ROO O É VIA A OA po vn Ñ VO DON DIA # vos PONTÓN CRA OU EO re EUA MIRA 1 j Í Ia MEMORIAS FEONSON MI TCIANS DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LIS BOA, PARA O ADEBNTAMENTO AGRICULTURA DASI:AR TES, E DA INDUSITR VA EM PORTUGAL, E” SUAS TIN TOQUES TÍAS. Nifi utile eft quod facimus , ftulta eft gloria. ETSE NA OFFICINA DA MESMA ACADEMIA. ANNO MDCGXGC-A, Com licenca da Real Meza da CommifJao Geral (obre o Exa- me, e GCenfura dos Livros. MEMO" REVISA Sobre a utilidade dos conhecimentos da Chymica em quanto applicados á Arte de confiruir Edificios. POR ALEXANDRE ANTONIO DAS NEVES PORTUGAL. júria ao feculo em que eftamos 5 apenas para mof- trala fem cahir nefte vicio fó póde permittir-fe o fazer applicagaó de alguma Sciencia a certos fins. Defta forte pois he que eu lembrarei a neceflidade da Chymi- ma na Arte de Edificar : mas como efte allumpto feja mui vafto para difcorrer y eu direi fómente das couías ue ha para attender a refpeito do terreno em que fe edifica ; da efcolha dos materiaes y e das madeiras, de que fe ha de fazer uío. E RATAR hoje de utilidade de Sciencias he fazer 'in- É O primeiro cuidado de quem dirige a obra, ainda mefmo antes de fazer abrir os alicerces, ha de empre- gar-fe em conhecer as vantagens que do terreno póde tirar (fe o lugar o permitte , e muito mais fe a obra he de grande cufíto , e confideracaó y como o edificar hu- ma Praga): e porque em hum inftante com a verruma da terra fe lhe patenteao os diverfos bancos de terras que formao efle chaó , fabendo conhecer a natureza del- las y póde evitar, ou abrir alicerces em hum terreno máo , onde feja neceflaria huma avultadiflima defpeza ; ou aproveitar-fe competentemente das gredas, aréas, pe- ras y carvóes bituminofos y ou de outros productos que en- 6 MEMORIAS encontrar: “poisque aflim como imprudencia fería an- dar minando montes fem alguma precifao ; affim , quan- do diflo ha opportunidade , convem naó fe ignorar quaes fejad os productos que fe defcobrem, e as fuas utilida- des ; 'e que talvez por ellas meregaóO tirar-fe da terra pelo mefmo lugar , ou por outro qe parega mais Op- portuno , fegundo as regras que enfina a Geometria Su- bterranea (1). Mas ainda mefmo he neceflario conhecer os bancos de terra inferiores ao que faz a bafe do alicerce, para poder-fe' julgar da fua refiftencia em fupportar o pefo de grandes fábricas; ou fe ha algumas cavidades, cujos te- tos polla” abater (2), Gc. Se'he barrofo o chao, Ío- bre que fe ha deedificar, precifos faO na bafe engrada- mentos”; fe areofo, as eftacadas: e porque os pregos dos engradamentos , e as pontas de ferro, que fe unem ás eltacas para penetrarem melhor a terra , fe desfazem na humidade , tornando-fe em hum pó negro (ethbiope mar- cial), util he que efías pontas de ferro naó fejaO mui- to groflas, e que exactamente aflentem fobre as das ef- tacas, para naó mediar vaó, por que ellas poffaó aba- ter com o edificio, a naó baftarem desferradas : e tam- bem em rafaó da confiftencia do terreno precífaO ir-fe mettendo de tal arte, que O mefimo naó grete pela for" ca com que ellas como tantas cunhas procuraó fepara- lo (3). Nos engradamentos fiquem os pregos embebidos na (1) Merecem ver-[e Kenig y e Genfane, e principalmente Dubhamel fobre eíta materia. (2) AMr. Blondel refere , que hum confideravel edificio por falta defta cautela abateo todo igualmente na altura de 6 pés no meflmo dia em que fe abrira hum poco, por onde pudérao fahir as aguas comprefías na cavidade , fobre que fora 'edifi- cado, ; (3) He nefta parte admiravel a difpofigaó com que ME." Per- ronet fez metter a eftacaria para as pontes.) de que tem difi- gido a conftruzgaó ( Defecript. des ponts de Nenilles, Co. tos vejaalerareft: TON s E cCoONOÑMÑÍcaAss. 7 na madeira (a cabega perdida y como dize ) 5 aliás ferá melhor em lugar delles uíar tambem de tornos de madeira. Quando o chaó tem a neceflaria firmeza podem fa- zer-fe arcadas em lugar de alicerces mocigos; fe comtu- do naó he enorme o pefo que haóO de fuftentar ,, pelo perigo de abater alguma columna: e por efta caufa pa- ra as muralhas , zimborios , e outras obras de delmeltu- rado pefo , fe fórma no alicerce hum folido de (ao me- nos ) igual diametro ao que haó deter as mefinas obras; que de outra forte a ceder o alicerce de algum arco, ou das paredes lateraes he a ruina inevitavel; fendo efta mais ainda de temer nos terrenos pouco refiftentes y como os de barro. E em fim, fendo neftas excavagóes frequente achar véas de agua que muito embaragaó O trabalho, inutil he a diligencia que alguns (4) aconfelhaO de que- rer feccalas com cinzas, e cal viva 5 pois nem ha ra- faó alguma chymica , por que nos perfuadamos que ifto póde fazer fempre cemento capaz de conter as véas de agua ; nem, quandoaflim accontecefle , fe poderia impe- dir o irem rebentar em outra parte, onde talvez foflem mais defcomimodas. HI. He tambem de neceflidade indifpenfavel o attender á qualidade dos imateriaes com que fe edifica. Merecem huma attencaó geral os edificios que nos reftaó da An- tiguidade , e em que adiniramos fer a argamafla ainda de duragaó maior que as mefmas pedras : he verdade que huma tal rijeza parece fer devida á diuturnidade do tempo , por que tem exiftido , como alguns dizem ; mas fe affim he, efles edificios nad devérao exiftir hoje, pois fe teriaO arruinado quando efta forca lhes faltava, no tempo em que contavaó muitos feculos menos da fua du- Pr DE O EU C4) Na Encyel, Meibod, fobre eflta ponto, go MEMORIAS duracaó. Seja O que for, he innegavel que os edificios em humas mefmas circunftancias fe demulem com mais facilidade, ou menos , fegundo o differente cuidado com que foraó conftruidos y e fe ifto para alguns he duvido- dofo , a Chymica enfina a eftar nefta parte' fem hefi- tagao. Hum todo he tanto mais robufto y quanto mais for- tes faO as fuas partes, e as ligaduras que prendem eftas entre fi: he pois neceflario que as pedras fejaó as mais duras , € que menos cedaó ás injúrias do tempo; e que a argamafla feja a mais capaz de unir todas eflas pe- dras em hum “corpo fobre maneira firme. As pedras pe- la fua rijeza melhores para edificar fas por efta ordem as (5) filiceas, arenatas, bafalticas y as calcarias nao fendo gefJofas , e os faxos que naó tem mifturadas par- ticulas de qualidade diverfa deftas ; mas de nenhum modo as que tem particulas barrofas , pois eimbebendo a agua, fe ha grandes geadas y gelando-fe tambem efía agua, as pedras dilataó os póros tanto, que fe fendem. As fchbiflofas faú mui tenras de ordinario; e he precifo de tal forte attender a ifto y que até convem deixalas todas no edificio com a mefima poftura que tinhaó. no cabouco y porque aflim fuftentao maior peío, como a el- le acoftumadas pela natureza com a opprefíaó que foffrem pelos bancos de terra fuperiores : e nifto fas os France- zes por extremo efecrupulofos. Mas fe he neceflario aproveitar de quaesquer pe- ras , quando naó póde haver efcolha, precifo he 'ufar fempre da melhor argamafja , pois abondade della pen- de da nofla efcolha de ordinario y; viíto que os defcu- brimentos, e as theorias Chymicas daó 'hoje nefta parte todas as luzes defejaveis. He evidente fer tanto melhor a argainaf]a quanto mais puros faó os componentes, a cal digo, e aréa, ou barro cozido que; fe. lhe miftura: A pes ” (5) Segundo o modo com que as claflou -Walerio no Syft. Mineral. 4 E doN O MAGO ásS. 9 pedra calcaria ao tempo que fe coze perde a quantida- de de acido aerio que continha, tornando-fe hum alca- de puriflimo , e fummamente cauftico ; o que a faz ter taO extraordinaria tendencia a combinar-fe com qualquer acido , e humidade que primeiro encontra, que até da athmosfera os attrahe em mui prodigiofa quantidade, pois ainda no efpago de hum dia augmenta confidera- velmente de pezo, e de volume. A aréa combina-fe tao fortemente com a cal , porque provavelmente contém principio acido (6); e he maior a combinacaO que faz com ella o pó de tijólo y, ou telha y, porque ainda tem maior porcgaO de acido (7): e aflim fe manifefta O engano, de que fe perfuadírao Mr. Belidor Sctienc y des Ingen, 1. 3. c. 5. quando para dar razaó difto admitte na aréa faes volateis, e na cal partes fulfureas que fermentao , e Mr. Fourcroy de Ramecourt y Art du Chaufornier, Coll. des Arts tom. 4. em crer que a pedra da Lore- na, de que fefaz huma excellente cal, he a que abun- da em mais enxofre. : Por aquella razaO pois de proceder a rijeza da ar- gamaíla da uniao da cal com o acido da aréa, fe fe- guem tres neceflarias confequencias : I. que a coheren- cia he maior, quanto acal, earéa, ou pó de tijólo ti- Tom. III. B ve- 6) Eu nao digo taó dicifivamente como alguns , por exem- plo Aduskembroek , Elem. Phyf. tom. 1. cap. 19. y Que a aréa abunda em acido y mas parece-me naó pode negat-fe-lhe de to- do y 1.” porque naó ha vitrificagaó com fimples alcale, e a cal com 'aréa dá vidro 5 e 2.” porque eíta combinagao he com menos forga a proporgao que a cal he faturada de 'acido Aério: (7) Nos barros he fem dúvida a exiftencia do acido vitrio- lico. ” Mr. Macquer Didl. Chym. “palavra Argille diz y que exa- minou immenías variedades: e em nenhuma póde negar que O houvefle , quando /A4r. Baumé affirmava que todas 'o conti- nhaó. E -que; na cozedura fe nao evapora he evidente; da pe- dra hume , e do colcotbar, ainda depois de tirado o oleo de vi- grodo glacial y o fogo mais forte naó baflta para evaporallo todo, s IO MERMORIAS verem meños partes” heterogeneas ; TI. que tambem fuc- cede o mefmo, quanto mais eftiverem mifturadas entre fi as fuas particulas y III. que ellas podem eftar mais mifturadas quanto forem mais fubtis. Quanto á I. confequencia. Deve haver o maior cui- dado que a cal naó perca a fua forca extinguindo-fe ao ar; pelo que, como ufíavaó os antigos, fe deve cubrir de huma grofla camada de faibro, que lhe embarace a fua communicacaó ; e fe fe extinguio ao ar, efle pó te deve de novo calcinar: e he ifto mais util, pois quan- do as pedras da cal viva fe pífaO para fe ufar do pó, efte prejudica aos trabalhadores notavelmente , o que af- fim fe evita, como advertio Mr. Morveau. A aréa de- ve fer de rio, branca, e que nao contenha partes de Outra terra , pois eftas, cubrindo a fuperficie dos feus graos , como faó as aréas amarellas de que fe fazem os edificios em Lisboa , eftando mifturadas de ocra de fer- ro embaragao o contacto, e combinacaó com as parti- Culas da cal; quando a tocarem-fe he taó forte a fua co- hefao ainda mefimo em razaó da fuperficie lifa , que nos vidros o fedimento da cal de nenhum modo póde fepa- rar-fe, nem mefmo rafpando-fe, porque parece penetrar- lhe os póros , como primeiro obfervou Baumé (8). Da aréa foflil tambem fe póde fazer uío , mas naó da do mar, em quanto nao for bem lavada pelas chuvas (“). O DA com agua falgada he igualmente mui pre- judicial, naó pela razaó que aponta Belidor (obra cita- da 1. 3. cap. 5.) illudido da extravagante theoria que mifiurados dous faes differentes fempre hum fe conver- te na fubftancia do outro, afjim fendo os faes da cat abundantes attrabem os que contém a agua falgada, e os difpoúem a concorrer para a cuagulacaú da arpas maí- (8) Manuel de Chym. artig. Mortier de chaux et de fable. C”) Referva-le para outro lugar o fallar do ufo y que poderia fazer-fe para ifto da puzzolana dos volcóes extinctos que ha no Reino. ECcCONOMICÍA sS. TI mafla ; mas fe os faes da cal [a0 em pequena quantida- de, o fal marino donúna, e faz hum effeito todo oppof- to: porém he nocivo, porque a cal decompóe o fal ma- rino y, unindo-fe ávidamente ao feu a#cido, e aftim neu- tralizada em parte naó póde combinar-fe taó beíún com "av aréa za bafe alcalina mineral que fe fepara, fica em- baragando o contacto entre a aréa, e cal; e/a outra da- fe terrea de mais difto eftá attrahindo de contínuo a hu- midade , a qual damnifica muito os edificios. Por tanto, ainda que fe diga (9) que nos portos de Franca fe ufía da agua falgada para argamallar) fem nifto fe ter acha- do prejuizo , os 'que edificáraO , talvez cedendo á necef- fidade , commo nos cdificios no mar, fe haviaO fervir de muita cal viva ; e ainda que efte inconveniente ponderado ha de fer taO fenfivel em Franca, como em Portugal a pefar da Latitude 5 pois que o fal marino, tendo a proprie- dade de naó diflolver-fe mais a quente (1O), fe acha diflolvi- do em igual abundancia nos noflos mares , e nos daquelle Reino: com tudo, eu fallo do como fe póde fazer a me- lhor argamafía; e da mefma forte que a urgencia modi- fica eftas regras, aflfim tambem fem clla fe naó devem defprefar. Quanto á II. confequencia. Eu difle, quea cal, e aréa feraO tanto mais mifturadas , além do bem arga- mafladas que devem fer, quanto menos inquinadas efti- verem de heterogeneos: e com effeito efta reflexaO con- dúzio a Mr. Lorist (11) á defcuberta da fúa famofa argamafla, que endurece, e póde pulir-fe como marmo- re, e he impenetravel a agua (12) 5 € igualmente Sa Bi u- (9) st Encyclop. Meth. Arts et Meticrs, attig. Magonnerte, ag. 7 O: ; (10) Bem fe vé conforme efta razaó que naoó fuccede o que fuppóe Pott, Elem. de la Natur. Sett. 2. chap. 1O. CL) Memoir. fur une decouverte dans Part de bátir 3 publ. par ordre de S. Ma]. (12) Veja-fe Lettre de Mr. Patteo a Mr. t## dobre chte 12 MEMORIAS duzio a Mr. Etiense , o qual compoz huma argamafla (da mefma natureza ) tao fina que chegou a ficar de menos de 1 linha de efpeflura , e inalteravel com a agua, e os tempos mais rigorofos (13). Quanto á III. confequencia. Para a cal conftar de mui fubtis particulas , he neceflario fer mui homogenea a pedra de que ella fe fizer : aflim para ella as me- lhores pedras faO alguns marmores ( fobre tudo o #obile, de que affortunadamente abunda efte Reino ). Para fe ufar fó de aréa fina y precilo he Joeirar-fe. O pó de telha, fendo muito bem cozida, e do melhor barro ( 2o: menos de ordinario he melhor que o tijólo , e mais cozida, e por iflo fe lhe prefere ), efte pó , digo, he mui util, por facilitar pelos feus poros a entrada: ás par- ticulas de cal, fupprindo aflim a fubtileza que nas fuas nao póde ter. Por ifto os tijólos bons fe empregaO da melma forte que a pedra (14), com a ventagem de nad. pefarem tanto. Mas para fe fazerem em pó. precífao moinho apropriado; naó tendo para iflo lugar o modo, 'que eu propuz nefta Academia , de moer o vidro para. a louga (15). HI. preparacao. Ha annos o fez experimentar em Coimbra o Egre- glo Socio: defta Academia o Sr. Domingos Vandelli com affor- tunado fucceflo. (13) Encyel. AMetrb.. Arts et Metiers, artig. Cimento (14) Belidor Archit. Hydr. L. 1. $ 356. (15) He o mefmo modo ordinario de pifar o. qxartzo y que confifte em lancar em pias chéas. de agua os potes com o vi- dro ( fritta ) ainda em braza, pois na agua fe faz quebradico, e fe pode dahi langar logo no: moinho ; fem que ifto prejudi- que á louca no luftro, ou outra circunftancia , como verifiquei em. huma Fábrica por benignidade-do Correfpondente o Sr. Pedro: Celeftino Soares: (as pias naO haó de fer de pedra calcaria, ou Outra coufa que fe quebre y ou queime com a calor do vi- dro que aflenta no fundo ). ECONOMICA s. 13 190 Ultimamente fallando das madeiras que fe empregao nos edificios : para dellas fazer devido uífo 5” precifo he conhecer as leis, a que a natureza fujeitou os vegetaes, e a 'Chymica vai defcubrindo, “Tanto faó mais fortes, e 'duraveis as madeiras y, quanto, fendo da mefma efpecie, abundaó mais de gomma e de refina 5 e efta abundan- cia de fuccos he devida (como hoje eftá demonftrado ) 1.” á fertilidade do terreno! que lhe he precifo; 2.” á Íua maior grandeza, porque as raizes mais profundas , e maior quantidade de folhas attrahem mais particulas que convertem em propria nutrigaO ; 3.” aO maior ca- lor do paiz (feelle nao he demafiado , como fe vé nas arvores novas do Brafil) ; e/4.” ao maior abrigo em que eftao por aquella mefma caufía: pelo que faó melhores as madeiras criadas na expoficao ao Meio dia, depois ao Nafcente, em terceiro lugar ao Poente y e em ulti- mo ao Septentriao : e aflim imefmo as criadas nas bor- das dos bofques faó melhores que as criadas dentro , pois que além de mais expoftas ao Sol, o faó tambem a hu- ma athmosfera menos humida, Mas tanto he o cuidado em procurar madeiras as mais abundantes de feiva y ou fuccos nutrientes, como deve fer em ufar dellas depois que grande parte da mef- ma feiva tenha evaporado, e até ao ponto de a madei- ra augmentar, ou diminuir de pezo eftando expofta ao ar, ou como diz Mr. Dubamel (16) até fazer Hygro- metro. Se o tempo permitte fazer com focego todas as ma- sobras, uúil he que efcollidas as madeiras fe defcasquem ainda meímo antes de cortadas ; pois continuando por algum tempo a receber nutricaó, por falta dos valos por onde os Ífuccos paílaó para mudarem em páo o alburzo, tem (16) Defte mefímo fíaO muitas das obfervagcóúes que aquí ex- ponho y no Tranfp. des Bois, Xc. | 14 MEMORIAS tem eftes de ficar efpalhados pelo tronco, o qual afúim nao póde engroflar ; até que em fim por falta da circu- lacao vem a acabar o nutrimento. Entaó precifo he cor- tar as arvores, e póllas a feccar; ifto he, a evaporar- be a parte aquofa fuperabundante , ficando na madei- ra fó as particulas refinofas, e gonumofas , de que naf- ce toda a fua forga , pois que fao as que unem as fi- bras lenhofas entre fí. Naó he efta propofigao arbitraria, nem pouco inte- reflfante ; he fim fufceptivel de evidente prova, e as re- gras que dellas fe'deduzem fao de tanta attengaO , quan- to he enorme o prejúizo nao 'fe pondo em prática. prova he efta. Em todos os animaes em quanto vivem, e 'nas plantas em quanto vegetao ha quantidade de lí- quidos , que pelo calor y e com o ar que encerrao e abforvem' , continuamente fe eftao a decompór , e múu- dar' de natureza y e deprefla fe deftruiriao , fe outros fue- cos de novo, criados pelo fuítento appropriado , nao vief- tem a fubftituir o feu lugar; e efte círculo he que cont- titúe a vida , e a vegetacao : extinctas eftas, ainda o ca- lor , e ar continuao a obrar nos líquidos a mefma de- compoficgaó ; e porque fe impedio a renovagao dos fuc- cos nutrientes , que hiaó a fupprir a falta dos primei- ros , ella cada vez lie mais fenfivel , e nao fó nos lí- guidos y mas porque eftes fazendo-fe mais fubtis pene- trad continuamente as fibras dos folidos y e diflolvem as particulas ( nos vegetaes) gommofas, e ainda as refino- ías 5; e eftas porque a parte acida do ar' combinando-fe, as torna 'em hum múuco , ou fabaó y, que he difloluvel na agua. E a mefma diflolugao fe facilita havendo gráo de calor conveniente, pois com elle fe fazem mais fubtis as particulas da agua, e ar, e máis laxas as fibras , as quaes por iflo facilitao ás mefmas particulas huma pafla- gem mais prompta : continuando defta forte até que fi- caO Íó as partes terreas, que em fim fe vem a reduzir ao humus vegetal. Sendo pois taO manifefta para 'haver fermentagao , ou 3 1 ECÓNOMICAS. 15 ou decompofigao a neceflidade de concorrerem as tres couífas, ar, calor, e humidade; fica evidente que ella. ' fe evita y ou diminue, logo que falta alguma deflas cou- fas. Aflim para prefervar as madeiras da corrupgaO , pre- cifo he fazer-lhe enxugar mui promptamente a parte aquofa da feiva, que póde diffolver aquelles fuccos. Se as madeiras precífao empregar-fe nas obrás dentro em breve tempo , como para bem fe enxugarem levaó an- nos, deveráO ao menos empregar-fe as mais verdes nos fitios menos humidos , e menos abafados; naóO fe brean- do, ou pintando, a haver de fazer-fe aflim , fenaó de- pois que cftejao feccas; porque em verdes , como nao póde fahir a parte aquoía , cominunicando-1e-lhe alguma ar quando grétao , promove-fe grandemente a podridao, ois que aquelles fuccos haviaó eftado diflolvidos : mas erado tempo baftante para fe ellas enxugarem , deve ter á fombra , em. fitio livre de chuva y vento, e de vapores da terra. Quando podem mediar muitos annos fem fe fazer ufo das madeiras, dizem alguns fer utilifimo conferval- las na agua. Dubamel (17) aponta muitas experiencias fuas, porque decifivamente reprova efte coftume :. eu tam- bem algunas fiz), e ainda que naóO fejaO para compa- rar com as de Duhamel , que teve a comodidade de as fazer em grande ) como os refultados fe aflemelha- vao, fou do mefmo parecer; e quando duvidemos das experiencias , vejamos de que forte as luzes da Chymica podem refolver a dúvida. A agua ou doce, ou do mar, em que as madeiras eftaó de mólho ;. vai diflolvendo a gomma dellas continuamente, facilitando ifto mais a di- latagao em que eftaó as fuas fibras inchadas 'pela mefma agua, que, aliás naó póde diflolver a réfina :) donde as madeiras que/abundaO deíta, confervaó-fe na agua por mais tempo ( obfervá-fe no pinho ); e chega'a ver-fea fecula , ou.lago que faz a gomma ao fino da agua em tan- X17) Tranfport des Bois. 16 MEMORIAS tanque, em que naó he agitada , e haja madeiras de mó- Iho. folvido , naó póde de novo diflolver tanta porgaó de gomma , como a agua dece; por iflo aquellas madeiras te vé que perdéraó' menos da fua forza, que as que ef- tiveraO na agua doce. Mas ainda ha coufas que íÍaG di- gnas de attengaoO nas madeiras que eftiveraO na agua Íal- gada, e Já uteis y já prejudiciaes: referirei todas. Utilidades. Durao mais tempo em razaO do fal marino com que fica , que as preferva do caruncho , e as póde prefer- var da podridaó. Ardem difficilmente, e menos levan- tao chamma ; pelo que feriao muito uteis: empregando- fe nas obras que mais neceflitaó acautelar-fe de incen- dios. # Prejuizos. Eftao mui fujeitas a ferem ruídas do gufano , por todo o tempo que eftao na agua. A impreflaO das on- das as damnifica muito ; e naO Íó com o attrito y que até chega ás vezes a defgaftar-lhe a fuperficie, mas por- que fendo a cada inftante agua nova a que as lava, mais deprefla , e maior he a abundancia de fuccos que fe lhes diflolve. Mas fe naó eftao de todo mergulhadas na agua, ou ainda mais fe eftaó nas praias em lugar onde na vafan- te fiquem defcubertas y entaO ifto lhe faz hum prejuizo fuperior aos mais, e que naó he contrapefado ainda das maiores utilidades que a agua falgada lhes póde fazer (falvo a de nao levantarem lavareda). 'Tambem fe ifto he duvidofo y a Chymica decide a controverfia :- vimos que a agua, ar , e calor faó os agentes da podridaó ; quando as madeiras eftaoO ao ar, para naó apodrecerem fe A agua do mar menos pura , por conter O fal dif- ' ECONOoOMICA s. 7 fe lhes tira a humidade , e com tintas, breu, KXc., fe embaraga que de novo a naó apanhem: e quando eft2o em agua, preciíaO fer privadas dear 5v€ por ifto devem eftar merguihadas. Porém fe eftaó expoftas já ao ar, já mergulhacdas y quando eft2O mergulhadas os fuccos fe dií- folvem, mas pouco, porque a mefma agua os refrigera , e quafi géla: retirando-fe a agua deixa mui brandas as fibras da madeira, e mui faceis por iflo de as penetrar O ar , e ir continuando a decompór a parte refinofa ; para o que concorre muito o calor do Sol y que dilatan- do as meínias fibias facilita a entrada do ar y e a mais breve decompofigaó dos fuccos y porque os faz mais lí- quidos : na feguinte enchente acha a agua os fuccos no- vamente decoinpoftos , e tambem pela dilatacaó das fi- bras acha entrada mais facil para ir de novo a diffolver outros fuccos; e nefta alternativa continúa até de todo as madeiras fe perderem. Eis-aqui porque Dubhamel nas repetidas experiencias que fez, nenhumas madeiras obfer- vou mais fracas (em circunftancias iguaes) do que aquel- las que nas praias ficao defcubertas nas vafantes. Parece-me pois com ifto ter provado , como dife no principio , que os conhecimentos da Chymica naó faó defneceflarios na Arte de Edificar. (Sefaú de 2O de Outubro de 1790.) Tom. III. | Cc ME- 18 MEeENMNOorIAS MEMORIA Sobre o Encanamento do Rio Mondego. PIO RIO GAMA QNO/ SS ANANO: ESE ES | Navegagaó interior do Reino muito limitada, nad: por falta de rios, mas fim porque fe naó fizeraos até agora navegaveis alguns delles , reftringindo as fuas. aguas efpraiadas fem. alveo certo y remediando as caxoeiras ,) tirando , e prohibindo os aífudes, e outros embaragos , que arbitrariamente fe fazem nosrios (pou- cCoO., OU nada oproveitando-fe delles para regar Os cam-- pos) he a caufa das grandes difficuldades dos tranfpor-- tes dos generos, e prejudicial ao adiantamento da agri-- cultura. O Mondego, que por naó. fer encanado eftraga hum: dos mais ferteis campos do Reino y tem fufficiente aguas. fe foille recoihida em hum alveo conftante, para fer na- vegavel em todo o tempo do anno. Desde o reinado do Senhor Rei D. Sebaftiao fe: deraO reiteradas ordens para fe defender a Gidade de Coimbra das. innundacóes do. Mondego , e em varios tempos fe projectou o feu encanamento , tendo-fe já aos 8 de Setembro de 1606. publicado o Regimento. dos Marachóoes , eftabelecendo-fe dous Provedores para impe- dit os grandes eftragos, que continuamente faz efte rio, contribuindo por iflo os lavradores dos campos conti- guos com tributos, e ferventias. Varios foraó os. projectos para o encanamento , e até fe prohibio cultivarem-fe as faldas dos montes Ja- teraes 20 Mondego , temendo-fe que a terra, e a aréa mais | | | E” CLOiNI-O ME: di AS. 19 mais facilmente tranfportada ao meímo rio fofle a prin- cipal caufa de ter-fe tanto levantado O féu alveo. Entre 'os muitos projectos fe propoz o, I. Reter-fe o rio com mottas , marachóes , ou di- ques. j II. Gortar-fe o penedo de Lares. III. Fazer-fe hum canal como diverforio para rece- ber a agua fuperabundaunte das enchentes. IV- Determinar huma largura certa ao alveo, e de- fender as fuas bordas com eftacarias y e arvoredo;, Porém até agora nao fe fez carta alguma topogra- fica defte rio exacta y nem fe tomáraO as nivellagoes y, nem fe calculou nas grandes enchentes, e nas aguas medias o volume. da agua y nem as diflerentes velocidades y nem de fizeraO Os mais exames indifpenfaveis para pro- ór hum projecto fundado nes verdadeiros principios da ydraulica. ; Eu nao me deveria entremetter em huma (materia alnéa dos meus actuaes eftudos ; mas teudo tido repeti- das occafióes de exantúinar efte río, e fazer nas fuas VI? zinhangas muitas obras para reduzir a cultura “o antigo alveo do mefmo , me refolvi' de communicar a efta Real Academia as minhas obfervagoes, e reflexóes , as quaes poderáó fervir de algum foccorro a qualquer que feja incumbido defta obra tao necellaria. O rio Mondego prefentemente tem por alveo toda a ampla , e extenía valla, ou planicie, que vulgarmen- te fe chama Campo, a qual elle formou pelo decurío de muito tempo, dividindo, ou excavando os montes, € as collinas , o que claramente fe conhece da mef- ma qualidade de pedra, de terreno, da mefma di- recgaO , e groflura dos bancos em hum, e cutro lado do campo. Aflima das Torres o rio he eftreito entre os mon- tés , Os quaes pouco a o alargando formo € á 11 3 O- 2O MEMORTAS Goleta huma valla, ou planicie de largura em algumas partes quafi de duas leguas. Na Goleta fe reftringem as collinas de modo, que fica a valla muita eftreita refpectivamente á antecedente largura y a qual depois fe vai fazendo maior até o mar. O rio desde as “Torres fórma com as fuas aguas huma direcgaó. curva, as quaes depois, correndo paral- lelas ao. monte de pedra calcarea, donde exifte a quin- ta de Manoel Pefloa, fe efpraiaO nas terras do Viícon- de da Anadia. Chegadas pois as aguas reflectidas em différentes partes , nos marvrachóes da Regaga , dos Bentos, e muro do Conego Barata á Ponte de Coimbra , com- poíta de muitos. , e pequenos arcos , pela multiplicida- de dos. quaes retardando o- feu. movimento , e naó cor- refpondendo a velocidade que as aguas adquirem quando pafl2ó pelos arcos eftreitos, ao movimento que perdéraó com o obftaculo total da Ponte, depofitao muita aréa5. e defíte: modo fe: intupem os arcos, levantando-fe o fun- do do campo, ou alveo inconftante do rio, e aflfim com: o decurío do tempo precifará formar-fe outra ponte. Continuando o rio o feu curfo irregular até S. Mar- tinho do Biípo, nefte lugar deixou o antigo alveo por eftar alteado do nivel do campo que eftá mais alto , e procurou a parte, mais declive ao Norte, donde fe cha- ma a Quebrada , no qual lugar os Miniftros Superinten- dentes do rio, por falta de conhecimentos das aguas cor- rentes, intentárao com hum grande, e difpendiofo muro impedir o novo curfo , e obrigallo a correr pelo anti- go alveo; porém o pezo, e impeto das aguas rompeo logo o muro, e aflim o rio fe vai encoftando á cadéa das coilinas de 'Taveiro , Formofelha , Soure até Gole- ta , dividindo-fe em muitos, e differentes ramos desde a Quebrada até Pereira y e defta Villa até Monte-mór, recortando y, e enchendo aflim de aréa huma grande par- te do campo. Con- ECONOMICAS. 21 Continúa o ramo maior do rio o feu curfo com differentes gyros , até que chega a batter, ao Sul, contra hum pequeno monte, ou rochedo de pedra calcarea, a que daó o nome de Penedo de Lares, de donde reflecte contra o Canal. O rio perto do mefimo penedo fe divide em dous ramos y; hum encoftado ao Canal, outro ás collinas de S. Fins, e Villa-Verde ao Sul y abrangendo a grande Infua da Moraceira : os quaes dous ramos perto de La- vos fe unem, e formao com a agua do mar o porto da Figueira. Efte porto he muito amplo, e defendido em parte do mefino mar por huma lingua de aréa, ou peninfula chamada Cabedelo, a qual pouco a pouco levantando-fe Íe une ás collinas orientaes de Lavos. A fua abertura , ou bocca he muito eftreita, e da parte do Forte tem rochedos, ena outra pouco fundo, e inconftante; por iflo a entrada, e fahida he perigofa, e raros faO os annos, nos quaes Íe naó percaó embar- cagóes. A maior parte do antigo alveo eftá entulhada, € ao nivel do mais alto campo ; e o moderno alteado já de maneira y que O rio com muitas, e irregulares tortuofi- dades procura a parte mais declive ; pelo que , crefcen- do fómente a algumas pollegadas a agua , efta efcorre pelo campo de Bolas , e aflim fe vai deftruindo , cu- brindo-fe de aréas o refto deftes fertiliflimos campos, e as lagoas y ou paúes de Arzilla , Formofelba , de Vailla- Nova; de Ángos, e outros naó podem defaguar no Mon- dego , e fazerem-fe capazes para a agricultura. E ainda que o campo em Coimbra, por hum cal- culo. de approximagaó , deduzido das obfervagóes baro- metricas , ufando-fe da taboa de Mr. Alambert, feja em Coimbra mais alto que a fuperficie do mar 406 polleg- efta altura porém , confiderando o efpaco de quafi fete leguas de comprimento , e huma até duas de Jargura, nao he declivio fufficiente para as aguas, que cftaó el- praia- 27 MEMORIAS praiadas; a qual inclinagao baftaria fe foflem unidas, e reftrictas em hum alveo conftante. As difficuldades para defender-fe dos eftrvagos que produzem as aguas faó bem conhecidos dos que tratáraó fobre as aguas correntes (1) , polto que os rios fejaó encanados : quantas pois feraó para defender-fe de hum rio; como o Mondego, que livremente efcorre fem al- veo permanente. De quanta neceflidade feja a efte Reino', no qual nao fe recolhe o paó neceflario , e nao ÍaO frequentes os terrenos ferteis , O confervar-fe o campo de Coim- bra, eu me naó demorarei a demoníftrar , e fómente in- dicarei, que para a defeza do dito campo, I. Saó inuteis as mottas , marachóes y ou diques. II. O canal propofto para exonerar O rio nas grandes enchentes he defpeza inutil. III. He efcufado cortar-fe o penedo de Lares. IV. He infignificante a prohibigao de fe lavrarem as faldas dos montes. V. 'Ounico projecto mais util á agricultura dos cam- pos y e menos difípendiofo he o que foi propofto, e ap- provado no anno de 1708. 1. Os difpendiofos diques, ou mottas , que feriao ne- ceflarios para reter"o avultado volume de aguas y que nas grandes enchentes fe ajuntaó no campo de Coim- bra, deveriaó fer de huma groflura enorme para fufter o grande pezo das aguas. E fe os ditos diques nao ti- velñlem portas para deixar entrar as aguas turvas das en- chentes no campo , efte ficaria efteril. Mas (1) Leupold', Strumio y Belidor , Limporghb , Meyer, Barrate- ron , Silberfehlag y Gauglelmini, Zendrini, Micshelovti , Alberti”, P. Frifiy Fantoni, Sec. EcoxsonyxcoñÑís. 23 “Mas concedida a poflibilidade de fazerem-fe os di- ques , comtudo iflo a agua nas enchentes entraria no campo, e fe poria quafi ao nivel daquella contida en- tre as mottas, ou diques; porque o rio he huma gran- de lagoa debaixo da terra, e a fua parte defcuberta he o canal, que lhe ferve de efcóo. Se o tral canal re- cebe maior cópia de agua do que he coftume, efta com o Íeu pezo , comprimindo a inferior, e lateral y faz que a agua da lagoa inferior fe levante, e procure pór-fe ao nivel da outra filtrando pela terra que a cobre, e afí- fim innundará, e fará efleril o campo , naó obftante as mottas por caufa dos faes, que nefta filtragaO diflolveo na terra. Ifto evidentemente fe moftra em qualquer excava- gad que fe faga no campo , ou nas fuas vizinhancas ; porque chegando a excavagao pouco mais do nivel do rio , logo iahe a agua , que diminue y ou crefce á pro- porgaO do augmento y ou diminuigaó do mefmo rio, o que claramente tambem fe oblerva em todos os pocos do mefmo campo. Facil he efta filtracaó das aguas por fer o terreno do cainpo formado de huma terra folta, e porofa, que contta de aréa fina , terra humofa , e pouca argillacea, á excepcaoO dos terrenos na vizinhanca do mar , donde a agua doce fe miftura com a falgada ; porque alli entaó fe precipita huma pura argilla; e affi o terreno he mais compacto , e naO deixa! lugar á filtragaO da agua: por io nefte fitio he mais profundo o rio y porque contém toda a agua unida , e naO efpaltada como fuperior- mente... a! O Poderia convir hum' canal de defcarga (2) em hum rio, que tem alveo certo y e nao fuflficiente para conter to- (2) AMr. Geneté moftrou. evidentemente y que femelhantes cau naes fa0 mais prejudiciaes, que uteis , nas fuas Memorias ind 24 MEMORIAS todas as aguas: mas “como nefte fe lhe deve detefmi- nar alveo ; aflim aq melmo tempo fe lhe deve dar aquel- la largura proporcional ás aguas que deve conter, por iffo he inutil qualquer outro canal. 1. Quem naó tivefle examinado o penedo de Lares cui- daria que efte fofle huma enorme mafla , ou rochedo que fizellfe reflectir com huma grande forca toda a corrente do Mondego , e que fem cortar-fe, nunca fe poderia def- embaragar a corrente do mefio rio. Mas a fahida def- te rochedo no rio he muito menor , que varias obras feitas no Mondego por alguns particulares para reflectir a corrente; pelo que a reflexao que produz he infigni- ficante y e com muita facilidade fe póde diminuir, ou totalmente tirar, fazendo-fe na vizinhanga do mefmo al- guns dentes. E aflin me parece elcufado cortar-fe o di- to penedo , quando nao fofle para aproveitar-fe da pe- dra no tapume que fe devia fazer ao ramo do Monde- go encoftado ao Canal. IV. Ainda que lavrando-fe as faldas dos montes late- raes ao campo, as aguas levem maior porgaO de aréa pa- ra o rio , iffo naó he caufa delle entulhar-fe 5 porque tendo elle baftante velocidade (fendo as fuas aguas ref- tri- O E RI RI RI RE EI Ó a pr:fías em Leyde no anno de 1755 com o feguinte titulo : Experiences fur le cours des Fleuves y ou lettres á un Madgiftrat Hollandois y dans les quelles on examine le cours des eaux;, O fi pour les faire baifer dans une fleuve y O: par lá eviter les innonda- tíons., il convient du faire des faignées y ou defcbarges en divifant les eaux;, avec la maniere d' ecurer le fond des fleuves , empecher la rupiure des digues y la fubmerfion d' une des plus belles parties de la Hollande, en procurer un prompt ecoulement aux eaux des fleu- ves, qui la travesfent. ECONÓMICAS 25 triétas em hum alveo conftante”) a aréa fina, e terra vai tranfportada ao mar , e fómente fe precipita y e levanta o alveo , quando encontra obítaculos , que diminuao a fua velocidade (3). Os obfítaculos faó as aguas divididas em varios ra- mos , ou efpraiadas ; pelo que o esfregamento do fundo , dos lados , e a refiftencia do ar fobre a fuperficie da agua he muito maior que no rio y as quaes aguas eftaó unidas , e reftrictas em hum unico, e regular alveo5 e aflim fe diminue confideravelmente a fua velocidade y e por confequencia fe precipitao mais facilmente as terras, e aréas, O que naó fuccede em hum rio), cuja veloci-- dade he maior. As tortuofidades nos rios faó tambem hum dos obfta- culos, que fazem confideravelmente diminuir a veloci- dade das aguas, e por confequencia entulhar, e levantar Os fundos dos rios. Confiderados todos os projectos propoftos y a natu- reza do Mondego, que participa alguma coufa de Tor-- rente , fe póde concluir que efte rio naó convem enca- nar-fe com mottas, ou diques; naO precifa de canal pa- ra defaguar nas fuas enchentes. O penedo de Lares nao he caufa dos eftragos que faz o Mondego; e que fe po- dem continuar a lavrar as faldas dos montes contiguos ao campo fem receio de entulhar-fe o rio. Vi O unico projecto adaptado á fituagao do rio, á fer- tilizagaó dos campos , e menos difpendiofo y he, ao meu parecer, aquelle que fe approvou por hum Acordaó en- Tom. III. O, tre (3) O Mondego traz nas maiores enchentes até S. Martinho do Bifpo húmá arta grofía com pequenos fragmentos de feixo, de fchilto, do qual feixo he formada a Serra da Eftrella 5 ttaz tambem a decompoficaó do mefmo feixo, como 'he quarizo, felt-fpato, mica, e O mais he huma glarea fina, que contém alguma porgao de arga de ferro. 26 MEMORIAS tre os Miniftros, e pefloas intelligentes , que o Senhor Rei D. Joaó V. deputou, e mandou ouvir fobre o enca- namento do dito rio pelo Alvará de 22 de Abril de 1708. Elle confiíte em dar ao alveo huma largura fufficiente pa- ra conter as aguas das pequenas enchentes, e fortificar as fuas bordas com eftacarias, e arvoredo. O bom effeito defte encanamento fe obferva perto da Villa de Pereira , donde o Mondego defte modo eñtá encanado 5 porque nefte lugar o alveo he eftreito , pro- fundo , e conflante, o que fe deve ao cuidado dos feus moradores , os quaes plantárao arvoredo, e puzeraó ef- tacarias, com que obrigárao as aguas ordinarias a correrem reftrictas no eflpago determinado ; e aflim tiverao forca para excavar o fundo do alveo, e ficárao os campos cir- cumvizinhos livres dos eftragos ordinarios do dito rio, e beneficiados com as innundacóes. Os Egypcios nao embaracáraO o Nilo nas fuas fer- teis innundacgóes , e fómente excavando vallados, com a terra delles levantárao os lugares mais baixos, e os de- fendéraod tambem com diques, que tem com portas. As bordas do rio devem fer levantadas mais que O nivel do campo para conter as meias aguas , e defen- didas com baftantes arvores , arbuftos, e no feu princi- pio com eftacarias enlacadas. Com efte mefmo methodo o actual Corregedor da “Torre de Moncorvo pertende en- canar o rio de Valarica. A tortuofidade que antigamente tinha o Mondego, foi caufa de mudar o feu alveo verdadeiro , fendo de- monftrado em Fyfica, que todo o corpo que bartte em outro, experimenta a reacaO igual, e contraria á fua ac- gaO ; e aílim com as reiteradas reflexoóes excavando, e roendo parte das bordas, diminuindo a velocidade, e de- pofitando muita aréa, levantou o fundo, e as aguas pro- curárad O caminho mais declive. Aflim agora lhe devia dar a direccaO mais recta, que foffe poflivel, encoñtando-o ás collinas pela pao do Oor- A ADA. ECONOMICAS 27 Norte, e na vizinhanca do penedo de Lares, tapando- fe O ramo que corre entre o Canal, e a Moraceira, cortando-fe porgaO da mefiña , fe obteria em pouco tem- po, e com pouca defpeza o encanamento do Mondego, fem impedir as uteis innundacóes no campo, e fe def- embaracaria das aréas O porto da Figueira. Mas comtudo iflo nao fe chegaria a impedir que a parte mais baixa da Cidade de Coimbra naó eftivefle fu- Jeita nas grandes chéas a innundar-fe pela filtragao das aguas em hum terreno arenofo fenaóO interpondo entre QO rio, e o plano baixo da Cidade (além de hum profun- do muro, que firva/de amparo ás enchentes de trasbor- dar na Cidade) hum ou dous entrémedios impenetraveis á agua , como he a argilla, em mais profundidade que O mefmo muro, e em alguma diftancia delle, como pro- poz o célebre Fyfico Mr. Genneté: Vraz moyen d'empe- cher les eaux de la Seine de penetrer fous les maijons, et dans les caves, lorsque elle fe gonfle dans Penceinte de Paris. : SefJav de 27 de Outubro de 1790. Di ME- 28 MEMORIAS MEMORIA Sobre 'as Aguas-ardentes da Companhia Geral do Alto Douro. 4 PoR JOSE JACINTHO DE SOUSA. Ara eftas minhas experiencias fervi-me de tres Lam- biques ao mefimo tempo; hum delles á imitagao dos de Baumé , defcripto na Memoria do mefmo Au- thor, premiada em 1778 pela Academia da Emulacaó de París; os outros dous pelo methodo ordinario , mas Já fem tamanhos defeitos , porque imitao os de Vanne referidos na fua Memoria, que concorreo ao premio da Academia de Limoges em 1767. Levava o primeiro lam- bique 63 almudes da medida do Porto ; e os outros am- bos 38 almudes da mefma medida. Operacad I. Langáraó-fe na caldeira grande 63 almudes de vi- nho', e 36 nas duas pequenas : devidio-fe a lenha em duas partes iguaes ; huma para a fornalha maior, outra para as duas pequenas. Accendeo-fe o fogo na fornalha maior pelas nove horas e meia da manhaá; principiou a deftilar pelo meio dia, e acabou pelas finco e meia da tar- de. Nas fornalhas pequenas accendeo-fe o fogo pelas dez horas e tres quartos ; hum deftes lambiques comegou a deftilar pela huma hora, o outro quinze minutos depois ; findou o primeiro pelas feis e quarenta minutos, e o fe- gundo pelas fete. Produzio a caldeira maior 21 almudes e meio de Agua-ardente , e as outras duas 11 almudes esa | | ECONOMICA s. 29 e TI canadas, e 'por confequencia 18 quartilhos menos que a grande , relativamente ás differentes porcóes do vinho que continhao. As fornalhas pequenas corlumirad ambas mais lenha do que a grande; mas como efta dif- ferenga foi pouco fenfivel, podemos dizer que pipa e meia de vinho neftes lambiques confome a mefíma lenha que tres no outro. A lenha toda valia dous mil réis, porque erao dous carros e meio, com pouca differenca. Operacao II. No dia 15 de Fevereiro accendérao-fe as fornalhas todas pelas oito horas e tres quartos da manha ; lambi- cáraO as caldeiras pequenas pelas onze, e a grande vin- te minutos depois: acabou-fe a lambicagaO das pequenas pelas finco e hum quarto, e a da grande pelas finco e meia (de propofito a demorei). Produzio o lambique grande, com 3 pipas de vinho, 22 almudes e tres cana- das de agua-ardente , e Os pequenos, com 38 almudes de vinho de igual qualidade e lotagaó, 12 almudes e 2 ca- nadas de agua-ardente; ifto he, 12 canadas menos do que deviao render. Operacao III. Em 18 de Fevereiro lancárad-fe na caldeira maior 9 almudes e meio de vinho y que fobejou das duas primeiras Ooperacgoes , e juntamente a agua-ardente produzida deflas duas lambicacóes antecedentes. 'Tirou-fe huma pipa de prova de Efcada de oito gráos e meio do Pefalicor de Rofler. 'Tirou-fe outra pipa de prova Redonda, ou de Hollanda , e tres almudes que deviaO refinar-fe; mas co- mo a pipa melhor cubria efta porgao dos 3 almudes, po- demos dizer, que obtivemos 24 almudes da primeira pro- va, e 21 da Redonda. Ca Un 30 “ MEMORIAS Cautelas no tempo das Operacbes. Tive o cuidado poflivel porque no vinho naó hou- vele a menor diffirenga, e que fofl: ás caldeiras com pureza, varrendo , e lavando os vaífos , e canaes por onde fe langou: que os capiteis dos lambiques eftivefl- fem exactamente tapados: que o fogo fofle regular em todas as fornalhas, particularmente no tempo da lambi- cagaó : que as portas das ditas fornalhas eftiveñlem fecha- das o mais tempo poflivel: que as porgóes da lenha, fof- fem exactamente divididas : que os vafos recipientes ef- tiveflem limpos : e que as primeiras , e ultimas porgóes de agua-ardente mais impregnadas da fleuma fe apartaí- fem, Kc. OSfervagdes. Ne Pela porta, e refiítos deftinados para regular o fo- go nas fornalhas, fahia das pequenas frequentemente a lavareda ; mas naó acontecia o meímo na grande, por cujo refiíto nunca vi fahir alguma lavareda, naó obftan- te eftar elle collocado quatro palmos aflima do nivel do fundo da Caldeira ;'e os refiftos das pequenas finco pal- mos aflima dos niveis dos fundos das fuúas refpectivas caldeiras. . IT. O calor 4 porta da fornalha grande erd menor, é dentro della vel á lambicacaó ; COMO nas pequenas. III. A chamma produziria melhor effeito no fundo da cal- ualquer fogueira repentina naó era fenfi- d í EcoNnonTa ÁS. 31 caldeira grande , fe os voaróes de ferro que a fuftentad foflem diípoitos longitudinalmente,. VS O feu capitel refpirava por muitas partes, e algu- mas dellas nunca eu pude exactamente vedar (efte de- feito póde emendar o Caldeireiro ). V. Obfervei repetidas vezes com co pefalicór a agua- ardente que fe lambicava; e no principio, e fim deftas operagóes com alguns efpiritos falinos, para ver fe motí- travaó a diflolugaó do cobre , que pelo gofto parecia haver. VI. | Vi muitas nodoas de verdete fobre o capitel gran- | de, por onde os vapores fahiao. | NONE O refiduo dos lambiques que provei , e examinei com efpirito de fal amoniaco y, nao me cccultou a grande alteragaó que o fogo faz neftes refiduos , e o effeito dos Ífaes vegetaes dentro das caldeiras. | De tudo ifto podia deduzir a neceflidade de refor- ' mar as noflas Fábricas, e de preferir aos noflos lambi- ques os de Baumé ; mas como por certo eu nao de- vo concluir fem evidencia , e inferir de principios que | nao eftejaO afsás provados, particularmente em buma ma- teria fufceptivel de 'experiencias, e demontftracóes : por iffo efpero que o tempo me dé cccafiao de manifeftar á Academia os meus fentimentos fobre efte mefio obje. (to. Agora farei unicamente huma breve 1eflexao a ref pei- 32 MEMORIAS peito da lenha j e do tempo empregado nas lambicagcóes dos noflos vinhos. Sendo certo que o lambique de Baumé, de que me fervi, eftá ainda muito imperfeito, e que os dous pe- quenos naó faó taód máos como os das Fábricas (bafta dizer que nellas ha lambiques, que pela grande altura da caldeira, e da fua bocca eftreita gaítaO vinte e quatro horas em cada lambicagao), he evidente que o meu cál- culo regulado por elles naó póde ter exactidao. Ifto pof- to , fabemos (Operacaú JE.) que comtres pipas de vinho galtámos 1Q$ooo réis de lenha na fornalha grande , e outro tanto nas pequenas com pipa e meia: ora eu ef- tou perfuadido , que feis pipas em huma caldeira da mefima capacidade naó confomem 2gjoo0o réis, nem por confequencia doze pipas 4$ooo r. de lenha ; mas para huma caldeira de doze pipas ferá baftante 300o r. 3 e deftilando duas vezes no dia 4 até 599000 r. por tudo. Ora para deftilar vinte e quatro pipas de vinho nos lam- biques ordinarios precifamos pelo menos de I6QoOO re de lenha 5 ifto he, 12$000 r. mais do que nos de Bau- mé. E fendo neceflario deftilar oito pipas de vinho pa- ra huma de agua-ardente y, obteremos efta por 4900o r. menos , ÍÓ na defpeza da lenha. A perda do tempo, e jornaes nao he menos fenfi- vel; porque hum lambique de pipa das noflas Fábricas nao póde fazer mais do que huma lambicacaó por dia; e quando pertendemos outra coufa he em prejuizo da quantidade , e qualidade da agua-ardente : pois o tra- balho y e cuidado com eftes lambiques pequenos nad he menor, Já para tragar a lenha, já para regular o fo- go, Xc. de forte que os mefmos dous obreiros preci- fos á deftilacaó em hum pequeno, aflitem com menos trabalho a hum grande : aífim para lambicar vinte e qua- tro pipas de vinho , pelo noflo methodo ordinario, pre- cifamos de quarenta e oito jornaleiros y a cuja defpeza | de jornaes devemos ajuntar a do vinho, e agua-ardente que ECONOMICA s. 33 que bebem , e teremos outra parcella aísás notavel nas defpezas. GATO GRU ESTOS Defpezas da lenha | e dos jornaes dos Obreiros com os Lambiques antigos. Por lenha de 24 lambicagóes nos lambiques de pipa, cada huma lambicagaó a 700. I6Q800 r: Por jornaes no efpaco de 24 dias a dous obreiros y cada hum. 200 r., por dia 400 960o Por vinho , e agua-ardente', que os ditos dous obreiros gaítao nos 24 dias das lam- bicagóes a 6o r. cada hum, 120 - - - — 2Ñ0o —————— Somma a2o9da28o Defpeza da lenha , e dos jornaes dos Obreiros nos Lambiques modernos. Por lenha de duas lambicacoes nas caldei- ras de 12 pipas , cada huma lambica- GaÓ a 4POCO fo See Ra e e o BANCO ts Por jornaes no efpago de dous dias a dous. obreiros y cada hum por dia a 20o r., 40O AE E e EA SAE ene 80O Por vinho , e agua-ardente, que os ditos obreiros gaftao nos dias das lambicagóes , anóorr cada hum 12O (eu es lsns se 24O Somma 9fo4o Differenga total de huma á outra lambicagaó 20D240 Tona II], E YXus 34 MEMORIAS Tudo ifto fe poupa y ufando dos lambiques affim mefmo imperfeitos , como efte de que me fervi 5 de modo que fe deftilamos vinte e quatro pipas de vi- nho para fazer tres de agua ardente, teremos cada hu- ma deftas por 6$750 réis menos, ÍÓ nas defpezas da lenhas, e dos obreiros. Porém fe a qualidade do vi- nho permittir, que os lambiques ordinarios fagaó duas deftilagóes por día, os de Baumé farao tres, ou qua- tro 3 porque a deftilagao he igual á evaporacaó , efta he proporcional á fuperficie expofta do fluido, e á fua altura dentro do vafo; de modo , que a brevidade da deftilagao do vinho eftá na razao directa da fuperfi- cie livre , e fuperior, que elle tem dentro da caldei- ra, e na razaO Inverfa da altura, que o mefmo vinho tem dentro da dita caldeira: aflim da elttruttura do lambique , e naó da quantidade do vinho que contém, he que em iguaes circunftancias depende o tempo da deftilagad. O calor do Sol , e da Athmosfera no Eftio faz evaporar dentro em huma hora mil pipas de agua, que huma nuvem carregada efpalhou em hum terreno qualquer ; mas naO evapora no mefmo tempo hum co- po de agua expoíto ao mefmo calor. Efítes feno- menos , que faO verdadeiramente das deftilagóes em grande executadas pela natureza , provaó a minha theoria. He verdade que por algumas Fábricas das tres Pro- vincias Beira y Minho , e Tras-os Montes, achaó-fe lambiques de quarenta até feflenta almudes; e o pre- co das lenhas he ordinariamente menor de oitocentos réis por carro. Comtudo o confumo inutil defías le- nhas fempre fe verifica, e chega a muitos mil carros em cada hum anno nas Provincias. 'Tambem he mui- to notavel , e maior ainda o número dos fabricantes empregados fem utilidade alguma. A perda das aguas- ardentes , e má qualidade das mefinas , faó objectos | que o, EN MA E cOoN O MICAS. 35 que merecem particular attencaó. Por efles , e Outros refpeitos a Junta da Companhia Geral do Alto-Douro eitá na refolugaó de reformar as Fábricas das ditas Pro- vincias em beneficio feu, e do Público. Sefas de 23 de Margo de 1791. E DES- 36. MEMORIAS DESCRIPQGAO ECONOMICA Do Territorio que vulgarmente (e chama Alto-Douro.. Por FRANCISCO PEREIRA REBELLO DA FONSECCA. GARDAS EULOE Defcripegao Geral. Territorio y que faz o objecto defta Defcripead,: | he todo o deftricto das correntes dos lados Se- tentrional , e Meridional do rio Douro, desde o firio de S. Joaó da Pefíqueira até o em que defagua no mefmo Douro orio Teixeira : ÍfasO duas elevadas coftas, que eftaS fituadas de Norte a Sul entre Villa-Real y que eftá em 11 gráos e 2 minutos de longitude ,. e/41 gráos e 19 minutos de latitude , e Lamego, que efttá em IO gráos e 51 minutos de longitude, e 41 gráós e 5 minutos de latitude : todo efte Territorio eftá forma- do em muito elevados outeiros, e profundos valles, de forte , que em todo elle: ha muito pequenos efpagos de terra plana: por entre eltas duas coftas corre o rio Dou- ro y, que naíce na Serra de Úrbion ema Hefípanha:, cor- rendo de Naícente a Poente perto de noventa leguas- até defemboccar no Oceano em ÓS. Joao da Foz: o feu ar he temperado na eftacao do Inverno, porque fica cer- cado de Serras muito: mais elevadas , em que os ventos quebrao:; e nas outras eltagoes he ardente , principalmen- te nos valles em que a refracgaó dos raios do Sol faz toda a (ua acgaó. : as fuas povoagóes ÍaG pouco diftan- tES 5, E'coON O MUCA S. 37 tes; é grandes , de forte, que na proporcaó da fua ex- tenfaO he aterra: mais povoada do Reino :0s"feus” ha- 'bitadores faó vivos y muito faceis em perceber , ligeiros, fuperficiaes , e pouco profundos , muito vaidofos, altj- vos; e inclinados ao luxo , e ao faufto 5 faó naturalmen- te generofos , e liberaes , inimigos do trabalho, e de to- das 'as applicagóes , que os obrigaO a muita meditacao, zelofos ainda mais da confervacaO dos direitos da hon- ra herdada , do que de applicarem os meios de-a adqui- rir; fogem de tudo o que oflende o ccio, que fempre procuraO confervar: as mulheres Íía2O ferteis , e o terre- no proprio para a procreagao: a terra nao he muito fer- til: fem o inceflante trabalho com que fe cultiva, ella produziria fruétos em pouca abundancia, e ainda a mui- ta com que parece fructificar , confiderando a pouca ex- tencao do terreno y nao he excefliva : 7oQooo pipas de vinho, fem fallar de muitos outros fructos y parece hu- ma -produccaó: prodigiofa 5 porém attendendo á configu- ragaó do terreno todo formado em profundas cavida- des , e muito elevados outeiros naOó he excefliva y fendo a fuperficie da terra muito multiplicada a refpeito da diftancia do terreno medida por linhas rectas : ' produz alguma caca miuda y como. fao perdizes , galinholas, e coelhos, mas em pouca abundancia; e tambem alguns porcos bravos em poucos fitios, em que ainda fe con-- ÍervaO extenías mattas incultas, nas quaes, e ainda em outras pequenas , fe achaó alguns lobos , rapofas , e ou- tros. pequenos animaes de preza, que fe alimentao da caga, e: das aves, que apanhao das quintas y e das al- déas , como faó martes, papalvas, teixugos , e foinhas: tem pouca creagaO de gados, que he incompativel cora a natureza da maior parte doterreno , fuftentando ape- nas Os bois, e beftas, que faó neceflarios para o fervi- go, e OS porcos para O confumo datterra. Nas ribeiras que, atravejlaO efte territorio fe pefca 'O peixe em pou- ca quantidade y e pequeno yas fuas qualidades faó bar- bos , efcallos , bogas, e eirozes, e algumas trutas, e ás Ve 38 MEMORIAS vezes fe'achaO nellas lontras : na diftancia do Douro, que fe comprehende nefte territorio , fe peícaó em mais quantidade , mas naó em muita abundancia barbos, bo- gas , efcallos , eirozes y mugens de hum gofto delicado, Íaveis, e lampréas de melhor gofto, do que de outro qualquer rio do Reino, alguns folhos, entre os quaes fe pelcaO de extrao/dinaria grandeza , porém faó raros, e tanibem apparecem lontras. As vinhas faG, a principal producgaO do terreno. as excellentes qualidades do feu vinho faó muito conhecidas, para que feja neceflario fa- zer a fua defcripcaO y a fua forca efpirituofa y, a delicas deza do feu fabór y a viveza da fua cór, a actividade do feu cheiro y o fazem prefirir a qualquer cutro nos paizes do Norte 5; falta-lhe a dogura, que enjóa, ea afpereza , que molefta j conferva-fe dilatados annos tem fe corromper, nem fe lhe alterar a fua natural bondade, e refifte mais tempo embarcado , que qualquer vinho de Outro paiz 5 produz tambem excellente azeite en tanta quantidade y que fobeja ao confummo do terreno, e fe conduz huma muito confideravel porcaó delle para O Porto , que faz hum fegundo ramo de Commercio defte territorio y; tambem produz algum trigo, centeio y ceva- da, e milho, mas em muito pouca quantidade , porque O terreno he improprio para efta produccaó , e falto dos meios neceflarios para a cultura deftes generos 5 abun- da de fructas, que excedem muito no gofto ás das ou- tras terras , principalmente os figos , pecegos , e peras, das quaes ha huma variedade admiravel, tanto das que amadurao de verao ; como das que amadurao de inver- no ;. e geralmente produz com muito fucceflo todas as fructas que fe plantao. Padece huma grande falta de ma- deiras de. conftrucgaó y que fe fazem vir das Serras a pres cufto , -aflfim como as lenhas para o fogo, náo vendo de propria produccaó mais que 'as vides; que fe cortas na póda -das vinhas y e a lenha de algumas mattas' ,. que em. pouca quantidade fe acha ainda entre as, terras “Cultivadas y.'e do meímo' modo fe fazem Ca us E CO RDOMI E XS, 3O duzir de fóra defte Territorio grandes quantidades de ef- tacas de urze , e giefta para erguer , “ou enipar as vi- nhas. Ha nefte Territorio baítante quantidade de amorei- ras efpalhadas aqui e alli, e fe faz huma boa creacaó de feda , para a qual a maior parte das povoacóes he muito accomniodada por eftarem agazalhadas dos ven- tos, e prefervadas dos frioa tao damnofos áquella deli- cada creacaO : tudo ifto podia recéber hum grande au- gmento fem prejuizo algum das outras produccóes. 'To- do efte 'Territorio he cheio de ribeiras , as margens das uaes de ordinario fas defprezadas , e andao chéas de vas; nellas, e nas bordas das fazendas', e' em muitos outros fitios, em que a fua fombra naóO podia prejudi- car, fe podia plantar hum prodigiofo número de amo- reiras , com qne grandemente fe adiantafle efta impor- tantiflima creagao , augmentando-fe muito por meio del- la a riqueza , de que he fufceptivel o Territorio : pa- ra ilto fe animar fería neceflario facilitar-fe o confum- mo da feda nas proprias terras da creagaó 5; o que po- deria confeguir-fe pelo eftabelecimento de algumas Fá- bricas de meias de feda, de fittas, e de algum outro tecido de feda na Cidade de Lamego, e nas Villas de Villa-Real, Mezaófrio, e Alijó, por haver neftas ter- ras toda a commodidade para efte eftabelecimento , tan- to pela abundancia de viveres ,'e aguas j e barateza de “alojamentos, como por nao haver éni' todas ellas efta- belecimento algum de manufacturas. 'Tambem produz por entre as vinhas , pelos mattos y e ribadas muita “abundan- cia de fumagre , algum do qual fe aprovéita, e fe tranfí- porta para o Porto. Efte: genero/) qué os “donos das fa- zendas defprezao y he o ramo de coóonimercio “dos pobres menos perguigofos, e que 'podia ampliar-fe muito ', fe houvefle mais cuidado de acceitar efte dom') que a na- tureza efpontaneamente offerece. Produz- além difto efte paiz muitas outras plantas, e hervas (filveftres, de que fe poderia tirar alguma utilidade, “como he da Tamar- gueira, de que abunda toda a margem do e da au- 4O MeEmMmoOoríiaAS Sangradeira, da: Salicaria | e outras mais que nafcem nefte Territorio , e que 'fervem para medicamentos, e para tintas. GUA PASE UNO TE Continuacad da mefma materia. A Terra he naturalmente fecca y a maior parte vere melha, e pegada quafi como barro, e efta he a mais propria para abundante produccaó de vinho; por- que, recebendo em fi as aguas do Ínverno , fecha com o Sol a fua fuperficie; e nao deixando penetrar o calor, conferva por mais tempo a humidade proxima ás raizes das vides: em outras partes he de cór como cinzenta, e he menos pegada ; efta produz o vinho em menos quantidade, e de melhor qualidade , porque o calor pe- nétra mais á raiz, e faz que os fuccos fejaó em menos quantidade , e mais purificados, e perfeitos : em Outras partes he quafi preta y e folta 5 efta', por falta de faes' proprios, produz pouco vinho y e máo, e as plantas faó nella duraveis : todos os outeiros y em que he formado O terreno, fao desde a fua raiz abundantiflfimos de pe- dra, a que vulgarmente chamaó /ouzinha , muito pro- pria para facilitar a plantacao das vinhas, porque facil- mente fe fepara da terra ém pequenas porgóes de figu- ra irregular, accommodada para fe conftruirem os geios de parede y em que faó formados quafi todas as vinhas, O que he neceflario para naó correr a térra aos valles, attéendendo 'á inclinacaO do terreno y e faz todo O terri- torio mais viíltofo, porém muito pouco capaz para edi- ficios, porque he muito mole: toda formada em folhas, que fem difficuldade fe aparta humas das outras : he pequena, e difficultofiflimamente fe reduz a figura regu- lar, porque ao 'picar aparta y quebra y ou fe desfaz, e€ te reduz facilmente em terra; nao liga bem com acal, e por ECcCONOMICA s. 41 e pór iflo nos edificios fe aflenta toda com barro amaf- fado , ficando os edificios de huma mediana duracaó, e muito fujeitos a ruina, fe falta o cuidado de lhe evitar a agua das chuvas. Ha tambem nefte mefmo Territorio mui- tos mineraes deferro y ecaparrofa, de que faó indicio as muitas fontes marciaes que nelle fe encontraO , algumas das quaes fao de muito preftimo , como fe dirá nos feus lugares : tambem alguns de azZougue , e outros de enxo- fre, e falitre, como o indicao as aguas thermaes, de que em feu lugar fe fará mencao. Algumas memorias an- tigas dizem, que no leito, e margens do rio Douro ha abundancia de ouro; porém hoje naó apparece indicio al- gum , por onde fe polfla ter ifto como certo , fuppoíto que no Gabinete do Conde de Aflumar, primeiro Marquez de Alornña , fe moftrafle hum gráo de extraordinaria grandeza, que fe dizia fer produzido nefte rio : o certo he que, feo o ha, he impoflivel aproveitallo , porque a fituagaó do rio, a fua profundidade , a precipitacaO da fua corrente, e as muitas ribeiras que O engroflao , fazem impraticavel o eftancallo : o acafo tem manifeftado algumas pedras fi- nas, como em fÍeu lugar fe dirá: o cryflal tambem ap- parece y principalmente nas extremidades defte “Lerritorio Junto ás ferras 5 acha-fe em pequena grandeza, porém muito claro, e brilhante, de maneira, que ainda meí- mo antes de pullido moftra muito fogo , e luzimento. Suppotíto que efte Territorio he todo atraveflado por mui- tas ribeiras, he muito falto de aguas, tendo apenas as que lhe baftao para o ufo dos viventes. As que correm nas ribeiras de pouco mais fervem do que para alguns moinhos', e para algumas pequenas porcóes de pomares, e hortas, O que ainda he raro y porque correm taó fun- das , e defpenhadas , e as margens faO taO inclinadas, que nem a fituacao do terreno, nem a precipitagaO das aguas daoó lugar á induftria para as aproveitar. Ás fon- tes nao fao frequentes , e quafi todas em má ordem, ' porque os habitadores fe contentas de as receber como a natureza lhas offerece , fabricando-lhe ao muito hum Tom. TÍO F re- 42 MEMORIAS refervatorio cavado na mefma terra , e guarnecido des, lajes'y em que, á maneira de poco, eftaó depofitadas as aguas que vaóO falindo ou do fundo , ou de alguim lado do mefmo refervatorio ; por iflo fao de ordinario as aguas pouco limpas, porém á excepgaó das que nafí- cem proximas a huma e outra margem do Douro, faó- faudaveis , e de bom fabór. Se a induftria , e cuidado , com que na Provincia do Minho fe tem procurado def- entranhar as aguas da terra por meio de extenfas mi- nas , pallafle aos habitadores do Alto-Douro , teria o feu Territorio abundancia de agua, e tería com ella o que lhe falta , para competir em belleza, e agrado com qual- quer bom paiz da Europa. A fituacaó do terreno difli- culta muito o haver boas eftradas ; porém os meios, com que a induftria poderia emendar muito efte obítacu- lo da natureza, tem-fe até efte anno de 1782 defprezado to- dos: he verdade que os grandes, e fucceflivos declivios em- bavagaO que haja boas eftradas., devendo fer quafi todas mui- to inclinadas, mas he certo que fe podia adogar efta incli- nagaO por meio de grandes voltas; ifto he, o que fe naó;, tem feito, e a intentar-fe , encontraria a refiftencia dos fenhores das terras y que naó quereriaó os feus predios divididos peias eítradas , antes, quando os tem planta- do, tem hido lancando as eftradas ao lado que lhe fica menos incominodo , e que de ordinario he o mais incli- nado , deixando-as ao imefmo tempo taá eftreitas, que em grande parte dellas naó podein paíflfar no mefmo tempo hum carro por outro, nem ainda huma cavaiga- dura por hum carro, o que faz muito penolo, e difti- cil o tranfporte neceffario dos vinhos : além diíto , nao ÍfaO calgadas ; e poriflo as que faó ladeiras, pela conti- nuagao das correntes das aguas , fe fazem quafi impra- ticaveis , e alguns pequenos efpagos y que fe encontrao lanos , formaóO atoleiros, que nao fervem de menos em- barago. Huinña providencia que emendafle eftes defeitos das eftradas, difficultofa, mas poffivel, e: que facilital- fe os traníportes., fería de grande vantagem para os la- vra- ts at a a mer fra, ECONÓMICA s. 43 ' vradores, e para os commerciantes , que todos padecem pela neceflaria retardagaO das carregagóes dos vinhos, e pela difficuldade de conduzir com largueza muitos ge- neros que da Cidade do Porto fe podiaó navegar pelo rio Douro, e que naó podem ficar a bom preco pelas difficuidades da conducao de terra. GA PE WVydey O SÓ TEL Defcripgaú particular do terreno , que fica entre os rios Teixeira , e Sermanha. O Terreno , que fica entre os dous rios Teixeira, e Sermanha , he o ultimo da Cofta Septentrional do rio Douro, em que ao Poente fe termina o deftricto de- marcado para O negocio da adminiftragaó da Companhia Geral da Agricultura das vinhas do Alto-Douro, que pe- la meíma parte do Poente fica terminado pelo rio Tei- xeira, que tem a fua origem na Serra da Teixeira, e corre quatro leguas, vindo defemboccar no Douro abai- xo de Barqueiros : do Norte pela Serra da Teixeira, que he hum ramo da do Maraó, e pelo rio Sermanha, que naíce na Serra de Vinhoz, ramo da meíma, e que, formando huma curva, o vem cercar pela parte do Naf- cente , até fe metter no Douro defronte do Moledo, depois de ter corrido mais de quatro leguas; da parte do Sul fica confinando com o rio Douro : tem de Nafí- cente a Poente huma legua na fua maior extenfao y edo meímo modo de Norte a Sul legua e meia. Comprehen- de efte deftricto as Freguezias de Barqueiros y Villa Jo- zao , S. Nicoláo de Mezaó-frio, Villa Marim ,- Cidade- lhe , Sediclos. Barqueiros he a primeira Freguezia y que fica na ponta que faz o rio “Teixeira com 'o rio Dou- ro; e ficando cercada por ambos y fó do Norte confina com a de Villa Jozaú: produz vinho de ramo inferior, algum azeite, caftanha 5 e paó; acultura do qual fe po- Fi Z dia 44 MEMORIAS día adiantar : tem 1Dogo almas em 370 fogos. Ao Nor- te de Barqueiros' fica a Freguezia de Villa Jozaó , que do Nafcente confina com o rio Douro , do Poente com O rio “Teixeira y e do Norte com a Freguezia de S.:'Ni- coi4o de Mezaó-frio.: 'produz para a parte do Douro vinho de feitoria ordinario, e para a parte do Teixei- ra algum de ramo ; nefta Freguezia á borda do Douro fica fituada a quinta chamada do Chaves, aonde , andan- do-fe á poucos annos abrinde a terra para plantar bace- lo , fe achou hum pequeno receptaculo , em que eftava huma porgaó de pedras miúdas , que tinhaó diafanidade , e moítravaO cór azul, as quaes depois de pullidas fica- vao em tudo femelhantes a fafiras : tem efta Freguezia 134 almas. Ao Norte de Villa Jozaó fica a Freguezia de S. Nicoláo de Mezaó-frio , que do Poente confina com o rio Teixeira, do Norte y e do Nafcente com a Freguezia de Santa Chriftina da mefma Villa de Mezaó- frio: produz para a parte do rio Douro algum vinho de feitoria ordinario y e para a parte do Teixeira de ramo de “huma mediana bondade ; produz azeite, e algum paó: tem 407 almas em 1138 fogos. Ao Norte, e Nafcente defta Freguezia fica fituada a de Santa Chriftina da mei- ma Villa, que defcendo até o Douro comprehende o lu- gar da Rede, e parte do da Ribeira: confina pelo Nor- te- com a de Villa Marim , e tambem pelo Nafcente ; elo Sul com o rio Douro, e pelo Poente com a Serra alte)! produz vinhos de feitoria de boa qualidade , e em muita abundancia , fendo a terra taO forte , e taó fertil, principalmente no lugar da ribeira junto ao Dou- ro, que mefmo por entre as vinhas fe feméa com pro- veito milho groflo. Parte defta Freguezia he hum dos fi- tios mais agradaveis, que fe encontraó no Alto-Douro: ella tem junto á borda do rio huma confideravel exten- gaO de terra quafi plana, toda plantada y e fobre efta fe entra a elevar huma cofta naó muito inclinada, e em que eftaó os lugares da Ribeira ,'e da Rede, e em que íe vem muitos pomares de efpinho, regados com baí- tan- d EconNoOoMmICKS. 45 tante agua de huma ribeira y que defce de Villa Marim, Os quaes produzem fructas , que em nada cedem ás de Loures , e das bordas de Lisboa , e além difto mui- tas arvores de fructas de pevide, e de carogo, de ex- cellente fabór ; tem tambein muito olival, em que fe co- lhe baftante azeite : tem 512 almas em 124 fogos. Ao Norte de Santa Chriflina fica fituada em hum elavado outeiro a Freguezia de Villa Marim y que tambeni def- ce até o Douro y e comprehende ametade do lugar da Ribeira : confina pelo Norte com a Freguezia de Sedié- los, pelo Naícente com a de Gidadelhe, pelo Sul com o rio Douro , e Freguezia de Santa Chriftina, e pelo Poente com a de 'Teixeiró ; produz muito vinho de fei- toria de boa qualidade para a parte do Douro, e para a do Poente algum de ramo: produz azeite, caftanha, pao, e tem creacaó de gados : tem IPo12 almas em 211 fogos. Ao Norte de Villa Marim eftá a Freguezia de Sediélos , que pelo Poente confina com a de Teixei- ró ; pelo Norte, e Nafcente com o rio Sermanha, e pe- lo Sul tambem com a Freguezia de Gidadelhe; paraa parte do rio Sermanha produz algum vinho de ramo bom, todo o mais he verde , produzido em chantoadas : pro- duz tambem caftanha, e paó, na cultura do qual pudé- ra haver maior cuidado; tem creagaó de gados 5 e tem 19719 almas em 627 fogos. Ao. Sul de Sidiélos eftá a Freguezia de Gidadelhe , que do Nafcente confiña com o rio Sermanha , do Sul com o rio Douro 5 e do Poen- te com a Freguezia de Villa Marim : produz: vinho de feitoria de boa qualidade y bom de ramo 5 e:algum azeite; tem 390 almas em 114 fogos. CA- 46 MEemMmóRrRIAS CA POLA RON EO Def[cripea0 particular do Terreno , que fica entre os rios Sermanha , e Corgo. P Egado ao fobredito terreno para o Nafcente na mef- ma cofta Septentrional do Douro fe fegue o que eftá fituado entre o fobredito rio Sermanha y, e o rio Corgo, que pela parte do Poente confina com o dito Sermanha, e com as raizes da Serra do Maraó, pela parte do Nor- te com a Freguezia de Trogueda, com o rio Sordo, e com o rio Corgo, que correndo obliquamente, o cérca pelo lado do Nafcente até defemboccar no Douro , e pelo Sul 'he terminado pelo Douro : nefte terreno fein- clue toda a terra de Penaguiaó, que tem de Norte a Sul na Íua maior extenfaO mais de duas leguas e meia, e de Nafcente a Poente mais de legua e meia. Comprehende as Freguezias de Fontilas, Oliveira, Moura-morta, Me- droes , Fontes, Fornélos, Cumieira , Cever, S. Miguel; Lobrigos , Pezo da Regua, Godim , Loureiro , e Sa- nhoane. A primeira Freguezia , que fica ao Nafcente Co rio Sermanha á borda do Douro ) he a de Fontélas, to- da montuofa; he fitio muito quente, a terra he' muito apertada , e de pouca producgaó: produz vinhos de fei- toria finos, e dafititótes a quafi todos de Penaguiao: tambem produz algum azeite, e boas fruttas. Na mar- gem do Douro , fóra da quinta chamada do Granjaú, ha huns banhos de aguas Caldas y) que vulgarmente fe chamaó do Moledo y tomando o nome de huma povoa- gaO , que fica quafi defronte na outra parte do Douro : em quanto efte rio vai cheio , ficaó os banhos cubertos de agua ; depois que diminue o rio no verao , fica def- cuberto o fitio dos banhos , e brotando por entre o cafí- calho aquellas aguas thermaes. Aonde brotaó cava-fe a terra para formar os pocos, em que fe haó de tomar os ba- E GON O ME O ÁS. 47 banhos , fazendo-fe fobre elles cabanas para a commodi- dade, e reparo de quem os toma. De ordinario fe abrem tres banhos , hum baftantemente quente, porém foffrivel para banho , outro menos quente, e Outro morno : as fuas aguas faó de muito preftimo , principalmente para queixas de nervos, e rheumaticas, e ainda mefímo para a gotta: eu fei com a maior certeza quem experimen- tou nellas hum inefperado beneficio , pois, fazendo ufío deftes banhos por cauífa de hum rheumatifmo , de que fe achou bom , fentio repentinamente reftabelecida a vil- ta de hum dos olhos, em que desde tenra idade expe- rimentava falta della : a muita concorrencia de gente, que fe aiunta 2 efítes banhos , tem feito cuidar de algum modo na commodidade, que totalmente faltava para os enfermos , fendo aquelle fitio defpovoado, muito diftan- te de povoacóes, e muito ardente; e naó havendo nel-. le mais que duas cafas de quinta pequenas, e incommo- das : na quinta do Granjao fe fez hum hofpicio com do- ze quartos feparados fobre fi, com huma cozinha para cada feis, para fealugarem; e como efte, fuppofto te- nha a commodidade de ficar muito proximo aos banhos , fica muito expofto ao Sol , e padece muita falta de agua boa, por efta caufa fe fez outro em huma quinta da outra banda do Douro , que compenía O incommo- do da paífagem do rio com as commodidades de eftar em hum fitio frefco, e agradavel, e ter perto huma muito boa fonte de agua ; tendo áo meímo tempo por conta do dono do hoífpicio huma barca fempre prompta para a paflagem, e fervico dos hofpedes ; mas em hu- ma , e outra he neceflario mandar vir de longe todas as provisoes neceflarias, por naó haver perto aonde fe comprem. Ffta Freguezia, que pelo Norte confina com a de Oliveira, pelo Nafcente com a de Godim , pelo Norte com o Douro , e pelo Poente com Sermanha, tem 6o3 almas em 156 fogos. Ao Norte defta Fregue- zia fica a de Oliveira, que da parte do: Poente confina com o rio Sermanha , pela do Norte com a orgs . e 48 II UMERORTAS de Moura-morta , e pela do Nafcente com a do Lou- reiro : eftá fituada no principio de huma pequena Ser-. ra, que corre até Moura-morta, e a divide de Lourei- ro : produz para: a ribeira do Sermanha, e para a par- te do Douro algum vinho de feitoria de huma mediana bondade, e tambem produz vinhos de ramo ordinarios, algum azeite, caftanha, e boas fructas de toda a quali- dade : tem huma grande extenfaó de terra inculta, que 1ó produz hum pequeno matto, e que, fendo femeada de pinhaes, poderia remediar a grande falta que pade- ce de lenhas, e madeiras de conftrucgaó: tem 515 al- mas em 13O fogos. Ao Norte da Freguezia de Olivei- ra fica a de Moura-imorta , que do Poente confina com o Sermanha, do Norte com a Freguezia de Medróes, e do Nafcente com a de Loureiro : eftá fituada na mef- ma Serra, no principio da qual eftá Oliveira; para a ribeira do Sermanha produz vinho de ramo , no relto produz azeite, caftanha, e algum paó: tem creagaó de gado , que poderá. augmentar-fe muito, fe nos monra- dos que tem incultos fe femearem algumas boas: paíta- gens, como faó o trevo, a larica, a fenradela y que fe produzem muito bem fem agua y ou quaesquer outras da mefma natureza , e proprias para alimento dos ga- dos : tem 398 almas em 120 fogos. Ao Norte defta Fre- guezia de Moura-morta eftá fobre hum alto fituada a de Medróes , que do Poente confina com a Ser- ra de Vinhoz , do Norte com a Freguezia de Fontes, e do Nafcente com as de Sanhoane, e Cever : he 'mui- to montuofa 5; produz vinhos de ramo de huma mediana bondade , algum azeite, caftanha, e paó : tem 50o almas em I4O fógos. Ao Norte de Medróes eftá fituada a Fre- ;guezia de Fontes na ladeira de hum monte: confina pe- lo Poente com a de Fornélos, pelo Nafcente com a de Cever, e pelo Norte com o rio Banduge : he muito montuofa ; os vinhos da fua produccaó forao demarcados para ramo , porém muitos delles faó finos, e muito bem podiaó fuftentar o embarque : além de huma CIR ve | | | | | | | | | | ECONOMICAIS. 49 vel Colheita de vinhos y produz azeite, caftanha., e-boas fructas tem 1154 almas em 287 fogos. | CURA OR MATAN Continuazad da mefúa matéria. $ A O Poente de Fontes fica a Freguezia de Fornélos fituada na baixa de hum alto monte , eftá confi- nando com a Serra do Maraó, e com a Freguezia da Comlieira : produz'bom vinho de ramo, algum azeite, e caftanha: tem 380 almas em 1o5 fogos. Ao Nordette de Fornélos fica. a Freguezia da Cumieira y que pelo Poente confina com a Freguezia de 'Torgueda, pelo Nor- te com a ribeira do Sordo y que tendo o feu nafícimen- to na Serra do Maraó, depois de correr pelas extenías planicies da Campeaó , fe efconde por hum grande ef- pago debaixo da terra, e torna a apparecer , banhando hum. lado defta Freguezia', até defemboccar no rio Cor- " go; pelo Nafcente com o rio Corgo, e com a Fregue- zia da Hermida, que comprehende ainda algumas terras da Gaivofa; e pelo Sul com o rio Banduge, que nafce en huma ponta da Serra do Maraó, e correndo por en- tre as. Freguezias, de Fornélos , e Fontes, Cumieira, é Cever., pai defemboccar no rio Corgo : produz huma grande quantidade de excellentes vinhos "de embarque 5 Os quaes fe deftinguem pela fua fortaleza, e cor: alguns terrenos ficáraO excluidos para ramo, que produzem vi- nhos finos y ecapazes de embarque :' produz tambem abundancia de azeite ,; principalmente na cofta desde a xubeira do Sordo até ao lugar de Silbao : nos altos pro- duz alguma caftanha. Junto á ribeira do Sordo tem pra- (dos fertiliflimos , regados com agua da mefma ribeira, que no inverno fe occupao com herva molar pará os ga- “dos , ede verao. fe colhe;nelles abundancia de milho groflo ; do lado do Sul tem huma extenfa planicie jun- vydom. III. G to 5O MeEMmOoOR vas to ao rio Banduge-, em que" eftá fituado “o lugar da Veis ga , que produz huma abundante colheita' de todas ás elpecies y na qual eftao algumas vinhas , que produzem viaho inferior, e que devéraO arrancar-fe para nellas fe cultivar pao : nefta Freguezia ha baftanre cuidado de aproveitar O fumagre que a terra efpontaneamente pro- duz : tem 866 almas em 225 fogos. Ao Sul da Cumieira eftá a Freguezia de Cever, que do Poente confina com as de Fontes, e Medróes, do Nafcente com o rio Cor- go, e do Sul com as Freguezias de Lobrigos, e S. Mi- guel : produz vinhos de embarque de boa qualidade, al- guns de ramo, e azeite? tem 675 almas em 18£i fo- gos. Ao Sul de Cever eftá fituada a Freguezia de S. Mi- guel, que comprehende a Villa de Santa Martha ) ca- beca do termo de Penaguiaó; confina pelo Poente com Medróes , e Sanhoane y do Nafcente, e Sul com a Fre- guezia de Lobrigos : os vinhos que produz ; fuppotto que ficáraO todos demarcados para embarque y á excepcaó dos que fe produzem para a parte do lugar de Santa Comba , todos os mais faó vinhos inferiores , principal? mente os do Valle de Santa Marta , que até feriaó máos para ramo pela fua froxidaóO, einfipidos ; e no cafo de fubfiftir a demarcacaó ) deveriaó cortar-fe as vinhas bai- feiras defte Valle y: por naó haver outro meio proprio para evitar a miftura defte máo vinho com' o outro me- DOS ruim, e porque efta terra podia uútilmente deftinar- fe para a cultura do paO , do azeite , e de pomares: tem 428 almas em 114 fogos. Ao Sul de S. Miguel ef- tá fituada a Freguezia de Lobrigos y que pelo Poente confina com a de Sanlioane, pelo Nafcente com o rio Corgo , e pelo Sul com a Freguezia do Pezo da Regua: tem eftá Freguezia huma grande producgaó de vinhos de embarque, os quaes para a parte do rio Corgo, e lugar de Villa-maior faO finos; os mais faO ordinarios, e vs que fe produzem no grande Valle, que corre pelo meio defta Freguezia , faó muito inferiores, e quafi ef- ta nas mMefmas circunftancias dos que fe produzem no Val- ECONOMICA s. 1 Valle de Santa Martha : tambem produz cíta Freguezia algum azeite y'e muito boas fructas em abundancia : tent 75O almas em 185 fogos. Ao Sul de Lobrigos eftá fi- tuada a Freguezia do Pezo da Regua, que pelo Poente confina com a de Godim , pelo Nafcente com o rio Cor- go , e pelo Sul com o rio Douro : produz muitos vi- nhos de embarque finos, e de grande eftimacaO pela fua fortaleza , groflura y cór, e madureza temperada, e tam- bem produz algum azeite: padece grande falta de aguas para O ufo y e muitos annos he necellario no ve:aó ir bufcalla ao Douro : tem hum grande cáes na borda do Douro , que he onde fe embarcaóO a maior Parte dos vinhos 'de todo 'o PenaguiaO , e aonde fe defcarregaO mui- tas fazendas , que 'vaó do Porto, para o que ha muitos armazens que eflaó no lugar da Regua ,) junto do mefino caes item 1040 almas em 315 fogos. Ao Poente do P.zo da Regua eftá a Freguezia de Godim' féparada pe- la ribeira de” Jugueiros , que do Sul confina' com o rio Douro , do Poente com as Freguezias' de Fontélas, € Oliveira j'e do Norte com a de Loureiro : o fitio he o mais' agradavel 'que tem toda”a beira do Douro 'nefte Territorio, e'fe aproveita por muita gente pelo feu agra- do y 'commodidade y, e boa temperatura ' do ar, “para to- mar os banhos da agua do Douro no tempo do verao, na cofta que fóbe para YFontélas, e para Oliveira: pro- duz bom vinho de embarque ;'o que fe produz nas bai- xas he inferior y e 'ainda O era “mais o que fe produzia nas baixas/para 'a parte da ribeira de Jugueiros, que pe- lo '6 2 do Alvará de t6 de Dezembro de 1773 fe 'man- dou arrancar: tem muitos olivaes que produzem abun- dancia 'de azeite , e nos lodeiros do rio Douro, que de verao ficaó defcubertos, fe prodúz com grande fertilida- de 'milho' groflo y milho'ruivo , e feijóúes: 'tem' 987 al- más em 282 fogos Aó Noroefte de Godim eftá a Fre- guezia 'de 'Loureiro y que confina pelo Poente' com'a de Moura-morta , pelo Norte com a de Sanhoane, e pelo Náfcente ', e Sul com a de Godim ;' produz bom vinho Gu e x- E) MEMORIAS de ramo , caftanha , e algum azeite : tem 856 almas ená 228 fogos. Ao Norte de Loureiro fica 'a Freguezia “de Sanhoane, que do Nafcente confina com 'a de”S: Mi- guel ydo Norte com a de Cever , e do Poente comas de Medróes, e Moura-morta : produz vinhos de embar- que de huma mediana bondade , e de ramo quafi taó bom , como os de embarque; algum azeite , caftanha) e boas fructas : tem 513 almas em 123 fogos. RA PRETO VE Defcripeao particular do Terreno , que fica entre "o rio Corgo, e o Ceira. Ara O Nafcente do fobredito terreno do mefmo la- do Septentrional do rio Douro eftá fituado o que jaz entre Os rios Corgo, e Ceira, que ficando limitado do Poente pelo primeiro, e do Nafcente pelo fegundo , con- fina pelo Norte y desde Villa Real até Roalde , com as Freguezias de S. Martinho de Mattheos , Royos , Con- ftantim, e Andráes, e pelo Sul com o rio Douro : tem de Norte a Sul na fua maior extenfaO mais de duas le- ES y e de Poente a Nafcente quafi o mefimo : compre- ende as Freguezias de Folhadella , Hermida, Nogueira, Abaflas , Grides y, Galafura , Covelinhas , Poyares ; Villa- rinho dos Freires , 'e Alvacóes do Corgo : 'póde aflir- mar-fe feguramente , que efñte terreno he o que produz os vinhos mais finos, e delicados de todo 'o Alto-Dou- To ; a fua terra he menos productiva , porém a natureza compenía com a bondade dos fructos a falta de abun- dancia. A primeira terra que fica ao Norte defte terreno junto ao rio Corgo he a Freguezia de Folhadella y que pelo Poente he toda banhada pelo mefmo rio; pelo Sul confina com a Freguezia da Hermida; e pelo Nafcente com a Freguezia de Nogueira , e com terras que naó en- trao nefta defcripgad : produz para as beiras do Corgo Vvl- EICON O MICIAS. 53 ' rvinho -de embarque bom , e nos altos, e no lugar de | Sabrofo 'produz vinhos 'de ramo , alguns dos quaes fao bons : produz paó de todas as efpecies, ecaftanhas : tem ' “algum gado miudo , e largueza para os paítos: tem 806 “almas em 235 fogos. Pelo Sul de Folhadella fica a Fre- '“guezia da Hermida y que pelo Poente confina com a da Comieira , comprehendendo ainda da outra banda do Cor- '-go o fitio da Gaivofa até a foz do rio Banduge , da | “parte do Sul com a de Alvagóes , e pela do Nafcente | com a de Nogueira : produz vinhos de embarque muito 'finos y efpecialmente os dos fitios da Gaivofa , e da Mou- rifca : os vinhos que fe produzem nos altos do lugar da povoacaó 5 e nos lugares ' do Valle, e Carrazedo , que fo- '-raO deftinados para ramo, Íao finos , e muito capazes de embarque: produz azeite, e fructas mui delicadas , que fe anticipaOo ás das outras terras em amadurar , e tem huma grande extracgaó para Villa-Real: aproveita- fe nefta Freguezia O fumagre com todo o cuidado; e ha no lugar de Carrazedo huma atafona para fe moer, e preparar, que ferve de feitoria , onde os compradores fazem' as fuas carregagoes: tem algumas pequenas por- cOes de mattos incultos y que fó fervem para plantagao de vinhas': tem 494 almas em 127 fogos. Ao Nafcente defta Freguezia fica a de Nogueira , que pelo Norte con- fina com a de Folhadella , pelo Sul com as de Alvaí- súes do Corgo, e Villarinho dos Freires, e pelo Naf- cente com o rio “Tanha y que a divide da Freguezia de Abaíla : tem 'huma abundante produccaó de bons vinhos “deviramo: a terra he muito fertil 5 “produz azeite , que fobeja muito do confummo da terra y principalmente no lugar de 'Tanha: produz algum pao, caftanha , e fuma- greryoqué fe aproveita : tem 534 almas em 16o fogos. Ao Nafcente de Nogueira y feperada pelo rio Tanha, 'fica as Freguezia de Abaflas y 'que do Norte confina com ra de A'ndráes y do Nafcente coma de Guiñes, e do Sul “com a de Poyares, na cofta que defce para o Tanha, efpecialmente na ribeira, em que eftá o lugar de Villa- ri- 54 MEMORIAS rinho, produz vinhos de ramo muito fuperiores em bón- dade a muitos dos que ficárao na demarcacao de embar- que , nas ribeiras mais do alto produz vinhos de ramo ordinarios, e nos altos dos lugares de Abaflas , Fontc- lo, e Bujaós produz vinhos verdes, e inferiores, que a Companhia toma a 6400 réis cada pipa, e muitos del- les carrega para as tavernas do Porto, que lotados com outros de maior bondade y lhe produzem baftante lucro. Ainda por efte pequeno prego faz conta aos lavradores - defta Freguezia a confervagaO das. vinhas defta qualida- de pelo methodo de cultura y que permitte a fituacaó do terreno. Eftas vinhas fa6 plantadas em bardos; ilto he, carreiras de vinha coin diftancia de duas varas y OU mais de humas carreiras ás outras 5 faO lavradas com arado, e na terra dos claros fe lhe feméa paó: as vides andaóo levantadas em chantúes altos; e produzem copiofiflima- mente, de forte, que fe a terra fofle toda plantada de vinha no modo ordinario ; e cultivada ao enxadaó , fe- ría muito maior a defpeza da cultura, e menor a pro- duccao. Produz muito azeite y que fobeja em grande quan- tidade do confummo da terra , baftante paó, ecaftanha, - e tem creacgaó de gado : efta y e a cultura do pao fe podería augmentar muito, Íe os mattos y que tem com baftante largueza , foflem femeados de bom tójo, que he bom pafto para os gados, e dá mais abundancia de ef- trunmes. Para executar-fe efte projecto, de que fe tiraria baftante utilidade , fería neceflavio apartar o gado por alguns annos , por fer damnofo a eíta fementeira em quanto o tójo naó eftá fenhoreado da terra com abun- dancia de raizes , e nao tem fido cortado ao menos hu- ma vez. Alguns deftes mattos podiaO fer femeados de giefta mifturada com o tójo y ou feparada , porque tam- bem produz muito, e bom eftrume; e ifto he de que carece elta Freguezia para fomentar a cultura 'do paó: o fumagre aproveita-fe, e no lugar de Abaflas ha huma atafona para fe preparar. A muita largueza de terras in- cultas, que tem efta Freguezia, permittia que efte gene- ro ECONOMICAS. 