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Full text of "Memórias do Instituto Butantan"

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MEMÓRIAS 

DO 

INSTITUTO BUTANTAN 

1949 


TOMO XXII 





São Paulo, Brasil 


Caixa Postal 65 



As “MEMÓRIAS DO INSTITUTO BUTANTAN" são destinadas 
ã publicação de trabalhos realizados no Instituto ou com a sua con- 
tribuição. Os trabalhos são dados à pulHicidade. separadamente, 
logo após a entrega e reunidos anualmente num Tolume. 

Serão fornecidas, a pedido, separatas dos trabalhos publicados 
nas “Memórias”, pedindo-se nesse caso o obséquio de enviar outras 
separatas, em permuta, para a Biblioteca do Instituto. 

Toda a correspondência editorial deve ser dirigida ao: 


I.VSTITUTO BUTANTAN 
Biblioteca 
Caixa postal 65 
S. Paulo, BRASIU. ’ 


PEDE-SE PERMUTA 
EXCHANGE DESIRED. 



índice 


1. BüCHERL, W. — Descrição do macho de itagulla symmetrica Bücherl, 1W9 1-10 

Descriftion of lhe mole of Magulla symmelrica Bücherl, 1949. 

2. BÜCHERL, W. & XAVAS, JOSÉ — Descrição dos machos das espedes de 

Tityus litisi Giltay. 19i8 c Tilytts cojiaius (Karsch. 1879) (Género 
Tilyus C L. Koch. 1&J6; subfam. Isometrinac Birola, 1917; fam. 

Bulhiáae. 1879) 11-24 

Description of lhe males of lhe spectes of Tilyus lulsi Gillay, 1928 and 
Tilyus coslalus (,Karsch, 1879) (Genus Tilyus C. L. Koch, 1836; 
subfam. Isomelrínae Birula, 1917; fam. Bulhidae, 1879).. 

3. AZEVEDO, M. P. — Mecanismo de acção anticoa.tulante do lalex de Ficus * 

glabrala K. B. K. 25-30 

Mechanism of lhe anii-coagulanl aclion of lhe lalex from Ficus glabrala 
K. B. K. 

4. AZEVEDO, M. P. & MARTIRAXI, I. — ,\cçâo proteolitica do \-cneno da 

» Bolhrops jararaca (Wied), I. Acção sobre hemoglobina e caseina .. 31-46 

Proleolylic aclion of lhe tícnom of Bolhrops jarolaca (li'ied). l. Ahoul 
lhe aclion on hemoglobin and cosem. 

5. MARTIILAXI, I. & AZEVEDO, M. P. — ,\cção proteolitica do s-eneno da 

Bolhrops jararaca (Wied). II. Acção sobre a gelatina 47-62 

Proleolylic aclion of lhe venom of Bolhrops jararaca (IPied). II. 

Aboul lhe aclion on gelaline. 

6. LEAO, .A. T. — Sobre dois batrãquios da Ilha dos .Alcatrazes 63-74 

On fuv Balrachia from lhe Alcalrases Island. 

7. HOXTER. G. & MUXGIOLI. R. — Estudos electroforéticos. I. Métodos 

e técnica 75-126 

Electrophorelic sludies. I. Melhods and lechnie. 

8. M.ACEDO, J. J. & VELLIXI, L. L. — O uso da nos-ocaina intravenosa como 

analgésico na colheita da linfa vacinica 127-138 

The use of lhe iniravenous notvcaine as analgestc in lhe hartrsling of lhe 
lhe taccine lymph. 

9. LEAO, .A. T. — Sobre dob batrãquios da Ilha da Queimada Qrande 139-150 

On luro Balrachia frtrn lhe Queimada Grande Island. 

10. HOGE, .A. R. — Xotas erpetológicas. 7. Fauna crpetológica da ilha da 

Queimada Grande 151-172 

Soles on Ilerpelology. 7. Herpelologie fauna from lhe Queimada Grande 
Island. 






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Mrm. Inst. Batantao, 
22:1-10. XoT.® 1950. 


\V. BVCIIERL 


1 


DESCRIÇÃO DO MACHO DE MAGVLLA SVMMETRICA 

BÜCHERL. 1949 

K* \VOLFG.\NG BÜCHERL 

(Trabalho <h Dhisão df Zooloyia do Inslitulo Dutantan, 

São Paulo, Brasil) 


IXTROnVÇÃO 

Em nosso trabalho "Estudos Mihrc o género MaguUa Simon, 1892” fizemos 
uma nova redcscrição do género, como também das dua.s, até então, únicas 
esijccies, M. obesa Simon e M. janeira Keyserling. Finalinente, foi descrita a 
MaguUa synnnelrica como nova jiara a ciência, estalielecendo-se um diagnostico 
diferencial morfológico rigoroso entre estas três esjiécies. únicas do género. 

Entretanto, as relações das dimensões do cefalotorax. das jiatclas e tibias 
<lo primeiro e do quarto par de penia> que permitiram elaliorar uma chave 
distinta das três espécies, l^a.seada ainda em outros caracteres con.stantes e no 
colorido geral, só se baseavam em fémeas, jxirque tamliém na nossa espécie nova 
faltava o macho, tendo acontecido o mesmo a Simon e Keyserling. Realmente 
os machos das espécies <le MaguUa devem ser rarissimos. jwrque entre os milha- 
res de exemplares de aranhas recebidos anualmente jielo Instituto Butantan. 
nunca nos chegou às mãos um só macho. Desta n'.aneira continuaria este gênero, 
tão interessante, quando em março de 1949, a sra. Helga Urlan trouxe da 
Ilha de São Sebastião. Estado de São Paulo. 3 machos, capturados no mesmo 
local de onde vieram as fêmeas de MaguUa synnnelrica . e que invariavelmente, 
pertencem a esta mesma espécie e que serão descritos a seguir. 

MaguUa symmrtrica Bücherl, 1949. 


Descrição do iracho: 

Medidas: — cefalotorax 7 mm de comprimento píir 7 mm de largura; 
comprimento total 17mm: 

comprimento das pernas: — 25'J?2:18,.s; 27 mm (num macho menor: 
21.5:183:1 5 -.23 mn:) : 

|<atela e tibia 1 — 10 mm (8.5 mm no exemplar menor); 
p.ntcla c tibia IV — 8 mm (8.0 mm no e.xemplar menor); 

Entrepir para poMicacão cm 3 de jtmho de 1949. 


SciELO 





* 



2 DESCRIÇÃO DO MACHO DE ilACULLA SYUiíETRICA BCCHERL 

metatarsos e tarsos I-3J2 e 3,3 mm; 11-3,3 e 3,2 mm; 111-3,5 e 2,5 
mm; I\’-7 e 3,5 mm; 
esterno — 3 por 3 mm; 
labio — 1 por 1,2 mm. 

Colorido: — (vide prancha). O colorido do macho é igual ao da fêmea, isto 
é, marrom claro, um tanto para o vermelho nas pernas e nos palpos e 
mais para o marrom escuro no cefalotorax e, principalmente, na face 
dorsal do ahdomen. Esterno, ancas e trocanteres das pernas, labio e 
articulos basais dos palpos marrom avermelhados. 

Pernas com estrias longitudinais nos femures, patelas, tibias e 
metatarsos, como nas fêmeas. Face dorsal do abdômen com mancha 
grande, ocupando mais dc dois terços basais, formada de curtos pêlos 
sedosos. 

Pêlos das pernas muito densos, principalmente nas patelas e tibias 
das pernas anteriores, mais longos do que o diâmetro dos articulos, 
formados de haste marrom avermelhada e terminando em pontas côr 
de cinza. Os mesmos pêlos se observam no abdômen, nas fiandeiras e 
nos palpos. Xo cefalotorax estes pêlos cinzentos são mais esparsos. 

Estes pêlos faltam no esterno, nas ancas e nos trocanteres (no 
lado ventral), onde são substituídos por pêlos escuros, bem mais robus- 
tos e rígidos, ordenados em filas densas, em volta dos contornos do 
esterno e da'parte anterior do labio. 

Escápulas dos tarsos c metatarsos: — No 1® tarso não existem as escópulas 
veludosas, cerradas, mas em seu logar pelinhos muito delicados, finos, 
mas bastante longos, semieretos, não havendo, na linha mediana ven- 
tral, as cerdas "divisórias” das escópulas, mas apenas uma leve indi- 
cação destas, na área apical. Nos 3 tarsos das pernas seguintes as 
escópulas são do tipo comum, isto ê, formadas por densos pelinhos 
curtos, sedosos e veludosos, havendo em seu meio densas fileiras longi- 
tudinais de “cerdas divisórias”, cerdas estas a ocupar todo o compri- 
mento do tarso e que se alargam apicalmente em forma de leque, 
chegando a dominar, perto do tufos subungueais, quase toda a largura 
ventral do articulo, de n^aneira que não há mais espaço ai para as 
escópulas. As cerdas divisórias do 2® tarso são irr^ulares na parte 
basal, mais numerosas e dirigidas para a frente nos dois terços apicais, 
a alargar-sc, finalmente, em forma de leque. 

No 3® tarso existem 4 a 6 filas de cerdas divisórias, mais ou 
menos regularmente dispostas, com o alargamento distai em forma de 
leque; no 4® tarso estas cerdas ocupam mais da metade ventral das 



Mcm. InU. BoUntan. 
22:1-10. Xor.» 1950. 


\V. BUCHERL 


fscopulas, na linha mediana e apicalmente se alargam sobre toda a 
largura do articulo (no lado basal, no terceiro e quarto tarso, as cerdas 
divisórias dei.xam li\Te uma área estreita, onde se aloja o espinho me- 
diano apical do metatarso, quando o tarso se fle.NÍona sobre este), 

Nos metatarsos as escopulas são ausentes completamente no 4° 
par de pernas; no 3® lar ocupam apenas uma pequena área apical, 
correspondendo talvez à quinta parte do articulo; no 1® e 2® par as 

’ escópulas são de todo invisíveis, principalmente no 1® par, enquanto 

que no 2.® ainda há uma insinuação delas. 

Os tufos subunçueais são muito pronunciados, constituídos por 
dois fei-xes cheios de pelos aveludados, sedosos, brilhantes, um pouco 
mais longos do que as 2 garras. Estas são constituídas por uma ba^ 
robusta e reta, fortemente quitinizada, preta, brilliante, que abrange dois 
terços do comprimento das garras, e a parte cur^a (um terço), final, 
com angulo cur>o, cm 80 graus com a liaste. Existem sempre dois 
dentes apenas na margem interna da haste, sendo o apical o maior. 

Espinhos ■. Nos palpos não há nenhum espinho, como tamliem no primeiro 

par de pernas, excetuados os das apófises tibiais. 

Em todas as outras pernas só há espinhos nos metatarsos. No 
2® metatarso 1 espinho vcntral apical ou nenhum ou apenas com uma 
cerda mais robusta cm logar do espinho. No 3® par 1 espinho ventral 
apical mediano (sobre o qual se flexiona o tarso), 2 espinhos laterais 
apicais (1 cm cada lado do mediano apical), entre os quais se flexiona 
o tarso e 1 lateral anterior, quase apical. 4® metatarso com 9 a 11 
espinhos ao total, sendo sempre constantes e de posição fixa o vcntral 
mediano apical c os dois laterais aincais. Os outros ocupam sempre a 
metade apical, mas não obedecem a uma posição regular. 

Qucliceras com 11,12 ou 13 dcnticulos, muito bem enfileirados, na margem 
inferior, sendo os do meio os maiores. 

Cúspides em numero de 14 a 17, gcralmcntc 15 na parte anterior do labio e 
60 a 75 nos lobos maxilares dos palpos. 

Olhos (vide fig. 3) formando 2 filas, sendo a primeira ligeiramente recurva ou 
quase reta e a segunda reta ou um tanto procuna. Ora os da primeira 
fila são iguais, ora os dois medianos são um tanto maiores do que os 
laterais anteriores. A distancia varia igualmcntc, sendo geralmcnte os 
laterais anteriores l»em mais perto dos medianos anteriores do que estes 
últimos entre si. Laterais anteriores c posteriores aproximadamente do 
mesmo tamanho, ora redondos ora um tanto oblíquos Medianos pos- 


em 


SciELO 


LO 11 12 13 14 15 16 



DESCRIÇÃO DO MACHO DE ií.IGlLÍ.I SiUMETRICA BCCHERL 


teriores ora quase redondos. jxDreni, geralinente. oblongos e colocados 
bem junto aos olhos laterais posteriores 

A{>óftsc tibial — (vide íig. 2). Existem sempre duas apófises. ventral 
inferior é a maior, um tanto cur\a e annada de um espinho robusto 
no apice. -K lateral é bastante pequena, tenninando em ponta obtusa, 
sem espinho. Perto da liase interna desta apófise há um espinho robusto, 
longo. 

Orgào copulador — (vide fig. 1). .Alvéolo do tarso liastante fundo, de maneira 
a possibilitar o alojamento do “pecciolo”, da porção basal estreita do 
bulho e do primenro terço liasal da jiorção mediana, vestibular do mes- 
mo. Porção apical do bulbo ou êmbolo, do mesmo comprimento como 
a porção mediana, com transição lenta entre ambas, tenninando o 
êmliolo numa ponta bem aguda. Torção em 180 graus. 

COXCLCS.ÍO 

1 . MagtiUa sytnmcirica Bücherl, fêmea, representa realmente um.a só espécie com 
o macho, ora descrito: 

a) por terem ambos as mesmas relações de dimensões tanto no compri- 
mento das pernas (o ultimo par é o ntais longo, depois vem o primeiro 
par, em seguida o segundo e p<ir ultimo o terceiro), como na relação 
dos comprimentos dos tarsos e metatarsos dos quatro j:ares de jiemas 
e. finalmente, nas medidas entre ò comprimento das patelas mais tibias 
do primeiro c do qiuirto par de pernas (patela c tibia I mais longa 
do que IV). 

O fato de na femea o cefalotora.*: ser mais longo do que as patelas 
e tibias do 1° e do 4° par de pemas. respetivamente, e no macho as 
ultimas serem mais longas, representa o dimorfismo sexual (igual ao 
de outros gêneros de caranguejeiras). 

b) Por apresentarem absolutamente o mesmo colorido; 

c) Por se encontrarem com o mesmo habitat, ajiarecendo os representantes 
de um sexo em certo periodo do ano e os do outro sexo alguns meses 
depois (fato comum nas caranguejeiras). 

No. de exemplares: — 3 machos, fichados na coleção aracnologica do Instituto 
Butantan. 

Procedência: — Ilha de São Sebastião. Estado de São Paulo, Brasil, perto da 
costa do oceano. 

Data da captura: — 19 de abril de 1949. 

Colecionadora : — Sra. Dona Helga Urban. 



Mem. Inst. Bntantin, 
-22:1-10, XoT.® 1950. 


W. BUCUERX. 


5 


RESUMO 

Magulla symmetrka, niacho, é descrito como novo para a ciência e como 
sendo o primeiro macho de todas as espécies deste género. 

ABSTRACT 

few months ago was described the new species Magulla sytntnclrica, 
from São Sebastião, near the coast of the State São Paulo, Braail, and the 
original description was based only over females. Now is described the male 
-as new for Science, from the same place and the description is made with 3 
rspecimens. 


ZUSAMMEXFASSUXG 

Xachdem vor einigen Monaten Magulla symmelrica ais eine neue Art be- 
schrieben wurde, kann dieser Beschreibung nun aucli die Charakterisierung des 
Maennchens beigefuegt werden. 

Das Maennchen hat dieselbe Faerbung wie das Weibchen und zeigt auch 
die gleichen Verliaeltnissc de Masse sowohl der Laenge des Cephalothoraxes und 
•der Patellen und Tibien des ersten und vierten Beinpaares. wie auch die gleichen 
Li.engenverhacltnisse der Bcine (IV, I, II, III) und der Metatarsen und Tarsen. 


A Doeu Helga Urban o» noMos agradecimcnios pda coleta do 
material. 

Asradccetnos igualmente ao sr. Laureano Dourado pelos desenho» 
e prancha colorida. 



I SciELO 






Mrra- Im». Butantan, \V. bCcHERL T 

22 : 1 - 10 . XoT.® 19 S 0 . 



i*-? 1 

MêÇ»JU tymtmriricé Bõckerl ^ >- 
p4]po coa boDio copuUdor. 


/‘g. 2 

Utf*lU tymmttrie» nõchcHi 

Apófise t3ns]. 



i/epa/le iymmrlrK» BnclieTl 
Olbot. 





SíaguUa symmetrica 






Mcm. Injz. Batantac. 
72 : 11 - 24 . Sor ” 1950 . 


\V. BÜCHERL & J. N.WA> 


II 


DESCRIÇÃO DOS MACHOS DAS ESPECIES DE TITVUS LUTZl 
GILTAV 1928 E TITYUS COSTATUS (KARSCH, 1879) (GÉNERO 
TITVUS C. L. KOCH. 1836; SUBFAM. ISOMETRISAE BIRULA, 1917; 
FAM. BUTHIDAE SIMON. 1879) 

POR WOLFGA.VG BCCHF.RL &■ JOSÉ XAVAS 

{Trabalho das Dkisão dc Zoologia do Instituto líutantan. 

São Paalo, Brasil) 


Giltay. em 1928, em “Aradinide;: Xouvcaux clu Brésil", Ann. Buli. Soc. 
Ent. Belgique, 68, descreveu a espécie Tityiis lutA, tendo como tipo uma fêmea 
capturada nos arredores de Cuialja, Mato Grosso. 

Tendo recebido nos últimos me.ses 3 escorpiões, enviados ao Instituto Bu- 
tantan pelos fornecedores de animais venenosos, e tendo verificado (|ue estes 
três exemplares, dos <juais dois são machos, |>ertencem a espécie de Giltay, des- 
crevemos. a seguir, o macho desta espécie, até agora desconhecido, referindo-nos 
igualmente à fémea, que apresenta algumas (larticularidades morfológicas, não 
tomadas em consideração |X)r aquele autor. 


DESCRIÇ.ão DO M.XCIIO 

Procedência; .Xrarc. Estado de São Paulo; Presidente Epitácio (limites 
entre São Paulo e Mato Grosso). 

Comprimento total — 56 mm ; tronco — 22 mm ; cauda — 34 mm. 

Cefalotorax esairo. cór de couro, com u’a mancha triangular negra no pro- 
soma desfle o cômoro ocular atê a borda anterior. Face dorsal de tronco com 
manchas escuras cm fundo mais claro, apresentando o último tergito um triângulo 
nviis escuro na linlia mediana (vide prancha colorhla 2). Cauda amarelo 
ocráceo, mais escura nos trés últimos artículos e com as cristas dos segmentos 


Entregue para publiracio em 20 de iunho de 1949. 



i"? DESCRIÇÃO DOS MACHOS DAS ESPECIES DE TITYVS LVTZl 

E TÍTYVS COSTATVS 

IV e \ pardo escuras. Tibia dos palpos com uma grande mancha pardo escura 
a ocupar quase toda a área e com dedos castanho-avermelhados. 

Bordo anterior do cefalotorax quase reto, apenas ligeiramente bilobado e 
com ângulos laterais truncados. Cômoro ocular com largo sulco mediano, de 
aspecto liso, sendo os olhos separados entre si por um diâmetro e meio. Cristas 
superciliares levemente granulosas. 

Face ventral (vide prancha 1 ) de um amarelo sujo, mais ou menos uniforme 
e apenas ligeiramente mais escura nos segmentos distais da cauda. Pernas 
dorsalmente manchadas de negro e ventralmente de amarelo uniforme. 

Tegumento dorsal rugoso, com pontuações granulares irregulares. Tergitos 
I a VI densamente granulosos, com a crista mediana mais elevada na metade 
posterior das placas. Tergito VII com as cinco cristas granulosas habituais. 

Estemitos I a IV com uma fai.xa transversal, ao longo da borda posterior, 
amarelo clara, sendo a do III estemito apresentada por um triângulo mediano 
posterior (vide prancha 1), liso e brilhante. 

Pentes no macho de Avaré com 22 -j* 24 dentes, de lâmina intermediaria 
basilar nâo dilatada (no e.\emplar de Pres. Epitacio com 20 + 20 dentes). 

Cauda bastante robusta, sendo o IV e V segmento um pouco mais largo 
do que os tres precedentes, o quinto duas vezes mais longo do que o primeiro. 

Cristas medianas ventrais inferiores c laterais superiores granulosas, percor- 
rendo toda a extensão dos segmentos I a I\' (vide fig. 3). Cristas medianas 
dorsais granulosas, com os grânulos todos iguais, mesmo nos segmentos II a 
I\'. Cristas laterais acessórias completas no segmento I e presentes só na 
metade posterior do segmento II. 

Vesícula lisa e sem pêlos, com o espinho da base do ferrão pontiagudo e 
com dois grânulos dorsais. 

Femur e tibia dos palpos com as cristas granulosas bem acentuadas. Cristas 
medianas da face anterior da tibia com o dente bacilar bem maior. Mâo da 
largura da tibia ou apenas um nada mais larga, com 4 cristas dorsais distintas, 
sendo uma interrompida. 

Dedo movei con*. lobo basilar bem desenvohndo. Relação entre o compri- 
mento e largura da mão e do dedo movei : 5 :3 :7,5. 

Macho de .Avaré; — X® 26, vidro 79, da coleção do Instituto Butantan. 

Macho de Presidente Epitacio: — X° 28, do vidro 81. 



-ScíELOIq 


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Mcm. Iiut. BaUnUi. 
21:11-24. XoT.® 1950. 


\V. BUCHERL 4 J. 


NAVAS 


IJ 


Comparação entre o exemplar de Giltay, de Cuiabá e o de Presidente Epitácio 
• (n.° 29, \-idro 81 ) : 


FÊMEA DE CILTAY 

423 mm; tronco: 173 mm; cauda 25 mm. 
Triângulo denegrido na prozona a começar 
do cômoro ocular. 

Último tergito de colorido imifomie. 


Palpo e pernas com manchas escuras. 


Mão amarelo-ocrácea. 
Pentes com 21 dentes. 


E.XEMPLAJt DE PRESIDENTE EPITÁCIO 

463 mm; trofKo: 163 mm; cauda 50 mm. 

Começa atrás do cômoro ocular, incluindo 
CT olhos. 

Último tergito com 1 triângulo mediana 
anterior, escuro e com 2 manchas late- 
rais escuras. 

Manchas escuras apenas dorsalmente, pre- 
valecendo o cdorido amarelo uniforme 
no lado ventral. 

Dorsalmentc com pequenas manchas pardas. 

Pentes com 22 dentes de um e 25 do outro 
lada 


Descrição do macho de Tilyus coslatus 

(vide prancha 4 e fig. 5) 

Macho — 53 mm; cauda 19 mm; tronco 34 mm. 

Ccfalotora.x marmorado de negro e testáceo. Tronco |iardo-escuro com as 
bordas dos tcrgitos denegridas. Cauda com os dois primeiros segmentos amare- 
lados; do terceiro ao quinto escurecendo progressiv^amente mais ate ao negro 
fosco no V sarnento. \'esicula vennelho escura, quase negra; ferrão na liasc 
avermelhado c na ponta denegrido. Patas fulvescentes, com manchas jiardo 
escuras, leves. Palpos amarelo escuros, prevalecendo o tom escuro. A mão liem 
amarela; dedos denegridos, com as pontas um tanto avermelhadas. Estemitos, 
pernas e maxilares pardo amarelados. Pentes amarelo pálidos (prancha 4). 

Borda anterior do cefalotorax em ângulo muito obtuso, formando quase 
uma reta, granulosa. Cômoro ocular com sulco finamente granuloso. Cristas 
superciliares curvas bem salientes c irregularmente granulosas. Parte posterior 
do cefalotorax com duas cristas curtas, subparalelas, levemente divergentes atrás. 

Tergitos densamente granulosos, com granulações mais grosseiras, formando 
arcos transversais, nos tergitos III a VI. Crista mediana acentuando-se pro- 
gressivamente nos tergitos posteriores, mas presente já do I ao ultimo tergito, 
mais fraca nos tres primeiros e Item visivel no III ao VII segmento. Neste a 
crista mediana ocupa quase dois terços anteriores; cristas laterais levemente 
curvas para fóra, quase completas e divergentes. 

Estemitos com granulação muito fina; I e II com borda posterior larga, 
amarela. TII com borda posterior cm fomia de triângulo mediano, liso, amarelo. 
Estemito IV com duas cristas paralelas, V com 4 cristas paralelas, granulosas. 




1 



* 


14 


DESCRIÇÃO DOS MACHOS DAS ESPECIES DE TITYVS LVTZl 
E TITYVS COSTATVS 


atingindo as duas medianas as bordas posteriores, enquanto que as laterais só 
se estendem sobre os dois terços anteriores da placa. 

Pentes com 17 dentes cm cada lado; a lamina basilar intennediaria não- 
dilatada. 

Cauda robusta, paralela, finamente granulosa. V segmento duas vezes mais 
longo <lo que o primeiro. Do segundo segmento para trás cada segmento seguinte 
sempre um pouco mais longo do que o precedente. Cristas medianas ventrais, 
laterais inferiores, laterais supieriores e medianas dorsais completas, granulosas, 
presentes nos segmentos 1 a I\’, mas menos pronunciadas já no quarto. Cristas 
medianas dor.sais conve.xas. sem dente posterior maior nos segmentos 11 e III. 
Cristas laterais acessórias presentes e completas nos segmentos I e II, ausentes 
nos outros segmentos. Segmento V com 5 cristas, muito mal visiveis. 

\'esicula quase lisa. com uma crista ventral mediana leve, a terminar no 
espinho sob o ferrão. Este espinho agudo e com 2 grânulos dorsais. 

Palfxis finamente granulosos, com as cristas não muito acentuadas: crista 
mediana anterior da tibia fracamente serrilhada. Mão quase tres vezes mais 
larga <lo (juc a tibia ( caracter se.xual do macho) e quase duas vezes mais 
larga <lfi que a mão do mesmo comprimento da fêmea. Dedos um nada mais 
longos do (jue a mão. Dedo movei com forte lobo basilar e um igual, mas um 
jiouco mais fraco no imóvel, de maneira que. fechando-se os dois dedos, medeia 
um espaço na l>ase dos dois (dimorfismo .se.xual entre os dois sexos). Dedo 
movei com 13 filas de grânulos no gume (fig. 5). Relação entre o comprimento 
e a brgura da mão e o comjirimento do dedo movei : — 5 :3.5 e 7 mm. 

Localidade: — Ilha de São Sebastião. 

Remetente: — Dona Helga Urban. 

Na coleção escorpiõnica do Instituto Butantan: — No. 499. frasco 245. 


DIFEREXÇ.AS MOKEOLÔGIC.XS E.NTRE .\ EÊME.\ E O M.\CHO 
r Ê M r. A 


Sem loho lAsilar entre 05 dedos da mão. 

M.io não muito mais larga do que a jor- 
cão liasal dos dedos junto*. 

Colorido da mão pardo escuro. 


MACHO 

Forte lobo basilar entre 05 dois dedos da 
mão. 

Mão do dobro da largura da' p cçâo basal 
dos dedos juntos. 

Mão amarela. 


RESIMO 


São descritos cotiio novos para a ciência os machos das espécies Tityus 
luta e eostatus. .Ambos apresentam os mestnos caracteres morfologicos espe- 


•SciELO 


0 11 12 13 14 15 16 


cm 



Mcm. In»«. Bnunui). w. bCcUERL & J. NAVAS 1% 

22:11-24, Not.» 19S0. 

citicí^s das respetivas fêmeas, já conhecidas, de maneira que não persiste duvida 
de que estes machos realmente pertencem às fémeas das aludidas espécies. 

Ao mesmo tempo foram constatadas diferenças sexuais nos dois sexos em 
ambas as espédes. Em Tityus lutei o macho apresenta um lobo basilar na base 
interna dos dedos da mão e os dois últimos articulos da cauda são bem mais 
grossos, enquanto que os mesmos, na fémea, tém a mesma espessura em todo 
o percurso da cauda, afilaudo-se esta atrás. 

O macho de Tityus costatus apresenta igualmcntc um forte lobo Itasilar na 
mão ; a própria mão do macho é muito espessa, atingindo duas vezes a espessura 
da mão da fémea. A cauda, entretanto, é igtial em ambos os sexos. Há ainda 
uma diferença no colorido entre os dois sexos, cspecialmcnte na mão, que no 
macho se apresenta amarela e na fémea pardo escura. 

Xo lote de fémeas de Tityus lutei, existentes na coleção e.>corpiònica do 
Instituto Butantan. foram confrontadas igualmente fémeas provenientes de Pre- 
sidente Epitácio (Estado de São Paulo, Brasil) com a fémea-tij», descrita 
por Giltay e proveniente de Cuiabá (Mato Gros.so, Brasil), cnconirando-se ligeiras 
variações no colorido, prindialmente do último tergito c no numero de dentes 
nos pentes, que são de 21 no exemplar de Giltay e 22 a 23 no lote de Presi- 
dente Epitácio. 

Pelo confronto de mais exemplares de Tityus lutei pudemos inferir da 
x^ariação no numero de dentes nos pentes : no exemplar descrito por Giltay há 
a{)cnas 21 dentes; nas fémeas de Presidente Epitácio x’erificamos 22 a 23 dentes; 
no macho da mesma localidade apenas 20 dentes e num macho. j>roce«lcntc de 
.•\xaré, 22 e 24 dentes em ca<la lado. 

ZfSA M M E.v F.XSSfNC 

Von den zwei bra.silianischcn Skorpionarten, Tityus lutei Giltay und Tityus 
costatus (Karseh) vxerden die tóden Macnnchen beschrielien, die hisher unhe- 
kannr xxaren. 

Zugleich xverden fuer die beiden Macnnchen die sekundaeren Gcschlcchts- 
merckmalc. die sich durch Ixisale Verdickimgen an der Basis der Innenseiten der 
Handfinger licmerkbar machen, dargclegt. Tityus lutei, Macnnchen, hat auch 
noch die beiden vorletzten Caudalsegmentc vcrdickt, xx-achrcn<l der ganze Schwanz 
des Wcibchcns paralell vcrlaeuft. 

Bei dem Macnnchen xon Tityus costatus ist der Schxx-anz. nicht vcrdickt, 
sondem paralell xxãe beini Weibchcn; jcdoch hat die Hand des Maennchtns 



SciELO 




16 


DESCRIÇÃO DOS MACHOS DAS ESPECIES DE TITYVS LVTZI 
E TlTYüS COSTATUS 


•dieser Art sehr bedeutende Basalverdickungen an den Fingern, die beim \\’eibchen 
fehlen und die Hand des Maennchens selber ist mindestens zweimal so dick 
wie beim \\’eibchen, bei der gleichen Groesse der Haende; schliesslich zeigt 
•die Hand des Maennchens eine lebhafte gelbe Faerbung waehrend diese beim 
Weibchen dunkelgrau bis schwaerzlich ist. 

Bei einer Vergleichung der Zahl der Kammzaehne sowohl der Maennchen 
wie der Weibchen von Tityus lutei konnte festgestellt werden, dass dieser 
Charakter sehr variiert, von 21 Zaehnen des Weibchens von Giltay (aus Cuiabá. 
Mato Grosso, Brasilien), 22 und 23 Zaehnen der Weibchen von Presidente 
jEpitacio (Staat São Paulo), 20 Zaehnen bei einem Maennchen aus dem 
gleichen Orte und schliesslich 22 bis 24 Zaehnen von Maennchen aus Ai^aré 
(Staat São Paulo). 

Ueber den \'erbrcitungsort der Art, Tityus costatus, die urspruenglich nur 
von der Serra dos Órgãos, im Staate von Rio de Janeiro, also einem bis 1.000 
Meter Hoehe errcichendem Gebirgszuge, bekannt war, kann hinzugefuegt werden, 
dass die Skorj)ionsammlung des Institutes Butantan auch ueber Exemplare ver- 
fuegt, die aus Hoehen von 700 bis 1.000 Metem stammen, und r\%’ar aus Gebieten, 
die mehrere 100 bis 1.000 Kilometer von dem ersten Fundorte entfemt liegen, 
wie Fundplaetze im Staate von São Paulo, von Paraná, von Minas Gerais. 
Das in vorliegender Arbeit lieschriebene Maennchen stammt von der Insel 
.São Sebastião, eine relativ grosse, im Atlantischcn Ozean liegende Insel. die der 
Kueste des Staates São Paulo sehr eng aniiegt und sich ebcn falis durch grosse 
Hoehenlagcn auszeichnet, uno deren weitere Arthropodenfauna der der Serra 
«los Órgãos ziemlich gleichkommt. 


ABSTKACT 

The males of Tityus lutei Giltay, 1928, and Tityus costatus (Karseh, 1879), 
are described as new for Science. The original description of the female from 
Giltay, recollected near from Cuiabá (Mato Grosso) is confronted with the 
males and females of the collection from Instituto Butantan and color variations 
are demonstrated as well as the frequent mutation of the number of "tecfk” on 
the combs: the female from Cuiabá has 21 teeth, the from Presidente Epitacio 
(betwcen the States São Paulo and Mato Grosso) 22-23; the male of the same 
IfKality 20 in Ixjth sides and another male, from Avaré (State São Paulo) has 
22 and 24 teeth. The sccondarj- sexual characters in Tityus lutei are expressed 
by basal lolies of the fixed and movable finger of lhe hands in males and of 



Mcto. Ifut. Batintan, 
0:11-24, Not.® 1950. 


W. BUCHERL 4 J. NAVAS 


17 


the larger size of the proper hand o{ the larger three last caudal segments. 
Fenules has not basal lobes at the basis of ftngers; their hands are relatively 
small and their caudal segments are small. 

The male of Tityus coslalus has a verj- large hand; the basal lobes of the 
fingers are verj- good expressed, but the caudal segments are the same as in 
the female. The color of hand of the male is yellowish and of the female is 
grajnsh dark. 


Agradecemos ao sr. Laureano Dourado, os desenhos e as pran- 
chas coloridas qoe acompanham este trabalha 

Somos gratos igualmcnte à sra. Hciga Urban pelo interesse 
que tem tomado na colheita do material da Ilha de SSo Sebastião. 







SciELO 


cm 


Mem. Inst. BnUntan, 
Z2:M0, Not» 1950. 


J'? 1 






Tilyus costútus ^ 


Mcm. Inst. Batantan, 
22:M0, Not.® 1950. 


cm 





>« 0 . 


^V. bCcuebl & J- 


NAVA5 


23 






Mnn. Intt. BnUntan, 
B:25-30, Xor.® 1950. 


M. P. A2E\'EDO 


25 


MEC-AXISMO DE ACÇ-^O AXTICO.\GULAXTE DO LATEX DE 
FICUS G LA B RATA H.B.K. 

FOR MURILO P. AZEVEDO 
(Do Instituto Butantan, São Paulo, Brasil) 

% 

t. bem conhecida 'dos nativos da America Central, a acção vermicida do 
láte.K de certas espécies de figueiras, por eles denominado “Leche de higueron”. 

Xo Brasil, Peckolt (1) realizou estudo quimico do láte.x oriundo das es- 
pécies F-icus silvestris St. Hilaire c Ficus doUaria Mart., obtendo desta última, 
uma substância cristalina, provavelmente um glicosidio, que denominou "dolia- 
rina”. Do mesmo láte.x obteve uma pepsina vegetal a qual deu o nome de 
“urostigma papaiotin”. 

Bouchut (2) trabalhando com o láte.x de Ficus carica L. encontrou um 
fermento digestivo cuja acção se faz sentir principalmentc sobre a fibrina. 

Desde então foram as pesquisas orientadas no sentido do aproveitamento do 
láte.x dessas plantas na terapêutica das parasitoses intestinais. 

Uma completa revisão histórica do assunto foi feita por Ansejo (3) ao 
estudar a atividade proteolítica do látex do Ficus f>umi!a L. 

Os trabalhos mais recentes, de Robbins (4,5) e Robbins e I..amson (6) 
estabelecem as condições ent que melhor se processa a actiridade proteolítica 
désses fermentos. 

Estudando o látex do Ficus laurifolia, verificou Robbins (4) que o prin- 
cípio ativo é uma substância de natureza proteica existente na proporção de 
2l^c em peso do látex, precipitável pelo cloreto de mercúrio, sulfato de magnésio, 
acetona e álcool. Por precipitações e redissoluções sucessivas, conseguiu o prin- 
cipio ativo sob forma de um pó amarelado, ao qual deu o nome dc “Ficina”. 
Mostrou que ésse fermento assemelha-se à tripsina, já que o ótimo de concen- 
tração hidrogeniónica para sua actuação, está entre 4 e 8,5 sendo sua atividade 
enzimática destruída em pH abaixo de 4. Sugere também o autor a presença, 
na ficina, de dois princípios activos, um cuja acção seria matar o tecido vivo c 
outro digerí-lo. Para os estudos de proteólise usou a gelatina como substrato, 
verificando que em tal caso o pH ótimo de actuação é 5. 


Entregue para publicação em 27 de junho de 1W9. 



26 


MECANISMO DE ACÇAO ANTICOAGULANTE DO LATEX DE 
flCUS GLABRATA H. B. K. 


j As primeiras observações relativas à atividade anticoagulante dêsse fermento 
sõbre o sangue, foram realizadas entre nós por Cançado (♦*) (7) que. colocando 
látex de Ficus glabrata H.B.K. sôbre sangue total recentemente colhido deter- 
minava a sua incoagulabilidade. 

Sugeriu que tal fenômeno fosse decorrente da acção litica da enzima s<vbre 
o fibrinogênio ou sõbre a protroinbina. 

A favor desta última hipótese diz o autor: “O sangue humano normal 
contém cêrca de 0,38g. de fibrinogênio por 100 cm" e esta mesma quantidade 
de sangue fornece 0,02g. de protrombase”. . . 

"Assim pois, se a protrombase e o fibrinogênio ptxlem servir de substrato 
para a enzima do látex, é natural supór-se que a digestação da protrombina seja 
feita mais rànidamente, isto ê, dentro de 4 a 8 minutos que constituem o tempo 
de coagulação normal". 

“A ficina actuaria portanto como uma antijirotromliase, mas no sentido de 
eliminar a protrombase e não apenas imjiedindo a sua transformação em trom- 
liase como faz a heparina segundo alguns”. 

Procurando esclarecer o mecanismo de acção dêsse fermento, estudamos as 
modificações que se processam jiara o lado do fibrinogênio e da protrombina, 
quando se faz actuar o látex sóbre plasma humano. 

MATERIAL E MÉTODO 

Fizemos actuar quantidades variáveis de látex sóbre volumes constantes de 
plasma humano oxalatado, verificando num segundo tempo quais as amostras 
de plasma que coagulavam pela adição dè^ tromboplastina e cálcio. 

Pudemos assim estabelecer uina dose minima anticoagulante de látex. To- 
mamos então amostras de plasma submetidas a essa dose. e diluimos a 50% em 
plasma desprotrombinizado (♦) restaurando assim o fibrinogênio por ventu- 
destruido sem interferir sóbre a protrombina. determinação do tempo de 
coagulação pela adição de tromboplastina e cálcio dêste plasma assim diluído, 
mede o seu teor em protrombina. único elemento variável neste sistema 
coagulante. 

Xo quadro Xo. 1 temos detalhado o protocolo de uma dessas experiências. 

Apresenta uma bateria de 9 tubos de ensaio com 0,5 ml de plasma humano 
o.xalatado. .-Xo primeiro tubo (testemunha) foi adicionado 0,1 ml de solução 
salina a 0,85% e aos demais, 0,1 ml de diluições crescentes de látex em solução 

(•) Plasma humano oxalatado adicionado de 20 % de sulfato de bário cm suspensão a 
30 9ó, deixado à temperatura ambiente por 15 minutos c centrifugado. recoIhendo-sc o sobre- 
nadante. O sulfato dc bário adsorve a protrombina sem intervir sôbre o fibrinogênio. 

(♦•) O latex de Ficus glabrata H. B. K. empreg-.ido nestas esperiências nos foi gentil- 
mente fornecido pelo Dr. J. Romeu Cançado. a quem deixamos consignados os nossos 
agradecimentos. 




SciELOo 


2 


3 


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14 


15 


16 


L 


cm 



7a MECANISMO DE ACÇAO AXTICOAGCLANTE DO LATEX DE 

J^ICUS CLABRATA H. B. K. 

salina a 0,85% (1:5, 1:10, 1:20, 1:40, 1:80, 1:160, 1:320 e 1:610). Após 
30’ em banho Maria a 37°C, determinamos o tempo de coagulação (T.C.) de cada 
uma das amostras de plasma dos vários tubos, pela adição de cálcio e tromboplas- 
tina, procedendo de acordo com a técnica de Quick (8) para determinação do 
tempo de protrombina. 

Para tanto tomamos 0,1 ml da amostra de plasma em tubo 12x12 e adicio- 
namos 0,1 ml da suspensão de tromboplastina e 0,1 ml de solução de CaCl* a 
0,028M, cronometrando a partir da adição do cálcio. Durante tòda a experiência 
os tubos foram mantidos à temperatura de 37°C. Considerou-se como ponto 
final da reação, o início do aparecimento de uma rede de fibrina que aos poucos 
aumenta até a formação de um bloco gelatinoso. A observação foi feita diante 
de um foco luminoso e sob fundo escuro. 

RESULTADO E DISCUSS.ÍO 

Os plasmas dos tubos Xo. 1 (testemunha sem látex), 7, 8 e 9 coagularam 
em tempos sensivelmente iguais (12” a 13”), após adição de tromboplastina e 
cálcio. X^as amostras dos tubos 2 a 6, a coagulação não se verificou, sendo 
portanto a diluição de 1 :80, ou melhor a dose de 0,00125 g de látex para 0,5 ml 
de plasma, a minima anticoagulante. 

Tomamos então amostras de plasma que tivessem sido adicionadas da dose 
minima anticoagulante de látex e investigamos as causas da incoagulabilidade. 

