PLANTAS ÚTEIS DO DESERTO «Henrique ^emfer Publicação autorizada pelo Esmo, Sr. Ministro da Agricultura, Industria e Commercio, DR. PEDRO DE TOLEDO RIO DE JANEIRO T ypographia do Serviço dei Estatistica 1913 J MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, INDUSTRIA E COMMERCÍO SERVIÇO DE INFORMAÇÕES E DIVULGAÇÃO PLANTAS UTEIS DO DESERTO m p eH enrique emfer Publicação autorizada pelo Esmo, Sr. Ministro da Agricultura, Industria e Commercio, DR. REDRO DE TOLEDO RIO DE JANEIRO Typographia do Serviço d i INTRODUCÇÃO O Serviço de Informações e Divulgação do Ministério da Agricultura, autorizado pelo titular dessa pasta, exm. sr. dr. Pedro de Toledo, iniciou ha pouco a publicação da ultima parte do notável e interessante trabalho de Hen- rique Semler, intitulado “A Agricultura nas Regiões Tropicaes”, vertido para o vernáculo pelo dr. Frederico Draenert, tendo sido a primeira parte da referida obra publicada em 1908, em dois grossos volumes, sob o titulo Manual para Agricultores e Commer dantes. A importante e minuciosa monographia sobre as PLANTAS UTEIS DO DESERTO — objecto do presente volume, é a segunda publicação da série dos valiosos estudos inclusos no citado trabalho de Henrique Semler, que o Serviço de Informações expõe á luz da publicidade, tendo já publicado o RAMI, na cer- teza de prestar inestimável serviço ás classes laboriosas e productoras do Brasil, fornecendo-lhes ensinamentos sobre uma industria que muitos proventos poderá trazer ao nosso paiz, quando fôr scientificamente explorada. Após esta, serão successivamente publicadas e distribuidas outras mono- graphias agrícolas egualmente interessantes, extrahidas do notável trabalho de Semler, o qual, embora escripto ha alguns annos, applica-se perfeitamente ás exigências e necessidades actuaes, tornando-se, por isso, de grande vantagem, divulgar os conhecimentos que elle encerra e os ensinamentos pelo mesmo preconizados. Em todos os trabalhos dessa série, que se forem publicando, o Serviço de Informações irá annexando algumas notas elucidativas e de actuali- dade, sobre os pontos necessários, para melhor comprehensão do leitor. Julgamos mais pratico desdobrar assim, em mbnographias, c restante da obra de Henrique Semler, para que, com maior faciildade, os interessados encontrem, manuseiem e estudem o assumpto que escolherem e preferirem. Rio, outubro de 1913. O Director. vY PLANTAS UTEIS DO DESERTO (HENRIQUE SEMLER ) ( PEOEMIO ) Ha muitos annos, em dia de sol estival, estavamos em um dos mais altos cumes da parte meridional de Serra Nevada, olhando para oéste, para a Califórnia, e voltámo-nos depe/s para o levante, onde os montes da Nevada, com matizes azulados, limitavam o horizonte. Não se avistava um só ponto, onde o olhar se pudesse regozijar com a verdura, e, involuntariamente ncs vieram aos lábios as palavras: “Deserto ! Deserto triste, inútil ! Eternamente os homens fugirão de ti !” Nesse momento sentimos que ncs tocavam ao hombro: “Amigo, não ha deserto !” Quem tal dizia era um naturalista escossês, um desses homens raros, que se não occupam, assentados no acanhado gabinete de estudo, em distillar um thesouro de conhecimentos das pesquizas dos outros, m!as vivem sempre no meio da natureza, para desvendar os seus segredos, desdenhando disputas sobre hypotheses scientificas, prováveis, mas ainda não comprovadas, afim de observar o nascimento, o crescimento e a morte na natureza. Sacudimos a cabeça, ouvindo essa these ousada e sua justificação. Mas ganhámos experiencia. Vimos transformar-se ante nossos olhos tantos desertos em campos florescentes, vimos tantos homens, que si melhor pensavam mais energicamente agiam, vencerem e dominarem ondas de areia e terrenos rochosos, que aprendemos a nos inclinar perante o facto, entoando o hymno do novo evangelho: Não ha deserto! Não! No sentido vulgar da palavra, não ha deserto. Digam o que quizerem a superstição e a ignorância. Neste mundo, criado por Deus, não ha lugar condemnado á eterna esterilidade. Qualquer ponto da terra pôde ser utilizado ; si o não fôr, a culpa é da myopia humana. Pedem-nos provas. Bem. Quem hoje subir áquelle cume, em que nos achavamos então, não verá mais um deserto desolador. Verá oásis risonhos, laranjaes, jardins em flôr que embellezam a paisagem e cada anno mais e mais se multiplicam, até que em futuro proximo todo o terreno será transformado em campos e pomares ferteis. Dd^&iéam-se muitos campos azues — são culturas de alfafa, iniciadas em terrenos que eram outbora pastos pobres de ovelhas. Para nutrir uma ovelha, julgaram necessários oito hectares, sendo condição precisa para isso a precipitação regular da quantidade média da chuva. Deram-se, porém, seccas frequentes, que forçaram cs habitantes a levar os rebanhos á procura de pasto, além da montanha e, no caminho, a fome dizimou-os cruelmente. Tentaram então leval-os ao littoral, para, ao menos, salvar os couros e o cebo ; os cadaveres foram presa das ondas do Oceano. Agora cultivam alfafa, que, com o auxilio da irrigação artificial, dá por anno oito colheitas, e a mesma superfície, que outr’ora apenas nutria uma ovelha, alimenta hoje, com toda a fartura, vinte. Isso não será um triumpho magnifico da energia e do espirito emprehendedor dos homens? Além nas grutas e nos valles estreitos, inaccessiveis á charrúa, encontram-se espalhados estabelecimentos de apicultores. Algumas plantas do deserto, que se multiplicam por sementeira e amanhos, fornecem pelas suas flores superior mel ás abelhas. Esse mel é um dos produetos mais» importantes .de exportação da Califórnia meridional. Do nosso ponto de observação, avista-se um valle entre rochas tristes e sombrias. Depois do valle de Jerico, é o de depressão mais profunda, abaixo do nivel do mar; tem o nome lugubre de Valle da Morte porque, ha muitos annos, uma pequena caravana de immigrantes, vinda de léste, perdeu-se nessa caldeira sinistra de monte e morreu a sêde. Desde então diziam que no V pastor, esperando pacientemente que lhes fossem lançados pedaços de cacto, queimados, que comiam com prazer. Em Sonora os cactos possuem tal importância, que as grandes fazendas são avaliadas segundo a quantidade de taes plantas nos terrenos. Perante esse facto medem-se os conhecimentos economicos e a actividade dos mexicanos, que esperam só da natureza, que cuide da multiplicação dos cactos. Si fossem mais circumspectos, calculadores e animados da vontade de explorar