4% JíãS?L/7&$^ NOTAS A LUCCOK SOBRE A FLORA 1 FAUNA DO BKAZIL rOR- J, BARBOSA RODRIGUES Membro do Instituto Histórico e Geographico DO BRAZIL (Extr. da Revista do mesmo Instituto, vol. xliv de 1881, pags. 33 a 130. -ih RIO DE 4 AM:iltO Typographia Universal de H. Laemmert & C. 71, Rua dos Inválidos, 71. 1S82 i — - L-.O^ff-JT NOTAS A LUCCOK "«"ry NEW YORK ÔOTANÍCAL SOBRE A OAPOE^ FLORA E FAUNA DO BRAZIL POR J, BARBOSA RODRIGUES Membro do Instituto Histórico o Geographico DO BRAZIL (Exlr. da Revista do mesmo Instituto, vol. xliv de 1831, pags. 33 a 130. mo de jam;iuo TYP. UNIVERSAL DE H. LAEMMERT & C. 71, Rua do3 Inválidos, 71 1883 LIBRAkY NEW YORK BOTANICAI OAPDEN ADVERTÊNCIA Estava já no prelo o trabalho do Sr. Luccok quando tive a honra de ser convidado para annotar, pelo lado das sciencias naturaes, as differentos listas de nomes indigcnas que elle traz, pelo que me vi obrigado, ao correr da penna e quasi de memoria, a fazer pequenas annotaçõcs, que vão pouco desenvolvidas, nào só porque o espaço escasseia, como também porque em uma simples nota não so per- mitte dar largas ao pensamento e ao que o assumpto requer . Nos animaes, nas plantas o na parte geographica, não só dei os nomes scientiíicos que nemhum sú possuía, como firmei a localidade dos rios, serras, villas e aldeias, com- pletando a série de nomes que haviào sem um sú esclare- cimento ; tudo quanto pode dar o meu pouco saber, quer em botânica e zoologia, quer em geographia pátria, o dei. Se tempo tivesse, e o quadro do trabalho do viajante inglez o permittisse, poderia desenvolver melhor as notas e or- denar o desalinho em que vào ellas escriptas. Tanto quanto a minha observarão entre os tapuyos e o estudo linguistico que entre elles fiz o consentio, dei a interpretação de alguns nomes indígenas, mas pouco cabedal disso liz, porque o meu companheiro nesse trabalho, o sábio americanista Dr. Bap- tista Caetano, disso está encarregado, e elle ás minhas ob- scuras notas ajuntará as suas doutas observações linguis- ticas. As minhas notas, filhas da observação própria, vão nu- meradas, e reunidas todas em uma só ordem alphabetica, servindo a numeração só para facilitar a procura da nota a que se refere o nome procurado alphabetieamente . As minhas explicações á parte geographica vão interca- ladas no texto em typo differente, para serem conhecidas. J. Barbosa Rodrigues. G. v. 8 LISTA DE ARVORES, ANIMAES, ETC. Abacate. (93) — (Persea gratis&ima, Gaertner.) Fam. Lauri- meas. Planta exótica acclimada no Brazil. Dá uma grande arvore cujos fructos são grandes, pyriformes, cujo expicarpo é parenchyma- toso, fino, luzente e o mezocarpo de uma massa pulposa doce. Come-se esta simples ou misturada com limão ou vinho e assucar. O albumen é empregado contra dysenterias e de infusão em vinho branco toma-se como aphrodisiaco. Ha uma variedade no Pará, denominada Abacate de Cayenna, (var. oblonga, Meissn.), cujo epicarpo é roxo e a massa em vez de ser esverdeada é côr de gemma de ovo. A sua forma é oblonga. Abacaxi uacachy. (211) — (Ananaesa sativa Lindl.) Fam. das Bromeliaceas. É uma variedade do ananaz, que cresce nas províncias do norte, principalmente em Pernambuco onde são mais saborosos, que se difierença do commumpela falta de coroa e tornando-se por isso mais alongado ou coniforme. Em tamanho e em doçura não excede comtudo aos ananazes de Santarém e principalmente aos de Óbidos, no Pará. Ha ahi duas espécies, uma de folhas lisas e outra de folhas espinhosas. Abiu. (252) — (Lucuma eaimitoD. C.) Bonita arvore do Amazonas, da família das Sapotaceas, que cresce nos logares húmidos. Conhe- ço duas variedades, que se distinguem pelo tamanho e forma dos fructos, que, quando bem maduros são saborosos, principalmente os pequenos que forma uma das variedades. A epiderme é amarella, assetinada. Abúta, abutua, butua, Parreira brava, Orelha de Onça. (212) — Com este nome crescem em diversas províncias varias plantas todas da família das Menispermiace.as como o Cocculus filipendula Mart. Abuta ruf escens Aubl., Botryopsis platyphylla Miers. empregadas como su ioriferas, e anti-asthmaticas. Além destes Cocculus ha alguns cissampelos como o ovalifolia D. C. o ebracteata&. Hitl. mais conhecidas pelo ultimo nome vulgar. — 116 — As propriedades acima e as que têm também como emmenagogas e diuréticas, são conhecidas na Europa desde 1688. Acaju, acajuyba, vulgarmente caju, cujueiro. (94) E o anacardium occidentale\i.\ Fam. Anacardiaceas. — Arvore dos terrenos silicosos principalmente das restingas. Ha três variedades, distinctas pela cor e tamanho, o caju banana, o caju piranga ou vermelho e o caju assú, o caju banana é comprido e amarello, o piranga, vermelho, e o assú também vermelho, mas tendo o dobro do tamanho dos outros. E da província do Pará. O fructo, isto é, que vulgarmente se chama castanha, tem um óleo cáustico e a amêndoa que se come assada ou coberta de as- sucar, tem, segundo algumas versões, propriedades aphrodisiacas. O pedúnculo que desenvolve e torna-se carnudo, a que o vulgo chama fructo, tem um sueco aquoso refrigerante e anti-syphilitico, do qual preparam limonadas, vinho e vinagre. Esse mesmo pedúnculo antes de amadurecer, é conhecido no norte pelo nome de maturi,e empregado em guizados. A casca preduz gomma, conhecida por acajucica e empregada como a gomma arábica. Os pescadores passam as suas linhas de pescar pela casca, para untal-as com a gomma que as fortalece e lhes dá maior duração. A mesma casca contém muito tanuino, assim como os fruetos. Mais três espécies existem: o cajú-assúj o cajú-y e o caju do campo. O cajú-assú (Anacardium giganteum, Hance) tem os fruetos ver- melhos, menores do que as castanhas, e muito doces. Cresce nas flo- restas, em logares elevados e forma uma arvore gigante, que logo após os fruetos cobre-se de folhas novas de uma bella cor de rosa, o que a distingue de todas as outras arvores. E dos rios Negro e Urubu . O cajú-y (A pumilum St. Hil. ) tem duas" variedades. Em ambas os fruetos são pequenos, porém uma, a de Minas, os fruetos são vermelhos e doces, e outra, a do Pará, os fruetos se bem que ver- melhos, são avermelhados dentro e muito azedos, só servem para cajuadas, que ficam cor de grosseille, porque o sueco não é cor de leite como o das outras espécies e variedades. O caju do campo (A. humile, St. Hil.), que cresce nos campos <3e Minas, tem os fruetos vermelhos, porém em geral são rançosos. E preciso não confundir o nome indígena acajã, adulterado em — 117 — caju com o mesmo nome caju, dado na Malásia ás arvores em geral, assim como não confundi-lo com o acajou francez, dado a espé- cies de famílias differentes como á Cedrela odorata L., á Swiete- nia mahogonifLi., e á Curatella Americana, L. que pertencem á familias das Meliaceas e Dilleniaceas e não á das Anacardiaceas. Acará, (271) — Peixes de rio, quasi todos do género mezonauta. Co- nhecem-se no Amazonas as seguintes espécies : Acará-assú, tem um circulo vermelho na raiz da cauda ; A. tinga, tem os olhes pretos or- lados de ouro,com o corpo prateado pintado de amarello dourado ; A, mereré é chato, prateado com duas linhas pretas verticaes ; A. bandeira (mezonauta insignis) é prateado azulado, com uma linha preta quasi horizontal ; A. bararuá tem os olhos pretos orlados de amarello e encarnado e o corpo bronzeado com uma linha preta horizontal no meio. Além destes, ha outras espécies como o A. pocu, o A. una, o A. cascudo, o A. peba, etc, todos muito car- nudos, saborosos e saudáveis. O maior é o A. bandeira que attinge palmo e meio de comprimento, e o mais saboroso o Bararuá. Vivem nas aguas pouco correntes e alguns procuram o lodo. Acroata, croata, curauatá, gravata, caroá, caroatá, curauá, curuáy crua. (213) São estes os nomes com que vulgarmente denominam todas as bromeliaceas; entretanto em algumas provindas alguns desses nomes são empregados também a plantas muito diversas. Em geral no Rio de Janeiro chamam gravata a uma Amaryllida- cea a Agave Americana L., conhecida também pelo nome portuguez de piteira por dar a haste floral excellente pita, que se emprega não só para guardar fogo, como para espetar insectos. As folhas dão muita fibra, porém de pouca duração. O coroa de Pernambuco, de que extrahem fibras, é a Bromelia variegata Arr. Cam. , o craoatá, a Br. lagenaria Arr. Cam. e o curauá do Pará é uma espécie cuja classificação não achei, não sendo ella a B. sagenaria porque se afasta nas folhas que não são armadas de espinhos. Como é uma planta que geralmente delia todos aproveitam o seu produeto, mais ou menos é cultivada pelos sítios e pelos Índios. Tem a aparência do ananaz (Ananassa sativa), porém suas folhas são mais longas e não ornadas de dentes ou espinhos foliarios. Das folhas tiram-se fibras tão delicadas e tão fortes, que se empregam — 118 — não só nos misteres mais delicados, como nos que precisam offerecer grande resistência. Com essas fibras fabricam os indios redes finíssimas, e maqueiras, que chegam a alto preço, assim como fazem-se cordas para redes, que sào as mais procuradas pela sua resistência e duração, que é ainda maior sendo tintas com a tinta do muruchi. Pode uma corda durar quatro annos . A maneira porque extrahem as fibras é simples. Amarram as folhas uma por uma, pela parte inferior, a uma travessa horizontal depois passam pela folha um laço de corda da mesma fibra junto á travessa, e apertando, puxam-o pela mesma abaixo, fazendo assim com que saia toda a parte parenchimatosa e fique somente o tecido fibroso, que depois é lavado e secco ao sol, ficando assim, longas linhas alvas e finíssimas. Extrahem também as fibras, passando do lado que está presa a outro, dous pedaços do pec- ciolo da folha da pai meira inajá fmaximiliana regia) que servem de fieira. O curuá no Pará são palmeiras do género Attalea e Orhignya e o crua é uma Cucurbita cea, a Sicana odorífera Naud., cujo fructo é grande, oblongo, aromático, com a casca semi-cornea, contendo dentro uma massa amare lia muito cheirosa, doce e enjoativa. Ha duas variedades, uma de casca vermelha luzente e outra preta. As sementes amarellas são emmenagogas. O fructo dos curau atas ou gravatas não se comem. Ahyrara, (antes yrauara) irara, hyrara, yrara, (i) taes são as di- versas maneiras de pronunciar e escrever dos diversos naturalistas que têm tratado d'este carniceiro, per tencente ao género Gallictis Bell. Ha duas espécies, a Yrauara cinzenta (G. vittata, Bell. ou Guio vittato, Desm.) e a pixuna ou preta. (G. barbara, Bell.) Sendo um animal carniceiro e que grandes estragos faz á criação domestica, comtudo é ávido de mel donde lhe veio o nome indígena de Yrauara, de yra mel e uara senhor, corrompido em yrara ou Irara e traduzido pelo de papamel pelo que também é conhecido. 6 2 8 A dentadura d'este animal compue-se de j -=-■ j- os dois primeiros mollares da maxilla superior são falsos e o ultimo é o carniceiro. A sua roupagem consta de duas espécies de pellos, uns lanosos cinzen- tos, e outros cerdosos, maiores, e annelados de branco. A cabeça e o — 119 — pescoço são cinzento escuro e os lados do mesmo cinzento. Da parte inferior do queixo parte uma mancha branca, que vem aos hombros. O resto do corpo é preto. Chega a ter de comprimento 0,m35. Po- dendo-se domesticar, nuncaâ embora mansas, perdem o instincto sanguinário que têm, pois qualquer gallinba ou outro pequeno ani- mal que lhe passe ao alcance é victima de seus dentes. Andam geralmente pelos logares alagadiços e onde crescem cy- peraceas. A Irara -preta (G. barbara de Bell.), é o furão grande de Azara. Tem os mesmos habites e differe da primeira nâo só no ta- manho, que chega a ter 40 centimetros de comprimento, e na côr que é preta, tendo a mesma mancha na garganta, porém, não tão grande. Era alguns logares dão também o nome de yrara, ao Felis yagua- rundij mais conhecido por Gato mourisco. Aio, «?/, ai, unaú (2) denominações dadas por diversos naturalis- tas, segundo a maneira de ouvir de cada um, á preguiça, como vul- garmente são conhecidas as espécies de tardigrados pertencentes ao género Bradípus de Cuvier, habitantes de quasi todo o Brazil. O nome ayg é uma onomatopeia á espécie de assovio que solta o animal parecendo pronuncia-lo moderadamente a y g. .. As espécies que conheço sào as seguintes : UNAU,como chamam no Pará á preguiça-real, (Bradípus tridac- tylus, L.), é a maior, chegando a ter O^S de comprimento. Tem a cabeça arredondada, approximando-se ás feições do macaco. Os membros alongados, com as mãos munidas de dous dedos unidos ar- mados de longas unhas curvas e aguçadas e os pés de três igual- mente armados de unhas. O seu systema dentário compõe-se só de molares, tendo „ — ■-= sendo os dous primeiros de cada maxilla um pouco maiores, que alguns consideram como caninos. Os dentes sào cylindricos, uma só raiz, sem coroa distincta, quando novos agudos gastando-se depois de ficarem como que truncados e ocos. As fêmeas têm as mamas no peito . Uma particularidade que n'ella se nota, como em todo o género, que a distingue de todos os mamíferos d'esta ordem é o numero de vértebras dorsaes e pares de costellas, que é o de vinte e quatro. A côr é pardacenta grizalha, com os pellos longos e seccos, sendo os da cabeça e nuca maiores e mais escuros. Os da anca dirigem-se — 120 — em sentido inverso, isto é, de baixo para cima. As plantas dos mem- bros são semicallosa e sem pellos. Depois da preguiça-real a mais vulgar é a preguiça Ây-ay ou de bemtinho ; (B. didactylus de Linneo). Esta é muito menos cinzenta, tendo nas costas entre os braços uma malha de pellos curtos e lus- trosos alaranjada rodeada de preto, o que valeu-lhe o nome que tem. E semelhante á primeira, tem, porém, a cabeça mais arredondada, a face ás vezes amarellenta, e um rudimento de cauda. Esta espécie afasta-se dos outros mamíferos pela particularidade de ter mais duas vértebras cervicaes, isto é, tem nove em vez de sete. Uma outra espécie ainda menor se encontra, é a B. torquatus de Illiger, Pr. collaris de Desmarest, ou Achocus torquatus, do Principe de Neuwied. E também cinzenta, tendo em roda do pescoço, pela parte superior uma espécie de meia colleira de 'pellos compridos e pretos, d'onde lhe veio o nome de preguiça de colleira. Todas estas espécies tém os mesmos usos e costumes. A lentidão de seus movimentos fez com que fosse vulgarmente appellidada preguiça.Faz quasi que exclusivamente o seu alimento des grelos da embauva (Cecropia),pelo que abundam ellas pelas margens dos rios, encontrando-se todavia nos mattos centraes e rarissimas vezes nas arvores dos campos. Pouco andam no solo,passam geralmente de galho em galho de uma para outra arvore. Quando junto a em que está não ha outra arvore, desce para pro- curar alimento em outra. Como sabe nadar perfeita e ligeiramente, sempre anda pelas margens dos rios, que atravessam. Seus movi- mentos muito lentos, principalmente durante o dia, que passam quasi que dormindo abraçadas aos troncos, tornam-se rápidos quando nadam ou quando enraivecidas. Subia eu um furo que costeava a ilha das Onças, na província do Pará, quando deparei com um casal de preguiças de bentinho, que estava em uma alta seringueira. Mandei trepar um pequeno tapuyo que me a companha vae que atirasse uma n'agua. Chegando ao galho em que estavam agarradas, com custo tirou uma que lançou ao rio perto da canoa. Como choque foi ao fundo, porém momentos depois boiou e nadou rapidamente para a outra margem. Vendo que a perdia man- dei remar com força. A canoa partiu ligeiramente,mas apezar da força — 121 — de oito braços marinheiros, râo a pude alcançar. Chegando ella a um pé de aninga (Montrichardia) segurou-se a ellee começou então a subir,porém,tào lentamente que nào parecia o mesmo animal que com tanta facilidade cortara a corrente minutos antes. Para experiência mandei lançar a segunda e vi que com a mesma rapidez nadou. Outra vez herborizando eu na ilha do Espirito-Santo fronteira á Yilla-Bella, na provinda do Amazonas, encontrei uma preguiça real, trepada em uma embaubeira. Tendo-lhe dado cinco tiros e nào cahindo, mandei um tapuyo velho meu guia, que trepasse e a arrancasse do tronco onde a julgava morta e segura pelas unhas. Ahi chegando encontrou-a o tapuyo viva e tão feroz que apenas o viu começou a soprar, assoviando, e a procurar com um biaço agarra-lo. Era tào rápido o movimento do braço, que me admirou ; lançada ao chào e conduzida á minha canoa reparei que estava bas- ante ferida na anca; apezar, porém, disso subiu ao mastro e dahi com o braço aberto procurava agarrar quem por ella passasse. Estava gravida esta preguiça no dia segivntc deu á luz a um fecto, en- volto cm uma pellicula, que a mài abandonou, morrendo pouco tempo depois. Criam os filhos agarrados na barriga, como diversas vezes vi. Quando agarram uma preza diffieilmente largam, sendo quasi sempre preciso mata-las para livrar se das suas unhas. Ajuru, guajuru, vajiwu, gajerv, g?tajuri. (233) — Euma Rosácea o Chryso balanus icaco, L. , arbustro pequeno dos logares silicosos. Seu fructo um pouco adstringente nào é procurado. Ajuru é o nome indígena também do papagaio. Anana, naná, ananaz. (251) — Bem cultivada é a fruta mais saborosa do Brazil. O sueco é diurético e emmenagogo. Cresce bem nos logares silicosos. Assiahy, assahy. (2õ3) — (Euterpe edulis, Mart.) Fam. das palmei- ras. Cresce esta útil e elegante palmeira á margem dos rios e em logares muito húmidos, da província do Pará, foimando grandes soqueiras, mas nunca attingindo á altura da sua congénere do sul, a yussara ou palmito (Euterpe oleracea Mart.) Dos seus fruetos fazem os naturaes uma saborosa e nutriente bebida, chamada vinho de assahy, feita do epicarpo e mezocarpo desfeitos em agua morna que toma uma côr arroxeada. É a bebida mais vulgar no Pará, e — 122 — o sustento da pobreza. Bebe-se puro, com assucar ou farinha cTagua. Ambu, umbu ou imbu. (95)— Com este nome conhece-se no Norte uma Anacardiacea, dos sertões, arvore cujo fructo tem o epicarpo amarei Io quando maduro e o mezocarpo composto de uma massa semi-esverdeada e aquosa. Com diversos nomes figura ella na eciencia, como spondias tuberosa (?) (porque as raízes são tube- rosas), como spondias venulosa de Arruda, e como spondias purpúrea de Lineo. O professor Engler liga o nome vulgar á spondias pur- púrea, na sua monographia das Anaçardiaceas, mas o verdadeiro imbu pertence á sua variedade venulosa, dado por Arruda Camará, e não por Martius. O fructo é acido-doce, e prepara-se com elle a imbuzada, que é o seu sueco misturado com assucar e leite, usado no Norte nas sobremesas. A» raizes tuberosa s são aproveitadas pelos sertanejos em tempo de carestia, e são refrigerantes. A confusão especifica que reina é devida a varias espécies que tem o mesmo nome. Anda, onda, ou anda uassú. (l°6) (Johannesia Princeps, Vell.) Fam. das Euphorbiaceas. No Rio de Janeiro e S. Paulo dão- lhe também o nome de Purga de gentio, e em Minas os de Coco de purga, Purga dos Paulistas e fruta de arara. E uma arvore alta, copada e cultivada. As sementes sào muito purgativas e perigosas, pelo que são muito pouco empregadas. Andiroba, andirova, iiandiroba, antes nandyroba. (M5) (Fam. das meliaceas). Das vargens húmidas do Amazonas é a arvore de que mais proveito tiram os indigenas, aproveitando os seus fruetos. Ha pés que attingem 80 pés de altura, cujo lenho é empregado para mastros de embarcaçues. Por um processo rústico ainda, extrahem os naturaes, das sementes dos fruetos um óleo que é hoje objecto de cornmercio, muito procurado e preferido a outro qualquer para illuminação, por ter a propriedade de ser muito amargoso, e não ser por isso perseguido pelos insectos. O seu nome vulgar, pela lingua geral exprime essa propriedade Andiroba é uma corruptela de nandy, oleo, e yroba muito amargo. Aproveitando-se disso, algumas tribus de Índios usam-o para com elle cobrirem o corpo, simples ou misturado com urucu, afim de — 123 — preserva-los das ferroadas dos insectos e mosquitos. E um bom pre- servativo da ferrugem, porque dado sobre qualquer objecto de ferro, torna-se duro e forma uma cam ada que se conserva por muito tempo e impede a influencia do ar. Além do consumo que tem na província, é também exportado para Eu ropa, onde em Marselha com elle se fabrica sabão. Nas cascas que passam por febrífugas e anthelminticas, encontra- ram Petron e Robinet um principio immediato alcalino carabina, que c o amargo, uma matéria vermelha insolúvel (vermelho chinchonico), matéria vermelha solúvel, e gordurosa verde, um sal calcareo, e acido kinico. Contém, além disso, segundo Cadet, muita estearina, acido oleico, oleina e magnesia. O Dr. Martins é de opinião que a carapina é toxica. A medicina emprega o óleo em feridas, principalmente as produ- zidas pelos piuns e borrachudos, e mucuins. Para evitar que as moscas toquem nas feridas dos animaes, leva vantagem ao azeite de peixe. Para dar no3 canos das espirgardas é cxcellente, porque, depois de secco, fica como verniz e impede a ferrugem. Os fruetos, apezar de amargos servem de alimento aos porcos. Angico (%) — (Piptadenia colubrina, Benth). Fam. das Legumi- nosas. Uma das mais bellas arvores das nossas florestas, cuja madeira é empregada em construcçòes civis, quer exposta ao ar, quer á sombra. A casca, que é muito adstringente, é empregada não só para curtir couro, como também para banhos de ulceras, etc. Delia exhuda uma gomma que é excessivamente peitoral e em- pregada com muita vantagem nas tosses. Anhehyba antes Anuyba, arvore de anus (97) — (Nectandra sp. var.) Fam. das Laurineas. Com este nome são conhecidas, algumas Canellas, que dão ma- deira de construcção e principalmente excellente taboado. Anhuma, anhima, inliuma, kamichi ou cauintahu . (42) — Este ultimo nome é onomatopaico, imita o seu canto. E um macrodactvlo maior do que um peru, que anda aos casaesnos aningaes do Amazonas. A sua pelle é cheia de ar. A carne não se come. Aninha-se nos mesmos aningaes, e é de fácil domesticação. Alimenta-se de peixes, insectos e camarões. A crença indígena quer que quando esta ave está a beber agua — 124 — em um lago, emquanto ella não sacia a sede nenhuma outra atre- ve-se a beber no mesmo logar. A superstição dá muitas virtudes á crista córnea que tem, entre ellas a de preservar do estupor quem a traz comsigo. Anhu-póca, (*1) — com este nome é conhecid a também uma pala- medea. Aninga. (2l4)— (Montri chardia arborescens, Schot.) Fam. das Aroideas. Cresce por toda a margem do Amazonas e pelos lagos esta espécie, formando os aningaes, isto é, logares impenetráveis, tal é a quantidade de individuos que crescem juntos. O fructo asse- melha-se ao de um ananaz pequeno, com coroa, porém acre e cáustico. As cinzas d'esta planta são applicadas contra as ferroa- das das arraias. Ha outra espécie a aninga apara, que tem o mesmo fácies, mas é pequena, emquanto que da aninga vi pés de quatro metros de altura. O caule posto na agua a apodrecer e depois por maceração, dá muita fibra forte e durável. A substancia acre que contém o mesmo caule ataca a oxidação de alguns metaes, pelo que é empregada para limpa-los. Com pe- daços do caule amarrados em cordas, caçam os Índios os jacarés quando esfomeados, por que atiram-se a essa isca e ficam com ella presa nos dentes, e por ella são puxados para terra. Anu, anum, ou ani. (i3) — Com este norre conhecem-se três espé- cies duas do mesmo género e outra de outro. São o anu propria- mente dito, (Crothophaga ani), o anu coroca, gallego ou da serra, segundo as localidades, (C. major), e o anutinga ou branco, {Co- cyzus vetulus). Todos andam em bando, e depòe os seus ovos em um só ninho, por camadas. Os ovos são azues cobertos de um pigmento branco. O anu coroca no Pará, e o branco em Minas, passam por agou- reiros . Anta ou Tapikra, antes tapyreté, (3) é o maior pachiderme do Brazil. Approxima-se pelas íormas ao cavallo, porém com as extremida- des mais curtas e difterentes, a cauda menor e sem cabellos, assim como pela cabeça, cujo focinho termina cm uma tromba pe- quena. — 125 — Além d'isso, as formas são pesadas e sem aquella elegância do mais nobre companheiro das fadigas e do trabalho do homem. Parece-se no aspecto geral ser um intermediário entre o cavallo eo porco. A cabeça é comprida, tem uma pequena tromba movei, mas que não serve para apanhar es fruetos, na extremidade da qual ficam as narinas; os olhos são pequenos e as orelhas moveis é semelhantes á do cavallo. O systema dentário compôe-se de — — — . Os quatro incisivos centraes da maxilla superior sâo muito pequenos, os dous lateraes iguaes cm tamanho aos ca- ninos da mesma maxilla superior. O