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Full text of "Memorial de varios simplices : que da India oriental, da America, e de outras partes do mundo vem ao nosso reino para remedio de muitas doenças"

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CURVO  SEMMEDO 


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in  2018  with  funding  from 
Wellcome  Library 


https://archive.org/details/b30412183 


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M  E  M  O  R  I  A  L 

DE  VÁRIOS  SIMPLICES 

Que  da  índia  Oriental,d  a  America,  e  de  outras  par¬ 
tes  do  mundo  vem  ao  noíTo  Reino  para  reme- 
dio  de  muitas  doenças,  no  qual  íc  acharàõ 
as  virtudes  de  cada  hú,  e  o  modo  com 

que  íe  devem  uíar. 

■  ’  ■  1  \  ;  ^  , 

A  índia,  e  de  outras  partes  da  Europa  vem  para  efte  Reynf® 
muiíos  remedios  de  íirgularcs  viuudes,  contendas,  e  anexâs 
a  diff  rentes  pedias  ,  raizes,  pàos,  k  mentes,  c  frutos;  roas  porque 
nem  das  deenças  para  que  ostaes  remedios  fci  vem,  nem  do  mo* 
do  com  que  le  devem  applicar,  haja  algum  rote  iro  impreffo  que 
oenfine;  daqui  procede»  que  rendo  munas  pefloas  em  luas  caías 
os  ditos  remedios,  e  padecendo  varias  enfermidades*  quefaciU 
mente  fc  podiaó  curar  com  dles,  por  falta  de  noticia  dos  pieíti* 
mos  que  tem  os  ditos  rerredios,  íicaõ  fem  utilidade  algumaf  e 
os  doentes  fem  íaude  *  efta  coníideraçao ,  e  fentimento  incitou 
a  minha  curíoGdade ,  e  o  zelo  do  bem  commum,  pan>  que  a  cuílo  de  grandes  diligeo* 
cias  bafcaffc  naõ  fó  a  algumas  pefloas,  que  afliftiraõ  na  Índia ,  e  outras  terras  do  mun§ 
do;  mas  defeobrifle  vários  papeis  manuíeritos,  para  que  informandomede  hun^e  ou* 
tros,  foubefle  com  fundamento  as  virtudes  das  fobreditai  pedras,  pàcs?  rai$e$,  e  fru« 
tos,  e  fizefle  eíle  Memorial  em  foccorro da  natureza  humana;  fe por  cite  ferviço  que 
faço  ao  bem  publico  naõ  merecer  agradecimento,  naómerecerey  reptehençaõ ,  c  fema 
derem,  acabarey  de  entender  que  ha  homens  taõ  ingratos ,  e  dc  animo  taôdepravadog 
que  fazem  por  rnslnh,  o  que  os  meninos  fazem  por  innocenciajfiiamaó  o  leite »  s  mor¬ 
dem  o  peito,  que  os  íuftentou* 

Os  lemedios  que  vem  da  índia  Oriental, e  de  outras  partes,  ou  fejaô  pedras, páor*oflbs£ 
frutas,  (ementes,  ou  raizes,  fs  daó  moidos*  ou  roçados  em  agua  cormrma,  outros  os  daõ 
niiíluradoscm  agua  de  arroz, a  que  os  naturaes  daquelks  terras  chamaõ  Ambatacanja;aU 
guns  os  daó  em  çumo  de  limaógaikgot  eaqudks  quefedaõ  para  as  febres,  fe  bebem  á 
entrada,  e àdefpedida  delias. 

A  txperiencia  dos  Mouros ,  e  Gentios  da  Afia,  foy  a  rneítr^quedeo  o  conhecimento 
paia  o  uío  dostaesr  médios.  Também  a  txperiencia  de  alguns  curioíos  tem  moftrado 
grandes  proveito*  ,  que  muitas  vez  :s  refulcaõ. das  f u  is  operaÇoens  ,  naõ  encontrando  a$ 
germes  evacuaçocns  da  Medicinatde  que  os  Panditos,  que  afliítem  naqudlas  terras,  també 
ufaõ  ddde  o  principio  das  enfermidades  com  qualquer  defearga  procedente,  naõ  dilatan¬ 
do  tempo  em  os  applicar :  e  n<  íla  forma  curaõ  as  mais  agudas ,  c  malignas  doenças, reguw 
lendo  o  tempo  da  íangria,  purga, ajuda,  ou  vomitorio  para  o  tempo  do  cordea'l,de  manci- 
raque  fenaõappliquetudonomeíinoinftante  ,  nem  le  encontre  hum  remédio  com  ou¬ 
tro,  antes  faça  cada  hum  o  feu  efieito  livremente, 

Muitos  Médicos,  t  outras  pefloas  que  o  naõ  íaõ,  tem  para  fi  que  os  bczoarticos  *  c  re* 
médios  que  vem  da  índia,  e  de  outras  terras,  nem  fazem  em  Portugal  as  melmas  maravi* 
lhas  ,1  que  fazem  ns  índia,  e  nas  terras  em  que  fecrearaõ,  aflim  pela  differença  do  clima, 
como  porque  quando  chegaõ  cá,  já  naõ  temaqudle  vigor, que  tinhaõ  nas  terras  em  q  naf* 
ceraõ.  A  cfta  duvida  rcípondo  ,  que  todos  os  íimpliccs  coníervao  as  virtude?',  com  que 
Deos  ocreou,  em  quanto  no  corpo  dos  taes fimplices naõ  entra  corrupção.  Vemos,  c 
t  xperimentarnos^uc  dos  fimplices, que  vem  das  Conquiílas  para  as  boticas  do  noflo  Rey-* 
no,fe  Ía2em  muitos  remedios  compoftos,  etornaõ  para  as  mef mas  Conquiílas  para  fer vi¬ 
ço  dos  enfermos,  e  lá  fazem  os  mdmos  bor  s  iffwicos,  quçfizcraé  em  Portugal  vindo  de 

A  diver- 


2 


MEMORIAL 

diveríbs  climas  i  e  hndo  muitos  fimplices  das  boticas  mais  íugekos  à  corrupção,  quê 
nenhum  dos  bezoaituos  da  índia,  que  cem  duraçaõ  muito  mais  larga  3  e  perdurivd, 
ISFmfa  ta  homem  curi  To,  que  poderá  moftrar  muitos  remedios,  que  vieraõ  da  Indta 
ha  mais  detiirttaannos,  queeftaó  hoje  com  asmefmas  viitudesscom  que  vieraó  daquellc 
Eftado  ,  c  fazem  os  mefmos  bons  cfíeitos  em  Portugal,  que  faziaõ  na  índia. 

Iftoíuppofto  como  verdade  experimentada,  iremos  tratando  de  cada  hum  desfimpli- 
ces com  rclaçaó  individual  de  fuas  virtudes,  começando  p  la  pedra  Bazar,  que  he  a  mais 
conhecida,  e  uíada ,  aflim  em  Portugal,  como  em  todo  o  mundo. 

PEDRA  BAZAR  SIMPLEZ. 

Regimento ,  e  virtudes  da  Pedra  Bazar  Simplez  >  ou  natural ,  que  nafcenos 
buchos  de  huns  animaes  muy  femdhantes  aos  cabritmhos . 

PRimeiramente  he  neccfíario  examinar  com  grande  cuidando  fe  a  Pedra  Bazar  hc  ver- 
dadeira ,  ou  falta,  porque,  fe  he  verdadeira ,  obra  cxcellentes  efteitos,  com  cal  condi¬ 
ção,  que  fe  deve  dar  em  quantidade  de  vinte  e  quatro  grãos  de  cada  vcz^orque^iando  íó* 
menaeties,  ou  quatro  grãos,  como  coftumaó  dar  ós  barbeiros,  que  faô  os  Médicos  da 
gente  ordinaria,  nenhum  cíícito  faz,  pela  pouca  quantidade  ern  que  a  daó,  e  deftc  modo 
íica  o  retnedi  j  infamado,  a  vida  dò  doente  perdida  ,  e  o  dinheiro  mal  gaftado^e  naõ  íucj 
cederia  aflim,  fe  a  pedra  foíle  verdadeira  ,  eadeílcm  na  qu  antidade  fobredit*. 

He  ncceíTtrio  que  os  Médicos  principiantes  advirtaó  duas  couías  muito  importantes, 
A  prim;  ira,  que  a  dita  pedra  íe  deve  mifturar  com  cinco ,  ou  íeis  onças  de  agua  c ommua 
cozida  com  efcorcioneira,  ou  com  papoulas,  ou  com  cardo  fanto ,  porque  os  que  daõ  adi-, 
la  pedra  mifturada  corn  aguas  deftilíadas ,  erraô  o  alvo  em  claro,  p  Ias  razoens  que  os  cu* 
riofos  pòdem  ver  nâ  minha  Polyanthtud  a  terceira  imprtíTacín#.  z.  cap,  i$o. foi.  67 
A  Icgundá  coufs,  que  devem  advertir  os  que  derem  a  dua  pedra,  he,  que  a  anftureoi 
Com  cinco,  ou  ftis  onças  de  agua  comua  cozida  com  qualquer  das  coufas  fobreditas;  por¬ 
que  os  que  a  daõ  mifturada  com  duas  colheres  dc  agua, como  fazemos  barbeiros, também 
erraô  o  alvo, porque  taõ  pouca  quantidade  de  agua  naó  he  vehicuío  baftante  para  levar 
a  pedra  aos  lugares  diftantes  aonde  ha  de  fervir;  mas  mifturando-a  com  grande  quantida¬ 
de  de  agua ,  faz  muito  bons  efteitos  nasancias  do  coraçaó,  nos  vàgados,  nas  faltas  de  ref* 
piraçaõ,eem  todas  as  febres  agudas  9  e  malignas,  dando*a  a  qualquer  hora  que  a  neceííi- 
dade  o  pedir,  e  fobre  fangnas. 

N  as  íuppreflbens  altas  da  ourina  tem  a  pedra  B4zar,  fendo  verdadeira^  grande  virtude, 
com  tal  condiç-õ,  que  antes  dc  a  applicar,  faç -*õ  tomar  ao  doente  hum  vomitorio  dc  ires 
onças  de  3gua  Ben:dióh,  ou  dc  íeis  grãos  de  Tartaio  emetico,  ou  dcmeya  oitava  de  ca* 
pairofa  branca,  íangrando*o  ao  outro  dia  nos  braços  quatro  veze  s,  ao  outro  dia  tres.eao 
outro  outras  tres,  porque  como  efte  cafo  hc  taõ  perígoíò,  e  aprcftádo,  he  neccfíârio  faze¬ 
rem  fe  os  rc  médios  com  grande  brevidade  9  porque  1c  naõ  ouririaõ  ate  o  íeptimo  dia, or¬ 
dinariamente  monem:e  por  efta  razaõ  requeiro  da  parte  dc  Dcos  aos  Médicos  principian¬ 
tes,  que  comecem  inlallivelmente  a  curadas  fupprefFoe  ns,  fejaõ  altas,  ou  baixas,  por  vo- 
mítorios,  e  fangrias  repetidas  nos  braços;  porque  cfte  coníeiho  fe  funda  na  experiencia 
de  cincocnta  eoito  annos,e  nas  muitas  fuppreftbcns  que  curey  felizmente  por  efteeftvlrt 
corno  os  curiofos  podem  ver  nammha  Polyanthea  d»  terceira  imptcüàò  trat.z.cap.  83/0/. 
448.  n.  37.  u/f,  acLfô,  aonde  achas  àõ  nomeados  os  doentes  que  curey  defupprefíoens 
por  cíte  ettylo  citando  alguns  dclles  ungidos  quando  me  chamàraõ. 

Permita  l  -me  haver  feito  efta  digreííaô,  porque  me  obriga  o  zelo  da  vida  dos  próxi¬ 
mos,  a  dar  cfte  ardo  taõ  importante  aos  prefcntcs,e  futuros  Médicos. 

Tornando  ao  propoíito  da  pedra  Bazar,  digo,  que  depois  de  dados  os  vomitorios ,  e 
fángrLs  altas ,  que  faô  remedios  pieciUmente  neceftarios  para  curar  as  fuppreflocns  da 
ourina  ,  fe  da.  a  a  tal  pedra  em  quantidade  de  vime  e  quatro,  ou  de  quarenta  giãos  mif- 
turados  com  oito  onças  de  agua  quentr,  que  primeiro  ieja  cozida  com  humâ  onça  de  fào 
de  favtira  íeca ,  e  em  falta  delle  ,  Com  meya  onça  de  croca  marinha,  e  em  falta  defta  Com 
duas  oitavas  de  erva  íapinha,  e  melhor  que  tudo,  com  meya  onça  de  erva  chamada 
virga  aurta.  Finaimente  ferve  a  pedra  Bazar,  applicada  iia  dita  quantidade,  para 

taci- 


DE  VARIO S  SIMPL1CES.  3 

facilitar  à  camara  aos  dureyros,  com  tal  condição  que  o  doente  a  tome  feis  dias  fuccefli  vos 
eftando  em  jejum, mifturada  com  hüa  oytava  de  cremores  de  Tartaro  verdadeyros ,  deía* 
tando  tudo  em  hum  quartilho  dc  agua  cozida  com  borragens,  ou  ameyxas.  Digo,  cremo¬ 
res  de  Tartaro  verdadeyros,  porque  hoje  vem  de  fora  do  Reyno  muytos  falíificadoscom 
pedra  hume,&  em  lugar  de  facilitarem  a  camara,  a  impedirão  Os  que  porém  quizerem  li- 
vrarfe  dcfle  eícrupulo,  tomem,  em  lugar  dos  cremores  deTartaro,  hüa  oytava  de  farro  de 
yinho  branco  feyto  em  pò  íubtiliflimo,  &  experimentarão  grande  facilidade  na  camara. 

PEDRA  CORDEAL  COMPOSTA. 

Regimento ,  &  virtudes  das  pedras  Cor  deães  compoftas. 

EStas  pedras  não  faõ  creadas  pela  natureza  nas  entranhas  de  alguns  animaes,  mas  faÔ 
compoftas  por  artificio  j  conftão  de  vários  ingredientes,  todos  efeolhidos,6c  dotados 
dc  grandes  virtudes  cardiacas ,  &  bezoarticas;  daqui  procede ,  que  o  artifice ,  que  faz  eftas 
pedras  compoftas,  hehum  Religiofo  da  Companhia  de  JESUS,  morador  na  índia,  que  as 
fórma  mayores,  ou  menores,  conforme  as  quer  fazer  :  eftas  taes  pedras  fendo  feytas  peias 
mãos  defte  Religiofo  ,  tem  virtudes  fingulares  para  curar  a$  enfermidades  leguintes. 

Nas  febres  malignas,  &  ardentes  ,  quando  o  enfermo  eft?  ver  com  grandes  andas ,  íe  lhe 
darão  24.  grãos  pulverizados  com  íeis  onças  de  agua  comniua  cozida  com  efcorcioncyra, 
ou  com  papoulas ,  ou  com  cereijas  negras ,  porque  tomando  a  neíta  quantidade  mitiga  a 
quentura, ÔC  a  fecura,queafebre  cauía,&  f$z  que  a  malignidade  não  commetta  o  coração, 
antes  o  defende, conforta, &  nlegra:&  fe  o  doente,  ou  peia  grande  fraqueza,  ou  pela  muyta 
velhice  appetecer  vinho  ,  le  lhe  daráò  24.  grãos  da  dita  pedra  desfeytos  em  duas  colheres 
de  vinho  gencrofo  :  nem  pareça  aos  Médicos  novatos  que  lie  erro ,  ou  temeridade  dar  efta 
pedra  em  vinho,  porque  graviffimos  Authores  o  permutem, quando  a  fraqueza  he  muyto 
grande,  por  fer  o  vinho  generofo  promptiflimo  rcmedío  em  reparar  as  forças,  8c  alentar  o 
coração,  quando  eftá  muyto  desfalecido. 

A  qualquer  tempo  que  a  melancolia  apertar  com  os  doentes ,  ou  com  os  faõs,  tenhão  fe« 
bre,  ou  a  não  tenhão ,  fe  póde  dar  a  pedra  na  quantidade  fobredita  ,  fenão  ouver  febre ,  em 
vinho  exce!lente;&  íe  a  ou  ver, em  agua  cozida  com  efcorcioneyra,  ou  com  borragés. 

Tomada  a  dita  pedra  em  agua  cozida  com  hutna  oytava  de  raiz  de  contrayerva,  ou  dc 
ferpentaria  virginiana,  ou  em  falta  deftas  raizes ,  cozida  com  cardo  fanco,  he  remedio  effi- 
caz  contra  todo  o  genero  de  peçonha,  affim  bebida,  como  procedida  de  mordedura  de  vi- 
bora ,  de  lacràos,  de  aranha ,  ou  de  outros  animaes  venenofos  \  &  íe  applicará  a  dita  pedra 
íobre  a  mordedura. 