energicamente os dons que a natureza põe a seu alcance, a exemplo dos seus vizinhos do Norte, estabeleceriam e manteriam methodicamente pastos de cactos, para multiplicar o gado e protegel-o contra a fome e a sêde. Ainda que nada façam neste sentido, é raro ouvir fallar da falta de forragem em Sonora e nunca a fome nas seccas causa tanta mortandade, como na Australia e África meridional. Não estará aqui uma indicação para os criadores dessas regiões, si quizerem aprender o modo de preservar o gado da morte ? O nopal está introduzido na Queenslandia (Australia) e na Colonia do Cabo porém, alli sómente serve para sebes e para produzir fructos. E’ curioso vêr como os criadores de todos os paizes, quando longe das regiões de civilização, se deixam levar pela incúria que caracteriza c nômade genuino. Embora a secca destrúa as suas manadas, continuarão ccm a antiga exploração extensiva, rotineira, por abandonarem tudo á natureza e ao acaso, esperando sempre que a secca não volte semelhante á ultima, ou exclamando, nesse caso, que seria melhor o abandono, de toda, da industria pastoril. A propagação de todas as especies de cactos póde realizar-se pela plantação de sementes ou de estacas e, segundo qualquer um desses methodos, executa-se facilmente. A plantação efifectúa-se durante a estação chuvosa em sólo secco e, juntando-se-lhe alguma caliça ou cal queimada, estimúla extraordinariamente a vegetação dos cactos. Quem procurar, investigando, plantas uteis do deserto, alcança melhor o seu fim, perguntando aos povos selvagens por suas fontes de nutrição. Lembrando-nos disso, procuramos pesquizar quaes as plantas em que os indios norte-americanos descobriram propriedades preciosas, escolhendo dentre ellas as que pudessem corresponder á intenção que tínhamos em vista com esta exposição. RAIZ-BISCOITO (PENCEDANUM AMBIGUUMÓ Konseroot é outro nome inglês dessa planta ambellifera, originaria da parte meridional das Montanhas Rochosas e da montanha Wabach ; cresce nas encostas de montes tão estereis que nem mesquinho capim produzem. No mês de maio, — 17 — tempo da florescência, cavam-se as raizes, que depois de afastadas ,as cascai, são compostas de uma massa feculenta, granulosa, que a vista exercitada reconhet£ immediatamente. As cascas dessas raizes são compostas de feixes fibro-vascuUres, os quaes encerram uma farinha feculenta. A casca é semelhante a um cartucho de farinha, sendo, portanto, supérfluo qualquer preparo. Essa farinha conserva-se durante alguns mêses, é muito alva e possue ligeiro sabor de aipo. Muitas vezes os indios fazem delia boles ovaes, achatados, com furos no meio, para pendural-os na sella. RAIZ-PÃO (PSORALEA ESCULENTA) Essa planta cresce nos logares seccos dos esteppes norte-americanos e no México. E’ uma papilionacea, da ordem das leguminosas, que os franceses chamam piequotiane. As suas raizes, do tamanho de um ovo de gallinha, possuem casca espessa, coriacea, que encerra uma massa feculenta, delicada. A ultima facilmente se tritura, sendo composta pela maior parte de fécula. Tem um sabor adocicado, agradavel, que lembra o da beterraba. Algumas tribus sacrificam as raizes ao “grande espirito”. SAGÚ-BRAVO (CALOCHORTUS LUTEUS) A raiz dessa planta, oriunda da bacia deserta de Utah, alcança sómente o tamanho de uma nóz, mas é muito saborosa. Os filhos dos indios apreciam-na como si fosse algum doce . Quando os Mormões estabeleceram naquella região sua nova residência, essas raizes formaram no primeiro anno uma parte importante de sua nutrição. O que foi o manná no deserto para os judeus emigrantes para Canaan, foi o sagú-bravo para os Mormões á procura da “ terra da promissão”. CANNA (CANNASSIA ESCULENTA) A canna não é rigorosamente uma planta do deserto, por sómente crescer ncS logares húmidos, embora rochosos, dos esteppes da parte Occidental da America do Norte. Mencionamo-la aqui por nos parecer própria para ser cultivada nos esteppes, savanas, pampas, campos, isto ó, nos terrenos cobertos de capim das diversas regiões da nossa terra. Não se póde objectar que os norte-americanos teriam considerado a canna, ha muito, ccmo planta util, si valesse a pena cultival-a. Ha quanto tempo cultivam as amoreiras silvestres? Porque, ha séculos, julgaram essas plantas indignas de serem cultivadas ? Esses exemplos, que facilmente poderiamos multiplicar, provam que não é razão plausível deixar de cultivar uma planta, porque ella tem sido deixada de parte, continuando no estado silvestre. A raiz da canna tem a fórma da cebola e o tamanho da nóz. Lembramos que as batatas bravas, chamadas inglesas, que foram descobertas na Arizona, também não eram maiores, o que demonstra qual o resultado da cultura continua. A haste e a flôr da canna lembram vivamente o cyano. p. u,. 3 — 18 — As raizes da canna são muito estimadas pelos indios^ e por sua causa fizeram em Idaho uma guerra sanguinolenta, ainda muito lembrada, chamada a guerra da canna. Porque o gado dos colonos destruía essas plantas necessárias á alimentação delles, os indios romperam lucta. Também os brancos apreciam as raizes da canna, e muitos lavradores mandam os filhos colher em junho e julho, tempo da safra, provisões para cozinha. O sabor das raizes é semelhante ao da batata, porém mais doce; a quantidade de assucar que contém deve ser conside- rável, porque, pilada e cosida na agua, fornece um bom xarope. YAMPAH (ANETHUM GRAVEOLENS) O endro, anetho, vulgarmente chamado funcho-bastardo é uma umbe- lifera. A raiz fusiforme dessa planta é considerada o melhor alimento do reino vegetal pelos indios “chochones” e “serpentes”; é genero commercial entre as tribus do noroéste. Os habitantes brancos dessas regiões utilizam a semente como tempero na comida. O yampah cresce nos logares baixos dos desertos, nas montanhas de Utah, Idaho e Montana. O mesmo nome botânico tem o endro cultivado nas hortas da Allemanha e que cresce silvestre na Europa meridional. E’, porém, duvidoso que a especie americana seja idêntica á européa. EDOSMIA MONTANA Os indios colhem as raizes desta planta, as quaes têm o comprimento de um dedo. Cresce nas encostas desertas das montanhas do Oregon oriental. Os mesmos indios cozinham as raizes como batatas. O sabor é muito agradavel, semelhante ao crême. HELASCIADIUM CALIFORNICUM Os indios do Oregon consideram as raizes dessa planta, que crescem nas rochas vulcânicas, cobertas de muito pouca terra, como petisco de primeira qualidade, e