Para tanto colocamos em 3 tubos de ensaio (1, 2 e 3) 0,5 ml de plasma 
em cada um. (Quadro Xo. 2). Ao primeiro juntamos 0,1 ml de solução salina 
a 0,85%, ao segundo 0,1 da diluição 1 :80 de látex (0,000125 g) e ao terceiro 
0,1 ml de diluição 1:160 (0,000625 g.). 

O primeiro tubo, sem látex, serviu como testemunha, O segundo tubo 
continha a dose mínima anticoagulante, e o terceiro a metade dessa dose. Esses 
tubos eram pois exatamente iguais respectivamente aos de Xo. 1, 6 e 7 da expe- 
riência anterior. 

Após 30' a 37® determinamos o T.C. de cada um deles, diluídos a 50% em 
plasma desprotrombinizado. A técnica de determinação do T.C. foi exatamente 
a mesma da e.\periência anterior. 

Verificamos (quadro Xo. 2) que as amostras dos três tubos coagularam 
em tempos iguais ou muito próximos (16" a 17"). 

A amostra do tubo 2, exatamente igual à do tubo 6 que na experiência 
anterior era incoagulável, passou a coagular em tempo igual ao plasma teste- 
munha, sem látex (tubo 1 ) pela adição de plasma desprotrombinizado, ou melhor, 
quando se juntou ao sistema, o substrato do coágulo, o fibrinogênio. 



Mcm. Iiut. Batanun, 
Z2:25-J0, XoT.» 1950. 


M. P. AZE\’EDO 


29 


Êste era portanto o elemento em falta para que se processasse a coagulação. 
A protrombina não se alterou; estara presente, tanto assim que restaurando-se 
o fibrinogênio e adicionando-se tromboplastina e cálcio ao sistema, a coagulação 
se verificou. 

Assim sendo, a adição de látex determina lise do fibrinogênio, sem compro- 
metimento da protrombina, pois que, juntando-se tromboplastina e cálcio 
ela se activa em trombina. coagulando o fibrinogênio restaurado pela adição de 
plasma desprotrombinizado. 

A demonstração de que o látex determina lise do fibrinogênio, ou pelo 
menos, a perda de sua coagufabilidade, pode também ser verificada pelo fato 
de que, o plasma adicionado de látex não se coagula pela adição de trombina 
ou de veneno de Bothrops Jararaca, elementos que actuam diretamente sobre o 
fibrinogênio, insolubilizando-o em fibrina. 

A actividade litica do látex se estende à fibrina. 

Colocando-se um coágulo de fibrina nunta suspensão de látex, tem-se lise 
em tempo maior ou menor, de acordo com o seu tamanho e com a concentração 
do fermento. 

O látex de Ficus glabrata H.B.K. possui assim um fennento proteolitico 
que, atuando sobre o sangue, toma-o incoagulávcl pelas modificações que pro- 
move sobre o fibrinogênio, quer lisando-o, quer alterando a sua coagulabilidade, 
de modo a impedir a sua transformação cm fibrina. 

RESCMO E COXCLCSüES 

O .A. estuda o mecanismo de acção anticoagulante do láte.x dc Ficus glabrata 
H.B.K. sobre o sangue humano, verificando que o femicnto proteolitico nele 
contido actúa sobre o fibrinogênio sem interferir sobre a protrombina. 

Demonstra que sua acção ê fibrinogenolitica. 

SVMMARY AND COXCLUSIONS 

The author studies thc mechanism of the anti-coagulant action of the latex 
frOíii Ficus glabrata H. B. K. on human blood. verifying that its protcolytic fer- 
ment acts upon the fibrinogen wthout interfering with prolhrombin. He de- 
monstrates that its action is fibrinogcnolytic and fibrinolytic. 



30 


MECANISMO DE ACÇAO ANTICOAGULAXTE DO LATEX DE 
^ICUS GLABRATA H. B. K. 


SOMMAIRE ET COXCLUSIONS 

L’Auteur étudie le mécanisme de lactioii anti-coagulant dum látex de Ficus 
■glabrala H.B.K. sur le sang humain. en concluant que le fennent protéohtique 
<ju’il contient agit sur le fibrinogène sans inter\-enir avec la prothrombine. 

II démontre ensuite que cette action est fibrinogènolytique e fibrinoh-tique. 

BIBLIOGRAFIA 

1. Pfckolt. T. — Ardi. der Pharmazie 15S r31. 1861 citado por Ansfjo, C. F. — Puerto 

Rico J. Publ. Health. Trop. Med. 15:141. 1940. 

2. Bouíhut, E. — Citado por Ansejo, C. F. ibidem. 

J. Ansejo, C. F. — Puerto Rico J. Publ. Health. Trop. Med. 15; 141, 1940. 

4. Robbins, B. H. — J. Biol. Chem. 87 : 251. 1930. 

5. Robbins, B. lí. — Proc. Soc. Exp. Biol. Med. 32:892 el 894, 1935. 

6. Robbins- B. H., Lamson, P. D. — J. Biol. Chem. 106 : 725. 1934. 

7. Cançado, J. R. — Rev. Brasileira de Biologia 4 : 349, 1944. 

á. Quick, A. J. — The Hemorrhagic Diseases and the Physiology ot Hemostasis. C. C 
Thomas. 1941 


•SciELO 




Mttn. lart. Botantin. 
22:Jl-46, Xor.® 1950. 


M. P. AZEVEDO 4 I. MARTIRANI 


31 


\CC\0 PROTEOLITICA DO \ EXENO DA BOTHROPS JARARACA 
‘ ^ (WIED) 

I. Acção sobre hemoglobina e casehia 

Tw MURILO P. AZEVEDO 4 1. MARTIRANI 

(Dos Laboratórios de Imunologh e de Contrôle do Instituto Butontan, 

São Paulo. Brasil) 


•\s primeiras obserrações relativas á actividade proteoliiica dos venenos de 
serpentes, parecem pertencer á Fontana (1) que. em 1767 escreveu cm sua tese: 
“ as rãs e outros aninuis feridos jielo veneno de víbora, mostram suas carnes 
amolecidas que se fragmentam e se destacam dos ossos” c mais adiante ”... este 
suco é talvez necessário á digestão". Posteriormente, os tralsilhos de Emery 
(2). Uydig (2a). Rudolphi (21)) c Lacerda (3). vieram demonstrar que real- 
mente tais venenos eram dotados de 'actividade proteoHtica. Wahnnan (4). 
tomando a fibrina como substrato, verificou que. embora não se observasse modi- 
ficação em seu aspecto, o liquido sobrenadante dava reação <lc "biuret" positiva, 
concluindo que havia, embora cm pequeno grau, una acção peptonizanle do 
veneno sóbre a fibriia. Uunoy (5). empregando o método de Bccknan para 
medir a quantidade de azoto iiisolubilizado pelo formol. «rificou a solubilizaçâo 
jarcial das proteínas conti<las em soluções de cascina c cm sòro bovino. i)or acção 
dos venenos de T. natríx, V. osf>is c Xa/a. F-stu^ndo comjarativamcnte a 
actividade proteolitica de vários venenos de serjientcs sobre a gclatita c fibrina. 
Noc Í6) .poude concluir que todos éles iiossuem .acção proteolitica S4‘)bre subs- 
tâncias albuminóides não oaguladas t)clo calor, actividade que explicaria a incoa- 
gulabilidadc do sangue de animais inoculados com veneno. \'ital Brazil c Rangel 
Pestana (7). empregando a téaiica de Xoc (6), classificaram uma serie de 
venenos, segundo a sua actividade proteolitica. verificando que a proteólise do 
sangue se processa na mesma ordetn de atividade que a proteólise da gelatina. 
Houssav e Xegrete (8) estudaram uma série de venenos, mostrando «juc c.sse 
poder proteolitico é grande, ao contrário do que afirmara Uunoy (5). o que 
puderam verificar jícIo aumento de substância proteica não cr)agulávcl do subs- 


Recebid.) para puNicação cm 27 de de IW. 



SciELO 


3 11 12 13 14 




32 


ACÇAO PROTEOLITICA DO VEXEXO DA BOTHROPS JARARACA. I. 


trato, aumento dos ácidos aminados e do tempo de coagulação térmica. Mos- 
traram que tais venenos transformam a caseina tomando-a não precipitável pelo 
ácido tricloroacético e modificam a gelatina, liquefazendo-a e determinando a 
formação de ácidos aminados. Concluiram afirmando que as propriedades pro- 
teolitica, coagulante, aglutinante, tóxica e hemolitica dos venenos de serpentes, 
diferem umas das outras, pois variam dlversamente de acordo com a amostra 
de veneno, não são neutralizadas do mesmo modo pelos soros específicos e a 
destruição pelo calor não se faz de forma igual para todas elas. Taborda e 
Taborda (9). estudaram a hidrólise do caseinato de cálcio pelo veneno da 
Bothrops jararaca e a influência de vários fatores que interferem sõbre o 
fenômeno. 

Não obstante o número de trabalhos até hoje publicados sôbre o assunto, 
os nossos conhecimentos a respeito são ainda limitados, razão porque diz Zeller 
(10) haver necessidade de se acumularem dados quantitativos, comparando-se 
os resultados obtidos com as actividades biológicas correspondentes dos venenos. 

Em vista da importância crescente que o problema vem dia a dia assumindo 
devido á difusão do emprego dos venenos em terapêutica, resolvemos estudá-lo, 
procurando determinar os diferentes fatores que interferem com o fenómeno da 
proteólise, baseando-nos na formação de tirosina por acção do veneno sõbre 
substratos de hemoglobina e caseina. 


.MATERIAL E MÉTODOS 

Vcnctio: — Bothrops jararaca centrifugado e liofilizado imediatamente após 
a colheita. Eliminam-se assim as impurezas insolúveis. O veneno assim tratado 
torna-se mais solúvel e suas actividades proteolitica e tóxica aumentam compa- 
rativamente ao obtido pelo processo comum de secagem em estufa. 

Hemoglobina — O substrato de hemoglobina foi preparado do sangue de 
cavalos normais, de acôrdo com a técnica descrita por Anson (11). 

Caseina: — Solução a 27c de caseina Hammarsten tamponada com veronal 
e tindalizada. 

O método de estudo por nós empregado baseou-se no doseamento da tirosina 
formada pela proteólise que o veneno determina sôbre os substratos de caseina 
e hemoglobina. 

Para tanto, colocamos diferentes diluições de veneno em salina a 0,857» 
sôbre substratos de caseina e hemoglobina em diferentes pH e temperaturas, 
retirando-se em espaços de tempos diversos, “aliquots” de 2,5 ml que foram 
precipitados pelo ácido tricloroacético (5 ml de sol. 0,3 N). Após filtração, 


SciELO 




Mem. Inst. BaUntan, 
a:31-46, Xar» 1950. 


M. P. AZE\'EDO & I. MARTIRAXI 


33 


tomamos 2,5 ml do filtrado, juntamos 5 ml de soda 0.5 X, 1,5 ml do reativo 
do Folin e Ciocalteau (l2) e após 5 minutos para o máximo desenvolvimento 
de côr, fizemos a leitura no aparelho de Fischer, modelo A. C. filtro Xo 650 
(vermelho). Tomamos como “Blank" a mistura dos mesmos elementos que 
entraram na composição de cada “aliquot”, precipitados imediatamente pelo ácido 
tricloroacético. Assim pois afastamos as causas de erro decorrentes da presença, 
nos “aliquots”, de substâncias cromogcnicas que não a tirosina, bem como da 
própria tirosina oriunda de possivel autohidrólise do substrato. 


resultados 

Procuramos inicialmente determinar a cur\-a padrão para o aparelho com 
que iamos trabalhar. 

Para tanto, colocamos em 6 tubos respecti\-amente : 0, 1, 2, 3, 4 c 5 ml de 
solução padrão de tirosina (•) completando os volumes a 5 ml com HCl a 0 X’ 

Juntamos a todos êles 10 ml de XaOH 0,5 X e 3 ml do reactivo de Folin 
e Ciocalteau ((•) **). 

.Após 5 minutos para o máximo desenvoh-imento de côr, procedemos á leitura 

Os resultados foram os seguintes (Quadro I); 


QUADRO I 


Tubo Xo. 

\'ol. da soL 
de tirosina 

HQ 0.2 X 

Miliequivalentes 
de tirosina 

Leitura 

2 

1,0 

4.0 

0,00016 

16,5 

3 

2.0 

3.0 

0,00032 

33,S 

4 

3,0 

2.0 

0,00048 

48.5 

5 

4.0 

1.0 

0.00064 

6S.0 

6 

5.0 

0,0 

0.00080 ■ 

00 


Estes dados colocados em gráfico (Gráfico Xo. 1) formam uma linha reta, 
o que vem demonstrar o grau de sensibilidade do aparelho e a precisão do método. 
Por outro lado, fica também demonstrado que a intensidade de côr desenvolvida é 


(•) A solução de tirosina foi í«iu em HQ 0,2 X contendo 0,0008 milicquiralcntcs, 
por 5 ml, ou seja 0,0112 mg de azoto da tirosina dosado pelo micro-Kjcldahl. 

(•») Empregamos sempre o reactiro de Folin e Gocalteau diluído no momento de ser 
usado, ao dobro de seu s-olume com ãgua distilada. 


cm 


SciELO 


11 12 13 14 15 16 17 




34 


ACÇAO PROIEOLITICA DO VENEXO DA BOTHROPS JAR.HR.IC.i. 1 


diretamente proporcional à quantidade de tirosina presente na solução, havendo 
mesmo entre estes 2 valores, uma proporção linear. 



Milicqulvalcctes dc t.rosir.a X 10* 

Concentração de xeneno: — Estudamos inicialmeníe as variações dc gr;*u. 
dc- proteólise em função da concentração do veneno, mantendo fixos o pH e a 
temperatura de experiência. 

■Adicionamos ao substrato de hemoglobina, lOO/, 200',', 300y, 400','. e 500'/, de 
veneno por ml de substrato, sendo o veneno diluido em sol. salina a 0.85yc. 

.'\pós 30 minutos em estufa a 34®C procedemos ao doseamento da tirosina 
de acordo com a técnica anteriorrr.ente descrita. 



\ coeno ftn y por ml dc snbftrato. Leitora apôs 
30 m de actoação do reaeoo. Temperatura de 
experiência 37*C. 



Mm. In»t. Bnuntin. },f p_ AZEVEDO & I. MARTIRANI 35 

«:.U-«6. Xov* >950. 

O Gráfico Xo. 2 apresenta os resultados de unia dessa-< e.xjicriências. Vemos 
por êle que os \-alores das leituras se tlispõem numa linha recta, mostrando a 
rela»;ão linear e.xistente entre concentração de veneno e grau «Ic proteólisc. 


. GRAFICO 1 



Vcf)rtk> em y |%'r ml *ie •uí^tàto 

.*0 m óe 4 a rtnei»**, Trtnrvnar* tk 


Com o substrato de caseína o itKsmo fato sc verifica (Gráfico Xo. 3). 

Sendo entretanto a caseina. uma nadécula mais simples que a hemoglobina, 
a sua cisão é mais fácil c assim com a mesma quantidade «le veneno se obtenr 
uma proteólise maior. 

Por este motivo tralialhamos com ({uantidades menores dc veneno: de SOy 
a 200y por ml de substrato. 

Tempo dc atuação: — .-\ intensidade de proteólise é tamiiêm proporcional 
ao tempo em que o veneno atiia sóbre o substrato. 

Retirando-se “aliquots” jiara doseamento em tempos diversos, obtivemos- 
os seguintes resultados em sul>strato de hemoglobina (Quadro X.o II): 



SciELO 




36 


ACÇAO PROTEOLITICA DO VEXEXO DA BOTHROPS JARARACA. I. 


QUADRO II 


Concentração de 
veneno em y por 
ml de substrato 


L e 

i t u r 

a 


30 min 

60 min 

90 min 

120 min 

180 min 

100 

3,5 

/".O 

7,5 

8,5 

13,5 

200 

11.5 

15,0 

16,5 

20,0 

27,0 

300 

17,5 

22,0 

26,0 

30,0 

35,0 

400 

25,0 

32,0 

38,0 

42,0 

51,5 

500 

32,5 

36.5 

45,0 

53,0 

66,0 


Em qualquer das concentrações de veneno estudadas, o grau de proteólise 
aumentou em função do tempo (Gráfico Xo. 4). 


GRAFICO 4 



t era minutos 

1 — 100 Y de Tcncno por ml de substrato 

2 — 200 y* " - 

3 — 300 y* " 

4 — 400 y" ** - -- 

5 — 500 y 



-SciELO 




Meni. Inst. BnUntan, 
a:Jl-46, XoT.® 1950. 


M. P. AZE\'EDO i I. MARTIRANI 


37 


Colocando-sc em abcissas as concentrações de veneno e em ordenadas as 
leituras, \-amos obter cuiras que exprimem os vários graus de proteólise que 
as diferentes concentrações de veneno determinam num tempo dado (Gráfico 
No. 5). 


CKAFICO 5 



VetKso on y por ml dc tobtrrato 
1 — ApA* 30 m de atnacSo de reoctio 

2— *t0ni* 

3— '90m" 

4— -120in" 

5— •IMm* 


\'eri ficamos que tais \alores se dispõem cm rectas cuja inclinação sobre a 
linha das ordenadas \‘ai aumentando a medida que se consideram tempos maiores 
de actuação do veneno. 

Este facto se verifrea devido a ser o grau de proteólise diretamente propor- 
cional à raiz quadrada do tempo de actuação do veneno, como {Hidemos verificar 
pelos resultados obtidos. 



38 


ACÇAO PROTEOLITICA DO VEXEXO DA BOTHROPS JARARACA. I. 


O mesmo se verifica para com a caseina (Quadro No. III e Gráficos No. 6 
e 7) sendo porém neste caso o grau de proteólise directamente proporcional ao 
tempo de actuação do veneno. 


GRAFICO 6 



t exn mioutos 

1 — SO Y de reneno por ml de snbstrato 

2 — lOOy" • - -- 

3 — ISOy 

•« — 200 y* ' - 



Mcm. Inst. BnunUn, 
a:Jl-46, Xo».* 1950. 


M. P. .\ZE\'EDO & I. MAKTIKANI 


39 



2 — * 60 n * 

J — * 90 m • 

4 — * 120 m * 

5 — * 1*0 m * 


QUADRO III 


Veneno em y por 

ml de substrato 


L 

e i t n r 

a 


30 min 

60 min 

90 min 

120 min 

180 min 

50 

6.5 

14 5 

223 

30,5 

44.0 

100 

18.0 

31.5 

46.0 

58.0 

76.0 

150 

29,0 

47.5 

67.0 

80.0 

99.0 

200 

37^ 

61.0 

78.0 

96.0 

100.0 


1 SciELO 




40 


ACCAO PROTEOLITICA DO VEXEXO DA BOTHROPS JARARACA. L 


• Temperatura: — Fazendo-se actuar o veneno sôbre hemoglobina e caseína 
em temperaturas diversas, observam-se diferentes graus de proteólise. (Quadro 
n.o IV). 


Q U D R O IV 


Temperatura 

em ? C 

Leitura após 

302 minutos 

Hemoglobina 

Caseína 

25 °. 

1.5 

4.0 

30 ° 

3.5 

11,0 

35 °. 

4,5 

15,0 

40 °. 

3,0 

19.0 

50 ° 

2.0 

25,0 

60 °. 

0,0 

17,0 


A temperatura ótima de actuação do veneno está ao redor de 35®C para o 
substrato de hemoglobina e de S0®C para c de caseina (Quadro Xo. IV). 

Em qualquer das concentrações de veneno com que trabalhamos, o mesmo 
resultado se verificou (Gráficos Xo. 8 e 9). 



Temperatara 

1 — 50 Y de rrneno pnr ml de fobstratc. 

2 — lOOv 

3 — 200 4 





ScíELOiIq 


2 


3 


5 


6 


11 


12 


13 


14 


15 


16 


L 


cm 



42 


ACÇAO PROTEOLITICA DO VENENO DA BOTHROPS JARARACA. I. 


Verificamos (Gráfico No. 10) que o pH ótimo p)ara atuação do veneno 
sôbre a caseina está ao redor de 10,0 com qualquer das concentrações em que 
foi empregado, inactivando-se em pH 12.0. 



pH 

] — 50 Y Tencno por ml de substrato 

2 — lOOy’ ' - -* 

J — 200 y 


DISCUSS.ÍO 

Os venenos ofidicos constituem um complexo de composição variável 
com a espécie considerada e onde se encontram substâncias responsáveis pelas 
suas acções tóxicas. Estas acções podem, segundo Kellawey (13), ser atribuídas 
á presença de: a) enzimas proteoliticas, b) fosfatidases e c) neuroto.xinas. A 
enzima ou enzimas proteoliticas são responsáveis pela acção hemorragipara 
desses venenos, bem como pela sua actividade hipotensora, devido provavelmente 
á hiotamina que libertam nos tecidos. 

A actividade proteolíticã do veneno de Bothrops jararaca se faz sentir sôbre 
proteínas mais ou menos complexas, cindindo as moléculas até a formação de 
ácidos amimados. Este facto se verifica tanto para a hemoglobina como para a 



Mem. Inst. BaUnUn. 
S;3I-46. Not.» 1950. 


I. MAinriRAXI & M. P. AZE\'EDO 


43 


caseína, uma vez que era ambos esses substratos se forma tirosina, base por nós 
empregada para o doseamento do grau de actividade Htica do veneno. 

Elsse grau de acth-idade depende de \-ários fatores a saber: 

a) Concentraç.io de veneno 

b) Tempo de actuação do veneno sôbre o substrato 

c) Temperatura em que se processa a reação 

d) pH do substrato 

Como se pode verificar pelos nossos resultados, há uma relação direta linear 
entre concentração de veneno c grau de protcólisc. Por outro lado, o grau de 
lisc é proporcional á raiz quadrada do tempo de actuação do veneno no caso de 
se trabalhar com hemoglobina e simplesmente ao tempo, quando o substrato é 
a caseina. 

Assim sendo, para temperatura e pH fixos, a reação se processa segundo 
a equação: L = K. C. V t para a hemoglobina c L = K. C. t para a caseina 

L = Leitura 

C = Concentração de veneno em y por ml de substrato 

t = Tempo de actuação do veneno 

K = Constante dependente da ati\ndade do veneno, do pH c tempera- 
tura do substrato. 

De acordo com os nossos resultados obtivemos para K os segumtes ^alores : 
0,0093 para hemoglobina e 0,0(M9 para a caseina. 

Schutz (14) afirma que a quantidade de albumina hidrolizada até peptona 
pela pepsina num tempo dado, é proporcional á raiz quadrada da concentração 
de enzima. Outros autores, usando pepsina mais purificada, verificaram porém 
que a 5-elocidade da reação é dirctamente proporciona! á concentração de enzima 
o que, segundo Tauber (15) pode ser considerado fato geral entre as reações 
enzimáticas. 

Os nossos resultados demonstram essa acertira, permitindo dizer que a 
rcaeção do veneno sôbre caseina e hemoglobina segue essa regra geral. 

.\ veloddadc das rcacções enzimáticas aumenta com a temperatura até um 
ótimo, acima do qual há um decréscimo até que cessa inteiramente a actividade 
enzimática. 

Tais \-ariaçóes são segundo Arrhcnius (14) devidas á presença de duas 
espécies de moléculas em solução, as acti\-as e as inacti\-as, que se encontram em 
equilíbrio tautomérico. Esse fato foi também por nós verificado com relação á 
atividade do veneno. A proteólise da caseina c hemoglobina pelo veneno, aumentou 
com a temperatura até um ótimo após o qual descreceu, chegando á inacti\-açâo 
da actindade proteolitica. 


1 SciELO 




44 


ACÇAO PROTEOLITICA DO VENENO DA BOTHROPS JARARACA. L 


O mesmo se verifica com relação ao pH. Neste caso o ótimo é \'ariável 
de acordo com as condições de experiência, como substrato de actuação, origem 
da enzima, tampão emproado, etc. 

Dos fatos expostos, podemos concluir que a acção proteolítica do veneno de 
Bethrops jararaca se processa de acordo com as leis que regem as reacções 
enzimãticas. 


SUMÁRIO E CONCLUSÕES 

Os istudam a acção proteolitica do veneno da Bothrops jararaca 

tomando hemoglobina e caseina como substratos de actuação. Verificam a in- 
fluência da variação dos vários fatores que interferem com a reacção, tais como : 
concentração e tempo de actuação da enzima, pH e temperatura do substrato. 
Demonstram que a reacção se processa segundo a equação L=: K. C. para 
hemoglobina e L = K.C. t para a caseina. 

Concluem : 

1) O veneno de B. jararaca exerce ação enzimática sôbre os substratos 
de hemoglobina e caseina, determinando a lise das moléculas até ácidos aminados. 

2) Há uma relação linear entre concentração de veneno e grau de pro- 
teólise. 

3) O grau de proteólise é proporcional á raiz quadrada do tempo de 
actuação do veneno, quando sôbre o substrato de hemoglobina e directamente ao 
tempo simplesmente, quando sôbre a caseina. 

4) Há um ótimo de temperatura de actuação do veneno que é de 35°C 
para a hemoglobina e de 50°C para a caseina. 

5) O pH ótimo de actuação de veneno sôbre a caseina é de 10.0. 


SUMMARY and CONCLUSIONS 

The authors study the proteoljiic action of Bothrops jararaca venom on 
hemoglobin and casein as substrates. They e.xamine the influence of the variation 
of various rcaction factors such as concentration and actuation time of the 
enzyme, pH and substrates temperature. They show that the reaction proceeds 
aceording the equation L = K. C.y'Y^ for hemoglobin and L = K.C.t in the 
case of casein, where "L” is the photometer reading, “C” the venom con- 
centration in i» per ml of substrate, "t” the time of actuation of venom and 
“K” a constant dependig on the activity of the venom and the temperature and 
pH of the substrate. 



Mcm. iMt. Bntantm, 
ZZ:3I-4<, XoT* I9S0. 


45 


1. MARTXILXNI * M. P. A2E\'EDO 


They conclade: 

1) Bothrops jararaca venom exhibits an enzjinatic action on hemoglobin 
and casein snbstrates, splitting the molecules up to amino-acids. 

2) There is a linear relationship between venom concentration and degree 
of proteolysis. 

3) The degree of proteolysis in proportional to the square root of the 
time of actuation of the venom, when acting on hemoglobin substrate and to 
the time of actuation in the case of casein. 

4) Tliere is a tempcrature optimum for the actuation of venom which lies 
at 35°C for hemt^obin and at 50®C for casein. 

5) The optimum pH for the actuation of the venom on casein lies at 10,0. 


SUMMAIRE ET CONXLUSIONS 

Les auteurs ctudicnt laction protcoKiique du vcnin de Bothrops jararaca, 
en prenant ITicme^lobinc et b caséine commc des soustraits d’action. Ils éxa- 
minent dabort Tinfluence de la rariation de tous les divcrs facteurs qui pcuvent 
alterer la réaction tels que la concentration et tcmps dactuation de Ten/j-me pH 
et tempcrature du soustrait. Ils dcmontrent cnsuitc que cette réaction se dcve- 
loppe sclon Tequation L = K. C. VT" pour ITiémoglobinc et L = K.C.t. jwur la 
caséine. 

1 ) Lc vénin de B. jararaca a une action cnzymatique sur les soustrait dTié* 
moglobine et de caséine, en décomposaiu Ictirs molécules jusqu a des acides aminés. 

2) II y a une proportion linéairc entre la concentration du venin qu’il 
determine protéolyse. 

3) Sur le soustrait dTiémt^lobine, ie dégré de protéolyse est proportionnel 
à la raonc carrée du tcmps d’action du vénin, tendis que sur la caséine il est 
directmcnt projwrtionnel au tcmps tout simplcmcnt. 

4) II y a une température idéalc pour laction du vénin: cllc est de 35® 
pour ITiémoglobine ct de 50®C pour la caséine. 

5) Lc pH idéalc pour Taction sur la caséine est de 10,0. 


BIBLIOGRAFIA 


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2a. Leydlg, — ibiden. 

2lx Rndtlfki — ibKkn. 



-SciELO 




46 


ACÇAO PROTEOLITICA DO VENENO DA BOTHROPS JARARACA. I. 


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Bacteriol. de B. Aires 1 : 341, 1917-1918. 

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globin — /. Gen. Physiology 22 : 79, 1938-39. 

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14. Citado por Tauber, H. — Enzyme Chemistry, J. Wiley and Sons, 1937. 

15. Tfluber, H. — Ibid. 



Mem. Inst. Bntantan, 
Z2:47-«. XoT.* J950. 


I. MARTIIt.\NI * M. P. AZn^EDO 


47 


ACÇAO PROTEOLITICA DO VEXEXO DA BOTHKOPS JARARACA 

(WIED) 

II. Acção sobre a gelatina 

I roR I. ifARTIR-WI & MURILO P. AZEVEDO 

I (Dos laboratôríos de Controle e de Imunologia do Instituto Butantan, 

I S. Pauto, Brasil). 


Dentre as \-árias aci;ões manifestas do veneno da Bothrops jararaca destaca- 
se a ac<;ão proteolitica, já bem definida (1,2^) e estudada (4,14) sob determi- 
nados aspectos. 

E-sta característica enzimática do veneno da Bothrops jararaca tem permitido 
aos auteres estabelecer um paralelismo entre a actuaqão do veneno c da trombina 
no fenômeno da coagulação do sangue (11,12,13,14,15,16), acções semelhantes 
na dependência das concentrações de veneno usadas. 

A artividade proteolitica do veneno da Bothrops jararaca deve ser inherente 
ao veneno não necessitando de um factor complementar para ser revelada como 
acontece com as chamadas substâncias fibrinoliticas produzidas por certos es- 
trcptococos '(17,18,19,30,21,22,23,24), ou então como já reconheceu Loomis, 
George e Ryder (25), bem como .•\strup e Permin (26), a substância produzida 
pelos estreptococos seria um acti\-ador, uma “streptokinase”, lia vendo no sangue 
uma proenzima a "profibrínolisina”, sendo a “fibrinolisina” propriamente a 
enzima resultante. O veneno da Bothrops jararaca não seria nem uma proenzima 
nem uma “kinase" sua acção ê de uma enzima já constituida com pontos de 
identidade com a tripsina e com a papaina, constituindo assim uma enzima do 
tipo da« endopèptidases (27,28), isto é, enzimas que actuam sõbre substratos 
de alto peso molecular e mais especificamente sõbre as cadeias peptidicas termi- 
nais. bem como na® cadeias peptidicas centrais. 

MATERIAL E MÉTODOS 

A verificação da proteólise foi baseada na diminuição da viscosidade da 
gelatina. O s-iscosímetro empr^do foi do tipo Ostwald. 

.A gelatina usada foi Difeo solução a 6% em salina 0,9^ : 


Entregue para publicacáo em S de setembro de 1W9. 



48 ACÇAO PROTEOLITICA DO VEXEXO DA BOTHROPS JARARACA. II. 

O veneno da Bothro/'s jararaca sêco, liofilizado com uma D.M.M. de 
0,000040 para pombo de 250 g, foi empregado em solução recentemente pre- 
parada, usando como solvente do veneno a solução salina a 0,9^. A solução 
tampão empregada foi a de veronal. 

Os sistemas proteoHticos foram preparados da seguinte maneira: 

a) substrato testemunho — 20 ml da solução de gelatina a 6‘jc são adicio- 
nados de 25 ml da solução salina 0,9^ e 15 ml da solução tampão; misturar 
e medir a viscosidade de 20 ml desta mistura; 

b) substrato de proteólise — 20 ml da solução de gelatina a são 
adicionados de 25 ml de solução salina 0,9^ contendo o veneno dissolvido na 
concentração que se deseje actuar, completar para 60 ml juntando 15 ml da 
solução tampão, misturar e medir a viscosidade em 20 ml desta mistura: 

Tanto o sistema proteolítico como o testemunho, no estudo da temperatura, 
foram diluidos para 120 ml. 

O início da experiência foi sempre o momento da mistura final da gelatina 
seja com solução salina e solução tampão, seja com solução salina, veneno e 
solução tampão. 

A viscosidade foi medida em temperaturas controladas, as leituras iniciais 
aos 10 min. das misturas e subsequentemente de 20 em 20 min. até 60 min. das 
misturas. As leituras foram feitas em triplicata, registando-se as médias. Os 
pH foram controlados no potenciômetro. 

A viscosidade determinada foi a cinemática expressa em centistokes e 
calculada pela seguinte fórmula quando a temperatura da experiência foi de 
37°C. 

Xa Xa 37“C 

Xc = = kt Xa = D.\kxt k=: 

D D 37°C X f 

Xc = viscosidade cinemática 

Xa = viscosidade absoluta da água a 37ÍC = 16,947 milipoies 
D = densidade da água a 37!C = 0,993 g/ ml 
I = tempos cm segundos, 
k = fator do aparelho. 

Xo plano de tralialho verificamos primeiramente, num determinado pH, 8,0 
mantida constante a temperatura 37°C, se a diminuição da viscosidade do subs- 
trato pela acção do veneno da Bothrops jararaca era função da dóse do veneno 
empregado. Procurou-se ao mesmo tempo determinar um ótimo de concentração 
do veneno capaz de promover alterações bem evidentes na viscosidade. 

A seguir foi estudado o pH ótimo de atuação, utilizando a dóse ótima de 
veneno, mantendo a temperatura constaute, 37®C. 





50 


ACÇAO PROTEOLITICA DO VEXEXO DA BOTHROPS JARARACA. II. 


Daí então procurou-se saber qual a temperatura ótima de actuação empre- 
gando-se a dóse ótima. Depois então procurou-se verificar a proteólise em 
função da concentração do substrato. 

Para melhor clareza os resultados alem de serem expressos em centistokes 
são apresentados em percentagem de lise, considerando-se 0% de lise a veloci- 
dade de queda do testemunho diminuido da velocidade de queda da água disti- 
lada O cálculo é o seguinte: 

100 (A' — B') 

A-a = A' • B-a = B' % de lise = 

A' 

\ = velocidade da queda do testemunho 
B = velocidade de queda da gelatina com veneno 
a = velocidade de queda da água. 


RESULTADOS 

1) Viscosidade da solução de gelatina cm função dc doses crescentes de 
veneno. Temperatura constante de 37° C e pH constante de 5-5. 



O gráfico I representa a percentagem da solução de gelatina ás várias 
concentrações de veneno ao fim de 60 minutos. 

Escolhemos este tempo afim de eliminar as variações inevitáveis, apesar 
dos cuidados, que se apresentam no início das experiências, quando ainda 
não houve uma perfeita homogeinização do sistema. 

2) Viscosidade da solução da gelatina em função do pH. Dose de veneno 
por ml de substrato 20 y (0,000020 g). Temperatura constante de 37°C. 



Mcm. lut. BaUntu, 
B:47-62, X<rr.» I9S0. 


M. P. AZE\'EDO 4 I. MARTIRAKI 


51 


O gráfico II nos dá a fise de substrato de gelatina em função dos vários 
pH. Xestas experiêndas, quando o testemunho apresentara rariações, o ralor 
tomado para o cálculo da lise era mais baixo. 

GRAFICO 2 



3) l‘iscosidade da solução de gelatina em função da temperatura. Dóse 
de veneno por mil de substrato 20 y (OfiOOOZO) e pH constante de 8,0. Xesta 
série de experiências o preparo de substratos, seja testemunho seja de proteólise, 
diferiu das outras experiências, constando do seguinte: 

GRAFICO I 



a) substrato testemunho: 20 ml da solução de gelatina a 6% são adicio- 



o 

Çli 

Q 

C 

a 




B 

U 

H 


il II II 

f- D wT 



ScíELOiIq 







cm 


Velocidade cineinát'ca cn» ccntiitokcs 
Lisc por cento. 



QUADRO 


II 

Actividade protcolítica do veneno sôbre a gelatina cm função do pH 


1 

Tcrnpo 



í-n 

5.0 





pH 

6.0 





pH 






pH 

8.0 





pH 

9.0 





pii 

10.0 





pii 

11,0 




Testemunho 

suIm. proteolise 

Testemunho 

subs. prote<Jíse 

Testemunho 

subs. proteolise 

Testemunho 

subs. proteolise 

Testemunho 

subs. 

proteolise 

Testemunho 

subs. 

r 

proteolise 

Testemunho 

subs. proteolise 

medidas 

T 

c 

I. 

T 

c 

L 

T 

c 

L 

T 

C 

L 

T 

C 

L 

T 

C 

L 

T 

C 

L 

T 

C 

L 

T 

C 

L 

T 

c 

L 

T 

C 

L 

T 

c 

L 

T 

c 

L 

T 

C 

L 

10 min 

147 

14.1 

0 

147 

14.1 

0 

149 

14.3 

0 

147 

14,1 

2.7 

156 

15.0 

0 

13S 

13.2 

21.7 

155 

14,9 

0 

130 

12.5 

30.5 

145 

13.9 

0 

123 

123 

23.6 

155 

14.9 

0 

120 

11.5 

42.7 

149 

14,3 

0 

147 

14,1 

2.6 

20 min 

147 

14,1 

0 

147 

14,1 

0 

149 

14.3 

0 

143 

13.7 

8,0 

156 

15.0 

0 

128 

12.3 

33,7 

155 

14.9 

0 

125 

12,0 

36.6 

145 

13.9 

0 

117 

11.2 

38.8 

55 

14.9 

0 

109 

10,4 

56,1 

149 

14,3 

0 

146 

14,0 

3.9 

40 mia 

147 

14.1 

0 

145 

1J.9 

2,7 

149 

14.3 

0 

140 

15.4 

11.9 

156 

15.0 

0 

122 

11,7 

40.9 

155 

14.9 

0 

.17 

11.2 

46.3 


13.9 

O 

113 

10.8 

44.4 

155 

14.9 

0 

106 

10.2 

59,8 

149 

14,3 

0 

146 

14,0 

3,9 

60 min 

147 

14.1 

0 

144 

13.8 

3.9 

149 

14.3 

0 

136 

13.0 

18,4 

156 

■ 5.0 

0 

119 

11,4 

44.6 

155 

14,9 

C 

115 

11.0 

43.3 

145 

13.9 

0 

108 

10.3 

51.9 

155 

14.9 

0 

105 

10.1 

60,9 

149 

14,3 

0 

145 

13,9 

5.3 


T = Tempo de queda da gelatina em segundos 
C = Velocidade cinemática em centistokes 
L = Lise ptor cento 

Viícosimetro N." 3 — Factor do aparelho a 37‘C = 0,096 
Queda da ágrua a 37*C = 73s. 


* 


cm 


10 11 12 



14 


















32 









M«n. Inst. Batantan, 
22:47^2. Not.® 1950. 


M. P. A2E\'EDO 4 I. MARTIIL\NI 


55 


nadas de 85 ml de solução salina 0,9^, e 15 ml da solução tampão, misturar 
e medir a «scosidade de 20 ml desta mistura. 

b) substrato de proteólise : 20 ml da solução de gelatina a 6% são adicio- 
nados de 85 ml de solução salina 0,9% contendo veneno dissolvido na concen- 
tração fixa de 20 Y por ml de substrato, completar para 120 ml juntando 15 ml 
da solução tampão, misturar e medir a viscosidade em 20 ml da mistura. 

4) Acthidadc proteolUica do veneno sôbre soluções de gelatina de concen- 
trações variados. Dóse de veneno por tnl de substrato 20 y (0,000020 g) pH 
constante de 8,0. Temperatura constante de 37®C. Nesta série de experiências 
os substratos foram preparados de acordo com o quadro abaixo. 

QUADRO IV 
PREPARO DOS SUBSTRATOS 



Solução de 

gelatina a 6% 

Tampão 

de 

veronal 

Solução sa. 

lina a 0.9 % 

Veneno 

Substrato 1 % 

10 ml 

15 ml 

35 ml 

0.0012 Y 

Substrato 2 % 

2o ml 

15 ml 

25 ml 

0.0012 Y 

Substrato 3 % 

30 ml 

15 ml 

15 ml 

0.0012 Y 

Substrato 4 % 

40 ml 

15 ml 

5 ml 

00012 Y 


Com os substratos assim preparados, empregando 
obtivemos os resultados que estão expostos no quadro 


um mesmo viscosímetro 
V. 



J. ^ SciELO 




56 ACÇAO PROTEOLITICA DO VEXEXO DA BOTHROPS JARARACA. IL 





No gráfico 4, estão representados os valores da proteólise em percentagem 
de lise após 10,20,40 e 60 minutos de actuação do veneno nas várias concentra- 
ções de substrato. 

DISCUSSÃO 

Os resultados apresentados nos induzem a caracterizar no veneno da B. 
jararaca uma atividade enzimática proteolitica. Esta caracterização se funda- 
menta nos elementos experimentais que são peculiares às reações enzimáticas: 

a) acção sôbre um substrato adequado 

b) acção progressivamente crescente com o aumento da concentração da 


c) ótimo de pH de actuação 

d) ótimo de temperatura de actuação 

e) redução de actividade da enzima pelo aumento da concentração do 
substrato. 

O complexo cnzimático do veneno da B. jararaca, considerando o substrato 
por nós empregado, se enquadra no tipo das proteinases ou melhor das endope- 
ptidases, se assemelhando pelo pH de actuação a acção da tripsina, que con- 
forme Bergmann e Fruton (27) actua nas cadeias peptidicas que apresentam o 
grupo carboxilico seja da lisina ou da arginina. 

acção enzimática do veneno da B. jararaca sôbre um substrato adequado 
isto é, de natureza proteica já tem sido apontado por vários autores (1,4,14) e 


cm 


SciELO 


10 11 12 13 14 15 16 





58 


ACÇAO PROTEOLITICA DO VEXEXO DA BOTHROPS JARARACA. II. 


nas nossas experiências vemos que esta acção é claramente demonstrada sôbre a 
gelatina. 

