o FAZENDEIRO DO BRAZIL, CULTIVADOR Melhorado na economia rural dos géneros já cu]ti« vados , e de outros , que se podem introduzir : e nas fabricas , que lhe sâo próprias , se- gundo o melhor, que se tem escri- to a esie assumpto : DEBAIXO DOS AUSPÍCIOS, E DE ORDEM DE SUA AI. TEZA REAL príncipe regente, NOSSO SENHOR. Colligido de Memorias Estrangeiras POR FR. JOSÉ MARIANO DA CONCEIÇÃO VELLOSO. Menor Reformado da Provinda da Conceição , , do Rio de Janeiro , etc. TOM. IL PARlTlll! Cultura do Cateiro , e criação da Cochonilha, A TÇr N O. M. ir»CCC. NA OFFICINA DE JOAÔ PROCOPIO CORRÊA DA SIl' SEN HO R. X ENHO a indizí^vel satisfação , e hon- ra ^e poder apresentar a V^, A, H, himia repetida , e não interrompida prova de minha obseruancia as Heaes determi^ nações de K, A, li. na continuação do Fazendeiro do Brasil , fazendo subir pre- sentemente á sua Augusta presença , jà traduzido o Tractado^ sobre a cultura do Cateiro cochonilha^ conhecido pelos Hes- panhoes Mexicanos pelo nome de No- pal ; e pelos nossos Brasilianos pelo de XJrumbeba , e da creação do precioso pr o- galinsecto , conhecido pelo nome de Co- chonilha , composto pelo zeloso Medico Naturalista M, Thiery de Menonville , como resultado d'huma viagem feita a Guaxaca d' ordem ministerial só para observar , e poder- se , em virtude de suas observações , introduzir na Ilha de S, ^ ii Do* IV Domingos , ciíjó Tractado constitue o objecto da III Pa?te do II Tomo do Fa- zendeiro , que constará de dons ^volumes , deste , em que sò f aliará Menonville , e de outro , em que procurarei dar outras peças fugitivas do mesmo Auctor , e de outros , e lhe ajuntarei duas Monogra- pJiias , huma da planta , e outra do pra- gal insecto. Queira o meu zelo pelo Real ser^viço de /^. A, H, , epelo bem conimum dos po- lvos , entre os quaes nasci , suppj^ir os re- p et idos defeitos , em que me fazem cahir as minhas débeis luzes , e o ardente ze- lo de sern)ir sem perda de tempo, IS^a verdade, Senhor , devendo ha- *ver na Economia rural estabelecimentos Georgicos , ou Agronómicos , que se ha~ jão de conformar à maior e menor poS' sibilidade dos seus gi^angeiros , ou emprei- teiros , as terras solares , ou d' entretropi- cas, onde V, A, R. gloriosamente esten- de os seos dojninios , entre outros mui- tos de semelhante natureza , offerece es- te , que sem hesitar por hum só momen" to ^ to, no cfiieãigo , excede a tudo , quanto se •pôde imaginar a este respeito , a favor das pessoas de pouca possibilidade para outros granseos de maior custo. Túio se precisa , para a cultura desta estiniauel planta , derribarem- se os corpulentos e duros lenhos j não rasgar as terras , re- galias y e amanhallas : ella nasce espon-^ taneaniente pelos arneiros \ cômoros de praias, e pelas terras mais estéreis ^ por ter a natureza das plantas parasitas \ nasci- da ella , se deoje suppôr nascido o entre- tinho essencial a nutrição do animalejo ^ ou para o dizer melhor , tud.o quanto se requer para se fazer esta animada tinta ^ pois que , crauado em hum ponto da sua superfície , ahi se ce^va , e nos comnnini- ca no seu cadaDcr hunia bella grã , ou carmezim tão excellente , que tem feito esquecer todas as outras da antiga Eu-- ropa, que fazião a magnificência dos seos Soberanos. Que trabalho mais simples ^ que a colheita destes progalinsectos ? e que cousa mais fácil que a sua prepara- ção vara a tinta? Certamente não exige ho- VI homens robustos '^ bastão crmiicas , niu- llieres débeis \ não requer fabricas com- plicadas , como as do Assucar , e Anil , ctc. basta hum simples forno , huma ti- na ^ e outros utensis desta natureza. R quanto não lie o seu rendimento! Em cada colheita {diz M, Thiery) se podem tirar cem arráteis de Cochoni- lha. sil'vestre de hum quad.rado e meio de terra ( de 78 braças Portuguezas qua- dradas pouco mais ou menos ) , posto em Nopalaria ; cultiijada por hum preto intelligente , que commanda três ou qua^ tro crioulos. Fazem três grandes colhei" tas nas seccas , e três pequenas nas aguas, Suppondo qu0 o quadiado e meio de ter- ra assim cultivado sò dá ao o arráteis de Cochonilha secca por anno , o seu pro- ducto será duas mil libras Francezas (520Í:ooo reis). Hum quadrado e meio de boa terra empregado em huma Assu- car ar ia não renderá mais , e requer ou^ tro trabalho, Deve-se accrescentar que o preto e seos crioidos não tein trabalho algum na Ne- vil Wopalajia , senão nos dous mezes que a Cochonilha i^equer ser colhida , os outros seis mezes recaliem portanto totalmente em proveito do senlior que os pôde ern^ pregar em outros trcth alhos, Pr o segue M. Thiery a persuadir a seos colonos o estabelecimento deste gran- geo com as palauras seguintes : '^ Cada "vezse po^voa mais esta Colónia de lisi- nhos sem recursos , que a indigência ojem trazendo de França , com a esperança, de se enriquecerem nella : as grandes cultu- ras tem en/raquecido asinelhores terras^ isto he y as que são regadas , ou que po- dem ser: a quantidade destas se diminuo , e^a dos cultivadores se augmenta : que cousa pôde haver mais ^vantajosa para supprir industriosamente este r>ão ou es- càcesa de terras , que esta cultura ? Ella requer muito pouco : pôde ser praticada nas peiores : o novato que chega deFraii-^ ca , e não tem cahedaes para emprender outra cultura y pode emprender esta ^ para a qual nada necessita : hum branco deli- cado ãhuma fraca compleição não pôde ca- vin cauar a berra , e fazer o que faz hum preto y mas , estabelecendo a sua Nopala- ria , o branco não tem necessidade de cavar , ou de outro algum trabalho pa- ra semear , e colher a Cochonilha infln^ da do silvestre , e sem se exhaurir com fadigas ; e finalmente todo o homem po-, bre , isolado , fraco de constituição , sejn capitães , pondo tudo no valor mais ba- xo , pôde fazer da Cochonilha silvestre , fazendo toda a despesa necessária para a sua criação y mil escudos de pensão , (455^^110 reis^ por anno. Quantos dos seos economos ganhão muito menos , fa- zem trabalhos mais rudes , e vivem enz casas alheasl O homem robusto , acos" tumado a trabalhos do campo em Fran- ça , poderá fazer três tantos mais. Oia poderá elle imaginar fazer outro rendi- mento com os seos braços unicamente em Assucar , índigo , Cacao , Tabaco , Ca- fé , Algodão ? Se ha algum que conheça a doçura de viver dos fructos de seu tra- balho manual ; de não carregar-se de di- 'vidas ) de não contrahir obrigações ai- IX ginnas cie reconhecimentos , ãos Cjuae^s tantos falsos bemfeitores abusão ; ejinal- mente de não expor grandes capitães á grandes resoluções , este homem cul- tivará a Cochonilha silvestre , e ainda, à fina , se gostar , segundo as regras , ^ue lhe indicamos nesta Obra, " Taes são y Soberano Senhor, às ra- zões , com que Thiery procura persiuidir lios seos cosassallos Colonistas . a sere/n grangeiros deste ramo de Commercio ^ e taes seráõ também , as que eu proferirei uos meos co-uassallos ^ e patricios , para serem com energia seos empreiteiros , cal- cada, e supplantada a actual inércia , e indolência , com que até aqui se tem o- Ihadopara este ramo de Agronomia^ tão próprio do paiz y em que habitão ^ se J^, A.,R. o approi^a. Conheço , com Staugton^ que ainda se não decidio , se a Cochoni- lha j no Rio de Janeiro descoberta , ou em Santa Catharina em 1778, seja a mesma úl^vestre do México ^ ou se outra espécie? E com M. Thiery , se a Cochonilha sil^ves- trepassjará a ser fina , ou ^e oNopal morv- X' tesinho pasmará a ser o de Casbella , oiiãê não ha aJoum, pela delicada cultura P Dei- xo estas cfuestôes em pé; porque , longe de se decidirem de gabinete^ so dei) em ser pelas repetidas experiências , e observa- çôes de ilhim^inados Aut optas, A mim só me pertence copiar , o que acho escri- ta a seu respeito , que he a gloriosa tare- fa j que V. A. R. me impoz ; e, fora disto ^ como T^. A, Pt. fomenta este género de applicaçÔes , além de terem jà app areei- do alguns génios observadores em alguns ram^os d* Agricultura^ como o Doutor Ar- ruda sobre os Algodões , o Capitão José Caetano Gomes sobfe o Assucar ^ João Manso Pereira sobre as aguas ardentes , e muitos outros productos naturaes , appa- recerão outros , que ecòaminarão de perto u Entomologia Brasiliana , onde ainda espero que hajão de fazer descobertas magnificas não só em plantas , como a do Doutor Arruda , d' hum noDO índigo , ntãs também de no/vos Bombyces , como ã dos Casullos ^ "vin dos do Maranhão , e de novas Cochonilhas , como a que apre-' seriT sentou o Doutor Muzzi , encontrada no A raça , C Psydium -pomiferiuii) e ^vinda do Rio de Janeiro , queproduz a cera , e Jie semelhante ao Pe-la ^ C cera resina J que se cria no Kaii-la-cliu (certo arbus- to) resultado do Péla tclioi^g , ou Ia tcho- ng (certo insecto de^ochonilha J entre os Chins , do cjue tratarei mais ampla- mente no II volume. Entretanto queira o Todo^Poderoso conseri^ar^ nos dias glo^^ riosos de T^, A. R. , toda a nossa esperan- ça , e felicidade, He com a mais rendida submissão , e profundo acatamento De V, A, R. Wassallo Fr. José Mariano Velloso, TRACTADO DA CULTURA CACTO COCHINILHEIRO (vulgo) U R U M B E B A , E C R I A q A 5 D A COCHONILHA DO CACTO. LIVRO L CAPITULO r. Vos CaRiircs em geral. O Caâeiro (i) he hum género de plantas miif-í tò abundante de efpeciés , e taõ particular á Ame- , como os Mefembriathemos a' Africa , òs Antherrinos á Europa. Efta planta penecra á terra com a íua raiz principal , e laí!ra os feus bárbalhos a liuma pollegada da fuperfície. Sac5 dt huma cor parda tirante a amarei la ;^ as plantas Part. IIL A faô CO -^ palavra Caãiis Jignifica certa herva com tfpinhos nas folhas , qUe nafce na Sktíia , de (jiie faU Jo^ Plínio no L, 21. c, 1$, , ds cjusm a tomou JLinne, CO faõ de Iium verde de difTerente? matize? confor- me as diveríc-fs efpecies ; a fubílancia he muito molle , carnuda , e _£:roíía , de luima po! legada nas plantas novas , e fe enrija nas antigas. Ella fubflancia he abaílecida de huma feiba mucilagi- rofa ,' que algumas vezes fe extravaía da planta como liuma gomma opaca, e farinhofa (i) bran- ca ou amarella, endurece-fe promptamente , e fe diíTolve , como a gomma ; mas naò iie , como elia , taõ viícofa , e taõ tenaz : os feus talos fó- bem á altura de arvores pelo nafcimento fuc- ceíTivo de outros talos , fahindo huns dos ou- tros tao diflinâamente que ellas parecem unidas por artículos ; mas efia apparente foluçaõ de continuidade fe apaga com a idade da planta , e todas eftas articulações defapparecem pelo cref- cimento das partes , de maneira que os artigos dos Caâeiros chatos , ainda nafcendo huns das axilJas dos outros fe enchem , e fe arredondaô em tronco de arvore , na qual fe naó vc mais o menor fignal do feu nafcimento , da fua fór- ina primitiva ; nem da pofiçaô de huns a refpei- to dos outros. Daõ»fe entre ellas arvores , que tena feís (O Secundo o 'Dctttcr RuJz na fiia Quinalflgta, c Caãus Opuncia âas Provindas í/c Huanuco , Tar- ma , ^■íc. dá hiima efvccie de Alcatlva , pa^* 41. avt* VIU. T, '^ * C3) fcis pcs em torno , e trinta até quarenta de a!* tura. De qualquer modo , que fejaõ eíles artigos^ á primeira vifia parecem folhas da planta , e com tudo fó fe devem reputar talos , ou ra- mos» Efle-? ramos, nafccndo em garfos cylindricos no Caâeiro Opuncia , trazem comfigo por hum ou dous mezes folhinhas cónicas , curvas dt hum^ ou dous nedos de alto , difpoffas .em quincnnce fobre linhas parailelas. Na axilla deitas folhinhas^ igualmente íituadas nos dous Indnq do artigo comprimido , fé vc fituado hum feixinho de fe- das innumeraveis fubhílentes quebradiças , maia ou menos fobrefahida*?. Ve-fe áo redor deíle feixe em todos os Ca- éleiros chatos , conforme forem mais , ou menos cultivados , hum , dous , três , e também dozs efpinhos de dififerentes cores , conforme forem às differentes efpecies de Cadeiros , compridog de féis até trinta linhas , sgudos e folidos , co- ino agulhas , mui perigofos nas fuás puncções # e arranjados em roda , ou como huma poupa. Do meio deíía , ou do centro das fedas fe re- prefenta fahir indifferentemente , ou a ílor , ou o novo garfo , que deve fervi r de talo, Naò fe duvida que a razaõ diíío haja de fcr , para que íe refguarde a fummidade exceííivameníe tenra da A ii plan* (4) planta , da qual as formigas goííaõ de chupar » fua feiha , e por efte motivo ihe deo eíles abri- gos. F.íles molhos de efpinhos molles fechados de fedas queimadoras , e bafiantes , embaraçaõ a que os toquem os mais pequenos infedos ; mas os efpinhos maiores os defendem , dos que os ex- cedem em grandeza , ou dos íeus maiores ini- migos ; porem refleclindo-fe melhor acerca del- ]es , fe conhece , que eHes molhos de ledas faô as pontas dos efpinhos axillares , ou das flores , ou dos garfos futuros , que entraõ a apparecer , como em refumo , debaixo deíles pontos quin- conciae? providos de dous , três ou vinte efpi- nhos da feiba precedente : e que eíles molhos de fedas faraõ , quando lhes couber , na fcguinte, que íahir fora o novo garfo , as vezes , ou os officios de efpinhos , que àtíle modo já exiRiaÕ. O ar- ranjamento dos gommos quinconciaes da planta, junto á figura ovada das articulações chatas , fo- raõ , as que obrigarão ao vulgo , a dar aos Cachei- ros Opuncias o nome de Raquete (i). No calis das flores de muitos dertes Cadlos fe conhecem as folhinhas cónicas , os mefmos molhos de feda pe- co Vela Jemelhança (juc iem com a Kafjucta ^ Injirumento , com qiiç Je joga a pele, T, (5) pela ineffna ordem com os mermos efpinhos ; quando as folhinhas fe applainaõ , e permanecem como no Pitahiaha naõ fe encontrão molhos de fedas , nem de efpinhos ; por efte motivo fe co- mem íem os esfollar. As flores , coma fe acabou de dizer , nafcem indifferentemente de todos os pontos quinconciaes,, e fahem do topo de hum calis provido das mefmas fedas , e efpinhos , af" fim como os garfos : faõ brancas , vermelhas , amarellas , gredelins , purpúreas , encendradas , carmezins , conforme as fuás diíTerentes efpecies : he o feu tamanho de duas linhas até féis pol- Jegadas de grandeza. Algumas vezes fe contaô dez petalos , outras doze , dezoito , redondos ovaes oblongos» franjados, pontiagudos, algumas vezes iTiiiito eftendidos , outras conloiados , e fechados : e por entre eíles paíTaó o piflillo , e os eRames , que, ou os excedem no comprimento , ou lao mais curtos. Os feus eftames faó aos centos : tem-fe chegado a contar trezentos : os filamen- tos faó como lios , e algumas vezes recoíladcs : a Anthera oblonga , amarella , e o dobro do feu filamento. O Eíligma tem a figura de prego , tendo a cabeça fendida em três , féis , e mais pedaços, Cahindo todas as partes da flor , fó íica o calis , que contem o germe , o qual fe muda em fauma baga oblonga , ovai , c muitas vezes re- doa- (O donda , como hum pêro , igual , unilocular , abaííe- cida de liuma polpa , que , eííando madura , he branca, amarclla , vermelha , carmezim , morada purpúrea, parda, ou verde , conforme as diffe- rentes efpecies dos Cadleiros. Al,L;umas vezes fe abre em três ou quatro partes da fummidade , e deixa cahir a fua polpa , outins porém apodre- ce , ou fe fecca com infinitas Tementes renaes , e aninhadas nefta polpa. As íementes maiores IgLlalao na grandeza ás lentilhas , e íao cobertas de huma calca negra , efcura , ou manchada, ef- inigalhadiça , coflracea , eP.a Mando n«s dentes , como a concha das oftras , e abaflecida de huma farinha muito branca. Os índios fazem papas das íementes de certas efpecies de Cactos , tendo co- mido antes os feus, frudos. DaÕ-fc efpecies de Cadeiros Opun-ins tUzs quaes, 90 depois de cahirem as flores , o calis * em vez de crefcer em baga , fe alíonga , e fe aplai- na no feu topo , voltando-fe em huma íiaf- te fem fementes , nem frudos. Na efpecie aue íe dá no facco de S. Domingos ( c«/ de Sac^ fe forma do caiis huma baga , a qual amadure- ce com fuás Íementes, e de todos os pontos da fua fuperficie nafcem novos talos , que faõ o produdf) dos gomos do calis, e naõ das fem.eii- t§s , que ellas contem. tinoe abrani^eo , debaixo de Iium fó género, ao (7) ao qual deo o nome de Cadlus ás plantas, que Tournefort chama Mclocaãas Opuntia (i), as que Juffeu chamou Ccreiís , os que Dille- nius appelidou T.ina , e o P. Plumier Vevef- kia ; elle fez deíle género tantas divisões , quan- tas eraõ as fuás fingulares formas exteriores dif- ferentes ; as quaes na realidade faô taó deííeme- Ihantes , que, á primeira vifta , talvez fe pode- ria penfar que eílas divisões naó houveíTem de per- tencer ao mefmo género , fe a lei da frudJíica- çao , que fe lê em todas as efpecies das diver- fas divisões , neccíTariamente naõ as prendeííe por hum charader univerfal de relações eííenciaes e femelhantes : em virtude das quaes , unindo a to- das em huma única famiiia , e por hum nome genérico , ou geral , fe conferva a cada huma na fua própria divifaõ , com os feus nomes efpeciíicos , que os Authores acima citados lhes deraô. Efte foi o motivo ; porque elle deo a ca- da género os nomes de ouriçados , de meloca- ô.