez mobile, éphémcrè roulant sur elle mcme , douée en un mot demouvement locomotcur. Approchez, et vous reconnâitrez bientôt que cette mobilité est communiquée, qu'elle dépend d'une torce dMmpulsion qui ne lui appar- rient pas cn propre ; ou qu'clle est inliérente à la forme elle même , qu'eii un raot cette maticre semble rcnfer- mer en elle Tagcnt qui la fait mouvoir. Approchez en- core , et le corps qui vous avoit semblé tout-i tait im- 1 ii mo- 4 Memorias daAcademiaReal mobile, stationnaire , será soumis à des lois immuablcs, primitives , qui Ic feront graviter inccssamment vcrs le centre de la terre , qui écarteront ou qui rapprochcront succcssivement ses élémcnts constituants , qui améneront à la longue ces mutations que des siècles d'observ;uion suiUraient à peine à vous dévoiler. Dèjà vous poiívcz ti- rer cette conclusion : la mobilité est le caractere general de la matiòre , mais le mouvcment , dèjà vous Tavcz dc- duit aussi est inhérent ou est communiqué, c'est à dire que certaines sections de la matière qu'on a nomméc organisée , jouissent d'un mouvement direct qui Ics af- franchit plus ou moins des lois générales auxquelles touc est soumis. Mais cette force inhércnte a' la forme orga- nisée esc elle diíFérente de celles qui regissent le mon- de entier? ou la puissance souvcraine s'est elle bornée à la création d'une loi générale qu'elle aurait modifiée sui- vant les formes ? Telles sont les hautes questions que j'ose examiner', et sur Ics quelles j'appellc toute votre attention. Si la nature a donné une si haute portée à notre intelligence , c'er3Ít sans doute , pour qu'il nous fut per- rais d'mterroger sa puissance merveilleuse. L'animal leve quelqucfois son regard stupidc vers les cieux-, mais Thom- me seul iiitcrroge , contemple , admire , ces millions de mondes qui tourbillonnent dans Tespace; mesure leur or- bite, calcule leurs phâses , prêvoit leurs rd/olutions , et fier de sa puissance se complait dans la grandeur de son génie. Pour le philosophe , dit Mr. Gcorgct « toutes les >j opérations de la nature sont une, en ce scns , que les >í phénomènes se rapprochent , se ressemblent, se sui- >i vent, SC lient, s'enchainent, que rien ne reste isole; » ii considere du même oeil , et commc soumis à d'e- >> gjles lois , ces astres innombraies qui roulent dans 1* >> espace , ce grain de sable , cette plante qui vêgète >> immobile, et ce superbe coursicr ; cette fourmi et cette in- nAsSciENciAs DE Lisboa. j" '» iiitclligence qui se placc fièrement au hauf de 1'echel- » le des êtrcs, Ccst toujours de la matière et du mou- '> vemeiít ; ce ne sont que des éléinents divers reunis » en des quantités diverses , çt diyerses manieres , qui >» cn dcrnicrc analysc donnent lialssance à ces variations, j> à CCS modifications , à ces differences des existences « infinics qui pcuplent l'univers. i> ■. v.'i Mes prétentions ne sont pas asscz puisôantes , mon intclligcncc n'est pas assez vaste pour cmbrasser à la fois tout cc myst(írieux cnsemble. Je me bornerai dans ce travail a l'examcn des questions suivantes. I." Qiiellcs soiir Ics formes diverses de la matière. 1.** qucl est son moJc de dcveloppcment ou son Organo- genic ( * ). 3." qucllcs sont Ics lois qui y président. Qiiclqueá soient les opinions qui l'on adopte sur la formation prcmicrc de notrc globe; que l'on pariage cel- Ic des Neptunistes avec le sage Thalés de Miler, que séduit par Téloquence entrainante de BufFon ou par le profond savoir de Lsibnitz, on admete le Systême des Vulcaiiistes , que Ton croie aux atômes de Democrite et de Descartes; que la lyre d'Orphée, chantant le Dieu de la nature , que Timniortel Platon racontant les oeuvres de la création , viennent enchainer notre foi ; que Ton accorde Ic sentimcnt à tout comme Kcpler et Campa- nclla, ou que l'on adm:tte la gravitation universellc de Newton , il n'on demcure pas moins prouve que long tcms avant que 1'hommk; eat eu la terre en héritage, cellc-ci avait éré le patri moine des végetaux et des animaux. Toutes les fouilles nous montrcnt des animaux ma- rins, desfeuilles d'ardoises nous présentcnt denombreuses imprcssions de végetaux, et d'immenses banes de houille , contieniient encore d'enormes trones d*arbres. Du sein des loches nous arraclions tous Ics jours des coquilles mi- cros- (*) Ní«!ssance des instrumciits de vie , de org-anoa et de geuesú. 6 * Memorias da Academia Real croscopiques et (l'enormes rcptiles. Lcs Mastodontes, Ics PalcEtherium , ces cspcces perducs ou rcleguècs cn pctit nombre dans un coin ignore du globc , sonc là dcs té- moignages parlans plus facilcs encore à traduire que ccs hiéroglyphes mysterieux des peuples ancicns. Un Ingenicur français a trouvé au delá de 26 milli- ards, de petits testaccs et d'ammonites, dans une toise cube de mame. Cctte terre elle même semble un vaste cimetière d'animaux niarins qui surpassent en nombre ccux dccesim- nienscs banes de coraux et de madrepores , qui de nos jours s'elevent du fond de Tocéan pacifique, et dont les prodigieuses générations semblent menacer rempíre des iners d'un cnvahissement complet ? Si toutes ces dépoiíilles fossiles, si ces archives de la nature, comme le dit Mr. Virey, et dont aucune page ne rappele le souvenir de Thomme, nous crient sans ces- se que les végétaux et les animaux ont eu avant nous le sceptre du monde, ils nqus témoignent aussi qu'iis n'ont pas toujours joui en paix des delices de cet Éden qu'ont chanté Ovide et Milton. Nous avons mille prcuves des bouleversements qu'a éprouvcs notre planète , de même que nous avons mille preuves que ce n'cst qu'apròs plusieurs Cataclysmes que le preniier homme a paru sur la terre , comme si la na- ture n'eut pu produire notre espèce qu'après d'aíFrcuses convulsions. Des animaux inferieurs nous ont precedes com- me la mousse precede le chène. Mr. Virey croit que Ton peut comptcr j périodes Organogéiiiques pour le globe, La i."acompris sans doute, dit il, des muisissu- res , des algues , des champignons éphémères etc. , la 2,"-""= dcs coquiUagcs , des nousses des léchcns, Ia 3.''"" a vu paraitre des animaux et des plantes plus éléves a sexes separes , la 4.^"'^ de grands végétaux et animaux , enfin la j.""'a été marquée par Thomme , le Chefe d'oeuvre de Ia cròation. Veuillez lire dans le grand livre dé la nature, et vous y verrez que les prcmièrcs pages de bAS SfcÍEITClAS DÊ LiStOA. 7 dc Ia vie sont aussi Jes plus simples : point de passage brusque dans ses oeuvres, tout y est gradue; l'amianthe cc Tasbcste scmblenc dejá décelér quelques traces de tissus organisés , les coraux figurent dcs arbustes , Ic zoophytè rcssemblc à la plante, Tannélide à l'insccte , le mollus- tjuc au crustacé , cclui ci au poisson, commc le quadru- mane rcsscmble au bimine. Voyez d'une autre part nos torces viergcs, ellcS ont commencé par dés mousses, des herbes, dcs buissoiis , dcs arbustes, des chèncs, des pal- micrs, dcs cèdres ces géans du règne vegetal ! eh bien, aprcs que les élémens organiques nécessaires à ces im- mcnses productions soiK épuisés, tout disparait, le chaoa resrciid sou empirc, oU plutôt la vie va se multiplicr de nouveau sous de nouvelles formes ; car la vie nait de la mort ; le proprc de celle là est d'organiser, de compli- quer et 101*$ do la disgregation dcs molécules ftaguères douces de la vie, il reste de ces sortes d'aggrégations organisablcs , d'autant plus avancées que le corps orga- nisç etait plus élevé. S'il eri est ainsi du regne vegetal, pourquoi n'en serait il pas de même des animaux ? Les rcvolutions scculaires n'ont ellcs pas amené aussi cette organisation si cômpliquée de nos jours ? qui rcpondra que nous ne sommes pas déjà arrivés à la période de décroissance qui doit fiiir par une refonte générale dans le vaste réscrvoir de Ia nature ? Si le tems des Géans n'cst pas tout-à-fait fabulaire , si le bouclicr d^Achillc , si Tare d'Ulysse , si les armures romaines né sont pas toutcs chimòres, on pourra ajoutcr qaelque foi à cette décroissance , non du nombre , non de la force absolue, mais de la force relative des espèces. Pourquoi un nou- veau délugc non partiel comme ceux d'Ogygòs ou de Dcu- calion, mais general , comme celui qui nous a laissé tant de soTavenirs historiques , ne viendrait-il pas rajeunir >» 55 cctto terre viellie qui a cesse de manifester sa fécon- >» dite ? »> commc le disait Lucrèce. De même que nous voyons souJaineuícnt éclatcr ces orages qui ne boulevcr-* senc 8 Memobias da. Academia Real sent un instant Ics élcmens que pour en mieux asseoir rharmonic. La mort, ditVircy, dont j'aime à citer Ics paroles eloquentes, cst la fonction cxcrémentitiellc de la natuie. Ccst une vie cachéc, dont rorganisation cst le réveil ; mourir c'est vivrc sous d'aiitres figures ; rien ne mcurt jamais. L'homme n'a point assiste sans doute à la plupart de ces oragcs, dont je viens de tracer une esquisse rapi* de. Des témoignages historiques géologiques sont les seuls qu'il puisse invoquer. Mais s'il n'a pas pu siiivre de 1' oeil ces grands révolutions ; tous Ics jours au moins , il pcut suivre pas á pas la route mystérieuse de la nature dans la gradation hiérarchique et non interrompuc de ses perfections, de la pierre à la plante, de la plante à Ta- nimal de cclui ci à Thommc. Prcnons une partie dans le grand tout : voyons de nos jours ce qui se passe dans un microcosme, une marc , un marais encore inhabité: fouillons cctte fange quidoit être bientot le berceau de tout un monde, et mettons à nu les élcmens de vie de cette boue organisable que le prin- tems va développer. Muller avait dcja' remarque que ce n'est qu'en au- tomne que Ics infusoires paraisscnt dans les eaux stagnan- tes , comme ce n'est qu' à cctte cpoque qu'ellcs sont le plus malfaisantes. Le printems estconsacré au dévelop- pement des matières organisables végétales , sortes de couenncs qui revètenr la surface des étangs, moisissu- rcs, Byssus , Conferves , etc. ces êtres vivent un été, et sont remplacés en automne par des matières organisa- bles animales , des monades excessivement petitcs, s'il cn faut 40,000 comme Tassure Lewcnhoec , pour éga- ler un grain de sable , des Protcs , des Baccillaircs, Hy- dres , Naiadcs , Rotifères etc. les Radiaires qui leur suc- ccdcnt vivent et meurcnt altcrnativcmcnt, mais l'hu- miis , produit de cette vastc désassimilation créc des or- ganisations végétales et animales plus complexes. Déjà les ■ DAS SciENCIAS DE LiSBOA. 9 cryptogames à organisation doutcuse, qui changcaicnt uii marais en un tapis de vcidure ; ce sont des phanéroga- mes distincts, dont Ia rige délicatc encore tantôt s'élan* ce vcrs les cicui, tantôt se traine en serpentant à la sur- facc du cbaque desséché , le changcnt en une rianté prairic , coupéc de joncs, de glayeuls élégans et de mil* licrs de gramensr lei cc sont de frèles arbustos qui sem- blciu essayer Icurs forces ; la de jeuncs saules , de flexi- blcs osiers dessinent des veines d'cau , ou se sont refu- gies ceux des. animaux que içur organisation a faite pouf cct élémcnt. Mais la loi qui preside à Torganogcnic ani- malc n'est pas non plus restcc en arricre , aux Zooph)'- tcs ont succcdé des myriades d'insectes, ces protées du regne animal , qui bourdonnent au sein des ficurs , ou ils viennent à Icur tour deminder une part dé vie. Ce sont des animaux à sang froid, des Batrâciens qui croas* sent dans la fange , des reptiles vénimeux qui rampent sous Ics fleurs, dans cc marais ou ils ont recu l'existen- ce et ou ils perpétueront leur espèce tant que la nature de la localité leur conviendra. Ge sont des Annélides, des Grustacés, des Vertébrés divers qui reclament aiissi Jeur place dans le microcosmo. Mais déjà la magie de la naturé a converti la prairie en épais buissons auxquels vont succéder les domi- nateurs du règnc. Les clémcns primitifs de la vie bnt disparu ou se sont dissemines au moins, les élémens de mort pour les classes é!cvécs n'y rcgncnt plus, car remarquons que les causes de vie pour les animaux inféricurs, sont souvcnt des causes de mort pour nous ; cc qui tend encore à militer en faveur de la gradation hicrarchique des voies de Ia nature , qui a voulu , que cc qui convint à la nu- tririon et, au développcment de ceux là fut souvent un poison pour les espòces élevécs. Admirons encore sa bon- té qui nous indique la voie Ia plus puissante d'assainis. sement des marais! que. fait Thommc si non d'imiter au- Tom. XII. Part. 11. a tant IO MemokiasdaAcademiaRkal tant que ses faibles moyens le lui permcttent , les im- posantes Icçons qu'il reçoit de sa tnòre ! Nous devons être convaincus maintenant de cette vé- ritc, quoiqu'il en coute à notrc orgucil d'en faire laveu ; que la marche de la nature a constament été graduel- le , qu'elle a sans cesse progressé du simple au com- posé , que Thonime son dernier produit est le plus par- fait sans doute, mais qu'il n'est séparé de 1'animal le plus élevé que de la distance d'uii échcion. Prenez un monstre , un fotus , un nègre d'Afrique , Thomme enfin dont le jeu des fonctions intellectuelles será momenta- nément troublé, vous serez quelquefois force de descen- dre plus d'un dégré de Techelle pour trouver son analo- gue. Suivez la série des développeraens de I'oeuf humain j Tous ne trouverez d'abord qu'unc masse gélatineuse or-> ganisable , ( amorphe ) puis un état analogue au Radiai- re, au mollusque, puis réncéphale en particulier revêtira les caracteres anatomiques de celui du poisson , du re- ptile , de Toiseau , et enfin du mammifère : arrêtez cet cncéphale à Pune de ces phâses passagères , et vous au- rez une (i) monstruosité , vous en ferez un animal infe- rieur ; donnez des nerfs à une plante, vous en ferez un animal. Peut-être devrions nous maintenant étudier les lois qu! président à Tentretien de ce monde que nous avons crcé de la fange, suivre sa période de décroissance et le faire rentrer dans cette boue organisable dont nous Tavions tire : mais je crois plus nécessaire d'etudier ra- pidcment les formes diverses sous les quelles la matiè- re s'offre à nous , et chemin faisant les lois qui les ré- gissent , et qui leur impriment cette mobilité que nous avons vu ctre Tun des caracteres les plus tranches de la matière. Depuis le philosophe de Stagyre , la nature etaic di- (1) S«rie«; Recbercbes eur les verlébrés. DAS SciENCIAS DeLtSBOA. II dii^isòe en trois rcgnes ; Ic rems a fait justice de cette classifícation. La tnatière a éié de nos jours ramenéc â deiix divisions seulcmenc : corps organiqucs et corps inor* g.iiiiques ou anorganiqucs comme les appelait Bcclart. Les premiers ont été subdiviscs cn végctaux et en ani- niaux. Ou sent tous les jours le vide de cette nouvelle distribution , il est dos corps en effet , ccux qu'on nom- me Zaophytes , les spongiaires, les agastraires entre-au- trcs, qui ne rentrent pas naturcllement dans Tun ou dans Tautre de ces dcux grands embranchemcns. Dans la classification que nous allons proposer, cet inconvénient disparaitra , et ces êtres qui n'ont souvent d'autres caracteres de ranimalité , qu*une contractilité ou mieux, une irritabilité parfois douteuse encore, viendronC naturellemcnt prendre une place déterminée prés de sub- stanccs animales ou végçtales qui seront à leur unis- son d*organisation, et dont le nombre, comme on va le voir , ne laisse pas que d'être encore assez considerable. Une molécule peut-être vivante et n'etre pas orga- nisée : ainsi le sang est vivanr, ce sont des globules ani- mes ; l'exsudâtion qui va former une fausse membrane est vivante mais elle n'cst pas encore organisée ; Tovule , le sperme , sont vivants mais non organisés propremenc dft. Cest la modificatioti continue qu'amène la pcrsistan- ce de la vie qui determine Torganisation. Cest cette for- ce créatrice inconnue qui forme à l*aide d'un mouve- ment intestin contínu , des vaisseaux pour conduire les fluides nutri ti fs et peut-être avant des molécules nerveu- ses qui en solliclcent Taction , le besoin. Car nous vef- rons plus tard que ces deux grands arbres vasculaires et nerveux sont les premiers à se montrer dans la matière que uous nommons Organisable. (*) 2 ii Ces (1) Cest aussi de rorganogéiiie de ces deux syStèmcs, que oous nous occupons pius spécialemeut daus ce njémoire. 12 Memorias nA Acadimia Real Ce priftcipe de vie , cct clément crcatcur qui dé- vcloppe 1'orgaiiisation, disons le a priori, a la ptus gran- de ai>alogic avec ce graiid motcur physiquc nomíBc íle- etricité , mais iJ n'est pas tout lui , on ne peut pas fai- re Ia vie avec l'electricité physique , mais on peut la siipplécr forr souvcnt. NoQs croyons donc qu'il faudrair reconnaitre trois étdts ou trois formes de la maticre , la forme Inorgani- sable, la forme Organisable, et la forme Organisée. Li 1."^ ne pouvant jamais jouir de la vie, la 2.*"* susce* ptible de la recevoir, et la 3.*'"^ en jouissant dans toute sa plenitude. Nous allons passer en revue ces trois formes di- verses, en nous arrctant spécialcment à la matière orga- nisable ; mais avant d'entrer dans ces détails, je sens le iesoin de revenir sur un sujet qui me séduit peut-âtre tí mon insçu par sa facilit<í hypothétique , mais que je rágardc comme importanr , en ce qu'il tend a établir une unité de composition dans le grand osuvrc de Ia j)ature. Qu'on (t\c pardonne à moi , si faible, de vouloir prendre un vol si élevé ; c'eSt une des bizarreries de mOn organisation , de s'occuper de sujets' ardus, par iMX mêmes, II n'est pas de vide dans la nature ; il y a toujours quelque chose dans Tespace j il n'y a jamais qu'absen- ce d'age.us percevables par nos sens. Dáns le vide limite, que nous cnéons avec nos machitics pneumatiques , il y a toujours des fluidcs in- co<2rG>bles que nous fie pouvons cnipècher d'y pénòtrer. ■DàfiS res:pace infini oíi rouleot les mondes , au dela de ■ces 12 ou 20 lieu<:s d'âtmGsphère qui nous enceint , jl y a encore des fluides incoercibles qui se croisent daAS mille directiens , et forment à Tentour des globcs un vaste réscau lumineux., dlectrique , calorifique, psy- chíque si Ton veut , ocean d'ondes incoerdblcs ou se t>crcent Ics mondes. DAS SciENciAs BE Lisboa. 13 La raatière sous ses trais formes et Ics lois qu,i la réglssenr , causes prernièrcs , agçns mctaphysiqucs qui h gouvcrnent , constituçnt ce grand tout qu'on nomme 1' univers. Ces agcns cux ii'(êmes nc sont probablement au» três qu'une nouvelle forme de la matjère, au une subdi- vision de ccUe-ci , três répandue , généralc , mais invisi- ble , inaprcciablc autrement que par ses résultats , et soumisc elle mcme à cc grand moteur, à ce grand et su- blime architecte , ou s'arrctc notrc invcstigation. Les fluides impondcrables a t'on dit sont dcs corps, parcc qu'ils cèdent à ruttraction. Saiis nous arrèter à cettc définition qui se coiitredit par elle mcme, nous nomnions maticrc , ou corps , l'ctcndue limiréc ; et les lois qui la rcgissent, Teteriduç non limitée , non pondéra- ble ) non coercible. Les Caracteres de la matière sont rimpénétrabili- té d'abord, puis la divisibilité, La matière est divjsible à l'if)fini : Ufi grain de carr min offre 3 millions de príncipe colorant ; un grain d'or 2 millions ; une once de ce metal tirée au laminoir don- nc un fil capillaire de 444 lieues, qui divisce en milli- mètrcs donne 14 billions de partics sensibles ; un milli- mctrc de mica pcut-être reduit en zjiijf iamcs isolées qui oílrent uiic ténuité égale à 43 millionièmes de milli- mètre. (i) * La voic lactéc se compose d'un nombre infini >» d'étoiles brillantcs qui semblent se confondre, et dont j» chacune est au moins éloignée de l'autre de 3 trillions >» 244 milliards de lieues , tandis que les nébuleuses sont >» encore sépardes entre-elles par des intcrvalies incom- » parablement plus grands »> Herschell assure que la- lumière de ces étoiles a mis plus de deux millions d'a.n- née (1) La Place. 