rato “e se. o e, ts» | das Ternstroe: sa o moles aTréÉ da dd tá o) netroemiaceas a) y de +ZBIX 4 Dall ATT O | O TAMAKOARE ESPECIES NOVAS DA ORDEM DAS Director do Museu Botanico do Amazones, Cavalheiro da Antiga, Nobilissima e Esclarecida Ordera || de S. Thiago da Espada; laureado pela Fuculdade de Screncias Phisicas e Naturaes de aa membro do Instituto Historico «io Brazil; da Real Academia de Seiencias de Lisboa; das Reaes Sociedades Botanicas de Berlim e Edimburgo; da So- ciedade Bolanica de Marseille; «o [ nstituto de Coimbra, etc.ete. 7 y O TAMAKOARE ES PECIES NOVAS DA ORDEM DAS TERNSTROEMIACEAS POR & a | Bboza oiviques (==— Birector do Museu Botanico do Amazon:s, Cavalheiro da Antiga, Nobilissima e Esclarecida Ordem de S. Thiago da Espada; laurevlo pela Faculdade de Sciencias Phisicas e Naturaes de Florença; membro do Tostituto Historico do Brazil; da Real Academia de Sciencias de Lishoa; das Reaes Sociedades Botanicas de Berlim e Edimburgo; da So- viedade Botanica de Marseille; do I nstituto de Coimbra, etc.etc. Impresso na typographia do — JORNAL DO AMAZONAS. Lim dO LEXTOR Obrigado pelos corstantes e repetidos pedidos de informações que de varias partes do Imperio e mesmo do estrangeiro recebi fui forçado à pu- blicar, neste primeiro fasciculo, as observações do estudo que tenho feito sobre o Tamákoaré, que presumo esclarecerá as diversas questões sobre as quaes se deseja a minha opinião. Se não fôra objecto de opportunidade só mais tarde entregaria á luz da publicidade este trabaiho, então mais completo, não só phytographica como physiologicamente. Satisfazendo pois aos Furado agrade cendo-lhes a confiança que em mim depositam, grato tambem lhos Sco pos me proporcionarem assim o meio de garantir pela i imprensa à pri Ro da classificação de quatro plantas no- vas, que se não fôra isso dormiriam o mesmo somno de dezenac de outras, tambem novas, que jazem no fundo da minha pasta esperando poder verem 2 luz da publicidade. Mais tarde, completando as descripções das de que aqui trato, darei as de outras congeneres, que ando no encalço, acompa- nhadas de novas obsery ações é das analyses chimicas que cuidadosamente são feitas no laboratorio do Museu Botanico pelo chimico D" Francisco Pfaff. Cumpro aqui um dever agradecendo ao lxin. Sr. Commendador Cle- mentino José Pereira Guimarães, que com) Presidente interino da provincia do Amazonas me facilitou os meios de publicar por conta da mesma este ligeiro e insignificante trabalho. O Autor. Go DRA e ENA oo DARNSTRO MIA CSA Ea cem. CARATLE Am NOME VULGAR: Tamikoaré, lamaquaré, tamicanré, lamaquary, Sameemari. — “= oO. Cnar. cex. Sepala 5, parum inaequalia, Erica Pwala 5, contorta, valde imaequilatera. Stamina oo, ima basi subcoalita; an'noras sabversa- tiles, connectivo ) apice excavato-glandulilero. Ovsriwn S-loenhre; stylas simplex, apice 3-stigmatosus; ovula in localis 2-3 (no solo saeptas por- fecto), pendula. Capsula d-quetra, septicide 3-valvis, indscarpio valvarun maturitate soluto, columella persistente late triquetra v. 3-alato. Semina solitaria, plana, obovato-oblonga, exallaminosa; co ylefy1es magnae, pla- nae, radiculam superam im emarginatura baseos foventos. “Arbores. Folia sempervirentia, saepiuspetivlata. WPimes speriost, ter= minales, in vracemos seu panicula breves dispositi, v. ram solitagi. Pelala inaequilatera. Ex Benth. et Hook. Gen. plant. T. pag. 188. n.º 29, Conspectus diagnosticus spscier "ua Folia lanceolata extus Sedese Pili stellatr. Erctrolo: Neri jura a apoio apelo C. PALUSTRIS sp. nob, Folia elliptica extus glandulosa. Pili null. PeriploxrUBOSOS cs: td C. SILVATICA sp. ndb. Folia oblonga extus glanduloso-pilosa. Pili claviformi-ramosi Pettolo noso cui o iii C. SPURIA sp. nob. Folia ovato oblonga extus incano-pilosa. P li conferti. Petiols arcuato rugoso... C. LACERDAEI sp. nob. 4. —araipa palustris Barb. Rod. sp. nob. in Hlorb. Mas. bot. Amaz. n.º 302 etin Cat. plant Amaz. Flores hermaphroditi, raro apetali; receptacalo convexo; androceo su- pero. Catícis 5 — partiti laciniae quinconcialvs subaegualiae lato-ovata obtusa concava intus glabra extus fulvo pilosa. Petala alterna libera oblon- ga Incurva subaequalia apice cucullato interdum lobato induplicato-imbri- cata, Siamina co circa-ovari evolutum inserta, exteriora minora; filamen- agi da 4) Mi dl a * A ú i 7 N EM ra ta E tis liberis; antheris extrorsis; connectivo crassiusculo obtriangulato a ic pie ] concavo-transversaliter-sulcato; loculis longitudinaliter rimosis. Ovariumco- x nicum, 3-Joculare, loculi 1-2 ovulati. “Styli pubescenti apice excavali. | Fiucius capsularis, conicus, trigonus; putamine 3-Joculari, dehiscente Semina 3 compresso convexa plus minús lanceolata, dorsaliter angulosa. ad Embryonis crassi camosi albuminosi cotyledonibus plano convexis; a cula brevi supera. Fê Ret Arbor 8º-—A40” + cortice taevi crocato transversaliter | rugoso. Rami suberecti v. erecti, coma laxiuscula. Folia lanceolata acutis- E sima brevi petilata, polido laevi, basi angustata subius pallidiora micros= “copice glandu leso-pilosa, pilis stellatis, pm 250>chem Bm o Petiol | o Gr» i2rr io. fami tohis mimon, densiuscule florigeri, pili cnnamomei | a adepersi Pedicelli pilosi calyeem majori 4-—6rm lo, Bracieae late lanceo- "| “latae pilosae. Sepatis exius fulvo-piosis, pilis ramosis, 4""— 5mms<10-— 4 2mm lg. Capsulae acutae, pilosae, Gas — BAB. in siluis humidioribus vipas igarapés da Castelhana, Cachoeira to Cacheeirimba prope Manãos, prov. Amazonas. Hlor, Octobri et Jun. fruct. E Januari. Incolis Vamákoaré do Igapó muncupatur. o. 2.— É. silbyulica Barb. Rod. sp. nob. lc. cit. n.º 458. ta Arbor excelsa, 10"-20"><50-—Í” lo. cortice longitudimaliter rimoso e cimereo-rufescenti. ani ereci, coma densa. Folia elliptica acuminata obtusa brevi peliolaia. petiolo rugoso, basi rotundato extus glandulae glo- | bulosae adspersa, 13—152>x<5-—7º" lg. Petioli 10—12"" Ig. Wloribus et capsulae ignota. pe HAB. in silvis primacois humidioribus ad Rio Tarumã-uacú in Rio Ne- gro, Amazonas. Incolis Tamákeare reté nuncupatur. o S.—L. spuria Barb. Rob. sp. ob. loc. cit. n.º 554. a Arbor mediocris 3—7"x15-—25" lg. Cortice laevi flavescenti. Pd ; 2em jo. pilosi. Holia oblenga acuto-obtusa subtus pallide pilosissima, nervis | salientibus pilis ramosis à ads spersa, 25"-—32ux8"17 Ig. Racemi vo E e miculi foliis minori, densiuscule florigeri fusci piloss. Capsulae subrotundo- trigonae, acutae, rugosae pilis ramosis ferrug gineis adspersae. HAB. ad rias Rio Negro ix Amazonas. Fruct. Mariti. Incolis Tamá- koaré-rana adro es 4. —L. Lacerdaei Barb. Rod. sp. nob. ex descr. mss. Flor. en j VIL pag. 270 Arbor hO ped. lg. ramosa. Rami alterni cincreis rimosi aphylla. Ra foliosi lutei verrucosi sub 4-angulati. Folia ovato-oblonga aliquando o lanceolata, basi rotundata margine ondulata, acuta apice emarginata minutissime elevato-punciata pilosa, 6—7 Sega '/ pol. lg. Capsule gona pyramidalis submuricato-verrucosa. pa “ig .po- a p: . y , f j ' pr 4 or ; E k ] k (EE ' ul Ty W í VE vt A a e : A RIR , | R [ ' é A h Ea x ES 1 .- , um 1 É par i Frueta depois la ebscencial & NS a & Septuml = b Placental N apa Á 5 1 y e a ! “Esso C.C.sPURIA Barb Rodr. B.C.sILVATICA Barb.Rod. A.CARAIPA RUPESTRIS Barb Rod. a” q HAB. im» Prov. do Pará ad rio Ahuatituba prope Jambu-açú. Floreb. Decembro. Incolis Tamákoaré muncupatur. Cortice adstringenti odoris sui generis. Explicação da estampa CGaraipa palustris Barb. Rod. A. — Ramo florido de tamanho natural. 1 Flor apetala, tres vêzes augmentada. 2 A mesma cortada verticalmente mostrando o receptaculo e o ovario, idem. à Uma sepala, vista pelo exterior, idem. k Dous pellos da sepala, muito augmentados. 5 Córte vertical do ovario, mostrando a posição dos ovulos, seis vezes angmentado. 