55 “ro fe augmentafle pela fementeira, e cultura: tem 682 almas em 208 fogos. ; | | GA PEL UyErO qi Ve Continuagao da mefima materia. ) O Nafcente de Abaflas eftá a Freguezia de Guides, que pelo Norte confina tambem com a mefíma, do Nafcente com o rio Ceira, e do Sul com a de Galafu- ra: produz vinhos de embarque , dos melhores do Alto- Douro , efpecialmente nos fitios chamados Parareita, Val d'amieiro y e Caftello. Muitos vinhos ficáraO ex- cluidos para ramo y fuperiores em bondade á maior par- te dos de embarque de Penaguiaó , principalmente os que “fe produzem á vifta' do rio Ceira da quinta de Muro para fima 5; os que produz nos altos faó muito bons : | produz muito azeite y que fobeja do confummo da ter- ra, caflanha , e baftante paóO , que para augmento da fua | cultura neceflitava da mefma providencia para eftrumes, | que fe lembrou para a Freguezia de Abaflas : tambem aqui fe aproveita O fumagre. E havia nefta Freguezia commodidade para huma grande creagaO de bichos da feda , fe houvefle o cuidado de fazer plantagaó de amo- |reiras, que podia fazer-fe em grande número pelas bor- | das de ribeiras, fem damno de outra alguma producgcaóo. O lugar de Guiñes he falto de agua y podendo fer abun- [eos fe os feus habitadores tiveflem o cuidado, e a coragem de a procurar na encofta 'do monte de Nofla Senhora da Guia, no fitio que chamao Barros negros, onde ha todos os indicios de haver grande cópia della. A execugaó defte projecto fería baftante difpendiofa, porém o interefle excederia muito á 'proporgao daquella |defpeza 5; porque daquelle fitio' ficava cobrindo huma [muito grande extenfaó de boas terras y e conduzida até ao povo , faria que elle y pellas excelléntes hortas, e po- | ma- 56 MEMORIAS mares que podiao formar-fe , ficafle fendo o jardim do: Alto-Douro. He, proporcaó guardada , huma das terras mais productivas do Reino. Para executar-fe efte proje- éto fem rifco de fruftrar-fe grandes defpezas , deveria abrir-fe hum pogo no fitio da maior probabilidade do nafcimento da agua, e delle extender-fe alguns bragos de mina para todos os lados a encontrar/as véas de agua; e achando-fe que a quantidade correfponde ao que fe prefume pelos indicios , profeguir nas mais operacóes neceflarias para applicalla ás terras mais convenientes, e conduzilla até ao povo y porque a altura do fitio, em que devéra fer buícada, permitte huma utiliflima appli- cagaO. As fructas defta Freguezia faó de hum excellen- te fabór y e a terra he fertil : no fitio que chamao Re/- va y tem huma fonte que brota da terra y e efta muito mal tratada; as fuas aguas faó ferreas, e de huma for- ga extraordinaria 5 langando-fe a galha y em menos de dous minutos faz tinta capaz de efcrever; a fua virtude para corroborar, e defobftruir a faz digna de fer procurada, e tratada com decente beneficio: tem 597 almas em 187 fogos. Ao Sul de Guiñes eftá a Freguezia de Galafura, que do Nafcente confina com o rio Ceira y do Sul com a Freguezia de Covelinhas , e do Poente com a de Poya- Tes. Para a parte do rio Ceira y no fitio chamado JSider- ma , produz vinhos de embarque finifimo 5 no refto pro- duz vinhos deftinados para ramo y muitos dos quaes fer- vem muito bem para embarque : produz mais azeite do que o 'neceflario para a terra y paó, e alguma caftanha y tem creagao de gado ; e a refpeito dos mattos para; ef- trumes , eftá nas mefmas circunítancias da Freguezia de Abaflas. Aproveita-fe o fumagre, que produz: e tem cas pacidade para plantagao de amoreiras. Nefta Freguezial fe acha azZougue até meífmo ao abrir dos alicerces para as cafas, porém naó fe aproveita. No monte de S. Leos! nardo ha humas cavernas de grande altura 5 que dn po fer abertas á mao 5; nenhuma memoria exiíte do fim pas ra que foi feita elta obra y para que haviao de fer nel . CE n A cel- | | | | | | | | | | | | E CONO MI COA E. 57 ceflarias grandes defpezas , he de prefumir que foi “para extracgaO de algum mineral y, de que hoje naó appare- cem veftigios : tem 390 almas em 120 fogos. Ao Sul de Galafura fica a Freguezia de Covelinhas, que do Naí- cénte confina com o fitio da Siderma , e foz do Ceira, do Sul com o rio Douro ,, e do Poente com a Fregue- zia de Poyares. Produz muito bons vinhos, parte dos quaes foraO deftinados para embarque , e parte foraO ex- cluidos para ramo com muita injuftiga : produz algum azeite , e fructtas deliciofas. 'Tem baftantes porgóes de mattos incultos , que fó fervem para vinha y e nao faz conta aos donos plantallos por eftarem nos fitios exclui- dos para ramo , e a fua producgao nem chegaría 'para as defpezas da cultura, attendendo aos pequenos pregos, e á pouca fertilidade. 'Tem hum caes, em que fe carre- | gaoú muitos conduzidos por huma eftrada y, que parece impraticavel para carros. Tem 165 almas em 5o fogos. Ao Poente de Covelinhas eftá a Freguezia de Poyares , a qual comprehende em fi a Villa de Canellas, pelo Sul confina com o rio Douro, pelo Poente com o rio Cor- go, e a Freguezia de Villarinho dos Freires, pelo Nor- té com as de Abaflas, e Galafura. A” borda do Douro, desde a ribeira de Covelinhas até a foz do Corgo , pro- duz os vinhos melhores, e mais finos de todo o Alto- Douro : os altos das coftas que aviftaó o Douro ficárao excluidos para ramo , produzindo vinhos finos, e capa- zes de embarque : nos-mais fitios altos produz vinhos de ramo ordinarios, e alguns inferiores em bardos para O lugar de Villa-fecca : produz baftante azeite, muito paó , para a cultura do qual feriaO neceflarias as mei- mas providencias, que ficaó lembradas para a F'reguezia de Abaflas : produz caftanha,, e tem gados”: tem 19367 almas em 397 fogos. Ao Poente de Poyares fica a Fre- guezia' de Villarinho dos Freires y que pelo Norte con- fina com a de Alvagóes do Corgo, pelo Naícente, e Sul com a de Poyares, e pelo Poente com os rios Cor- go, e Tanha. Nos lugares da: Granja y e Prezegueda: Tom. III. H pro- 58 MENMORUTAS produz vinhos de embarque bons, e fortes : as vinhas dos lugares de S. Xiñto, e Alvacóes do 'Tanha ficárao excluidas para ramo ', e a maior parte dos feus vinhos faO finos , e excellentes para embarque : os que fe pro- duzem nos lugares da Seata , e Efcavedas faó muito bons vinhos' de ramo : produz baftante azeite , e boas fructas : tem 616 almas em 186 fogos. Ao Norte de Villarinho dos Freires fica a Freguezia de Alvagóes do Corgo, que do Norte confina com a da Hermida, do Naícen- te, e'Sul com a de Villarinho dos Freires, e do Poen- te com o rio Corgo: produz vinlhos finos de embarque , e os de ramo tambem ferviaO para embarque : produz muito azeite y boas fructas : tem 396 almas em II16, fogos. CHANPÓI E E Mes Defcripeao particular do Terreno , que fica entre os rios Ceira , e Pinhad. Roximo: ao fobredito terreno para a parte do Naí- cente, do mefmo lado Septentrional do rio Douro, eftá fituado o que jaz entre os rios Ceira y e PinhaO, que pelo Norte confina com as Freguezias de S. Mar- tinho de Anta, e S. Lourengo , do Nafcente com o rio Pinhao ,/pelo Sul com o vio Douro, e pelo Poente com o-Ceira í: -comprehende as Freguezias de Paradella de Guiñes , Gouvinhas:) Covas do Douro y Goiváes, S. Chri- ftovaoO:, Provezende,. Geleiroz y Villarinho de S. Romaó , Pagos, Sabrofa 5.e/ Souto-waior: tem de Norte a Sul na Íua maior. entenfaO mais de dúas leguas y e de Poente a Nafcentermais de legua e meia: dentro defte terreno he que de produzem os vinhos brancos do Alto-Douro na cofta dourio Pinhao, desde a foz até á ponte de Sa- brofa. A primeira: Freguezia que fica ao Norte defte ter- reno da parte do Ponte fica feparada da de Guiáes pelo rio DN Í | ] E cCío:;N/O/M Í/C/A E. 5o rio Ceira ; pelo Norte confina com a de S. Martinho de Anta , aonde no lugar de Roalde tem o feu nafci- mento o rio Ceira em huma fonte taO copiofa, que fem fe lhe ajuntar mais agua alguma faz moer moinhos; dó Nafcente com Serras que a feparao da de Provezende, e do Sul com a de Gouvinhas: produz bom vinho de embarque nas quintas de S. Cofme , e do Barreiro, que para illo foraó demarcadas : o mais vinho que produz he de ramo bom: produz muito azeite, que fobeja do confumo da terra, e caftanha: tem huma grande exten- faó de terras de paO, e creagaó de gado miudo, e 'ne- ceflita para feu adiantamento da mefima providencia, que fe lembrou para a Freguezia de Abaflas : aprovei- ta-fe o fumagre, que pudéra adiantar-fe muito, culti- vando-o em muitas terras incultas , proprias para efte ge- nero y principalmente as que eftaO nos fitios da Agutei- ra , e Val da vide. tem 237 almas em 7o fogos. Ao Sul defta Freguezia eftá a de Gouvinhas , que do Poen- te corre ao longo do rio Ceira, confinando com a de Galafura , do Sul confina com o Douro, e do Nafcente com a de Covas do Douro. Produz excellentes vinhos de embarque , principalmente os que fe colhem ás bor- das do rio Ceira, e do Douro: iambem alguns ficárao demarcados para feitoria em terras balífeiras, que apenas feriao bons para ramo : a maior parte dos que ficárao excluidos para ramo tem muito merecimento “para embar- que : produz muito azeite, que fobeja em grande quan- tidade ao confummo da terra , mel branco de huma ex- cellente qualidade , e de que em muitas partes fe faz grande 'apreco , e fumagre que fe aproveita, e pudéra adiantar-fe femeando-o nas terras incultas : tem 361 al- mas em 1O2 fogos. Ao Nafcente de Gouvinhas eftá fi- tuada a Freguezia de Covas do Douro , que pelo Sul confina com o rio Douro, e do Nafcente e Norte com a de Goiváes. Para a borda do Douro produz vinhos ti- nos ,'a maior parte dos quaes injuftamente ficáraO ex- cluidos para ramo 5 no refto produz bons vinhos de ra- EU mo 6o MEMORIAS mo j Muito azeitey e mel da mefma qualidade do de Gouvinhas : no lugar de Donello tem lavoura de paoO', e 'creagao de gados 5 aproveita-fe o fumagre, que tam- 'beni podia ter o adiantamento que fica apontado , por eltar nas mefmas circunttancias : tem 468 almas ém 15O fogos. Ao Nafcente de Covas eftá a Freguezia de Goi- váes', que do Norte confina com a Freguezia de Prove- zendé, do Sul com o rio Douro, e do Nafcente com a Freguezia de S. Chriftovaó , € com o rio Pinhao. Pro- duz para a borda do Douro , e do Pinhaó bons vinhos 'de embarque, e nas mefmas coftas que aviftao eftes dous rios ficáraO fem razaO alguma excluidos para ramo mui- tos vinhos finos , efpecialmente os do fitio clvamado 4 Sagrado ; e de toda a cofta , que defce pelo lugar do “Pezinho até ao Douro, todo o mais que produz he ra- mo de boa qualidade, excepto o branco que fe produz para a parte do PinhaO no fitio de Vallongo , e dahi 'para baixo , o qual he para embarque : produz muito azeite , e'boas fructtas: tem 328 alntas em 86 fogos. Ao Nafcente da Freguezia de Goiváes fica a de S. Chrifto- vaó, com quem tambem confina pelo Sul , do Norte con- fina com Provezende , e do Nafcente com o rio Pinhaó. Produz vinhos brancos finos de embarque , e os tintos 'foraO excluidos para ramo: produz baftante azeite: tem "137 almas em 48 fogos. Ao Norte de S. Chriftovao ef- tá a Villa, e Freguezia de Provezende , que do Poente “confina com a de Paradella, do Norte com as de GCe- leiroz y e Villarinho de S. RomaoO , e do Nafcente com 'Oo rio Pinhad. Produz bons vinhos brancos y que faó de 'embarque ; e os tintos , que fe produzem nas meímas “vinhas em que fe produzem os brancos y faO excluidos para ramo :' produz algum azeite, e algum pao : tem 630 almas em 194 fogos. Ao Norte de Provezende ficas as Freguezias de Celeiroz , e Villarinho de S. Romao”, "que fazem hum fó corpo com huma Ío pia Baptifmal', “confinao do Poente com a Freguezia de Paflos, do Nor- “te com'a de Sabrofa., e do Naícente com O rio Pinhaóo, 'alémn ECONOMICA 8. 61 além” do qual comprehénde ainda a cofta chamada Além-Pinha0o , que confina com Samfins, Favaios, e Val de Mendiz. O vinho branco que produz he de em- barque , e o tinto he de ramo : os que fe produzem nas ribeiras defcendo para o Pinhao faó de boa qualida- de: Os que fe produzem nos altos de Celeiroz y eno lugar de Villarinho faó inferiores, e de má qualidade: os que fe produzem na cofta de Além-Pinhaó 12O finos, e de embarque, tanto os brancos, como os tintos. O lu- gar de Villarinho he hum dos mais apraziveis do Alto- Douro : tem muitas aguas de rega, que correm pelo lu- gar abaixo y; e por illo abunda de excellentes fructas, excepto de efpinho , porque a terra he fría: produz baí- tante azeite y que fobeja do coniummo da terra, e algu- ma caftanha , e paó, Os habitadores de Villarinho, obri- gados pela falta de lenhas, tem femeado alguns pinhaes, O que podia extender-fe muito por ter grande largueza de montados proprios para ifto. No fitio dos Levados tem huma fonte de aguas ferreas , que nos annos Íeccos fe fepara bem da agua de hum regato , em a margem do qual ella nafce:; naó he muito forte, mas he baltan- te para com muita continuacaO defobftruir , e corrobo- rar ; e tem fervido de beneficio a muita gente. Tem 772 almas em 23o fogos. Ao Norte de Villarinho de S. Ro- mao eftá a Freguezia de Paflos, que pelo Poente confi na com a de S. Martinho de Anta pelo Norte com a "de 'Sabrofa'y e pelo Nafcente com a mefina, e com a de Villarinho de S: Romao. O vinho que produz he de ramo , e a maior parte delle muito inferior, e fó capaz para deftillar. Grande parte das vinhas fao plantadas em terras planas, muito fortes, e que podiaO regar-fe, por haver abundancia de aguas para ilo :' fería conveniente que eftas vinhas fe arrancallem y; para na fúa terra fe cultivar paó , que produziriaó com muita abundancia : tem muita largueza para creagaO de gados ,'que poderia - augmentar-fe muito', no" cafo de fe melhorar a produc- gaó dos. mattos ) por: meio decfementes efcolhidas para ERA j paí- 62 MEnMmOoORATIA $ pañtagens ,.e eftrumes : produz caftanha , algum azeite, e boas fructas y principalmente as do inverno. Tem no lugar de Fermentóes huma fonte de aguas ferreas mais forte do que a de Villarinho de S. RomaO: muitas pef- Íoas enfermas concorrem a fazer ufo dellas 5; e a expe- riencia tem confirmado a fua forga, e virtude aperien- te, 'Tem 8o9 almas em 184 fogos. Pelo Norte, e Nafí- cente de Paflos fica a Freguezia de Sabrofa , que pelo Poente confina com a de S. Martinho de Anta , e pelo Norte com a Freguezia de Souto-maior. Produz vinhos brancos de embarque , alguns dos quaes faO finos, principalmente os que fe produzem para o fitio de Val da porca , e para a Ribeira do Pinhaó os tintos que produz faó de ramo bons : produz algum azeite, e pao. nefta Freguezia eítá o pomar de efpinho chamado da Sancha y, muito conhecido no Alto-Douro pela fua gran- deza , e excellencia da fua fructa : tem 686 almas em 195 fogos. Ao Norte de Sabrofa eftá a Freguezia de Souto-maior , que do Poente confina com a de S. Lou- renco y, do Norte com a de Parada de Pinhaó, e do Naí- cente com o rio Pinhao. Para a ribeira defte rio produz bom vinho de ramo : o que produz nos altos he infe- rior: quanto á produccaO de paó, e creagaO de gados eltá nas mefímas circunftancias que (a Freguezia de Paflos, e pede as mefmas providencias : produz algum azeite, muita caftanha. y, e “muitas fructas excellentes., efpe- cialmente as de inverno , das quaes fe extrabem mui- tas para outras terras: tem 472 almas em 150 fogos. CAP Or UNL5O, IX; Defcripeao particular do terreno , que fica entre o rio Pinhad y e o rito Tua. O Nafícente do fobredito terreno do mefmo lado. Septentrional do rio Douro fica immediatamente fi- tuado o que eltá entre os rios PinhaO, e Tua, que pe- lo | E CONO NTOWS, 63 lo Norte fica confinando com ás Serras de varias Fregue- zias , que naó entraó nefta Defcripcad : do Nafcente he limitado pelo rio “Tua, do Sul pelo Douro, e do Poen- te pelo Pinhaó : tem de Norte a Sul na fua maior ex- teníaó máis de duas leguas, e o mefmo de Nafícente a Poente : contém as Freguezias de Villar de Macgada, Samfins, Alijo, Favayos , Vallarinho de Cotas, Cafte- do, S. Mamede de Riba-Tua, Amieiro, e Carelao: a primeira Freguezia y, que fica ao Norte defte terreno da parte do Poente y he a de Villar de Macada , fronteira á de Souto-maior , feparadas pelo rio PinhaO : confina pelo Norte com a Freguezia de Tresminas , pelo Naí- cente com a de Villa-chaó , pelo Sul com a de Sam- fins, e pelo Poente com o'rio Pinhaé. Produz vinhos de ramo excellentes y muitos dos quaes ferviao para embar- que , principalmente os que fe produzem do lugar de Cabeda para O Pinhao y que além de ferem finos, faó notaveis pela fua cór muito cuberta : produz muito azei- te, alguma caftanha y é baltante paO: tem creacaO de ga- do em alguns lugares: tem IQÓoo7 almas em 347 fogos. Ao Sul de Villar de Macada eftá a Freguezia de Sam- fins, que do Nafcente confina com a de Alijó, do Sul com a de avaios, e fitio de Além-Pinhao da Fregue- zia de Celeiroz, e do Poente com o rio Pinhao. Para as coítas que deitaó para o Pinhaó produz bons vinhos de ramo : os que produz nos altos faO muito inferiores , e os mais delles (ó fervem para deftillar: produz tambem muito azeite, alguma caftanha , e pao: tem 943 almas em. 26o fogos. Ao Nafcente de Samfins fica a Villa, e Freguezia de Alijó , que do Norte confina com a de Vil- la-chaó y do Naicente com a de Amieiro, do Sul com a do Cartedo, e do Nafcente com a de Favaios. Pro- duz efta Freguezia vinhos de ramo inferiores , e Os mais delles em terras )' que fe tem tirado á lavoura do paód: efta Freguezia' podia ter hum augmento muito confide- ravel: afua terra he muito fertil y e em muita exten- faó : “tem, aguas de rega, que com alguma defypeza po- Eno ao 64 MenMmoOoRrxtas diaó augmentar-fe muito , fazendo-as aproveitar y e buf-: car em hum morro , que lhe fica fuperior, e donde po-: diaó conduzir-fe para qualquer parte que conviefle, po- dendo abrir-fe muitas terras incultas para fe empregar nellas a agua,, que tambem fería muito util para outras já cultivadas y a que nao he fuflficiente a que já tem; pois produzindo com muita fertilidade ainda as mefimas terras que nao faó regadas., fendo-o , duplicariaO os feus fructos: as terras que naó follem capazes de lavoura de- veriaO fer todas aproveitadas , femeando-lhe bons mattos para eftrumes , e boas paítagens para os gados, que allí fe podiaO crear em grande quantidade y e em algumas mais afíperas pinhaes, para fegurar as lenhas necellarias para o uío. A terra offerece todas as commodidades pa- ra hum grande augmento de povoagaó: a abundancia, e bom prego dos viveres ; a bondade do ar; a commodi- dade dos pregos das materias para edificar; e a bonda- de, e abundancia de aguas y tem capacidade para huma confideravel plantagaO de amoreiras, aflim como quafi to- ' das as terras defte terreno, para a creagao dos bichos da feda : para animar tudo ifto fería conveniente eftabe- lecerem-fe alli fábricas de meias de feda, fittas, e algum outro tecido de feda, e alguma de lanificios grof- Íos para confummo das lans da terra, e feus contornos : deveria a Camera paflar logo a aforar todas as terras baldias por foros moderados, a quem fe obrigafle a rom- pellas dentro de tres annos, ou aproveitallas com algum beneficio : os proprietarios que dentro de tres annos nao fizeflem o mefmo ás fuas , deveriaO fer obrigados a fa- zer aforamentos dellas, como os dos baldios, a quem as houvefle de romper em termo breve. Havendo abun- dancia de agua de rega, e de eftrumes, e gados para fo- mentar a terra, podia produzir-fe quantidade de linho, para fe empregarem as mulheres da terra na fúua' mañu- factura : para efte beneficio deveria concorrer o Collegio de S. Pedro da Univerfidade de Coimbra y como in- tereflado nos dizimos y que percebe de toda aquella ter- ra OS | E CcCONOMICA SS. ós ra , e por iffo lhe competia procurar O augmento dos feus fruétos , fazendo por fua conta a defpeza necefía- ría para a extracgaó, e conduccaO das aguas do morro, que fica apontado, até aflfima da Villa, e aprontando á fua cuíta as primeiras fementes neceflarias' para Os mat- tos , e paítagens, e os gráos neceflarios para as primei- ras fementeiras , que fe fizcflem nas terras que de novo fe rompeflem , as quaes deveria tambem ifentar de dizi- mos os primeiros dez annos que fe cultivaflem: e de- veria tambem o mefmo Collegio animar o eftabelecimen- to das fábricas com alguma ajuda de cufto aos fabrican- tes, que alli quizeflem ir eftabelecer-fe. Para execucaó defte projectto podería nomear-fe para aquella Villa hum Juiz de Fóra com os talentos neceflarios , para fe lhe encarregar , pagando-lhe o dito Collegio para iflo algum ordenado 5; porque o lugar he de hum rendimento mui tenue y e para O auxiliar nefta execuca3O y ferviria muito o Reitor da mefma Villa Jofé Bernardino Botelho y Fi- lofofo muito habil, eintelligente , dotado das luzes ne- ceflarias y e de hum exacto conhecimento do terreno # " ambos juntos poderiaO procurar todos os meios necefla- rios para que fe augmentafle muito a povoagao “e a agricultura , e induftria com utilidade pública, e do di- to Collegio , na grande riqueza do qual cabem muito bem eftes avangos. Produz efta Freguezia algum azeite, baftante paO, e caftanha, e tem creagaO de gados: tem huma feira todos os mezes muito a propofito para lhe trazer o neceflario, e gaftar o fuperfluo , e em que fe poderia dar fahida ás manufacturas das fuas fábricas : tem 925 almas em 315 fogos. Ao Poente de Alijó eftá a Villa, e Freguezia de Favaios, que pelo Norte con- fina com a Freguezia de Samfins, 'pelo Poente com o rio, Pinhaó , e pelo Sul com as Fréguezias de Val de Mendiz, e Cotas. Produz no fitio chamado AJém-Pinha0, á beira do mefmo rio, algum vinho de embarque bon, O que produz nas coftas dahi para fima até o lugar do Soutelinho he de ramo bom, € o que produz nos altos Tom. III. he 66 M. de GhO inción tido he inferior : produz muito azeite, caftanha je paó,'e tem creagao de gados : fao-lhe applicaveis as providen- cias, que ficaO apontadas para Alijó, a refpeito da/cul- tura , porém os dizimos fao da Mitra de Braga: tem goo almas em 284 fogos. CA PTS ULRO 42 Continuacao da mefina materia. PE Sul da Freguezia de Favaios ao longo do Pi- nhaó fica a Freguezia de Val de Mendiz y, que do Poente confina com o rio Pinhaó , e pelo Sul com as de Cafal de Lobos, e Villarinho de Cotas, e pelo Naí- cente com o fitio de Além-Pinhao da Freguezia de Ce- leiroz. Produz bom vinho de ramo, e muito azeite, aproveita-fe O fumagre : tem 74 almas em 24 fogos. Ao Sul de Val de Mendiz eftá a Freguezia de Villarinho de Cotas , que produz algum vinho de ramo ordinario, e muito azeite y tem huma feitoria de fumagre: tem 66 almas em 27 fogos. Ao Sul de Villarinho de Cotas ef- tá a Freguezia de Cafal'de lobos, que do Poente confi- na com o rio Pinhaó até onde fe mette no Douro, do Sul com o rio Douro, e do Nafcente com a Freguezia de Cotas, da qual a fepara a ribeira da Povoa. Produz vinho de ramo fino, e muito azeite, aproveita-fe o fu- magre que produz a terra: tem 22I almas em 85 fo- gos. Ao Naícente de Cafal de lobos eftá a Freguezia de Cotas, que do Sul confina com o rio Douro, do Naí- cente com a Freguezia do Caftedo, e do Norte com a de Favaios. Os vinhos que produz na cofta da borda do Douro faó de ramo de boa qualidade 5 os que produz para o alto fas inferiores : produz grande abundancia. de azeite , algum pao, e caftanha, e fumagre, que fe aproveita. Para a parte do Douro tem ainda baítantes' mattas iucultas., em que ás vezes fe vem lobos j'e por-- Ln; ivGoS EÉCONOMICAS. 67 cos bravos , as quaes fe podiaó aproveitar para vinhas, e olivaes, pois que a meíma natureza produz nellas mui- tas oliveiras bravas. Nos altos tambem ha terras incul- tas , que podiaó aproveitar-fe para pao. Nefta Fregue- zia , e della para fima ha hum modo particular de plan- tacaó , e cultura de vinhas : ellas faó todas formadas em "gelos de parede, e fó nelles he que fe planta vinha met- tida na parede : o plano de terra que fica de geio a geio naó tem vinha plantada, e tem largura competen- te para poder lavrar-fe ao arado : as”vinhas plantadas defte modo produzem ainda mais vinho, do que fe a terra do plano dos geios tivefle tambem vinha , ea cul- tura he mais e de menos difpendio; mas 'o vinho que produzem he muito menos bom. “Tem efta Freguezia 200 almas em 69 fogos. Ao Nafcente de Cotas fica a Freguezia do Caftedo , que do Norte confina com a de Alijó, do Nafcente com a de S. Mamede de Riba-Tua, e- do Sul com O rio Douro. Produz para as coftas do Douro vinho de ramo fino, e de hum gofto delicado, porém de pouco corpo, e de pouca duracaó 5 nos altos produz vinho de ramo inferior: produz baftante azeite, e algum paó, a cultura do qual podia adiantar-fe: tam- bem tem algumas mattas nas coftas do Douro y como a Freguezia de Cotas: tem 294 almas em 111 fogos. Ao Nafcente do Caítedo fica a Freguezia de S. Mamede de “ Riba-Tua , que pelo Norte confina com as de Alijó, e do Amieiro, pelo Nafcente com o rio Tua, e do Sul com o rio Douro. Produz viuhos de ramo finos, e de gofto exquifito , porém ífaó pouco eípirituofos , e de pou- ca duracaO : produz muito azeite y algum paó, e tem creagaó de gados : tem 841 almas em 287 fogos. Da outra parte do rio Tua na ponta que faz com o rio Douro ha ainda huma pequena porcaó de vinhas y) que faO da mefma producca5. Ao Norte da Freguezia de S. Mamede á beira do “Tua fica a Freguezia do Amieiro, que do Poente confina com a de Alijó, pelo Norte com ade Carlaó-, e pelo Sul com o rio Tua y produz vi- 3 ; Fai nhos 68 Mi: MiO) RÚAS nhos de ramo maduros , mas fracos ; algum azeitej'e tem. cultura de paó , que algum tanto podia augmentar- Íe : tem 256 almas em 62 fogos. Ao Norte do Amiei- ro eftá fituada a Freguezia de Carlaó, que pelo Poente confina com a de Alijó y pelo Norte com a de Santa Eugenia y pelo Nafcente com o rio Tinhella, que no fim defta Freguezia fe mette no rio “Tua. Produz vinhos de ramo femelhantes aos do Amieiro, produz azeite, e em lavoura de paó, que podia melhorar-fe : produz mui- tas fructas de excellente fabór: tem 746 almas em 243 fogos. Ao Norte de toda efta cofta Septentrional do rio Douro , que acaba de defcrever-fe, ficaó muitas terras, em que íÍe produzem vinhos inferiores , e Verdes, de que a companhia fe nao ferve para as fuas garregagcóes, mas compra grande parte delles por muito diminutos pregos para os deftilar nas fuas fábricas de aguas-arden- tes ; O refto ferve para O confumimo das terras, e com- mercio interior. Para fe ver com mais facilidade o efta- do da povoacao de toda efta cofta , fe junta no fim def- ta Defcripgao Economica hum mappa della , extrahido exactamente dos regiítos da Quarefma do anno de 1781, em que fe declara o número de fogos, e de almas de cada Freguezia 3 e fe ajunta a nota do eftado de algu- mas Freguezias no anno de 1733, tirado da Geografía de Lima, pelo qual fe conhece proporcionalmente o gran- de. augmento que tem tido a povoacaó. CAP UMG O XI. Defcripeao particular da Cofña Meridional de rio Douro. Cofta Meridional do rio Douro nao tem a mefma largura de terreno , que contém a cofta Septentrio- nal. Ella/naó entra para o centro y nem comprehende mais do que os terrenos que aviítao o río Douro. Por if- E CcCoNOMUYNCAS. 69 iffo na DefcripcgaOo della fe naO pode guardar a méfma ordem 5 que na outra fe guardou': nem fería facil niof- trar o eftado da povoagaO della )/pois/'que naó compre- hende mais que huma pequena parte da extremidades do mais das Fregueziasy' que tem vinhas nefta cofta: por iffo a fua delcripcaO ferá feita por fitios y e terrenos de hum rio a outro com relagao á fua produccaOo de vi- nhos tas fómente. Defronte da Fregueñía de Santa Chrif- tina de Mezaoó-frio do lado Meridional do rio Douro fica fituada a Freguezia do Penajoia y, que he a primeira em que ao Poente defta cofta comeca o deftriéto do Al- to-Douro , deftinado para O commercio da Companhia : nella fe produz vinho de ramo inferior , e algum me- lhor para us vizinhangas 5 e nos altos do Moledo, pouco abaixo do Moledo y comega a demarcacao de vinho de embarque , a qual continúa ao longo do Douro pela Fre- guezia, de Cambres até ao rio Barofa , para os altos de Souto-covo y Sande, e Portelo he o vinho dé ramo de muito boa qualidade : todo o que fe produz na cofta do Moledo , ena de Cambres, que he de feitoria , he fi- no y e de excellente qualidade : desde Samodaes até o rio Barofa fica huma grande extenfao de terra quafi 'pla- na, que chamaó o fitio de Touraes y que he de feitoria. Nad ha em todo o Alto-Douro terra de taO fertil pro- duccao , e ao mefmo tempo o vinho que produz he de feitoria da maior eftimagaO: elle he de huma' cór mui- to cuberta , e de huma fortaleza , e groflura fuperior a todo o mais vinho de feitoria, e de hum excellente gof- to : na mefma terra ás margens do rio Douro fe produz Muito azeite: fobre efta planicie fe eleva huma cofta pa- xa O lugar de Rio-bom até ao fitio da Corredoura y, que produz vinhos de embarque finos, e de muita fúuftancia: nefte lugar de Rio-bom íe produzem muitas fructas das mais faborofas do Alto-Douro, que faó muito eftimadas, e tem grande extracgaó: em todo efte deftricto fe colhe baftante azeite. Do rio Baroía até ao rio de Mil-lobos fica huma cota de mais de legua'e meia de comprido : ao 7O MEMORIAS ao longo de-Douro, que he muito viftofa, por eftar to- da matizada de bonitas cafas de quinta, que he o que fe comprehende nefte deftricto , havendo nelle fómente a Villa de Valdigem, que he fitio deftinado para vinhos brancos de embarque y e os produz de huma mediana bondade , e tintos de ramo naO muito bons; e a Villa de Parada, que produz algum vinho de ramo ordinario nos altos. A maior parte de vinho de embarque produ- zido nas quintas defta cofta he fino y porém naó tanto como o que lhe fica fronteiro da parte Septentrional do rio. Desde o rio Mil-lobos até o rio Tedo fica huma colta naó muito extenfa, que pelo 'Tedo aíflima compre- hende huma confideravel extenfao de vinhas. Nefta coí- ta poucos vinhos fe produzem de feitoria ; a quinta dos Padres de Salzedas, e algumas vinhas mais junto ao lu- gar de Falgofa he que ficárao demarcadas para embar- que , Os mais faó de ramo de excellente qualidade. Do rio '“Tedo até ao rio 'Tavora eftá outro pouco maior ef- pago de cofta , que á borda do Douro ficou deftinada para vinho de ramo, e por fina de huma faxa de ter- ra , que ficou para efte deftino, corre outra faxa de hum ao outro rio deftinada para feitoria , e pelo alto da cof- ta torna a fer excluida para ramo. He digno de raparo, que fendo em todo efte “Territorio o vinho mais fino, quanto as vinhas em que elle A AMAS eftao mais proximas ao rio Douro , fe excluifle nefte fitio para ra- mo o que Íe produz: á margem do rio, e fe demarcaí- fe para embarque o que fe produz mais para o alto: nao he facil de comprehender a razaó difto. Pelas ri- beiras do rio 'Tedo aflima de huma e outra parte até ao lugar da Granja, e pelas do rio Tavora , até á Villa de 'Tavora fe recolhe huma copiofa colheita de vinhos de ramo , que faó de hum particular, e exquifito fabór. Naó ha em todo efte Territorio vinhos mais agradaveis, e delicados para meza , porém falta-lhe o corpo, e for- taleza y que lhe fería neceflaria para refiftir a embarque fem fe damnificar 5 que a poderem levar-fe aos. paizes- eí- E “crosNxor mir or AÉSs. pr eftrangeiros no mefmo eftado em que faó produzidos : elles mefmos por fi procurariaó o feu confummo : em' Lisboa faó conhecidos pelo nome de vinhos de Taboa- go: Nas ribeiras do Tavora produzem-fe fruétas de hum iabór em proporcgao ao dos vinhos: tambem' nefte del- triéto fe produz baftante azeite. A”? borda do Douro ain- da ha muitos pedacos de mattas incultas, que pela fua pouca producgao naó faz conta plantar para vinho de ramo , e nao fervem para Outra cultura Íe nao he para olival em alguns bocados. 'Junto á quinta dos Gardofos ha muitas pequenas nafcentes de aguas todas marciaes, e de baftante forga 5 porém a defordem, e pouca quan- tidade em que naícem, e o fitio remoto, e ardente em que eftaó, faz que fe nao tenha obfervado pelo feu uío qual feja a fua utilidade , e os feus effeitos. Entre o rio 'Tavora, e o rio Torto medeia hum pequeno efpago de cofta, que da Villa de Valenza para baixo produz vi- nhos muito bons, dos quaes a maior parte dos que fe produzem nas quintas , que eftaó á borda do Douro fo- raó demarcados para feitoria : o refto he ramo de excel- lente qualidade : tambem nefte deftricto fe produz baí- tante azeite. Desde o rio Torto até o rio Fanzide fica a ultima parte da cofta Meridional do rio Douro para a parte do Nafcente : tem mais de duas leguas de com- prido y porém grande parte della fao mattas incultas, entre as quaes fe criaó lobos, e porcés montezes y que muitas vezes atraveflaó o Douro a pado para a outra ban- da , e vao fazer confideravel damno em as vinhas. O que ha cultivado nefta cofta faó quintas de vinha com algum olival : toda ella foi deftinada para ramo 5; por iflo a plantagaO fe naó augmentou confideravelmente depois da inftituigaó da Companhia. Os vinhos que produz á bor- da do Douro , desde a Foz do rio Torto até ao fitio da Arrueda , ferviaó muito bem para embarque y dahi ara fima já nao faó taóO bons, excepto os da quinta de oriz y que naó eftando em fitio mais vantajofo , fas de excellente qualidade 5; e nella fe conhece por experiencia que x2Z MEeEnMoRrrtTAs que produz mais de 15O pipas de vinho de excellente qualidade , e em tudo muito fuperior ao que fe produz nas vinhas que lhe ficaó proximas. A efte homem deve o Alto-Douro muito no adiantamento da cultura, e fa- brico dos feus vinhos: os bons refultados das fíuas mui- tas obfervagcóes nao tem fido deflprezados, e ainda hoje aos lavradores mais judiciofos ferve de modello a quinta de Roriz. Nefte deftricto colhe-fe baftante azeite ; e mui- to mais fe pudéra colhér , fe muitas das terras incultas foflem plantadas de olival , para o que faó muito pro- prias. Ifto he o que me pareceo proprio para fe nótar na cofta Meridional do rio Douro com relacaO á fua prin- cipal produccao, e ao meu principal objecto Economico : e para que naó fique inteiramente defconhecido o eftado da povoacaoó defta cofta fe ajunta hum Mappa das Fre- guezias defta cofta Meridional, á imitacao da que para a cofta Septentrional fe apontou no Capitulo antecedente. M E- to É CONO MUCÍA 5. 7 MEMORIA Sobre o efiado da Agricultura , e Commercio do Alto-Douro “(F). GUAPO E Em que fe refere o eftado atiual da Agricultura, e Commercio do Álto-Douro, desde o anno de 1681 até o anxo de 1756. O anno de 1681 naS tinha o ÁAito-Douro huma taó larga plantacgao de vinhas: o gofto da Ingla- terra inclinado nefle tempo a vinhos doces, fazia que os lavradores , além das vinhas fufficientes para O confummo interno y, fó plantaflem vinhas em fituagóoes eícolhidas em as coftas das ribeiras mais expoftas á for- ga do Sol: ifto comprehendia pequenas porgóes de ter- ra deftacadas por entre os mattos. Naó havia as gran- des quintas que hoje fe vem; os lagares de 3, 4, até 5 pipas ao muito, que naquelle tempo havia, e os tu- neis das mefmas medidas moftraó as pequenas porcóes , em que confiftia a colheita de cada lavrador. O refto das terras pela maior parte eftava inculto, e de annos em annos fe lhe cortava O matto , e fe queimava fobre a terra para nella fe femear centeio, com bem pouco lucro dos lavradores que faziaO eftas fementeiras. Outras ter- ras 'Íe traziaó femeadas de fumagre , que fe cultivava com cuidado; e efte era hum ramo de commercio, de que os lavradores tiravaó utilidade. Os olivaes occupa- vaó outra parte da terra , porém como nem toda he Tom. III. K pro- [4O Teve Accefit entre as Memorias que concorréfió fobreé efté afflumpto em 1782. 74 Memorias propria para efta plantagaO, fe viaO muitos lavradores obrigados a efperar oito, e dez annos por huma colhéi- ta regular de azeite , paflando-fe outros tantos fuccefliva- mente, em que naó O tornava a haver, como ainda ho- Je mefmo fe obferva em alguns olivaes antigos, que eíf- taO plantados. ém as terras de ribeira feccas , e ménos fortes; e como deftás he que fe compóe o Territorio, muitos lavradores fe foraó pouco a pouco defanimando ; até o ponto de deixarem ir a monte os feus olivaes. Nas terras altas fe produziaó caftanheiros, e em outras havia pouco maior cultura de paó, do que aquella que ainda hoje fe conferva. E defte modo era efte Territorio nos tempos antecedentes hum dos mais pobres do Rei- no, O que Íe prova da pobreza , com que antigamente fe edificava em. todo elle, naO fe vendo hoje nem ain- da vefligios de hum fó edificio antigo magnifico , e fum- ptuofo 5 porque fuppofto fe encontrem agora nelle a ca- da pañlo excellentes'cafas com magnificencia, e muito, bons Templos, tudo ifto he de fábrica moderna, 'e tem fido edificado ha poucos tempos , achando-fe difficultofil- ímamente hum. deftes edificios que poffa contar cem annos. Efñte era o eftado do Alto-Douro no anno de 1681, em que, por induftria, e direcgao do immortal Conde da Ericeira y fe eftabelectrad em Portalegre y e na Coz vilhaá fábricas' de pannos, e bactas, e fizerad taó rapis dos progreflos y que baftando os noflos pannos para O confummo do Reino, e Conquiftas , como, o confeflaó os mefmos papéis publicos de Inglaterra, fe prohibio nos annos de 1684, e 1685 a entrada dos pannos , far- ges, e droguetes-panno eftrangeiros y coarctando-fe com ito de tal modo o commercio activo de Inglaterra fo- bre Portugal , que as fazendas da exportagao daquUelle Reino para elte chegáraO a naO montar mais de 492 $o0o0 E. flferling por anno. Eftas fábricas de todo fe arruináraO com o tratádo do Coimmercio celebrado entre as duas Córtes de Portu- gal, eInglaterra no anno de 1703, em que fe den n- [pono PT TS ue Go TO o E CrOtNtO MECA S. sú Inglezes ' franca liberdade da importagao dos feus la- nificios, com a condigaó de que os vinhos de Portugal pagariaO a Inglaterra menos huma terca parte dos direi- tos de entrada , que pagaflem os vinhos de Franca. GA Pl AN Uiu Os A Continuagao da mefima materia. N | AO fe tirou defte tratado para Portugal o effeito detejado , todo o proveito foi para Inglaterra ; | porque fendo a fua exportacaO para Portugal anteceden- temente de 4o00$ooo L flerling em fazendas , logo fuc- ceflivamente ao tratado montava a 1:300$ooo L flerling por anno, fegundo ós regiftos das fuas mefmas Alfan- degas. Naó aconteceo o mefmo aos vinhos de Portugal com a AA dos direitos, porque fendo a expor- tagaO para Inglaterra nos quatro annos antecedentes ao tratado de 31$324 pipas, e nos quatro annos feguin- tes ao tratado de 32$o022 , fegundo confta dos mefmos regiítos , fe augmentou fómente a extracgaO depois do tratado em quatro annos 698 pipas, O que na verdade correfponde muito pouco ao grande augmento da impor- tagaO das fazendas de Inglaterra. Efta falta da extracgaó dos vinhos conteve a plan- tagaoO. das vinhas do Alto-Douro ; porque merecendo a preferencia os vinhos mais doces, e excedendo os vinhos de Lisboa em dogura aos do Douro , daquelles he que fe fazia maior extraccaó , fuppofto que os do Douro ti- veflem reputagao maior pela fua forga , que os fazia confervar por mais tempo : ifto fez que os vinhos do Douro pouco a pouco foflem adquirindo maior eftimacao em os paizes do Norte. Como a quantidade da produc- gaó era pouca y augmentárao-fe os pregos, e os Com-. miflarios Inglezes chegáraO a dar' 6ofooo réis, e mais K IN por 76 MEMORIAS por cada pipa, o que fizerao induftriofamente para me- lhor hirem aos dous fins de eftabelecer inteiramente a ruina das fábricas do Reino pela introduccao das fuas fazendas nas tres Provincias da Beira , Minho, e 'Tras- os Montes, e do barateio dos vinhos pelo augmento da plantagad y que animáraO com os grandes pregos. Com effeito ambos os fins confeguiraó ; as fábricas inteira- mente fe perdérao em pouco tempo, fendo excefliva a introducgaó das fazendas de Inglaterra pela barra do Porto; e a plantacaO de vinhas no Alto-Douro crefceo com tanto exceflo, que poucos annos fe fuftentou o pre- co dos vinhos , diminuindo tanto, que os Comnmilflarios Inglezes chegáraO a comprar pelos annos de 1750 até o de I755 vinhos dos mais finos do Douro a Iogooo réis, e menos cada pipa , chegando a tal eftado o barateio, que os mefímos negociantes da Feitoria Ingleza , receo- fos de que huma tal decadencia fofle ruinofa ao feu pro- prio: commercio , fe juntáraO na cafa da mefma Feitoria do Porto para fe ajuítarem entre fi a augmentar os pre- gos ao vinho, por conhecerem que aqueille nem baftava para a defpeza da cultura. Efte projecto nad fe cffeituou pelas contradicgóes. de Diogo Stuart, negociante Inglez, muito aftuto , e ca- vilofo , que foube com artificiofas perfuasóes tazer mu- dar de parecer a toda a Feitoria Ingleza , fazendo antes. voltar todos os feus cuidados para arruinar O negocio de D. Bartholemeu Pancorvo , negociante Hefpanhol , que havia pouco tempo tinha 'apparecido no Porto , e publi- cado hum vafto projecto de commercio de vinhos do Al- to-Douro para os portos do Baltico. Efte Commerciante , rico. de idéas, e pobre de ca- bedaes , entrou em grandes compras de vinhos, dando, ou offerecendo por elles maiores pregos: os lavradores, cancados da efcravidao Britanica em que viviaO y lhe con- fiavao francamente as fuas novidades. O principal pro- jecto do dito Pancorvo era abrir novos caminhos para a extraccao defte genero , fazendo-o navegar para os por- tos EÉCONOMICA s. 97 tos das nacóes do Norte y conhecendo' que efte era O meio mais proprio para excitar a emuiacao Britanica, e para felicitar a lavoura , e commercio activo do Reino. Para executar efte projecto naó bafltavao feus poucos ca- bedaes 3; e no tempo em que procurava aflociar alguns conmmerciantes Portuguezes y, e lavradores do Alto-Douro para efta importante empreza, falio , por naó poder iuí- ter já O empate dos muitos vinhos, que para efte fim tinha comprado , fobrevivendo pouco. á ruina que lhe mo- tivou a aftucia Britanica , e delconfianca Portugueza. Sobre a ruina defte commerciante y e fobre os feus ' projectos fe formou a Companhia Geral da Agricultura das vinhas do Alto-Douro, que, a pezar dos feus mui- tos defeitos , foi a redempcaS daquelle Territorio , e hum freio á illimitada cubiga dos commerciantes Ingle- zes, que até chegou a arruinar a pureza, O credito, e a grande reputacaO que tinhaoO tido em o Norte os vi- nhos do Alto-Douro y mifturando-lhes vinhos verdes, fracos , fem cór, e de menos bondade do Vale de Bel- teiros, S. Miguel de Outeiro , Anadia, e outros fitios, querendo fupprir efta falta de bondade natural com ba- gas de fabugueiro, pimentáa , aílucar, e outras miífturas, e confeigóes, que y em lugar de os melhorar, os fazia chegar ao Norte fem gofto, fem forca , fem cór, e fem bondade alguima; de forte, que tendo alli tido preferen- cia a todos os mais vinhos pela fua forca, cór, delicade- za, e fabór, chegava a preferir-fe-lhe nao fó qualquer vinho , mas até qualquer outra bebiba. Eis-aqui o eítado, em que fe achava no anno de 1756 a Agricultura y e o Commercio do Alto-Douro : O grande abatimento em que fe achavaó os pregos dos vinhos , fazia que as vinhas naó pudeflem cultivar-fe bem , por falta de dinheiros; e ifto tinha reduzido a producgao da maior parte das vinhas a taó pouca quan- tidade", que cada vez mais fe impofibilitava a cultu- ra, e ainda efta mefma diminuta producgao fe naó extrabia pela má reputacaO y que tinha concebido em o Nor- 78 MenMmoRnrxras o Norte com as 'miñturas de 'máos vinhos de outras terras. CUANDO DIUXENO RE Em que fe refere o efiado da Agricultura , e do Commercio do Alto-Douro desde o anno de 1756 até o de 1781. Ste anno de 1756 foi a época do eftabelecimento da Compauhia Geral da Agricultura das vinhas do Alto-Douro, e aqui principiou a reftauragaO da decaden-. te cultura, e commercio defte Territorio : nefte anno he que fe inftituio a dita Companhia , fervindo de inftru- mento para efta inftituigaO alguns lavradores y e alguns negociantes da Praga do Porto. As fúas Inftitulgóes formadas em fincoenta e tres pas ragrafos forao confirmadas por Alvará Regio de Io de Setembro do dito anno ; fe ellas tiveflem fido mais bem meditadas , e conformadas ao projecto de D. Bartholo- meu Pancorvo, e nao follem tao defeituofas y tería fem dúvida tido muito maior augmento a produccao, e ex- tracgaó dos vinhos, e confequentemente fería muito maior O commercio activo y, e a utilidade do Reino y a que tambem tem fervido de embarazo o abufo com que tem fido executadas. Eftas Inftituigóes , muitas Leis , que a refpeito del- las fe tem pronwlgado y muitos Aviíos, Decretos, e Reaes Refolucóes particulares , muitas pefloas, e mui- tas cafas arruinadas, e vinte e feis annos que tem paí- fado de prática , e obfervagaO y nao tem fido baftantes para fe aperfeicoar efte negocio em completa vantagem da lavoura , e do commercio. 3 O augmento do genero , procurando-fe que a terra produza O mais que poder fer; o augmento do confum- mo , procurando-íe ao genero a maior extracgaó que pu- der | 2 ECO NOMICC/A s. 79 der fer, parece que faO os dous unicos objectos que po- dem levar O commercio , e a agricultura ao melhor efta- do poñlivel ; mas elles nao tem fido o ponto de vifta, a que fe tem dirigido efta inftituigaO 5; 'e parece que a maior parte do grande melhoramento que desde o auno de 1756 tem recebido a lavoura , e O commercio , fe deve mais ao acafo , e á emulagaO dos commerciantes y do que a to- das as medidas y que para iflo fe tem tomado. O melhor 'eftado poflivel de qualquer territorio con- fite na fua maior riqueza poflivel., ifto he y 'ña maior mafla poflivel de valores : efta nao póde refultar fenao da imaior abundancia poflivel das produccóes da terra, e do melhor prego poñlivel dellas : naó fe conhece ou- tra origem de riqueza fenaO a terra : procurar que “toda a de hum territorio feja cultivada y e que feja cultivada com o maior cuidado ; he omeio de extvahir dellava'ri- queza ; porém fendo o confumo á medida da producgcao; degenerando 'em fuperfluo “fem utilidade , e fem valor as produccóes que ficaó fem coniummo , he necefñlario: procurar-lhe todos os meios pofliveis: de confummo por pregos que o facilitem', e animem a cultura: nada dif- tofez o primeiro objecto. Naó: fe propoz ella do augmen- to: da: producgaó , e adiantamento da lavoura ; antes pe- lo contrario lhe preparava o mais forte grillaó para nao poder adiantar-fe. No tempo da criagaó da Companhia eltava a Agricultura das vinhas y ea fua produccaó no decadente: eítado que fetem' dito, e nefte mefmo a que- xD confervar' a companhia. No $ 2o das Inflituicúes eftabelece: y, Que com a y Maior brevidade fe faga hum Mappa, e Tombo geral y; das duas Cottas Septentrional, e Meridional do rio Dou- 3 YO, no qual fe demarque todo aquelle territorio y que 5; produz os verdadeiros vinhos de carregagaOo , que Íao 3 Capazes de fahir pela barra do mefino río. Efpecifican- 5; do-fe cada huma per fi as grandes, € pequenas fazen- s; das defte genero y, e declarando-fe por huma efítimacao 22 COMmua , OU media y calculada pelas produccgóes dos ul- oras ES ti- So MenMmortTAS y; timos finco annos proximos preteritos o que coftuma y; dar cada huma das ditas fazendas, para que os donos y; dellas nem poflao vender fem manifeítarem á Companhia 5, O que vendem y nem pofíaO fer admittidos “a vender y; Maior número de pipas á Companhía y ou aos eftran- 5; geiros , do que aquelle que no dito regifto lhe for de- 5) terminado , fobpena de que excedendo nas vendas as sy; ditas quantidades, pagaráo anoveado o exceflo, e fica- 5, ráO inhibidos para mais nao venderem vinhos para fó- 3xando Reinokl 5 Aqui temos feito crime o augmentar a produccaó , e ao que deveria propór-fe hum premio , fe eftabelecem penas : e eis-aqui a prova de que as primeiras intensúes nao eraO O augmento da produccgaó , e adiantamento da agricultura : muitas terras incultas, e que fÍó faó proprias para a plantacao de vinhas , ficavaO fendo fundos ecfte- reis , de que fe naóO tirava a riqueza poflivel : muitas vinhas arruinadas por falta da competente cultura fica- vao prohibidas de reparo , e beneficio; porque devendo fer a fua producgaód calculada pelo eftado de ruina ante- cedente , ficava fendo criminofo o feu augmento, e os donos dos predios impoffibilitados a tirar deiles a riqueza poflivel. Efte raio , que fe preparava fobre o Alto-Douro, eíf- teve fuípenío por muitos annos , em que houve lugar de reparar muitas vinhas arruinadas, adiantando por meio da boa cultura a produccaó , que tambem fe augmentou por muitas novas plantacoes de vinhas, de forte, que, regularmente fallando , fe tem adiantado muito a cultu- ra das vinhas desde o tempo da creagaó da Companhia. C As ECÓNOMICAS. 81 Ú AS EO LOS Continuagao da mefma materia. Uppofíto que a produccao dos vinhos fe tenha augmen- tado grandemente, ido nao fe deve aos cuidados di- rectos da Companhia , que tendo-fe queixado fempre do augmento do genero , tem procurado todos os meios de diminuir a producGgaó , como fe tem dito, e em outro lugar fe dirá: e aflfim devia neceflariamente fer, porque naó havendo outra medida para a producgaó que naó Ífeja O confunmo , he ruinofo o augmento da produc- ga. Efte objecto do augmento do confummo he o que 'tambem naó aviftou directamente a Companhia ; em lu- gar de tomar por feu principal objecto tentar alguns no- vos caminhos para o conflummo , levando os vinhos áquelles paizes, que ainda os naó gaítavaó , e de quer recebemos generos importantiflimos y e neceflarios , fem re- torno de fazendas noflas, como era o plano de Pancor- vo , Íe contentou de feguir os caminhos já trilhados, arrogando a fi o prover o confummo da Cidade do Por- to, e feu deftricto, e o dos portos do Brafil, que an- tecedentemente faziao igual, ou maior confummo, vin- do defte modo a Companhia a fubftituir fómente o lu- gar de muitos interpoftos, que compravaó os vinhos no Douro para os vender no Porto, e remetter para o Bra- fil, fó com eftas notaveis differengas , que fazendo aquel- les interpoftos as operagóes do feu commercio com mais fimplicidade y e menos defpezas do que a Companhia, podiaó beneficiar nos precos aos ultimos compradores , e dos primeiros vendedores y; e que fendo pelos $$ 19, e 28 das Inftituicóes da Companhia concedido o privi- legio exclufivo do Commercio dos vinlhos , aguas-arden- tes , € vinagres carregados na Cidade do Porto para as “Tom. III. L qua- 82 MEMORIAS quatro Capitanías de S. Paulo, Río de Janeiro, Bahia, e Pernambuco , e o dos vinhos que fe vendeflem ataver- nados na Cidade do Porto, e tres leguas em circunfe- rencia y ceflava a concurrencia dos ditos interpoftos y que podia fer util a beneficio dos pregos da extraccao, e do confummo ; differengas eftas, que, fe produzem utilida—- de, como na verdade produzem , fó refpeita aos inte- reffados na Companhia, e naó ao Eftado, tanto pela par- te da produccgaó , como pela parte do confumimo nacio- nal. Difto fe conhece, que eftes privilegios exclufivos fad fem dúvida prizóes da liberdade do commercio ; e fen- do evidentemente a maior liberdade poflivel do commer- cio O unico meio de conciliar o interefle particular dos commerciantes com o interefle commum dos proprieta- rios, e do Efltado , he certo que os privilegios exclu- fivos devem neceflariamente produzir hum ruinofo con- flicto entre o interefle particular, e o geral, que em lu- gar de fe auxiliarem mutuamente , tarde y ou cedo fe haGO de deftruir. Nefte lethargo pafífou a Companhia vinte e tres an- nos , contentando-fe com os interefles que lhe produzia o feu privilegio exclufivo , que naó foraO taó pequenos; que quafi fe naó duplicafíe o fundo , repartindo-fe to- dos os annos além diffo mais de 12 por 1oo dos primei- ros Capitáes aos Accioniftas, livres das grandes defpezas da Adminiltracaó a mais complicada y mais difpendiofa, e menos fimples y que na claffe commerciante fe póde imaginar. Naó fe penfou em todo 'efte tempo em outra algu- | ma entrepreza: feguírao-fe os caminhos trilhados : a glo- ria de abrir huma eftrada nova 2o confummo defte im- portantiflimo genero eftava refervada para os dous zelo- fos patriotas Domingos Martins Gonfalves, e Jofé An- tonio de Barros : desde que eftes dous homens, dotados | de baftantes luzes, e de hum coracaO bem feito y capaz de grandes emprezas y e cheio de hum amor definterefla- do | | | | | | | | Ecoronmunc Ás. 83 do da fua patria , foraó feitos Deputados da Compa- nhia , logo refuícitou o projecto de Pañtorvo , e feten- tou a fua prática: navegáraO-fe alguns vinhos noflos, e aguas-ardentes com tanto fuccefío para o Baltico y que no primeiro anno, que foi o de 1780, fe exportárao para Petersburgo , e alguns outros portos do Baltico I1P3563 pipas, e 3 almudes de vinho, além das aguas- ardentes, e já no feguinte de 1781 fe exportárao para a mefma direcgaó 19960 5 pipas de vinho y, efperando- fe por efte caminho hum grande augmento ao confum- mo com grande ventagem do Commercio nacional , co- mo fe dirá em hum Capitulo feparado. O confummo , como fica dito, he a medida unica da producgaó: o prego he neceflariamente tambem a me- dida dos esforzos que fe haó de fazer para augmentar a cultura , melhoralla , e fomentalla y e confequentemen- te decide da abundancia das produccgóes futuras , e da riqueza do territorio que as AO Efte prego deve fer bom, e para O fer deve refpeitar os dous extremos da producgaó, e do confummo pela parte da producgaO pa- ra fornecer o lavrador de meios, e de boa vontade pa- ra promover a abundancia , deixando-lhe os feus fructos hum producto liquido , e livre das defpezas da cultura ordinaria , que correfponda á fomma de feus avances ; ifto he, dos Capitáes empregados , e dos feus trabalhos. Pela parte do confummo deve fer limitado de ma- neira, que fendo util á produccao lhe naó difficulte o gaíto pela careftia , cabendo nelle ao mefmo tempo o competente lucro dos interpoftos, que pela fua induftria levaó os generos de hum ao outro extremo de commer- cio. RES Lii CA- 84 MEMORIAS OA PIDEN OP Continuagao da mefima materia. N ] Ao ha dúvida que nas Inftituigóes da Companhia fe eftabelecéraó pregos aos vinhos do Alto-Douro,. porém efte ideal , e arbitrario eftabelecimento naó foi apoiado fobre fundamento algum folido , que o fizefle eltavel , e firme. A experiencia aflim o tem moftrado ,. vendendo-fe muito annos os vinhos por muito menos do; que os; pregos eftabelecidos. 3) 2) No 6 14 das Inftituicóes fe determina ,, para- faci-, litar as- entradas dos Accioniftas , que a Companhia. lhe receba os vinhos que: forem da melhor qualidade ,. j,y e na, fua perfeigao natuval y fem miíturas y ou lota- 39 e] 3) 3 3) 3 3) 3) 3 cóOes que os damnifiquem, pelo prego de 25 fooo Tréis: cada pipa: de medida ordinaria , e Os que forem de: menor qualidade, porém capazes de carregacgaoO , re- ceba na mefma fórma por prego de 20000 réis cada pipa. Por efte prego (continúa) comprará 'os referidos: vinhos nos mais annos que fe feguirem , ou haja abun- dancia , ou falta deilte genero , para cujo effeito aflim. como a Companhia nos annos de abundancia os ha de: pagar aos pregos referidos: do meímo modo nos an- nos: de efterilidade feraoO obrigados os lavradores a ven- der-lhos pelos mefmos pregos fem a menor alteraga2ó,. compenfando-fe aflun os interefles em beneficio defte genero.ul, No $ 33 das mefmas Inflituigoes fe eftabelece ,, que para os lavradores de vinhos y e compradores delles fe poderem reger fobre principios certos, fem que a lavoura pertenda tirar das vendas lucros prejudiciaes ao Commercio , nem o Commercio no barateio das compras do genero pofla arruinar a lavoura , pagará a Companhia inalteravelmente todos os vinhos que ti- Man | | | ES) ES] En a E) xo 7 2 ES] 7 3 FE] J PE] Pb] 7” ES] 39 29 ES) be] ECONOMICA s. 85 rar para O 'feu embarque pelos pregos de 25 , e de 2000o réis cada pipa , fegundo a$ fuas duas diffe- rentes qualidades, na fórma que fica declarado pelo $ 14, de tal forte, que ainda no cafo de haver gran- de falta dos fobreditos vinhos qualificados, e grande fahida para elles, naó poderáó os da primeira quali- dade exceder o prego de 3000o réis por cada pipa, e de 25 fjooo réis os da fegunda. Os que porém naó forem capazes de embarque , fendo fufficientes para O confummo da terra, feraó comprados, e vendidos pe- la 'mefina Companhia tambem por pregos certos , e determinados na maneira feguinte: Os que forem da producgaó das terras de Barqueiros , Menáñi-Grio sae Penajoya feraó comprados a 8Qfooo cada pipa, e ven- didos na mefma fórma a r5 réis cada quartilho : os outros vinhos maduros dos Altos de Sima do Douro, que ficarem de fóra da demarcacaó das terras que pro- duzem os vinhos de embarque , ferao comprados a ra- Zzaó de 129jo0o réis por cada pipa , e vendidos na mefma conformidade a razaó de 2a réis cada quar- tilho. ,, No $ 4 do Alvará de 30 de Agofto de 1757 fe ordena , que ,, attendendo á diminuigaO , que pela de- 2) 3) 3 3 Sn FE] o Eb] 37 “2a ” 73 29 2) feza dos eftrumes ha de precifamente haver na quan- tidade dos vinhos de feitoria, e embarque, e a que fendo elles reduzidos á fíua antiga pureza natural, he muito conforme á boa razaO , que o exceflo , que faz na qualidade y fuppra de alguma forte a falta que os lavradores haó de experimentar na quantidade : He S. Mageftade fervido ampliar a difpoficaó do $ 33 da Inftituigao da Companhia , para effeito de que a mefimna Companhia, naó obftante a diípoficaó do di- to $ , compre os vinhos da primeira forte, a que determinou os pregos de 25, e 3000o tis pelos de 30, e 36Ho0o reis, e os da fegunda forte, a que de- terminou 'os pregos de 2O, e 25 No00a réis, pelos de 25 y é 30OÑOCA réis, com tanto que os lavradores nun- ; 3 ca 86 MEenMmoRrRrtIAS y; Ca poflaó exceder os pregos defta ampliagao nos vinhos ,”5 que venderem. ,, Eis-aqui fubftancialmente o eftabelecimento dos pre- gos , que a refpeito dos vinhos de embarque fería mui- to racionavel, fetiveflle firmeza , e igualdade neceflaria ; mas nada difto: para terém firmeza fería neceffario que os lavradores tiveflem certa a venda dos feus vinhos, e que a Companhia fofle obrigada a comprar todos aquel- les, que os negociantes eftrangeiros, OU nacionaes nao compraílem nos tempos competentes pelos pregos eftabe- lecidos , pois, faltando a certeza da venda, nao póde fer eftavel a certeza dos pregos. Naó os querendo os. negociantes pelos pregos eftabelecidos , a Companhia to- ma por elles huma modica parte; € nos mais temos O barateio certo, como a experiencia de alguns annos tem moftrado. Parece que a Companhia no dito $ 14 das Inftitui- g0es. deixa entender, que toma fobre fi a obrigacao de comprar todos os vinhos que naó tiverem outros com- pradores , porém ifto he o que nunca fe effeituou, e confequentemente fe nao providenciou nunca a firmeza, e eftabilidade dos precos. Para elles terem a igualdade neceflaria devia haver da parte dos compradores a mefma obrigacao , que da parte dos vendedores : eftes fas obrigados a nao exce- derem os pregos eftabelecidos 5; porém os compradores podem diminuillos arbitrariamente , e defte modo naó fe guarda a igualdade neceflaria para Jjuítificar as taxas. 'Todos eftes caminhos , que faO os principaes por onde fe vai ao augmento da produccaó, e do confum- mo , e á felicidade da lavoura, e do Commercio , fo- raO os que fe defprezárao , fendo os que mereciaó maior attencao. 'Huma unica coufía mereceo todo o cuidado ,. que foi procurar o adiantamento poflivel da bondade, e re- putagaó dos vinhos por todos os meios que tem parez [95 ECONDOMICAS. 87 cido proprios. O primeiro por onde fe procurou confe- guir efte fim, he o da feparacaO, e demarcacaO dos ter- renos , que produzem vinhos proprios pela fua bondade natural para embarque 5 dos outros y que os produzem ÍÓ capazes para fe beberem na terra , a qual fe deter- mina em o $ 29 das Inftituicóes y prohibindo-fe no $ 3o com feveras penas a introducgaó dos vinhos dos terres nos excluidos para o ramo nos terrenos demarcados pa- ra feitoria, para evitar defte modo as lotagoes, e mifítu- ras dos vinhos inferiores com os finos, e legaes y das quaes fe feguiria a preverfao , e ruina do genero ; po- rém de maneira , com que foi feita efta demarcagaO , era impoflivel confeguir-fe inteiramente por efíte meio Q fun que fe pertendia. GRANDE DAS KA QUAO ME; Continuayao da mefma materia. | ) Sta demarcagaO devia fer feita por terrenos fegui- dos, de forte , que os demarcados para embarque deviaO fazer hum corpo feparado dos excluidos para ra- "mo; porque nao fendo aflim, e ficando as propriedades demarcadas para embarque mifturadas com as proprie- dades excluidas, era incvitavel o poderem-fe wmifturar as uvas deftinadas para ramo com as deftinadas para fei- toria. Era neceflario que as demarcagoes foflem feitas por eftradas, e por divisóes de ribeiras, e oiteiros, que fi- zeflem huma tal feparagao , que embaracafle as milturas, e ficaflem dentro do ambito das terras demarcadas ca- minhos fufficientes para a condugao das uvas, e dos vi- nhos. Ifto fez com que nos terrenos demarcados para feitoria ficaflem incluidas muitas vinhas , que produzem vinhos peflimos para embarque , por eftarem fituadas em terrenos aveflos , e em valles baixos, em que o Sol fe . de- 88” MEMORIAS demora muito pouco, e do mefmo modo ficáraO exclui- das para ramo muitas vinhas, que produzem vinhos fi- nos , e generofos , porque naó podiaó ficar dentro do ambito das eftradas y, Ou ter uniaó com os corpos de- marcados. Efta defordem nao abrangeo fó pequenas porcóes aqui, ealli, as quaes Só por fi fariaó hum objecto con- fideravel , extendeo-fe a porcóes grandes : por exemplo, Os valles de Fugueiros , Lobrigos , Santa Martha , e Veiga da Comieira ficáraO na demarcacgaó da feitoria, e produzem vinhos froxos y verdes, e muito inferiores em grandes quantidades : nas Freguezias de Villarinho dos Freires, Alvacóes do Corgo, Hermida, Abaflas, Guiáes , Galafura , Couvelinhas, Goiváes, e outras, fi- cáraO excluidas para o ramo confideraveis porgóes de vinhos finos, e muito fuperiores em tudo a grande par- te dos que ficáraó demarcados para embarque ; e eis-aquí como por efte meio fe naó póde confeguir inteiramente O fim que fe pertende. E foi efte hum meio , que fem ir inteiramente ao feu fim, tem devido todos os cuidados; e caufado in- commodos incomprehenfiveis aos lavradores. A maior parte delles tinhaO os feus lagares, e as fuas adegas em as cafas da fua habitagaO nas fuas aldéas , e tinhaóO as vinhas fituadas em difítancias : grande parte das aldéas ficáraO excluidas da demarcacaó da feitoria ; e como as uvas approvadas para embarque naó podiaó fahir dos ter- renos demarcados , fem a pena de ficarem para ramo , fi- cou grande parte dos lavradores fem lagares , e adegas para fazer o vinho, e envafilhallo. Os lavradores que pu- deraO, edificárao lagares, e adegas pelas vinhas, e por entre Os montes , ficando os feus vinhos expoftos a rou- bos , e mil perigos, e os que naó puderaó edificallos, ficáraO fujeitos a tirar as fuas uvas para O ramo, ou a vendellas aos lavradores , que tem lagares, e adegas, e Íaó mais ricos , por pregos muito diminutos, ficando altamente prejudicados. ; j Aquel- ECONOMICAS. 89 Aquella defigualdade irremediavel nefte projecto, que deixava incluidos muitos vinhos excellentes , e mais capazes de embarque do que outros, que ficavaó com- prehendidos na demarcagao; e a cubica de augmentar o cabedal fez que muitos lavradores , cautelofa , e clandef- tinamente , fizeflem tranfportar das vinhas de ramo para Os lagares , e adegas da feitoria, ou mefmo em uvas, ou já em vinho confideraveis porgoes de vinho de ramo pa- ra mifíturar com o de feitoria, em fraude da providen- cia , que fe tinha dado para confervar por meio da de- marcagaó a pureza do genero. Para cohibir eftas tranfgrefsoes fe mandou pelo Al- vará de 3o de Dezembro de 1760, que o Defembarga- dor Juiz Confervador da Companhia tirafle todos os an- nos huma devafla, para fe vir defte modo no conheci- mento dos tranfgrefíores, e fe lhes imporem as penas : porém naó fendo ifto baítante, fe mandoú pelo Alvará de 16 de Janeiro de 1766 fazer hum Mappa, e Tom- “bo dos terrenos do vinho de ramo á imitagaó6 do que para os de feitoria fe determinou no $ 29 das Inftitui- -€0es, calculando a produccaód de cada huma das vinhas pelos ultimos finco annos, para por efte cálculo fe pe- dir conta do vinho a cada hum dos donos, e fe ave- riguar fe tinha havido introducgóes, ampliando-fe as pe- nas aos tran[greflores , e mandando-fe ao Confervador da Companhia tomar denuncias delles em fegredo com premio aos denunciantes. Effeituou-fe o “Tombo y mas a experiencia moftrou a futilidade defte projecto , de que fe naó tirou fructto algum : continuáraO , e forab em augmento as introduc- góes de vinhos de ramo; e naóú obíftante ifto, o nego- cio naó empeorava. ; A obítinacao dos lavradores em fazer eftas introduc- $úes de vinho de ramo nas adegas deftinadas para o de “embarque , defafiou a obítinacaó de concluir efte intento.; "e fendo na colheita do anno de 1771 excefliva , e ef- candalofa a introducgaú , fe mandou proceder a huma om. III. M ter- 9o MEMORIAS terrivel devafla de Algada com auxilio de Tropa mili- tar, a qual durou mais de tres annos y deixando aflola- das muitas cafas, e familias, chegando-fe até a mandar arrazar as cafas de lagares, e adegas, que eftavaO pro- ximas ás extremidades da demarcacaO, por fe julgarem com maior facilidade para nellas fe fazerem as intro- 'ducgóes, ea fequeftar, ou tomar para a Companhia mais de huma terca parte dos vinhos que foraó achados na demarcagaó da feitoria, o que em muitos lavradores fe executou finco annos continuados y com inteira ruina das fuas vinhas, por falta de dinheiro para os avangos da cultura. No mefímo tempo , pelo Alvará de 16 de Novem- bro de 1771, fe eftabelecérao as penas mais fortes aos tranfgreflores , repetindo-fe , para acautelar as tranfgref- sOes , a providencia do Tombo das terras de feitoria, que tendo fido ordenado no $ 29 das Inftituicoes , fe nao tinha executado, nem por entaó fe executou. Efte golpe taó forte do poder, mais cohibio as mif- turas de huns com outros vinhos ; porém fazer que el- las inteiramente ceflem , fería confeguir hum impoñivel. CA PDTDUSEO) VI Continuacad da mefma materia. Elo Alvará de 3o de Agofto de 1757 fe eftabelecé- raó outras providencias muito proprias para a con- fervacao da natural bondade dos vinhos de embarque , huma dellas foi prohibir o lancarem-fe eftrumes nas vi- nhas; porque fuppotto ellas eftrumadas produzaó huma muito. abundante colheita, com tudo he certo, que os vinhos que produzem faó muito mais inferiores, Paco $ defgoftofos , e defcórados, e os eftrumes , que fe appli- cavaó para as vinhas, faltavaO, á cultura do paó, e das! hortalices taó neceflarias para os habitadores das terras”, | e pa- ' | | | | | | ECONOMIC AS. [O e para os muitos homens que fe empregaod na cultura das vinhas. Outra foi prohibir o lancar-fe nos vinhos baga de fabugueiro : havia muitos annos que fe tinha feito hu- ' ma gande plantagaO de fabugueiros, e a fua baga, de- pois de perfeitamente madura , fe colhia, e feccava com grande cuidado, e depois de fecca fe pizava em vinho até fe desfazer, e largar toda a tinta para augmentar á cór do vinho, que naó era taó carregada , porque com as uvas pretas fe mifturavaO muitas uvas brancas; porém efta tinta do fabugueiro , que nos primeiros tempos fa- zia O vinho de huma cór muito agradavel , ao depois degenerava , e tornava O vinho em huma cór como a de tijólo , além de lhe alterar o fabór natural: para efte fim fe mandáraóO cortar todos os fabugueiros em fin- co leguas de diftancia das margens do Douro. A outra foi prohibir-fe a miltura das uvas brancas com as tintas, porque além de naó poderem ter boa cór os vinhos que fe fazem defta miftura, naó podem con- fervar-fe , porque fazendo-fe as fermentacóes de humas uvas em cutferente tempo do das outras, repugna efta mifítura á boa confervagaoO do genero , impondo-fe penas a todos os tranfgreflores defías difpoficóúes. Ainda muites lavradores abuláraO deftas providen- cias mandando vir a baga de mais longe, para com el- la cobrirem a falta de cór dos vinhos y que lhe motiva- ya a miftura de uvas brancas, O que deo motivo a man- darem-fe pelo Alvará de 16 de Novembro de 1771 ar- rancar os fabugueiros em todas as terras das Provincias da Beira, Minho, e Tras-os Montes. Naó baftou ifto para que deixafle de fe continuar em fazer as mifíturas de vinhos brancos com tinto, fub- ftituindo em lugar da baga, que naó havia, para emen- dar a falta de cór do vinho, folhelho de uvas pretas, que fe fazia vir de Val de Befteiros , Oliveira de Con- de , e outros fitios, o qual ainda era mais damnofo aos “winhos do que a mefma baga, por fer de fua natureza 1 aze- 9? MEMORIAS azedo , e attrahir com muita facilidade bolor, e podri- daO, que tarde, ou cedo fe vinha a manifeítar nos vi- úhos. ” Para fazer ceflar de huma vez eftas mifturas, e con- feicóes fe ordenou pelo Alvará de Io de Abril de 1773, que todos os lavradores, que nas vinhas deftinadas pa- ra vinhos tintos de embarque confervaflem cepas de uvas brancas , as enxertaffem logo de tintas. Efta providencia , que por huma vez acabava com eftas mifturas , fería ainda mais util para aperfeigoar a bondade dos vinhos, fe nefta occafiaó fe attendefle pe- Jos lavradores ás qualidades de uvas, que deviaO enxers | tar, para colherem os melhores vinhos. Ás uvas chamadas alvarelba0, pé agudo preto, tin- ta-caO , e foufao fazem hum vinho forte, cuberto, en- corpado y, de bom fabór; o baflardo, e donzelinho Jun tos ás outras qualidades em pequenas quantidades ado- gaO, e fuavifaoO á afpereza do alvarelhaóo, e do foufaó, € lhe augmentaó a fuavidade do cheiro. Deftas caftas he que fe devéra fazer toda a enxer- tia , para com o augmento da producgao dellas fe emen- dar o defeito de muitas outras que te achaó plantadas: porém os lavradores confiderando cada hum por fi, que a differenga dos pregos que fe daó pelos vinhos muito mais finos nad he taó fuperior aos pregos que fe dao pe- los vinhos mais inferiores, que balte para os mover a efcolher aquellas. caftas de uvas melhores , que ordina- riamente fructificaó muito menos, do que aquellas que fazem vinhos inferiores; e vendo ao melmo tempo , que além de fe privarem por aquelle córte dos poftos de uvas brancas , que regularmente fad de maior produc- gao, tinhaó ao mefmo tempo o prejuizo de naó colhe- rem os fructos das cepas enxertadas quatro , ou finco annos , ainda no cafo de lhe pegarem os enxertos, pot- que tantos annos levaO a formar-fe em plantas inteira- mente capazes de fructificar y efcolhérao para a enxertia caítas de uvas y que á forga da fua muita producgaó lhe pos Erc O NOMICA Ss. 93 podeflem de algum modo refarfir a perda que recebiaó;, enxertando das uvas chamadas tourigo y tinta-cofleliad, tinta-borragal, e outras chamadas tintas-grofas , que regularmente fructificaó com muita abundancia y, mas O vinho que fe faz dellas he fraco, e infipido, e confe- quentemente de menos. duragaO. Efte Juizo dos lavrado- res foi errado, e as fuas confequencias devem fer damnos- fas ao confumnmo do genero. Os vinhos de embarque do Alto-Douro vao bufícar O feu confummo a paizes eftrangeiros, aonde neceflaria- mente concorrem vinhos de outros paizes e fe no cón- curfo naó excederem pela fua bondade, diminuirá o con- fummo , e confequentemente Os pregos; e fe excederem na bondade aos outros, augmenta-fe o confummo , e fe- 'guraó-fe os melhores pregos , que actualmente faO racio- naveis para a lavoura, e para O combercio. Sería muito louvavel que todos os lavradores que cultivaó vinhas na demarcagaó da feitoria , fe empenhaf- fem a defterrar por meio da enxertia as más caftas de uvas que produzem vinho máo , lubftituindo-as com os pofítos mais accommodados aos fitios em que tem as Íuas vinhas , fendo efte hum ponto que merece toda a at- tengao , e de que depende naó o interefle tranfitorio de poucos annos , mas O interefle duravel da confervagaó "defte negocio , e a eftabilidade dos pregos, que faz a alma delle. Accrefcendo além difto o folido motivo de que to- das eftas caftas de uvas , que fe introduzíraO com o pre- texto de produzirem muito mais, efazerem vinho mais tinto , faó muito fujeitas a Íeccarem nos annos feccoss, “e a apodrecerem antes de vindimadas nos annos que faó "chuvolos 5 e de mais difto, as fuas plantas y que nos pri- "meiros annos produzem exceflivamente , elgotaO-fe) vab #produzindo varas cada vez mais pequenas, e em pouco tempo vem neceflariamente a morrer, e a deixar a terra "efterilifada , como fe tem obfervado conftantemente com as chamadas tintas de Franca y que faó da mefma nas FP tu- 94 MEMORIAS tureza, e de que já ninguem quer fazer ufo, por felhe terem conhecido todos eíftes inconvenientes. ESA PUTO OS VIDAL Do methodo de cultivar as Vinhas, e fabricar os Pi- uhos : melboramento que huma, e outra coufa tem tido desde o anno de 1757. A Figura do terreno quafi todo inclinado faz que as vinhas melhor plantadas fejaO formadas em gezos de parede , para fazer que a térra fique em efpagos pla- nos amparada pelas paredés , e naó corra pela agua das chuvas , deixando as raizes das plantas defcubertas, e expoftas a feccarem. Cada hum deftes planos tem de huma até tres car- reiras de vinha y conforme a maior, ou menor inclina- gaó da terra, e nas paredes fe planta outra carreira de vinha , deixando-fe-lhe pilheiras por onde fahe a ce- pa , e fe cria fem o rilco de ficar apertada entre as pedras. Os lavradores mais cuidadofos, e que cultivaO per- feitamente as fuas vinhas , feguem efta ordem na fua cultura : Depois de ter cahido toda a folha ás vides, ef- cavaó as vinhas , fazendo huma cóva naó muito pro- funda em roda da cepa, de forte, que fe lhe defcubra mais de hum palmo do que eftava debaixo da terra , 'e as mefímas cóvas fe fazem por toda a terra fucceflivas humas ás outras. Efte grangeio he muito util, porque fe arrancao as raizes das hervas , abre-fe a terra para receber as aguas do inverno, defcobrem-fe as raizes que a cepa tem lans gado na fuperficie da terra, e os poldróes que junto a ellas tem lancgado a cepa , para fe cortarem na poda; porque , cortadas aquellas raizes , que por ficarem mui- to na fuperficie da terra eftao fujeitas a receber deren ia- E CcCOoONOMICA Ss. os fiado calor , e a fazer murchar o frutto , fica a ce- pa nutrindo-fe pelas raizes mais profundas , elivre de fentir taO facilmente o damno do demafiado calor, e cortados os poldróes correm á vide que produz todos os fuccos y que para elles fe dividiriaó inutilmente , enfra- quecendo a cepa , e naó lhe deixando crear perfeitamen- te a vara productiva para O anno. Paflado ecfte utilifimo grangeio, que nenhum. lavra- dor devéra omittir ac menos hum anno entre outro, e A muitos nunca fazem, fegue-fe a poda, que devendo er feita com o maior cuidado dos lavradores , porque della depende muito a confervagaú das vinhas, he de ordinario a coufa que lhe deve a menor attengaó. Se as cepas naó faó bem limpas de todos os pol- dróoes , e fuperfluidades , em poucos annos fe efgotao, e morrem, e ao meflmo tempo fructificaó menos: Íe el- las eftaó pouco vigorofas, nao deve deixar-fe-lhe a vara inteira y devem ficar fómente com hum pollegar , que te- nha fó dous olhos, para que as raizes fe reforcem, e correndo o fucco a poucos olhos, fe criem varas perfei- tas : fe ainda defte modo as naó cria, he certo que a cepa já eftá muito enfraquecida y que fe nao póde efpe- rar que ella fe reforce, e ncítes termos deve enxertar-fe em tempo competente, para fe mergulhar ao depois O enxerto , fendo efte o melhor, e mais acertado meio de renovar as vinhas decadentes. - Nas cepas que eftaó vigorofas nas he menos necef- fario o cuidado, e a prudencia: em nenhum caío fe de- vem deixar muitas varas em huma cepa, por mais valen- te que ella efteja: com muitas varas em huma cepa pó- de alcancar-fe mais abundante colheita , mas arruina-fe a vinha em poucos: annos ; porém fe eftiver demafiadamen- te forte, convem deixar-lhe além da vara hum. pollegar de dous ou tres olhos, para divertir os demafiados fuc- cos , que correndo todos a huma fó vara produziriao fó rama fem fructo , ou fruttos que nad podeñlem fafo- 'nar-fe perfeitamente. Se 96 'MeMmoRaraAS Se as cepas tem pouca diftancia de humas ás 'ouú- tras, he neceffario cortar-lhe parte da vara, para que a muita rama naó embarace inteiramente a entrada do fol. Se a cepa tem langado varas muito fracas, e algum poldraá vigorofo junto á terra, ou no joelho da cepa, naó fe deve deixar efte poldrao para dar frutto, e a va- ra em pollegar , porque o poldraó que fica atrás do pol- degar diftrahe: a maior parte dos fuccos, e os que cor- rem adiante já nao faóO baftantes para fazer criar huma vara perfeita , ficando defte modo a cepa empeorada. Na poda he que fe devem eleger as cepas que haó de ficar para fe mergulhar, e niífto tambem deve haver cuidado : nao bafta fó attender ás cepas que tem muitas varas compridas , e capazes de mergullhar-fe, e as que eftao em fituacaó aonde ha falta de vinha, deve tambem olhar-fe muito á cafta de uvas que produz ; e he efta huma occafiaó tambem , na qual deve attender-fe pelo melhoramento do vinho. Efíte grangeio das mergulhas, Ou camas y como naquelle Territorio lhe chamao , fe coftuma fazer fucceflivamente á poda. Junto á cepa , que fe ha de deitar de cama, fe abre para fima , ou para o lado, e nunca para baixo, huma cova de finco, feis, ou mais palmos de alto, e com a extenfaoO neceflaria , á proporcgaó da grandeza da cepa, e número das pontas, até que todas as raizes da cepa fiquem feparadas da terra , menos a principal, e mais grofífa, a qual deve ficar enterrada , como eftava, e nefta cova fe lanza a cepa de maneira y que fe nao quebre a raiz principal, e depois de lancada a cepa no fundo da cova , feparaO-fe as varas para os fitios em que devem ficar, e fe vai cavando a terra dos lados, e cal- cando junto ás varas , até que quafi fe encha a cova que fe abrio , ficando as pontas das varas fó com dous olhos defcubertos da terra. De ordinario cada huma deftas camas fica Íó com tres pontas; fe a terra he muito forte, e a cepa que fe langa muito grofla , e nova , deixaO-fe-lhe quatro, ou lin- ECONOMICA s. 97 finco pontas. Efte grangeio he muito proprio para fe mul- tiplicarem as vinhas , fuppofto que as cepas que refultao defta operagaó nunca cheguem á groflura, e fortaleza das que fe criaO da plantacaó do bacello; mas he o unico meio de renovar as vinhas decadentes. CRANPR IE NUTEA ONA, Continuagao da mefina materia, O mez de Fevereiro fe entraO a cavar as vinhas, A. NÑ aquellas que tem fido efcavadas : he menor o tra- balho , porque a terra eítá menos dura , e naó he ne- ceflario profundar-fe mais y tendo-o já fido pela abertu- ra das cóvas que fe lhe fizeraó na efcava. Aquella ters ra que faz a divifaó das cóvas he a que fe move para as tapar, e fica elevada em pequenos montes, que ficaá no lugar em que antecedentemente eftavaO as cóvas , re- folvendo-fe aflim terra, e fuffocando-fe a herva que prin- cipia a nafcer das fementes que fe efpalháraó no outo- no fobre a terra. Naquellas porém que nao tem fido excavadas he muito maior o trabalho , porque além de fe ter endu- recido a terra, calcada pela gente da vindima, fe tem augmentado efta dureza com as chuvas do inverno; pro- funda-fe com mais difficuldade, e naó fe podem feparar bem della as raizes das hervas , que ainda fe confervao nos termos de fe reproduzir, o que naó acontece tendo fido as vinhas efcavadas, porque apodrecem as raizes , tendo fido arrancadas no principio do inverno. Além difto, a terra nao he tambem cortada na cava, quea vai deixando em montes huma fobre a outra y como o he na efcava para a abertura das cóvas. A efte grangeio fegue-fe o da erguida , muito utl para o vinho, e para a confervagaó da vinha: ha dous om. III. N tent- 98 MEMORIAS | tempos para o fazer , todos os mais fad damnofos. O primeiro , e melhor he antes de brotar a vinha , por- que fe menea livremente a vara, fem o vriíco de lhe per- der os olhos; e fazendo-lhe a primeira eftaca, que fe mette proxima á cepa, algum embaraco á paflagem do fucco pela vara adiante, puxa mais perto da cepa a me- lhor vara, em que no anno futuro haja de continuar-fe a poda , fem que feja puxada adiante , o que he damnofo á vinha. O motivo , por que affim fuccede y, he porque aquel- la primeira eftaca fuftenta a vara mais levantada do que naturalmente ficaría, ea vara para diante abaixa-fe mais, ficando gemida , como dizem , naquelle lugar; e a dif- ficuldade que alli encontra o fucco para paflar adiante, faz que fejao melhor nutridos os olhos que eftaaó antes da gemidura. O fegundo y he depois que a vinha tem detodo bro- tado , e os olhos tem crefcido algum tanto ; porque nef- ta fituacaO correm menos perigo de faltarem fóra , do que quando brotao ; e fe as vides eftao já mais frondo- fas, O feu pezo embaraca, ejJá tem toniado a direccao, que ao depois fe lhe faz mudar com damno das novas plantas, e mefmo do fructo que já eftá crefcido. Met- tida a primeira eftaca perto da cepa, do modo que fi- ca dito, fe S mette Outra no meio da vara ) OU mais de huma, fé ella he comprida, mais baixas do que a primeira, e“ outra ainda mais baixa na ponta , as quaes ÍaO efpetadas na terra, e fe lhe ata a vide com vimes. Na vinha erguida , além do beneficio da vinha em lhe fegurar vara para O anno futuro y ha os outros de ficarem as uvas levantadas do chaó , com menos perigo de apodrecerem, ede ferem mais bem vifitadas do fol, para alcangarem huma perfeita madureza. Depois de erguidas as vinhas, fegue-fe o feu ulti- mo grangeio , que fe chama redra , que confifte em ca- var de novo a terra, chegando hum maior monte della | para a cepa , e deixando rafa a outra que na cava ti- | nha ficado formada em pequenos montes, ; E[- EÉCONOMICA s 99 Efte grangeio he muito util, porque de novo fuf- foca toda a herva que tem rebentado depois da cava, € inflammaria as uvas fe a deixaflem crefcer, e amadu- rar ; e além diflo, efta volta da teira lhe faz coñfervar a fua frefcura por mais tempo, e faz que as uvas fe- ja mais bem creadas, e que as varas novas fe nutraó melhor, e fiquem mais reforcadas para a producgao fu- tura, nao fe dividindo a fubítancia da terra para a nu- trigao das hervas que fe arrancao, e, fuffocao. Defte modo he que os bons lavradores cultivao as vinhas, e ainda alguns que faó mais 'cuidadofos da fua confervagaóO , e augmento , coftumaó desfazer-lhe de au- nos em annos em O tempo do inverno as paredes dos geios , mandando-lhe abrir novos alicerces , e fazendo-as em outros fitios diverfos daquelles, em que anteceden- temente eftavaO. Efta operacaO he muito difpendiofa y porém muito util 5; porque além de extirpar as raizes das plantas ef- tranha$ , que tem nafcido pelas paredes , e que dellas Íe naó podem arrancar por meio das cavas, fe dá hu- ma grande baldeagao á terra, O que nas vinhas fem- pre he util , e concorre muito para que ellas fe reno- vem. No decadente eftado em que fe achava a agricultu- ra das vinhas do Alto-Douro, antes do anno de 1757, acontecia , que os lavradores pouco mais podeflem fa- zer ás fuas vinhas, do que podallas, e cavallas: ape- nas alguns , “que tinhaS rendas eftabelecidas em outros generos y as cultivavaó mellor , langando-lhe camas, e erguendo-as ; e outros intentavao emendar a falta da cul- tura com os eftrumes que lancavao nas vinhas para au- gmentar a fua producgaó. Depois do dito anno, á medida que os pregos fo- 1aO augmentando , fe foi augmentando a cultura, e ho- je a maior parte dos lavradores tem tomado bom cui- dado della. A introduccaó de enxertar as cepas y que naquelle N ii tem- os MEMORIAS tempo era ou inteiramente ignorada, ou quafi defconhe- cida , tem concorrido: muito para o augmento da boa cultura das vinhas; e aquelles lavradores, que por al- guns annos fucceflivos continuao a cultiva$ as fuas vi- nhas do modo que fica expofto, conhecem na colheita o lucro que anima a continuagaó do feu trabalho. Efítas operagoes tao multiplicadas parecem á primei- ra viíta augmentar muito a defpeza da cultura; porém fe os lavradores penfarem bem fobre hum cálculo ju- diciofo , ainda fem attender ao interefle do augmento das fuas vinhas y, e da produccao , feraO obrigados a confeflar, que nao he taó grande, como fe lhe repre- denta , O augmento da deípeza ; porque huma vinha que he fómente cavada todos os annos , attendendo á maior dureza da terra, e ao embaraco das hervas, e das rai- Zes, pouco menos homens levará de cava y do que le- vará na efcava, cava, e redra, fe andar bem cultivada com a terra fempre molle y facil de mover-fe, e lim- pa das hervas, e raizes y que fervem de hum grande embaraco ao cavador. ; GA PAIO ENO: aia Continuayad da mefma materia. Colheita , e fábrica do vinho he o ultimo, e prine cipal trabalho do lavrador; o marcar o tempo coin- petente para a vindima, que a todos parece muito fa- cil, naó tem pouca difficuldade. Se as uvas faO vindimadas antes da fua perfeita ma- dureza, fica o vinho fem a forca neceflaria, com de- mafiado humor aquofo, e com acidos de mais, e cor- re o rifco de fe corromper y, fazendo-fe chóco y, ou vi- nagre. Se ECcCOoONOMTrCA s. “TOI -— Se as uvas tem alcangado huma demafiada madure- za, aparte, que os Chymicos chamaO múucofa , fica com demafiado oleo , e fem baftante quantidade de fal aci- do , e corre o vinho o rifco de fe fazer gordo , ou agro-doce. Para bem fe conhecer o tempo conveniente para a vindima y he neceflario entrar bem no conhecimento de que o mofto que feefpreme das uvas naO he outra cou- Ía mais do que agua , em que faó diflolvidas huma par- te aflucarada y ou mucofa, huma parte extractiva, e hu- ma parte colorante. f ; A parte mucofa he fobre que a fermentagao faz os -feus effeitos 5 as outras duas ficaO intactas y e faO as que ao depois daó ao vinho a cór, e o goftó fingular, que differenga os de hum terreno dos do outro. A parte mu- cofa he compofta principalmente de oleo , de terra, e de hum fal acido : na fermentacao eftes principios fe defunem , e por esforgos ulteriores fe unem ao depois; mas em huma nova proporcaó o oleo, e o fal acido formaó o efpirito de vinho 5 o-oleo, o fal, e a terra formao o tartaro y ea tudo ifto fica reduzida a parte mucofa : desde entad pafla a fer o mofto, 'ifto he, agua, que além da parte extractiva y e colorante y, contém ago- ra efpirito, e tartaro. Por iflo he necefílario todo o cuidado para marcar O tempo conveniente de vindima 5 porque fe as uvas nao eftao ainda bem maduras) nao tem aperfeigoado a arte mucofa , e reduzido a aquofa á quantidade necef- daria. Se tem murchado demafiadamente pela excefliva ma- (dureza , tem-fe evaporado a agua neceflaria para a dií- dolugao dós principio. y tem-fe enrefinado o oleo, e já nem das uvas, nem dos feu pés', fe póde extrahir o tal acido neceflario para formar o efpirito, e O tartaro. O tempo mais conveniente para evitar eftes males por huma boa vindima y he quando os pés das uvas co- mMmegaoó a murchar-fe, e as pelles dos bagos a contrahir- fe , fendo efte O final mais certo de que as uvas toa To2 MEMORIAS chegado á fua perfeita madureza, e vaó declinando pa- ra a exceflfiva, que he taó damnofa ao vinho, como a falta della. A feitoria do vinho he muito laboriofa nefte ter- ritorio.; a conduccaó das uvas para os lagares dá hum grande trabalho, por caufa dos máos caminhos , por onde ellas devem fer conduzidas. Depois de cheio, o lagar de uvas entra dentro hu- ma quantidade de homens , proporcionada á grandeza do lagar, para pizar as uvas, e mettellas a vinho : a maior quantidade de homens poflivel que fe mette nos lagares , em quanto o vinho naó entra a ferver com for- ca, he muito util para a bondade do vinko ; porque ef- ta he a eftagao em que as uvas fe deixao levar ao efiro do lagar pelos pés dos homens para fe efmagarem bem, e fe lhe extrahir a cór da cafca y e o accido, e forga dos pés das uvas : em fervendo o mofto com toda a for- ga, menos homens baftaó para continuar na factura do vinho y, que continuadamente trabalhaO por tres dias fuc- ceflivos de dia, e noite. Muitos lavradores lhe tiraó os homens todas as noi- tes, depois que elle ferve , desde a meia noite até de manhaá , no que fe tem experimentado beneficio para o vinho , pois fe obferva que defte modo fica o vinho mais encorpado , mais carregado de cór, mais forte, e com menos dogura. No tempo antecedente , em que dominava o gofto de vinhos doces, naoó fe davao ao mofto no lagar mais de quarenta e oito horas , e havia hum grande cuidado de que o pé naó levantafle tempo algum, fenaó pouco antes de fe abrir ao lagar, para fe fazer a feparagao do líquido , e naó fahir mifturado o pé. Depois que o gofto mudou, daoó-fe inftinétamente ao mofto fetenta e duas horas de lagar, para com a conti- nuagao do trabalho fe desfazer mais a cafca para augmen- tar a cór, e fe extrahir mais dos pés das uvas a aípe- reza que delles fe communica ao vinho. 