14 Memorias da Academia Real neé, à parvcnir jusqu'à nous ; (i) ce qui Icssupposc (^loi- gnées de Ia rcrre (la lumicic parcourant 72,000 par se- conde) d'au moins 4 quintillions, 5:41 quatrillions, 184 tril* lions de licues parcourant ainsi Ics 180° d'un pôle á l' autre et partant de Ia i'" étoilc du 1" groupe à la der- nicre du dcrnicr groupe ; quclle será la série de chiffrcs propre à nous fairc apprécier la distance de ces deux as- Tres , et rinfiniment petit mortel , qui habite un si petit point dans la nature, que Texistencc de son globe pour- jait presque ctre mise en doute , se croit , et se dit quelquc chose ! ! ! ne sommes nous pas vraiment tentes de nous moqucr de nous mêmcs, pauvres atômes, pauvres Hionadcs microscopiques que nous sommes ! . . . . Sans fairc subir aucune altération mécanique à la ma- tière organisife, nous voyons une progression croissante de •volume de cette matière verte qui revêt les allées húmidos, de cctte masse glaireuse non coloriée encore qui nage dans une eau stagnante, de ce lichen qui se confond avec le ro- cher au sein du quel il rencontre encore des élcmens organi- snbics ; jusqu'à ces vieux sapins que les tourbillons et les nvalanches ont respectés ces puissants Cèdres que le tems a oublié au miiieu des forêts , ces enormes Baobás qui scmblent des monstres végétaux ante Diluviens. Nous retrouvons cette difièrence dans les masse ou plutot dans les volumes respectifs , de l'animalculc niicroscopique dont Texistence a été ignorée pendant tant de siècles, jusqu'à ces enormes cétacés qui pcuplcnt les mers polaircs , ces gigantesques animaux que l'hom- me a su domptcr pour son plaisir ou ses besoins , ces effrayans quadrúpedes qui nous rappellent 1'épisode des Titans, mais ce n'est pas ainsi que nous devons considé- ler les formes organisées , c'cst l'organisation seule que nous (I) Ucpuis quaud existeut les moades, si lecakiil d'Herchell est vriti í DAS SciENCIAS DE LiSBOA. tf nous devons consulter ; et à ce titre nous nous subal- tcmiseroiis ces grandes masses vivantes, commc nous clévcrons quelque uns dcs animaux infusoires qui n'ont été placcs si bjs, que parceque Thomme ne pouvait pas Ics com- prendre : nous ne connaissons pas mieux Torganisation des ctres qui sonc prés de nous , mais trop petits, que ccllcs des mondes qui sont trop grands, mais trop loin. L'homme est aveugie pour les extremes. Le perfectionnemeni dcs instruments physiques nous a cté cepcndant d*un grand secours pourpénétrer l*organi- sation dcs petits animaux, mais il y a loin encore proba- blement du monde nouveau que le microscepe nous a découvert, au monde réjl , et invisible que nous pou- vons raisonnablement supposer. Peut-être de nouvcaux perfectionncmens apporteront-ils de nouvelle incertitudes. Ce que Ton peut induire par le raisonnement , de la prodigalité de la nature, c*est qu'elle ne s'est pas arrêtíe I ce que nous voyons, et que par conséquent ce n'est pas pour nous petits êtres, qu'elle a creé le monde à si grands frais. De même que des élémens non matérieis ou plu- tot illimités , se croisent en tous sens , de même des corpuscules matérielles sous les trois formes que nous avons indiquées , se croisent, se heurtent, se rencontrent dans ratmosphère , et forment des aggrégats inorganisa- blcs ou organisables qui cédant aux lois de la pésanteur, viennent se developper à la surface du globe. L'on croit avoir tout dit quand on avance que l'air atmosphériquc est composé de 78 azote, 21 oxygène, et i acide carbo- nique. Sans doute c'est un beau résultat, mais il est bien incomplet. (i) Que deviennent tous ces matériaux qui s'ech3ppent de ce vaste alambic ou s'opèrent incessam- ment tant de décompositions chimiques ? queis snnc ces príncipes de mort qui voyagent ici avec les vent'?, là au contraire dans mille directions qui déroutenc tous nos calculs de probabilités , en dévorant dans Icur course inégale tant de millisrs d'hoairaes ? qui anime, qui j-6 MemotuasdaAcademiaReal qui dirige ces príncipes de niort et de vie donr|est peu- pléc cctte atmosphère? Ces policns de champignons áont on a pu découviir les traces dans Ics maiUes de l'âir; ces jolies aigrettes, cnfans détachés de iciir mêre, qui comme le iiiarin , conficnt leur nacelle à l'inconstance des vents , et vónt former une nouvelle colonie souvent bicn loin du sol natal. Ces pliiies de príncipes técon- dans que l'ij L'esprit Jnuuain a besoin d'un cmploi digne àe sa >> puissancç , ç'est I4 v/srité qfj'ii appclle , prêt à la rcr » connaitre gyx .qualités qui Ja distinguent^ unité , sira- £? pljcjté, jfbrtt'. !La bâsp du systêjne qui Ja dévoile doif »» uouc être un prin,cjp,e uijiquc, clair et simpk ; l'expaa» »» sipn est ce priqcipe. Pour 1'action de cette force tous V Jes çorps , tous Ips êtres viyants , ^uiimés , solides ou >^ ga.?'SUX , de diraeriçions iramenses ou de çiibtilité ex- >> írêmc, qe c.çsspnt de raypiiner , dp vibrcr , de transpi- »» rf r ; t^l egt daos Ja naturp l'etat constant et universel. '» I.'équilibrc est la loi unique de Texpansion universellc; 3í cqL|ilib|:ç npn de station et d'iuertie, mais d'aciions et 5» de réaçfiqns correspqndantes , àç balauccmens rvspe- j> cti.f?, en un mot de compcnsatipus. De çcs balaucemeas '» résiíltept tous les actes physiques , et physiologiques, j> tpuç ç^ que dans le langage ^e la gcicuce on numme »> p^^énomène. Cette explication peut elle servir de traduction à cette grande et sublime harmonie de la nature à la quel- Jc nous a conduit le raisonncment, ou dçvoo^ nçys l' in- DAS SciENciAs DE Lisboa, . 19 interpretcr diíFeremment ? Cest ce que nous ne pouvons décidcr avant d'avoir pénétrc plus avant dans note sujet. §. I. Forme Inorgnnisahle. Nous croyons cette expression heaucoup plus con- venablc que celle de forme ou matière inorganique, par- cequ'elle ne veut pas dire seulement substance non or- ganisce , mais encore , non susccptible d'organisation. L'étiide particulière de cette forme d,e la matière comprend la Géognosie qui s'occupe dcs masses et de leur disposicion autour de l'axe du globe ; la miaéralogie qui classe, separe ctétudie Ics composés divers que laGéolo- gic envisagcait d'une manière plus générale; la cbimie qui s'occupe de 1'action intime et reciproque des molécules dcs corps , le unes sur les autres ; Ia physique enfin, qui traite des lois qui régissent cette nature inorganique. Le mineral s'offre à nous sous quatre états diflférens, à r^tat solide, à Tetat liquide, à l'état de fluide aérifor- me , et à 1'ctat de fluide incoercible. Ccs derniers fluides appelés encore impondérables, comprennent la chaleur , la lumiére , l'électricité et le magnétisme : ou pour parler Ic langage dujour, sont des effets d' une cause unique, comme l'avait annoncé Mr. Oerstcd de Bcrliii dcs l'année 1811, et comme le croient aujourd'hui Mrs. Ampere, Arago, etc. L::s principaux caracteres qui distinguent líi forme inorganisable, des formes organisables et organisées, sont> les suivants : forme et volumes fortuits , indéterminables à priori, nature chimique comprcnant les ^6 ou 60 élé- mcns connus, texture ou toute solide, ou toute liquide ou toute gaícuse, poiut d'organisation, origine fortuite, point de nutrition ni de reproduction , ni de phâses diverses pendant la durée de leur existcnce , point de mort pro- premcnt dite, enfin sous le rapport des forces motrices aux qucllcs ils sont soumis et dont nous allous parler, 3 ii ils jo Memorias da A<:ademia Real ils offrcnt encore des notables diíFèrcnces ; ils sontcneffet entièrcment soiimis à ces lois , tandis que les dcux au- tres formes peuvent, jusqu'à un ccrtain point, s'en affran- chir ou plutot les modificr. Forces metrices de la matière inorganisable, La gravUation est cette force qui entraine toujours les corps vers Ic centre du globe, et qui agit en raison dirccte dcs masses et en raison inverse du carré de la distance. La cohésion est cette force qui maintient un corps dans son ctat actuei , et s'oppose à la disgrégatioa dcs pes molécules. Vaffiiiité cette loi chimique qui tend à reunir certaincs particules à Texclusiou de certaines au- tres. La force réptilsive du calorique, qui fait constamment partager aux corps la température du milieu dans le quel lis sont placés. Enfin la puissance electrique , qui favori- sc ou s'oppose a ces diverses aggrcgations, qui preside à tous les changemens d'état, à toutes les combinaisons chimiques , et qui semble en supréme arbitre gouverner fout le monde inorganisable. Nous avons besoin de nous arrêter un instant sur çe grand phénomène dont la cause est íoute hypothétique , oiais dont les effets sont biea constates, (i) .'lA .; • L'hypothèse d'un fluide élcctriquc unique, iru5gale- ,inent rcpandu dans les corps et dont le celebre Franklin ^6t Tautour, a été remplacée presque généralemcnt de nos jours par celle de Symmer , ou des deux fluides. ILn voici quelques propositions : — Tous (1) Nous nous bornerons à rinàfcation de$ principales lois éle- ctriques; elles seront souvent émises seus forme de proposition seu* Ument. DAS SciENClAS DE LiSBÔA. 2t >^ Tous Ics corps de la nature renfcrmcnt le flui- de naturcl. Celui ci resulte de la combinaison neutre du calorique et de la luinière, dans Ics quels cctte pro- priété reside à 1'etat positif ou négatiF, —4 L'clectricit6 est produitc par le contacl dc3 corps de difFcrentcs naturcs , par le frottemcnt des soli- des entre cux , ou d'un liquide , ou mêmc d'un gaz sut uii solide, (Biot) par la compression, (Hauy) souvent par la pression la plus Icgère , par l'ext'oliarion , le brise- mcnt, par la chalcur , comme ccrtains minéraux diapha* nes , vitrcux, (Bjcquerel) par le changement d'erat des corps et en general par toutes ies combinaisons chimi- ques (Berzélius). •— Toas Ies corps sont susceptibles de recevoir le flui- de clectrique , mais tous ne sont pas susceptibles de Id conscrver, de là Ies noms de conducteyrs ou idio-électri- ques et de non conducteurs ou analectriques. — . Les corps chargds d'électricité de même nature SC repousscnt matucllement : chargés d'electricité de diverses natures ils s'attirent. — Les corps liquides sont tous bons conducteurs ; un corps estd'autant moins bon conducteur qu'il a par lui même une action clectro — > motrice plus forte. — L'air sec est mauvais conducteur, la soie, la rési- ue , les corps gras ctc. sont dans ce cas ; mais ce ne sont pas des isoloires parfaits , car il a'en existe pas. — Le corps frottant et le corps frotté se revêtent l'un et Tautre des caracteres opposés d'electricité. — L'électrlcité se porte toute entière à la surface des corps conducteurs , sans que leurs parricules intérieurcs la retiennent en aucune manière. —' A distance cgale le pouvoir ébctrique attractif est égal au pouvoir répulsiF. — La force de compression de ratmosphère reticnt le fluidc élcctiique à la surface áts corps électrisés. — Un corps isole chargé d'electricité tend à de- com- 22 Memorias DA AcADíMiA Real composer à distance , le fluide naturcl dcs autrcs corps placés dans sa sphère d'activité. — ' Un fil de platine cntouré de resine ou d'un fil de soie conserve tròs bicn son fluide dlcctrique. ~ Sous l'influence d'un coiírant galvanique un aqcnt traverse un milieu pour le quel il a la plus grande affi- nité sans s'unir à lui' (Bcrzclius, Hisengcr). — Dans la décomposition d'un sei par la pile Vol- taique , la base se porte toujours au polé résineux ou négatif et Tacide au pôle vitré ou positif. (i) — ' La théorie des ondulations admise pourles nutres fluides incoercibles explique três bien les phcnomènes electriques (2) La vitesse de propagation du fluide electrique est au moins égale à celle de la lumière. ^ La lumière élecrrique est due, suivant Biot, à là compression deS gazs lors de l'émission de ce fluide. Si elle a lieu dans le vide , c'est que celui ci n'est jamais parfait. " La découverte d'Oersted dontMr. Ampere a fait de (1) Dans la décomposition d''uu oxide ou d''ua acide, Toxigêuc se porte toujours au pôle positit". (2) Voici un exemple luodcrne de la théorie des ondulations d'' Euler renonvellce par Fresiiel , je l'eíiipriinle à Mr. Azais. !i La djífraction de la lumière est une suite décroissantc d\nctes exactemcut semblnbles à la suite décroissante des oscillations dHioe lige élastique dont tine extremilé est fixée, et doat 011 a frappé Tau- tre. Pour la bien comprendre il-faut se rappeler que tout raouve- lueiil de Huide élastique dans un point quelcoiique de IVspace, pro- voque de la |),irt du fluide enviroiinant une rcaction égale. Si Pon fait un trou á une plaque de aietal, ttqu^on y fasse pas- ser un raron luniitieux , ce rayon reçu sur une surfaee blanche se- rá pias large que le di.unétre du trou, ses angles seront arroudis, ii présentera dcs zònes alteniativeiiieiit plus coloriées et moins vives. Ce phéaoinèiic de diífraction est du à la tr.inspirntion du metal, qui est plus coiisidcrable sur les bords de la sectioti, et qui se meie à la luinière doat elle augmente Tetat de divisiou et de divergeace. r>AS SclENClAfi T>K 'LrSTiOA. -25} de si bcllcs npplications, nous a appris que deiix couraiits électiicjuos s'atcirent loisqu'ils vont dane le mémc scns, et se icpoussent dans Ic cas contrairc. Ce tait a servi de ba- se à pluKÍeurs théories sur les quclles nous revicndrons plus turd. — Le globe terrestre agit dans les expéricnces dt ce savant, commc un conducteur 4ans le quel scrarrc ^tabli i\n coimtnt c-Icctrique de Tcst à Touest, perpendi- euUiirenícnt au m<íridicn magnétiq^ue. — < Lorsquc deuxsubstances en comrnimicarion, elxtr- cent iwie action chimique simultanée sur an troisrème, il SC dé\'e'loppe toujours un courant galvaniq-iie qui va de Ja substaíice oii cettc action est plus fori«, vcrs ccMe oíi cUe cst le plus foible. (Becquerel) — Si nous procédons par voie analogique de ce que nous savons , à ce que nous ignorons , il nous se- rá tacile de supposer qu'il a suffi à la nature , d'uné force unique, plus ou moios «nodifiée suivant les corps , pour imprimer à ceux ci tous les ittoiívcmens, toutes les mutations dont ils sont susceptibles. Le lévier puissant qui meut ies mondes, (i) Ia fai- ble attraction qu'eierce une masse sur i'aiguille de la balance de torsion , les mouvements qui s'opèrent dans la matière organisée , semblent émaner d'une force Uni- que , d'une loi générale, répandlic dans l*univcrs avec «HG sorte de profusion. Nous vcnons d'irtdiquer sommaire- ment quelques uns des phénomènes de cette loi univer- scllc, nous trouvcrons bientot roccasion d'cn indiquer do nouvcaux , et d'en faire Tapplication à la forme dé la matière que rtous avons nommé Organisable. (1) Forces de ProjeotioTt et d^attfactíóú (NeivtonJ. 24 Memorias da A c a n i; m i a Real §. 2. Forme Orgatiisahle. Jc designe sous cc nom ccttc scctiou de la maticre qui dans ccrtaincs circonstanccs doimces cst siisccptiblc de reccvoir l'organisatioii et I.t vic, ou cclle là sculcmcnt si cUc iouit deja de cclle ci. \i\\c se prcsciUc sous trois états distincts : ou clle jouii de la vic, ou elie ivcn jouit pas encore , ou clle n'cn jouit plus; elle appjrtient a la Ibis au règnc animal et vegetal. A. La matière organisable, vivifiablc, mais non vi- vifiée encore , nous est peu connue. Ce sont dcs masscs amorphes, pulpcuscs, gélatincuses, albumincuse.-;, azotécs, que ccrtaiiies forces arrachcront au ncant, par unè véri- table gcncration spontance pour cn faire un vegetal , oii un animal, suivant la disposition primitive et la nnture de Icurs clémcns constituants, suivant peut-êtrc le, ftu qui viendra les animer. Cest ici le cas d'entrcr dans quelques détails , sur ce mode de géndration equivoque qui a été admis par les uns et rcjetté par Jes autres. Avant Aristote , Pythagore et Anaxagorc croyaient aux générations sponranées ; Pllne , BufFon ont partagé cctte opinion. Hippocrafe croyait à la génération univo- que des vcrs. Rudolphi ne la mct pas cn doutc. Les expériences de Wiegmann , ccllcs toutcs recentes de Mr. Frey en France, la haute autorité de Mrs. Lamarck, etGeof- iVoy St. Hilairc , suffisent pour nous consoler de ccttc boutade de Linnéc « que pour admettre de pareils faits il faut avoir une éponge en place de cerveau » l'axiome d'Harvey : omne vivum ex ovo j cclui que lui a substituo Mr. Oken ; nuUum vivum cx ovo, omne vivum a vivo, n'ont pas à mes yeux cctte valeur ; encore cclui de ce dernier pnurrnit-il ètre torture cn faveur de l'opinion que jc défends. Dans une goutte d'enu prisc dans ce liquide après qu'il avait séjourné trois jours sur quelques feuilles de YC- DAS SciENCiAS DE Lisboa. if végdtjux , j'ai pu distinctemcnt voir à Taide d'un mi- croscope grossissant mcdiocrement, cette matiòre orga- nisablc, pulpeuse, dontj'ai parle plus haut ; elle était cn petites masses amorphes, ponctuées, ceiluliformes , par- faitcmcnt transparentes. J'ai suivi son crganogdnie , et je l'ai vue bicntôt se colorer légòrement en jaune, puis en jaune vcrdatre , enfin former une jolie moisissure et une bellc conferve d'un vcrt bien prononcé. En même tems que cctte matière végétale recevait la vie, il se dévelop- pait dcs globules organiques qui passaient et repassaicnt par un mouvemcnt assez rapide sous la petite mon- tagne de cristal et seniblaient y venir chercher un abri : CCS petits corps ressemblcnt assez , comme on Ta dit , aux globules du sang , la dessication arrete ce mouve- mcnt et IMiumidité Ic leur rend. Aux globules organi- ques succèdent les infusoires , qui jouissent d'une vraie locomotion , s'evitent , fuient un obstacle , paraissent en un mot , doués d'uiie vitalité prononcée ; nous aurons du reste Toccasion de reparler de ces petits êtres. Plusicurs végétaux des nostocs par exemple, plusieilrs animiux, Ic rotifère entre autres, après des années entières de dessication, ont été rendus à la vie par la seule influen- ce de 1'liumidité. Spallanzani a fait seciíer et revivre onze fois le rotifère. Ces entozoaires, qui se dévcloppent, non dans les cavitées qui communiquent avec l'extérieur , mai? dans 1'epaisseur même de nos tissus ; les filaires , les gordylcs, les hyJatides enfin, d'ou proviennent-ils ? et ces myriades de petits animaux qui paraissent subife- meqt après des pluies d'orages , peut on leur assigncr une origine bien réelle ? jusque là on a pu croire quoi- que cela soit bien difficile à prouver, mais on a pu sup- poser au moins un transport , un voyage de germes re- producteurs , d'une ténuité imperceptible ; mais que de- viennent ces germes, si les liquides dans les quels on les suppose , ont été préalablement soumis à Tébullition ? ainsi , Wiegmanu a mis un demi gro de corail dans 6 Totit. XII. Part. II. 4 on- i6- Memorias da Academia Real onces d'eau distillée; apii-s ij jours ti'agltati()n et d'ex. position aii solcil , il a vu se former de la matière verte, dcs conterves er des monocles ; s'il taisait son expcrien- ce dans un cylindre , au licu de conferves, c'etaieiit dcs sortes d' alves. Mr. Frey ayant fait macérer dans dcs vâses bien cios contcnant de l'eau disrillée, des matièrcs végétales ou animales ; ou n'ayant mis en contact avec celle la , que des gazs sculs, dit avoir vu se former de même seus ]'influence de la lumicre et de la chaleur des êtres vivants vógétaux et animaux. Les reproductions parrielles des végétaux et dcs ani- maux ne militent elles pas en faveur des générations spontanécs ? ceJies des mammifères et des oiseaux qui régenèrent leur tissu cutané, et en general toutes leurs parties cornécs ; cclles des rcptiles , dcs lézards qui re- produisent leur queue ; des crustacésqui voient renâitre les pattes quils ont perdues j du limaçon au quel la tête re- pousse ; du ver de terre qui reproduit à la fois sa tête et sa queue , des étoiles de mer , dcs oursins et autres radiaires, qui règénèrent leurs filamens arrachés, cnfin du polype qui se reproduit en entier d'un petit fragment. II n'y a qu'unc différence du plus au moins, la pre- mière géncration s'opère sur cette forme de la matière organisable que nous appelons vivifiable , et la seconde sur cette mcme matière déjà vivjfiéc, ou organisée, mais c'est loujours en définitive le mcme travail orgnnogé- nique. B. La matière organisable qui ne jouit plus de la vie , qui est dévivifiée (qu'an me passe cc mot ) ne ren- tre pas tout-à fait dans le cas de la prqu'ils vi« ennent lubréfier, ces produits conservent pendant quel- ques instants, une chaleur qui à pcine leur appartient en propre, aussi leur faculte organogénique est elle au moins fort douteuse. Car il est difficile de considérer comme ua produit de cette force de vie , ces matières terreuses , calculs, tophus etc. qui semblent se former à l'instar d'un mineral , par une véritable aggrégation , par juxta-post- tion de molccule. La loi qui preside à cette création , doit être une loi physique , analogue à celle qui incrus- te de substances salincs , les parois d'un vâse dans le quel on fair séjourner l'urine , à la diflférence prés de la vitaliré du matras dans le quel s'opère les réactions chi- miques , et d'un reste de vitalité aussi du véliicule lui mJme. (2) 4 ii On (1) Le saiig, le sperme, hors de leurs réser^oirs naturels. (2) Béclart cependant considerait Jestopbus en pnríiculier comme ]c dernier dégré d^tne concrétiou albumineuse foripée aux dépeoâ de la S^-novie. 28 Memorias da Academia Re ai, C. La forme organisablo vivifióc ouquijouit actuei- lemcnt de la vie , tend à l'organisation , mais n'cst pas organiséc propremcnt dite, c'c'St la peisistancc d'action de Ia force qiii l'animc qui va développer l'organisation, si sa puissance n'cst pns contrebalancce par uae tciisioii plus forte. Ccttc maticre organisable virante est isoléc ou pa- rasite (r) ainsi Ic saiig chez Ics auimaux , Ic Cambium íhez Ics végctniix sont dans cc dernier cas ; le Polype , l'Eponge sont dos exemples du prcmier. On conçoit facilcmcnt que les diíFèrcntes matières organisables ne le sont pas toutcs au mêmc dcgré ; qu'il en est plus voisines de l'orgaiiisatioii les unes que les autres, que le sang par exemple , cn est plus éloigné que la faussc membrane, que celle ci assez analogue aux spongiaires, le cede pourtant aux hydres , etc. Cest pourquoi , nous etablissons trois dégrcs Organogéniques pour cette forme de la maticre. i.° Dans le 3.""^ dcgré qui est le plus inférieur, le plus rapproché de Ia forme inorganisable, nous classons: Le Chyle, la Lymphe, le Sans veineux, la matière nutri» tive dcs Embryons, la Scre et la Sérosité. 2." Dans le 1.'"* dégré nous plaçons le Sang artcriel, le Mucus (2) le Lait, le Cambium, le spcrme, les Ovicles, et les concrétions polypiformes. j^.° Dans le i." nous classons : la fausse membrane, la Molécule organisce au 3.^"" dégré, ou les tissus primitifs rudimentaires, les Embryons , les Helminthes, Ics Hyda- tides en particulicr, ks Productions morbides élémentai. res, les Moisissures , la matière verte de Priestley, les Spon- (1) Je pric rl''obscrver que tout ceei n'est que relatif, car il n^y a pas plus d'iiidépciidnncc que d'isoIenient dans Ifi iiature. (2) Htiiilei- avnitdejà dit qne les miicosités Joiíissaieiít de la vie, mais cette opinion a cté refutce par Blumeubacb. dasScienciasdeLisboa. - 19 Spongiaircs et les Agascraires, quclqucs Radiaircs e Cry- ptogames. Ccrtes toutes les matières organisables ne sont pas compriscs dnns cette division , mais les principaics au moins s'y rciicontrent : on ne peut exiger pliis de moi , qui n'ai pour me giiidcr dans la route toutc nouvcllc que jc parcours , la trace d'aucuii voyageur plus heureux. Avjnt de nous livrcr à l'étude spéciale de ces dil- fdrens produits de la nature , il nous faut pour évitcr des repeti tions fastidicLises, et dans la crainte de n'etíe pas bien compris dans ce qui nous reste à dire , étudier les lois qui présidcnt à l'organogdiiie végétale et animale. Lois OrgíDiogéttiques ou Forces m9trices âe la matih-e Or- ganisahle et de la matière Organisée. Dans les considérations aux quelles nous allons nous livrer , il nous será impossible de ne pas entrer dans le domaine de notre 3.^'"^ section, mais c'est un vicaS Sciencias de Lisboa. 