pescoço é ornado por pellos grandes e duros, recurvos, que assemelham-se a uma crina. O corpo, quando o animal adulto, tem os pellos curtos, são castanhos e muito espaçados, de maneira < ue parece pellado, razão pela qual andam geralmente cobertos de carrapatos (Ixodes) Tornam-se maiores para o pescoço onde também são um pouco mais claros. Na base das orelhas ha alguns pellos brancos. Olhado o animal é preto porque só predomina a cor da pelle. Quando pequeno, o pello é compacto, castanho, com cinco linhas de pintas, ou listras, quasi unidas , brancas, tendo as extremidades pin- tadas da mesma cor. A sua altura regula um metro a lm,6 e o comprimento comprehen- dendo-se a cabeça lra,8 a 2m,0. Tem quatro dedos nas mãos e só três nos pés, mettidos em cascos curtos, arredondados e córneos. A pelle é muito expessa e forte . O nome indigenaque tem este animal não é tapiyra, mas sim tapiyf que vem de taba aldeia e piy o que frequenta, isto é: o que facilmente- se domestica e mora na aldeia. Pode ter outra etymologia que não deixa de ter algum fundamento, pôde derivar-se de tapy grosso, e pira corpo, que por euphonia fazem eynalepha no p , accentuam fortemente o i e pronunciam tapiyra. Este nome, depois da introducr ção do gado no Brazil, çstendeu-se também ao boi, e para ditTerença um animal do outro, ajuntam a palavra eté, verdadeiro e assim de- nominam á anta tapiyreté e ao boi tapiyra. Mais commummente, porém, a anta é denominada tapiyra-cauara, que significa, o boi mateiro ou natural do matto, de caá, matto e uara que é uma dicção que denota naturalidade, habitação, etc. Ainda distinguem mais, quando querem mostrar propriedade, dizendo — 126 — ixé rimbabo tapyira, meu boi, isto é^ criado por mim, emquanto que tratando da anta dizem —ixé cauara tapyira. Não convém, querendo dar- se ao animal o seu nome indígena, mesmo por abreviatura, chama-lo tapyira e sim tapyira-eté ou cauara tapyira, para não dar uma significação diversa, originada entre a gentilidade. Além da espécie em questão, existe uma outra, chamada Icurê ou caapora (1), bem distincta. Além do tamanho que nunca excede de lm de altura e lm,50 de comprimento tem a côr differente. O nome Icuré é um d'esses que não têm traducção, ou se a têm não foi conservada e só serve de qualificativo; o de caapora sim, significa : o habitante do matto, de caá, matto, e póra habitante. A tapyre-eté é um animal inoffensivo e muito procurado pelos ca- çadores por causa de sua carne, que, se bem que um pouco nociva é comtudo muito saborosa. Nas províncias do sul dão-lhes caça por causa da pelle que é excessivamente forte e duradoura depois de curtida, pelo que é muito empregada em arreios. Depois de curtida toma uma côr branca. Vive peias florestas centraes que crescem nas vargens, pela mar- gem dos rios, que com facilidade atravessa só com a cabeça de fora mergulhando logo que é perseguida e boiando longe do alcance do caçador. Dá-se caça, geralmente, esperando-se ella nos bebedouros, em mulas preparados de antemão ou também com cães. Quando perse- guida por estes ás vezes faz frente a elles, porém geralmente dis- para pela floresta, levando ante si tudo quanto encontra, até cahir na agua onde ás vezes se salva. Além da caça do homem, soffre também a de um inimigo poderoso que é a onça. Matreira e astu- ciosa, trepada em uma arvore, esta, como o homem, espera a anta no trilho em que costuma passar para ir beber agua, e quando esta está ao seu alcance, salta-lhe sobre o dorso. Atacada inesperada- mente dispara pela floresta, furiosa procurando roçar-se pelos páos para livrai-se da assaltante ; porém, esta passando para o ventre (1) O nome de sapateira ou çaba-tyra que tem nos sertões do sul refere-se á espécie de crina que tem o animal e deriva-se de çaba,pel- ludo e tyra canal, isto é. linha de cabellos, crina, Aportuguezaram a palavra e ficou com significado diverso,. — 127 — evita assim os choques e com as garras cravadas no queixo da victima vai dobrando-lhe o pescoço até quebra-lo e ella cahir, para* saciar-se no 6eu sangue. Como ordinariamente a anta é assaltada próximo da agua, em vez de fugir pela fl oresta atira-se no rio ou no lago e mergulha para assim livrar-sc ; porém, a onça pudendo de- morar-se muito tempo no fundo sem respirar, prende a victima, que morre asphixiada, sendo entào arrebatada para terra para ser devo- rada. Quando novas, andam as antas às vezes em bandos pequenos, principalmente á noite, porém, quando mais idosas, geralmente andam sós ou acompanhadas de seus filhos, que caminham asso- viando adiante e um pouco ao lado. Fazem o seu passeio desde o cahir da tarde até ás nove ou dez horas da manha, passand > as horas de maior calor aeitadas pelos charcos. Soltam ás vezes assovios fortes que se ouvem longe, que quasi sempre as trahe, fazendo com que se entreguem ao caçador. Os tapuyos que as arremedam bem, fazem com que ellas, attra- hidas pelo assovio, se approximem e sejam mortas. O seu alimento consiste de hervas, grelos e frutas, quando no estado selvagem, mas quando domestic idas, comem até carne cozida, farinha, etc. E notável como se amansam estes animaes quando apanhados pequenos. Apenas fora das mais, póde-se dizer que são apanhados mansos. Com o trato domestico tornim-se mais mansos que os cães, acompanhaudo em todos os passos o senhor, dormindo junto d'elle e indo banhar-se também juntos. Não obedecem comtudo á voz de mando do senhor, isto é, para evitar-se a sua companhia é preciso ser agarrado e levado para outro logar, não se repelle como o cão Dotado de uma força prodigiosa, relativamente ao seu corpo, se não fosse o seu natural inoffensivo e se fosse dotado de garras ou deDtes, seria o mais perigoso. É dotado de muita força de vida; mal ferido, foge e não morre, e mortalmente mesmo raro é cahir no logar em que recebeu o tiro. Subia eu o rio Urubu, na província do Amazonas, quando, pelas sete horas da manhã atirou-se uma ao, rio procurando ganhar a margem opposta. Mandei remar com mais força para chega-la ao alcance de minha arma, porém ella presentio e mergulhou. Quando appareceu, estava na margem opposta, e, procurando subir a riban- ceira recebeu, o meu tiro. — 128 — Apezar da distancia, notei que tinha sido ferida, porque cahiu sobre os joelhos, porém, levantando-se logo subiu a ribanceira que era íngreme e desappareceu pela matta. Saltando em terra, vi rastos de sangue, e seguindo-o, depois de caminhar um quarto de legoa, encontrei -a morta no meio de uma restinga. A bala tinha entrado obliquamente pelo pescoço do lado esquerdo, indo plautar-se no occipital. Ahi neste rio e no Jamundá, tive occasiào de ver algumas com filhos. Domesticadas vi algumas. A Icuré ou caapóra tem os mesmos hábitos e ás vezes encontra-se reunida á tapyire-eté, no mesmo bando, porém é mais rara, e só nos grandes sertões é encontrada. Tive occasiào de ver uma que acompanhava um filho já de anno, e por mais que a perseguisse não a pude matar. Pela facilidade que ha era domesticar -se, c pelo seu génio dócil, pacifico e sofíredor, e pela força de que é dotada, a anta poderia associar-se ao trabalho do homem e substituir perfeitamente o boi nos trabalhos agrícolas e ruraes. Apereya antes apereá ou preá (6) — é a Cavia obscura, Lichst, ou sauyá do Amazonas. Roedor muito conhecido, que vive nos capin- zaes. Ha mais de uma espécie, porém a mais commum é a supra- citada de Margracef e Azara. Aracua?i, ara ou guará. (/,/í) Arancuan no valle do Amazonas é a Ortalida caniiollis, Nutt. Anda pelo chão aos bandos de cinco, seis casaes ; tem uma carne, saborosa, e aninha-se em arvores altas. O seu nome vulgar exprime o canto que repete as syllabas a-ra-cuan. Arapabaca, Lombriga eira, Herva de Santa Maria. (2l°J (Spigelia sp.) Fam. das Spigeliaceas. — Heiva empregada como anthelmintico e que alguns querem que seja venenosa, pelo que é preciso cuidado no emprego. Não confundir com a Herva de Santa Maria, do Rio de Janeiro, ou mastruço, do Paia, que é o ehcnopodiuin ambro- zioules L. Arapaco (46) - é corruptela de uirá passu, conhecido também por pica-páo (1). E um zygodactilo espalhado por todo o Império, do (1) Uirá, pássaro, pan, bater e assu, muito — 129 — género Picas, contendo numerosas espécies, entre ellas o P. rubri- •collis, lineatus,fulvus, etc Vive pelos páos seccos furando-os com o bico para comer insectos. No ôco dos mesmos páos deposita dous ovos. Araponga, antes uirapô, (4y) — conhecido também por ferreiro e ferrador, nomes tirados das notas que solta imitando perfeitamente o bater de um ferro na bigorna ou o seu limar. A uiraponga quando nova é preta, e quando adulta branca com o pescoço azul-esverdeado. E ave dos sertões de Minas e S. Paulo, e vive pelos cimos das arvores altas, alegrando a-; florestas com as suas notas agudas e metallicas, o nome virapô quer dizer ave branca. Nào se deve confundir com a Catinga araponga (Procnia carunculata L.) Arapiráca. (M) — Será naiirapiroca ? de muira, páo, e piroca, calvo ou liso. Com o nome de arapiráca ha uma arvore na província das Ala- goas. A rara. (47) — Nome onomatopaico. Zygodactilo de todo o Império representado por diversas espécies, todas do género Ara. Conhe- cem-se a arara-piranga ou aracanga (A. macaw.) azul e vermelha; a canindé (A. arauna) azul e amarello ; a arawia (A. hyacinthinuè) azul-claro ; a aranna-assú (?) toda azul-ferrete, e a arara propria- mente dita (A. Araucania) verde e encarnado. Todas andam cm bondos, alimentam-se defruetos, procuram as arvores altas e voam muito e muito alto. Arassary. C'9) — Nome dado a diversas espécies de Zygcdactilos, semelhantes aos tucanos, porém menores, do género Pteroglossus. As principaes espécies no Amazonas são o P. maculirostris, by- torquatis, viridis, BeauharnaisU, flavirostris, etc, mas encontram-se outras espécies em quasi todo o Império. Andam aos bandos, alimentam-se de fruetos e nào se domesticam. Os arassarys como os tucanos têm um longo bico, formado interna- mente de um tecido esponjoso, que os entrega nas mãos dos caça- dores apenas penetre nelle um bago de chumbo, porque entra o ar e faz com que, se desequilibrando no voo, caiam por terra. Arert ou ereré. (50) — E uma marrequinha pequena, cujo nome provém do seu canto, que é um assovio parecendo dar ás syllabas G. V. 9 — 130 — é-ré-ré. Tem a cabeça preta toucada de branco, o peito pardo-aver- melhado e as costas pardas pintadas. Domesticam-se facilmente» Araribá, iriribâ,(ytò) — mais conhecida por Araribá, corruptela de araryba, de arara, pássaro desse nome, e yba, madeira. E o centrolobium tomentosum Benth, da familiada s Leguminosas. E uma arvore alta, cuja madeira é empregada não só cm cons- trucções civis como na marcenaria ; tem o cerne amarello listrado de mais escuro. Com o mesmo nome são conhecidos outros centrolo- biuns, que crescem não só no Rio de Janeiro como na Bahia. O mesmo nome araribá é dado também á duas rubiaceas a Finckneia rubescens de Fr. Allemão, e a I\ viridiflora do mesmo botânico brazileiro. Estas são empregadas na marcenaria e construcçoes civis, mas reputam-as os carpinteiros madeira de segunda qualidade Empregam o araribá vermelho na tinturaria. Araroba. (lo1) Este nome emprega-se também aos centrolobiuns, porém mais commummente á uma espécie da Bahia. Araruna. (is) Vide a nota 7. Arasá, (98) vulgarmente araçá. Com este nome conhecem-se va- rias plantas, cujos fructos se comem quasi todas do género psidium família das Myrtaceas. A casca de todas contém muito tannino. Conhecem-se as seguintes espécies, com nomes vulgares : Araçá mirim, (Psidium araçá, Radd). Araçá assú, goiaba (P. Guayava, Radd.) A. da praia, (P. va- riabile Bg.), A. cagão, (P. rufum, Mart.), A. felpudo, (P. incanes- cens, Mart.), A. do campo, (Campomancsia mediterrânea, Berg.), A. de Minas (P. cuneatum, Berg.), A. de S. Paulo (P. multirlorum, Berg.) Além destas espécies ha muitas outras do género psidium e cam- pomanèsia com o nome vulgar de araçá. São arvores pequenas, em geral, que crescem pelos campos e raras vezes nas mattas. Araicu, (102) —(de ara, arara, ticu, liquido, massa, comida de arara), araticum, araticuguazu, araticupe. Nomes dados a diversas Anonas, família das Anonaceas, arvores cujos fructos são comestíveis e cuja madeira é pouco empregada e considerada madeira branca. As cascas de algumas espécies dão — 131 — uma embira muito forte e branca, e o lenho serve de cortiça e para bóias de redes de pescar. Como planta medicinal tem pouco empre- go. Conhecem-se diversas espécies, taes como o Araticum do Brejo, ou panan ou corticeira (A. palustris, L.) Araticum cagão, Arati- cum apê, Araticum do matto. (A. Pisonis, Mart.), Araticum do campo (A. coriacea, Mart.), Araticum do rio (Anona spinescens, Mart.), Araticum ponhé. (A marcgravii, Mart.) Areranha, ariranha cu iriranha (") — é uma espécie de lontra do grandes rios em geral confundida pelos naturalistas com a verda- deira lontra, que é a yandu dos Índios, a Dutra braziliensis da sciencia. Com razão os indios a separão com diversos nomes. A ariranha . chega a attingir lm,5 de comprimento menos a cauda. 6 2 8 A sua dentadura compõe-se de j — -. A cabeça é chata e larga, as orelhas pequenas, o corpo longo, os membros fortes, formas pesadas •, as mãos com cinco dedos longos, unidos por uma mem- brana, e armados de unhas curvas e agudas. A cauda é menor que o corpo, e achatado horizontalmente. O pello é com- pacto, liso, macio e curto de um pardo cinzento escuro, com uma malha do queixo á garganta, amarella-esbranquiçada, ou côr de ganga. Vive esta espécie nas cabeceiras dos rios, nos lagos e igapós, andando sempre aos pares isolados. Alimentam-se de peixes, nadam com muita rapidez e conservam-se mergulhadas por muito tempo. Andam só com a cabeça fora d'agua e quando avistam alguém mergulham para apparecer mais longe, sempre encarando para a pessoa que navega. As vezes erguem meio corpo fora d'agua e gritam ; assim fazem quando estão bravas. Fazem suas casas em buracos nas ribanceiras dos rios, sempre á beira d'agua, e ha uma crença entre os indios que conforme é a altura em que fazem os ninhos assim será a enchente, que nunca vai além, nem áquem. Contou-me o meu amigo o finado padre Manoel Cupertino Sal- gado, vigário de Taupessassu no Rio-Negro, que subindo uma occa- sião o mesmo rio, teve de fazer uma choupana na margem, por ter de demorar-se. Começava então a enchente. Marcando elle o logar, um indio que o acompanhava lhe fez vêr que a choupana iria ao fundo, se bem que estivesse muito acima do nivel do rio — 132 — porque as ariranhas tinham feito ninho ahi acima do logar esco- lhido. Não acreditou elle n'isso, e mandou consti-uir a choupana ; tempo depois teve de construir outra, porque a primeira com a enchente ficara inundada. A segunda espécie e mais commum é a lontra , luttra braziliensis dos naturalistas. Esta, além do tamanho que só attinge 0m,6 fora a cauda, tem os membros proporcionalmente menos desenvolvidos, a mancha da garganta mais amarella e o pello geral mais cinzento e anda sempre em bandos de 6 a 10. Com os mesmos costumes da ariranha, tornam- se mais atrevidas, animadas pelo numero. Geralmente quando marcham por terra e são atacadas pelos cães, seguem seu caminho roncando e mostrando os afiados dentes, sem se importarem com o latido dos mesmos; r mas ai daquelle que chegar a ataca-las de perto. E logo despe- daçado. E o único animal que a onça respeita e não se atreve a atacar quando o bando está reunido, porque é victima sempre delle, como geralmente também o é nas lutas com o tamanduá bandeira. A presença da onça irrita de tal forma ás lontras, que, quando ella atravessa os rios, sendo presentida pelas lontras, é logo por ellas assaltada e morta dentro d'agua. Domesticam-se com facilidade e tornam-se muito mansas. O nome yandu quer dizer — o que corre muito na agua, de y, agua Qnhan correr e u contracção de asm muito. No Amazonas e prin- cipalmente entre os indios menos civilisados, como os Tembés, nunca se ouve pronunciar asm e sim «ouiíú. Aricurana ou urucurana. (i°3) — (Hieronymia alchornioides , Alie.) Fam. da3 Euphorbiaceas. E a arvore das mattas virgens, e floresce de Novembro a Janeiro. Dous mezes depois tem fructos ma- duros. A madeira é empregada em construcçoes civis, e tem o cerne roxo. Com o nome de urucurana conhecem-se algumas alchorneas, assim como uma Eialvacea a Urena sinuata de Linneo, e em Minas o Croton tilliaefolium , Mans. Âssacu ou uassacu. (105) — JJa, fructa, assy,doença, ww, comer, fructa que produz doença. (Hura crepitans, L.) Fam. das Euphor- biaceas. Cresce esta arvore de tamanho mediano, porém muito — 133 — esgalhada, ás margens dos rios e logares húmidos, até onde chega as grandes marés, na provincia do Pará. Seus fructos caducos enchem as praias na vasante das marés. Seu leite, folhas^ flores e fructos são muito venenosos. O chão cobre-se das suas folhas, e estas, com os fructos em maceração na agua, faz com que esta produza intermittentes em quem a beba ou nella se banhe. Em algum tempo passou no Pará como sendo o seu leite remédio para a elephantiasis dos gregos, assim como as folhas, trituradas, contra o rheumatismo. Em dose pequeníssima é empregado como vermífugo. Os pescadores empregam também o leite nas aguas sta^nadas para matar peixe. E planta vulgar nas proximidades de Belém, e os matteiros, para derruba-la, lançam antes fogo ao tronco para queimar a casca, para assim evitar que no corte o leite salte aos olhos, o que p roduz cegueira. Atta, fruta de Conde, Pinha . (i°4) — No Rio de Janeiro é conhe- cida pelo segundo nome, no Ceará pelo primeiro, e em Pernam- buco pelo ultimo, é a Anona muricata. L. Dão também o nome de atta e fruta de Conde á Anona obtusi- flora, Tuss. que é das Antilhas e acclimada no Brazil; assim como também á A. squamosa, L., que é da mesma procedência. A Anona muricata é da Jamaica. Foi introduzida na provincia do Pará em 1750, por Manoel da Motta de Siqueira, que depois edificou o forte de Santarém, sendo seu primeiro commandante. O fructo de todas as espécies são comestiveis, muito saborosas,, mas querem alguns que a sua semente seja venenosa. São arvores de mediana grandeza e que no norte crescem e fruc- tificam muito. Banana. (210) — Com este nome conhecem-se varias espécies e variedades de musaceas. Ha a Banana de S. Thomé, (musa Paradi- síaca L.) a banana da terra (musa sapientum L.), e as B. anã, prata, ouro S. Domingos efigo, todas mais ou menos saborosas que se preparam também como figos seccos, a que se dá o nome de bananas passadas, sendo assim muito saborosas, duram muito tempo, podendo servir de género de exportação. Vide Pacova. Bachoripari, bacôripari, ou bacury pary. (l°") E uma Clusiasea do género Platonia, confundida com o Bacury (Platonia insignis — 134 — Mart.) Ambas são frutas do Pará muito semelhantes, porém a de que se trata é muito menor do que o bacury, que tem o tamanho de uma laranja. E oboval, attenuada, com a cicatriz dos stigmas muito visíveis, amarella, com o mezocarpo grosso, cheio de leite resinoso cor de enxofre. A semente é envolvida em uma massa, (o que se come), semelhante á do Bacury. Penso ser o bacopari de Minas. Bacury, o que cahe quando ama- durece, de ba cahir, e cury, logo. Barabu. (i°8) — E uma arvore das províncias das Alagoas e Per- nambuco, Batinga. (109) — P enso ser uma Eugenia da província das Alagoas. O nome é corruptela de yb, madeira e tinga, branca. Com o nome de Batinga ha differentes espécies conhecidas por B. branca B. preta B. amarella, B. vermelha, nomes tirados da cor do lenho depois de secco. Nào vi a planta, mas querem alguns que seja também um Astronium, da família das Terebinthaceas. t Bicudo. (5l) — E nome portuguez applicado a um conirostro oPitylus niger, ave pequena e de canto muito agradável, e que se cria em gaiolas. Bicuhyba ou bicuiba, ou becuiba, antes bicuyba (}&) — (myristica bicuhyba, Schott.). Fam. das Myristicaceas. E uma bella arvore de quasi todo o Brazil, e com emprego não só nas construcçoes civis como na marcenaria, além de que as sementes de seus fructos. em algumas espécies fornece uma espécie de cera, utilisada no Pará, Conhece-se a bicuyba-vermelha (M. officinalisj, cuji s fructos aro- máticos são os maiores, e que dá um óleo empregado nos rheu- matismos, sendo as sementes semelhantes ás da noz-moscada, porém toxicas, quando cm quantidade, e a Bicuyba-preta {myristica sebi- fcra, Swarts) cujas sementes dão muita cera. Além destas espécies, ha no Pará a ucuuba (M. Surinamensis), cuja madeira é leve e só serve para jangadas, mas de cuja casca sahe um liquido cor de vinho, que combate as erysipelas, e pela sua adstringência, misturado com alvaiade, é empregado nas hemor- rhoides. A semente dá cera que é empregada em diversos mysteres. Biriba, (1W) — antes biribá, de bir crescer e uá fruta, que cresce depressa. — 135 — E uma Anona da província do Pará. O epicarpo é amarello, muri- cado, e o mezocarpo formado de uma massa branca, doce-insipido. As sementes são chatas, pequenas e pretas. Em Pernambuco co- nhecose por Biribá a Duguetia Marcgraviana, Mart.,da mesma familia das Anonaceas. Boya, giboia. (287) — Pela etymologia desta palavra, razão têm os sertanej >s de, sob o mesmo nome, confundir espécies distinctas porque, como sabemos, a palavra hoje corrupta, quer dizer cobra d' agua \ de y} agu&emboia cobra. Comtudo nos sertões de Minas- Geraes e no valle do Amazonas, os naturaes distinguem duas es- pécies a giboia e a sucury (em Minas), ou svcuryú (no Amazonas). Este nome, modificado por euphonia, ou corrupto, bem ex- prime um dos caracteres que separa esta espécie da giboia, e o indio sempre observador não podia deixar passar desapercebido; assim a cobra d' agua é differcnte da que tem espinhos na ilharga, porque sucurijú, ou, como com mais propriedade dizem os Índios do Ama- zonas, sucuryú, vem de suakara, ilharga e tá, espinho. Distingue-se a giboia da sucuryú, nào só pelo seu tamanho, suas malhas, como principalmente por este caracter. A giboia vulgar tem quasi os mesmos hábitos da sucuryú ; se esta procura de preferencia as margens dos rios, dos lagos e mesmo dos paúes ou igapós, aquella também vive á sombra das florestas, nos logares baixos e húmidos, e mesmo junto d'agua. Nas minhas ex- plorações pelo sertão do Amazonas, tive occasião de observar bem o costume de ambos estes ophydios, principalmente no rio Yatapú, onde enormes sucury ús apparecem em toda a margem. Estas vivem dentro d'gua, só sabem á noite para fazer suas prezas e durante o dia para se aquecerem ao sol. Diariamente voltam ao logar esco- lhido para esse fim a primeira vez, pelo que os Índios denominam suas camas sucuryã-kiçáua . Como disse, os Índios distinguem a giboia da sucuryú pela parti- cularidade da presença de espinhos que esta tem e aquella não. Com effeito, na parte inferior do terço da cauda, oceultam-se, trans- versalmente sob as escamas, duas unhas córneas de um a dous cen- tímetros distantes uma da outra, um decimetro pouco mais ou menos. Servem estas unhas para, quando enroscada ao tronco das arvores, salta sobre a presa, sustentar o impulso que sofíre esti- cada pela anta, por exemplo. — 136 — A giboia, que não se atreve a atirar-se a animaes superiores, não possue estas espécies de garras. Os Índios não matam as sucuryús, que dizem ser a mãi cVagua, porém apreciam muito as unhas, que para elles é um talisman. Duas espécies distinctas tive occasiao de estudar : a sucuryi (Eunectes murinus) e a sucuryú pitanga (vermelha). Afasta-se esta da primeira, não só na cor como nas dimensões e na forma das unhas. O fundo é vermelho sujo, com as malhas negras, differentes na forma das da primeira, não são tão alongadas, pelo contrario, a grossura é quasi dupla, e as unhas, que na primeira são cónicas e muito curvas, nas segundas são maiores e menos longas. Não com- portando este local maior desenvolvimento, não a descrevo, dei- xando para o fazer em um trabalho especial que tenho entre mãos. Como sua congénere esta espécie é ovovivipara, como tive occasiao de observar, já em indivíduos dissecados, já assistindo mesmo ao acto da reproducção. Não estando esta espécie descripta, dei-lhe o nome de Eunectes rubrus. Entre as giboias, ha também duas espécies conhecidas por giboia da vargem e da terra firme, Aquella é a vulgar e esta é extrema- mente rara. Para o Museu Nacional enviei um specimen. A primeira vive pelas margens húmidas dos rios e lagos, e a segunda no centro das florestas. No districto de Villa Bella da Imperatriz, ría província do- Amazonas, apanhei um exemplar vivo. Pela côr é semelhante ao Eunectes rubrus, porém tendo as malhas differentes