O estudo do gráfico 1 nos permite admitir dentro dos limites do 
erro biológico, nas doses menores de veneno, uma proporcionalidade entre as 
concentrações do veneno e a actividade do mesmo. Após a dóse de 10 gamas 
de veneno por ml de substrato, a cur\a da atividade toma-se decrescente devido 
a uma diminuição da quantidade de substrato a ser proteolizado, chegando nas 
concentrações de 150 e 200 gamas de veneno por ml de substrato a um máximo, 
onde o tempo de escoamento da gelatina no viscosimetro é de *26 segundos, 
bastante próximo do tempo de escoamento da água distilada que é de 22 se- 
gundos. 

O gráfico 2 nos informa da influência do pH sôbre a actividade 
proteolitica do veneno. Podemos definir perfeitamente uma zona ótima de 
actuação entre os pH 8,0 e 10,0, com inactivação total no pH 11,0. Nos pH 
baixos também esta actividade está muito reduzida, aumentando a medida que 
o pH aumenta. 

A acção da temperatura, gráfico 3, é bem definida sóbre a actividade 
do veneno. Para o substrato por nós empregado determinamos o ótimo de tem- 
peratura a 45‘’C. Tanto abaixo como acima deste ótimo, há uma diminuição 
da actividade do veneno em consequência de causas diversas. Nas temperaturas 
bai.xas há uma interferência com a reação catalizadora que fica inibida, o aumento 
da temperatura se acompanha sempre de um aceleramento da reacção. As tempe- 
raturas acima de 45°C também acarretam um evidente decréscimo da acti\'idade 
do veneno, indicando não mais uma inibição da reacção catalizadora porem uma 
real inactivação do complexo enzimático do veneno. 

No gráfico 4. ê evidente a redução da actividade do complexo enzimático 
do veneno pelo aumento da concentração do subtrato. 

Notamos em conjunto que a demonstração da acti\ndade proteolitica do ve- 
neno pelo processo empregado é muito simples e bastante sensivel, pois concen- 
trações minimas de veneno 0,000001 por ml de substratos são suficientes para 
determinarem evidentes alterações na viscosidade do substrato. 

RESUMO E CONCLUSÕES 


Os autores estudam a actividade proteolitica do veneno da B. jararaca (Wied) 
usando como substrato uma solução de gelatina. Empregam o método da visco- 
simetria com um aparelho do tipo Ostwald. 

A proteólise da solução de gelatina pelo veneno foi estudada em função 
da concentração do veneno, do pll, da temperatura e da concentração do soluto 
de gelatina. 


cm 


SciELO 


10 11 12 13 14 15 16 



Mcm. Init. Bntantan, 
22:47-62, Norr.® 1950. 


I. MARTIRANI 4 M. P. AZEVEDO 


59 


Nas condições experimentais utilizadas chegaram ás seguintes conclusões: 

1) o veneno de B. jararaca (Wied) exerce acentuada acti^dade proteolítica 
sobre uma solução de gelatina. 

2) há relativa proporcionalidade entre a actividade proteolítica e as concen- 
trações baixas de veneno. 

3) a actividade proteolítica do veneno cresce progressi\'amente a partir do 
pH 5,0 atingindo o máximo no pH 10,0, sendo praticamente nula no pH 11,0. 

4) a actividade proteolitica do veneno é progressivamente crescente a partir 
da temperatura de 35°C, com um ótimo a 45®C, diminuindo acentuadamente a 
temperatura de 55®C. 

5) a actividade proteolitica do veneno está em função da concentração do 
substrato. 

6) a actividade proteolitica do veneno sôbre o substrato de gelatina é direta, 
não exigindo a presença de um fator complementar. 

7) O processo empregado demonstrou grande sensibilidade. 

ABSTRACT 

The authors studied the • proteolytic action of Bothrops jararaca (Wicd) 
venom on a gelatine substrate by means of a viscosimetric method using an 
apparatus of the Ostwald t>-pe. 

They observed the proteolysis of the gelatin solution by the venom as a 
function of the venom concentration. pH. temperaturc and substrate conccn- 
tration. 

They conclude that under their e.xpcrimental conditions: 

1) B. jararaca venom excerts a pronounced proteolytic action on a 
gelatin solution ; 

2) There is a direct rclation between the proteolytic activity and low 
venom concentrations ; 

3) The proteolytic activity increases from pH 5.0 to a maximum at pH 
10,0, disappearing at pH 11,0; 

4) The proteoh-tic activity increases with temperature from 35°C to a 
maximum at 45°C, disajipearing et 55®C. 

5) The proteohnic activity is a function of the substrate concentration; 

6) The proteoh-tic action of the venom on t\>e gelatin substrate fs direct 
and does not require any a complementarj* factor; 

7) The method used is extraordinarily sensitive. 



()0 


ACÇAO PROTEOLITICA DO VEXEXO DA BOTHROPS JARAR.ÍCA. II. 


RESUME ET COXCLUSIOXS 

Les auteurs étudient lactivité protéolj-tique du vénin de la B. jararaca 
(W:ed) en utilizant comme soustrait une solution de gélatine. Ils employent 
la .méthode de la \nscosinietrie avec um appareil du type Ostwald. 

La protéolyse de la solution de gélatine par le vénin fut étudiée en fonction 
de la concentration de celuí-ci, du pH, de la température et de la concentration 
du delié de gélatine. 

Dans les conditions cxpérimentellcs utilizées ils ont aboutti aux conclusion 
suivantes. 

1) Le vénin de B. jararaca (AVied) a une activité protéolj^tique accentuée 
sur une solution de gélatine. 

2) II y a une rélative proportionnalité entre Tactivité protéoly tique et les 
faibles concentrations du vénin; 

3) L’activité protéolytique du vénin croit progréssivement à partir du pll 
5,0, en atteignant le “maximum” au pH 10,0 étant pratiquement nule au pH 11,0. 

4) L’activité protéolj-tique du vénin croit progréssivement à partir de la 
température de 35°C, ayant son “maximum” a 45°C, et dimminuant sensible- 
ment à la température de 55°C. 

5) L’activité protéolj-tique du vénin se rapporte toujours à la concentration 
du soustrait. 

6) L’activité protéolj-tique du vénin sur le soustrait de gélatine est directe, 
n’éxigent pas la présense dun facteur complémentaire. 

7) Le proceès emplojé a démontré une grande sensibilité. 

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cm 


SciELO 


LO 11 12 13 14 15 16 



Men. Inst. BaUntan. 
22:47-62. XoT.® 1950. 


I. M.ARTIRAXI 4 M. P. AZE\'EDO 


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Mem. Inst. BaUntan. 
22;6J-r4, XcT.® 1950. 


A. T. LE.\0 


63 


SOBRE DOIS BATRAQUIOS DA ILHA DOS ALCATRAZES 

POR ARISTOTERIS T. LEAO 

(Trabalho da Secção de Zoologia Médica do Instituto Butantan, 

São Paulo, Brasil) 

Prosseguindo no nosso programa de e.xcursões, fizemos uma viagem à Ilha 
dos Alcatrazes, situada a cerca de 50 milhas da barra de Santos e a mais ou 
menos 20 milhas da Ilha de São Sebastião, estando esta de permeio entre o 
litoral e a primeira. 

A viagem foi realizada entre II e 27 de feveriro de 1948, num liarco 
gentilmente posto à nossa disposição pela Escola de Pesca, da Secretaria da 
Agricultura. 

A Ilha dos .Alcatrazes não é haibtada, possue agua potável. . E’ comiileta- 
mente desprovida de praias, circundada por enonnes rochedos e recoberta por 
densa vegetação, especialmente nas depressões e encostas, servindo de abrigo 
seguro para os "mergulhões” (Sula Icucogaster), “gaivotas” (Larus sp.) e, 
principalmente, aos “alcatrazes” (Fregata mtnor) que ai nidificam. São vistas 
muitas palmeiras, bromelias, pitas, cactus, etc. 

Sofremos durante a estadia naquela ilha uma canicula surpreendente, pois 
a temperatura oscilava sempre em tomo de 39-42®C (Ma.\ima 44,5®C c minima 
250C). 

Na Ilha dos Alcatrazes encontramos somente dois batráquios — uma Hyla 
e um Lcptodactylus — que constituem a razão destas notas. 


Lcptodactylus nanus 

Cabeça lanceolada, às vezes achatada dorso-ventralmente, pouco mais longa 
do que larga. Boca de hiato começando no bordo posterior do olho e anterior 
do t4impano. Focinho, saliente, com narinas na e.\tremidade do lòro. Canto 
rostral apenas perceptivel, arqueado. Lôro pouco e.\ca\ado. Timpano pouco 
profundo, circular, cerca da metade do diâmetro ocular; com uma prega supra- 
timpanica que, partindo do bordo posterior do olho se dirige em linha reta no 
sentido do comprimento e, ao alcançar o bordo posterior do timpano desvia 


Entregue para ptAlicação cm 5 de outubro de 1949. 



2 3 4 


5 6 7 


- 1—1 


11 12 13 14 15 16 




64 


SOBRE DOIS BATRAQCIOS DA ILHA DOS ALCATRAZES 


bruscamente para baixo, formando um angulo obtuso e terminando na face 
superior do ante-braço. Olho saliente, com pupila horizontal, circular. Dentes 
vomerinos cm duas fileiras retas, transversais, bem posteriores às coanas, com 
cerca de 6-8 dentes em cada lado. Coanas pequenas, circulares, com abertura 
dirigida para fóra. Pré-maxilares em ponta intemamente, as quais não se 
tocam, com dentição uniforme, sendo mais ou menos 6 dentes em cada peça. 
Ma.xilares com dentição uniforme. Mandibula edentula. Lingua piriforme, 
pouco entalhada, livre posteriormente, às vezes com uma constricçâo na base, 
sendo, portanto, mais longa posteriormente. .A^parelho estemal do tipo arcifero; 
omo.stemo osseo, com dilatação terminal cartilaginosa, em forma de pá. Apare- 
lho hidoideo constituido por duas peças anteriores cartilaginosas, de concavidade 
para fóra, divergentes, portanto, e por duas peças ósseas divergentes, com dila- 
tação nas epifises e diafises, ligadas anteriormente por uma cartilagem. Dedos 
inteiramente livres, não fimbriados, com tubérculos sub-articulares bem desen- 
volvidos; calo metacarpal interno o\'al, inteiro; calo metacarpal externo maior, 
esferoide, inteiro; ultima falange normal: l.° artelho sem dilatação aparente; 2.®, 
3.® c 4.® artelhos bem dilatados, espccialmcnte o 3.® e o 4.® que são pro^dos de 
discos achatados dorso-ventralmente e recur\-ados para cima; 5.® artelho com 
dilatação apenas perceptivel; ordem de tamanho dos artelhos: 1, 2, 5, 3, 4; 
articulação tibio-tarsal alcançando o timpano. Disco ventral evidente. Corpo 
totalmcnte liso, com granulação bem evidente apenas na face posterior das 
còxas, às vezes algumas verrugas esparsas no 1/2 posterior do corpo. Estrias 
laterais frequentemente bem rugosas, dando mesmo a impressão de uma saliência 
uniforme. Tarso com face inferior rugosa. 

Coloração (álcool) : — Coloração de fundo variavel desde o bruneo quase 
negro ao marmoreo-rosado ou marron com tonalidades róseas; u’a mancha 
escura na cabeça, tocando as palpebras, em forma de cálice de pé bifido, que 
alcança a espadua; duas manchas ou estrias laterais que, partindo das espaduas 
seguem em linha reta e vão tocar as virilhas, ou, às vezes, se interrompem na 
altura do meio do urostilo; o resto do dorso e lados providos de pequenas 
manchas irregulares escuras, dando ao todo uma impressão marmórea; membros 
anteriores e posteriores tarjados de escuro dorsalmente; face inferior dos mem- 
bros pintalgada de marron ; abdômen al\'adio ; região guiar com sombra marron- 
clara ou escura; região loreal, canto rostral e focinho com tonalidade acinzentada. 

Coloração (vivos) : — Parte ventral do corpo e dos membros ah'adia. Dorso 
cinzento- esverdeado com reflexos azulados; região loreal mais escura; duas 
faixas laterais amarelo-avermelhadas ou bem escuras, com bordos amarelados 
que, partindo dos olhos vão até os membros posteriores; membros com faixas 
transversais (tarjas) escuras, dorsalmcnte. 


cm 


SciELO 


LO 11 12 13 14 15 16 



Mcm. Inst. nntantan, 
22:63-74, Xor.» 1950. 


A. T. LE,\0 


65 


Ha grande r-ariedadc na tonalidade das cores, havendo exemplares onde 
predominância do avermelhado ou rosado intenso ou mesmo bruneo quase negro 
ou ainda acinzentado. Ventre creme ou amarelado. 

• 

Voc: — Ti — Ti — Ti — Ti — ou Pi — Pi — Pi — Pi — que se 
repetem rapidamente, em cerca de 1 segundo. 

Hcü/ital: Vivem no chão, debaixo das folhas mortas ou em buracos, 

em sitios bem húmidos e sobreados. 

Nota: Encontramos no chão (buraco), a cerca de 25cm de profundidade 
u’a massa espumosa contendo ovos grandes, creme, sem pigmentação, que supo- 
mos pertencer a esta espccie. 


DISCUSSÃO 

Lutz (1926) descreveu uma especie de Lcptodactylus, L. trhilialus de 
matéria! colhido na mesma região que o L. tiaiuis, dando a seguinte descrição . 

“Esta especie c, sem du\-ida, muito Hzinha do L. nanus no tama- 
nho e na biologia, mas as differenças tanto do desenho como da 
coloração, e a falta de transiçao não permitte reuml-as. Foi encon- 
trada nas mesmas r^iões, mas em pontos differentes. O Irivitialus, 
obser\'ado vivo, mostra muita tendência a esconder-se durante o dia. 

A femea adulta mede cerca de 22mm cm comprimento. A lingua 
é livre atraz e os dentes vomerinos formam dois jicqucnos grupos 
rcctilineos com pequeno intcr\-alo. 

No dorso do tronco ha tres estrias longitudinais de côr ter- 
racota ou um pouco mais vermelhos. A dorso-mediana liinita-sc à 
metade posterior do dorso. .-\s laterais principiam sobre a pálpebra 
superior e terminam pouco antes da prega inguinal. Nos últimos 
4mm a côr avermelhada vira em crême. .\ mesma côr apparece 
numa fita sinuosa que principia abai.\o do olho e acaba na raiz do 
braço. Passando por baixo do timpano, torna-se mais estreita. A 
côr terracota aparece também no lado dorsal do cotovelo e joelho. 
e.xtendendo-se sobre as partes vizinhas. Num exemplar menor a 
estria mediana ínrade também a metade anterior do dorso, tomando- 
se mais fina e interrompida. 

Tenho um exemplar do Alto da Serra de Cubatão e alguns de 
Campo Belo, encontrados dous debaixo de tionco de arvores der- 
rubadas e outros no capim. Não se conhece a voz”. 



66 


SOBRE DOIS BATRAQÜIOS DA ILHA DOS ALCATRAZES 


Tinha razão Lutz ao considerar a sua especie muito vizinha de L. nanus, 
pois esta apresenta extensa variedade na tonalidade do seu colorido, especial- 
mente os jovens que mostram aquela coloração avermelhada das faixas laterais 
que talvez tenha sido uma das causas mais salientes no estabelecimento do L. 
triviHatus. 

Bertha Lutz (1947) assim se exprime sobre estas duas especies: 

“ Lcptodactylus nanus, including L. trizdttatiis, which is probably 
a colour^phase ” 

Temos mais de uma centena de exemplares, capturados todos num espaço 
de menos de 200™*, na Ilha dos Alcatrazes, nos quais são vistos os mais varia- 
dos tipos de tonalidade e desenho. Pode-se mesmo com certa facilidade separar 
4 tipos diferentes: a) acinzentados, com máculas pouco visiveis ou mesmo ne- 
groides; b) os mesmos acima referidos, porém, com o tegumento notavelmente 
mais claro, cujas máculas aparecem com nitidez; c) em c se enquadram os 
representantes de o e b que jxissuem 2 faixas laterais claras; d)' exemplares 
pequenos, iguais aos precedentes tendo, todavia, as faixas laterais ávermelhadas 
ou róseas e que representa com notável semelhança o L. Irivittatus de Lutz. 

Não encontrando nenhum elemento que nos autorize proceder de modo con- 
trario, consideramos o L. trizittalus sinonimo de L. nanus, representando o 
primeiro, como bem pondera Bertha Lutz (loc. cit.), apenas uma fase de colorido 
do segundo que, aliás, possue todas as características de especie polimórfica. 

Hyla sp. 

Hyla de tamanho medio. Cabeça sub-ciicular, com comprimento c largura 
quase iguais. Boca com hiato começando na altura do bordo anterior do 
timpano. Focinho saliente, recurvado para cima, com as narinas na extremidade 
do lòro, havendo entre ambas um sulco. Canto rostral bem evidente, com lôro 
rcgulannentc exeavado. Timpano na superficie da pele, às vezes ligeiramente 
acima desta, circular, pouco menor que a metade de um diâmetro ocular longi- 
tudinal; uma prega supra-timpanica que começando no bordo posterior do olho 
arqueia-se levemente e vai tocar a face superior do ante-braço. Olho saliente, 
com pupila oval, horizontal. Dentes vomerinos em duas fileiras mais ou menos 
retas, quase se tocando, com 6-7 dentes em cada lado, situadas pouco antes do 
meio das coanas. Coanas ovoides, de tamanho relativo, de abertura francamente 
para fóra. Pré-maxilares em ponta intemamente, estas recur\adas para cima, 
com dentição uniforme, em 16 em cada fileira. Maxilares com dentição uniforme. 
Mandíbula edentula. Lingua semi-circular ou cordiforme, pouco entalhada e 
livre posteriormente. Aparelho estemal do tipo arei fero; omostemo cartilaginoso. 


cm 


SciELO 


LO 11 12 13 14 15 16 



Mem. Iiut. Batantan, 
J2;63-74. Not.® 1950. 


A. T. LEAO 


67 


com dilatação em forma de pá de ponta romba; xifistemo cartilaginoso, em forma 
de caradeira, de ponta quadrangular. Aparelho hioideo constituído por duas 
peças ósseas recur\-adas para dentro, ligadas anteriormente por uma cartilagem, 
com extremidades basais dilatadas e distais redondas e finas. Dedos inteira- 
mente livres, fimbriados, com tubérculos sub-articulares evidentes; calo meta- 
carpal interno pouco saliente, longo, fino, inteiro; calo metacarpal externo sa- 
liente, grande, dividido até o meio, de ponta externa mais longa que a interna; 
ultima falange dilatada, provida de disco adesivo bem desenvolvido, achatado no 
sentido dorso- ventral, recur\‘ado para cima; ordem de tamanho dos dedos: 1, 4, 
2, 3. Artelhos palmados, fimbriados, com tubérculos sub-articulares evidentes; 
calo metatarsal interno saliente, ovoide, inteiro; calo metatarsal externo esferoide, 
bem menor que o interno (cerca de 1/4 do tamanho daquele), inteiro; 1.° e 2.® 
artelhos livres, 2.® e 3.® com membrana apenas até a 1.=* articulação, 3.® e 4.® e 
4.® e 5.® com membrana até a 2.* articulação; ultima falange dilatada, provida 
de um disco adesivo bem desenvolvido, achatado dorso-ventralmente, recurvado 
para cima; ordem de tamanho dos artelhos: 1, 2, 3, 5, 4; articulação tibiotarsal 
alcançando o meio do lôro. Face dorsal do corjx) com granulações esparsas; 
cabeça com granulação mais intensa que o corpo, cspecialmente no topo desta; 
face dorsal dos membros igual ao corpx); face anterior dos membros inteira- 
mente lisa; face posterior das coxas, bem como toda a região ventral do corpo 
bem granulosa. 

Coloração (vivos) : Dorso creme, cinza ou bruneo (sem máculas) ; face 
anterior c posterior das coxas amarelo-citrino com pjequenas manchas transversais 
escuras. 

Coloração (álcool) : Coloração de fundo variando do creme ao bnineo, com 
toda a parte da cabeça anterior aos olhos sempre mais escura; às vezes uma 
barra reta, mais escura, interpalpebral ; flancos às vezes mais escuros que o 
dorso, formando como que uma barra dorsal clara; região ventral alvadia ao 
creme-jnlha ; femur transfaciado de marron, dorsalmente; tibia transfaciada só 
na face ventral; região dorsal do corpx), às vezes com máculas irregulares mar- 
rons; 05 exemplares de intensidade de coloração media dão, dorsalmente (corpo 
e membros) a nitida impressão de um fino reticulo; p)és finamente manchados 
de marron na face dorsal. 

Girinos:' Numa Bromeliaceae onde capturamos adultos, obtivemos dois 
girinos de mais ou menos 16mm de comprimento, cuja formula das laminas den- 
tarias, apjesar de mal conser\-ados, pudemos determinar como sendo 1 

1 — 1 
3 

Vos: Kriii — Kriii — Knn — em tudo semelhante à voz da Hyla perpusilla 
da Ilha da Queimada Grande. 



68 


SOBRE DOIS BATRAQUIOS DA ILHA DOS ALCATRAZES 


Habitat: Vivem em Bromcliaceae terrestres, em cujas coleções dagua reali- 
zam o ciclo evolutivo. 

Distribuição geográfica: Ilha dos Alcatrazes, São Paulo, Brasil. 

Nota: A Hyla aqui tratada, bem como Hyla perpusilla da Ilha da Quei- 
mada Grande, objeto de outra publicação, faz parte do complexo Catharinae. 

Não tentamos a determinação da Hyla em questão pelas razões seguintes: 
a) a Dra. Bertha Lutz, do Museu Nacional, está fazendo um estudo de con- 
junto desse grupo e promete para breve a publicação de uma monografia; b) 
o nosso material foi, por aquela distinta anfibiologista, examinado e a quem 
cedemos alguns exemplares. Nada, pois, mais logico que esperar os seus re- 
sultados. 

RESUMO 

E’ relatado o encontro, na Ilha dos Alcatrazes, São Paulo, Brasil, de 
Lcptodactylus naitiis e de Hyla sp. (do grupo Catharinae). 

São oferecidas descrições e fotografias, bem como alguns dados sobre a 
biologia de ambas as especies. 

.'\pós o estudo do abundante material obtido chegou-se à conclusão que L. 
trivittatus Lutz, representa apenas fase de colorido de L. nanus. 

ABSTRACT 

In the Alcatrazes Island, State of São Paulo, Brazil, were caught L. nanus 
and Hyla sp. (of the complex Catharinae). 

Descriptions, photos, as well as some biological data of both species are 
given. 

BIBLIOGRAFIA 

1. Luts, A. — Manguinhos, 10 de março de 1926. 

2. Luís, B. — Copcia 4 : 242, 1947. 


cm 


SciELO 


LO 11 12 13 14 15 16 



Medidas (m m) 


Nome: HYLA 

Compr. docoípo;.. 

Compr. da cabeça 

Larjcura da cabeça 

Compr. do fcmor 

Compr. da tíbia 

Compr. do pé á poota do t.o artelho: 

Menor di.Mancia entre as choanas: 

^’P*Ço entre as narinas: 

DísL bord. anL narina i ponta do (oeinbo: 

DísL bordo posL caL carp. a ponta lo dedo:... 
DisL bordo po.t. narina ao bord. ant. ttmpano: 

Altura do limpano (transr.): 

Lariç. do tímpano (lo.-qçitod .): 

Diâmetro ocular (longitud.): 

DísL bordo ant. olho à ponta do focinhe: 

Espaço interorbital anterior : 


963 

19.4 

8.0 

7.8 

9.4 
10.8 
13.7 

1.8 
1.8 
0.7 
8.1 
5.8 
1.1 
1.1 

2.4 I 

3.5 I 
4.1 


»2 

21,S 

8.6 

8.3 

9J 

llj 

14.2 

1.8 

1.8 

0.8 

5J 

6.1 

1.1 

I.l 

2.6 

4.0 

48 


933 

22.0 

8.7 
83 
9.4 

:i.s 

14.4 
1.9 

1.7 
0.7 

5.4 
63 
13 
13 
2.6 
4.1 
43 


948 

23.0 
8.8 
88 

9.7 

12.0 

14.2 

1.9 

2.0 

0.7 

&7 

6.8 
1.4 
1.4 

3.0 

4.0 

4.8 


945 

23,0 

9.0 

8.9 

9.6 

11.4 

14.4 

1.9 
1.9 
0.8 

5.6 

7.0 

1.5 
1.4 
33 

4.0 

4.6 


961 

26.4 

10.4 

10.2 

12.4 
163 
188 

2.6 

i.9 

08 

6.6 

8.0 

1.6 

1.6 

33 

4.8 

6.0 


934 

273 

10.4 

10,1 

11.4 

14.4 

18.4 
23 
23 
0.8 

6.4 
83 
1.6 
1.6 
33 
5.8 
6.2 


947 

28,6 

11.5 

10,8 

13.6 

16.6 

21,0 

2.8 

13 

0,8 

7,0 

8,6 

1.7 

1.6 

3.4 

u,S 

6.4 


949 

30.7 
123 

11.7 
138 
16,6 

20.7 

2.7 
2,3 
08 
73 
8.9 
13 

1.8 
1.1 
5.7 
6.6 


946 

31,0 

11.6 

113 

13.8 

15.6 

20.6 
2.8 

2.4 

0,8 

7.0 
83 

2.0 

1.8 
4.0 
31 

6.4 


Nume; LEPTOD.ACTYLfS .SA.NUS y 

Compr. do corpo: 

Compr. da cab«^a: 

Larxura da cabcca: 

Compr. d> ícmur:..,,,.,.,,, 

Compr. da tíbia: 

Compr. do pe â ponta do 4.o artelho: 

•Menor disUnca en-re as choanaa: 

3*paco entre as narinas:.,,.,. 

DísL bordo ant. narina i poota do tocinbo;... 
DisL bordo post. cal. carp. á |.onU 3.0 dedo:... 
DísL bordo post. nanna ao bord. ant. tímpano:.. 

Altura do tímpano (Iraosr.): 

Laix. do tímpano (lonxitud.): 

Diâmetro ocular <!onx.tnd .): 

DísL b-rdo anL olho á ponta do focinho;.... 
Espaço interorbital anterior: 


1075 

1103 

1077 

1048 

1031 

1104 

994 

991 

1034 

10S5 

19.8 

23,3 

233 

243 

253 

253 

25.6 

27,0 

28.0 

28.0 

7,0 

8.4 

88 

9.0 

8.5 

9.1 

8.6 

9.4 

9.6 

9.4 

6^ 

73 

34 

8,7 

83 

9.0 

83 

9.0 

9,0 

9.1 

7.4 

93 

9,4 

9.9 

8.9 

108 

9.9 

10,6 

11.0 

n.o 

8.6 

10.4 

11.0 

11.4 

11.4 

113 

11.4 

118 

113 

12.0 

14.0 

17.7 

17.7 

173 

18.4 

193 

183 

183 

19,0 

18,4 

1.7 

2.0 

2.0 

2.0 

^ •* 

2.3 

23 

23 

23 

2,3 

1.7 

2.0 

23 

2.0 

2.2 

13 

23 

23 

23 

2.3 

0.9 

1.2 

1 2 

13 

13 

1.1 

13 

1.2 

13 

1.4 

43 

30 

5.4 

53 

53 

53 

5.2 

5.4 

5.5 

M 

4.3 

30 

5,0 

5.1 

31 

5.4 

5.2 

5,7 

5.9 

59 

1.0 

13 

13 

13 

13 

1.6 

1.4 

1.6 

1.6 

1.6 

1.0 

1.2 

1.3 

13 

13 

1.6 

1.4 

1.6 

1.6 

Isfi 


38 

30 

3.0 

28 

2.9 

28 

33 

3,4 

3.4 

3.0 

36 

36 

3,7 

3.6 

3,8 

3,5 

3,7 

3,8 

3,9 

3.6 

4.2 

4.3 

4.4 

43 

4.5 

43 

4.4 

4.5 

4.5 


Nome: LEPTODACTYLCS NANUS .\.o 

1017 

Ii)50 

Compr. do corpo: 

19.0 

208 

Compr. da cabeça: . 

57 

7.0 

Larxura da cabeça: 

57 

7.0 

Compr. do femun 

78 

50 

Compr. da tibia: 

9.0 

9.4 

Compr. do a ponia do 4.o artriho: 

14.8 

15.0 

Menor distancia entre as cboaoas:...... ... .... 

1.4 

18 

Espaço entre as narinas: 

18 

18 

Dist bordo anL narina a poota do forinhnr 

08 

1.0 

DisL bord. posL cal. carp. t ponta do So dedn:. 

3,7 

4.0 

Diit. bordo po«t. narina ao bord. anL timpano:. 

4.2 

4,5 

Altura do limpam (traniiv. 

08 

4.0 

Larg^ura do timpano (lonf;kad.;:. 

08 

1.0 

Diâmetro ocular (lonxitud.): 

23 

23 

DisL bordo anL olho a poota do focSnhti* 

2,6 

50 

£apaço interorbital anlerierr 

33 

54 


1043 

10.MI 

1073 

1026 

1030 

993 

1049 

1000 

24,0 

24.5 

250 

258 

258 

26.0 

27,5 

28.0 

83 

83 

57 

9.0 

9,1 

93 

9.4 

9,5 

88 

83 

8,0 

54 

56 

8.8 

57 

9,0 

9,6 

9.4 

9.6 

103 

10.4 

10.5 

10,6 

10.6 

11.2 

108 

11.1 

11.4 

11.6 

118 

150 

12,0 

19.0 

19,0 

150 

150 

18,0 

■9.6 

. 156 

19.2 

1.7 

l.S 

50 

51 

54 

53 

23 

28 

13 

1,9 

50 

2.1 

23 

53 

51 

54 

1.2 

13 

13 

13 

1.3 

13 

13 

1,3 

0,1 

4.9 

51 

53 

5,4 

55 

54 

5* 

51 

5.1 

51 

5: 

54 

.5.6 

5,6 

5.6 

13 

13 

13 

13 

I.l 

1.6 

1,6 

1.6 

1,2 

13 

1.2 

1.4 

1.4 

1.6 

1.6 

1.6 

2.4 

54 

56 

57 

58 

50 

2.9 

3.0 

56 

3-7 

56 

57 

3.8 

59 

3.6 

38 

38 

4.0 

4.2 

43 

4.4 

4.5 

4,7 

48 



SciELO 



18 









* 


SORRE DOIS RATRAQnOS DA ILHA DOS ALCATRAZES 



Lcpto^actylms ncnus 
1.109 com barras avermelhadas 
1.204 com tarras claras 


r 


_ 2 


— 3 


1 — 5 


4v 4» 














Lcftodactylms Nanaj 

Xotar que o 1.* c 4.* persuem barras Dteraís avermelhadas cu róseas d) no texto. 


2 3 4 5 6 SCÍELO]_o 11 12 13 14 15 16 


cm 



Mnn. In^t. Butantan, 
22.C..»-74. XoT.» 1950. 


A. T. I.EAO 


73 



Leftpdaftylmt mammt 

Exemplarei i«uais ae* a) oa b) pofiatndo. lorUvta. larra» iatcra*f clara*, c) no texto 



t.cfto4*ctylms ncmmí 

Ex«„,Ur« «mrlh4n.« «o, «f<-r:do* cemo p„rím. no.av,;™c„.c mai, claro, c erm máco'a. I.rm 

ruivei». b) no texto. 



SciELO 


11 12 13 14 




6 17 





Mem. Inst. BaUnUn, 
22:75-126, Not.® 1950. 


G. HOXTER & R. IIUXGIOLI 


75 


ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS 

1.0 — MÉTODOS E TÉCNICA 

POR GÜNTER HOXTER & RAUL MUNGIOLI 
(da Sec(ão de Fistco-guímíca do Instituto Butantan) 


CONTEÚDO 


I) Introdução. 

II) Teoria do movimento de partículas coloidais num campo eléctrico. 

III) Método electroforctico. 

a) Descrição geral do aparelho- 

b) Instalações mecânicas- 

c) Ligações eléctricas. 

d) Sistema óptico. 

1 — Formação das imagens. 

2 — Método de Longsworth. 

3 — Método de Lamm. 

4 — Método de Philpot-Svensson. 

5 — Ajustamento do sistema óptico. 

6 — Diferença entre lâmina e fenda. 

IV) Técnica do experimento eleciroforético. 

a) Preparo do material. 

b) Diâlise. 

c) Preparo da célula. 

d) Formação do perfil. 

V) Análise das observações electroforcticas. 

a) Análise dos traçados. 

b) Análise geométrica. 

c) Método de Tiselius e Kabat. 

d) Método de Pedersen. 

e) Método de Labhart. 

f) Método de Wiedemann. 

g) Nosso método. 

h) Cálculo da mobilidade aparente. 

VI) Resumo da parte técnica. 

VII) Referências bibliográficas. 


Entregue para publicação cm 14 de novembro de 1949. 



SciELO 


11 12 13 14 



6 17 



76 


ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS 


n INTRODUÇÃO 


Uma das mais valiosas contribuições da fisico-quimica aos estudos biológicos 
é a electroforese. Xo sentido largo da palavra, electroforese significa o movi- 
mento de partículas carregadas num campo eléctrico. A técnica electroforética, 
desenvolvida pelos trabalhos de Tiselius e Longsworth, jjermite a obser\‘ação des- 
tas migrações, a determinação das mobilidades, a separação de substâncias que 
caminham com velocidades diferentes, e a avaliação das quantidades relativas de 
cada espécie de uma tal mistura. Como as forças eléctricas do campo exercem 
apenas uma ação muito leve sobre as propriedades eléctricas da superfície de 
cada partícula, o método é aplicável por excelência ao estudo dos biocoloides e 
especialmente das proteínas. 

Um dos princípios biológicos do ser vivo c a sua adaptabilidade ás modifica- 
ções do ambiente ; na molécula proteica, este fato reflete-se pela resposta amfoté- 
rica; em meio ácido, a proteína reage como uma substância básica, formando 
cations (de carga positiva) ; em meio alcalino, ela se transforma em anions (de 
carga negativa). Estas modificações processam-se instantaneamente por mudan- 
ças do pH externo, sem influir na estrutura interna da molécula. 

Entre a forma positiva e a negatira da proteína existe um estado neutro onde 
a carga total é zero. O pH correspondente a esta neutralidade é o ponto iso-eléc- 
trico, onde a mobilidade também é zero. Xum pH abaixo deste ponto, a pro- 
teína caminha para o pólo negativo, acima dele a migração se processa em direção 
ao pólo positivo. Quanto mais afastado do ponto iso-eléctrico, tanto maior será 
a velocidade de migração numa ou noutra direção. 

O ponto iso-eléctrico é uma característica estrutural da cada proteína e um 
dos critérios de identidade fisico-quimica. Xuma mistura de proteínas cujos pon- 
tos iso-eléctricos não coincidem, temos a possibilidade de separar as proteínas pela 
diferença das mobilidades. O seguinte quadro exemplifica estas diferenças para 
a mistura das proteínas plasmáticas humanas: 


1 SciELO 




Mnn. Iiut. BaUntan, 
S:T5-126, Xot.» 1950. 


G. IIÕXTER & R. MUNGIOLI 


77 


Fracção proteica 

Mobilidade a 

pH 8,6 

Ponto iso-eléc- 

trico 

albumina .-. 

5.94 

4,6 

globulina Oj 

5,07 

4.7 (?) 

globulina o., 

4,08 

4,8 

globulina P 

2,83 

5,2 

fibrinogênio 

2,14 

5,4 

globulina v 

1,02 

<5,4 


O tratamento das proteínas neste processo é tão suave que mesmo substân- 
cias instáveis como fibrinogênio ou enzimas podem ser submetidas á investiga- 
ção electroforética. As nossas pesquisas abrangem o estudo das propriedades 
electroforéticas das seguintes substâncias: 

a) Proteínas plasmâticas de homem, cão e cavalo, e suas modificações nos 
envenenamentos por peçonhas. 

b) Proteínas do soro de cavalos e suas modificações no decurso da imuni- 
zação contra vários antigenos. 

c) Proteínas plasmâticas humanas e suas modificações por doenças. 

d) Proteínas plasmâticas normais dos animais de laboratório. 

e) Soros terapêuticos submetidos a vários processos de purificação e con- 

centração. 

f) Venenos de cobras, escorpiões, aranhas e abelhas. 

Como não encontramos nenhuma descrição da electroforese cm idioma por- 
tuguês, iniciamos a nossa publicação com um resumo da teoria geral do movi- 
mento de partículas carregadas, dando em seguida todos os detalhes da nossa 
técnica que se baseia nas recomendações apresentadas pelos trabalhos de Tiselius 
de Longsworth, e de Wiedemann. 

II) TEORIA DO MOVI.MENTO DE PARTÍCULAS COLOIDMS NUM 

CA.MPO ELÉCTRICO 

Uma particula de carga eléctrica constante vai se movimentar num campo 
eléctrico continuo em direção ao pólo de carga oposta. Quando a particula for 
de tamanho pequeno, como os ions por e.xemplo, o fenómeno da migração no 
campo eléctrico recebe o nome de iontoforese. Xeste caso, e para partículas 
esféricas que se movimentam çem interferência pelas outras i>articulas, como por 
e.\emplo em diluição infinita, a velocidade (v) é uma função da carg;! (q) e do 



SciELO 


11 12 13 14 15 




78 


ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS 


raio (r) da partícula, da força (H) do campo eléctrico, e da viscosidade (t^) do 
meio onde a particula caminha. 

q H 

V = (Fórmula 1.) 

6ar T] 

Para partículas de forma desconhecida é melhor usar a seguinte fórmula : 

q H D 

V = (Fórmula 2.) 


k T 


onde D = constante de difusão da particula naquele meio 
T = temperatura ahsoluta (.° Kelvin) 
k = constante de Boltzmann. 

Estas fórmulas só podem ser aplicadas quando cada partícula se movimenta 
independente de outras particulas, num ambiente isento de outras cargas. A 
mobilidade (u) que significa a velocidade da partícula num campo eléctrico de 
força H=l, é 

V q D 

u = — = (Fórmula 3.) 

H k T 

A electroforese difere da iontoforese pelo fato de se caracterizar por uma 
mobilidade menor do que aquela calculada pela fórmula 3. A particula coloidal 
cujo movimento observamos na electroforese exerce uma atração sobre os dip>olos 
do solvente e sobre os ions de carga oposta que provém da dissociação das 
substâncias tampões e de outros sais presentes. A nuvem destes ions que cir- 
cundam a partícula carregada vai se movimentar na direção oposta e deste maneira 
diminuir a mobilidade, dependendo este efeito ralentador da fôrma e do tamanho 
da particula coloidal que forma o núcleo, e da concentração e carga — mas não da 
natureza química — destes ions na nuvem (Gouy). Quando a concentração dos 
outros ions é grande em comparação com a concentração do coloide nuclear, pode- 
mos calcular a força iônica (ji) pela fórmula de Lewis 

(Fórmula 4.) 

H = i 'i M : 


onde *i = concentração de cada espécie 

*i = valência de cada espécie de ions 


de ions 


cm 


SciELO 


LO 11 12 13 14 15 16 



Mcm. Inst. Bntantmn, 
»;7S-126, Not.« 1950. 


G. HÕXTER 4 R. MUNGIOLI 


79 


Xas determinações electroforéticas é preciso indicar sempre a fôrça iônica 
(p) do meio usado, pois o valor numérico da mobilidade depende deste fator. O 
efeito ralentador desta nuvem iônica sobre a mobilidade da particula central pode 
ser calculada (segundo Gorin) á base das teorias de Helmholtz e de Freundiich e 
von Smoluchowski. Assim, o sistema "coloide + nuvem iônica” pode ser con- 
iiderado um condensador com uma camada formada pelo coloide central e outra 
pelos ions de carga oposta. A distância entre estas camadas é conhecida como 
a grossura da camada eléctrica dupla (Helmholtz) ; ela é infinita em diluição 
infinita e diminui com o aumento da concentração iônica quando a casca iônica se 
apro.xima cada vez mais do coloide nuclear. Segundo Freundlich c von Smo- 
luchwski, entretanto, esta casca iônica que forma a placa e.xterna do condensador 
não tem limites exteriores abruptos, mas continua estendendo-se através do liquido 
circundante. No lugar do condensador de Helmholtz podemos agora colocar 
uma particula carregada que se circunda de um campo eléctrico. O potencial 
deste campo é constituido pelo potencial electrocinético (Ç) que na ausência de 
sais é uma função da carga (q), do raio (r) da particula (presupostamente 
esférica) e da constante di-eléctrica (e) do solvente. 

q 

Ç = (Fórmula 5.) 

E r 

Combinando agora as fórmulas 1. e 3. e substituindo a carga (q) pelo \'alor 
da fórmula 5. vamos obter a mobilidade electroforética 


q 


u 



H 6 .X r ij 6 n n 


(Fórmula 6.) 


Esta fórmula corresponde àquela derivada por Debye e Hückel para uma 
particula esférica isolada de outros ions. Helmholtz calculou a seguinte equação. 


u = 

4 .X n 


(Fórmula 7.) 


para uma particula cilindrica com o eixo na direção do campo eléctrico. Pode- 
mos generalizar estas fórmulas escrevendo 




P 


JSciELO. 


11 12 13 14 15 16 


1 



so 


ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS 


X, E 


U = 


(Fórmula 8.) 


c n 


onde (C) é uma constante que depende da forma da partícula, mas não do seu 
tamanho. C = 4 :t para cilindros, e C = 6 -t para esferas. O potencial 
electrocinético depende somente da natureza da superfície da partícula, e a 
mobilidade fica assim independente do seu tamanho. A presença da núvem iônica 
vai modificar esta mobilidade por um fator que depende da grossura (d) da 
camada eléctrica dupla, ou, em outras palavras, da distância do centro eléctrico 
desta núvem. Podemos calcular o potencial electrocinético resultante (Ç®*) pela 
fórmula 

q q q d 

Ç = = (Fórmula 9.) 

R t r £(r-j-d) e r (r+d) 


Combinando agora 


u = 


q r 

com q=:Ç er( — 4-l)da fórmula 9. 