Tomada  em  vinho  em  jejum,  preferva  das  doenças,  que  procederem  doar  corrupto. 
Cura  por  modo  de  milagre  aos  leproíos ,  (  nao  eftando  ainda  confirmados  )  com  tanto 
que  fe  tome  dous  mezes  fuccefíivosem  jejum,  mifturando  2  4.  grãos  delia  com  outros  24» 
de  anrimonio  diaphoretico  calcinado  quatro  vezes  ,  &  reverberado  duas  horas  com  fogo 
forrifíimo,  dando  tudo  em  meyo  quartilho  de  agua  commua  levemente  cozida  com  flor  da 
arvore  buxo,  por  fer  adita  flor  muyto  purificativado  íangue  íalgado,  &  dos  foros  morda¬ 
zes,  8c  corrofivos. 

Para  as  pe fidas  nujyto  efquentadas  do  fígado  íe  tomao  24.  grãos  da  dita  pedra,  por  íem; 
pode  dous  mezes,  em  jejum,  em  meyo  quartilho  de  agua  cozida  com  a  raiz  da  brafiica  ma» 
ri  na,  ou  do  vimal,  porque  qudquer  deftas  ervas  tem  dficaciííima  virtude  para  temperara 
quentura  do  fígado, &  entranhas. 

Tornada  a  dita  pedra  ,  por  quarenta  dias  em  jejum  ,  em  meyo  quartilho  de  agua  cozida 
com  hüa  mao  chea  de  folhas  de  cípinheyro  alvar  ,a  que  chamamos  Rhamno,  8c  com  lima¬ 
do  ras  de  ofio  de  veado,  mata  infallivelmenteas  lombrigas, &  cura  as  comichões, &  coftras, 
ou  boftelasdo  corpo. 

Tomando  por  feis  dias  continuos  em  jejum  24  grãos  do  pò  deita  pedra  cm  quatro  onças 
de  vinho  do  Rhtm,  ou  branco, em  que  ouveífe  eftado  deinfuíãohüa  oytava  de  pò  da  raiz 
da  butua  ,  ou  de  pào  da  faveyra  feca  ,  ou  da  erva  chamada  fapinho  ,  ourinãrá  o  doente ,  6c 
fe  livrará  da  fuppreflao  da  ourina,  por  mais  que  íeja  rebelde, com  tanto  que  tenha  tomado 
no  primeyrodia  hum  vomitorio  de  feis  grãos  deTartaro  emetico^ou  de  nes onças  de 

A  2  agua 


MEMORIAL 


agua  Bsnedièta  ,  8c  íeis  fangrias  nos  braços  por  dous  dias  fucceflivos. 

Confeflb  ingenuamente  ,  que  depois  que  (  por  mercê  de  Deos  ,  6c  boa  fortuna  do^ 
doentes  )  inventey  o  meu  Bezoartico  chamado  Gurviano  contra  as  febres  malignas ,  bexi¬ 
gas,  doenças  venenofas,  não  ufey  mais  de  pedra  Bazar  ,  porque  fuppoílo  tenho  muyto 
bom  concey  to  delia  ,  fendo  verdadeyra,  ofFerecem-fe-meajgumas  duvidas  ,  &  razoes  muy 
forçoías  para  a  não  ufar  ,  porque  vejo  que  da  índia  vem  cada  anno  arrobas  ,  8c  arrobas  dei- 
las;  &  he  moralmente  impoílivel  que  tanta  quantidade  de  pedras  fejaó  verdadeyrasjôc  alèm 
deita  razaõ  ,  me  confia  de  peíloas  fidedignas  ,  que  eftiverão  na  índia  muytos  annos ,  que 
nem  todos  os  animaes ,  em  que  as  taes  pedras  íe  criaò  ,  as  tem ,  &  quando  algum  tem  duas, 
he  hü  milagre:  logo  razão  tenho  para  não  ufar  delias,  íalvo  me  confiar  certamente  que  íaõ 
verdadeyras. 

E  no  que  pertence  ás  pedras  cordeaes  compoftas ,  fe  meofferece  outra  grande ,  8c  muy 
jufiificada  deíconfiança  para  não  ufar  delias, &  he ,  que  os  meímos  Religioíos  da  Compa¬ 
nhia  de  J  ESUS,  que  em  Goa  as  fazem  verdadeyras,  &  merecedoras  de  tod3  a  eftimação,  fe 
queyxão  que  lá  íe  falíificaõ,  6c  fe  eípalhão  por  todo  o  mundo  com  o  decorofo  nome  de  fe¬ 
rem  feytas  pelos  meímos  Padres :  6c  prouvera  a  Deos  que  ló  là  ouvefie  taes  falfificadores; 
mas  tarnbem  em  Lisboa  ha  quem  falfifica  as  taes  pedras  ,&  as  faz  tão  parecidas  ,  6t  íeme- 
lhantes  com  as  verdadeyras  ,  que  não  fe  conhece  o  engano, &  falfidade  delias,  íenão  depois 
que  íe  partem  a!gumas,&  feacha  que  íaõ  feytas  de  barro  de  que  fe  faz  a  louça  branca,  a  que 
chamão  greda :  á  vifta  pois  deites  enganos ,  &  falfidades  razão  tenho  para  não  uiar  das  pe¬ 
dras  cordeaes  compofias,  laivo  me  confia  certamente  que  faó  feytas  pelos  Padres  da  Com¬ 
panhia  de  Goa  ,  aonde  fó  fe  fazem  verdadeyras ,  por  fer  fegredo  que  foy  do  Padre  Gaípar 
Antonio86í  por  íua  morte  pafibu  ao  Padrejorge  Ungarete,6c  hoje  paflou  a  outroReligio- 
ío,  Boticários  todos  da  meíma  Companhia,  &  grandes  artifices  na  Árte  Pharmaceutica. 

Por  me  tirar  pois  deitas  du vidas, 8c  embaraços  da  minha  confciencia,  ufo  fempre  nas  fe¬ 
bres  malignas ,  &  nas  bexigas  ,  6c  aonde  vejo  ancias  do  coraçaõ  ,  do  meu  Bezoartico  ,  de 
cujas  virtudes,  8c  maravilhoíos  proveytos  eftou  certo  ,  não  ió  pelo  que  tenho  viíto  ,  6í  ex¬ 
perimentado  no  difcurfo de yo.  annos;  mas  pelas  noticias  que  de  todo  o  Reyno  ,6c  iuas 
Conquiítas  me  tem  vindo  por  cartas  gratulatorias ,  que  tenho  guardadas  para  moítrar  aos 
que  duvidarem  da  minha  verdade. 

Os  que  com  o  meu  Bezoartico  quizerem  fazer  curas  i  quepareçao  miíagrofas,  devem 
advertir  tres  couf»s  muyto  neceflarias.  Aprimeyra,  que  o  Bezoartico  feja  verdadeyra- 
mente  meu .  8c  nãofalfificado,  como  hoje  íe  vende  muyto  neíta  Corte, 6c  em  todo  o  Rey* 
no,  8c  fuasConquiftâs  debayxodo  meu  nome,  íem  lhes  fazer  efcrupulo  enganar  aos*do- 
entes  em  matéria  tão  importante  como  he  a  íaude, vendendo  hum  remedio  falfificado  com 
o  nomede  verdadeyro,  fazendo  deite  modo  dous  furtos ,  hum  do  dinheyro  que  devem 
jreílituir,  6c  outro  das  vidas  que  não  tem  reftituição,  A  fegunda ,  que  o  tal  Bezoartico  ,  fe 
fe  der  em  pò,  íe  dè  em  quantidade  de  meya  oytava  para  cada  vez;&  fe  íe  der  mifturado  com 
cozimento  de  efcorcioneyra*&  pevides  de  cidra  ,  (como  cuo  dou  )  fedeytem  tres  oyta- 
va$  delle  em  cada  ineya  canada  do  tal  cozimento,  6c  de  oyto  em  oy  to  horas  íe  dè  ao  doente 
hum  a  discara  de  íeis  onças ,  porque  os  que  derem  menos  quantidade,ou  o  derem  huma  fó 
vez  no  dia,  costio  alguns  o  dão,  não  farão  grandes  curas;  he  neceííario  continuallo  todos  os 
dias  duas,  ou  tres  vezes,  em  quanto  o  doente  tiver  ancias,  ou  fymptomas  malignos.  A  ter» 
ceyra  ,  que  fe  applique,  tanto  que  o  Medico  vir  algum  final  da  febre  fer  perniciofa,  &  ma¬ 
ligna,  fem  d  pera  r  que  os  doentes  eftcjao  agonizando, como  muytos  fazem;  donde  fe  fegué 
dous  grandes  dam  nos :  o  prjoieyro  he,  morrerem  os  doentes ,  porque  lhes  acudiraõ  tarde 
com  o  jemedio,  que  lhes  podena  íalvara  vida,fe  foíleapplicado  a  tempo  :  o  fegundo  he  in¬ 
famar  o  remedio,  6c  ficarem  os  parentes  dos  mortos  atemorizados  para  o  naõ  quererem  to¬ 
mar  em  outras  occaíiões,  por  mais  perigofos  que  íe  vejaò. 

.  Pedra  de  Porco  EJftim  natural , &  fucu  virtudes. 

A  Pedra  de  Porco  Efpim  verdadeyra,  he  hum  dos  melhores  antídotos, que  vetn  da  In* 
^  V  día  para  remedio  da  íaude, como  íe  deyxa  ver  aflim  pelos  bons  eífeytos  que  faz,  como 
pelo  muyto  dinhcyro  que  va!,  porque  qualquer  pedra  do  tamanho  de  huma  azeytona  pe¬ 
quena,  cu  fia  ao  menos  cem  mil  reis. 

Entre  as  virtudes  que  a  dica  pedra  tem ,  'a  principal  he  ,íer  grande  antídoto  das  febres 

mali , 

\  «•< 


DE  VÁRIOS  SIMPLICES:'  J 

malignas ,  de  forte  que  depois  do  meu  Bezoartico  Curviano  ,  de  nenhum  outro  remedío 
tenho  vift(7  tanta  utilidade  como  da  tal  pedra.  Oíinal  deelíaíerbem  fina, 6c  verdadeyra 
he,  que  metendo-a  em  agua  hum  quarto  de  hora,  a  faz  amargoíiffima  ,  &  tanto  mais  amar- 
gofa  a  fizer ,  tanto  moftra  que  he  mais  fina  ,  &excellente.  A  quantidade  quefe  dá  da  tal 
sgua,faõ  tres,ou  quatro  colheres  para  cada  vez, advertindo  que  a  tal  agua  íe  deve  dar  pu¬ 
xa  ,  /em  lhe  mifturarem  outra  agua,  como  erradamente  fazem  alguns  bai  beyros,&  a  gente 
xude,  dando  por  razaõque  he  quente,  6c  que  para  lhe  moderar  a  quentura  ,&  o  amargor, 
a  deftemperaõ  com  outra  agua  ;  &  não  advertem  eftes  pobres  homens ,  cegos  na  luz  do 
jmeyo  dia,  que  ao  pafib  que  lhe  abatem  o  grande  amargor,  lhe  enfraquecem, &  tirão  a  vir* 
tude  ;&  que  quando  os  doentes  podiaó  íal  vara  vida,  6c  vencer  a  febre  ,  ie  tomaílem  a  dita 
água  pura,  6t  com  toda  a  fua  virtude  ,  8c  amargor  ,  fe  achão  enganados ,  &  preíos  com  os 
grilhões  da  morte.Não  façoeftas  advertências  para  os  Mcdicos  doutos, 6c  expe/ imétados, 
laço-a  para  os  principiantes,&  para  os  Girurgiões,  que  curão  em  terras  aonde  não  ha  Me¬ 
dico  ,  &  para  as  pefloas  leygas  ,  êc  ignorantes  de  Medicina  ,  porque  eftas  como  conhecem 
asconíás  fuperficialmente,&  íó  p  la  caíca  ,  cuydão  que  fe  derem  a  dita  agua  pura ,  &  com 
todo  oícu  amargor,  que  mataráõ  aos  doentes,  ou  lhes  augnmtai  áó  a  febre  ,  &  por  eíta  ra- 
saõa  deftemperaõ,  lhe  tirão  a  virtude ,  do  mefmo  modo  que  a  tirarião ,  os  q  ue  tiraílem 
o  amargor  à  quinaquina:  &  agora  faberão  a  razão  porque  faõ  c*õ  prohibi  ios  os  doces  >6c 
cs  azedos  aos  quetomaõ  quinaquina ,  ou  agua  de  Inglaterra;  porque  coma  a  virtude  d& 
quinaquina  confifte  no  amargor,  quem  lho  tirar, ou  rebater  com  muyca  quantidade  de  do* 
ce,  ou  de  azedo,  a  deytou  a  perder.  DiíTe,  muy  ta  quantidade  de  doce,  ou  de  azedo;porque 
le  o  doce  for  tãó  pouco  como  humaazeytona,ou  como  huma  avelaa, nenhum  dam  no  faz, 
porque  para  o  fazer  era  neceflario  que  o  doce,  ou  azedo  foliem  tantos  que  rebateflem  ,  ou 
apagaíkm  o  amargor  da  quinaquina;  mas  como  fendo  o  doce  pouco  o  não  rebate, não  pode 
fazer  damno,como  me  conft<*  por  mil  experiencias ;  porque  os  permitto  àquelles  doentes, 
que  eftãocoftumadosa  nao  beber  agua  fem  doce.  Vejaõos  cunoíos  a  miftha  Púíjanihea  dà 
terce y  ra  impreflaô  íobre  efte  ponto  tratt.z.  eap .  1 05  .foi.  yyo.  mm  zz. 

N em  íó  he  efte  o  erro  que  fazem  os  que  deftemperaõ  a  agua  de  Porco  Efpim, pai  a  lhe  ti~ 
rar  o  amargor, 6c  quentura;outro  commettem  muyto  peyor,&  he,  que  levados  do  ruftico 
medo,  de  que  a  agua  de  Porco  Elpim  he  quente,  não  fe  atrevem  a  dar  mais  que  huma  co¬ 
lher  deila  para  cada  vez,  fem  advertirem  que  tão  pouca  quantidade  he  pequeno  remedio 
para  vencer  huma  doença  tão  venenoía,comohe  huma  ftbre  maligna  :  eu  nunca  dou  me¬ 
nos  de  quatro  colheres  para  cada  vez ;  ôc  tive  alguns  doentes ,  para  quem  fuy  chamado  fe- 
tando  ungidos,  &  agonizando  por  caulade  febres  malignas ,  a  quem  dey  tres  onças  da  dita 
agua, Sc  com  dia  os  livrey  da  morte. 

H  um  caio  deíles  obfervey  em  cafa de  Manoel  de  Caftro  Guimarães ,  Eícrivaõ  do  De¬ 
feni  bargo  do  Paço.  Outro  cafo  luccedeo  com  Dona  Antonia  Mauricia,  Religiofa  de  San¬ 
ta  Clara,  para  quem  fuy  chamado  eftando  com  o  feirro  na  garganta  ,  8c  com  o  officio  da  a- 
goma  rezado, &  dando  lhe  por  meu  confdho  quatro  colheres  de  agua  de  Porco  Bípirn, 
mifturada  com  cinco  onças  do  meu  Bezoartico,  efeapou  da  morte,  &  vive  hoje  por  mercê 
de  Deos,  Sc  beneficio  deite  remedío.  Naó  refiro  outros  muy  tos  cafos  felizmente  fuccedi- 
dos  com  a  aguade  Porco  Efpim  ciada  em  mayor  quantidade  ,  6c  mifturada  com  o  meu  Be¬ 
zoartico,  por  naó  enfadar  aos  Leytores;  por  tanto  digo,  que  nas  febres  malignas ,  6c  ancias 
do  coraçaõ  fe  devem  darao  menos  tres  colheres  de  cada  vez,  fem  ler  deftemperada. 

Nos  íoíuços,ou  fejaò  procedidos  da  febre  fer  maligna,  ou  de  ventofidaíes  ,  obra  a  dita 
agua  efteytos  maraviíhofos,  de  que  pudera  allegar  ínnumeraveis  exemplos ,  lenaõ  temèra 
enfadar. 

Nosaccidentes  uterinos  he  a  agua  de  Porco  Efpim  remedio  taõ  efficaz,  que  parece  di« 
vino,  como  me  confta  por  alguns  calos,  a  que  meachey  prefejite,  em  os  quaes  dey  tres  on¬ 
ças  da  dita  agua,&  obrou  effey  tos  maraviíhofos. 

Nas  dores  de  cólica, a  que  os  Naturaesda  índia  chamaõ  Mordexim,  obra  também  a  ditá 
agua  prefentaneos  proveytos. 

N  as  dores,  Sc  pontadas  caufadas  de  frio  fe  tomaõ  duas  onças  de  agua  de  macella ,  em  que 
a  pedra  de  Porco  Efpim  eftivefle  de  infuíaõíeis  Ave  Marias, &  obra  por  modo  de  encanta* 
mento. 

