y/ L^Huf/i Vri .//. //^, '.« \« X ^ / • ■^.Qi / d Mh (yL/ry^' 7rcu*4 .T^ytt Joc %^ IMO, JcJ- li ^ C-j ir.^-hMf^c-s-.-C/^i^S /\^ í'^ k METáMORPHÔSE §E UM íl^SECTd DíPTERO PRIMEIllA PARTE DESGRIPCÃO DO EXTERIOR DA LARVA riíLo \)\\, 1 Í5IT/ .mullí:h Naluralista tiaja7ii€ do Museu Nacional. -"s^-^OOO-^-s No ribuirao du darcia, Iribulario do rio ilajahy , proviucia de Santa Calluirina) e nos seus alllucnícs, os ribeirões do .Tordão e do Caelé, vive [icííado ás pedras das mais r.i[)idas correnle/.as um auimid euriosissinio. \\ provável ([ue se encontre land)em em outras localidades análogas da mesma e de outras provineias do Brazil. Tão estranha é a a[)pareneia do referido animal ijue naturalistas abalisados, a ([uemeu remetti^ra exemplares soccos, impróprios liara exame aprofundado e anatómico, não ousaram pronunciar-se deíinitiva- menle nriii mesmo sobre a classe em ([ue devia ser collocado. « Myriapede não é, e entre os insectos não se conhece cousa alguma, que lhe seja sonielbante», disse-me o dislincto autor da Uibliotheca Enloniologica. Valei'á puis a pena descrevel-o circumstanciadamenl(!. \' primeira vista, quando o vi andar lentamente nas pedras, em que habita, o animal fez mo lembrar de certos Crustáceos Isopodes do género ]di'rn, (\\w ha mais de triuia annos estudei na costa do mar Báltico. Com eíVeilo, como nas Ideras, o corpo é dividido profundamente em segmentos ( fig. 2, :} ), que tem todos a mesma largura, séntlo os intermeilios iguaes entre si, o primeiro e ultimo arredondados nos extremos anterior e posl»!- terior. lia comludo uma dilferença notável no numero d(js seguKMitos; as 48 ARcnivos 1)0 museu nacional Ideras tèm nove (cabeça, sete segmentos thoraxicos e abdómen), o animal dos nossos ribeirões só tem seis, tendo cada um dos quatro intermédios só metade ou pouco mais do comprimento do primeiro ou oral, como do ultimo ou anal. O comprimento total, ([ue costuma ser de S a 9'"" nos animaes adul- tos, é igual ao triplo, pouco mais ou menos, da largura, nào compre- hendeodo nesta os espinhos lateraes, de que são armados os segmentos. O corpo é muito mais convexo do que nos Crustáceos Isopodes, a que alludi, sendo a altura igual ou pouco inferior á metade da largura (fig. i-')- Entre os segmentos o corpo é muito constringido, sendo geral- mente a largura das junclas inferior á motade da dos segmentos. Dos lados, cada uiu dos seis segmentos, é armado de um fortíssimo espinho bifido, [lSKr \\(|iiN\l. 49 Ivii tdilos os aniinacs sem espinhos dorsucs tiunbpiii faltava ou ora rudiínciilariu (ig. 5i o ramo su|ii'rinr dos laloraes, o (|iial pelo coiitrarin at- linge o sMi maior dcsiMivolviíneulo iia(|iM'llis aiiiiiiaes (]iie se disliiiiruiaiii pelo laiiianlio dos (íspiíilios dorsaes. ,,,,„,._, y^:'-. Ivxaiiiiiiei, em separado, 2i animaes, que mal liuham chegado á metade do seu compriuieiíto deliuitivo e delles só achei 7 munidos dos seis pares de esj)iiihos dorsaes. Assim, dos animaes pida maior parte adultos 67 0 0 ti- nham os esjiinhos completosesó iOOD eram sem espinhos, eiii(|ii;iMt(i dus animaes menores sii :í'.M) (I liidiam os (> |iares e õiOO careciam ainda inleirami'nte dr espinhos dorsaes. l'arece pois em regra i.'i-ral augmenlar com a ida I' o num 'ro di-sles espinhos, l)(!m (jueem certos individuos elles nunca appan^iam e ú muito provável (|ue ao nascerem os animaes te- nhaai espiíih i-. Iat"ra 's simples ( isto é, sem r.imn su|ii'rior) e canMjam de espinhos dorsaes. Ainda nãi» tive op|)ortunidade par.i e\aniiiial-os em tão tenra idade. Os espinhos dorsaes ( íig 9) são cónicos rectos, variando muito a razão entre o diâmetro da base e altura; a sua còr pardo escura ou ipiasi preta, é mais carregada na ponta, a base rodeada de uma área lisa, mais palliila, amarellada, cingida de eouloiMios grossos escuros, destacaiido-se as- nim il(» resto da superlieir dorsal, euja còr é ou parda mais ou menos escuia, ou cinziMil.i, e ás vezes (piasi preta, parecendo-me (]ue, cm regrn geral, se torna mais desmaiada nos animaes mais velhos. O legumenlo da superíicie dorsal é bastante duro, como C(U'iaceo e mostra ao tacto certa aspereza devida a linhas salientes mi rugas microscópicas muito densas e irregulares, predominando cointiido a dii^eccào transversal. Km cer- tos indi\ idiKis acliam-se es[»alhados na su[ii'rlicie dor>al raros pellinhos Irans- parciiles muito tenros (lig. 1.^), de cerca de 0,0.4""" de comj)riniento, ge- lalineule mais ou menos dilatados no extremo, assemelhando-se desta sorte ás escamas das borboletas. São implantados, como costumam ser os pellos dos inss-ctos (;m poros do tei;iiiiieiito. lia outros individuos em ipie os pellos faltam, persistindo não olistante os j)óros; ha outros, emlim, e creio ([ue é a maioria, em qui' não ha nem pellos nem jxums. \\ o (|ui' si' \è na siip^rlici' dorsal de todos os segmentos ; resla diz''r algumas palavras sobre o ([lu/ cada nm delles tem de particular. O S!'gmeiito oral lig. 10 tem os seus espinhos lateraes cidlocados no terço posterior, estreitaiido-se d'ahi [)ara o extremo anterior, de sorte (jiie o l)ordo aiil M-ior tfiiha apiMias nctadi' ou pouco mais da largur,i di [iirle de t|ue iiase.Mii os espinhos laliTaes. V. IV- 13 50 AKCIIIVOS DO MUSEU NACIONAL Do bordo anterior nascem dous pellos rectos, tenros, hyalinos, e dirigidos para diante. À pequena distancia do mesmo bordo d(!stacam-se, separadas umas das outras, e circumscriptas por suturas ou linhas trans- parentes algumas áreas, a que chamarei áreas cephalicas, e que occu- pam cerca de dous quintos do comprimento do segmento oral. A sua superfície é polida, carecendo das rugas microscópicas do resto da superfície dorsal, ellas são cobertas de verrugas mais escuras, ellipti- cas, muito baixas, ás vezes reduzidas a simples malhas, que não se ele- vam sobre o uivei das áreas ; entre as malhas ha numerosos poros mui- to distinctos ; esses poros nunca faltam, mas são raros os animaes, em (jue delles se elevam pellinhos curtos (OjOK)""") e muito tenros (fig. 16). As áreas são cinco, a saber : uma central ou impar, duas lateraes, occu- pando os bordos lateraes do segmento oral e duas iutermedias. A área impar é lanceolada, isto é, mais larga no meio (onde a largura iguala a terça parte do comprimento) e adelgaçada para os extremos anterior e posterior, sendo a maior largura mais perto do extremo anterior. As áreas intermédias são contiguas á central na sua metade posterior, aílastan- do-se delia na parte anterior, onde se acham separadas da mesma por ângulos agudos reintrantes. Os limites posteriores dessas três áreas formam uma linha continua transversal ; os limites lateraes das áreas intermédias são quasi parallelos na sua metade posterior ; ellas conservam pois alli a mesma largura, quasi igual á da área central ; mais para diante os li- mites lateraes convergem, terminando as áreas um pouco áquem da cen- tral. As áreas lateraes eslendem-sc com largura uniforme ao longo dos bordos lateraes do segmento oral, sendo arredondadas no seu extremo posterior. No extremo anterior das áreas lateraes costuma haver ao longo do seu bordo interno um espaço pallido, transparente, sem poros nem ma- lhas. Na sua parte anterior as áreas lateraes são separadas das intermé- dias só por um intervallo muito estreito; mas divergindo aquellas, e cor- vergindo estas para traz, esse intervallo vai se alargando cada vez mais. A sutura que limita o lado interno da área intermédia, prolonga-se anterior- mente além da uiesma área, curvando-se para fora e s(;ndo acompanha- da de uma linha escura. Essa linha de um lado, e do outro o bordo anterior da área lateral limitam uma listra estreita, pallida, dirigida obli- quamente para fora e para diante, e dilalando-se junto do bordo ante- rior do segmento oral em uma pequena área circular, na qual se acha AltllIlVliS III) Ml SKU NACIONAL 51 inserida uma aiiliMiiia liiarliculada. As duas aiitennas são prelas, os seus articiilus siibcyliiidricos, sendo o iiriíiu^iro mais curto (! grosso; no ex- tremo do segundo arliculo ha dons ou In^s lildcs traiisparciilcs. (jui' fa- zem lembrar os íileles oltactorios das anlennas dos crustáceos. Ao ani- ínal de que tirei a íig. 10, os ângulos reintraiites (|U(' separam as áreas ceplialicas intermédias da central, eram muito pallidos ; escolhi este ani- mal por deslacarem-s(! melhor as áreas; cumpre comtudo notai- (|iii'. cm regra geral, aqucUes ângulos são tão escuros coiiut as |ti'npi-ias áreas. Entre as áreas iiilermedia e lalTal existe em todos os aiiimaes (jue examinei, uma piMjueiia macula escura, estreita, longitudinal. Da mesma sorte nunca faltava outra macula preta, elliptica (achei os eixos htngitu- diiial e transversal de 0,02 e 0,0.'