39 toute crdation; vraie trinité créatrice (i) qui preside à toutes Ics mutations, a toutes Ics transformations de ma- tière , à tous les moiivemens et à toutes Ics productions qui se développcnt en nous et hors de nnus. Ce mot signific príncipe imniatériel agissant inccssamment , insai- sissable, incoercible, d'une rapidité incalculéc, dont nous apprécions les cffcts , mais dont la nature nous est in* c-oonue. J'ai choisi ce mot enfin , parcc que nos cxpériences grossièrcs nous apprenncat que ce príncipe, s'il n'csc pas Tagent de la vie, est susceptible de lesuppléer dans une foule de circonstances. Or si nous admcttons que la matière qu'il irarerse, qu'jl penetre, à la quclle il imprime des raouvemens , soit à son tour susceptible de le modi- fier (2) dès lors , nous avons franchi une grande difficul- té , et nous concevrons sans peine un prineipe ou agenc élcctrique en substitution du mot príncipe ou force vita- Ic , et comme Torganisation animale est três variée , qu'il est des parties plus au moins aptes à le rcccvoir, partant à le modifier, comme il est des corps physiques idio ou analectriques , nous faisons un pas de plus et nous avons un prineipe electro-vital pour le systeme ncrvcux, orga- nogénique pour le sang et en general pour les parties qui en émanent directement, et un agent inféiieur à peu- près tout physique pour les parties les moins doué-'s de vie et de sensibilité. Ainsi cette loi electrique scra à son summum dans ies nerfs, à son médium dans le sang, et à son minimum dans les parties èpidermiques , com- me la podologie d''HoâriDãun a falt rire aussi ; mais la craniologie de Tiall a fait peiíser. , . . (1) Canipanella coinpose sa triade principiante , dont tout ema- ne sflon lui, des trois príncipes, puissaace , amour, sag^esse. (2) A cet axiome de i\1r. Dntrochet : toute action électriqiie mo- dilic ia nature chimi(|ae de la matière, nous ajouterons celui ci : tou- te matière vivanic niodific la nature physique de rélectricilé. 40 Memorias da i Academia Real me elle será à son summum dans la matière ou for- me organiséc {Electriciti fita/e) a son médium dans la forme orgauisable vivifiée {Electriciti Organogenique) (i) à soa minimum dans la forme organisablc non vivi- fiée. {Electricité nativé) II n'est donc pas étonnant que le fluidc ncrveux ait quelqu'analogie avec le fluide élcctri- quc puisqu'il n'est que celui ci , modifié par la molécu-; le organisable qu'il a pénérrée ; c'est à dire, qu'cn mo- difiint, il s'est modifié lui même. La dégradation successive des conducteurs nerveux dans la série des êtres est en rapport constant avec la dégradation électrique vitule , ainsi : disparition d'abord des nerfs sensitifs spéciaux , {nerfs des sens) remplacés par la 5.'"* paire qui se degrade eile même et pcrd succcssi- vcment quelqu'unes de ses branches en descendant. Dis- parition de Taxe cérébro-spinal au dela des vertèbrés et son remplacement par des cordons nerveux au dessus du tube digestif ; diminution progressive des ganglions et cnfin absence totalc des grandes sympathics, (suivant plu- sieurs anatomistes), Chez les mollusques ccphalopodes oíi il est rcmplacé par son congénere le pncumo-gastrique. Enfin dégradation croissante des nerfs et disparition de toute centralisation nerveuse. {lie indépendante disséminée) (2). Systême nerveux réduit à ses élcmens premiers chez les radiaires supérieurs; puis son absence totale chez les amor- phes. {Fie molêciUaire) II n'en reste plus alors que Tcma- na. (J) Qui tentl ;i prodiiire des organos. (•2; Ou ue |JLUt licii retrancher à l'liomine ou aux aniiiiaux sn- pcrieiírs qui ne soit fi-;ippé deimnt; ( Vie localisée) on peut retruiclier aux végétaiix Pt a beaiicoiip d'aiiiniaiix ; même de la classe des ver- lébrés lícs partics qui soni fr.ippces de mort, mais que la Joi éléctro- gciiique rejjrodiiil Ijieiítòt. (Vie dessémiiiée). Clicz les Radiaires, les aiiiorplies et les vé^étaux, si celte partie retrancliée eontient assez d' clemens de vie, elleproduit unindividu iiouveau. (Vie moiécV.l.iire). Chez lesminéraux cufiii, rexistence et noii pas la vie, puis quils n^tii jouisseat poúit, est aussi daus la moléculc. (Existeiice molcculaire). DAS SCIENCIAS DE LtSBOA. 4t nation la plus simple, celle qui entreticnt la vie sans con<- ducteurs spéciaux, et qui doit produire chcz les plus eleves une organisation ébauchée, annoncée par des contractions à peiíie sciisibles et tout au plus phy.sico-vitales; plus bas on peut trouver la mitiòre organisable, seulcment vivifiable; au dclà soac les corp; brucs , la vie a pcrdu son empire. (Voycz le tableata d'organi>géiiie comparéc). Mais il se préicntc uic question qu'il nous faut ré* soudre. Si la matière organisable est douée d*électricité organogéiiique , et la matière organisée , d*clectricité vi- tale , qusUe será la nature du principe qui preside à 1' organogénie et à la rie du vegetal ? quoiqu'en aient dic MMrs. Dutrochet ctBracher, nous sommes portes à croi- re qu'il n'existe point de nerfs dans les plantes ; donc, il ne doit point y avoir d'électricité vitale, puisque celle ci ne trouvcrait pas de conducteurs pour la transmettre, ni de centres pour la réceler, quand bien même la force orga- nisatrice parviendrait à la produire. Gependant nul doute que les végétaux ne soieiít des corps organisés, mais la puissance ou la loi clectro-génique qui est à son sum- mum dans les liquides nutritifs , dans la seve de retour en particulier, ou cambium , est la vraie puissance créa- trice , c'est elle qui fait les organes j c'est donc elle qui preside au developpement et à la vie du vegetal ; com- me c*est elle seule qui anime les animaux inférieurs, ceux qui n'ont pas de nerfs distincts, ceux qui comme les plantes, ne jouissent que d'une irritabilité instinctive en quelque sorte. Une fausse membrane est comme le ve- getal, insensible, comme elle, la plante est douée d'une irritabilité peu manifeste le plus souvent , mais quelque- fois três appréciable, ainsi que cela s'observe dans la sen- sitive, le dioaoei muscipula, etc. Cest dans les parties sexuelles surtout que ccs corps organisés'semblent montrer un commencement d*animalité; de Jà ces mouvemens merveilleux ducyste, de la pariétaire, de Tepine vinette, cette chaleur que dcveloppe TArum, ete. tout ceia s'expli- Tom. XII. P. IL 6 que 4% MclMOUtAS t)A Ac At)£MiA Real ^ue pour nous, en admettant dans les parties organisécs au plus haut dégré , un commencement de loi electro«vita- le , d'oii une espèce de sentiment, une sorte de scn- sibilitè ébauchée. Pourquoi les plantes qiii possèdent réicctricité or- ganogénique ne prodiiiscnt elles pas de clialeur ? elles eii re- cèlent, car leur température est souvent supérieure à cellc de l"atmosphère ; mais elle est peu marquée parce qu'el- Jes n'ont pas des nerfs, et qu'il n'y a pas cette mutation de fluidc organogénique en vital, phénomène producteur du caloriquc. Maintenant , une aurre qucstion ? Pourquoi l'ele- ctricité organogénique dont nous dotons les radiaircs et les amorphes n'y determine felle pas par sa persis- tance d'activité une veritable organisation comme cela est pour le sang des animaux ? (j'entends par organisation des vaisseaux , et des nerfs) mais remarquons qu*il en est ainsi réellement en nous élevant des spongiaires aux Tadiaires supérieurs; chez ces derniers on trouve déjà des ganglions nerveiix isoles ; si la même chose nc se rctrouve pas chez une même espèce animale, ou c'cst parce que, comme le pense Mr. Lamarck, un radiaire n'cst qu'un amorphe pcrfectionné , ou c'est parce qu'il est des barrières invariables, qu'a posée la nature, qui n'a pas voulu qu'une plante devint un animal ou un amor- phe un être vrai^ment organisé. Nous avons déjà répéré jusqu'a satiété , que le ca- loriquc et 1'élcctricité etaient le produir d'une seule et même cause dans la nature inorganisable, nous avons in- dique des raisons qui tendent à prouver qu'il en est de même dans les dcux autres sections de la matière. Les faits physiques, physiologiques et pathologiques, viennent appuyer cette opinion. Les cxpériences de MMrs. Chossat et Brodie nous ont appris, qu'il exisrait entre ces deux principes, nerveux et calorifique, la plus intime relation. Celles de le Gal- lois DAS SciEM CIAS DE Lisboa. 45 loís sont Ténues encore militer en faveur de cettc opi« nii)n. Lavie et la sensibilité s'arrêtaient au dela des points oíi le sang ne parvenait plus ; il resulte encore des vi- viscctions faites par cet habilc expérimentateur, que la de- struction de la moelle ccrvicale qui amòne instantanement la mort , n'a plus ce résultat immédiat, si Ton decapite Tanimal, c'est à dire si Ton rétrccit le champ de la cir- culucion, si on le coordonne à la force impuisive dii coeur, 011 à la puissance calorifique de l'ensenible ; d'ou cettc vérité si singuliòrc qu'on la croirait d'abord ur» sophisme, que pour faire vivre un animal dont on a lésé la moelle cervicale, il faut lui couper la tête. II y a plus, c'est qu'un simple tronçon de l'animal pcut vivre isolement, si Ton entretient la respiration par l'insafflation. (i) Ce physiologiste va plus loin encore, la vie, dit-il, est due à une impression du sang artériel , sur le cer- veau et la moelle epinicre , ou à un principe résultant de cette impression, c'est la cessation, Textinction de ce principe qui amene ia mort: pour opèrer une résurrection, il ne faudrait que renouveler ce principe (2) c*est la ré- ciprocité d'action bien connue entre le coeur et la moelle qui établit Timpossibilité de la résurrection. La section transversale de la moelle fait deux ani- maux d'un seul, les parties vivent isolement, sans h^rmo- nie; la prolongation de la vie dépend du renouvellement incessant de Timpression qui la constitue; comme un corps mis en mouvement en vertu d'une première impul- 6 ii si- (1) Voyez Le Gallois, experiences snr le prÍDcipe de vie. (2) L'applicat!oD de l^électricité physique ne réussirait cartes pas à arrèter le principe de destruction , mais elle peut quelquefois rap« peler et prolonger la vie, comme dans lesaspbixies par exemple; et les trois quaris des morts ont lieu ainsi. 44 Memorias D aAc A DE MIA Real sion ne peut continuer à se mouvoir indéfiiiimcnt, qu'au- tant que la même impulsion cst répétée par intcrvalle. Voyons maintcnant comniciit noiís nous rcndrons compte tki rnode de devcloppcincnt des fluides électriqucs et ca- Jorifiques dans les matièrcs organisables et org;inisé«. Prenoiís encore l'hommc poiír type, puisque nous sa- vons qu'il renferme en lui les trois variétés dcs fluides , natif , organogénique et vital que nous rencontrons qucl- quefois isoles dans la serie dcs êtres. L'iiominc puise dans Ia nature les élémens qui doi- vent réparcr les pertes que fait constammcnt son indivi- du ; ces pertes, nous l'avons vu, sont immatérielles ou ma- tériellcs, les agens réparateurs doivent oflfrir aussi ces deus qualités. Nous croyons que le corps liumain , sévèrement par- jant, ne jouit pas plus de la faculte primitive de produi» íe le calorique que l'élecrricité, mais seulement, de la fa- culté de receler ces príncipes généraux dans des réser- voirs particuliers qui ont été pris alors pour devrais foyers .cmanateurs , et de leur faire éprouver des modifications qui les éloignent plus ou moins de leur nature primitive. C'est pour ne pas avoir asscz réfléchi à ce fait qu' X)n est si souvent tombe dans Tcrreur. En eíFet, est-il Jogique de vouloir que lorsqu'une puissance a été modi- -fiée, elle produise des eflfets analogues à ceux qu'elle cté- ait dans sa pureté primitive ? est-il étonnanr dès lors qu' .elle ne reponde pas constammcnt aux mêmes réaccifs? ne serait-il pas beaucoup plus extraordinaire au contraire, qu' elle V rcpondit toiíjours ? Dcux voics piincipales sont ouvertes pour l'absorption jdu calorique, et de rélectricité : l'introduction des alimexxs et cclle de Tair atmosphérique , la digestion et la rc- spiration. (i) Suivons la marche de ces deux agens de vie. (1) Ajoutuiís y la siirface ciltaiiée absorbaiite , cette voie est eii «ífct plus puiiiBaDte qtr^lle ne le parait. Si la dcaudation de Tépider- DAS SciEIíCIAS DE LiSBOA. 4f yie , voyons les lutter avcc les príncipes de destruction qui nous environneirt, et cédcr cnfiii à l'influeiicc de çes lois physiques qui íiiiissent tôt ou tird par cn triom- phtfr. La vie est en cffet ua état de lutte , de gu.rre perpétUw-llc, que la résistance vitale , ce vis médicatrix, cct ange gardien , que la niture a mis dans notre sein , proloiige sculemcnt plus ou moins , selon que l'individu est attentif àsc laisser guider par ses divines inspirations. La mJticre organi-ablc pcut seule servir à l'cntre- tien de la m.itière organisée. 11 y a plus, c'cst que la ma- tiòre eiiiployée à cet usagc doit récelcr encore des élcmcns de vie, c'est à dire, de Pclectricité mtive, la mort organique , la mort véritablo cst pour nous Ia pu- tréfaction , et l'on conviendra qu'alors les alimens végé- taux et animaux sont inalibiles, et mênie malfaisants, parce là qu'ils sont vraiment morts. (i) Cette matière Dutritive douée encore d'électricité (2) est soumise dans des conduits ou des réservoirs particulters à 1'action digé* rante de nos organcs, ceux ci alors se trouvent dans ua état de turgescencc, et cèdent par conséquent à l'aliment une partie des fluides incoercibles dont ils sont penetres. Les molécules les plus convenables à Tindividu , selon qu'il est herbivore ou carnivore sont absorbées sous for- me me est iiidispensable pour Pabsorption de certaíns corps, cette enve- loppe est iiulle pour rabsorptioii de certains autres , paur celle da calurique , de rélectricitc, des miasmes peiít-ètre, pour celle d''uiie certaiiie quantité d''oxigène; la sorte d''indépeudance dessystêraes ca- pillaires, leur colorition eu beau rouge etc. lieoaent saiis doute à P itillueiics des agens iuetaphy!íique.-i externes q^ui coastammenc leac doiinent uue nouvelle viviílcatioa. (1) Rigoureusement parlaiit, on pourrait donc díre que nous nous DQiixlssous d^èlres vivaiis, et que ceux cl soot d''autaDt inoius nntritiEs qi^oii tiesceud davaiitage rechelle ; d''ou Voa peut conclure que les aiitropophàgfs prèférent avec raison la cliair humaiiie. (2) Lors^qi^ua animal ne répond pios par des contractioiís atix excitauts galvaniqnes, alors il ne cootient plusd'électrieitc ou n"estplus susceptible de la recclcr, partaut ila'est plus nutritif po-uri^boinme. jj6 Memorias DA Academia Real me de Chyle , et circulem lentemcnt dans de petits vaisseaux ou ils s'animalisent peu à pcu , soumis qu'ils sont déjá aux lois d'élcctricité organogénique. Mclé à la lymphe qui est à pcu prós à son unisson d'organisa« tion , le chyle est verse dans une matière un peu plus organisable, le sang veineux et soumis avec lai à Taction d'un principe gazeux, l'oxigène , qui en cctte qualité de gaz et de gaz comburant par exellence , contient beau- coup d'électricité (et de calorique par conséquent) qui se combinant à Télectricité organogénique se vitalise bien- tôt en celle-ci , qu'il est appelé à renouveler. Ce chyle, cette lymphe, et ce sang veineux, ou plutôt ces matiòres organisables au troisième dégré , recevant une nouvelle puissance organisatrice par l'oxigène , s'animalisent et se convertissent en sang artériel ou matière organisable au second dégré. Quelque soit la mutation inconnue qu'éprouvent le f ang et Toxigène dans Tacte de l'hématose , il est bien avéré, que d'une part, ce dernier est absorbé par le sang, ■et que d'autre part, le poumon n'est pas ainsi que nous l'avons vu , le foyer d'oii emane la chaleur , mais bien Tune des sources qui la puiscnt au dehors ; donc , les principes incoercibles dont l'oxigène est sature, voyagent ayec lui dans les canaux circulatoires. (i) Rematquons bien en passant, que pour que ce phé- nomène de Thematose ait lieu , il faut l'intégrité des centres nerveux , chez les animaux supérieurs au moins , et chez ceux qui sont ages , c'est à dire , dont la vie est le plus localisée. Cest ce qui resulte de expériences de Dupuytren , le Gallois etc. qui ont vu la compres- si- (1) Je prie d'observer que je ne dis pas que roxigène circule en natnre avec le sang, puisqiie Pon n^a pu y dêmontrer sa présen- ce ; jc dis seulement que celui ci, Toxigèue , etant absorbé, et les fluides qu^il contient n'etant par expulses doivent restec avec lai» DAS SCIÊNCIAS DE LrSBOA. ' 47 sion ou Ia section des pneumo-gastriques s'opposer à Ia' transformarion du sang , même alors que les mouvemcns' inspirateurs et expirateurs s'opéraient librement. Des lors qu'on a frappé de mort , les filets nervcux préposés par • l*encéphale pour lui rendre compte de Texercice d'unc foncrion ; cctte fonction cesse ou ne s'exécute plus qu* imparfaitemcnt ; c*cst ce qui cst arrivé dans les faits re- lates par MMrs. Brodie et Chossat: la calorification a cesse lors qu'ils ontdétruit les centres nerveux, et ils eh ont conclu à tort que ceux ci en etaient le foyer : ils semblcnt avoir raisonné d'après cette axiome qui n'en est pas un , Post hoc , ergo propter hoc. Mais revcnons à no-' tre molécule organisable que nous avons laissé cheminer dans des canaux dont le volume va successivement fen diminuant, tandis que le nombre en va sans cesse au- gmentant. L'impuIsion du coeur à la quelle on peut, sans cr- íeur, adjoindre une contraction vasculaire, surtout pro* bable dans les plus petites divisions, la conduit jusqu'au poirvt ou elle doit constituer une molécule solide qui scra Tetat le plus élevé de la forme organisable, le plus Voisin par conséquent dela matière organisée ; mais cette trans^mutation ne s'opère qu'après que cette molécule vi- vante a été soumise pendant tout le cours de son tra- jet dans Tintérieur des vaisseaux , à la force organogéni- que , force à la quelle elle cede enfin alors que la puis- sance d'impulsion, le vis à tergo, est reduit à zero ; une sorte de gélée animale, de concrétion fibrineuse est for- mée , il n'y à qu'un pas de là au tissu cellulaire, aux nerfs ; la loi organogéniquc a fini ses fonctions , c'est la loi electrique vitale qui va commencer les siennes. Entre le moment qui suit l'drrivée de la molécule organisable et celui qui marque le départ de la molécule désassimilée , esc un intervalle que nous ne nous flittons pas de pouvoir analyser. Si nous interrogeons les chirais- les, BírzéHits nous répondra : tout^ aetionchimique queU qu'el- 48 Memorias DA Academia Real qu'elle soit, entraine constammcnt un dégagcment d'éle- ctricité, et les physiologistes s'emparant de ce fait nous diront : toute action dcchimie vivante a un résultat analo- gue. Brande nous montrera que le sang est un albumi- nate de soude j que ralkool , les acides , la chalcur et l'électricité en opèrenr la coagulation , et que Talbumine coagulée h la plus grande resseniblance avec la fibrine , si elle n'est pas celle-ci elle même (i) Mr. Adelon en- fin nous conduit à ce résultat d'autant plus désespéranc qu'il parait assez fondé : que rassimilation est une fon- ction, non physique , non chimique , mais purement or- ganique et vitale , ce qui revient à dire tout simplement que c'est une fonction et rien de plus. Les efforts qu'oa a tentes jusqu'à ce jour pour expliquer le mystère dont nous parlons, ont tous été infructeux, II y à là un voile que tous les beaux raisonnemens du monde ne peuvent soulever. Ce qui déroute le plus, cest que cette fonction d'assimiIation n'est pas la même en tous lieux , et que les élemens du tissu nouveau ne se rencontrent pas ea nature dans le sang , que du moins on n'a pu jusqu'à ce jour y en démontrer clairement la présence. (2) Bornons nous donc à constater que d'une part , il y a solidification de la molécule sanguinc sous Tiiifluen- ce d'une action nervcuse c'est-à dire organogénique, que d'autre part et sous 1'influence probabie d'une cause ner- veuse anti-thòtique , il y a fluidification de la moléculc"^ organisée ; que le sang artériel est converti en sang vei- neux, parcequ'il s'est dépouillé des príncipes qu'il avait absorbés lors de la respiration, et qui lui avaient donné de- (1) Remarquous que ralbumioe ne se coagule qti^à 60° envi* ron. (2) Quelque» expériences de Mr. Dumas et Prévost avaient lais» sé cntrevoir la possibilite d^arriver á cet heureux résultat, mais je ne sache pas qu^elles aieat été continuées. DAS SclENCIAS DÈ LlSÍJOX- 49 ectte faculte assimilatrice , qu'il vicnt de perdrc en par- tie ; príncipes qui soiu : Ia lumiòre, le calorique et I'éle- ctricité contcnus dans Toxygène, et dont la haute influen- cc sur . toutes les transformations de matiòre ne sauraic être méconnue. (i) Ce sont dorlc eux qui à notre avis présidcnt à la nucritiori. En quoi et comment ? c'est là le point litigieux que nous abatldonnods aQx argumen- tateurs , il nous suffit d'avoir constate le fait. (2) On ne manquera pas de m'objcctcr que s'il y a emis- sion de calorique lors de l'assimilation , il doit y â\'oir absorption lors de la désassimilation j et loís des cxhala- tions, mais quelque considérable que doive ctre l*absor- ption de ce fluide , poux faire passcr un corps de Teuc solide à Tetat liquide , ou de ccc état à 1'état de gaz , nous croyons que le sang artériel, qui, suivatit Crawfort , a une grande capacite calorifique (quoiqu*au thermomêtre cette difference ne soit que de r.° à i," au plus) concient cn lui mémc assez de calorique latertt pour subvertir à cettc déperdition. Joignez à cela que les tissus organi- sés eux mêmes doivent être appelés à fournir leur con- tingent. Dailleurs s'il y a absorption de calorique pour Ia liquéfaction de la moiccule , il y a emission de Télectri- cicé vitale qui tcnait la moiccule \ Tétat organisé , tz eomme Tclcctricité contient beaucoup de calorique latcnt, il y a aussi emission de ce fluide, qui devenu libre doic entrer en ligne de compte , et écablir ainsi une conipen- Tom. XII. P. IL /utí ?'jiji-.' ^ sa- (1) Cest douc raccumulation des íluides ibcoercibles qui donne rarganisatiou et Ia vie; c'c$t leur soustracliun qui produit la dcsas- similatioa et la raort. (2) Si Pelectricité plijsique est le résultat de Ia combinaison neutre du calorique et de la lumière, il est naturel de penscr qu'au utoineot ou cette électricité revèt ua baut caractere d'animalitè, ce- lui de fluide électro-vital , elle abandoaae daas ce chaageinent d'c-' tat , uue fraction de calorique Dcutre qui devenu libre est i''urie des soorceii calurifiques. Reste la lumiêre qui contribue saus doute pu* issamiueat à U turmatioa de rélectricité riUle. fo MemobiasdaAcademiaReal sation. Ce qui nous reste a djrc facilitera rintelligence de ces faits. La fraction d'elcctriçité organogdnique qui n'a pas été consommée par la nutrition , devcnuc libre , celle qu'a peut-être abandonnée la molécule désassimilée, doi- vent naturcllemenc en vertu de la loi bien connue des aflínités se porter de préférence sur les aboutissans des systêmes ncrveux , et cheminer jusqu'aux centres dans Ics conductcurs d'ou çeux ci émancnt. Je le demande, cette ifiarche graduclle de ee fluide incoercible que nous appe- lons en raison de ses modifications successives, natif, or- ganogénique et vital , n'est elle pas parfaitement d'3Ccord avec l'organogénie de toys les ctres , qui nous montrcnt yne pulpe homogène exhalante et absorbante seulement ; i^morpheSf premiers jours de íemhryou) y une cavité di- gestive, sans centre circulatoire (polypes , vers intesti' nau.