\xs , de ciíios , de efquinados 3 ou redondos , de laRradores , e de Opuncia , aos que hó chatos, e prolíferos. Os (O J"^b^ ^"^ " ""''^^ ^^ Opuncia Jerà Uvado^ th úJgtima planta jetnelhante najcida cm Opunic , riáu- de (los Locros i aJÍin como Caãus das (ikaclwfi as di (8) Os Caleiros melões fao pequeno? , e an-: ^ulofos, de huma forma efpherica , oval, ou cy- JindrJca, que fóbem de quatro poJIegadas até pé e meio , quando muito , de altura. Tai iie o mehcaaus nohUis , que vi no JVlexico , que tinha féis para oito poUegadas de diâmetro , e faõ aca- nalados , çm caracol , mas muito ouriçados de ef- pinhos , de fedas ardentes , embaraçados d'lium frouxel , ou algodaÓ muito fino : defia efpecie he P Carteiro de JVlamilIos da várzea do Sacco de S. Domingos , que parece faíiir da terra em ca- chos , como as tuberas da terra , da groíTura de huma pêra ordinária , daõ frudlos oblongos da grandeza de huma grofçlha vermelha , ou do fru^ mas ter-fe-hia fempre ame- tade , e algumas vezes três quartos de pequenas Cochonilhas finas , que morreriaõ , eonfeguindo- fe o íi^ar-fe nellas o refto , criar-le , e augmen* tar-íe , T^naõ for todo , ao menos em grande par- te , ao ponto em que crefce a Cochonilha fina fobre os Nopaes legitimos. Algumas vezes a Cocho- nilha gafla nelles dous mezes e meio a crelcer , e he geralmente menor no tamanho , que a que crefce nos Nopaes legitimos , e ainda que ella íó deva fervir na falta deíles ; e ainda que fó falle eu delia por recommendar , e adiantar a cultura, fe haja de reconhecer a obrig-acaõ , em que lhe eftamos de hum ferviço eíTencial , feito no tem- po de huma taó comprida navegação. Os No* pães , que truxe do I\lexico , naó havia dia , em que naó apodreceflem , e que naõ os lançaíTe ao mar : o numero dos infedos , trazidos com as plan-» tas , eftava no riíco de fe diminuírem proporção > ou de fe anniquillarem por falta de alimento : aportamos a Campeche , encontrei efte Cadeiro « e procurei experimentallo ; a tentativa foi beiíl fuccedida ^ ella matou a fome das Cochonilhaa todo o tempo , que reftou da viagem ; e ainda três annos , âo depois de termos chegado a ter- ra; (30 ra : tem-fc-lhe continuado o divertimento de en- cher eíie taó bom oííicio todo o tempo que o refto meu dos legitimos Nopaes do México , cf- capos aos perigos de hunvd navegação de três mc- zes , fe refez das fuás canceiras , fe multiplicou , c profperou. Por tanto a Colónia Franceza de S. Domingos deve a eíla Opuncia todavia a van- tagem de poíTuir os verdadeiros Nopaes do Méxi- co , e a Cochonilha fina. He muito provável que , fem o leu preftimo , e Toccorro , tudo fe per- deria ; e que huma longa , e arrifcada cnterpreza fe baldaria. Todo o empreiteiro , que quizer cultivar a Cochonilha fina , fem ter d'antemaõ hum viveiro íufficiente de Nopaes do México , pôde muito betn crialla na Opuncia de Campeche , de que 3 tirará , logo que o Nopal fe tiver multiplicado f e que tenha o tempo , que fe lhes prefcreveo , pa- ra fe lhe haver de confiar o fuflento da Cochoni- lha fina. Convém chamar-fe a eíla forte de cul- tura da Cochonilha fina na Opuncia de Campe- che Semear , ou entreter ; por quanto na realida- de a multiplicação dos infedos , crefce , quando muito , a hum terço mais do num.ero , dos que f© põem a entreter , ou que fe femeiaõ. CM C 30 CAPITULO IV. Do Nopal , cu Urumbcba. D Aó-fe duas efpecies de Opuncias , que nó México fe chamaó Nopaes , huma he , a que os índios fingela , e principalmente nomeiaô Ne- pal , a outra aquella , a que elles arcrcfcentaô o fobre nome de Caftella (^Nopal deCa[lella), Am- bas eftas efpecies exiflem aclualmente em S. Do- mingos. Tudo quanto prefen tem ente fe conhece a( refpeito deftes Nopaes em razaô do caraâer da planta , fe reduz a figura exterior das raízes , e dos troncos , por fe naô ter íiinda viflo as Tuas flores, e os feus frudos. NaÔ me arrifco a re- ferir , o que os Authores tem eícrito fobre eíle áíTumpto , aíTim pelo medo de fer ^efmentida pelos que houverem de efcrever poíleriormente , como também , porque as fuás defcripçôes naõ concordaô , com o que ouvi da bocca dos pró- prios índios. Os Botânicos naõ fe unem entre íí nas defcripçôes defta planta : porque huns af- íirmaõ que ellas tem huma figura ovada , outros huma figura roliça nos artículos. Alguns aíTi* gnaÓ a flor defta planta a cor fanguinca , ao paflfo que os índios affeguraó que a fua cor he ^, purpúrea. • Dcf- ( 33 ) Bercreverei por tanto fomente as raizes g e troncos do Nopal. Depois tratarei da fua pro- priedade , e acerca da fua cultura, O Nopal he hum Caâus Opuncia , com os articules comprimidos , ou chatos : fuás raizes faõ de lium pardo acinzentado , tirando para amarello : com a idade fe fazem ienhofas ; tem huma principal , ou perpendicular , e outras fao liorizontaes , redondas , mordidas , brandas em as plantas novas , rijas em as adultas. O talo dos Nopaes fe ergue direito , como a maior parte das outras Opuncias : feus articu- los faó de huma forma oblonga oval : fem de IO a i8 pollegadas de comprimento, e $ ou 9 re largura , e pollegada e meia , ou quafi , de groí- fura. Tendo a planta chegado ao fsu perfeito def» envolvimento , a cafca dos articulos oíferece hu- ma fuperficie macia ao taílo , mui levemente avel- lutada nos que faõ de hum anno , ou de féis mezes. Nos adultos he de hum verde fombrio ; e de hum verde claro , e luzido nos novos. Os gommos faõ providos de hum , dous , até três efpinhos no tronco da planta , dos quaes hum he mais comprido que o fegundo , e efte maior que o terceiro , tendo três ; porém fe fomente fo- rem dous , fempre hum fera maior qu€ o outro : efles efpinhos faõ de huma pollegada de grande- za , quando muito , groíTos de hum fexmo de \in Part. III. C nha m ( 34 ) nha na bafe , lenhofos , folidos , agudiílimos , c penetrantes : o que dirtingue as Opuncias naõ elpinholas , como faõ , a de Campeche , a Ra- queta Hefpanhola , o Nopal de Caflella , das que faó efpinhofas , naõ he totalmente o naõ ter ef- pinhos , mas fnnplesmente ter menos , e a fua grandeza ; pois fomente tem alguns dos feiís gommos efpinhofos , e alguns elpinhos raros nef- tes gommos, Eííes efpinhos faõ fempre maiores, e em maior quantidade , e mais fortes no tionco , nos antigos ramos até a idade de dous ou três annos : porque, paíTados efles , defapparecem , ra- ra vez fe vê hum ou dous efpinhos curtos nos articules novos : muitas totalmente carecem dei- les ; porém, tendo-os , tem a mefiíia malignidade em ferir que os outros : finalmente os gommos faõ fempre providos de molhos de fedas ruivas urentes do mefmo modo que as outras Opun- cias. Eftas fedas eftaõ pelo nivel da cafca nos ar- tículos , que fó tem hum anno , ou féis mezes , e entaõ faõ mais Jncommodas que perigofas : quando fe tocaõ , entraõ fubtilmente pelos dedos e mãos : e porque faô delgadas , como as barbas , ou praganas da cevada , penetraõ de cada vez mais per fi mefmas com qualquer movimento, quando fenaõ faz cafo delias. A parte offendida matereia e fuppura : o mais efficaz remédio contra o incommodo deftas fedas , naõ fe podendo arran- car ( 3^ ) cat com os dedos , que he muito difficultoro ; porque fendo nimiamente quebradiças , quebraô- fe de íi mefmas , e fica alguma parte introduzi- da na carne ,^ he esfregar com cebo o lugar da punçaõ , ou ferida. Com eííe remédio a prurigem ceifa , e também a dor , e a fuppuragaó naõ vai adiante. . C A P I T U L O V. Do Nopal de Caftella. J. Udo , quanto fe diíTe a refpeito das fedas ; e dos efpinhos do Nopal , convém igualmente ao Nopal de Caílella. Tem as mefmas. raizes que a e naõ pela maior parte das fuás formas. CA- ( 39 ) CAPITULO VI. Propriedades do NopaL JLJL Verdadeira, e amais eífencial propriedade do Nopal , conhecida em México , he criar muito melhor a Cochonilha fina com maior facilidade , fegurança , e abundância , que outra alguma das Opuncias luas congéneres. Eíla propriedade também he a única ; que a fará fervir de ohjedo a efle Tratado : pó- de-fe affirmar que ella a .poíTue em hum gra'o eminente. De todas as pequenas Cochonilhas , que fahem dos ninhos poftos em hum Nopal ; e que fe podem fixar nelle , antes que a violência dos ventos , ou de outro qualquer accidente as hajaõ de derribar , naô falcaõ ordinariamente 2 e 3 por 100 : tendo eíie infedlo introduzido a fua pe- quena tromba em a cafca da planta , e fixado nel- la , deftes apenas íè vem três por cento , que naõ cheguem ao grào de crefcimento , que a na- tureza determinou para cada hum dos feus fe- xos. Será a facilidade que os pés dos infedos encontrão em treparem pela fuperficie avellutada da cafca dos artículos do verdadeiro Nopal , o que Ihe^haja de dar efla propriedade ? As que ía6 polidas, e lifas , como aOpuncia de Campeche, e principalmente o Nopal de Caílelia ^ parece con- i?lii' í „v. dizereiTiTios o contrario ; porque eílas Opun- cias faô perfeitamente pollidas , e lifas , e com tudo a primeira perpetua unicamente a Cocho- nilha fina , em quanto a outra a cria em abun- dância ce modo a poder-íe colher ; fera a quali* NaÕ he viRa em parte alguma dos campos , ou fe ella he hu-^ ma pura variedade confeguida pela cultura ; pois ella fe vé pelas hortas ? Efta queílaô , como fe vê , deve íer muito indiíferente ao fim defta Obra ; e além diífo parece refolvida pelas dou- trinas , que feguem hun;a e outra aíTerçaõ : toda- via naõ fe pôde concluir a negativa de hum da aíFírmativa de outro; porque ainda fenaodifcor- reo por toda a America , o que feria neceíTario , para fe poder affirmar com toda a certeza a juf- tiça da confequencia ; porque , fe o Nopal he hu- ma efpecie diftinda , e caraderifada , eflas fe per- dem menos que as variedades , pois voltao a en- trar muitas vezes nas efpecies. Talvez feja pof- fivel , que fe encontre efta efp^ecie em algum canto defconhecido do vaílo império do Méxi- co , ou que efte o recebeíTe de algum povo dif- ferente. A origem das artes em cada hum dos povos em particular fe perde na noite dos tempos. O feu ufo indica hum antigo coftume , e eíle cof- tume foi precedido por experiências infinitas , por tentativas' fempre numerofas , fempre contra- riadas , fempre fubmettidas a tudo , quanto a igno- rância da multidão , a inveja dos rivaes , o jugo , e poder dos prejuizos , ou o ufo contrario pôde lançar de embaraços ao génio. Por (40 Por tanto , qualquer arte he fempre huma prova da antiguidade do povo , que a poíTue. Se o Nopal he huma variedade obtida pela cul- tura , o esforço mefjiío defta cultura prova a an- tiguidade do povo , onde ella fe acha. Claramen- te fe vé , como o Mexicano , achando em toda a parte a Cochonilha filveílre , fobre o Nopal fil- veftre, pôde experimentar ao primeiro abordo a belleza da tinta , que ella produz , refolvendo-le a colhella , e á confervalla ; mas fe o verdadeiro Nopal for huma variedade , e naõ huma efpecie primitiva , he precifo conceder hum tempo infi- nito , e attribuir huma grande quantidade de co- nhecimentos aos Mexicanos , que arrancarão efte JVIyílerio da Natureza : e difto fenaõ percebe que efte povo feja ^aó moderno , como fe quer per- fuadir-, e havendo-fe de lhe negar efte longo tem- po , e efta acquifiçaó de conhecimento , em qua- lidade de povo moderno , renovado de hum po- vo anterior , feria , ao menos , precifo conceder ^ue os conhecimentos , que elle teve da proprie- dade dos Nopaes , e da criação da Cochonilha , feja huma conquifta feita fobre alguma differen- te Naçaõ , e hum refto da herança de feus Pais , que elles falváraõ do naufrágio dos Séculos , o que faria que a origem da cultura do Nopal , e criação ,da Cochonilha fe recuaífe ainda muito mais longe ; deixando porém a outros o tratar def- ( 43 ) deftas intereífantes matérias , precifo entrar nas que fe expõem , e accrefcentar que , fe o Nopal he perfeitamente próprio para a criaçaô da Co- chonilha fina , he infinitamente melhor para criar a filveRre ; e fobre o Nòpal he que ella perde a fua tenacidade , e a quantidade do feu cotaô , 011 aloodaó : fobre elle adquire huma dobrada que correm , fem fazer teas , e ainda aqueilas , que e& tendem os íeus fios ao redor dos Nopaes , fem embargo de fazer huma olhadura muito defagra- davel ; primeiro , porque a aranha naõ come a Cochonilha ; fegundo , porque as aranhas grandes comem os Kavetes (i) inimigos doNopal ; terceiro, porque as que eftendem as fuás redes , apanhaò as Borboletas , Falenas, Traças , Mofcas , e outros infedos prejudicíaes ás Cochonilhas pelas fuás larvas ou lagartas ; quarto , finalmente : porque os fios das aranhas eftendidos de huns a outros ramos , fervem , como de pontes , ás pequenas Co- chonilhas , para fahirem do feu ninho por hum caminho mais breve , para o lugar , que melhor as abrigue , e muitas vezes para o Nopal vizi- nho , que tem poucas ; e porque de refto as teias de aranhas impedem as formigas de fe avan- ca- co Certo infeão , como Bifcuro , ftm d^iQt , dêi Antilhas ^ quç dejirottj} os Isopacs, (49) catem , c moleflarem as grandes CocKonilhas , de devorarem as pequenas , e algumas veze* tem fuccedido comerem as mais em os ni*^ nhos , apenas ellas morrem ; pois também fe dá huma efpecie que come vivos a eftes infe- ôos. O terreno de húma Nopalaria naturalmenio dete Ter feccO , e naõ receber aguas mais que as do Ceo i llum terreno brejofo , alagadiço, cheio de aguas vivas , que lahem de terrenos de aguas fediças j ou dormentes de modo algum , pôde convir a huma Nopalaria. O terreno deve fer nivellado , fendo polítvel , para que as aguas fe- naó entanquem , óu levem apoz de íi as terras por efcavaÇoes , quâ ellas fazem , naõ fendo a íua indlináçaô igual em humá fuperficie. Eis-aqui o modo , porque fa5 confi:ruí- das as hellas Nopalarias de Guaxaca. Sendo-íe obrigado a eflabelecer huma No- palaria em a inclinação , ou encoíla de humá CoUina , feria proveitofo que as terras foííeiH mifturadas de algumas pedras , óu de calháos » que nellas houveíTem , e entre as quaes os Nopaes lançalTem fortes raizes para poderem refiftir ás ventaneiras. Todas as íórtes de terras , á faber , argiío- fas , areifcas , talcofas , ou cheias de calháos , pingues , ou magras , convém a huma Nopaía- iPan. IIL J) ria s ( JO) ria : O Nopal vem por toda a parte quaíl com iguaU dade, Póde-fe certificar , que as terras nas vizi- nhanças de Guaxaca , faõ excellentes : neftas naturalmente vem muito melhor , que nas ou- tras : e aíTim , naõ fe haja de defp rezar o fazer huma Nopalaria em hum bom terreno , para a cftabelecer em hum máo. Quanto mais a terra for boa, tanto melhor progreíTo fará o Nopal , e coníequentemente em menos tempo fe aprom- ptará para alimentar a Cochonilha. Huma das fituaçôes mais agradáveis para eftabelecer huma Nopalaria , he aquella que offerece grandes abri- gos contra a violência dos ventos Nórtes , e bri- fas de Leíle , fempre mais forte, que as d^Oef- te em S. Domingos , do mefmo modo que em as Províncias de Guaxaca , comprehendidas nos mef- mos parallelos. Por eíla razaõ as garsfantas dos montes, os valles , e fundos das eufeiadas , on» de eílas "brifas naõ podem penetrar furiolas , faô excellentes lugares para as Nopalarias. Tem-fe notado que as Cochonilhas dos montes faõ mais groíTas , que as das planícies , ou várzeas de Gua- xaca. Os motivos, que fe tem , para fe defejar eíla fituaçao , fao os feguintes : 1.° Porque as pequçnas Cochonilhas , aíFim que fahem dos feus ninhos naõ faô tiradas de cima do Nopal , antes de fe fixarem. 2.° Porque a Cochonilha , já avan- çada em idade , naõ he incommodada pela vio? (?t) leilcia do vento , c]Ué a abaía , atormenta , 6 embaraça o leu crefcimento , ou porque as deíec- ca , ou porque lhes alarga a tromba» IntereíTa , ao depoiâ de fe contemplar a vanta- gem do abrigo de huma Nopalarja , em qualquer fituaçaó de terreno , que fe procure também ò gráo de temperatura de ar , iflo he > huma tem- peratura de i6gr. acima da congelação dõ ther- mometro de Bourbon ás quatro horas da ma- nhã , em Maio , obfervado por oito dias nas gar- gantas , e planícies de Guaxaca. Ora naõ fe pode duvidar , que eíla deva fer preferida a outra qualquer, pois qUe defta Província fe tira amais bella Cochonilha de todo o MexicO , fem em- bargo , que huma temperatura de içgr^fêtemá mefma hora nos' mefmos mezes em a borda dcJ mar da Coldnia de S. Domingos, em a parte a mais ardente defta Ilha , e talvez de'^todá a Ame- rica í O Porto do Príncipe , naõ rejeita ã cultura da Cochonilha ; por qualito , elh vem rieíle mui felizmente , e que nas fuás criações fomente per- dem três por cento do feu numero ; mAs paríí que naõ fe enganem , ou errem a efle refpeitò ^ convém confefTar , que a Cochonilha he rieíle lu- gar hum fexto menor, que a de Gtiaxaca. Ta- davia a critica naó fe deve aproveitar deita con- fíítaa ; porque í primeiro , nunca occOrreo eftabe- iecer eda cultura em beira mar , mas em o Poi^ D íi to %o do Principe , "onde a única neceílidade dos meios de viver obrigou a enfaiar. Segundo , por- que eíla Colónia tem tantos temperamentos dif- ferentes , em que fe pôde eílabélecer a cultura da Cochonilha , quantos números ha , defde 9 até 2$ , fegundo a elevação das terras , em que fe mora, ou unicamente o apartamento dos focos, que concentraõ o calor nos planos : o que aca- ba de provar que hum tal gráo de calor naõ lhe pode fer nocivo eífencialmente : 'porque , fem embargo do temperamento de Guaxaca de ma- nhã, pelo meio dia o thermometro de Bourbon aponta 24 gr. de calor ordinário , no mez de Maio : da mefma maneira , que fe tem obfeirvado no Porto do Principe , nefte mefmo mez, He muito conveniente, e importante, que as Nopalarias fe ertabeleçaõ em huma tempera- tura de ar, que tenha o calor de 16 gr. pelas quatro horas da manhã no mez de Maio ; e he infinitamente importante , que também eftejao debaixo de hum Clima , perfeitamente fecco , du- rante o inverno , pois fendo chuvofo , e que as chuvas fendo periódicas , he de grande proveito co- nhecer perfeitamente a volta deíles periodos , e feus fins. Se ertes períodos deixaõ hum intef- vallo de dous mezes de feccura , entre o acabar , e voltar , o território fituado debaixo de hum tal tal Clima , fera próprio a hiima Nopalaria ; fe foí chuvoíb irregularmente , e de liuma irregularida- de confiante , convém abandonar ede território ; e convém ainda diflinguir , fe eftas chuvas irre- gulares faõ pequenas , brandas , e paíTageiras, como na Europa , ou também faraivas , e neíle cafo , naõ precifa abandonar o fitio ; mas fe as chu- vas irregulares forem tempefíuofas (i) , deftas formidáveis chuvas , que cahem em torrentes , e que as gotas fazem eílrondo , e também damno , como fa raiva d^Europa , he neceíTario fugir, e carregar os Nopaes para outra parte ; porque en- tão acolheita da Cochonilha fera muito incerta, e pouco lucrativa. Na criação da Cochonilha fil- veftre fe daraó as razões defte effeito. Eis-aqui por tanto a ordem da íeccura do Ceo , debaixo do qual fe deve efcolher hum território próprio a profperar a cultura dos Nopaes. Deve«.fe con- templar como o mais bdixo grdo de capacidade hiim Ceo , que derrama irregularmente chuvas , ainda que ligeiras , e pouco duráveis defde Ou- tubro até Maio. Pódem«fe debaixo delies criar Cochonilhas , mas fe cahirem no tempo da fua íe- i) Naõ ha temporaes cònjlantes cm parte algu- .... dejía Colcuia : tcdovío Je Joffrcm ventos vwlen* tos em tempos inàetermmadvs. femeadura he perip^ofo , que cftasnaõ façaô mor- rer huma terça parte , ou ametaiie das novas Cochonilhas : vindo ao depois o Ceo anuviado , coberto de nebrinas , e de faraivas. Efle hií mui- to melhor que o precedente ; porcue as írottas cl'agua que efpalha , naõ podem pelo feu pezo, matar ainda as Cochonilhas novas , e naõ as se- laõ , nem a«! regelaõ ; porque o Sol em S. Do- mingos apparcce íempre. Ao depois de hum Ceo coberto de nebrina , fe deve preferir , o que he chuvofo regularmente , e ^ue deixa hum intervallo feguro de dous mezes de feccura çntre cada período de chuva : também fe preferirá aquelle , que no inverno dá dous intervallos de feccura , ao que fó der hum : fi- nalmente prefiraõ-fe todos , os que nos feus mezes de Inverno naõ eípalharem agua algu- ma, a naõ fer huma , ou duas pequenas gottas em Janeiro, Tal he confiantemente o Ceo de todas as Provincias de Guaxaca , e o das várzeas de Cal à(t Sac deS. Domingos obfervado em os annos de 1777 , 1772 , e 1779. Muitos particulai^s certificaÕ, naõ chover pelo Inverno nos deftriâos á'Acquin{\') ^ "O (O ^- Ganche , nnjf.i aíjociado em o Porto da paz expoz o alkali Jixo do tártaro ao ar livre por muitas noites na várzea do Porto Pimenta , c naõ cahio inde- liquium, O panei fcnaõ hamedeceo. Veja-fe a fua Me- moria para a Hiíloria 1 1. defte deílri^o com a Ana- iyre das Caldas de Boynes. ( ?o no fundo de Cul de Sac , e na Vefohàa , perto de Artibonita : tanto melhor para a cultura da Co- chonilha. Saõ terras , que o Ceo favorece para èfte fim: e efla cultura pôde indemnifar os feus mo- radores da impoífibilidade para outra qualquer