}'""' em um, e de 0,02.j e 0,0:V"'° em outro animal , situada um |»oiiin atraz da longitudinal. Pela sua forma e còr, estas duas maculas pretas elli[)ticas [Mídiam passar jtor olhos; en- tretanto, o microscópio não me mostra mais nada (|ue viesse em apoio dessa oj)iiiião. Emíim ha, mais para traz ainda, e um pouco diante dos espinhos dorsaes uma lileira transversal de pontos mi malhas miúdas es- curas; para vel-as bem convém examinar o tegumento de|(ois de des- pojado dos iiiu:^tilos e mais parles (|ue a elle adherem. Os ([iiatro se- gmentos intermédios são iguaes entre si. Ao longo do hurdo anlerior elles tôm uma lileira transversal, interrompida no meio, de malhas miúdas es- curas, e mais algumas malhas se acham espalliadas um pouco para traz. Quando o animal sl' contrahc em sentido longitudinal, o bordo an- lerior di; cada segmento é recolhido embaixo do bordo posterior do s - gmento (iiie o precede, como é regra geral nos insectoíí. O segmento anal é forlemeiíte comprimido airaz dos espinhos late- raes, o (pie i)arece indicar a sua composição primitiva de dons segmen- tos. Em um único animal (íig. .'{), entre centenas, que vi, havia uma segun- da conslricção menos forte e entre as duas constricçôes um segundo jiar de espinlios lateraes muito pequenos, indicio este de um terceiro segmen- to, que entra na composição do segmento anal. Viremos agora o animal para exainiiiarmos a sua siiperlicie \enlral (fig. 1). Prendem a nossa alteiição em primeiro lugar seis anileis jiretus, um no meio de cada segmento. O seu diâmetro em aniimies adultos é de cerca di- O,,')'"" e a sua largura igual á terça parte do diâmetro, de maneira ipie o diâmetro ilo circulo pallido interno, que elhs rodeiam, 6 igual lambem á um terço do diâmetro da circumferencia exlerna do annel. São ventosas [lor meio das cpiaes o animal adliere (irmemeiite ás 52 ARCHIVOS DO MLSEL NACIONAL pedras, como ás mãos de quem o apanha e que são ao mesmo tempo os seus únicos órgãos de locomoção, pois não ha nem vesligio de pernas. Teremos depois de examinal-os mais detidamente. Xos quatro segmentos intermédios o annel preto é rodeado como de uma coroa mui elegante de filetes brancos, havendo geralmente 8 ou 9 de cada lado nos animaes adultos. Faltam no segmento oral e no anal só existem do lado anterior do annel. A superfície ventral é mais pallida que a dorsal, mormente ao redor dos anneis até a inserção dos filetes brancos; na mesma parte ven- tral dos segmentos o tegumento perde a sua rigidez, consistindo em uma membrana delicada e flexível ; era virtude desta flexibilidade as vento?as podem, ou sahir muito para tora do nivel da superficie ventral ifig. G) ou recolher-se ao mesmo nivel (fig. 4j. \ sup::?rficie ventral é mais lisa (jue a dorsal, excepto, porém, um logar áspero ao pé de cada espinho lateral (fig. 13) ; as asperezas consistem em arcos salientes finamente denteados, (o que não se vê na figura por não ser suflicientemente augmentada), tendo a convexidade para fora. Junto deste logar asp3ro começa uma fileira dd escamas rijas do feitio d'um leque, a qual d'ahi se estende ao longo do bordo lateral dos segmentos. Estas escamas Tig. H) variam ao infinito em dimensões, formas e cores. Em certos casos ellas representam um leque, cuja largura é quasi igual ao comprimento, e cujo bordo terminal é guarnecido de numerosos dentes agu- dos (10 a 12, dj3 quaii o; doas extremjs costumam ser os maiores; estes leques bem desenvolvidos e largos são geralmente também muito escuros ; em outros casos as escamas são mais estreitas, com os dentes terminaes desbotados e ás vezes perfeitamente descorados e transparentes. I)eslocando-se um pouco as ventosas, vè-se que dos lados de cada uma delias existe um pequeno ponto preto que, na posição normal das ventosas, se esconde de- baixo da costa delias; é o orificio de uma glândula (Cg. 6; fig. 11 gs.) Passemos ao que mostram de particular os liversos segmentos. A parte anterior do segmento oral é occupada pel a bocca e os órgãos que servem para reconhecer e ingerir as substancias, de que se nutre o animal ; descrevel-os-hei quando tratar do canal intestinal. A ventosa, cujo centro se acha um pouco adiante da linha transversal, que une as bases dos espinhos lateraes, é frequentemente, porém não sempre, um pouco menor do que as dos outros segmentos. Era um único animal, infelizmente mal conservado, vi no segmento oral uma segunda ventosa situada mais para traz, cujo diâmetro era igual a dous terços do da primeira. De cada lado da ventosa, onde nos outros segmentos se vêm os filetes brancos, ha no AllClllVOS DO MlSEi: XU.IO.WL ."):{ segmento nral lri's pellos fortes; mais para fora costuma haver outros pcllos geralmiiutc luruorcs, cujas iliinousõis. posição e numero variam muito, em- quanlo aqiiclles três pares são muiln constantes e nunca faltam. As esca- mas (1) bjr.io lateral estendein-se muito pouco além dos espinhos latoraes, fallanilo ii;i inrtaih; aiilfrinr do si-gmriilo oral. .Nd Ixirdn pust-Tinr h.i duas grossas piMluli 'iMiirias liil» Trulailas, a[):'nas separadas por um rstridln iiilio-- vallii. O segumlo s;'gmi'iilu distingne-si' pelo seu bordd anterior privadu de um process;) triangular, (jiic existe em todos os segmentos posteriores. O bordo i)i)sti'riiu' trm duas protuberâncias muito menores e mais afastadas uma d,i Miilra d<> i\\\r as do s-gniciito oral. Os segmentos terceiro atr ipiiuto são tjuasi iguacs; si) as proInliiTaiicias do bordo [tostrrior coslumani tor- nar-se cada \c/. nii'uori's c mais distantes, de modo ([iie no scumhimiIo (|iiintc» SI' arham muito pcrin do bordo lateral. \o m^dn do bordo anterior desl 's Ires segmentos, comi^ land)em no anal. lia um [)rocesso triangular, ipie entra ao segmento precedente, por cujo bordo posterior a sua |)i)iila se acha coberta, ^'a base iK> jirocesso Iriaiigidar ha dons [leipieuos luberculos, i[ne. como os dos lados, servem de poulos de inserção a mnsenlos. >'o segmento anal as escamas em fiuMua de leipii' estendem-se ao longo dos bordos lateraes alé o bordo posterior; u limite deste bordo ipie aliis está formando com os lateraes uma curva continua, é marcado de nm e outro lado por um par de pellos transpa- rentes, nascendo do mesmo pniiid v dirií^idos oblii[namenle para traz e para deniro; no mesmo boi-do ba oulros dons pidios semellianb's e um numero variavid de pellos menores. .Iiinlo do [)ordo posterior á ventosa abre-se o oriiicio anal, formando uma ellipse transversal. Dessr oriiicio emergem tjuatro bolsos miMubranosos, transpariMiles, de forma oval, sendo dons maiores dirigidos lateralmente, e dons menores vi- rados i)ara traz. Knln' o bordo anterior do ludliiio ;uial ilig. S. a c o pos- terior da ventosa iiig. S\ p do (|iial freijuentemente se acha cnberta. Ii.i uma lamina (íig.S) fendida pi'ol'niidamenle ou até separada com[)letamente em diia^ metades Iriaimodares, sendo o bordo interno de cada triangulo armado cie dentes em numero \ariavel. Km certos indivíduos essa lamina anal é sidi- stilnida por dons pei|m'iios tnbi'rcidos arredoudados apresentando sómenie dons ou três dentes, oii ali' si-m dentes. Não sei se seja isto inilicio de dill'ei-eui;a si'\ual. A lamina anal é imoel. podendo as pontas dos triângulos ser viradas pira diaiiti', o ipie mais ti^eipienteinente se observa, ou para Ira/.. \ área ceniiMÍ mais |iallida e molle, cpic rodeia a ventosa e os bolsos V. IV- 14 Õi AUCIllVOS DO MLSEl" .NACIONAL anaes é mais distinctamente circumscripta no segmento anal do que em qual- quer outro. Resta examinara estructura das ventosas e das suas coroas de filetes bran- cos, que por serem as singularidades as mais notáveis do animal, mere- cem um estudo especial. Examinando-se as \entosas, quando se acham elevadas acima do uivei da superfície ventral ( fig. 6 , fig.