5 o | | | EUONRO MNE DA ds 103 s# Porém ha erro nefta indiftincgaó : nem todos os vi- nhos podem com o mefmo trabalho no lagar: o modo de conhecer o trabalho com que póde o vinho, he pe- lo augmento , eftado, e oruedns da fervura : ella faz elevar O vinho no lagar até-huma certa altura, em que fe conferva por algum tempo , e depois entra a dimi- nuir : quando fe vé diminuir, he o tempo em que a fer- vura vai perdendo a fua forca, e entaO fe deve tirar o vinho do lagar; porque fe fe deixa abatter muito no la- | gar a forga da fua fervura, falta a que lhe he necefla- ria, para nos toneis fazer todos os esforzos da fermen- tagaó perfeita, e fica O vinho neceflariamente menos bom , do que ficaria fe fofle no tempo devido mudado do lagar para o tonel; de forte, que fe no lagar fedá mais tempo de trabalho ao vinho, do que aquelle que lhe convem , logo fe vé que tirando-fe os homens para lhe abrir, elle nao póde levantar bem o pé aflima por falta de forca. Depois de envafilhado o mofto nos toneis fe lhe langa agua-ardente, e ifto muitos lavradoses o fazem fem difcernimento algum. A agua-ardente lancada na fervura ao mofto diminue-lhe a fermentagaó 5 'e fe he em mui- ta quantidade y chega a fufpender-lha. Efta diminuicaó da fermentacaO póde fer muito da- mnofa ao vinho, e fazello gordo y ou agro-doce : o mais feguro he nao lancar agua-ardente na fervura ao mofto; porém a fazer-fe , deve fer com intelligencia. Se o mofto abundar muito da parte aquofa, e que a parte mucofa feja em pouca quantidade, e tenha me- nos 'oleo do que he ueceflario para lhe formar o efpi- rito de vinho , e tiver demafiados acidos, que' no vi- nho pouco efpirituofo defcobrem hum goflto defagrada- vel, he ocafo em que he conveniente fupprir eftes de- feitos com alguma agua-ardente na fervura y porém fem- pre deve fer em pouca quantidade. Se a parte aquofa he pouca, e a parte mucofa do- mina , contendo maior porgaú de oleo , do que de aci- TOR MEMORIAS cidos y naó fe deve abfolutamente lancar aguardente na fervura do motto. Depois de fe finalizar a fermentagao he util o lan- gar agua-ardente no vinho, porque já nefle tempo nao póde preverter a ordem dos principios y € augmenta a forca do vinho , concorrendo para a fua confervagaod 5 mas deve attender-fe a que feja fem defeito algum, por- que todos os que tiver communica ao vinho com augmens to 5 e que nad feja em tanta quantidade , que o feu fía- bór fobrefaia ao do vinho. Por iflo os bons lavradores lha lancao de dias em dias em pequenas quantidades, pa- ra que a prova lhes enfine, fe haó de langar-lhe mais, ou fe he balftante a que já tem. E RARBIO ULE Continuagad da mefima materia. O S vinhos para ramo naó levas o mefmo trabalho no lagar ; naó porque muitos daquelles que ficárao fóra da demarcagaó da feitoria nao fejaO fufceptiveis del- le, mas porque tanta defpeza naó cabe nos limites do feu prego y e por efta razaó fica muito vinho do Alto- Douro privado do beneficio , com que podería fer mui- to fuperior na qualidade. Só os homens que faó baftantes para pizar as uvas, faó Os que fe mettem nos lagares de vinho de ramo, e pafladas vinte e ato horas de fervura no lagar , fe lhe abre para o envafilhar, deixando-o -nos toneis inteiramen- te aos esforgos da natureza ; porque os pequenos pregos da venda naó animaó os maiores beneficios. Nos tempos antecedentes ao anno de 1757 poucos lagares fe conheciaó no Alto-Douro , que excedeflem de 4 até 8 pipas, e os toneis eraO regularmente das mef- mas grandezas ; porém hoje huns e outros vao quafi de E CON O MU CAIS. 105 de 8 até 2O pipas, e mais , e niíto ha grande utilida- de para a qualidade do vinho , porque etta fe augwmen- ta muito pelo ajuntamento de grandes quantidades , tan- to nos lagares y como nos toneis. A regra ordinaria do número dos homens, que fe mettem nos lagares de vinho de feitoria , he de dous homens para cada pipa de vinho, de forte, que em hum lagar de 8 pipas entrem dezefeis homens, e depois de entrar o moito no augmento da fervura, fe lhe póde di- - minuir huma terca parte dos homens. De tudo o que fica dito neftes quatro Capitulos fe conhece bem o melhoramento y que desde o anno de 1757 tem tido o methodo de cultivar as vinhas, e fa- bricar os vinhos. Suppoíto que o augmento, que fetem introduzido nos precos, fivva de obftaculo para que todos os lavra- dores polílaó animar-fe a profeguir no augmento da cul- tura das fuas vinhas y he incrivel o número de gente que occupa a fábrica do Alto-Douro. Pelo cálculo mais racionavel, de'que a terga parte do producto dos vinhos defte territorio íe confome na fua fábrica, vem a oOccu- par-fe nella diariamente mais de vinte mil homens: a maior parte deftes, por infelicidade da nagao Portugue- za , faó do Reino de Galliza, os quaes merecem de or- dinario a preferencia dos lavradores pela fua humilda- de, e fujeicaó ao trabalho, e porque fe contentaó com alimentos menos difpendiofos. Por efte modo fe extrahe huma grande porgaó do rodutto do Alto-Douro para o Reino de Galliza; naó e ifto porque Portugal naó tenha gente de fobejo para efta fábrica, porque no anno de 1762, em. que a gente de Galliza naó paíllava a Portugal, defceo tanta das mon- tanhas para a vindima defte territorio , a qual-occupa mais de quarenta mil pefloas , que parte della voltou para a fua terra, fem ter quem a occupafle, e os jornaes fo- raó mais diminutos do que em outro algum anno y quan- do os lavradores temiaó que , além de fe augmentar, Tom. III. O nao 166 MEenMmnOoRTIAS) nao tiveflem gente baftante para a vindima y he fim pes la vruinofa indolencia, e perguiga dos Portuguezes. “A falta de concurrencia de jornaleiros , e a necef- fidade que ha de fazer a maior parte dos grangeios em- tempos certos, tem produzido o augmento dos Jornaes, e das mais defpezas da cultura, de que faó fempre oris gem os jornaleiros Portuguezes em detrimento defte ter- ritorio, eutilidade de Galliza. Antecedentemente era elta a ordem dos jornaes : des- de o fin da vindima até 25 de Margo a toftaó por dia, e alimentos menos difpendiofos, excepto o paó, o qual' fempre he por conta do jornaleiro : desde 25 de Marco: até o fim de Abril a feis vintens, e melhor alimento : desde o fin de Abril até o fim de Maio a fete vin- tens, e hora para defcango da fefta: e no mez de Ju- nho , como o calor naó permitte que: fe trabalhe todo O dia y; a quatro vintens até ao Jjantar : ma vindima a feis vintens por dia , com obrigagao das meias noites -do lagar. ; Agora toda efta ordem fe tem alterado”: no princi pio de Fevereiro querem a feis vintens, e melhoramens to de 'comida'; no principio de Margo a fete vintens 5 no 'principio de Abril a oito , e nove vintens , 'e hora para defcango: (da felta je. na vindimana Íete.,'. oito e nove vintens: e de outro modo defamparaO O fervigo , e os lavradores que naó tem na propria terra outros jor- naleiros com quem fubltituao o lugar daquelles, ea que infta a neceflidade de adiantar o feu fervigo, -faó obri- gados 'a pagar aquelles exceflivos Jjornaes. Elte objecto naó merece menos attengaó , do que a lavoura do Além-Téjo , para a qual fe deo, pelo Decre- to de 15 de Junho de 1756 y, providencia, em que fe obvia o augmento do jornal coftumado dos ceifeiros , “e fe determina o modo , pelo qual nao faltem os ceifeiros neceflarios naquella Provincia y nem defertem do fervigo que coimecaó. Huma providencia femelhante áquella, Ótean us sa E CONO MI CÍA S. 107 dada á natureza do terreno y que impedifle o áugmento de jornaes , reduZindo-os ao eftado antecedente y que pro- hibifle aos lavradores fervir-fe para a fua grángearia com homens que nao foflem do Reino, ou domiciliarios nel- le; e que ao 'mefimo tempo provefle a que a gente fu- perflua nas tres Provincias da Beira y Minho , e Tras-os Montes , viefle fervir ao Alto-Douro nos tempos com- petentes para o grangeéio, e colheita das vinhas , fería de huma grande utilidade a efte territorio, augmentaria a riqueza do Reino, e defterraria delle em grande par- te'a mendicidade y e 'o ocio taó nocivo a qualquer na- cao. CA: PLIADÉ UI O GIXTE Em que fe trata das Inflituigóes da Companhia Ge- ral da Agriculiura das vinhas do Alto-Douro. A S Inftituigóes da Companhia , formadas em 53 pa- ragrafos , foráó confirmadas por S. Mageftade : nel- las, desie 0 G 1, até 20 $ 9, fe eftabelece o corpo politico que fe deve formar para o Governo da Com- panhia , que vem a fer huni Provedor, doze Deputa- dos , feis Confelliciros y '€ hum Secretario y e ao arbitrio, e eleicaó deftes hum Defembargador Juiz Confervador, hum Defembargador Fiífcal, hum Efcrivaó, hum Meiri- nho , Caixeiros y Feitores y Adminiftradores y Commifla- rios , Efcriváes deftes, e os mais Officiaes , que julgafí- fem neceflarios para o bom governo da Companhia. Nao fe póde conceber huma adminiftragaó mercan- til menos fimples, e mais complicada : tanto Deputado , tanto Confelheiro y Caixeiros fem conta y, Feitores, Com- miflarios, e Efcriváes delles, e outros Officiaes , fazem huma adminiftragao difpendiofa de mais de cem mil cru- zados, fó pelo que refpeita a interefles pefloaes, e orde- nados y o que he inteiramente contrario á fimplicidade Oi "— mer- xro8 MEMORIAS mercantil y e faz diminuir O prego das compras, e aú- gmentar os das vendas fem lucro dos Accioniítas, e com damno do Commercio. Gafas particulares de negocio fa- zem circular maiores fundos “com hum chefe', tres, Ou quatro caixeiros , e poucos feitores , e cominiflarios. Hum corpo taó gigantefco he mais difpendiofo y mas naó he mais activo: as multiplicadas potencias augmenta?-lhe a defpeza y mas nao. lhe augmentaoó a celeridade. Se ellg fofle finplicado. o mais que fofle poflfivel, fería ifto: mui- to util , porque fe podería achar melhor extracgió ao genero com a commodidade do prego , diminuidas taó groflas , e defneceflarias defpezas. No $. to fe declara qual feja o principal objecto da formacaó da Companhia : nelle fe diz, que he ,, fuf- y) tentar com a reputagao dos vinhos a cultura das vi- y has, e beneficiar 20 melmo tempo o commercia, 5 que fe faz nefte genero , eftabelecendo. para elle hum y prego regular, de que refulte competente convenien- 5, Cia aos que O fabricaúO. , e refpectivo lucro aos que y; nelle- negoceaO , evitando por huma parte: Os pre-- 5; GOS exceflivos , que, impoflibilitando-o confummo , as- ,,y Tuinaú o genero 3 evitando pela outra parte que efte 5, fe abutta com tanta decadencia , que aos lavradores 5; NaG- pofla- fazer: conta: fuítentarem. as defpezas annudes, y, da fúa agricultura. E fendo neceflario para eftes uteis .; fins eftabelecer os fundos competentes ,. ferá O. capita? y, defta Companhia- de hum miihaóo:, e duzentos mil cruz y. Zados 2... para que a Companhia pofla: aíffun cumprir 3, com as obrigagóes de cccorrer ás urgencias da: lavous ,)y Xa, € Commezcio. ,, Ifto ouvido aflim por certo que faz lembrar lo- go huma fociedade economica de bons patriotas , af- ociados para foccorro , e auxilio dos. feus: compatrior tas. "Mais confirma ifto melimo o: $ tr, em: que fe diz . / . que ,, pelo fobredito fundo empreftará a Companhia aos la- ES E coNOMmICA $. IO3 “y, lavradores neceflitados , naó fómente o que lhe for ;y; preciío para o fábrico, e amanho das vinhas, e co- y; lheitas dos vinhos, mas tambem o que mais lhes con- 5, Vier para algumas daquellas defpezas miudas y, que a 5; ConfervagaO da vida lumana faz quotidianamente 1n- y; difpenfaveis, fem que por eftes empreftimos lhes leve y; Maior juro que O de tres por Cento ao anno 5 com tan- y; to que os referidos empreftimos naó excedaó ameta- y; de do valor commum dos vinhos , que cada hum dos sy; taes lavradores, cofítuma recolher. ,, Mas nem tudo he o que parece: o fundo de hum milhao , e duzentos mil cruzados, depois fe ampliou a mais feiscentos mil cruzados pelo Alvará de 16 de De- zembro de 1760 no $ 7, attendendo ás deípezas, e empates com as fábricas das aguas-ardentes , fazendo hum total de hum mi'haó , e oitocentos mil cruza- dos , tem fido todo applicado para o unico fim do feu commercio exclufivo das tavernas do Porto , e teu- vas adjacentes 5 do vinho que fe navega do Porto para o Brafil ; de algum de feitoria y que compraó para re- vender no Porto aos commerciantes exportadores 5 e das aguas-ardentes. He bem verdade que tem-fe feito alguns empreítimos dos que fe prometiem no $ 11.5; porém ifto he poucas vezes , e de annos em annos , excluin- do-fe centenas de pertendentes , para fe hum fervir, OU Outro. O eftabelecimento de hum prego regular aos vinhos nao tendo fido apoiado fobre fundamento algum folido Na que o fizefle eftavel, e firme, como fe moftrou no cap. 5. defta Memoria , nao fe póde dizer que fofle tambem o fim defta Companhia : conhecendo-fe bem por tudo ií- to, que o fim primario, que fubftancialmente fe defco- bre na formagao deíta Companhia , foi o interefle do feu proprio commercio , pretextando cont apparencias ef- pr aos privilegios exclufivos que alcanzou para O azer. Nos TÍO MEMORTAS Nos $$ 12 e 13 fe concedem á Companhia os por- tós do Brafil para o feu Commercio , e le manda efta- belecer hum fundo de dez mil pipas de vinho bom, e capaz de carregagaO pará O provimento dos ditos por- tos , deftiñando-fe-lhe no $ 19 Os das quatro Capitenías de S. Paulo, Río de Janeiro, Bahia, e Pernambuco , com o privilegio exclufivo para todos os vinhos, aguas- ardentes , e vinagres, que fe cárregarem da Cidade do Porto para as ditas quatro Capitanías: € he para notar, que difpondo-fe no dito $ 13 para os portos do Brafil vinho bom , e capaz de carregagaó , difpondo-fe no $ 29, que fe faca huma inteira , € abloluta feparacaó dos vinhos das cÑ do Alto-Douro por meio de huma de- marcagaó para O embarque da America , e Reinos ef- trangeiros 3 e difpondo-fe no $ 33, que a Companhia pague inalteravelmente todos os vinhos que tirar para O Íeu embarque pelos pregos de 25, e de 2ofooo téis, ou de 25 , e 3OÑC0O réis, que ao depois pelo Alvará de 17 de Outubro de 1769 fe palláraó os de 2O para 25, Os de 25 para 3O, e os de 30 para 3600o téis, com tudo a Companhia o naó obferva. Como defta demarcacaó da feitoria ficárao excluidos muitos vinhos finos, que ficárao com o deftino de ramo, ella Os compra para o commercio do Brafil pelo prego de ramo, e naó carrega os vinhos de feitoria , que tem fempre ficado inteiramente dependentes do confummo que lhe quer dar a Inglaterra , nao fendo proprios pela dn demafiada fortaleza para fe beberem no Reino, e nao fe exportando para o Brafil. CA- ECONOMICAS. OA REAL DR IA EN O AA Continuagao da mefma materia. kK Ste Commercio dos vinhos do Alto-Douro para o Lu Brafil foi o que mais occupou as viftas dos funda- dores defta. Companhia : elle fez a materia dos $$ 12, DS AOS TA NE DATO BNV2O SETE O 2A RATURA 25O PA er AÓ Nos 33; “E543 16,76: 17,e trata dos Íretes , e car- regacaó dos vinhos para o Brafil. No $6 18 fe eftabelece a commiílao de feis por cen- to pela adminiftragao do Provedor, e Deputados da Com- panlia , dos Feitores que nella fe empregarem no Bra- fil , e ordenados dos caixeiros que tiver na Cidade do Porto contados nefta fórma : dous por cento fobtre o em- prego , e defpezas feitas pela Companhia na Cidade do Porto 5 dous por cento nos pregos da venda ; e dous por cento no producto dos retornos , e deflpezas na Cidade do Porto e que com eftes feis por cento ficará fatisfei- ta toda a adminiftracaó que pertence ao commercio , fem ue a Companhia o obrigada a outra alguma defpeza En natureza 5; e que fó fin o ferá das que lhe reful- tao dos ordenados dos Miniftros, e dos mais Officiaes , que haó de compór o feu corpo politico, e economico, como tambem dos alugueres das caías , e armazens ) que tudo correria por conta da Companhia. Eis-aqui hum dos effeitos da pouco fimples admi- niftragao da Companhia : efta commiflaod naó he excefli- va , attendendo-fe á muita gente que fe occupa' nefta adminiftragaó y mas ella faz crefcer tanto os pregos das vendas y, que difficulta o confummo. Os $$ 19 e 24 contém o privilegio exclufivo para a introducgeao..de vinhos , aguas-ardentes , e vinagres car- Fxegados na. Cidade . do Porto “para os portos das ditas qua- YIZ “MEMÓRIAS quatro GCapitanías de S. Paulo, Río de Janeiro, Bahia, e Pernambuco. O motivo que no dito $ 19 fe propoz para a con- ceflaó defte privilegio , foi para que a Companhia fe pudeffe fuftentar, e tivefle hum lucro compeníativo dos encargos, a que por efta fundagaó ficava Ífujeita: quaes fejaó eftes encargos he difficultofo de adivinhar : ella naó fe obriga a comprar todos os vinhos que ficaflem por vender aos outros commerciantes y que efte fería o en- cargo que merecefle lucro compenfativo pela utilidade que deveria produzir: e o encargo dos emptreftimos, a que fe obriga no $ 11, tem fido taó mal defempenha- do , que naó merece huma compenfacgaO taó confide- ravel. No $ 2o fe eftabelece o lucro certo que a Compa- nhia deve ter fobre as aguas-ardentes, vinagres, e vi- nhos ; e na verdade fe eftabelece de maneira, que nao póde adiantar-fe o confummo , porque ficaó os pregos da venda exceflivos. O vinho, por exemplo , com 16 por Ico de lucro, 4 por IOO de commiflao, e 1 por 1OO de cofre fobre o cufto principal, vafilha y carreto, embarque , direitos de fahida , e entrada , fretes, e mais defpezas , que com el- le fe fizer até o acto da venda, conftitue huma fomma que difficulta o confummo. Senao foffe efte privilegio exclufivo, e falta de li- berdade de commercio , muitos negociantes particulares exportariaé vinhos do Alto-Douro para oe Brafil; e como fazem as fuas operacóes mercantiz menos difpendiofas , fe contentariad de menos lucro, e menor commiflaoO: at- tendendo tambem ao lucro dos retornos , e vendendo-os menos 7, Ou $ por ICO, Íe augmentaria muito O con- fummo em beneficio da lavoura , e do commercio. Os $$ 21, 22, e 23 prefcrevem as fórmas das ven- das no Brafil. No $ 25 fe exceptua do privilegio exclufivo algum lavrador, que por fe'naO querer accommodar aos pregos de- ÉCONOMChKS. XI3 'determinados no $ 14 , queiraó navegar os vinhos da fua lavra para os ditos portos do Brafil; porque eftes o poderáo fazer pela direcgaó da Companhia y fazendo por fua conta todos os gaftos até os vinhos fe porem a bor- do, e pagando a commillao de 6 por Ioo fobre o em- porte da carregacaó , e do retorno : alguns lavradores fe aventuráraO a aproveitar-fe defta liberdade, mas o fuccef- fo deftes conteve a todos os mais para fe nao quererem aproveitar della. Duas coufas ha que notar nefte $ ; "huma he que os precos eftabelecidos para os vinhos do commercio do Brafil eraó os do $ 14 , e ifto he o que fe naó tem obfervado ; a outra he dizer-fe que ,, por iflo meímo ue o dito lavrador fe naO quiz accommodar aos pre- cos eftipulados naquella occafiaóO , ficará excluido para que a Companhia em nenhuma outra feja obrigada a tomar-lhe os feus vinhos aos pregos referidos. ,, Naó ha comminacao de pena mais ociofa. Se a Com- panlúa em cafo nenhum fe obriga a comprar vinhos al- guns , de que he o lavrador excluido por efta pena ? Ií- to he dara entender, que a Companhia tem a obriga- gaó que naó tem , e lembrar o que deveria pór-fe em prática para a eftabilidade dos pregos, e beneficio da la- voura. No 6 27 fe declara , que a Companhia pagará de todos os generos do commercio do Brafil os mefmos di- reitos, que coftuma pagar qualquer particular: e no $ 36 fe trata do modo da arrecadacaó do efpolio dos Fei- tores 5'e€e Adminiftradores da Companhia do Brafil , para efta fer fempre inteirada das fuas contas com preferen- cia a qualquer outro credor: e eis-aqui O que mereceo tanto cuidado na Inftituigcaó da Companhia j do qual fe conhece bem, que hum dos principaes' móveis della foi o interefle defte commercio. 4 Tanto itto he certo , que toda a mais exportagao 'fe trata com a maior indifferenga , e que ainda na Inífti- Pitom. TI. B tui- 114 MEMORIAS tuigaO fe nao cogitava de alguma outra com certeza; pois no $ 26 fe diz que ,, fendo que á Companhia pa- y; rega util extender o feu commercio dos vinhos, e aguas- 5; ardentes aos paizes eftrangeiros na Europa, o poderá y; fazer, pagando os direitos, que no mefmo commercio y; fe achaó eltabelecidos. ,, Efte modo de fallar moftra.y que por entao fe em- prehendia fómente o commercio para O Brafil, e que (ó delle fe tratava. CAPITULO XIV. Continuagao da mefma materia. N Os $$ 14, e 33 fe marcao os pregos, que deve A.N ter cada pipa de vinho , como Jjá fe difle no Cap. 5. delta: Memoria y aonde ao melfino tempo fe notou a fua falta de firmeza y e igualdade. Ó Os vinhos de ramo, que faó deftinados para as ta- vernas do Porto, e terras adjacentes 5 e para nellas fe venderem a vintem cada quartilbo , que faó os maduros dos altos de fima do Douro , forao taixados para O pre- go de 12Ño0o réis no dito $ 33 5 mas efte prego, que nao fería capaz de tirar da miferia aos lavradores y que foflem obrigados a viver fó defta qualidade de vinhos, foi reduzido ao prego de 1of5oo réis, e ainda def- tes fe lhe diminuem as defpezas do carreto , desde a adega do lavrador até ao caes do Douro , em que fao: embarcados , que faz abater tanto o prego, que o lavra- dor embolga , que eu naú fei como ha quem continue na cultura defta qualidade de viahos; pois fendo huma grande parte delles produzidos em terra de tao pouca producgaó , como as deftinadas para embarque, e fendo a fua cultura igualmente difpendiofa , ñaO póde ficar hum producto líquido y que compenífe os trabalhos do lavra- dor, EÉCONOMIrCA s. vs dor, o qual eftá impoflibilitado a bufcar melhor pregos porque paílando a Companhia pelos feas Commiflarios a fazer logo depois da vindima hum arrolamento rigó” rofo de todos os vinhos defta qualidade, os abarcaó to” dos para efcolherem nelles os melhores para as fúas car” regagóes do Brafil, e provimentos das tavernas da Cida” de do Porto, e mais terras, em que lhe foi dado pri” vilegio exclufivo , que annualmente confomem 17 oo pipas, e para deftinarem o refto a fer deftilado nos feus lambiques por pregos muito inferiores ; chegando a tan- to em alguns annos que nem deixaó aos proprios lavra- dores aquelle que lhe he neceflario para o gafto da fua cafa , e da fua lavoura. Naó ha dúvida que ao fazer-fe a demarcacaó das terras para feitoria , ficáraó alguns fitios dos encluidos deftinados para os pregos 'de 19200 réis, e de 15 DOC téis, para nelles fe comprarem por eftes pregos os Vi- nhos neceflarios para a carregacaó do Brafil y mas eftes pregos , fe em alguns. annos fe chegaó a dar, nunca che- gaó á decima parte dos que fe produzem nos fitios, que para iflo foraó deftinados : e' ainda nos annos em ue a Companhia os naó abarca todos , os lavradores f: tem por affortunados em lhos vender pelo prego de. tof500 réis, pois como naó ha concurrencia de com- pradores , fe efcapaó defta forte , calem na de ire para os lambiques por pregos muito menores y exceptuan- do algumas pequenas quantidades , que os almocreves tranfportaO para a Provincia do Minho, e para a Pra- ga de Almeida, e terras de Sima-Coa , que he a unica dahida que lhe fica livre. | | No $ 28 fe concede á Companhia o privilegio ex- clufivo y para que ninguem pofla vender ao ramo vinho que naó feja de conta da Companhia na Cidade do Por- to, e terras circumvizinhas em tres leguas de diftancia, que pelo $ 6 do Alvará de 16 de Dezembro de 176o foi ampliado, e extendido a quatro leguas de diftancia. Kíte privilegio pr neceilario nos termos ú em “xIÓ “MEMORIAS em que eftá formalifado éfte negocio, porque de outro modo fería inevitavel a miftura “que fe podia fazer nos armazens do Porto de vinhos inferiores com os de em- barque : mas a Companhia devevia fer refponfavel: de dar todos os annos diante de algum Miniftro, para iflo def- tinado , conta de todas as fuas compras de vinhos, e dos feus refpectivos' confummos , para fe purgar da fuí- peita de que ella mefma faca eftas mifturas 5 pois naá fendo trefponífável a alguem da fua conducta, pode im- punemente fazer aquillo mefimo que apparentemente moftra querer evitar. O certo he que , tomando-fe algum conhecimento fobre efta materia no anno de 1777, Íe achou que nos vinhos- de feitoria que a Companhia comprava y andava fempre o número de pipas da entrada certo com o nú- mero de pipas da fahida 5 quando he cálculo “averigua- do , que eftes vinhos pela purificacaó que fe lhe faz nos armazens , e pelo tempo que fe demoraó nelles, para fe porem' nos termos de fe embarcarem , diminuem huma nona parte. He evidente , que fendo o número da fahida jufto' con o número da entrada; fe tinha fempre introduzido huma nona parte de miftura , procedimento efte que, fe he certo y como parece, he damnofifimo á lavoura, e á reputagao deftes vinhos 5 pois tomando a Com- panhia nos $$ 29, 3O, e 33 tantas medidas para que ninguem polla fazer eftas mifíturas pelo prejuizo y que com ellas fe podia caufar á bondade, e pureza do vi- nho , nao parece de razad que ella fofle a mefma que tranfgredifle em lucro feu as providencias, que tan- to tem acautelado para com os mais. A principal medida que fe tomou. para evitar as mifturas , he o Tombo recommendado no $ 29, para que , calculando-fe a producgaó de cada fazenda pelo calculo medio de finco annos antecedentes y naó poflaó os donos dellas fer admittidos a vender mais quantida- de, do que a calculada no dito “Tombo. EF ECONOMICAS. 117 Efta providencia, que em virtude do Alvará de 16 de Janeiro de 1768 foi executada fem fructo algum, ou confequencia util, a refpeito dos terrénos de ramo, he novamente ordenada no $ 1 do Alvará de 16 de Novein- bro de 1771, a refpeito dos terrenos de feitoria y man- dando-fe nelle, que logo fe figa o dito 'Tombo á cuí- ta dos donos dos predios calculados. A execugaód defte projecto, concebido á tantos an- nos , foi refervada para O tempo em que menos de devia efperar por dous motivos; hum por fera Junta actual ue adminiftra a Companhia, a mais illuminada que tem 'havido ' desde a fua fundagaó y e que com mais acordo, e zelo tem folicitado o bem commum do Alto-Doure ; O outro he por fer feito em lumas circunftancias y, em que O cálculo deve fer inteiramente prejudicial aos la- vradores y ruinofo á bondade dos vinhos , e fatal ao adiantamento da lavoura. Pelo: Alvará de 1o de 'Abril de 177 31 Áe ordenou em FOnÚ$r E, ne todos os lavradores dos terrenos de vinhos tintos deftinados para embarque , enxertaflem dentro do termo de dous annos todas as cepas de uvas brancas em tintas, para evitar as mifturas de vinho branco como tinto. No mefmo Alvará fe aflirma fer excefliva a quanti- dade de vinhos brancos que fe colheo néftes terrenos em O anno antecedente de 1772, e he certo que nos annos de 1774, e 1775 fe deviaó cortar' as'cepas, que produ- ziaO efta exceñiva quantidade. Grande parte dos lavradores, por effeito da calami- tófa devafla de alcada comegada' no anno de 1771, ti- nhaó ficado faltos de meios para poder fazer nas fuas vinhas huma revolugaó taó difpendiofa; cortando muitos delles as cepas pelo fima , para naó produzirem uvas bran- cas, e differindo a operacaó da “enxertia para” Os annos futuros : ainda por aquelles"que 'tinhaó cabedal para o fazer logo , devia ella fer executada nos annos de 1774, SUIZ7S- O. S DO rr8 MEMORIAS Saó neceffarios finco anños , e máis para a planta enxertada tornar ao feu antigo eftado de produccaó, e nó tempo intermedio produz pouco, ou quafi nada. No anno dé 1780 he que fe deo principio a efte 'Tom- bo ; e devendo fer feito o cálculo pela producgaó me- dia dos finco annos antecedentes, e tendo faltado nef- tés aos lavradores a grande quantidade enxertada , ficaó elles altamente prejudicados pela diminuicaó do cálculo, e fe dá hum golpe fatal ao adiantamento, Que a pro- ducgao deveria ter paílado alguns annos pelo beneficio da enxertia, € pelo melhoramento da cultura. Daqui fegue-fe neceflariamente a ruina da bondade dos vinhos 5; porque os lavradores, impoffibilitados de vender para Rebiarque maiores quantidades, do que aquel- las que lhe foraó calculadas por hum cálculo muito di- minuto , defprezáraO a infruttuofa cultura das vinhas en- coftadas , e fracas, que produzem muito menos, e vi- nho muito mais fino, contentando-fe de colher as 'quan- tidades calculadas em algumas porcóes de terras mais for- tes , € que produzem vinho de menos bondade com mui- to menos defpeza. 'Tem a prática defte Tombo muitos doa inconvenientes , que logo fe offerecem á primei- ra vifta. CUASPRLEDVUSE OuekKV: Continvayao da mefma materia. O S $$ 30, e 31 trataó das guias, e mais cautelas, CF com que huns e outros vinhos devem fer fempre acompanhados ,. para fe evitar qualquer fraude , com que fe pofla preverter a boa qualidade, e pureza dos vinhos, e arruinar a fua devida reputagaó. No $ 32 fefixa o número de tavernas que deve haver na Cidade do Porto. | No $ 34 fe declara que ,, fendo em tanta qa | y; dan- EcONOoOMICA s. 119 sy dancia em alguns annos a produccaó dos vinhos, que a Companhia lhe naó pofla dar prompta falhida , neúr para o confummo da America, nem para O da Cida- de do Porto, ficará livre aos lavradores poderem vyen- der , e fazer tranfportar efte genero para o confum- mo das terras do Reino que bem lhes parecer; com 3; tanto que o fagaó para terras onde naO haja prohibi- cao, e que, devendo fahir pela barra , leve nos cafí- 5; COS a marca da fua qualidade , e a guia da Compa- 5, Ahia y para fe faber para onde vai , e para que naó sy; polla paflar aos paizes eftrangeiros com os inconve- 5; Nientes aflima ponderados. ,, Efte $ moftra , que a Companhia fe limitava ao ne- gocio da America, e da Cidade do Porto 5 e medindo- fe por efta regra o confummo , como o do Brafil ordi- nariamente naO excede de tres mil pipas, e o das ta- vernas do Porto , e feu deftricto naó excede ordinaria- mente de dezefete mil pipas, todos os annos ficaría re- dundando muito maior quantidade, do que aquella, a ue a Companhia procuraflle o confummo , fendo a pro- ucgao ordinariamente de fetenta mil pipas. E como po- deria a Companhia dar conlummo prompto a tanto vi- nho fó com eftes dous deftinos ? A liberdade que dá aos lavradores para poderem ven- der, e traníportar os feus vinhos, no calo de lhe naó poder dar prompta faluda a Companhia., naó he gran- de mercé que lhe faz, nem ha conceflaó mais defnecel- faria. Se nem a Companhia fe obrigou a comprar todos os vinhos, nem os lavradores em lugar algum deftas In- ftrucgóes ficaó obrigados a vender-lho y naú ha para que firya efta liberdade y nem ella fería jufta, fe os lavrado- xes foflem obrigados a vender-lbe os vinhos y quandyo a Companhia os neceflitafle. Efta injuftica he a que pofteriormente fe tem pra- ticado a relpeito dos vinhos de ramo 5; quando a Com- panhia neceflita delles todos para o feu negocio, e para OS. 12O “MEMORTEAS os lambiques , nem ao menos deixa aos lavradores aquel- las porgóes que faó necefíarias para o gafto de fuas ca- fas, e das terras da producgaó , e quando ou por maior producgaó , ou por menor fahida lhe naó faó necefla- rios , Os deixa aos lavradores para lhe dar a fahida que puderent. j Efta defigualdade naó he juífta : aflim como os la- vradores faO obrigados a vendellos todos á Companhia, quando delles neceflita, deveria efta fer igualmente obri- gada a comprallos todos em todos os annos, e procu- rar-lhe a fahida que melhor lhe pareceffe. O $ 35 he o mais exorbitante que podia ima- ginar-fe : elle tem fido a origem do poder, que a Companhia tem alcanzado fobre 'o territorio do .Alto- Douro , e do que em muitas couías tem padecido os feus habitadores: diz elle ,, fera a dita Companhia, e governo della immediatos á Real Pefloa de V. Ma- geftade y, e independentes de todos os “Tribunaes maio- res ,e menores , de tal forte , que em nenhum cafo , ou 5; 'Accidente fe intrometta nella, nem nas fuas dependen- cias Miniftro, ou Tribunal algum de V. Mageftade, “nem lhe poflaó impedir, ou encontrar a adminiftragao de tudo o que a ella tocar, nem pedirem-fe-lhe con- 3) 32 33 3; putados que fahirem aos que entrarem. ,, Efta independencia abfoluta, efta liberdade de obrar fem fujeigao alguma , efta falta de obrigacaO de dar con-' “ta da fua conducta a pefloa alguma, e a falta de quem fobre clla vigie, o grande poder de hum corpo menean- do taó groflos cabedáes, e tendo na fua maó o pleno arbitrio fobre todos os que figurado em hum taó impor- tante negocio , faó motivos para temer que a Gom- panhia pofla preferir fómente' o feu proprio interef- lie particular : ella ao' mefmo' tempo que faz a figura de hum fiícal do bem commum ; faz tambem a'de hum ne- gociante particular ; ifto he incompativel junto ao mel- mo y; tas do que obrarem , porque eflas devem dar os Des EcONOMu CT ÑS. I2I mo tempo , ífem que haja quem inquira fe o interefle do negociante póde mais, do que o zelo defintereflado do fifcal. Os particulares nem fempre podem fazer ver diante do throno as calamidades; e violencias que padecem ; vai muita diftancia delles ao throno. E certo parece que ne- nhuma injúria receberia a Companhia em haver no Alto- Douro hum Miniítro da maior graduacaó, que encurtafle a diftancia que vai dos lavradores ao throno, e por meio de quem elles podeflem pedir as providencias que lhes foflem uteis. Se a Companhia obra rectamente y, e de boa fé, naó deve temer que haja quem vigie fobre a fua conducta, e a quem ella feja refponfavel do que obra y como fiícal do bem commum , e como negociante particular; e fe nao obra rectamente , e de boa fé, deve haver a quem prom- ptamente recorraO os lavradores para cohibir, e remediar cua violencia , ou injuftiga que ella pertenda obrar; e defte modo ceflariao muitos inconvenientes , que tem refultado de huma authoridade illimitada , de que a Com- panhia tem gozado em confequencia defte $. Os $$ 36 e 37 trataO da arrecadagaO da fazenda, e dividas da Companhia, para eftas ferem cobradas como Fazenda Real. Desde o $ 38 até o $ 53, que he o final, fe tra- ta dos privilegios pefloaes de todos os membros da Com- panhia , da particular economia relativa ás accOes de ca- da hum dos Accioniftas, e de outras coufas y que nao me- recem particular mencaó, por naó dizerem refpeito algum á economia pública. Eftas Inftituigóes foraó confirmadas pelo Alvará de IO de Setembro de 1756, em que S. Mageftade fe de- clara , e noméa Protector da Companhia , e declara a abfoluta independencia della. “Toin. III. “QO CA- [ES MEMORIAS GARROTE ON OA Em que fe trata das Leis relativas á Agricultu- ra, e Commercio dos vinhos depois da Ia- ' fiituicao da Compantia. D Esde “o tempo: defta- confirmacaO tem: fido efte ne- gocio objecto de huma vaftifima legislaguó , de que fe palla a fazer memoria, O Alvará de 3o de Agofto de: 1757 'prohibe no $ 1 lancarem-fe nas vinhas do Al- to-Douro--eftrumes 3; e' com vrazaó, porque naó ha plan- ta. alguma mais porofa, do que a vide: ella recebe nos feus poros grande parte da materia que fica proxima ás fuas raizes; por iflo, langando-fe eftrume , produz fruéto em maior quantidade , mas de máo fabór, e que faz hum vinho fraco, infipido , e defcorado. No $ 2. fe prohibe o ufo da baga de fabugueiro no vinho; e juftamente , porque efta tinta, que imofttra por algum tempo no vinho huma cór agradavel', eo faz mais groflo', defmaia ao depois, e faz declinar o vinho para cór de tijólo , fazendo defcubrir ao meímo tempo hum fabór defagradavel | e que nao he natural ao vi- nho: Nada difto era facil de conhecer ao tempo: da ven- da dos vinhos s e Os compradores ficavaO prejudicados com a deterioragcao s que élles pelo decurfo do tempo padeciao. No $ 3. fe prohibe com juftificada razaó a miftura da uva preta com a branca y porque além de íe comegar primeiro a fermentagcao do vinho branco, do que a do UNTO, e fazer efta anticipacaóO, que naó polla relultar hum compofñto perfeito, he certo, que o vinho branco repe-- te de tempos a tempos huma nova fermentacaO , alte- ra-fe, e ferve, e fe torna por fi meímo ao feu perfei- to eftado : o vinho tinto y que naó tem efta arar 3 ES ECcCONOMICAS. 123 huma vez alterado pela revolugaó do vinho branco , cor- re o riíco de naó tornar a aflentar, e ficar fempre eu- volto. De mais difto, a miftura de hum com outro pro- duz huma cór fraca, e má; porém ifto, que he appli- cavel a refpeito de miftura de grandes quantidades , naó deveria proceder a refpeito de pequenas porcóes de uvas chamadas malvafías , e gouveos , que milturadas com as -uvas tintas, fazem o vinho mais delicado y mais fuave, e de hum gofto muito mais agradavel, e em lugar de caufar damno ao vinho , lhe caufaria efta miftura y fen- do permettida , cónfideravel beneficio, porque a todas as uvas tintas falta aquella fuavidade , e delicadeza de -goíto , que fe acha na malvafia, e no gouveo. No $ 4. fe determina, que attendeido á diminui- gao , que pela defeza dos eftrumes ha de precifamente haver na quantidade dos vinhos de embarque, e ao au- gmento que haó de ter na qualidade, ampliando o '$ 33 da Inftituigaó da Companhia , fejaó os pregos de vinhos da primeira forte , que no dito $ eftavaO taxados de vin- te e finco, e trinta mil réis, a trinta, e trinta :€ feis mil réis, e os do vinho da fegunda forte , que eraó de vinte, e vinte e finco mil réis, a vinte e finco, etrin- ta mil réis, com tanto que os lavradores nunca poflaó exceder os pregos defta ampliagaO. Os $S 5,6, 7, 8 , e 9 contém providencias, pa- ra que os carreiros , e barqueiros fe hajaO com a devi- da fidelidade na conducaó, e tranfporte dos vinhos. No Alvará de 16 de Dezembro de 1760/fe toma em confideragao ter moítrado a experiencia y que os la- vradores de vinho naó tinhaó no confummo ordinario das tavernas toda a fahida neceflaria para Os vinhos in- feriores , que ficavaó redundaundo nas adegas por naó po- derem gaftar-fe: e:o fer neceflario que no Reino, e Do- minios fe fegure para o feu confummo hum competen- te provimento das aguas-ardentes de boa lei y, 'e puras; para roccorrer a tudo ifto fe ordena em O $ 1, que a Companhia mande logo eftabelecer todas as fábri- IOGA cas 1124 MEeEMÓRIAS cas de aguas-ardentes y que neceflarias forem ', nos fi- tios das tres Provincias , que forem mais proprios pa- ra iflo. E paraque eftas fábricas poffao fubfiítir, fe prohibe no 4 2, a qualquer pefloa que naó feja de ordem da Companhia , o poder ter fábrica de aguas-ardentes', ex- ceptuando fómente aquelles lavradores que tiverem laám- biques proprios , aos quaes fica livre poderem nelles def- tillar os feus vinhos arruinados, ou borras da fua pro- “pria lavra. No $ 3 fe devidem as aguas-ardentes em tres claf- fes 5a primeira da fina de prova de efcada, a fegunda de prova redonda, a terceira da baixa, que fó ferve pa- ra Íe vender ao ramo nas tavernas , eftabelecendo-fe-lhe pregos , que podendo diimminuir-fe , conforme o permit- tir o interefle dos fabricantes y nunca poffaO exceder para os da primeira clafíe o de 87 $ooo réis, para os da fe- 'gunda o de 65000 réis , para as da terceira o de “47 Dooo tréis por cada pipa. ; No $ 4 fe ordena, que todas as aguas-ardentes que fe venderem por groflo na Cidade do Porto, e nas tres “Provincias , feraó vendidas pela mefma Companhia , ex- ceptuando a que os lavradores fabricarem por fua “conta em lambiques proprios na fórma fobredita: que para fe- "rem. traníportadas , levaráO todas guia da Companhia ; e havendo de fe embarcar para Lisboa, ou para fóra do Reino , levaráO nos cafcos as marcas das fuas qualida- des poftas pela Companhia. No $ 5, que os vinhos para fe deftilarem ferao comprados á avenca das partes, fem que a Companhia os polla tomar por pregos diffinidos, ou contra a von- 'tade dos donos. Para poder a Companhia fufter as defpezas, e em- pates defte ramo das aguas-ardentes , fe eftende no $ 7 o Íeu fundo a mais feiscentos mil cruzados. No $ 8 fe fufcita de novo a prohibicaó da entrada das aguas-ardentes fabricadas nos paizes eftrangeiros. No ECONOMUrCAS. ds No $ 9 fe prohibem as mifturas , e confeigúes que podem fer damnofas á reputacaó das aguas-ardentes. Pa- ra obfervancia da prohibicaO da entrada de aguas-arden- tes eftrangeiras fe ordena no $ IO y que a Companhia pofla ter em todas as Alfandegas rida ruin para vigia- rem fobre os defpachos das fazendas de arco , 'que fe coftumao defpachar por eftiva. E no $ 6 fe extende O privilegio exclufivo das tavernas do Porto a quatro le- guas de deftrito , ampliando-fe o $ 28 das Inftituigóes, em que o deftricto he fó de tres leguas. Efte Alvará contém fubfítancialmente duas coufas : huma dellas he a extenfaó do deftricto para as tavernas do privilegio exclufivo da Companhia 5 a outra he hum novo privilegio exclufivo, para que fó a Companhia pofí- Ía negociar em aguas-ardentes. Ellas já fe fabricavaó antes defte Alvará ; o ferem fabricadas pela Companhia naó augmenta a fahida dos vinhos y, e priva a occañiaO de commerciarem Os parti- culares nefte genero , fazendo que feja mais caro, do que fería fe aos particulares fofle livre elte commercio ; porque , além de fe contentarem com menos lucro , fa- bricariaó as aguas-ardentes com muito | menos defpe- za , ficando-lhe em conta para as poderem dar mais baratas , e para poderem comprar os vinhos a melhor prego. CAPA ON Ostr: XOV: Continuagao da mefima materia. Or outro Alvará de 30 de Dezembro de 176o fe ordena , que por fer a exacta obfervancia das Leis “mercantís, e a boa fé do commercio as duas bafes, em -que fe fuftentao a reputagao , e o interefle das GorepAs nhias xr26 MEMORIAS nhias de negocio, o Juiz Confervador da Companhia do Alto-Douro, ou quem o feucargo fervir, no mez de Fe- vereiro de cada anano proceda a huma exacta devafla, que , depois de fe tirar pela primeira vez , ficará fem- pre aberta contra “os tranfgreflores , aflfim da Inftituicaó da mefima Companhia , como das Leis 'eftabelecidas y e' que de futuro fe eftabeleceflem. Se o objecto defta devafla foi a obfervancia das Leis mercantís , e a boa fé do commercio , devia tambem comprehender-fe nella principalmente a Meza da Com- panhia ; porque a obfervancia das Leis mercantís, e a boa fé do commercio obriga muito mais á mefma Me- za , por iflo mefmo que 126 as duas baíes, em que fe fuí- tenta a reputacao , e o interefle das Companhias ; po- rém , ficando tudo o mais fujeito a efta devafla , O naó ficava a dita Meza, por fer o couhecimento da fua conduéta refervado immediatamente á Real Pefloa de S. Mageftade. O Alvará de 16 de Janeiro de 1768, ampliando os $$ 29, e 3O das Inftituicóes, fe dirige a evitar as mif- turas de vinhos de ramo com os de embarque. No $ 1 defte Alvará fe manda fazer hum Mappa, e Tombo das terras que produzem vinhos derramo , á imitagao do que no $ 209 das Inftituigóes fe tinha orde- nado para as terras de feitoria. No $ 2 fe manda guardar com a maior cautela ef- te Tombo no Archivo da Companhia , para os Commií- farios fe inftruirem do que produz cada vinha, e averi- guar no tempo das provas fe exiftiaó as quantidades cal- culadas no Tombo , ou fe tinhaó fido introduzidas pa- ra a feitoria ; ordenando-fe a efte fim no $ 3, que os donos das fazendas que produzem vinhos de ramo, de- vao declarar em toda a occafiad por authenticas provas a quem vendéradO o vinho y debaixo da pena de tresdo- bro da lotacao das vinhas. Eftas providencias de nada ferviírao : fez-fe o Tom- bo; porém o augmento, e diminuicaO a que eftao fu- jei- 4 E CO N'O" MI T/C/A/ S. 127 Jeitas as vinhas , os donos , que fucceflfivamente eftaa mudando ou por falecimento, ou por partilha', ou por vendas , fazem que o Tombo de nada firva em pouco tempo. Aléin difto, os lavradores que introduziaóO vinhos de ramo para a feitoria fubítituiao clandeftinamente as mefmas quantidades com outras y que faziaO vir de fó- ra do defltricto tombado , augmentando-fe defte mo- do as quantidades, e arsruinando-fe ainda mais as quali- dades. No $ 4, ampliando-fe os $$ 29, e 3o das Infti- tuigoes , fe augmentaod as penas aos que introduzirem vi- nlhos de ramo nos deftriétos da feitoria, e fe eftabelecem outras contra os almocreves, carreiros, e pelloas que fi- zellem os tranlportes deftes vinhos. No $ 5 fe mandaó tomar denuncias em fegredo pe- lo Juiz Confervador da Companhia, para que, qualifi- cando-fe de verdadeiras pela corporal apprehenfaó, e acha- da, proceda a fequeftro , e venda dos vinhos y ame- tade em favor da Companhíia , e outra dos denuncian- tes. Parece nao fer facil de praticar o difpofto nefte $: o Confervador afiiíte na Cidade do Porto y e muito dif- tante do Alto-Douro 5 as mifturas fazem-fe em brevi(l- fimo tempo , e depois de feitas faó inaveriguaveis por corporal apprehenfaó', e achada , fó depois de feitas he que efiaó no calo de ferem denunciados 3 e quando fe vao denunciar ao Porto, e fe vem fazer aapprehenfaO, já 'naó ha que apprehender, e que achar. O 6 6 contém materia da maior certeza, e digna de todo o refpeito , em quanto declara, que os Ecclefiaf- ticos devem obedecer , e fujcitar-fe a todas as difpofi- q0es Regias em materias temporaes. Contra efte princi- pio fempre'certo, e fempre verdadeiro parece , co- mo fe refere nefte paragrafo) que os Ecclefiaílicos fe tinhao arrogado huma efcandalofa ifengao de vender á Companhia' vinhos de ramo das fuas fazendas pe- los pregos taxados na Inftituigao da nmefma Compa- nhía y e que com ifto faltavaó ao refpeito devido ás dit- po- r28 MEenMmnoRrRrRIAsS pofigúes Regias. Porém fe nem os Ecclefiafticos y nem: os feculares faóú obrigados por lei alguma y ou difpoficáo Regia , a vender os feus vinhos á Companhia ; como fal- taO áquelle refpeito em lhos naó quererem vender, ou feja porque o prego lhe naó contenta, ou por outro al- gum principio ? Efte Alvará foi refulta de huma repre- jentagaoO da Companhia , como fe vé do feu principio; e como O maior interefle defta foi fempre em levar os vinhos de ramo de todos os modos, naó quiz que hou- vefle alguem que pudeffe negar-lhos, e fez carga aos lc- clefiaíticos , em que mais facilmente podia affear a fua renitencia , para extorquir efta difpoficaó a refpeito del- les , e poder daqui concluir, que fe nem os HKcclefiaíti- cos podem negar-lhe a venda dos feus vinhos, muito me- nos O podem fazer os feculares. Se a Companhia fe tem fempre queixado da redundancia, e demafía do genero, que maior caftigo podia procurar para os que naó lho quizeflem vender, do que o de naó lhos comprar? Saó ifto inconfequencias difficultofas de comprehender. O Alvará de 17 de Outubro de 1768 prohibe, der- rogando para efte fim os $$ 31, e 34 da Inftituigóes da Companhia , que do Alto-Douro fe tranfportem vinhos para Lisboa : faO muitos os motivos que fe apontaó pa- ra efta determinacao; fe entre elles fe acha algum folido, nao pafla de hum, os mais todos debaixo de diverías ap- parencias fuppolftas deixaó ver, que o fim difto foi im- pedir aos lavradores das tres Provincias poder dar aos feus vinhos de ramo outro confummo , que naó feja o das tavernas, e lambiques da Companhia. O Alvará de 17 de Outubro de 1769 he fundado em motivos femelhantes. Para entrar melhor no eípi- rito com que fe requereo efte Alvará deve notar-fe y que entrando muitos cominerciantes nacionaes da praga do Porto pelos annos de 1767, e 1768 no conhecimento da ; h ? ; aos grande reputacaó que os vinhos do Alto-Douro tinhaó recuperado nos paizes eftrangeiros ; e que a Companhia , nao tendo privilegio algum exclufivo para as comp as EcCoONO MT OA. ro dos vinhos de embarque, os comprava para revender no Porto com muito confideraveis lucros áquelles Commifía- rios Inglezes y que”, ou por falta de dinheiros, ou por naó terem tido a tempo competente ordens do Norte, nao tinhao feito compras dos vinhos necellarios para as Íuas carregacóes y fem que a mefma Companhia os expor- tafle por fua conta , quizeraO entrar a fazer a mefma ef- pecie de negocio, e até a mandallos para o Norte por fua conta , debaixo do empreftado nome de algum Inglez, que niflo conféntia. ; No ánno de'1769 nafcéraó poucas uvas”, 'e he' cer- to que havia de'haver lura colheita 'eftéril :" quizeraó Os ditos comnlerciantes Portuguezés precaver-fe a fegu- rar as fuas compras , tanto na quañtidade';y como na efcolha dos fitios que produziaó “os 'mélhores vinhos : para 'ilto' fizérao “as fociedades; neceflarias “pará fornecer Os' cabedaes que 'fefaziaO' indifpenfáveis')) e entrárao logo na colheita 'a fazer as 'fuas compras'pelo prego de 36doo0o réis cada pipa y conhecendo-fe já muito bem "pela colheita a éefterilidade “do genero , e a fua bon- dade. Até elte tempo fempre titíhaú fido livres cada hum as compftás ) é vendas, conforme os feus voluntarios ajuí- tes, com tanto que naó éexcedeflem os termos da ulti- ma taxa de 369000 réis, fem que até entao tivefle ha- vido prática de alguma providencia para 'a feparagao das/ qualidades' do vinho. Efte he o facto, fobre que re- calioo" dito Alvará y cóom'toda a fúa fimplicidade , def- pido de toda a aítectagao; e fem málcara' alguma. uTom. III. R CA- 139 MEenMmoRrRxaAs CI ASPsL DI 6 9O5o XVI. Continuagao dea mefima materia. Obre efte innocente facto , a que Lei nenhuma re- pugna , fe folicitou o Alvará, que, confrontado com o verdadeiro facto, mofítra que y prevertendo-fe os nomes das coufas y fe: obtinha, hum, caftigo contra tudo o que affombrava o interefle particular da Companhia , ainda que fofle em commum bencficio da lavoura. LU Ño principio do dito Alvará aos negociantes que entrárao: neftas compras , chama-fe-lhe mal intenciona- dos, e monopoliftas.y./e' ao facto monopolio , 'e tra- veñlia , reprovada com tranfgreifaO notoria da Ordenagao do livro quinto, titulo 77, Efta Ordenagao prohibe no principio a compra de vinho para fe tornar a vender no lugar onde fe com- prari,, enno G,1fe diz”) que 5,.as pelloas que quizerem 33/COmprar vinho, ou azcite em hum lugar para, o-le- 5/Varia vender a Outro 5.o poderáo fazer. 5, Eis-aqui como efte faéto naó era contrario á dita Ordenagao 5) quanto mais y que eftes negociantes haviad. de levar os vinhos embarcados pelo Douro para o. Por- to, e lhe-corriaO o riíco 5 esaléám diflo , poderiaód, ex- portallos por ífua conta, como tinhaó já feito a alguns. Ainda fe diz mais no principio do dito Alva- rá, que o dito facto he tambem notoria tranfgrefíao das Leis efpeciaes eftabelecidas para o governo da dita Com- panhia , quando naó era mais do que huma offenfa do intereflle particular da mefinma Companhia ) mas em be- neficio da lavoura , e do commercio: a primeira tranf- greffao he, que os chamados AtravefJadores torao abar- j gar EcoxNomauc NS. r3r car os vinhos pelo fummo prego de 369000 réis ans tes de fe fazerem as devidas feparacóes “de qualida- des determinadas nos $$ 14 , e 33 dás Inftituigóes, e no 46 4 do Alvará de 30 de Agofto de'1757',' e:anz tes de feter conhecimento da bondade dos vinhos coms prados. Affim he que nos referidos 6$ fe falla de vinhos da primeira, e fegunda qualidade, e da primeira, e fe- gunda forte j mas ifto tinha ficado fó em riíco, fem que até aquelle tempo fe tiveffe praticado y como já fe dif- Íe , nem fe tivefle providenciado quem havia de fer ar- bitro das ditas feparacóes. ' Quanto' ao conhecimento da bondade do vinho , efte fe alcanza muito bem pelo efta- do da colheita. A outra tranfgreflao.- que fe figura, he a de fe excederém as taxas eftabelecidas com a defordem de fe comprarem pelo prego funimo os vinhos da fegun- da qualidade, que ainda nos annos mais favoraveis coftuma fempre haver” em todos os terrenos : mas ifto nao era defordem 5, fporque por hum bom conhecimen- to dos terrenos de fabe muito bem quaes faó os que produzem vinhos 'mais finos 3; e além diflo', até aquel- le tempo o ajuíte das partes tinha fido o arbitro dos pregos dentro dos limites do ultimo ponto de 36 Ñoo09 réis. A outra tranfgrefíaó em fim confiftia em fe arruis nar: pelos feus fundamentos a Inftituigcaó da Companhia, e as faudaveis providencias della: as muitas razóes y que para iflo fe trazem y, reduzidas a poucas palavras y vem a dizer em fubítancia , que eftes novos chamados Átra- velfJadores , e Monopolifías embaracavao a Companhia de fer unica em praticar o mefmo monopolio , e travef- fia, ficando fó no campo para poder comprar por pre- gos menores, e vender por maiores. Para obviar ifto y que fe reprefentou pela Compa- nhia taO criminofa malicia , fe eftabelece, no $ TI, que os lavradores nao poflaó vender os feus vinhos .an- R ii tes 132 MEeMmMoOoRrRTAS tes de vwinterde, Novembro , verde ferem provados para conttavem as qualidades delles. No $ 2, que nenhuma; pefloa nacional , ou eftran- geira pofñla comprar vinhos no; Alto-Douro' antes (do/pri- meiro “dé Fevereiro, nao: fendo dos" Commiñtarios que os coftumao exportar para o Norte y ou que paraliflo eltabelecerem caía y e que fe naó confundao as qualidades dos vinhos;,, ou fe excedaó as taxas. No $:3', que as peíloas que tiverem vinhos de em- barque naópoffao. recufar a venda delles/a' qualquer que lhe propuzer.a venda delles pelos pregos taxados', fendo a Companhia', ou Commiflario tranfportador: para o Nor- te , menos que naó provem por modo “concludente a venda anterior fem dollo, ou malicia , declarando a peí- Íoa a quem 'vendérao. Ettas difpofigóes tem fido' de” mui- to incommodo: para os lavradores ,” que neceflitao vas ler-fe' para as fuas neceflidades 'de alguns dinheiros/adian- tados fobre as fuas novidades 5 porque devendo-fe fazer a venda dellas depois de 2o de Novembro de cada'an- no ao primeiro comprador que” fesgpropuzer y nad póde achar-fe “quem anticipe' O feu dinheiro na'incerteza des receber 'o-vinho para |feu pagamento y nemufica livre “ao lavrador 'efcolher aquelle comprador que lhe for máis grato , e favoravel na promptidaó: do pagamento. No $ 4 fe ordena, que os compradores de vinhos nacionaes y ou seftrangeiros!, que os nadlicompras para os navegar para 'o Norte j' fejaO obrigados a regular-fe pe- las: mefímas taxas y; e qualificacóes : haO ha maior incon- fequencia. Nomefmo Alvará, em que fe pune como traveflia a compra feita de vinhos para 'Os naGú navegar para o Norte , fe manda regular 'efta qualidade de compras: den- tro dos limites/das taxas y e qualificagóes. No mefmo $ fe confere á Companhia oarbitramen-) | to das qualidades, e pregos dos vinhos em cada anno. Vem defte modo a ficar fendo a Companhia juiz y e parte: ao mefmo refpeito 5 pois o modo com. que fe exes: | cu- MU Í EsC/ONsO MI CÍA 5. 133 euta 'efta decifad', he' mandar a Companhia , pafla- do o dia vinte de Novembro , dous provadores pa- ra y pelas fuas provas, notarem os vinllos que fao de primeira qualidade y e os que faO de fegunda, e os que “faó 'incapazes de embarque por alguma alteragao que fe lhe conhega; ficando dependente -do paladar de dous homens , que fazem efte exame rapidamente, a for- tuna dos lavradores y fem que da fua decilaO haja algum recurfo. Feita efta qualificagao , declara a Companhia por hum edital, que os pregos daquelle anno devem fer de 25 , e 30Ñ0040 Téis y OU: dé 3O, e 36ooo réis , fegun- do a abundancia, ou efterilidade , que de ordinario he regulada pelas circunftancias em que fe achaó os feus armazens no Porto, e nao pelo eftado da produccaó : a colheita de 178r foi diminutiflfima na produccaó, e foi re- putado pira os precos de anno de abundancia : como os Commillarios da Companhia fabem o tempo da fixa- gao. dos editaes y ignorado por todos os outros, tem ef- colhido os' melhores vinhos y 'e nao digo que Ífao , mas que podem fer qualificados em beneficio da Companhia, e daámno dos lavrádóres; e mandaó efpalhar innumera- veis emiffarios por' todo 'o terreno de embarque , para que y chegado o momento de fe aflixarem os editaes, fe- JaO Os primeiros a propór as compras dos vinhos efíco- ihidos que lhe fazem conta j'e/que fe lhe naó podem negar, por fe naó poderem moftrar vendas anticipadas. No $ 5 fe anullao as compras feitas “pelos ditos chamados Atraveffadores 7 e fe lhe impóe outras penas por efte crime' imaginado pela Companhia. No' 46 6 dfeconcius', 'dando-fe liberdade dos commer- ciántes ñacionaes ' de'boa fé para dentro dos limites das dil- poficgóes (das outras Leis, e defte Alvará, continuarem nas compras de vinhos para o feu commercio' interior, conto O 'praticavaO antes dos temerarios y é nocivos monopo- los , que acabaó de reprovar-fe.' Mas conforme ao pa- ragrafo 2 , fó podem comprar: paílfado o primeiro “de Fe- 134 MEMORIAS Fevereiro , tempo em que, tendo já efcolhido á Coms panhia, e os Inglezes, e feito as ífuas compras muito á lua vontade , fó refta o refugo, que já naO póde fazer boa conta para negocio. Efte golpe fatal, que impoffibilitou os commercian- tes Portuguezes , e deixou a Companhia fó no campo, nao póde deixar de ter fido muito nocivo ao adianta- mento deíte negocio , tanto para os lavradores , como para O commercio. CIAS PAN UNENOAXTA, Continuagao da mefma materia. Alvará de 26 de Setembro de 1770 he huma am- pliagaó do $ 3 do Alvara de 16 de Dezembro de 1760 , para que a Companhia pofla vender cada pipa de agua-ardente, em que naó podia exceder o prego de 87 $ooo réis, até ao prego de IIOÑooo réis; a em que nao podia exceder o prego de 65 Qfo0o00 réis, até ao de 72$ÚO7O réis 3 a em que naó podia exceder o prego de 47P000 tréis y até ao de 5o fooo réis y com o fundamen- to de terem crefcido os valores dos vinhos : fe efte ac- crefcimo tem fido verdadeiro y naó foi para os lavra- dores. O Alvará de 16 de Novembro de 1771 fe encami- nha principalmente a obviar tres fraudes. A primeira he a de fe introduzirem nos deftriétos de vinhos de em- barque as quantidades de vinhos de ramo , que tinhaó fido calculados no Tombo que fe mandou fazer pelo Al- vará de 16 de Janeiro de 1768, fubítituindo as mefmas quantidades com vinhos verdes de terras frias , fóra do deftriéto confignado para o commercio da Companhia 3 a fegunda a cautela com que fe efcondiaó eftes factos, fazendo-fe diflicultofo y que ou por denuncias fe conhe- cef- E:CON O MI CA S. 135 cefle , ou por teftemunhas fe provafle a verdade : a ter- ceira o hirem buícar baga de fabugueiro a terras dif- tantes fóra das finco leguas, em que elles fe mandáraá arrancar , para a lancarem nos vinhos. Para as fazer ceíllar fe ordena em o $ 1, que lo- go ífe pafle a executar muito exactamente o Mappa e 'Tombo das terras que produzem vinhos de embarque, calculado pela producgaó media dos ultimos finco an- nos : defte Tombo fe fallou já largamente no Capitulo 14 defta Memoria y ponderando-fe alguns dos feus in- convenientes. No $6 2 fe mandaó arrancar todas as plantas de fa- bugueiro em todas as terras das tres Provincias da Bei- ra , Minho, a Tras-os Montes com penas graves. No $ 3 fe manda, que todos os que forem com- prehendidos em algum dos enganos, e dolos prohibidos pelas Inftituicóes da Companhia , e pelos Alvarás de 3o de Agofto de 1751, de 16 de Janeiro de 1768, e de 17 de Qutubro de 1769, percaó todos os vinhos, e va- filhas em que forem achados os enganos. No $ 4 , que cumulativamente incorrao os nobres na-pena” de dez annos de degredo para o Reino de An- gola , e os peódes na de fervirem dez annos, com calce- ta nas obras públicas; e fendo pefloas Ecclefiafticas na de defnaturalifacao. No 6 5 fe ordena, ampliando o Alvará de 3o de Dezembro de 176o, e o $ 5 do Alvará de 16 de Janei- ro) de 1768, que os Miniftros das Comarcas de Villa- Real y e Lamego: abriráó: huma devafla, que fique fem- pre aberta y contra os tranfgreflores das Inftituigoes, e mais Leis promulgadas a bem da Companhia. No $ 6, que os culpados fejaó logo remettidos com as culpas ; feito fequeftro nos vinhos y, lougas , e inftru- mentos dasjadegas”, e lagares )'ás cadeias da Relacaó do Porto, e ao Juiz, Confervador da Compañbia. No $ 7, que 0 Juiz Confervador logo fummaria- mente Íentencée Os autos com Adjuntos em RelagaO, dan- 4 do- 136 MEMORIAS do-fe aos réos fómente a defeza, que de direito'natural y e Divino lhes compete, e que as fentencas fe nao pu- bliquem fem fe fazerem prefentes a S. Mageftade pela Secretaria de Eftado. No $ 8 fe declara , que á Companhia compete a nomeacao dos Efcriváes dos feus Commiflarios 5; e que tudo o que pertence a denuncias, e jurifdicgóes fobre os tranfgreflores das Leis da dita Companhía', ficará redu- zido aos termos defte Alvará. : No $ o fe regulaO as qualidades que devem ter as peffoas , que fe haó de nomear para as Intendencias, Comnmiflariarias y e Bícrivaninhas , e fe confere aos ditos Comuiniflarios jurifdicgaOo de inquirir teftemunhas', e for- mar proceflos verbaes, e aos Bícriváes fé pública. No 6 1o fe manda y, que a Junta nomée annual- mente tres dos feus Deputados para vifitarem as fábri- cas das aguas-ardentes , e findicarem dos contrabandos dellas y; ea cada hum delles feu Efcrivaó , ufando hum e outro da fobredita jurifdicgaO, e fé pública. No $ 11 fe ordena , que todos os que fizerem al- guma tranfgreflao a refpeito das aguas-ardentes, fiquem fujeitos aos mefimos procedimentos, e penas aflima cfta- belecidas , e á perda dos lambiques, e fuas pertengas pa- ra a Companhiúa. Os $4$ 12, 13, e 14 , regulado as quantidades de vinhos y, que a cada hum fe devem deixar entrar na Ci- dade do Porto livres de direitos. No 6 15 fe manda , que todos os fobreditos Offi- ciaes , € quaesquer oOutros nomeados pela Junta da Com- panhia até EfcrivaO da Confervatoria inclufivamente , fe- JaO amovivéis ao feu livre arbitrio, e tenhaoO a mefma natureza dos que prové a Junta do Commercio. No Alvará de 5 de Fevereiro de 1772 confideran- do-fe, que os deftrictos de Goiváes, S. Chriftovao, Pro- vezende, Celeiroz y, Sabrofa , e Valdigem, deítinados pa- ya vinhos brancos de embarque , ficáraO indiftinctamente incluidos com os tintos na demarcacaó da feitoria y nao fe E“ctofN O MI CA S. 137 fe faázendo 'deftincgad dos pregos de huñs, e de 'outros; e que a experiencia tinha moftrado , que os vinhos bran- cos do Douro, por naO terem eftimacad igual á dos vi- nhos tintos do méfmo Douro, nem á dos vinhos de Oeiras , 'Carcávellos y e Lavradio, naó podiaó fer com elles igualado$ nos pregos. Ordena-fe no $ 1, que ves vinhos brancos, produ- zidos “em todos os deftriétos demarcados para embar- que , fe poflaó vender nos annos de efterilidade os da primeira qualidade 'a 25000 réis, e os'da fegunda a 2000o réis 5'e nos laúnos' de abundancia a 20000 réis os da”primeira qualidade j e'a 15QÓoco réis os da ' fegunda. No $€ 2 deixa-fe aos lavradores a liberdade de po- derem vender os ditos vinhos , até igualar os pregos que fe determinarem pára os tintos deffe mefmo anno , naó ficando obrigados a vendellos pelos pregos eftabelecidos nefte Alvará. No $ 3 fe-manda. finalmente, que a Companhia po- derá comprar, a avenca das partes, por quaesquer pregos aquelles vinhos y, que por AA de compradores ficarem nas adegas dos 'lavradores. Os vinhos brancos do Alto-Douro gozáraOo em ou- tro tempo de huma grande reputacaó , e ainda hoje naó fei fe 'lhes faó preferiveis os de Ociras y Garcavellos, e Lavradio : fe a bondade dos do Alto-Douro tem dimi- nuido y n2O póde proceder ifto de outro principio y fenao de terem os lavradorés defprezado aqueilas caftas de uvas, que' davaó' menos quantidade , e' melhor (qualidade de vinhos , como fas o agudenho , o abelbal, O mufcatel, a máalvafia y e O gouveto , preferindo-fe-lhe para plantar O verdeal , rabo de ovelba , terrantes , vicfinho, e algu- mas uvas groflas, que, produzindo mais abundantemente , dao vinho menos bóm. lfkto deveiiad os lavradores reme- diar , defterrando “das 'Tuas vinlías últas Cuñas) Enxertan- do nellas as que daS viñho mais fiúo y e por flo de melhor venda. Tom. III. S No 138 MEMORIAS No -$ 6 do Alvará de Io de Novembro de 1772Jy que he o que fó refpeita. a efte Territorio , fe manda, que nos Confelhos do Pezo. da Regua, Pena-guiaó, Me- zaO-frio y Barqueiros , Teixeira y 'Touraes, e Sabrofo de Folhadella ) dejaO as tavernas por conta da Companhia”, do mefmo modo que no Porto 5 ifto debaixo do pretexto de' fe evitarem as fraudes,com que , a titulo do confum- mo ordinario, fe introduziaO vinhos de ramo nas adegas dos de embarque. Mas o que na verdade foi motivo de fe requerer providencia , foi augmentar o privilegio exclufivo da Companhia y, extendendo-o ás terras da mefma produc- cad; porque os Confelhos de Barqueiros, e Mezaó-frio faO diftriétos de vinho de ramo ; Sabrofo de Folhadel- la produz fó vinho de ramo ; e a “Teixeira até fica fóra do deftritcto deftinado para o commercio da Com- panhia. GUAS NE MITO RO Continuagao da mefima materia. Alvará de 1o de Abril de 1773, dá novas provi- dencias para as fábricas das, aguas-ardentes , e foi follicitado fó em beneficio do interefle particular da Com- panhia ; pois até forao prohibidas aos Boticarios as defti- lagoes das aguas-ardentes neceflarias para O ufo das fuas boticas. O Alvará de 16 de Dezembro de 1773 fería mui- to util ; mas naó he executado. em algumas das fuas difpofigóes. No $ 1 fe lamenta juftamente a excefliva plantacao de vinhas emiterras proprias para paó, e em Que efta- ra plantados olivaes;, e foutos, que para ellas fe fize- raó arrancar, e que tem crefcido tanto a' producgsó; que, E4€, OI NIO kMAL CAE sé 139 que , fendo antes da Companhia de 15 'a' 203000 pipas mos deftriétos de ramo, fe tinhaó colhido no anno an- " tecedente de: 1772 39 para 40Qo00 pipas nos mefmos deftriétos, e que o mefímo acontecia proporcionalmente - nos de embarque; e para evitar os prejuizos que difto fe feguiao , já ponderados no Alvará de 26 de Outubro de 1765 , fe extendem as meímas providencias do dito Alvará ás vinhas pertencentes á inf[peccaO, e commercio de vinhos y e aguas-ardentes da Companhia y que confif- tem no arranco das vinhas. Para o que fe ordena no $ 2, que fejaO arrancadas as vinhas da Ribeira de Jugueiros , e dos caboucos de huma e outra margem do Douro, por ferem terras pro- prias para produzir pao, e legumes; ifto executou-fe. O mefmo fe ordena para os deftriétos de ramo em todas as vinhas, que forem proprias para paó , e a refpeito dos bardos , e chantoadas , e de todas as vinhas , tan- to do deftricto de ramo, como de embarque, as quaes de tempo de oito annos fe tiveflem plantado em fitios, em que havia olivaes famofos , foutos, campos, e la- meiros que davaO paó: mas como no $ 5 fe ordena, que efte arranco fería executado por hum Miniftro que Íe havia nomear, como naó Íe nomeou , ficou fó em rifco hum projetto, da execucao do qual fe devia confeguir hum beneficio manifefto á lavoura y e ao'com- mercio. "No $ 3 do mefimo Alvará fe ordena , que ninguem pofla plantar vinhas no deftricto demarcado para embar- que fem efpecial licenga de S. Mageftade , precedendo confulta da Junta da Companhia y, excepto em alguns pe- dacos de mattas exiftentes em quintas que eftiveflem mu- radas. . : Com efta prohibicao fica baftante terra inculta im- poflibilitada' de produzir. A maior parte dos montes, que ainda feachaó incultos dentro da demarcagaO da fei- toria , ÍfaO incapazes dé outra alguma produccaO , que nao feja a do vinho : naó fe podendo plantar nelles vinhas., £S sii fi- T4O' MEMORIAS ficaó fundos eftereis fem utilidade: alguma para os dos- nos y'€ para o público, podendo plantados produzir vi- nho fino 5; quando fuperabunda hum genero produzido “em terras que nao podem produzir outro y naú he bom remedio impedir a producgaó ; devem procurar-fe novos ' caminhos para o confummo', e muito melhor 'guando elle fe ha devir procurar a paizes 'eftrangeiros, em que a nacaO productiva fempre lucra. No $ 6 fe prohibe o langar eftrume nas vinhas de ramo. ! Desde o $ 7/até ao final fe daó novas providen- cias para a facilidade y commodidade y e feguranca das condugúes y e navegacao dos vinhos , desde as adegas até á Cidade do Porto. No Alvará de 20 de Dezembro de 1773, Obvian- do-fe as fraudes com que as pipas que haviaó de fervir para efte commercio dos vinhos y, fe faziao de medidas enganofas, e aflim paflavao , fem que os pareadores no- meados" pelas Camaras dos deftridtos as fizeflem reduzir a huma Jjufta medida; fe nomeia hum pareador geral pa- ra 'efte fim, abolindo-fe o exerciciodos pareadores par- ticulares y e fe daSú providencias para que a medida das pipas feja fempre ajuftada. No Alvará de 4 de Agotto de 1776, para fe evi- tarem as fraudes, e contrabandos , com que fe introdu; ziaO vinhos nas tavernas dos deftriétos do privilegio ex- clufivo da Companhía , e fe exportavaó para fóra do Reino , como vinhos de embarque, os vinhos de ramo, de ordena" emo $ 1, que no Porto, em Arnellas, e nos mais “portos do rio Douro que parecerem aptos , fe ef- tabelegaO armazens geraes , em que, debaixo das chaves, e infpecgaO da Companhia , fe guardem todos os vinhos de ramo que fe carregarem pelos particulares y pagando eftes' O alluguer por cada pipa, para dalli fahirem para os feus deftinos. | No $ 2 fe prefcreve o modo, e as circunftancias com que had de fer conduzidos , para fe evitar O ferem xe- Ele O NIO LMBIT GAS si 141 reexportados para algum porto de mar y donde poflaó fer mandados para tóra do Reino. No $ 3 fe prohibe a extraccaó dos vinhos de Vian- na, Moncaó, Aveiro, Bairrada, Anadia, S. Miguel de Outeiro , Coimbra , Figueira, e Algarves, por qualquer barra do Reino para os paizes eftrangeiros, por ferem de igual inferioridade , ou-ainda maior que a dos vinhos de ramo do Alto-Douro. Afúm he; mas que fe havia de fazer a tanto vinho ? Os lavradores daquelles territorios tambem faO vallallos defte Reino 5 fe os eftrangeiros que- rem beber aquelle vinho aflim mecímo máo , porque fe lhe nao venderá ? Elle naO vai mifturado com o do Al- to-Douro , nem munidó com a marca da Companhia, pa- ra que haja de dettruir-lhe a reputacaó. Desde o $ 4 até ao final, fe'eftabelece o modo de proceder contra os contrabandiítas deftes vinhos. Em o Alvará de 6 de Agofto de 1776 fe franqueaó os portos. da Bahia , Pernambuco y Paraiba , e todos os ou- tros da Africa, e da Afía para o commercio dos vinhos, aguas-ardentes , e vinagres da Provincia da Eftremadura , e llhas adjacentes, para que a elles naó pofla a Compa- nhiía mandar eftes generos j e o do Rio de Janeiro, e os que jazem ao Sul delle fe refervaó exclúfivamente para o commercio dos vinhos y aguas-ardentes y e vinagres da dita Companhia. Eis-aqui a legislagad, em que fe confumirao vin- te anxos , para regular O commercio y e economia do Alto Douro , fem que com ella fe fixaffe fobre hum xé firme, que fe encaminlhafle verdadeiramente aos qua- tro unicos principaes objectos, que nefta materia havia para promover; ifto he, a perfeicao do genero, a fe- guranga de bom prego y O augmento da produccaó, ea extentaO do contummo. 142 MEMORIAS ECALPNDDIDO ESO TOXOS Continuagao da mefma materia. Uando o interefle particular concorre com o inte- refle público, de ordinario ha hum ruinofo conflicto, e difficultofamente cede o interefle particular á caufa pú- blica. Na Córte havia hum Procurador defte negocio, que, figurando fer Procurador da lavoura , e da cauía pública , era aflalariado largamente pela Companhia), e na realidade hum feu agente na GCórte : todas as in- formagóes fobre efta materia , e todas as reprefenta- góes , ou foflem da Companhia, ou cubertas com o fup- polto nome dos lavradores y chegavao ao Legislador por efte canal impuro , fempre marcadas com o félo de interefle particular , a que fe dava huma cór de caufa pública , havendo fempre na chegada dos negocios á maó defte agente huma collifaó dos dous interefles ; e como o do agente era fazer prevalecer o de quem lhe pagava y neceflariamente havia de ficar o do público fupplantado. Por efte canal he que corriaód as fúpplicas para efta taó extenfa legislagaO , como a que fica expofta , além da muita que por Avifos ,, e Decretos paflou particular- mente á mefma Companhia , fem que por meio da eíf- tampa fe fizefle pública ; pois havendo na Secretaria de Eftado do negocios do Reino livros particulares para o regiíto dos que tocavaoó á Companhia, já em 16 de De- zembro de 1773 feregiftavao em hum livro terceiro de folhas 4o por diante, como fe vé do regifto do Alva- rá da mefma data , donde fe prova a fua muita ex- tenfao. Deftes Avifos particulares me lembra apontar hum, : que 7 ———E NS SS E PO ÉCONOMICA S. 143 que fe fez público por editaes da Junta da Companhia, para fervir de medida aos mais. Nelle fe prohibio o poder qualquer pefloa com- prar vinhos de embarque á bica, excepto aquelles la- vradores , que de fua lavra colheflem de vinte e finco pipas para Ífima ; que eftes os poderiaó comprar dentro dos limites do termo em que habitaflem , e tiveflem ao mefímo tempo as fuas vinhas ; de forte, que tendo as vinhas fóra do termo dos feus domicilios, já ficavaO in- habeis para fazer as ditas compras. Os lavradores porém do termo de Penaguiao, pa- tria do dito Procurador, e onde elle tinha os feus pa- rentes , e alliados , colhendo de vinte e finco para fima, podiaó comprar á bica todos os vinhos que quizeflem, e aonde quizeflem. Já no Capitulo 6 defta Memoria fe ponderou a ne- ceflfidade em que ficáraó muitos lavradores de vende- rem os feus vinhos á bica 5; fuppofta efta , e pondera- das as mais circunftancias y he facil conhecer a Jjuftica, e igualdade defta ordem. Huma legislagaO taó variada, e taO extenfa tem pro- duzido huma grande confufaO nos lavradores, que ama- riaO antes vender os feus vinhos a menor preco, e com mais liberdade. O tempo que fe concedeo para efta Companhia, forao vinte annos y como fe eftabelece no paragrafo quarenta e fete das Inftituigoes y; e pelo Alvará-de vinte e oito de Agofto de mil e fetecentos e fetenta e feis lhe foi prorogado por mais outros vinte anuos. He muito juíta a confervagaó da Companhia; fer ella talvez em poucos annos tornaria efte importantifli- mo commercio á fua antiga decadencia : he muito juí- to que o feu negocio feja auxiliado com privilegios, que fejao grandemente protegidos os feus interelles : po- xém etta legislagaO devéra fimplificar-fe de maneira, que os lavradores. tiveflem principios- certos y fobre que fe governaflem : a Companhia encargos correfpondentes aos gran- t44 MEMORIAS grandes lucros dos fous privilegios y; e o commércio ins terior, e exterior, mais alguma liberdade. A neceflidade defta já a reconheceo a Soberana em. o feu Alvará de 9 de Agofto de 1777 , deixando já chegar a verdade ao 'Throno o novo Procurador defin- terellado y que foi fubítituido ao outro, a quem deve at- tribuir-fe toda a defordem na legislacaó antecedene. Nefte Alvará fe torna a pór em liberdade a expor- tagao dos vinhos de Viana, Moncaó, Aveiro, Bairra- da, Anadia, S. Miguel de Outeiro, Coimbra, e Fi- gueira , acautelando porém , que nunca eftes poífaO ir mifturado com os do Douro y nem fahir pela barra do Porto, para que ifto nao caufe damno á reputacaó dos vinhos legaes do Alto-Douro. Semelhantemente fe dá liberdade para fe poderem navegar para todos os portos do Brafil vinhos de todas as terras do Reino , deixando á Companhia o privile- glo exclufivo da remefla dos vinhos do Alto-Douro; e ultimamente fe concede aos habitadores da Cidade do Porto maior liberdade para mandarem conduzir por fua conta O vinho que lhe for neceflario para o feu ufío. CUADRO Lo O: AXIL Em que fe apontao alguns meios que poderiaó to- mar-[e y, com que fe melbora[je efte negocio em beneficio do Commercio, e da Lavoura. O Primeiro objecto, que deve merecer attencao nefte negocio , he a confervagaó da pureza, e bondade natural do genero, e huma devida feparacaó dos vinhos que faO capazes de embarque, daquelles que o nao faó. Para ifto fe applicou o meio da demarcacaó ; porém ef- te tem-fe vifto que naó he baftante , porque nem pela demarcagao fe podia fazer huma perfeita efcolha , nem fe podem evitar totalmente as introduccóes' de vinhos de | NW q | EfGOINHO MI (GUÁYS; 145 de ramo para miíturar com os de embarque. Eftes in- convenientes poderiaO fazer-fe acabar, extinguindo-fe a demarcagaó, fendo efte o melhor meio de obrigar aos lavradores a fazer na vindima huma exacta feparacgaó das melhores uvas para o vinho de feitoria. Actualmente naó fica por vender vinho algum pro- duzido dentro da demarcagaOo ; os lavradores tem a cer- teza , de que naó eftando o feu vinho corrompido o ven- dem , ou pelo prego da primeira , ou pelo da fegunda ualidade 3; e por iflo aproveitaó todas as uvas que co- 5 dentro daquelle deftriéto ; ou ellas fejao boas, ou más ,; eos lavradores que cohem vinhos finos, que lhe ficáraO fóra da demarcagaO, ficaó privados do beneficio do preco que mereciaó , e a mafla total fem aquel- las porcóes preferiveis a muitas y das que ficárao dentro da demarcacaó de embarque. “A produceaó ordinaria das vinhas demarcadas , re- gulada por hum cálculo medio , coftuma fer de 28a 30000 pipas cada anno 5 a exportagaóo ordinaria deftes vinhos coítuma fer ordinariamente cada anno de 24000 pipas para fima y como fe póde inferir da lifta que ao diante fe ajunta y extrahida dos regiítos da Alfandega do Porto. Os vinhos antes de fe carregarem para fóra, cof- tumao demorar-le nos armazens do Porto tres ánnos, para a íua purificagaó , e diminuem por hum cálculo in- dubitavel huma nona parte, a qual, augmentada fobre a quantidade da exportagaóO , faz “que a compra no Al- to-Douro deva fempre exceder de 27 a 28Q$oco pipas : neftes termos devéra conftituir-fe todos os annos liuma mafla total" de 30000 pipas de vinho de feitoria , e dahi para fima y no cafo de fe augmentar manifeftamen- te /a: exportacao. ; Deveria dar-fe aos lavradores a liberdade de fabri- car“ todos”os feus vinhos, para entrar em concorrencia para”a feitoria: de embarque y da máneira que a elles lhe: parecefle. Depois de cítarem os vinhos em termos de Town. III. NU fe- r46 MEMOÓORIAS ferem examinados por meio; das provas , deveria paflar- fe a fazer exame em toda a mafla, que os lavradores propuzeflem para feitoria por finco lavradores peritos, dous nomeados , e pagos: pela Companhia ; dous nomea- dos pelas Cameras do Alto-Douro , e pagos por hum tanto em cada pipa, que ficafle approvada. para embar- que, o qual deveriaó pagar os, donos dos vinhos qua- lificados ; e hum nomeado, e pago pela feitoria Ingle- za , para que por pluralidade de votos feparaflem de to- da a maífa as ditas. 3000o pipas do melhor vinho que achaflem , fixando-fe inalteravelmente aos da primeira forte. o. prego. de- 36 NHo00o réis, e aos da fegunda o de 3000o réis, fendo igualmente marcados pelos mefmos provadores eftas qualidades em cada tonel de vinho ef- colhido. Defte' modo. todo. o lavrador 'fe- empenharia, em. fa-- zer- O. feu. vinho melhor , que fofle poflivel , para na. concorrencia. dos. outros fe lhe dar a preferencia y vin-- do. efte a. fer o melhor caminho para. fe-procurar a per-- feigaú. do genero , e guardar a juftica deftributiva de dar a cada hum. oque he feu, ceflando. aflim o grande cui- dado , e a neceflfidade de acautelar as introduccóes. Deftas. 