\ ) ; un coeur et des vaisseaux avant des nerfs ; ( em- liryon humaiii) des nerfs sans centre nerveux {insectes) en- fin des cQnducteurs nerveux naissant avant les centres (i) Çyertébrés et hmime). > inav ' Par cela même que 1'électricité organogénique a éíé successjvemcnr en s'4nimalisanr, cnb'éloignant de plus en plus 4e l'électricité physique, et se rapprochant par conséquent de réiectricité vitale qu'elle doit constituer; il peut paraitre rationnel de penser, mais c'est une sup- position toute gratuite , que dans son trajet dans les nerfs de toutes les parties aux centres, elle a éprouvé de nouvellcs modifications qui recevront leur complémenc dí\r},* ^'^^^ c<írébrO'Spinal j( çt la rendront apce à reroplir .1 .r.joMJ^oo.- T IV f.i 1;' ces • .( Que riiomme et les aniraaux supérieurs ne recèlent pas un foyer fabricateur d'électricirc proprement dit. ! I Que les veies par les quelles ce fluidc vital pénè" tre dans Téconomie sont la digestion , la respiration f et 1'absorption cutanée. Que le fluide electro-vital a pour réceptacle general l'áxe cérébro-spinal , poiír point de tentralisation la moelle alongéc, et pour départemens les nerfs animaux. Que le réceptacle du fluide organogénique est Ic «ing et les ncrfs de la vie ofganique, ou mieux les gan- glions du rri-splanchnique ; et que le fluide electfo-natif (i) ne semble pas avoir de réservoir particulier, mais qu'il parait pénétrer les parties les moins animalisces , telles que les productions épidermiques , la surface cutanée ctc. (2) Que (1) J'entends par ce mot le fluide électrique qui a penetre iiiie matière organisabli-, laquelle lui a fait subir uiie preinière inodifioa- tion , non buffisante pour Telever au dégré de fluide elcctro-gcni- que. (2) On sait que les clieveux et la fonrrnre de certains animaux sont des eleciro-pliores naturels ; Mr. Gerdy cite le fait curieux d^un italien dont le cof|)s (deiiué de poils) lasisait éehapper de» élÍDcelles électriques lor$qu''il cliangcait de ehéiuise. Tout récemnient uu au» tre fait aiutlogue iu'ã ctc raconté par une persoune digoe d« foi. L' DAS SciENCIAS DE LiSBOA. J7 Que les végétaux supérieurs ne jouissent pas de la faculte de produire Télectricité vitale; qu'ils ne posscdent que le fluide électro-génique, et que ce fluide au 2. dé- gré dans le cambium, provient de l'électricité physique qu'ils ont puisés dans le glôbe, et qui a chéminé sous forme d'clcctricité nativc, ou organo-génique au 3. dégré dans la scve. Qye les animaux sans ncrfs bien visibles ne possé- dcnt que la même force qui anime le vegetal. Que la matière organisable, sculement vivifiable vé- gétalc ou animale, ne receie que 1'élcctricité native. Qu'en- fin Ic principe électrique tend sans cesse à s'dnimaliser et n'arrive cependant au dégré le plus vital, qu'après avoir passe successivement par chacua des etats secondaires prccités. Nous ajouterons encore k ces corollaires les reflexiona suivantes, que nous présentons toujours sous la forme de propositions. Le fluide électfo-natlf parait présider (2) à la circu- culation et en general aux fonctions secondaires (que nous nommons ainsi par opposition aux suivantes). Le fluide electro-vital , aux sensations , aux mouve- mens voulus, aux actcs intellectuels, et en general aux fonctions premières. L'innervation ou Tatmosplière electro-génique et vi- tale, à tous les actes assimilateurs et désassimilateurs des parenchymes organiques. Si Tinfluence nerveuse cst indispensable à Ia vie y Tom. XII. Part. II. 8 l'in- histolre nous en offre d^ailleurs d^AUtres exemples bieD remarqu.v blcs. (1) Nous eotendons senlement par ce mot présider, qnincarcéré dans la niolécule alimentaire, il doit favoriser les transformations qu^Ue va éprouver , car il est hors de doute que ce n'est pas sous rinfluence du íluide clectro-uatif que s^opòreut les mouvemens de restomac , par exemple. yS Memoria* DA AcaoêmiaRe AL 1'irifliience sanguine cst intlispcnsable aUK ncrfs, rinâiien- cc du chyle et de Tair Ic sont au sang , celle des ali- niens l'cst au chylc , cclle des maticrcs organisablcs aux alimens , l'influcnce des puissnnccs électriqucs est indis- pensable à tout ; car rout se ticnt implicitemcnr daiis la grande cliainc àu monde. Le sommeil cst le besoin de réparation; il est pro- voque par la consommation continue de l'clectricité or- ganogénique , qui pendant la veille se convertit inces- sammcnt et trop promptement en élcctricité vitale ; il n'cst donc que la prédominance de cellc là sur celle ci, aussi le repôs engraisse , bouífit , tandis que le travail soutenu , les veilies prolongács , la douleur, la maladie fatiguent , énervent et maigrisscnt. Les animaux hybernans engraissent, alors qu'ils sonc rtorts pour les relations. La prédominance du fluide electro-vitale entraine la pléthorc nerveuse (nevroses ^ douleur s ^ ítmaigrissefuent.) Celle du fluide électro-génique la pléthore sangui- rtO (coiigejtíoji y hémorrbagies ^ phlégmnsieí ^ entbompoint,) Les cíFets du fluide éicctro-vital sont dâns des rapports constamment inversos entre les actes sensitifs , locomoteurs et intellectucls: ainsi la douleur faít cesser la convulsion , et la conviilsion la douleur ; la douleur et la convulsion cessent par le delire, l'ivresse, une for- te conrcntion d'esprit , une aíFection morale. Par une sor- te dMnstinct, l*inJividu qui soufFre , s'agite , se meut , sflfls cessa, pour appeler sur rappareil tnusculaire cet excèss de fluide eléctro-vital qui va se dissipôr un peu dans l'acte physiologiquc locomoteur ; la douleur vive qui precede Ic tétanos, se tait par le tétanos lui même; Pcpilepsie rcnd Torganisme muct aux sensations ; tout Ic fluide électrique semble consommé par la tcnsion de h fibre musculaire. (i) La (1) Dictiouoaire de luecieciue et chirurgie pratiqueti DAsSciENCiAs DE Lisboa.-^'' 5:9- La répartition normalc des divcrses fluides incoerci- bles produit la santé. Les fluides léthifèrcs designes sous le nom gcné- riquc de miasmes , paraissent agir spécialemcnt sur Tat- mosphère nerveuse des parenchymcs. t.jo Bicn d'autres corollaires physiologi(Jues et pathologí- ques sont déductibles de ces faits. Avec notrc hypochèse des' trois fluides , nous croyons pouvoir trouver la clef des principjux phdiiomènes de la vie , mais nous remet- tons ces explications à une époque plus rcculéc. Après avoir vu 1'homme et les corps organisés pui- ser au sein de la naturc le principe de leur cxistcnce; après l'avoir suivi dans son cours de Testomac et du pou- mon au cerveau , et de celui ci à toutes les parties du corps; après avoir indique les mutations qu'il éprouve dans ce long trajet, rendons à la nature ce principe que nous lui avons emprunté. Nous avons vu la matière prendre vie, se nourrir , s'accrôitr2 , s'organiser , voyons-la main- tenant décrôitre, mourir , et se désorganiser. .La vie est un état violent et précaire qui à ce ti- tre ne pcut avoir qu'une courte durée , nous ne la reçe- vons des mains de la nature qu'à titre d'usufruit ; c'est un dépót qu'clle nous confie pour le remettre à nos en- fans dans toute sa pureté. La mort est donc Ic résultat inévitablc de la vie. Sa cause première est dans la pre- mière palpitation de notrc coeur ; ses causes secondaires dans les évèncmens fortuits , dans Tinobservance de l'hy- giène , et dans Tctat social lui mênie. Si la progression électrique croissante que nous avons adoptée est logique , nous devons rencontrer ici une progression électrique décroissante , c'est à dire , que les principcs les plus vitaux doivent être dans les morts lentes , les premièrs à abandonner le corps qui tend à la désorganisation. Dans la mort naturelle , Ia plus rare chez les peu- ples civilisés, les sens s'usent et se perdent les premièrs, 8 li l'ima- 6^. MBMORIAtfiAAcADBMtÁREAL l'imagination devicnt nulle , la sensibllíté et Ia moti- Jité s'affaiblissent , la mémoire du préscnr se perd ; bien- rôt les forces abandonnent peu à peu Ics organes , Ia circulation générale se ralentit, les artères s'ossiffcnt , la circulation capillaire 8*cmbarasse et s'arrète , la digestion' languit , la sécrètion er Tabsorprion se font à pdne , le phosphate calcaire predomine , la matière brute semble déjà djsputer sa proie à la vic qui s'affaiblit et succombe. II y a chez l'homme piusieurs dégrés de mort pro- prement dit , suivant l'extinction successive de l'électrí- citévitalc, organogénique , et narive. Cela est si vraí qu'on peut suivre dans les morts lentes cette décroÍ5san« ce graduellc des lois d'animation , et cette progression croissante des lois physiques. Ainsi d'abord , ce sont les centres nerveux dont l*action s'arrête , parcequ'ils sont le réceptacle de 1'électricité vitale , 1'homme comme ham- me est mort dès ce moment , mais comme matière or- ganisée animale, il est à son premier dégré de mort seu- lement. (II faut distinguer ia sospension du principe vi- tal de son extinction ; la mort apparente de la mort réel- le;) mais le sang circule encore, la respiration quoiqu' embarassée s'exécute cependant sous l"nfluence de la loi organogénique seulement. (i) Cest la disparition de cet- te loi qui lutte encore pendant quelque tems contre les agens physiques, qui amène lesecond dégré de mort. Les fonctions secondaires disparaissent , Thomme n'est plus bientôt que Tanalogue de Taliment végéral , ou animal destine à sa nurrition. Lui aussi est destine à une vaste nutrition , cellc de la nature. II n'est pas tout mort , parcequ*il est encore sous l'inflLience d'une force vivifian- tc, l*électricitc native. Celle ci et un reste de chaleur qui l'ac- (I) Cest alors qui se forment des concrétioru fibrincuses, certai- ncs excrétions, sccrétions, exhalaliont , le fluide céicbro-spiíial , par exemple, celiii des cavités séreuscs , certaiiies aljsorpiioos, congei» tinns aDormale») parceque le graad balancier de la vie tiianqtit;. DAS Soií WCl AS DE LlSBOA;^^'^ 6V 1'accompagne sont tout ce qu'il y a alors de métaphysi- que dans le corps qui etait anime , elle indique sa pré- sence en enrretenant une sorte d'assimrlation indiques par la pousse des poils, de$ ongles et en general des par- ties qui écaienc les moins douées de vie et qui se troU- vent dès lors à funisson du corps ; elle annonce encore qu'elle cst là , en répondant vigourcusertient aux excita- tions galvaniques , cb facilitant ces fonctions organiqaes inférieures que nous indiquions plus haut. Mais enfia les fonctions végétatives 8'eteignent, h calorification dis- parait , avec elle fuit l'électricité nativa, le flambeau cst éteint ; c'e8t le 3.""' dégré de la mort chez Thomme , c*est la mort proprement dite. Jusques là , il n'y avait que diminution successive des forces d'animation , là el- ks sonteteintes à jamais, pour le corps actuei au moins; II cst important de remarquer qne la vie peut-êtro suspendue pendant un tems dont Ia durée est relative à Pimportance de Tindividu , à son organisation , aux cir- constances concomitantes , sans que cctte snspension ou interruption du mouvement vital , soit Ia mort de Tindi- vidu qui l'éprouve. La vie rendue aux asphyxiés , la ré- vivification des polypes , des rotifères , des mousses, des nostocs desséchés , en sont des exemples. Spallanzani assu- te avoir conserve pendant deux ans des grenouilles au milieu d*un tas de neige, et les avoir rappelées à la vie, après les avoir exposées à une chalear graduelle. Volta dit que dans le même cas , ces animaux ont donné des signes évidents de galvanicité. L'altération seule des organes et des fluides cons- titue la mort. {Lamarck) II existe trois signes de mort, disent les auteurs : i.® La rigidité cadavérique , qui est placée entre deux états de relachement : 2.' 1'absence de contractions mus- culaires sous l*influence des cxcitans galvaniques : 3." la pu- tréfaction , celle ci est plus ou moins rapide , suivant le genre de more et l*etat de Tatmosplière, ainsi : i'air sec, le 6i Memorias da Academia Real ]c froid, la glace, prcvicnnent la putréfaction, parccquc ces corps mauvais conducteurs nc pertnettent quedifiicile- ment l'émission de l'élcctricité native; par une raison oppov: sée, le cadavre se putréfie promptement dans un air chaud et humide , dans l'cau tiòde etc. , on a remarque encore que la désorganisation etait plus promptc lorsque l'animal avait été foudroyé. Mr. Devergie dit que l'électricité est une cause éncrgique de putréfaction, qui agit en séparant Ics acides des bases salifiables : ainsi ce puissant agent de vie serait aussi un puissant agent de mort des lors qu'il dépasserait certaines bornes. Ceei nous prouve que bien qu'ayant pour origine commune , Télectricité physique , les fluides organogéni- que et vital modifiés par Ics corps qu'ils animent , se sont considérablement éloignés de leur souche primitive, puisqu'ils annoncent des résultats si dissemblables. Mais il est tems dercvenir sur nos pas et dejeterun coup d'ceilanalytique sur quelques une;s dps matières organi-, sables, dont nous nous sommes vu force de nous tant éloigner. i." Ovftles. L'ovule de Tovaire des mammifères, Toeuf non fécondé des oiseaux, des reptilcs, ou des poissons , l'ovule de l'ovaire du vegetal, avant la fécondation , peu- vent être étudiés simultanément comme une matière or- ganisable au 2/"" dégré , destinée à former , nourrir ou envelopper l'individu nouveau, après ]'actc de la repro- duction. Une cnveloppe extérieure plus ou moins com- plexe et plus ou moins solide, un liquide de consistan- ce et de nature variables, ou Ton distingue parfois un point prepare pour Tembryon, sont les deux parties con- stituantes de l'ovule. Ces corps que nous considérons comme des globu- les organogéniques au a.*""= dégré , sont contenus dans des petites poches souvent figurées en grappes, et placéeç dans le ventre des femciles à 1'abri des injures extérieures. Lorsque la loi organogénique qui règle le mpde de dé- veloppement de ces corpuscules éprouve uq surcroit d* d(< ac- dasScienciasdeLisdoa. íj activité, ou lorsque la pcrsistânce d'actiort de tctte mê- me puissance en a produit la maturité ; ils s'isolent, rom- pcnt Icur ciivcloppe et vieiínent jouir d'une vic séparée, qui peisistera d'elle mêmc pendant quelquc tems , mais sans acroissement ultérieur , ou qui reçcvant une nouvclle impression prcndra uii nouvel accroissement et formcra un autrc individu. Nous sommes donc pleinement convaincu que tous les animaux femellcs sécrètent et excrètent constam- mcnt desoeufs à Tâge de la puberté, et que ce n'est que lors de la coincidence d'action des forces orgaiiogéniquea males et fe^nelles que U fécondation a lieu. Après un tems qui n'cst pas rigourcusement deter- mine chez Tespèce humúne , mais qui ne dépasse pas quelques jours, l'oeuf fécoridé à l'ovaire arrive dans Tute- rus , sans changement appréciable , autre qu'iine légère augmentation de volume ; 11 n'en est pas de même chea les ovipares, oíi il acquiert, en travcrsant la trompe , lo blanc et l'enveloppe crétacée. Un oeuf d'oÍ9eau est com- posé de dehors en dedans , de la coquille qui permet 1* abáorption de l'air extérieur et qui est toute composée de carbonate de chaux , d'une membrane bifoliée qui laisse vers le gros bout un espace rerapli d'air ; du blanc, al- buminefluide à l'extárieur, dense à l'intéricur, coagulable, contenant du mucus et des seis à base de soude avec cx- cès d'alkali ; de deux membranes épidermiques analogues à celles de la restcule ombilicale , et qui fixent l'oeuf k ses deux extrémités par deux prolongciísens nommés cha- lazes ; d'une membrane propre au vitellus et sur ia quel- le est la cicatricule ; enfiii du jaune ou vitellus, 1'analo- gue de Teau de la vésicule ombilicale , matière globuleu- sc, mollc, formée d'^cau, d'albumine, d'huile douce, et d'uno substance colorante. De toutes ces parties le blanc et le jaune sont les seules raatières organisables destinées d'avan- ce à la nutrition de 1'oiseau ; il faut y joindre lors de 1 évolution Teau de l*amnios qui parâit d' après Cavier vera la 7.""* hcure de l'incubation , et cellc de Tallantoi- de <4 MemoriasdaAcademiaReal de (i) qui doitbientôt envcloppcr tout l'oeuf et qui s'y mon- tre vers le 4.*"'* jour chez le poulet ; à moins qu'oii admet- te que ce liquide qui communique avec le cloaquc, et que Ton dit avoir une odeur urineuse, ne soit de l'urine même, auquel cas, il serait un produit d'excrétion et non de nutrition. Cuvief dit que chez les autres ovipares qui respirent l'air en nature , l'oeuf ne contient pas de blanc, et que dans ceux qui respirent I'eau , il n'y a ni blanc , ni traces d'allantoide , Toeuf est réduit au jaune et à la cicatricule ; il se gonfle par son séjour dans I'eau et montre bientôt le foetus attaché à la boule du jaune qui est évidemment un appendice de 1'intestin. II n'y a de diÉFerence entre Poeuf des oiseaux et ce- lui dcs mammifères, dit Mr. Dutrochet y que dans la dis- positioa desvaisseaux omphalo-mésentériques, qui íinissent chez les premicrs au chorion , et qui chez les autres tra- verscnt les membranes pour se rendre à un placenta. 2." Graines. La graine est l'ovuie vegetal fecondé et parvenu à sa maturité. EUe est formée également de deux parties, le rudiment de la plante, et ses annòxes qui sont des moyens protecteurs ou nourriciers. La graine comprend donc l'amande et Tépisperme ; cet épisperme ou test, ou tégument propre , est Tanalogue de la co- quille des ovipares ; il est remarquable par sa propriété hy- grométrique. Le hyle ou ombilic est Taboutissant des vaisseaux nutriciers qui vont du péricarpe à la graine. L'amande contenue dans le tégument propre est formée de Tembryon seu), ou de celui-ci et de Tendosperme , qui est un corps cellulcux mais non vasculaire, contenant une matière muqueuse amilacée , d'autant plus abondante que le corps cotyledonaire est plus petit. (j) Cette fé- cu- (1) On n''a pas pu coustater la préseuce de cette membrane chez rhomrae, elle y est admisc par siniple aualogie dts mammifères. (2) L''eudo8perme est régardé commc le lésidu de Teau de T ovule. DAS SciEKCIAS DE LrSBOA. 6^ culc est blanche et insoluble dans Teau avant Ia germi- iiation. Vembryon vegetal est le corps organisd existant dans une grainc parfaite aprcs la fécondation et qui renfermc le9 ludimcns d'une nouvelle plante. La préexistence des diver- sos partics dont il se compose, disent les botanistes, esc tout cc qui établit une diíFérence csscntielle entre Tem- bryon et les corps réproductifs des plantes agames. Les bourgcons ont encore la plus grande analogie avcc l'em- bryon, aussi Uit.Dupetit thouars \cs nomme t-il, embryons fixes. L*cmbryon libre est composé de 4 parties princi- pales : le corps radiculaire qui le premier fait son évo- lution ; le cotyiédonaire, indivis ou divise en dcux, trois, ou même neuf, ou douze parties, comme dans le Pinuí Pinea ; ces cotylédons que Bonnet appelait les mamelles végétales, contiennent la fécule assimilable qui doit nour- rlr la plumule et la tigelle qui sont les deux dernières parties dont se compose l'embryon , mais qui ne s'y Yoicnt le plus souvent qu'après la germination. Pour en finir avec l'embryogénie végétale que nou9 esquissons à grands traits , il nous reste à dire en deuX mots ce qu'est la germination. On appèle ainsi cette sé- rie de dcveloppements qu'éprouve une graine qui se gonflc, rompt ses cnveloppes, etorganise un vegetal. Les agcns de cette fonction sont l'eau , Tair, et la chaleur. Tous les corps qui cèdent facilcmcnt leur oxygène à Teau la facilitent , une dissolution de chlore est aussi dans ce cas {Humboldt.) (1). Nous noterons en particu- lier , que le fluide électrique ia hâte d'une manière en- core plus remarquable, l'oxygcne absorbé semble se com- biner à l'excès de carbone de la fécule , d'ou la liqué- faction de celle ci et le développement de la gemmule ; la lumicre au contraire , ce príncipe vivifiant des corps Tom. XII. Part. IL 9 or- (1) Remarquons que le chlore partage avec Poxygene etPhjdro- gene la propriété comburaiite, comme eux il fonne quelquea acide». $6 MEMoniAS daAcademiaReal organisés et dont le vegetal ne saurait bicntôt se passer , lui est alors un agent nuisiblc. Cest dans 1'obscurité que doivent s'opérer les mystérieux phcnomònes de toute cm- bryogénie. ->i ci 3.