cultura , a que os reduz a feccura. Accrefcenta-fe que , quando muito > neíleS defiricTtos fó fe daõ em todo o anno três , ou qua- tro mezes de chuvas. Se efie fado da mais alta importância fe conteílaffe como verdadeiro , íe- guii-fe-hia , que fe poderiaò todos os annos fa- zer quatro colheitas feguras de Cochonilha ; é que eflas paragens da Colónia Franceza da Ilha de S. Domingos , Ihedariaõ huma muito gran- de fuperioridade á todas as Provindas de Gua- xaca. Somente eílas partes da Colónia poderiaõ Fornecer a metrópole defle preciofo género o to- íal , que carecefle. Logo eííenciai , e unicamente pelo intereíTe ■\o publico , foi que fe requereo a todos os Co- onos , em o n.c 3.0 ^q Supplemento dos avifos Americanos de i 8 de Janeiro de 1780 hum diário' liccindo , ou memoria meteorológica das chuvas íe todo eíle anno , em todas as Comarcas da :iha. Pertendia-fe a inílruccaó deíles dados , pa- •a que , á vifla delles , fe defignaíTe aos Colonos os rerritorios mais favoráveis á cultura do Nopal , í á criação da Cochonilha. Inftruido defíes moti- vos r 5-6 ) ?0g , todo o habitante illuminado poderá daqui em diante aíTegurar-fe por fuás próprias luzes da maior , ou menor aptidão , e capacidade da» fuás terras , para fundar nellas huma bella No- palaria. Tudo quanto fe acaba de dizer aííím da tem- peratura do Ceo , como da feccura , que fe re- quer para humaNopalaria , fe deve entender ini- camente para íiuma Nopalaria de Cochonilhí fi- na. A Nopalaria da íiJveftre , quafi naõ exige -.an- tas precauções, Pódem-fe eflabelecer em toda{ as planicies mais ardentes de S. Domingos , fem dif- tincçaõ de hum Ceo mais , ou menos cliuvob , e das duas eftações de feccas , e aguas. Podem iç- colher nellas a Cochonilha filveftre todooanno, com tudo fera em menor quantidade na eftaçaó das chuvas , que na da fecca. Os moradores , que quizerem juntamente co- lher Cochonilha fina, e Cochonilha filveftre , fa- .ráõ para iílo duas plantações de Nopal , huma deftinada para huma efpecie de ínfed» , e outra para a outra efpecie. Eflas plantações eftaraõ hu- ma da outra diftantes perto de cem varas pelo menos , feparadas por hum , ou dous quadrados de terra ; e fe for poííivel plantadas de arvores, em roda , ao menos de cannas de aíTucar , fe o ter- reno confentir , ou finalmente de milho maiz , ou miúdo: çnaõ podendo fcr , de quaeíquer ar-, buC- iS7) fciiftos , de medo que , permittincío a largura do terreno , ambas ellejao Leftc-Oerie fobre as mef- mas linhas , e ao meíino vento : dará a direita á Cochonilha fina , que vem a fcr a parte do Sul , c a efquervia , ou o Norte á Cochonilha íilveftre. Se o terreno naõ tirer a extenfaó capaz , que dÔ ella difpofiçaô, e que, o íeu comprimento len« do de Lefle a Oefte , fe vejaô obrigados a plan- tar ertas Nopalarias , huma ao vento de outra, entaõ obfervem feparallas , como já fe diíTe , por huma diflancia de cem varas ao menos , pondo- fe a Nopalaria deftinada á Cochonilha fina , de- baixo do vento da Nopalaria , deftinada á Cocho- nilha íilveílre. Abaixo fe daraõ as juflas razões de hum arranjamento taó extravagante na appa- rencia, He bem verdade que os índios naõ to- maõ tantas precauções ; mas naõ fe devem copiar fervilmente feus modellos ^ no que elles tem de vi- ciofos.He mui pouco o imitar nas artes úteis, e agra- dáveis , he precifo , podendo-fe ^ procurar exce- der. Defprezar , he hum defeito , que põem o imitador por baixo do feu modello ; porque efta negligencia o accufa de inepto , e perguiçofo ab- folutamente. í (;5) E CAPITULO VIII. Cultura do No pai. RI o reino vegetal na6 fe daõ plantas , que requeiraõ menos cultura , e que fe multipliquem mais facilmente de meigulhia , que os Nopaes, íarece que quanto mais fe defprezau , tanto me- lhor lhes he. Com effeito hum articulo de Pereskia , cahi* áo , e deixado íbbre a terra , junto da feve de huma horta , íe levantou a dez pés de altura , dentro de hum anno , e proliíicou mais de trin- ta artículos. Encontraó-le Tunas , poíias algumas vezes em terras áridas , fobre hum areal , debai- xo de coberta para fechar o caminho aos ratos , lançando raizes , creicendo , produzindo artículos , e flores (i) »* ^^^^ embargo , como eflas ílngularida- des faó algumas vezes o produâo de circum- ílancias felizes, e deíconhecidas , na5 fe hajaô de tomar , como regra de cultura , e do modo de os rauitiplicar. Naó fe deve entregar coufa alguma ao (i) JJIo viojlra que o ar contem princípios , (jue ccO' fcvaõ para a nccTriçaÕ , e defcnvclvimcnto das plan» tas ; n.ôr menti nas plantas grojjas , e nas ejla^ôes chuvtfas. ao acafo , em operações de tanta importância ; e fe queira feguir , o que fe vio entre os feus culti- vadores , e o que melhor fe tem confeguido nas ex- periências particulares , repetidas depois por qua- tro annos : tudo quanto diíTer a eíle allumpto fe haja d*entender igualmente da Raqueta Hefpa- íihola , e da Opuncia de Campeche. Tendo o cultivador encontrado hum terreno, que una em fi a maior parte das qualidades eíTen- ciaes , qife fe apontarão no Capitulo ^preceden- te ; ao depois de o ter murado , o melhor que as fuás polTes , e a terra o permittirem , quando finalmente o tiver nivellado , fe tiver lugar, e tiver tomado todas as precauções indicadas contra a putrefaccaõ das aguas fediças , e arrebatamen- tos das aguas correntes , o que lhe reíla para. fazer , he plantar a Nopalaria. Se quizer traba* Ihar na Cochonilha fjlveflre , fem ter ainda No- pal , plante a Raqueta Hefpanhola , e Opun- cia de Campeche , pelo methodo , que acima dif- femos. Se tiver poucos Nopaes , plante-os em vivei- ros , pára os multiplicar mais promptamente , o que he melhor que plantallos , para haverem de ficar , para lhes pôr Cochonilha fina. Se tiver mui- tos Nopaes , e ao mefmo tempo quizer criar Co» chonilha fina, e filveííre , plantava Nopaes para eHa, e Raqueta HefpanholajeOpuncias para a outra, £m i n (6o) Em ^fiiTi , fe tiver Nopaes fufficientes para haver de fazer huma Nopalaria de Cochonilha fi- na , e outra de Cochonilha filvcflre , o poderá fa- ler ; mas em todos os cafos figa os procedimen- tos , que vou a dar. Preparará as fuás terras no tempo fecco » qiie precede ás chuvas da Primavera , ou no tem- po das feccas , que precede o Outono. Se o ter- reno da Nopalaria eíliver cheio de arvores , e ar- buftos , naõ os cortará , mas os arrancará , e def- arreigará exadamente : fazendo conduzir os troncos, éramos fora da Nopalaria , para os queimar , ou deixallos apodrecer em outra parte ; porque o fogo violento , que eiles dariaõ , fendo queima- dos no mefmo lugar, cozeria a terra, e a enri- jaria como hum ladrilho, Huma terra, endureci- da defta forte , naõ fe pode impregnar dos adu- bos , nem dar huma cama conveniente as raizes das plantas (i). Se fó efiiver cheia de hervas , fe> arrancarão todas á enxada , deíarraigando as mais (O Admltte^fc nas Colónias o procedimento da €cmbuJlaÕ , ;>flrrt alimparem os terrenos , (jrte fe que» tem plantar ; pôde fcr nccivo para as terras joltas, c arcnojas , mas he útil para cts aroUloJos , e com" fa^as ; e além dijjo fe tem cuidado de naÕ as plari' tar , fenaõ ao depois de terem Jí do molhadas por algumas chuvas. (6i) mais pequenas , e cortando as maiores entre duas terras : eííender-fe-haõ para fe feccarem ao Sol , e eilando bem íeccas fe arranjarão em muitas li- nhas de dous , ou crés pés de largo , e meio pé de groíTura , e amontoando juntamente com el- las todas as folhas , e pedaços , e fe lhes lança- rá fogo : iílo extirpará a maior parte das femen- tes , que ellas tiverem efpalhado pela terra. O fogo brando , e momentâneo , que daraõ ás plan- tas , naó podem arruinar a fuperficie da terra vegetal , mas antes lhe deixarão nas cinzas faes, que H fará melhor. Eilando o terreno limpo , deíle modo , fe cavará com a enxada , fendo pof- fivel ; e quando naõ , por fer pedregofo , fe pro- cure tirar todas as pedras maiores ; e fe cavará a hum pé de altura com a enxada , tendo cui- dado de o difpor bem, efmigalhando os torrões , quando fe movem. Por eíle meio da cavação, fe precipita no fundo o reflo das fementes das plantas , que jaziaó na fuperíicie : ellas ahi apo- drecerão , ou naõ poderão fazer apparecer as fuás brotas acima da terra. Eilando aílim a terra cavada , fe lhe paíTe a grade por cima , para a acabar de. compor ; ao depois fe rifca em roda da Nopaíaria as aíléas , que a feparáraõ das paredes da cerca ; e finalmen« te fe reparta em três , ou quatro quadrados , po? tona, ou duas alléas, que fe encruzarão , hch (62) liuraõ a paffagem , falla-had livre , feraõ natu- ralmente as divisões do trabalho , e contribuirão a dar bellcza por hum lindo golpe de vida. Ef- tando feitas as alléas , em cada divifao fe tirem linhas do Norte ao Sul , para fe porem as plan- tas, Eí^as linhas teraõ a profundeza de meio pc, ç hum de largura. Lancar-fe-haõ todas as terras da folTa ou valia da parte de Lede. Ora , fe o que fe quer fazer , he hum viveiro , fera precifo li- vellar-fe o terreno perfeitamente , e que as terras Levantadas pelas hordas cm efcarpa ao redor do viveiro , obriguem as aguas a filtrarem-fe interior- mente , e impeçaô que ellas façaõ barrancas , e defcubraô as raízes , das quaes carregarão comfigo ís terras na íua correnteza , deixando-as com ido defcobertas , e fazendo.as feccar pelo ardor do Sol. Plantar-fe-haõ entaõ os Nopaes em quadra- dos , ou em quinconce , a dous pcs de diftancia huns dos outros em linhas parallelas , mas ií!o he , plantando-fe em viveiros ; porém havendo de fè plant-vir-, para permanecerem , fe hajaõ de plan- tar os Nopaes em quadrado , ou quinconce com féis pcs de diílancia, huns dos outros , em linhas parallelas. Eftas linhas feraõ cavadas , como já fc diíTe acima. Planta-fe fempre met e meio , ou quaíi , antes do íblfticio do Eflio , e Inverno , em Gua- xaca : a razaO parece boa ; como as feibas cfta5 cn- CÓ3) ■ entaõ cfgotadas , a planta naõ he excitada pela acçaõ da eftaçaô , a lançar renovos ; inas naõ íi-, ca por jfib ociofa , pois fe occupa em criar raí- zes em lugar de renovos. Elias inefinas lhe pre- paraó hum augmjnto de forças , de maneira que , quando a natureza em amor lhe reanima , e delenvolve todos os germes menos vivamen- te em Setembro , e muito mais precifamente em Blarço , os Nopaes os iançaõ , e os garfos arre- bentao por toda a parte com impetuoíldade : o que naó aconteceria , plantando-fe antes dos equinócios : porque a planta naô teria adquiri- do em repoufo huma taõ grande provifaó de feiba ; porque ainda teria lançado moito menos raízes. Os Nopaes , que fe tomaó para mudas das Nopalarias , que haó de ficar . devem fercompoflos de dous articulos . hum acima do outra . e nun- ca de três : o terceiro cahiría , e apodreceria (i). Tomaõ-fe eftes articulos defde o topo da planta até as raizes. Os mais vizinhos das raizes de or- dinário faõ os mais fortes ao lançar da terra , fen- do CO í> naè acontece feinpre, He áefavantajofa fantar.fc na temido da fiovaçaô , povcjuc as plantai tiao flores antes de lançarem os Jcus renovos , e /Á to tmpeda , ou retarda todo 0 [eu defeniíolvl^ fnento» do as ílias raízes mais groíTas , daó garfos nlaiofeí^ e mais promptamente. Naó fe devem rafgar , nem quebrar , nem arrancar os artículos dedinados para mudas , ou plantas. Convém que fejao cortados com deftre- za com huma faca , pelo ponto da interrecçaõ , que fe acha em a articulação entre o«; dou»; artí- culos : deíía obra aíTim feita , refuitao dous bons effeitos : o primeiro, que a planta , que fica, e da qual fe tirou a muda , cicatrifa melhor ♦ e com maior promptidiíó a fua ferida , comO deve , acontecer á muda. lílo naó tem coufa , que of- fenda a vida , nem faça defeito. Segundo , evitaó- fe as moleRias , que podem fobrevir infenfívef- mente , pelo arrancamento dos nervos , e lacera» çaô da parte carnofa. Confta pela conftante experiência que , qAiart- to maiores faó os articuíos , que fe plantão , tanto melhor daÓ mais garfos , e bons artícu- los , de maneira que, cortando-fe hum articulo, em quatro partes , e cada huma delias mettendo- fe na terra, os artículos, que delias nafceriaó , naÔ teriad já mais ametade da grandeza daquel- Je , de que tinhaõ fido cortados em quartos. Hç verdade que os artículos , que nafcem da feiba feguinte, fe engroíTaÕ , nu engrandecem de cada ve^z mais . até chegarem a obter o te-mo da fun conftante grandeza , configaada a fua efpecie 5 mas (6?) mas , ifto mefmd lie hum inconveniente ; poi-qúô entaõ , eftando os talos muito poderofos , por caufa do tronco , o menor golpe de vento , oti huma chuva violenta os delarreigaõ ^ e fe faz preciío repl-mtallos de novo ; o que juíliíica a precaução , que fe prelcreve , de fó fe plantar os articulos fortes , ou grandes. Qualquer Natura- liza certo , e prevenido que cada goramo da pjanta * he o uuico capaz de fornecer huma ef- taca , julgaria multiplicar rapidamente huma No- palai-ia , dividindo os artículos em tantos olhos , quantos gommos eíles tiveíTem. Elle pela maior parte eonreguiria em obter borbulhas, mas eílas borbulhas feriaó pequenas , eylindricas , efpatula- das , e ordinariamente más , até a feiba feguinte, iia qual en:as eyíindras , e eipatu fadas dariaõ entaó articulos de huma fórina regular , mas de huma grandeza abaixo da ordinária ; fó na terceira fei- .ba poderia confeguir plantas análogas , pela fua grandeza ^ e forma i aquella , da qual tinha fido tirada* Entaõ o pe/o das haíies ^ fobreearregando o tronco , defarreiga a planta , e o Naturalifla fe verá na triíle figura de repetir de novo a fua plantação : no entret^.nto o Hortelão , enfinado pela experiência * fe tiver poucas mudas de No- paes , para haver de metter em viveiro , compo- rá cada muda de hum articulo inteiro , e fe acautelará de o diyidir : fera fim a fua Nopaia^ Píift Iir. E m (66) m tia muito pouco numerofa em indivíduos , mas cm recompenfa cada hum dará deus ou três ar- tículos , femelhantes ao da primeira feiba ; em o fegundo os artículos , que nafcem dos preceden- tes , teraõ adquirido a fua grandeza ordinária , que a natureza lhe tem fixado ; cada huma deftas plantas , terá hum tronco proporcionado á fua hafte , e o Hortelão deixará o Naturalifta atraz de íi , occupado em replantar huma quantidade de artículos , femjpre menos groííos , e muitas vezes menores que o feu , ainda que ambos houvefíem começado com a mefma quantidade. E aíTim Te dá huma certa barreira , a qual deve a ambição naô exceder ; por quanto , a Natureza mais va- garofa nas fuás operações , que os progrefTos da arte , be fempre mais fabia ; e fegura , e os fuc- ceíTos mais certos. Quando o índio de Guaxaca planta huma Nopalaria , para haver de permanecer , põem or- dinariamente em cada cova duas plantas , c muitas vezes três , compoílas de dous articulos cada huma , ou para que a Nopalaria fe guarne- ça com. maior promptidaô , ou para que , ha- vendo algum accidente , humas poíTaó fupprir ás outras. Salvo a ler , para fe arrancar ao de- pois as fuperfluas : quando em S. Domingos fe tiver multiplicado tanto , como em Guaxa« ca , fe poderá também fazer o mefmo. Daqui a tem- (67) tempos fera badante pôr huma planta etn cadíi cova, PoeiTi-fe dè efguelhâ , ou obliquamente efte» artículos nas covas , de maneira , que hum fej^, fempre abíolutamente todo inteiro f(Sra da terra * e que a ametade do outro debaixo delia de fei- tio , que a inclinação da planta a Oejie forme com a terra hum angulo muito agudo , e 3,' "LefiQ hum angulo muito obtufo , cobre-fe o ar- ticulo deitado a chato fobre a terra de duas pol- legadas , da que for tirada da cova , onde fe tor- na a lançar a tirada, e fe aplaina; precifa-íe de muito fentido em cobrir a planta de terra ; por- que , fe lhe pozerem muita terra pòr cima , apo- drecerá , ou adoecerá muito tempo ; e por tanto he melhor peccar , pondo^lhe pòuca , que pon- do-lhe muita. O que aqui fe diz a refpeito dos Cadeiros , fe deve entender também a refpeito de todas as outras plantas em S. Domingos , em toda a parte , onde a terra deí^a ílha for argillo* fa , ou com pada. Parece indifferente àos índios , que o arti* culo, mettido em a terra , efteja nella deitado obli- qua,ou perpendicularmente. A efle refpeito naõ pen^ faõ do mefmo modo. Tem-fe verificado , que poíías as plantas a prumo , ou perpendicularmente, lança- vao raizes lateraes á direita ; e á efquerda , maS íempre horizontaliuente , e rara vez perpendicu- E ii la- h \ :;, lareí , o que naõ mantém a planta em humi fituacaõ afíaz fixa » em lugar , que quando o ar- ticulo, he deitado obliquamente fahe da ametade deí!e articulo , por baixo huma poderola raiz per- pendicular ; que , unida as raizes horizontaes da direita , e da efquerda dá á planta hum aíTento imbalançavel , e capaz de refiflir aos furacões dos ventos , e ás pancadas das chuvas. Por eíle motivo nas plantações dos viveiros , onde fó íe põem hum articulo, fe põem obliquamente em huma cova de três pollegadas de profundeza , e fe lhe lança por cima hum punhado de terra no meio da folha. Tem-fe enfaiado ver , fe íahiriaõ me- lhores , portas em terra verticalmente ; mas Daõ aconteceo bem ; procurou-le , além dif- fo , fe viriaõ bem , plantando-íe a face do arti- culo em angulo obtufo , para a parte do poen- te , e em agudo para a do nafcente , do mefmo modo naõ aconteceo bem. Tentou-fe ver , fe hum viveiro , abrigado pela parte de Lefie , fe faria me- Jhor , que outro abrigado da parte de Oefte , e decidio a experiência a favor deííe ultimo» Finalmente , procurou-fe experimentar , fe era mais proveitofo abrigallo ao Sul , que ao Nor- te ; o fucceíTo decidio a favor de ambos do mef» mo níodo. Na primavera , quando o Sol difcorrc pelos Signos Septemtrionaes do 2odiaco , o vi- veiro abrigado ao Sul , teve a vantajem ; c pe- lo ( 69 ) lo Outono , difcorrendo o Sol pelos Signos Me- ridionaes , o viveiro abrigado ao Norte recobrou a fua afcendencia , ou fuperioridade : cumpre por tanto concluir : que nas três ultimas pofições abrigadas a refpeito do Sol , quando nafce , he hum favor fingular para a planta (i). Os artí- culos , que novamente tem trazido , e criado a Cochonilha , naõ devem fer plantados ; porque apodreceriaõ. Efla experiência hia-me enfiando cá« ro , quando cheguei de volta do México , quiz impacientemente multiplicar os meus Nopaes , e entaõ vi que todos os articulos , que tinhaõ criado Cochonilha no decurfo da viagem , e que imprudentemente foraõ plantados , morre- rão. Repeti ao depois por curiofidade eíla expe- riência , e tive hum igual acontecimento. Con- cebo efte phenomeno defte modo. Os utriculos da planta eftaõ evacuados , e efgotados da feiba , quando , fc feparaô eftes articulos , para os met- ter na terra, os ramos naô conduzem feiba al- guma neíles utriculos , que fp íe achaõ cheios de CO /«^gf'' <7«^ P^''^ o "^^ortc de fia Ilha covvma fút.ef4e hum abrigo ao Norte , e Sal para abrie^ar as plantas , e as Cochonilhas da vkkncla dos ven- tos. (70) de ar , antes que as novas raizes poííaõ condu- zir para elles novos fuccos, A acçaó do ar , de que ellaõ cheios , lhes corrompe as paredes , a gangrena a ganha, e a planta perece. Confirma efle juizo o fado de alguns artículos evacuados, que efcapáraõ , precifamente onde huma Cocho- nilha tinha vivido , que a cafca apodrece antes de fe feccar , e aprefcnta por baixo deíla outra nova , que a fuppre. Se para fe confeguir bellos Nopaes em hum viveiro , lhe quizerem pôr eftrume , precifa que efte feja compoílo ametade do de bois , e a ou* tra ametade do de cavalios , ou de beftas muares ■perfeitamente apodrecido , ou reduzido a hura húmus, ou terra vegetal. Entaõ fe paíTaamiftu- rallo com a terra ; mas , fora defte cafo , os ín- dios affirmaõ que nunca ettrumáraõ as fuás No- palarias. He precifo imitailos : porque o eftrume naô deixaria de convidar a muitos infedos , e ^ animalejos , como ratos , efcaravelhos , murce- os , la ga rtas , formigas , &c. Tendo-fe plantado os Nopaes , como íe tem prefcripto , precifa cuidar-fe na fua monda , ou capina, ao depois de todas as chuvas , até que fe hajao de femear nelles as Cochonilhas. Na6 fe pode ter huma Nopakria com toda a limpe? 