6 Dito horisontai do mesmo, idem. 7 Estame visto pelo dorso, muito augmentado. 8 Anihera, de frente, idem. Fracto imnmaturo de amanho natural. 10 Córte transversal do mesmo, idem. 11 Uma semente vista pelo dorso, idem. 12 Uma cotyledone, com o embryão, idem. 13 Uma porção da folha mostrando as glandulas ec um pello estrellado, muito augmentado. 14 Diagramma da flor. 15 Pollen inteiro, com o valor micrometrico de */,50- 16 Dito partido, idem. 17 Fructo secco depois da dehiscencia, tamanho naturak O. asilvatica Barb. Rod. B,—1 Uma folha vista de frente, de tamanho natural. 2 Uma porção da mesma, mostrando as glandulas. O. spuria Barb. Rod. S.—1 Uma folha vista pela pagima superior, de tamanho natural. 2 Fructo immaturo, idem. 3 Córte transversal do mesmo, idem. 4 Uma semente, idem. à Uma cotyledone e radicula. | 6 Uma porção da folha mostrando as glandulas e um pelo clavifor- me-ramoso, muito augmentada. co | Observação Pelas diagnoses das tres especies acima, apezar de duas estarem incom- pletas, se vê que são especies distinctas, bem caracterisadas pelos troncos Em) e pelas folhas. Tendo empregado todos os esforços não consegui cor tudo vêr ainda as flores e os fructos da (. silvatica, mas me asseguram alguns tapuyos, em seral bons observadores, que são inteiramente semelhantes aos da spuia. porém muito maiores. São arvores que não florescem annual- - mente, porque alguns indigenas dizem que não se cobrem de flores senão quando morre algum Pagé. O facto de não ser vista vulgarmente, e a su- perstição indigena, leva-me a crer, que como muitas outras, só com inter- vallo de annos ipresenta-se com orgãos reproductores e d'ahi vem natural- mente o ser pouco vulgar. Creio que Fusée Aublet, por esse motivo, quan- do em 1775 criou o genero Caraipa (*) não descreveu nem representou as flores de duas especies e apenas diagnosticou um fructo. Entre as que descreve uma pertence às Licanirs, engano que foi facil elle tor, não ten- do visto as flores e sendo levado pelo nome vulgar, Caraipé, donde veio o generico Caraipa. Aublet com certeza foi mal informado, ligando o nome acima às arvores das quaes as cascas reduzidas à cinza os indios, quer da Guiana quer do Amazonas, se servem para misturar com a argila no fa- brico da ceramica, porque estas são todas Rosaceas, e as Caraipas não tem nas suas cascas as propriedades das Licanias e moquileas. O genero Carvipa tem sído diversamente encarado por varios. À prin- cipio foi collocado na tribu das Sauravjeas por Endlicher, depois foi leva- do por Walpers para a das Laplaceas e ultimamente Bentham e Hooker e Baillon o levaram para a das Boxnetius. Em geral as tres especies tem 0 nome vulgar de Tamakoaré, porém os indigenas para distinguil-as fazem uma classificação, pelo sen dialecto, semelhante à binaria de Limneo, sen- do assim o genero tamakoaré e as especies, do igapó (palustris), retê (ve- rus), € rama (spurius). Historia, origem botanica e classificação Com o nome de Tamakoaré de longa data é conhecido um oleo, muito preconisal) pelos habitantes do vale do Amizonas, pelas suas virtu- des medicinaes, mas apezar disso e de ter figurado amostras em varias €x- posições provinciaes e nacionaes à planta que o produzia era completamen- te desconhecida à sciencia, e mesmo por muito poucos individuos hoje é apontada. O nome vulgar todos o repetem, mas, o conhecimento do vegetal d'onde é o oleo extrahido sempre foi privativo dos tapuyos que 0 intraduzem no comercio, rarissinas vezes e em maito pequena quantidade: (?) Só por encommenda, com grande demora, se póde obtel-o, porque, di- zem elles, que é dificil encontrarem-se as arvores, que estão em lugares de (1) Host. des plant. de la Guyane Françuse. Paris. M DOC LXXV. Tom. E pag. 561. Tab. 223 224 lig, 1—4. É (2) Quanto existe em alguma pharmacia, vente-se o vidio de 15 grammas por 28500 rs. 9 custoso accesso; estas às vezes não dão oleo, e quando o dão é em dimi- nuta quantidade. E sempre no Rio Negro que 0s indigenas extrahem o oleo, e, o que mes- mo apparece no Pará, penso que é exportado do Amazonas. Qutrora era conhecido como do Pará, porque às provincias estavam unt- das e o Amazonas era conhecido como sertão, mas hoje que tem autonomia propria, é mister mostrar à origem de muitos productos, que figuram como Paraenses quando são puramente Amazonenses, como o de que trato. Póde-se dizer que quem mais vulgarisou o emprego do oleo de Tamá- koaré entre os civilisados, na provincia do Amazonas, foi o finado phar- maceutico José Miguel de Lemos, que o empregava na Silá clinica; era elle quem encommendava aos tapuyos € para elle o traziam. Só em sua pharmacia era esse medicamento encontrado, e seu sucessor e genro, o Sr. Eduardo Joaquim Corrêa de Brito, ainda hoje conserva à antiga freguezia, pelo que sempre ainda o tem. Ultimamente o meu amigo e notavei oculista D' Moura Brazil o tem ex- iraordinariamente vulgarisado no Rio de Taneiro, empregando com grande vantagem nas ulceras da cornea. Conhecendo só o nome vulgar, todos estavam persuadidos, que existia uma só especie, porque cs que conheciam a de uma localidade tinham para si que o oleo trazido de outra era producto da mesma. Posto que todo o Tamakoaré venha do Rio Negro, comtudo ahi mesmo ha differentes especies que crescem em zonas € terrenos diferentes. Nem todas, éverdade, produzem o mesmo oleo, porém com o mesmo nome che- ga aomercado é só aquelles que o conhecem, por tel-o empregado pódem distinguir, sendo mesmo às vezes dludidos. Grande cautela deve ha- ver na sua acquisição, porque poderá a composição chimica, ser diferente e portanto as applicações não serem às mesmas. Uma especie, a da terra firme, é considerada ser o Tamiloaré-reté, isto é, o verdadeiro, que aqui descrevo, O E. silvaticus, porém ha uma outra que não conheço ainda, das regiões alpestres dos rios Purús e Negro já proximas 4s divisas de Venezuela, que tambem afirmam ser verdadei- ra. Crescem as arvores conhecidas por tamáloaré, outrora tamálkoary, Nas florestas virgens das vargens, proximas às nascentes de rios d'agua preta lugares que em geral se imundam e formam igapós; nas margens dos igara- pés ou riachos e mesmo 4 beira rio, mas sempre em lugares que as en- chentes, senão as mergulham todas magua, cobrem-lhes os troncos. Em geral essas paragens são de difficil aceesso, já pela distancia, já-pela humidade, e grande vegetação sarmentosa que ahi cresce, pele que só de 10 fouce ou terçado(*) em punhose transpõeo intrincado dos cipós e da folhagem. Não são arvores vulgares. Num ou noutro districto são encontradas; Isso mesmo como que foragidas, sendo raro encontrarem-se alguns exem- plares proximos. O Tamákoaré-reté, isto é, o das terras firmes, é uma bella arvore alta- neira, de tronco desgalhado alé acima de 10 metros mais ou menos, com . À diametro que não exced" a 1 metro, tendo o duramen pardo- -arroxeado, o alburno branco amarellado, e o systema cortical, com a epiderme cinzento- cia verticalmente gretado (rmosa), ea parte suberosa avermelhada. &” de todas as especies a que tem as folhas menores, sendo bem cara- io esias, pelas glandulas mi croscopicas que cobrem à pagina inferior, que é distituida de pellos. E a que tem os frucios maiores. O iamákoaré do igapó, o que cresce pelas florestas das nascentes e mar- gens dos igarapés, não attinge às mesmas dimensões; o tronco esgalha logo de baixo, tendo o duramen pardo-avermelhado, o alburno branco é a parte cortical transversalmente rugosa, com a epiderme fina e de uma côr amarello-sujo ou avermelhada, e a parie suberosa cór de carne crua. As foihas, bem se caracterisam pela forma dos pellos que dentre as glandulas microscopicas se distacam na pagina inferior. As glandalas são globulosas e os pellos .verdadeiramente estrelados, que