e não artingindo a tão grande comprimento como a primeira. Julgo que Gardner levou um specimen para a Europa, porém não a vendo classificada, propuz para ella o nome de Doa piranga, conservando o nome in- digena para especifico na sciencia. Se bem, corra a opinião de que estes ophydios não sejam venenosos, é crença entre os índios, que cm certa época do anno elles o são. (1) Bocaba, antes bacaba. (Hl) (CEnocarpus distichusf Mart), da famí- lia das Palmeiras. E indígena do Pará, e uma das mais bellas da familia. Suas folhas são dispostas em leque, e com os pequenos fructos rôxo-negros» 1) Es e artigo foi publicado no Globo de Janeiro de 1.S7G. — 137 — prepara-se uma beberagem conhecida por vinho de bacaba, que tem cor de café com leite, e é muito saborosa. Ha outra espécie com esse nome, (CE. bacaba, Mart.) que é da província do Amazonas e mais conhecida por Bacaba de azeite, por- que dos fructos extrahem um bonito óleo amarellado empregado em diversos misteres. Bocayuvas ou guacuri. (112) Julgo que Bocayuva ó uma corrup- tela de Mbocayba, que passou a mocaiuba, moca juba, macauba, ma- caiba, mocajá e mucajá, nomes todos dados em difíerentes provin cias ao coco de caiharro, a Acrocomia sclerocarpa, e lasiospatha Mart., da família das Palmeiras. Guacuri é nome genérico dado a muitas palmeiras de géneros diversos. Brahuna, (U3) — corruptela de muira-nna, páo ou madeira preta, conhecida também por Baratina, e Guarauna, Garauna, (melano- xylum braunia, Schot.), da família das Leguminosas. O cerne é pardo-escuro qnasi preto e empregado para construcçào civil e dormentes. D'ella extrahe-se uma tinta pardo-escura com que tingem algodílo. Iía difterentes madeiras todas do mesmo gé- nero com denominações vulgares tiradas do seu lenho, assim temos a Guarainia-parda, G. ruiva, G. amarella. São todas do sul do Império. É arvore que nao attinge a mais de 25 metros de altura. Buranhe, ou Buratlhem, guaranhetn, (U*) — antes muriahem, sito é páo-doce, (Lucuma glycvphloea, Mart. et. Endl.) da familia das Sapotaceas, conhecido também Dor Casca doce. É a Pometia lactescens de Velloso. Arvore excelsa já conhecida de Thevet que a denominou Hivurahé. O cerne é amarello sujo com manchas pretas e empregado muito para remos. A sua casca, que fresca é semi-leitosa e doce, é empregada con- tra a leucorrhea, as hemoptises, diarrheas, catharros chronicos, ulce- ras, ophtalmias purulentas e em outras moléstias. Cresce no Rio de Janeiro. Brutiz, ou Buriíy (u4)— (Mauritia vinifera, Mart.) Familia das palmeiras. E uma das mais bellas e elevadas palmeiras dos nossos sertões, e — 138 — que vive em grande sociedade pelos logares húmidos dos centros de Minas, Matto-Grosso e Goyaz. O seu espique furado ou excavado distilla um liquido saboroso, e em quantidade que serve de fonte para os sertanejos. Anda esta palmeira confundida com uma congénere do Pará, a Murity ou Mirity, (Mauritia flexuosa, Mart.) Espécie differente posto que no fácies muito semelhante. Esta nào tem liquido algum e vive nas margens dos rios, ou em logares alagadi- ços. O seu fructo come-se desfazendo-se o mezocarpo na agua e dos seus grellos extrahe-se boa fibra. A madeira é rija e muito em- * pregada. Caa. f2i8) — Significa também folha, arvore, matto. Caapeba, capeba, Parreira brava, pariparoba. (219) (Cissa:npelos pareira Lim. fam. das Menispermeaceas.) Herva empregada como anti-leucorrheica. Dá-se também em Minas o nome Caapeba á Pariparoba do Rio de Janeiro a Ârtanthe Micaniana, Miq. Caa peba, significa, folha chata. Caataya (folha que queima), Herva de bicho, João Gomes. (22°) Três plantas conheço com o nome caataya, o Polygommi anti- hemorhoidale Mart. chamado também herva de bicho, a Vandellia diffusa L. ou mata-cana, e um Plumbago conhecido no Amazonas também por João Gomes e Carrapicho, cuja espécie não vem descripta na Flora Bruzilensis. Cacau. (U9) — (Theobroma cacáo.L. da família das Bythneriaceas Arvore da provinda do Pará, que pouco cresce mas esgalha muito, cuja cultura é uma das fontes de riqueza da mesma província. Em quasi toda a margem do Amazonas, encontram-se cacoaes, de milhares de pés, principalmente na costa chamada dos cacoaes, próximo á Óbidos. O fructo, além da semente, que depois de secca é exportada para o fabrico do cacáo, come-se e da polpa adocicada que envolve as mesmas sementes, por expressão, prepara-se o vinho de cacáo, muito saboroso e nutriente. No preparo do chocolate, apura-se um óleo fixo e solido, conhecido por manteiga ou banha de cacáo em- pregada com bons rezultados na racha dos beiços e dos seios, assim como nos accessos homorrhoidarios. E substancia muito barata no Pará, mas que preferimos importa-la da Europa, pagando mais caro .__ 139 — e assim roubando á província, lucros com que presenteamos ao es- trangeiro em prejuízo dos consumidores da corte. Além desta espécie, ha outras sylvestres como o Cacaurana, Cacau, etc. Caboré (»2) — é uma pequem coruja do género strix. — Apparece commnmnente em noites de luar. Dão também este nome a um ca- primulgus. Cabiuna, Jacarandá-preto, Tambayba, na Bahia, (U") — éoma- chaeríum incorruptibile, que Freire Allemão, descreveu nos trabalhos da Sociedade Vellosiana, e pertence á família das Leguminosas. E uma das arvores mais altas cujo lenho é pardo e negro, rijo, e empregado não só nas construcçõcs civis, como na marcenaria. E do Rio de Janeiro. Caburéyba, (u8) — conhecida pelas corruptelas caboré-iiva, cabu. réiba,cabreuva, ou cabiruba. Dá-se-lhe também o nome de óleo pardo- E o Myrucarpus frondosas e o M. fasíigiatus de Freire Allernào, per- tencentes á Família das Leguminosas. Crescem as florestas do Rio de Janeiro e Minas-Geras, e tornam-se urn dos gigantes delias. Em Minas é muito empregado nas construcçòes civis e marcenaria O cerne é vermelho claro. Do seu tecido fibroso exhuda um óleo rezinobO e aromático donde lhe veio o nome portuguez. E conhecida essa rezina por caburucica. E mui raro vê-los com flor. Cahinanna, cahinana, cainana, raiz de frade, cainca, raiz preta cruzeirinha, poaya, (221) — nomes dados em diversas localidades de Minas e S. Paulo a três Rubiaceas, a Chioccoca anguifuga Mart. racemosa, Humb. e demifolia, Mart. Todas têm as raízes amar- gas e acre-nauseabundas, empregadas como diuréticas e purgativas, nas hydropisias, na syphilis e nas moléstias dos rins. Caventou extrahiu delias o acido cahinico, que se apresenta em crystaes brancos em forma de estrellas. Caia, cajá e cajaty, (120) — é o Acajá, conhecido no Pará por Ta- perebá. {Spondias lutea, Lin.) da família das Anacardiaceas. Arvore alta, elegante e cujos fruetos oblongos e amarellos são saborosos, posto que muito ácidos. Ha duas variedades, uma de fruetos grandes, outra de fruetos pequenos e muito doces. Do sueco do frueto preparam-se xaropes e geléas. A semente é diurética. E arvore de muita vitalidade, desenraizada, quebrada pelo vento, — 140 — cortada e fincada em moirões continua a crescer, pelo que nas lendas do Jaboty, contadas no valle Amazonico, é dessa arvore que mais se teme esse chelonio, porque cahindo ella sobre o seu casco, está irremediavelmente perdido, porque não apodrecerá, e de sob ella elle não poderá sabir. Calumby ou calumi (121) — é uma, mimosa da província das Alagôas> r conhecida também em Pernambuco por malícia de homem. E um ar- busto que cresce pelas várzeas, espinboso como todas as mimosas. Camará ou cambará. (122) — Com este nome conhecein-se varias plantas no Brazil. Temos a Moquinia polymorpha, que forma as nossas capoeiras do Rio de Janeiro ; arvore de lenho branco, muito empregada em poliame, cabos de ferramenta, etc, e diversas Lan- tanas, e Verbenas, assim como um Erigeron de flores brancas muito aromáticas que floresce em Março. Camassary^ camaçary. (123) — Arvore de que dá também noticia Marcgrave. (Carapa piramidata ?) Pela incisão no tronco, obtem-se um sueco glutinoso, branco, e depois torna-se roxo, que serve para apanhar passarinhos. Cambucu, cambucá. (2^6) — Fructo de uma bella arvore da familia das myrtaceas, descripta por Berg, com o nome de Rubachia glo- merata, quando pertence elle ao género myreiaria. Com o nome de Cambucá, apresenta o mesmo autor a myreiaria plicato-costata, mas que não é a mesma planta. O conselheiro Schuch de Capanema, no estudo que tem feito sobre a familia das myrtaceas, descreveu o cambucá ainda não descripto, e denominou-o Myreiaria cambucá. Cambuim, cambuy, cambuhy. (2»') — Arvore das restingas dando um pequenino fructo saboroso. Conheem-se três espécies todas do mesmo género entre as myrta- ceas, que são o Myrhis silvestris, Piso, cujo fructo é rôxo-negro, o M. rubra, Pis >, de fruetos amarello.s avermelhados, e o M. alba, Piso, de fruetos amarellos. Cangamba ou Jaraticaca, antes Cagambá ou Jeritacaca, (4) — é o digitigrado dos campos pedregosos dos sertões, chamado Zorrilho no Rio-Grande do Sul e no Chile por Chingue, conhecido scientifi- camente por Mepltitis suffocans, Ill'-g., ou M. chincha. É pequeno. — 141 — evita o homem, mas quando perseguido ataca-o, lançando sobre elle a sua ourina, cujo cheiro forte e nauseabundo não desapparece senão muitos dias depois. Os aniinaes que recebem o jacto da sua ourina, definham e morrem. São mui communs em Minas-Geraes e no Rio-Grande. Encontrei no alto da serra do Agua pé muitos. Tem pouco mais ou menos o comprimento de um quaty, com o pello cinzento-escuro? quasi preto no lombo, e esbranquiçado no ventre. A cauda é longa, coberta de lougos pellos, em pennacho, e anda com ella cahida erguendo-a só quaudo se assusta. Na cabeça tem uma malha branca na fronte e outra no nariz, assim como duas listras lateralmente, que atravessam o corpo até próximo á cauda. Cangusú é o Cangussú, (5) — cuja traducção é akang, cabeça e assa, grande, nome dado á Felis pardalis, L. (Vide a nota sobre a palavra maracayá.) Caninana(W&) — (Trigonocephalus flavescens.) Cobra longa, de escamas aguçadas amarellas e pretas. E muito venenosa. Capíbara, antes capyuara que por corruptela fizeram capivara, (8) é o maior roedor do Brazil, o Hydrvchocrus capylara de Erxleben, ou o Cabiaia de Buffon. Decompondo-se o nome indigena, vê-se que significa o campi- neiro^ o que vive e sustenta-se de capim ; capy, quer dizer capim, e a dicção uára indica frequência, naturalidade, tanto que para mostrar o logar donde alguém é natural, accrescentam sempre essa dicção, v. g., Saracáuara, natural da ilha de Saracá. Com efièiío a Capyuara é não só herbívora, como habita os capins das margens dos rios e dos lagos. Não encova, faz um leito das mesmas gramíneas. E arisca como os outros roedores, não tem hábitos nocturnos e foge ao menor ruido , roncando. Nada e mergulha perfeitamente, e até ca- minha pelo leito do rio, onde demora-se muito tempo. Quando pre- sente os cães dos caçadores, atiram-se rapidamente n'agua mergu- lhando, indo reapparecer muito longe. Andam geralmente aos casaes e ás vezes em pequenos bandos. É um animal muito forçoso. Quando apanhada em pequena, domestica-se com muita facilidade, e torna-se tão mansa que nunca abandona seu dono, seguindo-o — 142 — como um câo. Tive uma, apanhada no rio Ereré, que de tâo mansa, vinha diariamente procurar dormir commigo na mesma rede. Esta tinha sido amamentada aos peitos de uma tapuya. A carne que alguns comem, é gordurosa, e tem o cheiro nauseante, que os índios chamam pixé. Como disse, é o maior roedor, assemelha-se a um porco regular, porém suas formas são mais elegantes, é mais alongada e compri- mida lateralmente ; attinge 0m,9 de comprimento. O systema dentário approxima-se do das pacas e cutias, porém afasta-se pelo ultimo molar superior que attinge o comprimento dos três pri- meiros reunidos, e é formado de laminas parallelas, unidas vertical- mente. A secção horizontal das laminas tem a forma pouco ma's ou menos de duus longos arcos cortados proximamente. Os incisivos são fortes e geralmente esmaltados de amarello. A cabeça é com- prida, um pouco comprimida lateralmente com o focinho arredondado; os olhos negros e grandes ; as orelhas pequenas relativamente ao corpo, arredondadas e preta s,quasi sem pellos. Os membros dianteiros têm quatro dedos e os trazi-iros três, armados de unhas pretas, fortes e um pouco curvas. Os dedos são ligados por membranas. Seu pello duro e pouco áspero, é pardo amarellado pelas costas e esbranquiçado pela barriga. Não tem cauda e apenas um pequeno tubérculo indica o seu logar. Uma outra espécie menos vuJgar que apparece nos bandos, é a ca- pyuara-tinga ou branca. Inteiramente semelhante nos hábitos a H. capyuara, afasta- se comtudo pelo tamanho, que é menor, e pela côr, que é inteira- mente branca. A principio tomei-a por um caso de albinismo, mas tão vulgar torna-se pela reproducção, que hoje tenho-a como espécie. Além disso, o albinismo sempre nota-se nos olhos, que tor- nam-se azues ou esverdeados, o que se não dá na espécie em questão que sempre os têm pretos. Cará, (222)— nome vulgar dado a diversas Dtoscoreasycujoà tubér- culos se comem cozidos ou assados, como o cará-assu, cará-barbado, cará-mimoso, e cará-roxo, conhecidos entre os tupys por cará-uassu, carú-hembó, cará-tmga e cará-piranga. — 143 — Caraoba, caroba, (223) — corn cstes nomes e com o de carobinha, co- nhecem-se varias bignoni; ceas do género jacarandá, como a pro- cera, Spreng., subrhombea, braziliana, Piers,etc, todos com proprie- dades purgativas e anti-syphihticas. O nome indígena significa caa, folha, e oò, amargosa. Caragiru, carajuru. (227) (Bignonia chica). Em diversos logares se encontra esta liana, em mais ou mencs abundância, pelos loga- res silicosos, e cobertos de ca poeiras, onde ella vegeta. Na pro- vinda do Pará encontrei em ab undancia nos districtos de Mon- te-Alegre. Das suas luzentas fclh as, depois de seccas, extrahem os indios, principalmente os dos rios Uapés e Içana, no Rio-Negro, de que fazem umaindustria, uma linda tinta vermelha-arroxeada, que apparece no mercado em pó, dentro de embrulhos de estopa de turury. Quando querem tingir fios, ou algum objecto, fervem as folhas, e mettem o mesmo objecto de infusão nesse cozimento ; que dá uma bel la côr encarnada. Para exportarem, porém, extrahem a fécula pondo-as de infusão em agua quente e b;i tendo -as. Grande extracção tem esta fécula para a Europa, para tintu- raria, emquanto que aqui só tem procura para o curativo das moléstias da garganta, em que é empregada desfeita em vinagre. Pintam a parte atlectada com esta mistura. Outro emprego, porém cabalistico, lhe dão os pagés, entrando sempre nas suas composi- ções e nos seus philtros. Os indios também usam a tinta para com ella se pintarem, como os Arauquis nas suas ceremonias fúnebres. Três espécies conheço que dão fécula, a de que trato e uma outra que cresce em Santarém. Afasta-se muito não só no habito como nas formas e consistência das folhas. A fécula desta, depois de secca, toma uma bella côr roxa, em quanto que outra, fica pardacenta. Algumas pessoas confundem o carajuru com a caa-piranga, planta inteiramente difierente, cuja tinta é roxo-rei. Ainda uma outra espécie ha, que cresce no districto de Mauhés, cujas folhas são maiores e differentes. r E tão dirficil o fabrico, que, diz Humboldt, um homem traba- lhando todo o dia, is vezes não faz que chegue para pintar-se. — 144 — Dizem os índios, para mostrar o gráo de pobreza entre elles : « E tão pobre que não tem com que pintar o corpo . » Caranday, carandahy, caraná-y (125) Com este nome conhece- se três espécies de palmeiras. No Amazonas caraná-y é a mauritia Martiana, Spr. antiga Mauritia aculeata, Mart., no Maranhão é a copernicia cerifera, Mart., e em Matto-Grosso e Goyaz, uma outra mauritia que não posso determinar por não ter visto a planta, não sendo comtudo a Martiana, porque esta só cresce nas vertentes das serras que nos separa das Guyanas. Carapinima, antes muirapinima (126) (Centrolobium Paraense Tui.) da Fam. das Leguminosas e não Brossimum Aubletii, Poêp que é hoje o B. discolor, Schot, que se refere a uma Urticinea muito próxima ao celebre Paio de Vacca ou Vacca vegetal do Peru . A muira pinima (muira, páo, pinima, pintado miudamente) é uma pequena arvore do Amazonas, cujo cerne muito fino é verme- lho-escuro pintado de preto. A madeira é empregada em arcos pelos indios, e em objectos de marcenaria de luxo. Encontra-se ainda na serra dos Parintins, acima de Villa-Bella. Caranja, caranguea. (296) Será carangueijo ou caranguejeira f Ha algum insecto desse nome ? É planta? (53) Vide a nota 7. Carauna corruptela de uirauna, (5Í) — pássaro preto, chamado também virabosta, é o Icterus violaceus. Anda em grandes bandos, attaca as roças de milho, em Minas, e geralmente procura a com- panhia dos chcchéos ou japys, dos quaes rouba os ninhos para a sua prole. No Pará não formam bandos, encontram-se sempre como para- sitas entre os japys. Ave cantora. Carnahuba, ou carandahy, (128)— (Copernicia cerifera, Mart. ) da família das palmeiras. O primeiro botânico que descreveu a Çarnaubeira foi o Dr. Arru- da Camará, posto que Marcgrave delia tivesse tratado com o nome de Carandahy . O botânico brazileiro a denominou Coripha cerifera, género a que não pertence, por isso Martius a passou para o seu verdadeiro género. Como fosse o Dr. Arruda o primeiro que delia tratou scientiíicamente, em geral dão-lhe o nome de Arrudaria — 145 — cerifera, género que não existe entre as palmeira?, não autorizado e sem razão de ser por pertencer ella ao género Copemicia de Martius. E uma das palmeiras mais úteis, e seria ocioso tratar delia aqui pois é por domais conhecida em todo o mundo. Póde-se dizer que a Carnaubeira é a vacca vegetal, delia tudo se aproveita, raízes, tronco, folhas, fructos, etc, que se transforma pela industria em esteies, ripas, bengalas, chapéos, esteiras, vassouras, capachos, cordas, óleo, cera, papel, e outros objectos de marcenaria, além do emprego das raízes em cozimento nas affecções cutâneas e sy- philiticas. Carrapato, mamona, Palma Christi (127) — taes são os nomes dados ao IHcinus com munis de Linnco. Euphorbiacea muito conhecida e empregada na medicina. Dá o óleo de ricino, assim' como as folhas do chamado mamona branca, em cozimento é empregada, em banhos contra ns leucorrheas e fscaii' ecencias. Cariyue é a Sarohé, mrigué, ou saruê da Bahia, conhecida no Rio de Janeiro por Gambá, no Valle Amazonico, por mucura, o micurè, no Estado Oriental. (2) Este marsupio carniceiro, o Didelphis aurita ou D. Azarae é mui commum e muito conhecido, pelo que é inútil mais explicações. Caxinglé, ou cachinguelê antes cacltinguelè é o acuty-puru, ou qvaly-puru do Amazonas, o Sciurus pusillus, St., Mil., (l0) — compre- hendeudu o género diversas espécies. Duas etymologias pode ter o seu nome vulgar, ambas tiradas da crença que tem os Índios, de que esse animal não é mais do que um ser, que querendo ser invisível anda com uma forma emprestada ou que sendo uma pequena cutia, tem a cauda emprestada. Pode ser Quaty o plantigrado desse nome, ou Aguty, cutia e purú em- prestado, isto é, o Quaty ou cutia que não o é, mas procura ter as suas formas. O seu systema dentário compõe-se de — . e o seu alimento J r 2 0 8 é todo frugívoro, gostando muito dos fructos das palmeiras. Não medem mais de 0,u,15 de comprimento, fora a cauda, que tem outro tanto. São esguios, têm um pello curto e avelludado, sendo pardo-escuro quasi preto da cabeça até á raiz da cauda pelo G. V. 10 — 146 — dorso, esbranquiçado na parte inferior do pescoço, amarellado na barriga. Caroen, Cauhan ou macauhan, corruptela do nome uacauan, que é onomatopaico. (55) Esta rapace é o Falco cackinans de Linneo. É ave tida por agoureira, e o seu canto, que só se faz ouvir nas noites de luar, produz nas jovens tapuyas supersticiosas tal abalo, que causa-lhes ataques hystcricos, conhecido pelo nome do pássaro. E muito commum no rio Jamundá. Carrapata, carrapato. (293) (Ixodes, ap. ) Conheço três espécie só vulgar do boi, uma espécie mycrosc< pica, e outra de 0,002 de diâ- metro. São mais ou menos venenosos. Separados do corpo do animal, principalmente quando largam o ferrão, produzem uma ferida. As lavagens com aguardente e fumo, faz com que abandonem o corpo. Carua ou caruá, conhecido também por cotinga. (56) E um denti- rostro o Ampelis cinda de Gray . Cantara. (%9i) E uma formiga que dá nas arvores, cuja morde- dura faz tal coce'ra como se fosse sarna, donde o nome cantara, que significa também sarna. Cantara aqui significa a habitante do matto ou das arvores, de caa, matto, c uara, que significa logar donde é natural. Além desta formiga, conhecem-se no Amazonas a tatá, (myrmica saevissima) que é a vermelha ou de fogo do sul, a douda de três variedades, a una, que anda em casa, a tinga, que dá nas ruas, e a parda, que é dos campos. Estas andam muito ligeiras, são pequenas e não mordem. A Giquitaia é uma formiguinha branca, muito molle, chamada também de defunto, que dá em casa ; a tachy (duas espécies), é a que dá n; s embaubeiras, cuja dentada queima; e a macaca-tachy, é semelhante ás taehys, porem, por qualquer parte do corpo que passe queima; a morvpefeca, é a chamada de correição, corta a carne quando morde ; a carrieira (Eciton draepanophora) for- miga preta, que corta e carrega as plantas como a sanba e com ella confundida: (1) a tarapema, que anda sonos páos,distingue-se pelos (1) No Amazonas conhecem-se outras espécies do mesmo género como : a Eciton rapax, que são as maiores ; a E. legionis, que são vermelhas ; a E. Jtamafa, a E. praedator, a menor, pardo-a verme- lhada e a E. errática, etc. — 147 — espinhos quo tem nas cosias; a tracuá, (duas espécies) aninhara-se nas raizes das orchideas, nas bromelias e nos páos e cipós, preparando uma matéria para sua vivenda, semelhante no ama dou (Polyporu igniarius, Fries), e que serve para isca de rogo, pelo que é conhecida por isca de tracuá, de que muito usam os Índios ; a tocandyra (cryptocerus atratus) formiga do tamanho de uma caba ou marim- bondo, mordendo pelo aguilhão que tom no abdómen, são pretas, andam aos pares e aninham-se no chão ; a tapiahy, semelhante a tocandyra, porém, menor ; a oncinha, que anda também aos pares, é pelluda, tem duas pintas amarellas luzentes no abdómen, e mordem com o ferrão que este tem; a sauba (1) (CEeodoma cephalotes), espécie muito conhecida em todo o Império, e que tanto mal faz á lavoura, pela disseminação das fêmeas, chamadas tanajuras • a quenqvem formiga grande e preta, que carrega os ovos e se aninha na superfí- cie da terra, e cuja dentada é dolorosa pelo corte que dá, e muitas outras que seria longo enumerar. Caruru. (229) Este nome é dado não só a algumas Phytolacacea^ como a algumas Amaranthaceas . Com esse nome ou Cururé, co- nhecem-se no Amazonas algumas Podostemeas que crescem sobre as rochas nas cachoeiras dos seus aôluentes e que se cernem em sa- lada e dão sal. Catolé, catolcz. (129) Com este nome conhecem-se duas palmeiras do género Attalea, a A. humilis, de Martius e a A. oleifera, es- pécie nova que descrevi, da província de Peruambuco e Alagoas. A primeira é acaule e a segunda excelsa, inteiramente differentes nes caracteres específicos. Cayapiú, caapiá, carapiá. (22*)— Nome dado em vários logares de Minas e S. Paulo a differentes espécies de Dorstenias, conhe- cidas no valle do Amazonas também por Apehy. As raizes contêm muito amido, e dão um extracto amargo. São diuréticas, diaphores ticas e corroborantes. O Caopiá de Pison é o páode lacre, a Vismia Guianensiss Pers. porém com este ultimo nome ha differentes espécies de Vismias toda- exhudando um leite gommo-resinoso vermelho ou alanrajado, donde lhe veio o nome, porque depois de secco toma a apparencia do lacre. (1) Corruptela de iça, formiga e yba, páo. — 148 — Caytátu, é o Gaitctu ou Catctu de Minas-Geraes, ou tayassu do Amazonas, cujas espécies são conhecidas também por Pecarys, pertencentes todas ao género Dicotyles de Guvier. (11) O nome tayassu, pode ter duas interpretações, ambas caracte- rizando o animal; uma deriva-se de tanha, dente, e assu, grande, e outra de tayá, raiz, e suú, morder. Três espécies conheço, o tayassu-etê do Amazonas, que é o canella-ruiva do Sul, o tayassu-tinga que é a queixada do Sul e o tayassu-miry ou porco do matto do Sul, o primeiro é o D. tor- quatus, o segundo o D. labiatus, Cuv., e o terceiro cujo nome especifico não conheço. Estes pachidermes andam em bandos e in- festam as mattas, principalmente quando raivosos, com a catinga que expellem por um orifício que têm sobre as costas. No sul são atre- vidos, atacam o homem, devoram os cães e tornam a sua caçada perigosa ; porém no Norte o bando faz frente ao caçador, mas não o ataca. Ao primeiro tiro fogem, porém adiante voltam-se, fazem frente e tornam a fugir, podendo assim um só homem matar o bando, como tive occasião de observar matando-os quasi que diaria- mente no sertão do Amazonas para meu sustento. O ruido que fazem com os grandes caninos, batendo uns de encontro aos outros é aterrador. Ha uma crença entre os Índios, que o tayassu lavado dentro de um rio faz com que as aguas produzam intcrniittehtes. Os seus dentes sào aproveitados pelos mesmos como instrumento cortante, com que preparam todas as suas obras de madeira. Ali- mentam-se estes animaes de fruetos e raizes e a sua carne é sabo- rosa. Chiriuba, xiriuba, (131) corrupetela de seri-yba, isto é, arvore dos seris. (1) Com efieito, esta arvore cresce nos mangues e alagadiços onde abundam os brachiuris, desse nome e os carangueijos, que por ellas sobem, pelo que tem também o nome de mangue. Ha duas espécies, o mangue branco (Avicennia nítida, Jacq.) e mangue ama- rello. (Aviccnnia tomentosa Jacq. ) da familia das Verbeueaceas. No Pará aproveitam as cinzas da cisca para saboaria, para o que é excellente e dá em grande quantidade. Com o nome de mangue conhecem -se também outras plantas de fa- mílias diversas. Conduru. (132) — Arvore de coustiucção civil e naval do Pará mas que não conheço.Com este nome só conheço apenas um pequeno — 149 — peixe o Cetopsis candiru, Spix., que existe nas aguas amazonicas e que entra pela urethra daquelles que quando no banho, urinam na agua. Conheço 3 espécies. Cicopira. (130) — Segundo as localidades e os autores que sobre ella têm escripto, diversos são os nomes que tem tido. Assim são synonimos Cebipyra, sucopira, sicupyra. sipupira, sucupi, sucu- pira, sapupira (Pará), sepipira, sebi-píra, sepepéra, nomes que dão a conhecer segundo o adjectivo que se lhe pospõe, diversas varie- dades de uma leguminosa que em geral cresce pe os campos, forne- cendo bôa madeira de construcçâo,a Bowdichia virgilioides H. B.K. e assim a sapopíra assu, é a variedade glabrata, cujo lenho é de cor parda com os feixes fibrosos mais escuros e luzentes ; a sapo- píra-preta, é a espécie typica, cujo lenho é muito escuro com fibras quasi pretas ; a sapopíra- vermelha, sapopira-roxa, sào as variedades ferruginea, pubescens, ctc. A sapopira-aquosa é a B. nítida, Mart.,que cresce no Rio-Negro e a sapopira amarella a Ferreiria opectabilis, Fr. Ali. chamada também sapopira. — falsa. A casca das raízes das differentes variedades é adstringente, amarga e empregadas em banhos contra feridas darthrosas, rheu- matismos e internamente como diaphoretico e anti-siphiliticos. A ety- mologia da palavra indigena é hapo ou sapo, raiz epi ou pira crua, pela semelhança que tem a casca da raiz com a cor de carne crua. Com effeito as raízes sào roxo-escuro ou côr de carne, donde também vem os nomes de sapopira-vermelha. Entre os productos da sapopira ha o que vulgarmente se chama cerveja de sapopira, que é um liquido que corre do alburno das arvores velhas quando corta as, que, não só tem o gosto da cerveja como cobre- se de uma espuma expessa. Bebem essa cerveja contra os males do estô- mago. O Dr. Pecholt achou na casca duas rezinas e um alcalóide, a que deu-lhe o nome de sicopirina cuja formula, segundo um professor de Yena, é C. 16. H. 120. 