ston Pee a inte ds - +. era mers ‘ pare COR Or aw ES he Py ru wii à “hy REVISTA DO MUSEU PAULISTA PUBLICADA POR RODOLPHO von IHERING Director Interino do Museu Paulista VOLUME VII S. PAULO Typ. CARDOZO, FILHO & Cura 35, RUA DIREITA, 35 1907 INDICE CS AMET SI PER TS O) ç PAGS, 2 O Museu Paulista nos annos de 1903 a 1905, por lodol- URED IRON RSR ET ae PR le Oh ee ae | Os Indios Patos e o nome da Lagoa dos Patos, pelo Dr. ã ed CR MEDION UO THEI UN oo ea re ras Le ol Considerações sobre alguns ossos fosseis de Reptis do = Est. do Rio Grande do Sul, ae Dr. A. Smith- a Woodward (fig. NES at he LU Notas sobre una pequeña coleceion e Re de Ma- = - miferos de las grutas calcáreas de Yporanga, Est. de S. Paulo, pelo Dr. Florentino Ameghino (fig. 1-22 5%) É “A distribuição de Campos e Mattas no Brazil, pelo Dr. à E. von: Ihering (com Estampas I-VII). . . . 125 E As cabeças mumificadas pelos indios Mundurucús, pelo = Dr. H. von Ihering (com Estampas IX-X) . . 179 E À Anthropologia do Estado de S. Paulo (traducçäo), pelo E Dr. H. von Ihering (com estampas XI-XII) . . 202 Os Peixes da agua doce do Brazil, por R. von Ihering (com7--desenhos e - Estampa VIM)... o. 258 Historia da fauna marina do Brazil e das regiões visi- £ nhas da America meridional (tradueção do Cap. x XII da monographia «Les Mollusques fossiles du 4 Fe Tertiaire et du Cretacé de l’Argentine>), pelo Dr. H. von Ihering (com Estampa XIII) . . . . 337 - A organização actual e futura dos Museus de historia natural, pelo Dr. H. von Ihering. . :. 431 Bibliographia (1905-07) Historia Natural e tda do Brazil, por Dr. Hermann e Rodolpho von Ihering 450 Periodicos recebidos. em permuta para a bibliotheca do Museu Paulista. Nas Cri ‘4 Ra. Publicado em 12 de Setembro de 1908. a oe Pee: 7 >t —— - | Orv Set) PAULISTA Nos Annos de 1903 a 1905. POR RODOLPHO VON IHERING Baseado nos 3 relatorios apresentados ao digno Governo do Estado de S. Paulo pelo nosso prezado chefe, Prof. Dr. Hermann von Ihering, actualmente em viagem pela Europa, para onde foi em gozo de licença e commissionado pelo governo para representar-nos em diversos congressos scientificos, bem como estudar a orga- nisação dos principaes museus, apresento este pequeno resumo dos factos mais importantes occoridos no Museu Paulista durante os tres annos acima mencionados. Ao mesmo tempo já podemos fazer um pequeno retrospecto, pois completaram-se dez annos que este estabelecimento de estudos scientificos e de ensino publico foi oficialmente inaugurado. Em 7 de Setembro de 1895, após anno e meio de arduo e incessante trabalho, o Dr. H. von Ihering franqueou ao publico as 16 salas que ainda hoje são frequentadas por numero sempre crescente de visitantes, que ahi vem estudar a fauna de nosso paiz ou levar conhecimentos de geologia, minera- HO logia, ethnographia e historia patria, pela inspecção do material, que destes ramos de estudo se acha exposto. Bem sabemos que dez annos de vida para um museu são prazo bem curto e talvez apenas sufficiente para a sua primeira organização; é só com difficuldades de toda especie que se consegue reunir o material scien- tifico e a respectiva literatura, base de todo o trabalho e o seu estudo em nosso paiz e, mórmente, como em nosso caso, com um pessoal assaz minguado, é trabalho incomparavelmente mais arduo que o de institutos ana- logos de paizes em que os estudos da zoologia são cul- tivados ha centenas de annos. De outro lado, porem, vendo os progressos alcançados no Museu Paulista, espe- cialmente em suas collecções de estudos, onde quasi todas as secções pódem ser chamadas ricas, em grande parte com seu material todo estudado e muitas mesmo com collecções que podemos dizer serem basicas em nosso paiz para estudos quer de systematica, quer zoogeogra- phicos ou biologicos, ete., não podemos deixar de feli- citar a quem em sua taréfa de organizador tanto fez em tão pouco tempo e com meios sempre parcos. (Quanto ao reconhecimento que tem merecido estes esforços, o mesmo se patenteia, da parte do publico em geral, pelo numero de visitantes, cada vez mais elevado, como se vê da lista que abaixo reproduzimos; da parte do mundo scientifico é pela apreciação dos trabalhos scientificos do instituto e pelo acolhimento que tem a sua Revista que se póde aquilatar os seus merecimentos; tambem por este motivo só podemos congratular-nos com o nosso chefe e com o governo do Estado de São Paulo. A frequencia do Museu Paulista, que, como desde a sua inauguração, sempre tem sido aberto ao publico ás terças e quintas-feiras (das 11 ás 4 horas) e aos CSU a 2? “domingos e dias feriados (das 12 ás 5 horas), foi o seguinte: Ena SIG a aa 40.000 HI de D ech pa oe ave lo 5. ASSES te a aa a elds Lr ao .905 es g POS DÉMARRER 32.063 es ON Osprey ast ye caged? 28. 484 Pe RISO ICS PR AN haere) geen ce 26.672 OO Rg ren Re |): 21.538 De RE Sia We Pe alan RARE O Ie 34.813 SA RIRE (O PR TR EEE SUDO E Spel Oar ite Siete gia Er 48.758 A diminuição bastante sensivel na frequencia do Museu nos annos de 1900, 1901 e 1902 foi devida 4 communicação pessima que a antiga Companhia Viação Paulista estabelecia entre a cidade e o arrabalde do Ypiranga, onde se acha o Monumento no qual func- ciona o Museu Paulista. Os bonds acanhados, morósos e de intervallos enormes gastavam neste trajecto uma hora inteira. De 1903 em diante funcciona a linha de tramways electricos da «S. Paulo Light and Power Comp.», cujo serviço, ainda que deixe um tanto a dese- jar, é incomparavelmente superior ao antigo, fazendo o trajecto em 25 minutos. Comtudo os seus preços (800 rs. “de ida e volta) continuam elevados, constituindo ainda um impecilio para a visitação mais crescida do Museu. Quanto ás visitas honrosas, de scientistas ilustrados, queremos apenas salientar alguns nomes de alguns col- legas, como os Snrs. Drs. E. Bonnier e Charles Perez, professores das universidades de Sorbonne e Bordeaux, ex-membros da Expedição Charcot ao Polo Antarctico; Dr. Nina Rodrigues, lente da faculdade de Medicina da Bahia; o Dr. F. Ohaus, coleopterologo e emerito obser- vador em biologia; o Snr. Adolpho Ducke, o operoso hymenopterologo do Museu do Pará; os Snrs. Dr. Chas. ey a Lounsburfy e G. Compêre, funccionarios da Colonia do Cabo e da Australia, enviados em missão de entomo- logia economica; os Snrs. À. de Winkelried Bertoni e Anissits dedicados ao estudo da zoologia do Paraguay e aos quaes devemos valiosos materiaes de estudo. Com referencia ao pessoal do Museu só temos a registrar a substituição do amanuense Snr. Alcides M. Pinto pelo Snr. Paulo Barreto e deste, em Março de 1905, pelo Snr. Mario Passos. A nós, como Custos do Museu, foi concedida uma licença de seis mezes, prazo este empregado em visitas aos principaes Museus da Europa e tambem em estudos de Protozoarios no labo- ratorio do eminente professor de zoologia da Universi- dade de Heidelberg na Allemanha, Prof. Otto Biitschli, a quem não podemos deixar de exprimir ainda uma vez os nossos agradecimentos pelas suas constantes attenções. O Snr. Ernesto Garbe, naturalista viajante do Museu tem continuado a fazer viagens no interior do Brazil. Em começos de 1903 elle regressou de sua viagem ao Rio Juruá no Estado do Amazonas, sendo-lhe em se- guida propostos varios problemas relativos á tauna do Est. de S. Paulo, para o que seguiu primeiro via Fa- xina. a 8. Pedro de Itararé na fronteira do Est. do Paraná ; depois de Bebedouro a Barretos e dahi 4 f6z do Rio Pardo no Rio Grande, já na fronteira do Est. de Minas Geraes ; voltando a Bebedouro atravessou 0 sertão, via 8. José do Rio Preto ao Salto de Avanhan- dava e, descendo o Rio Tieté, fez estação em Itapura, demorando-se depois algum tempo na Fazenda da Faya, junto ao Rio Paraná, no Est. do Matto Grosso. Na volta, subindo novamente o Rio Tieté passou outra vez por Avanhandava e d’ahi, via Pedras, chegou, apoz pe- nosissima viagem no tempo das chuvas, a Mattão, pro- ximo de Araraquára. Voltando a S. Paulo partiu em oO 2: nova viagem, desta vez para o littoral. Demorou-se então especialmente nos arredores de Ubatuba, de onde voltou, subindo a Serra do Mar, via Tanbaté. Prepa- rando-se em seguida para uma exploração mais penosa, partiu em Setembro de 1905 para o Estado do Espirito Santo, fazendo em caminho uma estação na Ilha Grande, para estudar a fauna dessa ilha em confronto com a de S. Sebastião, que já anteriormente fôra explorada pelo pessoal do Museu Paulista (Veja-se o estudo publicado pelo Dr. H. von Ihering nesta Revista, Vol II, p. 129 ss.). Para o Estado do Espirito Santo propuzera-se ao Snr. Garbe em especial o estudo da fauna das margens do curso inferior do Rio Doce, bem como o da ichthyo- fauna, que ahi é de interesse especial, visto como nas lagoas, pouco acima da foz do rio no Atlantico, taes como a Lagoa Linhares, ha uma mistura singular de peixes d'agua doce e do mar. E preciso observar, en- tretanto, que estas lagoas tem agua puramente doce. Em todas estas viagens foi o nosso naturalista-via- jante acompanhado pelo seu filho Walther Garbe, egual- mente excellente caçador, que, compartilhando com seu pae os perigos e as privações que taes viagens sempre impõem aos exploradores dos nossos sertões, em muito contribuiu para que o Museu Paulista tirasse dessas expedições resultados tão completos como os comprova o crescimento constante das nossas collecções. Comtudo não eram sómente as remessas de mate- riaes colligidos pelos Snrs. Garbe que enriqueciam mez por mez as nossas collecções. Especialmente em nosso Estado conseguimos entrar em relação com um certo numero de caçadores que, ensinados pelo nosso prepa- rador já agora nos preparam bons couros ou conservam os animaes em alcool e assim constantemente lhes com- pramos bom material. Naturalmente as especies mais communs se repetem frequentemente, de modo que limi- ENO) ee tamo-nos a fazer a selecção do que julgamos aprovei- tavel para nossas collecções, devolvendo-lhes o resto para a venda na Europa. Taes senhores são: Mathias Wacket na Serra do Mar; Francisco Günther na Ilha de S. Sebastião; Otto Dreher em Franca. Ao Snr. H. Li- derwaldt, que a principio nos prestava eguaes serviços, fazendo caçadas em Itatiaya, já agora conseguimos con- tractar para o trabalho constante em nossos laboratorios, onde lhe coube em especial o encargo da revisão das collecçôes entomologicas, preparando o material ainda ac- cumulado e revendo, segundo nossas indicações, a ordem das numerosas familias de insectos, que já occupam nada menos de 17 armarios, de 50 gavetas cada um. Resta-nos, emfim, transmittir aqui os agradecimentos que nosso chefe se dignou externar em seus relatorios, com relação aos funccionarios do Museu Paulista; «Cau- sa-me prazer registrar a dedicação com que todos os em- pregados desta repartição cumpriram com os seus deveres, bem como o seu procedimento sempre correcto e leal, de modo que foram só impressões lisongeiras e agra- daveis que me deixou o serviço destes exercicios». * * % Entre as obras mais importantes terminadas nesses exercicios devemos salientar em especial uma, cuja ne- cessidade impunha de ha muito sua realisação. Foi a construcção dos portaes nas 12 gallerias e nos 5 portões da fachada do Monumento do Ypiranga, em que func- ciona o Museu. Esta medida, reclamada pelo Director ja desde a installação do Museu, importa não só em um embellezamento do sumptuoso edificio, pois que o tra- balho foi executado com capricho pelas officinas delle encarregadas pela repartição de Obras Publicas, mas tambem representa uma garantia contra roubos e contra a ce! os intemperies do clima, abrigando assim melhor a en- trada para as salas do pavimento terreo, em que estão acondicionadas as nossas valiosas collecgdes de estudos. Ainda no monumento foi preciso realizar outras obras, como o do concerto no telhado, em vista do mão estado em que se achava; tambem os conductores d'agua e a claraboia tiveram de ser reparados. Cuidado especial têm merecido os terrenos annexos ao Monumento. Emquanto que a grande area da frente, hoje uma praça deserta e desoladora, espera ainda o seu ajardinamento imprecindivel, (*) têm-se cuidado, com os proprios recursos do Museu, de preparar os terrenos dos fundos do Monumento para um futuro Horto Botanico, onde se achem representados, e exclusivamente, os prin- cipaes typos da nossa flora. Para isto foi iniciado o trabalho do preparo do terreno e fez-se já o plantio de numerosas mudas de arvores e arbustos. Ao Snr. H. Lüderwaldt devemos agradecer em especial a dedicação com que tem cuidado deste serviço. Reformou-se uma pequena casa para poder servir de posto policial da subdelegacia que em especial se creou para servir ao Museu. O Dr. H. von Ihering foi por algum tempo empossado da vara dessa VI Subde- legacia da 2.º Circumscripçäo da Capital; porém, com nova reforma, foi ella supprimida, sendo então o serviço policial feito pelo destacamento do Ypiranga. A vigi- lancia nas salas expostas ao publico continúa a ser feita pelos serventes do Museu aos quaes foi dado farda e bonet e por soldados da Guarda Civica, cujo numero varia, segundo a frequencia que se espera, de cinco a oito praças. (*) Acabam de ser iniciados os trabalhos a que nos referimos, sendo entregues pela Secretaria da Agricultura ao Snr. Arsène Puttmans, de compro- vada competencia. IX 07. CAGE | al As colleccôes do Museu Passando a tratar dos progressos realizados no Museu com relação ás suas collecçôes, tanto as que estão expostas ao publico como as de estudo (separação esta que, como o vimos nos principaes museus europeos, se observa estrictamente ou ao menos, pela grande conve- niencia que tem, se procura alcançar), só podemos con- gratular-nos com o Exm. Governo do Estado pelo muito que se tem conseguido, especialmente nestes ultimos annos. Repetidas vezes tivemos occasiäo de ouvir gabar em museus da Europa a perfeição do material como nol-o envia de suas caçadas o nosso naturalista-viajante, Sur. Ernesto Garbe. Na officina do preparador constan- temente estão em trabalho peças destinadas á collecção exposta, e isto independentemente dos mil pequenos afa- zeres que tem o unico preparador, Snr. João L. Lima, com o material que quasi diariamente afflue de todas as partes. E” necessaria a substituição de numerosos espe- cimens da collecção antiga, quer mal preparados, quer porque se vão estragando com o tempo. Devemos destacar em especial os trabalhos reali- zados na secção de Mammiferos, onde foi inaugurado um grande e bello armario duplo, com uma separação interna no sentido longitudinal, de vidro fosco, que cor- responde excellentemente ao fim de illuninar melhor o lado interno do armario, sem que comtudo os exem- plares do outro lado distraiahm a attenção do obser- vador. Foram ahi expostos unicamente os Simeos brazi- leiros, sendo que de um lado estão os macacos do Brazil meridional (nessa representação 39 especimens) e de outro lado os da região Amazonica (28 especimens, quasi todos colligidos pelo nosso naturalista-viajante em sua explo- ração do Rio Juruá). Dous bellos especimens do peixe-boi (Manatus inunguis), egualmente do Rio Juruá, foram preparados See A to e tem despertado especial interesse, mesmo porque se trata de um typo assaz curioso, que, segundo informação da antiga literatura, (*) nos antigos tempos coloniaes ainda habitava o littoral do Estado de S. Paulo. Tambem os Servideos figuram agora todos em bellos exemplares em nossas vitrinas. Alguns outros armarios novos foram installados nas collecções de Archeologia e da Historia Patria. Com este accrescimo de espaço puderam ser ex- postas duas valiosissimas series de peças manufacturadas pelos nossos antigos aborigenes da Bahia e do Rio Grande do Sul. As da Bahia provem todas de Amar- gosa, onde foram colligidas pelo saudoso amigo do Museu, Sur. Christovam Barreto e aos quaes o Dr. H. von Ihering se referiu largamente no Vol. II desta Revista (p. 550 — 557), no capitulo — Archeologia da Bahia — de sua «Archeologia comparativa do Brazil», figurando varios desses exemplares na Est. XXIII, (fig. 32—41) Os objectos archeologicos do Rio Grande do Sul a que nos referimos, foram adquiridos do Snr. Arnaldo Barbedo por intermedio do dedicado amigo do Museu Paulista, Spr. Dr. J. Maria Paldaoff, a quem a morte atroz tão cedo roubou aos seus amigos e do trabalho scientifico e pra- tico a que se dedicava com ardor e alta comprehensão, como director da Estação Agronomica de Porto Alegre. A respeito desses mesmos objectos o Dr. Paldaoff pu- blicára nesta Revista Vol. IV, p. 339—347, Est. IV uma pequena memoria e, pois foi de summo valor o Museu poder adquiril-os, mesmo para assim reunil-os ao seu já rico material que, quanto á Archeologia rio-grandense é de primeira ordem, senão a melhor collecção existente. No novo armario da sala B 9, de objectos histo- toricos foram collocadas varias bandeiras, espadas, a ar- madura de Martim Affonso de Souza etc. (*) P.* José de Anchieta—« jo Contava elle nesses seus ensaios com o auxilio intelligente e efficaz do Snr. Dr. J. de Carvalho Borges . Junior, de Valença, Minas, que constantemente lhe enviava os enchames. Em consequencia das repetidas experiencias, diffi- ceis pelo muito cuidado que exigem as Cuyabanas em seu trato, ficou estabelecido que realmente essas tormigas podem-se tornar fataes ás Sauvas (Atta sexdens) e que de facto são capazes de exterminar os formigueiros dessas, lançando mão, não da lucta aberta, individual, na qual certamente succumbiriam as pequenas Cuyaba- nas, mas sim roubando os ovos e as nymphas ás Saúvas. Dessa forma, privado de novas gerações, o for- migueiro está naturalmente extincto. Singular é que as possantes Sauvas façam tão pouco mal ás Prenolepas, de tão sinistro proceder para com ellas. A nós couberam estudos de classificação em ento- mologia e a determinação da collecçcäo dos peixes d'agua doce do Museu Paulista. Preparamos um catalogo des- criptivo de um grupo desta classe, dos Nematognathas, (Bagres, Cascudos, etc), que em breve será publicado “nesta Revista, com as mesmas feições de nossa mono- graphia sobre as «Vespas sociaes do Brazil». (Rev. Mus. Paul. Vol VE po 97-500) Outro trabalho em que não temos poupado esforços é o preparo dos Catalogos synopticos de varios grupos da fauna brazileira. Ao serem lidas estas linhas já deve ter sido dis- tribuido o primeiro destes Catalogos, o das Aves do Brazil, que nós, Dr. Hermann e Rodolpho von Ihering concluimos de collaboração. 'onvem esboçar aqui de novo o plano deste em- prehendimento, no qual o Museu Paulista tentará fazer uma revisão, a mais completa possivel, da fauna do Brazil. Baseiam-se esses catalogos em toda a literatura scienti- AN (ON fica concernente ás respectivas especies brazileiras e, quanto ao material de referencia será aproveitado o que o Mu- seu Paulista possuir, enumerando-se-lhe a procedencia. Serão empregados todos os esforços para dar um cara- cter uniforme a todos os volumes que forem publicados, quer pelo pessoal do Museu, quer por especialistas col- laboradores; comtudo tal não deverá ser exagerado, visto como é mister adaptal-os 4s circumstancias, ao maior ou menor adiantamento de estudo em que se acha cada grupo de que se tratar. Assim pudemos eximir-nos de inventariar toda a extensissima literatura concernente ás aves do Brazil, pois que, como tal foi feito pelo grande Catalogo do British Museum, que por longo tempo ainda será, epee de seus defeitos, a obra basica para os estudiosos da Ornithologia. Em outros grupos, para os quaes não houver tão uteis monographias, será for- coso fazer a enumeração dos: principaes livros ou artigos referentes ao genero ou á especie. Logo será entregue ao prélo o segundo desses Catalo- gos e que é o referente aos Myriapodos, escripto pelo notavel especialista W. A. Brélemann, a cuja penna a nossa Revista já deve varios artigos excellentes referentes a esse mesmo grupo de Arthropodes. Estão sendo preparados os catalogos que em se- guida deverão ser impressos, taes como o dos Molluscos, dos Mammiferos, de varios grupos de insectos e de peixes. E emfim um esforço que faz o Museu Pau- lista para reunir todos os materiaes referentes a esses diversos grupos e então, baseado nesses catalogos, mais tarde, se poderá fazer edições de caracter mais popular, com as necessarias chaves e illustrações para a facil classificação, mesmo pelo leigo. Egual progresso como o que registramos com re- lação ás demais collecções, tambem se verifica na Bi- bliotheca do Museu. Apezar de estarem os livros e E au periodicos, que tratam só de um determinado grupo de animaes, espalhados pelos respectivos laboratorios, para assim estarem mais á mão durante o estudo, comtudo foi preciso mandar construir duas novas estantes na bibliotheca principal, onde especialmente a secçäo de Periodicos geraes cresce, de modo espantoso quanto ao lugar que occupa e agradabilissimo pelo muito que desta forma a bibliotheca auxilia os estudos a que nos con- sagramos. Dentre as acquisições mais importantes para a bibliotheca podemos salientar: os Proceedings e os Transactions of the Zoological Society de Londres com- pletos; Revue et Magazin de Zoologie, compl. desde 1831. Cumpre-nos ainda agradecer ás grandes Sociedades scientificas e Institutos, tanto do Velho Mundo como da America do Norte a liberalidade com que entram com- nosco em permuta, offerecendo-nos grandes series de vo- lumes em troca da nossa Revista. Não podemos, en- tretanto, deixar de externar aqui a satisfacção que foi para nós todos e a deve ter sido em especial para o prezado redactor da Revista do Museu Paulista, a quem me cabe a honra de substituir, o julgamento altamente honroso que della fez a Commissão Distribuidora dos premios da Exposição Universal de 8. Luiz, U. S. À, 1904, concedendo-lhe o «Grande Premio», a maior dis- tineção conferida pela Exposição. Foi unicamente com a Revista que o Museu Paulista, incitado pelo Governo do Estado, concorreu a esse certamen universal e é pois o programma nella delineado com relação ao Museu e a sua gradativa realização, que o jury desta forma quiz premiar. Os Indios Patos e o nome da Lagoa dos Patos PELO Dr. HERMANN VON IHERING Tendo vivido por muitos annos á margem da Lagoa dos Patos e publicado sobre ella dous estudos (10 e 11), “liguei interesse especial ao nome desta lagoa e por fim adoptei a opinião de que este nome não lhe provinha das aves aquaticas denominadas «Patos», mas de uma tribu de indios, aliás pouco conhecida, dos Patos. Esta opinião foi combatida por Alfredo F. Rodrigues no seu artigo «O nome de Lagoa dos Patos» (1) declarando elle imaginaria a dita tribu dos Patos. Pretendendo em seguida tratar por extenso do as- sumpto, reproduzo aqui a maior parte do referido artigo do Snr. Alfredo F. Rodrigues. Com referencia á idea de que a Lagoa dos Patos tomou o nome de uma tribu de indios, que habitára em suas margens, elle diz o seguinte: : O erro data de Ayres de Casal, ou pelo menos foi elle que o vulgarisou, pela notoriedade que alcançou a sua Chorographia Brazileira. Diz elle que «a Lagôa dos Patos tomou o nome de uma nação hoje desco- nhecida. » Referindo-se ao canal entre a ilha de Santa Catha- rina e o continente, diz tambem: «Rio dos Patos lhe chamavam os primeiros descobridores, porque servia de limite entre os indios deste nome que se extendiam até o 8. Pedro e os Carijós para o norte até Cananéa». Contra esta afirmativa foi o primeiro a protestar o Visconde de S. Leopoldo, nos «Annaes da provincia de S. Pedro», citando a opinião do Padre Simão de Vasconcellos: «A origem deste appellido esquadrinhou e nos transmittiu o padre Simão de Vasconcellos, que proce- deu de uma armada hespanhola, que, em viagem para o Rio da Prata, 1554, obrigada por temporaes, arribou á deserta ilha denominada ao depois de Santa Catharina e deixára alli alguns patos que, procreando maravilho- samente, se foram espalhando em copiosissimos bandos por todo aquelle litoral; e foi a causa donde a lagoa e toda aquella terra se chamavam dos Patos e até hoje lhes dura este nome.» Em nota accrescenta ainda: Nestes pontos de pura tradição, inclino-me a seguir antes o padre Vasconcellos, que, provincial e chronista da Comp. de Jesus no Brazil, escrevendo na Bahia pelos annos de 1663, viveu mais proximo aos factos e teve mais proporções de os averi- guar do que o padre Casal na Chorographia Brazileira que, aliás, merecendo grande conceito no que escreveu das provincias do norte, que examinou ocularmente, não passando do Rio de Janeiro para o sul, escreveu por méras informações; por isso não é muito que claudicasse a ponto de addicionar provincias ao imperio do Brazil que não lhe pertenciam, e entre outras cousas mais, dando existencia a uma nação dos Patos de que não se encontram os minimos vestígios. Vide a enumeração que faz das nações indias o mesmo padre Vasconcellos nas Noticias antecedentes das cousas do Brazil, n. 151 ELES A mesma versão se encontra no Santuario Ma- riano, chronica escripta pelos jesuitas, cujo primeiro Se ud volume se publicou em 1707, apparecendo o ultimo em 1723: «Ilha de Santa Catharina. — Patos. —Cobrem estas aves as praias e terras da beira-mar, por distancia de 50 leguas e mais. São os mesmos da Europa. Ali os soltaram uns hespanhoes que faziam viagem para o Rio da Prata em 1554.» Enganaram-se na data, porém, tanto o Visconde de S. Leopoldo como os dous chronistas jesuitas, pois que ahi já existiam patos muitos annos antes, sendo conhecidos por este nome diversos logares na costa desde Santa Catharina até o Rio da Prata. De facto, João Dias de Solis, chegando em prin- cipios de 1516 á ilha de Santa Catharina, deu-lhe o nome de Ilha dos Patos; e na embocadura do Rio da Prata, denominou Rio dos Patos a um arroio entre 35.º e 3414°. Não existe o roteiro da viagem de Solis, por isso não se póde precisar o motivo por que elle escolheu o nome Patos para esses dous lugares. | Póde-se, porém, affirmar que não o tirou de uma tribu de indios, pois que nenhum dos historiadores do seculo XVI, que se referem 4 sua viagem (Oviedo, Guevara e Herrera, 1535, 1552 e 1601) faz menção de taes indios, citando pelo contrario os Charruas e outros. Devia, portanto, provir o nome da grande quanti- dade de patos ahi encontrados. Isto não é uma simples conjectura sem base, porém um facto confirmado por documentos que datam de poucos annos depois. No roteiro da viagem de Diogo Garcia, realisada em 1526 e 1527, lê-se o seguinte: «EH andando eu el camino allegamos a um rio que se Ilamma el rio de los Patos questá a 27 grados, que ay una NS pp buena geracion que hacem mui buena obra a los chris- tianos, e Ilammam-se los Carrioces, que ali nos deram muchas vituallas que se llamma millo é harina de man- dioco, e muchas calavazas e muchos patos e outros mu- chos bastimentos porque eran buenos yndios». Na carta em que Luiz Ramirez descreve a viagem de Sebastião Gaboto, realisada ao mesmo tempo que a de Garcia, tendo-se os dous exploradores encontrado em Santa Catharina, lê-se tambem: «Dijeron que cuatro mezes poco más 6 menos antes allegasemos a este puerto de los Patos, que asi se Ilamaba de elles esta- ban et «En esta isla habia muchas palmas en este puerto nos traian los yndios enfinito bastimento asi de faisanes, de gallinas, babas, patos, perdizes, venados, que de esto todo y de otras muchas maneras de caza habia en abundancia y mucha miel». Em nenhum destes dous documentos, que assigna- lam a existencia de patos em Santa Catharina, se falla em indios com tal nome, apezar de virem relacionadas as tribus encontradas pela costa. Diogo Garcia dá mesmo o nome dos indios de Santa Catahrina, os Carrioces. Outro testemunho confirma ainda estes dous. O adelantado D. Alvaro Nunes Cabeça de Vacca, tendo arribado a Santa Catharina em 29 de Março de 1541, cruzou dali em direcção ao Paraguay, pelo sertão, onde encontrou, dias depois, uma tribu de indios, que o re- ceberam com mostras de amizade. Nos. Commentarvos da expedição, lê-se: «Esta nação chama-se Guarany, são lavradores que, duas vezes por anno, semeiam milho. Cultivam tambem mandioca (caçabi), criam gallinhas e patos á maneira de Hespanha e em suas habitações tem muitos papagaios». Ha ainda uma objecção a refutar, e esta opposta pelo Dr. Hermann von Ihering, que, encarando a questão sob um ponto de vista differente, negou a existencia na Ed are 3 Lagôa e em Santa Catharina do pato commum (Cai- ring moschata), concluindo Wahi que não podia ter elle dado origem ao nome, que no seu entender provêm dos indios Patos. O argumento do illustre naturalista, que á primeira vista parece resolver a questão, não re- “siste a exame. Os primeiros exploradores da costa, não sendo entendidos em historia natural, podiam tomar pelo pato europeo qualquer outro palmipede, que se lhe asse- melhasse um pouco. Do exposto podem-se tirar tres conclusões: 1° Em toda a costa de Santa Catharina ao Rio da Prata havia grande abundancia de patos, que foram vistos por Solis, Diogo Garcia, Sebastião Gaboto e Ca- beça de Vacca. 2.º Nenhum dos chronistas e roteiros do seculo XVI faz menção de indios Patos, apezar de relacionarem as tribus da Costa. 3° Simão de Vasconcellos explicou bem a origem dos nomes Lagôa dos Patos, Rio dos Patos, Laguna dos Patos; porém enganou-se, affirmando que os patos começaram a procrear ahi em 1554. Deve ficar, portanto, como certo, que o nome da Lagôa dos Patos, provem das aves desse nome e não de uma tribu de indios assim chamada». A questão tem, como se vê, duas faces, uma orni- thologica e outra ethnographica, que em seguida trata- remos separadamente. O ponto de vista ornithologico. As opiniões dos autores divergem muito sobre esta questão, opinando uns por aves domesticas importadas, outros por diversas aves indigenas, entre as quaes é preciso mencionar particularmente: o Pato do Brazil, o 3 RES AP ees: Biguá e o Penguin. O nome «Pato» cabe em geral ás especies maiores dos Palmipedes comestiveis da fa- milia Anatidæ, cujas especies menores são denominadas Marrecas. Esta palavra de «Pato» acha-se, em sua ap- plicação no Brazil, restricta á Cawina moschata (Linn.), denominada «Pato real» pelos hespanhoes. Esta especie pertence em geral mais ás regiões centraes do Brazil, sendo rara, ou faltando mesmo, na maior parte do nosso littoral. No Rio Grande do Sul é encontrada particu- larmente ao longo dos grandes rios, marginados por matto alto; mas não é ave da Lagoa dos Patos. Ha nesta um cysne, Cygnus melanocoryphus (Mol), denominado «Pato arminho». Embora seja certo que o numero das aves aquaticas nas margens da «Lagoa dos Patos» di- minuiu bastante nos ultimos cincoenta annos, assim mesmo perto da cidade do Rio Grande obtive nada menos de 14 especies de Anatidas; não estava incluido, entretanto, neste numero a Cairina moschata. Como as minhas observações estão de accordo com as de Wied, Azara e outros observadores, é certo que o nome da Lagoa dos Patos não póde ser derivada de patos sil- vestres do genero Cairina, posto que se tome por base as actuaes condicções faunisticas. Este facto, comtudo, não exclue a hypothese de este nome provir de patos domesti- cados. Infelizmente é muito insufficinte o nosso conhecimento das aves criadas pelos indigenas antigos do Brazil. Uma das informações mais valiosas neste sentido devemos a Alvar Nunes Cabeça de Vacca (N. 2, p. 50), que em sua expedição pelo interior do Estado de Santa Cathas rina em 1541 notou que os indigenas «criam gallinhas e gansos 4 maneira dos Hespanhoes». Esta indicação evidentemente se refere a Jacús e Patos e observo que eu mesmo tive, no terreiro da minha propriedade na Barra do Camaquam, Jacús e tambem uma Carina moschata silvestre, em estado mais ou menos domesticado. Penso que entre todas nossas aves o pato é 0 que com mais facilidade póde ser domesticado e cruzado com as marrecas e patos criados. Os Jacûs tambem são amansados com relativa facilidade, mas de noute não são capazes de entrar no gallinheiro, empoleirando-se, pelo contrario, na cumieira da casa. Von Martius diz (N. 6, p. 24) que na região ama- zonica se criam especies de Psophia e Crax e no Brazil oriental o Mutum (Crax carunculata Temm.). Markgrav descreve bem (N. 9, p. 213) 0 pato, mas não diz que seja criado peios indigenas, acontecendo o mesmo com Azara, Wied e tantos outros autores, que consulter. O padre Nobrega (N. 17, p. 91) diz que no Estado de S. Paulo houve muita caça de matto e patos, que os indios criam; bois, vaccas, ovelhas, cabras e gallinhas se dão tambem na terra e ha dellas grande quantidade. Outra informação valiosa referente ao Estado da Bahia devemos a Gabriel Soares que (N. 16, p. 209-210), diz «criam-se mais ao longo deste rios e nas alagôas muitas adens, a que o gentio chama upeca, que são da feição das da Hespanha, mas muito maiores, as quaes dormem em arvores altas, e criam no chão perto da agua. Comem peixe, e da mandioca que está a curtir nas ribeiras, tomam os indios estas adeus, quando são novas, e criam- nas em casa, onde se fazem muito domesticas». E” certo que o Pato europeo não é mais senão um descendente da Cairina moschata da America meri- dional. Han (N. 7, p. 290) diz que j4 em tempos remotos se criavam patos na America. Na sua segunda viagem Colombo viu destas aves em S. Domingos e entre ellas tambem brancas. Southey, conta (History of Brazil; London 1810, T. I, p. 127) que os indigenas no Paraguay criavam nas suas casas patos almiscarados, o que se refere 4 Cairina moschata. Pre- sume-se que o pato, que era a unica ave criada pelos SING jo jo o antigos Peruanos chamado «nuñuma> veio do Perá 4 Europa, passando pela Africa. A primeira descripção desta ave deu, na Europa, Conrad Gesner em 1555 e no mesmo anno em Paris já se offereciam patos como fina iguaria. Na America meridional os patos eram criados, segundo estes dados, no Perá, Paraguay e no Brazil. Parece entretanto pouco provavel, que já então hou- vesse patos domesticados na costa, como se deprehende tambem do trecho indicado de Alvar Nunes Cabeça de Vacca. Por esta razão não podemos admittir que a Nha de Santa Catharina e diversos rios, portos e a Lagoa dos Patos tivessem recebido seus nomes de patos domesti- cados do genero Cairina. F. F. Outes (N. 8, p. 432) dá sobre o nome da ilha ‘de $. Catharina a seguinte informação : Santa Cruz en su «Islario» dá a entender claramente que tanto á la isla de Santa Catharina como al territorio continental adyacente se conocia en la primera época del des- cubrimiento bajo el nombre de los patos «por los muchos de ellos que alli se vieron la primera vez que fué descu- bierto.» Esta affirmación del illustre cosmografo se halla confirmada en muchos documentos de la época. Me bas- tará citar las declaraciones de Antonio de Montoya y el «maestre» Juan en respuesta á la 20.º pregunta del in- terrogatorio en el pleito del capitán Francisco del Rojas con Sebastian Caboto. Entre los autores modernos todos han aceptado la denominasión antedicha . . . » — «La causa del mencionado nombre parece estar en la gran cantidad de «patos negros sin pluma, y con el pico curvo», conforme a expressão de Francisco Lopez de Camara (Historia general de las Indias, in Histo- riadores primitivos de Indias» I, 212). Estas aves, con- tinua Outes, alguns autores suppunham serem «penguines.» Estas informações antes difficultam do que facilitam a explicação. Não podemos admittir que estes patos fai O a tivessem sido Penguins — Spheniscus magellanicus (Forst) porque estes, embora apparecendo as vezes nas costas do Brazil meridional, nunca entram na agua doce, não podendo, por conseguinte, dar o seu nome a rios e lagoas. Alem disto a côr é differente e tambem o bico, é direito sem ponta recurvada. O caracter indicado do bico nos faz pensar no Biguá (Carbo vigua Vieill.) que tambem é de côr uniforme preta, mas a expressão «sem pennas» não póde ser applicada nem a esta, nem com relação a qualquer outra especie. Alem disto o Biguá, muito seme- lhante á especie congenere da Europa, conhecido como «Corvo marinho», não póde ser confundido com patos e marrecas e occorre nas costas da America meridional desde a Patagonia até a Guyana. Observo ainda que não é facil explicar o nome de «Biguassú» ou Biguá grande, dado a um rio de Santa Catharina, visto que ha uma só especie de Biguá. Ha outra ave, bastante differente em côr e bico, que é denominada Biguä-tinga (Plotus anhinga L.) porém. é mais ou menos do mesmo tamanho e não occorre na costa, mas nos grandes rios no interior do Brazil. Deste modo entende-se que os patos a que se referem os historiadores não pódem ter sido nem pen- guins nem biguás, sendo possivel que se tratasse da Cairina moschata, provavelmente então muito mais commum na zona littoral do Brazil meridional do que hoje. Ponto de vista ethnologico Numerosos escriptores dos seculos XVIII e XIX referem-se a uma tribu de Indios Patos. Sobre o domicilio della diz o Coronel José J. Machado de Oliveira (N. 3, p. 230): «O rio dos Patos é hoje conhecido com o nome de Biguassá, que desemboca no canál que separa do BRAS continente a ilha de Santa Catharina; servia elle de confins ás tribus dos Carijós e dos Patos, que habi- tavam, a primeira, o littoral entre a Conceição e o Biguassá, e a segunda o que decorre deste para o sul.» Na sua historia da capitania de S. Vicente, publi- cada em 1772, diz Pedro Taques de Almeida Paes Leme (N. 14, p. 145): «E certo que da villa de S. Vi- cente sahiram em 24 de Agosto de 1554 os padres jesuitas Pedro Corrêa e João de Souza para a missão dos gentios Tupis e Carijós dos Patos e ambos foram mortos pela barbaridade destes indios, como escreve 0 padre Simão de Vasconcellos na Chronica do Brazil liv. I p. 147, onde mostra que Pedro Corrêa era sujeito de nobreza conhecida, e se fizera opulento na villa de S. Vicente, para onde tinha vindo com o fidalgo Mar- tim Affonso de Souza, porem que, deixando a vida secular, tomára a roupeta no colegio de S. Vicente, e, ordenado, de presbytero, empregára o seu talento e sei- encia da lingua dos gentios em convertel-os á fé catho- lica, até que encontrára com a corôa do martyrio pelos barbaros indios Carijós do sertão dos Patos». Outras informações sobre a região occupada pelos Pa- tos encontram-se no artigo de Felix F. Outes, «El puerto de los patos» (N. 8), que reproduz varios mappas antigos do Brazil e do Paraguay, que, alem dos dados geogra- phicos, contem indicações sobre as diversas tribus indi- genas. Estes mappas dão para a região do Rio Grande do Sul e parte contigua de Santa Catharina o nome dos Indios Patos. O mais antigo destes mappas com tal indicação é o da Est. VIII, fig. 2, «construido por los je- suitas (1646 -— 1649)». Todos os outros mappas seguintes indicam na mesma região os Indios Patos. Os mappas mais antigos, publicados por Outes, não dão os nomes das tribus indigenas. Não parece existir nenhuma informação exacta sobre estes Patos. Tomando em consideração que o territorio NAS UE) do Rio Grande do Sul nos tempos antigos não foi ex- plorado e só bem tarde foi colonizado, não é de ad- mirar que sejam escassos e insufficientes os dados refe- rentes aos primitivos habitantes do Rio Grande do Sul. E’ singular, entretanto, que o livro do padre Gay, tra- tando minuciosamente dos indigenas do Brazil meri- dional e do Paraguay nem sequer nos transmitta o nome de uma nação dos Patos. E’ bastante notavel neste sen- tido o manuscripto do anno de 1612 que Gay (N. 4 p. 429) reproduz com referencia aos indigeras do Rio Grande do Sul, mencionando Guaranys, Arachanes, Charruas e Goyanás. Nem o manuscripto anonymo de 1584 (N. 18), nem Gabriel Soares mencionam os Patos, tratando aliás apenas dos indigenas desde o Pará até Santa Catharina. Com referencia ao livro de Ayres Casal diz Al- fredo F. Rodrigues, ter elle sido o primeiro a mencionar os Indios Patos, ao passo que segundo F. Outes elle se teria referido não a Indios, mas á ave Pato. Neste sentido trata-se de um engano do ultimo dos dous au- tores, visto que o livro de o Casal, Vol. I. p. ne e 141 se refere exclusivamente a Indios. Em geral podemos verificar que os escriptores o seculo XVI não mencionam Indios Patos, referindo-se apenas ás aves palmipedes e que nas publicações do se- culo XVII se acha registrada uma tribu de Patos, sem que entretanto fossem dadas informações exactas. Conclusões Resulta da exposição precedente que, para a expli- cação dos nomes da Lagoa dos Patos, do Rio dos Patos, ete. na literatura antiga ha duas versões: Uma que se refere ás aves palmipedes de que trata a literatura do seculo XVI e outra referente aos Indios Patos segundo a literatura do seculo XVII e seguintes. Contra esta se- gunda opinião póde-se objectar a falta de informações, referentes a estes indigenas na literatura mais antiga e isto no proprio manuscripto anonymo de 1612, publicado por Gay. E’ preciso, entretanto, considerar que algum dos outros nomes de tribus rio-grandenses, indicados | naquelle manuscripto, póde ser synonymo do dos Patos e, mais, que argumentos de caracter negativo nada provam, particularmente, sendo, como é, a literatura antiga defi- ciente em informações ethnographicas aproveitaveis. Por sua vez a literatura do seculo XVI contem varias in- formações sobre a origem ornithologica destas denomi- nações, mas as mesmas são contradictorias entre si. As aves a que se referem os antigos escriptores, é licito suppôr-se, -não devem ter sido nem penguins ou biguás nem marrecas ou patos domesticados. Já João Dias de Solis, em 1515, deu 4 ilha de S, Catharina o nome de Ilha dos Patos, sendo impossivel suppor que isto dissesse respeito a aves domesticadas, importadas da Europa. « Se as diversas denominações dos «Patos» fazem referencia a aves aquaticas, póde-se tratar apenas do «Pato real» (Catrina moschata), devendo-se suppor que esta ave tenha existido n’aquella época em muito maior numero que hoje, nas costas do Brazil meridional. Se assim fôr, não seria para admirar que os exploradores tivessem dado a varias localidades a denominação dos «Patos», visto representar esta ave, sem duvida, a caça mais valiosa entre as aves aquaticas daquella região. Em favor desta hypothese posso accrescentar o resul- tado de um estudo geologico por mim publicado (N. 12), que prova uma modificação profunda no caracter da vege- tação no littoral do Rio Grande do Sul. Perto da costa observei, na visinhança da cidade de Rio Grande do Sul, collinas, corôadas de uma vegetação de arbustos espi- nhosos, que mostravam pouco em baixo da superficie uma camada argillosa, humosa, com conchas terrestres e fluvia- tis, que suggerem uma modificação profunda da flora e da fauna. De experiencias desta ordem devem lembrar-se DE Sa os engenheiros que pretendem melhorar as condições da Barra; recommenda-se, como auxilio indispensavel, a defeza das terras por meio de vegetação, não só nas margens do canal, mas tambem numa faixa de 1 — 2 leguas de largura. x E E preciso confessar que os dados aqui expostos não conduziram a um resultado seguro. Admittindo. que os auctores que fallam de indios Patos tivessem commettido um erro, a mesma supposição é applicavel aos auctores do seculo XVI, cujas infor- mações a respeito das aves «patos» são contradictorias, mas tambem em parte imcomprehensiveis e evidente- mente falsas. A explicação, entretanto, que nas actuaes circumstancias mais se recommenda, é a do Snr. Alfredo F. Rodrigues, que precisa ser modificada só no que diz res- peito ás aves que causaram a dita denominação. O caso seria então o de ter sido, antigamente, o Pato real muito mais frequente no Brazil meridional do que actualmente, tendo causado a denominação de varias localidades porque, como excellente caça que é tornou-se digno de toda attenção por parte dos descobridores. O que neste sen- tido nos confirma mais nesta opinião é o facto de exis- tirem tambem em outros Estados do Brazil localidades com a denominação de «Patos», como nos estados de Mi- nas Geraes e Parahyba. Não podemos attribuir estes no- mes tambem n’aquelles Estados a uma tribu desconhecida dos Patos, sendo ao contrario evidente que a explicação, que deriva de uma origem commum a todas estas deno- minações, é a mais acceitavel. São Paulo, 8 de Agosto de 1903 MSN Di Literatura. 1) Alfredo F. Rodrigues. O nome da Lagoa dos Patos. Annuario do Rio Grande do Sul para 1899 por Graciano A. de Azambuja, Porto Alegre 1898, p. 154— 156. 2) Alvar Nunes Cabeça de Vacca. Commentaires aux voyages, Relations et Mémoires originaux pour l'Histoire de l'Amérique, Paris 1837. 3) Brigadeiro José Joaquim Machado de Oliveira. Noticia raciocinada sobre as aldêas de indios da Pro- vincia de:S. Paulo, desde o seu começo. até a actuali- dade. Revista da Sociedade de Ethnographia e Civilisa- ção dos Indios. Tomo I. Nº 1 São Paulo, 1901 p. 35 —-59. Rev. Hist. e Geogr. Inst. Hist. Brazil, Tom. VIH, Rio de Janeiro 1867, p. 204—-254. 4) Conego João Pedro Gay. Historia da Republica Jesuitica do Paraguay; Rev. Inst. Hist. do Rio de Ja- neiro. Tomo XXVI, 1863. 5) C. F Ph. von Martius. Zur Ethnographie Americas, zumal Brasiliens. Leipzig, 1867. 6) C. F. Ph. von Martius. Beitrâge zur Ethno- graphie und Sprachenkunde Americas, zumal Brasiliens IT. Zur Sprachenkunde. Leipzig, 1867. 7) Eduard Hahn. Die Hanstiere und ihre Bezie- hungen zur Wirtschaft des Menschen. Leipzig, 1896. 8) Felix F. Outes. El puerto de los Patos y la region adjacente en la época de la conquista. Historia, Tomo I. Buenos Aires 1903, p. 421—441 com 6 estampas. 9) Guilherme Pisonis de Medicina Brasiliense libri quatuor et Georgii Marcgravi Historia rerum natura- lium Brasile libri octo. Lugdum. Batavorum et Amsti- lodami 1648. 10) H. von Ihering. Die Lagoa dos Patos. Deu- tsche Geographische Blitter, Bd. VIII. Bremen, 1885, p. 164—203. Taf. III. RO A) ge 11) H. von Thering. Die Vogel der Lagoa dos Patos. Zeitschrift für gesammte Ornithologie, Budapest, 1887, p. 142—165, Taf. I. 12) H. von Lhering. Ueber Binnen-Conchylien der Kiistenzone von Rio Grande do Sul. Archiv für Natur- geschichte, Bd. 60, Berlin 1894, p. 37—40. 7 13) H. von Ihering. El Hombre Prehistorico del Brasil. Historia tom. I, Buenos Aires, 1903, p. 161 ss. 14) Pedro Taques de Almeida Paes Leme. His- toria da Capitania do S. Vicente desde a sua fundação por M. A. de Souza em 1531: escripta em 1772. Rev. Inst. Hist. e Geogr. Brazil, Tomo IX, Rio de Janeiro 1847. 15). Samuel A. Lafone Quevedo. Juan Dias de Solis. Historia, Tomo I, Buenos Aires 1903, p. 57 ss. 16) Gabriel Soares de Souza. Tratado descriptivo do Brazil em 1587. Rev. Inst. Hist. e Geogr. do Brazil. Tomo XIV, Rio de Janeiro 1879, p. 1—382. 17) Padre Nobrega. Informação das terras do Brazil. Rev. Hist. e Geogr. do Inst. Hist. e Geogr. Bra- zileiro. Tomo VI, Rio de Janeiro, 1865, p. 91—94. 18) Anonymo. Principio e origem dos Indios do Brazil e seus costumes, adoração e cerimonias. Rev. do Inst. Hist. e Geogr. Braziieiro, Tomo LVIII. Parte I, Rio de Janeiro 1894, p. 185—218. TOS Un some Fossil Reptilian Bones from the State of Rio Grande do Sul BY A. Smith-Woodward, L.L D , F. 8. S., of the British Museum (*) : ; — — gs: A few fossil reptilian bones discovered by Dr. Jango Fischer in 1902 at Santa Maria da Bocca do Monte (Serrito) in the Rio Grande do Sul, which have been given to me for their respective examination by Dr. H. von Ihering (Museu Paulista), are of much interest. They not only appear to determine the geological age of the formation from which they are obtained, but also foreshadow the discovery of an early Mesozoic American land-fauna, which has long been expected. They comprise the nearly complete vertebral centra and a fragment of a fourth centrum, with one digit of four phalanges and a separat ungual phalange. The bones were found together under such circumstances that they probably all belong to one individual. The vertabral centra are remarkable for (I) their very short antero-posterior extent, (II) the deeply ovoid shape of their articular ends, and (III) the conside- rable constriction of their sides. The bestpreserved specimen (fig. I, T A) is evidently not much crushed and show that both the articular “ends are slightly concave. It also exhibits the charac- teristic constriction of the sides, with the prominent anterior rim, which bears a deeply-ovoid, rounded boss (*) An abstract notice of this paper was published in Rep. Brit. Assoc. Southport, 1903. Considerações sobre alguns ossos fosseis de reptis do Estado do Rio Grande do Sul POR A. Smith-Woodward, LL. 0., F. R. S., do Bristish Museum. (*) ap ae De grande interesse é o pequeno numero de ossos - de reptis descobertos pelo Dr. Jango Fiscner em 1902, proximo de Santa Maria da Bocca do Monte (Serrito), no Estado do Rio Grande do Sul e que me foram con- fiados para o seu estudo pelo Dr. H. von Ihering, Di- rector do Museu Paulista. Elles não só parecem deter- minar a edade geologica da formação de que foram obti- dos, mas tambem acenam a descoberta de uma fauna terrestre do Mesozoico primitivo da America do Sul, aliás já ha muito tempo esperada. Esta remessa comprehende tres corpos vertebraes quasi completos e um fragmento de uma quarta verte- bra e mais um dedo de 4 phalanges e uma phalange un- guinal isolada. Estes ossos foram encontrados conjunta- mente e em taes circumstancias que é assaz provavel que pertençam todos a um só individuo. Os corpos são notaveis: 1°) pela sua dimensão antero-posterior muito curta; 2º) pela forma accentuadamente ovorde de suas + (*) Uma breve noticia a respeito deste mesmo assumpto foi publicada no Rep. Brit. Assoc. Southport, 1903. LR Ay ae (c) for the articulation of the capitulum of a double- headed rib. The lower part of the same rim is bevelled in such a way (x) as to suggest that an invertebral wedge-bone may originally have been present. The neural canal produces a shallow groove in the centrum. The base of the neural arch (n. a.) still remains and proves that it is firmly fused with the centrum, not merely articulated by suture. This arch extends from Fig. I, Cervical vertebra. Vertebra cervical end to end of the centrum, but leaves a slight rim of the latter projecting in front. Its lateral portion is pro- duced somewhat downwards and ends in a deeply ovoid, rounded boss (t), for the articulation of the tuberculum of the rib already mentioned. It is thus evident that the rib must have been stout, deep, and antero-poste- riorly compressed at its double-headed upper end. One of the more imperfect vertebral centra is essentialy identical with that just described, showing SA A Gre extremidades articulares; 3.º) pela consideravel con- stricção de seus lados. O exemplar mais bem conservado (figs. I, I A) evi- dentemente não está mal conservada e mostra que ambas as extremidades articulares são francamente con- cavas; mostra tambem a constricção caracteristica dos lados com a borda anterior proeminente, que é provida de uma bossa (c) fortemente ovoide, arredondada para a articula- ção do capitulo de uma costela. A parte inferior da mesma proeminencia é enviezada e dirigida de tal modo (x) que taz suppor que um osso intervertebral entalado poderia originariamente ter existido. O canal neural pro- duz um fraco sulco no corpo vertebral. À base do arco neural fn. a) ainda permanece e prova que está firmemente fundido com o corpo ver- tebral e não sómente articulado por sutura. Este arco extende-se quasi de um a outro lado da vertebra, dei- xando, porém, um fraco bordo deste ultimo, que se pro- jecta para a frente. À sua parte lateral extende-se um pouco para baixo, terminando em uma bossa francamente ovoide (t) para articulação do tuberculo da costella já mencionada. E”, pois, evidente que a costella devêra ser forte e grossa e comprimida em sentido antero-posterior em sua extremidade superior. Uma outra vertebra menos perfeita em sua conser- vação, é em sua essencia identica com a que acabamos de descrever; mostra uma articulação de costella similar, e tambem um espaço para o osso intermediario. Um outro bom especimen (figs. II, IL A) porém é um tanto menor, e não tem indicação evidente de uma faceta no corpo vertebral, nem para uma costella nem para um osso intermediario. As suas extremidades articulares são francamente concavas. A base de seu arco neural parece mostrar que combina com a das outras vertebras, estando fundida com o corpo, emquanto que o canal neural forma, similarmente, um fraco canal. | St o | a similar rib-articulation and a space for a wedge- bone. | The other good specimen (figs. IT, IT A), however, is somewhat smaller, with no clear indication of a facette on the centrum either for a rib or for a wedge-bone. Its articular ends are slightly concave. The base of its neural arch seems to show that it agrees with that Fig. II, Digit with 4 phalanges. Dedo com 4 phalanges of the other vertebra in being fused with the centrum, while the neural canal similarly forms a shallow groove. The first type of vertebra (fig. I) obviously belongs to the cervical, while the second (fig. II) must be referred to the dorsal region. If, therefore, these specimens represent one and the same individual, the neck must have been comparatively large and stout, doubtless for the support of a heavy head. | O primeiro typo destas vertebras descriptas (fig. I) evidentemente pertence a região cervical, emquanto que o segundo (fig. IT) deve ser considerado como da região dorsal. Se, portanto, os especimens pertencem a um só individuo o pescoço devêra ter sido comparativamente grande e forte, sem duvida para supportar uma cabeça avolumada. O dedo de quatro phalanges (figs. III, III A) é interes- sante pela forma da unha. A phalange unguinal é com- primida lateralmente e asymetrica, tendo o lado esquerdo Fig. II Vertebra dorsal. Dorsal vertebra (ou menos grosso) mais achatado ou quasi excavado, emquanto que o outro lado da phalange é um pouco convexo. Este osso não tem signal de excavação lateral, mas a sua face inferior é consideravelmente excavada e tem uma forte orla saliente. As duas phalanges que se seguem á unguinal são curtas e largas e muito constringidas em seu meio. O osso que se segue (fig. III, 1) e que talvez admitta mais de uma interpretação, é mais alongado do que os dous ultimos que descrevemos (figs. II, 2, 3), sendo porém menos longo do que o unguinal. Parece : E LENS RER The digit of four phalanges (figs. III, III A) is interesting on account of the shape of the claw. The ungual phalange is laterally compressed and unsymme- trical, the left or less deep side being flattened or almost hollowed, while the other side is slightly convexe. The bone is not marked by any lateral groove, but its lower face is considerably excavated and has a sharp rim. The two phalanges following the ungual are short and broad, and much constricted round the middle. The next bone, which perhaps admits of more than one interpre- tation, is more elongated than the just mentioned, but not so long as the ungual. It seems to be displaced in the fossil, being in fact accidentally turned on its long axis to an extent of 45°, so that its imperfect right side only is seen in fig. III, its left side in fig. IT A. If this interpretation be correct, the bone is another phalange, with the saddle-shaped proximal articular face somewhat deeper than wide. The detached ungual phalange (figs. IV, IV A, IV B) ressembles the corresponding bone of the digit just described in the concavity of its lower face (fig. IV A) and in its lack of bilateral symmetry; but it is relatively large and expanded. Its articular face (fig. IV B) is oblique and much deeper than broad; its slightly con- vexe side (fig. IV) is excessively large, owing to the expansion of the thin, rounded, distal border; while its flattened left side (fig. IV A) is a comparatively small triangular area. The two ungual phalanges evidently belong to one and the same foot, which must have had obliquely curved digits. If constructed as in the Sauropodous Di- nosaurs, this foot would be of the left side, the large claw belonging to digit [° while the series of four pha- langes would probably represent digit III * * % (2 o O estar deslocado na peça fossil, tendo na realidade gyrado accidentalmente sobre o seu eixo maior, talvez até por 45º, de modo que o seu lado direito se vê parcialmente na fig. HI eo seu lado esquerdo na fig. III A. Se esta interpretação é correcta este osso representa outra pha- lange, com uma face articular proximal excavada em sella e um pouco mais longa do que larga. A phalange unguinal isolada (figs. IV, IV A, IV B) assemelha-se á peça correspondente do dedo que aca- bamos de descrever, pela concavidade em sua face infe- rior (fig. IV A) e pela falta de Wo ae comtudo ( NE js De ma ear f ] MU i o: : Fig. IV Phalange unguinal, Ungual phalange. é relativamente grande e alargada. A sua face articular (fig. IV B) é obliqua e muito mais comprida que larga; o seu lado direito, um pouco convexo (fig. IV), é exces- sivamente largo, devido á espansão do bordo distal, fino e arcado, ao passo que em seu lado esquerdo (fig. IV A o osso, que é chato, forma uma pequena area triangular, comparativamente diminuta. As duas phalanges unguinaes evidentemente per- tenciam ao mesmo pé, cujos dedos devêram ser curvados obliquamente. Se este pé fôra de construcção usual entre os Dinosaurios sauropodos, tratar-se-ia do pé do lado It is difficult to determine the affinities of a rept- ile known only by remains so fragmentary as those now described. It is evident, however, that the bones are those of a land-reptile; and the characters of the vertebra suggest that they belong either to an Anomodont or to a primitive Dinosaur. The fact that the dorsal vertebral centrum shows no clear mark of an articular facette for the rib, seems to prevent its reference to an Ano- modont; while the shape and characters of the cervical vertebra are so closely similar to those of a correspon- ding vertebra from the Karoo Formation of South Africa ascribed to the Dinosaurian Zuskelesaurus by Seeley (*), that the new Brazilian reptile is probably allied to the latter. The striking inequality in the size of the obli- quely curved toes is also less suggestive of ‘an Ano- modont than of a Dinosaur; and although it is possible that some of the larger Anomodonts had a digital for- mula like that of lizards and crocodiles, this was not the normal condition, and a digit with four phalanges is more likely to have belonged to a Dinosaur than to a member of the more primitive Order. I therefore refer the new Brazilian fossils to a shortnecked Dinosaur allied to Huskelesaurus, and I propose to name this reptile Scaphonyx in allusion to the unique inferior excavation of the ungual phalanges. The species may be known as Scaphonyx fischer. If this determination be correct, the rocks in which the bones were found may be regarded as of Triassic age. Scaphonyx is also to be considered as the first fossil land-reptile discovered in South America which clearly belongs to the fauna of «Gondwana Land». (*) H. G. Seeley, «On Euskelesaurus brownii (Huxley)», Ann. Mag. Nat. Hist. (6) Vol, XIV (1894), p, 339, fig. 7. Original vertebra now in the British Museum. ~ E => OL esquerdo, pertencendo então a unha grande ao dedo I, emquanto que a serie das 4 phalanges pertenceria provavelmente ao dedo III. * * x E” difficil determinar as affinidades de um reptil conhecido tão sómente pelos restos tão fragmentarios como os que aqui descrevemos. Comtudo é evidente que são partes de um reptil terrestre; além disso, os caracteres das’ vertebras suggerem que pertenceram ou a um Anomodonte ou a um Dinosaurio primitivo. O facto de o corpo vertebral dorsal não mostrar nenhum signal evidente de uma faceta articular para a costella, parece oppôr-se á sua collocação, entre os Anomodontes; de outro lado a feição e os caracteres da vertebra cer- vical são de tal modo similares aos das vertebras cor- respondentes da «Formação Caroo> da Africa do Sul, attribuidos por Seeley (* ao Dinosaurio Huskelesaurus, que bem provavelmente o novo reptil brazileiro será aliado a este ultimo. A desegualdade surprehendente no tamanho das unhas obliquamente curvadas, do mesmo modo é menos suggestivo para os attribuir a um Ano- modonte do que a um Dinosaurio. Apezar de ser pos- sivel que um outro Anomodonte de maiores dimensões tivesse formula digital semelhante á dos lagartos ou crocodilos, isto, comtudo, não era a regra geral, e um dedo de 4 phalanges mais provavelmente terá pertencido a um Dinosaurio do que a um membro de uma Ordem mais primitiva. Em vista do que acabo de expôr, considero o novo reptil brazileiro como Dinosaurio de pescoço curto, alliado ao Huskelesawrus e proponho denominar este reptil: (*) H. G. Seeley, «On Euskelesaurus brownii (Huxley», Ann. Mag. Nat. Hist. (6) Vol. XIV (1894), p. 339, fig. 7. A vertebra original acha-se no British Museum. ES AG QURER Explanation of the Figures : Fig. I: Cervical vertebra, anterior and right la- teral (A) views; (c) articulation for capitulum of rib; (n. a.) base of neural arch; (n. c.) neural canal; (t) arti- culation for capitulum of rib; (x) facette tor intercentrum ; Fig. II: Dorsal vertebra, anterior and right lateral (A) aspects ; Fig. MI: Digit with 4 phalanges (1—4), upper and lower (A) views; (ex.) excavation of lower face of ungual phalange ; Fig. IV: Ungual phalange, upper, lower (A) and articular (B) views; (ar.) hollowed articular face; (e) flattened inner face; (ex.) excavation of lower face; All the figures are of 2/3 of nat. size. == Scapyonyx em allusão á excavação inferior unica das phalanges unguinaes. Seja dado á especie o nome de: Scapyonyx fiscyeri. Se esta determinação fôr correcta os depositos, em que estes fosseis foram encontrados, deverão ser attri- buidos 4 epoca Triassica. Scapyonyx, alem disso, repre- senta o primeiro reptil terrestre descoberto na America do Sul, que pertença evidentemente 4 fauna do «Gond- wana Land.» Explicação das Figuras Fig. 1 Vertebra cervical, vista do lado anterior e (A) do lado direito; (c) articulação para o capitulo da costela; (7. a.) base do arco neural; (n. c.) canal neural; (4) articulação para o capitulo da costella; (x) faceta para o intercentrum (24 tam. nat.); Fig. II Vertebra dorsal vista do lado anterior e (A) do lado direito (2% tam. nat.); Fig. HI Dedo com 4 phalanges (1-4) visto do lado superior e (A) do lado inferior; (ex.) excavação da face inferior da phalange unguinal (24 tam. nat.); Fig. IV Phalange unguinal vista do lado superior, (A) do lado inferior e (B) do lado articular; (ar.) face articular excavada; (/) face interna achatada; (ex.) exca- vação da face inferior (24 tam. nat.). Notas sobre una pequena, coleecion de huesos de mamiferos procedentes de las grutas calcáreas de Iporanga EN EL ESTADO DE SÃO PAULO-BRAZIL SSS FLORENTINO AMEGHINO El año 1897, mi amigo y colega el Dr. H. v. The- ring, Director del Museo de San Pablo, me remitia una pequena coleccion de huesos de mamiferos encontrados en algunas grutas calcáreas, pidiendome que los deter- minara. Continuamente ocupado con el estudio de las faunas mamalogicas antiguas, han ido pasando los años sin que se me presentara una aportunidad para examinar este envio con algun detenimiento. Aunque me encuentro igualmente atareado, en vista del largo espacio de tiempo transcurrido, he resuelto hacer un corto parentesis en mis trabajos sobre las faunas antiguas para poder examinar los. mencionados resto de las cavernas. Los objetos en cuestion fueron coleccionados por el señor Ricardo Krone, durante una visita que hizo 4 las grutas calcáreas de la region del rio Iporanga, en el Estado de San Pablo. La mayor parte provienien de la caverna de Monjolinho, la mas importante de todas. No entro en detalles sobre esas cavernas, su origen, la to- pografia de la localidad, etc, por cuanto el señor Krone ha escrito sobre ese tópico un interesante articulo acom- pañado de ilustraciones, que podrán consultar aquellos que tengan interes en el asunto (1). (1) RICARDO KRONE. As grutas calcareas de Iporanga, en Revista do Museu Paulista, t. III, pp. 477 4 500, a. 1898. PR (| = La coleccion es poco numerosa, y los huesos des- graciadamente se encuentran muy fragmentados. Agré- guese á esto que la mayor parte estan cubiertos de incrustaciones estalagmiticas que deforman el aspecto de las piezas de las que generalmente no se pueden des- prender, y se comprendera las dificultades con que se tropieza para efectuar una determinacion precisa. Mu- chas de las piezas aisladas, las he dejado á un lado, pues el tiempo que exigiria su determinacion, no estaria recompensado por los resultados que se obtuvieran, pues en su casi totalidad deben referir-se á especies todavia existentes. Los huesos, bajo el punto de vista de su conser- vacion se presentan en condiciones muy distintas. Unos están perfectamente limpios y completamente frescos; son indisputablemente recientes. Otros están cubiertos é impregnados de materias calcareas, son muy pesados y profundamente alterados en su composicion; estos son verdaderos fósiles y de una época anterior á la presen- te. Entre unos y otros se encuentran todos los esta- dios intermediarios de conservación. | Todos los huesos que no son absolutamente frescos, están cubiertos de incrustraciones estalagmiticas y pre- sentan un color mas 6 menos rojo-amarellento. Algu- nos están cubiertos de incrustaciones en un solo lado: es el que estaba á descubierto, mientras que el lado opuesto que se encontraba enterrado ó descansando en la arcilla del fondo de la caverna se presenta libre de incrustaciones. Esto prueba dos cosas. 1.º) que todos esos restos han sido recogidos en la superficie del suelo 6 en la capa estalagmitica superficial. 2.º.) que la deposi- cion estalagmitica se ha verificado en esas cavernas con una lentitud asombrosa, puesto que huesos de especies extinguidas han permanecido en la superficie del suelo del piso de las cavernas sin que hayan sido completa- mente cubiertos por las incrustaciones. Ed ne A Sin embargo, bajo el punto de vista de la edad geológica, los restos de las cavernas del Brasil son muy recientes. En 1889, ocupándome de las relaciones de la fauna de las cavernas del Brasil con la que se encuen- tra en la formacion pampeana, Ilegué á la conclusion de que aquella era de época mas reciente que la del pam- peano superior, y debia corresponder á la de los depo- sitos post-pampeanos mas antiguos (piso platense) y en parte tambien al piso lujanense. (1) El exámen de la presente coleccion confirma esas deducciones. La mayor parta de esos restos tienen un aspecto mui reciente y en las especies de la fauna pe- queña predomiaan las de la época actual. Es cierto que Winge menciona un número bastante crecido de pe- queños roedores extinguidos, pero algunos ya se han encon- trado vivos y es casi seguro que se encontraran otros mas. El Nothrotherium representado en la actual colec- cion por un cráneo de adulto y algunos huesos del esqueleto, preporciona datos precisos y decisivos. Como se verá mas adelante, Nothrotheriwm desciende de un género característico del pampeano superior de la Ar- gentina. Eso prueba, que la fauna de las cavernas bra- sileras es mas reciente que la de la parte superior de la formacion pampeana. En el Brasil, como en Europa y Norte América, la fauna de las cuvernas es cuater- naria. Sin mas preámbulos paso al exámen del material que se me ha confiado. (1) AMEGHINO, F. Contribucion al conocimiento de los mamiferos füsiles de la Republica Argentina, pp. 982 4 989, a. 1889. ae ha Ord. UNGULATA Subord. Artiodactila Fam. Cervidae Gen. Mazama Raf. ? Mazama sp.? Considero como perteneciente probablemente á este género un maxilar superior derecho de un ciervo muy pequeno. La determinacion no puede ser mas precisa, pues se trata de un individuo muy jóven con las mue- las caedizas 2, 3 y 4 de la primera denticion. Además, la corona de las muelas está cubiurta por una incrus- tacion estalagmitica muy dura que oculta al examen los caracteres de la dentadura. El estado de conservacion es el de semifósil, pues ápesar de las incrustaciones el hueso es muy liviano y poco alterado. Es casi seguro que se trata de una de las especies existentes, probablemente el Mazama nemo- rivaga (Cuv.) con el cual concuerda en tamaño. Fam. Suidæ ‘Incluyo en la familia de los Suidæ los pecaris 6 suideos americanos, pues segun mi criterio no les en- cuentro caracteres suficientemente importantes para cons- tituir con ellos una familia distinta. Gen. Tagassus Frisch Tagassus albirostris (Il). Es el animal conocido hasta estos últimos años con el nombre de Dicotyles labiatus Cuv. De las in- vestigaciones bibliográficas y sinonimicas recientes re- sulta que ambos nombres deben desaparecer ante otros que tienen prioridad. El nombre genérico mas antiguo Bae) An es el de Tagassu Frisch 1775 (1), voz bárbara 4 la que es necesario darle desinencia latina por cuya razon escribo Tagassus. El tipo del género es el Sus tajacu de Lineo-—Dicotyles torquatus de Cuvier. La especie un poco mas grande conocida hasta ahora con el nombre de Dicotyles labiatus, ha sido considerada por varios autores como genericamente dis- tinta de la precedente, sirviendo a ©. Hart Merriam de tipo para el nuevo género Olidosus (2). Por mi parte no encuentro que las deferencias sean suficientemente acentuadas para una distincion genérica, asi que las in- cluyo ambas en el género Tagassus. En la coleccion que examino esta especie está re- presentada por ambas ramas mandibulares, varios trozos del craneo y algunos huesos del esqueleto, al parecer de un mismo individuo. Se trata de un animal que era todavia muy joven, pues los huesos largos han perdido las epifisis. Las ramas mandibulares han perdido los dientes pero se conservan los alvéolos de las tres muelas caedizas. Estos huesos, aunque de aspecto algo antiguo, no son fósiles. : Ord. RODENTIA Fam. Cricetida Gen. Acopon Meven Acodon angustidens (Winge) Hay en la coleccion la mitad anterior de un cra- neo con el paladar completo, los dos incisivos, la pri- mera muela del lado izquierdo y los alvéolos de las demas muelas. (1) FriscH, Das Natur—System vierfiis. Thiere, in Tabellen, 3, ab Gen: 1775. (2) Proceed. Biol. Soc, Washington, 1901, p. 120. 64 Orizomys eliura Wagn. Esta especie já foi obtida no Estado de S. Paulo por Natterer € tambem o Museu Paulista a obteve de varias localidades do mesmo Es- tado. A. da R. Fam. OCTODONTIDZE Gen. Dicorpomys Winge Dicolpomys fossor Winge Este género y especie fueron fundados por Winge (1) sobre ramas mandibulares inferiores recogidas por Lund en las cavernas de Lagoa Santa, sin que hasta ahora se hubieran encontrado otros restos. Es un animal de talla muy reducida, del tamaño de un pequeño ratoncito. Por los caracteres de la denta- dura inferior aparece como una forma mas primitiva que los representantes del grupo de los Octodontinæ (Octodon, Ctenomys, etc.). La primera muela inferior es mas grande que las siguientes y mas complicada, presentando una escota- “dura externa y dos internas. Las dos muelas interme- diarias son algo mas pequeñas que la anterior y ambas de igual tamafio; la corona es mas simple mostrando un solo surco interno opuesto al externo. La ultima muela es mucho mas pequeña, con la corona posterior atrofiada ó rudimentaria. Estas muelas difieren de las de Ctenomys y demas géneros del mismo grupo por presentar raices distintas y obliteradas aunque muy cortas. Tanto por la dispo- sicion de la corona como por la de las raices, mues- tran un mayor parecido con las de los géneros fósiles de Monte-Hermoso, Phtoramys, Plataeomys y sobre todo Humysops. Para que pueda juzgarse del valor de estos cara- cteres y de las referencias que haré á continuacion, creo útil reproducir la figura de la rama mandibular y de la dentadura inferior” (fig. 1) segun el debujo de Winge. (1) Ww INGE, HERLUF, 1. €. pp. 99— 101, pl. VIII, fig. 10, a. 1887. 65 — En la coleccion de que me ocupo, hay la mitad Fig. 1. Jossor Winge, a, rama mundibular derecha, vista de arriba, en ta- maño natural, mostran- do los alvéolos de las Dicolpomys muelas; e, las muelas inferiores 4 47 del lado derecho, vistas de ar- riba, aumentadas 2/1 del anterior de un cráneo de un individuo completamente adulto, pieza que no me ha sido posible identificar con la cor- respondiente de ninguno de los géneros existentes que me son conocidos y me parece probable sea de Dicolpomys en cuyo género la coloco. Sin embargo esta referencia debe considerarse como provi- soria hasta que nuevos materiales ú otras investigaciones la confimen 6 la desau- toricen. Si esta referencia fuera exacta, el Dicolpomys si ya no existe, habria vi- tamaño natural, segun Winge. Cavernas de Lagoa Santa. vido hasta una época muy reciente, pues el trozo de cráneo de que me ocu- po es de aspecto relativamente muy fresco. La parte del crâneo que se ha conservado repre- sentada en la figura 2, consta del paladar con ambos maxilares perfectos, los frontales imperfectos y los in- termaxilares casi perfectos. De la dentadura se conservan ambos incisivos, la primera muela de cada lado y los alveolos de las tres siguientes. Esta parte del cráneo, en sus proporcio- nes generales y relativas se parece mucho á la correspondiente del Ctenomys, particular- mente por la region palatina de la barra que es corta y ancha. En esta region la principal diferencia consiste en la perforacion incisiva que en Ctenomys es muy pequeña y mas 6 menos tan larga como ancha, mientras que en Dicolpomys es proporcionalmente mas gran- de y mas prolongada en sentido antero-poste- rior, siendo asi bastante mas larga que ancha. Ademas en Ctnomys la perforacion es angosta Fig. 2. ?Di- colpomys fossor Winge. Mitad anterior del crá- neo, vista de bajo, en tamaño natural, Caver- nas de Iporan- ga; San Pablo, ER EU adelante v ancha atras, mientras que ea Dicolpomys el mayor ancho se encuentra hacia el medio. En la con- formacion de esta doble perforacion, Dicolpomys se aleja del grupo de los Ctenomys para aproximarse de los Hehinomiyne. En Dicolpomys la region interdentaria del paladar se distingue por la escotadura de la apertura nasal pos- terior que es mas acha que en Ctenomys y penetra mas adelante Ilegando hasta en frente del borde anterior de la tercera muela. Los incisivos difieren completamente de los de Ctenomys; son considerablemente mas angostos, de cara anterior fuertemente convexa y de mayor diametro an- tero—posterior que transversal; tienen 1 mm. de diametro transverso y 1,5 mm. de diametro antero-posterior. El esmalte está coloreado de amarillo claro. El mayor parecido de estos dientes es con los del género Cavia. Dije mas arriba que solo existia la primera muela de cada lado, es decir la cuarta de la serie completa y la última difiodonte. La muela en funcion es la de reemplazamiento, y como presenta la corona ya bastante gastada, es claro que no solo se trata de un individuo adulto, sino que hasta puede considerarse como viejo. Esto se confirma tambien por la sutura maxilo-palatina que ya no es visible. Esta muela en realidad no se parece á la de los Octodontine pero si á la de los Echinomyine. Es de corona relativamente larga y de raices muy cortas y obliteradas. Las raices son en número de 3 una interna muy grande y bastante larga y dos externas muy cortas y sumamente pequeñas. La corona (fig. 3) consta de dos lóbulos muy desiguales, el anterior en forma de lamina transversal delgada y arqueda con la convexidad hacia adelante, y el segundo en forma de prisma triangular ó acorazonado, muy angosto al lado interno y muy ancho sobre el externo; ambos lóbulos están separados al lado interno por una hendidura profunda que se enangosta y desaparece gradualmente hacia. la raiz, mientras que sobre el lado 1» — externo aparecen reunidos por la lamina Fig. 8? Dicolporys externa de esmalte; en las muelas un poco fossor Winge. Muela . 4 de reemplazamiento Menos gastadas el lóbulo anterior debe del lado izquierdo, vista de abajo por la presentarse separado del posterior tambien superficie de tritura- cion dela corona, au- sobre el lado externo. mario natural. La superficie masticatoria del lóbulo anterior es simple y regular. En el lóbulo posterior la superficie de masticacion aparece al contrario complicada por tres pliegues de esmalte; el pliego anterior está todavia abierto sobre el lado externo afectando la forma de un surco entrante angosto y profundo; el pliegue mediano es de tamaño mucho mayor, mas largo y mas ancho, pero se enangosta un poco en el medio y se encuentra ya completamente aislado del borde externo; el pliegue posterior es muy pequeño, y en forma de un pozo elliptico tapizado de esmalte y completamente aislado. Esta muela, vista por el lado externo presenta la forma de una columna un poco convexa; vista por el lado interno aparece formada por dos columnas que se fusionan antes de alcanzar el cuello de la muela. La cara interna se enangosta rapidamente de la cúspide hacia la base. Lad corona en su superficie de mastica- cion mide un poco mas de 2 mm. de diametro antero- posterior. La muelas 5 y 6 4 juzgar por los alveolos parece que tenian el mismo tamaño que la muela 4, con las raices conformadas del mismo modo, pero es probable que la corona fuera algo mas simple. El alveolo de la muela 7 6 última es muy pequeño y aun no completamente abierto, demostrando que esta J O rome muela era rudimentaria y que entraba en funcion cuando el animal habia alcanzado una edad regularmente avan- zada. La region interdentaria del paladar es completa- mente plana, teniendo entre las dos primeras muelas (m. 4 v m. 5) 2,5 mm. de ancho, pero hacia atrás de la muela 5 ambas series dentarias se vuelven un poco divergentes. Esta pieza coincide con la mandibula de Dicol- pomys figurada por Winge: 1.º, en el tamaño; 2º, en la forma, tamaño y disposicion de los incisivos; 3.º, en la disposicion de las raices de las muelas; 4°, en el tamaño igual de las muelas intermediarias; 5.º, en el estado rudimentario de la última muela y su aparicion tardia. Por todas estas razones la refiero al mismo animal. | Por la forma y disposicion de los incisivos, la forma radiculada de las muelas, la forma y disposicion de las raices, y la complicacion de la primera muela (m. 4) tanto superior como inferior, creo que se trata de un representante de la subfamilia de los Æchinomyinæ que se encontraba en la via de la simplificacion de las muelas, y no de un Octodontine. Gen. KANNABATEOMYS Jentink 1891 Kannabateomys amblyonyx (Wagner) Una rama mandibular izquierda con las tres pri- meras muelas intactas es referible 4 esta especie. No presenta absclutamente diferencias con la parte corres- pondiente de los ejemplares vivientes. La especie fué encontrada fósil por Lund en las cavernas de Lagoa Santa y descripta por Winge (1), pero el estado del (1) Dactylomys amblyonyx WINGE, 1. c. p. 70, Pl. VII, figs. 10 y II, a. 1888. à — 69 — presente ejemplar es muy fresco y no puede considerarse como fosil, Gen. Prorcumys Allen 1899 Proechimys fuliginosa (Wagn.) Restos fosiles de P. cayennensis fueron descubiertos por Lund v mencionados por Winge (1). En la pre- sente coleccion se encuentra representada por varios restos la especie aliada P. fuliginosa. Un cráneo casi completo, con los incisivos, las cuatro muelas del lado derecho y la primera y última del lado izquierdo. Su estado de conservacion es relati- vamente fresco y no presenta diferencias con el cráneo y la dentadura de los individuos actuales. Dos cráneos muy. incrustados y evidentemente en estado fósil. Tampoco presentan diferencias con el crá- neo de los individuos actuales. Una rama mandibular, en estado f6sil, de un indi- viduo muy viejo con el incisivo y dos muelas fragmen- tadas. Es en un todo identica á la parte correspon- diente de los individuos actuales. Gen. Ecuimys Desm. 1817 Echimys spinosa (Desm.) Está representada por dos ramas mandibulares, una derecha y la otra izquierda, ambas con las tres primeras muelas. No hay diferencias con la parte correspondiente de los individuos actuales. Por otra parte, el estado de conservacion de estos restos indica claramente que son de época reciente. Winge (2) menciona restos fosiles de esta especie encontrados por Lund en las cavernas de Lagoa Santa. (1) Æchinomys cayennensis WINGE, 1. c. p. 71, Pl. VIII, fig. 1. (2) Mesomys spinosus WINGE. 1. c. p. 72, pl. VIII, figs. 5 y 6. — (0 Fam. Leporidae Gen. SYLVILAGUS Gray 1867 Sylvilaqus minensis Thos. Un trozo de la parte posterior de la rama man- dibular derecha con las últimas dos muelas, pertenece 4 una especie de liebre del género Sylvilagus. La pieza es fósil, pero desgraciadamente encuentrase en bastante mal estado y con fuertes incrustaciones estalagmiticas que impiden un examen perfecto. Sin enbargo, tanto por el tamaño como por la forma parece corresponder al Sylvilagus minensis actual (1). Restos fósiles pertencientes á esta especie y proce- dentes de las cavernas de Lagoa Santa, ya han sido mencionados por Lund, Waterhouse, Lydekker y Winge quienes hacen observar que solo se distinguen de los que proceden de individuos actuales por una talla un poco mayor. Ord. SARCOBORA Subord. Pedimana Fam. Didelphüdæ Gen. CHIRONECTES Ill. 1811 Chironectes minimus (Zimm.) Un trozo de rama mandibular izquierda, con el canino y las dos primeras muelas y los alvéolos de la mayor parte de los otros dientes, parece que debe refe- rirse á esta especie. La pieza es muy incompleta para una determinacion absolutamente exacta, pero el pequeno desarrollo del incisivo, la forma, disposicion y tamaño de las dos primeras muelas concuerdan exactamente con las (1) Esta es la unica especie hasta ahora encontrada nel Est. de S. Paulo. WV. de la Red. Ns phic. mismas partes de Chironectes minimus. El estado de la pieza es de subfósil. | La especie no habita hoy en esa region, de modo que su hallazgo en estado subfósil, si se confirma es un becho verdaderamente notable. Subord. Carnivora Fam. Felidæ Gen. Feuts L. Felis aff. onssa L. Hay en la coleccion algunos restos de un Felis de talla considerable. Las piezas mas importantes son: la parte proximal y la parte distal de un femur, la parte proximal de un cubito, la parte distal de un radio, un trozo de húmero, dos metacarpianos incompletos, y algunos otros fragmentos. Todos estos restos proceden de un mismo individuo y se conoce que debia encon- trarse el esqueleto completo, pues la fragmentacion de los huesos se ha producido al extraerlos. | Los trozos conservados son insuficientes para una determinacion especifica exacta, pero evidentemente indi- can un animal que si no es especificamentes idéntico, es por lo menos muy cercano del Felis onssa actual. El estado que presentan esos huesos es el de ver- daderos fósiles. Ord. CHIROPTERA Fam. Phyllostomidæ Gen. CHROTOPTERUS Peters 1865 Chrotopterus auritus Peters Un cráneo casi entero y con la mayor parte de la dentadura, en estado subfôsil, no difiere absoluta- mente en nada del cráneo de los individuos actuales de la misma especie. Ord. EDENTATA Subord. Glyptodontia Este grupo que fué tan numeroso en las épocas pasadas y tambien en el periodo durante el cual se rellenaron las cavernas, en la presente coleccion está representado por una sola placa. Esta pieza indica un animal comparable por la talla á un gran Sclerocalyptus, pero las incrustacicnes que cubren precisamente la su- perficie externa que es la que lleva los adornos, no per- miten determinar el género y ni aun la familia á que pueda referirse. Subord. DASYPODA Fam. Dasypidae Gen. Capassus MeMurtrie 1831 Es el género que no hace mucho era universal- mente conoscido con el nombre de Xenurus Wagler 1830, nombre que por estar preoccupado en 1891 lo sustitui por el de ZLysiurus. De las investigaciones practicadas por Palmer re- sulta que hay otro nombre cientifico anterior aplicado al mismo género; es este el de Cabassous McMurtrie 1831. Sin embargo es evidente que de aceptar este nombre e que modificar su ortografia por dos razones decisivas. 1.º Cabassous es el nombre vulgar «Kabas- sou» de Sa y «Cabassou» de Cuvier, Eni por MeMurtrie en Cabassous. El nombre es de origen gua- rani «Cabasi» que los autores francezes escribieron «Cabassou» en razon del sonido w que tienen que re- presentarlo con las letras ou; escrito directamente se- gun la fonética latina hubiera resultado «Cabasá ». 