7a ; tem-fe vifto muito poucas aíTun ; porque a preguiça dos Índios donos , e o ícu pouco aíFeio na6 (71) naõ podem fervir de cfcufa aos feus dífcipulosi Naõ deve haver nas Nopalarias outro infedo ,' que naõ feja a Cochonilha , e todos os mais , ainda os innocentes , ou que naô fazem mal al- gum , íicaõ lendo nella muito fufpeitos , menoS a aranha ; ora , deixando-fe envenenar huma No- palaria por hervas eftranhas , além de perpetuar nella as fuás fementes , de forte que as hervas fuffoquem as novas plantas , e opprimaô as gran- des , ou adultas ,ellas ficaõ fervindo de valha, couto , morada , e paRo , ou feva de milha- res de iníedos deílruidores , e muito preju- diciaes, Naõ fe deve mondar huma Nopalaria nova, fenaõ com a faca á maõ (i) : cortem-fe todas as hervas eftranhas , entre duas terras , e com prefteza fe lancem fora , para que naõ lhe lar- guem as fuás fementes. Por efte motivo naõ fe deve efperar que eilas crefçaõ : acautelem-fe de fe fervir da enchada , ou enchadaõ ; porque ef- tes dous inftrumentos faõ muito mordentes , cortariaõ as raizes dos Nopaes , que fe alargaó pa- (0 Arranquem-fe com a maõ as novas hervas , empreguem a rafpadeira, A enchada , c o alferce faã incommodos , e perigo f os para je manejar em huma No» faUria , c nada /«riajím # rijco de mutilar a planta* <70 para os lados , em Jongura de Iiuma pollegada,' ou mais de profundeza. Quando os Nopaes ertiverem em o ponto ide íe lhes femear a Cochonilha , poderão fer mondados com hum facho, antes dalemeadura, e hum mcz ao depois : de maneira çue huma Nc- palaria deve fcr mondada , ao menos , quatro ve- zes no anno : mas evite mondallo , quando a Cochonilha eftiver próxima , ou prompta a fer colhida ; porque o menor abalo , ou movim.ento a pôde fazer caliir ; e fendo neceíTaria a monda , fcja eíla feita á faca. Se fobrevierem feccas por mais de quatro , ou finco dias, pelo Eftio , íé hajao de regar, He muito útil regar hum vivei- ro de Nopaes , com hum regador , de modo í]ue enfope a terra unicamente de féis até oito linhas. O principal frudo , que as plantas tiraó defta rega , he humedecerem as fuás haftes , e lefrefcarem. Vem-fe entaõ arrebentar os olhos > e crefcerem muito mais , os que já eftaó arre- t)entados ; e por huma razaô muito mais forte pódem-fe regar utilmente nas feccas dilatadas do Inverno huma vez cada dia. No tempo das fec- cas grandes , que duraô em Guaxaca féis mezes , os articules fuperiores do Nopal algumas vezes fc murchaó , e os que criaô Cochonilhas fe en- grovinhaò , e enrugaó. Parece que entaõ feria proveitolb fazer correr agua fobre as raízes das plan- (73) plantas em hiima Nopalaria , por dous ou três ininutos íómente , e fazer paras logo ; e por amor diílo a nivellaçaô íeria muito útil. Experhnen- tou-fe o feii bom effeito em huma Nopalaria pe- quena ; mas póde-fe paffar fem ifto. Porém fe efta circumHancia he util á planta , e naõ he nociva ao infedlo , qual lerá a razaó porque fe lhe recufe efte beneficio ? Ora ifto lhe he pro- veitofo ;■ porque fó tem as chuvas , que cahem de cima fobre ellas , íaô a& que damniíicaõ aos infedos. Eflando a Nopalaria plantada , e entretida , como acima fe tem efcrito , as plantas crefcem promptamente : deixaô^e chegar a grandeza con- veniente de quatro para cinco pés e meio , ate féis pés , quando muito. Chegaô a efte talhe em dous annos ; mas dez , e oito mezes , ao depois de plantadas , já eftaó em eftado de poderem s-eceber toda a Cochonilha , e de fe ter íemeado efta. Continua-fe a femear por féis annos , que efte he o tempo que a Nopalaria pôde preílar efte ferviço. Ao cabo delles fe arrancão todos os Nopaes , e fe deíTepaó dos feus ramos , e fe deco- taõ , ou podão a hum pé e meio da terra. Efte ultimo procedimento, que he fempre o mais ex- peditivo , parece menos util ; porque qualquer í^opalaria_^ defta forte , conferva hum máo ar , per- (74) perde a fua galantaria , e he muito pouco aceia- da. 2. As foccas velhas , e os antigos troncos deflas plantas encobrem muitos iníedos prejudi- ciaes. 5. Porque fe fabe que qualquer planta fe aperfeiçoa muito mais á proporção das vezes , que fe repete a fua plantação , e muito princi- palmente a do género dos Cadtos , que fó fe tem podido defpojar d^ multiplicidade dos feus efpi- nhos (1). Pelas operações repetidas ao infinito parece , que por falta defte manejo a planta fe embrutece , e fe volta agrefte, abandonando-íe por muito tempo 30 feu próprio carader (2). CA- (1) EJia ajferçaè ff verifica pot novas ehfer» vafões. (2) Póde-fe difpor hiima Nopúlaria em peças , eomo huma Ajjucareira ; faz.endo'fe plantações juc- «ej/lvas , e anniiaes. AJJegurar-je-hia huma renda confiante , e perpetua^ Creio que feriei provcitefo plan* íar huma Nopalaria no mez de Novembro para o la-^ do do Norte dcjla Ilha , para pcdelLi femear em Maio, forjer 9 tempo de pararem as chuvas* (7S) CAPITULO IX. Das molejlias , dos inimigos , e dos outros aecl dentes do NopaU N A5 ha moledia alguma , inimigo algum , nem accidente que poíTa arruinar huma Nopa- laria , fendo eíla bem ordenada , ou eftabelecida. Algumas plantas , ou alguns artículos , podem padecer , e ainda acabar , mas ifto he hum fuc- ceíTo raro ; porque a ruina nunca he total , co- mo de ordinário acontece nas Algodoarias, In- digoarias , que as Lagartas faô , as que devoraõ tudo. Tem-fe defcoberto três fortes de moleftias , ás quaes o Nopal he fujeito. Algumas naõ faõ contagiofas ; nem pafíaõ de hum para outro No- pal. i. A podridão ,carie , ou gangrena. 2. A diíToluçaõ. j. A gomma. Todas eftas moleftias faô locaes , e , cortando-fe as partes , que fa6 offendidas , alguma coufa pelo vivo , fe falva o refto da planta , e pôde fer efte aprovei- tado. A podridão , carie , ou gangrena íe manifeííi la de hum dia para o outro , ou de huma tarde para a manha feguinte , por huma mancha negra, esfacelofa , e redonda em a fuperficie dos artículos^ mais j (76) mai"? , ou menos profunda. NAIgumas rezes; <^U3ndo fe tira , ou efcarifica eí!a mancha negra, a lubflancJa interior apodrece ; e a podridão fe eííende , c propaga , corrompendo o refto do ar- ticulo. Algumas ve7es também fe forma ncfle lugar hum efcarro naturalmente , e a podridão de fi me ("mo fe termina ; mas naó fe precifa eí^ perar efle acontecimento : he muito melhor ef- carificar a parte enferma. I-ogo , tirando-Ihe ate o vivo tudo , o que fe tiver corrompido : fe deve furar o artigo de huma parte a outra , ou cortar- Ihe a maior parte. O verdadeiro JSÍopal do Méxi- co he fobretudo muito fujeito a efta enfermi- dade. A difToUiçaõ he huma decompoficaô fubita de toda a fubíiancia interior da planta , ou por- que eila efteja preparada de muito tempo , ou porque he o eífeito fubito de huma coufa mo. mentanea infinitamente afciva. Hum articulo, ou hum ramo inteiro , algumas vezes unicamente o tr(nico da planta , paíTa do eílado appaiente de faude , em que eílava dentro de huma hora , pa- ra huma putrefacçaõ. Hum inftante antes vós a vedes luzidia , e verdejando , e n'outro inflante ao depois de hum amarello fordido , com o bor- nido , que aprefentava a cafca , todo perdido. Sen-' dai-a , ou penetrai-a com hum alfinete , lhe cor- rerá agua em abundância , fe a cortardes com hu. ( 11 ) huma faca , vereis toda a fua parenchyma apo- drecida. Naô ha outro remédio , fenaó a efcari- ficaçaõ até tocar no vivo. Examinai fem pieda- de , fe o tronco , e raizes eiliverem inficionados , arrancai-a toda , e mudai a terra , e fubllituí ou- tra em feu lugar. A Opuncia de Campeche he muito fujeita a ePia moleília. A gomma he a terceira moleília dos Nopaes ; manifefta-fe dcfle modo ; a parte , por onde faz a fua efcoadura , fe entumece , fe eftofa , ou incha , fem que mu- de a fubflancia , ou a cor r fotma-fe huma fen- da , ou racha , de huma pollegada de grandeza , maior , ou menor , pela cjual decorre hum hu- mor , que fe coagula em lagrimas , como huma gorama farinhofa , opaca , amarella , em os No- paes ; branca porém em o Nopal de Caíléíla. Ef« tes laô muito fujeitos a eíla moleília, e talvez ; porque as raizes deíla , exceíTivamente gulofaá , tomaô maior qu'antidade de fubííancia , que os feus articulos podem gaííar ; e por iíTo , efla fei* ba , accumulándo-fe nos utriculos da planta , fe esforça , para fe livrar delles , por caminhos ex- traordinários. Tem-fe advertido , ao depois de fe ter obfervado os cannaes , ein que ella fe ajun- ta , que eíia feiba he esbranquiçada , como o lei- te grofPo, ou menos fluida que a feiba , quede ordinário he limpa , e corrente. Será ^ feiba corrompida ? Seraõ os fuccos mal digeridos ? Fi- nal- m m!'? i|!:^ (78) nalment* he huma fubftancia diverfa da feiba , hum exceflb da boa faude da planta , ou a cor- rupção dos feus fluidos. O íeu remédio também be a efcarificaçao até ao vivo , que vale o mef- mo , que dizer até os cannaes , em que fe diftin» gue hum liquor de fubftancia ladefcente , efpef- fa , e amarellada dos cannaes. Nos viveiros , dos principiantes principal» mente , eílas moleílías faó funeftas , e fazem re- tardar o féu adiantamento. Felizmente coftumaô íer raras : nas grandes Nopalarias naô caufaõ hum damno fenfivel. Somente fe falia a feu ref- peito , para djfpor o cultivador contra a admira- ção , que elle pôde ter , vendo o feu viveiro doente. Eftas faõ as enfermidades do Nopal , conhe» cidas até o prefente. Conhecer-fe-ha , que fe fal- ia fobre efte aíTumpto mais para recommendar, a que fe naõ tenha medo delias , do que para o provocar. Em huma palavra, para fe dizer tudo, e quanto fe pôde dizer fobre ella ; porque fejaô eRas moleílias , quaes forem , nunca qualquer planta he atacada no feu todo por ella , ou em todas as fuás partes ; pois apenas hum , ou dou» articulos o faõ : Se for no topo > fe lance ef!e abaixo , e o refto irá avante , e encherá todas as fuás funções : Se for no meio de hum ramo, OU tronco , fe lhe tira de huma i c outra p*''ít« » até. (.79) ate ao vivo. As partes fuperiores faÔ sãs , e fè podem replantar, e as que lhe ficaô por baixo, voltaó a produzir novas borbulhas. Finalmente , fe for entre as raÍ7es , e o tronco , fe corta o tronco , e fe arrancão as raizes ; e como iílo dá lugar , a que le defconfie da qualidade da terra , fe muda efta , pondo-lhe outra em feu lugar : c nerta fe replantem as haíles fuperiores do Ne- pal. Efte cafo he o mais extremo , o mais pre- judicial , e felizmente também he o que rariífimag vezes acontece. Os inimigos do Nopal , nem por ííTo fao mais formidáveis. Os feus damnos também naó faô univerfaes. O i. he o rato: tem-íe vifto a eftes roeram os Nopaes novos , e velhos em tempo de careílJas , iJio he , no coraçaÕ do inverno , e ifto fó tem acontecido duas vezes, e ainda ef- tas forac em huma camará , onde fe tinhaõ pof- to duas' caixas com Nopaes para experiências , e morava em hum ninho da mefma cafa ; e naÔ fe vio já mais no campo huma tal avaria. Os meios de fe deftruir eHe inimigo faÔ multipli- cados , e mui conhecidos , para fe haverem de re- petir aqui ; donde fica á efcolha aquelles , que tiverem , de que fe queixar , ou que fe recea- rem. O 2. inimigo , cujos delidos faÔ multipli^ cados, mais communs , e melhor conteftados que o (8o) O dos ratos , he o Bhta Lucffuga de Línne § que nas Colónias chamaõ Rijvet : quando í'e en- contra nofj Nopaefj , o que he raras vezes ; por- que prefere a moradia das caías , os defmorona- dos , os fragmentos dos corpos vegetaes , e fobre tudo , dos animaes , as velhas paredes , onde fem- pre acha cevo para o feu fuftento , efle devo- rador iníed^o , que tudo lhe faz conta : roe as novas borbulhas dos artículos, e deixa as adul- tas. Senaõ foíTe a Aranha caçadora , chamada por Linne V<:natona , feu inimigo adlivo , que a vigia dia , e noite , e empenhada contra ella com felicidade (faz preza nas maiores, e as co- me ) e fe além diíTo o damno foíTe notável , e frequente , aconfelharia , que pozefíem certos fle orifício eílreito, meio cheios de calda de aíTucar, naõ azedada , fobre alguns Nopaes. A Barata prefereria o mellado , naõ haveria alguma nas plantas , porque todas correriaó , ainda que fof- fem a milhares , e fempre fe affogariaõ na cal- da CO. O j. , e ornais formidável, que os prece- dentes he a Larva > ou Lagarta de huma Fale- (i) UMe de fie meh nos pofJibacs , e gúWiM' ro , e acontece muito bem» C8i> na , que ainda fe naõ conhece ; a qual ha pei quena , amarella , tranfparente , e fem pello , da groíTura de huma penna de perdiz. Situa-fe qua- fi fempre no meio da borbulha do articulo , que vem rebentando, coberta por huma galeria de teia fiada por ella , aífim que vai comendo a tenra fuperficie da borbulha , quando eftá en- coberta nos articulos. A Larva penetra com hum buraco a cafca , at(^ a fubílancia carnuda , que ella devora , confervmdo a cafca , como paredes do feu alojamento. Eafta huma fó , para deílruir todo hum articulo , antes que eíle poíTa rece- ber todo o feu crefcimento. Conhece-fe pela teia que ella fia , antes de penetrar em o interior do articulo ; pela tranfparencia do mefmo , pois na5 lhe oflíende a epiderme : finalmente , pelos ex- crementos em caldo amarello , efpalhado pelc> articulo , fe defcobre. He precifo naõ haver def- cuido em a catar de manhã , e de tarde , e de a efmagar logo , que a apanhem. Encontra-fe com facilidade nos viveiros , que eílaô em feiba , e mui commummente em todas as Opuncias , e Kopaes (i). Efte inimigo he , como os preceden- Part. Iir. F tes CO ^és a vimos fobrc g Caãeir» Peref- C 82 ) te« , menos perirofo a hurra Kopalaria , que ^ hum viveiro; mas á efte caufa maiores damnos^ que algum dos inimigos precedentes , de que te- mos feito mencaõ. Finalmente o 4.0 inimífro do Nepal he hum Cdccus , que naõ he , o que l inne chama Hefpe» ridnm ; porque he infinitamente maior ; porque o feu macho naõ tem azas ; porque alarva, em C]ue fe encareta a fêmea , h»cor de purpura , e a de que fe falja agora he menor , que as duas pre-, cer^entes , leu m.acho tem azas , e a lua Larva he amare lia. Logo íe deverá chamar Coccvs Opuntt^e,, af- frm para a diííinguir das outras duas , como por f^ naõ ter viílo habitar em alguma outra plan- ta fora da Opuncia. Naó defcreverei os cara- «fteres efpeciiicos , afiun do nacho, como da fê- mea : porque o macho hc quaí] imperceptivel á fimples vifla ; mias ííSmente por traços , que fe* jaó fenfíveis , para advertir , que efíe he hum in- íeâo , e naó huna molenia da cafca da plan- ta , conio fe poderia julgar logo á primeira vida. Os articulos do Nopal faõ por tanto algu- mas vezes cobertos de pequenos pintos amarel- h- mendo-o. Naõ fe vé em lugar algum , que clle fallafle do Cocruç , como de lui na lublUncia animal (i). O Plinio Sueco, que tudo vio mais, c muito melhor , Linne em o leu Sylíema da Natureza , clevando-le ao mais alto dos Ceo.s , lança de lá eíla vifta penetrante , e rápida de águia, fobre os três reinos da Natureza, abra- ça a totalidade dos entes , até aqui conhecidos , penetra os feus myílerios , e os revela ao uni- rerfo , e traça com hum buril igualmente grave , con- (0 ^^j^f*-' no Cap, IV. da Hljhrla Natural Xib, XXIV, Jallando do Coccus do Carvalho eíl autcm , fsrc, , q^4 alU naí cjiava Unge dejia v^r- ( 91 ) concifo • e naõ apagavel o carader próprio da cada género nos verdadeiros limites , que o Crea- dor Ilie aíl^gnou (i). Linne pois, tao incapaz de hum tal erro , como o feu Século, reteve o nome de Coccus , e le fervio do raefino teraiQ para defignar eíl* família de infeílos hemipteros , cuja cabeça he hum ponto na fuperficie do peU to, cujo abdómen termina por pequenas fedas? c cuja fêmea he fem azas, no entretanto que O macho fó tem duas erguidas. Em hu;n inilant^ fe arranjarão vinte e duas efpecies de infeclos i,' em a fua ordem, á vifta da definição genérica^ que elle lhes deo ; e , por huma feiiz lingularí- dade , fe acha primeiramente o Coccus conceitua- do pelos antigos , e por Plínio mefmo , como huna graõ , como huma producçaó vegetal , nomeada | ao depois delle , pelo povo Kermes , graó de elcarlate , iíío he , Coccus illcls , ou Coccas áo Carrafco ; e depois o Coccus de Polónia , outro jnfedo que mora, ou fe domicilia nas raízes do Scefcranthus (2) vividoira , e dá huma cor de purpura; e finalmente o Coccus do Cado Co- chonilheiío , que he a Cochonilha. Três efpe- cies ♦ . ■ Ii:: (O y^J^-f^ V cío^io citie fe% Irf. Linnc nai Memorias da Sociedade Real de Medicina . (^2) Poiygonum Coccifcrum. cies de infcílos do mefmo género , que daô a» mais foberbas cores , defde o cannezim até a cor de fogo ; e que o Author de tudo parece que tanto quíz realçar aos olhos dos homens por ef- tas precioías qualidades , quanto parece havellos aviltado pela exterior , cujo, abjedlo , informe* e imperceptivel , que lhes deo. Além das vinte e duas cfpecies , de que falia , encontra-fe , como diíTe no I. Livro , huma efpecie particular nos Cados comprimidos , que fe chamaô Opuncias. Ainda fe daó algumas mars fobre o Theobroma gazuma (i) . Sobre as Mimo- sas Cassiafistula Alexandrina , e diverfas outras arvores Americanas , defconhecidas á Europa. Os vizinhos de S. Domingos criaõ , pela opi- nião doP. Labat, Plumier , Nicollon , e outros , que elles tinhaõ a Cochonilha do México , mas eíla opinião fó era fundada na prefumpçaó de falfas obfervaçoes ; porque eíles Authores naõ falla'raõ da Cochonilha , que elles naó v/raõ ; mas fim do Coccus fem azas (aptcro) , que fc en- contra em muitas efpecies de arvores. Como fe poderá juftificar a preguiça , e a índiífcrença dos vizinhos de S. Domingos ? Per- fua« (O Olmçiro de^.Dmingth (93) íuadiad-fe altamente , que neíla Ilha Iiavia a Co- chonilha. Conheciaó o grande preço defte géne- ro , e nau fe interefiavaô em appropriar a fua cultura ? Sabiaó que fe dava a Cochonilha, e naõ íe inquietâvaõ em conhecer, fe era a fina , ou a filveftre ? Se acafo feria poífivel procurar a primeira, colhendo a fegunda ? Finalmente criao