5. Goaracyba ou coaracyaba (59) — é um dos nomes com que os indí- genas appellidam o beija-flôr, significando raios ou cabellos do sol, de coaracy, sol, e aba, cabellos. Coaty ou cuaty antes quaty, (*2) — é um plantigrado cominum em todo o Brazil. — 150 — São conhecidas três espécies, das quaes de duas conheço a clas- sificação. São as seguintes : quaty de bando, quaty-mondé e quaty- m'ry. Separadas pelo vulgo, o foi também com razão pelo príncipe Maximiliano Neuwied, se bem que Azara, sem fundamento, nao aceitasse a separação. O nome indígena Quaty é derivado de qvá molle e ty, focinho, que os indígenas, sempre observadores, lhe deram, alludindo á consistência e ao movimento que tem o focinho. O quaty-mondé (nasua narica), coaty-solitaris de Neuwied, é das duas espécies a maior. O nome indígena e especifico que tem, refere-se á facilidade com que se apanha este animal, em laços ou armadilhas (monde) . Como o Procvon cancrivorus, tem elle — — - — — dentes. E J 6 2 12 um animal que varia muito a cor do pello, não só segundo a idade, como as estações, tendo ambas as espécies quasi que a mesma cor, sendo, porém, a de que trato um pouco mais clara, tendo, além do tamanho, que é maior, os caninos grandes que sahem fora do queixo. Tem o corpo alongado, o focinho comprido, movei, trun- cado obliquamente e arrebitado. Os pés têm cinco dedos, não com- pletamente livres na base, armados de unhas grandes, curvas e pretas. A cauda é longa, pelluda e trazem-a constantemente levan- tada. A fêmea tem seis maminhas. A côr é a seguinte : pardo-ama- rellado, mais escuro nas costas, o queixo inferiormente branco ; tem ao lado do focinho uma listra branca, assim como três malhas da mesma côr em torno dos olhos. Andam geralmente aos casaes. O quaty de bando, (JY. eommimis, ou socialis, do Neuwieed) tem as mesmas cores, é menor, nào tem os caninos salientes, é mais claro, e anda aos bandos. Se bem que digam que são estas duas espécies nocturnas, sempre as encontrei de dia. São animaes de um olfacto muito apurado, muito brincalhões, andam geralmente pelos logares húmidos, nadam bem, assim como com muita facilidade trepam nos páos. O quaty-mondé é atrevido, chega a atacar os cães, investindo contra elles, porém o do bando é mais manso efoge, quer do homem quer dos cães ; quando perseguido é que investem contra os cães. Dome sticam-se com facilidade e tornam-se depois muito mansos. — 151 — Alimentam-se de carnes, ovos, fructos, hervas e mesmo peixe. En- contrei na fazenda da Capella, propriedade de meu amigo o Dr. Assis, na cidade de Obydos, uma vez um bando em uma copoeira alagada, onde só crescia o Sapindus esculentus, que uns trepados, outros no chão, entregavam-se a uma espécie de dansa, tão distra- hidos, que de"les me apj roximei, chegando quasi a toca-los, apenas, porém, me ouviram, correram e desappareceram pelo matto, ficando um morto para meus estudos. O quaty-mirim assemelha- se nas cores a N. communis, porém afasta-seno tamanho, que nunca o corpo excede a vinte centimetros, fora a cauda. Anda também em bandos, porém sào VRgarosos no andar, tristonhos e não tão brincalhões. Na região do rio Jámundá sào vulgares. Çoip u na. (225) — Será a Qt.tyaponia, ou caponga ? Cucurbitaceas, deseriptas por Silva Manso, entre ellas havendo uma com o nome de Purga de Cayapó. Çoliangu, coria?igo, (57) — é um fissir ostro, o Caprimulgus Nacunda, Vieill., habitante de quasi todas as províncias onde é conhecido pelo mesmo nome, porque é o que elle pronuncia quando, durante as noites de luar, no seu pascigo segue ás vezes o viajante nas es- tradas. Alguns o tomam por agoureiro. Colibri, Çji) — este nome nào é indigena, e sim francez introduzido no Brazil. Congonha, (^4) — nome dado em Minas-Geraes e S. Paulo, a diversas espécies do género Ilex, família das Illicineas. Ha a Congonlia-grande, o matte ou yerba, {Ilex Paraguayensis, St. Hill.), a congonha-miuda, (Iex chamaedrifolia) e outras como os /. diurética, pseudothca, medica, domestica, sorbilis, etc. Empre- gam-se as folhas ou estas e os ramos pilados em infusão, que se toma como chá, sendo muito diurético e diaphoretico. No Eio-Grande do Sul, Paraná e Minas-Geraes é muito usado, assim como no Para- guay, onde a sua exportação forma a maior renda da liepublica e é quasi a base da alimentação, em vez do chá ou do café. Com o nome de congonha ha também em Minas-Geraes e S. Paulo a Vil- laresia congonha Miers. Copaigba, copaiba, copauva, copiuva, copahiba} copahyba} — 152 — cupahy, cupay, cupiuba. (l33J Segundo as localidades assim é a corrup- tela que appnrece no nome indígena copiyba, isto é, arvore de cu" pim, pela semelhança que tem o desenvolvimento do tronco, onde se accumula o óleo com os ninhos que os cupins edificam nos troncos. Com esse nome eonhecem-se varias espécies em diversas provín- cias dando óleo mais ou menos claro, porém todo com o mesmo cheiro e as mesmas propriedades. Assim no Pará e Amazonas a Copahyba é a Copaifera Guyanensis, Desf. e a C. multijuga, Hay. no Piauhy a C. conferiiflora, Benth. ; na Bahia, a C. cortacea, Mart. ; no Riode Janeiro a C. Langsdorfii, Desf. ; em Minas, a G. oblongifolia, Mart. ; em Goyaz, Matto-Grosso e Paraná a C. rígida Benth. , e a C. oblongifolia, Mart. O óleo, ou o bálsamo que extrahem, e que constitue uma industria no Pará e Amazonas, onde se vende aos potes, é empregado como anti -syphili tico, e nos catarrhos chronicos, assim como externa- mente nas dores uterinas e nos ferimentos dos pés para previnir infla mmação c tétano. E uma arvore elegante que fornece boa ma- deira de lei, cujo cerne é vermelho-escuro. O óleo não é fornecido annualmente pela mesma arvore, em geral só dá uma vez na vida, posto que continue a viver depois do tronco furado. Extrahem o óleo daquellas que apresentam urna grande protuberância, ou barriga, onde se accumula o óleo, e esta furada, lança de si ás vezes dous a quatro potes de óleo, de quatro medidas. Corocutura. (60) Será a murucututu ? A jucurutu ? Ambas são rapaces nocturnas do género Strix. Cotia ou cutia antes acuty. (i3)Diriva-se este nome, cuja traducção é vigilante, do verbo acuty, espreitar. Em todo o Brazil, e principal- mente no Amazonas, abunda este roedor, se bem que soffra uma guerra de exterminio, não só dos civilisados como dos índios que as caçam, por ciu:a da sua carne saborosa, se bem que um pouco dura. Vivem pelos buracos que encontram, nos ocos dos troncos cabidos, e debaixo das raízes das arvores, etc. Não tem hábitos nocturnos, a qualquer hora do dia andam no pascigo, sempre aos casaes, e ás vezem em pequenos bandos. Tom muita vivacidade, seus olhos estão em constante movimento e seu andar é sempre rápido e assustado. Comem raízes tuberosas. — 153 — sào gulosas de curuá(Attala), inajá (Maximiliana regia), cajus (Ana- cardium) (3 outros fructos. Diariamente procuram essas arvores, que pelos fructos roidos os caçadores sabem que ê comedia, e esperam-as entào trepados nos inutás, para fazer-lhes fogo ou flecha.- as. Seu porte é gracioso, e se bem que sua estructura anatómica diffira dog claviculados, como estes sentadas levam os fructos á boca segus rando-os com as màos. Seus dentes incisivos sào tào fortes, que roem o endocarpo ósseo dos fructos das palmeiras, para comerem o albumem. Destes dentes aproveitam -se os Índios Ticunps para faze- rem miras para as suas zarabatanas, assim como os Uasahys do rio Iatapu para fazerem facas, com que preparam suas flechas. Seus movimentos rápidos, tornam- se extremamente velozes, quaudo enti- midaclas ou perseguidas, sendo sua carreira sempre em saltos pela disposição e comprimento dos membros posteriores. O couro curtido para calçado é melhor do que o do veado. Diveisas espécies abundam no Amazonas. A Ayuty-assu ou cutia- grande, {Ckloromys Acuti de Cuvier, Cavia aguli d'Erol. Dasy- procta acuti de Desmarett, D. Caudata de Lund.), que é a vulgar em todo o Brazil e a maior. Tem de comprimento 60 centímetros, e a cauda, que é rudimentar 0n,,02, oceulta pelos pellns da anca. A côr é pardo- ferruginea na cabeça, pardo pintada de escuro na- costas, confundindo com amareUo dos lados. A barriga é amarello- sujo e as extremidades preta. Os pellos na anca sào muito maiores. Tem a cabeça alongada, focinho grosso, olhos vivos e salientes. O systema dentário com- 2 o 8 . pòe-se de -7- -^ — , tendo os incisivos as raízes por baixo dos pri- meiros molares, cujas coroas sao chanfradas externamente nos supe- riores e internamente nos inferiores. As extremidades, têm os dedos livres, em numero de quatro nas màos e. três nos pés. O systema dentário e a disposição das plantas é cornmum ás outras espécies. Outra espécie é o Akouchy de Buffon, Dasyprocta Acuschy, cuja cauda é menor. A côr é parda pintada de escuro, com a anca quasi preta e a barriga russa. Uma outra especio existe no rio Jatapu e mesmo em outros logares, onde depois encontrei é a Acutiruaia ou Cutiuáia, (D. nigricans, Natt.) Crumatan ou curimatá. (2"2) — (Anodus Amazonum). Tem palmo — 154 — e meio de comprimento, procura as correntes d'agua e cachoeiras. É um dos peixes mais apreciado s do Amazonas, e de escama pra- teada. Cucherí, cuchery ou cujumary. (226) — Arvore do Rio Amazonas, a Ocotea cujumary, Mart., da familia das Laurineas, cujas se- mentes são empregadas nas moléstias do estômago. Contém grande quantidade de óleo. Cuíca, chamada também no valle Amazonico mucura, (l4) — cor- ruptela de mbycure, é um marsupio do mesmo género dídtlyhis a que pertence a Gambá, porém menor, e com a bolsa incompleta. Tem hábitos nocturnos, aninham- se nas cipoadas, ás vezes dentro de ninhos de pássaros, dos quaes comem os ovos. Tem o pellu macio e os olhos esbugalhados e brilhantes. Ha diversas espécies, algumas quasi do tamanho de um camondongo. A mais linda é a mucura-chíchí do Amazonas. Algumas têm a cauda lisa, e outras pelludas. Cuím, couy, conym, antes cuyi, conhecido também por Cuandu, porco-espxnho, ouriço- cacheiro, e carregador de goiabas (15) — é um roedor o Hystrix prehensílís, L:n. O nome cuandu diriva-se de cua, cintura, e da partícula nditj que serve para mostrar o uso de alguma cousa, assim rcfere-se á cauda deste animal, que é aganadora, isto é, forma uma cintura, em torno ao objecto que segura. É um animal que, durante o dia, passa dormindo no oco dos troncos das arvores, nas camadas de íolhas que se ajuntam nas cipoadas. e á hora do crepúsculo sahe em procura dos fructos de que se alimenta. Quando atacado, toma-se furioso sacudindo com violência o corpo, e despede os espinhos que, mal seguros, tem entre ospellos. Quando os cães o pegam ficam com a boca, lingua e cara cobertos dos mesmos, como mais de uma vez tive occasiào de vêr. Annualmente mudam de pello, perdendo entào todos os espinhos. É o maior ouriço do Brazil e mede de comprimento 36 a 37 centí- metros, menos a cauda, que tem 25. Tem os quatros pés da mesma altura, com quatro dedos, armados de unhas curvas e agudas. Desde o focinho até o meio da cauda, assim como lateralmente, é irriçado de espinhos que sabem dentre o pello onde estào oceultos — lõõ — emquanto o animal não se encolerisa, e então, levantados, foi- mando como que um ouriço. Os espinhos são amarellos com as pontas negras e muito aguçadas. O povo emprega estes espinhos torrados e reduzidos a pó para as moléstias uterinas. Os espinhos medem de 0m,0rJ5 a 0m,03 de comprimento. E um animal timido, e pouco se afasta do logar em que habitas tendo os movimentos muito lentos, comparados como dos outro, roedores. A cauda, que quasi nao tem pello, na ponta, auxilia todos os movimentos, isto é, anda sempre agarrada para equilibrar o corpo. Geralmente dorme assentado em um galho com a cauda en- roscada nelle. Actualmente tenho um, domes ticado, em uma gaiola. Cuité ou cuyté, coité, antes cuy-etè. (i3í) (Crescentia cujete, L.) Fam. das Bignoniaceas. Planta muito conhecida, também pelo nome de cabaceiro, cujo fructo mais ou menos espherico tem um epicarpo lenhoso, fino e córneo. Partido ao meio, e tirada a massa pulposa que envolve as sementes, dá dous vasos côncavos que se denomina em portuguez cuia tirado do nome indígena cuy. Esse mesmo fructo, aberto só junto ao pedúnculo e limpo por dentro forma a cuyambuca, vaso para carregar agua ou guardar líquidos, geralmente envolvido em uma rede de fibras como usam os índios. No Pará o fabrico de cuias forma uma industria, que já vai decahindo, em que Monte- Alegre primava pela perfeição do traba- lho a que sujeitam o fructo. Em geral são tintas depois de polidas com cuma té, o que lhes dá uma côr negra e luzente, semelhante ao xarão da índia. Sobre essa tinta empregam diversas pinturas de cores, ou desenhos feitos por gravura. As tintas empregadas são preparadas de tabatinga e tauás, isto é, argillas de diversas cores que se encontram nas margens do Amazonas. São objectos estimados e muito procurados, pelas varias formas que lhes dão. O lenho da arvore, que é de tamanho mediano, não se emprega, mas amassa dos fructos, crua ou assada, verde ou madura, é em- pregada em diversas moléstias, como anti-tetanico e spasmodico, nas hérnias e nas elephantiasis dos árabes. Cumaru, cumbaru, cumbary. (i^5) A que tem sementes compridas, de curu, comprido, ua fructo, semente, e aru, do verbo rub, eu tenho. (Dipterix odorata, D. C). — 156 — Fam. das Leguminosas. Arvore alta, cuja madeira é empregada em construcções navaes e que produz a semente conhecida por fava de cumaru ou de Tonca, empregada não só para aromatizar o 1 apé e roupa, mas também como emmenagogas, cardiacas e diaphoreticas. Das sementes se extrahe um óleo essencialmente aromático para o cabcllo. O fructo, que é uma drupa alongada, com o endocarpo ósseo contenlo uma só semente, é muito procurado pelos morcegos e co- rujas, que o carregam para muito longe ás vezes do logar em que está a fruteira. Convém aqui expor um facto que muitas vezes observei em diffe- rentes logares do Pará e do Amazonas. O cumaru cresce nas flo- restas virgens, longe um dos outros, e lia muitos logares onde elle não existe; porém, apezar disso, ás vezes vê-se debaixo de uma ar- vore qualquer, montes cónicos, de fructos que parecem ser feitos pela mão do homem e que foram ahi amontoados pelos mor- cegos. Estes arrancam o fructo e levam-o para longe, e vão roer o epicarpo e o mezocarpo não só na mesma arvore, como no mesmo galho e ponto em que se penduraram á primeira noite. A medida que os vão roendo, vão deixando cahir o caroço ; de maneira que, acabado o tempo da fruta, encontram-se montes, que os collectores estimam, por poupar-lhes o trabalho do apanho. Mais de uma espécie dá a semente aromática-, a menor, que é a mais aromática, é fornecida pela Dipterix odorata. Willd; e as outras maiores pelas D. tetraphylla, Spr., D. rósea, Spr., e D, alata, Nog., todas oriundas do Pará e Amazonas. È conhecida na freguezia do Andirá e em outros logares do Ama- zonas, outra espécie com o nome de Cumarurana, cu cumaru sil~ v^stre (Dipterix oppositifolia), cuja semente é toxica e empregada na matança dos ratos, baratas, etc. No Ceará conhecc-se também uma espécie com o nome de Cu» maru, mas que constitne um novo género, a Torresia Cearensís, de Fr. Allemão, que floresce no tempo das chuvas e é uma arvore mediocre dos sertões. Cupim, cupy (29i) — (Termes flavicottam e lucifagum). Ha duas espécies, a de casa, que devora e se aninha na madeira, e a do chão, que forma grandes pirâmides nos campos de Minas, onde se aninha. Cousa notável, a mandioca plantada em um ninho de cupim, cu — 157 — se sobre ella o cupim se aninha, torna-se phosphoresceníe e muito venenosa. Cupuassu, (Deltonea lutea). (%m) — Fructo de uma grande arvore- do Pará, pertencente ás Malvaceas. E grande, tem o epicarpo du- ro, quebradiço, amarellento, e as sementes envolvidas em uma massa filamentosa, branca, agridoce, que se come picada e posta em maceração na agua. o que dá uma bebida refrigerante e muito agradável. Tem um cheiro um pouco semelhante ao da rosa. Cutiríriba, Cutitiribá, no Pará, e Tatarabá no Maranhão (Lucuma Revicoa, Gartn). (258) E uma sapotacea cujo fructo, quando maduro, tem a epiderme verde-assetinada e o mezocarpo côr de gemma de ovo, farináceo e semi-pegajosa. E de uma arvore al- taneira e elegante. A semente pulverisada e addicionada a qual- quer chá sudorifero é applicada com vantagem na=s febres inter- mittentes. Ha duas espécies, uma, cujo fructo é globuloso, com 25 milimetros de diâmetro e outra que o tem quatro vezes maior. E a Guylí-turuba de Piso, conhecida em Cayena por jaune cfoeuf, Embira, envira. (230) — Dá-se este nome não só ás fibras longas e fortes da casca de alguns arbustos e arvores, como também ás plantas que as produz. Geralmente pertencem ás famílias das Malvaeeas, Anonaceas e Bumbaceas. Embiriva, antes emviryva (136) Eimbir, rasgar, lascar, e yb, ma- deira. (Couratari, sp.). Familia das Myrtaceas. E uma arvore de Pernambuco e Alagoas, alta, esgalhada e cujo cerne é de uma côr parda. O alburno lasca com facilidade, e aproveitam essacircums- tancia para fazerem ripas para casas, assim como para archotes, que não só expande boa luz como não se apaga. Em esteios é de grande duração. A casca ó adstringente e empregada para curar golpes e feridas. Emu ou ema {Rhea Americana), (6i) — é o abestruz da America, que se encontra nos campos dos sertões de Minas e Rio-Grande. Aninha-se nos mesmos campos, e quando lançam fogo a estes, estas aves correm ao próximo rio ou lago, molham-se e sacodem-se junto ao ninho até molhar o capim em torno, para que o fogo não offenda os ovos, que são mui grandes. Correm muito e domesticam-se — 158 — com facilidade, mas são destruidoras, porque engolem todos os pequenos objectos de metal que encontram. Engá, ingá (l3T) — (mimosa, sp. var. ) Fam. das Leguminosas. Com este nome vulgar se conhece em todo o Império diversas arvores,, que em geral crescem nos logares húmidos e margens de rios, e dão vagens, cujas sementes são cobertas de uma polpa adocicada, que se come. A sua madeira é pouco aproveitada, porém as cascas de algumas espécies sào tónicas e adstringentes, e usadas pelo povo. Quasi 80 espécies estão scientificamente classificadas e muitas têm nomes vulgares que as distinguem uma das outras entre as naturaes. No Pará conhece-se o Ingá chichi (Ingá alba, Willd.) que cresce nas mattas, e o fructo é pequeno e amarello ; o Ingá peva, de um palmo de comprimento e duas pollegadas de largura; o Ingá vassu ou de cacete (S. cinnamomea sp.), cujos fructos attingem a um metro de comprimento, e o ingá macacarnaia ou rabo de macaco (I. edulis Mart.), alem de outros, como o mimoso, o cabelludo, ete. Enhapupe, nhambu, nhambu, nambu. (f)2) E urr. gallinaceo com- mum nas no.-sas florestas. Ha diversas espécies como o Inhambu- assu, inhambu-coá ou sujo, I. toro, I. quiá, Inhambuhy, todos do género Crypturus. Procuram os logares sujos das mattas para se aninharem, ou nos sapesaes, e seus ovos são arroxeados, pouco menores do que os de uma gallinha. Gnja, (I39) — nome portuguez dada a uma fruta exótica o Prunus cerasus. Ginipapaba, jenipapo, jenipapa . (172) (Genipa brasiliensis,Mart. Fam. das Rubiaceas. Arvore cuja madeira branca é empregada em formas para sa- patos, cujo fructo come-se e produz tinta azul-negro. Com o mesmo nome conhecem -se varias espécies com que os indius preparam as suas tintas para a talouage. Gitaky, gelaigba, jetaluj, jutahy, jetay, jatay, jataiba, jatobá. (138) Nomes mais ou menos corrompidos dado cm difTerentesprovincias a dilVerenies Uymenacas, da família das Leguminosas. No norte deno- minam jutahy, no Pará yutaky e no sul jatobá, sendo o yutahy o — 159 — mesmo jatobá, (Hymenaea courbaril, Lin. ) Na citada província ha ainda o yutahy-porooca (H. stigno carpa, Mart.) e o yutahy-miry (H. stilbocarpa, Mart.je no sul o catinga, o peba e o as&u é o mesmo jatobá. E madeira excellente para construrções civis e hydraulicas, e o seu cerne é vermelho mais ou menos escuro, com veios e man- chas escuras. Da casca e das raizes exhuda grande quantidade de resina aromática, branco-amarellada, transparente, conhecida por jutalty-icica, com que. não só vidram a louça de barro como dá excellente verniz. Cavando-se o solo onde existiu algum jutahy que por velhice morresse, encontra- se grande quantidade de rezina em grandes blocs, alguma já secular. A resina tem o aspecto do âmbar, porém mais transparente. E das cascas do yutahy que os Índios fazem as suas ubás. Goanambik, guamumby, guaimumby, guiamumby, (63) — taes são as ditíerentes maneiras com que se tem escripto um dos nomes dados pelos índios ao beija-flôr. Creio que verdadeiro será Gua- namby, de guá pintura, e namby orelha, referencia ás pennas bri- lhantes formando mesmo em algumas espécies como que orelhas na avezinha. Será ? Goiava, goyaba, guaiaba. (I40) — (Psidium guayava, Radd.) Fam. das Myrtaceas. Planta muito vulgar, em todo paiz, que apresenta três varie- dades na cor do frueto. Ha a G. brana, a amar tila e a cor de rosa. A branca do Pará é a mais saborosa. Do seu frueto faz-se excellente doce, que constitue uma industria do paiz e as suas cascas e grelos, pela quantidade de tannino que contém, são em- pregados nas diarrhéas e leucorrhéas. Grapzapunha, guarapeapunha, antes muir apeapunha» (144) — (A. pulaea praecox, Mart.) Fam. das Leguminosas. Arvore alta cuja madeira é empregada em construcções civis e naval. O seu cerne é amarello de ouro rajado. O nome indígena significa arvore de casca grossa, de muirá, páo, pe} casca, apon grossa. — 160 — Grapicik, guarapicica, (l4*) — isto é, arvore de casca rezinosa, de muira, arvore, pe, casca e icica, rezina. (Lucuma ? ) Fam. das Sapotaceas. E arvore da província de Santa Catharina empregada na marcenaria. Grumixama. (26°) — Uma das Myrtaceas, cujos fruetos são mais apreciáveis. São pequenos} com o epicarpó roxo-negro, luzentes, formados de uma massa doce. Grunhatá, grunhatá (64) — é um gavião da província de S. Paulo (Falco ? Polyborus ?) (65) Vide a nota 5. Guabiroba, guadiroba, guaviraba, guaviroba. (143) — Com este nome conhecem-se varias espécies em diversa- províncias. São ar- bustos e arvores geralmente dos campos, cujo frueto amarello é sabo- roso quando bem maduro. Pertencem á família das myrtaceas e aos géneros myrtwt, Abbevillia e Ca mp emane sia . No Sul e no Pio da Prata é o myr'us mucronata, Camb. , no Rio de Janeiro é a Abbe- villea maschalantha, Berg., em Minas-Geraes é a Campomanysia, ob- serva Berg., a C. multifíora, Berg., aC corymbosa, Berg.; em S.Paulo a C. reticulata, Berg., 'd Abbevillia guaviroba, Berg., e outras conhecidas por guabiroba do campo, de cachorro felpuda, etc. Em geral o lenho não é aproveitado, por ser madeira branca e mesmo não a fornecer muito, mas empregam-a no fabrico de caixas, principalmente as do Abbevillia maschalantha. O nome Guabiroba deriva-se de Guam, cheiro, bi, pelle, ob, folha, isto é, folha cheirosa. Dessa propriedade se aproveitam os fabri- cantes de matte, para addicionar á congonha as suas folhas, com o fim de aromatiza-las. Guacuman, tucuman, tucumá, antes yucumá. (1**) — Astrocaryum tucumá, Mar t. Fam. das Palmeiras. Esta espécie é do Pará e Amazo- nas. E uma palmeira alta, espinhosa, cujos fruetos não só se comem, como com o endocarpo dissolvido n'agua preparam uma beberagem côr de gemma de ovo, côr do frueto, que é substancial e boa, a que denominam vinho de tucumá. Cumpre observar aqui que não é esta espécie a que fornece as fibras conhecidas por tucum, estas são ti- radas dos grellos do Astrocaryum vulgare, Mart., e que cresce no Solimões. Palmeira de pouco préstimo. Yucumá, significa espinho comprido — 161 — i Giracwnia (^í). — Vide a nota 144 e Gicacuman. Guanandirana, Calophyllum Brasiliense (i*5) Guanandi não verdadeiro. Madeira de lei. Guará, Goará (66).