° Matière nutritive des tmhryons. De toiítes Ics sour- ces assignées par les phisiologistes a la matière nutritive de l'embryon humain , une seule parâit plausible , c'est le liquide de la vésiculè ombilicale, qui fournit dcpuis le premier instant de la vie intra-utérine , jusqu'à deux móis et demi environ., époque à la quelle elle cst rem- placée par le placenta. Le liquide qu'clle contient, limpide d';ibord, se colore en bianc jaunâtre, se durcit et se concrète bien. tôt, il semble tout-à-fait i'analogue du vitellus de Toeuf des ciscaux. Son dégré organogénique n'est pas élevé, et cela devrait être, car la nature est trop sage pour ne pas coordonner la force à la matière ; le sang était trop organisable pour la faiblesse actuelle de rembryon. Le mucus gasiro-intestinal si abondant dans le foetus et que Mr. Geoffroy S.' Hilaire regarde comme Tun de ses alimens , est peut-être une matière nutritive intermédiairc qui fraye le passage d'une substance moins organisable à une qui l'est plus. Mais avant la formatioii de cette vésiculè ombilicale (i), Chaussier conjecture que la matière séro-albumineuse sccrètée dans l'urérus pour la formation de la caduque , sert d'aliment à 1'ovule en- core libre dans cette cavité. Cette assertion cst du reste contestce par JVIr. Velpeau. Cette vésiculè ombilicale est d'autant plus volumineuse proportionnellement que Tcmbryon est plus jeune ; c'est par une sorte d'imbi- bition , d'endosmose , que le liquide qu'elle contient penetre la pulpe embryonaire jusqu'au moment ou appa- ' rais- (I) Selon Mr. Adeloa cette vésiculè existerait dès rovaire, et $e> lait Tosuf lui mètue. DAsSciENCiAs deLisboa. ^7 raissent les vaisseaux omphalo-méscntóriques , l'analogie des oiscaux , des rcptíles et dcs poissons porte à croire que la cavíté de cette vésicule communique avec celle de 1'intestin , cliez rcmbryon humain. II esc encore une autre matière nutritive apparte- .nant à cette section, et à la quelle on a fait jouer ua role dans la nutritioii do i'homoncule , c'est VEau de l'amnios ; liquide séreux dont la quantité est d'autant plus grande que l'individu est plus jeune, claire et trans- parent alors, trouble et caseux à terme ; visqueux , salé, d'anc odeur de sperme , contenant d'après Faiiqueltn de Tcau , de l'albuinine , de la soudc et de rhydrochlorate de ccttc base , du phosphâte de chaux et de la chaux. Scheel assurait y avoir trouvé de roxygène , mais Berzê- liits n'y a rencontré qu'un gaz forme d'azote et d'acide carbonique. Le foecus balance pendant tout le cours de la gros- sesse dans ce liquide, qui suivant les uns n'est qu'uii produit de ses excrétions, et qui suivant les autres est cmané de la mère , Tabsorberait , d'après ces derniers, ou par sa surface cutanée , ou même par les ouvertures naturelles du corps. Les physiologistes qui regardent ce produit comme un fluidc nutritif, se bàsent spécialement sur ce fait, qu'avec lai on a pu nourrir pendant plusieurs semaines de jeunes animaux, et qu'il est d'autant plus réche en ma- tière animale que le foecus est plus jcune. 4.° Chyíe et Sève. Sont ce que nous appslons des ma- tières organisables vivantes au je dcgré seulement , en- core méritent-elles à p;ine d'ètre classées si haut, car ellcs sont presque en totalité sous l'influence de Telectrici- té native, que receie la molécule nutritive primitive, Ce n'est qu'a dâter de l'epoquc à la quelle le cliyle est uni á la lymphe et au sang veineux, et à celle ou Ia sève qui s'clevait vers le sommet de Ia plante suit un cours rétrogade, qu'elles mdricent vraiment ce nom , 9 ii par- 6S Memorias da Academia Real parceque alors elles sont véritablcment sous l'influence organogéniquc. Si nous classons ce liquide dans la catégorie des substances organisablcs , c'est que nous \ç voyons for- me de globules , trcs distincts pour le chyle , globules que Ton a même retrouvés en nature dans le sang. Le». chimistes nous oní enseigné en outre qu'il était forme des mcmes principes que ce fluide, et n'en difFérait que par I'absence de matière colorante rougc et par une fibrine moins animalisée , plus albumineuse que U sienne. Le chyle a une couleur blanc de lait, limpide dans les herbivores , opâque dans les carnivores, non visqueux , d'une saveur douce , ni acide , ni alkalin , et d'une odeur spermatique prononcée. Gmelin dit cependant q'uil est Jégèremcnt alkalin. D'après Mr. Magendie , les trois partics consti- tuantes du chyle, serum , caillot et matière grasse, sont dans des proportions diíFérentes selon la nature de Taliment : il est hors de doute aussi que la nature et la proportion de ses élémens constitutifs varient sui- vant l'etat de santé ou de maladie ; et que ceei ne soit la cause première de ces altérations sanguines nu- tritives , connues sous les noms de scorbut et hémacé* linosç et de plusieurs autres aíFections regardées comm» lymphatiques. II faut faire attention que la formule analytique qui exprime Icsélemens chimiques du chyle n'est pas três exacte , car cc chyle a été receuilli le plus souvent dans le canal thoracique ou il est dòjà mèlé à la lymphe. II parait prouve d'ailleurs, que soit dans les ganglions mésentcriqucs, soit dans les petits tubes oii II cheminc si Icntement , ce liquide s'animalise de plus en plus et montre d'autant pkis de fibrine , et une couleur d'au- tant plus roséc , qu'il approche davantage du réservoir oíi il doit être déposé. Quant T).\$ SciENciAs nE Lisboa. 69 Quant à la shve des vcgétaux connue encore sous Ic nom de lytnphe végétale , c'est un sue aqucux légè- rement visqueux, destine à etre elabore par ks organes nutritifs des plantes, et circulant des spongioles des radi- cules, aux parties terminalcs dans les vaisseaux du bois et de 1'aubicr. Aprcs avoir fourni à la transpiration, aux cxcrétions , et à Tcxpiration , et s'etre ainsi dcbarassé de Tair , des sues aqueux trop inalibiles, et en general des substanccs inutiles ou hétércgenes, elle suit un cours retrograde et redesccnd pour former le libcr. Elle est composéc de mucilagc et de substances salines dont la Jiature et les proportions varient et suivant Tespèce et même suivant la saison. Hales a prouve que la force d'ascension de cc liquide etait superieure à une pres- sion d'atinosphère. Quoiqu'on dise généralement que Teau est la nourriture du vegetal , il est plus que pro- bable que celle ci n'est que le véhicule de la matière organisable première, que le vegetal rencontre en si grande quantité dans l'cpiderme du globe , en effet, une plante que l'on développe dans l'eau distillde ne tarde pas à mourir. Cette matière est aussi indispensable aux végétaux qu'aux animaux. Ce n'esr donc point une comparaison forcée que d'assimiler la sève au chyle. {Ventrictilus sicut humns). 5-.° Lympbe. Matière organisable analogue au sang , sauf la matière colorante rouge; diaphane, d'une odcur spcrmatique , d'une teinte rosée , surtout si on la re- cueille chez un animal qui a été soumis à une abstinen- ce de plusieurs jours ; légèremcnt salée , d'une pesanteur spécifique superieure à celle de 1'eau distillée , dont la source peu connue est dans le parenchyme de toutes les parties du corps , provenant , on le suppose , de la désassimilation de la molécule organisée et de Tabsor- ption interne. Voici comment nous nous rendons compte de si proJuccion : La molécule organisée vivante pénétrée par TO Memorias da Academia Real par conséquent du fluide elcctro-vital qui Ia mainticnt h cet état , usée par ce mouvemcnt continu , par cct échangc incessant d'dctions et de rcactions òlcctriques qui constituent la vie, dcvicnt moins propre à réceler ce fluide , puis tout-à-fait inapte à le conserver. Cest alors que n'etant plus soumise qu'à ia seule influence de l'électricité organogéniquc inféricure , elle se liquéfie, et suit le courant centripète que lui offrent et Ics lym- phatiques et les veines ; car nous croyons que ces dernières aussi sont des agens de dcsassimilation , ou au moins des réservoirs, oii son produit est reçu. C'est commc on le voit la même dégiadation successivc des élémens vi- taux que dans la mort gdnérale , car cette loi organo- géniquc elle même n'est pas à son summum , mais biea à son minimum d'cnergie, puisque ce sont des élemens uses sur les quels elle agit. II arrive cependant quelque- fois , et cela se presente lorsque Tirrítation appèle vers un point une nouvclle dose d'électricitò , que cet- te même lymphe tend à l'organisation , comme dans Tangio-leucite , certains engorgemcns glandulaircs, l'élé- phantiasis &c. elle revêt alors la forme d'une gelée ani- male ou d'une matière colloide. Le tiiherctile qui se ren- contre le plus souvent dans les organes oíi le systême lymphatique predomine, est peut-être une ébauche avor- tée d'organisation de ce liquide. Après etre reste long temps ordinairement à Tetat nommé de crudité , il s'y declare soudain un mouvement intestin , il se fond , forme une pâte molle , stéatomateuse , qui a quelque analogie avec la matière organisablc pulpeuse, muqueuse, celluliforme ; mais la force organogénique à la quclle il est soumis continuant à agir, tend à y dé- veloppcr l'organisation ; et quclques auteurs ont confoa- du cet état avcc Tétat hydatiforme. Un médecin allemand a même avance dans ces derniers temps que le tubcrcule était un corps organisé. Nous sommcs porte à admcttre ce fait dans qucl- ques DAS SciET«CIAS DE LtSBOA. 71 ques circonstances ou le niius formativus est trcs actif , mais comme nnus n'avons à cet égard aucunc donnée qui nous soit propre, nous aimons mieux pcribcr que le tubcrculc etant trop prés de la matiòre inorganisa- ble , DC subit pas jusqu'aux derniers développcmens aux queis ia matière organisable peut atteindre. ó.** Sérosité. De mcine que dans l'ctat normal le chyle est le 3'"" dégré de la matière organisable vivi» fiéc , le sang artériel le 2« , et la moiécule organisée le 1^'; de même dans l'etat anormal, la sérosité est le dcrnicr dégré de cette même matière organisable , Ics concrétions fibrincuses le second , et la fausse mem» brane le prcmier, Cctle sérosité eihaléc dans les cavités séreuses ne parait être autre que le serum du sang, dont clle nc diffèrc que parcequ'elle contient moins d'albumine ( i ) ainsi on y rencontre outre cc príncipe , de l'eau , une matière incoagulable, sorte de mucus gélatiniforme , un peu de fibrine , et des seis à base de soude. La mala- die altere ces produits ou dans leur proportion ou dans leur nature ; c'cst ainsi qu'une membrane séreuse en- fl.immée fournit plus de fibrine, quelque fois du sang, par fois du pus (2). Qji n'a vu à la suite des pleurésies chroniqucs, des feurres fibreux, des sortes de polypes à bras, nageant dans la sérosité citrinc des plcvres? et quelles sont ces productions sinon un vain cffort d'organisation ? qu'on fasse un pas de pljs, qu'on suppose une persist.ince d'action de cette force organogénique , ou une irrita- tion un peu plus vive , une plus grande quantité de fluide ékctrique, et voilà une pscudo-niembrane de- for- (1) La coaenne inílammatoire est piíysiqaement et chimique- meot aoalogue. a. la fausse membrane des séreiíscs. (2) Mr. Sclles de Montdezer a pris de la sérosité, Ta fait érapo- rer ; le Hquide e«t alon d«veiia íoavcDt aoalogue ao pus. yi Memorias DA Academia Real formée ; que le Nistis Formativus agisse encore , cette fausse membrane devient une membrane véritabic. Nous voyons tous les jours ces phénomènes se former sous nos yeijx , dans la couenne d'un vésicatoire , la réunion d'une plaie par première intention , car la lymphe plastiquc de Hmtery n'est autre que de l'albuminc et de la fibrine qui s'organisent sous 1'influence de 1'électri- cité organogénique que l'inflammation y a appelé. La Fausse membrane est ordinairement le produit de l'inflammation d'une surface viyante; ce produit est ver- se par gouttelettes d'abord séparées, puis réunies entre- elles, et forme une adhérence couenneuse avec les sur- faces contigues qui sont dans dcs circonstances analo- gues ; bicntôt cette adhérence deviendra celluleuse , puis à ce nouveau parasite qui est venu se greffer sur le corps de Tanimal , s'ajouteront des vaisseaux qui vien- dront Ic sillonner en tous sens, et peut être des nerfs qui apporteront la sensibilité ; cette disposition vasculaire est si vraie, qu'on peut y faire péçétrer le liquide des injections avec assez de facilite. 7.° Sang Fetneux. Placé entre la lymphe et le chyle d'une part et le sang artériel de l'autrc , le sang vei- neux est moins chaud , partant moins doué de fluide organogénique que lui ; et il est heureux qu'il cn soit ainsi , car cheminant plus diificilement dans les vais- seaux qui le contiennent, il se fút forme fréquemment pendant la vie des concrétions fibrineuses dans leur in- térieur ; il fut arrivé naturellement ce qui a lieu acci- dcntellement dans la phlébite , qui déterminant une ad- dition de fluidcs electriques amène la solidification de la partie la plus animalisable , la fibrine. Le sang vci- neux n'est donc plus qu'une macière organisable da gime dégré , ou le sang artériel , moins ce qu'il a per- du lors de Tassimilation. La lenteur et la difficulté de la circulation veineuse dans quelques points de l'écono- míe devait nous faire prévoir cette diminution de force or- DAS SciENCi AS DE Lisboa.' j M 75 orgifiisitrice , afin qu'il y eut poaJération entre !e flui- de métJphysiqa^ ec la mjtiòre. Los qualités physiques du sang sont trop connues pour nous y aircccr. Tous ccux qui se servent du mi- croscope , onc pu voir três distinctcmcnt Ics globulcs dont il est comp:)sé; ces globuics d'autant plus nom- breux que l'aninjl est plus chmd, sont ovales dans Ics oiseaux et dans les poissons, et circulaireS dans Ics mammitères. {Hewson). Lcur volume chez 1'hommc est selon Beer d'un tzz de pouce, avec leur enveloppe co- loréo; son poids spécifique est chez l'homrnc d'apiès Hallcr, de 1,0$ 17 ^ et chez le boeuf de 1,05'^. Sorti de ses vaisseaux,, il se coagule et laisse échapper beau- coup d'acide carbonique; ses globulcs se rapprochcnt, et il se separe en dcux ^parties , le serum et le coagu- lum, qui n'est qu'un feutrage de fibrine que Ton separe par le lavage de la matière colorante dont il est entouré. Berzélitis dit que cette matière rouge n'est autre qu'un produit animal uni à du fer à son maximum d'oxidation. Hunter qui a soumis du sang à Ia congélation , l'a vu se liquéfier et se partager en serum et cruor, lorsqu'il etait redcvenu liquide ; ce fait nous prouve que cc n'est pas le froid qui produit la coagulation , et il appuie notre opinion que si , pendant la vie , cette réunion des globules n'a pas lieu , c'csr que la force organogénique et la mobilité dont ils sont doués, les tient alors écarcés par une force répulsive , qui ne cede qu'à la coopération d'une nouvelle puissance ou à la disparition de celle qui les tenait respectivement éloignés les uns des autrcs ; comme on voit les corpâ électrisés de la mêmc manière se repousser mutuclle- ment, et ne se reunir que sous Tinfluence d'unc force plus puissante. II en a été du sang dans i'expéricnce d'HalIer, Tom. XIL P. II. 10 com- 74 Memouias da AcademiaReal comme dcs grcnouilles dans ccllcs de Spalldnzanl. En- ferme dans un mauvais conducteur , un corps organisa- ble , ou même organisé conserve plus , ou moins de tems ses élemens de vic. 8/ Sang artériel. Chez les animaux supérieurs le sang est l'cxemple Ic plus frappant de la matiòre orga- nisable au 2/"" dégré ; aussi c'est avcc raison , à notrc scns , que Bordeu le désignait par le nom de chair cou- lante. Soumis à Tinfluence de l'électricité, que j'ai nom- mée organogénique , il circule dans les canaux artériels , et s'organise à la fin de sa course , et en raison de la textuie, et du moule des parties désaggrégées, et en rai- son de la vitalité des tissus ; ou ce qui revient à pcu prés au même, en conséquence de Taction localc de Tat- mosphère électrique parenchymateuse , il devient là os , là muscle, là membrane etc. ou plutôt, si nous raison- nons par Tanalogie des reproductions en grand , il se forme une couenne fibrino-albumineuse ou gélatineuse, dans la quelle la puissance organogénique creuse des cellu- les , façonne des tubulures , et dessine des nerfs ; dés 1* instanr oíi ces conducteurs sont crées , la loi organogéni- que a fini ses fonctions, un jet d'électricité vitalc penetre le tissu de nouvelle formation , et il prend rang dans Torganisme vivant. 11 arrive quelquefois que cette puissance organisa- trice agit sur la molécule sanguine elle mcme avant qu' elle ait subi toutes les modifications, aux quelles elle de- vaitprércndre. Ainsi, l'on voit des masscs fibrineuses po- lypiformes se dévclopper dans Tintérieur des vaisseaux , et au railieu de ces concrétions on a même découverc du pus , ce qui indique un dégré asscz avance d'orga- nisation. {Cruveilhier , Ribeí.) ■ Laennec ne doutc pas que ces corps n'aient existe pendant la vie , ils se forment le plus souvcnt cependant au moment de la mort , et cela se conçoit : la force ele- çtro-vitale ayant disparu, reste la force organogénique d'au- nAS SciENCIAS DE LiSBOA. J^ d'autant plus puissante que celle là n'est plus, et que la circulation se fait avec plus de lenteur. La nature physique et chiinique du sang artériel est ;^ peu prcs la mcme que celle du sang veineux, seulcmcnc il est plus rougc , plus vermeil , a une odeur plus forte, une chaleur plus elevce d'un a deux dégrés, et une plus grande capacite calorifique ; il a une pésanteur spccifique un peu moindre, est plus promptement coaguISble et con- tient moins de serum. Quant à ses élemens chimiques , ils sont i peu .de chose prés les mêmes pour les deux sangs. Voici la der- nière formule que j'en connaisse : (i) eau, albumine com- binée à la soude , albumine libre , fibrine , matiòre colo- rante , matière grasse cristallisable, matière huileusc, ma- tières extractives solubles dans Tallcool et dans Teau, chlo- rure de sodium et de potassium, sous carbonate de chaux, de magnésie et de fer, peroxide de fer. {i) Tel est le sang dans son état naturel , mais il s' en faut beaucoup que les proportions de ses élemens con- stituans soient les mêmes dans circonstances hygièniques ou pathologiques delavie; ainsi, il estfibrineux, concres- cible , plastique dans la phlegmasie ; coagule dans la phlébite, Tartérite , Tergotisme , la gangrene sénile etc. liquide et séreux dans rhydropisie ; fluide , noir , sãos caillot, dans le scorbut et la fièvre jaune; poisseux, fram- boisé, dans le choléra asiatique etc. Ceei nous conduit à dire deux mots des intoxitations du sang , sujet ^ue Mr. Roche et Sanson nous semblent avoir traité avec supé' riorité. IO ii D'après (I) NouveauSystême de chimie organique parRaspail, 1833. Les premicrs assais d^analyse du sang remontent a Barbatus qui vivait au 17.'"" siècle. (I) Le lactate de soude, qu'y avait sígnalé Berzelius, ne figure pas dans cette formule , car il a cté reconna depuis , que l'acide la- ctique B^etait autre que Tacide acétique uai á une matière animale. l 7<í Memoriasda Ac ademia Real D'aprcs ces savants médccins, tous les viruí, miasmes, substances dclétcres, príncipes contagieux, auraiciit Ic sang pour véhicule, et seraient cliarriés avcc lui dans notre économic. Cette assertion nous semble cependant trop générale, les cxpérieiíces dejonh Morgan lui sonr mcme tout-à-fait opposécs ; il resulte en cflFet de ses viviscctions que la stryclinine au moins , n'est pas dans la classe des agens dcldtS^es qui communiquent au sang rintoxitntion; à r'on pu d'ailleurs prouver la présence des miosmes dans ccyéhicule? non sans doute, puisque nous nc savons pas même ce qui est un miasme ; il est donc tout aussi na- turel de croire que ces príncipes léthifòres aíFectcnt tan- tôt le systême sanguin, tantôt le systcme ncrvcux, et quelquefois tous les deux ensemble, en raison des affini- tés ou de cercaines particularités inconnues et inaprécia- bles. Quand je parle de raffectipn de ces systêmes, j'en- tends seulement celle des agens métaphysiques qui les anlment ; car c'est entre eux seulement que doit s'opé- rer le travail toxique. Les Icsions physiques que nous of- frent dans ce cas les divers organes , sont les résultats de cette action, rien de plus ; loin d'être une vraie mala- die ils en sont ordinairemcnt la crise ; c'est un eflFort souvent impuissant, il est vrai, mais c'est un moyen éli- minateuT qu'cmploie la nature médicatrice ; les évacua- tious cholériques en sont un exemple entre vingt. II y à dans rétiologie des maladics qui se communi- quent pv infection ou contagion, bien deschoses ipnoiées ; ainsi nous voyons le virus d'un bouton varioleux, Ic pus d'un bubon syphilitique ou pestilenticl, reproduire par T inoculation, la varioic, la syphiiis et la peste; tandis que des affections vraiment typhiques , n';iyant pas de foyer éliminateur circonscrit, ne sont pas dans ce cas (i). Ja- (I) Je iravance pas ce fait au hazani ; j'ai observe à Ia IVlarti- nique uue cruelle epidciuic de fiévre jaune, et j'a* «oigué de nora- nAS SciEWCIAS JJE LtSBOA* 77 Jamais je n'ai observe ni sur moi, ni sur mes collè- gucs que Tinoculation fortuite ou faire à dessein ait dé- veloppé ces dcrniòres maladics. (i) Qiie conclure de cet- tc obscrvation ? deux choses : la première , que dans les maladics par empoisonnement avec uii fnyer local climinateur du miasme ou du virus , la matiòre de ce foycr en contacc avec les absorbans cst^usccptible de reproduire la maladie : la seconde , que -dans les affe- ctions typhiques, mais sans foyer éliminateur circon- scric, Ic sang ou les autrcs liquides de l'économie ne sont pas susceptibics de les transmettre , d'ou cettc conséquence uiiique : que dans la variole , la syphilis confirmée et la peste, c'cst le sang qui charrie le vi- rus; (2) tandis que dans le typhus, le choléra et la fièvre jaune , c'est le systême nerveux qui principale- mcnt et primitivement est infiuencé par Tagent mor- bifique. Pour mieux faire comprendre toute ma pcnsée voi- ci un exemple: L'empoisonnement par le miasme du cholera asiatique. Qjelquil soit , deux surfaces lui sont ouvertes pour pénétrer dans 1'économic ; la surface cutanée , et la surface gastro-pulmonaire ; la première le met breux malades; j''ai été enferme peudant p]us de trois móis dans tin hopital de cholériques à Brest , j^ai depuis observe le choléra dans plus d^urie localité ; j^ai été tcmoiíi d''epideiuies de typhus et j''en ai vu bicn des cos isoles, tant dans le coiirs de ma carrière maritime que dans les liopitaux civils, ou dans ma pratique particulière. (1) Je u^ignore pis que quelques faits semblent coinbattre cette opinion , mais le téinoiguage des méJeciíis de ia marine a quelque valeur en «:ette matière , non seulemeat parceque ce sont des hom- jues instruits, mais encore parcequW chaque instant, ils sont appè- Ics à sacrifier leur vie dans ces sortes d''epidcaii'es. (2) Si l'on ne peut coiistater sa présence dans le snng , cVst fju^il y est dissemine et bientôt elimine sous la forme de bouton varioleux 011 de bubon ; or comme ces derniers renferment évidem- ment le virus et qu^ils sont alimentes par le saug , il faut bien nécessaifemept que celui-là provicnne de celui-ci. 7? Memorias da Academia Real met en contact avec I'atmosphère nerveuse des parenchymes dont il altere la composition , qu'il semble même tout-à- fait neutraliser, en s'opposant à l'exercice des fonctions aux quelles celle ci preside ; de la diminution ou absence de calorifícation cutanée, d'assimilation, absence de circula- tion capillaire, cyanose. La 2/'"' surface le met en con- tact avec le poumon, par le chyle et par l'oxygène, quL peuvent se trouver combines avec lui, comme ils le sont avec Télcctricité dont le miasme semble dépasser l'im- palpabilité. Son effet septique sur le systême nerveux, dont Taction est indispensable à 1'hématose , rend celle ci moins parfaite ; nul doure aussi que là comme dans tous les parenchymes , il n*agisse spécialement sur cette atmosphère nerveuse placée entre les fluides organogéni- que et vital , qui à sous sa direction spéciale les actes profonds de Téconomie. Un fait qui appuie fortement cette opinion , touchant Taction sédarive du miasme sur le système nerveux pulmonairc , c'est l'extinction subitc de la voix, et tout le monde sait que le nêrf pneumo- gastrique est aussi le nerf vocal. Mais cet agent septi- que continue sa marche dans les tubes nerveux , de la périphérie et des poumons au réservoir commun , 1' âxe cérébro-spinal ; de là la somnolence, la fatigue, ce xnalaise , cet accablement nerveux dont ne sort le mala- de que lorsque des crampes douloureuscs viennent Tas- saillir. Ces jets électriques indiquent les vains efforts des sources de vie, pourdisséminerou chasser Tagcnt typhi- que qui les tuera, si la réaction ne Temporte, Un autre résultat de cette puissance intérieure qui combat l'cnnemi commun, ce sont ces évacuations nombreuses et spécifiques qui rendent á le chasser hors de Tindividu, car je ne conteste pas que les liquides ne soicnt en partie aussi soumis a sa facheuse influence. II existe d'ailleurs une telle réciprocité entre les deux systêmes nerveux et sanguin, qu'il est impossible de les isoler completement dans leurs actions physiologiques et pathologiques ; si le chy- DAS SciENciAs DE Lisboa. 