verticalmente se c levantam c dividem-se horisontalmente em 5 articulos geometricamente dispostos. (Vide a estampa). O camálivaré-rana, isto é, espurio ou bastardo, é o que cresce á beira rio, em lugares descampados, de tronco esgalhado desde quasi o «solo; item menor dimensão; as folhas maiores e os fruclos menores. Os maiores exemplares que tenho visto não excedem 4 metros de alto. O tronco é fino, o duramen de côr parda, e o alburno de côr amarellenta. Caracterisa bem esta especie a lanugem ou cotanilho da pagina inferior, do peciolo e das nervuras das folhas. O parenchyma é todo glanduloso e os pelios que d'elle se levantam são claviformes, irregularmente ramosos no apice, o que torna a pubescencia lanosa. As arvores florestaes fornecem bonita madeira para marcenaria, e obje- ctos arlisiicos, mas não são empregadas. O duramen d'estas, cerne ou amago, é de um tecido miudo, pesado, prestando-se a ser polido e envernisado. Em todas as especies os frucios têm o epicarpo leitoso e as cotyledones oleosas. (!) Tem no Amazonas este nome umas especies de alfanges, imitação famericaua dos que pri- misvamente, no tempo colonial, foram usados e que substituem a fouce. Er Ii Além das especies do Rio Negro, informam-me que nos affluentes d'a- gua preta do rio Purús, e em Manakapurú, no rio Solimões, tambem se encontra outra assim como norio Una, no Pará, porém forçosa- mente devem ser especies distinctas, pela latitude e diferença de formação do terreno. Na exposição do Amazonas, de 1866, figurou uma amostra de leite, ex- trahido em Manakapurú e na exposição nacional do Rio de Janeiro, de 1867, figurou tambem outra do tronco. Seria ? Noticia alguma minuciosa quer nacional, quer estrangeira, conheço sobre as plan'as em questão, aqueles, poucos, que dellas se tem occupado, naturalmente as tomando por uma só especie, botanicamente a tem levado para a ordem das Lauraceas, sem determinal-a nem ao menos generica- mente; o que prova falta de exame oceular da planta. Vejamos: Nicolão Moreira (*) a principio confunde o tamákoasé como Bal- samo do Perú; depois (?) diz: «(renero ignorado. Laurineas. Tem 8 a 10 palmos de grossura e 60 de comprimento. O cerne é avermelhado. Empre- ga-se em construcções civis e marcenaria , sobre tudo no fabricodas ripas.» Mais tarde acrescenta (”: «Oleo fornecido por uma Laurinca, empregado com proveito nas impi- gens, pruritos e em fricções no rheumatismo. » Frei Custodio Serrão, Freire Allemão e Saldanha da Gama (” disseram: «Laurinte. Arbre élevée dont le tronc a deux métres environ de diamê- tre. Le bois est employé aux consiructions civiles, dans les travaux de Fin- téricur et dans la menuiserie. On en extraii en suc huileux et balsanique qu'on applique dans les maladtes de la peau.» Os engenheiros André e José Rebouças (” dão o tamálkoaré como syno- nino do Tanaquaré, e tamquaremba, e tambem como da familia das Lau- raceas; notando que: «Produz um succo oleoso e balsamico utilisado na cura das molestias de pelle. Dimensões do *ronco:—Diametro 2º a 2720. Aliura 40-44”. As- pecto de cerne: côr parda sem veios; poros lineares muito proximos e vi- SIVCiS.» Os engenheiros Keller e Leusinger (;) citam o tamákoaré entre os oleos aromaticos, do Amazonas como lauracea. Eis o que se tem escriplo sobre o tamákoaré, que me conste, porque E Diccionario dis plantas medicinaes brazilemras. Rio de Janeiro, 1862, pags. 128. (2) Supplemento ao dicerwnorio das plantas b azileiras. Rio «e Janeiro, 1871, pags. 53. (3) vocabulario das arvores brazilewas. Rio de Jonviro, 1870, pags. 33. (4) Breve noticia sobre à cullecção ce madeiras do Brazil. Rio de Janeiro, 1857, pags 29. (º) Ensaio de indic> geral de madeiras do Brazil. 1878, 3º fasc., pags. 1283. (9) The Amazon and Madeira rivers, London, 1875, pags. 104. 12 mesmo o D' Langaard, que cita muitas Plantas brazileiras no seu Formu- lario, não trata desta, e, até 0 Cons.º BD" Caminhoá na sua Botanica (9, apenas apresenta o nome vulgar, n'uma relação de nomes de plantas Ama- zonenses, tirada da pag. 18 do Diccionario do Aléo Amuzonas, pelo 4.º Tenenie Araujo Amazonas. A noticia melhor que existe é a que dá o D'" Chernoviz na ultima edição do seu Formulario e Guia Medica, publicado em 1884, apezar de não var a classificação botanica. Eis o que diz: «Úleo de Tamaguaré: — producto resinoso obtido de incisões Íeitas na. casca de uma grande arvore do Brazil, que habita particularmente nas margens do Rio Negro. E” um liquido opaco, de consistencia de mel es- pesso de côr amarela suja, de sabor fraco, de cheiro semelhante ao da manteiga, insoluvel em agua, soluvel no : cool, no chloroformio, na benzi- na, no agido acetico, pouco soluvel na essencia de terebenthina. — Empre- ga-se em fricções contra as molestias cutaneas. » O D' Francisco da Silva Castro, antigo clinico do Pará, que mutas plan- tas bri leiras tem estudado, em carta me diz : «nada sei acerca d'aqueile producto vegetal.» Cumpre-me advertir. que os tapuyos que não conhecem as arvores do tamákoaré, dão à especie dos igapós, o nome de O micnto do igapó, pela grande semelhança que tem com os Umarys, plantas da familia das Icacineaceas e do genero poragueiba de Aublet, Dão esse nome para distinguil-as dos Umary-ranas, arvores das ter- ras firmes, da familia das Rosaceas e do genero Couepia de Aublet, que tambem muito se assemelham. Com a particula rana, que exprime, o que parece, mas não é, explicam os indios as affinidades que coma entre uma e outra cousa, principal- mente no reino vegetal. é Com effeito, um botanico mesmo, que tiver em suas mãos um galho de tamákoaré do igapó, sem flores ou fructos, o levará para as Icacincaceas, ta é a semelhança na forma, na consistencia, na disposição e côr das folhas. Pelo que vimos todos os autores refiriram-se uns aos outros, sem conhe- cimento da planta, e baseado o primeiro na autoridade do D" Martius, que no sen Glossaria, tratando dos nomes indigenas das plantas brazileiras, sobre o tamákoaré apenas diz (”): «Balsamum de (Pará) Laurinée» quan- do entretanto o mesmo sabio allemão o tinha dito (”: «Nem posso tambem dar formação alguma exacta sobre o balsamo tamaquaré dos Paraenses.» (1) Botan?-= geral e medica. Rio de Janeiro, 1834, pags. 3071. (2) Glossuria linguarum braziliensium, 1863. pag. 406. (3) Systema de materia medica vegetal brazilewra, traduzido por H. Velloso de Oliveira. Rio de Janeiro, 1854, pag. 207. 13 À principio por duas flores acorolifloras e um fructo verde, que em Ja- neiro achei, tomava as especies que possuia, representadas só por folhas, por Eaphorbiaceas e não encontrando nos generos desta ordem nenhum ue os caracterisasse, entendi formular um novo genero, o Elcomigyas- tecon, porém. [felizmente novos elementos me vieram provar que labutava em erro. A primeira vista parecerá grande o engano, mas não o é, quan- do se não tem os orgãos reproductores. Entre as Huphorbiaceas e as Ternstroemiaceas ha afinidades que só em exemplares completos o estudos” verifica. Tanto andou a davida no meu espirito que tomando as minhas Caraipas, por Euphorbiaceas, se bem que genero algum encontrasse onde as incluir, me pareceu que seria algum genero novo. À aflinidade entre as duas or- dens que tem sido distanciadas pelos botanicos systematicos, ainda o sabio professor D' Van Tieghem encontrou, em 133, incluindo ambas na familia das Malvaceas, dividindo as ordens que nesta reunio em dias series: a de carpeilas fechadas e placentas axillares e a de carpellas abertas e placen- tas parietaes. Na primeira estão as Ternstroemiaceas e na seganla as Ea- phorbiaceas. Além destes caracteres encontrava: a disposição das folhas e a sua pubescencia, a lórma dos pellos, estrellados; flores apetalas; sepalas pubescentes com pellos ramasos; o ovario trilocular; O