m^~* tfNÊi G&wzé&trtz dí Gíycao LOUR U SUO J R I A SUO B K E O ÍINNAMOMO v u 7 I ° .x CANE^IR^f E CEYLAO p £t*/ O KJ-! E M D E SUA £LTE£A REAL o príncipe NoJsSO ÍÍENHOR , çA> M P 8*^ APOR MANÔeW^CINTO^NOGUEIRA DA GAMA' Bacharel j&madp em a Faculdade de Phllofophia pela -Vífâyjidade de Coimbra , Cfc. Vc . &c. -SARA acompanhar a remessa das plantas, qvB SELAS RÊXES ORDENS VAÓ SER TRANSPOR- TADAS AO BRASIL. £ Com huma Efiampa. ) LISBOA, |ía Officina Patriarca u ANNO M. PCC. XCVir. Gom licença de Sua Magejlade. ■■% (3) M .E M O R I A SOBRE O LOUREIRO CINNAMOMO VULGO CANELEIRA DE CEYLAÓ; A Natureza , diPcribuindo por toda a fac© da terra differentes producçoes % parece ter efta- belecido a mutua dependência da raça humana» He certo , que o homem no feu eftado natural naõ teria neceíTidades , que naõ foflem reme- diadas pelas producçoes do terreno , em que nafceo ; mas com a communicaçao , e cultura , multiplicando-fe as fuás neceíTidades , e fendo eflas muito mais augmentadas pelo luxo , bem depreíía fe anniquilou a independência dos ho- mens , fendo-ihes precifo mendigar nos paizes eftranhos , o que lhe recufava o feu , para fatis- fazerem a todas quantas preciioes haviaò a íi mefmo importo. O defejo porém de recobrar a âadependcnda dos terrenos eílrangeiros , e d@ A ii Pof- msm WÊm ( 4 > pofTuir todas as commodidades , t vantagens a outros concedidas , lhes fez conceber a empre- za de propagar no feu os produ&os de outros climas. Apparecêraõ logo animaes , e vegetaes , que de exóticos paíTáraó a propagarfe como in- digenos : e naó fó fe multiplicarão os recuríbs para a fua fuílèntaçaó ; mas fe faciáraõ em grande parte as preciíoes t filhas do luxo. Defcuberta com immortal gloria dos Portu* guezes a navegação dos mares Onentaes , in- nundou-fe a Europa com as preciofas produc- ções de taô remotos paizes , e com as manu- facturas de feus engenhofos habitantes : multi- plicáraô-fe os ramos do commercio , tirando del- le a Nação defcobridora confideraveis vantajens fobre todas as demais ; ella feria até hoje fe- nhora do commercio do Cravo , e da Canela t além de outros ; fe os Hollandezes , aproveilan- dofe das fuás defgraças s e com ellas pretextan- do a fua defenfreada cobiça , fenaõ fizeíTem fe- nhores , em 1600 , e i6$o , das Ilhas Molucas , e de Ceylaó , para fazerem hum verdadeiro mo- nopólio das efpeciarias , que taõ fertilmeote produziaó eftas Ilhas : mas naó parando aqui as fuás ambiciofas viftas , defpojáraó também em 1661 os Portuguezes do Reino de Cochim fo- bre a cofta de Malabar , para os privar do com- mercio 1 que faziaõ de huma Canela , que nef- te WÊÊÊÊÊm (?) te paiz crefcia , conhecida pelo nome de Ca* nela Portugueza , Canela falvagem , ou Canela parda , e arrancarão todas as arvores , que a produziaõ. O refultado deftes procedimentos tem bem correfpondido a expe&açaõ deita Na- ção ; por quanto ella tem abíorvido grande par- te do numerário das demais Nações com eííe excliifivo commercio , que , nao obílante paga- rem os Hollandezes vinte e dous mil cruzados por anno em tributo , ou donativo ao Rei de Ternate , para o indemnizarem da perda , que foffreo , em ferem arrancadas , quantas arvores de Cravo produziaõ as Molucas , excepto Am- boine , e Ternate ; e naõ obílante ferem obri- gados a comprar por mil e duzentos réis ca- da huma libra de cravo , que os habitantes de Amboine trouxerem aos feus armazéns , lhes produz huma immenfa riqueza. Para aílim con- cluirmos , bafta lançarmos os olhos íbbre os muitos , e grandiofos armazéns f em que a Com- panhia Hollandeza das índias Orientaes recolhe na índia , e na Europa as fuás efpeciarias , © contemplarmos as cautelas , que ella põem na confervaçaõ defte privativo commercio , e a fua extenfaó por todas as Nações , que por feus ac^ tuaes coftumes tem feito deftas efpeciarias , go* litros de neceííidade. Reputa-fe em hum milhão , e duzentas mil li* libras de pezo a quantidade de Canela , que vendem os Hollandezes na Europa , e nas Ín- dias , naõ Te contando a grande quantidade $ que fe confomme na America , principalmente no Peru ; fó a França confummia em 17 So qui- nhentos , a feiscentos quintaes por anno de Cra- vo , Noz muicada , e Canela : elíes tem o cui- dado de arrancar todas as Caneleiras , que nafcem em Ceylaó fora de hum pequeno efpa- ço de 14 legoas , á borda