79 chyle d'ailleurs apporte rintoxitation dans son sein , il faut bien que le sang la partage, aussi reraarquons que Ja crise tend a se faire par la surface muqueusc gastro- intcstinale, prcuve que le poison a circule dans les vais- scaux 'Sanguins. La sécrétion urinaire est suspcnduc au cpntraire par cela même qu'il y a supersécrétion dans les voies digestives , que Ic sang est dépouillé de serum , et que Ia loi electro-nervcuse, que Ia rcgissait, est ané- antic , iieutralisée , sédatifiée par le miasme. Le miasme du choléra appartiendrait donc à Ia. classe de ceux, qui agissent à la fois sur les deux systê- mes nerveux, et sanguin, mais primitivcment, et princi- palement sur le premier (i). Le poison de la noix vomique à cette classe de sub- stances delétères, qui n'agissent que sur le systême nerveux uniquement. Et le virus syphilitique, à celle de ces agens toxi- ques, qui infectent plus, ou moins la masse des liquides dii icorps en respectant les nerfs. Ce serait dépasser les bornes d'une digression que d'aller au dela de ces simples dnoncés. v Terminons en disant que de même que lesappareils vasculaires sont três divers dans la généralité des êtres, de meme les fluides nutritifá qu'ils contiennent difFerent essentiellemcnt entr'eux; ainsi, le sang est rouge , ec noir cliez les deux prcmieres classes de vertébrés , il est plus veincux, qu'artériel chez les deux dernières ; il perd sa matière colorante rouge , en descendant , il est blanc jusqu'aux ento/oaires inclusivement, (i) à partir de ces ani- maux, on ne trouve plus ricn d'analogue au sang ; c'est une (1) Ce n*'est qu^ainsi que l^on peut se rendrecompte de ces cho- leras, appelés secs , spasmodiques , sans matière , et qui tuent a rinstar cie la foudre. (2) 11 paràit semblable à la lymphc, que nous avoas dcjá ètn-, diée. 8o Memorias ha Academia Real une matière nutritire qui lul est iiifêrieure probablc- ment , mais qui est le plus souvent tellemcnt confondue avec la substance diaphane de ces zoophytes qu'on nc peul l'eii distinguer. 9.° Cambfum. N'est autre que la sève qui a subi riufluence de Tair dans Ics parcícs vertes du vegetal et qui s'cst débarassòe des matièreshétérogèncs qu'clle pouvait contcnir ; c'est donc en petit Tanalogue du sang des animaux ; c'est elle qui va renouveller le liber, comme celui là après avoir éprouvé l'influcnce de l'dir atmosphè- rique vaxevivifier nos organcs. L'on y retrouve les mames principes que dans la scve ascendante, sculemenr, ils jr sont plus condenses ; ainsi le cambium est plus visqucux, filant, muqueux, d'une couleur variable suivant les végé- taux, blanc laiteux dans les euphorbiacés, jaune brun dans les papaveraccs , il se dépose et se concréte dans le liber des dicotylédonés sous l'influencc de cette loi d' électricité organogeniquc , tant de fois citée. Celle ci semble entièrement consommée dans cet acte nutritif , du moins nous ne voyons pas qucls conducíeurs pour- •aient s'en emparer, et à quoi cela pourrait servir, puis qu'elle n'a pas de nouvelles mutations à subir. On ne peut pas exiger qu'il y ait ici production de chaleur éga- le à celle qui est émanée dans l'acte assimilateur des animaux supérieurs. La plante sous ce rapport est Tanalo- gue de l'insecte chez le quel la respiration est une fon- ction três imparfaite. 10.° Mucus animal. Produit de la scfcrétion des foUi- cules des membranes muqueuscs gastropulmonaire et génito-urinaire , il forme une grande partie des matiè- res cornées ; il existe dans les poils , les cheveux , la laine, Ics plumes , les écailies de poisson etc. c'est un liquide blanc, limpide, transparent , inodore , insipide ou d'une saveur fade , peu soluble dans l'eau , insoluble dans ralkool , mais soluble dans les acides; à Tctat scc il est semi-diaphane, fragile et insoluble dansl'cau; il se bou- DAS SciENCtAS DE LiSBOA. 8l ' boursouflle sur les charbons, et répand une odeur de cor- ne brulcíc ; distilltí dans une cornuc , il dcgage beau*- coiip de sous-carbonatc d'ainnioniaque. II est composé d'eaa cn grande partie , de matière muqueuse , d'hydro- chloratc de soude et de potasse , de lactatc et de phos- phjte de soude, d'albumine et d'une matière animale. L'irritation change la nature de ses élcmcns : le mu- cus CSC séreux, salé et coule abondamment les premiers jours, puis il est plus épais, blanc , filant, albumineux , et vers la fin de b phlegmasie il devicnt pias consis- tant , jiune, vcrt , et forme quclquefois des couennes mcmbraneuses comme dans la diplitéiite , l'angine cou- cnnciise , le croup ; fausses mcmbrancs , qui sont susce» ptibles de s'organÍ3er aussi complétcment que celles des séreuses , avcc les quelles ellcs ont plus d'un point d'analogie. II y a plus, c'est que la loi organogénique pcut dcvelopper ici comme dans la liqueur spermatiquS de véritablcs ctres vivants , dont nous allons dire deux niots. Entozoaires. Personne ne songe plus à soutenír avec Linnée , que les cntozoaires sont des vers avales en nature. Dcux opinions seulement partagent les Helmin- tiiologistes : ou Ics germes de ces animaux sont venuà de Textéricur ; ou Ls entozoaires se sont développés spontanément dans nos organes. Brera s'est declare partisan de la premicre opiniort ^ Rudolphi a soutcnu la seconde. Tous convienncnC que qucique soit leur mode de génération , Tasthénie et le lymphatisme y prédisposent. BuíFort accuse Tex- cès de faculte organLsatricc. Notons que cet état peut fort bicn coincidcr avec la faiblesse générale ; ainsi í d'une part il y a hyperdiacrisie muqueuse qui produit la pàleur, la bouffissure , Ia debilite; d'autre part, la chylificntion imparfaite amène la maigreur, et 1* emaciati^n : la loi électrique générale qui est là en moins , et la loi organogénique qui est ici en plus, T. XII. Part. 11. 1 1 cn- 82 Memorias DA Academia Real ciur.iinrnt ncccss-iircmcnt ccs deux eíFjts opposés en appaicncc. Nous croyons donc que Ics vers , tant ceiíx qui prcnnent naissancc dans Tcpaisscur de nos tissus , que .ccu>i qui SC dévcloppciíc dans les iiitcstins , s'y pro- duiscnt par uiie vt4itablc géncration spontanéc. Des SUC8 muqucux, le s.ing , par la pcrpétuitc d'act:oii de la loi dVMcctricittí organogéniquc , passcnt aii 3^"'' dcgré,' aux promicrs rudimcns du ver, de Thydatide, et uii ani- mal indépondant est forme de coutes pièccs , mais se perpetue probablcment par voie de gcnéiation. (i) Rem;:rquoiis que Ic réscrvoir dans le quel est pla- cé la matière organisablc , est Ic plus propre à l'orga- nisation ; chaleur , électricitc organogéiiique , léger ballotcment , ro.us les principcs de vie s'y trouvent reu- nis ; c"cst toujoiírs le mcme Nisus , la même force cos- miquc qui preside à corte création en petit. Quant aux vers vésiculaire;? ou hydatides; je ne conçois pas qu'on puisse raisonnablemcnt expliqucr leur naissance, sans admcttre au inoins pour eux, une vé- ritablc géncration spcmtance. Cest une maticre organi- Sí.blc parasite qui s'cst isolée du corps qui la nouris- sait , aussitôt qu'ellc a eii assez d'òlcinens pour vivre scule, et qui a revòtu ici certaines formes, et là ccr- taincs nutres , d'apiès les plans inconnus que Icur a d'avance traces ia naturc. Nous avons vu un caillot de sang se concrétcr , s'isoler , s'organiscr et suppurer, nous voyons de même le mucus se concréter en pseú- do-mcmbrancs, ou s'isoler' et former un produit nouveau. Taillcz une de ccs coucnncs pscudo-membrancuses , vous simulcrci un txiiia ; soufFlcz de scrosité une bulle de inucus , vous aurcz une acéphalocyste 5 et si la main de (I) 11 arrivc ici ex.Tcteiiuiit , cc qui arrive ilíiiis la liqueur sper- matique à Tcpoque de la puberté. DAS SciENCiAS DE Lisboa. 85 de la nature a guidé ce travail crcateur , la bulle se reproduira par une vraie génératioii gcmmipare analogile à celle dont jouit le vegetal infcrieur, qui n'est com- me cllc qu'ane matière organisable et non organisée proprcmcnt dite; car le caractere physique d'une ma- tière organisée animalc cst de posséder des nerfs et des vaisscaux , et son caractere métapliysique est d'être sou- misc aux lois du fluidc clcctro-vital. it.'' Lait. Liquide blanc , d'une saveur douce eC sucrée, d'une odeur spéciale, trcs azote, composé d'eau, de matière cazcusc , de sucre de lait, de chloratc , phos- phate et acétate de potasse , de phosphatc calcaire ^ d'un peu de lactate de for et d'acide lactiquc, qui n'est peut-êtrc que l'acide acétique, Abandonné à luí même , il se separe en trois parties , Tune supérieure , opaque, blanche, onctucuse, nommée creme , est forméc de matière butyreuse et cazéuse unie à un peu de se- rum ; la seconde également blanchs , mais sans onctuo- sité, est formée de caséum ; eiifin la 3""° liquide, trans- parente , Icgèrement verdàtre est le serum ou petit lait , composé d'eau , de sucre de lait , et d'une petite quantité de matière caséuse. Les acides et 1'alkool coagulent le lait ; les alka- lis rcdissolvcnt le caillot. Cette matière organisable est sécretée directemenc du sang, quoiqu'en ait, dit Richerand ; elle est formée des mcmes globules que lui , ses élemens ne sont pas identiques aux diffèrcntcs époqucs de la lactation ou dans les divers états de santé de la nourrice , ainsi : il est plus séreux , moins coagulable les deux au trois premiers jours qui suivent raccouchement ; il est plus cazéux , contient plus de creme, est plus nutritif au contraire après quclques móis. Tout cela est parfaite- nient coordonné pour la nutrition de 1'enfant qui vicnt de náitre , c'est à la formntion physique que la nature cmploie tous ses moyens , plus tard le progrès amèncra 1 1 ii la S^4' Memorias DA Academia Rç a l la précminencc des centres neiveux qui sont actuellcment stationnaircs Un globule organisablc au 2*'"* dógrc, pe- netre par conscquent de ce flaidc élcctiique organogénique qui tst si utile alors pour raccroissemcnc, est donc cn dcr- nièrc analyse ce que la nourrice donne à son nourisson. 3i l'oQ me demande pourquoi la nutrition ófaiit si active ,çhcz r«:nfant, le fluide électrique vital, s'il est sécreté et aspire par Ics nerfs dans l'acte de Tassimila- tion , n'indique pas sa prcsence par des actes vitaux supéricurs ? je repondrai , que les organes nervcux sont peu dévcloppc^s, qu.e la matière isolante des nerfs n'cKÍs- te qu'en petite quantité , et qu'eníifi tout ce fluide scm- ble consonínié par les mouvemens, par Tinstabilité con- tinuejje, dans ia quelle sont les jeunes enfans ; car si çon origine est dans la nutrition, ses voies d'échappe- ffient sont dans la douleur , les mouvemens , et en ge- neral dans tous Içs actes nerveux. iz,° Pol/en et Sperme. Sont des matières organisableíf au i''""^ dégré, chargces de Tanimatiun ou de la forma- tion d'un nouvel individu. (i) Mr, Hugi Molil de Bcrlin a publié Tannée der- nicrc \m mcmoire dans Ic quel il a assimile le grain de pnllcn à 1'ovuie vegetal , il le dit forme de cellulcs et d'un élcmcnt homogène. Mr. RicharJ dit que la pnussière fécondante est «ne réunion d'utriculcs dans l'intérieur des quelles est une ^ubstance Imileuse , inflammable, qu'il croit la matière fécond:-intc. D'aprçs Mr. Mirbel , les enveloppes de la matière pollinique sont des utricules simples ou cr.mposés féunis par cmboitement. Tous les vcgétaux, dit-il, sont com- (1) PeiU-ètre tievrioiís noiís classtT la liqucur prolifique dans les matières organisables au \^' dégré j iious coiisidérerions alors les aniinalcules comine les analogues dii tissu organisé rudimeutaire , (unué oar les paUies les plus (tíiiuialitiabies du suug. RAsSítENClAS DELtSBOA, Sj" composéá de moldcules vivantcs provcnant de 1'union d'arômes divers , ageneés d'après les lois de 1'afGnité or- ganisatrice, et jouissant de la propriété d*engendrcr par voic de nutrition ^ des molécules nouvellcs semblables à leurs mères. J'ai étudié spécialcmcnt le pollcn de quelqiles lilia* cés , et j'ai constate cet emboitcment des utricules poUi- niques , en tout semblables pour la forme extérieure à ranthòre dont je les avais soustraites. La barbe isolée d'une plume ofFre le même phénomène , elle represente exactcmciit Ia pkime mère , de même que chacune des barbules ressemble à une plumule, et probablcmcnt cctte sorte d'emboitement vcgétant s'étend au dclà de ce que peut voir l'oeil arme du microscope. Quoiqu'!! en soic de ees subdivisions infinitésima- Ics, le pollen a une coulear et un aspect variables sui- vant les divers vdgétaux, jetc sur les charbons il s'en- flamme, et répand quelquefois une odeur de sperme, comme dans le Chataignier , 1'Epinc-vinette &c. Nous ne traiterons pas la question de savoir , si le pollen agit pour produire la fécondation a Taide d'un aura pollinaris , commc le croit Mr. Richard , ou s'il est mis en contact direct avec les ovules de Tovai- rc , après avoir traversé le stygmate et le style; nous nous bornerons à faire observer, que ce sont deux ma- tières douées d'électricité organogénique , qui sont mi- ses en contact plus ou moins immédiat, et que de ce contact doit résulter le rudiment d'un nouvel indi- vidu. Le sperme est un liquide grumeleux, blanc , d'une odeur sui generis , visqueux , salé, contenant d'après Berzélius, lés mômes seis que le sang, plus une matiò- re animale particulière. Les naturalistes se sont occupés d'une maniòre spé- ciale de ce príncipe générateur, ils y ont vu ou y ont cru voir les uns, comme Leuwenhoec, des animalcu- les 8Ó Memorias da Academia Real Ics; les autres , comme Buffoii, des iiifusuircs ; qucl- qucs autres cnfin , commc Vircy, de simples capsules polliniformes. II nous scmble douteux, malgié les faits observes pnr Hartzocckcr et les recentes expcrienccs de MMrs, Dumas et Prévost , que le spermc doive sa faculte gé- nératrice aux animalcules qu'il contient , et dans le quel au reste on pcut facilement y constatcr Icur prcsence ; en cffct , les expériences les plus favorables à cette opi- nion peuvcnt s'expliquer diffêremment à notre avis , je veux parlcr de la perte de la faculte fecundante du spermc, filtre à travers un triple papier, ou dont les animalcules ont été dctruites par la détonnation électri- que. Nous disons que ccs faits peuvcnt se traduire ain» si : si le spcrme filtre n'cst plus fécondant , c'est que les globulcs organogdniqucs dont il se compose, trop volumineux pour franchir les pores du filtre se sonc arretes à sa surface ; la preuve , c'est que recueillie dans ce point , la liqueur est fécondante et la p:rtie filtrce plus liquide ne Test plus. Si la maticre prolifi- que qui a éprouvé une violence électrique n'est plus apte à la fécondation, ce n'cst pas parccque les ani- malcules sont déiruits , mais bien , parccqu'une dose trop forte d'élcctricité à neutralisé ou ancanti si Tori veut, réicctricitc organogcnique ; c'cst ce qui se passe tous les jours dans une partie enflammce vivement, il n'y a plus d'organisation possiblc parceque la force élcctrique est en exccs; persistance et activité modé- réc , tellcs sont les dcux conditions de la force organo» gcnique qui doit produire. Maintcnant une autre obje- ction? pourquoi ces animalcules dans le sperme de tous les animaux , à Tcpoque du rut ou de la puberté ? et pourquoi ne trouve t'on pas d'anim3ux dans les autres hnmeurs? Ccst parceque celle là, organisatrice par exccllcnce, produit elle mêmc en raison de sa puissance organogcnique dcs corps organisésj ces petits animauj^ s'y DAS SciENCIAS DeLiSBOA. Sj s'y dévcloppciíc à l'âge de la pubcrtc , parccqu'alors ccs parties jouissent d'unc noLivelIe ou mieux (l'un surcroic de vie; cela cst si vrai , qu'ils sont d'autant plus nom- breux et vivaccs que la vie de Tindividu cst plus active. La matière dcs pollutions qui épuiscnt qiielqucfois de malheurcux phthysiques cst presque sans animaJcu- Ics. lis different suivant Ics espèces animales , comme certains parasites vcgétaux qui ne croissent que sur ccrtaines plantes , comme Tacarus de l'hommc diftère de cclui du mouton , tandis que celui ci n'est plus le mime que le ciroii du fromage , &>:. &;. Pour prouver que ranimalcule était la cause sine quà ríon , de la gcncration , on a dit qu'on Ics retrou- vait vivaiits dans les trompc; jusqu'à la descente des ovules, époque à la quelle ils disparaissaient; qu'aprè3 dcux heurcs de séjour à l'air ils mourraicnt, et que alors sculement , le spcrme perdait sa faculte fécondante &c. Mais ne voit on pas cjue tou* ccs faits cèdent à notrc hvpothcsc ? Si Ics animalcules sont morts lors de la descente des ovules , c'est que la force qui les te- niit vivnnts, employífe à la formarion d'un être bien plus important Ics a abandonnés ; si après la mort de ccs corpuscules, la fécondation n'a pas lieu , c'est que le fluiie organogcnique ayant disparu , le spcrme se trouve rcJuit à réicctricitc natíve ; les dcux résultats de cc dcpart sont la mort prochaine du spcrme, et la m;irt subitc des animalcules j d'ou le défaut de fécon- dation , non par la ccssation de la vie de ccux ci , mais par Tcxtincrion du príncipe qui les tenait vivants. De mêmc qu'à Tcpoque de la pubcrtc de nouvel- Ics parties appataisscnt chcz Thomme et Ics animaux pour le grand actc de la réproduction de leur cspòce , de mème chez la fcmme , il se développe des parties qui n'exist3Íent antérieurcment qu'à l'état rudimcntaire, L'ovairc dont nous avons déjà parle sous le nom gcné- n- 88 Memorias DA Academia Real riquc d'ovulc , est pour nous une i-cunion de globules 0!g.inogcniqucs dcstinds à s'unir à ctux du sperme ; de la conjonction de ccs dcux puissaiices orgauisatriccs par exccllcnce va résultcr un ítie nouvcau , qui scra souinis h la loi electro-vitalc dcs rinsranr oíi des filcts nervcux vicndront pénérrer cctte maticrc organisablc, encore amorplic. La liqucur contenuc dans la vésicule de l'ovai- rc semble nioins organisablc que le spcrmc, puis qu'clle ne créc pas de corpuscules vivants comme cclui ci, pcut- être au resre y cxistcnt t-ils, mais leur petitcsse aluis a du leur pcrmettrc d'échapper à nos moyens investiga- teurs. Spallanzani d'ail!eurs vlent à notrc aide, il a vu des animalcules distincts dans le fiai non fccondé des grenouillcs , et Ton sent toute la valeur de cette asser- tion qui n'a pas été démcntie. Peut-ctre, aussi , que la force organogdnique dcveloppant et détachant sans ces- se les ovules , qu'il y ait ou qu^il n'y ait pas cu de rapprochement dcs sèxes , n'a pas le tems d'y créer des êtres vivants. On voit que je rejette totalement l'liypothèse dcs ovaristes et dcs animalculistes , et que je crois que l'épigcnèse pcut le micux nous servir pour expliquer l'importantc fonction de la géncration j mais jc suis loin d'admcrtre cependant le mode d'explication qu'en ont donncs Hippocrate ou Bufion. Si l'on rencontraic queIqu'anaIogie entre les particulcs organiques de celui- ci ec nos globules organogcniqucs , il suffirait de faire remarquer que nous les eonsidcrons là comme dans tous les autres tissus , comme dans toutes les parties du corps , et non comme un point de centralisarion et de dcpôt, comme une miniature de toutes les parties, ain- si que le pensnit ce peintre éloqucnt de la nature. Nous ne faisons là comme ailleurs, que l'application d'unc grande loi commune à toutes les matières organisables. II resterait à expliquer Ia génération proprement di- DAS SciENCtAS Dfe LiSÈOA. 