a gente branca, que teve occasião de saboreal-as, qualificou-as de excellentes, doces e semelhantes ao crême. E’ uma umbellifera de raiz preta, que se parte com facilidade, quando cosida, deixando ver o conteúdo feculento e alvo. LEIVISIA BRANCA (LEIVISIA REDIVIVA) Essa planta é encontrada nos logares desertos das montanhas da Califórnia. As suas grandes raizes fusiformes são colhidas pelos indios e sêccas para a provisão do inverno; julgam-nas muito nutritivas; facto que poderá ser esclarecido pela analyse chimica, que ainda não foi feita. — 19 PAU-FERRO (OLNEYA TESOTA) s Essa arvore cresce nos logares rochosos, desertos, das regiões pobres de agua, na parte noroeste do México e na Arizona. As sementes castanhas, côr de mogno, têm a fórma e o tamanho de ervilhas e, como estas, são legumes. Os indios comem-n’as cruas ou torradas ; desta maneira têm o sabor de amendoim. A madeira do tronco é bom combustível e presta-se para obras. Em virtude dessa propriedade, a arvdre merece consideração, quando se tratar de utilizar o deserto pela silvicultura. PINHEIRO DE NOZES (PINUS EDULIS) Nas encostas rochosas, sêccas, dos desertos, nas montanhas do Novo México e das regiões limitrophes de Arizona e México, cresce esse pinheiro até na altitute de 810 m., alcançando, sómente sob condições favoráveis, a altura de nove metros e possuindo uma conformação de ramos que lembra a macieira. As sementes têm o tamanho de feijão de corda e se compõem de um núcleo muito oleifero, dentro de uma casca fina e quebradiça. Esses núcleos têm sabor doce, agradavel, que pela torrefacção se torna melhor, servindo ás vezes para extracção de oleo ; colhem as sementes em quantidade^ e do excesso é consumida uma parte e a outra fórma um artigo bem notável do commercio local. A madeira é leve e molle, mas muito resistente, mesmo em contacto com a terra ; serve principalmente para preparar carvão vegetal. Lembramos que algumas especies do genero pinheiro ( Pinus ) são chamadas pinheiros de nozes. A pinus edulis, de que tratamos, chamam “pinon” no México, de onde é originaria. A remessa das sementes se fará melhor dentro dos pinhões,, porque seccando-se os últimos ao sol, segundo o processo usual, até que os pinhões se abram, o oleo das sementes torna-se rançoso em pouco tempo, o que prejudica a força germinativa. CEREJEIRA ANÃ (PRUNUS PUMILA) Essa especie interessante do genero Prunus é apenas um arbusto de 0.6 até 1.8 m. de altura. O fructo doce, carmezim, é um pouco maior que o abrunho; comem-no em qualquer estado. No território dos indios e nas partes limitrophes do Texas cresce nos logares silicosos e seccos. Para lá se dirigem de toda a parte, os indios, em tempo de colheita, para juntar suas provisões. Outros botânicos classificam-no no genero Cerasus (C. pumila) ; elle, portanto, será parente proximo de Cerasus prostrata, arbusto minusculo. Os fructos agradaveis dessa cerejeira (C. prostrata) são procurados assiduamente pelos indios das Montanhas Rochosas. Pertencem á familia das Amygdaleas. da ordem das Rosifloras. — 20 FEIJÃO ESPIRAL (STROMBOCARPUS PUBESCENS) Esse arbusto baixo, ás vezes chamado mesquita espiral ou tornilla (Stro- bacarpus pubescens) é uma verdadeira planta do deserto, encontrada nas regiões desertas de Utah, Colorado, Arizona e Novo México, isto é, nos logares baixos e silicosos. As sementes dos legumes, cosidas na agua, dão excellente comida, semelhante ao pirão de cevadinha. Os indios apreciam-no muito e os soldados da União delle se lembram agradecidos, porque nas campanhas fatigantes contra os indios, nesses desertos tristes, muitas vezes alli os protegeu contra a fome, lhes forneceu lenha e offereceu nutrição benefica nas folhas e ainda mais nas sementes a seus animaes esgotados. Todo gado come as sementes com visivel avidez, mesmo estando bem nutrido. O nome de feijão espiral provém da fórma cylindrica e helicoidal dos legumes que têm cerca de 4 cm. de cumprimento. MESQUITO (ALGAROBIA GLANDULOSA) A região de distribuição geographica dessa arvore limita-se ao sul com a do feijão espiral. Ambas se confundem ás vezes; pertencem á ordem das leguminosas. O mesquito é da familia das Mimoseas. Os legumes de ambas também são differentes. O mesquito, em1 geral, é um arbusto mais ou menos alto, em condições favoravels ; sendo, porém, cultivado, transforma-se em arvore, que attinge a doze metros de altura. Nesse estado, com sua cópa arredondada e ramos armados de espinhos, lembra vivamente a acacia falsa (Robinia prendacacia) , que também é uma leguminosa. O rio Colorado fórma o limite septentrional de sua distribuição geographica; o limite meridional não é conhecido, encontrando-se a especie na America Central e nos Andes até o Chile. A léste acha-se até perto do littoral do Texas, ao oéste até o Golfo de Califórnia. Dentro dessas linhas que comprehendem grandes desertos, cresce nas encostas sêccas das colinas e muitas vezes é o unico representante do reino vegetal nessas regiões. Os legumes têm 1 5 até 20 cm. de comprimento, são achatados, um pouco curvos e articulados ; amadurecem em junho e encerram uma polpa acri-doce. O mesquito é de extraordinário valor para os habitantes das partes mais estereis das regiões de sua distribuição geographica ; os indios e os mestiços mexicanos, parece, não continuariam a viver alli sem essa arvore. Em vão pro- curariam lenha necessária, que em muitos logares é unicamente fornecida por elle. Combustível excellente, comparam-no ao carvão de pedra, sendo difficil encontrar matéria melhor para o fabrico do carvão vegetal. Quando os troncos têm espessura sufficiente, fornecem excellente madeira para obras de carpintaria e são muito procurados pelos marceneiros, porque o duramen apresenta côres ricas, do vermelho-amarellado até á purpurea ; faz contraste vivo com o alburno de côr amarello-pallida e ambos recebem fino polimento. Nas cidades texanas.de Antonio e Brownsville executaram-se calça- mentos com cubos da madeira de mesquito, que muito satisfizeram. De maio até setembro uma resina côr de ambar escorre dos seus troncos, tendo aspecto da gomma arabica. Dissolve-se facilmente em tres partes d'agua — 21 — e produz uma bôa substancia collante. Chimicamente se distingue da gomma arabica, porque em solução não é precipitada pelo sub-acetato de chumbo (acetato de chumbo básico) como aquella. Quanto mais velho o tronco, quanto mais espessa e rachada a casca, tanto mais abundantes são