do mar , chamado Campo da Canela : ajuntaõ as colheitas de muitos annos , e vaô íempre vendendo as mais antigas ; em 1760 vendiaõ a que colherão em 3744 ; e quando tem muita abundância nos feus armazéns 9 para naõ abaterem , de preço , coflu- maõ queimar eílas efpeciarias : em ic , e 11 de Junho de 1760 queimarão em Amftardaõ o va- lor de féis milhões , e quatrocentos mil cru- zados , vedando a qualquer o utilifar-fe ou do óleo efíencial , que na combuílaõ corria , ou de qualquer das efpeciarias , que fe deviaõ quei- mar , com tal excefíb , que , alguns annos an- tes , em outro igual incêndio , foi prezo , ca- uirariamente fentenciado , e enforcado hum mi- íeravel homem , que lançou maõ de algumas ^atiçadas , que efcapáraõ ao fogo. Como por tanto deixará de fubfiftir eíta Commercio privativo , que tem efgotado os the- fou- wm (7) /ouros das Nações , que o naõ* pofíuem ? Ne* nhum outro meio fe offerece , do que a tranf- planta^aÓ das arvores , que produzem eftas efpe* ciarias , e a fua cultura , e naturalifaçaô nas pof- feçóes daquellas Nações , que de taes géneros ne:eí!itaÕ. Com eftas viftas fe tem propagado , ha alguns annos , na Ilha de França , nas Antw lhis, e em Cayenna , promettendo muita vanta- jem efta nova cultura : e com eftas viftas os Pcrtuguezes foraõ os primeiros , affim como em outros muitos intereíTantes obje&os , que con- duzirão o Cinnamomo das índias , e o planta- rão na Ilha do Príncipe , onde de tal maneira produzirão eftas arvores , que cobrem prefente- mente (i) huma grande parte defta Ilha : elles também a conduzirão i Ilha da Madeira , á Ba- hia , e particularmente ao Rio de Janeiro , ondç fe climatifáraÓ as Caneleiras de maneira , que produzem muito boa Canela , e tal , que os moradores a preferem á de ÇeylaÒ i e nefta Ci- dade de Lisboa tem fido , do rnefmo modo , re- putadas por melhores , e mais a&ivas as amof- tras , que fe remetteraó do Rio de Janeiro , o de Pernambuco. Mr.s infelizmente fenaõ tem tk rado da fua cultura as vantajens , que fe po- de- (i) Miller Diâ. des Jardim (8) deríaõ tirar , fendo eíla preparada conveniente* mente , e introduzida no Commercio : e ainda também por infelicidade fenaõ tem procurado cultivar no Braíil as Arvores do Cravo (i) No; mufcada (2), e Pimenta (5) , devendo*fe efpe» rar , ainda que naó tiveffemes , como temoí $ provas , que nelle hajaõ de profperar , at- tendendo-fe á fua fertilidade , e a analogia da , e melhor £3 Nos almifcarada. CO Pipct nigrum vulgo Pimenta da índia. V ( 9 ) fentemente exiftem no Rio de Janeiro , Per- nambuco , e fuás Coitas , para cumprir a Or- dem fuperior , que me foi dada , pafíb a expor. i. Os Caracteres defta predofa planta, para que poíTa fer reconhecida : 2. A qualidade de terre- no , que lhe he próprio: $.tA fua cultura, e propagação : 4. A idade , que deve ter , para fe lhe tirar a cafca : 5. O methodo de tirar, e pre- parar a Canela ; e as fuás differentes qualida- des : 6. As utilidades , que íe podem tirar da Caneleira : e ajuntarei huma eflampa defta in- terefíante efpecie do Género s Laurus r: de Linneo , para que poíTa fcr bem conhecida , como convém. O Loureiro conflitue hum dos Géneros da 9. Clafíe ( Enneandna ) 1. Ordem (Monogynia*) de Linneo. Para que huma planta fe denomine Lourei- ro , além dos fignaes , que caracterifaó a claíTe , c ordem , deve ter os feguintes , que individuaò o Género. Naó ter Calis ; ter Corola , que fe con- funde com hum Calis , partida em féis partes » chegando as divifóes quafi a fua bafe. Nettario confiante de três glându- las , terminadas por duas fedas , ou pelos groffbs , cingindo , ou rodeando o ger- me :_Os Filamentos interiores com glan* ( io) dulas : Drupa , ou fruclo com hum ca* roço. Huríia das efpecies defte Género (i) he o Lou- (i) O Género Loureiro comprehende muitas, efpecies : além do Loureiro Cinamomo , ou Ca- neleira de que vou tratar, refere Linneo 12. ef- pecies , que Miô ; Laurus Cajjia ; L. Camphora ; L. Culiban ; L, Chloroxijlon 1 L. Nobilis ; L. Indica ; L, Bei fia ; L. Borbonia ; L. Mfiivalis ; L. Benzoin ; L. Saffafras ; L. Pecuri. O R. P. M. Fr. Jofé Ma- rianno Vellofo encontrou no Brafil 13. efpecies def- te mefmo Género , das quaes faz menção na íua Flora , que me communicou : todas ellas nas fuás flores , fru&os , folhas , e cafca , faõ mais , 011 menos odoríferas : faõ conhecidas no Brafil pe- Jo nome geral de Canelas , como v. porque até no gofto fe parecia , pofto que ti- $ nha alguma acrimonia de Cravo : e também ã )) que os Portuguezes chamaõ Cafca preciofa aífir- » maõ alguns " fer a verdadeira Canela , como )) brevemente diremos; e hum índio, vendo hum » bocado de Canela nas mãos do feu Miíliona- » rio , lhe difíe , que no Rio Megué , donde era y> natural , havia muita abundância. Porém precin*- y> dindo da certeza , fe a ha , ou naõ em todo o » Amazonas de fua natureza , he certo que já % houve muita hortenfe , que por concelho do » grande P. Vieira fe tinha mettido o feu cul- » tivo , como em todo o mais Brafil ; porém os » Hollandezes naõ defcançáraõ , até naõ alcanca- » rem dos Senhores Reis de Portugal naõ fó 3 » prohibiçaõ da Canela do Brafil , mas ainda & o deftruireni as fuás plantas pela razaó de ter t/ÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊl ' — ( 14) refpondendo diametralmente, o peciolo de huma fe fitua alguma cóufa mais alto do que o da outra fua )) fahida a fua Canela de Ceylaõ. He bem ver- » dade , que já fe intentou fegunda vez a fua » cultura , naõ ió lieenciando-a aos moradores )) do Brafil , mas ainda promovendoa com gran- )) des prémios no tempo do Senhor Rei D. João )> V. de feliz memoria ; porém no Eílado do Pa- » rá cuidarão nella pouco os moradores ; e fó » fe achaõ algumas poucas plantas , naó fei fe )> por galantaria das hortas , fe para teflemu- )) nha da fua fecundidade no Amazonas ; e )) aifirmaô alguns , que tem experimentado huma, )) e outra da índia , e Brafil , que a do Brafil )) vence a da índia na fua fineza 9 e menos ílu- )> penta. Em outro lugar do mefmo manufcrito fe Jê )) Pimenta. Muitas fao as arvores de Pimen- )) ta no Amazonas. He bem verdade , que fe nau )) cultiva a ordinária dâ índia ; naó por fenaa )> dar com muita facilidade , e abundância ; mas )> por naõ obftar á da índia , e por ifTo fe man- )) dou deílerrar de todo o Brafil ( onde já havia » abundância por concelho do grande Vieira , )) como também de Canela ) mas para naõ def- )) goflar aos Hollandezes , que na fua Canela , )) e Pimenta da índia tem grandes thefouros , fe » defterrou com a Canela também a Pimenta )> do Brafil. Demais , em hum Difcurfo Politico , e eco- nómico , que corre em MíT com o nome de Duarte Ribeiro de Macedo Miniílro de Portugal na Corte de França datado em 1675 , depois de ter eSe grande Politico moílrado o intçreííe que ■■■■ ( HT) íiia correfpondente : ellas tem peciolos curtos; faó ovaes , ou ovaes-oblongas , inteiras , eoria-» ceas » receberia Portugal do commercio das efpeciarías , e provado com o exemplo domeílico da tranf* plantação da cana do AíTucar , da Laranjeira, e outras plantas a poíTibilidade de fe cultivarem no Braíil as arvores , que na índia produzem- as eQgeciárias , deduzindo-a principalmente do argu- mento ; de que nada influía na vegetação a diffe- rença dos grjj&s de Longitude , mas fim a dos gráos de Latitude , e que por confequencia pro- duziria a Natureza nas terras do Braíii , que cor- rem da linha para o Trópico de Capricórnio as mef.nas pbntas , que produz nas terras da ín- dia , que correm da linha para o Trópico de Cancro , faz menção de huma carta , que lhe ef- creveo o P. António Vieira da Companhia de Je- fus do theor feguinte. » Senhor : ha muitos annos , que fei fe dá }) no Brafil Pimenta, e outras Drogas da índia, » como íe experimentou no principio do feu » defcobrimento. EIRei D. Manoel por confer- » var a Conquifta do Oriente , mandou arrancar J> e extinguir com pena capital todas as plantas » Indiaticas , com irremiifivel execução aos que » as culti variem. Aííim fe executou : ficando fó- » mente Gengibre , que por fer raiz , dizem o& )> naturaes , que fe occultára n, terra : e ainda » hoje fubíiíie a prohibiçaó. Com eíla noticia » aconfelhei a EIRei, que eflá.no Ceo , o inef- » mo em todas as cifcunftancias , que agora lem- » bra : de que refultaria , que produzidas com » abundância as ditas 'drogas . .., e conduzidas a » Portugal por bom preço â dentre de breve via- ( tf.) céas { lifas em ambas as paginas , verdes , e luf- trofas na pagina fupetior ; amarellas-esbranqui- çadas , e fem luftro na pagina inferior : nellas fe notaó três (e algumas vezes cinco) nervos, que partem divergentes da bafe , e