Finalmente  fe  a  Medicina  temefpadas  de  mais  demarca,  que  fejaõ  capazes  dc  reíiftir^ 
contender,  &  vencer  as  febres  malignas,  faõ  íó  a  pedra  de  Porco  Efpim»  éco  meu  Bezoar* 

''  1  A  5  üc« 


< 


6  M E MO R IA t 

tico  Curviano  ]  porque  de  todos  os  mais  remedios  \  de  que  o  pòvò  èfaz  grande  efti  ms  çaõj 
faço  eu  taõ  pouco  caío,  como  da  Jama  da  rua.  Ifto  diz  hum  Medico  ,quefobie  yo.arlnòs 
de  experiencia,  tz  79.  de  idade,  tem  livrado  da  morte  com  eftes  dous  remedios  a  infinitos 
doentes,  que  por  cauía  de  febres  malignasj&de  veneno  que  lhes  derao  para  os  matar  ,  eí» 
tavão  expirando,  como  os  curioíos  podem  ver  na  minha  Polyanthea  da  terceyra  impreflaõ 
ácfol.  6f  4.  atè  662,  aonde  acharàõ  nomeadas  as  peíToas*  que  tirey  da  fepulcura  com  osdi* 
tos  remedios,  &  podem  ler  teftemunhas  deita  verdade. 

Dente  de  Porco  Efiim ,  & fu  as  virtudes. 

ROçado  0  dente  de  Porco  Eípim  em  pedra  de  fular,  ou  feyto  em  pò  fubtiliflimo  ,  teih 
grande  virtude  contra  as  febres ,  contra  as  dores  de  cólica,  8 1  dores  de  pecUaj  he  grã-, 
de  çoncraveneno,  6c  faz  grande  provey  to  nasdores,  &  torceduras  da  barriga. 

Pedra  de  Cananor ,  &  fuas  virtudes * 

A  Pedra  de  Cananor, ou  he  verde  como  limos  do  rio,ou  amarella  como  enxofre,  ambas 
faõ  boas.ÕC  de  ambas  ufao  os  Médicos*,  mas  a  verde  fe  eftima  mais.  De  qualquer  del¬ 
tas  pedras  moidas ,  ou  iuladas  muyto  íubtilmence ,  fe  faz  com  agua  da  fonte  humaagua 
chamada  de  Cananor,  ou  de  pedra  fria:  defta  agua  fe  ufa  geralmeme  em  todas  as  febres ,  & 
he  muyto  bom  cordeal,  mas  lerá  muyto  mais  fingular,  fe  a  agua, em  que  a  tal  pedra  íe  pre¬ 
parar  ,  forprimeyro  ferrada  com  ouro  virgem,  &  deite  modo  ufando-ledella  por  algumas 
manhãs  em  jejum,  heexcellente  para  os  doentes eíquentados  do  figado,  Sc  para  os  quepa* 
decem  amargores  de  boca  ,  osquaes  ordinariamente  procedem  de  grandiffima  quentura 
das  entranhas ,  8c  do  figado  ,  ou  de  comerem  muyta  quantidade  de  doces ,  porque  fe  con¬ 
vertem  em  cólera. 

Também  fe  uía  delia  para  a  ínflammação  dos  olhos,  fetn  fer  ferrada, 3c  para  a  inflam ma- 
çaõ  da  garganta, &  boca,  gargarejando  com  ella  ;  defta  agua  fe  coftuma  dar  meyo  quarti¬ 
lho  para  cada  vez,  6c  íc  pode  repetir  duas  vezes  00  dia  ,  ou  na  declinação  da  febre, ou  algu¬ 
mas  horas  antes  de  entrar  ;  refrefea  muyto  ,  8c  adoça  a  acrimonia  dos  humores ,  por  certa 
virtude  occulta  abforbente  ,  abranda  os  incêndios  do  figado  ,  õt  entranhas  naturaes ,  com 
manifefto  alivio  dos  enfermos. 

Se  as  amendoadas, q  íedão  aos  que  não  podem  dormir  por  caufado  grande  incêndio  das 
febres5ou  pelos  vapores, que  havião  de  conciliar  o  íomno,  íubirern  muyto  quéces  ao  cere- 
bro,  fe  fizerem  na  dica  agua  de  Cananor,  terão  os  queaflim  as  tomarem  ,  conhecido  alivio. 
He  máravílhofa  para  curar  as  iârericias ,  tomada  nove  dias  em  jejum  ,  8c  mifturada  com  a 
agua  que  deytar  de  íi  huma  clara  de  ovo  frefeo  bem  batido. 

Ouvido  do  Peyxe  Boy,  &  fuas  virtudes . 

O  Ouvido  do  Peyxe  Boy  tem  grandes  virtudes  j  as  que  atè  efte  tempo  íabemos,  6c  de 
que  fe  tem  experiencia,  laò,  que  aproveyta  muyto  para  curar  os  dqueruamentos  dé 
qualidade  gailica,  cura  as  camaras  de  toda  a  íorte,  principalmente  as  de  langue ,  dá  grande 
alivio  nas  dores  de  pedra,  8c  da  bexiga ,  faz  deytar  as  areas  dos  rins  :  applicafe  moído  em  pò 
íubtiiifTimo,  em  quantidade  de  vinte  6c  quatro  grãos, em  agua  cozida  com  raiz  de  Ononis, 
chamada  Rilha  Boy  ,  ou  Reatora  Àratri ,  ou  com  a  virgaaurea  ,  que  íao  muyto  próprias 
para  deytar  a  pedra  ,6c  arca,  tomada  duas  vezes  cada  dia.  Se  fedei  paraardores  daourina, 
ou  queyxasdosnns,  fe  dará  em  agua  deftiilada  de  fiorde  favas ;  8c  Se  íe  der  pira  osefquen» 
tamentos  galiicos,  íe  dará  cm  agua  hem  cozida  corn  falia  das  hortas  ,  conunuando-fe  quin¬ 
ze,  ou  vinte  dias  em  jejum. 

Pedra  Candar,&fàas  virtudes. 

Á  Pedra  Candar,  chamada  vuígarmente  pedra  Quadrada  ,  porque  verdadeyramente  o 
JLX  he,  tem  o  feytio  de  hum  dado,&  tem  cor  de  ferro,&  he  muyto  pelada  ;  trazem  a  dos 
confins  da  Tartarea  os  Jogues,  os  quaes  dízern  que  tem  muytas  virtudes,  6c  por  cfta  razão 
a  furão,  8c  pendurão  ao  pefcoço  cahida  íobre  os  peytos,  chegada  à  carne. 

Serve 


DE  VA  RIOS  SIMPLIC  ES.  7 

Serve  efta  pedra,  atada  ao  muículo  da  perna dquerda,  para  facilitar  o  parro,  eftandoa 
mulher  em  termos  de  parir ,  porque  a  txperi .  ncia  tsro  moftrado,  que  apphcada  nefts  e  fi¬ 
tado  obra  o  que  le  deieja*  £  nj  caio  que  cita  diligencia  naõ  ba  (te,  esfregarão  a  dita  pe¬ 
dra,  mcyo  quai  tode  hora, com, huma  onça  de  oleo  de  gergelim  quente,  e  o  dara®  a  beb  r 
a  mulher,  e  log^parira,  edeitarà  as  pareas,  e  a  criança  fcm  rifeo,  nem  perigo  da  mãy; 
advertindo,  que  tanto  que  a  mulher  p  rir ,  e  deitar  a  criança  ,  e  as  pareas,  fc  tireiogo 
logo  a  dita  pedra,  porque  íea  dcix  rem  ficar  atada  muito  tempo  fahirà  a  madre  fòra  da 
ku  lugar,  e  as.encranhas  todas,  como  cu  vi,  c  obiervey  em  huma  mulhe  rna  ruadas  Ga» 
veas,  a  qual  eftando  muito  apertada  iem  poder  parir  $  fe  apphcou  a  dita  pedra,  e  por¬ 
que  íe  ddcuidaraõ  de  a  tirar  tanto  que  pm  >,  fáhio  a  madre  íòra  do  leu  lugar,  cfoy 
necefíario  applitallaem  fímapara  que  a  madre  fe  recolhe  (Te. 

E  porque  algumas  mulheres  fàõ  melíndroias,  e  inimigas  de  tomar  remedies  peia  boca9 
baitaià  que  com  o  oleo  de  gergelim,  cm  que  íe  esfregou  a  dita  pedra  hum  quarto  dc  ha» 
ra,  íe  estreguc  todo  o  ventre  ,  e  embigo  à  roda, com  a  mefma  condição  ,  que  tanto  que  a 
mulher  parir,  fe  alimpe  muito  b:m  o  azeite. 

Serve  a  agua  da  1  ua  infufaõ ,  ou  cm  que  cftiver  fafpada  qualquer  migalha  da  dita  pe¬ 
dra,  beb, da  por  tempo  de  hummez,  para  curar  os  fluxos  de  langue  das  almorrcimas* 
por  mais  copiolos,  e  teymoíos,  que  lejaõ,  com  duas  condiçoc  nà;  a  primeira,  que  o  doente 
nem  b  ba  vinho,  nem  coma  iguarias  adubadas  com  cfpeciarias\juemes:  a  íegunda,  que 
a  agua  em  que  fe  fizer  a  infufaõ  ,  feja  primeiro  cozida  com  huim  mãochca  de  erva  po« 
liga  no,  chamada  dos  Herbolarios  erva  andorinha. 

Heexcdlcnte  para  curar  fas  vertigens,  e  defmayos,  com  tal  condição,  que  íe  deite  de 
infulaó  por  tempo  de  duas  horas,  ou  íe  esfregue  tempo  dc  vinte  Ave  Marias  em  tres  on¬ 
ças  de  agua  de  cerejas  negras  ,  ou  em  agua  ordinaria*  em  que  primeiro  fe  cozeík  leve- 
mente  meya  oitava  de  mangerom*  Quem  tomar  eíle  remedio  por  vinte  dias  lucceífi-: 
vos,  conhecera  grande  ajivio.  He  boa  para  a  melancolia,  deitada  de  infufaõ  em  agua 
de  borragens, ou  de  erva  cidreira. 

Para  as  dores  de  cabeça  fe  b  bem  alguns  dias  em  jejum  duas  onças  de  agua  dc  cardo 
fanco,  em  que  a  dita  pedra  eftivefle  duss  horas  de  infulaó* 

Nas  pontadas ,  nas  cólicas ,  nas  dores  de  ventre ,  c  nos  Pleurizes,  tem  a  dita  pedra  pro^ 
digioíajvirtude,  fe  deitada  de  infufaõ,  ou  ròç^da  em  quatro  onças  de  agua  dcftillada  das 
cabeças  dc  macdla ,  a  derem  a  beber  aos  que  tiverem  qualquer  queixa  deitas.  Nem  faça 
medo  sos  Médicos  me  d  rolos  o  lera  agua  da  macella  quente,  para  deixarem  de  a  appii- 
Cf»i  j  porque  Euítachio  Rudio,que  foy  Lente  de  Prima  em  Padua,e  Galeno  que  foy  Orᬠ
culo  da  Medidn?, louva®  por  ioberano  rçcnedio  para  os  Pleurizes,  infhmmaçocns  inter¬ 
nas  a  tal  agua  ainda  fcm  ter  ajudada  da  virtude  da  pedra  Candar,  quanto  melhor  ferá 
acompanhada  com  cila  f  Galeno  lib .  medicam •  30.  e  Eítachio  hb. 

Fleuritide,  mihifoL  173. 

Nas  dores  de  pedra, e  difficuldadcs  deourinar,  ebra  <  fTeitcS  admiráveis, com  tal  con¬ 
dição,  que  o  doente  tenha  tomado  primeiro  hum  vomi  torio  de  agua  Benedita ,  ou  de 
Tartaio  ecnetico ,  e  algumas  fangrias  nos  braços;  e  feita  efta  preparaçaõ  ,  le  roçara  a  pe¬ 
dra  por  hum  quarto  de  hora  em  quatro  onças  de  vinho  do  Rhim ,  fe  o  h  uver,  c  em  lua 
fslts,  em  vinho  branco,  ajuntando  a  eíle  vinho  huma  onça  de  çurrio  de  limaó  azedo, e  íeo 
doente  naõ  quizer  tomar  o  remedio  em  vinho,  o  torne  em  agua  commua3cm  que  te  tenha 
cozido  meya  oitava  da  raiz  da  butua,  ou  de  Emente  da  bardana,ou  dacfteva» 

Atando  efta  pedra  íobre  o  emb  go ,  taz  recolher  as  tripas  aos  quebrados,  fc m  embargo 
de  qoe  eu  eníino  outro  remedio  muito  mais  experimentado  para  recolher  as  tripas,  que 
le  achar a  no  livro  das  minhas  Obfervaçoens  Latinas,  e  Portuguczas,  na  Obf.  ^i.pag.z$% 
&  253, 

Para  os  que  tem  0  fangue  pizado,ou  coalhado  por  caufa  de  alguma  quèda,  ou  pancada, 
o  adelgaça  outi  a  vez ,  e  o  faz  capaz  para  que  fe  continue  a  circulaçaõ  pnncipaimeote  ie 
atai  pedra  for  reçada  em  fc  is  cnças  dc  agua  cozida  com  duas  oitavas  de  raizes  de  vinct* 
toxico, ou  folhas  de  cerfolio,  aque  ajuntem  humefcrupulode  eíperma  ccti. 

Quem  beber  por  leis  mezes  agua  ievemente  cozida  com  huma  ma®  chea  de  flor  de  ver» 
bafee  ,  na  qual  agua  depois  de  coada  roçarem  a  pedra  Candar,  expeament^râ  uiaiavi® 
lholos  cffeitos  nosbocios,e  alporcas. 

Tema  dita  pedra  grande  daminio  fobre  a  melancolia,  roçando*a  em  agua  de  borragês, 

Para 


s  MEMORIAL 

Para  cs  que  oui  inaõ  ianguej,  fc  daõ  cinco  onças  de  agua  de  tanchagem,  etn  que  k  roí 
çcu  cila  pedra» 

Para  afihma,  roçada  em  agua  de  bofta  de  boy  deílülada  etn  Mayo,  he  gran  Je  remedio^ 

pedra  da  cabeça  da  Cobra  de  P  ate ,  a  que  vulgar  mente  cbamad  Pedra  de 

CHombaça ,  Virtudes  que  tem te  como  feapplica. 

ESta  pedra  he  gerada  m  cabeça  das  cobras,  que  fe  criaõ  nos  bofques  da  P  ha  de  Pate 
cem  muitas  virtudes;  mas  a  que  excede  atodas,  he  em  faciiitaro  parto,  acmda-a 
aomufculo  da  perna efquerda ,  quando  a  mulher  eíti  ver  apertada*  em  termos  de  parir, 
porque  certamentc  parira  logo*  mas  he  neceflano  advertir  *  que  cancoquea  mulher  dei¬ 
tar  a  criança,  easpareas*  íe  tire  logo  logo  a  pedrs,  porque  de  outra  íorte  fatura  a  ma- 
dfe  fora  de  feu  lugar. 

Moída  muito  íubtilmente ,  e  dando  defte  pò  o  pezo  de  vinte  grãos  de  trigo  em  tres 
onças  de  vinho  branco,  ou  em  íeis  onças  de  agua  cozida  com  alfavaca  dc  cobra,  ou  com 
ineya  oitava  da  femente  das  carapetas  da  eíte va,  mitiga  muito  as  dores  de  pedra,  eafaz 
lan  ;ar. 

N  as  fuppreíToens  altas  da  ourina  tem  muita  virtude,  com  tai  condição  que  antes  de 
i  darem ,  come  o  doente  logol  »go  no  primeiro  dia  da  íupprcílaó  hum  vomitorin  de  tres 
onças  de  agua  Bcnsdiéta,  ou  dousefcrupulos  ds  vkriolo  branco  formado  em  piíulas  ;  ou 
íeis  gãrosde  Taruro  emético. 

Serve  para  as  dores  de  cólica ,  e  para  toda  a  forta  de  feòre,e  para  toda  a  mordedura  de 
bichos  peçonhentos,  aflim  tomada  por  dentro,  como  appiicado  o  pò  delia  í  jòíc  a  morde¬ 
dura. 

Serve,  tomada  em  vinho,  ou  em  agua  cozida  com  ícmente  de  biínaga  fparaQ$acci- 
dentes  uterino^  E  finalmtnte  ferve  contra  toda  a  peçonha,  ou  veneno,  que  pur  erro,  ou 
maiicia  íc  deu  pela  boca  ,  e  tem  as  mefmas  virtudes,  que  ieattribuemà  pedia  Bzar 
verdadeira. 

Caetano  de  Mello  deCaflro*  que  foy  Vifo-Rcy  da  índia,  tem  atai  pedra,  quehere* 
donda.cchea  decícamas  corno  calca  de  pinha.  Certifica  o  dito  Senhor  Viib-Rey,  que 
para  facilitar  o  parto,  tem  prefentanea  virtude, como  lhe  contta  por  mil  expcnencias. 

Pedra  Safira,  e  fu  as  virtudes. 

SÊndoa  pedra  Sí  fira  prefeitífiima,  temquafi  milagrofa  virtude  para  fazer  abiiros 
olhos  aos  doentes ,  que  por  caufa  de  bexigas  os  tem  caõ  inchados *  que  os  nao  podem 
ebrir :  tnas  esficg  ndo  a  dita  inchaçaõ  com  a  dita  pedra,  por  tempo  de  quarenta  Ave 
Marias,  infalli  elmente  os  abrem;  couía  que  he  muito  necdfari^,  para  que  pelo  muito 
tempo  de  eílarcn  fechados,  fe  naò  gere  alguma  ne  vos,  como  muitas  veies  íuocede. 