3o$oco pipas , logo que foflem qualificadas, por bilhetes , na fórma que agora. le pratica, deveria fer livre comprar commulativamente- a Companhia , e os comerciantes. nacionaes , e eftrangeiros as quaniidades. que lhe pareceflem até ao ultimo. de Janeiro; e ós que até elle tempo nad-eftiveflem vendidos , os deveria com-- prar todos a Companhia indefeclivelmente para lhe dar. a fahida que melhor: lhe parecefle. | O refto. da produccao. do vinho do Alto-Douro. cofz tuma. fer de 38: a 49000. pipas.5 a extraccao, deftas de- veria fer defte modo: regulada. Deveria a Companhia. dar aos. provadores. a lifta. do número de pipas, que: naquel- le anno queria comprar para O feu negocio do Brafil, e portos do Baltico , pois que: neftes le nao amaO ainda vinhos taá fortes, como em Inglaterra; e para as ven- das ÉCONOMICA-S. 147 das que coftuma fazer de vinhos menos finos para o AÍ” mirantado Britannico, para que os mefmos provadores ef” colheflem do vinho propofto para feitoria, e que para iflo nad ficafle qualificado y outra tanta quantia de tercei- ra, e quar-a forte , para a Companhia comprar o de terceira a 25000 réis y e O de quarta a 20000 réis, pois que neftes pregos cabe muito bem hum raciona- vel lucro. Como a exportacgaó ordinaria do vinho defta lota- caO he de 6f$500 pipas para fima y como fe vé da di- ta lifta do regiíto da Alfandega y fe póde reputar efta quantidade em 7Qoco0o pipas de compra no Alto-Dvouro , attendendo ás diminuigóes y e ha todo o motivo de eí- pe que fe adiante muito a extracgao do vinho defta lotagaO para o Baltico y; porém para evitar que Os Oou- tros comimerciantes poflao mifturar eftes vinhos com os finos de embarque, deveria fer privativamente concedi- do á Companlíia o commercio de vinhos de terceira, e quarta forte: no mais vinho, que naO entrafle em algu- ma deftas clafles, deveria a Companhia comprar O vi- nho neceflario para o provimento das tavernas do feu privilegio exclufivo da Cidade do Porto , e terras adja- centes, em que ordinariamente fe coftumao cconfummir de 17000 pipas livres para o lavrador y deixando-lhe a cada hum para o gafto de fua cafa , O que raciona- velmente lhe toffe neceflario y fegurando-fe defte modo o confummo a 54000 pipas: ao refto, que faó de 12 a 16000 pipas y, dería facil a extraccaó no commercio interior das teras em que ha liberdade da venda defte vinho , no confummo das proprias terras da producgao, e nos lambiques. Como os vinhos brancos naó podem, alcancar os mef- mos pregos dos tintos nos paizes eftrangeiros , deveriao fer os da primeira forte a 25000 réis, os da fegunda a 20Qoco réis, os da terceira a 150000 réis, e o ref- to deveria ficar para ramo. Como he interefle público , que todas as terras fe- ; É Jao TAS MEMORIAS jaO cultivadas, e aínda ha nefte Territorio mattos incul- tos , 'deveria dar-fe liberdade para: nelles fe plantar ba- cello, reftringindo fómente a prohibigaO defta plantagao ás terras que já andaflem cultivadas y porque no fyftema ponderado fica ceflando o recelo da redundancia do 'ge- nero : pois no cafo de redundar, vinha a fer nos vinñhos de má qualidade, e inferiores, que por iflo meímo fe veriaO os donos defles vinhos obrigados a deixar a cul- tura daquellas vinhas, e empregallas em cultura de pao, ou de alguny outro genero. "| Defte modo feattendia tambem ao fegundo, e ter- ceiro objecto digno: de attencao nefte negocio y, que vem a fer a fegurangca de bom prego com a certeza das ven- das , no modo que fica dito; e o augmento da produc- cao com a liberdade de fe plantarem as terras y que ago- ra eftao fendo eftereis , e que plantadas podem produ- zir vinho de qualidade, que naó vem a redundar. Os vinhos que a Companhia comprafle para os lam- biques , deveriao fer pelos pregos em que convieflenr com os donos , ficando a eftes, e a qualquer outra pef- foa natural defte “Ferritorio , livre o deftilar os vinhos, e dar ás aguas-ardentes a fahida que lhe pareceffe , com tanto que naó fofle para a Cidade do Porto , ficando O provimento defta, e a exportagaO pela barra da mefíma privativa para a Companhia. Efta liberdade favoreceria muito o confummo dos vi- nhos inferiores, que tambem deve merecer attencao: fo- bre efte fyltema fería facil emendar os mais defeitos, e abufos , que nefta Memoria tem fido apontados. Efta mudanga feria de maior utilidade para éefte 'Lérritorio , mas eu concluo efte Capitulo com Erafino: Matare res rum flatum proclive eft, mutare in melias difficilimam.. C A- ENO TO PO AO SA 14O ú ESAPPMTIN URINA ANA) En que [e trata do augmento da extracaO dos “vit- oo aubos do Alto-Douro para os portos do Baltico, ; e da utilidade defté Commercio. O Objecto do confummo deftes generos he da maior importancia nefte negocio ; fem o augmento delle, — de balde fe procuraria o adiantamento , e eftabilidade nos demais objectos : elle deve fer confiderado como a medida do progreflo dos outros; mas por infelicida- “de da nofla nacaó, elle naó deveo attencao alguma em tantos annos , que fe trabalhou na boa ordem de huna negocio , que deve fer o mais attendivel, pois que ez le faz a mafla principal da materia 'do Commercio acti- vo Portuguez. Os paizes do Norte faó os que 'fe devem aviftar para o confummo dos vinhos : o feu clima faz necefla- rio o ufo defta bebida : elles naó a produzem, e necei- fariamente a haó de acceitar dos paizes do Meio dia. A Franga nos tem enfinado a ir bufcar' os portos do Norte para dar fahida aos feus vinhos') ' que nem íao taO delicados, nem taO agradaveis, nem de tanta dura- cao , como os de Portugal: ella nao efpera com os vi- nhos nos feus armazens , para que lhos venhaó comprar os eftrangeiros;, leva-lhos nas fuas embarcacóes, e traz novos lucros no confideravel retorno. E que ferá o que embarace a nós-outros os Portuguezes , para que naó obremos do mefmo modo ? A diftancia náaó he tanto maior, que nos faga defanimar: a concorrencia dos feus vinhos nao nos deve aflombrar, pois que os noflos ex- cedem na bondade. Devemos pois defafiar o gofto daquellas nagóes, pa- ta que fe inclinem, e acoftumem aos noflos vinhos: de- vemos levar-lhos , fendo cíte o meio de hum augmenta k b con- x5O MEMORIAS confideravel do confummo , e ounico que póde fazer o nollo Commercio florecente y e independente daquellas nagóes y, que quafi nos tem mettido em efcravidaó. A nofla Augufta Soberana franqueou efte caminho : ella nomeou para Conful Geral do Commercio da Ruf- fia a Jofé Pedro Celeftino Velho, homem muito habil, e creado na efcola de Hamburgo , em que tomou todos os conhecimento do Commercio dos portos do Mar-Bal- tico. A Companhia eftabeleceo caía em Petersbourgo , fa- zendo Chefe della ao mefino Conful, Deputado da Com- panhia , com a adminiftragaO da dita caía, dando-lhe para feus aflociados Henrique de Araujo Silva, creado na efcola do Coimmercio de Inglaterra, e Pedro Mar- tins Gonfalves, homens efcolhidos para defempenharem eíta importante adminiftracad , que fe naó limita Íó ao Commercio da Companhia y mas he eftabelecida para to- das as commiísoóes y, que os mais Commerciantes lhe qui- zerem. encarregar. Porém ifto , que eftá eftabelecido a refpeito do Im- perio da Ruflia , devéra eftender-fe a todas as mais na- gOes , que tem portos no Baltico : a Dinamarca y a Sue- cia, a Pruflia, e Alemanha , todas neceflitao de vinhos: ellas naó os vaód buícar, e fe aproveitao daquelles, que lhe levao. Nos cabedaes da Companhia cabe o fazer tentativas em todos eftes portos: as primeiras naó devem fervir de regra : quando a Inglaterra as tem feito , naO duvida per-' der as primeiras vezes, para cftabelecer as vantagens fu- turas : quando quiz alcancar da Ruflia a preferencia dos feus pannos aos da Pruflia para o fardamento das tro- pas, deo-lhos a hum prego , que certamente perdia y de- pois que vio a Pruflia em eftado de lhos naóú poder for- necer , tem refarcido mais que muito a perda antece- dente. : O ponto eflencial defte negocio he fazer goftar ef- tas nagóes dos noflos vinhos y e acoftumallas ao - del- esto EC ONNVO MUTUA So 151 les ; ito deve procurar-fe , aínda que feja fem lucro al- gum ; porque lucra báftante o interefle público em efta- belecer-fe hum caminho de confummo , para que naó le- ría demafiado todo o vinho do Alto-Douro, e em que a Companhia podería depois tirar hum lucro compenta- tivo dos incomuinodos defías tentativas. Efte Commercio naóO he fó vantajofo a Portugal pe- lo confumiño des feus vinhos; naó ha nacaó alguma que melhor efteja nas circunftancias de eftabelecer hum Com- mercio directo com ás do Norte, do que a nofla, e que mais O pofla fazer de boa fé, e fem defigualdade nota- vel da balanga.. Nós temos o vinho , a agua-ardente, O azeite, O fumagre, o fal, as fruttas, a féda, o aflucar, o páo campexe, é as madeiras do Brafil ; de tudo ifto ellas neceflitao , e muitas deftas coufas lhes fa levadas pelos Hollandezes com o exceflo do lucro da revenda. Ellas tem o linho , a linhaca , o oleo da linhacga, “O trigo, e mais graos, e legumes, O ferro, ago, co- bre, eftanho , chumbo, azougue, rhubarbo , al- catrao , pez , breo ) caparrofa', céra , cebo , madeiras: de conftrucgaS , aduella y maftreacaó y veliame, macame, lo-- nas de toda a. qualidade , muitos , e excellentes tecidos de linho , e algodaó, efpecialmente os da Silezia y meias de la, peixe fecco, e muitos outros: generos, de queiin- difpenfavelmente neceflitamos y e que á muito temos fido: obrigados a comprar em fegunda maó aos Hollandezes , e a outros depois de terem efcolhido para fi os melho-- res , e levando-nos. fobre os inferiores o lucro da con-- duccao ,. e da. revenda. Tendo: pois huns, e outros as materias taóO: impor- tantes: para hum mutuo. Cómmercio , na. póde efte dei- xar de ter um grande adiantamento vantajofo a ambos Os extremos , fe for' promovido com bem intencionada diligencia , e boa fé. A nós cónvem-nos muito: adiantar o confumimo: dos: nolflos vinhos ; para ifto he necelfario fazellos preferiveis em qualidade, e prego na“concorren- cia. les efcol chegado vem, q e de que dos, e tra naga alguma eícolha ALAN Marinh: do emp mo nos muita c confider do Nor ara O arcacos todos O o núme: fe todo: Capitao de viag a Aa fentido mercian O O A AS E j DO ESTADO ACTUAL DA POVOACAO DA COSTA MERIDIONAL j D O RFONTDSO DO, : É SEGUNDO OS REGITOS DOS ROES DOS CONFESS AOS 3 de cada Freguezia do anno de 1781, em que fe aponta o eftado de al- gumas no anno de 1733, Eo vem anotadas na Geografía j de Lima, para por eltas fe conhecer proporcionalmen- Ñ te o augmento que tem havido. 4 Eftado da Povoacao no anno | Dito no anno Augmento 3 É de” IJO- | de 1733. | actual. 1 Freguezias. Fogos. | Almas. | Freguez. | Fogos. | Almas. Fogos. | Almas. S. Joaó da SS 3320 DE DLIO Dita AT [ITGHZOGA AS Z Nagozelo - - - 8O |" AZAA Dita 75 201 5 43 COU A 11O 3263|| Dita 18o 20 REA Ervedofa -— - 79 229 Dita 6o 153 19 "36 3 Defejofa - - - - 28 10O É Valenca sse SEDE dE AS : Mavora ada E 92 286 Dita 221 da o EZ. Taboago - 199 616 Dita 17O 538 29 78 Adorigo -—- —- - 9 263 Barcos oo o 133 382 Dita EZO|A 302 3 Granja do Tedo - 94 38O Dita 75 237 19 43 [ó Goujoim - 108 342 Dita 81 206 27 36 Artmamar oo o 334 | IHOI2 Dita 305 985 29 27 É a Villa-fecca - - 121 394 Dita 95 262 26 32 Santo Adriaó - - 63 219 Folgofa - —- ss - 6o 169 ás Caftello 203 717|| Dita CO OA DUE 300 É Prada: sg osos 3Z 129 Dita 39 EZOS [AS I Valdigem- - - - 192 627 Dita 17A 513 18 116 Pigueiras osa 82 20A “Sande so 11O 393 Dita 106 AZOS 44 y Cambres - - - - 416 | 16333 Dita 258 942 o 301 ke Samudáies- -—- - 103 340 Dita 1O5 346 3 Penajoia - —- e - 311 | I$794|| Dita 344 | I$200 594 594 É Total -— -— o - | 34371 | 11D947|] Toral |2$985 34385 "RE “24086 4 NA A AA AEAT ATE TETA ARO TER TENA FCT TÚA ja 5a | cia dos É | enda é SE o Nort ? | nós m E Cata | ; o callos:s les efco chegade SS y ; rinh LAT ES) ÁS Ao BAS A muita ( confide do No dara O arcagí parada vio | fe algu e cada te de. todos ' fentido mercia: TARA PERAS [or A MP PRADA DNA OS v to METO Ies RR TES So fenudo mercia! ) PITA HO F “O nm Ju NO o í ea AAAG PO OA E EO | | 4 € É Cc 0 N#ZOCIMNIFETA íS: 153 delle , experimentaflem algum beneficio a refpeito dos di- teitos ,' fazendo-fe-lhe huma diminuicaO nelles á propor- gaó do augmento das fuas carregagóes. Defte modo con- feguiria Portugal hum copiofo confummo para os vinhos ; compraria os generos do Norte efcolhidos, e a melhor prego ; veriaó huma Marinha, que fe fizefíe refpeitavel em toda a parte; erecolheria em fi os importantes cabe- daes , que a Hollanda todos os annos recebe pelos tranfí- portes, e revendas deftes generos. Tom, III. VA M E- 154 MEMORIAS MEMORIA Sobre a caufa da doenca , chamada Ferrugem , que vai grafjando nos Olivaes de Portugal. Olea prima omnium arborum et. GColum. POR ANTONIO SOARES BÁARBOSAS. T O: verad: de 1790 fiz a minha morada em hum territorio , aonde as Oliveiras padeciaOo- a doenca chamada vulgarmente a ferrugem. O. trilte elpe- Ctaculo que offereciaó os: olivaes tocados do mal, e o damno que foffrem: os. proprietarios y Os colonos, e ao mefímo tempo a maflfa da fubfiftencia pública , da qual nao faz pequeña parte efte ramo. da cultura, excitou. eu. mim o defejo de poder de algum modo concorrer para o feu remedio. Elfte fentimento fujeitou, e avivou a mi- nha obfervagaód. Julguei porém , que a minha primeira em-- preza devia fer o indagar a caula do mal. A ifto fe diri- gíraO. todas as minhas obfervacoes, e experiencias. Elta. pois he o principal objecto defta Memoria. E na verda- de como. fe poderáo defcobrir os remedios do mal que 'pad-cem. as oliveiras , fem primeiro indagar a caufa, in- dicalla com certeza, e nao. fuppolla , como faz: o vulgo. ignorante ? Para fahir defte trilbo , entrei a duvidar de tudo o que até agora fetem dito a efte refpeito 5 a naó- contentar-me com quaefíguer obfervacoes , e a variallas por todos os modos que me foi poflivel. Os refultados que: dellas tirei y parece-me ferem os que fe devem imimedia- tamente deduzir. Para propór methodicamente tudo o que achei , e defcorri y dividi efta Memoria em nove Capitu- los, cada hum dos quaes tem o feu objecto particular), indicado no argumento que lhe correfponde. . DU GAR- ECcONOMICA s. 155 CAPAT UU ADON E Sinaes geraes que acompanhaú a doenta da Ferrugem. $ E P Ara que eftes finaes todos fejaó bem vifiveis, e obfer- vados ainda pela gente vulgar y, he precifo efcolher hum olival, em que a doenca fe acha adiantada ; e hum tempo em que haja baftante calor , e que as oliveiras pela fua expoficaO o fintad. Todas eftas circunftancias fe me offerecéraó nos principios de Julho de 1790, que foi o das minhas primeiras oblervacóes. O primeiro final pois he a cór eícura, com que parecem tintas as folhas , e ramos da oliveira, vifta em alguma diftancia : a qual cór entaO fe offerece musis carregada quando a oliveira tem deitado as pontas cimeiras, ou renovos, pelo contrafte que lhe faz a verdura, e vigo deftas. Chegando ao pé da oliveira, vé-fe com efeito eftarem as fuas folhas, e parte dos ramos mais ou menos cubertos , e barrados com huma fubítancia preta y a qual fe póde levantar com a unha, e defícubrir o verde da folha. 6 II. O fegundo final he y, que averiguado muita parte dos ramos , fe vem levantadas na fuperficie delles humas pro- minencias tuberculofas y rugofas , e efcuras, as quaes Íao mais baítas, e contiguas á proporcgaó que occupaó a par- te ultima do ramo y; ou proxima ao renovo: ahi aquel- les tuberculos formaó varios grupos, os quaes fe vaó api- nhoando no ramo. Eftas prominencias facilmente fe def- pegaó com o dedo , e fazem conhecer ao obfervador , que fÍaó os corpos accidentaes, e eftranhos á oliveira. En- tado he que o mefmo obfervador conhece ferem humas Vda cal- 136 (MEMORIAS cafcas convexas, cujo interior concavo. ferve, ou fervio, coimo de oveiro , aonde fe criáraO, e defenvolvéraO jin- feétos, de que foraO, ou fas matrizes; e-por iflo á doen- ga que padecem as oliveiras tambem o vulgo coftuma d chamar a mal do bicho, GRAE- O terceiro final he, que, obfervadas as oliveiras em diftancia, e em tempo que os raios do Sol caiaó nellas com alguma obliquidade , as fuas folhas pela parte fuperior apparecem lucidas ; e brilhantes y como outros tañtos cryltaes : examinadas ao perto, e tocadas , ellas feachaó em parte como envernizadas com: huma Íubftancia bran- ca, tranfparente , e: vicofa , a qual accumulando-fe defce á ponta da folha, e ali, adquirindo. maior volume, e pezo, cahe no chaó. Se nefta ha pedras, eftas ficaó' mo- lhadas por muito tempo, e como untadas com efta me[- ma. fubítancia. Algumas das oliveiras, que eraó objecto das minhas obfervacóes , cahiaó fobre huma calgada : ef- ta: permaneceo todo: O: veraO cheia de nodoas como de azeite-: advertido ifto. pelo povo vizinho , avultou tanto: na. fua imaginagaó , e credulidade ) que fe efpalhou como: milagre , deftilarem as folhas. das oliveiras azeite.. SEA Parece , pelo que nos refta dos Autlores' antigos que efcrevéras da luftoria , cultura , e doenca das arvo- res, que efta doenca das oliveiras lhes foi inteiramente defconhecida. “Theophralto na fua Hifloria das Plan- tas, refere ,' que as oliveiras , entre outras doencgas, tambeny padeciaoó a dos vermes , Os quaes igualmente ifaziaO morrer a figueira y produzindo-fe , e multipli- cando-fe alli é£1). Plinio y trasladando , e vertendo ef- te (O Bib. 4. cap. 6, EÉ CONO MICÍA Ss. 257 te lugar de Theophraftó , dá a efta doenga o nome de vermiculatio (2)). Como pois efta doenga dos vermes naó venha acompanhada dos fimptomas y que entao cau- -fava nas oliveiras , fica incerto, fe o'genero de infecto, que agora acompanha a doenga dos olivaes de Portugal, fe comprehenderá tambem na generalidade daquelles y de fallao fobreditos dous Naturaliftas que fallao os fobreditos dous Naturalittas. 6.1Vo He”de crer: que os olivaes de Portugal nuncay pa- decérao huma femelhante doenga, por nao: haver memo- ria della , nem. Author algum noflo y que della faga men- gaó. Entre os eftrangeiros Mr. Bernard , na Memoria que deo fobre a Cultura das Oliveiras em 1782'(3), he o unico que defcreve hum mal inteiramente femelhan- te ao das nofías oliveiras y e que graflava' fobre' as de toda a cofta de Marfelha até Antibas. Nellas fe viaO to- dos os finaes aflima referidos. Pois elle obfervou as ma- trizes dos infectos, cujas cafcas eraO alteadas com fuas ner- vuras', e pegadas ás oliveiras; e o nome geral de GCher- mes; que lhe deo y moftra a fua femelhanga geral com as que aflima defcrevemos. Obífervou nas manhans de ef- tio , que as oliveiras attacadas do mal 5 fe achavaod cuber- tas de gottas, e que a fuperficie da terra correfpondente ás folhas eftava humida. Chama-lhe gottas de agua, por- que fe contentou com a fimples vifta, e nao as examinou de mais perto, e como tacto. Obfervou ultimamente y que as folhas, e ramos das oliveiras eftavaO tintas com huma cÓr negra. Todos eftes caralteres mofñtraO a identidade do mal, o qual no tempo em que graflava nas coftas de Mar- felha y já tambem tinha comecgado em. Portugal. CA- (2) HA Nat.-Eibr. 17; capo “37o (3) Rofier, DiA. d'Agr. V. Olivier. 158 MEMORIAS CAPITULO IL Diftripegao do Infeéto que Arfacoos na Oliveira ac- comnettida da doenga. 6 VI. S Zoologiftas para claflificarem os infeétos , obfer- vaó-nos logo depois da fua transformagaó , a que chamaóo eflado perfeito. E: na verdade efte he o metho- do verdadeiro quando o obfervador tem fó por fim a de- terminacao exacta do feu genero , e efpecie. Eu porém, que pelo tempo em que obfervei, naO podia entrar nef- fa averiguagaó , a qual tambem para o fim que me pro- punha nada importava, conteitei-me (com examinar aquel- les infectos no eftado em que fe achavaó. Efta defcri- pgaó ainda aflim melmo fará conhecer com toda a cer- teza O genero a que elles pertencem , e em todo o tem- po fará diftinguir efte habitador da oliveira de todos os mais. Examinando pois de perto y já com a fimples vif- ta, já com huma lente a prominencia que fe acha adhe- rente ao ramo da oliveira, vé-fe, que ella he a cute ex- terior de hum infecto, o qual, aproximando-fe alguma coufa ás fuas extremidades y diminpue longitudinalmente : defte modo levanta a parte do meio, e arquea as extre- mas, eaflim fórma ordinariamente metade de huma fphe- roide mais alongada nos polos. A natureza , para facili- tar 'elta; operagao , proveo o infecto de huma nervura dorfal y prominente , e redonda , a qual, por modo de hum efpinhago, parte de huma extremidade á outra, a divide o corpo do infecto em duas partes. Efta nervu- ra longitudinal he cruzada por outras duas parallelas, e alguma coufa diftantes, as quaes partem tranfverfalmen- te de hum lado da margem para o outro. Eftas mottraó que o infecto confta de tres anneis: O mais pequeno he o do meio, e formado pelas tranfverfaes : Os dous maio- : res po A a EcovNomMICA s. 159 tes compreliendem as porgóes, que formaO as duas ex- tremidades. Além diíto, oblferva-fe por toda a margem em torno humas rugas , que correm da extremidade da mefma margem, á maneira de pregas, aproximando-ífe alguma couía á proporcao , que fe vaó adiantando pela mefma margem aflima, na qual em certa diítancia aca- baó. Todas eftas divisóes , nervuras , e rugas fe divííao com huma lente no dorfo do infecto , ainda plano, e horifontal , antes de principiar a intumecér , e encurvar- fe. Bem fe vé agora , que arqueando-fe a nervura dor- fal, e as tranfveriaes, é franzindo-fe as rugas mafrginaes, haó de dar á cute, oucafca dó infecto , huma figura fe- mi-globofa. Fitando a attencaO na parte externa conve- xa , faz logo lembrar, pela cór efcura, e pelas rugas com que fe acha como engelhada, hum grao de pimenta cortado pelo: meio, e pouíado fobre hum plano. 6 VIL Acha-fe efta caíca convexa baftantemente adherente ao ramo da olweira, O que moftra haver huma materia, que a fegura, e prende. Com effeito defapegando-fe, fe obferva naquella parte do ramo huma nodoa- branca , for- mada por hum cotaó tenuiflimo, que prende toda a bor- da da cafca ao ramo , excepto na parte pofterior , aon- de ella eftá como chanfrada , e dividida em duas pe- quenas lacinias hum pouco reviradas. Vifta a parté con- cava, logo fe manifeita fer aquella cafca reto de hum infecto feminino , pela grande multidaó de ovos que en- cerra y e de que he, ou foi matriz. Pelo que tres faó os eltadós-em que fe achaó aquelles oveiros : 1. contendo OVOS, 2. parte ovos , parte infectos defenvolvidos , 3. fem. liuma:)e outra cota. No primeiro eftado , a-chaó-íe es ovos. empilhados , e encoftados huns aos outros, Íe- pararítio-os: porém ,. e obfervando-os com a lente , fe viao; fer hurís corpos ovaes chátos, que conftavad de hu- Ria) caica- brancas, e tranfparente, e por ella fe via den- ; tro "16O MEMORIAS tro o infecto immovel , e de huma cór tuiva; a qual era mais carregada , quando elle eftava mais perto de fa- hir. Defcuberto o oveiro no fegundo eftado , e princi- palmente em tempo de calor, ou fendo. expofto ao fol, viab-le muitos" dos. intectos forcejar para romper a caí- ca', aqual deitavaO fóra a certa diftancia outros fahiao ainda /ineio cubertos coin ella até a largarem : outros ar- raftavao parte della adherente á cauda, Outra parte fica- va immovel. O tempo me enfinou y que daquellas matri- zes fe hiaO defenvolvendo , e fahindo infectos de dias em dias pela parte pofterior chanfrada , até fe defpejarem, para O que era precifo bafítante tempo. Daqui vem as differentes grandezas, e augmento y, que fe obfervaóO nos que fe encontraO efpalhados pela oliveira. Em hum pe- queno ramo dividido em duas pernadas , nas quaes efta- vaO alguns grupos daquellas mutrizes y e que cortei a 26 de Julho para as minhas obfervagóes , continuáraO a ap- parecer infectos até aos fins de Agofto. Entaod defcubri as matrizes, e as achei fem infecto algum7j e efte he o terceiro eftado em que fe obífervao. O concavo da ma- triz eftava cheio de huma como farinha branca 5; a qual fe fórma das cafcas dos ovos partidos, e eflmiugadas pe- los mefmos infectos: $ VIII He incrivel a vivacidade , e movimento rapido com que os infectos , fahidos da fua matriz, difcorrem pelos ramos da oliveira. Ninguem diria que elles em breve tempo vao a fixar-fe, e a perder toda aquella activida- de, pela immobilidade em que ficará. Eu os feguia, e Eblervava em toda a fua derrota y e depois de os ver parados, fempre os achei no mefmo fitio. Huns ficavaó nos ramos máis delgados do anno antecedente , Outros nas crefcengas , outros nas folhas, mais porém na fuper- ficie fuperior, que na inferior; outros em fim na azei- tona, ainda entaO verde, pofto que em menos OR “- E CONONMnT dA ss; 161 dade. A fua figura he oval, a cór he de hum ruivo aver- melhado : com o decurío do tempo fe faz mais efcura, e por fim vem a defímaiar até fe fazer parda. Como as matrizes differentes eftao lancando infectos por muito tempo (o que fizeraó , como já difle, até o fim de A- gofto de 1790, em que os calores durárao mais, e foi o das minhas obfervacóes) , por iífo nos mezes feguin- tes encontrei infectos de differente tamanho , e cór, o que aos pouco intelligentes faz crer ferem diverfas efpe- cies. Depois que o intecto entra no feu eftado de immo- bilidade y ou lethargo , he difficultofo tirallo delle. Eu com tudo , elevando fubtilmente com a ponta de hum alfinete a epiderme do ramo, e folha, fiz defpertar al- guns. Os feus movimentos eraO taO tardos y que a pou- co efpago fe aquietavao. Alguma vez levantei o corpo do infecto , ficando fó prezo pela bocca á epiderme, e nao obftante ilto, perfeverou na fua immobilidade. De tudo iíto fe vé, que hum dos principaes caracteres defte infecto depois que nafce, he o de tender aprefladamen- te a fixar-fÍe, e ficar imimovel. GND Nao he neceflaria muita reflexao , fobre o que ex- uzemos no $ 6, e 7, para conhecermos y, que os in- tectos y que falbem das matrizes tuberculofas adherentes á oliveira , pertencem á clafle dos que Reaumur chamou Gallinfectos (4): Linneo arranjou todas as efpecies de que teve noticia y debaixo do genero GCoccus (5). Como as femeas defte genero fe fazem notaveis pela fórma que tomao , Geer Naturatifta Sueco y que trabalhou na Hifíto- ria dos Infectos pelo mefmo methodo de Reaumur, as dividio em duas familias (6). A primeira comprehende Tom. III. | b. as (4) Mem. pour ferv. A lhift. des Inf. tom. 4. Mem. 1, ; FAS TRINa be 1a pr 'Ord. d[Hemip. gens 229: RO) Hift. des Infect, t, 1. Clafl. 1O. n. 81. 162 MEMmOR DANS as femeas que fe aflemelhad mais a huma ga/ha , que a hum animal, por terem a pelle liza, e entezada: a fe- gunda as que retém a femelhanga de hum infecto, por confervarem na pelle as incisóes que dividem o corpo em anneis. Naód póde pois haver dúvida alguma , que a matriz adherente á oliveira 'pertence á fegunda familia de Geer, e que he hum Ga/linfeclo , fegundo Reaumur, e que em fim deve entrar no genero Coccus de Linneo. A obfervacaO para o futuro em tempo competente fará conhecer as partes de que confta o macho, e a femea, e as differengas que ha entre efta, e aquelle. Com tudo o que tenho dito he muito fufficiente para o fim que me propuz, e determina fem dúvida alguma , qual feja o genero de infecto y que povóa as oliveiras de Portu- al. ú GAS Entre as vinte e duas efípecies de Coccus y que def- creve Linneo, naó ha alguma que comprehenda, ou fe affemelhe ao de que tratamos. Por ilo o reputo por hu- ma efpecie , que fe naó tem defcrito até agora , OU aQ- menos com a devida exactidao. Nós reduzindo a pou- cas palavras o expofto, o caracterizamos do modo fe- guinte: xs Coccus olee : Fuftus , femipiperiformis , ver- vo dorfali y duobus aliis tranfverfim y O recla fecto, margine rugofo. A Os Naturaliftas y delcrevendo efte genero de infectos , coftumao diftinguillos conftantemen- te pelas arvores em que fe achaó. Eu fiz o mefmo na formula com que defcrevi o da oliveira. Eftou porém bem longe de crer, que eftes Coscinfeclos fejaoú fó par- ticulares ás arvores em que fe encontraoO. Mr. Bernard, na Memoria já citada , diz, que tinha encontrado algu- mas vezes O Kermes da larangeira na oliveira, mas que ilto acontecia quando efta fe achava aonde fe cultivava a primeira, Além difto, affirma ter encontrado o kermes da oliveira na murtha, e que efta fe achava de tal lfor- te cuberta com elle, que ficaría duvidofo qual das duas era ECóÓ NOME É MES. 163 era a habitacaO propria delle. Eu enconrrei o Coccus da oliveira em larangeiras, que fe achavaó ao pé de hum olival attacado com a doenca de que tratamos, e tam- bem em hum limoeiro azedo. Em outros fitios achei la- rangeiras, e murthas ifentas defte Coccus , pofto que cer- cadas de olivaes, aonde reinava o mal. Kftas larangei- ras O contrahíraO ao depois, e as vi povoadas de GCoc- cinfectos , mas differentes na efpecie dos da oliveira. 'Tu- do ifto moftra , que fe nao póde eftabelecer como cara- Cter feguro a habitagao , ou arvore em que fe coftuma achar o Coccinfefto. E na verdade , tendo encontrado o de que trato, e defcrevo na larangeira ), elle certamente he differente do que Geofroy (7) intitula Chermes Hef- peridum , e que elle faz proprio das larangeiras, e das demais arvores pertencentes á familia deftas. Por quanto na defcripgao que faz defte, diz, que a femea defta ef- ecie, depois de chegar ao feu ultimo eftado , perde a órma de infecto, e lhe defapparecem os anneis : o que naó convem á que eu achei na larangeira y pois perten- ce á efpecie que defcrevi no $ 6. Linneo di mais ex- tenfa a habitagao do kermes de Geofroy , que elle tam- bem chama GCoccus Hefperidum , dizendo que habita nas arvores fempre verdes do invernadoiro (hybernacauli) (9). Nellas fe póde muito bem comprehender a oliveira: po- rém como o GCoccus y que altualmente fe propaga nas de Portugal , he inteiramente differente do de Geofroy , fe- ría multiplicar as incertezas, fe o quizeflemos reduzir ao Coccus Hefperidum de Linneo. “Tudo ifto juftifica o que tenho dito, e defculpa a miudeza efcrupulofa y com que expuz , e determinei a efpecie de que trato. Xii C A- 7). FE. des Inf. tom. t. pag. 505, Ed. de Par. 1762, (8) Sykt. Nat. loc, cit. f | 164 MEeEñMOoOrRrRIAS CAP OUT, Donde vem o Licór', que de fi langa a Oliveira ac- commettida da doenca. SAA A Inda que he muito natural a qualquer que obferva a oliveira doente y o perfuadir-fe y que o licór der- ramado pelas follas, provém da mefima ; com tudo naé quiz affentar niflo , fem que as experiencias mo enfinaf- fem. Para ifto efcolhi hum ramo , cortei-lhe os lateraes, e deixei-lhe fómente na ponta as folhas ultimas : lavei-as bem , e de tal forte , que ficaflem livres de todo o hu- mor 5;'e corpo eftranho 5; e naO fó a vifta, 'mas o tacto me confirmou ,'nao reftar alli humor algum vilcofo. Vi- fitei-as no dia feguinte y e nellas já appareciao muitos pontos 'molhados , € permanentes , os quaes fe foraó au- gmentaándo de forte y que dentro de dous dias eftavaó quafi todas chéias' do humor viícofo. Dahi por diante continuou “a accumular-fe , e as folhas da minha obfers vagao me deraO todo o fundamento , para poder affirs mar das outras o que via nellas. SA Convencido pois que aquelle humor era o effeito. da tranfpiracaó da oliveira , quiz-me adiantar no conhe- cimento das partes que o produziaó. Pelas minhas obfer- vagóes feitas em Julho , achei que as folhas tranfpira- vaó aquelle humor mais ábundante pela parte fuperior, do que pela inferior. Digo ifto comparativamente , por- que na parte inferior tambem fe manifeítava com-abun- dan- EÉCcCOoONOMEICNS. 165 dancia: Ifto confirma, para o dizer de paífagem , que as folhas em ambas as fuperficies tem valos proprios para a tranfpiracaO y ainda que em imaior número na parte fuperior. A mefma tranípiragaó obfervei em toda a fu- perficie dos ramos; maior porém nos mais delgados, e tenros y e menor á proporcaó que hiaó engroflando. Em huma palavra, efta trafludacaO fegue a regra da traní- piragaO , deduzida das experiencias de Guettard , referi- das por Du-Hamel (9). Nella fe eftabelece , quea traní- piragaO diminue á porporcaO que o ramo he mais du- ro. Foi porém para mim huma coufa nova, e talvez até agora ainda ignorada! na Fyfica das Arvores y que a fu- perficie do ramo da oliveira na tranfpiragaO daquelle hu- mor, feguifle a meflma proporgaó , que as duas fuperfi- cies das folhas. Por quanto a tranfpiragao era invifivel- mente mais forte na parte; fuperior do ramo y que olha para a parte fuperior das folhas, do que na inferior, que correfponde ás coftas das mefimas folhas. Com effeito, fendo as folhas os agentes, que promovem mais prin- cipal, e efficazmente o afcenío da feiva, no que tein o primeiro lugar as fuperficies fuperiores.y he muito natu- ral, que a mefma feiva corra tambem. em maior cópia 'pe- la parte fuperior doramo;, do que pela inferior. Ás azei- toras y naquelle tempo: ainda verdes, e os feus; pediculos tranfpiravao igualmente aquelle humor. 6 XII. Eftas obfervagóes em parte podem-fe fazer com a fimples vifta, 'e em parte ufando de huma lente. Em hum je outro cafo , aquelle humor fe manifefta nas par- tes aflima indicadas; á maneira de huns globulos tenuií- fimos',/ que parecem' orvalhar toda a fupercie por onde fahem. A fua vifcofidade faz com que fiquem adheren- tes y e permanentes : com O tempo fe vao multiplican- 2 dos, Go) Phy[. des Arb. Lasa os a. arto do pago 149 166 MEMORIAS do, e augmentando : e nas partes aonde a tranfudacao he mais forte, o que fuccede principalmente nas folhas, elles fe accumulaó 5 derretem-fe com ocalor; diffolvem- fe com a humidade, e formaó huma efpecie de verniz luzidio , com que as folhas, e outras partes da olivei- ra Íe coftumao barrar. Entaó as folhas , reflectindo os raios do Sol, parecen como vidradas, ou lúcidas, e refplandecentes. $ XIV. Sendo hum principio já demonftrado por Du-Hamel, na Fyfica das Árvores (1O), Que os ramos cortados da arvore confervaO a mefimna forca que nella tem de attra- hirem os fuccos, e de tranfpirarem; quiz ver fe hum ramo , cortado de huma oliveira doente , dava o meímo producto : para ilto confervei ao ramo quafi todas as fuas folhas, e depois de bem lavadas , mergulhei a parte do córte em hum vafo de agua. Pelo decurío de alguns dias appareceo nas folhas , e no trogo o orvalho branco, de que fallei no $ antecedente. Examinei-o , e achei fer íe- melhante' em tudo aos globulos de imateria vifícofa', que coftumaó apparecer, e permanecer nas partes já indica- das das oliveiras attacadas do mal. Depois de tudo ifto nao póde reftar dúvida alguma', fobre fer o humor vií- cofo , hum effeito produzido pela tranfpiragaó da oli- veira doente. CA- CO) Ta 27 NG AA AreTiA. pag! 249: ECONOMICA s. 167 CA PTDUE Op Examina-fe fe os Coccinfeétos da Oliveira promouem a tranfpiracaúO que nella fe obferva. Moas D A refolugad defta queftao depende o defempenho da empreza , que me propuz nefta Memoria. Por iflo multipliquei y e variei as minhas obfervagoes, perguntan- do fó á natureza , fem me embaragar com o que até agora fe tem refolvido. Mr. Bernard y, que he o primei- ro que tratou defta materia, diz na Memoria já citada, que o modo porque o Coccinfeclo (que elle chama Ker- mes”), he nocivo á oliveira , naO confifte no fucco , que elle afpira para fe fuftentar , mas na extravafagaOo dema- fiada defte mefmo fucco. Por tanto attribue ao Coccinfe- éto toda a excefliva, e enorme. tranfpiragaó que padece a oliveira. Com effeito , efte he o modo ordinario de difcorrer , todas as vezas que qualquer arvore padece, e ao mefmo tempo fe vé povoada de infectos. Muitas ef- pecies delles íaó claramente nocivos ás plantas, já def- truindo-lhes as raizes, já damnificando-lhes os fruétos, já roendo-lhes as folhas. E aflfim talvez parecería incon- fequencia y naó attribuir ao GCoccinfeéto O mal que pade- ce a oliveira, quando fó o padece, em quanto nella ha- bita. Mas o que ao meu parecer tem concorrido y para fe attribuir a tranfpiragaO excefliva da oliveira aos Coc- cinfecios y foi o nome de Gallinfecios , que Reaumur poz a eftes, pela femelhanca que achou entre os GCoc- cus , e as gaibas. Como pois o infecto da galha, he o que faz derivar para alli com abundancia o 'fucco da planta, na qual por iflo fe formaó ás preotuberancias, e excrefcencias, que fazem as fvas partes disformes, era muito natural o julgar-fe tambem o Coccinfecio da oli- vei- 168 MEMORIAS veira caufador de toda a derivagaó do Íucco, e tranfpi- ragaóO confequente que ella padece; SPRVE E na verdade he inconteftavel a lei do movimento, pela qual os corpos, e principalmente os fluidos fe di- rigem para aquella parte, para onde achaó menos refif- tencia. He pois á primeira viíta huma confequencia ne- ceflaríia , que deva haver huma maior , e mais perenne concorrencia de fucco naquelles' pontos da 'fuperficie- da oliveira”, aonde fe'vem os GCoccinfectos applicados com as fuas trombas. Mas como fe poderá attribuir a efta cau- fa a tranfpiracad , que fe obferva em todos os outros innumeraveis pontos das folhas, ramos , e fructo da oli- veira y aonde fe nao vé Coccinfeclo algum applicado a promovella ? Quem promoveo a tranfpiragaó daquelle hu- mor nas folhas do ramo y que'eu'pela lavagem'. defem- baracei' de todo o Coccinfelto , e corpo eftranho , e que foi o objecto das obífervacoes que expuz? ($- 11). Ef- tas confideracóes me tinhaO parecido fufficientes , para refolver a queftao propofta. 'E eu me” daria por fatisfei- to, fe a authoridade do Naturalifíta y cujos' trabalhos fo- raóO coroados pela Academia de Marfelha, me nao ti- veflem feito defconfiar de mim. Efíta defconfiancga me fez voltar á obfervagao, e experiencia y e parece-me que nao foi fem proveito. Os differentes meios que tentei fo- raoO os feguintes. $ XVII: Em 26 de Julhto cortei hum pequeno ramo per to da fua ultima bifurcacao. Na extremidade de ca- da huma das fuas 'pernadas fe achavao varios grup- pos de Coccus y dos quaes fe hiaó defenvolvendo os infectos. “Live pois ás minhas ordens varias familias delles. E porque pelos ditferentes eftados , em que a cof- E co N/O My C/ A! 8. 169 coltumaó achar as matrizes ,y como já difle ($ 7.), a fahida dos infectos tem varias epocas 5 aquellas fami- lias fornecéraó até aos fins de Agoíto materia ás mi- nhas obfervagóes. Ao crefcer do día , e do calor fa- hiao diariamente os GCoccinfectlos y ora em maior , ora em menor número , fegundo os hiaó fubminiftrando as differentes matrizes, Dilcorriao entao pelo ramo y que eftava fuípenfo , e pelas folhas, que de propofito, tinha deixado nas extremidade do meífmo. “Tanto nefte, como naquellas , ficárao alguns adherentes y e fixos. Os que f- cavaó alli, tornavaó para o fitio das fuas habitagóes , O que quotidianamente fuccedia ao refrefcar do dia. Nos dias em que ine tardavaO pela frefcura da atmosfera, punha o ramo ao fol, e confeguia ver o ramo povoado delles, e podellos obfervar nos Ícus movimentos. $ XVUI. Em hum dia lavei as folhas , para ficarem livres de todo o humor, e infectos adherentes. No dia feguinte vi', que alguns fe tinhaó vindo alli fixar de novo. Nel- las porém naó obfervei pelo decurío do tempo deriva- gaO alguma de humor. ya com tudo para notar , que paílfado o primeiro día depois da lavagem, naó tornou a fixar-fe mais naquellas folhas infeéto algum , nao obítan- te paílearem por ellas todos os dias, e com inquietacaó. Subítitui pois ao ramo algumas folhas, tiradas de huma oliveira doente, e cheias de humor vilvofo. Lancárao-le a ellas os Coccinfeclos nas horas da fua fahida , paíleá- raó-nos, e em differentes partes ficou adherente grande cópia delles, o que tambem aconteceo nos outros dias, Gi XIAO 5 Tudoifñto já mefazia crer, que os GCoccinfectos pro- curao, O humor que tranípira a oliveira, e que de ne- nhum modo promovem a fua derivacaó. Para que efte Ton. IE p' Jui- 17O MEMORIAS juizo naó fofle precipitado , e recebefle da experiencia huma nova prova , fubftitui em 6 de Agofto ao ramo folhas de oliveira sá, e no mefmo fitio puz outras da que padecia o mal. SahíraO no tempo cofítumado as fa- milias da minha obfervagao , e fe efpalháraó por humas, e Outras; concorrérao porém em maior número ás folhas doentes , nas quaes ficou adherente grande cópia de in- fectos. Naó foi aflim nas que eraó fans, as quaes nas horas coftumadas de fe retirarem , defpejáraO inteiramen- te. O mefmo fuccedeo no dia 7 de Agocfto, no qual ao crelcer do dia y e do calor tornáraO a povoar humas, e outras folhas , difcorréraó com inquietagaó pelas fans, as quaes, depois de bem averiguadas por humas poucas de horas , defamparárao ao tempo de fe recolherem : ac- crefcérao porém aos que no dia antecedente fe fixárao nas folhas doentes , outros que de novo ficárao adheren- tes. GIOE Naó contente com ifto, untei em algumas partes a folha sa com o humor viícofo , e efperei a fahida das minhas familias. Vieraó no tempo coftumado , defcérao para a folla, andárao porém já fem inquietacao, fazen- do paragens já em humas, já em outras partes das fal- picadas com o humor; e defte modo foraó concorrendo em maior número, até fe ajuntar , e fixar hum grande número de infectos , formando varios gruppos nos diffe- fentes fitios, aonde fe achava aquelle humor. Lembrei- me pois de lhes offerecer o mefino mantimento, mas, para aflim dizer, em differente prato. Fiz huma lingua de papel, 'envernizei-a com o liumor, porém de forte), que em algumas partes ficafle mais baíto. Vieraó nas ho- ras do coftume y, e naO fruftrárao a minha expettacao. Por quanto , fem eftranharem o corpo que lhes prefentei , ajun- táraO-fe em gruppos nas partes, onde fe achavaO os gru- mos dá materia vilcoía, e alli ficáraó immoveis, e per-. manentes. $ Efgo/N o ua e tas. 171 6 XXI. Porém na falta defte humor afpiraráó os Coccinfellos 'para' feu fuftento a feiva , que difcorre nos vafos imme- diatos á epiderme, e aflim caufaráO elles huma deriva- gaó nociva á oliveira? Para me efclarecer nefte ponto, levantei a epiderme de huma folha doente, deixando-a pegada fó por huma ponta, e prefentei ás minhas fami- lias o parenchyma defcuberto. Naó obftante difcorrerem por efte, nunca alli parárao , nem na parte interior da epiderme y hindo procurar a parte fuperior defta, aon- de fe achava o humor viícofo, ealli he que fe fixárao. O mefino aconteceo a refpeito da polpa defcuberta da azeitona. E do mefmo modo nunca fe pegáraO ao inte- rior da cafca dos ramos tentos, e frefcos , que lhe pre- fentei, naó obítante paflearem por elle, e efquadrinha- rem-no com frequencia, e inquietagaóo. SINRURIL Depois de todas eftas indagagóes pareceo-me , que podia fem receio tirar as confequencias feguintes. Que os GCoccinfeslos habitao na oliveira, porque a tranfpiragaó della lhes fubminiftra efpontaneamente hum alimento adequado. II. Que por iflo elles povoaó aquellas partes da mef- ma oliveira, aonde a tranfpiragaóO he mais prompta , e “abundante y como faó os 1amos menos groflos , e as fo- Ihas. III. Que a elles de nenhum modo fe póde attribuir a demafiada y e excefliva tranfpiragaóO y que acompanha a doenga da oliveira. po 1 LV. sea MeENMORTAS IV. Que em fim, neftá parte fe naó podem, nem de- vem dizer os Coccinfeltios nocivos á melima. Como eftas confequencias faó immediatamente de- duzidas da obfervagao ,'parece-me ter refolvido a quef- taó que propuz no principio defte Capitulo. CUATRO E USEN O he Da natureza) e qualidades da fubftancia vifcofa que tranfpira a Oliveira. 6 XXIIL Ara examinar maduramente efta fubftancia y recolhi em hum vidro deíftapado huma porgaó della , frefca, e pura. A fua cór nette eftado he branca 5 olhada poréiy pelo vidro, e' ainda em fi, com alguma attengao , dá huns longes de hum amarello muito claro. Efta 'cór tem fubfiftido fem mudanca por dous mezes : paflados ou- tros 'dous obfervei, que já dominava a cór amarella, fe- melhante á do mel branco. A fua confittencia fegue o eftado da athmosfera. No tempo frio, e fecco, he mais concreta, mas fempre molle, e pegajofa. Parece pofluir a natureza de hum fal deliquefcente : por quanto abíforve a humidade da athmosfera , e fe faz mais branda y confervan- do fempre a fua vifcofidade. No tempo de calor ella fe der- rete tambem , e fórma aquelle verniz branco, e luzidío, com que fe vem barradas as folhas y e mais partes da 7 oliveira." Por eftas razóes 'nunca fe póde confervar em hum eftado perfeitamente folido. Nelle porém fe obfer- va muitas vezes, quando fe ajunta em globulos brancos, e entao tambem he traníparente. 'Tocada efta materia com. / ; a pon- ECO NO MICIAS., 173 a ponta'da lingua , tem hum fabór fuave y, e alguma couía doce ; de forte, que parece pertencer á clafle das Subftancias faccharinas. XXIV. Efte fabór moftra a razaO, por que efta materia he procurada pelos Coccinfecios y para fe alimentarem. Além diflo , a fua vifícofidade prende o animal, e concorre para efte confervar o eftado de immobilidade , proprio da fua natureza. He verdade, que a accumulagao daquel- la materia y principalmente nas folhas, fepulta, e faz perecer muitos individuos. Porém a natureza compenfou ifto y dando ás femeas huma fecundidade extraordi- naria. Segundo obfervou Mr. Bernard , algumas encer- ravaO mais de dous mil ovos. Eu naó me occupei em Os contar, mas certamente naó obfervei GCocco algum o, que naó contivefle mais de duzentos. $ XXV. y A 'Torñnemos ao exame da fubftancia vifcofa. Tomei “por varias vezes, na parte efpatulada de hum palito , hu- ma porcaó defta materia: metti-a na agua , e fe diffolveo inteiramente y; e mais deprefla quando fe achava deliquef- cente. Mettida na agua-ardente fe diflolve , mas nao in- teiramente ; por quanto fe divide em particulas tenuifli- "mas, que fe obífervaó precipitadas no fundo do vafo. 6 XXVI. Com a extremidade de hum: arame groflo tomei hu- ma porcgaO daquella materia y a qual cheguei á luz de huma véijia. Entrou primeiramente a entumecer, e a cte- pitar ao meímo tempo. Acabada a intumefcencia , ecre- pitagad, ou ao menos diminuida efta (a qual attribui á [O] 7A MEMORIAS ás particulas de agua que fe hiaó exhallando”) fe formou huma crofta ouca , e por dentro della fe via repeti- das vezes huma materia que fe hiía abrazando, e feex- tinguia retirando-a da chamma. O mefmo continuava a fucceder, todas as vezes que fe tornava a chegar. Na bale daquella crufta, ou extremidade do arame , fe obfer- vava huma materia derretida. Efíta ficou adherente ao ara- me , etocada fe experimentava fer vifícoífa, e tenaz. $ XXVII. De tudo ifto fe colhe, que a materia que tranfpi- ra a oliveira he compofta de huma mucilagem gommo- Ía, pois fe diflolve na agua : o derreter-fe porém com O calor da atmosfera y indica tambem encerrar hum oleo concreto, ou huma refina. Ao mefmo tempo a diflolu- ga6 defta na agua , manifefta claramente achar-fe alli wm intermedio , que faz a parte oleofa perfeitamente mifcivel com a mefma agua. Com effeito o fabór algu- ma coufa doce indica exiftir alli hum acido fyropofo, fegundo os ultimos defcubrimentos , o qual tambem he natural a todas as fubftancias gommofas (11). Eifte aci- do pois conftitue a parte oleofa eflencialmente em hum eftado de fabaO, ou hepar foluvel na agua , com a qual or efla razaóO fica mifcivel a parte refinofa da fubítan- cia que lanca a oliveira. 'Tambem pela affinidade geral que os acidos tem com o principio aquofo, he que fuc- cede embeber em fi aquella materia que fahe da olivei- ra a humidade da athmosfera , e fazer-fe muitas vezes deliquefcente. Quando porém crefce o calor da athmos- fera, aquelle faz evaporar toda a agua fuperabundante , e emprega a Íua accaO na parte refinofa, derrete-a, e a encorpora com a parte falino-gommofa. Eftas reflexoes, deduzidas do que obfervei y) poderáó fer para o futuro mais adiantadas pela analyfe chymica , para cujos en- faios (11) Morv, Did. de Ghym. V. Acid. fyrop. Encror1 o, mau CIA) si 175 faios nos tempos dos grandes calores , fubminiftraO a ca- da paflo, por defgraga nofla, baftante materia as olivei- ras. Entretanto parece-me fe póde dizer com baftante fundamento, que a materia que tranfpira a oliveira doen- te, he huma efpecie de Syropo natural, gonimofo-refi- nofo. G7 XXV Já nos tempos antigos fizeraó mencgao os Naturalif- tas da extravafagaO que as oliveiras padeciaó em certos paizes, e a que davaó o nome de Lagrima , de que os Medicos compunhaó hum excellente medicamento para parar o fangue. O que refere Theophrafto das oliveiras da Arabia y femelhantes no fructo ás da Ilha de Lesbos, donde elle era natural (12). Plinio trasladando “Theo- phrafto diz o mefmo, e accrefcenta que os Gregos cha- mavaO áquelle medicamento eshauon (13), ifto he, co- mo verte Gaía, #til para parar o fangue y, Ou, como querem outros, que /e deita nas feridas ainda frefcas, Donde fe vé, que a materia extravafada das oliveiras da Arabia, era vifcofa., e por iflo conglutinante. Muitos pela femelbanga do nome', e das virtudes y julgáraO fer aquella Lagrima a vefina officinal , chamada Eleminzto, que tambem vem da Arabia, e Perfia. Strabaó conta o mefmo ,' fallando da Arabia (14). Diofcorides porém defcreve mais circunftanciadamente a materia y que fe ex- travafava na oliveira da Ethiopia (15). Della efcorriaó duas efpecies de Lagrima ; huma loura y que fe compu- nha de gottas muito miudas , e de gofto picante, em tudo femelhante ao (cammonio (ifto he á gomma refina, que dá o convolvulus feammonia) (16); a outra, diz el- le , que he huma gomma femelhante ao enuxoniaco (que, fe- PCE Plant. 1o 4.o. 8. nn ETC AL MOAS es 3O. 14)YGeogr. 1.116. PISA IhrATUMCM CINTRA (16) Linn. Penetandr. gen, 214- 176 MeMmórxkrIaAsS fegundo Geofroy, langa huma planta umbellifera y que crefce na Lybia , e que na realidade he huma materia media , entre a gomma, ea refina) de cór negra, fem fabúr picante , e por iflo inutil. Accrefcenta o mefmo Diófcorides , que efta gomma lancavaó tambem as oli- veiras, e zambugeiros do feu paiz; ilto he, da Cilicia Campefire , donde elle era natural, e nafcido na Cidade de Anabarzo. Naó precifamos averiguar a exactidaó das femelhangas , com que Diofcorides pertende defcrever aquella materia 5 bafta-nos que o facto em fi feja verda- deiro y e que conhegamos y que as gommas refinas, que fe extravafaO da oliveira, naú foraó defconhecidas aos antigos Naturaliftas. 6 XXIX. Deve-fe porém bem diftinguir a extravafacao da tranpiragaO , e nefta naó confundir a que he ##/enfivel com a que he /enfivel. A extravalacaó he aflfim chama- da, ou quando a feiva fahe dos vafos proprios, e fe derrama pelos outros, fem fe manifeftar externamente 5; ou quando fe manifefta exteriormente em certas partes da arvore por depofitos, ou refinofos, ou gommofos y ou de outra qualidade. A efte ultimo modo podemos dar o nome de Chymorragria. A efta pertence a lagrima da oliveira , de que falláraó os antigos : e a ambas as ef-. pecies de extravafagaO pertencem os exemplos , que re- fere a efte propofito Du-Hamel na fua Fyfica das Árvo- res (17). Be fe vé, que huma , e outra he differen- te da tranfpiragaO , a qual he mais univerfal. Efta com tudo póde fer ou ##fenfivel y pela qual ordinariamente fe defícarrega O humor linfatico das plantas, fem deixar de fi refto algum permanente ; ou /esfivel, e que fe nao diflfipa logo, a qual Du-Hamel divide em Úinfatica | e em /teivof/a , ou de humor chamado dSucco proprio da ; plan- (CD UCA AA AN A Evc:O0 NO. M Ti GUÍAS. v7Y planta (18) ; efta porém mais efpefla, e duravel, que a linfatica. 6 XXX. Por efta razaO y, fundada na obfervacao y bem fe vé, que a tranfpiragaó da oliveira doente pertence á /enfivel féivofa : o que cabalmente períuadem as qualidades com que a defcrevemos, e a refulta da analyfe que della da- mos ($ 23, 28). Gumpre porém advertir y que nem toda a tvanfpiragaó feivola he univerfal, e que ordina- riamente ella fe manifelta em alguns orgaos, “por onde a planta faz as fuas fecregóes. NaGO he aflim a tranfpi- ragaO feivofa da oliveira : ella fubminiftra hum exemplo naó muito ordinario das tranfpiracóes feivofas univer- faes , fegundo iá moftrámos (Cap. III. ). Della temos tambem em Portugal outro exemplo , na bella variedade “da Eflcvalada , ou Cifiwus ladanifera de Linneo, defcri- ta novamente por La Mark (19). Daquella variedade faz mencgaó Tournefort, e Joaó Baulin (20). De quafi toda a planta trafluda huma fubftancia refinofa , vifcofa, e cheirofa, que he hum Ladano muito analogo ao que fe colhe na lilha de Candia do Csiftus creticus de Lin- neo, tambem novamente defcrito por La Mark. Tom. III. Z MIGA DIONIEN 2O, 3o art. 2. (19) Diák. de Boto V. Cifto no. 15. (20) Ciftus ladanifera bhifpanica falicis folio y fore albo, ma- cula punicante infignito. T. 260, J. B. 2, p. 4. 178 MEeEMORTAS CHAPA OE OA Da origem da materia negra , vulgarmente chamada Ferrugem da Olveira. GRAAL. A materia preta y que tinge as folhas, e ramos da oliveira y he a que faz mais fenfivel ao vulgo a doenca que ella padece. Fíte fimptoma porém nao he particular á oliveira, e fe obferva em outras muitas ar- vores y que por efta caufa fe achaO atacadas do mefímo genero' de mal. Já em outro tempo , fegundo refere Du- Hamel (21), Mr. de Combas defcrevia com admiracao huma doenca do peflegueiro, a qual aífim como naó ti- nha nome, tambem nao tinha remedio. 'Fodos os ramos da arvore, diz elle, as folhas, e os mefmos fructos fe fazem negros ;, e viícofos. Attefta Du-Hamel nao eftar iMenta delte mal a vinha, a ameixieira, e O damáfquei- ro. O mefímo fimptoma , e doenca conta elle da laran- geira (22). Naquéellas larangeiras, aonde eu vi o GCoccúus da oliveira ($ 1o), fe entrou a manifeftar a doenca da oliveira com a mefma cór preta, a qual fe elpalhou pe- Jas folhas, ramos , e fruttos. E aquellas meímas que no Julho de 1790 pareciao ifentas do mal , fegundo difle ($ Io), ao depois o contrahíraó, e continuáraO a ma- nifeftar , tingindo-fe com a chamada Ferrugem. O melf- mo obfervo em limoeiros azedos. Porém , como Já adver- ti, nem todos os Coccinfectos que Íe lhe vem adheren- tes , pertencem á efpecie dos que habita as oliveiras do Reino. $ IN DrMit de la Cult. des: ATLAS CR ENTALE, LAIAS DA acea 2 PANO) ECQONOMICAS. 79 6 XXXII. Como a doenca da oliveira fe attribue vulgarmente aos GCoccinfestos , delles fe cré tambem provir a fubítan- cia preta que a defórma. Mr. Bernard , na Memoria ci- tada he defta opiniaO. Para explicar efte fenomeno , diz, que o fucco extravafado da oliveira y diluindo os excre- mentos deftes infectos , toma huma cór negra, e dá ef- ta tinta ás folhas ,, e aos ramos. Du-Hamel , fallando do infecto que obfervou nas arvores , cuja doenca fe mani- feíta pelo meímo fimptoma , e que julgava proceder do Gallinfecto Coceus citrt En. 722. , ou Pediculus clypea- tus de Linneo, explica aquella cór negra defte modo : sy; As formigas feguem o infecto, e os feus excrementos sy; tingem de preto as folhas, os ramos, e os mefímos 5, fruétos das arvores, e as tornaó muito defagradaveis y; á vifta ,, (23). Mr. de Combes porém y citado por Du- Hamel (24), tinha antes duvidado da opiniao vulgar, nao lhe parecendo que o infecto fó fofle caufador do ue obfervava., mas que havia alguma coufa de mais que p lhe ajuntava 5 e que talvez fería algum nevoeiro ma- ligno , ou ar corrupto , ou alguma má difpoficao da ar- vore. XXXIII. Efta origem porém que fe dá á materia preta, cha- mada Ferrugem , he inteiramente oppotta á obfervacao. As familias de GCoccinfeclos y que tive á minha difpofi- ga6 , e examinei diariamente y desde 26 de Julho, até aos fins de Agofto ($ 17, e feg.), nunca lancárao ma- teria alguma preta, que tingifle ainda levemente as par- tes do ramo, e folhas por onde andavaO adherentes. A farinha branca , que refta nos Coccus aonde fe defenvol- AN vé- Te 29) Fdbibittare. t21/n. O; NS HGÚA) Ib. arto 1. n. 4o 18o MEnMnÓRTETANAS véraoO os infectos y era propria para nella fe divifarem algumas particulas pretas que indicaflem , em quanto alli haábitao , a materia excrementicia y que com tanta abun- dancia fe lhes attribue, para barrar as fuperficies das fo- lhas, e ramos da oliveira: e com tudo nada difto fe obferva. ' Além de que aquella materia preta encontra-fe "a cada paflo nas partes da oliveira y aonde nao habita, nem fe vé adherente Coccinfecdio algum. Por ultimo a for- miga , que algumas vezes vi cercar O GCoccus y e efpiar a parte por onde fahem os infettos, nao he a que lar- ga a materia preta. Por quanto no tempo de inverno, em que clla eftá recolhida , a materia preta faz progref- Íos nas partes da oliveira, aonde antes naóO apparecia. GARANTE: 'Tudo 'ifto me perfuadia nao darem os GCoccinfetios origem á ferrugem da oliveira: fiquei porém inteiramen- te convencido pela obfervacaó que continuei a fazer no ramo: da''oliveira y cujas folhas lavei (4 11). Depois de algum tempo , entráraO a apparecer na materia bran- ca, e vifcofa, com que ellas fe achavaó envernizadas , pontos negros. Deftes: fe formárao nodoas pretas, as Quaes foraó de tal forte ganhando ambas as faces das folhas, que no fin de tres mezes apparecéraO inteiramente ne- gras , como as demais da oliveira. Daqui conclui, que a materia preta era confequencia da materia vifícola, e que aquella feguia os progreflos deita. 6A Com effeito fe examinarmos as folhas tintas com a ferrugon y veremos que efta de tal forte cobre a folha, como fe foñle 'eftendida ao pincel. Qualquer com a unha, ou com hum corpo que tenha gume, póde em parte le- vantar a camada de ferrugem que fe eftende pela folha. O que mais facilmente fe executa na folha da larangei- TA, SE A E Bo OF NTO MAL GNAS: 181 ra, cuja fuperficie lifa he deftituida de lanugem , que tem a da oliveira , e que por iflo obíta mais áquella operagao. A difpoficao pois das partes ferruginofas mot- tra , que a materia que as produzio he a mefina y que a natureza alli depóz pela tranfpiracaO. Efta he a razaO, por que naó tem ordinariamente ferrugem as partes da oliveira , que naó podem tranfpirar pela demafiada altu- ra de cafca: e que a ferrugen entao he mais abundan- te, quando corremos para O fimo , aonde a tranípiragao he mais defembaragada , e promovida. Go RARVE Para efclarecer mais efte ponto, propuz-me exami- nar a materia de que fe compóe a ferrugem. Recolhi huma porcaó della, a qual foi accumulando na ponta chata de hum arame, por meio de huma chamma , que lhe hia confummindo a lanugem que a entretecia. Ex- potta aquella ferrugem ao calor da chamma, entrou a apparecer pa ponta do arame huma materia que fe der- retia , a qual era pegajofa , e ficava adhevrente ao ferro: o refto fe desfazia , e tingia de preto, como O carvaó. Depois de tudo iíto , nao póde ficar dúvida alguma, que a materia viícofa que tranfpira a oliveira, he a mefíma que dá origem á materia preta chamada Ferrugen, 6 XXXVI. Como pois fe tenha moftrado ($ 27), que a m2- teria que tranfpira a oliveira he huma efpecie de gon- ma refina ; da degeneracgao defta he que provém toda a ferrugenm y, ou matetia negra y que tinge a oliveira doente. lito fuccede muito naturalmente por via de huma combuftaO fuccefliva , em que entra a materia gonuno/o- vefinofa. Ella he hum combuftivel daquelies y que para fe decomporem bafta o calor fucceflivo da athmostfera. Para ifto concorre o eftado de defaggregagaó y em que fe achao 132 MEMORIAS achaó os feus principios. Com effeito, a coherencia def- tes he muito fraca. Por quanto , fegundo as obfervacóes que a efte refpeito járelatei ($ 27), efta fubítancia tem huma grande affinidade com o humido da athmosfera, o qual a faz deliquefcente. 'Tambem o calor da mefma athmosfera , que he hum diflolvente, exercita nella hu- ma grande accaóO , pela qual fe faz líquida. Nefte eftado pois, ella, á maneira dos mais combuftiveis penetrados do calorico y, he fufceptivel daquella decompofigcaó , na qual confilte a verdadeira combuftaó. O refultado defta decompoficaó , ou combuftaó lenta, deve fer o meflimo, que deixao todas as materias combuftiveis oleofas, das quaes fó refta huma materia preta, chamada caervaó. Ef- ta fe acha femeada por toda a fuperficie da folha da oliveira, e adherente a todos os pontos y aonde: os glo- bulos da gomma refina forad decompoñtos. Defte modo fe fórma aquelle véo preto, que fe vé adherente á la- nugem , e fuperficie da folha, e a que vulgarmente cha- mao ferrugem. $ XXXVI. Efta fubítancia preta no inverno, no quala olivei- ra tranfpira menos , acha-fe ordinariamente, fendo o tempo enxuto, em hum eftado fecco, e por iflo esfre- gando os dedos com a folha, eftes ficaO pretos, como Íuccede com a ferrugem. Naó he porém aflfim no tem- po dos grandes calores do verao , em Que a tranfpira- gaó6 he muito abundante. EntaO a materia gomimo/lo-re- Jinofa derretendo-fe, encorpora-fe com a chamada ferra- gem, e fórma hum verniz preto, e viícofo, o qual, caluindo quotidianamente das folhas, vai tingindo as par- tes da oliveira aonde cahe , e cada vez as defórma mais. Por iffo com o andar dos annos a materia preta , ge- rada pela decompoficaó, e diluida pelo humor vifcofo, faz apparecer ao vulgo as oliveiras cada vez mais doen- tes, pela efcuridaO, e triíte aípecto y com-que ferem a vif- | | E 'c/o NIO MEN CO/A S; 183 / . -vifta dos que a olhaó. Efíte fenomeno as faz mais me- donhas ao longe, fazendo crer que foraó queimadas. RAPA DO A accumulacaó da materia preta naó he a mefma nas folhas, e nos ramos. Neftes o andar dos annos fe accumula de tal forte, que em partes fórma huma caí- ca preta, e rija, e muito adherente. Naó he aflim nas folhas , naó obftante ferem os orgaós por onde fahe mais abundantemente a materia, que dá origem á fer- rugem. A tranfpiracaó do humor linfatico, que as fo- lhas tambem promovem copiofamente , he que continua- mente diminue a accumulagaO da materia feivofa y que extravafada gera o humor vifcofo ($ 29, e 30). Efte pela particularidade que tem de attrahir o humido da athmosfera , e além diffo, de fe diflolver inteiramente “Da agua, faz com que feja continuamente diluido pelo humor linfatico, e pelo que abforve do ar, eaflim par- te he levado pela vaporacaó , e a outra feita mais lí- vida efcorre , e vai fucceflivamente defcarregando a fo- lha. Defte modo he que a natureza obífta á accumulagaóo da materia que gera a ferrugem , e por iflo fe naó obfer- ' ya nas folhas taó fobrepofta , como nos ramos , nos quaes a tranfpiracaó linfatica he mais fraca. Já Du-Hamel com razaO attribuio á tranfpiragaó linfatica, e humidade do ar de que fe embebem as folhas, o naO fe lhes poder impedir a tranfpiragaO com a agua gommada y com O mei, e com outras fubftancias fyropolas (25). GANE, Por muito enferma ,"e deploravel que pareca o ef- tado da oliveira , denegrida com a ferrugem y com tudo nao he aflfim' na realidade em todo o tempo. Ella appa- Ye- mis (25) Fby[.. des: Art. Uib.|2.; cap. 3. art. 6. 184 MEMORIAS receria certamente com todo o feu vigor, e verdura nos primeiros annos, fe fe pudefle praticar huma lavagem, que a alimpafle de toda a materia. preta. Difto nos po- deremos convencer, fe lavarmos com agua hum ramo. Efte entaó fica reftituido- ao feu eftado natural, e nin- guein diría que elle foffre a doenga , fenaó vifle depois de largo tempo, que elle tornava ao que era. De forte que podemos dizer, que o eftado interno da oliveira he differente do exterso. Qualquer folha delpida da fer- rugem fica verde, e a fua fubltancia naó moftra ter pa- decido. A cafza do ramo conferva todo o feu vigo; e ainda naquellas mefmas partes aonde eftá carregada de Coccus y, limpa deftes, apparece frefca , e vegetando , co- mo fe naó tivelle mal alguni. SUN Efte eftado interno da oliveira doente he tanto mais para admirar , quando Íe compara com as cauías, que continuamente tendem a impedir-lhe a tranípiracao, ea apreflar-Ihe a morte. Primeiramente a grande altura de caíca , com que fe reveflte o tronco pela falta de cultu- ra, tem feito ceflar nelle toda a trafpiragao. Em feguo- do lugar, os ramos mais grofíos , fegundo tem mofíftra- do as obfervagoes ($ 12), tranfpirad muito pouco. Ref- taO pois á oliveira doente para a tranfpiracaO os ramos mais delgados y e as folhas. Aqui porém a fuccefliva emanagaO da materia vilcofa, a pezar das caufas que a diminuemn ($ 39) , oppóe hum contínuo obftaculo á tranfpiragaó y e tanto mais forte nas folhas y quanto os orgaos excretorios nellas faó mais delicados ; quaes fao as glandulas, e pellos que dellas nafcem (26). Naó fal- lo já nas plantas parafíticas , que cobrem em algumas partes a oliveira, nem nos Coccus y e Coccinfectos y; que fazem o melmo aonde fe achaé applicados. Sendo pois ceEr- (26) Du-Hamel Phyf. des Arb. L. 2. €. 4. En DS Mt EÉECONOMAICA S. 185 certo que a vegetacao da arvore depende da fucgao das raizes, e que efta he maior, quando a tranfpiragaó he mais abundante; e que diminuída efta, diminue a forca da fucgaó (27), he incrivel como a oliveira no eftado de doenca, á vilíta dos impedimentos que lhe atalhao a tranfpiracaó , moftre hum eftado interno taó vigorofo, e que defmente o externo , O qual faz crer , que vai a perecer em cada anno. $ XLH. De tudo o que tenho moftrado a refpeito da ori- gem da ferrugem , deduzo as feguintes confequencias. 1 'Que os Coccinfeltlos naó produzem a materia pre- ta , que tinge a oliveira HI. Que fendo a materia viícofa, e preta as que cara- erizaó a doenza y os Coccinfeclos nad Íad caufadores della. II. Que ficando já moftrvado , procurarem 'os Coxnccinfe- étos que habitaó na oliveira hum alimento adequado , que ella lhes fubminiftra ($ 22), “elles vem a fer fómente meros indicadores da doenca. IV. Que apparecendo elles na oliveira, quando ella nao manifeíta ainda eftar doente pelos outros fimptomas , co- mo de faéto acontece, entaú o cultivador fe deve apro- veitar da 'indicacaó que elles lhe fazem , para 'conhecer o eftado da mefima oliveira, e aflfim procurar tratalla, como doente, e prevenir o progreflo do mal. Tom. III. Aa C A- P27) 1AiMib. “cap.r2."arti 33 pago! 245. '6-249. 186 MEMORIAS CABLE U AL O VO Deterimina-fe qual feja a doenga da: Oliveira: go XLII (O cativas de termos: moftrado., que a fubltancia goma "mofo-refinofa: trafluda de todas as partes por onde- a. Oliveira tranfpira, e que aquella. fe manifefta. mais pe- los poros. das. fitas y. Que ÍaO os: inftrumentos da tranf- piragaO mais copiofa, (Cap. IIL.); e que além difto aquel- la mefma materia pertence á da tranfpiragaO fenfivel fei-- vofa- ($ 29, e 3O), nad- póde reftar dúvida alguma ío-- bre o nome, com que fe deve efpecificar efta nova doen- ga- da oliveira , € que ha muito tempo he commum a mui-- tas outras arvores: ($ 31). Como poréma palavra £ran-- SfpiragaO. he fó. propria daquelles líquidos , que fahem. efpontanea, e naturalmente pelos. poros da arvore., e. nao daquelles que ella, langa contra as leis: da vegetacaóo ,. obrigada pelo-trabalto da doenga que: foffre , por iflo me pareceo fubítituir-lhe o de traffudaga0. Com etfeito, o fuor he fempre obrigado por alguma fadiga , affecgaó,. ou doenca: Neñas circunftancias. he que fe acha a oli-- veira. doente", e por iflo rigorofamente a fua doenga he huma Chymidrofe , ou traffudagao da. feiva. Elta: doen-- ga nas Outras: arvores já era tida. por: nova ye fea mo- me- por Mr. de Combes: por tanto as noflas indagagóes- ECONOMUIECAS. 187 $ XLIV. A diverfao da feiva nefta extraordinaria trafludagao, faz com que a colheita da azeitona “nos olivaes doentes feja muito diminuta, ou quafi nenhuma , “com a conti- nuagao do mal. Defta meíma 'cauía provém fer o azeite da pequena colheita máo , e differente do que coftumao dar as oliveiras fans. Efta differenca he confirmada pela queixa geral dos cultivadores , edo vulgo. “Concorre pa- ra ilfto nab fó a extravafagaO da feiva nas mais partes da oliveira, mas mais proxima., e principalmente a que fuccede na meíma azcitona. Efta trafluda como as mais "partes da oliveira aquella fubítancia 'gommofo-refinofa , como confta das minhas obfervagóes. Como pois a pelle da azeitona fe acha femeada de pequenos pontos , que "fao outras tantas veficulas deftinadas para conter o azel- te, o qual encerra mais partes refinoías y e oleo eflen- cial, que as veficulas da polpa “como verificou Rofier (28); eftá-claro que a diveríaO., que faz a feiva pela contínua trafludagaO , ha de caufar naO fó a diminuicao da azeitona , mas a :alteracaó dos principios immediatos do azeite'; o qual neceflariamente deve fer differente do da azeitona sá. A vatureza , e qualidades da fubítancia gomumofo-refinofa , fegundo expuz ($ 27), confirma ií- to. Porém a analyfe comparativa delta, e daquelle :azei- te; moftrará mais claramente ifto para o futuro. $ XLV. A vehemencia defte mal naóO cefía em tempo algum do anno na oliveira y por confervar fempre as folhas, poíto que feja mais mitigado no tempo do inverno. Pa- rece pois que ella fe devia ir enfraquecendo fenfivelmen- te, e acabar em breve tempo. Toda-via a experiencia Aa di molí- (28) DiAt. d'Agr. V. Olivier. , 188 MEnMnOoRUvAS moftra o contrario , porque a oliveira conferva por mui- tos annos o feu eftado interno vigofo ($ 40). Nós nao: podemos determinar efte periodo , porque elle depende de- muitas. circunftancias particulares:, relativas: ao; terre- no, á expofigaO delle:,eá conftituicas de cada arvores O-certo he que ha oliveiras:, em que a doenca tem du- rado: finco-, e' mais! annos , como daó aquellas) em que ainda dura desde o anno. 1785. A doenca; vai abattendo á proporgaó: que abattem- as. forgas da cliveira., o. que coltuma fucceder: quando. lhe vaO.deccando alguas ramos. Elltes fag. ordinariamente dos menos groflos, e em maior número: os mais. miudos.: Entao. he que a Cbynudrofe vai fendo menos abundante; e entaO tambem principia por. confequencia. a diminuir a. chamada ferrugem ($ 37). $ XLVE A) valentía com quea oliveira por tantos annos re- fite ao mal , o-qual em. fim a fua mefma natureza, e: conftituigad: parece vencer, he muito: para admirar, fe: confiderarmos o eftado em que fe acha a-feiva nas fuas raizes. Examinando eu: eftas, achei que o:Íucco-que por ellas corria tinha: a mefma viícofidade , e efpeflura' y que o que trafluda pelas mais partes della. Nas. raizes: miu- das fe obferva o fucco-como. em. grumos entre: O páo., e a-caíca, e efta , e aquelle penetrado. da mefma: fub- ltancia vifcofa. O mefmo obfervei na parte- mais grofía das mefímas raizes. Efte eltado da feiva nas. raizes ,, Íes manifefta pela cór preta, ou férrugem., que contralhe a; parte da mefma raiz que eftá expofta ao ar. Efíta cóx; preta , quando: o: mal fe:acha: mais adiantado , tinge to-- das as raizes , até-o colo donde ellas fahem', nas oli- veiras que fe achaG defcalgadas. O- que tem feito crer a alguns do-vulgo , que o mal lle comega: pelo pé. Em huma oliveira aonde- ha pouco fe tinha , por: hum córte vertical perto do pé, lavado cafíca,, e páo, a feiva, que. fe- manifeltava. nas hbordas. da ferida, tinha a. mefma. e por | I 4 o É - É | | É CONOMrTGARA SS. 189 peflura ,'e' vifcofidade. Tournefort y tratando das arvores (29) , Já. advertio, e provou: com oblervagóes y quanto a viícofidade:, e elpeflura do fucco nas raizes contribuia , nao: fó: para fazer as plantas eflereis, mas para lhes ac- celerar a morte. Se confiderarmos pois a Chymidrofe, e o eftado viícofo da feiva nas raizes y naO ceflaremos de admirar a conftituigaO da oliveira ya qual naoO fó fof- fre por tantos annos hum taó grave mal, mas ainda O ven. ordinariamente a vencer. NaG nos deve por tanto parecer exceflfivo O dito de “Theoplwrafto (30), quando affirma , que a oliveira he de todas as arvores a mais vividoura , e longeva ,. 'e que tem raizes taes y que tenv o poder de refiftir a todas as caufas, que a podem fazer morrer. Á doenca de que tratamos, alnda que' defco- nhecida aos antigos Naturaliftas y he huma prova do que aflevera: 'Theoplhwralto 5. e por iffo nao he muito dilatado o periodo de duzentos annos de: viga , que efte dá á oliveira, e tambem Plinio (31). orde VE He: paífmofa a abundancia de feiva, que afpirao as raizes da. oliveira doente. Ella he tal; que nao fó he fufficiente para: confervar a oliveira, de veraO', e de in- verno , em: hum: eftado perpétuo de vegetacaóo, e vigo- fo , fegundo moftra: ofeu eftado Interno (40) , para criar Os renovos, e iuftentar as mefmas folhas y á maneira da oliveira sá; mas além diffo , para fubminiftrar huma con- tínua OChynidrofe raóú univeríal y como a tranfpiragaó (Cap. MI. ) , e efta proporcional. ás fuperficies: (32): que cÓpia pois taó extraordinaria de feiva nao he precifo ,. ? que. (29) AMem. de BAcad:: des: So; Ann: 1705. (30) Hift. Plant. 1. 6. c..15. (31) Theophr. ib. Plin..L.. 16. c. 44, Firmifime ergo ad vio vendum olec, ut quas durare annis CG inter auétores convenias. (32) Du-Hamel , Phyf. des Atb, 1. 2. co. 3. art. 1. 196 MEMÓRIAS que as raizes da oliveira doente afpirem, ateo haver ; além do mais confummo, huma contínua trafludagaó del- la por todas as fuperficies tranfpirantes , e permanentes, quaes fas as dos ramos, e folhas fempre adherentes, € verdes ? CA PADTDO NE Qual feja a caufa da Chymidrofe y ou traffudacaó da feiva , que padece a Oliveira. Gun NE D O que acabo de dizer, determinando a efpecie de doenca que padece a oliveira y he facil o entrever, que nella coftunia reinar huma demafiada abundancia de feiva. Defta abundancia pois julgo procederem parte, 'e proximamente a Chymidrofe. Os antigos Naturaliftas já puzerao a abundancia da feiva no número das caufas ge- raes, que produzem as doengas das arvores. 'Theophraf- to lhe dá o nome de huma cópia grande, e demafia de alimento (33). Plinio lhe chamou obefidade ; que diz fer propria das arvores que produzem refina (34). Efta de- mafiada vegetagaó y ou-abundancia de fucco , fe manifef- ta de differentes maneiras , mas fempre em detrimento do fruéto y, que ou naó produzem as arvores, Ou em mui- to pequena quantidade. Humas vezes ellas empregaO a feiva em criar demafiada folhagem , de que já no feu tempo fez mengao Theophrafto (35). A efta diverfao da feiva chamaó os Naturaliftas fullomania. Outras ve- zes GI plbib o Nes CAUÍSMCNNS- (34) Hift. Nat. lib. 17. cap. 37. n.2. Alique vero, Se obe- fitate y ut omnia que refinam ferunt y nimia pinguedine in tea- dam mutantur, O cum vradices quoque pinguefcere capere y inter- eunt, ut animalia nimio adipe. 35) AU AA O do ATE E CO NOMETCIA!S. 191 zes a empregaó naó fó nas folhas, mas tambem em pro- duzir rebentóes , pólas y e ramagem , donde vem a #lo- mania. Huma , e outra diverífaó da feiva faz as arvores apparentemente fadias, e nos recreao com hum aípecto pompofo , e alegre. Por iffo os Authores Latinos y que tratáraO- da cultura dellas, chamaó a efta doenca ,. que He frequente' na oliveira y eflado vicofo ( Leta arbor y O fi- ne fruge lunuriare”) (36). A doenga porém que prefen- temente padece a oliveira y ainda que em parte prove- nha da mefma. caufa ) manifefta-fe de differente maneira. Efta he propria das arvores , que de fi derramaó huma fubítancia refinofa. E aflim a diverfaú da feiva confifte em- huma effufaS: da meíma, a qual ou apparece em cerr tos fitios da arvore ,. ou fe manifefta em toda ella. A primeira já Os antigos- Naturaliftas reconhecéraó na oli- veira ($. 28), mas naó a fegunda. Efta he que acétual- mente grafía" nas, oliveiras de Portugal, e a que demos o nome de Chymidrofe. Aqui a feiva divertida y e def- perdigada , vindo a- degenerar , dá á'arvore hum aípe- to. melancolico , e medonho, oppofto ao alegre com que fe disfarga- a fullómania., e ulomania. Sendo pois a cau- fa: que produz- eftas duas doenga ,.'e a da oliveira, de que tratamos , a mefma , julguei poder: dar-lhe o nome- particular de: Chymomania. Aquí a- abundancia dematña- da da feiva he derramada , e defperdigada pela traflu- dagao', fem que- feja. empregada pela vegetagao em be- neficio algum- das partes da oliveira.. As obfervagoes vaó a. confirmar O. que dizemos. CUXOS 1AS oliveiras: que principiad a fer attacadas; da CPhy- maidrofe y achaó-fe ordinariamente em hum eftado vico- a 1 I Ío, e moftrao na foliagem , e ramagem huma faude a: mais E E E E E E EEES E E EEES EEES AE E E ES E E ES E E E DES EO A (36) Pallad. O€t. c. 8. n. 1. Marti Cc, 8o an. 2. Colum. 1. 5a eg... nn. 16. 192 MEMORIAS mais vigorofa, 'e perfeita. Entaó o vulgo as julga ifen- tas do mal que grafía na vizinhanca: o Naturalifta po- rém , já ameltrado pela obfervagaó, 'e experiencia, vé O contrario. Eu examinei muitas deftas oliveiras, e achei que já havia hum anno que ellas padeciaó 'o mal. Por quan- to obfervava alguns Goccos folitaerios, e difperíos por al- guns dos ramos : e como já moftrei ($ 22), que eftes infectos procura o feu alimento na fubfítancia gommo/fo- refinofa ; era fem dúvida o terem alli arribado no anno antecedente as femeas, que difperías coftumaó formar as primeiras matrizes, donde deve principiar a povoar-fe a oliveira para o anno feguinte. Naquellas mefmas aonde os Coccos já tem cahido, vem-fe adherentes nas pontas tenras os Coccinfeclos , que alli para o anno had de for- mar Os primeiros gruppos. Em todas eftas oliveiras vi- gofas já a trafludacaO fe manifeñta na parte fuperior das follas: ella alli fe coagula, e produz algumas vezes hu- ma afpereza fenfivel ao taéto; e em outras fe conhece pelos pontos luzidios, e permanentes. O eftado pois da oliveira que principia a adoecer, he hum eftado de fum- mo vigo, e vegetacaO ; e aflim a trafludacao da feiva nao póde provir fenao da demafiada abundancia della. Pelo contrario , obfervadas as oliveiras ha muitos annos doentes, quanto mais fe vai chegando o periodo em que O mal vai abattendo ,, tanto mais fe lhes vé diminuir o vigo , e feccarem-fe-lhes os ramos 5 finaes evidentes do abattimento das forgas, e da vegetagaO, e da cauía que produzio huma taó dilatada Coymidrofe. po Efta mefma caufa faz, que as oliveiras mais vigofas, em circunftancias iguaes de terreno, clima, e expofi- cab, fejao mais deprefía aflaltadas da doenca, e a fof- fraó por mais tempo com trafludacaó mais copiofa, e ferrugem correlpondente. A comparagaó, que em cada anno fe póde fazer do feu eftado externo, e apparente com | EÉCONOMI CAIS. 193 com O interno, e real ($ 4o), confirmará efta obferva- gaO cada vez mais. Difle em iguaes circunftanciás , por- que a acceleragaó da doenga , e progreilo della , depen- de das cauías que promovem mais, ou menos O afícen- Ío da feiva. Entre eftas caufas huma he a expofigao , pe- la qual a oliveira experimenta o calor, e raios do Sol. Por iflo os olivaes fitos em encoftas y aonde batte o fol desde o naícer, ou em terrenos, cuja inclinagao augmen- ta a refracgaO dos feus raios y Ou em tal expofigaO y que foftraó por mais dilatado tempo o calor luminofo , fe deftinguem de todos os outros olivaes pelo efcuro da fer- rugeim , e progreflo do mal. A hum deftes olivaes, que foi objecto das minhas principaes obfervagóes , fe acha- va fronteiro outro , em diftancia de cem paflos, e de tal forte fituado, que por poucas horas o vifitava o fol. Nefte o mal tem feito taó pouco progreflo, que as oli- veiras y comparadas com as do outro olival, parecem nao terem fido infultadas da doenca. Ifto fe obferva or- dinariamente y naóO ÍO comparando huús olivaes com ou- tros, mas humas com outras oliveiras de meímo olival. Pelo que fica indubitavel, que o progreflo da Chymidro- fe he favorecido pelas cauías , que promovem a tranfpi- ragaó, e afícenífo da feiva , e he retardado pelas contra- rias. Ifto moftra , que na oliveira ha huma abundancia de feiva , que lentamente fe vai manifeftando , a pezar dos obftaculos que a retém; porém que tirados elles , fe der- rama acceleradamente , e fe defperdiga com prejuizo do fruéto. A efta chymomania he que fe deve attribuir a caufa proxima do mal que padecem as oliveiras. 6A Já Mr. Bernard na Memoria citada advertio y que o Kermes fó fe encontrava nas oliveiras dos lugares mais uentes da Provincia, aonde reinava O mal y e que os rios rigorofos contribuiao muito para deftruir aquelle infecto, E na verdade, fegundo o que temos moftrado Tom. II. Bb ($ 194 MEMORLAS ($ 22), bem fe vé , que o infecto deve propagar-fe aonde: fe Ihe vai continuando o fuítento promovido pe- la chymomania , e que deve acabar, quando as caufas contrarias Ou a retardaó'!, Ou a impedem inteiramente.. Tambem Du-Hamel (37) diz ,- ter viñto principiar efte mal (que já advertimos fer feiñeltante ao da oliveira, $ 31.) em. huma vinha expofta ao Meio dia ', e que em dous mezes fizera grandes progreflos. E que no anno), em que os falgueiros de Carcaflona lancavaó das fuas. folhas ao nafcer do Sol á maneira de chuva, hum iman- ná femelhante ao da Calabria , o tempo era taód quente, que o licor de hum thermometro de Mercurio , cujo/ef- pago, entre o termo do gélo , e agua a ferver, era di-. vidido em cem partes, fubira a 3O, 31, e 32 gráos af-- fima de zero (38). Tudo ifto moftra , que os grandes calores podem: promover nas arvores hunia Cbymomanta accidental; e que, achando-fe nas oliveiras doentes hu-- ma extraordinaria propentaO para fum eftado vigofo , pó- de promovella mais , ou menos a expoficaó e mais Cir- cuníftancias particulares, que diverfificaó- huns olivaes dos. outros. 'Os que crem ) que a doenca daolifeira” he con- tagiofa , e fe'vai propagando de huma para outra: pela palflagem do-infetto , naó advertem , que'o mal tem che- gado a certos territorios , e que, deixando eftes intactos). os tem como falvado, e pallado a manifeftar-fe em ou-- tros diftantes. Com effeito y bem averiguadas- as circunt- tancias locaes. , vé-fe, que ellas-naó 1ad alli taO favos. raveis á Chymomania, ST s Ás raizes das arvores , geralmente fallando , afpiraó a feiva com huma. forca incrivel (39); porém as. da oli- veira doente a manifeltaO-mais particularmente. Por quan- to (ARE ANTIN AOS, ARO CRIOU PRA A (30) PDyfU des Arbo D. 21/01 aro: (Ao (39) V. Du-Hamel , Play. des Alb: l. 5, o. Zabarto o ECONOMIA Ss. 195 to oppondo-fe continuamente a materia vifcofa, que dif- corre pelas raizes da oliveira doente ($ 45), áquella forga de afpiragaO, efta he com tudo taú copiofa , que nao fó fuítenta por muitos annos o eftado interno da olivei- ra vigofo , mas fubminiftra feiva de fobejo para a po- der derramar pela trafludagao. Efta forga das raizes na oliveira he tanto mais pafmofa, quando fe compara cont os obítaculos , que continuamente lhe atalhaó huma li- vre tranfpiracao ($ 41). ELE Accrefce a ifto o naú fe obfervar diminuigao de nu- trigad, a qual parece devia moftrar a oliveira no eftado de doenga. Por quanto nutrindo-fe ella tambem y como as demais arvores, pelas folhas, eftas obftruidas conti- nuamente pela materia viícofa, naó podem taó facilmen- te aípirar , e embeber as particulas, e líquidos, que a athmosfera continuamente lhes fubminiftra. O que moftra a redundancia de fuccos que exiftem nella ainda doente. A” vifta diíto naó he para admirar , que as mefmas tan- choeiras , como eu tenho obfervado , entrem a padecer o mefmo mal nos primeiros rebentóes, com que mani- feltao na parte fuperior terem langado raizes. ' Aquelles dependem da defenvolugaó deftas no trogo enterrado. He orém tal a forga com que aípirao a nutrigaO , que fu- PESO com demafiada abundancia ás primicias da nova vegetagad , faz com que clla entre a padecer o mal, que geralmente reina. $ LIV. Efta abundancia de feiva he natural á coníftituicao, e natureza da oliveira. A fua vegetagaO he taO anima- da , e productiva , que ganhando húm paiz abrigado, e que a agazalhe por todo o anno com lum calor pro- porcionado y parece zombar de todos os contratempos, Bb ii e af- 196 MEMORIAS e affrontar aquelles mefmos y com. que a incuria, e igno- rancia dos homens lhe pertende diminuir a exiftencia , € arruinalla. Quem confiderar as colheitas que os olivaes' de Portugal coftumavaO: dar, e a incuria , e quafi def- prezo, com que elles faó em muitas partes tratados”, e cultivados , verá confirmada: a minha afflergaO. He para admirar contro troncos vellos, e imeio carcomidos ,) e dei- xados-ao acafo , offerecem na ramagem huma mocidade vigorofa, e colheita abundante. Como oliveiras de pág velho., e ramos. inuteis, e em fima caftigadas com va-- rejos deftrocadores , vencem todas eftas inclemencias , €e- pagao ao proprietario com fructo fufficiente , e que fe nao devia efperar do pouco cuidado com que faO trata-- das. Já Rofter (40) advertio ifto , fallando da má poda, e contraria a todas as regras da vegetagaó , com que no Rouflillon faO tratadas as oliveiras , e da abundante colheita que alli, nao obftante flo, produzem. Efíta mef- ma reflexaO faz elle a refpeito das oliveiras da Corfega, e das de muita parte dos Cantóes da Moréa, e Levan- te. Alli prefentaó- as oliveiras , defampavradas inteiramen-- te da cultura y hum efpectaculo o mais defagradavel, e- trifte 1 "a fua végetagaO apenas fe conferva no fimo das mefmas 5'e ifto nad- obítante, attefta elle, tellas vilto taO carregadas de'fructo , ainda que mais: pequeno , co- mo as das Provincias de Franga y aonde fas bem culti- vadas. He muito-curiofa a obfervacaO que fe lé na Hif- voria da Acádemia de Franca do anno de 1709, e re- ferida por Mr. Magñol: Diz, que no Languedoc, quan- do fe enxertavaó de burbulha os tronco, ou ramos das oliveiras velhas , fa lhes. coítumava tirar perto de quatro- dedos de cafca. em roda por fima da enxertia. Nao po- día pois o refto da arvore receber para: fima- nutricao, fenad pelo alburno, e páo ; iño nad obftante, nao fó con- fervavaO- as folhas y, imas O que he mais, no anno feguin- Y a a] 1 NS - "te davao dobradas flores, e fructos ) do que coltumavaos ; 'Tu- C4S) DIA: d' Agric. YV. Olivies, E Co NOMIICA ds 197 Tudo ifto faz ver, que a conftituigaó da oliveira he na- turalmente criadora de grande abundancia de feiva, a qual a póde fazer doente. O modo porém com que ago- ra as oliveiras de Portugal manifeftao cíta abundancia pe- la: Chymidrofe , he fingular, e extraordinario. $ LV. Diffe que a Chymomania , ou abundancia demafiada da feiva ) era a caufa proxima da doenga. He porény certo, que grafílando efte mal y e propagando-fe mais, ou menos por muitos territorios , elle deve ter huma cauífa geral, e mais remota, que influa na abundancia, e trafludagaó geral da feiva. A oliveira teme o frio, e golta do calor; porém até que ponto ella o queira, O naO fabemos. Além difto , a materia do-fogo fe acha dif- fundida em: grande quantidade pelas plantas. Com effei- to o frio nao as uperta y fenad porque lhes fubtrahe a materia do fogo; e além diflo, fabe-fe, que quando a athmosfera: he fria, ellas confervaO alguns gráos de calor: Por efta razaú, quando a terra eftá cuberta de neve, vé- fe ao 'pé das grandes arvores ham' efpago circular, on- de a neve fe acha derretida'; e he de crer que iffo pro- ceda de algum calor que confervaó as raizes. Tendo pois a conftituicao da oliveira tanta analogia com o calor, naó fe póde duvidar,. que fobre todas as arvores, ci- la: poflua huma grande quantidade da materia do fogo: Será pois a malla do fogo , que actualmente reina na atlimosfera ( pofíto- que medificada pelo terreno , expofi- gaó, e clima ), a que promova taó geralmente a abua- dancia da feiva na oliveira, e a force a derramar-fe pelos feus poros ? Eu o conjecturo y mas nao O deci- do , até que as obfervagoes para o futuro efclaregaos mais efte ponto... 198 MEMORIAS $ LVI. Depois de ter determinado a doenga da oliveira, e 'a cauífa, que em parte, e proximamente a produz, co- mo diflemos ($ 48), eftou bem longe de crer, que a fimples Chymomania feja Íó a que gera toda a doencga. Pois do que tenho expofto fe-vé, que aquella cauífa ef- tá complicada com a efpeflura , e alguma degeneragao da feiva. As obfervacúes que fiz a refpeito da fucco que corre pelas raizes ($ 46), perfuadem ifto. A abundancia da feiva, e os obítaculos que fe oppóem á tranípiragao, podem muito bem vretardar-lhe o movimento , originar nos vaífos huma maior accumulagaó da feiva , fazella mais efpefla, e concorrer para haver alguma degenera- gaO. Efte difcurío parece confirmar-fe pelas obfervagóes de Hales, e Grew. Ellas provaó , que quanto o fucco circula por mais tempo na arvore, tanto mais a Íua na- tureza aquofa fe: muda em huma fubftancia unctuofo-glu- tinofa , que por iflo as arvores fempre verdes , abforven- do pouca agua, tem hum movimento de fucco mais tar- do, e por efla razaóO mais oleofo; donde lhes provém nao perderem as folhas no inverno. Eítas obfervacóoes ge- raes Juntas ás particulares da oliveira , póem fóra de to- da a dúvida a complicacaó, com que fe deve confiderar a doenza que actualmente reina. Klla he muito differen- te daquella abundancia de fuccos , os quaes ainda que defvairados, fe vao empregar na demafiada vegetagao das partes da oliveira y de que faó effeitos a fullomanta, e ulomanta. ECcCOoONOMICA 53. 