C r q R d 


\-amos obter 


(Fórmula 10.) 


Quando (d) fica grande, em soluções diluídas, a mobilidade se aproxima da 
fórmula 8. Xa derivação de Debye e Hückel 


X, E 


U = 


H + y.r ) 


6 .T n 

relacionando (x) com (d) pela fórmula 


(Fórmula 11.) 


(Fórmula 12.) 


Para partículas grandes onde X r » 1 a grossura (d) fica independente do 
tamanho (r), um fato verificado experimentalmente por Abramson e por Mooney 
que observaram que a mobilidade num campo eléctrico de partículas esféricas de 


cm 


SciELO 


LO 11 12 13 14 15 16 



Mcm. Inst. Bntantan. 
22:75-126, Nor.® 1950. 


G. HOXTER & R. MUNGIOLI 


81 


uma emulsão cresce com um aumento do raio até atingir um \-alor limite acima 
do qual a mobilidade se toma independente do raio. A adição de sais nestas 
emulsões tende a igualar a mobilidade para particulas de todas as dimensões; o 
mesmo acontece quando as goticulas dá emulsão são cobertas com um filme de 
proteina. O valor de (d) pode ser calculado jiela fómiula. 


£ k T 

d- = 

8 a N e - p 


(rórmula 13.) 


onde N = número de Avogadro 
e = carga do eléctron 
p = fôrça iônica 

Para o valor de (x) da fómiula de Debye e Hückel existe uma cxiiressão 
idêntica : 


8 a X e • p 

X- = (Fómiula 14.) 

E k T 

Entretanto, a fómiula 14. só pode ser aplicada no caso da dissociação total. 
Assim, para soluções aquosas de sais monovalentes, a O.® C. c com (e) igual á 
constante di-eléctrica da água 

1 3,06 

— = X 10-* cm onde c = concentração molar. 

X y/c 

Para particulas esféricas podemos calcular o raio (r) pela fórmula 

k T 

r = (Fómiula 15.) 

6xq D 

Um fator que ainda não foi considerado é a solvação das particulas pela 
aproximação e imobilização parcial de dipolos do solvente. Este fator vai influir 
sobre a medida da viscosidade (q) c diminui com a redução do potencial clectro- 



S2 


ESTUDOS ELECTROFORÊTICOS 


dnético (Ç), como por exemplo ao aproximar-se do ponto iso-eléctrico, ou com 
um aumento da força iônica (p) quando há substituição dos dipolos pelos ions 
de carga única. 

Pode-se deduzir que a mobilidade electroforética depende de inúmeros fa- 
tores e que as fórmulas citadas ser\-em apenas de base para a interpretação 
qualitativa das relações entre a constituição da superfície e o tamanho da partí- 
cula com o seu movimento num campo eléctrico. O único dado quantitativo 
tjue nós podemos obter com facilidades pelas observações electroforéticas é a 
mobilidade aparente ("a). 

“A = u — “R 

onde (“r) é o efeito ralentador da nuvem de 
ions e dipolos que circundam a particula. Este efeito deve desaparecer no ponto 
iso-eléctrico, e as determinações da mobilidade na região iso-eléctrica darão pro- 
vavelmente valores que se aproximam mais da fórmula calculada. Entretanto, 
a carga (q) é muito j)equena na região iso-eléctrica e o movimento é tão lento 
que as determinações podem ficar prejudicadas pelo tempo demorado de obser- 
vação. 


III) MÉTODO ELECTROFORÉTICO 
a) Descrição geral do aparelho 

O equipamento electroforético consiste essencialmente de uma célula transpa- 
rente, colocada entre dois pólos de um campo elétrico, e de um sistema óptico 
para a observação do movimento das substâncias na célula. Esta célula tem a 
forma de um tubo de “ü” e é de corte rectangular para permitir a observação 
e facilitar a eliminação do calor de Joule produzido pela passagem da corrente 
na solução. \’árias secções que deslizam sobre faces esmerilhadas subdividem a 
célula permitindo a separação e isolamento das várias partes. Estamos traba- 
lhando com 4 jogos de células: 

I — Célula micro de 2 ml, para uso analítico. 

II — Célula semimicro de 11 ml, para uso analítico e preparativo. 

III — Célula semimacro de 75 ml, para uso preparativo. 

IV — Célula macro de 150 ml, para uso preparativo. 


cm 


SciELO 


LO 11 12 13 14 15 16 




ricriA 1 

Cclttla mxro 



Ficuia 2 
Cclula fcniitnicro 





SciELOi'o 


2 


3 


5 


6 


11 


12 


13 


14 


15 


16 


L 


cm 




Mcm. Inst. Batanton, 
22:75-126, Xor.® 1950. 


G. IIOXTER & R. ML*NGIOLI 


85 


b) Instalações tnccâiticas 

O aparelho é montado sobre dois trillios dc aço de 16 aii, coni um compri- 
mento de 6 m e uma distância de 20 cm entre os trilhos. A fonte de luz é 
uma lâmpada de 100 watt, tijK) H 4, com um arco de mercúrio de 1.5 x 25 mm. 
A lente “Sehlieren" de 10 cm tem uma distância local de 90 cm e forma o 
lado e.xterno de uma das janelas do termo^tato. os outros lados sendo consti- 
tuidos i)or vidros planos que não devem apresentar defeitos ópticos. Estas 
janelas têm que ser duplas jwra evitar seu embaçamento pela deix>sição da 
"humidade atmosférica. Conserva-se o esjiaço entre as partes da janela isento 
de vajxjr de agua i>ela passagem de ar seco ou por meio <le vácuo. Para evitar 
o enbaçamento jxjr fora pode-.se usar um jacto de ar quente que impinge sõbre 
as faces externas das janelas. Frizamos a importância deste ponto, pois é impres- 
•cindivel para a obtenção dos perfis que as lentes e janelas estejam perfeitamente 
claras. transi)arentcs c limindas. 

.\ lâmina horizontal jxira obsenações jHrlo método de Longsworth consiste 
numa cha)>a de metal que se jxkIc mover verticalmente jwr meio de uma engre- 
nagem cônica e um eixo que jiassa em laixo da máquina fotográfica até outra 
engrenagem que liga com um motor ao lado esquerdo do vitlro fusco. O mesmo 
motor inflige um movimento horizontal ao plano do \-idro fosco c da chapa 
fotográfica, sincronizando assim os dois movimentos. A objetiva da máquina 
fotográfica é uma lente de 5 cm com uma distância focal dc 90 cm. Em frente 
-da objetiva hâ um fecho de sector, movido jwr um motor siiicroniz.ado, e um 
disco cf)m 6 alterturas diferentes que, segundo Longsworth, tem a vantagem de 
■eliminar to<los os raios luminosos que não fazem parte da faixa princijxil. Xo 
incto<lo de Phil[)Ot-Svcnsson usa-se seiiiprc a alwrtura circular. A lente cilin- 
drica cpie tem uma distância focal de 40 cm cncontra-.se dentro do tul)o óptico 
e costuma ser usada com a curvatura virada para o lado do vidro fosco* a 
^ua jKjsiçâü é ajustâvel na direção do ei.xo óptico da máquina fotográfica para 
permitir a focalização, e ela jXHle girar em redor dc um ei.xo vertical na sua 
extremidade esquerda, ligado a um ixirafuso externo, para ser retirado do cami- 
nho óptico nas obser^MÇÕes pelos métodos de Longsworth c de I.amm. .-X lâmina 


JSciELO 




86 


ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS 


inclinada, a fenda inclinada e o fio inclinado, para uso nas observações coni 
lente cilíndrica, são postas bem em frente ao fecho da objeti\-a. 




Ficcka 4 
Limina inclinada 


Ficuea 5 
Fenda inclinada 



FictuA 6 

Fio inclinado 


1 SciELO 







Ficc»* 8 

Vi»la gtral do apartiho do lado da ilumtnação 


Mcm. Inst. Bntantan, 
22;75-I’6, XoT.» 1950. 


G. HÜ.XTER & R. MUXGIOLI 


Ficun 7 

Vista crral do aturrlho do lado da fotografia. 


cm 





Mem. Inst. Butantan, 
72:75-126, Not.» 1950. 


G. nOXTEE 4 R. MUXGIOLI 


89 


c) Ligações eléctricas 

As instalações eléctricas consistem no transformador (TL) ijue alimenta a 
lâmpada (L) do mercúrio, na bomba de vácuo (BV) para as janelas do banho, 
•no termoregulador e relé (TG) para a máquina frigorífica (G), no agitador 

(AG) do banho, no motor da seringa sincronizada (SS), no motor do fecho 
<la objetiva (FO), no motor da lâmina e chapa móvel (LC), no relógio eléctrico 

(R) e no retificador da corrente (RC) que fornece a corrente continua para a 
célula através de uma série dt resistências e medidores que servem para regular 
■e medir a voltagem e a amperagem do campo eléctrico. Todas as chaves, inter- 
ruptores, reguladores e instrumentos estão reunidos num quadro de controle. 



Ficoa 10 

Eiqucma dAA lijatScs cl^trícoi 


d) Sistema óptico 
1 - Formação das imagens. 

Quando se trata de observar a migração de um colóide opaco ou colorido, 
o sistema óptico consiste apenas numa fonte de luz e num condensador que repro- 
duz a imagem da célula electroforética sem aberrações no plano do vidro fosco. 
O caminho percorrido pela imagem da dK-isa no vidro fosco num determinado 
tempo, diridido pelo fator do aumento do sistema óptico, representa a velocidade 
claquela divisa na célula electroforética. 


cm 


SciELO 


11 12 13 14 15 16 17 




90 


ESTCDOS ELECTROFORÉTICOS 


Quando se trata, entretanto, de soluções incolores como por exemplo de 
soluções de proteínas plasmáticas, a observação do movimento das divisas toma- 
sc mais complicada. Svedberg e Scott utilizaram a absorpção dos raios de ultra- 
violeta pelas soluções proteicas, trabalhando com células e lentes de quartzo ; este 
processo foi "mais tarde suplantado pelos métodos de Tiselius, Longsworth, 
Philpot, Svensson e Lamm que usaram as ondas do espectro visível, aproveitando 
a diferença de indice de refração que existe entre duas soluções proteicas dife- 
rentes. O método de Tiselius que utilizou dois princípios de Foucault e a sua 
aplicação no processo das “Sehlieren” de Toepler baseia-se na seguinte obser- 
vação : 

Imaginemos uma solução proteica em contacto coni uma solução diferente 
e que tenha um indice de refração menor. Raios paralelos vão atravessar as. 
duas soluções sem des^•ios, mas um raio que passa na divisa entre as duas. 
soluções vai sofrer um desvio para baixo, para o lado da solução opticainente 
mais densa. Si houver agora mn diafragma que deixe passar apenas a faixa 
central e elimine todos os raios desviados, a imagem da célula que contém. 
as duas soluções vai apresentar uma sombra no lugar da divisa onde falta o 
raio que sofreu o desvio. Este método permite assim a observação da divisa 
entre duas soluções de diferentes indices de refração pela sombra obtida na 
fotografia da célula através de um diafragma apropriado. O sistema óptico 
consiste assim numa fonte de luz visivel (L) que através do primeiro diafragma 
(S) ilumina a lente de “Sehlieren’' (LS). A luz atravessa depois a célula 
electroforética (CE) e focaliza-se no plano de um segundo diafragma (FL), 
èntrando na máquina fotográfica pela objetiva (O) e formando a imagem no- 
vidro fosco (VF). 



Quando a célula contém uma solução transparente e ópticamente homo- 
génea, toda luz que passa pela célula atravessa o segundo diafragma e forma 


cm 


SciELO 


LO 11 12 13 14 15 16 




Mem. Ifut. Bntantan, 
a:75-I26. Nmr.® 1950. 


G. IIOXTER & R. MUNGIOLI 


91 


uma imagem completamente iluminada da parte central da célula. Mas si a 
célula contiver dois liquidos de índices de refração diferentes que se tocam na 
linha indicada (f), a luz que entra na divisa (superfície de contacto) entre as 
duas soluções vai sofrer um desvio para o lado do meio opticamente mais 
denso. Como este se encontra geralmente em bai.xo, o desvio vai ser para bai.xo 
e os raios de luz qúe sofreram esta refração vão cair fora da segunda fenda. 
O lugar da di^dsa vai então ser marcado por uma faixa escura na imagem 
iluminada da célula sobre o vidro fosco. O desvio que a luz sofre depende da 
grossura da célula (a) e da variação do índice de refração (n) com a altura 
(h) da camada de liquido na célula. Medindo o desvio vertical (ô) no plano 
da segunda fenda, temos 

dn 

ô = a b (Fonnula 16.) 

dh 

onde (b) é a distância entre a célula e a segunda fenda. Esta expressão limita 
a aplicabilidade do método, e a precisão das observações está na dependência da 
grossura da célula, da distância da fenda (em função da distância focal da 
lente “Sehlieren”), e da diferença dos índices de refração das duas soluções. 

.‘\s condições são escolhidas de tal maneira que as duas soluções tem a 
mesma composição e concentração de sais e que a única diferença entre elas é 
que a solução de baixo contém a proteína ou mistura de proteínas que estão 
sendo investigadas, emquanto que a solução de cima não contém proteína. A 
diferença dos índices de refração corre assim unicamente por conta da proteinà 
e é diretamente proporcional â concentração proteica. Desta maneira, o desvio 
(5) pode servir de medida para a concentração proteica na divisa. Entretanto, 
a divisa não forma um único plano geométrico mas consiste numa região onde 
a composição varia gradativamente de uma solução para a outra. O índice de 
refração nesta região acompanha estas mudanças continuas conforme a altura 
na célula; a relação dn/dh vai assim variar de zero até um máximo voltando 
novamente ao zero, para cada divâsa. 

Como todos os raios que sofrem um desvio em virtude de refrações na 
zona de contacto entre duas soluções vão passar em baixo da faixa normal 
de luz que atravessa a segunda fenda sem desvio, podemos substituir esta fenda 
por uma lâmina afiada. Conforme a posição desta lâmina vamos eliminar uma 
parte dos raios desviados e obter como imagem uma faixa escura mais ou 
menos larga. Com a lâmina fóra do campo toda a luz cai sobre o vidro fosco 
dando uma imagem completa da célula sem sombras. Levantando a lâmina até 
cortar o raio de maior desvio, vamos obter na imagem uma linha preta no 


cm 


SciELO 


11 12 13 14 15 16 17 



92 


ESTUDOS ELECTROFORÊTICOS 


lugar da divisa entre as dua*s soluções. Esta linha preta vai se alargar com 
a aproximação da lâmina até a faixa normal da luz. A sombra que assim 
aparece na imagem recebeu o nome de faixa “Schlieren” — nome adaptado do 
trabalho original de Toepler e conser\auo em todas as linguas e indicando uma 
interrupção da continuidade óptica. A largura da faixa “Schlieren” está assim 
na dependência da posição da lâmina. Resumindo todas estas imagens succes- 
sivas vamos obter uma figura geométrica que no caso ideal representa a área 
da curva de Gauss. 



Por razões práticas costuma-se reproduzir estas imagens viradas por um 
ângulo de 90®, da maneira que a maior extensão lateral representa a altura 
da curva. 


FicetA 13 


cm 


SciELO 


LO 11 12 13 14 15 16 




Mem. Inst. BotanUn, 
22:75-126, Xor.^ 1950. 


G. UOXTER & R. MUXGIOLI 


93 


Esta altura depende da maior refração sofrida que por sua vez é uma 
funqão da concentração proteica. A maneira de tirar conclusões numéricas da 
forma desta curva, ou de qualquer outra representação dos desvios que a luz 
sofre na sua passagem através da célula, caracteriza os métodos mais usados 
na interpretação das obsei^ações electroíorétrcas. 

2 — Método “Schlicren scanning" de Longsworth. (Exploração da interrupção de 
continuidade óptica. 

Em combinação com o levantamento vertical da lâmina, Longsworth usa 
um movimento horizontal simultâneo da chapa fotográfica, colocada no lugar 
do vidro fosco, que vai somando as várias imagens successivas. A área assim 
obtida representa a soma de todos os desvios sofridos pela luz na região das 
duas soluções da célula. A relação entre o desvio e o índice de refração na 
divisa das duas soluções foi dada na fónnula 16. A área total é proporcional á 
soma de todos estes desvios: 



(Fórmula 17.) 


onde (g) é a constante de proporcionalidade. 


j = relação do movimento da chapa com 


1 

g = sendo 

j m 


o movimento da lâmina 
m = fator de aumento da máquina foto- 


gráfica 


A diferença de índice de refração ( n» — ni ) é proporcional á concen- 
tração (c) da substância (proteína) dissolvida na solução no fundo da célula. 
Si (K) = incremento específico de refração, a saber a diferença de índice de 
refração por unidade de substância dissolvida, nos temos 


c K = n» — ni 


Substituindo este valor na fórmula 17. vamos obter 



a b 


5 dh = 


c K 


g 



ô dh 


c 


' (Fórmula 18.) 



‘4 


ESTUDOS ELECTROFORtTICOS 


Quando temos uma mistura de proteínas, os vários componentes vão caminhar 
com velocidades diferentes, conforme as cargas eléctricas dos coloides no pH da 
experiência. Vamos tomar como exemplo o caso de 3 proteínas de pontos :so- 
eléctricos diferentes, mas todos abaixo do pH da experiência, de tal maneira 
que as proteínas tem cargas negativas e vão caminhar em direção ao anódio. 



Ficuka ]4 

Si as cargas destas proteínas estão na relação « > p > y vamos obter tres 
curvas, com tres picos que correspondem ás tres divisas entre as soluções 
(a -}- P + y)] contra (“ + ?)> (“ + P) contra (a), e («) contra o tampão. 
Xo lado catódico do tubo, onde as proteínas vão fugir do catódio, existem as 
mesmas condições e as mesmas imagens. Para diferenciar as imagens, chamamos 
o lado anódico onde as proteínas caminham para cima, de lado ascendente (lado A), 
e o outro lado, de lado descendente (lado D). As duas imagens, entretanto, 
não são estritamente idênticas, pois si no lado ascendente as proteinas estão 
entrando no tampão, no lado descendente as proteinas vão caminhar para dentro 
da solução proteica que tem uma viscosidade e concentração iônica maior que o 
tampão, em virtude da contribuição dos ions proteicos. Xa preparação da so- 
lução proteica para a electroforese, a proteína é colocada em diálise contra a 
solução tampão até estaljelecimento de equilíbrio iônico entre as duas soluções. 
As concentrações electroliticas das duas soluções, entretanto, nunca são idênticas 
cm virtude do equilíbrio de Donnan. Com estas diferenças de concentração apa- 
recem outras divisas que não são provocadas por proteinas, e que devem ser 
eliminadas ou afastadas das divisas proteicas pela correção das concentrações 
electroliticas ou pela escolha de condições nas quais a diferença da velocidade 
de migração das divisas é bastante grande para permitir a separação entre as 
divisas proteicas e as outras. 


cm 


SciELO 


LO 11 12 13 14 15 16 




Mem. Inst. BoUnUn, 
S:"5-126, Xot.» 1930. 


G. HOXTER Sc R. MUXGIOLI 


95 


O afastamento lateral, na direção da migração, de cada pico de curva, da 
posição original da divisa inicial entre as duas soluções indica a mobilidade, e 
a área em baLxo da cur\-a mede a concentração daquela proteina que provocou 
a formação da respectiva divisa. 

O método de Longsworth é simples e rápido e pode ser aplicado para medir 
pequenas diferenças de concentração, pois a altura dos picos da curva pode 
\-ariar conforme a velocidade relativa entre a lâmina e a chapa. 

■3 — ifétodo da escala de Lamm- 

Neste método não há fenda, nem lâmina, mas unicamente uma escala trans- 
parente que se coloca perto da célula no caminho dos raios que vêm da fonte 
de luz. A escala é fotografada através da célula, c as suas divisões vão sofrer 
desvios em virtude das diferentes refrações na célula. Comparando as divisões 
desviadas, como aparecem na fotografia, com as posições originais, regularmente 
espaçadas, da escala, temos uma medida da re fração em cada ponto da célula. 
Um gráfico destes desvios contra a altura da célula forma uma cur\a que repre- 
senta a posição das divisas e as concentrações das substâncias que provocaram 
estas diferenças. 

O método de Lamm fornece resultados quantitativos muito e.xatos e serve 
para observar divisas bem fracas onde as diferenças de concentração são peque- 
nas, mas o trabalho de avaliar as curvas ponto por ponto, a partir dos desvios 
sofridos pelas divisões da escala, é extremamenfe penoso e exige muito tempo. 
O maior inconveniente deste método, e também do de Longsworth, é o fato que 
a migração e a formação das divisas não podem ser observadas diretamente e que 
é preciso justapor -várias fotografias, tiradas de tempo em tempo, para jtoder 
apreciar o progresso da separação das fracções. Esta dificuldade foi comple- 
tamente eliminada pelo método de Philpot-Svensson. 

4 — Método de Philpot-Svensson- 

O processo da formação das imagens neste método é puramente óptico, 
permitindo a obserração direta e continua do perfil electroforético sem a neces- 
sidade de movimentar lâminas ou chapas fotográficas. Ele se baseia numa com- 
binação das “Schlieren" de Toepler com um processo de Thouvert que Philpot 
tinha usado para observação das divisas que se formam na ultracentrifuga. 
Svensson adaptou o método de Philpot ás observações electroforéticas com a 
seguinte modificação: A imagem de Philpot representa uma área preta num 
fundo branco, emquanto Svensson obtem uma linha branca num fundo preto. 
Há ainda outra modificação que fornece uma linha preta num fundo branco. 
As respectivas vantagens destas modificações vão ser apontadas mais tarde. O 



2 3 4 


5 6 7 




11 12 13 14 15 16 




96 


ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS 


princípio geral do método é o seguinte: A faixa de luz depois de atravessar 
a célula, passa por uma fenda inclinada, colocada no lugar da lâmina horizontal 
de Longsworth, continuando p)ela objetiva da máquina fotográfica e por uma 
lente cilíndrica de eixo vertical que se encontra entre a objetiva e o vidro fosco. 



ô = a b 


dn 


dh 


e a área incluída entre a base e a curva de Gauss que representa as variações 
da concentração na divisa é 

^ a b 

/ ô dh = (na — ni ) 


Ficcha 15 

Os raios que vão atravessar a célula nos lugares onde não existem dhnsas, 
não sofrem desvios e vão formar uma linha vertical no vidro fosco. Porém 
os raios que são desviados pela refração nas divisas vão atravessar a fenda 
inclinada num ponto mais baixo e lateralmente deslocado, passando pela lente 
cilíndrica num ponto mais afastado do eixo e sofrendo porisso uma inflexão maior» 
caindo á direita da linha dos raios normais da imagem no vidro fosco. Quanto 
maior a refração na célula, tanto mais a imagem do raio desviado se afastará 
da linha da base dos raios normais não desviados. A imagem representa assim 
uma linha base e uma curva que corresponde á curva obtida pelos outros pro- 
cessos. Os cálculos são os mesmos como antes. O desvio de cada ponto é 


cm 


SciELO 


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22;/-5-126, XoT.® 1950. 


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A concentração de proteína que provocou esta diferença dos índices de 
refração é 



A constante de proporcionalidade (g) que no método de Longsworth de- 
pende das velocidades da lâmina e da chapa fotográfica, torna-se aqui uma 
função do ângulo (s) da fenda inclinada e do fator do aumento da máquina 
fotográfica que inclui agora a lente cilindrica. 


1 


g = 


m tg í 



(Fórmula 19.) 


m a b K tg ® 


Em geral, não há necessidade de determinar as constantes (m,a,b,) do 
aparelho porque as concentrações relativas dos componentes electroforcticos inte- 
ressam mais que as quantidades absolutas; estas podem então ser calculadas 
facilmente a partir da concentração proteica total que se determina por dosagens 
químicas, de preferência pelo Micro-Kjeldahl. O incremento especifico (K) é 
praticamente igual para todas as fracções proteicas do plasma, com exceção das 
lipo-proteinas. O valor médio de (K) para plasma humano é de 0,00185 por 
grama de proteina em cada 100 ml de solução para a linha D do espectro visível. 

A fenda inclinada tem uma forma especial, inventada por Svensson para 
formar linhas finas e nítidas. A al)ertura da fenda é variável entre 0 — 5 mm, 
como também o ângulo (0) da fenda com a vertical. 



FicrtA 16 




98 


ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS 


Colocando uma lâmina inclinada no lugar da fenda inclinada de tal maneira 
que os raios desviados para baixo são interceptados por esta lâmina, nós vamos 
obter como imagem uma área escura cujos contornos correspondem á linha branca 
obtida pela fenda. Colocando um fio inclinado no lugar da lâmina, a imagem 
vai ser uma linha preta num fundo claro. Estas variações encontram aplicações 
em alguns casos, mas o resultado é independente do método de obtenção do 
perfil electroforético. O mais recomendado é o método da fenda inclinada se- 
gimdo Svensson que permite obter fotografias nítidas. Não há necessidade de 
usar chapas ou filmes, uma tira de papel fotográfico comum (Kodabromide) 
é suficiente, pois bastam alguns segundos de exposição durante os quais não 
há movimento perceptível do perfil electroforético. 



Láteína inclinada 


Feixia Inclinada 



Figura 17 


2 3 4 5 6 


cm 


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5 — Ajustamento do sistema óptica 


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O sistema óptico deve ser construido do melhor material, com lentes bem 
corrigidas e com um mínimo de aberrações. O ajustamento do conjunto é 
muito importante e deve ser feito com todo o cuidado possível, obedecendo as 
seguintes recomendações gerais: 

1) Retirar a célula do banho. Ajustar a posição da fonte de luz e da 
primeira fenda até formar uma imagem nítida de 25 mm de largura, 
no mínimo, no plano da segunda fenda. 

2) Recolocar a célula, retirar a lente cifindrica e a fenda inclinada. .Ajustar 
a posição da objetiva da máquina fotográfica até formar uma imagem 
nítida da parte central da célula no vidro fosco. Recolocar a lente 
cilíndrica. 

3) Colocar uma lâmina ou fenda horizontal no plano da fenda inclinada e 
ajustar a posição da lente cilíndrica até obter uma imagem nítida no 
vidro fosco. 

4) Substituir a lâmina horizontal pela fenda inclinada e observar que a 
imagem forme uma linha vertical nitida. 

5) Verificar a ausência de aberrações das lentes pelo seguinte processo: 

Aberrações horizontais 

Com a segimda fenda em posição horizontal e sem a lente cilíndrica, observar 
a imagem no vidro fosco de uma escala transparente de precisão que se coloca 
horizontalmente no lugar da célula no l)anho. As divergências das divisões da 
escala não devem exceder de 0,04 % em 30 mm. 

Aberrações verticais 

Com a segunda fenda em posição horizontal e bem aberta, c com a lente 
cilíndrica no lugar certo, obs^í-var a imagem no vidro fosco de uma escala 
transparente de precisão colocada , «rticalmcnte junto da segunda fenda, com as 
divisões paralelas ao eixo da lente cilíndrica. As divergências das divisões da 
escala não devem e.xceder de 0,05 % em 25 mm. 

6 — Diferença entre lâmina e fenda. 

As imagens formadas pela fenda consistem de uma linha mais ou menos 
fina cuja grossura depende da abertura da fenda. O centro desta linha é sempre 
fixo e não depende do tempo de exf>osição. A lâmina dã como imagem uma 
área bem nitida, pois não há difraçâo na região da sombra, mas a posição 
dos contornos desla área varia com o tempo de e.xposição. Porisso é preferível. 


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ESTUDOS ELECTROFORÊTICOS 


ein geral, trabalhar com a imagem linear e reservar a aplicação da lâmina para 
os casos onde a análise de dois picos muito próximos exige maior nitidez do 
perfil electroforético. 

IV) TÉCXICA DO EXPERIMEXTO ELECTROFORÉTICO 
a) Preparo do material 

Para obter uma velocidade electrolorética constante é preciso evitar variações 
dos fatores que influenciam o movimento da proteina: a força do campo 
eléctrico, a viscosidade do meio, e a carga da proteina. Usamos nesta publicação 
a proteina como exemplo tipico de material que se presta para investigações 
electroforéticas, mas as mesmas indicações são válidas para trabalhos com outros 
coloides ou substâncias ionizáveis em geral. A carga da proteina depende do pH 
e para assegurar a constância do meio, a solução proteica é dialisada contra uma 
solução tamjão até estaljelecimento do equilíbrio iõnico. A mesma solução tampão 
é depois superposta na célula. O efeito de Donnan vai impedir um equilíbrio 
perfeito, mas este defeito pode ser corrigido parcialmente pela diluição da 
proteina dialisada com água distilada á razão de 0,05 ml de H^O para cada ml 
de solução, ou pelo uso de um tampão 1,08 vezes mais concentrado para o 
liquido de superposição. O pH da experiência é escolhido de tal maneira que 
todas as frações da mistura proteica caminham na mesma direção, mas com 
velocidades diferentes. Para substâncias labeis, usa-se o pH de maior estabili- 
dade. Pode mesmo haver casos onde se recomendam duas ou mais determinações 
electroforéticas em valores diferentes dc pH. A temperatura da experiência é 
geralmente entre 2 — 5.® C c tem que ser consen-ada constante durante toda 
a electroforese, com variações máximas de 1/10 de °C. Escolha-se de preferência 
aquela temperatura onde as variações de densidade das soluções são mínimas, 
para evitar correntes de convecção c mudanças de viscosidade. 

A escolha do tampão é muito importante pois a nitidez das curvas depende 
das condições nas divisas, onde as rariações de condutibilidade devem ser 
insignificantes comp>aradas á condutibilidade total. Isto significa que a concen- 
tração proteica deve ser bai.xa em relação á concentração iònica do tampão para 
que não haja grande diferença entre as condutibilidades da solução proteica e 
da solução tampão. Também, as mobilidades das proteínas e dos ions do tampão 
não devem ser muito diferentes. Os melhores resultados são obtidos com 
tampões cujo anion tem peso molecular elevado, para as e.xperiências na região 
alcalina das proteínas. Para as análises electroforéticas de plasmas e soros usa- 
mos um tampão de veronal sódico (di-etil-barbiturato de sódio) decinonnal com 
0,71 % de oxalato de sódio e ácido di-etil-Taarbitúrico 0,02 normal, dando um 


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pH de 8,6 e uma força iônica de 0,1. Xão se recomenda uma força iônica 
maior de 0.2 jiara evitar uma potência elevada na célula que nunca deve 
suportar mais de 5 watt. .\ concentração proteica que pelas razões acima indi- 
cadas deve ser a mais liai.xa possível, fica na dependência do sistema óptico. 
Para análises de plasma ou soro jielo método de Philpot-Svensson u.samos uina 
concentração em redor de 1,5^ de protejna. diluindo a solução dialisada com 
solução tampão até obter uma diferença de indice de refração entre jiroteina e 
tamiião de 0,0030 que indica 1 — 2 ^/c de proteína total na solução. Tendo 
o cuidado de eliminar ou afastar as fal-s-as divi.sas que nao são provocadas por 
proteínas, pode-se de.scobrir 0,05 mg de proteína {lor ml de solução. 

h) Diálisc 

A solução proteica que se tleseja submeter á clectroforc.se é colocada ntnri 
satiuinho de papel celofane e diali.sada contra um volume 50 vezes maior de 
solução tamiião que se troca por nova solução 6 — 8 vezes durante o temjxj 
de diálise. Xa temiieratura de 2 — 4”C c sem agitação, a diáli.se leva 3 — 4 
dias. mas por meio de um agitador colocado dentro da proteina, este tempo 
potle ser encurtado jiara algumas horas apenas, esitccialmcntc quando a diálise 
se processa em tenuícratura ambiente. Xo caso de plasma, a solução tam])ão 
deve conter um anticoagulante jxtra evitar a desnaturação do fibrinogénio. O 
progresso da diálisc pode .ser acomiKinhado por medidas conductométricas até 
que a condutibilidade da solução proteica atinge um valor estável. .\ solução 
dialisada é então diluída com mais solução tamiião até o teor proteico desejado 
e centrifugada i>ara ficar límpida. 

c) Preparo da célula 

Damos em seguida a descrição detalhada do jtrocesso de enchimento da célula 
micro, que potle servir de base para tralalhos com as células maiores. É de 
suma importância que as indicações sejam seguidas com todo o rigor possível, 
pois o mínimo lapso pode inutilizar todo o material. A célula micro consiste 
nas seguintes partes: O fundo do tubo de “U", o centro do tulto de “U”, a 
parte superior do tulto de “U , o vaso anódico, e o vaso catódico, com os 
respectivos electródios. O seguinte esquema indica os passos a seguir : 

a) Passar vaselina ou outra graxa semi-sólida nas faces esmerilhadas do 
tubo de “U” até que cada face deslise com facilidade sobre a face ojwsta. 
Retirar o excesso de graxa, evitando a todo custo que se suje o canal interno 
do tubo de “U”. 




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3 


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c) Deslisar o centro sobre o fundo para a esquerda até fechar os canais 
da parte do fundo. 

d) Retirar por meio de uma seringa com agulha comprida a solução pro- 
teica do canal esquerdo da parte central e lavar este canal 3 — 4 vezes com 
solução tampão até eliminar toda proteína, verificando o desaparecimento da 
espuma. 



Fiovea 21 
Retirando proteina 


Fiorn 22 

Lavando com lampJo 


e) Colocar a parte superior do tulx) de “U” em cima da parte central 
desviada, de tal maneira que os canais coincidem. Encher o canal esquerdo com 
solução tampão c o canal direito com a solução proteica até alguns milimctros 
acima das faces esmerilhadas, tendo o cuidado de eliminar todas as bolhas dc ar. 



Ficcka 23 

Colocando parte saperior 


Ficuea 24 

Enchendo com tampão 



2 3 4 


5 6 7 




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h) Fimiar a parte superior liem no centro com os parafusos e as molas e 
colocar os vasos electródicos, ligando seus tubos laterais á cabeça do tubo de “U” 
por meio de tubos de borracha flexível. 

i) Encher o ajiarelho com solução tampão até que esta transborde pela 
parte superior do tubo de "U”. Lembramos que tanto a solução proteica como 
a solução tamjião devem estar numa temperatura de 2 — 5°C no momento do 
seu uso. 



FicctA 28 

EnchiTtdo coai Umpõo 


j) Inserir os electródios que consistem de folha de prata corrugada c soldada 
a um tubo de prata. Antes da exjieriéncia. os electródios são ativados por 
electrólise anndica durante alguns minutos, em solução de cloreto de potássio 
normal, usando um cátodo de carvão. Depois dc cada experiência invertem-se 


* 


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l) Com um mínimo de agitação colocar o aparelho no banho, previamente 
esfriado até a temperatura da electroforese. Reajustar o nível da solução tampão 
nos dois lados do tubo de “ü”. 

m) Ligar os electródios na fonte de corrente contínua, com o cátodo ou 
pólo negativo do lado direito (lado da proteina). Esperar 10 — 15 minutos 
para que o aparelho atinja a temjMíraturri do banho. Acender a lâmpada de 
mercúrio e focalizar a parte central da célula, sem fendas e sem a lente cilíndrica. 

n) Deslizar por meio dos pistões, com movimento lento e regular, a parte 
central do tubo de “U” para o centro até e.stahelecer contacto com os canais 
do fundo e da jiarte superior. É e.xtremamente imiumante tiue esta manobra seja 
executada com um máximo de cuidado para evitar a mistura entre as soluções e 
o consequente desaparecimento das divisas. 

o) Levantar um pouco a lâmina horizontal móvel. Retirar com cuidado 
pelo canal esquerdo da cal)eça uma pequena quantidade de tampão ])or meio da 
seringa automática sincronizada, regulando o seu movimento jjelo interruptor no 
quadro de controle geral até que as divisas que e.stavam escoiulidas atrás das 
faces esmerilhadas aparecem no vidro fosco. Como as imagens estão invertidas, 
a divisa ascendente (lado anódico) vai aparecer cm cima. c a divisa descendente 
(lado catódico) em baixo. 



Ficitia 31 
Retirando o tamplo 


p) Escolher o lado que se deseja observar e cobrir a imagem do outro 
lado por meio de uma máscara apropriada, colocada entre a fonte de luz e 
a lente “Sehlieren”. Abai.xar novamente a lâmina móvel, colocar a fenda incli- 
nada e a lente cilíndrica, e verificar que as janelas do banho não estejam emba- 


SciELO 






]Qg ESTfDOS ELECTROFORÉTICOS 

qadas. Ajustar a posição da lâmpada, sem modificar a sua distância, até que 
a imagem no vidro fosco se mostre uniformemente iluminada. 


Ficv»a 34 
Colocando o cbassis 


Ficviia 33 

Observando p/vidro fosco 


r) Ligar a corrente nos electródios e pôr o relógio em funcionamento. 

s) Tirar fotografias do perfil electroforético que se desenvolve e registrar 
todos os dados importantes num protocolo, (^’eja modelo.) 


SciELO 


Ficva.! 32 
Máscara da lente 

q) Observar e fotografar a curva inicial da divisa entre tampão e solução 
proteica. 




ScíELOIq 


2 


3 


5 


6 


11 


12 


13 


14 


15 


16 


L 


cm 




110 


ESTLDOS ELECTROFORtTlCOS 



Após 10 minutos 


Após 20 minutos 


Após 30 minutos 



Após 40 minutos 


Após 50 minutos 


Ap<.>s 60 minutos 



Após “0 minutos 


Após $0 minutos 


Após 90 minutos 











* 


Mcm. Inst. BuUuitan. 
22 : 75 - 126 , Xot.» 1950 . 


G. UOXTER & R. MUXGIOU 


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PROTOCÓLO DE ELECTROFORESE 


Número. 
Nome. . . 


Material 

Caso clinico. 


Diálise 


Data do inicio Data do fim 

Condições Temperatura 

pH Tampão Força iónica... 

Volume posto V'olumc retirado 

Volume f.nal após diluição com tampão 

Índice de refração do tampão da solução. 

Condutibilidade do tampão da solução. 


Electroforese 


Inicio horas Fim horas- 

Distância da divisa inicial: Lado .\ Lado D 

Temperatura do banho Voltagem Amperagem. 


Fotografia 


1) Minutos .Sistema .\nguIo Chassis. 

2 ) ” " - - . 

d) " “ •• - 


Dist. 


I-ado .\ D 
^ A D 
A D 


Medições adicionais 


Célula usada - 

Voltagem na célula. 
Observações 


.\rea transversal. 
Fator de aumento... 


Distância 


Mobilidade 


Cálculos 

Fracção .-^rea 

Responsável. . 


Concentração relativa 


P 


cm 


SciELO 


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112 


ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS 


V) AXALISE DAS OBSERVAÇÕES ELECTROFORÉTICAS 
a) Análise dos traçados 

A análise dos traçados oii perfis electroforéticos fornece dados que permi- 
tem calcular a quantidade relativa de cada componente da mistura proteica e á 
sua mobilidade no campo eléctrico. Quando as condições da electroforese são^ 
escolhidas com cuidado, a imagem do lado ascendente deve dar os mesmos 
valores que aquela do lado descendente. Xeste caso, recomenda-se analisar 
apenas o perfil da lado descendente. Onde não foi possivel eliminar diferenças 
maiores entre as duas imagens, recomendamos usar o lado ascendente para cal- 
cular as áreas, e o lado descendente para a determinação das mobilidades. As 
di.-screpâncias entre os dois lados servem para controlar as condições da e.\pe- 
riência. As electroforeses que dão menor erro e que são mais reproduzíveis 
são aquelas onde as .divergências entre o lado ascendente e o lado descendente 
foram eliminadas pelo acerto das concentrações relativas das soluções. 

Para o mesmo perfil, as constantes (m), (a), (b), e (9) são iguais, e (K) 
é praticamente a mesma para todas as frações do plasma; no caso de misturas 
desconhecidas, entretanto, é preciso determinar o incremento específico da refra- 
ção por análises químicas e refratométricas de cada fração. Para este fim 
retira-se uma parte da fração por meio da seringa sincronizada, submetendo o- 
êmbolo da seringa a um movimento lento e uniforme pelo motor. 



FictitA 37 
Serioga sincronizada 


o liquido da seringa é então analisado por processos químicos para deduzir 
a concentração da substância (c). Determina-se em seguida a diferença da 


1 SciELO 





Mem. Iiut. Butar.Un. 
22:r5-12í, Xor.» 1950. 


C. IIOXTER & R. MUXGIOLI 


113 


refração antes e depois de uma diluição com volume igual de solução tampão. 
Si esta diferença fòr A n, teremos ^ 


(Fórmula 20.) 

No ca.so de plasma e de outros liquidos de refração conhecida é suficiente 
proceder á análise geométrica do traçado para determinar as concentrações rela- 
tivas dos componentes. 

b) Análise geome trica 

Esta é a parte mais trabalhosa e inais arbitrária da electroforese. Embora 
cada divisa forme um pico bem definido no perfil electroforctico, a avaliação 
da área em bai.xo deste pico encontia dificuldades quando se trata de subdividir 
a área total do perfil, que corresponde a várias divisas parcialmente super- 
postas, e designar aquela parte que pertence a cada divisa individual. Devemos 
lembrar que os contornos desta área individual têm uma fomia correspondente 
á curva de Gauss que tem dois parâmetros variáveis: a altura máxima e a 
largura da base. Teoricamente não há razão para que a curva seja simétrica 
em tomo da altura máxima, mas na prática encontramos quase sempre curvas 
simétricas. Passamos a indicar os vários métodos que têm sido usados para 
analisar os perfis. 

c) M elodo de Tiscliiis e Kabat 

Estes autores subdividem a área total por ordenadas que passam pelos 
pontos de inflecção da ciirva entre os picos. A área assim separada em baLxo 
de cada pico é determinada por planimetria. 