Nos  antraze^e  arbunculos  peíHknciatS,obra  efeitos  maravilhoíos,  rc  çando-oscom 
a  dita  pedra;  porque  faz  exhal  r  o  venero, Como  fe  fofie  f  umo  por  huma  chaminé  ;  affim 
o  certificáo  Vanhelmontsj  Gurynerc,  e outros  Doutores  gravifiimos* 

Pedra  de  Cobra  de  Dio}  e  fuas  virtudes . 

EStas  pedras  naô  faó  naturacs,  hb  artificiaes,  c  huma  família  uníca  de  Gentios  daque!- 
la  Cidade  tem  o  fegredo  ,  c  f  az  toda  a  quantidade  ddlas,  q  fe  cfpalhaõ  pelo  mundo. 
A  principal  vntude  dcílas  pedras  he  contra  as  mordeduras  des  bichos  peçonhentos; 
poíla  fobrèa  mordedura  ccm  advertência,  que  fe  naõ  tiver  fangue,fe  farà  na  mefma  mor¬ 
dedura  com  o  bico  de  hum  alfinete,  para  pegsr  apedra,  a  qual  fe  deixa  eílar  pegada  stè 
cahir  por  II ,  depois  íe  deita  em  leite ,  ouaguarofada,e  fe  alimpará,  ou  enxugará,  muyto 
bem,  e  íe  hade  repetir  a  pofluraern  quanto  pegir,  e  tanto  que  naõ  pegar,  eila acabada  a 
cura,e  he  final  infailivcl  dc  ter  jà  tirado  todo  o  veneno. 

Também  ierve,  feita  em  pò,e  bebida ,  para  a  dor  de  cólica;  epofta  nas  bexigas,  tam¬ 
bém  obriga  a  íahir ,  ou  inchar  com  prdleza.  Nem  falta  Author  grave  que  nas  febres 
malignas,em  que  houver  pintas,  as  manda  picar  ,e  pôr  lubre  a  picada  as  ditas  pedras,pçU 
grande  virtude,  que  tem  de  chamar  para  tora  o  veneno,  e  mahgnidade. 


Ddla 


DE  VÁRIOS  SIM P L ICES. 


9 


De  ita  pedra  renho  vifto  msravilhofos  c  ff  ei  tos  poíla  íobre  as  mordeduras  de  aranha,  ou 
de  quadquer  bichos  venenoíos,  porque  chupa,  e  attrahe  para  fi  todo  o  vemno,e  he  cou- 
fadigna  de  adtniraçaõ  ver  como  desfaz  as  inchaçoens  procedidas  das  mordediuas  vene* 
nofs?,  por  mais  grandes,  c  disformes  quelejaõ,  Jem  que  haja  defearga  alguma,  nem  deí- 
pejo  manifefti  por  íangrias,  camaras  vomitos,  fuor,  nem  ourina  ,  por  onde  a  inchaçaôfe 
dcsfizeíír.  H-  porém  de  advertir,  que  tanto  que  a  afta  \  edia  cahir,  íe  deite  logo  logo  em 
hum  pouco  uc  leite  de  mui  her,  ou  qualquer  outro,  porque  naó  le  deitando,  fica  o  veneno 
dentro  na  tal  pedr?,  e  rebenta  feita  em  pedaços. 

A  hum  criado  do  Doutor  Franciíco  Rcbaílo  Freire,  mordeo  hum  bicho  de  taõ  vene- 
nolaiqualidadr,quc  em  menos  de  huma  hora  lhe  inchou  o  braço  taõ  disformement:3,  que 
fc  y  nectíTario  rafgarlbe  a  mangi  dogibaópara  lho  dcfpirem ,  e  eftando  o  pobre  lacayo 
com  inf  port  VlÍs  ancias,  c  ddmayos,  íe  lhe  applicou  a  dita  pedra ,  c  brcvemencc  dtfiti- 
choute  ficou  ísõ.  A  huma  filha  de  hum  livreiro, morador  naj-ya  Nova, mordeo  huma  ara* 
nh  à  em  o  rcfto,e  inchou  de  tal  force  que  ninguém  a  conhecia,  e  tendo  noticia  que  eu  ti¬ 
nha  efta  pedra*  ma  pcdío,e  pondolha  definchou,  e  (arou  em  breves  horas,  O  meímo  bom 
eflfeico  defta  pedra  tenho  vifto  cm  varias  mordeduras  de  aranha,  Efhme-fe  muito  a  tal 
pedra;  porque  ccrciffimamente  aproveita  nas  mordeduras  venenolas,  nem  atè  efte  dia 
faltou  em  fazer  efte  proveito  a  todos,  que  fe  valcraõ  dclb*  Com  tal  condição,  que  feja 
verdadeira,  porque  já  a  malijia,  e  ambiçaõ  dos  homens  a  falcificaó  hoje» 

Pedra  Pauzari>  e fuas  virtudes. 

EStas  pedras  vem  de  Babylonia  onde  fe  criaó,  e  faõ  raras.  Pauzarí  quer  dizer,  liza* 
a  cor  he  de  azeironas  d’El  va,  e  feitio,  mas  h  mayor. 

Pofta  íobre  os  rins  tem  vittude  tfficaciflima  para  quebrar  a  pedra,  e  tirar  a  dor  em 
breves  horas;  para  a  íuppreflaõ  baixa ,  pofta  íobre  a  bexiga,  he  muito  eftimada  de  todos 
os  Príncipes  da  Afia.  ' 

Erva  do  Paraguay,  e  fua  virtude ; 

DAsIndiasdeCeftella  vem  a  Cadiz  huma  erva ,  chamada  Paraguay,  da  cjual  erva  fé 
deita  huma  pouc ■*,  quanta  feja  hum  pugillo,em  quatro  onças  de  agua  bem  quentef 
e  depois  que  agua  tiver  recebido  t  m  fi  a  virtude  da  erva,  fe  coará ,  é  íe  dará  ao  doente 
huma  chicara.e  com  ella alimpará  bítnoeftomago  por  vomito  com  grande fuavidade,  c 
brandura.  Obra  cffcitos  maravilhe  los  ecn  t  das  as  doenças, que  procederem  do  eftomago* 

Caranguejo  de  Aynao ,  efuas  virtudes . 

TEm  tal  qualidade  o  lodo,  ou  baza  do  mar  das  terras  de  Aynao  da  Província  dá 
China,  Ilha  vizinha  dcM  .cào,  que  o  caranguejo  que  íe  mete  naquelíe  lodo ,  íe 
conve  te  totalmente  cm  huma  dura  pedra  ,  c  fe  enchem  ,  c  unem  todas  as  partes  delk„ 
corno  íe  foííe  huma  coufa  lavrada  ,  e  engaftada  pela  natureza;  o  que  íuccede  em  muy 
breve  efpaço,  por  que  cs  que  fe  metem  n.fta  baza,  ou  lodo,  logoficaõ  immovei$;o  que 
fe  vè  com  os  olhos,  cm  quanto  a  marè  vaza. 

O  mate,  ou  baia  defta  pr?yade  Aynaõ  tem  a?  mefmas  virtudes  que  o  caranguejo;  po« 
rem  nem  toda  a  praya  faz  cfta  converfaõ  de  caranguejo  em  pedra^  fe  naõ  huma  parte  defta 
Ilha,  que  he  a  em  que  vive  o  S.  FrancifcoXavier. 

Moidà  cfta  pedra  com  vmagr:,  e  appiicandoa  muitas  vezes  no  dia,  desfazer  todo  d 
genero  de  mch&çoens,e  carnofidades  duras, e  bcrniis  carnolas. 

Huma  oitava  de  pefo  deftc  caranguejo  feito  cm  pò  fubtilifíimo,  e  mifturado  com  íeís 
onças  de  agua  tomada  duas  vezes  cada  dia  ,  cura  por  modo  dc  milagre  as  camaras  de 
farçgue,  e  os  j  uxos,  repetindo  efte  remedio  cinco,\ou  íeis  dias. 

Huma  oitava  dcfte  caranguejo  de  Aynaõ,  feito  em  pò,  e  mifturado  com  agua  roíadag’ 
e  çurno  de  limão  gallego,  ferve  p.  rr  todo  o  gmero  de  febres  com  abafamentos 
A  mcíma  quantidade  tomada  cm  bom  vinho,  íer  ve  para  as  camaras  foltas. 

A  xnefma  quantidade  botada  em  agua  deftiilada  de  cerejas  negras, ou  era  agu^cozída 
com  raizes  dc  valcriana  agreftc,tcm  grandiflima  virtude  para  curar  os accidentes  ds  gotta 
*"“'’**  ’  .  .  '  coral 3 


10 


MEMORIAL 

coral,  conunuâft  lo  fe  muitos  dias,  depois  do  doente  bem  purgado. 

Moída  em  agua  cura  aefquinencia ,  untando  a  garganta  com  eila  p3rfòra,e  guga« 
rejando  muitas  vezes  com  a  tal  agua* 

Moida  a  tal  pedra  com  vinagre*  c  untando  o  antraz,  ou  apoftema,  faz  maravilhofo  efc* 

feito.  _  . 

Moida  em  agua  íc  dá  a  todo  o  genero  de  febres*  no  principio,  e  dcclinaçao  dellasj 

com  tâõ  bom  effeite,  e  melhor  que  a  pedra  Biz* r. 

Moida  com  bom  vinho  ferve  para  cólicas ,  e  mordexins ,  nas  quacs  doenças  obra  ma* 

ravàlhas. 

Moida  com  agua  rofada,  ou  ordínaria  lançando-a  nos  oíhoâ  doLrofos.e  iníiamma® 
dos,  os  curamaravi  hoíamente. 

Os  Naturaes  daqudía  liba,  onde  fe  achaõ  as  pedras  dos  caranguejos  de  Ay naõ ,  le  cu- 
raõcom  cilas  em  todo  o  genero  dc  achaques  j  c  os  mcfmos  eífeitos  fazem  em  todas  at 
mais  partes  como  a  expericncia  tem  moítrade» 

t  *  .  .  .»  .  ‘  v  .  '  ■  ,  .  "  <  ^  ‘  *  i  -. 

Vente  de  peixe  mulher  virgem %  e  fuas  virtudes . 

SErve  para  eftancar  os  fluxos  dc  íangue  da  boca  poftoíobrc  o  peito,  e  para  eftan» 
car  o  fluxos  baixos,  poíb  peia  parte  baixa. 

Serve  trazido  atado  no  braço  dquerdc,ch.  gado  à  carne,  cõtra  o  ar*acci  jcces*e  vagados 

Coftella  de  peixe  mulher  virgem  3  e  fuas  virtudes . 

.  ■  ;  '  •  -  ...  V  v*  .;.  •$  .  •*  \  3  '  ■ 

h  -•-'j  ^ 

SErve,  preparada  era  agua ,  e  b  bida,  para  as  febres ,  c  para  as  dores  de  Pieunzes 
poncadasjecftupores ,  advertindo  que  naõ  fendo  virgem,  naõ  tem  virtude. 

Priap  õ)  ou  genital  do  c  avalio  marinho,  e  fuas  virtudes* 

D  Ando  a  beber  meya  oitava  do  pò  do  p>iapo  do  cavallo  marinho  mifturadoconi 
feis  onç  s  de  agua  commua  cozida  com  hum  pao  defaveira  feo*  ou  com  duasoita* 
vas  de  raiz  de  Eroca  Marinha,  ou  com  cafcas  de  rabãos,  provocamuitoaourinafuppn-» 
mida,  com  duas  condiçoens :  a  primeira,  que  o  doente  tenha  tomado  primeiro  que  tud© 
hum  vomrtorio  dc  feis  grãos  de  Tartaro  emetico  ,  ou  duas  onças  ds  agua  Benediâa» 
fangrando-fe  ao  outro  dia  quatro  vez^s  nos  braços,  eaoutrodia  tres,  coblervandoeites 
coníelhos  certamente  ourinatà  muito  o  doente* 

He  remedio  eítupendo  para  os  pleurizes,  e  camaras  dc  fangue,  como  fe  tem  íabido  por 
innumeraveisexperierciaS,  com  t  f  condição  ,  que  fe  dará  para  cada  vez  meya  oitava  do 
dito  po  miíturado  para  os  Pieurizcs  em  agua  cozida  com  flores  de  papoulas, ou  com  a  caf* 
ca  da  raiz  de  bardana  ;  e  para  c  miaras  em  agua  cozida  com  alquitira,  repetindo*fe  cite 
lemcdio  tres  vezes  cada  dia,  afleguro  he  grande  remedio. 

i. 

PriapOy  ou  genital  do  Fe  a  do . 

T  Em  maravilhoía  virtude  para  as  camaras  de  fangue,  e  para  as  pontadas  do  Pleuriz^ 
dando  meya  oitava  do  feu  pò,miíturado  com  agua  cozida  com  papoulas ,  continu*; 
andoo  tres, ou  quatro  dias  peia  manfaâa  em  jejum,  c  às  noites  tres  horas  antes  dcccar* 

Vente  ãe  cavallo  marinho 5  e  fuas  virtudes . 

OPò  fubtiliflimo  defte  dente  tem  grande  virtude  para  fupprdToens  da  ourina ;  coqi 
tal  condição  que  fc  dará  para  cada  vez  buma  oitava  delle  miíturado  cô  meyo  quar* 
tüho  de  agua  cozida  com  raiz  deelpargo,  ou  com  raiz  dc  rilha  boy ,  chamada  dos  latinos 
Ononis,  ou  Remora  aratri,  ou  com  pao  de  virga  aurca:  aproveita  muito  para  as  febres,  da* 
do  na  meíma  quantidade,  mifturado  na  agua  das  tiíanas,  trazido  junto  da  carne,  tem  c<  rta 
qualidade  occulta  cantra  o  ar*  Eíte  dente  tem  as  mefmas  virtudes,  que  o  dente  de  Epgala 
pofto  íobre  as  cadeiras  ,  aprove  ta  muito  para  as  aímorrdmas,cftanca  o  fanguc.de  qual 
quer  parte  que  fahir  por  modo  de  milagre:  hum  anel  feito  defte  denic^ufp.ndeofangue 
das  aimomimas*  e  tira  as  dores  delias  em  menos  de  huma  hora-  Dentt 


«  V. 


1 1 


DE  VÁRIOS  SIMPLICES. 


Dente  de  dentro  da  boca  do  Elefante ,  e  fuas  virtudes . 

SErve  para  toda  a  efpccie  de  febre,  para  as  dores  dc  cofiado,  para  as  dores  de  rbeu® 
matifim  ,  s  preparando-o  também  em  forma  que  fe  cubra  coai  a  maíía,  ou  polme  do 
úuitc  preparado  cm  agua  y  e  le  for  rofada,  íci  á  melhor,  mas  deve  fer  morna. 

Unha  dograo  Bejla>  e  Juas  virtudes, 

OGraõ  Bcfta  he  hum  animal,  que  na  Üngua  dos  Etíopes  Mouros  íe  chama  Nbumbo 
c  na  lingua  Portugueza  vai  o  mefnio  que  animal  fermoío.  A  fua  fôrma  hedehunt 
perfeito  cavallo  em  tudo  menos:  fua  cauda  tem  muy  pouco  pello,  c  o  cafco  he  fendido 
como  unha  ôt  cabra;  ordinariamente  naquclles  contornos  faõ  manchados  como  Tigres; 
algun$5que  laó raros,  de  cor  caftanho  claro.  \ 

Só  as  unhas  do  pè  efquerdo  íaõ  as  que  tem  virtudes;  as  outras,  fendo  do  mefmo  animal, 
naõ  tem  lerventia  ,  e  muitas  vezes  íedà  qualquer  das  ditas  unhas,  ou  vende,  c  fendo  do 
mcfmo  animal  não  tem  prcftimo;  e  tem  a  circunftanciade  que  hade  fertiradaa  unha  fem 
fer  metida  no  fogo,  nem  em  agua  quente,  porque  perde  a  virtude. 

O  animal  he  lugeito  a  accidentts  repetidos  fe  tem  tal  ioftinfto ,  que  aflím  como  fe  vè 
ameaç»do  do  accidente  ,  mete  a  unha  do  pc  efquerdo  no  ouvido,  e  affim  lhe  pafla  logo  a 
força  delir. 

Serve  a  unha  do  grão  befta, trazendo-a  junto  à  carne  nomufculodobraçodquerdo.ou 
ao  pefcoço ,  c  ain  la  fobre  o  peito,  ou  no  dedo  da  maõ  eíquerda,  engaftoada  em  ouro,  de 
forte  que  a  unha  toque  na  carne;  ferve  contra  os  accidentes  de  gotea  coral,  e  vagados,  e 
contra  o  ar.  Preparada  em  agua,  e  bebida  ferve  contra  o  veneno*  e  contra  as  febres  m» 
termittentes. 

Noi  accidentes  de,  afthma  fe  darà  hum  efcrupulo  de  pó  da  dita  unha  raifturado  cotn 
huma  chicara  de  agua  deçereijas  negras;  por  quanto  a  afthtm  he  hum  accidente|dcgotts 
corai  do  befCjCom  diz  Vanelmoncios  Afthma  eft  caducam pulmonu* 

Ojfos  do  efpmbaço  da  Cobra  Zuchi  B  ou  Zuichh  e  fuas  virtudes. 