defaparecem antes de chegar á ponta , diftinguindo-fe entre elles muitas veias : faó de huma pollegada e meia de largura , e de três até cinco de comprimento ; e tem hum cheiro , e fabor de Canela muito agradáveis. O y> cem , teria grande confummo para as Poten- » das Eftraneeiras , com grande _ conveniência » dos Lavradores , e de todo o Reino , e igual » perjuifo dos Hollandezes , pela nao poderem » dar pelo mefmo preço , em razaó das maiores » defpezas do feu tranfporte, Efta he , meu Se- » nhor, a pedra philofophai , em que cuido nos » temos encontrado : fendo mu,to mais para ef- » timar haver Vofía Mercê mfendo efta confe- » quencia de permiiTas taó remotas , como fau ), os ditos deElRei de Inglaterra e Groeio; ou > havellas eu propofto , depois de ter as not,c.as » do Braf.l , que entre os antigos fe refenao y> com confentimento , e hoje eftarao quaf, ef- » quecidas. Deos gnarde , &c. , Reforco-me por ultimo com. o fafto de fe «referir no Rto de Janeiro no ufo a Caneta Sá terra i de CevlaÕ : e com o de ter vindo pa- S fta Cdade, naõ fó do Rio . «ta p Janeiro co- mo de Pernambuco , amoftras de Canela , que, comoaradas com as de Ceylaó , tem fido ,»Jg* d^Te melhor qualidade , fegundo me amimara* pcffoas fidedignas* ( 17) O feu tronco , quando mais groflb- • tem pé, emeio de diâmetro , e féis pés de compra mento ; he coberto de huma cafca de cor parda- acinzentada exteriormente , fendo porém a cafca interior, de que fe faz ufo , de huma cor aver- melhada , que com o tempo fe torna em ama~ rello-avermelhado : feus ramos faó numerofos , e folhudos. As flores faó pequenas , e muitas ; amarella- das interiormente , esbranquiçadas , e alguma cou- fa avellutadas exteriormente , e difpoftas em pa* niculo terminal: ellas formão pequenos molhos, ou pequenas umbellulas , que terminao as rami- ficações dos pedúnculos communs, : e nas divisões deftes fe notaò pequenas bradeas oppoftas , e ca- ducas : tem féis petalos , ovaes , pontudos , côn- cavos , levantados , alternadamente difpoftoS do maneira , que fícao três mais diílantes , e três maia próximos aos eílames. O Ne&ario coníta de três tubérculos cora- dos , ponfagudos , terminados por duas fedas , e> poílos á roda do germe. Tem nove filamentos mais curtos do que a corola, compreífos , obtufos , difpoftos em or- dem de três , e três ; e com antheras pegadas d© hum , e outro lado á fua margem fuperior : per- to da bafe de cada hum dos filamentos mé- dios fe notaõ duas glândulas redondas % com íeíi ( i8 ) . pecíolo multo curto, e pegado aos mefmos fila- mentos. No piíliJo fe nota o germe de huma fi- gura ovada ; o efíylo fimples , do compri- mento dos eílsrmes ; o eíligma obtufo , e obli- quo. O Pericarpio , ou fruclo lie huma Drupa envolvida pela corola , oval, de cinco até féis linhas de comprimento , cajçnofa , de huma cor parda azulada , marchetada de pontos brancos , contendo debaixo da fua polpa unctuofa , adílrin- gente , e aromática , huma noz oblonga , que en- cerra huma amêndoa da mefma figura , tirante a cor de purpura. Do TERRENO PRÓPRIO PARA A SUA CULTURA,' Naõ fendo do meu objeclo a indagação de quaes .fejaõ os lugares*, onde nafce efponta- neamente a Caneleira , deixando a pafteriores exames a confirmação de Jacquin (i) , e de ou- tros (í) Hiftoria Seíedarum Stirpium Americana- rum , p. 117. Lin. Sp. pi. da Edição de Reichard. Tom; 2. p. 225. «s*s - IMHHBB ( 19) troa Botânicos , que a coníideraÕ indígena d* America , fomente notarei com Woodville ( citan* do a Seba (1) > operaçaÔ , fuppriraô a íua falta as ♦omeleirai, que protão da fua raiz. >0 DE TÍKAR 5 E PBEPARAft E DE SUAS DIFFEKEN- TES QUALIDADES. Prefere-se o tempo da Primavera, e quando principiaõ a florecer as Caneleiras, para fe- rem então defeafeadas , e eftonadas : também fe coftuma fazer efta operação no Outono , quando fe obferva huma abundante feva entre a cafea , c o páo. Tirada a cafea , fe fepara a exterior, ou epiderme , que tem. huma cor pardilha acin- zentada , e fe corta a interior , ou tona ( que ho â que fica entre a epiderme , e o çamo ) em la- minas de hum pè e meio de comprimento , e de huma pollegada de largura , quando muito : as de melhor qualidade coftumaó ter agrofíura de huma carta de jogar, ou de duas linhas. Sendo expof- tas ao Sol , fe feccaÓ > e per íi me faio cada la- ( H ) mina fe enrola (O formando canudos , comd fe encontrão no Commercio. Segundo expõem Woodvih (2) , também fe mettem em arêa para fe feccarem , e tomarem a figura de tubos. Acho deínecefíario o ufo particular de huma faca curva , que alguns recommendaó na extracção da cafca ; porque dando-fe dous golpes com huma faca or- dinária em tomo do tronco, e em diftancias de Jium pé e meio , com a mefma íe dá outro lon- gitudinal pelo comprimento do tronco , ou do ramo, com a cautela de naó oííender o páo ; e com eíles golpes , facilmente dados com huma fó faca , fica a cafca em eítado de fe feparar , e fe evita o embaraço , em que fe acharão os Agricul- tores do Brafil pela falta de facas curvas , ou a defpeza de comprarem mais hum inilrumento , de que naõ tem neceííidade abfoluta. No a&o , cm que as laminas fe enrolaõ , as bexigas da membrana interior , que he muito delicada, e adherente á íuperficie interna da la*, mina , fe rompem ; e o óleo eífencial nellas con^ tido , penetrando toda a cafca , lhe çommunica hum fabor gracíofo , e hum cheiro aromático, qae naò tinha 4'antes ; daqui vem, fegundo Bo- marc (O Encyck -jne-th.- Diçé botan. art« Lauft Can. (?) ílçdiça} BoUnv, <*y ) itiàre (i) , que os tubos de cafca delgada faó preferíveis aos de cafca groíTa j porque neftes a mefma quantidade de óleo aromático fe acha dif- tribuida por huma maior porçaÔ de matéria fem cheiro, e eftiptica , fendo certo , que tierman ob- tivera de huma libra defta pellicula interior , que forra a cafca , maior quantidade de óleo efíen- cial , do que de féis libras de toda a cafca. Já diíle que a idade , poíiçaÓ , e cultura da Caneleira influem na bondade da fua cafca: agora notarei que também efta he diverfa nas dif- ferentes partes da arvore ; pois que a cafca do tronco differe da dos ramos ; e a da raiz da dé ambas ; daqui vem que fe diftinguem no com- mercio três qualidades de Canela com os nomes de fina , media , e groíTa , preferindo-fe a mais fiaa, unida, frágil , delgada , araareHa-ayerme- lhada , aromática , de hum fabor vivo , picante , mas doce , e agradável ; e aquella cujos canudos faÕ compridos , e tem pouca largura cada lami- na , como tirada das Caneleiras novas , ou dos ramos , pois que eílas dao melhor Canela , do que as velhas , diminuindo com o augmento da idade da arvore, de que fe extrahe , a adividade dofeu aroma. A Canela groíTa conhecida no Com- mer- (2) Piít, Hiftv Nat. (26) merciô pelo nome de Canela -malte , a qual fe tira dos troncos velhos , e que he rejeitada co- mo a mais inferior ; pelo contrario a dos ramos de huma poilegada (i) : e fobre todas heeftimada, a que fe extrahe das pontas dos ramos mais deli- cados , de tal modo, que fe guarda nos cofres de alguns ileis da índia , como huma preciofidade. Também fe deve preferir aqiiella , que he mais recente ; pois que a Canela frefca dá pela difHllaçaõ maior quantidade de óleo efTencial , do que a velha , de maneira que , de huma libra da- quella fe pode obter três oitavas de óleo ; e dei- ta fe obteria milito menos ; por iíío o óleo de Canela, que nos vende a Companhia Hollandeza, he diftillado em Ceylaõ , ou em Batavia (2). Como eíle óleo he taõ caro , que ás vezes chega a preço de 11:200 réis por onça , muitas vezes he falfificado com a miftura do óleo do Cravo , ou com o óleo de Ben (3) . Coílumaõ os Commerciantes de má f é , e cjue fomente confultaõ o feu intereífe , mifturar a Canela, com outras cafcas da mefma figura , e cor ; e até vendella depois de extrahirem pela dif- (Ú Edward Hiftory of the Weft Ind. (2) Encycl. meth. Dic; Bot. art. Laur. can. (O Moringa oleifera ; Guilandína Moringa, Li 11. 07) diflillaçaó as fuás virtudes : mas o fabor , e o cheiro moftraõ bem efta fraude. Ha quem affirme , que privada a Canela por meio da diftillaçaõ do feu óleo eíTencial , e das fuás virtudes , fe torna boa , e recobra as fuás qualidades , fendo por longo tempo deixada de miftura com Canela boa ; mas ainda , fendo verdadeiro efte fado , pen- fo com Bocrhaave , que nada fe lucra , pois que refultará em prejuízo da boa Canela , com que íe miílurou. Das utilidades . que se podem tirar da Caneleira. Com razaó fe pode reputar a Caneleira por hu- ma das mais precioías arvores , que fe co- nhecem ; por quanto fua cafca , raiz , tronco , ramos , folhas , flores , fru&os daó aguas diftila- das , camphora , febo ou .cera , e preciofos óleos. D a s g a. Alem do grande lucro, que deixa a venda da Canela obtida, e preparada do modo , que fica expofto , e do feu immediato ufo , pode-fe obter delia pela diftillaçaõ o prcciolo óleo , em que m ■ ■. -.A.,!.. (28) que toda. a fua virtude reílde , o qual, em razaõ do grande preço , porque íe coftuma vender , po- de dar muita utilidade aos cultivadores da Ca- neleira. D R A I Z. A casca da raiz defta arvore , naõ fó dá pe- 4 ^ Ia diflillaçaõ hum óleo eífencial , aromáti- co , chamado óleo de Camphora ; mas, de tem- pos a tempos , produz huma efpecie de Campho- ra em gotas oleofas , que fe coagulaó em forma de grãos brancos. O óleo tem menor gravidade efpecifica, do que a agua ; he tranfparente , ama- rellado , fubtil , e muito volátil , diílipando-fe facilmente , expoílo ao ar : tem hum cheiro for- te , agradável , e médio entre o da Camphora , e Canela ; tem hum fabor muito feníivel , e he de huma grande eftimaçaõ pelo Teu ufo medico (i)a A Camphora he muito branca, e excede á ordi- na- ÇO Naõ me demoro em expor os difTerentes ufos médicos , porque delles fó deve tra&ar , e dicidir o Medico : importando fomente ao Cul- tivador defta planta o faber , que eila também lhe pode dar lucro , em razão do feu confummo na Medicina. MMb|mhí (*9> naria (O »a fuavidade do feu cheiro , e na pu- reza ; he muito volátil ; inflamma-fe com pron> ptidaÕ , fem deixar tefiduo depois da lua com- buftao. Tem grande ufo na Medicina , e com preferencia á Garnphora ordinária. Nas índias fe emprega interior , e exteriormente no curativo de muitas enfermidades •. e com todo o cuidado he procurada , e deílinada para os Reis do Paiz , que delia ufaÓ como de efficaciflim# cordial. Das Folhas. ela diftillacao fe obtém das folhas da Ca- neleira hum óleo , que vai ao fundo da agua, eque fendo turvo, quando he extrahido , com o tempo fe torna tranfparente , e amarella- do. Tem hum cheiro íimilhante ao de Cravo » com fabor , e propriedades análogas ás do oleO da Caíca. Nas índias tem ufo medico. As mef- mas folhas (2) fe empregaó também em banhos aromáticos. Das (i) Woodville Med. Botany. Encycl. meth; t>icV Botan. art. Laurier Canelier, (2) Julgo conveniente tranícrever aqui o fc- guinte paragrafo do MíF. anónimo -, ■ <*e que já fiz snençaõ. ( *o) D A S L O R E S. P ela diflillaçaó fe obtém das flores huma ■*■ agua odorífera das mais agradáveis , e ufadá na Medicina , e nas iguarias. Dos )) As folhas faó baftantemente corpulentas , )) e tem os mefmos eífeitos , que a mefma Ca- » nela , ou Gafca , antes talvez que com chei- » ro mais vivo , e com goílo mais fuave , e agra- » davel ; nem eu feí , porque naõ tem na Euro- » pa a mefma fahida , que tem a Cafça , e fó )) me occorre , que talvez fera ; porque , fe de- » rem em ufar da folha t defcahirá muito a Ca- )) nela da fua preciofidade pela muita abundan- >) cia , efpecialmente do Brafíl ; porque como )) naquelias terras , e climas fempre as arvores » eftaó bem copadas , e cobertas , de forte que » tirando-lhe huma, logo deitaó outra, fó com » a fua foiha darjaó muita abundância de Cane- » la. E no Efíado do Pará os moradores fazem » muito cafo das fuás folhas ; e na verdade faó )) dignas de muita efíímaçaó , pois trazidas , e » maftigadas na boca faó regalo. E a ufar fó das )> folhas , e naó da cafca , parece-me que feria » mais conveniente porque 1. naó tem mais be- » neficio , do que colhelas da arvore ; 2. naó en- » fraquecem tanto as plantas , como o defpillas » da fua cafca ; 3. porque aííim feriaó mais ef- » taveis , e duráveis como qualquer outra arvo- » re , para o que convém íaber , que a Gane» (■«) D o F R U C T O S. OS fru&os fe extrahem duas qualidades dç fubírancias. Sendo diftillados daô hum óleo efTencial , femelhante ao óleo da baga do Zim- bro » !a apenas dura três , ou poucos mais an.nos , )) naô porque fequem as plantas , mas porque , » paliando de três annos , já a cafca nao íahe » capaz: de iorte que a melhor Canela he a que » íe tira no primeiro (1) anno ; mais inferior a )) do fegundo anno : e a do terceiro já he me- )) nos eflimada , e aífim eortaô as plantas , e as )> renovaó com outras novas de três em três an- )) nos , cujo trabalho parece fe evitaria ufando fó )) das fuás folhas. As mefmas folhas cofidas faõ )) hum óptimo xá , muito fuave , e