numero e posição dos ovulos, anatropos: o racto tricoco e septicida; as cotyledones oleosas; o li- vriho leitoso e oleoso, cireumstancias estas que me indaziram ao engano, porque as ternstroemiaceas são plantas adstringentes, estim ilantes, mas não oleoginosas e raras são as que, artificialmente, dos fractos, se obtem oleo No Brazil sómente os Pekeás (Caryocar) o dão e na China só dos Theas, vleijera e drupifer” os naturaes o extraham para uso dim stico. Flores perfeitas e corolliferas e fractos seccos que posteriormente, em Junho, encontrei me forneceram materia para novo estado que m: fez vêr que as mesmas especies eram verdadeiras Ternstroemiaceas, pelo que aqui corrijo 0 engano em que estava, quando à amigos particularmente comma- niquei a descoberta das plantas. As especies que aqui apresento são novas á sciencia e apenas a que tem alguma afinidade com a Cangus áfolia de Aublet éa minha C. spuria, Antes de conhecer a planta, apezar de saber da observação do D' Mar- tius na sua Materia medica. tambem pensava que fosse uma Lwiracea (9, e que motivos haviam, para mim desconhecidos, para todos assim classif- carem, porém, depois vi que todos labntavam em erro, fiados na nota do Glossurio, que por informações e não de visu o sabio allemão levou para a familia de De Candolle. (1 Ambuno atalago ane organísei dos produtos enviados pelo Amazonas pura a Exposição de Berira, considerei 3 tamakoare como Lauracca. Então, não Linha visto as plantas. 14 Entretanto pertence o tamákoaré a uma familia muito distincta. Cabe- me, portanto, a ventura de ser o primeiro a tornar conhecidas estas plan- tas, depois de annos de procura e de trabalho, não podendo já, infelizmen- te, dar as descripções completas de duas das especies, por me faltarem os elementos, o que mais tarde o farei. Do tempo isso depende, porque só com elle poderei obter as flores e os fructos que hoje me faltam. Não éum facto extraordinario, mas sempre é uma conquista para a sciencia. Contribuiram para a minha classificação os elementos que tinha em mãos, podendo haver outros que destruam o meu trabalho, e que por falta de meios não posso ainda obtel-os, mas esses, creio, não ioranão em nada o que fiz. Comparandoas minhas com as diagnoses das especies americanas pablica- das por Aublet, Martius, Bentham e Tulasne de todas se affastam pela pu- bescencia das folhas; as deseriptas todas tem estas glabras, glaucas ou pel- lucidopunctadas, e não pubescentes e Band as. Consultei a Histoire des plantes de la Guyane Française; os Reper- torium e Amnales botanices systemacae, de Walpers; os gene a plantarum de Bentham e Hooker eos de Endlicher; os nova genera el srecies, de Mar- tus; a Histoire des plantes, e o diccionario de Baillon, não tendo podido consultar as Memorias de Cambessedes, Choisy por não as possuir. De Cardolle no seu Prodromus não tratou das Caraipas. Não deixou de me passsar pela mente que podem estar as especies em questão Já classificadas e achar-se em algum herbario europeo ou terem sido publicadas em alguma revista estrangeira, porque não me é possivel tel-as ci mas passando a bem considerar Isso, razões me sobram para presu- - e mesmo acreditar que não sejam conhecidas. Da essa crença: Bentham e Hooker nos seus Genera plantarum, em 1862, affirma que só oito especies até então eram conhecidas e Baillon na sua Histoire des plantes e no seu Dictionnamne de | otanique, de 1873 e 1876 ainda con- firma que só cito especies se tinham descoberto. O movimento dos naturalistas no Amazonas desde 1872, tem sido por mim acompanhado e não me consta que um só botanico ou herborista tenha penetrado no grande rio e muito menos no Rio Negro, a não ser na. data acima, o dr. James Trail; porem esse com certeza não levou no seu herbario os tamákuarés pelas difficuldades que enumerei, pela rapidez da sua viagem, e mesmo porque me teria dito. Se eu residindo na provincia custel a vencel-as, não venceria elle no- “curto espaço de 24 dias, de 14 de Junho a 7 de Julho, que foi o espaço de tempo que levou subindo a bordo da lancha Beija-Fiôr, o Rio Negro, não falando o portuguez e ignorando que existia o nome tamákuaré. Si elle o soubesse ou tivesse d' elle obtido algum especimem o citaria, como 15 citou o timbó e o guaraná, na relação que fez da sua viagem o sr. Char- les Brown, (!) chefe da commissão, de que elle era o medico. As razões, pois, que tenho para julgar o genero e as especies novas, posto que vulgar 9, seu nome e a sua applicação na provincia, são as seguintes: em primeiro lugar as arvores, como já disse, são do centro das mattas que se alagam, das nascentes dos igarapés, que só pelo verão estão em secco, lugares on-. de não penetra botanico algum estrangeiro, que em geral só percorrem as margens dos rios; em segundo lugar, depois que Mieller publicou a sua; monographia com todos os elementos de que a Europa dispunha, nenhum, botanico veio ay Amazonas e principalmente ao Rio Negro, patria por as- sim dizer do tamákuaré; em terceiro, sendo arvores altas, cujas folhas se confundem na floresta com as de outras, difficil é se ver quando estão flo- ridas, accrescendo a difficuldade de ter a mão, então, quem as derrube pa- ra se colherem as flores: quarto porque não existindo o verdadeiro tamá-, kuaré senão nas aguas do Rio Negro, não poderia ser encontrado alhures , por um botanico, porque então já o teria sido tambem pelos milhares de . indigenas exploradores de productos vegetaes; em quinto e ultimo lugar,. porque me tendo sido impossivel no espaço de 6 annos—de 1872 a 74 e de 1883 à 86, ver a planta, apezar de para isso empregar os maiores esfor-. ços, seria muita felicidade a do botanico estrangeiro encontral-a de passagem. | Apezar, porém, disso curvar-me-hei a toda e qualquer classificação que . por ventura appareça anterior à minha, provada à prioridade pela data da ; publicação, conforme o Art. 42 da lei estabelecida pelo Congresso de Pa- ris de 1867. As determinações nas listas dos herbarios desaparecem an- | te as publicações, «jusqu'á qu'un journal ait devoilé leur incognito, elles restent dans la demi obscurité des papiers communiqués aux amis. Les nons | nouveaux qu'elles renferment ne peuvent pas compter dans une question de priorité. puis que le public est censé les ignorer», como diz Alph. de Can- dolle, (*) o redactor das leis da nomenclatura botanica. Productos e suas applicações. O sueco lactescente, oleoso, volatil, resinoso, (”) e mesmo phosphores- cente (”) que se encontra nas cascas e nos caules das plantas das Euphor- (1) Fifteen thousand miles on the Amazon. London. 1878, (2) Nouvelles remurqnes sur lo nomenclature botanique, Jenéve 1883. pag. 23. (3) As resinas dos Croton thurifer e odipatum de Kunth usam -se em vez de incenso, iq Alto Amaz, (4) A seiva do mandakaru de leite, (Euphorbia phosphorea M rt) da Bahia da muita Inz du- rante as noutes quentes de verão, assim como as raizes de mandioka (Manihot aipi Puhl.) quan- do junio dºellas os cupins (lhermites) se anmham tornam-se extraordinariamente phosy-horescen- tes; como vulgarmente em Minas teraes se oliserva. Penso que a phosphorescência é produzida por cogumelos que se desenvolvem com a gomma gue os lhermites produzem, porque, aqui no Amazonas, nas madeiras podres, na parte em que eles depositam os ovos e os ligam aos lec'das fibrosos, por meio da gomma. apparece um Cuci- fa microscopico que durante a noute bri'ha com a mesma luz esverdeada d'aquella euphor- lacea, 16 biaceas, forma um dos caracteres geraes da sua ordem, e, é sabido que, sempre n'essas substancias reside o seu principio acre, caustico, vene- noso, purgativo ou emetico, porém, esse sueco não se encontra em nenhu- ima das Ternstroemiaceas conhecidas, o que torna as especies Amazonen- Ses. por isso