— Com este nome conhece-se também um longi- rostro da província do Pará e outras, o Ibis rubra, que povoa as mar- gens dos lagos^ destacando a sua cor vermelha do verde das cam- pinas. Na primeira idade é todo branco, com a queda das primeiras pennas nascem outras negras, e mais tarde cahem para serem sub- stituídas por outras cor de rosa. Por muito tempo é essa a côr que conserva, mas que afinal perde para cobrir- se de um vivo encar- nado, cuja côr é também a do bico e das pernas. Domestica-se com facilidade. Guará, aguara (i6). — Não é mais do que uma corruptela do yauara, cão. E conhecido também por lobo. Vive nos campos, foge do homem, ataca os rebanhos até nos curraes, para chupar o sangue, porém é um animal tímido. Assemelha-se a um cão ou lobo, e tem o pello cinzento ou pardo, mais claro no ventre. Ali- menta-sé de carne, de fructos e de insectos. Ha diversas espécies, como o Canis vetulus Lund., C. jubatus Desm. Guarabu, yuarubu (346), conhecido também por Gonçalo Alves, no Rio de Janeiro. Arvores cujos cernes são roxos ou amarellos, pertencentes ás famílias das Urtrcineas e das Leguminosas, for- necendo boa madeira para segeiros e marcenaria. Conhecem-se o Guarabu de cerne roxo ( Peltogyne guarabú F. Ali.), o guarabu amarello (P. confertiflora Benth. ), o guarabu batata ou Gonçalves Alves, (Myracroduon gr aveolens Jacq.) e outros como o guarabu preto, rajado, que não são mais do que variedades da Peltogyne. Guarãuno, guarauna, guarauna, braúna, (liB) antes muira-una páo preto. (Melanoxylon-braunia Schot.) Fam. das Leguminosas. Arvore de 20 a 25 metros, cujo cerne é pardo escuro, quasi preto que se emprega nas construcções civis, e que se encontra em quási todo o sul do Brazil. Preparam com ella tinta parda. Ha também a muirá-una parda que tem as mesmas propriedades. Guaraxaim, (i*) nome dado no Kio-Grande do Sul, também aos Guarás. E o agourachay de Azara, o Canis Azarae Cuv. E cin- zento-araarellado ou branco-sujo acinzentado. Encontra-se em quasi todo o Brazil onde é conhecido também por Cachorro do matto, g. v. 10 — 162 — dando-se-lhe impropriamente também em, Minas onomft de Rapoza. Guaraxaim é corruptela de iauara chay — cão áspero, referencia feita á consistência dos pellos. Guaricanga, aricanga, aricana. (&%) Em S. Paulo, Minas e Rio de Janeiro, dão este nome a diversas palmeiras do género Geonoma, cujos espiques são empregados em arcos de peneiras e de bater algodão, e as folhas em coberturas de casas. Três espécies novas, de Minas-Geraes, eu descrevi e que ahi são conhe- cidas pelo nome vulgar supra : A Geonoma erythrospadice, a brevispatha, e a aricanga. Guaxinim, guachinim, (i8) nome dado pelos indios ao plan- tigrado conhecido na sciencia por Procyon cancrivorus Lm. , e no Amazonas por Igauara, isto é, y-agua, iauara-cíío. E seme- lhante ao quaty, porém mais atrevido e voraz. Vive pelas margens dos rios, igapós e mangues ; sobe com facilidade ás arvores e alimenta-se de carne, ovos, hervas, carangueijos, etc. Quando ataca um animal, não o deixa senão em ossos. Os indios por essa cir- r cumstancia temem-o muito. E muito vivo, ligeiro no andar, e nada com muita facilidade. E pequeno, tem o pello lanoso, cinzento- pardo nos lados, esbranquiçado no ventre, com uma listra preta, entre as orelhas e a ponta do nariz preta. O nome guaxenim é uma corruptela de iauara-xaim, de iauara-csio, ccaim-r asteiro. Vindo eu de Itaituba, no rio Tapajós, fui portador de um ju- pará para o meu amigo o Exm. Sr. Barão de Santarém, que m'o oíFereceu. Durante o tempo que esteve em meu poder, estava em um caixão com grades de ferro, porque as primitivas de páo as roia em um momento. Trepando um dia uma arara sobre as grades, o animal agarrou-a por uma perna e a devorou, puxando-a á medida que a comia. Solto, acenando-lhe com carne subia-me pelas pernas e vinha-me á mão arrancar a carne com avidez. Seus 6 2 12 dentes são — — — ^- Os caninos grandes, aguçados e cortantes. Os pés tem cinco unhas fortes e agudas. Guaxuma, guaxima e uaisyma (233). — Differentes plantas, todas da familia das Malvaceas, tem o nome supra, sendo o ultimo só conhecido no Pará. Fornecem a embira, que se emprega em cordoalha. Pertencem ao género Urena e Hibiscus. Guaxima é corruptela de caa-fo\h&, e syma-cotoiiossi. No Pará tiram os naturaes, — 163 — - muito proveito deste arbusto, que chega a ter de altura ás vezes 12 palmos. E próprio dos terrenos que foram outrora cultiva- dos, onde nascem em abundância. Para tirarem as fibras claras, com que preparam cordas, punhos de redes, etc, cortam o arbusto, collocam o debaixo d'agua por alguns dias até amollecer a casca, e depois com muita facilidade tiram as fibras. Guraema, guararema, ibirarema, (147) antes muiranema — páo fedo- rento, pelo que é conhecido também por Páo atalho. {Seguie?'a flori- bunda Benth.) Fam. das Pl-ytolacaceas. As raizes e a casca exhalam um cheiro forte, semelhante ao do alho, e a infusão do lenho é applicada nas moléstias cutâneas e nos rheumatismos. Ha outras espécies, como a Caparideacea de Pison, chamada Tapiá (Crateva tapiá L.), que tem o nome de Páo d' alho. Guramarin, gurumerim, grumarim, grumari Q-™). Guratan, guarantam (l5°), antes muira-antan — páo duro, ou nwira-itá — páo-ferro, nome pelo qual é conhecido também (Caesal- pinea férrea Mart). Fam. das Leguminosas. Cumpre advertir que o nome de Páo-jerro é dado também a outras arvores. Guti Gaiti, Guiti-iba (151), ant es cutiyba, — arvore de cutia. {Soaresia nítida Fr. Ali.) Arvore mediocre. Cerne vermelho, que se em- prega em gamellas. Hoiticika, Ojetickika, Oiticica (i52) (Moquilia tomentosa Benth.) Fam. das Rosáceas. Com o nome de oiti, ou oity,uify, se conhecem diversas espécies que o vulgo distingue pelos adjectivos que lhe juntam, assim temos o Oity-cabacinhoy O. mirim, O. catinga de burro, O. preto, todas do género Moquilea, á excepção de uma que é a Conepia uity de Bentham. E madeira quasi que exclusiva- mente empregada em construcções navaes, e que cresce em quasi todas as provindas. Hybiculiyba, bicuiba, bicuhyba, bocuuba, vicuhyba f153), (Myristica sebifera) Fam. das Myristicaceas. São conhecidas por esses nomes a Myristica sebifera Swartz., a M. officinalis Mart., a M. bicu- hyba Schott. e a M. surinamensis Roland., todas fornecendo das sementes um óleo, que é aproveitado pelos naturaes para diversos misteres. A M. officinalis, cujo frueto é maior, tem emprego na medicina contra dores rheumaticas, é efFicaz nas cólicas, substituindo — 1G4 — ás vezes a M. moschata, ou noz-moscada . A madeira é empre- gada em vigamentos e assoalhos. Do tronco, quando ferido, corre um liquido arroxeado. A semente da sebifera espetada em um páo •e accesa sufestitue uma vela. Hyrara (19), vide a nota 1 e Ahyrara. Ibabiraba (155) (Britoa tri-flora Berg.) Fam. das Myrtaceas. Ar- vore do Pará cujas folhas são arematicas e empregadas contra dores ce cabeça. Ibacamuzi (l&6) Desta arvore trata Marcgrave, mas por esse nome nlo a conheço. Iba-purunga ou lóa-poronga (M). — Segundo o Dr. Marli us é uma viíex da familia das Verbenaceas. Ibaraba (159) {Lecythis ovata Camb. ) Fam. das Myrtaceas. Arvore que apresenta muitas variedades e que cresce em muitos logares do Império. Ibaruba, ibaraba, ibiruba, ou pitangueira do matto (1^8) (Ste?ioca F lix ligustrinus Bg.) Fam. das Myrtaceas. E uma espécie de grumixama, cujo fructo é doce e se come. Iguana ou yyuana f'io)? lagarto verde de crista dentada ao longo do dorso e cauda, com grande papada e que vive sobre os galhos das arvores, nas margens dos rios. Tem um andar vagaroso e, quando presente perigo, atira-se na agua e mergulha. Des- ova em covas nas praias. Sua carne é saborosa. Indiáy jitndiá ou jandiá (*"3), Platystoma spatula. Peixe de escama semi-ossea, que vive no lodo dos rios e lagos ^ é dos chamados do matto, porque quando ha os primeiros repiquetes da enchente, elles sobem com as aguas que inundam os mattos, e quando estas descem, elles ficam sobre as folhas seccas do chào a desovarem ahi, onde esperam o segundo repiquete para vol- tarem ao rio. E semelhante ao Acary. Inhahiba.) ininboy ou inhuhyba (lft0), arvore do campo, de 4nhu — campo, e ,ba — arvore. E conhecida também por Canella inhuhyba (Caesalpinia bonducella Roxb. ) Fam. das Leguminosas, Arvore dos campos e mattas do littoral do Rio de Janeiro e Bahia, de grande duração nas construcções civis e navaes. Inheme, inhame (268). Ha diversas Aroídeas e Di ^scorcaecas com — 165 — esse nome em diversas províncias. Os tubercules das Aroideas sào mais ou menos acres e mucilaginosos, mas cozidos são agradáveis e substanciaes. Ha uma espécie, conhecida por Inhame-bravo, que, posto que- cozido, só para alimento do gado suino serve. Inhahybatari ou Inhuhybatan,(^)ãT\o re dura do campo, de inhu — campo, yba — arvore, antan — dura. E uma Leguminosa empregada na mastreação de navios, por ser madeira muito resistente. Inhuma (67) Vide a. nota 42 e Anhuma. Inimboya, inimboy, (234) Gmlandina bonâue L., fam. das Le- guminosas. A casca é amarga. Tnxu, inxuy (296 a). E um marimbondo que faz ninhos cylindri- eos, grandes, dè uma substancia cinzenta. E pequeno, pardacento e se aninha em arvores altas, descendo para atacar quem passa- por baixo. E do Rio dè Janeiro. Ipe ou aipe, antes ipé. (iG2) Diversas espécies são* couhecidasr todas da família das Bignoniaceas ; taes como o ipê ou páo d' arco, que cresce no Norte (Tecnma chrysantha) ; o ipé-amarello ou páo- d^avcoamarello, também do Norte (Tecoma, sp.); o ipê-assu ou ipé-grande (Tecoma-insignis), e o ipé-batata {Tecoma-leucantha F. Ali.) Todas têm o cerne mais ou menos pardo e sao- consideradas madeira de lei para todas as construcç.ões . As cascas são a dstrin- gentes e empregadas em banhos ou gargarejos nas erapigens e nas feridas da garganta. Em S. Paulo o ipé é conhecido por ipeuva ou piuva, que é uma corruptela de ipé, e y 6- arvore. Ipecacuanha. (235) Este nome é derivado de ipeca— pato, e conha — membro viril, allusão feita á disposição das raizes que são em espiral, como são os penis-dos palmipedes do género Anãs. Pertence â familia das Rubiaeeas, é a Cephcelis ipecacuanha Rich. , que è empregada como vomitivo, e conhecida também por poaya. Pel- letier extrahio delia a emetina, que é um pó branco amarellado, inalterável ao ar, pouco solúvel na agua fria e muito no álcool e no ether. Sabor amargo. A raiz dá' ipecacuanha contem . emetina, 16; cera, 1,2; matéria resinosa, 1,2; gomma, 2,4; amido, 53; matéria animal, 2,4; linhoso, 12,5; e vestígios de acido gal- lico, ao todo 100 partes. Issicariba, icicariba, almecega, almecegueira, elemi, myraicica. ^t«3) ]^0 sui &0 Brasil são conhecidos por estes nomes o Pvotnim — 1GG — icicariba D. C. do Rio de Janeiro, o P. almecega Mar eh. de Minas -Geraes, e o P. heptaphyllwm Aubl, que produzem todos uma resina branca e aromática, donde lhe vem o nome vulgar. No Amazonas, entre outras espécies, como o P. martianum Engl., o P. pubescens Benth., e o P. laxiflorum Engl., ha o conhecido por Breu-lranco o Issicantan, de issica-resma,, antan-ãuru, o P. ara- couchini Aubl., que é uma das arvores que mais abundam nas florestas. Chega a attingir cem pés de elevação. Da sua casca sahe naturalmente em lagrimas uma resina, a principio branca, viscosa e semi-transparente, que depois endurece em contacto com o ar, e que forma, pela superposição das lagrimas, uma massa que se encontra adherente ao tronco, ou com o tempo cahida no ohão, tornando-se opaca e muito quebradiça. Obtem-se também por incisões. Forma um dos ramos de eommercio dos indígenas que pelas mattas a apanhão e vendem-a no seu estado natural. Com os annos a parte exterior toma uma côr preta. O principal emprego desta resina é, dissolvida ao fogo com alguma matéria gordurosa, nos calafetos de embarcações. Tem um cheiro agradável approximando-se do da terebinthina, quando fresca, diminuindo um pouco esse cheiro quando velha, reapparecendo, porém, depois quando queimada. E solúvel no álcool e no ether crystallisando. Pouca acção tem sobre ella a essência de terebinthina. Esta resina substitue perfeitamente a almecega, amyris elemifera L. , pro- duzindo os mesmos eífeitos e tendo a propriedade de ser com mais vantagem manipulada. Substitue bem o bálsamo de tolú, desfeita em álcool e reduzida a xarope. A almecega verdadeira é muito rara hoje na Europa e a que dahi importamos não é mais do que a espécie em questão e as das espécies P . gvyanensis e P. hepia- phyllum. Quando a medicina tanto a emprega, nós nos utilisamos delia para brear canoas. O indio, porém, sabe tirar mais algum proveito delia; emprega-a reduzida a pó e batida com geminas de ovos nas hemoptises ou outras moléstias peitoraes. Curam também suas dores de dentes fumando em tanary o mesmo pó,, e, misturando-o com azeite de andyroba fazem emplastros suppu- rativos. Um pequeno batrneio, o ounomaru do Amazonas aproveita também a resina desse Protium e forma com ella a famosa resina Ciukui- «ra ou cunauaruicica. Crença é em todo o Amazonas que esta resina, que se encontra no ôço dos páos podres, nos igapós, é a — 167 — agglomeração de um glúten que sahe do corpo do sapo quando elle fabrica a casa em que habita ; mas não ha tal. A resina do Cwiauarú não é mais do que o breu branco, que esse batracio carrega emquanto está novo, e superpondo camadas que alisa e afunda com o peito, deixando sempre no centro um orifício, fabrica uma espécie de panella sobre a qual se aninha no tempo de desovar. Como no igapó os fios dos ovos serião levados pela corrente no tempo da vasante, ou seriam comidos pelos peixes, depo- sitam seus ovos na panella, que fica cheia d'agua com os bordos de fora, e quando as cocomas sahem, descem pelo orifício do fundo. Este ninho tem ás vezes 0m,3 de altura e conserva geralmente o diâ- metro de 0m,14, tendo o orifício que atravessa tcdas as camadas 0m,02 de diâmetro. Geralmente encontram-se esses ninhos aban- donados, quebrados e já velhos. Quando novos, distinguem-se as camadas do breu, onde apparecem particulas vegetaes adherentes, porém depois de velhos tomão uma côr pardo-escura. Pelo calor próprio do animal o breu amollece e mistura-se com o glúten ou liquido que lança de seus poros, chegando mesmo a formar ca- madas extremamente finas entre as do breu. Yi no rio Jatapu, confluente do Uatuma, província do Amazonas, dous destes ninhos, um principiado e outro com ovos, não podendo comtudo vero animal. A resina tem um cheiro semelhante ao do breu branco, porém mais especial, devido talvez ao glúten ou liquido com que foi misturado. E solúvel no álcool como o breu, e insolúvel na terebinthina e pouco no ether. Queimada em fumigações, é em- pregada contra dores de cabeça. Dizem que o batracio que forma estes ninhos é pardo-escuro e pequeno. É conhecido pelo seu coa- xar, que parece pronunciar a palavra cunani. São difficeis de en- contrar-se, não só pelo seu tamanho, como pela côr que se con- funde com a das folhas seccas que estão sobre o solo, pelo que os índios têm como prenuncio de felicida de o encontro de algum. Itapecurú ou Itapicuru (i63 bis), de zYa-pedra, pe-easea, curu-escst- brosa, arvore de casca dura e escabrosa. (Família?) O cerne é ama- rello com veias côr de chocolate. Empregam também as cinzas na saboaria. Encontra-se entre Itapemirim e Itabapoama, no Espirito- Santo. Japotapitaba ou jabotapita (i64) Gomphia parviflora D. C. Fam- das Ochnaceas. E a Ochna jabotapita de Linnea. — 1G8 — Jacarandá. (163) Com este nome ha varias espécies que o vulgo distingue com nomes específicos adequados á côr do cerne. Assim temos o Jacarandá cabiuna [Dalbergia nigra Fr. Ali), o J. de espinho (Maeharium leucupterum Vog.), o J. preto (M. incorrupti- bile Fr. Ali. e M. legale Benth.), o J. roxo (M. firmam Benth.), o J. antan (M. lanatum Tui.), o J. rosa (J^reno carpus microphyllus Wawra), e outros, como os J. branco, J. rana, J. puitan, J. piranga, J. grande, J, cipó, J. banana, ete . , todos pertencentes á fam. das Leguminosas e empregado não só em construcções civis, como principalmente na marcenaria. Cresce em todo o Império. Jacarandá-tan, (166) (jacarandá duro), Machaerium scleroxylou Fr. ALI. É conhecido também por Páo-ferro Páo-sanlo. Em- pregam-se como dormentes, em dentes de rodas ena marcenaria. Jaburu, Jabwni-molcqiie, yaburu, (68) uma das aves paludaes mais communs nos lagos do interior do Amazonas. E a Myctcria ameri- cana. O corpo é branco, e os olhos, pernas e bico pretos. An.dam. aos bandos, alimentam-se de peixes, que apanham mettidos n'agua mergulhando o pescoço, tão longo como as pernas. Aninham-se era ar,vores excessivamente altas. Jaca (26t) Arfocarpus integrifolia Linn., Fam., das Urticaceas. 1,1a três variedades : jaca-dura, jaca-molle, jaca-manteiga. A pri- meira é a mais estimada. Jacaré (20) nome genérico vulgar dado aos Saurios. Conhccem-se três. espécies : o Jacarê-assu (Alligator sclerops)% o Jacaré-tinga {A. palbcbrosus, e o Jacaré-curua (A. lucius). A primeira é a maior; abun- dante no rio Amazonas, chegando a ter ás vezes 25 palmos de com- primento. No tempo da sêcca, quando os lagos transformam-se em, campinas, estes animaes empjlham-se aos centos, uns sobre os outros, como uma estancia de madeira, e passam assim o verão como em hy- bernação, até chegarem as primeiras aguas. Ai daquelle que passa por perto então! A pilha animal começa a mover-se, e em. poucos, instantes o individuo é devorado. Na passagem do gado de um para outro campo, ao passar por essas pilhas, deixam muitas vezes vic- timas de seus aguçados dentes. A sua carne é clara e o seu almíscar parte das virilhas. As escamas são ósseas e os seus dentes triplos e concêntricos. O jacaré-tinga é o menor, e a sua carne, bem pre- parada, é saborosa. Não atthige mais de 2 metros. — 1G9 — O jacaré-curua é espécie intermediaria, não só no tamanho, como no atrevimento. O assu é preto, pintado de branco no dorso e branco no ventre ; o tinga, pardo-esverdeado claro, e o curua esver- deado-escuro, com as escamas escabrosas, e catinguento. No tempo da salga do pirarucu infestam as praias, para comerem os restos do peixe. Põem os seus ovos sobre ninhos de gravetos, nas praias, e constantemente o guardam com a vista, donde veio o dizer-se que chocam com os olhos, quando disso o sol é que se encarrega. Os ovos são duros e ásperos, medindo alguns 0m, 14 a0"*,15 de com- primento. Jacu, (69) Grallipede commum no Rio. de Janeiro, e em outras provindas, onde contam-se diversas espécies, como o Jacu-assu (Penélope crisiata L.), o Jacu-tinga ou Cujulim no Pará (P. leu- coptera Natt.), o Jacuperna(P. super ciliaris.), o Jacu-caca (P . jacu- caca Spix). Todas estas espécies têm a carne saborosa e são ávidas de pimenta e frutas, donde lhe veio o nome de ya— fruta, e cu — comer. Jacupemba (:o) Vide a nota supra. Jacutinga (*i) Ibidem. J,apur antes Japi ("2.) Cassicus cristatvs. Este Conirostro anda em pequenos bandos e tem um canto interessante, não pela voz, mas pelos movimentos que faz arripiando as pennas quando solta a voz. Encontra-se em diversas províncias, porém não é procurado como caça pelo máo cheiro que tem. O seu nome significa o palrador» Yapi é corruptela de nhapy. Jaguane (21) . Vide Guará, nota 16. Jaguaratirica (21). Vide o termo seguinte. Jaguarete ou Yagnarate, (22) corruptela de Yauarité, carniceiros do género Felis. Comprehendem-se debaixo deste nome diversas espécies de gatos com o nome vulgar de onças, divididas em quatro grupos distinctos pelas cores, tamanho, habito e instiuctos. O das onças propriamente dito Iauaritê dos Índios, jaguar dos fiancezes : o das suassuranas, ou sussuaranas, o cougouar dos francezes ; o dos mbaracayás, ou ocelots e o dos caa-pixunas ou gatos do matto. No grupo dos yauarités, ou onças verdadeiras, estão as espécies mais ferozes e maiores do Brazil ; são os jaguares dos francezeó- — 170 — O Sr. E. Liais na sua obra Climats, geulogie et faune du Brésil, dá a seguinte etymologia para a palavra jaguar (onça) : Ya esmagar com os pés de um salto ou de uma vez uá,, do verbo u comer, com a posposição da letra a para indicar energia na acção devorar. Assim, é verdade, fizeram os Índios a palavra lau-ara, ou jaguara, que não é onça, e sim cão, que é o que devora, o carnieeiro. Conhecendo os Índios o instincto carniceiro do cão deram.