ver , e moílravaõ com confiança o Coccus inutí" Jh das arvores (i) , como Cochonilha verdadei- ra , fem faber que efl:a ultima naó podia habi- tar eftas arvores , e que , em lugar de viver na Guazuma , fó poderia fazello na Opuncia. Final- mente , fabia-íe que havia Cochonilha , mas na5 onde exiRia , e fe fallava a feu refpeito , como f« tudo ifto fe foubeíTe. CA- (i) HetouÇã rara i que fe pr&curem nham paí% êulturits novas , onde ãs terras ejiaõ em grande valor , naõ hc por tanto admirável cjue os Colonos ricos pC' lo rendimento de [uasjazendas , nau olhajjem até agO" ra para o infeão , (jue fe apontava CêiriQ Çêchonilh^ « fenaí , e^mo objelio dt curiojidade. CAPITULO ir. Da Cochonilha em geral. Cochonilha obteve cfie nome pela fua fe- melhança com a Coccinella , irileí^^io coleoptero irnii djfferente do Coccus , ou também ao aveíTo, a Coccinella naõ feria aíTím chamada , tanto por íer na apparencia hum diminutivo do Coccus , como porque os contornos da fua forma hemis- pherica a fazem aíTemelhar , ainda que muito Smperfeitamente, com a feniea do Coccus ; ou, em fim , o nome de Cochonilha naí5 teria fido dado ao Coccus dos Cadlos Cochinilheiros , em raza(5 de huma efpccie de Cêccinella negra , que liabita o mefmo Caíílo. Iflo he aííaz verofimil , C neííe cafo a Cochonilha equivale ao Coccus do Cado , que produz a Coccinella. Ftlas e*y* xnologias parecem vãs , mas como , na ordem dos conhecimentos humanos , as idéas eftao applica- clas ás palavras , e que eflas fao muito menos que as idéas das coufas , em a lingua de hum po- vo inflruido , he conveniente conhecer as radi-». cães ; porque, eftando huma idéa unida a outra , ferve de fignal , defperta , ou ainda faz nafcer huma terceira. Parece que até o prefcntc os Naturalizas fó ' tem (9?) tçm conliecido a Cochonilha ÍÍIvenre ; pois qu» elles ió. a efla delcreveraó , entre tanto que o» rultivad(íie«? , os i\'e?:ociantes , os Tintureiros Ih© crMiheciaô iMfíerentes fortes, c principalmente » Çoclionilha lloa. Os Naturalizas , que falláraô deíle infe^o , talvez rcípeiíátaó a Cochonilha fina , como hu« ma íimples variedade da íilveare ? Ma» cfia va- riedade tem difFerenças taó numcrofas , taó in- tereíTantes , cue a poder-fe ter hum numero cxa infinitamente fina, e vifcofa , de que fe cobre; e que feus movimentos cftendem ao redor do leu corpo , excepto por debaixo do thorax : em <]uanto ao macho : apenas defpegado do cordão umbilical , introduz liuma tromba menor na plan- ta : cuidar-fe-hia que elle fe faz huma pequena bainha algodoenta , e pulverulenta , de hum tecido muito fino , de huma figura cylindrica , e tam- bém cónica , pelo ápice do qual , e com ajuda <3a fua tromba parece cftar pendurada em a plan- ta ; mas efta pertendida bainha he o crefcimen- to da pelle , com. que elle nalceo , c da qual pouco a pouco fe defpcga : he huma larva , em que paíTa embrulhada , como em hum coeiro , cu mantilha o tempo de fua infância , e mocidade até a perfeita puberdade , que lhe chega trinta dias depois do fcu nafcim.ento ; então fahindo para trás , ou recuando deíla mafcara , de que intei- ramente fe defpe , apparece debaixo da fórm.a de huma pequena , e linda moíca , de cor acendrada , ou de fogo fubida , tirante á da purpura , tendo pequenas antennas mais curtas hum terço , que o comprimento do feu corpo , e duas fedas pof- teriores ao abdómen , que faõ da grandeza do corpo .' he ornado com duas pequenas azas bran- cas deitadas horizontalmente , e cncruzando-fe alguma coufa fobre as cóftas : com cfle atavia nupcial igualmente loucam , aíTim pela «legancia da da fua figura , como pelo brilliantifmo da fu^ cor , lie que elle fe abalança , voeja , faltando em altura de leis pollegadas , para procurar a fua fêmea, Naõ fe embaraça muito na fua efcollia, anda ao redor de huma , encoíla-fe a ella , a af- faga , e a acaricia por alguns inílantes , ádircita^ c á efquerda , fobe-lhe nas cóílas , aíTerra-fe , e acaba , affignalando-íe a fua ternura á maneira da todos os paíTaros : confummado o cafamento , o efpofo coroado com as murtas do amor , talvez opprimido do feu pezo , paffa do exccíTo do de- leite para hum eterno repoufo no mefmo dia , c muitas vezes na mefma hora. A (Quantas fêmeas poderá baftar hum macho ? Ignora-fe a refpofta. Talvez feria melhor perguntar : quantos machos feriaõ baft antes para huma fêmea ? Vem-fe fub- ftituir muitos vivos aos mortos , naô todos os dias, mas muitas vezes entre o nafcer do Sol j, e o meio dia. Oito dias depois de ter a Cochonilha infe- tido a fua tromba j c fixado na planta , as fedas de que tem bordadas as margens das fuás eólias , fe augmentaô em grandeza , e talvez em número j. porque parece que lhe cobrem todas as cofias s entaô fe entrao a ver muitos pequenos fluccos brancos, que contém fêmeas Cochonilhas, huns feparados dos outros , e alguns amontoados aos centos juntamente : naô fe diílingue ouua cou- fa. ( 104 ) •fá , fenaõ que eHes floccos feparados em grup- pos , ou montes , fe augmentaô cada vez mais em volume á proporção da idade dos infedos : o algodão , ou cotaó , de que fe vertem contra- lie huma tal adherencia com a planta , que quando fe esforçaó para defpegar delia a Co- chonilha , huma muito grande parte defie algo- dão , de que fe cobre , fe deixa ficar pegado á planta. Trinta dias depois do feu nafcimento , a fer inea fe põem no efíado de poder fcr fecundada ; entaõ já ella tem adquirido a terceira parte do volume da fua grandeza ordinária : a aproxima- ção do macho Jhe he muito fenfivel : vê-fe a el- 3e mover-fc três , ou quatro vezes no tempo das iuas primeiras caricias , e ao depois deíícs movi- mentos fica inteiramente immovel , c fe deixa fecundar com muita facilidade : Também a fua gcftaçaõ dura trinta dias : nós dez primeiros cref- ce promptamente, c chega a metade da grandeza de hum graô das hortas. A naô haver algum retardamento por cau- fa de algum accidente , como feria faltar-llie o macho no dia prefixo da puberdade das fe- meãs , que vem na vefpera , ou de manha no dia da Lua cheia. Se forem nafcidas na Lua nova parirão na fegunda Lua nova , que íc fe- gue. No ( IO? ) No dia do parto a fêmea paga á Naturera o mermo tributo , que lhe pagou o macho , inorrendo no dia das fuás bodas ; e aíTim a vi- da do macho naõ avança mais que trinta dias ; e a da femca feíTenta , iRo he , duas revoluções completas da Lua. O iiucho efpira no feio das delicias , e a fêmea , cuja vida fe prolonga huin jnez mais, morre entre as dores. Nova prova da compeníaçaó univerfal eílabelecida na Ordem Phyfica (i). A Cochonilha macha , ou fêmea ao depois de haver inferido a fua tromba na planta , nao pô- de tiralla mais efpontaneamente , quando por ver chegar-fe a ella qualquer inimigo , pertenda fugií" , como, por exemplo. Traces, ou Falenas deílruidoras. A fua tromba fe eRira : o pezo de leu corpo arraílra os feus pés , os quaes tirados do lugar , em que ertaõ , nao voltaõ mais a qU ]e ; a Cochonilha íica pendurada pela fua trom- ba no lugar , em que ella a introduzio , ou met- teo , defecca-fe , e morre dentro em hum , ou dous dias ; ou, fe eíla tromba fe quebra , a fua extre- midade , ou ponta fica cravada na planta , o in- fe- . (i) E/Ia inducfao ntra nos parece apotaiU fcb^tí tíbfâivíi^çíf muito Jttjj'ísUttíis para Jar aámlí-^^ tida. (106) ftão cabe, ou morre ainda mais dep refía. Di/í o fc colhe que , pafTado o inllante áo icu nafci- mento , já naõ fe podem paliar mais a? Cocho- nilhas de huma planta para outra ; c que fe por exemplo morrer hum Nopal , todos osinledos, que nelle elliverem , deverão acabar igualmen- te com elle : quando elhes fe feccac , ou apo- drecem , neíle momento as Cochonilhas' tam- bém morrem , e os feus efqueletos fe feccao i|;ualmente. Se houveíTe em alguma horta dous Nopaes , cjue difíaíTem hum do outro cem paíTos , e que cm hum deíles fe tivefíem pofío Cochonilhas fil- veílres , e naô no outro , naõ fe deviau admirar de ver , paífados dous mezes , e também quinze dias , Cochonilhas , no que fenaõ tmha pofio ; ou porque fe tranfporte a ellc , guiado pelo íeu ínííindo ; ou porque o vento , ou outro algum iníedo os hajao de tranfportar (i), Confirma-fe eíle fado com tantas experiências , que nao he licito duvidar mais da fua certeza. Efta he a ra- «aõ , porque eíle iníedo miílurado com a Cocho- ni- (i) Js pequenas Cochonillas rtêã Jômeníe podem fer tranfportadas pelo vente , ou por qunefquer infe- £ios como formigas , mas etlas pedem pajjar de hum fé de Nepal , a outro pelas fios das aranhas , quç lhes fervem como de condutores. ( I07 ) Bilha fina , a arruina ; e porque fe efiabeleceo a cima no Capitulo VII. do I. Livro , de eílabele» cer a Nopalaria da Cochonilha fina ao Norte a cem varas de diflancia da Cochonilha filveftre , e a na(> poder fer de outra forte, de as pôr ao vento em i^ual diflancia. A Cochonilha fiiveftre huma vez poíla em hum NopaP fe perpetuará nelle fem algum cui- dado mais , e fe multiplicará até cancar , e enfra- quecer a planta , cujos articules apodrecêiaõ , ô cahíraó todos , huns atraz dos outros , naõ fe tendo cuidado de a colher todos os dous mezes» Eftcs fados faô comprovados por milhares de experiências nas hortas , nos campos , por obfer- vações de cultura , e peias da Natureza , entregue^ e abandonada a fi mefma. Quando , ainda ao de- pois de a haver colhido , fcnaõ femeaíTe nova , as primeiras pequenas , novamente nafcidas , efca» pariaó fenipre em quantidade fufficiente , para per- petuarem nellas a fua efpecie , e ficariaõ ainda fobre o Nopal , quantas baílaíTem , para o ani- quillar quatro mezes ao depois. He verdade que neíle cafo fenaõ confeguiria huma colheita fuffi- ciente dous mezes ao depois , mas fe teria hu- ma abundante » paíTados quatro mezes. A arte en- fina a ter-fe huma colheita todos os dous me- Ecs , e a defprezar-fc , a que íe poderia ter paíía- do8 II ( io8 ) Ôos os quatro mezes , ficando nefla obrigaçacl a fimples Natureza. Com effeito a Cochonilha , que elJa conce* de defta íórte , he fempre mais pequena que a que fe obtém por femeadura ; porque no primei- ro cafo naõ fe apartaú da mai , amontoac-fc ap redor delia , opprimem-fe humas ás outras , e o que he peior , fica<3 obrigadas a fatisfazerem-fe de hum iugar enfraquecido de fubílancia pela longa moradia , que neile-fizera apropria mar Efte enfraquecimento he tal , que o lugar , em que huma Cochonilha mãi tem vivido dous me- tes , fica chupado huma linha de profundeza , e ir.eia pollegada de diâmetro : a impreíTao , ou fi- gnal , que lhe deixa, amarsllo, fe aíTemelha ao de huma bóia dura fobre hum coroo molle ; donde refulta a moleília , e a ruina da planta ncíia parte , a perda de huma geraçaõ , ou colhei • ta de pequenas Cochonilhas , e a irDpoíTibilidade da fcguinte colheita. Para fe obviar a degeneração do infe^o , e para, pelo contrario , conlervallo em huma bclU qualidade , c ainda aperfeiçoallo ; para evitar a fuina da planta he precifo , que fempre fe pro- porcione a quantidade , que ella poíTa manter, ecompcnlar as colheitas, femeando em todos os dous mezes , e colhendo em o mefmo tempo ; Mias faz-fe precifo , que fe haja de colhsr radi- cal- ( Í09 ) caltnente , e alimpar a planta do cotaõ , que o iníedo lhe deixa , esfregancio-a com hum panno de linho molhado , que o tire. Por efte meio tam* bem fe pur^a dos ovos , e das chryfalidas dos in- feaos dertruidores , que poderem eílar efcondidos cm o cotaõ da Cochonilha. E também por clle a Cochonilha, c^uq fe femeia , fe for da melhor qualidade , dará huma bella geração , e efta fe deve pôr á parte febre as partes das plantas , que naõ for.i6 enfraquecidas , em quanto , as que o ef- tiverem , fe refazem do feu antigo vigor. He precifo applicar-fe em as femear todos os dous me2€S ; porque feria melhor perder huma colheita , ou dous mezes de tempo , que deixar os infedos na planta, que quatro mezes ao de- pois poderiao dar huma mais ampla ; porque , primeiro , a planta defcançaria , e fe repararia nos dous mezes; legundo , porque no fim deíle tem- po, femeando-fe , acolheita feria fempre de hu- ma melhor qualidade , e mais abundante que aquella, que a Natureza per fi fó poderia dar. CA- ( lio ) CAPITULO IV. Drt criíjçaÕ da Cochonilha filvcflre. O Eria impofTivel , como ]i íe percebeo no Tratado da cultura do Nopa] , colher a Cocho- nilha íllveRre em proveito , fobre as Opuncias cípinhofas ,. de que fe fez mençaÕ ; comais def- iro obreiro naõ pôde deila colher duas onças feccas por dia por caufa da difficuldade dos feus efpinhos , e com tudo o mefmo obreiro pôde apa- nhar três anateis feccos por dia , quando fe faz eíla colheita nos Nopaes das hortas. A mui- to tempo tem os índios comprehendido efla verdade ; pois que abandonarão , a que fe cria fo- bre a Opuncia eipinhofa , naturalmente para a haver de criar em os Nopaes das hortas. Mas , íilém da vantagem , que tiraõ de a colher fem fe ferirem , e pelo dizer aíTim , a mãos cheias, lic certo que a Cochonilha filveflre fe tem per íi mefmo aperfeiçoado em o Nopal pela abun- dância , e multiplicidade das colheitas , pelas novas femeaduras , e para a bondade mefma da planta, cm que elhi perde muito da quantidade , e tena- cidade do feu cotaô , e confiantemente a metade mais «rroífa do que he , a que fe vê em a Opun- cia elpinhofa em todas as mattas , c nos cam- pos (III ) pos (O- Adverte-fe que nefias ultimas lie fem« pre mais amontoado , que em o Nopal das hor- tas , onde ella fc efpalha com mais igualdade , e mais diílincçaõ , e encontra hum lugar mais próprio para ie alimentar ; e talvez ella fena5 feparc aíTim , fenaô porque todos os articuios do Nopal lhe hajaó de convir igualmente, em lii» gar que iias outras Opuncias fe daó humas par- tes melhores que outras : neíles lugares fao , onde a» Cochonilhas fe ajuntao , e entaõ eilas íe apertão, fe opprimcm ; as mais fortes acabrunhaõ as maií débeis : e a metade dos infec^tos fica fempre má , c miferavel , fem que a outra ganhe por iflb mui- to. iRo naô acontece fobre o Nopal , onde ca- da huma fe pcem á parte para viver commo- damente. He precifo por tanto , colher facilmente muita Cochonilha filveflre , crialla na Opuncia menos efpinhofa , do que aqucllas , em que fe achao nas mattas , c nos campos. He precifo tam- bém recolher a mais belia Cochonilha fiivertrca que for poíTivel , femealla íeis vezes no anno, pa- 'II (i) O Author fe contradiz. : pots no Cap, antec. af- firma ^ que a Jilvejlrc dejlruirla huma Nopalaria , guando nella fe introduzijje , mas fe ella paÚa a fíV fi* m pela cultura , ccmo a pôde dejíruir. m- (112) para fazer outras tanta<; colheitas (O .' porque o infeílo fe eínalha muito melhor , e Ic fepara mais neceíTarjamcnte Tendo (emeado , que nafcendo naturalmente na plnnta , e na vizinhança da mai. JVluJtiplicando-re o Nopal nas Ilhas Francezas em ponto de fornecer alimento á Cochonilha fina , c á Cochonilha filveílre , fera preciío abandonar toda u outra caíta de Opuncia , e Io femear a Cochonilha fobre o Nopal, Em quanto porem fe efpera , que chegue eíie memento de riqueza para os Colonos ,e para a Metrópole , fe poderá femear, e criar em. a Opuncia de Campeche , e Raqueta Hefpanhola. Viílo o que fe tem dito , parece que fe de- vem efcuíar os Colonos das Ilhas Francezas da America , de terem defprezado o inílruir-fe acer- ca da origem , e efpecie da Cochonilha , que pof- íuiaõ , e do methodo de tirar delia algum provei- to ; porque , naõ conhecendo a planta , que con- vinha á Cochonilha : nem os procedimentos da cultura, ama qualidade , e a pequena quantida- de , que teriaõ tirado d entre os efpinhos do Pe- res.kia , teriaõ fido infufficientcs para os indemní- far (i) Farccc çuc o Aalhov fe efc.ucccra das Ej" tacões» ( "3 ) far He feiís trabalhos , e , naõ acbando benefí- cio algiiin , tériao abandonado eíle ramo de cul- tura , e de conimercio ; e fe teria eílabelecido , talvez 4 contra elle hum piejuizo , que offende- ria as certas vantagens , que as rubfequentes inf- trucções podera.1 procurar* Era logo neceíTario para Ic tirar proveito defta riqueza indígena, que fe pofTuiíTe , que as experiências , e obrer- vações podeíTem indicar os meios , e finalmente fe precifava de coragem , pára ir aprender en- tre os eílranhos a origem , e criação da Co- chonilha filveílre ; e quando fe nao tiveíTe tra- zido a Cochonilha fina , como fe fez ; quando todo o frudo da viagem fe reduziííe a faber tratar da Cochonilha filveftre nas Colónias Fran- cezas , fe julga . que o objedo defta viagem te- ria fido aíTaz importante , e que nao feria inuUÍ fazella , e tella feito. -li;, Part Iir, H CA- A.a C"4) CAPITULO V. Va maneira de f eme ar a Cochonilha Jtlvejlre,- c Hama-fe femear em o ar , íemear huma plan- ta , mas fenao diz femear hum iníedo : he evi- dente que eíla expreíTaõ fabe ainda o erro , em que antigamente fe eflava , de que a Cochonilha era hum graõ , mas fem embargo de fer expref- faô viciofa , como os índios , e Hefpanhoes ufad delia, e que fenaó poderia fubflituir-lhe outra, fem que foíTe por huma circumlocuçaô , que op- primiria o difcurfo , fe reterá. Bafta prevenir que femear a Cochonilha he pôr as mais em os ni- nhos , para que , pondo-fe a eíles em os Nopaes, a fua geração fe efpalhe , fe fixe , fe augmente em efta planta. Paífados dezoito mezes , a plantação da No- palaria , como fe cníinou em o Livro precedente , deve eftar em eflado de nutrir ,' e criar a Cocho- nilha íilveftre .' póde-fe femear feguramente com a efperança de huma colheita indefedivel , mas fó em Outubro , e Novembro fe pódeiá fe- mear. Para que a idade dos Nopaes coincida com o momento da Eílaçaó mais favorável de femear a Cochonilha , he precifo que a Nopalaria feja plan- ("5-) ^ían»a-!a no mez de Abri] , ou c\e Mnio do an- no precedente ; por erte meio ella íe achará etn eílado de fer femeada , dezoito meres ao depois, no momento o mais favorável ; porque as colhei- tas do Jnvemo , como fe dirá nouco depois , Ía5 muito vantajoías : e plantando-íe hiima Nopalaria em Outubro , e Novembro , no anno feguinte chegando a Nopalaria a efíe termo fó teria hum anno de idade , e feria neceffario efperar até o méz de Abril feguinte , para a femear , eRaçao menos favorável ; ou fe deveria efperar até o mez de Outubro feguinte» e fe perderia entaõ huma colheita de féis mezes ; e aííim para obviar a ef- tes inconvenientes , convém que a Nopalaria fe- ja plantada em Maio , ou quando muito , ainda em Abrií. Precifa-fe ainda , quanto for poffivel , que íe femeem as Cochonilhas na Lua cheia', apara iHo fe deve cuidar em preparar , duas Luas cheias antes, as mais Cochonilhas, em eílado de fazer ós feus pequenos nefta phafe : póde-fe por huma volta de maõ retardar a fecundação , e parto das fêmeas por alguns dias , e por efle meio , quan- do o momento de feu parto eítiver muito apar- tado das Luas , trazellas a eHe infenfivelmente em duas , ou três gerações, O primeiro procedi- mento confifte em tomar no Nopal fomente as mais , que ultimamente parem ; porque como H ii feiU". C ri6) fempre fe daí? preguicofas , que haíaõ de p^iríri oito dias ao depois das outras , feiíieando-fe af- tas , e tomando-fe fó aç prsEfMiçofa"? de fua eera- çaõ , íe terá já avançado quinze dias , e aíTim o refío. O feguíido procedimento confiíle em tirar dep>)J5 da impregnação o Sol ás fêmeas , e ainda o calor ordinário , o que fe executa , femeando-as em Nopaes plantados em caixões , os quaes entaõ Ce -deven guardar em Iiuma ca- mará frcfca fete » ou oito dias depois deíle ar- tifício. Em fim , o terceiro procedimento he matar todos os machos , que efliverem em hum No- pal em caixa , em huma camará fria , antes da fua puberdade , e naó dar outros ás fêmeas , fenaõ pafTados oito dias ; por efle meio íe re- duz , ftm fe opprirair , todas as fêmeas a faze- rem o feu parto em os primeiros dias da Lua chsia. Semeaõ-fe as Cochonilhas em ninhos feitos de propofito para iflo. A matéria deftes ninhos he o pecinio das folhas das Palmeiras , chama- das Coqueiros. As Palmeiras novas naõ fe àc(' pnjaõ , do quê o vulgo chama fua folha , fenao muito tempo ao depois que efta folha eflá fec- ' ca: o peciolo defla folha , cu como o vulgo fe explica , o pé 4 ou cabo he amplexicaule , o que quer ( "7 ) ^Uer dizer abraça , ou abarca o tronco da Pal- meira : em quanto he verde, he dura, luzidia, inflexivel , lenhofa ; mas , eflando lecca , a chuva a apodrece , e confomme a pareiíchyma , a epider- me , e de!lroe todas as partes : entaõ nada n.ais fe vê que hum triplicado tecido de fibras mais ou menos groíras , d« huma cor ruiva , aílemelhan- do-íe a lilaífa , encruzada em íentidos oppoílos humas fobre as outras : cada pé deftas folhas pode dar huma fuperficie de dous pés quadra- dos , corta-fe em pequenos quadrados de duass poUegadas cada hum : tiraõ-fe as mais groíTas fi- bras , ou nervos , que faó os mais inflexiveis : ifto faz hum panno claro , e entretanto erpeíTo para fazer os ninhos das Cochonilhas , quando eíle panno eftá aífida muito verde , ou muito inflexivel , fe macera em agua por fete , ou oito dias ; ao depois do que , fe fecca , e fe bate , até que fem fe deíunirem as fibras , íenhaô o ar, ou talhe de huma bolía , e entaõ he que fe em- prega 6. Todo o artificio deíles ninhos fe reduz em tomar cada pedaço quadrado defte panno coita- do : ajuntaõ-fe-lhe os quatro cantos , ou ângulos, e fe prendem fortemente: iPco forma huma pe - quena bóia , onde fc vem as aberturas , pelas quaes fe mettcm as mais Cochonilhas , e quQ permittem aos filhos fahir : eHes ninhos pódém fer- \ ( "S ) fervír dncoenta vezes , tendo fempre a precau- ção de os alimpar , antes de fe íervirem dellcs todas as vezes , que forem neceílasios , e de oí lançarem em agua fervendo , para haverem d© matar os iniedos nocivos , ou os íeus ovos , que poderiaó eftar domiciliados nelles , e terem ahi poflo , e ficado : feccallos ao depois , e re- novallos. O panno deftes ninhos fera melhor , fe fem fer muito claro, ou tapado , ou inflvixivel , tiver groíTura : fendo muito deh:ado , precifo lerá metter-lhe duas , ou três dobras ; pela razaõ , que o grande calor do Sol pode fazer abortar as mais , que eflaõ dentro , o que fará perder mui- tos filhos : quando o panno he grofío , e com tudo laxo , claro , e flexivel ab mefmo tempo , que refifte ao Sol pela fua groflura , admitte a correnteza do ar , que lhe modifica o ardor : di- vide também a chuva , que por erte meio naô pôde offender , nem aos pequenos, nem ámãi, naõ fe conhece melhor matéria para efle cf- feito. Movem-fe a femear defde manhã cedo ao re» pontar o dia : déííe modo os pequenos , que tem nafcido , fe põem debaixo do ventre , ou em cima das fuás cóftas , que fe colhem para femear , fenaô perdem , e faõ os primeiros para a povoa- rão ; como de ordinário cílei fcjaõ os mais for- tes , ("9) tes , elles daí melhores gerações ; por tanto ^ para efte eífeito precifa ter.fe ninho defde a vef- pera preparados , e fó ter as niãis , que pôr dentro : o dia que fe fêmea fe tomaõ ^is mais , que parem ( o que fe conhece por deus ou trea pequenos, que trazem pendurados no ventre), c as que eftaõ mais promptas a parir, o que ih julga pela lua extremofa groíTura : poem^fe 4, S , 12 , 16, 1.° Segundo a quantidade de ninhos , que fe tem para pôr, 2.° Segundo a fecundidade das mais, 3.° Segundo a quantidade das mais , de que fe pôde difpor, 4.' Segundo o numero dos Nopaes , ou dos artículos de Nopaes , em que fe quer femear ; e aíTim hum Nopal , que fe com- pozeflle de dous artículos , naô pôde carregar mais que duas , ou quatro mais , quando muito , pa- ra naõ ficar cangada pela fua muito numerofa geração ; póde-fe fervir defte principio por pw porçaó , para as fcmeaduras : e por confequencia hum Nopal , que foíTe compoílo de 100 artícu- los (alguns ha » que tem 150), pôde muito conduzir 200, joo , 400 mais , quando muito, repartidas a 4 em 100 ninhos , ou por 8 em 50, ou por 16 em 2? : de modoque hum ni* nho de 16 feja poílo na axilla de hum ramo de S artículos ; e hum ninho de 8 , em hum ram© compofto ao menos de 4 artículos , e hum ni- íiho < 1^0 ) íntio de 4 em bum ramo de 2 artículos. Jul^rao que naô he precifo multiplicar muito os uinhns, nem, riiminuir muito o número das mais portas erb ninhos , e toc^avia repartir os ninhos com a maior ioiiaUlade pofTivrl ; e aíTim íe julrra que he muito melhor fazer os ninhos de oito mais , para que o numero dos ninhos , fendo maior, fe dertribuaó melhor os infcâos ; e naó fazellos de huma menor quantidade , para que o traba- lho da femeadura feja menos minuciofo , e ca» minhe mais rapidamente. Os índios naõ le con- duzem com tanta delicadeza ; mas fera naó ter huma grande íomm^a de intelligencia , e de pre- vidência , e ter tanta , quanta elles tem. Ainda que a fua arte feja antiga , e aperfeiçoada a rotina , e a preguiça tem provavelmente introdu- zido abufos na fua cultura ; e he hum muito grande perder as mais Cochonilhas , fazendo-a$ inúteis para a geração pela amontoaçaõ , e ajun- tamento exceíTivo ; o que fempre acontece , quan- do o ninho he muito grande ; porque os filhos leguem o rarto , e buns fe eílabelecem muito per- to de outros. Devem.-fe efcolher , e preferir entre as Co- chonilhas mais , as que forem mais groflas que as outra?* , para as pôr em os ninhos. A expe- tiencia tem moftrado que os filhos íaõ mais for- tes , (121) tes , e a colheita muito mais ampla , e muito mais certa. Tendo-fe poflo em hum ninho o ninnero fufficiente de mais , e tendo-fe cheio hiima fuf* ficiente quantidade de ninhos para a femeadura do dia , precifa que Te ponhaõ proiupíamente ef- tes ninhos antes de fe levantar o Sol , fe for poíllvel. Devem-fe pôr os ninhos fem balan- ço nas axillas dos ramos , introduzindo-os á força entre elies : cravando-fe ahi com hum , ou dous efpinhos , dos quaes hum íegure os ân- gulos juntos do ninho em hum ao outro lado , con- feguindo por eíle meio ficar em huma fituaçaó inclinada fobre os artículos dos Nopaes. O ex- terior do fundo do ninho deve fempre ficar vol- tado para o Sol , cujo calor moderado move as Cochonilhas novas, a deixarem o ninho. Por efle motivo fe deve ter hum cuidado muito paiticu- lar de porem os ninhos fobre a face do Nopal , ^ue olha para o nafcente , e ter cuidado que eftes ninhos naó fiquem abrigados por algum articu- lo , que os prive dos primeiros favores do Sol , quando nafce. Começarão a pôr os ninhos de hum pé e meio da altura da terra , ao nafcimento de todos os ramos, fubindo fempre , e acabando no arti- culo penúltimo , ou ainda antepenúltimo de ca- da ramo ; fe as axillus dos ramos naó forem mui- Ij ( r2z) muito cómmodas , para aíTentarem os ninhos , fe- ia melhor fixallos coin eípinhos fohre huma fa- ce dos artículos. Tendo-!e feito iílo , e a Cochonilha íemea- da , fe conhece fer piecifo que hunia Nopalaria fcja , fe for poíTivel , fe meada em hum , ou dous dias , e ainda em três , e mais ; para que a fua colheita fe poíía fazer toda a hum mefmo tem- po : iflo diminue a repetição das operações ; porque convém íabcr-fe que em feccar»fe cem arráteis de Cochonilha , fenaó gafta mais tem- po do que o que fe gaíla em feccar unicamente huiiiLí. O cotaõ , de que a Cochonilha filveflre eílá rodeada , a faz arreliar ás tempeftades , ao ar livre dos campos. Se acafo algumas houverem de mor- rer , reflaraõ fem.pre muitas , naõ fó para- as per- petuar , mas também para as colher : c aíTim naó fó femearaõ por todo o Inverno , ou nas feccas , iras também pelo Eftio , ifto he , no tempo das aguas , ou chuvas. As colheitas feraó menos abundantes ( dtve-Çe dar eRe defconto ) ; ma» ferao muito vantajofas , para terem o merecimen- to de fe fazerem. O cotaõ , de que fe cerca a Cochonilha fil- veRre , a poern em eflado de arroílar , e de zom- bar igualmente do exceffivo ardor do Sol. Naõ íe tem já mais vindo no conhecimento , que cft» te- C "3 ) lenba offendido a Cochonilha filvefíre , cue ef- pontaneamente crefce , e que em o Porco do Príncipe produz muito bem , e perfeitamente : o que faz prcfumir , que feria muito melhor em as outras paragens da Colónia , onde fegundo a opinião de todos , o calor he muito menos , ou menos temperado* CAPITULO VI. Do modo de fc recolher a Cochonilha Jiheflre, , O Dia da coliíeita da Cochonilha fiJveííre, he o verdadeiro dia do triunfo deíla efpecie de granjearia. Ella he fuperJor a todas quantas fe conhecem em o Univerfo , e naô temo avançar , para que fe hajaõ de convencer : lancem os olhos fobre colheitas as mais preciofas , e as mais interelTantes , a faber , a de grãos , do vinho , do azeite , do AíTucar , dos índigos , dos Cafés , dos Urucús , dos Tabacos , dos Canamos , dos Linhos , dos Legumes , dos Fenos , dos Frudlos de toda a qualidade ; e fe reprefentem os penoibs, duráveis , enormes , difpendiofos trabalhos ; e /i- nalm.ente o tempo , qUe a arte , e a natureza gaftaõ em os preparar : os pezos , os embaraços , os amontoamentos de todas eftas colheitas , a 'I % ' ( IM ) |)recipUaçaõ , com que f^ vem força J os a fareí- ]iis algumas vezes , por naj perderem a totali- dade , ou parte ; peni^em nas C[>eiações igual- mente penofas , nas manipulações numerofas , e delicadas , que a maior parte delias requer , ao depois de ferem tiradas das entranhai da terra ; comparem-fe os leus prodaclos , feus preços , com os da Cochonilha (i) filveflte , e a íimpli- cidade da opeiaçae , pela qual fe colhe , e fe prepara para fer guardada Séculos inteiros , e íe v-eraõ obrigados a coiífefiar que nao ha hu« ina colheita tao facii , huma preparação tao pouco dirpendioía para íe fazer , e para fe guardar. Coihem-fe cem arráteis de Ccchoniiha pela manha, e de tarde íe vendem. Ora eis-aqui o melhodo , com que iílo fe faz. Dous me/es , ao depois que a Cochonilha foi. femeada , hum mez hum dia depois de ou- tro , que fe tenha vifto o macho juntar-fe ás fê- meas , pafTar dos pra?eres ao nada , fe vem fa- hir algumas pequenas Coclionilhas do feio , ou ei>tranbâs de luas m.ãis : Eis-aqui o momento da colheita geral : naõ falteis a ella ; para que as ' Pe- CO He de preíamlr ^ (ji,g o Author naÕ prévio, r^íie o preço tia Cochcnilha abaixaria necejjariamcni/s , fe a cultura fojfe adoptada pelas Colónias Francezas , yçr ijfo (jue o auginento da t]iwntidade de hum ^enerâ Jaz. ^irecljameníe diminuir a valer. ( T2J ) pequenas Cochonilhas nao ie femeem per fi mef» mas , o que íerá em pura perda ; porque , alim- pandcfe os Kopaes , fe fazem inorrer as novas Cochonilhas", que fe efpalháraõ prematuramente, ou antes de çeuH''^' De manhã ao romper d'alva do dia fe* en- tra em a Nopahuia ; ajmuaõ-íe para eíla obra amigos , parentes , vizinhos , eícravos , toda a família , multieres , cri;inça3 , velhos , eíle dia deve íer fefiivo , e de goílo ; naõ ha pefiba al- guma , que deine de fcrvir para iílo ; todos fuõ pioprios para huma colheita taõ !eve ; cada qual fe prove de hum prato , de hum açafate; e ain- da de hum lanço) atado iá cintura pelas qiiatro pontas , de huma faca comprida de 6 políega- das , larga de duas , cujo corte he embotado , e redondo , como huma faca de tocador, naó poíTa cortar , nem picar a planta , nem o infe- ^o fe patTa á lamina da faca , que fe tem na inaõ direita , entre a cafca do Nopa! , e as rofas das Cochonilhas , de que elle eílá coberto ; ellas cahem em a maõ efquerda , que as põem em o Jançol ; tendo-(e hum prato , huma bacia , hum certo , fe aprefenta por baixo da faca , para re- ceberem as Cochonilhas , que fe defpegaõ. Hum rapaz de dez annos pode também colher dez libras por dia , que fendo mortas , e feccas pro- duzem\ ao menos três iibras e meia vendáveis í he i^ i^^ m l C 126) he precifo juntar meiíos terra, e impureza pof- fiveis. DeRa forte fe trabalha até as nove Iiorns da manhã , e neííe iníiante fe mata a Cochonilha, qiierenciò-fe , ou íe trahalha todo o dia , e fe ef- pera matalla na manhã feguinte, para fe ter hu- ma maior quantidade. Ou fe mate em pequena quantidade , ou em grande he pelo methodo fe- guinte. Para dez arráteis de Cochonilha crila tende liuma beócia , ou celha de dous pés de diâmetro , c hum de altura , quando muito : eílendei-lhe huma ferapilheira , ou panno grofleiro dentro, de maneira que, as pontas faiao fora da celha: feito iffo eflendei nefta ferapilheira dez arráteis de Cochonilhas , tendo cuidado , como ellas ef- taõ ordinariamente , amontoadas em rofas , de dividir com os dedos os mais groíTos gruppos , e cubri-as com outro panno grofleiro , que fixa- reis , pondo-lhe pequenas pedras por cima , para que fe naó levante. Ido feito , tende agua fer- vendo prompta , e lançai-)ha por cima tanta , que cubra inteiramente a ferapilheira fuperior : deixai-a entaõ defte feitio por hum , dous , três minutos , o que naô oíiende. JMaô fe receie cou. fa alguma : a agua naõ ten^ tempo de diíToIver os iníeclos , fe elles naô eRaõ affogados , o ca- lor naõ os pôde queimar , nem calcinar. EJIa íó- C 1^7 ) fómente ferve a niatallos , e naõ os priva tnm* bem fegundo as apparencias de algumas partes cflenciaes , que o phlegina, de -que ella facilita a evaporação ; porque teni-fe provado por vinte experiências que huma Cochonilha morta dè^ qualquer ferida fecca com muito maior dificul- dade , e lentidão , que huma morta com agua quente. Ao depois de íe ter decantado a agua fe tí- raõ (O* Efiendem-fe mui ralas febre huma me- 2a , ou fobre taboas , ou em bacias de arame , ou de lata, o que ao Sol, ao abrigo de ventos violentos he muito melhor. Elias fecca5 em hum dia , tendo-fe cuidado de as mexer á maõ ao meio dia , para que as partes húmidas fiquem exportas ao Sol. No tempo deíla operação os trabalhadores mataó outra Cochonilha em agua quente , que íe prepara de propofito , e vaô con- tinuando do mefmo modo , até que nada tenha5 que fazer. Cuida-fe que he proveitofo , ao depois de eítar tudo morto , e fecco , expoUos ao Soí huma manhã , ainda humã vez para os poder feccar mais perfeitamente , e ter o efpirito tran- quil- (i) Efla íigoa he fempre mais , ou menos cora' àa , e he impofivel , que fuc ceda o ccntvarw ; porém he freclfo naí) apreciar as pequenas perdas inevitáveis nas manufaãuras em grande. C 1^8) qiiillo acerca da fiia deíTecacaõ aV»fo!itta : íffò nada cuíia , fe bem em ri o Rei de Hef- panha eftancar a venda deí!e género em os fcus Domiiiios , como fe tem em viRa , quem íabo qual feirí o valor da Cochomllia filveff re , quan- do, a que vier das noíias, poffa bailar ás neceífi- da- ( 131 ) cíadcs dm noíTás mantifadaras , e quando fe po» dera carregar impunemente os Eílrangeiros dot direitos de toda a imporíaçaô deíle precioia género ? r.Ias íe a Cochonilha í;e abr)]utamente ne- ceíHiria á Metrópole , fe a fua exportação lie fa- ciJ , fe a venda he fegura , em huma palavra , fe ha proveito em a- cultivar, e finah-nente fe a fua colheita he cería , e fegura , devc-fe defva- nectr toda outra confideraçao , e hum homeni fenfâto , e de juizo gofiará de criar , aíTim a Go- chonilÍTa filveftre , como a fina. Eíle género he eíTencialraente utií , e ainda neceffarJo á? manufaduras da Metrópole : como he provado pelo iifo dos Tintureiros , que em- prej^aõ a Cochonilha fiiveílre nas grandes . e hoas tintas , e pelo commercio que os noíTos Ne<^o- cianíef? farem deíja. A fua fa£l:ura ha f^ci!, o que fe convence , pelo que fe expoz. Finalmente , lucra-fe em as fuás colheitas* Qa? fe príícifa de Bn oara o feu eftabelecimento ? nads. Çoq tcvY23 ^- jhepóden íacriíicar ? as peiores , menos -3 cr--3;c;ida?. Que negros fe lhe podem empregar? Os m,ais dsbéis, os enfermos , velhos , mulheres pejadas , crian^ ças. Que trabalhos groííeiros fe íer"6 de farer ? ariondar á faca as hervas da Nopiilnria ;. todo o. mgxo he capaz diílo. Que trabalhoi k luô de l ii h- i é iJ^'''", ( 132 > fazer ~, quando as Cochonilhas mãií parem ^ apji- nhalhs , mttcer em ninhos , fixallas em o^ No- paes : eis-aqui a Cochonilha femeada : colliella . inatalla em agua quente , cílendella ao Sol , para d fazer feccar : Eis-aqui todo o trabalho , e ne- nhum he penofo. Em cada colheita fe podem tirar cem arrá- teis de Cochonilha filveílre de hum quadrado e irdos , e aca- bando o feii curfo em os mefmos termos , c]ue a Coclionillia íllvtífire ,' naõ íc daria a Teu refpci- to liuma defcripçaõ particular, te as diíterencas efienciaes nos coítumes , no exrerior , naõ obri- pintcdla aos meus leito res , que , ao depois de terem vifío a da Cochonilha íiiveírre, naõ poderiaõ a primeira viíla i diPune:uir , ie mofliando-ihes a Cochonilha fín; nau tive r- fem conheciiijento dos icus caracteres erpeci* íicos, Naõ fe vê a Cochonilha fina em parte alí^u- ma dos campos , e das mattas do México : elja ío- mente habita nas cafas , e hortas dos índios , que a colhem, .As Cochonilhas fêmeas daô á luz feus íi- 3hos do mefmo modo que as fiiveflres , dous mef zes ao depois do feu naícimento , trinta dias ao depois das fuás núpcias. Apparecem nefte teiDpo do tamanho de huma ervilha de França , algum tanto alongadas , o corpo aplainado da parte ào ventre, e do abdómen , as cofias convexas, lif* Iradas com rugas tranfverfaes , que fe remai ao no ventre ^ com huma duplicada margem , na , t^Uíll í^ Wn >•• r. m ^; iH ii ( 140 ) i^ra! fe vem do7e pequenai fedas cm as novaç ," cue defapparecem nas adultas , as qiiaes fomenta íhe reflaó algumas na extfemid:ide do a'odomen. A primeira vifla fe moílraõ brancas ; porém dcC' pojadas do pó branco , de que fe cobrem , fao de hum pardo muito carregado. Tt;m féis peque- nos pés , quafi imperceptíveis , mettidos nas rugas de feus corpos , do mefmo modo , que a cabeça, ou o feu bico eOá no peito. Os filhos íao contidos em o ventre da mãi , enfartados , como contas de rejar , cm huina pla- centa commum , debaixo da forma de hum ovo. Ordinariamente , quando a mãi aborta , morrem por efttí modo. Mas na paífagem da vulva elles íe defpojaô , quando nafcem , e ent.tõ fe vem perfeitamente organizados. As fêmeas com todas os Tuas feda? faô fáceis de fe conJiec<írem ; o ma- cho , cue as tem menos , tan.bem o he do mef- ir-o modo. A fêmea he da groíTura da cabeçada hum alfinete , o macho