muito notaveis. Às especies da Ternstroemiacea em questão se affasta da regra, e dous productos fornecem: um natural e outro artificial. “O primeiro, o natural, da consistencia do melaço, semi opaco, por con- fer quasi sempre partes leitosas, que toda a planta fornece, desde a parte liberiana do tronco até o epicarpo dos fructos: 0 segundo, o artificial, é mais liquido, amarellento, limpido e transparente e por expressão se obtem das cotyledones dos frucios. Branco sujo, côr d2 ganga, cor de chocolate claro ou amarellado, segun- do a especie, idade ou epoca em que é, extrahido, o sueco das cascas, ou 0 oleo, é sempre encontrado na camada do livrilho, (liber) junto ao meris- thema ou cambium, em vasos lacteciferos tibulados, e disjunctos que cor- rém parallelos, no meio do parenchyma do tecido, formando verdadeiros Canaes de paredes espessas, e de grande diametro, relativamente aos dos ouiros vasos que os circundam. Estes canaes lacteciferos são de duas especies, fornecendo substancias de côr diferente. Uns correm solitarios parallela e longitudinalmente entre vasos annelados, sem reticuladamente se communicarem, cheios de um. succo branco-amarellado; outros formando grandes feixes, occupam, dis- tanceados, longas extensões on zonas longitudinaes isoladas e não conti- nuas, cheias de um sueco côr de chocolate, que sahindo pelo golpe que se der, se une intimamente ao primeiro, dando ao liquido, que corre, uma terceira côr, pela combinação das duas, como bem se observa no tem- po da ascenção da seiva nuctritiva, epoca em que os succos estão semi-re- sinosos. - Um dos motivos da pouca exhudação do oleo, é o pequeno nu- mero de feixes de vasos lacteciferos, de sueco escuro, em relação aos ou- tros. São estes os que mais fornecem 0 oleo. Muitas vezes fere-se o tron- €o em lugares que 0 instrumento não corta esses vasos e sim Os canaes isolados. Posto que as fibras liberianas tambem produzam o sueco leiloso, este é em particulas tão díminutas que pouca influencia tem na quantidade que sahe. Separando-se da parte cortical uma lamina do livrilho, dando-se nella transversalmente, que abranja ambas as especies de canaes, um corte com | um instrumento bem afiado e comprimindo-se o livrilho vê-se sahir clara e distinctamente pela bocca dos vasos 0 sueco branco de uns e côr chacolate de outros, para logo se confundirem. E” tala côr escura que não parte liberiana branca, vê-se os seus feixes formando bandas. - Parece-me | 17 que os feixes de vasos que contem a materia corante é que são os con- ductores da maior parte da materia oleosa, pelo menos isso se nota nas preparações microscopicas. Ainda depois de seccar a casca são vistas as zonas dos feixes lacteciferos//- que tomam uma côr mais escura, que se distacam do tecido fundâmental. Alguns acreditam que o processo para a extracção do oleo de tamákuaré é o mesmo que o da extracção do oleo de Copahyba, (*) o que é um engano manifesto, porque o desta é extrahido de grandes depositos que se for- mam nas cavidades que se estabelecem no alburno e duramem das arvo- res, cavidades ou fendas que muitas outras arvores tambem ás vezes apresentam e que o vulgo na sua linguagem apropriada diz que são: fres- tas de ar. Como em geral os vasos lacteciferos são longitudinaes, corta-se nesse sentido a casca proximo ao liber para cortal-os deixando-os assim abertos em differentes pontos: De ambas as aberturas produsidas pelo golpe sahe o sueco, porém ma- rosamente, de maneira que para se obter um litro de liquido, que de uma só arvore de uma Hevea se obteria em 8 horas, para a mesma porção se- riam precisas 50 arvores no mesmo espaço de tempo. Em goral o leite não corre pelo tronco, como acontece com outras especies mas deposita-se no espaço golpeado. A força eruptiva não é tão forte que possa impellir a porçãs escorrida, pelo que cessa de sahir, por se fecharem as boccas dos vasos com o seu proprio peso e pela coagulação no tempo da ascenção e primeira assimilação. Não sendo uma arvore social, isto é, encontrando-se quase sempre so- litaria, pouca quantidade de producto se pode obter. Alem disso só os individuos adiantados em annos fornecem o oleo empre- gado pelos indigenas. O processo pois para se obter o oleo, é o seguinte : descasca-se a arvore tirando-se a parte suberosa até o livrilho, cobre-se ()) esse espaço com algodão desfiado e à medida que este vai se empre- gando é expremido o oleoem um vaso e assim, como nataralmantes e apa- ra é empregado. Outros collocam o algodão n'um dia para recolherem o oleo no outro. Este em vidros bem arrolhados conserva-se por muito tempo e não se concreta. Cumpre observar que, como disse, as arvores oleiferas são só aquellas adiantadas em annos, porque quando novas só dão leite. O ta- makuaré do igapó, por exemplo quando muito novo, (filhotão) só dá leite SR, para tornar-se côr de ganga quando mais velho se torna o indi- viduo. (1) Mais tarde sobrsa copahyba publicarei um trabalho por onde s2 vê que mais de oito es- pecies de oleos apparecem no mercado como se fôra uma de só. Em gerala do mervalo é uma mistura de olzos de cer e consistencia diversa. A a mais produetiva é logo acima do nó vital ou mezophy co € rares são as arvores que a um metro acima do solo abundem « teria cleosa. pelo que é sempre proximo á terra que se fere a case O processo empregado pelos indigenas, applicando o algodão a tem sna rasão de ser, e é mesmo mais util, porque assim só S oleo puro, pouco ou nada modificado pelo leite. Os filamentos do algedão impedem a passagem do leite e filtram o com que por caplil iavidade se imbebem, e como seja o leite que fom materia caustica, assim só se obtem pura a materia medicamentosa. Na pratica medicinal, cuidado deve sempre ter o facultativo em ex: jar o oleo porque se estiver muito opaco e claro deve regeital-o po q irritar e agravar a parie doente. ê Cutro producio que se obtem, então artificialmente, é tirado das | dones das sementes. Depois de bem seceas são pisadas e por expressão, em geral em um pequeno Upity apropriado, como o uzam para o oleo de kumará, (Di ipterix odorata e oppostlifolia) recolhem o oleo, que é: reilo e transparente e com as mesmas applicações medicinaes. Só externamente são Epa ados os oleos de Tamákuarés quer d: ca quer de os iructos, nas uíceras simples e syphiliticas, na sarna (kuruba) erupções, da dias friciras, pannos, assim como no rhenmatismos (ka- | uara) (o bichos da cabeça e sempre com tal vantagem, que com um em- | prego já secular, ainda vão perdeu os foros de grande aniidarthroso naturaes o preferem a toda e qualquer preparação pharmaceutica. k a Ro SC Ra Jebrr que à virtude. medica, existo sómen qu lei! 1oso toma-se cars :stico como O da ae ande o seu Ri ego, co a pratica Reg bao parte benta: Por Epérie tencia pre A Lonheço o mesmo a hd a produz inchação. ER Enfelizmente a paixão do ouro que tem arrastado os naturaes | E) a extracção da gemma elastico, tem feito com que aqueles que bem con clum a planta que produz o oleo, tenham morrido e desapparecido, pj que ho,e despovoados os lugares torna-se a sua colheita dificil e ao | cos vae elle desappa irecendo. O oleo do tamákuaré-reté é pouco caustic s nenhum deles é amargo, quase não tem cheiro, o que contra as fores que são muito aromal cas. O tamakuaré-rana em algumas épocas e muito caustico. (0) Karuera tem: diversas inferpretações: pode. ser feitiço, bouba, sauna, + gononnhea, fismo. A lraducção propria de kar ur, é O que come ou coça. 19 nad Observações sobre o cleo 7 O succo do tamakuaré é notavcl, por ser um mixto de oleo e leite, en- trando na sua, compesição diversos corpos que solfrem varias modilicações chimicas que se dão intercellularmente. Observado ao microseopico ten: à apparencia, por assim dizer, do leite animal; n'este