Medindo a área total pode-se calcular a porcentagem da cada fracção sobre 
o total, presumindo que o índice de refração é igual para todas as fracções. 


cm 


SciELO 


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114 


ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS 



d) Método dc Pcdcrscn 

A área total é a soma das áreas individuais formadas pelas divisas. Cada 
divisa individual contribui com o seu perfil electroforético, formado por uma 
área cujos contornos correspondem á uma curva de Gauss. Pedersen subdivide 
assim a área total por várias curvas de Gauss simétricas onde as ordenadas 
máximas coincidem com os picos. A área em bai.xo de cada cui^a é determinada 
j)or planimetria como antes. 

e) Método dc Labhart 

A dificuldade do método de Pedersen reside na incerteza de desenhar uma 
curva de Gauss quando não se conhecem os parâmetros. Labhart inventou uni 


cm 


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instrumento que utiliza a superposição óptica de cunas nonnais de Gauss. Uni 
diapositivo com curvas normais de várias alturas projeta a imagem destas curvas 
em cima de uma cópia ampliada do perfil electroforético. Por inclinação do 
diapositivo ao redor de um eixo que coincide com o bisector venical das cur\as 
pode-se variar a área e a base das cur\-as até encontrar aquela que melhor se 
adapta aos contornos do perfil. A altura da curva normal usada e o ângulo de 
inclinação do diapositivo permitem calcular a área, evitando assim o uso do 
planimetro. 


f) Método dc Ií'icdeiiiaiiii 

O método de Labhart é trabalhoso e exige um aparelho complicado com 
lentes sem aberrações, além de se basear na simetria das curvas. Lembrando 
que se deve esperar pequenas assimetrias nas cim-as de difusão de substâncias 
que não oliedecem os critérios de pureza indicados jxir Lamm, ^^’iedcmann usa 
um método engenhoso para avaliar as áreas num aparelho projetor que permite 
variar a ampliação da imagem sem diminuir a nitidez. Um diapositivo contém 
16 curvas normais de Gauss, agrupadas em 4 gnipos dc alturas diferentes e 
bissectadas verticalmente para permitir a projeção dc metades de curvas normais 
sobre uma cópia ampliada do perfil electroforético. Pela variação do grau de 
aumento, tanto horizontal como vertical, da imagem fornecida pelo diapositivo 
pode-.se adaptar a curva aos contornos do perfil. A área total que é a soma 
* das duas metades em bai.xo de cada pico é dada pela fórmula. 


F F 

F = ( - -f - ) 5= 
Sc • -d 


(Fónmila 21.) 
F 

onde — indica a área 
*e 


F 

da metade esquerda e — aquela da metade direita da curva, sendo (s) uma 
íd 

distância marcada no diapositivo e cuja medida permite calcular o aumento da 
imagem. Os s^alores dc (F) são tirados de uma tabela ou de um gráfico. 
Este método é o mais preciso entre todos e permite descobrir divisas {>equenas 
que não aparecem no perfil á primeira vista quando o pico de sua fracção não 
se eleva acima dos contornos da cur\a. (Veja por exemplo a curva da 
fração o, na Figura 39.). A análise do perfil nas partes onde há super- 






SciELO 


11 12 13 14 15 16 17 





]16 


ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS 


posição de duas ou mais cunas é um processo demorado que exige a extrapo- 
lação das curvas e a correção repetida de suas ordenadas cuja soma tem que 
dar a ordenada do perfil total em todos os pontos. 



Ficcka 3» 

Método de Wiedctrunn 

g) Nosso método 

Para evitar a possibilidade de erros ópticos na análise pelo método de 
Wiedemann que exige um aparelho projetor com lentes perfeitas, um diaposi- 
tivo com cuiras normais e uma tabela das áreas destas curvas, imaginamos um 
método puramente geométrico para analisar uma cópia ampliada do perfil electro- 
forético. O nosso processo se baseia na medida de dois parâmetros da curva 
de Gauss. Examinando a formação das cur\’as no perfil lembramos que elas 
representam as mudanças do indice de refração nas divisas. Uma divisa é 
uma discontinuidade onde duas fases de diferentes composições se tocam. To- 
mando como exemplo a divisa entre a fracção da albumina e a solução tampão 
onde a tensão inter-superficial é pequena demais para evitar a difusão das duas 


cm 


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Mcm. Inst. Bntantan, 
22:75-126, Xor.® 1950. 


G. IIOXTER & R. MUXGIOLI 


117 


soluções em ambas as direções, 'podemos ver que as partículas de uma solução 
não vão formar uma frente única, mas vão se distribuir dentro da outra solução, 
conforme os caminhos traçados por cada partícula individual. Quanto mais 
longe da di%-isa que representa o grosso das partículas, menos ponículas da 
mesma fase vão ser encontradas e menor será a discontinuidade, menor a variação 
da composição c a diferença entre os índices de‘refração. Esta distribuição em 
tomo da divisa obedece á probabilidade estatística de encontrar uma partícula 
da primeira fase num detemiinado ponto dentro da segunda fase. Traçando 
um gráfico desta probabilidade, \'amos obter uma figura como a seguinte: 



Ficcia 40 


onde a abcissa representa a distância a partir da divisa, e a ordenada o número 
de partículas (de albumina), em fracção porcentual da concentração na divisa, 
encontradas naquela distância. O mesmo se aplica âs particulas da fase 2 que 
avançaram para dentro da fase 1. Si a probabilidade de encontrar uma partí- 
cula num deteraúnado ponto fôr (p) e a probabilidade de encontrar nenhuma 
partícula da mesma fase fôr (q), a fórmula para o desvio padrão o da distri- 
buição é 

o = v^I p q 

onde (M) é o número total de particulas de uma fase dentro da outra. (M) é 
proporcional â diferença de composição entre as duas fases e indica assim a 
quantidade da albumina na fase 1, pois a presença da albumina é o único fator 
que diferencia a fase 2 da fase 1. (M) é também proporcional â área em 
bai.xo da curva total. A fórmula para a cuna de distribuição segundo Gauss é 




ff 


■SciELO 


0 11 12 13 14 15 16 


1 



118 


ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS 


— X- 


M 


ff 1 2 TT 


o (y 2 


onde o coeficiente ( 


) é 


o V 2 .T 


igual a ordenada máxima que é a altura (>•„) da curva. 



Neste caso, (M) é a área em baixo da curva. 

M 


dando 


' _ o V 2 .1 

M = y- o V 2 .-r = 2,506 o y- 


( Fórmula 22 .) 

Conhecendo então os dois parâmetros o e yn,. podemos calcular a área pela 
fórmula indicada. A altura máxima (ym) de cada pico pode-se medir com 
precisão, mas para achar o parâmetro a temos que fazer uma aproximação 
baseada nos seguintes fatos': Consultando uma tabela das abcissas e ordenadas' 
da curva nonnal, verificamos que a abcissa é igual a o para um ponto cuja 
0,2420 

ordenada é q 3939 ordenada má.xima. Esta fracção corresponde aproxi- 
madamente a 60 % da altura (y„) da curva (valor exato: 60,66%). Basta 
assim medir a abcissa de um ponto da curva situada 2/5 aljaixo do pico. 
Este ponto corresponde também ao ponto de inflecção da curva normal, onde 
a tangente atinge um ângulo máximo com a base. Podemos calailar a orde- 
nada (yi) do ponto de inflecção pela fórmula 

(Fórmula 23.). 
ym 

yi = — = = 0,606 Vn, 

Ve 


cm 


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Í2:75-126. Xot.® 1950. 


C. IIOXTER ít R. MUXGIOLI 


119 


Uma vez detenninado o valor de o e calculada a área pela fórmula 22. 
podemos traçar a cun-a inteira por meio da seguinte relação entre as alKissas 
e ordenadas de alguns pontos da curva nonnal. 


ABCISS.\ 

ORDEXADA 

0 

y« 

0,5 a 

0,8S5 y> 

1.0 <j 

0,606 y- 

1,5 a 

0.325 

2.0 a 

0.135 y. 

3.3 o 

0,004 y. 


O último valor da ordenada na taliela acima c praticamente zero e podemos 
concluir que para fins práticos a base da curva tem um comprimento de 
3,3 o 4* 3,3 o = 6,6 o. Quando os picos estão bem separados de tal ma- 
neira que a área entre eles toca a linha da base, não ha nenlnima dificuldade 
na análise geométrica; mas cm geral as condições e.xperimcntais não iiermitcm 
chegar até a separação total das divisas. Xestes casos podem surgir várias com- 
plicações : 

a) Duas divisas parcialmentc sujierpostas 

1 — sem modificação da altura dos picos 

2 — com modificação da altura de um pico 

3 — com modificação da altura de dois picos 

b) Tres divisas parcialmente superpostas. 

Verificamos que ha sempre nos lados extremos de cada perfil uma jiarte 
da cuna que provém de uma única divisa. Aproveitamos assim dois pontos 
naquela parte da curva para calcular o resto e detenninar o valor do j>arámetro o 
pela fórmula 

2 2 

X — X 

J 1 

o* = 

2 In yi/ys 

onde Xi é a abeissa do ponto Pi e xs do ponto Pj. 

Vi e yo são as ordenadas correspondentes. Transfonnando em logaritmos comuns, 
vamos obter 

2 2 

X — X 
2 1 


•og yi/V; 


(Fórmula 24.) 





íelo 


0 11 12 13 14 15 16 


o’ = 0,217 



120 


ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS 


A análise geométrica do perfil compreende, em resumo, os seguintes passos: 

1. ®) Aumentar o perfil fotográfico por projeção ou com pantógrafo para 

obtei uma cópia ampliada. 

2. ®) Marcar a linha da base e os contornos do perfil, usando a margem 

inferior no caso de linhas grossas. 

3. ®) Indicar o ponto de origem, i.e. a posição inicial da divisa antes da 

passagem da corrente. 

4. ®) Traçar linhas perpendiculares á linha da base através dos picos do 

perfil, indicando assim a posição das divisas que são discerníveis á 
primeira inspecção. 

5. ®) Escolher dois pontos na parte mais avançada do perfil, determinar 

suas ordenadas e abcissas a partir da última ordenada máxima e 
calcular o pela fórmula 24. 

6. ®) Marcar a base da cur\'a, (= 6,6 o) e observar si ela corresponde ao 

{xjnto mais avançado do perfil. Si isso não fôr o caso, um dos pontos 
escolhidos não faz parte da mesma curva e o contorno total não corres- 
ponde a uma única divisa njas a duas ou mais que estão parcialmente 
superpostas. Xeste caso pode-se usar a medida da metade da base 
real. do ponto mais avançado até o pé da primeira ordenada máxima, 
para calcular o e traçar então os contornos da primeira divisa pela 
tabela acima, deduzindo o valor de (Vn,) do ponto de inflecção. 

7. ®) Traçar provisoriamente a outra metade da curva, tomando-a como 

simétrica em redor da ordenada máxima. verificação posterior da 
soma das alturas em vários pontos permite descobrir si alguma das 
curvas não foi simétrica e corrigir o desvio. 

S.®j Observar em que ponto a primeira curva se afasta do perfil e deter- 
minar a alxrissa deste ponto a partir da segunda ordenada máxima. 
Esta distância é a base da metade mais avançada da segunda curva. 

9. °) Continuar desta maneira até analisar totlo o perfil, conferindo sempre 

a soma das alturas e marcar a diferença, onde houver, como nova 
ordenada, descobrindo assim as divisas escondidas. 

10. ®) Calcular a área em baixo de cada curva pelas fórmulas indicadas e 

medir as distâncias das ordenadas máximas a partir do ponto de 
origem, para determinar a mobilidade, lembrando-se de dividir pelo 
fator de aumento linear da máquina fotográfica e da ampliação da 
cópia. 


h) Cálculo da uwbilidade aparente 

A mobilidade electroforética é definida como a velocidade num campo de 
força H — 1. Si (w) é o caminho percorrido no tempo (t), então 





^íc^ 1 . Tnst. Butantan, 
a:75-126, XoT.® 1950. 


G. HOXTER & R. MUXGIOLI 


121 


w 


w 




e a mobilidade u 

A H t II 


O campo de força (H) é uma função da corrente: 

I onde I = corrente cm ami>crcs 


H = 


() =: área transversal da célula 


S 


k = condutibilidade especifica 


Assim vamos obter 


u — 
A 


w k O 
S " 


I t 


(Fórmula 25.) 

onde (w) é o caminho cm centiir.ctros percorrido jicla divisa cm (t) segundos, 
num meio de condutibilidade (k ) através de um tulio de secção transversal de 


(Q) cm- sob o impulso de uma corrente cléxrtrica de (I) anuiércs. Também, 


I = O k E 
S 


onde (E) é a voltagem por an na célula, dando 

\v 


u = 


A E t 


(Fórmula 26.) 


Ha. entretanto, certa dificuldade técnica cm medir a queda de potencial na 
célula e porisso preferimos usar a fórmula 25. embora ela exija conhecimento da 
condutibilidade. Esta pode ser determinada aparte, colocando uma célula de 
condutibilidade num banho da mesma temjieratura do experimento electroforético 
e usando o método de Kohlrausch para medir a condutibilidade com uma ponte 
de Wheatstone. alimentada por corrente alternada dc alta ciclagem. c que tem um 
alto-falante ou um ôlho eléctrico no lugar do galvanometro. (Figura 42). 


* 


-SciELO 


0 11 12 13 14 15 16 



ESTUDOS ELECTROFORÊTICOS 



Ficc»a 42 


VI) RESUMO 

Nesta primeira parte do seu trabalho, os autores apresentam a teoria da 
electroforese de partículas coloidais. Eles explicam os métodos cm uso, dando 
detalhes da técnica e indicando os processos de análise das obsenações electro- 
foréticas. 


SUMMARY 

In this first part of their publication the authors present the theory of 
clectrophorcsis of colloidal particles. They explain the metho<Is in use, giving 
details of the technitiue and indicating the processes of analysis of electrophorctic 
observations. 


2US A M M EX F ASSU X G 

In diesem ersten Teil ihrer Arl>eit gebcn die Autoren einen Üljerblick über 
die Theorie der Elektrophorese von kolloidalen Teilcben. Sie crklãren die 
vcrfügbaren Methoden, zeigen Einzelheiten der Technik und der Analyse voi: 
clektrophoretischen Beobachtungen. 


LISTA DOS símbolos USADOS 


A = 

anípcrúiictro 

AG = 

agitador 

B = 

banho 

BV = 

bomba de vácuo 

C = 

constante da forma da partícula 




i 


SciELO 


3 11 12 13 14 15 16 


1 




* 


Mem. Inst. Butastan, 
a:TS-126, Xov.® 1950. 


G. IIÕXTER & R. MUXCIOLI 


123 


CE = 
CG = 
D = 
E = 
EM = 
F = 
FL = 
FO = 
G = 
H = 
I = 
K = 
L = 
LC = 
LS = 
M = 
X = 
O = 
OT = 
P = 


Q 

R 

RC 

S 

ss 

T 

TG 

TL 

TR 

V 

VF 

Z 


céluia electroforética 

Chave geral da entrada de 110 volts, corrente alternada 
constante de difusão 
tensão em volts 

eixo do motor da lâmina hor.zontal 
área da fónnula de Wiedemann 
fendas e lâminas do sistema óptico 
motor do fecho da objetiva i 

geladeira do banho 
força do campo elétrico 
corrente era amperes 
incremento específico da refração 
lâmpada 

motor da lâmina e chapa 
lente “Schliercn” 
número de partículas 
número de .^vogadro 
objetiva 
tubo óptico 

ponto da curva de Gauss 

área da secção transversal da célula 

relógio 

retifícador da corrente 
diafragma da lâmpada 
motor da seringa sincronizada 
temperatura absoluta 
tcrmoregulador do banho 
transformador da lâmpada 
trilho do sistema óptico 
vollmetro 
vidro fosco 
lente cilíndrica 


lado A 
lado D 


lado ascendente da célula 
lado descendente da célula 


a 

b 

c 

d 

e 

f 

K 

h 

i 

i 


grossura da célula electroforética 
distância entre célula e fenda 
concentração 

grossura da camada eléctrica dupla de Hclmholtz 
carga do electron 

plano de contacto de duas soluções 
constante de proporcionalidade 
altura na célula 
espécie iônica 

relação entre o movimento da chapa e o movimento da l.imina 


* 


-SciELO 


0 11 12 13 14 15 16 


cm 



ESTUDOS ELECTROFORÊTICÜS 


i24 


k 



m 

n 

P 

q 

r 

s 

t 

u 

V 


X 

y 

z 

a 

P 

Y 

8 

E 

X 

’1 


■x 

P* 

rt 

<r 

A 


constante de Boltzmann 

condutibilidade especifica 

fator de aumento da máquina fotográfica 

Índice de refração 

probabilidade estatística 

carga eléctrica 

raio de partícula esférica 

fator de auménto da fórmula de Wiedemann 
tempo 

mobilidade electroforética 

velocidade electroforética 

caminho traçado pela imagem da divisa 

abcissa da curva de Gauss 

ordenada da curva de Gauss 

valência 

fracção da globulina plasmática 
fracção da globulina plasmática ■ 
fracção da globulina plasmática 
desvio vertical da luz 
constante di-eléctrica 
potencial electrocinético 
constante de viscosidade 
ângulo de fenda inclinada 
constante de Debye e Hückel 
força iônica 

desvio padrão da distribuição de Gauss 

fibrinogénio 

diferença 

soma 


VII) REFERÊNXIAS BIBLIOGRÁFICAS 


Notdx Incluimos apenas aquelas publicações que contém detalhes da técnica electroforética 
e da análise dos perfis. 

1 . Ambramson, H. A. — Influence of size, shape, and conductivity on cataphoretic mobility, 

and its biological significance, /. Phys. Chem. 35 : 289, 1931. 

2. Abramson, II, A. — Electrokinetic Phenomena and their Application to Biology and 

Medicine, Xew York, Chemical Catalog Company, 1934. 

A. Abramson, H. A., -í/oyrr, L. S., Gorin, M. H. — Electrophoresis of proteins, New 
York, Reinhold Publishing Corporation, 1942. 

4. Burlon, E. F. — Helmholtz double layer relatcd to ions and charged particles, Colloid 

S>Tnposium Monogra|rfi, New York, Chemical Catalog Company ine, 1926, vol. 3, 
pp. 132-144. 

5. Dole, V. P. — A theory of moving boundary systems formed by strong electrolytes, 

J. Am. Chem. Soe., 67:1.119, 1945. 



Mem. Inst. Botantan, c. IIÕXTER & R. MUXGIOLI P5 

22:75-126, Xov.® 1950. 

6. Edsall, J. T. — The plasma protcins and thcir fractionation. 2. Elcctrophorctic 

ifcasurements, í» Anson, M. L. & Edsall, J. T., Ad\-anccs in Protcin Chemistry, 
Xew York, .\cadcmic Press Inc. Publishcrs, 1947, vol. 3, pp. 392-401. 

7. Freundlich, H. — Kapillarchemie, Leipzig, .\kademische Verlagsgcsellscluft m.b.H., 

1909, pp. 223-231. 

8. Geddes, .d. L. — Diífusivity- Weissbergcr, Physical Mcthods of Organíc 
OKmistrj-, Xew York, Intersdence Publishers Inc., 1945, pp. 295-303. 

9. Gouy, L. — Sur la constitution de la charge clectrique à la surfacc d’un électrolytc, 
Journ, de Phys., 9:457, 1910. 

10. Kekudck, R. A. — The electrophoretic analysis of normal human plasma, Riochcm. /., 

33: 1.122, 1939. 

11. Lamm, O. — Zur Bestimmung von Konzentrationsgradienten mittels gekrümmter 

Lichtstrahlcn, Ztschr. Phys. Chem.. 138 : 313, 1928. 

12. Longsxcorth, L. G. — \ modification of the Schlieren method for use in elecirophor- 

etic analysis, J. Am. Chem. Soc., 61 : 529, 1939. 

13. Longsieorth, L. G. — Recent .-\d\'anccs in lhe Study of Protcins by Electrophorcsis, 

Chem. Rev.. 30 : 323. 1942. 

14. Longsworth, L. G. — Optical Mcthods in Electrophorcsis, Ind. Eng. Chem. Anal. Ed., 

18 : 219, 1946. 

15. Longsiforth, L. G., & Macinntf, D. A. — Electrophorcsis of protcins by Tisclius 

Hfcthod, Chem. Rev., 24:271, 1939. 

16. Longsworth, L. G., & Machines, D. A. — Tlie interpretation of simple elcctrophorctic 

pattcms, /. Am. Chem. Soc., 62 : 705, 1940. 

17. Macinnes, D. A. — The Principies of Elcctrochemistr>-, Xew York, Rcinhold Publis- 

hing Corp., 1939. 

18. Macinnes, D. A. & Longsworth, L. G. — The elcctrophorctic study of protcins and 

rclatcd substances, in .Mc.xandcr, J., Colloid ChemistO’, XcZ York, Rcinhold 
Publishing Corp., 1944, vol. 5, pp. 387-411. 

19. Moore, D. H. — Optical Mcthods in Electrophoretic and Ultracentrifugal .\nalyses. õi 

Glasscr, O., Medicai Physics, Chicago, Ycar Book Publishers Inc., 1944, pp. 
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21. Perlnutnn, G. E. & Knufman, D. — Efícct of ionic strcngth and protein concentration 

in electrophoretic analysis of human plasma, /. Am. Chem. Soc., 67 : 638. 1945. 

22. Philpot, J. St. L. — Direct photography of ultracentrifuge sedimentation curves, Xature, 

141:283. 1938. 

23. Shcdlowsky, T. — Conductomctr}’. in Wcissbcrger, A., Physical Mcthods of Organic 

Chemistry, Xew York. Intcrsciencc Publishcrs Inc.. 1945, pp. 1.011-1.046. 

24. Svensson, II. — Direkte phoíographische .•Vufnahme von Elektrophoresc-Diagrammen, 

KoUoid Ztschr. 87 : 181, 1939. 

24. Tisetius, A. — Electrophorcsis of serum globulins, Biochem. 31:1.464, 1937. 

26. Tisclius, A. & Kabat, E. .4. — Electrophoretic study of immune sera and purified 

antibody prcparations. J. E.rp. Med. 69: 119, 1939. 

27. IPiedemcmn. E. — Dic willkürliche Modifizierung der Milicubcdingungen l)ci Elek- 

• trophorese -^'■crsuchen zur Eliminierung der Extragradientcn und ihre praktische 

Bedcutung. Helv. Chim. Acta, 30: 168, 1947. 



-SciELO 






126 


ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS 


28. IFiedemann, E. — über die Gcnauigkeit der .Aufzeichnung von Elektrophorese — 

Diagrammen nach der Methode Philpot-Svensson bei Anwendung des KIeinbil(h-er- 
fahrens. Helv. Chim. Ac/a, 30: 639, 1947. 

29. JViedcmann, E. — Ein neuer Spalt für die Aufnahme von Elektrophose-DIagranunen 

nach Philpot-Svensson. Helv. Chim. Acta, 30 : 648, 1947. 

30. lyiedemann, E. — Über die Auswertung von Elektrophorese-Diagrammen nach Lon- 

gsworth und Philpot-Svensson. Helv. Chim. Acta, 30 : 892, 1947. 

31. IFuhrmann, F. & If^underly, Ch. — Die Bluteiweisskõrper des Menschen. Basal, Benno 

Schwabc & Co., Verlag 1947. 



^fem. Inst. Botantan, 

22: I2M38, Xor* 1950. 


J. J. MACEDO 4 L. L. \TLLIXI 


127 


O USO DA NOVOCAIXA IXTRAVEXOSA COMO AXALGÉSICO XA 
COLHEITA DA LIXFA VACIXICA 

POR .J. J. M.\CEDO 4 L. L. VELLINI 

(Dos Laboratórios de Virus e Riquétsias, e Vacinico do Instituto Butantan, S. Paulo, Brasil) 


O problema da anestesia nos lauoratorios de produção de \-acina jencriana 
tem sido relegado a plano secundário, sendo, no entretanto um preceito inele- 
gável, quer pela deshumanidade, quer pela reação do animal em detrimento de 
uma colheita asséptica e eficiente. 

O uso da novocaina intravenosa (1,2), trou.xe contiibuição de \’alor, mas, 
sempre foi objeto de precauções, evitar-se direta inoculação na corrente circula- 
tória (10). 

Xa ação inhibidora da atividade simpática ou bloqueio parcial do sistema 
(3,16) reside o efeito favorável no traumatismo. 

A concentração de 7 a 8 vezes mais nos tecidos inflamados que nos normais 
como resultado da vaso dilatação local (4), proporciona analgesia suficiente. 

O êxito alcançado na terapêutica humana (3,5,14,15,16) nos levou a em- 
pregá-la no laboratório de vacina jeneriana do Instituto Butantan. 

A vacina jeneriana de origem animal tem como tempo de evolução 5 dias 
completos, após preparo e conservação da \átela em local higiênico. 

O emprego de curetas de Volkmann ou de outro instrumento para a colheita 
da linfa, faz com que, pelà dor resultante do traumatismo operatório, o animal 
se debata constantemente em prejuizo do curso normal do trabalho. Para obviar 
esses inconveiiientes, aplicamos a novocaina intravcno.sa, cm vitelos, obtendo bons 
resultados, o que nos levou a publicar a presente memória, descrevendo a expe- 
riencia realizada. 


farmacologia, química e posologia (6) 

A novocaina sendo um dos modificadores do sistema nervoso periférico 
inhibe as terminações sensitivas (16). 

Entregue para publicação em 22 de novembro de 1ÇM9. 




f 


-SciELO 


0 11 12 13 14 15 16 


1 



lOa o uso DA XOVOCAIXA IXTRAVEXOSA COMO AXALGESICO 

XA COLHEITA DA LIXFA VACIXICA 

Como anestésico sintético, sucedâneo da cocaina e pertencente ao 4° grupo- 
de Forneau, no qual o ácido amino-benzóico esterifica um amino-álcool dando 
o paramino-benzóil-dietil-aminoetanol, sob forma de cloridrato, recebe as seguin- 
tes designações: procaina, alocaina, etocaina, scurocaina e sincaina. 


XH. 



• \/ 

COO.CH2. X (C-H5)2 — HCl 

' Apresenta-se sob forma de agulhas cristalinas incolores, sabor ligeiramente 
amargo, solúvel em seu pêso de água e em 30 partes de álcool, precipitando-se 
em meio alcalino. 

Xão provoca irritação nos tecidos nem hiperemia. E’ pouco tóxica, 8 vezes- 
menos que a cocaina, sendo seu efeito anestésico ai)enas 3 vezes menor. 

fOSOLOGIA 


Infiltração de 0.25 a 2Çí 

Troncular de 0.25 a 0,505í> 

Epidural 0,50^ 

Venosa (7) 0.004 mg por Kpv 

Intra-raqueana 0,010 mg por 5 quilos de pêso num 

. máximo de 0,100 mg total. (6). 


^Iuschen, Rendei, Baker, calcularam a dcse venosa, em 0,004 mg por quilo de- 
j)eso vivo. 

TOXICID.VDE 

As reações tóxicas graves cu fatais são raras. Alguns autores (8,9,10) 
obser\aram no homem: 

a) Ligeiras contrações, convulsões, exaustão e cicitus, devido a hipersen- 
sibilidade e irritabilidade relacionadas com o sistema nervoso central. 

b) Paralisia do centro respiratório. 

Tratamento das reações tóxicas (7,10,11): 
item a) Administração de barbitúricos 

item b) Oxigenioterapia, estimulantes respiratórios e circulatórios. 

Metabolismo: 

O desdobramento da novocaina se faz no figado (12) e na corrente cir- 
culatória por ação de uma enzima (7), não sendo comprometida a função- 
hepática (13). 



Mcm. Inst. BnUntan. 
S:127-128. Xor.» 1950. 


J. J. MACEDO & L. L. VELLIXI 


129 


MATERIAL E MÉTODOS 

Xovocaina: Usamos um sal de procedência nacional (♦), quimicamente 
puro, diluido em ág^a distilada a com pH 4,4 e a 2,t)^ com pH 4,6, dis- 
tribuído em empolas de 20 ml, esterilizadas em autoclace 120.® 20 m. 

Aplicação: Após preparo do animal de acordo com a rotina do laboratório, 
injetamos na veia jugular, intermitentemente, quantidades variáveis conforme os- 
protocolos de obser 5 'ações (quadro e gráfico I. Fotografias 1-2-3 c 4). 

A atenuação do efeito analgésico sendo de lo a 25 minutos o importante 
na dose total usada é a quantidade injetada em relação ao tempo. 

A injeção sob a forma intermitente pennite o uso da solução mais con- 
centrada, com a vantagem de efeito analgésico mais rápido e sem qualquer 
inconveniente para o animal. 

Em nossas observações com as doses entre 0,004210 e 0,013630 mg por 
Kpv. e concentração de novocaina a 1% e 2,5fc não verificamos (jualqucr 
reação toxica, obtendo inteiro sucesso na analgesia. 

COMENTÁRIOS 

Empregando pela primeira vez a novocaina intravenosa, com o intuito de 
analgesia em vitelas submetidas a vacinação com vinis \‘acinico, obtivemos bons 
resultados entre os limites de 0,004210 a 0,013630 mg por Kpv das soluções a 
1^0 c 2,5%, em injeção lenta mantida durante a inter\'cnção. 

O animal permanece quieto estando em condições de caminliar normalmentc 
logo após a operação. 


RESUMO E CONCLUSÕES 

1) o emprego de novocaina c eficiente por injeção intravenosa lenta, no 
decurso das intervenções inoculadoras e de colheita, cm vitelas vacinadas com nrus 
vacínico, pois produz analgesia suficiente setn narcosc, o que representa grande 
vantagem. 

2) A operação se processando entre 10 e 15 minutos e o declinio do efeito 
analgésico se iniciando depois dos 15 minutos, a relação entre o tempo c a 
quantidade de novocaina injetada justifica darmos os limites de 0.004 a 0,010 
mg por quilo de pêso vivo, levando-se em consideração a suceptibilidade indi- 
vidual observada no acto da operação. (*) 


(*) Indústria Elpis Ltda. 



l?n o uso DA XOVOCAIXA INTRAVENOSA COMO ANALGÉSICO 

NA COLHEITA DA LINFA VACINICA 

3) As soluções que a principio foram de 1% e, posteriormente. 2,^^o 
demonstraram a mesma eficiência, tendo, porém, a mais concentrada a ^-antagem 
de volume menor e efeito mais rápido. 

4) O preço do sal, a facilidade no preparo, a estabilidade das soluções e a 
eficiência do método justificam o emprego da novocaina na rotina de colheita 
de linfa vacínica. 

5) O uso da novocaina como analgésico pela via intravenosa em grandes 
animais, é indicado, para as pequenas operações. 

SUMMARY AND CONCLUSIONS 

(1) The use of novocaine by slow intravenous injection is efficient during 
the inocculation and scraping of calves vaccinated with cow-pox virus. 

2) Sufficient analgesis is produced wnthout narcosis, thereby representing 
a g^eat advantage. 

3) With the operation lasting 10-15 minutes and the analgesic effect 
declining after 15 minutes, the relation between the time and the amount of 
novocante injected justifies the Irmits of 0,004 to 0,010 mg per kg of live 
weight, taking into consideration the individual susceptibility observed during 
the operation. 

4) The first Solutions at 1% and the later at 2,5% showed the same 
efficiency, with the more concentrated one having the advantage of smaller 
volume and swifter action. 

5) The price of the salt, the facility in the preparation, the stability and 
efficiency justify the use of novocaine in the routine hàrvesting of vaccine 
lymph. 

6) The intravenous use of novocaine as an analgesic in large animais is 
indicated for minor operations. 

ZUSAM.\IENFASSUNG 

1) Eine langsame, intravenõse Injektion von Xovocain ist wirksam 
wãhrend der Ipfung und Ge^vinnung der I.ymphe von Kãlbem, die mit 
Pocken-Impfstoff behandelt werden. 

2) Es entsteht eine ausreichende Schmerzstillung ohne Narkose, was von 
grossem Vorteil ist. 

3) Da die Operation etwa 10-15 Minuten dauert und die schmerzstillende 
Wirkung nach 15 Minuten nachlãsst, so berechtigt die Beziehung zwischen der 
Zeit und der injizierten Novocain-Menge die Gabe von 0,004 bis 0,010 mg 
pro kg I.ebendgewicht. wenn man die individuelle Empfindlichkeit, wie sie bei 
der Operation beobachtet wird, in Betracht zieht. 




i 


SciELO 


3 11 12 13 14 15 16 


1 



Mcm. Inst. Batantan» 
22:127-138, Nor.» 1950. 


J. J. MACEDO & L. L. VELUNI 


131 


•1) Die urpsrünglichen Lõsungen von \Jo und die spãteren von 2,h^o haben 
dieseibe Wirkung, die stãrkere hat jedoch den Vorteil des geringeren Volumens 
und der schnelleren Wirkung. 

5) Der Preis des Saizes, die. Leichtigkeit der Herstellung, seine Haltbarkeit 
und Wirksamkeit empfehlen den Gebrauch von Novocain bei Gcwinnung von 
Pocken-Lymphe. 

6) Novocain, intravenõs, empfiehlt sich ais schmerzstillendes Mittel für 
grosse Tiere bei kleineren Operationen. 


BIBLIOGRAFIA 

1. bier, A. — Munch. .\í(d. Wschr. 1:589, 1909. 

2. Leriche, R. 6r Fontaine, R. — J. Chir. bntx. 34:537, 1935. 

3. Gondon, R. A. — Applied intravenons procainc — Canadún Sítd. Assoe. J. 56 : 53-1-35, 
1946. 

4. Graubard, P. J. 6- Ritter, H. H. — Amer. J. Surgery 74 : 765, 1947. 

5. Gordon, R. A. — Intra\-cnons no%x>ca!nc for an analgesia in bums — Canadian Med. 

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7. Mushin, IV. IV. & Rendei, Baker, L. — Intrasrnons procainc — Laneet 1(15) : 619-24. 

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8. Mayer, E. — Toxic effects following thc use of local anestheties — J. Amer. .\íed. 

Assoe. 82 : 876-85, 1924. 

9. Bieter, R. S. — Applied pharmacology of local anestheties — Atner. J. Surgery 

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10. Gilman, S. • — Pne tratment of dangerous reactions to novocain — New Engl. J. Med 

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11. Henry Sr Sttlles — Amer. Jour. Surg. 32 : 217-221, 1936. 

12. Fosdiei, L. S. & Hansen, H. L. — Dent. Cosmos 73: 1.082. 1931. 

13. Jacoby, J. J.; Coon, J. M.; IVoolf, -U. P. Sr Salermo, P. R. — Anesthesiology 

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14. Leriehe. R. _ Presse Med. 49:641-645, 1941. 

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132 


o JSO DA XOVOCAIXA IXTRAVEXOSA COMO AXALGESICO 
XA COLHEITA DA LIXFA VACIXICA 




SciELO 



15 16 


Visto o animal não ser repesado no momento da collieita, foi considerado o peso 
de 5 dias antes, tomado por ocasião da vacinação. Este peso caiu no decurso da 
evolução da vacina, como se infere na nova tomada logo aiKÜs a cofhcita. 

Nenhum inconveniente se observou, totnando por base o peso inicial. 



UittC«AMA% M M0V0<AIMA QUikO M PÍíO vivÇ 


M«n. In5t. Batantin, 
22;127-13«. Nor.» 1950. 


J. J. M.\CEDO 


L. L. \’ELLIN'I 


133 


& 




INOCULAÇÃO 

VIA 


DE NOVOCAINA 
VENOSA 



pC^O cm QgiLOS 


MO 


LEGCNgA 

— 0ÍiO «NrtAiOA oo ««^Cto 

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Mem. Inst. Butantan, 
22:127 1 3S, Xov.* 1950, 








^SciELO) 


2 


3 


5 


6 


11 


12 


13 


14 


15 


16 


L 


cm 






Mem. Inst. BatanUn, 
22:139-150, Xov* 1950. 


A. T. LEAO 


139 


SOBRE DOIS BATRAQUIOS DA ILHA DA QUEIMADA GRANDE 

POR ARISTOTERIS T. LE.\0 

(Trabalho da Stcção de Zoologia Médica do Instituto Butantan, São Paulo. Brasil) 


No período compreendido entre 14 e 23 de abril de 1947 fizemos uma 
excursão à Ilha da Queimada Grande, situada a cerca de 40 milhas a S. O. da 
barra de Santos, no litoral do Estado de São Paulo. 

Uma segunda viagem foi realizada entre 22 de setembro e 6 de outubro 
do mesmo ano, sendo que desta vez permanecemos 3 dias numa ilhota próxima 
— a Ilha da Queimada Pequena — onde não encontramos nenhum batráquio. 

Ao que nos consta da Ilha da Queimada Grande só havia sido visitada, com 
finalidades zoologicas, por Amaral (1920) que lá esteve por duas vezes no 
mesmo ano. 

Quando de nossa primeira visita, já estavamos no 5.® dia de estadia c, 
apesar de insistentes pesquisas, não haviamos conseguido vislumbrar siquer um 
batráquio. No 6.® dia, porém, após pequena cliuva, fomos alertados por uma 
voz que assim podemos representar: Kríii — Kriii — Kríii — . Pusemo-nos 
imediatamente a campo e sem muita dificuldade fomos deparar com uma touceira 
de uma Bromeliaceac terrestre e de onde provinha o canto. Após um cerco 
cuidadoso (limpesa previa e circular do ambiente) cortamos as Bromeliaceac c 
aí conseguimos capturar adultos, jovens, girinos e certo numero de ovos, envol- 
tos em massa gelatinosa transparente, de uma Hyla. 

Durante a segunda excursão o coaxar desta Hyla era muito frequente e 
desta vez obtivemos dezenas de exemplares entre adultos, jovens, girinos e ovos. 

Na Ilha da Queimada Grande conseguimos obter duas especies de Anura: 
uma Hyla do complexo calltarinae, vivendo em Bromeliaceac terrestre que, gra- 
ças à gentileza da Dra. Bertha Lutz, que nos comunicou estar revendo o grupo, 
foi determinada como Hyla perpusilla Lutz & Lutz, 1939. O outro é um 
Eleutherodactylus hinotatus tipico, apenas ligeiramente mais escuro que os do 
continente. 

Hyla perpusilla Lutz & Lutz, 1939 

.fVnuLTOs: Cabeça arredondada, pouco mais longa do que larga. Boca de 
hiato começando no bordo anterior do timpano. Canto rostral visivel, porém, 
muito pouco pronunciado, com lôro pouco exeavado. Focinho saliente, voltado 


Entregue para publicação em 13 de Dezembro de 1949. 



140 


SOBRE DOIS BATRAQUIOS DA ILHA DA QUEIMADA GRANDE 


para cima. Tímpano saliente, pouco menor que o diâmetro ocular, com uma 
prega supra-timpanica que, começando no bordo posterior do olho, vai terminar 
mais ou menos na altura da face superior do ante-braço. Dentes vomerinos 
em dois grupos compactos, situados mais ou menos na altura equatorial das 
coanas. Estas relativamente grandes, de abertura antero-posterior inclinada para 
fora. Pré-maxilares em ponta internamente. Maxilares com dentição uniforme, 
faltando esta no 1/4 posterior. Mandíbula edentula. Lingua circular, pouco 
entalhada e livre posteriormente. Aparelho estemal do tipo arcifero, de omos- 
terno cartilaginoso, em forma de cone, de ponta romba; xifistemo cartilaginoso, 
pouco entalhado posteriormente. Dedos inteiramente livres, não fimbriados, com 
tubérculos sub-articulares bem evidentes, porém, não muito desenvolvidos; calo 
metacarpal externo maior que o interno, com imi sulco mediano ; calo metacarpal 
interno ovoide-alongado, inteiro; ordem de tamanho dos de<los: 1, 2, 4, 3; 
ultima falange terminando em disco arredondado, convexo em sua face inferior 
e concavo na superior. Artelhos fimbriados, com membrana pouco desenvol- 
vida; l.° c 2P artelhos livres, 2.® e 3.®, e 4.® e 4.® e 5.® com membrana até a la. 
articulação; tubérculos sub-articulares evidentes, não muito desenvolvidos; calo 
matafarsal externo pouco evidente, arredondado; calo metatarsal interno ovoide, 
evidente ; ultima falange terminando em disco arredondado, convexo na sua face 
inferior e concavo na superior; ordem de tamanho dos artelhos: 1, 5, 3, 2, 4; 
articulação tibio-tarsal alcançando o meio do lôro. 

Região dorsal do corpo, dos membros e da cabeça lisas (sem granulação) ; 
região ventral do corpo, do femur e da gula finamente granulosas. 

Coloração (álcool) : Região dorsal do corpo, dos membros e lados do corpo 
variando do cinzento-azulado ao brunco; em geral uma faixa mais clara no 
centro do dorso, da nuca ao anus; região infra-ocular com um espaço mais 
claro; região ventral clara, às vezes finamente pintalgada de bruneo, sendo esta 
mais intensa na região guiar; femur tarjado de bruneo na sua face superior e 
inferior clara; tibia com coloração mais escura que o femur; pés, artelhos, 
braços e mãos tarjados de bruneo superiormente e claros inferiormente. 

Coloração (vivos) : Coloração de fundo pardo-clara ou escura; uma faixa 
dorsal mais clara; membros com tarjas escuras; face anterior e posterior do 
femur e da tibia amarelo-citrino. 

Pupila horizontal. Macho com saco guiar bem desenvolvido. 

Voa: Kriii — Kriii — Kriii. 

Dos exemplares capturados em 5/10/'947 alguns foram colocados num 
frasco de boca larga, ao qual juntamos fragmentos e agua de Bromcliaccae. 
Logo depois de aí serem colocados (17 horas) coaxavam e se movimentavam 
intensamente procurando se acasalar. .\s 20 horas já havia 3 casais em amplexo 




Mcm. Inst. Butantan, 
22:139-150, Xot.» 1950. 