he menor o dobro. Al- gumas vezes eílaô dous , ou três dias pendurados no ventre da mãi , e todos juntamente reprefen- taõ hum pequeno cano , ou efpalhados nas íuas cofias , ou debaixo do feu ventre , até que oppri- inidos pela fome , tendo força baflante, para que- Irarem o cordão umbilical , correm a arranjar-fe nos Nopaes. Ainda que fe efcreveíTe em huma Me- íaoiia a eíle refpeito , que as pequenas Cocho- < I4T ) ninia«5 paõ fe paíTavaõ de I um í outro Nopal y teni^rs vifto o contrario ao depois : ifio aconte^ c« , quando os ramos dos dous Nopaes fe tocad» ou quando , cHando apartados dous ou três pé?, fe prendem entre fi por íios de teias de aranhas, Tem-fe viílo as pequenas CoclionJilias correrem por eftes fíos , e procurarem o feu arranjamento cm hum plano differente daquelle , em que naf-i cáraíí. Elias le íixaõ com os feus pés , e com a fua tromba , que ellas logo no mefmo dia era- vaõ na cafca , e o mais tardar , no dia feguinte. A t«'0'nba quebrada , ou frouxa morrem , como a fiU veftre ; e naô podem , como eíías , ferem tranf-» portadas com proveito da planta, em que já ef- tâõ cravadas , para outras. Parece que ellas fao muito mais impertinentes que efias , na efcolha dos lugares , onde devem ficar ; pois fe vem evi-^ tar com todo o cuidado o afpedlo dojs artículos de Lefte , procurar os melhores abrigos da par" te voltada a Oesfuduede para fe fixarem , e evi« tar a violência dos ventos do Norte e Nordef- te , e principalmente a bri^a de Lefle , fempr© irais forte , que a de Oefle. Nefie tempo m mãi , defembaraçada de todos os feus filhos » morre. Dez dias , ao depois do feu nafcimento , a fe*» mea íe defpe do feu veflido bordado , e franjado de fedas pequenas j, e parece cobrif-íe de huiik ( 142 ) po branco finiíTimo , e qij.ifi impalpável ao ta- ^to : entaõ Te parece a eftes grãos de pó , ciie elcapao ao Cabelleireiro , e caliem por terra. No principio os machos cHaf) miriura-los com as fêmeas : ir.as paíTados dez dias , elles fe fazem liumas bainhas; cylindricas , e fícaõ fenda reahiiente hu;r.p.s larvas, com que fe defendem , em quanto crefcem , ficando occultos até a fua puberdade , aíhm como os machos da Cocho- nilha íllveílre. Efta bainha he hum cylindro qua- fi cónico , coberto de hum pó branco , iRo he, pela tromba, que elles fe agarrao , efependurao na planta. Parece que a economia da Natureza cobr/ra a Cochonilha rina deíle pó branco, e gordo , para a prefervar da humidade de huma pequena chuva ordinária , cujas gotas rolaó fobre efie pó , fem poder moihar o infeíí-o , aíhm como arínou a Cochonilha filvel^re de hum cotaõ elpeíTo-, igual- mente tenaz,' e fino contra os choquesVte hum3 chuva mais violentr;, A grande diíferença exterior eiitre a Cocho- nilha filveRre , e a Cochonilha fina i que parecem igualmente brancas , vem a fer , que o corpo da Cochonilha fina , a pezar do pó , de que eftá co- berto , fc percebe perfeitamente bem , ein vez , que apenas fe diílingue o da íilveftre , envolvido no fcu CM3) fcu cotaõ, A Coclionillia íllveílrs lie por tant íiX Wr ( i?4 ) íiUiTia das fuás al»ertiira? para o articulo , em <]ue fe põem , advertindo de naó pôr os ninhos no principio dos ramos , inas fim a pc e meio de altura diftante da teria , e que nao eílejaõ abrigados do Sol , quando natce , por alguns ar- ticulos. A femeadura de huma Nopalaria de Cocho- nilha fina deve acabar em dous dias , quando muito , para que a colheita fe poíVa fazer , afliin como a deíficaçaô , em taõ pouco tempo ; por €fta razaõ he que os ninhos fe devem ter feito três dias antes, c as mais dever fer poflas deU'. tro , depois do meio dia , na vetpera antecedente , ou muito de madrugada no dia da fua femea- dura. Ignora-fe , fe em as Províncias de Guaxaca fe ^ajaõ de femear pelo Inverno três vezes ; ef- tou perfuadido que naó. Os Âuthores dizem, que a fegunda colheita he fempre inferior á pri- neira ; e a terceira ainda mais que a fegunda, O que prova que a fegunda, colheita fomente he o ffudo dos primeiros filhos nafcidos , que ef- capáraó entaõ da colheita ; mas o que íe vc em Guaxaca , moflra o contrario. A bella. Nopalaria , do preto forro, ou liberto , onde fe comprou a f 1 Cochonilha viva , eflando no momento da vigí- lia da terceira colheita , todas as plantas , e feus 1 artículos cílavaó uniformemente carregados , o naó \ (15-?) naõ fe poder tocar nos artículos fem fe efinagarem; as Cochonilhas da mais belía groíTiira , e tamanho , que até entaõ tinha vifto : a groíTura da reparti- ção das Cochonilha"? em todas as plantas , e feus artículos provaó que cfta Nopalaria tinha fido fe- nieada ; a do Alcaide de S. Joaõ d'ElRei eftava no mefmo eftado , e affim devemos acreditar que fe lemeaõ três vezes; e no cafo de que aíTim liao feja , a mediocridade da fegunda , e da terceira co* Iheita prova , que fe deve femear três vezes , pois que , quando fuccede deixar-fe femear a Cochonilha fina per li mefma , dá menores co- lheitas. Oito dias , depois da fementeira da Cochoni* Jha , ou quinze dias ao mais tardar , fe faz pre« cifo tirar de todos os Nopaes femeados as mais Cochonilhas , que eítaô em os ninhos , tirar os efpinhos , e naó deixar coufa alguma nos No- í^aes : a limpeza , e a economia o requerem aífim : a limpeza , porque , deixando^fd-lhe eRes ninhos fobrc as plantas , feria hum vaiha couto dos. iníè- £íos deftruidores ; a economia ; porque as mais Cochonilhas , por terem o feu ventre concavo , ou vazio naô devem fcr rejeitadas : ellas confervau ainda muitas partes colorantes ; mas , como fa- hindo dos ninhos , naó eílaó feccas , convém dar- lhes hum' repaífo de agua quente , como fe di- rá daqui apouco, para a fazer feccar prompta- men- ( IS6 ) 3«ente , e vendeIJas com a Cochonilha da co- lheita. Três , ou quatro dias, ao depois da fementei- ra , o.rdinariai-nente fe rem todas as pequenas Co- chonilhas portas, e efpalhtdas por toda a fuper- ficie do Nopal ; e dentro eai oito dias fe vem alvejar os Nopaes infenfiveimente , mas na(5 ef- tando todas as mais promptas para huiwa igual poílura , quando fc naô teve a precaução de ás efcolher da mcíma idade , e do me (mo ponto , como por exemplo , na5 fe tomando aquellas , em cujo abdómen fe vem já os pequenos : acontece que as mais ícrodias , ou tardias , ainda no fim de oito dias , naô tem pofio , e fe faz precifo en- tão efperar , e nao tirar-lhe os ninhos ; pois fento t-em toda a certeza que todos os partos eftsjao acabados. Daõ-fe Cochonilhas fcmeas , que naõ tem íído ainda fecundadas ; e que , pouco depois , nao deixaõ de chegar á mefnía grandeza que as Co- chonilhas mais ; entaõ debalde fe efpera a fua poítura ; ellas vivem nos Nopaes muito mais tem- po que as Cochonilhas mais , que morrem logo depois do parto : e ellas vivem ainda muito tempo, depois que faõ feparadas do Nopal , e enganao a viíla ; porque fc cuida que faõ Cochonilhas mais : Convém por tanto , para que fe evite eflc enga- no. C 1^7) no , nai) apanhar , para femeur , fenaõ as mais ,- que ft virem com filhos. Do momento , em que fe vir que as Cocha- niUias fazem a fua poílura , deve o infpedor da Nopalaria de manha , c de tarde , ou , ao me- nos , huma vez por dia , lançar-lhe os olhos geral- mente , para efpreitar , fe exiftem alguns inimigoSj^ c deflruillos ejle mefmo ; e que , havendo mui- tos , ordene fem perda de tempo o trabalho , e diligencia de os caiar. Devem cftes exames fe- rem contínuos até a colheita , e no cafo , de que o naõ poíTa fazer todos os dias , o deverá repelir pelo menos todos os dous dias ; iRo naó deve parecer penofo , nem humiliante. Hum fenhoF de Engenho , ou Proprietário das AíTucrarias , que he fabio , dá todos os dias huma volta á fua fazenda , vifiía os feus eftabelecimeníos , e fundações. A vifita , que fe aconfelha ao cultiva- dor do Nepal , deve fer para elle hum paíTeio , como he ao do Aííucar : efte he o dever do eflado ; e o feu intereííe , ou conveniência he quem o prcfcreve , tanto a hum , como também ao outro. Querendo-fe imitar fervilmente aos índios g o tempo ^da fementeira fazendo fer fempre o mefmo da colheita , aconteceria que eíles dous tra» balhos , coincindindo no mefmo tempo juntamen- te , poderiaõ fazer precipitar ambas as operações ; que C líS) Í! i^ue cada humt requer tranquillidade , e refíe* xaó , refultando diílo perda de tempo, e doj melhores infedtos , novamente nafcidos ; porque antes de os colher , fe feria obrigado a femeallos ; pois que fem iíío as primeiras Cochonilhas pa- rindo , fe lemeariaõ por Ci mefmas ; mas que fc- meadura feria efta , naó eílando ainda os Nopaes limpos , e como alimpallos , naõ tendo fido ainda colhidos? E fuppondo-fe que elies eflejaõ colhi- dos , e que fó falte o alimpallos , convém que fe facrifiquem as gerações , que já cftaõ póílas ; feria mais prudente que fe tomaíTem as mais Co- chonilhas , e as pozeífem eín feuj ninhos, eípe- rando que acolheita, e o alimpamento fejaõ aca- tados , como o fazem os índios , que depoi? he que as femeaõ ^ mas ainda^ íe dá outro inconve- niente , e vem a fer , que os filhos , ou pequenas Cochonilhas , que fahem á luz todos os dias , fe fafaó dos ninhos , e fe falvaó , de forte que fe perdem as melhores , antes que os ninhos poíTaõ íer poRos em os Nopaes. Para obviar a todos cíles inconvenientes , fe imaginou conííruir hum viveiro, no qual fe tomem , e fe tenhaõ fempre fementes promptas. Por efle meio fe podem co- lher á vontade , alimpar fem demora , e tomar com a mefma paxorra as mais Cochonilhas em o viveiro , para femear a Ncipalxiria de novo , ao depois da infelicidade de qualquer chuva , que ar- < ';9 ) arruinaíTe , ou HcterioraíTe a colheita ; em fim 4 o Confervador , por exceijencia , da efpecie de Co- clionjllia fina em a Colónia , como também no México , faõ as cafas , e Nopaes cobertos de eílciía». C A P I T U L O IV. Do viveiro f ok fe mi na rio àa Cochonilha fina. E Ste fersí o nome do lugar , em que fe guar- darão os Nopaes no tem^o das chuvas, pára fe femearem nelies as mais , que perpeíuaõ a ef- pecie de Cochonilhas finas , até a volta das fec* cas. Alguns Hiíloriadores referem que , ao che- gar das chuvas , os Índios quebraõ os ramos dos Nopaes , em que eftaõ as Cochonilhas , e que elles os metíem dentro em cafa , e os guardaó até as feccas. He certo que fe daõ cinco , ou féis mezeg de aguas no México , do mcfmo modo que em S. Domingos ; a Cochonilha fina , dando os filhos cm o termo de dous mezes , íe daô três gerações de Cochonilhas em fcis mezes de tempo : iflo be inconteíkvel. NaÔ fe põem mais de duas mais Cochonilhas nos ramos de Nopal , que fe giiar- daõ em cafa, a primeira geração , que fobrevem, já muito numerofa, e ainda que fe acredite !ti m he é fc. , ,,',J • Pi' ( i6o ) OS Hi(!ori'ador€s , cada mãi Cochonilha produz trezentos filhos : a fegunda geração fcrá de dezoi- to centas mil pequenas Cochonilhas: /i ao íe pô- de conceber : como os ramos de hum Nopal pof- faô fuílentar hum ta! numero de infedos , fem fe enfraquecerem,e apodrecerem promptamente , por* que iílo aconteceria ainda aos ramos , que fuf- tcntariaõ as plantas , fe ellas fe achaífem carre- gadas de hum taõ grande numero de infedos ? Naõ nos podemos por tanto perfuadir que hum ramo' de Nopal poíTa viver féis mezes inteiros em liuma cafa , ainda que elle naô eíliveíTe en- carregado do fuftento de algum infedlo. He pre- cifo neceíTariamente fupprír a efíe , que nos pa- rece iwfufficiente,diminuindo-Ihe o número das Co- chonilhas , que fobrecarregariaõ o ramo do No- pal , ou renovando-o em cada geração de Cocho- nilhas por outros Nopaes mais novos , o que fe pôde muito bem fazer. Naô fe pcrtende ne- gar efl.es fadlos , e fó fe procura aciarallos : fou- beraõ que iflo fe praticava , mas naõ ouvirão da bocca dos índios os detalhes , que aqui fe fuppoem. Eis-aqui fadlos pro , e contra defteme- thodo. O preto liberto , a qiiem comprei nos ar- rabaldes das Bueltas em Guaxaca da Cochonilha viva em os ramos de Nopal vi?o , tinha ao lon- go da feve da fwa horta , e das paredes de fua cafa , cinco ou féis ramos groíTos de Nopal , que- il ( i6i ) quebmdos em três pés de afto , no qm\ fe vhÓ algumas Cochonilhas fêmeas muito otofTas : per- guntei.lhe o ufo para que deillnava elks ramos , refpondeo-me indireílamente que eracj mã-s Co« chonilhas. lílo aconteceo quafi aos 17 de Aiaio a veípera da ultima colheita. A Nopalaria do pre- to nao eftava ainda colhida, e fe eílava em veí- pera das chuvas. Julgo que poíTo infeiir daqui, e com razaó , que eíles ramos de Nopal encoPia- dos á feve , e aos muros da cafa , fó eílavao pa- ra fe aproveitar do bom tempo , efperando que a chuva o obrigaíTe a recolher , ou guardar , e fervir.fe delles , em quanto choveíTe , para nutrir as Cochonilhas finas , até a volta das feccas. NaÕ continuei em fazer mais perguntas ao preto, por evitar algumas fufpeitas ; porque eftava em huma Cidade. Fui mais familiar com o Alcaide deS. JoaÔ d'ElRei. Perguntei.fhe : como guarda* va elle a Cochonilha no tempo das aguas ? Ref- pondeo-me que em caía. O mefmo pratiquei com hum índio. Eu v/ na fua Nopalaria colhida dous, ou três Nopaes , aíTaz carregados de Cochonilhas. Perguntei.lhe : como confervava elle as Cocho- nilhas pelo tempo do Inverno ? Elle me ref- pondeo , apontando com o dedo os Nopaes. :=Z Sc tapcn con pctalgj ==: , o que , palavra por palavra, vem a íiguiíicar , z^ cobr^m^fe tom ef^ tsiras, zzr Igual- t' ( i60 Igualmente parece verdadeiro que algun* cultivadores fe hajaô de fervir deíle ultimo me- thodo ; e que outros adoptem, e figaõ o pri- meiro , mas com todas as differentes addições , que fe fuppoem , ou fufpeitaõ nos procedi- mentos. A pe7ar de qualquer methodo , de que fe poíTa fervir no México , naõ fe pertende a fua imitação: pois fe tem inventado hum terceiro, que abrange as vantagens dos dous ; e naõ tem algum dos feus inconvenientes : ifto he , alimen- tar fobre plantas de Nopaes vivas » cobertas, e enraigadas na terra , as Cochonilhas finas na tempo das chuvas , e ainda no das feccas, líio hc , o que eu tenho imaginado , e experimentado em pequeno felizmente. Confl:rua-fe huma alpendrada de 50 pés de comprido ,625 de largo , o tedo deve fer íobre aTnas ( no Erafil de duas aguas ou gopiaras ) de féis pés efles , em lugar de ferem cobertos de telhas , ou de eíleiras , devem fer de caixilhos volantes de panno groíTp alcatroado por fora , e por dentro , que fe pegarão com dobradiças , ou gonzos , fobre que fe volvaô ; os pequenos lados Norte e Sul da Alpendrada , que feraõ feus piões, hajaó de fer feitos de taboas em toda a fua al- tura ; os grandes lados LeRe , eOeíle , que feraõ as da face , feráõ igualmente de taboado a trcs pés de í . ( '63 ) de altiita Hefde a terra : e do teôo até elaf ta- boas íe faraó defcer efteiras nos calos , que daqui a pouco fe declararão. Tenha-fe o cuidado de levantar eBe vivei- ro fobre hum plano o mais levantado , de lhe fazer rigolas de pé e meio quadrado em foda com inclinação para efcorrerem as a-^^uas , que defcerem do tedo ou telha.ío : feito iíVo , cavem- fe as terras dentro do rancho , arranjem-fe , e fe repartaõ em íeis linhas na diílancia de três pés das paredes , e de todos os ladof , e huns dos ou- tros , nos quaes fe plantaráÔ perpendicularmente a Lefle os Nopaes de hum anno, ou dezoito me« 2es com raizes. Hum rancho , de 50 pés de com- prido , e 24 de largo , pôde conter S4 plantas. Deixar-fe-haÓ os Nopaes , plantados deíla maneira na eílaçaô das chuvas , deícobertos dos feus cai- xilhos por dous mezes inteiros , até que os No- paes eílejaj bem pegados, e enraígados , e paífa- dos elles , fe hajaõ de femear as Cochonilhas fi- nas. Se o fizerem no tempo das feccas , pode fi- car defcoberto. Tenha-fe cuidado de procurar fempre traba- lhos, que eílejaô perto do. viveiro, para o pre- to , a quem fe houver de incumbir a fua guarda ; para que eíle fenao alongue muito delle , e o efpreite de dia, e de noite no tempo das chuvas , para que quando eílas cahirem , haja de fechar L ii os ( 1^4 ) OS caixilhos , e defcer as erteiras ; e que , voltán* do o bom tempo, haja de tirar, ou levantar a huns , e outros para dar ar , e Sol ás plantas. No tempo das feccas fe poderiaõ tirar fora os caixi- lhos , ou corrediças , e ter o feminario ao ar feiti perigo ; mas como ido be hum corpo de referva , que deve fervir paia o recurfo contra todos os accidentes : para perpetuar as Cochonilhas finas em a Colónia , cumpre que eííes caixilhos vo- lantes eRejaÕ promptos para fervirem , e defen- derem o viveiro contra todos os accidentes impreviRos. Nunca abfalutamente fe haja de femear eíle viveiro todo inteiro , mas fó íim a terça par- te ; e defíe modo, tendo-fe colhido as duas li- nhas primeiras , fe alimparão , e fe deixarão re- pouíar todo o tempo , que ePuverem femeadas , e do mefmo modo o reílo , tornando-fc a co- meçar. Re?ar-fe-ha , huma vez íómente , todos oi quinze dias , ou três femanas o pé dos Nopaes com o bico do re2:ador. Tenha-fe todo o cuidado em confervar efíe viveiro com ,a maior lim- peza. Com a ainda defte eftabelecimento taô íim- ples , e taó pouco cuílofo poderão fempre , em todos os dous mezes , achar Cochonilhas mais com abaílança para íemear dous quadrados de Nu- ( i60 Nopalaria ; e facilmente fe vé que , o que fobe- jar , íe naõ lia de perder , e que merecerá mui- to bem fer colhido. Por eíle methodo íe pertendeo na I. Memo- ria , dada a elle mefmo aíTumpto , enfmar a fazer Cochonilha fina em todo o decurfo do anno. O morador abundante de bens , que quizer duplicar, triplicar, e quadruplicar hum femelhánte eflabe- lecimento , terá por coníequencia três , quatro vezes mais Cochonilha fecca em todos os dous mezes. Se quizer íemear o viveiro inteiramente , o que naõ aconfelho , pode fazer ou colher to- dos os mezes doze arráteis ; mas fe poderão fe- mear os dous terços , de maneira , que hum terço tenha já hum mez de idade , quando houver de fe femear o outro. Defta forte fe teraõ fempre os dous terços do viveiro em Cochonilha , em quanto o terceiro ílefcar.ça os dous mezes, e iíío hum produdo. limpo de quatro arraieis por mez, e de quarenta e oito por anno; o que he muito baílai>te para faldar , ou pagar, fem dúvida, as defpezas do ertabclecimento , ào feu entreteni- mento , e os jornaes do preto que o efpia , o qual alem diílo , fe pôde occupar em outras coufas util- mente ; e fe tem em puro lucro as mais , para ali- mentar a Nopalaria em ar livre , e ainda para as vender aos feus vizinhos. Admirar.