199 CUASE AA Dos meios que Je devem tentar para precaver , e cue , rar o mal que padecem as oliveiras. $' LVIE. Odos os remedios , que até agora fe tem aconfelha- do para curar a doenga da oliveira, tem pot fim o deftruir o infecto,. que fecré fer a origem. Como po- rém tenhamos moftrado , que GCoccinfeclo nad. he o cau- fador do mal. (Cap. IV. e VI.), fica- pela: mefima dou- trina cortada toda a efperanga que podia haver de o ata- khar., recorrendo áquelles meios. Elta foi a razaO, por que emprehendi principalmente nefta Memoria, Q averi- guar a cauía da doenga , a qual fe eu: naO- defcobri , ao menos confeguirei- o fazer duvidar. da que. até agora fe fuppunha ,. e aflun excitarei os Naturaliftas a- procurarem- na por novos trabalhos ,. e difvellos. Entaó o que em- prendi; naó- ferá baldado 5. antes: bem compenfado , fe dos meus enganos tirar o público. algun fructo. Em quanto nao chega efle tempo, vou. a: expór: os- meus: pentamens- tos fobre os meios que fe devem tentar para precaver y e curar O mal, de que até agora temos. tratado. HAUÓCOA Confiltindo pois a doenga da oliveira na abundan-- cia da feiva , complicada com. a fua degeneracaO., he fas al de ver, que o remedio fe deve fó procurar nos foc- corros y que lhe póde fubminiftrar a cultura. O- mefimo mal que padece:a oliveira, e-o modo: por que ella fem. foccorro do cultivador pertende vencello, eftá indicando a fua cura. Ella gaíta muitos- annos em. fe defcarregar de huma iuateria iunuti] á ua. vegetagao 5. moltra na mel- ma 200 ME MORIAS ma fubítancia que trafluda a fua degeneragaO; e por fim, ceffando a vegetagaó em muitos dos feus ramos , adver- te O proprietario cortar-lhos. Se pois o cultivador ouvif- fe, e entendefle bem eftas vozes, com que a natureza da oliveira explica as fuas neceflidades, elle a nao deixaria padecer por tanto tempo; e fenaó chegafle a defterrar o mal, ao menos o diminuiria. GRO Eni arvores menos vividouras que que as oliveiras, as extravafagóes do fucco proprio faó havidas ordinaria- mente por huma purgacaó, com que ellas fe livrao do fucco demafiado , e poriflo nocivo (41). Ifto mais par- ticularmente fe obferva naquellas, cujo fucco proprio he refinofo , ou gommofo. Achando-ífe pois á oliveira nefte eltado , naó ha outro meio de a foccorrer y elivrar del- le, fenad o de poupar-lhe o trabalho y com que ella “por 126 dilatado tempo procura expellir por todos” os do poros hum fucco gommofo-refinofo (Cap. V.). Se efte fucco- fe acha degenerado pela accumulagaó, demora, diuturnidade do mal, e conftituizgaó propria da oliveira ($ 56), he baldado qualquer outro remedio que nao feja o da cultura , a qual Íó póde melhorar os fuccos das 'arvores y € corrigir pouco a pouco O feu vicio. Se muita parte dos ramos fe achaó doentes, para que fe ha de efperar que a diuturnidade do mal os feque pa- xa fe cortarem? 6, Ea Eis-aqui com tudo o que tem fuccedido ás olivei- ras de Portugal. O proprietario fitando a fua attencao no infeto, a quem póe a culpa da defolacaó que ex- perimentaoó os feus olivaes y canga-fe em efperar que O bi- GA) Du-Hamel 5 Phyf. des Arb. Lib. 5. cap. 3. areas E c'oN'o MI CAS 2O bicho morra y ou fe aufente, e por fim fe refolve a fa” zer huma operagaO, a qual empregada a tempo , fenaó 'remediafle o mal , ao imenos fe confeguiria que a oli- veira “fe 'nao' extenualle inteiramente. “ A efte expediente recorréraO muitos dos proprietarios da 'Cofta até Marfe- Iha y; Os quaes, como refere Mr. Bernard) cortando os ramos- mais groflos das fuas oliveiras y as tinhaóO Inteira- mente renovado. “Pelo meímo modo atalhou Du-Hamel hum mal femelhante ,)' como já difíemos ($ 51), que principiava a graffar em huma vinha expolta do Meio dia. 6A Para fe tentar a cura da oliveira pela cultura, ella devé' confiítir em-duúuas coufas.' A primeira 'diZz refpeito á arvóre, “a Tegunda 'ao terrenos A”cultura immediata dá oliveita. confilte “em alimpaália y e podallá.' Por alimpat entendo o tiráf-lhe tudo “o que eftiver fecco )' tódos Os ramos doentes j' deixando os vigorofos, e, além diflo, livrar o tronco da cafca inutil; e tanto efte, como os ramos de toda a planta'parafitica: No refto he que fe deve fazer a poda; naó arbitrariamente, mas dirigida por principios. Eftes todos tendem a prefcrever o modo de delembaragar/a 'arvore' dos raujos/y que naó produzem mais que ramagem' fraca , e a forgalla a 'produzir páo novo. Accrefcento' a ilto'a poda, ou”córte de alguma , ou algumas raizes, “Tudo ifto fe dirigera diminuir a có- piada deiva , e a/meltabelecer huna tranípiragaód mais livre. A poda ;,0e a'limpa já foi muito recommendada pelos antigos Naturatiftas.; e della fizéraó depender o me- Ihoreftado je mais fructifero da oliveiran(42). 'Tambem O córte da-raiz, mettendo nelle' huma pedra y ou outro corpo que prohiba a communicacaó da feiva 5) foino res medio ufual cóm. que” Ooccorriad'/á 'abundancia (dos fue eos), que fe mañifeltava pela! #lomarta" (C43)A “o Tom. “III. Ce “C42) Theophr. -Hifl. Plant. 1. 2. cap. 8. De Canf. 1.1. co 21. MC) Pricophr BB? PañadllOUU£ GPSPON TEMA EUBUA? 7 DGoltim. L. 5. ci gu n. 16; 202 MEMORIAS GAsTIXAA- A outra parte da cultura confiíte na do terreno, Por efte he que fe devem fubminiftrar á oliveira os prin- cipios que haó de corrigir os fuccos, e promover a ex- pulfao dos que fe achaó degenerados. A lavoura da ter- ra aonde fe acha plantada a oliveira; os adubos , ou ef- tercos , de que ella muito neceflita, e que tenhaó expe- rimentado a fermentagao putrida/: a rega conveniente que lhe diflolva os principios , e facilite a [ua combi- nagaO para ferem abílorvidos , fao os meios que dicta a theoria da doenga que tenho expofto, e que fe devem applicar para tentar a cura da oliveira. Por eftes foccor- ros fe adminiftra hum líquido cheio de particulas pro- prias; para diluir, e atenuar a fubftancia vifcofa, e jJun- tamente hum calor que a póe em maior movimento, facilitando-fe aíflim a expulfaó pela tranfpiragaóo. SUERU Cumpre porém advertir, que fe deve averiguar o eltado. em que fe acha a doencga das oliveiras. Porque humas principiárao a adoecer , e em outras o mal. fe acha muito adiantado. Por iflo as tentativas fe devem praticar ao mefmo tempo em as oliveiras que offerecao eftes diferentes eftados. Já diffe, que as oliveiras mui- tas vezes fao havidas por fans do vulgo, quando já tem fido afílaltadas do mal ($ 49): por iflo o cultivador de- ve defconfiar da fua belleza, e pompa. Aqui he que o Coccin[fecto lhe deve fervir de guia y e receber delle o co- uhecimento. da doenga , de que já fe acha attacada a oliveira), a pezar da fua apparencia. Para ilto fe deve examinar a oliveira” y. e achando-fe hum (ó GCocco, ou, na falta defte, encontrando-fe algum Coccinfecto adheren- te a alguma ponta tenra y ou folha , póde-fe aflentar, que a oliveira eftá com o mal, e que efte tem principiado o. ans ECONOMICA s. 203 anno antecedente, ou talvez mais de traz. Devem pois principiar logo as tentativas da cultura, € a experiencia moftrara fe Ífab, ou nao, proveitofas. GVEXIV “O eftado de doenga mais, ou menos adiantado y he bem conhecido pela cópia de ferragem ', efcuridés , e gruppos de Coccos y que em Qquafi todos 'os ramos fe achaó apinhoados. “Talvez entaó a cultura pouco, ou na- da aproveite para decidir da melhoria', antes de chegar o periodo em que 'cefla a doenga. A pezar defta defcon- fianga y devem-te efcolher individuos em todos os eftados, e fazer obfervagoes comparativas. Em alguns deve-fe fa- zer O decote y para obfervar a fua renovacao. Por quan- to póde fer que nos novos rebentóes y ainda que vigo- Íos , continue/a apparecer O mal. “Terá efta experiencia huma utilidade ) e he adiantar alguns annos a renovagaó da oliveira para gozar mais cedo das colleitas. Efítas tal- vez percaó aquelles, que para applicarem as operagóes da cultura , efperao, com grande perda de frutto, que á doenca chegue ao feu ultimo periodo, e que a oliveira moftre pelo feu abatimento, o que fe lhe coftuma, e deve fazer. $ LXV. Eftas tentativas que aconfelho, faO tanto mais para abragar , quanto ellas nao fó naO faO prejudiciaes á ar- vore , mas por muitas razóes proveitofas. Com ellas fa- tisfaz-fe a huma cultura , a qual fe devia fempre empre- gar, e que talvez a fua negligencia tenha y fenaO caufa- do, ao menos favorecido, e protegido o mal. Gol CoN- 204 MEMORIAS. CONCLUSAO. 6 LXVI. o nt que padece a oliveira faz realzar mais co élogio que lhe fez Columélla. Pois além da precio- fidade do feu azeite, e da facilidade com que fe reno- va; além da fua prodigiofa multiplicagaó )' preparada na multiplicidade: de germes efpalhados por toda a fua caí- ca, de cujos poros fe expolla, ao ar naícem empolas, fe enterrada |produzem raizes ; ' além finalmente dos prefti- mos , com que cada huma das fuas partes utiliza o ho- mem , poflue huma taó vigorofa, e admiravel conftitui- ga6 , que affronta por muitos ansos hum mal, que pa- rece em pouco tempo a devia fazer perecer. Com efta propriedade ella confola o lavrador , que privado do feu fruéto , vive na efperanca da colheita , que ella lhe-pro- mette pela fua renovagaO futura. He pois a oliveira por todos os titulos, e até mefmo pela fua' enfermidade, a primeira de todas as arvores , como difíe Columella. Ef- ta primazia deve excitar o zelo do cultivador, e do/Na- turalifta o daquelle.) para lhe,melhorar a exiftencia 5. e o defte, para ajudar aquelle com as fuas obfervagoes, € experiencias. A diuturnidade 'do mal, a conftancia de ca- da arvore em foffrello, a fua generalidade , e os interef- Íes particulares, e publicos tem fugerido baítante mate- ria , e eftimulos para as tentativas, e obfervagóes. Hu- ma collecgaO feguida , e circunftanciada deítas, fería hu- ma obra da primeira importancia. Se: fe achar já princi- piada , O meu trabalho a augmentará; fe naO, eu o da- rei por bem empregado, fe contribuir para fe empren- der: e quando naó tenha outra utilidade, ao menos fub- miniftrará alguns materiases y para fe vir a tecer a hifto- ria de huma doenca taO fingular, e inftruireim-fe os vin- douros fobre huma calamidade, que naó deve fer indif- ferente , nem ao particular , nem ao Público. Pt | | | | ECONOMICAS 205 MEMORIA Sobre os damnos do Mondego uno Campo de Coimbra, e [eu remedio, PI PO RATA VAO CAERA Da CORU A SA ma GNA MAN Naticias Preliminares. 12 Epois que o Mondego lava a Cidade de Coim- bra , nao ha quem naó faiba , que elle entra de repente nos feus campos planos, e nos mefmos corre fete leguas até o mar : mas a Hiftoria deftas fete leguas , fe alguem com miudeza a efcrevefle y nao po- deria. fer fenaó dolorofiflfima ; pois he certo y que as aguas' corriaó em outro tempo fundas na caixa do rio, e eftava defareada a famofa ponte , defalagada a Cida- de , defalagado o antigo Convento de Santa Clara y que a Rainha Santa fundou no fitio, aonde hoje fe vem as fuas ruinas, defalagados finalmente outros edificios , dos quaes “apenas ha memoria nes Cartorios, como fao por exemplo os antigos Conventos de S. Franciíco y de San- ta Anna, e de S. Domingos. Comecou O rio a arear, e alagar , nao fe fabe bem. quando : mas deixadas outras memorias , e vozes incertas y he indubitavel, que elle já fazia- damnos graviflimos no tempo de Filippe II. y os quaes elle pertendeo remediar y O que confta de huma Tua Carta 5 efcrita 2o Geral de Santa Cruz y cujo origi- nal fe conferva no Cartorio do! Mofteiro, e diz afim: Padre Geral de Santa Crug , Eu ElRey vos envio mui ta 'ao6 MEMORIAS. to faudar. Ao Bifpo Conde mando ordenar y que com communicasad voa , e de outras peffoas veja em que fórma convirá tratar de encanar o rio Mondego, para que do que fe gaftar refulte utilidade , e a obra fique durable y, como mais particularmente o entendereis do Bifpo. Encommendo-vos , que quando tiverdes avifo feu, vos acheis no tempo, e lugar , que elle vos fignalar para efta materia, e confío de vós procedereis nella de modo , que com volja intervencad fe configa mais facilt- mente o que [e defeja, e procura. Efcrita em Madrid a 6 de Abril 629. Rey. ;, Donde fica claro , que ha mais de feculo e meio erad os damnos do Mondego taes, e tantos, que mereciaO a attencaó do Soberano desde Madrid. II. “Que coufas entad fe propuzeflem , e quaes obras fe ordenaflem do referido tempo até agora para defender Coimbra , e os feus Campos contra os impetos do Mon- dego , talvez feja facil achallo notado entre a poeira dos Cartorios. Mas femelhante empenho eu 'o deixo a quem tiver maior commodo, e mais opportuna occafiao: Para eu concluir, que fetem gafto com efte rio immen- fos thefouros y bafíta-me confiderar as obras que exiftem nas Íuas margens nas primeiras duas y, ou tres leguas abaixo de Coimbra , das quaes obras a feu tempos falla- remos. Ajuntemos a ifto ferem todos os povos confinan- tes obrigados ao trabalho de graca , huma pefloa por ca- fa cada anno; e todos os lavradores tambem obrigados a trazer pedra fem paga. Ajuntemos huma efpecie de Ma- giítrados confiftentes em hum Miniftro Defembargador Prefidente das obras , e dous Provedores de Marachóes, hum da banda direita , outro da efquerda, e hum Juiz das vallas com feus Efcriváes. Qual cálculo poderá exa- tamente ajuntar a fomma de tantos gaftos ? Qual pen- na exprimir a vexagao dos povos, os quaes, naO obítan- te os trabalbhos , vem perdidas as fementeiras , areados Os campos , ou reduzidos a paues. Eu naó entro em aflumpto taó vafto. III. ÉCONOMICAIS. 207 III. Mas reftringindo-me á hiftoria fimples acho, que por caufas do damno tem fido algumas vezes accufados OS Outeiros, e os montes da Beira , dos quaes defcem as aréas para o Mondego, e para os feus influentes e em: tal cafo fe tem pedido, e propoíto, que os outei- ros, e os montes da Beira fe nao cultivem. Outras ve- zes , por cauías maleficas , tem fido accufadas as penin- foas , e ilhas, ou Infuas (como aqui lhes chamao), as quaes pelo campo abaixo naícem no meio da corrente, e dividem o rio , e dominadas depois por pefloas po- derofas fe augmentao com artificio. A efte propofito me foraó moftrados os autos originaes de huma commiffao do encanamento do Mondego do anno de 1708 exiften- tes na maó do Defembargadór Jofé Magalhaes Caltel- branco , prefentemente Superintendente das obras do Mon- dego. Nos ditos autos fe comega de hum Alvará do Se- nhor Rei D. Joaó V., em que fe relata, que Lourenco de Mattos tendo comprado huma pequena Infua no meio do rio por 3o0oooo réis, a tinha augmentado de mo- do , que valia mais de fincoenta mil cruzados , e em grandeza tinha mais de 2o geiras, com evidente 'ufurpa- gao dos campos circumvizinhos. Em confequencia man- dou S. Mageftade, que efta, e as demais Infuas foflem todas demolidas. Mais fe continuaó nos mefmos autos novas queixas, que, naó obftante os Decretos de desfa- zer as Infuas, nada fe executava y antes fe faziaó outras novas 3 pelo que expedio S. Mageftade alguns Engenhei- ros y que naO ÍaO nomeados, a reconhecer O eftado do rio: eftes ou julgando pouco poflivel o desfazer as In- fuas , ou conhecendo., que a fituacao mais baixa dos campos da banda efquerda por S. Martinho y GCafaes, Villapouca , Arzila, chamava naturalmente as aguas a ef- ta parte , ou por outros motivos y foraó de parecer, que fe mudafle o alveo do Mondego do meio dos campos, aonde corría para o lado efquerdo vizinho as referidas terras. IV. 308 MEeMmorrás IV. Efe parecer dos Engenheiros commoveo os animos incrivelmente , principalmente por dous motivos: primei- ro, porque viria O rio a occupar as melhores, e mais ferteis fazendas de todo o campo; fegundo, porque os territorios das ditas terras , chamadas Terras do Sul, ficariaoO interrompidos , e cortados con) graviflfimo pre- juizo dos lavradores , e perigo dos gados, Os quaes naó poderiaO ir pafítar nos campos de inverno , ou feriaó obrigados a paflar o rio nadando. Apparecem nos autos differentes pareceres em efcrito contra os Engenheiros, mandados a S. Mageftade pelo Reitor da Univerfidade Nuno da Silva 'Telles y 'o qual guiou “todo” o' negocios E viltos os pareceres, refolveo S. Magefltade y que o rio nao fofle mudado, mas fim fortificado , e confervado no antigo alveo , desfeitas y 'e aniquiladas as defgragadáas Tn- fuas y principalmente a de'Lourenco de Matios) Quetera a' maior , “ea máis vizinha' á “Gidade”y' donde “diftava pouco máis de huma legua. Entáo"'foi' quando y com grandes poderes , e muita folemnidade aos 5”de Julio do dito anno 1708, chegou mandado' a Coivúibra fo Def- enibargador do Pago Miguel Franco de Andrade “cin quaz lidade dé Juiz Commiñlario, para reduzir a corrente do Mondego ao antigo alveo, e ao antigo eftado. Chama- dos logo por elle os Intendentes , os Provedores, e hu- ma quantidade grande de pefloas interefladas | aflentou- ie primeiro, fem aflignacaó alguma , que o alveo do Mondego , 'desde o fitio Lapa dos Efteios por fuma”da ponte até S. Fins y que 1aó finco"leguas , devia'der de largura '173' varas de medir'panno 5 excepto “(á pontes, aonde por cauífa dos pilaftres fe defejava', que fofle mais largo 5 e que nos outros lugares de maior largura foffe livre aos confiñantes 'occupallos. “Gomegcada a vifita da dita Lapa'dos Efteios até S. Fins”; forao por Decreto mandiadas desfazer' entre 'ilhas”, e peninfoas nao menos que vinte e nove. Depois do Decreto “contra as Infuas'), Íe procedeo a huma refolugaó hydraulica, filha porém da ignorancia y que fe defentulhaflem das aréas os arcos da poan- EeCcCONOMICA S. 209 ponte , cavando-fe em cada hum delles huma valla. Ter- ceira refolugaó , que fe reftauraflem os bordos da ponte cahidos , que já naquelle tempo as innundagtes eraó taó grandes , que cobriaó a ponte. Quarta; que o Caes da Álegria fe mudafle de dentro da Infua dos Religiofos de "S. Bento-para fima da dita Infua , pagando elles a quan- tia concordada de cem mil réis. Por conclufaoó fe ef- creveo O regulamento , e fe encarregou a execugao de tudo ao Suprintendente , e aos Provedores dos Mara- chóes. V. Hecrivel, que emtal eftado de coufas, e em taó grande empenho dos intereflados fe comeflafle a diligen- cia contra as Ínfuas com muito calor; mas eu naó fei de qual methodo fe ufafle para obter o fim propofto. O cafo real he, que as Infuas nomeadas exiítem todas aíin- da hoje, e os damnos tem fempre crefcido ; e os fe- nhores 'das Inluas as gozaó cada vez mais augmentadas, e talvez fem fua culpa y como abaixo terei occafiao de explicar. Nos marachóes , e nos muros cuftofiflimos fia tem havido cuidado extraordinario, como já apontámos, pela deligencia dos Provedores, que de hum, e do ou- tro lado governavaóO de Monte-mór para fima : mais que tudo he notavel a chamada Quebrada grande , hum quar- to de legua abaixo da ponte de Coimbra no fitio para onde diflemos , que aconfelhaó os Engenheiros fe mu- "dafle o rio desde o anno de 1708. Naó obfítante os im- menífos trabalhos que aqui fe tem feito, o Mondego “Zombou de tudo, muros , eftacadas, e quanto havia nef- fe lugar, tudo defappareceo ; feccou-fe inteiramente O alveo velho, e fem alveo corre agora o Mondego á re- veria pelos campos desde o anno de 1783, e julgou-íe neceflario deixallo aflfim correr, ou porque fe deo o ca- Ío por defefperado , ou, para melhor dizer , porque hou- ve efperanga, que orio abriria naturalmente hum alveo "certo, e eftavel pelo mais baixo dos do y no qual correfle fem ulteriores damnos. VI. Mas pouco tardou y que fe nao vifle fruftrada efta PiZom. III. Dd el- 21O MEMORIAS efperanga ', e fruftrada ella chegárao ao 'Throno novas fúpplicas , pedindo remedio , ás quaes porque fe tratava do bem público, e da grande utilidade dos povos, naó póde S. Mageltade deixar de defterir; Ultimamente, de- pois de'outros pareceres quer S. Mageftade ouvir tam- bem o meu, tal) ou qual; e desde o dia quatorze de Junho defte anno, por avifo do llluftrifimo , e Kxcel- lentiffimo Senhor Jofe de Seabra da Silva y Secretario de Eftado , me foraO intimadas as determiñacúes de Sua Magetltade , confiftindo principalmente nos feguintes Ca- pitulos y; os: quaes me ferviraó de methodo ao prefente difcurfo y refpondendo pela mefma ordem. I. Que eu paí- fafle a Cidade de Coimbra para vifitar os feus campos, ou 'pelas margens, ou pelo alveo do Mondego, a fim de examinar os rombos 5; e as quebradas fuccedidas com rúina da lavoura y e da navegacaó. II. Que fe julgafle precifo trabalhar em alguma obra provifional para reme- dio de urgénte perigo , a ella fe procedefle logo fem perda de tempo. III. Que examinafle com toda a liber- dade, fe era util, e fe-era poflivel a execugaO de hum plano , muitas vezes fallado, e apprefentado, no qual plano o remedio principal, que fe aponta para defarear os Campos de Coimbra y he prohibir a cultivagao dos montes da Beira, para que as enxurradas naO tragaO mais aréa. IV. Que para obra maior formafle eu o piano pa- ra fe apprefentar a S. Megeítade. V. Que fobre diver- fos pontos de menos importancia obfervalle outras iní- truccóes , que do mefmo modo me foraO dadas em eíf- crito. Eftes faó os pontos, a que fou mandado reipon- der, mas toda a difficuldade eftá no quarto , no qual fe tem já empregado feriamente muitos efltudos, e até ago- ra todos inuteis : farei eu tambem coim attengao polñlivel o meu eftudo, e fenaó for proveitofo, fervirá de augmen- tar O número dos inuteis. CGC A- E CONO M UOo AS. 211 GAS PALLE QU de QU de Eflado do Mondego da Ponte de Goimbra até ao Mar. VI po pontes em Coimbra huma fobre outra : a é prefente ponte algum dia taó alta, que nenhuma pefloa dos bordos della póde fer teftemunha de hum ho- micidio commetrido viginho á agua: cem degráos até”a agua no tal, e no tal“caes : boíques taó grandes, que nelles fe perdia a gente no tal, e tal fitio y e outras muitas narragóes femelhantes Íaó as que commumente Íe ouvein no povo de Coimbra: mas nellas fem duvida ha encarecimento , pois achei de certo , que a agua do Mondego na ponte naó he fuperior em livel á agua do Oceano em preamar , fenaO 63 palmos , fuppofta a qual medida , fe damos ouvidos a todas as narragóoes , aftun- dado o rio outro tanto em Coimbra , deveria a maré alta infallivelmente chegar alguma vez á ponte. Naó nego y que fe tenháó , fobre o Mondego fabricado tres pontes cada huma mais alta, do que a antecedente, a primeira pe- los antigos , a fegunda a tempo do primeiro Rei de Pórtugal o Senhor D. Affonfo Henriques, e a terceira a tempo- do Senhor Rei D. Manoel. Naó nego 5 que a prefente ponte efteja entulhadá muitos palmos y, como abaixo fe declarará; o que nego he o exceflo, e pofli- bilidade do fundo enorme , que fe vai cantando: e efta negativa ferve para intelligencia do que agora podemos pertender do Mondego , feguindo os effeitos, e a car- reira das caufas naturaes, que faó as que devo ter fem. pre de mira para naderrar, onde me he neceflario pror valla; O que faco do modo feguinte. VIII. Supponho primeiramente y que a mefma quali- dade, ou groflura de aréas, que agora traz o Monde- go á ponte de Coimbra y a mefma trouxe , e arraftou iempre 5 porque fempre calidas dos mefímos montes,, é É Dd ii vin- 41a MEMORIAS vindas da mefma diftancia, e por iffo attenuadas do mef- mo modo; e que fempre foraó igualmente faceis a ca- hir no río y porque antigamente , faltando a defcuberta dos rmilhos y cultivavaó-fe mais os lugares eminentes., do que os planos baixos fujeitos ás innundagóes do inverno. A quantidade das aguas foi tambem fempre a mefma, porque fempre foi identica a fuperficie do terreno, que nelle defpeja ; e fempre pouco mais ou menos iguaes as chuvas, e as neves; porque nunca fe mudou o clima, nem variou a natureza das Proviacias. Além ditto, he neceflario confiderar o río y naó ÍÓ como agua corrente) mas como agua, e aréa: fe fofle fómente agua corren- te , poderia a fua fuperficie fer quafi horizontal ; mas por caufa da refiftencia , que lhe faz o pezo da aréa cor- rente , em cada rio fe fórma huma queda, ou inclina- gaó , na qual a natureza proporciona , e equilibra a for- ga da agua com 2 refiftencia da aréa y, chamada pelos Authores refiflencia do fundo, e eu no cafo individual do Mondego lhe chamarei , para me explicar, re/iflencia da aréa lómente reflicto , que o dito equilibrio nefte Mondego deve fer incrivelmente vario, por cauía da in- explicavel variedade com que fe vé correr O rio ora di- vidido em dous, ora em tres, ora em mais ramos, e poucas vezes junto todo. Saó eftas em parte verdades naturaes, em parte verdades hydraulicas , das quaes naó he licito duvidar. Mas porque a natureza nas mefmas circunftancias fempre obra do meílmo modo, fegue-fe de tudo o fobredito y, que a queda com que o Mondego póde agora arraftar a lua aréa y he a meíma com que fempre a arraftou, Limitando-nos porém á ponte de Coim- bra, e fuas vizinhangas, por naó variar circuítancias, e prefcindindo da variedade dos regatinhos em que efte rio fe devide. IX. Seaflimhe, dirá alguem , como he poflivel veri- ficar ao menos em parte as fobreditas narragóes do po- vo de Coimbra y das quaes ao ntenos algumas nao po- dem pór-fe em dúvida ? Refpondo, qúe tambem eu creio. íe- ECONOMICAS. 213 ferem verdadeiras muitas das allegadas narragoes , mas eraó outras as circunftancias que as veriticavaO 5 e def- tas circunftancias, as que julgo principaes faó as feguin- tes. Primeira circunftancia : eltava O mar mais vizinho, naó porque fe tenha agora retirado a barra da Figueira, pois tem ella a condig/O de eftar entre montes, que eu quiz oblervar 5 e por iflo nunca variou, nem pode va- riar , e fempre no mefmo fitio, acabado o Mondego, comegcou no Oceano ; mas porque o rio dentro terra ti- nha mezos voltas y menos areaes , menos Infuas , em fór- ma que podia fer menos huma legua mais curto , COr- rendo mais direito. Segunda circuunftancia : “a agua era provavelmente mais junta, ou totalmente junta, e como tal tinha toda a fua forga poflivel para defentulhar as arcas. X. Para examinar eftas duas circunftancias, as quaes julguei ferem a chave do negocio todo -, fiz primeiro elevar hum mappa , em que fe contivefle o andamento do rio, da ponte até o mar, com o fim de ter a me- dida do feu comprimento , e como fe podia encurtar, que he o que me ferve ao intento prefente. O refulta- do principal do mappa he, que o rio em todo o Ífeu comprimento tem 214900 bragas y que faO oito leguas juftas, contando em cada legua 2$9560 bragas, e por li- nha recta teria fómente 16500, que he quafi huma le- gua e meia de menos. Depois diíto me puz eu mefímo a livelar com exacto livel o mefino rio , da ponte por quatro leguas até onde chega a maré, pouco abaixo da barca de Monte-mór, naó continuando a fio, porque nao me pareceo neceflario , mas obfervando em cada legua varias livelacóes de 29000 palmos, cada huma con: as condicgúes coftumadas , e com a frequencia y que me pa- receo baftante para concluir a inclinagaó media. ÚUltei fempre de palmos de vara de medir panno , já que a acho nomeada nos Autos do anno de 17c8, dividido po- xém o palmo naó em outavas , fegundo he coftume, mas para meu commodo:, em ongas , QU partes decir y máis absticoS 214 MEMORIAS mais. Advirto , que o coftume de efcrever as livelacdes he notallas em fórma de fracg2ó , pondo por numera- dor as differencas das alturas ,- e por denominador as dif- tancias das fituagóes: no cafo prefente porém perpetua- mente poupo o denominador, porque, como Já notei, fempre he o mefmo dous mil palmos. Os refultados faá os feguintes : e aonde naó vai notado agua junta y Ou el- la he larga, ou efpalhada. Livelagodes da primeira legua. XI. Primeira, á ponte immediatamente onzas 23,7 2, no meio entre a ponte, e a quebrada - -. 17,4 3, á quebrada em agua junta - -—- —-—--— 9,9 AE IOE Abe OU Ana NO pito vn A gUTSR AEEMTAAFRLAU SA ÚAA VAIA 2AAA4 (TN ES SS E JA ERE DIS AMANTES DADO ANO) ETA TAN UNS PAO GUE RUSA RAR ae a mia en RON OF er agua tiJunita 15045) de soe | os GATA DTE LATA Sommaó as precedentes livelagóúes ong.- -159,3 as quaes em toda a legua daO - e -s O” 2207) O ou palmos 22. Segunda legua. O O A A e Prema cguanfUunita vos É sos Sua) SUSO AA a A ESA AS OS EA AO SUS ARTE donos RAROS SS AS RIOS Sa a DA AN OS NEASS 14 y 'em agua junta -— - - do ea ela O NONE SEO E e SAS ASUME OS SERA TÓ | emiagua gunta, 291 - 0SUNADAS USE suele IO, Ó GA A TE ds ido A DIBLO AU BICO Bigrttai- oaBEGGÓN Sommaó as precedentes livelacóes onc. - - II4,7 as quaes proporcionadamente em toda a legua daO 183, $ ou palmos 18; 4. Deo EcOoONOMICA S. 215 Terceira legua, 18, em Pereira em agua junta - - si --sn 8,6 MS ARRANCA TUI GNA AGA AA ATAN TANA Seis temiagua Juntalés: soro God nstStE nar UIGIE DEBÍA A RUSIA DUB UMS TIA ALAS Belemviagua. Juntagsivs ve anfsPUl FT O TUTELA AA anana Ao, ab o an PROA AO BEIRO AI O A PU INT Aba Lira LAZA Sommaó as livelacóes precedentes ong. —. - 74,2 e em toda a legua dad - ss oe no 136)O ou palmos 13, Ó. Quarta legua. Ann ent agua Junta sois bre Us UI AIEAIERA AN ADO RIN Aa TE TEO AA ANA RAS ORIÍOE SIGO 27, em agua junta ss OS sin ena 593 23, em agua junta - se SS sera o Ó, O DU ms sustenta ds IDEN Sun AlTE- VA AR TDVS ESEI IUAO SOBNMO 4 PriNCIP1O: 'da Marán ANPA OTRA ATA GALIZA Sommaó as livelacóes precedentes onG.- - 44,2 girem) toda ía: Jeguandao os £isnuter (Ego tn nte su t9453 ou palmos 9, 4- As quatro leguas juntas tem de queda palmos 63,2, aos quaes accrefcendo 18, que faó os da maré até á bar- fa da Figueira; daO a queda'total 817) 2: e-efta he a elevagao da agua á ponte fobre o Oceano em baixamar. XII. De todas as livelacóes em geral apparece, que quanto mais faO vizinhas á maré, mais vaó diminuindo na grandeza com degradagaO irregular y e naO continuada. A irregularidade procede dos varios impedimentos da corrente; a degradagaó nafce da atenuagao das aréas. A quar- 316 MEeMmóRvAS quarta legua da maré, que he a primeira da ponte, tem de refultado palmos 22 : e he certo, que fe efta fe po- defífe reduzir a fer terceira, Ou encurtando a carreira do vio, ou avizinhando a maré, tirados outros impedimen- tos y nefle cafo todos os ditos 22 palmos feriaO de pro- veito para o defentulho ; porque a forga que tem a cor- rente dividida em quatro leguas, ficará unida em tres, 'Tambem fe obferva, que as livelacóes da agua junta faó menores , 'do que a efípalhada, e feita a fomma. das on- ze livelacóes da agua Junta que eftao na'lifta y faó on- gas 85,0 5 as quaes daó ein relultado medio palmos IO, 9 em cada legua, e nas quatro leguas fazem 43, 6. Donde fe infere , que fe toda a agua correfle fempre junta fem Infuas, e fem areaes, ainda que 'orio fofle em voltas, como vai, naO réquereria de queda media fenaó palmos Io, 9 em cada legua, e em todas as quatro le- guas palmos 43, ilto he, quafi vinte de menos, que a préfente. 'Taes refultados demoftrao já a meu ver qual Íeja O ponto importantiflfimo , e digniflimo das attencóes mais férias no prefente exame 5 e he achar o modo de reftituir á agua do rio a fua forca natural , tiran- do-lhe as voltas , e ajuntando-a fem expansóes , fem In- Íuas , nem areaes. XIII. Noto aqui de paflagem y, que tendo experimen- tado na agua efpalhada maior queda fuperficial, do que na junta , e funda, deveria tambem aquella ter maior velocidade media, e maior tambem no fundo , fegundo o fyltema com que o moderno Du-Buat, $ 39O, e feg., e Bernard , que o adopta ao $ 247, contradizem Gui- Ihelmini , e pertendem , que a queda fuperficial he aquella y que independentemente da altura determina a forca de toda a agua até o fundo 5 teria “por tan- to a agua efpalhada mais facilidade para defarear ,- do que a junta. Mas as experiencias obfervadas immediata- mente no rio , e naó em pequenos canaes ;)' quaes Íao os dos ditos Authores , parecem fer dicifivas, e contra- rias ás pertensóes dos mefmos. O citado Du-Buat, tom. 1. ECONOMICA s. DO7. 5 part. 1. fedt. "3. cap. 1. refolve' o problema feguia- te: Conhecida a qQuantidade da agua em hum rio, e a fua velocidade media , determinar a minima queda que convem ao fundo. No cafo prefente, 'deixada a” formula conque o Author conclúe a refolugaó', procurei obter a dita queda reduzida , como difle , a 1O;)'9' pelo refulta- do das obfervacóes y e naó pelas condigóes do proble- ma: Deixadas outras razóes, a principal he a feguinte, porque Du-Buat, fuppondo nos rios agua fómente, nao fe encarrega da aréa'y a qual movendo-le, e correndo al- tera incrivelmente a queda do fundo , como fuccede no Mondego 5 e por iflo a formula do problema nao me parece fer aqui applicavel. | ; XIV. Paflando agora a outras obfervagóes y confidero oo a ponte prelente. Parece que quando ella foi abricada y n3O paílava em comprimento o fitio chamado o O da ponte y nem era mais elevada nos arcos do meio, e mais baixa nos das extremidades y conforme o coftume quafi geral de todas'as pontes : mas os arcos mais al- tos eraO os fete mais proximos á Cidade, o primeiro dos quaes eftá ainda 14 palmos fóra da'agua;, feguem-fe de- pois quatro arcos alguma 'coufa mais baixos 5 e por fim vizinhos ao dito O outros quatro mais abattidos : €e he crivel',y que a calzada da ponte tambem defcia até campo , ou praga da antiga Santa Clara : pela qual cau- fa eltao agora os primeiros arcos ainda elevados , e os ultimos ja de todo fepultados. Houve depois com o an- dar des annos mudancgas y e accrelcentamentos' na -pon- te; a fua calcada foi mais aplainada'; e lroje; da “porta até O0”O naó delce fenao nove palmos 5 e paflado o O foraO accrefcentados em comprimento outros doze arcos da” banda de S. Francifco. Mas he defgraga fatal eftes arcos y/que fem dúvida foraó ordenados: para máis/proni- pta 'pañlagem das cheijas ;)/ naóO fervem hoje nem ao Tio, nem ao público y e eftao' occupados“abufivamente pelas contiguas fazendas de hum e outro lado. Naó achei quem me enfinalle quando fofílemy feitos na ponte os referidos 218 | MEMORIAS accrefcentamentos : mas eftá fobre a porta da Cidade ao principio da porta da ponte huma infcripgaó em letras Goticas, a qual diz. aflfim : y, O Serensfjimo Principe al- to be mui poderofo Rei D. Emanoel nolfJo Senhor o pri- meiro de efle nome he quatorze! na dinidade real mam- dou fazer de novo efla ponte até as efperas , he redifi- car até a Cruz de S. Francifco , he da dita Cruz até Santa Clara de novo y he acrefcentar efla tore be má- vo, era dé mil he D he XIII annos. ,, Acha-fe perpen- dicularmente por baixo da data porta outra porta quafi de todo entervada , que vifitei entrando pelo contiguo quintal, a qual julgo que era a porta da Cidade ante- riormente ao anno da infcripgaO 1513; e moftra que no referido. anno náó: fó foi fabricada a torre dá porta, e o muro dos lados , e a ponte até ás efperas ; mas que a mefma' ponte: foi levantada 23 palmos, os quaes ao pouco mais ou menos quanto huma porta. eftá: fobre a outra , fuppondo-as iguaes. As. eíperas aonde foflem he: adivinhar y mas eraóO talvez algúm lugar: femelhante ao que hoje chamamos O , ou na mefina fituagaO ); ou talvez em diverfa 5; pois tambem' o Convento de S. Francifco nomeado na incripgao naó era: o prefen- te, e Santa Clara era “o Convento velho , que foi ha- Birado fecúlo- e meio depois. da infcripoao até O anno. 1677. XV... 'Tem Coimbra diveríos caes para defembarque : neftes- porque o rio fe levanta, tem fido: pouco menos que contínuas as obras 5 e prelentemente defejaOo. mui- tos, e requerem), que por todo- O comprimento da Gi- dade , e ainda mais adiante fe levante alto muro , O qual defenda das innundacóes todas as ruas baixas. Nos: campos paflada Coimbra , hia o rio algum dia pelo meio: delles a batter nas faldas do monte da Geiria , correndo no alveo velho; e dalli reflectindo á efquerda y tornava aos montes oppoftos aonde eftá Arzila , fempre entre muros , e marachóes perigofiflimos , dos quaes porém o cuíto na apparencia fe diminuia, muito, por ferem todos: Os EcoxNomnmqde Ás. 219 ós povos em duas leguas de diftancia obrigados ao tia- balho , huna pefloa de cada caía. XVI. “O rio cada vez mais fe entulhava, e as que- bradas; cada: vez eraO maiores: e para naó fallar de ou- tras y a mais famofa de todas foi fempre a primeira á eíquerda hum quarto de legua abaixo da ponte 5 da qual Já aílima narrei , que depois de muitos trabalhos , ficou finalmente o Mondego vencedor 5; e deixou-fe ir livre dobrando em cotovelo y ou angulo quafi recto pata a banda efíquerda pelos campos mais baixos de” S. Marti- nho , e derras feguintes fem alveo' nem natural; nem ar- tificial, nem ainda determinado y damnificando á fortu- na y ou á defgraga y os donos particulares dos mefmos campos , e á cuíta dos mefmos y com -tal eftrago, que naó he exprimivel com palavras; nem ha efperanca de fe ver o fim dos damnos ; porque a agua fem alveo fe divide em muitos regatos y ora. mina na margem direita, ora na efquerda, 'e tudo converte em areaes, Cuja lar gura em algumas partes paíla já de feis mil, ou de fe- te mil palmos, e o comprimento quafi de duas leguas: Achei' o plano das terras neftas partes fer naO mais que tres: até quatro palmos fuperior á agua clara do rio nos fins de Julho ; donde fegue-fe , que tres até quatro pal- mos que haja de mais no inverno y baftaó a elevar O Mondego lobre os campos. XVII. Dentro do alveo achei, que exiftem ainda hoje pertinazes todas as Infuas, que no anno 1708 foraó man- dadas demolir-fe: mas das do alveo velho já fe naó faz cafo aonde eftá enxuto , porque finalmente fe deo licen- ga para fe cultivar y e'em lugar deftas nafcem outras no- vas nos lugares aonde O rio vai fem alveo. N2aó obftan- tes porém 'os Decretos, “e Regulamentos contra as Iníuas, nao pude deixar de admirar a diligencia y, “com que em Fermofelhe, e no campo de Monte-mór vi fortificadas algumas dellas com eftacadas, e falgueiraes. E vi tambem huma comegada de novo, confiítente em hum pequeno areal no meio da agua. cercado todo ao redor de no- Ee ii VOS; 23O MEeEMmoRrRrvrYas vos, e amiudados falgueiros. Eftaria quafi para dizer; af- fim fe ... . porque podem os donos das Infuas forti- ficar-fe muito mais facilmente y que os da terra firme; pois nem o dente dos gados, nem a firga dos barquei- ros lhes prejudicaO ás plantagóes das margens , como em terra firme 5; 'e fe podem as meímas Infuas fazer crefcer quanto fe defeja ; porque ' aonde as ha, por forca a terra firme tem goiva',) ifto he, he roida. SaO ellas no' Mon- dego o melmo que no 'Téjo os mochóes , crefcem á cuí- ta” dos campos confinantes;' fa6 impedimento á navega- caóO 5 entretem a expedicad das cheias5 naós ha mal. que dellas. nao venhasyo | XVIII. Ha nas vizinhangas do. campo de €oimbra muitos y e grandes paues; chamo aqui paves áquellas ter- ras y 'que ou pela: agua nunca faO: femeadas/)y Ou que nos annos enxutos 'fenao podem femear fenao em. Julhor,'e Agofto; fementeira tardía y e quaft/inutilu Os ditos paues faó os feguintes:- 7. Campo baixo do Bolaú até a Gei- ria. 2, Paul de S. Fagundo 5 3. Paul da Cioga 5 4. Cams- po baixo da Lamarofa ; 5. Baixo de Tentugal;, 6./Paul paílado Monte-mór ; 7. Paul de Foja'; 8. Baixos de Maior- ca; O. Paul de: Arzila 5 02o.. Paul da, Granja 3o pt. Paul de Alfarelos3'12. Baixos de Villa-Nova PAngos.. Con- feflo a verdade 5 que fe o número de tantos. paues ate- moriza , muito mais faz compaixaó a vaftidao dos meí- mos 5 pois alguns medem-fe a. leguas y 'e renderiaó mui- tos milhares de moios. Feliz Coimbra, felizes terras do teu campo , fe todas: eftas terras folfem cultivadas 2 mas todas dependem do Mondego ; le efte' der delpejo , tu- do o mais he facil, fenaó naú ha remedio. XIX. O defamparo de alveo velho, além das já di- tas y produzio outra defordem attendivel'y e he a difficul- dade de defpejo nas ribeiras do/Norte , principalmente na que vem dos Fornos. Quando: fe concedeo a cultura do alveo velhó, naG tei fe fe reflectio bem nefte parti- cular intereflantifimo y e relativo a todo o campo atéa barca de Monte-mór. Efta barca eftá no limite das máa- rés/y E O ó WoMmHita" si 221 sés , e daqui para baixo comegca a grande volta, que vai coftear os montes de Verride , e de Riveles , toda cheia de Inf(uas y e difficuldades, Succede, que ainda em pe- quenas cheias, nad foffrendo a agua tardangas taO gran- des y'úem os impedimentos das Infuas que te encontraO, fuccede digo y que precipitando-fe pela eftrada mais bre- ve', corre eiím direitura por fima dos campos , desde o dito ponto da barca até entrar de novo no alveo , no fim da planicie 'de Monte-mór y e em confequencia todo o efpago intermedio fe acha: efterilizado, e inútil. Efta eltrada “mais breve tem de menos que “a comprida mil e trezentas bragas y fendo a volta de quatro mil e qui- nhentos y e a livha recta dertres mil e duzentos. Ha an- nos para que a agua n2ó paflafle pela eftrada breve y Jhe foi levantada peios Engenheiros' alta tapada fuperior a todas as enchentes y mas já/ della nao apparecem' fenaó as reliquias"? o rio desfazendo-a y caufou damnos novos, e maiores y que' os antecedentes. XX. “Acaba a planicie de Monte-mór com os vaftos paues que lhe eltao á direita; e nao muito depois vai 4 Mondego a batter no chamado Penedo de Lares y o qual he huma montanha de pedra viva. Fica ella tambem á direita da corrente; mas o rio depois que batte ,. re- flecte á efquerda roendo y, e minando- naquella volta chamada do Canal, na qual o gyro tem mais que a li- nha recta novecentas bragas. Conhece-fe aqui claramen- te", que a imargem efquerda y ou concava , eftá toda em qdiflolugaó, e a oppoíta convexa toda em depoficaó : de huma banda crefcem os terrenos; e da outra diminuem. He efta huma lei hydraulica , notada por Guilhelmini no Cap. V. Prop. VI. y Corol. VI. y e'que/ a experiencia ' con- firma contra o parecer de' Mr. Du-Buat , e della já “fallei em huma Memoria fobre o 'Téjo impreífla no II. “Tomo das Memorias Econonicas. Polta pois a referida diflolugaó da margem efquerda , crefcendo a volta, tem “o Mondego no feu comprimento até o mar vi- fivel ye contínuo augmento na extenfao, e a forga da fua 222 MEMORIAS fua correnté cada vez mais fe diniinue pela mefimna caufa. XXI. Defte modo, a meu ver, fica delineada a ver- dadeira pintura do campo de Goimbra , 'expansóes de agua, areaes, voltas, Infuas, ea corrente enfraquecida. O peor he, que o Mondego enfraquecido perde a que- da naó fó nos fitios aonde enfraquece y mas em toda a planicie fuperior 5 porque nóosrios planos he maior ain- fluencia dos ramos inferiores fobre os fuperiores y que naó ás aveflas : por exemplo , fe fe perde a forca da corrente em Monte-mór , perde-fe tambem em Coimbra; mas perdida ella em Coimbra , naó fe perde por iflo em Monte-mór. A razaO já aflima fe apontou, quando fallá- mos do enterramento que póde haver á-ponte. Em fum- ma , a principal concluífao defte Capitulo he y que eftou perfuadido y que fe nefta planicie por toda ella tivefle havido diligencia que o rio naó alargafle, naó torceffe, nao minafle ás praias, nao abrifle goivas, nem a pon- te de Coimbra eftaria enterrada y nem a Cidade alagada, nem os campos areados y nem os paúes incultos com taó grave damno da lavoura y, nem fe tería confummido em trabalhos inuteis, tanto fangue de pobres. CAPITULO III. Obras provifionaes: XXII. Ordem , que S. Mageftade foi fervida dar- me das obras provifionaes, confifte na dili- gencia neceflaria para livrar do perigo os fructtos pen- dentes, no anuo prefente y e no facilitar a navegacaó. Explicár-me-hei em poucas palavras, e nada diría fenaó fofie obrigado. Primeiramente Jjulguei impoffivel falvar os campos de huma innundagaó maior 5 porque todos elles por quafi duas leguas nao foraó achados fuperiores ás aguas de Julho ordinarias fenaó tres, ou quatro pal- mos ; ifto polto logo que a cheia paflar a dita At qua E'e o msOtmiIIO W/S; 323 qual arte fe ha de ufar para defendellos'?? Mas ifto naó obítante , ha principalmente defronte de 'Taveiro algu- mas alvercas, pelas quaes a 'agua entra com maior faci- lidade , e lava depois os campos” do lado do Norte. Efí- tas dei ordem , que fe fechaflem do modo poflivel, atreveflando-as com as ferras de aréa huma, ou duas ve- zes , e foi feita a obra realmente no fim do verao, com a qual felizmente le falváraO as fementeiras contra as chuvas do Outubro. O: effeito depois moftrou , que fem hum remedio geral faó eftes males incuraveis j pois vieraó outras aguas em O mez de Novembro, e por ef- tarein: os campos deimafiado baixos , abrívaO logo alver- cas, OU vargens novas. Além difto , achei que o Prove- dor dos Marachóes do Norte, fegundo os feus poderes ordinarios, fechava no alveo velho huma grande quebra- da , da qual aflima fizemos mengaó ao $ 6. 'Louvei a obra , e deixei que fe continuafle. XXIII. Foi-me accufado o perigo do campo de Bo- laú ; porque nas cheias alagando-fe , com difficuldade fe enxuga. Duas obras para fua defeza achei já antes exe- cutadas : huma confíiftente em alto muro' de' muitos mil cruzados , fabricado , fe póde fer, no ar; porque funda- do fobre eftacas de pinho delcubertas fóra da agúa ; já do muro tinha cahido huima parte , e as Outras partes pareceo-me evidente que á primeira cheia poderiaO. ca-—- hir” y e perder-fe a/ipedra' fepultada na: aréa y) como ti- nha fuccedido á primeira. Ordenei por tanto y que tudo feja desfeito , 'e a pedra levada para: fitio, aonde polla fervvir utilimente ,. poñta ao menos fobre o viziaho ma- rachao! y que foi a fegunda obra feita para defeza do. Bolaó 5 e na verdade bem regulada. XXIV. Quanto á navegagaó y que he o outro ponto: recommendado y, achei que o motivo, por que no Mon- dego fe navega mal nao he fómente o fer pouta a aguas mas dobra-fe a difficuldade y por correr ella dividida em xegatinhos , que até do alto de Coimbra fe obfervao, fem. fe faber qual he o principal. Deixei. recommendado,, que Aa ME MORTAS ; FACE ES. que toda a agua fe'/ajuntafle com pás) e rodos ao me- nos nas vizinhancgas dos caesrda Gidade. Além das fo- breditas providencias 'naóO Jjulguei y que por ora foflem neceilarias Outras urgentes. O ARPRBEO AUTO dY. Exame breve do [yflema de nad cultivar os Montes da Beira para defarear os Campos de Coimbra. XXV. P Arece que efte fyftema he taS antigo 5 quan- to faó antigos os damnos do Mondego ; pois que nas minhas inftruccóes que me foraó dadas fe affir- ma , que foi elle propofto ha mais ' de cento e fincoenta annos; antes parece, que foi já, fenaO executado, ao menos mandado executar; ferdo certo haver na Cama- ra 'de Coimbra pofturas antigas, que prohibem a culti- vagao dos montes , até aonde fe extende a jurifdicgaó da Cidade. A verdade he, que'o penfamento he obvio; porque as aréas faO evidentemente damnofas á ponte, aos campos, á Gidade :vellas defcem “dos montes , e fe ellas; na6 / viellem , maó. haveria damnos : fegue-fe por tanto y que convem impedir que naO venhaó: mais. Efta he a conclufaS, efte he o fyftema, que naó 1ó foi pro- poíñto ha IsO annos, mas muitas outras vezes tem fido renovado pelo tempo paflado, e'talvez o tornará'a fer pelo futuro: e por iflo fe me manda ; que o examine, e refponda fe ferá util ou em todo y ou ao menos em al- | guma fua parte. Para clareza da relfpofta” referirei as ex- prefsóes“ com que elle huma vez foi efcrito y e faó as feguintes:1 Todos 'os montes da parte que faga0O. face ao Mondego y ou a outro qualquer rio y ou ribeira y que nel- le venhaO defaguar y) todos elles nao devem fer femea- das y nem lavrados y nem cavados y nem mefmo 5 digo, para a parte dos vios fe lhes devem abrir pedreiras”, o. Depois: de pafJado o tempo das grandes cheias cora a Doen O MUDA SS. 225 da terra, que tiver fido trazida pelas aguas, deve fer immediatamente conduzida para as coróas dos montes, tc. Haja brigadas de Engenheiros , Oc. os quaes te- nhaO cuidado da execugab , Oc. “Tal he o theor das Leis , taes faó as propottas do fyftema , as quaes ainda que feparadamente humas das outras em differentes occa- fides polflaO fer uteis ; com tudo a todas juntas, e em globo refpondo de prefente, que as naO poflo abragar, em quanto tiverem forga as feguintes razóes que tenho em contrario. XXVI. Primeiramente em conformidade das palavras, com que o fyftema fe refere, e tambem por. neceflaria confequencia, e paridade de razaO comprehende elle no comprimento, desde Coimbra até a Guarda, vinte le- guas , e em largura tranfverfalmente da Serra da Eftrel- lá para fima até Vifeu , e Serra do Caramulo , outras dez leguas, e fazem duzentas leguas quadradas y naó fa- zendo cafo dos muitos gyros', qué fe podetiaóO ajuntar, como faó a volta de Arganil, da Lousa 5 e outras, as quaes podem todas deputar-fe para recompenífar os pou- cos planos , que o íyftema permitte que fe cultivem : poucos, digo, porque todos juntos , e fommados os pla- nos da Beira influentes no Mondego , duvido que che- guem a tres, ou quatro leguas quadradas y fegundo as medidas , de que me informei com pefloas práticas. Fa- gamos ponto nas duzentas leguas , comparemo-las com o campo de Coimbra , ifto he, com o campo, fem eun- trarem na conta os paues dos lados , os quaes pelos Au- tlhiores do fyftema nem fe confiderad. O campo de Coim- bra quafi em toda a parte fe atraveñla em meia hora, tem fitios mais largos, e mais eftreitos, a fua largura media póde por iflo arbitrar-fe meia legua. O compri- mento do meímo tampo , desde a quebrada até o fim do canal, naó pafla de feis leguas : donde he todo o campo tres leguas quadradas, pouco mais ou menos. Def- tas nem tudo eftá arruinado: e nao he pouco fe conce- demos , que eftá arruinada ametade , iíto he, huma !e- Tom. III. F£ gua 226 MEenMmoRrRIAS gua e meia quadradas. 'E quem nao vé já a defpropor- cao entre huma e meia, e duzentas, ou entre tres , e quatrocentas 35; , condemnadas eftas para allívio daquel- las ? Mas naó promovamos mais femelhantes proporgaó, porque ferá por defgraga aquella legua e meia toda ou- ro , e as duzentas todas chumbo. Por defgraca digo, pois he certo, que eftas fuftentaó mais povos incompa- ravelmente y e mais gente , de que aquellas. Deixe- mos efte argumento , e vejamos fe ha outras razóes, e fundamentos , pelos quaes fe deva rejeitar o dito fyf- tema. XXVII. Pergunto: Os donos, e fenhores dos terre- nos da Beira nao faó elles igualmente fenhores do: que he feu, como o faó os do campo de Coimbra ? Quem duvída difto? Mas fe aílfim he, porque razaó, ou feja humana , ou natural, haó de fer privados de fazerem do que he feu o ufo que lhes parecer, em favor dos campos de Coimbra ? Quem lhes recompenfará os da- mnos , que lhes fobrevierem pela diminuigaó dos féus fruttos ? Fagaó-fe (diz o fyltema) nas cofías das ladei- ras focalcos para femear bofques. Pergunto : Quantos fo- calcos em cada monte, e em cada ladeirá 5 e á cufta de quem fe haó de fazer , e fe haó defemear? A” cufta do campo de Coimbra intereflado y ou á cufta dos donos, que naó tem niflo interefle ? Eu naO fou inimigo dos Ío- calcos y e prouvéra a Deos que fe introduziflem, e fe fa- bricaflem amiudados em todas as ladeiras para beneficio da Agricultura : mas focalcos para femear bofques incul- tos em toda huma vafta Provincia , que quafi nao confta Ífenao de Montes, e de ladeiras y muitas vezes com meia legua de precipitofa defcida y efta fim, que me parece couía nova, e inaudita. Naó fe abraó pedreiras ( accref- centa o fyftema) nas faces que botdo para o Mondego. Pergunto : Botando todas as faces nas ditas duzentas le- guas , ou ao Mondego , ou aos feus influentes, qual fa- ce fica para abrir pedreiras ? Seraó os povos da Beira daqui por diante obrigados a viver em cabanas paftoriz, ou 1 ECoNOoOn xa xs. 2349 ou nos mattos, como os Tapuias do Brafil ? Se a terra caltir com a chuva, feja, e feja logo immediatamente conduzida para as coróas dos montes: e fñefte particular infifte diverías vezes. Pergunto : A” cufta de quenr? Quem pagará aos obreiros efte trabalho infano? Os fenhores do campo de Coimbra, ou quem nada lhe importa ? Haja Brigadas de Engeuheiros , baja Provedores (conclue o fyftema ), os quaes vigiem, Ac. Tambem aquí pergun- to: Quem lhes pagará ? XXVIII. E em geral, fobre todas as propoftas jún- tas, pergunto: Feitos os focálcos, e plantados os bof- ques , impedir-fe-haO inteiramente todas as aréas, para que nenhuma venha ; ou fómente alguma parte ? Todas certamente naú;5 pois vifitando eu algumas partes da Béi- ra y achei' por exemplo, que ñas vizinhancas de S. Se- baftiaó da Feira corre o Alva influente do Mondego, er barrocas profundiflimas entre montes todos de aréa taó facil de cahir no rio, que baftaó os pés de hum pafla- rinho para desfazella nas ladeiras. No Mondego do mef- mo modo achei tudo aréa desde as [uas nafceñtes , que vifitei na Serra da Eftrella. Compóem-fe aquelles mon- tes circumvizinhos de huma terra y Ou pedra femelhante ao granito, mas grofleira, e taó pouco tenaz, que pó- de comparar-fe a lluma compoficaó de farellos. Nunca por tanto ferá poflivel impedir , que das aréas da Beira nao venha ao rio ao menos huma boa porcaó. Efla porgaO que defcerá, baftará ella para confervar o Mon- dego no ecfítado prefente de ruina? Será certa a utilida- de, que fe pertende da execucaó do fyftema , ou duvi- dofa? Em fumma , todas eftas razóes y e Outras feme- lhantes fe poderiaó promover muito, as quaes concluem, que tal fyltema naó he feguro, nem fundado fobre prin- cipios certos , nem he compativel com a idéa da boa agricultura da Beira , e fómente póde fervir para hum difcurío verofimil , do meímo modo , que também 'eu poderia dizer, que todas as aréas do Mondego fe con- duziflem em barcas pelo rio abaixo ao mar alto: nem Ff di o pen- 228 MEMORIAS o penfamento fería novo; pois todo o mundo fabe, que o entulho dos portos do Mediterraneo com admiraveis máquinas fe apanha, e em barcas fe leva ao alto rnar. XXIX. Por ultima razaO exporei huma hydraulica, e demonftrativa. Pergunto: Que coufa he a fuperficie da- quella Beira , que bota agua no Mondego; ou daquel- las duzentas leguas quadradas y que influem nefte rio? Só quem o nao vé, O naO cré; e eu para as ver, via- gel de ptopofito alguns dias pela Beira : faó todas de mon- tes altos, e barrocas profundiffimas , valles, e outeiros, em Os quaes ou corre o Mondego, ou o Alva, ou a Ceira, ou o Dam, ou algum dos influentes : naó ha valle, nao ha barroca fem algum rio, ou ribeira influen- te. Ora todos eftes outeiros y eftes valles y eftes montes , eftas barrocas y quem as fez ; quem as abrioj ou ao me- nos quem as affundou ? Bafíta examinar algumas dellas com attencgaO 5 pata perceber logo que foráO as chuvas, as enxurradas , as aguas correntes; pois appareceim nos. outeiros vizinhos ac Alva, ao Úeira y e aos Outros in- fuentes em grande altura finaes claros, que eu mefmo vi, e obfervei, e polflo moftrar y que foi aquelle algum dia o plano da corrente. As immenías barrocas da Ser- ra da Kftrella, fa barrocas, e fa6 profundas, porque as enxurradas tiráraO dellas a terra que as enchía , de mo- do, que tanto pelo abaixado dos montes , como pelo affundado das barrocas , falta fem dúvida já na dita Ser- ra ametade do que ella foi na fua formacao. HEfta Ser- ra, ou a fua parte principal confiderada em fi (ó , he hum monte, que tem por bafe, pouco mais OU Menos; hum quadro de 4 leguas por lado, e faó 16 leguas qua- dradas: cada legua quadrada faó palmos 655 36O oce: A fua altura apparece em diftancia de 4 leguas da Por- tella de S. Vicente debaixo do, angulo de, 7 gráos, os quaes daO de elevagad, pouco mais ou menos, dous quin- tos de legua fobre os planos do Zezere, ifto he, pal- mos 10540. Efíftes multiplicados por 16 leguas daO IIO 519; 9IO 400 00O, cuja terga parte, fuppondo a derra E EÉCONOMICIAA s. 229 pyramidal, vem a fer 36 839 77O 133 333. As barrocas da ferra faO ao menos, como difílemos , ametade do di- to número , ilto he, 18 419 885 066 666, e deftes mui- to mais de ametade vem a defaguar nos rios Mondego, e Alva; contando porém fómente ametade, e deixando por liberalidade a outra ametade fó para o Zezere, conclue- fe , que fómente da Serra da Eftrella tem vindo ao Mon- dego palmos cubicos 9 209 942 533 333! Eftes poftos em monte fobre a hafe do campo de Coimbra de tres leguas quadradas y teriaO por altura o número 13850, muito maior que o da Serra da Eftrella, que he como eftá dito 10540. XXX. Se alguem julgar o cálculo pouco jufto, pelo motivo de que a ferra naó he pyramide perfeita, mas: truncada y nada difto obíta ao intento ; porque ferve a reflexaO a augmentar os numeros mais que a dobrado, e nao a diminuillos. Obfervei.por todos os lados a di- ta ferra do Sul , do Norte, do Nafcente y; e do Poente, e pareceo-me ter por todas as partes a referida bafe de 4 leguas, e por todas as partes acaba em muitos cumes de igual altura, excepto hum algum tanto mais elevado chamado Cantaros. Nos ditos cumes, pelo que pude obfer- var, e informar-me , corre entre os ultimos , e OS pri- meiros a diftancia de tres leguas y e efte he o diametro, ou lado no fimo truncado da ferra. O que pofto, hum dos modos como fe póde medir a ferra truncada na fua formagcao y he o feguinte. No meio hum prifma recto, o qual tem de baífe 9 leguas quadradas , e formaó o nú- "mero 5 898 240 OCO , O qual multiplicado pela altura 10540 dá o número 62 167 449 60O oco. Accrefcente- mos em cada lado hum priíma triangular deitado , com- prido 3 leguas , largo meia legua y e alto palmos 1o54O, cada hum dos quaes prifmas faz 3 453 747 200 oco, e todos os priímas juntos o número 13 314 988 8oo ooo. Defprezemos liberalmente 4 pyramides aos 4 cantos da mefma altura, com hum quarto de legua por bafe cada huma : fommemos os dous numeros achados , e fazem eo po / 230 MEMORIAS 75 982 438 400 OOO, Que he hum cálculo mais que do- brado do pyramidal. XXXI. Argumento agora : Se fómente as barrocas da Serra da Eftrella poftas fobre o campo de Coimbra fa- riad huma elevacgaó taó defpropofitada y; que fe deverá dizer do mais que falta nos valles , e nas barrocas de todas as duzentas leguas quadradas influentes no Mona- dego ? He efte hum penfameénto hydraulico muito ferio. Sim , abaixáo-fe continuamente: os outeiros , desfaz-fe , e defce a terra dos montes , affundao-fe as barrocas, e de todas as partes tem vindo ao Mondego pelos feus in- fluentes em todos os feculos terra fem medida , e aréa ta numerofa , que faria no campo , felá eftivefle, fer- ras mais altas que a da Eftrella: e nifto aflente-fe y co- mo coufa indubitavel, e innegavel. Applicando agora o difcurífo á queftao , póde perguntar-fe: “Tanta terra, e tanta aréa, que caminho levou ? aonde parou ? Ella paf- fou certamente pelo Mondego abaixo : e agora aonde ef- tá? Naó ha, nem póde haver outra refpofta fenao di- zar, que eftá no fundo do Oceano : o Mondego a le- vou, e O mar a tem: naó parou em Coimbra, nem no feu campo. De tudo pois , fe naó érro, bem clara fi- ca a minha conclufaO y que a difficuldade de que fe tra- ta naó deve ter em refpofta o impedir a vinda de no- va aréa y naó cultivando os montes y e os outeiros da Beira 5; porque a aréa fempre veio , e fempre virá, e fempre paíflou nos feculos antigos , agora f[ómente he quando naó pafía: mas deve examinar-fe que nova cau- Ía a detem, e impede para que naóO pafle, e vá ao mar, como foi fempre. Se eíta caufa fe defcubrir, [ferá facti- vel o remedio, fe nao, tenha-fe o cafo por defefperado. C A- ECOoONOMICA S. 231 CAPD Gi Na Plano para beneficiar Coimbra , e o feu Campo contra os damnos caufados peto Mondego. XXXII. Q E eu naó tenho errado nos Capitulos ante- cedentes , declarando que os males do Mon- dego naó faó naturaes ao rio, mas fim accidentaes, por ter elle enfraquecida a [ua corrente , fegue-fe de tudo o expoíto , que tirando-lhe as cauías que diminuem a for- ga da agua, tornará efta a ganhar impeto , e cavará O tundo do alveo , reftituindo-o ao eftado primitivo. Ajun- tem-fe as aguas efpalhadas, tirem-fe as torturas, def- truao-fe as Infuas, e nunca mais fe permirtaO, princi- palmente aquellas que dividem o alveo; e o effeito mof- trará a verdade da minha propofigaó. E com efta con- cluíaó tenho acabado o meu efítudo. O que me refta pas ra tratar , he pura prática dependente dos obreiros exe- cutores; e ifto naúó obftante, direi alguma coufa, mais para facilitar, do que por outro qualquer motivo. E por boa fortuna naó defcubro na execugaOo da obra difficul- dades invenciveis y nem me parece que as defpezas fes raO fuperiores ás forgas do campo , fazendo-fe as couífas na fórma que vou a propór. XXXIII. Primeiramente, comegando da ponte até á Quebrada grande , em todo efte efpago de hum quarto de legua nao tenho que dizer, fenaó que no tempo de verao fe tenha quanto for poflivel a agua junta para commodo dos navegantes y e os fenhores das fazendas lateraes cada hum as defenda das enchentes, como me- Ilhor poder, com falgueiros na praia bafítos, e entre fi enlagados. Na melma Quebrada faz o rio grande coto- velo. He neceflaria huma volta mais fuave : efta volta póde fer ou reftituindo-fe a agua ao alveo velho , ou desfazendo-fe o canto á efquerda da mefma OQuebrada. Julgo naó fer poflivel o primeiro modo da reftituicas ao £s2 MEMORIAS ao alveo velho, por eftar eíte todo areado até o plano dos campos, por cujo motivo, quando o Mondego cor- ria por elle, eftava já todo levantado entre marachóes , e muros cuftofiffimos , principalmente nos planos da Geiria e Lavarrabos , éxc. Refta por tanto mpraticavel fómente o fegundo modo de desfazer o campo á efquerda ; mas diíto , ainda que neceflario , póde fufpender-fe a execu- gad para depois de outras óbras , “pois me narraóO, que neftes fitios eftá enterrada tanta pedra, e tantacal,- que baftaria para fabricar huma Cidade ; e requererá a feu tempo exame particular, de qual feja a fituacaO mais facil para desfazer a obra enterrada , e tambem como fe ha de fortificar o outro lado concavo, para que naó feja minado pelo batter do rio, como ferá, fe O deixarem ao defamparo. XXXIV. “Fixado o alveo do rio pela Quebrada , de- ve O dito alveo primeiro que tudo determinar-fe com ba- lifas em linha recta até o ponto antes de Pereira na fal- da do monte y com a largura de'45, ou 5O, varas: de medir panno , a qual largura , como moftra a expe- riencia em differentes partes , bafta para as aguas ordina- rias quando vaó correndo da Quebrada para baixo; pois nao he poflivel conter neftes planos as enchentes dentro de certos limites , antes naO faz conta o detellos; por- que as enchentes fertilizaó os campos. Difle moftra a ex- periencia , porque em diverfas partes achei alveo aberto pelo mefmo rio , donde tomel regra, parecendo-me que por obfervagaó immediata poderia obter refultado muito mais exacto y do que fe obteria refolvendo o problema de Du-Buat, Part. I. Sec. III. Cap: I. : Condecidas a quan- tidade da agua, a velocidade media, e a queda de hum rio , determinar as medidas do feu alveo. A razaO he, porque os tres fuppoftos faó todos no Mondego fujei- tos a erro grande. O primeiro da aga he infinitamen- te vario , participando efte rio muito da qualidade dos Torrentes. No fegundo da velocidade media ainda naó convem os Authores como poíla medir-fe. O terceiro da que- ometóa ADA acea DA ——SS —————— g O A o TR p F EconNonMmrcaAs. 233 “queda moftrou a livellagaó referida do Cap. II., que de- - pende da atenuagao das aréas incerta por mil principios: “Ora com fuppofñtos defta qualidade , qual conclufaó fe obterá ? Paflemos adiante. EF XXXV. Ha quem defeje , que a linha recta do en- " canamento feja naO fó até o ponto divifado em Pereira, mas até Monte-mór , ou até o Penedo de Lares. 'Tam- bem eu o defejaria, fe conhecelfle que a execugao devia ao depois recompeníar o trabalho, e o cufto: mas por huma parte confidero as pequenas torturas por pouco damnofas ; por outra a perfeita linha recta em tantas le- guas fería cuftofiflima : contentemo-nos por tanto de li- nhas rectas párciaes ,- quaes eu exporei pouco a pouco. Etfta linha recta primeira nao ferve para diminuír o com- primento do rio, porém fómente para determinar o -lu- gar do alveo; pois neftas partes corre o Mondego fem alveo , como já diflemos, ora á direita, ora á eíquerda por areaes de enorme largura. O mefmo rio he o que deve cavar, e affundar o feu alveo: e para obter o in- tento , confidero , que o methodo mais facil ferá firmar em ambas as margens eftacas naó muito baftas, e pren- der a eftas pequenos pinheiros , com todas as ramas, dei- tados no chaó, e efperar que a natureza obre, a qual obrará de certo , depois que fe tirarem ao rio outros fucceflivos impedimentos. Entretanto em todos os areaes dos lados devem atraveflar-fe feves baixas de hum , ou dous palmos, e plantar-fe , e femear-fe toda a forte de arvores, e de arbuftos, o mais baíto que poder fer, tas margueiras , falgueiros , fabugueiros , marmeleiros, filvas; gieftas , e qualquer outra efpecie que fe achar, pois tu- do he optimo para o intento efem dizello outra vez, feja efta regra geral para todos os areaes. Efte artificio dito hydraulicamente , confifte em que a agua nas en- chentes nao corra impetuofa y mas vá como morta; e depofite o nateiro que leva. O dito ponto antes de Pe- reira correfponde ao centro de huma grande voita y que em outro tempo dava o rio, e ainda naO eftá de todo Tom. III. Gg en- 234 MEMORIAS enxuto. Faga-fe defía volta o mefmo que diflemos dos' areaes , para que com o tempo fe entulhe; e tambem fe lhe podem fabricar atravefladas no fundo, no meio, e aonde parecer, baixas feves de dous, ou de tres palmos, para entreter a arca. - XXXVI. Do melmo dito ponto até o fitio da barca de Monte-mór he huma legua , cujos vicios fa5 algumas Infuas na corrente , hum cotovelo defronte da Granja, e alguns areaes, aonde o rio fe efpalha, e divide. A”s In- Íuas , quero dizer verdadeiras Infuas, ou ilhas, naó fe tenha O minimo refpeito ; mas aonde quer que ellas fe oppuzerem á linha recta , fejao demolidas fem remiflao. Nos areaes deve executar-fe pouco mais Ou menos , cO- mo fica dito aflfima. O cotovelo da Granja poderia ti- rar-fe , mas fuípenda-fe por ora efte trabalho y porque o prejuizo que elle cauífa naO me parece notavel; e para O evitar, fería neceflario cortar boa meia legua de cam- pos optimos. XXXVII. Comeca depois a embrulhada volta do cam- po de Monte-mór até aonde entra a valla de Foja. O Mondego em volta faz, como já fe notou, 4500 bra- gas:, erteria por direitura 3200, 'ilto he, faz de 'mais 1300 , que correfpondem a mais de meia legua , pois meia legua contém 128o. Nem baíta que a volta do rio caufe tantos damnos pelo feu comprimento. Os cotove- los, e ilhas bem fortificadas por feus donos com efta- cadas , e falgueiraes f26 outro abufo infoffrivel: mas go- ze em paz quem tal obrou as tuas ilhas y que aqui cha- mao Camalhóes : he mais util a todo o campo fuperior, aos paues, á Cidade, e á ponte, que nefta parte feja dada ás aguas linha recta. Por fortuna nas enchentes já ellas por fi mefmas comecaó a determinar-fe, e já fica ' dito no $ 19, que inutilmente os Engenheiros fe esfor- gáraO a impedillos com alto marachaó que o rio des- fez ; já os campos em toda a extenfaó da linha recta apparecem lavados, e efterilizados : pelo que a abertura defta linha reéta pouco ou nada vem a fer prejudicial aos EA ETANO MALO AS 235 aos donos dos mefmos campos. Cóm tudo , ferá bem cuidar na indemnidade dos mefmos , para naó renovar O exemplo da Quebrada grande. O modo de abrir o al- veo depois de poftas as balifas , póde fer, cavando duas vallas aos dous lados das margens , lavrando depois, movendo , e deftruindo todas as raizes das hervas na ter- ra intermedia , para que o mefmo rio a leve ao mar, o que certamente fuccederá nas primeiras cheias pela for- ca que a agua ganhará na linha recta em tempo de bai- xamar. Póde fer tambem por meio de huma fóvalla, a qual tendo as condicóes do declivio , e da brevidade que requer Guilhelmini no Cap. 24 da Natureza dos Rios , ou por fi mefma , ou ajudada com arte fe alar- gára depois, e affundará até receber o rio todo. XXXVIII. Paflemos em filencio o efpago que fe fe- gue até o Penedo de Lares , pois nao ha deíte efpago queixa , fenaó a geral dos Camalhóes , que fe devem demolir, aonde quer que impedirem o fio da agua. Achei nefte elpago fer demafiada a largura do rio , pois tem palmos 1200 : deve fazer-fe o poflivel para diminuilla. O Penedo de Lares , confiderado em fi mefmo , confifte em huma montanha de pedra viva , que fe oppóe á cor- rente do rio. Parece á primeira vifta indifpenfavel o def- fazello y mas efta empreza fería demafiadamente grande, pois com o Penedo conviria demolir a montanha da ter- ra , que a ella fe encofta da banda oppofta, e talvez que fe naó poderia paflar fem arrazar tambem a povoacaód de Lares. Por “outra parte confidero , que o Penedo he taá velho , como o rio; e já aqui eftava no tempo em que a Rainha Santa fundou a fua Santa Clara: quero dizer, que com todo o Penedo eftava algum dia o rio fundo, e fem damnos. Na verdade conjecturo , que antes de Thegar ao dito Penedo poderia fer diverfa antigamente a direcgao da agua ; mas quaesquer que foflem as cir vunftancias y o cafo he, que o Penedo nao fe póde tocar. | XXXIX. Os damnos deífte Penedo confiítem , em que Ggú por 236 MEMORIAS por caufa delle vai o rio depois roendo na volta do ca- nal., como diflemos aflima. Efíta volta fe póde tirar, abrindo alveo novo em linha recta, na qual fe ganhaó de abreviatura goo bragas, na direcgaóO da ponta do Pe- nedo em direito da Figueira, e obrando do mefimo mo- do , como fe difle do campo de Monte-mór; mas em malor largura , por eftarmos já vizinhos ao mar. XL. Para determinar o rio a entrar nas novas val- las, tanto nefte fitio, como no principio do campo de Monte-mór , ferá fem dúvida neceflaria eftacada a travez do alveo prefente: efta fe faca com eftacas compridas , quanto fe julgar conveniente , mas pregadas, ou battidas com macaco : pelo que julgo fer indilpentavel hum ma- caco para fazer obra firme, e pregar as eftacas quinze 5 ou vinte palmos, e efte deve fer o primeiro penfamen- to da execugaó. Fiquem pois as eftacas com o fimo á flor da agua clara, e naó mais altas, moftrando a ex- periencia y que tudo o que refta fóra da agua em breve tempo fe desfaz, e apodrece: fallo porém das eftacas nos referidos dous fitios , deixando á pericia dos execu- tores, O que ferá neceflario em outras occafibes. XLI. “Todo o'prefente fyftema fe refolve em fazer diligencia, para que /'as aréas que agora entulhaó o Mon- dego fejaS levadas ao mar : mas ifto naó he poflivel, dirá alguem , porque efte rio do Penedo de Lares para baixo nao leva, nem depofita aréas, mas puro lodo, fi- cardo por tanto as aréas, fe lá chegarem, entulhando a parte do alveo inferior ao dito Penedo , e talvez tam- bem o porto da Figueira. Refpondo: A parte do alveo de Lares para baixo tem duas fortes de enchentes , hu- ma quotidiana das marés, outra mais rara do Mondego. As marés naó levaO aréa , mas fómente depofitaó , e mo- vem o lodo 5; e por iflo quem obferva a depofigaO ordi- naria, e quotidiana y naó acha fenad lodo : e he efta coufa commua a todos os rios que defembocaó no Ocea- no : mas vem no inverno otempo das verdadeiras chéas, e entao nas horas de baixamar he tal a forga da -cor- : rens ECONOMICAS. 237 rente, que nadó ha obítaculos que lhe poflaO refiftir. Eí- tes Íaó os momentos y que confervaO livres do entulho todos os portos aonde ha rios, e marés, e no Monde- go ha para iflo todas as circunftancias favoraveis. Em confirmacaó narrarei huma obfervacaO que fiz , alguma legua abaixo de Lares y navegando eu pelo Mondego : era O vento rijo; e as ondas battendo nas praias, def- fazia o lodo : e vendo eu que nos fitios do lodo def- feito apparecia coufa branca , mandei chegar a barca, com efte meímo penfamento de certificar-me , fe o que apparecia era verdadeira aréa y como eu fufípeitava; e achei , que aflim era, e fiz recolher della alguns punha- dos, e oblervei, que era grofla, como: a que traz o rio no fitio da barca de Monte-mór. Naó fe tema por tan- to , que haja de fer areado, e entulhado por efta cau- fa , nem o alveo do Mondego, nem o porto da Fi- veira. ; XLII. 'Endireitado o alveo do rio, ferá neceflaria at- tengaO na fua confefvagaó , para que nunca mais torne a arruinar-fe. A tal fim confidero que fe podem fixar de quando em quando balifas de pedra, as quaes, ou por f1 mefmas, cu por infcrigaó , denotem. o lugar das mar- gens , a qual coufa tanto he mais neceflaria, quanto he facil que pofla tornar o infoffrivel abufo de cultivar as Infuas. Ha hoje no Mondego o invejavel emprego de Provedor dos Marachóúes ; fe o rio abaixar, como efpe- ro , ferá fuperfluo efte emprego , e em feu lugar ferá conveniente erigir Outro para confervar as margens , cu- Ja refidencia me parece mais propria em Monte-mór, e nao em Tentugal, por ficar-a Villa de Monte-mór no meio do campo entre O mar, e Coimbra, ebafta huma 16 pefloa para ambas as margens. O feu emprego ferá authorizado fobre o plantar arvores nas margens do rio, que devem fer cheios de tamargueiras, falgueiros, fa- bugueiros y marmeleiros, e outras boas ao intento, e de- verá ter fempre apparelhado algum macaco para firmar fundas eftacas quando o rio minar as ribanceiras y por- que, 338 MEMORTAS que, como já difle , he impoffivel firmar boas eftacas com fimples malho ; e em taes lugares naO deve efque- ter O ufo dos pinheiros deitadós com toda a rama. 'Te- rá tambem euidádo de que fejaO desfeitas todas as In- fuas novas, naó demolindo-as á maO , O que he impof- fivel, e logó tornao ; mas dirigindo o fio da agua Obri- gado com eftacada , para que vá batter nellas, eas con- lumma , O que he facil; e efta coufa feja bem notada, porque por falta do dito methodo no deftruillas , adverti ao $ 5, que os fenhores das Infuas as podem gozar cada vez mais augmentadas fem fua culpa. Accrefcento tam- bem, que fe nas mefmas houverem arvores, fe devem eftas primeiro exterminar. j CAE EO A ONE Confideraó-fe outros diverfos pontos. XLII. A nos contornos do Mondego muitos, e vaftos paues , como já notámos. Todos el- les , beneficiado o rio, efpero receberáó tambem vifivel beneficio. O paul de Foja, e o de Maiorca, dependem do que fuccederá para baixo de Lares 5 os outros depen- dem todos de diveríos pontos do Mondego ; e fendo todos elles intereflados, parece que todos deveriaó con- correr para os gaftos. Será talvez melhor marcar nos di- tos paues as terras que fe naó cultivao prefentemente, para fe multarem depois conforme a utilidade recebida, Em cada 'paul pois ha particular, e propria determina- cao das fuas vallas , das quaes em geral nao fei propór fenao tres regras faceis de entender. Primeira y, que fe guarde quanto he poflivel a linha retta: fegunda y que hunca fe permitta que a agua vá, como dizem, rindo, e ondeando entre as hervas , ou fobre o fundo ; mas em femelhantes lugares, ou fe tirem ás hervas ) ou fe cave mais o fundo: terceira, que (fe faga implacavel guerra a to- SS EcoONoMrxICcC ÁS: 239 a toda a forte de hervas que naícem na agua j e efta ter- ceira he a mais difficultofa. XLIV. GSuppoíta a nova difpoficaó do rio, devem confiderar-fe as aguas que nelle entraó em differentes par- tes, para que nao haja delordem , ou alagamentos par- ciaes ; e reflectindo nefte ponto, acho digna de mengaó particular a chamada Ribeira dos fornos , que vem des- de a Serra de Buílaco, e entrava no alveo velho na ter- sa da Geiríia , más agora fendo o dito alveo totalmente enxuto, e areado , naó ha outro remedio, ou defafogo fenad determinar-lhe novo alveo nos campos da Univer- fidade, entre a Geiria , e Lavarrobos , e ajuntalla á ri- beira que vem de Ancgá: devendo porém atravellar a ef- trada entre as ditas terras , ou fe lhe fabrique ponte, Ou fe mude a ettrada á volta dos outeiros. Todas as ou- tras aguas, quantas ha nas vizinhangas do campo, naó requerem particular mencaó relativamente ao Mondego , ainda que algumas corraó tortas com peflima direcgaó das vallas : eftes males particulares faO alheios do pre- fente aflumpto ; fe bem fe deve reflectir, que nao de- veriaO correr defordenadas , pois a tal fim ha no campo hum emprego chamado Yuiz das Vallas com feu Eferi- vaó , aos quaes fe pagaó muitos moios de milho , nao obítante que todas as vallas faO abertas á cufta dos ter- renos adjacentes ; mas torno a dizer , que femelhantes ordens , ou defordens naó me pertencem , ainda que fe- JaO notaveis. XLV. GSaó accufadas para fima da ponte a Infua dos Padres Bentos, e da banda oppofta outra Infua do Co- nego Jofé Caetano Barata, como prejudiciaes ao eftado da ponte , e dos caes da Cidade. Quanto á In[ua dos Padres Bentos , em huma occafiaó y que tive de obfervar huma meia cheia no dia 30 de Outubro, conheci clara- mente , que a dita Infúa determina O impeto da corren- te para O O da ponte, e o defvia dos arcos mais altos da banda da Cidade com prejuizo da navegagaO ; por- que os arcos daquelle lado naO faó em tempo algum ca- pas 24O | MEeEnMOoORrnrtaAs pazes da dar paflagem aos barcos, eftando quafi de to- do fepultados na aréa, e tambem'com perigo da mefma ponte nas grandes enchentes. Na outra Infua do Cone- go Barata naó notei outro mal , fenaó o abufo aflfima indicado ao $ 14, de impedir ella quafi totalmente a paílagem da cheia pelos dez arcos que ella occupa da banda de fima, e outras Infuas femelhantes os occupaó da banda debaixo. Naó nego fer conveniente ao bem pú- blico , que eltes, e outros terrenos fejaO antes terras fru- Ctiferas, do que eftereis aréas; mas o paflo dos arcos do rio he fem dúvida público y e naó parece bem im- pedillo com muros , arvores, feves, entulho, e tudo o mais que exifte nos ditos lugares. Concluo , fe no Mon- dego le fizer obra tal , que obrigue o alveo a abaixar- fe, e defentulhar-fe y neíte cafo moftrará a experiencia até qual ponto poflaó foffrer-fe eftas Infuas confinantes com a ponte, e a outra primeira , que diflemos dos Pa- dres Bentos : mas fe o eftado do Mondego ficar qual he de prefente, tanto humas, como outras Infuas, ne- ceflitaráo infallivelmente de refórma. O mefmo fe enten- de de algumas Infuas atrevidas, fabricadas nas ameias, pouco abaixo da ponte , as quaes entrando pelo alveo do rio dobraO , e detem a corrente. Se taes couías em toda a parte faóO damnofas , muito mais o íÍaó no cora- ao da Cidade, nem fe devem permittir. XLVI. Ha reprefentagóes, que para defeza das Ameias, e de toda a Cidade baixa, requerem hum caes, ou hum muro continuado , desde a ponte até o campo do Bo- las, ou até onde fe julgar neceflario , com o qual fe contenhao as cheias dentro do alveo fem alagar as ruas, e as cafas. Refpondo : Quando nao houver outro reme- dio, entaO ferá tempo de examinar as circunftancias, e poflibilidades do dito muro. Mas tratando-fe agora de remedio geral'a todas as ruins qualidades do Mondego, parece que primeiro que tudo fe deve experimentar O effeito da lua execucad , dilatando as coufas particulares para outro tenipo. Per- ECcCONOMICA SS. 241 XLVII. Pergunta-fe , quantos feraó os gaftos na exe- cugaó do plano projectado ? Refpondo : As partes do plano que eu proponho, executadas na fórma y que ago- ra direi , certamente naó podem cuftar fomma excefliva, quando nao haja enganos y nem defmazelos. Devem' con- temporaneamente fazer-fe tres obras; huma valla no cam- po de Lares , depois do Penedo, para tirar a volta do canal , larga 20 palmos, e funda 5, ou 6) quanto fe verá que bafta para correr por ella a agua, e comprida quanto todo o campo 12000 palmos a tenor do que fe difle no fim do $ 37. Outra valla no campo de Monte- mór 5; femelhante á primeira pelo comprimento de 3300 bragas y Ou 33000 palmos. Eftas vallas naó podem cuftar mais de Iooo réis, conforme me affirmao pefloas práti- cas , e importao em tudo 11250 cruzados ; mas por cau- fa dos ajuntos, e das circunftancias nao previftas fuppo- nhamos que cuítem 25 mil cruzados. Acabadas as vallas deve dar-fe-lhes a agua, e das margens devem as mefmas vallas ir-fe alargando botando para dentro da corrente to- da aterra até áquelle fundo onde fe acharem raizes de hervas , e até á largura que fe julgar conveniente , eíf- perando depois que O rio mefmo alargue até ás balifas, O que fuccederá em hum , ou dous invernos y conforme for a quantidade das chuvas e com eftacas, quando for neceflario , fe deve impedir, que nao fejaO pafladas as larguras das balifas : e cuftará efta manobra, tanto como as vallas mefmas y 25 mil cruzados y e podemos accref- centar-lhe pelas difficuldades naó previfítas outros 25 mil cruzados. XLVIII. Contemporaneamente paflada a Quebrada, deve cuidar-fe com eftacas., Xc. como aíflima foi notado, em que a agua corra junta ; e efta manobra , da qual po- rém nao fe póde fixar o juíto prego , difficultofamente paflará de 1oo mil cruzados 5 porque nao deve fer fenaó ajudara natureza, encanando o rio fem violencia, para que todo junto affunde o alveo por fi mefmo , pois o affun- dallo á mao fería cuíto enorme. Completadas as fobredi- xom. III. Hh tas 242 MEeEeMmOoOoRrRrIxIAS tas tres obras grandes , feraO neceflarias Outras muitas me- nores em diverías partes, as quaes na prefente brevida- de fe naó podem defcrever; econfiftem em eftacadas pa- ra apertar nas grandes larguras, e para endireitar nas voltas pequenas ; e tudo a feu tempo poderá notar-fe, quando o prefente plano feja julgado digno da execucaó. Por ora podemos arbitrar para todas eftas coufas peque- nas IOO mil cruzados, Os quaes com os fobreditos das Obras grandes, fazem a fomma de 275 mil cruzados. O que aqui fe' deve defejar he bons executores, e fiéis, os quaes faó raros. XLIX. Com ascoufas ditas tenho completado o pla- no que fe me ordena, para fer prefente a S. Mageíta- de , confiftente naó em muros , ou tapadas de prego ex- ceflivo , mas em vallas que o Mondego , fendo obrigado a correr junto, tem certamente forga para abrir com pou- cO trabalho manual. Succederá no Mondego , fegundo jul- go, o mefmo que fuccedeo no Tejo-novo nas vizinhan- cas de Villa-Nova da Rainha. “Todo o mundo fabe , que o Tejo-novo foi no principio huma valla de pouco fundo, e na largura capaz de dous barcos fómente ; mas hoje he fundo 5o palmos, e largo mais de tres mil palmos. Aflim foi aberto o Tejo-novo fem empenho de obras ma- nuaes : aflim fe abrirá, e endireitará o Mondego aju- dado com alguma obra manual. SefJao de 14 de Dezembro de 179OQ. ME- ECONOMICA s. 243 MEMORIA Sobre os Ffuros relativamente á Cultura das Terras. Por 'THOMAZ ANTONIO DE VILLA-NovaA PORTUGAL, mar fíyftema, nem de tratar efta materia debaixo dos principios particulares , por que ella fe trata em varias íciencias. Só os confidero fegundo a relagaó que tem com a cultura 5 ifíto he , em quanto a fua intro- duccaó y ou a fua taxa a favorece, Ou a opprime. He hum principio geralmente adoptado que o Efí- tado que preciífa ter differentes clafles de Cidadáos , pre- cifa ter fundos de differentes efpecies y que fejaO bafítan- tes á fua fubfiftencia. Fundos naturaes, que fazem Qrin- cipalmente a fubfiftencia da Clafle Agricula: e fundos fiéticios para as outras clafles. Que póde erigir em fun- dos ficticios o dinheiro , porque elle reprefenta o valor dos fundos naturaes ; e aflfignar-Ihe huma producgaó de juros , aflfim como os fundos naturaes tem huma produc- O de fruttos, pois fem iflo fería fómente valor, e nao fundos. Que póde erigir outra efpecie de fundos fi- éticios como 1aú as acgóes , para reprefentarem o di- nheiro. E que huma circulagaó viva juftamente produza lucros , que baftem a figurar tambem de fundo ficticio, e a fazer a fubfiftencia de huma claffe. Até aqui pafla por hum principio, e merece inda- gar-fe , que relacaó tem, e que influencia a produccaó dos fundos ficticios, para os fundos naturaes. Montefquieu dá efta theoria do valor: O total das mer- cadorias que ha, eftá em relagaó com o total do dinhei- “fo que ha 5 huma parte eftá em commercio , e outra | Hh di nao : ] ) Ste titulo moftra que eu naó me encarrego de for- 244 MEMORIAS nao ; aflim nefta razaó compoñta huma porgao daquellas mercadorias , como a decima parte, eftá em proporcaó com a decima parte do dinheiro; a proporcaó de cada huma , he o valor de cada huma. Defta theoria fe póde deduzir y que fendo o valor huma idéa de comparagaó y o número dos predios he igual a outras tantas divisóes da quantidade do númera- rio , e a eftimacao defta diviíao faz o valor de cada predio. Quando o Eftado quer que cíte numerario faga fundos ficticios, elle precifa taxar a cada divifao hum producto igual ao dos fundos naturaes ; porque aflim o que poflue o predio 5; e o que poñlue o dinheiro corref- pondente pofla fubfiftir, cada hum dos rendimentos dos Ífeus fundos. | A eftimacgaó do dinheiro he fixa pela Lei, masa fua quantidade póde variar :. a quantidade dos predios Le fixa pela extenfao do territorio ,. mas a fua eftima- caO , e O feu producto póde variar tambem : aflfim a di- verfa taxa dos juros ha de regular-fe, fegundo aquillo que póde variar. Quando a quantidade do numerario fe augmenta ,. cabe maior quantia defla 'eítimagao fixa pela Lei ao dinheiro, para reprefentar dum predio :. confe- quentemente a taxa dos juros ha des,fer menor : fecon- tinuafle a mefma , ella excederia 'a produccaó do; pre- dios; pois. para. render I0Oy/a IO por 100, balta me- tade da quantia neceflaria para render o mefimo a 5 por 1oOo. Difto parece concluir-fe bem , que a taxa dos juros como rendimento dos fundos ficticios ha de fer igual ao refultado do valor, e da producgao dos fundos natu- raes. : Aflfirma-fe y, que a quantidade do numerario he que regula. a taxa dos jJuros. Parece queifto naó explica berno A quantidade do numerario regula o valor comparando O dinheiro aos predios :: mas efle valor dos predios, e da fua produccaó he que ha de regular em certa quan- tia. de dinheiro y que produtto ha de ter o dinheiro: pois E CONO MINCAS. 