A. T. LEÃO 


141 


sexual, que é axilar, com subsequente postura nesta mesma noite e no dia 
seguinte. Conseguimos transportar para o laboratorio esta postura, bem como 
girinos e adultos. Xo laboratorio, porém, apesar de frequentes acasalamentos 
não houve postura alguma. Os adultos foram mantidos vivos mais ou menos 
durante um mès, em cristalisadores de vidro de cerca de 20 cms de diâmetro, 
alimentando-os com Drosophtla e Musca domestica. Coaxavam quer durante o 
dia quer durante a noite. Os ovos, infelizmente, não se desenvolveram. 

Dados sobre os ovos, giHttos e jovens: — Ovos medindo 1,3 a l,5mm de 
maior diâmetro, com involucro gelatinoso transparente medindo cerca de 4-5mm 
de diâmetro. 

Os girinos capturados a 5/10/947, nos mais variados estádios de desenvol- 
vimento foram, no laboratório, colocados em cristalisadores de vidro de mais 
ou menos 20 cms de diâmetro, com um pedaço de tijolo no fundo para servir de 
ancoradouro, o qual era recolierto com uma tela de arame. .A água era tro- 
cada todas as manhãs. Como alimento usamos o figado dessecado eni pó que 
as larvas absoiAiam avidamente. Parece que os girinos não sofreram com a 
diferença de altitude a que foram submetidos (cerca de 80ms. no habitat e 
mais ou menos 750ms no laboratorio), pois estavam sempre muito ativos. 

In felizmente não pudemos levar a nossa ob.ser\'ação desde a eclosão do 
ovo, pois como já dissemos, a postura não se desenvolveu. 

Coloração: Cabeça-corpo plúmbeo; cauda creme-clara com pigmentação 
esparsa, escura, não só na cauda como também na membrana, principalmente na 
face inferior. Boca ventral, não terminal, com duas fileiras de papilas no labio 
inferior, sendo esta tripla nos cantos da boca. Formula das laminas denta- 
1 

rias 1-1 . -Anus central. 

"3 

JovEXS : Os jovens recem-metamorfoseados apresentam todas as caracterís- 
ticas dos adultos, quer no que diz às formas, quer quanto à coloração. 

Habitat. Vivem em Bromeliaccac terrestres, em cujas coleções dagua reali- 
zam o ciclo biologico. 

Distribuição geográfico: Ilha da Queimada Grande, São Paulo, Brasil. 

Elcutherodactylus.binotatus (Spix, 1824). 

Desta especie não conseguimos nem ovos, nem girinos. Os adultos foram 
encontrados sempre no sólo, no descampado ou na mata, em touceiras de Brome- 
liaceac terrestre e, principalmente, no local denominado “bananal”, onde real- 
mente existem muitas bananeiras (uma depressão). Aliás nunca encontramos 
este Anura sinão em lugares liem sombreados e úmidos. 




2 


3 


L 


5 


6 







142 


SOBRE DOIS BATRAQUIOS DA ILHA DA QUEIMADA GRANDE 


DESCRIÇÃO 

Calícça lanceolada, pouco mais longa do que larga. Boca de hiato come- 
çando no terço anterior do timpano. Canto rostral evidente, com lôro pouco- 
escavado. Timpano relativamente fundo, de maior diâmetro transversal, pouco 
menor que a metade do diâmetro ocular, com uma prega supra-timpanica que, 
partindo do bordo posterior do olho, vai até o meio da espadua, em direção à 
axila. Pupila horizontal, ovoide. Dentes vomerinos em duas fileiras curvas,, 
bem posteriores às coanas, estando os ramos externos apoiados sobre o palatino; 
dentes de tamanho uniforme e em 17 em cada fileira. Coanas relativamente 
grandes, com abertura antero-posterior inclinada para fóra. Pré-maxilares em 
ponta intemamente, de dentição uniforme, sendo 11-12 dentes em cada lado. 
Ma.\ilares de dentição uniforme, diminuindo o tamanho dos dentes apenas na 
e-\trcmidade posterior. Mandibula edentula. Lingua piri forme, pouco entalhada 
e livre posteriormente. Aparelho estemal do tipo arcifero, com omostemo car- 
tilaginoso, em forma de lança, de ponta romba; xifistemo cartilaginoso, quadran- 
gular c entalhado no bordo apical. Hioideo formado por duas peças de dilata- 
ção basal interna, por meio das quais se ligam anteriormente, de ramos diver- 
gentes praticamente sem dilatação. Dedos inteiramente livres, não fimbriados, 
com tubérculos sub-articulares bem evidentes; calo metacarpal externo dividido; 
calo metacarpal interno oval, inteiro; ordem de tamanho dos dedos: 2, 4, 1, 3; 
ultima falange T-forme, com dilatação achatada dorso- ventralmente e recurvada 
para baixo. Artelhos com membrana vestigiaria e tubérculos sub-articulares bem 
evidentes; disco achatado dorso-ventralmente e recurvados para cima, com uma 
depressão na sua extremidade apical; calo metatarsal interno pequeno, inteiro e 
oval; calo metatarsal externo pequeno, arredondado; ultima falange dilatada, 
T-forme; ordem de tamanho dos artelhos: 1, 2, 5, 3, 4; articulação tibio-tarsal 
atingindo o meio do lôro. Disco ventral evidente. Dorso, ladí>s do corpo, região • 
dorsal dos membros e posterior das coxas, região loreal, infratimpanica e infra- 
oailar, com granulação bem evidente; região abdominal com granulação fina; 
região guiar, anterior e ventral dos membros, bem como o topo da cabeça, lisas. 

Coloração : Região loreal, da ponta do focinho até mais ou menos o bordo 
jiostcrior dos olhos, de coloração escura-azulada ; região frontal até o meio dos 
olhos, creme com pontilhado escuro; prega-supra-timpanica com bordo inferior 
escuro; ponta do focinho com uma listra longitudinal clara; dorso de coloração- 
variavel, desde o marron-claro ao cinza-claro; u’a mancha escura, central, na 
altura da escapula ; duas manchas escuras paralelas, na altura da vertebra sacra ; 
ventre claro, alvadio ; bordos da mandibula manchados ou pintalgados de escuro ; 
região cscapular e guiar com manchas irregulares marron-escuras ; face inferior^ 



Mcm. Inst. BatanUn, 
22:139-150, Nor.» 1950. 


A. T. LE.\0 


143 


dos braços al\-adia; face anterior posterior e dorsal dos braços e dos dedos 
marron-escuras e pintalgadas de claro; uma tarja mais escura no ante-braço; 
membros posteriores com tarjas escuras ; tarsos e artelhos escuros. Pragas latero- 
dorsais bem evidentes, iniciando no bordo posterior e superior dos timpanos e 
alcançando ou ultrapassando o meio do urostilo ; pregas dorso-laterais em numero 
de tres; a interna inicia na altura do timpano, recur^•a para o meio do corpo e 
alcança o meio do urostilo; a mediana iniciando na altura do bordo posterior da 
escapula e terminando mais ou menos na vertebra sacra ; a externa se inicia pouco 
atrás da ultima e termina mais ou menos na mesma altura ; tres estrias iniciando 
no bordo posterior da palpebra, inclinando para o centro do dorso e terminando 
mais ou menos na altura da escapula. 

Dimorfisvto sexual: Femeas bfcm mais desenvolvidas que os machos. 


RESUMO 

Na Ilha da Queimada Grande, situada a mais ou menos 40 milhas a S. O. 
da barra de Santos, no litoral do Estado de São Paulo, foram encontrados dois 
representantes dos Anura: uma Hyla do grupo Calharinae — Hyla perpusilla 
Lutz & Lutz, 1939, vivendo em Bromeliaccae, onde realizam o delo vital, assim 
como Eleutherodactylus binotatus (Spix, 1824). 

Da primeira são fornecidos dados sobre os adultos, jovens, girinos e ovos 
e do ultimo uma descrição dos adultos. 


ABSTRACr 

In the Queimada Grande Island, State of São Paulo, Brazil, were obtained 
two representaitive of the Anura: One Hyla of the complex calharinae, Hyla 
perpusilla Lutz & Lutz, 1939 living in Bromeliaccae where they aceomplish their 
life history, as well as Eleutherodactylus binotatus (Spix, 1824). 

Data are given of the adults, juvenils, tadpoles and eggs of the former 
and, of the latter a description of the adults. 


BIBUOGRAFIA 

1. Amaral, A. — Col. dos Trab. do Inst. Butantan, 2:49, 1918-1924. 

2. Lutz, A. & Lutz, B. — An. Acad. Brasil, ci. 11:67, 1939. 



144 


SOBRE DOIS BATRAQUIOS DA ILHA DA QUEIMADA GIUVXDE 



* 


cm 


SciELO 


11 12 13 14 15 16 17 



Mcm. Iiut. Butantan. 
22:139-150, Xor.» 1950. 


A. T. LE.^O 


145 


Hyla pcrpiuilla 


Medidas dos Girinos 

2.3S5 

2326 

2327 

2331 

2328 

2329 

2.330 


9.0 

10,0 

11,0 


83 

11.6 

12,0 

113 



Maior largura 

43 

63 

8,0 


6,0 

7,0 

5,0 

5,4 

Kspaço interorbital anterior 

23 

3,0 

83 


27 

23 

3,2 

3.0 

Espaço entre as narinas 


1.8 

1.7 


1.6 

13 

1.4 

1.4 

Dist. bordo ant. olbo à ponta do focinho 

23 

23 

2.7 


2,1 

27 

27 

23 

Comprimento da cauda 

133 

15.0 

23.0 


15.7 

22.0 

12.6 

IS.O 


Elcnthtroãúctylus binotAtns 

MEDIDAS 

K.o 

1.129 

1.126 

1.135 

1.149 

1.137 

1318 

1.128 

1.130 

1.139 

1.144 

Compr. do ccrpo: 

26,8 

30.0 

35.7 

38.0 

433 

453 

42U 

225 

520 

58.6 

Compr. da cabeça : 

11.4 

14,4 

14.7 

15.8 

125 

226 

21,6 

25,6 

233 

21,0 

Largura da cabeça: 

103 

120 

121 

14,6 

16.8 

17.6 

19.7 

220 

21,7 

193 

Compr. do femur: 

13,0 

153 

19,0 

19,8 

213 

24.S 

25.3 

24,7 

26,9 

24.3 

Compr. da tibia: 

143 

16,9 

19,8 

193 

233 

273 

273 

324 

293 

263 

Compr. do pc â ponta do 4^ artelho: 

203 

233 

27,0 

28,0 

326 

37,0 

383 

393 

41.0 

325 

Menor distancia entre as cboanas; 

23 

20 

22 

3.0 

4.0 

43 

20 

25 

53 

4.7 

Espaço entre as narina: 

20 

28 

23 

27 

27 

23 

43 

20 

4,0 

26 

Dist. bordo ant. narina á ponta do focinho: 

1.2 

13 

1,8 

13 

23 

13 

23 

2,2 

22 

23 

Dist. bordo post. calo carp. 4 ponta 3* dedo; 

6.8 

73 

8.7 

93 

10,6 

113 

11.7 

126 

121 

11,7 

Dist. bordo post. narina ao bord. ant tímpano; .... 

73 

9,3 

103 

11,1 

128 

133 

120 

120 

122 

14,6 

Altura do tímpano (transY.): 

1.9 

2,0 

24 

26 

20 

28 

22 

26 

25 

25 

Larg. do timpano (loogitud.): 

1.6 

13 

23 

25 

24 

25 

23 

23 

3,2 

2,9 

Diâmetro ocular (loogitud.) : 

33 

4,0 

4.9 

5.0 

63 

53 

6.0 

6,8 

6.7 

6,5 

Dist. bordo ant. olho â ponta do focinho: 

34 

5.8 

6,7 

6.9 

73 

24 

9,4 

10,0 

103 

9,0 

Espaço interorbital anterior: 

53 

53 

27 

6.4 

7,6 

7,6 

9.2 

10.0 

9.7 

24 

Sexo; 

? 




O 

? 

Ç 

O 


_2_ 







Mem- Tnst. Butanfar». 
22:139-150. Xot* 1950. 



Hylú f^rf‘usüla I>utx c Lutz, 1939. 
AduUcs. 



liba da Queimada Grande. 
Vista geral. 






* 


cm 



Ilha da Queimada Grande. 
Vista ptircial. 



//.vu fcrfxiiUa I.uls e l.uti, 1939 . 

.\ilultm sivus. .Vit.ir lim c.isil em ampieao sexuai. 


2 3 4 5 6 7 SciELO ;li 12 13 14 15 16 17 




Mcni. lust. Butanlan, 
22:I2r-138, Nov.« 1950. 



llrla ffTtmsilIa I.iiti c l.uu. 1929. 
Gi'imc~, F. t, tm I5-IO-l'>4r. 



cm 





_ ^r«n. Inst. Butantan, 
22:151-172. Xor.» 1950. 


A. R. HOGE 


151 


NOTAS ERPETOLÓGICAS 

7. Fauna crpclológica da Ilha da Queimada Grande 
POR A. R. HOGE 

(Da Secção de Ofiohgia do Instituto Butantan- S. Paulo, Brasil) 


INTRODUÇÃO 

A primeira contribuição ao conhecimento da erpctofauna da ilha da Quei- 
mada Grande foi feita por Amaral nas Memórias do Instituto Butantan (Sec- 
ção de Ofiologia)”, na qual ele descreveu a espécie B. insularis. A segunda 
foi uma nota que publicamos em 19-16, nas “Memórias do Instituto Butantan”, 
na qual descrevemos uma nova espécie de Mabuya, M. macrorhyncha. 

Depois da publicação desta nota voltamos mais tres vezes ao mesmo local 
acompanhados, então, pelo biologista A. Teixeira I>cão e mais alguns serventes 
e técnicos do Instituto. Permanecemos cada vez cerca de 12 dias na Ilha. 

MATERIAL 

A coleção aqui estudada consiste cm exemplares todos capturados durante 
as exairsões acima mencionadas e compõem-se de duas espécies de ofídios, 
quatro de lacertílios, sendo que uma das serpentes e tres dos lacertilios são 
novos para esta ilha. 

Como nas primeiras viagens conseguimos quase exclusivamente exem- 
plares machos de M. macrorhyncha, resolvemos experimentar uma técnica de 
captura diferente à empregada anteriormente. A nova técnica consiste no 
seguinte: cercar com todo o pessoal disponível uma área de aproximadamente 
20m de diâmetro e limpar o chão em volta; cm seguida, sempre limpando o 
terreno, reduzir a área central onde os animais se refugiam. Quando a área 
central estiver reduzida a alguns metros quadrados; só uma pessoa continua 
limpando enquanto que as outras ficam ao redor para capturar os exemplares 
que tentam fugir para fóra do cérco. Os exemplares são facilmente segurados 
no terreno descoberto onde não encontram esconderijo algum. Com esta técnica 
conseguimos capturar até 30 Mabuya macrorhyncha, 3 Hcmidactylus mabouta 
• e 1 Dipsas sp. num único cérco de 20m de diâmetro. 


Recebido para publicação em 20-5-1950. 


cm 


SciELO 


LO 11 12 13 14 15 16 



152 


NOTAS ERPETOLOGICAS. 7. 


O resultado foi que além de dar uma idéia mais exata sôbre a densidade- 
das espécies, encontramos os dois sexos em perfeito equilibrio numérico, o que- 
não sucedeu com a técnica anterior onde se observou uma nítida predominância 
de machos. 

O material capturado foi distribuído para o respectivo estudo, da seguinte 
maneira: Anfíbios: A. Texeira Leão; Aranhas e Escolopcndras: W. Buecherl;. 
Diplopodos: O. Schubart. Todos, com excepqão do último, do Instituto- 
Butantan. 

Cl. REPTILIA Laur. 1768 
Ord. S Q U A M A T A Oppel, 1811 
Subo. S A U R I A 

Fam. GECKONIDAE Boul., 1883 

Gen. Hemidactylus Oken, 1817 

Hcniidactylns mabouia (Moreau de Jonnès, 1818) 

Gecko mabouLi Moreau de Jonn's — Buli. Soc. Phdom. Paris 138. 1818. 

Hemidactylus mabouia Bianconi — Spec. zool. mosamb. Mém. Ac. Sei. Boíognal0:499. 1859. 
.Hemidactylus mabouia Loveridgc — Buli. Mus. Comp. zool. 98:167, 1947. 

Nenhum dos exemplares oferece características que os diferenciam dos- 
exemplares procedentes do continente. A maioria foi capturada dentre das- 
tufas de bromélias que desmanchavamos para a captura dos anfíbios. Alguns- 
foram encontrado; nas fendas das rochas apenas alguns metros acima do 
nivel do mar e outros durante os cercos feitos para estimar a densidade das 
diferentes espécies de vida do chão. 

Esta especie ainda não tinha sido registrada para a ilha da Queimada 
Grande (•). 


Fam. TEIDAE Gray, 1827 

Gen. Colobodactylus Amaral, 1932 
Colobodaclylus taunayi Amaral, 1932 

Colobodactylus tauiiayi Amaral — Mem. Inst. But 7:70. íig. 41-45, 1932 


(♦) Nas Mcm. Inst. Butantan 19:241, 1946, assinalamos a ocorrência de um Hemidactylus 
>I>. cio qual não tinliamos conseguido capturar ura exemplar. É esta espécie que agora deter- 
min. mos como //. mabouia. 



Mcm. Inst. Butantan, 
Z2:15I I72, Xov.* 1950. 


R. HOGE 


153: 


Capturamos 26 exemplares desta espécie sendo 8 machos. A espécie em 
apreço era sómente conhecida pelos seus tipos e paratipos. Examinando os tipos 
que me foram cedidos para exame, por meu colega P. Vanzolini, do Departa- 
mento de Zoologia, notei que os de N.'’ 787 e 789 não eram Colobodactylus. 
Trata-se evidentemente de uma troca de número, pois os exemplares alem de- 
pertencer a gênero diferente, têm dimensões completamente contrárias às men- 
cionadas por Amaral. Talvez o meu colega, no decorrer da revisão que esta. 
fazendo na coleção de lacertilios dos Dep. de Zool., encontre os exemplares 
perdidos. 

O tipo é oriundo de Iguape, localidade situada no continente um pouco- 
mais ao sul do que a Ilha da Queimada Grande. 

Os exemplares da Ilha têm uma ou mais escamas intercaladas entre as 
guiares e ás vezes entre o segundo par de mentais; também a forma da frontal" 
é ligeiramente diferente. Trata-se porém a meu ver de meras variações indivi- 
duais que talvez sejam encontradas nos exemplares do continente quando se 
dispuzer de maior número de exemplares desta procedência. 

Fam. SCINCIDAE Cray, 1825 

Gen. M a b u y a Fitz., 1826 

Mabuya macrorhyncha Hoge, 1946 
Mahuya macrorhyncha Hoge — Mem. Inst. But. 19:241, 1946. 

Descrição do Alotipo: Uma fêmea N.® 927, na coleção do Instituto- 
Butantan. Focinho ponteagudo; frenal anterior cm contacto com a 2.“ labial; 
supranasais não em contacto por trás da rostral; frontonasal tão longa quanto- 
larga em contacto com a frontal que é um pouco mais curta do que as fronto- 
parietais e interparietal juntos; prefronlais tão longas quanto largas, cm con- 
tacto por trás da frontonasal; frontal em contacto com a 2.“ supraocular sómente;. 
4 supraoculares, a 1.* menor e a 2.® maior; 3.^ supraciliar maior; fronto- 
parietais em contacto por trás da interparietal; 2 pares de nucais; 7 supralabiais- 
(5.^ menor). 

Colorido como no hololipo. 

Comprimento do corpo 62 mm 
Comprimento da cauda 95 mm 
Distância do olho até o focinho 6 mm 
Membro posterior 22 mm 
Membro anterior 16 mm 
Comprimento da cabeça 11,6 mm 
Largura da cabeça 8 mm 


cm 


SciELO 


LO 11 12 13 14 15 16 



154 


XOTAS ERPETOLOGICAS. 


Redescrição de Mabuya tnacrorhyncha — Focinho alongado e ponteagudo; 
paljjehra inferior com um disco transparente, não diridido; f renal anterior em 
contacto com a 1.® e 2“ (excepcionalmcnte com a 2.® só.) supranasais larga- 
mente separadas; frontonasal tão longa quanto larga, em contacto ou não com 
a frontal; pre frontais tão longas quanto largas, geralmente separadas, excepcio- 
nalmcnte em contacto, separando a frontonasal da frontal; frontal um pouco 
mais curta do que as frontoparietais e inlerparietal juntas, em contacto sómente 
com a 2.“ supraocular; ás« vezes a 1.® supraocular está fundida com a 2.*; 4 
supraoculares ; 4 ou 5 supraciliares iguais, ou 3.^ ou 4.* maior ; frontoparietais 
largamente em contacto, mais ou menos iguais em tamanho à intcrparietal ; 2 
pares de nucais (exccpcionalmente 1 par) ; 7 a 8 supralabiais, 5.“ ou 6.® maior; 
depressão auricular menor do que o olho, escamas em 28-30 series sendo as 
laterais um pouco menores; cauda cerca de 1,1 vezes mais longa do que o 
corpo mais a cabeça. 

Comprimento máximo observado: 191 mm. 

Coloração : Bronzeada em cinta com uma lista lateral e.scura ptassando 
pelo olho e extendendo-se até a Itase da cauda, guarnecida por duas linlias claras 
marginais, sendo a inferior menos nítida. 

A linha superior, por sua vez é orlada por uma lista escura que no meio 
do cor|X) é quase confluente com a do lado oposto. Parte ventral cinzento- 
oliva clara. 

Fam. AMPHISBAENIDAE 

Gcn. Leposternon Waglcr, 1824 

lefostcmon microcfphalum WaRler — in Spix. Serp. Bras. Spec. Sen-. 70, iig. 1824. 
LcPisJosIrmon microcephalutn Boulenger — Cit. Liz. Brit. iftu. :462. 

.Leposternon microceplmluin Burt & Burt-Trans. .-Xead. Scj. St. Loui». 28: 83, 1933. 

Todos os exemplares capturados são tipicos. 

Estando o Dr. \’anzolini fazendo uma revisão da Familia Amphisbacnidae, 

• entregamos todo os exemplares, afim de poder estudar as possíveis variações. 

Subord. SERPENTES Lin. 1758 
Fam. DIPSADINAE Amaral 
Gcn. D i p s a s Laur. 1708 

Dipsas albifrons cofiílhetroi subsp. n. (Fig. 13) 

Descrição do Ilololipo: N.® 11486 9, procedente da Ilha da Queimada 

• Grande, capturada pelo autor. 



Mcrn. Inst. BaunUn. 
22:1S1-I72. Xor.* 1950. 


IIOCE 


155 


Corpo grosso, levemente achatado lateralmente; olho grande, porem menor 
do que em D. albifrons (Sau\-age) ; rostral tão larga quanto alta ou mais alta 
que larga, não visível de cima; sutura entre as inter-nasais menor do que o 
diâmetro do olho; frontal um pouco mais longa que larga, tão longa ou menor 
quanto à sua distância do focinho; menor que a sutura entre os parietais; 
supraocular mais larga posteriormente; loreal mais alta que longa, em contacto 
com as 2.^ 3.* e 4.^ supralabial ; 2 postoculares do lado esquerdo, superior muito 
maior, 3 do lado direito, os dois inferiores minúsculos; do lado esquerdo 1.® 
temporal fundida com a supralabial; do lado direito temporais 2-2; 8 
supralabiais (4.* e 5.’^ entrando no olho); 12 infralabiais; 3 pares da infra- 
labiais em contacto por detrás da sinfisial; 3 pares de mentais, anterior mais 
longa do que larga; ventrais 159; subcaudais 77/77; anal simples; dorsais cm 
17-15-15 séries longitudinais, com a ponta arredondada, não lanciforme como 
em D. albifrons albifrons, (Fig. 14); série vertebral aumentada. 

Coloração: marrom claro com faixas transversais levemente mais escuras 
do que a cor de fundo e pouco visiveis; ventre claro com umas leves nuvens 
marrom claro. 

O pequeno numero de exemplares disponiveis não permite estudar as 
variações na folidosc em relação com D. albifrons, porém parece que a nova 
espécie tem numero de ventrais c subcaudais menor do que a D. albifrons; cm 
D. albifrons cawlkeiroi as ventrais variam de 157 a 163 (9) e as sulKaudais 
entre 74 a 77 enquanto cm D. albifrons albifrons as ventrais \'ariam de 162 a ISO 
e as subcaudais 73 a 88 (9). 

Paraiipos X.® 11.489. 11.487, 3468, 1638, 11.486. 

Fam. CROTALIDAE 
Subf LACHESIXAE 
Gcn. Trimeresurus 

Trimrresurus insularts (.Xmaral, 1921) 

Lachesis insularis .\maral — .Vn. Mcm. Inst. But. (Ofjologia), 1:18-62. tabs. 3-4, !92I. 
Bothrops {nsularis Amaral — Mem. Inst. But. 4:114 rl 235- 1929. 

Botbropj insuliiris Klauber — BulL Zool. S. Diego 18: 1943. 

Quase todos os exemplares foram capturados nas arvores onde elas ficam 
â espera dos passarinhos dos quais elas se alimentam. 

A coloração muito clara da T. insularis muda rapidamente para o escuro 
quando transportada para S. Paulo. 


cm 


SciELO 


LO 11 12 13 14 15 16 



156 


XOTAS ERPETOLOGICAS. 7. 


Ord. T E S T u D I N A T A Oppel, 1811 

Fam. CHELONIDAE Cray, 1825. 

Gen. Chelonia Brogniart, 1800 
Chcloma mydas (L., 1758) 

Tetludo mydaí Linnaeus — Syst. Xat. 1: 197, 1758. 

Chelonia mydas Luederwaldt — Rev. Mus. Paul. 14:417, 1910. 


Não capturamos exemplares, porém obser\-amos muitos exemplares boiando 
na superfície ou imóveis pousados sobre os rochedos imersos á pouca distância 
da Ilha. 


Gen. C a r e t t a Rafin. 1814. 
Corel ta earelta (L., 1758) 


Testudo earelta Linnaeus — Syst. Xat. 1:197, 1758. 

Carelta earelta Refinesque — Specchio. Sc. Palermo 2: (9) 66, 1814. 


Também desta espécie observamos vários exemplares ao redor da ilha. 


D.\DOS BIOLÓGICOS E ECOLÓGICOS 

.\ ilha da Queimada Grande é um ilhote rochoso formado por rochas 
ar(}ucanas, situado por E. 24 32 X 146 42 ^\ . Greenwõch ao largo da costa de 
São Paulo, Brasil. Dista aproximadamente 40 milhas do porto brasileiro de 
Santos. Ela é recoberta por densa mata c no NE encontra-se um grande 
capinzal literalmente infestado pelas Mabuya (big. 7 c 8). Existe um antigo 
bananal nas margens de um pequeno corrego que, porem, somente tem agua 
durante alguns dias depois de fortes chu\-as. Atualmente a ilha é desabitada, 
sendo visitada ajienas duas vezes por ano pelos encarregados do reabastecimento 
do farol automático mantido na ilha pelo Ministério da Marinha. 

Antigamente tinlia um farolciro, porém, vários accidentes ofidicos e a 
impossibilidade dos moradores manterem animais domésticos devido ás picadas 
pela T. insularis, incitaram o Ministério da Marinha a transformar o farol em 
automático. 

As águas ao redor da ilha. estando extremamente ricas cm peixes comiveis 
de alta qualidade, são elas rcgulannente visitadas pelos pescadores, estes porem 
raramente descem na ilha devido ao perigo e ao medo (ainda aumentado pelas 
lendas) que lhes inspiram as cobras. 

.‘\ Queimada Grande é uma ilha continental, mesma formação geológica 
que a costa, separada por um mar de peíjuena profundidade, etc. Ela está 
situada na Zona AF. de Kõppen ou seja tropical úmida com temperatura do 
mes mais quente superior a 22c c do mes mais frio maior do que 18c. .X 
precipitação mensal maior de 60mm. 



* 


Mm. Inst. Batantan, 
22:151-172. Xor.* 1950. 


A. R. HOCE 


157 


Nao temos dados específicos sobre as condições climatológicas da ilha- 
^rem notamos que muitas vezes chovia no continente e na ilha da Queimada 

Pequena, mais pró.xima do continente, enquanto que na Queimada Grande o 
ceu permanecia limpo. 

Encontramos 6 espécies de repteis terrestres dos quais tres somente haviam 
sido assinalados ate hoje Tnmcrcsurus insubrís Amaral. Dipsas alhifrons 
Sauvage e Mobuya nu,crorhyncha Hoge. E.xaminando os e-xemplares de D 
albtfrons notamos, como já assinalamos, tratar-se não de Dipsas albifrons mas 
sim de uma subespécie nova. 

A povoação da ilha deve ter origem em cspccimes da fauna continental 
que alcançaram acidentalmente a ilha. Todavia a grande diferenciação que 
encontramos parece indicar que a introdução j.i é bastante antiga. Convem 
notar que dos 6 rciiteis terrestres, somente tres ocorrem também no continente 
sendo os outros tres restritos à ilha da Queimada Grande. 

Ilcuidactylus mabouia. Esta espécie nitidamente de hábitos noturnos e, 
^ni duvida, de introdução relativamente recente, talvez na epoca da instalação 
do Faro . Encontra-se com relativa abundancia nas tufas de bromélias e nas 
fendas das rochas, descendo até o nivel do mar; também capturamos muitos 

° densidade das 

Xão se encontram juntas grandes quantidades de mabouia como acontece no 
continetc onde se agrupa grande número na paredes iluminadas das habitações 

No continente ela se tomou antropõfila devido ás facilidades de alimentação 
que a iluminaçao lhe proporciona. 

f f 'ia mudança para hábitos diurnos lhe teria 

sido fayomvcl. porem esta mudança é fisiologicamente imiiossivel devido á grande 
ulntrabiltdade aos raios dos solares dos representantes desta familia (existe um.-i 
especie diuma. Lyejodadylus picturatus, espécie esta provida de uma firtissiina 

rsTT ° ^ 

O ex^ie do conteúdo estomacal revela que Ilcmidacixius utabonia se 
alimenta de lepidopteros. ortopteros e alguns coleopteros. km cativeiro ela 
eceita facilmente borboletas e baratas bem como lanas de Tenebrion. 

Colobodaclylus taunayi: Sem ser tão abundante quanto as M. macrorbyncha 
H. maboum, esta especie foi porem encontrada cm número relati^-amente grande 
e o momento esta especie era conhecida somente pelos seus tipos. Desde 

milhares de eaemplares de repteis das mesmas regiões onde ioiam encon- 

topo°w lüT * ^ “P'"'»'- 

lopoi.pos, mas em vao. 


SciELO 


LO 11 12 13 14 15 16 


cm 



158 


NOTAS EKPETOLOGICXS. 7. 


Todos OS exemplares íoram encontrados durante os cercos. Xão sabemos 
qual a alimentação. £m cativeiro aceitavam moscas e pequenas larvas do 
Tenebrion. 

Mabuya tnacrorhyncha : Esta espécie é extremamente abundante e encontra-se 
principalmente no capinzal, existindo também no mato e nos rochedos, até o nivel 
do mar. 

Trata-se, como as demais representantes do gênero, de uma espécie par- 
ticularmente bem adaptada à vida ao sol, pigmentação forte da pele e pigmentação 
não menos importantes do peritônio e região neural. 

Ela se alimenta de insectos os mais variados. Em cativeiro alimenta-se 
muito bem com moscas, larvas e adultos de Tenebrion. 

Leposternon microcephalum. Todos os exemplares íoram encontrados 
durante esca\'ações, a uma profundidade de 10 a 60 cm. 

Dipsas aíbifrons cavalheiroi. Esta espécie parece bastante rara. Encontra-se 
principalmcnte na mata ao redor do pequeno corrego. Todos os exemplares com 
e.xcciKão de um, foram capturados nas árvores onde em geral elas estão 
pousadas numa forquilha, não fazendo nenhum esforço para fugir. Somente 
quando irritada ela achata a cabeça e dá botes sem jwrém tentar morder. 

Esta espécie como já se refeçiu Amaral, alimenta-se com lesmas (Vaginula?). 

Trimeresurus tnsularís: E’ uma Crotalinae com todas as características de 
uma adaptação à vida noturna, porém as condições peculiares da vida na Ilha 
da Queimada Grande (ausência de mamíferos e outros animais noturnos) a 
obrigou a uma vida diurna sob pena de extinção. 

O único alimento na ilha são os pequenos passarinhos que ali vivem em 
grande quantidade. 

Gcralmente a insularis é encontrada enrolada nos galhos das árvores, não 
na parte exposta ao sol, mas imediatamente em baixo das folhas. Desta maneira, 
além dc estar mais ou menos protegida dos raios diretos ela fica invisivel ao 
passarinho incauto que vem pousar nos galhos. Ela escolhe sempre ár\-ores fru- 
tíferas. Quando liá muito vento ela desce das arvores e se esconde nas fendas 
das rochas ou no pé das árvores. Na época da florescência das gramineas ela 
é encontrada enrolada nas hastes destas últimas. 

Todas as observações sobre a biologia desta cobra ja íoram descritas por 
.•Vmaral c por nós verificadas em várias ocasiões. 

presença de uma tendência a ter as subcaudais simples, indica uma 
ação da seleção natural, eliminando os exemplares menos aptos à vida arborícola? 

A persistência das mutações foi sem dúvida devido a insulação que 
impossibilitou o cruzamento com espccimens da costa. Talvez estes caracteres 
sejam recessivos que se manifestam pelas razões acima citadas. 

Um fato digno de nota é que a T. insularis quando transportada para S. 
Paulo muda rapidamente de côr, ficando mais escura. 



832 

826 

834 

835 
805 
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994 
812 


.V 

Sexo 

Compr. corpo 

CofBpr. toUl 

cocapr. 

1009 

ê 

51 

110 

9 

957 

s 

48 

64 

8,6 

965 

s 

57 

147 

9,7 

1005 

i 

49 

119 

9,1 

1003 

s 

50 

129 

9-1 


s 

47 

151 

8,3 

1004 

s 

43 

112 

7,8 

964 

s 

47 

81 

83 

977 

9 

56 

177 

9,1 

1009 

9 

45 

117 

8.0 

960 

9 

57 

115 

93 

952 

9 

48 

115 

8.5 

961 

9 

39 

66 

7.4 

962 

9 

45 

111 

8.4 

1007 

958 

9 

9 

58 

46 

155 

136 

93 

93 

963 

9 

57 

131 

9.6 

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9 

38 

84 

7-1 

949 

9 

42 

80 

77 

951 

9 

40 

106 

7,0 

956 

9 

34 

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954 

9 

32 

92 

6.7 

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9 

36 

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65 

953 

9 

41 

72 

7.4 

975 

9 

52 

172 

93 

955 

9 

52 

99 



Habuya macrorhyncha Hoge 


Sexo 

Corpo 

Cauda 

N® 

Sexo 

Corpo 

Caixla 


mm. 

mm. 

1 . 


mm. 

mm. 

S 

41 

46 

817 

} 

39 

33 

9 

63 

5 

1008 

9 

58.5 

41.5 

9 

47 

51.5 

828 

9 

65 

.51 

9 

31 

18 

824 

9 

61 

74 

ê 

> 

64 

36.5 

60 

4 

818 

820 

i 

9 

60 

60.5 

64 

43 

ê 

46 

10 

813 

9 

61.5 

53 

9 

53 

58 

811 

9 

64 

71 

9 

9 

S 

55 

55 

67 

59 

10 

75 

810 

807 

806 

9 

3 

9 

59 

49.5 

60 

42 

50 

14 

ê 

30 

11 

814 

3 

48 

P 

9 

59 

6 

942 

3 

40 

37 


32.5 

2.5 

829 

3 

54.5 

7 

9 

61 

67 

1011 

9 

60.5 

70 

9 

37 

57 

42.5 

7 

827 

815 

9 

3 

61 

53 

51 

51 

ê 

60 

6 

833 

9 

50 

11 

ê 

62 

63.5 





1 SciELO 






Comp. 

total 

130 

191 

67 

16S 

125 

116 

177 

124 

82 

79 

178 

75 

77 

ISO 

67 

99 

160 

140 

155 

159 

165 

80 

127 

79 

105 

167 

155 

130' 

97 

116 

132 

120 

16S 

105 

162 

77 

167 

113 

85 

75 

122 

148 

114 

121 

169 

180 

176 

176 

115 

140 

168 

65 

75 

81 

177 

110 

136 

115 

103 

65 

158 

74 

138 

160 

82 

82 

131 

85 

125 

170 

174 

175 

129 

91 

115 

149 

172 

159 

137 

136 


Cauda 

Corpo 

X- 

Comp. 

total 

Cauda 

Corpo 

60 

70 

916 

100 

33 cin 

67 

122 

69 

917 

161 

99 

62 

8 cm 

59 

918 

67 

15 cm 

£2 

99 

66 

919 

167 

102 

65 

57 cm 

68 

920 

137 

85 

52 

47 cm 

69 

921 

131 

87 

44 

113 

64 

922 

161 

98 

63 

79 

63 

923 

95 

45 cmr 

50 

15 cm 

66 

924 

153 

85 

68 

11 cm 

68 

925 

165 

96 

69 

110 

63 

926 

155 

95 

60 

12 cm 

63 

927 

157 

95 

62 

16 cm 

61 

92S 

100 



112 

68 

929 

180 

115 

65 

6 cm ■ 

61 

930 

160 

97 

63 

39 cm 

60 

931 

170 

108 

62 

90 

70 

932 

163 

101 

62 

79 

61 

933 

125 

55 

70 

93 

66 

934 

147 

90 cm 

57 

95 

70 

935 

165 

95 

70 

8 cmr 

72 

936 

78 

28 cra 

50 

77 

50 

937 

125 

62 

63 

27 

52 

93í; 

55 

6 cm 

59 

41 cmr 

61 



100 

C3 

99 

68 

940 

94 

27 cm 

67 

83 

67 

941 

125 

71 

54 

63 

67 

943 

102 

54 

48 

•45. 

52 

970 

164 

100 

64 

58 

58 

971 • 

158 

92 

66 

84 

38 

972 

145 

77 

68 

52 

64 

974 

142 

80 

62 

98 

70 

976 

89 

40 cm 

49 

53 

52 

978 

167 

98 

69 

lÜOO 

62 

983 

157 

95 

68 

22 cm 

55 

985 

163 

35 cm 

50 

102 

65 

966 

55 

7 cmr 

48 

48 

65 

987 

85 

9 cm 

63 

18 cm 

67 

988 

72 

90 

65 

14 cmr 

61 

989 

155 

96 

66 

72 

50 

990 

162 

13 cm 

67 

00 

66 

991 

80 

81 

58 

50 

64 

995 

139 

97 

63 

62 

59 

996 

160 

47 

48 

101 

65 

997 

95 

73 

72 

67 

113 

998 

145 

105 

67 

106 

70 

999 

172 

29 cmr 

66 

110 

66 

1000 

95 

83 

49 

56 

59 

1002 

132 

12 cm 

53 

71 

69 

1913 

65 

90 

65 

104 

64 

1014 

155 

119 

61 

14 cm 

51 

1015 

180 

54 

63 

5 cm 

70 

1017 

117 

90 

75 

28 

53 

1018 

165 

15 cm 

54 

110 

67 

1019 

69 

61 

62 

39 cmr 

71 

1020 

127 

58 

67 

76 

(0 

1021 

125 

10 cm 

63 

46 cm 

69 

1022. 

78 

107 

60 

32 

71 

1023 

167 

98 

76 

15 cm 

50 

1025 

165 

25 cm 

70 

78 

63 

1026 

95 

100 

61 

71 

67 

1027 

161 

58 

69 

9-1 

66 

1028 

127 

99 

61 

24 cm 

58 

1029 

160 

95 

74 

10 cm 

72 

1030 

166 

54 cm 

71 

80 

51 

1031 

125 

90 

54 

20 cm 

65 

1032 

144 

35 cm 

65 

65 

60 

1033 

103 

939 

163 

103 

67 





110 

64 





105 

70 





65 

64 





5-C. 

60 





39 

52 





95 

20 





105 

67 





80 

69 





99 

60 





106 

67 





87 

49 








Uem. Inst. BaUntas. 
22:151-172, Nor.» 1950. 


A. R. HOGE 


163 


RESUMO 

O autor fez o estudo sistemático e ecológico dos Répteis da Queimada 
Grande. 

Foram registrados 6 espécies de répteis terrestres e 2 marinhos. 

3 espécies: Hemidaclylus ntabouia, Colobodactyhis taunayd e Lcposternon 
nticroccphclus, não tinham sido registrados ainda para esta ilha. O alotipo de 
^f. macrorhyncha é descrito. Dipsas albifrons cavaUieiroi subsp. n. é descrita. 

.\BSTRACT 

A systematic and ecological study of a collection o£ reptiles from Queimada 
Grande Island is presented. Out of si.x different recorded reptile species, 
three are ne\s' for this Island. The M. macrorhyncha allotype is described. 
Dipsas albifrons cavalheiroi n. subsp. is described. 


ZUSAMMEXFASSUXG 

Verfasser untemimmt ein systematisches und oekologisches Studium ueber 
die Reptilien der Inscl ‘‘Queimada Grande”. Es wird das Vorkommcn scchs 
terrestrer Reptilien und zweier mariria auf dieser Insel aufgedcckt. 

Die drei ersten Arten: Hemidaclylus mabouia, Colobodactylus taunayi 
und Leptosicrnum microcephalus. wurden bishcr fucr dicse Insel noch nicht 
registriert. 

Der alotipe von M. macrorhyncha wird beschriclien. Dipsas albifrons ca- 
valheiroi n. subsii wird bcschrieben. 

BlBLlOCRAnA 

1. Amaral, A. do — Anexos das Mcm. do Inst. Butantan (Ofiologu) 1, 1921 

2. Amara], A. do — Mem. Inst. Bntantan 7, 19J2. 

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4. Bianconi, J. J. — Specimina zoologia mosambicana — Mem. .dccad. Sei. Inst. Bologna 

10. 1859. 