-lhe esse- nome, mas como houvesse um carniceiro mais feroz, ajuntaram a palavra etê á primeira e fizeram lauára-eté, ou como pronunciam lauáreté, que quer dizer o carniceiro verda- deiro. Por euphonia as pessoas civilisadas dizem jauárité,, que ouvido pelos naturalistas estrangeiros, não sabendo pronunciar, fizeram jaguar, como synomvmo de onça, porém, admittido o gallicismo, não exprimirá elle mais do que o cão. A maior e a mais linda das onças que tem o valle do Amazonas é a Jauárité pinima, ou onça pintada^ a F. onça de L., que chega a ter de comprimento dous metros. O fundo do pello é amarello- pallido, pintado de preto. A dentadura compõe-se de dentes dis- postos a dilacerar as carnes e não a mastiga-las, pelo que a ma- xilla inferior é mais estreita, passando portanto os dentes unidos uns pelos outros, cortando como tezouras.. Compõe-se nesta, como em todas as outras espécies, de -r- incisivos pequenos, que contrastam 2 com - — caninos, consideráveis, cónicos, agudos e curvos, seguin- do- se -— — mollares, dos quaes os terceiros superiores e inforiores são os carniceiros, tendo os quartos superiores muito pequenos e tu- berculosos, emquanto que os carniceiros são grandes e cortantes. Posto que de grande agilidade e força muscular nos membros, torna-se um. animal terrivel empregando as feias armas com que Deus o favoreceu,. Além dos afiados dentes, tem a lingua cheia de grandes papillas córneas, que, pelo simples lamber, despedaça as carnes da victima; suas patas dianteiras grandes e musculosas, são ar- madas de cinco garras agudas, curvas e contracteis, com as quaes segura a presa, ajudando-a a dilacerar, ou a agarrar-se com as quatro das trazeiras que são um pouco menores. Tendo um corpo esguio, e muito flexível, devido á estreiteza e pequenez do intestino, com facilidade saltão e dobrão-se sobre as presas. Apezar da pequenez do cérebro, cheio de circumvoluções, é um — 171 — auiraal astuto e que mostra certa intelligencia. Terrível nos seus assaltos, mostra mais paciência e astúcia, do que os seus congéneres, na caça que faz a certos animaes. Geralmente não ataca o homem de frente, senão quando este lhe dá caça. Enca- rando-o antes de assalta-lo, assenta-se sobre os pés, occasião esta de que o caçador amestrado aproveita-se, e mesmo provoca, para balea-la. Infeliz se errar o tiro, porque a onça, rápida, salta sobre- elle e o despedaça. Aquelles que são animosos, conseguem ás vezes- mata-la á faca, na luta que então se trava, sendo mais commum ser sempre o homem a victima. Embora não fraqueando, ás vezes não> supporta o hálito pestilento que o animal então solta e o em- briaga, fazendo-o perder os sentidos e facilmente tornar-se presa. Ha tapuyos animosos e tão dextros, que a caçam sempre a faca e com uma espécie de chuço. Provocam-a, e, quando ella se assenta, esperam pelo salto e a recebem na ponta do chuço e sangram. Vendo-se ferida salta para traz, para novamente se atirar sobre elle, sendo recebida como da primeira vez,, e assim morre. Uma outra espécie muito semelhante á esta, porém menor, não tão feroz, e cujas pintas são diíferentes, tinha sido, até hoje, con- fundida com esta pelos naturalistas e classificada sob a mesma denominação de F. onça. Ultimamente o Sr. Liais muito bem a y y distinguio. E a Uru-jauara ou F. juguapará de Liais. O nome vulgar a differença muito bem da primeira e refere-se ás pintas que tem ; quer dizer : o cão ou carniceiro (jauára), pintado como o uru, que é um pássaro (odontophorus gwjanensis), cuja plumagem é miudamente pintada. Esta não excede em comprimento a lra,50, é menos feroz e evita o homem, só o aggredindo quando é perseguida. O cruzamento da F. jauarité com esta produz uma hybrida, vul- garmente chamada jauarité- tauá, ou onça amarella. Conhece-se esta porque é do tamanho da F. jagua-pará, é mais amarella, mais miudamente pintada, sendo as pintas e as malhas sempre irregulares. Geralmente tem esta as mãos brancas e os instinctos da jauarité pinima. Uma outra espécie que mais raras vezes apparece, e habita a parte mais remota dos sertões, é a impropriamente chamada tigre e pelos naturaes Iaiturité-una, — onça preta, a F. jaguatyrica r Liais. E das três espécies a mais feroz e atrevida, distinguindo-se bem das outras pela sua côr negra. Tem o tamanho da uru- jauara, porém distingue-se pela côr do pello. Sendo a mais feroz> — 172 — saciando-se quasi só de sangue, fazendo victimas só para suga-lo ou satisfazer seus instinctos, respeita comtudo, ás vezes o homem,. como comungo tive um exemplo. Acompanhado de alguns indios Pariquis, tínhamos armado nossas redes na floresta á margem da cachoeira do Arapaçu ou Picapáo, no alto Jatapu, e preparavamo-nos para dormir, alumiados pelo clarão de duas fogueiras, quando (seriam 8 horas da noite) o grito de jauárité- una, proferido por um dos indios, nos fez, involuntariamente saltar das redes. Com effeito, ura tigre, passando por entre nossas redes, chegando a roçar o. pello pela do indio que gritara, mansa- mente se dirigia para a floresta, tendo sahido doriovque julgo atravessara. Por sua cor e por estarmos com os olhos feridos pela luz, a escuridão da noite fez com que o tigre se perdesse pela flo- resta, se bem que fosse seguido por um dos indios que não o perdeu de vista quando passou por nós. Tomando logo o arco e duas ta- quaras (flechas), o. seguio quasi rastejando, porém as circum- stancias acima fizeram com que elle não o enxergasse depois. Perguntando-lhe porque não levara a. sua arma, respondeu me que preferia a flexa porque não negava fogo e era certeira. Passando a noite em claro, esperámos pelo animal, que não voltou. Casos de hybridismo encontra-se entre esta espécie e as duas primeiras, o que logo se reconhece pelo numero e tamanho das malhas, que é maior,, pelo fundo do pello, que torna-se araa- rello-cinzento, quasi preto no dorso,, e pelo focinho branco. A F. nigra de Exleben, seguudo o Sr. Liais, não é mais do que umahy- brida entre esta espécie e a jauára-pinima. Jamba (167), antes jambo, jambeiro, Jambosa vulgaris D. Cl, Fam. das Myrtaceas. As folhas passam por serem venenosas, mas que encontram antídoto na própria raiz. Jangada, jangadeira, páo de jangada ypcw- jangada (lfi8) (Apeiba- tibour bou Aubl.) Fam. das Filiaceas. O seu nome explica o seu emprego. E a madeira geralmente usada, no Ceará, para as jangadas, por ser muito leve, mas aproveita- se também o liber para cordoalhas Japicay (2C2). Será a japecanga? (Smilax-japccanga?) Japinada ou Iapinada [^) ou janipapo ? (Genipa Brasiliense). Japorandiba, jaborandi, nhaborandi (lC9). Com este nome oonhe- çum-se diversas espécies de Piperaceas, todas com propriedades — 173 — sialagogas, sudoríficas e odontalgicas, como a Artliante iwbercutata Miq., a Ottonia anisum Spreng., a Arthante mollicoma Miq. , que crescem á sombra das mattas. A Monnieria trifulialu., da fam. das Rutaceas, é conhecida também por esse nome. Com as mesmas pro- priedades sialagogas existem no Amazonas estas espécies : jambu, jambn-y, jambu-assu e jamburana. A primeira é uma Svnantherea, Spilantkes oleracea Sacq., que contém desde a raiz até ás flores o principio estimulante, e é empregada nas ulceras escorbuticas co~m bons resultados. A segunda é uma Ottonia, é applicada nas molés- tias uterinas. A terceira é também uma Ottonia, grande arbusto dos logares húmidos, cujas raizes, em cozimento, são empregadas nas moléstias do fígado, na dose de uma chicara duas vezes ao dia, e a tintura nas dores de dentes, e a quarta é uma Artkanie, cujas propriedades são as mesmas. Japuê (73), corruptela de yapy-y ( japu pequeno), assim denomi- nado no Norte, e synonymo de Clteclico no Sul. Ha duas espécies, o Cassicus hemorrhous e o C. icteronotus. Andam em grandes bandos, formando uma grande sociedade, estabelecendo o seu arraial nas grandes arvores da margem dos rios, que se cobrem dos seus longos e bem tecidos ninhos em forma de saccos. Annualmente estão com ovos e filhos. Alimentam-se de insectos, laranjas, e outras frutas. Ha um facto curioso nos arraiaes desta ave, e é que sempre nas arvores, onde ellas estão assentadas, ha também um grande ninho de cáuas ou marimbondos. Desde o raiar do dia cantam estas aves, arre- medando todas as outras aves, exceptuando uma, o tamurú-pará, que tem o canto triste, é toda negra, e o bico vermelho como lacre. Dizem os indios que elles não o arremedam porque o temem, lembrando-se do sangue de seus progenitores que tinge o seu bico ainda de contendas passadas. O facto é que n ão só não o arremedam, como também, como vi, quando passa um bando, cantando por acaso um tamurú-pará, o bando cala-se e cahe todo no chão ou na matta para se esconder. Japurá (263). Será o Pajurá do Amazonas, que me parece ser o Oiti coro da Bahia? 0 fructo é irregular, ora espherico, ora oval, com o epicarpo pardo- amarellento e o myocarpo farináceo, como que arenoso, com um sabor de assucar mascavo. Será a Pleragina rufa de Arruda ? Tem cheiro agradável e a semente dá tinta preta, com que também pintam cuias, e, pela sua adstringência, é empre- gado nas diarrhéas. — 174 — Jaracatiâ (170) (Carica sp>inosa Willd.) Fam. das Papayaceas. Cresce nas mattas de Minas-Geraes. O tronco é espinhoso e o fructo tem a massa semelhante á do mamão, porém é menor. O leite é applicado nas hydropisias e nas ulceras. Jaraticáca. (23) Vide a nota 4 aliás, nota 6 e Cangambá. Jararaca (289) (Trigonocephalus NeuWied). Cobra muito venenosa, acinzentada, com manchas cor de café. Esta cobra cruza-se não só com o Urutu, como com o Surucucu, pelo que encontram- se hy- bridos que difficil tornam a sua classificação. Ha muitas variedades. Jararacuzu (290) {Trigonocephalus atrox). Parda, com manchas cor de café, muito venenosa e maior que a jararaca. Jarrinka, mil-homens , urubu (236) n0 pará. Differentes Aristo- luchias são conhecidas por esses nomes, empregadas contra morde- duras de cobras, antisepticas, diaphoreticas. As suas flores exhalam sempre máo cheiro. Jasana (7*) é a lassaná, conhecida também por Piassoca, a Parra jaçanã. Habitam os brejos* as margens dos rios, onde vivem entre as gramíneas ou sobre as folhas da Victuria régia. Andam em ca- eaes, voam pouco, e com as pernas cabidas, e, quando pousam, geral- mente oceultam uma perna, donde o nome piassoca,à$ pi — pé, e -assoq — escondido. Jetahy ou Gctahy (29G) é uma formiga; a abelha chama-se Jaíy Mclipona). Jetica (23*). Nome dado também ao Convolvulus batatas. Jacatiba, jacatiba^jiquitiba, gequitibá, jecuiba,) juquitibá, (W1). E a arvore mais magestosa das florestas do Sul e considerada como uma das melhores madeiras de lei. Ha o Jeqnitibá (Couratari domestica Mart.), o J. rosa (C. íegalis Mart.) e o J. vermelho (C. tfst rellensis Kad.) A casca, conhecida por embira de jequi' tibà, é adstringente e usada nas diarrhéas e nas anginas. Joa, joaza, joá\ antes juá (l~i), fructo amarcllo, de yub — ama* rello, e uá— fruta. (Solanum Balbisii Dun. fam. das Solaneas, c Xiziphas joazeiro Mart., fam. das Rhamneas). Com este nome conhecem-se varias espécies, não somente entre as Solaneas, como entre outras familias. O Jua (Solanum) é um arbusto que cresce em Minas, depois das queimadas c pelas roças de milho. O fructo é — 175 — amarello, semelhante a um tomate, e muito saboroso, porém indi- gesto. 0 jua (Ziziphus) é uma arvore espinhosa do Norte, cujo fructo é pequeno, côr de barro, com a casca rija. A casca é empre- gada contra atisica pulmonar, e serve também para as lavadeiras* Jukerana, jitkitana, juqnerionano, jvqiiiry-rana (17*) (Ca°sal- pinia) Bonducella Rox.) Fam. das Leguminosas. E empregada medicinalmente. Jundiahyba [yundia — peixe, Platystoma spatula, e yba—nr- vore) (175). É uma Combretacea do género Ter minalia, que se en- contra no Rio de Janeiro, cuja madeira é empregada em obras civis. A côr do cerne é vermelha, com veios amarellos. Jura ("6) é corruptela de ayuru, que significa o papagaio em geral. Ha diversas espécies todas do género Psittacus, como o papagaio-real, o papa-cacáo, o enrica, o P. aestivus -Rull., o moleiro, o malapi o anacan, etc. , com plumage n e tamanho di- versos. Assim como ayuru, parauá significa também o papagaio em geral. Jurupeba, jurubeba, jurumbeha, yurumbeba, (238}. Differentes Solaneas se conhecem por esse nome, porém a verdadeira, a empregada medicinalmente, é o Solanum puniculatum Linn., r cujas propriedades tónicas muito a recommcndam. E muito pre- conisada contra as moléstias do fígado. Juruty (7->) é uma pomba muito conhecida, a Columba Jornai* censis. Macauan (") Vide a nota 15. Maeuco (78) é a mucucaua do Pará, gallinaceo muito apre- ciado pela sua saborosa e abundante carne. Na sciencia ò conhecido por Tinamus Brasiliensis. Andam em casaes, e seus ovos sào azues. Maçarico. C'9) É nome portuguez e não indígena, applicado ás espécies do género Numenius, aves paludaes, que vivem saltitando pelas praias e pedras das cachoeiras dos rios. Manahy (2*4) é o nome indígena do Peixe-Boi do Amazonas, (Manatus Americanus Desm.) Mammifero herbívoro, com excellente carne, e formando um azeite conhecido por manteiga de peixe — 176 — boi, empregado pela pobreza em vez de toucinho. A sua pesca é interessante e mostra a perícia indígena. Ha duas espécies o pequeno e o grande de Faro, conhe- ido por peixe-boi de azeite, por fornecer muito azeite, e a carne ser inferior á do outro. Mandiris, ou mandyhy (275). É um peixinho de pelle, semê- Ihamènte ao bagre. É cinzento e as barb atanas sao aguçadas e ve- nenosas. Abunda nas margens do Amazonas. Martinchans, matrinchá (276). Peix« de rio, com os olhos pretos orlados de branco, com as escamas prateadas- chega a ter dous palmos de comprimento. Mandubi, mindubi, -amendoim, manobi (239). Arachis hypayava Linn.) Fam. das Leguminosas. As sementes comem-se cozidas, ou assadas, e são muito oleosas. Com ellás preparam excellente azeite pára luz* Maniaoba (240) mandioca-brava> (Jatropha fam. das Êuphor- biaceas.) Distingue-se da mandioca vulgar em ter as raizes arre- dondadas em vez de alongadas, e em serem estas muito aquosas e nao fornecerem fécula. Com o nome de mavyssoba prepara-se, ho Amazonas, Um ensopado feito com os grelos da mandioca, socados e fervidos, aos quaes se ajuntam o focinho, a cauda e as barbatanas, ou pás do peixe-boi. E uma excellente Co- mida. Matiyssóba, significa — folha de mandioca. Mangira, ou mangarataia, como é conhecida no Pará (269). E O gengibre (A momum tingyber, L.), mas também se Conhecem várias Aroídeas com o nome de mangará e manga^ito (Caladium sagitti- Jolivm, Spl.) E planta exotica,mas aclim-ada, cujas raizes aromáticas têm um cheiro forte e um sabor picante, donde lhe veio o nome de mangarataia, mangará que queima, ou arde. ■Maracaya, antes mbaravayá, (25) carniceiro, do género Felis, que e conhecido também por mar gaia, corresponde ao ucelot dos fran- cezes. Pouco mal fazem ao homem, apenas a tacam a criação, de cujo sangue se saciam, matando só para o beberem, e não pára se alimen- tarem da carne. É tal a variedade que apresentam no colorido do pello, que difficil é assignalar diversas espécies por causa do hybri- dismo. O indio, reconhecendo isto, denomina tudo de maracaya sem desinência alguma para uma distineção. Entretanto os ha maiores r menores, com malhas differentes, assim como a côr,quer do fundo •do pello, quer das pintas. Duas espécies, comtudo, facilmente se distinguem. A primeira é a Felis pardalis, de LL.neo, vulgarmente conhecida em outras provindas por canguçu (< caw^-cabeça, e assu- grande). Attinge esta de comprimento ln,2, fora a cauda, e tem o pello em geral amarellado da cabeça, pelas costas, até á raiz da cauda, torna-se cinzento-amarellado para os lados, e quasi branco na barriga. Sobre o fio das costas corre uma linha de malhas alon- gadas e unidas, tendo de cada lado uma outra de malhas também alongadas e soltas, de uma côr parda quasi preta. Dos lados gru- pam-se,em linhas quasi parallelas, malhas muito alongadas, abertas. A segunda espécie, menor do que esta, attingindo só lm de compri- mento, tem o pello mais denso, lustroso e macio, e a cauda mais cheia. O pello geral é branco-acinzentado, tendo o alto da cabeça e pes- coço, pela parte superior, amarello escuro, prolongando-se pelo fio das costas esta côr, fundindo se com o branco cinzento das lados. Pelo fio das costas corre uma linha negra formada de malhas unidas, tendo de cada lado parallelamente uma linha de malhas soltas, oblongas, da mesma côr. Os lados são cheios de malhas •obre o comprido, negras, cheias de amarello, côr das do fio das costas. A barriga branca é listrada de preto em malhas soltas. Os pés são pintados, as orelhas amarellas internamente, pretas exteriormente com uma pinta branca no centro. A cauda é preta irregularmente marcada de branco. As barbas são brancas. A cabeça e pescoço listrados como a precedente. Se bem que entre esta espécie e a precedente haja pontos de contacto na disposição das malhas da cabeça e do pescoço, comtudo a côr geral, logo á primeira vista, se distingue sobresahindo o preto luzente desta sobre o fundo esbranquiçado. Esta tende para o preto, aquella para o amarello. A principio tomando-a por uma In brida, abandonei-a, porém tantas foram as que vi, sempre com as malhas e cores con- stantes, que nào posso deixar de menciona la. Menor que a pre- cedente, é comtudo ma s feroz e mais solitária. Uma terceira espécie é a maracayá-y ou maracajá pequena, a -F. de Temminck, observada pelo principe M. Neuwied. Esta espécie ainda é mais sanguinária do que as precedentes ; as ma ha - são diiierentes, e ella é menor, approximando-se pela côr da F. pardalis chega a 90 centímetros. Nào atacando animaes mais corpuieníos do que ellas, somo o fazem as jauarités e çuçuaranas; comtudo fazem guerra crua aos outros. Q. v 12 — 178 — Marava, marajá, coco de tucum (i"6). (Bactris marajá, Mart.) Fam. das Palmeiras. Com este nome conhece-se uma palmeira que cresce nos logares húmidos em grandes soqueiras, com espinhos esbran- quiçados e fructos rôxo-negros e doces • no Rio de Janeiro é conhe- cido por coco de tucum, e muitos o confundem com o verdadeiro tucum (Astrocarium vulgare, Mart). O marajá não dá fibras, e o porte é inteiramente differente. Massaranduba , massaranâiba , massarandyba , rnassaranduva (176 bis). Com este nome conhecem-se varias espécies da família das Sapotaceas, três das quaes descriptas pelo sempre lembrado botânico Freire Allemao, o Mimusops cinta o M. triflôra do Ceará, e o Chri- sophyllum tomentosum também do Ceará, onde é conhecido por Iu- qaery. Na Serra do Mar cresce também uma espécie conhecida no Rio de Janeiro por esse nome, que é a Liicuma procera Mart., ha- vendo igualmente as espécies branca e rajada. Em um trabalho que tenho entre mãos sobre a Flora Amazonense, escrevi o seguinte em 1873: « E uma das mais bel bis arvores das mattas amazonenses, e que mais auxilio pode prestar ao homem industrioso. A sua excellcnte madeira, que é só o que se emprega até aqui, fornece materiaes para todas as construcçòes da província, pelo que delia se tem despojado as mesmas mattas. Além da madeira, offerece ella seus fructos saborosos ao homem ; porém, o que tem de mais apro- veitável é o que desprezam, é o que se não colhe. Ferido o tronco, immedíatamcnte corre abundante o seu leite, que desafia o appetite. Alguns saciam esse appetite bebendo-o puro, como se fora de vacca, porém quasi sempre o resultado é máo pela coagulação que se forma no estômago. Como geralmente é usado, é com café, sub- stituindo assim o leite animal, tornando essa bebida mais nutriente. O seu emprego, porém, mais trivial, é o de substitutivo da colla. A louça, o vidro, o páo, e mesmo os metaes soldam-se com este leite. Tendo-se soltado uma vez no matto a biqueira de metal branco da bainha da minha espada de matto, feri urna massarandubeira, e com o leite grudei-a. Horas depois, estava tão soldada que nunca mais se desprendeu. Apezar. porém, desta utilidade, ainda maior offerece como substitutivo da gutta-perchá (isonandra gutta). Yon- de-se de 20 5 a 215 a arroba. Exposto ao ar ou por meio do fogo, se coagula e toma a consistência desta, tornando-se perfeitamente ir79 — 1 1 malleavel aquecida na ar.ua fervendo, podendo, portanto, ser empre- gada nos misteres em que o é a gutta-percha. Além deste emprego, os calafates aproveitam- o para os seus calafetos, que dizem ser o melhor. A medicina tira também delia resultado, comoanaleptico e peitoral, ou como resolvente, empregado em emplastros externa- mente. A abundância desta planta, no valle do Amazona, promette grandes vantagens, logo que seja empregada como gutta-percha. É solúvel no acido sulphurico. Massatuhyba, mocetayba, mucuiayba, mocitayba, ipê-boia, Maria- preta (lTT). {Zollernia falcata, New.) Fam. das Leguminosas. Cresce em Minas, no Kio de Janeiro e na Bahia. Ha variedades conhecidas por Mucitayba-parda, preta, cravo, de leite, auiarella, etc. É madeira de lei, empregada em obras civis, hydraulicas, etc. O cerne é vermelho-escuro, com veios emagrecidos. A fruta come-se. Merinãiba, mirindiba, merindyba (178). Pertence á família das Combretaceas e ha diversas espécies que o vulgo distingue pelos nomes de M. bugre, preta, etc. São as Terminalia merindiba de Fr. Ali., a T. januariensis D. C, ea Ttinges, Mart. Madeira para construcções civis, e que fornece tinta roxa. r Meruim, merulm, maroim, (297) antes meruy, mosquinha. E uma mosquinha microscópica, preta ; anda em nuvens e morde, ficando a parte mordida ardente como se fora queimada. No Amazonas ha uma espécie de meruy, que encontrei no Rio Jatapu, que não morde, mas persegue o homem para penetrar-lhe nos olhos, onde imme- diatamente morre, causando-lhe ophthalmias. Mirtjj merim, romjje-gtbão (l~9). Bumelia sartorum, Mart.) Fam. das Sapotacea.s. Arvore de diversas províncias, cuja casca é amarga e febrífuga. Mocó (24) Kerodon mocó, Cuv., ou Cavia-rupestris de Neuwied). Entre os roedores apparecem estes, dos campos do interior, que andam, quasi sempre aos casaes, donde lhe veio o nome indigena de mocoi, dous, abreviado em mocó. A carne é saborosa. Mocuje,mocugê (i80). Couma rígida, Mull.) Fam. das Apocynaceas. Arvore da Bahia cujos fruetos são semelhantes aos da sorva, e muito saborosos. A madeira é empregada em ripas. Mondy-guassu ou munduy-guassu (182), conhecido também por — 180 — pinhão de purga (Jatropha curcas L.) E uma Euphorbiscea, cujas sementes são drásticas, e empregadas contra as boubas. O óleo que delias se extrahe é conhecido na Europa como Eicino- maior. Purgante violento e perigoso. Moribonda, moruibonda, marimbonda, marimbondo (298), conhe- cidos no Amazonas por cauas ou cabas. Ahi encontra-se o beiju- caua, que faz um ninho chato, em forma de beiju, suspenso aos troncos, que quando tocado cahe por terra para depois voar ; o fatti-caua, que faz ninho em forma de casca de tatu encos- tado dos troncos, deixando uma só abertura ; urubu-caua, pe- queno, preto, que faz longos ninhos brancos de uma substancia como papel, deixando uma pequena abertura na base ; aturá- caua, faz ninho também comprido e cónico, porém cinzento e de uma substancia quebradiça- tambá-caua, cujo ninho é feito de barro, nas arvores e com a semelhança das partes pudendas de uma mulher • yauára-caua, cujo ninho tem um palmo de com- primento, de uma substancia cerosa e preta, com a conformação do penis de um cão: ao ninho dão o nome de iauara-raconha e outros como o tapiu-caua, cujo ninho é em iórma de cuiambuca, a yaurite-caua, etc. Além destas vespas, ha outras em diversas províncias como o caboclo ; o inxu, etc. Mucory ou Mucury, antes mucura-yba (181), páo de mucura ou gambá Chesiacea. Muney (erro pag. 2^), Mttrecy, murici, mirixy, muruchy (183). Com este nome conhecem-se varias espécies de Byrsonimas da família das Malpighiaceas, que crescem nus campos de quasi todo o Império. São arvores e arbustos, cujos frucl comem. Vulgarmente distingue-se o Murecy-pinima, (Byrsonima chyrso phylla, kth. a 11. sericea D. C.) o J/. assv ou lo [B. verbascifolia Rich.), o M. pitanga^ (B. crassifolia Kth.) e outros. As espécies B. cup ea, Gr., hucophlebia amaeonica, Gr., sào muito empregadas no Amazonas em tinturaria Com as cascas preparam um cozimente que dá uma tinta pardo- arroxeada com que tingem não só as velas das canoas, como a roupa de trabalho, que as torna mais duráveis e impermeáveis. A côr é fixa com cinzas que lançam no cozimente. Mutamba mutambo fazem buraeos, como alguns querem, aproveitam-se dos que existem feitos pelas aguas, pela natureza ou pelos tatus, e com folhas sGcoas preparam seus leitos. Vivem ;-einprc em logaves húmidos e ordinariamente junto d' agua que c o seu refugio quando perseguidas pelos cães dos caça- dores, (guando nas tocas, assaltadas pelos cães, procuram logo fugir, investindo, e, se o não conseguem, oceultam-ss no fundo. Geralmente as suas tocas são sempre com duas bocas, para por uma fugirem. Dotadas de um ouvido fino, de muita bôa vista e de muita timidez, vivem sempre como que sobresaltadas. Correm e saltam com grande velocidad \ assim como andam e mergulham com se fossem amphybios. Alimentam- se de fruetos, canna, milho, etc. Approximando-se do jwrqiii.iho da índia {Anacma rohaya Cuvier), que não existe no Amazonas, senão domesticado, afastam-se com- tudo não só pelo tamanho, como pela estruotura anatomic' do cr.mco, approximando-se mais das cutias, pelos costumes. O seu pello, conforme a idade, e mesmo no tempo da criação, muda um pouco de cor. Geralmente é pardo ou pardo-escuro nas costas, com listras longitudinaes de pintas brancas dos lados, com o peito, a parte interna das pernas, e a barriga esbranquiçados. Medem de comprimento On,6 a 0n,,7 com 38 a 40 centímetros de altura na anca c3 - e 34 a 3G na frente. O svstema dentário compõe-se de 2 0 ^8 com a coroa distincta das raízes. As quatro extremidades todas têm 5 dedos, armadas de unhas cónicas e fortes. A cabeça é grande, o corpo esguio e a cauda inteiramente rudimentar. Pacobo, pacova (264). Assim se denomina no Yalle Amazonico ás bananas (Musa} sp. var). São conhecidas ahi as seguintes variedades: Pacova-asaú, de um a dous palmos de comprimento; Pacovy, ou da terra, com três variedades, sendo uma a Acary, que só tem três ângulos ; Pacova mundurucú, pintada de roxo : Pacova de Cayena ó semelhante á banana roxa, porem com a casca amarella ; Pacova inajá, é a banana ouro do Sul : Parma yapurá, é a banana anã do Sul e outras. Pacu (277) (Prochilodus, sp). Peixe de