-il , vè-se, que o seu esqueleto preto de chitina consiste de duas partes completamente separadas, das quaes chamarei a inferior e maior de disco, a superior e menor de annel O disco circular, ora plano, ora mais ou menos con- cavo, tem no centro um furo circular, (é o mesmo dos círculos da fig. 12), ao redor do qual se distinguem varias zonas concêntricas de estructura diíTerente. Em primeiro logar, o furo central é cingido de uma zona membra- nosa c transparente, cujo diâmetro é igual ou pouco superior ao do annel, o qual se pôde ver atra vez desta mesma zona pellucida i fig. 12) ; na parte central a membranosa parece homogénea ; em alguma distancia do furo central apparecem linhas rudiaes finíssimas, tanto mais. distinctas quanto mais se aproximam á circumferencia. Segue em segundo logar uma zona escura, que na parte central mostra distinctamente a sua composição do fibras radiaes ; a parte peri- phericíi é (juasi homogénea, descobrindo-se sij algumas linhas radiaes trans- parentes e finíssimas. .Na circumferencia desta zona ha Ires pares de poros circulares; os do par anterior são menos distantes um do outro do que os do par posterior; os do segundo par estão quasi no meio entre os anteriores e os posteriores. Medi em três animaes, com a possível exa- ctidão, as cordas tiradas entre estes poros e calculei as suas distancias angulares, o que deu o seguinte resultado : Designando-se por A, A os pares anteriores, por B, B os intermédios, por C, C os posteriores, tinham : N(i 1" animal No 2" animal o arco A A 07°,5 72" o arco AB— BC. ... 4.5° 48° o arco CC 112,°.5 %' No :V animal No 4" animal o arco A\ T.j" "1°,-J o arco AB— BC .... 45° it)°. oarcoCC 10.5° I0i°,5 UlClllVOS DO MISKT NACIONAL .).) De cada piWo nasce um pcllo, cujo coiiiitrimciito ('■ qnasi igual á lar- gura (lesta seguiula /oiia. Vem iTU terceiro legar uma zona estreita, escura lambem, (|ur das mais st' dislinguf por seus elementos constituintes não s'!n'in dispostos radialmenlc. \í\\\ auimaes menores, ella se nni^tra cuiii posta de pfdaciuhos polygonaes; cm aiiimaes adultos (li'sp:'daea-se, sendo comprimida enire laminas di; vidro, em fragmentos maiores irregulares. A quarta Z(jna iVjrma uma coroa elegíuitissinia de raios soltos de cerca de (),().")">"' do com- primento. Esta coroa de raios solto-; é interrompida por um iiili r\allo estreito no evlmno anterior do di.um^lro longitudinal. Ha iiuíim ao redor do disco uma lindissima orla membranosa, guarnecida tb' franjas, a ([ual também ninslra uma iiu-isân corresiiondenle ao inlfrvallo da coroa de raios. O ainiel preto circular, (jue pôde ou descer ao uivid du disco nu afastar-se dellecomo nas figuras (5 c II dilala-sc um [loucn na sua parte sn[)i'rior, sen lo, cm auiini''S adultos, o seu diannUro inferior de cerca de 0,2""", o superior (!.■ il,2')''"t; a all.ir.i de cerca O.Oti"'^^ O anntd é lapado por uma membrana convcva, na ipial distincla- niente se vem as impressões dos músculos, (|iie nella se ins!'rem lií. 11 e 12). l'ara se lixai' a ventosa, o disco provavclmeiíli' s^^rá a[»plicado á pedra com o amnd descido ao mesmo niv«d. sendo em seguida elevado o aniii'1, Iuito mais extraordinário ainda é, para uma larva de insecto, o numero dos segmentos. Por mais profundamente mudilicadas que sejam as larvas dos differentes insectos, p«ir mais que ellas se tiMiliam afastado da sua forma primitiva, todas ellas conservam bem distinctos os seus li ou ao menos Vò segmentos (cabeça, 3 segmentos thoracicos e 10 ou 9 abdominaes). ^'ão ha larva en) (pie o numero dos segmentos bem separados fosse menor, do que no insecto perfeito em que ella se vai tranformar. Uma larva de insecto cimi seis segmentos somente é um verdadeiro paradoxo; falta mais lia metade para completar o numero normal. Surge pois alii o problema de determinar a que segmentos do insecto ]»erfeito correspondam os seis da larva e de quantos segmentos pri- mitivamente distinctos se componham os seus segmentos oral e anal. Para resolvel-o, ha dons caminhos: estudar a anatomia e seguir a metamor- phose da larva. Iri'i pois expor na segunda parle dn presente trabalho a estructura anatómica da larva, dedicando a trrceira ás suas transfor- mações ulteriores. á MEMM§EPHOS£ DE UM íN^SECrO BiPTEEO SEGUNDA PARTE ãMUTOmiA WA 4:* l'ELO D Pu ! niTZ MULLER \ali'.r(i/ixui riajiiHtc do Museu Nacional. Eiici>ti'i o oxaiiii' ;iiiati)iiiici) da larva, (lae duscrcvi na priíiicira i)aiic (lo |»n'si'iilc traballiit, (•din d lim principal de determinai' a ([ne scgiuou- los de outras larsas d(í insectos correspoudani os seis segmentos tle que ella se compõe, (isperando ao mesmo tempo achar um ou outro facto, ([ni! indicasse ineíjnivocamcnte a ordem e família de insindos, em (jne devia ser collocado animal tão extraordinário. Deixei de indagar a es- tructnra dos órgãos de (ún-nlação( vaso dorsal), e os priraeros vestigios, (]ue de certo já existem, dos órgãos sexnaes; teria sido uma tarefa bas- taide dillicil, e superior talvez á minha pouca habilidade, não promet- tendo aliás resultados aproveitáveis para o lim que almejava. ti. Canal intestinal e partes annexas \ b(i(-ca e os órgãos anncxos occnpam a parle anti^rior ila iace ven- tral do primeiro segmento. Ksta região boccal é limitada posteriormenlc por um sulco transversal (fig. í), st. 1, percorriílo [)or numerosas liniias li- nissimas trans\crsaes( íig. i.st.l. V. n — IT) 58 AllClIIVOS DO MUSEl) N.VCIONAL De cada lado da mesma região boccal ha uma peça chitinosa larga, dura e escura ( fig. 1, pc. ) formando as duas peças um verdadeiro qua- dro boccal (« cadre buccal ») como Milne Edwards o chamava nos crustá- ceos Decápodes. Anteriormente essas peças coincidem com o bordo late- ral do segmento oral, do qual se afastam um pouco para traz. Os seus extremos anterior e posterior são arredondados; dos bordos lateraes é concavo o interno, o externo convexo e guarnecido de pellos fortes, curtos, curvados. Junto do bordo interno nasce um pello muito mais comprido, recto e se- mellianto aos três que se vêm de cada lado da primeira ventosa. Das duas peças chitinosas parte um complicado esqueleto de processos e prolon- gamentos chitinosos, que atravessam o interior do segmento oral, servindo á articulação das partes boccaes e á inserção dos seus músculos. Ás partes boccaes são em numero de oito, a sabor : o lábio anterior ou superior, três pares de órgãos lateraes e a lingua. O hibiu ««/cí/oí' ou superior (1 a, íig. 1.2. 