E  M  Angola  íe  ci  iaó  humas  cobras ,  aqueos  naturaeschamãoZuch»,  que  quer  dizer 
cufpidora ;  efta  quando  íe  vè  perfeguidados  que  a  querem  matar,  cíguicha  da  boca 
hum  cuípinho caô  delgado,  c  taó  alvo,  que  em  qualquer  parte  que  cahe, a  faz  log  i  muito 
branca,  e  para  deitar  o  tal  cuípinho  crgueocollo,  e  enche  o  papo,  e  deita  ocufpinho 
aos  olhos  de  quem  a  perfegue,e  íelhc  naõ  acodem  logo  com  o  leite,  penetra  o  feu  veneno 
pelos  olhos  de  forte,  que  os  cega,  e  muitas  vezes  os  mata. 

Sem  embargo  poièai  da  dita  cobra  ter  efta  maldade,  pozlhc  Deos  nos  oílbsdo  feu  cfpb 
nhaço  huma  grande  virtude,  que  fecaõ,  ecuraó  as  alporcas,  com  tal  cond  çaõ,que  o  do* 
ente  os  traga  ao  pcícoço  junto  da  carne  port^mpode  hum  a n no. 

Para  fe  tirarem  eftes  oflbs ,  depois  de  morta  a  cobra,  fe  enterra, e  como  paíTaô  quinze 
diasapodrece  a  carne,  e  com  facilidade  fedefpegsô,  e  fe  aíimpaó  muito  bem  de  algu® 
ma  carne,  íc  lhe  ficou  pegada,  c  íeguardaó;  c  quando  quizerem  appltcallos  a  algum  do® 
ente  defta  enfermidade,  ou  q  tenhao  dores  de  garganta,  fe  infiaò  em  hum  fio  dc  Tttroz »  « 
pcnduiaõ  ao  pefcoço  a  modode  huma  gatgancilhs.  Muitas  íaóaspdíoasquetcm  vifto® 
e  experimentado  a  grande  virtude  deftes  oflbs  para  as  foòreditas  enfermidades 

Dentes  de  Engalane  fuas  virtudes . 

F*  M  Angola  fe  criaó  huns  anienaes  da  corpulência  de  hum  porco,  na  boca  deftes  íe  a® 
v  chaõ  dous  dentes  fortes  á  maneira  dc  dentes  de  porco  javali;  faõ  do  comprimento  de 
1  ü  \  almo, pouco  mais,  ou  menos, o  pò  deftes  dentes  tem  grandiflima  virtude  para  rebater 
as  íebres  malignas, e  naõ  falta  quem  dig^.qiK  he  melhor  que  a  pedra  Bazar  verdadeiraifaz 
madurar,  e  abrir  os  apoftemas,  elciceníos,  applicando-o  fobre  ellesem  forma  dc  polme 
ircs,ou  quatro  vezes  cada  dia:ajuda  muito  a  fahirem  as  bexigas ,  e  os  íarampãos;conftaé 
de  muito  íal  volátil ,  e  por  iffo  nos  Plcuizes  faz  tão  boens  effeitos  como  o  dente  de  porco 
montcz.com  tal condiçaõ,quc  fe  de  de  cada  vez  meya  oitavado  leapóiubtiliffiaiomiftu- 


12 


MEMORIAL 

rado  com  huma  onça  dc  lambedor  dc  papoulas  morno,  bebendolhe  cm  fima  meyo  quar* 
olho  dc  agua  colida  com  flores  de  papoulas,  e  com  eaícas  de  raizde  Bir  Jana.  Podo  aílc- 
gurar  com  a  experi  nciadç  58  .annos,que  nos  Pleurizes  he  grande  remedio,  com  tal  con¬ 
dição,  que  feapplique  duas ,  ou  ues  vezes  cada  dia  ate  que  o  doent  acabe  de  íarar.  No 
meu  Pecúlio  reveio  hum  grande  remedio  para  Pkurizes,  no  capitulo,  Pkuíizes. 

Raiz  da  CManica ,  t  fuas  virtudes. 

ESti  rauhe  degrandiffisnaeftimaçaó.aífim  por  fer  c  eada  entre  o  ouro  no  Reyno  dc 
Manica,  donde  tornou  o  nome,  como  tambem  por  fuas  admkaveis  virtudes. 

Serve  eíta  raiz  para  febres,  dando  íe  bem  moida  em  quantidade  de  hum  eíciupulo  mif- 
turada  com  íeis  onças  de  tifana:  da-íe  no  principio  do  frio ,  do  meímo  modo  que  fe  dá 
a  agua  de  Inglaterra  ;  c  fe  a  febre  entrar  fem  írio,  ie  dar  á  do  meímo  modo  no  fi*a  da  fe¬ 
bre  para  fazer  íuar. 

He admiravel  contravencnr,  porque  0  rebate  efficazmente. 

Serve  parrtpda  a  forte  de  fraqueza  do  cítomago,  para  coníervar  o  comer  nelle ,  dc 
forte  que  fe  naõ  vomite. 

Serve  para  desfizer  as  ventofidades  procedidas  de  cauía  fria. 

Serve  para  quem  tem  faflio ,  tomada  duas  horas  ante*  dc  comer ,  porque  conforta  o 
eftomago,  excita  a  vontade  de  comer,  e  hegran  ie  remedio  para  impedir  os  vomitos. 

Serve  para  feridas  frefcac,  moida  com  agu*,  de  modo  que  fique  como  pokne,  applican- 
do-o  cada  vinte  e  quatro  horas,  enchendo  o  vaò  da  ferida  com  elle,  e  bíevementc  ficará 
o  doente  Ííó. 

Serve  para  chagas  podres  moida  do  meímo  modo,  e  applicada  á  chaga  em  lugar  dc 
unguento  j  cifto  Ie  fará  huma  vez  cada  dia ,  e  Íarara  em  breve  tempo,  fem  necefluar  dc 
omra  cura ,  ou  remedio  humano. 

Também  a  dita  Manica  he  hum  remedio,  ou  antídoto  muy  efficaz  contra  herpes,  mo» 
etido-íe ,  e  pondo  fe  os  pós  fobre  aferida,  c  applicando-fe  também  da  parte  dc  fimaÇ 
para  que  os  herpes  mó  lubsto,  nem  vaõ  por  diante. 

Serve  para  dor  de  cólica  chamada  ms  terras  da  índia,  xetingofa,  roçada  em  pedra 
com  çumo  de  limaõ,  e  lançada  por  ajuda. 

HL  grande  contrapcçonha  ,  moida  fubtilíffimamence ,  e  dada  abeb  r  com  çumo  dc 
Simsõgallego» 

Serve  para  mal  de  Loanda  moida ,  e  dada  com  agua,  c  untando  com  aquelle  polme 
as  gengivas  muitas  vtzes  no  dia  ,  farai  á  o  enfermo  maravilhofamcnie, 

Serve  da  mcfma  forte  moida,  c  applicado  o  dito  polme  na  face  ,  e  na  cova  do  dentei 
que  doer,  porque  tira  de  ted  )  a  dor  dellc. 

S  rvepara  dor  dc  ouvidos,  moendo-a  edm  agua  aquentada  em  huma  colher  de  pra- 
M,  e  lançando  tres  ,  ou  quatro  gottas  no  ouvido  faõ  primeiro ,  c  depois  no  que  tiver  a 
dor. 

Pcfloas  fi  Íedigna?sqiieeftivers5  na  índia  affi»  maò  que  o  fò  defta  raiz  fubtiliffimamen- 
te  pulverizado  ,  e  mifturado  com  o  que  for  ncceflario  de  agua  roíada  ,  para  fazer  hum 
polme  ,  barrando  a  tefta,  e  fontes  da  cabeça  com  elle, abranda  muito  as  ditas  dores. 

Serve  para  cít  incar  os  fluxos  de  fangue  ,  ou  I  ja  tomada  pelaboca  mifturada  em  agua 
de  tmchagem,  ou  íeja  deitada  por  ajuda. 

Peflba  houve  tsõ  confiada  ,  que  fe  atreveoa  diier  que  o  pò  fubtiliflimo  deita  raiz,  to¬ 
mado  muitos  dias  em  jejum  com  xarop*  de  hera  terreílre,  ou  de  ungula  cabalins,  curava 
certamente  as  chagas  do  bofe;  eu  lhe  naõ  dou  inteiro  credito,  mas  em  doença,  em  que 
a  certeza  da  morte  (  por  cauía  da  chaga  do  bofe  )  he  infallivel,  naõ  duvidaria  eu  dc  fazer 
o  remedio,  porque  fe  naõ  aproveitar,  naõ  fara  damno. 

Para  as  feridas  frefeas  com  langue  ,  enchendo  o  Vaò  da  ferida  com  o  pó  fino  defta  raiz* 
ecurando-as  abertas,  obr3taõ  maravilhoíamente  como  o  oleo  de  ouro. 

Finalmente  he  a  raiz  da  M  níaca  remedio  fupsetao  para  rebater  todo  o  g  nero  de  ve¬ 
neno;  advei  tindo,  que  fe  tenha  grande  cuidado,  e  cautela,  que  quem  tomar  eíta  raiz,  naõ 
toque  qualquer  genero  dcoleo,  ou  azeite,  parque  iníalliveimcnte  fe  con verterá  m  ve¬ 
neno  prefentaneo. 


DE  VÁRIOS  SIMPL1CES. 


Raiz  da  Madre  de  Deos ,  e  fuas  v  tríades» 

Vinte  grãos  da  [  ó  defta  r?Áz  mifturados  cora  quatro  onças  dc  agua  cozida  cotn  o  páo 
da  fa  veira  feca,  ou  com  bua?  rnclho  dc  fulhasdc  ceifciio,  provoca  a  ounna  fuppri- 
u  ioa,  Sa  s  e  o  pò  defta  »aiz  para  todo  o  gcnero  dc  febre  *  principal  mente  para  a$  que  en¬ 
trarem  cora  frio,  dando-íe  duas  vezes  cada  dia :  para  grandes  dores  dc  cabeça  fc  appü- 
cao  polme  defta  raiz  feito  cora çumoddimr.õgdlego  nas  capelfadasdos  olhos,  e  nas 
fontes;  te*  ve  efta  i  aiz  para  inflarnra^çocns  do  bofe  ,  comohcí*  Pcnpneutnonia;  contra 
quaeíqucr  outras  inflâainnaçoens  interiores ;  hesita  raiz  muito  cordcal,  c  icíiítc  ao  ve* 
neno  das  febres  malignas,  e  as  mordeduras  das  cobras  vcnenoías. 

Raiz  do  Cyfoy  e  fuas  virtudes . 

AEfte  raiz,  a  quem  os  Poriuguezes  chamaõ  Cy  pò,  chama  o  Gentio  da  America  Piei* 
quanhaque  he  omefmo,  que  dizer  pica  de  caó:  ha  duas  fortes  de  Cypò,  hum  he 
man»  groflo  ,  mJs  branco  ,  emais  forte,  outro  he  mais  delgado,  mais  cícuro,e  mais  be¬ 
nigno  no  obrar ;  ambas  eftas  raizes  tem  virtude  taõ  maravilhofa  para  curar  camaras  de 
langue,  que  ranflimas  vezes fâl taõ  com  ocfEito  defejado,  advertindo,  que  sstaes  raizes 
tem  virtude  de  provocar  vomito,  a  branca  o  provoca  com  mais  violência,  o  remédio  para 
que  o  naó provoque,  he  deitallas  vinte  e  quatro  horas dcinfuhõ em  vinagre  forte  ;  a 
quantidade  que  íe  dá  dc  pò  dc  qualquer  deftas  raizes,  he  de  dous  cíciupulosatè  hum» 
citava,  toma«fe  em  caldo  de  gallinha,  c  fe  repete  quatro,  ou  feis  dias» 

Raiz  de  SoIorf  e  fuas  virtudes • 

ESra  raiz  com  as  outras  fobreditas*  também  he  de  fíngukr  eftlmaçaõ;  uía*fe  delia  part 
toda  a  efpecie  dc  febres,  e  ponudas,  e  para  o  veneno,  e  para  dores  Nephritícas* 
Também  ferve  tomando  bochechas,  para  alimpar  a  lingua  giofla,  e  para  abrira  vontade 
dc  comer,  quando  o  enfermo  tem  faftio,  levando  algumas  bochechas  para  baixo* 

Raiz  de  Calumhây  efuas  virtudes 

ESta  raiz  ferve  para  todas  gs  febres  moída  com  sgua  por  quafi  hum  quarto  de  horaj 
e  fe  beberá  peia  manhã ,  e  à  tarde ,  e  ainda  que  íeja  mais  quantidade  de  quartilho*} 
nao  impoua,epara  febres,  e  frios  fc  moerá  cora  çumo  de  limaô  galiego. 

Sa  ve  para  mordcchim  ,  e  para  dores  dc  cólica,  c  indigeftoens  doeftomago;  fe  forem 
de  frio,  fe  dará  com  vinho;  e  íe  forem  de  quentura  i  fe  dàrà  em  agua  pela  manhã  em  je* 
jura,  ou  a  toda  a  hora  que  a  nectffidadc  o  pedir. 

N  as  íupprefibens  de  ourina,  alc*$,  ou  b  aixas ,  he  remedio  que  obraeffeitos  maravilho* 
fos,  com  tal  condição  s  que  o  doente  tenha  tomado  primeiro  hum,  ou  dous  vomitorios  de 
fds  grãos  de  Tsstar©  ecneticop  u  de  meya  oitava  de  caparroía  branca,  ou  de  duâs  onças 
de  fígua  Benediéta  ,  e  fe  tenha  íangrado  depois  tiiflo  oito  vezes  nos  braços.  Da-feopò 
dcfte  remedio  em  agua  cozida  cornos  pàos  dafaveira  íeca,ou  com  raizes  dc  efpargo. 

Serve  para  camaras  moida  cora  çumo  de  limaõ  galicgO)?edt  (temperada  com  aguaa 
fe  untai  à  a  barriga  com  o  polme  defta  raiz  pela  manhãa,e  á  tarde. 

Serve  para  mulher  que  efti ver  de  parto,  ainda  que  dleja  mortal,  £  lha  darão  moida 
coro  vinho,  e  lançara  a  criança,  sinda  que  efteja  morta. 

Serve  para  mordedura  de  todos  os  bichos  pcçonhentos,moida  com  agua,  c  fenaõ  hou* 
ver  tempo  de  fe  moer,  tome-fe  hum  pedaço,  e  maftigus  íe,eenguiir  o  çumo,  e  fe  deita® 
rádtlle  na  mordedura,  e  fe  for  muito  refinada  peçonha,  fe  dará  a  alguma  pefíba  adiu 
rgi'  para  que  a  maftiguc,  e  tendo-a  na  boca. 

Serve  para  toda  a  peçonha  que  fe  der  no  comer, ou  beber  moida  com  agua^e  fe  não 
houver  t  mpo  para  iffo ,  tome  hum  pedaço  na  boca,e  mattigue-o*  levando  o  çumo ,  ou 
cuípa  para  baixo. 

Serve  para  quem  tomar  Anfiaõ  mifturado  com  azeite,  porque  fe  então  converte  o  dito 
Anfiaõ  em  refinado  veneno :  ku  unico  remedio  hc  dar  ao  doente  huro  pouco  de  pò  defta 

B  ‘  m* 


,+  MEMORIAL 

•raiz  tnifturado  com  sgua.  Também  he  grande  remedio  esfregar  os  dentes  com  o  pò 
deita  raiz.  Anfiaó  be  o  nicírno  que  O  pio,'  com  >  diz  o  Doutor  Framciko  Rqbdlo  h$cy~ 
re>  que  foy  Fifico  ii ó  no  Eítado  da  In  lia ,  e  D.  Rafael  Blutcâú  no  primei  o  como  do 
feu  Vocabu  ario  Portuga  z ,  e  Latino foL  375*  coL  1, 

Serve  para uzagre  do  niei  mo  modo,  tazendo  primeiro  lavftíorio. 

Serve  para  provocar  o  fanguc  meníal,  com  tal  condição,  quqa  mulher  a  quera  fastm  o 
dito  langue,  tome  o  co  dias  etn  jejum  quatro  onças  da  agua  »  em  que  tenhaõ  cozi  io 

meya  oitava  do  pò  da  dita  raiz* 

Serve  para  quem  tivef  dor  de  dentes,  metendo  na  cova  do  dente  hum  pedacinhodek' 
ta  raiz,  tirará  a  dor*. 

Serve  para  eryíipela  ,  moida  corn  çtimo  de  limão  gallego,  unrando  com  cila  o  lugar 
que  tiver  a  dor,  ou  inchaçacq  n  õ  havmdo  fibre,  ie  pod..rá  b  ber  em  agua. 

Serve  para  quem  for  tocadodoar,  moída  com  çtuno  de  lira^ó  galiego*  para  fe  untar. 
Serve  para  a  peííoa  ,  que  cíltvei  com  vcntofidadçs ,  mòids  com  vinho  ,  e  í  forem  le 
quentura ,  com  agua ,  c  le  beberá.  Masurçms,  e  quartas  t«!õ  rebeldes,  que  k  naõ  uraô 
com  a  quinaquim,  obra  maravilhofos  eftúos,  tomando-a  cinco,  ou  feis  dias. 