rio, chuto, prateado, muito saboroso c que attinge a 1 1 2 palmo de comprimento. É abundante durante as cbeias. Papuan} pa n, ou pacuan, (2*1), é uma gramínea do género panicum que fornece tinta amarella. Em qua i todos os peris ou logares alaga 7os cresce esta planta em abundância. Os indígenas, que de tudo tiram proveito nos seus usos domésticos, aproveitam-se das folhas e sementes para com eljas fabricarem uma tinta ama- rella, com que tingem fins para o teçume das redes, e outros ob- jectos de seu uso. Em alguns logares cresce em tanta abundância que forma como que campos. Prepara se a tinta cozendo-se a planta, em cujo cozimento mette-se a fazenda que se quer tingir, tomando esta uma côr amarella. Parobdj peroba (l88? (pe-casca, roò-amarga). Diversas espécies do género Aspidorperma, da família das Apocyneas, tem esse nome, que o vulgo distingue por Peroba -amar cila, peroba-rosa, peroba-assu, peroba-mirim, peroba-pr.eta} p roba-parda, peroba- revessa, per oba-br anca. A P. rosa é a Apidosperma- peroba de r Fr. Ali- E madeira de construccào e marcenaria. Pecary (28) (Dicotyles, sp.), áepe — caminho, caa — matto, e iry — andar junto, os que andam em bandos. Xome dado também ao porco do matto, e de que trata Burlou. Pechunin, pechurim, pichurvm . pticlturini,pixuri, antes pachiry (242) Nectandra puchury Xees et Mart. Fam. das Laurineas. Arvore — 184 — do Amazonas, cujas sementes são aromáticas, empregadas contra dores do estômago e como especiaria. Ha mais de uma espécie. Pequiá, piquihá, pequiá, piqui, piqay (Wo) (pe-pelle, H-espinhor ttá-fructo, fruta de pelle espinhosa, allusão aos espinhos do endo- carpo. Com o nome de piquiá, ha diversas plantas de diversas famílias, assim temos o Pequiá- marfim, Aspidorpcrma eburneum F. Ali.), o P. de folha larga (A. sessifiorum, Fr. Ali.), o Pequiá propriamente dito (Caryocar brasiliurrij St. Hil.), o piquia, ou pequy, do Pará, (C. butyrosum L.) Esta espécie conhece-se no- Amazonas á primeira vista pelo grande diâmetro de seu tronco ás vezes de dez palmos. Fructifica no mez de Abril, e seus fructos são monospermos, porém, ás vezes chegam a ser quatro-spermos. O epicarpo é duro e carnudo, destacando bem do mesocarpo que também é carnudo e muito oleoso. O endocarpo é eriçado de espinhos finíssimos e venenosos. O mesocarpo come-se cozido e mesmo crú, delle extrahe-se óleo, por expressão. E amarello quando liquido e esbranquiçado quando concreto, tomando a apparencia de sebo. Na época dos fructos, famílias inteiras deixam suas choupanas e vão para os piquiazaes, não só para comerem os fructos, como para fabricarem o óleo, de que se servem não só em uso culinário como para luz. A casca do tronco é adstringente e emprcga-se para tinta de escrever e a sua madeira em reparos de artilharia Perahyba ou pirahyba (279) [Bagrus reticulatus Kner.) E o maior peixe de pelle, do Amazonas. E branco ainarellado. A sua carne, de uma apparencia agradável, é comtudo desprezada pelos naturaes por ser muito carregada e má. Só é aproveitada quando o peixe é pequeno ainda, e conhecido por filhote. O nome indígena indica a má qualidade do peixe, de p/rá-peixe, e aiba-mko. Piau ou pihau (28o) Peixe dos rios do Sul. Piassaba, pissava (191) (Leopoldinia piassaba Wal., e Attalm funifera, Mart.) Fam. das Palmeiras. Duas espécies fornecem a fibra chamada 2)/assaoaj tirada do tecido fibroso da induvia da vagina das folhas. Uma a verdadeira, a Leopoldina, é do Eio- Negro, e a outra, a Attalea da Bahia e outras províncias do Norte. Pindahyba, pindauba (W) (Páo de anzol, isto é, que dá fibras para linhas de anzol.) Guatieria Fam. das Anonaceas. E conhecida também por Embira de caçador. Conhecem-se varias espécies, uma. u Guatteria villosissima de St. Hil., é Pindahyba própria, a (7. fiava — 155 — St. Hil. é a P. preta, a outra, a xylopia sericea, Mart., é a P. branca, todis fornecendo do líber bôa cordoalha. As xylopias dão uns fruetos conhecidos prr pimenta do matto e bijiricu, de sabor acre aromático, que se empregam como carmi- nativos e como especiaria. Piracanjuva (281). Pirá peixe, ac«??^-cabeça, yub amarella. Peixe de rio. Pitamba, pitomba (193). Sapinâus edidis L. Fam. das Sapinda- ceas. Arvore das terras baixas, de pouco crescimento, cujos fruetos oblongos e amarellos, em paniculas, sao saborosos, ácidos e refrigerantes. A semente, adstringente, é empregada nas diarrhéas- No Pará ha logares só de pitombeiras, como na Costa de Obidcs- Com o mesmo nome vulgar ha uma Myrtacea, o PhiIocafyx Lus- chnathianus Bg., que cresce na Bahia e tem os fruetos globulosos e também amarellos. Pitanga, ibipitanga, ubipitanga (l94), corruptela de ibipiranga- pelle vermelha, allusão ao epicarpo do frueto. Stenocalyx Michelii- Bg. Fam. das Myrtaceas. Arvore das restingas e terrenos silicosos. Ha mais espécies, como o Stenocalyx siãcatus-Bg., o S. Pitanga Bg. conhecidas por pitanga miúda, pitanga do matto, ou ibirobá (S. ligustrinus Bg.) As folhas sâo empregadas contra dores rheu- maticas e os fruetos, que são calmantes, muito usados para doce. Poya ou Poaya (2"o). Nome dado em differentes localidades a algumas Rubiaceas, dos géneros Borraria, Richardsonia Yonidium, e mesmo a Polygalas, quando tem propriedades eméticas, como a verdadeira poaya, a Cephaelys ipecacuanha. Poraqué (Gymnotus electricus) (278). Vive nos logares lodacentos,. é pardo-escuro, tem a pelle muito escorregadia e a sua força eléc- trica reside abaixo da cabeça. Preha (29). Vide a nota 6. Piitumuyu, ou Araribá rosa, eriribá (195). Pertence á família das Myrtaceas e é uma variedade da Lecythis ovata Camb. Emprega-se nas construeçues navaes e civis. Quandu (30). Vide not. 14. Quariba, guariba antes uariuá (31), quadrumano conhe 'ido tam- bém por barbado e bugio nas provincias do Rio de Janeiro e — 186 — Minas-Geraes. Os índios amazonenses o denominam arauató, e na Goyana é conhecido por alcuate ; é o sapajou e o hurleur dos fran- cezes. Buffon o denomina ouariue, que é a corruptela de ouariuá assim como sapajou é corruptela de sauy-assú, ou macaco grande. Uariua deriva-se de ifã-cauda, e íô-levantada. Conheço as seguintes espécies : Guariba-preta (Mycetes ou Sten- tor barbalus), que habita a margem sul do rio Amazonas ; a G 'uar lha- amar ella , com reflexos dourados (M. seniculus ou ursinus), que vive na margem norte do mesmo rio ; a Guarijuba (M. flavi- inanus) que tem as mãos amarellas e habita a ilha de Marajó • a G. amar dia dos arredores de Belém e que ha também na Guyana (M. Belzebuth), e a M. stramineus que é do rio Madeira. Algumas destas espécies encontram-se também no sul do Império. Aproveito a opportunidade para dar aqui uma noticia rápida sobre outros quadrumanos brazileiros. Os Helopithecus compre- liendem, além do género supra, mais três, o Ateies, o Logothrix e o Cebus. São os maiores Primatos do Brazil, bem conhecidos pela sua cauda núa na parto inferior da extremidade, pelo pollegar muito desenvolvido, pela grande cabeça e pelo grande hyoide, ou tambor osso que tem no pescoço, que se couimunica com o órgão da voz e dá a esta um som rouco e tão forte que se ouve a grandes distancias, todas as madrugadas, ao cahir da noite, ou quando ameaça máo tempo. Andam aos bandos, sào vagarosos no andar, ás quatro para as cinco horas da madrugada gritam em cVo ; dormem abraçados até quasi ás 10 horas da manhã, o que fez tornar-se popular o ditado — madrugada de guariba — , hora em que sahem para o pascigo ; carregam os filhos ás costas ; quando perse- guidos pelos caçadores, que liies apreciam a carne, lançam sobre elles seus excrementos ; se perdem o filho, levado pelo chumbo do tiro, affrontam a morte para apanha-lo ; atravessam largos es- paços formando um cordão, que se balouça no ar, até a da extremidade apanhar- o galho opposto ; cmfim, se não tem a s iga- cidade dos seus congéneres, têm um instincto nuvto desenvolvido. Do hyoide delles fazem 00 in lios copo para beber agua, quando •stão atacados de coqueluche, que denominam tosse de guariba. O género Ateies, Geoff. St. Hilaire, comprehende os macacos vulgarmente chamados G atas, ou Sjrider-monkey, macacos aranhas dos inglezes, nome que deram pelo comprimento dos braços ; no Peru são conhecidos por Chameck. São dos mais intelligentes, — 187 — pacíficos e asseiados. Uomesticam-se facilmente e acostumam-se a dormir em rede, como íive um. São pretos ou cinzentos, pello rare- feito e duro ; têm a cauda agarradora como a guariba, da qual se distingue pelo pequeno volume da cabeça, pela falta do tambor ósseo, e pela pequenez do pollegar. É menor que a guariba, fino e delgado ; anda apegando-se sempre com a cauda, articula um som guttural e quebra os fructos com pedras. Duas espécies são conhecidas o Ateies paniscus de Geoff. e o mary inatas. O A. paniscus é inteiramente preto com a pelle da cara côr de rosa e sem pellos. A cauda que é maior do que o corpo acompa- nha ou previne todos os movimentos deste, de modo que com ella é que o animal se segura, evita o inimigo, fazendo com que passe nos logares mais perigosos sem se desprender dos galhos. Antes das mãos attingirem qualquer ponto já a cauda tem se segurado cm alguma parte. Os maiores Coatás que vi foi no rio Jamundá. Ahi encontrei uma vez um, tão grande como uma guariba, que me avistando procurou fugir pelas ramas mais altas das arvores ; porém, seguindo-o eu sempre por baixo, emquanto espe- rava minha arma, que mandara buscar á canoa, elle notou issoe parou* Quebrando então pequenos galhos, pendia-se pela cauda, soltava o corpo, e, balouçando-se no ar, atirava-me com es galhos. Esta ma- caquice salvou-o. Não tive animo de pagar a sua coragem com uma carga de chumbo. O naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, que por conta do governo portuguez viajou o Amazonas, em 1784, acom- panhado do desenhista Joaquim José Codim e José Joaquim Freire, diz o seguinte acerca da etymologia do nome deste animal : « Não deixarei de escrever o que os Índios fabulisam a respeito deste ma- caco. Dizem elles que, tendo um desafio com um gavião real, este lhe disse : —Com que me pretendes matar? Por ventura parece-te que com o teu rabo me vencerás ? — Então o Cuatá, mostrando- lhe as mãos, lhe disse: Qua-tahâ ! e que, vendo o gavião o seu des- embaraço, lhe protestou que dali em diante seriam muito amigos. > Esta espécie encontra-se em toda a margem do norte do Amazonas ; porém, o A. marginatus só se encontra no Tapajoz. E semelhante ao primeiro, porém afasta-se no signal branco que tem no alto da cabeça e por um bigode da mesma côr branca. Geralmente estes anímaes são apanhados quando pequenos, e depois alimentados ao seio pelas tapuyas. Tomam tal amizade a quem os cria, que os acompanham por toda a parte. — 188 — Depois dos Coatás temos os vulgarmente chamados Barrigudos, por causa do grande desenvolvimento do abdómen. Estes têm a cabeça globulosa, maior dos que a dos Cebuse chegam a ter o ta- manho dos Mycetes ; a cara é pellada, o pello do corpo é curto, basto, lanoso e azeitona do ou cinzento. Domesticam-se com faci- lidade, são os que se tornam mais mansos e tem a Índole mais pa- cifica. Seus movimentos não são rápidos; são tristonhos, têm um gri- tar rouquenho e pouco gritam. A cauda aivxilia-lhes os movimentos. Os indios para os criar flecham-lhes as mãos com a flecha hervada da zarabatana, curam o veneno (urary) com o seu anti doto que é o sal, e apoderam-se dos filhos que tracem agarrados ás costas. Quando mansos, são amigos do homem, a ponto de acompanha-lo, e é o mais interessante pela posição que geralmente tomam. Vivem assentados com as mãos cruzadas sobre a grande barriga, de ma- neira que parece um preto velho. Habitam o Rio-Negro onde os indios Uaupés, fazem de seu pello cordões, com que enfeitam seus pentes, e preparam alguns vestuários de pennas, assim como enfeitam com elles a aljava de seus curabis. Duas espécies se conhecem, o Barrigudo pequeno, l.ogothrix Humboldtii Geoff., e o Barrigudo grande, L. olivaceus, Spix. O L. Ilumboldtii é pequeno, cinzento, tem os incisivos grandes, chatos, maiores que os caninos, porém fazendo pouco uso delles ; os caninos são pequenos, semelhantes aos molares O L. olivaceus chega a ter o tamanho de um Mycete bem desenvolvido, isto é, tem de com- primento o corpo e a cauda ; tem os incisivos chatos, de que faz uso, os da mandibula superior unidos na frente a deixar um espaço para passar os caninos da inferior, que são grandes, cónicos, e servenilhe de arma de defesa. A sua cor é azeitonada tendo a cabeça e extremidades pretas, sen pello lanoso. Ambas as espécie» são do Rio-Negro, onde os indios lhes fazem grande caça, já para comerem, já para aproveitarem as pelles. O Cebus de Erxleben, da familia Cebii de Goldfuss, é o sub-ge- nero que comprehende os m cacos menores, mais lascivos e mais intellígentes do género Helopithecus. A cabeça é mais arredondada do que a do Coatá, tem os mesmos costumes, porém pouco uso faz da cauda, que não é agarradora e sim toda pelludi, e serve-se dos braços que são mais curtos e musculosos, tendo o pollegar comprido. Os srus guinchos 5'gudos fizeram com que fossem denominados mico- chorão, no Amazonas, porém, tem o nome de macacos de prego, pela — 189 — circumstancia de ter o membro viril muito desenvolvido e sempre erecto. E o mais vivo, e que com mais facilidade aprende o que se lhe ensina. Alguns italianos trazem-o seguido de um realejo, para mostrar as suas habilidades. E tão lascivo, que chega a levantar a roupa dis crianças do sexo feminino, e torna-se amoroso com as mulheres, emquanto que com os homens só procura morder quando não são bem mansos. Esta circumstancia faz com que pouco seja proeurado este macaco, e não o queiram em casas de familias. Andam sempre em bandos, criam os filhos ás costas, e chegam ás vezes a ter um tamanho considerável em relação aos dos outros subgeneros. No tempo em que as fêmeas estão gravidas, dizem os indios, que elles envolvem o membro com resina. O que é exacto é que, matando eu um uma vez na serra do Curumú, no rio Trombetas, encontrei o dito membro coberto com uma resina que me pareceu deJutahy. Durante a criação dos filhos são muito amorosos, evitam que comam fructos, pelo que ás vezes os castigam ; quando o caçador mata algum que vai seguro ás costas, a mãi precipita-se sobre elle guinchando, como para o salvar, o que muitas vezes é causa de sua morte. Os naturaes gostam muito de sua carne moqucada. Duas espécies são conhecidas : o Macaco-prego, (Cebus cirrhifer), e o Caia rara (C. albifrons, C. gradilis Spix.) A roupagem do Macaco-prego é cor de rapé, e os seus principaes usos são os que descrevi. O Caiarara, como o Prego, anda também em bandos ás vezes de 30 é, p rém, mais nervoso e dotado de certa irritabilidade, que passa da alegria para a. tristeza em um instante. E mais socegado que o Prego e não tão brincalhão. Sua côr é amarellcnta, tendo uma mancha esbranquiçada em roda da cara e outra preta no aPo da cabeça, tendo a cara pellada e rosada. Preso em casa, geralmente perde essa côr, tornando-se pallida, julgo que por tornar-se doentio. Em seu estado de saúde perfeita, essa côr, segundo a disposição em que se acha o animal, passa de rosado para o pallido, como um individuo que cora e descora por qualquer sentimento. Ambos são gulosos por fructos, porém comem também os ovos de pássaros que encontram. O Caiarara não guincha como o Prego, e o seu guincho é mais rouco, não é lascivo, nem tem o membro tão desenvolvido e sempre erecto. Ha uma outra espécie, o Caiara1 a branco, que não vi. Outras espécies ha no Brazil como o C. fatuellus, mas que não têm representantes no Amazonas. — 190 — Os Geopithecus tem o mesmo numero de molares dos Helopi- thecus, porém distinguem-se pela roupagem e pela cauda quasí sempre muito pelluda, e não agarradora. A fraqueza de seus membros, que faz com que não vivam muito sobre as arvores, levou St. Hilaire a dar-lhes o nome grego que os caracterisa. São menores que os outros, têm a cabeça pequena e arredondada, o focinho não muito proeminente. O grande e macio pello que lhes cobre as carnes, os torna muita apreciados, se bem que não sejam tão brincalhões como os do gé- nero antecedente, e não pareçam termais intelligencia e vivacidade. A sua mansidão, quando domesticados, faz com que sejam prefe- ridos aos outros congéneres. São, todavia, mais mortaes, resistindo pouco tempo ao trato familiar. Comem frutas e insectos, assim como o alimento do homem, porém as comidas gordurosas e sal- gadas são geralmente as causadoras da sua morte. O género Geopithecus divide-se em outros sub-generos que são os seguintes: lithrix Et. Geoffroy de St. Hilaire. Diíferem as espécies deste género das do anterior pela cabeça mais alta, pelos caninos mais curtos e os incisivos largos e direitos, assim como pela intelligencia que não c tão desenvolvida. O pello é mais macio, como que sedoso, cinzento ou amarello, com reflexos dourados. São menores, brinca- lhões, gostam de insecto.*, andam cm grandes bandos, carregam os filhos ás costas e são muito amorosos para com elles. Saltam de quatro pés de grandes alturas sobre os galhos, c, logo ao romper da aurora, sahem para o pascigo. Este sub-genero comprehende os macaquinhos denominados Saguis e pelos francezes Saimiris. Sa- gui é corruptela de Çayui ou macaquinho ; e Saimiri Cay-miry, isto é, macaco pequeno. Tem o pello cinzento, amarellado e a boca or- lada de preto. A espécie mais vulgar nas margens do Amazonas é o Jurupixuna ou boca preta (C. sciureus Geoff). Uma prova de amor e animo tive de um desses macaquinhos. Subia eu o rio Urubu, na provincia do Amazonas, quando uma manhã encontre } um grande bando de Jurupixunas, que se annunciavam pelos seus finos e agudos assovios e pelo movimento dos galhos das arvores. Apenas a canoa em que eu ia, approximou-se da mar- gem, fugio o bando, podendo ainda atirar a um que levava, fugindo, um filho ás costas. Cahio morta a mãi, e o filho teudo ambas as pernas quebradas pelo chumbo, na queda, agarrou-se com ambas as mãos a um galho, ao meu alcance. Quando ia apanha-lo, vi — 191 - dirigir-se furioso para mim, cl amado pelos gritos do ferido, um lindo macaco, que era o pai, como que querendo impedir que eu apanhasse o filho. Quiz experimenta-lo, apontando-lhe a mesma arma, que quasi a boca do cano o encostava. Correu pelo galho acima, escondeu-se atrás do tronco gritando e me espreitando. Apenas tirei a arma da cara, voltou elle e veio até onde estava o filho que então mais gritava. Tornei a apontar a arma, tornou a fugir e a voltar, e assim diversas vezes o amedrontei. Afinal quiz ver o que fazia, deixei-o approximar-se do filho. Apenas chegou ao pé do filho, quiz este se agarrar, porém, não podendo fazer uso das pernas não o conseguio. Então o pai, agarrando-o pelo pescoço, puxou-o para si, mas com tanta infelicidade que, apenas ia princi- piar a conduzi-lo, com o desassocego em que estava, abrindo as mãos, largou-o. Não podendo elle agarrar-se, cahio n'agua. Ainda assim o pai desceu aos ramos mais baixos e parecia querer salt r para ir buscar o filho, quando eu, vendo que este se afogaria, o apanhei. Gritando, fugio então o pai, buscando o bando que ia longe. Outra espécie muito vulgar na margem sul e para o interior é o Qaiapuçá, C. Moloch de Hoffmansegg. Tem o pello comprido, pardo, com as mãos brancas e é estúpido e negligente. Anda em pequenos bandos de cinco a sete. Os indios Mauhés servem-se dos parietaes do cranco para tapar o búzio em que guardam o seu paricá. Em Juruty e Maraca-assú abundam esses macacos. Ha ainda outras espécies, como C. brunneus Natterer, chamado Juruhy ou boca d' agua, e os C. torquatus, C. cupreus, C. amictus Geoff. Pitheeia de Et. Geoff. St. Hilaire e Desmarest. As espécies deste sub -género afastam-se algumas pelo comprimento dos pellos e pela cauda, que é muito cabelluda, em forma de pennacho. Andam também em bandos, que dormem juntos, abraçados aos casaes, que, confun- didos os pellos, nelles escondidas as extremidades, e envoltos pelas caudas, parece um só animal. São macacos estúpidos e tristonhos, tornando-se procurados pela sua roupagem, docilidade e união ao homem. Presos, pouco duram no captiveiro. Têm os caninos pouco desenvolvidos, cónicos, passando os inferiores em um claro deixado pelos incisivos, entre os caninos superiores. Andam nas mattas das terras firmes, e duas espécies distinctas se co- nhecem. Uma da margem norte do Anazonas, Pithecm irrorata ou hirsuta Spix, e outra a do sul P. albicans, uescripta pelo ~ 192 — Dr. Gray. Vulgarmente tem estes macacos o nome de Parauacus. A. P. hirsuta, o macho é todo preto, coberto de longos pellos ásperos e negros, tendo BÓmente a cara amarella com barbas da mesma côr dividida em suissas, e a fêmea é toda parda grisalha, tendo os pellos também longos, porém mais tinos. Tendo barbas como o macho, não são comtudo amarellas e sim da mesma côr do corpo. A sua carne é saborosa, e da cauda fazermse espanadores. A P, albicans é semelhante á fêmea da P. hirsuta, porém é menor, não tem barbas e o focinho é um pouco comprido. Os cabellos da cabeça cahem sobre a cara. Quer o macho, quer a fêmea são da mesma côr. Uma outra espécie ainda existe nas florestas da margem norte, é o Cuchiú, P. satanás de Humboldt, ou Brachyurus Israelita de Spix. Tem esta espécie o pello curto, luzente e negro, a cauda ca- belluda como as precedentes e a cabeça maior, c m os cabellos divididos ao meio, c mo penteados, assim como a barba. A boca é vermelha. E maior, tem mais vivacidade, e pouco duram no r captiveiio. E o mais bonito deste sub-genero. Vive igual.i ente aos bandos e pasciga também á noite. Encontrei-a no rio Trombetas. Brachyurus de Spix. Este sub-genero comprehende os Uacarys ou Scarlat faccd dos inglezes, macacos de cauda curta, únicos no lirazil que a tem qua^i rudimental. Na dentadura ha uma diííerença entre os d'este género : os incisivos suo oblíquos, sendo os da maxilla inferior mais longos estreitos e quasi da altura dos caninos ; e os da maxilla superior se unem ti deixar um espaço vnsio para deixar passar os caninos inferiores pela frente dos superiores. Os caninos são cónicos, agudos; grandes e semi-obliquos. Habitam os igapós ou florestas alagadas, andam em bandos, alimentam-se de fructoá, e, como outros congéneres, também carregam os filhos ás costas. São esbranquiçados, têm o pello longo e luzento, a cara vermelha, e os olhos pardo-amarellados. E a cara mais interessante dos Primatos. E difficil de domcstiear-se e raras vezes ficam mansos ; mas, quando ficam, gostam de affagos, apezar de serem carrancudos e impertinentes. Pouco duram no captiveiro, perdem um pouco a eôr vermelha da cara e poucu depois morrem. Consegue-se ter algum vivo e manso, tirado das mais quando pe- quenos e criados em casa \ assim me mo raro escapa. São muito Taros. As espécies conliociaas, são : o Brachyurus Kahary ae Spix, l£á o B, alòescens do Dr. Maia, e rubicundus Isid. A penúltima espécie foi classificada em 1845 pelo finado D.