3.) tem uma forma pouco commum nos insectos, bem que frequente nas larvas de crustáceos, de uma carapuça membranosa; é coberto de curta pennugem, e munido de dous pellos rectos, tenros, byalinos, dirigiílos para diante, e se- melhantes em tudo aos dous que nascem junto do bordo anterior do segmento oral, na face dorsal. Serão pellos sensitivos? As manãilndas ou primeiro par das partes boccaes lateraes, articulam (fig. 4) em dous proces- sos cliitinosos, partindo de perto do extremo anterior do quadro boccal. Elias são duras, pretas, de largura quasi egual ao comprimento. O seu bordo terminal é dividido mais ou menos profundamente (fig. 4. 5. ) em três porções separadas por estreitos intervallos menos escuros e um pouco transparentes; a porção anterior ou interior excede ás outras duas em comprimento e termina por um forte dente triangular; a porção inter- média é a mais larga das três, tendo o seu bordo terminal ás vezes canaliculado e o bordo externo armado de numerosos dentinhos agudos. As mandíbulas dos insectos, como também dos crustáceos, costumam ser articuladas de modo a poderem afastar-se uma da outra, ou apro- ximar-se, movendo-se para fora ou para dentro,- servem para apanhar, segurar, cortar ou mastigar as substancias elementares. Dessa regra geral fazem uma excepção muito notav«íl as maiidibulas da nossa larva por não se movereíii lateralmente, e sim de diante para (raz. Quando viradas para diante (md. fig. 2 3. 5.) o seu bordo terminal ultrapassa um pouco o bordo anterior do segmento oral, emquanlo o mesmo bordo terminal quasi tocará a lingua, quando estiverem viradas para traz (md. fig. 1.-4). Por este movimento de diante para traz as mandíbulas poderão raspar AllClIlVnS 1)11 Ml SKl .\\(I(».NAI. .")'.) a superlicie das [irdras c iiilnxlii/ir na bucca as algas microscópicas o outras substancias de (jui' se nulrc a larva. As niaxillas, ou segundo par das parles boccaes lateraes (ni\. Hg. 1. 2. '■]. (). 7. S. D.) são inseridas um pouco para Iraz e ]iara IVjra das mau- dibulas; grossas c como inchadas na sua parle basal, ellas na parti; terminal se adelgaçam em um gancho virado geralmente para cima ou para fora; junto do bordo convexo desse gancho nasce da face dorsal das maxillas uma crina de pellos iiaslus e rijos. Na lace ventral da base das maxillas apparece uma ligura circular, transparente, com conluruns mais lui menos escuros, e dentro desta li- gura se destacam dous pequenos circulos com contornos grossos c escu- ros e um ponto central também escuro, exhibindo tudo isso á primeira vista uma semelhança sorjjnmdenle com órgãos auditivos, com os seus otolithos, dos nKjUuscos e de certos crustáceos. Essa semelhança, com- lud.), desfaz-se completamente a um exame menos superficial; vè-se (pie aquelle curioso orgào consiste em uma liexiga membranosa quasi he- mispherica, rodeada tVequenteuKnile de um aunei escuro, a (piai se ele- va na parte basal da maxilla, e cuja superficic 6 munida de dous ma- millos ou tubérculos salientes (lig. 7, m) compostos de um aniiel cvlin- drico escuro basal, e ;le uma calote transparente terminal. Ijiliv esM's ilnus mamill s maiores ha um grupo ãv (piatro ou ciucn muilu miMiores. .luiilu á base da bexiga hemispherica ainda ha uma fileira curvada de cerca de dez pontos mamillares (fig. 7, p) ou antes circulos muito miú- dos, pretos, elevando-se do centro de cada um delles uma pontinha, preta também. Parece-me provav(d (]iie tanto estes pontos mamillares como aquelles mamillos maiores e menores da bexiga sejam mamillos gustativos. (Com[)arom- se os mamillos gustativos « papilles guslatives >> figurados pelo Itr. Augusto Forel nas maxillas e lingua das formigas na sua interessantissima nbra : « Les fdurmis de la Suisse ».] (3 terceiro par di! partes boccaes são duas alviofidas ^alm. lig. 1. 2. W. '.).), (jue dos lados da lingua se estendem obliquamente para f('»ra e [lara diante; (juaiido bem expandidas a sua iaei' exti^rua lisa ^visivtd na lig. '.li, é appli- cada á lace ventral dn segmento oral; a sua face interna (ou inferinr nas ai mi liadas expandidas) é convexa e armada de cerca de uma dúzia de fileiras de pontinhas e ganchinhos microscópicos, parallelos ao eixo maior da almofada e dando-lhe a apparencia da lingua de certos molluscos gas- leropodes ; ao longo do bor.lo da .dmofada, entre as faces externa e in- 00 AUCHIVOS DO MUSEU NACIONAÍ, terna estende-se uma listra densamente coberta de pellos. Si essas almofadas corresponderem, como é de presumir, ao terceiro par de partes oraes de outros insectos, isto é, ás maxillas posteriores, seria notável o serem ellas perfeitamente separadas; porque em regra geral essas maxillas posteriores são unidas, nos insectos, em um órgão impar a que os entomologistas chamam lábio inferior. Emfim a Ihujiia ou hypopharynx (li, íig. 1. '2. 'ò. 13) é uma eminên- cia cónica ou arredondada, nu bordo posterior da bocca No interior da ca- vidade boccal nota-se, além de outros pellos menores, uma guedelha ou feixe de pellos tenros e compridos, nascendo junto da base de cada mandíbula ( p, fig- 5). Quanto á funcção das diíTerentes partes, que rodeiam a bocca, tocará aos pellos sensitivos do bordo frontal e do lábio superior, como aos mamillos gustativos das maxillas o papel de examinarem as sub- stancias quií tenham de servir de alimento. As almofadas applicando-se ás pedras, para o que são excellentemente apropriadas pelas suas fileiras de pontas e ganchos, formarão, com as maxillas guarnecidas de uma crina Itasla de pellos rijos, uma camará bem fechada, dentro da (|ual poderão jogar as mandíbulas raspando o que houver nas pedras e puxando-o para o interior da bocca, sem risco de lhes ser levado pelo Ímpeto das ondas, que levam as mesmas pedras. Na base da lingua acha-se uma lamina chitinosa (Ic, fig. 11. 13). prolongada para traz em dous filetes (fi, fig. 3. 13) ([ue se estendem até o limite posterior da região boccal. Essa lamina chitinosa curva-se para cima até quasi se tocarem os seus bordos lateraes, constituindo assim um annel ou collar quasi com- pleto, só interrompido em cima por um pequeno intervallo, ao redor da entrada do esophago (fig. 13). De um e outro lado desse annel partem laminas chitinosas estreitas e compridas, um pouco curvadas, do feitio de alfanges (fig. 11. 12 13), que se estendem ao longo da parede tlorsal do esophago e cujas pontas são encerradas em um pequeno appendice cego (ac. fig. 11) partindo las o (pie caracterisa priíieipalinentc o estô- mago, é a existência d»; uma grossa camada intermédia entre a mem- brana intima e os músculos, composta de grandes cellulas (fig. 1(S, 19; com conteúdo granuloso, opaco, (jue facilmeiíle se separam umas das (niíras, e ([ue faltam ao esophago e intestinos. A parede dessas cellnlas é consi- deravelmente engrossada na parle contigua á cuticula, formando ali nm limho transparente (lig. 18). Vários autores aílirniam (jiie o estômago dos insectos se distingue do eso()hago e intestino, pela falta de membrana intima, de que são estes dotados, ou pelo menos se esta membrana existia, não é chilinosa. Aa nossa larva a membrana iniima ('■ a [)arle mais resishMíle do es- tômago e pôde ser isolada com a maior facilidade, e resistindo ella á ac(;ão prolongada da solução de polassa cáustica lérveiido, nãi) jMMie ha- ver duvida, de ijue consista de chilina. Não seria aipiella (ipiniãi) errónea ao menus ne>le caso especial, de- vida simplesmente a |irecoii(;eilos theoricos, negando-sc a cuticula chi- tiiiosa ao estômago, só para derivar esle do eiidoderma, concedendo-a ao esophago e inleslino por derivarem do ectoderma, (pie fornece o esque- leto clntinoso dos insectos? O esophago vae túé pouco al(jm da jtrimeira ventosa, principiando ainda no segmento oral o estômago, que d'ahi estende-sc em linha recta at('' ao ultimo segmeiílo, acabando acima da ultima ventosa ou pouco antes (íig. l-i-15). O limite entre o eslomago e o inleslino é marcado não só pela mndaiuja repentina do diâmetro, o inlestino sendo muito mais estreito, V. )v- 1(5 62 