as exsudações. Das feridas velhas, deixadas pelos ramos quebrados, transuda a gomma. Uma grande arvore fornece espontaneamente a colheita de cerca de 120 gramímas que poderá ser elevada por incisões até o máximo de 400. Presentemente essa resina se tornou artigo de commercio de alguma impor- tância, principalmente de exportação para o México, onde muitos estabeleci- mentos a vendem como succedanea da gomma arabica. Avaliam annualmente entregar ao commercio 8.000 kilogrammas dessa resina. A arvore em geral fica sobrecarregada de legumes que amadurecem em junho e julho, formando uma nutrição importante para os indios e os mestiços mexicanos, assim como para os seus cavallos e mulas. Também os soldados da União, nas suas campanhas, souberam apreciar o seu valor. Um official encarregado de medições declarou no relatorio ao secretario da Guerra que o exito de sua expedição teria sido impossível sem a existência das favas de mesquito. Não é aconselhado offerecer aos animaes essas favas em estado sêcco, porque os pedaços das cascas lhes causam inflamações intestinaes. Os legumes verdes não têm valor, e bem maduros, devem ser colhidos e guardados em logar sêcco, inaccessivel aos insectos. Esses legumes estão tão expostos aos ataques de larvas, que os indios e mexicanos não conhecem outra defesa contra as mesmas senão tritural-os immediatamente em um pilão ou almofariz, redu- zindo-os a uma farinha fina, que guardam bem fechada, até que a empregam no fabrico de um pão grosseiro. E’ provável que as larvas habitem os legumes já no começo da colheita, sendo mortas pela trituração. Assim se explica porque a farinha se conserva por mais tempo que as favas. Os indios não se importam com a presença das larvas, porque as consideram como um augmento de nutrição. Planejando-se ensaios de cultura, merece ser considerado que já se tomam medidas de precaução no logar da colheita da semente contra o apparecimento das larvas e principalmente quanto ao transporte. A polpa e a semente dos legumes encerram 2Ó°|0 de glucose e, além desta, albuminoides, gomma, assim como pequenas quantidades de oleo e mineraes. Não é sem razão que se comparam os legumes do mesquito aos dos tamarindeiros. Ambas as plantas são leguminosas. Também os legumes do mesquito servem como os do tamarindo para preparar uma bebida nutriente e refrigerante, misturando-os, triturados grosseiramente, com agua. Os mexicanos procedem de outro modo, quando preparam o seu atole , de sabor agradavel. Primeiro cosinham os legumes na agua; depois substituem a agua quente pela fria, esmagam-n’os nella e algum tempo depois côam o liquido. Deitando-se agua na farinha dos legumes, facilmente fermenta, do que resulta uma bebida fraca- mente alcoolica. Não devemos olvidar que o mesquito se presta muito bem para formar sébes e tapumes de protecção. Nas regiões pobres da zona subtropical póde prestar serviços estimáveis, assim aproveitado. — 22 — O director dos jardins de Kew, dr. Hooker, pesquizador infatigável do reino vegetal, também chamou a attenção para o mesquito e tentou a sua introducção em algumas colonias britannicas. SOTOL (DASYLIRION TEXANUN) E’ planta perenne, pertencente á familia das Liliaceas ; tem folhas compridas e verdes, e produz uma haste floral, espessa, de tres metros de altura, de folhas compridas e verdes, uma vez em tres até quatro annos. No Texas Occidental, no Novo México meridional e ao norte do Estado mexicano de Chilmalma é denominada sotol. Nessa região geographica cobre extensos terrenos de encostas pedregosas, estereis, de collinas, principalmente nas altitudes de 150 até 200 metros. As folhas de 0.90 até 1.2 m. estreitas, de côr verde- clara, nascem de um caule de 0.60 até 1.5 m. de altura, de sorte que, visto de alguma distancia, o terreno coberto com esse vegetal lembra um campo cultivado de repolhos. Os pastores extrahem das folhas uma fibra grosseira, de que fabricam esteiras e cordas. Valor commercial nunca terá, porque as suas cellulas são curtas. O valor proprio do sotol reside no caule, que serve principalmente para forragem de ovelha, mas também para a nutrição do homem e para o fabrico de álcool. O pastor que leva o seu rebanho ao pasto de sotol, precede-o armado com facão comprido e fende os caules, cuja massa molle e summarenta é comida ávidamente pelas ovelhas. Depois de acostumadas a essa forragem, as ovelhas sabem servir-se a si mesmas, não esperam pelo pastor, para arrancar as folhas, e atacam o caule, roendo-o. Essa forragem, dizem, engorda, o que parece provável, por conter muito assucar. Além disso mitiga tanto a sêde, que é supérfluo levar as ovelhas ao bebedouro. Durante os mêses quentes o sotol é considerado a forra- gem mais preciosa para ovelhas, e é fóra de duvida que a nutrição dos grandes rebanhos não seria possível sem a sua existência. Os mexicanos comem os seus caules cosidos ou assados. O ultimo preparo é o mais appetecido e dá-se da seguinte maneira : cavam um buraco, em que possam caber de seis a oito caules e aquecem-no bem. Depois, retiram a lenha que não se queimou, deixando apenas as brazas, sobre as quaes lançam os caules, que cobrem com terra. Dez a doze horas depois estão assados; então, apresentam um aspecto castanho, succulento e têm sabor adocicado. Depdis desse processo de assar, os caules podem ser utilizados para a distillação. Essa industria desenvolveu-se extraordinariamente nos tempos mo- dernos, nas regiões mexicanas, principalmente em virtude da benevolencia com que o fisco auxilia esses fabricantes de bebida alcoolica. Ao producto chamam mescal de sotol; é quasi incolor, tem um sabor que lembra o whisky escossês e um odor peculiar, penetrante. Essa aguardente forte, inebriante, é muito esti- mada nas baixas classes do povo mexicano. O Departamento de Agricultura em Washington, que recebeu uma partida de sotol para mandar proceder á analyse chimica, verificou que o peso do caule foi de 2.954 grammas e o da massa interna, molle, de 920 grammas ou 31 °|° do caule todo. Dessa massa se expremeu 38.3 °|° de caldo, que possuia o peso especifico de 1.1404 e continha 32°!° de substancias solidas. — 23 O envolucro duro do caule continha 16.4 °|° de caldo com i8°|° de assucar approximadamente. A massa interna continha 10.5 °|° de assucar e, calculado para todo o caule, havia 15.5 °|° dessa substancia immediata. Sómente fizeram analyse exacta com a massa interna. Esta encerrava 65 °|° de agua e depois de secca ao ar verificou-se a seguinte composição: Agua 4-17 Cinzas 4*23 Extracto pelo ether (oleo, etc.) 3.30 Resina, etc., insolúvel n’agua e solúvel no álcool de 8o°|° 2.50 Assucar, etc.? solúvel na agua e no álcool de 8o°|° 31.54 Gomma 3 . 