245 ois huma quantia como 10o, póde pelo feu producto er igual a maior, ou a menor quantidade. Mas efta igualdade que difle precifa duas reflexoes, para naó parecer idéa falía. Primeiramente quanto á cir- culacao. A circulacaó he huma troca reiterada defles produ- tos de huns, e outros fundos , tanto naturaes, como fi- éticios: a fua viveza faz equivaler menor quantidade á quantidade maior: Ioo gyrando 4 vezes y, equivalem a 400. Mas efte gyro produz maior fomma de lucros ,. e por iflo admitte O pagar a maiores pregos : a quantia IOO lucraria 2O y gyrando 4 vezes; mas como o lucro he maior, elle fe divide entre o comprador, e vende- dor. Por iflo a circulagaó em quanto augmenta o nu- merario y, diminuiria a taxa dos Juros : mas em quanto augmenta o producto y e valor dos predios, a levan- taria. Segue-fe difto , que a circulagaó he huma efpecie de fundos ficticios , abfolutamente diverífo do dinheiro a juro 5 e por iflo o Commercio, e o Cambio fe nao regulaó pelos juros. E fegue-fe que ella fó póde abat- ter a taxa dos juros, deduzido o que augmenta na pros ducgaoó dos predios, em quanto o exceflo entra no au- gmento do numerario. Em fegundo lugar : a producgaó dos predios nao ef- tá para o feu valor, na mefima razaO que eftá o produ- éto do dinheiro para o valor do dinheiro: IOO em di- nheiro produz 5 5 mas o predio que rende 5 nao vale IOO, vale 6o 3 porque o dinheiro nao tem encargos , Os predios tem muitos, e eftes encargos abattem no va- lor, ainda que naó abattaó nos rendimentos. Eis-aqui porque a proporgaó depende de huma vrazaó compofta do valor, e dos rendimentos dos fundos naturaes, pa- ra O termo medio do numerario. A nofla Lei fobre as avaliacóes mandou regular o valor dos predios pelo rendimento de 2O annos , para fera 5 por Ioo, como os juros. “Lodas as avaliagúes afí- 246 MEMORIAS aflim feitas no prego, fahírao enormiflimas fóra da ef- timagaó commua. Ifto moftra que o ponto fixo para a roporgaó , fe nao póde buícar nos juros, para por el- Xa regular os predios ; mas fe deve buícar nos pre- dios , e nos feus rendimentos , para por elles regular OS Jjuros. Ha por tanto huns limites certos, que faó os que fixa o Legislador : aquelle que os excede faz ufíura;, porque naó podendo já o Eftado confiderar o dinhei- ro como fundo, mas como valor, elle quer producto de huma couífa efteril , e confequentemente a fazenda álheia por ufura. Quando a Moral que regula os coftu- mes enfina Os mutuos gratuitos , faO cafos em que o di- nheiro fe naod deve confiderar como fundo , mas como valor. Ifto era neceflario, para dar a razaó da influencia fobre a cultura. Creio que os Jjuros faó para a cultura y aflfim como os Cambios para o Commercio ; e parece certo , que o haver fúndos ficticios y ifto he, o haver taxa de juros , he util para a cultura. Vimos que o producto dos fundos ficticios vem a Íer menor, que a produccaó dos predios : por confe- quencia y podem os Éaitiós ficticios ceder direétamente em augmento dos fundos naturaes: o agricultor ainda com fundos mutuados póde continuar a fua cultura, porque o exceflo do producto o falva. E póde procurar melhor cultura, porque o exceflo da produccgao da cultura per- feita, lhe faz hum interefle y que ó convida a promo- vella. E podem fervir indirectamente y; porque o agricul- tor precifa que o confummo , que a circulagaó, que a exportagao dé valor ás produccóes da fua cultura : eftes meios naó exiftiriao fem haver diverfas clafles de pef- foas , e fem eílas terem diverfos fundos para a fubfiften- cía. Logo o interefle da Claffe Agricula que poflue os fun- dos naturaes, pede que hajao outras Clafles y que pof- ÍuaO , e exercitem os fundos ficticios. Mas EcoxwoMa E A/S. 2147 Mas ainda mais: fe a Clafle Agricula tivefle de fa- zer a fubfiftencia de todas as outras claíles , e naó po- defle receber della o numerario , fenaó como valor dos fructos da fua cultura , efte valor era fimplesmente hum falario do trabalho : mas eftas clafles que naó tinhaó outros fundos para fubfiftir , teriao direito de exigir hu- ma parte defles fruétos , como compenfagao da pofle dos predios que tinhaó largado á Clafle Agricula. Con- fequentemente , efta clafle, que deveria fuftentar as ou- tras, e fó podia receber hum falario , havia eftar na ei- cravidao adfcripticia. Ou o povo havia fazer fó huma clafle toda de agricultores, ou fendo muitas, eraO necef- farios fundos ficticios. , As doutrinas, e as leis, que confideráraO os juros como ufuras , e aquelles que confideráraoO os agriculto- res como colonos adfcripticios, em geral feguíraó qua- fi as mefmas épocas. Entre nós, ainda que os agricu- las nunca foraO adfcripticios , com tudo principiou-fe, fazendo elles a fubfiftencia de todas as outras clafles ; por iffo houve dizimos , jugadas , e foros, € por huma ou outra parte fe lhe impunhaó condicoes y Que os fa- ziaO quafi adfcripticios. Aflim o Eftado precifava menos que houvefle juros 5; e ainda que os houve y, naó 'os confiderou como fundos ficticios , pois o Senhor D. Af- fonfo III. fez a Lei, que elles naó excedeflem ao capital. O Senhor Rei D. Affonfo IV. foi o que prohibio as ufuras abfolutamente , dizendo , que por direito Ec- clefiaftico ellas involviaó peccado, e devia livrar diflo o feu povo. Mas efte Senhor fez tambem a outra Lei cé- lebre fobre a liberdade , que vem na Ordenacaó L. IV. Tit: 28. , que todo o homem livre podefle viver com quem lhe parega : mas exceptuou os que viviaO nas herdades alheias , e nos teftamentos. Efta excepcao, que acabou na Ordenagaó L. IV. “Tit. 42., ainda entao era neceflaria y pois nao havia fundos ficticios ; mas como aquellas duas regras geraes y ao que eu penfo, fe nao uniaO , as fraudes forao muitas. Á Ten )s 248 MEeEMOoORrRrTrAS Os Judeos precifavaó viver de fundos ficticios , cu- ja occultagaó foffe facil; e elles principalmente vivéraó do commercio, e da ufura: as fuas fraudes foraó taes, que o Senhor Rei D. Pedro os obrigou a obfervar aquel- la Lei com pena de morte. E a cultura foffreo tambem por ifto 5 pois pouco fe paflou que o Senhor D. Fernando , expondo-lfe em Córtes o deploravel eftado da cultura do Reino , naó fizelle a célebre Léi Agraria , que he bem conhecida. Mas he notavel y que elle fe vio precifado a tocar na liberdade , que tinha promovido o Senhor D. Affon- fo IV. 5 e para confervar a Clafle Agricula , obrigou aos filbos dos agricultores, que nao mudaflem de con- dicao. O Senhor D. Joaó I., reftituio-Ihe a liberdade na Íua Lei das Sefmarias, e ao mefmo tempo principiárao as excepcoes á Lei das ufuras,y que vem na Ordenagcaó L. IV. Tit. 67.: depois os juros foraó confiderados co- mo fundos ficticios, e as Leis das ufuras fe naó verifi- cáraO a refpeito delles dentro das taxas que o público approvava. Affim que o haver taxa de juros feja util para a cultura he hoje fem queftao ; porém fe o fer mais al- ta , Ou mais baixa, a opprima , ou favorega, he huma das queftóes mais controverfas. Só tocarei os principaes fundamentos. Os que di- zem , que a mais baixa favorece a cultura propoem , T. que os fundos das terras augmentao o prego á medida que os juros ÍaO mais baixos, e que o Efítado interefla em fazer valer os fundos das terras : 2. que fe o pro- prietario naó póde pór o dinheiro a juro por alto inte- refle , converte-o em bemfeitorizar as terras: 3. que O Ju- ro alto prejudica o commercio ; e 'efte fendo diminuto , arruina a cultura. Os que querem que a taxa mais alta feja favora- vel, tratao eftas razóes de fofifímas y e dizem em con- trario , que quanto maior juro render o dinheiro y mais va” E csO0NO MI EG ÁS: 249 valem os fundos ficticios y, e menor quantia he necefí- faria para equivaler ao trabalho : como pois faz dimi- nuir/o cufto dos falarios y promove O commercio, ea cultura. Parece que fe acha a uniaó deftas duas opinióes, dizendo y, que o exceflo vem a fer viciofo 5 porque, ou encarecendo os falarios y ou diminuindo o valor dos fun- dos , extingue a cultura: o que moftra que he perigofo eftar fóra da proporgaó. Porém dentro da proporcaó , como póde haver mais, e menos y, fempre parece que a menor taxa, fen- do proporcional , he a mais favoravel. O util directo da maior taxa he em diminuir a maó de obra 5 o da menor he fazer valer os predios, e as fuas produccgóes : confequentemente he mais confideravel o util do maior valor dos predios, do que o damno dos imaiores fala- rios ; porqué a Clafle Agricula he a mefma que adqui- re huma parte defles falarios ; e quando o feu augmen- to he unido ao augmento do valor dos fundos , naS he hum mal , porque he hum effeito da proporgaó, e da riqueza. O Author do Tratado des Corpos Politicos , diz bem em propor , que as fraudes faó o meio de conhecer quando a taxa naó he proporcional: mas entende-fe if- to , feparando aquellas que fó procedem da maldade dos ufurarios : aquellas de que fe duvida fe faó ufura, he que podem feguramente fervir de guia. No Codigo do Senhor D. Affonío V. fe pozerad as excepgoes das ufuras recompeunfativas j mas como if- to já nao baítava , fegundo o fyftema da fua Legisla- gao y, houve muitas fraudes, e huma foi util á cultura, qual he a que depois evitou o Senhor Dom Manoel na Ordenagaó , que naó fe fizeflem arrendamentos de gados. Mr. Liger, que na fua Cafa Ruflica tem o mere- cimento de involver hum Tratado de Coflumes Ruraes, traz huma boa numeragao deftes contratos fobre os ga- Tom. III. Ti dos : 25O MEMORYXAS dos : O proprietario recebe hum grande producto, e o locatario tambem : por iflo os feneradores compravaó gados, é os locavaó em lugar de dar dinheiros a ju- ro : e os gados foraO aflim huma cfípecie de fundos y que fuppríraO entre nós os fundos ficticios. He conhecida a maxima de Cataó, que refpeita O producto dos gados por exceflivo ao producto das la- Vvouras : Os contratos fobre os gados regulaó-fe fegundo O feu maior producto; as ufuras regulavaO-fe pelo pro- ducto das lavouras : eis-aqui porque parecéraoO ufurarios, porque fe prohibírao ; mas no entanto utilizou a cultura no augmento dos gados ; e depois de prohibidos, entrá- raó a fer admiittidos os juros. Nós temos tido depois diverfas taxas. Hum manuf- crito da Livraria da Academia de apontamentos ' dos Prelados para as Córtes, na minoridade do Senhor D. Sebaftiao , diz, que os juros vencidos a 129500 fe de- viao reduzir a 18ooo o milheiro y porque effe era “o Prego de muitos annos áquella parte. Ifto moftra que a taxa antecedente era de 5 e meio por IoO, e que entao fe tinhaó tomado a 8 por 1oo. Acha-fe a razaO dilto em dous faétos y que traz o mefmo Manufcrito. Em hum Gapitujo dizem” os Prela- dos, que o Reino tinha grande faltá de dinheiro : em outro dizem, “que pelas efterilidades que tinha havido, e tinhaó vendido as terras por ametade do feu jufto prego , O que tinha feito grande oppreffad ao Reivo, que fe deviaO. réftituir" as terras?) 'ea falta “donprego/, pelo direito da lefao enorme. Fez pois a efterilidade abatter ametade o valor das terras ; e 'Os poucos fructos que houvefle, haviao eltar em grande careftia: e eis-aqui eftes dous termos fazendo levantar proporcionalmente o dinheiro a 8 por Too. Por 1613 na Afía era O juro/a IO por Ico; peró77 'nos 400o cruzados de juro , que'fe tomárao para o fervi- zo de Mocambique, foi a 5 por 109; no tempo do Se- ukhor D. Pedro II. fubio- mais :; no do Senhor - D. oa0 —-— E coNOMIE RS 251 Joao V. foi a 6 e quarto por Ioo: e o Senhor Rei D. Jofé, quando a ruina de Lisboa fazia parecer que fe fubiria , elle o abatteo a 5 por Ico, e igualou aos ju- ros os riícos do mar : efta como actual merece eftudo. O Senhor Rei D. Jofé , acabava de eftabelecer as Companhias da America , e Africa , e as fuas accóes erao fundos ficticios, que augmentavaó O numerario no dobro dos capitaes; pois gyravaO como accóes, e gyra- va O dinheiro no commercio : ás equipagens ficáraO li- vres pequenos generos, em que podiao lucrar pouco: e ao mefimo tempo queria promover o commercio da Afía, e a agricultura. “Tudo ifto fez, abattendo os juros a 5 por IOO 5 e igualando os riícos para a America , dei- xando livres os da Afía. O dinheiro havia ir buícar o maior interefle; ou voltava para o commercio da Afiía, Ou para os juros do paiz, Ou para as accgóes das Corm- panhias. Nós temos vifto , que efta Lei fubfiñte com vigor; e que quanto aos riícos , as fraudes principiáraO quando fe mudáraó as circunftancias. Porém as fraudes fempre faO temiveis , ainda quan- do fas duvidofas, em pouco tempo chegaó a fer excef- fivas, e opprimem. Na Ordenacaó do Senhor Affonfo V., no manufcri- to que diíle, e em outros mais, fe conhece que huma das fraudes desde as Leis das ufuras y, foraó os Cenífos a retro: no Reino ifto foi pouco ; mas no Algarve ex- tendérao-fe infinitamente. Attribue-fe a cauífa á maior pro- duccao das terras: o juro de 6 e quarto, e depois de 5 por Ioo naó tinha proporcaO com o rendimento dos fun- dos , que era duas, e tres vezes maior. Os que tinhaó dinheiro queriaó compras y, e naO empreftimos , e ifto fez feguir hum contrato medio, como os cenfos. Eftes contratos depois opprimíraO tanto y que foraO preciías tantas Leis, como temos, para Os extinguir , já annulan- do-os , e já reduzindo-os á terga parte; e ainda talvez O mal naó efteja extincto de todo. No principio elles qo t Tra au- 252 MEMORIAS huma fraude , mas duvidofa , porque elles fe regulavao fobre o producto das terras confignadas : com o tempo foraO ufurarios , e as Leis entaO os confiderárao fegundo a taxa geral dos 5 por Ioo. Se eftes exemplos comprovao a theoria que difle; fegue-fe que a razaO da taxa varía fegundo o tempo, e fegundo as terras: e que as Leis fobre os juros tem hu- ma relagaó íntima com as Leis agrarias. Eu porém naó proponho eftas reflexóes fenaó como conjecturas: em ma- teria taO profunda nao fe deve fer temerario. SefJao de 14 de Janeiro de 1791. : M E- E Ccio/N o MM UC/A S. 253 PANTASMA ANANO NATA UNA AA ADAE SAAD ANO OA APELA PEN DESCRIPCAO ECONOMICA Da Torre de Monciro. 4 A PORÁ NOUSENTA NIDO NO SD BELLO TA CRA PE O Lu OR Lo Da Situagao, e Clima. Ntre os rios Sabor, e Douro, com diftancia de huma legua , na falda do monte Roboredo, eltá fituada a Villa da Torre de Moncorvo. Naó ob- ftante eftar em parte alta; com tudo a fituagao junto def- te monte a reduz quente, e no verao he abafada, por- que o ar do Norte nao póde gyrar com toda a liberda- de; mas nem por iíflo fe fegue que feja doentia , como moftrarei em Capitulo feparado, antes efte meímo mon- te impede os ares inquinados , que de outra parte podiao trazer epidemias. O Inverno he temperado; o frio naó he grande; nem ha inuitas geadas, em proporgaoO de ou- tras partes da Provincia ; rariflimas vezes neva ; e quan- do fuccede , coagula-fe mais na Serra , e Roboredo , do que na Villa. A Primavera, e Outono faó eítacóes bem agradaveis , aquella chega muito cedo, reveítindo os cam- "pos, e pomares de flores, que fazem os pafleios bem amenos. Efte paiz he com tudo baftante fujeito a contí- nuas trovoadas , que já tem fido bem funeftas, e fucce- dem regularmente no Verao , lancando de fi pedra, e raios. A 29 de Maio de 178o houve huma taó grande, que arrancou arvores , deftruio fearas y e caufou Outras baítantes perdas. A 24 de Juiho de 1782 cahio outra no cam- 254 MENMORTAS campo da Villariga, que derrotou inteiramente todos os canemos y meloaes, e fearas: e fobre tudo nenhuma foi taóO funefta, e taó grande, como a que fuccedeo no Fel- gar, Larinho , Souto , lugares defte Termo, a 7 de Ju- Iho de 1784, a qual veio taó brava , que excedeo todas as Outras , de que havia memoria ; levou moinhos, pi- zóes , arvores, propriedades inteiras , a até rochedos, coufa nunca vifta, caufando huma inteira perda na- quelles lugares. GRAND NUNO OU A Das Enfermidades. Clima defta terra he baíftantemente faudavel, quafi nunca lía epidemias y; e fuppofto o Verao feja at- dentiffimo , com tudo os effeitos malignos que elle po- deria produzir faó obítados , por caufa da abundancia das aguas, e de fua pureza , porque faO muito limpas de todos os heterogeneos y, que as poderiaO fazer noci- vas: os ares fa6 bons, nem por eftes fitios ha aguas ef- tagnadas , ou monturos que as inquinem: ha muita abun- dancia de fuccofos fructos, e os mais mantimentos á pro- porca faó excellentes. No Verao ha com effeito algumas febres intermittentes , tercans fimplices, ou dobles, nas pefloas de traballo ; porém nao he na Villa, mas na Villariga que as adquirem , quando colhem os fructos, cujo fitio he entao ardentiflimo. A caufa ordinaria con- fite , em que eftes homens dormindo 1á, faó expoftos a orvalhos que de noite cahem, e ainda de dia, baftante- mente frios, os quaes lhe embaragaO a tranfpiracao , que cauía as taes febres em huns, e em outros terriveis dyf- enterias. Cedem eftas doenzas com muita facilidade aos remedios , as tergans muitas vezes fe vaó com hum fim- ples purgante , e quando naO a cafca peruviana produz logo o defejado effeito. As dyfenterias ordinariamente fe delvanecem pela natureza, aliás póem termo á dita quei- xa ECONOMICAS. 255 xa as limonadas de laranja , alguns cozimentos, cc. No Inverno coftuma haver algumas catarraes, caufadas pelos "continuos nevoeiros , a que he fujeita a terra, porque -x fuccede ás vezes em 135 dias naó fe refpirar outro ar fem fer aflfim. A athmosfera empreégnada produz nos pul- móes hum tal enfarto, de que naícem eftas peripneumo- nias falífas. Saó muito faceis de curar com os cozimen- tos peitoraes, e refiítindo a eftes, miíturando-lhe outros expectorantes. 'Tem adoecido efte anno de 1786 muito pouca gente ain- da defta queixa , e muito menos morrido. As doencas cirur- gicas ordinarias faO o milagrofo antrax, “vulgo carbun- culo , que leva baftante parte ; mas ordinariamente ataca as pefloas que coftumao alimentar-fe de alimentos cali- diflimos , e fortes, como os que vivem no campo. Cea BRA UN QO ÁS Do Hofpital. A Capella do Efpirito Santo eftá unida a hum Hoí[- pital para paflageiros: pobres. “'Tem hum Adminií- trador , hum 'Capellaó y hum hofpitaleiro. A quarta par- te dos Ífeus rendimentos os deftinou S. Mageítade para o Adminiftrador. 'Tem o Capellaó 14000 -réis por di- zer quatro Miflas cada femana; o hoípitaleiro tem 2 $oo0o r. , hum almude de azeite para a alampada, e dous car- ros de lenha. Terá tres camas limpas de colchóes , tres de enxergóes, e doze mantas; e o que fobra difto, fe manda dizer em Miñflas, Confta ifto do livro das Ava- diagúes dos novos Direitos, 15 y e Provifad 26. Tem quatro livros , como o do Tombo , do Inventario, $c. O Provedor da Commarca toma conta todos os annos. O Morgado de Mendil dos Borges eftá obrigado a dar cada anno para efte Hofpital huma cuberta de bu- rel nova de feis varas , e hum Jjantar aos pobres. Na mef- ma Capella do Efpirito Santo á parte efquerda fe po- ze- 256 MeómnoxNtas zeraO gravadas em huma cantaria as obrigagóes do mel- mo Hofpital , fendo Provedor da Comarca o Doutor Luiz Rodrigues Saraiva em 1726. CRARPURIE OFEFOCISII. Das Fontes. H E a Torre de Moncorvo muito abundante de'aguas, de boas, O que concorre muito para'o fazer hum paiz fertil, ameno , fadio , regado por todas as partes, e meímo por meio das ruas correm regatos de agua; que dimannao das fontes, do que fe fervem os habitan- tes para regarem feus pomares, e quintaes, deftribuin- do-a em proporcaó competente. Contém em fi a Villa fete fontes públicas , com muito bom preparo, cujos no- mes 120 : Chafariz da Praga, Aveleiras , Fonte de Sant- lago y, Fonte do Carvalbo, das Hortas, do Confeibo , de Santo ÁAntonto. Ha tambem huma Mái de agua naquel- la Villa, para onde fe recolle a agua, a qual vem do alto da Serra em diftancia de quarto e meio de legua por hum bom canal de cantaría. Na pia interior aonde fe ajunta a agua fe faz a divifao della em finco partes; quatro partes para as fontes de Santo Antonio, e cha- fariz da Praga, e a outra para a cerca dos Religiofos. Além difto , contém aquelles pomares em roda , e dentro da Villa, huma grande quantidade de excellentes fontes, e pogos , das quaes algumas fao ferreas, de que tem fei- to ufo para a Medicina, e por iflo ha bons pomares, e de boa agricultura. Náó tem vizinho rio algum ; mas dentro em huma legua correm os dous famolos, Sabor, e Douro. C A- ECONOMICA s. 257 CA PR TER ODAN Do Rio Sabor. Uma legua diftante da Torre de Moncorvo para a parte do Norte, corre o Sabor por baixo de hu- ma grande ,-e excellente ponte. Contta efta de fete olhaes, e tem de longitude 183 paflos, e 5 delargura. D-: am- bos os lados ha huma porcaó de ponte fecca: de huma parte tem de longitude 34 paflos y e de outra 28. Elte rio fe vai unir ao Douro em hum fitio da Villariga, a que chawmaó Foz. Coituma o Sabor ter grandes, e empoladas enchen- tes, naó 1ó pela abundancia com que o Inverno lhe faz crefcer as Íuas m-finas aguas , mas muito principalmente pelo impedimento que acha nas aguas do Douro para a Íua entrada na Foz, e communicacaóO com elle. O Dou- ro nas tempeñtades crelce de fórma , que naó Íó refitte á entrada do Sabor, imas ainda lhe co.nmunica das fuas melmas aguas. Daqui fuccede huma notavel eftagnacaO, e retroceflo nas aguas do Sabor y que faz chegar efte a par- tes bem difítantes da fua corrente ordinaria : efta enchen- te vai cubrindo, e alagando todos os campos da Villa- figa até meimo ao Carrafcal, fitio que difta legua e meia da Foz do Sabor. Defte rebofe , e eltagnacaó dos campos fuccedem fuas utilidades, e tambem feus grandes incom- modos. As utilidades faO as feguintes : pelas partes donde paíñla , traz comfigo diverfos lodos , fedimentos, ar- pos y faes, que depondo-fe nos campos eftagnados, Os ertiliza muito y e tambem porque nos mefmos campos, e terras Íe faz huma sevolugcaó , e movimento util, e de confequencia vantajofa á mefima fertilidade. A experien- cia moíftra as vantagens que os campos da Villariga re- cebem com o rebofe , pois alguns annos que deixa de havello, que laó poucos , fe conhece huma diffirenga Tom. III. Kk no- 258 MEMORIAS notavel , e grande decadencia. Aflfim como o rehofe' tem efta grande vantagem', e utilidade y; aflfim tambem' cauía graves prejuizos. Os Barraes y e campos que fe achaó femeados , faó arrazados, e deftruidos pelas enchentes, fegundo a fua maior, ou menor forca, e alguns annos tem fuccedido por efta caufa colher-fe muito pequena quantidade de linho cañemo'; dé forte, qué o"tornao a femear , fe ainda o tempo O permitte; aliás repetem a cubrir com milho , e feijao. 'A' inconftante rota que to- ma a Sabor desde a ponte até a Foz fem alveo certo , caufa hum damno 'tanto maior', dqúanta he a violencia com que confunde os dominios dos predios; pois“cons forme ó vago caminho que fegue', aflim préjudica. “Muis tos annos toma para a parte direita, privando os fenho- res da utilidade 'das terras que cobre; outrós para a ef- querda caufando igual prejuizo : advertindo j' que meftá múudanca fempre tei maior “utilidade ó dono dos pre- dios oppoftos ao novo alveo 5 porque fempre agricultao da fua parte até aonde o rio lhe defcobre.” Aflim'y por exemplo ,' fe O rio toma novo alveo para á parte” diréi-. ta, os da efquerda agricultao 'aáté a extremidade” defcu- berta do feu lado; e añim 'em contrario. Do Douro. O Rio Douro difta meia legua da Villa, e devide as Provincias de 'Éras-os Montes, e Beira : nefta diftan- cía tem húma barca para a paífagem dos 'caminhantes”, chamada 'a' Barca da Torre. Ella barca fazia em outro tempo hum dos principaes rendimentos' do Concelho 5; mas ha fete, ou oito annós que fe denunciou á Goróa. Sinco leguas da Villa eftá o porto de Foftua', aonde fe podem 'embarear as fazendas ; e fe'folle navegavel até á barca de Alva , faría efta Provincia mais rica, e cOncot- 'xeria para promover mais e iñnais a fua 'induftria y que fe augmentaria em proporcaO da facilidade dos tranfportes. Porém o que faz obfítaculo para fe navegar he O ss re MOA ez —- ns ec - ECONOMICA S. 259 bre cachao , diftante finco leguas; em que fetem já tra- balhado. Para fe obter huma obra taó intereflante, e de taO, uteis; confequencias y mui juftamente pagaO os lavra- dores ,/e Companhia; do Alto-Douro 40 réis por pipa. Ao; Infpeétor fe dá por dia 19200 1éis. “Lanto,o Sa- bor, como o Douro neftes fitios ,.da6 abundantes de pei- xes/y- como barbos , lampréas , faveis y muges y Érc. Dos: Lavradores. Os lavradores de; Moncorvo faoú como quafi todos os da Provincia ,. faltos dos conheciwentos verdadeiros para a agricultura , trabalhando fempre pela fimples ro- ta y deixada pelos feus maiores ; incapazes de innovar coufa alguma , ainda que lhe pareca util, naó fazendo experiencias novas ,y' nem mais que o methodo fervil huma vez adoptado. Defíconhecem algum outro: genero de artes, em que fe podiaó occupar, e ganhar dinhei- “fo no tempo que lhes refta da agricultura y por iflo fas nimiamente pobres. Para ilto concorre tambeim naó fererma fenhores das terras que trabalhaO , das quaes pagaó ren- das, e algumas bein avultadas. EANES ORO Das Terras. Ñ “A Torre de Moncorvo he huma das partes da Pro- A d vincia, que tem mais occupados os campos, e fao “poucos os que fe achaó fem agricultura. O campo da “Villariga he todo agricultado y e faz o principal rendi- [mento je vivenda detfta Villa. Partes ladeirofas, e gran- des valles, fe achaó cubertos de oliveiras y/ que tambem ya enriquecem muito. A maior parte das terras que ro- “deaO a Villa faó ladeirofas, e mais aptas por iflo a pro- /duzirem fenteio. Naó obítante: o clima des favoravel, CS Kk ii cof- 6O MEROREAS coftuma haver frios, geadas', nevoas y chuvas; mas nao fendo tempeftade máior, pouco damno caufíaó 5 com tu- do no 'Maio' 'lhes fa6 mais fuúneftas. 'As nevoas fazem muito mal ás fearas quando as efpigas eftaó cheias , por- que entaO as enche de ferrugem, e lhes cauíao graves damnos , e nao fabem remedio algum para as defende- rem de prejuizo femelhante. Naó obítante o ponderado, ainda deixaó de lavrar terras excellentes , e muito me- lhores que as ladeirofas. Eftas faO as terras de huma fer- ra contigua á Villa , as quaes faó muito aptas para pro- duzirem. A experiencia o tem moftrado, porque em al- gumas fortes que alli fe trabalhao y produz mais huma geira, que tres nas terras de ladeira , nao lhe fendo pre- cifo mais que lancar-lhe alguma cinza para promover-lhe o calor. O Monte Roboredo y em cuja falda eftá fituada a Villa, tem de comprimento huma grande legua ;'e-hum quarto' de largura. Confta de excellentes terras : “he mui pouco fragofo , abundante em aguas; e hum fitio delle chamado a Cova de Mendel y he tanto mais excellente, quanto lamentavel que fe naó agriculte. Efte Monte he inculto , produz matto, e lenhas, de que fe fervem os moradores da Villa para queimarem, ea propriedade he do Conceiho. Defte Monte devia-fe ao menos agricultar a terga parte para o baixo , deixando o mais para as le- nhas , que feriaó muito baftantes para o ufo da Villa; por iffo que he taó liberal em produzir, he fem dúvi- da que a induftria alli faria naícer excellentes vinhas, bons pomares, e hortalices', e ainda mefmo trigos , fen- teios, Ac. Quanto mais, que nada efte Monte produz que feja util fenao lenhas') nao fuftenta os gados , e ne- numa herva dá que pofla intereflar as artes, ou com- mercio. Os principaes fructos que fe colhem, faód trigo, fenteio , feijao y milho, azeite y vinho, linhos canemo , e mourifco : tem fuas amoreiras, pomares y e hortalices. | Produzem fó huma vez no anno, e a maior parte del- las ficad de defcango para o anno feguinte, por —— Ñ el | ECONOMICAS. 261 delgadas , e de pouco chao. Eftas terras fa compofttas algumas abundando mais em argilla ye terra calcarea, como faO as da Villariga, as quaes por iflo fas taó productivas. A maior parte das fazendas defta Villa faó vinculadas, e os fÍenhores dos vinculos as coftumaO arrendar. Ca AdR E5E. UNLgO) 345 VII; Methodos de agricultar. O S lavradores que tem gados fe fervem delles para lhe eftrumar as terras; porém tambem ufaó dos ef- trumes das beftas, e bois, principalmente nos chaós mais immediatos á Villa, e eftas terras daó dous fructos, o do verde, e depois canemo, ou milho, ou graós, Kc. Ignoraó todo o genero de miftura de terras 5; mas para pomares tambem fe fervem de eftrume de monturo. Na- da fabem da utilidade da miftura das argillas , cal, gre- “da, e outros femelhantes, objectos y que fazem as ter- ras productivas. GC As PAGAES UvE O -aVTL Dos Frucios: Pao. S lavradores principiaO a decruar as terras em No- vembro , fervindo-fe do arado para as lavrarem. A ordinaria profundidade dos regos he de pouco mais de meio palmo; ficao primeiro os regos abertos , e depois Os tornaO a lavrar em contrario , a que chamaO efira- vefJar , de Maio por diante. A fementeira comeca nos fins de Setembro continuando até o fim de Novembro. Naó ufaO de algum preparo nas fementes , fó algumas "vezes as efcolhem , e feparao de heterogeneos. As feifas comegao no fim de Maio, e com feitoiras cegao o pao, que 262 MEeMmOoOoRrRrTAS que junto em mólhos fe conferva até ir para as eirásJ; O grao fe fepara da palha por duas fórmas , ou malhan- do-O , ou trilbando-o.. Para O primeiro methodo ufaó os homens de inftrumentos; de páo , a que chamao maus goaes ; e no Tegundo fe fervem de bois fómente com exclufaó de todos os outros animaes y e dahi ferecolhem os frucétos “para os celeiros. O prego ordinario. dos jornaes das fegadas he a 120 réis, e de comer aos ho- mens ; 8o réis ,-e de comer ás mulheres ; porém mui- tas vezes chega a 200, e€ a 24O Tréis'y conforme O aper- to. y e circunítancias. Vinhas. Ha algumas vinhas em Moncorvo , ainda que eftas plantas nao formao o feu principal objecto: de agricultu- ra. Eftaó plantadas nas ferras y e terras montanhofas 5 e poucas em planas, expoftas a maior parte mais á fom- bra do que ao fol; a fua agricultura he a feguinte. Pó- daO as vinhas de Novembro por diante até ao meio de Margo., feguindo o fyítema, e reputando por melhor a poda feita nas luas velhas. Regularmente coftumaoO ca- var as vinhas de montaó em Margo, em Maio fe lhe dá a fegunda cava para as arrazar : vindimaó nos fins de Setembro , e principios de Outubro. Para a manufa- (tura do vinho naó tem muito trabalho, pois para hu- ma lagarada andaó regularmente feis homens dentro do- ze horas. O vinho que fe fabríca he fó de huma qua- lidade : as cubas em que o recolhem faó pequenas, le- vando as maiores até 6o almudes; a madeira de que fe fazem he caftanho 5 as adegas , e armazens ífaO partes mais fubterraneas, e mais frefcas. Ázerte. Efte paiz he hum dos mais naturaes para a produc- cao do azeite, que fórma o imaior rendimento das ca- ías 2 E cano MM WARS: 263 fas/,) e vinculos. Ha muitas variedades de azeitona , a que chamaO cordoveza y verdeal y madural | negrucha , car- xafca, lentifca , borraceira y fevilbana y Xc.: a. melhor deftas para O azeite he a cordoveza, e verdeal; e para fe 'comerem ', e confervarem 'em talhas , fa6 a borracei- ra'; e fevilhana A fua agricultura y e' manufaltura he a feguinte. Coftumaoó fómente lavrar as terras 'em' Margo , advertindo que as terras melhores y é aonde a azeitona he de melhor rendimento: faó as barrías. Algumas vezes feméao por entre" ellas fevada , porém ifto cauía baftan- te damno. O tempo proprio. em que plantaO as oliveis ras he o principio de Maio , ea colheita nos fins de Dezembro. Ufaó da cautela"de naó varejarem as olivei- ras em tempo de nevoeiros, ou geadas, fem primeiro o fol lhes feccar o orvalho jo que dizem he de confe- quencia funeita y nao produzindo fructo nos annos futu- fos. Nas tulhas' dos 'lagares fe' recolhe/a/azeitona , e fe conferva até a factura do azeite. Hum boi he o que tra- balha no lagar ,'e fe farao em cada piada 2O alqueires de azeitona 5 que depois! de bem moída fe 'mette em feiras yyem' que fe'efpreme o azeite, que'corre para as tarefas y aonde' máis fe apurá ',. e' affimn nianobrado de conferva nos armazens 5 fendo a ordinaria colheita 'huns annos' por“oóutros na Villa de'2 900o almudes. Caftanheiros. He planta que naó fe'produz''na Villa ,'e fó no ter- MO aonde'as terras ÍaO mais frías, e ordinariamente os “caftanheiros querem terra de ferra 5 mas podiaó plantal- “los/nas partes da ferra , que fe acha inculta. Pomares. Ha bons pomares nefta Villa, cujas fructas fas pe- ras , macans, fereijas, ginjas, figos , abeberas, Ac. Ha "muitas qualidades de peras y 'como Ía6 vergamota, pi- gar- 264 MEMORxAS garga , marmella , virgolofa , de S. Bento, de até aqui, $rc. excedendo a todas com hum gofto delicado a ver- gamota , pigarga, e marmella. A fua agricultura confifte em lhe cavarem a terra y e regallas, havendo aguas. Ufíaó de duas qualidades de enxertos, a que chamaó de púa , e annel. Ha fructa de Inverno, e de Verao 5 aquel- la fe colhe em Outubro , efta quando fe acha madura. Ha tamb?m algumas arvores de elpinho , mas ein peque- na quantidade , naó oblítante fer o terreno muito bom, e proprio para ellas, o que fe deve imputar taó fómeu- te á incuria dos habitantes. Hortalices. A terra he propria para todo o genero de hortali- ces, as quaes fe fenaO colhem , he por falta de induí- tria, e por naó innovarem , na certeza de que produzi- ria toda a qualidade de couve, e de chicoria. Ha mui- ta abundancia de melóes, e de melan-ias, de gofto de- licadiflimo y e fem dúvida os meihores que fe colhem no Reino, de forte, que em toda a parte fe celebraó os melóes da Viilariga. Nefte campo ha quantidade de meloaes , e de grande rendimento. He facil a fua agri- cultura , do modo feguinte. Lavra-le a terra por tres vezes , e'no fin do ultimo arado fe deixa em fúulcos”, formando fuas covas aonde fe lancaO as fementes. Efí- tas produzem mais hervas, que as precifas; por iflo fe arrancaó , deixando duas até tres, que creflcem , 'e fe augmentaó com maior forza. Logo que eftas varas tem quatro até feis folhas , “fe fachaO a primeira vez, e fe lhe dá ainda depois fegunda facha , e aflim fe produ- zem grandes , e excellentes melóes , e melancias de no- tavel grandeza , e de excellente gofto. Anmoreiras. A terra he abundante de amoreiras pretas, naó as en- ECONOMICA S. 265 enxertao , e fó as coftumao plantar; ufaé da folha para creagaó do firgo. Paflos. Naó ha lameiras y nem feno algum , ufíaó fó de palha para as beftas ; paítoreao os gados pelós mon- tes , e campos. CRARO ULLOA Do Campo da Villariga, e das fuas produccóúes. A 'Terra da Villarica he das melhores nao fó da Pro- vincia, mas do Reino ; tanto pela boa qualidade da terra de que fe compóe, como tambem por fer quafi annualmente innundada pelo Sabor, e hum regato, que corre pelo meio da Villarica, a que chamaó Ribeiro da Villariga. Elta terra he miíta de argilla, terra calcarea, e - alguma aréa : com a chuva fe conglutina alguma coufa, e depois de fecca, e desfaz em pó nos dedos , fendo a fua cór quafi cinzenta. Nao precila de fer eftrumada, e aflin melmo he muito productiva, de forte, que he re- gular nos annos de innundagcóes a cada alqueire de mi- lho da femeadura, correfponderem 30o de colheita, e a cada alqueire de linhaga canema 1O pedras de linho. terra que he fujeita a innundacóes , fe applica á cul- tura dos canemos , por fer muito mais productiva, e agricultada com muito pouco trabalho, e as outras ter- ras, que faO muito barrias, rariflimas vezes faO innun- dadas, e por iflo fe applicaO para feijao , milho, tri- go, melóes, Xc. A colheita ordinaria alli he de Trigo 3000o alqueires. Milho 12 atéi15oco alq. Feijaó 5 ou 6gooo alq. Canemo Io até 12000 pedras. Zoom. TI, EI Ef- 266 NUEOMTOPRÍLIA OS Fhá toda efta terra devidida em porgoes, a que cha- maó courellas , pertencentes a cada hum dos fenhorios, os quaes ás arrendaó por pregos avultados , dando-fe por courellas de 11o varas de largo I6ogooo réis, e aílim nas mais á proporcgaóO da fua qualidade, e gran- deza. Eftas courellas eftas expoftas a contendas contínuas, e perpétuas lides entre os fenhores dellas. Aqui nao ha meios eftabelecidos , nem póde havellos por meio das ter- ras ; porque as innundagoes fazem huma notavel revolu- caó nellas , defmarcando-as, e confundindo-as. O metho- do de que fe valem para demarcarem os predios a cada hum, he o feguinte. Exifte na Camara hum livro do Tom- bo, no qual ha huma medigaó de todos eftes campos re- guiando ás varas que pertencem a cada hum, e as cou- rellas , que fao contiguas , donde fe deve comecgar a me- dir , e todos os annos fazem eftas medigóes. Ha livros defte género ; o primeiro feito no tempo de ElRei D. Filippe II. em 1629, fendo Juiz de Fóra, e' do Tom- bo Manoel de Soufa e Menñezes: o fegundo he chama- do o Tombo Novo , feito ha pouco tempo por cauía das confusóes em. que laborava, por fe terem já tranfmettido a muitos herdeiros aquellas courellas 5; foi feito em 1777 , fendo Juiz 'de Fóra, e do Tombo Antonio Pin- to de Mefquita. (CRARO NA ENO AXE Dos Tombos Novo , e Velbo. Camara , e moradores da 'Torre de Moncorvo re- querérao a ElRei D. Filippe III. fe procedefíe a fazer hum Tonibo nos taimpos da Villariga, aonde fe femeava o linho canémo , por quanto havia grande con- fuíaO naquellas propriedadés, fem fe conhecerem os li- mites, e dominios de cada hum , por caufa das contí- | nuas innundacóes que alagavaó os campos, e mudavao, pa E, CIO NG MIL ECA E. 267 para as partes para onde eftava a aréa. Como tambem pedíraó , que fe reformafle o Tombo antigo, que havia de hum prado do Concelho, no qual faltavaó todas as con- frontagóes precifas. Havia nefle tempo tantas dúvidas, e demandas, que alguns annos fe nao femeáraO as terras por efla cauía , no que recebia grande prejuizo, nao Íó cada hum dos particulares, mas tambem a Real Feito- ria dos linhos entaó exiftente nefta Villa. Procedeo-fe pois ao Tombo requerido , por Provifas de S. Mageltade de 16 de Agofto de 1628. ObferváraO-fe todas as formali- dades em Direito requeridas , citando as partes, deci- dindo dúvidas por papéis, efcrituras , teftemunhas , $c., e dando das decisóes particulares appelagaO, e aggiavo. Formárao autos de todas as divisóes feitas pelos lou- vados , e fe julgáraó por fentenca em 5 de Junho de 1629. Achavao-fe no livro que fe tranfcreveo dos autos, e por donde fe regulaO as decisóes , varias cotas , infor- macóes feitas pelas partes, fem nenhuma authoridade pú- blica, as quaes foraó juítamente riícadas pelo Juiz de Fó- Fóra Jofé Pereira da Silva Manoel em 26 de Abril de 1766. A grande antiguidade defte Tombo, nao exiftindo Ja fenaó em herdeiros o dominio das courellas, e com maiores deyisóes, a confuíaO y e ignorancia dos limites movida pelas contínuas innundacóes do Sabor as deman- das y ufurpagoes y dúvidas , €c. deraO caufa para que Outra vez a Camara, e moradores defta Villa requeref- fem novo Tombo ao Senhor Rei D. Jofé I., o qual af- fim o mandou na fua Provifaó do 1. de Junho de 1775. Procedeo-fe ao novo Tombo dos campos “da Villariga “com todas as circunftancias , requifitos, e averiguacóes precifas em femelhantes operacóes. Formárao-fe tambem autos , que julgou por fenteñca o Doutor Antonio Pin- to de Mefquita Juiz de Fóra defta Villa, e Juiz do Tom- bo por Provifao de S. Mageftade y cuja fentenca fe acha datada em o 1. de Outubro de 1777. Naó obftante a O iú a de- 268 MEMORIAS a deligencia, e infpecgaO de tao bom Miniftro , efte fe- gundo livro tem áinda muita confufad : nelle fe deixa ainda muitas vezes O Direito falvo ás partes, femlhes limitar dominios certos , por naó poder em tao breve tempo averiguar-fe a legitima habilutagaó de herdeiros , e outras mais circunftancias precifas para fe formar hum Codigo certo das courellas, e limites de todo o campo. Daqui fuccedem varias lides ordinarias, que quafi fem- pre entretem o foro, e muito mais caufas de forga. EÍ- tas originaó-fe , porque nas medigóes tiraO muito huns a outros ; e bafta que hum no principio do campo tire ao vizinho algumas varas, para já haver huma grande confuíao em todo o campo; porque os outros vizinhos vao fempre medindo para diante as varas que lhe dá o 'Tombo , e affim os outros ; de forte, que o queixofo he ordinariamente fó o do fim, ficando prejudicado em tantas varas , quantas O primeiro accrefcentou á fua cou- rella 5 'oOu ainda em mais , fe os Outros que fe feguíraO medirao além das varas que lhes pertenciao. Em fim, fuccedem daqui varias contendas, e demandas, que con- tinuamente occupaó o foro, e perturbaO a paz daquelles. donos. Projeclo. Naó obftante a confufaó , que parece incvitavel a efte refpeito ; O unico meio' que Julgo util para arranjar tudo na devida ordem he o feguinte. Primeiramente pro-- ceder-fe a novo Tombo , para o qual fe devia fazer hu- ma averiguacaO exacta a refpeito dos dominios de cada hum , ouvindo todos os intereflados , e as partes, e fa- zendo toda a poffivel diligencia por concluir todas as dúvidas occurrentes, para que depois houvefle menos, e ficafle nenhuma occafiao para as caufas ordinarias. Para. evitar tambem as contínuas defordens que fuccedem fo- bre as medicóes , dando” materia para tantas demandas de forca , já que as courellas naó foffrem em fi marcos que as limiten, nao póde haver arbitrio mais O a. ela ECONOMICA s. 269 efte refpeito , que o feguinte. Nos campos immediatos, e contiguos a eftas courellas, aonde a terra he firme, e livre de innundagóes , deviab-fe pór marcos com toda a feguranga , com as diftancias correfpondentes ao domi- nio de cada hum , limitando as varas que o novo Tom- bo tinha deftribuido. Defcuberto o campo das courellas, e defempedido das innundacóes, para fe comecarem a dividir eftes predios , fe langaria em linha recta hum cordel, desde a ponta do marco até á propriedade y que fe quer dividir, o qual todos os annos dária com cer- teza , e fem confuíaó , os limites certos, e já fe evita- va toda a violencia , que continuamente fe uía de tirar ás courellas vizinhas varas de terra que lhes pertencem ; e aífim fe cortavaó tantas demandas de forca, pois fe alguma dúvida occorrelle y, tornando a lancar o cordel do termo refpectivo , vinha logo a declarar-fe fem mais eftrepito forenfe a verdade da coufa 5 e quando amiga- velmente fe naó accominodaflem as partes , huma fim- ples veftoria cortava os fios a todas as lides. Ora tu- do ifto he muito facil de executar-fe y fegundo as obfervagoes que fiz, indo ver de propofito, e por oc- cafides de algumas veftorias movídas por caufas feme- lhantes. Em quanto fe nad dá nova providencia y O unico meio interino para evitar tantas dúvidas , era ir todos os annos o Juiz de Fóra com dous louvados repartir os campos , conforme o Tombo novo, dando a cada hum a parte que lhe tóca, o que fe faz brevemente. Defta fórma ninguem he arbitro da íua medigaó , cada hun agriculta o que o Tombo lhe dá, fem fazer violencia ao vizinho , e fe evitaó todas as acgúes de forca. C Ao 270 MEMORIAS GNA BIL USA EO RAN Da Cultura dos Linhos Canemos da Villariga. Cultura dos linhos he facil , e incommóda pou- co-os lavradores , por naó precifarem de ef- trumes eftas terras, e ferem muito faceis ao arado pe- la contínua commogaó que lhes caufaó as innundacgóes. Dá-fe-lhes o primeiro arado na Primavera, e depois fe grada , paílados IO, Ou 15 dias fe lavra outra vez, a que chamaó efiraveffar , e fe torna com a grade a ali- zar, paílados poucos dias fe repete a abrir com o ara- do , e entaó fe fegue a fementeira da linhaca nos regos que a grade cobre. Ordinariamente eftá o linho Ioo dias na terra , depois dos quaes fe arranca unindo-o em mólhos no lugar, a que chamaó Zendal, e palñlados 8 dias fe ata em eftrigas pequenas , que fe facodem; entao fe mette em agua $ dias para O cortir , depois-do que fe fegue-a manobra de o tafcar. He fem dúvida y, que colhendo-fe ordinariamente IO até 124000 pedras de canemo , fe poderia eftender a muito mais a fua producgaO , fe as manufacturas, e confummo o pediflem ; porque fuppof- to as outras terras precifaffem de mais trabalho , e ef- trumes , tambem o produziriaó excellentemente , e af- “fim fe poderia fazer , e augmentar huma notavel co- [heita de linhos canemos. | GTAN Pl EN OTLO| TAR Viveres. Torre de Móuncorvo he abundante em paó , vinho, carne de porco, caga, e pefca: Os mantimentos fa0 muito bons, e fadios, porém raras vezes a mefima caga, e pefca fe vende, cada hum dos particulares a vai buicar para fi. Aquellas partes vizinhas faó muito A an- E conto vio $ 271 dantes de perdizes, e mais aves, ainda mefmo contém baftantes porcos montezes. O Sabor, e Douro offerecem "ás redes excellentes peixes, como lampréas, faveis, bar- bos, muges , tainhas , bogas , 'Xc. , cuja abundancia eftá fempre em proporgaó da qualidade dos annos. Efte de 1785 foi hum dos menos abundantes , por caufa das tem- peftades y, e rigorolo Inverno. C APERDIU EXO ; QU. Da Indufiria. U naó fei que terra alguma pofla haver confidera- Hs vel, € cabeca de Comarca y, que tenha menos induí- tria, que a Torre de Moncorvo. Defconhecem todo o genero de artes até mefmo quafi aquellas da primeira ne- ceflidade : nao ha hum ourives, hum latoeiro , hum fa- bricante , hum felleiro , Xc., eis-aqui a verdadeira razaó da pobreza da terra. Como na pequena povoacao da Vil- la ha muita Júftigca , occupa-fe niflo 'baítante gente da da terra , mas fempre com pobreza vaó paflando a vi- da : bafta dizer, que naó correndo rio algum dentro da Villa, vaó moer o paó de Inverno au Felgueiras y lugar do termo diftante huma legua , e no Verao fe móe em azenhas no Douro : advertindo , que em nenhuma parte ha maiores commodidades para le fabricarem moinhos de vento, porque no monte Roboredo , e na ferra ha fitios excellentes, e muito commodos para fe formarem, aonde o ar gyrando livre , e defimpedido , faria moer "baftante pao. Suppofto antigamente houvefle huma gran- “de 'fábrica de cordas por conta de ElRei , com tu- “do “agora nao refta difto nem vefñtigios , e fó dous, “Ou tres homens fazem algumas cordas y que vaó vender "aos “Mercados fóra. 272 MEMORIAS Da antiga Cordoaria. Haverá 50 annos, que fe extinguio huma cordoaria Real, cuja cifa ainda exiíte no campo da Corredoira, e eítava regulada debáixo da infpecgaó pública. O Pro- vedor da Comarca era Intendente della y e feu Confer- vador. Havia além diflo para o feu governo Infpector, Efcrivaó , Meirinho , dous Eftimadores , todos com or- denados certos. O officio dos Eftimadores confiítia em arbitrar os predios femeados de linhaga, e louvar as pe- dras de canemo que podiaoó efles predios dar, e por ef- te arbitramento ficavao os donos obrigados a dar tanto linho para a fábrica, quanto tinha fido eftimado, e to- do velo eftabelecido prego de 4oo réis: por efte encar- go tinhaó os Eftimadores 20o réis por dia. Mais havia dous Fiéis da balanca , cujo officio era pezar os li- nhos, hum Guarda, hum 'T'hefoureiro y que recolhia as materias em crú, e manufacturadas. Para efta cordoaria concorriao naO fó os linhos de Moncorvo y mas tambem de Mirandela, e feu deftridto, e da Provincia da Beira até Pinhel. A exportagaó das cordas, € confumimo era para o Porto. CA. PR OTETO NS XIV: Da Camara, e Concelho. A Camara defta Villa tem infpeccaó nos bens da Igre- ja Matriz Collegiada , e no E ccaliátdenio de San- to Antonio. Rendem os bens do Concelho annualmente, pouco mais ou menos, 50O até 6oofoso réis, hivres da terga Real. Provém efte rendimento de courellas fitas na Villarica , de prazos, de cafas, rendas , tomadias, Kc. Huma parte notavel dos feus rendimentos he a renda dos fornos. He prohibigaó antiga nefta Villa de ninguem po- der cozer pao em fornos proprios; mas nos PO do on- E CO NOMUIIC A 8: Concelho , e efte rendimento fe arremata em praga pú- blica a quem mais dá. Era efte Confelho muito mais rico , porque lhe pertencia a barca do Douro y chamada Barca da Torre, a qual foi denunciada á Coróa, e veio a perder mais de 400000 annuaes. MONCORVO. Productos. Colbheita. | Alqueires Migo, Sn Ta 3UHC00 Senteio -— oe 1O YO0U Millo - - - - - 1O HOCO Sevaa - - o - 4$000 Serodio -— e - 400 Feijóes ss 5$OCO Gráos de bico - - 200 Almudes Azeite - -— n-o 54000 Vinhho - -—-- 2 $000 Arrobas La seo 500 Queijos -- -- 18O PIB bOL xa e en 1OO Cancmo ns E 12Ó$CO0O Cabegas Cordeiros -—- - 14600 Ton, III. Mm Prego. 30: 566 Ho00 273 Somma. 9: 000 #O00 2:000$000 2:400$000 ABoGoca 120$000 1:500$C00 yg6ICo 21000 #H0CO y6oÉoCo 1:200 000 360$o0C00 26O$HOCO 8: 900 #HO000 Boogorno C A- 274 MEMORIAS CHRANPIEAEUDRE OTAN Dos Lugares do Termo. Acoreira. Em fogos I1oo, e pefloas de Communhao 320. Dif- ta huma legua efte lugar da Villa: tem de termo de nafcente ao poente em longitude legua e meia, e de latitude de Norte ao Sul tres quartos de legua. Parte he baftante fragofo , mas fempre fe agriculta quafi to- do , fuppofto que por efta caufa fiqueim terras por cul- tivar alguns annos. “Tudo fe fabríca de pao, mas naó tudo junto y; ametade em hum anno, ametade em ou- tro: uíaO naO fó de arado , mas até de enxada nos lu- gares mais efcabrofos. Junto ao Povo ha hum pedago de monte chamado a Lamela , O qual le nao coftuma agri- cultar y e he do Concelho y nem fería util agricultár-fe, porque he ladeirofo , e expofto a grandes trovoadas',; abrindo-fe y cahiria a terra branda, e arruinaria as pro- priedades que agora refguarda. Produz efte monte fo- breiros, que Ía muito uteis aos lavradores y porque lhes miniftraó madeira para os feus arados y e mais trem da agricultura. Coftuma fer coutado para as cabras , e ove- Ihñas , € fó nos Invernos de grandes 'chuvas 5 e neves fe lhes permitte a paftagem. “Todos os annos “do 'mez de Setembro. para diante fe limpaoO algumas terras de mat- to, que fenipre nafce , como ÍaO as piorneiras, carraf- COS y, e cutrás qualidades y que fe naó podem bem def- iñnóOntar y e fegue-fe a fementeira, que dura dous me- zZes. Preparaó as terras com cftrumes das cavalharices, de bois de gádos!,;'"'é-com cinza. Alguímas/ que “tem matto para fe agricultarem, fe lhes corta no Veraó , cu- jas cinzas fertilizaó muito. Eftas terras fa6 baftantemen- te fracas, a poder de eftrumes, e trabalho y produzem paó. Tambem fe colhem algumas leuntilbas, e milho 3 gro!- ECcCoNoOoMICAS 275 groflo, mas pouco. A colheita he limitada em propor- gaO da fementeira, pois a hum alqueire de paó, cor- refpondem finco. Os methodos de agricultar 'faó qua- fi o meímo que na Villa. He efte lugar baítantemente mimofo de pomares , e por iflo dos melhores do ter- mo. Tem bafítantes laranjas, e limóes, fe bem que fó chegaO á Primavera : naó lhe fazem outra agricultura mais, que regallas no Verao cada 15 dias. Ha outras varias fruétas , como peras, magans y Xc. y e boas hor- talices , fuppolto que em pequena quantidade. Golhem alguma !eda , mas pouca y) porque tem poucas amoreiras , advertindo , que o terreno he muito próprio para ellas. Fazem uío dos feus gados “para eftrumar as terras, e queijos dos feus leites y vendem a lá para a Serra de Eftrella, e tambem fe veftem della. Os males que ata- cao os gados fa6 bafjquilba y ronhda y, mal de fangue (termos do paiz). Para a bafquilbta nao applicaóO re- medio algum , e morte todo o gado em que deo. O mal de ronha o atiribuem ás fomes , que em alguna tempo paffaó. A medicina que lhe applicao , he fum- mo de piorneiras , e gieftas y amafladas com urina; ENO uíÍaO derazeites zimbro 37 poltorquercure 57 porque Julgaó que faz mal á la , e tem pelo melhor reme- dio o tabaco de folha mafligado, e applicado com f(fa- 'liva á parte enferma. O mal de fangue he curado com - fangrias , aliás morre o gado. A Zzangorreana he outro TA que padecem , que as faz andar muito tempo doen- tes ; algumas eícapaO , mas naó lhe applicaó algum ge- nero de remedio. A #zaha he curada com azeite zimbro, e com. os aflentos das talhas do azeite. — He o terreno abundantiffimo de aguas: tem quatro nafcentes de corrente contínua, e além diífo a Fonte do Concelho , o que tudo dá muita abundancia de aguas, que regao pomares y, hortas , linhos, Kc. advertindo, que ha muitas hortas por todo o termo y e muitas fontes. Efte lugar naó he dos mais pobres, e os lavradores defconhe- cem todas as mais artes. Mm dú A GO- 276 MEMORIAS DA A E dA IR dA A A A UNO A SERA AO NORA NENO A E AN CÍOVRNETERAS Productos. Colbheita. Prego. Somma. Alqueires “TFrigo qe oda 34500 300 1:050 4000 SEntAIGueL SSA goo 200 1804000 Sevadar osos 1$200 12O 144$000Q Arrobas Queijos NS 26 2 OCO 52 FOCO Lá DUARTE 15 2 $A400 364000 Amendoa - — - so 2O 149600 32 $OOO Linho TO 32 2 Ó$500 BojoCco Almudes Azeite eno 25O 26400 6Goooco Vinho esse Boo 48O 384 Ho000 Somma - - a2:558$000 CIAS PE EOE EOE: Do Lugar do Peredo. ún O Em 1o4 fogos, e 332 pefloas de Communhao. He bem fituado y difta duas leguas da Villa para a par- te do Sul. O termo nao he muito bom, etem de com- primento liuma legua, e de largura meia : nelle muito pouco fe agriculta, e vao fazer lavouras aos termos de fóra. , comoa Urros, e Agoreira. Tem fuas fontes, mas com pouca agua y principalmente; no tempo de Verao. Os fructos que colhem faó paó, vinho, azeite, linho, amendoas. O mal que padece o gado he ronha , que fe cura com tabaco de folha ) e: azeite de zimbro ; e mal de fangue y que fe 'cura com fangrias. . P E- E rc o iN/OÉMITÍC IE 3. 277 PREREIT OIO; Productos. Colbheita. Somma. Alqueires DUIO Sr Sosa 1$900 57O0$HC00 ESEnteIO Saa 1$8co 36 000o Sevala oo 2 4000 242$OCO Arrobas Lá DS 12O 2$400 288 $úoco Amendoa - - - o 120 15600 192 $COO Queijos eo 5O 24000 100 ÉCOO Linho AST 2O 2$500 5OÚOCoO Almudes Azeite seo 200 2$400 AB8OHCCOo Vinho seo 25O 48O 120$OCO Somma - - 2:400$0092 G ABEL BUS LIO; 54 AV. Do Lugar do Felgar. dn de termo meia legua de Nafcente ao Poente, ; e de Norte a Sul finco quartos de legua: he dos ; maiores, e mais numerofos defte Concelho : confta de Po 231 fogos; e 73o péefloas: por entre elle pafífa o Sabor. 'Tem montes de pinhaes , que faó do Confeibo, e hum outeiro, a que chamaO Cabega de Mua. Eftes nadó fao cultivados, porque o Concelho lhes naó permitte licen- ga. Ha muitas terras afperas., por iflo as naóO cultivaoO, e algumas das que cultivaó he precifo deixallas de deí- canco alguns annos. Nao póde deixar de fer-lhe muito fu- 278 MEMORIAS funefta a grande trovoada fuccedida em 17 de Julho de 1784, a qual fez efltragos de grande confequencia , les vando gados , deftruindo propriedades , arvores , vinhas, pomares , chegando a deftruir trinta cafas de moinhos, e tres pizoes, Xo. defgraca que fez época entre elles: Efte lugar tem feus powmares de fructas, amoreiras, £c. Abunda muito em aguas : corre pelo feu limite hum ribeiro chamado dos Moinhos y que tem feu principio do Souto defte termo , e fe recolhe no Sabor. Ha outros chamados Ribeiro da ferdinha , do Queixal. As fontes tem a da Nogueira, que langa ordinariamente huma te- lha de agua 5 outra do Vaf, que lancará duas, e defta he que principalmente fe régao os pomares y hortalices, $rc. Ha outra chamada de Marta Miga , que nao tem corrente , e em hum tanque ferve para beberem bois, beltas So Sec. Haverá 2$o000 cabegas de gado ; e poderia haver mais, e melhor, fe tanbem houveflem mais paftagens. As doencas que padecem ÍaO malina y eronha: a primei- ra nao fabem curalla, e a ronha curaó com azeite Zzim- bro , trovilcos pizados , tabaco de folha. Os lavradores ufaó com pouca differenga dos me- thodos da lavoura, que em Moncorvo. Ha nefte lugar huma fábrica de louca de barro groffa, a qual he mui- to util a eftas povoacóes vizinhas. 'Tem excellentes lameiras y muitas fruítas; antes da trovoada tinha mais de trinta imoinhos , que mohiaó o pao para toda efta redondeza , mas tudo arruinou a tro- voada. He o melhor, e mais rico lugar do termo. FEL- E coN omnóé AS. 279 FEL GA R. Productos. Colbeita. Prego. Somma. Alqueires Mxigo SS I$5O00 | 300 1504000 Señteio sao 18000 200 3:6C0HCCO Sevada i-o Iso 2$2CO 12O 264$000 Galtanha o 4 - 1É#5CO [do gOo#EOO Arrobas Seda SISO 16 Bgf6oo 1:433$600 Lá mino SAE 16O 2$4A00 384 Ho00 Amendoa - -—- - i7O 14600 272 $000 Linho SAN CASAS 32 2$500 Sogooo Almudes Azeite sen 31O 24400 744$HC000 Vinho SABES 6oo 48O " 2884000 Somma - - 7:6Co5$600 GLAYPOIR TITO ESGOS PE VILE Magores. da Em eftc lugar de termo huma legua em quadrado : confta de 95 fogos, e 264 peífloas de Communhao : algumas terras que fe nao podem agricultar por bravas, como o monte vizinho. Ás amoreiras rendem Icoñooo réis de renda , e colhem alguma feda. Curaó a ronha dos gados com fummo de piorneira, ou tabaco de folha, e O gado cabrum com azeite zunbro. M A- 28o MEMORIAS MACORES. Colheitáa. Somma. Productos. Alqueires Túgo eso 2$300 300 6Cygogoco Senteio - oe 3$500 200 700 HOCVO Sevada eno o 8oo 120 g6HoCo Arrobas Seda ceso 8o 4600 Ñ Lá sse 24400 120$H000 Queijo -— ss - 2 $000 1604000 Almudes Vinho sae 14O 48O 67$200 Azeite ATAL 7O 2400 168 Hovo — Somma - - 2:270$000 CLARAS Un Oro Das Felgueiras. O É Em fogos 108, peflvas de Communhaó 33c. O feu termo he de Nafícente ao Poente legua, e meia, e de Norte ao Sul huma legua. Efta povoacaó naO fe apro- veita do feu termo (ó para fi, mas os de fóra delle tem alli muitas fazendas. Tem muitas terras de Monte maninhas , e por fe cultivar, e ferras bravas. Eftrumao as terras com o ga- do, ecinzas. Naó tem amoreiras para a feda que colhe, compraoO a folha fóra. 'Tem 14 moinhos de moer pao, e fó 3 fad do po- VO. ECONOMUCA s. 281 vo. /Aqui fe vem moer o paó da Villa. Dao de rendi- ' mento cada hum 3o alqueires de pao livres. Nefte lugar tambem fazem carvao. He abundantiflfimo de aguas, tem mais de 25 fontes perennes , e algumas ferreas: huma que eu obfervei he abundantiflima em hetorogeneos mine- raes. O mal detinha , e ronha que dá nos gados y curao com azeite zimbro. Naó colhem azeite y nem amendoa, nem vinho , dizem , porque o nao permitte a terra. RE Mn GRA MURAS Produ£ctos. Colbheita. Prego. | Somma. Alqueires (Bugocos, -| noz 14500 300 450$000 Senteio on o 9oÓúoCco 200 1:8o00$000 Caáftanha - es - 3000 6o 18o0$000 Arrobas Seda E DOSÑS 7 8ygH6co 627$200 Lás DES 10O 2400 240$200 Queijos | - cos 23 2 $oco FOHOCO" Almudes Azeite seo IO 2$400 24$000 Vinho a ru dE 8oo A80O 384 $000 Somma - - 3:755$6200 CABLES ULETGNOOX: De Urroz. “DD Odemos confiderar o Lugar de Urroz y quanto ao feu ; termo , como hum círculo, porque o Lugar eftá no meio, e tem em circumferencia Ó leguas; he tambem hum Ton. III. Nn dos. 2827 MEMORIAS dos melhores, e numerofos lugares do Termo. Tem 243 fogos, 682 Pefloas; difta 3 leguas de Moncorvo , pa- ra a parte do Sul; he o que colhe máis grao de todos os do Termo; tem tambem algumás terras agreftes, co- mo fad ás da Serra y é as que inclinaO' para o Douro, ” 'Tem baftántes aguas de fontes para beber; mas naó pa- ra regar. Quando fe achaó os feus gados doentes, os cof- tumaó meter no Douro a nadar, o qual difta pouco mais de meia legua. | VSRIBIOSZ: Produdtos. Colbheita. | Preco. | Somma. Alqueires Trigo. o TOSE E 1ofoco | 300 3:000#XO000 Senteig ss o 204000 200 4:000#$00oQ | Sevadar oo 1O#CCO 12O 1:200$00e Artobas Seda - Se A Sohb6oo 3586400 Lá see 300 2 $400 720$#$O000 Amendoa - - ss o - 300 1 Ó$600 4804000 Queijos ss - | 200 2 $oco 400$000 Almudes Azbitos NÚA 400 24400 gabofooo | Vinho Rama FHO00 48O 480$000 | Somma - - 11:598H4400 | GA PT TDNURE OTRA. Souto. - j ' Em de termo meiá legua de longitude, € hum quarto de latitude , fogos 77 , e 253 pefloas. 'Tem dúas "Serras incultas y que (ó prozudem pinheiros , e matto | Í ; huso ECcCoNOoO MOAS. 4283 huma denominada a Serra da Cuba , comprida hum uarto de legua , e larga meio quarto|; a outra chama- E a Corvalbada , tem a melma extengaO. Ha baftantes aguas , e mais fontes , entre as quaes faó celebres tres nafcentes , com diftancia de 300 paflos y as quaes fe juntao a Ioo paílos, e formao hum regato, que faz andar pe- rennemente os moirnhos. O mal y que coftuma dar nas ovelhas he bexiga, eronha; para a primeira nao fabem remedio algum: a ronha fe cura, cum fummo dé folha de tabaco, e giefíta. O mal das cabras he a tinha, e zan- garriana y a T.? fe cura com azeite de zimbro, á outra nao fabem remedio. A maior caufa defte mal he a fome, pois naó tem no feu termo, com que as paftoréem, e lhes he percifo alugar fóra paítos y e quintas para efle fún. SOS UNO? Productos. Colbheita. Prego. Somma. Alqueires nO O O 35O 300 TO5HOCO Bentelo, SE 7000 200 1:400$009 Seyvada e nn o 12O 120 14$409 Arrobas Lá seo 15O 24400 360$0006 MInEIJOS. A o 25O 2 $000 FOOÍQOCO Linho SE NO 15 2$500 37H$500 Almaudes Azeite sl]. e. - 5O 24400 120$000 Vinko sos sn 200 48O 96 Hoo0o Somma - - a2:632$900 A Nn ú CA- 284 MEMORIAS GAS PATOS GO. OCX Larinha. á efte lugar 135 fogos, 431 pefloas, de termo meia legua de Nafcente ao Poente , e huma de Norte ao Sul; he limitado por huma parte com a eftra- da de Miranda y, e da outra-com o Sabor. A terra he fragofa”, e a maior parte cultivada com enxadas, por- que nella fe nao podem meter bois, nem arado. 'Tem hum pinhal, e huns lameiros que fe naó cultivaó. Ha 4 Fontes , e hum chafariz , porém de Veraó nao fa0 4 muito abundantes, e ha huma Fonte d'aguas ferreas. Os males dos gados, fa6 a zangarriana, tinha, ronha,. UfíaO para a cura de azeite zimbro. Para o fazer metem O páo zimbro dentro em hum cantaro, e applicando-lhe | lume ao redor, fe lhe extralhe o fucco, e parte oleofa : porém o maior mal do gado he a fome, por falta de pafítagens. Efte Lugar he muito pobre. ; LARINHO. Productos. | Colbheita. Prego. Somma. Alqueires Serodio - - -— 15O 300 45 $oCO Senteio oa 15$000 200 3:000$000 Sevada oe so 1$500 12O 18IH000 ! Arrabas La a nen 100 24400 240H000 Queijos ene o 7 2 $000 1A GOCO Almudes Azeite sua AN 100 2$400 240$000 Vinho “aso 200 AO g6g4oco ao Somma e - 3:8154007 CA- E CON OMIC A/S. 285 EC AP IORUVELO XXII. Eftevaes. T Em fogos 86, e pefloas de confiflao, 279. O termo fe acha mifturado com a Povoa , tem meia legua de longitude de naícente ao poente ; quafi todo fe cultiva, porém tem partes y que O naó ÍaóO por caufa de ferem fragofas, e em algumas deftas trabalhaó com enxadas, por naó poderem lá meter arado. Os males, que pa- decer os bois, faO reuma, que fe cura fangrando-os, outras vezes, Íe O cafo o pede, lhe lancaó pela bocca azeite , vinagre , e alhos. Nafcem-lhe tambem lobos, que curaO os alveitares; e para dores de barriga, me- tem-nos em curraes de gado ovelhum. EST BMVADEOS) Productos. Colbheita. Prego. Somma. Alqueires dO O 400 300 120$N00 Sentéio: - TOBA A4Ó$O00 200 Boogooo Sevada oo o o 5CO 12O Cogooo Arrobas Seda NESAS 2 Sygb6oo 179H200 BE Ao EIRAS 10O 2$400 2 AOÓ$OCOO Queijos o ABA 2O 2$6000 4OHO08 Almnudes COTO O 8o 24400 192 $000 Somma -- 1:631$H200 CA- 286 MEenMoRrrxras CL ASPIOLNNUULIONY RXIV. Povoa. Ste termo eftá mifturado com o de Eftevaes y tem de nafícente ao poente meia legua: he a maior parte cultivado, porém alguma por fer fragofa deixa de O fer, tudo o que fe difle de Eltevaes, fe diz delle. P30; VOTA: Productos. Colbheita. Prego. Somma. Alqueires Trigo eso 200 300 6o jHoCDo Senteio nen 14500 200 300 $000 Arrobas Seda asen 2 Goúboo 179$200 Lá sean 4O 2$400 g6H000 Queijos: disso e 15 2 $000 30H000 Almudes Azeite 2 a 15 2$400 36HO00: "Somma - - 7OI1 É200 CAPLETUIRAON XXV Cabega de Mouro. FS fogos 72, pefloas de confiffao 237, difta duas leguas de Moncorvo para o Poente, eftá fituado na fummidade de huma afpera montanha, por onde fe vai por ad E EEES E EEEEEEDT ao E” ti MT NS. 287 por caminho muito fragofo. Tem de termo de nafcente a poente huma legua , e de largura meia de norte ao Sul ; em muitas partes fe cultiva com enxada por ñaó poderem lá entrar bois , e arado. A terra he áalguina arenofa , e lhe'chamaO fairrinha. Pertence a efte lugar huma Quinta chamada Cabanas , diftante quafi huma le- gua ', fituada na falda dá Serra , e efles habitantes fe Occupao em cultivar os Campos da Villariga, que lhes ficaó contiguos. Tem junto á Serra huma perenne , e abundantiflima Fonte de excellente agua , que tambem chega, além do uío, para regar : o povo he pobre, muitas fazendas faO de fóra: mas he proprio para crear gados. Pelos mezes #'Agofto , e Setembro y coítumaó ter Íuas doengcas nelles, e mortandades y por caufa das mui- tas gorduras , e calores , e por illo os Paflaó a terras altas, e frefcas. O limite he todo cultivado, e proprio a iflo, de forte que quanto mais fragofo , mais natural he para fenteio: attribúem as doencas dos gados á pal- tagem na Primavera, quando ainda antes das II horas fe acha a herva orvaihada. He Cabega de Mouro muito fadía, por fer fituada no alto da Serra ,-aonde os artes gyrao livreiñente, e fa puros y porém os -de Gabanás povo vizinho faó enfermos. CABECADME' MOURO: Produttos. Colheita. Somma. Alqueires MOS O AS 6Ho000 300 1:8C0 HOdo Señmelo oo o 12 $000 Zoo 2:400$000 Milo - - -- o 6CHoco 24O 1:440$000 #Sevadas a oo | 2go0o 12O 240$C000 Serodio — ao 200 400 8osoCoo Feijó nos o 2 $o00o0 300 GCoogoCo Gráos ss 1OQ 48O 48$200 Lá 288 MEeEnmMmORrtaAs Arrobas La seo do SAS 100 2$400 240 Ó$009 Queijos 42a 25 2 $002 5OHOCO Linho e SS SE 3O 2$500 75 $000 Almudes Azeite,sdoa as 5 25O 24400 6Googono Vinhho E 1000 40O ABOogooo Pedras Linho Ganemo - - 600 700 420$0n0 Somma - “8:473$000 CUANRALTESURENOS DOT, HORTIA. Productos. Colbheita. Prego. Somma. Alqueires Trigo -- e AdOooo 300 1:200$000 Senteio - oo 4Ó$000 200 Sooúoco Sevada soo 1Ó$500 12O 180 $000 Feijóes -- A 1Ó$5O00 300 450 Ó$000 Gráos e sao 8o 48o 384400 Arrobas É La see 4O 246400 96 #4o0o Linho sse 25O 2$Ó500 6254000 Seda 2 eo 5; 894600 26943800 Queijos sse 2O 2$000 40000 Almaudes Azeite DO 200 24400 48o $odo Vinho as ao 300 480o 144000 Somma - - a4322$200 CA- aa dá E SCENCSTMNNO AS 289 PECAS RIF EPI O XENCVE Total dos calculos precedentes. Povoagaó de Moncorvo, e feu Termo. Maiores Menores Lugares. Fogos. | de Comma-| fo de Con- nha. figao. Moncorvo - - - - 15O Acgoreira --- - 63 Felgar seo 100 Felgueiras - i-o - 66 Horta -s- 42 Cabega boa - —- - 44 Larinho SAS 84 Cabega de Mouro - 3O Eitevaesituue ssa ae 2 Urroz see ES Magores —-— - O - o 38 Peredo ALTAS 48 Souto SOTO 34 Somma - - - 826 Nafcérao. | Falecérao. NELES AE 131 Femeas ——- o - o 88 Somma - - | 219 om. TN, Oo Ren- 290 MEMORIAS Rendimento da Torre de Moncorvo , e feu Termo. Moncervo 4 usdos A a SA ARA An 30: 566 Húooo Peredo DA fana ASAS LIS SS UU RIOR 2:558 4000 Felgaro on rIo as SITUADAS, 7:605 OCO Macores A AOS RIDADE 2:270$$000 Peigueitas oi Aa O ARA AIRA OA ACA 317554200 Urroz o o MS O MANO RMS 11:598Ó$400 SouioN NTE PEGROULES ADA CATRO SIS RAS 2:6324300 BIanho Aboi dE TITO EAN? 3:815H000 Teas SARA AO DATAS DAS 1:631$200 Povoa eo PE - ES PRIMO 7O1Ñ200 Cabega de Mouro - Une ERA 8:473 4000 Horta sn RUA AA NATA PO 4:322$200 e DA E Somma - - 79'9Z7ÉHIOO- M Es ECONÓMICA S. 291 IAE OS DN IRIA URNAS NS NAS ANUAIS É ATTAC ARA MORMIO: RUTA Sobre o Tanque e Torre no fitio chamado em Lisboa Anmoreiras pertencente ás Águas Livres. POR ESTEVAO CABRA Es Uma das obras de maior magnificencia y que no feu genero fe adiniraO talvez em todo o mundo, he a obra chamada das Aguas Livres na nofla Lisboa. He certo ao menos, que no genero de aquedu- étos excede ella os mais tolas quaes fao os de Ge- nova, de Spoleto, de Cazerta, de Roma 5 excepto que na quantidade do fluido as Aguas Livres comparadas com alguns delles faó pobreza comparada com riqueza, pois os Romanos, e o de Cazerta trazem rios chéos, e efte noflo apenas traz hum pequeno regato: mas a bel- leza-, e a magnificencia fa6 fem controverfia nenhuma aqui maiores. E com mais razaó cantaría aqui Rutilio, O que cantou dos Romanos , referido por Jufto Lipfio de Magnitudine urbis Rom. Cap. de Áquaeducl. Quid loquar aerios pendentes fornice rivos ? Qua “vix imbriferas tolleret Iris aquas. Hos potius dicas creviffe in fidera montes: Tale gygantaeum Graecia laudat opus. Entra o aqueducto na Cidade no fitio chamado Amo- reiras, e aqui acaba em huma elevada torre quadrangu- lar , e de bella pedraria , cujo exterior naó he neceflario defcrever-fe , porque todos o vemos : mas deixada incom- pleta naO fei porque. O interior deita torre contém primeiramente hum tanque de muros fortiflumos da groflura de 25. palmos, e Oo di Inte- 202 MEnMORIAS interiormente tem de comprido 125. palmos 5 de largo 107. , e de profundidade 37. Na groflura dos muros fe fórma á borda do tanque por 3. lados huma varanda muito elpagofa , e no 4”. lado eftá imperteita huma cafcata, "no fimo da qual, propriamente fallando , acaba o aqueducto das Aguas Livres ; mas tanque, varandas, e cafcata fica tudo encerrado em huma vaítiflima fala coberta de grandes abobe- das ainda naó completadas, e nos lados amplas janellas , tu- do de boa pedraría em ambas as faces interna, e externa. Efta fala, eftas janellas faO o torreaó , que fe vé de fóra. Apparece de tudo claramente y que quem ideou efta obra , quiz nella executar huma galaria de pafleio, e de divertimento de nova fórma., com tanques y chamemos- lhe aflfim y domefticos : nem fería inutil o penfamento, fe o aqueducéto fofle mais rico de aguas; mas eclte talvez foi o motivo de ter-fe depois deixado ao defamparo taó cultofo edificio : julgou-fe antecipadamente , que as fon- tes das Aguas Livres dariaO para Lisboa agua de íobejo; fahio errado o juizo, parou a obra. E na verdade vemos coutinuamente nas fontes da Cidade enfileirados, a cada bica de chafariz y) 4O. , “ou 5O. , e ás vezes 6O. barrís , efperando para fe encherem quando lhes couber a fua vez, nao obítante que nos mezes mais abundantes cada bica enche hum barril em dous mi- nutos , e em cada hora 3O. barrís. E que he ifto fenaó falta , ou ao menos efcaceza de agua ? “Que he ifto ) fenao tantas cinquentenas de homens trabalhadores perdidos, quantas f21O as bicas, em todos os chafarizes juntos ? Como quer que feja , O torreao das Amoreiras eftá ociofo , e o dinheiro, que na fua fábrica fe defpendeo., dá-fe por perdido ; e efta lle a voz commua ; mas eu examinando as circunf- tancias julgo o contrario, e foftenho y que póde fer de mui- ta utilidade , e de muita economia , e que he neceflario. Achando-me em Junho do anno paílado no dito torreaO y/ao ver tal preparo de tanque, e devcatesta, perguntei, fe em Lisboa havia fobejos das Aguas Livres? Refpondérad-me , que fim, que os havia no inverno po O ECONOMICA s. 293 do toda a agua chegava a 6o. anneis , e muito mais quando algumas vezes chegava a 8o.; mas que no veraó havia falta, naó paflando a agua algumas vezes de 3o. anneis. A dizer a verdade nem ainda no inverno creio eu, que as fontes defta agua fejaO taó liberais , que dem fobejos, fenao quando muito naquellas lhloras nocturnas, em que os aguadeiros nao podem vender. Fóra defte calo naó ha momento, em que naó eftejaO muitos centos de homens perdendo tempo a efperar por agua. Mas fup- ponhawmos que haja fobejos y; fupponhamos , o que he Certo , que ao menos em algumas horas nocturnas Os poffa haver. Softenho, que o tanque do torreaó eftá todora propofito para guardar eftes fobejos em beneficio do povo. Digo , que o mefmo tanque póde beneficiar todos aquelles aqueductos , pelos quaes , paffadas as Amoreiras , fe diftvibue a agua dentro da Cidade. Digo, que o tanque huma vez chéo he fufficiente em cafo de neceflidade para prover de agua Lisboa todo hum mez, deftribuindo-a com economia. Comecando defta ultima aflergaO , a fua prova he geomeirica facillima. Já notei , que o comprimento do tanque faó 125. palmos, a fua largura 1O7., e a altura 37.: eftes numeros , deicontando 4. pilaftres de IO: pal- mos quadrados, que do fundo fe levantaO para fofter as abobedas (uperiores , fazem palmos cubicos 440.095. Def- tes, dando a cada palmo canadas 77. y refultao 4.480. 689. canadas 5 e levando; cada barril 12. canadas , fa- -zem 337-390. barrís. Huma bica taO abundante, que encha hum barril em 2. minutos , e em 24. horas 720o. barrís, delpejaria O tanque em 524: dias, Os quaes con- refpondem a 2O. bicas em 26. dias; e fufpendendo para economia 4. horas em cada noite y conrefpondem a 30- días quafi completos: Ora Lisboa nos chafarizes , que tem prefentemente das Amoreiras , do Rato, de S; Pedro de Alcantara, do Garmo , do Loretto, da Efperanca , das Janeilas Verdes, da Alegría, vé correr naO mais que 36. bicas, as quaes nos mezes inais Íeccos lhe daO agua fufficiente, ain- 294 MEeMmortTAS ainda que naó enchaó hum barril nem em 3. minutos, € que difficultofamente igualaráó no tal tempo as 2O. bicas de 2. minutos cada huma. Segue-fe por tanto, que o tanque da torre ás Amoreiras he fufficiente a prover de agua Lisboa todo hum mez. E daqui de novo fegue- fe, que he elle neceflario para feguranca , e para fiel de toda efta grande povoacaó ; pois quem póde aflegurar-nos de que naO accontega alguma repentina delgraca lonje da Cidade, por caufa da qual lhe falte algum tempo a agua, elemento de primeira neceflidade ? 'Tenho fallado do tanque por fi fó, como fe entre tanto naó viefle das nafcentes agua alguma : vindo porém efta como he coftume, fe mottra tambem com evidencia a fua utilidade. Supponhaó-fe no inverno rezervados ás Amoreiras todos os fobejos ; e que eftes nos mezes da maior falta, que coftumaó fer Agofto, Setembro, e Outu- bro , fe deftribuaó periodicamente com a agua y que corre viva: he evidente, que fem mais trabalho em vez de falta apparecerá a abundancia em todos os chafarizes em be- neficio da Cidade. O fitio aonde o tanque exifte, a for- taleza das fuas paredes, a bondade, e perfeigaó da fá- brica tirao toda a dúvida, que pofía nafcer. Aflfirmei , que efte tanque póde fer de utilidade á economia, e confervagas dos aqueduétos, que dahi fe deftribuem para todos os chafarizes 5; e affim o provo. Entre a fua fituacaó, e o alto de S. Pedro de Alcantara medéa o baixo chamado Rato; e a agua de huma elova- caO até á Outra fe communica fubterraneamente por tubos dos que chamas communicantes, fortiflfimos, fabricados de pedras trepanadas, e bem conglutinadas entre fi. Sao dous os ditos tubos, para que nos defeitos ou na falta de hum trabalhe o outro, e a obra nad he antiga: fabe- mos , que ha poucos annos fómente bebe Lisboa das Aguas Livres, ifto he, depois do anno 1738. Com tudo ainda que novos já hum dos tubos eftá entupido, fechado, e inutil pela depoficaó tartarofa, e petrificante , que produz a agua; em fórma , que he neceflario fazello novo. O ou- ECONOMICAS. 295 outro tubo pouco lhe falta para lhe accontecer o mefmo y; e fem gaítos enormes he certo , que naO fe póde reme- dear tao grave damno ; ou para dizer melhor, taó evi- dente perigo de ficar Lisboa fem agua nas fuas fontes. O que digo do tubo fubterranco ao Rato, entenda-fe dos tu- bos femelhantes, que ha em outras partes. Pretendo agora , que contra a depofigaó tartarofa O remedio dos mais opportunos he O tanque de que falla- mos. Eu me explico. Ha algumas aguas y que faO tarta- rofas , e petrificantes por caula das partes heterogeneas de mineraes fubterraneos y que trazem comíigo : eftas em to- da a parte por onde paílaO deixaóO tartaro , e quanto mais correm impetuofas , e fechadas , tanto mais prompta he, e mais dura a depoficaó. Obfervei algumas , que nas le- vadas , ou cales dos moinhos cada anno produzem dous dedos ou mais de pedra , quaes faó as dos rios Velino,. e Aniene. E nas eminencias ao rio Nar ou Nera vi huma: fonte , a qual faz augmentar hum penedo na cofta de hum. monte , em fórma , que caufa admiragaó como fe foftenha pendurada taó grande protuberancia. Se taes foflem as Aguas: Livres , naó6 haveria remedio. Ha outras aguas , que pro- duzem algum tartaro , naó porque o tragaó todo desde a lúa origem, mas pelo caminho o vaó ganhando , tam- bem comimunicado de alguma agua de chuva, que felhe- ' miftura filtrada nos terrenos fuperficiaes , e tambem das abobedas ; agua pelo ordinario córada de algum branco com particulas ou atomos petrificantes. Conhece-fe efta. natureza de miítura nos cannos y quando eftes vezinhos ás naícentes nao tem tanto tartaro 3; mas á proporgaóo que deftas fe vaó alongando, vai apparecendo maior a fua produccaó. A dureza defte tartaro tem tambem proporgaó com a forca, e velocidade da agua : em fórma que erra- damente julgao os artifices dos aqueductos , que fegundo “/a materia, de que eftes faú compofñtos, aflfim he a pro- duccaod delle. Dizem v.g. que o chumbo tartariza mais do que a pedra , e o barro, e como bons filofofantes daó a culpa ao metal, eáás fuas qualidades.. Falfo pao he, 396 MEMORIAS he , que a materia do aqueducto tenha parte no tal ef- feito. A razaó y por que no chumbo”, ou em outro metal apparece mais tartaro, he: porque os aqueductos metal- licos fa6 ordinariamente mais eftreitos do que os de pe- dra ou barro y e como mais eftreitos paífa por elles o fluido, caeteris paribus , com maior velocidade, fendo elta na razaO invería das fecgóes do canal. Mas deixando os argumentos dos artifices, e tornan- do ao intento principal: 'a produccaO do tartaro nas Aguas Livres nao he todo das fontes , mas pouco a pouco vem crefcendo nas maiores diftancias. Signal claro, que efle tartaro naó he todo originario da qualidade da agua , mas tambem accidental, buícado' pelo caminho na miftura das particulas -heterogeneas , que lhe introduz ou a chuva filtrada , ou a poeira que entra pelas dernaziadas janellas do aqueducto, que eftaó fempre abertas ; ou por femelhantes motivos. Em fumma a agua a Lisboa nao chega limpa em toda a fua perfeigaó natural; e difto fe augmenta a petrificacao. 