AncHivos DO museu nacional pelo tlesapparecimeuto da camada cellular e pelos músculos fracos no estômago, fortes no intestino, como também pela inserção dos vasos uri- nários (fig. 14-16). O intestino dirige-se primeiro para diante, geralmente situado no lado direito da superfície dorsal do estômago, sendo, porém, raro encontral-o no lado esquerdo. Esta parte ascendente do intestino tem apenas o comprimento de um único segmento; perto da quinta ven- tosa volta para traz, indo em direitura ao orifício annal, que se acha na face ventral do ultimo segmento á pouca distancia da ultima vento- sa. A f(')rma do orifício anual 6 variável, podendo ser elliptica ou a de um trapézio com vértices arredondados e com a base menor virada para traz, variando muito as dimensões relativas das duas bases e da altura do trapézio ; a base maior ou anterior costuma ser recta ou até conve- xa, quando a lamina annal fôr bem desenvolvida, curvada para dentro ou concava, quando a dita lamina fôr substituída por dous pequenos tubérculos (fíg. 10). Annexo ao canal intestinal acha-se um par (talvez mais) de glandu" las salivares e os vasos urinários ou malpighianos. As glândulas salivares (gs. fíg. 13) são tubos simples cylindricos, situados na altura da primeira ventosa, dobrados de maneira que ambos os seus extremos estejam vira- dos para diante. As cellulas glandulares cingem um estreito canal excre- torio. Sabidos da glândula os dous canaes excretorios dirigem-se obli- quamente para diante, convergindo e encontrando-se na linha mediana um pouco ailiante do limite posterior da região boccal, embaixo do ganglio nervoso infraesophageano ; ahi elles reunem-se em um único canal impar, o qual segue para diante na linha mediana, abrindo-se provavelmente na base da lingua. Vi uma pequena glândula perto da base da n)andibula que prova- velmente também é salivar, e também vi junto da margem frontal do segmento oral numerosas cellulas transparentes muito grandes, se- melhantes ás que constituem a glândula salivar superior das abelhas, si- tuada no mesmo logar. (l)i\'o limite entre o estômago e o intestino, nasce de um e outro lado um estreito vaso «rirtario (fíg. 16, vu), que acompanhando o estômago se dirige para diante. iNo penúltimo segmen- to um desses vasos se divide em dois e o outro em três. Parece que é mais frequente haver três vasos urinários no lado direito e dous no esquerdo (fíg. 14. 16. 17. ); mas dá-se também em certos indivíduos o caso (\) Leydig, Lelirbuch der Histologie 1857. pag. 319, íig. 18(3, B. ARCIIIVOS DO MUSEU NACIONAL 63 contrario (fig. 15). Uni dos vasos (1(! cada lado(fig. 17. I) acompanha o es- tômago até o seu extremo anterior ; entra pois no primeiro segmento, donde volta outra vez para traz até o lado ou além da ultima ventosa. O segundo vaso de cada lado (fig. 17, H) vai geralmente só ató a quarta ventosa ou pouco além, donde volta para traz,e o terceiro (fig. 17, 111), que só de um lado existe, costuma voltar para traz logo depois de ter entrado no ([uarto segmento. Todos elles terminam aos lados da ultima ventosa, ou um pouco além, ou áquem. Os vasos urinários são mais ou menos tortuosos ( geralmente muito mais do que os do animal da lig. 17 ) e por isso nem sempre é tacil acompauhal-()s em todas as suas voltas. Ou;isi sem còr da inserção até a sua divisàs dos vasos urinários são tão grandes (jue uma só occupa toda a largura do vaso. (fig. 20) E' muito raro existirem os vasos urinários dos insectos em numero de cinco ; se- gundo .Siebold (l)este numero só leria sido observado nos grupos dos r.ulicinos e dos Tipulinos nocluitbrmes (ou Psyehoíinos), ambos perten- centes ás Tipularias ou Dipteros .\emoceros. O facto de haver, na nossa larva, cinco vasos urinários, vem pois não só confirmar o resultado dedu- zido do exame do exterior, de si'r i'lla a larva de algum Diptero, como também indicar a secção dessa ord(!m de insectos, a que provavelmente deve ser referida, a saber, as Tipularias. >'as larvas dos insectos o esophago costuma percorrer todo o thorax, principiando só no abdómen o estômago ; pelo contrario os vasos uri- nários costumam limitar as suas voltas ao abdómen, sem entrarem no thorax. Si essa regra valer também para a nossa larva, o primeiro dos seus seis segmentos conqu-ein^ndi-ria não só a cabeça e todo o thorax, como também i)arte do abdomim. • (1) Siebold, Lehrbiicli der vergleichendon Anatoraic der wirLelloseii Tliiere 1818, pag. 626. á MEfáMtlPHOSl !>1 UM iífS£€TO §IPT1E# TERCEIRA PARTE ÁM&^fQmiA WA I^ãMJWÁ PELO DU. FHITZ MULLEPi Natvralista tiajante do Alnseit Nacional. g 2. Vasos aeriferos Com excepção de cerlas larvas o chrysalidas ou ai]iialÍL'as ou para- sitas, o appandho respiratório do lodos os insectos consiste em um sys- tcma de íracheas ou vasos aeriferos, que communicam com o ar am- biente por meio dt; uma serie dúplice (li stigmas ou spiraculos dispos- tos simetricamente por pares occupando os lados do corpo. De cada spi- raculo parte um tronco inicial ou primário (« tracheé d'origine »), cu- jos ramos (« trachées de distribution » ) dividindo-se e subdividindo-se cm ramiidios innumeraveis, penetram todos os órgãos, trazendo-Uies o ar vi- vificador. Só em casos raríssimos essas arvoresinhas aeriferas ficam inde- pendentes umas das outras; em regni geral ellas communicam entre si por anaslomoses (« tracluVs de communicalion ») tanto longitudinaes (<,< tra- chées connectives » d<' Milue Edwards) como Iransversaes (« trachées com- missu rales » de Milnt; Kdwards). Em diversas larvas parasitas, como sejam as de Anomalon e de Mkro(iaxlrr ; e cm muitas larvas e chrysalidas aquáticas os vasos aeriferos não communicam directamente com o ar, sendo fechados de todos os lados; neste caso o ar contido nos ditos vasos não pôde ser renovado directamente, e só atravez das paredes d'aquel- les vasos que se ramificarem, seja na superficie do corpo, seja em brancliias aeriferas, u acido carbónico resultante do processo da respiração podt-rá ser substituído pelo oxygíMieo dissolvido no íluido ambiente. Desde que V. iv-n 66 ARCnivos DO museu nacional s(i principiou a applicar as idéas de Darwin aos insectos, surgio neces- sariamente esta questão: qual dessas duas formas do apparelho respiratório devia ser considerada como primitiva, e como delia podia ser derivada a outra. Ura dos juizes mais competentes em questões morphologicas e phylogeneticas, Cari Gegenbaur, pronunciou-se em favor das tracheas fecha- das, (l) Segundo elle os vasos aeriferos teriam tido primitivamente uma fun- cção puramente liydrostatica; distribuindo-se os seus ramos na superfície do corpo ou nas branchias teriam passado a servirem também á respiração; emergindo finalmente os insectos da agua para viverem no ar, teriam cabido as branchias e pela ruptura dos seus vasos aeriferos teriam re- sultado orihcios ou spiraculos, hcando desta sorte abertas as tracheas primitivamente fechadas. Paul Mayer, e outros (2) declararam-se contra esta hypothese de Gegenbaur, a qual comtudo só lia pouco foi victoriosa e definitivamente refutada por Palmen. (3) Este observador circumspecto e con- sciencioso mostrou que em todas as larvas aquáticas já existem prefor- mados, bem que ainda fechados, os spiraculos dos futuros insectos, e que elles nada tèm com as branchias aeriferas ; mostrou que também já exis- tem desde a mais tenra edade, bem que reduzidos a cordinhas impervias os troncos iniciaes dos vasos aeriferos, cabendo-lhes um papel importan- te no acto de despojarem-se as larvas de seu tegumento e ao mesmo tempo da membrana intima dos vasos aeriferos ; mostrou finalmente que estes factos só são explicáveis admitlindo-se que as ditas larvas são des- cendentes de avós providos de tracheas abertas. No tocante a esta questão tão importante para a morphologia e a phylogenia dos insectos a nossa larva é muito interessante, confirmando plenamente os factos es- tabelecidos por Palmen, como provará a descripção, que passo a dar de seu apparelho respiratório. Na face ventral de cada um dos segmentos segundo até sexto, acha- se nos ângulos formados pelos bordos lateraes e anterior um ponto de inserção de um tronco inicial dus vasos aeriferos, isto é, um futuro spi- raculo (fig. 1. p. IV até p. VII). No segmento anal esse ponto de inserção (fig. 1. p. VIII) costuma ser um pouco mais afastado do bordo anterior do que nos segmentos que precedem. Neste mesmo segmento ha um se- (1) Cari Gegenbaur, Gruiulziíge der vergleichendea .Aiialoniie. IS^O, pag. 440. (2j Fritz MuUer, Beiliage zur Keriliiiss der Teniuleu. IV .leiiaisclie Zeitsclir: fiir Nat. I.X, pag . 