íe-haõ I de que eu diga : vender as mais -X i66 > li 5 mais Cochonilhas aos feus vizinhos: certamente íenaõ elevem admirar ; porque aíTim Ic faz em Guaxaca. Todos naõ guardaõ , em íuas cafas , ou hor- tas , Cochonilhas mais para a volta das fcccas. Acontece , aos que as guardaõ , de as verem mor- rer pelo feu defcuido , ou negligencia , ou por outro qualquer incidente , o' que naõ imporia. KuitiS vezes pois acontece ainda quando fe tem íemeado muito bem aKopalaria, fobrevir tam- bém husiia chuva iT.uito violenta, e perder-le to- da a família ; naõ oblUnte illo , he precilb apro- veitar-fe o tempo , e apreíícir-fe em a tornar a fe- inear de novo ; mas fe ha de fazer ifto , naõ haven- do Tementes ? Os vizinhos naõ fe empieftaó huíis aos outros. Todos concordarão em vender , e comprar mais Cochonilhas : Compraõ-fe por tanto : e fe compraõ com feus ninhos por grandes preços O arrátel deííes ninhos chega a cuílar muitas vezes 5 , 6 , e lo piaftras gordas , feguiído a raridac^e da mercadoria , e a neceíTidade do com- prador. Os índios vaõ mutuamente huns ás ca- fa^; dos outros, a procurarem efles ninhos a 25 , 30 , e 40 léguas , e ainda no cabo deíla marcl>a , c deíle tempo , que fe requer , faô bons para íe femearem. Tem-fe viílo que os índios , que habitaô nos ( i67 ) nos montes , <;iie fazem eíle trafico , e vendem as mais Cochonilhas aos índios dos planos : e do meímo modo , que a Cochonilha dos montes , fendo fempre mais groíTa que a dos planos , os índios dos planos naõ fe aíTadigaõ em femea- rem a lua , e que elles a renovaô huma vez cada anno por fementes , que fazem vir dos montes. Claramente fe conhece a neceffidade abfolu- ta , e a utilidade perfeita de hum viveiro eni cada Nopalaria ; mas também fe deve dar o de* vido valor á vantagem que eília invenção tem , no mcthodo de cobrir a Cochonilha em a horta ; e de a defcobrir todos os dias , ou de embaraçar a própria caía , em que fe mora com os ramos do Nopal , cobertos de mais , que podem íer arrui- nadas por methodos arrifcados ; e aos quaes , ao depois difto , fe deve tanto cuidado , e at- tenção , quanto fe vê obrigado a dar a hum vi- veiro , fem que por iíTo fe haja deter algum ga- nho , ou lucro. Julgo que todos os cultivadores abaíiados preferirão efle methodo. Precifa-fe em cada tiiennio renovar*fe as plantas do viveiro. C i68 ) CAPITULO V. Vo modo de fe colher a Cochonilha fina. H E precifo colhella antes do feu parto ím- jrediatainente , iflo he , taõ depreíla , quanto fe houver nos iNopaes ajgi-n^as inãis coin os feus pequenos: iílo acontece cada dous mezes , con- tando da data da fua lemeadura , dia por dia: Convém eípreiíar , e viciar e^e momento , e aproveitallo , ou lançar maõ delle. Coula alguma naõ deve eílorvar iRo : porque naú ha dia al- gum no anno , que naõ appareça o Sol em S. Do- mingos. Todas as manhãs em Porto do Piincípe íaõ ferenas. Kaõ fe contaó dez dias de excepção cm quatro anncs , que fe tem gaílo em obfer- vações , e ainda eílas mefmas naõ tem lugar nas manhas de Inverno , que confiantemente faõ beijas Póde-fe por iífo difpor delias livremen- te , e confagrallas na colheita da Cochonilha ína. Pfecifa que fe colhaõ antes do feu parto por duas razões eífenciaes , a primeira he ; porque as jnãis , fendo colhidas nefla época , tem maior pt-zo , e maior abundância de particulas coloran- tcs ; pois que qualquer pequeno infeâo , ovo, OM auiindl he Unto , como fua mãi , coloiante , r^ w: ( 169) e <\ve , cíeixando-fe inteiramente parir, feii cor-' po fó feria Iium cofre leve, e vaíio , pouco co« Jorante : o que feria huma perda muito palpa- rei , e truito damnofa ; a fegunda , porque , dei- xaiido-íe parir as irãis fobre os Nopacs , os fi- lhos feriaõ minto nuinerofos na planta , e a fa- rino iTiorrer , morrendo tan.bem delles a maior parte. O dia , e-n que fe c<^lhe a Cochonilha, he fePíivo , e ale lin- do houver de fer a fua grandeza , poem*re 5 ou 6 ar- ráteis de Cochonilha fiiia dentro , fecha\e o tam- bor , mette-(e em huma bacia do meimo diâ- metro ao menos , e n'hum inilante íe lhe derra- ma agua quente lebre o peneiro, que le aíTegu- ra na bacia , até acima das bordas , de maneira , que inteiramente mergulhe na agua. De)xa-le nel- te ertado o efpaço deíde ^^mte íegundos até dou?:, ou três minutos ; ao depois de o ter agitado n'agua por hum inílante , para fazer paíTar a ter- ra , que pode eílar envolta com a Cochonilha, fe tira d*agua , e le defpeja em numa iDcza guar- necida de bordas , como taboleiros : expoem-íe a Cochonilha ao Sol , o mais ardente , eftende-fs levemente , volta-fe debaixo para cima ao m.eio dia, torna-fe a manufear , para lhe fepararem al- guns infeâos, que fe lhe tiverem unido , ou collado juntamente ; e de tarde fe muda de Iu<^ar. De manhã fe fizerao cem arráteis, de tarde fe ven« dem : porque naÕ precifa mais de preparação alcjuma. A Cochonilha feita em pequena quantida- de C I70 • éç Cem ter ílcío evacuada , tornada a evacuar ; trasfegada, facudida , einbalotada , por \iaiens, vendas em crú , deve parecer jafpeada , ido he tfir a cor d'huin pardo alvaçaó , tirante a purpu- ra. Ella tem eíía cor parda tirante a purpura, cuja cor ; porque , naõ podendo ler trilhada , e atornrientada , ríe repente naõ pôde perder o feu pó branco. Sempre lhe fica hum pouco: tema cor venofa ; porque he imcoíFivel que , quan- do fc recolhe , fe deixem de efínagar algumas , que fendo ao depois miflurado com as outras ra agua quente , tingem efta agua , e coloiaõ o r^fto de huma tinta ligeira de rofa , ou pur- pura. Julga-fe que a Cochonilha fina eftd fufficien- temeiíte- íecca , quando tem tido hum Sol ar- dente defde as nove horas da manhã até as qua- tro da tarde : conhece-fe que eflá muito fccca , quando os feus grãos tem o lom dos grãos de milho fobre a meza , ou taboas íobre que fe deixao cahir : entaó ella eílá venal , ou venda- vel. Deíla forte he que fe compra. Todavia, para fe tranquillifar inteiramente o efpirito por huma m.aior perfeição a efte refpeito , fe fará muito bem de a pôr no Sol forte ainda outra vez , defJe as dez horas da manhã até as duas horas ao depois do meio dia ; ainda que a fina lequer menos efla precaução que a Cochonilha fil- (173) fílveflre , que , envolvida no feii cotaõ , íeccá mais ditriciiitolamente. Nada fe deve defprezaf para a fecjurança de huina colheita taõ pre- ciofa. EHando a Cochonilha perfeitamente fecca , e qiierendo-fe confervar , he muito convenien- te polia em bocetas dê Cedio , em gavetas, como as dos Boticários ; para fe vender ; po- rém hafla que fe ponha em furrões , ou fac- cos de couro de boi , feitos para eíle fim de pro- pofito. Devem naô efquecer-fe no tempo , em que ella fe fecca , de a paíTarem por hum crivo for» te de buracos largos , que poíTaõ paííar as Co- chonilhas , mas que poíTao fervir de eftorvo á$ fezes , e cotões das larvas dos machos , que fe nao pode de maneira alguma deixar de co- lher com a própria Cochonilha, Para fe cami- nhar com muito maior brevidade fe ponhao de parte eíTas borras ; porque neíías também fe encontrão fempre pequenas Cochonilhas met- tidas, que precifa naô perder-fe. , e eílas , ou fe vendem feparadas , ou com a Cochonilha fil- vefire. Admirar-fe-haõ fem dúvida de verem que na colheita das Cochonilhas fiiveflres , e das Co- chonilhas finas , fomente fe trata das Cochoni- lhas fêmeas, c nunca dos machos : também em ca- C 174 ) cjfa dos Negociantes fó fe vem eíía^ , e naõ aquelJes , ainda que também íejaõ colorantes ; e ainHa que poíTaõ fornecer huma tinta exquifi- ta. Perguntarão : o que he feito delííT? Sao de ordinário relativamente as fêmeas em hum numero muito diminuto ; e faó também muito leves. Hum macho naô chega a ter a quinqua- geíTima parte da íolidez de huma fêmea. £!• les cheiraõ : e fe fepultaÕ taÕ precipitadamente em o5 feus cafullos , que fe precifaria de mui- ta deílreza para colher meia oitava de pezo por dia : Talvez em huma Nopalaria , que tiveíTe quatro arpentes, fenaó poderia talvez ajuntar meia onça. Julgue-fe por eRes fados , que a eco- nomia mais efcrupulofa fenaõ empenharia por hum produto , que he de taõ pouca impoí- tancia. CA- (175-) CAPITULO vr. Das moUftias , e dos inimigos da Ccchonl lha fina. N AÕ fe conhece em ambas as Cochonilha» fina, efilveRre moleftia alguma ; menos que naó queiraô dar eíle nome ao trabalho , que a primei- la tem de fe defembaraçar pela fegunda vez da fua larva , que muitas vezes lhe cuíía a vida ^ fem que haja meio algum até agora de fe poder remediar efte inconveniente. Convém fazer o fa- crifício , fem fe apaixonar ; porque eíle damno na6 fe eííende tanto , que faça a proporção de dous por cem. Ilío porém naõ acontece a ref* peito dos feus -inimigos. Até aqui nada temos perdoado para fazer ver ao mefmo golpe de vif« ta os que oífendem a Cochonilha fina , e par- ticularmente , os que arruinaô a Cochonilha fil- veftre.' O primeiro deRes inimigos nafcc em o mef- mo Nopal , em que fe criao as Cochonilhas , e vem a fer , a Cocclmlln , que Linné defcreveo do Caãi Cvc€iklllifen , que vem a fer hum infeao , a que em glguns lugares chamaó Boh yeqaenos ^ t em outros MargueriUs. He hemispherico , cha- to pela barriga , convexo pelas coitas , da groA Cu- C 17a )■ fura de hum graõ : Siia As chuvas lentas , cujas gotas pequenas infinitamente , e raras, fe affemelhaõ a nebrina : eHas chuvas naõ loffendem , nem á Cochonilha íllveRre , nem afi- na: ellas nunca duraõ mais que dous dias em S. Domingos. 2.0 As chuvas Inandas , como as ordinárias de Eutopa , cujas gotas faõ mais groflas que as da rebrina, cahem mais depreíTa , mais perpendicu- lain.ente fem lerem impeiiidas por ventos : naõ fe tem virto durar mais de 24 horas: a Cocho- nilha íjlveflre nada íoffre : a fina porém fe in- commoda , mas a fupporta , quando cila já tem íium mez de idade. h" Ao depois deíla ha outra em gotas grof- ías, chamadas grãos, como as noíTas de Europa,. ca. ( iSj ) cabem perpendicularmente de improviTo , fem na apparencia íerem arrojadas por algum vento : duraó hum quarto de hora mais , ou menos com vio- lência : a Cochonillia fina naô a fupporta : o pe- 20 deftas £:otas d'agua afaz cahir . ou a mata, mas a Cochonilha filveftre a lupporta , e fd fe in- commóda levemente (i"). Finalmente ha os temporaes , ou tempera* des , que faó miíluradas de relâmpagos , trovões, e impellidas por ventos com huma violência in- comparável , a tudo quanto fe conhece. Parece que a agua fe derrama do Ceo , como de huma ca- ta rada : as gottas cabem com ell rondo mais for- midável que o das noflas faraivas na Europa : fazem o mefmo dedroço , e eílrago nas plantas novas boreaes , que fe criao pelas hortas : a Co* chonilha filveílre fe arruina , e totalmente fe per- de , quando fó tem hum mez de idade , quando he mais avançada por exemplo , que já eflá pro- pinqua a fer colhida , então nao a arruina por- que a chuva nao a pode arraftar , e levar , mas convém colhella no dia feguinte ; porque , a que ef. (1) Js borrafcas fortes defpegoõ também a Cceh" vUha Jilvejlre, As chuvas geraes , e aturadas, que vem éo Nort& a lambem lhe JíraO f a neJUs^ Ci84 ) eííiver morta pelo pezo da jrgua , apodrecerá bre» vemente. Ha cinco annos fenaij tem viíío huma def- tas chuvas de borrafcas , ou tcmpeRades em S. Do- mingos pelo Inverno; e fó huma vez fe vio hu- iTia chuva branda durar 24 horas , e fer feguida de huira nehrina de dous dias : eftas chuvas vem na Lua nova de Janeiro, a que f. chama no Paiz Chuva do milho pequeno ; mas eJias nem faõ dura- vei,., nem violentas. O refio do Inverno he per- feitamente fecco, como o que ^recedeo , e mui- tas vezes faltaô eHas chuvas do pequeno milho» cjue fa6 taó infenfiveis , e taõ pouco duráveis, que nem chegaõ a abater a poeira ; e por tanto ', r.em podem , nem devem fer contempladas íiqui, como hum obflaculo da cultura das Co- chonilhas. Tratar.fe-ha unicamente , da que fe chama grãos , ou das chuvas groíTas , e das borrafcas , deílas fortes de chuvas , que acabaõ em Outu- bro. e voltaô em Abril : todo o intervallo que deixaõ eííe fim . e aquelle principio , pôde fer confa.^rado á criaçaõ da Cochonilha : e facilita três çplhtitas completas. ^ Só fe fallará aqui das chuvas do território der Porto do Príncipe , vifio naõ ter tido ainda lu- gar de me inílruir por mim m.efmo , do que fe PfiíTa a eíle rcfpcíio cm outras paragens da Cole. nia; ( 18^ ) nía ; e fendo verdade , o que fe diz de alguns fem dúvida fe poderia nelles colher quatro , ou cinco vezes Cochonilhas finas no anno. Como huma colheita de Cochonilha fina po- de íer dainnificada por huma chuva de graó , ou por huma borrafca ? Defte modo : Quando fe !e- mea alguma Nopalaria em Outubro muito cedo, e íbbrevem huma ultima trovoada , perde-fe a colheita inteira , quando ella naõ ellá avançada, e parte dcila , quando já as Cochonilhas tem ida- de , por exemplo , de féis femanas : O mef- mo acontece , tendo-íe íemeado muito tar- de em o mez de Março , fe fobrevem alguma borrafca. Finalmente, quando, por alguma infelicidade aíTa? eftranha , e rariíTima , huma nuvem fe fura^ em cima de huma Nopalaria no tempo das frc- cas do Inverno : em todos efles cafos o mal Í13 fem remédio , e a perda infallivel ? Naó. Quando huma chuva de graó vem fobre hu- ma Nopalaria , novamente femeada , de três (ema- nas por exemplo , perde-fe tudo totalmente. O único recurfo he femealla novamente bem dcpreíía, e fem perder tempo , e para iílo fe tem fempre em o viveiro mais promptas para ferem femeadas , e fomente fe foífre hum retardamento de três fe- manas. Se eíliverdes no principio das feccas „ naQ vos dçveis .defanúiiar , pois que nada mais N? ttndes , que temer. EHando porém no meio das feccas , ainda naó podeis ter a efpernnca de fa- zer huma boa colheita; mas fe efliverdes no fim , he inútil fazer huma boa fementeira , que feria em pura perda. Quando huma borrafca furprende as vofTas Cochonilhas na Jdade de cinco ou íeis femanas, ou ainda mais , entaõ tudo naõ he abfolutamen- te perdido ; deveis fazer com promptidaõ huma meia colheita ; porque efies in ledos fomente tem a metade da fua «randeza ordinária ; e de- veis profeguir em os femear fem perda de tempo ; porque entaõ apenas tereis perdido quinze dias: porque o reílo vos fera conipenfado pelo rendi- mento da pequena colheita forçada , que fizef- tes. E aííím fe vê que as chuvas faó tanto me- nos perigofas , quanto mais as Coclionilhas tem avançado em idade. CA- I C i87 ) C A/ I T U L o viir. Comparação do damno , que caufa6 as chuvas á Co- chonilha , com o (jue caufaõ outros acciden- tes à outras eulturas. \^ Uando a colheita d'huma Cochonilha fe ar- ruina ao trigeíTimo dia , qual lerá a perda que ha de experimentar o cultivador d'huma Nopa- laria d'hum quadrado de "terra ? Perdeo o lempo dlium mez , e mais hum arrátel e meio , ou dous de Cochonilhas cruas tomadas no feu vi- veiro , mais quatro dias dos feus crioulos pretos. que gaííaraô em as femearem. Eis-aqui o total da fua perda. Ora o Indigoeiro , que paíTa p>i!o def. goRodever demanha,ataír:ilhadape!a lagarta da noi- te , a fua herva , e a fua perda anda por cem ef- cudos, que gaííou em (ementes, e algumas ve- zes por mil eícudos nos jornaes de Teus efcravos , alem da perda fidicia das erperanças dos feu5 lucros , ou ganhos. A mefraa couía acontece ao plantador do Algodão ; illo ainda he peior , paíTando o fogo por hum Cannavial , ou Gua*i- do, próximo a ficar madura, fe acama por hum furacão de ventos , ou tempeRades , que lhe ca- hio em cima. A chuva coníequentemente naõ he taõ prejudicial a huaiaNopalaria, quanto he o C i88 ) r<5go n*Iium Cannavial , e a Lagarta n'hum Indí- goal , en'hum Algodoal. Ah! ella naó he tao ordinária, como eíies outros flagellos. Porventu- ra eíles definiiiiao , e dciacoroçoaó ao AíTucarei- ro , ao Indigoeiro , ao Algodoeiro ? Certamente cjue naó. Logo o medo das chuvas extraordinárias naõ devem defanimai; ao Cochonilheiro , ou Gran- jeiro do Nopal. Porém íupponhamos por hum momento que todas eftas granjearias , e culturas tenhaõ hum feliz fucceíTo : Comparai feus trabalhos , fuás pensões , feus empaches , ou empates , fuás àeC- pezas fora , e feus ganhos. Com que trabalho o Granjeiro do Caffé nau faz feccar hum género, que a concurrencia , ou huma guerra avilta, ou abarâta ? Vede a multidão d'ercravos , que elle precifa para o mondar ,, para o colher, para o feccar , para o dcfcafcar , para o eftonar , ou ti- rar-lhe o Caffé. Precifaõ-fe de Cavallos , de beflas muares , para carregar mil efcudos de géneros. Entretanto veja-fe chegar , ao depois de ter caminhado cincoenta legoas peia terra dentro , lium Granjeiro do Nopal , que traz ao mercado fobre huma única befta trezentos luizes d'oiiro em Cochonilha. Que capitães enormes naó faó precifos , que fe empreguem , para fazer , por exemplo , cem milheiros de arráteis d'Affucar ? Çue capitães , que cultura , que operações , qu« ma (i89) CJU5 manípulaçles naõ fao precifas para Te faztf- rem trezentos luizes d'oiiro em Indicio, ou Anil ? Seguriííimamente fenaõ precita tanto , para fe cul- tivar a CocHonillia. IVlas eu infultaria ao leitor^ defconfiando das fuás luzes» e conhecimentos , fe prolongaíle mais eílas comparações , e indivi- duações. CAPITULO IX. A criação tia Ccchonilha feiá uitl â Colónia de S. Domingos, p Ara fe efpecular vantajofamente liuma em- preza , e de commercio , naõ baíla , ou he muiío pouco , fer dotado de inteUigencia , e de razaõ , he precifo também ter adquirido huma fomma de co- nhecimentos , e de fa(ílos fuperior á do vulgo. Deíies fados bem conteHados fe deve fervir para prin- cipio dos feus dilburfos , e- para bafe da fua ef- peculaçaõ. Ora efles fados fomente fe podem verificar pelas viagens , e por obfervações feitas nos feus próprios lugares. Os que argumentaó contra a utilidade da cultura da Cochonilha em S. Domingos , daõ por fundamentos. 1.° O preço da maõ d'obra dos ef- jcravos. a.c A careília do feu fuílento e manten- ça. ( IÇO ) 4a. Qual na5 era a fua inrtrucçaá a eTe re^pef. to , quando pcrtendéraõ , que os índios eraÓ maij baratos , e o preço do feu jornal menor que o dos efcravos Francezes, A púirtra gorda Hefpanhola vale onze reales de prat-3 na Colónia Franceza de S. Domingos- Vale nove em Habana : fó corre por oito em F^- ra-CuT, eGnaxaca , e em toda a audiência de Gua- timala e iMexico. A maÔ d'obra dos índios no JVIexico varia, conforme a diftancia ou vizinhan- ça, das grandes Cidades. NaÕ fe fallará da do JVIexico, que fe naô conhece. Mas fe fallará da que fe conhece , e que fe tem viílo no feu fer- taõ , ou fundo das fuás Províncias. A maõ dobra dos índios , obrigados para o fabrico , e ferviço das terras dos Cafle lhanos he a dous reales de prata : E aífim , pagando-fe a maõ d'obra dos ín- dios de Guaxaca por dous reales de prata , vem a fer o mefmo que pagar três re;^- • • 114 .5- VI. Do /TJcí/o í/tí Jc recolher a Cochonilh», ^^^'>^ . . I2J "^^I- í^'^ ufiVidadc da criaçnô , e co/Ae/Vu da Cochonilha ftlvcflrc , ^ni a Colónia Franccza di S. Domjnsios. , ,>^ s E c q A 5 II. V->AP. I. Da CochovMha fina. . . '. . ,jy — — H. Da cnaçíiÕ da Cochonilha f, ia. , 146 III. Da Jernsntcira da Cochonilha fina, 1 5 j — — IV. Do viveiro , í;« Jeminario da Cochoni- ihafina, j^^ — — V. Do modo de fe colher a Cochonilha fine. 16S — — VI. Das nuLfiias , e dcs inimigos da Co» chonilha fina j^- •— — * VII. Do cccidents 0 mais fur.cjh á Co- chonilha j 2q — — VIII. Comparação do damno , que caufaÚ as chuvas & Cochúv.iiha ^ cem o que ccinjaõ oatvos accidciites à outras .culturas 187 *"* — IX* -^ criação da Cochonilha fera útil á Colónia de S, Vcmingcs \%^ I