apparece a manieiga no meio do caseum e d'agua, no oleo de tamakoaré a parte oleosa apparece em bolhas no meio d'agua entre granulos leitoses, sofivendo isto modificações, segundo as épocas do anno. Nos primeiros dias do verão. apnarecendo a grande transpiração pelos orgãos appendiculares, começa igualmente a absorção dagua pelas rai- zes. Essa agua levando comsigo os elementos a que encontra no solo, contribue para a nuiricção, reforça a planta que estava em descanço e equilibra as suas forças, pela perda que solve pela transpiração. O suceo leiteso comeca então a nodificar-se, com a entrada da vegeta- ção. Deixando o repouso a ia esteve durante a esiação invernosa, sa- hindo as raizes e o tronco de sob a saguas, tornando-se enchutas as lolhas, pela ausencia das chuvas, que orp prmião pela abundancia d'agua e abai- xamento de temperatura, a trans piração, entra a planta em nova phase. Com a entrada do verão acoutadas as lolhas pelos venios e raios solares elevando-se o grão de calor, com: Gam, ellas a Jancare m no ambiente gran- de quantidade d'agua, que para estabelecer o equilibrio que solfre, absorve a agua do solo que compensa a perdida e est tabelece à oiee tuo entre as raizes e as folhas. Este facto as vezes se repete tambem no co- | meço do inverno quando as chuvas são espaçadas. À imilnencia solar c das correntes do vento Ê grande. tanto que é sempre do lado oriental que os vazos deitam mais oleo, chegando muitas vezes 0 occiduntal a não dar ne- nhum. (9 Entrando a piania no periedo Go crescimento, na formação de novas. cellulas que são produzidas pela materia oleosa, desta se enchem as colldo - i ” i 1 | É fp , las antigas, á custa da reserva anterior e das combinações que solirem com a ada de novos cleme su nuctritivos. Quando começa a Fo Neia, rando o crescimento, pela transsubstanciação a materia oleosa vai se de- to tornando-se mais rica de granilos de leite a ponto de na época dos fructos maduros, ter o sueco grosso, muito leitoso o resiroso. Assim, pois, no inverno entra a a novamente no seu descânço, conservando durante esse tempo o succo leitoso. E” na época da elaboração que se colhe o oleo, isto é, no tempo secco, » quando com força e abundantemente (1) A influencia das correstes tos ventos é tal em certas plantas que nas Coxepias. por exem- plo, quando estão isolavas, a cegetacão começa sempre peli parie do nascente. Apresentão-se às arvores de um lado verde-siaro e Tonto cscuro, istoé € brem-se por mais de um mez-do fo- lhasnovas dum lado enquanto que dooutro conservam os antigas, Em Fevereiro se vê bem isso, so sobem os succos nuctritivos. Durante esse tempo, conforme o mez, o leite é mais ou menos oleoso ou leitoso, como já disse. O oleo completamente puro, só se recolhe durante muito pouco tempo, isto é, só quanto a planta tem attingido o seu completo crescimento, e qne, por assim dizer, depois do seu longo trabalho começa a querer descançar, indo viver a custa das reservas que guarda nas suas cellulas, em quanto tem suas raizes e parte do tronco de baixo d'agua. Em qualquer época, porém, pelo processo do algodão se obtem o oleo mais ou menos puro. Nº'essa época o leite tornando-se rico de resina, impede a passagem d'agua atravez do livrilho que se torna impermeavel. Por capillaridade e endos- mose até elle chega atravez da parte suberosa e cellular não alcançando o meristhema. Curiosa prevenção da Sabedoria Eterna! Essa agua iria mo- dificar a natureza do material de reserva, não maduro, antes do tempo pro- prio para a nova assimilação, e não tendo sido absorvida pelos canaes pro- prios traria um desiquilibrio nas funcções vitaes do vegetal que o mataria. O mecanismo que assimilaria os materiaes de resina antes de estarem aptos para a nova assimiliação, provocaria uma turgidez que impediria a formação do merislhema e a consequencia seria a destruição da parte cor- tical e a morte. Em Janeiro e Fevereiro, quando as chuvas são abundantes, não interca- ladas, com dias de sol abrazador, ha tambem grande absorpção d'agua e selva ascendente, mas essa não influe, tanto que o sueco é muito leitoso, a pequena parte de oleo é resinosa e forma um mixto que se coagula, e não se dissolve em algumas especies. Está então ainda com fructos. O que aqui noto e observei dá-se tambem com a Couma (*) utilis Mari. (Sorva) com à Couma macrocarpa Barb. Rodr. (2) (Sorva grande ou Kumã), com as Mimu- sops, com as Lucumas e comas Vismias. As Lucumas, entretanto, tendo aca- bado n'essa época de fruchificar, essas chuvas dão-lhes uma vegetação epheme - ra, pelo que a absorpção d'agua influe a dissolver o leite e a tornal-o aquoso. Essa vegetação porém pára para mais tarde apparecer com força, florescer é fructificar. Da Vismia ferruginca H. B. K., por exemplo: aquelles exempla- res que ainda estão com fructos, apresentam o seu leite, que é tão verme- lho, que tem o nome de Lacre, pardacento, resinoso e em pequena quanti- dade, emquanto que aquelles que fructificaram mais cedo, e começam a vegetar, apresentam já os seus lacteciferos cheios de succo vermelho, desde o livrilho até as folhas. a Às Heveas, como o tamákuaré, tem n'essa época o seo leite resinoso, muito coagulante e em pequena quantidade. No começo do verão quando (1) Couma é a palavra cumã eseripta pela pronuncia fraaceza por Aublet que creou o genero. . (2) Esta especie é nova, acha-se descripta e desenhada no meu volume inedito Plantae Jauape- cyenses e figura no herbario do Muzeu e no catalogo de suas plantas. s 21 ainda os troncos estão n'agua ounaterra encharcada, começando a elaboração da seiva começa o leite a “dissolver-se apresentando a parte não dissolvida grumosa, com a apparencia do leite animal talhado. Pelo que ligeiramente esbocei sobre a natureza do oleo de tamikuaré, nasce o:encontrarem-se oleos de córes mais ou menos escuras, mais ou mc- nos limpidos ou carregados de globulos que o tornam opaco. Essa côr e essa consistencia é devida aos mezes em que foram extrahrlos. 'O gre acima expendi varia com as circunstancias alhmosphericas. Maior ou menor tempo de chuvas, cheias maiores ou menores, radiações solares e pressões mais fortes, maior ou menor grão de temperalura etc, que airazam ou adianiam a absorpe cão da seiva, a sua assimilação e a sua transsabstanciação, motivam « alterações na economia dó vegeial, que por isso não póde ter marcha regular o determinada. Dos tamakoarés o mais oleoso é o silvaticus, Os outros são antes mais leitosos. Etymciogia do nome Com o nome tamakoaré, tamaquaré, o , tamacoary (*) designam os tapuyos do Amazonas duas plantas, de ordens diferentes e úm animal, por encontrarem em tudo as mesmas viriudes e amavios. Therapeuticamente fallando é mais vulgar o nome nas plantas de que trato, porém o dão tambem a unia trepadeira de raiz tuberosa e perpendicu- lar, lactesconte, resinosa, e feculenta, do flores roscas; à uma ipomoca no- va que descrevi e dedominei T. superstitiosa. Q animal que tem o nome de tamákoaré é um camelção pequeno, de ca- beça grande, curta, angulosa, e cauda muito comprida, que vive pelos ga- lhos das arvores dos i igapós, e sobre os quaes ha varias lendas, que pos- suo: o Munmgalus laticeps Guid. Para explicar melhor a origem do nome das plantas tratarei antes do saurio, porque d'elie se originou 0 d'elias e d elle paris ainda à falsificação que ás vezes apparece do oleo. A Acreditam os indios, tapuyos e seus descendentes, mais sups rateio que esse animal tem a propriedade de fazer remoçar: a velhice; dar-lhe belleza e encantos; tornar constantes os-amantes, attrahir os: ingratos, e fazer 0s indiscretos guardarem segredo. Para fazer desapparecer as rugas das faces, as molestias dee elle e as- -setinar esta, basta passar o anim: al VIVO pelo corpo; para: fazer que