253 . (3) Palmen, zur Morphologle des Traclieensyslems. Helsingsfors IS^T. AIU.HIVOS DO MlSEi: NACIOXAI. 67 guiido par dos ditus pimlos(rig. l. p. I\ iiu uUiir.i da C(jiislric(;ãi) ijue existe atraz dos espinhos laleraes. Enlim lia dmis [)an's no segmento oral (fig. 1. p. II, p. III), pouco dislaiitrs iiin do outro, iniinediatamente atraz da primeira ventosa. Fora dos oito pares de pontos ventraes lia ainda um par situado na face dorsal do segmento oral ( íig. 2, p I), quasi opposto ao primeiro par(íig. 1, pag. II) dos ventraes. Em certos, bem que raríssimos indivíduos, todos aquelles pontos podem sor vistos com facilidade por se acharem marcados de uma pequena mancha [ireta ; geralmend", pdivm, [i.n-a vel-os, é necessário tratar os animaes com solução de potassa cáustica fervendo até tornar-se transparente o integu mento cliitinoso. Nos (juatro segmentos intermediários ( segundo até quinto) a distribui- ção dos vasos aeriferos é idêntica. O trona) iítiri(il{íig. 1, ti) reduzido a cordinha impervia, dirige-se para traz e um |miuco para fVira e iiara cima, percorrendo dons ([uintos ou pouco mais do conqirimento do seg- mento, inserindo-s(; no lado interior de um grosso vaso aeriicTO. Esses troncos iniciaes, reduzidos a cordas impervias, são muito mais compridos no nosso animal do que em (|ualquer onlra larva, em que até agora foram observados por Palmen e j)or mim. O vaso aerifero, em que se insi're o tronco inicial, f('(riiia m^ste lo"ar nin arco, cuja convexidade é virada para f/ira, e (jue de diante e de cima desce para traz e para baixo. \ parte (pie desce é o nuiu) hnm- chkd (ív^. 1. rbr.) ; chegado á parede ventral do segmento, divide-se em dous ramos principaes, um anterior, outro posterior, e estes subdivi(ijar a nieniliraiia intima dos vasos aerileros, não havia necessi- dade ([ue o iillimo par como todos os mais fossem ocos e aerileros. lia , gi), situado abaixo. À este ganglio liga-se por commissuras brevissimas um grande ganglio tlioraxico (fig. O, g th), havendo apenas entre elles um pequeno buraco circular ou elliptico. Tratando-se o ganglio thoraxico com solução de potassa cáustica, elle in- AKCIIIVdS IXt MfSKr NACIMNM. ~'A clia (' nesle estailo apresputa-si' (;imipi»sts\ sào unidos por duas (;ommissnras ([uasi ciuUiguas. Os nervos partem, nos .segmentos intermediários, perlo do e.vtrcmo j)osterior do respi^ctivt) gan- giio, emillindo cada ganglio dons pares di' iiim'vos. No ganglio do segmen- to anal ha dons grupos d(! m-rvos, partiu lo do limite (mtrt; os dons ganglios primitivos, de (|ur se compõe o dito ganglio e outro do extre- mo posterior do ganglio. ini puiico dianti' de cada ganglio abdominal, no limite entre dons segmentos limitroplns, aclia-se íixaila ao lado dor- sal das conimissuras nervosas, uma pequena lamina membranosa (|uadri- latera (dg. •"), 1 a '. cujos ângulos latera(>s se pr(dongam em ligamentos del- gados (íig. .">, li ) lixados ás protuberâncias lateraes do bordo posterior do segmento precedente. >'a descripçàii;i posição systematica, que é a larva de um in- secto diplero alliado ao grupo dns (.ulicinos, com o qual conconla no numero (õ, dos vasos .Mal|)igliianos, e descendente de av()S, enjas lar\as a(piaticas, ciMUo as de Cnler, respiravam o ar |ior meio de dons s|tira- culos situados no extrenin posterior do abcbiinen ; 2) No tocante á hnniologia de seus segmentos, que o segmi'uto lu-al é nm ei'plialolli(ii-a\ coi-respoinlenle á cabeça, n Ihurax e mais o primeiro segmento abdominal de uniras lai'vas ; (pn' cada nm do-; quatro segmen- V. IV- 19 74 AlíC.IliVOS ixl MCShX' NACIONAL tos intermediários corresponde a um único segmento abdominal, como prova a disposição dos systemas respiratório e nervoso e que o segmen- to anal provavelmente corresponde aos quatro segmentos abdominaes, que ainda faltam para completar o numero normal. Veremos adiante que a metamorphose plenamente confirma estas conclusões. ^o^Ooo^^g* á METáMORPMSE §£ UM í^SECTO §iPTER§ QUARTA PARTE eiRYSÂOBA E ÍNSEKTÔ PEBFEÍT8 i'i:i.o DIU I lUT/ MULLER Natufalisía ciojaiite do Minifii Xacional. 1 . Chrysalida (fig-. 2-6) Em companhia das larvas ciicoiilram-sc pegadas ás mesmas [x-dras, em que eslas vivem, certas elirvsalidas, IVtMjueiites míde as larvas abun- dam, raras uudi; escassèam. Muitas vezes essas larvas e elirvsalidas são os únicos habitantes das ditas pedras, pois mui raros são osanimaes (|iie [xnb-m re- sistir á turca das eiirri'iitc/as, ijiie eljas [irclereiíi, e entre as poucas hirvas, (jne ás vezes se lhes associam, eumo sejam as de certas l'erli- deas e de Tricliopleros ( Ulujiuvplnjlar, l^clldpsijrhe, de), não lia nriijnima, de que possam ser derivadas as elirysalidjs. Assim pois já esta couvenicucia por si só é prova sullicieiite das larvas e chrysalidas serem da mesma espécie. A chrysalida (iig. l.'-\) tem a iVirma di' um rseudn ii\al, bastante euu- V('\(i, cuja largura cabe (pia^i duas e altuni cerca de Ires vezes no comprimento; a maior largura e altura aeham-se |iflii lim du (creii an- terior. Medindo sessenta elirys.ilidas, achei, como termo médio i|e iunqiri- jiieiito, (■),"""() e da largura :{,"""7 ; a nuiior, ([ue vi, tinha 7,"""S de coni- 76 Aiicinvns no mliset nacionvi, primeniu sdIji'!' i,""".S ih: largura, c a menor só 'i,'""'S de cotnpriíiieiitu sobre 2,"""i) de largara. Juulo du extriMiio aiilerinr, (|iie é u mais largo dos dons, elevam-se. dons chifres verlicaes, cada um dos ([uaes se com- põe de qualro laminas triangulares ( fig. 2, eh ; fig. O ). A siiperlicic dorsal é lusU-Dsa e de cor parda escura ; a face ventral é pallida, ([uasi branca nas cíirysalidas i^nas, toruandu-se com o tenipu cada vez suais escura e acabando por si'r prda, (piaudo o iiísecto aclia-se prouipio para sahir. A superlicie dorsal é dividida jxir suturas lrans\ersas (.mu doze segmentos (íig. 4) a saber: a cabeça (c), os Ires segmentos do thorax : prolhorax (p) mesothorax. (ms) e melalhorax ( mt ), c oito segmenfos abdominaes (I até (Mil). A siiiierlicie da cabeça e do tlioríix é lisa, a do abdómen mostra sulcos pouco [irofuiiilos, lougihidinaes no meio dos segmentos, obli([uos nas suas partes lateraes; além disto o abdnmiMi é coberto de pontos ou pequenas malhas escuras, bastas, gi-ralmenic ({uasi circulares, com exce- pção do primeiro segmento, onde são ellipliras, liaras vezes estas malhas a|iparece!ii land)em no metathorax e oté no mesothorax, sendo comtudo menos dislinclas, memires e muito mais raras. Dos doze segmentos sij ume attingrm ii bordo lateral-, o metatho- rax e os dons primeiros segmentos abdo!niuai's (lig. 