04 Substancias que não foram determinadas 26.72 Cellulose bruta 16.44 Albuminoides 8.06 100.00 AZEDEI RA (RUMEX HYMENOSEPALUS) “Tanners Dock of Texas” é um outro nome dessa planta, que indica clara- mente a sua utilidade : é um cortim. Até bem pouco sómente foi elle empregado pelos cortidores de Texas; modernamente, porém, achou apreciação mais geral. Essa azedeira, uma Polygomea (da ordem das Fagopyrinas), se encontra em Novo-Mexico, Arizona, Califórnia Meridional e nos districtos limitrophes do México, a saber : no sólo silicoso, embora profundo, todavia imprestável para outras culturas, cobrindo-o muitas vezes inteiramente. Os tubérculos semelhantes a batatas formam a parte mais preciosa da planta ; sómente elles contém tannino, tem 10 até 20 cm. de comprimento e de dous a cinco cm. de espessura. A casca de côr castanho-escura tem ranhuras, a massa interna é castanho-avermelhada, escura e tem cheiro de garança. No estado pulverizado tem uma côr castanho-avermelhada, clara. Em estado bem novo a casca é liza e a massa interna de côr amarella de limão. O sabor é muito adstringente, o que revela o tannino. O prof. Hilgard, da Universidade da Califórnia, examinou os tubérculos da azedeira, obtendo os seguintes resultados : Perda da agua pela seccação ao ar 71.70 Tannino no estado novo 9.6 ” no estado secco ao ar 34.2 ” no estado secco a 100o C 38.4 O Departamento da Agricultura em Washington, que examinou também os tubérculos de azedeira, aliás, com pouca exactidão, diz ter achado i8°|° de fécula, $.21 °|° de albuminoides, e outras substancias, sobre as quaes nada informa, abstrahindo do tannino, que chamou rheo-tannino. — 24 Considerando-se a necessidade hoje manifesta de cortins, a azedeira merece tanto maior attenção para utilizar os desertos arenosos, porque dentro de um anno fornece productos e exige pequenas despezas. ALGAROBO (BALSAMO CARPON BREVIFOLIUM OU PROSOPISHORRIDA) Nos desertos do Perú, nas depressões, que acumulam alguma humidade das chuvas escassas, cresce uma arvore baixa de ramos tortuosos, a que dão o nome de algarobo e algarobilla. As folhas offerecem uma forragem bem proveitosa ao gado vaccum e cavallar, quando atravessa os desertos. A utilidade propriamente dita dessa arvore está na producção de legumes, que contêm de 50 a 60 °|° de tannino, além de cerca de 20 °j° de gomma e alguns resina. (Parece, pois, ser uma Leguminosa, da familia das Caesalpineas) . Essas favas se colhem para servir ao fabrico da tinta, para o que é excellente, por conter, além de tannino, quanti- dade considerável de gomma. KUSU (PUERARIA THUMBERGIANA) Auctores francêses chamaram ha pouco a attenção para este vegetal japonês, preconizando-o' para ensaios de cultura nas colonias francêsas. As raizes se compõem pela maior parte de fécula, as folhas novas servem para forragem, sendo bem conhecidas, e fornecem uma fibra, de que se fabricam artigos de cordoaria. O kusu cresce no Japão no sólo mais esteril, em que nenhuma outra planta vegeta, attingindo em um anno a altura de 3.5 até 6 m. Como condição de cresci- mento exige notável quantidade de calor. A propagação póde-se realizar por sementes e renovos. ZACHUN (BALANITES AEGYPTIACA) Uma pequena arvore espinhosa, de aspecto feio, da familia das Zygophylleas e da ordem das Terebinthinaceas é chamada Zachun pelos arabes. As pequenas flores branco-esverdeadas produzem fructos do tamanho de uma nóz, que no estado maduro têm côr verde. Nos desertos da Asia Ocidental encontra-se essa arvore com bastante frequência, assim como no Egypto, na África Septentrional, mesmo na África Occidental, mas sempre nos desertos silicosos. Cresce na vizinhança do Mar Morto e se espalhou para o leste até as índias. Com resistência incrivel defende-se contra as tempestades que levantam ondas de areia no deserto. Dos fructos os arabes extrahem um oleo, a que attribuem propriedades curativas e que, talvez, ainda possa ser empregado em outros fins. Da venda desse oleo aos viajantes, particularmente aos peregrinos, os arabes, que habitam a Palestina, fazem negocio lucrativo. Da madeira dura do zachun os torneadores de Jerusalém fabricam diversos objectos, principalmente bengalas. 25 MELÃO-ZAMA No deserto de Calahari, quando cahem os primeiros aguaceiros da curta estação chuvosa, nasce um melão chamado zama pelos Namaquãs, o qual com os seus estolhos cobre grandes superfícies da areia. Os últimos deitam flores amarellas, que produzem fructos do tamanho de um ovo de avestruz, constituindo as fontes vegetaes do deserto para os “Bosquemanos” e Beduínos errantes, e mesmo para os negociantes brancos, porque são muito succulentos. Si bem que o seu valor nutritivo seja insignificante, merece, todavia, consideração pelos recursos que fornece aos que atravessam o deserto. Ao norte do Calahari (na África meridional) cresce um melão adocicado, introduzido pelos Betchuanos, como estes pretendem, e que chamam mangotam. Serve para mitigar a fome e a sêde. Esses melões, cultivados regularmente, não fariam habitavel um deserto ? EUCALYPTOS AUSTRALIANOS Das especies do genero Eucalyptus (da familia das Myrtaceas) o celebre conhecedor do reino vegetal, australiano, o Barão von Müller, recommendou para cultura nas regiões desertas o eucalypto assucarado, ( Eucalyptus corynocalyx) , cujo tronco de um diâmetro de 1.5 até 1.8 m., alcança 36 m. de altura. O gado vaccum e o lanígero procuram avidamente a sua folhagem adocicada, comem todas as folhas que podem alcançar, c que não fazem com nenhuma arvore desse genero. A madeira é pesada, densa, dura e resistente, nomeadamente na terra e se emprega para obras de construcção, de carpintaria e torneiro, na fabricação de dormentes e postes de telegraphos. O eucalypto assucarado cresce em sólo secco e pedregoso e sóbe até altitudes consideráveis nas montanhas ; foi introduzido, com exito, no sertão secco da Argélia. Dentre os eucalyptos uteis, capazes de resistir ás sêccas prolongadas, assim como ao calor extraordinário das regiões desertas, ainda mencionaremos, como productores de madeira em pouco tempo, porque crescem rapidamente, as seguintes especies : Eucalyptus polyanthena, E. bicolor, E. salubris, E. ochrophloia, E. sal- monophloia