2º Los nombres franceses latinizados, que tienen el sonido frances ou, en la forma latina se representa con la letra u. Por estas razones el nombre debe escribirse Cabassus y no Cabassous. (*) Cabassus antiquus (Land) Restos fósiles de este género fueron encontrados por Lund en las cavernas de Lagoa Santa quien los ha designado bajos los nombres sucesivos de Xenurus antiquus, Xenurus fossilis y Xenurus aff. nudicaudus. Esos restos se reducian á pequeños trozos de coraza. En la coleccion que examino hay un húmero casi perfecto de especie extinguida de este género que refiero á la que ha nombrado Lund, Este hueso (fig. 4) es notablemente mas grande que en la especie típica actual (Ca- bassus unicinctns (L.) siendo un centimetro mas largo. La articulacion distal es absoluta- mente de la misma forma que en la especie actual, faltandole igualmente la depresion vertical de la parte externa del condilo, tan caracteristica de los Arma- dillos con la sola excepcion de Cabassus y Priodontes, aunque «en este ultimo género hay de ella un principio. Entre el bor- de inferior interno de la epitro- clea y la troclea hay una esco- tadura ancha y profunda; esta es- ROM o cute Ra) cotadura es poco acentuada en el Húmero izquierdo, visto de adelante humero de la especie actual. La en tamano natural. Cavernas de Ipo- ranga. cresta deltoides en su parte in- (*) Ainda que não haja necessidade absoluta em se proceder á correcção acima indicada, comtudo podemos fazel-a, pois que a tal o Art. 19 das Re- RR MN ferior es mas proeminente y el cuerpo del hueso en su mitad proximal se distingue por un fuerte aplastamiento en sentido antero-posterior. Subord. GRAVIGRADA Fam. Megalonychidae Gen. NOTHROTHERIUM Lyd. Bibioanaka y resena historica 1836 «Un Megatherium del tamaño de un Tapir. Lunp pv. w. Om Huler.i kalkrsteen, 1 det indre af Brasilien, der Tildeels indeholde fossile knokler, pag. 28, 34-36, PL IL figs: 1, 2 y 3, y en Kgl. Danske Vidensk. Selsk. naturv. og mathem. Afhandl. 6 deel. 1837, pp. CXII y 240-242. 1839 Celodon maquinense, Lunp P. W. Bhk paa Brasiliens Dyreverden for sidste jórdomvelt- ning. Anden -Afhandling: Pattedyrene. pp. 12, gras internacionaes de Nomenclatura Zoolegica, 1905, nos auctorizam (faute de transcription, d’orthographie ou d’impression). Pouco acima fizemos uma modificação na graphia original do nosso illustre collaborador e,collega, modificando a graphia de Æ. onça em onssa. Ainda que segundo as Regras citadas nos fosse permittido conservar na nomen- clatura zoologica o ¢, que a lingua latina desconhece (no Art. 20 este caso foi esquecido, mas baseamo-nos na analogia de Jbañezia, farGensis, Stälia, etc.) comtudo cedemos ao clamor geral que se levanta contra o ç barbaro. Nunca, porém, podemos admittir que o ¢ seja substituido por um simples c; deve substituil-o seu equivalente phonetico, que no caso de 7. onça seria onssa. Veja-se a tal respeito o artigo do Dr. H. von Ihering: «Eine notwendige No- menclaturregel mit Rücksicht auf brasilianische Eigennamen. «Zoologischer Anzeiger», Vol. XXVII, N. 24-25, 1905, p. 785-787». Pelo nosso modo de pensar estariamos francamente pela conservação absoluta do ¢, pois teriamos a defeza das Regras internacionaes, que todos devemos respeitar em absoluto. Cedendo, porém, e consentindo na substitui- ção do 4, então é só segundo o modo indicado no artigo acima citado que a podemos admittir. N. da R. 1840 1842 1845 1855 Veer e 25, y 75; id Comp-d'oeil sus les espèces étein- tes de Mammifères du Brésil en Annal Scienc. Nat. ser. 2, vol. XI, p. 220. a. 1839--deu Kol. D. Vad. Selsk. ete. 1841, p. 72. Cœlodon maquinense Lund, Dr. Blick paa Bras. ete. Tredie Afhandling: Fortsaettelse af Pat- tedyrene, pp. 14, 17 y 48.—id en Klg. D. Vid. Selsk, ete. 1841, p. 233. Colodon maquinensis Lunp Dr. P. W. Blk paa Bras. ete. Merde Afhandling: Fortsaet- telse af Pattedyrene, p. 35, y 61, y en Kol. D.- Vid. Selsk ete. p. FCI, 1842. Colodon Kaupw Lunn P. W. 1. cp. 61. Megalonyx maquinensis Lunp Dr. Fortsatte bemaerkninger over Brasiliens udddõe Dyrs- kabning pp. 7? y 11, y en Kgl. D. Vid. ete. per: Megalonyx Kaupii Lunp Dr. |. e pp. 7 y 11. Coelodon Owen Ricuarp. Description of the skeleton of an gigantie Sloth, Mylodon robus- tus, etc. pp. 13-14, y 170, a. 1842. Cœlodon maquinense Lunp P. W. Meddelelse af udbytte de à 1844 undersôgte knoglehuler have afgivet til kundskaben om Brasiliens Dyreverden fôr sidste jordomvaeltning;; i et brev. pp. 16 y 22, y en Kol. D. Vid. ete. 1846 p. 78. Celodon maqwinense Prerer F. J. Traité de Paléontologie, A. I. p. 272. Celodon kaupr Picter F. J. Le p. 272. Cœlodon maquinense Gervais P. Recherches sur les Mammifères fossiles de l'Amerique Me- ridionale, pp. 45 y 56. Colodon kaupii Gervais P. |. e p. 56. 1867-69 Cœlodon maquinense Gervais P. Zoologie et Paléontologie génerales. p. 253. 1879 1880 1885 1886 1886 Colodon maquinensis Lrats, Climat, faune, etc. du Brésil; p. 383. Ceelodon maquinense Gervais P. Mémoire sur plusieurs espéces de Mammifères fossiles pro- pres à l'Amérique Meridionale, p. 23. Cœlodon escrivanensis REINHARDT J. Kaempe- dovendyr -Slaegten Celodon. en Vidensk. Selsk. Skr. naturvidenskabelig og mathematis 1 Afd. XII, 3. pp. 256 4 349, con 5 laminas. Celodon BurmeistER H. Description physique de la Rep. Arg. t WI pp. 325 y 387: Ceiodon maquinensis H. Gervais et AMEGHI- NO, Les Mammifères fossiles de UV Amérique Méridionale, pp. 140—141. Crelodon escrivanensis H. GERvAIS et AMEGHI- NO, 1. e. pp. 140—141. Cœlodon kaupi H. Gervais et AMEGHINO, 1. ec. pp. 142-- 145. Cœlodon BurmetstER H. Berichtigung zu Cælo- don, en Sitzungsberichte der koniglich Preus- sichen Akademie der Wissenschaften zu Berlin pp. 567 á 573, con una lamina. Colodon Burmeister H. Weitere Bemerkung- en über Celodon, en Sitzung. Kgl. Pr. Ak. etc. pp. 357—358. Coelodon, AMEGHINO F. Oracanthus und Coe- lodon, verschiedene Gattungen einer und der- selben Familie, en Sitzungsb. Kgl. Preuss. Ak. etc. zu Berlin pp. 463-- 166. Coelodon AmEauino F. Oracanthus y Coe- lodon, géneros distintos de una misma familia, en Bol. Acad. Nae. de Cienc. en Córdoba, t. VIII, pp. 394— 398. Coelodon LurtKen Dr. Cur. Antikritiske Bemaerkninger à Anledning af Kaempe— Do- vendyr— Sloegten Coelodon, en Kng. Dk. Vi- 1886 188% 1887 1889 1891 1895 1896 densk Selsk. Forhandl. pp. 78 4 84— id Remarques anticritiques à l’occasion du genre Mégatheriyide Coelodon. pp. XV á XX. Coelodon BurmetstER H. Nochmalige Be- richtigung zu Coelodon, en Sitzungsb. Kngl. Preuss. Ak, dv Wiss. gu Berlin. pp. -1127 à DARI: Celodon BuRMEISTER Atlas de la description See de la Republique Argentine. Dritte Abhandldung. Osteologie der Gravigraden oder Riesen-Faultiere, p. 95. Colodon tarijensis BurmEISTER H. Neue Beo- bachtungen an Coelodon, en Sitzungtsber. ete. pp. 857 4 862, figs. 1 y 2. Coelodon maquinensis LYDEKKER R. Catalogue of Fossil Mammalia in the British Museum, aris Vo poda: Coelodon (escrivanensis, maquinensis, Kaupi) AMEGHINO FP. Contribucion al conocimiento de los mamiferos fósdes de la Republica Argen- tino, p. 629 á 1889. Coelodon tarijensis AMEGHINO F. |. c. p. 629, pl. TROVE ties Ss a 41880; oi rien LypekKer, en Nicholson and Lydekker, Manual of Palwontology, vol. II, p. 129, a. 1889. Hypocælus AMEGHINO F. Mamiferos y aves fósiles argentinas — Especves nuevas, adiciones y correciones, en Revista Argentina de His- torva. Natural, top 250, a 1891. Nothrotherium, Zirrez C. A. Handbuch der Palacontologie. Palaeozoologie, Band IV, p. 133. Nothrotherium LYDDEKKER R. The extinct Eden- tates of Argentina, p. 93, a. 1895. Nothrotherium LYDEKKER R. Geographical his- tory of Mammals. p. 107. 1898 Nothrotherium AMEGHINO F. Sinopsis geologico- paleontologica, en Segundo Senso Nacional, ev DE SI Shey 1903 Nothrotherium Scorr WiLLiam B. Reports of the Princeton University Expeditions to Pata- gonia. Vol. V, Mammalia of the Santa Cruz Beds p. 162 y passim. 1904 Nothrotherium AmeGcutno F. Paleontologia Ar- gentina, p. 30. La pieza mas importante de esta colecion és un craneo incompleto pero con parte de la dentadura, procedente de un individuo completamente adulto del género Nothrothervum. Acompaña al craneo el atlas y una de las primeras vertebras dorsales, probablemente del mismo individuo. El único cráneo casi completo que hasta ahora se conocia es de un individuo bastante jóven. El primer cráneo de adulto de este genero que hasta hora se haya encontrado, es el que motiva estas lineas, asi que su examen ofrece cierto interés. A causa de esto mismo, creo util completar los datos bibliographicos que pre- ceden, con una muy breve reseña historica. Los primeros restos de este género fueron encon- trados por el Dr. P. W. Lund, el año 1835, precisa- mente al empezar sus investigaciones en las cavernas de Lagoa Santa. Esos restos consistian en un femur y una muela con la corona intacta, piezas que fueron atribui- das á un representante del género Megalherium, cuya talla no debia sobrepasar la de un tapir. Corto tiempo despues reconoció que se trataba de un género distinto, al que dió el nombre de Cælodon, llamando la especie €. maginense, nombre que en 1842 corrige en C. maqui- nensis, agregando una segunda especie, el C. Æaupi Desgraciadamente el Dr. Lund ignoraba que el nombre de Colodon ja habia sido empleado para distinguir un género de Coleopteros. OR a ee En los trabajos que precedieron esta última pu- blicacion, Lund recogió huesos de varios otros edentados de distintos géneros. atribuyendo algunos de ellos al género Norte-americano Megalonyx. En 1842, en la misma comunicacion en que agrega el Colodon kaupi menciona cuatro especies de Megalonyx, 4 saber J. cuviert, bucklandi, gracilis y minutus. A fines del mismo afio, reconocié que esos animales eran de un género muy distinto, de Megalonyx, y creó con ellos el nuevo género Platyonyx (1) que es cercano de Scelidotherium. Sin embargo al corregir un error, cayó en otro: creyó que el verdadero género Megalonyx estaba representado por las especies que habia colocado en el género Colodon, y las vemos figurar en sus ul- timos trabajos con los nombres de Megalonyx maqui- nensis y Megalonyx kaupii. En su ultima publicacion aparecida en 1845, ha- biendo encontrado en la caverna Lapa de Escrivania, un esqueleto casi completo aunque de un individuo jéven, reconoce su error y restabelece el género Cælodon, re- presentado por una sola especie, el Colodon maquinen- sis, en la cual refundo el O. kawpii, desgraciadamente sin entrar en detalles sobre la conformacion osteológica. Todo el conjunto de la coleccion Lund incluso los restos de Colodon, fué enviado al Museo de la Uni- versidad de Copenhague en donde permaneció varios anos sin que nadie se ocupara de él. En 1868, el Profesor Pablo Gervais hizo una vi- sita á Copenhague, tomando sobre esos fosiles algunas notas ligeras que publicé en su Zoologie et Paleónto- logie Générales. En 1878, Reinhardt da por primera vez una des- cripcion completa é ilustrada del género Cælodon segun (1) Nombre igualmente empreado con anterioridad y reemplazado por el de Catonyx Ameghino 1891. ESA) 7 e) esqueleto de individuo jóven encontrado por Lund en la caverna de Escrivania, considerandolo como per- teneciente á una nueva especie que llama (. escri- vanensis. En 1886, Burmeister identifica el género. edentado Neoracanthus (Oracanthus antea) con Celodon, del cual representaria el estado adulto, suponiendo el indi- viduo descripto por Reinhardt como muy jéven y de tamaño muy inferior al que debia alcanzar cuando. adulto. Esta identificacion fué combatida por mi y por Lutken, reconociendo luego Burmeister que realmente - Neoracanthus y Celodon eran géneros distintos. Como el nombre de Coelodon habia sido empleado con anterioridad 4 Lund para distinguir otro género del reino animal, Lydekker en 1889 reemplazó ese nombre por el de Nothrotherium. En 1891, fundado en la misma causa propuse reemplazar el nombre de Cæœlodon por Æypocoelus, ignorando que Lydekker le hubiera dado un nuevo nombre. Conformacion general del cráneo No voy a repetir la descripcion detallada que ha dado Reinhardt á la que muy poco tendria que agregar. Lo que me propongo es solo dilucidar varias cuestionss, referentes principalmente á la dentadura, que no podian resolverse de un modo definitivo con el examen del individuo jóven. Tratase tambien de las relaciones del genero, que hoy, gracias á los grandes materiales re- unidos procedentes de animales de la misma familia, pueden determinarse de una manera mas precisa. Reinhardt ha dado excelentes figuras del cráneo casi completo del individuo jóven arriba mencionado, visto de lado y de abajo. A continuacion doy el dibujo del cráneo del individuo adulto vista de arriba y de lado (figs. 5 y 6). 7 ÉCART ME El cráneo descripto por Reinhardt, seguen la fi- gura, que lo representa á los dos tercios del na- tural, tiene um poco mas de 21 ctm. de largo. A ese cráneo, en el dibujo le faltan los intermaxi- lares que estan sueltos, y como estos tienen un poco mas de tres centi- metros de largo, resulta que el largo del cráneo completo debia ser apro- ximadamente de unos 25 ctm. Segun Reinhardt, el individuo en cuestion, aunque joven, no lo era tanto, que de haber se- guido su ulterior desar- rollo hubiera podido cam- biar mucho de forma ni aumentar considerable- mente de tamaño; crée que la talla del adulto debia ser comparable á la del oso hormiguero (Myrmecophaga jubata). A pezar de esta affir- macion en perfecta con- cordancia con lo que an- teriormente habia dicho Fig. 5—Nothrotherium maquinense (Lund) Lyd. ralar cs sen EE oo omite homo O A neralidad de los natura- listas continuaron en la creencia de que el individuo joven descripto por Reinhardt no habia alcanzado las dos terceras pertes de la talla del adulto. Esto fué de- ish <1 a fendido sobre todo por Burmeister, pero ya antes Ger- vais habia dicho que esos restos indicaban un edentado que adulto debia alcanzar la talla de un Mylodon. Ahora bien: el craneo de Nothrotherium adulto de que me ocupo, que por razones que expondré mas adelante lo considero como de la misma especie, prueba que Reinhardt tenia razon. El mencionado craneo en su condicion actual tiene apenas un poco mas de 24 ctm. de largo, y aunque los nasales están un poco rotos adelante, se conoce que la parte que les falta no al- canzaba á medio centimetro. Suponiendo que los inter- maxilares se prolongaran unos tres centimetros adelante de los nasales, el largo total del cráneo no alcanzaba á 28 ctm. es decir solo unos tres ó cuatro centimetros de mas que el del individuo joven de la caverna de Escrivania. La série dentaria del individuo adulto ocupa un espacio longitudinal que solo excede de unos tres 6 cuatro milimetros al del individuo joven. En cuanto al ancho del cráneo parece que no ha habido aumentacion. Tampoco observo ningun cambio notable en la for- ma, con escepcion de la parte superior del craneo cor- respondiente á la caja cerebral, que es proporcionalmente algo mas alta y mas abovedada en el individuo jóven. Es sabido que este mayor abovedamiento de la caja cerebral es frecuente en los individuos jóvenes de la generalidad de los mamiferos. Sin embargo, la con- vexidad de la region parietal es bastante mas pronun- ciada que no lo indica la figura publicada por Reinhardt. La parte inferior 6 base del cráneo está demasiado destruida por cuya razon no doy la vistade ella, pero si de las partes conservadas de mayor importancia. En esta parte basal del cráneo, el caracter mas notable que muestra la figura publicada por Reinhardt, es un enanchamiento enorme de los pterigoideos que se encuentran transformados en dos grandes cavidades 6 cajas aereas de forma oblonga 6 vesicular; el tamaño de ARO pe estas cajas es tan considerable que solo estan separadas una de otra por un espacio de apenas 5 mm. de ancho. Esta conformacion es muy notable, pues no se encuentra en ninguno de los demas gravigrados hasta ahora conocidos, pero suele pre- sentarse en los mirmecofagos, en algunos bradipodos y especial- mente en el genero Cholæpus, aun que las cajas en cuestion nunca adquieren el gran desar- rollo que presentan en Nothro- thervum. En el craneo de individuo adulto de que me ocupo, las dos cajas pterigoideas, estan des- truidas, pero se conserva una pequeña parte interna superior de la del lado izquierdo, y todo el fondo superior y parte del tabique externo de la del lado derecho (fig. 7). El tamaño de estas cavidades era todavia mayor que en el ejemplar joven descripto por Reinhardt; habian alcanzado 4 ponerse en contacto sobre la linea mediana, fusionändose las dos paredes en una sola lâmina ósea que en forma de tabique separa ambas cajas; en su mi- tad posterior este tabique no Fig. 6— Wothrotherium maquinen- se Lund (Lyd.) Cráneo, visto de lado, reducido 4 4% del tamaño natural. Ca- vernas de Iporanga. tiene mas de um milimetro de grueso. De la cavi- dad del lado derecho puede seguirse todo el contorno; es angosta adelante y se enancha gradualmente hacia 6 atrás, afectando la forma de una pera; mide 51 mm. de diámetro antero-posterior y 33 mm. de diámetro transverso en su parte posterior. Este gran desarrollo de las cajas pterigoideas en el individuo adulto, pruebar que las mencionadas cavidades aumentan de tamaño con la edad, tal como sucede en 4 — CE LHE + + 2 DEC SW 4 OPEN SES 5 Fig. 7.— Nolhrotherium maquinense (Lund) Lyd. Mitad pos- terior del craneo, vista de abajo, mostrando el interior de la cavidad pterigoidea del lado derecho, reducida 4 % del tamaño natural. Las lineas em cruz indican la extension de la cavidad en sus dos diametros, longitudinai y transverso ; t, tabique 6seo que separaba las dos cavidades. el género actual Cholæpus. Ger- vais en sus no- tas sobre este género cometió el grave error de tomar estas cavidades aereas de los pterigoi- deos por las ca- jas auditivas del timpano. Al cráneo des- cripto por Rein- hardt le faltba a el timpánico. En el ejemplar ac- tual se encon- traba presente sobre el lado de- recho, pero como toda esta region del cráneo esta- ba cubierta por una incrustacion calcarea muv dura, al limpiarlo fué en parte destruido. Sin embargo, las pequeñas partes que quedan muestran que: era un hueso completamente suelto en forma de un anillo óseo muy delgado é incompleto ú abierto en su parte superior. Aunque no conozco nada de la mandíbula, el exa- > — 85 — _ t men que tuve que praticar del actual ejemplar compa- rado son el descripto por Reinhardt, me permite juzgar sobre otra cuestion que se ha levantado á proposito de la extension que tenia hacia adelante la sínfisis mandi- bular. En este último ejemplar la parte anterior de la sinfisis está rota. Reinhardt supone que es casi entera, que solo le faltan algunos milímetros, y que por con- siguiente la sinfisis era muy corta. Burmeister al con- trario, afirmó que la parte perdida por la rotura debia ser de algunos centimetros. Liitken sostuvo en contra de Burmeister la misma opinion de Reinhardt, de que solo faltaban á la sínfisis unos pocos milimetros. Creo que Burmeister tenia razón. El craneo con la mandibula articulada en su posicion natural muestra que el borde anterior de esta constituido por la rotura, llega precisamente al mismo nivel del borde anterior de los maxilares. Adeante de estas venian los intermaxilares que faltan en el cráneo y que hemos visto tenian mas de 3 ctm. de largo. Como en todos los gravigrados. que me son conocidos, la punta anterior de la sínfisis man-. dibular se extiende hasta la punta anterior de los inter- maxilares, y como no hay razon alguna para que no suceda lo mismo en Nothrotherium, tenemos que á la mandibula del individuo*deseripto por Reinhardt, le falta adelante mas de tres centimetros perdidos por la rotura. DENTADURA La dentadura del género Nothrotherium ha sido objeto de muchas controversias. Lund al estabelecer el género ya indicó que se caracterizaba por la presencia de solo cuatro muelas superiores y tres inferiores. Gervais, en las notas que publicó sobre este género constata que efectivamente el número de muelas era de ‘/3, pero agrega que debia tenerse en cuenta que se trata de un individuo jóven en el cual se observa debajo de la primera muela un gérmen de una muela de re- emplazamiento. La existencia de una segunda denticion que hasta entonces non habia sido constatada sobre ningun eden- tado gravigrado, era sin duda un hecho de capital im- portancia, pero Reinhardt demostró que se trataba de un error de observación. Por una rotura accidental de la rama mandibular izquierda debajo de la corona de la primera muela, se ve la pared de un diente que es el que tomó Gervais por una muela de reemplazamiento, pero limpiando la rotura y enanchándola, se aseguró de que el pretendido germen era la pared de la misma muela anterior cuya prisma desciende hacia abajo en un alveolo profundo que llega hasta el borde inferior de la rama mandibular, conformacion muy frecuente en los gravigrados. La regla general, com muy contadas excepciones, es que los gravidados y tardigrados tienen la fórmula dentaria °/,; otra regla general, sin excepciones, es que las muelas de los gravigrados aparecen todas á la vez, y que por consiguiente, su número no cambia durante la vida del animal. Hubiera pues sido una gran novedad que en un edentado gravigrado@con el avanzamiento en edad hubiera podido aumentar el número de las, muelas. Con motivo de la opinion avanzada por Gervais, Reinhardt examiné minuciosamente el ejemplar bajo ese punto de vista, adquiriendo la conviccion de que la formula dentaria “/, era la normal y caracteristica del género. Con una argumentacion sólida hizo notar: que ni arriba ni abajo, no habia espacio disponible para que pudiera desarrollarse otra muela detrás de la última existente; que le fórmula dentaria era 4/, desde la pri- mera juventud, en lo que concordaba con los demás gra- vigrados y tardigrados conocidos, en los cuales, las niue- las, aparecen todas al mismo tiempo. RU Ve Apesar de la exposicion precisa ÿ terminante de Reinhardt, en 1885 Burmeister vuelve á sostener la tesis de Gervais, esto es: que el pequeño número de muelas del esqueleto de la caverna de Escrivania, era caracteristico del individuo jóven, pero que avanzando la edad del animal debia salir otra muela detrás de la última de cada mandibula, de modo que en el adulto el numero fuera el nomral de 5/,. Lo que sobretodo indujo en error á Burmeister fué el descubrimiento de algunas ramas mandibulares de un gravigrado notablemente mas grande que Nothrotheriwm, con una dentadura algo parecida con cuatro muelas inferio- res en vez de tres. Hse gravigrado, que el autor de estas li- neasacababa de describir con el nombre de Oracanthus (1), fué tomado erroneamente por Burmeister como repre- sentando el estado adulto de Nothrothervum (Cœlodon). Refuté detalladamente esta suposicion, haciendolo tam- bien independientemente y al mismo tiempo el Profesor Lütken. Poco tiempo despues, Burmeister reconocia que teniamos razon. Con este reconocimiento terminé lá cuestion. Sin embargo, el descubrimiento del cráneo del individuo adulto de que me ocupo, cierra definitivamente el camino á toda duda sobre la fórmula dentaria del género No- throthervum. Las cuatro muelas superiores de este ejemplar (fig. 8) corresponden exactamente 4 las cuatro muelas superiores del individuo jóven descripto por Reinhardt. La homo- logia 6 correspondencia de la ultima muela, queda esta- blecida por el hecho de que en ambos ejemplares difiere de las otras por su tamaño una mitad menor y por pre- sentar una sola cresta transversal en vez de dos. La homologia de la primera muela queda igualmente esta- v (1) Nombre que por estar empleado con anterioridad sostitui mas tarde por el de Meoracanthus. blecida por ser en ambos ejemplares un poco mas pequeña que la segunda, y por presentar el lobulo anterior y la cresta transversal correspondiente un poco mas pequeño 6 mas angosto que el lobulo posterior y cresta transversal que le corresponde. Queda asi esta- blecido, de una ma- nera definitiva que no puede dar lugar á futuras contro- versias, que las cuatro muelas su- Fig. 8 — Nothrothertum maquinense (Lund) Lyd. . Las muelas superiores del lado derecho, vistas por la periores M las tres cara tritoria de la corona, en tamaño natural. inferiores del gé- nero Nothrotherium, representan las últimas de la série, homologas 4 las cuatro últimas superiores v tres últimas inferiores de los demas gravigrados. Es pues de todo punto imposible que con la edad pudiera desarrollarse otra muela detrás de la última de cada mandibula. Esta homologia, prueba tambien, que de las muelas de los demas gravigrados, la que falta en Nothrothervum, no es la última como en un tiempo se creia, sino la pri- mera. Como se ha efectuado la supresion lo veremos mas adelante al tratar de las relaciones filogeneticas del género. Hago esta observacion porque pueden presentarse casos de individuos del género Nothrotherium con cinco muelas superiores y cuatro inferiores, debido á la persis- tencia de la muela anterior; pero en este caso, el numero normal de 5/,, en vez de presentarse en la vejéz como se pretendia con la supuesta aparicion de una muela posterior, solo se observaria en individuos muy jóvenes. Desde Reinhardt hasta la fecha, todos los que se han ocupado de la dentadura de este género, incluso el que estas lineas escribe, han descripto las muelas como siendo con corta diferencia del mismo tipo de las del EQ, Megatherium, esto es, de contorno rectangular y con dos crestas transversales paralelas, separadas por un valle profundo, como en este último género. Comparando ahora mas detenidamente la dentadura de ambos animales, encuentro que el parecido no es tan grande como se ha creido, sobre todo en lo que se refiere á las muelas superiores. En Nothrotherium la única muela que presenta un contorno rectangular parecida á la muela anterior del Megatherium, es la primera que corresponde 4 la segunda de este último género; muestra igualmente un surco per- pendicular externo y otro interno bien aparentes, y la corona con dos crestas transversales casi paralelas. Las muelas segunda y tercera, que corresponden á la tercera y cuarta del Megatherium, son de un contorno muy distinto; en vez de rectangulares son subtriangulares, angostas sobre el lado externo y notablemente mas anchas sobre el interno; es absolutamente el mismo contorno que presentan las muelas correspondientes de MJegalonyx y de la mayor parte de los géneros del mismo grupo. El lado interno mas ancho es un poco deprimido perpendi- cularmente, mientras que el externo mas angosto y mas redondeado, muestra un surco perpendicular mas pronun- clado aunque mas angosto. La última muela superior es tan comprimida en sentido ántero-posterior que presenta el aspecto de una lamina transversal un poco arqueada representando un arco de circulo con la convexidad hacia adelante. En la conformacion de la superficie de trituracion las diferencias son todavia mas notables. En las muelas superiores de Megatherium (fig. 9) las dos crestas trans- versales son paralelas 6 casi paralelas separadas por un ancho valle transversal abierto hasta el fondo en sus dos extremidades. Las crestas transversales son en forma de techo á dos aguas, esto es con doble declive, anterior y posterior. La cumbre de cada cresta formada por la lámina dura de dentina se encuentra asi alejáda del borde correspondiente, anterior 6 posterior. Esta conformacion parece ser el resultado del enorme espesor que ha adqui- rido la capa de cemento en las dos caras, anterior y posterior de cada muela. Como la cresta transversal posterior de cada muela superior se adapta al valle trans- versal de la muela inferior correspondiente, resulta que el desgaste de la corona es relativamente regular, con las cumbres de las crestas en las muelas intermediarias, mas ó menos del mismo alto, y el fondo de los valles trans- versales con corta diferencia de igual profundidad. La superficie de trituracion de las muelas de Nothrothervum es. muy distinta. Las dos crestas transversales no son paralelas sino divergentes hacia el lado interno. El valle que separa las crestas corta la corona oblicuamente cor- riendo hacia adentro y hacia atrás, siendo notablemente mas ancho y Fig. 9- Megathertum america. MAS profundo sobre el lado interno num Cuv. Muela cuarta superior derecha, vista por la superficie que en el externo ; además este tritoria de la corona, reducida á 4 del tamaño natural. Pampeano Valle no está completamente abier- obtida o Buenos Aine tO hasta abajo. en: gu: extremidad externa, apareciendo así como un pozo alargado, cerrado casi completamente sobre el lado externo pero un poco mas abierto sobre el interno. Cada cresta presenta un solo declive hacia el valle transversal, pues la cumbre de cada cresta está constituida por el mismo borde correspondiente de la muela, es decir el borde anterior para la cresta anterior y el borde poste- rior para la cresta posterior. Esta conformacion se debe á que la capa de cemento que cubre las caras anterior y posterior de cada muela no es mas gruesa que la que cubre los costados; de esta conformacion resulta que el declive opuesto al del valle formado por la capa de cemento es tan pequeño que no merece tomarse en consideracion. Debido á esta dispo- sicion irregular de las crestas y de los valles, las crestas de las muelas superiores no se adaptan exactamente á los valles de las muelas inferiores; resulta así que la superficie de trituracion aparece tambien irregular, con la cresta anterior mas elevada que la posterior, y mas elevada sobre una de las extremidades que en la otra; el fondo del valle tranversal aparece igualmente mas pro- fundo sobre el lado interno que sobre el externo. Tambien puede presentarse el caso opuesto, que la cresta mas saliente y mas elevada al lado interno sea la posterior en vez de la anterior. Esta conformacion de las muelas intermediarias supe- riores de Nothrotherium es absolutamente idéntica á la que presentan las muelas correspondientes de Megalonyx Pliomorphus y demás animales parecidos. En el cráneo figurado por Reinhardt las coronas de las muelas presentan las crestas en parte destruidas, no pudiéndose determinarse la forma exacta de la cara de trituracion. En el mismo estado se encuentran las muelas del cráneo de individuo adulto de que me ocupo, con la sola excepcion de la tercera, que muestra la cara masticatoria casi perfecta. En la figura 10 doy el dibujo de la muela corres- pondiente de Pliomorphus, pero del lado izquierdo, para que se pueda apreciar la identidad de conformacion. Pliomorphus es el antecesor de Me- galonyx y con muelas absolutamente deh mame “tipo icon: excepcion ide Ja, Bie ep ane primera en la cual aparecen algunas fituacion de la corona en diferencias de escasa importancia. pond sanction del Pat La última muela superior de Nothrotheriwm ya he dicho que es mucho mas pequefia que las otras y muy comprimida de adelante hacia atrás afectando la forma Fig. 10.— Pliomorphus Amegh. Antepenúltima 92 — de una lámina transversal. La superficie de trituracion está gastada formando un declive oblicuo hacia adelante, de modo que el borde posterior es mucho mas elevado que el anterior, constituyendo la cresta transversal unica que distingue esta muela de las otras. Nada puedo agregar á la descripcion de las mue- las inferiores dada por Reinhardt pues me son comple- tamente desconocidas. Determinacion específica Lund designó los restos de Nothrotherium (Ce- lodon) encontrados en su primera visita á la caverna de Maquiné con el nombre específico de Colodon ma- quinensis, agregando mas tarde una segunda especie, el Colodon kaupi, pero corto tiempo despues reco- noce que no es separable de la primera con la cual la refunde. Es tambien de creer que al descubrir en 1844, el esqueleto descripto por Reinhardt lo consideró como de la misma especie, pues de no ser así lo hu- biera designado con un nuevo nombre especifico. Reinhardt al describir este último esqueleto, crée al contrario que es de una especie distinta que designa con el nombre de Cælodon escrivanensis. Reconoce que las dos especies deben haber tenido mas 6 menos la misma talla. Para establecer la distincion específica, la única diferencia en que se funda, consiste en la pre- sencia de un surco perpendicular sobre la cara posterior de la última muela superior del Nothrotheriwm (Cælo- don) maquinense, surco à depresion que dice falta en la misma muela de la pretendida nueva especie. Cuando recibi el cráneo de adulto de que me ocu- po, con la dentadura en parte cubierta por incrustacio- nes, encontré que concordaba tan exactamente con las figuras publicadas por Reinhardt, que comuniqué al Dr. von Ihering, que el ejemplar era de Nothrothervum (Colodon) escrivanense Rhdt. — 95 Despues de haber hecho desembarazar la denta- dura de las incrustaciones que la cubrian, me apercibi que la ultima muela presentaba la cara posterior fueri temente deprimida y formando cerca del lado externo como un surco perpendicular. Quiere decir que el crá- neo concuerda en un todo con el de Nothrotherium es- crivanense menos en la disposicion de la cara poste- rior de la última muela que estaria conformada como en Nothrotherium maquinense. Me parece evidente que esta única diferencia es insuficiente para una separacion específica, con tanta mayor razon que la presencia 6 ausencia del mencio- nado surco se explíca perfectamente por la diferencia de edad. En todos los Megalonichide la última muela su- perior es considerablemente mas pequeña que la penúl- tima. En algunas especies de los antiguos géneros Ha- palops, Pseudhapalops, Xyophorus y otros, la diferen- cia en el tamaño de ambas muelas es tan grande como en Nothrothervum, debiéndose tener presente que son precisamente los que mas se acercan al género reciente. En algunas de las especies de esos géneros, la última muela superior presenta la cara posterior fuertemente excavada longitudinalmente como en Nothrotherium ma- quinense. Es sabido que las muelas de los gravigrados apa- recen con la corona en forma de cono, y que solo des- pues de empezar el desgastamiento del cono empiezan á aparecer los surcos y depresiones longitudinales. Estas indentaciones empiezan en la cúspide en una forma apenas aparente y se van acentuando gradualmente hacia la base. El ahondamiento de esos surcos y depresiones continua hasta que la muela ha adquirido la forma perfecta de prisma, que es cuando presenta el mismo grueso en todo su largo. gere La depresion 6 surco perpendicular de la cara posterior de la última muela superior se ha constituido del mismo modo. Sus vestigios empezaron á aparecer en Ja cúspide de las muelas ya un poco gastadas, avan- zando hacia la base y acentäando-se de mas en mas 4 medida que avanzaba la edad del animal. La depresion 6 surco de la cara posterior de la última muela del cráneo descripto por Reinhardt, falta, 6 mas bien es poco acentuado porque el animal era todavia demasiado joven. Así pues, por hora no hay razon alguna que jus- tifique la distribucion de los restos de Nothrotherium de las cavernas del Brasil en dos especies, y todos deben referirse á la especie primeramente descripta por Lund bajo el nombre de Colodon maquinensis, que por eliminacion de la denominacion genérica por haber estado preocupado, toma el nombre de Nothrotherwum maquinense. La sinonimia resulta la seguiente : NOTHROTHERIUM MAQUINENSE (Ld. 1839) Ly. 1889. Sin. Colodon maquinense Ld. 1839 Celodon maquinensis Ld. 1842 Megalonyx maquinensis Ld. 1842 Megalonyx kaupi Lid. 1842 Celodon kawpi Ld. 1842 Celodon escrivanensis Rhdt. 1878 Nothrotherium maquinense Lyd. 1889 Nothrothervum escrivanense Lyd. 1889 Burmeister menciona otra especie que refiere 4 este género, Ilamändola Colodon tarijensis Burm. 1887. Fué fundada sobre una rama mandibular derecha in- completa, con las dos primeras muelas completas y el alvéolo de la última; el autor acompañé la descripcion 95 — con un dibujo de la pieza typo vista por el lado externo, y con otro representando la seccion de las muelas, pero no dió la vista de arriba de la mandíbula. En 1889, al ocuparme de esta pieza segun la descri- pcion y los dibujos del autor, le encontré un parecido tan grande con la pieza correspondiente de Nothropus, que avancé la opinion de que la parte anterior rota hubiera podido tener un pequeño diente como en este último animal y se por consiguiente de este úl- timo género (1). Ahora que puedo examinar el original de la des- cripcion de Burmeister, veo que mi suposicion era bien fundada. No es en la perte anterior perdida 6 rota de la mandibula que se encontraba el primer -diente, sino que queda bien visible el alvéolo que ocupaba en la parte conservada de la sínfisis, casi á unos 2 ctm. ade- lante de la primera muela cuadrangular. Para que *puedan apreciarse las relaciones que pre- senta esta pieza con Nothrotherium y Nothropus, doy de ella nuevos dibujos (figs. 11 v 12) vista por el lado externo y de arriba para mostrar la posicion y el ta- maño del alvéolo de la primera muela rudimentaria. Acompaño igualmente los dibujos de la mandíbula de Nothropus (figs 13 y 14) vista de lado y de arriba, pues los que publicé Burmeister presentan el alvéolo de la muela pequeña anterior colocado muy adelante, ademas restauré el diente dándole un alto considerable y una superficie de trituracion cortada oblicuamente en (1) «No teniendo ä mi disposicion piezas originales no me atrevo a contradecir 4 mi ilustre maestro, pero no puedo dispensarme de observar que el examen de los dibujos de esta mandibula y de los alvéolos de los dientes, presentan las mayores analogias con la mandíbula del animal descripto por el mismo autor como Nothropus priscus. 3 No poderia quizás haber existido un diente pequeño egual al de Nothropus, en la parte anterior rota del Cæ/odon tarijensis, y no ser por consiguiente un Cæ/odon sind una especie mayor del género Nothropus ?». (AMEGHINO, Contrib. al conocim. de los mamif. fos. de la Rép. Arg. p. 700, a. 1889). bisel’ Es claro que esa restauracion es equivocada, pues se trata de un diente que estaba en via de atrofia, y como tal debia ser bajo y truncado mas ó menos hori- zontalmente como en el antiguo género Xyophorus. Comparando estos dibujos puede verse el gran parecido que hay entre el Nothropus priseus, y el typo del Colodon taryensis de Burmeister que refiero al mismo género. La diferencia principal consiste en la talla, pues la mandíbula typo de Nothropus priscus es bas- tante mas pequeña que la del animal de Tarija. Pero Fig. 11,—Nothropus tarijensis (Burm). Amegh. Rama mandibular derecha, vista por el lado externo, reducida 4 34 del tamaño natural, Pieza typo del Cœlodon tarzjensis de Burmeister. Pampeano de Tarija. esta diferencia de tamaño se debe en gran parte á una notable diferencia en la edad de los individuos. Exa- minando la rama mandibular, typo del Nothropus pris- cus, tanto por la textura del hueso, como por la con- formacion de las muelas que son considerablemente mas oruesas en la base que en la corona, he podido cercio- rarme que pertenece 4 un animal muy joven, y es ver- daderamente sorprendente que Burmeister no se haya apercibido de ello. El Nothropus priscus completamente adulto debia aleanzar un tamado muy aproximado al animal de Tarija, y no encuentro ningun caracter sufi- cientemente acentuado para establecer entre ambos una distincion genérica. La diferencia especifica es evi- dente, pues el ejemplar de Tarija se distingue no solo por la atrofia no- tablemente mayor de la primera muela, pero tambien por el borde anterior de la rama ascendente mucho mas inclinado hacia atrás y por la aber- tura externa de la rama lateral del canal alveolar que es de tamaño mayor y colocada mas al lado ex- terno de la base de la rama as- cendente. Aunque el gravigrado de Tarija no sea posible separarlo genericamente de Nothropus, hay que reconocer que presenta tambien un gran parecido con Nothrotherium. En ausencia de otras partes del esqueleto, con el material actual toda la cuestion de- pende del valor que se quiera atribuir á la presencia 6 á la ausencia dei Fig 12?.— Nothropus ta- pequeño molar anterior en via de pines (Burm) Amegh. La € misma pieza de la figura an- atrofia. terior, vista de arriba, redu- cida á la misma escala ; a, ‘Burmeister: renrio, /lasvespecie de o nu ia fac nets Tarija al género Coelodon (Nothro- "inerte theriwm) porque creyó que solo tenia tres muelas, porqué no se apercibid de la existencia del pequeno alveolo anterior que estaba rellenado de tierra. à Pero, basta realmente la presencia 6 la ausencia de ese pequeño diente rudimentario para establecer con seguridad una distincion genérica? Es dudoso, por las razones que voy á exponer. En WN. priscus y N. tarijensis el diente en cues- tion se encuentra en via de atrofia y desaparicion. Es posible que N. {arijense en la juventud tuviera el mencionado diente tan desarollado como en Nothropus priscus, mientras que esta última especie en edad avan- zada quizas lo tuviera tan pequeño como N. {arijense. Es tambien probable que en una edad todavia mas avanzada que la del unico ejemplar conocido de Tarija, la pequeña muela anterior desapareciera completamente obliterandose el alvéolo. Si buscaramos pues la distincion genérica basándonos exclusivamente en la ansencia ó en la presencia de la primera muela podriamos tener el caso de que uno de esos gravigrados fuera Nothropus en la juventud y Nothrotherium en la vejéz. Fig. 13.—Nothropus priscus Burm, Rama mandibular derecha (tipo), vista por el lado externo, reducida 4 %{ del tamaño natural. Pampeano superior (piso bona- erense) del rio Carcarañä en la provincia de Santafé. Del mismo modo podria resultar que Mothrotheriwm maquinense poseyera lapequeña muela anterior en la juventud. En el dibujo del cráneo descripto por Rein- hardt, se vé sobre el lado derecho, 4 un par de centi- metros adelante de la primera muela, una pequena perforacion que bien podria ser el ultimo vestigio del alvéolo de la primera muela desaparecida. Teniendo pre- sente que, aunque joven, el individuo se aproximaba de la edad adulta, vemos que bien pude existir el primer diente en los individuos mas jovenes. Las ramas mandibulares de Nothrotherium maqui- nense figuradas por Reinhardt com- paradas con las de N. taryense “son un poco mas arqueadas late- ralmente y con la cara externa, al lado de las muelas considerablemente mas convexa. Pero se trata de un caracter juvenil que desaparece con la edad; se encuentra sobre la rama mandibular de Nothropus priscus que ja he dicho procede .de un individuo joven. La conclusion de esta investigacion es que, Nothropus y Nothrotherium deben ser dos generos muy cercano y que se suceden uno á otro en el tiempo. Nothropus larijensis es una forma perfectamente intermediaria, pero que por la presencia de la pequeña muela anterior se aproxima mas de Nothropus que de Nothrotherium. , ce Bum. Le mia priscus Burm. La misma Posible es tambien que el descubri- DS de aie ue à miento de nuevos materiales Ilegue 4 SRE demostrar que todos esos restos deben referirse á un solo género. dis Jal "elit Ne || i N = | NY \ \ \ | Relaciones y parentesco Lund al encontrar los primeros restos de Nothro- therium los refirió 4 un animal cereano de Megatherium, separándolo luego como género distinto bajo el nombre de Colodon. Mas tarde lo identificé con Meaalonyx, reconociendo despues una vez mas que tambien esa iden- tificacion era errónea, volviéndolo á separar como género distinto. — 100 Gervais consideró Nothrotherium como un interme- diario entre Megatherium y Megalonyx. Reinhardt despues de un estudio detallado del crá- neo, de la dentadura y de la mayor parte del resto del esqueleto, Ilega á la conclusion de que se trata de un animal muy cercano de Megalonyx; demuestra tambien - que el parecido con el Megathervum se encuentra limi- tado exclusivamente á la dentadura, y que ese mismo parecido era mas aparente que real. En esa época el conocimiento de los gravigrados estaba limitado á los pocos géneros de la formación pampeana 6 mas recientes, y esa conclusion era entonces perfectamente exacta. En 1886, Burmeister dando demasiada importancia al parecido de la dentadura de Nothrotherium con la del Megatherium, considera aquel género como mas cer- cano de este ultimo que de Megalonyx, opinion á la que por mi parte me adherí. Pero, corto tiempo des- pués, ambos, aunque independientemente reconosciamos que esta aproximacion no era la mas natural, y que la opinion de Reinhardt que lo consideraba como mas cer- cano de Megalonyx era perfectamente justificada. En 1889 reconocí que el aliado mas próximo de No- throtherium era el genero Nothropus todavia desconocido en la época de Reinhardt, v últimamente reconoci que ambos generos eran aliados y descendientes de los gra- vigrados santacruzefios del género Hapalops 6 de géne- ros del mismo grupo que este. El profesor W. B. Scott en su reciente monografia de los edentados santacruzeños confirma estas relaciones y ha hecho comparaciones detalladas que dejan fuera de toda discusion que Nothrotherium presenta en toda su conformacion un mayor parecido con Hapalops (to- mando este nombre en su sentido mas amplio), que con Megalonya. No es necesario que me extiénda en mas detalles al respecto, pues esas relaciones con Megalonyx y con — 101 — los gravigrados de la formacion santacruzeiia pueden verse en los respectivos trabajos de Reinhardt y Scott. Pero voy á examinar aquellos caracteres que tienen mayor importancia en la reconstruccion de las lineas filogéneticas que reunen Megalonys y Nothrotherium a los demas gravigrados. Megalonyx y Nothrotherium son representantes de una misma familia y pertenecen 6 vivieron con corta diferencia en una misma época geologica. Se trata pues de saber si el uno puede ser el decendiente 6 el ascen- diente del otro. Una de las observaciones mas curiosas que debe- mos á Lund, es la de que los restos de Nothrotherium por él descubiertos estaban acompafiados por una gran cantidad de pequeños nódulos oseos de forma bastante irregular. Por el descubrimiento posterior de nódulos pareci- dos con los esqueletos del género Mylodon, sabemos que son huesecillos dérmicos que se encontraban colo- cados en el espesor de la piel formando como una co- raza rudimentaria. Este caracter tan particular y verdaderamente ex- “traordinario, con excepcion de Nothrothervum, solo se: ha encontrado en representantes de la familia de los Mylodontide, es decir en gravigrados con la última muela inferior muy grande y bilobada. La presencia de estas osificaciones se ha constatado en los géneros My- lodon, Pseudolestodon y Glossotheriwm, pero no exis- ten en los géneros Lestodon y Scelidolherium que son de la misma familia y de la misma época. Remontando hacia los tiempos geológicos pasados se han encontrado huesecillos parecidos, ya sueltos ya acompañando partes de esqueletos, en las formaciones anteriores á la pampeana hasta la formacion entrerriana inclusive. En cambio no se ha encontrado absolutamente ningun vestígio de ellos ni en la formacion santacru- zeña ni en ninguna de las formaciones anteriores que contienen huesos de gravigrados. La formacion santacruzeña es aquella que contiene mayor número de restos de gravigrados y de formas mas variadas; si alguno de esos gravigrados hubiera tenido huesecillos parecidos, es poco menos que imposi- ble que no se hubiera encontrado alguno aislado. Pre- cisamente se han buscado con empeño, pero inutilmente. ' Se deduce de esto que se trata de un caracter adquiri- do en época relativamente reciente, posterior á la época de la formacion santacruzeña, conclusion á la que ya habia legado en 1898 al tratar de esta misma cuestion. La presencia de estos huesecillos en el género re- lativamente muy reciente Wothrotherium, mientras que no se han encontrado en ningun otro representante de la misma familia ni en la familia aliada de los Mega- therude; la presencia de los mismos huesecillos en va- rios de los géneros .pampeanos de la familia de los Mylodontide y su ausencia en otros géneros de la mis- ma época, son hechos que prueban que ese caracter no solo es reciente sino que tambien ha aparecido indepen- dientemente en géneros distintos de diferentes familias. Si bien, como lo ha establecido Reinhardt, No- throtherium es indiscutiblemente de la misma. familia que Megalonyx, hay entre ambos géneros algunas dife- rencias tan profundas que demuestran que el parentesco que los une no es tan inmediato. Sin dar demasiada importancia á la forma mas prolongada y mas angosta del cráneo de Nothrotherium comparado con el de Megalonyx, debese tener presente que la parte posterior formada por los parietales es mas elevada y globulosa, pareciéndose á los géneros santa- cruzeños Hapalops, Pseudhapalops y Xyophorus. Esa parte del craneo concuerda además con la correspon- — 103 — diente de los mencionados géneros en la ausencia de la cresta sagital tan desarrollada en Megalonyx. Por los caracteres mencionados, Nothrotherium representa una forma menos especializada que Megalonyx; pero en cam- bio por la transformacion de los pterigoideos en grandes cavidades aereas, aparece como mucho mas especializado que este último. La misma presencia de caracteres apuestos se constata en la parte anterior. En el craneo de No- throherium la parte anterior es angosta, baja, del- gada y prolongada hacia adelante, caracteres que indi- can una evolucion poco avanzada. La misma region del cráneo de Megalonya es ancha, alta, gruesa, corta y como truncada transversalmente, caracteres que indican al contrario una evolucion muy avanzada. Pero en cam- bio, Megalonyx que tiene cinco dientes en cada lado aparece como una forma considerablemente mas primi- iva que Nothrotherium que solo tiene cuatro. En esta parte la evolucion de ambos géneros se ha efectuado no en sentido divergente sinó en direccio- nes completamente opuestas. En Megalonys, la muela “anterior se ha alejado de la segunda hasta ocupar el ángulo anterior externo de los maxilares, aumentando considerablemente de grueso y de largo, tomando una forma arqueada que le dá un cierto aspecto caniniforme, aunque la corona sea truncada transversalmente. En Nothrotherium la misma muela fuese reduciendo gra- dualmente de tamaño hasta que concluyé por desapa- + recer. En la conformacion del astrágalo aparece otra di- ferencia tan importante como la de la dentadura. Es sabido que este hueso tiene adelante una pro- longacion Hamada cabeza, que se articula con el esca- foides v 4 menudo tambien con el cuboides. La super- ficie de articulacion con el escafoides puede ser plana 6 convexa; cuando no hay contacto con el cuboides, la — 104 - cabeza es generalmente convexa v mas ,6 menos he- misférica. El astrágalo de los gravigrados, como tambien el de los Manide y Myrmecophagide, se distingue del de todos los demás mamiferos por un caracter muy par- ticular. En estos animales la cabeza del astrágalo lleva una superficie de articulacion para el escafoides, de forma côncava, esto es, excavada adelante en forma de copa. El astrágalo de Megalonyx presenta esta mis- ma conformacion tan caracteristica de los edentados gra- vigrados, de los pangolines v de los osos hormigueros. A este respecto Nothrotherium se separa de todos los gravigrados hasta ahora conocidos, pues tiene un as- trágalo provisto de una cabeza larga, limitada por un cuello bien pronunciado, y con la superficie de articulacion para el escafoides no excavada en forma de copa sinó convexa y hemisférica. Estas diferencias tan profundas y en direcciones tan opuestas, demuestran claramente que Nothrotherium y Megalonyx son dos ramas divergentes de un mismo tronco que se han separado una de otra desde tiempos geológicos muy antiguos. Ese tipo antecesor comun nos es todavia descono- cido. La diversificacion de ambas ramas se efectuó pro- bablemente al principio de la época terciaria pues las encontramos: ya separadas en la formacion santacruceña. Esta separacion de ambas ramas á partir de la época santacruceña la reconoci desde la primera vez que me ocupé de este género en 1889; desde entonces dejé es- tablecido que Megalonyx era un descendiente de Zucho- læops en su sentido mas amplio, y que Wothrotherium descendia de Hapalops (Trematherium) tomado igual- mente en su mas lata acepcion, pues entonces suponia que Trematherium fuera el gravigrado santacruceño que mas se parecia & Hapalops. — 105 — Las relaciones filogéneticas de ambos géneros las expresé entonces en la siguiente forma: MEGALONYX NOTHROTHERIUM I PLIOMORPHUS NOTHROPUS EUCHOLŒOPS TREMATHERIUM ces Los numerosos materiales eucontrados desde enton- ces, no han modificado de una manera fundamental el cuadro precedente, que en sus grandes rasgos se encuen- tra confirmado por los trabajos recientes del profesor Scott. | Examinando ambas lineas en detalle, los nuevos materiales recogidos desde entonces permiten Ilenar al- gunos de los claros, sin que por eso el cuadro deje de quedar bastante incompleto. Scott separa una especie de ÆZuchæolops bajo el nombre genérico de Megalonichotherium (*) & causa de su mayor parecido con el género Megalonyx en la for- ma del contorno de la primera muela superior. Concor- dando con él en cuanto á que hasta ahora es este el eravigrado santacruceño mas cercano de Megalonyx, no creo que la diferencia indicada en la forma de la pri- mera muela sea suficiente para autorizar la creacion de un nuevo género. Desviaciones parecidas en la confor- (eNews SCOLL 1. Cp: 2795 pl KEN 6 e macion de la mencionada muela se presentan 4 menudo en varios otros géneros de gravigrados santacruceños, especialmente en Hapalops. Entre esta torma y Megalonyx de los Estados Uni- dos, hasta ahora no se conoce nada mas que Pliomor- phus de la formacion entrerriana de Paraná. Queda un gran hiatus por llenar entre Æucholæops (Megalony- chotherium) atavus del santacruceño y Pliomorphus del Paraná, y otro igualmente grande entre este último gé- nero y Megalonyx del cuaternario norteamericano. La linea que conduce á Nothrotherium es un poco mas completa, aunque no sea por ahora cosa facil de- terminar con precision la forma santacruceña que cons- tituye el punto de partida. Scott considera como antecesor santacruceño de Nothrotherium el género Hapalops en el sentido am- plio que él le dá. El género Hapalops en sentido restringido como vo lo empleo, es el que mas se acerca á Nothrotheriwm en la conformacio de la parte superior del cráneo, como es facil cerciorarse de ello comparando la figura 15 de Hapalops brachycephalus con la figura 5 que repre- senta Nothrotherium. La conformacion general es la misma. La diferencia mas notable consiste en la parte anterior formada por los nasales que es bastante mas larga en Nothrotherium que en Hapalops. Coinciden en la persistencia de las suturas y en la ausencia de cresta occipital proeminente. Sin embargo, las especies del género Hapalops tiene la region parietal menos glo- bulosa, v muestran una cresta sagital, bastante pronun- ciada en unas especies y poco aparente en otras, pero que de cualquier modo indica una evolucion mas avan- zada que Nothrotherium en el cual no hay vestígios de cresta sagital. — 107 — Este caracter, unido á la posicion de la primera muela que es bien desarrollada y colocada en la parte mas anterior de la region palatina de los maxilares, indi- can claramente que Nothrotherium no constituye su punto de partida. Un mayor pare- cido con Notnrothe- rium presentan las especies que separo bajo el nombre ge- nérico de Pseudha- palops y que Scott incluye en el género Hapalops. En las es- pecies de este grupo (fig. 16) la region pa- rietal es mas above- dada que en Hapa- lops, no hay cresta sagital v la region frontal es deprimida, caracteres que se presentan en la mis- ma forma y disposi- cion que en Nothro- thervum. El occipital tam- poco forma cresta lambdoidea, y en su Hapalops aunque muy cercano de vara, a =. IE Te Er, wi VS) ee OD SS tra, . Fig. 15.—Hapalops brachycephalus Amgh. Cráneo visto de arriba, reducido 4 34 del tamno natural. Formacion santacrucena de la Patagonia austral. parte superior se inclina hacia adelante; esta parte del occipital en algunas especies se extiende sobre una parte considerable de la superficie superior del cráneo, en donde penetra entre los parietales en forma de un pro- longaniento redondeado 6 convexo pero de contorno — 108 — bastante irregular. Esta parte superior del occipital cor- responde al hueso independiente que se encuentra en varios grupos de mamiferos y lleva el nombre de in- terparietal. La presencia de un interparietal ha sido siempre considerada como un caracter primitivo. Encuen- Fig. 16.—Pseudhapalops fortis Amgh. Mitad postorior del craneo, vista de arriba y de Jado, reducida 4 34 del tamaño natural. For- macion santacruceña de la Patagonia austral. tra-se visible en individuos muy jovenes de algunos gravigrados pampeanos (Scelidothervum ). Siguiendo el desarrollo de este hueso y la evolu- cion de la parte posterior del cráneo de los gravigrados no al través de los tiempos terciarios, he podido conven- cerme de que el interparietal léjos de ser de origen primitivo es al contrario de adquisicion relativamente reciente; es esta parte superior del occipital que empez6 A osificarse por un centro independiente aislandose del supraoccipitel; es en realidad un hueso vormiano de grandes dimensiones. Pseudhapalops coincide tambiem con Nothrothe- rium en la posicion de la apertura de la rama externa del canal alveolar, y en la region palatina de los maxi- lares que es un poco mas prolongada, distinguiéndose de Hapalops por la presencia constante de un prolon- gamiento predental qu falta en las especies de este úl- timo género. Es claro que los gravigrados que poséen este prolongamiento predental de la region palatina de los maxilares representan un tipo mas primitivo que los que carecen de él. | Apesar de este parecido, la parte anterior del rostro de Pseudhapalops es todavia demasiado corta y lleva un diente anterior demasiado desarrollado, y demasiado caniniforme para que este género pueda colocarse en la línea antecesora directa del gravigrado de las cavernas brasilenas. El diente anterior, en la linea que conduce á Nothrotherium tiene que haber ido disminuyendo gra- dualmente de tamaño hasta desaparecer. De estas consideraciones se desprende que el an- tecesor santacruceño de Nothrothervum debe ser un gravigrado con prolongamiento palatino predental de los maxilares bastante acentuado, y con la primera muela en via de reduccion. Estas condiciones se encuentram en varias de las especies que reuno en un grupo que designo con el nombre de Xyophorus, pero que Scott incluye en el género Hapalops. Las especies de Xyophorus se distin- guen precisamente por un prolongamiento predental mas — 110 — 6 menos acentuado de la region palatina de los maxi- lares, y por la primera muela que es muy pequeña, y no de aspecto caniniforme sino truncada horizontalmente y evidentemente en via de atrofiarse. Desgraciadamente, las especies de este género se conocen por fragmentos muy incompletos. Aquella que en mis coleccionos se encuentra mejor representada es Nyophorus sulcatus, de la cual, además de restos ais- lados incompletos, conozco el maxilar y la mandíbula de un mismo individuo y con toda la den- tadura. Esta especie, no solo es colocada por Scott en el género Hapalops, sino que tambien la reune con Hapalops elonga- tus, especie á la que atribuye una tan grande variabilidad que le permite in- cluir en la misma ejemplares con mue- las elipticas y otros con muelas rectangulares, con maxilares truncados ade- lante 6 con prolongamiento predental, con ramas man- dibulares que tienen la abertura de la rama externa del canal alveolar colocada adelante de la rama ascendente ó sobre el lado externo de ella, ó que presentan la misma abertura unas muy grande y otras atrofiada ó casi obli- terada como es el caso de Xyophorus sulcatus. Las figuras 17 y 18 representan el maxilar y la rama mandibular de esta especie. Probablemente es este Fig. 17.— Xyophorus sulcatus Amgh. Maxilar superior derecho, visto de abajo y de lado, en tamaño natural. Tipo. Formacion santacruceña de la Patagonia austral. — 111 — uno de los gravigrados santacruceño que mas se parece à Nothrotherium y & Nothropus, v tambien el que tiene las muelas de contorno rectangular mas perfe- cto; las muelas inferiores segunda y tercera son de con- torno tan rectangular como las correspondientes de Me- gathervum. En la parte palatina anterior del maxilar de Nyo- phorus sulcatus se vé un prolongamiento predental bien pronunciado; este prolongamiento es todavia mas notable sobre el costado, endonde lleva una fosa predental que no se encuentra en los representantes del género Hapa- lops ni tampoco en los de Pseudhapalops. El primer diente está implantado en una convexi- dad lateral del maxilar, pero el diente mismo es pequeno, de seccion eliptica, con la corona cortada transversalmente y evidentemente en via de reduccion. Sobre la cara externa del maxilar, detras de la protuberancia del ma- xilar que contiene la primera muela, se vé una gran fosa preorbitaria, la cual mas 6 menos acentuada existe en casi todos los gravigrados santacruceños. De esta fosa preorbital, sobre el cráneo de Nothrothervum solo quedan vestigios poco apreciables, pues se ha reducido á causa de la supresion de la primera muela; pero, lo que es importante es que sobre el maxilar de Nothro- therium, en la parte anterior y adelante del vestígio de alvéolo de la primera muela, hay un hundimiento que evidentemente corresponde á la fosa predentaria de Nyophorus sulcatus. Las otras cuatro muelas superiores de Xyophorus sulcatus son de contorno casi igual á las correspondien- tes de Nothrothervum con excepcion de la última que proporcionalmente no es tan pequena ni tan comprimida en sentido antero-posterior. Estas muelas son mas an- chas sobre el lado interno que sobre el externo, y las tres primeras llevan un surco perpendicular externo bien acentuado, absolutamente como en las muelas correspon- dientes del género de las cavernas del Brasil. En la mandibula (fig. 18), la primera muela sepa- rada de la segunda por un diastema bastante largo, es muy pequeña, de contorno eliptico y truncada horizon- talmente. La segunda y tercera son de contorno rectan- gular perfecto, con la corona cruzada por dos erestas transversales para- lelas separadas por un valle ancho y profundo. Tienen el lado externo un po- co deprimido y el interno con un sur- co vertical ancho y bastante profundo. La última muela se de contorno subei- lindrico. La cara ex- terna de la rama mandibular al lado de las muelas es fuertemente conve- xa. El orificio de la rama del canal alve- olar esta colocado Fig. 18.— Xyophorus sulcatus. Amgh. Rama mandi- bular izquierda; a, vista por el lado externo; e, vista por a A oe tS el lado interno; à, visto de arriba, en tamano natural. o, sobre el lado extel no orificio de la rama externa del canal alveolar. Tipo. For- : as ‘ à macion satacrucena de la Patagonia austral. de la rama ascen- dente, pero es tan pequeno que casi pasa desapercibido. Tampoco pretendo que sea Xvophorus sulcatus el punto de partida que conduce 4 Nothrothervum, pues tiene el rostro demasiado corto y el orifício de la rama externa del canal alveolar demasiado pequeño. pero ese — 415 — punto de partida puede ser otra especie del mismo gé- nero, con la parte predentaria de los maxilares mas alargada v el orifício de la rama externa dei canal al- veolar de mayores dimensiones. Esto parece comprobarse por la conformacion par- ticular del astrágalo de Nyophorus. Hay un pequeño gravigrado de Santa Cruz que he colocado en el género Pseudhapalops; es el Ps. obser- vationis. El tipo de la especie es un trozo de rama mandibular izquierda con las dos últimas muelas, y un trozo de la rama mandibular derecha con la primera muela piezas que estaban acompañadas del estrágalo y calcaneo izquierdos. Scott que los ha examinado, dice (1) que el astró- galo que acompaña la mandibula que constituve el tipo de Pseudhapalops observationis, se ha encontrado reu- nido á ella solo accidentalmente, pues debe pertenecer a una especie mas pequeña y quizas á otro género. Por mi parte no tengo la misma duda, pues dicho astrágalo se articula perfectamente con el calcáneo, y las cuatro piezas fueron encontradas reunidas como si fueran do un mismo individuo. Lo que hay es que la deter- minacion que de ellas hue en 1891 no es completamente exacta, pues en presencia de la gran variabilidad de los gravigrados santacruceños, recien empezaba á formarme una idea aproximada de los caracteres que distinguen los diferentes géneros como tambien los grupos de ór- den superior. Examinando de nuevo el tipo veo que entra en el género Nyophorus, pues salvo el tamaño un poco menor corresponde exactamente á la misma parte de Xyophorus sinus. (DP EWE BS Sconr les pa 242. — 114 — La primera muela es muy pequeña, cilindrica, trun- cada horizontalmente y con el centro de la corona ex- cavada, siendo este último un caracter igualmente bien aparente en la especie tipo del género, el Xyophorus simus. | El Xyophorus simus posée un astrágalo que en relacion con el de la generalidad de los gravigrados es tambien proporcionalmente pequeño, y que ademäs pre- senta la misma forma que el de Nyophorus observationis, forma muy distinta de la que se observa en HHapalops y Pseudhapalops. En estos dos últimos géneros la cabeza articular del astrágalo presenta la superficie de articula- cion escafoidal excavada en forma de copa como en todos los de- más gravigrados, de modo que visto el hueso de arriba, esta ex- savacion forma en la cabeza una curva entrante que le dá un as- pecto muy caracteristico. Muy distinta es la conforma- cion de esta parte en los astrá- calos de Nyophorus observatio- | nis y Xyophorus simus. La su- Fig. 19. Xyophorus simus Amgh, . . Astrágalo derecho ; a, visto de arri- perficie articular para el esca- natural. Formacion santacrueena de foides (fig. 19) no es excavada la Patagonia austral. . , en forma de copa, sino apenas un poco deprimida; además, esta depresion no mira ha- cia adelante como en los demás gravigrados, sino obli- cuamente hacia arriba de manera que la cabeza no muestra adelante la curva entrante mencionada mas ar- riba. Esta modificacion de la cabeza es una tendencia evidente hacia le forma hemisferica que distingue el estrágalo de Nothrothervum. — 115 — Poseo varios astrágalos aislados de distintos ta- maños que presentan el mismo caracter de una manera mas 6 menos acentuada, que sin duda corresponden 4 diferentes especies de Xyophorus, algunas de talla rela- tivamente considerable. En el astrágalo que atribuyo 4 Ayophorus atlan- ticus por haberse encontrado ak lado de la pieza tipo, esta evolucion hacia la forma caracteristica de Nothro- mv” ; Fig. 20. — Xyophorus atlanticus as Astrágalo derecho; a, visto de arriba ; 7, beta Saio a visto’ de adelante, en tamano natural. Formacion santacrucena de la therium es todavia mucho mas acentuada. La cabeza del astrágalo (fig. 20) es mas prolongada y separada del cuerpo del hueso por un cuello mejor definido. La curva entrante de la faceta escafoidal es casi nula, v la excavacion en forma de copa está reemplazada por una pequena depresion vuelta en parte hacia arriba; la ca- beza es de forma hemisferica ya casi tan perfect a como en Nothrotheriwm. Esta concordancia proporciona — 116 — una prueba por asi decir definitiva, de que Ayophorus es por hoy el antecesor mas antiguo que se conoce de la linea que conduce 4 Nothrotherium. A estos datos agregasé que en Xyophorus simus, aúnque el único paladar que de él poseo está des- truido adelante y en muy mal es- tado de conser- vacion, la parte que existe (fig. 21) demuestra ÿ que la region pa- latino-predentaria de los maxilares se extendia nota- bleménte mas adelante que en X, sulcatus. Tam- bien la última muela superior es mucho mas pe- queña que la pe- núltima y con un fuerte surco longitudinal en la cara posterior, acercandose asi I HD | 4 Al | Fig. 21. — Xyophorus simus Amgh. Parte anterior del a pe Ls craneo, vista por la superficie palatina y de lado, en tamaño de la de Noth Om natural. Formacion santacruceña de la Patagonia austral. e ; therium que la correspondiente de X. sulcatus. El cráneo descripto y figurado por Scott bajo ei nombre de Hapalops vulpiceps (*) es de un animal (5) Wi Be Score pas: 253, PI, SOLTY, ips: vaio as — 117 — muy parecido, tanto por el prolongamiento de la region predental de los maxilares como por el tamaño propor- cionalmente pequeño de los caniniformes y tambien por la pequeñéz de la última muela superior; coincide tam- bien en la linea decendente y co- mo deprimida de la parte su- perior del rostro y en la coloca- cion del orifício de la rama ex- terna del canal. alveolar. Por mi parte no me queda duda de que Hapalops vulpiceps entra en el 9 énero Nyophorus y es una de las es- pecies mas pro- ximas de la li- nea que conduce à Nothrothe- rium. Entre Nyo- phorus del san- tacruceño y el precursor inme- diato de No- throtherium, 6 sea Nothropus Fig. 22.— Pronothrotherium typicum Amgh. Parta ante- terior del cráneo, vista de abajo y de lado, reducida á % del tamaño natural. Formacion araucana del valle de Santa Maria, en Catamarca. del pampeano quedaba un hiato considerable. Esta gran la- guna acaba de Ilenarse en parte con el descobrimiento de un nuevo género en el mioceno de Catamarca, que Pere levará el nombre de Pronothrotherium typicum, n. gen. n. sp. (fig. 22). Se parece 4 Xyophorus en la linea superior del rostro deprimida y descendente hacia abajo, en el prolongamiento de la region palatina predenta! de los maxilares, y en la colocacion y poco desarrollo de la primera muela. En la conformacion de las otras mue- las presenta un gran parecido con Xyophorus sulcatus. El parecido es todavia mayor con Nothrotherwum. La region de los nasales es prolongada como en este último género y las muelas son del mismo tipo. Puede decirse que la única diferencia notable consiste en la presencia de la primera muela en el cráneo de Prono- throtherium que falta en el de Nothrotherium. Pero esta muela, de contorno eliptico, es muy pequeña y en via de desaparicion en un grado ya tan avanzado que el alveolo forma sobre el lado externo del maxilar una convexidad poco notable. Debido igualmente al poco des- arrollo de la primera muela, la fossa preorbital del maxilar es poco profunda, existiendo adelante un vesti- gio de la fosa predental. Con la supresion completa de la primera muela desapareceria la pequeña convexidad del alveolo de esta, borrandose las fosas preorbital y predental y esta region del cráneo tomaria el mismo aspecto que presenta en Nothrotherwum. Este mismo género Pronothrotherium parece estar representado en la formacion entrerriana por una especie de menor tamaño de la que hasta ahora solo conozco restos muy incompletos. Segun los conocimentos actuales expuestos en las páginas que preceden, las relaciones filogenéticas de No- throtherium y Megalonyx representadas en una forma gráfica serian las que condense el esquema que sigue. Es ápenas un poco mas completo que el publiqué en 1889, pero está dispuesto de modo que aparezcan in- mediatamente á la vista los hiatos que existen entre las i | — 119 — distintas formas. Las lagunas que aparecen nos demues- tran que todavia quedan numerosas formas intermedias por descubrir para poder trazar lineas menos discon- tinuas. MEGALONYX CUATERNARIO BONAERENSE (Pampeano superior) ENSENADENSE (Pampeano inferior) PUELCHENSE HERMOSENSE ARAUCANENSE PLIOMORPHUS MESOPOTAMENSE PARANENSE NOTHROTHERIUM NOTHROPUS TARIJENSIS | NOTHROPUS PRISCUS PRONOTHROTHERIUM TYPICUM PRONOTHROTHERIUM SP? Hiato geologico y paleontologico EUCHOLOEOPS SANTACRUCENSE (Megalonychotherium) NoroHIPPIDENSE PaTAGONICO X YOPHORUS S$ SO — 120 — Aleunas consideraciones generales sobre los edentados Estamos muy lejos de la época en que se suponia que los edentados eran de aparicion relativamente re- ciente, y que representaban ramas regresivas degeneradas 6 envejeeidas de otros grupos de mamiferos de organi- sacion mas perfecta. Muchos afios van ya, que en la disposicion sisté- matica de los mamiferos siempre coloco los edentados despues de los marsupiáles, considerándolos como mas primitivos que estos y mas cercanos de los monotremos. Inmediatamente á continuacion de los edentados coloco siempre los cetaceos y luego los monotremos conside- rando los tres grupos como descendientes de un mismo tronco. La colocacion de los cetaceos reposa sobre todo en corsíderaciones teóricas. Hasta ahora permanecen refractarios á toda solucion practica 6 de hecho, pues no se encuentran los antecesores fósiles que pudieran confirmar 6 desautorizar las deducciones teóricas. No sucede lo mismo con los edentados. Sus restos fósiles se encuentran en todos los horizontes del ter- ciario v del cretaceo superior y sin duda si encontrarán en capas aun mas antiguas. Lo mas notable es que esos restos, por mas antiguos que sean, no presentan desviaciones que los acerquen á otros tipos de mamiferos con la sola excepcion de los monotremos. A este res- pecto, la concordancia es tan perfecta que actualmente tomando en consideracion las formas fósiles no es po- sible trazar una linea bien definida entre monotremos y edentados, Ambos grupos, con los caracteres que actualmente poséen son de origen relativamente reciente, esto es de la época terciaria. Los antecesores cretáceos de unos y otros constituian un solo grupo en el cual se encuentran reunidos los principales caracteres actuales de los eden- tados y de los monotremos, conjuntamente con otros que no se han transmitido á ninguno de los represen- tantes vivientes ó de las últimas épocas geológicas. Todo parece indicar que los edentados y los monotremos se separaron de los reptiles independientemente de los de- mas mamíferos. Actualmente estoy occupändome del estudio de esta cuestion, que espero tendré la oportunidad de tratar en detalle en un trabajo especial. Pero no puedo sustraerme al deseo de anticipar á lós lectores de este artículo, un breve resumen 6 sintesis de las conclusiones á que me conduce el estudio del material de que dispongo. 1º Los edentados del antiguo continente reunidos bajo el nombre de Nomarthra, son verdaderos edenta- dos y no animales de un origen independiente como últimamente se pretendia. La simplicidad en la articu- lacion de las vértebras lumbares se encuentra en los edentados fósiles mas primitivos de Sud-América. 2º Los Manidæ tuvieron representantes en Sud- América y tienen un origen comun con los Myrmeco- phagide. La analogia de conformacion puede seguirse casi hueso por hueso. q 3. Los Orycteropidæ descienden de los armadillos primitivos de Sud-América, de los que se separaron al fin de la época cretacea. Las diferencias que separan los Orycteropidæ de los armadillos primitivos son el resul- tado de especializaciones recientes. 4º Los tardigrados 6 perezosos es un grupo muy reciente, posterior á la época santacruceña y que se constituyó por una especializacion de representantes del grupo de los Megalonychide (Trematherium), 5º Los gravigrados se aproximan de los Myrme- cophagidæ y Wanidæ y se constituyeron desprendiendose de la linea que conduce 4 estos últimos dos grupos. 6° Los edentados primitivos que constituyen el tronco de origen de los Manide, de los Marmecopha- gidæ y de los Gravigrada se constituveron despren- diéndose de representantes acorazados del grupo de los armadillos (Dasypoda). 7º Los Dasypoda primitivos descienden de los Peltatelordea. 8º Los Peltephilide constituyen el grupo mas especializado de los antiguos Peltateloidea. 9º Los Glyptodontia son una especializacion de los Dasypoda primitivos de los últimos tiempos de la época cretacea. 10º Los Monotremata actuales representan una rama sumamente especializada de los antiguos Peltate- loidea (Astegotherium, Prostegotherium, etc.) Los principales caracteres primitivos de este grupo antecesor comum de los Edentata y Monotremata son: A. Cuerpo protegido por escamas óseas, no unidas por suturas sino formando filas transversales ó imbricadas. Este caracter se ha conservado hasta los géneros santa- cruceños Peltephilus y Stegotherium, y degenerado en escamas corneas se conserva en los Manide actuales. B. Ausencia de sistema pilifero que se desarrolló despues independientemente en los distintos grupos. CG. Presencia de dientes incisivos. Mas 6 menos desarrollados en unos casos, bajo una forma rudimentaria en otros, se han conservado en algunos Dasypoda, en los Peltephilidæ, v en algunos representantes del suborden de los Glyptodontia y de la familia de los Myrme- cophagide. D. Dientes muy numerosos, pequeños y simples. Este caracter se encuentra en algunos Dasypoda extin- guidos aun no descriptos fOdontozaëdyus) y ha persistido en parte en el Priodontes actual. Encuentrase tambien en la juventud y bajo una forma rudimentaria en algunos Myrmecophagide. E. Existencia de una doble denticion. Este ca- racter se encuentra en el antiguo género Protobradys y ha persistido hasta los géneros actuales Tatu y Ory- cteropus. Ff. Cráneo con el hueso cuadrado y con el cua- drato-jugal separados del squamosal por suturas bien distintas. Este caracter se encuentra en los Peltateloidea Peltephilus, Epipeltephilus (1) etc, y se observa tam- bien aunque en forma menos aparente, sobre los pri- meros gravigrados de los últimos tiempos de la época cretacea. Esta separacion del cuadrado jugal y del cuadrado ha sido señalada por el Dr. Sixta en los cráneos de individuos jovenes de los monotremos actuales. G. Omoplato con un coracoideo y un epicoracoideo distintos. Este caracter se encuentra en ejemplares jo- venes de Peltephilus, Epipeltephilus, ete, en algunos gravigrados igualmente jovenes, y tambien sobre algunos Myrmecophagide. El coracoideo permanece separado hasta muy tarde en los gravigrados mas antiguos y tambien en algunos tardigrados. La separacion de los tres huesos persiste y es caracteristica de los mono- tremos actuales. (1) En la descripcion que di recientemente de este género, digo que ya no hay vestigios de la sutura que separa el cuadrado. Mejor limpiada la pieza de la ganga que la envolvia, me apercibo de que se conservan vestigios bien aparentes de la mencionada sutura. La relacion filogénetica de estos distintos grupos es aproximadamente la que expresa el cnadro adjunto. Monotre- Oryctero- Myrmeco- mata pide Manidæ phagida Fardigrada Dasypoda Glyptodontla Gravigrada Gravigrada- Basypoda — Pettephitidee \ Astegotherlda rogravigrada Peltateloldea (Astegotherium, etc} A DISTRIBUIÇÃO DE CAMPOS B MATTAS NO BRAZIL POR AERMANN von IHERING ESTAMPAS I-VII O fim do presente escripto é o de acompanhar com algumas palavras o mappa que juntamente publico e que se refere 4 distribuição des campos e das mattas na America meridional em geral e no Brazil em particular. Antes de participar os dados especiaes em que o nosso mappa se baseia, será conveniente expôr em al- gumas palavras as minhas ideas sobre este assumpto e varias questões que a elle se ligam. A matta virgem do Brazil é provavelmente a ma- nifestação mais esplendida e luxuriosa, que se conhece, da vegetação arborea do mundo actual. E” difficil salien- tar em poucas palavras os traços característicos destas mattas em comparação com as de outros paizes, por exemplo com as florestas européas. Talvez possamos indicar n'este sentido como em especial caracteristicas as seguintes particularidades : 1.) A grande diversidade das especies de plantas arboreas que compõem as mattas do Brazil ; 2.) A conservação quasi continua das folhas nas copas, sendo pequeno o numero das arvores que no in- verno ou ao começo da primavera largam as folhas; 3.) O grande numero de plantas trepadeiras que, enliando-se nos troncos, muitas vezes sobem até o cimo da arvore; 4) A riqueza de epiphytas, que vivem nos troncos e galhos das arvores e entre os quaes predominam as orchidaceas, bromeliaceas, cactaceas, fetos, ete.; 5.) As dimensões consideraveis que alcançam certas plantas monocotyledoneas, taes como palmeiras, fetos arbo- rescentes e bambuseas ; 6.) O rico desenvolvimento de plantas herbaceas, arbustos, etc, que cobrem o chão, difficultando a pas- sagem. Em comparação os campos parecem muito unifor- mes, em vista da grande predominancia das gramineas. Acontece entretanto que são relativamente raros os campos compostos quasi exclusivamente de gramineas e hervas baixas, os chamados campos limpos. Muitas vezes notam-se nos campos arbustos e outras plaants mais ou menos altas, representando esta combinação de plantas os campo sujo. A’ medida que se juntam arbustos, muitas vezes espinhosos, cactaceas e arvores baixas, apparecem as formas vegetaes conhecidas sob os nomes de carrascaes, restingas e cerrados. Mattas baixas no meio dos campos são designadas como catingas e quando as mattas se assemelham, pela sua composição, 4 matta virgem, appa- recendo, porém, isoladas no campo, como ilhas n'um grande mar, dá-se-lhes o nome de capôes. Uma forma de matta um tanto rachitica é a catanduva, que se- gundo a opinião de alguns auctores é influenciada no seu crescimento pelas queimas dos campos. Como se vê a passagem entre as diversas formações vegetaes é quasi insensivel. O leitor que desejar informar-se a respeito desta materia, fará bem em consultar o interessante ar- tigo do Snr. Alberto Lofgren (N° 27). Possuimos tambem em nossa literatura duas obras dedicadas 4 descripção e discussão scientifica da flora do Brazil meridional e que de um modo especial se oceupam dos caracteres biologicos, que as plantas dos campos bem como as das mattas apresentam, em consequencia de sua adaptação ás condições especiaes em que vivem. Refiro-me ao livro de Lindmann (Nº 26) sobre a flora do Rio Grande do Sul, do qual nos deu uma excellente traducção o Snr. Lofgren, e 4 obra de Warming (N.º 44), sobre a flora de Lagoa Santa em Minas Geraes. Os autores citados dão algumas informações tambem sobre a distribuição geographica das principaes formações de vegetação nas regiões por elles examinadas. E7 pre- ciso, entretanto, para muitos fins, ter informações o quanto possivel exactas sobre a distribuição de campos e mattas no Brazil e esta necessidade a mim se fez sentir duramente por occasião de meus estudos sobre a distribuição geogra- phica das aves e dos mammiferos do Brazil. Procurei pois taes mappas, como são encontrados nas obras sobre a distribuição geographica das plantas. Os principaes entre estes mappas são os seguintes: 1) À. Grisebach (Nº 18). O respectivo mappa, sobre as regiões de vegetação do mundo, indica apenas as principaes provincias, sem entrar em detalhes a res- peito das formações vegetaes. 2) A. Engler (N° 14). O mappa que acom- panha a obra distingue zonas de campos, mattas tro- picaes e outras mattas designadas como Megathermas, que diz estarem desenvolvidas particularmente no Brazil central. E evidente que para tratar deste assumpto de um modo mais ou menos completo, a base empirica é insuficiente. 3) A. F. W. Schimper (n 37). Na parte refe- rente ao Brazil dá todo o Interior ao paiz como occu- pado por campos, sendo apenas os grandos rios acompa- nhados de largas orlas de mattas. E’ isto um modo muito schematico em se tratando de um assumpto de grande difficuldade, o que não póde dar resultados satisfa- ctorios. 4) O. Drude (n. 12). O mappa que trata da flora da America (N. VII) é o mais minucioso dos que se occupam deste assumpto, mas ao mesmo tempo tambem o mais incorrecto de todos que têm sido pu- blicado até agora. A região das mattas tropicaes do Brazil oriental já acaba em S. Paulo, não sendo pois indicadas as mattas da Serra do Mar entre S. Paulo e Rio Grande do Sul. O Rio São Francisco, que per- corre uma zona de campos seccos, figura no mappa como guarnecido, dos dous iados, de uma larga f«xa de mat- tas tropicaes e o mesmo acontece com o Rio Paraná. A zona dos campos do Brazil meridional não existê e a do pinheiro, Araucaria brasiliensis, tem uma extensão muito maior do que em realidade é o caso, extendendo- se até 4 costa do Brazil meridivaal. O auctor, além de não se basear nos conhecimentos mais necessarios, pro- cedeu de um modo inconveniente, dando informações so- bre um numero de formações vegetaes relativamente gran- de demais, impedindo assim a facil comprehensão dos factos principaes. : Em vista da deficiencia desses mappas menciona- dos procurei colligir dados exactos, afim de poder eu mesmo publicar um que ao menos esteja isento dos mais graves erros. Cada observação que aproveitei está registrada no mappa sob um numero, achando-se a res- pectiva explicação na segunda parte deste estudo. A côr verde indica a extensão das grandes mattas, incluindo naturalmente tambem regiões de campos e de «capoeiras», que sejam pequenas demais para serem re- gistradas. Como campos considerei todas as regiões nas quaes esta formação vegetal predomina. Quasi por toda parte encontram-se na zona dos campos capões e pe- quenas mattas que acompanham o curso dos rios e arroios. Se estas pequenas mattas não estão indicadas em nosso mappa, o que aliás em representação cartographica de tão pequena escala nem seria possivel, isto não quer dizer que não existam, pois a côr vermelha de nosso mappa não significa em absoluto a extensão dos cam- pos limpos, mas sim a dos terrenos em que os campos prevalecem, e onde determinam o aspecto geral da pai- zagem. JE natural que, apezar de meus esforços, com relação a muitas partes do vasto territorio do Brazil não pudesse achar ou conseguir informações fidedignas pois, ficarei agradecido por quaesquer communicações exactas, que a respeito d'este assumpto me forem di- rigidas. Uma das questões mais dificeis é a da origem dos campos. Ha neste sentido duas opiniões divergentes: uma, que considera os campos como regiões nas quaes as mattas, que outrora as cobriam, fossem destruídas pelo fogo e outra, segundo a qual representam forma- ções naturaes, primitivas. N'este sentido é preciso tratar separadamente da origem dos campos primarios e da dos campos secundarios. FE’ certo que a acção do homem é grande quanto á transformação de diversos typos de formações vegetaes. Mais do que entre nós a questão tem sido estudada na America do Norte, com referencia ás «prairies» dos Es- tados occidentaes. Asa Gray (N° 17) se pronunciou a este respeito do modo seguinte: «A uma regular distancia além do Mississipi esta região devera ter estado originariamente coberta de matta. Ha chuvas suficientes para sustentar florestas nestas terras, que são actualmente prairies. As arvores crescem muito bem quando ahi são plantadas e des- envolvem-se mesmo expontaneamente, quando encontram rep certas condições vantajosas. Ha até razões para suppor que todas as prairies a leste do Mississipi e as do Missouri até o Mimesota foram grandemente augmenta- das ou mesmo privadas inteiramente das arvores pelos indios, que ahi habitavam, e com as queimadas annuaes... As planicies mais seccas e ainda mais aridas de além, cobertas com a pequena «gramma de Bufalo», provavel- mente nunca tiveram arvoredo em suas condições actuaes.» Sobre o mesmo assumpto compare-se tambem outro trabalho de Asa Gray (N° 17) Mechan (Nº 29) e Miller Christy (Nº 30). Provam os estudos citados que essas prairies se cobrem facilmente de mattas, quando defendidas contra a acção do fogo. Isto, porém, nada nos diz quanto á origem dos ter- renos destes campos, que, segundo Lesquéreux (N.