o indi- viduo guarde segredo, basta fazel-o cuspir na bocca. do animal, e para dar rigeza aos seios, aos orgãos flacidos e cançados, tomarem piiliras e dutos que cons elle se preparam. | (1) Como nome: de tamaquarina, dado pelos Caraibas, existe nu Guyana Franceza uma -Apocvnacea, que Aulilet destreveu cem o nome de Camararis lamaquarima que é hoje, á maloue dia lamaquarna A. DC... 2: Diversos Íeitiços por isso as mulheres indigenas preparam e uzam. o que o major Baena, o vulgarisador mais curioso das cousas Amazoné AS diz, no seu Ensaio Coros graphico da Provincia do Pará: « Os indios servem-se d'este animal umas vezes para curar dispn tras para compor uns philtros persuadidos de que com diio reslituem à os agrados dos inconstantes. DU Não são os indianos os unicos que dão assenço a esses amavios eo ha no mundo muita gente, que a elles se assemelham na crença do. data E prestigio que devia ser Julgado. | E 7 RR E ] Supersticioso embuste, ultimo dao «pi di De encauceidas enrugadas velhas Ta Queas bandeiras Ro da torpe Venus fe Invalidas largaram». Como o oleo do vegetal e o banho das cascas curam tambem as Ro tias de pelle, que em geral tornam feios erepellentes os que as tera, deram- lhe por isso o nome que applicam ao animal. mo À A superstição dando quase que as mesmas propriedades á FR Ea À fecula dos tuberculos da iromoer a ella estenderam iambem o mesno no me, antes, mais geralmente, tamakoaré-y. (!) Quando querem ter preso um individuo aos seus encantos, as mm alhores. engommam a roupa delle com o polvilho que extrahem dos turberculos. do. “tamaktaré-y, na crença que ficam-lhes preso até à morte. Depois do que tenho da para justificar a ctymologia do r nome, só me resta Gizer ctue a palavra tamakicaré significa 0 feitiço, 0 umavio, o ghittro, como bem o traduzio o meu finado amigo Bapusta Caetano no sem Td io, que acompanha o Abaretá ou Conquista espiritual do Pa- TAGUAN. f Ave a Diriva-se tambá ou tamá. abbreviatara de tamctiá, (?) cstra, mixilhão, | marisco, € tambem as partes pudendas da mulher, antes, o que está den- iro da ostra ou desias e kuar, furada. a agr Ísio ainda é confirmado pelo facto dos amavios: nunca serem emprega-. dos pelos kunhã-menaçarayma, moças solteiras é sim pelas remirekós, ca. sadas e sobretudo pelas patakeras, mulheres gastas pelos prazeres de nus, que são as mestras. O tamakuaré e portanto para o indigena | vore da ionte da Juvêntade ou a do segredo de Bu de Lenelos.| JA o Tarmakoaré nequeno. r E) Tamatiá exprire tudos os orgãos sxunes da malher e tambá antes à vas (eo cit hy me aum. A uma pena sd a sranthosoma aa: pie Rito que tem um A folinia nai dr dao 2: Amalyse chimica Procede no laboratorio do Museu botanico do Amazonas o dr. Francisco Piaff, chimico do mesmo Museu, as analyses que mandei fazer nos oleos e epportunamente como complemento a este estudo as publicarei, não só com as abservações que “elas sugerirem, como as que botanicamente ainda por ventura tiver de fazer em consequencia de estudo posterior, Prevenção Consta-me que um oleo pardo-escuro, muito consistente, transparente, sem principio algum leitoso, que apparece no mercado com o nome de vleo de tamakuaré e como verdadeiro, é um oleo animal e artificial, feito segundo dizem com o cameleão Tamakuaré, o que não acredito. Poderá. ser animal e mesmo de cameleões, não porem d'áquelle que não só é raro como tambem pela sua pequenez nunca daria a quantidade de oleo que apparece, para a qual seriam precisos milhares, Nada ao certo sei, por ora, porem emprego os meios de alcançar o se- gredo disso e mais tarde a sua composição nos será revellada pelas analy- ses chimicas a que estou mandando submeitel-o. O collecior do tamákuaré suppondo não haver diferença nas proprieda- des reunem em uma só vasilha o oleo das differentes especeis, o que lhe dá uma côr dilferente e o torna quase sempre caustico, pelo que toda cau- fella é necessario ter e despresar-se o que não tiver uma cór mais cu me- nos de chocolate com pouco leite. Nota Entre os productos medicinaes, mais afamados da flora Amazonense, fl- gura 0 mururé, cujo estudo boianico e chimico em breve será dado á es- tampa. Museu Botanico do Amazonas, em 25 de Dezembro de: 1886. É ost scriptum Não posso, para completar o historico d'este trabalho, deixar de men- ctonar 0 serviço que é sciencia e a mim prestou o Ilim. Sr. José Antonio d' Espinheiro, muito digno official da Secretaria d Estado dos Negocios dos Estrangeiros, a quem se deve o poder eu aqui publicar uma outra especie da provincia do Pará, que, posto que não a conheça comtudo : pela mina- ciosa descripção feita pelo botanico Dr. Antonio Corrêa de Lacerda, a considero nova para sciencia. Entregando-se o Sr. Espinheiro a Sis botanicos, manuscando em 1868 ou 48690 manuscripto que existe na Bi- liotheca Publica da Córte que tem por titulo «Phytographia Pargense— Maranhensis, sive Descriptio Plantarum in Pará .et Maranhão lectis tra- balho empreendido nos annos de 1821 a 1852, encontrou a descripção do Tamakoaré, sem ser acompanhada de desenho, como o costumava fazer Lacerda e mesmo sem determinação scientifica alguma. Não tendo o mes- me botânico determinado nem a familia a que pertencia, apenas ficou a descripção que agora salvo é tiro do somno do esquecimento em que es- tava se por ventura, depois de estar este trabalho no prelo, não me che- gasse a csmmunicação do estimavel e prestativo cavalheiro. Perpetuo nessa especie o nome do prestimoss botanico que a descreveu a sessenta e sete annos. (*) Rasão tinha eu. quando em 1878. pretendi examinar, aproveitar, coordenar e classificar 0 que encontrasse de novo e util na referida Flora, conservando o texto original, mas que apezar da boa vontade do Ministro de então não o pudo fazer, por. contrariar a opl- nião do bibliothecario, o que privou: uma publicidade que vulgarisaria a obra do notavel medico. Na carta de 18 de Março do corrente anno que o Sr. Espinheiro me di rigio, enclina-se elle a crer que a especie descripta sob o nome Tamakoaré pelo Dr. Lacerda, não seja planta da mesma familia das de que trato. Pelas rasões que dei tratando da etymologia do nome vê-se que bem avisados andaram os indios do Pará dando à especie de que me occupo o nome tamakoaré, porque nella encontraram caracteres que a levaram Pass o mesmo genero das do Amazonas. F Deve ser um tamakoaré-rana, por não ser oleifera, pois se o fosse e me- dicinalmente tivesse emprego, não escaparia já observação do. incansavel botanico, que deixou de mencionar essa-proprie Jade endicando apenas uti- lidade na adstringencia das cascas. |" isso mesmo que justifica o nome vulgar; é essa adstringencia que põe em voga entre as “mulheres gastas pelos prazeres de Venus à sua applicação. A descripção do Dr. Lacerda concorda pesfeitamento com Os caracteres geraes das Caraipas. Posto que a sua descripção não esteja comprehendida nas que fe na sua Hhilosophia botanica considera legitima por se affastar do preceito, - Discriptio justo longi nº aut brevior utraque mala est com tudo apezar disso e da falta de pontuação, ella pinta tão bem a especie, que para os que conhecem outras dó mesmo genero “a falia 1 SPpecinaniE ou de deseitho não; “compromette o“ observador. 4 0 910% du iii o cleo Aqui a dou textialmente | como me foi coiimunicada. RR ey 3 RED e ES ê (1) O Bacharel em medicina. pela: Universidade de' Coimbra! Antonio Corrta de' Lacerda, “era natural da ivilia da: Ponte, coruarca--do Trancoso em:-Portúgal.