e E. mirotheca. Ainda que o melhor de todos os eucalyptos, o vermelho (E. rostrata) também possa supportar uma temperatura extraordinária e sêcca, comtudo sómente se encontra nos logares onde o sub-sólo argiloso é sémpre um tanto húmido, e tem seu habitat natural nos oásis e ás margens dos rios, embora seus leitos estejam temporariamente sêccos. Todas as especies mencionadas fornecem bôa madeira para construcçÕes e outras obras, e também se pódem utilizar vantajosamente para produzir carvão vegetal e alcatrão, assim como no preparo de vinagre. Das folhas póde-se extrahir oleo que serve para lacres e perfumaria. Tratando-se de produzir rapidamente só a lenha para combustível no deserto, póde-se cultivar também o E. Pachyphylla. Essa especie antes cresce como arbusto do que como arvore; é encontrada nos desertos da Australia Central, onde P. U. 4 — 26 — atravessa incólume as sêccas mais rigorosas. O calor que supportam os eucalyptos que acabamos de mencionar, eleva-se excepcionalmente a 50o C. á sombra e 73o ao sol. SALGUEIRO DO DESERTO (SALIX ACUTIFOLIA) Nas regiões silicosas, desertas, da parte sudoeste da Rússia, como na Asia Central, cresce um salgueiro extraordinariamente resistente contra o calor e a secca, que os botânicos denominaram Salix acutifolia. Quando todas as outras arvores seccam sob a influencia do calor ardente do sol e do vento do deserto, esse salgueiro conserva-se viridente, em virtude da formação peculiar das suas folhas que têm dupla camada cellular, assim como, em consequência da vello- sidade dos galhos, propriedades essas que difflcultam a transpiração. Introduziram-no recentemente na America do Norte, para cultival-o nas regiões a oéste do Missouri, que por causa da pequena precipitação aquosa não possuem arvore alguma. Indagando-se da utilidade desse salgueiro, verifica-se que fornece lenha, e que será relativamente de pequeno valor, porém, inestimável no deserto. Os seus galhos podem servir para fazer grades de vime, cestas, sebes entreteladas, assim como para a producção do humus no sólo mais esteril, preparando-o mesmo desta maneira para a cultura dos vegetaes mais exigentes. A propagação por estacas é muito facil. (Pertence á familia das Salicinaceas). Em sólo fértil desenvolve-se, tornando-se arvore bella e vistosa. LIRIO DO COLORADO (HESPEROCALLIS INDULATA) Não é planta “util” do deserto. Pelo menos por emquanto não lhe conhece- mos utilidade alguma, que ainda póde ser descoberta. E’ certamente de belleza rara e, por isto, a mencionamos aqui. De todas as plantas favoritas da natureza, por certo não ha outra mais predes- tinada a alegrar os sentidos do homem no jardim das flores do deserto, do que o Lirio do Colorado. Como diz o seu nome, a sua patria está no deserto quente, arenoso e triste do Colorado, que muitas vezes, durante alguns annos, recebe apenas chuva insignificante. Nesses tempos o raiz (cebola) dorme na profun- didade da terra dez até doze annos, para depois do primeiro aguaceiro penetrante, surgir da areia núa, sem sombra, uma haste floral, de 60 até 90 centimetros de altura, ornada e rodeada de compridas folhas verde-escuras, profundamente uni- cronadas. Um botão vem após outro, talvez 30 até 40, e quando desabrocham as flores, outros se formam na haste, que continua a crescer, levando seis sema- nas com essa força productora, ininterruptamente. As fíôres compostas de seis pétalas têm o diâmetro de cerca de oito centimetros ; as pétalas têm alvura brilhante, sendo a nervura mediana de côr purpureo-esverdeada. De côr de leite quando desabrocham, twnam-se no correr do dia, de côr branco-perola e delica- damente translúcidas á tarde — a phase de sua maxima belleza. As campanulas bellas, como nos contos de fadas, dobram as suas pétalas desbotadas á meia noite, para dar logar a outras similares, que com a aurora se desenvolvem, encantadoras de mocidade, como a Aphrodite que acaba de nascer das brancas espumas do mar. Dahi o seu nome generico: Hesperocallis — belleza da tarde. — 27 I Um exemplar grande apresenta por dia cinco a seis flores bem desabrochâdás, que desde o momento do desdobramento e, particularmente á tarde, exhalam perfume suavíssimo. A flôr produz uma capsula triangular de cerca de tres centímetros de compri- mento, cheia de sementes pretas, que sem duvida se conservam por muito tempo, porque, ás vezes, só podem germinar depois de passados muitos annos de estiagem. Os bulbos da espessura de dois até cinco centímetros, encontram-se pouco mais ou menos em uma profundidade de 30 centímetros, pelo que escapam á destruição do calor ardente do sol durante as prolongadas sêccas e, ao mesmo tempo, á extincção pelos indios, que assiduamente cavam na terra silicosa do deserto para colher os bulbos desse lirio, que chamam “ethulia”, quando faltam as vagens do mesquito. Trata-se de saber que sentido ligam a essa palavra. Os mesmos indios comem muitas vezes larvas para resistir á fome ; as larvas, pois, são neste caso uteis aos indios. Lembrando-nos das condições peculiares sdb as quaes essa planta vegeta, não póde surprehender-nos o facto de ser ella a unica representante de um genero bem distincto da ordem das Lilíaceas. Sendo o lirio do Colorado tão ameno, como filho silvestre do deserto, que belleza não desabrochará na mão carinhosa do homem ! ? De certo numero de plantas que preenchem o fim que temos em vista, apenas falta mencionar a Agave americana e A. mexicana, que crescem em sólo vul- cânico secco, do México, Arizona e Califórnia meridional, e que nas suas folhas fornecem uma fibra procurada. O olho da haste floral do tamanho de uma cabeça, sendo carbonizado, fornece uma fina substancia de tinturaria, de côr preta ; sendo cortado bem novo e cozido n’agua dá um bom xarope. Assado, fórma um ali- mento que tem muitos apreciadores. Sendo cortado pouco antes de nascer a haste e praticando-se no mesmo logar uma cavidade, junta-se na bacia assim formada o summo, que póde servir para distillar aguardente. A bayonetta hespanhola ( Yucca baccata) prospéra em sólo silicoso pobre. Seus fructos, produzidos, de dois em dois annos, de um até seis, são qualificados como bananas em certas regiões, porque quando maduros se assemelham, na fórma e tamanho, áquelles fructos. A sua côr é amarella e a polpa, em que se encontram grandes sementes pretas, é doce e saborosa. Quando verdes se assam nas cinzas quentes como batatas. Os olhos floraes, colhidos pouco antes de desabrocharem, se assam também e neste estado são considerados acepipe. Das folhas se extrahe uma fibra grosseira, mas duradoura. Essa planta, afinal, é procurada e utilizada para sebes. A Agave sisalana, que cresce em sólo pedregoso, magro, da península do Yucatão, e fornece o excellente canhamo-sisal, merece ser estudada. Por ter ficado até hoje limitada a essa distribuição geographica, estre-ita, não se póde concluir que os ensaios de introduzil-a em outra região serão mal succedidos. 