º 25), foram depositados em antigas lagoas. O solo das prairies é formado por uma terra preta, fertil, rica em substancias organicas e em especial carbonicas. N’este sentido se assemelham á celebre terra preta da Russia meridional e aqui em S. Paulo encontramos campos com os mesmos solos, e isto sempre em lugares planos, que evidentemente outrora estavam cobertos por agua. Costumamos denominar estes depositos como «de turfa», não obstante serem o producto da decomposição de gramineas e cypraceas que crescem em terrenos pan- tanosos. Nas prairies o solo parece mais homogeneo, de modo que não é considerado como turfa, denomina- ção que talvez seria bem apropriada. No Brazil foi P. W. Lund (Nº 28), o primeiro que explicou a origem dos campos pela acção do fogo. Na sua opinião as terras altas, collinas, ete. de Minas estavam antigamente cobertas por catanduva, de cuja des- truição teria resultado a formação dos campos. A. Lofgren (Nº 27) tambem chegou a conclusões semelhantes, dizendo que os cerrados são em grande parte o resul- tado da destruição de mattas e «que o ultimo estado desta série de esgotamentos de um terreno, outr'ora fertil e revestido de uma vegetação luxuriante, é o campo sujo.» Não tenho a respeito deste assumpto sufficientes experiencias proprias, relativamente ao Estado de São Paulo; mas as informações, que devo a observadores habeis e fidedignos, confirmam completamente a opinião do Snr. Lôfgren. Preciso n'esta occasião referir-me ás observações que fiz no Estado do Rio Grande do Sul. O terreno que fôra occupado por matta mostra tendencia para cobrir-se de novo com esta formação vegetal depois da destruição da antiga vegetação arborescente. E” verdade que ha campos, potreiros, pastos, etc. que foram con- quistados á zona dos mattos e que se conservam no estado de campo; mas isto é devido exclusivamente á influencia do gado, que destroe os brotos das arvores nascentes. Deixe-se estes pastos sem gado e em pouco tempo estarão cobertos de capoeira, que successivamente toma o caracter de capão ou de matto. Vi uma capoei- ra bem alta, quasi matto, n’uma estancia em Cangusst no logar em que, trinta annos atraz, se costumava rea- lizar o rodeio do gado da mesma estancia. O que tam- bem no Rio Grande do Sul não me foi possivel constatar é si entre os vastos campos ao norte e a leste de Porto Alegre e de S. Leopoldo ha delles que se achem em localidades que antigamente estivessem cobertas de matta virgem. Se assim fôra parece que não ha possibilidade de distinguir campos primarios e secundarios só pelo aspecto e pelo caracter da vegetação. Não são entretanto todas as mattas que têm esta vitalidade ou tendencia de regeneração. Os pinheiraes, depois da destruição das arvores, se transformam em campos. Sabemos que a região entre a Serra do Mar e a Serra da Cantareira, na época da descoberta, estava occupada por pinheiraes que hoje desappareceram quasi completamente. Observei, entretanto, perto de São Caetano, € Ÿ — 132 — uma localidade onde se acha em grande quantidade resina de pinheiros, em forma de pequenas bolas. Podemos pois affirmar que não é difficil transfor- mar pinheiraes em campos, mas que a matta virgem é muito resistente contra esta transformação. Por este mo- tivo tambem julgo que os pinheiros são antes um ele- mento da vegetação dos campos do que da dos mattos. Deixo de entrar aqui na interessante discussão da difficil questão sobre a origem dos campos primarios, Peço ao leitor, que se interessar pelo assumpto, procurar informações nos livros citados de Lindmann, Warming e outros auctores e tomar conhecimento da discussão que sobre o assumpto tiveram no correr do ultimo decennio os Snr. J. Huber (Nº 20) e F. Katzer (Nº 23). E’ certo que no Brazil já tivemos campos na época terciaria. Isto é provädo pela distribuição geographica dos animaes do sertão no interior do Brazil. Tambem os animaes extinctos, descobertos nas cavernas de Minas por Lund, pertencem em grande parte a estes elementos caracteristicos da fauna dos campos do Brazil. Em gran- de parte evidentemente estas differenças no caracter da vegetação são dependentes das precipitações athmosphe- ricas. Não é acaso se justamente na Serra do Mar, onde a quantidade da chuva annual excede a tres metros, encontramos as mais bellas e viçosas mattas e que no inte- rior de Goyaz, da Bahia, do Matto Grosso, etc. onde a quantidade da chuva annual não excede a um metro, predo- minem campos seccos e estereis. Não é entretanto este o unico factor que determina a distribuição das forma- ções vegetaes. Muitas vezes observa-se, na mesma locali- dade, que uma margem de um rio está coberta de mattas, ao passo que na outra se extendem os campos. Ha rios no interior do Brazil que por grande ex- tensão correm por terrenos de campos e outras que nos dous lados vão accompanhadas de largas faxas de mattas. N'estes casos o clima não é a causa efficiente destas differenças, sendo evidentemente decisivas as condições do solo e do subsolo. O caso porém não é tão simples como acreditam certos autores, que são de opinião que onde haja terra boa e fertil cresça matto. Não é raro encontrar-se mattas em terrenos quasi estereis. Verifiquei isto na visinhança de Pelotas, no Est. do Rio Grande do Sul, onde observei mattas, nas fraldas da Serra dos Tapes, em terrenos de barro vermelho, cobertas apenas por uma camada de 1-2 decimetros de terra. Já tive uma vez occasião de tratar do assumpto e acho tão interessante a obser- vação, que então tive ensejo de fazer, que vou repro- duzil-a aqui, em traducção, de um estudo que publiquei (Nº 21), relatando as minhas observações, que fiz durante repetidas viagens no Estado, então Provincia do Rio Grande do Sul. « À parte mais interessante da nossa viagem neste « dia- (30 de Março de 1886) e posso dizer mesmo o « que deixou mais profunda impressão pelo ensinamento « que nos déra em toda esta nossa viagem, foi sem du- « vida a passagem pela Volta Grande (Rio Camaquan) «e que detidamente examinamos. «O rio de facto descreve uma ampla volta, apra- «zivel pelo pittoresco que tem. Emquanto que na « margem esquerda, rasos areiaes bordam a matta, na « outra margem se eleva alto barranco, que, em seu meio, « tem para mais de 25 pés de altura. « Esta parte mais elevada do terreno marginal é « occupada por campo, que attinge directamente o rio. « Este é o unico ponto da margem direita do rio Ca- « maquan, desde a barra até São José, em que tal se « dá, sem que haja interposição de matto ou capão; « nesse ponto eleva-se alto barranco, que nunca é coberto « pelas enchentes. « Este barranco de campo é tanto mais evidente « por quanto não se passa gradativamente para o ter- A À A À À A À — 134 — reno de matto, mas sim fal-o em uma zona nitidamente delimitada. Ao tocarem-se estas duas zonas, a parte do barranco coberto de matta perde logo 6—8 pés de «altura, o que faz com que a parte mais elevada deste grande barranco de campo se destaque tanto mais evi- « dentemente do demais terreno marginal, baixo, coberto de matto. « À esta differença de nivel correspondem tambem differenças geognosticas. Naquella porção do barranco sobre a qual verdeja o matto, a vista não descobre differença sensivel entre a camada de humus e o subsolo barrento de egual côr. « No barranco do campo, porem, apos uma camada de humus de dous a tres palmos de espessura, segue-se jogo uma outra camada de barro branco entremeiada de areia. « Este saibro eu o considerava a principio como sendo almagre; verifiquei porem depois, tratando-o com acidos, que não continha carbonato de cal; tambem «em S. José e em 8. Feliciano se o encontra formando em parte o subsolo. E’ pois um barro argiloso, que « contem ora maior ora menor quantidade de areia e fragmentos de quarzo. Em alguns lugares o seu co- lorido é de ochre ou amarello-ferrugineo, parecendo mesmo que essas finas camadas horizontaes sejam : ferruginosas. Este conjuncto de uma camada de cerca de 5 a 6 metros de espessura é permeavel, como se verifica especialmente no meio do barranco, em que, «após o barro branco, se segue uma camada de argila . cinzenta, escura ou azulada, fina e impermeavel. Vê- se ahi que a argila não deixa passar a agua que atravessára o barro, mantendo-se assim humida a sua superficie. « Nos lugares não humedecidos a argila é dura como pedra, cinzento-clara e finamente fendida. « cs A R « va « 7 « R « Le) « Le « RB À À À — 135 — « Tanto desta argila como do saibro o meu com- panheiro, Snr. Soyaux, enviou amostras 4 Allemanha para serem estudadas. Esta camada de argila tinha uma espessura de talvez 1 á 1 14 metros e, além de se prolongar ainda muito por debaixo da agua, parece que se estendia tambem sob todo o plateau de campo. « À camada de barro branco mostra numerosos sulcos verticaes, formados pelas aguas da chuva; muitas vezes são sulcos profundos, que deixam entre si pequenas columnas, o que dá ao barranco o aspecto de tubos de orgão ou de uma construcção ornada de numerosos pilastresinhos. « Esta observação nos evidencia que esta differença de matto e campo tem aqui por base importantes diffe- renças geologicas, pois que o terreno marginal occupado pelo campo não é sómente bem mais elevado do que a zona do matto ainda exposta ás enchentes, mas possue além disso um subsolo inteiramente diverso ; este nosso acerto foi ainda comprovado em varios outros « pontos, como especialmente proximo á embocadura do : Rio Palanque, onde havia barrancos de campo, com- < quanto nem sempre fôssem tão frizantes para a inter- pretação do problema que nos preoccupa. « À questão da distribuição de matto e campo com relação ás suas causas é sem duvida uma das questões mais dificeis que ha a investigar no Brazil meridional. Por emquanto falta ainda a base empirica para que se a possa solver. Quanto ao Rio Grande do Sul além de mim e de Sellow ainda não: houve outros naturalis- tas (1) que aqui se occupassem de questões geologicas e por emquanto nenhum geologo profissional fez do Rio Grande do Sul assumpto de aprofundadas e detidas investigações. (1) Si deixamos de menciopar o companheiro do Woldemar Schultz, Freiherr Q’Byrn (N.º 38). Bata À À À « — 136 — « Ultimamente Keller-Leuzinger tocou ligeiramente neste assumpto (1). Elle propende para attribuir a delimitação de matto e campo ás condições tanto do terreno como do clima. Eu não creio, porém, que seja em especial por ahi que devamos procurar chegar ao « esclarecimento. « Relembrando impressões como as que acabamos de descrever, da Volta Grande do Rio Camaquan, não póde restar duvida sobre que o clima e em especial «as chuvas não podem ser considerados como factores que nos expliquem a questão. « De outro lado temos no Sul da provincia muitas vezes mattos em terras fracas, emquanto que, não longe « delles, ha campos sobre fertilissimas terras de humus; : taes são tambem os campos e os Pampas do Uruguay e da Republica Argentina, cujo solo é de espesso e excel- lente humus, muito estimado na economia rural pela sua grande fertilidade e que por isso são pagos por alto preço. « E” minha convicção que só poderemos compre- hender inteiramente as causas da distribuição de matto e campo quando, pelos dados que nos fornecer a geo- logia sobre as formações terciarias, chegarmos a deter- minar qual a antiga distribuição de mar e terra du- - rante as épocas principaes do Terciario, bem como, ao menos em seus traços principaes, qual a historia das épocas diluvial e alluvial. « Se, em vista dos nossos actuaes conhecimentos a, este respeito, fosse licito estabelecer hypotheses rela- tivas ao caso, eu explicaria as minhas impressões neste sentido de que os altos barrancos do campo, do Rio Camaquan pertenceriam ao diluvio, ao passo que deve- riam ser de origem alluvial os terrenos dos mattos adjacentes ». E * OO (1) Deutsche Kolonialzeitung, Jakrg. 1886, Elett: SUNS po witb — 137 — O estudo que venho a concluir leva-nos a examinar de um modo critico a questão das riquezas naturaes do Brazil. E” assumpto raras vezes tratado de um modo obje- ctivo. Os viajantes extrangeiros, o naturalista em especial, não podem deixar de exprimir a satisfacção que lhes causa a belleza e a exuberancia da nossa natureza em geral, a belleza da paizagem, a grandeza luxuriosa da vegetação. À questão, posta no seu terreno legitimo não é assumpto que dêva depender de sympathia e de im- pressões estheticas, mas sim, como é questão economica, unicamente dos dados positivos. Neste sentido o mappa que publicamos póde servir até certo ponto como base de apreciação. Verificamos que no sentido economico o Brazil se apresenta dividido em tres provincias de as- pecto e caracter physico completamente differentes, a saber: a Amazonia, o Sertão do Brazil central e Brazil litoral, com exclusão do extremo norte (isto dos Estados ao norte do Pernambuco). A Amazonia é a immensa região do Hylæa, dos mattos serrados, da planicie alluvial do rio mais majes- toso do mundo. | Sem duvida esta região poderia ser um grande centro de producção, em vista da fertilidade de seu sólo; mas o clima não é apropriado para a immigração européa e muitos dos affluentes são flagellados por febres perni- ciosas. Nestas condições toda a producção quasi se limita á extracção da borracha e o immenso territorio é quasi que deshabitado e de pouco valor na sua producção rural na actualidade. E” sem duvida uma grande reserva para o futuro. O Brazil Central offerece um contraste surprehen- dente em comparação com essa região amazonica, visto que lhe faltam as copiosas chuvas que tem como conse- quencia a riqueza da flora; disto provem a pobreza da vegetação, que, juntamente com o solo esteril, impede o O Po e — 138 — desenvolvimento da lavoura. Estas terras são destinadas á extracção de mineraes preciosos e á criação do gado; tambem neste ponto em grande parte são improducti- vas e sempre inferiores ás do Sul do Brazil. Calcula-se que no Matto Grosso a legua quadrada nu- tre 500 cabeças de gado vaccum, ao passo que essa relação no Rio Grande do Sul é de 2.000 a 3.000 por legua. Não é pois um acaso que tambem essas terras são mui parcamente habitadas e em Goyaz compram-se as terras por preços tão reduzidos, que a quantia com que ali se pode adquirir uma ou duas leguas quadradas, em S. Paulo, por exemplo, não dá para pagar uma casa das mais simples e baratas. Si para a Amazonia a questão do futuro desen- volvimento depende só de boa administração e de ele- mentos de trabalho, no Sertão, mesmo com a construc- ção de estradas de ferro e outras medidas vantajosas, as condições da produeção provavelmente não sofirerão transformações em grande escala. O que póde-se fazer com campos seccos, estereis, sem agua? Conta-nos o Snr. Prof. Derby que no Estado da Bahia o trem que percorre o Sertão até Joazeiro leva a agua potavel aos poucos moradores de diversas das longinquas estações. A parte do Brazil que podemos reconhecer como centro de continuo trabalho, de prosperidade e de activi- dade é a região da Serra do Mar ou do littoral, desde Pernambuco ao Rio Grande do Sul, com as partes adja- centes, como particularmente o Estado de Minas Geraes. E aqui que mais de tres quartas partes da população do paiz se acham domiciliadas e é esta a parte do paiz a que se prende a historia do seu desenvolvimento e da sua civilisação. Examinando esta zona do Brazil é certo que é ella, a unica entre todas, que em verdade é prodigiosamente dotada pela natureza com recursos de toda qualidade. Terreno fertil e variegado, vegetação uberrima, agua em — 139 — abundancia; clima agradavel, que permitte obter mesmo varias colheitas no anno; um estado de saude que, com poucas excepções, deve ser designado como excellente e adequado á immigração européa. Serras e planicies, gran- des rios, promiscua distribuição de. campos e mattas; tudo, emfim, reune-se nesta zona para attrahir a coloni- sação, assegurando ao trabalho um rico successo. EH preciso notar, entretanto, que as riquezas que a natureza aqui nos offerece são tão pouco inexgottaveis como qual- quer outra fortuna; as gerações passadas já tem peccado muito neste sentido e mesmo a geração actual ainda não chegou ao ponto de tratar da conservação das ri- quezas naturaes (*). A destruição contínua das mattas já tem exercido grande influencia sobre o clima. Ja nos quatorze annos em que móro na collina do Ypi- ranga tive occasião de observar a diminuição da agua nas fontes e nos ribeirões. O riacho do Ypiranga diminuiu muito em seu vo- lume de agua; tanto aqui como no Cambucy varios cor- regos desappareceram completamente; a fonte da qual bebiamos a agua em 1894, já seccou ha alguns annos. Ainda no Rio Grande do Sul fiz observações analogas na Serra do Tapes, onde, dos numerosos moinhos movidos durante todo o anno só pela agua, desde a fundação da Colonia de S. Lourenço em 1860, nenhuma podia dispensar mais nos annos de 1880 a 1890 o auxilio temporario de machinas à vapor. Observações analogas foram feitas no Rio de Janeiro, tendo o Dr. A. E. Goeldi dedicado um estudo a este assumpto (N° 16). As mattas regularisam a distribuição das precipi- tações athmosphericas, purificam o ar e representam uma reserva colossal de agua no seu solo. E” esta uma ques- tão que não raras vezes motiva equivocos. Tive uma (*) Em annexo reproduzimos um interessante estudo feito neste sentido... já em 1809 e para o qual chamamos attenção. — 140 — vez uma longa discussão sem resultado com meu inol- vidavel amigo e chefe Dr. Cezario Motta, na qual elle defendia a these de que a derrubada das mattas augmen- tava o volume da agua das nascentes, em quanto que eu era de opinião contraria. Devo o esclarecimento do proble- ma ao meu distincto amigo Dr. Olavo Hummel, cujas experiencias participo em seguida, verificando-se deste modo que, depois do córte da matta, ha effectivamente un; augmento temporario da agua nos poços e nas nas- centes, o que naturalmente só dura pouco tempo, isto é, só emquanto se vae desprendendo a agua, armazenada no subsolo da matta, que a retinha. Aqui transcrevo a sua interessante exposição : « Ha annos, no Rio Claro, estavam dous senhores « discutindo de fronte de um hotel. Um era extrangeiro, «o outro brazileiro e fazendeiro, e ambos tinham certa « ilustração. A discussão versava sobre a derrubada « das mattas. O extrangeiro sustentava que os corregos « diminuiam de volume com as derrubadas, e em seu « apoio apresentava ensinamentos da sciencia, emquanto « que o fazendeiro affirmava que as aguadas augmentavam « de volume com o desnudo de terreno, beseando-se na « experiencia adquirida. « Em logar de acompanhar esta discussão darei « alguns exemplos que conheço, e que comprovam a « theoria do fazendeiro. | « Era em 1878, quando a Companhia Paulista « resolveu mudar a projectada estação terminal da linha «em construcção do ramal do Porto Ferreira tres kilo- « metros adiante do logar primeiramente marcado até « aonde hoje se acha a estação do Leme. Pedi nessa - occasião ao fazendeiro Snr. Raphael Leme informações « sobre um corrego atravessado pelo prolongamento da «linha e o Snr. Raphael me contou então que elle « vira nascer O corrego que baptisára com o nome de « a À À À À À « « — 141 — Batinga, e que appareceu quando se derrubou o matto onde hoje se achava o cafezal. Um boeiro duplo foi construido para o corrego passar por baixo do aterro da estrada de ferro. « Em 1887 corri o perimetro de uma grande fa- < zenda no municipio de Jaboticabal. Um espigão divisor estava em grande extensão coberto por mattas virgens, e no lugar de que vai ser questão não havia absolu- tamente agua dentro do matto. (Quinze annos depois fui chamado para demarcar pequeno trecho neste mesmo espigão, agora todo em cafezal. O calor era suffocante e niio levaramos agua para beber. Então o fazendeiro convidou-me para à: com elle a um poço que se achava no cafezal, e lá chegado deitou-se no chão e, munido de uma grande caneca, estendeu o braço para dentro « do poço, tirando uma agua clara e fresca. « Contou-me que, quando veio com a camaradagem para derrubar o matto, fez cavar este poço, mas como em 60 palmos de profundidade ainda não apparecesse agua, largou e fez vir agua de longe, em barris. En- tretanto, depois de acabada a derrubada e plantado o café, appareceu a agua, enchendo quasi o poço, e agua ainda corria pelo cafezal, morro abaixo, como um pe- queno corrego que, pela regularidade do leito e ausencia de vegetação nas margens, mais parecia um rego d'agua. « Casos semelhantes têm-me sido referidos por outros fazendeiros, e note-se que taes corregos nunca seccam, modificando-se apenas o volume de agua conforme a época do anno, como acontece com todos os corregos. A mesma regra applica-se aos corregos já existentes, mas que augmentaram muito com as grandes derru- badas nas suas margens e por cima das cabeceiras. « Verdadeiramente nada ha nisso de estranhavel. À matta virgem deve reter enorme quantidade de agua entre as raizes das arvores seculares que a formam, por baixo da espessa folhagem que cobre o solo e da À À « vegetação baixa, que torna o matto impenetravel sem abrir-se picada. Derrubado o matto nada mais na- «tural que as fontes se formem e que a agua retida ou absorvida até então, corra livremente, procurando as depressões que depois, em forma de corrego, a conduzem aos ribeirões. « Tambem é preciso notar que o cafezal substitue «o matto no sentido que as aguas pluviaes por elle quasi não correm, ou então o solo, onde a derrubada não é aproveitada para o plantio de café, é logo co- < berto por capoeira impenetravel, que tambem em grande parte impede a agua de correr, penetrando assim no subsolo, sem comtudo ser retida ou absorvida na mesma proporção como nas mattas. « Mas disto não se segue que se deva derrubar as mattas nas cabeceiras dos mananciaes que abastecem as cidades, para assim augmentar o volume de agua. Ao contrario, estas mattas sempre devem ser conser- vadas, para que permaneçam limpas as fontes e para que se torne o fornecimento mais egual. Tambem são as mattas de grande importancia como reguladores da athmosphéra, porque o ar nas noutes frias é bem mais quente sobre as mattas, de onde resulta a cons- tante transmutação com o ar menos quente, que paira sobre os terrenos com pouca vegetação ao redor. « Ainda as nuvens condensam-se de preferencia sobre mattas extensas e altas. » Está pois provado que, em consequencia da derru- bada das mattas, dahi a certo tempo diminue a quantia da agua dos corregos e rios e exerce uma influencia in- fausta sobre a distribuição das chuvas. Por este motivo desde muito tempo observadores esclarecidos tem pro- testado contra a illimitada derrubada das mattas, mas até agora sem resultado. O mesmo dá-se com a des- truição insensata da nossa fauna, contra a qual nos temos dirigido em memorias extensas desta Revista. E de esperar que a organização de um Ministerio da Agricultura por parte do Governo Federal signifique tambem neste sentido um verdadeiro progresso. Actual- mente todo o serviço da conservação das mattas do Brazil está entregue a um director, auxiliado por um amanuense e 6 operarios no Rio de Janeiro! E pre- ciso limitar as derrubadas, fazer depender de licenças mu- nicipaes o córte de roças, começar com a conservação e, mais do que isto, a cultura das florestas e auxiliar o aproveitamentro racional das terras de capoeiras e campos. Naturalmente a cultura das terras fracas só é possi- vel em combinação com uma limitada criação de gado, que forneça o estrume necessario. Parece ser este modo racional da cultura dos campos e das terras, já desprovidas de matto, o ideal que o legislador e os governos deveriam procurar realizar na medida do possivel. E de grande merecimento neste sentido a iniciativa practica, a pro- paganda e os conselhos que nos deu o Sr. Dr. Assis Brazil no seu valioso livro (N.º 6). x =e Resumindo as conclusões desta discussão, temos a constatar que quasi dous terços do paiz consistem em terras pouco prestaveis ou de pequeno valor natural e que a parte dotada pela natureza com os maiores recursos necessita a maior attenção e precaução por parte dos respectivos governos, no interesse da conservação de suas riquezas naturaes. Não concordo com a tendencia do in- teressante e bem escripto livro de Affonso Celso: «Porque me ufano de meu paiz» (Rio de Janeiro, Laemmert & Comp. 1901) em que pinta o quadro referente ao Brazil só em tintas claras e seductoras e sem a sombra que de modo algum póde faltar. Acredito no grande futuro do nosso paiz, mas vejo tambem que se destroe impie- dosamente a sua bella natureza e os seus futuros recursos; RETRO desejo porém que a mocidade comprehenda a situação e os recursos do paiz, como elles se nos apresentam hoje em realidade, sob um estudo objectivo, e que elles saibam que a futura felicidade não lhes deverá advir das riquezas naturaes mas sim do trabalho perseverante. ANNEXO No correr deste estudo referi-me accidentalmente a “Relação das Mattas das Alagoas”. minucioso estudo apresentado, ao que parece por José de Mendonça de Mattos Moreira, ao governo portuguez. O documento guardado no Museu Paulista é ainda assignado por José Joaquim da Silva Freitas, de cujo punho é a letra caprichada de toda a “Relação”; cremos, entretanto, ter este ultimo sido o secretario, que fez a copia do original, redigido por um delegado da “Conservatoria das Mattas”. Com optimo conhecimento do assumpto e ideias muito adiantadas sobre sylvicultura, o auctor se expande sobre a distribuição das mattas naquella região, as madeiras de construcçäo que contêm e as medidas a serem tomadas para a sua conservação. Transcrevemos aqui esse documento em sua integra, pois cremos que muitos, como nós, apreciarão esse tra- balho, cuja orthographia original (!) não nos julgamos com direito de modificar. Relação das Mattas das Alagoas, que tem prin- copio no Lago de Pescoço, e de todas as que ficão ao Norte destas até o Rio da Ipojuca, distante dez legoas de Pernambuco. (Escripta em 1809 por José de Mendonça de Mattos Moreira e José Joaquim da Silva Freitas, sendo a letra do documento deste ultimo.) As Mattas da Capitania de Pernambuco da parte do Sul ate Pernambuco tem « sua origem em hum Lago — 145 — chamado o Pescoço, oito legoas ao Norte do Bio de São Francisco, em cuja margem se acha a Vlila do Penedo; este Rio de Sam Francisco, e o que devide esta Ca- pitania de Pernambuco da da Bahia, e delle principia a Commarca das Alagoas para o Norte. Esta Maita do Pescoço se estende para o Norte ao longo da Costa do mar ate ao Rio de Sam Miguel, distante da Villa das Alagoas tres legoas, com a estenção de mais de vinte legoas, com huma largura dezigual de 3, 4 ate 7 legoas, formando em toda esta estenção varios, e differentes Ramos de Mattas com intervalos num dos outros de terrenos aridos, e inuteis, como sejão as Mattas do mesmo Pescoço, as do Riacno Sêco Cururipe, a Lagoa de Pao, e outros distantes do porto de Cururipe, onde se em- barcão as madeiras, que se constroem nestas Mattas tres quatro e cinco legoas: Ao mesmo Rumo continuão as Mattas da Pituba, perto do embarque destas madeiras; caminhando Norte se achão as Mattas dos fundos da Villa de S. José do Pochim, fundada perto de huã Lagoa, de que ella toma o seu nome, distante da Costa do Mar legoa e meia; estas Mattas do Pescoço continuão ao Norte ate se encontrarem com as Mattas de Juquinha de cima, em que se achão muitos Ramos de Mattos; todas as Madeiras que se constroem nestas Mattas, e nas de Pechim descem por huma Lagoa, que faz barra no porto de Jequiha da Praia, onde se embarcão as madeiras: As Mattas de Jequiha continuão ao Norte ate ao Rio de Sam Miguel, formando varios Ramos, e as madeiras destas Mattas, e as que se constroem ao longo deste Rio, tanto da parte do Sul, como do Norte em distancia de 3 e 4 legoas se embarcão no mesmo Rio, pelo qual entrão Sumacas de todo o lote, e sobem pelo mesmo 4 e 5 legoas distante da sua barra, ainda que esta em tempo de inverno não he muita segura pela precizão, que ha de ventos terraes para a sahida das Sumacas, que de ordinario ha falta delles naquelle tempo — 146 — Nos tres portos, que se achão na estenção destas Mattas, Cururipe, Jequiha da Praia, e Sam Miguel, se constroem muitas Sumacas, menos no porto da Pituba, por não admittir semelhantes construcçoens. Todas estas Mattas do lago do Pescoço ate ao Rio de Sam Miguel com a estenção, que acima digo, são as que ficarão reservadas para a Marinha Mercantil no Plano que se fes para a creação do Juizo da Conservatoria em rasão de serem estes terrenos mais aridos e sêcos pelas visinhanças dos Campestres, e Catingas do Certão, onde as madeiras são curtas, e sem dimensoens, porem apezar de tudo isto nas mesmas Mattas se achão muitos Ramos com ma- deiras de construcção, como sejão Mattas do Riacho Sêco, Fundo do Pochim, Jequiha de cima ate ao Rio Sam Miguel, por cujo motivo tenho muitas vezes man- dado construir nellas muitas madeiras de construcção, e ha dous para tres annos mandei construir nas Mattas do Riacho Sêco mil e tresentos páos para uma Fragata, que se fizeräo em tres meses. Nos fundos de todas estas Mattas para o certão forão os antigos cortes do Pão Brazil, de que se tirou tanta quantidade de ma- deira da melhor qualidade desta Capitania; porem que forão destruídas pela falta de methodo com que se fizerão estes córtes, chegando a indiscreta ambição da aquelles Moradores a arrancar as Raizes de muitas arvores, para se aproveitarem do preço porque a comprava a companhia Geral de Pernambuco, encarregada naquelle tempo de semelhantes remessas para a Côrte de Lisboa; porem estes mesmos córtes, pela Providencia, que se deo no Plano da Conservatoria se achão hoje regenerados, porque tendo rebentado de novo, se achão com muitos pampanos novos, com grande crescimento, de sorte que passados annos darão a mesma quantidade, que ja derão cauzan- do-lhe o maior beneficio a opposição com que sempre sustentei, apezar de varias ordens, que senão devião destruir estes Córtes com insignificantes remessas, quando passados alguns annos podia tirar a Wazenda Real avul- tados Interesses, e muito mais havendo muita madeira desta em outros lugares ja madura para se fazerem as re- messas, que S. Mag." ordenava. Ao Norte do Rio de S. Mi- guel principião as Mattas, que na Creaçäo do Juizo da Conservatoria forão destinadas e reservadas para as Cons- trucçoens Reaes; estas se estendem para O Norte, ao longo da Costa do Mar ate o Engenho d’Aldea, Cabe- ceiras do Rio Formoso, distante dezoito legoas de Per- nambuco com a estenção de Norte a Sul perto de cincoenta legoas com huma largura dezigual de quinze legoas acima da f6s do Rio de Sam Miguel, por serem os mais fundos deste lugar aridos, e sêcos pela vizinhança do Certão; em outros lugares se alargão as mesmas Mattas 12, 15 e 20 legoas para o Certão, não devendo exceder destes lugares em razão de serem as Mattas aridas, e sêcas, e os caminhos muito asperos, de huma dificil conducçäo, alem de se não crearem nella a famosa Secupira-Merim, e outras madeiras de construeção, como tudo ja foi ponderado no mesmo Plano da Creação da Conservatoria das Mattas. Estas Mattas destinadas, e reservadas para a Marinha Real desde o Rio de São Miguel ate o Engenho da Aldea, com a estenção de cincoenta legoas, formão grandes, frondosos Ramos de Mattas, como sejão as Mattas das Alagoas do Sul, situada esta Villa na margem de huma Lagoa, de que ella tira o seu nome, a qual tem de comprido oito legoas, e hum na sua maior largura, esta desagoa no mar, porem a entrada della he muito perigosa, por causa dos muitos escolhos, e tantos que tem, e que sempre se estão mudando com os ventos Nordestes, e Sues: He por este motivo que as madeiras, que por ella descem se embarcão no porto de Jaraguá, ao Norte desta barra hua legoa e meia, onde vão as madeiras por arrastos, ou em carros. Este porto de Jaraguá he huma bahia a melhor que se acha em toda a costa do mar na estenção de duzentas 10 2s iS 22 legoas desde Pernambuco ate a Bahia com seguros fundos, e capaz de receber em tempo de verão mais de 200 vasos de qualquer qualidade, que elles sejão, menos de inverno por ficar muito exposta aos ventos do mar; porem com uma enciada vizinha para o Norte cercada de recifes chamada Pajussara, aonde poderão invernar, sem risco, muitas Sumacas de todo o porte. As Mattas das Alagoas se devidem em varios ramos, como sejão todas as Mattas que se achão ao longo do Rio de Sam Miguel da parte do Norte, as do Riachão que confinão com as Mattas de Sebahuma Grande, Sebahuma Merim, e outras ate contestarem com grandes Mattas da Villa da Ata- laia, distante da Villa das Alagoas seis legoas a Norte, as melhores desta Commarca das Alagoas, bem conhecidas nestes paizes pelas Mattas dos Palmares, o maior ma- nancial de madeiras de Secupira-Merim, tanto na qua- lidade, como na quantidade; nellas se achão muitos grossos, e frondosos ramos de Mattas, como sejão Peran- gaba, Tangil, Natêa, Boca da Matta, Marcello, Serra da Urupema, Riachão, S. José, João Dias, Conceição, Rolo, Canóes, Canadus, Golangí, Urucá, Murici, Manimbá, e outros; as madeiras que se constroem nestas Mattas descem pela Lagoa do Sul oito legoas ate o Lugar do Trapiche, donde se transportão as madeiras para o porto de Jaraguá, distante huma legoa, outras descem por outra Lagoa chamada do Norte, por ficar para este rumo apartada da outra duas legoas, em cuja margem se acha uma povoação chamada do Norte vindo-se a unir estas duas Lagoas, perto da sua fós, no mar. Os ramos que acima digo vão contestar com as Mattas de Santo Antonio do Merim; estas Mattas são igualmente boas, como as das Alagoas, e as dos Palmares pela fertilidade dos seus terrenos proprios da producção de Secupiras, e todas as mais madeiras de construcção. Estas Mattas de Santo Antonio do Merim, Mattas das Alagoas, e Mattas dos Palmares na Villa da Atalaia, são as que desde o des- — 149 — cuberto destas Conquistas tem suprido todas as construc- coens, que se tem feito na Bahia, e Pernambuco, tanto da Marinha Real, como da Mercantil, assim como para todas as remessas, que se tem feito para o Arsenal Real de Lisboa, a excepção de algumas vindas da Parahiba, por serem estas Mattas as que produzem as melhores madeiras tortas, as mais necessarias para os Liames para todas as construcçoens, como sejão cavernas, enchimentos, 1.8, 2.8, 3.º braços, aposturas, curvas da abertona, chaves, mão de cintas, trincanizes, espaldoens, e outras madeiras tortas para os Liames das construcçoens, qualidades que se não achão nas Mattas do Cuairf, nas quaes ha grande falta destas madeiras, apezar das muitas fadigas, que se tem tido pelas descobrir, apezar de serem ellas as mais frondosas Mattas destes Estados, e he por este motivo, que desta Commarca se tem sempre remettido todas as madeiras tortas para as construcçoens Reaes, que se fazem na Bahia, assim como para a Marinha Mercantil. As Mattas do Merim que acima digo estendem-se ate as Mattas de Santo Antonio Grande com muitos frondosos | ramos, como sejam Capapim, Jusseral, Ccbra, Sant'Tago, e outros muitos, cujas madeiras se embarcão no porto de Santo Antonio Merim: As Mattas de Santo Antonio Grande se estendem ate Camarogibe com muitos ramos de Mattas, como sejão Getituba, Cachoeira, Gavial, Peche, Santo Antonio, Agua Fria, Riachão, e outros; todas estas madeiras se embarcão no porto de Santo Antonio depois de descerem algumas legoas pelos rios de Getituba, e Santo Antonio; de Camarogibe continuão as Mattas ate a villa de Porto Calvo, situada na margem do Rio Manguaba, que desemboca no mar em porto de Pedras, distante sete legoas; distante desta villa legoa e meia principiäo as Mattas da Bacha Sêca, a qual abre dous : braços, hum que segue ao Norte, que vai contestar com as Mattas de Jacuipe, o outro se estende ate o Rio Una, formando muitos frondosos, e grossos ramos de @ el) Se Mattas com a estenção de seis legoas, onde terminão as Mattas do Juizo da Conservatovia, reservadas para as construccoens Reaes; nesta estenção de terreno desde a Bacha Séca ate o Rio Una, e deste ate o Engenho da Aldea se achão os mais grossos Ramos de Mattas, os melhores de toda esta Commarca, não só pela boa qua- lidade de seus terrenos, grande abundancia de madeiras, como sejão Bacha Sêca, Canhoto, Duas Bocas, Duas Barras, Ilha, Arajuba, Margem do Rio Una, Cabeça de Porco, Treseundinho, Fundos de Mambucabas, Fundos de Maragi, e do Rio Formoso, e Engenho da Aldea, com os seus respectivos portos para os seus embarques, como são: Porto de Pedras, Barra Grande, o Segundo Surgi- douro de Navios depois de Jaragua, Porto de Una, e Rio Formoso; mas tambem por serem estas Mattas as mais bem conservadas. e mais capazes de soffrerem as maiores construcçoens, porque alem das muitas madeiras de todas as qualidades nellas se achão as madeiras da maior difficuldade, como sejão todas Roda de Proa, Coraes das mesmas rodas, colunas, gios, cadastes, Mancos, Bussardas, e outras muitas de semelhantes qualidades, em razão de nunca já mais se fazerem nestas Mattas Construcçoens algumas, tanto Reaes, como Mercantis, por se tirarem todas das Alagoas, a excepção de algu- mas Sumacas, que se -construião antigamente nos Portos de Una, e Rio Formoso, e outros: Tudo isto me constou por vestorias particulares, feitas nas mesmas com a maior exacção, em razão de terem aquelles moradores occultado não haverem Mattas naquelles Lugares. Deste Lugar do Engenho da Aldea, onde terminão as Mattas Reaes, con- tinuão as mesmas Mattas com frondosos ramos, e grandes fundos para o Sertão ate a Villa de Serinhaem, e cor- rendo ao Norte, vão contestar com as Mattas de Ipojuca, Nossa Snr.“ da Escada, Mattas igualmente intactas, por nellas se não terem feito construcçoens, a excepção das aberturas feitas pelos habitantes, situaçoens de Engenhos, o que geralmente se encontra em toda esta dilatada es- tenção; continuando este mesmo cordão de Mattas de Nossa Snr da Escada, mais, ou menos aberto ou roto, vai a Goyanna Grande, Cidade da Parahiba ate ao Rio Grande do Norte, onde terminão as Mattas desta Capi- tania de Pernambuco com principio da parte do Sul no Lago do Pescoço achando-se grossos ramos de Mattas nos fundos de Goyanna, e muito melhores no Destricto da Cidade de Parahiba, capazes de toda a construcção com muitos ramos de Pão Brazil no Districto de Go- yanna e fundos de Pernambuco. Nos fundos das Mattas reservadas desde S. Miguel ate o Engenho da Aldea, se achão as Mattas de Pao amarelo, que continuão ate os fundos das Mattas de Nossa Senhora da Escada, perto de Pernambuco; todas estas Mattas tem grande abundancia de madeiras de amarelo, porem muito distantes dos portos dos embarques, de sorte que a extração dellas he mais facil, e commoda nas Mattas de Jequiriçá, e outras da Bahia, assim como todas as madeiras direitas das Mattas de Cairá, pela muita abundancia, e grandeza que ha desta qualidade de madeira naquelle Destricto. Todas as Mattas que acima faço menção se achão no mesmo estado em que se achavão ha trinta para quarenta annos devididas, e separadas nos ramos decla- rados com intervallos, em que se não achão madeiras pela razão de haverem nesta dilatada estenção de ter- renos muitos taboleiros, lugares aridos, e sêcos, onde apenas se crião alguns pequenos arvoredos, á que os do Paiz chamão Carrascos, outros como sejão as Costaneiras a borda do Mar, não so por serem lugares aridos; mas tambem porque sendo habitaçoens, que os primeiros habitantes desde o descoberto destas Conquistas, neces- sariamente se hão de achar rôtos por fazerem nelles as suas plantaçoens de todas as qualidades: Os mesmos tem aberto, e rôto outros muitos lugares, como he de suppor do grande numero, que ha delles em toda a es- tenção desta Capitania, que chegão a quinhentos Engenhos, sendo a maior parte destes inuteis ao Estado, e ao Bem Commum pela fraqueza dos Snrs. de Engenhos, e ser- virem so de occuparem terrenos inutilmente; he por este motivo, que eu huma, e muitas vezes representei a bene- ficio do Estado a necessidade que havia de se estabelecer hum methodo, que regulasse os Córtes das Madeiras, e a Conservação das Mattas, por que a faltar este se reduzirião as Mattas ao mesmo estado, á que se tinhão reduzido as Mattas do Pão Brazil, ficando o Estado, e a Nasção privado de um preciozo de madeiras, não so pela sua rara qualidade, e abundancia, mas tambem, e ainda muito mais, por terem estas Mattas a boa qua- lidade, de crearem madeiras tortas para os Liames das Náus, e Navios, que se constroem, aqual he mais difi- cultosa achar-se nas mais Mattas destes Estados; porque ainda que nelles se achem Mattas mais grossas, como sejão as Mattas da Commarca dos Ilheos, e Rio Doce, estas não crião madeiras tortas das qualidade propria para construçoens, por ser a sua producção maior de madeiras direitas de extraordinaria grandeza, como sejão Quilhas, Sobrequilhas, Escoas, Cintas, Trincanizes, Vaos, e outras destas qualidades, e he por esto razão que para todas as Construcgoens das quatro Fragatas, e huma Náu de Linha, eu fis remetter desta Commarca todas as madeiras para os seus Liames á Cidade da Bahia, e da mesma forma se remettem os Liames para a Marinha Mercantil; porem a pezar de tudo isto as Mattas de que faço menção, são muito bastantes para suprirem a maior Marinha, que possa estabelecer-se, e ainda vender ás Naçoens Estrangeiras, com grande in- teresse da Real Fazenda, sem que lhe cauze o menor desfalque; por serem estes terrenos da maior produção de todas as qualidades de madeiras, em muito maior numero do que pensão os seus moradores em alguns — 153 — lugares, em que duvidando-se haverem nelles madeiras de construcção, eu as tenho mandado fazer em maior numero, ficando sempre no mesmo estado. Grande parte dos moradores sempre tiverão a maior opposição ás construcoens, e por isto procurão removêlas debaixo de pretestos falsos, e aparentes, como me succedeo a trinta annos chegando á esta Commarca, de terem algumas pessoas mais .authorizadas feito hum adjunto, em que se assentou não haverem madeiras de construção de huma Fragata, cujas madeiras erão os seus Liames de 10 polegadas de grosso, e de 15 de largo: Eu apezar da minha pouca experiencia naquelle tempo, não so fis a madeira que se me ordenou, mas em todo este dilatado tempo tenho construido madeiras das maiores dimensoens, e todas as que forão precizas para as quatro Fragatas. e huma Náu de Linha, construidas na Cidade da Bahia, e outras muitas avulsas, como tambem as que carreguei nos Navios Pillar, Remedios, e S. Jose em direitura de Jaraguá á Cidade de Lisboa, e todas as que se remetterão de Pernambuco para aquella Corte para fornecimento. do Arsenal Real, de sorte que hum anno, que fis remetter para Pernambuco, e Bahia quarenta Sumacas carregadas de madeiras de construcção, apezar de todas estas remessas, nunca se achou falta naquellas Mattas, onde se constru- irão, continuando a dar a mesma madeira, e a darão em todo o tempo, por ser a Secupira huma qualidade de madeira, que apezar da sua dureza, no espaço de quinze, e vinte annos cresce a estado de dar madeiras de construcção, como eu mesmo o tenho experimentado, e me tem sido informado por Constructores de pro- bidade, como fosse o Constructor Antonio Teixeira no ramo chamado a Boca da Matta, que não tendo achado nella madeira a quinze annos para Náus de Linha, agora se achou, não so das maiores dimensoens, mas da maior difficuldade, como fossem Cavernas, Enchimentos, 1.9, 2%, 3.º braços, e o mesmo tem experimentado outros — 154 — Constructores em differentes ramos de Mattas; e se isto se observa em huns ramos de Mattas trabalhadas a mais de duzentos annos, que farão aquellas em que nunca já mais trabalharão construçoens, como sejão as Mattas da Bahia Sêca, e todas aquellas. que se estendem destas ate o Engenho da Aldea para o Norte, e desde ate fundos de Serinhaem e Nossa Senhora da Escada, e Ipojuca. Sempre tem havido o maior prejuizo em se per- suadirem, que so nas Mattas das Alagoas haverão ma- deiras para Construcçoens, e para outros diferentes uzos, quando estas se acham em outras muitas diferentes Mattas, e em alguma de maior grandeza, e ate de mais facil ex- portação. Isto mesmo fiz ver em 1804, mandando-me o (Governo Interino de Pernambuco apromptar huma relação de cinco mil páos de diferentes dimensoens para o Pa- lacio Real de Lisboa, depois de ter examinado com o maior cuidado que esta relação se não podia apromptar nas Alagoas por menos de secenta contos e oitocentos mil reis, não só pela distancia, em que se achava esta ma- deira; mas tambem pela que se faria na sua condução para Pernambuco da terça parte de seu vallor; passei a aquella Praça, e por meio das minhas diligencias, não so descobri a madeira nos arredores da mesma Praça, em distancia de tres legoas, todas de caminho plano, mas tambem descobri pessoas, que fizessem a dita madeira, como fossem João Alvarez Mergulhão, e Francisco Xavier dos Reys Carneiro, pelo preço que declara o Mappa, que offereço, de sorte que veio resultar um beneficio a Fa- zenda Real, de quarenta e tantos contos de reis, como se vê, e mostra do mesmo Mappa comparativo dos preços porque se farião nesta Commarca, e pelos que se fizerão naquella Praça, ficando-me a satisfação de dar por meio das minhas diligencias e conhecimentos, so neste artigo, hum interesse a Fazenda Real de cento e tantos mil cruzados, e mostrar que não so nas Alagoas ha madeiras, mas que ha outras muitas Mattas de maior quantidade, e com maior commodo de se extrahirem. Todas estas Mattas, de que faço menção existirem desde o Lago do Pescoço até o Rio de 8. Miguel, re- servadas para a Marinha Mercantil, e deste Rio ate o Engenho da Aldea para as construcçoens Reaes, e deste ate as Cabeceiras do Rio Ipojuca, tem toda a capacidade, sem experimentarem desfalque, que as impossibilite de continuarem a servir aos mesmos fins de se abrirem nellas mais de secenta cortes de madeiras Reaes, e para outros navios menores. Não ha meios mais uteis, não se para a conser- vação de todas estas Mattas, mas ainda para a regene- ração dellas, como sejão as providencias, que se derão no Plano, ou Regimento de Conservatoria, mandado fazer por S. Mag“ na Bahia, 4 que eu tive a honra assistir como Membro da Junta, que para este fim se formou por ordem da mesma Senhora, sendo della Presidente o Il Ex." Snr. D. Fernando Jose de Portugal, quaes são o de se evitarem os roçados nas grossas Mattas, que com tanta liberdade se faziam antes deste Estabeleci- mento, não se abrindo nellas situaçoens novas, conti- nuando a execução desta providencia como ate o pre- sente se tem executado, não se precisa outra providencia para a sua conservação e regeneração, por ser a Secu- pira Merim, e Acary Madeiras de maior augmento, como acima digo, continuando estas providencias, como se tem observado, as Mattas hirão cada vez em maior aug- mento, e nunca ja mais poderá haver falta nellas, por serem os roçados, e os fogos, que delles se ateão, os que lhe cauzavão maior ruina. O zelo que sempre tive pelo bem do Real Serviço, me obriga a levar a respeitavel Presença de V. Ex os meios, de que se podem tirar os maiores interesses nas construcçoens a beneficio da Fazenda Real, como ja em outra occasião tive a honra representar. — 156 — 1° Que $. A. R. deve ter embarcaçoens proprias para as conducçoens das madeiras, que se construirem nos diferentes portos desta Capitania, de que resulta, alem da maior promptidão destas remessas o interesse do vallor da terça parte do vallor das madeiras, que se costuma pagar as Embarcaçoens, que as conduzem: Pela reprezentação, que ja em outro tempo fis, foi S. A. R. servido Mandar construir as Sumacas necessarias para estes serviços; em virtude desta Real Ordem, me ordenou o Governo Interino de Pernambuco a construeção de huma Sumaca com as dimensoens que julgasse neces- saria, porem tendo occasião de huma grande Sumaca nova da melhor Construeção com noventa e seis palmos de esquadria á esquadria, e mais de 30 palmos de boca, pelo preço de quatorze mil cruzados a comprei: esta Sumaca tem dado muito serviço a Fazenda Real, tanto na condueçäo de muitas madeiras, como na condueção de Tropas, e mantimentos, para a Ilha de Fernando de Noronha, conservando-se ainda no melhor estado para dar muitos serviços a Fazenda Real; porem huma so não he bastante para estes serviços, são precisas outras mais, a proporção das construcçoens, as quaes devem ser de iguaes dimensoens em quilha, boca, e construcçäo de madeiras dobradas para resistir as cargas de madeiras. 2.º Nas construcçoens que se fazem para a Marinha Real ficão muitas madeiras das galhadas das madeiras, que se constroem, que não dando a vitola da 10 a 12 polegadas de grosso, e de 15 a 18 de largo para cons- trucção de Fragatas e Náus, ficão nos Mattos ate o tempo as consumir; porem que dando estas madeiras 6, 7 e 8 polegadas, se podem vender para todas as construcçoens mercantis, com muito lucro da Fazenda Real, fasendo-se nos respectivos portos depositos, ou Es- tancias destas madeiras para se remetterem as Praças, onde deve haver Estancias dellas, para se venderem ao Commercio, de que rezulta a Fazenda Real, sendo con- — 157 — duzidas nas suas Sumacas, da a metade do vallor, que tanto se paga de frete pela condução das madeiras do Commercio; alem deste vallor tem a Fazenda Real o avanso, porque se vende a madeira nas Praças, o qual nunca “pode ser menos de 25 por cento para mais, e ainda muito mais, sendo esta madeira feita de paos der- rubados, e com estradas abertas, faz muito menos des- pezas. 3.º As madeiras que se constroem em diferentes portos para as construcçoens Reaes, devem ser remetti- das aos respectivos Arsenaes, onde se fizerem as Cons- trueçoens, porque não so se poupa a despeza que fazem, indo para Pernambuco, secenta legoas ao Norte, dando- se-lhe a terça parte do seu vallor pelo frete, como tam- bem, sendo ellas contluzidas em Sumacas da lotação, que acima digo, porque alem da pequena, que estas embar- caçoens fazem, podem fazer tres viagens em cada anno á essa Corte, tendo a madeira sempre prompta, o que senão encontra, sendo esta condução feita em Charruas, ou outros Navios maiores, porque alem destes fazerem maiores despezas, não poderão fazer mais de huma via- gem em cada anno pelas Monções contrarias, alem de outros muitos encontros, que se experimentão na pratica de todos estes serviços, todos elles em prejuizo da Fa- zenda Real. Alagoas e Agosto 20 de 1809. José de Mendonça de Mattos Moreira. José Joaquim da Silva Freitas. RTE ei 1) 2) 5) — — 158 — LISTA BIBLIOGRAPHICA Assiz, Brazil J. F. de, Dr, Cultura dos Campos, 2." ed. Paris, 1905, p. 350 ss. Ave-Lallemant, Robert, Reise durch Sued-Brasilien im Jahre 1858, 2 Teile, Leipzig, 1859; Ave- Lallemant, Robert, Reise durch Suedbrasilien im Jahre 1859, 2 Teile, Leipzig, 1860; Azara, D. Felix de, Voyage dans l'Amérique Méri- dionale, Trad. par C. A. Walckenaer, 4 vol., Paris, 1809; Aedo May, a Oscar de, Novo Atlas Uni- versal, 5º Edição, 8. Paulo; Beschoren, Max, ae Pedro do Rio Grande do Sul, Ergaenzungsheft zu N.º 96 von «Peter- mann’s Mitteilungen», Gotha 1889 com mappa ; Burmeister, Hermann, Reise nach Brasilien, durch die Provinzen von Rio de Janeiro und Minas Geraes, Berlin, 1853; Burmeister, Hermann, Description physique de la République Argentine, Trad. de PAlle- mand par E. 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ES E A côr verde indica as regiões de mattas; a côr vermelha a dos campos. Os numeros no mappa referem-se aos da explica- ção que se segue, onde ficam registrados os trechos con- cernentes aos auctores em que nos baseamos. x * o Devido á longa elaboração que teve este mappa (estampa [) e as multiplas correcções que soffreu, infe- lizmente passaram desapercebidos alguns enganos na ul- tima prova, os quaes devem ser corrigidos: NG seem 66: INS: St ems6S: NE 150 em ll 10 Nº 185 em2136: N.º 98 em 89; Das duas indicações N.º 46, só a debaixo, no campo, é valida; N° 70 nos limites dos Est. Amazonas e Pará deve ser corrigido em 70 b. Os numeros que na lista estão marcados com um asteristico devem soffrer ligeira transposição, a qual vae indicada sob esses mesmos numeros. * * x 1 Serra de Almeirim (Est. Pará) Wappaeus 1242 e 1641 (Obidos) Martius III, 1374 11 Ja 10 11 12 — 164 -— Campos de Marajó (Est. Pará) Grisebach II, 380 Prolongação do Planalto Central no Sul do Es- tado de Pará Wappaeus 1633 Campos de Maranhäo Wappaeus 1643 Campos do Paranahyba Wappaeus 1252 Sertão de Piauhy Wappaeus 1651 Sertão de Ceará Wappaeus 1655 Sertão do Rio Grande do Norte Wappaeus 1661 “Sertão de Parahyba Wappaeus 1665 Campos em todos os arredores de Parahyba do Norte Informação do Snr. A. Ducke Le, e Sertão de Pernambuco Wappaeus 1669 Taboleiros de Alagoas Wappaeus 1679 Ave-Lallemant, Reise durch Nordbrasilien 374 Sertão de Sergipe e do Norte da Bahia Wappaeus 1684 | Ave-Lallemant 395 (Cachoeira de Paulo Affonso) Sertão da Bahia ao Oeste da Serra de Sincora Wappaeus 1692 Martius II, 609 14 16 17 18 a) 24 — 165 — Sertão do Alto S. Francisco (Est. Bahia) Wappaeus 1256 Campos de Minas Wappaeus 1862 e 1864 Martius II, 559 Immensos campos ao Oeste do Alto 5. Francisco (Est. Minas Greraes) Castelnau I, 281. 282, 284, 296. Campos do Rio Grande (Est. Minas Geraes) Wappaeus 1269 Castelnau I, 281, 282, 284 Campos de Barbacena (Est. de Minas Geraes) Wappaeus 1269 (campos no primeiro curso do Rio Grande) Castelnau I, 195, 252 Campos abaixo do Salto de Urubfipunga, no Pa- raná (Est. São Paulo) Wappaeus 1277 Campos entre Agudos e Lenções, entre Botucatá e Espirito Santo do Turvo e Campos Novos (Est. São Paulo); segundo carta do Snr. Hummel. N.º 20 deve ficar mais a SE. Planalto de Curityba ou Campo Largo desde o Rio Yguassá até ao Sul de S. Paulo (Est. Paraná) Wappaeus 1790 Campos de Guarapuava (Est. Paraná) Wappaeus 1790 e 1276 Campos dos Curitybanos até Lages (Est. Sta. Catharina) Wappaeus 1790 Campos da Palma Wappaeus 1790 DO OX 26 a 30 “31 — 166 — Campos do Meio (Vaccaria) (Est. Rio Grande do Sul) Beschoren, segundo mappa Varella, 234, 235; 945 Campos de Cruz Alta, Cima da Serra (Est. Rio Grande do Sul) Beschoren, segundo mappa Varella L supra c. Matta do Portuguez e Matta do Castelhano, cir- cumscrevendo o Campo do Meio Dr. J. Dutra, segundo carta. Campanha do Rio Grande do Sul Varella |. supra c. Campos das Missões no Rio Grande do Sul Varella 1. supra c. Beschoren, segundo mappa Estero de Neembuca (Rep. Re Rengger 6 Grão Chaco (Rep. Paraguay, : Norte) Rengger 17 Castelnau II, 410, 411, 412 Wappaeus 1284 Planalto de Amambay (Est. M. Grosso) Severiano da Fonseca I, 24 Campos entre os rios Apa e Aquidaban ( Para- guay) Endich; ocre Na sismo * 31 extende-se tambem acima da fronteira do Paraguay no Matto-Grosso Campos da Vaccaria (Est. Matto Grosso) Este e os seguintes (Nº 33) são percorridos pelo Rio Ivinhema cujas margens são de extensos campos Wappaeus 1271 e as 32 a Campos na margem esquerda do Paraná entre os *34 O) OX 36 9€ 38 39 Rios Paranapanema e Ivahy, que penetram no territorio paranaense Informação do Padre Simoni Campos dos Guaycurás e Campos do Rio Branco (Est. Matto Grosso) Castelnau II, 412 Campos entre Nova Coimbra e Rio Apa (Est. Matto Grosso) Wappaeus 1285 Campos do Rio Ivinhema Wappaeus 1271 Castelnau II, 412 N.º 34 deve ser collocado sobre o Rio Ivinhema que corre de 33 a 32 a Campos de Corumbá, Albuquerque e Coimbra (Est. Matto Grosso) Campos acima de Albuquerque no Paraguay Castelnau II, 389 Campos, de Nova Coimbra abaixo Castelnau II, 410 Wappaeus 1318 Campos do Rio São Lourenço ( Est. Matto Grosso ) Wappaeus 1281 Castelnau II, 367 Planalto de Matto Grosso Severiano da Fonseca I, 24 Castelnau II, 266, 275 Sertão de Camapuan (Est. Goyaz ) Veja tambem Atlas de Azevedo May Campos de Bomfim no Rio Corumbá (Est. Goyaz) Castelnau I, 209, 314 Veja tambem sobre os campos no primeiro curso do Paraná, Wappaeus 1269 40 41 43 + 45. 46 47 pe 428 Campos ao Nordéste de Minas Geraes Wappaeus 1564 Campos do primeiro curso do Tocantins e Ara- guaya (Est. Goyaz) : Campos ao Sul de Carretão Castelnau I, 349, 359 Planalto de Goyaz Wappaeus 1882 Planalto entre Araguaça e Tocantins (Est. Goyaz ) Wappaeus 1245, 1244 Planalto de Goyaz Wappaeus 1882 Martius III, 1045, 1046 Campos entre o Rio Grande e a cidade de Goyaz Castelnau II, 221, 240, 243 Campos ao Oeste do Rio Grande Castelnau II, 246, 247, 250, 266 Campos de Parecis (Est. Matto Grosso) Castelnau III, 57, 62, 93 Dicc. de Moreira Pinto «Tapajoz » Wappaeus 1277 Martius IL, p. 1344 Chapadão do Xingá (Est. Matto Grosso ) Wappaeus 1242, 1640 Reindl 6 Steinen 135 Sobre o Xingá Martius III, 1049 Campos no Rio Madeira (Est. Matto Grosso) Castelnau III, 143, 158 Campos do Forte do Principio da Beira Campos dos Amigos (Est. Matto Grosso ) Castelnau III, 143, 158 Veja tambem Atlas de Azevedo May 49 — 169 — Campos dos Veados (Est. Matto Grosso ) Castelnau III, 143, 158 Veja tambem Atlas de Azevedo May Campos de Casalvasco (Est. Matto Grosso) Castelnau III, 85 Campos dos Guarayos | Campos da Bolivia Campos dos Chiquitos os 1210 Campos dos Chiriguanos Campos de $. Miguel Campos altos do lado direito do Paraguay entre Nova Coimbra e a embocadura do Rio Apa Wappaeus 1285 Veja tambem Meyers Conver. Lex. «Bolivia » Campos do Lago Uberaba ao Norte do Gaiba (Rep. Bolivia) | Castelnau III, 17, 18, 23, 26, 28 Campos do Oruro (Rep. Bolivia) Meyers Conver. Lex. «Bolivia » Deserto de Atacama (Rep. Chili) Grisebach II, 419 Cordilheira do Chili sem matta Grisebach II, 421 Campos entre a Cordilheira dos Andes e a Mari- tima, de Santiago do Chili até o Rio Maule, no qual só se consegue cultura por meio de irrigação artificial. Informação do Dr. O. Buerger Pampas (Rep. Argentina) Grisebach II, 455 Pampas da Republica do Uruguay Grisebach II, 456 Patagonia Grisebach II, 457 61 62 64 66 67 68 69 Trecho dos Andes de vegetação pauperrima ( Rep. Pert ) Grisebach II, 420 ne de Sacramento entre o Ucayali e Hual- laga (Rep. Perf) Segundo Meyers Conv. Lex. Mappa do Perú Campos do Rio Branco superior (Est. Amazonas) Martius III, 1298, da emboccadura do Rio Cotingo para cima Llanos do Orenoco, que se estendem até a Cordi- lheira de Merida e ao Norte egualmente até a Serra da Costa (Rep. Venezuela) Grisebach II, 361 Campos de Cumana (Rep. Venezuela) Grisebach II, 358 Campos entre os Rios Madeira e Purûs na vizi- nhança da cidade de Humaytá ou Crato; ha delles ‘que estão ligados aos do Planalto Central do Brazil, encontrando-se ahi plantas caracteristicas daquella região, como Lixeira, Poconé, Paratudo. Informação do Coronel Ximenes Villeroy Campos entre o Baixo Tieté e o Rio Aguapehy (Est. S. Paulo) Communicação do Snr. Coronel Jorge Maya Campo do lado esquerdo do Rio do Peixe (Est. S. Paulo) Informação do Snr. Coronel Jorge Maya Campos na região de Obidos, Villa Franca, San- tarem e Alegre Ferreira Penna 21, 32, 107, 125 Campos entre os rios Pará e Eripecurá (Cuminan) Informação do Snr. Dr. F. Katzer — 171 — 69a Grandes- Campos em frente 4 emboccadura do Rio Madeira Informação do Dr. J. Bach 70 Mattos do Juruá (Est. Amazonas) Wappaeus 1236 “0a Campos rodeados de Mattas entre os Rios Xingá e Tocantins Informação do Snr. Dr. F. Katzer 706 70° Campos nas duas margens do Tapajoz Informação do Dr. F. Katzer 71 Matta da Fralda oriental occidental dos Andes (Rep. Colombia ) ye Grisebach II, 420 e 421 © 72 Matta da America Central, que desce até a Bahia de Choco (16.°—4° N) (Rep. Colombia) Grisebach II, 359 72 a Campos no Panama, do lado do Atlantico Informação do Snr. A. Ducke 726 Extensos campos ao Nordéste da Colombia segundo Hettner e informação do Dr. O. Buerger 72e Savanas predominantes no Isthmo do Panama segundo Sapper, mappa II 73 Matta do Rio Magdalena (Rep. Colombia ) Grisebach II, 374 74 Mattas virgens nas margens do Guaviare (Rep. Colombia) que se estende até o curso inferior do rio Meta e ao Rio Arouca Meyers Convers. Lex, «America» 74a Região de Mattas segunda informação do Dr. J. Bach 75 Matta no Rio Uaupé (Est. Amazonas) Martius ITI, 1298 76 Si 82 82a 85 84 84a 85 — 172 — Matta de Atures, descripta por Humboldt (Rep. Venezuela ) Grisebach II, 361 Região da bifurcação do Amazonas e Orenoco, coberta de Matta (Rep. Venezuela ) Grisebach II, 361 Mattos entre o Rio Branco e a Serra Parima (Est. Amazonas) Meyers Convers. Lex. «Mappa Perá» Mattas no Rio Negro Spix e Martius III, 1292 Mattas do Rio Purfs Wappaeus 1238 Mattas entre os Rios Madeira e Tapajós Reindl 6 Spix e Martius III, 1050 Mattas e Campos ao Sul de Paramaribo Grisebach II, 369, 373 Entre os Rios Uassá e Araguary a zona do ht- toral é occupada por campos numa largura de trinta kilometros; para o interior seguem-se mat- tas virgens. Informação do Snr. A. Ducke Mattas do Rio Essequibo Grisebach II, 362 Mattas do delta do Orenoco até a Guiana Grisebach II, 358 Mattas do Rio Orenoco e de seus affluentes Informação do Dr. O. Buerger Matta ao longo da costa de Venezuela Grisebach II, 358 86 86 a 87 87a 89 90 — 173 — Mattas do Pará Wappaeus 1633 Spix e Martius IL 573 Mattas nos arredores de Pará Segundo informação do Snr. A. Ducke Mattas, segundo Moreira. Pinto 1. c. «Campo maior» e «União»; Segundo informação do Dr. Otmar Reiser, porém, iodo o curso inferior do Rio Parnahyba corre por cautingas das mais seccas. Mattas em «Joromenha» e «Amarante» Dice. de Moreira Pinto Serra de Ibiapaba Spix e Martius III, 1373 Segundo communicação do Dr. Theodoro Sampaio Serra de Uruburetama Wappaeus 1655 Mattas do Ceará nas Serras de Baturité, Arata- nha, Acarapé e Maranguape Wappaeus 1655 Serra Grande (Est. Ceará) Segundo Communicação do Dr. Theodoro Sampaio Mattas da Serra de Araripe (Est. Ceará) Carta do Dr. Theodoro Sampaio Mattas da Serra da Borborema (Est. Parahyba) Carta do Dr. Thedoro Sampaio Mattos do Est. Parahyba do N. Wappaeus 1655 Mattas da Serra dos Carirys (Est. Pernambuco ) Carta do Dr. Theodoro Sampaio Mattas de Pernambuco e Alagoas Wappaeus 1669, Alagoas 1679 of 98 99 100 100 a ET Oo 104 EMA Se ie Mattas de Sergipe Wappaeus 1669 Matta a E. da Serra da Sincorá (Est. Bahia) Wappaeus 1692 Martius II, 609 Matta nas Serras de Gurgueia e das Mangabeiras (Est. Piauhy) Lamberg 139 Matto do Mucury (Est. Espirito Santo) Wappaeus 1260 Prinz Wied 1, 230 Mattas no Rio Mucury no Est. da Bahia a E. de Minas Geraes Informação do Dr. Pandiá Calogeras Grandes Mattas entre os Rios Jequitinhonha e o Rio das Contas e mesmo até Caeteté Informação do Dr. A. Pimentel Enormes Mattas do Espirito Santo Wappaeus 1712 Mattos entre o Rio Doce | e Jequitinhonha Região das Mattas: Wappaeus 1263 Mattas no Sul de Mi- Maximilian Prinz zu Neu- | nas, Wappaeus 1864; Wied I, 198, 203 Nas fontes do Rio Doce, N.º 102 deveria estar | Burmeister 305 mais ao N. Mattas do rio Parahyba (Est. Rio de Janeiro) Wappaeus, 1264 N.º 103 deveria estar mais ao 8. Matto da Serra de Mantiqueira (Est. Rio de Ja- neiro) Wappaeus 1768 Derby 26, (esta Serra continúa até o Rio Grande); do conhecimento pessoal do autor E fds 105 Matto nas Fontes do Rio S. Francisco (Est. Minas Geraes) Castelnau I, 280 105 a Campos nas adjacencias de Bello Horizonte (Est. Minas Geraes) Informação do Dr. A. Pimentel 106 Matto da Serra da Matta Castelnau I, 284, 287 veja tambem Atlas de Azevedo May 107 Matto do Rio das Velhas (Est. Minas Geraes) Castelnau I, 300 108 Matta de Catalão (Est. Govaz) Castelnau I, 301, 303 Mattas nos affluentes do Rio $. Francisco, Indaya, Abaeté, Somno, Quebra-Anzol, e Ribeirão dos Dourados no Est. Minas Geraes Informação do Dr. A. Pimentel 108a Larga faixa de Mattas no Paranahyba e seus af- fluentes, Corumbá, Meia Ponte, e Bois no Est. Goyaz Informação do Dr. A. Pimentel Mattas ribeirinhas do Rio Paranahvba e Rio Grande no Triangulo Mineiro Informação do Dr. Pandiá Calogeras 109 Matto no curso superior do Tieté que se extende desde a Serra da Cantareira até Ypanema Martius I, 249, 250 Matto nas margens do Tieté Martius, I, 261 Mattas ao Noroeste de Ytt Martius I, 288 *110 Matto no, Rio Grande (Est. S. Paulo) segundo carta do Snr. Olavo Hummel N.° 110 por engano foi impresso 150 em vez de 110 119 — 176 — Matta do Paranapanema (Est. 8. Paulo) Wappaeus 1275 | Matto do Alto Uruguay (Est. Santa pee Varella 343, 344 e do auctor Mattos de Jacuhy e Jbicuhy (Est. Rio Grande do Sul) Varella 1. supra c. e do auctor Mattos do Herval (Est. Rio Grande do Sul) Varella L supra c. e do auctor Mattos dos Tapes (Est. Rio Grande do Sul) Varella L supra c. e do auctor Matto do Uruguay Avé-Lallemant II, 118, 127 Mattos das Missões (Rep. Argentina) Avzara LOS, ti Burmeister I, 173 Mattos de Corrientes (Rep. Argentina) Azara I, 105, 111, 120 Burmeister I, 174, 318 Mattos ao Norte de Santa Fé (Rep. Argentina) Napp 122, 146 Grisebach, II, 455 Matto do Rio Bermejo (Rep. Argentina, Chaco) Napp 146 Matto do Pilcomayo enon Paraguay) Rengger 17 Matto de Paraguary (Rep. Paraguay) Rengger 12 , Matto que se estende para a Serra de Maracajá (Rep. Paraguay) Rengger 8 SANT — Mattos entre Guayrá e S. Maria (Est. Paraná) Wappaeus 1277 Matto no Lago Gaiba (Est. Matto Grosso) Mattos no S. Lourenço, Castelnau II, 270, 383; poucas arvores no pri- meiro curso do Paraguay, Wappaeus 1280 Matto de Xaráyes Wappaeus 1279, 1318 Mattos da Campina (Villa Maria, Est. Matto Grosso ) Wappaeus 1278, 1318 Matto do Jaurá (Est. Matto Grosso ). Castelnau III, 30 Wappaeus 1518 Mattos dos Andes na Bolivia Napp 122 Mattas de Santa Cruz e Rio San Miguel (Bolivia) Castelnau III, 220, 224, 228; VI, 9 Mattas entre o Madeira e Tapajoz (Est. Matto: Grosso ) Castelnau II, 116, 117 Mattos de Arequipa (Rep. Peri) Grisebach II, 420 132’ Oasis de Tucuman (Rep. Argentina ) Grisebach II, 450 -Matto de Algarobas ás margens do Salado (Rep. Argentina ) | Grisebach II, 455 N. 133: o verde, indicando matta, deve esten- der-se por sobre esse numero e, acompanhando 0 Rio Salado, chegar até o 28° 5. Oasis de Mendoza (Rep. Argentina) Grisebach IT, 450 — 178 — 135 Andes do Chili cobertos de Matto Grisebach II, 421 135 a Parcella de Mattas, compostas de especies sul-chilenas Informação do Dr. O. Buerger 136 Matto no Rio das Mortes, Manso ou Roncador (Est. Matto Grosso) Castelnau IT, 253, 257, 267, 270 *137 Matto de Salinas (Est. Goyaz) Castelnau I, 356, 359, 360, 364 O Nº 137 e a parcella de matto correspondente, indicada por Castelnau, estão mal figurados no mappa, devendo estar a meia distancia entre 137 e 138, ao N. da cidade de Goyaz. 137 a Mattas na ilha do Bananal Segundo Dr. J. Bach e Moreira Pinto 200 Segundo informação do Snr. Dr. F. Katzer, porem, consta haver tambem ahi grandes campos. 138 Grande Matto de Goyaz Castelnau I, 318 Commissão Exploradora 216 Wappaeus 1882 Explicação das Estampas I-VII Est. I Distribuição das Mattas e Campos na America do Sul; veja-se a explicação detalhada 4 pg. 163. Esr. II Campo de Santo Amaro, ao Sul de S. Paulo; Esr. HI Caapão (caa matto, pâun ilha ou apoan redondo, em guarani), ilha de matto no campo; perto de Osasco, Est. S. Paulo; Esr. IV. Pinheiros (Araucaria brasiliana) em região de campo; perto de Curityba, Est. do Paraná; Esr. V Caatinga (caa matto, tinga branco, claro em guarani), matta especial das regiões seccas do Brazil; Joazeiro, Est. da Bahia. Esr. VI e VII Interior de matta no alto da Serra, Serra do Mar, Est. 8. Paulo. AS CABEÇAS MUMIFICADAS PELOS INDIOS MUNDURUCUS Prof. Dr. H. von IHERING i ERES e e As innumeras hordas de selvagens, que no tempo da conquista habitavam o Brazil, viviam entre si em continuas rixas e guerras. E como fosse muito divulgado entre elles o uso da anthropophagia, particularmente entre os da familia tupi, não é de admirar que muitas vezes conservassem OS ossos ou outras partes dos corpos dos inimigos mortos e devorados. Ássim é que numerosos autores nos relatam que nas cabanas dos indigenas encontraram accumulados ossa- mes de inimigos mortos. Em certos casos os indios se serviam dos craneos das suas victimas como vasilhas para beber e no Museu Nacional do Rio de Janeiro acha-se guardada uma busina feita de um craneo humano. _ Serviam de trophéos tambem collares feitos dos dentes des inimigos. O costume de escalpar o inimigo vencido e de guardar as madeixas como trophéos, tão geralmente praticado pelos bellicosos indigenas da America do Norte, parece ter sido raro na America Meridional. Como prova, entretanto, da occorrencia do escalpamento tambem na America Meridional, menciono- aqui o caso contado por Ulrich Schmidel, referente aos Yapirás do Paraguay, que, com dentes agudos de peixes, tiravam ao inimigo vencido o couro cabelludo, guardando-o como trophéo. Entre os indigenas do Brazil não me consta ter sido observado o preparo de escalpos, mas, em compen- 12 ET (es sação, em certas regiões decepavam as cabeças dos ini- migos, mumificando-as para servirem de trophéos. Estas cabeças mumificadas se encontram representadas em nu- merosas collecções da Europa e da America. Uma das primeiras que foi descripta e figurada, é a do Museu Anatomico de Gottingen, que foi figurada por Blumenbach nas suas « Decades craniorum Tab. XLVII e que lhe foi remettida da Bahia pelo Dr. Abbott. Nem este nem Blumenbach conheciam a procedencia, mas : von Martius já indicou os Mundurucás como preparadores das mesmas, sendo entretanto resumidas e insufficientes as respectivas informações. Os dados mais exactos sobre a significação e preparação destes trophéos encontramos na literatura brazileira moderna, sendo valiosas, particu- larmente, as informações dadas por Barboza Rodrigues e Antonio M. Gonçalves Tocantins. Sigo especialmente a estes dous autores na seguinte exposição, á qual deu en- sejo a acquisição que fez o Museu Paulista de duas destas cabeças mumificadas. Como quasi sempre acontece, estas cabeças, que me foram cedidas pelo Snr. Estellita Alvares, eram despro- vidas de indicações sobre a sua proveniencia. Vou em seguida tratar primeiro das cabeças com- pletas, munidas de craneo, depois das sem craneo e juntar afinal notas sobre o preparo e o fim destas cabeças e as tribus das quaes provêm. A Cabecas mumiticadas com craneo A cabeça pertencente agora ao Museu Paulista e figurada na estampa IX, é a de um homem de 30 a 40 annos com fracos vestigios de bigode e com rico cahello preto luzidio. À pelle assemelha-se a couro grosso, bem curtido, cuja côr tambem possue. A bocca entreaberta — 181 — deixa ver as maxillas privadas de dentes. As orbitas estão cheias de uma massa resinosa, preta, em cuja super- ficie exterior, fortemente convexa, estão embutidos, de cada lado, dous dentes incisivos de cutia, evidentemente para imitar a vista semifechada. Em cada orelha está coilocada uma borla de fios de algodão, da qual pendem bonitos enfeites de pennas de côres. Os cabellos da frente estão rapados e no vertice nota-se uma pequena corda de 25 mm. de diametro. O lado inferior da cabeça está muito bem tratado, sendo perfeitamente liso e plano e mostrando no meio uma abertura oval de 61 mm. de diametro maior, pela qual se enxerga o craneo, cuja ca- vidade cerebral está vasia. Dou em seguida algumas medidas desta cabeça: Comprimento total da cabeça 182 mm.; largura maior da mesma 138 mm.; da raiz do nariz até a bocca 72 mm. dito até o mento 118 mm. Cabeças semelhantes á que acabamos de descrever já por varias vezes têm sido descriptas e figuradas. Se- jam mencionadas as seguintes, além da já indicada de Blumenbach. Paul Gervais em Francis de Castelnau, Expedi- tion dans les parties centrales de l'Amérique du Sud, Part VII, Zoologie, Pariz 1855. Pl. XVIII. (frontispice) Cabeça de um ao Mauhé preparada pelos Mundurucís. J. B. von Spix und C. F Ph. von Martius, Reise in Brasilien, Bd. III Muenchen 1831, pag. 1314, PL XXXII (Guerreiro Mundurucá, ostentantado um destes trophéos na ponta da lança). Maximilian Prinz zu Wied-Neuwied, Reise nach Brasilien in den Jahren 1815-1817 Frankfurt, 1820, PE XVE fes: F. R. Katzer. Zur Ethnographie des Rio Tapajós. Globus, LXXIX, Braunschweig 1901, p. 39. À cabeça é a de um indio Juruna e acha-se exposta no Museu Ethnographico de Berlim. Barboza Rodrigues. Revista da Exposição Anthro- pologica Brazileira. Rio de Janeiro 1882, fig. 4 p. 80. Indio Mundurucú, com uma cabeça-trophéo. Segundo B. Rodrigues, loc. cit. Barboza Rodrigues que viveu algum tempo Antonio Manoel Gon- calves Tocantins. Estudos sobre a tribu Mundurucá. Rev. Inst. Hist. do Rio de Janeiro, Vol. XL (II) 1877 SAND OS. I. G. Wood. The natural history of man— America, London 1870 p. 575. Fr. Ratzel. Voelkerkun- de, Leipzig 1886, IT, p. 643. Ferdinand Denis, Brésil, Paris 1846, Pl. 21; repro- duz a cabeça mumificada, figurada por Wied, repetindo tambem a erronea denomi- nação de «cabeça de Botu- cudo », empregada por Wied, que não indagou da pro- cedencia destas cabeças, ignorando que ellas só po- diam ser attribuidas aos Mundurucüs. no Alto Tapajóz no Estado do Pará, entre os Mundurucüs, nos dá, á pagina 80, uma figura de uma destas cabeças mumificadas com craneo, que é denominada «pariuá-a» e 4 pagina 28 dá o desenho de um guerreiro Mundurucá em trages festivos, trazendo comsigo, na ponta da lança, um destes trophéos. aw eb ees Uma figura semelhante a. esta, de um guerreiro Mundurucá, com uma cabeça mumificada na ponta da lança, vemos no Atlas que acompanha a viagem de Spix e Martius, Tab. 33. Barboza Rodrigues não trata dos «pariuá-a» com “craneo. Os primeiros autores que delles nos dão infor- mações exactas são os celebres viajantes Spix e Martius, que relatam o seguinte: «O Mundurucá, sendo victorioso, não poupa o inimigo. Depois de o ter ferido e prostrado por flexa ou lança, que aliás nunca: estão envenenadas, o agarra pelos ca- bellos e com uma faca de taquara, corta-lhe os musculos e cartilagens do pescoço e com tanta habilidade que num instante a cabeça fica separada do tronco. Segundo Ca- zal foi este costume barbaro que motivou este apellido «Pai-quice» com que as outras tribus denominam os Mundurucás. A cabeça assim conquistada torna-se"objecto dos maiores cuidados por parte do vencedor. Logo depois de se reunir aos seus companheiros, extrahe os miolos, os olhos e a lingua e depois de limpal-a de todos os pedaços de carne adherentes, sujeita a cabeça á acção do fogo, perto do qual é conservada até seccar. Em seguida é lavada diariamente repetidas vezes com agua e, im- pregnada de oleo de urucú, é exposta ao sól, processo pelo qual se torna durissima. Completa-se depois a preparação enchendo-lhe a cavidade com miolo artificial de algodão tinto, provendo as orbitas dos olhos com re- sina, na qual se encravam dentes e dando-lhe um en- feite de pennas. Assim preparado, o medonho trophéo não abandona mais o vencedor, que o carrega comsigo preso num cordão em guerra e caça e, deitando-se no rancho commum, colloca-o de dia no sól ou na fumaça e de noute, qual guarda, perto da réde.» Os mesmos autores, na estampa 34, figuram uma cabana dos Mundurucás, ao lado da qual se vê, sobre uma lança, uma destas cabeças mumificadas. — 184 — A. M. Goncalves : Tocantins (1. e. p. 83) diz que obteve de um Mundurucá a cabeça mumificada de uma moça, que actualmente se acha guardada no Museu Na- cional do Rio de Janeiro. Esta cabeça é figurada á pa- gina 83 e é a de uma moça da tribu Parintintin. «Conserva sua abundante cabelleira; na frente está ras- pada, como se fora á navalha. Assim a fronte parece “prolongar-se sobre a cabeça até quasi o meio; no centro dessa fronte artificial destaca-se uma mécha circular de cabellos negros». Em geral os Mundurucás não tem o costume de matar as mulheres que aprisionam, porém em geral con- servam-nas como escravas; dessa vez talvez se tratasse de um caso anormal ou, quiçá, de um engano. B Cabeças mumificadas sem craneo O exemplar adquirido pelo Museu (Est. X) parece ser cabeça de uma mulher. O cabello tem o comprimento de 37 em. As dimensões da cabeça são as seguintes: 86 mm. do vertice até o mento, 31 mm. da ráiz do nariz á bocca, e 44 mm. de largura do rosto, de orelha a orelha. Sahe do meio do vertice um cordão branco de algodão, para pendurar o trophéo. Pende da bocca, qual franja de longos fios trançados de algodão branco, outro enfeite, que está amarrado em tres pontos aos beiços, perfurados para este fim. Ha uma affirmação, segundo a qual cabeças como a descripta são preparadas pelos Mundurucús; refiro-me ao testemunho de um observador dos mais competentes, a do Dr. Barboza Rodrigues. Dou em seguida, com as suas proprias palavras, a descripção que elle faz do pre- paro destes trophéos. Na obra citada o autor á pag. 40 figura uma destas cabeças, que perfeitamente corresponde ao nosso exemplar. Barboza Rodrigues quando viveu entre os Mundurucás, assistiu ao preparo de um destes trophéos e dá-nós a seguinte descripção : «Qual o processo, que empregam para a mumificação e reducção, felizmente posso dizel-o, porque vi uma cabeça em meio da operação, e me foi explicado por um membro da mesma tribu. Os peruanos mumificam tambem cabeças, que ficam semelhantes a esta, mas si pelo mesmo processo ignoro. Eis como se prepara um destes horriveis trophéos, que dá, ao que o preparou, as honras de guerreiro notavel. Logo depois de um ataque, finda a batalha, cada um dos combatentes, que tiveram occasião de subjugar o inimigo e degolal-o, começa o trabalho da conservação de seu trophéo nesse mesmo local, e o acaba mais tarde na sua malóca. Principia por arrancar os dentes que servem para o pariua-le-rau, com o qual o tuchána o recompensará cinco annos depois; passa a extrahir os olhos e depois todo o interior da cabeça. Como um habil traxidermista vai virando o couro cabelludo e descarnando-o do craneo até chegar a desco- bril-o todo, ficando só preso pela face. Ahi com toda habilitade destaca os musculos com a pelle e regeita os ossos. Virada assim de dentro para fóra a cabeça, sem distendel-a, com faca de taquára corta a musculatura quasi toda. Limpa, enxuga bem, e dá, quer interna quer exter- namente, uma untura com oleo de andiroba (Carapa guyanensis), e, com estopa e paina, raizes e folhas aro- maticas socadas, passa a empalhar, procurando dar as formas naturaes, que não desfigurem o individuo. Em- palhada, pendura-a sobre um muquem, e ao calor brando e fumaça vai seccando-a. Absorvido o oleo, e quando — 186 — parece querer seccar, diminue o enchimento, unta-a nova- mente com oleo, e assim, seccando gradualmente, torna menor o volume, até chegar a um ponto que não seja mais possivel a pelle encolher-se. Então fura-lhe os labios, prendendo ambos com fios de algodão, donde pende um enfeito, tambem de fios pintados com urucá. Passa-lhe pelo alto da cabeça um longo cordão para trazel-a pen- durada ás costas, e é guardada ao fumeiro, o que dá a côr negra que tem a pele e impede, assim como 0 ne que os insectos a corroam. A mumia referida mede de uma a outra orelha passando a linha sobre o nariz, 0",05 (1), do occipital aos labios 07,095, e de comprimento 0",06.» Informações valiosas sobre o mesmo assumpto nos fornece um livro de Richard Andrée (2) do qual trans- crevemos o seguinte: «Particular ao novo mundo parece uma preparação de cabeça humana que consiste em tirar Os Ossos, res- tando só as partes carnosas, que depois, por um pro- cesso especial, se encolhem sem no emtanto soffrer desfiguração. Este modo de preparação, pelo qual a cabeça se transforma em idolo, encontra-se na America meridional e é bem relatado em uma deseripção extensa de J. F. Barriero, que conta o seguinte sobre a cabeça-idolo dos Jivaros (lado oriental da Cordilheira no Equador). Ao Secretario da Legação espanhola em Quito. Equador, Macas 2 de Dezembro de 1860. Recebi sua carta de 15 de Agosto, na qual me pede informações sobre a cabeça-idolo dos Jivaros, sobre sua procedencia e preparação. O que agora communico a V. S. é o re- (1) O original citado, devido a um lapso typographico, indica: 0”,50. N. da R. (2) Ethnographische Parallelen und Vergleiche von Richard Andrée. Com 6 Est. e 21 figs. Stuttgart 1878. p. 142-147. sultado de pesquizas que emprehendi durante mais de dous annos. Um Jivaro da’ tribu dos Tambos encarre- gou-se de obter para mim um dos idolos, no que não foi bem succedido no primeiro anno. No anno seguinte porém poz em execução o seguinte estratagema : elle persuadiu a um Jivaro que o idolo delle desejava viajar um pouco, para distrahir-se de alguma forma da longa prisão; por isto que consentisse que o idolo o acompa- nhasse. O indio baptisado trouxe-me a cabeça e levou em troca uma porção de presentes para o dono della. - Na guerra. cortam os vencedores as cabeças 4 suas victimas; o craneo e o outro conteúdo se extrahe e in- troduz-se uma pedra quente, sobre a qual a pelle secca e se encolhe, sem comtudo alterar os traços physiono- micos, transformando-se assim em uma cabeça em mi- niatura, em escala pequena. Assim ao menos a mim se me afigurou o processo—porém talvez me engane. Estando a cabeça preparada, tocam o tunduli ou caixa de rufos, o que se deve realisar dentro dos nove dias im- mediatos depois do combate, acontecendo em caso con- trario que as almas dos guerreiros mortos da propria tribu ficam descontentes, causa pela qual a cabeça não presta mais para idolo. No decimo dia começa a festa; o Jivaro que possue uma cabeça-idolo, a pendura, junto com ou- tros trophéos eguaes de outros indios, num poste na choupana, occupando a cabeça mais recente lugar saliente. Todos os individuos presentes e principalmente as mu- lheres, ostentam seus mais preciosos enfeites e estão sentados conforme sua hierarchia mais perto ou mais longe do idolo. Então o pagé agarra a cabaça, levanta-a pela corda e falla a ella, exaltando o valor de quem a conquistou e terminando atinal com certas gesticutações. Segue-se um breve silencio e depois um grito penetrante. Todos saltam dos seus logares e começa um reboliço atordoador. Em seguida ata-se a cabeça novamente no poste e todos, excepto o vencedor, se sentam. Este — 188 — ultimo colloca-se armado da lança diante da cabeça, a qual insulta, ao que o pagé responde em termos egual- mente injuriosos: «Cobarde, em vida tu não ousavas injuriar-me assim; tu tremias ouvindo meu nome, co- barde! Um de meus irmãos me vingará!» O Jivaro enfurecido com esta offensa, fere a cabeça, com a lança, no rosto e a obriga a calar-se para sempre, cosendo-lhe a bocca. Deste momento em diante o idolo torna-se mudo e só serve de oraculo, ao qual os Indios embria- gados dirigem perguntas. Começa então a dança. O vencedor pendura o idolo numa vara ao ar livre, no que é ajudado por sua mulher predilecta. Homens e mulheres volteam dançando ao redor da cabeça, cantando o hymno triumphal e to- cando os instrumentos de musica. Isto repete-se durante alguns dias. As vezes, no ardor da perseguição, os indios não tem tempo de cortar a cabeça ao inimigo morto; neste caso realisa-se a cerimonia com substituição por uma cabeça de porco, que occupa o lugar da cabeça-idolo. = Manifestando-se escassez da colheita, ou si não augmentam os animaes domesticos, como se deseja, então as mulheres fazem preces dançando em roda da cabeça, que um pagé segura. Se a cabeça não pratica o milagre pedido, tosqueiam-lhe os cabellos e atiram-na para o matto. De todos os usos selvagens dos habitantes da Cor- dilheira oriental me parecia este o mais notavel. Accrescento ainda que não transformam em idolos as cabeças de todos os inimigos mortos em combate, mas só daquelles que se distinguiram pela valentia. A estes arrancam o coração que devoram assim como o miolo. Este uso existe entre as tribus dos Tumbas, Mendes, Pastaza, Jerumbaini, Tutamagosa, Chiguavida, Achmiles, Guambinima, Guambisa, Huamboga, bem como entre os indios que moram mais em baixo e entre aquelles que moram na Morona e anida são anthropophagos. — 189 — Mas este uso não se limita só aos indios do Equador. Deparamos com elle mais ao norte na Co- lombia e a leste na região amazonica. Os Mundurusús que torram as cabeças conquistadas aos inimigos perto do fogo, não tiram os ossos, mas sómente o miolo e os olhos. As orbitas enchem de resina, na qual encravam as unhas da preguiça. Essa cabeça, ornamentada de pennas, o guerreiro carrega comsigo, presa á cintura. Philippi descreve uma cabeça do Museu de San- tiago, Chile, dé 4” 8” altura e 3” 8” largura; Saffray viu na Colombia uma destas cabeças « reduite à peuprês au sixième du volume primitif, sans rides et sans défor- mation des traits. » Uma cabeça descripta por Lubbock, preparada pelos Jivaros, tinha no emtanto 11” de altura. À cabeça cuja estampa eu dou conforme uma photographia de R. H. Furman em Pará, Brazil, tem 1% de tamanho natural, e é a do cacique Tibi dos Antibas, que em março de 1871 foi morto pelos Aguaranas. Os indios deram esta cabeça, não sem reluctancia, a um official peruano, em troca de uma espingarda. » Estas cabeças mumificadas dos Jivaros são encontra- das em numerosas collecedes ethnographicas. Schmeltz, (1) figura uma cabeça preparada pelos Jivaros conservada na colleeção do Museu de Leyde, sendo notavel pelos nu- merosos enfeites pendentes das orelhas e da bocca. Outra figura que aqui seja mencionada é a que Ladislau Netto (2) deu de um cacique Jivaro, que mostra, pendurado nas costas, uma destas cabeças mumificadas, sobre um adorno composto de tibias de aves pernaltas. (1) Schmeltz, I. D. E. Ethnographische Musea in Midden—Europa. Leiden 1896, p. 35. (2) Ladislau Netto. Investigações sobre a Archeologia Brazileira. Archivos do Museu Nacional de Rio de Janeiro, Volume VI, 1885, p. 323. — 190 — R. Virchow (1) tratou de uma cabeça mumificada que era a de um indio Guambia e preparada por indios da tribu dos Aguarunas do Equador. Virchow ligou attenção especial ao exame do rico cabello, liso e preto. Ser-nos-ia facil augmentar aqui as indicações lite- rarias; desisto entretanto desta tarefa em vista da excel- lente monographia de G. A. Colini (2) que detalhada- mente trata das cabeças mumificadas, preparadas pelos Jivaros, referindo-se extensamente á rica literatura res- pectiva (3). Um ponto, entretanto, deve ainda aqui ser discutido. Estas cabeças mumificadas attrahiram naturalmente a atten- ção não só dos curiosos mas especialmente dos viajantes ilustrados e dos anthropologos. Muitos destes trophéos chegaram deste modo a fazer parte das collecções de Museus americanos e europeus e naturalmente foram pagos por altos preços. | Actualmente, como os tains deixaram de preparar estes trophéos, os mesmos não se vendem a menos de 600-—800$000 rs. ou 1000—1.200 marcos. Nestas condições desenvolveu-se no Equador a per- versa industria do fabrico de taes trophéos, o que já obrigou o governo do Equador a prohibir o commercio estabelecido com taes trophéos. R. A. Philippi (4) em 1872 chamou primeiro a attenção geral a este facto, descrevendo e figurando uma cabeça mumificada que era a de uma moça e da qual (1) Rudolf Virchow, Verhandlungen der Berliner Gesellschaft für An- thropologie, Ethnologie und Urgeschichte 1892, p. 78. (2) G. A. Cohni.Osservazioni etnografiche sui Givari. Reale Accademia dei Lincei, Roma, 1882-1883. (3) Em todo caso taes peças sempre foram consideradas preciosidades, pois que, como o diz M. Lorthior (Communication sur une tête momifiée— Chancha.