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Verwandtschaftcn, Wien, 1826. 


cm 


SciELO 


11 12 13 14 15 16 17 



164 


NOTAS ERPETOLOGICAS. 



11. Hauneitsjiermirdt and Austin, James M. — Qimatology, Xew York, Mc Craw-Hell 

Book company, inc. 1944. 

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13. Hoge, A. R. — Mcm. Inst. Bulantan 19, 1946. 

14. Iheríng, Rudolf tv» — Rev. Mus, PauX. 8, 1910. 

15. Klauber, L. M. — Builetin Zoological Soe. of S. Diego 18, 1943. 

16. Kõppen. IPIadimir — Das geographes System der Klimate, Berlin, Verlag gebr. Born- 

traegcr, 1936. 

17. Kruga, Kem — Arch. Ges. Physiol. 202:130, 1924. 

18. Ijturentius, J. N. — Specimen medicum exhibcns synopsin reptílium emendattim cum 

experimentis circa venema et antidote reptílium austriaorum, Viennae, 1768. 

19. Linnaeus, Carolus — Systema Katurae 1, 1758. 

20. Lozrridge, Arthur — Bulletin of the Museum of Comportive Zoology of Horvard Col- 

lege 98 (1), 1947. 

21. Luederwaldl, — Rev. Mus. Paul. 14 e 19. 

22. Mocquard — Ftudes sur les Reptiles — Slíssion sctentifique au Mexique et àans 

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23. Moreau de Jonnés — Buli. Soc Philom., Paris, 1818. 

24. Rafinesque, — Spccchio Sic (Palmero), 1814. 

25. Opel, — Ordn. Repi. 3. 1811. 

26. Oken. — Isis, 1817. 

27. Sautage, — Buli. Soc. Philom. 8 (7) ; 1884. 

28. Saeeerov, — Archiv. Entw. Nechr. 34:742-748, 1912 

29. Scktveigger, — Prodrome, 1894. 

30. Serebreniek, Salotnãa — Mapa climatológico do Brasil, Serv. d. Met., Mtntsl. Agric., 

Rio de Janeiro, 1941. 

31. Setser, José — Contribuição para o estudo do clima do Estado de São Paulo — BoL 

D. E. R.. São Paulo, 1946i 

32. JPaglet, Jean — in Spix — Serpcntum Brasilicntium specie novae Histoire naturelle 

des especes nomrlles de serpens recuillies et observées pendant le voyage dans 
rintcrieur du Brcsil dans les années 1917, 18, 19 20, — 5fonachii 1824. 






Fio. 3 e 4 

Desembarque do material. 




Mem. Inst. BaUntaxu 
22:151-172, Kot.» 1950. 



168 


NOTAS ERPETOLOGICAS. 7. 



Fi& 7 • S 

Vista parcial mostrando a disoooião do caDírual e mata. 




SciELO 


11 12 13 14 



6 17 



ifera. Inst. Botantan, 
22:151172, N'ot.» 1950. 



FiC. 9 

Vi>U parcial da llhi 



FiC. 10 

Smia Ineofastrr chocando. E»ta c»t«>c i extrctnamentc ccmum na Itha 
e Dczn fcqncr lofc quando dela noa aproximamoa. 



-SciELO 









XOTAS ERPETOLOGICAS. 7. 


ns. 11 

Lote de T. inrmJaríj capturado nutca única eacuraío de 10 diaa 


Fio. 12 

T. ituMtarij no »cn babiut. 


cm 


SciELO 






Fio. 
* DifMU 
'• de Diftat 


14 

•lit/roit, 

*^frpnt 


‘^frvns. 


SciELO 




Mem. Iiut. BoUntan, 
a.l7}-lU. Nor.* 19S0. 


W. BUCUERL 


m 


QUILÓPODOS DO PERU — II 
po« WOLFGAXG BÜCHERL 

(Divisão de Zoologia Medica do Instituto Butantan, São Paulo, Brasil) 

Eni 1942 recebemos, por intermédio de J. Sucoup, de Lima, Perú, 43 
exemplares de Quilópodos, vindo este numero a constituir, então, o material 
mais copioso, jamais coletado de uma só vez naquele pais. 

Compõe-se esta cole<;ão dos seguintes gêneros, espécie e sub-espécies : • 

1. Scolopcndra morsilans L., 1758 

” viridicorhis Newp., 1844 

” ” ntgra Bücherl, 1939 e 1946 

” arthrorhabdoides Rib., 1944 
” arinata amancalis Bücherl, 1943 

” angulata Xewp., 1844. 

2. Cormocephatus bonacrius Att., 1928 

” impressus Por., 1876 

” andinus (Krpln)., 1903. 

3. Rhoda calcarata Pocock, 1891 

4. Olostigmus bürgeri .-Xtt., 1903 

” amazonac Cliamb., 1914. 

5. Rhysida celcris (Humb. & Sauss)., 1914 

6. Olocryptops ferrugincus sucoupi Bücherl, 1943. 

Os locais de capturas eram, segundo J. Sucoup, apenas dois: — La 
Merced, numa altitude de 700 metros, onde foi encontrada a S. morsilans, e 
Amancais, nos arredores de Lima, numa altitude de apenas 300 metros, onde 
foram capturados todos os outros exemplares. 

Trata-se, portanto, apenas de duas regiões muito restritas de Perú. O 
fato de se terem -encontrado nestes jiequenos areais Quilópodos de 6 gêneros 
diferentes com 13 espécies diversas, permite supór que a fauna quilopódica do 
Perú deve ser assaz abundante c rica em diferentes espécies. 


ErZregue para pubUcação cm 14 de Marco de 1950. 


cm 


SciELO 


11 12 13 14 15 16 17 



174 


QCIL6PODOS DO PERC. II. 


Esta suposição é agora continuada por uma nova coleção quilopódica de 
Perú, pequena em número, pois abrange apenas 25 exemplares, mas muito 
interessante quer sob o ponto de vista elucidativo da distribuição geográfica, 
quer sobre a capacidade de adaptação destes artrópodos aos mais diversos 
climas e ainda sobre a riqueza em espécies diferentes deste pequeno país. 

O professor Wolfgang Weyrauch, a cuja gentileza devemos esta segunda 
•coleção, a nós enviada para a determinação, em 20 de Agosto de 1949. Cole- 
cionou ele próoprio estes quilópodos, principalmente nos vales, nas encostas 
serranas e nos cinnes das regiões andinas, desde 200 a 4.000 metros de altura, 
ora em floresta húmidas, ora em estepes áridas e altas, batidas por ventos frios. 

Passamos agora a descrever esta nova coleção; 

1. Scolopendra gigantea Tíxyrauchi, subsp. n. 

Colorido: Estemitos e pernas amarelos nos exemplares grandes, nos mais 
jovens (até 12 cm) os fémures, as tibias e os dois tarsos do último par de 
pernas muito verdes (cm material conser\'ado cm álcool a côr é azul), destacando- 
se nitidamente do amarelo dos artículos das outras pernas e mesmo do prefémur 
e da parte Iwsal do fémur do 21.® jar. .Antenas, placa cefálica. 1.® tergito, 
coxas das forcipulas e os últimos dois tergitos, inclusive o último prefémur 
e a porção basal do fémur cor de chocolate claro, bastante destacado do colorido 
dos outros tergitos, que apresentam um marrom "sujo", com a borda anterior 
geralmente bem enegrecida em cada tergito, como já foi descrito para 5". tin- 
dicomis nigra. 

Medidas: (Relação de 4 exemplares) 

a) Últimas pernas tão longas ou por 2-3 mm mais longas do que as 
antenas. 

b) .Antenas extendendo-se até o 6.® tergito. 

c) Xo 21.® par de pernas os prefêmures tão longos quanto os dois tarsos, 
o fémur um jwuco mais curto que o prefémur e a tíbia mais curta 
que o fémur. 

d) Medidas no exemplar — tipo: — comprimento (da placa cefálica 


até o último tergito) 122 mm; 

comprimento das antenas 34 c 32 mm; 

comprimento das últimas pernas 34 mm 


(prefemur-9; femur-8, 3; tibia-7 ; tarsos-9 mm). 

(Os outros 3 exemplares ora são menores ora maiores, sendo constantes 
as relações mesurais). 



Mcm. Inst. Bauntan, 
«:173-186. XoT.» 1950. 


W. BUCHERL 


175 


Placa cefálica com finos poros esparsos e com dois leves sulcos longitu- 
dinais, levemente divergentes, indo até à base das antenas, mas interrompidos 
atrás, perto da margem posterior, onde são limitados por uma rede transversal 
• de pequenos e leves sulcos (bem menores e mais delicados que em S- xáridicornisQ. 

Antenas geralinente com 17 artículos. Em muitos casos, entretanto, há 
num lado 17 ou 18, no outro 20 a 24 artículos (sob a lupa se vé, que neste caso 
se trata de uma anomalia, sendo os artículos muito pequenos). Os primeiros S’ 
ou 6 artículos basais se apresentam “nús’',isto é, sem pêlos, pelo lado dorsal; 
ventralmente os pêlos já são visíveis a partir da porção apical do 3.®, 4.® ou 5.® 
articulo. 

» 

Placas dentárias um nada mais largas que longas; com 4 dentes em cada 
placa, sendo os três internos unidos num bloco, de maneira que apenas o 4.® 
dente lateral fica isolado. Sulcos basais das placas (vide fig.l), formando um 
ângulo de IIO graus, mais ou menos e continuados nos dois lados por outros 
sulcos que, entretanto, mal atingem o sulco transversal mediano. Este pode 
ser inteiriço ou mais fraco ou mesmo bipartido no meio. Adiante, no meio do 
•coxostemum, um sulco longitudinal, leve, que atinge o meio das bases das placas 
dentarias mas que não se estende até o sulco horizontal. Portanto não há um 
«u 2 triângulos sulcais (\'ide fig. 1). Atrás dos dentes em bloco há cm cada 
placa uma depressão o\-al. nela um tubérculo, do qual nasce uma curta cerda. 

Penúltimo artículo do telopodíto dos segundos ma.\ilarcs com uma cerda 
robusta no canto .ipical incemo e no mesmo canto, mas no último artículo, perto 
<Ia garra e das duas garrinhas liasais, mais uma apófise em forma de cerdã 
<ônica. “Escora” com pêlos não muito longos, não cobrindo as garras (vide 
fig.2). 

1.® tergido com sulco anular cm forma de fossa (vide fig.3) c com leves 
sulcos, partidos cada lun em 2 ramos, dos quais os medianos ultrapassam leve- 
mente a fossa circular. 2.® tergito sem sulcos. 3.® tergito com dois sulco^ 
leves, geralmcntc ramificados em frente c atrás. 4.® ao 20® tergito com doiá 
sulcos longitudinais paralelos, mais nítidos atrás e além disso no meio, perto 
da borda posterior mais um sulco muito curto. Carenas laterais do 5.® ao 21.® 
tergito. Este. na piorção anterior, no meio, com saliência; quanto ao resto 
liso e com borda posterior redonda, mas saliente nos cantos. 

Estemitos finamente pontuados; do 3.® ao 20.c com dois sulcos longitu- 
<linais paralelos, mais profundos no meio de cada placa, mas atingindo as duas 
margens. 

21.® estemito mais longo que largo, com os lados divergentes e a l)orda 
posterior quase reta até fracamente bilobada. Perto desta uma leve depressão. 



SciELO 


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176 


QUILÔPODOS DO PERO. II. 


1° par de pernas com 1 esporão no prefemur, 1 no femur, 1 na tibia e 
2 no primeiro tarso; do 2® ao 20° par de pernas apenas com 1 esporão tarsaL 
Todas as pernas com 2 garrinhas acessórias na base da garra terminal. 

2° ao 18° (ou 17°) prefémur, no lado dorsal, apical com 3 pequenos 
espinhos justapostos (raras vezes falta um numa perna) ; 18° ou 19° com 4 
pequenos espinhos no mesmo local; 20° com 4 a 5 espinhos no local, mas 
em cima de um pequeno prolapso e mais 1 pequeno espinho no meio do articulo, 
no lado dorsal. 

Todos os fémures sem espinhos. 

Apêndice do campo poroso das coxopleuras modicamcnte protraido, cônico, 
com 9 a 12 espinhos no topo; lateralmente geralmente com 1 espinho, raras 
vezes nenhum, algumas vezes 3-4 espinhos; dorsalmente, perto do canto do 
tergito sempre com 1 espinho e muitas vezes com mais 1 ou 2 do lado (vide 
fig. 4). 

Prefémur das últimas pernas com 24 a 28 espinhos, distribuidos irregu- 
larmente pelas áreas dorsal, mediana e ventral. No lado ventral os espinhos 
deixam livre mais ou menos um terço apical. Fémur sem espinhos. Espinho 
do canto (“'Eckdom”) com 6 a 8 espinhos. 

A presente subespécie é afim das seguintes espécies e subespécies: — S. 

arihrorhabdoidcs, armala, annala ainancalis, giganica, angulata, angulala 

explorans e angulala moojeni e o grupo de firidUornis. 

S. arihrorhaldoidcs não tem quase sulco longitudinal mediano no coxo- 
sternum forcipular; a fossa circular no l.° tergito é praticamente ausente; 
somente seu 21° tergito apresenta carenas laterais; não tem espinhos no dorso 
dos pre fémures. 

S. arfnala armala Krpln. não apresenta sulco longitudinal mediano no 
coxostemum forcipular; não tem carenas laterais a não ser nos 3 últimos 
tergitos; nos esteniitos da metade anterior do tronco os dois sulcos são muito 
leves e curtos; não apresenta espinhos no lado dorsal dos prefémures; o 
apêndice do campo poroso das coxopleuras apresenta apenas 1 a 3 pontas. 

ó". armala amancalis também não apresenta o sulco longitudinal mediano 
do coxostemum das forcipulas; os dois sulcos do 1* tergito são apenas curtos- 
e simples, sem serem bipartidos e sem atingirem a fossa circular. Os sulcos 
dos tergitos são muito leves; não há o curto sulco mediano na borda posterior 
dos tergitos. 

S. giganiea giganica L. tem 9 a 12 articulos basais das antenas despro- 
vidos de pêlos; tem um triângulo sulcai no coxostemum das forrípulas. .Apenas 
dois dentes estão unidos num bloco e 0 .*^ dois laterais isolados; nos fêmures,. 


cm 


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Mcm. In»t. Bntantan, 
22:17J I86, Xor.» 1950. 


w. dCcherl 


177 


principalniente das pemas postcriorc.s. há scralniciitc um pequeno e.siiinho 
aiiical, no lado dorsal. 

Por outro lado. jxirém. apre.senta a nova sulie.cpceie muito.s caracteristicr.s 
iRuais à .9. (jiganíca, de maneira que não i^nle haver «lúvida de que .se trate 
reahnente de uma suliespécie desta. 

As duas apre.sentam os mesmos sulcos longitudinais c o sulco nirto, 
mediano, nos tergitos, como tamliém as mesmas carenas laterais. Xas duas ò 
último tergito é elcrado cm frente, se.n que haja uma fonnação de quilha 
propriamente. Em amlas os sulcos dos estemitos são aprofundados no meio 
e o lado dorsal, apical, dos prefémures de ambos c.stá dotqrlo de numerosos 
espinhos (geralmente 3). 

Enquanto que c-stas semelhanças morfológicas indicam claramcnte a .9. 
gtgantca i?ara os novos e.xemplarcs, justificam, amtudo. as particularidades 
invariáveis, uma suliesjiccie nova. ainda mais porque a gigantea gigautea L. 
diverge igualmcnte no colorido, principalniente dos tarsos das últimas jienuas, 
bem verdes nc.sta suliespécic, sempre amarelos cm gigantea gigantea. 

10.035, da coleção do prof. Wolfg.ang Wcyrauch, Lima, 
Perú. Fêmea. 

Local-tipo: — Pucará. perto de Jatn. X. Perú. Uma /ona de estqic, 
.seca c quente, de quase 900 melros de altura. 

Paratipos: X.° 590, da coleção quilojiódica do In.^-tituto Ihitantan, 

macho e X.® 591. fêmea, adolescens. procedentes do monte Campana, 
dc 300 metros de altura, situado jxrrto de Trujillo. 

X." 592. fêmea, de Tainlxi Tingo. acima de Cliilete. numa altura de 

1.500 metros, entre Pacasmayo c Cajamarca. na de.scida ocidental dos 
.Andes. 


2. Connoce phaUts (C.) anJinus ruhrifrons, subsp. nova 

CalH.-ça. primeiro tergito e coxosten.um e às ve/es tamliém as últimas 
F>cnias marrom escuro, nitidamente ilcst.icado do resto ,1o ironco que .se aiirc- 
■senta num tdiváceo amarelo, mais claro ou e.scuro. 

Antenas sempre com 17 artiailos. dos quais os 6 Insais estã,. .sempre de.spro- 
vidos de pêlo.s que começam abruiitame.ite do sétimo em diante c apresentam 
um amarelo brilhante. (Fig. 5). 

Comprimento atê 90 mm. Placa cefálica tão Icnga quão larga, com dois 
sulcos longitudinais muito divergentes (fig. 5). Duas p’acas lasais lH;m visi- 
veis Os dois sulcos longitudinais >-ào até a altura dos olhos nos exemplares 
adultos, enquanto que nos filhotes somente atingem a metade jxisterior da 



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OLlLóPODOS DO PERC. 


II. 


■>'»- Te..- . a 

'.o .» .e.i,„: ,Te„,e 

iilenre l,i|arli<lo „.i („„,e (fi„ 5) J , 7 

dc.sde o 8° ao 10“ tcrpitn nn t i • 'isiveis já fracamente 

,7“ r/ 

.einenle percop.ivd. 21» .c.iio I g; e ” 70 " 7 ' ôTt"' 

carenado lateralmente e com Ixirrln 

^ulco mediano loiifritiidinal (fifr. 6). com 

Coxosternum do telopodito forcinulnr í(^rT 7\ ^ i • 

, .e ,,, . 

<.e:aeetlr7 ^ 7 . tÍ ,:1“ "7 ' 

-.,.re ..,„ vidvd e,„ ^ 

210 esternito com iK.rdas laterai.s e ,K>sterior arredondadas e ro.n I 
oepressao lonsptudinal no meio (fijç. 8). ' longa 

Co.xoplenra.s com apí-ndtce ,H)sterior l^mi saliente, cilindrico tennii^.ulo 
cm dois petpienos espinhos (iur n\ c„ • , , ^ imurico. tenmnaiulo 

■úo nn„g,„,L „ ,„„L «>• C.™.po 

.......en.e r\r 7'""""';. '■“■ 

.ilna apmei„,ad,„,e„,c c„,„„ri„ ™„ o. '“'7 ' 

"..'.a .ncliann, „„ ',., 3'“; ,7 7 7 "t 7 

n.ela,le <1„ co„,|.ri, * ,il,ia e o „7 17 ™ ’ * 

curto do Qiic o orimpirn r • . ^ l>ouco mais 

garra terminal.^ ' ' “ pequenas garrínluis ao lado da 

«'ollsans Weyraach, Li„,n. p„,-,. 
í»™í-(,V>«: Huanneo. ,,,„„a de 1.900 melros, Peni 



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Mem. liut. Batantan, 
22:173-186. Xor* 1950. 


\V. BUCHERL 


179 


Uma fêmea, sob X® 594 da coleção quilopódica do Instituto Butanta, 
procedente de Acancay, Perú; capturada pelo Prof. Wolfgang Weyraucli 
numa zona árida, quase sem vegetação, numa altura de 2.500 metros, 
üm macho, sob X.° 595 da coleção do Instituto Butantan, capturado por W. 
Weyrauch em Sahuaj-aco, no vale Urubamba, com 800 metros de altitude, 
cm zona seca, quente, pobre em vegetação. 

Este exemplar apresenta já bifurcação dos dois sulcos longitudinais, para- 
medianos, do 1® e 2° tergito e mesmo os sulcos da placa cefálica são um 
ta.nto irregulares, com malhas. 

X® 10.037, da coleção do prof. Wolfgang Weyrauch. Um exemplar jovem, 
capturado em Tingo Maria, ao longo do rio Huallaga, numa altitude de 670 
metros. 

3. Cormoccphalui (C.) itnprcssus var. ncglectus (Chamb.), 1914 

Trata-se de um único exemplar, semi-adulto, infelizmente não muito bem 
consei^-ado. Mesmo assim as partes morfológicas, especificamcnte importantes, 
permitem enquadrar perfeitamente este exemplar no grupo de C. impressus, 
isto é, 4 4 dentes nas placas dentárias; ápice do campo poroso das placas 

coxopleurais do último segmento do corpo sem apêndice protraído, mas apenas 
com dois espinhos diminutissimos. Campo poroso relativamcnte pequeno, não 
atingindo a margem superior. Última perna com prefemur, femur c tibia 
dorsalmente sulcados ; a garra terminal ventralmente em lâmina, quase tão 
longa quanto os dois tarsos juntos; prefemur com espinhos diminutissimos, dois 
no local do “espinho do canto” c um mediano, dorsal e mais 5 a 6 ventralmente 
cm 3 filas mal pronunciadas. Os sulcos <lo coxostemum forcipular, entretanto, 
divergem um tanto, isto ê, os dois sulcos longitudinais c o transvcr.sal estão 
tão abreviados que existe apenas o triângulo central, sem os ramos laterais. 
Todo o resto coincide com a variedade C; impressus ncglectus. 

Exemplar, fêmea. X® 10. 130 da coleção do prof. Wolfgang Weyrauch, 
Lima, Perú, capturado cm Divisória, na Cordilicira Azul. numa altitude de 
1.500 metros, em mata subtropical, húmida. 

4. Cormocephalus impressus glabrus, subsp. n. 

Colorido: Todo o corpo marrom oliváceo; estemitos, pcma.s e antenas 
amarelos. Sem faixa mais clara no meio das placas dorsais (impressus impressus). 

Comprimento do exemplar tipico atê 56 mm. Placa cefálica 3 mm de com- 
primento por 2,5 mm de largura. Prefemur e fémur das últimas pernas do 
mesmo comprimento; tibia um pouco mais curta do que o femur; 2® tarso 
um pouco mais curto do que o 1® e os dois tarsos juntos ainda um nada mais 


cm 


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QUILôPODOS DO PERC. n. 


curtos do que a tíbia. Última garra apenas um pouco mais curta do que os 
dois tarsos juntos. 

Placa cefálica pontuada, com 2 sulcos longitudinais, muito divergentes na 
frente, mas que não \*ão além da metade posterior. Antenas com 17 artículos, 
dos quais os 7 basais apresentam apenas pêlos muito esparsos, enquanto que 
os restantes estão dotados de abundantes pelinhos curtos. Coxostemum forci- 
pular (vide fig. 9) sem sulcos longitudinais ou transversais (em iinpressus 
impressus há dois sulcos longitudinais completos, convergentes na base das 
placas dentárias em ângulo agudo e atravessados por um sulco horizontal muito 
nítido). Placas dentárias tão longas quanto largas, com 4 dentes cada uma, 
sendo os dentes internos parcialmente unidos (fig. 9). Tergitos 1 a 20 com 
dois sulcos longitudinais paramedianos e no meio deles uma eleraçâo longitu- 
dinal muito leve e mal perceptivel. 21® tergito com sulco mediano. Carenas 
laterais dos tergitos completas e bem feitas apenas no último tergito; nos 5 
a 7 tergitos precedentes apenas bordas elevadas, a maneira de carenas, mas 
existentes somente na primeira metade dos tergitos, não atingindo nunca a 
margem posterior. (Em twpressus impressus as carenas laterais já estão pre- 
sentes desde o 9® ou 10® tergito). 

Estemitos 2-20 com 2 sulcos longitudinais completos, mas sem depressão 
mediana anterior, como em impressus impressus. 21® estemito com depressão 
longitudinal mediana e com borda jMjsterior truncada. 

Coxopleuras do tíltimo segmento arredondados atrás; sem apófise, mas 
em seu logar dois espinhos pequeníssimos. Sem outros espinhos. Area porosa 
não atingindo a margem superior. 

Todas as pernas sem esporão tarsal. 1® tarso sempre bem mais longo que 
o 2®. Prefemures do 21® par de pernas com 2 pequenos espinhos no canto 
posterior, medial, superior, no local do "espinho do canto” que aqui não é 
formado e apenas mais um espinho, pequeníssimo, na area mediana superior. 
Vcntralmente 3 fileiras com 2 espinhos i)equenissimos cada. Prefémur, fémur 
e tíbia, no lado superior, apical, com profunda fossa. Garra terminal ventral- 
mente em forma de lâmina. 

Tipo: N.® 10.128 da Coleção do prof. Wolfgang Weyrauch. 

LocaUtipo: San Mateo (Rio Rimac), nas encostas ocidentais dos Andes. 

Coletado pelo prof. \V. We>'rauch, numa altura de 3.000 metros. 

5. Olostigmus rex Chamberlin, 1914 

N® 10.030 da coleção do prof. W. WejTauch. Fêmea, por ele coletada nos 
arredores de Tingo Maria, ao longo do rio Huallaga, numa altitude de 670 
metros. 


cm 


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Mnn. Inst. BoUnUn. 
12:17J-186, Xov* 1950. 


\V. BUCHERL 


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6. Otostigmus pococki Krãpelin, 1903 

5 exemplares ao todo: — X° 10.129 da coleção do prof. W. Weyrauch, 
coletado em Divisória, na parte central da Cordilheira Azul, numa altitude de 
1 . 500 metros. 

X° 596 da Coleção quilopódica do Instituto Butantan, procedente de Aco- 
mayo, perto de Iluanuco, colhido pelo prof. W. \Ve>Tauch numa altitude de 
2.700 metros. 

X° 597 da coleção quilopódica do Instituto Butantan, com a mesma pro- 
cedência e o mesmo colecionador do exemplar precedente. 

X° 598 da coleção quilo{)ódica do Instituto Butantan, procedente de Iluanuco, 
duma altitude de 1 .900 mertos. 

X° 599 da coleção quilopódica do Instituto Butantan, procedente de Tingo 
Maria, ao longo do rio Iluallaga, com 670 metros de altitude. 

Os exemplares apresentam os seguintes característicos morfologicos, não 
mencionados pelo autor da espécie: — 2 esporões tarsais nos primeiros 6 pares 
de pernas e não apenas no 1®; tergitos da segunda metade do tronco além das 
5 quilias rugosas, longitudinais, mais duas laterais, acessórias; sulcos basais das 
placas dentárias em ângulo obtuso e na área uma profunda e curta depressão 
mediana; estrmitos sem sulcos; em logar das 3 depressões anteriores existe 
apenas u’a maior, mesmo já nas pbcas .interiores. 

7. Otostigmus amaconae Chamberlin, 1914 

X° 10.039 da coleção do prof. Wolfgang Weyrauch, colhido numa altitude 
de 3.800 metros, acima de Oiincheros, perto do rio Pampas, nos arredores de 
••Xndahuiylas. Perú. 

X" 10. 127 da coleção do prof. W. Weyrauch, colhido em Machupicchu, ao 
longo do rio Unibamba, nos arredores dc Cuzeo, numa altitude de 2.100 metros. 

X® 600 da coleção quilojxxlica do In.stituto Butantan, com 7 exemplares, 
mach's e fémeas, colhidos pelo prof. W. Weyrauch cm Atocongo, jx:rto de 
Lima, numa altitude de 200 a 500 metros. 

8. Rhysida ccleris (Humb. & Sauss.), 1870 

X® 10.028 da coleção do prof. Wolfgang Weyrauch, coletado perto de 
T ngo ^faria, ao longo do rio Huallaga, numa altitude de 670 metros, Perú. 
7 êmea. 

9. Cryptops (T.) debilis, sp. n. 

Todo o corpo amarelo avermelhado, prevalecendo o vermelho na cabeça c 
no 1® segmento. Comprimento até 45 mm. Placa cefálica aproximadamente 


cm 


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^fetn. Inst. Botaatan, 
22:173-186, Nor.« 1950. 


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acima de Celendin (X. Perú) e um segundo exemplar, X° 602, colhido ao 
longo do rio Chinchipe, perto de San Ignacio, numa altitude de 800 metros. 

11. Xcwportia longitarsis longitarsis (Xewp. 1845) 

X® 10.032, da coleção do prof. W. Wcyrauch, colhido perto de Tingo 
Maria, numa altitude de 670 metros, Perú. 

X® 603, da coleção quilopódica do Instituto Butantan, colhido pelo prof. 
W. WejTauch. em Huanuco, numa altitude de 1.900 metros, Perú. 

Ambos estes exemplares apresentam alguns caracteres diferenciais de N. 
l. longitarsis, como a ausência completa de sulcos longitudinais na placa cefálica. 
Xo exemplar de Tingo Maria os dois sulcos longitudinais do primeiro tergito 
vão apenas até a fossa circular, enquanto que no segundo exemplar sc estendem 
ainda além da mesma, como em /. longitarsis. Xos esternitos de ambos há 
apenas um sulco mediano, mas não os dois curtos posteriores de /. longitarsis. 
Os sulcos paramedianos dos tergitos existem desde o 2® até o 22® tergito, 
mas os dois laterais anteriores sc apresentam no e.\emplar X° 603 já desde o 
3®, indo apenas até o 19® e no exemplar de Tingo Maria só existem desde o 
10® até o 20“. Xos dois exemplares de Perú o prefémur, fémur e a tibia do 
último par de pernas apresentam aproximadamente o mesmo comprimento. O 
prefémur termina cm lâmina no lado ventral, apresentando 4 dentes relativa- 
mente grandes; o fémur tem 3 a 4 deniiculos muito pequenos no lado medial 
e a tibia ostenta no lado apical, vcntrahnentc, uma pequena apófise, dotada de 
um espinho robusto. 

CO.NCLUSÃO 

.'\s duas pequenas coleções de Quilópodos, uma enviada ao Instituto Butan- 
tan i>elo prof. Sucoup. de Lima, Perú, cm 1942, c, a segunda, provinda do 
prof. Wolfgang Weyrauch. igualmcntc de Lima, e enviada jjara o Instituto 
Butantan para a determinação dos exemplares, em 1949, revelam, enquanto for 
licito prejulgar à mão de material rclativamcnte pouco numeroso (68 exem- 
plares ao total), que a fauna quilopódica do Perú não é tão pobre cm csjjécies. 

Xo género Scolopcndra são assinaladas jnra aquele pais as seguintes espé- 
cies: — tnorsitans. z-iridicomis, arthrorhabdoides, armata, angulata c gigantea. 

Xo género Connocephalus existem i.s espécies bonacrius, impressus, andinus 
com algumas subespécies. 

O género Rhoda apresenta a espécie calcarata. 

Otostigmus está desdobrado nas seguintes espécies: — bürgeri, amaronar, 
re.r e pococki. 

Rhysida ccicris foi igualmente encontrada nas duas coleções. 


cm 


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1S4 


OUILÔPOIKJS DO PERC. II. 


Completamente nom para o Perú é a espécie debilis, subgênero Trigono- 
cryptops, havendo em toda a America do Sul apenas um outro representante 
único do gênero, o C. iheringi. 

Finalmente foi acentuada ainda a existência do gênero Otocryptops com a 
espécie O. fcrrugincus. 

RESUMO 

O presente trabalho se ocupa da fauna quilopódica de Perú, referindo em 
ordem sistemática as espédes e subespécies encontradas numa coleção coletada 
na região montanhosa dos Andes pelo prof. Wolfgang Weyrauch e enviada 
pelo mesmo ao Instituto Butantan, para a respectiva classificação. Foram encon- 
tradas as seguintes novidades sistemáticas: 

Scolopcndra gigantca wcyrauchi, subsp. n. 

CormoccphaUis aiidiiius nibrifrons, subsp. n. 

Cortnoccphalus imprcssus glabrus, subsp. n. 

Cryptops debilis, sp. n. 

ZUSAM MENFASSUXG 

Im Anschluss an die Chilopoden, dic ich 1942 durch H. Prof. Sucoup, aus 
Lima, Perú, erhielt, kann ich nun eintn zweiten Aufsatz über peruanische 
Chilopoden folgen lassen, da H. Prof. Wolfgang Weyrauch mir seine, 1949, 
im Andengebicte Pcnis gesammelten Chilopoden, zur Bestimmung übersandte. 
Unter dem letztercn Material befinden sich folgende Xeuheiten in s}*stemati.scher 
Hinsicht : 

Scolopcndra gigantca wcyrauchi, subsp. n. 

Connoccphalus andinus rubrifrons, subsp. n. 

Comtoccphalus imprcssus glabrus, subsp. n. 

Cryptops debilis, sp. n. 

Unter dem anderen, durch meinen ersten Aufsatz aus Peru schon bekannten 
Material, befinden sich folgende: 5". morsitans, gigantca, inridicornis, arthror- 
liabdoidcs, ^armata. angulata; C. bonacrius; Rhoda calcarata; Otostigmus 
bürgeri, atnaconac, rcx und pococki; Rhysida celcris; Otocryptops fcrrugincus. 


cm 


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M«n. In*t. Batanta««. 
22:173 1S6, Xor,* 1950. 





Mem. Inst. Batantan, 
a:IS7-19^ Nor.» 1950. 


W. BÜCHERL 


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QUILÓPODOS DA VENEZUELA (I) 
íOR WOLFG.^XG BÜCHERL 

(.Trabalho da Divisão de Zoologia iledica do Instituto Butantan, S. Paulo, Brasil) 


Pelos fins do ano de 1949 nos foi enviada uma pequena coleqão de 
quilópodos, coletados pelo prof. Dr. G. Marcuzzi, da Universidad Central de 
\>nezuela, Facultad de Ciências Fisicas e Matemáticas, de Caracas. Estes 
quilópodos são descritos neste trabalho. 


Ordem : — S C U T I G E R O M O R P H A 
Fam.; — PSELLIOPHORIDAE 
Genus: — Brasilophora Bücherl, 1939 

1 . Brasilophora trimarmorata, sp. n. 

Colorido: — Cabeça e tergitos com larga faixa mediana, amarela, reta, 
a percorrer todas as placas dorsais até a borda posterior do último tergito. 
Na área posterior da cabeqa ela se trifurca, indo os dois ramos laterais em 
direqão aos olhos, onde tenninam nas bordas internas dos mesmos, enquanto- 
que a faixa mediana, mais larga, vem a terminar na fronte. 

Ao lado das carenas laterais dos tergitos, nos dois cantos redondos ante- 
riores, existe igualmente u a mancha amarela. 

Todo o resto, tanto da cabega como dos tergitos, é marrom escuro. Tam- 
bém as bordas externas dos estigmas, que se localizam no meio da faixa 
amarela, apresentam tonalidades escuras. 

Arca superior dos pleuritos, entre os tergitos e as coxas das pernas igual- 
mente marrom, com u’a mancha circular amarela, no meio. Coxas c estemitos 
amarelos, com as saliências e bordas em faixas enegrecidas. 

Prefêmures das pernas marrons, mas com tres grandes manchas amarelas, 
uma no começo, uma no meio e uma no fim do artículo. Fêmures igualmente 


Entregue para publicação em 13 de abril de 1950. 



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188 


QUILôPODOS DA VENEZUELA. L 


com estas tres manchas (daí o nome " trímannoraia") amarelas em fundo 
marrom, sendo a mancha apical bem menor; tíbias marrons, tendo apenas u’a 
mancha amarela no ápice. Tarsos marrom claro. 

Medidas : — comprimento (desde a fronte até a borda do fim do tronco) : 
34 mm. 

Antenas: — acima de 80 mm, tendo o flagellum primum 21 mm. 

Últimas pernas: — femur — 9,5 mm; tíbia — 12,5 mm; tarso — 23,5 mm; 
2° tarso perto de 80 mm. Total: — perto de 120 mm. 

Flagellum primum com 54 a 58 artículos; todos bem mais longos do que 
largos, cobertos de numerosas cerdas, não dispostas em coroas. Além das 
cerdas existem nos primeiros 25 articulos, ao lado mediano, na ponta apical, 
1-2 pequenos espinhos, às vezes em ordem alternada, isto é, ausentes num ou 
noutro articulo, de maneira que entre os 25 artículos basais, 14 apresentam 
estes espinhos. 

Flagellum seeundum também com a imensa maioria de articulos mais longos 
que largos. Taml)ém aqui não se podem contar “coroas” de cerdas. 
Alem do “nodus” jxjde haver “subnodi”. 

2® par de pernas com l7-|-49 articulos nos dois tarsos respectivamente 
e com 3-f-3-j-2-|-0 acúleos nos ápices do prefêmur, fémur, da tíbia 
e do primeiro tarso respectivamente. 29 tarso provido de 28 “esti- 
lestes tarsais” (Tarsalzapfen), todos com as mesmas dimensões, 
curvados para a frente e presentes na face ventral dos artículos 
14 a 42. 

Prefêmur, no lado ventral, provido de uma quilia longitudinal, co- 
berta de cerdas. Lateralmente, ao longo da mesma, já uma fila de 
cspiculas, duplas na área apical. .\s outras carenas longitudinais 
apenas com cerdas. Fêmur já com algumas filas longitudinais de 
espinhos e outras somente com cerdas. Tibiá e tarsos somente com 
filas de cerdas. 

4® jar de pernas com 17-j-43 articulos tarsais e com 3-j-34-3-|-2 acúleos 
nos prefêmur, fêmur, na tíbia e no fim do 1. tarso e com 20 estiletes 
(dos articulos 14® ao 34®) no segundo tarso. Prefêmur com 2 a3 
fileiras internas de espinhos; o resto cerdas; fêmures com 7 fileiras 
de espinhos; tibias com 4 fileiras de espinhos; todos os artículos do 
1° tarso com 2 a 3 espinhos no ápice. 

7® par de pernas com ll-f41 articulos nos dois tarsos e com 3-h34-3-^-2 
acúleos e com 18 (do 16® ao 34°) estilites no segundo tarso. 3 
Fileiras de espinhos no prefêmur, 7 no fêmur, 5 na tíbia e com 2 a3 
espinhos apicais em todos os artículos do primeiro tarso. 


cm 


SciELO 


11 12 13 14 15 16 17 



Men. Tnst. Batantan. 
«:187-198. Sor.» 19S0. 


W. BUCIIESL 


189 


12” par de pernas com 10+41 artículos nos dois tarsos e com 3+3+3+2 
acúleos. Sem estiletes tarsais. Com 3 fileiras de espinhos no pre- 
fêmur; 7 no fêmur, 5 na tíbia e com 2 a 3 espinhos apicais em todos 
os artículos do primeiro tarso. 

Ultimo par de pernas com 13 artículos no primeiro tarso e numerosís- 
simos no segundo, apresentando também os artículos basais do segundo 
tarso espinhos apicais. 

Placa cefálica sem espículas e apenas com poucas e diminutas cerdas; 
piimeiros tcrgitos já com algumas espículas e cerdas, aumentando tanto as 
•espículas como as cerdas nos tergitos seguintes. Xas bordas laterais o primeiro 
tergito só apresenta cerdas; 2? tergito já com algumas pequenas espículas no 
dorso, também na faixa amarela, tendo cada espicula uma cerda longa do 
lado. Carenas só com cerdas; ai^nas nos cantos posteriores há um comego 
de espículas, ainda muito pequenas. Do 3® ao último tergito aumenta o 
número de espículas, tanto na área mediana como nas carenas laterais, dimi- 
nuindo. entretanto, as dimensões das cerdas. As espiculas das carenas vêm 
a fonnar verdadeiras serrilhas (vide fig-l). 

Gonópodos das fêmeas: — (vide fig. 2) I..ados externos do pro-mes-c 
metartron formando duas paralelas; lados externos do mes-e metartron apro- 
ximadamente do mesmo comprimento, sendo cada um duas vezes mais longo 
do que a sutura mediana do proartron e tres vezes mais longo do que a 
base do proartron. Em repouso esta cavidade forma um oval muito oblon- 
go, tocando-sc quase os feixes de pêlos no ápice interno do mesartron. 
Bordos internos do mes-e metartron lisos. Gonópodos apenas com cerdas, 
sem espiculas. 

Tipo: — Fêmea, N* 695 da colegão de Maraizzi, Caracas. Venezuela. 

Procedência: — Rancho Grande, Venezuela. 

Paratipo: — X® 40. da colcgão dos Scutigcromorpha do Instituto Butantan, 

procedente do local-tipo. 

.\ presente espécie nova é indubitavelmente do gênero Brasilophora Bü- 
cherl, 1939, pois apresenta 2 acúleos no fim do primeiro tarso já desde o 
s^undo par de pernas como também cúspides no segundo tarso das pernas 
1 a 8, todas do mesmo tamanho e sem serem alternadas. Seus últimos 
tergitos têm as carenas laterais serrilhadas, com cerdas na base de cada es- 
picula. 

Brasilophora trimarmorata, sp.n., distingue-se, entretanto, facilmente das 
duas espécies. Br. margaritata e Br. paulista Bücherl, 1939, pelos sintelo- 
poditos gonopódicos das fémeas, como se pode \-cr da seguinte comparação: — 


cm 


SciELO 


11 12 13 14 15 16 17 



190 


QIILÔPODOS DA VENEZUELA. I. 


Drasilophora margaritata 

Brasilophora paulista 

Brasilophora tri- 
niarmorala 

Mes-c metartron do mes- 

Pro-mes-e metartra d o 

^íes-c metartra do mesmo 

mo comprimento; proar- 

mesmo comprimento ; 

comprimento ; proartron 

tron apenas pouco mais 

ca\-idade mesartral qua- 

2 vezes mais curto que 

curto que o mesartron; 

se 2 veres mais longa’ 

o mesartron ; casidadj 

cas-idade mesartral mais 
mais larga que longr. 

que larga. 

mesartral pelo menos 3 
vezes mais longa que 
larga. 

Tergitos castanhos, com 

Tergitos castanhos, com 

Tergitos marrom, com lar- 

faixa mediana averme- 

faixa mediana amarela. 

ga faixa amarela ; nos 

lhada ; pernas amarelas. 

Pernas escuras com 3 

cantos anteriores igual- 

enfurnadas. 

manchas amarelas . 

mente u’a manchinha 
amarela. Pernas com 
manchas amarelas. 