28 — A transplantação dessa agave em condições similares teria talvez bom exito quanto á vegetação, mas de antemão não se póde julgar, qual será a qualidade da fibra. Sómente os ensaios de cultura podem esclarecer-nos a respeito, e em geral destes depende a introducção de qualquer cultura planejada. E’ natural a proba- bilidade do exito, porém, si a houver, para nada servem as theorias e opinião dos outros. Existindo a probabilidade, ninguém poderá prophetizar o resultado de um ensaio de introducção de uma nova cultura. E’ o caso do axioma antigo: “ experi- mentar vale mais do que estudar”. Com resolução energica se devia proceder á cultura em pequena escala, para que em caso de insuccesso não haja a lamentar prejuízos pecuniários. Uma outra planta têxtil, o esparto, que prospéra nos terrenos mais seccos da Hespanha e da África Septentrional, merece também ser mencionada aqui. Devemos attenção especial ao pandano, muitas vezes o primeiro cclono nas ilhas de coraes que acabam de formar-se no Oceano Pacifico. E’ também uma planta têxtil. Ainda lembraremos as acacias australianas, que fornecem a cortiça de mimo- sas, muito procurada. Os desertos de areia que recebem pequena quantidade de humidade, mesmo pelas neblinas que vêm do mar, poderão tornar-se muito uteis com a cultura dessas arvores, a que se póde associar para os climas quentes a accacia arabica. Ella não sómente fornece a gomma conhecida, mas também a sua cortiça é empregada nos cortumes. Da Yucca brevifolia é sabido que o seu caule é uma matéria prima procurada para a fabricação do papel. E’ encontrada em maior numero nos desertos de Mo j ave e Colorado, desertos unidos, muito pobres de agua e muito ricos de areia e alcalis. Não seria lucrativo o estabelecimento de bosques de yucca nas regiões mais pobres do deserto na zona subtropical, as quaes, por sua situação, tornam possível concorrer vantajosamente pela exportação dos productos respectivos com outros similares? CASAS QUE NEGOCIAM COM SEMENTES, RHIZOMAS E ESTACAS DE PLANTAS TROPICAES Para remover difficuldades na obtenção de sementes, rhizomas e estacas de plantas tropicaes no paiz, completamos esse tratado de cultura de vegetaes com uma lista de casas que negociam nessa especialidade. Cremos, assim, facilitar as tentativas de ensaios de cultura e da introducção de bôas variedades notáveis. Por certo, as melhores intenções de fomentar a agricultura de uma região tropical pela introducção de novas plantas uteis ou de novas variedades de plantas já cul- tivadas, naufragaram sómente porque não se soube obter o material necessário para a sementeira. O agricultor da zona temperada não conhece essa difiiculdade, porque o negocio da venda de sementes, rhizomas e estacas é muito desenvolvido. Esse commercio só se faz em pequena escala, nos paizes tropicaes, o que tanto mais se sente, porque as compras em geral se fazem em logares longínquos e de diversas regiões, para que tenham bom exito. 29 Casas que negociam em sementes, rhizomas e estacas de plantas tropicaes FIRMAS RESIDÊNCIAS ARTIGOS QUE VENDEM Hiram Sibley & C Rochester, Estado de Nova York. Sementes de milho, sorgo, fumo, algo- doeiro, ervilhas, de diversas gra- mineas subtropicaes e de arvores das florestas norte-americanas. Ellwanger & Barry Idem, idem Plantinhas e garfos de pecegos, necta- rinas, figueiras, todas as fructeiras norte-americanas. J. H. Alexander Augusta, Est. de Geórgia... Sementes de algodoeiro; principalmente da variedade peterkin, assim como de plantas cultivadas, subtropicaes. P. J. Berkmans Augusta, Est. de Geórgia... Plantinhas de «loquats», ameixas — Si- mão, Kakis, Romeiras, pecegos chinêses, vides de «scuppernong» e variedades similares. Dan.Talmage’s Sons & C. Nova-Orléans, Est. de Rui- siana. Sementes de arroz da Carolina. Richard Frotscher Nova-Orléans, Est. de Rui- siana. Sementes de vegetaes subtropicaes para jardins. R. H. S. Martin Nova-Orléans, Est. de Rui- siana. Sementes de diversas variedades de algodoeiro. W. Atlee Burpee & C Philadelphia Sementes de milho, pimenta vermelha, sorgo, inhame chinês, tomates, teosinto. Vende também boa vari- edade de perú : mammoth bronze. Henry Eggert S. Ruiz, Est. de Missouri... Sementes de plantas norte-americanas, que não se consideram uteis, no- meadamente de videiras silvestres. F. Roeding Fresno, Est. da Califórnia. Plantinhas de figueiras, aroeiras, amen- doeiras, pecegos, nespereiras japo- nicas, kakis, oliveiras, laranjeiras, limoeiros, grenadillas, goiabeiras, pitangas. John Grelck & C Ros Angeles, Est. da Cali- fórnia. Plantinhas de pitangas, goiabeiras, pe- pinos ou pereiras-melões, (Solanum Guatemalense) , laranjeiras e limo- eiros. Th. A. Cox & C San Francisco, Est. da Cali- fórnia. Sementes de plantas subtropicaes para jardim e de arvores florestaes da Califórnia ; plantinhas de kakis, romeiras, oliveiras, laranjeiras, li- moeiros, limettas, figueiras, hove- nias, (Hovenia dulcis) pecegueiro. J. C. Remmon (Remmon herbarium) . Oakland, Est. da Califórnia Sementes de plantas da costa do Paci- fico, que não se consideram em geral plantas cultivadas. B. W. Hawkius & C Denis Station, Est. de Ge- órgia. Sementes de algodoeiro e milho. Espe- cialidade. W. W. Hawkius & Sons. Rake George, Est. da Flo- rida. Plantinhas e sementes de laranjeiras, limoeiros, kakis, figueiras, pece- gueiros, nogueiras-pecan , amorei- ras, bananeiras. T. Roberto Kirsten S. Paulo, Brasil Sementes e plantinhas de todos os ve- getaes do Estado de S. Paulo e do Brasil Austral. R. Albuquerque (Beliche) Rio de Janeiro (Inhaúma). Rua dos Pilares, 2. Cai- xa do Correio, 874. Sementes do beliche. Introducção e ex- perimentação de sementes, animaes de raça e^ instrumentos agricolas. — 30 Gasas que negociam em sementes, rhizomas e estacas de plantas tropicaes FIRMAS RESIDÊNCIAS ARTIGOS QUE VENDEM Jens Sanei & C. (Hortu- lania). C. Kramer Iyouis Boehmer Andersen & C Somerset Uursery Ferguson & C C. F. Creswell Grant & Cameron Joseph Mayo Wildpret & Schentel Botanical Gardens J. P. William & Bros E- B. Creasy Fred. Tatham George Freese E. Fünfgeld & C Robert Hesse Julio Frõlich y Jimenez. . Emil Florke & C P. & E. Transon William Buli Rio de Janeiro (Capital Fe-! S deral). Rua do Ouvi- dor, 45. ementes novas de hortaliças, flôres e plantas cultas, de plantas de orna- mentação, fructeiras roseiras, dha- lias, bulbos, batatas e rhizomas, sortimento de ferragens, utensílios e objectos para jardinagem, etc., pulverizadores para o tntamento das vides, etc. Yokohama, Japão Sementes e plantinhas de todas as plantas desejadas do Japão. Yokohama, Japão Sementes e plantinhas de todas as plantas japonicas. Sidney, Australia v Paramatta, Nova-Galles do Sul. Double Bay near Sidney. f Melbourne, Australia. . . . Melbourne, Australia. . . . „ Sementes e plantinhas de vegetaes australianos. Drury, Nova Zelandia, per- to de Auckland. Plantinhas de arvores subtropicaes. Orotava na Teneriffa Gennesh Khind em Poo- nah, índias. Heneratgoda, Ceylão Colombo, Ceylão Yarrow, Ceylão, Sementes e plantinhas de vegetaes sub- tropicaes e tropicaes. Sementes e plantinhas de vegetaes indianos. Sementes de Chinchonas, palmeiras, cafeeiros, croton, sappan, dividivi, acacias arabicas, cardamomos, caca- oeiros , maniçobas , plantin has ( acon- dicionadas em caixas de Wardeau) de muscaliros, seringueiras, man- gostanas e ananazeiros. Commissario, que executa todas as ordens sobre material para a se- menteira, que se vende nas índias e em Ceylão. Sementes de própria criação, da Chin- chona Eedgeriana. Bogotá, Colombia Saigon, Cochinchina Tiflis, Caucaso Cartagena, Hespanha Ivéon, Nicaragua Iyondon, 155. Fenchurch- street. Sementes e plantinhas dos vegetaes tro- picaes e subtropicaes da Colombia. Exportadores, que executam ordens sobre sementes e plantinhas. Commissario, que remette material para a sementeira por ordem. Idem, idem. Idem, idem. Sementes e plantinhas de vegetaes tropicaes. Eondon, Kingsroad, Chel- sea. Idem, idem. A. Eoureiro Rua Estacio de Sá, 8. Rio de Janeiro, Brasil. Sementes de flores, hortaliça, rhizo- m^LS, etc. Abel Ribeiro & C. . , Alberto Gomes & C Rua da Carioca, 28. Rio de Idem, idem. Janeiro, Brasil. Rua do Hospício, 20. Rio Idem, idem. de Janeiro, Brasil. / — 31 Casas que negociam em sementes, rliizomas e estacas de plantas tropicaes FIRMAS RESIDÊNCIAS AKTIGOS QUE VENDEM Antonio Braga & C Ruas da Candelaria, 28 e General Camara, 25. Rio de Janeiro, Brasil. Sementes de flores, hortaliça e rhizo- mas, etc. Constantino & Ribeiro. . . Rua do Ouvidor, 26. Rio de Janeiro, Brasil. Idem, idem. Couri & Irmão Rua da Alfandega, 254. Rio de Janeiro, Brasil. Idem, idem. Eickhoff, Carneiro Deão & C. Rua do Ouvidor, 77. Rio de Janeiro, Brasil. Idem, idem. Felisbino José Teixeira. . Rua de SanCAnna, 71. Rio de Janeiro, Brazil. Idem, idem, Filgueiras & Macedo .... Ruas do Rosário, 73 e Becco das Cancellas, 11. Rio de Janeiro, Brasil. Idem, idem. França & Gomes Ruas do Mercado, 27 e Ou- vidor, 21. Rio de Janeiro, Brasil. Idem, idem. Gonçalves Almeida & C. Ruas Gonçalves Dias, 89 e Rosário, 165. Rio de Ja- neiro, Brasil. Idem, idem. Guimarães & Fonseca. . . Rua Uruguayana, 128 e 130. Rio de Janeiro, Brasil. Idem, idem. H. Moraes Rua Ouvidor, 63. Rio de Janeiro, Brasil. Idem, idem. J . A . Monteiro Rua da Candelaria, 49. Rio de Janeiro, Brasil. Idem, idem. J. Iv. Moreira Fangeres. . Rua Senador Euzebio, 148. Rio de Janeiro, Brasil. Idem, idem. James Magnus & C Rua S. Pedro, 96. Rio de Janeiro, Brasil. Idem, idem. Dopes & Freire Rua da Quitanda, 73. Rio de Janeiro, Brasil. Idem, idem. Marçal Duarte & C Rua Visconde Itauna, 111. Rio de Janeiro, Brasil. Idem, idem. Mendes, Raupp & Martins Rua do Ouvidor, 57. Rio de Janeiro, Brasil. Idem, idem. Paulo Cordeiro Rua Conde de Bomfim,1181. Rio de Janeiro, Brasil. Idem, idem. Pedrosa, Monteiro & C. . Rua do Hospicio, 24. Rio de Janeiro, Brasil. Idem. idem. Pinto Rucena & C Ruas do Ouvidor, 33 e Ro- sário, 108. Ria de Ja- neiro, Brasil. Idem, idem. Ramos & C Rua S. João Baptista, 38. Rio de Janeiro. Brasil. Idem, idem. Sabroza & C Rua da Candelaria, 1. Rio de Janeiro, Brasil. Idem, idem. Schlick & C Rua do Ouvidor, 61. Rio de Janeiro, Brasil. Idem, idem. Seraphim Ferreira Dopes Rua do Cattete, 68. Rio de Janeiro, Brasil. Idem, idem. Tavares Pereira & Soares Rua do Hospicio, 81. Rio de Janeiro, Brasil. Idem, idem. Teixeira Couto Rua Uruguayana, 99. Rio de Janeiro, Brasil. Idem, idem. 32 Casas que negociam em sementes, rhizomas e estacas de plantas tropicaes FIRMAS RESIDÊNCIAS ARTIGOS QUE VENDEM Damine Giuseppe Rua Coronel Rodovalho, 9. S. Paulo, Brasil. Sementes de flores, hortaliças, rhizo- mas, etc. Garcia Nogueira & C Rua Piratininga, 100. São Paulo, Brasil. Idem, idem. João Gonçalves Rua Campos Salles, 47. São Paulo, Brasil. Idem, idem. L/Oureiro, Costa & C Rua S. Bento, 41 B. São Paulo, Brasil. Idem, idem. Miguel Pinani Rua S. Bento, 47. S. Paulo, Brasil . Idem, idem. Quirino Sarto Uadeira Coronel Rodova- lho, 37. S. Paulo, Brasil. Idem, idem. R. Sucena & C Rua do Rosário, 21. São Paulo, Brasil. Idem, idem. Sétimo Gosolli Rua Campos Salles, 55. São Paulo, Brasil. Idem, idem. Silva Neves Mercado Central, 96 e 98 S. Paulo, Brasil. Idem, idem. Rodrigo de Azevedo Ne- ves. Avenida B, 15. S. Paulo Brasil. Idem, idem. Antonio H. Pinheiro ... Rua dos Andradas, 493. Rio Grande do Sul, Brasil. Idem, idem. Augusto Gracther Rua dos Andradas, 306. Rio Grande do Sul, Brasil. Idem, idem. Jacob Hemb Rua dos Andradas, 299. Rio Grande do Sul, Brasil. Idem, idem. Krahe & C Rua dos Andradas, 497 e 501. Rio Grande do Sul, Brasil. Idem, idem. Oscar Cruz Rua dos Andradas , 463 . Rio Grande do Sul, Brasil. Idem, idem. Schanwaad & Deutrich. . Rua dos Andradas, 549. Rio Grande do Sul, Brasil. Idem, idem. Alexandre Cardoso de Souza . Rua Santos Dumont, 4, districto da Conceição. Bahia, Brasil. Idem, idem. Francisco Weigang Rua do Riachuelo, 67. Pa- raná, Brasil. -Idem, idem. Sylvio Colle & Valmas- soni. Rua do Riachuelo. Paraná, Brasil. Idem, idem. NOTA Em geral os cônsules brasileiros nos diversos paizes prestam-se a dar informações e encarregar-se da remessa de sementes, plantinhas, rhizomas ou quaesquer encommendas pedidas directamente por qualquer brasileiro, o que é de grande utilidade para a agricultura intertropical dos Estados Unidos do Brasil. UNIVERSfTY OP ILLINOIS-URBANA 3 0112 072543090