odorife- » ro , e talvez que com melhores erTeitos do )> que o xá ordinário. A fru&a da Canela tem y> o mefmo fabor ; em fim toda a arvore he ef- )) timavel , porque nao fó o fru&o , e folha 9 )) mas também o mefmo pao tem o mefmo fa- » bor de Canela , pofto que fó efteja em ufo » na Europa a fua cafca , a qual íe beneficia "» rafpando-a muito bem , e adelgaçando-a , co- )) mo 0) Deve-(e advertir que fe falia ia primeirfy colheita , que fe fax, tende as arvores três annos. ( ík ) Iro mifturado com Canela , e Cravo. Pela e temperos , em lugar da Canela , e talve* ( 3?) cu Yvyraem (1) , Cafca amarga ou Paràtudo ; Calca milagrofa (2) ; e que lhe lejaÓ dwidos C ii mui- com melhor effeito. Outros dizem que he nova efpecie de Cravo mais fuperlativo, que o verda- deiro Cravo; porque, pofto que tenha diverfa cor , como a Canela , tem fua acrimonia , ou hum pi- cante como de Cravo , mas mais agradável : ou- tros finalmente tem para íi fer nova efpecie me- dia entre Cravo , e Canella : porque tendo o pi- cante do Cravo , e o gofto , e effeitos de Canela , merece ter feparado lugar entre Canela , e Cravo. O que poíTo affirmar lie que , quem a comprar por Cravo , leva muitos avanços na fua compra ; e que a tomar, e ufar como Canela nao lhe per- derá o feitio i porque tendo os effeitos da Cane- la , e a acrimonia do Cravo , parece ha de fazer fahir melhor os feus effeitos : he Cafca grofla 9 mas he , porque a naó rafpaó , e benefíciaó como a Canela: e com razão lhe chamao no Amazonas Cafca preciofa , pofto que faõ mui poucos , os que delia fe aproveitaó , havendo grande abundância pe- los mattos. Em outro §. diz iS Páo da Cafca preciofa , chamo aíTim a huma Madeira , de que ha mui- ta abundância no Amazonas , cuja Cafca -pelos feus admiráveis preílimos na Medicina chamaó-lhe Caf- ca preciofa , e fecundo as noticias , que tenho , me parece fer a célebre Canela de Tunquim ," onde he eílimado como hum dos géneros mais preciofos daquellè Reino. Porém deixando para outro lu- gar os grandes preílimos deita Cafca , agora f6 trato do feu páo que também he preciofo , &c. (0 A 2- Cafca muito eftimada no Amazonas he a que pelas fuás boa» qualidades chama© Caia muitos agradecimentos , como devemos ao Ilíuf- fcriffimo , e Exceilentiífímo Luiz de VafconcelJos ca doce , de que fazem grande eftimaçaô naõ fó os Europeos , mas também os índios naturaes , que neIJa tem o feu aíTucar. Além de admiráveis preftimos na Medicina ; porque obra admiravel- mente nas dores internas , catharros , e febres , a que íe applica , como a experiência tem molhado. Cada vez mais , e mais vai moftrando a fua effi» cacia , e por iífo vaõ fazendo delia tanta eftima- çaô , que já hoje he huma das drogas eftimadas do Amazonas. E alem deftes preftimos , póde-fe tra- zer , e maftigar na boca , ainda por mero regalo ; porque he doce , e mui laborofa , tanto que por iíTo a nomeaò já com o nome próprio de Calca doce ; alguns a trazem na boca para as indiges- tões do eítomago , e talvez que iejá , fegundo fe tem vifto dos feus effeitos , mais útil na fua maf* tigaçaõ do que a do Tabaco , que alguns ufaõ ; e ainda que o célebre Beteí da índia lem ainda neceífitar , como QÍle , de outros ingredientes nem fazer os dentes pretos como eJíe faz. Ha ainda outras muitas Cafcas , que , pofto naõ tenhaó o nome de preciofas , tem preciofos effeitos , como faõ a do páo Vmary. , de que já falíamos de exceilente preíiimo para cheiros , per- fumes e caçoulas nos Templos , Salas , Palácios, As Cafcas do Pexeri , com que os Naturaes tem feito curas admiráveis ; mas por iiaó ferem taõ conhecidas , e ilíadas dos Europeos naó tem ain- da a^ devida eftimaçaõ. , e pelo tempo adiante fe Jliraõ defcobrindo , e divulgando. (2) A |, Cafca que na eftimaçaõ pôde com* petir çom 3 Preçiofa, he a Cafca, a que, pelo* ( 37) e Soufa , hoje Prefidente do Defembargo do Pa- ço , &c. que pela fua adividade íbube crear ge-> nios para preparações Zoológicas , exames de Mineralogia , e arranjamentos Botânicos j deven- do-fe aos últimos o conhecermos fvftematicamen- te que a Cafca apimentada , conhecida naquelíe Paiz pelo nome de Canela de Santa Cathsrina he Wuiterama Cândia : a da Cafca cTAnta he o Vnjmis Wlnterl ; a da raiz da Unha d*Ahta-#i«i- hinía , a da Barba de TimaÓ , a do Anjico do género Mimofa , ambas efpecies novas ; a