— Bull. de la Soc. d'Anthropologie de Bruxelles, Vol. VI, 1888, Pp 406, Est. XVII) em 1873 não havia na Europa senão 6 destas cabeças mumi- ficadas. (4) R. A. Philippi. Una cabeza humana adorada como Dios entre los Jivaros. Anales de la Universidad. Tom. XLII, Santiago (1872), p. 91. — 191 — ficou averiguado que foi preparada no Equador por um hespanhol, que vivia perto dos Jivaros. Tambem Ambro- setti (1) tratou de uma destas cabeças falsificadas, pre- paradas unicamente na intenção de ganhar dinheiro. Esta cabeça era provida de parte do pescoço, que nos dous lados estava cortado e costurado, o que não acontece nas legitimas; faltavam-lhe tambem as tres suturas pelas quaes a bocca costuma ser fechada nos trophéos verda- deiros. Nestas condições não é dificil distinguir os trophéos legitimos das falsificações. Observações geraes e conclusões Os factos que acabamos de communicar, provam o que já dissemos na introducção, isto é, que o motivo principal para o fabrico das cabeças mumificadas é a vaidade e o orgulho do guerreiro triumphante, que guarda para si, como trophéo, parte do corpo do inimigo ven- cido. | Não é esta entretanto a unica. razão para o pre- paro das cabeças mumificadas, sendo outra o desejo de levar 4 aldeia a cabeça de um guerreiro succumbido em combate, que alli se torna objecto de veneração, e que é afinal enterrada na propria cabana, depois de decorrido certo prazo convencional. (Como prova dou em seguida a respectiva narração de M. A. Gonçalves Tocantins, referente aos Mundurucás. «Quando em uma dessas frequentes guerras suc- cede que um Mundurucá morre em combate, seus com- panheiros cortam-lhe a cabeça e a fazem mumificar pelo processo conhecido. (1) Juan B. Ambrosetti. Cabeza humana preparada segun el procedi- miento de los Indios Jivaros del Ecuador. Anales del Museo Nacional de Buenos Aires, Tomo IX, 1903, p. 519-523. 00e Regressando á aldeia, collocam-n'a em um logar reservado, assim como as armas, a busina e os ornatos que pertenceram ao guerreiro defunto. Esta reliquia tor- na-se objecto de veneração publica. Se passa algum Munduruci das aldeias visinhas vai visital-a e rende-lhe o culto devido, chorando e la- mentando a sorte do finado. Na aldeia natal preparam- lhe honras publicas; fixam de antemão a época e fazem convites ás aldeias visinhas. Estas festas funebres duram mais de um dia. Ce- lebram uma em cada um dos quatro primeiros annos que se seguem á morte do guerreiro. A festa do quarto anno termina pelo enterro da cabeça . . . dentro da casa onde habita a familia do guerreiro defunto; abrem uma sepultura em sentido vertical e n’ella enterram a cabeça, em cuja honra se celebram as festas.» No mesmo sentido como Gonçalves "Tocantins ex- prime-se tambem Hartt no seu artigo, tratando dos Mundurucás (Archivo do Museu Nacional do Rio de Janeiro, vol. VI, 1885, p. 129) onde diz: « Quando morre um guerreiro ou é morto fóra da aldeia, cortam- lhe a cabeça, um braço ou uma perna, preparam-n'os ao moquem e trazem para casa para enterrar; si a distancia é muito grande, guardam sómente uma mão. Quando um guerreiro morre perto da aldeia, mas dema- siado longe para poder ser conduzido todo o corpo, elles extrahem-lhe os intestinos, poem o corpo no mo- quem e levam-n'o para a aldeia afim de enterral-o. Esta mutilação e tratamento do corpo pelo fogo não tem pa- rallelo, que eu saiba, em qualquer outra tribu.» O costume de levar partes do corpo de um guerreiro, fallecido longe dos’ seus, á sua cabana é geralmente observado entre os indigenas do Brazil e especialmente entre os da familia tupy. De accordo com estas informações historicas vemos que os enterros são realisados de dous modos differentes. — 193 — Em geral os Tupys, especialmente do Brazil meri- dional, enterravam os seus defuntos em grandes vasos de barro, denominados igaçabas, cuja abertura era diri- gida para cima; muitas vezes eram cobertos por uma tampa em forma de outra pequena panella. Além de urnas que contêm o esqueleto mais ou menos decomposto encontram-se outras em cujo fundo está depositada uma bacia bem elaborada, na qual se acha o craneo e as vezes mais alguma ossada do de- funto. Em casos como este o enterro era secundario, tendo sido transportada parte dos ossos, de certa dis- tancia até a moradia do defunto. Uma destas bacias fune- rarias, ha sete annos, foi encontrada quando se faziam excavações na rua Piratininga, em S. Paulo; era uma igaçaba, que continha um craneo humano bastante de- composto. Dei a figura (1) de outra destas bacias, tambem exposta no Museu Paulista, que é a obra ceramica mais perfeita que conheço do Brazil meridional. Ambas são de paredes grossas, de formas symmetricas, elegantemente trabalhadas e cuidadosamente ornamentadas com desenhos lineares vermelhos e pretos, sobre fundo branco. As cabeças mumificadas, quer sejam ellas dos pro- prios companheiros, quer sejam de inimigos, são prepa- radas do mesmo modo. Isto se refere especialmente ao modo como são cortados os cabellos, e especialmente na frente, onde elles são rapados nos dous lados, conservan- do-se no meio uma mecha circular. Este é o modo usado entre os Mundurucús. Assim, por exemplo, o descreve Hartt: (15 ¢ ‘p:' 118): (1) Revista do Museu Paulista, vol. VI, 1895. Est, XXIII, fig. 31. + — 194 — «Os cabellos entre os Kaapinauára usam-se de va- rios modos, não havendo distincção para as mulheres, ao menos pelo que me disse o Tenente Joaquim Cor- rêa. Ordinariamente o cabello é cortado completamente, a alguma distancia atráz da testa, deixando sómente uma repa na testa, em forma de corôa, cortado rente (assemelhando-se á pequena escova usada para engraxar as botas), sendo a raspagem feita com navalhas de bambü, como se usa por exemplo entre os Botocudos; porém agora os indios obtêm navalhas de aço e tesou- ras pelo commercio.» O mesmo modo de rapar os cabellos da testa era usado entre os Caraibes, como por exemplo o participa Waitz (1). Mas tambem entre os Tupis o mesmo cos- tume existia em muita parte. Assim, por exemplo, o conta Jean de Leri (2) com referencia aos Tupinambás da bahia do Rio de Janeiro. Julgo este um facto de grande interesse em vista do pronunciado parentesco que notamos entre os Tupis e Caraibes. Trata-se pois de um procedimento de alta significação, se os Mundurucüs, segundo a relação de Gonçalves Tocantins, rapam os cabellos da frente da cabeça do inimigo morto, 4 moda caraibe, antes de preparal-a como trophéo. Não podemos duvidar da exactidão dos dados relatados por G. Tocantins, visto que as cabeças figuradas, provenientes dos Manés e Parentintins tem a testa rapada do modo descripto, embora estas tribus não usassem cortar os cabellos desta forma. Tratando-se deste modo de uma operação practicada em individuos já mortos não tem a mesma valor anthropologico para o conheci- mento da nacionalidade das cabeças mumificadas. (1) Theodor Waitz, Anthropologie der Naturvélker. Vol. III, parte 1.º, Leipzig 1862, p. 370. : ) João de Leri, Historia de uma viagem feita á terra do Brazil; tra- duzida por Tristão de Alencar Araripe. Rev. do Inst. Hist. e Geogr. Brazil. Tomo LII, parte II, Rio de Janeiro, 1889, pag. 143. — 195 — Um facto cuja comprehensão psychologica se torna dificil, é que as cabeças dos inimigos sejam preparadas pelos Mundurucás do mesmo modo como as dos proprios parentes e ainda dotadas com os caracteres distinctivos dos Mandurucús e de seus parentes. A mesma singularidade estranhamos relativamente aos Jivaros, onde a cabeça do inimigo, insultada e mal- tratada ao começo, depois da cerimonia é tratada como uma veliquia veneranda. Em geral, os prisioneiros entre as tribus tupis eram tratados com grande brandura e affabilidade. Eram tratados com benevolencia quasi como membros da mesma tribu e se lhes dava de tudo que quizessem, inclusive mulheres. Quando afinal os prisioneiros eram mortos e devo- rados, este acto se revestia de toda a pompa e cere- monia, sujeitando-se os prisioneiros de boa vontade a este acto, ao qual muitas vezes lhes teria sido facil subtrahir-se pela fuga. Parece que o prisioneiro, uma vez que era acceito na communidade dos Mundurucás, era considerado como membro dessa tribu. Neste sentido afirma Hartt que a tatuagem 4 moda mundurucá não póde ser conside- rada como prova de origem mundurucá, citando casos em que indios de outras tribus que elle conhecia, se lhe apresentaram, depois de um certo numero de annos, com a tatuagem dos Mundurucás. Ha ainda outra particularidade com relação a estes trophéos e a sua significação temporaria. A cabeça mu- mificada do guerreiro munduruct é pelo espaço de quatro annos exposta e venerada na sua cabana e depois enter- rada. As cabeças dos inimigos representam para seu dono uma especie de pensão ou privilegio, porém sómente pelo espaço de quatro annos. Esta afirmação de Gonçalves Tocantins é confir- mada por Hartt, que sobre o assumpto se pronuncia (1. e. p. 131) do seguinte modo: 13 — 196 — «Nada póde induzir o guerreiro a desfazer-se do medonho trophéo antes de uma certa festa, depois da qual não lhe dá mais valor algum, sendo vendido ou mesmo lançado a um canto.» Não se entende a razão porque um trophéo, muito apreciado pelo espaço de quatro annos, depois deste prazo seja considerado desvalorisado, visto que nada perdeu de seu valor effectivo como symbolo. * x OK Todos estes factos tornam difficil conhecer a na- cionalidade das differentes cabeças mumificadas. Parece certo que cabeças provenientes de guerreiros mundu- rucús nem como presentes nem vendidas passam a mãos alheias. Não podem ser objecto de commercio, visto como são logo enterradas, ao passo que as dos ini- migos, especialmente depois de terem perdido seu valor symbolico, podem ser dadas ou vendidas a viajantes. Esta presumpção é confirmada pelo exame minucioso das res- pectivas cabeças. Se bem que a testa rapada á moda caraibe e o enfeite das orelhas sejam communs ás cabeças provenientes tanto dos Mundurucás como dos seus ini- migos, comtudo ha um caracter distinctivo. Os Mundu- rucis costumam cortar o cabello na altura da orelha, ao passo que isto não se dá com os Parentintins, Manés e outros visinhos dos Mundurucás, Effectivamente todas estas cabeças descriptas ou figuradas tem cabellos compridos. Ha outro caracter a que neste sentido se deve attender, e que é a perfuração e o enfeite das orelhas. Spix e Martius figuram na sua obra cabeças de indios mundurucüs, manés e outros indios do baixo Amazonas, referentes a indios que esses viajantes pessoalmente -exa- minaram e por estes desenhos, bem como pela respectiva descripção, verifica-se que os Mundurucás traziam na orelha um pedaço cylindrico de madeira, no meio da concha auricular, ao passo que os Manés, usando do mesmo enfeite, o traziam no lóbulo. (1) I” esta tambem a posição que o dito enfeite de madeira tem na cabeça pertencente ao Museu Paulista, e que desconfio ser proveniente dum indio Mané. O outro meio para distinguir a proveniencia ethno- logica destas cubeças mumificadas seria o exame cra- neologico. Infelizmente a respectiva literatura é muito deficiente neste ponto e tambem a extensa monographia de Ehrenreich não trata do craneo dos Mundurucás e de seus visinhos. Mas, mesmo se existissem indicações aproveitaveis na literatura craneologica, não poderiam ser utilizadas sem duvidas e precauções. O rapto continuo de mulheres e crianças, praticado entre os Mundurucás mais que em qualquer outra tribu e a facilidade com que elementos extranhos são assimilados ás tribus mun- durucús, devem ter alterado profundamente o caracter physico dos Mundurucás. Deste modo deve ser difficil chegar a resultados concludentes, sem estudos especiaes nos proprios aldeamentos dos Mundurucis. | Se em geral o preparo e a significação das cabeças mumificadas com craneo, confeccionadas exclusivamente pelos Mundurucás, são perfeitamente esclarecidos, não podemos affirmar o mesmo das cabeças sem craneo. To- dos os exemplares que vejo mencionados na literatura provem dos Jivaros, e de tribus visinhas, ao passo que todos os escriptores tratando dos Mundurucús se referem apenas as cabeças com craneo. Só Barbosa Rodrigues descreve estes trophéos desprovidos de craneo como fa- bricados pelos Mundurucüs. Nao sei explicar esta con- tradicção, observando que Katzer (L €. p. 38) affirma que conforme suas investigações os Mundurucás prepa- ram exclusivamente trophéos que incluem o craneo. (I) Spix e Martius 1. c. Atlas Est. XXXV fg. 6, 7 e 8. — 198 — Considerando como exacta a narração de Barbosa Rodri- gues, seria de presumir que houvesse alguma differença entre as cabeças preparadas por duas tribus separadas por tão grande distancia, o que entretanto não acontece. Ha mais um ponto que exige algumas observações. Figurei e descrevi (1) um cachimbo em forma de cabeça humana, que em baixo da bocca tem tres pequenos buracos, que lembram muito o fechamento da bocca por suturas. Tambem nas cabeças desenhadas nas urnas de Ma- rajó notamos em baixo da bocca tres pequenos traços e parece-me que um exame minucioso da literatura ar- cheologica ha de accrescentar observações analogas. Te- mos de contar com a possibilidade de que o uso da mumificação de cabeças, hoje restricto aos Jivaros e Mundurucús, antigamente tivesse tido uma distribuição vasta na America Meridional e que a analogia tão sur- prehendente entre tribus tão differentes e tão distantes não se explique simplesmente pelo acaso. Nesta supposição me acho de accordo com Ladis- lau Netto que (1. c p. 323) figura um busto em terra a cotta sobre um vaso de Marajó, dum sacrifice ou grande chefe sagrado, que tem nas costas, pendente do gorro, como trophéo, a cabeça de um inimigo, facto que nos induz a crêr que na época precolombiana o uso de taes trophéos fosse mais geral do que na actualidade. Qualquer que seja a solução deste problema, em todo caso se trata nestas cabeças mumificadas dum as- sumpto de grande interesse, cujo estudo particularmente com referencia á archeologia precolumbiana se recom- menda, sendo possivel que diversas figuras representando cabeças humanas em verdade sejam cabeças mumifica- das ou trophéos. (1) H. von Ihering, Bemerkungen zur Urgeschichte von Rio Grande do Sul; Verh. der berl. anthropol. Gesellsch., 1893, p. 191. ER Que LISTA BIBLIOGRAPHICA Ambrosetti, Juan, B., Cabeza humana, preparada segun el procedimiento de los indios Jivaros del Ecuador, Anales del Museo Na- cional de Buenos- Aires, Tom. IX, 1903, p. 519-523; Adrée, Richard, Ethnographische Parallelen und Ver- - gleiche, Mit 6 Tafeln und 21 Holz- schnitten, Stuttgart 1878, p. 142-147; Blumenbach, J., F., Collectio Craniorum diver. gentium, 6 decades et nova pentas; nova pen- tas collect. craniorum ed. H. v. Ihe- ring, Vienna; tab. 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Hist. do Rio de Janeiro, Vol. XL (Il, 1877, fig) à po 93; Virchow, Rudolf, Verhandlungen der Berliner Gesell- schaft fuer Anthropologie, Ethnologie und Urgeschichte, 1892, p. 78; a lt Wied-Neuwied, Maximilian Prinz zu, Reise nach Brasi- lien in den Jahren 1615-1817, Frank- iurt, 1820, Est. XVII, fig. 5; Wood, I. G. Natural history of man, America, Lon- dons 1870, p. 979); Waitz, Theodor, Anthropologie -der Naturvoelker, vol. UI, parte -I, Leipzig, 1862, p. 370. Explicação das estampas IX e X Est. IX. Cabeça humana mumificada com craneo; tro- phéo dos indios Mundurucás da Amazonia; Est. X. Cabeça humana mumificada sem craneo; tro- phéo dos indios Jivaros do Equador. MR A ANTIROPOLOGIA DO ESTADO DE SAO PAULO © -— PELO — Prof. Dr. HERMANN von IHERING CAPITULOS: 1) Os indios actuaes; 3) As linguas; 2) Tradições historicas; 4) Investigações arçheologicas ; 5) Conçlusões. Explicação dos Mappas XI-XII e Literatura —#$— 0—s>——— — 1) Os indios actuaes O litoral do Brazil, na época da descoberta, estava habitado por indigenas pertencentes ás duas nações: Tupi e Tapuya. Estes ultimos, os antigos donos desta região, tinham sido rechassados da costa á Serra do Mar e para o interior do paiz, pelos povos tupis, que occupavam a costa, desde a fóz do Amazonas até a do Rio da Prata. A differença linguistica entre os Tupis e Tupinambás do Rio de Janeiro e do Norte do Brazil e os Guaranis do Brazil meridional era tão pequena, que se tornou facil aos portuguezes entenderem-se por meio de uma só lingua por toda parte com todos estes indigenas, tendo sido por este motivo adoptada a denominação de «lingua geral» para o copjuncto destes diversos dialectos tupis. Da mesma lingua geral serviam-se os padres para a cathe- chese dos indios e della provem tambem a maior parte das denominações de localidades, bem como os nomes de (*) Traduzido da 2.º edição ingleza deste estudo, que fôra elaborado para ser distribuido, a pedido da commissão respectiva, na Exposição Universal de São Luiz, U. S. A., 1904. pO le animaes e de plantas indigenas, que enriqueceram o nosso idioma europeu. ~ A denominação de «Tapuyas» para os povos que não eram tupis, apparentemente de um valor pratico apenas, foi reconhecida como sendo bem fundada, pelas investigações modernas, que nos demonstraram serem estas numerosas tribus aparentadas entre si, não só sob ponto de vista ethnographico, mas tambem com relação aos seus cara- cteres physicos. O craneo dos Tapuyas é dolichocephalo, o dos Tupis brachycephalo. Tribus das familias Carib e Aruac, bem representadas nas regiões centraes e occi- dentaes do: Brazil, nunca existiram no Brazil oriental e meridional. Está de accordo com este resumo historico o facto de pertencerem os indigenas, que actualmente se encontram nos quatro Estados meridionaes do Brazil, a dous grupos: aos Guaranis e aos Gês, que são o elemento predominante entre os Tapuyas. O numero dos indigenas ainda domiciliados no Estado de São Paulo é presentemente muito reduzido, não exce- dendo provavelmente a dez mil individuos. A distribuição dos mesmos no Estado de São Paulo é tal que no valle do Rio Paranapanema e na grande região de mattas percorrida por seus afluentes, vivem os indios independentes e pagãos, ao passo que os indigenas aldeiados e catechisados são encontrados no Jitoral e na parte meridional do Estado. Examinaremos em seguida separadamente estes diversos elementos. Os Guaranis ou Tupis meridionaes são todos christãos e usam em geral os utensilios e vestidos, bem como muitos costumes dos brazileiros, cujos nomes de familia adoptaram e cuja lingua entendem mais ou menos. Os Guaranis do Rio Verde, que quasi annualmente visitam a capital do Estado, para reclamar contra a usur- pação de parte de seus terrenos pelos fazendeiros vizinhos, conservaram pouco de seus antigos costumes. Outros grupos de Guaranis vivem no litoral entre Santos e — 204 — Iguape e estes ainda sabem executar bonitos trabalhos em pennas de côres. Em parte já são cruzados com ele- mentos da população luzo-brazileira. Os Cayuds do valle do rio Paranapanema repre- sentam os Guaranis independentes, mas sabemos que "só nos annos de 1830-1852 immigraram do Paraguay e do Matto Grosso meridional para o seu domicilio actual nos Estados de S. Paulo e Paraná. Sua côr é a de cobre amarellado, a estatura é me- diana. Os homens andam nús, ou com um cinto; as mulheres usam, ao redor da cintura, uma estreita fita de embira ou um tecido, denominado cheripá. Os ho- mens cortam os cabellos e perfuram o labio infericr, mettendo na abertura um tembetá de resina de jatahy, um cylindro transparente de 20 cm. de comprimento, mais ou menos; as mulheres costumam pintar o rosto com traços lineares. Fabricam louças de barro em que cosinham e em que guardam seus alimentos. Suas armas são o arco, a flecha, a lança e o cacete. Às flechas são munidas de compridas pontas de madeira, simples ou far- padas de um ou dos dous lados. Informações mais minuciosas do que sobre os Cayuás do valle do Paranapanema, as quaes devemos princi- palmente ao Dr. Theodoro Sampaio, temos com relação . aos indios de egual nação do Alto Paraná, contidas numa | valiosa monographia de Ambrosetti. Verifica-se por ella que estes indios já deixaram varios de seus antigos cos- tumes característicos, como o de dormirem em rêdes e o- da , a bebida alcoo- lica, que preparavam de milho mastigado. Um destes vasos immensos se acha conservado no edificio da Com- missão Geographica e Geologica de $. Paulo; tem uma ronde altura de 65 cm. um diametro maximo de 40 cm. e uma circumferencia de 321 cm. na parte mais larga. Em geral estes restos da industria dos indigenas acima enumerados são encontrados só pelo acaso. Des- appareceram completamente os antigos aldeiamentos, sendo assim escassos os testemunhos directos da presença antiga dos indios. Merecem attenção especial neste sentido as inscripções ou petroglyphos, feitos em paredes de rochedos verticaes ou pouco accessiveis. Um valioso estudo sobre este assumpto publicou na Revista do Instituto Historico Tristão de Alencar Araripe (Nº 2) incluindo a descri- pção e figura de um, que no Estado de S. Paulo o Dr. Domingos Jaguaribe examinou e copiou, perto de Faxina. Na visinhança da mesma localidade foi encontrado um antigo cemiterio com numerosas igaçabas. Em geral as sepulturas dos indigenas eram isoladas. Não raras vezes encontram-se igaçabas com ossadas em Piratininga e em bairros da Capital de S. Paulo, antigamente habita- dos por Tupinaquins e outros indigenas. Se bem que desapparecessem por completo as antigas aldeias dos indigenas, muitas vezes reconhece-se ainda os logares das cabanas, os chamados «paradeiros», que nas roças se dastacam pela côr escura da terra. E' nestes lo- gares, cuja superficie corresponde á de uma pequena casa, | que se encontram cacos de panellas, as vezes machados de pedra e outros utensilios. Além disto encontra-se, en- terrado nestes logares, carvão e ossos de animaes, e a côr escura do chão é evidentemente causada pelos restos or- ganicos provenientes de residuos de refeições. Ha um grupo de paradeiros muito caracteristicos, que são encontrados só no litoral de S. Paulo e dos outros estados do Brazil meridional. São estes os «Sambaquis», agelomerações immensas de ostras e outras conchas ma- rinas, que na planicie alagadiça da zona costeira se ele- vam como outeiros, que naturalmente se recommendavam 238 aos indigenas para seu domicilio. Alli elles viviam e en- terravam tambem os seus mortos. A verdadeira significação destes sambaquis era des- conhecida, até pouco, não obstante de ter ella já sido bem reconhecida pelo primeiro explorador da archeologia de S. Paulo. o engenheiro Carlos Rath (N.º 42). Encontra-se ainda muito divulgada a ideia de que estes casqueiros correspondam aos Kjækkenmæddings da Dinamarca, representando accumulações artificiaes das con- chas de ostras e outros mariscos que serviam de nutri- mento aos indios. Tomando em consideração que os sambaquis tem uma altura de 10 a 20 metros e muitas vezes um volume de 30-40 mil e até de 100 mil metros cubicos, é preciso reconhecer que estas construcções teriam representado a curiosidade mais notavel da costa brazileira na época da descoberta. Os historiadores do seculo X VI, entretanto, nem sequer as mencionam e só no anno de 1797 o Frei Gaspar da Madre de Deus (N.º 32) inventou a historia da cons- trucção artificial dos sambaquis. Conforme os meus estudos ha no Brazil meridional dous grupos differentes de sambaquis, dos quaes um re- presenta residuos de comida dos indigenas, e o outro os de- positos naturaes do mar. Ao primeiro grupo pertencem os pseudo-sambaquis nos cômores dos arredores da cidade do Rio Grande do Sul, camadas pouco grossas de terra escura, na qual se acham entremeiadas numerosas conchas, espinhos e otolithos de peixes, ossos de animaes de caça, pedaços de carvão, cacos de panellas e outros artefactos. Os grandes sambaquis da costa dos Estados de S. Paulo, Paraná e Santa Catharina apresentam um aspecto todo differente, sendo elles accumulações enormes de con- chas de ostras (Ostrea parasitica Gm.) com os quaes al- ternam camadas mais ou menos horizontaes de berbigão (Cryptogramma brasiliana Gm.) e outros molluscos bival- vos. Para admittir que estas massas de conchas fossem amontoadas pelos indios, seria necessario suppor que os mesmos tivessem vivido por decennios exclusivamente de berbigão e por muitos outros decennios sómente de os- tras. Nem esta hypothese é admissivel nem a de que os indigenas puzessem de lado as conchas, afim de construi- rem com ellas os sambaquis. Não se encontram mistu- rados com as conchas outros restos de comida nem pedaços de carvão ou cacos de panellas. E” preciso notar que ainda hoje na alimentação da população costeira as ostras e os mariscos desempenham papel saliente, mas as conchas, atiradas á praia, se decompõem em menos de dous annos. Depositos colossaes e bem conservados não se formam senão sob condições especiaes e isto particularmente debaixo d’agua. Que os sambaquis do Brazil meridional representam apenas bancos de ostras, que foram depositadas em agua baixa do mar, é provado tambem por outros factos geolo- gicos. Entre estes citamos apenas os achados de ossos de baleia em terrenos até onde actualmeute não pódem chegar grandes cetaceos e a occorrencia de bancos naturaes de ostras em affluentes do Rio Guahyba, em frente a Porto Alegre. Estes factos geologicos provam que tanto no Brazil meridional, como no Rio da Prata se deu uma transgres- são do mar na época pleistocena, como que elevando o seu nivel por 30 a 50 metros, em consequencia a um abaixamento temporario do nivel do continente nas re- gides costeiras. Com uma elevação subsequente da costa os montes de conchas, formados no fundo do mar, at- tingiram a sua actual posição; sem duvida então, nas plagas baixas e alagadiças, offereciam condições favoraveis para a moradia dos indios. As conclusões a que cheguei quanto á origem dos sambaquis foram confirmadas pelo Snr. Benedicto Calixto (N.º 9), que sobre o assumpto publicou um artigo acom- panhado de duas estampas, mostrando a antiga topogra- phia das circumvisinhangas de Santos. Comparando a — 240 — extensão do mar nos tempos da descoberta com as suas actuaes condições, nota-se que os canues do mar eram então muito mais largos e que muitos lugares, hoje cober- tos por manguesaes, eram então puro dominio das aguas do mar. O Snr. Benedicto Calixto prova que muitos sam- baquis da bahia de Santos, que já hoje estão destruidos, mas dos quaes a tradição nos deixou marcados os lu- gares, não podiam ter sido construidos pelos indios das épocas prehistoricas, pois então ainda aquelles lugares es- tavam cobertos pelo mar. E” ao estudo do Snr. A. Loefgren e á sua publicação respectiva (N.º 28) que devemos um bom conhecimento das condições geraes dos sambaquis do litoral de S. Paulo, bem como informações quanto a seu numero, sua collocação e composição e ainda aos ar- tefactos que nelles se encontram; será a base para as investigações futuras. Não concordo, porém, com esse auctor quanto ás suas ideias sobre a origem dos sambaquis. O Snr. Loefgren considera todos os sambaquis como sendo construcções artificiaes e tambem desse modo pensa o Snr. R. Krone (N.º 24) que no seu artigo citado dá valiosas informações sobre os craneos humanos que elle descobrira nos sam- baquis da região de Iguape. Em minha publicação sobre a origem dos samba- quis de Iguape (N.º 20), eu modifiquei até certo ponto as minhas ideias sobre o mesmo assumpto e em outro artigo meu, sobre a Archeologia comparativa do Brazil (N.º 25) eu communiquei os resultados de minhas ulti- mas investigações quanto aos sambaquis dos arredores de Santos. A leitura deste meu escripto facilmente evi- tará a interpretação erronea de meu modo de pensar so- bre este assumpto, como tal se deu no segundo artigo do Snr. Loefgren (Nº 29). Os sambaquis ficam deste modo destituidos de seu presumido caracter de monumentos erigidos pelos indige- nas, mas nem por isto perdem o interesse que tem para — 241 — a archeologia do Brazil, pois elles nos conservam em grande parte os artefactos dos indios, que nelles tinham estabelecido seu domicilio. Nestas circumstancias é relativamente grande o ma- terial anthropologico referente aos moradores dos sam- baquis, e especialmente o de craneos. Estes, pela maior parte, são brachycephalos, correspondendo á descripção dos craneos dos Tupis, dada por Rodrigues Peixoto. Sendo brachycephalas tambem as cabeças de indios gua- ranis, examinadas por mim e R. Krone e dos Cayuás medidas por J. Ambrosetti, é-se levado á supposição de que os craneos dos sambaquis pertencem ás mesmas tribus de Tupis e Guaranis que habitavam a costa no tempo da descoberta. Devemos mencionar que o Snr. Ehrenreich rejeita tal argumentação, em vista de existi- rem tambem Tapuyas brachycephalos. Uma outra ob- jecção, que neste sentido pode ser feita, é a de os ca- daveres não terem sido sepultados nos sambaquis em igaçabas, como era uso muito commum entre os Tupis e Guaranis. | Sabemos, entretanto, que neste sentido existia uma grande differença entre as diversas tribus, das quaes al- gumas sepultavam só as creanças em igaçabas, ao passo que outras enterravam os cadaveres em covas cvlindricas e outras os enterravam envolvidos em suas rêdes. Em todo caso, porém, a ausencia, não só de urnas funerarias, como tambem de qualquer producto de ceramica nos sambaquis, é um argumento importante, que contribue não só para se rejeitar a ideia de que os povos dos sam- baquis pertencessem á familia "Tupis, mas, de outro lado, nos suggere mesmo a ideia de que elles tenham sido Tapuvas. O craneo do sambaqui de Cidreira no Rio Grande’do Sul, por mim descripto, assemelha-se aos dos Botucudos, sendo originario evidentemente dum indio da familia Guayanã. Já J. B. de Lacerda, (N.º 25) tinha chamado — 242 — a attenção á semelhança de certos craneos de sambaquis de Santa Catharina com craneos de Botucudos. 5) Conclusões Fica patente assim que, na época prehistorica, no Brazil meridional já existiam duas familias de indios, dif- terentes entre si. Para avaliar a época até a qual remontam os ves- tigios destes primeiros habitantes do Brazil meridional, faltam até agora os dados precisos. Conhecemos até agora só poucas localidades na America meridional em que o homem coexistia com os animaes diluvianos extinctos. Sobre a antiguidade do homem na região platina devemos uma extensa e valiosa monographia a Florentino Ameghino. Este auctor considera a formação pampeana como pliocena, ao passo que quando examinei os mollus- cos marinos, contidos nessa formação, verifiquei que, sem excepção, pertencem a especies que ainda hoje vivem na costa atlantica da America meridional, opinando eu por conseguinte pela edade post-terciaria destas camadas. No Brazil tem sido encontradas por Lund ossadas humanas nas mesmas cavernas em Minas Geraes das quaes o celebre naturalista tirou os restos dos mammi- feros pleistocenos extinctos. Os craneos humanos de Lagoa Santa correspon- dem perfeitamente aos dos Botucudos. Foram emittidas duvidas sobre a contemporaneidade do homem de La- goa Santa com os mammiferos extinctos das cavernas. O facto porém que os craneos e ossos humanos encon- trados nessas cavernas se assemelham não só em aspecto e côr aos dos mammiferos da mesma procedencia, mas ainda no caracter principal, de serem fosseis ou calcina- dos, deixa pouca duvida da real coexistencia do homem com esses mammiferos extinctos, tão bem descriptos por Lund e Herluf Winge. — 243 — São estes os principaes resultados a que conduziu a investigação anthropologica e archeologica do Estado de S. Paulo e se nada nos revelam de extraordinario, devido ao baixo grão de desenvolvimento cultural em que sempre se acharam os indigenas desta região, não deixam de ser interessantes e instructivos, em vista da concordancia dos dados, fornecidos por estudos tão dif- ferentes, como o são as explorações historicas e archeolo- gicas de um lado, anthropologicas, ethnographicas e lin- guisticas do outro. Temos neste sentido a base segura para julgar das propriedades physicas e culturaes que á população rural actual transmittiram os seus antepassa- dos, os indigenas, que só em pequena parte até esta data se conservaram independentes, tendo sido pela maior parte assimilados pelo elemento luzo-brazileiro immigrado, vindo a constituir assim o elemento nacional da população actual do Estado. FE’ interessante observar que na actual cultura da população rural podemos descobrir muitos vestígios da cultura indigena precedente. Os nomes d’um grande nu- mero de localidades, montanhas, rios, ete. são derivados da linguagem tupi, e nas veias da maioria dos «caboclos» ou «caipiras» corre o sangue da raça de seus anteces- sores indios. Muitas plantas communs que se cultivam, taes como milho, feijão aipim, mandioca, batata, algodão, ete., já os indios de São Paulo plantavam, e o seu preparo usual é muitas vezes o mesmo como aqui fôra usado nos tem- pos prehistoricos. Por esta razão muitas palavras tupis foram encorporadas á lingua portugueza, como succedeu no Brazil em geral, sem que comtudo em qualquer re- gião se falle o dialecto guarani, como accontece no Pa- raguay. À região do Estado de S. Paulo onde os an- tigos costumes e os utensilios melhor se conservam, é a 16 OU AE zona litoral. Dediquei um pequeno escripto ao estudo dos residuos da edade de pedra (Nº 21), no qual des- crevi e figurei alguns destes instrumentos. Emquanto que os machados de pedra em toda parte, mesmo entre as tribus dos indios semicivilizados, agora são substitui- dos por machados de ferro, encontramos conservados na zona litoral de S. Paulo alguns outros instrumentos de pedra, taes como pedras de martello (quebra-nozes), que são usados accidentalmente. Os pescadores, quando que- rem ancorar suas candas, que são do primitivo typo indigena, usam a «poita» (poh-tá), uma grande pedra ar- redondada e presa por um entrelaçamento de embira, ou a têm varios representantes, espe- cialmente do genero Potamotrygon Garm., que habitam os grandes rios; Dipnoi com o famoso De paradoxa, do Amazonas e Paraguay ; Symbranchia com o «Mussum» Symbranchus mar- moratus, a unica especie, aliás muito variavel em seu colorido. Ostariophysi. Comprehendem 4 grandes ordens, cujos representantes todos possuem ossiculos auditivos formando o chamado «apparelho Weheriano». A ordem dos Even- tognathi (Plectospondyli s.str.) falta na America do Sul; sua familia mais importante é a dos CYPRINIDÆ, com mais de 2000 especies na zona temperada septen- trional; a ella pertencem a Carpa e o « Peixinho dou- rado > da China; A 3 outras ordens de Ostariophysi, que occorrem no Brazil, «ão: Heterognathi, ou Characini com uma só familia dos Characinidae, encerram a grande maioria dos nossos peixes de escama da agua doce, possuindo todas as es- pecies (com excepção das Trahiras) a madeira adiaposa: Lambary, Peixe-Cachorro, Dourado, Piava, Corumbatá, Pacá, Piranha etc. Nematognathi com todas as especies de peixes de couro e os Cascudos. Esta ordem e a precedente, das quaes cada uma contribue com cerca de 300 especies para a ichthyofauna dos rios do Brazil, são os mais importantes, quer numericamente, quer com relação ao seu aproveitamento economico. Gymnoti com duas familias, das quaes uma, a dos GymnoriDa (Tuviras), contribue com cerca de 23 especies para a nossa fauna; a outra, ELECTROPHORIDA, abrange tão sómente o « Peixe electrico ». Desta ordem nos occuparemos mais adiante detidamente. Isospondyli com as familias STOLEPHORIDAE e CLU- PEIDAE ou sardinhas, que são propriamente habitantes dos mares, mas que accidentalmente penetram na agua doce ou ha pouco a ella se adaptaram; OSTEOGLOSSIDAE (com Osteoglossum bicirrhosum Agassiz) e ARAPAIMIDAE ( Ára- paima gigas, o Pirarucá); Haplomi com a familia dos CYPRINODONTIDAE com os pequenos e elegantes « Guarú-guarás » dos riachos e tanques. Synentognathi com tres ou quatro especies de BOoLONIDAE, « Peixe agulha ». Persesoces com MuGILIDAE (Mugil platanus) «Ta- inha» e ATHERINIDAE cujos principaes representantes são marinos. Percomorphi. Alem de alguns representantes de familias principalmente marinas (SCrAENIDA « Pescada » GOBIIDAE, BATRACHIDAE:), encerra tambem a dos CIcHLI- DAE ( Acarás, Papa-terra, Jacundá, etc.) de que adiante trataremos extensamente. Heterosomata, familia PLEURONECTIDAE, « Lin- guados », cujos principaes representantes são marinos. Plectognathi, familia TETRAODONTIDAE, « Balacás », marinos, com uma só especie fluvial, Colomesus psittacus. Como se vê os peixes da agua doce do Brazil pertencem em sua grande maioria aos Nematognathi e aos Characinidae; tres outras familias com alguma de- zenas de especies são os Cichlidae, Gymnoti e Cy- prinodontidac. Os demais peixes representam tvpos iso- lados ou pertencem a familias que são propriamente marinas, penetrando porem algumas de suas especies a agua doce. O caso contrario, isto é de que representantes de familias propriamente da agua doce penetram a agua salgada, temos nos Nematognathi, SILURIDAE, pois que os barges Tachysurinæ só voltam aos rios no tempo da desova. A. Lot =e a Sin je wl [ut (ip meer PRO Mn Fig. 1.— Topographia externa de um peixe. 1 Focinho V Nadadeira Ventral M Bigode mental 2 Cabeça A » Anal PM Bigode postmental a Abertura Anal (G, » Caudal h Osso humeral L. lat. Linha lateral Ad » Adiposa ab Abertura branchial P Nadadeira Pectoral F Fontanella i Isthmo D Nadadeira Dorsal M Bigode maxillar n Narinas Considera-se como «focinho» a parte da cabeça comprehendida entre sua extremidade anterior e o bordo anterior da orbita; a cabeça, quando não ha outro ca- racter mais evidente, considera-se delimitada atraz pelas aberturas branchiaes. Designamos geralmente as nadadeiras pelas suas le- tras iniciaes D., V., C., ete. Com excepção da Adiposa —- 263 — que de ordinario consiste simplesmente em uma mem- brana, as vezes com um espinho anterior, todas as na- dadeiras são constituídas por um certo numero de raios unidos por uma membrana; geralmente o 1.º raio ou muitos dos anteriores são fortemente endurecidos e pon- teagudos, verdadeiros «espinhos», nome que se lhe dá em opposição ao demais, que são «raios molles», fina- mente segmentados e geralmente ramificados. Para indi- carmos na diagnose que por exemplo a nadadeira Dorsal conta 10 espinhos e 14 raios molles, escrevemos conven- cionalmente: D. X, 14. e da mesma forma damos a for- mula para as outras nadadeiras. Para a locomoção do corpo o principal impulso é dado pela nadadeira Caudal, servindo as outras nada- deiras mais para manter o equilibrio vertical. Si pri- varmos um peixe de todas as outras nadadeiras, dei- xando-lhe só a Caudal, elle nadará, mas de barriga para o ar. As Pectoraes ajudam, com movimentos amplos de um lado, o desvio para o lado opposto; o seu pequeno movimento, constante, serve para auxiliar a res- piração. Esta effectua-se pela passagem da agua pela bocca’ por entre as guelras e sahindo pelas aberturas branchiaes (fig. 1, ab.), depois que o oxygenio, que estava dissolvido na agua, foi absorvido pelo apparelho respiratorio dos arcos branchiaes (veja-se fig. 3 e 4). O numero destes arcos é geralmente de 5, mas só 4 delles são providos de guelras. A Linha lateral (L. lat.) consiste em uma serie lon- gitudinal de escamas modificadas, que são perfuradas por tubos com ramificações. Nos peixes de couro, desprovidos de escamas, a linha lateral é constituida por aberturas na propria pelle. As verdadeiras funcções deste dispositivo ainda nos são desconhecidas; sabemos que em alguns peixes estes póros segeregam muccosidade, mas como são ricamente provides de nervos, sempre se suppoz terem funcção sensitiva. Fig. 2.— Explicação dos numeros que designam os ossos da cabeça do peixe Frontal Ethmcide Postfrontal Basisphenoide Parietal Supraoccipital Paroccipital Exoccipital Alisphenoide Mastoide Petroso (sob N.º 19) Orbitosphenoide Sphenoide anterior Vomer Inter ou Premaxillar rimam Mew ND OW ON OUI BR À D 16 17 18 19 20 (vista lateral). Maxillar superior Nasal Palatino Temporal Transverso (Pterygoideo ) Entopterygoideo Quadrato (Jugal) Tympanico Operculo Preoperculo Suboperculo Interoperculo Symplectico Dental Articular 31 Angular 32 Epihyal, Ceratohyal 3 3 \ Basihyal 34 35 Glossohyal 36 Urohyal 37 Arcos branchiaes 38 Suprascapular 39 Scapular 40 Clavicula (Humeral) 41, 42 Coracoides 43 Cubital. 44 Radial A dentição dos peixes varia muito, quer em forma, quer na sua distribuição. Os menores dentes são os « vil- liformes » que como placas cobrem os maxillares ou outros ossos da cavidade buccal; são minusculos, quaes peque- nos espinhos de um ou dous millimetros, muito achega- dos uns aos outros. «Granulares» são os dentinhos já um pouco maiores e cônicos; geralmente formam séries. Ha toda uma gradação de dentes caninos e como que mo- O dia lares e incisivos, estes frequentemente com complicados recortes. Quasi sempre os peixes providos de dentes tem- n’os nos ossos: Intermaxillar, Dental e no Pharynge; geral- mente têm ainda dentes sobre o Vomer, Palatino e 5.º arco branchial; além destes ainda pódem accrescer a esta lista: os ossos Pterygoideos e Sphenoides e os ossos da lingua. Variabilidade dos peixes. Seria questão facil classificar os peixes da agua doce, pois elles offerecem uma grande somma de caracteres importantes para o reconhecimento dos generos e das especies, como tal nem sempre succede nas diversas ordens animaes; com- tudo ha um certo numero de circumstancias que vem difficultar o estudo e é justamente para ellas que quere- mos chamar especial attenção. Além da deformação mais ou menos consideravel que soffrem os exemplares pelos processos de conservação, com os quaes em geral a pelle se enruga e sempre o colorido perde sua intensidade ou apaga por completo, temos a considerar ainda a varia-. bilidade da especie. Quando esta vae a tal ponto que todos os exemplares de uma região offereçam a mesma particularidade em confronto com seus similares de outras zonas, temos com isto fundamento para separal- os como pertencentes a subspecie distincta. Ao que porém nos queremos referir em especial, é a variabili- dade que os exemplares da mesma localidade mostram “entre si e que em especial é devida á edade do animal. Em regra os peixinhos novos têm um colorido mais rico e intenso do que os exemplares crescidos, e ainda nos bem velhos não raro falta por completo o desenho que nos novos ou medios é caracteristico. Além disso a estação do anno tem certa influencia tambem sobre o colorido, o que se observa especialmente nos machos, em algumas familias. Não só o brilho das côres é muito mais intenso, apparecendo mesmo alguns desenhos que fóra 52) qr do tempo da procriação quasi não se notam, mas até a forma da cabeça é alterada, pois que se desenvolve uma protuberancia na fronte, que em certas especies ( come por exemplo em Geophagus brasiliensis), pelas dimen- sões que esta intumescencia adiposa attinge, deformam grotescamente o perfil. Como pois acabamos de ver, para a classificação, não se deve dar valor absoluto ao colorido. Bem enten-. dido, tal não vae a ponto de poderem ter colorido total- mente diverso os exemplares da mesma especie; quando ha falta deste ou daquelle desenho, póde muito bem tratar-se de falha accidental; quando, porém, accrescem varios detalhes bem accentuados, estes podem. servir para fortalecer a distincção que se fizer, fundado em caracteres morphologicos, que sempre devem servir de base. O numero dos raios das nadadeiras é bastante cons- tante para cada especie e varia só dentro de pequenos limites; assim exemplares da mesma especie pódem ter formulas como D. XV, 10 ou D. XVI. 9. Em geral quando ha accrescimo de um ou dous espinhos, ha tam: bem uma diminuição correspondente de raios molles e vice-versa. Uma differença de 3 ou 4 espinhos ou raios nas nadadeiras Dorsal ou Anal não se dá dentro da mesma especie, alliando-se geralmente outros caracteres a este, com o que distinguimos especificamente os respectivos especimens. Os raios das outras nadadeiras, Ventral, Pectoral e Caudal não tem limites tão estrictos para a sua variação, o que se explica por não coincidirem, como os raios das duas outras nadadeiras, com as ver- tebras da espinha dorsal. Valor do estudo systematico dos peixes da agua | doce.— Para que tambem a esta classe de animaes tenna- mos dado um desenvolvimento egual ao que aspiramos para todas no seu conhecimento zoologico, é imprescin- divel o estudo aprofundado de sua systematico ou conhe- — 267 — cimento de todas as especies. A’ medida que esta tarefa fôr cumprida, com respeito aos peixes dos nossos rios, nos approximamos de uma relação completa dos mesmos na synthese da fauna brazileira. Não precisamos enca- recer o valor quer scientifico quer economico desse tra- balho ; mas não deixaremos de salientar uma das ques- tões que esperam a conclusão desse estudo systematico, para que este lhe venha a servir de base. Ao mesmo tempo se verá por ahi o valor que nos tem a indicação precisa da localidade e mais detalhes da occorrencia das diversas especies. E’ a questão da zoogeographia ou distribuição geographica dos peixes da agua doce, um campo de estudos que nestes ultimos tempos tem preoccupado os mais distinctos naturalistas e que fornece com effeito os mais bellos resultados, quer com relação á propria biologia dos animaes, quer no que diz respeito ás modificações geologicas que têm soffrido os continen- tes e suas grandes parcellas componentes. Não é sómente a paleontologia que nos fornece dados subsidiarios aos estudos geologicos, e per ahi bem parca seria a contri- buição a esperar da ichthyologia, pois rarissimos são os peixes d'agua doce, fosseis, que se conhecem do Brazil. Mas das proprias relações phylogeneticas das ordens ou familias resultam valiosas informações para deduzirmos dahi hypotheses relativas á antiga connexão dos continentes. Especialmente com referencia á fauna d'agua doce estas documentações nos merecem especial valor, pois que, se ha evidente relação de parentesco entre certos generos e hoje os encontramos separados por extensos mares de agua salgada, que lhes é impossivel atravessar, claro está que só podemos concluir que outrora os antecessores desses animaes habitavam uma patria commum e que, com o correr dos tempos, passa- ram a habitar outras reglões, ao mesmo tempo que, cada qual para o seu lado, soffria modificações mais ou menos accentuadas. Tendo . sobrevindo então uma — 268 — transgressão marina, que separasse as duas regiões, vie- mos a ter, de cada lado do oceano, representantes da mesma familia, cujas affinidades reconhecemos claramente, mas cuja distribuição geographica, sem esta reconstruc- ção historica, não poderiamos comprehender. Para citar- mos algum exemplo deste caso, bastará lembrarmos a affinidade mais que evidente entre os membros sul e central-americanos da familia das (Cichlidae com as numerosas especies africanas da mesma familia. No mes- mo caso estão os Lepidosirenidae e varias subfamilias dos Characinidae; todas ellas occorrem só na America do Sul e na Africa e são todas antigos habitantes da agua doce. Menor valor como documentos zoogeographi- cos têm as demais ordens, que têm representantes tam- bem em outros continentes. Com effeito sabemos hoje pelos estudos do Dr. H. von Ihering, que tal connexão de facto existiu nos tempos eocenos do Terciario. Da real existencia, que teve esse continente Achhelenis, o mesmo autor nos dá provas cabaes em seu livro «Arch- helenis und Archinotis », Leipzig, 1907, e ainda no capitulo que neste mesmo volume transcrevemos mais adiante, da grande obra «Les Mollusques fossiles du Tertiaire de la Patagonie». A par deste subsidio para o estudo das grandes modificações por que passou o globo terrestre, os peixes da agua doce ainda nos evidenciam, em nosso caso es- pecial dentro dos limites do Brazil, que temos a distin- guir varias zonas zoogeographicas; mas, ainda, depois de as termos delimitado, (trabalho que aliás está quasi todo ainda por fazer), não podemos comprehender com seus actuaes limites essas zonas ou os motivos da actual distribuição dos peixes nessas subregiões, sem que inves- tiguemos a antiga configuração hydrographica. Como, por exemplo, explicar que os peixes são em geral os mesmos em todos os pequenos rios da vertente da Serra do Mar, quando estes não têm outra ligação entre si — 269 — que não o oceano, o qual, porém, esses peixes não pódem atravessar? E obvio que deve ter havido uma bacia de agua doce que tenha sido commum a estes diversos rios e, ainda que não tenhamos base sufficiente para uma affirmação positiva e indiscutivel, parece que outra não poderá ser a solução, senão de que estes rios todos tenham tido uma bacia commum e que a fóz deste grande systema hydrographico se estendia sobre terre- nos hoje cobertos pelo oceano Atlantico. Hoje, como dissemos, em virtude de não nos podermos basear em listas completas, só podemos formular as perguntas ; mais tarde será occasião de estabelecer-se hypotheses e documental-as. Ainda varias outras classes de animaes fornecem bons documentos para estas questões zoogeographicas, taes como os molluscos e crustaceos; mas estes, pela maior facilidade que têm de se passarem, ou fazerem transportar, de um systema hydrographico 2 outro, não representam provas tão seguras como as da distribuição dos peixes. = ori e I ORDEM GYMNOTI Esta ordem de peixes, pelas relações anatomicas que offerece, geralmente se colloca entre os Peixes Os- tariophysi, aos quaes pertencem tambem as ordens dos Eventognathi (Cyprinide), Heterognatha (Characinidæ) e Nematognatha. Em sua forma externa, porém, nada se parecem com aquelles; seu corpo alongado e fino lembra antes o aspecto da enguia, para o que especial- mente contribuem a ponta afilada em que termina a cauda e a falta de nadadeiras Dorsal e Ventral. A Anal é muito alongada, começando logo abaixo da cabeça ; a abertura anal, que sempre fica em frente da- quella nadadeira, fica pois collocada na garganta ou mesmo entre os maxillares. As aberturas branchiaes são muito pequenas. Pertencem a esta ordem duas familias, das quaes uma, a dos Ælectrophoridæ, contém uma só especie, o «Poraqué» ou «Peixe electrico»; a outra, dos Gymno- tidee-- conta 29 especies, das quaes 21 occorrem no Brazil, sendo designadas pelos nomes vulgares de «Tu- viras>, «Sarapô», «Peixe espada» no Brazil meridional e ainda como «Ituy> na Amazonia. E facil a distine- cao destas duas familias : A Corpo coberto por escamas ; sem orgãos electricos . . . Gymnotide AA Corpo ni; provido de orgãos electricos ab cre RR oa Electrophoridæ Chave synoptica para a classificação da am. Gymnotidæ Com nadadeira caudal Focinho näo alongado ; olhos mais chegados á ponta do fo- à CC bb aad cinho do que á abertura bran- chial Ambos os maxillares com dentes, o inferior com 2 sé- ries, o superior com 2 ou mais séries Angulo da bocca chegando até abaixo dossolhos «Mu Angulo da bocca chegando só até abaixo das narinas . Maxillar superior sem dentes, o inferior só com 1 série . Focinho alongado ; olhos mais chegados á abertura branchial do que á ponta do focinho Focinho curvado para baixo. Focinho direito, não curvado para baixo Sem nadadeira caudal; a cau- da termina em ponta fina Sem fontanella; anus debaixo das aberturas branchiaes; ma- xillar inferior muito saliente Com fontanella; anus embaixo da cabeça Focinho alongado em cône ; sem dentes Focinho não alongado Sem dentes Com um filamento adiposo em um sulco entre o mento e a Pectoral . Sternarchas Sternarchella Sternarchogiton Sternarchorhynchus Sternarchorhamphus Giton Rhamphichthys Steatogenes — 272 — hh Sem filamento adiposo entre o mento e a Pectoral . . . Hypopomus gg Com dentes em ambos os ma- xillares i Olho grande, sem margem or- bital livre; focinho compri- IONE OL ak DR en En ne Ut ii Olho pequeno, com margem orbital livre; focinho cônico Gymnotus Gen. STERNARCHUS Bloch & Schneider Sternarchus Bloch & Schneider, Syst. Ichth. 1801, p. 497, Est. 94; Erigenmann d Ward, Proc. Washington Ac. Se., vol. VII; 31905; p. 161; a Escamas pequenas, com até 16 séries entre a linha lateral e o dorso b 11-16 escamas entre a linha lateral e o dorso; altura do focinho em frente aos olhos menor do que o comprimento do: focinho! é oye nad chan ® S. brasiliensis bb 11-13 escamas entre a linha lateral e o dorso; altura do focinho em frente aos olhos maior do que o comprimento do octo a tis ea in on S. albifrons bbb Angulo da bocca alcança até atraz dos olhos; anus 4 frente dos: Olas 4, #. ingen SD Rag ie S. bonapartw au Escamas grandes, com só ca. de 6 séries entre a linha lateral eo idoso rere hy. Moris a Hane, S. macroleprs op Sternarchus brasiliensis Reinh. Est. VIII, fig. 2 Sternarchus brasiliensis Reinhardt, Vidensk. Meddel. Naturh. Foren., Kjôbenh., 1852, ou Wiegm. Arch., 1854, p. 182; Guenther, Cat. Fish, VII, 1870, p. 3; Æigenmans & Ward, Proc. Washington Ac. Sc., vol. VII, 1905, p. 162, fie A. 170-185; Côr uniforme, parda, mais escura na região dorsal. Compr.: 350-400 mm. Habit.: Minas Geraes, Rio das Velhas; Säo Paulo, Rios Piracicaba, Mogy Guassá, Tieté. Mus. Paul. : Est. S. Paulo, Rio Piracicaba; Est Minas Geraes, Rio Sapucahy. Sternarchus albifrons (Linn.) Gymnotus albifrons Linné, Syst. Nat. ed. XII, I, 1766, p. 428; Sternarchus albifrons Bloch & Schneider, Syst. Ichth. 1801, Est. 94, p. 497; Castelnau, Anim. Am. Sud, Poiss., 1855, p. 91, Est. 45, fig. 1; Guenther, Cat. Fish, VIII, 1870, p. 2; Steindachner, Flussf. Suedam., II, 1881, p. 13, Est. 5, fig. 6; Æigenmann & Ward, Proc. Washington, Ac. SC, vol VIE 1905; p; 162) fig. 25 Sternarchus lacepedi Castelnau, Anim. Am. Sud. Poiss., 1855, p. 93, Est. 45, fig. 3: Sternarchus maximiliani Castelnau, 1. ¢., p. 93, Est. 45, fig. 4; Especie muito alliada a S. brasiliensis. Habit.: Guyana, Venezuela, Equador; Rio Ama- zonas, do Perú 4 foz; Rio Paraguay. Sternarchus bonapartii Casteln. Sternarchus bonapartii Castelnau, Anim. Am. Sud, Poiss. 1855, 92, Est. 45, fig. 2; Guenther, Cat. Fish. VIII, p. 1870, p. 3; Eigexmann & Ward, Proc. Washington Ac. Se., vol. MEL TIO) pr 163: OA me Tambem esta especie não differe de S. brasiliensis senão pelos poucos caracteres indicados na chave. Compr.: 200-230 mm. | Habit: Rio Amazonas, Manáos ao Perit. Sternarchus macrolepis Steind. Sternarchus macrolepis Steindachner, Flussf. Suedam. 1881, p. 14, Est. V, fig. 7; Bigenmann & Ward, Proc. Washington AeriSe vol Vall 1905; po 1635 fios As escamas do corpo são muito maiores do que nas outras especies deste genero, das quaes no mais pouco differe. Habit.: Amazonas, Manäos, Rio Negro e Rio Juruá. Sternarchus subgen. STERNARCHELLA Zigenm. Sternarchella Eigenmann & Ward, Proc. Washington Ac. Sc. vol VEL 1965, po 163: Pelas differenças que as duas especies, S. schotti e 8. balaenops, do Perf, separadas por Eigenmann como Sternarchella, apresentam com relação a Ster- narchus, não cremos dever sustentar uma separação generica, pois é muito intima a relação que as diversas especies têm entre si O subgenero, como julgamos me- lhor designar Sternarchella, caracteriza-se por ter foci- nho mais curto e bocca menor. Sternarchus (Sternarchella) sehotti Steind. Sternarchus schotti Steindachner, Die Gymnotidae, 1868, p. 4, Est. I, fig. 1 & 2; Guenther, Cat. Fish. VIII, 1870, p: 3; Steindachner, Flussf. Suedam., 1881, II, p. 42, Est. Will fds Sternarchella schotti Eigenmann & Ward, Proc. Washington Ac. Sc. vol. VII 1905, p. 164, fig. 4; A. 163. Diftere pouco da outra especie deste sub- genero, S. balaenops, do Amazonas peruano, não se tratando talvez senão de ligeiras variantes. Habit.: Amazonas, Rio Negro ao Pert. Gen. STERNARCHOGITON Zigenm. Sternarchogiton Eigenmann & Ward, Proc. Washington Ac. Sc, vol. VII, 2905, :p. 164; A falta de dentes no maxillar superior, e, ao que parece em ambos os maxillares na especie venezuelana S. sachsi Pet, parecem auctorisar a separação generica destas especies que no mais, porém, são muito chega- das ás do genero Sternarchus, especialmente do sub- genero Sternarchella. Sternarchogiton nattereri (Stevnd.) Sternarchus nattereri Steindachner, Die Gymnotidae, 1868, p. 3, Est. II, fig. 1; Guenther, Cat. Fish. VIII, 1870, p. 3; Sternarchogiton nattereri Eigenmann & Ward, Proc. Washington cases vol. WV 11.905, p. 5165; fini 5s A. 197. », com o accrescimo de algum qualificativo. Os bellos pei- xes do genero Cichla bem caracterizados, grandes, de colorido variegado e com a grande mancha ocellar na : cauda, são denominados «Tucunaré >». SEO As melhores publicações modernas em que nos pu- demos basear para o estudo desta familia são os do Dr. C. Tate Regan (A Revision of the Fishes of the South- American Cichlid Genera, Proceedings of the Zoo- logical Society, London, 1905 e Annals and Magazine of Natural History, 1905 e 1906, cf. Ser. 7, Vol. XVII, p. 230, nota) e do Dr. J. Pellegrini (Contribution a Pétude.... des poissons de la famille des Cichlidés — Mémoires de la Societé Zoologique de France, tomo XVI, 1903, p. 41-385 ) e lastimamos tão somente termos recebido tardiamente este ultimo trabalho, para que me- lhor o aproveitassemos. Arcos branchiaes, Fig. 31 de Chetobranchus, Fig. 4 de Geophagus. a arco branchial ; ry raios, c cerdas Z lobulo Chave synoptica para a classificação dos generos da Fam. Cichlidae I Os ultimos espinhos da Dor- sal são muito menores do que os raios molles subsequentes; Anal com 3 espinhos . . . Cichla IT Os ultimos espinhos da Dorsal são de comprimento mais ou menos egual ao dos raios molles ee eee h hh Cerdas do arco branchial lon- gas e numerosas (fig. 3): Com 3 espinhos na Anal. Com mais de 3 espinhos na Anal . Cerdas do arco branchial nao muito grandes e nao muito numerosas (fig. 4): Anal com 3 espinhos Preoperculo serrilhado no bor- do posterior DEVE eco -9; maxillares eguaes DE XE XXIV(10- 13 maxil- lar inferior mais longo . D.XVI-XXV/11-19; maxil- lar mais longo; dentes inter- nos podem ser realcados . Preoperculo não serrilhado Sem lobulo na extremidade su- perior do primeiro arco bran- chial (fig. 3) Sem escamas (ou só poucas) entre os raios molles da Dor- sal; D.XIII-XVI/7-12, A. I11/6-11 Maxillar exposto; premaxillar protractil Maxillar não exposto: prema- xillar não protractil . Chaetobranchus Chaetobranchopsis Crenicara Batrachops Crenicichla Acaropsis Acara JJ ae) CC il Com escamas entre os raios molles da Dorsal; D.XII-XIV/ 19-21, A.III/15-16 . Com lobulo na extremidade superior do primeiro arco bran- chial (fig. 4) Cerdas externas do primeiro arco branchial insertas na mar- gem do lobulo, caso os haja DXII-XIX/9-1 7 ; L. lat. sem- pre bem distante da base dos espinhos da Dorsal D.XV-XVI/5-7; L. lat. che- ga a distancia de 14 escama da base dos due da Dor- sal ) D. VIT-VIII/14-15; L. lat. 72 chega á distancia de 14 es- cama da base dos espinhos da Dorsal. Cerdas externas do primeiro arco branchial insertas enci- ma, na base do lobulo do arco Beanchial Anal com mais de 3 espinhos D. XITI-XX/10-16, A. IV- XI1/7-16 Dentes cônicos ou cylindricos, não comprimidos . Dentes fracos, comprimidos; escamas da L. lat. bem maio- res que as do resto do corpo Astronotus Geophagus Heterogramma _ Biotoecus Retroculus Cichlasoma Uaru kk D.VITI-XHI/24-31, A. V-IX 24-32 m Com dentes em toda a ex- tensão dos maxillares . . . Pterophyllum mm Com dentes só na parte an- terior de cada maxillar. . . Symphisodon Gen. CICHLA Schneid. JACUNDÁ Cichla Schneider, Bloch's Syst. Ichth. 1801, p. 340; Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 303; Regan, Ann. & Mag. Nat. His, Ser. 7, vol XVII, p. 230-231; Corpo alongado, sua altura mais ou menos egual ao comprimento da cabeça, cabendo ca. de 3 vezes no compr. do corpo. D. XITI-XVI espinhos, o penultimo dos quaes é o menor; 15-18 raios molles, A. II 10-11. A Llat. 83-102 escamas e 9-12 “acima, 23-28 «abaixo della . O. ocellaris AA L. lat. 104-121 escamas é 12-14 acima, 32-36 abaixo delas res te a ro na C. temensis Cichla ocellaris Schneid. Cichla ocellaris Schneider, Bloch’s Syst. Ichth., 1801, p. 340; Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 304; Steindachner, Denk- schr. Ak. Wien, XLVII, 1883, p. 3; Est. I, fig. 2; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist. ser, 7, vol. XVII, 1906, p. 232, Cichla argus Valenciennes em Humboldt, Obs. Zool. II, 1833; p: 167, Est XLV, fios: Acharnes speciosus Guenther, 1. e. IV, 1861, p. 369; renicichla orinocensis Guenther. t. c. p. 309; Bruno com colorido verde e com 3-4 manchas es- curas triangulares nos flancos, com a base no alto do dorso e as pontas chegando ao meio do corpo; um ocello grande na base da Caudal, assim como por vezes muitos outros sobre o corpo, substituindo mesmo as manchas triangulares. Nadadeiras verticaes com manchas alterna- damente escuras e claras. Compr.: 100-410 mm. Habit.: Amazonas, Cudajas, Rio Guaporé, Vene- zuela, Guyana. Mus. Paul. Rio Juruá, Amazonas («Tucunart»), 225 mm. Castelnau Anim. Am. Sud, Poissons p. 17, Est. X. fig. 1, descreve como C. toucounarai uma forma que parece ser sómente uma ligeira variante da forma typica, mais pobre em colorido de manchas nos flancos. Foi colligido em Goyaz, no Araguaya, rio Tocantins e no Amazonas. Outra forma, CEICHLA MULTIFASCIATA Casteln. loc. c. p. 18. Est. X fig. 2, em cuja synonymia, erroneamente, se tem incluido C. toucounarai de que acima tratamos, representa uma especie de corpo mais alongado e com desenho triangular no dorso mais numeroso (i1 faxas). A expedição só obteve o exemplar typico, no Amazonas peruano, pelo que deixamos de incluir em nossa lista esta especie. Cichla temensis /Zumb. Perca brasiliensis Blochs, Ausl., Fische, 1792 VI, p. 84, Est, CCCX, fig. 2; Cichla temensis Humboldt Obs. Zool. 11, 1833, p. 169; Guenther, Cat. Fish, IV, 1862, p. 304; Steindachner, Denkschr. Ak. Wien, XLVI, 1883 p. 3, Est. I, fig. 3; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist. ser. 7, vol. XVII, 1906, p. 233; Cichla conibo Castelnau, Anim. Am. Sud, Poiss., 1855, p. 18 Est. X, fig. 3; Guenther, t. c. p. 305; ) Esta especie pouco differe da precedente, a não ser pelo numero de escamas como foi indicado na chave. — 294 — O colorido, por ser bastante variavel, parece não permittir distincção exacta; pela mesma razão nos pa- rece acertado sustentar ©. multifascrata Casteln., cujos demais caracteres, alem do colorido, desconhecemos. Compr.: 200-360 mm. Habit.: Amazonas, da foz ao Juruá, Guyana. Gen. Chaetobranchus Heck. Chetobranchus Heckel, Ann. Mus. Wien, II, 1840, p, 401; Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 310; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist. ser. 7, vol. XVII, 1906, p. 234; Corpo em oval pouco alongado. O caracter mais interessante é o que já mencionamos ua chave: o grande desenvolvimento das cerdas no lado interno do arco bran- chial, cujo numero sóbe a 60 ou 80. a 2 escamas entre o ultimo raio da D. ea L. lat.; o desenho dos flancos consiste em uma manchar escura: Cn C. flavescens au 4 escamas entre o ultimo raio da Dera suado 40 taxes transversaes no flanco e um ocello na base da caudal. . O. semifasciatus Chaetobranchus flavescens Heck. Chaelobranchus flavescens Heckel, Ann. Mus. Wien, Il, 1840, pag. 402; Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, pag. 310; Stein: dachner, Sitzb. Ak. Wien, LXXI, 1875, p. 128, Est. VI; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist, ser. 7, vol. XVII, 1906, p: 235; Chaetobranchus robustus Guenther, Le. p. 310; Chaetobranchus brunneus Guenther, L e p. 310; Chromys ucayalensis Castelnau, Anim. Am. Sud. Poiss. 1855, p. LE Esto V dio Acara ucayalensis Guenther, t. c. p. 281; — 295 — D. XIII 13-14; A. III 11-12; face com 5-6 séries de escamas; L. lat. 27-29 escamas. Pardo, com uma grande mancha no flanco; nada- deiras com linhas claras e escuras alternadas. Compr.: 260 mm. Habit.: Amazonas, da foz ao Perf, Guyana. Chaetobranchus semifasciatus Steind. Chaetobranchus semifasciatus Steindachner, Sitzb. Ak. Wien, LXXI, 1875, p. 130, Est. VII; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser. 7, vol. XVII, 1906, p. 235; Dorsal e Anal com um ou dous raios e L. lat. com 2 ou 3 escamas a mais que a especie precedente, á qual é muito alliada, differindo della só pelos cara- cteres indicados na chave. Compr.: 188 mm. Habit. : Amazonas, de Obidos ao Rio Iça. Gen. CHAETOBRANCHOPSIS Stein. Chaetobranchus (part.) Steindachner, Sitzb. Ak. Wien, LXXI, 1875; po 128; Chaetobranchopsis Stemdachner, i cit. p. 133; ÆErigenmann & Bray, Ann. Ac. N. York, VII, 1894, p. 609; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist. ser. 7, vol. XVII, 1906, p. 236; Conhece-se uma só especie deste genero, que por todos os demais caracteres é intimamente alliado a Chae- tobranchus; diverge delle quasi só RE ter 6: (em vez de 3) raios na Anal. Chaetobranchopsis orbicularis Steind. Chaetobranchus (Chaetobranchopsis) orbicularis Steindachner, Sitzb. Ak. Wien, LXXI, 1875, p. 133; Chaetobranchopsis orbicularis Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist, ser. 7, vol. XVII, 1906, p. 236; À — 296 — D. XV-XVI 11-13; A. VI 15-16; 3-4 series de de escamas na face; L. lat. 26-28 escamas. Pardo com vestigio de faxas transversaes; uma man- cha no meio do flanco (nem sempre distincta). Nadadeiras verticaes com series longitudinaes de manchas escuras e claras, alternadas. Compr. 80 mm. Babit.: Rio Amazonas, da foz ao Javary e mais afluentes. Gen. CRENICARA Steind. Crenicara Steindachner, Sitzb. Ak. Wien, LXXI, 1875, p. 99; Dicrossus Steindachner, loc. cit. p. 102. Crenacara Regan, Proc. Zool. Soc. London, 1905, I, p. 152; Anal com III, 7-8 raios; Pectoral com 15 raios; caudal arredondada. a Altura do corpo 2 14 vezes no compr.;, D..XVI- XVII 9; RES O Ree ct UE . D. punctulata aa Altura do corpo 3 14-4 vezes no ), 70-93 mm.; D. R. Guerra Mendes offr. Acara paraguayensis Eigenm. & Kenn. Acara paraguayensis Eigenmann & Kennedy, Proc. Ac. Philad., LV, 1903, p. 534; Regan. Ann. & Mag. Nat. Hist. ser. 7, vol XV: 4905.0. 950. — 311 — D. XIV (XHI-XV) 9-10. Até 7 faxas transversaes, desenvolvendo-se na terceira dellas uma mancha maior, preta; desta ao olho corre uma faxa longitudinal; um traço obliquo atraz do olho; ocello na cauda; Dorsal com traços obliquos na parte posterior. Compr.: 50-100 mm. Habit.: Matto Grosso; Corumbá, Descalvados, Ca- randásinho. Mus. Paul.: Itapura, Rio Tieté, Est. S. Paulo (até 100 mm. compr:). Acara subocularis Cope Geophagus (Mesops) Thayeri (non Acara Thayeri Steind.) Steindachner, Sitzb. Ak. Wien, LXXI, 1875, p. 108, Est. TEL hos a: Acara subocularis Cope, Proc. Am. Phil. Soc. XVII, 1878, p. 696; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist, ser. 7, vol. XV, 1905, p. 557; D. XIII-XIV 10-11. Prateado; um traço vertical por sobre o olho; geralmente com uma mancha, redonda sobre o flanco; a membrana entre os. primeiros 4 ou 5 raios da D. é preta em cima; Caudal com linhas trans- versaes no meio. Compr.: 80-102 mm. Habit.: Amazonas: Obidos, Lago January. Mus. Paul.: Rio Juuá, Amazonas (Acará branco) 95 mm. Acara portalegrensis Heck. ? Acara dimerus Heckel, Ann. Mus. Wien, II, 1840, p. 341; Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 277; Acara portalegrensis Hensel, Arch. f. Nat. 1870, p. 52; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser. 7, vol. XV, 1905, p. 341; D. XIV-XVI 9-11. Com 8-9 faxas transversaes, a terceira dellas com mancha maior, ligada ao olho por — 312 — uma faxa; uma linha clara do olho 4 narina; ocello na base da cauda; Dorsal e Anal com linhas obliquas atraz, bem como no meio da Caudal, verticaes ou obliquas. :Compr.: 80-120 mm. | Habit.: Rio Grande do Sul, Matto Grosso, Des- calvado, Carandásinho; Paraguay, Chaco. Acara dorsigera Heck. Acara dorsigera Heckel, Aun. Mus. Wien, II, 1840, p. 348; Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 280; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser. 7, vol. XV, 1905, p. 342; D. XHI-XIV 7-10. Pardo, com 7-8 faxas trans- versaes; no flanco uma mancha maior, ligada ao olho por uma faxa escura; mancha escura entre 8° e 10° raios da Dorsal; esta, atraz, bem como Anal e Caudal com séries de manchinhas escuras e claras alternadas. Compr.: 53 mm. Habit.: Amazonas: Obidos, Serpa, Teffé, Villa Bella, Lago Maximo; Rio Paraguay: Matto Grosso, Villa Maria. Acara thayeri Steind. Acara Thayeri Steindachner, Sitzb. Ak. Wien, LXXI, 1875, p. 68, Est. I, fig. 2; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser. do vol! XN P90 po Aos D. XIV-XV 9-10. Pardo, com pequenas manchas transversaes unidas, formando quasi uma faxa longitu- dinal e unida á mancha longitudinal de atraz do olho ; no meio do flanco uma das manchas é mais negra e está ligada a outra que vae de cima da L. lat. 4 Dor- sal; esta, atraz, bem como Caudal e Anal ás vezes com manchinhas escuras. Compr.: até 110 mm. Habit.: Amazonas: Cudajas, Manãos, Alemquer. — 315 — Gen. ASTRONOTUS Swains. Astronotus Swainson, Nat. Hist. Fish. II, 1839, p. 229; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser. 7, vol. XV, p. 346; Hygrogonus Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 303; O que logo distingue a unica especie deste genero é a abundancia de escamas que cobrem a parte poste- rior da Dorsal e quasi toda a Caudal e Anal. Ainda varios outros caracteres nol-o fazem separar com razão do genero Acara, com o qual tem affinidades. Astronotus ocellatus Agass. Lobotes ocellatus Agassiz, em Spix, Pise. Bras, 1829, p. 129, list. LX VII; Hygrogonus ocellatus Guenther, Cat. Fish., IV, 1862, p. 303; Astronotus ocellatus Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist. ser. 7, Ole Vio LO0S pe 347 D. XII-XIIT 19-21, A. IIT 15-16. Face com 7-9 séries de escamas; L. lat. 33-38; Dorsal, Anal e Caudal com escamas. Pardo, com um ocello na base da Caudal, varios na da Dorsal e um sobre a Pectoral, na base. Algum outrd desenho nos operculos, linhas, etc, desapparecem com a edade. Compr.: 250 mm. Habit.: Amazonas: em todo seu curso brazileiro e no Perá e muitos afluentes; KR. Paraguay; Villa Maria, Guyana. / Gen. GEOPHAGUS Leck. Geophagus Heckel, Ann. Mus. Wien, II, 1840, p. 383; Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 315; Regan, Ann. & Mag. Nat. List er Vol RX VIE. 1906: 50; Mesops (part.) Guenther, 1. ec. p. 311; a pi Satanoperca Guenther, 1 c p. 313; Biotodoma (part.) Eigenm. & Kennedy, Proc. Ac. Philad. 1903, p: -D33. Este genero, bem como os tres outros a elle alliados, Heterogramma, Retroculus e Biotwcus tem um caracter commum, que facilmente os distingue dos demais Cich- lidas: o desenvolvimento de um lobulo no lado interno da parte superior do 1.º arco branchial, como o representa nosso desenho fig. 4. (p. 2..) GEOPHAGUS A 6-17 cerdas no primeiro arco branchial a Pectorai ultrapassa o inicio da Anal b Dorsal com 12-16 espinhos c Pectoral attinge o fim da base AA TA ER ANIME RUE OR G. balzani ce Pectoral attinge só o meio da da Anal d Face sem (ou com só 2-3) « escamas; Li lat. 30. . . . G. gymnogenys dd Face com series de escamas e L. lat. 27-28, acima della 4-5, abaixo 9 escamas; pe- dunculo caudal mais alto que longo. ni anal o eG De alças ce JL. lat. 29-31, acima della 6, abaixo 12-14 escamas; pe- dunculo caudal mais longo quenalto panama URL TE G. cupido * bb Dorsal com 17-19 espinhos G surinamensis Gary: bd ew — 315 — aa Pectoral não attinge (não ultrapassa) o inicio da Anal f © Com mancha preta no flanco, traço vertical na cabeça e mais desenho variado . . . G. brasiliensis ff Sem mancha no flanco; de- SCHHOMPOBER o eee a 8 G. jurupari AA 19-21 cerdas no primeiro arco branchial. g D. XV 10; desenho: 7 faxas transversaes e uma longitudinal 2 do operculo á cauda _. . . G. pappaterra gg DS XE XTV 11-13; dese nho: uma mancha no flanco e um ocello na base da caudal G. daemon ggg D.XII-XIV 11-12; 0 desenho limita-se a uma mancha na base darcaudal > te G. acuticeps Geophagus balzani Perugia Geophagus balzani Perugia, Ann. Mus. Genov. 1891, p. 623; Regan, Ann. Mag. Nat. Hist., ser. 7, vol. XVII, p. 52. Geophagus duodecimspinosus Boulenger, Proc. Z. Soc. 1895, p5 524 e Trans; 2. ‘Soc. XIV; 1896, Est: IV, fig. ds D. XII-XIIT 13-14; A. II 7-9; comprimento do pedunculo caudal egual só a 34 de sua altura. L. lat. 27-32. | Pardo, com ca. de 9 faxas transversaes; uma mancha grande no flanco e um traço baixo do olho; nadadeiras escurecidas, na Dorsal e Caudal em parte com manchas claras. Compr.: 88 mm. Habit.: Rio Paraguay, Rep. Paraguay e Est. Matto Grosso. — 316 — Geophagus gymnogenys Hens. Geophagus gymnogenys Hensel, Arch. f. Nat. 1870, p. 61; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser. 7, vol. XVII, 1906, Pooks | Geophagus camurus Cope, Proc. Ann. Phil. Soc. XX XIII, 1894, DL LOS Est Red Em tudo esta especie, aliás rara, mostra as maiores affinidades com G. brasiliensis, da qual differe só pelos caracteres indicados na chave: comprimento da Pectoral que ultrapassa o inicio da Anal e a falta de escamas na face (1). "Tambem as cerdas do 1.º arco branchial são menos numerosas (6-8, emquanto que em G. bra- sihensis são geralmente 9-12). Compr.: 130 mm. Habit.: Rio Grande do Sul, Uruguay. Geophagus brachyurus Cope Geophagus brachyurus Cope, Proc. Ann. Phil Soc. XXXIII, 1894, p. 105, Est. IX, fig. 18; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser. 7. vol: XVIL '1906,/p: 54; D. XIV-XVI 8-10; A. III 8-9; L. lat. 27-28, acima della 4-5, abaixo 9 escamas; pedunculo caudal um pouco mais alto que comprido. | Purdo-claro, com faxas transversaes, uma mancha no flanco, um traço vertical na cabeça por cima do olho; nadadeiras verticaes com linhas transversaes. Compr.: 50-100 mm. Habit.: Rio Grande do Sul, Uruguay. (1) Suppomos que não se trate do caso muito commum em G. bra- siliensis e provavelmente tambem em outras especies, de se cobrir, na epoca da procriação, grande parte da cabeça com uma pelle por vezes tão grossa que esconde inteiramente as escamas. — 317 — Geophagus cupido Heck. Geophagus cupido Heckel, Ann. Mus. Wien, II, 1840, p. 399; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser, 7, vol. XVII, 1906, pod: Mesops cupido Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 311; D. XV 10; A HI 9: L. lat. 29-31, acima della 6, abaixo 12-14 escamas; pedunculo caudal mais longo que alto. Pardo; na cabeça um traço obliquo, no flanco uma mancha ocellada; nadadeiras sem desenho. Compr.: 80 mm. Habit.: Rio Amazonas: de Manäos a Tabatinga, Rio Guaporé, Guyana. Geophagus surinamensis Bloch Sparus surinamensis Bloch, Ausl. Fische, 1791, V, p. 112, Est. CCLXXVII, fig. 2; Geophagus surinamensis Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 315; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist. ser. 7, vol. XVII, 1906, EE se DE OG Chromys proxima Castelnau, Anim. Am. Sud. Poiss., 1855, p. 14, Est. VII, fig: 1: Satanoperca proxima Guenther, t. ¢, p. 314; D. XVII-XVIUI 11-12; A. III 7-9; L. lat. 33-36, acima delia 6-8, abaixo 12-14 escamas; a Pectoral at- tinge quasi o fim da base da Anal. Pardo, com vestígios de faxas transversaes; uma mancha preta no flanco; nadadeiras verticaes com man- chas escuras. Compr.: 80-120 mm; 230 mm. Habit.: Rio Amazonas em toda sua extensão no no Brazil; Guyana. Mus. Paul.: Amazonas, Rio Teffé. — 318 — Geophagus brasiliensis Quoy & Gaim. Fig. 6 [tam. nat.] Chromis brasiliensis Quoy & Gaimard, Voy. Uran., Poiss. 1824, p. 286; Chromis unipunctata Castelnau, Anim. Am. Sud, Poiss. 1855, Spy o Est Ve Stee 27 Chromis unimaculata Castelnau, 1. c., Est. VII, fig. 2; Chromis obscura Castelnau, t. e., p. 14, Est. VI, fig. 3; Acara brasiliensis Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 278 ; Acara gymnopoma Guenther, 1. c.; Acara obscura Guenther, t. e, p. 281; Acara unipunctata Guenther, t. ¢, p. 283; Geophagus brasiliensis Kner, Novara, Fische, 1869, p. 226, Est. X, fig. 3; Steindachner, Sitzb. Ak. Wien, LXX, 1874, p. 511, Ext. IL e III; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser. Gy vol, AVISO 06) ps i575 D. XIV-XVI 10-13; A. JII 8-9; face com 4-7 series de escamas; L. lat. 27-30, acima della 3-4, abaixo 9-10 escamas; primeiro arco branchial com 9-12 cerdas. Colorido de exemplares de tamanho medio: 100- 150 mm.: — 319 — Pardo, azulado ou claro; uma grande mancha no flanco, um traço vertical do alto da cabeça, por sobre o olho, ao angulo do preoperculo; este com pintinhas pretas. Dorsal e Anal adiante unicolores, atraz com de- senho claro e escuro alternado, como tambem toda a Caudal. Exemplares maiores ainda (até 230 mm.) perdem parte deste colorido, ou quasi todo, restando porém geral- mente a mancha do flanco. Na época da procreação o colorido torna-se bellis- simo, pois a numerosas manchas claras, opalisantes, junta-se um brilho azulado, iridescente em todo o corpo. Exemplares novos (até 70 ou 90 mm.) conservam o desenho mais completo, pois, além do acima descripto, tem 8-9 faxas transversaes escuras e o desenho nus nadadeiras é muito nitido. Habit.: Brazil meridional occidental, do Rio Grande do Sul á Bahia (só nas aguas da vertente directa do Atlantico ). Mus. Paul.: Est. 8. Paulo, Cubatão, Iguape, Poço | Grande, Taubaté; Est. R de Janeiro, Campo Bello; Es- pirito Santo, Rio Doce; Est. S. Catharina, Col. Hansa; Est. Rio Grande do Sul, Rio Camaquan. Geophagus jurupari Heck. Geophagus jurupari Heckel, Ann. Mus. Wien, II, 1840, p. 392; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist, ser. 7, vol. XVII, 1906, p DG: Satanoperca jurupari Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 313; Satanoperca leucosticia Guenther, t. ce. p. 314; Satanoperca macrolepis Guenther 1, c. ; D. XV-XVI 9-10; A. III 6-7; primeiro arco bran- | chial com 16 cerdas. — 320 — Pardo, com manchinhas claras, azuladas na cabeça; as vezes com uma mancha escura na base da Caudal; Dorsal com manchas claras e escuras alternadas na parte posterior. | São poucos os caracteres que se possa indicar para distinguir esta especie de G. brasiliensis, cujo colorido, porém, em geral é mais variado. Compr.: 80-220 mm. Habit.: Rio Amazonas, da foz a Tabatinga, Pert, Guyana. Geophagus pappaterra Heck. Geophagus pappaterra Heckel, Anu. Mus. Wien, II, 1840, p. 396; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser. 7, Voi. XVII, 1906, p. 59. | Satanoperca pappaterra Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 313. D. XV 10; A. HI 7; face com 6 series de escamas; L. lat. 32; primeiro arco branchial com 19 cerdas. Amarellado, com 7 faxas transversaes e uma lon- gitudinal do operculo á cauda; nadadeiras sem desenho. Compr.: 200 mm. Habit.: Matto Grosso, Rio Guaporé Guyana. Geophagus demon Heck. Geophagus demon Heckel, Ann. Mus. Wien, II, 1840, p. 389: Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist. ser. 7, Vol. XVII, 1906, Peso ony Satanoperca demon Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 313; D. XIII-XIV 11-14; A. III 8; face com 6-410 series de escamas; L. lat. 32-33; primeiro arco bran- chial com 19 cerdas. | Pardo, com uma mancha escura no flanco e um ocello na base da Caudal; Dorsal com traços claros e escuros, alternados. — 321 — Compr.: 290 mm. Habit.: Rio Amazonas, Obidos, Rios Negro e Madeira. Geophagus acuticeps Heck. Geophagus acuticeps Heckel, Ann. Mus. Wien, II, 1840, p. 394; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser. 7, Vol. XVII, 1906, p. 60; Satanoperca acuticeps Guenther, Cat, Fish. IV, 1862, p. 312; EEE NERE XIV OS A IEL 7-85: face com pt series de escamas; L. lat. 30-31; primeiro arco branchial com 19-21 cerdas. Pardo, com 7-8 faxas transversaes nos exemplares novos; nos individuos mais velhos restam só os vestigios, em forma de tres manchas sobre o flanco e uma na base da caudal; parte posterior da Dorsal com manchas. Compr.: 80-220 mm. Habit.: Rio Amazonas de Obidos a Tonantins e affluentes. Gen. HETEROGRAMMA Res. Mesops (part.) Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 311. Geophagus (part.) auct. Biotodoma (non Eigenm. & Kennedy) Pellegrin, Mém. Soc. Zool. France XVI, 1903, p. 186. Heterogramma Regan, Ann. & Mag. Nat, Hist., ser. 7, vol. XVII, 1906, p. 60; Este genero distingue-se de Geophagus, com o qual tem affinidade, por serem menos numerosos os raios molles da Dorsal; por ficar a L. lat. (que nem sempre é com- pleta) separada da Dorsal só por 1 14 escamas; L. lat. 22-24 (em Geophagus 28-30) e acima e abaixo della só 2-3/8 (em Geophagus 4-6/9-12) escamas. D. XV-XVI 5-7; A. III 6-7; face com 3 series de escamas. — 322 — HETEROGRAMMA A L. lat. completa a Focinho mais curto que o dia- metro ocular; ultimo espinho da D. com mais de 24 do com- primento da cabeça . . . . EH. tematum aa Focinho do compr. do diametro ocular; ultimo espinho da D. com menos de 24 do compr. da cabeça 3.355 pony Ren eee HA. agassizw AA L. lat. incompleta, principal- mente no seu ramo inferior b Espinhos da D. subeguaes, a comecarr dos Vallis Ve Terre H. borelli bb Espinhos da D. subeguaes a começar do IV c Alem do desenho usual, cada serie de escamas da barriga tem uma: listras preta ar var ck H. commbe cc Faltam as listras, mas ha uma faxa obliqua da base da Pecto- ral 4 origem da Anal . . . HH. trifasciatum Heterogramma tæniatum Guenth. Mesops teniatum Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 312; Heterogramma teniatum Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist. ser. 7, vol. XVII, 1906, p. 61-62; O desenho consiste em uma faxa longitudinal do olho á base da cauda, formando-se ahi uma mancha; uma faxa do focinho ao olho, que continua obliquamente dahi ao interoperculo, embaixo. As membranas entre os — 323 — primeiros espinhos da D. são escuras; as partes molles das nadadeiras verticaes são manchadas. Compr.: 60 mm. | Habit.: Amazonas, Rio Cupai. Heterogramma agassizii Steind. Geophagus (Mesops) Agassixit Steindachner, Sitzh. Ak. Wien, LXXI, 1875, p. 111, Est: VIII, fig. 2; Heterogramma Agassixii Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist. ser. evo VIE 1906. pie 62% Especie muito parecida com a H. teniatum, da qual differe pelos poucos caracteres já indicados na chave. O colorido é egual, divergindo só por ser a faxa do flanco continuada sobre a Caudal, em substituição da mancha basal. Compr.: 55 mm. Habit.: Amazonas, Manáos. Heterogramma borellii Regan Mesops teniatus (part.) Boulenger, Boll Mus. Torin. X, 1895, n::106; p;- 33; Heterogramma Borelli Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser, 7, vol. VIT 1906, p. 6957; Bruno, com o seguinte desenho: faxas transversaes com manchas, que formam uma serie no meio do flanco; da região temporal, por detraz do olho ao interoperculo, passa uma listra curva e outra da bocca ao olho. Dorsal e Anal com margem escura e manchas claras e escuras entre seus raios molles. Compr.: 30-55 mm. Habit.: Rio: Paraguay, Matto Grosso: Caran- dasinho. Heterogramma commbæ Eigenm. Mesops teniatus (part.) Boulenger, Boll. Mus. Torin. X, 1895, n. 196, p. 335. Heterogramma commbe Eigenm. apud Regan: Ann. & Mag. Nat. Hist. ser. 7, vel. XVII, 1906, 64 e nota. Especie muito alliada a HH. trifasciatum, da qual só se distingue pelos caracteres de colorido indicados na chave. T. Regan salienta tambem differenças nas propor- ções do comprimento da cabeça (maior) e do espaço interorbital (menor do que em H. trifasciatum), o que porém parece ser caracter pouco seguro. Compr.: 25-40 mm. Habit.: Rio Paraguay, Matto Grosso: Caranda- sinho, Rio Apa. Heterogramma trifasciatum Eigenm. & Ken. Mesops teniatus (part.) Boulenger, Boll. Mus. Torin. X, 1895, ne 196, pros; Heterogramma trifasciatum Eigenmann & Kennedy, Proc. Acad. Philad. 1903, p. 536; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist, ser. -7,:-vol. XVII 1906, /p;765: Como já dissemos acima trata-se de uma especie muito alliada á precedente, H. commbe. Compr.: 30 mm. Habit.: Rio Paraguay, Matto Grosso, Rio Apa. Gen. BIOTŒCUS Eigenm. & Kenn. Saraca (non Walk.) Steindachner, Sitzb. Ak. MES LXXI 1875, p. 125; Biotecus Eigenmann & te Proc. Acad. Philad. 1903, 533; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist, ser. 7, vol. XVII, 1906, POSE Distingue-se este genero de Geophagus por ter o numero de raios da Dorsal “reduzido a VII-VIII 13-14 A e acima da L. lat. que é aliás indistincta, ha só 2 e abaixo 7 escamas, como em Feterogramma. Biotcecus opercularis Steind. Saraca opercularis Steindachner, Sitzb. Ak. Wien, LXXI, 1875, p. 125; 3 Bioteecus opercularis Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist. ser. 7, vol. XVII, 1906, p. 66; Do VE-VEE 19-14 A TI: E: dat.29-80. Uma mancha grande no operculo, outra na base da Caudal; uma serie de pontos pretos em cima, ao longo do flanco. Margem da Dorsal escura; Caudal com series alternadas de manchas claras e escuras. Compr.: 50 mm. Habit.: Rio Amazonas, Lago Saraca. Gen. RETROCULUS Eigenm. & Bray Retroculus Eigenmann & Bray, Ann. Ac. N. York, VII, 1894 p. 614; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist. ser. 7, vol. XVII, 1906, p. 49; À unica especie desse genero deveria fazer parte de Geophagus, si não se distinguisse pelo caracter indicado na chave: as cerdas do lobulo superior do primeiro arco branchial não se inserem na margem mas sim na base do mesmo lobulo. Retroculus lapidifer Casteln. Chromys lapidifera Castelnau, Anim. Am. Sud, Poiss. 1855, p. 16, Est. XII fig. 1; Retroculus Boulengeri, Eigenm. & Bray Ann. Ac. N. York VII, 1894, p. 614; Retroculus lapidifer Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser. 7, vol. XVII, 1906, p. 50; D. XVI (*) 11; A. III 6-7; face com 4-6 séries de escamas; L. lat. 38-39. Diametro ocular contido 4-5 vezes no compr. da cabeça. Amarellado, com o dorso mais escuro, varias faxas transversaes e na base dos raios molles da Dorsal com uma mancha escura. Compr.: 190-240 mm. Habit.: Rio Araguaya. Gen. CICHLASOMA Swains. Cichlasoma Swainson, Nat. Hist., Fish. II 1839, p. 250; Acara (part.) Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 276; Heros Guenther t. c. p. 285; Theraps Guenther t. c. p. 284; Mesonauta Guenther t. e. p. 300; Cichlosoma Regan, Ann. & Mag. Nat. ser. |7, vol. XVI, 1905, p. 61 ss; Além dos caracteres indicados na chave dos generos desta familia, não é possivel salientar, outros, que ainda melhor caracterizem este genero Cichlasoma, que conta ca. de 70 especies de vasta distribuição. Em grande parte são habitantes da America Central, sendo admi- ravel esta grande variedade de especies em area tão restricta. Com excepção de juma especie, todos os Cichlasoma que ocorrem no Brazil pertencem ao subgenero Cichla- soma s. str.; nas especies que a elle pertencem em geral os dentes de ambos os maxillares na série exterior não augmentam muito em tamanho para a frente. No outro subgenero (Parapetenia Reg.) dá-se o contrario e espe- clalmente no maxillar inferior os primeiros dentes repre- sentam caninos, aos quaes em geral correspondem outros no maxillar superior. (*) Castelnau, 1. cit. indica XIII raios, como tambem se conta egual numero na 1llustraçäo da Est. XII. | + a (A Cichlasoma Os primeiros dentes da série externa de ambos os maxilla- res representam caninos; fo- cinho muito protractil (subgen. POLOPClenia) use eas C. spectabalis Os primeiros dentes da série externa do maxillar superior, ainda que maiores que os pos- teriores, não representam ca- ninos (subgen. Cichlasoma) Escamas da L. lat. maiores do que as que lhes ficam logo abaixos nos flancos 2 = C. psittacum Escamas da L. lat. eguaes em tamanho ás que lhes ficam logo abaixo nos flancos Escamas da região thoraxica muito menores que as dos flancos D. XVI-XVIII/11-14; Anal VI-VIII/9-11 2 1/2 escamas entre L. lat. e a base do primeiro raio molle daaDersale= ase E, C. temporale 4 escamas entre L. lat. e a base do primeiro o molle dai Dorsaliss sion. . C. coryphaenordes D. XV-XVII/13- 14; A. VIL- AVS EE JU ques PRESSE C. severum Escamas da região A de tamanho quasi egual ás dos flancos — 328 — d O desenho não consiste em faxas transversaes 125 DD XIVEXVI (020 Aa VIS- Da . O bimaculatum - ds Ds RAN XVI/10- 12; E VITI-IX/10-12; 3 14- A ese mas entre L. lat. e a base do primeiro raio molle da Dorsal C. festivum dd © desenho consiste principal- mente em 6-9 faxas transver- saes 3 D. XV-XVII/9-11; A. VI VIII/7-9; 1 ou 14% escamas entre L. lat. e a base do pri- meiro raio molle da Dorsal e Beico inferior dobrado, com interrupção no meio. . . . C. facetum ee Beïco inferior dobrado, sem - interrupção . . is. . . Co facetum auto- chthon Cichlasoma spectabile Steind. Petenia spectabilis Steindachner, Sitzb. Ak. Wien, LXXTI, 1875, pO, Mest Vs: Cichlosoma spectabile Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser. 7, Vol VE LO pa ooo. D: XV 12-13; AVI 9-10: face com lonas séries de escamas; 30 escamas no flanco e 19-20-++11-15 na L. lat.; compr. do pedunculo caudal egual a 24 de sua altura. Uma grande mancha escura sobre o flanco e outra menor sobre a base da Caudal. | Compr.: 160 mm. Habit.: Amazonas: Gurupá, Obidos. — 329 Cichlasoma psittacum Heck. Heros psittacum Heck. Ann. Wien Mus. II, 1840, p. 369; Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 290. Hoplarchus Ba e Kaup, Arch. Nat. 1860, p. 129, Bona VE fig. Cichlosoma psittacum Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist. ser. 7, vol. XVI, 1905, p. 323; D. XV, 12-13; A. V, 8-10; face com 8-10-(*) series de escamas; 44-48 escamas no flanco, 20411 na L. lat.; Pedunculo caudal mais alto que longo. De cor amarellada, com uma faxa escura do olho a base da Caudal, onde ella se alarga em mancha. Compr.: 130 mm. Habit,: Amazonas: Rio Negro, Guyana. Cichlasoma temporale Guenth. Heros temporalis Guenther, Cat. Fish., IV, 1862, p. 287; Acara (Heros) crassa Steindachner, Sitzb. Ak. Wien, LXXI, 1875, p. 88, Est. V; Heros Goeldi Goeldi, Boll. Mus. Pará, II, 1895, Est. Cichlosoma temporale Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser. 7, Vo RV oOo. pos DEVER VEL 11-12: AO VARVAT 29: 4-5" series de escamas na face; 30-32 escamas na L. lat. Em cima de cor mais escura do que embaixo; do olho & base da Caudal extende-se uma faxa escura, que se alarga em manchas nas duas extremidades e no meio do flanco; de embaixo do olho á narina corre um traço obliquo. Compr.: 160 mm. Habit.: Teffé, Obidos, Villa Bella; Rio Cunani; Guyana franceza. (*) Parece ser este o numero exacto, como o indicam Heckel e Stein- dachner, loc. s. cit., segundo o exame dos typos; os algarismos 10-14 de T. Regan |. s. cit. parecem provir de engano. — 330 — Cichlasoma coryphænoides Heck. Heros coryphænoides Heckel, Ann. Mus. Wieu, II, 1840, p. 373; Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 296; Cichlosoma coryphænoides Regan, Ann. & Mag. Nat. a sere: 7, Vol. X NE 1905, ps tas D. XVI 12-13; A. VI 9-10; 5 séries de escamas na face; 31-33 escamas na L. lat. Pardo, com faxas transversaes fracas; uma mancha preta no flanco; nadadeiras escuras. Compr.: 126 mm. Habit.: Amazonas; Rio Negro: Obidos, Lago Saraca. Cichlasoma severum Heck. Heros severus Heckel, Ann. Mus. Wien, II, 1840, p. 362; Heros spurius Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 293; Heros efasciatus Guenther, t. c., p. 294; Chromys appendiculata Castelnau, Anim. Am. Sud, Poiss., 1855, p.15 Est VIE fig; Chromys fasciata Castelnau, L e, p: 17, Est. IX, fig. 2; Uaru centrarchoides Cope, Proc. Ac. Philad. 1872, p. 253, Est. XI; fie 2; Acara (Heros) spuria Steindachner, Sitzb. Ak. Wien, LXX, 1874, p. 507, Est. IV e loc. cit. LX XI, 1875, p. 83; Cichlosoma severum Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser. 7, vol. XVI, 1905, 322; D. XVI-XVII 13-14; A. VII-VIII 12-14; faces com 5-6 séries de escamas; 30 (seg. Heckel e Steind.) ou 36-42 (Regan) escamas na L. lat. e 28-30 na linha. logo abaixo della. Pardacento, com faxas transversaes, indistinctas nos individuos maiores; algum outro desenho ligeiro sobre o corpo ou por vezes só com algumas linhas longitudi- naes no dorso; nadadeiras com traços escuros ou linhas pontuadas. Compr.: até 200 mm. E o FETE egos i Ei — 331 — Habit.: Ao que parece houve falsas indicações de proveniencia, não só devido a enganos nos rotulos das collecções, mas tambem, como o evidenciam certas contradições nas descripções, parece que se confundiu, sob o mesmo nome, especies diversas. Amazonas, Rio Negro (typo); de todo o curso do Amazonas no Brazil e de muitos afluentes; Pera, Guya- na. Araguaya (Castelnau); Rio Parahyba ? (Steindachner julga tratar-se antes de exemplares do Rio S. Francis- co). Como se vê, a especie teria uma distribuição vas- tissima, qual não conhecemos outra para especie desta familia. Evidentemente ha varios enganos a corrigir. Cichlasoma bimaculatum Linn. Labrus bimaculatus Linné, Syst. Nat. ed. X, 1758, p. 285. Labrus punctatus Bloch, Ausl. Fische, 1792, VI, p. 20, Est. CCXCV. Perca bimaculata Bloch, t. e. p. 82, Est. CCCV ; Acara bimaculata Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 276; Cichlosoma bimaculatum Regan, Ann & Mag. Nat. Hist., ser. 7 NOL = AVE 19055" -p. 68° D. XIV-XVI 9-11; A. IV (V-VI) 8-9; face com 3 series de escamas; L. lat. 24-27 escamas. Pardo, com uma grande mancha sobre o flanco e um ocello na base da Caudal; ca. de 8 faxas transversaes; uma manchinha atraz do olho; deste 4 mancha do flanco ha as vezes uma linha escura; as escamas ventraes tem a base clara e as escamas posteriores uma mancha escura; Dorsal atraz, bem como Anal e Caudal manchados. Compr.: 50-180 mm. Habit.: Amazonas de Pará a Tabatinga e affluen- tes; Perá; Matto Grosso: Rio Guaporé, Bio Paraguay, Cuyabá, Cuve Trinidad. — 332 — Cichlasoma festivum Heck. Heros festivus Heckel, Ann. Mus. Wien, I, 1840, p. 376; Chromys acora Castelnau, Anim. Am. Sud, Poiss. 1854, p. 17, Est IX, fe cl Mesonauta insignis Guenther, Cat. Fish., IV, 1862, p. 300; Cichlosoma festivum Regan, Ann. & Mag Nat. Hist., ser. 7, VOLE LOU ETS O0 D. XIV-XVI 10-12; A. VIIT-IX 10-12; face com 3 series de escamas; L. lat. 27-29 escamas; dobra do beiço inferior interrompida no meio. Pardo, com uma faxa obliqua do focinho, por sobre o olho, 4 ponta do primeiro raio molle da Dorsal; as vezes algumas faxas transversaes; um ocello na base da Caudal; esta e a Dorsal são maculadas. Compr.: 50-110 mm. Habit.: Amazonas do Pará a Tabatinga e afiluentes; Perá; Tocantins; Rio Guaporé; Matto Grosso: Caran- dasinho, Descalvados. Cichlasoma facetum Jen. Chromis facetus Jenyns, Voy. « Beagle», Fishes, 1842, p. 104; Heros facetus Guenther, Cat. Fish, IV, 1862, p. 290; Stein- dachner; Sitzb. Ak. Wien, LX, 1869, p. 290, Est. I; —_— ee ae ae a ee ee MS tt ÉD a med à ciel Las É 333 — Heros Jenynsii Steindachner, t. c. p. 282, Est. II; Cichlosoma facetum Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser. 7, XVI, 1905, p. 70: D. XV-XVII 9-11; A. VI-VIII 7-9; face com 4-5 series de escamas; L. lat. 26-28 escamas; comprimento do -pedunculo caudal egual á metade da altura. Pardacento, com 6 ou 7 faxas transversaes; uma mancha escura na base da caudal; nadadeiras escuras. Compr.: 50-160 mm. Habit.: Rio Grande do Sul, La Plata, Rio Paraná, S. Paulo, Espirito Santo. Mus. Paul.: Est. S. Paulo, Cubatão, Iguape, rio Juquiá, Franca; Est. Rio de Janeiro, Campo Bello, Est, Esp. Santo, Rio Doce. Cichlasoma facetum autochthon Guenth. Heros authochthon Guenther, Cat. Fish., IV, 1862, p. 299; Acara (Heros) autochthon Steindachner, Sitzb. Ak. Wien, LXX, 1874, p. 502, Est. I; Cichlosoma autockthon Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist, ser. 7, vol XVI; 1905, p. (1; Tem todos os caracteres indicados para C. facetum, differindo unicamente por não ter a dobra do beiço in- ferior interrompida, como acontece nos exemplares daquella forma typica, da qual consideramos esta como méra subspecie septentrional. Comp.: 80-130 mm. Habit.: Est. Rio de Janeiro: Porto Real, There- sopolis, Petropolis, Rio Parahyba. Como especie distincta tem sido descriptos os exem- plares typicos de Castelnau do Rio Tocantins, (. oblongum (Casteln. Anim. Am. Sud, Poiss. p. 14, 1855). A des- cripção original, que quasi corresponde á de C. auto- chthon, é deficientissima, e como os typos estão em pessimas condições, é impossivel sustentar esse nome especifico sem examinar exemplares topotypicos. — 334 — O especimen da Republica Argentina descripto por T. Regan (1. cit. p. 72) não parece condizer muito bem com o C. oblongum original. Gen. UARU Heck. Uaru Heckel, Ann. Mus. Wien, II, 1840, p. 330; Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 302; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist. ser. 7, vol. XIV, 1905, p. 439: Os dous caracteres indicados na chave são os que distiguem este genero monotypico do jque lhe é bem al- liado, Eta (C. psittacum). Uaru amphiacanthoides Heck. Uara amphiacanthoides Heckel, Ann. Mus. Wien. II, 1840, p. 331; Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 302; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser. 7, vol. XVI, 1905, p. 439; Uaru obscurum Guenther, 1. s. c.; D. XV-XVI 14-16; A. VIII-IX 13-15; face com 9-12 series de escamas; L. lat. 20-10 escamas, abaixo della 48, acima 57 escamas em uma serie; dobra do beiço inferior interrompida; comprimento do pedunculo caudal egual a 44 ou !% da altura. Bruno, com uma mancha atraz do olno e outra na base da caudal; uma faxa arqueada vae da base da Pectoral á base da Caudal. Compr.: 150-215 mm. Habit.: Amazonas, Rio Negro e varios afluentes. Gen. PTEROPHYLLUM Heck. Pterophyllum Heckel, - Ann. Mus. Wien, IL, 1840, p. 334; Guenther, Cat Fish. IV, 1862, p. 316; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist. ser. 7, vol. XVI, 1905, p. 441; Plataxoides tala Anim. Am. Sud, Poiss., 1855, p. 21, Est. XE figa: Genero alliado a Symphysodon, com o qual com- partilha a forma oval do corpo; tem, porém, dentição mais completa. Pterophyllum scalare Cuv. & Val. Platax sealaris Cuvier & Valenciennes, Hist. Nat. Poiss. VII, 1881 p23 Cs Pterophyllum scalare Guenther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 316; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser. 7, vol. XVI, 1905, p. 441; Plataxoides Dumerili Castelnau, Anim. Am. Sud, Poiss. 1855, p. 21, Est. XI, fig. 3; D. XI-XIII 23-27; A. V-VIII 25-29; face com 4-5 séries de escamas; É lat. 27-30 escamas, 40-47 em uma linha longitudinal; 35-38 escamas na linha abaixo da L. lat. Nadadeiras Dorsal, Anal e Caudal com pro- longamentos filamentosos. Prateado, com 4 faxas transversaes distinctas e por vezes ainda com outras mais fracas entre ellas. Tambem as nadadeiras verticaes tem as vezes desenho transversal. Compr.: 50-102 mm. = Habit.: Amazonas, da foz a Tabatinga e affluentes. Outra especie, P. altum Pellegr. (Mem. Soc. Zool. Fr. 1903 XVL p. 252, Est. IV, fig. 4) é da Venezuela, Orenoco, e distingue-se pelo maior numero de escamas na face e na L. lat. e por ter mais raios na Dorsal e Anal. Gen. SYMPHYSODON Heck. Symphysodon Heckel, Ann. Mus. Wien, II, 1840, p. 332: Guen- ther, Cat. Fish. IV, 1862, p. 316: Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist. ser. 7, vol. XV, 1905, p. 440; (Genero monotypico intimamente alliado a Cichla- soma (C. severum) do qual porém differe por caracte- res importantes, já indicados na chave. As cerdas do 1.º arco branchial estão atrophiadas, reduzidas a pequenas : verrugas. Symphysodon discus Heck. Symphysodon discus Heckel, Ann. Mus. Wien, II, 1840, p. 333 ; Guenther, Cat. Fish., IV, 1862, p. 316; Regan, Ann. & Mag. Nat. Hist., ser. 7, vol. XVI, 1905, p. 440; D. VIII-IX 26-31; A. VILIX 27-30. Corpo de forma quasi circular, comprimido; face com 7-8 séries de escamas; L. lat. 65-70 escamas e 50-55 em uma série abaixo della. Cobrem o corpo linhas longitudinaes ondeadas e 9 faxas transversaes, das quaes a primeira passa sobre o olho; a mediana e a ultima são as mais escuras. Nadadeiras verticaes com manchas alternadamente escu- ras e claras. Compr.: 100-170 mm. Habit.: Amazonas: Rios Negro, Madeira, Xing, Teffé, Cupai. Explicação das figuras do texto Fic. 1 (p. 262) Topographia externa de um peixe. » 2 (p. 264) Principaes ossos da cabeça do peixe. 3 (p. 289) Arco branchial de “Chaetobranchus. 4 (p. 289) Arco branchial de Geophagus. 5 (p. 302) Crenicichla lacustris Casteln. “Joanninha”. 6 (p. 318) Geophagus brasiliensis Quoy & Gaim. “Acará”. 7 (p. 332) Cichlasoma facetum Jen. Estampa VIII. Fra. 1º Sternarchorhamphus tamandua Boul. » 2 Sternarchus brasiliensis Reinh. > 3 Kigenmannia virescens (Val). » 4 Giton fasciatus (Pall.). a \ are DO dio Ed tie tit Sd À id ca de à historia da Fauna marina do Brazil are Dore. Regiões visinhas da America Meridional pelo Dr. HERMANN von IHERING Traducçäo do Cap. XIl da monographia «Les Mollusques fossiles du Tertiaire et du Crétacé superieur de Argentine» do Dr. H. von Ihering, Anales del Museo Nacional de Buenos Aires, Série Ill, Como VII, 1907, 611 pgs., 18 est. RELAÇÕES ZOOGEOGRAPHICAS E GEOLOGICAS A. — Historia da fauna marina da Argentina e do Brazil À zoogeographia estabelece as differenças que as diversas regiões do globo apresentam com relação ao reino animal. Antigamente suppunha-se que essas differenças dependessem directamente das condições geographicas e | physicas e foi o grande merecimento de Wallace ter introduzido nessas discussões a ideia da connexão genetica das diversas faunas. Com um certo numero de premissas falsas, porem, como a da invariabilidade das grandes profundidades dos mares, elle se creou ohstaculos insuperaveis, que lhe im- pediram de comprehender as antigas relações dos diversos “continentes, assim como de sua fauna e flora. Sabemos agora que a America não fórma um só continente senão desde a formação pliocena para cá, e que a America me- ridional estava antes disso em connexão, para o Oeste com a Africa, e ao Sul com um continente antarctico. Eu derá a este ultimo o nome de Archinotis e propuz o nome de Archheienis para o continente que unia o Brazil com a Africa occidental. — 338 —- Não é aqui o lugar em que devamos discutir esta theoria, que foi, alias, bem acceita por numerosos col- legas de alta competencia; devemos, comtudo, pôr em evidencia que a hypothese relativa a esses continentes modificou essencialmente a marcha de nossas pesquizas. Si a America meridional esteve por muito tempo sepa- rada da America do Norte e si aquella representa o producto de uma connexão de diversas partes do conti- pente, a fauna actual não é senão uma associação de. elementos heterogeneos. E pois o fim do methodo ana- lytico, por mim introduzido nas investigações zoogeographi- cas, distinguirmos estes diversos elementos faunisticos e constatarmos para cada um delles sua historia e suas migrações successivas. Foi o que tentei realizar com re- lação á fauna da agua doce da America meridional e, si durante os ultimos doze annos me dediquei de preferencia a investigações sobre a fauna malacologica do terciario da Patagonia, era ainda o mesmo fim que me guiava. Os depositos marinos que contêm Molluscos tercia- reos, sobretudo os que se formaram em aguas pouco profundas, permittem-nos comparar a fauna actual com aquellas que se succederam nos mesmos lugares durante a época terciaria. Si possuissemos colleeções completas de molluscos de todas as diversas formações terciarias, bem como dos outros continentes visinhos, ser-nos-hia possivel reconstruir com certeza absoluta as antigas costas dos mares e os antigos continentes. Mas os materiaes que temos a nossa disposição estão bem longe de ser completos. Eu os jnlgo entretanto bastante sufficientes para já se deduzir delles conclusões no sen- tido já indicado. E preciso reconhecer que a ausencia de depositos terciarios em uma certa região pode ser causada por uma conservação imperfeita ou por uma destruição posterior das camadas fossiliferas, mas que ella pode ser tambem primitiva, attendendo-se que o mar jamais cobriu estas regiões durante a época terciaria. Este ultimo 339 — caso é o que observamos nas costas do Brazil. Encon- tram-se quasi em toda parte na America, e sobretudo nas zonas littoraes, depositos marinos terciarios em abundan- cia. É o que se nota na America do Norte, tanto nas costas do Pacifico como nas do Atlantico, na America Central, nas Antilhas, no Perá, no Chile, na provincia magellanica, na Patagonia e ao Nordeste da Argentina, mas de modo algum no Brazil. Desde a emboccadura do Rio da Prata até a do Amazonas, não se conhece ne-: nhum deposito terciario que contenha molluscos marinos. Ao Sul do Estado de São Paulo até a Argentina, en- contra-se, na zona littoral, depositos modernos de conchas, que demonstram uma transgressão post-terciaria do mar. Ao longo da costa, ao Norte do Brazil, ha depositos de origem marina, que são de uma edade cretacea superior. Nesta região o mar occupava uma parte do littoral du- rante o cretaceo superior e esta circumstancia torna tambem provavel que, ao começo da época terciaria, a costa não se achava muito afastada da sua posição actual. Estes factos não se explicam de uma maneira satisfactoria senão pela theoria da Archhelenis. O continente, que unia o Brazil 4 Africa, começou a desapparecer durante a for- mação cretacea, e 4 medida que a desmenbração da Archhe- lenis avançava, o Oceano aprofundava-se. Este aluimento creava a zona central do Atlantico e estendia tambem sua influencia sobre a zona littoral do Brazil. Estas mo- dificações produziram os terraços que existem no Brazil, da costa para o interior, e que, vistos do lado do mar, produzem a impressão de cadeias de montanhas. O mesmo facto creou as cataractas do Rio Paraná, do Rio São Francisco -e dos affluentes meridionaes do Amazonas, e eu não duvido que todo o valle do Amazonas seja tambem formado da mesma maneira. | Si os factos aqui indicados são exactos, o Oceano Atlantico não existia ainda na época do cretaceo e do eoceno. D9 aa — 340 — A communicação interoceanica da America Central permittia aos organismos marinos do Atlantico septen- trional e do Mediterraneo distribuirem-se ao longo das costas pacificas até o Chile, distribuindo-se ainda ao longo da margem septentrional da Archhelenis e, pelo mar indo-aus- traliano, até ás Indias e a Australia. E neste immenso oceano tropical que os Nummu- lites se procrearam em massas enormes durante o eoceno, razão pela qual eu denominei este Oceano o Mar Num- mulitico, applicando ao Oceano Antarctico da mesma época o nome de Struthrolaria. Suess substituiu o pri- meiro nome para o de Thetis, denominação que eu acceito, applicando o nome de Nereis para o mar eogeno austral. Na época do cretaceo superior e do eoceno, não havia ainda senão dous grandes mares, que estavam em communicação sómente na região de uma parte do actual Oceano Pacifico. O contraste entre as faunas marinas eogenas da America do Norte e a da Patagonia deve por consequencia ter sido grande e é o que na realidade se observa. Ha especies communs ás duas regiões, e 0 ca- racter geral da fauna eocena é bem differente tambem. Em geral, o mesmo caso se repete para as outras regiões do mundo, mas as poucas relações que a fauna da formação patagonica possam ter com as outras faunas eocenas lhe dão uma ligação mais intima com as da Europa e da Australia que com as da America do Norte. Isto torna-se sobretudo evidente quando se compara familias como as Arcidae, os Parallelodontidae e os Trochidae. As especies de Cucullaca e de Glycimeris da Pa- tagonia são muito analogas com as da bacia de Paris, e o genero Cucullaria é proprio ás duas regiões em questão, faltando completamente á America do Norte, onde as con- chas, que se chamou Cucullaria, não são em reali- dade senão especies do genero Barbatia. O genero Gibbula está representado no eoceno da Europa por fórmas muito — 941 — semelhantes ás da formação patagonica, emquanto que ellas faltam quasi absolutamente no terciario eogeno da Ame- rica do Norte. Os Lotorvidae são egualmente instructivos sob este ponto de vista. Comprehender-se-ha melhor estas relações si se considerar que as formas tropicaes chegaram á Patagonia por migrações ao longo das costas orientaes da Archhelenis e que a costa septentrional do mesmo con- tinente eoceno se achava povoada por uma fauna tropi- cal bem semelhante e ligada geneticamente á da Europa. O mar, que, na época eocena, se estendia entre a Archhelenis e a Europa, permittiu a diffusäo de uma fauna mais ou menos uniforme, pela America central, a Florida, a California, e mesmo o Chile, como pela Europa, as Indias e a Australia. Os elementos desta fauna, que avançaram para o occidente, extenderam-se até o Chile, e as do Este se distribuiram para além da Australia até a Nova Zelandia, onde nós os encontramos na formação de Oamarû, ao lado da fauna antarctica antiga. Nenhuma parte do globo teve isolamento em um tão alto grau como a Patagonia e como ella nenhuma foi tão pouco accessivel aos immigrantes da fauna tropical. E” por esta razão que esta fauna eogena é tão dif- ferente da das outras partes do globo. Esta differença era então muito mais pronunciada do que hoje, e, pode-se mesmo affirmar que, desde que os organismos terrestres existem, jamais houve regiões zoogeographicas tão bem delimitadas como no começo da época terciaria. E” facil de comprehender que estas differenças faunisticas têm por causa uma distribuição de us e mares toda differente da dos nossos dias. Actualmente muitas especies de molluscos de origem septentrional se encontram ao longo das costas da Ar- gentina até o rio Negro. Esta immigração de typos se- ptentrionaes ao longo das costas da Argentina continuou ainda na época post-terciaria, como ficou provado pelas excavações feitas em Bahia Blanca, si bem que a tem- — 342 — peratura do mar fosse então muito mais fria que no co- meço do terciario. Os grandes representantes dos generos sub-tropicaes, taes como Cucullaea, Arca, Glycimeris, Cardium, etc. e sobretudo os generos proprios aos mares tropicaes, co- mo Perna, provam que o mar, que banhava as costas da Patagonia entre 40º e 50º de latitude sul, tinha uma temperatura muito mais elevada, durante a época eogena, do que hoje. | As condições physicas eram, por consequencia, dif- ferentes das actuaes no hemispherio meridional, o que tambem se dava no hemispherio septentrional para as regiões situadas sob latitudes correspondentes. Si a fauna eocena de Paris e de Londres é na generalidade, bem differente da da Patagonia, a causa não é a diferença da temperatura do mar, mas sim as condições geographi- cas completamente differentes. Evidentemente, a Archhe- lenis se estendia muito para o Sul, de sorte que o continente ultrapassava, nesta direcção, o limite zoogeo- graphico das fórmas tropicaes. Na época superpatagonica, a fauna marina softreu uma mudança notavel, e ahi se deu um grande augmento de generos tropicaes. Neste caso tambem não são especies da America central que fazem a sua apparição, de sorte que esta alteração deve ter obe- decido a uma modificação geographica. E a época de desmembramento da Archhelenis que, consideravelmente diminuída na sua extenção para o Sul, deixa uma pas- sagem mais livre aos immigrantes tropicaes. Não é sinão muito mais tarde, isto é após a destruição da Arch- helenis e a formação do Oceano Atlantico, que co- meça a invasão dos Molluscos da America central, os quaes fazem a sua primeira apparição sobre as costas da Argentina durante a formação entreriana. Os representantes dos generos do Oceano Atlantico tropical, taes como Strombus, Olivancillaria, Columbel- la, Anomalocardia, Tivela, ete, no meio dos membros — 343 — da fauna antiga da Argentina, são de um aspecto tão extranho como os Ungulados pliocenos, de origem septen- trional, no meio da fauna indigena de mammiferos da Patagonia. Nesta época, o numero de especies mais ou menos cosmopolitas era muito menor que nos nossos dias e as especies de vasta distribuição eram sómente as que se espalhavam ao longo das: costas da Archhelenis e da Thetis. Um resto desta vasta distribuição geographica da antiga fauna marina, tão differente da actual, são as numerosas especies de Lotorium, Natica, Anomalocar- dia, etc, que são communs ás Indias orientaes e occi- dentaes. Uma destas especies attingiu tambem a Patagonia. E a Arca umbonata Lam. que se encontra na forma- ção patagonica. E” por cansa de sua vasta distribuição geographica, que comprehende as costas atlanticas da America e da Europa, assim como as da Africa, das Indias e da Australia, que esta especie recebeu um gran- de numero de nomes. Sua primeira apparição teve logar na formação patagonica; na Florida ella se encontra após o oligoceno e na Europa a partir do mioceno. Todas estas alterações da geographia e da fauna marina tornam bem dificil descobrir a origem de cada especie, mesmo deixando de lado o estado imperfeito dos materiaes até aqui conhecidos. Pode acontecer que duas especies, que tenham a mesma distribuição, sejam do ori- gem geographica bem differente. E” assim que nas duas costas da America meri- dional ha além de certos generos mesmo especies identicas, sem que esta concordancia na sua distribuição permitta admittir-se uma origem geographica commum. As migrações que podem ter contribuido para esta distribuição são pelo menos as seguintes: 1.º Derivação da fauna marina do terciario antigo da região chileno-patagonica. Como exemplo deste grupo 344 podemos citar Chione antiqua e e Brachydontes magel- lanica. 2º Origem da costa pacifica e migração eogena ao longo das costas septentrionaes da America meridional até a Argentina. E” o caso dos generos Amiantis, bem representado no terciario do Chile, que falta ao terciario antigo da Patagonia e que apparece pela primeira vez sobre as costas da Argentina na formação entreriana do Paraná; 3. Origem patagonica e migração ao longo das cos- tas atlanticas da America meridional até a costa paci- fica do mesmo continente, por via de communicação interoceanica. Até aqui não conheço exemplo de uma tal distribuição ; 4.º Migração terciaria de formas tropicaes por via de communicação interoceanica até o Chile e ao longo das costas atlanticas até a Argentina. Os generos Trivela, Ano- malocardia, etc. estão no caso e ha mesmo especies do terciario do Et e do Perú, como Ostrea alvarezi Orb., e Chione muensteri Orb., que faltam na formação pa- tagonica, mas que se encontram em companhia de ou- tros immigrantes tropicaes na formação entreriana do Paraná; 5.º Migração para o Norte, de especies antarcticas, ao longo das duas costas da America meridional, pelas quaes estes generos chegaram ao Chile e ao Perá de um lado, e até o Rio da Prata de outro. E” o caso da distribuição do genero Mesodesma e de certas especies como Brachydontes purpurata, Huthria fuscata e Si- phonaria lessoni. Em todas estas migrações ha ainda a observar um grande numero de variações, segundo a época e as con- dições geographicas, de maneira que é difficil obter-se conhecimentos exactos de todas estas modificações mo- dernas e antigas da fauna marina. Estas condições são objecto da discussão seguinte, mas o que desde já se re a CAES D Pe — 345 — torna evidente, é que o conhecimento da distribuição actual dos Molluscos não é absolutamente sufficiente, por si só, para esclarecer a historia das diversas regiões faunisticas. Não é senão com o auxilio das formas fosseis, quer da região examinada particularmente, quer das regiões ou continentes visinhos, que se póde reconstruir a genese das diversas provincias faunisticas. Os ricos materiaes estudados na minha monographia « Mollusques fossiles » não sómente nos permittem, sob este ponto de vista, tirar conclusões exactas, a respeito dos Melluscos marinos e dos Brachyopodes, mas permit- tem-nos tambem deduzir as leis geraes sobre a distribuição dos animaes marinos da America meridional. PB. — Historia da fauna marina da Argentina e da Patagonia. Na época do cretaceo superior, o mar occupava uma grande parte da Patagonia e, quasi com a mesma fauna tem sido encontrados depositos no Chile (Quirquina) e na região antarctica, sobretudo nas ilhas de Seymour. Os depositos correspondentes da Patagonia meridional, que constituem o rocaneano e salamanqueano, contêm uma fauna indubitavelmente cretacea, cuja edade foi determinada por Wilckens como senoneana superior. Os depositos da Patagonia septentrional, que formam o rocaneano e o salamanqueano, contem em grande parte especies de Mol- luscos que tanto poderiam pertencer ao cretaceo superior como ao terciario inferior. Não são sinão as numerosas Gryphaea e Exogyra que têm um caracter mesozooico pronunciado. Por esta razão discutiu-se a questão de que ou estes depositos encerram uma fauna cretacea superior, pobre em typos mesozooicos, ou uma fauna terciaria, na qual se teriam conservado ostras da formação cretacea. Des- cobertas de novas especies de Trigonia, Ammonites, etc. decidiram a questão em favor do cretaceo superior, mo- do de ver tambem confirmado pela presença de peixes cretaceos e ossadas de Dinosaurios. — 346 — Os depositos que estão superpostos immediatamente aos do cretaceo superior são os da formação patagonica, que se estendem sobre uma grande parte da Patagonia, sobretudo nas regiões littoraes. Pelas minhas investi- gacdes, esses depositos pertencem ao eoceno e apresentam na sua fauna relações bem intimas com os do cretaceo superior. Alguns generos mesozoicos, taes como Gry- phaea e Neoinoceramus, estão ainda conservados nos depositos inferiores, e ha mesmo um certo namero de especies que são communs ás camadas marinas da for- mação patagonica e ás do cretaceo superior, ao lado de outras especies, que não representam senão modificação das do cretaceo superior. Entre as especies que são communs ás camadas supracretaceas de Roca e Salamanca e ao Patagonico, po- demos mencionar Zurritella chilensis, Malletia ornata, Gryphaea burchhardti, Myochlamys patagonensis e uma especie de Brachyopoda, Bouchardia patagonica. Duas destas especies não são completamente identicas, mas ellas são representadas nas duas formações por variedades assás semelhantes. Ha outras especies que se corres- pondem nas duas formações e que têm uma relação genetica evidente. E assim que a Ostrea rionegrensis, do rocaneano, é o precursor de O. hatchert e que Venericardia pa- lacopatagonica é o precursor de V. inaequalis. O genero Strutiolaria, tão característico para as camadas eogenas da Patagonia, é representado por uma especie, somente, no cretaceo superior da mesma região, e o caso é inverso para o genero Aporrhais. O singular genero Lahillia, cuja distribuição é res- tricta ao Chile e á Patagonia, se encontra tambem no cretaceo superior e no patagonico. Vê-se que as rela- ções faunisticas entre o cretaceo superior e o patagonico são as mais intimas possiveis, e para fixar a edade eocena da formação patagonica, este facto me parece da D ii à DM lite varie de Lane rasé Dinde “ur tale co PTT ee) a. ee à DS Epa hei aE — 347 — bem mais importante do que o numero restricto de especies vivas que ahi se encontram. Esta conclusão está perfeitamente de accôrdo com o resultado dos estudos geologicos de Hauthal, Fl. Ameghino e outros auctores, segundo os quaes se observa em muitas localidades do Chile e da Patagonia a concordancia e a transição gradual das camadas do cretaceo superior e do patagonico. A fauna crétacea superior da Patagonia está inti- mamente ligada com a do Chile e da região antarctica, sobretudo das ilhas de Seymur, mas ella não offerece relações pronunciadas com o cretaceo das Indias, como suppoz C. Burckhardt, nem com o cretaceo superior do Brazil, como eu pensava anteriormente. O genero Pseu- dotylostoma, da Patagonia, differe dos verdadeiros 7y- lostoma do Brazil, como mais acima demonstrei. Para o cretaceo superior, temos pois a constatar o mesmo contraste entre a fauna da Patagonia e do Brazil septen- trional, contraste que nós encontramos de novo no eoceno, comparando-se a fauna da Patagonia com a da America septentrional e central. Estes factos nós provam que. os mares tropicaes e austraes da America estavam separados por uma barreira continental, tanto durante o cretaceo superior como durante o eoceno, isto é que a Archhelenis existia não sómente durante a época eocena mas tambem na época do cretaceo. E” interessante que a origem de algumas especies de Molluscos do hemispherio meridional remonta ainda para além da formação - patagonica até o cretaceo superior. Não conhecemos especies recentes que se achem ao mesmo tempo no cietaceo superior da Patagonia, mas ha algumas que lhes são intimamente alliadas. E” assim que a Turritella chilensis, do cretaceo superior da Patagonia e do terciario do Chile é o pre- cursor de T. cingulata, das costas do Chile, e que a Malletia ornata, do cretaceo e do terciario da Patagonia, é tão visinha de uma especie vivente da região aus- — 348 — traliana, M. australis, que pode ser que esta ultima não seja senão uma subspecie da fórma fossil. As condi- ções geraes da fauna marina antiga da Patagonia con- servaram-se até nossos dias menos alteradas do que se o observa em outras regiões do globo, e isto explica o numero relativamente grande de especies viventes que nós agora encontramos na formação patagonica. Para as diversas formações terciarias da Patagonia, a proporção de especies recentes é a seguinte: FORMACAO EDADE GEOLOGICA Proporção de especies | viventes | Patagonica Eoceno | PTE Superpatagonica Eoceno superior | 9 % Magellanica Oligoceno | 4,4 % Entreriana Mioceno | 21 % Araucaniana Plioceno inferior | 38 % Pampeana Postpampeana Plioceno superior Quaternario ~ 73 %—92 % 95 %—100 % Os poucos generos caracteristicos da formação pata- gonica, como Struthiolaria, e seu correspondente cretaceo Struthiolariopsis e Lahillia, genero aberrante da familia dos Cardudaz, molluscos de dimensões gigantescas, estão já representados no cretaceo superior do Chile e da Pa- tagonia. E” preciso reconhecer que existem ainda differen- ças entre estas faunas, as quaes fazem suppor um hiato, pouco consideravel de resto; mas em todo caso trata-se de uma continuação local da mesma fauna antiga e nós não podemos por em duvida que investigações ulteriores preencherão estes hiatos. A affirmação de Wilckens, que as faunas marinas do cretaceo e do terciario estejam se- paradas por um abysmo insuperavel, não é justificada para no que diz respeito á Patagonia, onde o desenvolvi- mento da fauna marina foi continuada de uma maneira ininterrupta. E’ evidente tambem que na Nova Zelandia — 349 — as condições geologicas são quasi as mesmas, pois Hutton indica ter recebido especies identicas de Moluscos e Se- lachios do cretaceo superior e da formação eocena de Oamarû. Hutton mudou mais tarde de opinião, seduzido pela presença de Carcharodon megalodon na formação de Oamará, mas isto foi engano, como demostrei (vide Les Mollusques Fossiles du Tertiaire et du Cretacé su- périeur de l’Argentine, pag. 87). Entretanto Wilckens suppõe serem miocenas as formações patagonica e a de Oamarû, opinião que não faz desapparecer os Zeuglodonti- dae que, como sabemos, são exclusivamente restrictos ao eoceno. O procedimento de Wilckens não é correcto neste ponto. Elle compara as camadas, que contêm as grandes ostras da formação patagonica e o modo como ellas estão depositadas, com a molassa da Europa central; e, seduzido por esta pretendida semelhança, chega á conclusão de que as duas faunas sejam contemporaneas. A verdade é que na Patagonia as condições são totalmente differentes da das camadas mencionadas da Europa. Estas grandes ostras, que Ortmann reuniu quasi todas em uma só especie, Ostrea ingens, começam na Patagonia já no cretaceo su- perior com Ostrea rionegrensis, continuando-se por todos os depositos terciarios até o plioceno e elles não faltam na formação pampeana. Estes factos evocam de novo a differença que existe, segundo Huxley, entre a Homotaxia e a Homochronia. No começo da formação patagonica, havia uma con- nexão entre os mares da Patagonia e do Chile, o que ex- plica a presença de um numero restricto (20 sp. ou 8 °/, de especies patagonicas) de especies identicas nos dous paizes e outras que as substituem. O caracter geral da fauna é o mesmo, e algumas especies de larga distribuição se encontram tambem no terciario da Nova Zelandia. O caracter da fauna marina do patagonico é bas- tante singular, porque os generos predominantes são quasi todos de distribuição vasta ou cosmopolita. — 350 — Um genero especialmente caracteristico do terciario chileno-patagonico é Lahillia, ao passo que Strutholaria e Cominella estão espalhados por toda parte nas regiões antarcticas. O que contribäe em alto grau para fixar o caracter particular desta fauna do patagonico é a ausencia de um grande numero de generos, que fóra dahi são de vasta destribuição, já nas zonas tropicaes já nas zonas septentrionaes. Na formação patagonica, faltam represen- tantes dos generos Conus e Cerithiwm, assim como das familias seguintes: Olividae, Harpidae, Turbinellidae, Columbellidae, Cassidae, Cypraeidae, Strombidae, Lit- torinidae, Rissoidae, Solariidae, Neritidae, Turbinidae, Haliotidae, Patellidae, Siphonariidae, Spondylidae, Trigoniidae, Astartidae, Tritacnidae, Cyprinidae, Ery- cinidae, Donacidae, Mesodesmatidae, Anatinidae. Como se vê, trata-se não sómente de generos de zonas tropicaes, nas tambem de generos de latitudes tem- peradas. A presença de grandes especies de Cucullaea, Glycimeris, Arca, Cardiwm, Perna, prova que na Pa- tagonia a temperatura do mar era anteriormente quente e por consequencia não era o clima, mas sim as condi- ções geographicas, que impediram a immigração na Pa- tagonia de numerosos generos do hemispherio septentrional. Que uma tal barreira tenha realmente existido, está provado, sobretudo porque não existem relações faunisticas approximadas entre o terciario da Patagonia e o da Ame- rica do Norte, mas antes com o terciario da Europa ou mesmo com o das regiões indo-australianas. Já vimos (pag. 71. loc. cit.) que entre as faunas eogenas da Patagonia e da America do Norte não ha as relações directas que existem com o terciario antigo da Europa e o da Australia. Não conhecemos especies de Cucullaria sinão do eoceno da Patagonia e da Eu- ropa, sobretudo de Paris. Os sub-generos Sassia e Lampusia, do genero Lo- torium, faltam no terciario antigo da America do Norte — 351 — e Lampusia ahi não apparece sinão no plioceno. Estes dous sub-generos se encontram entretanto, não sómente no eoceno da Patagonia, mas tambem no de Paris e da Aus- tralia. O mesmo se observa para os generos Cominella, Siphonalia e Trophon, que faltam completamente no terciario antigo da America do Norte, onde só apparecem no plioceno. A fauna eocena do grande mar tropical Thetis não era perfeitamente uniforme e havia nelle provincias z00- geographicas. Alguns generos que na sua distribuição eram restrictos 4 America do Norte e Europa, como Venus, Grateloupia, etc, não se encontram na Patagonia; nós ahi encontramos entretanto numerosos generos, que tinham uma vasta distribuição geographica desde a Australia até a Europa. Alguns destes generos, como Cominella, estão actu- almente restrictos ao hemispherio meridional, ao passo que outros, como Trophon, desappareceram quasi com- pletamente dos mares tropicaes e se adaptaram aos mares frios dos dous hemispherios. Siphonalia, si bem que es- sencialmente do hemispherio meridional, tem tambem re- presentantes viventes nas costas do Japão. Todos estes generos de eoceno da Patagonia e da Australia se encontram tambem na Europa, mas não no eoceno da America do Norte. Estes factos provam que as relações da fauna da formação patagonica com o mar tropical se effectuaram para a metade oriental da Thetis, e não para a America do Norte. Desta maneira, as fór- mas tropicaes podiam-se espalhar de um lado para a Australia e a Patagonia, e de outro para a Europa ea America central e septentrional. Naturalmente estas mi- grações a grandes distancias gastaram muito tempo, não se estenderam sempre sobre toda a immensa região oc- cupada pela Thetis e não attingiam as diversas regiões ao mesmo tempo. Assim é por exemplo, que especies de Fossarus se encontram já no eoceno superior ou no oli- — 352 — goceno da Australia e da Patagonia, emquanto que não apparecem senão no mioceno na Europa e na America do Norte. | Quando estes generos se apresentam ao mesmo tempo na Australia, na Patagonia e na Europa, não podemos decidir si são originarios do hemispherio septentrional ou meridional. Em geral estas migrações dirigiam-se do mar tropical para a Patagonia, e não em um sentido inverso, pois que é mais facil ás fórmas tropicaes se adaptarem aos mares temperados e frios, do que os habitantes destas ultimas regiões emigrarem para a zona tropical. É pre- ciso, entretanto, lembrar que a temperatura do mar eogeno da Patagonia era assás elevada. As migrações de especies da formação patagonica para o hemispherio septentrional estão provadas pela historia do genero Malletia, do qual uma especie se encontra no mioceno da Italia, uma outra no mioceno da Nova Zelandia, emquanto que a presença de Malletia ornata nos depositos cretaceos e eocenos da Patagonia prova que o genero é originario desta região. Todos estes factos não se explicam de um modo satisfactorio senão pela theoria da Archhelenis. Se não tivesse havido um Oceano Atlantico contínuo, a troca de - molluscos marinos da Patagonia e da America do Norte não se poderia ter realisado. Segundo toda a apparencia, a Archhelenis se estendia longe para o Sul, até a região an- tarctica e ereava assim uma barreira, que impedia a dis- persão de muitas especies tropicaes. Migrações ao longo da costa oriental da Archhelenis realizaram-se entretanto tambem na época da formação patagonica: uma das pro- vas mais interessantes é a existencia da Arca wmbonata na formação patagonica, especie vivente de uma grande distribuição no Oceano Indico e no Atlantico. Si se quizer comparar sobre este ponto o que já dissemos, veja-se o cap. V, loc. cit. Estas condições foram alteradas pelo aluimento gra- dual da Archhelenis. Já durante a época do superpata- PR fe << — 353 — gonico, que é de edade eocena segundo a minha opinião, a Archhelenis deve ter sido tão consideravelmente des- membrada que as numerosas especies tropicaes puderam avançar para a Patagonia. | assim que apparecem de uma vez muitas especies de generos como Volvulella, Bullinella, Urosalpina, Neowmbricaria e Macrocallista e representantes de um certo numero de familias até então não representadas na Patagonia, taes como Actaco- nidae, Eutlimidae, Pyramidellidae, Fissurellidae, Del- phinulidae, Fossaridae, Lotorudae, Cancellariidae e Terebridae. preciso, entretanto, lembrar que se trata de mem- bros das faunas das Indias orientaes e occidentaes, e não de representantes da fauna da America do Norte. O genero Neoimbricarva é de um interesse particular, porque até então, elle só é conhecido do terciario do Chile e da Patagonia. Este genero falta no terciario antigo chile- no-patagonico e niio se o encontra no Chile, senão nos depositos de Navidad, que correspondem ao super-pata- gonico, e que são distinguidos pela apparição subita de especies de Conus e outros generos tropicaes. Por con- seguinte trata-se de um elemento da costa septentrional da Archhelenis, que se estendeu de um lado para o Oriente até a Patagonia, e de outro para o Occidente até o Chile, mas sem haver tocado na Europa. Podia-se propor a questão si estas especies de Neoim- bricaria não podessem ter chegado ao Chile por via de uma nova communicação inter-oceanica chileno-patagonica. Uma tal communicação effectivamente existiu ao fim da formação patagonica, e são os depositos de formação ma- gellanica que lhe correspondem. Na formação magellanica, ao lado de alguns elementos faunisticos proprios, encon- tra-se uma promiscuidade de especies do terciario antigo do Chile e da Patagonia, mas os elementos caracteristicos do superpatagonico ahi faltam completamente. Seja que os limites zoogeographicos impedissem o avançamento das — 354 — fórmas tropicas até o Estreito de Magalhães, seja que este canal estivesse já fechado de novo ao fim da for- mação patagonica, esta communicação interoceanica, em todo caso, não teve senão pouca ou mesmo nenhuma importancia para a dispersão das fórmas subtropicaes do superpatagonico. Esta ultima formação representa a continuação ininterrupta do patagonico, mas o numero de especies communs ás duas formações não ultrapassa 25º/, do numero total. Depois da communicação interoceanica magellanica, que acabamos de mencionar, a connexão terrestre entre a Terra do Fogo e a Patagonia foi não somente res- tabelecida, mas ainda a Patagonia se extendia muito longe para o Este, até as ilhas Malvinas, a Georgia meri- dional e para além. Esta communicação terrestre se conser- vou provavelmente até o fim do plioceno, porque certos animaes terrestres de origem septentrional, por exemplo representantes do genero Canis, chegaram tambem ás ilhas Malvinas, assim como até a Terra do Fogo e a ilha de Chiloê Os innumeraveis canaes e linhas de rupturas e de depressão, que se encontram presentemente em todas as direcções nas regiões littoraes do districto magellanico e do Chile, são por consequencia de edade pleistocena, como tambem o é a origem do Estreito de Magalhães. A destruição da Archhelenis foi completada pelo abaixamento e desapparição de sua parte central, donde resultou a reunião dos mares situados ao Norte e ao sul da Archhelenis, que estavam até então separados, e desta maneira foi creado definitivamente o Oceano Atlantico. Não é senão depois desse momento que as faunas marinas antigas septentrionaes e meridionaes se puderam misturar, e é nos depositos miocenos de Entre- Rios que nós constatamos o começo destas migrações. E”. nestes depositos que pela primeira vez encontramos abundantemente representados e misturados os typos do nda AL id a O a ci EE E Mis aaho É do! — 355 — mar das Antilhas, com especies e generos proprios do patagonico. Generos septentrionaes, como Amiantis, Tivela, Anomalocardia, Olivancillaria, Strombus, Littorina, fissoa, Columbella, etc, que se encontram misturados no Parana com especies de Ostrea, Cymbiola, Trophon, Turritella ete, do patagonico, ahi formam um contraste surprehendente, da mesma maneira como os Ungulados e Carnivoros septentrionaes, que se encontram na forma- ção pampeana, e que estão misturados com os Desden- tados, Marsupiaes e Roedores indigenas. Ha uma differença notavel entretanto, entre a disper- são dos Mammiferos e a dos Molluscos marinos: emquan- to que os primeiros estão sempre representados por gene- ros distinctos, segundo a sua origem patagonica ou septen- trional, o mesmo não succede com os Molluscos, visto que certos generos delles, taes como Cardium, Chione, Myochlamys, já bem representados na formação pata- gonica, offerecem nos depositos entrerianos especies bem differentes. das de origem patagonica e que são originarios da região das Antilhas ou do Oceano Pacifico. Em geral, entretanto, na costa argentina, as migra- ções da fauna das Antilhas não se estenderam muito para além do Rio Negro, e é assim que a fauna das Antilhas e do Norte do Brazil occupou as costas do Brazil meridional e da Argentina septentrional, emquanto que na Patagonia a fauna antiga do terciario se conservou ainda até os nossos dias, em grande parte, sem mudança notavel, e a historia do Oceano Atlantico pode ser ainda restabelecida hoje pela sua fauna marina. Como se vê o Oceano Atlantico representa uma concepção geographica, mas não zocgeographica. Todas estas condições tornar-se-iam ainda mais evi- dentes si a fauna marina patagonica não tivesse sido consideravelmente alterada, no seu caracter geral, pelas immigrações successivas de Molluscos antarcticos. A an- 99 23 — 356 — tiga concordancia faunistica das costas de Patagonia e do Chile, como ella se apresenta na fauna antiga do terciario, desappareceu aos poucos, quasi completamente. O genero Turritella extinguiu-se na Patagonia, apezar de que estava lá ricamente representado no terciario antigo, mas elle se conservou no Chile, representado por uma especie bem visinha das especies terciarias. Por outro lado, os generos Trophon e Cymbiola extinguiram-se no Chile, ao passo que se conservaram, com numerosas especies, na Patagonia e no districto ma- gellanico. Após a formação do Estreito de Magalhães, algumas especies desses generos occuparam de novo partes do Chile, como tambem algumas especies chilenas (Mu- lina edulis e Acanthina calcar) avançaram ao longo das costas da Patagonia meridional. Eu recebi estas duas ultimas especies do Golfo de S. Jorge. Mas em geral estas migrações pelo Estreito de Magalhães, e para além, não são nem numerosas nem extensas. Duas outras immigrações são bem mais importantes. A primeira, que teve lugar durante o plioceno inferior ou mesmo no plioceno superior, ao longo do continente ant- arctico, hoje desapparecido, conduzia especies da Africa . meridional até a Patagonia, e viceversa, como aconteceu, por exemplo, para Brachydontes magellanica Sow. A estes immigrantes do terciario moderno, vindos da Africa meridional, pertenecem Mytilus edulis e as especies do genero Bullia e Lucapinella, e, provavelmente tambem, outras especies recentes, que são communs á Patagonia e á Africa meridional e as quaes até agora não foram encontradas na formação araucaniana da Patagonia. Se- gundo meus conhecimentos estas especies communs á Afri- ca meridional-e 4 Patagonia são as seguintes: Patella barbara L. (Malvinas). Pupilha aperta Sow. Phasianella kocha Phil. Solariella dilecta A. Adams. — 357 — Crepidula patagonica Orb. Calyptraea chinensis L. Argobuccinum argus Gm. Mytilus edulis L. Brachydontes magellanica Gm. Saxicava arctica 1. Mais tarde, pelo fim do plioceno, ou póde mesmo ser durante o pleistoceno, teve lugar uma outra immi- gração mais consideravel de Molluscos antarcticos, que alterou profundamente o aspecto faunistivo, não só do Chile como tambem da Patagonia. Os generos Acmaea, Sipho- naria, Photinula, Modiolarca e muitos outros, provêm desta ultima immigração., Alguns destes generos, taes como Modiolarca, Photinula etc, são restrictos ao Es- treito de Magalhães. Outros, como Nacella, se estendem até o Rio Negro, e alguns, emfim, como Siphonaria, até o Rio da Prata, onde se encontra uma especie nos de- positos pleistocenos; ella avançou tambem para o Norte, ao longo da costa pacifica da America meridional, por causa das differenças da temperatura da agua do mar. Em certos casos não se trata de especies identicas, mas análogas. Assim é que Mesodesma mactroides, se encontra na costa atlantica do Rio Grande do Sul e na embocadura do Rio da Prata, ao passo que a especie correspondente do Chile, Mesodesma donacium, está es- palhada até Coquimbo e Perá. As duas especies em ques- tão faltam completamente no terciario da Patagonia e do Chile; pertencem ellas a um genero bem representado na Nova Zelandia. Vivas ellas não se encontram nem no Estreito de Magalhães, nem na Patagonia meridional, nem ao Sul do Chile. A distribuição actual da fauna marina antarctica foi, por conseguinte, precedida, no começo do pleistoceno, de uma outra distribuição notavelmente differente, que con- duziu ás condições actuaes. O abaixamento da tempera- tura do mar fez avançar alguns desses immigrantes vindos ere do Sul, assim como outros elementos da fauna magellanica, ao longo das duas costas do continente, em uma direcção septentrional até o Chile e o Brazil meridional; pela mesma causa, especies da região antarctica avançaram até o Estreito de Magalhães. Voltaremos a tratar das especies communs ao Chile e 4 Patagonia na secção seguinte. De uma parte destes immigrantes nos faltam entre- tanto dados paleontologicos, de modo que só poderemos for- mular hypotheses sobre a parte que se refere á sua origem. Após esta exposição summaria da fauna marina da Patagonia, podemos examinar de uma maneira analytica os differentes elementos que compoem a fauna actual da provincia magellanica, e discutir a origem desta fauna e as migrações pelas quaes ella se enriqueceu, successiva- mente. Como vimos, existia, no começo do terciario, uma fauna antarctica commum, que se estendia até a Nova Zelandia, o Chile e a Patagonia. Não é facil reconstrair exactamente esta fauna, pois que a formação de Oama- ra, da Nova Zelandia, é muito incompletamente conhe- cida, e porque as camadas terciarias do Chile são bem conhecidas sómente em relação á sua paleontologia, mas nem um pouco em relação á sua statigraphia. Em geral o numero de generos, que são caracteris- ticos para esta antiga fauna antarctica e que lhe são ex- clusivos é muito restricto e quasi reduzido a Strutho- laria, Malletia e Lahillia: este ultimo genero parece não ter attingido a Nova Zelandia. Considerando-se os factos que vimos de explicar, podemos tomar como ele- mentos desta antiga fauna antarctica os generos seguinte: Scalaria, Crepidula, Calyptraea, Polynices, Tur- ritella, Struthiolaria, Cymbiola, Pleurotoma, Denta- lium, Cucullaea, Limopsis, Arca, Glycimeris, Atrina, Ostrea, Myochlamis, Mytilus, Crassatellites, Veneri- cardia, Phacoides, Cardiwm, Panopaea. Corbula, Martesia, Lima, Nucula, Leda, Comi- nella, Bulla e outros generos, se ajuntarão a elles quando À PC PE TE ET Te + — 359 — se conhecer melhor a fauna terciaria antiga da Nova Ze- landia. O que torna difficil estas investigações é que esia antiga fauna antarctica não se apresenta inalterada em nenhuma parte. A fauna eocena de Oamará, na Nova Zelandia, contêm um numero relativamente grande de generos da fauna indo-australiana, como Mesodesma, Di- varicella, Trochus, Meritopsis, Ancilla, Melo, Margi- nella, Cassidaria, etc. Todos estes generos säo estranhos á fauna antarctica e faltam no eoceno da Patagonia. Elles representam immigrantes de origem australiana, 0 que é tambem provado porque o numero de especies identicas ao eoceno da Australia e da Nova Zelandia monta a 11º/, do numero total de especies conhecidas até aqui da formação do Oamará. Estes elementos da antiga fauna indo-australiana attingiram a Nova Zelandia mas não o Chile e a Pata- gonia. Por outro lado, os elementos da fauna antiga chi- leno-patagonica espalharam-se em parte até a Nova Ze- Jandiz, mas não até a Australia. Conhecemos diversas especies, como Cucullaea alta, - Scalaria rugulosa e Turritella ambulacrum, que são communs ao eoceno da Nova Zelandia e da Patagonia, em quanto que Brachydontes magellanica, Turritella pa- tagonica, Crepidula gregaria e outras especies não ap- parecem na Nova Zelandia senão na formação miocena de Pareora. Durante a formação eocena, havia então condições geographicas que favoreciam migrações entre a Patagonia e a Nova Zelandia. Estas migrações, como mostramos no capitulo V (loc. cit.), facilitavam sobretudo a troca faunistica entre a Patagonia e a Nova Zelandia, mas muito menos ou nada entre a Nova Zelandia e o Chile. Isto está provado por um certo numero de especies e de generos de Mol- luscos, e sobretudo pelos Brachiopodes cujos generos de camadas eogenas são todos identicos na Patagonia e Nova Zelandia e quasi completamente differentes no Chile — 360 — e Nova Zelandia. Provavelmente a costa entre a Pata- gonia e a Nova Zelandia ficava mais ou menos entre os 50º e 60º de latitude Sul, ao passo que avançava muito mais para o polo, entre o Chile e a Nova Zelandia. As mesmas circumstancias se nos apresentam si exa- minarmos a fauna eogena do Chile. Ao lado de generos da antiga fauna da Archinotis, ahi encontramos numerosos representantes da antiga fauna tropical da America central, que attingiram a costa chi- lena por via de communicação inter-oceanica. Estes ge- neros são em grande parte differentes dos da Patagonia, como demonstraremos na secção sobre a historia da fauna marina do Chile. Pelo seu lado a fauna eogena da Patagonia é tam- bem uma mistura de elementos indigenas e de immigrantes tropicaes. Estes ultimos faltam á fauna eogena da Nova Zelandia e em parte tambem no Chile: citamos como exemplo os generos Gibbula, Calliostoma, Neomphalius, Trichotropis, Lotoriwm, Cominella, Siphonalia, Fusus, Trophon, Vulpecula, Genotia, Pododesmus, Perna, Mo- diolus e Sanguinolaria. Com o correr do tempo, chegaremos certamente a separar estes immigrantes tropicaes dos elementos indi- genas. A existencia de um certo genero nas camadas eogenas da Patagonia, do Chile e da Nova Zelandia não é sufficiente ainda para provar seu caracter indigena, pois que o mesmo genero tropical póde ter attingido estas di- versas regiões, por migrações independentes, quasi ao mesmo tempo. - E” por exemplo o caso do genero Lotorium, que está representado no Chile por outros sub-generos que não os da Patagonia e que neste ultimo paiz não appa- rece senão no superpatagonico ou no patagonico superior. Não é sómente por migrações que esta antiga fauna da Patagonia se modificou, mas tambem pela extincção completa ou local de numerosos generos: Aturia, Neo- 361 — imbricaria, Proscaphela, Neoinoceramus, Cucullaria e Lahillia, todos bem representados no patagonico, que não têm mais representantes nem no terciario moderno, nem na fauna recente, seja da Patagonia, seja de outros paizes. O numero de generos que se conservaram ainda viventes sómente em outros paizes do globo, mas não na Patagonia, é muito maior. Destes generos encontra- mos ainda Struthiolaria e Siphonalia conservados na região antarctica, Turritella no Chile e em outras partes do globo; a desapparição deste ultimo genero da Pata- gonia, que era um dos elementos predominantes da fauna marina, até o plioceno, é bem singular. Aporrha's não se encontra mais senão na Europa e a especie, que lá é commum À. pes-pelecani, parece ter-se conservada tam- bem no Brazil meridional. Outros generos da super-formação pan-patagonica, cujas especies não se conservaram senão no Mediterraneo, são Gryphaea e Hadriania. Genotia tem representantes viventes na Africa occidental; Cucuilaea e Gibbula são ainda encontrados viventes no Oceano Indico, o ultimo destes generos tambem na Europa. Os outros generos estão conservados nas costas da America meridional, mas não na provincia magellanica. Muitos dentre elles, taes como Terebra, Pododesmus, Crenella, Venericardia, Tellina, Abra, Corbula, Glycimeris e Panopaea são encontrados viventes nas costas da Argentina. Alguns destes generos estão agora restrictos ás profundezas abys- saes das costas orientaes da America meridional, como Amussium ringicula e Barsonia. Pyrula, Trichotropis, Cancellaria, Tenagodes, Vol- vulella e Psamnobia só se encontram nas Antilhas (no que diz respeito 4 America meridional e central), Fossarus e Liotia se espalharam das Antilhas até o Brazil sep- tentrional. Os outros generos extinctos na Patagonia e na região magellanica, mas conservados ainda na costa oriental da America meridional, acham-se representados — 362 — na fauna do Brazil. São: Tornatina, Bullinella, Ver- metus, Lotorium, Fusus, Arca, Lima, Modiolus, Car- dium, Phacoides, Diplodonta, Crassatellites, Dosinia, Macrocallista. Alguns destes generos tém ainda repre- sentantes na costa do Uruguay. Considerando-se os factos aqui discutidos, e as infor- mações que dizem respeito aos generos immigrados na pro- vincia magellanica, não é difficil por em relação a fauna eogena da Patagonia com a recente. Não obstante, certos erros são possiveis para alguns generos que encontramos já representados no pan-patagonico. O facto de um ge- nero representado na fauna viva da provincia magella- nia, existir já no pan-patagonico, ainda não prova que as especies vivas sejam descententes das fosseis. Ha com effeito alguns generos da super-formação pan-patagonica que se extinguiram durante a época terciaria e que, por immigrantes relativamente modernos, estão de novo in- troduzidos na fauna do districto magellanico. E' o caso, por exemplo, do genero Crepidula, cuja unica especie eogena se extinguiu e foi substituida por duas especies, das quaes uma é originaria da região antarctica e a outra do Chile. Quasi o mesmo caso repetiu-se para os ge- neros Crucibulum, Sanguinolaria, Limopsis e em parte tambem para Venaricardia. Temos um caso semelhante no genero Árca, representado na fauna recente magella- nica por uma pequena especie de Lissarca, sub-genero visinho ou identico com Parbatia, que para lá prova- velmente chegou por meio de migrações abyssaes. Para os generos de uma distribuição bipolar, temos tambem a constatar o mesmo facto, isto é a existencia de especies de origem differente. Assim é que no genero Scissurella, temos, ao lado de uma especie indigena, uma outra es- pecie originaria do Norte do Oceano Atlantico. Si tivessemos informações suficientes sobre todas as especies da fauna actual magellanica, seria facil mostrar a origem e a historia de cada uma destas especies vi- + NI RS Te TT TND AN k e e dé e AA O é Sa ia cla di Sa Dea didi a ee — 363 — ventes; mas ha dellas que não se encontram senão nesta provincia e sobre as quaes nada podemos dizer, por falta de dados paleontologicos. Provavelmente estas especies serão reconhecidas mais tarde como identicas a especies já conhecidas de outras regiões do globo, e então se julgará melhor da distribuição destas especies, que teve lugar provavelmente nas grandes profundidades do Oceano Atlantico. Estes generos são os seguintes: Lamellaria, Pittium, Mathilda, Mitra, La- chesis, Savatieria, Bela, Daphnella, Mangilia, Tole- donia, Acmaea, Lyonsia, Lyonsiella, Pandora, Lo- ripes, Solemya, Modiolaria, Astarte, Erycinella. Dou adiante uma lista dos generos dos quaes se conhecem representantes magellanicos, juntando nella o numero de especies que dellas se conhece. No geral, aconselho sobre esta materia os trabalhos de Rochebrune e Mabille e de Strebel, mas preciso ajuntar ainda algumas notas sobre a parte relativa á sua synonimia, quer quanto as localidades onde ellas foram encontradas. Esta lista contem | 111 generos e 260 especies, e, segundo a opinião de alguns auctores, o numero de especies seria um pouco maior para alguns destes generos. Entre estes generos ha 40 que já estão representados na super-formação pan-patagonica. Entretanto, comparan- do-se os generos fosseis com os modernos, é preciso deixar de considerar 15 generos de Peroniidae, Nudibranchia, Mar- senidae, Chitonidae e Cephalopoda, que não tem concha ou cuja concha é delgada ou cornea, de maneira que ficavam 96 generos conchiferos. A proporção de 40 ge- neros pan- patagonicos sobre 96 generos de fauna recente, isto é 41 º/, do numero total de: generos, é muito elavada; ella explica bem o caracter archaico desta fauna, assim como o numero relativamente grande de especies viventes que já encontramos no patagonico, isto é no eoceno da Patagonia. — 364 — Sejam dadas ainda algumas notas relativas á lista se- guinte. Eu ahi não acceitei Cardium parvulum Dkr. (Mal. Bl. VII, 1862, p. 36), encontrado em Chiloë e no Estreito de Magalhães, porque E. von Martens escreveu-me que, segundo a sua opinião, não se trata de um Cardium. Os dentes centraes são tectiformes, não nodulosos e os dentes lateraes faltam. Costas radiaes existem, mas são planas, largas e pouco numerosas. Deixei tambem de lado duas especies duvidosas de Doris, D. luteola Gould e D. plumulata Gould que, segundo Bergh, são indeter- minaveis. Chama maculata Clessin, indicada como sendo do Estreito de Magalhães, deve ser excluida desta lista, se- gundo a minha opinião, pois que se trata de um erro de localidade. Não ha na fauna marina littoral do dis- tricto magellanico grandes especies de Chama, como tam- bem não as ha de Cardiwm, Arca, Bulla, Fusus e ou- tros generos de mares temperados e tropicaes. e] | 32 22 856 | se 85e = 2 = œ s 5 EE (25 || EE (258 = 21885 =2 63% st EE | so Nes De | e Polypus 6 Collonia Bes pre Ommastrephes . I 'Calliostoma . a Se Phidiana I Monodonta Seal Trippa . 1 Chlorostoma . Leys Archidoris I |Neomphalius alt = Acanthodoris I lho tina san one] entre Oncidiella . I Margarites I Actaeon I — |/Solariella . I = Tornatina . I — ||Scalaria. 2 == Kerguelenia . 2 Janthina I Siphonaria 2 Eulima . I Acmaea 4 Turbonilla. LER Lepeta . 2 Crepidula . 2 = Nacella . 9 Calyptraea 2 = Scurria . I Crucibulum . I == Fissurella . 13 Polynices . 9 = Puncturella 2 Marsenia . 2 Scissurella. I 'Marseniopsis. I Turbo 2 Laevilitorina . I — 365 — 8 | 52 s | 53 = eee sa |f2e EE |$SE B=. Es =e |S38 =2|/S3% = | #8 = | 865 2 2 E EL Rissoa . I Limopsis . 2 = Bittium . : I Lissarca I Cerithiopsis . I || Belicia, I Mathilda : I Atrina . I — Argobuccinum . 2 Margaritifera I Trophon 3 — Myochlamys. 3 — Urosalpinx 9 = Psendamussium I Euthria . 9 Lima 3 — Nassa I || Mytilus 5 — Cominella . I — || Brachydontes 2 — Bullia I | Lythodomus I — Concholepas . I | Modiolaria I Macron . I Modiolarca . 2 — Acanthina 5 Pandora 3 Volvaria 2 = Lyonsia I 2 Mitrar =. I || Lyonsiella 2 Cymbiola . 3 = | Astarte. 2 Lachesis I Erycinella. 2 Savatieria . 4 Venericardia. 6 == Bela=" =. 3 || Loripes. 2 Daphnella 3 Thyasira . 2 Mangilia 2 Diplodonta . I — Drillia 2 = Kellia . 3 Admete 4 = Lasea 2 Toledonia. I Cyamium . I = Callochiton I Chione . 2 — Plaxiphora 4 Pitar. I Tonicia . 3 Marcia . I = Ghion cr 2 Saxidemus I Chætopleura . 2 Sanguinolaria I — Ischnochiton 3 Dita . Dentalium 3 -— M E Nucula . 2 — HA E Beda. 3 E! Mulinia 5 Yoldia . 2 Solen 2 E Solemya I Ensis I Malietia 3 — Saxicava I e Passando-se em analyse esta fauna, temos a distin- guir os grupos seguintes: 1.º Generos que já estavam representados na fauna do pan-patagonico. São todos os generos que estão assignaladas na segunda columna da lista precedente. São — 366 — em numero de 40. Já disse mais atraz que, em alguns destes generos, taes como Crepidula, Crucibulum, Arca, Limopsis, Verenicardia e Sanguinolaria, as especies actuaes não são descendentes das especies do terciario antigo, mas immigrantes relativamente modernos. Para o restante destes generos, a continuidade faunistica é bem pronunciada e a proporção relativamente grande (40 ge- neros sobre 111 ou 99 especies sobre 261 do numero total), com a qual este antigo elemento participa na fauna actual da mesma região, é um dos traços mais signifi- cativos da fauna marina magellanica. Esta relação torna-se ainda mais evidente quando se deixa de ladc os generos que se não puderam con- servar ou que pouco se conservaram no estado fossil, taes como Nudibranchia, Cephalopoda, Chitonidae, Marse- niadae e Peroniidae. São 15 generos com 30 especies e a relação dos generos viventes da fauna magellanica que já estão representados na super-formação pan-pata- gonica seria então de 40 sobre 96, ou 42 °/, e a re- lação de 99 especies sobre as 231 corresponde a uma proporção de 43 °/,. E pois evidente que os traços ca- racteristicos da fauna antiga foram conservados na região magellanica de uma maneira mais notavel que em muitas outras partes do globo, e esta circumstancia nos explica tambem a proporção já relativamente grande de especies viventes que vimos de constatar na super-formação pan- patagonica. 2° Immigrantes vindos da America septentrional ou central, ao longo da costa atlantica. Encontra-se algumas vezes indicações que conduziriam á crença de que certas especies de Molluscos littoraes da America do Norte se teriam dispersado ao longo das costas atlanticas até o Estreito de Magalhães. E entretanto um erro. (Os elementos da fauna littoral da America septentrional e central estão bem espalhados na costa do Brazil até a embocadura do Rio da Prata e para — 967 — além até o Rio Negro, mas não se os encontra mais na costa da Patagonia. (Como exemplo menciono as especies seguintes: Dall diz que Calyptraea centralis Conr. se espalhou desde a America do Norte até Pto. Gallegos, perto do Estreito de Magalhães (Tert. F. Flo- rida, vol. 3, part. IL 1892, p. 353). Segundo o meu modo de pensar esta especie não se encontra ao Sul de Santa Catharina, e a especie do Estreito de Magalhães será talvez C. pileus Lam. especie que foi descripta por Philippi sob o nome de C. costellata, ou C. pileolus Lam., com a qual O. decipiens Phil. coincide, ou mesmo C. chinensis L. Segundo a minha opinião C. mamil- laris Brod. da America central e C. parvula Dkr. são svnonimos ou variedades desta ultima especie, ac passo que C. candeana Orb. é synonima de C. centralis Conr. Esta ultima especie foi constatada como vivente em Sta. Catharina, assim como C. parvula, pelo fallecidé profes- sor Martens. A distincção destas especies alliadas viventes e fosseis é ainda difficil de se fazer. Pela minha parte, creio que entre as especies do districto magellanico, C. cha- | nensis ou pelo menos uma fórma extremamente visinha, se encontra representada. Veja-se sobre este ponto a dis- cussão sobre C. costellata por H. Strebel (1. c. IV, p. 159). Crepidula wnguiformis Lam. não é encontrada na Patagonia. Uma concha recente do Golfo de S, Jorge, que eu havia tomado anteriormente por esta especie, é na realidade Crepidula patagonica Orb. Actaeon delicatus Pall. das Antilhas e do Sul da Patagonia, é uma especie abyssal da qual voltarei a tratar no capitulo sobre es- pecies bipolares. Segundo Dautzenberg e Fischer (Result. Camp. Alber. I, Fasc. XXXII, Monaco 1906, p. 52), Polyni- ces lactea Guild., se encontraria no Cabo Verde e nas ilhas Canarias, nas Antilhas e no Cabo Horn. Segundo minhas observações, esta especie não se encontra no Brazil senão ao Sul de $. Sebastião. A especie do Estreito de — 368 — Magalhaes é P. uber Vall. e o proprio M. Dautzenberg a designou assim em uma nota preliminar (Act. Soc. Se. Chili, VI, 1896, p. LXVI). Esta especie é de uma vasta distribuição ao longo das costas pacificas da America meridional, onde se a observou na California, no Perú, no Chile, sendo que deste ultimo paiz R. A. Philippi a recebeu em estado vivo, como me communicou, assim | como nos depositos pleistocenos. Barnea costata L. é uma especie das costas atlan- ticas da America do Norte, das Antilhas e do Brazil, onde ella se encontra até nas costas de São Paulo. Eu jamais a recebi das costas situadas mais ao Sul, nem da Argentina, e por esta razão não duvido que a affirmação de POrbigny, que diz tel-a recibido das ilhas Malvinas, seja causada por qualquer engano, sobretudo não tendo esta indicação sido jamais confirmada. Ha especies abyssaes do Oceano Atlantico do Norte que são encontradas tambem na provincia magellanica e que, nas altas latitudes vivem tambem na zona littoral. Eu me occuparei dellas, mais detidamente, tratando das especies bipolares. O que quero constatar aqui é que não ha especies littoraes de Molluscos que estejam dis- persas sobre as costas atlanticas desde a America do Norte até o Estreito de Magalhães. 3.º Bspecies pelagicas e abyssaes do Oceano Atlan- tico septentrional e central, que estão dispersas até a provincia magellanica. Na fauna actual da região magel- lanica, encontra-se duas especies de Zantina, I. fragilis Lam. (J. communis Lam. e rotundata Leach) e pallida Harv. (J. courselli Roch. e Mab.). São especies de uma vasta distribuição, que se en- contram em toda a extenção do Atlantico. Ha tambem um certo numero de Molluscos abys- saes, que estão representados na região magellanica, a profundidades variaveis. Como dedico uma secção deste capitulo ás especies bipolares, menciono aqui apenas os — 369 — principaes generos da fauna magellanica, que fazem parte “desta cathegoria e que são: Felicia, Modiolaria, Lis- sarca, Pseudamussium, Lasea, Kellia, Puncturella, Scrssurella, Margarites, Photinula. Em geral os repre- sentantes destes generos são especies do Norte do Atlan- tico, mas uma parte destes generos tem distribuição quasi cosmopolita, de sorte que não é possivel reconhecer-se a origem das especies magellanicas. Póde acontecer tambem, que, ao lado de especies immigradas do Atlantico septen- trional, haja outras que sejam proprias do hemispherio meridional. E o que observamos no genero Puncturella, onde P. noachina L. é de vasta distribuição nas regiões po- lares, ao passo que P. malvina n. n. (P. conica Orb., nec Blv.) é restrica á região magellanica, onde foi encon- trada, ao Sul do Chile e nas ilhas Malvinas. 4.º Immigrantes originarios da Africa meridional, de onde vieram durante o plioceno. Na secção deste capitulo, sobre especies bipolares, trataremos da historia de Mytilus edulis, especie da Europa, que, ao longo da costa occidental da Africa, attingiu o Cabo da Bôa Esperança, dispersando-se para além, no hemispherio meridional. Dous factos são interessantes nesta migração: a possibilidade de que uma especie littoral da região temperada possa passar a zona tropical da Africa e se distribuir para além do Cabo. Na segunda metade do terciario, esta es- pecie e muitas outras não estavam ainda, como hoje, adaptadas ás aguas frias das regiões temperadas e desta maneira lhes era possivel passar a zona tropical, conser- vando-se sempre na zona littoral. Quanto ao segundo facto mencionado, hoje, não é possivel ás especies littoraes emigrarem para a região antarctica, pois que as profun- didades do mar, ao Sul do Cabo da Bôa Esperança, excedem a 2—3000 metros. Na época em que Mytilus edulis se poude espalhar da Africa meridional para a Patagonia, estas profundidades consideraveis não existiam — 370 e estas migrações a realizaram ao longo das costas de um continente antarctico. Em um sentido inverso se realizou a migração de algumas outras especies originarias da Patagonia, como Brachydontes magellanica e Pupilha aperta. “Ao lado destas especies mencionadas, ha algumas que não se encontraram no Estreito de Magalhães, mas nas ilhas Malvinas, como Patella barbara L. e Pha- sianella kochi Phil, que vivem no Cabo e nas Mal- vinas. De resto, Pupilha aperta até agora não foi encontrada no Estreito de Magalhães; eu a recebi da Patagonia. Uma especie insufficientemente conhecida é Solariella dilecta A. Adams, a qual têm sido indicada do Cabo e do Estreito de Magalhães. Crepidula pata- gonica Orb. da qual Crypta subdilatata Roch. e Mab. é um synonimo, é conhecida da Patagonia, Terra do Fogo e do Cabo, de onde a descreveram sob 0 nome da C. rugu- losa Dunk. Uma outra especie da mesma distribuição é Calyptraea chinensis L. Argobuccinum argus Gm. especie da qual A. ve- alum não é senão uma variedade, segundo a minha opinião e a de Hutton e Sowerby, vive na provincia, magellanica, no Chile, na Nova Zelandia e no Cabo. Esta distribuição realizou-se por migrações na região antarctica, o que é confirmado por dous factos: a presença da es- pecie nas ilhas de São Paulo e Amsterdam (sob o nome de A. proditor Fraunf.) e sua ausencia nos depositos pliocenos da Patagonia, da Nova Zelandia e do Chile. A distribuição geographica e geologica do genero Argo- buccinum nos mostra que se trata de um genero da zona tropical do Atlantico, que attingiu 6 Cabo da Bôa Es- perança e para além, a região antarctica, ao longo da costa occidental da Africa, emquanto que especies que, pela communicação interoceanica chegaram á costa pacifica da America, ahi representam um sub-genero particular, Fusi- triton Cossm., ao qual pertencem duas especies intimamente — 371 — relacionadas, A. oregonense do Japão e desde a Alaska até a California, onde esta especie se encontra tambem no plioceno, e A. cancellatum, do Chile e do Estreito de Magalhães. Constatamos, por consequencia, que, nos dous sub-generos de Argobuccinum, as especies se reti- raram da zona tropical e se adaptaram á agua fria das regiões temperadas, desde o plioceno. E” o mesmo processo que nós vemos se realizar nas migrações de Saxicava arctica, especie de uma vasta distribuição geographica e geologica, que attingiu a região antarctica por dous caminhos, o da Nova Zelandia na época miocena, e o da Africa meridional, provavelmente durante o plioceno ou mioceno. Pode ser que os exem- plares de origem differente possam ser distinguidos, o que investigações comparativas devem esclarecer. Os generos da fauna: magellanica: que sahiram da Africa meridional são, para nossas investigações, mais importantes do que as especies que lhe são communs com a Patagonia. Além de Argoburcinum estão neste caso os generos Siphonaria, Kerquelenia, Lepeta, Eu- thria, Bullia e talvez Fissurella tambem. Os dados paleontologicos necessarios sobre a historia deste ultimo genero nos faltam, de maneira que este ponto se conserva duvidoso por emquanto. Eu tornarei a elle na secção dedicada á fauna do Chile. Lepeta é um genero do hemispherio septentrional, conhecido tambem da Europa em depesitos pliocenos, do qual se encontra duas especies no Estreito de Magalhães: L. coppingeri Smith e L. emarginuloides Pils. Na distribuição actual, Siphonaria está sobretudo localizada no hemispherio austral, mas o genero é origi- nario do outro hemispherio, onde já está bem representado no eoceno de Paris. Não se conhece delle especies ter- clarias da America, da Australia nem da Nova Zelandia. Por consequencia não podemos duvidar que é um ge- nero da fauna europea que, ao longo da costa occidental 24 312 — da Africa, attingiu o Cabo, onde existem ainda numerosas especies. Kerguelenia não é senão um sub-genero de : Siphonaria. Bullia é um genero do hemispherio austral, que está representado por um bom numero de especies ao longo das costas da Patagonia e do Brazil meridional. Eu penso que as especies da Patagonia pertencem todas ao mesmo genero. As opiniões são todas divergentes a respeito deste grupo e é só da anatomia que se póde esperar esclare- cimentos exactos. Segundo Cossmann, Bulha está já re- presentado no eoceno da America do Norte, onde no entretanto o genero se extinguiu no oligoceno. No mio- ceno da Europa, entretanto, ha numerosas especies de Bullia, segundo Cossmann, e é evidentemente da Europa que são originarios os representantes da Africa meridional e da Patagonia. E” no plioceno da Patagonia que nós encontramos pela primeira vez um representante de Bullia. A origem africana da Bullia da Patagonia é nesta cireum- stancia bem evidente, em visto dos dados paleontologicos já explicádos e não seria possivel imaginar uma outra migração, que pudesse conduzir especies de Bula 4 Patagonia. Emfim, o genero Huthria parece estar nas mesmas condições. E species de Huthria são encontradas no eo- ceno da Europa e da Australia. Os exemplares da Aus- tralia formam um sub-genero extincto, e as especies vivas provêm de Huthria s. str., sub-genero que teve uma abun- dante representação no mioceno da Europa. E a este genero que se ligam os representantes actuaes desse ge- nero da Africa meridional, do distrieto magellanico e de outras partes da região antarctica. Não se encontra especies terciarias de Huthria nem na America, nem na Nova Zelandia. Até aqui não se conhece especies de Huthria do terciario da Patagonia, mas não podemos duvidar que cllas se encontrem no plioceno da Patagonia, pois que a distribuição geologica — 373 e geographica deste genero é evidentemente a mesma que a dos outros immigrantes pliocenos vindos da Africa meridional. | Notemos ainda que na fauna do Cabo ha muitas especies que se encontram tambem na metade meridional da America do Sul, mas não na Patagonia, o que se explica bem pela differença de latitude. Entre as especies que tambem se encontram sobre as costas do Brazil me- ridional, podemos citar: Argonauta argo e A. tubercu- lata, Lanthina fragilis e I. exiqua, Crepidula aculeata e Cassis pyrum. Esta ultima especie é de interesse parti- cular: eu a recolhi da costa do Rio Grande do Sul e conhecemol-a do Oceano Indico, da Nova Zelandia, da Africa meridional, ete... No estado fossil esta especie tem sido encontrada no plioceno da Nova Zelandia. Como nenhuma especie de Cassis tem sido encontrada no ter- ciario da Argentina, segue-se que a especie é de origem tropical, estando adaptada á zona temperada em regiões muito distantes entre si. A distribuição de Argobuccinum argus é pouco mais ou menos a mesma, mas sua pre- senca na região antarctica e os dados paleontologicos provam que a especie se espalhou desde o Cabo até a região antarctica. São pois duas especies originarias da zona tropical e de distribuição geographica mais ou menos parecida, que adquiriram seu domicilio actual por migrações com- pletamente differentes. Por consequencia temos a constatar que um certo numero de generos e de especies da fauna actual do dis- tricto magellanico provem do Cabo da Bôa Esperança, e é bem possivel que o numero destes generos seja na realidade maior, comprehendendo nelles tambem generos que no presente estão extinctos no Cabo. E” possivel- mente o caso dos generos Margarites e Photinula. 