-Veio. para o Pará em 1817, re- gressau pela Cnbanagem à Portugal, e voltou para o Brazil em St mo resi to fa Maranhão, Faileceu n'essá Provincia ein 16 de Julho de IS52. - É PRE Ssoba bRO PRREE A Vs ARM a ae os “entar 25 ' d«Fomacoaré» Inflorescentia terminalis axillarisque paniculata panicula oblonga sordi- de lutsa simplici breviter pedunculata bracteata folio breviori ramis alter- nis brevibus +-—3-—2-—1 floris. Pedanculo communi brevi aliquando subnullo tetragono villoso basi arti- culato squainmoso squammis ovatis acutis villosis primum Iuteis deinde castaneis. Bractea una ovatà subulata sordide lutea ulira medium recur- va; brecteae aliae ovata acutae luteae un sub singulo pedicello sordide lu- teo villoso tetragono aliae ab basin singuli pedicelli oppositae inser- tae. Calyx hypoginus monosepalus profunde 5 partitus coriaceus villosus s9r- dide ex Iateo viridis laciiis cordatis ciliatis aculis aequalibus margine re- volutis—duabus internis duabus externis quinta demidio interna demídio externa corollae quintuplo brevioribus petalis alternis persistentibus. Corolla hypogina 5—pctala petalis recurvis superne albis subtus Inteis obovatis villosis ciliatis basi angustioribus unguicalatis margine hinc sube- rectis illinc convexis apice rotundatis emarginatis auricuiato appendiculato appendiculo a margine recta proeminente—insertio dubia partim calyci partim tubo staminilero—laciniis calycis alternis. Filamenta letea capillaria indefinita receptaculo sab germins inserta (plurima ultra 300) corolla breviora basiin parvum tubum connata—1 —an- therifera marcescentia. Antherae luteae terminales medifixac ovaio oblongae basi acutae apice bifide biloculares loculis Inteis segregatis a medio usque ad apicem lateris connectivi carnoso—trapezoidei insertis longitudinalite dehiscentibus. Pollen Juteum. Ovarium unicam superam luteum villosum ventricosum maricato “verrucosum basi et apice attenuatum medio ventricosum (2 turbinatum) bre- viter pedicellatum 3-—loculare locelis 2—spermis ovulis oblongis trigonis summo placentae insertis. Stylus 4 luteus villosus basi 3-—gonus 3 sulcatus postea subtrigonus. Stgma 1 orbiculatam luteum obsolete trilobum trisulcatum. Cpsula 3 gona pyramidalis non pedicellata 2 poll. longa 2 4/2 poll. ta- ta submuricato-verrucosa proecipue ad angulos perangulis se aperiens 3 Jocularis 3 valvis loculis 1—2 spermis seminibus ovato oblongis aliquan- do subtrigonis summae placentae insertis perispermate praediti corculo “recto bicotyledoneo radicato cotyledonibus orbiculatis radice simplici trun- cato m apice perispermatis obvesse posito. Valvis capsularum medio non septiferis per margines super placentam Pp Pp p & 26 &— alatam sive *— septiferam insertis—summitate cicatricibus insertionis sereia preditis. Arbor 40 pecl. alta ramosa ramis alternis cinereisaphylis; ramulisaphy- his pulvinulatis; ramunculis ioliosis luteis verrucosis sub 4&—augulatis. Yolia perinnantia alterna ovata cblonga aliquando ovato lanceolata) ba- si rotuncata ad in medio acuto (astin lanecolatis acutis) margine endulata cartilagimea integra reilexa lulea—apice angustata rotundata emarginata in aleis acuto acuminata acumine in apice rotundato emarginato—superne viridia laete splendentia canaliculata concava minutissime excavato punc- tata ad nervos sulcata nervo medio plano luteo aleis mdistinctis sublente villosa pilis raris minimis castanco luteis—subtus incana minutissime ele- vate punciata pilis ad lentem supernis confertioribus nervosa nervis elevatis mediano luteo lateralibus alternis prope marginem anastomozantibus—6— 7 42 poll. longa 3—3 42 poll. lata—petiolata petiolo contorto arcuato rugoso superne canaliculato subtus convexo exstipulato cireiter 4 poll. lon- go. Habit. Pará: luv. Aluatituba prope Jambuassu lecta; floret Decembro Cortice adstringenti odoris sui generis. Pará, 15 de Dezembro de 1824.» ee (a mm Esta descripção vem confirmar o que anteriormeute disse quanto o não ter sido classificado o Temakoaré, porque o Dr. Lacerda o descreveo em 1824, depois da partida do Dr. Martius, que de 1817 o 1820 percorreo o Brazil, e, era natural que o medico portuguez, que chegou ao Pará, na mes- ma epoca em que o botanico aliemão explorava o Amazonas, tivesse conhe- cimento da classificação deste botanico. De 1817 a 4820 cpoca da chegada, do Dotanico portuguez e da retirada do allemão, vão tres annos e n'esse tempo é de suppor que dous homens que se occupavam do mesmo assumpto, entrelivessem relações, e a conse- quencia d'isto seria a revellação mutua dos trabalhos que faziam, e, é mui- to natural, que o tamakoaré Tosse objecto de discussão, por ser então mui- to conhecido e mais empregado, já como medicamento já como feitiço. Se Martius o conhecesse Lacerda não o descreveria. quatro annos. depois da sua partida. Alem da especie achada pelo Dr. Lacerda, mais uma outra veio me con- firmar, que falsas não eram as apprehenções que linha, de que com o no- me de tamákuaré haviam differentes especeis. “Tendo informações exactas de que havia em uma localidade do Rio Ta- rumã-miry, uma especie verdadeira, reconhecida, porum tapuyo, para lá me dirigi e com cfíeito cm uma só paragem encontrei 14 arvores magnificas, mediando apenas 6 ou 7 metros uma de outras, cujos troncos, um homem não rd abraçava, mas que infelizmente não tinham nem flores nem fructos. Exa- minando a casca, os vasos lacticiferos, as folhas; e o oleo, reconheci logo não ser c verdadeiro tamakoaré medicinal, e que foi confirmado pelo proprietario do sitio, referindo-me uma applicação que fizera do olev, não só em si, como em uma pessoa de sua casa. | O resultado da applicação confirmou o que me dizia a forma das folhas, ea disposição das rugas da casca, assim como os lacticiferos do livrilho e a côr do leste; era um oleo extremamente caustico. Essa propriedade ve- rifiquei em mim mesmo. Applicando sobre o braço esquerdo uma pequena porção do olco extrahido do tronco, passadas duas horas a parte começou a enrubecer, seis horas depois appareceo a coceira, e mais tarde picadas, apparecendo uma erupção, como bortogja, no fim de 18 horas, com as ve- sigulas de tamanho de uma cabeça de alfinete cheias de puz, mas não pro- duzindo dores. Comparando o oleo que extrahi com uma amostra que me fizera o fa- vor de mandar da Córte o meu amigo Dr. Moura Brazil, que a recebera de Manãos, remeitido como verdadeiro, achei-o inteiramente identico na côr, na consistencia, no cheiro e no sabor. Term uma côr amarella esbranquiçada, muito consistente e muito cpa- £o, mas ao calor do sol sc liquefaz, voltando depois 00 primitivo estado. (*) A amostra do Dr. Moura Brazil, unha o numero 3 e faço esta adver- cia para que elle possa no Rio de Janeiro bem conhecer e prevenir os que estão applicando o mesmo medicamento. Dou aqui a descripção d'essa nova especie, cujo nome especifico se re- fere à circums.ancia de scr ella tão parecida no porte com a verdadeira que traiçoeiramente, por assim dizer, engana. Segundo me informam os fructos são semelhantes aos da C. palustris, porem menores. Diognose especifica. Folha oblongo-lanceslata peliucido-punctata. Pitt nulh. Petiolo rugoso. . . . . CC. INSIDIOSA sp. nob. o—Caraipa insidiosa Barb. Rod. 1. cit. n. 655. Arbor excelsa, 10-20>x50--80" lg. cortice extus transversaliter rugosa cincreo-flavescenti intus carne-rubenti. Jami ereci v. sube- recii, laevigati, coma densa. Folia oblongo-lanceolata, acuminata, brevi (1) Os vasos lactieiferos não sa distinguem dos outros pela côr; são mis unidos, tem menor diametro correm muito paralielos é fornecem simultaneamente leite e oleo. petiolata, petiolo rugosi, basi acuta, subtus polidos pellucido ta, glabra, costa media lateralibusque prominentibus, 13—2 Ig.. Petioli intas canaliculati, torti, 5 -=10 m m. Ig. Floribus el ignola. Hab. in silvis primaevis nunquan inudaia ad fumen Ta in Rio Negro. Tamakoaré indianorum, RR Muzeu Botanico do Amazonas, em 28 de Julho de 1887. n , od ! Iê IE ha 2 E E is ad ob 0, E CV 4 4 Mia q Pr fed, , ed cd Cada el pi É Ra SMITHSONIAN INSTITUT DA ii