.  *  .  1  .  ‘  '  è  -  .  '  .  •  j 

Serpentaria  virginiana ,  efúas  virtudes. 

ESta  erva  naõ  he  nafeida  na  Inuia  Os  icnt^l ,  m  is  he  natural  das  índias  de  Caftelb; 

be  grande  comraveneno  ,  e  grande  defenllvo  das  f  bres  malignas,  e  íoccorre  às 
doenças  vcncnolas.  Tem  eítupenda  virtude,  e  hc  o  ma  yor  remedio  que  tem  o  mundo 
para  vencer  o  mortal  veneno  das  mordeduras  da  cobra  de  Csfcavel,  a  que  os  Iuglczes 
chama®  Rattic  InaR.es. 

Raiz  de  Sapuche ,  &  fuas  virtudes . 

ESta  raiz  também  he  de  grande  eftumçaõ  ,  e  heo  mais  finocontraV^neno  rara  as 
i  cobras  que  íe  tem  ddcuberto  :  quando  mícecfta  planta  ,  as  cobras  lhe  coftumao 
tirar  a  folh^  ppr  inítinfto  natural,  para  que  k  nao  conheça;  mas  por  iífo  meíaio  he  co 
nhecida:  atada  ao  braço  chegada  â carne,  cílálivie  quem  a  aouxer  (  sindique durma 
na  charneca)  delht  tocar  bicho  peçonhento. 

Heexcelknte  antidoto  contra  todo  o  veneno  de  bichos,  c  contra  os  outros  venenos: 
preparada  em  agua  ,  e  bebida ,  cura  aos  enf  rmosde  dores  do  eílomsgo:  r  bebida  pdas 
manbâs  em  jejum  detíaz  codas  as  cbftrueçoen^  e  ajudaacirculaçàó  do  Lngue. 

Raiz  dejoao  Lopes  Pinbeiro7e  fuas  virtudes . 

TT  Integfãosdcq  ò  jeftaraiz,  dados  cm  meya  chicara  de  agua  commua,  he  admirável 
\  remedio  para  as  febres  terças,  e  quartas. 

Se  vc  preparada  era  agua ,  e  bebida  ,  contra  Febres ;  e  preparada  em  pó  fubt.il,  para  as 
feridas  frefeas  com  o  íangue ,  tazendo  cura  abei  ta^e  para  as  caneladas  íreíeas ,  cobrin¬ 
do  as  com  os  pos. 

Ser  ve  para  as  pontadâs ,  moída ,  e  cniílurada  com  vinho,  untando  com  o  tal  poime  a 
pontada*  a  cura  bem. 

Serve,  preparada  etn  agu^,  e  bebida,  para  desfazer  as  opilaçoens  do  ventre  fendo  con- 
tinu  d  e  para  as  obílrucç  ení  do  eftomago. 

Serve,  preparada  cm  agua,  e  tomada  cm  bochechas  repeti  ias, para  dor  de  dentes; 
faz  c Afeitos  milagrofos  naquellas  peíloas  a  quem  mordeo  huma  caílads  víboras  que  ha 
na  índia  taó  ve  ncooías,  que  fe  terem  a  alguma  peíloa,  logo  cabe  por  tem  amorteci» 
da,  e  dcírnayada  3  de  íorte  que  naó  pode  fallar ,  nem  fe  pode  mover  ,  nem  tem  acçaõ 
alguma  de  vivente  $  cujounico  remedio,  ccíperançade  vidaconíiftee  n  faze  lhe  liuma 
pequena  ferida  no  alto  da  cabeça  Co  vo  huma  lanceta,  ou  alfinete,  de  íorte  que  faça  foi* 
gue ,  c  d  itando  huma  migalha  daquelle  pò  na  tal  ferida,  logo  de  iihproyiR  falia  o  ho* 
metú,  e  fica  livre  do  perigo. 


Raiz. 


15 


DE  VÁRIOS  SI  MPLICES. 

R<0/£  da  Butua}  chamada  parreira  brava ,  e  fiias  virtudes . 

ESta  raiz  tomou  o  nome  do  Reino  da  Butua  onde  fe cria, chama-íe  aftim  nos  Rios 
,  deScnaemre  o  Gcnao >  entre  os  Postuguczes  íe  chama  Parreira  brava, cu  Raú 
cteButua. 

Serve  o  pó  deita  raiz,  mifturado  com  ngoa  commua,  para  beberem  as  pefíbas,que  tive¬ 
rem  algum  apoftema,  ou  abíceilo  inte,  ior,  porque  fc  o  tas  apoftema ,  ou  abfceífo  for  no¬ 
vo,  eeftiver  ainda  no  principio,  orefoivuá,  e  desfará  em  poucos  dias  j  masíeforjr 
velho,  ou  tiver  já  matéria ,  o  fará  abrir,  e  rebentar,  e  deitar  foia  toda  a  matéria  por 
íima,  ou  por  baixo,  pela  camara,  ou  pela  ourioa. 

Também  o  pò  da  dica  raiz  mifturado  com  vinagre  deftêperado  de  modo  que  fique  era 
forma  de  polnic,  apphcado  fobre  os  apoltemas,  ou  abfceflcs exteriores,  os  rdòlvc,cdcf- 
faZ,  com  ta/condiçaõ,  que  feapplique  (etc  f  ou  oito  dias  fuccefli  vos*  aflsm  oobíervcy 
muitas  vezes,  principaimentc  na  mulher  de  Manoel  de  Araújo»  morando  junto  da  Igreja 
da  Annunciada  :  tinha  a  dita  mulher  huma  perna  inchada  com  taõexceííiva  deformida¬ 
de,  que  a  todos  pareceo  impoffivel  efeapar  da  morte, e  applicando  fobre  a  indução© 
polme  deita  raiz,  farou  dentro  dc  leis  dias»  (em  ncceffitar  de  outro  remedio. 

Serve  para  o  Pleuriz ,  dando  a  beber  o  pò  dtllacm  agua  quente,  que  primeiro  fej$ 
cozida  com  papoulas,  ou  com  cevada.  Tarabem  feunta  #  ou  esfrega  a  pontada  com  o 
polme  da  tal  raiz,  porque  faz  rdolvcr  ,  c  deícoalhar  o  langue ,  que  por  citar  reprezado 
cgroílo,  fenaó  pode  circular,  e  porque  fe  naõ  circula ,  íc  azeda  ,  e  por  íe  azedar »  faz  st 
dor,  e  pontada  do  Pleuriz. 

Serve  para  pancadas  ,  e  quedas ,  dando  a  beb  r  meya  oitava  do  leu  pò  mifturado  com 
agua  cozida  como  husma  raiz  de  tormentilla,  chamada  vulgarmente  folda,  ou  pentaíilaõj, 
untando  por  alguns  dias  a  parte  dolorofa  com  o  polme  da  dita  raiz9 
Serve  para  eíquiqenaa,  ou  garrotilho ,  dando  a  beber  o  feu  cozimento  *  fazendo  com 
clíe  gargarifmos,  e  untando  a  garganta  com  o  feu  polme. 

Serve  para  fazer  datar  asparias,  dando  a  beber  a  agua  cm  que  for  cozida  9  também 
facilita  o  parto,  e  bz  deitar  as  molas  com  facilidade. 

Serve  para  deíiochar  toda  a  forte  de  tumor,  untando  por  oito  dias  g  parte  com  o  di¬ 
to  polme. 

Serve  psraeryíipelas  bem  cozida  em  agua  commua,  applicando.a  muitas  vezes  no  dia 
em  panos  picados  mornos*  com  condição  que  os  naó  deixem  fecar. 

Serve  para  todaachag?,  ou  ínfhmmaçaõ  do  figado cozida  em  agua  commua ,  lavan^ 
do  a  parte  queixofa  repetidas  vezes  com  o  tal  cozimento:  advertindo  que  quandoíe 
quizer cozer,  fe  terá  em  lafquinhás  miúdas,  ou  fe  machucará,  p&raiargarmelhorna 
»gua  a  fu  a  grande  virtude. 

Serve  para  curar  hérnias  ventofas,  aquofas ,  e  carnofas  applicando-fe  fobre  a  parte 
queixofa  o  cozimento  da  dita  raiz  quente,  reperndoJe  muitas  vezes  no  dia  pannos  enfo-j 
pados  na  dita  agua  quente,  porque  logo  mi  !gaador,eainflammaçaóo  Goofeflò  que  cila 
raiz  tem  grande  virtude  para  curar  hemias;  mas  o  mayorremedio  que  le  fabe depois 
queDeoscreou  o  mundo,  para  hernits,  he  oleo  verdadeiro  de  canela»  comoopodeià 
certificar  ô  Doutor  Mathias  Mendes  Ouvidor  da  Alfandega.  Naõ  hc  menos  eíficaz  par& 
fis  quebraduraso  oleo  das  gemas  de  ovos,  de  que  poílb  apontar  muitos  exemplos. 

Serve  para  dores  de  dentes  o  cozimento  defta  raiz,  tomando-o  na  boca,  ou  metendo  nai 
cova  do  dente  o  po  defta  raiz ,  mifturado  com  agua  da  Rainha  de  Hungria ,  dc  que  te® 
nho  vifto  maravtlhofos  proveitos. 

.*  Serve  para  dores  de  cabeça ,  c  de  xaqueca ,  mifturando-fc  o  pò  da  tal  raiz  com  agua 
rolada,  ou  de  murta,  c  barrar  toda  ateftade  orelha  a  orelha  com  efte  polme. 

Serve  para  curaras  dores  de  cólica ,  e  de  barriga que  procederem  de  ventofidades  f 
cu  de  caufa  fria;  bebendo  o  cozimento  da  dita  raiz,  e  untando  o  ventre  com  o  teu  polme.» 

S  L-rve  para  desfazer  asinchaçoens  do  buço,  e  da  barriga,  tomando  em  vinte  manhãas 
hum  efcrupulc  do  feu  pofubtiliffimo ,  mifturado  com  duas  onças  de  bom  vinho  branco 
agua  Ío,e  faz  ndo  comefte  iemedio  algum  exercido,  le  o  doente  o  puder  faZer. 

Serve  p?ra  curar  as  camar  s,  principalmemeas  de  langue,  bebendo  o  teu  po  mifturado 
com  agua  dc  ranchâgem,ou  com  agua  commua  cozida cõalquitira,  ufandodcfte  remedij 
por  cinco  ,gou  íeis  dias  fucccffivos  pela  manhã,  çà  noite.  LuiiScrraô  Piraçncei,  Cob 

B  z  mograff 


16 


MEMORIAL 

inografo  mor  do  Reyno,pò ic  fer  teftemunha  defta  verdade,  pois cftando  elte  íem  efpe- 
ranças  de  remedio  hum  mo ,  f  jfou  de  carmras  com  o  pò  defta  raiz»  O  me  imo  admirável 
proveito  vi  em  huim  mulher  moradora  à  Bia  Viíla  na  rua  chamada  o  Poço  das  ca  boas  j 
tinha  a  dita  mulher  camaras  taõ deíenfVea das ,  e  antigas,  que  (uípeicou  lhe  tmhaô  dado 
algum  feitiç  )  9  que  a  fofte  matando  lentfamente  ,  e  tomando  efta  raiz cm  íeis  dias  depois 
d  mil  remedios  baldados,  farou  por  modo  de  milagre. 

Serve  para  as  dores  deeílomago  ,  c  para  azedumes  da  bocas  bebendo  a  agua  em  que 
for  cozida ,  rnifturando  o  feu  pòcom  a  ourina  do  me  faio  doente,  e  untando  o  eftomago 
eom  o  polme  da  dita  raiz  feito  com  a  fu  a  ou  s  ina. 

Serve  para  as  carnoíi  jades,  bebendo  por  muitos  dias  a  agüa  da  fua  infufaõ,e  firia- 
gandoo  cano  com ella. 

S*rvs  para  todas  as  iupprefloens  daourina*  dando  a  beber  ao  doente  a  agua  que  for 
levemente  cozida  com  a  tal  raiz  ,  mas  carn  tal  con  liçaô  que  antes  de  ufar  defta  agua» 
tome  o  primeiro  dia  hum  vomitorio  detres  onças  de  agua  BeneJiâu,  ou  feisgrãos  de 
Tarcaro  emetico  %  e  nos  dous  dias  leguintes  tome  íeisUngrias  nos  braços,  e  no  terceiro 
comece  o  doente  a  tomar  a  tal  agua ,  ;c  conhcceràô  o  muito  que  me  devem  por  lhes  daç 
cfte  confelho. 

Serve  para  as  purgaç oens  da  ma  ire  de  qualquer  cor  que  lejao,b  bendo  por  30.  dias 
em  jejum,  eà  noite  leis  onçrs  da  agua  da  fua  infufaõ ,  a  que  ajuntem  doze  grã  >s  de  pò 
íubal  da  dita  raiz.  Toda  a  cafa  do  Senhor  de  Aguas  bedaS  póde  fer  teftemunha  delt* 
¥erd  ide ,  porque  eftando  na  dita  cala  hu  na  criada  que  havia  nove  annos  padecia  a  dica 
purgaç  *5,  que  a  nenhum  remedio  obedecia,  fó  com  efta  raiz  farou. 

Serve  a  agua  deita  raiz,  tomada  por  vinte  dias  em  jejum*  psra  provocar  a  conjunção 
às  mulheres,  que  por  faln  defta  delcarga  padecem  mil  achaques;  mas  he  neceflano  íaJ 
zer  com  o  tal  remedio  exercício  de  huma  hora.  Tofiia-fe  trinta  dias  meya  oitava  do  pó 
defta  raiz  em  caldo  de  grãos  pardos. 

Hum  R.digio!o,cujo  nome  naó  me  lembra,  eftando  taõ  íufFocado  com  flatos ,  que  naó 
podia  rdpirar,  íó  com  o  pò  defta  raiz  livrou  delíes,  e  da  morte. 

Serve  para  abafamentos,  e  flatos  melancólicos,  dando  a  beber  a  agua  da  dita  raiz. 

Serve  para  caneladas,  untando*as  com  o  polme  da  d s ta  raiz. 

Serve  para  curar  feridas  frefeas,  lançando  nelhs  o  pò  íiniílimo  da  diu  raiz. 

Serve  contra  o  garrotilho  ,  eelquinencia ,  untando  toda  a  garganta  com  0  polme  que 
fe  faz  da  raiz  da  Butua  pulverizada  fubtilmente,  e  mifturada  com  vinagre 

Serve  o  cozimento  defta  raiz  pata  curar  fogo  falvagem ,  e  leicenços,  lavando-fc  rnuy-J 
tas  noites  com  elle. 

Serve  em  falta  do  meu  Bezoarticü ,  para  rebater  toda  a  forte  dc  veneno ;  e  he  grande 
remedio  para  os  speftados ,  com  tal  condiç  6  que  fe  deve  beber  o  feu  cozimento  #  e  un¬ 
tar  a  parte  ffendidacom  o  polme  da  dita  raiz. 

Serve  contra  to  las  as  mordeduras  de  caõ  danado,  e  bichos  peçonhentos,  bebendo-fe 
â  agua  da  fu  a  infufaõ,  untando  a  mordeduracotia  o  feu  polme. 

^  G  Doutor  Franciíco  Roballo  Freyrc,  Cavalleiro  profeíío  da  Ordem  de  S  nriago,  e 
íifiçomór  no  Eftado  da  índia ,  certifica  que  dera  em  tres  dias  iucceili  vos  o  cozimento 
delta  raiz  a  huma  mulher,  que  tinha  na  região  da  madre  humainchaç  õ  fl  umonofa,quc 
fe  naó  pode  curar  em  larges  tempos,  e  fó  com  0  cozimento  da  raiz  da  Butua  íe  madurou 
o apoftema,  rebentou,  e  deitou  muito  humor, e  ficou  faã. 

Ssrve  para  curar  alófcericia,  ehe  paraiílbo  rnayor  remedio  que  tern  o  mundo. 

Serve  para  curar  os  dquentamentos,  tomando  nove  dias  hum  efcrupoío5  m iíturado  co 
outro  eíçrupulo  de  Terebentina  ,  feita  em  pirolas.  De  meya  onça  de  raiz  da  Butu?i  festa 
em  laíquinhas  miúdas, e  outra  meya  onça  de  centaurea  raenor,levemcnts  cozidas  em  hüa 
canada  de  água  ordinaria ,  fe  fazem  cinco  ajudas ,  que  aproveitaô  mu^to  nas  febres  in- 
termntauesi  e  naó  duvido  que  eftas  íaó  as  ajudas  taõ  afamadas  de  Pedro  Caitdlo. 

Raiz  Divina,  e  fuas  virtudes . 

ESta  raiz  naíce  em  Portugal,  em  hum  lugar  vizinho  a  Cetuval,  a  que  chama  ó  Troy  t: 

naó  fabemosque  haja  Author  que  eferevefle  dclia;porém  acxperiencia  dos  b..  m  cf  • 
feitos  que  obra  em  algumas  enfermidades»  íaõas  máisqualiâcadmefteaiuuhas  das  loas 

vir  tu- 


DE  VÁRIOS  SÍMPLICES.  t? 