5º Immagrantes modernos da região antarctica. Temos, emfim, a dizer algumas palavras sobre os immi- tie grantes originarios da região antarctica. Como taes, temos a mencionar os generos Modiolarca, Lissarca, Cyanium, Darina, Laevilitorina e talvez Fissurella. A origem deste ultimo genero não está ainda elu- cidada. Nacella pertence a um grupo de Patellidae, que é restrico á região antarctica, mas este genero, ou antes o genero alliado Helcioniscus, se encontra no plioceno da Patagonia e talvez já no terciario antigo. Voltaremos a este assumpto mais tarde, em se tratando da historia da fauna marina do Chile. 6.º Immagrantes modernos, originados o Chile. Não é senão na época post-terciaria que se formou o Estreito de Magalhães, e comprende-se bem que as faunas dos dous mares occuparam não somente o Estreito de Magalhães, mas tambem as costas adjacentes. Recebi do Golfo de São Jorge duas especies da fauna chilena, que faltam nas camadas terciarias da Patagonia e que são evidentemente immigrantes do Chile: Mulinia edulis e Acanthina calcar. Provavelmente o numero destas es- pecies de origem chilena augmentará á medida que a fauna patagonica seja mais explorada, mas o numero de especies pertencentes a este grupo não é, em todo caso, muito consideravel. CO. — Historia da fauna marina do Chile. A base .de todos os nossos conhecimentos relativos aos Molluscos marinos do Chile, sejam recentes ou fosseis, é formada por trabalhos numerosos e importantes de R. A. Philippi, que, mais que nenhum outro naturalista, con- tribuiu para a exploração scientifica do Chile No seu livro Los Fósdes Terciarios e Cuartarios de Chile, Philippi se limita a descrever os diversos depositos ter- ciarios do paiz e os molluscos que ahi são encontrados. Quanto aos resultados geraes, constatou dous factos dos mais importantes: a semelhança geral da fauna terciaria dá nado. cabelo ex do ai a Ê A q 4 RS aoe do Chile com as faunas miocena e recente do Mediter- raneo, e a completa modificação da fauna no fim da época terciaria. Quanto ao caracter geral desta formação terciaria Philippi confirmou as observações de Darwin sobre a identidade de um certo numero de especies do terciario do Chile e da Patagonia. Estes resultados das investigações de Darwin e de Philippi são ainda hoje a base dos nossos conhecimentos da historia dos molluscos marinos do Chile. Steinmann e Moericke ensaiaram fazer uma subdivisão geologica do terciario do Chile, distinguindo nelle duas edades ou for- mações, a Navidadeana e a Coquimboana: a primeira seria oligocena ou miocena inferior, a segunda miocena superior ou pliocena. Segundo estes auctores, estas duas formações seriam caracterizadas por faunas bem distinctas, sendo que a navidadeana teria aspecto atlantico, e a coquimboana aspec- to pacifico. Teremos de examinas estes factos geologicos ou paleontologicos sobre os quaes se apoia esta opinião. Em opposição a esta idéa Philippi não julgava possivel distinguir diversas formações terciarias e tomava por phenomenos locaes as ligeiras modificações faunisticas que se observa entre os diversos depositos. De resto, Philippi não ensaiou distinguir os diffe- rentes elementos faunisticos do terciario do Chile. Como elle disse (I. c. p. 2 e 245), faltava-lhe, para isto, 0 co- nhecimento das faunas actuaes e terciarias da Argentina, da California, da Australia e da Nova Zelandia. Os co- nhecimentos que, no presente, possuimos sobre os mol- luscos recentes e fosseis da Patagonia, da California, da America do Norte, etc, nos tornam possivel emprehender este ensaio. Durante o cretaceo superior e no começo do terciario, a analogia entre as faunas marinas da Patagonia e do Chile, era muito pronunciada. Para o cretaceo isto foi demonstrado pelas investigações de Wilckens e de Steinmann. Para o terciario, todos os auctores têm con- 306 — firmado as observações de C. Darwin. Nós tratamos desta questão na secção precedente deste capitulo e mostramos que 8 °/, das especies do patagonico se encontram tambem ne terciario do Chile. A concordancia geral do caracter destas duas faunas é mais importante que a identidade de um certo numero de especies. | Havia una fauna antiga terciaria da região antarctica que comprehendia a Nova Zelandia, o Chile e a Pata- gonia, mas, como já vimos, cada ume destas regiões se- paradas recebeu, sem interrupção, novos elementos fau- nisticos por via de migrações, de sorte que a semelhança primitiva se apagava cada vez mais. O Chile recebeu numerosos elementos do mar tro- pical Thetis, por via de communicação interoceanica e a immigração de typos tropicaes, ao longo das costas do Equador e do Perá, é mais abundante que a destes mes- mos typos, ao longo da costa oriental da Archhelenis até a Patagonia. Desta maneira certos generos tropicaes de disperçar até a America central e o Chile, sem chegar á America do Noite, e certos generos da costa sehienicional da Archhelenis se Estender para Oeste até o Chile e para Este até a Patagonia. Era assim que se distribuiam, quasi ao mesmo tempo, até o Chile e a Patagonia, especies de Sassia, Neoimbricarva, Vermetus, Turbonilla, Eulima, etc. Ao lado destes ge- neros encontramos outros, taes como Conus, Purpura, Oliva, Olivancillaria (O. tumorifera Phil), Acanthina, Concholepas, Macron, Persona, Cassis, Cypraea, Lat- torina, Rissoa, ete., que não têm representantes no ter- ciario da Patagonia. Muitos destes generos não attingiram a America do Norte. E’ o caso de Neoimbricaria, Olivancillaria, Pur- pura, Persona, Sassia, Acanthina, Concholepas, Ma- cron e outros. A fóra das migrações indicadas, a antiga fau- na chilena se modificou continuamente pela extinção de cer- Dic = tos generos. E’ assim que desappareceram já no cretaceo superios os generos Strombus, Trigonia e outros. Entre os generos extinctos encontramos, no terciario, Aluria, ~ Dicolpus e Lahillia, e é muito grande o numero de ge- neros da fauna terciaria do Chile, que actualmente não são mais encontrados nas costas desse paiz. Philippi dá (I. c. p. 247) uma lista de 39 generos do terciario do Chile que não vivem mais, nos nossos dias, na costa | chilena; mas um destes generos, Haliotis, deve ser eliminado ainda, pois que .se trata de uma determinação inexacta. O genero Haliotis jamais esteve representado na costa do Chile. Como já dissemos, Philippi não julgava possivel uma distinção de diversas edades no terciario do Chile, ao passo que Steinmann e Moericke consideram as ca- madas de Caldera e Coquimbo como uma edade mais moderna, o Coquimboano que seria plioceno ou mioceno superior, emquanto que o Navidadeano, comprehendendo os depositos do Chile meridional, seria oligoceno ou mio- ceno inferior. Como prova desta affirmação, Moericke da (1. €. p. 596) uma lista de 13 especies do Navidadeano, que seriam encontradas tambem no mioceno da Europa, ou que lá seriam substituídas por especies muito semelhantes, E” preciso retirar desta lista Ostrea patagonica, que é uma especie da Patagonia, não encontrada no Chile. Ancillaria tumorifera Hupé é, segundo a minha opinião, "uma especie de Olivancillaria. Cassis monilifera Sow. é considerada por Moericke como uma Cassidaria, erro já refutado por Philippi por causa da differença do canal da abertura. Suppondo-se que as comparações do auctor sejam em tudo correctas, não é admissivel julgar contemporaneas estas especies alliadas, visto a grande distancia que se- para o Chile e o Mediterraneo. — 9318 — No capitulo sobre a formação patagonica, refutei esta maneira de proceder, dando provas, e por isso não insisto mais nesta questão. | Para provar o caracter pacifico da fauna do Coquim- boano, Moericke cita como generos de caracter essencial- mente pacifico Chiton, Struthiolaria, Concholepas e Acanthina (Monoceros). | O primeiro destes generos é de distribuição cosmo- polita. Na sua distribuição geographica, Séruthiolaria, não é e nem tão pouco foi, nem pacifico nem atlantico, mas antarctico, e os outros dous generos são immigrantes do Atlantico. Acanthina se encontra nas camadas mio- cenas da Italia e no plioceno de Java. Na California não se encontra especies delle senão no pleistoceno, com excep- ção, talvez, de uma especie de Chorus. E” preciso notar entretanto, que Ralph Arnold não poude confirmar a pre- sença de Chorus em camadas pliocenas da California. No Chile encontram-se especies de dous sub-generos, tanto em Coquimbo como ao Sul até Chiloë. As affir- mações de Moericke neste ponto são incorrectas. A. crassilabris é A. doliaris, por exemplo, se encontram em La Cueva, perto de Valparaiso e À. grandis e À. blainvillei são encontradas tão bem em Coquimbo como em Valparaiso e Chiloë. Chorus giganteus é commum a Coquimbo e a Tubul no Chile meridional. Segundo a minha opinião a historia da Acanthina é a mesma que a de Concholepas, genero tambem da familia das Purpuridae. Conhece-se della uma especie ~ terciaria de Coquimbo, especies miocenas da Touraine, França e uma especie eocena da Australia, C. antiquatus Tate. Eu não duvido tambem que Acanthina deva ter existido no terciario antigo do Oceano indo-australiano. Em todo caso, os factos paleontologicos provam que estes dous generos são elementos da antiga fauna da Thetis, que ganharam o Chile seguindo as costas da Archhelenis. Nestas circumstancias é certo que os factos, sobre os e quaes Moericke ensaiou sua subdivisão do terciario do Chile, são insuficientes e que a paleontologia não offerece nenhum argumento para separar os depositos terciario do Norte e os do Sul do Chile; de sorte que, reconhecendo-se erroneas as conclusões de Moericke, somos obrigados a acompanhar a opinião de Philippi. E’ desta maneira, tambem, que se torna insustentavel a ideia emittida por Moericke, da edade pliocenas das camadas Coquimbo. Si todos os elementos da Thetis, que se dispersaram no terciario até o Chile, passaram pela communicação inter- oceanica, estes generos não pódem ser pliocenos, pois que esta communicação estava já interrompida no mioceno, segundo a opinião dos geologos, de Hall, particularmente. Pelo meu lado, não estou convencido que estes resultados das investigações geologicas sejam exactos, porque não é senão no plioceno que se operou a troca dos mammiferos da America do Norte e do Sul. Quanto á opinião de Philippi, somos, em geral levados a confirmal-a, mas cem algumas modificações. Vão é com o Mediterraneo, mas com o Atlantico, ou melhor, com a Thetis, que a fauna terciaria do Chile se apresenta relacionada. Não se deve, pois, pensar em uma communicação directa entre o Chile e o Mediterraneo, porque esta relação era dada pela Thetis, que commu- nicava tanto com o Mediterraneo como com o mar do Chile. Deste modo, explica-se que algumas especies antigas, de vasta distribuição, estão conservadas no Chile e na Africa occidental, outras no Chile e no Mediterraneo. Este ultimo caso é o da Thyasira flexuosa, especie viva e eogena do Chile, que foi observada tambem nos depositos miocenos da Europa. A especie fossil do Chile foi chamada por Philippi Th. chilensis, sómente por causa da localisação tão distante do Mediterraneo. E” indis- cutivel que o contraste entre as faunas terciaria e a pleisto- cena do Chile é muito grande, mas isto não quer dizer que tivesse havido uma transformação brusca da fauna. Segundo 380 — nossa opinião, todos depositos terciarios, até aqui conhecidos do Chile, são eogenos e não se conhece ahi depositos neogenos. Esta cireumstancia é perfeitamente sufficiente para explicar a grande diferença faunistica, que Philippi pôz em evidencia, entre os depositos terciarios e post- terciarios. Actualmente não conhecemos differenças stratigra- phicas entre os diversos depositos terciarios do Chile. Ameghino subdividiu o terciario do Chile em uma camada antiga, a Lebuveana e uma outra mais moderna, a Vavi- dadeana. As minhas proprias investigações me condu- ziram a semelhantes conclusões, mas é preciso confessar que, para uma distineção exacta, faltam-nos factos con- cludentes. Em geral o caracter faunistico do terciario do Chile é muito analogo ao do pan-patagonico: de um ludo, os elementos antigos da fauna commum chileno-pa- tagonica consistem em generos eogenos extinctos, como Lahilha e Aturia e uma proporção bem restricta de especies viventes; de outro lado, houve uma alteração radical na composição da fauna, por immigração de numerosos generos tropicaes. No terciario do Chile não encontramos representa- das senão as especies viventes que se seguem: Nucula pisum Sow. Leda cuneala Sow. Brachydontes magellanica Lam. Mytilus chorus Mol. Thyasira flexuosa Mont. Chione antiqua King. Dosinia ponderosa Gray. Mesodesma donacium Lam. Tagelus dombeyi Lam. | Ensis macha Mol. Crepidula unguiformis Lam. Nassa taeniolata Phil. — 981 — Acanthina crassilabris Brug. Acanthina (Chorus) gu 7 Less. Oliva peruviana Lam. Trigonostoma tuberculosum Sow. Todas estas especies foram observadas por Philippi. Moericke confirmou a existencia das especies indicadas de Dosinia e Oliva no terciario de Coquimbo e lá encon- trou especies de Venus, alliadas a V. dombeyi e V. exalbida, Cumingia aff. mutica e Pectunculus aff. in- termedius. Nós não podemos acceitar sem modificações a lista de especies terciarias de Molluscos do Chile. Philippi incluiu nella 11 especies do magellanico e 17 especies de Santa Cruz, que não foram encontradas no Chile. Além disso, elle descreveu um bom numero de especies, que não são conhecidas senão por moldes e que, sem duvida, em grande parte, coincidem com especies descriptas pelas suas proprias conchas. Como nós não procedemos da mesma ma- neira, foi preciso supprimir, na lista de Philippi, as es- pecies descriptas sómente pelos moldes, e cujo numero sómente para o genero Venus, monta a 21. São pois pelo menos 49 especies, que se precisa diminuir do nu- mero total de 461 especies terciarias do Chile, de sorte que nella não ficam senão 412. Si bem que o numero se reduza ainda, tambem pelas especies que entram na synouymia, conservamos, por ora, este numero de 412 especies fosseis, entre as quaes encontramos 16 viventes, ou 3,8 °/,, quasi 4°/, do numero total. Na realidade esta proporção deve ser maior, porque o numero de especies fosseis se reduzirá a menos de 400 especies pelo estudo critico, e porque o numero de es- pecies viventes deve ser, na realidade, muito maior. Admittindo-se as 4 especies acima indicadas segundo Moericke, o numero de especies viventes representadas nas camadas eocenas do Chile eleva-se a 20, e a pro- — 382 — porção seria de 5 (4,7)°/, mais ou menos. Seria então uma proporção quasi egual á do patagonico, cuja pro- porção monta mais ou menos a 8°}. Um exame critico dos Molluscos do terciario do Chile nos conduz, por consequencia, ao resultado já ob- tido por Vl. Ameghino e por mim mesmo: a contempo- raneidade do terciario do Chile com o pan-patagonico da Patagonia. Moericke observa, com razão, que os resultados ob- tidos na Europa pelas investigações geologicas não devem ser applicados, sem restricção, ás camadas terciarias da America meridional, onde as mudanças na composição da fauna têm sido muito consideraveis. Já Suess explicou bem estes factos. Segundo Phi- lippi (1. e p. 246), conhece-se no Chile 90 generos de Molluscos terciarios, dos quaes 40, ou 45°/, não estão mais representados na fauna actual. Na Patagonia, co- nhece-se, do pan-patagonico, 98 generos de Molluscos, dos quaes 39, ou 60º/, não são mais encontrados na fauna recente deste lugar. O numero de especies eogenas ainda viventes é de 15 na Patagonia e de 14 no Chile. Vê-se que as condições faunisticas passaram por modificações semelhantes no Chile e na Patagonia. Devemos crêr que a semelhança e a identidade parcial dos elementos destas duas faunas e a analogia no seu desenvolvimento é o resultado de uma evolução contemporanea. Nós vemos assim confir- mada a opinião já externada e sustentada pela maior parte dos paleontologos, segundo a qual a proporção de especies viventes não serve para fixar, com segurança, a edade geologica de differentes depositos terciarios. E” pre- ciso notar ainda, que as faunas malacologicas da America meridional são muito mais pobres que as do Oceano indo-australiano, e que os depositos eogenos da Europa e da Australia foram tambem muito mais ricos em especies que os do Chile e da Patagonia. Desde o eoceno, a fauna marina conservou-se na Patagonia menos alterada 383 que no Chile, pelo menos em relação a um certo nu- mero de generos caracteristicos, e é preciso tomar em consideração, estas condições quando se quizer discutir a edade relativa destas camadas sedimentarias. E” bem pos- sivel que os depositos eogenos contemporaneos contenham 7°], de especies recentes na Patagonia, 3-—4°/, no Chile, mas não é admissivel considerar-se miocenos depositos terciarios que não tenham mais de 3—-5°/, de especies viventes, sobretudo quando todas as outras considerações, já explicadas, nos levam á mesma conclusão, quanto á edade eogena do terciario do Chile. Segundo todas as probabilidades, estes depositos cor- respondem, na sua edade, aos do pan-patagonico e per- tencem, como elle, ao eoceno. As relações da fauna marina do Chile não são faceis de discutir, por causa da aasencia de depositos neogenos e pleistocenos, do Sul deste paiz. Ao tratar da fauna da Patagonia, já estudamos as relações faunisticas com a Nova Zelandia, durante o terciario antigo. Cons- tatámos então, que estas relações eram muito mais pronun- ciadas entre a Patagonia e a Nova Zelandia, que entre. esta ilha e o Chile. As especies do terciario do Chile que se encontram egualmente na Nova Zelandia, são todas conhecidas tambem na Patagonia, e não ha senão uma especie, Sigaretus subglobosus Sow. do terciario do Chile, que se tem indicado tambem do terciario da Nova Zelandia. Neste caso, como em muitos outros, eu não duvido que não se trata senão de uma determinação inexacta e que a pretendida S. subglobosus, da Nova Zelandia, seja na rea- lidade uma especie differente, com estrias espiraes mais finas e delicadas. O genero Sigaretus é extranho á fauna antiga antarctica, e as especies mencionadas, im- migraram, segundo todas as probabilidades, para o Chile e Nova Zelandia, vindos da Thetis. Eu chamo a attenção aqui, ainda, para a grande concordancia que existe entre 384 — os Brachiopodes eogenos da Nova Zelandia e os da. Patagonia, os quaes contrastam consideravelmente com os Brachiopodes terciarios do Chile. A Nova Zelandia e a Patagonia se achavam evidentemente ligados por uma massa continental antarctica, situada mais ou menos na mesma latitude destes dous paizes, ao passo que a costa do Chile avançava muito mais para o polo, no seu pro- longamento meridional, o que tornou dificil a troca de faunas. Pelo fim da época terciaria, as condições geogra- phicas devem ter soffrido uma alteração, que facilitou a troca dos elementos faunisticos. Moericke é de parecer que Turbo calderensis Meer. do terciario do Chile, tenha seus ascendentes mais pro- ximos, em duas especies viventes da Nova Zelandia, sobretudo com 7 granosus Mart. Grzybowski descreveu uma especie de Puncturella, P. phrygia, do terciario eogeno do Perá; segundo elle, este genero ter-se-ja retirado para a Nova Zelandia, mas, que en saiba, não se tem encontrado especies de Punctu- rella, neste paiz, nem viventes nem fosseis. Não é possivel se descobrir os caminhos que as especies antar- cticas da America meridional devam ter percorrido; mas é certo, que, ao lado destas relações de caracter geral, ha outras, que demonstram relações intimas entre o Chile e a Nova Zelandia. A existencia de Monodonta nigerrima Gm, na Nova Zelandia e no Chile, é interessante sob este ponto de vista. Esta especie se encontra tambem no Es- treito de Magalhães e não na Patagonia; a distribui- ção de Argobuccinum argus é a mesma. Ha outras especies da Nova Zelandia, taes como Modiolarca pusilla e M. trapezina, Laevilitorina ca- liginosa, Callochiton illuminatus Reeve, que não vivem senão no Estreito de Magalhães e não no Chile. Pó- de-se reunir a estas especies Nacella fuegensis, que — 385 — Suter indicou das ilhas Macquarie e Campbell, bem como das ilhas Kerguelen. Abstracçäo feita das especies cosmopolitas, taes como Saxicava arctica e Mytilus edulis e das especies abyssaes, como Lasaea miliaris, temos ainda a registrar as especies seguintes, que são communs 4 Nova Zelandia e ao Chile: Brachydontes magellanica, Huthria fuscata Brug. (antarctica Rve.), Crepidula aculeata e provavelmente tambem - Chione crassa Qu. e G. Com esta ultima epecie da Nova Zelandia, parece ser identica Ch. gayi Hupe e, póde ser tambem, Ch. fueyensis Smith e Ch. agrestis Phil; Nacella ma- gellanica e Mytilus chorus não vivem na Nova Zelandia. Estas especies e algumas outras, originarias da re- gião antarctica, estão em parte dispersadas desde o cabo Horn para o Norte, sobre as costas do continente ame- ricano, de maneira que nós as encontramos tanto no Chile como na costa da Patagonia. Eis a lista destas especies encontradas nas duas costas da extremidade austral da America do Sul: Pleurobranchus patagonicus Orb. Siphonaria lessoni Bly. Nacella magellanica Gm. Euthria fuscata Brug. Trophon geversianus Pall. Trophon laciniatus Mart. Cymbiola spectabilis Gm. Cymbiola magellanica Gm. Mytilus edulis L. Brachydontes magellanica Lam. Brachydontes purpurata Lam. Lyonsia chilensis Phil. (patagonica Orb.) Chione antiqua King. Saxicava arctica L. Uma ou outra destas especies não se encontra no Estreito de Magalhães, como Chione antiqua King. Segundo sua origem, estas especies da lista precedente se classificam em diversos grupos. Brachydontes ma- gellanica e Chione antiqua são, no terciario antigo, as que estão conservadas até o presente nas duas costas da America meridional. As especies mencionadas do genero Trophon e Cymbiola não se encontram no Chile senão na região mais meridional. Provavelmente estes generos se extinguiram no Chile na segunda metade do terciario e ahi foram introduzidos novamente, na época quater- naria, por migrações vindas do Estreito de Magalhães. Mytilus edulis e Saxicava arctica são especies muito antigas, das quaes já tratámos muitas vezes. Em geral, as especies ennumeradas são immigrantes modernos, que não se dispersaram nas duas costas da America meridional, sinão nos tempos post-terciario, e que são originarios da região antarctica. A estas espe- cies é preciso provavelmente ajuntar Mactra symetrica Desh., ou M. petiti Orb., com a qual M. coquimbana Phil, do pleistoceno de Coquimbo, é synonyma, segundo a minha opinião. Ha outras especies, taes como Lima angulata, Pholas campechiensis e Crepidula unguiformis, que se encontram tambem nas duas costas da America me- “ridional, mas mais ao Norte, isto é, no Chile e no Brazil. São especies de origem tropical, vindas do Norte, quando a passagem interoceanica da America central estava aberta. E assim que nós vemos encontrarem e mistu- rarem-se elementos faunisticos totalmente differentes, uns vindos do Norte, outros do Sul e todos os dous espa- lhados sobre as costas atlanticas e pacificas da America meridional, por migrações, das quaes nos é possivel co- nhecer a historia pelo estudo critico dos dados zoogeo- graphicos e paleontologicos correspondentes. Um caso instructivo de migrações extensas é o do genero Mesodesma, uma especie da qual, M. donacium wT 4 da ds ae À Das à se ão fit dis 387 Lam., vive nas costas do Chile e do Perá, uma outra no Brazil meridional e no Uruguay. A primeira, que per- tence ao sub-genero Mesodesma, se encontra no terciario do Chile, mas não se encontra representantes fosseis deste genero na Patagonia. A especie do Brazil meri- dional é M. mactroides Desh., e ella se encontra desde o Rio Grande do Sul até Santos. Os exemplares da emboccadura do Rio da Prata são maiores e mais soli- dos, com a epiderme mais amarella e eu fiz delle uma sub- especie, M. m. arechavaletar. Esta especie, que eu possuo tambem de Monte Hermoso, faz parte do sub-genero Taria, cujas especies, de resto, são restrictas 4 Nova Zelandia. Trata-se pois de um immigrante antarctico, que vivia, tambem antes, no Estreito de Magalhães e que provavelmente foi impellido para o Norte, por influen- cia da época glacial. Si bem que a transtormação, pela qual possou a fauna marina do Chile, após a época terciaria, fosse causada principalmente pela invasão de numerosos typos antar- cticos, encontramos tambem immigrantes, vindos do Norte, nas camadas post-terciarias do Chile e da Bolivia. E lá que encontramos os primeiros representantes do genero “Chlorostoma, do qual diversas especies se encontram nos depositos pliocenos e pleistocenos da California. Saxido- mus é um outro genero das costas pacificas da America, do qual uma especie, S. arata Gould, se encontra na California no estado vivente e nos depositos miocenos e pliocenos, emquanto que no Chile este genero não se en- contra senão em depositos quaternarios. E” o caso de S. rufa Lam. (opaca Sow.), especie que se encontra no estado vivente no Chile e no Estreito de Magalhães. Segundo Dall, especies de Saxidomus e de Chlorostoma são communs, desde o eoceno, ás costas pacificas da Ame- rica e da Asia. E’ portanto evidente que as especies chi- lenas de Saxidomus e de Chlorostoma são immigrantes vindos da America do Norte. Ao contrario, ha tambem 25 — 388 — generos de Molluscos originarios do Chile, que estão dis- persados até a California e, pela communicação inter- oceanica, até as costas atlanticas da America meridional. Alguns generos de Veneridae, sobretudo Prothaca e Amrantis, são instructivos neste particular. Este ultimo genero distribuiu-se não sómente até a California, mas tambem, pelo canal interoceanico, ás costas atlanticas da America meridional. | Esta antiga communicação centro-americana, entre o Atlantico e o Pacifico, nos explica, emfim, um dos traços mais singulares da fauna marina do Chile: suas relações com a fauna da Africa occidental. As especies caracte- “rísticas, quanto a isto, são sobretudo as seguintes: Calyptraea trochiformis Gm. Crepidula dilatata Lam. Purpura cingulata L. Cardium ringens Gm. Ha ainda varias outras especies vivas da fauna do Chile, que se encontram tambem ao longo das costas occi- dentaes e meridionaes da Africa, como Crepidula ungut- formis Lam. e Arca reticulata Gm., mas são especies de distribuição vasta ou mais ou menos cosmopolita. O caso é inteiramente differente com as especies acima men- cionadas, como veremos pela discussão especial. Calyptraea trochiformis Gm. é mais conhecida sob o nome de O. radians Lam. e não deve ser confundida com C. aperta Sol. especie que foi descripta por La- marek sob o nome de C. trochiformis e O. calyptraeformas. O. trochiformis Gm. é conhecida tambem sob o nome de ©. araucana Less. mas C. araucana Philippi (I. ec. 1887 p. 87) é uma especie differente, para a qual proponho o nome de C. levuana n. n. C. spirata (Forbes) Rve. da California, é tambem um synonymo de ©. trochiformis Gm. Esta especie é conhecida do Chile, do Perá, da California, da Guiné, de — 389 — S. Vicente e do Cabo Verde. Dunker foi o primeiro a communicar este facto; Dautzenberg e Fischer o confir- maram em 1906. Não se conhece esta especie do ter- ciario da America do Norte, mas eu a possuo do plioceno de Mossamedes. No Chile ella não foi encontrada senão em depositos pleistocenos. Crepidula dilatata Lam. é uma especie do Chile e do districto magellanico, para o qual se applicou tambem o nome de Cr. peruviana Lam. pallida Brod. e sub- dilatata Roch. e Mab. Na descripção de Molluscos da Guiné, Dunker a indicou de Loanda, Africa occidental. Esta especie não é tambem encontrada no Chile senão nos depositos pleistocenos. Não se a encontra fossil na America do Norte. Purpura cingulata L. é uma especie vivente de Natal e do Cabo de Bôa Esperança, da qual Philippi diz (1 c. p. 54) que ella não vive no Estreito de Ma- galhães, mas na costa do Chile e que elle a recebeu de depositos quaternarios de Coquimbo. Cardium ringens. Gm. No estado vivo esta especie. não é conhecida senão da Africa occidental, mas ella foi encontrada fossil em « Mejillones, Bolivia », segundo Phi- lippi (1. e. p. 173). Esta especie não foi mais encontrada fossil na America septentrional. Estes factos, que demonstram as relações faunisticas entre as costas occidentaes da Africa e da America me- ridional, parecem, á primeira vista, pasmosos, mas, na realidade não o são, pois que a communicação inter- oceanica da America central explica perfeitamente estas migrações, que tiveram lugar ao longo da costa septen- trional de Archhelenis. Entre os Molluscos que tinham tal distribuição, alguns estão extinctos na Africa ou na America, e outros, que existem ainda, estão conservados em estado vivo, seja nas Antilhas e no Brazil, seja na costa occidental da America do Sul. Muitos generos da costa septentrional da Archhelenis não se espalharam até — 390 — a America do Norte. Todas estas circumstancias se com- prehendem facilmente; mas ha um ponto incomprelensivel, que é a apparição destas especies nas costas do Chile e do Perû na época post-terciaria, ao passo que se os deveria encontrar no terciario, pois que a communicação entre os dous oceanos foi interrompida já durante o mioceno. Como resolver esta contradicção? Qual seria a distribuição de terras e mares nesta região durante a segunda metade do terciario, e haveria ahi uma barreira que impedisse mi- gerações de Molluscos littoraes para o Sul? A este respeito é singular que especies de Amiantis, Acanthina e Chorus não appareçam na California senão no pleistoceno e que especies de Chlorostoma e de Saxidomus não sejam encontradas no Chile senão em depositos da mesma época. Quanto ao Chile, é bem pos- sivel que estas especies, tomadas agora por post-terciarias, por causa de sua primeira apparição, ahi fossem já re- presentadas na segunda metade do terciario, pois que, no meu modo de pensar, não se conhece camadas neogenas do Chile. Entretanto é possivel que certos depositos « pleistocenos » do Chile sejam na realidade pliocenos, porque a relação de especies extinctas é muito elevada em alguns delles. | E” assim, por exemplo, que esta relação é de 28º), para os depositos de Cahuil e de 32º/, para os de Me- jillones. Eu me limito aqui a levantar a questão, mas para se a resolver, as observações geologicas feitas até aqui não me parecem sufficientes. Com effeito, segundo a minha opi- nião, não ha capitulo mais intricado para a zoogeographia marina, a paleontologia e a geologia do terciario da Ame- rica do que a historia da costa pacifica deste continente. Por estes factos expostos, não é difficil de se pro- ceder a um exame analvtico da fauna actual do Chile. Nós ahi distinguimos os elementos faunisticos seguintes: — 391 — 1. Generos que são representados no Chile desde o terciario antigo. Na secção deste capitulo, dedicada á fauna da Patagonia, dei a daquelles generos que eram communs ao terciario do Chile e da Patagonia. Entre as especies viventes do Chile Nucula pisum Sow. Leda cuneata Sow., Brachydontes magellanica, Mytilus chorus e Chione antiqua, pertencem a este grupo. Mencionamos ainda Turritella cingulata, que é o descendente de uma especie eogena e cretacea, 7. chilensis. O numero total de especies de Molluscos marinos do Chile é de 260, segundo Pbilippi, mas o numero de especies relacionadas com a antiga fauna chileno-patagonica não passa de umas vinte especies. 2. Elementos da antiga fauna terciaria emigrados do Norte, ao longo das costas da Archhelenis. A maior parte destes generos extinguiram-se nas costas do Chile, mas nós encontramos ahi, ainda, entre as especies viven- tes: Oliva peruviana, Chorus giganteus, Acanthina crassilabris, Nassa taeniolata, Crepidula unguiformas, Dosinia ponderosa, Ensis macha, Tagelus dombeyi, etc. 3. Elementos tropicaes vindos do Norte, por uma migração neogena, ao longo das costas da Archhelenis. A este grupo pertencem as quatro especies mais acima indicadas, cuja distribuição é limitada ás costas do Chile e da Africa occidental, e que são Calyptraea trochiformis Gm. Crepidula dilatata Lam. Purpura cingulata L, Cardium ringens Gm. Pode ser que tambem pertençam a este grupo, ou ao seguinte, as especies do genero Fis- surella, para a historia do qual os dados paleontologicos necessarios nos faltam presentemente. O mesmo se dá para o genero Mulinia. | 4. Elementos da fauna californiana, emigrados para o Chile pelo fim do terciario ou depois desta época. À esta categoria pertencem as especies dos generos Saxi- domus, Scurria, Acmaea, Chlorostoma e os Argobuc- cinum do sub-genero Fusitriton. A historia destes ge- — 392 — neros nos é explicada pela paleontologia dos Molluscos marinos da California e do Japão. 5. Elementos da fauna antarctica emigrados para o Chile pelo fim do terciario, ou depois. Devemos aqui mencionar especies de distribuição abyssal mais ou menos cosmopolita, taes como Mytilus edulis, Saxicava arctica e outras, que são restrictas 4 parte meridional do bemis- pherio austral. Temos aqui a mencionar Modiolarca, Si- phonaria, Nacella, Monodonta e Argobuccinum s. str. Para alguns destes generos, não podemos constatar senão relações antarcticas, mas para outros, como Monodonta nigerrima, estas relações nos indicam directamente a Nova Zelandia, pois que estas especies não se encontram nem na Patagonia, nem no Cabo da Bôa Esperança. 6. Emfim, elementos da fauna patagonica immi- grados no Chile, depois da época terciaria, pelo Estreito de Magalhães. Quanto a estes, mencionaremos: Trophon laciniatus, Tr. geversianus, Cymbiola spectabilis e C. magellanica, especies que, no Chile, não se encontram senão na parte meridional. * * * Vê-se que não é senão com o auxilio da paleon- tologia que nós podemos constatar o caminho que os diversos generos e especies percorreram nas suas migra- ções. E” assim que as Nacella da familia das Patellidae são de origem antarctica, emquanto que as especies de Scurria e Acmaea são procedentes da California. No genero Argobuccinum ha dous sub-generos, dos quaes um se distribuiu pela região antarctica e outro ao: longo das costas pacificas da America. Neste ultimo caso encontra- mos as duas variedades da unica especie Argobuccinum cancellatum, restricta ás partes mais meridionaes e sep- tentrionaes da costa pacifica da America, e a mesma ob- servação se applica á maior parte dos outros generos da os 393 — costa chilena, que são originarios da California. Trata-se pois, de generos vindos da zona tropical, que se adaptaram aos mares temperados ou frios dos dous hemispherios. Por consequencia a fauna do Chile passou por modifica- ções muito importantes, depois do terciario antigo; nesta época a temperatura do mar era muito elevada, ao passo que em nossos dias ella é mais baixa do que deveria ser, correspondentemente a sua latitude geographica. Uma observação, enfim, sobre o clima do terciario antigo do Chile. Philippi diz que a temperatura do mar não parece ter sido muito differente da actual, por causa do caracter dos Molluscos marinos. Não Fee reco- nhece que se encontra, nos depositos terciarios do Chile, um certo numero de generos proprios ás regiões tropi- caes, taes como Conus, Cypraea, Terebra, Cr enatula, Anatina, Melina e outros. E” verdade que se não encontra, nos depositos ter- ciarios do Chile, especies de Harpa, Pterocera, Tri- dacna, etc., mas não se deve esperar encontrar no Chile generos que são essencialmente proprios á região indica. Por causa de circumstancias especiaes da região chilena, está fóra de duvida que então a temperatura do mar era lá mais elevada do que no presente, na primeira metade do terciario, assim como na Patagonia. D.—-Historia da fauna marina do Brazil Como já dissemos na introducçäo deste capitulo, o Brazil é um dos paizes mais antigos do mundo. O mar não cobria senão uma parte deste paiz, durante o devoniano. Mais tarde, durante o cretaceo superior, o oceano occupou uma faixa estreita do littoral do Brazil septentrional, deixando ahi numerosos depositos de Mol- luscos marinos. A ausencia completa, nas costas do Brazil, de camadas terciarias marinas fossiliteras, nos faz vér que, após a transgressão cretacea do mar, houve ahi regres- 394 — são do oceano, de sorte que a costa terciaria desta parte do Brazil ficava situada mais para Este. No Brazil meridional, desde o Espirito Santo até a Argentina, o caracter da costa é bem differente, e não se encontra ahi vestígio algum de depositos cretaceos ou terciarios. Esta parte do Brazil estava em relação con- tinua com a Africa, não sómente durante a época se- cundaria, mas tam bete durante o terciario antigo. Resulta dahi que este antigo continente, formado pela Africa, a America meridional e as terras que as reuniam, isto é a Archhelenis, separava dous mares: um tropical, a Thetis, e um outro austral, para o qual pro- ponho o nome de Nereis. Si estas conclusões são cor- rectas, como sendo o resultado de investigações geo- logicas e zoogeographicas, é evidente que o caracter das duas faunas marinas, que se estendiam ao Norte e ao Sul deste continente antigo, deve ter sido completamente differente, e é justamente o que os factos paleontologicos nos demonstram. Ao Norte do Brazil, assim como tambem na Patagonia, se encontram depositos marinos perten- centes ao cretaceo superior; mas suas faunas são com- pletamente differentes. O genero Tylostoma, que eu suppunha antigamente representado tambem no cretaceo da Patagonia, ahi não existe e as especies de Molluscos do cretaceo superior do Brazil e da Patagonia differem entre si. Segundo Ch. White, a fauna cretacea do Brazil estabelece relações intimas com o cretaceo da Europa e das Indias orientaes. Em geral as especies cretaceas de Molluscos do Brazil lhe são proprias. White descreveu apenas umas doze especies já conhecidas, que se encontram, todas, tambem na Europa e ao Sul das Indias orientaes, com excepção de uma, Tri igonva subcrenulata Orb., descripta do Chile. Este facto é bastante singular. Comprehende- se facilmente que as faunas marinas cretaceas e eovenas — 395 — eram completamente differentes ao Norte e ao Sul da Archhelenis, mas não se poderia comprehender porque os Molluscos marinos do Norte da Archhelenis não pude- ram attingir as costas do Perá e do Chile, si as con- dições geographicas eram as mesmas como na primeira metade do terciario. A fauna cretacea do Chile é muito differente da do Norte do Brazil, emquanto que a fauna eogena recebeu grande numero de immigrantes da Thetis e, si durante o cretaceo esta troca de faunas não foi realisada, é evidentemente devido a uma barreira, que impedia as migrações de animaes marinos. Póde ser que a America central estivesse ainda prolongada, a Oeste, até as ilhas Sandwich. Em todo caso, havia entre o cretaceo e o terciario modificações na distribuição de terras e de mares, que eee as migrações de animaes marinos. As condigdes geraes das faunas marinas, ao Norte e ao Sul da Archhelenis, devem ter sido as mesmas tambem durante o terciario antigo. Nós não conhecemos delle depositos no Brazil septentrional, mas sim nas An- tilhas e na America do Norte e a fauna destes de- positos é completamente differente da da Patagonia. Os Molluscos marinos eogenos da Patagonia estabelecem relações mais estreitas com a Nova Zelandia e a Europa do que com a America septentrional e central. A tem- peratura do mar eogeno da Patagonia fôra assáz elevada; poderia-se então suppor que as faunas eogenas da Ame- rica central e meridional tivessem podido se confundir com a mesma facilidade, ou mesmo mais ainda, do que ellas o teriam feito durante e depois da segunda metade da época terciaria. Si os factos nos mostram o contrario, e si as faunas marinas eogenas das partes septentrionaes e meridionaes da America são mais differentes entre si, do que com re- lação a qualquer outra região do globo, é evidente que havia uma barreira, que impedia a troca das faunas mari- — 396 — nas do Norte e do Sul da America. Esta barreira era a Archhelenis e eu creio que a theoria deste antigo continente póde ser considerada como definitivamente provada. As faunas eogenas marinas da America do Norte e da Patagonia são completamente differentes, e não é senão na formação entreriana que se encontra elementos da fauna terciaria das Antilhas e da Florida. Nas cama- das miocenas do Paraná, na Argentina, ao lado de espe- cies do pan-patagonico, encontra-se outras que são originarias da região tropical da America. Alguns destes generos emigrados do Norte, estão ainda hoje represen- tados nas costas da Argentina, taes como Columbella, Marginella, Olivancillaria, Amiantis, Tivela e Tagelus, emquanto que outras, como Rissoa, Littorina, Strom- bus, Turbinella e Anomalocardia, são restrictas, na sua distribuição actual, ás Antilhas e ao Brazil. A’ medida que a Archhelenis desapparecia, as faunas marinas visi- nhas occupavam as novas costas, mas foi sobretudo a fauna da Thetis que se estabeleceu nas costas do Brazil. Comprehende-se assim porque não se encontra um ele- mento taunistico proprio ás costas do Brazil, excepto al- gumas especies de distribuição outr'ora mais vasta, que não se conservaram senão nas costas deste paiz. Segundo estas diversas modificações na sua distribuição, temos de distinguir differentes grupos faunisticos, dos quaes vamos falar, começando pela grande secção de especies origi- narias do mar tropical Thetis. 1) Molluscos do Brazil provenientes do Norte, isto é, da Thetis.—Entre as diversas subdivisões desta secção a mais importante é, sem duvida, a seguinte: a) Especies cuja distribuição actual se estende do Brazil até us Antilhas e a America do Norte. — Entre 531 especies de Molluscos marinos, que conheço até hoje das costas do Brazil, 356, ou 67 %, pertencem a esta subdivisão. Um grande numero destas especies se TRES encontravam j4, fosseis, ao Sul da America septentrional e sobretudo na Florida, como se póde constatar exami- nando-se a grande monographia de Dall. b) Especies do Brazil que não se encontram nas Antilhas, na Florida, etc., mas que reapparecem na costa pacifica da America central. — Muitas especies da subdivisão precedente vivem nas duas costas da Ame- rica central, facto bem conhecido, que se explica pela franca communicação, que existia entre os dous mares, durante a época terciaria antiga até o mioceno, mas se- parados hoje pelo isthmo central-americano. Por isto é natural que estas especies do Brazil se encontrem tam- bem na California, no Panamá, no Perá e mesmo no Chile. E’ o caso, por exemplo, das especies seguintes, que se encontram tambem nas Antilhas e na Florida: Mytilus edulis L. Arca noae L. Chione cardioides Lam. Heterodonax bimuculata L. Tagelus gibbus Spengl. Sanguinolaria operculata Gm. Sanguinolaria rossea Lam. Tellina interrupta Wood. Verticordia ornata Orb. Saxicava aretica L. Purpura patula L. Lanthina exigua Lam. Lotorium tuberosum Lam. Cypraea exanthema L. Lacuna tenella Jeffr. Com excepção das especies de Mytilus e de Saxi- cava, cuja distribuição é essencialmente bipolar e que -attingiram o Brazil meridional por via de migrações ao longo da corte patagonica, estas especies pertencem todas á fauna tropical. 398 — Em outros casos os representantes pacificos de es- pecies atlanticas, que eram anteriormente de vasta distri- buição, estão mais ou menos modificados, e elles são - considerados como especies alliadas por alguns auctores, e como subespecies, por outros. Não é entretanto a estas especies de vasta distri- buição ás quaes aqui me refiro, mas a certas especies brazileiras, que faltam nas Antilhas e na America do Norte e que reapparecem nas costas pacificas da Ame- rica Central. Provavelmente todas estas especies não esti- ram jamais representadas nas Antilhas ou na Florida, mas dispersaram-se ao longo da costa oriental da America do Sul, até a communicação interoceanica, ganhando assim as costas pacificas. "Trata-se pois de migrações eogenas, e não é possivel comprehender-se a distribuição geogra- phica destas especies, sem se recorrer á distribuição de terras e de mares, taes como eram durante a primeira metade da época terciaria As especies, ás quaes me refiro, são as seguintes: | Modiolus guyanensis Lam. Não se conhece esta especie senão das costas do Bsazil, desde S. Catharina até o Pará, assim como das Guyanas e da Venezuela. Na costa pacifica esta especie é encontrada no Panamá e no Mexico. Phacoides childreni Gray. Wana especie do Brazil septentrional, que tambem foi indicada da California. M. M. Dall, a quem cedi a metade de um bello exemplar de Pernambuco, propoz um novo nome para a especie da California, o de Ph. chantusi. Por minha parte não considero este representante pacifico senão como uma subspecie, cujo nome seria por conseguinte: Ph. children chantusi Dall. Sanguinolaria operculata Gm. Especie do Brazil e da America central, que falta nas Antilhas, e que é re- presentada na costa pacifica da America central por 8. operculatu hanleyr Bert. -— 399 — Mactra alata Spengl. Vive sobre as costas do Brazil, desde Santa Catharina até a Bahia. Encontra-se tambem na costa pacifica da America central e da Ca- lifornia, onde recebeu o nome de M. subala Meerch. M. exoleta Gray, de Panamá, é tambem uma especie muito alliada. O sub-genero Mactrella do qual fazem parte todas estas especies, não é representado na fauna da America do Norte, nem vivo nem fossil. Neomphalius viridulus Gm. E uma especie com- mum ás costas orientaes da America do Sul, desde Sta. Catharina até Costa Rica; ella se encontra tambem na costa occidental da America central, mas não na Flo- rida e nem nas Antilhas. c) species do Brazil que se encontram tambem na costa occidental da Africa. Examinando-se a distribuição dos Molluscos marinos da Africa occidental, que se encontram tambem nas costas atlanticas da America, constatamos uma grande diver- sidade na sua distribuição sobre as costas americanas. Conhecem-se especies da Africa occidental, que vivem tambem nas Antilhas, mas não na America meridional ; | taes são: Melina perna L. Cardium isocardia L. Petricola typica Jon. Tellina radiata L. Livona pica L. Nerita versicolor Lam. Tectarius muricatus L. Turritella exoleta L. Mesalia. caribaea Orb. Murex messorvus Rye. Columbella cribraria Lam. Volvaria avena Val. A estas especies se juntam algumas outras da Ame- rica central ou do Norte da America meridional, que eu 2 Age ae não sei si se encontram tambem nas Antilhas, taes como: Cypraea picta Gray, da Venezuela, Purpura coronata Lam., de Guatemala e Conus flammeus, de Honduras. As especies seguintes, que são communs ás Anti- lhas e á costa occidental da Africa, vivem tambem no Mediterraneo: Pinna rudis L., Natica maroccana Dillw. Natica sagraiana Orb., Cœcum glabrum Mont, Pit- tum lima Brug, Columbelia levigata L. O numero de especies distribuidas desde o Brazil até as Antilhas e a Florida e que se encontram tambem na costa occidental da Africa, é bem consideravel. Eu dou a lista dellas, que comprehendem 54 especies. Al- gumas não são conhecidas senão da Jha da Madeira, Açores, Canarias, do Cabo Verde e de Santa Helena; mas eu não duvido que, pela maior parte, sejam ellas ainda encontradas na costa occidental da Africa, que está ainda pouco explorada. E” por esta razão que ennumero as localidades africanas de onde eu as conheço. LISTA DAS ESPECIES DA AFRICA OCCIDENTAL, QUE SE ENCONTRAM TAMBEM NO BRAZIL E NAS AN- TILHAS: Ostrea parasitica Gm. Africa occidental Myochlamys gibba L. Africa occidental Pteria colymbus Bolt. Cabo Verde, Guiné Arca umbonata Lam. São Vicente, Guiné Arca now L. Sao Vicente Codakia orbiculata Mont. Senegambia Cardium semisulcatum Sow. Africa meridional Cardiwm spinosum Meusch. Guiné Cardium serratum L. Guiné Petricola robusta Sow. Africa meridional Petricola pholadiformis Lam. Guiné Macrocallista maculata L. Guiné, Senegaruia Pitar circeinatum Born. Guiné — 401 — Tagelus gibbus Spengl. Donax rugosa L. Tellina exrilis Lam. Semele reticulata Gm. Mactra fragilis Gm. Saxicava arctica L. Spirula peroni Lam. Tanthina communis Lam. Tanthina exigua Lam. Amalthea antiquata L. Crepidula aculeata Gm. Crepidula fornicata L. Cheilea equestris L. Polynices lactea Guild. Polynices porcellana Orb. Lattorina flava Brod. Cerithium atratum Born. Strombus bubonius Lam. Cypraea spurca L. Cypraea lurida L. Dolium perdix L. Cassis tuberosa Lam. Cassis testiculus L. Lotorium costatum Born. Lotorium pileare Lam. Lotorium testaceum Moerch. Lotorium tritonis L. Buffo ponderosa Rye. Purpura helene Quoy. Africa occidental Africa occidental (elongata Lam.) Africa occidental Guiné, Santa Helena Guiné Senegambia Africa occidental Cabo Verde, Cabo da Boa Esperança, Santa Helena Cabo da Boa Esperança, - Santa Helena Senegambia, Santa Helena Cabo da Bôa Esperança Senegambia Africa occidental Cabo Verde, Canarias Madeira Cabo da Boa Esperança (africana Krauss, segundo Weinkauff) Guiné Cabo Verde, Senegambia Africa occidental, Sta. Helena Ascensão, Cabo Verde, Sta. Helena Senegambia, Guiné Cabo Verde Africa occidental Cabo da Bôa Esperança, Ca- narias, Sta. Helena Cabo da Boa Esperança Cabo Verde, Africa occid. Cabo Verde, Sta. Helena Cabo Verde Cabo Verde, Ascensão — 402 — Purpura hemastoma L. Ocinebra haneti Petit. Murex pomum Gm. Pollia variegata Gray Columbella dichroa Sow. Leucozoma cingulifera Lam. Hemifusus moro L. Marginella prunum Gm. Terebra cinerea Born. . Conus verrucosus Hwass. Hydatina physis L. Bulla striata Brug. Guiné Senegambia ( fasciata Sow.) Africa occidental Cabo Verde, Senegam- bia, Guiné Cabo Verde Africa occidental Senegambia Senegambia Africa occidental Africa occidental Cabo da Bôa Esperança Senegambia (adansont). As especies seguintes não são conhecidas senão das costas do Brazil e da Africa occidental, mas não das Antilhas. Mytilus perna L. Chama senegalensis L. Callocardia albida Dall Macoma aurora Hanley Corbula sulcata Lam. Argonauta tuberculata Shaw Fissuridea fumata Rye. Nerita ascensionis Gm. Amathea grayana Menke Brazil, Venez. Afr. occid. Seneg. Bahia R. de v. Ian. Sierra Leona (como ©. a Adamsi). Afr. oceid., Calif, Pana- ma, Brazil (como vari- edade cleryana Orb,) R. de Jan., Seneg. Afr. mer., Nova Zel., São Paulo S. Paulo, Pernambuco, Cabo da B. Esp. Guiné, Fernando de No- ronha, Ascen. Fern. de Noronha, Pana- má, Sta. Helena, Afr. oceid., ilhas de Sand- wish — 403 — Crepidula hepatica Desh. Punta San Ant, Pat, Afr. occid., Panamá. Calyptraea chinensis L. Sta. Cath, Afr. occid., Eur., Asia, Estreito de Magagalhães Fossarus pusillus Gould R. de Jan, Liber. Fossarus ambiguus L. Fern. Nor. Seneg., Medit Cassis pyrum Lam. R. Grande do Sul, Cabo Verde, Nat, Nova Zel., Indo-austr. Murex turbinatus Lam. Tener. Afr. oce.. Sta. Cath. Murex senegalensis Gm. Seneg, Sta. Cath, R. ae ae Voluta hebraea L. Afr. oce, R. de Jan, Alagoas. Fasciolaria aurantiaca Lam. Bahia, Alag., Per, Ma- celó, Cabo da B. Es- perança (como pur- purata Jon.). * Reunindo-se as 18 especies desta lista ás 54, que tambem se encontram nas Antilhas, temos 72 especies de molluscos marinos do Brazil, ou 14% do numero to- tal, que se encontram tambem nas costas da Africa oc- cidental e ilhas adjacentes. Minha lista de molluscos do Brazil comprehende agora 581 especies. d) Especies do Brazil, não encontradas na costa occidental da Africa e que reapparecem no Mediter- raneo ou no Oceano Indico.— Um facto assaz surprehen- dente é a presença de Aporrhais pes-pelecani L., especie commum da Europa, nas costas do Brazil meridional. Quando pela primeira vez recebi esta especie de Iguape, no Sul do Estado de São Paulo, acreditei que tivesse sido um engano de proveniencia. Mas um coleccionador do Museu Paulista a obteve, mais tarde, de Paranaguá, Estado do Paraná, e o Dr. Florentino Felippone m'a 26 — 404 — enviou de Maldonado. Esta especie é, aliás, de avançada edade geologica, pois que ella é encontrada nas camadas oligocenas de Mainz, Allemanha, e uma especie parecida, A. araucana Phil, se encontra no terciario do Chile. Uma outra surpreza, que me trouxe a mesma loca- lidade de Paranaguá, foi para mim a descoberta de Terebra flammea Lam, especie da China e das Indias orientaes, da qual obtive dous exemplares da costa do Paraná, um recente e outra pleistoceno, do Sambaqui de Boguassá. Conhece-se, não sómente diversas especies de vas- ta distribuição, que se encontram nas costas do Bra- zil e no Oceano Indico, como Capulus intortus Lam, da ilha Mauricia, Martesia striata L. das Philippinas e do Japão, etc, mas tambem numerosas especies do Brazil e das Antilhas, que não se encontram senão no Oceano Indico. E’ o caso de ZLotorium tuberosum Lam. Lotorium cynocephalum Lam. Lotorium chlorostomum Lam. Marginella angustata Sow., Rissoina chesnelii Michaud, Stomatella nigra Quoy, Murex microphyllus Lam., Fusus distans Lam., Fusus verrucosus Wood. Até agora tem-se, em geral, ensaiado explicar todos estes casos de uma distribuição descontinua pela hypo- these de migrações de larvas destes molluscos, hypo- these que não vale a pena discutir-se, sobretudo porque ha especies do Brazil e outras das Antilhas, que reap- parecem nas localidades as mais distinctas do Oceano Indico. Segundo tudo que vimos de constatar neste estudo, estes casos de vasta distribuição se referem todos a molluscos de alta edade zoologica, que antes estavam dispersados em quasi toda a extenção da Thetis e que não -se conservaram, até nossos dias, senão em algumas partes da vasta região que occupavam antigamente. Na realidade o numero destas especies tropicaes, de distri- buição tão vasta, é maior do que se suppõe, não só- mente porque, em muitos casos,- especies identicas foram — 405 — descriptas sob nomes differentes, mas tambem porque ha especies analogas ou correspondentes, que deveriam, pro- vavelmente, ser distinguidas como subspecies de uma unica especie, quasi cosmopolita, como é o caso de di- versas Arca, Anomalocardia, e outras. e) Especies proprias ás costas do Brazil, deri- vadas da fauna das Antilhas. Nós encontramos, tanto na costa septentrional do Brazil, como na meridional, especies que se não encontram senão nestas regiões, mas que pertencem a generos bem representados nas regiões visinhas. Na costa do Brazil septentrional até o Rio de Janeiro, e mesmo ao Norte de $. Paulo encontra-se ainda grandes especies, e mesmo colossaes, de Cassis, Lotorium, Strombus, etc. e numerosos representantes de “Latirus, Fusus, Mactra, ete. Mactra alata Spengl., Calcar olfersi Trosch., Pla- naxis brasiliana Lam. Persicula sagittata Hinds., An- ella lienardi Bern, Marginella bullata Born. e ou- tras especies deste genero, servem, junto com muitas outras, para dar um caracter especial a esta fauna, sobretudo: por causa de especies da Africa occidental, que reappa- recem na costa atlantica da America, sendo restrictas ao Brazil, como certas especies de Nerita, Fossarus, Purpura Murex, Chama, etc. ‘Todas estas especies, sem excepção, estão intimamente ligadas 4 fauna tropical do Atlantico, representando especies de distribuição outrora mais vasta, que são agora restrictas ás costas do Brazil. As especies proprias do Brazil meridional, desde o Rio de Janeiro até o Rio Negro, na Patagonia, perten- cem tambem, em grande parte, a generos originarios das Antilhas e circumvisinhanças, taes como Tivela ventri- cosa e outras especies do mesmo genero, Mactra 1he- ringi, numerosas especies de Columbella, Leucozonia, etc, ás quaes se juntam as que faltam nas costas das Antilhas e da Venezuela, mas que reapparecem na costa — 406 — occidental da Africa, como Cassis pyrum, Murex tur- binatus, Murex senegalensis, Ocinebra haneti e outras. 2) Molluscos do Brazil, provenientes do Sul, seja da Nereis, seja da parte austral do Atlantico. Em- quanto que as especies tropicaes das Antilhas e do Nor- te do Brazil são restringias, na sua distribuição, ás costas do Brazil e da Argentina ao Norte do Rio Ne- gro, ha outras que são proprias á Patagonia e que se encontram tambem no Brazil meridional até São Paulo e Rio de Janeiro. Ha mesmo algumas, como Pandora brasiliensis Gould, Solen poirieri Roch. e Mab., Solen tehuelchus Orb., Chaetopleura asabellei Orb., Ischno- chiton pruinosus Gould, que se encontram desde o Es- treito de Magalhães até São Paulo. Cymbiola magel- lanica vive desde o Estreito de Magalhães até o Rio Grande do Sul. Myochlamys paranensis tehuelcha e Bullia cochlidium são distribuidas desde Puerto Madryn, na Patagonia, até o Rio de Janeiro. Esta mistura de typos tropicaes e patagonicos é um dos traços caracte- risticos da fauna marina do Brazil meridional. A maior parte das fórmas caracteristicas da fauna magellanica não se estende sobre a costa da Patagonia senão até o Rio Negro, mas, em alguns generos, houve uma separação de especies, segundo a temperatura do mar, de maneira que algumas se conservaram na fauna magellanica, outras sobre as costas da Patagonia, e outras nas da Argentina ao Norte do Rio Negro e no Brazil meridional. E assim que Cymbiola ferussaci Don. é restricta ao Estreito de Magalhães, emquanto que O. spectabilis Gm. (ancilla Sol.), C. magellanica Gm. e C. tuberculata Wood, são distribuidas desde o Estreite de Magalhães até o Rio da Prata e mesmo até o Rio Grande do Sul. C. brasiliana Sol. e C. fusiformis Kien. se encon- tram desde o Rio Negro até o Rio Grande do Sul, e uma especie, ©. angulata Sws., se estende mesmo desde o Rio Negro até o Rio de Janeiro. — 407 — A distribuição do genero Bullia é quasi a mesma, pois que ha especies restrictas ao destricto magellanico, como B. squalida King. (Estreito de Magalhães até San Julian), outras da costa da Patagonia e da Ar- gentina e duas especie, B. cochlidium e B. armata, que são distribuidas desde o Norte da Patagonia até o Rio de Janeiro. Evidentemente o abaixamento da temperatura do mar, que teve logar nesta região pelo fim da época ter- ciaria, e depois desta época, influiu sobre o habitat desses Molluscos, que se adaptaram, em parte, ás novas condições physicas, e que em parte emigraram para o Norte. Em geral, encontramos precursores destes Molluscos nas ca- madas terciarias da Argentina, mas ha tambem delles que não chegaram á Patagonia senão na época pleistocena e dos quaes não se tem encontrado representantes fosseis. E o que succede com Mesodesma mactroides Desh., es- pecie da região antarctica, que é hoje commum nas praias arenosas do Brazil meridional, desde a emboccadura do Rio da Prata até Santos. Temos a distinguir, segundo sua historia, diversos: erupos de Molluscos do Brazil meridional. a) species derivadas da fauna eogena da Pa- tagonia. Sobre este ponto temos a mencionar as especies seguintes, todas conhecidas do pan-patagonico e das quaes dou, entre parenthesis, a distribuição geographica actual, Cymbiola fusiformis Kien. (Bahia Blanca, Rio Grande do Sul). Nucula semiornata Orb. (Rio Negro, São Paulo, Antilhas ). Crenella divaricata Orb. (Rio Negro, Antilhas, Panamá). Diplodontae villardeboæna Orb. (Rio Negro, Rio de Janeiro ). Mactra symetrica Desh. (Santa Catharina, Rio de Janeiro ). 408 — Conhecemos os precursores, da formação patagonica, de algumas outras especies; é assim que Cymbiola ameghinor Ih. é o precursor de C. brasiliana Sol. da Argentina e do Rio Grande do Sul. Naturalmente não é possivel demonstrar todas as fórmas intermediarias de cada especie, mas, em um grande numero de casos, a analogia de fórmas alliadas permitte chegar a conclusões exactas, e esta questão encontra-se discutida, para os diversos generos e especies, no quinto capitulo do meu livro: «Les Mollusques fossiles» b) Especres originarias da fauna miocena da Argentina, tal como esta se nos apresenta na for- mação entreriana. Como já expliquei, encontramos nas camadas de Entrerios, ao lado de generos e de especies conhecidas da formação patagonica, outros elementos fau- nisticos que são relacionados á fauna tropical da Thetis, signal da existencia do oceano Atlantico, nesta época: Entre as especies ainda viventes da formação entreriana, uma dellas, Cardium robustum Sol, não se encontra hoje senão nas Antilhas; uma outra, Tivela fulminata Phil, é hoje restricta ao Brazil meridional, desde Santa Catharina até São Paulo, e todas as outras ainda são encontradas vivas nas costas da Argentina e do Brazil meridional. Myochlamys paranensis, Diplodonta villar- deboena, Amiantis purpurata, Tagelus gibbus e Bar- nea lanceolata são especies da formação entreriana, que vivem ainda no Brazil meridional, ao Sul do Rio de Janeiro. Entre estas especies ha dellas que se encontram já na formação patagonica, como Diplodonta villardeboæna e Corbula pulchella, emquanto que as outras parecem provir do mar Thetis. Isto é evidente para a especie de Tagelus, que se encontra ainda nas costas atlan- ticas tropicaes da America meridional, das Antilhas e da Africa occidental, e em estado fossil nas camadas mio- cenas da America do Norte. Amiantis purpurata, ao atl, th Mc A É Tr PE E a fa EI O de où à Te e à À 409 — contrario, pertence a um genero do (Oceano Pacifico meridional, que jamais esteve representado nos Estados at- lanticos da America do Norte. Esta especie, portanto, seguiu as costas chileno-peruvianas e, depois de ter passado a communicação interoceanica, ella attingiu as costas do Brazil e da Argentina. A este respeito, os: Molluscos aqui tratados deveriam, ao menos em parte, se classificar entre os que vieram do Norte, como elementos da fauna da Thetis. E preciso notar, entretanto, que os diversos elementos reunidos na formação entreriana, for- mam uma fauna de caracter uniforme, que, na sua evolução ulterior obedeceu ás mesmas leis de migração; isto está provado pela actual distribuição geographica de alguns destes Molluscos, que se estendem sobre a costa patagonica, mais ao Sul que não os que vieram mais tarde das Antilhas. E” assim que encontramos, sobre a costa da Patagonia, Myochlamys paranensis e especies de Olivan- cillaria e de Olivella, emquanto que os immigrantes mais modernos não se dispersaram ao Sul para além do Rio Negro. Tambem os elementos desta fauna entreriana, origi- narios da Thetis, não são identicos aos. vindos mais tarde das Antilhas. Ha um bom numero de generos que se dispersáram ao longo da costa septentrional da Archhelenis até o Brazil e a Argentina de um lado, e até o Chile de outro, sem ter attingido jamais a America do Norte. "Temos tratado deste assumpto, ao discutir a historia da fauna do Chile e eu me limito a lembrar aqui a distribuição das Purpuridae, e sobretudo dos generos Acanthina e Concholepas. Olivancillaria pertence a estes generos: distribuido actualmente sobretudo nas costas atlanticas da Africa, do Brazil e da Argentina, nós o encontramos repre- sentado no estado fossil tanto na formação entreriana como no terciario do Chile, mas não na America do Norte. — 410 — Pela mesma communicação interoceanica, que deu accesso para o Chile aos Molluscos tropicaes da Thetis, distribuiram-se tambem molluscos originarios das costas do Chile e do Perá: estes puderam assim alcançar as costas do Brazil e da Argentina, sem chegar á America do Norte. Em contraste com esta facilidade das migrações de molluscos sobtropicaes das costas do Chile e do Perá até o Brazil e a Argentina, temos a constatar que ne- nhuma especie conhecida das formações pan-patagonicas e entrerianas da Patagonia ou da Argentina attingiu a costa pacifica da America meridional por meio de mi- grações em direcção inversa. Si constatamos a existencia de Ostrea alvareza, Chione muenstert e provavelmente de algumas outras espe- cies da formação entreriana no terciario do Perá e partes contiguas do Chile, somos forçados a admittir, como expli- cação, uma migração desde o Perá até o Brazil, pois que se trata de especies que são extranhas ao terciario antigo da Patagonia. | Todos estes factos nos demonstram que, ao longo da costa septentrional da Archhelenis e por via de com- municação interoceanica, se distribuiam facilmente mol- luscos da Thetis, que em grande parte não avançaram até a America do Norte. Estas circumstancias provam que o mar, que banhava a costa septentrional da Archhe- lenis, era vasto e profundo, de sorte que, ao menos durante certas épocas, os molluscos costeiros da Archhelenis não puderam alcançar as costas da America do Norte, ou pelo menos, não puderam lá chegar senão em pequeno numero. Varios dos generos da Thetis, que, pela primeira vez, fazem a sua apparição na formação entreriana no terri- torio da Argentina e do Brazil meridional, vivem ainda em nossos dias nas costas da Argentina, taes como Columbella, Marginella, Olivancillaria, Amiantis, Ti- vela e Tagelus. Outros, ao contrario, como Æassoa, SE = Litiorina, Strombus, Turbinella e Anomalocardia, são agora restrictos ás costas do Brazil. Alguns generos, vivos ainda sobre as costas da Argentina, como Mar- ginella, Olivancillaria, e Amiantis, são tambem encon- trados nas costas da Patagonia. E’ um facto notavel, pois que os elementos da fauna das Antilhas e do Brazil não ultrapassam, em geral, a emboccadura do Rio Negro. c) Especres originarias da fauna pliocena ou araucaniana da Patagonia. A fauna pliocena contri- buiu tambem, bem que em gráo pouco consideravel, para augmentar a fauna do Brazil meridional. Temos de men- cionar, a este respeito: Pitar rostratum Koch. é P. lahillei Ih., este ultimo vivendo desde o Rio Negro até São Paulo, o primeiro desde o Estreito de Magalhães até o Rio Grande do Sul. No mais, Mytilus edulis se extende tambem sobre as costas da Argentina, do Rio Grande do Sul e de Santa Catharina, assim como as diversas especies do genero Bulha, de cuja distribuição já tratamos. d) Especies immigradas da Patagonias durante a época pleistocena. Em geral as especies antarcticas, que se dispersaram pelas duas costas da extremidade meri- dional da America do Sul, não passaram a emboccadura do Rio Negro ou a do Rio da Prata nas suas migrações ao longo das costas do Oceano Atlantico. Uma especie, entretanto, Mesodesma mactroides al- cançou o Brazil meridional, mas ella se extinguiu nas costas da propria Patagonia. > =? Para recapitular os resultados da discussão prece- dente, podemos constatar que diversos elementos faunisticos contribuiram para a formação da fauna marina actual do Brazil, por migrações successivas e distinctas. Vimos que algumas especies que habitam as costas do Brazil, são distribuidas até as Antilhas, ao passo que outras reapparecem nas costas pacificas da America: central Ro GR e meridional, na costa occidental da Africa e mesmo no Oceano Indico. As especies, que são proprias ás costas do Brazil, não são senão formas isoladas e que se ex- tinguiram nas regiões que ellas antigamente occupavam. À época de cada uma das migrações é ainda mais dificil de se estabelecer, do que a simples migração de dif- ferentes generos e especies. À este respeito é importante distinguir-se a primeira migração dos elementos da Thetis, originarios da costa septentrional da Archhelenis, daquella que é mais recente e pela qual chegaram ao Sul as es- pecies das Antilhas, da America central e da Florida. À primeira destas migrações teve lugar durante o terciario antigo, a segunda durante o terciario moderno e esta ainda continuou até nossos dias. As migrações que tiveram sua origem na zona tro- pical e as dirigidas da Patagonia e da região antarctica para o Brazil meridional, realisaram-se em diversas épocas. Os elementos da fauna tropical dispersaram-se ao longo das costas do Brazil até o Rio da Prata e, para além, até à emboccadura do Rio Negro, sem que as correntes de agua doce desses grandes rios, como tambem não a do Amazonas, tivessem exercido o menor effeito sobre a distribuição geographica dos organismos marinos, que povoam as costas atlanticas da America do Sul. Os Molluscos marinos, originarios da Patagonia, per- tencem a um segundo centro de dispersão. Alguns são limitados á Patagonia na sua distribuição actual e pas- sada, emquanto que outros alcançaram o Brazil meri- dional até o Rio Grande do Sul, São Paulo e mesmo Rio de Janeiro. Ha tambem generos tito bem represen- tados nas regiões antarcticas como na zona tropical do Oceano Atlantico, e tambem tanto nos depositos terciarios da Patagonia como nos da Florida e outras partes da Ame- rica do Norte, e esta circumstancia mostra bem que houve especies de Molluscos marinos dos quaes não pudemos ainda descobrir a origem. Em geral, entretanto, os factos — 413 — paleontologicos, conhecidos do Sul e do Norte da Ame- rica, são sufficientes para se poder reconhecer bem aquelles grupos faunisticos nos quaes se ordenam as differentes especies e generos em questão. Pela sua origem temos, por conseguinte, de distin- guir na fauna brazileira tres elementos principaes. 1º Especies tropicaes derivadas da fauna marina que occupava a costa septentrional da Archhelenis. São elementos eogenos que, immediatamente após a destruição da Archhelenis, occupavam a costa do Brazil meridional e que encontramos fosseis nas camadas miocenas do Paraná. 2º Elementos tropicaes originarios das Antilhas e das costas atlanticas da America central, que se distri- buiram até as costas do Brazil meridional e da Argentina. As migrações destes Molluscos devem ter começado du- rante o mioceno e continuaram até os nossos dias. 3º Elementos da fauna patagonica, que ficaram se- parados da região brazileira durante o terciario antigo. As antigas migrações têm, entretanto, conduzido para o Brazil, não só especies originarias do terciario moderno, como tambem certas especies e generos da formação pa- tagonica. FE’ a mistura de elementos tropicaes e pata- gonicos que deu seu cunho característico á fauna do Brazil meridional e do Norte da Argentina. E. - ESPECIES BIPOLARES Uma questão muitas vezes discutida durante a ul- tima decada, é a existencia de especies bipolares, isto é, especies de organismos marinos, evertebrados principal- mente, que seriam communs ás regiões arcticas e sub- arcticas, sem habitarem a zona intermediaria, dos mares tropicaes e temperados. As descobertas sen-acionaes da expedição do «Challenger» dirigiram a attenção para a semelhança das faunas marinas da região antarctica com as da latitude correspondente do hemispherio Norte. Theel, Murray e Pfeffer insistiram particularmente sobre estes — 414 — factos e os dous ultimos sabios exprimiram suas ideias em uma theoria destinada a explicar a causa deste phe- nomeno interessante. Segundo Pfeffer e Murray, os mares da época mesozoica eram todos quentes e povoados por uma fauna mais ou menos uniforme. A reducção succes- siva da temperatura na região arctica e na antarctica durante a época terciaria, teria causado a origem das pro- vincias geographicas actuaes, e é desta maneira que certos generos € especies se teriam conservado inalterados nas regiões circumpolares dos dous hemispherios. E” preciso lembrar que, desde o tempo da expedição do Challenger, nossos conhecimentos sobre a distribuição vertical e ho- rizontal dos evertebrados marinos têm augmentado con- sideravelmente. Muitas especies, que se julgava bipolares na sua distribuição, foram encontradas, durante este tempo, nas regiões tropicaes e sub-tropicaes. Em geral todos os naturalistas, que, nas suas especialidades, têm feito investigações sobre esta questão, pronunciaram-se contra a theoria de Pfefter e Murray. Os que quizerem, comparem sobre esta materia as diversas publicações de Ortmann, cujas idéas são as mais concordes com os resultados das minhas investigações. Para os Molluscos, eu sustentei esta opinião já em 1897. E. A. Smith, em um ensaio publicado em 1902, chega ao mesmo resultado, sem, entretanto, ter conheci- mento de minhas publicações. Em relação a outros grupas de evertebrados, diversos auctores foram levados ás mesmas conclusões e a este respeito temos de citar Chun, para as faunas pelagicas, Ortmann, para os Crustaceos deca- podos. Breitfuss, para as Esponjas calcareas, Herdman, para os Tunicados, d'Arey Thompson, para os animaes vertebrados em geral, Ludevig para os Echinodermas e Birger para os Nemercianos. Em geral foi constatado por estes auctores que, ao lado de certas semelhanças, a fauna arctica e a antarctica são bem differentes e que o numero de especies propriamente bipolares é bem restricto. — 415 — Si bem que se não tenha discutido mais a fundo a theoria de Pfeffer e Murray, estas novas investigações demonstraram que uma das causas da semelhança das faunas arctica e antarctica é dada pelas migrações de certas especies, pelas vias abyssaes do Oceano Atlantico, de sorte que estas especies, que vivem nas costas, na agua fria das altas latitudes, são encontradas a grandes profundi- dades nas regiões tropicaes e temperadas do mar, onde as condições biologicas" são quasi as mesmas, principal- mente quanto á temperatura. As idéas de Pfeffer e Murray, sobre a modificação gradual da fauna marina durante a época terciaria, pro- curam dar-nos uma explicação genetica; mas esta theoria, entretanto, é feita sem o menor conhecimento da historia das faunas marinas, que nos é dado sobretudo pela pa- leontologia dos Molluscos e Brachiopodes. Com os ricos materiaes, que agora possuimos das antigas faunas da Patagonia, do Chile e da Nova Zelandia, é possivel exa- minar a historia de cada uma destas especies, consideradas como bipolares, e é o que vamos fazer. e Si a theoria mencionada é correcta, encontraremos representadas na fauna eocena da Patagonia, isto é na formação patagonica, as especies que tem hoje distribuição bipolar. Não é este o caso, entretanto. Entre as especies recentes da formação patagonica não ha nenhuma que seja bipolar, e a unica especie de muito vasta distribuição geographica e geologica, Arca umbonata, é restricta aos mares tropicaes e temperados. Por consequencia, é evi- dente que as duas premissas da theoria de Pfefter e Murray não são fundamentadas: a da existencia de uma fauna tropical marina uniforme no cretaceo superior e no eoceno, e a presença, nas camadas eocenas, de especies que actualmente são bipolares. Examinando-se a historia das especies bipolaras, constatamos que ellas se dividem em duas secções: uma comprehende as especies de vasta distribuição geographica — 416 — e geologica, e outra, as especies arcticas do Oceano Atlan- tico do Norte, que attingiram a região antarctica em um tempo pouco remoto, por migrações nas grandes profun- didades do Oceano. À primeira secção é formada só por duas especies, Mytilus edulis L. e Saxicava arctica L. O «mexilhão», especie commum das costas da Eu- ropa e da America do Norte, não é conhecido nos mares tropicaes e sub-tropicaes, mas ella reapparece na região antarctica e sub-antarctica, no Cabo da Bôa Esperança, na Nova Zelandia, nas ilhas Kerguelen, na Patagonia e no Chile. No estado fossil conhece-se esta especie da Europa, onde foi encontrada nos depositos pliocenos e póde-se suppor que ella lá será encontrada nos depositos miocenos. Na America do Norte e no Chile, ella não se encontra a não ser nas camadas pleistocenas, mas na Patagonia conhece-se-a da formação pliocena. Só é possivel explicar estes factos por uma migração miocena ou pliocena, que se realizou ao longo da costa occidental da Africa, até o Cabo e, mais ao Sul, até a região antarctica. Como Mytilus edulis é uma especie da zona littoral, comprehende-se bem que ella não se conservasse na costa occidental da Africa, por causa da tendencia manifesta deste Mollusco para se adaptar á existencia na agua fria ou temperada. Quanto 4 Saxicava arctica, ella tem distribuição quasi cosmopolita, encontrando-se nos mares frios e tem- perados dos dous hemispherios, assim como na região intermediaria, onde ella foi observada nos Açores, Senegal e Santa Helena. No estado fossil ella se apresenta pela primeira vez no eoceno da Australia e em seguida no oligoceno da Europa e no mioceno da Nova Zelandia e da America do Norte; ella não foi encontrada fossil nem na Patagonia nem no Chile. E’ pois uma especie do Oceano indo-australiano que successivamente se dispersou — 417 — sobre a maior parte dos mares, o que lhe facilitou sua grande extensão bathymetrica, que varia entre 0 e 1287 metros. A historia da distribuição destas duas especies of- ferece duas grandes analogias, mas ella differe tambem essencialmente quanto á sua edade geologica e quanto á extenção de suas migrações. Ao passo que a distribuição de Mytilus é nitidamente bipolar, a da Saxicava é cosmopolita. | Si Mytilus tambem vivesse em tão grandes profun- didades como Saxicava, ter-se-ia, tambem, certamente conservado na costa occidental da Africa. Suppondo-se que Saaicava arctica estivesse extincta nos Açores, na Madeira e em Santa Helena, ete. sua distribuição seria bipolar; Mytilus edulis seria tambem cosmopolita neste sentido antes de ter alcançado sua distribuição bipolar, isto é quando vivia na zona tropical. A distribuição bipolar não é senão um caso especial de distribuição mais ou menos cosmopolita. A discussão das especies bipolares da segunda secção | tambem nos conduziu 4 mesma conclusão. Todas estas espe- cles são de pequeno porte e ellas se encontram tanto nas aguas pouco profundas da zona littoral da região arctica como nas grandes profundidades do Oceano Atlantico. Algumas são tambem conhecidas de regiões inter- mediarias tropicaes e sub-tropicaes e aquellas que até agora não foram encontradas nessas regiões, provavelmente serão encontradas ainda em profundidades abyssaes. Nestas condições, somos levados á conclusão de que se trata de especies arcticas que, pelo fundo do Oceano Atlantico, se dispersaram até a região antarctica. Sabe-se que na bacia central do Oceano Atlantico a temperatura da agua nas grandes profundidades é quasi a mesma que a da zona littoral das regiões polares. Muitas especies, que na Europa se encontram na zona littoral, são abyssaes na região tropical e sub-tropical. A E” assim, por exemplo, que Dentaliwm entale L. foi encontrada, segundo Locard, no Cabo da Bôa Esperança em profundidade de 27-36 m.; na Europa é uma especie da zona littoral, mas nos Açores ella existe a 823 m. de profundidade. Observações analogas tem sido feitas, não somente para outras especies de Molluscos, como tambem para outros grupos de evertebrados, mesmo para organismos pelagicos. E” assim que Chun demonstrou que Sagitta hamata, verme pelagico, que vive na superficie do mar nas duas regiões polares, se encontra tambem na zona intermediaria do Oceano Atlantico, mas a profundidades de 300-1500 m. E” desta maneira que cada nova expedição diminuiu o numero das pretendidas especies bipolares e Smith tem razão admirando-se de Pfeffer continuar a repetir suas afirmações inexactas. Nesta occasião, observo que a unica especie de Brachiopoda Platidia anomioides, que Mur- ray indicou como bipolar, não o é effectivamente, porque, segundo Dall, a expedição do «Blacke» a obteve nas Antilhas e na California. Desta maneira, especies europeas de Molluscos, podem ainda hoje alcançar a Africa meridional por migrações na agua profunda, ao longo da costa occidental deste continente, mantendo-se na agua fria das grandes pro- fundidades da zona tropical. Taes migrações não são, entretanto, possiveis senão para especies que vivem tão bem na zona littoral das regiões frias e temperadas como nas aguas frias das grandes profundidades do Oceano. Passou e não voltará mais, o tempo em que especies da zona littoral puderam se dispersar da Europa até o Cabo da Bôa Esperança, pois que estas especies estão agora adaptadas ás differentes zonas climatericas. Falta ainda notar que as especies bipolares da se- gunda secção são todas conhecidas da região arctica do Oceano Atlantico, e que não ha especies bipolares ori- — 419 — ginarias da zona arctica ou da zona antarctica do Oceano Pacifico. Estas migrações representam, pois, um phenomeno. particular do Oceano Atlantico e ellas estão, sem duvida, em connexão com a época glacial, que era quasi que exclusivamente localizada no Oceano Atlantico septen- trional e nos paizes que o circumdam. Durante a época glacial, a temperatura das grandes profundidades do Oceano Atlantico era, provavelmente, mais baixa que agora. - Estes resultados são confirmados pelos dados pa- leontologicos. De todas estas especies da segunda secção, nenhuma é conhecida fossil da Patagonia ou de outras partes da região antarctica. Ao contrario, varias têm sido encontradas em depositos pliocenos da Inglaterra e da Italia. Sobre todos estes detalhes envio o leitor ás ex- plicações dadas no fim da presente divisão deste capitulo. Quanto á sua distribuição geographica, as especies desta segunda secção, que podem ser consideradas como bipo- lares, são: Glomus nitens Jeff, Keliella miliaris Phil. e Puncturella noachina L. Deve-se accrescentar a estas especies as seguintes, cuja distribuição é essencialmente bipolar, mas que têm. sido encontradas em algumas localidades intermediarias e a grandes profundidades. São: Kellia suborbicula- ris Mont, Lasaea. rubra Mont. e Scissurella crispata Flem. E” preciso notar, entretanto, que para algumas des- tas especies as determinações não podem ser consideradas seguras, pois que se trata de conchas muito pequenas e das quaes não se têm obtido, até aqui, materias suffi- cientes. Deve-se crêr que os nossos conhecimentos sobre estas especies e algumas outras, de distribuição analoga são ainda muito incompletos. E’ assim que as opiniões dos especialistas os mais competentes, de Bergh e Vays- sière, são divergentes sobre a Archidoris tuberculata Cuv., da região antarctica, que foi descripta por Bergh sob o nome de A. kerguelensis. 