89 dite ; fnais que pourrions nous dire qul fut bâsé suf quclques preuvcs solides ! SufEra t-il de citer MMrs. Costc et Delpech qui avanccnt que la conccption esc uii phénomène électrique ! Nous croira t'-on plus que MMrs. Rolando, et Dumas qui pensent que c'cst Ia mè- re qui fournit le systâmc ccllulo-vasculaire, et le père le systcme nerveux de l'embryon ! Reproduirons nous et les erreurs, et les faui aN guments , et les absurdités, puisqu'il fàut bien le dire, que cette question a soulcvés ! nous ne craindrons pas au moiíis de publier une erreur en avouant que nous ignorons ce mystcre. Si l'on se laisse aller aux conje- ctures que doit naturellcmcnt faire nâitre notre ignoran- te des faits , nous pensons bien que le mode de repro- duction de Tindividu entier , doit avoir quelqu'analogie avec les modes de reproduction partielle , et que les mêmes lois doivent y prcsider. Nous savorts que l'oeuf , Tembryon, et le foetus humain, suivent dans leur évolution une marche graduelle, qui correspond aux différens dégrés de l'organisation complete de plusicurs animaux infé- rieurs; mais déja il s'agit dudéveloppement, et non plus de la formation première , de la création de 1'individu, Mais puisque Ia nature ne nous a permis que cet« te investigation secondaire, voyons en quelques lignea ce que nous en savons. Arrivc dans l'utérus quelques jours apròs la concc- ption, 1'cEuf humain jouit d'une vie isolée moléculaire erl quelque sorte, indépendante de sa more; c'est un flocon grisâtre , amorphe , une matière organisable au plus hauC dcgié. Oest vers Ia 3*'"' semaine que la force organogé- nique double dont la molécule est irtiprégnée , com- mcnce à développer quelques traces sensibles d'organisa- tion. Une cellule agrandie se rempiic de sérosité qui va servir pour la nutrition de Tembryon ; à cette époque commence sa vie Vesiculaire. Le tissu gélatino-celluleux Tom. XII. Paru IL ia est jjo MEfAoniAp p/k. Academia Reai, est sillofiné de qiiclques vaisscaux veincux d\tbord , pre- tendem les embryologistes , puis un vaisscau artériel, et un. poinj: saillant dessinent le coeur ; le sang prcsqu en- Íicremcnt blanc , cíccliIc dcjà dans le pctit homdncu- e, Ics gapglionç , pcutêtrc le cardiaque d'abord , le grand sympathiqup ensiiite , se montrent dhf le preroier móis, siiivant Ackermann ; ces nerfs mcme précèJcnt touc flutre tissLi qrganique d'après. plusieurs physiologistes. Dcs masses çe dessinent syrnétriquetnent. C'est à cctte epoque sculemcnt que rcmbiyon prcnd rang parmi les çojps organisés , jusque là il n'était qu'une matiòre orga* çisable. Au deuxième móis , le cordon commence à parai- trc , ^'embryon va jouir cl'iine vie Placeutairc dépendante do sa roère ; il reççvra d'cllc une matiòre plus organisa- l^le qui va hâtcif Torganogénie. Déjà les principaux orga- ncs çntrent cii cxcrcice, Iç systême ncrveux n'est pas en- cpre complct , ce n'est que vers le 3*'"* móis, que le çerveau proprcipent dir, ^uccède aux deux c rdons encore separes de la moêlle spinale, et aux tubérculos quadriju- meaujy 5 alors seulement la vie est Centralisée \ ce ne será plus dcsormals uri embryon , mais un fsetus qui marchera 5.ansi cçsse vers la perfection, li^a mov'l!.e qui occupe d'abord toutc la longucur du canal racliídicn , perd sa partie inféricure, se creuse en goij,ticfc., çt forme un canal moyen qui s'ciFacera plus t^i;d. Lc. cervelct , les t.ubercules et Ic cerveau , formes (Í'alj()iJ; uniqu«;mcnt de substance blanche, se rencontrcnf, et. &'unisspnt sur Ia lignc m<ídiane , oífrant ainsi la plus çx.ictc rcsscmblnnce avcç los mômcs parties du poisson , du rqpdle , de roisçau c.t des mammifères, en rcmôn- t;;jnt dcS: rqngcurs , vers Iqs quadrumanes. Après la nnis- sance , l'accroisscment du systême nerveux , qui avait écé s^ rajjidc. , s'ari"cce tout à cc>up., jusqu'à ce que 1'enfant dcvenu pubèrc soit appelé à la vie intcllectuelle , puis il dimin^c, s'atfqphie dan$ la vieliesse et cede lc pas à l* éle- DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. <;t clement désorganisateur , qui s'avance. Foyez h tableau d^organogénie comparée, La Iccondation , et l'organogénie de Tcmbryon donC nous venons de rappcler quclques traits ne s'opèrent pas toujours suivant cc mode unique, chez les ctres vi- vants. II n'y a pas constammcnt juxta-position de deux niatières organisables. Cctte réunion n'a même licu que dans la forme organisée seulement, c'est à dire, chez Ics plantes phanérogames, et chez les animaux à systême ncrveux, et sanguin. Chez les autres la génération est ou spoiítanée , ou fissipare , ou gcmmipare. Ceei nous amè- ne tout naturcllement à nous occuper de quclques ma- tières organisables végétales, ou animales jouissant d'une vie le plus souYcnt isolée. 13/ Matières organisables vegetales. Là viennent se ranger les substances végétales agames, ou cryptogames. Ces preinières pages de la vie sont loin de préscnter une traduction facile y la faiblesse de nos moyens peut nous fairc croire à une simplicité d'organisation, qui est peut- êfre plus apparente, que réelle : mais comme il vaut mieux souvent s'en rapporter aux lumières des sens qu'à celles de 1'esprit , nous n'interrogerons que les premiè- res, et on verra qu'elles nc nous répondrunt pas toujours d'une manière satisfaisante. lei, on ne distingue point d'organes séxuels, qucl- que fois on ne rencontre d'autres traces d'organisation qu'une matière celiuliforme pénétrée d'une substance muqueuse , incolôre , ou coloriée de vert ; là c'est une simple couenne vivante analogue à la membrane des spongiaires, ou des coralliferes (i). lei c'est une poussiè- re grisâtre, qui revêt une couche humide ; ailleurs ce sont de petits chapitaux des ombrelles elegantes , d'admira- bles panaches, des protês aux formes les plus fanrasti- 12 ii quês; (1) JNostocs. çi Memorias da Academia Real quês; plus loin c'est une forct de petits tubes muqueux analogucs aux poils animaux; plus loin encore, l*3game semble une tache d'oxide de ciiivre sur nos bronzes ; il penetre partout, se dcvcloppe en tout lieux, pourvu qu'il y trouve une parcclle humide. La part de vic, qu'il demande à la naturc, est bicn peu de chosc , aussi ces ctres vivants sont ils jgnorcs des qiiatre cinquièmes de Tespèce humainc. Au dessus de ces globules vivants , nous trouvons des végétaux à organisation plus élevée ; ce sont les cryptogamcs; on voit dans les mousses, les hépatiques , Ics fougères des traces vasculaires, mais pas d'organes sé- xuels. Ces petítes masses scutiformes, hypocratériformes, en rosacc &c. que Ton a considcrccs comme organes de rcproduction , sont loin de ressembler à ceux des plan- tes phanérogames. Ces corpuscules reproductifs parais- sent erre dans le cas des bulbilles et des bourgeons qui se développent , jusques dans le pcricarpe des végétaux les plus eleves. Le mode de rcproduction des cryptogamcs se feraic donc 'par une génération gcmmipare, c'est à dire qu'à Tepoque de la maturité les corpuscules seraient penetres d'une plus grande puissance organogénique , que le res- te de la plante; ce scrait sous Tinflucnce de cette force que le bourgeon se détachcrait pour jouir d'une vie in- dcpendante. Mais il n'en est plus ainsi des agames, c'cst par une vérirable génération spontanée que ceux ci prennent naissance. Mr. Lamarck , qui admet cette génération , pense que les premiers clements organisables ont seuls été jetés sur le globe, et que les êtres actueis ne sont que Ic résultat du dévcloppcment successif de ces diffèrcns globules organogéniqucs, que le mouve- mcnt vital a de plus cn plus compliques. Les développe- mens, que nous avons donné à cette cspèce de généra- tion^ nous dispcnsent d'entrer ici ámvy de nouveaux dé- tails. 14.° nAs SciENGiAS DE Lisboa, 9J 14." Matières organisables animales isolées. Nous pia* çons ici ces êtres à organisation douteuse chez Ics quels on n'a pu constater la préscnce de ncrfs, ou devaisscaux. Nous eii faisons deux classes, comme pour les végétaux , dans la première nous plaçons la membrane vivante , qui revct Tcponge , et ccllc, qui recouvre certains madrépo- les, ou coraux, qu'on designe sous les noms de zoophytes, lithophytcs, et de ccratophytes. Ces couennes vivantes, qui ont la plus grande analogie avcc les agames, ne sonc autres, qu'une masse pulpeuse, celluliforme, à peine con- tractile , et douée uniqueinent d'éiectricité organogéni- quc. Leur mode de reproduction n'a pas été apprecié ; mais si nous en jugeons par voie d'induction , nous ne balancerons pas à croire qu'il cst spontané. Les radiaires sont les analogues des plantes cry- ptogames, comme chez celles ci, on commence à y dé- couviir des linéamens d'organisation ; on trouve même de petíts ganglions chez les astéries , et quelques fiiets nerveux chez les entozoaires, qui forment le passage des radiaires aux articules. Nous classons lei les genres acalèphes, et échino- dermes , et les polypes en general ; tous ces animauí marins connus sous le nom d'astéries , d'holoturies , d* ascidics , d'hydres , d'anémones de mer, oursins etc, etc. etc. appartiennent à cette division. Nous retrouvons là les formes les plus bizarres, les plus harmoiiieuses, et tou- jours les micux combinées pour les besoins de Tanimal. Combien d'hommes ne se doutent pas des merveil- les, que leur cache Tocéan ! combien n'y voicnt qu'un gouffre immense, que la témérité seule a osé franchir ! II y a plus cependant dans cette vaste enceinte de cristal. Que de mystòres resteront à jamais voilés ! Que d'harmo- ries inconnucs pour un nouveau Bernandin de S/ Pierre , s'il pouvait lire dans ces profondeurs, oíi s'égare Tima- gmation ! Mais sachons nou*s borner à ce que nous voyons, 1* ho- 94 Memorias da Academia Real horizon cst déjà assez étcndu pour la faiblesse de I' homme, sans Taugnienrer encore de cct océan de fécries. N'avons nous pas d'ailleurs assez de merveilles à admi- rcr a sa surfacc , habitéc par taiit de pcuples divers ; sur ses bords accidentellcmcnt découpés, ou raiu d'al- giies , de Varecks , ont trouvé un refiige contre la tcni' pcte ; sur ce roc oíi l'anémone des mcrs déploié les plus vives couleiírs, aupres de Talgue festoiínée, dont les som- bres guirlandes iiicessamment soulevécs par la vague , scrvent de refuge à des niyriades de petits polypes 5 sur cctte plage sablonneuse, oíi viennent échoucr de nom- breuscs étoiles de mer , des holoturies armées de nulle dards, et ces masses gluantes amorphes , qu'on ne saisit pas toujours sans danger 1 C'est là qu'ii faut étudier les rudimens de la vie. Mais que nous soummes peu instruits de beaucoup de choses ! voycz ce monde, que nous a dévoilé ]a physique : il a cté rélégué sans distinction aucune au dernier de- gré de l'cchelle. Pourquoi ? parceque nos moyens d'ap- préciation ne nous permettent pas de distingucr les pai- ties, qui le constituent ; mais il est une pierre de touche de l'animalitc, c'est le mouvcment voulu, senti; or quel- ques uns de ces animaux cn jouissent évidemment. Le •vúlvoce cst un infusoirc, qui pirouette sans-cesse sur luL mêmc, commc un religieux Dcrviche , son organisatioa est plus réelle , que celle de Teponge , ou des madrépo- res coraligènes, aprcs les quels il a pourtant été placc. Le Rotifère vogue avec ses dcux roues, comme un petit ba- teau à vapeur, il est arme de rrois tentaculcs, qui luL servent d'amarre pour se lixer aux corps ambians. Beau- coup de vibrions s'agitent en tous sens dans la coUe , ou SC creusent de petites taniòrcs dans Tergot du seigle, ou ils se rcproduisent , en laissant cchapper des petits vi- vants, comme Ic volvoce, qui a été cite pour preuvc du systême de 1'emboitemcnt des germes. hes proíés, qui sont inféricurs íjux vibrions, n'ont com- me dasScienciasdeLisboa. 9^ me leur nom Tindiquc aucune forme déterminéc, ou plu- tôt ils sont suscepcibles de los revôtir toures. Les cylides ^ Jes trichodes, sediviscnt pour foimer un nouvel être. Quel- ques uns de ccs petits animr.ux sont figures cn sac, {bur- saires) d'autres anguleux, (gones) quclques autrcs accollés en bagucttc, {bacillaires) ceux ci ont des poils, (trichodes) ceux là des cornes ; {kérones) cnfin on rencontre chez eui toutes Ics formes, que l'imagination pcUt enfanter. Je me garderai bien de dire avcc KraUse , que ceà animalculcs ont une âme d'autant plus parfaite, que leur eorps cst plus délicat ; mais jc croirai volontiers que plu- sieurs ont un systcme d'organisation plus élcvé, que nouá ne le supposons gdncralement. Les petits globules, dont Icurs corps diaphanes semblent composés, peuvent bien con-» tenir, chez quelques uns , une matière nerveuse dissémi* née ; tous, il est vrai, ne semblent pas dans ce cas ; aussi leur division en gastrés , et agastrés nous semble t'elle devoir être conservée. On a pu remarquer que la gdnération etait chez les matières organisabies animales, ce qu'elle est chez les ma- tières organisabies végétales , c'est à dire , spontanée, gcmmipare, et quelquefois fissipare, Car c'est là un des ca- racteres tranches, qui délimitent parfaitement nos matiè- res organisabies , toutes les fois qu'il y a des sèxes, ou separes, ou reunis, ce n'cst plus un corps organisable, c'est un corps organisé. ij. Productiotií morbides en general. J'ai trouvd dans mes notes ce sujet traité beaucoup plus longuemcnt que je n'ai 1'intention de Ic faire. Mon but unique en ce mo- mcnt est de laisser entrevoir que les productions mor- bides peuvent bien ne diiFérer en rien sous le rapporC de leur mode de développemcnt de celui des tissus nor- maux, dont nous avons cléja dir quelque mots. Un corps étranger est déposé dans Tintérieur de nos parties, ou même appliqué a la surface des corps; si h déposition est brusque, et le corps irrifant, une in- flara- 9<> MemoriasdaAcademiaReal flammation aiguc se développera , et son résultat pourra bien êtie la production d'Lin liquide anormal , du pus , qui tendra à expulser ce coips ctranger ; son organisa- tion n'aura pas lieu , parcc que les deux conditions in- dispensables ne s'y trouvent pns ; persistance d'action de la puissance organisatrice, et dégré modere d'activité. Eti effct, si rirritation est vive , avec douleur , la loi ele- ctro-vitale viendra bouleverser le travail organisateur ; cjr celle ci ne peut produire, si la loi organogénique n'a je- té les premiers fondements. Le pus s'organise quelquefois cependant, mais ce n'cst que lorsque 1'irritation est mo- dérée. La mcmbrane pyogénique, qui recouvre les surfa- ces suppurantes, n'est certainement autre que le resultar de ce phénomène d'org3nisation j il en est de même du tissu inodulaire. Les Kystes, qui prenncnt naissance toutes les fois qu'une matiòre anormale, ou normale pour l'economie , mais non pour la partie, a été déposée dans nos tissus, sont encore dans ce cas. Si l'irritation est lente , occul- te, les petits vaisseaux fourniront de la fibrine, ou de l'albumine, qui seront les rudimens d'une fausse membra- ne, ou séreuse, ou muqucusc, car tous les Kystes semblent cotnmencer ainsi. L'influence organogénique continuant, on les voit successivement fibreux, çartilagineux, et os- seux. Les productions morbides plus, ou moins analogues aux tissus vivants, suivent les niêmes lois de l'as5Ímilation normale. C^iant aux désorganisations, aux dégénerescences propre- ment dites , cUcs ne sont le plus souvent que ic dépot d'unc matiòre organisable dans les mailles de nos tissus, matiòre émanée du sang, ou de la lymphe , ou vicice originairement , ce qui est assez rare, ou viciée secon- daircment par une cause locale, ce qui est le cas le plus fréqucnt. Presque toujours une irritation chronique ouvre la scêne, irritation organisatrice par conséquent, mais DAS SciENciAS DE Lisboa. 97 mais qui alterne avec rinflammation ou irritation vitale en excès, non susceptible de produire, mais bicn au con- trairc qui tend à détruirc , à dénaturer ce que Tautrc a ébauché ; de là ce mélange do tissus normaux et anormaux, ces éclairs de douleur qui annoncent Tarrivée de ce fluida électro-vital , qui vient intcrrompre Tordre organogé- niquc j de là enfin cette organogénie vicieuse. §. 3.'"'* Forme Organisêe. II est temps que nous arrivions enfin à cette 3*"* se- ction, dont nous aurons d'autant moins à dire que nous avons déjà bicn empicté sur elle. Nous définissons un corps organisé ; la matière pourvuc de nerfs et de vaisseaux visibles , ou de vais- seaux seulcmsnt , mais ayant toujours des organes se- xuels, à Taide dcs queis elle se reproduit par voie de gcnération. Un corps organisable , est donc la matière dépour- vue de nerfs , de vaisseaux , et de sèxes visibles, et qui prend naissance et se perpetue par une génération au- tre que la génération par sèxcs. Et un corps inorganisable , la matière non susce- ptible de reproduction par génération. Ces scules dcfinitions établissent des distinctions assc7, tranchées entre nos trois sections pour nous per- mcttre de passer outrc. Les deux grands embranchements qui constituenC cette section, ont Icurs sourcc commune dans la matière organisable; l'uii a pour point de départ le dernier dcs monocotylcdones de la famille des fluviales, et pour sommet le premier des cicadcos, ou des conifères, donC Ics sèxes sont separes; l'autre a pour origine Ic der- nier des entozoaires, et pour sommiré 1'homme eu- ro pécn. Lois qui régissení Informe Organisêe. Les lois aux quel- Tom. XII. P. II. 13 les j9 Memorias da Academia Real ks sont soumJses cette djchotomic vivanre ont été âé\k éruiices; nous rappellcrons seulcmcnt , que la m^ítière «rgaiiisée végctale ne poss^dant -que 1'clectricité orga- nugénique ne jouit que d'unc sorte d'irrÍTabilitxé instift- ctivKí , coaainc la matièrc orgaraisaWe animalc qui n'a point de nerfij ; que Ia maticrc organiséc aniniale dont les ncrFs ne sont pas centralisés par un cervcau , pô jouit que de l'instiiict, et que ceux a double systême nerveiix dont la vie est centralisiíc possèdeiit seuls en plus l'intclligence. Nous allons développer cette proposition : L'instinct n'est point, comme le dit Condiilac, le rcsultat de la réflexion ; loin de là , Tinstinct est en general eh raison inverse de l'intelligcnce. Peut-on. d'aillcurs refuser cette faculte aux insectes qui n*ont pas de cervcau ! ce n'est pas chez l'homme qu'il fauC í'iítudier, parccque là , les facultes intcUectuellcs modi- fient , se subalterniscnt , teus les actes qui ne sont paS une émanation dirccte de cc centre nervcux. Mais c'est chez Ics animaux dont la vie n'est pas localisée, I'hom- irie se comnunde , mais Tanimal s'obéit , a dit Mr. Virey. Pour que la proposition que nous avons émise soit vraic, il faut que les animaux qui ne jouissent que de l'Histinct pur sans intclligence , exécutcnt constammcnt loR mêmes travaux et consramment de la même manière, indépendammcnt des circonstances concomitantes ; il fflut au contraire que les vertcbrés qui posscdent à la fois les deux facultes , modificnt ces mêmes ceuvres de l^iiístinct , en raison des localités diverses et des cir- constances ambiantcs diíFcrcntes qui les influcncent. Ainsi Tabeille du nord , Tabellle du midi, malgré la di- versité de climats, malgré la variété de plantes con- struiscnt constammcnt une ruche aussi artistcment fa- çonnce , mai^ toujours sur le même calque, toujours le plaa de rarcllitectc a été le même, pas plus de pré- cau- DAS SCIENCIAS DE LiSBOA; p^ caurlon Ia pour se garantir du froid , qu'ici pour se premunir contre la chaleur. L'oiscau au contraire, a partout Tinstinct de pondre et de couver ses oeufs , mais son intelligcnce modifie l'incubation suivant l'inflaence des circonstances , ainsi : Tautruche sous l'Equateur dépose ses oeufs dans Ic sable brulant du désert, et charge la nature du soin de leur incubation ; Tautruche du cap revicnt Ic soir à son nid , et Ics preserve du froid des nuits. J'emprunte ces dcux exemples à Toavrage de Mr, Virey (i) mais j'en pourrais citer un bien plus grand nombrc , si je pensais que cela fiit nécessaire. L'instinct chcz l'homme n'est plus qu'une faculte sccondaire sans cesse modifiée par Tétat de société ^ souvent contrariée dans ses vues , et dans les actes aux quels elle nous soUicite. Nous ne soutenons pas I'ingénieuse fiction du Py- gmalion philosophe. Condillac s'est asservi trop scrupu- leusement au fameux axiome de récole d'ArÍ3tote ; ce- pendant nous croyons que Cabanis a eu raison d'ajou- ter aux impressions fournies par les sens externes dont Condillac a dote sa stitue, celles provenant des be- soins éprouvés par l'cconomie. Nul doute que le cerveaa ne soit chcz Thomme le siège des actes inteliectuela et moraux ; mais ce qui n'est pas moins incontestable , c'est que ces actes supiírieurs semblent souvent modifiés et mêmc determines par des impressions internes. Vol- taire a dit : voulez-vous obtenlr une faveur d'un grand , jnformez vous d'abord s'il a le ventre libre. Nous avons prouve d'ailleurs que cet instinct avait d'autant plus de puissance, que l'animal était moins doué d'inte!ligence. 