% 

virtudes.  Hè  adita  raiz  inclinante  aquente,  por  cuja  caufa  fe  haó  deve  vfar  deila 
to  cozida,  mas  com  hunia  moderada  fervura,  de  forte  que  coma  dü^s  canadas  dc  asua  fé 
coza  numa^  oi  ava  da  dita  raiz  Içvcmente  machucada:  deíopila  muito  as  vess  ?  provoca 
a  conjunção  das  mulheres ,  c  aproveita  nas  inchaçocns  do  veture  das  mulheres  que  ma 
ifíé  ii  hydropicas  •  naõ  duvido  tenha  outras  muitas  virtudes  9  queo  tctnpòhá  defeoí 
brindo  j  rii  is  por  ora  fatio  ió  naquellas,  de  que  jà  tensos  experiência»  Ghama-íeeílá 
raiz  Divina  peios  íeusgrandes  preftitnosó 

Unguente  de  Bicuivat  e fuás  virtudes,  r 

DO  Rio  dc  Joeiro, e  algumas  vezes  do  Paràsvem  a  Portugal  dentro  dc  huns  canudos 
o  unguento  chamado  Bicuivo ,  o  qüd  k  faz  da  fetnente$  ou  fruto  de  huma  arvore 
chamada  Becoybeira.  G  flita  por  repetidas  experiências  (cr  o  dito  unguemo, remédio  ef« 
fiesciffimo  para  curar  dores,  e  pontadas  em  qualquer  parte  que  cftejaó,  com  tal  condiçaõ 
que  procedaõ  de  caufa  fria:  na  fraqueza  de  nerVos,  ou  encolhimento  dellcs,  por  mais  que 
o  doente cílcja  tolhidotc  aleijado,  taz  o  dito  unguento  maraviihoío  proveito,  t  fc  nâquei* 
Iss  parte «  houver  algum  tumor*  dureza ,  ou  incbaçaõ,a  desfaz  cm  breves  dias, porem  hè 
neceílario  advertir  duas  couías  muito  importantes, para  queodito  unguento  fsça  o  pro^ 
veito  defejàdo.  A  primeira*  que  a  fomentaçaõ  íè  íaça  com  grande  cautela,  e  refguardo 
doer,  porque  abe  muito  os  poros:  afegunds,  que  a  caufa  da  doença  proceda  deirialda^ 
de:  a  terceira  que  a  parte  quaxofe  fc  esfregue  com  o  cal  unguento  moderadamente  queo » 
te,  unto  tempo,  quanto  parecer  quebaíh  paraqac  a  virtude  do  rs  medio  pen»  tre  dentro* 
Em  falta  deíie  unguento  ferve  com  a  mdma  cfficacia  o  pó  da  mefmn  femente  esfie^ 
gaüdo  a  parte  ofFcndidi  com  dle  quente. 

tMáçtá  de  Leao y  e  fuas  virtudes • 

ASfim  como  fio  bucho  de  algumas  vacas  fe  gera  butm  miçaa  do  tamanho  de  hümi 
laranja  pequena „  também  no  bucho  dc  alguns  Leoens  fe  cria  hums  bola,  ou 
maçàa  do  tamanho  de  hum  ovo ;  cft.t  bola  roçsdacmagus*  ou  vsflho,ou  hum  pouco  de 
pò  Jelladado  ài  mulheres  que  naõ  podem  parir  #  no  melmo  iniiunte  parem  s  diitaõ  as 

paieas,  e  provoca iffieazmcote a  conjunçgõ  d©s  mezes, 

:  '  -  -  •  *  «  / 

..  '  ‘  ’  tr'  /  . 

(JH açãado  Elefante ,  e  fuas  virtudesl 

NOs buchos  dos  &3  Jantes  muito  velhos  fe  achaô  muitas  veies  hutnastmçlsj  otí 
bolas  tamanha?  como  hum  ovo  degallinha,  defta  pedra,  ou  maçãa  fe  tem  achado 
que  he  tao  boa  como  a  mais  cxcellentc  pedra  bazar  que  v.ni  da  índia,  he  verdade  que 
amarga  muito  quando  fe  toma,  e  efte  he  hum  grande  final  de  cila  fer  boa  ;  aquantidi»* 
dc  cm  que  fe  toma  feõ  de  io  grãos  atè  a 6  toraa*íc  mifeorada  com  quatro  onças  de 
agua  de  cardo  fanto,  ou  de  papoulas,  eíe  abafa  o  doente  muito  bem  para  fuar^aprovei* 
ta  rmiito  para  as  dores  de  barriga,  ptra  as  febt  es,  para  dores  dc  cofiado*  abre  as  opiiggoeng 
do  fígado* 

Triaga  Br  afilie  ay  e  fuas  virtudes  d 

NOCoIlegio  dos  Reltgiofos  da  Companhia  dc  JESUS  da  Bahhjfefaz  huma  Tria2 
ga  chamada  RrafílicaíCom polia  de  varias  plantas  raizes,  ervas,  frutos,  e  outras  què 
nafeem  rir  Brafil  *  dotadas  de  taõ  excedentes  virtudes,  q  cada  hua  íò  per  fi  pode  fer  vir  em 
lugaf  de  Trj  g*  magna^pois  com  algumas  das  raizef*de  que  fe  compoem  díe  Antidoto,  fe 
curaõ  no  B;  afil  dc  qualquer  pcçonha,e  mordedura  vcnenofa,conr»o  também  d©  outras  enrí 
fermidades,  fó  com  maftigallasj  c  a  experiência  tem  moftrado9que  íenaò  he  melhor  que  a 
Triaga  m*pns,  nao  inferior  a  dlsiporquc  hc  efficaciffimaeôtra  todo  o  veneno  (excep« 
to  os  cor  roíi  vos)  como  hc  o  folimaõ,  e  rofalgar ,  aioda  que  contra  t  lhes  dado  logo  o  pezo 
de  huma  até  d  tias  oitavas  *  ajuda  aos  dei^r  fora  por  vomito;  e  depoiácoó  leite  3  t 
com  amendoadas í  m que mifturcm  muciiagcns  dc  marmelo,  ficaõ feguros.S*  rvs contra 
qualquer  bebida  venenofa,  e  contrS  as  mordeduras  dc  animae#  peçonhentos, tomando  pé«*' 
h  boca  o  pezo  dç  hum»  oitava  até  duss  em  vinbp|Çaldot  ou  m  outro  qualquer  liçor^c  ifl@ 

B  2  dô 


MEMORIAL 


de  quatro  era  quatro  haras,  atè  que  o  doente  fc  finta  aliviado  ,  wHandplfcc  também  cora 
ella  os  pulíosj  nariz,  ecoraçaõ»  c  pofta  03  mordedura  a  modo  dpçmplaftrç*dtstèka 

cm  vinho.  .  n 

Serve  para  qualquer  dor  intrjnfcca,  como  dc  eftomtgo »  voúntos,  conca,  natos,  epon» 
salas*  principalmeme  fc  forem  caufadas  de  frio:  para  lombrigas,  t  qualquer  humor  cor- 
íupt-o,  que  fe  gçrs  nos  inteftinos»  he  bom  remçdk>,e  para  eítancar  camaras, para  dores  âc 
rjn&,  bexiga ,  area  ,  c  pedra  #  porque  be  diurética,  e  faz  ourinar,  tomando  a  miado  mey& 
oitava  cm  agua  cosida  com  cerfolip,  ou  cora  raiz  de  dpargo,  ou  de  rilhaboy. 

Serve  para  qualquer  achaque  da  cabeça  cauíado  de  intemperança  fria,  como  parlcfi?» 
epilepfia,  apoplexia,  melancolia,  applicando  juntamente  os  remédios  geraes,  qus  os  Me« 
d  ices  fabem* 

fie  boa  para  a  putrefação  do  arj>  contra  as  doenças  epidêmicas:  nas  febres  malignas 
teip  tnoftrado  grande  cfficacia  tomando  logo  huma  oitava  com.  agua  de  Cardo  iantôí 
ou  de  dcorcioneira  trc$  vezes  00  dia» 

O  mdmo  proveito  faz  nas  bexigas,  e  farampao*  ajudando-as  a  fabjr  pari  fòra. 
t  He  experimentado  remedio  paraafufFocaçaõdamadre,convulfa&,  fiatos, dores,  reten¬ 
ção  dos  menftruos,  paraopilaçaôds  madre,  para  facilitar  o  parto, -expelliraf  parcas  ,Cor* 
roborar  a  madre  depois  do  parto;  c  fioalmeote  para  quaíi  todas  as  doenças  das  mulheres* 
$erve  cambem  para  as  crianças  que  tem  febres ,  cólicas ,  e  outras  enfermidades  caula* 
das  das  lombrigas;  c  para  outras  muitas  doenças. 

Oleo  do  Elefante ,  e  fuas  virtudes* 

AS  canelas",  t  mios  do  Elefante  depois  dc  tirada  a  carne  fe  pendurao  cõtn  o  offopat# 
baixo,  e  pondo- as  ao  Sob  e  dtílcs  offos  que  fao  efponjofos  defti!!fi,cu  íaz  hum  oleo 
que  fe  apara  em  hum  vazo  limpo ,  c  fc  guarda  em  vazo  de  vidro  bem  fechado,  e  fe  eftiou 
como  remedio  efpecifico,  e  admiravel  paraaftllma,  e faltas  de  refpiraçaô;  applica-fe 
quente  ao  peito-  esfregando*o  cora  brandiu  a  por  tempo  de  vinte  Ave  Marias^porque  dei¬ 
te  modo  coraraunique  melhor  a  iua  virtude;  tarabem  aproveita  muito  esfregando  com 
alie  a  parte  em  que  eftiver  alguma  dor  de  cauía  fria,  advertindo ,  que  quando  fe  apphcar 
cftc  oleo,  feja  cora  grande,  rsfguardo  do  ar  trio,  porque  he  muito  penetrativo* 


Cobra  de  Cafcavel ,  efmsvirtuies « 

Nâs  terras  do  Brafil  fe  criaô  h  11  mas  cobras  tao  venenofas,que  mordendo  em  qualqueí 
pane  do  corpo,  communícaõ  repentinamente  huma  qualidade  ta 6  peftikrae  ao  Can¬ 
gue,  que  o  adelgaça,  e  faz  íahir  do  corpo  com  tal  fúria,  que  íahe  pelos  ouvidos,  peia  bo- 
Ca, pelo  nariz,  pelos  olhos,  pelo  cano  da  ourina,  atè  fé  efgotar ,  e  morrer  a  pefiba  mordida, 
Chama*fe  eíb  cobra  naquellas  terras  Xenninga ,  centre  cs  Ingleses  fe  chama  Ratthe* 
JnaKes.  Tem  na  cabeça  hum  caloavd,  que  a  natureza  lhe  creoo,  para  que  vindo  tangen¬ 
do  fe  ouça  de  longe,  e  tenha  a  gente  tempo  para  fugir.  Efte  cafcavel  trazido  ao  pefcoço^ 
affirmaô  os  nàturass  d&qutlla  texfa,  que  tern  virtude  de  preíemr  de  acddcnte  dc  gotta 
coral,  e  de  vagados.  E  íobre  tudo  faz  milagres  cra  prdervar  as  mulheres  de  aceidentef 
da  madre,  coíbo  fc  obfervQU  por  muitas  vezes -em  humafobrinha  de  Franciícol  Ferreira 
Nobre, e  em  outras  muitas  mulheres,  que  naõ  tiomeyo  por  efcuSar  enfado. 

O  remedio  com  que  efeapaõ  da  morte  as  pefloas  mordidas  por  efta  venenofifiiraa  cobra 
he  tomar  huma  oitava  de  pò  de  upicorneda  Ave  chamada  Inhume9pu  Ánhume^ou  huma 
oitava  de  pò  da  raiz  de  fefpcntafia  virginiana  „  e  em  falta  deites  remedies,  pòde  tomar 
hum  pouco  de  tftercodc  homem  acabado  de  íahir  do  corpo,  ecaõ  tem  outro  remedio 
eftg  veneno» 


Maga  a  da  Fdcâ^e fuas  virtudes* 


NOsbochos.de  algumas  vacas  fe' criao  fmas  bolas  redondas  como  lafanjasiqui  fao  ãè 
cor  parda  muito  leves,  e  por  dentro  cftaõ  cheas  de  cabellos  :  eftab»Iá,ou  maçãa 
roçada  com  agua  atè  que  faça  hum  pohne,  dado  por  alguns  dias  aos  caraarentos ,  os  alivia 
muito.  He  remedio  q  raras  vezes  faihb  como  me  conftapar  mthu|  íXgsricnchs  Htas 

cm  çamaras  de  que  jà  naq  havia  cfperança,  v  N  ^  "  '  “*  ” 


/ 


DE  VÁRIOS  SIMPLÍCES. 


19 


Raiz  de  Joao  Pires ,  chamada  entre  os  Médicos  Efula% 

e  fuás  virtudes „ 

NAcafca  dcífa  ria  íe  cncerrao  grandes  virmdcs.com  tanto  qucíejabem  prcparàdt 
uazi  ia  primeiro  cious  dias  de  infufaõ  em  vinagre  branco:a  primeira  virtude  defte 
remedio  hc  para  purgar  os  humores  groííos ,  para  os  hydropicos  t  para  paralíticos ,  cal- 
porquentos :  a  quantidade  em  que  fc  dà  he  cic  quinze  grãos  ate  vinte  e  quatro,  eaos 
robuftoêf  meya  oitava ,  cm  forma  de  pílulas :  os  curioíos  podem  ver  as  muitas  doença^ 
que  Manim  Ruíiando,  Mwdico  dos  Principes  Palatinos, curou  com  &  Eíula* 

Pedra  que  fe  cria  dentro  mfã  da  vaca ,  e  fuas  virtudes 

D  Entro  no  fel  de  algumas  vacas  íecriaõhumas  pedras  raõamarellas  como  he  o  aça^ 
fraõ;  cilas  taes  pedras  tem  grande  virtude  para  curar  a  Icterícia ,  com  tal  condição*,*5 
que  o  doente  efteja  primeiro  bem  evacuado:  tomaó-fe  vinte  grãos  da  cal  pedra  pulve* 
tiz  ada,  quinze  dias  em  jejum,  mifturando-a  com  íeis  onças  de  agua  cozida  com  folhas 
ác  morangos,  ou  com  raizes  de  giama. 

Em  minha  caía  tenho  hum  remedio ,  ou  fegredo  tao  efficaz  para  curar  a  tôcricía,  que 
fendo  eu  Medico  ha  cincoenta  e  oito  annos ,  ainda  naõ  achey  outro  taõ  certo  como  eíle8 
c  o  tenho  em  minha  rafa  fó  a  fim  de  tirar  a  occafiaõ  a  algun  Boticários  pouco  eferu* 
paleios,  para  que  oaõ  vendaò  o  tal  remedio, dizeiido,  que  lho  revcley,  como  dizem  hoje 
muitos,  que  eu  lhes  revcley  o  meu  Rezoamco  *  c  outros  remédios  que  inventou  a  minha 
cqriuíidade,  e  que  ninguém  fabe  coma  faõ  compoíf  nem  os  ingredientes  que  entraõ  m 
fabrica  delies:  e  lem  embargo  diílb  ,  raras  laõ  as  boticas,  aonde  íe  peça  o  Bezoarticodo 
Çuryo,  e  outros  legredot  mais ,  que  naô  digaõ  que  o  tem*  (em  fazer  eícrupulo  dos  graves 
damnosjque  íç  leguem  de  vender  os  reaicdios  adulterados  per  vetdadeiros* 

Pm  de  Largis  j  e  fuas  virtudes, 

  Arvore  chamada  Largis  he  pequena  como  hum  peflegueyro l  as  foâs  folhas  ftô 
coradas,  cria  íc  nos  confins  da  Pcrfia  junto  a  Turquia  ,  íaô  poucas  0  t  muy  raras  ss 
duas  arvores.  ^  ^ 

Á  principal  virtude  da  esfea  defta  arvore  he  contra  a  Iftericia  ,  trazida  no  pdcoçof 
junto  a  carnes  naõ  íe  toma  cozida,  nem  preparada  em  agua*  como  cá  fe  tem  introduzido^ 
Da  caíca  dcíla  arvore  chamada  Largis,  com  rriz  de  lofna ,  e  uvas  p  a  fiadas  íefaz  hutn 
quaíi  divino  xarope  para  lélericias ,  como  íc  pòdc  ver  na  minha  Pílyanthta ds  terceira 
impre flaó  trat,  %,  cAp.  éf-fol.  360.  n.  1 3.  E4e  xarope,  Ctn.  que  entra  Largis,  he  taõ  efficaz 
para  a  Iéfcricia,  como  hc  a  qumaquina  para  as  cezocns?e  como  he  a  falia  parrilha,e  o  azou¬ 
gue  paraogalHco.  O  modo  com  que  íe  faz  o  dito  xarope  para  a  lâerieia^e  a  quantidade 
cm  que  íe  toma,  acharaó  os  curioíos  no  lugar  citado  da  minha  P&lyawkêá, 

Eíla  calca  de  pào  chamado  Largis,  cura  os  olhos  ramelofos,  húmidos ,  é  inflammf  Jos* 
deitando  hum •eicropulo  delia  de  infufaõ  em  duas  onças  de  agua  rofada, 

*  Pao  Coka  j  t  fitas  wriuãeü 

ES  te  pào  m  língua  do  Gentio,  fe  chama  DangyaCatengà,  outros  lhe  chama5Catu2 
bia ;  o  nome  de  pào  Cobra  lhe  deraó  os  Poi  tuguezes,  por  ícr  0  mais  efficai  remedio 
Gu  mundo  para  as  mordeduras  das  cobras  mais  veneooías» 

Serve  o  p©  deite  páo  lulado,  ou  moido  muito  fubtilmente,  para  remedio  das  grandes 
febres,  dando-o  a  beberem  agua  ,  euntandô  com  o  leu  polme  ocorpo:  ferve  para  qual-, 
quer  dor  quente^oii  íria^u  inchaçaó,  00  gotta,  untando  co  o  feu  polme  a  parte  doloraifr. 
Dizem  os  natüraçs daqucllas  terras*  que  cita  raiz  fe  deve  colher  no  minguante  o 2  Lua* 
tomando  a  raiz  que  fica  para  a  parte  do  nafeente* porque  a  do  pocnte,tn&  teUi  virtude,  ans 
tes  dizem  que  he  prejudicial# 

Do  pò  defta  raiz  fe  pode  dar  meya  oitava  mifiuradà  com  agua. 