27 Um caso analogo offerece a distribuição de Aeolidia papillosa L., especie da região arctica, encontrada, não somente. na Europa, mas tambem em Alaska e ao Norte da costa atlantica da America do Norte, e que reap- parece no Estreito de Magalhães (Otway) e no Chile. Esta especie será provavelmente encontrada ainda nas costas da Patagonia e da Africa meridional, pois que pa- rece que a sua distribuição é mais ou menos analoga á de Mytilus edulis. Não temos razão alguma para suppor que esta especie tenha emigrado da Alaska até o Chile, ao longo da costa pacifica da America, pois não ha outros exemplos de migrações de especies holarcticas ao longo da costa occidental da America. Durante o terciario, quando a temperatura do mar era mais elevada, não tiveram lugar migrações, entre o Norte e o Sul, ao longo das costas pacificas da Ame- rica e, pelo fim da época terciaria, ou depois desta épo- ca, os Molluscos costeiros arcticos já estavam adaptados á agua fria e não puderam mais passar a zona tropical. Não nos resta outra explicação senão admittir que a distribuição da Aeolidia papillosa se effectuou da mesma maneira que a de Mytilus edulis, e evidentemente esta mesma conclusão se applica tambem para Archadoris tuberculata. Uma outra especie, a cuja distribuição devemos de- dicar algumas palavras, é Actaeon delicatus Dall, espe- cie da região das Antilhas e da Florida, que foi encon- trada em P. Gallegos, perto do Estreito de Magalhães, a uma profundidade de 100 m. Como, entretanto, os exemplares das Antilhas foram todos dragados á profun- didade de 146-800 m., é evidente que é uma especie abyssal, que se dispersou ao longo da base do continente para o Sul. Pseudamussium vitreum Gm. é uma especie abys- sal, que se poderia considerar bipolar, pois que ella foi encontrada a grandes profundidades ao Sul da Patago- Se dio ii À a Di min di o dA “a a Td dd a ben oie nia, mas se a conhece tambem do Japão e das Philip- pinas. Ha especies abyssaes de distribuição restricta e outras de destribuição assaz vasta. E” o caso de Denta- lium keras Watson, especie que se tomou por bipolar, mas que foi encontrada tambem nas regiões intermedia- rias, como no Golfo do Mexico, onde foi dragada a uma profundidade de mais de 3000 m. O estudo dos generos nos conduz ás mesmas con- clusões a que chegamos pelo estudo das especies. Quasi todos os generos, que se tem tomado por bipolares, são encontrados tambem em regiões intermediarias, tropicaes. E” assim que o genero Trophon, cujas especies vi- vem sobretudo na zona arctica e na aptarctica, é repre- sentado na fauna littoral tropical por algumas especies da secção Aspella. Si, com Cossmann, se eleva este sub- genero á cathegoria de genero, Trophon seria bipolar, na sua distribuição geographica, pois que as poucas especies conhecidas dos mares temperados e sub-tropicaes são abys- saes. O genero Trophon, que era de vasta distribuição nos mares quentes do eoceno, adaptou-se pois successi- vamente ás aguas frias e temperadas, mas não com-. pletamente. Dos outros generos que, como Chrysodomus Sws., etc. estão mais ou menos no mesmo caso: Admete me parece ser nitidamente bipolar. Este genero era de vasta distribuição no mar eoceno tropical e, pelo fim da época terciaria, adaptou-se ao mar frio das duas regiões polares. Ao lado destes generos de alta edade geologica e que nos são já conhecidos do eoceno dos dous hemisphe- rios, ha outros que são tambem essencialmente bipolares em sua distribuição actual, mas dos quaes não conhecemos representantes fosseis no hemispherio meridional. FE’ o caso do genero Margarites Leach (Margarita auct.) que é conhecido no hemispherio septentrional desde o cretaceo e do qual, até aqui, não foi observado nenhum — 422 — representante terciario, nem no Chile, nem na Patagonia, nem na Australia e Nova Zelandia. Não obstante, conhecemos delle um certo numero de especies da região antarctica. Uma dellas foi encon- trada na costa da Patagonia, e eu não duvido que se ha de encontrar representantes deste genero no Estreito de Magalhães. Segundo a minha opinião, as especies do districto magellanico, que se tem tomado por Margarites, pertencem ao genero Solariella. A historia de Photinula está provavelmente tambem em relação com este genero. Segundo Dall, o sub-genero Bathymophila é inter- mediario entre Margarites e Photinula, pois que a concha, qnando nova, é umbilicada. As especies de Margarites, vivem, em grande parte, em profundidades abyssaes e tambem parece bem provavel que os representantes me- ridionaes attingiram o hemispherio meridional por via de migrações pelo fundo do Oceano Atlantico. Das tres es- pecies, que Dall menciona da Florida e das Antilhas, duas são abyssaes e uma especie da região antarctica, Marga- rites infundibulum Watson, é de distribuição quasi cos- | mopolita, tendo sido encontrada nas ilhas Bermudas e Marion, em Ceylão, etc, em profundidades de do 1460 — 3370 m. Si notamos ainda que especies de Photinula e Mar- garites não são representadas na fauna actual da Africa meridional, parece-me que, segundo o estado de nossos conhecimentos presentes, não podemos explicar a pre- sença de especies deste genero nos mares antarcticos se- não por migrações pelo fundo do Oceano Atlantico. Pondo de parte esta questão de especies bipolares, o caracter geral da fauna malacologica da região arctica e da antarctica, é completamente differente. Ha generos arcticos, como Volutharpa, Buccinopsis, Lacuna, Moelleria, Cyprina, Mya, ete, que não tem representantes na fauna antarctica, e generos antarcticos, que faltam na região arctica. E* o caso de Struthiolaria, Cominella, Euthria, Photinula, Siphonaria, Modiolarca, etc. as quaes, si bem que, em parte, não sejam restrictos á região antarctica propriamente dita, faltam absoluta- mente nas faunas arcticas. Ha outras differenças no ca- racter geral das duas faunas, as quaes expliquei no meu estudo sobre a historia da fauna marina da Patagonia (1. e. 1897, p. 534); mas como os diversos auctores, que se occuparam da materia, chegaram ao mesmo resultado com a unica excepção de Pfeffer, não vale a pena occu- par-se ainda da questão. Em geral, as conclusões aqui expostas concordam com as de minha publicação anterior e com as de Ort- mann; e não é senão em. alguns pontos que não estou de accordo com elle. As migrações de especies litto- raes arcticas pelo fundo do mar, dirigiram-se de Norte a Sul e não em sentido inverso, como o admitte Ortmann. As migrações ao longo da costa atlantica da Africa são egualmente admittidas por Ortmann e por mim mesmo; mas para as das costas pacificas da America, suppostas por Ortmann e Bouvier, não posso me conformar com esta opinião. Estas migrações, das quaes tratei na secção sobre a historia da fauna marina do Chile, modificaram a fauna deste paiz e do Estreito de Magalhães, mas não se pro- longaram para além do cabo Horn. Nenhum destes ge- neros originarios da America central ou septentrional, que pertencem ao Chile e á provincia magellanica, têm representantes na região antarctica fora do districto magellanico. Reunindo-se os resultados aos quaes as presentes investigagdes nos conduzem, podemo-nos exprimir nas conelusões seguintes : 1.) A theoria de Pfeffer e Murray, de uma fauna cretaceo-eocena uniforme, da qual as especies e generos bipolares seriam os sobreviventes, não 2 correcta, pois que diferenças muito pronunciadas, na distribuição geo- graphica de animaes marinos, existiam já na época in- — 424 — dicada, e, porque as faunas fosseis eocenas da Patagonia, do Chile e da Nova Zelandia não tem nenhuma especie commum com os depositos contemporaneos do Norte da Europa e da America. 2.) Ha, com efeito, especies vivas de Molluscos marinos de distribuição bipolar, que se dividem, segundo sua historia em duas secções differentes. A primeira é formada por especies que tiveram vasta destribuição geographica durante a época terciaria, e que attingiram a Patagonia durante o plioceno (Myti- lus edulis) ou o pleistoceno (Saxicava arctica). A segunda secção consiste em especies de pequeno porte, que vivem tanto na zona littoral como nas grandes profundidades do Oceano. Ellas não se encontram 1108 depositos terciarios da Patagonia, mas, pelos dados pa- leontologicos, ellas viveram na Europa na época terciaria. Segundo todas as probabilidades, estas especies attingiram | o hemispherio meridional por migrações pelo fundo do Oceano Atlantico. 3.) As migrações de especies arcticas pelas profun- dezas abyssaes do oceano até a região antarctica são possiveis ainda hoje para as especies eurybaticas, isto é para as que vivem tão bem na agua fria das grandes profundidades da zona tropical, como na littoral das altas latitudes dos dous hemispherios. Para as especies exclusivamente littoraes, a possi- bilidade de uma migração de polo a polo não mais existe no presente e o unico caminho, que lhes foi aberto para taes migrações durante a época terciaria, foi ao longo das costas occidentaes da Europa e da Africa, até a ponta meridional deste continente, que se estendia mais que hoje para o Sul, durante a segunda metade do terciario. 4.) As especies bipolares, de origem moderna, pro- vêm da zona arctica. Não ha especies bipolares do Oceano Pacifico, nem especies biploares de origem antarctica. 5.) Quasi todos os generos que, na sua distribuição actual, são essencialmente restrictos ás zonas frias dos dous hemispherios, tem tambem alguns representantes nas zonas intermediarias, e elles tiveram tambem vasta dis- tribuição na região tropical, durante a época tercisria. De resto, o que temos dito para as especies bipolares, se ap- plica, quasi da mesma maneira para estes generos. 6.) O numero de especies bipolares é muito res- tricto, e muitas serão provavelmente ainda reconhecidas antes cosmopolitas do que bipolares. O caracter geral da fauna arctica e da antarctica é bem differente; ha generos que são restrictos 4 zona arctica e pita que são pro- prios da região antarctica. A historia das faunas das duas regiões é perfeita- mente differente, e si se fizer abstracção de algumas especies cosmopolitas de alta edade geologica, que se tornaram bi- polares, pela sua extineçäo na zona tropical, a semelhança entre as faunas dos mares frios circumpolares é um phe- nomeno perfeitamente moderno, causado por migações post- terciarias pelo fundo do Oceano Atlantico. 7.) Em geral, não é possivel reconhecer-se a historia dos animaes marinos, e sobretudo dos evertebrados, só com o auxilio de sua distribuição geographica actual ; não é senão pelos dados paleontologicos que nos é pos- sivel constatar as migraçães terciarias, das quaes resulta sua distribuição actual. Não obstante, para os Molluscos e os Brachiopodes, a historia desta destribuição nos con- duziu a certas conclusões de caracter geral, e estes resultados devem ser tomados em consideração relativamente ás in- vestigações sobre outros grupos de evertebrados, para os quaes não existem dados paleontologicos tão abundantes. (Quanto á discussão detalhada das especies bipolares, veja-se o capitulo F—ÆEnumeraçäo das especies bipo-. lares nos Anales del Museo Nacional de Buenos, Ser. III, Tomo VII, 1907, pgs. 552-556). — 426 — F. — As migrações antigas e modernas e as especies cosmopolitas Discutindo-se a historia da fauna marina da Ame- rica meridional, temos já constatado os principaes caminhos que os Molluscos marinos tomarem para suas migrações. Não é preciso, por consequencia, voltar a esta questão, mas resta-nos discutir ainda certos pontos zoogeographicos, sob o ponto de vista comparativo. São sobretudo as migrações ao longo das grandes massas continentaes que devemos estudar. Por migrações ao longo das costas da America ou da Africa os Molluscos costeiros arcticos poderiam al- cançar a zona antarctica ? Como já temos visto, a este respeito as condições são bem differentes relativamente ä America e á Africa. Este ultimo continente está se- parado a Este da região arctica por massas terrestres e elle esteve isolado della pelo mar tropical Thetis, du- rante o terciario antigo. À costa oriental da Africa formou sempre uma parte do Oceano Indico e para as migrações mencionadas de Norte ao Sul não são senão as costas da America e a costa occidental da Africa que formam o objecto da discussão que vamos estudar. Durante o terciario antigo, os mares que banhavam a Patagonia e a America Central estavam separados pela Archhelenis, o que explica bem a grande diversidade de suas faunas. Não é senão na segunda metade do terciario que estas migrações puderam se realisar e a invasão da Argentina e do Brazil meridional, por elementos da fauna das Antilhas e do Brazil septentrional, não pnderam se realisar antes desta época. Estas migrações continuaram ainda na época quaternaria e levaram certas especies tropi- caes até a costa argentina septentrional. O limite fau- nistico é formado pela embocadura do Rio Negro e é até este mesmo ponto que se dispersou a maior parte dos Molluscos patagonicos. ar en ir CL dl od TA a TE EE ae TS pis: pets: — 427 Um certo numero destes Molluscos littoraes da Pa- tagonia ainda se distribuiu no Brazil meridional, e é possivel que algumas destas especies tropicaes, vindas do Norte, se tenham ainda espalhado para além do Rio Negro. As poucas especies, entretanto, que são communs á America do Norte e ao districto magellanico, não são Molluscos littoraes, distribuidos ao longo das costas atlanticas de toda a America, mas especies bipolares, sobretudo Molluscos arcticos, que vivem tambem em pro- “fundidades abyssaes, de sorte que elles podem passar a zona tropical sem sahir das aguas frias, ás quaes estão acostumados. Não ha sinão um facto que parece fazer objecção ás nossas conclusões. E” a existencia de tres epecies vivas que se encontram na superformação pan-patagonica e que “vivem tambem nas Antilhas: Nucula semiornata, Arca umbonata e Crenella devaricata. Poder-se-ia objectar que são especies patagonicas, que alcançaram as Antilhas e a Florida por migrações ao longo das costas da Ame- rica meridional e central. Felizmente os dados paleontologicos que possuimos; ao menos para uma destas especies, são suficientes para nos permittir de refazer sua historia. E’ Arca umbonata, especie de vasta distribuição geologica e geographica, que conhecemos no estado fossil não sómente do terciario da Europa, mas tambem do oligoceno da Florida e da super- formação pan-patagonica da Patagonia. Como esta ultima é eocena, é evidente que é preciso excluir a idéa de uma migração ao longo da costa atlantica da America. Trata- se pois, neste caso, de especies antigas, originarias da costa septentrional da Archhelenis, de onde se distribuiram quasi ao mesmo tempo, para Este até a Patagonia e á Florida ao Oeste. As condições são perfeitamente analogas com relação a costa pacifica da America, com a unica diferença que as especies originarias da America do Norte se distri- buiram muito mais para Sul, até o Estreito de Magalhães. O genero Amiantis, provindo do Chile, se propagou por uma migração em sentido inverso, até a California. Ha tambem especies de distribuição primitivamente tropical, que emigraram para Norte e Sul, adaptando-se á agua fria das regiões temperadas. E” o caso, por exemplo, de Argobuceinum cancellatum (Chile) e A. cancellatum oregonensis (Alaska-Califernia). Na America meridional, os Molluscos pacificos e atlanticos são um pouco diffe- rentes, o que se explica, provavelmente, pela temperatura mais baixa do Pacifico. Em um, como no outro oceano, nenhuma das especies littoraes, emigradas do Norte para o Sul, se dispersou para além do Cabo Horn, e ne- nhuma alcançou a região antarctica. ; As condições são completamente differentes para a costa occidental da Africa. O numero das especies da Europa, que alcançaram o Cabo da Bôa Esperança, é bem grande e muitos attingiram a região antarctica, disper- sando-se até a Nova Zelandia e a America do Sul. O caso mais instructivo é o de: Mytilus edulis. Esta es- pecie é originaria do hemispherio septentrional, onde vive sobre as costas da Europa e da America do Norte. Neste ultimo paiz, esta especie não fez a sua appa- rição senão na época quaternaria, e ella não se propagou ao Sul senão até a America central. Na Europa, ao con- trario, Mytilus edulis se encontra em abundancia nos depositos pliocenos, distribuindo-se ao longo da costa da Africa até o Cabo. Si esta especie se dispersou tambem na zona antarctica, tal é a prova de que esta região estava ligada á Africa por massas terrestres, quando estas mi- grações se realisaram. Como encontramos Mytilus edulis nos depositos pliocenos da Patagonia, segue-se que as migrações mencionadas devem ter-se efectuado durante a época miocena. A historia do genero Bullia, e sobre- tudo a sua apparição inesperada na Patagonia, é per- feitamente analoga, pois que as especies da Patagonia e da Africa meridional são muito semelhantes e o genero Bullia é abundante nos terrenos miocenos da Europa. As migrações que tiveram lugar na segunda metade da época terciaria da Europa para a Africa meridional, re- presentam o unico caminho pelo qual os Molluscos lit- toraes do hemispherio septentrional puderam avançar para o hemispherio austral e mesmo até a região antarctica. Todas estas migrações demonstram os dous factos seguintes: 1.º) Que a distribuição de terras e de mares era differente nas diversas partes da época terciaria. 2.°) Que cada uma das especies de molluscos lit- toraes está adaptada a certas condições da temperatura do mar. Os molluscos da região patagonica não eram capazes da avançar até o Equador; ao menos durante a formação miocena. Em geral a adaptação a certas temperaturas se accentuou sobretudo na época quaternaria, de sorte que especies, que são agora restrictas a regiões temperadas, puderam passar a zona tropical, durante a época terciaria. FE’ o caso de um certo numero de especies do Cabo da Boa Esperança, e é preciso lembrar tambem, que o genero Oxystele, um dos mais caracteristico da fauna ma- rina do Cabo, não se encontra no estado fossil senão na Europa. Estas condições todas nos explicam os casos de dis- tribuição vasta e discontinua. Cassis pyrum, por exemplo, encontrada quasi nas mesmas latitudes no Brazil meri- dional, na Africa meridional e na Nova Zelandia, é evidentemente uma especie da Thetis, que se adaptou gra- dualmente ás aguas das regiões temperadas, ao menos para a maior extensão do seu habitat. Eu chamo eocosmicas as especies de distribuição vasta, quasi cosmopolitas que adquiriram sua actual dis- tribuição essencialmente durante o terciario antigo. Nesta cathegoria se reunem as numerosas especies de Mollus- — 430 — : cos, como as do genero Lotorvum, que vivem nas duas Indias, sem estarem representadas sobre a costa occi- dental da Africa. As especies miocosmicas são as que alcançaram sua actual distribuição geographica na segunda metade do terciario. Como exemplo, já explicâmos a historia de Mytilus edulis. As especies neocosmicas, emfim, são aquellas que chegaram á sua vasta distribuição actual na época qua- ternaria. São, quasi que exclusivamente, as especies d'agua fria, que vivem tão bem nas costas da zona arctica e. antarctica, como nas grandes profundidades do mar, na zona tropical e na sub-tropical. Querendo, compare-se a respeito destes Molluscos o que temos dito sobre as es- pecies bipolares, convindo lembrar que, entre os ultimos, não ha sómente especies neocosmicas, mas que ha outras tambem, que são miocosmicas, como Mytilus edulis e mesmo eocosmicas, como Saxicava arctica, especie que não terminou suas migrações senão na época quaternaria. 9 EXPLICAÇÃO DA ESTAMPA XIII Distribuição de Terra e Mar na formação Eocena Thetis e Nereis são os antigos oceanos separados pelo continente Archhelenis; com o desapparecimento desta ponte de ligação entre a America do Sul e a Africa, formou-se, no periodo mioceno, o actual Oceano Atlantico. Ie A ORGANISAÇÃO ACTUAL E FUTURA Dos MUSEUS DE HISTORIA NATURAL "POR — DR. HERMANN von IHERING A viagem que fiz 4 Europa no interesse do Museu Paulista, durante os mezes de Abril a Novembro de 1907, me deu ensejo de estudar o progresso e a orga- nisação actual dos principaes Museus de Historia Natural da Europa central. Acho tão interessantes as impressões, que tive desta excursão scientifica, que me parece conve- niente publical-as. Não posso fazel-o sem exprimir meus sinceros agradecimentos aos distinctos collegas que, com verdadeiro sacrifício de seu precioso tempo, me receberam e acompanharam, dando-me occasião de examinar mi- nuciosamente todas as secções dessas ricas collecgdes scientificas. Encontrei os Museus grandes, e a maior parte dos menores, em uma situação critica, que naturalmente preoc- cupará grandemente os naturalistas, que se dedicam no correr deste seculo a este ramo de sciencia, e procurarei expôr em seguida, de melhor modo possivel, meu parecer profissional. E” certo que desde muito tempo todos os Museus de Historia Natural mais importantes devem preencher o duplo fim de servir de meio de instrucção publica e de contribuir ao progresso da sciencia. Entretanto é só nos ultimos decennios que se veio a comprehender a ne- cessidade de exprimir, tambem na organisação material dos Museus, esta diversidade de taréfas. 432 — Póde-se dizer mesmo, que a transformação mencio- nada se acha em plena execução. Ella está sendo rea- lizada segundo os materiaes em algumas secções, como por exemplo nas dos insectos e molluscos e apenas co- mecada em outras, como na dos mammiferos. Além dos fins officiaes acima indicados, tive o desejo de me occupar de perto com certos grupos de mammiferos, que, sem o conhecimento dos exemplares typicos, não po- dem ser esclarecidos. São estes os generos Cebus, Canis, Cervus e Hesperomys. Julgo, entretanto, que a minha viagem foi neste sentido quasi sem proveito. Ha um grande Museu apenas, o de Londres, no qual desde algum tempo se acha organizada a collecçäo de estudos. O que assim se chama nos outros Museus visitados é apenas o deposito dos mammiferos velhos, rejeitados da colleeção geral. Em Vienna, onde muito esperei do material au- thentico de Natterer, encontrei os couros de Cebus, que quiz estudar, desprovidos de craneos e os, que os tinham, estavam empalhados de tal fórma a incluirem o craneo no couro. Parece-me que em Vienna e Paris, tres ou quatro preparadores teriam trabalho para 5 annos ou mais, para organizar a colleeção de couros de mammi- feros do modo como a sciencia hoje o exige. Em ver- dade, porém, os preparadores por toda a parte estão occupados com preparações novas, destinadas a serem expostas. Assim o material exposto ao publico, embora já demasiado na maior parte dos Museus, cresce de mez em mez. E” assim, por exemplo, que estranhei em Paris vêr empalhada e exposta toda a valiosa e riquissima colleccäo de Lemuridas de Madagascar, proveniente das viagens de Grandidier. Não se deveria expôr duplicatas ao publico. Alem disso os exemplares empalhados e expostos se estragam muito facilmente. Corresponde pois este procedimento a uma má orientação dos respectivos directores e chefes de secção. Como ha pouco em Paris a direcção desta parte das colleeções foi assumida pelo — 433 — eminente especialista Dr. Trouessart, é de esperar que, successivamente, este estado de cousas se modifique. E preciso, entretanto, notar que o chefe de secção depende do regulamento e da organisação geral do estabelecimento, e esta, no Museu de Paris, necessita de uma reforma geral. Acontece, por exemplo, que, segundo o regulamento do Museu, dos animaes que morrem na «Menagerie», são entregues á secção zoologica apenas os couros, ao passo que o resto, inclusive o craneo, vae ao Museu de Anatomia Comparada. Isto é um procedimento que bem se entendia ha sessenta annos, mas que não corresponde mais ao actual estado da zoologia. E” impossivel estudar, de um modo exacto, os mammiferos, sem conhecimento de seus craneos, que fornecem, não só dados valiosissi- mos para a distincçäo das especies e generos, mas que informam tambem sobre a edade, sexo etc., dos individuos; não obstante este facto ser hoje geralmente reconhecido, entretanto os regulamentos dos grandes Museus, pela maior parte, conservam ainda a orientação antiga. Quasi que a unica excepção neste sentido constitue o British Museum de Londres; mas tambem alli as cousas. não correm todas como deviam. O Snr. O. Thomas é o mais activo entre os especialistas que se dedicam a este ramo de sciencia, mas mesmo assim elle não vence o serviço, e estão-se accumulando materiaes, que elle não tem tempo de estudar definitivamente. Sinto isto espe- cialmente com referencia aos Muridas do Brazil, dos quaes ahi apreciei series consideraveis de numerosas es- pecies alliadas. Todos nós esperamos do Snr. Thomas que elabore e publique o Catalogo dos Roedores do British Museum; mas o tempo delle é preenchido por serviços do expediente, de entradas novas etc, de modo que parece haver pouca esperança para a elaboração desse volume, anciosamente esperado pelos collegas. Em seguida examinarei separadamente os assumptos que constituem os fins dos Museus de Historia Natural. — 454 — 1.°—As Collecções expostas ao Publico º Antigamente estavam expostos ao publico todos os materiaes que entravam nas collecções dos Museus. Dahi provem esta infinidade de aves, mammiferos etc. empa- lhados, que enchem as vitrinas de numerosas salas e que, na sua uniformidade, cançam o publico. Deve ser absolutamente condemnado este procedimento imprudente. Não ha conveniencia alguma em expôr ao publico nu- merosos exemplares da mesma especie, devendo ser eli- minados os duplicatas e guardados na collecção de estudos. Tambem não ha razão para expôr numerosas especies do mesmo genero, caso sejam tão alliadas entre si, que só o especialista consiga distinguil-as. Os antigos profissionaes não conheciam outro pro- cedimento senão empalhar os couros de todos os animaes que recebiam. A ideia de collecções separadas, uma para a demonstração ao publico e outra para fins de estudos, nasceu e firmou-se sómente nos ultimos decennios. E só deste modo que se explica o facto de que no Museu de Paris toda a collecção de Lemuridas de Madagascar, como foi acima mencionado, se acha empalhada e exposta ao publico. Isto tem como RER Es ao menos tres graves inconvenientes: 1º Expõe-se ao publico um grande numero de duplicatas, reclamando assim sua attenção para objectos que nao a merecem; 2º Priva-se o especialista da possibilidade de es- tudar os couros com os respectivos craneos, na collecção scientifica ; 3.º ÆExpôe-se ao perigo de facil deteriorisação e mesmo de perda, collecções valiosissimas, das quaes uma boa parte devia ficar guardada de modo mais conscien- cioso e para sempre. E' facto geralmente conhecido que as preparações de animaes, sob a influencia do ar, da luz e ainda de — 435 — varias circumstancias prejudiciaes e mesmo dos materiaes empregados para a preparação, como por exemplo o arame que enferruja, se estragam com o tempo. Não conhecemos actualmente methodo melhor para a conservação defini- tiva e perfeita dos animaes, do que o alcoól e methodo peior do que o empalhamento. Penso que as adminis- trações dos Museu terão de occupar-se, no futuro, do melhor modo da conservação de exemplares raros e au- thenticos, particularmente dos tvpos de especies novas, e neste sentido creio que será estabelecida a regra de não se empalhar e expôr taes especimens valiosos. Si antigamente o Museu era constituido pelo con- juncto dos materiaes das collecgdes e tudo estava fran- queado ao publico, hoje a intenção dos directores destas collecções é tornar cada vez mais interessantes e instru- ctivas as colleccdes expostas ao publico, o que exige uma escolha criteriosa dos objectos expostos. Pretende-se hoje expôr menos exemplares ou objectos e tornar aquel- les que foram escolhidos, mais instructivos e atractivos ao publico. Parece-me que este esforço deveria egualmente ser estendido aos Museus de Archeolcgia, Ethnographia ' e Artes, aos quaes a ideia de separação de colleeções ex- postas e scientificas, em grande parte ainda é extranha, de modo que expõem, um ao lado do outro, tantos du- plicatas quantos possuem. Já falei acima da exposição de duplicatas da mesma especie, mas preciso accrescentar que o mesmo vale tam- bem para as especies alliadas e semelhantes. Não é conveniente expôr, sem necessidade, exemplares e especies do mesmo genero, que apenas a vista pratica do espe- “cialista consegue distinguir. Desta regra, na practica, de- vemos afastar-nos apenas em certos casos, como por exemplo quando se pretende demonstrar uma serie de especies alliadas, como exemplo da composição de um genero natural, ou quando se trata de exhibir, de modo completo, a fauna indigena da provincia ou do paiz a , E — 436 — cuja exploração se dedica o respectivo Museu. E certo que a maior parte dos Museus novos já procede segundo estas normas, mas é singular que, ao lado destes, haja um grande numero de outros Museus, que ainda procedem da mesma maneira como ha cem annos era usual. Um progresso notavel, que data dos ultimos dous decennios, é a exposição de preparações biologicas, de grupos naturaes de animaes destinados a illustrar seu modo de viver. Como o novo systema do Jardim Zoo- logico de Hagenbeck apresenta reunidos os diversos ani- maes, que vivem numa determinada zona e sob as mesmas condições physicas e biologicas, assim procura-se hoje exhibir grupos biocoenoticos de animaes de certas regiões bem caracterizadas, como da zona arctica, dos Alpes, do Sertão, etc. e do mesmo modo procedem atualmente, e com admiravel successo, os Jardins Botanicos. Instructivos e bellos são os grupos biologicos na secção ornithologica do British Museum, apresentando as variadas condições da vida e do modo como as aves constroem e collocam seus ninhos. Distingue-se neste sentido tambem o Museu de Hamburgo, no qual são notaveis particularmente as preparações de animaes ma- rinos, expostos de um modo muito elegante em aquarios artificiaes. Muito instructivas são tambem as preparações de insectos, mostrando o cyclo biologico das diversas es- pecies, o dimorphismos dos sexos, estações etc. imitações mimeticas, os estragos causados á vegetação e especial- mente ás plantas cultivadas, por insectos nocivos. Par- ticularmente lisongeira, neste sentido, é a impressão que tive nos Museu de Strassburgo e Paris. Em geral todos os grandes Museus que visitei, têm ligado grande at- tenção aos melhoramentos neste sentido, como tambem se esforçam por dar rotulos mais explicativos, por vezes com informações minuciosas e pequenos fnappas, illus- trando a distribuição geographica de certos generos, fa- milias, ete. Tambem o methodo plastico da preparação ee tte" vs. d.* ‘à 14 437 — dos Vertebrados tem contribuido muito para tornar mais naturaes, mais elegantes e artisticas as scenas da vida animal que representam. Taes grupos naturaes são muito mais attractivos e instructivos do que as séries uniformes de animaes isolados, que geralmente enchem as vitrinas. Ha, porem, um ponto em que as opiniões ainda pare- cem divergir e em que não raro ha abusos, que prejudicam os fins das colleeções zoologicas, franqueadas ao publico. Expondo-se uma preparação artistica, representando di- versos individuos, sexos, etc. de uma especie, é natural que se dê tambem ao quadro um aspecto natural, imitando um pouco o meio physico no qual passa a vida dos respe- ctivos animaes. Acontece, entretanto, que as vezes o ar- tista então procede com phantasia exagerada. E’ o que se deu no Museu de Altona. Vi um grupo de Orang- utangos, tão escondidos na folhagem, de modo que custou vel-os bem. E” preciso lembrar-se de que cada arte tem as suas regras e seus limites, como tão bem o expoz Lessing, na sua.obra classica «Laokoon». A folhagem, as arvores, as flores, os rochedos, e tudo isto que é destinado a representar o scenario em' que se desenrola a vida animal, são de valor secundario nos grupos biologicos e devem ser apenas ligeiramente indicados. Dar uma importancia principal a estes orna- mentos avcessorios, seria o mesmo como, si numa audição musical, o acompanhamento viesse a desempenhar o pa- pel principal. O assumpto que menos me satisfez nesta viagem foi a construcçäo dos edificios. Deixo completamente de lado o procedimento inqualificavel dos architectos aus- triacos que, para a construcçäo de edificios destinados a Institutos scientificos, Museus e habitações para animaes do Jardim Zoologico, procederam segundo suas inclinações artísticas, sem mesmo consultar os chefes technicos e scientificos competentes. Provavelmente isto tambem na Austria, pelo futuro, não será mais possivel e os Insti- — 438 — tutos scientificos modernos, que vi em Vienna, como 0. Instituto Botanico, a Anatomia, ete, são construidos de. conformidade com as indicações e desejos dos respectivos directores. Foram abusos desta ordem que levaram uma vez o celebre pintor Lenbach a exclamar: «Nada mais. desejaria do que ser um dia omnipotente e carrasco, só- mente para poder decapitar architectos». Na segunda metade do seculo passado construiram-se . muitos edificios para Museus, com um grande vestibulo central, coberto por clarabóias. Acontece, entretanto, que a parte do edificio situada entre o vestibulo e as pare- des exteriores é larga demais, não havendo por isto, em grande parte das salas, a claridade indispensavel para o exame dos objectos ou para outros trabalhos. Esse de- feito torna-se notavel mesmo em dias de sol, e, portanto muito mais, em dias de chuva e de ceu encoberto. Acon- teceu-me varias vezes que, por esta razão, me vi obrigado a desistir do exame de uma vitrina, que me interessava, como por exemplo da que no Museum d'Histoire Natu- relle contem a variada e preciosa colleeção de Didelphide. O typo mais infeliz dessa casta de edificios, que na sua construcção se assemelham a uma estação central de es- trada de ferro, é o Museu de Hamburgo. Esse typo naturalmente está condemnado pela experiencia. Dos novos edificios de grandes Museus deve-se exigir abundante luz para todas as salas e dependencias, do que resulta que os vestibulos, cobertos por clarabóias, devem ser substi- tuidos por largas areas internas, e que as alas do edificio não tenham largura demasiada, afim que a luz das duas fileiras de janellas penetre perfeitamente nas salas. Onde ha espaço sufficiente póde-se tambem construir para as. collecgdes expostas, edificios de um andar só, que per- mittam o emprego de luz de cima. Esta construcçäo, usada já em algumas pinacothecas, tem a grande vanta- gem de permittir que se colloque, em toda a extensão das paredes, a serie de armarios, de collecçôes, ete. Posto — 439 -— o caso que estas salas de exposição se achem no primeiro andar, o outro, terreo, poderá servir para fins de admi- nistração. Seja como fôr, a questão da luz deverá preoccupar muito mais o espirito do director e do architecto, em casos de construcções para Museus, devendo-se ligar mais importancia a este assumpto. Em geral resultará destas, e muitas outras exigencias, que os futuros grandes Mu seus occuparão uma area muito maior do que os actuaes, e por este motivo em geral não será possivel dar-lhes uma situação no centro da cidade. O melhoramento das communicações, com o serviço electrico, compensa esta in-- conveniencia, e a situação do Museu numa vasta area, offerece a possibilidade da creação de um parque, no qual os vigitantes podem descançar e entreter-se. Em todo o caso é preciso, que a area occupada pelo Museu, seja tão grande que nada impeça alterações e um futuro augmento do prédio. 2.º - As Collecções para Estudo Ha muitos Museus provinciaes ou municipaes, que só contam com recursos modicos ou parcos, de sorte que não podem remunerar naturalista de competencia e neste caso o trabalho scientifico, entregue ao acaso, isto é ao auxilio de amadores, é de uma importancia secundaria. O pequeno pessoal scientifico e technico neste caso é destinado apenas ao desenvolvimento e á conservação das collecgdes expostas ao publico. E esta uma situação bem definida. Acontece, entretanto, que ha estabelecimentos desta ordem, que procuram imitar os grandes Museus quanto ao trabalho scientifico, o que naturalmente não póde dar o resultado desejado, em vista da falta quasi completa dos elementos indispensaveis. Não admira que tambem os fracos tenham as vezes aspiraçães nobres, que muito excedam as suas forças; mas o que, dificilmente — 440 — se comprehenderá, é a falta absoluta de orientação, o trabalho sem plano nem progamma definido. Cada Museu tem suas intenções e seus fins especiaes e absolutamente não ha regras geraes; mas o que é evidente, é que os Museus de Historia Natural actualmente não podem con- tinuar na mesma orientação (que é a falta de orientação), como no começo do seculo passado. O que se deve exigir de cada Museu é que se saiba o que elle quer; que tenha um plano determinado para o seu trabalho e seu desenvolvimento futuro. A falta quasi absoluta desta orientação indispensavel foi o facto que mais me impres- sionou nesta minha viagem e isto com relação a quasi todos os Museus que visitei. Observei grande progresso na installação de Insti- tutos Anatomicos, de Institutos Zoologicos e particular- mente de Museus, Institutos e Jardins Botanicos, mas não vi um unico Museu Zoologico qne estivesse na al- tura que o actual estado de sciencia exige. Em seguida estudaremos a causa deste atraso, discutindo ao mesmo tempo as medidas, que são necessarias para transformar os Museus Zoologicos, de modo que no futuro possam melhor corresponder ás multiplas exigencias, do serviço e da sciencia. Já no precedente tratamos das condições pouco sa- tisfactorias das colleeções de mammiferos nos grandes Museus da Europa central. A collecçäo mais adeantada neste ramo é a do British Museum, e isto não por causa da melhor orientação daquelle Museu, mas exclusivamente devido ao zelo e 4 competencia do Snr. O. Thomas, que, pessoalmente, subvencionou os viajantes, trazendo-lhe os mesmos colleegdes de summo valor, particularmente da America Meridional. Não obstante todas estas circum- stancias, o Snr. Thomas não vence o trabalho accumulado. Tudo isto prova que, tambem naquelle grande estabele- cimento, os recursos e o pessoal não são sufficientes, para ter em dia esta e outras secções. O British Museum dn Más EP q en ae TEVE eee Lo a a, ee + ‘=, . — 441 — distingue-se, de todos os outros congeneres, pelo valor : de seus catalogos, que expõem ao Mundo scientifico mi- nuciosamente as riquezas lá accumuladas. A secção or- nithologica conseguiu publicar em 27 volumes o catalogo das aves, obra monumental, que summamente honra o instituto do qual sahiu. Seria um serviço inestimavel si o mesmo Museu publicasse tambem o catalogo dos mam- miferos; mas é claro que isto exigiria um grande numero de collaboradores, que por emquanto faltam. E” assim que ao primeiro volume deste catalogo. referente aos Marsupiaes, não se seguiram outros, mostrando-se assim, tambem aqui, a desproporção que existe, entre as aspi- rações e as forças disponiveis, mesmo em secção tão auspiciosamente dirigida. A secção ornithologica do mesmo Museu já foi estudada de um modo muito mais completo e mesmo assim já não occupa o primeiro lugar, nem ao menos na Inglaterra, onde o Museu de Tring dispõe de melhores elementos de progresso; evidentemente isto só se poude dar porque no British Museum, não são sufflcientes o . pessoal e os recursos para a secção ornithologica. Si tal acontece no primeiro Museu europeu de Historia Na- tural, quanto mais tal se dará nos outros Museus do continente. Referindo-nos aqui apenas ás colleeções scientificas, temos de distinguir tres grupos dos mesmos: Museus centraes, provinciaes e especializados. Estes ultimos são, sem duvida, os que melhor correspondem ás exigen- cias da sciencia, mas mesmo assim só existem em nu- mero limitadissimo. Já mencionei o Museu de «Rothschild» em Tring, cujas collecções só abrangem Lepidopteros e Aves. Uma collecçäo ornithologica, das mais valiosas, principalmente para o estudo da fauna neotropica, é a do Snr. Conde H. von Berlepsch em Gertenbach, Allemanha. As colle- cções entomologicas de Stettin e da Sociedade Entomologica de Berlim são das mais perfeitas nas suas especialidades, e, quanto vale neste ramo a iniciativa particular, caso não lhe faltem os meios, está provado pelas collecções de Lepidopteros do fallecido Dr. O. Staudinger e pelas collecçôes entomologicas dos Snrs. Oberthuer em Rennes. Evidentemente, não é só a riqueza dos meios, que explica estes successos, mas tambem a grande dedicação ao as- sumpto. E este um ponto delicado, pois é certo que não é pequeno o numero de empregados vitalicios dos grandes Museus, cuja actividade é bem pequena. Deve ser evitado, o mais possivel, que os lugares de ajudantes scientificos dos Museus sejam occupados por pessoas que só procuram obter um emprego, visto que nunca dará bom especialista em sciencias naturaes, quem não for attrahido a esta occupação pelo natural interesse, pela sua inclinação. Ha mil occupações ou carreiras a que satisfactoriamente se podem dedicar pessoas que sómente demonstrem zelo e competência por essa sua profissão ; mas para o estudo systematico e biologico da zoologia e botanica. é necessario alguma cousa mais, é preciso ter amor á natureza, verdadeira vocação. E” este evidentemente um ponto que no futuro pre- occupará mais as administrações dos Museus do que actualmente. É certo tambem, que a posição e o trabalho dos ajudantes dos Museus de sciencias naturaes, muito deixam a desejar. Os vencimentos são insufficientes e não sóbem em proporção razoavel no correr dos annos. Acontece assim que estes empregados se veem obrigados a procurar outras fontes de rendimentos, com trabalhos literarios, etc, que são extranhos ao seu serviço princi- pal. Isto devia ser evitado e póde-se mesmo estimular a actividade no serviço, remunerando-se-lhes os artigos scientificos, catalogos, etc. publicados pelo Museu. As difficuldades resultantes do caracter dos empre- gados do Museu, não proveem entretanto sómente dos chefes de secção e dos ajudantes, mas muitas vezes tambem Ly we ds à Tae Ls wee Re UME ad ye eee ne À q” E q | cs RUE —_— Te ts : we ore. ee dad 45 nés ent sy ee a ee eee AAR 22 do director. E delle que, particularmente, depende o pro- ‘gresso do estabelecimento e o espirito que nelle rege. Quanto maior o Museu, tanto mais desapparece este pe- rigo, ficando cada vez mais responsaveis os chefes de secção. Mas são graves tambem as consequencias se 0 director não dér a orientação ao instituto, figurando apenas como representante da administração. Muitas vezes, entre- tanto, acontece que o director se preoccupa apenas com seus proprios estudos scientificos. E’ esta, por exemplo, a causa do atraso em que se acha o Museu Nacional de Buenos Aires. Burmeister só tratava de certas espe- cialidades, que formavam o objecto de seus estudos e C. Berg, o melhor conhecedor dos Hemipteros e Homo- pteros da America Meridional, deixou no Museu Nacional de Buenos Aires apenas 4 gavetas com bem poucos specimens de typos destes insectos, como signal de sua dedicação a esta ordem de insectos. Elle tinha uma grande e valiosa collecção particular destes insectos e o Museu continuou pobre. Em muitos Museus é prohibido aos empregados terem collecções proprias e exemplos como 0 acima citado provam a conveniencia desta medida. Deste modo é só actualmente, sob a direcção do Dr. Fl. Ame- ghino, que o Museu de Buenos Aires obterá um edificio grande e novo, quando já Burmeister devia ter tido a necessaria influencia, para alcançar esta medida, indispen- savel desde muito tempo. O quanto vale a influencia de um director activo e energico, é demonstrado pelo suc- cesso do Dr. Fr. Moreno, que conseguiu a organisação do Museu de La Plata, no mesmo periodo em que Bur- meister se contentou com o edificio velho e insuficiente, ainda hoje oceupado pelo Museu Nacional. Uma outra inconveniencia na actual organisação dos principaes Museus, que me admirou, é o trabalho não pequeno de escripturação, registro de entradas, catalogos, etc. causado pelo. serviço do expediente, que é executado pelo pessoal scientifico e que devia ser entregue a um — 444 — amanuense. E” economia mal empregada, de se gastar o tempo valioso do director e de seus ajudantes scientificos, com trabalhos secundarios de escripturação, para econo- misar a despeza de alguns escripturarios auxiliares. Os Museus das provincias, dos municipios e das universidades são em grande parte organizados sem plano. Não é pequeno o numero daquelles, que quasi não são visitados pelo publico e que, para os fins de instrucção, são grandes demais; é verdadeiramente sem proveito que ainda são augmentados. Estes Museus, si por ventura qui- zerem conservar o caracter scientifico, deveriam limitar-se neste sentido a algumas especialidades. Não acho boa, neste sentido, a orientação do bello e novo Museu Sen- kenberg, que absolutamente não está na posição para corresponder a um programma vasto, dispondo de pes- soal diminuto, miseravelmente remunerado. Ou a cidade e os amigos do Museu devem augmentar os vencimentos | do pessoal scientifico, ao menos por 50 mil marcos annuaes, ou restrinja-se o programma, limitando as collecções de estudo a varias especialidades, entre as quaes forçosamente se impõe as do Terciario de Mainz, estudado com grande successo pelo professor Kinkelin e a collecção herpeto- logica, verdadeiro monumento da competencia e da de- dicação do professor Boettger. Na America meridional ha dous Museus estadoaes, de programma limitado, de- dicados ambos ao estudo da natureza do Brazil: os de S. Paulo e Pará e que só por meio desta restricção se puderam tornar de tanta utilidade, como o são na opi- nião dos scientistas competentes. Museus desta ordem tambem podem prestar, com pessoal diminuto e recursos escassos, verdadeiros serviços á sciencia e este exemplo devem, successivamente, se- guir os outros Museus de segunda ordem. Deste modo conservarão o caracter de Museus centraes ou de primeira ordem, apenas os das grandes capitaes dos principaes paizes da Europa e isto só se conseguirem sahir da actual — 445 — situação critica, por meio de uma reorganisação completa, que lhes proporcione edificios apropriados, e grande au- gmento de meios e de pessoal scientifico. Si agora, depois de termos examinado a crise e o futuro dos Museus, procurarmos apurar a questão do que o progresso da sciencia exige, declararemos que o futuro será o dos Museus especialisados. E’ duvidoso si os grandes Museus serão capazes de acompanhar as m6- dificações, que o desenvolvimento da sciencia torna neces- sarias. Desejo explicar isto por meio de um exemplo. Um dos grandes grupos do Reino Animal, que é o mais descuidado em todos os Museus, é o dos Moluscos. São raros os mestres da competencia de E. von Martens, P. Fischer, Pilsbry e W. H. Dal. E até estes se veem obrigados a restricções nos seus trabalhos scientificos. Ao passo que para os insectos existem especialistas dis- tinctos para Lepidopteros, Coleopteros, ete. com refe- rencia aos Molluscos entrega-se todas as classes à um unico especialista, que as vezes ainda tem de se oceu- par das conchas fosseis. E’ excusado dizer que é abso- lutamente impossivel a um naturalista estudar, ao mesmo tempo, os Molluscos terrestres, da agua doce e do mar, as Lesmas tão bem como os Nudibranchios, os Cepha- lopodes, e ainda os Pteropodes, não falando dos Molluscos fosseis. Nestas condições não é grande cousa que se póde esperar dos grandes Museus. O British Museum tem um especialista notavel, na pessoa do Snr. E. A. Smith, mas catalogos das diversas classes ou ordens não se publicam. Isto é tanto mais lamentavel quanto é pre- cario o estado dos recursos literarios para os generos deste typo. Não temos absolutamente cataiogos de certo valor, nem para os Molluscos recentes nem para os fosseis. Se hoje se dá um nome a uma especie considerada nova, e pertencente a um genero de numerosas especies e de avançada edade geologica, como Ostrea, Mytilus, etc, não ha absolutamente meio algum para se verificar 446 — si O respectivo nome já está preoccupado ou não. E evidente que necessitamos de obras monographicas ou ao menos de catalogos synonymicos, que facilitem este trabalho. E’ só um Museu dedicado aos Molluscos que será capaz de executar trabalhos desta ordem, e ahi, ao mesmo tempo, devem ser estudadas as especies recentes e as . fosseis. Um tal Museu precisará, segundo meu calculo, 6 chefes de secção para os Molluscos recentes e 6 outros para os fosseis; alem disto assistentes, naturalistas via- jantes, especialistas para os estudos systematicos e anato- micos, preparadores, desenhadores, secretarios etc. e recursos sufficientes para custear expedições scientificas, compra de objectos, editar publicações bem illustradas, etc., de sorte que calculo a despeza annual em 250.000 marcos, visto que os especialistas devem ser bem pagos, afim que não pre- cisem empregar parte de seu tempo disponivel em trabalhos remunerados, extranhos ao seu serviço. Um Museu desta ordem poderia, quando bem administrado, e tendo os meios. disponiveis, occupar-se successivamente tambem de outros grupos do Reino Animal, cuja distribuição geo- graphica e geologica mereça ser estudada em comparação com a dos Molluscos, o que se dá particularmente com os Brachiopodes e Coraes. Só assim podemos esperar um verdadeiro progresso para o conhecimento dos Mol- “luscos, mas não dos grandes Museus actuaes, que já julgam ter feito alguma cousa para os Molluscos, se por ventura dão ao unico empregado um ajudante Muitas vezes uma unica personagem energica contribue mais para o progresso do conhecimento dos Molluscos do que uma duzia de Museus. Um estabelecimento, como o de- sejamos, representaria, caso fosse bem dirigido, um meio de concentrar o trabalho simultaneo sob todos os pontos de vista zoologicos e paleontologicos, com relação a certos generos ou familias. Sessões regulares reuniriam uma ou duas vezes por semana os collegas, quando actual- mente o pessoal dos grandes Museus, com poucas ex- — 447 — cepções, não vive em communidade intellectual alguma. Museus como para os Molluscos, seriam necessarios tam- bem para outros grupos, assim por exemplo para Co- leopteros e para outros grupos de insectos. Para muitas familias, por exemplo, existem excellentes especialistas, que em parte, como o Dr. F. Ohaus com relação aos Rutelidas, realizam trabalhos verdadeiramente modelos, pois que se dedicam não só a estudos systematicos e anatomicos, mas investigam tambem a biologia, a creação e o desenvolvimento das larvas. Muitas familias de Co- leopteros, porém, são insufficientemente estudadas, como por exemplo a dos Curculionidas e seria tarefa dema- siada confiar, num Museu coleopterologico, os Curculio- nidas a um unico especialista. Se bem que para Museus especializados desta or- dem será dificil obter os meios necessarios, é mister lembrar-se que o numero de capitalistas interessados no desenvolvimento das sciencias naturaes cresce de anno a anno. Não se póde, entretanto, exigir que elles tenham melhor orientação do que os proprios directores dos Mu- seus. O que antes de tudo é necessario, é a propaganda entre os naturalistas e que se firme a convicção de que a organisação actual dos Museus se acha uum periodo transitorio, numa verdadeira crise. Durante a minha ultima viagem ouvi varias vezes severas criticas sobre o emprego imprudente de ricos meios offerecidos em favor do progresso das Sciencias Naturaes, tendo sido citados exemplos extravagantes da America do Norte. Em geral podemos dizer que a creação de novos Museus tem hoje relativamente pouco valor. Mais um Museu, menos um Museu, o resultado não é grande cousa para o progresso das Sciencias Naturaes. Este progresso da Zoologia e da Botanica systematicas é em nossos dias mais garantido pela dedicação, pelo zelo dos amadores do que pelos trabalhos dos Museus. Os millionarios, — 448 — que hoje ligam o seu nome á creação d'um novo Mu- seu do typo velho, pouco adiantam o estado da Sciencia ; os que, porém, fundarem Museus especializados que, no sentido que acabamos de expor, adiantarem efficazmente o estudo de certos grupos, hoje descuidados, abrirão uma nova éra. Os collegas que lêrem estas linhas talvez dis- cordem em parte, lembrando-se do progresso que o estudo de certas ordens do Reino Animal têm feito sob a chefia de certos especialistas eminentes; mas se elles quizerem proceder d'um modo comparativo, têm de convencer-se de que muitos outros Museus, não menos afamados, pouco adiantam o estudo da mesma ordem. E justamente o merito dos Museus fornecer a naturalistas preclaros e activos, os meios para estudos importantissimos. Ha tam- bem classes ou ordens do Reino Animal que sempre foram preferidos e protegidos e que já estão adiantados na sua classificação; mas ha um grande numero de ou- tras classes e ordens, que não progridem, ou só muito pouco, e que, por meio de Museus especializados, poderiam, no correr de poucos decennios, ficar equiparados aos me- lhor estudados. O progresso nas Sciencias, como em outros ramos de toda a nossa vida cultural e politica, depende de muitos factores, que não estão sujeitos á nossa vontade. Sempre serão raros os gigantes do trabalho e os genios, mas tambem é certo que o nivel dos naturalistas mediocres poderá ser elevado, por meio do bom exemplo e da com- munidade intellectual com os collegas e pela influencia educadora de estabelecimentos scientificos bem dirigidos. Neste sentido os Museus do velho typo pouco “valem. Para o futuro tambem neste sentido as cousas poderão ser muito melhoradas, pela boa combinação das forças disponiveis e pelo seu emprego criterioso e bem dirigido. Reconhecer a crise em que se acham actualmente os Museus de Historia Natural, é o primeiro passo para a propaganda, da qual advirá a discriminação dos diversos ES Ang cs Museus, segundo os seus fins differentes. O futuro pro- gresso das Sciencias Naturaes, no que depende dos Museus, não é questão só do augmento do pessoal e de recursos, mas, antes de tudo, da fixação do programma de cada um delles e da especialisação systematica. Os Museus do seculo presente não podem ser os simples continua- dores dos do seculo passado; os seus fins são outros, não só com referencia ás collecções expostas ao publico, mas tambem quanto ao seu caracter scientifico. São Paulo, em 21 de Novembro de 1907. o BIBLIOGRAPHIA 1905-07 Historia Natural e Anthropologia do pad “POR Dr. HERMANN e RODOLPHO von THERING ——— ese o — A.— Feriodicos Brazileiros Boletim do Museu Goeldi (Museu Paraense de Historia Natural e Ethnographia, Vol. IV, N. 2-3, Dezembro 1904 e Março 1906). Na parte administrativa figura a copia do regimento interno do Muséu, reorganizado em Janeiro de 1904. Na parte scientifica varios trabalhos de valor merecem espe- cial attenção. O primeiro artigo «Mosquitos do Pará», é um resumo provisorio das observações e experiencias do Dr. Goeldi, com relação especial ás questões sani- tarias. Mais detalhadamente estes estudos vem reprodu- zidos nas «Memorias» do mesmo museu e, em tratando dessa publicação, diremos algo a respeito. O Dr. Hagmann apresenta uma chave synonymica, «As Aves Brazilicas», onde transcreve, em duas colum- nas, os nomes scientificos empregados pelos auctores an- tigos: Spix, Wied, Burmeister, Pelzeln de um lado, do outro os nomes sob que figuram as mesmas especies no Catalogo de Aves do British Museum. Sem duvida foi grande o trabalho empregado na transcripção, mas não comprehendemos a utilidade destas listas, E 5 «Grandiosas migrações de borboletas no valle ama- zonico» é o titulo de um pequeno mas bello escripto do Dr. Goeldi, traduzido por Capistrano de Abreu, do original allemão (Die Schweiz, Zurich 1900, Vol. IV, p. 441-445); duas boas estampas illustram-no artis- ticamente. «Sobre as vespidas sociaes do Pará» por Adolpho Ducke. Um optimo estudo systematico e biologico sobre as vespas sociaes, que nos causou immenso prazer, pois vem. completar o nosso sobre o mesmo assumpto, publi- cado no Vol. VI desta Revista. Justamente da Amazonia não nos fôra possivel descrever bem esta familia, ahi. tão abundantemente representada, devido á escassez de ma- terial. O nosso operoso collega, porém, em suas repe- tidas excursões, reuniu collecçäo riquissima e quanto isto era necessario comprovam-no as numerosas especies no- vas agora descriptas, bem como as rectificações. Boas chaves, em latim, facilitam a classificação, e numerosas questões biologicas são esclarecidas e muitos ninhos il- lustraãos pelas duas estampas. Ao refirimo-nos a outras publicações do Snr. Ducke sobre o mesmo assumpto, en- traremos em mais detalhes, mas não queremos deixar de felicital-o aqui por mais esta optima contribuição. «Notas sobre a patria e distribuição geographica das arvores fructiferas do Pará» pelo Dr. J. Huber, for- mam tima interessante resenha sobre assumpto que muitas vezes se discute, sem comtudo saber onde buscar infor- mações. Como se vê por essa exposição, que constante- mente é baseada em documentação historica, é muito incerta, ainda, a patria e época de importação de grande numero de nossas arvores fructiferas e, pois, foi utilissima essa ventilação, especialmente da parte de tão competente botanico. «Fungi paraenses (I])» por P. Hennings. Lista de numerosos fungos, colligidos no Pará pelo Dr. J. Huber; em boa parte trata-se de especies novas para a sciencia. 29 « — 452 — « Arvores de borracha e de balata da região ama- zonica» pelo Dr. J. Huber são novas contribuições com que o auctor vem completar sua monographia sobre Hevea (Boletim III); desta vez occupa-se especialmente das ar- vores dos generos Sapium e Mimusops. « Molestias que affectam os animaes domesticos, mor- mente o gado, na ilha de Marajó» por V. Chermont de Miranda. Estudando rapidamente as principaes molestias com que tem a luctar o criador, o auctor, sempre como pratico que se revela, indica o risco que correm os ani- maes e ensina, ao mesmo tempo, quaes os remedios mais convenientes a empregar. E' evidente a utilidade de se- melhante publicação. | Nas «Miscellaneas Menores» o Dr. Huber discute varias questões botanicas de interesse; tratando ahi ligeiramente da velha questão dos ninhos de Japá, fal-o de modo todo objectivo, mostrando que os Icteridas es- colhem, segundo o lugar em que vivem, materiaes diversos para a construcção de seus ninhos. O n. 4 do mesmo Boletim, Vol. IV, abre suas pa- ginas tarjado de lucto, dando o necrologio e retrato do Dr. Max Kaech, o joven geologo que, dous mezes antes apenas, assumira o cargo de chefe da secção geologica do Museu Goeldi, em successão ao Dr. K. von Kraatz-Kosch- lau, que egualmente succumbira á febre amarella no Pará. O relatorio do Museu, publicado pelo director, re- fere-se ao anno de 1902. Na parte scientifica figuram dous estudos botanicos do Dr. J. Huber, « Materiaes para a flora amazonica, VI: Plantas vasculares do baixo Ucayali e do Pampa do Sa- cramento» e «Ensaio duma synopse das especies do genero Hevea sob os pontos de vista systematico e geo- graphico». Neste ultimo estudo o: auctor descreve as 21 especies de arvores de borracha do genero Hevea, dis- cutindo por fim a sua distribuição na Amazonia. — 453 — «Sobre as Vespidas sociaes do Para» por A. Ducke é um supplemento ao seu artigo, a que acima nos refe- rimos. Aqui já eleva a 103 o numero de especies obser- vadas na Amazonia. As numerosas figuras das 4 estampas representam muitas formas interessantes de ninhos, que, em boa parte, eram até agora desconhecidos. «Chelonios do Brazil» por E. A. Góeldi. E” o pri- meiro capitulo da monographia Reptis do Brazil, obra inedita, da qual já foi publicado outro capitulo nesses “mesmos Boletins (Vol. III, p. 490 es.) sobre os Lacertilios ou Lagartos. À parte que agora appareceu, refere-se aos Kagados ou tartarugas e foi elaborada no mesmo estylo popular como as outras «Monographias Brazileiras» do mesmo auctor. Enumera 25 especies e occupa-se detalha- damente da biologia e do valor economico destes animaes. Uma «Bibliographia», bastante desenvolvida e in- teressante encerra este volume. Memorias do Museu Goeldi, IV:. Os Mosquitos no Pará, por E. A. Goeldi. E” dificil criticar um trabalho como o que este alentado fasciculo das «Memorias» nos apresenta, cheio de tabellas de experiencias e conclusões a que as mes- mas levaram o auctor. O quê porém desde logo attrahe o interesse e a attenção é a importancia do assumpto e a rica ilustração dada 4 obra, por numerosas figuras e bellissimas estampas coloridas e ‘as numerosas observa- ções biologicas. Com relação ás conclusões a que chega o auctor quanto ao papel que a Stegomya fasciata des- empenha como transmissora da febre amarella, ou segundo o Dr. Goeldi, a responsabilidade directa que lhe cabe, nada diremos, pois é questão puramente medica ou de bactericlogia. Enfeixa perfeitamente o modo de pensar do auctor, o seguinte paragrapho das Conclusões : «13) Cada picada isolada é venenosa em geral e «como transmissor normal age e serve por si só cada Ep «individuo feminino de Stegomya no momento da pi- «cada. Cada picada é uma infecção parcial; a infecção «total é alcançada pelo effeito sommado de todas as pi- «cadas isoladas, isto é, de todas as infecções parciaes». Como se vê, esta theoria, aliás facilmente atacavel, segue rumo inteiramente opposto ás que attribuem a febre á acção de um microbio parasita do sangue, ainda des- conhecido. 4 Revista do Instituto Archeologico e Geographico Pernambucano, Tomo XI— Recife, 1904. Mencicnamos, dos artigos contidos neste volume, especialmente os seguintes: E. Wiliamson, Geologia das regiões auriferas da Pa- rahyba e de Pernambuco. — Alfredo de Carvalho: Wiliam Swainson em Pernambuco, sendo este um trabalho muito apreciavel, visto que, em lingua portugueza, pouco ou nada se acha escripto sobre a vida deste naturalista, cujos trabalhos aqui no Brazil foram tão vastos, fornecendo immenso material para a sciencia natural deste paiz. O Zoobiblion de Zacharias Wagner por Alfredo de Carvalho, occupa-se de uma obra antiga, interessantissima, sobre o Brazil, cujo auctor, Zacharias Wagner, era em- pregado do conde Mauricio de Nassau, e figurou e descre- veu o que lhe parecia interessante do Brazil, reunido tudo isto na obra mencionada, que ha pouco foi encontrada pelo Dr. Paul Emil Richter no Real Gabinete de Es- tampas de Dresde. Charles Darwin, O recife de grès do Porto de Pernambuco, traducção do ingles. —Henry Koster, viagens no Brazil, tradueção. John C. Brapner, inscripções em rochedos do Brazil. Boletim da Directoria de Agricultura, Viaçãei etc. do Estado da Bahia. Em outra secção desta bibliographia transcrevemos o resumo de um artigo publicado nesses Boletins pelo Dr. O. A. Derby: Notas geologicas sobre o Est. da Bahia. | Se A ns ss ee ÈS — 455 — Do mesmo auctor ainda é um artigo de grande interesse: O regimen das chuvas nas regiões da secca ( An. IV, Vol. VII, N° 4-6, p. 204 ss.) Baseando-se nos dados meteorologicos que, de 1897 a 1902, foram colhidos em Quixeramobim, Est. do Ceará, dá-nos como media da chuva annual 651,6." «Um anno com chuva approxi-. mada á normal, embora arriscado a ser de colheitas de- ficientes, não é necessariamente anno de fome, mas ella é quasi infallivel nos annos em que a chuva decahe sen- sivelmente da normal (inferior a 600.”” annuaes.) » Compara depois a nossa região das seccas com a zona egualmente flagellada nos Est. Unidos da America do Norte, Great Plaine entre o rio Mississipi e us mon- tanhas Rochosas e aconselha, que sejam utilizadas, em nossos sertões, as experiencias feitas lá. Antes de tudo, porem, como demonstra, é imprescindivel um conhecimento perfeito das condições meteorologicas, por meio do esta- belecimento de uma estação pluviometrica em cada mu- nicipio; depois deveriam algumas estações agronomicas investigar quaes as culturas mais apropriadas ás diversas: condições, que fossem reconhecidas pelos estudos clima- tologicos. Archivos do Museu Nacional do Rio de Janeiro, not NX LIT: 1005: O presente volume, de 190 paginas e acompanhado de varias estampas, contem os seguintes estudos: P. Dusén: Sur la Flore de la Serra do Itatiaya; já no volume VI desta Revista nos referimos (p. 593) a esta publicação; Carlos Moreira: Campanha de pesca do « Annie»; Crustaceos colligidos por uma barca de pesca nas cir- cumvisinhanças do Rio de Janeiro; ao todo foram obti- dos 25 crustaceos, em boa parte novos para a nossa fauna, devido a não se ter ainda cuidado, até agora, da pesca em maiores profundidades. Já nos referimos ( vol. — 456 — VI desta Revista, p. 625) ao estudo anteriormente pu- blicado pelo mesmo auctor sobre o mesmo assumpto. Bons desenhos illustram este estudo. É A. Miranda Ribeiro: Genus Megalobrycon; uma revisão das especies de peixes characinideos do genero Megalobrycon, vulgarmente designadas por «Piabanhas »; a especie que o auctor considerou nova, M. piabagna, foi representada em uma estampa. O mesmo auctor oc- cupa-se da Braulia coeca, mosca que vive como para- sita sobre as «abelhas do reino ». « Vertebrados. de Tta- tiaya >» é o titulo de uma enumeração que o mesmo auctor faz dos vertebrados colligidos pelo Snr. Carlos Moreira. Especialmente a lista das aves é mais extensa e a estas tivemos occasião de nos referir em nosso Ca- talogo da Fauna Brazileira, vol. I, Aves. A Lavoura—Boletim da Soc. Nacional de Agri- cultura, Rio de Janeiro, annos VITI-XTI, 1904-1907. Dos numerosos escriptos de interesse agricola, desta- camos os seguintes, por se ligarem aos nossos estudos: Varias publicações com relacção á formiga cuya- bana (Anno XI, N.º 4, p. 131 ss.) com uma carta do Snr. Dr. Carvalho Borges Jun. e outra (1 c, N° 6) do Dr. H. von Ihering, relatando os estudos feitos e aos quaes Já nos referimos no Relatorio deste volume, p. 28. Do Snr. Alipio M. Ribeiro sobre Peixes do Iporan- ga, (Anno XI, Nº 5) estudo systematico ao qual em outra parte desta bibliographia nos referimos. M. Pio Corrêa (Anno XI, N° 9, 10, 11) sobre algumas madeiras e diversos vegetaes uteis do Brazil. Seguindo a ordem alpaabetica dos nomes vulgares, des- creve rapidamente muitas das nossas plantas e indica as suas applicações. Infelizmente nem sempre é dado o mes- mo cuidado á classificação scientifica das especies. Sem | ser novidade em nossa literatura, pois ja nos temos re- ferido em volumes anteriores a varios outros trabalhos 1 | 4 4 À - 4 — 457 analogos, comtudo, ao terminar, o auctor terá prestado um bom serviço com a confecção de um diccionario para consulta sobre os nossos vegetaes uteis. Notas Preliminares, editadas pela redacção do Revista do Museu Paulista, S. Paulo, vol. I, fase. 1, 1907. Esta nova publicação, iniciada pela mesma redac- ção desta Revista do Museu Paulista, destina-se 4 divul- gação mais rapida de diagnoses de formas novas da nossa fauna, communicações ligeiras sobre assumptos biologicos e escriptos analogos; emfim servirá de Boletim ao Museu Paulista. O primeiro fasciculo, alem de participar factos rela- tivos aos trabalhos no Museu, contem as descripcôes de dous generos e oito especies novas de peixes Nemato- gnathas do Brazil, pelo Custos do Museu, Snr. Rodolpho von Ihering. Para facilitar a leitura das diagnoses aos interessados, que não comprehendam nosso ideoma, ellas vão acompanhadas de uma traducção ingleza. Revista do Instituto Historico e Geographico de S. Paulo, vol. VIII (1903), LX (1904), X: (1905), AU (1906). Do orgão deste operoso centro de estudos, que con- tribue com quatro volumes para o nosso presente biblio- graphia. limitamo-nos a chamar a attenção para alguns estudos referentes ás materias de que nos occupamos. Vol. VIII. O Dr. Theodoro Sampaio dedica algumas paginas ao estudo da historia dos « Guayanäs da capitania de S. Vicente». O Dr. H. von Ihering escreve sobre «As abelhas sociaes do Brazil e suas denominações tupis» e mostra, pela explicação etymologica dos nomes dados pelos indios ás abelhas mellificas, o quanto os nossos indigenas conheciam a sua biologia, e conclue que «na observação da fauna e da flora de sua terra entre os povos não civi- lizados, não .existe outro que exceda aos antigos donos deste solo, os indios tupis.» Sobre a Origem dos Sam- baquis escrevem os Srs. Drs. Æ von Ihering e Alberto Lofgren; já em outra parte deste volume da Revista (p. 237) esta questão foi ventilada e só lastimamos que o escripto do ultimo destes dous auctores tenha um ca- racter menos objectivo do que seria a desejar a bem do assumpto e do Instituto. Vol. IX. A Ethnographia da America, especial- mente do Brazil, conferencia feita em 1838 (e não 1888 como nol-o faz ler um erro typographico) por C. F. Ph. von Martius, é traduzida pelo Sr. A Lofgren. Residuos da edade de pedra na cultura actual do Brazil, pelo Dr. H. von Ihering; enumeração de muitos utensilios de que ainda hoje se servem os nossos pescadores e que lhes foram transmittidos pelos seus antepassados indigenas, como em muitos casos o indicam as proprias denomi- nações; varios desses objectos estão illustrados. Vol. X. Os primitivos aldeiamentos indigenas e indios mansos de Itanhaen por Benedicto Calixto. O fes- tejado artista dá-nos um resumo da historia do povoa- mento indigena de Itanhaen ao Sul de Santos e descreve tambem as actuaes condicções dos pobres aborigenas. Vol. XI. Traducção feita pelo Sr. A. Lofgren do interessante estudo de C. F. Ph. von Martius sobre o estado do direito entre os autochtones do Brazil. Mais adiante figura outra tradueção da publicação moderna de P. Ehrenreich: «A Ethnographia da America do Sul ao começar o seculo XX»; bem como da « Viagem ao in- terior do Brazil nos annos de 1814-1815 pelo naturalista G. V. Freireyss » São devéras utilissimas estas traducções, de originaes escriptos em publicações raras e linguas menos diffundidas, pois assim são trazidas ao facil alcance de todos nos. O Dr. von Ihering, escrevendo sobre a eth- nologia do Brazil meridional, relata varias lendas indigenas t DRA pe id a da a e À ie pd À DO o din 6 mile, cris Les d pin a de dm és ne Ag e as que lhes são correspondentes entre povos selvagens de outros paizes. Relatorios da Commissäo Geographica e Geologica do Estado de São Paulo. a) 1905 Exploração dos rios Feio e Aguapehy (extremo sertão do Estado) pelos engenheiros Olavo Hum- mel, Gentil de Moura, J. Bierrenbach Lima Jr. e pelo botanico Gustavo Edwall. b) 1906 Exploração do rio Tieté (Barra do rio Jacaré- Guassá ao rio Paraná) pelo engenheiro J. Black Scorrar e pelo geologo Guilherme Florence. ce) 1906 Exploração do rio Paraná (I Barra do rio Tieté ao rio Paranahyba; II Barra do Tieté ao rio Paranapanema) pelos engenheiros J. Black Scorrar e G. Florence (geologo) e Coronel Cor- nelio Schmidt. d) 1907 Exploração do rio do Peixe pelos engenheiros J. Pedro Cardozo, Chefe da Commissão, Gentil Moura e pelo botanico Gustavo Edwall. | Por influencia do Dr. Carlos Botelho, então secreta- rio da Agricultura do Est. de S. Paulo foi apressada a exploração do sertão desconhecido do Estado. Como havia mesmo rios cujo curso e communicação se ignorava in- teiramente, foram muitissimo uteis taes medidas, mórmente como quasi todas as expedições organizadas tiveram bom exito. Disso os relatorios que acabamos de enumerar dão prova e a sua rica ilustração, por meio de numerosas plantas e estampas, tornam interessantissimo cada um dos relatorios. Nao nos deteremos com os resultados prin- cipaes destas expedições (verificação de ser o rio Feio o mesmo que em sua f6z, no rio Paraná, é denominado Aguapehy e que o rio do E desagua mais ao sul no rio Paraná com o nome de rio Tire) com o que se con- seguiu deixar explorada toda a bacia hydrographica do — 460 — extremo sertão do Estado. Aqui interessam-nos mais os trabalhos dos Snrs. G. Edwall e G. Florence, que, como botanico e geologo, acompanharam as turmas e deram o relatorio dos seus estudos; mas, como éra natural, não pu- deram ser grandes os resultados, em vista de serem seus | trabalhos prejudicados pela marcha constante das turmas, que tinham em vista outros fins, e das quaes comtudo era impossivel separar-se, pelo risco que offereciam as caçadas isoladas no territorio dos indios bravios Coroados, os quaes de facto repetidas vezes agerediram as turmas (veja post): Tambem um colleccionador, que da parte de nosso Museu acompanhou a turma do rio Feio, não poude fazer grandes colleeções pelo mesmo motivo. De valor para o estudo da ethnographia dos nossos indios são as descripções detalhadas e as illustrações de muitos utensilios dos indios Coroados ou Caingangs, dos quaes bem pouco se conhecia. Como já tivemos occasião de mencionar, muitos dos artefactos colligidos foram of- ferecidos ao nosso museu, onde agora figuram em ar- mario especial. Revista Agricola, Lavoura, Commercio e Indus- tria, 8. Paulo, 1905-07, N. 112-149. Dos trabalhos originaes temos a destacar diversos da lavra do Snr. Arsenio Puttemans: Molestias do fumo em S. Paulo (N.º 112), causadas pelos fungos Cercospora nicotiane, e Alternaria tenuis; completam as descrip- ções boas figuras e indicações dos remedios. As molestias das plantas cultivadas: molestias da alfafa em S. Paulo, pelo mesmo auctor (N.º 119-121); sob ponto de vista scien- tifico são especialmente dignas de nota as informações referentes 4 «ferrugem», causada pelo cogumelo Urumyces striatus e & molestia causada pela Pleosphaerulina brio- siana Poll. f. brasiliensis Puttem; estudos novos, com ESTA ER ilustrações originaes. Tambem o Tylenchus devastatria é assignalado como inimigo da alfafa (pela primeira vez no Brazil). Revista da Sociedade Scientifica de S. Paulo (Anno 1 e 2). O primeiro fasciculo desta Revista foi publicado em Junho de 1905; dahi para cá constantemente ap- parecem novos numeros, sempre com variado conteudo, “contribuições dos consocios, referentes ás suas especia- lidades. Destas salientaremos as que versam sobre as- sumptos de bacteriologia dos Snrs. Drs. A. Lutz e A, Splendort e botanica do Dr. A. Usteri. Particularmente valiosos nos são vs escriptos do Dr. Adolpho Lutz, sobre os dipteros do grupo dos Tabanideos, as chamadas «mu- tucas». O auctor publicará mais tarde as diagnoses das especies novas, assaz numerosas na rica colleccäo de dip- teros sanguesugas (com ca. de 200 especies) do Instituto Bacteriologico de S. Paulo, do qual é digno chefe. No presente estudo, escripto em allemão, mereceram-lhe espe- cial attenção as especies já conhecidas pelos escriptores antigos e, corrigindo as indicações falsas, occupa-se tam- bem da sua biologia e distribuição geographica. Ancio- sos esperamos a publicação da monographia completa, que esperamos seja acompanhada de todas as valiosas aquarellas, de ha muito preparadas sob a direcção do illustre scientista. | Annuario da Escola. Polytechnica de 8. Paulo, Elano, 1903 27 V; 1905: 54 E 1906 : «VEL 1907. Entre as contribuições dos lentes e trabalhos de collaboração devemos mencionar como especialmente in- teressantes, em nosso ramo de estudos, o resumo da confe- rencia do Dr. Vital Brazil, sobre « Envenenamento ophidico e seu tratamento» com numerosas experiencias sobre o — 462 — veneno crotalico e o seu antidoto efficaz, o serum anti- crotalico. Do Snr. Arsenio Puttemans é um bello estudo sobre Ferrugem dos cereaes em S. Paulo; mais adiante, na parte botanica desta bibliographia voltaremos a este assumpto. Ainda do mesmo auctor figuram no Vol. VI uma Re- lação dos fungos parasitarios, observados nos hortos de ensaio da Escola (1905-06). O Dr. A. Usteri apresenta varios estudos botanicos: «Contribuição para o conhecimento da flora dos arredores da cidade de S. Paulo»; «Contribution à la connaissance du Struthantus concinnus», Loranthacea vulgarmente de- nominada «Herva de passarinho » com estudos anatomicos principalmente sobre a raiz; e que tambem contribue com algumas mil toneladas para a exportação. Ule, B.: Kautschuckgewinnung u. Kautschuck- handel um Amazonenstrome; Beiheft zum Tropenpflan- zer, Berlim, Vol. VI, N° 1, 1905, 71 pgs. Precedido de um resumo botanico, referente ás plantas fornecedoras de borracha, o conteúdo principal desta pu- blicação refere-se ao methodo seguido pelos nossos serin- gueiros para a obtensão do latex, o preparo usual deste, sua exportação, ete. Descreve tambem minuciosamente a vida que levam os operarios de um seringal, entre os quaes predominam os cearenses. Que haja mesmo algum exagero na descripção da sorte destes trabalhadores, mas geralmente esta é triste e digna de compaixão. Uma vez endividado para com o seu patrão, o que, com a grande carestia de todos os generos, é facillimo succeder, o pobre seringueiro fica quasi reduzido á posição de escravo. Muito variavel é o resultado do trabalho; annos ha em que o operario póde colher só 300 kls. de bor- racha, ao passo que em lugares mais favoraveis obterá até 1000 kls. O rendimento de uma só arvore pode variar tambem de 2 a 12 kls. por anne. Ule, E.; Kautschukgewinnung u. Kautschukhandel in Bahia; Notizbl. d. k. botan. Gart. u. Mus. Berlim, NEALE AY Ole POD: Por ordem do Bahia-Kautschuck-Syndikat de Leip- zig, o provecto conhecedor das nossas arvores de borracha A ad da dc a ie à eee > o be dpi ee bé. tdo bon ne A do a ae o At id Sd — 471 — percorreu, apoz sua viagem na Amazonia, o Estado da Bahia. Na publicação que apresenta, descreve primeiro a sua viagem e as impressões botanicas, passando depois a tratar das plantas productoras de borracha dessa re- giao. São ellas a mangabeira (Hanicornia speciosa) e a maniçoba, arvores do genero Manihot. Deste genero de Euphorbiaceas conhecem-se ca. de 82 especies, das quaes 72 occorrem no Brazil; mas só se sabe de 5 especies que forneçam borracha e 3 destas vem descriptas como novas pelo Snr. Ule. Boas ilustrações no texto e em estampas mostram-nos estas plantas. Passando a estudar os methodos empregados na colheita, vê-se que em parte os «borrageiros» seguem 0 mesmo systema usado pelos seus collegas «seringueiros » da Amazonia; em parte uzam outro, que é o seguinte: fazem uma pequena excavação na terra, junto ao tronco e ahi, no collo da raiz, férem a arvore com a ponta da faca; para que a borracha não se misture muito com a areia, forram o buraco com folhas ou com barro (de cupim), que depois facilmente se lava. Assim, de uma. só vez, obtem-se geralmente peças de ca. de 50 a 100 er. de peso, mas tambem se tira muito mais, excepcio- nalmente até 1 kl. Com excellente conhecimento do assumpto, o auctor passa a discutir a productividade geral destas arvores de borracha, aconselhando ao mesmo tempo muitos melho- ramentos para a cultura. Finalmente compara a borracha do Para (Hevea) com a da Bahia (Manihot); aquella é de qualidade superior e alcançará, pois, sempre preço superior; mas esta offerece, em compensação, vantagens consideraveis. Assim já no 4º anno a maniçoba dá boa colheita (Hevea só no 8º ou 10 anno); a colheita é mais facil e, especialmente, não requer, como a Hevea, o melhor terreno, podendo ser plantada em regiões aridas, sem valor para outras culturas. — 472 — Pecholl,. Th.; Heil-und Nutzpflanzen Brasiliens ; Ber. d. Deut. Pharmac. Gesellsch. Berlim, Ann. XV fase. 67. (1909); AVL fase sO; "Os, (eos Da grande familia das Euphorbiaceas, que tem uma representação de 67 generos e ca. 884 especies no Brazil, o auctor conhece 172 especies, com emprego technico, economico ou therapeutico. Referindo-se a cada uma destas especies, scientificamente classificadas, indica a sua distribuição geographica e o seu nome vulgar; descreve depois rapidamente o vegetal e passa a tratar extensa- mente do seu emprego indigena; de muitas especies dá- nos o resultado de suas analyses chimicas. A literatura concernente, antiga e moderna, é optimamente aproveitada, o que torna intessante, tambem ao leigo, esta publicação tão valiosa pelas communicações scientificas e de utilidade practica. Barbosa, Rodrigues, J.; L’wiraéry ou curare, Ex- traits et complément des notes dun naturaliste brési- lien; Bruxellas, 1903. Este trabalho é mais um fructo das longas viagens do auctor na Amazonia e das observações e estudos rea- lizados nessa região. A palavra «uiraêry», composta de wira (passaro), cor (matar) e y (liquido), significa: liquido para matar passaros. À arma, com a qual são arremessadas as pe- quenas flexas, embebidas neste veneno, é a «sarabatana», palavra derivada, por corrupção, de carauatana (cara- furado, wa-madeira, atan-duro). As sarabatanas são feitas de dous pedaços cylin- dricos de madeira, que, depois de furados e bem alisa- dos por dentro, são adaptados um ao outro, tornando-se a juncção mais solida por tiras de fibras vegetaes, que se enrolam ao redor das duas peças. O auctor enumera todas as tribus amazonicas que fazem uso deste veneno e dá uma breve descripção dos — 473 — costumes de cada uma. O verdadeiro curare, que deve a sua acção particular sempre a um Strychnos, é des- tinado exclusivamente á caça e nunca á guerra. A sarabatana com a flexa envenenada é uma ex- cellente arma de caça, que não só fornece ao indio a carne para o seu sustento, mas tambem quantos animaes vivos elle quizer. Querendo apoderar-se da caça viva, os indigenas applicam sal como antidoto ao animal ferido e paralysado, e conseguem que elle se restabeleça em pouco tempo; o sal é applicado tanto externamente na ferida como internamente. Foi esta parte da exposição do auctor que se tornou alvo de violenta contestação, e originou uma longa polemica entre os Snrs. Lacerda e Joubert de um lado e o auctor do outro. Tudo que diz respeito a esta polemica, artigos de jornal, actas sobre as respectivas experiencias, pareceres de summidades scientificas, encontra-se reunido no capi- tulo IV. O auctor sustenta que as experiencias, feitas pelo Snr. Lacerda, para provar que o sal não é anti- doto, não pódem invalidar em nada a sua affirmação, porque o veneno empregado não foi o curáre legitimo, - cujo effeito sempre se déve a um Strychnos, mas um liqui- do obtido de Menispermaceas, que não póde ser neutra- lisado pelo sal. Este falso curáre é fabricado principal- mente em Caldeirão, Tonantins e Içá e destinado 4 venda e exportação ; nada tem de commum com o curáre dos caça- dores indigenas, fabricado por estes mesmos para seu uso. Os effeitos do falso curáre, constatados nus expe- riencias do Dr. Lacerda, são totalmente differentes dos do legitimo. O animal ferido é accommettido de con- vulsões, espasmos e ás vezes vomitos, mostra afilicção e o desejo de fugir, emquanto que, ferido pelo verdadeiro curáre, extrahido da Strychnos, o animal parece como que possuído de um certo bem estar, de um cansaço agradavel, que o convida ao repouso; elie dispõe-se para dormir e a vida esvahe-se sem tormentos nem dôres, permanecendo as faculdades intellectuaes intactas até o ultimo momento. O coração continua a bater algum tempo depois da morte do animal e, mesmo arrancado do peito, palpita ainda as vezes perto de meia hora. Debaixo do mesmo ponto de vista o auctor exerce no ultimo capitulo a critica de duas publicações do Dr. Lacerda Filho sobre o mesmo assumpto: «Curare pré- paré au moyen d'une seule plante de la famille des Me- nispérmacées» dos Archivos do Museu Nacional e « An- notações á historia do urári» (Annaes da Academia de Medicina, 1899, I 65, p. 1-21). Puttemans, Arsenio; Ferrugem dos cereaes em S. Paulo; Annuario da Escola Polytechnica de 8. Paulo para 1905. Das pesquizas do auctor sobre a «ferrugem» dos ce- reaes em S. Paulo, resultou que esta molestia aqui não é produzida, como até agora geralmente se acreditava, pela Puccinia graminis Pers, que para seu desenvolvi- mento necessita do concurso da «uva espim», Berberis vulgaris L., planta esta que não se encontra neste Es- tado. Esta circumstancia já devia suggerir a supposição que a ferrugem dos cereaes daqui era essencialmente - differente da que se observa em outras regiões, onde existe a Perberis. E, de facto, o auctor conseguiu provar que este mal é causado em 8. Paulo pela Puccinia rubigovera D. C. que tem um cyclo vegetativo diverso da P. gramanis, não precisando, para a sua propagação, da Berberais. Falta determinar ainda qual esta planta, desconfiando o auctor que seja uma Borraginacea. Spegazzim, Carlos; Fungi aliquot Paulistana ; Rev. del Museo de la Plata, Vol. XV, 1907, Ser. 2, tom. II, p. 7-48. Tendo o auctor recebido uma rica collecçäo de fungos colligidos em S. Paulo pelo Dr. A. Usteri, classificou-os e verificou nada menos de 154 especies, uma grande parte das quaes considerou novas e decreveu. Rehm, Dr. H. & J. Rick; Novitates brazilienses ; Loc. sup. cit. p. 223-226. Descripção de 16 especies novas de fungos. Rick, Pº J.; Pilze aus Rio Grande do Sul; Bro- teria, S. Fiel-Portugal, 1906, vol. V; p. 5-53, Est. TAKE As 310 especies de fungos do Rio Grande do Sul, que o operoso padre Rick enumera, pertencem especial- mente 4 ordem dos Basidiomycetas e dos Ascomycetas. Um grande numero das especies descriptas é novo para a sciencia; seis excellentes estampas phototypicas illus- tram os principaes typos. Rick, Pº J.; Fungi austro-american eas. Kase. 1 Annales Mycologici, vol. TI, n. 5, 1904, p. 1-5 e Fase. Pb Vol LER n°171905, po 15-16. Com o fim de tornar conhecidos os cogumelos sul- americanos, e facilitar o estudo delles, o auctor tem dis- tribuido representantes das especies, colligidas por elle, em collecções consecutivas de 20 exemplares cada uma, dando as notas explicativas, concernentes a cada colle- cção, nos Annales Mycologici; o Fasc. I contém os Ns. 1-20 e Fasc. II os Ns. 21-42: entre elles descreve duas especies e duas variedades novas. Hennings, P.; Fungi fluminenses a. cl. E. Ule collecti ; Hedwigia Vol. XLITI, p. 78-95. Descripção de uma collecçäo de cogumelos, reunida pelo Snr. Ule, no Rio de Janeiro. Hennings, P.; Fungi amazonic a cl. Ernesto Ule collecti ; Hedwigia, Vol. XLIII, I, p. 154-186 — 476 — com Estampa III; IT ibid. p. 242-273, Est. IV; III ibid. p. 351-400, Est. IV; Vol. XLIV p. 57-71. Nos annos de 1900-1903 o Snr. Ule tez abun- dantissimas colleccdes de cogumelos na região amazonica, principalmente nas seguintes localidades: Marary e Bom Fim, no Juruá, Rio Negro, Marmellos, affluente do Ma- deira, e no Perú: Leticia, Iquitos, Yurimaguas. E” riquis- simo o material destas collecções, 700 especies mais ou menos e entre ellas muitas especies novas são deseriptas. Não podemos entrar em apreciação mais particular deste importante trabalho; seja só mencionado que á pag. 244 ss. encontramos descriptas varias especies do interessante genero Cordiceps, cogumelos parasitarios, que vivem nos gafanhotos e outros insectos; a Est. IV mostra figuras explicativas referentes ao mesmo assumpto. Brotherus, V. F. Muse amazonici et subandina Uleani ; Hedwigia XLV. De egual proveniencia são as 113 especies de mus- gos, descriptos nesta publicação e das quaes boa parte era nova á sciencia. Bauer, E.; Laub—und Lebermoose von Porto Ale- gre; Verhandl. der k. k. zool. bot. Gesellsch. Wien, Vol. LV, 1905, fase. 9-10, pag. 575-560. Sao ahi enumeradas pelo auctor as numerosas espe- cies de musgos do -grupo dos Bryophytas que, pelos Snrs. Ed. Reineck e J. Czermak, foram colligidos nos arredores da capital do Estado do Rio Grande do Sul. O facto de terem sido colhidas só poucas novidades ex- plica-se por ter o Snr. E. Ule dedicado no Sul do Bra- zil muitos annos de estudo a este grupo de plantas. Jahn, E.; Myxomyceten aus Amazonas, gesam- melt von E. Ule; Hedwigia Vol. XLIII p. 300-305. Descripção de 13 especies de Myxomycetas, colli- sidas pelo Snr. Ule na região amazonica. Esta pequena — 477 — colleeção parece indicar um certo parentesco com os _Myxomycetas da America do Norte, sobre o que, no emtanto, só collecções mais completas pódem dar certeza, Rosenstock, E; Beiträge zur Pteridophytenflora Stidbrasiliens; Hedwigia, Vol. XLIIT, 1904, p. 210-258. Deseripção de uma rica collecçäo de fétos, proveni- ente do Brazil meridional, sendo algumas especies novas. Os fétos, descriptos de S. Paulo, foram colligidos em Toledo; acha-se entre estes a interessante especie Azolla microphylla, que se encontra fluctuando nos ribeirões. C. — Geologia e Paleontologia Thering, Hermann von; Archhelenis und Archa- notis; Leipzig, 1907, 350 ps, 1 mappa. O livro deste titulo é um conjuncto de escriptos em parte antigos, em parte modernos do Dr. H. von Thering, todos referentes a questões biologicas da America do Sul, estudando o auctor em todas ellas principalmente aquillo com o que contribuem para esclarecer a historia e a formação deste continente. Por isto os 16 capitulos desta obra são de per si referentes todos a assumptos os mais diversos; no conjuncto, porém, vem todos docu- mentar as ideias expostas nos ultimos capitulos, que tratam do desenvolvimento do continente sulamericano. Dispen- samo-nos de dar um extracto da interessante exposição do auctor, quando descreve a conformação dos continentes Archhelenis e Archinotis, que na época terciaria repre- sentavam, um, a America do Sul e a Africa unidas, outro o continente antarctico, ligado 4 Australia; a quem for de interesse este assumpto indicamos a tradução do capitulo XII, «Historia da fauna marina do Brazil», da obra «Les Mollusques fossiles du tertiaire et du Cretace sup. de P Argentine», do mesmo auctor, que damos neste volume da Revista, p. 337 e seg. Ahi reproduzimos tambem o — 478 — mappa (Est. XIII) referente á distribuição de terra e mar no globo, durante a formação eocenae, cujo original acompanha o livro « Archhelenis e Archinotis ». Arldt, Th.; Die Entwivkelung der Kontinente und ihrer Lebewelt; Leipzig, 1907. | O auctor, que já em varias publicações se occupou da antiga geographia do globo e das modificações suc- cessivas da fauna e da flora, trata neste livro de modo completo do mesmo assumpto. E um volume bem im- presso, de 730 paginas, illustrado por 17 figuras e 23 mappas. Estes ultimos representam os continentes do Cambrio, do Silur e Devon e das formações subsequentes, tendo sido sempre aproveitadas as publicações concernentes, mais importantes, com excepção só dos valiosos estudos e respectivos mappas de Ortmann, entre os quaes, par- ticularmente os referentes á distribuição e historia dos Crustaceos, são valiosissimos. Com relação aos organismos modernos e terciarios, o auctor distingue 3 reinos, a Paleogea, com as regiões da Australia, America meridional e Madagascar, a Mesogea comprehendendo as regiões africana e oriental e a Cenogea abrangendo a região holarctica. E” obra elaborada com grande zelo, cujos resultados em parte coincidem com os nossos. (Quanto ás relações antigas da America meridional com outros continentes, as nossas opiniões divergem, como é natural, visto que o material geologico, que forma a base de nossas con- clusões, não era ainda conhecido ao auctor. SV Simroth, Heinrich; Die Pendulationstheorie ; Lew- ZUG, cL OO. Esta nova e interessante obra é destinada a explicar as modificações pelas quaes passaram os continentes e seus organismos no correr das épocas geologicas. O auctor — 479 — toma por base de suas especulações a theoria de Reibisch, segundo a qual a posição dos pólos de nosso globo se desviou, com grande amplitude, durante as diversas épocas geologicas. A Africa é segundo o auctor, o unico con- tinente que não está de accordo com a theoria, e, por este motivo, Simroth accredita que o mesmo represente apenas uma lua, que tivesse cahido do céo no mar atlan- tico, causando assim a deslocação dos pólos (p. 543-544). Por nossa parte não podemos abandonar a base solida, que as investigações geologicas tem fornecido para o conhecimento do desenvolvimento do nosso globo. El. voc th. Derby, Orville A.; Notas geologicas sobre o Es- tado da Bahia ; Boletim da Secretaria de Agricul- tura, Viação, Industria e Obras Publicas do Estado da: Baka, vol. VIT, Bahia, 1905; p. 12-31, Este importante estudo, publicado pelo sabio chefe do Serviço Geologico e Mineralogico do Brazil, merece attenção toda especial, pelo valor que têm, para a nossa literatura, taes raras contribuições. Infelizmente devemos - limitar-nos a transcrever as conclusões desse relatorio da excursão geologica. Resumindo estas observações, quanto aos recursos mineraes e agricolas do Estado, e encarando estes debaixo de outros pontos de vista, cuja exposição detalhada não cabe nesta simples resenha geologica, pode- se dizer: I As jazidas mineraes, até hoje conhecidas, que apresentam condições naturaes de possança favoraveis para uma exploração industrial, são as de diamantes e carbonados, ouro, monazite, cobre e, presumivelmente, graphite e mica. IT O aproveitamento destas jazidas depende menos das suas condições naturaes do que das artificiaes, sus- ceptiveis de modificação pela acção humana, mas que actualmente constituem impecilios prohibitivos da lavra 480 — da grande maioria dellas. Entre estes impecilios os mais importantes são: as difficuldades de transporte, a falta de legislação adequada, a confusão e falta de segurança nos titulos de propriedade territorial, as exigencias dos proprietarios dos terrenos mineraes e a falta de pessoal apto para os serviços de mineração, especialmente os das pesquizas preliminares. HI A capacidade agricola dos diversos terrenos do Estado depende mais das saas condições climatologicas (irregularidade ou deficiencia de chuva) do que da sua composição e extructura geologica. Em virtude destas condições só ha probabilidade da lavoura se generalizar em algumas regiões mais favorecedas, que se apresentam especialmente no litoral do sul do Estado, sendo espo- radica em grande parte ao sertão, onde a industria pas- toril ha de continuar de occupar as maiores extensões do territorio. IV Sémente nas regiões relativamente limitadas ha probabilidade de se poder minorar os effeitos das seccas, pela utilização de aguas subterranea, obtidas por meio de poços artesianos. Na maior parte do territorio, que soffre de escassez” de agua, o allivio possivel ha de vir do melhor apro- veitamento das aguas superficiaes, armazenando-as por meio de açudes. Calogeras, J. Pandid; As minas do Brazil e sua legislação; 3 vol. Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1904. Os tres bellos volumes publicados sob este titulo representam um parecer apresentado na Camara Federal dos Deputados á Commissäo especial das minas pelo auctor, em sua qualidade de relator. Expondo a materia com optimo conhecimento do assumpto e salientando sempre as medidas que julgava conveniente serem to- — 481 — madas em prol do desenvolvimento da industria, guiava-o sempre o pensamento de, «na mais extensa medida, libertar de peias administrativas e fiscaes quer as pes- quizas, quer o meneio das jazidas». E antes de tudo cumpria dar organização á « lei de minas », para eliminar as duvidas existentes nas relações de direito civil, a que a exploração das riquezas mineraes daria lugar. Dando amplo desenvolvimento a este programma, o Dr. J. P. Calogeras elaborou verdadeiras monographias, em que sempre estuda o historico da mineração no Brazil e os antigos methodos empregados; depois as investiga- ções geologicas realizadas, os aperfeiçoamentos introduzidos nos processos de extracção e a producção. actual no Brazil; nas Conclusões discute questões dignas de critica severa; por fim uma extensa lista bibliographica indica fontes literarias para mais detalhadas informações. Seguindo sempre, com grande proveito para o facil manejo da obra, este methodo de exposição, o auctor dá-nos, no 1.º volume, os capitulos referentes ao ouro, ao diamante, ás pedras coradas (turmalinas, aguas-mari- nhas, agatas, topazios, etc), terras raras (barvo, tellurio, . titanio, zirconio e outros mineraes raros, cujo emprego industrial os torna procurados) e areias monaziticas. No 2º volume são estudados: ferro, manganez, cobre, os combustiveis, prata, e substancias diversas, como chumbo, sal, salitre, e materias para a industria e para as cons- trucções. Nas Conclusões geraes estuda conjunctamente os multiplos factores que impedem o amplo desenvolvi- mento da mineração no Brazil. O 3º volume contem “exposições sobre direito mineiro e um resumo da legis- lação dos Estados do Brazil; o projecto de lei regu- lando a propriedade das minas e, em annexo, diversos projectos e pareceres anteriores. O valor desta obra, quanto ao nobre fim a que se destinava, como parecer apresentado aos poderes legisla- tivos de nosso paiz, é evidente. Mas ainda, independente deste serviço prestado, a obra do illustre auctor será geralmente apreciada e procurada, pois ahi vamos en- contrar, exposto em bello estylo, assumptos que a todos nós interessam e sobre os quaes até agora não encon- travamos em nossa literatura informações positivas, amplas e modernas: as riquezas mineraes do Brazil. Camara, Antonio Alves; O Manganez no Esta- do da Bahia, 1906, Rio de Janeiro. O auctor prevê um bello futuro á exploração do manganez na Bahia, por ser superior em qualidade ao da Russia e de Minas, e além disso serem menores as despezas para o transporte e o embarque transatlantico do que em Minas Geraes. A exploração. do manganez foi retardada por causas accidentaes, de cambio e preço dos terrenos, mas já houve grande progresso na explo- ração do manganez bahiano, pois a estatistica do embarque de Nazareth indica 820 ton. para o anno de 1901 e 3500 ton. em 1905. Hussak, Hug.; Ueber das Vorkommen von Palla- dium und Platin in Brasilien; Sitzungsb. der k. k. Acad. der Wissensch. Mathem. naturw. Klasse, Wien. 1904, V-VIT, pg. 379-406, Est. e 1. Esta importante publicação do distincto mineralogo da Commissão Geogr. e Geologico de S. Paulo estuda a occorrencia de Palladium e Platina no Brazil. Depois de enumerar a literatura concernente e discutir o lado historico da questão, passa o auctor a descrever minu- ciosamente o rico material mineralogico do qual dispunha, aproveitando tambem notas de observações feitas pelo Dr. M. Lisboa. A platina, conhecida no Brazil já ha cerca de 100 annos, tem sido encontrada em Pernambuco e especialmente em Minas Geraes. Em quasi todas as localidades, em que se a tem encontrado, parece apresen- tar-se como sendo de formação primaria, excepto porém — -483 na Serra do Espinhaço, onde parece antes tratar-se de formações secundarias, oriundas da decomposição de silex que contivéra a platina. Uma traducção portugueza deste valioso estudo foi publicada nos Annaes da Escola de Minas de Ouro Preto, 1906, N28, p. 77-188 pelo Dr. M: Arrojado Lisboa. Silveira, Alvaro da; Os tremores terra em Bom Suecesso (Minas Geraes); Bello Horizonte, 1906. Em Bom Successo deram-se, a 4 de Abril de 1901 e ainda algum tempo depois, leves tremores de terra e repetidos rumores subterraneos, que muito inquietaram a população da cidade mineira, sem porém realmente occa- sionar prejuizos. Não faltaram pessôas que, attribuindo- se uma competencia que em verdade não possuiam, cada vez mais amedrontaram a população com theorias terro- ristas. O livrinho do Dr. Alvaro da Silveira relata não só os factos, mas tambem toda a comedia pseudo-scien- tifica a elles ligada. Wettstein R; Brasilien und Blumenau ; Leipzig, 1907, 339 pag. Este bello livro, cujo titulo aliás foi mal escolhido, é essencialmente uma fonte de informações para os que se interessam pelos nucleos coloniaes allemães no Brazil meridional. Como o auctor viveu por longo tempo em Blumenau, especialmente a este prospero centro da actividade rural dos immigrantes allemães que o livro se refere. Abrem o livro alguns capitulos sobre a America do Sul e o Brazil meridional, com referencia a geographia politica e economica e diversas considerações geraes de interesse especial para os allemães. Passando a tratar da comarca de Blumenau, descreve-a detidamente, com optimo conhe- cimento, tanto das suas actuaes condições, como dos males ol ERR alti que impedem seu melhor desenvolvimento; é especialmente a falta de communicações rapidas e baratas, para a ex- portação, que o auctor aponta como maior impecilio. Seu juizo sobre a população é por vezes em demasia severo e não lh’o devemos levar a mal, no que diz respeito a nós, pois é o mesmo que tambem applica com relação aos teutos-brazileiros e a instituições allemães do minis- terio do exterior, etc. O que ainda em especial queremos salientar como ralioso neste livro é a abundante e optima illustração, por meio de mappas, estampas finissimas e bem esco- lhidas e figuras no texto e ainda a grande somma de dados estatisticos com que o auctor sempre procura do- cumentar suas affirmações. Thomas, Ivor; Neue Beitraege zur Kenntniss der Devomschen Fauna Argentiniens ; Zeitschrift d. Deu- tschen Geol. Gesell, Bd. 57, Jahrg. 1905. Nosso conhecimento da «formação: devoniana» da America do Sul, que ainda era bastante insuficiente, foi enriquecido consideravelmente pela dissertação acima men- cionada. Encontram-se depositos devonianos no Brazil, nos Estados de Matto Grosso, Pará e Paraná, e alem disto na Bolivia, na Argentina e nas ilhas Falkland. Foram os Snrs. Rathbun e Hartt que primeiro consta- taram relações intimas da fauna destes depositos sul- americanos com x dos depositos da America do Norte, chamados « camadas de Hamilton.» Esta opinião foi agora confirmada pelo auctor desta publicação. Thering, Hermann von; Les mollusques fossiles du tertiaire et du crétacé superieur de l Argentine; Anales a Museo Nacional de Buenos Aires, T. XIV, (Ser. CUT LOO Gece O tet lek hie Esta grande monographia dos molluscos fosseis do Terciario e do Cretaceo superior da Rep. Argentina, que AE Ou | por si completa um volume dos Annaes do Museu Na- cional de Buenos Aires, poude ser elaborada pelo auctor graças aos riquissimos materiaes, que lhe foram enviados, para seu estudo, pelo director daquelle museu, Dr. Flo- rentino Ameghino. De outro lado, só com o aprofundado conhecimento da fauna malacologica da America do Sul, como o do auctor, que ha 25 annos lhe devota especial attenção, tal trabalho podia ser levado a bom fim. Para dar uma ideia da difficuldade deste estudo, basta dizer que de só duas das formações contiguas mais antigas, Patagonica (Eoceno) e Super-patagonica (Eoceno superior) se conhece 282 especies de conchas e entre estas só 47 são com- muns ás duas formações; a presente monographia con- tribuiu com 110 especies novas para este total. O fim principal, que o Dr. H. von Ihering teve em vista com este estudo, foi o de contribuir com os dados, que forneceriam os molluscos fosseis, para a discussão, que vae tão accesa, sobre as edades geologicas da Pata- gonia e a correlação destas com as das regiões circum- visinhas. Para isto devia primeiro descrever monogra- phicamente o material conhecido, o que faz nos capitulos I- XI, onde são estudadas tambem as diversas forma- ções de per si e são corrigidas as classificações falsas da literatura anterior. O capitulo XII trata das relações zoogeographicas e geologicas desta fauna marina das diversas regiões da America do Sul e conjuctamente com este estudo, como o seu resultado de mais alto alcance, são discutidas as questões da historia, e pois do desenvolvimento, do nosso continente. Interessantissimas são as conclusões a que por esta fórma chega o auctor, que, no correr do estudo, muitas vezes lança mão de methodos ou expedientes novos. Como estes resultados constantemente vem trazer conhecimentos novos a respeito da historia geologica do nosso paiz, — 486 — julgamos até necessario divulgar, por uma revista do nosso meio, o conteudo de tão util e attrahente capitulo. Por este motivo demos neste mesmo volume da nossa Revista uma traducçäo do original francez, per- mittindo-nos, porem, supprimir algumas listas e discussões, que teriam interesse só a quem lêsse tambem os capi- tulos anteriores, distinados aos especialistas. EH. Koken; Indisches Perm und die Permische Piszeit; Neues Jahrbuch f. Min. Geol., & Paleont., Festband 1907, Stuttgart, pgs. 446-546. O auctor communica, neste tratado interessante, os resultados de sua viagem á India, que fez com o fim de estudar a formação permiana desse paiz. Nas pagi- nas 530-544 discute-se a questão das causas do pericdo glacial permiano. Segundo Arrhenius explica-se este phe- nomeno só pela redueção da quantidade de acido carbonico contida na atmosphera. Mas E. Koken julga não poder adoptar esta hypothese. Considerando que no periodo : permiano todas as condições physicas eram outras, não sómente com referencia á distribuição dos continentes, mas tambem com. relação a outros elementos physicos, como da altura das montanhas, composição do ar, etc. Ha auctores, tambem, que julgam, que os dous pólos soffreram uma deslocação nesta época. E” porem muito mais natural suppôr-se, que o. phenomeno glacial permiano tivesse sua origem nas condições physicas d'aquelle pe- riodo. E” um trabalho infructifero de Arrhenius, querer dar uma solução a este problema, por uma hypothese que se baseia em acções telluricas, que nunca se poderão verificar e que, em todo caso, são muito inverosimeis. A questão da causa deste periodo glacial permiano é dum interesse especial para nós, pois que o abalizado geologo, Prof. Orville Derby, que estudou esta formação em nosso Estado, achou um grande bloco eratico, que julga ser desse periodo glacial. ND. ti a — 487 — “Derby, Dr. O. A.; the Serra do Espinhaço, Bra- zul; The Journal of Geology, vol. XIV, 1906, n. 5, p. 374-401. Baseado tanto em observações proprias, colhidas em repetidas viagens, como no estudo da respectiva literatura, o illustre geologo, auctor de mais este valioso estudo, dá uma detalhada descripçäo da Serra do Espinhaço, que, na sua accepção hodierna, comprehende © districto das cabeceiras e vertentes da bacia do $. Francisco, nos Es- tados de Minas Geraes e Bahia. Relativamente bem ex- plorada, esta região déve a sua bibliographia um tanto rica ao facto de conter em certa abundancia a pedra e 0 metal mais preciosos que geralmente se explora: o dia- mante e o ouro. Caracterizam esta serra a topographia aspera de seus picos, em media com cerca de 1.000 m. de altitude e a abrupta delimitação, por escarpas de algu- mas centenas de metros, contra as regiões mais planas e baixas. As rochas componentes desta grande serra divi- dem-se em tres grupos, que são: I. Os gneisses e mica- schistos; II. Os schistos, quarzitos e calcareos das re- gides auriferas; III. Os quarzitos e gréz das regiões diamantiferas. A estes mineraes associam-se granitos e outros de origem eruptiva, que não alcançam as séries superiores e provavelmente são mais antigos. (Quanto á estructura, geologica o auctor mostra que «a Serra do Espinhaço consiste em um «complexo basal» de rochas metamorphicas e eruptivas, tendo sobreposta, com estra- tificação discordante uma ou mais séries de estratos quarzitosos, que têm sido perturbadas por um systema de dobras com a orientação geral de norte, ao passo que no resto da região montanhosa do Brazil sudeste, da qual esta serra constitue uma parte, a orientação domi- nante dos estratos é nordeste.» — 488 — Quanto á edade geologica do terreno da Serra, são varias as hvpotheses que dominam, devido ao estudo ainda imperfeito dos fosseis. Comtudo o Dr. Derby acha que provavelmente devem ser consideradas paleozoicas, dos periodos devoniano ou permiano, as rochas deste systema, datando da mesma épocha a elevação que sof- freram. Outras localidades, como as do curso medio do Je- quitinhonha e das camadas terciarias da costa, do cre- taceo de Paulo Affonso, etc. demonstram que, provavel- mente na épocha terciaria, se effectuou um movimento de elevação, provavelmente simultaneo, e de egual im- portancia para toda a região. Acabamos de receber agora o vol. XII da Revista do Inst. Hist. e Geogr. de São Paulo e ahi (pags. 40- 59) folgamos em ver reproduzido na integra este artigo, em portuguez e pois ao facil alcance dos que entre nós se interessam pelo assumpto. Catzer, Fried.; Beitrag zur Geologie von Ceará; Denkschr. d. math-natw. Kl. k. Ak. Wiss. Wien, Vol. LXNVIII, 1905, p. 525-560 e mappa. O auctor dá publicidade ás suas valiosas observa- ções geologicas, feitas em 1897, em uma excursão ao interior do Est. do Ceará. Só na zona costeira encon- trou formações quaternarias, que em parte tambem po- derão pertencer ao terciario. No mais a parte central do Estado é formada pelo Archaico; ahi predominam gneiss e juntamente apparecem (Granito e Syenite. Estas ultimas rochas mostram a mais interessante conformação de cônes ou cupolas de 100 a 200 metros de altura, marcos que documentam o muito que o constante traba- lho de erosão retirou em seu redor. Branner, John Casper; The Stone Reefs of Bra- zil, their geological and geographical relations, with a chapter on the coral reefs. Bulletin of the Museum i it ci a i a i RE ee dt. — 489 — of Comparative Zoology at Harvard College, vol. XLIV Cambridge. Mass. 1904. E este um importante trabalho sobre os recifes de grés brazileiros, de tanto mais valor, porquanto muito pouco até agora foi escripto sobre a geologia da costa brazileira; são poucos os homens de sciencia que se tem occupado dos recifes de nossa costa. O primeiro que nos deu uma descripçäo neste sen- tido foi Darwin, que, na sua viagem no «Beagle», tocou em Pernambuco e reconheceu que os recifes desta região eram formados de areia endurecida. Hartt, em 1870, mos- trou que a opinião, de que um recife uniforme acom- panhasse a costa do Brazil, era destituida de fundamento e que se encontram porções isoladas de recifes, tanto de coral como de grés. Pelo trabalho de Branner ficamos agora conhecendo a formação da costa brazileira numa extensão de 1.000 milhas maritimas, pouco mais ou menos, desde Espirito Santo até o Rio Grande do Norte. | Na primeira metade do Plioceno teve logar uma consideravel depressão da costa, seguida de uma eleva- ção de menor importancia; os recifes de grés formaram- se durante esta épocha da depressão; elles consistem em camadas quasi horizontaes, que só fracamente se incli- nam para o mar, da mesma fórma como as costas de areia. À parte rochosa tem uma espessura de tres para quatro metros e assenta sobre areia, conchas e limo, que não mostram regularidade alguma de disposição. Quanto aos depositos cretaceo-eocenos nota-se uma singular dis- cordancia entre os fosseis e a formação destas camadas; emquanto esta paréce indicar a épocha terciaria, os fos- seis provam a edade cretacea. A determinação exacta da época torna-se assim suiimamente dificil, devendo-se recorrer á hvpothese de que muitas fórmas terciarias da America do Norte existiram no cretaceo do Brazil ou — 490 — que as fórmas cretaceas de outras partes da terra sobre- viveram no Terciario do Brazil. O auctor acha mais provavel a segunda supposição, visto que os estudos de Dall sobre Molluscos e os de Verril sobre Coraes pro- varam que as respectivas faunas de Florida e das In- dias occidentaes são originarias do Brazil. Assim se chegaria á explicação de que a fauna terciaria das regiões do Golfo de Mexico, proveniente do Brazil, tivesse pas- sado por certas modificações, devido a influencias locaes, emquanto a fauna brazileira da mesma épocha, que não soffreu taes alterações, conservou seu aspecto cretaceo. Smith Woodward, A.; On a Amiod fish from the Cretaceous of Bahia, Brazil. Ann. and Mag. Nat. Elasti sen 1,1 Londres, 1902, 4476 Descripção de uma nova especie Megalurus maw- sont, encontrada no Cretaceo da Bahia. E’ de grande interesse scientifico este achado, por ser este exemplar o unico de peixe Amido typico até agora conhecido das formações da America meridional. E’ de notar ainda que o genero Megalurus na Europa pertence á formação do Jurassico superior. Woodward, A. Smith; On some Dinosaurian bo- nes from South Brazil; Geol. Mag. N. S. (4), 1903, o RARO pa Este estudo baseia-se em material colligido pelo Snr. J. Fischer em Santa Maria da Bocca do Monte (Serrito) no Est. do Rio Grande do Sul e pelo mesmo offerecido ao Museu Paulista. Trata-se de restos de saurios alliados a Huskelesaurus. No presente volume (p. 46-57) o distincto scientista honra-nos com sua colla- boração, tendo-nos enviado um desenvolvido estudo sobre o mesmo material. Solms-Laubach, Graf H.; Ueber die Schicksale der als Psaronius brasiliensis beschriebenen Fossilreste ant ds D nl née +2 NO ee E NS DON ee ee — 491 — unserer Museen; Festschrift zu P. Ascherson's TO. Geburtstage. Berlin, 1904, p. 18-26. Por esta publicação fica provado que a bella chapa de Psaronius brasiliensis Unger, isto é uma secção ar- tificial de um tronco fossil de um féto arborescente, exposta no Museu Nacional do Rio de Janeiro, fazia parte do mesmo tronco do qual outras secções estão guardadas nos Museus de Paris e Londres. Solms-Laubach veri- ficou a historia deste blóco, na qual se acha envolvida o nome do colleccionador Claussen, que fora companheiro de Sellow em suas viagens pelo Brazil meridional. O Dr. Derby, em artigo publicado no «Jornal do Commercio» do Rio de Janeiro, de 14-1[-05, diz ser provavel que este tronco, cuja procedencia não é conhecida, seja pro- veniente do Estado do Rio Grande do Sul. Outros exemplares de Psaronius do Estado de S. Paulo foram descobertos e examinados pelo Dr. Derby. Bonnet, Ed.; Contribution à la flore de la pro- vince de Bahia; Bull. du Mus. d’ Hist. Naturelle, 1905, OE Ose TOTO. Estudando as plantas fosseis, que o Museu de Paris obteve ha tempos do material colligido pelo Dr. Orville Derby em Ouricanga, Est. da Bahia, o auctor compara o resultado de seus estudos com os a que chegou Konst. von Ettinshausen (cf. Sitzb. der Mat. Natw. Klasse d. k. Akad. d. Wiss. Wien, CXII, 1903, p. 852), baseado em material da mesma localidade, reunido pelo Dr. Hussak. Pertencem todas ao periodo plioceno e quasi que não differem dos representantes actuaes das especies com- paradas. ; D-— Anthropolosia Koch-Grünberg, Th.: Südamerikaniche Felszeich- nungen; Berlin 1907, 92 pgs. 30 estampas. Um bello volume em que o apreciado ethnographo estuda as «Pictogravuras sulamericanas>. As prolongadas viagens do Dr. Koch em 1903 a 1905 pelo Japurá e Alto Rio Negro forneceram-lhe abundantissimo material; alem disto revela-se profundo conhecedor da nossa lite- ratura concernente e assim poude dar-nos uma monogra- phia sobre o assumpto. A’s centenas foram reproduzidos os desenhos gravados pelos indios em rochedos e alguns tambem feitos sobre utensilios. Representam esses desenhos: caricaturas de pessoas, de peixes, cagados, cobras, aves, etc. ou simples desenhos “lineares, curvas, circulos, sempre, porem toscos e rara- mente como que representando uma acção ou um con- juncto significativo. Tomando isto em consideração, bem como varias outras cireumstancias, como o pequeno aperfeiçoamento alcançado, ete, o auctor nega-lhes o valor de communi- cações caracterizadas, que alguns auctores querem dar à estes desenhos. «Assim como o indio, nas horas do ocio, rabisca com o carvão toda a sorte de figuras na parede de sua casa, elle tambem se sente tentado ensaiar sua arte infantil nas faces lisas do rochedo.» Koch-Griinbera, Th. Anfänge der Kunst im Ur- wald; Berlin, 1906. Um complemento muito interessante e curioso da obra acima referida é esta, dos «Inicios da arte na flo- resta». Durante a mesma viagem aos rios Negro e -fapura o Dr. Koch colligiu uma immensa quantidade de de- senhos, feitos a lapis pelos indios, a pedido do auctor. Por vezes as notas explicativas tornaram-se indispensaveis para a interpretação de taes desenhos; muitas figuras porem caracterizam nitidamente o original pedido e a alguns dos auctores destes desenhos não se pode negar talento e habilidade na representação de animaes, pessoas ou de alguma scena. — 495 — Friderici, Georg; Skalpieren und aehnliche Kriegs- gebraeuche in America; Braunschweig, 1906. Aos ethnographos é de interesse e valor especial este excellente trabalho de Friederici, no qual o auctor depoz suas ricas experiencias e seus amplos conhecimentos ethnologicos. O estudo abrange os indios de ambas as Americas. Conhecedor perfeito da literatura respectiva, dá-nos valiosas informações sobre o escalpamento e outros costúmes de guerra. D’um interesse especial para nós é o que communica a este respeito sobre os indigenas do nosso paiz. Elucidando a origem etymologica da pa- lavra «escalpo », julga que esta se deriva do alto-allemão- antigo, de onde passou para o inglez e outros idiomas. Sobre a questão onde este costume de guerra foi primeiro exercido, existe grande divergencia de opiniões entre os diversos ethnographos; o auctor julga que a mesma tenha partido da peninsula Florida. O fim que os indios tinham em vista com esta mutilação, era duplo: ganhar um tropheo, que lhes fosse mais facil transportar do que o craneo todo, e ao mesmo tempo privar o morto da alma, pois o culto destas nações primitivas ensina que um homen sem escalpo, não póde mais participar dos gozos celestes. A este respeito, pois, o escalpamento se distingue de todos os outros costumes de guerra, como o de cortar as orelhas, dedos (Tupis), mãos, de cavar os olhos, de esfolar toda a pelle dos mortos, costumes esses que representam apenas actos de vingança. O primeiro auctor que fornece valiosas informações sobre o escalpamento usado entre os indios sul-americanos, é Ulrich Schmiedel (Guaycurá-Mbayás, Abipó, etc.); mas elle declara expressamente que os Guaranis não conhe- clam este uso de guerra. Interessante é o que Hans Staden e Claude d'Abbéville commnicam sobre os Gua- ranis e Tupis. Si é licito dar-lhes credito, estes indios satisfaziam-se com a obtenção da cabeça do inimigo, — 494 — mas não conheciam o costume de escalpar os inimigos mortos. Cortavam toda a cabeça com suas facas de taquára, para conserval-a como tropheo ao lado das suas cabanas. O mesmo constataram Orellana e Acuña, para os tupis do valle do Amazonas. Quanto aos Mundurucás os chamados «espartanos dos territorios amazonicos », suas cabeças mumificadas são sufficientemente conhecidas. Os tropbeos dos Botocudos são, segundo Wied, muito parecidos com os dos Munducurás. Assim é evidente que os indigenas do Brazil não conheciam o costume do escalpamento, emquanto que todos os indios da America do Norte escalpavam. Friederici, Georg; Die Schiffahrt der Indianer ; Studien und Forschungen zur Menschen-und l’oel- kerkunde unter wissenschaftlicher Leitung von Georg Buchan, Stuttgart 1907 ; Mais um bom trabalho ethnographico sobre os in- digenas da America, com referencia especial 4 navegação primitiva em nosso continente. Algumas paginas introductorias demonstram a in- clinação e aptidão dos indios para a navegação. Segue depois uma descripção dos diversos typos destes bateis primitivos, onde tambem trata extensamente das canoas, pirogas e ubás dos nossos indigenas. Infelizmente o auctor não completou o seu estudo com a investigação da etymologia das denominações indigenas; sem duvida, como elle mesmo reconhece, isto é muitas vezes difheil e em certos casos torna-se quasi incomprehensivel a vasta divulgação dos nomes, mas por isto mesmo o estudo é interessante e necessario. Os outros capitulos tratam dos accessorios destas embarcações, finalizando o auctor seu valioso livro com uma observação psychologica, um tanto poetica, sobre o emprego diverso dos bateis pelos indios. - - 495 — Devemos mais uma vez reconhecer os amplos conhe- cimentos da respectiva literatura ethnographica, que o auctor revela. Friederici, G.; Der Traenengruss der Indianer ; «Globus» LXXXIX p. 30 ss.; Leipzig, 1907, 22 ngs. Alfredo de Carvalho; A Saudação lacrimosa dos indios (trad. e commentarios) Rev. do Inst. Archeol. e Geogr. Pernambucano, Vol. X 1(1904), p. 755-765, DANIO. | O assumpto de que trata o estudo do Dr. Friederici é de bastante interesse no estudo da nossa ethnographia, pois encontramos numerosas informações a respeito deste curioso uso, de ser o hospede recebido com. prantos ce- rimoniaes. Na America do Sul sabemos que os Charruás, Linguas, Tupis, Guaranis, Tapuyas, Zaparos, Guayana- Caraibes e (?) Araucanos usavam a «saudação lacrimosa » ; tambem na America Central e do Norte muitas tribus assim faziam. Por causa da grande diffusão deste uso por toda a America, 0 caso, que a principio parecia propício para ponderações a respeito de sua transmissão directa, agora é considerado pelo proprio Dr. Friederici como desti- tuido deste valor, por não poder ser considerado cara- cteristico para este ou aquelle grupo de indios, em vista de ser relativamente commum. | Lhering, Hermann von; The Anthropology of the State of S. Paulo, Brazil; second enlarged edition, with 2 maps. «Diario Official» 1906, 52 pgs. A segunda edição deste estudo anthropologico, ao qual já nos referimos no Vol. VI, foi bastante augmen- tada e provida de dous mappas sobre a distribuição antiga e actual dos indios de S. Paulo. Não nos referiremos mais detalhadamente a esta edição, pois damos neste mesmo volume uma traducção completa, egualmente acom- panhada dos mappas. 496 — Schmidt, Max. ; Ableituny sidamerikanischer Ge- flechtsmuster aus der Technik des Flechtens. Zeitschrift für Ethnologie, Organ der Berliner Gesellschaft fiir Anthrop., Ethnologie und Urgesch. 36 Jahrgang. Heft IT u. LV, Berlin, 1904, p. 490512. Este estudo tem por objecto as obras de trança de algumas tribus de indios sulamericanos. O auctor expõe que, tanto o modo do trabalho, como os desenhos formados pelos tecidos são determinados pelas propriedades das palmeiras, que fornecem aos indigenas tanto o ma- terial para as suas obras, como os modelos para a dis- posição de seus ordumes. Muitas illustrações acompa- nham o interessante artigo, representando leques, cestas, esteiras, etc. dos Carajás, Bacairi, Guaté, Beroré, Nahu- Rá Pra Cainguá, etc. Este estudo completa, com referencia especial aos aborigenes do Brazil, a excellente publicação de Otis T Mason « Aboriginal american basketry » Washington 1904, que, ás pgs. 529-531 trata dos cestos e de outras obras de trança dos indios brazileiros, baseando-se par- ticularmente nas publicações de C. von den Steinen, Ehrenreich, Ambrosetti, H. Meyer e outros investigadores modernos. ER Schmidt, Max; Guand; Zeitschrift fiir Ethnologie 1903. Bd. XXXV, p. 324-336; 560-604. Em uma viagem pelo interior do Brazil o auctor de- dicou-se ao estudo da lingua dos Guanás, que moram perto de Cuyabá. As conclusões do auctor estão de accordo com a supposição, hoje mais acceita, de que os (Guaná fazem parte do grupo dos Nú, como C. v. d. Steinen o deno- mina e que occupa uma larga zona, que se estende desde Bolivia até a Venezuela. caça à mb — 497 — Schmidt, Max; Indianerstudien in Zentralbrasilien, Erlebnisse und ethnologische Studien einer Reise in den Jahren 1900-1901. Berlin 1905. Foi esta a quinta viagem ethnographica ao rio Xingü, e, como o mostra C. von den Steinen, criticando a obra mencionada, na Zeitschrift f. Ethnologie, vol. XXXVI, 1906, p. 234, ella foi, ao que parece, a menos feliz de todas. Os indigenas daquella região já não são mais aquelles entre os quaes Steinen viveu e a sua ganancia muito dificulta emprehendimentos como estes. Na volta do Xingá o auctor visitou os indios Guatós do Alto Paraguay, dedicando algum tempo ao seu examen ethnologico e linguistico. Attenção especial ligou o auctor aos tecidos feitos pelos Guatés, estudando os respectivos methodos technicos, cuja origem se prende aos trabalhos feitos com folhas de palmeiras. Do mesmo assumpto já tratou o auctor na Zeitschrift für Ethnologic XXX VII, 1905, p. 490-512. Carvalho, Alfredo de; Phrases e palavras: Recife, 1906. | E” bem interessante a leitura deste pequeno e des- pretencioso livro. O auctor trata de varios assumptos historicos, de costumes antigos e de diversas phrases de explicação difficil. E' este por exemplo o caso da phrase « Fazer o quilo», onde quer derivar a palavra não do grego, mas da lingua Bunda, onde «quilo» é somno ou «siesta » depois da refeição. O auctor, sem duvida a personalidade mais activa e sympathica na actual vida scientifico literaria do Pernambuco, procura esclarecer o mais possivel as etymologias de localidades, animaes etc. mostrando-se bem versado na lingua Tupy. O mesmo auctor publicou em 1905 uma traducção das «Notas Domi- nicaes de L. F. de Tollenare », interessante obra que contem valiosas inforinações sobre a vida diaria no Estado de Pernambuco, no começo do seculo passado, dando parti- — 498 — cularmente informações minuciosas sobre a producção agricola e a industria. Teschauer C., S. J.; A ethnographia no Brazil no principio do seculo XX; Annaes da bibliotheca Pu-. blica Pelotense, Pelotas, Est. Rio Grande do Sul, 1905, Vol. TI, p. 83-99. Tratando dos escriptos mais modernos sobre assum- ptos ethnographicos e archeologicos, o auctor do resumo bibliographico commenta variadas questões importantes de nossa historia pre-colombiana. Payer, Richard; Reisen im Janapiry-Gebrete; Pe- termans Mitteilungen, Gotha, Vol. 52, 1906, N. 10, p 217-222, Est. XV. O pequeno artigo deste viajante, cujas observações por vezes deixam entrever claramente o pouco conheci- mento que tem das cousas de nosso paiz, pouco contem de novo, a não ser uma pequena lista, em forma de vocabulario, do idioma dos indios Janapirys, que moram junto ao rio de egual nome, affluente da esquerda do rio Negro. Estes mesmos indios já ha mais de vinte annos o Dr. Barbosa Rodrigues tentou visitar, não con- seguindo, entretanto, realizar este seu intento. Tambem os indios U-ha-miri o Sr. Payer visitou; salienta em especial as peripecias das permutas que fazia, no interesse de obter material ethnographico para o Mu- seu imperial de Vienna. A estampa dá um mappa da região visitada e uma vista da povoação Moura, na margem direita do Rio Negro. E. SooloElaS Thering, H. von; Eine notwendige Nomenclatur- regel mit Rücksicht auf brasilianische Eigennamen ; Zool. Anzeiger, Vol. 28, Nº 24-25, 1905, p. 785-767. 499 Neste pequeno artigo o auctor faz ver as incor- recções que se têm praticado, ao se utilizar nomes proprios brazileiros na denominação scientifica de muitos animaes. À graphia dos nomes scientificos, quer genericos quer especificos, é a latina; é certo que o latim desconhece o ¢, mas não é justo que por isto se elimine simplesmente a cedilha, deturpando assim a pronuncia original. Muitas j Já são taes incorrecções (F. onca, Jacana, ou A. coco, designando onça, jaçanã e socó). No meio da palavra € deve pois ser substituido por ss; quando ¢ está no inicio da palavra (como muitos auctores antigos escreviam no- mes indigenas) substitue-o um s. Ainda varias outras questões duvidosas de nomenclatura, que já agora são horas de normalizar, ahi são discutidas. Lhering, H. von; Zur Regulierung der malaco- logischen Nomenclatur; Nachrichtsbl. deutsch. Malaco- zool. Gesellsch. 1906, p. 1-12. O auctor salienta o quanto se tem feito com re- lação á uniformisação da nomenclatura na ornithologia por exemplo e o quanto, de outro lado, tem sido des- curadas taes questões no estudo dos molluscos. Nem mesmo as «Regras internacionaes de nomenclatura z00- logica», apesar de fundamentaes, são observadas como deveria ser; além disto é preciso ainda combater abusos como o de serem adoptados nomes tirados de simples “catalogos de casas commerciaes. A discussão provocada por este escripto trará por certo tambem ao ramo dos conchyologos a desejavel uni- formidade de interpretação das questões duvidosas. Thering, H. von; Das Rind und seine Zucht an Brasilien; I Jahrbuch d. deutsch. Colonie im St. São Paulo, 1905, p. 97-118. Depois de se referir rapidamente ás condições. de _ creação pecuaria no nosso paiz, o auctor discrimina e caracteriza as 6 principaes raças que se criam no Brazil: 32 — 500 —. gado Cuyabano, Caracú, Franqueiro, Torino, Zebú e China. Ao tratar das subspecies da forma typica Bos tauros, distingue, com os principaes auctores, quatro formas: B. t. primigenius, B. t. frontosus, B. t. brachycephalus e BP. t. ruetimeyeri Th. sendo este ultimo um nome novo, proposto em substituição de B. t. brachyceros Ozoln e Riitimeyr, por ter sido este já preoccupado por Gray, para outra especie. Seis photographias representam os typos acima mencionados. Varias apreciações sobre as vantagens que offerece cada uma destas raças e conside- rações sobre as nossas condições especiaes, como paiz de criação, terminam este estudo. Miranda Ribeiro, Alipio; O Porquinho da India e a Theoria Genealogica; Arch. do Museu Nacional, Vol. XIV, 1907, p. 221-227, Est. XXI-XXI. O auctor communica o resultado de varias expe- riencias, feitas no Rio de Janeiro, quanto ao cruzamento entre o Porquinho da India (Cavia porcellus L.) e o Prêá (Cavia aperea Erxl.); confirma deste modo os en- saios analogos realizados ha mais de 10 annos em Berlim por A. Nehring. Os productos destes cruzamentos são figurados. Como resultado o auctor declara: «Eu tenho firme convicção de que Cavia aperea, O. cobaya (C. porcellus L.) e C. cutleri não apresentam peculiaridade de estructura, que pareçam justificar o nosso modo de vel-as como especies distinctas. De modo que uma unica conclusão segura se póde, por emquanto, tirar do facto aqui trazido a publico—é que elle, confirmando muitos dos resultados de Nehring, vem destruir a noção corrente de que o Porquinho da India não se cruza eom o seu antepassado brazileiro, como disse Haeckel (Hist. C. Creaç. 130) citando esse exemplo como prova de que «ha organismos que não podem mais se cruzar, seja com os seus antepassados incontestaveis, seja com uma posterioridade fecunda». — 501 — -Hagmann, G.; Anomalien im Gebisse brasiliani- scher Sauegetiere; Verh. der deutsch. Zool. Ges. Mar- burg, 1906, p. 274-276. O auctor, apresentando cerca de 140 craneos de mammniferos, que obteve da ilha Mexiana (embocadura do Amazonas), faz algumas considerações a respeito. Trata-se especialmente de craneos do veado, Cervus simplicicornis, bem como de Coelogenys, Dasyprocta etc. Constata-se uma porcentagem bastante elevada de anomalias dentarias (ca. de 10 %),0 que o auctor attribue 4 Znzucht, devido ao isolamento da fauna da ilha Mexiana. Meade, Waldo, E. G. & Nicoll, M. J.; Description of an unknown animal seen at sea off the coast of Brazil; Proceed. Zool. Soc. London, 1906, p. 719-721 (teat fig. 114). A 7 de Dezembro de 1905 os dous senhores, que escrevem o artigo a que nos referimos, observaram, se- gundo descripção detalhada que elaboraram, nas costas do Brazil (7° 14’ lat. 8, 34° 25° long. W) um grande animal marinho, uma creatura extraordinaria, que, pela figura que o Snr. Nicoll desenhou, bem lembraria a famigerada Ser- pente do mar (!), si não fosse mostrar a figura ainda uma nadadeira dorsal, que na legendaria serpente ainda ninguem quiz ter observado, Não duvidamos da sinceridade dos escriptores em questão, mas, franqueza, estas observações não nos podem mover a incluir, na lista. da fauna marina das nossas costas, esse monstro, que aliás ainda dous tripolantes do mesmo navio «Valhalla» querem ter observado! Thomas, Oldfield; New Neotropical Molossus, Co- nepatus, Nectomys, Proechimys and Agouti, with a note on the Genus Mesomys; Ann. & Mag. of Nat. Hist, Ser. 7, Vol. XV, June 1905 p. 584-591. Descripção das novas especies enumeradas no ti- tulo, das quaes uma, Proechimys goeldii, é proveniente — 502 — do Brazil, tendo sido colleccionada em Santarem. Como o auctor recebesse dous exemplares de Mesomys ecaudatus da Ilha de Marajó, elle reconheceu como bem fundado o genero Mesomys, ao qual pertencem M. ecaudatus e M. ferrugineus Guenther. O nome desnecessario Hu- ryzygomatomys, proposto por Goeldi para Hehimys spi- nosus é svnonymo de Echimys Cuv. Deste modo o proprio Dr. Goeldi forneceu os materiaes para refutar a tentativa. por elle emprehendida, de mostrar que o genero Mesomys nunca existira. Goeldi, E. A.; Nova zoologica aus der Amazonas- Region. Neue Wirbeltiere. Extrait des Comptes rendus du 6% Congrès intern. de Zoologie, Session de Berne 1904. Sorti de presse le 25 mai 1905, As communicações feitas ao Congresso de Berna tratam em primeiro logar dos Hapalidas (ou antes Callithrichidas, segundo a nomenclatura moderna) que foram obtidos numa expedição ao Rio Puráús. São alem das tres especies de Midas, obtidas por nossa expedição ao Rio Juruá (nesta Revista VI, p. 415), duas outras, das quaes uma é alliada a M. rufiventer Gray e a outra a M. labiatus E. Geoffroy. Seguem notas sobre um roedor raro, Dinomys bra- nickii Peters, das vertentes do Rio Purás. Esta especie, cuja vida é essencialmente nocturna, era até agora só conhecida da região andina do Perá; quanto á sua po- sição na systematica, achega-se particularmente á capivara. São mencionados mais: um peixe cego de uma cis- terna da Ilha de Marajó, que será descripto sob o nome de Phreatobius cisternarum, sendo alliado ao genero Trichomycterus, e duas especies novas de aves, Pipra caelestipileata e Galbaleyrhynchus purusianus. Esta ultima forma é apenas uma variedade de G. leucotis, que descrevi nesta Revista sob o nome de «in- notata» (Vol. VI, p. 445). Esta nova subspecie, em- ee ae pu Li Bad mae id Mi 1 | L nié ee Se eee a 4 OS ee eee ee la dd — 503 — bora já em 1903 e 1904 participada aos ornithologos europeus por mim e Góldi, foi publicada por mim em copia separada em Março de 1905, sendo 8 de Maio de 1905 a data da publicação do Vol. VI da Revista do Museu Paulista, ao passo que o artigo do Dr. Góldi foi publicado em 25 de Maio do mesmo anno. O nome desta ave será pois Galbalcyrhynchus leucotis inno- tatus Th. Goeldi, Emil A. On Myiopatis semifusca, a small Neotropical Tyrant bird, harmful to Tree-culture as Disseminator of the parasitic Loranthacee. The Ibis, 8 Serves, Vol. V, Nº 18, London 1905, pag. 169-179. O artigo communica interessantes observações do Snr. Andreas Góldi, feitas na Serra dos Orgãos, Rio de Janeiro e confirmadas em Pará. As aves, denominadas «caga-sebos » no Rio de Janeiro (Certhiola chloropyga, Phyllomyias burmegsteri e Serpophaga suberistata) comem as bagas da «herva de passarinho» e expellem os caroços; estes, viscosos, fixam-se em galhos, onde em grande parte germinam. Estas aves tornam-se assim os propagadores da praga da , applicavel com resultado seguro contra todas as peçonhas das cobras aqui existentes. A dosagem aconselhada é de 60 ce. nos casos graves, de 40 nos medios e de 20 nos casos leves. Siebenrock, F.; Ueber die Berechtigun der Selb- staendigkeit von Hydraspis hilarw D.u. B; Zoologischer Anzeiger, Vol. XXIX, 1905, p. 424. ss. Dumeril e Bibron separaram H. hilarw de H. geof- froyana e tambem Boulenger julga que as duas formas devem ser consideradas especies distinctas. O auctor acha, entretanto, que em muitos casos é difficil traçar com segurança uma linha divisoria e que ha muitas formas intermediarias, que suscitam duvidas a qual das duas especies devem ser subordinadas. Assim, pois, é da opinião que A. hilarii seria mais acertadamente considerada va- riedade H. geoffroyanu, do mesmo modo como Clemmys caspica Gm. tem a variedade C. c. rivulata Val. Siebenrock, F.; Die Schildkrôtenfamilie Cinoster- nidae ; Sitzb. k. Ak. Wiss. Wien, mat. natw: Kl. CXVE, 1907, p. 527-599, 2 mappas. A publicação occupa-se da familia de chelonios Cinosternidae que, por ser nova, o auctor fundamenta, difterenciando-a dos outros cágados cry ptodeos ( Testudi- nae, Chelonidae ete. ). Na America do Sul só occorrem duas especies, Cinosternum leucostomum (Equador, Colombia etc.) e C. scorpioides ; no Brazil, só na Amazonia esta ultima está representada pela subsp. C. s. integrum, onde essa «mus- sua» é muito apreciada como petisco. Boettger, O.; Reptilien aus dem Staate Paraná ; Zvolog. Anzeig. Vol. XNXIX, 1906, p. 373-575. Enumeraçäo de 22 especies de reptis, colligidos, em Curityba e outras localidades do Est. do Paraná; contem 510 — a descripçäo de uma especie nova de cobra do genero Oxyrrhopus e observações a respeito de outras poucas co- nhecidas. Eigenmann, ©. H.; The fresh-water fishes of South and Middle America; The Popular Science Monthly, 1906, p. 515-550. O provecto conhecedor dos peixes americanos discute em 8 paragraphos os traços caracteristicos da ichthyo- fauna da America do Sul; entre estes interessam mais de perto a biologia brazileira os seguintes: «Sobre a grande variedade de peixes na area comprehendida entre o golfo Caraib e a Rep. Argentina»; « À pobreza em typos ou familias que contribuem para esta variedade »; «A pobreza da fauna da America Central e seu caracter essencialmente sul-americano »; « À pobreza da fauna da Patagonia e sua essencial differença da fauna brazileira» ; « À semelhança entre as faunas da America e Africa tropicaes ». Discutindo a grande variedade de especies de peixes julga que mesmo hoje ainda não conhecemos tres quartas partes da fauna da America do Sul e comtudo, da tota- lidade das especies de peixes da agua doce conhecidas, dez porcentos provem da America do Sul. Entretanto reduzem-se a quatro as principaes familias propriamente d'agua doce, que fornecem este elevado numero de especies; os Characinida, Nematognathi, Cichlidae e Poecilide, estas duas ultimas familias, a que pertencem os Acaräs e os Guarú-guarás além disto ainda tem mais impor- tancia na America Central do que na America do Sul Eli- minando em seguida da lista aquellas familias de distri- buição mais vasta, quer devido 4 sua antiguidade, quer pela facilidade com que poderiam passar de um conti- nente a outro, chega o auctor a apurar aquelles typos (Siluridae, Poeciliidæ e em especial Cichlide e Cha- racinidæ) que melhor se prestam para comprovar a antiga Sg) JE connexão que deve ter existido entre os continentes da America do Sul e da Africa. Desenvolvendo em seguida seu modo de pensar, a este respeito, baseado nos elementos ichthyologicos que melhor conhece, o Prof. Eigenmann synthetisa a theoria da Archiplata- Archhelenis do Dr. Hermann von Ihering e mostra que o estudo da actual ichthyofauna vem com- provar a antiga communicação por via terrestre dos dous continentes, hoje separados pelo mar. Esta connexão ao seu ver existin antes da origem das actuaes especies e dos generos e mesmo antes da origem de algumas sub-fami- lias; geologicamente, pois, nos primeiros tempos do periodo tertiario. : Depois desta separação dos continentes pela for- mação do actual oceano Atlantico, nunca mais houve permuta directa de typos e deve ser levada á conta de parallelismo no desenvolvimento, a semelhança, por vezes surprehendente, que se nota entre os peixes dos dous continentes. Silva, Henrique; Fauna fluviatil de Goyaz; Con- tribuicdo para o conhecimento vulgar dos peixes e mais especies fluviaes e lacustres do Brazil central; São Paulo, 1905. O Snr. Tenente Henrique Silva, auctor de um livio sobre a caça no interior do Brazil, é um dos melhores conhecedores do Estado de Goyaz, para cuja exploração scientifica se esforça a contribuir, Neste sentido o auctor nos dá um esboço dos principaes peixes que vivem na- quelle Estado, ajuntando observações biologicas. O auctor é da opinião que a riqueza da fauna ichthyologica da Amazonia foi avaliada com exagero, ao passo que a de Goyaz, que é rica e tem os principaes elementos com- muns com a da Amazonia, é quasi desconhecida. Como prova desta affirmação, o auctor já tem offe- recido ao Museu Paulista couros de dous animaes caçados — 512 — no Matto Grosso de Goyaz, até agora não conhecidos daquelle Estado, isto é, de Mazama nana Lund, o veado Camocica, e de Cercoleptes caudivolvulus Schreb. ou antes de Potos flavus Schreb., como este carnivoro, con- hecido sob o nome de Macaco de meia noite, é deno- minado agora. Fazemos votos para que o Snr. Henrique Silva não esmoreça no seu zelo pela exploração scien- tifica do seu estado natal e que lhe seja possivel forne- cer-nos successivamente exemplares authenticos dos peixes dos quaes trata, visto que só deste modo, e não com o auxilio dos nomes triviaes, será possivel conhecer uma fauna ichthyologica e a distribuição geographica das di- versas especies que a compõem. Tivemos occasião de nos referir ao valor dos nomes vulgares em um estudo sobre peixes publicado neste volume e sempre se poderá observar que, geralmente, os nomes indigenas só caracterizam bem o genero, mas que as especies, mesmo quando bem diver- sus em pontos extremos, têm muitas vezes nome identico. Alipio M. Ribeiro; Peixes do Iporanga, S. Paulo. A Lavoura, R. de Janeiro XI, N° 5, 1907. p. 185-190. Determinando os peixes colligidos pelo Snr. R. Krone no rio Iporanga, affluento do rio Ribeira no sul do Est. de S. Paulo, o auctor classificou-os como per- tencentes a 15 especies; quatro dellas (dos generos Pime- lodella, Heimipsilichthys, Plecostomus e Corydoras) são julgadas novas e por isso descriptas e em parte figuradas. Eigenmann, C. H.; the Mailed Cattishs of South America; Science. Vol. XXI, N. 542, 1905, p. 792- 100: Neste pequeno artigo o competente ichthyologo pôe em evidencia o valor da monographia do Dr. Tate Regan sobre a Fam. Loricariidæ, trabalho ao qual já nos refe- rimos na bibliographia anterior. Comtudo houve alguns euganos ou omissões, como não podiam deixar de occorrer em tamanha obra e alguns erros de nomenclatura, que ; À — 513 — o Prof. Eigenmann julgou conveniente corrigir. Em nosso proximo estudo sobre os peixes da agua doce do Brazil trataremos desta familia, que comprehende os nossos «cas- cudos», e ahi trataremos largamente deste assumpto. Eigenmann, ©. H. e D. Perkins Ward; The Gym- notidae ; Proc. Wash. Acad. of Se., 1905, Vol. VII, p. 159-188, Est. VII-XT. Pellegrin, J., Contribution à Pétude anatomique, biologique et taxinomique des poissons de la fam. des Cichlides. - Mém. ‘Soc. Zoolog. de France, Tom. XVI, 1903, p. 41-394, Est. IV-VTI. Regan, ©. Tate, A revision of the South-Ame- rican Cichhd genera; Proc. Zool. Soc. 1905, I, p. 152- 168, Est. XIV-XV; id. Annals & Mag. Nat. Hist, 1905 (4) XV, p. 329-347; DOS > Vol XVI p. 60-77, 225-243, 316-340, 433-445; Vol. XVII, 1906, p. 49-66, 230-239. As publicações acima referidas, da lavra dos me- lhores ichthyologos modernos, representam, a primeira, 0 resumo das especies até hoje conhecidas dos peixes de- nominados «Tuviras», «Peixe-espada» ete.; as duas ou- tras são monographias sobre os peixes vulgarmente co- nhecidos por «Acarás», «Papa-terra», «Nhacundá» ete. Deixamos de referir detalhadamente estas valiosas contribuições á nossa literatura ichthyologica, pois em artigo anterior, neste mesmo volume, tratamos largamente das familias de peixes em questão e salientamos o grande auxilio que nos prestaram, nesses estudos, as monogra- phias supramencionadas. Steindachner, F; Sitzungsb. mat. natw. Kl. k. Akd. Wiss. Wien, 1907, vol. CX VI, sessões de 28. IT e 25. TV. Descripções de varias especies novas de peixes d'agua doce do Brazil, principalmente de S. Catharina, — 514 de onde o auctor recebeu i especies (do rio Cubatão) e das quaes 5 foram reconhecidas como indescriptas. Ihering, Rodolpho von; Description of four new Loricariid fishes of the genus Plecostomus from Bra- zl; Ann. de Mag. Nat. Hist. Ser. 7, Vol, XV, 1905, p. 258 ss. Auxiliado pela excellente monographia do Dr. Tate Regan—Loricarude (cf. Bibliogr. Vol. VI, p. 622) tor- nou-se relativamente facil classificar os nossos! peixes , de onde, por entre as malhas finas do tecido de metal, o parasita, muito menor, póde sahir; ao passo que a mosca fica presa e morre. E” evidente que com tal apparelho se obtem resul- tado completo quanto á criação e o que o comprova, é ter o Prof. A. Berlese (Italia) ideado já anteriormente um dispositivo mais ou menos analogo, para combater or ae Tae outra praga, procurando fomentar o desenvolvimento e alastramento do seu insecto parasita. O que, porem, só a practica deverá ensinar é o quanto se conseguirá justamente por este meio e até que ponto só poderá fazer valer o principio natural, de que o parasita ruinoso ao animal parasitado e que encontra todas as circumstancias favoraveis para sua propagação, faz baixar por boa por- centagem a abundancia do animal parasitado. Tavares, J. S.; Descripção de uma Cecidomyia nova do Brazil; Broteria, 8. Fiel-Portugal, 1906, Vol. V, p. 81-84. Deseripção de uma especie nova de Cecidomyia nova, encontrada em S. Leopoldo, Rio Grande do Sul pelo rev. padre Bruggmann, a quem o auctor dedicou o genero novo Bruggmannia, alliado a Schizomyia. A especie foi denominada B. brasiliensis. Fruhstorfer, H.; Verzeichuis d. v. Dr. Koch-Griin- berg am ob. Uaupés ges. Rhopaloceren und Bespr. verw. Arten; Stettiner Entom. Zeitung, Ann. 68, 1901, p. 117, e 207 ss. O apreciado anthropologo Dr. Koch-Grünberg, a cujos trabalhos de exploração ethnographica no Brazil repetidas vezes nos temos referido, colligiu tambem du- rante sua viagem ao rio Uaupes (1903 -1905) uma bella serie de borboletas, agora estudadas pelo Snr. H. Fruh- “storfer. O auctor, ao mesmo tempo que se refere a estes exemplares (ao todo 63 especies), descreve tambem muitas outras formas do Brazil. Infelizmente, porém, o distincto especialista vae muito longe na sua faina de encontrar formas novas, subspecies que são apenas variantes do mesmo typo, etc. Assim, por exemplo, tenta discriminar em Morpho achillaena Hübn. 7 subspecies, das quaes quatro seriam de Minas Geraes, Espirito Santo, S. Paulo e Sta. Catharina. -— 530 Si esta distribuição geographica fosse bem estabele- cida, ainda vá que se separassem subspecies pela maior ou menor dimensão de alguma mancha ou pelo brilho mais ou menos intenso do azul. Em nossa collecção, só de S. Paulo, entretanto, po- demos reconhecer quasi todas ellas, varias até da mesma localidade (Ypiranga). Já que nunca se poderá estabelecer caracter seguro para se normalizar a classificação, ao, menos que nos valha a proveniencia de localidade iden- tica: para fazer-nos acreditar na variabilidade das formas. - Opsiphanes (genero já tão perseguido pelos que tudo querem desmembrar), soffreu egualmente o accrescimo de numerosas subspecies, em consideração ao recorte talvez um pouco mais pronunciado de uma das azas e colorido mais Intenso. Valha-nos, porem, ter o auctor preferido a descri- pção das formas novas como subspecies, com o que não somos desorientados na comprehensão da distribuição geo- graphica de um genero; verdadeiramente temiveis são os creadores de «especies novas», os typos das quaes, com- parados cora abundante material, nem como formas locaes não podem ser distinguidos. Rothschild, Walter, and Karl Jerdan.; À revision of the american Papilios; Novitates Zoologicae, Vol. XIII, 1906 (N. 3), p. 411-752, Est. IV-IX Apresentam-nos os auctores neste grosso volume uma monographia de alto valor, que logo seduz a todo o le- pidopterologo ou amador a rever a sua collecçäo de. bor- boletas deste bello genero Papilio. São monographias desta ordem que facilitam enormemente o estudo dá fauna regional e, certamente, muito contribuirá para este fim a obra em questão, resultado de longo e penoso trabalho dos operosos auctores. O genero Papilio é quasi cosmopolita; na recente publicação de Rothschild e Jordan, porém, só as especies E o did casi it De a DJ a ee DD PO Ce 7 POE À à ae én Û LS OPEN TT ae SRE de americanas são estudadas; o seu numero, entretanto, se eleva presentemente a 169, alem de mui numerosas sub- species. O genero é dividido em 3 secções bem delimitadas por caracteres larvaes, da crysalide e do imago; as sec- ções dividem-se em subsecções e estas em grupos, sempre precedidos por hoas chaves analyticas, que muito facilitam a classificação. As descripções são precisas e a bi- bliographia extensa. As estampas, em parte coloridas, ilustram 68 especies do genero. A publicação desta monographia dá pois ensejo a felicitarmos novamente seus auctores e recommendal-a aos estudiosos, que queiram, por proprio esforço, classificar as numerosas especies brazileiras deste genero. Infeliz- mente só quando apparece uma destas monographias completas é que os nossos amadores se podem dedicar, com relativa facilidade, ao estudo do respectivo grupo animal. Sem esta base faltam-lhe os meios para a clas- sificação, pois raros serão aquelles que se dedicarão com tanto amor e tamanha tenacidade ao assumpto, que não poupem dinheiro para a acquisição da literatura neces- saria e que não esmoreçam ao cabo de algumas tentativas. Alem de ser preciso reunir uma collecção a mais com- pleta que fôr possivel para a comparação, é mister conhecer as descripções tanto antigas como modernas, e estas estão esparsas por um sem numero de periodicos escriptos em todas as linguas. Ainda bem quando houver um catalogo bibliographico mais ou menos moderno, a partir do qual se possa compulsar o Zoological Record ; sem isto, porem, só quem pacientemente registre todas as indicações, quem portanto é especialista, poderá affirmar si certa especie já foi descripta ou não, e qual o seu actual nome generico. Hampson, G. F; Catalogue of the Lepidoptera Palene in the Britsh Museum; Vol. IV (1903), V (1905): Noctuide. Os dous ultimos volumes publicados da grande obra do auctor sobre as borboletas nocturnas de todo o globo, 34 2 tratam unicamente dos Noctuidae. Enorme é o numero das especies brazileiras e muitas dellas ahi são descriptas pela primeira vez. - Schmidt, Edm.; Beitrag zur Kenntniss der Fulgo- riden; Stettiner Entomol. Zeitschr. Ann. 67, 1906. Sob o titulo acima o auctor tem estudado succes- sivamente numerosos generos da familia a que tambem pertence a nossa «Jequitirana-boia». E’ de lastimar, porem, que até agora elle pouco tenha escripto sobre os repre- sentantes sul-americanos; folgariamos muito ver o Snr. E. Schmidt resolver numerosas questões da svstematica dos nossos Fulgoridas, com egual esmero como o tem feito para outras faunas. Certamente affluiria abundante material brazileiro ao competente especialista, caso elle se puzesse em communi- cação com os entomologos do paiz. Ulmer, Georg; Zur Kenntniss aussereuropdischer Trichopteren; Stettiner Entomol. Zeitung, Ann. 66, 1905, p. 155, Est. I-IV. O immenso material de Trichopteros estudado pelo auctor nos museus de Hamburgo, Stettin e Halle, en- cerrava um sem numero de fórmas novas, que minucio- samente descreveu, com illustração de muitos detalhes. Muitas destas especies são brazileiras e foram col- ligidas em Sta. Catharina pelo Sur. H. Lüderwaldt, preparador auxiliar do nosso Museu. Needham, James, G.; A new genus and species of Libelulinae from Brazil. Proc. of the Biological Soc. of Washington, Vol. XVIII, 1905, p. 115-116. Descripção d'um genero novo de Libellulinae, con- tendo a especie nova Ædonis helena, da qual dous ma- chos foram capturados em março de 1898 no Ypiranga, pelo Snr. A. Hempel, então zelador deste Museu. o — 533 =a Rehn, James A. G.; Notes on South-American Grasshoppers of the subfam. Acridinae. Procced. of the Am. Nat. Museum, Vol. XXX (Nº 145), p. 571-591. Numerosas especies novas de gafanhotos, algumas representando typos de novos generos, são descriptas nesta publicação. A maior parte das especies brazileiras provem de Chapada, Est. do Matto Grosso, tendo sido colligidas por H. H. Smith Rehn, James A. G.; Studies in South and Central American Acridinae (Orthoptera). Proc. of the Acad. of. Nat. Sc. Philadelphia, Vol. L VIII, 1906, p. 10-51. O operoso auctor não se limita a descrever sómente as especies novas, que encontrou nas collecções da Aca- demia de Sciencias Naturaes de Philadelphia e na col- lecção do Dr. Hebard, mas extende-se tambem em con- siderações mais geraes, tratando assim da relação de numerosos generos, de sua distribuição, etc. e tambem a nomenclatura desse grupo elle sugeita a critica severa. Varias das 63 especies são novas e muitas das brazi- leiras são provenientes do Est. de S. Paulo, tendo sido colligidas pelo Sr. Ad. Hempel, outr'ora funccionario do- Museu Paulista. Thiele, Joh.; Beitrage zur Morphologie der Argu- liden. Mitteill. des Zool. Mus. Berlin 1904, TI, fase. 4, 51 pag. Est. 6-9. Estudando o material dos dous generos Argulus e Dolops, crustaceos ectoparasitas de peixes, do Museu de Berlim, o auctor occupou-se especialmente da morpho- logia de cada especie; tambem para o estudo systema- tico deste interessante grupo dos Argulidas o trabalho é de real utilidade. Ao todo conhecem-se 38 especies, — 094 — das quaes só 12 não occorrem na America. Dolops é o genero mais primitivo, só da agua doce, ao passo que Argulus conta numerosas especies marinas. Dolops striata Bouv. é o nome definitivo, que deve substituir o de D. koseritzi v. Ihering, por este não ter sido estabelecido correctamente em 1882. A esta mesma especie já nos referimos no Vol. IV desta Revista, p. 571, quanto nos referiamos 40 artigo do Prof. Bouvier (1898). Quanto á posição systematica dos Argulidas, o au- ctor, depois de discutir a questão, julga não poder re- unil-os nem com os Phyllopodas neta com os Copepo- das e, por conseguinte, distingue-os, sob o nome de Branchiura Thorell, como grupo especial, alliado áquelles. Koenike, F; Zwei neue Wassermilben aus den Catt. Megapus n. Diplodontus; Zoolog. Anzeig. Vol. XX VIII, 1905, p. 694-698. Uma das especies dos Acarideos novos estudados pelo auctor, Dipl. peregrinus, provem do Rio Grande do Sul e foi-lhe enviado pelo Dr. H. von Ihering. Ellingsen, Edv.; Pseudoscorprns from South Ame- rica. Boll. dei Musei di Zool. ed. Anat, comp. della Univ Torino; Voi. MA 1900, NS 900 pie As varias especies de Pseudoscorpionideos do Bra- zil, que o auctor descreve, foram enviadas ao Museu da Universidade de Turim pelos Srs. Drs. Borelli do Matto Grosso e Goeldi do Para. O que dá subido valor à pequena publicação é ter o auctor reunido, sob chave analytica, todas as especies sulamericanas do genero Chelifer Geoff, do qual trata em especial. Pertencem a este genero, por exemplo, va- rias especies que frequentemente se encontram como ectoparasitas do grande coleoptero cerambycida Acro- cinus longimanus. Wagner, A. J. Helicinenstudien, Monogr. der gen. Palaeohelicina wu. Helicina; Denkschr. der k. Acad. Wassensch. wien, mathem. natw. Kl. Vol. LXXVIII, 1906, p. 203-248, Est. X-XIIT. Continuando seus excellentes estudos sobre os cara- coes terrestres, o auctor vem agora a tratar monographi- camente do genero Helicina, do qual ha numerosas especies no Brazil; algumas das que descreve são novas. Vaugan, T. Wayland; (A new species of Coe- nocyatus from California and) the Brazilian Astrangid Corals. Proc. Un. St. Nat. Mus., Vol. XXX, Nº 1477, p. 8417-850, Est. 77-78. Como additamento 4 lista dos Coraes brazileiros, estudados por Verrill (Trans. Connect. Acad. Sei. XI, 1902—cf. Rev. Mus. Paul. Vol. VI, p. 656), o auctor descreve e figura mais duas especies do genero Astran- gra, provenientes de Periperi (Bahia) e do Paquetá (Rio de Janeiro). | Magalhães, P. S. de; De l’Elephantiasis et des manifestations chirurgicales de la Filariose ; «Tribune Médicale», Paris, 25 août 1906, p. 1-49. O illustre scientista e lente da Faculdade de Me- dicina do Rio de Janeiro publica a sua prelecção feita em Paris a convite do Prof. Réclus, sobre a Elephan- tiasis e suas relações com a Filariose. Reconhece como causa da molestia, que vulgarmente se denomina elephantiasis a extase prolongado da lym- pha, devido a impedirem os vermes, a Filaria sangui- — 536 — . nis nocturna, a livre circulação. Distingue-se já sete especies de filarias do sangue e da lympha do homem. À transmissão faz-se por meio de mosquitos das mais variadas especies e mesmo de generos diversos, como sejam: Culex, Anopheles, Stegomyia e Panoplites. O embryão da Filaria, que permanece de 7 a 17 dias no organismo do insecto, attinge 1,70 mm. de comprimento e 0,03 mm. de largura; os vermes adultos medem de 55-77 mm. a femea e 38,6 mm. o macho em comprimento e 0,18-0,28 mm, a femea e 0,12 mm. o macho em dia- metro. Congratulamo-nos com o illustre auctor e helmin- tologo pelo successo que esta sua conferencia alcançou na Europa e tanto mais por sabermos que foi quasi de improviso que o Prof. P. S. Magalhães se dirigiu ao preclaro auditorio. : PONT Se ENE EA PERIÓDICOS RECEBIDOS EM PERMUTA PARA A BIBLIOTHECA DO MUSEU PAULISTA America do Sul Brazil Revista «medicas, CE sms ea o Bahia Revista trimensal do Instituto (Ceo- graphico e Historico . . . > Boletim da Secretaria da Agricultura, Viação, Industria e Obras Publicas » ABS COM Pura Me pio gis. Se YS Belén O Archivo to. Poe Cuiabá Boletim do Museu Paranaense ane ts Cera tybo Revista da Academia Cearense. . . Fortaleza Revista trimensal do Instituto do Ceará > Boletim do Museu Rocha . . . » Revista do Instituto Archeologico « e Geographico Alagoano . . . . . Maceió Revista Agricola. . . » Revista do Instituto Etico; e Geo: graphico do Rio Grande .do Norte Natal Annaes da Escola de Minas: . . . Ouro-Preto Revista e Archivo Publico Mineiro . Bello Horixonte Annuario de Minas Geraes . . . > » Boletim da Sociedade de Medicina e | CENTER EME Juix de Fora Boletim e Mon de: Museu pas raense . . Pará Boletim Official da Instrucção Publica > SS Revista do Instituto Geographico e Ethnographico . . . Revista Agricola do Rio Grande do Sul Annaes da Bibliotheca Pelotense . Revista do Centro Economico do Rio Grande do Sul Archivo do Amazonas Revista da Academia Pla Meto de Letras. Revista Academica wa clas! ae Direito . A Lavoura Annaes da Biblioteca Nacional Archivos do Museu Nacional Jornal dos Agricultores . Annuario do Observatorio . Brazilian Mining Review Revista Trimensal do Instituto Histo. rico Brazileiro . Sociedade Nacional de Agricultura : Revista da Sociedade de Geographia Boletim do Instituto Agronomico - Boletim da Commissio Geographica e Geologica . Revista Agricola site Revista do Instituto IR en e Gea: graphico Revista Brazileira Revista Medica PE Boletim de Agricultura . : Boletim da Faculdade de Dos À Revista Pharmaceutica e Odontologica Annuario da Escola Polytechnica . Revista de Medicina Tropical Sociedade Scientifica de S. Paulo. O Fazendeiro Revista do Centro de Sciencias, Bae e Artes. Uruguay Anales del Museu de Montevideo. Vida Moderna . Pará Pelotas o À Porto Alegre Mandos Recife > Rio de Janeiro » » » ut de die tirs are > > Campinas Montevideo aa BO, ak Paraguay Revista de Agronomia y de Ciencias applicadas : : Revue Mensuelle du Paraguay El Agricultor Anales Cientificos Paraguayos Argentina Anales del Museo Nacional Comunicaciones del Museo Nacional Anales del Ministerio de Agricultura Bolletin del Instituto Geografico Ar- HÉRTINO sy, 46222 «El Poblador » . Tribuna farmaceutica . . . Anales de la Sociedad Gennes we gentia Anales de la Universidad’. bas Congresso Cientifico Latino Americano Boletin de Agricultura y Ganaderia. Boletin de la Academia Nacional de Ciencias . . Revista del: Museo de a Plata. Anales del Museo de La Plata. Revista de la Faculdad de Agronomia y Veterinaria Demografia Revistas de La e heats See Chile Actes de la Société ave du CRIME EL hae R Anales de la Den 4 El Pensamiento Latino . . . Revista Chilena de Historia Na Boletin del Museo de Historia Natural Perú Anales de construciones civicas, minas e industrias del Perú.. Boletin de la Sociedad de Ingenieros Assumpção Buenos- Aires » » > > > > > > > > > > > > > Cordoba La Plata > > > » > > Tucuman Santiago > > Valparaiso » Lima > — 540 — «El Perú», Estudios Mineralogicos e Geologicos de la Sociedad Geogra- phica “de Limas e RENE Boletin del Cuerpo de Ingenieros del Perú (Ministerio de Fomento) . . > Boletin del Ministerio de Fomento . > Revista" Estonia sw eens a > America Central e Meszico Antilhas Bulletin of the Botanical Department of Jamaica . . . Kingston Bulietin of the Department of Agri- cultos AE > Proceedings of the Victoria Institute Trinidad Annual Report of the Victoria Institute » | Memoria Annual del Instituto de 2.º Enseñanza de la Habana. . . . . Cuba Costa Rica | : Boletin del Instituto Fisico-Geographico ; Nacional . . S. José + Anales del Instituto Fisico- ( ieographico | del Musec Nacional. . . D | Paginas Ilustradas. Revista de Cien- | clas; Aries y literature, #20 io» | Anales del Museo Nacional . . . . S. Salvador Mexico | Boletin de la Sociedad Geologica Me- RICANA Hse ieee e O net AC e CRETE 0 i | Boletin del Instituto Geologico de ] Mexico. #50 EE came > 1 Anales del Museo Nacional A > | Memorias y Revistas de la Sociedad | Cientifica «Antonio Alzate» . . . » l La Naturaleza . , . . PER > Boletin del Museo Nacional Pl daria > Parergones del Instituto Geologico. . | > CR on Di à mme RO … a CS AT ee America do Hatch Experiment Station, Massachu- setts, Agricultural College . Publications of the University of Ca- lifornia . SOS ES seta Indiana University . Proceedings of the Boston Society of Natural History . The Journal of Experimental Zoolog ey The University of Colorado Studies . The Museum News. . . Bulletin of the Museum of Compara- tive Zoology at Harvard College . Annual Report of the Curator of the Museum of Comparative Zoology . 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Montreal Ottava Toronto > - > Wooster, Ohio Berlim Verhandlungen des Naturhistorischen Vereines . Sitzungsborichte des Naturhistorischen Vereines . Niederrheinische Gesellschaft fuer Na- tur-und Heilkund - Abhandlungen des Naturw issenschatt- lichen Vereines à Deutsche Geographische Blaetter Naturforschende Gesellschaft . Mitteilungen aus den Kel. Zool. Mu- seum Publicationen des Kel. Ethnologischen Museums . Abhandlungen und Bericht des Kel. Zool. Anthropologischen Museums. Der Zoologische Garten . Bericht ueber die Senckenbergische Naturforschende Gesellschaft . Abhandlugen der Senckenbergischen Naturforschenden Gesellschaft . Bericht der Naturforschenden Gesell- schatt Petermans te Mitteilungen Berichte der Oberhessischen Gesell- schaft fuer Natur-und Heilkunde . Mitteilungen des Naturwissenschaftli- chen Vereines fiir N ERR und Ruegen. : e Nova Acta Academiae “Cues. Leop. Carol. Leopoldina, amtliches Organ der Kai- serl. Leop. Carol. Akademie . Zeitschrift fuer Naturwissenschaften . Mitteilungen aus dem Naturhistori- schen Museum. Jahrbuch der Hamburgischen NWis- senschaftlichen Anstalten . i Verhandlungen des Vereins fuer Natur- wissenschaftliche Unterhaltung . Mitteilungen aus dem Rümer-Museum Jenaische Zeitschrift fuer Naturwis- senschaften . Bonn » Bremem » Danzig Dresden » Frankfurt a. > » Freiburg 1. Gotha Giessen Greifsiwald Halle a. 8. 3 » Hamburg » Hildesheim Jena M. Br. — 546 — Abhandlungen uad Bericht des Ver- eines fuer Naturkunde Sitzungsberichte der Naturforschenden Gesellschaft . : Jahrbuch des Staedtischen Museums fuer Voelkerkunde . Botanische Jahrbuercher fuer Syste- matik und Pflanzengeschichte Verhandlungen der Deustschen Zoolo- gischen Gesellschatt. Sitzungsberichte der Gesellschaft : zur Befórderung der gesammten Natur- Ww issenschaften . : Denkschriften der K. Akademie der Wissenschaften (math. phys. Klasse) Verhandlungen der Ornithologischen Gesellschaft in Bayern à Sitzungsberichte der mathematisch- phy- sikalischen Classe der k. b. Acade- mie der Wissenschaften zu München Abhandlungen und Berichte des Mu- seums fuer Natur-und Heimatkunde Berichte des Naturwissenschaftlichen Vereines . : Stettiner Entomologische Zeiturg a Mitteilungen aus dem Kgl. Naturali- enkabinett. . a Kassel Leipzig » Marburg Miinchen » Magdeburg Regensburg Stettin Stuttgart Gran-Bretanha The Scientific Transactions of the Ro- yal Dublin Society . The Scientific Proceedings ‘of the Ro- yal Dublin Society . Economie Proceedings of the Royal Dublin Society. Canadian Entomologist. . seit Journal of the Linnean Society. . Proceedings of the Linnean Society. The Entomologist and Illustrat Journal of General Entomology . Proceedings of the General Meeting for Scientific Business of the Zool. Society . 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Academie der Wis- senschaften . . > Denkschriften der Richet Ane mie der Wissenschaften, Math. Na- turw. Klasse. . . >» Mitteilungen der K. K. landw. bakteriol. É und Pflanzenstation . . > Zeitschrift tuer das land wirtcchaftliche Versuchswesen in Oesterreich . . > Annalen des K. K. Naturhistorischen Hofmuseum : |. =. > Abhandlungen der ok Geographi- sche Essas LT PER > Mitteilungen der K. K. Geographis- chen Gesellschaft... . 7. CRE > Wiener Entomologische Zeitung. FER > Suissa Verhandlungen der Naturforschenden GesellSehaft:. =. s. Basel Memoires de la Société de Physique et d’Histoire Naturelle. . . . Genève Mitteilungen aus der Schweizer En- tomologischen Gesellschaft. . . . Schaffhausen Vierteljahrsschrift der Naturforschen- den Gesellschaft." : © > Zürich Russia Horae Societatis Entomologicae Ros- SICRO A worst GER Raro a ACIDE SONO Revue Russe a Entomologie Ars tae ce > = Dol Bulletin de l’Académie Ma de Sciences o. à FRANS ME ELCI SOON] Raboti iz Laboratorii Zooloiczescago Chine ta Me AE ris ye a I SOL UCE Hollanda Ryks Ethnographische Museum. . . Loiden Entomologische Berichten . . . . . S. Gravenhage Tijdschrift voor Entomologie (Neder- landsen, Entomol. Vereenigung). Dinamarca Giteborg Küngl. Vetenskaps och Vit- terhets-Sanhalles Handlinger . . . Góteborg Entomologiske Meddedelser. . . . . Ajobenharn Meddedelser on Gronland udgionof Commissionen for Ledelsen of Geo- logiske og Geographiske. . . . . > Suecia Archiv for Mathematik of Naturvi- denskab... .-. ; iat: Christiania Sveriges Geologiska Tale ning. . Stockholm Entomologisk Tidschrift . Lee JON MES > Arkiv for Zoologi Arkiv for Botanik a eae Arkiv for Kemi, ae och Geo- logi > Kungl. Sv enskaV etenska ps À k ademiens > Entomologisk USER NS Uppsala Bulletin of the Geological Institution of the University of U ppsalag ne > Noruega Bergens Museums Aarbog . . . Bergen Det. Kongelige Norks Videnskabers selskabs “‘Seheitter Dust 4. Throndhjem Tromsüs Museums Aarshefter . . . Tromsô Italia «Redia» Giornale di Entomologia . Annali del Museo Civico di Storia Naturale Atti della Societá Taio A Scienze Naturali del Museo Civico . Mitteilungen aus de Zoologischen Sta- tion zu Neapel Annuario del Museo Zoologico. dealin R. Universita Bolletino del Laboratorio di Zoologia Generale © Agraria della R. Seuola Superiore d Agricultura : : Bolletino della Real Scuola Superiere d Agricultura Annali della Real Seuola Superiore d Agricultura Atti della Reale den dei aes Rendicont della Reale Accademia dei Lincei dd fee SO pan RE E Memorie della Pontificia Accademia Romana Dei Nuovi Lincei. Bolletino dei Musei di Zoologia ed Anatomia Comparativa. Hiespanha Boletin y Memorias de la Real Aca- demia de Ciencias y Artes. . Boletin de Ja Institución Catalana d Historia Natural de tse Annales, Boletin y Memorias de la Sociedad Española de Historia Na- tural . MORE Qi Mere Memorias de la Real Academia de Ciencias exactas, fisicas y naturales Revista de la Real Academia de Cien- cias exactas, fisicas y naturales. Boletin de la Bibliotheca, Museu Ba- laguer Pirenxe Genova Milano . Napoli Portier > as > Roma Torino Barcelona Madrid “Vila Nueva Portugal Communicações da Direcção dos Tra- balhos Geologicos de Portugal . . Lisboa Jornal de Sciencias Mathematicas, Phy- sicas e Naturaes da Academia Real ee eleN Clasps es atten RES > Boletim da Real Associação Central da Agricultura Portugueza . ae de la Société Portugaise dê Sciences Naturelles . : Revista Official da Missão Aeronoinics Pamala VEER ==" ss. D io ETON Annaes Scientificos da Academia Po- POR ERIC dase hae La o cee ek OF00 Annaes de Sciencias Naturaes > ECoriutalia o se Ds. A RE shi de Sciencias de ao Ç ‘ol ledosde So el RE Pro Soalheira Asia Meddedeelinger iut «Slands Planten- tuin> Schadelijke en Nuttige Inse- ctem van Java. 9. . Batavia «Slands Plantentuin» Bulletin de: |’ ieee titut Botanique de Buitenzorg . . DBuitensorg Madras Government Museum, Ramés- varam Island and fauna of Gulf of Manaar . - : Madras Journal of the Straits “Branch of the hoyal Asiatic Society .-. . =. . - Singapore Annotationes Zoologicae Japonicae . Tokio The Zoological Magazin . . us. > Mitteilungen der Deutschen (Gesell: schaft fuer Natar-und Volkerkunde Ostasiens ==. > The Journal of the College E Science Africa Annals of the South African Museum Cape Town Report of the South African Museum Report of the Government Biologist. — 594€ — : Marine Investigations in South Africa Cape Town Report of the Government Natal Mu- $ SOU RER yar NE RE ES RS ENT TETE Annals of the Transvaal Museum. . Pretoria Australia Transactions of the Royal Society of South Australia .'. . Adelaide Memoirs of the Royal Society ae Conte Australia cr ed, » ë Annual Report of the Gooldsical 0 Acclimatisation Society of Victoria Melbourne Proceedings of the Royal Society of Vite tombe tee UE ARENA a E pas > Proceedings of the Zoological - and Acclimatisation Society of Victoria > Memoirs of the National Museum . ER The- Victoria Naturalist , 0 » Zoological and Acclimatisation Sanne Victoria Journal of the Department of Agri- culture of Western Australia. . . Perth Journal and Proceedings of the Royal Society of New South Wales . . Sydney Proceedings of the Linnean Society of New South Wales . 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Mo o Revista do Museu Paulista, 1907 Vol. VII 40° MATTAS E CAMPOS —NA— ICA vo Sl re -—=— LEGENDA: EN Campos (Steppe) [E] Mattas (Wald) 7 BS Fausto Le, del. / i _ L ! 40° 30° 20° 10° 50° Revista do Museu Paulista, Vol. VII, Est. 1) OTAYd 'S AG “IST — ONVINY OINYS HA OANVI = Revista do Museu Paulista, Vol. VII, Est. III OTNVd 'S ad ‘IS — odsvsEC HA OLNHA OVAVYO - são ERRADA DEA akan y at y UV = yee d Vu k vil) PARANA REGIÃO RITYBA PERT TRADA DE RODAGE (ARAUC ES CAMPOS DI A) EM \SII ARIA PINHEIROS TA bo ET cam Pim mto Es Revista do Museu Paulista, Vol. VII, Est. V - 9) “ado, & BTS x VIHV Vd ‘LSM — ONIHZVO[ HA OLNHA VONILVVO “AR ue en - — mi "9 w VNDOVIA3G *3 VON3OSYN3E YO SYNOH20 On ‘S da “LST ‘MHW Od HMM1S ‘HUYIS HA OLTH OG HLLHW 3d VOIMALNI ad HLSIA Revista do Museu Paulista, Vol. VII Est. VII SERRA DO MAR ERRA, S Matra — ALTO DA D 4 INTERIOR DI EST, Vill TAL MMi Lith UN ates LRP FOILED TOOL ELIA ARA Oe AN q UNS REVISTA DO MUSEU PAULISTA-VOL. VII. ira, Peixe espada) Gymnoti (Tuv à - ! 11e E | > Lene 5 : roe bags sph, NAT “bent É ” F ¥ à TROPHEO DOS INDIOS MUNDURUCUS : Re ABEÇA HUMANA MUMIFICADA COM O CRANEO E A À a Ea SR > mt Ay Ea Ear Sire + ater] oo EEE a A Se 20 BY Flex, del. os wit : «a 019º «A S Paula f ON CFrio q “Os Tra tra Gage”? > Saas Ldess. 5 ae en Rio Pa rang, Oo | > a o Pech Ce ima SL «es, CHOVA E Chov, Florianopolis À ee LEGENDA == Guaranis, incluindo Carijos,Pinares, Tapes eArachanes Tupis, incluindo lupinaquirs, Tupinambás, Jamoyos e Temininos Mites Ho meridionaes (incluindo septentrionaes (Cayapos ,Goyatacas, laa ces ee 7 À Garajas, Charruas e outras tribus, que nao sejam nem Tupis nem Tapuyas. | 40 30 Mappa da antiga distribuiçao dos indios no Brazil meridional TE Revista do Museu Paulista, 1907-— Vol. VIi 40 =e. — Es Est. AT feios io Doce lctoriag 0), — aS Lio p. ay) pa Say, CHAVANTES ça fe caYuk YGF OC. Novos 40, CA eu Gr ARANIS 9 CFrio 10 de ; ha à Caneira Sans des, Se os feia lirrhaen, Sebastian Ri 2 Ropeecu, GUARANIS “, se +! Re © E ia oc Ca, (Co Rone GAINGANGS Caseros "a Vaccaria il CAINGANGS 30 S 4 Buenos Aire @ Montevideo LEGENDA DO] guaranis e Cavuas Tapuyas meridionaes (1“ Sec.) (Caingangs) SAS (2*Sec.)(Ingains e Guayands ) >, » septertrionaes (Cayapos, Chavantes, Puris,Botocudos,etc.) esl Guayaquis, Guaycurus e outras tribus, que nao sejam nem Tupis nem Tapuvas. Be Flex, del. 30 20 Mappa da actual distribuiçao dos indios no Brazil meridional Est XI Revista do Museu Paulista, Vol. VII Distribuiçao de Terra e Mar na Formaçao Eocena RAT CON QT RC es ae iN PE Ok + PTN + EA AN ET PUBLICADA POR LS: D à ~ RODOLPHO BORING a ESS ENA { | | | | Dm do PA Faulista ; E Pia es Ii Rs pi mi IM a Hil ui à E : : S. PAULO RE Typ. CARDOZO, FILHO & Cu , é es NUE SBPN REA DIREITA, 35 Ny \ + MERE RU EA ART |