11 n'en faut pas conclure qu'un idiot devrait avoir plus 13 ii d'in- (I) McEUrs et lustincts des aoimaux. ISO Memorias DA Academia Real d'instinct qu'uu homme ordinairc , car un idiot est un êtic manque dans son espòce, et qu'on ne pcut pas même assimiler à un animal inféricur paifait. Mais il y à dans cette discussion une confusion de iriots dont il faut tâcher de sortir. Dcfinissons ces ex- pressions , instinct, affcctions , intelligence ; nous ne sommes pas aussi éloignés de notre sujct, que nous sem- blons Tctre. Nous définirons rintelligence ou entendemcnt ou intellect, la faculte accordée à tout animal qui a un cervcau, de recevoir et d'élaborer un ccrclc d'idées plus ou moins etendu suivant sa capacite cérébrale. Nous définissons 1'instinct pur , cette faculte qu'ont les animaux dépourvus de centralisation nerveuse cé- rébrale, d'executer certains actes , constamment les mcmes pour chaque espèce , non susccptibles d'etrc modiflés , et parfaitemenc en harmonia avec leurs be- soins. J'3ppelle irritabilité instinctive, cette faculte in- fèrieure dont jouisscnt les végétaux phanérogames , lés radiaires et les amorphes , qui sont tous dénués de nerfs , faculte qui les porte à se mettre en rapport avec kuvs modificateurs naturels j c'est une sorte d'instinct ru- dimcntairc. Sous le nom de facultes aíFectives, afFections de Tàme , passions , nous comprenons les actes instinctifs des animaux supéricurs, de ceux qui ont un systême ncrvcux double , avec un cervcau ; quelques uns sont ex- cUisifs à rhomme , tels sont l'instinct moral et re- ]i"icux. Ces derniers penchants établissent une barrière as-» áez insurmontable entre l'homme et les animaux, poup que nous n'ayons pas à nous plaindre de la générosité de la nature à notre égard. Le rcccptaclc de l'intelligence est donc 1'encéphale que nous avons vu être le foyer de Télectriciti vitale. Le nAS SCIENCIAS RE LlSBOA. lOt Le réceptacle de Tinstinct est spécialcmcnt le sy- stéme ncrveux ganglionnaire, dont nous avons fait un foycr d'élcctricité organogénique supérieur. Le réceptacle de Tirritabilité instinctive semble ctre Ics globules dont se compose la matière organisa- blc animale et végétale , dont nous avons fait le foyer de rélectricité organogcnique. Lc réceptacle dcs facultes morales et des passions, est à la fois Tencéphale et le systême nerveux gan- glionnaire. Je sens bien que pour avoir force de vérité , ces asscrrions auraient besoin d'autres preuves que celles que j'ai avancées jusqu'à ce moment ; mais j'abandonne volontiers cette discussion qui me mènerait trop loin ; je vais seulement revenir sur un point qui a pu choquer quelques esprits. Comment , les animaux vertébrés jouissent comme nous de l'intelligence ! non , pas comme nous, car quoiquMls paraisscnt pouvoir combiner des idées d'après une imprcssion perçue , établir une comparaison et porter un jugement ; ils ne sont point susceptibles de s'élever au dela des idées individuelles , jusqu'a celles que les psychologistes appellent abstraites et concrètes ou coUcctives. Ainsi Gondillac avec les matériaux qu'il mít' en jeu , semblait il devoir plutôt créer un animal supérieur , qu'animer une Vénus. Est il vraiment besoin de preuves pour nous con- vaincre que les animaux supérieurs jouissent de Tintelli- gence et des facultes affectives ou des passions ? Je n'iiai point les chcrchcr chez les orang-outangs dont parle Thévenot ; chez le perroquet miracuicux du chc- valier Temple , ni chez tous ces animaux moios sa- vants sans doute , que Icurs historiographes n'éraienC crédulos. Je n'irai point non plus chercíier mes preu- rcs , chez ces espèces humaines ravalées au dessous de l'organisation des animaux avec les quels ils confrater- ni- lox MEMoniAS DA Academia Real nisaient ; clicz M"' Leblanc , cctte filie sauvage dont Louis Racine nous a laissd 1'histoire ; chcz ce jeu- nc cnfant troiivé en 1694 en Lithuanie, parmi un trou- peau d'ouis dont il avait les moeurs (i). Nous sommcs assaillis chaque jour, sous nos yeux de mille faits pius probants. Voycz cct ami desinteresse qui ne nous abandonne jamais, alors mcme que nous le maltraitons sans cesse. Voyez le , ne se pas borncr uniquement à cette inaltéra- ble fidélité dont on a tant d'exemples, nous apprendre encore , à nous hommes , à maitriser nos passions. Sui- vez le marcliant en tapinois , jetant un coup d'oeil à la dérobée sur son maitre , avancer , reculer , et saisir enfin 1'objct de ses desirs, alors qu'il ne croit pas être vu, Suivez le encore, lors qu'ii se volt découvert, abandonnant sa prole et venant à nos pieds implorer son pardon, II me rappelle un chien , qui chaque jour arrivaic à un hotel à l'heure du diner et s'enfuyait à toutes, jambes , aussitôt qu'il avait pu saisir un morceau. II fut suivi et Ton vit avec étonnement qu'il allait le dé- poser prés d'un animal de son espcce , vieux et infirme. A quclque tcms dclà Ics dcux animaux disparurent , et la Icçon de morale fut perdue Réfléchissez à la serie d'actes intellectuels que cela suppose , et conclucz si vous le croyez pouvoir faire , que l'instinct ou Ia passion ont guidé seuls des opérations aussi compliquées. II demcurc donc démontrc pour nous, que tous les vertébrés jouissent de l'intelligence , c'est à dire, de la faculte d'avoir dcs idces individuelles et de les compa- rer entre clles, et cela en raison du nombre et du dé- veloppcment de leurs apparéils intra-cérébraux. Pour iSirn (J) Fait cite par Coimor. DAS SCIENCIAS DE LiSBOA. lOJ Pour rcmplir complétement Ic but que je m'étais proposé, il me resteraú à mettre çn regard d'un côté le «iode de dcVelopperaenc de l'homme , de Tautrc ce- lui dcs animaux et des végétaux. Jc n'ai pu tcrminer qu'une partie de cc travail , c'est elle que j'offre dans Ic tableau organogéiiique , que jc joins à ce mémoire. J'jr classe le rògne animal , non pas enticrcment dans 1'ordre des naturalistes, mais dans Tordre organogénique qui m'a semblé le plus convenable. Je íerai une remarque sur ce tableau , et sur celui d'organogciiie générale qui lui est adjoint; c'est que la nature qui ne s'est point prètée dans ses reuvrcs à nos divisions scholastiques, ne m'a pas permis toujours d'éta- blir des démarcations bien tranchées , ainsi : les crypto- games supérieurs, tels que Ia fougère arborescente par exemple , les entozoaires perfectionnés , tels sont cer- tains vers intestinaux , semblent devoir en raison de leur organisation ébauchée, appartenir non à la forme or- ganisable, mais à la forme organisée. Gettc obseryation etait indispensable et pour nous éviter un reproche et pour appuyer encore cette gra- dation hiérarchiquc des êtres dont on ne saurait plus dou ter. Entre autrcs conséquences qui se déduisent natu- rcllement de Tcxamen de ce tableau, nous indiquerona celles ci. Les évolutions successives de l'oeuf humain sont dans des rapports plus ou moins constants avec les di- vers dégrés de Techelle hyérarchique animale. L'ordrc dans le quel ellcs s'opèrent suivant la plu- part des physiologistes , est celui ci , chez l'honime: systême vcineux , systêmc artériel , coeur , systême ner- vcux organique, systêmes nerveux latéraux, moelle spi- nale , tubercules quadrijumeaux, cerveau, cerveler, moel- le alongéc, &c Chez lei animaux consideres dans leur enscmble il ^ to4 Memokias da Academia Real il est cclui-ci : ganglions ncrveux organiques et vais- scaux nutritif;, ncrfs , vaisscau aortiquc , anneau a:so- phagicn , cordons spinaux, coeur, tubcrcules du cervcau , cervclet et hémisphèrcs céròbraux. Lc systême nervcux commcncc donc par des gnn- glions isoles , puis unis par des filcts communiquanrs , puis emanes d'un ganglion spécial , puis cnfiii vraiment centraliscs par un encépliale. ,,'j Le systême sanguin debute par des veincs isoléçsj puis réunies , des artères , un vaisscau aortiquc, et un coeur qui centralise tout le systême. D'ou Ton peut conclurc que la nature cst ià ce qu'elie est partout , toujours progrcssant , composant et compliquant. La base de la pyramide est occupée par Téponge , le sommct par le dominateur de tout le rò. gne , par 1'homme. Les différcnces physiques qu'offre ce suprême des- pote, se rencontrent dans les centres ncrveux eux mê* mes, les voici. Volume du cerveau et du cervelet , re- lativement à la moellc spinale, aux tubercules et aux lobes olfactifs; volume des lobes latéraux du ceiivelct rclativcment ali moyen ; volume des hémisphères céré- braux et leur prolongement postcrieur j épaisseur et dé- veloppement de la masse ncrveuse ccntralc ; nombre et profondeur des sillons , et des circonvolutions , d'ou une grande étendue de surface ; existence du corps cal- leux ou commissurc principalc. Ces dernicrcs considcra- tions nous expliqucnt pourquoi le serein , par exemple, dont lc ccrvcau est lc 14""^ du corps, selon Cuvier, nc dévcloppe pas des actcs intcllcctucls supérieurs à ceux de 1'homme, oíi le même rapport est seulemcnt terme moYcn : : I : ly, puisqu'avcc plus de volume proportion- nel il a moins d'etendue réelle. Ainsi pour nous résumer sur le mode organogdni- quc de rarbrc nutritif et nerveux, nous partagcons tout le règne animal en 4 Classes. DAS SciENciAS DE Lisboa. to^ j." Matiòres organisables animalcs ou animaiix sans systcine nerveux ou sanguin apprcciables ; dont la vie est Hans la molécule, ou mieux dans les globules de rindividu, et qui ne jouissent que de l'initabilité instin- çtivc (amorphes , radiaires inférieiírs , itifusoires, hjdatides). 2° Animaux a systême vasculaire ou nerveux mais sans centres propremcnt dit , et chez les quels la vie est par cela mime indépendante et souvent disséminée dans tout Tindividu qui jouit de l'instinct pur. {Qitelques entozoaires , annê lides , arachnidcs , insectes et p/usieiíri criistacés). 3." Animaux qui n'ont que des centres sanguins et chez les quels le cerveau est rcmplacé par le ganglion oesophagien , et la moelle spinale par les deux cordons longitudinaux qui en émanent ; la vie tendant à se cen- traliser {quelqties crustaces , mollusques). ■4.° Animaux qui possèdent à la fois dcs systêmea nerveux et sanguins doublcs avec dcs centres, dont la . vie est dépendante plus ou moins prochainemcnt , et qui jouissent de l'instinct , de rintelligence et dcs facultes affectives , à un dégré d'autant plus élevé qu'ils appro- chent davantage du sommet de la pyramidc. (Voyez le tableau d'organogénie générale). lei se termine la tache que je m'etais imposòe. Nul doute que ce travail ne soit susceptible de plus grands dcveloppemens, et que plusieurs faits n'aient besoin d'etre appuyés d'un plus grand nombre de preu- ves ; nul doute aussi que les matériaux dont il se com- pose ne puissent être mieux elabores , que je n'ai pu le faire dans un laps de tcmps que d'autres occupations ont limite, et dans des circonstances plus convenables pour rétude et la méditation , que celles dans les quel- Ics je me trouvais placé. Mon but unique était de substltuer une classification plus naturelle des formes de la maticre , à celle qui est admise dans les écoles, et de prouver qu'il a suffi au Tom. XII. P. II. 14 créa- icí> Memori AS nA Ac ADEMiA Real créatciir de doter Ia natiirc d'unc loi uniquc pour lui fairc exécuter Ics actcs les plus divers. J'ai été entrainé à des développemens qui m'ont fait envisager beaucoup de faits sous un point de vue tout nouveau ; souvent aussi je me suis boiné au simplc role d'historien ou de commcntateur, mais mon opinion a raremcnt été influen- cée par rautoritc d'un grnnd nom. Cest peut-êtrc un tort ; mais c'en est un plus grand encore, à mon avis, d'asscrvir son jujement à celui des autres. Uillustre Académie me blamêra peut-être de m'étre trop hâtc, j'accepte ce reproche , le désir trop vif d'ob- ténir ses suíFrages est ma seule excuse. A Bord du Brig Français le Nisus. Rade de Lisbonne k 26 S.'"* iSjj^i PERFIL. E «o™.s, .»,„„.,, ^^ ^_^^^^ ^^^ ■^- Cai.c.ip ,-, O Poçc, « . , r.,.n „ l'.„r° fie "'"a bomba. Com o 1>,J No l\,c.o e a..,s'"-'^ ""'■» í-enda em /, e augmeriíarío a. frofundanLp I" agca corrente. MEIO DE POÇOS ARTESIANOS. ^. Calcauro Alitno. B. Catís db Nebra. C. Calcauko Jurássico. O. As formações Terciárias. F. CisAr.T.) O Po(;o « Pncnnirará a agoa que tem a sua Oriíçctn Pin Fíenifica, inis riio sf poile fazpr uso delia se não por muio de iiíiia bomba. Com o l'.-ii(o d. No Poço e as agoas Sulfureaíi, ambas com o repuxo e. No Poço / saliírào com gramle força as ai,n>as do de|)osilo., /"nas alturas de Cacem. As agoas do deposito (jr adiarão uma fenda em h e augmenfarâo ai ao^fjas do Poço f. Profundando o Poço o até a fcnJa h, que seriáo pouco maii (va menos l:'3()o palmos, daria os!e a maior porção d'agoa corrente. rw^ ' r V i\m Mercur/o. IH Ooorc. H Ferro. O t)embiinnH \ivel da rttiss du encni Io <(> .In 4o fio *^ 9** iSv .si em» norluíTu^z IÔ5.> 7íp -^.T W^IPfHfpíT" mmmmmmmf^^^^mm^m HiMIlMil S^kSvateiiia [(ortMguez lô5ó fí ■: ... il.,::. ^v^ u ■< k A rorleli,«çi„ u-rrío vea,.,, Torlfficaçio I .-rreo vej-^l»! , •>" íeíUiicl.. »v«tem« porHiJ..ez Idj.i 4,it r, ,v ,i., i("-,'VVí - -.ip;^ .IfJfJ BKIJHW ^"kí,;^- ^4-í A"^-^ i.C.A. S 1..;.-183 8. JtT. »cu1n . LE. CORPS NATURELS. )gression croisíante pour la lication et la vie, progression issaiue pour la simplification inort. MINliRAUX. rctioii excrúmcntielle , con- ;is calcaires de css produits. ière gclatineusepulpeusepeu ieurs crustaccs, niollusques. ntres ncrvcax et sangíilns. ons, Reptiles, oiseaux et niaininilcres. P. 2."(Seieiic.Nat.}pag. loí. TABLEAU SYNOrTIQUE D'ORGANOGe!nIE GENEKALE. FORMES DE LA WATIERE. LOIS QUI LA RF.GISSENT. CORPS NATURELS. Pto^ression cronsante jjout !a compliíation «la vie, progrtision dtcioiiíaiite pour la iimplificalion CE la mort. f j.'<"= Devivifiie. 2. OfganisaWc. K [-j.^^^DíSró. fice. < :."" I>^g' Force'; pliysiciues et cliimiques en gCníial , gravita- tioii, toli.'sitin, alTinití, torce expinsive dj Calori>ju; Eleclriciíá pliyiique. Invasion des forces pliyiiques et chimiqiie;, d<£p3tt irodiaiii dcs loij delectricicc: nntive. Invasion de fElectticité native, clcpait ou plutôt diminution de l*inflLicnctí des for«s pliysiciues. Electricité iiativc et Ofgaciogcn ique. i Scctícioil excrímentiellc , con- crttioiís calcaires de css produits. Miticie gLlaiineusepulpeiisepeu coiimie. Chyle, íi;vc, sciCiité, l/mpli mititic nutrJtJve piemicfc des Embryons, s.ing veincux. Sn.n^ artcrJ--! et cOncrOtions po- 'iiilOfmes, iiiucui, bit, cambiuin, Id. Id. Puiíiaiices pliysiquej moiíidteí. (yie Hiolículaife, irríti :abilití instinctivc.) (Parasites) falisse membraiie , moléciíle or^anisc'; oii tisius pch itifs fudi menta ires normaux ^1 niiormaux. KbltS. (Iiolcs.) Embryons, amorplies et Ra.lbires inf='r -s— '""^'"J" r (Vie dissíminíe indé- I pendante; instinct. Etectricití native or- 1 .y.^ disséminíe tcn- |.ano^ct «in^t, lei coudwtopiiquej, etlamenibfineiayonii»itte: lobeian- líricu» développêi, lobei mfiycni, petiti, lobei pMii- . nuli: ncift optiquei, «olfactifiiaillan»; uUiui bi- «xne, tlijrmui, cloiique. 4 *■"* Moit. Naiaanrt du corpi calleui , il et' vj" a\ ■ iet lobei poíicrieu» du ecnre.u ne dípawot W le» (ubcrculetiluadi.jumeaux : Câvili dam le cavelel fíotílcu- lei btírauK : queuc de la moelle. .«■" Moií. Lm pattiei limilaifW te reunÍBent, elea. -it Tinteneur du cerveau ; njdimcm dei cii««"Ol"' I,: cefvelet iillonnè en j lobci; tei caviíci i'eff»c'ni. 7.e"« Mo». L« lobrt céfébrauí poitírieui dípa»- lent le eer velei [ ro«is">e da iicrti a% trc» viiíble ■'- tnoui, el rousía. La queue de la moetJe diinin ç,*"' Mo». Leocípliale icquiett nirtout k » péti phíiie. tlt íiira-atírJní ^(tntrali/^f.') -, l^ anal Tcincui , te trau bocal, Iet eaÍBCiui om cauí dnpanuienl-, lei poumcmi «wl penneabte» a I le Ihftnui, el la capsulei (urennillei lelTacent. Le Sfftime unf;uin prédoFiiine nit le nerveux juiqu'a ce que Ten- fani lOic appeli a jouii de li vie iiKelleciwelle. ECHELLE ASCEND.^NTE DORGANISATIO.S. Milicrci Otsirtiiibta. Poiat ic (lerf), ni de viineauK. (Vie mokculaire.) (Alaiicre orjinitable.) liiiiabililf inftinctíve, 4- SiJ.airtl. CtngliQfD neiveut iiolé) pu des vai»- (Vie dítt^miníe.) niitiírti oi^inisíet. |. An.í.,lít txUrnti. Ganslloni fietveu» patiint dit ganglíon caopbigjeii , vaisieaux «n» cotut. Jnllhcl. (Vie K centralitaDt dípendinte en (tirtie.) C Sptitgitirví \ lafaitirti tgallfiirtt. I 1 í. Ptlj/fV. 'Infmtirti Cãilriã. 11. ^«íUpha, V Ethiatáirmti. IO. EnltUêirtl. 9, AitniUiti. Gelíe vivante «"• Ot^nci j Analnguci cki plant" »S«I Ipulpe gílatlMuK homo5i- | inlíiieurw, lei cyaut c Cteu» tTiiJfliei neneuf , ei un «nite £Í- tébc04piiÚL Ceniie c :ulaloi (Vie i«ntralití<„) Kpendanie en iMalit^ dci ceotrei. nicitisetKE en protreuion Initi G,,xi^p.i„. (I) Ct'ft ffa tbon rnm I. Rtpiihi. Grenouille .... TonuB de laer . -^^ Oie. Bruf jl nau corpi,et le míaimuso, et temaiin _ Fofme plH», ou meim apptíoabk, piohule» viiible» «u licrOKOpeanalosoei dei licl>eiu, cbanipigiiom, et.-igaraea |j ^'eIitelle de cei anímaux ne permei pu d'ín np- pfécief lofíaniiition; míi< i' lon en (u^e p»t lavivaeí- id de Icun mouvemeni, "I» dolvent «voit au moim de la maiicre nerveiue dimiminí. Gan>lioni neneu». Hei jwliti, dijííminet aiitour de la boud-e, tact aaet díHcat, tracei de tuclicei. niiii pai de nctri, ni de viliieaux nuiiitífi, Kniibtet (analoguei au« pljnlei CfyptosaniM.) Nuli iiiueaux pour la clfculation; quelquei tracei de ifitíme f<)rmint deiixcordoni Ktt «rfln dam le lombiic. Uncordon iietveus loitgttudinsl double, ganglionniíra naiuant dun f;ing1ioii place au dcMiii de rnsopliage, un «aitKJu donal templiuant lei fonclioni du otur , dei atltrei, et dei vcjíwj, Syiiíme nerveux canglionnaiie analo|;ue ã cehii det iiitectei, lyitíme ciiirulaiolre en gíníril complei, lo mur loui forme de valneau longitudinal occupc TabdonieLi, mpíriíion par (racliée. Un =aoilion bilobí rempliçant leterveau, et piaeí ao denui dericiO|^iaj;r, neiftou t;an):lrcni opiiquci duii vo- lume lemirquable, deiix cordoiM iier>'euii patlent du cer- tcau, et deicendenc Iclong de rtrioplii^eformant deigan- •ilionicotrcipondanii auxanneaux du coipi vaiueau dotiat límplciampiaqant lecccut, langblanc, nutriíion, et reipl- Talíon ditiíminí?. Faux cervciu à lextrímltí anlíiieure du muiriii, íol- líeriTkOjttu^ien -ilongí: cotdon nnucui dant toui le coipt, lyttíme netvcux analogue 1 cclui dei inteciei; vaittcau aoittqueduCTTuid'uní;roi volume: re()'iiiticn par hinnciíic. Un ctciiT a un ventricule, ei dcux orcilletct, rknteiliii feclum pine quelijuefoii au Itaven, un fauk cíiveau cl un ginglion oppoiíi i ta bouclie, d'oCl paitcnt toui lei iierfi du corpi. Un crui cotn(iotí il'un venlilciile,el deux oteillettei, un fiu»; cerveau tur linopiusc, un ganglifin au dcnout, foutímiiiii troii filcii iifníux rímjiqujblei. Ttoii cnrutidíiix lunieul vcnericitlo,et une leulí oteil- klc, et lei-""' ounvenliiculc lanioreilJeltí, jaiiRManc, brancliieri Taiix cerveau dam un catlili);c de la li^te divl- tí en dcuipaitiei; une iricpliajienne, et une doriale, un Kín;lioii Oiniiiuepluígtoi que leccrvcau; neif acouiltque, netfi vítccrtui, Hònl)pliciescír<:bniu«pleiniirudimentaireiliiKi,grand díveloppemcnt rodui( legloiiooliarjiníiicn, point dliypo- gloite (Caviny. Ciand lympalhique uei {rde, polnl de eangllon leniihle á luniondn vertebrei, Ce neif luit loul Ici vaiiteiui, unoTur lur le iia|etdutang noír, compota dune oreiltetie, et dun ventricule, leipiralion pu lei brancliici; aiicre muifuleuic pour arur gaúche. Neif grand lympiiliique tici adhcient au ncrf vague; gangli«in Kmblihlc iccux deioiKaiii, hímliphcrcicíríliraux cteux, llnei, >in pcu plui diveloppír, cervclct pluipeiit, ■ubercul;iquldri)umeam encore creux(5rrrei)ou nileux luberculri b^jumeaux, nerfi plui enrippotl avec eeua dei mammiferei, un cccur 1 a oreiltetleiCO/W.Vr, Scuruiii, CpMditiiã^, lune Kule oieilleite (nairafiVxÃ). Circula' lion iimple, analogue k celle du Intui de riiomme ; poumnn Ou bnncíiier pour la reipiration. Le grind vympiihique reitemble a ceiui det mammifí. rei, ihi'a puit'e»ur.i jui quaucMct du plcxut-pnlmunaí- le, ilpari un groinerf, qui lunpt aupremier gingl lon llio- r«c>.jue, de cetie ante neiveuie lorlent S filelt. Htniiiptiiie» cittbitat, deux coodiei opliquet , une fflcelle alongíe rann.ni ti* mmm vttftvlM à 1'*ititrieur, potnt de etrcon- volution, nide eotpicalleu», irx venirlculei. Ceivelct ;;roi, creu», lober opt iquei, et olfact if. rudimeoiaiie» : tubercwlei bijutiMaui. Toui lei oerfi dei fnimmifcrei, «rui double, ijitéme ruculaire complet , retpiration grande. Leiymfuilii^ue diitinct du tague ipeu nriíiemblaMe ã eelul de lliomme, hémiiphérei cítibraux i leur lummum; lobeioptiqun, ou ("berculnquadrijumeauí ircip-titi, va- liiblei luii-anl leiKrnrei, placai lur laqueduc de Sylviua; corpt ealleui; voúle; pont dcarole; cf^nedainmon; ib- «nce de ventricule d»ni ki coucbet optiquei; anir dou. I ble, tfiitme cotnplei, netfioKactífi Irct lai iibles iui«anl , les gent». "'-■ " '•'"'■ CT. xn. p. ..• (S,i,„c, N„ ) p.j, , „,, MEMORIAS, QUE SE CONTEM NA II. PARTE DESTE DUODÉCIMO TOMO. Historia. jL/is curso recitado tia Sessão publica da academia Real das Sciencias em ij de Maio de 1838 por F^rancisco Manoel Tcigoso d'Aragâo Morato , Vice-Presidente í Discurso recitado na Setsâo publica de if de Maio de 1838 pelo Secretario perpetuo Joaquim Jo- sé da Costa de Macedo v Discurso repetido pelo Secretario perpetuo da Acade- mia Real das Sciencias de Lisboa Joaquim José da Costa de Macedo na Real Presença de Sua Magestade A Senhora D. Mabia II., em 12 de Novembro de 1834, na occasiao em que a mes- ma Academia foi beijar a Mão a Sua Magestade pelas mercês que Ibe tinha feito XxXiiI Discurso que o Secretario perpetuo da Academia Real das Sciencias de Lisboa Joaquim José da Costa de Macedo dirigiu em zi de Fevereiro de 1835" a Sua Magestade em nome da Deputa f ao , que foi agradecer-lhe o assentimento que deo d eleição que a Academia tinha feito de S. A. R. o Priri- cipe D. Augusto para seu Presidente ; e partici- par a S. A. R. a mesma eleição xxxvir Di curso recitado em zi de Maio de 1836 pelo Se- cretario perpetuo da Academia Real das Sciencias Joaquim José da Costa de Macedo^ quando a De- putação da Academia foi agradecer A Sua Mages' Tom.XU.P.n. ij io3 tade A Senhora D. Mabia II. ter anituido d siip- plica que lhe tinha frito de approvar a eleição de S. A. R. o Priíicipe D. Fernando para sen Pre- sidente 2(Lr J)iscttrso repetido pelo Secretario perpetue da Acade- mia Real das Scieucias Joaquim "José da Costa de AI acedo, em 6 de Novembro de 1837, sendo a Academia admittida d Augusta Presença de Sua Magcstade A Senhora D. Maria II. para cumpri- menta-La pelo faiistissimo nascimento do Príncipe ■Ke«/ , XLV Programma da Real Academia das Seietictas de Lis- boa, (inmmciado na Sessão publica de 1$ de Maio de li ^% xLvii Estado do Pessoal da Academia Real das Sciencias de Lisboa em 1^ de Maio í/í 1838. . . . rm Lista das Obras publicadas pela Academia Real dai Sciencias de Lisboa , desde Dezembro de 1831 até ij de Maio de iZn , , lx Memorias. Classe de Sciencias Moraes e Bellas-Letras. Memoria em que se tracta da origem do nome de Por- tugal , e dos seus limites em differentes épocas : quando se separou Portugal da Galliza Romana : quando se chamou Reino : e quando os seus pri- meiros Reis tomarão este titulo. Por D. Fran- cisco de S. Luiz I Memorias Históricas é Chronologicas do Conde Dom Henrique. Pelo mesmo. 4P Memoria sobre os Chancelleres Mores dos Reis de Portugal , considerados como primeiros Ministros do Despacho e expediente dos nossos Soberanos. Li- da na Sessão da Academia de it de Dezembro 109 de 183a por Francisco Manoel Trigoso d'Ara- gáo Morato. 91 Classe de Sciencias Naturaes. Memoria sobre os vasos mitrrbinos. Lida na Sessão de 21 d& Março de 1838. Por Joaquim José da Costa de Macedo i Orgatiogénie générale. Par Mr. Isldore Hyacinte Mairc. D. M. P 3 15- u EMENDAS E ADDiçOeS. Na Lista dos Sócios. Erros Correc^es P^iS. i.iv, 1. 16 c 17 — Sii.i Maffestade Au- Siia Alteza fteal Augusto Frlderico , Du- gvi-lo Kriílerico, Hei que de Sussex