'i, mt, 1, il) achaado- se encravados entre o mesothorax e o ti^rceiro segmento abdominal. A parte dorsal da cabeça (íig. i c ; lig. b, c) occupa com o seu bordo inferior ou frontal metade da largura do corpo; é de figura triangular com os lados ar(|ueados, um pouco convexa e sobe quasi verlicalmeule; mostra Unas suturas, uma transversa e semicircular, (jue separa o terço superior, e outra longitudinal, (pie do meio da transversa vai ao vértice do triangub». Os dons primeiros segmentos do thorax, prothorax e mesothorax (Hg. 4 p, ms) são unidos em uma única peça no meio da face dorsal, sendo só lateralmente separados por uma sutura; no meio, elles são eguaes em comprimento, mas, para os lailos o mesothorax tanto se ahirga, (jue no bordo lateral occupa mais du dobro dd protliorax. Ambos estes segmen- tos são percorridos no meio da superlicie dorsa) por uma sutura longi- tudinal, (jue . continua o da cabeça e t[ue provavelmente se abre para dar passagem ao insecto perfeito, quando tem de sahir da chrysalida. O bordo posterior do mesothorax é no meio uma liidia recta transversal, emquanto ;is parles lateraes do mesmo b(U'do descem obli(|iiamente para traz. .Na parte posterior do prolhorax elevam-se os chifres prolliontrccos, [ào Alti:iHVOS DU MLSKi; NACH.l.NAI. // írequf^ntes nas clirysalidas ác insectos Dipteros; cada um dolles compõe- se de quatro laminas triaufíularcs, dispostas trausversalmeuti^ umas atraz das outras; as laminas antcrinr e posterior í fis;. (>. clia. clip. ) são rijas, pnítas (■ Iriii jxinlii aj.'U(ia ; as duas laminas intcrnirdiarias í íig. (i. chi. ) são mais liMuas (■ i^cralmente mais pallidas, tcndn as pniitas embotadas. A' base de cada cliirre a])plica-se o extremo autcrinr muilo avolumado de um tronco louj^itudinal dos vasos aeriferos. .Nas clirvsalidas de Cnlr.r r de vários outros Diplcros os chilres pro- Ihoracecos passam |)or servir á n^spiracão; não seisi na nossa chrysalida lhes cabe a mrMua riinceão. X jiari ■ diir^al dn mi'lalliora\ 'Iíl'. 'i. ii:I tem a[)eua^ mi'tade, a do prinirii'n s"i:m('!iln aluloiniual Iíl;. 'i. 1 cerca de li 7, e a do sej^undo seg- menlo abdominal liu'. 'i. 11. 2 ^i da largura do mesolhorax oii do terceiro segmento abdominal ; assim o primeiro seguiento abdoiiiinal liça encerrado entre o uieialhorav e o segundo segmento, e estes dous entre o mcso- ihorax e o lerci'ii'o segmenio alulnmiual. • Desle lerceiro seguiiMiln para Ira/ a largura do abdómen vai suc- cessivameule dimiuriiiido ; no selimo segmenio ella se a(dm reduzida á melade c no oitavo á lerca |iarli'. Eslc (iila\o ou ultimo si'gtacnto abdo- minal da chrvsalida ílig. •'> ^ ill moslra [lela disposição das suas malhas escuras ser coniposlo de dons outros unidos sem \estigio d;: sutura; no meio do seu bordo posterior, o n)esmo segmeniu icm uma petjuena inci- são ou cbanliadura. A lace \eiitral da chrysalida (íig. ■'{) é plana (! tão fir- memente cullaila ás pedras, (jne S('i com muito cuidado as chrysalidas podem ser removidas incólumes. Nas (dirysalidas cuja lacií ventral já as- sumiu còr mais cari'egaila, vè-se ás vezes de cada lado dos segmenlos abdomiuaes: (juarto, (|uinlo e se,\to, (ou tand)i'm sétimo;, no angulo for- mado pelos bordo-; anterior e lat(.'ral, uma grande macula branca (íig. 3. g)," é uma camada leiíne da substancia adhesiva por meio da qu.il as clirv- salidas se collam á> jiaredes; coiiiludo esta substancia ijuasi si'iiipre fica nas peilras (juando d(dlas si; tiram as (dirysalidas. A maior parte da lace ventral é occupada pidas azas, anteiiiias, pernas e parles boccaes; todas essas partes são teuras. membranosas e a|)plicadas á siiperíicie ventral da chrysalida, porém livres, não adlieriud i uein á referida superíicie, nem umas ás outras. São pois as chrysalidas da nossa espi'cie (dirysalidas livres ( « pupa- libera.' ») como as dos Neuropteros, C.ideopteros e llymeiíopleros, e não dirysalidas cobertas (« pupae oblecla' »j como as dos Lepidopleros, cujíxs V. IV— 20 78 Aitcmvos DO miski; aaciúnai. membros lodos adlicrcui ao corpo, sendo cobertos por uma pelle coiu- mum, mais ou menos dura. Segundo os auclores que pude consultar, as crysalidas de todos os Dipteros ou seriam coarctadas ( « pupa' coarctadce ») isto é, encerradas na pelle endurecida da larva, ou cobertas e semelhantes ás dos Lepidopteros. Constituiriam pois as chrysalidas livres da nossa es- pécie uma excepção notável na ordem dos Dipteros, como entre os Lepi- dopteros as crysalidas livres dos Cochliopodes. E' provavelmente um caso de atavismo; acliando-se firmemente unida ás pedras a face ventral, as chrysalidas podiam dispensar a protecção que aos seus delgados membros dava a pidle diiva e continua ([ue os cobria ; assim voltavam á forma mais antiga de chrysalidas livres, não sendo mais contrabalançada pela selecção natural a tendência atávica, que parece existir em lodos os seres orgânicos. As azas (fig. •'{ az) nascem de todo o Ijordo lateral do mesotho- rax, dirigindo-se obliquamente para traz e para dentro, de modo (jue se locam, 011 só são separadas por um estreito intervallo pelo fim do ter- ceiro segmento abdominal ; estendem-se até o meio do quarto segmento ; por ellas se acham cobertas as rhivinhas («halteres, Schwingkolbchen » (fig. IJ. cl,) ou azas rudimentarias do metathorax, como lambem grande porção das pernas. Fica assim entre os bordos anteriores das azas e o bordo anterior do corpo uma área triangular, na ([ual apparecem a cabeça com as parles dependentes e as coxas. A cabeça occupa cerca de um terço do comprimento c metade da largura da dita área. Dos seus ângulos anteriores partem as anteunias (fig. ;}, a) que são uns chifres curvos, acompanhando o bordo lateral do prothorax e depois a base do bordo anterior das azas. No meio do bordo posterior da cabeça (é o inferior no insecto perfeito, porém posterior na posição que tem na chrysalida) estendem-se para traz as parles boccaes, das quaes bem se distinguem os lábios superior e inferior (fig. 3 Is, li) e os papos maxillares /fig 3 pm.) que são dous chifres curvos semelhantes ás antennas e vão da base das parles boccaes á das anlennas, applicando-se aos bordos laleraes da cabeça. Ao longo do bordo anterior das azas vêm-se as coxas das pernas; as das pernas posteriores são contíguas ; as das intermediarias e anteriores são separadas pelas parles boccaes situadas entre ellas. Emfim, vê-se na mesma área, entre as coxas anteriores, os palpos ma- xilares e as anlennas, o fémur das pernas anteriores /fig. 3 f). Sendo as pernas muito compridas, devem dar muitas voltas para poderem caber na face ventral da chrysalida; as posteriores, que são as mais compridas, são AKCIIIVOS I)(t Ml SKC NAClltNAL /'.l por isso lainbfin as mais tortuosas; o seu fnuur vai priíuciro para traz, depois para lora, »■ clicgaudo ao horilo (.'xteriio da aza curva-s(; para diaute, acabando perto do augulo iuiterior do inesothorax ; d'alli a libia serpenteia para traz e depois para dentro, terminando de traz da [>arlr Irausversal dn 1'i'mur; dalli cmiim n [lé f'« tarsns »j entende-se até (|uasi o fim do aljdo- men. As pernas anteriores terminam um poueo diante das posteriores, c iis intermédias só chegam até o íim do s(!\to segmento abdominal. A trans- formação de uma larva com seis segniíuilos ajjeiías em chrysalida com doze é cousa tão estranha (1) (|ue julgo ade(|uado dar delhi prii\a mais irre- fragavel ainda do (pie a enuveuieuiia lonstante di; (pie já fallei. Abrindo (luabjuer larva adulta encdiilram-se debaixo do integumenlo dorsal do segmento oral os chifres prolhoracecos da clirysalida ; a princi- pio são muito pallidos (! nudl(-'s (! s(j se vc^-in distinctamente as pontas das laminas anterior <; posteriíu' de cada chilre; pouco a pouco vão endure- cendo e escurecendo, e finalmente são ati'' visíveis de fora, sem se abrir a larva. Tralaiido uma lai'va destas com solução de potassa cáustica fervendo até ficar transparente o seu inlegumentn, apparecem além dos chifres lam- bem todos os segmentos abdomina(;s da chrysalida com as suas malhas escuras (íig \ ,) tornando-s(! desta maneira facillimo verificar a ndarãíj mutua ([ue ha entre o segmento da larva e os da chrysalida. Apparece no segmento oral da larva, cttberlo parcialmente pelos chi- fri!s prolhoracecos, o primeiro segmento abdominal da chrysalida; vô-se outro segmento abdominal da chrysalida em cada um dos segmentos se- gundo até quinto da larva; emíim apparecem no segmento anal da lar\a três segmentos abdominaes da chrysalida, de (|ue o ultimo s(> mostra com- posto de dous. Fica assim plenamente confirmada a conclusão, a (jue ikis levou a anatomia da larva. g 2 Insecto perfeito, (fig*. 