'Quanto ao remedio , fabe-fe por experiencia, que das aguas imperfeitas, com o defcango fe purificaó algu- mas, e fe fazem optimas. Naó ha melhores aguas, que as da chuva recebidas nas cifternas, com a devida cau- tella, que defcaó de telhado limpo, mas ainda affim he neceflario deixalas defcangar o tempo conveniente, ao menos de 3. mezes , para que deponhaó o pó, € os infectos, que trazem dos telhados.' As aguas lactiginofas dos regatos fuperficiaes, e dos rios faó o mefino; tambem com o defcango fe purificao. E da perfuafao defta maxi- ma achei hum exemplo em todos os povos, que bebem agua do Mondego. Ifto pofto, parece-me certifluno, que fe o aqueducto das Aguas Livres defembocafle primeiro no tanque das Amoreiras, e chéo efte, continuafle depois a correr no reftante dos cannos dentro da Cidade y tomada a agua naó fuperficialmente no dito tanque y mas alguns palmos abaixo da fuperficie , para impedir a introducgaó dos corpos: natantes ; parece-me , digo y, que teria tempo de E CONO! M DCKAUSE 297 depofitar no tanque muitos dos atomos heterogeteos , entra- ria purificada nos cannos fechados , e neftes fe produziria incomparavelmente menos tartaro , e por confequencia te- riamos fempre em todas as eftagóés agua mais pura, agua mais perfeita. Leimbro-me: de ter lido em Frontino y 'que os Anti- gos nos feus aqueductos coftumavaO fazer interrupgoes com tanques femelhantes, para quea agua depofefle tudo O que fofle heterogeneo , e chamavaó-lhe Pifcina Limaria, porque fervia para clarificar a agua, deixado o lodo. Nefte calo 'identico porque nao poderiaó as Aguas Livres a exemplo: dos antigos ter“tambem a fua Pifcina y na qual fe purificaflem y; e'repoufaflem, depondo muito do alheio? Huma condigao fómente eu requereria para efta maunobra , e he y que fe defprefafle. na Pifcina toda a idéa de. fala /y7de” varandas: j/de: Janellasss Deveria a abobeda , “que ha de cobrir tudo, fabricar-fe nao elevada em grande altura , mas fómente quanto bafta para defen- dera agua dos ardores do fol, fem janellas , fem orna- mentos , e fechar tudo perfeitamente ás efcuras 5 cobrindo-a de mais com conveniente telhado.. A razáó he', porque hu- ma das ruindades da agua confifte nos infectos invifiveis , que nella fazem ninho; mas defte mal naó padece fenao aquella , que eftá expofta ao calor do fol, á luz, eaos ventos. A que he fubterranea , fem luz, fem fol, e fem ventos póde ter outros defeitos , mas naó tem infectos. Por illo já que efte tanque naó he nem póde fer fubterraneo na realidade , fería bem que o fofle em equivalencia y fechan- do-o e cobrindo-o com abobedas. Accrefcento , que o cuíto deftas fería moderado , principalmente fe quizeflem valer-fe dos materiaes fuperfiuos, que para inutil magni- ficencia já exittem no mefímo lugar. Em conclufao a Pif- cina ou tanque das Amoreiras naó deve defprefar-fe , nem he fuperflua; he antes neceflaria , e muito util; que he O que me propuz moftrar no principio. Tom. III. Pp 5 OE 298 MEMORIAS Ru UBRE EAN ATAN ANT EUA ASAS DANO AA TEN OS MAFIDNSUNN ES ICNA CDACAA y OBSERVACOES ECONOMICAS Sobre a Comarca de Setubal. particulares do noflo Reino , huma bafe; neceflaria, para os progreflos y'que nefta parte do faber fe inten- tarem, defejou a Academia eflabelecer huma norma para as obfervagóes, que fe houvellem de fazer, e de todos os planos, que lembráraO adoptou o que fe fegue, que lhe foi apprefentado pelo feu Socio 'Thomaz Antonio de Villa-Nova Portugal. | A Comarca de Setubal pela fua importancia , exten- gaO, e vefinhanca de Lisboa, como tambem por ter fido objecto dos, trabálhos Geograficos da Academia , foi a que efta Sociedade efcoiheo para fer primeiro averiguada, e foi commertido efte trabalho ao meimo Socio 1 homaz Antonio” de Villa-Nova', e'ao Correfpondente do Número Joaquim Pedro Gomes de Oliveira. Comegárao eftes Aca- demicos a vifita da Comarca" pela: Villa de Azeitao , e as duas Memorias , que íe leguem fao fructo defta dili- gencia; fendo porém S. Magettade fervida nomeallos pa- rá Juizes de Fóra , O primeiro de Monte-Alegre , o íe- gundo de Pinhel, ficou por hora a indagacaó mais transfe- rida para os lugares aonde foraó refidir , do que fufípenta. ;5 S Endo o conhecimento Economico das circunftancias N.? EcOoONOoOMICAB 299 SERIRTUA TED VON NAS MOAS DIN NNAUR NNNOS ETNIA ON NANATIA IO” N' LOBSERVACGOES Que feria util fazerem-le para a- Deferipecaó Econo- mica da Comarca de Setubal. Por THOoMAZ ANTONIO DE VILLA-Nova PORTUGAL. Tempo da fundagaó (de cada “Terra , e as noticias que houver a efte refpeito. Os feus primeiros Fo- raes , e Pofturas antigas. Capitulos de GCórtes, que lhe pertencéraó. As demandas , fentengas, tranfacgóes, que intereflaflem a Camara y e Povo , fobre Territorio, Privilegios , Dizimos y Jugadas;5: Xcc.'; pois todas as “Terras tem fido progreflivamente gravadas com -fentengas. Os pregos do paó', e taxas antigas dos falarios y e como elf- tas taxas principidraO para corrigir-os damnos das Cor- porágóes dos officios , que privilegios tiveraó eflas Cor- poragóes, e os agricultores. O tempo do eftabelecimento dos deus Mercados; ejFeiras j' fe poder averiguar-fe. E as mais antiguidades a efte refpeito, de que de ordinario exiltem já poucas noticias. Difto fe poderá tirar alguma idéa da hiftoria Eco- nomica daquelle “Territorio y que ferve muito para as theorias y “o conhecimento da origem do feu eftado actual economico“ e O conhecimento fe os uífos aétuaes Ífao ne- ceflarios ainda 5' ou fe já faó damnofos , fe devem confi- derar-fe como abufos ,' ou fe foraO para corrigir outros maiores , que hé o mais ordinario. O principal objecto he a averiguacaó do feu eftado actual) no que pertence aos diveríos ramos : 1. De Povoagaú. As noflas numeracoes antigas todas Pp di fao 300 MEnMmoOoRuUAS faú pelos roes dos Parochos ; a que hoje aflim fe fizefle tería “o” útil” de'fe Comparar cón as outras. Sería necefí- faria huma numeracaó geral; pois aínda a que fe fez em 1771. , 'defde cujo tempo feremettem á-Intendencia as lif- tas dos Baptizados , Obitos;, e Cafamentos, naó foi Eco- nómica je fó pódenchamar-lev imperfeitamente Militar. Sempre teria o grande” ulo decomparar-ler, e calcular-fe a differenca , que o numero dos falecidos neftes 2O. an- nos tem' feito (do numero dos habitantes actuaes. Sería por iflo neceflario feparar as Clafles, eas Di- visoes deflas mefmas Clafles : Lavradores y Trabalhadóres; Officiaes de Sapateiro , Ferreiro, Carpinteiro cc. ; Te- celóes y Fabricantes Ac. 5 Tendeiros , Commerciantes ; Gente do 'mar 5; de Juftiga; Clero ; Nobreza Xc. E ainda que ifto fe deva reduzir a methodo para fervir, ao fazer a numeragaó 'bafta fem methodo dar a cada. hum a/fua “occupacaó y tanto? homens): como mulheres. He “neceflario O) notar os numero: dos” folteiros de inaior ou menor idadesiva perfeicaO" fería fazer a divifao na “idade de 15. annos mas talvez fuppra fegundo a idade “do rol dos Paróchos.. O; numero: dos. Cafados', Viuvos") e' Viuvas); nas Terras que eustenho vifto excede o numero” dás? Viuvas/) ao (dos! Viuvos 5 “oque: póde at-- tribuir-fe á pouca nutrigaó dos homens: do campo”, e muito trabalhó” que tém3) a que /fupprem com “o vigor momen- | tañeoj que he dá o vinhoumas: poderá variariftoem | diverías Provincias. j As Liflas: mortuarias! “ver todos Os” annos“ paraza Intendencia ; “mas como''neftas' fe nacselpecificaosncauías, na07 féría inutil o] faber das pelloas: da: artevas nioleftias que mais graflaO , nao fÍómente caufando a-úmortey mas ainda tirando a faudesve 'o-vigor para o trabalho); eas caufas a que o-attribuem'; pois algumas -fao 'removiveis. )iíto fe feguiria conhecer-fe a proporgao, em que fe achaó os homens do campo para os artiftas, e pefca-- dores; e a proporcaó 'deftas Clafles para as outras pa- | rafitas" 2) Ou conhecer:fer fe o. augmento dos jornaes.,. e pre-- | cos ECONOMITCÉÁS: 3OY gos" mMoftra riqueza ou decadencia: fe o eftado da po- vyoacgao he decadente ou eftacionario; pois nao he de crer que feja progreflivo , e como nós naó temos flagellos , ifto levarao exame das caufas que infenfivelmente a dif- fipao. Por ifto nefta numeragaO era lugar proprio de ave- riguar 5 que deftino coftumao ter os expoftos y e para onde , e para que occupacóes coftumaó os mogos hir eftabelecer-le. HI. Da Gultura. Nefta parte podem fervir de plano). as Perguntas de Agricultura do Sr. Vandelli, quea Academia fez imprunir 5 limitando-fe aquellas que faó Economicas. Como , a. diviíaO ordinaria das terras em geiras); O tempo que os Lavradores occupaó no trabalho ; a differenga' dos jJornaes em differentes tempos do an- no É. | Nas: terras cultivadas, as mudancas quetenha havido de humas para outras culturas; e por que cauífas tem defam- parado alguns ramos de cultura ,. ou algumas terras , pa- ra trátarem de outras 5 e a utilidade ou damno 7, que daqui de tem. feguido: A. producgaó dos terrenos , eo calculo do rendimen- to, que confiderao fegundo as diverías cultutas y como sem vinhas,, terras de. lavoura , paítos , montados , olive- dos Xc.: e como fabem muito bem efcolher o que lhe dá maior producto liquido'j/ ainda conhecendo maior pro- ducgaó em outras culturas y quaes fejad os—inconveni- sentes, que: encontrao. Suppóe-fe que o valor dos gados faz augmentar a cultura 5 entre nós deminue-a: he por iflo digno de obfer- uivar-fe o modo , por que forteadO-as terras, e as- razóes de utilidade em, que /o -fundao. Nos Baldios y he precifo ver o direito efpecial que - tem cadas terra a refpeito delles 5 a”fua qualidade relati- vamente aos mais terrenos; a lua proporcao com as ter- "xas, cultivadas y e. mattas 5 e a utilidade ou damno geral). que 301 MEMORIAS que refultará da fua cultura, naó fómente a refpeito de todos, mas de cada hum delles. Na cultura aflin como em todos os mais ramos de Economia tem tido grande 'infiuencia as Pofturas, poisa noilla Legislagaó Economica tem eftado entregue aos Al- motacés. Além das Pofturas, os ufos das Camaras; que tem variado , fendo em humas partes objecto de emolu- mento, em outras de zelo público. Iíto influe muito pela liberdade ou oppreflao , que faz aos agricultores; pela direcgaO infenfivel, que fazem para efte ou aquelle ramo de cultura y; e pelo tempo que tiraó. Por iflo he necef- fario” obfervar as Pofturas, os Acordaós , e Provimentos que fe tem feguido , o ufo da Camara, e a prática da Alimotacaria. E naó digo fó a obfervancia y mas tambem a falta de obfervancia 5; ou pelo damno directo y ou por- que rompe o equilibrio, fe ellas tem fido bem feitas. E efte me parece fer propriamente trabalho Academico ; pois a numeracao para fer perfeita, pedia forgas maióres. O calculo da produccgao , tambem he necéflario j mas he efcufado perguntalo, porque póe aos agricultores em defconfiancga : 1ó póde fazer-fe pelos Dizimos ) pois nada pagaó com maior rectidaO, e naó fe póde efperar mais. A'quellas Corporagcóes , que os recebem , he que póde recorrer-fe; e defta fomma pendem quafi todas as/obler- vacóes Economicas , de povoacaO y, de commercio, e de induftria. III. Do Commercio. Dado o calculo do producto , faó vulgares os calculos do confummo ; mas faó taO varios, que fería bom pertender verificar qual feja o confummo do producto do territorio : ifíto moítra o que precifa das terras vefinhas, e quanto póde dar-lhe do feu fuperfluo 5 do que póde inferir-fe o feu commercio actual. A averiguagaO das Feiras , e Mercados : fua fi- tuagao, e dias; generos, que principalmente concorrers ; as vantagens, e inconvenientes a refpeito da terra y e das con- ECONOMICA s. 303 convefinhas: e fe a fua extracgaó he eftlavel, pela pre- cifáó das terras confinantes; ou precaria y dependendo de cauías accidentaes. As Pofturas influem nifto muito , e ordinariamente todas faO más nefta materia. Nifto entra o ver os emba- ragos que lhe fazem : o como cobraó as Cizas , fe lhe he necefíaria para o cabegaO a renda das correntes, ou fe fería mais util o livrar defta taxa á exportacao: O modo de arrecadar as Portagens, em que de ordinario a pena, e oppreflaO que faz o Rendeiro he para o T'ri- buto, como mil para hum. As Almotacarias, os Terra- dos , Licenzas, Bolo do Rendeiro, e temelhantes , que pela fua variedade precífaO indagar-fe. A Lei noviflima ifentou de tudo os geñneros da primeira neceflidade ; refta averiguar, fe os embaracos nas outras couías indirecta- mente impedem o beneficio defta Lei; fe coftuma illudir- Íe, e O como. As importagóes, e exportagóes , tanto em razao dos caminhos , pontes , recoveiros, carragens y, e barcos de tranfporte 3; tem por toda a parte Poituras , fraudes del- las, obrigacao de reparo, e impoñlibilidade y ou negligen- cia de o fazer. E tudo he objecto de obfervagao. IV. Da Indufiria. Merece obfervar-fe em que ella con- fita, fe em fábricas , ou em Induftria popular; e efta fe he aquella , que acompanha a cultura que principia, ou que delcahe; ou he daquella , que procede de ter a cultura florefcido. Difto fe fegue o ver fe he obrigada, ou natural, fe confequentemente opprime ou favorece os outros ramos. Como os objectos fas muitos y daquelles que ha, e daquelles , que as circunftancias do país pa- recem pedir, he que póde avcriguar-fe a utilidade Eco- nomica : fendo antigas, as variagoes, que tem tido no feu producto , faO necellarias faber-fe , para calcular mais juíto fobre o eftado, é progreflo futuro. É A dif- 304 MEMORIAS” A differenga que ha de teares y que fazem húmy” quinto de differenga em tempo : e de fiagóes em rodas, ou á maóO, que tem hum terco de differenca; faó obje- tos muito merecedores de obfervar-fe. Nifto nao entraoó ordinariamente as Pofturas y que fó comprehendem os officios mecanicos y que faó do feu tem- po: mas como eftes fazem huma das divisóes , os feus regulamentos y; O tempo do apprendizado; o valor delle; O embaraco de paflar de huns para outros; as contri- buicóes , que pagaóO para os exercitar; as taxas que tem; e as condemnacóes da Chancellaria , que hoje fó tem efte fim, e nao o de averiguar o feu eftado actual) faó coufas neceflarias de faber-fe. V. Quanto ás Contribuigsúes nao deve tratar-fe y pois pertence ao Gabinete. Mas a formalidade prática da fua recadacaO merece notar-fe , porque varía muito. Nas Cizas, a eícolha dos meios por onde inteiraó o cabecao. A fór- ma do pagamento das Jugadas , que he diverfo pelos varios contractos y, que tem havido ; e que em humas terras he mais favoravel á induftria do Lavrador ',- que em outras aonde ha huma rigorofa taxa. A cobranca do Subfidio Litterario, que em algumas terras he taO pefada, que excede o valor da contribuicao. E aflim nos mais. VI. '— Quanto ao Territorio. Como ehtá marcado no Map- pa, fegue-fe o fupprir a defcripgaO , que elle nao póde dar. Aflim entra em obfervacao: Que montanhas contém de qualquer das 5. ordens , e fe alguma tem particularidade notavel; a fua direcgao;5 Os velos mineraes, OU pedras de mais eftimagao; do que fe deveráo remetter amoftras para fe analyfarem. Nas terras: as planicies notaveis; a qualidade do terreno , e fua fertilidade y veios de argilla ,' marne, cré Ía. E CONO MM VOL jos $e. Se merecem milturas de terras y cannaes de rega, vallas para “fe defleccarem , pogos para reduzir Os brcjos a nafcentes de agua y e femelhantes bemfeirorias de mais cufto, e arte. po, Nos areaes : as fuas grandezas; fe admittem plan- tagóes de arvoredos y ou arbuftos y Ou para imfpedit O augmento das areas, Ou para terem algum rendimento 5 quaes fe augmentaó com o tempo , e o progreflo defle augmento; e que meios/as Pofturas y ou os particulares tem procurado para atalbar o mal. 11 (Nos rios :/a Tua abundancia) ou falta de Peixes 3 O abúulo das trovifcadas: $cc. O feu ufo para regas; de que engenhos fe fervem para iflo 5 e as luas vantagens ou inconvenientes. Os engenhos que tenhad para moer 5 os privilegios do Foral ou Pofturas a efte reípeito ; e as contfequencias y que tenhaó relativamente á cultura das terras, e utilidade dos moradores. Nas Povoagúes : que policia haja nos edificios; a refpeito dos gados, e eftrumadas: que coufas acautellem as Pofturas y e como fe illudem. Póde obfervar-fe alguma coufa do que pertence á indolé dos Póvos , fobre feftins, demandas , coltumes Xc. E tambem a refpeito da riqueza da terra; ifto he, qual feja O ordinario pafladio das pefloas do campo , afleio em trajes, facilidade em compras, e benifeitorias y men- dicidade 8c.' E alguma antiguidade, ou particularidade notavel, que haja. | He o que parece intereflante averiguar pelo que per- tence á Economia ; fendo para profifíaó alheia o que refpeita á Botanica, Mineralogia , Navegagao dos rios, -e femelhantes, 3 Tom. III. Ñ Qa N.” 306 MenmnornrtTAS PES A A Da AE] NIE XE RAIG EO Das Pofluras da Villa de ÁAzeitao y Comarca de Setubal. Por JOAQUIM PEDRO GOMES DE OLIVEIRA. Inda que nao póde já apprefentar-fe o Mappa da PovoagaO, e a defcripcao do territorio defta Villas, que como pertencente á Comarca de Setubal entra na Commiflaó , de quea Academia 'me incumbio e ao meu Confocio “Thomaz Antonio “de Villa-Nova Portugal: com tudo' apprefentamos hum extracto das fuas Pofturas para fervir de primeira conta da' nofía diligencia. He fabido , que nas Pofturas das Camaras he que ainda hoje confifte quafi toda a nofía LegislagaO Econo- mica : a Ordenacao do Reino ) á excepcaó de poucas Leis geraes y que nos titulos do Almotacé Mór, e Ve- readores' prefcreve', deixou efta materia para a Legislagao particular das Pofturas ; e os Jutiftas occupados em dif- putar fobre teftamentos , e contractos naó defcérao a con- fiderala como huma parte da Jurifprudencia. No reinado do Senhor Rei D.. Jofé'he que a cultura y .o commercio intrinfeco., e' a policia entráraO a ter a confideracao/, que pela fúa importancia mereciao y encontrando-fe já na nof- fa LegislagaO fabias y e providentes Leis y que livráraoO em parte efta intereflante -materia da variedade , e confufao, em que fe achava envolvida y fendo muitas as: Pofturas, e algumas vezes contradictorias com: os verdadeiros prin- " cipios da Jurifprudencia Economica. Mas fe entre ellas” | fe defcobrem reltos dos antigos ufos Feudaes, a pezar da | profcripgad y em que os deixou o Senhor D. Joaó I.: | tambem fe encontraó. alguns eftabelecimentos taóO uteis, | e de tanta arte y que as fazem merecer hum eftudo par- | d | | | | ] [| ti- E CONÓOMICA $. 307 ticular. E eis aqui porque as do termo de Azeitao forao hum dos principaes objectos das noflas indagagóes. Como A-zeitaó era limite de Sezimbra , e fó foi Villa je termo feparado em 1759 , nelle ficáraO regulando as mefmas Pofturas , que fe tinhaO feito para aquella Villa y que por ferem copeadas com pouca difcripgao , fem haver differenga das que fó faó practicaveis no termo, pa- Ta que foraO privativamente feitas, ás que faó geraes pa- ra qualquer termo, e proprias para o de Azeitaó , fazem efta LegislacaO confufa , e chéa de muitas Pofturas innu- teis, e impraticaveis. Kllas faó de diverfos tempos, com reformas, e alteragóes fucceflivas; mas todas eftaó accu- muladas em hum fó livro, o que lhe dá maior confufao. Se eftes foflem os unicos obítaculos , que fe offerecem, a quem fe propoem fazer hum extracto de Pofturas , re- duzindo-as a fyítema para fe conhecer o feu util , e os feus deffeitos fegundo o eftado actual do país, naó feria a coufa taó difficultofa. Ellas pela maior parte foraó fei- tas para outro termo , em circunftancias y e tempos di- veríos; mas o peor he que os feus Auctores ou por mal entendidos ou por interefles particulares ( O que nao raras vezes accontece ) fe contradifleraó , fazendo Poíturas , que 'Íe encontraO , e deftroem y e vao directamente atacar OS principios da Economica Politica. Parece por tanto mais acertado, que diftribuindo-as pelas materias, de que tra- tao , fe dé em differentes titulos hum extratto , e idéa dellas y moftrando ao mefmo tempo o como fatisfazem Ou nao ao feu fim. SO TBRAREAAN GON BUS TR REÍAS Endo o termo de A-zeitaó pela qualidade do feu ter- reno, e pela fituacaó propriiflimo para a producgaó de bons vinhos, com juíta razaó tem fido em todos os tempos, e faó ainda hoje as vinhas O mais intereflante, e mais extenfo ramo da cultura daquelle deftriéto. Em lugar proprio fe exporaO as diverfas razóes y que humas Qa ii ve- 308 MEeEnMmOoORrAS vezes OccafionáraO o feu adiantamento , outras a fua ruína 5 fendo fó para aqui o notar as Pofturas, com que fem- pre fe animou a fua cultura. Ellas providenceaó , e acau- tellaó os damnos, que nefta materia fe coftumaóo caufar, com muita exaccao. PrincipiaO obrigando aos que puzerem bacello, que moftrem , donde o houveraoO , 'para evitarem os damnos, que femelhantes furtos podem fazer nas vinhas; e com boa analogia caftigao os que furtarenmi moihos de vides, e os traballadores y que levarem dos #rabalhos feixes de cepas. na : Para acautellar o damno ,. que daó os gados , e feus pafñtores , fao várias.as providencias , todas proporcionadas á qualidade do gado, e ao eftado das vinhas relativa- mente ao fructo. Prohibe-fe, que o gado cabrum; como mais damninho ; entre nas vinhas em qualquer tempo: faO caftigados: os trabalhadores , que levaó jumenutos para as vinhas 5/.e/conl efcrupulofidade nimia fe prohibe-raté que fe defparremias vinhas para os gados : refultando de tanto aperto maior damno ,; pois que os paítores fe valem da noite y para a feu falvo introduzirem o gado nas vir nhas , e approveitarem , O que O vigor da Poftura impru- dentemente ihe quer negar. He fem dúvida menos pre- judicial, que fe apanh#mvas folhas, e fe dem ao gado em mangedouras y do que metello nas vinhas 5 pois que affim nao Íó comem as folhas, no que nao: póde haver maior mal, mas roem as vides, € púaO, e quebraO as cepas. A refpeito dos bois, e beítas, que com o teu pefo tambem damnificaó os vallados , augmentao as Pofturas a pena , e nao confentem que entrem nas vinhas , á excepcaú dos que no tempo da vendima fazem a conduccaó das uvas. Os paftores devem ter o gado afaftado dos vallados hum tiro. de pedra 5 e faG: caltigados fe Íe chegaO a elles em tempo de novidade. 'T'odos devem ter os caés prefos de día de Sant-lago até 12 de Outubro 5 e finalmente para fe evitar O cítrago, que as abelhas fazem nas uvas depois de maduras , ha Poftura y, que prohibe ter col- méas ECONÓMICAS. 309 méas em menos de $ de legúa de diftancia das vinhas- Se' eftas Pofturas fa0 bem penfadas, ainda faó mais notaveis as que acautellaó o furto das uvas. Caftigao el- las o que for achado em vinha com a novidade 5 extenden- do-fe a pena até aos: proprietarios; que de noite tirarem uvas das fúas vinhas. EftaO; as' vinhas diftribuidas em dif- triétos , que poflao ter bem guardados por hum homem; o qual fendo nomeado “todos os annos pelo cabeca' da guarda , que he o fenhor da vinha mais antiga do dií- tricto , recebe dés proprietarios da fúa guarda huma paga proporcionada á grandeza das vinhas dé'cada hum. Sobre ifto fazem tambem as Pofturas muitas )y-e muito acertadas diípofigóes. Prohibem , que ninguem pofla defan- nexar a fua vinha do /cabega da guarda em prejuizo dos vinheiros y e para que eftes fejaO effectivos nas fuas guar- das , caltigao os que forem encontrados fóra. 'dellas'j'e tambem aquelles que os receberem ein, fúa cafa'a comer ou Jjogar. O vinheiro de huma guarda naó póde receber nella os das outras guardas vefinhas; e (o que parece excello ) inipedem-ihe as Pofturas y' que tenhaO comífigo Ífuas mulheres, e nem. ainda confentem' que ellas poñas hir á guarda em quanto hover novidade. Efte demafiado exceflo dá a razao de outra Poflu- ra y que parece iniqua. A Poftura 124 quer que feja per- mittido o vindimar em qualquer tempo; com tanto que Íe deixe nas vinhas até o: tempo legitimo alguma parte da novidade. Penfo que para nao fe interromper guardas, he que efta Poftura faz factificar huma párte da novidade dos que vindimao primeiro : ella fuppóe outra, que manda pregoar pela Camara o tempo da vindima , pois lhe “chama, legitimo.. Ha efte uífo em. algumas partes; mas nao fe acha entre as Pofturas de Azeitao: e fería mais para extranhar que fe achafle y pois he grande vexagaó para a cultura y querer prefcrever ao dono da vinha o tempo da madureza e recolhimento do feu fructo: nifto deve fer ampla a liberdade do cultivador, nad fabendo | nin- 310 MEMORIAS ninguem melhor do que elle, aquillo que elle he o máis intereffado em. faber. Ha outra Poftura tambem fingular fobre a cultura das vinhas. He a Poftura 14, notavel até no feu modo de explicar: “ella he fobre o modo de podar as vinlas; e fuppondo que os donos fempre as fazem' podar bem j'e os rendeiros mal y diz que fe hum rendeiro fizer podar mal, puxando pela vara a proveito do vinho, e naó da vinha, pague o damno , e feja condemnado ; aflfim como os podadores. Naó. podemos defcobrir a razaó do nao ufo defta Poftura que pela fua fingularidade y 'e ufo póde fervir de modello: o certo he que nem huma unica con- demnacaó encontrámos nos livros da Almotagaria y quelhe diflefle 'refpeito , fendo bem frequentes os eftragos y que os rendeiros coftumaó caufar nas vinhas com as podas mal reguladas. Naoó lhe importa 'a confervacao da vi- nha y mas a abundante produccao de alguns annos; de forte que o mefmo 'he arrendar huma vinha, que véla perdida em pouco tempo. ] Segue-fe deftas boas Pofturas fobre a cultura das vi- nhas , que ella era favorecida y e animada com muita intel- ligencia ; mas logo outras Pofturas moftraó bem em que contradicgao fe cáhe, quando nao ha fyftema. O fim de tantas providencias era a abundancia j “e a extracgao he que dá valor ao genero, que abunda, Parece pois muito bem que as Pofturas cuidariaó em promover a éxtraccaó do vinho: pelo contrario, he o que ellas prohibem acin- temente. Além das prohibicóes geraes de naO fe extrahiv vi- nho para fóra do termo fem licenza da Camara , ha Outras, que mais particularmente impedem o feu confummo e extracgaó. A Poftura, que prohibe comprar vinho por groflo para vender por miudo, reduz o cultivador á ne- ceflidade de vender aos mercadores de fóra y ou de ven- der a ramo: os primeiros nem fempre apparecem, e nem todos podem foffrer as demoras y e difficuldades , que ha na venda a ramo. Em outras Pofturas fe manda y que OS ECONOMICAS. 31I Os da terra nad comprem vinhos para négocio , nem para os Eftrangeiros y que os nao comprem para mercadores de Lisboa y e (o que he mais) que a gente da terra lle naO enfine as adegas 5 mas elles proprios y ou íeus caixeiros he que devaó hir comprar, REsndero faber/pri- meiro ao Miniftro da “Terra, Naó póde conceber-fe huma Poftura mais contrária aos principios da Economia, e á liberdade do commercio intrinfeco y e que ataque mais directamente a cultura das vinhas y que outras tánto protegem: naó coóntente em pór-lhe embaracgos , até; quer impedir a hofpitalidade.. Com tudo tao má y como he, nao deve reputar-fe infen- fata. He curiofo indagar a fua razaó. Os vinhos de Azeitaó tem naturalmente duas fahidas, o porto de Lisboa, e o porto de Setubal. Os de Setubal cubigofos de venderem os feus vinhos fem concorrencia, impedíraO nas. fúas; Poftúras a entrada aos; vinhos. de Azeitao ; e fufcitando-fe por efta cauífa grandes difputas entre as Gamaras deftas Villas, todas ellas foraó decedi- das, como era jufto57a favor dos de Azeitao.. Achao-fe idecisóes | Contíniuas deíde yo tempo. do Senhor D. Diniz até aos Filippes; em que fe annulaS eftas Poflturas y e caffa a prohib'gaó , que; ellas eftabeleciaO :maás todas foraó fempre illudidas y até que conhecendo os de Setubal, que os teus vinhos já nao podiaO fupprir ao confummo , e -extracgao , crelcendo “com o commercio o concurío de -embarcagó0es nacionaes , e eftrangeiras para o porto daquel- la Villa, cedéraO ás decisbes y e admittirao os vinhos de “Azeitao. Nefte tempo a Camara de Palmella, que quiz appro- -veitar efíta precisáO de Setuball, para a monopolizar para di, como a eftrada, qué conduz de Azeitao para Setubalo, paífla pelo feu diftricto, fez Poftura prohibindo , que -por ella (fe défle paflagem/a vinho; que fofle levado para -Setubal', debaixo: de pena de prifao: dos “conductores, rperdimento do vinho 5 erconfilcagaó das cavalgáduras ). -bois, es catros yem ques folle conduzido. petatgI AA a | 1a- 313 IMEMORTES haver fenteñgas y que annulao efta Poltura ; porém á pezag de todas ellas 5 e'a pezar' do Decreto de 12 de Dezembro de' 1774 y que faz “livre o giro' dos geñeros pelo interior do Reino, naód entendem”razaO , é coñtinuao intimidando os de Azeitad y para fe approveitarem da exclufiva dos/vis nhos. E eis aqui os vinhos de AzeitaO fem outra fahida mais que “para Lisboa. Os negociantes de Lisboa por outra parte para mes lhor fe utilifarem 'j)' como era razao ,' defta'intriga 5 tinhao Comnmiflarios em AzeitaO para fazefemos vinhos y os quaes, porque conheciao que” lavradores dos feus vifinhos eítavao em maior precifáo , com elles abriaó preco mais commodo , e os outros tinhaO de feguillo. Efta he'a razaO da Poftura, que prohibe os Commiflarios y e que prohibe” que aos mefinos negociantes ' fe vao enfinar as adegas. -“Com' tudo efta razao ainda nao falva a bondade da Poftura ; pois que femelhantes embaragos fempre diminuem o bom preco, e a concorrencia. Se faó prejudiciaes' os Comnmilflarios pela razaO expofta ,' procurem-fe meios indi- rectos de evitar O mal; e deixe-fe em plena liberdade dé compra e venda dos vinhos; que naO póde fer embara- cada fem prejuizo grave dos lavradores ; que todo recahe tobre a cultura. A pezar defta' Poftura os Commiflarios continuaó fazendo o mal, que nella fe quer providencear, e ao mefimo tempo nao confta pelos livros da Almoraca- ria; que hum fó fofle condemnado : o que ella faz he mof- trar até que ponto cliega a antiga rivalidade feudal, em que as terras fe confideravaó como quafi inimigas, pre- judicando-fe' mutuamente humas ás outras; 'e o damno de eftar o 'podér de fazer Leis nas maós de particulares) cujas viftas naturalmente naó podem extender-fe além de fuas - cafasoons | Depois deftas' Pofturas fobre as vinhas , faó confide- raveis as que 'vigiao fobre a cultura em geral. “Todas el- las faó muito bem penfadas: prohibem os atravefladouros ; que os gados andem fem paítor; que os paítores occul- , tem E;CON O MUICA S, 313 tem o nome do fenhor do gado ao rendeiro 5 que o rendeiro y e jurado entrem em fazendas tendo novidade, fenao a deitar gado fóra y que o gado cntre nas fa- zendas. Principalmente 'eftas y fe fe obfervallem , fai das melhores' para promover a cultura, pois fegurad os fruétos ao cultivador. Em quanto a Serra d“Arrabida efíteve chéa de brenhas, e foi coutada, os porcos montezes , lobos, e) outra caga grofla deftruiaO as fementeiras ,. e novida- des : 'queixáraO-fe os lavradores ao Senhor Rei D. Jofé, quando por occafíao do acampamento dos Ollos d'Agua foi efte Monarcha a AzeitaO ; e defcoitando-fe entaó a Seira menos a pequena parte, que fica para a frente do mar , os cacadores, e dépois os fogos , que devorárao as brenhas, extinguíraod os lobos naquelle diftriéto, e quafi tem extinto Os porcos montezes. Livres por efte modo os povos dos animaes bravos, os poderofos com gran- des manadas delles maníos fupprem mui bem a fua fal- ta: com tudo como as luzes vem do “I'hrono y quando chegarem das primeiras ordens, em que fe achaO, atéas mais , certamente haó de ter mais humanidade eftes pro- prietarios. Por ora fao inevitaveis Os damnos, pois que Os refpeitos particulares, e os ajuftes dos rendeiros com os fenhores de gado naód deixao obfervar as Pofturas, e mefmo aquella excellente, que manda y que fe o rendeiro Íe concertar com o dono do gado, pague o damno. De ordinario fó as menos importantes, e de que refulta ve- xag20O. dos pobres he que os rendeiros oblervaó exacta- mente. Saó tambem muito notaveis as Pofturas fobre os tra- balhadores: huma impóe pena áquelle que prometter hir ao Íervigco do campo, e faltar: outra condemna os Capa- tazes dos trabalhadores das vinhas, fe faltarem alguns ho- mens da fua quadrilha : o que moftra fer muito antigo o ufo, que ainda actualmente exifte, de virem todos os annos eftabelecer-fe alli muitos homens da Provincia da Beira , que acabados os trabalhos das vinhas voltao os an III. Rr mai 314 MEMORIAS mais delles para a fua patria. Habitao eftes homens ent ranchos , a que chamaO Maltas , e de que hum he o Capataz : com elles fe fuppre a falta de homens de tra- balho da terra y que tendo fido fempre poucos, fas me- nos hoje, que largaó o fervigo do campo , para fe oc- cuparem na manufactura de algodao y, que alli fe acha ef- tabelecida. Nao fe defcobre a razao por que eftas Pofturas eftaó em defuífo, fendo bem confideravel o damno ) que ás vezes foffrem os lavradores com fimillhantes faltas. O melmo acecontece a Outra, que manda, que o traballas dor: de enxada, e podaOd traballe de fol a fol, e ganhe 12O. réis por dia: a primeira parte defta Poftura he-muito: acertada ; mas a fegunda naó poderia. praticar-fe prefen- temente fem grande violencia. SO: BRE VOS NONE MAPA ESE D Epois das vinhas fas os olivaes o mais intereflante cbjecto da cultura em AzeitaO. Ha nefte termo for- mofos olivaes , compoftos em grande parte de zambugei- ras, que attendendo aos lugares, e aliubamento , em que algumas vezes fe achaó pofñtas , motftraO- que 'em outro tempo tiveraó os olivaes de Azeitaó melhor cultura... Hoje naód conhecem elles Outra mais y que a de huma va- ra, que juntamente com a azeitona derriba os ramos no- vos , e que devem produzir no anno feguinte , fazendo por efte eftranhbo modo ) que a colheita: ande alternada dos annos 5 a foice , e 'o podaO,, que a grandes interval- los de tempo , e talvez ó quando fe fente neceflidadé de lenha, corta os ramos velhos , e feccos “e o /arado, para aproveitar a lavoura depois de alguns annos de defcango. 'Tudo ifto tem fuas caufas y que 'naÓO he para aqui expli- car. “Trata-fée de Pofturas, e pelo que pertence aos olivaes nao inculcaO ellas maior vigilancia :. fe exceptuarmos as que prohibem a entrada dos gados nos olivaes; e que le deixem andar porcos debaixo das oliveiras depois de día de S. Franciíco, todas as mais ou faó infiguifican- Res, E có NO MA TUCTA 5 Bis tes, 'Ou prejudiciaes 3 impedindo humas que os pobres aproveitem a azeitona do rabifco y quando o feu fim he evitar o furto defte genero 5 'e embaracando outras o confummo , e exportacaó do azeite y como accontece com os: vinhos. He coufa notavel, que fendo conftante entre os cultivadores de Azeitao, que os olivaes faó huma das melhores fazendas daquelle termo , a cultura das oliveiras efteja quafi totalmente defamparada. Nefta parte fao mui confideraveis os damnos , que cauíaó os bois de quadrilha : mas aqui fuccede o meímo , que a reípeito das vinhas; fó os poderofos he que tem quadrilhas', e com eftes naó contendem os rendeiros. SOB e RENNOSSTAD TN INANUIAS XEJTS- Grande” confummo , que tem as lenhas de Azeitaó em razao da fábrica de Algodóes alli eftabelecida, e' da facil “conducgaó para Lisboa pelo rio de Coina, faz que os pinhaes fejaO reputados pelas fazendas de mais utilidade do termo. Aflim as pofturas, que lhe fao relativas, todas incul- cas grande vigilancia em os confervar , 'e propagar; mas ellas ainda” nao /faO bafítantes para acautellar os fógos, que em poucos minutos defttoem , O que a natureza tardou muitos annos eim produzir; nem precavéraó lium genero de roubo nos pinhaes manfos y que por illo mef- mo nos parece fer novo: Os pefcadores da Cofta, 'Trafaria, e Seixal, arrancaó as raizes horizontaes deftes pinheiros , para dar tinta ás redes ; e defte modo arruinaó hum pinhal, fenaO de dá no furto a tempo. Para o mefmo fim coftumao os pef- cadores defcafcar os falgueiros, mas efte furto eftá acau- tellado pela Poftura 32. 'Tornando ás Pofturas fobre pi- nhaes. Para os confervar, e livrar de incendios , prohibem ellas”, que fe lance fogo ao matto fem licenga oa Cama- ra 5 que fe faca carvaó para levar para fóra y comprehen- Rr dú den- 316 MEMORIAS dendo efta Poftura os mefimos donos dos imattos; e que entre gado em pinhal tapado , fumeado de novo. Para os propagar caltigaó o que apanha pinhas do chaO antes do dia de todos os Santos y pois que principiando entaO' as pinhas a fexarem-fe, já n2O femeao por fi mefmas o pis nhaO : fas comprehendidos tambem aqui os donos, á excepcaO de terem cortado alguns páos y de que fe lhe permitte colherem as pinhas : crefce a condemnacao, quando ellas fa6 apanhadas na: melma arvore com canna ou páo , como a Poftura fe explica. Entre as Pofturas fobre pinhaes ha huma bem nota- vel; e he a Poftura 152. , que concede aos donos: a lis berdade de vender as lenhas a quem quizerem, fem as reftricgoés y, que outra antiga lhe punha: E; he digno de re- paro , que os mefimos, que conhecéraó fer a liberdade em vender as lenhas util; aembaragallem a refpeito dos vinos. Se éeftas Pofturas promovem a cultura dos pinhaes ; os proprietarios nao fe defcuidaO de os augmentar , fa- zendo grandes fementeiras a arado: eifto he o que fuc- cede quando hum genero tem prompta extracgao, e o bom pregoa. Mas póde dizer-fe: feguramente y que a pezar do difvelo dos cultivadores, e a pezar de todas-as providen- cias das Pofluras, os pinhaes fe adiantaráó: pouco , em. quanto fe naód defcobrir hum. meio eficaz, para, que os. cagadores, e principalmente os paítores lhe nad ponhaó; fogo. O, Secretario defta. Academia propoz. humasidéa fos bre efen ponto, que dería util pór em. prática. SOBRE O Co:MMER GUA EN/TR ÉNS E QO Uafi por toda a parte-as Pofluras y que dirigem o: commercio intrinfeco y Íaó outros tantos embaragos que fe oppóe ao: feu giro. He. incrivel. O grande: vefultado , que iñto dá fobre a circulagaó interior do reis no y que pararia inteiramente, fe houvefle exacgaOo na Oobfer- vancia das Pcofturas, que lhe refpeitaó : mas como ellas. eitao em vigor, fempre fazem feu, damno: Obfer-- É CO N/'OSM/ITCO Á 5. 317 Obferve-fe o que €eftas Pofturas' impedem: além das que já fe lembráraó contra a livre exportagaó dos vinhos prohibem outras, que fe tirei para fóra do termo rezes, paó y, vinho, azeite y legumes y quaefquer mantimentos em geral 5 caga, galinhas, lenha, carvaó, junco y /palha, e fevada y! e até as mefimas pedras y fenv/que' eftas paguem ao Concelho 6o. téis por carreta; Algumas deftas Poftu- ras eftaó em exalta obíervancia, e fe'achaó nos livros da Almotacaria baftantes condemnagóes contra 'Os que levao fructos para fóra do termo fem licenza da Camara , “e muito particularmente contra os Almocreves y que/extra- hem azeite para as Terras' circumvefinhas.! Naó podeny imaginar-fe Pofturas taO: encontradas com os interefles da cultura. A/ commodidade de haver abundancia , e bom prego em razaó deftas prohibigóes y que; antigamente fe fup- punha- 5 e a rivalidade feudal das terras humas para as outras, he a caufa deftas Pofturas y'quafi geraes por todo: O reino... Hoje conhecemos bem , que e confummo;, e exportacaó he que faz a abundancia, e que defta he que. vem o bom prego; pois a- careftia. neceflartamente fegue. a: falta do genñero y qué o cultivador delpreza , quando nao. ha de/ter mais que o precifo, para comer. He incrivel quanto embaraca ao cultivador o eftar femprea, fer notificado pelo rendeiro: faó pequenas oppreísoes Ó que fedo ou tarde difgoftaó o homem do campo , que por iflo fuppoe huma felicidade'a primeira occafiao y que tem de deixar a cultura das tervas, e: viver de outro def- uno. y He notavel nifto a Poftura 56. , que prohibe aos moleiros ). que poffao crear mais de hum porco , tres- galinhas y hum galo; e hum eaó: que he o ponto mais exacto ,y/a que póde clhegar-fe em taxar O modo de vida defles artifices.. Naó he menos célebre a feguinte , tam- bem relativa aos imoleiros. Antigamente havia huma gran- de exportagaó de horialigas para Lisboa; e os moleiros com a agua dos moinhos regavaú hortas, de que tiravads ; grau 318 MEMORIA ss grande interefle ia Poftura 55. Os prohibio de poderem regar mais de tres milhares de coves ; e nao fe julgando ainda bem acautellado efte fuppofto mal , pela Poftura 108. fe lhe taxou y que fó podeflem regar hum terreno de 12.varas/de comprimento. ye 4. de largo. Sao feftas as Pofturas , que tem tido maior effeito ; porque hoje eftá extincto de todo 'efte ramo de exportacao. SVE ABONO AE MTRIVON Aa Aó muito boas as Pofturas fobre os officios : ellas LI tratao de fe naO vender, fenaO por medidas aferidas, e fem licenca da Camara; mas quando táxao o jornal dos oflficiaes mecanicos y nao podem deixar de fe notar de iniquas y naó fendo jufto taxar a Obra, e trabalho de cada hum. A Poftura y) “que obriga aos officiaes mecanicos a tirar licenga da Gamara todos os annos ;j' fol feita com muita intelligencia 5 mas hoje fó ferve de violentar , e opprimir efta claffe : penfou-fe em averiguar o eftado aétual dos officios, relativamente ao número de homens, que occupavfgó , e para ifto era a Poftura excellente; mas perdeo-fe de vifta o jufto fim, para que foi feita, e nao reftou mais que a oppreílaO dos artifices, a quem os ren- deiros incommodaó com as continuas condemnagóes. Efta e outras femelhantes Pofturas he que fe obfervao , porque recahem fobre os pobres. " He bem penfada a Poftura , que obriga o que tem licenca para padejar,, a ufar do officio, ou defobrigar-fe na Camara. Sobre efte mefmo objecto ha outras Pofturas confideraveis : 'caítigao-fe os moleiros, que trocarem a fa- rinha , Ou 'lhe 'tirarem o farello y; e fe'lhe manda y que afiancem os carregadores na Camara , os quaes tambem fao condemnados, fe de inverno fe encontraó com as car- gas defcobertas. As outras Pofturas defte genero faó pouco notaveis, e nao eftao em uío. ECcCONOMICAS. 319 PO eLATIO AÑAL SS efte artigo ha muito boas providencias : acautel- la-fe a limpeza das ruas mandando que fe varraó to- dos 'os outo dias; impedem que/os caminhos fe eftrvaguem ou com regos de agua, ou com prezas para lavar roupas; zelaóO o alleio das fontes públicas , e dos affougues ; man- daO que fe naO ufe de páos dermais de -finco palmos de 'comprimento”, e' de grande grofílura 5 'e que fe facaó as 'teftadas -das ferventias públicas: SaO notaveis as Polturas, que pertencem á educacaó: prohibem' que fe compre coufa alguma a efcravo y creado, ou pefloa de fufpeita ; que nas tavernas haja jogo de car- tas”5 e'que fe dé jogo a filhosfamilias-, creados y. e ef- eravos.' Eftas Pofturas merecém huma obfervancia rigo- rofa 5 'pois"o que eftraga mais as familias dos homens do campo le o ufo'de confuminirem os jornaes da Se- mana/ao Domingo nas tavernas j) eno jogo ; porém ellas nao condizem com as que; fazem embarago á exportagaó dos” vinhos. As vendas: de vinho 'augmentaó-fe á propor- ga0y que fe lhe embaraga a exportagaó; e a fua mulei- daó neceflariamente: ha de udquirir frequencia , e/jogo que a entretenha. Aflfim as -prohibigóes de exportar fa- zem mal á cultura, e: arruinaO os coftumes. Sobre os gados, as Pofturas 65.) 103. 128. trataO- de ficar o terzo dos que entrarem no termo a pafítar, para prover o córte fendo precifo. Eftas Pofturas fobre O terco dos generos para provimento das terras ) tem a fua bondade em ferem o minorativo y que fe adoptou, quando fe diminuíraO as prohibicóes de exportar; pois he melhor que fes limite á 3.?/parte, deixando as; duas livres mas aonde'fe prohibe a exportagadao todo Íao tóra de fyltema | porque nad fad precifas. Aflim' como Íaó defneceflarias as taxas aonde nao ha: eorporacoes de oflicios, pois ellas fora o meio de fe obviar o monopolio y que das corporacóúes refultava. PaR.Q- ola MO MEMORIAS PRO rEIS f8-/O. S Obre o procefío das Coimas tem Pofturas excellentes 5 mas que naó intercflaO referir nefte lugar: (deve com tudo notar-fey' que huma quantidade dellas impóe pena de prizaó , em que as Gamaras fahem dos limites da fua auétoridade y que nao lhe premitte mandar prender ños feus 'Acordaós y ou” Pofturas. Como porém nao interefía efta y e outras mais que faO 17O. por todas, concluiremos fallando de huma fobre o apanho da grá, intereflante pelo feu objecto. Sabe-fe , que a grá he hum infecto , que fe nutre nos ramos de carraíco, e que tem uÍfo para os tintureiros de efcarlate; he antiquiflfima a colheita da grá na Serra d'Arrabida'y e Andre de Refende quer que os Sarrienos, póvos que habitáraO efta Serra y tiveflem o nome de Bar- baros do termo Barbariti; ou Barbaricars, que quer dizer pefloas , que tinhaó o officio de tintureiros. Mas pondo de parte a etymologia do nome , o certo he que já entre aquelles póvos havia grande copia de grá, que fe creava na Serra PArrabida, e que os Eltrangeiros concorriao a comprar-lha : ella ainda hoje faz no Algarve , e /em algumas Comarcas do Além-Téjo huím confideravel ramo de commercio. Atrefpeitordasgra sacautella 2a Poltuna Os.9354 quente naó 'apanhe antes de 15 de Maio. Efte he o tempo da fuarmaturidade, e de-eftar a capfula do infecto chéa dos teus ovos em graó miudiflfimo , de hum encarnado vivo, que dá a eftimacao a efte genero. No termo de Azeitao foi 'grande a extracgaó, que delle fe fazia: o feu prego, que tinha fido de 160o. réis o alqueire; chegou a 3200., e 3600. : huma concorrencia entre dous negociantes y que para preferirem hum ao outro, a chegáraO a efte prego, fez parar ha annos a extracgaO della. He de efperar que fe renove elte genero de commercio, para O que, e pa- ra dar huma hiftoria completa delle efperamos noticias mais O ECONO MI dA 8. 321 mais exactas. He digno das obfervacóes de hum Natura- lifta examinar efte infecto nas fuas metamorphofes, e Obfervar quaes faO os carrafcos de que elle gofta com preferencia , pois fe naó encontra em todos: conhecido ifto ferá facil propagar efte arbufto, elevar o commercio da gra a hum ponto confideravel. A amoftra, que irouce- mos para o Mufíeo da Academia, faz ver 'que a fua cap- fula he grande, nutrida, e os ovos de huma cór viva: falta ainda comparalla com a que fe recolhe no Algarve, e Além-Téjo, para poder dizer qual feja melhor. Eftas 126 as Pofturas do termo de Azeitaó, que no feu todo merecem louvor pelas muitas, e boas providen- cias , que contém: com tudo nao póde deixar de felhe conhecerein defeitos, mas que na imaior parte faó com- muns com as mais do reino. A fua multidad he hum grande defeito: fendo poucas, trataó os rendeiros de fa- zer obfervar eflfas 5 fendo muitas, fazem a fua conta nas mais infignificantes, e ficaO as ellenciaes fobre os gados, e feus damnos fem obfervancia , e os poderofos y que f2aó os que os podem ter, fem caftigo. A fua confufao tam- bem he defeito , porque fe ignorad : pela maior parte naó ha em cada termo dez pefloas , que faibaó todas as Pof- turas; e os homens do campo naó tem noticia dellas, fe- naó quando lhe pedeimn a condemnnacao. Aílim o ferem muitas, e confufas , além de fer hum mal, he huma injuftigca ; porque era neceflario faber que havia lei, para fe poder punir a fua contravengao. A falta de fyltema, as opprefísóes, e impedimentos , que caufaó ao commeircio intrinfeco y e cultura, tudo ifto faó defeitos geraes y) que nao pertencem fó ás Pofturas defte termo. Naó devem por tanto criminar-fe-lhe eftas faltas 5 mas fó louvar-fe aquillo, que tem de bom, e em que providenceáraó com intelligencia. SefJa0 de Ó de FJulbo de 1791. dom. III. Ss NE? 322 MEMORTAS NI LO B SERVA CI OE”S Sobre o Mappa da Povoagaú do termo da Villa de Azerta0. Por THOMAZ ANTONIO DE VILLA-NovaA PORTUGAL.. E. Elo Mappa Topografico , que a Academia tem pro-- curado fazer da Comarca de Setubal , fe vé tero “Termo de Azeitao 36000. geiras. de terreno; (enten- dendo efta palavra na fignificagaó propria de hum térreno de 4O. varas em quadro ) 5 e fer o terreno actualmente cultivado huma quinta parte pouco mais ou menos, que comprehende 7200. geiras. Por ifto, ou fegundo o calculo de Arbuthnot, que fuppóe baftantes 22 acres para cada habitante : ou fegun- do o de Haler, que fuppoe ferem neceflarios 6.-arpents de Pariz para fuftentar hum paizano : fe fegue que a actual povoacaó defte territorio, que confifte em 2342. peflloas , nos 552. fógos, nao eftá em proporcao com o terreno em cultura. ; Com tudo efte calculo naó póde em tudo fer appli- cavel ao noflo Paiz; aonde hum clima muito mais fecco, e hum eftado de cultura menos perfeito , nao: podem fa-. zer huma quantidade de produccóes equivalente. Porém. nao deve por hora avancar-fe huma applicacaO defte calculo, do terreno neceflario no noflo Paiz para cada: pefloa ; por depender de muitas combinacóes y e de hum vagarofo exame. IL ECONÓMICA $, 323 II. O calculo do producto deftas terras y fegundo o arbitramento que achámos mais provavel, he o feguinte. Nas vinhas: huma geira de arado leva hum milheiro de bacellos ; em anno commum de novidade 'produz huma pipa-de vinho ,'cujo prego he de 12000: computaó-fe as deflpezas dos amanhos em 6Q000.; das contribuicóes 1045. : além das quebras, e miudas defpe- zas, vem a ficar hum producto liquido de 4900o. por cada geira de vinha. ' Nas terras de milho : o alqueire produz nas boas 2O. ; nas outras 8.: as defpezas para efta colheita faó de 50074. até o feleiro : por iffo fendo o feu prego de 300. 'réis, ficab Iooo. de producto liquido em “cada 2O. alqueires de milho. Nas terras de trigo: o alqueire produz 5.5 as def- pezas faO, 1200. j fendo a fua venda a 480.) he o pro- ducto liquido 1200. No noflo Reino fe reputavaO as antigas geiras levar 5. ralqueires de “trigo” 'em femeadura : hoje he muito me- nos, mas /'a variedade he tanta fegundo as terras, que nao póde ainda fixar-fe huma combinagao deftas com as vinhas. Sempre porém fe conhece, que o producto das terras em vinhas he muito maior: e fe póde tambem tirar: huma illagaó para o calculo da quantidade das'ter- ras cultivadas com o número dos habitantes no noflo Paiz. E quanto a efte territorio, notar-fe 5 que a fua maior cultura he em vinhas: que a fua melhor cultura eftá na razaóO das povoagóes, Porque aflim como os lugares mais proximos á Villa, ou Aldea Nogueira he que eltao em eflado mais florefcente, e tem maior número de fógos e pefloas; e as mefmas povoagóúes , e quintas que moftrao que antigamente tiveraó grande fumptuofidade y hoje eftao em grande ruina , e decadencia, á proporgaO que eftaOo mais para os extremos do territorio : aífim tambem a ; Ss di cui- 324 MEMORIAS cultura eftá em melhor eftado y quando as terras eftao mais proximas á Aldea Nogueira, em que he maiora povoagao. JOE Que o número dos habitantes para o dos fógos, eftá na razaO de 45. para 1. : O que relativamente ao noflo Paiz nao mottra huma povoacaó indigente, O nú- mero das pefloas que de fóra tem alli hido a eftabelecer- fe, que he de 551. y, e por iflo he huma grande parte da povoagaó, motftra ilto mefimo : porque naó equivale ao de 76. dos que tem fahido. Segue-fe pois que “ha meios de fubfiftencia : 'mas tambem fe fegue que eftes meios nao. procedem de cauías permanentes y mas de circunftancias accidentaes. Eftas achaO-fe nos. números dos cultivadores, e árti- feces : o dos cultivadores eftabelecidos na “Terra he de 274. , com ós de-fóra que ordinariamente refidem he de 304./: / porém; o;/ dos antifeces heide 32821 ,7'e- deftes pertencem ás artes Ou Officios 115. , e a manufacturas VEA Mr.. Melon dá o calculo, que:em 2o. pares de habi- tantes faO 16. deftinados á cultura; 2. ás artes; T..-para Jufticas,y Milicia y e Clero, 1. para Nobreza y Negoci- antes, e Contratadores. Aflima nefta-Povoagao de 2342. habitadores; eftaó em proporgaO os números dos Ecclefiafticos y Comimmerciantes, e outros: mas O dos cultivadores , e artifeces eftá taó defproporcionado y e taú diftante de 8. para 1: y que antes eftao menos que o par. IV. O número dos trabalhadores que vao. de fóra he de 118. homens : faó habitadores da Comarca de Aveiro, que todos os annos coftumao vir a efte Termo fazer os trabalhos das terras. Dií- E Cc O NO MUIZC Á S. 325 Difto fe fegue que a fua manufactura le em detri- mento' da fua cultura , pela falta de operarios : que efta tranimigragaó moftra pequena cultura nefte territorio, porque aquelle que na maior parte fe faz por falarios, he mais cuftofa , e menos perfeita ; e moftra outro igual damno nas terras, que elles deixárad y que naó podem fer bem cultivadas por mulheres, meninos , e invalidos que lá ficao. Parecería que eftes tranfmigradores em razao dos falarios que vem ganhar, em quanto lá fe cultivao as Íuas terras. y viviriaO env abundancia : mas eu tive occafiaO de oblervar o contrario y e que he gente mife- ravel. Do que penío que naó he o interefle o que, fez eftas tranfmigragóoes y he o coftume ; e por iflo fempre em certos deftrittos fe encontra a gente de certas terras : que fe fofle o interefle, efte convidaria de todas igual- mente. Porém ainda que a' cultura tem detrimento y a manu- factura he no 'eftado actual de abfoluta neceflidade. Toda a terra cultivada fuftenta muito bem o número de haábi- tantes que. lhe he proporcionado : nefta naó os ha, por- que o producto das grandes propriedades', e quintas fahe para fóra para os feus: proprieiarios : aflim falta necet- tariamente aquella” parte da Povoagaó que havia fer culti- vadora : por iflo naóO faz aqui-a manufactura a fubfiften- cia do excedente da povoagaó ; faz o equivalente para fupprir a falta, que foffre huma povoagaó que naó gofa en grande parte das terras que cultiva”: e por iflo he hum equivalente neceflario 5 pois nelte eftado de cultura a terra 'naóO tem outro regreilo y que naó feja o deflas manufaéturas de chitas, e tinturaria 3 ainda que os feus falarios nao. fejaO, huma renda productiva. V. O confummo dos acougues no anno he de 162. re- zes, 325. carneiros Ó7. porcos. Efítas quantidades apenas fe póde computar ferem o confummo de 18o. fógos: con- 326 MeMmoñRrIAS confequentemente O mais da PovoagaO nao fe nutre dias riamente deftas viandas : e póde entender-fe que ifto influe para a differenga dos números dos Veuvos, Veuvas:, Septuagenarios) Xo. VI O terreno defte diftriáto he em parte de Serra, ou- tra parte cultivada, e outra grande parte de Gharneca. A Serra principal! he a de Árrabida y cujo afpecto prefenta o de huma vegetacaó fortiflima y principalmente na frente para O mar. 'Hoje que cítaó extinctas as antigas brenhas, tem matto mui forte , compofto de Aroeiras, Zambujos , Medronheiros , Carraícos, Xc. Da parte da terra conferva ainda mattas de Sobreiros, algumas Alfar- robeiras , e grandes Zambujeiros que ainda naó experi- mentáraO a ma2ó curiofa do” cultivador. Parece fer efta Serra huma das Montanhas da a2.? ordem : moftra quantidade de pedra chamada 2 Brexa A, da qual faó as antigas pedreiras donde fe extrahio para Mafra. Contém: veios metallicos com ferro. Os bancos de pedra faG6 quafi perpendiculares 5 no alto tem muitas cryftallifacoes de Ípato calcareo; e o terreno he na maior parte de barros de varias córes. As “outras Serras! chamadas”de S. sLuiz-y1veude /Si Francifco faó ramos defta maior; tem pequenos bancos quafi horizontaes algumas petrificagúes marinhas 5 evo terreno he em muita parte de 'faibro/) e 'de'marne. “'Tem por iflo menos forca de vegetagaO: os mattos faO de car- rafco,, lentifcos; em outras partes de'marcellas', eftevas:, faragacos , e femelhantes plantas de menos vigor. As abas deftas Serras por legua e meia de extenfao, e hum quarto de largura fazem o terreno actualmente cultivado : por efte he que eítaO fituadas as Aldeas de AzeitaO ; e muitas quintas, e fazendas excellentes y 'chéas de pomares, vinhas, e arvoredóos, que fazem hum fitio muito agradavel. A ef- EÉ C/O/NIO' M DICIAIS. 327 o , Avreftas fe fegue/a Charneca: por todoro réftó do ter- ritorio , coberta de pinhaes y ou incultá jo feu terreno he taO arenofo y que naO admitte outra coufa :' por ella corre huma pequena ribeira desde a Serra y bem cultivada nas fuas margens chéas de arvoredos : mas o terreno del- las he melhor ou mais frouxo fegundo fe approxima á Serra, ou á Charneca. Nefte territorio fó ha dous terrenos notaveis, que fendo bons eftao incultos. Hum he a Matta fituado na ribeira , que eftá inculta por deícuido dos rendeiros do feu proprietario. Outro he a porgao da Serra de Arrabida que ainda fe acha coutada , que he desde o feu vertente para O mar : a outra parte foi libertada pelo Senhor Rei D. Jofé em beneficio dos moradores de Azeitao, cujas fe- menteiras eraO devalladas pela caga : e fe vendeo a par- ticulares em grandes porgóes, que conforme as fuas pof- fibilidades tem cultivado pequenos pedazos. A que refta fería cultivada com grande vantajenm , pela fua expofigaó ao meio dia, terreno argillofo , e forca incrivel de vege- tagao. Confiftem pois os meios de fubfiftencia defta Po- voacao: I. Na cultura defte territorio y cujos productos he principalmente o vinho , e depois laranja , azeite, e gráos : e no que rendem as madeiras, unico producto dos pinhaes.. ' II. Na manufactura de chitas, e tinturaria , que oc- cupa no termo quafi 400. pelloas. Podem augmentar-fe-lhe os meios : T. Pela cultura dos terrenos que a admittem, e fe achaó incultos. II. Pelo augmento de pefcaria no Portinho de Arra- bida, e no Riíco ( efta actualmente he feita por mora- dores do Termo de Cezimbra ); o que depende de hu-- ma povoagaó no Portinho, e ella da cultura. da Serra. III. Pelo eftabelecimento de montados nos fitios pro- prios da Serra, para creacao de alguns gados. EV, 328 MeMmOoRrraAs IV. Pelo melhor ufo dos terrenos da Charneca , e aproveitamento dos pinhaes. V. Pela liberdade do feu commercio intrinfeco com as terras convefinhas. As mais obfervagóes “fobre os outros objectos da nofla CommiflaO, naó as podemos ainda apprefentar. SefJao de 27 de FJulbo de 1791. RE- ECÓNOMICA S. 329 MEMORIA Sobre a cultura do Ricino em Portugal , e manufaclura do feu oleo. Por VIcENTE CoELHO DE SEABRA SILVA TELLES. Nihil fruftra , múilque fupervacaneum agit ( Natura ). Linneo, Syl- tem, Natur. La $ I Í Ogo que a Academia , conhecendo o eftrago, que a ferrugem das oliveiras hía fazendo, propoz pre- mios a quem achaíle meios de remediar tao grande mal; procurei, como bom patriota, que dezejo fer , fazer da minha parte todas as tentativas, que podefle para O dito fim : mas defgracadamente foraó inuteis por efpago de quatro annos. Naó defanimei com tudo y: meditando que a Providencia , e Bondade do Omnipotente naó nos haveriaO permittido taó grande mal , fenao houveflem meios de o atalhar. Com effeito reflectindo maduramente Ífobre a caufa da inutilidade das minhas tentativas , e das de outros até entaO feitas , e fobre a poffibilidade do remedio , teimando na empreza achei dous meios facillimos de remediar a ferrugem das oliveiras y que fendo experimentados por tres annos fucceflivos me tem aflegurado cada vez mais a fua efficacia. Brevemente heide ter a honra de remetter os meus trabalhos á Academia. Onda Entre tanto, que eu procurava o remedio para tao Tom. III. TE gra- 13 MeENnMO RIAS grave mal, lembrei-me de outro trabalho bem digno de ter emprehendido ; era elle ,, achar o meio de fupprir a falta do azeite de oliveira por outro y que quando nao fervifle para o ufo cibario , o fupprifle ao menos nos outros uíos economicos. ,, Entre as plantas, de cujo frutto fe poderia tirar huma fufficiente porgaó de oleo com grande vantagem, me lembrei de huma y, que em Minas Geraes do Brafil fómente faz lá neceflario o azeite para o ufo cibario , fupprindo-o nos mais ufos economicos com igualdade, e muito maior commodidade no prego, como he notorio a todos os Mineiros. Reftava-me pois exániinar, fe a cultura defta planta em Portugal poderia ter”as meúnas vantagens, que lá. z $ If. "Com effeito eis aqui o: refultado das minhas inda- gacoes : 1.” A planta vegéta, e produz com muito pouca differenga , 'do que' em Minas Geraes , á excepcgaó dos. mezes de Novembro, Dezembro , Janeiro, em que naoó- produz, como quafi todas as arvores Européas 2.” Na roda do anno cada arvore dá mais fructo y do que qual- quer oliveira ordinaria' no'anno 'de fafra: 3.2 O feu. frutto , donde fe extrabe'o oleo , colheé-fe com múito maior facilidade y do que a azeitona : 4.” O oleo extrahe-- fe com igual facilidade, que o azeite: 5.” Igual porgao- de” fúas lementes, dá mais de oleo, do que as azelto- nas de azeite': 6.” O” feu“oleo., “á excepcad do ulo ciba- rio y em náda defimerece' ao azeite para ós mais ufos eco- nómicos : 7.” AY cultura da planta he facillima', “e dá logo fructto do primeiro e muito melhor do fegundo an- no para diante. “Tudosifto' me fez concluir y que ainda. mefmo no cafo ) que as' Olivéiras 'naO padeceflem a nio- leftia actual, a cultura defta. planta em Portugal he de íumma utilidade, como demonftrarei na prefente Memoria. Para o que dividirei o meu trabalho ein 3. partes: na primeira tratarei da gultura defta plánta: na fegunda do /; mÉE- ECONOÓOMICÁS. 331 methodo de colher o feu frutto, e delle extrahir a fe- mente: na terceira da manufactura do azeitée, e feus uíos. RÍA, NN EA. Da Cultura da Mamoneira , ou Ricino. Gra, AV: Enfo y que já todos entenderáó y que fallo daquella planta, a que fe/tem dado os feguintes nomes Ca- taputia maior; Palma ou Manus QChrifli; Mirabilis arbor ; Carrapateiro ; ÁArvore do tartaro ( porque as Íuas fementes fazem vomitar) ; Mamoneira ( nome unico, que tem nas Minas Geraes, feu paiz nativo); Ricino Commum , ou fimplefmente Rzcz#o ( Ricinus Communis 5 Monoec. “Monadelphia de Linneo — Foliis peltatis, fubpalmatis ), ferratis y petiolis glandiferis ). Tem a fórma , e altura das arvores ordinarias: tronco groflo, roligo , nodofo , fiftulofo , lenhofo, ramofo. Folhas no principio redondas, depois angulofas, com grandes inci- 1óes y molles , amplas, fúbpalmadas y ferradas. Flores racemofas , apetalas , pequenas. Cales; periancio mo- mophyllo 5 5-partido nas flores maículinas y 3-partido nas femininas ; lacinias ovadas , concavas. Corolla nenhu- ma. Eftames: filamentos muitos , filiformes y, inferiormente ramofos, e unidos em varios corpos. Antheras didymas, e fobredondas. Germen ovado , aculeado. “Tres itylos, bipartidos , afperos : Eftigmas fimplices. Racemo, cou caixo fimples, e terminal. Pericarpio , ou fructo capfu- lar, fobredondo , trifulcado y aculeado , trilocular, tri- valve. Semente folitaria em cada loculamento , fobovada, femelhante ao carrapato, aflas grofla, cór parda, rajada de raios denegridos , fabor fobdoce, acre, nauzeofo, com medulla', ou polpa branca, e tenra. Cada ramo tem hum caixo , ou racemo terminal, cujos fructos bem ma- duros , feccos , 'e expoftos ao fol abrem-fe, e langaO com TEO gran- 332 'MEMORIAS grande: eftrepito , e impeto/ dos feusloculamentos bivalves a femente, que tem huma abundande porgaó de oleo fixo na fua medulla branca. Raiz grofla, longa , lenhofa, alva , e-fibrofa. SA Ha duas variedades de Ricino Commum: huma ver- melba , e outra branca: a primeira tem a cuticula, ou epiderme , e os nervos das folhas vermelhos ; a cór da folha he de hum verde efcuro. A branca tem a epider- me, tronco, e os pézinhos das folhas brancos;;, e eftas cobertas de hum pó branco, e tem a córde'hum verde claro. “Cada huma: deftas; duas variedades fe fubdivide outras duas. A vermelba em groffa y e miuda ; o mef- mo fe diz da éranca. A grofla dá huma arvore maior, tronco mais groflo , entrenós mais cempridos , folhas mais largas, e maiores 5 O mefmo fuccede aos caixos, e fÍementes. A miuda tem'tudo pelo contrario, e perfilba mais y que a grofía. A /caufa deítas variedades grofías, e miudas parece depender maiormente dos terrenos. Dizem, que a Mamona miuda dá mais oleo, do que a grofía, o que he verdade em iguaes medidas, mas naó em igual número de fementes, porque em igual medida ha muito maior número de femeutes miudas do que groflas y e por confequencia parecem dar mais oleo. Eítas as variedades, e defcripgao das Mamoneiras. Clima conveniente dá Mamoneira.: 6o VI O: clima mais proprio para: efta planta he fem con- tradicgaó o do meio dia, eo mais proxino ao Equador, com tanto, que nao feja demaziadamente quente; porque fendo huma- das arvores, y cuja: eftruétura he aflas tenra, deve neceflariamente fentir muito a accaó do frio: com tudo em razaO da fua mefma. textura nao quer hum cli- ma. E CON O MUO Ás. 332 ma demaziadamente quente. lIfto he tanto verdade, que nos paizes mais quentes do Brafil y como Bahia, Pará Íc. nao produz taó bem, como em Minas Geraes , que he hum clima temperado. Com effeito ella he tao amiga defte paiz , e he taó agradecida a quem a cultiva nelle, que fem ceflar lhe produz por todo o anno abundantes fructos. O clima de Portugal naó lhe he fem dúvida tao proprio, como o de Minas Geraes;. com tudo vegéta, e produz abundantemente nelle y afóra os: mezes de No- vembro , Dezembro , Janeiro y. e Fevereiro; mezes, em que nao temos quafi producgaó alguma de vegetaés arbo- reos. No: Jardim Botanico de Coimbra houveraó alguns pés de Mamoneira , que produziaó copiofamente , afóra, Os ditos mezes , os quaes fe, em-razaó das obras, naó fof- 'fem ha dous annos arrancados ; ainda exiftiriaO. Na cerca dos Religiofos Benedictinos exiftem alguns ha bafítantes annos y, 'e produzindo “fempre bem. O mefmo digo da quinta do Excellentiflimo Bifpo de Coimbra, e em Forr mofelhe, onde os plantei para fazer as minhas indaga- góes particulares. A minha conftante obfervagao me tem feito ver y que a Manioneira , á. excepgao. dos mezes acima referidos , produz com muito pouca differenga, do que em Minas Geraes, donde fou natural. Com cf- feito aflim devia accontecer, porque efte clima , afóra Os mezes de Novembro y Dezembro , e Janeiro , he bem femelhante ao de Minas Geraes pelo que toca a tempe- ratura dos dias 5 e a diflerenga y que ha nas tempe- raturas das noites parece naó; dever influir muito na ve- getagao. $ VIL. Efta arvore logo no primeiro anno, fendo plantada: a tempo ) comeca a produzir, é no fim do fegundo anno eftá formada, e cada huma do terceiro anno por diante dá no decurfo dos 8 mezes, de Fevereiro até Outubro dous até tres alqueires de fructo y; ou femente.. Jo Xo O MeMORIAS Expofigaó ao Sal. $ VIlL. A Mamoneira fendo de huma tenra textura y e natu- ral de hum paiz temperado , como o de Minas Geraes, he muito fenfivel aos frios, e grandes calores; e como a expoficaó ao Norte, e Nordefte he muito fria no inver- no, e muito quente no verao em Portugal, ou ao menos n'aquellas Provincias , de que tenho conhecimento ; por iflo a fua melhor expofigaó ao Sol he a do meio dúa, ou do Sul y que no inverno he mais quente, e mais acollida dos ventos frios , e no veraO menos quente, do que a expofigaó ao Norte. Ifto he aquillo mefmo , que tenho obíeryado nos diverfos fitios , em que tenho vifto Ricinos em Portugal. Em Minas Geraes nao he mifter efta efcolha de expofigaó ao Sol, porque o clima he tem- perado todo o anno: : Terreno conveniente ás Mamoneiras. GI: A obfervagad me tem moftrado , que efta arvore vegéta , e produz optimamente aíflim nos terrenos altos, como baixos', ou fejaO barrentos, ou pedragofos, ou hu- mofos y ou alguma couífa areentos, com tanto, que nao feJaO muito faltos de humidade, e muito leves. Com tudo O terreno ou pedragofo y ou barrento, e ao mefmo tempo humofo , com alguma humidade lhe he mais amado, como por todos os vegetaes, com tanto que efteja planta- da na fua devída expofigaó ao Sol ($ 8). A fua vege- tagaO , e producgao quafi iguaes em todos os terrenos, que naó foflem muito feccos, me excitáraO a curiofidade de indagar a cauía. Para o que examinando a fua eftru- Ctura , achei que tinha huma organizagaO propria poa ; ilto E ton OrMiNLE Miso 335 ifto' mefmo; por quanto as fuas folhas faó-grandes, quafi biennaes, de maneira que nunca fe acha defpida de fc- lhas ; e tem aflim nas folhas, como em todo o feu fyt- téma cortical do tronco, ramos , e raizes Xc. hum tecido cellular laxo com huma quantidade fumma de valos com- muns , ou fevofos da primeira ordem, e tracheaes: e como eftes valos fómente fervem para receberem da atmos- fera , ou da terra ( fegundo a fua fituacaO ) a humidade, acido carbonico, e gaz hydrogeno, como tenho demoní- trado nas ',y, Memorias de Agricultura da Academia Real das Sciencias de Lisboa ,, (tom. 2. pag. 293. ); fegue-fe, que efta planta he daquellas , que recebe a maior parte do feu nutrimento da atmosféra ; e por iflo fe dá bem em todo o terreno y, que nao feja fecco. Com tudo o ter- reno , que mais lhe convem he (torno a dizer) o bar- rento ou pedragofo , e ao meímo tempo humofo com alguma humidade e declividade. Methbodo de plantar a Mamoneira , ou Ricino. Eftagaú propria; e diftancia de, huns aos outros pés. 6 /X. A produccao defta planta pelas fementes he taó facil, prompta , e boa, que faz inteiramente fuperfluo, e inutil qualquer dos outros meios da fua reproducgaO ; motivo por que me limitarei fómente a fallar naquelle, que eon- fite em fazer no terreno hum rego direito com arado, e depois lancar no principio do rego dous até tres fructos da Mamoneira y bem maduros, e medrados y e cobrillos- com. terra desfeita, e no meímo rego na diftancia de 4. até: 5. bragas fe tornaOo a lancgar outros tantos fructos, e fe cobrem da mefma fórma com terra desfeita 5 e aflim por diante até o fim do rego , guardando fempre as dif-- tancias iguaes de 4. até/5. bragas. Depois de plantado: o primeiro rego abre-fe outro parallelo , e em diftancia: de Ó. até 8. bragas, e fe planta. da meíma forte, queo pri- 336 MeEeMnoOóRTÁS primeiro y com advertencia porém , que os fitios das plan- tagóes do fegundo rego fiquem n'huma poficaó média relativamente aos lugares plantados, ou femeados no pri- meiro rego. Abrem-fe 23.”, 4.”, 5.” Xc. regos com a mef- ma diftancia entre fi de 6. até 8. bragas", e parallelos; ficando fempre o fitio das fementes femeadas em fituagao média de huns aos outros regos na fórma feguinte, a que chamao qguincunce. RAIA FARIA EOE FARIA FERIA Gusta Quando nao houver a commodidade do arado, ou O terreno for tal, que naó pofla admittir arado , podem- fe fazer com enchadas covas com a mefíma diftancia, e femetria de humas ás outras, e nellas plantar os fructos, como fe faz com o arado ($ 1o) , guardando fempre a mefma femetria, que he muito util a todas as arvores 1.” para que da terra nao roubem os principios da vege- tagaó humas ás outras: 2.” para que naO fagao fombra huwas ás outras : 3.” para que todas fejaO igualmente expoítas aos raios do Sol: 4.” para fazerem huma vifta agradavel. Eftas plantas affim cultivadas admittem entre fi a cultura de outros vegetaes y como trigo , centeio, cevada, milho, favas, tremogcos, $cc. Quando porém o terreno for unicamente refervado para as Mamoneiras, podem-fe plantar mais juntas, porém fempre com a-fe- metria referida ($ 71o). Gr XA Temos viíto ($ 1o, e 11) qual o melhor methodo de ECcCONOMUTA SS. 337 de plantar as Mamoneiras 5 agora diremos, que a eftagaó mais propria he desde o principio de Fevereiro até o fin de Marco, naó fendo Fevereiro muito chuvofo: as muitas chuvas lhes faó muito nocivas na plantacao. Os fructos plantados neftes mezés, e do modo acima refe- ridos ($ 1O, e II) comecaó a arrebentar na Primavera, logo que o tempo aquece; e depois de nafcidos devem- fe arrancar todos, e deixar hum fó pé, e o mais bem vingado em cada huma cova; e deve-fe-lhe tirar toda a herva, que tiver nafcido ao pé. Muitos pés logo no pri- meiro anno produzem fructo, e todos do 2.” anno por diante comegaó a produzir com abundancia desde o mez de Margo até o fim de Outubro. Fabrícos annuaes das Mamoneiras. GWoXuE: Entre todas as arvores cultivadas he efta huma das que menos fabrícos exige na roda do anno , por quanto nenhum outro pede , fÍenao o de fe lhe tirar a herva, que lhe naíce ao pé, o que fe faz ao mefmo tempo, que fe lavra a terra para pelo meio plantar alguns vegetaes, como o centeio , milho Écc. como referimos ($ 11). Fóra difto fómente requer y que fe eflruntie , quando fe achar fraca. O eftrume, que mais lhe convem he o ani- mal, ou vegetal em razaó do muito ácido carbonico, e gaz hydrogeno , que fe defenvolvem delles , e que íaó eflenciaes para a vegetacgaó , e producgaó do oleo. Eftru- ma-fe do modo feguinte: Gava-fe á roda, de maneira que fe lhe nao offendaó as raizes y na altura de dous pal- mos , até dous e meio , e depois langa-fe-lhe o efterco vegetal, ou animal miíturado com a terra cavada. Elta manobra deve-fe fazer, no Outono 5 1.” para que o calor da fermentagaó do eftrume lhe faga menos fenfivel o frio do Inverno, fervindo-lhe como de eftufa: 2.” para que as aguas do Inverno penetrando a terra levem o ácido Tom. III. Vy car- 338 MEMORIAS carbonico, e o gaz hydrogeno entranhados comfigo, os quaes ficando aflim deftribuidos igualmente pela terra, feráo ao depois melhormente abforvidos pelas raizes. PIAJR, Uno tola Do methodo de colbér os frutios da Mamoneira, $ XIV. 4 Sta arvore produz o feu fructo na extremidade do —# UONCO' y e de cada hum dos ramos em caixos race- mofos, cuja fórma he bem femelhante á de huma rocada de linho. Já defcrevemos ($ 4) todas as fuas partes. O tempo da fua florefcencia he todo o anno, á excepcaó dos 4. mezes Novembro , Dezembro , Janeiro , e Feve- -YTeiro, pois que em todos Os Outros mezes lhe nafcen fi- lhos, que em pouco tempo fe tornaó em ramos, em cuja exiremidade nafíce hum caixo. Razaó por que em todos eltes mezes ha caixos nafcentes, em flor, verdes, e ma- duros y cuja colheita he da maneira feguinte. NITRATO Nos fins de cada hum dos mezes de Marco, Abril, Maio , Junho, Jullo, Agofto , Setembro y, e Qutubro devem-fe mandar cortar bem rente do ramo os caixos ma- duros , que: Ía6 todos aquelles, em que houver hum, 'ou mais fruttos dos mais bem medrados com a fua tunica, ou cafca externa fendida y Ou gretada, e principiando a feccar; efte figual mottra y que o fructo tem chegado ao leu gráo de perfeicuO, e madureza, e que os outros com- panheiros do mefmo caixo eftaó nas mefimas circumítancias de madureza. Nos meczes de Júnho , Jullho ye Agofto colhe- fe maior porgaó de 'caixos maduros. Feita a colheita éxpoem-fe os caixos ao Sol 'n?huma eira até ficarem bem feccos , elpera-fe hum , ou mais días de Sol forte, e quan- E CON O MI CÍA S. 339 uando as capfulas das fementes comegarem a eftalar com Seis malhaó-fe por hum, dous, ou mais homens conforme a porcaó delles,, da mefma forte que o feijaO, fómente com a differenga que os malhos devem fer mais delgados , e leves, para nao efmagarem muita femente. Tambem fe málhas com varas verdes , O que he mais 'ulado em Minas Geraes. Pela percuflaó do malho as capfulas das fementes fe abrem todas , e deixao as fuas fementes livres. Acabado ifto , ajunta-fe tudo em hum monte, e com joeiras fe feparaO das fementes as capfulas, e pedunculos dos caixos da mefma fórma , que do centeio, e trigo fe fepara a palha das efípigas das fuas fementes; porque as capfulas y e pedunculos fendo”mais leves , do que as fementes , com qualquer movimento que fe faga na joeira tanto horizontal , como verticalmente fobem e occupaó a parte fuperior, e ficaó por cima das fementes donde facilmente fe feparaód com as máos. ÁAs fementes depois de feparadas das capfulas, e pedunculos dos caixos devem-fe arrecadar em hum celleiro y ou caía, até que dellas haja huma quantia fufficiente para fe extrahir o oleo ou pela expre[Jaú , ou cozimento, como veremos. j P:AnRgEs E bl, TIL Manufatlura do azeite de Mamona, e feus ufos. 6 XVI. Oleo de Mamona y ou: Ricino exilte nas fementes, como dice ($4).,'e extralhe-fe. por dous modos “por expre(Jaú, ou cozimento. Moem-fe as fementes bem como fe moe a azeitona , e dellas fe extrahe o oleo na imprenfa, ou vara da mefma fórma , que fe extrahe o azeite' da azeitona.. Porém como o 'oleo de Ricino eftá muito adherente á maíla da polpa da femente y a forga da expreflaó naó he fufficiente para o feparar bem da dita polpa ;. razao por que fómente fe deve ufar defte metho- | Vvy ii dos 34O MEenMmoRrRIA$ do, quando o azeite de Mamona for deftinado para os ufos medicos; quando porém para Os economicos y deve- fe primeiramente torrar as fementes y bem como fe faz ao café, em caldeiras grandes, e chatas de cobre, ou fer- ro, para defenvolver , e desligar o oleo da polpa das fementes y e' depois difto moéllas , e expremellas na imprenífa ; e no refto fazer o mefino que fe faz para fe extrahir O azeite da azeitona , cujo methodo deixo de referir por fer de todos bem conhecido. 6 XVI. Em Minas Geraes coftumaóo extrahir efte oleo pelo cozimento da maneira feguinte: “Vorraó as fementes já pri- vadas das fuas capfulas, como enfinamos ($ 16), em caldeiras chatas, e largas de cobre, ou ferro, e depois de torradas , que he quando vaó tomando huma cór negra , e tornando-fe oleofas ao tadto, moem-fe y como a azeitona ,y'em engenho de pilóes, fe em muita quanti- dade , ou em pilaó grande de maó de pedra, ou páo, fe em. pequena porgaoO ; e cá fe podem moer em varas do lagar, bem como fe moea azeitona ; e depois de bem moidas lancaó-fe em caldeiras grandes de ferro, ou cobre, e com agua fufficiente fervem-fe até fe evaporar quafi toda a agua 5 entaó o oleo fe acha quafi todo livre, e fobre a mafla y; apanhaó-no; e tornaó a langar mais agua , e fazem ferver por mais algum tempo a mefma mafla , e depois defípejaó com o oleo fobrenadante fobre o vaío para onde feparáraoo oleo da primeira vez ,'e fazem evaporar ao fogo'toda a agua, e refta o oleo a final, e fe conhece que naó-tem humidade alguma , quan- do molhando-fe nelle qualquer materia combuftivel fecca, e chegando-fe ao lume y accende-fe, e queima fem dar eltalos. Em Minas Geraes penfaoO. que efte methodo he mais vantajofo', a pezar do 'maior trabalho, do queo da expreflaó, fendo as fementes primeiramente torradas. Eu creio , que nad., porque fe pela expreflao , PA e ECONOMICA s. 341 fe póde tirar todo o azeite, tambem pelo cozimento fuc- cede o meímo. Depois difto ninguem póde duvidar, que elo cozimento fe deve gaftar muita lenla , e fe efta em alo nao cufta dinheiroy em Portugal já he bem cara. A razaO aflim o perfuade y e eu me teria defenganado pela experiencia , fe atégora tivefle obtido huma porcaó fufficiente de fementes de Ricino para fazer experiencias em grande, o que por ora mc naó tem fido poflivel, mas brevemente efítarei nos termos de decidir. Ás expe- riencias y que atégora tenho feito faó em pequeno, pois a maior porcaóO, que pude obter foi deminuta para ellas ; e as experiencias em pequeno nada podem decidir a efte reípeito. $ XVIH. Huma quarta de Mamona , ou fementes de Ricino dá de oleo huma maquia, e huma fexta parte da ma- quia y ou em geral a Mamona cá mais da quarta parte de oleo , quando a azeitona apenas dá a quarta parte de azeite; iíto he o que pude colligir das minhas experiencias em pequeno. Nefte mez de Fevereiro de 1792. y Quiz tirar hum pouco de oleo de Ricino por cozimento para delle remetter juntamente com efta Memoria huma amottra á Academia , porém como os caixos paflárao todo o Inverno na arvore, as capfulas perdéraO toda a fua elaf- ticidade, e eftavao quafi podres, de maneira, que me nao foi poflivel feparallas ainda feccando-as ao fogo, e por iflo me refolvi a mandallas torrar y e pizar com as mefmas capfulas, as quaes depois de moidas fe unirad de tal fórma ao oleo, que me naó foi poflivel feparallo- do pó das capfulas, com que fe achava unido, e fempre fe achava muito impuro; ds a razao por que nao remet- to a amofira, o que farei, quando houver lugar , que: fera. breve... e Xes 342 MEMORIAS 6 XIX. Comparemos agora a cultura , e manufactura do oleo de Mamona com as da azeitona. Aflima ($ 6 ) vimos, que a Mamoneira fe dava opti- mamente no clima de Portugal, bem como a oliveira. Vimos ($ 8) que a expoficao ao Sol mais conve- niente ás Mamoneiras era a do meio dia, que he tam- bem a mais propria para as oliveiras. Sabemos ($ 9), que a Mamoneira fe dava bem em quafi todos os terrenos, como a oliveira, e que os defeitos que lhe podem vir do terreno ou muito humido;, ou muito fÍecco, tambem acompanhaó as oliveiras. Vimos ($ 1o), que o methodo de plantar o Rici- no he incomparavelmente mais facil , e prompto, que o da oliveira , naó fómente porque he menos difípen- diofo , como porque dentro de hum até dous annos comegao a produzir ($ 7), o que nao fuccede ás oli- veiras, que fómente depois de 6. até IO. annos comecao a produzir bem. 'Tambem vimos ($ 13), que os feus fabricos an- nuaes em comparagaO dos das oliveiras faó nenhuns. Pelos $ 14, e 15 fe vé, que a colheita dos fructos da Mamoneira he incomparavelmente mais prompta, facil y 'e fuave y que a das azeitonas. A manufactura do oleo de Mamona tem o mefmo trabalho y que a do azeite ($ 16, e 17), com a dif- ferenga porém de fe moerem as Mamonas n'ametade do tempo, e mais facilmente , do que as, azeitonas. A Mamona dá mais oleo, do quea azeitona, em quantidades iguaes ($ 18). MA O oleo de Ricino, ou de Mamona tem alguns ufos Medicos , que deixo de referir por nao fer efte o lugar, / on- EC O0/N;O/MiIC E 8. 343 onde fe devem numerar , bafta dizer , que bedido he purgante; a femente comida produz vomitos, donde veio O dar-fe-lhe tambem o nome de #artaro. Mas para o uío Farmaceutico deve fer tirado por expreflaO fem tor- refacgaóO. Para ufos economicos porém, em que he igual ao azeite, deve-fe tirar ou pela torrefacgaóO, e expreflao, ou pela torrefaccgaO , e cozimento como enfinamos ($ 16, e 17). Naó ferve para o ufo cibario em razaO do gofto naufeofo, e virtude purgativa, que tem. 6 XXI. Do que atéqui temos dito fe conhece claramente a grande utilidade que fe póde tirar da cultura defta planta ein Portugal, ainda mefino quando nad apparecefle a fer- rugem das oliveiras. APON- 344 MEMORIAS A; PON BDUALMYE,LNUEOSS Sobre as Queimadas em quanto prejudiciaes á Agri- cultura. Por ALEXANDRE ANTONIO DAS ÑEVES PORTUGAL. E taó frequente o ufo das Queimadas, como faó frequentes os clamores contra as confideraveis per- das que ellas fazem de ordinario : porém coma o noflo Reino felizmente naó abunda em facinorofos, que, fem mais fim que o de prejudicar , ponhaó fogo aos mat- tos ; bem fe deixa entender, que fem providenciar pri- meiro efles fins , que tem em viíta os que fazem as Queimadas , he inutil o declamar contra ellas. Os fins que ha para as Queimadas faoó : I. “Ter bons paítos com os renovos da Primavera. II. Diminuir a caga que devora as fementeiras. III. Alimpar do matto as terras, que fe querem romper, ficando logo adubadas com as cinzas. III. Fazer carvao. Defta forte vemos, que a razao que move a lan- car fogo aos iWmattos, para diminuir a caga, hea impaciencia ; nos outros cafos a economia. E ifto heo que geralmente fe pratíca, e desde tempos taó antigos, que” ña” Ordenacao” Div. 5.7 UN GOO NETO CATA con- (1) E he copiada da Orden. do Sr. D. Manuel Liv. 5. tit. 83. $ 1. E porque alguiis por cagarem em as queimadas, ou pera fazerem carnam , ou paftarem com feus gaados y, poem efcondida- mente fogos nos mattos pera das ditas queimadas nclbar poderen aproveitar , do que fe alguúas vezes fegue muytos dannos. .. mandamos que pefoa alguúa de qualquer qualidade que foja nom cvace em queimada do dia que ho fogo for pofto... a trinta dias, nem. entre alguit a paftar com (eu gaado nella atee pafcoa afiorida: e caruoeiro -alguit non faga nella caruam atee dous anos. EÉCONOMICA s. 345 contemplaó tres daquelles indicados fins das Queimadas, e [ó de mais fe oa o dos cagadores que póem fogo aos mattos , para defle modo acharem caga baftante a entreter a fua ociofidade y crime, ainda que hoje mais raro, digno do maior caftigo. Pertence agora moftrar fe as fuppoftas utilidades das Queimadas, fe confeguem por ellas, ou por outros meios menos arrifcados.: Eu porém fómente moftrarei aqui ferem as Queimadas prejudiciaes , em quanto ao IllI. Ponto mencionado : e naO fallarei dos outros, porque efle tra- balho eftá depofitado nefta Academia em máos muito mais habeis (“). Em cada hum dos dous objectos, que o III. Ponto nos offerece , ifto he, 1.” o alimpar o terreno j; e 24” ficar logo eftrumado com as cinzas, mui pouca utilidade póde confiderar-fe nas Queimadas. No alimpar o terreno , he certo poupar-fe a defpeza de roflar o matto :.porém as raizes naó fe queimaó , porque ou o calor naó he baftante y a fer o matto curto; ou a fer matto virgem y as mefmas raizes naó podem reduzir-fe a cinza, porque eftando muito enterradas, lhes falta o contadto do ar. Por tanto apezar da Queimada, os arados y e charruas ordinarias haó de ficar embaragados Tom. III. Xx ao 6 2. E ho que dito havemos nom haverá luguar em aquellas pelfoas que poferem foguo por licenza e autoridade dos juyzes y Ou officiaes ... nem y[fo mcfmo em os que em fuas herdades... poferem foguos pera queimarem algús reftolbos ou moutas, e outra matto pera fazerem fuas lauoyras e fementeiras, ou pera poerem bacello , ou fazerem outros adubios como fe coftuma fazer , poendo porem: os taes fogos em os tempos e mefes y que pelas pofturas e ordenagoes dos concelbos nom for defefo: porque eftes feram fomente obriguados pro o danno fe ho fezerem, (“) Do 1. Ponto cuida o Sr. Jofé Corréa da Serra , e no Jardim Botanico do Duque Prefidente defta Academia a muito cultiva Plantas “proprias para Paftos abundantes: do 1I. Ponto eftá incumbido o Uluftrifimo Sr. D. Joaquim Lobo da Silveira: e do HI, o Sr. Domingos Vandeili. 346 ME MOR vas ao rofúper a terra : “quando para ifto commumente” baf- taría huma charrúa forte puchada por algumas juntas de bois) como pratticou Mr. de Villefavin (1). E havendo de fazer-fo efte trabalho no rigor do Inverno , quando a terra eltá mais humedecida , fe huma tal: charruanfe- embaraca , lie fem dúvida em raizes y que, “pela falta de lenhas , 'he' precio aproveitar. E ainda a arrancar-fe todo o' matto á enchadaó, aflim mefmo fe utiliza a' nova; fe- menteira , pois fica a terra muito mais cortada; e até ás vezes y he efte fabrico indifpenfavel, a: haverem ao contrario de ficar enterradas as raizes que faO quando vaó apodrecendo abrigo dos infectos. pelo que pertence a ficarem 'os campos logo ef- trumados com as cinzas, menos ainda hea utilidade das Queimadas. ' Naó 'precifaria' lembrar os prejuizos defta economia mal entendida, em communicar-fe o fogo aonde menos O queirao os queo lancaó/; arderem leguas e leguas de charnecas 5 deftruirem-fe as mattas altas, e as de mais arvores que cftejaó proximas, pois naó he precifo que fe queimem, batta que fe lhes communique hum gráo repentino de calor, mui fuperior ao que tem natu- ralmente (2), para perturbar-fe a economia vegetal:: Nem fería 'precilo tambem lembrar; que 'no Brafil cada vez a falta de lenha he mais fenfivel y pois lancaó fogo a campinas de matto virgem, para fazerem plantagóes; e em poucos annos vao queimar outras campinas , por fe haver já diflfipado' o eftrume das cinzas naquellas primei- ras rollas.. Porém a razaó de dever fer ainda mais re- prehendido lium tal coítume y he que de queimar-fe afim O mMatto y, de obtem. muito menor porgao de principios feruilizantes: As cinzas faO uteis á Cultura, 1.” operando meca- nicamente 3; e 2.” como principio falino. Do primeiro nodo, porque Wmifturadas cont o barro, nas terras mui for- etere Duhamel du Moncean Elém. VAgric.1, 2, c./1.$ 22 ozter Dictionn, d'Agrio, art, Ghaleur Test, 5. xa ECÓNOMICA SsS. 347 fortes , lhes abforvemn alguma agua j com o que clle perde da Ífua tenacidade y e fe desfaz cada vez 'imais com os lavores da terra , fem poder outra vez recobrar a meflma tenacidade y porque nenhuma tem as: cinzas entre fi. Do fegundo modo 1aó uteis, pela combinacaó com as par- ticulas oleofas, e ácidas que haja no terreno; e abforvem da atmosfera o feu ácido fecundante. Ifto, naó fendo as cinzas de platitas do mar, porque eflas daó alguma porgaó de fal marino, o qual efteriliza 5 e o alcale mineral nao attrahe a humidade. Ora com as Queimadas fe' obtem , da mefina quan- tidade de matto', menos cinzas ; e eftas com menos alcale. Menos cinzas; porque fe levartaO muitas faiícas, as quaes fe apagaó ainda, ás vezes , fem terem chegado a fer carvaó : O que fuccede tambem á lenha grofla. IS menos alcale'; 1.” Porque fazendo-fe com a violencia das cham- ' mas mui precipitadamente a feparacao do principio aqueo dos vegetaes, Os faes que por elle eftaó diflolvidos naó podem feparar-fe y e principiar a fe cryftallizar y pois nao ha tempo de fe tocarem as fuas particulas; e por iflo naó 'opéra a affinidade, com o que ellas por muito leves fe perdem na evaporagaó. 2.” Porque tanto he mais forte O fogo , quanto mais alcale fe volatiliza y o que até fuc- cede nas barréllas, em que á medida que a agua he mais ' quente”, tanto O gaz urinofo fe fente mais forte. Por tudo ifto, onde fe conhecem, e praticaO as regras da Agricultura y prefere-fe outro modo de queimar O matto. Com adóbes '(I) de terra amaflada, tendo 8. até 1o. pollegadas em quadro, e 2. ou 3."de efpeflura fe 'fazem huns fornos da figura dos noflos de ccozer pao, de pé e meio de diametro 3 e cheos de matto y ou lenha miuda, fe lhes langa o fogo, e efte he regulado por-hum- modo femelhante ao das Carvoarias : mas deixa- Íe a lenha reduzir a cinza 5 e depois de fría he que os fornos faó desfeitos , e efpalhada toda a terra delles. | Xx di Po- (1) Dubamel du Monceau Elém. diAgric. do 2. o, 1. $ 3. 348 MEMORIAS Porém deve ainda fer preferido a efte methodo o que aos Lavradores Portuguezes já foi inculcado (1), (e fe pratíca em o Minho com a maior perfeicaO ) de fazer eftes fornos de torróes com as mefmas, hervas que tiverem, voltadas eftas para a parte interior. Affim todos aquelles l2es que fe evaporaó , ficaó entranhados: na terrarde que os fornos fe fizeraó y; nem he o calor tanto y que chegue a cozer as particulas gredofas do terreno , como accontece nas Queimadas com a violencia do fogo , ficando eflas t2aó inuteis á vegetagaO , como feriaó pequenos pedagos de tijolo. Se efte fabríco he de algum difpendio , baíta com tudo para dever preferir-fe , que de nenhum modo feja arriflcado : ou podiaO tambem aproveitar-fe as cinzas dos fornos de paó, de lousa, e outras Fábricas; e a das cozinhas , em que fó haveria-a defpeza do tranfporte, pois nem fe conlomem todas nas barréllas , “nas pequenas Povoagóes y nem as das grandes Povoacóes ainda tem deftino para Nitreiras Artificiaes, ou fabríco da Potafla, utilidades que efta Academia tanto dezeja promover (2). E fó em cafo tal poderia a Agricultura padecer grande falta das cinzas necelflavias 5 eftiume o mais preciolo , e que nao póde fer aflaz fupprido pelos outros ; Lainda que Mr. Morveau (3) y da Academia de Dijon, fuftente mui" decididamente o contrario y, e ainda que o grande Agronomo Rogter (4) parega inclinar-fe á mefima opiniaó, Dous faó os paradoxos de Morweau y I. Que as cinzas nde' que fe fez barrélla you fervirao para as Ni- treiras fa0. ás mellores para eftrume5 e TI. Que ellas fe fupprem comp aterra calcaria pára elte mefmo fim, por lerem de natureza totalmente identica; Pois quanto ao primeiro ' paradoxo : fó poderia aflim dizer-fe quando a des (1) O benemerito Author do Reportorio., verdadeira guia de Agricultura y Lisboa 1777. pag. 21/,'e 22. (2) Programmas de 1786. , e 1792. (3) Fourn. de Phyf. de Rozier ann. 1781. Novemb, (4) Diétionn: d'Agricult. art. Gendre n.? Lo ECONOMLIÓAS. 349 demafiada quantidade “das cinzas; -creftafle as. raizes das plantas , pela caufíticidade do alcale vegetal; porém o ferem em demafia he fóra da nofla hypothefe: e as cinzas efvalhidas de alcale fó podem fervir para defengordurar os terrenos: O fegundo;,de ferem fuppridas totalmente pela terra calcária , como de natureza identica convence-fe, de fallo com a maior evidencia, pois que as propriedades defta terra , e das cinzas faO mui diverfías ; 1.” as cinzas com o ácido fulfurico daó pedra hume , e fulfata de cal, mas differente da fulfata produzida com a verdadeira cal (1): 2.” efla terra calcária das cinzas naó fe faz cal viva (2) : 3.” ferve com os ácidos (3): 4.” naó decompóe o fal ammoniaco (4) : além de outras differencas eflenci- aes (5). Pelo que naó póde avangcar-fe, que a natureza deftas cinzas feja identica da terra calcária ; e ainda que efta he bom eftrume , tambem naó bafta efla razaO para dizer-fe, que fuppre as cinzas #nteiramente , allim como fe nad po- deria dizer dos outros eftrumes. Mas deixemos efta digreflaó. 'Temos vifto a facilidade de confeguir os 'mefmos fins , e com mais ventagem, do que elles fe procuraó com as Queimadas : por tanto naó póde dizer-fe que ellas fejaO utecis. Ha poucas lenhas y he precifo econo- mizalas; por iflo fómente na Laponia, e onde ha ainda reftos de barbarie he que fe fazem Queimadas. Na Ale- “manha he verdade fe confome no fogo a lenha de muitas mattas 3; porém he para fazerem a Potafla, e que nós compramos para as Fábricas: e para a Saxonia (6) ha tao. prudente economia y que até, para efle fim, nas Carvoarias fazem que o fumo da lenha fe condenfe em recipientes bem apropriados , e delle, depois de calcinado, fe obtem igualmente a Poiafía. Nef- (U) (2) Fourcroy Elém. H. N. et Chym.t. IV. c. 21. referindo- fe a Baumé Memoire fur les Argilles. 8.” 