Ordem : — SCOLOPENDROMORPHA 


Genus ; 


Fam.: — SCOLOPE.XDRIDAE 
Subfani.: — SCOLOPEXDRIXAE 
- CORMOCEPHALUS Xe^vport. 1844 et 1845 


2. Cormocephalus impressus impressus Porat, 1876 

Uma fêmea adulta, procedente de Rancho Grande, Venezuela c com o 
X.° 1847. Um filhote, também de Rancho Grande, com o X.° 215. .'\mbos 
na coleção do prof. Marcuzzi, Caracas. 

Subfam.; — OTOSTIGMIXAE 

3. Otostigmus pccocki Krãpelin, 1903 

11 e.xemplares, procedentes de Rancho Grande, Venezuela, sendo os dos 
N°s 1249, 1300, 921, 549 e um sem numero, da coleção do prof. Marcuzzi, 
Caracas c os de X“ 606. 607 e 608 da coleção quilopódica do Instituto Bu- 
tantan. 

A confrontação morfológica destes c.xemplarcs com O. pococki oferece 
as seguintes discordâncias: — 


cm 


SciELO 


11 12 13 14 15 16 17 


* 


cm 


Mem. Inst. Bstanta**. 
22:187*193, Xcr* 1950. 


W. BUCHERL 


191 


O. pococki 

Estes exemplares 

Cabeca e 1* tergito azul -amarelados ; 

Inteiramentc ollváceo, pres^alecendo ou 

todo o resto azu! esverdeado. 

o verde ou o azul ou o roxo. 

2 artículos basais das antenas sem 

Somente cs dois primeiros sem pelos. 

pêlos. 


Tergitos sulcados e carenados desde o 

Desde o 3® apenas 2 sulcos curtos an- 

quinto até ao vigésimo e 21'*. 

teriores; desde o 4® ou 5® também 
com 2 sulquinbos leves posteriores ; 
desde o 7® ou 8® com sulcos comple- 
tos, reforçados sempre na frente e 
atrás e no meio tão leves que se tor- 
nam quase imperceptíveis em muitos 
tergitos. Carenas laterais somente no 
21®; nos 13 tergitos anteriores as 
bordas bterais são eles-adas, simulando 


muito imperfeitatnente “ pseudo care- 
nas ". Só com espiculas e rugas, mas 
sem quilias. 

21* tergito ainda com 3 quilias enruga- 

■As 6 cas-idades são nítidas ate ao 20® 

das. nos dois terços ameriores. Es- 

estemito (vide fig. 3), sendo as 2 da 

teriftos com 3 candades anteriores e 

linha mediana as mais profundas. As 

3 posteriores; as anteriores cJácngar. 

6 se encontram numa depressão 

as posteriores redondas; cs estemitos 

grande. 

posteriores ccnfhiem as tres znttriores. 

21” estemito sem depressão. 

Com depressão na segunda metade 
(fig. 3). 

1® par de pernas com 2; 2” .to 19® par 

1® ao 3® ou 4® par. cem 2; dai ao 20’ 

com 1 esporão tarsal. 

com 1 esporão tarsal. 


Estas diferenças morfológicas são realmcnte bem significativas; ainda 
mais. porque elas se manifestam em todos os 11 exemplares de Rancho 
Grande ([ue. do outro lado. mostram uma surpreendente concordância mor- 
fológica entre si. 

Entretanto, ha também caracteres morfologicos comuns entre a espécie 
de Krãpelin e estes exemplares e nós julgamos estes de natureza relevente. 

Assim, desde o 5° tergito há nas duas formas 1 quilia mediana; desde 
o 7*^ tergito surgem ao lado desta quilia mediana n»ais duas quilias laterais, 
entre os dois sulcos paramedianos e desde o 11° ou 12° surgem mais duas 
quilias colaterais, ao lado dos sulcos paramedianos. de maneira que existem, 
ao todo. 5 quilias. Além disso apresentam os tergitos espiculas e rugas 
granuladas. 


SciELO 


11 12 13 14 15 16 17 



192 


QCILÔPODOS DA VENEZUELA. I. 


yo 


As 6 concavidades dos estemitos também são, em suma, concordantes, 
si bem que estas não oferecem caracter específico, muito seguro, porque 
existem muitas outras espécies deste gênero com 6 ca\-idades. 

Assim não nos aventuramos a designar uma espécie ou raça própria 
para estes 1 1 indivíduos de Rancho Grande. Seriam necessários mais exem- 
plares. talvez em melhor estado de conservação, para se poder ver com cer- 
teza os sexos. Xos presentes, apesar de cuidadosa preparação, não conse- 
guimos isolar nem testículos, nem ovários, pois intemamente só existia uma 
massa indistinta. Caracteres sexuais externos, como apófises, com feixes de 
pêlos, no lado interno dos prefêmures do último par de pernas, também não 
temos encontrado em nenhum e.xemplar. 

.•\s ' espécies .americanas do gênero Olosligiiiiis atingem hoje perto de 
35. Entre estas as seguintes apresentam um nitido parentesco morfológico, 
expresso : 

1° pelas 6 cavidades redondas, pequenas nos estemitos; 

j or 1 ou 3 ou 5 quílias nos tergitos. com todas as transições, isto 
é. pode existir apenas itma quilia mediana. Ao lado desta pode ha- 
ver apenas começo de duas quílias laterais, ainda dentro da área dos 
dois sulcos (O. scabricauda e inermis), ou as duas laterais já estão 
complctamente evoluídas, tão longas quanto a mediana (O. denticulatus 
c casus). Finalmente, pode haver, ao lado das duas quílias laterais, 
além dos dois sulcos, mais duas quilias, uma em cada lado, ou incom- 
pletas (htermis) ou nitidamente desenvolvidas {pococki e oceid entalis). 
jxir apresentarem uma área nos tergitos, não lisa, mas desfeita em 
inúmeras "mguinhas”, como que granuladas, havendo numerosas 
espículas. 

pelo dimorfismo se.xual entre machos e fêmeas, já quase descrito para 
todas as especies e a manifestar-se da seguinte maneira: os machos 
apresentam no lado interno dos prefêmures do último par de j)eraas 
um apêndice, mais ou menos articulado, truncado na ponta distai, onde 
há uma diminuta depressão, coberta de um feixe de cerdas louras. 

Este aj)êndice ora é do mesmo comprimento do prefêmur (O. 
silvestrii, scabricauda, clazHfcr), ora é um pouco mais curto (O. 
insignis), ora está apenas indicado ( O. pococki). Finalmente foram 
descritas ainda espécies, onde está inteiramente ausente (O. rcx, 
spteulifer, denticulatus, inennis, casus, oceidentalis e suitus), fazendo-se 
necessária, sem mais nada, uma revisão cuidadosa destas últimas espé- 
cies, para afastar a dúvida de que os poucos exemplares conhecidos 
(às vezes apenas um) não sejam representantes exclusiramente do 
sexo feminino. 


3° 


40 


cm 


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BÜCHERL 

B:ISM98, Xoy.» 1950. 

As espécies em questão são as seguintes: — 

O. pocochi Krpln.- 1903 Guiana brasileira; 

O. insignis Krpla, 1903 Ecuador; 

O. silvestrii Krpln., 1903 Ecuador; 

O. scabricauda (H. &S., 1870) Brasil, Colômbia, Guatemala; 

O. rex Chamb., 1914 i Brasil central c norte; 

O. spiculifer Poc., 1893 Ilha de St \'incent; 

O. denSiculatut Poc., 1896 México; 

O. tncrmií Por., 1876 .\rgentina, Venezuela, Colômbia; 

O. casus Chamb., 1914 Brasil, Mato Grosso, rio Madeira ; 

O. occidfnlalis Mein., 1886 . . 

O. suitus Chamb-, 1914 Brasil, Mato Grosso, rio Madeira. 


193 


Passando estas 11 espécies por uma análise mais acurada, chega-se às 
seguintes conclusões: — 

o) O. occidentalis e svtius foram descritos apenas sumariantente e de 
uma maneira muito imj)eríeita, precisando scr revistos à mão de novo ma- 
terial, da mesma procedência. Suilus sinônimo com casus? 

b) O. insignis e silvestrii formam certamente apenas uma espécie, talvez 
com 2 ou 3 raças. 

c) O. rex não é outra coisa, como já afirmara C. Verhoeff, senão a 
fêmea de O. scabricauda, do qual, aliás, muito dificilmente se poderão separar 
morfologicamente as fêmeas de sfnculifcr e denlieulatus. 

d) Olostigmus inermis deverá igualmente ser revisto mais de perto, 
segundo as zonas geográficas. Foi ele assinalado na .-Xegentina, depois na 
Venezuela e, finalmente, na Colombia; portanto em locais bastante distantes, 
pelo menos quanto à Argentina. Morfologicamente há igualmcnte ^•ariações 
assinaladas, principalmente quanto aos 2 esporões no fim do primeiro tarso 
que podem estar presentes apenas nos primeiros 4 pares ou em 18 pares. 

Quanto às quilias dos tergitos há uma mediana, realmente bem saliente. 
Ao lado desta há rugas longitudinais, espiculadas, em número de 2 em cada 
lado da quilia, de maneira que ao todo seriam 5 elevações, mais ou menos 
nitidas. Já vimos que pococki apresenta 5 quilias nitidas, espiculadas; mas 
apenas 2 esporões tarsais somente no 1° par de j^rmas. Os e.xcmplares. entre- 
tanto, de Rancho Grande, Venezuela e que nos deram ocasião a estas insinuaçõe.s 
de ordem morfológica, já apresentam 2 esporões tarsais nos primeiros 3 a 4 
pares de pernas, como alguns e.xemplarcs de íncr/mr. Em alguns indivíduos as 
quilias laterais também são mais débeis; no último tergito, finalmente, não há 
nestes e.xemplares as 3 quilias, assinaladas no tipo de O. pococki, mas apena.<; 
espículas como em inermis. 


cm 


SciELO 


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194 


QfILóPODOS DA VENEZUELA. 1. 


Não se incorreria, portanto, em erro muito grave, si se pretendesse reunir 
as duas espécies: O. pococki e inermis, numa só espécie, sendo a pocockt 
apenas o macho de iucnnis. com precedência do nome de inermis. Ou, então, 
poderia esta espécie ser subdividida em raças geográficas, designando-se igual- 
mente uma raça venezuelana. 

Estas considerações serão certamente resolvidas praticamente, após uma 
comparação de maior número de exemplares. Por ora, apesar das divergências 
morfológicas entre os individuos de Rancho Grande com pococki, as conside- 
ramos como pertencendo a esta espécie. 

Fam. CRYPTOPIDAE 
Subfam.: — SCOLOPOCRYPTOPISAE 

(jenus: — Otocryptops Haase, 1886 

4. Otocryptops mclanostomus (Xewp., 1845) 

5 exemplares, de Rancho Grande, \'cnczuela, tendo sido um incorporado à 
coleção quilopódica do Instituto Butantan, sob o N° 605. 

5. Otocryptops fcrnirjinctis fcrruginciis (L., 1767) 

1 exemplar, de Rancho Grande, Vetiezuela, na coleção do prof. Marcuzzi, 
sob o N° 949. 

Genus: — ?íc7i’portia Gervais, 1&47. 

6. Xcivportia pusilla Poc.. 1893 

6 exemplares, de Rancho Grande, \'enczuela, sendo 2 na coleção do prof. 
Marcur.zi, cm Caracas (N- 1C96 e 7-49) e 4 na coleção quilopodica do Instituto 
Butantan, sob o N“ 609. 

Medidas: — comprimento total até 34 mm. 

Última pema-prefemur 2,5 mm: 

fêmur 2,4 mm ; 
tibia 2.2 mm ; 
tarso 1 1,2 mm; 

tarso 2 7,0 mm. 

Placa cefálica totalmentc sem sulcos. Primeiro tergito com sulco anular, 
mas sem sulcos longitudinais. Tergites 4-20 com 2 sulcos longitudinais colaterais 




Mem. Inst. Batantan. 
1í:I8M98. Nor.» 1950. 


W. BUCHERL 


195 


e 2-21 com 2 sulcos medianos. Quília mediana dos tergitos bastante indistinta. 
Estemitos com sulco mediano, sem atingir as bordas anterior e posterior e 
ainda 2 sulcos laterais anteriores que \-ão apenàs até a metade de cada placa. 
Tibias somente com esporão lateral; tarsos sem esporões. Apêndice coxopleura! 
muito agudo, cônico, terminando num espinho. Poros grandes, atingindo na 
frente quase a margem do tergito. Xo canto posterior um espinho muito pe- 
queno. Prefêmur das últimas pernas com 4 a 5 espinhos ventrais; fêmur com 
1 a 2 espinhos mediais, pequenos. 

Antenas com 17 articulos; segundo tarso das últimas pernas com 10 a 16 
articulos, geralmente com 10. 

7. Ncivportia longitarsis longitarsis (Xewp., 1845) 

4 exemplares, de El Funquito, Rancho Grande, Venezuela, ficando o de 
5-49 na coleção do prof. Marcuzzi, Caracas, e os outros na coleção quilopódica 
do Instituto Butantan. sob o X® 610. 

Os 4 exemplares apresentam diferenças morfológicas relevantes de N. /. 
longitarsis, de maneira que preferimos fornecer a descrição dos mesmos: — 

Medidas: — comprimento total, até 40; 

placa cefálica e 1® tergito- 2,0 mm; 
antenas- 1,8 mm: 

última j)ema: prefêmur- 1,2 mm; 

fêmur- 1,1 mm; 

tibla- 1,0 mm; 

tarso 1- 0,6 mm; 

tarso 2- 1,5 mm. 

Placa cefálica lisa. brilhante, esparsamente pontuada, com dois sulcos pos- 
teriores, muito curtos e divergentes (fig. 4). Antenas com 17 artículos, não 
atingindo a borda posterior do 1® tergito. Os 3 artículos basais esparsamente 
pilosos Coxostemum forcipular na margem anterior bilobado. Primeiro tergito 
com fossa anular e bem no meio uma cavidade nítida, semi-circular (fig. 4). 
Com 2 sulcos longitudinais até a fossa (não em sua frente). Tergitos 2-22 
com dois sulcos longitudinais e sulcos laterais, anteriores do 3® ao 20“ tergito. 
Do 6® ao 20° uma quilia mediana que não atinge as bordas anterior e posterior. 
Coxostemum sem sulcos longitudinais ou trans^•crsais. Estemitos com sulco 
mediano, abre^ado em frente e atrás e na segunda metade do corpo com dois 
sulcos laterais anteriores. Último estemito sem sulco ou depressão; atrás tmn- 
cado. Pernas com cerdas finas; tibias só com esporão lateral; os dois tarsos 


cm 


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196 


QUILÔPODOS DA , VENEZUEUiV I. 


nitidamentf divididos, mas sem esporão. Tarsos nitidamente divididos, sem 
esporão. Apêndices coxopleurais longos, cilindricos, terminando em ponta (fig. 
5). Poros muito grandes, mas relativamente pouco numerosos, não atingindo os 
tergitos nem a borda posterior (fig. 5). Pre fêmur último com 4 espinhos 
ventrais grandes; sem outros espinhos: fêmur com 2 espinhos mediais, menores; 
tibia sem espinhos, segundo tarso apenas com 6 artículos. 


Ha diferenças nitidas entre estes exemplares e a espécie, N. longitarsis, 
longilarsis. Esta última apresenta os dois sulcos da placa cefálica, indo até a 
metade, enquanto que nos exemplares de Rancho Grande ocupam apenas a 
quarta parte posterior; no primeiro tergito não há em /. longitarsis a depressão 
atrás da fossa e os dois sulcos se estendem ainda além desta; a área porosa é 
grande, atingindo os poros na frente as margens do tergito; no último prefêmur 
existem, além dos espinhos ventrais, grandes, duas fileiras de pequenos espinhos 
menores. Quanto ao resto há concordância entre os individuos da Venezuela e 
a N. l. longitarsis, razão porque os agrupamos nesta espécie. 


SUMÁRIO 

Uma pequena coleção de quilópodos, vindos da Venezuela e coletados em 
Rancho Grande e enviados ao Instituto pelo prof. Marcuzzí, é descrita, contendo 
as seguintes espécies: — 

Brasilophora trimarmorata sp. n. ; 

Connocephalus iwpressus; 

Otostigmus pococki; 

Otocryptops melanostomus ; 

Otocryptops ferrugineus ferrugineus; 

Nctvportia pusilla; 

Nnvportia longitarsis longitarsis. 


ABSTRACT 

This pafier is a report on centipeds taken in the locality “Rancho Grande ’, 
Venezuela by Prof. Dr. Marcuzzi, Caracas. The following species are lislened : — 

Brasilophora trimarmoratg sp. n. ; 

Connocephalus impressvs; 

Otostigmus pococki; 

Otocryptops melanostomus; 


cm 


SciELO 


11 12 13 14 15 16 17 



Mem. Inst. BnUsUn, W. bCXHERL 197 

B:187-198, XoT.* 1950. 

Otocryptops ferrugincus ferrugineus; 

Ncwportia pusilia; 

Nczcporlia longitarsis longitarsis. 


ZUS.\MMEXFASSUXG 

Eine kleine Chilopodensammlung des H. Prof. Dr. Marcuzzi, aus Caracas, 
Venezuela, wird beschrieben. Fast alie Tiere stamnien aus der Nãhe von 
Rancho Grande. Folgende Arten bcfandcn sich darunter: — 

Brasilophora Irimarutorata sp. n. 

Coniwcephalus impressusj 

Olosligtnus pococki; 

Otocryptops viclanostomus; 

Otocryptops ferrugincus ferrugincus; ' 

Ncwportia pusilia; 

Ncwportia longitarsis longitarsis. 

Von den schon bekanntcn Arten wurden die Exeniplare von O. pococki, 
N. pusilia und N. l. longitarsis vollstãndig beschrieben, da sie von den genannten 
Arten niorphologisch schr abweichcn und sich dcshalb nicht genau einreihen 
lassen. 



SciELO 


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Mim- Inít. Betada-. 
22:199-204. ítor.» 1950. 


J. P. DO AMARAL 4 M. B. ESTEVES 


199 


AXTIGEXOS DE SALMOXELA EM BACILO FLEXXER II (* *) 

POR JAXDYRA P. DO AMARAL & MARIA B. ESTEVES 
(Laboratorio de Bacteriologia do Instituto Bulantan. 

S. Paulo, Brasil.) 


Xa família das Enterobacteriaceas ao lado dos caracteres bioquímicos, a 
composição antigênica é de essencial ralor na diferenciação dos gêneros, espécies 
c tipos. 

Xão muito raramente, porém, tém sido encontrados antigenos inespecíficos 
em géneros de bactérias perfeitamente identificados por suãs propriedades bio- 
químicas c sorológicas básicas. 

Lembraremos os trabalhos de Banforth (1), estudando raças de E. coli 
aglutináveis pelo anti-sóro de Shigella aikalcsccns; White (2) c Waaler (3), 
obser\-ando aglutinações de salmonclas por soros ^isentcricos e vice-versa; 
Peluffo, Edwards e Brunner (4), referindo amostras de paracolis com antigenos 
flagelares de SalmoncUa. Entre nós, Taunay e colaboradores (5) publicam, 
em 1948, obser\-ações de amostra Flexner II que possue cm seu soma o 
antigeno IX de Scdtnonella. 

Queremos refenr cm destaque o trabalho de Bomstein, S., Saphra, 1. e 
Daniels, J. B. (6) que, estudando a presença dos antigenos VT e XIII em 
Shigella paradysenteriac do "gruiio Y” (bacilo de Hiss) falam da possibilidade 
destes antigenos serem característicos dessa espécie. Esta questão é levantada 
pelo fato de terem aqueles autores verificado a ocorrência dos antigenos VI e 
XIII em 14 de 16 cepas de “Fle.xner Y” e.xperimentadas. 

Referem ainda como característica a inc.xisténcia de tais antigenos cm 2 
cepas de Shigella sonnei e cm 5 de Sh. paradysenteriae hão ijcrtcnrentes ao 
grupo . 

Xossa. comunicação estuda a presença dos antigenos VI e XIII de Salmo' 
nella em uma cepa com todos os caracteres essenciais do Bacilo Flexner II. 

Esta cultura foi estudada a pedido do dr. M. Murgel que a isolou das 
fezes de uma creança, cuja ficha clinica é a seguinte: 


RfcebMo para puWicação em 23 de maio de 19S0. 

(•) Trabalho apresenudo na III» Reunião ConjunU das Sociedades de Biologia do 
Brasil. Bahia, Agosto, 1949. 


cm 


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200 


AXTIGEXOS DE SALMONEU,\ EM BACILO FLEXXER. II. 


Hospital Santa Cruz. 

V. Y. 6 anos — Brasileiro. Procedente de Itaquera e internado em 1-4-948 
em estado de onconsciência e com rigidés da nuca. Até às 17 horas do dia 
da internação, conforme informação do pai, nada de anormal fora notado. 
Nesta tarde, o menino apresentou estado convulsivo, sendo levado ao Hospital 
onde deu entrada às 21 horas. 

A creança faleceu antes das 24 horas deste mesmo dia. Retirado o liquor 
por punção lombar e centrifugado, com seu sedimento foi feita uma preparação 
que, corada pelo método de Gram, revelou ao exame microscópico hastonetes 
gram-negativos. Infelizmente. não foi feita cultura deste material. Das fezes 
foi isolado germe gram-negativo, o qual foi enviado ao Instituto Butantan 
para identificação. 

Estudos sobre a cepa em questão: Bacilo Flexner N° 38 

Bacilos gram-negativos. Imóveis. Propriedades bioquímicas: fermenta a 
maltosc, glicose e manita sem formação de gás; não ataca a lactose e a 
glicerina. Não produz indol, nem liquefaz a gelatina. Não ataca a ureia (S.V-) ; 
não produz aldeido fórmico (Stem-), nem H^S. 

O quadro 6 especifica o total das reações bioquímicas. 

Propriedades antigcnicas — Aglutina os sôros Flexner totais, e em parti- 
cular o sóro específico para Fle.xner II como mostra o quadro 1 : 

Quadro 1 

Títulos aglutinantes da cepa Flexner Nf 3S para sôros Flexner 


Soro aotr 

Aotigeoo 

Tttnlo 

Flexner I (nâo absorvido) 

S.O m 

5.120 

Flexner II (nlo absorvido) 

N.O SS 

5.120 

Fl^xi.er Y (nâo absorvido) 

ÜM 38 

3.560 

Flexner fator 11. puro (*) (absorvido) 

N.O 38 

&40 


A aglutinação rápida, em placa, da cepa 38 com um sóro polivalente 
anti-salmonela, levou-nos a estudar os antigenos responsáveis pela reação. 
Experimentados numerosos antisoros somáticos e flagelares, verificou-se agluti- 
nação apienas com os sôros somáticos VI e XHI.XXHI. O quadro 2 mostra 
o titulo das dosagens pelo méto<lo lento. 

Os testes de absorção especificam e confirmam a presença dos antigenos 
VI e XHI, como se pode verificar pelo quadro 3. 


(•) Cedido gítitilmcnlc pelo Dr. A. Taunay, do Instituto Adolfo Lutz, São Paulo. 


cm 


SciELO 


11 12 13 14 15 16 17 




* 


cm 


Mem. Inst. BnUnUn, 
12:199-204, Not.» 1950. 


J. P. DO AMARAL & M. B. ESTIATS 

Quaebo 2 


201 


Soro preparado com amostra 

Antigeoo 3S 

Flexner 11 

5.120 

S. paratvphi C 

Vi.vu 

1.2W 

S. wortbingioQ 

2.560 

1. .XI1I..V\III 



Quadso 3 

T fites de absorção 


AntixOro» 

AgluUnioas 

Titolof agluttaaQlei 

Fltioer 38 

S, paratypki G 
(VI.VII) 

S. nttcport 
(VI. VIII) 

5. bocit 
morbi/icans 
(VI. VIII) 

5. nuhfield 
(VI. VIII) 

5. paratyphi-C 

VI.VII 

1.260 

5.120 

640 

320 

1.280 

S. paratypki • C 
ahsorrído com 
Flexner 38 


<30 

320 

-30 

«30 

-30 

• 

5. Kortkin/cton 

1..XIH. XXIII 

Flexner 38 

wortkinf^on 

(I.XIII.XXIII) 

5. pocna 
(.\III..XXII) 



1 2.560 

2.560 

I.2S0 



S. worikington 
absorrido com 
Flexner 38 


50 

320 

«30 




do antigeno XIII- 


Quadso 4 




Titolof aglQÜnaotes 

Aoüsôro 

Aglotinioas 

Flexoer 

S. wortkingiOH 
(I.XllI.XXItI) 

.V. poema 
(XltlXXlt) 

S.wortkiHf^on 

(I.XIII..XXIII) 

2.560 

2360 

1.280 

S. wortkingioH 
absolrido com 
S. pocnm 


«30 

640 

«30 


2 3 


SciELO 


11 12 13 14 15 16 17 



202 


/WÍTIGEXOS DE SALMONELA EM BAOLO FLEXXER. 11. 


Tendo sido preparado em coelho um sôro com Flexner 38, obtivemos 
títulos bem expressivos com as culturas que possuem antigenos VI e XIII. 
como se verifica no quadro 5: 

Quadbo S 

'fílulos itglutinanles pora sôro de coelho imunisado com a cepa 38 


AntijTcnos 

Tltiilos 

Flexner 38 

S.I20 

S. ptralyphi C (VI.VII) 

640 

5. mnfiifAfii (VI. VIII) 

320 

S. glostrup (VI. VIII) 

320 

S. toltdam (VI.VIII) 

320 

S. x-irchoxo (VI.VII) 

320 

S. mrlhington (I. XIII. XXIII) 

320 


Ficou provado portanto, por testes de aglutinaqão, absorção, e produção 
de anticorpos, a presença dos antigenos VI e XIII na cepa Flexner 38. 

Estas verificações foram feitas no inicio de 1948. Terminadas as provas 
já referidas, a amostra ficou conservada na coleção de culturas do laboratório 
em tubos de agar simples recobertos com vaselina e à temperatura ambiente. 

Quando, em inicio de 1949, coordenavamos os nossos protocolos para 
publicação, ao repetirmos as provas sorológicas, verificamos que, apezar das 
propriedades morfológicas e bioquímicas se haverem conservado inalteradas, 
(quadro 6), o mesmo não acontecera com a parte sorológica. Assim é que os 
titulos aglutinantes da amostra para os sóros de salmonelas (VI e XIII), a 
principio altos, haviam caído sobremaneira. Pelo quadro 7 pode-se ver que 
os antigenos essenciais para Flexner II se conservaram intactos o mesmo não 
acontecendo para os antigenos de salmonelas que se mostraram labeis. 

Por passagens sucessivas em camundongos, entretanto, os titulos para os 
antigenos \T e XIII se elevaram novamente, subindo quase ao nível inicial. 

Pelo exposto parece licito concluir que os antigenos de salmonela \ I e 
XIII encontrados na cepa estudada, são mais lábeis que os antigenos major 
para Flexner II, recuperando-se, entretanto, mediante o rejuvenescimento da 
amostra por passagens repetidas cm camundongos. Esta ultima verificação sugere 
que a ocorrência daqueles antigenos de salmonela esteja em relação com a 
virulência do micro-organismo. 


cm 


SciELO 


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* 


cm 


Mcm. Inst. BnUntan, 
22;199-204. XoT.» 1950. 


J. P. DO .\MAR.\L & A. A. AGUIAR 


Quadso 6 


205 


Prolmfdades bioquímicas da cepa 3S, recém-isolada, envelhfcida e rejuvenescida por 

passagens em camundongos. 



Cepa 38 

Recês-isoUda 

EnreUiecida 

Rejarenescida 


A 

A 

A 

Mamta 

A 

A 

A 

Lactose 

. — 

— 

— 

Sacarose 

— 

• — 

— 

MaJto«e 

A 

A 

A 

Dttlcita 

A 

A 

A 

AraUnose 

A 

A 

A 

Galactose 

A 

A 

A 

Adonita 

— 

— 

— 

Salicina 


— 

— 

loosita 


— 

— 

SorbtU 

— 

— 

— 

Celoòioae 

— 

— 

— 

Manose 

A 

A 

A 

TrtakMc 

A 


A 

Xílose 

.\ 

A 

A 

Indol 

+ 

+ 

+ 

H>S 

— 

— 

— 

Glicerina 





Qu.vwto 7 

Titulos aglutinanies obtidos com a cepa 38 recem-isolada, envelhecida e após passagem em 

camundongo. 



AMOSTRA FLEXXER 3S 

Re€^m4iol 

ada 

Cootenrada em cultura 
cerca de 1 aoo 

Rejuvenescida por pattageoa 
em camundongos 

AnUiteoos: 

EI. 11 

S. VI 

s. .xin 

EL II 

S. VI 

S. Xlll 

El. II 

S. VI 

S. XIII 

Títulos aglatinaates: 

5 120 

1.260 

2.560 

5.120 

50 

50 

5 120 

540 

1.260 


SciELO 


11 12 13 14 15 16 17 



204 


AXTIGEXOS DE SALMOXELA EM BACILO FLEXXER. n. 


HESUMO 


Foi demonstrada a presença dos antígenos VI e XIII de salmonelas em 
uma cultura com os caracteres essenciais de Shigella paradyscnteriae II. 

Tais antígenos VI e XIII, bem mais lábeis qúe os antígenos major para 
Flexner II, parecem estar condicionados á virulência do germe. 


ABSTRACT 


Salmonella antigens VI and XIII were identified in a strain which presented 
essential characters of Shigella paradyscnteriae II. 

These antigens VI and XIII, much more labil than the antigens major 
of Flexner II, seem to depend on the virulence of the strain. 


BIBLIOGRAFIA 

Bamborih, J. — J. of Hygicne 34:69-80, 1934. 

White, P. B. — J. of Path. & Bact. 32:85-94, 1929. 
tVaaler. E. — Monograph. Oslo, 1935. 

Peluffo, C. A.; Eãuxtrds, P. R. & Bruner, D. IK. — J. Inf. Dis. 70:185-192, 1942. 
Taunay, A. E. et colab. — O Hospital 33:211, 1948. 

Bemslnn, S.; Saphra, I. & Daniels, J. B. — J. of Iimnunology 42:401, 1941. 


cm 


SciELO 


11 12 13 14 15 16 17 



Mem. Inst. Batantao. 
a:205-212, Nor.» 1950. 


J. P. DO AMARAL 4 A. A. AGUIAR 


205 


REAÇÕES DA PRECIPITINA EM ALGUNS CULICIDAS (* *) 

POR JAXDYR.-V P. DO AMAR.\L & ARACY A. AGUIAR 

(Do Laboratorio de Bacteriologia do Instituto Butantan e Servifo da Profilaxia da Malária, 

S. Paulo, Brasil) 


No estudo dos mosquitos hematófagos as pro\'as de precipitina apresentam 
interesse, pois indicam a preferência, ou mesmo a exclusividade de certas espécies 
cm sugar êste ou aquele animal, ou mesmo o homem, minúcias de importância 
para os trabalhos epidemiológicos cm geral. 

Nas pesquisas do ser\’iqo de malária este teste é usado com muita frequên- 
cia pois selecionando as fêmeas que se alimentam de sangue humano estabelece 
a base para os estudos da transmissão c profilaxia da moléstia. 

A técnica classicamente usada, a que se encontra descrita em quase todos 
os trabalhos sóbre o assunto, insiste sôbre estes detalhes: “Selecionam-se 
sómente fêmeas engorgitadas rcccntementc c com abdômen cheio e vermelho 
indicando terem se alimentado há pouco tempo. Os cspccimcns são capturados 
pela manhã oátando desta maneira o mais possível a digestão do sangue. 
Logo após a coleta cada cspecimcn c amassado em um papel de filtro, devida- 
mente fichado, c enviado ao laboratório para que se processem as reações’.’ (1). 

Esta técnica tão simples a primeira vista apresenta algumas' dificuldades 
para o nosso meio pois a mutilação do mosquito necessitando ser feita no 
momento da captura, as mais das vezes cm lugares distante do laboratório 
central, traz como consequência prejuízo para certos estudos entomológicos que 
só poderão ser realizados nos laboratórios centrais. Tendo em vista esta 
questão, seria interessante a captura do mosquito nas zonas a estudar e a 
remessa íntegra dos mesmos ao laboratório central. 

Tentando uma idéia sôbre êste detalhe resolvemos verificar, se era possível 
a realização das pro\'as de precipitinas com mosquitos conservados integros 
durante um prazo de tempo razoável para serem remetidos ao laboratório, 
mesmo se cap)turados à distância e desta maneira estudados sob outros aspectos 
antes de serem inutilizados para as pro^^as. 


Entregue para pt^Iicação em 23 de maio de 1950. 

(•) Trabalho apresentado á Sociedade de Biologia, em reunião de 12-4-1950. 



SciELO 


11 12 13 14 




17 



206 KEAÇOES DA PRECIPITIXA EM ALGUNS CULICIDAS 

\'eri ficamos ainda da possibilidade do mosquito ser conserv^ado vivo durante 
um tempo mais ou menos longo após o repasto, sem prejudicar a positividade 
do teste, demonstrando a proteina humana mesmo depois de digerida. 

Esta é a finalidade da presente comunicação. 

Parte c.rficritiiental : 

Foram criados no laboratório (Serviço de Profilaxia da Malária; Labora- 
tório de Entomologia) e alimentados com sangue humano exclusivamente, fêmeas 
de mosquitos que são mortas 12 horas após o repasto. Selecionam-se as 
engorgitadas. 

Divididas em 20 lotes serviam para as provas de precipitinas em intervalos 
de tempo variáveis a saber; 12-24-48-72 horas — 10-20-30-35-40-45 dias e 
3-4-5-6-7-8-9-10-11-12 meses. 

Os mosquitos devidamente fichados foram conservados íntegros só sendo 
triturados no dia da prova em tubo com 0,5 cm’ de solução fisiológica. Este 
triturado depois do permanecer 1 hora à temperatura ambiente era passado em 
papel de filtro obtendo-se então um liquido absolutamente transparente. 

As reações foram efetuadas em tubos de 0,5 x 4 cm com partes iguais 
do antigeno e do sôro anti-humano (0,05 -f- 0,05). 

O sôro empregado foi preparado por nós (Laboratório de Bacteriologia 
do Instituto Butantan) cm coelhos, aos quais foram injetados por via endove- 
nosa uma média de 18 cm’ de sóro humano em 10 injeções, iniciando-se com 
0,1 c terminando-sc com 4 cm’ e intervaladas de 3 dias. O menor titulo de 
sóro aproveitado foi de 1 :20.000. 

O sóro era colocado na parte inferior do tudo e o antigeno cuidadosamente 
escorrido pelas paredes do mesmo de maneira a se formar uma zona de união 
c na <jual se verifica a fonnação de anel leitoso indicando a positividade da 
reação. .-Vs leituras foram feitas entre 5 e 10 minutos c para as reações 
positivas já com 5 minutos dá-se o aparecimento de anel bem nítido que se 
acentua ate 10 minutos. Em alguns casos os tubos foram levados à estufa a 
37” ate 20’ : em alguns tubos verifica-se a intensificação do anel, mas julgamos 
esta etapa aI)Solutamente óbvia pois as leituras podem ser feitas com toda a 
segurança até 10 minutos. O quadro Xo. 1 especifica os resultados obtidos: 

Pela verificação do quadro Xo. 1 nota-se que até 1 ano (o máximo 
tempo examinado) é jjossivel se conservar o mosquito integro sem afetar a 
positividade da reação que para todos os casos se mostrou absolutam'cnte 
típica e de facil leitura. 


cm 


SciELO 


11 12 13 14 15 16 17 



Mem. Inst. Batactao, 
22:205-212, Xor* 1950. 


J. P. DO AMARAL * A. A. AGCIAR 


207 


Quadro ! 

Reufões de precipitimu em mosquitos mortos 12 horas após o repasto (sangue humano) e 
\ triturados no momento da prava. 


Mosquitos exa- 
minados depois 
de 

X.*s 

de 

exemplares 

l.niura da rra^Jo 

5’ 

10' 

E«nfa 37* 

20’ 

12 horas 

15 

4+11++ 

JS + + 



8 

3+3 + + 

5 * 4 . ^ 


45 horas 

8 

3+S + + 

3++5++- 


72 horas 

10 

10 + + + 



lO dias 

10 

1++9 + + + 

Í++9 + + + 


20 dia» 

4 

1 + + 3++ + 

I + +3+++ 


30 dias 

12 

1 + + 11 +++ 

I2+++ 


35 dias 

7 

1-H-6+ + + 

1 1 + +6+++ 


40 dias 

10 

2++8+++ 

I++9+ + + 


45 dias 

10 

I 4.3 + + 6 ++ + 

2 + +8J-+ + 


2 meses 

12 

1+2+ + 9 + + + 

1+2+ + 9 + + .1. 


s nmc* 

10 

4 + 6+ + 

4+6+ + 

3 + 5++2+ + + 

4 meses 

15 

15+ 

10f3+ + 

9 + 6+ + 

5 meses 

14 

13+1 + + 

I1 + 3 + + 

llf+3 + + + 

6 mw» 

30 

29+1 + + 

19 + II + -- 

3+23+ + 4++ + 

7 nic»» 

25 

19 + 6++ 

11 4.I4J-4- 

34 .I 6 + + 64H- + 

S meses 

10 

7+3+ + 

: -7++ 

«+»+ + ! + ++ 

9 meses 

29 

22 + 7++ 


16 + 8+4-4+ + + 

10 nmn 

16 

16+ 

164. 

I4+2+ + 

11 meses 

14 

14 + 

14+ 

•+Í++5 + + + 

12 meses 

45 

37+8+ + 

35 + 10+ + 

20+2I + +4 +++ 

Total exs. 

314 




Tota! exs. positiTos . . 

314 





Leiroda + «= »nH pooco intcoso 
+ + «= «kI intnuo 
+ + + — »n«I muito intnuo 


O segundo aspecto da questão estudada foi se o mosquito conservado vivo 
por tempo maior que 12 horas após o repasto, poderia revelar a proteina humana 
em seu organismo, mesmo após a digestão do sangue ingerido. 

Mosquitos alimentados exatamente como para o primeiro lote foram sacri- 
ficados após 24-36-48-64 horas e 3 dias após o rejusto e as reaqões feitas 
pela mesma técnica citada. O quadro Xo. 2 mostra os resultados encontrados; 

Examinando-sc o quadro N.® 2 chega-se à conclusão que ainda com 3 
dias após a alimentação (máximo de tempo de verificação) a proteina humana 
é revelada pelos testes. Devemos porém chamar a atenção que nesta segunda 
série de reações, isto é, com mosquitos mortos 24 horas ou mais, após o 
repasto, aparece com frequência, uma turvação na parte liquida superior ao 
anel, turvação esta que não foi notada em nenhuma das reações do primeiro 
lote de mosquitos mortos 12 horas depois de terem sido alimentados. 



SciELO 


11 12 13 14 15 




208 


RE.\Ç0ES da PRECIPITIXA EM ALGUNS CULICIDAS 


Quadbo 2 

í restfs de Precifntma realisados para mosquitos alimentados com sangue humano e mortos em 

tempos varíáz'eis 


Tempo de rida 

N.* 

Leitora da reaçáo 

aót 

o repasto 

de 

exemplares 

5’ 

10’ 

Eítrfa 37* 

20 

24 horas 

48 

40 + 6++2T+ + 

9+15++ 
:í+J4-+i+ + + 

3 + 2 + 4- 
11 + 


204-19+ + 9++4- 
S+15++4+++ 
124 . 8++2 + .f + 
l+2-f-f2-).++ 
5++3+3+ + + 

36 horas 

24 

9 + 15+ + 

15 + 3++l + J-.f- 


22 

5 



n 





110 




Total exs. positivoo .. 

no 





Esta turvação não prejudica a leitura dos testes po;s o anel é bem nitido 
como se poderá verificar pela fotografia em anexo. 

Frizamos porém esta observação, que poderá trazer dúvidas ao técnico 
pouco acostumado às leituras. Não podemos discutir do carácter da mesma, 
deixando sómente assinalado o fato. 


RESUMO E CONCLUSÕES 

1) Trabalhando com mosquitos criados no laboratório e alimentados com 
sangue humano conclue-se que os testes de precipitina podem ser feitos com 
mosquitos mortos 12 horas após o repasto e conservados sêcos e íntegros até 
1 ano (o maior tempo de verificação). 

2) As reações, absolutamente tipicas, são lidas com facilidade já com 5 
minutos. 

3) Com aumento de tempo de vida do mosquito após o repasto (24 horas 
até 3 dias), as reações ainda se mostram nítidas, aparecendo porém uma zona 
de turvação na parte superior do anel. 


ADSTRACT 

In laboratory bred mosquitoes, fed with human blood, the precipitin tests 
are positive in samples killed 12 hours after feeding and presened in dried 
State one year (the largest period obsenxd in the present work). 

Typical reactions are easily read within 5 minutes. 



SciELO 


11 12 13 14 






Mctn. Inst. BnUntan, 
a:20S-212, Sor.’ 195». 


J. P. I» AM.\RAL i M. B. ESTE\'ES 


209 


r-- 


Mosquitocs killcd 24 hours to 3 days after the blood mêal still show 
dear out reactions, though presenting a zone of turbidity on the upper part 
of the ring. 

BIBLIOGRAFIA 

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cm 


2 3 4 5 6 7 SciELO ;l1 12 13 14 15 16 17 





Mem. TnM, 

22:73-150, Xov.* 1950. 



Tr»o I — Rracão tipica para ic^tn dç prkipttina rm m'>*. 
c]uito« znortns 12 horas após o rrpasto e conscrirados accoí 
e iotricros até ura ano. 

Tiao 2 — Rcaçâo onde se nota uma lona d« tnrTaçIo acima 
do arwl, que aparcc« com o aumento de rida do mosquito 
apôs o repasto. 



SciELO 


11 12 13 14 15