Caf- ca do Arariba , efpecial para tintas , do género Nifolia efpecie nova : a fragrante Cafca de Ytu Myroxilon pcruiferam , &c. &c. &c. (0 Quaô feus grandes preftimos na Medicina , chamaó* Mi- lawoja : e fe houvermos de atténder aos nomes , ainda he mais preciofa , que a Preciofa, a Cafca Milagrofa. He a Calca Mihgrofa mui • femelnante á Quina-quina na cor, e nos eífeitos; e por ifio alguns dizem fer a verdadeira Quina-quma ; mas como no Amazonas Portuguez naó tem ufo a ar- vore Quina-quina , nem conhecimento , daqui nai- ce o naõ terem bem averiguado fe he a verdadei- ra , ou nova efpecie. O certo he que nas Minas lie mui ufual , e familiar efta Cafca , por fer ex- cellente remédio contra Maleitas, febres , e mui» tas outras enfermidades , cujos eífeitos parecem mais fobre naturaes , e milagrofos , do que natu- raes , e por elles lhe chamao Milagrofa, (1) Flora do Rio de Janeiro. mÊÊmm «*• I v; (3S) Quaõ muitas outras vantajens naõ prorriet* tfem os fublimes , e i iluminados fyílemas do Nosso Augusto Príncipe , a cujos olhos naõ eCcapao todos objedos, quantos podem trazer a feguran- ;ça , riqueza , e felicidade , aos feus venturofos Vaífaílos ! E qual deverá fer o esforço de todos «quelies , que forem efcoihidos para ferem os inf- trumentos da execução das fuás acertadas medi- das! Somente me dirijo a Vós , que ultimamente foftes encarregados do exame das producções , com que a Natureza enriqueceo os Domínios Por- tuguezes. Executando , como deveis , as ordens do Nosso Augusto Príncipe, quanto podereis fer úteis á vofía Pátria , e á voíTa Naçaó ? Que no- vas ramos de Commercio , e que preciofos recur- sos as enfermidades dos voíTos fímilhantes naõ podem produzir as inveftigaçôes , para que foftes deftinados ! Efpero das voífas luzes , e do voííb zelo , e exacçaõ em cumprir as Reaes Ordens t que brevemente feraò feitas muitas defcubertas / çom admiração dos Sábios , riqueza do novo Dif- penfatorio Fármaco da Marinha , e grande vanta» jem de toda a Nacad Portugueza. FIM/ ADVERTÊNCIA. DEpoís de imprefla a prefente Memoria , tive a fatisfacao de reconhecer , que a minha hypo- thefe fobre a exiftencia no Brafil do Loureiro Perfea paíía a fer huma verdade. Nos Diários do Doutor António Pires da Silva Pontes Leme , Capitão de Fragata , Lente de Mathematica da Academia Real dos Guardas Marinhas , &c fei- tos durante a commifíaÔ Aílronomica , de que foi encarregado por Sua Mageftade , e que me fez a houra de comrminicar , fe faz menção deita efpe- cie do Género Loureiro , a qual produz os precio- fos frudos , conhecidos no Pará pelo nome.de Aba* tale : e antepomos ao Cação \ Café , e outros ex- cellentes frudos pelo mefmo Doutor Pires ; no que concorda com Jacquin , o qual affirma , na6 cncontrar-fe na America fru&o mais defejado , e de maior confummo , do que eíle , a. que os Fran- cezes chamai Poire d' Avocai , os Hefpanhoes Peral de- Afogado , e os Inglezes Pear-Tree , ou Al* ligator. Na defcripçao dos fuburbios do Pará , feita cm 10 de Maio de 17S0 por efte Aílronomo , fe acha o feguinte. » Entre os frudos , que eraÔ taÕ efl ranhos » aos Officiaes Europeos , como a mim , que naf- » ci pelo Sul do Brafil , foi notável a Laurus » Perfea de Lineo , que aqui tem o nome de Aba- » cate ; efte frudo induz hum certo defprezo pe- » b 3 ^ !o feu preftimo ao paladar Europeo , que efpe- » ra neftes dons vegetaes a copia de fucco pican-» » te de faes doces , ou aufteros ; porque a íua » máífa , que cobre o núcleo , he toda como im- » palpável, e natofa , com fabor mais de gema de » ovos , que de pomo refrigerante , e falino ; mas , 5) bem julgada a fua qualidade , he mais precio- yi fo , que o Cacao, o Café , e outros , a que da- » mos todo o valor , pois com dous Abacates, hu* » ma pequena dófe de fal , e hum paõ , fe tem » fupprido hum almoço muito ízô , e agradável ; » elles faô como de primeira neceííidade para a )) gente fimples do Paiz ; e os Religiofos Antoni- 5> nhos , onde eftavamos aquartelados , tendo abun- » dancia de outros almoços , preferiaõ quafí fem- » pre o do Abacate ; temperando huns com o fa! y> da cofínha , outros com aííucar. He para defejar-fe a publicação defles Diários , pois que o zelo, e conhecimentos Philofophicos do feu Author faõ feguros penhores das interef* fontes obfervações, que nelles fe conterão. W? MMMM ('S^zé