177Q. (3) (4) Seopoli Fundam. Chym. $ 103. (5) Falerius Agricult. c. 1. $ 5. AS) (Encyclop. Method. Ares ex Metiers art. Charbon des bois, 35O MEnMmORrAS Neftas' 'poucas 'reflexóes cuido fe moftra claramente a verdade do que me propuz tratar. Se ás mefmas reflexóes nao 'faó pela maior parte novas, por iflo mefimo arguem de mais indolencia os noflos Lavradores én naó pórem em'/ prática oque ha” muito deveriaó fábet') ou já te Ihes poderia ter inculcado. e O E ECcCONO MU CKS. 35b MEMORIA Sobre a decadencia da Pefcaria, de! Monte Gordo. PoR CoNsTANTINO BorELHO DE LACERDA Logo: 6G I Eduzo o Eftado da pefcaria de Monte Gordo a tres /Epocas ia 'primeira/ndesde/o anno, des d711. até á edificagaó de Villa/Realyya fegunda da edifi- cacao defta Villa até á: morte do Senhor Rei /D. Jofé;: a terceira desde “o 'anno de 1777./até Os prefentes ÚN POGPAg y GbsELSl-o Ntes do anno de 1711. era inteiramente defconhe- cida a pefcaria da .fardiúha na praia de Monte Gordo, e até affirmaO alguns homens quafi centenarios, que grande parte dosmoradores de Santo Antonio d'Arni- lha, 'e Caftro Marim maluconheci-O.efte peixe porider muito raras vezes exportado da Cotfta de Hefpanha para eltes póvos.u.:.; dE esflo OrmMoa” 1 | BIGta : SIGIVITEI Y) isdsOp O. primeiro que principiou als fazersía pefoariar da fardinha na Cofta de Monte Gordosfoishum Inoflo pel- cador | Portuguez chamado “Antonio, Gomes natural de GCaftro “Marim ,; o 'qual pelos/annos] depi9TT.GZ QWlIFIA- pefcou alguma fardinha com or apparelho chamado Levada 57 fem uío hoje: nefte genero. des pefcariawiyls 9 LOL sub $ IV. ENO 'MEMmoRrtToAS $- IV. A efte feguiraú-fe os Cataláes Baptifta Boxo , Jacome Nibrite, e Joié Porroxe , primeiros que edificárao caba- nas “na praia “de Monte Gordo, e fizeraO a pelcaria das fardinhas com as chavegas ou artes apparelho mais apropriado para efte genero de pefcaria y “do que a Levada de que primeiro ufou o fobredito Antonio Gomes. GON Seguiraó-fe “outros muitos Hefpanhoes de Andaluzia, e 'Catalunha os “Quaes depois que pefcavaO a fardinha fem della pagar direitos alguns , a exportavao para Ayamonte', aonde a falgavao, e daqui era exportada para differentes Provincias de Hefpanha. Efta franqueza, que de facto entaO fe practicava ) e juntamente a fertilidade da Cofta movéraó os Hefpanhoes a concorrer em grande número , multiplicando-fe cada vez mais as cabanas, e artes de pefcar. Gr VI. Chegando a noticia aos Contratadores da Portagem a grande abundancia de pefcaria,) que havia em Monte Gordo , comegcáraO a exigir dos pelcadores os direitos de matancga , porém como eftes andavaO arrematados por huma modica quantia ( de fórma, que a maior que fe fez foi de 2:850000. no anno de 1773. ), eos rendeiros intereffavao mais crefcendo o número das artes y con- vencionavaó “com' os patróes “das barcas quanto deftes haviaó de receber de; direitos de matanga, de fórma que devendo: pagar: naquelle tempo /30. (por doos5 pela ceon- vengaó.. Que faziaO: (com; os) rendeiros; 'naó. pagaó mais do que Io. e algumas vezes 5.00UW Ó, por: 10Qs 6 VII. EcCONOMICAS 353 Gun A moderacao dos direitos de matanga, que eftipu- lavaú os Rendeiros com os Patrúes das barcas ye naó menos dos de fahida , que pagavaó na Alfaudega de CGaftro Marim : a noticia de fer a praia de Monte Gordo a melhor , que fe tem defcuberto , tanto pela boa fituacgaó, como pela abundancia da. pefcaria da Cofta fizeraó em pouco tempo multiplicar as cabanas, e artes de pefcar a fardinha , tanto Portuguezas, como Hefpanholas de forte , que no anno de 1750. contava0-fe na praia de Mon- te Gordo 12 barcas de Caftro Marim, accrefcendo a eftas mais de cincoenta Hefpanholas de Ayamonte, e Catalunha. “Os Patróes defías com as fuas companhas refidiaó na fobredita praia em quanto durava a temporada (que comecando em 24 de Agofto continuava até 25 de De- zembro ); os daquellas vinhao fómente na migracaó da fardinha por efta Cofta. 6 VII. FóraO cada vez mais crefcendo as cabanas, e as barcas de fórma, que pelos annos de 1770O., até 1774. contavao-fe naó menos que IOO. barcas, das quaes 15. eraó de alguns moradores de Caftro Marim , e todas as Outras eraó de Ayamonte , de S. Lucar de Barrameda, e de Catalunha. Póde-fe dizer, que nefte tempo fe achava edificada na praia de Monte Gordo huma rica e poderofa Cidade. Go As differentes ruas de cabanas occupavao mais de huma legua de diftancia, desde a ponta da Barra até perto do fitio aonde foi a antiga Villa de Cacela. Aqui eftavao já eftabelecidos com as fuas familias muitos pefcadores, e falgadores Hefpanhoes , além dos Portuguezes , que Tom. III. Xy tana- 354 MEMORIAS tambem refidiaó na mefima praia, naó fallando nos muitos Hefpanhoes que fómente viviaO nefta em quanto durava a temporada, de fórma que desde 24 de Agofto até 25 de Dezembro ajuntavao-fe na fobredita praia mais de finco mil homens entre pefcadores, falgadores, e vivan- deiros , naó contando as muitas mulheres , que tambem fe occupavao na preparagaO da fardinha. CEA: Efte he o eftado da pefcaria de Monte Gordo desde o anno de 175O. até 1774. 5 e fuppoñto que das muitas chavegas com que fe fazia a pefcaria na Cofta , da impor- tagaó e venda dos viveres neceflarios aos pefcadores, da conftrucgaS das barricas para a exportagaO da fardinha, e de todas as manipulacóes da falgagaó, e confervagao da mefma , tiravaO muitos dos nolíos Portuguezes a fua fubfiftencia , com tudo a grande riqueza, que produzia a fobredita pefcaria fe podia chamar mais patrunonjio de Hefpanha, do que de Portugal. Ú 6 XI. Tanto he verdade que os Hefpanhoes tiravao da Cofta de Moute Gordo as mais folidas riquezas, que por huns era feita a; maior parte da pefcaria y Outros erao OS compradores y outros falgavaó a fardinha, a qual depois de preparada cra exportada para Hefípanha: os de Cata- lunha naó. fómente: traziaO muitos dos viveres, e materias neceflarias para a confervagaO das redes, e barcas, mas até vinhaO na fua companhia os tanoeiros, que lhes haviaó de fazer as pipas para a exportagao das Ldilbaa GNA Sendo informado o Senhor Rei D). Jofé da grande vantagem y, que da abundancia da pefcaria da fobredita Coí- EGONOMICAS. 355 Cofñta podia tirar Portugal , que até aqui era mais em utilidade de Hefpanha, do que defte Reino, e fabendo outro-fim que á praia de Monte Gordo era hum covil de facinorolos y que fem temor, e refpeito ao Principe calcavaO as fuas Leis, e viviaó em huma verdadeira Anar- chía y quiz de hum fó golpe atalhar todes os damnos, que com a fucceflaód dos tempos paodiaO acontecer, e Juntamente promover a pelcaria, animar a induftria, e facudir o jugo dos Hefpanhoes fobre a grande importagaó de fardinha falgada , que elles faziaO nas tres Provincias do Norte. $1/2XAE Para confeguir eftes fins mandou , que fe edificafle huma nova Villa, que primeiro teve o nome de Santo Antonio de Arnilha, e depois fe mudou para Villa Real de Santo Antonio. Sobre o fitio da fua edificagao houveraóá dous arbitrios, hum que fofle na praia de Monte Gordo, outro nas margens do Guadiana aonde chamaó o Bar- ranco; prevaleceo o fegundo, e talvez, fegundo os effeitos o tem moftrado y O menos fenfato. ROTA. Foi a Villa Real de Santo Anton o edificada em finco mezes no anno de 1774. com grandes defpezas dos par- ticulares, e do Erario. Creou-fe huma nova Alfandega em lugar da extinctta de Caftro Marim , prefícrevendo- lhe hum plano de arrecadagao o melhor que ha no Reino do Algarve; foi extincta a lota, ou venda de peixe em hafta pública , que fe fazia em Monte Gordo , e mudada para efta Villa; mandando que logo para aqui fofle expor- tada: a fardinha apenas fofle pefcada na Coñta. Fizerao-fe de novo as fábricas necefllarias para todas as manipulacóes O terdo á falgagaO, e conlervacgao da fardinha, pro- ubindo-fe:, que ellas te fizefllem na praia de Monte Gordo. y $ XV. 356 MEMORIAS 6 XV. Feito efte novo eftabelecimento , como queriad, que todos os pefcadores, falgadores , e mais pefloas, que tra- ballavaO na manipulagaO da fardinha fizeflem forgada- mente a fua refidencia em Villa Real, e juntamente acabar de huma Íó vez a poderofa povoacaO de Monte Gordo , foi logo efta reduzida em cinzas, e em pouco tempo naó appareceo mais, do que huma praia deferta. GVEXVE Com a deftruicao de Monte Gordo expatriárao-fe muitos dos noflos Portuguezes. ForaoO lancados fóra os patróes das barcas, e pelcadores Hefpanhoes, que eftavao eftabelecidos na dobredita praia 5 aufentáraO-le os compra- dores , e falgadores, que pela maior parte eraO Catalaés , porque pelas Regias determinacoes de 3 de Dezembro de 1773. naO podiaO levar a fardinha de Portugal fenao fal- gada, e tambem nefle mefmo tempo quaf fe prohibio em Hefpanha a fardinha de Portugal fazendo crelcer excel- fivamente os direitos de entrada. 6! XVI Efte fucceflo moftra , que os informantes ao Fidelif- fimo , e Piiflimo Rei o Senhor D. Jofé fobre a efcolha do fitio para a edificagao de Villa Real apezar das fuas diligencias, e boa fé infelizmente fe enganáraO; elles fim tiveraó em vita algumas vantagens que fe podiaó feguir da edificacaO feita na foz do Guadiana , porém que nao mereciaó , que por cftas fe facrificaflem as grandes riquezas , que o Algarve e Portugal perdérao por fe nao fazer na praia de Monte Gordo, e antes de fe praticar O contrario le feguíraO males tam irreparaveis , que ainda hoje fe fentem, e que difficultofamente terao remedio. $ XVIII ECÓNOMI CA s. 357 $ XVI Anuindo o Senhor Rei D. Jofé ao arbitrio dé que fofle feita a edificacaO na foz do Guadiana, talvez foi demaziado o zelo nos Magiítrados em executar as ordens, que para efte fim lhes foráó commettidas. Era alheio do paternal amor com que efte Soberano amava os feus Vaí- fallos O querer 5 que os miferaveis pef-cadores ficaflem de repente fem habitagaO y queimando-fe juntamente com as cabanas o pobre trem , que nellas pofluíaóS , e fendo defte modo forcados a expatriarem-fe muitos daquelles y que com a fua induftria contribuiaO para o bem commum do - Eftado. Gra, XIX. 'Tanto era da vontade do mefmo Soberano o proteger 5 e contribuir para a fubfiftencia dos novos habitantes de Villa Real, que mandou que elles naó pagaflem décima por hum certo número de annos, e que houveflem feiras francas todos os Domingos. Diminuio os direitos do pef- cado reduzindo-os fómente 4 2O. por 1oo:' de matancga, ficando a fardinha depois de falgada livre de todos os direitos , ancoragens , e emolumentos. Mandou abrir muitas marinhas nos Sapaes de Caftro Marim, e quero fal para a falgagao naó fofle vendido a mais do que a g9oo. réis cada moio, naó pagando os Proprietarios das marinhas impofigao alguma. 358 (Menor rzTas 1: BUPONGVA. Eflado da pefcaria de Monte Gordo depois do Eftabe- lecimento de Villa Real até o anno de 1777. 6 XX. Dificada Villa Real, e munida com privilegios, e prerogativas deftinadas a animar os feus novos mo- radores, e feitos outros uteis eftabelecimentos já referidos, era da Real intencaó do Senhor Rei D. Jofé , que a abun- dante pefcaria de Monte Gordo fofle toda em utilidade nao fó dos habitantes do Algarve, mas de outros muitos de Portugal, e querendo que a pefcaria da fardinha, a ua preparagaóO, exportacaó, e commercio fofle feita pelos Nacionaes , foi fervido dar para efte fim as mais fabias e Íaudaveis providencias. GRAU: Inftituio primeiramente oito fociedades y cada huma das quaes fofle obrigada a apromprtar feis barcas com outras tantas artes de pefcar a fardinha , feis enviadeiras para a conduzir da Cofta de Monte Gordo para Villa Real, e feis barcos nao fó para terem o mefmo ufío nas occafioés de maior abundancia, mas tambem para fazer della a exportagao pelo Guadiana. GATA E para que a fardinha tivefle hum confummo, e extracgaO certa de fórma, que por falta delta nunca dei- xafle de fer promovida a induftria dos pefcadores, obri- gárao-fe as fobreditas fociedades a comprar fempre a jardinha a 300. r."o milheiro, no cafo de naó haverem com- pradores fendo repartida pelas mefmas, podendo pa em E O ES ECONOMICA s. 359 bem ellas cóncorrer com outros compradores” no cafo de os haver. $ XXIII. Porém como até aqui a fardinha era preparada pelos Hefpanhoes , e por elles exportada para Andaluzia , e Catalunha , querendo pois o Senhor Rei D. Jofé, que a extracgao folle feita pelos Portuguezes y, e pelos mefmos exportada para todas as Provincias do Reino ; e vendo que a entrada da fardinha de Galliza nas Provinciás do Norte podia remover, ou fazer mais difficil o Comercio da nofla preparada em Villa Real, augmentou muito os direitos a toda a fardinha gallega, que entraffe em Por- tugal, dando juntamente liberdade aos Hefpanhoes de leva- rem a fardinha falgada fem que della pagaflem direito algum. $ XXIV. Querendo tambem acautelar o defcaminho da fardi- nha fem pagar direitos a S. Mageftade ; como tambem ' todos os contrabandos , que fervem de obítaculo ao Coni- mercio do Algarve, e de Portugal, por huma Cartá Regia de 13 de Qutubro de 1774. mandou', que houvefle huma ronda compofta de foldados e officiaes da Alfandega, tre- commendada pelas inftrucgóes de 4 de Setembro de 1775.) e que eita andafle pelo mar, e rio Guadiana regiflrando todas as embarcagóes que encontrafíe, e juntamente exa- minando tudo o que as meímas lcvaflem-, e que as fo- ciedades a confervaflem contribuindo com todas as defpezas: neceflarias para efte fim. G XXV. Como tambem pelas Regias deterniinagoes de De- zembro de 1773. fe pretendia remover 'os Hélpanhoes de fazer a pefcaria da fardinha: na Cofta de Monte Gordo, para que toda a utilidade que podefle refultar da ó | lai- 36o MEMORIAS fálgagaO, exportagad, e Commercio fofle fómente em be- neficio dos Portuguezes, era neceffario, que houveillem pefcadores, e homens do mar, que baftaflem tanto para a pefcaria, como para a fua exportacaó 5 para obter efte fun mandou por hum Alvará de 17 de Margo de 1774. que todos os homens do mar, e pefcadores naturaes, e moradores no Reino do Algarve naO podeflem pefcar, ou navegar fóra dos limites do mefmo Reino, fem levarem para efte fim os competentes paíllfaportes do Superinten- dente Geral das Alfandegas.das Provincias do Sul, ou dos feus Delegados. EVÓRTNE 'Todas eftas fabias Providencias erao fufficientes para fegurarem perpetuamente os moradores do Algarve e Portugal das grandes riquezas , que podiaó tirar da abun- dante pefcaria da Cofta de Monte Gordo, 1.” feaqui fe edificalle: Villa Real, e nado fofle fobre a efcolha do fitio inexattamente informado o Senhor Rei D. Jofé; 2.” fe as pefloas, e Magiftrados de quem efte Soberano fe confiou tiveflem fó o devido zelo , e ajuttado ás paternaes, e Regias intengúes em executar as ordens que lhes fóraO commettidas y para fe concluirem os novos eftabelecimen- tos, que fóraó propottos. Como porém fóraO mal execu- tados os meios, que fe applicáraO para obter o defejado fim, arruinou-fe a grande pefcaria de Monte Gordo, e com ella a fubfiftencia de muitos Algarvios, e Portuguezes. SACAN Primeiramente as oito. fociedades , que procurando prudentemente fatisfazer aos fins para que fórao inftituidas, poderiáó contribuir para o adiantamento de tao importante ramo da nofla fubfiftencia, e do Commercio nacional, deftruírad-fe a fi mefmas , e fóraO a caufa mais forte da decadencia da pefcaria de Monte Gordo. $ XXVIII. E corn ONs o Ás: 361 $os: XINUE Naó podiad deixar- de fe deftruirem a fi mefmas, porque entrando huns dos Socios invitos y Outros fómente por certos refpeitos pelloaes, como 1gnoravao O modo de manter efte genero de negociagaó y, naó applicáraó “os meios , que podiaO cooperar para obter os fins a que fe propozéraO. Primeiramente apromptáraó com grandes def- pezas 48. barcas com outras tantas artes de pefícar, envia- deiras e barcos y porém deftas apenas trinta hiriaó ao mar, todas as outras ficáraO feitas em Villa Real fem nunca ferviremo GAXXIX Além difto muitas das fociedades 1.” alliciavas com maiores interelles Os patróes mais praticos para que fugií- fem de huma para outra barca. 2.” Concorrendo com Outros compradores compravao a fardinha por hum prego exceflivo para defte modo os excluirem. Mas entre fi praticavaó o mefmo por emulagaó quando fe pefcava pe- quena quantidade de fardinha. 3.” Como fe obrigáraO a pagar toda a fardinha a 300. r." o milheiro pagavao tambem por efte prego a chamada Mariquita y (1) cujo valor perdiaó inteiramente por fer efta incapaz, de fe confervar. SIERX. Accrefce mais que naó refidindo muitos dos Socios ent Villa Real, mas confiando-le dos feus adminiftradores, e tendo eftes o feu interelle fóra de todo o rifco , naó pro- -CuráraO por negligencia , e ignorancia o adiantamento da pefcaria , combinando-o com os proporcionados interefles Tom. III. ZL das (1) Coñtumaó chamar fardinha Mariquita aquella que he muito pequena, Ma 362 MEMmORTAS das fociedades , mas contribuírao quanto lhes foi poflivel para a fua deftruigao. GUAS O ignorarem tambem o tempo, e modo de darem á fardinha huma preparagaó conveniente , para ter a duragao neceflaria para o feu confummo , nao contribuio pouco para a ruina das fociedades 5 logo no anno de 1774. como principiáraó em Marco, toda a fardinha, que nefte mez, e feguintes foi pefcada, fendo a fua preparacao feita fóra de tempo, (T) naó fe confervou em termos de poder ter confummo , e reputagaóO capaz de pagar as defpezas. $UXÁXIL O máo methodo com que os noflos Portuguezes pre- paraO a fardinha fazia, que efte fofle hum genero incapaz de loffrer a demora neceílaria para fer exportado e ven- dido nas Provincias mais diftantes do Algarve; e como naO podia ter huma prompta extracgao por ceflar aquel- la que fe fazia para Hefpanha , pelas providencias y que efle tempo deo Carlos TÍI., aconteceo y que nos annos de 1775. e 1776. Os lucros das fociedades tanto naó pagárao as defpezas , 'Que nefte ultimo perdeo cada huma dellas mais de dez mil cruzados. 6AKRÍXIN. Por todos eftes factos fe moftra, que nado tendo lucros alguns as fociedades y repugnava inteiramente que podef- fem fubfiftir : mas naó fómente ellas fe deftruíraoO a fi mefmas; porém como pagavaó tudo por hum prego excef- 1- (1) ATim o tem moftrado a experiencia aos Cataláes, porque fomente preparaó a fardinha pefcada nos mezes de Outubro ), Novembro, e Dezembro. Ñ ECONOMICAS. 363 fivo y fubornavad os patroes das barcas, dava8 dinheiros adiantados aos peícadores y nao podendo competir com eftas os fenhores das barcas moradores em Monte Gordo, e Caftro Marim , a quem alias tambem pelas Leis era livre a pefcaria y luns e outros foraó obrigados a deixal- las, e ficáraO quafi fómente as fobreditas fociedades com efte genero de negociagaó. $ XXXIV. Naó foi efte hum pequeno paflo da ruina e decaden- cia da peícaria de Monte Gordo , porque os fenhores das barcas moradores nefta praia, e aquelles que refidiaó em Caftro Marim procurando adiantar os feus interefíes, haviao de promover mais a pefcaria, do que os Socios y que vivendo fóra de Villa Real de Santo Antonio confiavaO- Íe lómente nos feus adminiítradores , os quaes fazendo ordinariamente os officios de máos procuradores y naO pro- curavao os imelos competentes de fegurar a negociagió 'dos feus coníftituintes, mas tirar todo o lucro pollivel da fua adminiftragao. GUERXXVS Das premiflas aflfima eftabelecidas fe conclue necef- fariamente y que (As meios , que applicárao as focieda- des era impoffivel , que ellas podeíflem exiftir, e como fómente nelias ficou quafi refidindo efte genero de nego- ciagaO , he evidente, que da confervacao das fociedades de- pendia a fubfiftencia da pefcaria , de fórma que diflolvendo- te aquellas, efta neceflariamente havia de cahir de fi meíma-. $ XXXVL Ifto mefmo aflim aconteceo;; porque com a morte do Senhor Rei D. Joté tendo tido as fociedades hum gravil- fimo deterimento, com pouca efperanca de fe refarcirem Za del- 364 MEMORIAS delle para o futuro, fegundo o eftado em que fe achava a pefcaria, e ceflando tambem os refpeitos pefloaes que” teriaO talvez alliciado os feus Socios, quafi todas fe dif- folvéraó com tanta brevidade, que no principio do Rei-s nado da nofla Soberana fómente ficáraO armadas no mar quatro barcas da Companhia das Reaes Pefcarias do Algar- ve, finco da do Alto Douro , e€ huma de Jofé Martins da Luz, de fórma que de 48. que as fociedades man- dárao fazer apenas trinta fe armáraO no anno de 1774., e deftas no anno de 1777. fómente ficáraO dez. HI ENPRO CNNAN Efltado da peftaria de Monte Gordo defde o anvo de 1777. oté ao prefente. $y XXXVI. Iffolvidas quafi todas as fociedades apenas ficáraO, como. já difle y dez barcas de petlcar a fardinha , e outras tantas chavegas na Cofta de Monte Gordo, os patróes , e peícadores , que nellas pefcavaO eraó Portu- guezes 5 concorriaO tambem , quando havia maior quanti- dade , muitas barcas de Ayamonte, as quaes pagaO os direitos de matanca' a Sua Magcítade, e levaó a fardi- nha para Hefpanha. 6 XXXVI Como os Portuguezes apenas davao confummo a huma pequena qguantidade de fardinha, acabariaó inteira- mente os reftos da antiga pefcaria fe naó concorreflem os Hefpanhoes tanto de Andaluzía , como de Catalunha a comprar a fardinha , que fe pefca na Cofta de Monte Gordo. Concorreo muito para ifto o ceflar em Novembro de 1778. a prohibicaó y que fe tinha feito em Hefpanha fobre a fardinha de Portugal y tempo em que pelas ordens E CON OMICAd: 365 de Sua Mageftade Catholica tornou a ter éntrada a far- dinha de Portugal com os direitos de quatro reales em cada arroba na jalgada, e 2 5 na frefca. Principiárao logo a concorrer “os compradores Hefpanhoes y os quaes 1aO quafi os unicos que daO extraccaO á fardinha , que fe vende na Lotta de Villa. Real. Go RASE Como a fardinha frefca -e falgada importada para Hefpanha' pagava moderados direitos de entrada, e efta nenhuns de dahida em Portugal, crefceo a concorrencia dos compradores Hefpanhoes y os quaes naú 1ó davao; extracgaO. á fardinha, mas com a falgacaó, e manipula- gaó da mefíma feita em Villa Real caulavaO muitas utili-: dades aos feus habitantes, e€ aos de Caftro Marim, por- que dava-fe confummo. ao fal das marinhas defta Villa; promovia-fe a induftria dos homens e mulheres, que fe occupavaOo em falgar , eftivar, efpichar a rara ns extrahir della o azeite: e por efta fórma defífde o anno de 1778. até 1782. teve tal prógreflo a pefcaria y que fe o eftado das coufas aflfim continuafle, talvez em. pouco: tempo: chegaría a ter hum adiantamento igual aquelle em que fe achava antes da edificacaó de Villa Real; porém efte feliz tempo durou pouco. GHXE: He verdade que a moderagao dos direitos, que en Hefpanha 'exigiaO á fardivha falgada (1) de Portugal, e a' franqueza, que havia em falhir a mefma defte Reino, diminuiaO muito a extracgao do fal: das marinhas; de Helpanha', e juntamente a pefcaria ) que fe fazia nas Coi- (T) Ainda mefmo da fardinha frefca pagavaó de todos os di- reitos y auncoragens, e emolumentos 1800. por pipa, fegundea affirmao alguns Commerciantes Caraláes. | 366 MEMORIAS Coflas defte Reino e como a falgagao , e preparacaó da fardinha fe fazia toda em Villa Real, ceffava a induf- tria dos Hefpanhoes que fe occupavaó neíte modo de vida, movidos do qual vinhao eftabelecer-fe muitos a Vil- la Real. 6; LEI: N Naó efcapárao eftes inconvenientes a Carlos III., o qual para os atalhar deo a feguinte providencia. Mandou éfte Principe por 'huma Lei de 23 de Dezembrode 1782., que todo o peixe freíco, que entrafle no feu' Reino, e Dominios fofle livre de todos os direitos entrando tam- bem neftes os de Alcavalla, e que o fecco, e falgado que de fóra fofle importado pagafle, além dos direitos já eftabelecidos , IO. por Ioo. de Alcavalla fem dimi- nNuúiGaS OU rebaixa alguma y de fórma y que a fardinha fal- gada de Portugal, fegundo a voz conftante dos Com- merciantes Cataládes, paga 16. pezos por cada pipa (1) quando antes nao pagava mais que 5. ou 6. : neftes termos ficáraO tam crefcidos os direitos de entrada em Hefpanha, que ordinariamente excedem o prego por que fe compra a fardinha em Portugal. 6:2:XLM. Com efta providencia confeguio Carlos TII. o adi- antar a pefcaria nas Coftas de Hefpanha , arruinando aquel- la que de fazia em Monte Gordo , crefcer a induftria e riqueza dos feus Vaflallos, e a miferia dos habitantes de Villa Real, e Caftro Marim, e outros muitos Portuguezes de fórma , que defde o anuo de 1782. até ao prelfente fe tem augmentado tanto a populagaó, e opulencia nas fron- teiras de Hefpanha y quanto a pobreza , e expatriagao nas de Portugal. 6 XLUL (1) Cada pipa tem vinte milheiros fendo fardinha regular. Z EcOROMICAS. 367 $ XLUI. Eftes effeitos triftifimos para Portugal y e vantajofos para Hefpanha neceflariamente aflim haviaO de accontecer, é correfpondérao ás viftas politicas de Carlos III. , porque logo que augmentou o Os direitos de entrada á fardinha falgada Portugueza, nunca já mais a falgagao e imanipulagaó da fardinha fe fez em Villa Real, mas na Figueirita. Daqui fe feguio hum graviflimo detrimento aos Portuguezes, principalmente aos moradores de Villa Real, porque a maior parte deftes occupava0-fe nas dif- ferentes manipulagoes de preparagaó da fardinha y, huns falgando , outros efpichando, e outros eftivando , tendo alén? da comida de falario por dia eftes 8O. y OU IOO., aquelles 16o., e aquell'outros Ioo. A mais de mil peí- foas entre homens, e mulheres que viviaO defte genero de trabalho; faltáraG 'os méios da fubfiftencia logo que cellou a falgacaó em Portugal; igualmente acabáraO quafi todas as marinhas de Caftro Marim ;. e com ella a induf- tria, e riqueza de muitos Portuguezes. $ XLIV. Nad ha dúvida “que ainda agora muitos homeéñs, e mulheres de Villa Real vaó trabalhar á Figueirita (que fica alén do Guadiana) nas manipulacóes relativas á preparagaó da fardinha y porém tem de pafílar O rio, 'que nem fempre o poderaó fazer y motivo porque já muitos Portuguezes fe achaó eftabelecidos na Figueirita, na qual vai crefcendo tanto a induftria, e populacaó, quanto a miferia em Villa Real, e fe nao for obviada por alguma providencia pública, chegará ao ponto de fer reduzida a huma praia deferta. $ XLV. 368 MEMORIAS GUXLV: Pela referida providencia que deo Garlos III. naó fómente acabáraó todos os interefles que poderiaó refultar a Portugal da falgagaO , e preparagaó da fardinha y mas tambem fe reduzio toda a pefcaria da Cofta de Monte Gordo á maior decadencia, que he poflivel , tendo aquel- la que fe faz nas GCoftas de Hefpanha cada vez maior progreflo , nafcido efte de naod fe pagarem naquelle Reino de peixe frefco direitos alguns, tanto de entrada, como de matanca. GUEN: Como em Hefpanha os compradores-, e pefcadores '1aO pagaóo direitos alguns do peixe frefco, neceflariamente Nao de ter eftes aqui huma maior recompenía do feu trabalho do que em Portugal, e efta hea cauía, por que deixaó as chavegas da nofla Cofta , e vaóO para as de Hefpanha , de fórma que logo no anno de 1783. fugírao para eftas mais de 8oo. pefcadores Portuguezes. 6 'XLVII. Por 'efta caufa ainda hoje grande parte dos noflos pefcadores vao trabalbhar nas chavegas de Hefpanha , de fórma que nas de Ayamonte, e S. Lucar de Barrameda, fegundo as informagóes que tive, andáraoO no anno de 1790. , 3000. pefcadores , dos quaes 2500. eraO Portu- guezes, nao fallando de muitos que fe occupao nas pef- carias de Cádis. j $ XLVII. He verdade que muitos deftes pefcadores vao Íó- mente a eftas Coftas certo tempo do anno, por eftar a nofla pefcaria em tal eftado y que nao adquirem quafi a | reis É CONO MU CO A/S. 369 refle algum 'nefte genero de trabalho ; porém' nad fe póde duvidar , que muitos voluntariamente fe tem expatriado de Portugal , e fe achaó eftabelecidos em Hefpanha, e ainda continuaó eftas migragóes dos pefcadores , porque como no fim da temporada ficaó ordinariamente empe- nhados, deixaó no anno feguinte as barcas Portuguezas , e fogem para as de Hefpanha. ÉS; XÍA. Naó fómente pela falta de peícadores tem crefcido a decadencia da pefcaria na Cofta de Monte Gordo, mas tambem por fe fazer cada vez mais difficil a fua extracgad , porque naó havendo prefentemente outros compradores f(enaó os Hefpanhoes de Andaluzia, e Ca- talunha y e naó lhe podendo aceitar na Alfandega de Villa Real em pagamento dos direitos outra moeda fenaó a Portugueza y como elles naó tem fenao 'a Hefpanhola em pezos duros, e o Cambio com aquella lhe he quafi impoflivel y ou muito diflicultofo por ferem os póvos confinantes muito pobres; e como tambem fem ter pre- cedido o pagamento dos direitos naó póde fahir para Hefpanha a pefcaria , fegue-fe que efta ou diminue muito do ífeu juíto valor, ou cefla inteiramente a Íua extracgao. de EA Daqui fe fegue hum graviflimo deterimento aos pef- cadores, os quaes vendo, que fe perde, ou diminue muito O valor da pefcaria por faltarem os compradores, e que por confequencia naó podem ter recompenía alguma do feu trabalho, faó obrigados a deixar as barcas Portuguezas. Naó he menos confideravel a perda, que experimenta a Fazenda Real na diminuigaó dos direitos, os quaes fao tanto mais limitados, quanto he cada vez menor a extrac- gaó da pefcaria. Por efta cauía requeréraó os compradores Hefpanhoes a Sua Mageíltade , para que fofle fervida fazer- Tom. III. Aaa lhe 37O MEMORIAS lhe graga de mandar, que na Alfandega 'de Villa Real de Santo Antonio lhe aceitaflem para pagamento dos di- reitos de fuas compras a' moeda Hefpanhola com aquelle valor y que for maúis do feu Real beneplacito. GUE: Reflectindo bem em todas eftas premiflas naó he de admirar, que dellas fe tenha feguido o grande progreflo que prefentemente fe oblerva nas pefcarias de Heflpanha eftabelecido nas ruinas daquella', que fe fazia na Cofta de Monte Gordo; e para dar huma prova bem palpavel do muito , que efta hoje fe acha limitada ; baíta fómente trazer á lembranca a differenga que ha entre nove chave- gas que hoje exiftem, e 1OO. que haviaó em outro tem- po, e entre 360. pelcadores y que na temporada fe oc- cupao na pefcaria de Monte Gordo, e 2500. que antes da edificagaO de Villa Real viviaO defte genero de trabalho”; muitos dos quaes eftavad eftabelecidos na praia de Monte Gordo , e outros fómente refidiao em quanto durava a temporada : e para conhecer o adiantamento que tem tido a peícaria “em Heflpanha bañta dizer y” que fómente nas Coftas de Andaluzia andaó no mar 75. artes de pefcar a fardinha de differentes Proprietarios, de fórma que fó- mente de tres Portos defta Provincia fahem ao mar mais chavegas do que em toda a nofía Cofta do Norte, e Sul defde Setubal até ao Cabo de S. Vicente, e daqui até Ayamonte. $ LI. Eftas' fa as genuinas caufas da decadencia da pef- caria de Monte Gordo, e naó a falta de alimento, como Jembrou a muitos, os quaes diziaó que ajuntando-fe efte em maior qgunantidade nas Coftas de Heflpanha , obrigou a concorrer para ellas a fardinha em' muito maior quan- tidade ; igualmente nao deve fer attribuida efta falta á mudanga da configuragas dá Gofta,'a qual CUN a - EcoNOomc NS. 371 algum modo influir na diminuigaó da peícaria, fe aquí tivefle augmentado muito a profundidade do mar, O que nao confta das informacgdes dos pefcadores mais antigos, e experimentados y que peicaó na Cofta de Monte Gor- do (1). Gro LÍA. Naó fe póde duvidar que hajaó cauías naturaes que fagaóO augmentar, ou diminuir a quantidade da pefcaria, e huma das que contribuem para o augmento defta fao as frequentes enchentes do Guadiana y que fe oblervaó nos annos 'chuvofos , porque neftes ( dizem os experi- mentados pelcadores ) fazendo-fe muito turva “a agua da Cofta fe ajunta muito mais a fardinha , e fe peíca efta em maior quantidade no tempo da fua migrayga6. G-LIV. Ha tambem muitos peixes, que procuraO a fardinha para della fe fufítentarem , querendo efta efcapar áos feus inimigos foge para mais perto da terra aonde por ter O mar pequena profundidade elles naó podem chegar: donde fe fegue que concorrendo na GCoíta maior quantidade deftes' peixes maiores y he mais abundante a pefcaria da fardinha. Quando efta faz a fua migragaó do mar do Norte para Levante huns annos paílfa mais perto da Cofta, outros mais diftante, e nefte cafo pequena quanti- dade de fardinha fe pefca nas artes. Aaa di $ EV.: (1) A fardinha faz a fua migragaó de Norte para Levante, e paíta pela Cofta de Monte Gordo antes de entrar na de Hef- po : quando naquella haviaO muitas chavegas , e muitos ragos fe pefcava maior quantidade de fardinha ; porém hoje tem diminuido tanto, quanto as chavegas, e os pefcadores , e efta he a caufa da difterenca da pefcaria, e nada falta do alimento, ou lambuje como vulgarmente fe exprimem. Bo MEMORIAS 6 LV. Tanto he verdade o exiítirem caufas naturaes, que contribuem para maior y ou menor abundancia de pef- caria, que havendo o mefmo número de pefcadores, e artes de pefcar, huns annos ha maior quantidade do que em outros, porque no anno de 1788. fe pefcáraO na Cofta de Monte Gordo 55723. milheiros de fardinha', no anno de 1789. — 28077. y/no anno de 1790. “- 34825. Daqui fe conclue, que a differente quantidade de fardinha , que Íe peícou neftes anuos , naó obltante haver o mefmo número: de barcas , e peícadores , depende unicamente de caufas naturaes, que a fazem variar fegundo as differen- tes circunftancias. Meios de promover a pefcaria de Monte Gordo. $ 5sL.VI. Tendo referido as caufas que tem adiantado a deca- dencia da peícaria na Cofñta de Monte Gordo, devo agora lembrar alguns meios que podem obviar a fua total ruina, Hum dos mais principaes confifte em que haja hum maior número de experimentados pefcadores. Efíte fim póde 'confeguir-fe, fe Sua Mageftade for fervida mandar, que aquelles, que tiverem a fua refidencia em Villa Real de Santo Antonio y ou na praia de Monte Gordo , paguem Os direitos de matanza mais moderados, confervando-ífe livre a fardinha falgada. $SLENVE Defta providencia neceflariamente fe havia de feguir, que os peicadores eftabelecidos na Figueirita apezar de nao pagarem alli direitos alguns de matanca haviaOo de antes querer refidiv em Villa Real, ou na praia de Monte Gor- É co NIOIMHA CO ÉS. 373 Gordo"; nao fó por ferem eftes fitios mais fadios , mas pela maior fertilidade da Cofta, muito principalmente fendo a Figueirita rodeada de efteiros, ou grandes val- las, as quaes no Inverno fazem fofftrer muito incom- modo aos feus habitantes pelas frequentes enclentes do Guadiana, e de Verao muitas enfermidades pelas aguas encharcadas que nefte lugar fe obfervao. $ LVHII. Nao fómente por eftes' meios devem fer alliciados os pefcadores a refidirem em Villa Real, mas tambem fe lhe deve dar: toda a liberdade de edificarem cabanas na praia de Monte Gordo, muito principalmente aquelles que nao tem outro genero de vida mais do que o de eíca : e para acautelar a migragao de muitos pefcadores le conveniente mandar, que as barcas fe armem no prin- cipio de Agofto, porque nefte tempo como tem já findado o trabalho da cultura das terras procuraó companha, e naó a achando em Monte Gordo vaó para Hefpanha. Por eltes ,"'e Outros meios abaixo referidos virá a fer hum dia Villa Real, e Monte Gordo huma Íó povoagaó y ou Ci- dade continuada ,) ou ao menos Monte Gordo hum fuburbio muito proximo a Villa Real. $ LIX. Além de folicitar quanto for poflivel a refidencia dos pefcadores em Villa Real, e Monte Gordo, he igualmente neceflario que nao faltem outros meios que podem contri- buir para o augmento da pefcaria ; taes ÍaO em primeiro lugar, que Sua Mageftade fofñle fervida mandar, quea Loita fe fizefle em Monte Gordo quando houverem enchentes no Guadiana, e riíco de fe perderem na foz defte rio (como já tem acontecido ) as barcas y que levaO a fardinha da Cofta para Villa Real, e que nefte tempo feja tambem livre aos falgadores o fazer a falga- - gao, 374 MEeEMmontaAs gaó , e manipulagad da fardinha na fobredita praia, é edificar as cabanas precizas para a fua refidencia. ONL Como a fubfiftencia dos pefcadores nao Íó depende da abundancia da pefcaria, mas tambeim da ua extrac- gaó , convem facilitar efta animando os compradores Ca- taldes , porque naó concorrendo eftes faltaria prefentemente o confummo da fardinha pefcada na.Cofta de Monte Gordo. Para animar muito os fobreditos compradores bafta fómente, que Sua Mageftade feja fervida mandar, que elles paguem na Alfandega de Villa Real os direitos de fahida em moeda Caftelhana fegundo o valor intrinfeco della , porque a difficuldade do Cambio diminue muito a extracgaO da fardinha, e os Direitos Reaes. 6 LXL Além de crefcer por efte meio a concorrencia dos compradores Cataláes y querendo facilitar ainda mais a extracgaO da fardinha y fazendo a importagao defta para as differentes Provincias do Reino y he neceflario, que ella pofía fer confervada por alguns mezes ; para obter efte fim devem-fe fazer todas as experiencias poffiveis, para que a fardinha tenha huma conveniente preparacaó na qual fe obtenha a fua maior confervagaO, e falubridade. ME- ECONOMNMICA s.- 37 ve ÚA DIE ALE ROS SAIR DD DIAS DA LADO ATAR EA aO mea onde E MEMORIA Sobre as Águas-Livres. PoR DOMINGOS VANDELE II. Grandiofa obra das Aguas-livres nao defmerece as da antiga Roma, cujo Arco Grande cómo coufa fingular vem delineado nas Meinorias da Real Academia das Sciencias de Pariz (1). 'Porém faz admi- racgao : 1.” Que naó fe acabafle a parte principal della, que he o Caftello y ou Mai de Agua pofta no lugar mais alto da Cidade, para fe repartirem as aguas cóm tubos, ou aqueductos fimplices, e de pouco cutto. 2.” Que fe perca pelo perene curío das aguas huma confideravel porcaó dellas. 3.” Que naó haja diftincgaó de aguas no aqueducto;, - E fem algum exame fe mifturem as aguas de diverías nafcentes. 4:” Que até agora naó fe tenhad analyzado eftas aguas. 5.” E que naó fe tenha procurado o meio de ter efta agua com a menor porgaó poffivel de /elenite. E He principio admittido por todos os Hydraulicos (2), que depois de fe haverem conduzido as aguas das nacen- tes y “ou da filtracaO, á vifinhanca de huma Cidade, fe ES des (2) Hift. de | Acad. Royal des Scien. an. 1772. 2. part. Voyage fait “par ordre du Roi en 1753. á la cóte de Portugal por Mu. da Bory. pag. t15. pl. 5. 512) Belidor . Argbitefk.. bydranlic. tom. 2. liv4. cap. 4. $ 1779 376 MEeMOoORrRTAS devem unir en: hum GCaftello, ou Mai de Agua na fi- tuagaó mais conveniente para diftribuigaó geral das aguas. Naó entrarei na difcripcad dos difterentes recipientes, ou refervatorios inferiores 5 nem em demonftrar y que os aqueductos particulares para diftribuigao das aguas nos differentes bairros da Cidade podiaó fer de metal, e aflim menos difpendiofos, que de cantaria. A difcripgaO pois defte grandiofo Caftello, ou Mai de Agua unida á Carta Topografica de todos os aquedu- dtos fe póde efperar da Direcgaó das Reaes Fábricas, e Aguas-livres. Qual foi a caufa, porque naó fe acabou efte Caftello ou Mai de Agua? Eu nao procurarei indagar os interefíes particulares, que deixárao de concluir efta taó util obra ; fabricando-ífe continuamente novas porcgóes de aqueducto ou em todo, ou em. parte fubterraneas ; chegando-fe a fazer defcer a agua de muita altura, qual he a fummidade do dito Cafí- tello , até á profundidade de muitas bragas debaixo do livel do pavimento do mefímo Caftello , para fazello defte modo inutil, ou para neceflitar-fe de nova defpeza com outros aqueductos y, que recebendo as aguas do dito Caf- tello as diftribuaO pelos antigos. A qual grande defpeza fe poderá obviar, e fazer maior (I) o mefmo Catftello, aprofundando o feu pavimento até ao livel dos actuaes aqueductos. ; II. 'Todos conhecem a immenfidade de agua, que con- tinuamente fe perde, correndo os chafarizées perenemente de dia, e. de noite: o que fería indifferente fe houvefle agua fuperabundante ; mas tanto ha falta, que conti- nuamente fe procurao novas aguas para introduzir-fe no aqueducto. Poupando-fe a agua , que fe defperdiga , e com aquel- (1) Ufando porém das cautelas neceflarias em (femelhante obra. EÉCONOMICA s. 377 aquella do Caftello ou Mai de Agua, feita mais efpagofa, fe fubminiftraria agua a muitos novos chafarizes, dos quaes alguns bairros defta Cidade tanto neceflitao. Para impedir y que a agua dos chafarizcs nao fe efperdice inutilmente , e fómente corra, quando fe quer aproveitar della; lembrou ao Excellenuffimo Senhor 'Tenente General de Valleré fazer-fe ufo da valvula movel por meio de huma pequena maquina á maneira de balanga, pa vem defcrita, e delinesda na Architeciura Hy- raulica de Belidor (1), e da qual fe faz ufo nos Cha- farizes de Pariz : mas como efta nao fería applicavela todos os noflos chafarizes, em alguns dos quaes a agua fóbe de repucho, aflfim neftes no interior de cada bica fe poderia pór huma valvula de metal, pegada por hum lado com charneira, e na parte oppofta tiveffe hum del- gado varaO de ferro para empurralla para traz, e con- fervalla aflim comprimida até tirar a agua, que fe pre- cifa; porque alargando-fe o dito varaó, o pezo da agua fecharvia a valvula. NI. Os Romanos em alguns dos feus aqueductos tinhao diftincgad de aguas, como fe póde ver no P. Monutfau- con (2), onde Íe vé hum aqueducto com tres cannaes; O fuperior para a agua Julia y O de meio para a agua Tepula, e O inferior para a agua Marcia. Nos aqueductos de Lisboa naó ha diftincgao alguma de aguas , tanto as boas, como as más fe ajuntao; e nao ha efícolha analytica dellas. Havia nos aqueductos Romanos, como fe póde ver no mefimo P. Montfaucon de diftancia em diftancia pógos , onde a agua cahindo , fe demorava algum tempo, e depofitava o lodo: e havia grandes tanques, nos quaes as aguas fe efpalhavaOo, e fe purificavao. Tom. III. 4 BOO IV. IRIA A PI AO O, UU A reis AO O a AA CG) Tomiras div. Ho chap3 qu Planchsigartig. a (2) Vol. 4. des Antquités. Planch. 128. 378 MEMORIAS IV. Até agora nao fe analyfou a agua das Aguas-livres; e fendo ella huma mifítura das aguas de varias nafcentes, que frequentemente fe introduzem no aqueducto, nunca a analyfe ferá exacta , fenaO repetindo-fe em todos os annos. Eu no anno 17091. fiz a feguinte analyfe da agua das Aguas-livres, e de huma agua do fitio de Carenque que depois fe introduzio no aqueducto. Ánalyfe da agua que corria naquelle tempo no aquedaclo. No ultimo: Pefa-licor de Baumé fubio a pollegadas 1A) To Huma Canada contém. Magunefía: us) Ene Si USE TES DS Da Selenite AS ASAS USANDO SUAS 3. Sal' marino, a bafe de alkali mineral. - - A. Sal; mariño, a" bafe? terrégao) NS STS LAS TA Além do Gaz, o qual por falta de Gazo-metro nao fe póde medir. De GCarenque. Huma Canada. Magnefias (go on dU feo Danos TS A AO ÓN SAEN ATA AA EO AS ADA DRA Sal' marino, 'a bafe de alkali mineral. - - —— 4o Sal marino y UDbáfe: ferreas 5O ús) Caño NAR 14: KE no dito Pefa-licor fubio fómente a 12. pollegadas. o. ECONOMICA s. 379 V A agua dás Aqguas-livres depofita nos feus cannos Selenite , ou concregóes de Tartaro : como coltumao fazer muitas aguas Seleniticas pelas razóes bem conhecidas dos Chymicos, que eu deixo de repetir, por nao fer efte O objecto defta breve Memoria. Outro remedio nao ha para diminuir eftas concregúes Seleniticas y que excluir do aqueducto todas aquellas aguas, que mais abundaO de dSe/enite. Concluireéi 1.” que deveria haver efcolha, e analyfe de todas as aguas , quando fe querem introduzir no aqueducto, por fer iflo taó intereflante á faude dos Habi- tadores defta Capital (1). 2.” Que para procurar novas aguas para introduzir no aqueducto o mellor Vedor de agua he a verruma deiterra. 3.” Para fazer efcavacoes com mais economia , faO ne- cellarios os conhecimentos da Geometria Subterranca. 4.” Deveria acabar-fe o Caftello, ou Mai de Agua, aprofundando-fe o feu pavimento até ao nivel dos exif- tentes aqueductos , para regular, e proporcional diftri- buigaó das aguas em todos os chafarizes. 5.” Que pondo-fe a valvula indicada , em cada bica, com a agua, que fe poupafñle, e com aquella do Caftel- lo, fe poderá entreter maior número de chafarizes. 6.” E que todos os cannos pela diftribuicao de agua deveriad fer conftruidos com maior fimplicidade, menor Bbb ii dia- (U) A agua, que agora fe introduz no aqueducto y para ajuntar a qual fe cortou aflima da Porcalhota hum Monte Bafaltico, a profundidade quafi de 200. palmos , fe deveria indilpenfavel- mente analyfar; porque filtrando-fe parte defta agua entre co- lumnas bafalticas, e outras ejeceóes vulcanicas y que contem alguma porgaó de Arfenico cubico y ou Marquefita arfenical, facilmente eilta poderá comunicar alguma coufa de arfinical á dita agua. 38O MEMORIA $S diametro, e aíflfim com menor defpeza; (fendo porém excluidas as aguas mais carregadas de JSelenite , porque de outro modo os cannos brevemente fe entupiriaO y; fabendo-fe do Conful Frontino , que tinha a direccad dos aqueductos de Roma no tempo do Imperador Nerva, que os nove aqueductos y, que tranfportavao a agua em Roma , tinhaO 13594. cannos de huma pollegada de dia- metro. Vigerao obferva, que no efpago de 24. horas Roma recebia 500:000. motos (TI) de agua. Nenhum ainda calculou, fendo taó facil, a quantidade de agua , que em igual tempo entra em Lisboa pelo aqueducéto , e quanta ainda fe precifaria para commodo de todos os bairros, e fuburbios defta Cidade. 7. “O aqueducto” , ou” galleria' fe! devenicontenvar ventilada , de outro modo ficaria nella hum ar incapaz pela refpiragaO: daquelles , que cuidaó na limpeza dos cannos, e regiftro, ou diftribuicaO das aguas. 3.2 | em fim os cannos no dito aqueducto devem cobrir-fe com. lages , para que a agua naó fe deteriore mais com a callica das paredes y e #flalactite da cal que: dellas continuamente cahe, ME- (1) Cada moio de Franca he de 288. Pintes. pe o ME mor na ea dr | A A PANS EcONOMICAS. LU AOA NENA ITA ECTR NOR Reo NUNES ON DN DN NANNNNONSAA ZAS STA e MEMORIA Sobre o prego do Affucar. Ú Por JosE JOAQUIM DE ÁAZEREDO COUTINHO;s Odos fabem do alto prego a que tem fubido o aflucar em toda a Europa (1), pela defgracada reyolugaó das Colonias HFrancezas noflas maiores rivaes nefte genero de Agricultura 5 e pelas grandes inundacgóes que tem havido nas Colonias Hefpanholas; e nas Inglezas pelos furacóes de vento muito fortes. Portugal como huma das primeiras Nacces Agricul- turas, e Commerciantes defte genero tem tirado, e hirá tirando grandes: interefles , em quanto as circunftancias nao mudarem. He agora hum problema , Se fe deve, ou nao taixar O aflucar? Dizem alguns que fim, porque a experiencia tem feito ver que- hum genero de Commercio levado ao excel- fo, excita logo contra fi a rivalidade das outras Nagóes; e faz que os compradores defle genero, ou fe difpenfem delle, fe podem, ou traballem com todas as fuas forgas para O haverem por hum prego mais commodo, e mais barato. Que efte esforco geral fará defcobrir meios de augmentar a abundancia deíle genero, até reduzilo a hum prego taO baixo, que faca, íe for poflivel,, arruinar efle ramo do Commercio da Nagao ambiciofa, que levou o feu genero a hum preco exceflivo. Ifto fao verdades elementares y que fe nao podem negar 3 pois que todos fabem que. o principal objecto | do (1) Em Pariz de eta vendendo a 400. Idis O arratel., e nefta Córte a IJO. e a 16O. Téis. 382 MEMORTAS do Coimmercio he trazer a abundancia ao Paiz da caref- tia y he fazer que em hum Paiz naO haja fuperfluo ; e que no outro nao haja falta. Mas como a taixa do aflucar pofla nas circunftancias prefentes atar as m2os, ou pór hum freio a eífa cubica que fe teme das Nagóes Commerciantes, he que eu naó poflo entender: pois que he indubitavel, que para qual- quer genero de Comñmercio excitar á cubiga do Nego- ciante, nad he-neceflario que fuba a hum prego exceflivo; mas fim bafta que chegue a hum preco que dé lucro. Logo todas as vezes que a taixa fofle ( como hoje de Jjuftiga deveria fer ) mais aflima do ordinario do tempo da abundancia , ficaria fempre exiftindo huma porcaó de fermento muito baítante para fazer excitar a cubica do Negociante, e por confequencia fería de pouco, ou ne- nhum effeito o remedio da taixa; viíto que nao cortava pela raiz a origem da cubiga. Ainda digo mais; o remedio da taixa do aílucar nas circultancias prefentes nao fó fería prejudicial para a Agricultura , e para o Commercio da NacaO, mas até mefmo para Os Nacionaes confummidores defte genero ; pois que quanto mais baixa fofle a taixa em Portugal, tanto mais deprefla os Negociantes Nacionaes , e Eftran- geiros o levariaO para fóra do Reino, para tirarem hum máiór interefle do fubido prego, em que elle fe acha hoje em toda a Europa, e ainda na Africa (7): e'defta forte le veriao em bem pouco tempo os confummidores da Nacáó fem aflucar, e os Agricultores fem dinheiro , ou ao 'Mmeños fem o excefío da taixa, Ou fem aquelle maior interefle y que. podiaO tirar do feu genero. Dizem alguns , que entretanto virá vindo mais aflucar: mas de donde? A canna, de cujo extracto fe faz o aflucar, nao produz -em toda a parte 5 cella he fó propria dos Paizes quentes j e nao he huma cultura taó facil, que fe faga dentro de tres ou quatro mezes. Nas- (1) Em Salé eftá a 400. téis o arratel. E CON OMIC A s. 383 “—7/Nas Colonias Eftrangeiras defde a fua plantacaóo até á fua colheita fe paflao mais de 18. e'2O. mezes (1) , e outro tanto tempo para fe reduzir a aflucar, fazelo branco, encaixar, e conduzilo para a Europa ; além das fábricas ue he neceflario ter logo promptas para a fua manufía- SS O que tudo fe naó faz em menos de tres annos. Nefte anno nao fobejou aflucar nas Colonias Agri- cultoras, antes pelas dezordens fabidas, e grandes inun- dacóes que nelías houveraó , faltou de repente muita parte do que era neceflario para o confummo annual da Europa. O córte ou a colheita das cannas naó fe faz to- dos os dsas , 1ó fe faz em hum certo tempo do anno; a perda de huma colheita, ou de huma fafra nao fe repara em dous nem em tres annos. Logo em quanto nao chega a outra fafra, ou em quanto fe naóO reparao eftas perdas, onde fe ha de hir buícar mais aflucar? Dizem huns que da India 5 outros que das. plantagóes , que fe haOó de fazer na nova Colonia da Sería Leoa na Cofta da Africa. Ifto fó ferve de provar a grande falta que ha de allucar na Europa, e na America: masynaO que eftes meios ÍejaO capazes de arruinar o noflo Commercio nefte genero , nem que os aflucares da Afía, ou da Africa poflao entrar com os nofíos em concorrencia, 2O menos neftes IO. Ou 12. annos : oxalá Íó Portugal fóra fenhor defte ramo de Commercio. . ” | O aflucar das Indias Orientaes he muito inferior ao -noflo em bondade, e qualidade (2); as defpezas, e rifcos defde o Brafil até á Europa. f26 nada: em. comparacao das defde o Ganges até ao Téjo. O aflucar da Cofta da Africa ainda. fe naGO.fabe que tal ferá 5.ainda fe haó de eftabelecer as. Colonias ; ainda fe haO de amancar as-terras para as fazer proprias para a cultura do aflucar (3); ainda e (1) Labat' Voyag. áux Isles de PAmeziqg. chap. 5. du Sucre pag.. 14O. tom. 3. O Eabalsdosrom Fo. pago t27: (3) Labar d. tom. 3. pag. 127. 134. 384 MEenMOoORrrtTAS fe haó de fazer as fábricas, ainda fe haó de procurar os Metftres para ellas Acc.: he neceflario fer muito puzilanime para ter medo deftas fantaífmas. Dizem outros que he neceflario prohibir, a exportacao do aflucar para fóra do Reino y ou ao menos até hum certo número de caixas. Como, ou com que juíta razaó, fe poderia nas circunftancias prefentes obrigar o Nego- ciante a vender o feu genero fem lucro, e talvez por menos do que comprou no Brafil com atencao ao fubido prego da Europa , confiado na boa fé, e na liberdade con- cedida ao Commercio? Como em tal cafo: fe podería evitar o contrabando; como acautelar que 'os Negociantes ainda Eftrangeiros o naó foflem fazer até mefmo nas Coftas do Brafil ? Que vigias, que guardas naó feriaO precifas , para evitar que o Agricultor o naó vendefle a quem melhor lhe pagafle o feu genero ? O contrabando do tabaco he huma prova defta verdade; o tabaquifta naó poupa dinheiro, o con- trabandifta nao teme caftigos, Quifquis hbabet nummos felict navigat aura Sc. Petron. Arbit. Mas fupponha-fe que nada difto aconteceria : que utilidade fería para a Nagaó tirar da bocca do Agricultor carregado das muitas, e grandes defpezas, que comfigo traz a fábrica do aflucar, para o metter na bocca do rico e do farto, que vive no tneio do luxo? Dizem alguns que o aflucar fe tem feito hum genero da primeira neceffidade, e que por iflo he neceflario tai- xalo. Defta forte fería precifo taixar O baetao no tempo do Inverno; e a feda no tempo do Verao: mas chamem- lhe como quizerem ; as palavras naó mudaó a eflencia das coufas: a verdade he que o aflucar he de huma ne- ceflidade real para o Agricultor, e de huma neceflidade facticia, e de meto gofto para o confummidor : e neftes dous extremos nao deveráO prevalecer os direitos da pro- priedade ? dever-fe-haó :atropelar direitos tas fagrados? A fábrica do aflucar pede muitas forgas , e grandes fundos y e com tudo os feus lucros naó correípondem ás ECONOMICAS. 385 ás fuas grandes defpezas (1): nao ha hum trabalho mais rude , nem inais violento ; os trabalhos das forjas do ferro , e das fábricas de vidro naó tem comparagaó com as do aflucar (2). A efperanca de hum dia feliz he a que mais anima ao homem nos feus trabalhos : cortar ao Agricultor efta efperanca , pela taixa do feu genéro y he cortar ao confum- midor defle genero aquelles mefmos bragos que mais tra- balhavaO para o feu regalo- Dizem alguns que o alto prego do aflucar he fó util para os noflos Negociantes, mas naó para os noflos Agricultores do aflucar 5 por eftar efte genero taixado por huma Lei no Brafil. Supponha-fe por hum pouco que aflim he: por ventura os noflos Negociantes naó trabalhaO tambem em beneficio da Nagaó? elles fó devem eftar fujeitos a perder, e naó a ganhar? Proluba-fe o monopolio , prohiba-fe a fraude, mas naó os lucros de hum Comúercio licito y que a todos he livre. Mas tornando á dita Lei: ella fó poz huma taixa, para que os Negociantes, que muitas vezes imaliciofa- mente adiantavaó dinheiros aos Agricultores do aflucar, nao abufaflem da neceflidade delles, nem lbho tomañlem em pagamento por menos da dita taixa. Mas efta com tudo fó tem lugar quando o aflucar Tom. III. Ccc he (U) Labat d. tom. 6. chap. 1. pag. 45. Qu'on compare la depénfe d'une fucrerie , et celle d'une Cacaotitere qui auroient donné le méme revenua , ct Von verra par la difference qui fe trouvera entre Dune et Pautre y qu'une Cacaotiere eft une riche mine dor , pendant qu'une fucrerie ne fera! quune mine de fer. (2) Labat d. tom. 3. pag. 409. Em algum genero de Agricul- tura hum efcravo naó trabalha mais de 12. horas por dia; na fábrica de aflucar trabalha 18. horas feguidas : efte trabalho, por fua natureza exceflivo, abrevia a vida dos efcravos, extingue hos pais e nas máis O germen da propagagao , que aliás he'hum dos maiores foccorros para o fervigo das mefmas fábricas : hum ÍO anno de fecca deftroe os paítos, matta huma boiada inteira, e caufa perdas irteparaveis. . 386 MEMORIAS he comprado dentro do mefmo engenho, ou na fábrica; mas nao depois que o fenhor do engenho, ou o Agriz cultor do aflucar faz com elle as defpezas dos caixóes, carretos de terra, e de mar, além dos muitos rifcos que corre por fua conta até O pór no trapixe, ou no armazem público da venda: porque já entao cada hum vende pelo mais que póde aflfima da taixa, ou pelo prego que corre; como todos os dias fe eñtá praticando naquellas pragas. Do expendido fica manifefto o quanto fería prejudi- cialiflfimo a Portugal, e quafi mefmo impraticavel nas circuníftancias prefentes, pór-fe huma taixa no aflucar, pois que fendo como he hum genero de Commercio de quafi todas as Nacóes (1), fó a convengao geral de todas as Nagóes he que o póde regular; principalmente quando huma NagaO nao he a fó Agricultora, ou a unica fenhora defle genero : de outra forte a Nacaó que fe quizer oppór á torrente das outras, ou ha de fer pizada pela multidaó das concorrentes y ou ha de feguir O impulífo que ellas lhe- derem:. Kis-aqui a: razaO porque os generos alfandegados nao. podem fer reduzidos a huma taixa certa. Eu paflo a moftrar o quanto ferá util a Portugal que o aflucar fuba ao mais: alto prego pofñlivek : Os Portuguezes , e: os Hefpanhoes, que primeiro defcobríras a India y foraó tambem os primeiros que apren- dérad dos Indios o- modo de cultivar e fabricar o aflucar, e O vieraO enfinar á Europa, e eftabelecérao fábricas nas lias da Madeira, 'e das Ganarias. Depois paílando á America onde acháraO cannas de aflfucar nacidas naturalmente, como ateflaó os primeiros defcobridores principalmente do Rio de Janeiro pelos an-- hos. de 1556. (2), eftabelecérad. novas fábricas pelos an- nos. (1) Os Portuguezes., Francezes , Inglezes, Hefpanhoes y Hol- landezes, Dinamarquezes todos mettem na Europa aflucares das, fuas Colonias d'Ámerica, e alguns os trazem de Alexandria. (2) Lery Hifítoir. navigat, in Brefil chap: 12. ECcOoONOMICAS. 387 nos de1580., e aperfeigoárao tanto os feus aflucares , que excedérao infinitamente em belleza, e em bondade aos das Indias Orientaes (4). Efta bondade com tudo provém mais da qualidade do terreno, do que da maó-do Agricultor, ou do Fa- bricante : porque a canna, de que fe extrahe o aflucar , fegue a'natureza dos fruétos , que ainda que fejaó da melima efpecie, faó com tudo mais, ou menos doces, conforme a qualidade dos terrenos. Hunm arratel de aflucar, por exemplo y muitas vezes adoga mais do que dous arrateis do de outro terreno , como aexperiencia faz ver todos os dias nas confeitarias. Efta preferencia , que indubitavelmente tem os aflucares do noi Ío terreno a'refpeito dos outros (2), he hum dom da natureza , de que a induftria' extrangeira nos naó póde privar. Os Holiandezes tendo aprendido dos Portuguezes ein Pernambuco “a fabricar alflucar; depois de expulfos deíta Capitania pelos Pernambucanos em 1654. (3), forao entinar aos Francezes da Ilha de Guadalupe, e da Martinica, e aos Povoadores das outras Ilhas daquelle Archipelago; é pelo mefmo tempo eftabelecéraó tambem os Inglezes fá- bricas' de aflucar nas Ilhas de S. ChriftovaO y, e de Bar- bada (4). Mas a tempo ém que as noflas fábricas de aflucar fe achavaó já muito melhoradas, com mais de 74. annos de adiantamento, do que as de todos os Extrangeiros, e nós quafi fenhores unicos defte Commercio , fe defco- brírad para nós defgragadamente as Minas do Ouro, que nos fizeraó defptezar as verdeiras riquezas da Agricul- Ceo tu- (1) Labat d. tom. 3. pag. 127., 129. (2) Diétionnair. univerf. du Comméerc. tóm. 3. pag. 87O. Col. 2. Le plus belle ( fucre ) vient du Brefil. (3) Caftriot. Luzitan. part. 1. liv. 1O; Artigos Militares, pag. 689. (4) Labat d. tom. 3. pag. 18o. 388 MEMORTZAS tura para trabalbarmos nas de mera reprefentacad) (1): A riqueza rapida daquellas Minas, que tanto' tem augamentado a induftria dos Extrangeiros , chamou a fi quafi todos os bragos das noflas fábricas de aflucar: efté cego abandono fez que ellas foflem logo em decadencia. Desde efta época fatal para a nofla Agricultura , os Extrangeiros ',- fempre habeis em fe aproveitar do noflo defcuido, trabalhárao com todas as fuas forzas por nos arrancarem das máos o noflo grande ramo do Commercio. A ifto accrefceu mais em favor delles a paz de Ryfwick feita em 1697. entre a Franca , Hefpanha, Hollanda, Alemanha , e Inglaterra, que lhes deu mais tempo para melhor fe eftabelecerem. | Os Francezes fizerao logo tantos progreflos:, que el- les mefmos. disiad que fe aquella paz tivefle durado mais tempo, as fábricas de aflucar teriaO. fido para elles hum. fegundo, Perú (2). Mas fe nós hoje bem calcularmos os noflos interef- fes, O Perú da Franza paflará para Portugal. Nas Antilhas defde que fe planta a canna: até que fe corta, fe paílao mais de 18. e de 2O. mezes (3) 57noQ Brafil. naGO: paíla de 12. até 14. .mezes, (ou como. lá fe diz, de dous Margos )., no que já fe vé que a natu- reza trabalba mais em noffo favor, ao menos quafi huma 3.3) parte 5 e por confequencia aquillo-que elles fazem em tres annos nós fazemos em; dous. | Portugal que primeiro defcobrio a Cofta de Africa ainda hoje conferva as melhores Colonias dos refgates dos efcravos y. que lhe: produzem bragos com menos def- pezas do: que: as outras Nagóes.. O Brafil eftá defronte de Africa, communicando-fe: por huma navegagao mais breve, e em todos os tempos do anno: o que tudo dadas : as (1) AMontefquies Efprit des Loix: livo 21. art. 18. Labat d. tom. 3. pag. 323. ó (2) Labat d. tom; 3. pag. 324. G) Labatr d. tom. 3. pag. 12O. ECONOMICA s. 389 as méfmas proporgóes produzirá mais em noflo favor huma outra 3.? parte. O noflo continente do Brafil he muito dilatado, e por iflo nos podemos alarvgar y e efcolher terrenos proprios para as cannas á nofla vontade: e pelo contrario a maior parte dos Agricultores noflos rivaes , por iflo que vivem infulados , vivirao fempre limitados, e cercados de mar. Contra elles accreíce mais que os furacóes de vento muito frequentes naquellas Colonias “defde 21 de Julho até 15 de Outubro (1) lhes arrancaO as fearas, e muitas vezes Os edificios y e lhes caufaO todos os annos irrepara- veis perdas: eftes mefmos furacóes faG perigofiffimos para a navegacgaóO daquelle Archipelago (2), e por iflo faó maiores as defpezas dos feguros y que carregaO fobre as Íuas mercadorias. Havendo qualquer guerra entre aquellas Colonias, além das. perdas, que ella comfigo traz , as fuas planta- gOes , e fearas ÍaO muitas vezes queimadas, e deftruidas, pela facilidade com que faó atacadas por todas as partes pelas Náos inimigas; prejuizos eftes que as noflas nao fentem facilmente, por ferem as noflas Coftas por natureza defendidas, ou pelos grandes rochedos , ou pelos dila- tados baixos, e as noflas plantacóes faó pela maior parte pelo: interior do Paiz. O meio de promover ,. e adiantar a induftria da Nacao he deixar a cada hum a liberdade de tirar hum maior interefle do feu trabalho: os Inglezes, e os Hol- landezes , primeiros meftres da arte do Commercio y tem dado a todos eftas ligúes. Os Inglezes tem levado o feu ferro polido a hun prego exceflivo 5 elles já O: fazem valer mais do que o Ouro : da mefma forte os Holilandezes a refpeito das fuas efpeciarias, que até muitas vezes queimaó, e deitaó ao mar'o exceflo dellas, para que a ífua mefma abundancia Os (1) Labat d.-tom. 2. chap. 12. pag. 223. (2) Labat d. pag. 23O. p 3090 MEMORIAS y os naó obrigue a abaixar de prego (1): elles nao temem a concorrencia imaginaria, efperaó que ella feja effectiva;5 para entao governarem a balanga a feu, favor. Elles fabem que huma Nagaó, depois que. chega a fer unica fenhora de hum certo ramo do Comercio y, póde entaó dar a lei como quizer, fem temer os esforzos que contra ella fizerem as Outras Nagóoes. Bpalos "He neceflario com tudo que ella, na occafiaO da concorrencia y faiba abaixar gradualmente o prego do f(eu genero favorito, até fazer que a Nagaó rival ou nao ache lucro ,y ou fucumba debaixo do pezo dos feus mefmos esforgos : o Comincrcio fegue a natureza de todas-as coufas, que depois de tomarem huma certa carreira ,. nao he facil de as fazer tornar. ; A larga experiencia das Nagóes Commerciantes tem. feito ver, que huma Nagaó naó faz á outra hum efpolio defta' natureza , fem que haja ou algum defcuido , e má politica da parte da efpoliada , ou alguma revolugaó impre- vita, a qual naó podem acautelar forgas humanas. Portugal perdeo a fuperioridade da fua Agricultura , e do feu Commercio, pela cegueira com que correo atraz de huma reprefentacaó, e de huma fombra de riqueza, fem ver que deixava atraz de fi o preciofo corpo que ella reprefentava; fem dúvida porque a fombra parece muitas vezes maior do que o corpo. Perdeo Portugal em tonfequencia a fuperioridade da fua Marinha, porque hum Navio carregado de Ouro nao Occupa tantas Náos y nem tantos mil homens, como huma frota de igual valor carregada de affucar, cacáo, café, trigo y arros, carnes, peixes falgados Kc. A revolugaó inefperada accontecida nas Colonias Francezas he hum. daquelles impulfos extraordinarios, com que a Providencia faz parar a carreira ordinaria das coufas : agora pois que aquelles Colonos éftao com as maos (1) Bougainville Voyag. 'autous. du úond. part, 2. chap. 8. PaAÑ- 197 ; ECcCONOMICAS. 301 máos atadas para a Agricultura , antes que elles prin- cipiem nova carreira , he néceilario que apreflemos a nofla. O interefle he a alma do Commercio 5 e como elle tanto anima ao Francez como ao Portuguez y he necef- fario deixar-lhe toda a liberdade ao fubido prego do affúcár 5 quanto elle mais fubir, mais fe augmentaráó as noflas fábricas, e o noflo Commercio. Em quanto os Extrangeiros reformaó, ou fazem de novo as fuas fábricas e plantagóes y jJá nós Mes levamos a vantagem do melhor eftado das noflas : e fe nós traba- lharmos com induftria e forgas iguaes ás dos noflos rivaes, por iflo que temos a natureza em noflo favor , ou fempre os havemos de exceder em dobro, ou elles nos haó de ceder o campo. Para maior adiantamento do Commercio do aflucar fe deve tambem promover a cultura do cacáo, canella, baunilha., e caté: todos eftes generos daO as máos entre fi; quanto mais fe augmentar o gofto deftes , tanto mais neceflaria fe fará huma maior abundancia daquelle. 'Todos elles nafcem e produzem muito no Brafil: o café principalmente do Rio de Janeiro he fuperior ao melhor vindo de Moca : repetidas experiencias feitas pelos bons conhecedores lhe tem dado toda a preferencia. A canella do Brafil precifa de foccorro fuperior; fería neceflario rebaixar-lhe os direitos das alfandegas )- e prohibir-fe a que vem dos Extrangeiros : e fe he verdade, como fe diz, que os Naturaes das Moelucas 'nad eftao contentes com os Hollandezes y bem póde fer que efta defordem entregue mais deprefía a Portugal a fuperiori- dade defte Commercio, pela muita abundancia com que a natureza fem induftria, nem trabalho, produz a canella: no Brakil. Em fumma , a occafiab-agora nos defafia ; ella he ligeira , e voluvel; fe fe naó-lanfa maó della, foge , vda, e deflapparece. ME- 392 MEamoRnRtaAsS a ameno na micros E ÁN | MEMORIA Sobre o “Malvaifto do defiviéto da Villa da Cachoeira no Brafil. PoR JOAQUIM DE ÁMORIM CASTRO. E as obfervagóes, ainda que imperfeitas na fua origem, fobre as diverfas produccóes da natureza foraó fempre ás que fubminiftrárao objectos uteis ao homem , alteis ao Eftado , naó he com tudo menos intereflante a prefente obfervacaO. Ella faz ver de quanta ponderagaó , e utili- dade feja ao Commercio Nacional a defcoberta de huma planta, que fornece em grande abundancia hum linho fi- niflimo , e baftantemente fibrofo , bem femelhante ao linho canamo poltoque muito fuperior a efte na fua cór, gran- deza , bondade, e refiftencia. Naó fe limita unicamente o conhecimento das plantas nas: refpectivas relagóes das fuas virtudes , e nas fyfte- maticas defcripcóes, mas fim nas juítas combinagóes das fuas utilidades ; fe os differentes Naturaliftas , fe os celebres obfervadores Kempfer nas fuas Amenidades Exoticas, Gronovio na Flora Virginea , Catesbi va Hifloria Na- tural da Carolina y Plumier na da America, Pifon, Maragraf na do Brafil , e outros tiveflem lancado as ífuas viftas fobre as utilidades reaes, que as mefmas podiao fornecer ao Eftado ; que vantagens, que riquezas nao tiraria a humanidade principalmente nefte fertiliffimo Paiz, aonde a falta de obfervagcóes tem feito defapparecer mui- tos ramos: de Commercio 'em total prejuizo da pública, e geral utilidade. O exame das muitas madeiras de conftruccgao naval, de que eu me encarreguei, faz apparecer a curiofa obfer- vagaO de todas aquellas plantas, que podeflem fubminit- j | trar ECONOMICAS. 395 trar huma fuftancia fibrofa, com que fe fabricaflem cordas, e amarras, para fervirem utilmente ao ufo das proprias embarcagóes , que fe conftruiflem no Arfenal defta Capi- tania; e entre ellas com preferencia a todas foi defcoberta a prefente planta conhecida nefte “Territorio da Villa da Cachoeira com o nome de Malvaifto;, e a mefina que Linneo nuúmera na Clafle de Monadelpbia Polyandria pelo número , e configuragao dos feus eftames. 'Tem efta planta, como algumas da mefina ordem, dous calices periancios monofilos , divididos em finco partes tanto O externo como o interno, com as fuas laci- nias fanceolatas 5 a fua corolla de finco petalos unidos na bafe; e os petalos ouafi esfericos nas fuas extremida- des; Os feus eftames em grande quantidade unidos em fórma de hum tubo cylindrico y com as antheras reni- formes , pofto dentro da meíma corolla, e aberto pela (parte fuperior por onde fahe o eftigma do piftillo; o fecu germe unico com o eftillo filiforme y dividido na fua extremidade em muitos filamentos , todos elles orbiculares (principalmente nos eftigmas ; o feu fructo redondo, chéo todo de pequenos efpinhos, ou aculeos, com que fe une aos “corpos y que por entre elle paílad y conhecido na fraze Natural com o nome de Pericarpio, dividido em finco comcameragóes de fubítancia lignofa, cada huma com a fua femente quafi reniforme de huma polpa fa- tinacea , e de cór preta exteriormente; as fuas flores fol- litarias unidas aos troncos por pequenos péfinhos, excepto na "extremidade do caule afcendente onde fe encontrao tres, “e quatro , de cór de rofa, que fazem viftofa efta sarvore principalmente de manhá até o meio dia y e dabhi para a noite fe fechao volvendo os feus petalos huns fobre os Outros ; as fuas follas trilobatas, e petiolatas, pela -parte inferior quafi tomeutofas femelhantes á Salvia : serefce nos terrenos arenatos, e humofos ás alturas de 15. (e) 2o. palmos, langando muito para os lados troncos par- ciaes 5,as Íuas raizes perfiltentes filiformes. E vegeta em Tanta abundancia por todo efte territorio, que fórma os Tom. III. Ddd mat- 394 MEMORIAS mattos, que fefiftem aos repetidos trabalhos dos proprios lavradores na preparagaO dos terrenos para as fuas plan- tacóes. | A grande abundancia com que fe encontra a prefente planta em todos os terrenos y e com elpecialidade nos humefos arenatos fem cultura alguma, faz ver de quanta vantagem naO ferá para O futuro a plantagade cultura defte novo genero, e intereflante preparagao do feu linho o mais excellente que fe tem examinado até O prefente no Brafil : a facilidade com que fe prepara comvida a fua extracgao. Confilte 'aquella em fazer-fe córtes dos troncos , tiradas as folhas , e fementes, e poftos pelo tempo de oito, e dez dias dentro de agua, até fe podérem feparar a cuticula, epiderme e livro com as máos; O que confeguido fe vai lavando o ligno fibrofo até ficarem brancas , e limpas as fuás fibras; O que logo fe confegue , e com efte unico , e breve trabalho fe obtem o linho no eftado em que fe vé da amoftra , fem que feja necef- fario o trabalho das penofas operagóes que fe praticao com o linho canamo y € com O que gira no Commercio Nacional. SaóO as fibras que (fe tiraú defla arvore em muitos maior quantidade y mais compridas, e de huma alvura femelhante á da feda, que com fumma facilidade fe fiaó formando fíos, e linhas muito fortes, e mais refiítentes, do que a de outro qualquer linho conhecido y como a experiencia me moftrou , fem que tiveflem as referidas fibras outro beneficio, que o mencionado 5 vindo a fer a fua refiltencia para a do linho como tres para hum. Experiencia efta que faz decidir fobre a fua grande utilidade na fadtura das cordas e amarras, que fendo muito mais refiftentes, que as feitas com as outras efpecies de linho, faó preferiveis naó fó por efta razaó no Com- mercio', mas pela maior commodidade do prego com que faó fabricadas pela abundancia, e pouco trabalho, que ha na preparagaó do mefmo: o qual á proporcgao que for mais bem trabalhado, he fem dúvida, gos fe as É CON Ó Mi CAIS: 395 fará mais capaz para todas as efpecies de tecidos finos ; fobre cujos refultados fó poderáo decidir as competentes experiencias que fe fizerem. 'Todo o mundo conhece o grande ramo de Commercio que fornece á [Ruíflia o linho canamo , e as grandes van- ragens que, delle recebem os Hollandezes; e quantas naó póde fubminiftrar a Portugal a prefente planta y que logo fem maior preparagaó offerece o feu linho, no eftado em que o vemos, fino, lifo, e com baftante alvura? Quantas operacóes nao ÍaO necellarias para fazer fervir no Com- mercio o linho canamo , o linho mourifco , e o linho gallego , que aflfim melmo com os penofos trabalhos offerecem grandes intcrefles á Nacaó na exportacaó dos muitos. pannos de linho para o Brafil, que fegundo o calculo do, anuo, de /1787. OrgáraO a 3:735000. varas de panno, naó fe fazendo menfao do confummo do niefmo linho nas refpectivas fábricas do Reino, vindo em con- fequencia. a ler o referido genero hum dos ramos do Commercio activo? A falta da cultura do linho canamo em Portugal tem feito, com que efte genero feja importado dos dif- ferentes portos Extrangeiros para fupprir ao confummo da. Nagaó: e Sua Magettade houve por bem mandar ás differentes Provincias do Brafil a femente do referido linho para fe plantar, e cultivar nefte Paiz; as expe- riencias que fe fizeraó no termo defta Villa com a plan- tagaó do mefmo , foraoO infructiferas , e fruftadas , ou pela ignorancia , e inercia dos lavradores, ou pelo defeito da femente: a elte pode fupprir com preferencia a prefente arvore y, que fendo propria defte Paiz, e crefcendo ás alturas defcriptas fem trabalho y nem cultura dos feus habitantes, fica fendo a mais apta para della fe tirar o feu linho , que quando naó houvefle de fervir a tecidos finos , e delicados, ferviria fem dúvida ao confummo das fábricas de cordas, e amarras , que fe fizeflem, por ter já decidido a experiencia fobre a fua fortaleza, e refiíftencia. Ddd ii E ap- 306 MenmnoRkTtaAS E applicado unicamente a efte fim; que vantágens, que interefles nao tira a Nacaó defte novo ramo de “Commercio na fubminiftragao de hum linho y de que fe odem formar cordas, e amarras naO fó para a Marinha Merdattcil ; mas tambem 'para a Marinha Réal'5 técer pannos que poílaó imuito bein fervir de vellas ás embar- cacóes pequenas, e aos Navios de alto-bordo ? A expe- riencia fobre a duracaO que tem a mefma planta dentro da agua, fem que as fuas fibras fejaO damnificadas , faz ver y que até por efte principio he preferivel o prefente tinho a todos os outros , que Íó invernifados com o alcatraO , e bréo refiltem ao tempo. A facilidade com que fe prepara aquelle linho af- fegura o eftabelecimento e duragaó defta Agricultura , por- que fendo os lavradores , de que fe compóe efte termo, a maior parte delles da Agricultura do tabaco , podem fem interrupgaó do beneficio do feu genero, plantar e femear. a prefente arvore, no calo de a naóO terem nafcida nas fuas proprias terras; fem que para efte fim fcja ne- ceflario occupar muitos brazos, por nafcer a meflima arvore fem ' preciláó6 , e neceffidade de cultura, e trabalho do lavrador y que poderá no tempo imais opportuno fazer Os velpectivos córtes da planta; nao lhe cauzando prejuizo algum qualquer demora que haja, por fer efta perfií- wnte , e duravel no terreno muitos annos, fem fer def- truida pela formiga , chuva , ou fecca. Agricultura efta que pcla fua duragaO fe faz muito mais vantajofa aos proprios lavradores; os quaes tanto que formarem Os córtes nos troncos parciaes da planta, deixando illefa a caule aícendente , he fem dúvida que teraó. fempre huma Agricultura perenne , nad fendo ne- ceflarias novas plantacoes; por quanto as fementes dos mefnos troncos, que ficas, cahindo nos terrenos, vao produzindo outras infinitas arvores, de forte que nos luga- ves, Onde fe cria a referida planta, he quafi inextinguivel a túa vegetagao, apezar dos trabalhos dos lavradores na prepa- xracad dos feus terrenos y como a experiencia tem mottrado. A aí- E CO NOMICAS. 397 "A'afperidade que ainda fe encontra nas fibras do prefente linho, he nafcida do pouco beneficio que a met- ma planta tem na preparagaó do feu linho, que fem fer vaftellado , nem foffrer 'os mais trabalhos proprios á planta do linho , fornece as fuas fibras no eftado em que fe vem; moftrando muito bem que á proporg-ó que for fedado, e beneficiado y ha de fan nas fábricas com mais commodidade; as experiencias que fe fizerem fobre a fua maior perfeigaO y e brandura y decidírao tam- bem fobre'a fua maior utilidade , e vantagem. Nem he menos intereffante O referir-fe a perfeigaó com que ferve ás tintas diverífas, na facilidade, e' promptidió com que as recebe y fem fofírer a longa preparacaO dos tinturei- ros, que apezar dos trabalbhos de M. Hellot, e outros habeis Artiítas já mais podem tingiw o linho com todo o brilhante das córes primitivas as quaes , bem feme- lhante á feda , recebe efte linho, como das amofttras fa- cilmente fe conhece naO tendo outra preparagaO mais, do que fer mettido em rama nas tintas preparadas com o páo Brafil em efcarlate 5 com amoreira em amarello, e com outras muitas eflpecies de drogas nas proprias tintas que ellas fornecem. As amofíftras poftoque imperfeitas por falta dos inf- trumentos neceflarios, “O defeito com que foi fiado por nao haver os conhecimentos neceffarios nos operarios defte territorio para o dito fim, daó bem a conhecera perfeigao de que elle he capaz logo que for preparado, e tratado com o mefmo beneficio do linho y e fiado por quem tenha a precifa intelligencia, devendo unicamente as experiencias decidir fobre a fua bondade; a fim de que apparega mais eíte ramo de Commercio, de que. he capaz eñe territorio em tanta utilidade do interefle Geral dos Nacionaes. Fazer olhar aos'habitantes do 'Paiz para efta/ Agri- cultura com utilidade he'o meio máis eflicaz de promoves O feu eftabelecimento. A prompta fahida do genero por pregos certos 'e vantajofos afleguray a fua 'duragaó, e extracgao; por cujo fimaas refpectivas fábricas do Reino des 398 "MEMORIAS devem' comprar com anticipacaó todo o linho env rama que fe produzir' defta planta , para defte modo animar aos cultivadores ; o qual póde fer exportado em 'rama, ou eftrigas 'dentro' de 'faccas da mefina fórma que, o algudaó , pára nas: proprias fábricas 'fe lhe dar.o ultimo benéficio (de que he fufceptivel. ! ] Eis-aqui “os meios mais proporcionados ao eftabele- cimento da prefente Agricultura , e as obfervacóoes adqui- ridas fobre a propria planta y, das quaes como de prin- cipios certos fe tira eftas neceflarias confequencias. Primeira Confequencia. Que a planta conhecida nefte Paiz com o nome de Malvaiíco , fornece huma fuftancia femelhante ao linho capaz de receber todas as tintas. Segunda Confequencia. Que efte linho he muito mais refiftente , que os outros linhos conhecidos no Commercio, e por iflo util ás fá- bricas das cordas, e amarras. Terceira Confequencia. A? proporcao que for mais bem tratado, e benefi- ciado , perderá a fua maior afpereza , e fe conftituirá mais capaz de 'fervir ás refpectivas fábricas do Reino em tecidos finos. Quarta Confequencia. A abundancia defta planta por todos os terrenos fem maior traballo na fua plantacaO , e preparacaó do linho eftabelece a íua colheita y e utilidade, com grande interefle dos proprios cultivadores, e do Comercio Nacional. O ze- E coN O MICIE S 399 O zelo com que me emprego no Real fervico de Sua Magefltade, e a obrigacaO de fiel vaffallo faó os mo- tivos que me obrigao a aprefentar á Academia efta rela- gaó , e a amoftra do mefmo linho, para que fendo exami- nada por experiencias mais certas, e exactas, fe conheca a utilidade que póde produzir o.prefente objetto ás a bricas, e á Marinha em tanto interefle do Eflado. FIM. IN- DIN OUR MOE MO BÓTAUSS Que fe contém no 'Terceiro 'Tomo. MOA EMORIA fobre a utilidade dos conhecimeutos da Chymica em quanto applicados á Arte de conf- truir Edificios , po ma ANTONIO DAS NÑE- VES PORTUGAL, - -S Pag. y MEM. fobre o FC MOatO Xo" Rio urea Spor DoMINGOS VANDELLI. -— - - 18 MEM. Jfobre as Vilas BP dUNÓS da Corpanhia. GA do Alto-Douro , por Jose” JaciNTHO DE Sousa. -— 28 DESCRIPCAO ECONOMICA do Territorio que vulgar- mente fe chama Alto-Douro, OS FRANCISCO PEREIRA. REBELLÓ DA FONSECCA. - - 36 MEM): ('que teve AccefJit”) fobre o eflado da HMericuliira É e Commercio do AÁlto-Douro. - - ATO MEM. fobre a caufa da doenga, So anda Ferrugem , que vai graffando nos OQlivaes A Po y por ÁNTONIO SOARES BARBOSA. - - -—- 154 MEM. fobre os damnos do Mondego mo Cáñipo de Coin- bra, e feu remedio , por EsTEVAO CABRAL. - 205 MEM. fobre os Furos relativamente á Cultura das Terras , por 'THOMAZ ANTONIO DE VOS PoR- TUGAL. - - - 243 DESCRIPO. ECONOMICA du Torre de Mons Á por Jose” ANTONIO DE SA, - - 253 MEM. fobre o Tanque e Torre mo PU tio #bamdido em Lisboa Amoreiras pertencente ás Aguas-Livres y por EsTEVAO CABRAL. - - AE e OBSER VACOENS que RA dú foriiSe para a Def- en ipgao Economica da Comarca de Setubal, por 'TBHOMAZ Axn- ANTONIO DE VILLA-NovaA PORTUGAL, 7 -.- 208 EXTRACTO das Pofturas da Villa de Ázeitao , Co- marca de Setubal , por JOAQUIM PEDRO GOMES DE Mbióamis. O MISAS E A Tu URSS a 3O6 OBSERVAC. fobre o Mappa da PovoagaO do terno da Villa de #geitab y por 'UNOoMAZ ANTONIO DE VILLA- NÑoxA PORTUGAL SS “O GTA auT ATO san AOS 322 MEM. fobre a cultura do Ricixo em Portugal, e manufallura do fes oleo , por VICENTE COELHO DE tr a TM SE ETERNA EOE, APONTAMENTOS. fobre as Queimadas em quanto prejudiciaes á Agricultura , por ALEXANDRE ANTONIO DAS NÑEvES PORTUGAL. - is nn ein e e 344 MEM. fobre a decadencia da Pefcaria de Monte Gordo, por CONSTANTINO BoTELHO DE LACERDA LoBo. - 351 MEM. fobre as Aguas-Livres' , por Domingos VAN- DELLL SS sosa 375 MEM. fobre 'o prego do AfJucar , por Jose' JOAQUIM - 381 DA CUNHA AzEREDO COUTINHO. - e 3 MEM. fobre o Malvaifco do defiritto da Villa da -Cachoeira no Brafil, por JOAQUIM DE AMoRrIM CaAs- RON UU de TE SLA DATO MITIAS ACA ASU acu FOZ TOTAL AU AUGAS Das Obras já imprefas y e mandadas compór pelá Academiá' Real das Sciencias de Lisboa”, com os pregos “por “que-cada huma: dellas fe, O oonn VEBde, DrUChAdA, PENA e axoU 2609 STESY, TI. g3 Re ves Inftrucedes aos Correfpondentes da, Aca- demia, fobré”as tremeñflas dos productos -naturaes , para formar Fúm Múufeo Nacional |) folberorG.9isA 1. Menmoriás fobre ro modo de aperfeicóar a Manutactu-. ra do Azeite em Póttugal3) remettidas á / Academia.) por Joaó Autónio Dalla-Bella), Socio da mefma j; 1. vol. 4.? II. Memoria fobre a Cultura das Oliveiras em Portugal, remetrtida á Academia, pelo mefmo Author, t, vel: 4.9 1V., Memotias” de Agricultura premiadas; pela, Academia , TROL QUANTO UGT O OIS CAS AB O RA AA a V. Pachilis Jolephi “Mellid Breiriio yo Huft.. Juris, Qivilis Luficanl VibeérAingulaniszon. wol.v4?. pun RAIA VI. :Ejusdenmr Inftitution.” Juris-Civilis Lufitani, 3. vol. 47 VII. Oímia') Tragedia coroada pela Acadernia y foib. 4.9 VIII, Vida do Infante D. Duarueg por: André de, Re- ZEnde, A0IOA TA OU HONTE AN AISSUl pin TA AE O IX, Velos “da'Lingga/Arabica: emi Portugal; ou Lexi- con Etymológica' das palavras) é momes, Porruguezes , que tem “origeñ “Atabica, compolñto por ordem da Aca- demia 3 por Fr? Jeaó de (Soufa ,tay velado ano SA? XX. Doninici Vaondelliiy Viridarium Gurysley. Luftanicum Linnxatis “nomiñibus illuítratum ,- 1. vol, BO. sn XI. Ephemerides Nituticas, sou y Diarios Aftfonomico . para o anño de' 1789"; calculado sparaio meridiano de. Lis- boa ;'€ “públicado “por ordem dás Academia 1. vol. 4? O melmo/paárao antro (de 1790 5.1. VOl AO ET o DE A O meliño Pra” o Anode 19914551F vol. 4O ALT USA O 'meimo para 18, aíítno “de, 179244514 VOL. ASU nha LE XII. Memorias Economicas da Academia Real das Scien- cias de Lisboá', para O adiantamento da Agricultura, das-Artes y e da Induftria em Portugal, e fuas Con- quif- jo quiftas, 3 vOl.o4.OsLA desa e ca A AE SRA XIII. Colleccaó”, de Livros, ineditos de Hiftoria Portu- ueza , dos Reinados dos Senhorées Reys D;Joao/1I., D. Duarte, D. Affonfo V., ec D. Joa6,.H. 5 3. vol. AU RETO AN AN, RC ES AA XIV. Avifos intereflantes fobre as mortes apparentes , mandados recopilar por ordem da Acadenta, folk. 8.2. - XV. Tratado (de Exducagao. Eyficasipara. uío da. Nagaó Portugueza, publicado por ordem da Academia Real das Sciencias, por Francifco de' Méllo' Franco , /Cor- refpondente-da- mefma, 1. VO]. 4.29 SL sin ein R XVI. Documentos Arabicos da Hiftoria Portugueza , /co- piados dos originaes da Torre do Tombo com permif- 140 de S,Mageltade , e vértidós em “Portuguez: por “ordem da . Academias; vpelósnfeu y Correfpondente,. Fr. Joao dE S QUIA E VQPRIR 1A DA ADRO ACA ola en XVII. Obfervagoes fobre-ras/principaes: caufas, da- deca- dencia dos Portuguezes na, Afía, efcritas por Diogo de Couto em fórma de Dialogo', com o titulo de Soldado Praático 5 pablicadas de ordem da Academia Real das Sciencias de Lisboa, por Antonio Caetano do Ama- ral, Socio Effectivo da-mefima , -I. tom. in 8.o mais -; XVIII. Flora Cochinchinenfis : fiftens | Plantas in Regno' Cochinchina nafcentes. Quibus accedunt alix obferva- tec in Sinenfi Imperio, Africá Orientali y Indixque, lo- cis variis. Labore 'ac ftudio Joannis de Loureiro Re- gix Scientiarum Academiz Ulyfliponenfis Socii : Jufíu Acad. R. Scient. in-lucem edita, 2. vol, in 4.o mai. - XIX. Synopfis Chronologicas de Subfidios y; ainda os máis raros, para a Hiftorias, e Eftudo critico, da: Legislacao Portugueza 5 mandada publicar, pela, Academia. Real das Sciencias, € ordenada por Jofé Anaftafio de Figueire- do , Correfpondente do Número da mefma Academia, ZO VOLTAS OS COLON SES CINTRA TEGIA ac TiATo ASTA XX. Tratado “de Educagaó Fyfica para.uífo da Nacao Portugueza , publicado por ordemi da Academia. Real das Sciencias, por Franciíco 'Jofé de 'Almeida-; Correipon- dente da melma5, do. MAbrALO doas imús á simi sa S XXI. Obras Pocticas de Pedro (de Andrade Caminha, publicadas de ordem da Academia, 1. vol. 8? - - - XXII. Advertencias fobre os abufos y e legitimo ufío das Aguas Mineraes das” Galdas da-Rainhay,-publica- das 2400 5400 gr. 360 480 48O 2400 1800 das “de ordem da Academia Real das Sciencias”,, por Francifco Taváres , Socio Livre damefma Acad. folb, 4.2. 126 XXIII. Memorias de Litteratura Portugueza y 2, vol. 4.” 1600 XXIV. Fontes Proximas do Codigo FEilippino , 1. vol. 4.” “400 Eftao debaixo do prélo as feguintes,' Actas, e' Menorias da Academia Real das Sciencias. 1.” vol. Taboadas Perpétuas' Aftronomicas para uío da: NavegagaO Por- tugueza. Diccionario” da lingua Portugueza. Memorias: de “Litteratura Portugueza. 3.” vol. Fenden-fe em Lisboa nas logeas de Borel, e de Bertrand, e na da Gazcta 3; e em Coimbra, e Porto tambem pelos mefmos pregos. á USEN Va BRITAN NICVM F x ta AN