-. Maia, porém, tendo sido reinettida uma pelle para o museu de Pariz, Isidore Geoffroy de- nominou-a B. caluus, desprezando a classificação do naturalista bra- zileiro e com esta denominação é hoje conhecida. Reivindico aqui a denominação do Dr. Maia. Nyctipiihecus de Spix, ou Nuthora de Cuvier. E um subgenero de macacos nocturnos, vulgarmente conhecidos por Heá ou Catai, e que os inglezes denominam Owl-faced — cara de coruja. Habitam as florestas das terras firmes, e fazem o seu pascigo á noite, que consta de insectos e fructos. Durante o dia dormem. São pequenos, tendo a cauda maior do que o corpo. São pardos ou cinzento», tendo a cara semelhante á de um gato, de pelle esbranqui- çada, o focinho curto, a boca pequena, orelhas curtas quasi enco- bertas pelos cabellos, os olhos amarellos e vivos. Vivem em bandos, e durante o dia dormem sobre as arvores, desper- tando-se, porém, oo menor ruído. Não têm a vivacidade doa Cebus, porém facilmente se domesticam, não sendo longo seu viver. Habitam o baixo e o alto Amazonas; encontrei-os uma noite no Alto-Tapajós, no logar denominado Mamboalry, onde, sobre a arvore cm que eu dormia, chegou o bando, podendo apenas obter um indi- viduo do N. trivirgatus Humb. Tem esta espécie a testa esbran- quiçada, com três listras, que vão até ao alto da cabeça. Uma outra espécie encontrei na província do Amazonas, o X.felinus Spix., cujas listras só chegam ao alto da cabeça. Archopithecus. Dentes -41ií Comprehende este género, os lin- dos macaquinhos conhecidos por Sauhins, saguins ou micos, e nelos francezes Ouistitis. No sul do Império são conhecidos por Tamarindos {Tamary) ou Mariquinhas (marikina). Afasta-se ck> género anterior pelo numero de molares (10), pelas unhas, que bão como garras agudas e em todos os dedos, á excepção dos pollcgares das extremidades inferiores, pela cauda, que não o auxilia nos movimentos, e pela forma do pollegar, que não é opposto aos outros dedos nas extremidades superiores. Tem a cabeça re- donda, focinho curto, cérebro volumoso, olhos redondos e vivos, pelo que são vivos e intelligentes. Seus pellos são sedosos, escuros, pardacentos e brancos. Domesticam- se facilmente e vivem muito tempo, comendo mesmo as comidas do homem. Preferem as capoeiras ■c cerrados ás florestas, oceultando-se só nos altos galhos quando G. v. 13 — 194 — temem algum perigo. Os gaviões, principalmente o caaré (Falco, sp.), dão-lhes muita caça. Diversas espécies ha d'este lindo e esperto animalzinho, comprehen lendo os subgeneros do género Hapale, Jacchus, Cayuis e Midas, (Marikinas de Et. Geoffroy de Saint Hilaire). São conhecidos no Amazonas por macacos da noite. O Jacchus tem os inci sivos inferiores pontudos, iguaes aos caninos e a cauda muito pelluda, ás vezes em pennacho. O Jacchus pyg meus é a espécie mais notável pela pequenez e pela cor negra, que cobre todo o corpo, á excepção de uma mancha branca em torno á boca. O Jacchus argenteus, cuja roupagem é branca ar- genteada, com o focinho róseo. Vulgarmente é conhecido por — maca- quinho de cheiro. E um lindo animal. Os Midas differem dos precedentes em ter os caninos maiores e os incisivos mais largos assim como a cauda é mais pelluda. As es- pécies que se encontram são o M. ursulus. cujo pello macio e es- pesso é preto, tendo uma listra amarello-parda no meio das costas ; o M. leoninus Humb., cuja pbysionomia é toda intelligente e mostra a sua vivacidade. Tem o pello sedoso, muito compacto, preto mes- clado de amarello ; as extremidades calçadas de amarello ; e a cara com uma expressão de um pequeno leão. Trepa em troncos direitos, saltando e agarrando- se com as unhas, é muito amigo de comer insectos, e louco por ovos e carne crua, fazendo-lhe esta mal. Tive um, que, muito manso cominigo, não deixava comtudo ninguém encostar-lhe a mão, que nâo lhe cravasse os afiados dentes. Dan- do-lhe um dia uma mamangáva (Lasia) recuou franzindo a testa c es- condendo as mãos, dando mostras de medo, e como cu teimasse procurou morder-me. Tinha logo ;i primeira vista reconhecido que era um insecto que o ferraria. O M. rujini:/cr, de Gervais, tem os mesmos hábitos dos precedentes; parece se com o M. ursulue, porém têm longos cabellos brancos que lhe circumd im a bo a ; o M. ru- fiventer tem as costas escuras e a barriga preta e avermelhada. Quiry, quiri, quiruiri, quirari, quiriry em Minas, o Frei Jorge no norte (196). (Cárdia frondosa Schot.) Fam. das Cordiaceas. A madeira é quasi sempre empregada cm bengalas, e em obras de torno. Sabiá (82). Com e^te nome conhecem-se varias espécies de tordos, espalhadas por diversas províncias, sendo no Amazonas conhecidas pelo expressivo nome de uirachué, isto é, uirá — pássaro, e chué — chorão. — 195 — São ellas as seguintes : Sabiá assu (Turdus atricapillus L.), Sabiá piranga ou de larangeira (T. ruflventris Lichst.), Sabiá poça (T. albiventris Spix.), Sabiá-piry, ou da praia (T. lividus) e Sabia- una (T. fiavipes). Saliy, por erro Sapy (83). Com este nome conhecem-se varias espécies de avesinhas, todas cobertas de linda plumagem verde e azul, pertencentes ao género Tanagra. Sâo frugivoras, e pouco cantam. Sanhaso ou Sahasso (8/*), corruptela de Sahy-assu, que passou r também a Sanhassu {Tanagra episcopus). E de um verde acinzen- tado e ás vezes o confundem com outra espécie do Príncipe de Neuwied, a T. palmarum. Sapé, sucapé e massapé (2'»3), no rio Jamundá. Gramínea dos terren s áridos, e que enfraquece as terras. Dizem que entisica os anim es quando empregado em acolchoado de cangalhas. A raiz é sudorífica e substitue a da grama. Sapucay ou Sapvcáya (l9?). Família das Myrtaceas. Com este nome suo conhecidas diversas espécies, todas do género Licytfris, taes como a L. Pisonis Camb., ai. lanciola a Poir, a L. Pohli Berg., a L. urnigera Mart., a L. Amazona ia Mart. , a L. aliaria e outros que não só crescem nas mattaa dando arvores co ossaes, como pelas margens dos rios. A madeira é branca e pouco em- pregada. Os seus fructos, que são grandes e ósseos, têm dentro as sementes que é o que se come. Crescem em todo o Império. Saiípcj saupé(2M). Peixe dos rios do sul de Minas e S. Paulo. Saroké ou gambá (32). Vide a nota 9 e Cangue, Savia, ou saviá, antes sauiá, género Cavia (33). Vide a nota G e Cangamuá . Sereima, seriema ou siriema (a que tem crista) (85). Ave dos campos de Minas-Geraes, de piar triste, e que se alimenta em geral de cobras, pelo que se criam domesticadas em roda das casas. E o Dicholophus cristatus de Hjff. Sipó,cipó} cipó-cururu, ou sipó de sapo (244). Anisolobus cururu Muell., fam. das Apocyuaceas. Cresce na província do Amazonas e é tido como venenoso. — 196 — Sipota ou sapota. Será o sapoty ou a sapota? (265). Ambas crescm no Amazonas, são arvores elegantes e pertencem á família das Sapotaceas. A primeira é ãLucuma mammosa Gaert., e a segunda é & Sapota adiras Mill. Quando os fructos estão bem maduros são muito apreciáveis pelo seu gosto delicado. r Sobro] (198) . E palavra portugueza dada a uma arvore exótica chamada também sobreiro (Qaercus suber), cuja casca dá a cortiça empregada em rolhas e outros misteres. Sociij soco (86). Longirostro das margens dos rios e lagos, do género Ardea, no qual se comprehendem diversas espécies, de cores differentes, desde o branco ao cinzento ou pardo. O socó-boi é o mais notável. Tem um viver triste e um voo pesado e desengra- ç^ido. Alimenta-se de peixes, carangueijos, caramujos, etc. Sorubim, surubin, soroby (284). E o Pimelodus tigrinus, peixe de pelle branca prateada, manchada' de preto azulado, cuja carne é saborosa. Ha muitos nos rios afíluentes do Amazonas. Nos rios de Minas também ha um peixe com esse nome, porem não sei se é o mesmo. Sumaama, sumaumeira (199). (Erioãendrum sumaúma, Mart.) Fam. das Malvaceas, Esta é a rainha das arvores do Brazil não só pela sua elevação, com pela sua grossura, frondosa ramagem, e lindo aspecto. Elevando -se acima de toda a vegetação da margem do Amazonas e Solimões, e distinguindo-se de longe, torna-se ainda notável pelas suas enormes sapopemas, onde, entre uma e outra, podem accommodar-se ás vezes vinte a trinta pessoas, assim como dous mil homens em columna cerrada gozariam de sua sombra. Fornece esta bella arvore uma linda paina alva, que quasi toda c perdida pela grande elevação em que ficam os seus fructos ; comtudo, é mais estimada e mais procurada do que a da monguba. Os Tecunas, os Uaupés, os 1 canas e outros gentios a empregam nos seus uamiris, que trazem em saquinhos de turury do nbussú. Quando querem colher o frueto que é alongado como um pequeno melão, derrubam duas ou três arvores, para muitas vezes não colherem nem quatro arrobas . Habita muito nos troncos e galhos deli i a mãi do sol, Bvprestis yigantea. Das duas sementes cxtrahe-se um bonito óleo próprio para luz '■> cada semente contém uma decima parte pouco mais ou menos de matéria oleosa. — 197 — Darei aqui uma noticia de outra da mesma família, extraliida das minhas notas sobre a Flora Amazonense, a monguba ou mun- gubeira. É uma das arvores que mais caracteriza os terrenos amazonicos. Em todo o terreno de alluvião, do grande rio, assim como em toda a sua margem, se ostenta esta arvore, já coberta de lindas flores, já despida de folhagem e coberta de longos fructos vermelhos avelludados. Attinge um grande desenvolvimento quer em altura, quer em grossura, e, apezar de sua madeira ser molle e esponjosa, é empregada em canoas, que, com o correr dos annos, e com o limo que cria por fora, torna»se de muita duração. O Sr. Robert, Hogg refere que, na viagem de Christovão Co- lombo á America, encontrou este em Cuba uma canoa desta madeira com 00 palmos de comprimento c largura proporcional, que podia accommodar 150 homens. Cresce também na Ásia, princi- palmente cm Cantão, onde os Chins a denominam Moc-nuiin, e utilisam-se da madeira. Não se aproveitando aqui a madeira, também despreza-se a linda seda que seus fructos soltam aos caprichos do vento. Raro é aquelle que se utilisa da paina, que todo o Império importa, e que só o valle do Amazonas podia para todo elle fornecer, constituindo uma industria e um grande ramo de commercio. Da mesma cor parda que esta tem outra espécie a piriquiteira, macia, sedosa conin cila ; leva porém a palma, não só na abundância dos fructos, como na qualidade d a paina que cada um frueto fornece. Esta paina, que rivalisa com a da Chorisia speciosa, que impor- tamos, em outro paiz seria aproveitada, emquanto que aqui raro é o que delia se aproveita. A não ser uma ou outra tribu de indios que a emprega nas suas flechas, vamiris de zarabatanas, ou uma ou outra pessoanas suas almofadas, ninguém mais faz caso delia. O facto de não usar-re colchões e almofadas, pelo emprego constante de rede por toda a população, é uma das causas do desprezo da monguba. Da casca tiram fibras, com que fazem cordas, por este modo : Arrancam a casca e a deixam amollecer por espaço de algumas semanas dentro d'agua ; depois tiram as fibras que ficam soltas, por apodrecer o tecido cellular, lavam-as e deixam seccar ao sol. Suracucu (2-1) (Trigonocepkalus lanceolatus). Cobra curta, grossa, preguiçosa, que não ataca o homem semser tocada, tornando-se então feroz, chegando a persegui-lo. É uma das mais venenosas. — 198 — Vive nos logares sombrios e sujos das mattas, ás vezes procura os paióes onde se aninha. Susuapa^a antes suasuapara, ou galheiro, isto é, suasu — veado, apara — torto, veado de chifre torto. (34) E um ruminante do género Cervus, cajá denominação especifica não conheço. Além do matteiro (C. rufus), do campeiro (C. campestris) e do Suassu-assú (C. palu- dosus), ha a espécie de que se trata, e o anhangá do Ama- zonas. Susuarana, (35) ou suasuarana, ou tapyra yauara, de iapyra — anta, yauara — carniceiro, o que come antas ; é o cougouar dos francezes, o puma do Chile. Antes de apresentar as espécies que conheço, darei a etymologia do nome que caracterisa este grupo de onças. O Sr. Dr. Liais, na sua obra « Climats, geologie, faune du Brèsil » quer que suassurana seja derivado de Çuçuacoara , assim como couguar se deriva também de Soasoarana, cougouacouara, Çugua- earana. Poderá ser assim, porém, penso de modo diverso, e com- migo creio que os habitantes do Amazonas. Çuçuacoara, segundo a sua orthographia, quer dizer cora de veado, de suasu — veado, e voara — cova, buraco, e não significa çu, o sustento, cuacu — cobrir e ara— final, para marcar habito, como o mesmo senhor traduz. Para mim suassurana ou sussarana deriva- se de suassu — veado, e rana — que não é verdadeiro, feita referencia á cor do pello desses carniceiros. A seu turno suassu deriva-se de tessá ou sessá — olho, e assu — grande, referencia aos grandes olhos dos veados. Se çuaçuacoara, pela etymologia do mesmo senhor, indica um habito do animal, também çuçuarana distingue-o das outras espé- cies, mostrando que, se bem tenha o pello da côr da do veado, comtudo não o é. O índio distingue sobretudo os indivíduos do reino orgânico, pela terminação rana, embora sejam espécies e até gé- neros diversos ; basta ter uma semelhança para ser ella applicada. Poderíamos citar muitos exemplos para provar isto, quer no reino animal, quer no vegetal, mas basta este : surucucu-rana, que é um ophidio differente de outro surucucú, mas que tem alguma seme- lhança, sem ser o verdadeiro. Três espécies distinctas de Çuaçua- ranas são conhecidas : a Suassurana — eté ou piranga, a de lombo prefo ou pixuna, e a caiarara. A suassurana-eté, ou piranga (Felis unicolor Trai 11., ou F. su- cuacuara, Liais), é a maior, porém cujos instinctos são menos — 199 — -sanguinários. Tem uma cor russo-avermelhada pelas costas, cabeça •e barriga, com garganta e queixo brancos. As pontas da cauda e das orelhas são pretas, assim como os bigodes e beijos. O pello não é tão macio como o das jauarités ou onças, e o seu compri- mento regula o da F. jag capara. A Ç de lombo preto ou pixuna (F. Concolor L.) é menor, mais esguia, e distingue-se pela cor, que a terceira espécie tem dous dedos nas mãos e quatro nos pés. As pernas são curtas, seu andar vagaroso, por se firmarem somente no lado externo dos pés, tendo sempre as unhas dobradas sobre as plantas. Tem um viver quasi nocturno, passando os dias sobre as arvores onde aninham-se em montes de folhas seccas sobre os galhos ou cipoadas, á excepção da maior espécie, como veremos. Alimentam-se geralmente eó de formigas. As afiadas unhas das mãos dão-lhes uma terrível arma defensiva, não tendo outro meio de salvar-se dos inimigos. A espécie mais notável e maior é o Tamanduá- assu ou bandeira, o Myrmecophaga-jubata de Linneo. O nome indígena tamanduá, segundo Martius, é composto das pa- lavrt.s, taixi- formiga, e ?/n//*c?é- armadilha, pelo costume que tem de exporem a lingua dentro de um formigueiro, quando cheia de formigas, recolherem-a. A verdadeira etymologia julgo ser : taxi- formiga, e monduá—o caçador de formigas. É dos mais lindos animaes, apezar de sua forma semi-grotesca. Tem o corpo alongado com lm,4 de comprimento fora a cauda, que tem quasi a mesma dimensão ; o pescoço curto e a cabeça e focinho comprido. Todo o corpo é coberto do longos pello?, que, divididos, cabem sobre os flancos, de uma cor cinzenta um pouco parda para 09 lados, tendo uma facha preta de cada lado do peito, que, unindo-so nas costas, prolongasse um pouco pelo fio do lombo, diminuindo. A cauda é toberta de longos pcllos brancos e pretos, que, quando levantada, fluetuam com o vento, donde lhe veio o nome de bandeira. Geralmente andam com ella a rasto ; porém, quando se irrita ou está ao cio, levanta-a com graça. Para dormir ou quando chove mette o focinho entre o pello do peito, ajunta as unhas das mãos com as dos pés, e — 201 — dobra a cauda sobre as costas para resguarda-las. Não tem a cauda agarradora e não o auxil'a ella nos movimentos, pelo que não trepa nas arvores, como as outras espécies auxiliados por ella. Não é animal sociável e tem o andar vagaroso. É inoffensivo, defendendo-se só quando atacado. Como tem um olfacto muito fino, presente ao longe o inimigo, e, em vez de fugir, geralmente o espera, pondo-se de pé sobre os pés. Suas armas defensivas são as grandes unhas moveis das mãos, que se entranham nas carnes dos aggressores. Geralmente só larga a presa quando morta. Atacado pelos cães, espera-os, e, quando ao seu alcance, de costas no chão e espera-os de bruços e pernas abertas, e ai do que chegar-se ! E o maior inimigo da onça e único do qual ella não se livra e morre nas suas garras. Atacado, abraça-a, e enfiando as unhas, que mais não abre, luta com ella no chão, até expirarem, quasi sempre ambos. Presa uma vez, por mais esforços que faça, a onça não se livra desse amplexo mortal. A sua força muscular é prodigiosa, e depois de morto ainda têm grande irritabilidade os seus músculos. Anda geralmente pelos campos, onde cava os formigueiros e casas de cupim, e mettendo a lingua nelles, vai recolhendo-a logo que se acha cheia de formigas ou cupins, até saciasse. Nada e atravessa bem rios. Geralmente só têm um filho que conduz agarrado ao pescoço. Da cauda fazem-se lindos espanadores e o couro é bastante forte. A outra espécie é o tamanuá ou tamanduá propriamente, o M. tetradactila de Linneo, M, tamanduá de Desmarest, ou Taman- duá braziliensis de Liais. A côr desta espécie varia consideravel- mente segundo a idade, sendo de ordinário amarello-pardacenta, com duas listras pretas, ou muito escuras, que, partindo obliqua- mente das espadoas, dirige-se pelos flancos e vem unir-se na anca pouco acima da cauda, esbatendo-se a côr lateralmente. O seu comprimento regula 60 centímetros, fora a cauda que tem outro tanto, e que é agarradora e pellada na extremidade. Tem qua- tro dedos nas extremidades dianteiras e cinco nas trazeii as, armados de unhas, das quaes as maiores são as das extremidades dianteiras. Como o tamanduá-assú, vive também de formigas, cupins e também chupa o mel das abelhas que encontra nas arvores, onde sobe com facilidade, se bem que lentamente, e faz o seu ninho no qnal passa quasi todo o dia. Quando atacado, também defende- se com as unhas, deitado de costas, e, uma vez que agarre a presa, — 202 — difficilmente a solta, sendo preciso quasi sempre mata-lo. Se bem que seja variável a côr (Testa espécie, comtudo existe uma outra, cuja côr, sendo também variável, tem constantemente ausência completa das listras pretas, que bem o caracterisam. Mede esta de comprimento 60 centímetros da ponta do focinho á raiz da cauda, que tem 50, e é agarradora. O pello, que é curto e áspero, é amarellento na cabeça, nas extremidades e na cauda, onde na raiz é maior, tornando-se depois raro para a ponta da mesma, que tem um espaço de 20 centimetros quasi pellada e escamosa. Nesta porção a cauda é manchada de preto e branco, quasi annelada. A côr do pello do dorso e dos flancos é pardo-escuro-amarellado devido a três anneis que tem cada pello, sendo o do meio pardo- escuro quasi preto e os outros amarellos. Os pellos do abdómen são menores e compostos de pretos e amarellos, não annelados. Sobre as espadoas, tem malhas negras subtriangulares, que destacam- se da côr amarellenta do pescoço e cabeça e da parte superior das extre- midades.Tem quatro dedos nas extremidades dianteiras, armados de unhas, das quaes a terceira, internamente, é a maior, de 0n,,042 de comprimento, curva, plana por baixo, comprimida lateralmente e convexa por cima. (O primeiro dedo interno é quasi rudimentar, e o quarto pouco maior). A segunda tem a metade do comprimento da terceira. As extremidades trazeiras têm cinco dedos, armados de unhas também curvas, porém todas iguaes 0n,,02 de comprimento. O focinho é comprido, os olhos muito pequenos e as orelhas •oblongas, quasi pelladas, com 0n,,03 de comprimento. Vulgarmente é chamado tamanduá-y da vargem, e por diversas vezes o vi sempre com a mesma disposição de côr. No lago Canaçary, em Silves, matei um que dormia em uma arvore do igapó, e nas costas do Paru, á beira do lago, matei outro, ambos com a mesma côr, sendo, porém, este ultimo fêmea. Só tinha duas mamas pei- toraes. Mais duas espécies são conhecidas pelo nome de tamanduá-y (ta- manduá pequeno), uma o M. didactyl i, de Linneo,e outra não classi- ficada ainda, e vista também por Henri Bates, quando no Amazonas. Distingue- se o tamanduá-y das outras espécies, não só pelo seu pequeno tamanho 0n,,30, pelo numero de dedos dos membros, que é de dons nos anteriores e quatro nos posteriores, como pelo seu pello comp turaes a empregam em differcntes moléstias com vantagens. Ticum, tucum (208i. Âstrocaryvm vulgare Mart. Família das palmeras. Arvore que cresce no Solimões, que dos grelos dá exceli' nte fibra, conhecida [ or tucum, empregada em cordoalha e em redes. No Rio de Janeiro confundem esta espécie com o Bactris marajá Mart. Tijuassiij antes teyuassu (39), vulgarmente conhecido por lagarto, saurio do género Acrant Timbó (2Í8). Em quas' todas as províncias em que emprrgam o veneno vegetal na pesca, as plantas que a isso se prestam têm o nome acima, pelo que diíiicil é especificar a planta, que va ia se- gundo as provincias, e mesmo segundo as localidades. O verdadeiro timbó é a Paullinia pinnata de Linneo, que é um veneno narcótico e acre, geralmente empregado só contra os peixes. As raizes e caule-, socados e lançados nas aguas pouco correntes de um rio, mata ai todo o peixe que por ellas passa. Ataca geralmente no lio i;em o cérebro e os iins. O peixe apanh; do por esse pri cesso, post > que não offen a a quem o come, comtu o em poucas horas ri a de eriorado. Leis espejiaes ha no Pará contra o emprego do timbó. Tiihuhyba,timbahyba, timbuiba, antes timlóyba (205). Madeira venenosa (Enterolobium iimbmvaM-ATt.) Fam. das Legum no-^as. Cre-ce em Minas, Ceará, Bahia e Rio de Janeiro, e tem o cerne — 208 — amarello-assetinado, empregad ) em construcções civis á sombra. A variedade canescens é conhecida por tamboril. Creio que as folhas são empregadas como timbó, para tinguijar o peixe. Tingarâ ou tangará (88). Ha diversas espécies de aves com este nome, todas do género Tanagra. Tinguacyba, tinguassiba, antes anguacyba arvore de pilão (206). (Xanlhoxylon spinosum). Fam. das Rutaceas. Arvore espinhosa, cuja ma 'leira é empregada na marcenaria e construcções ciris. E do sul do Império. A casca da raiz consideram como proveitosa nas mordeduras de cobra. Tinguy, tingui (207). Com este nome ha differentes plantas de di- versas famílias, todas empregadas na matança dos peixes nos lagos e rios. No Pará e Amazonas são Tephrosias, na Bahia Jac- quinias, e em Minas Magonias. Todas são toxicas. Trahira, taraira, tral/yra (286), (Erytlirinus. sp.) Peixe das cabe- ceiras de rios e aguas paradas. É de pelle parda-escura, muito voraz, e cuja carne, posta que saborosa, é muito espinhenta. Tucano (9o). Zygodactilo representado por diversas espécies, como o Tucano de papo branco ou assú (Ramphastus toco), T. de papo amarello (i?. ariel), T. de papo cor de canna (11. discolorus), T. de bico encarnado (JR. erythrorhincus.) Timga, Tumbyra (}") é o bicho do pê, muito conhecido no Brazil, que dá nos porcos, nos cães e também no homem. Tvyuy ou Tuyuyu (89), conhecido no Amazonas também por Pas- sara). Pelas vasantes andam cm grandes bandos pelas margens dos lagos. São brancos, com os olhos, as azas e as pernas pretas. Edi- ficam seus rudes ninhos no alto das grandes arvores. Só põem dous ovos. Dizem os indios que um ovo sempre gora, e o filho que sahe acompanha sempre a mai até Banir outro que forme casal.No começo das cheias começam também os seus amores. E um pássaro triste. O nome uyuyu significa — o palustre, ou o que come lama. Tyhè, tapiranga ou tiè tié-sangue, tié-berne, é o liamphocelus brasiUus (íij. É de quasi todo o Império. É vivo, de um natural turbulento, fácil porém de caliir em qualquer laço, anda cm pe- quenos bandos e suistenta-se de fruetos, principalmente os da aroeira. Seu brilhante colorido vermelh > o torna notável. No Ama- zonas ó oonheeid > por Pipird. — 209 — Ubussu (21'J) (Manicaria saccifcra Marí.) Fam. das Palmeiras. Cresce esta espécie na região costeira do Pará. Só empregam as folhas, que sào semelhantes ás da bananeira, e cuja duração em uma coberta de casa vai alem de vinte annos. Ubussu vem de ob- folba, e luissu-grunde. Urubu (92). Rapace muito conhecida. Ha três espécies, o Urubii commum (Catlarihes jota), o U. gercua (C. aura)j e o U. de cabeça h anca. Esta espécie encontrei próximo ao Eréréj no Pará. Não anda em bandos e sim aos casaes. Procura as mattas. Os filhos, quando novos, são cobertos de pennugem branca. Urucatu (2&o). Orchidea ? Amaryllidacea? Maregrave dá o nome de urucatu a uma orchidea ; mas, segundo Martins, ha algumas Amaryllis venenosas que tem esse nome. O nome é derivado ôeyuni- boea, e catu-hon, o que parece referir-se antes ao labello de uma orchidea. Urutu, Bixa orelhma Linn. (251). L a planta mais querida dos indius, que empregam a sua tinta j nào só na pintura do corpo como para tingir seus enfeites e suas redes; O pigmento que cobre as sementes é empregado na arte culinária, e alguns médicos o indicam como de utilidade nas moléstias cardíacas. Uru cu (2c6). O autor diz que provavelmente é a romã (Púnica granata Linn.), mas não o creio. Esse nome só é applicado á Bixa Orellana. Urucurtaba} urucuriyba, urwcury (200) Âttalea excelsa Mart* Fam. das Palmeiras. Cresce no baixo e alto Amazonas. É uma bella planta, cujo iiueto é empregado como o melhor na fumei- g-.çào da borracha. Utracuparpj bacojiarp, bacopari (28") , É uma Rubiacea, a Gardénia suaveolens Vell., que cresce nas mattas. Com esse nome ha ditfe- rentes espécies de fruetos que se con.cm, mais ou menos agradáveis ao paladar. * Yinhatico (210). Com este nome ha diversas arvores da família das Leguminosas, que vulgarmente se distinguem pelos nomes que se lhes pospõem. Assim temos o Yinhatico do campo (Enterolulium o. v. 14 — 210 — ellvpticum Benfli., e Plathimcnia reticulata, Benth.), e outras, todas dos géneros citados. Conhecem-se e são empregados na marcenaria , nas construcções civis, as seguintes : Vinhatico chamalote, amarello, do matto, olho de boi, pardo, falso, ondeado, roxo, rosa} testa de boi, flor de algodão, cabelleira, e orelha de macaco. V J - ■ ■' -*-