7—25) Uemovidas do seu logar nativo as larvas e clirysalidas em pouco tempo morrem; das ([Ui' trouxe [lara minha casa nem uma larva viveu para se (Ij « .Não coiilie<;o exemple^ ile ícmelliaiito Iraii^fcnii.içJo ; parece-me iiiiiilo arrisc.iilii accei- tal-a aW ser directamente provada », escreveu-nie um dislinclo professor de entomologia depois de ler examinado as lar\as e chrysalidas. 80 ARCUIYOS DO MUSEU NACIONAL transíuriiiar em clirysalida, nem chrysalida para sotlrer a sua ultima nie- tamorpliose em insecto perfeito. Nem tão pouco encontrei até agora os insectos perfeitos voando na proximidade dos logares onde passam pelos primeiros estádios da vida* Para poder, pois, examinal-os foi mister tiral-os eu mesmo das chrysalidas, o que aliás se faz com muita facilidade, ainda que as azas costumam sahir tão enrugadas e sãri tão tenras que apenas raríssimas vezes consegui desdo- bral-as perfeitamente, (l) Não vou descrever minuciosamente o insecto perfeito ; apenas tocarei naquelles pontos, que possam elucidar a sua posição systematica ou que olTereyam algum interesse biológico. O fado biológico mais notável, que se ob§erva em o nosso Hiptero, é o serem as fêmeas dimorphicas ; das duas formas ou castas, uma, a julgar pidas partes boccaes, chupa o mel das flores, como os machos, (2) e a outra ataca os mamraiferos para nutrir-se de seu sangue, como as femiMs dos pernilongos, motucas, borra- clo ila clirysalida. Xa parte basal do lábio inferior pódem-se distinguir duas partes laleraes unidas pelos seus bordos inter- nos, e em cima delias uma terceira [larte impar ; (dia acaba na i)asc das vahulas terminaes, e do seu extremo parlem dous filetes (figs. 21. 22, Ig) vestidos de pellos curtos e raros, os quaes creio ([ue corrcspondiMii á lin- gueta de outros insectos; não os vi nos poucos outros Dipleros, cujas partes oraes examinei. >'a configuração do Iborax, do abdómen (excepto as parles srxuacs,) das azas e suas nervuras, e das pernas (excepto as unlias e o ultimo ar- ticulo do pé) uãrt jjarece liaver dillrrença entre as três fé)rmas do insecto perfeito. As tibias posteriores são armadas de dous esporões Irrminaos (fig. 11); as anteriores e intermédias são inermes. As unbas e o ultimo articulo do pé são tão diíle rentes nas trcs formas ([uo si isolados fossem apresentados a qualquer classificador moderno, idle provavelmente as classificaria não só em géneros, mas até em grupos di- versos. Com eíreito, Osten-Sacken classificando em 1859 as Tipulideas brevi- palpas da America do .Norte, tíuipregou como caracter distinctivo dos grupos que estabel(;ceu, as unbas simples em uns, denteadas em niilios. O nosso insecto prova que essas duas formas de unhas podem occorrer não só no mesmo género, como até na mesma espécie, rsas fêmeas nudlisugas ífig. 8) as unhas são simples, do feitio de uma Ibuce e muito mais curtas do que o quinto articulo do pé, que é recto, de grossura quasi uniforme e uniformemente coberto tle pellos pouco densos. Nas fêmeas sangue- sugas (fig. 9) as unhas são muito mais compridas e pelo conlrario o quinto articulo do pé muito mais curto tio que nas mellisugas, s(;ndo inteiramente diílerente lambem o feitio; as unhas são pouco curvadas, caniculadas pelo meio do bordo inferior, e na base do mesmo bordo fran- jadas de pelliidios curtos e finos; o bordo inferior do ([uinlo articulo do pé tem na base uma grossa protuberância, da ([ual parlrm cabellos for- tes, compridos e curvados, e mais para diante o mesmo bordo inlrrior 84 ARCIIIVOS DO MUSEU NACIONAL tem, era vez dos pellos que cobrem o resto do articulo, só uma pellu- gem curta e finíssima. Emfim nos machos (fig. 10) o comprimento da unha e do quinto articulo do pé, como (arabem o feitio deste mesmo articulo, são quasi como nas fêmeas sanguesugas ; as unhas pouco cur- vadas são armadas embaixo de uma fileira de dentes agudos, cujo nu- mero é variável. Medi as unhas e últimos artículos do pé nos AO indivíduos, de que já fallei, e achei-llies as seguintes dimensOes : Co!n[)rimento das unhas em millimetros : Termo nieilio Máximo Minimo Os 20 machos 0,2S 0,35 0,25 As 7 fêmeas sanguesugas 0,28 0,31 0,25 \s 13 fêmeas mellisugas 0,18 0,20 0,16 Comprimento do ultimo articulo do pé, em millimetros : Termo meilio Máximo Mínimo Os 20 machos 0,3 i 0,38 0,31 As 7 fêmeas sanguesugas 0,34 0,37 0.32 As 13 fêmeas mellisugas O, .50 0,57 0,45 Cumprimento da unlia, sendo o do ultimo articulo do pé — 100 Termo meJio Máximo Minimo Os 20 machos 82,2 95,7 72,1 As 7 fêmeas sanguesugas 81,2 88,1 78,9 As 13 fêmeas mellisugas 35,9 38,2 32,4 Nos machos e fêmeas sanguesugas tem pois as unhas cerca de -4/5 e nas fêmeas mellisugas só cerca de 4/11 do quinto articulo do pé. Vè-se pois que as fêmeas mellisugas cujas partes boccaes são quasi as mesmas dos machos (diíTerindo só pela ponta núa do lábio superior), afastam-se delles muito mais do que as sanguesugas na configuração dos pés. O mesmo succede com os olhos. Aos machos servem de certo os seus olhos enormes, as unhas denteadas e o feitio singular do ultimo articulo dos pés para poder melhor descobrir, perseguir, agarrar e segurar as fê- meas. Ora também as fêmeas sanguesugas tem de perseguir outros ani- maes e agarrar-se a elles. D'ahi talvez aquella semelhança entre essas duas formas. As fíores melliferas não fogem dos insectos, que vem chupar o seu néctar, antes pelo contrario os attrahem, adornando-se de cores vis- tosas ; assim as fêmeas mellisugas podem contentar-se com olhos menores, assim como com pés e unhas simples. AllClUVOS IJO MISKU .N.\i:lO.N.\I. 85 Os appeiKliccs seximes nos últimos segmentos do abdómen são, como sempre, muito diílerentes nos machos (íig. 2i] e nas íemeas ^íig. 2-\] ; purém não parece haver differença entre as duas castas de fêmeas; nem era dr |irrsniiiir *\\U' houvesse seint-lhaiiti' dillerenea, vistu i[ue eUas tem de se copular com machos idênticos. Os ovos (fig. 2Õ), tirados dos ovários de fêmeas ainda fucerradas na crysalida, são brancos e tem O,""".") de comprimento e 0,™"'IS de grossura ; um dos lados é mais convexo e um dos extremos um pouco mais obtuso do que o outro; no lado convexo parece em via de formação uma casca coberta de pe(jU(Mias asperezas ou verrugas. .Vntes de me despedir do insecto, que com tantos factos novos e insperadns, pagou o tempo, ([ue em examinal-o gastei, ainda me resta dar-lhe um nome. S(!gnnd() me informa o distincto cntomologista da uni- versidade de Vieuna dWustria, professor Frederico Brauer, pertence á familia dos Blejjliàliccridcos e ao género Paltonloma ; proponho pois o nnuie de PalloMofU torrentium. (1) (!) Veja-sc Zoolog. Ameiffey,n. 51 de 22 de .Março de 1880, pag. 134. V. iv-22 ..■**^'" %^A-^À ^ *d. lo ^cm:> «^y- ■^ í/' m l.'i u 1'^ / Ç;>-; 14 ^: // I.) Ifi A iii('l<'iiiioi|)luiS(' (|c mil liiscrio |)i|)i('rii l''IVir((' PALTOSTOMA TORRENTIUM ntx mtt I" VV.^ r//rr •r twi ^ '^'' r/f -y^; ' p 7" Parle (l ,? 4 " Pditc (la . Melanuiipliosc. i f^ (?.^^ /í^^ A^v^^ ^ ' P ^ /// • i 1 ^.^ . ^^. /. kr, ^. VV-, - ^-^'"^ ^ í^'' ■ 'I -n -^ _ã . • I • •- f ♦ f '♦*. . 'íí- z:'^- f^^ qOL 1801 tnt. SMITHSONIAN INSTiTUTION LIBRAHIES 3 9088 00603 1728