Applica-dccom  grande  utilidade  íobre  as  pontadas,  tomaedp*?  cambem  pelabcca, 

■  .  *  Na 


20 


MEMORIAL 

r 

Na  inchação  das  pernas  fax  o  cal  polmc  coníideraVd  provei  teu 

Opò  defta  mz  mifturado  cora  agtu  em  qüc  tiverÈm  coxid^aerva  AnagalliJ  a  que 
chamamos  Marugem,ou  mifturado  com  cípirito  dc  vmho alc&nforado,cura  por  modo  dc 
encantamento  as  Eryíipelas,  cõ  tal  condição  que  fe  applique  morno,  c  naó  k  deixe  íecar* 

Nas  parlefus  íe  pòde  dar  pela  boca  a  agua  em  que  for  íuUdaríh  rasx,  untando  tam¬ 
bém  a  parte  paralítica  com  o  feu  polmc  muitas  vezes  no  d  ia» 

Nas  doies  dc  cftomago  fax  maravilhofo  proveito  o  tal  poSmejá  bebido,  jà  untando-o 
comelle»  doente  houve  ,  que  eftando  dcfcfpcrado  com  dores  de  eftomsgo,  o  untou  com 
o  polme  da  tal  raiz  *  6  porque  o  doente  molhou  a  mão  no  dito  polmc  para  esfregar  com 
dieo  lugar  da  dor,  naó  fó  melhorou  delia ,  mas  tendo  amaõ  cõmgotta,fe  tirou  a  gotta* 
nem  a  teve  mais  cm  íua  vida. 

Nas  feridas  obra  maravilhofoscfícitos:  deitandolhes  os  ditos  pòs  ferve  efte  pò  para  do* 

I es  da  madre,  ou  feja  bebido,  ou  fcj«  untando  o  pentem  com  eile ,  alimpa  os  rins  de  areas* 

Gontrayerva ,  e  fuas  virtudes * 

1  Ás  índias  de  Gaftclla  fe  cria  huma  erva  a  que  os  nacuraesdaquella  terra  chimaô 
Gontrayerva,  na  ling,ua  Portugueza  vai  o  mcfmo  que  contraveneno;  he  admiravel 
antídoto,  ©u  íeja  para  rebater  o  veneno  das  mordeduras  dc  bichos  peçonhentos ,  ou  feja 
parafvcncer  o  veneno,  que  roaliciolamcnte  íe  deo  para  matar  a  alguém.  Para  as  febres 
malignas  he  remedio  quafi  Divino ,  nem  até  efte  tempo  fe  tem  achado  outro  mais  pode- 
rofo  do  que  cfta  raiz  ,  como  confta  aíüm  pelo  que  dizem  delia  os  grandes  Hcrbolarios^ 
como  pelas  muitas  febres  maligniffimas,  que  eu  Joaõ  Curvo  Seramedo  tenho  curado  etn 
tantas  doenças  que  naó  tem  numero,  os  quacs  jà  eílavaó  agonizando  quando  fuy  chama¬ 
do  para  os  curar»  e  dandolhes  eu  o  Cordcal  Bozoartico  Curviano,  que  he  fegredo,  e  in* 
Tento  meu,  e  em  cuja  compoíiçaõ  entra  a  dita  Gontrayerva,  eícaparàõ  quafi  todos ,  domo 
os  curiofos  poder áõ  examinar  dos  mefmoi  doentes  quaíi  reíufeitados  com  o  dito  B.zoar* 
tico,  cujos  nomes  acharàõ  apontados  na  minha  FolyanthçA  da  terceira  impreflaóno  trat* 
%.  cap .  io6.  deíde  a  folha  57 1.  atè  579. 

Ajuda  a  vir  a  conjunção  mental,  com  tal  condição  que  fe  tome  nove  dias  èm  jejuai 
em  quantidade  de  huma  oitava  feita  em  pò5  emifturadacom  mCyo  quartilho  de  caldo 
de  grãos  pardos.  Em  certo  homem  muito  perfeguido  de  accidentes  dc  pedra  tem  feito 
maravilhas  a  dita  raiz,  dando  huma  oitava  delia  mifturada  com  meya  oitava  de  bom 
almifcar ,  desfazendo  eftas  duas  coutas  em  mcyo  quartilho  de  agua  cozida,  c  bc rn  ef- 
premida  com  a  erva  chamada  alfavaca  dc  cobra,  ou  com  a  raiz  da  erva  chamada Ono^ 
nis»  ou  íemoraaratrijqueemPortuguezíc  chama  rilha  boy« 

^  Árvore  Angélica ,  e  fuas  virtudes « 

ESta  Arvore  fe  cria  no  Cçrtaó,  gu  matos  das  terras  da  Amencaicujosfrutosíaóra* 
manhos  como  huma  ameixa  pequena  j  he  fama  publica,  e  conftantequc  opòdt  ftss 
frutos  mata  infalivelmente  as  lombrigas:  tem  admiravel  virtude  para  as  febres  malig¬ 
nas,  como  confta ,  pois  fc  mandou  huma  pouca  ao  Senhor  Rty  D.  Pedro  ÍE  por  grande 
contravencno» 

tMeriganga ,  e fuas  virtudes . 

HE  huma  pedra  âítificiofa,  que  hum  Gentio  enfinou  a  fazer  %  hum  Rèligiofo  da 
Cpmpanhi*  de  JESUS,  em  Goa,'  onde íeconíerva a  receita  delia:  ferve  concrá 
os  cltiílicidios ,  para  o  fcirrho  doí  moribundos,  e  para  os  que  cftaò  taó  apertados  da  gar¬ 
ganta,  que  naó  pódem  enguiir;  conforta  muito  o  eftomago#  He  boa  para  íciatica,  e 
tem  tantas  virtudes  para  outras  doenças  $  que  íe  fazem  incríveis;  a  quantidade  cm  que 
fc  applica  íaó  de  quatro  grãos,  atè  íeis  cm  mel  de  abelhas*  ou  cm  marmelada* 

Artequím 5  e  fuas  virtudes J' 

ARtcquim  he  hüa  fruta  Comprida^do  tamanho  dc  hüa  grande  ameixa  faragoçans,  tê 
quatro  quinas  j  efta  fruta  fe  criaem  cercas  fíVorcs  longe  da  Indi*tc  íç  traz  a  dia  por 

nego- 


21 


DE  VÁRIOS  SIMPLICES. 

negocio  para  fazer  tinta  ama  relia ,  c  em  muitos  íeculos  fc  mó  foube,  que  tivefíè  outros 
.prcítimos  atè  que  Deos  compadecido  d;>5  novas  doenças  que  os  homens  padecem,  per- 
Uuttio  que  íe  de.fcobriffcm  novos  semedios  com  que  fecuraíTem.  Muitos  exemplos  pu- 
dc*  a ailegar  em  conímmçaõ  deita  verdade,  baile  por  rodos  o  Artequir;,  do  qual  íc  def- 
cubti o  que  cora  a  lepra,  e  a  todas  as  cómiche  ens  deíefperadas,  fero  ier  neceílano  tomaiia 
pela  boca,  o  que  fe  foube  caíualmente  ,  porque  vindo  huma  embarcaçaõ  carregada de 
Amquinç,  le  deitou  algumas  noit  s  hum  kproío  pafi  geiro.que  vinha  na  mcfma  em  bar» 
caçaõ  encoítado  íobre  os  iacoscheyos  de  Artequins ,  e  dentro  de  poucos  dias  fe  achou 
perfeitamente  faó:  cu  lenho  eíta  fruta  para  a  mjítrar  aos  cm  iofos» 

Pào  Qumato ,  c  fuas  virtudes * 

R  Alado  em  pó  fubtiliílimo ,  e  dado  a  beber  em  agua,  he  gradde  contrapeçonha  *  c 
contra  mordeduras  venenoías. 

/  4;  V',-  -  •  .  .  v  '  •  i.V  '•  '  .  •  .  ’  .  ;  i  4  ;■  •'  • 

Raiz  de  Monguz^efuas  virtudes. 

K-  -  /  -  ~  '  '  '  ’  '  \  f 

ESta  raiz  tomou  o  nome  de  hum  animalejo,  que  tera  a  fóima  ,  e  corpo  de  hum  feraô 
cite  coítuma  pelejar  com  es  cobras,  e  tanto  que  íe  fente  ferido  larga  a  peleja,  evay 
buicar  araiz,  e  maítigandc*a  volta  a  continuar  abriga,  e  affimfecura,  e  defende  da  a 
mordeduras  da  sobra  atè  que  a  mata,  e  o  Manguz  fica  íalvandoa  vida  nefta  forma. 

Serve  moida  em  agua,  e  bebida ,  e  poita  íobre  a  mordedura  contra  todas  as  fcrkiasds 
bichos  peçonhentos» 

Serve  na  tnefrna  fôrma,  bebida  em  pequena  porçaô,  contra  toda  a  outra  efpecie  de 
veneno,  e  contra  as  febres ,  e  dores  Nephriticas  ;  e  fatà  muito  melhor  os  kuseffeitos* 
fe  feder  a  beber  depois  que  o  doente  tiver  tomado  tres  onças  de  agua  Benedíèta  ,  on 
íeis  grãos  de  Tartaro  emetico. 

Serve,  trazida  no  braço  junto  á  carne,  para  defenfivo  dos  bichos  peçonhentos,  e  pre« 
parada  em  azeite  ícm  íal,  íei  ve  para  curar  inflammaçoens,  e  boftclas  da  cabeça® 

0  ? 

Coce  de  Maldiva)  e  fuas  virtudes • 

ESte  coco  nafee  no  fundo  do  mar  tem  a  fórrm  de  rim,  e  nafeem  fââ  arvore  dons  peJ 
gados,  a  cafca  negra,  e  o  miolo  com  a  caíquínha  parda;  he  branco  como  o  coco  que 
ic  cume  ,  ou  de  branco  parap»rdo;  da  cafca  íc  fazem  púcaros  como  barquinhas,  com 
pés, e azas  de  prata  para  beber ,  porque  he  grande  cotacravcneno,  eos Mouros  ,  e  Gen¬ 
tios  da  Afia  fazem  deiles  giande  dlimaçaõ  :  a  onça  deite  coco  tem  mais  de  dobrado  va¬ 
lor  ds  pedra  Bazar. 

Ser  ve  preparado  em  agua  ,  e  bebido ,  contra  todo  o  veneno,  e  para  as  febres ,  e  para 
vencofidadcs  melancólicas ,  e  para  as  obtirucçocns;e  hc admiravei  cordeal  paraasbexi^ 
gas. 

Tem  virtude  para  abforber  os  humores  venenofos  ,  e  circular  o  fangue,ukndo  ddlc; 
ç&mbem  faz  grandes  efkitos  nas  febres  malignas,  e  nas  febres  procedidas  de  Plcurizes* 

Coquinho  de  Melinde ,  ou  Macoma%  e  fuas  virtudes , 

HE  fruto  de  huma  arvore  chamada  Macomeira,  e  tem  huma  cafca  muito  dura,  que 
fe  mo  coita  íe  naô  com  ferra,  he  muy  felpuda ,  e  dentro  tem  o  coquinho  como 
coco  de  comer. 

Appiica-fe  centra  as  ventofidades  bebido  em  agui.  Também  fe  ufa  delle  na  tnefma 
forma  contra  os  flatos,  c  para  abater  a  cólera,  e  confortar  o  cftomago  resfriado ,  ouie« 
Jhxado. 

Raiz  de  Miihomens)  e  fuas  virtudes . 

Ri  i.fecflãrgiz  no  interior  do  Certaõ  do  Brafil ,  c  fe  applica  contra  toda  a  efpecie 
j  de  veneno, eíendo  de  bichos  peçonhentos,  bcbendo;í  preparada  em  sgua,  e  pondo 
os  pos  da  raiz  na  ferida. 


Serve 


22 


MEMORIAL 

r 

Serve,  b?b;da  m  mefma  fôrma,  contra  febres  malignas, contra  mfl  imoi^çoens  do  figa* 
do,  e  bofe;  e  os  pos  preparados  5  e  lançados  nas  chagas  dagrangiena,  he  rernedi >  ej^cl- 
icme,e  curativo  ,  }  oíb  t&mbema  raiz  da  parte  para  onde  querem  que  na<3  corra  agran» 
grena ;  e ufa fe  ddia  para  toda  a  enfermidade;  e  por  ter  univcríal  a  fus  virtude  >  lhe 
deraó  o  nome  de  Mii*  homens. 

Dado  opò  defta  raiz  em  huma  onça  de  agua  ardente curs  prefentaneaméte  as  dons  de 
cólica,  tem  virtude  vonmiva,e  por  efta  razaó  cura  muitas  doenças  com  grande  felicidade 
Provoca  vomitos,  e  por  eftc  caminho  aproveita  em  muitas  enfermidades. 

Raiz  de  Tambuape ,  e  fuas  virtudes. 

NAfce  na  Bahia,  e  tem  grande  virtude  contra  veneno;  preparada,  e  bebida  em  agu» 
íerve  contra  as  dores  de  tftomago,  e  lombrigas 

Batatas  do  Campo  y  fuas  virtudes ; 

EStas  Batítas  naó  feachaõ  fenaò  no  interior  do  Certaõ  do  Brafil,  aonde  também  íe 
criaôa  Tambuape,  e  Mil*hooiens,c  teó  rara?. 

A  fua  virtude  naõ  hc  outra  mais  que  hum  finiffitno  contraveneno  para  as  mordeduras 
de  bichos  peçonhentos,  tomando  a  barata  picparada  com  agua,  e  pondo-a  na  ferida. 

Fava  de  Meltnie ,  e  fuas  virtudes . 

HEfxcellente  remedio  (  preparada  cm  agua,  ou  em  vinho,  e  bebida)  contra  o  mor3 
dexim,  c  contra  dores  de  cftomago ,  e  do  ventre.  Também  ác  applica  para  ventofi* 
dadesjcpara  quartans* 

Raiz  do  Queijo,  e  fuas  virtudes . 

HE  efta  raiz  muito  quente ,  c  por  iffo  íe  applica  às  enfermidades ,  que  procedem  dê 
frio. Efta  raiz  íe  ha  de  dc  moer  em  pò  fubtiÍiítimo,ou  roçar  em  huma  pedra  cõ  çumo 
dc  1  maõgallegojou  com  qualquer  outro, de  forte  que  fique  hum  polme  muito  liquido,e 
deftepolme  fe  deitaõ  cinco  ,  ou  feis  gottas  nos  lagrimacs  dos  olhos  í  o  qual  remedio 
obra  maraviihofos  effcicos  nos  accidentes  de  gotta  coral,  porque  repentinamente  tira  o 
accidcnte,  e  entra  o  enfermo  cm  leu  prefeito  juízo,  corno certamante  mc  confta 

Serve  o  pò  defta  raiz,  mifturado  com  huma  gottas  de  çunio  de  limaõazèdo,  para  o  ar; 
mashi  de  deitarfe  dentro  nos  olhos,  no  mefmo  dia  que  der  o  accideme  >  porquedefta 
forte  nem  itá  o  mal  por  diante,  nem  tornará  a  dar  mais  vezes. 

Do  me  fmo  modo  fe  applica  o  pò  da  dita  raiz  para  todo  o  genero  de  peçonha, aílim  co¬ 
mo  mordedura  de  cobra,  ou  de  outros  quaeíquer  bichos  peçonhentos,  untando  com  o 
polme  da  tal  sa  z  a  parte  onde  o  bicho  mordeo,  fendo  que  o  principal  remedio  he,  tomar 
o  tsl  pò  pela  boca  mifturado  com  meyo  quaitslho  de  agua  roíada,  ou  deeícorcioneira:  e 
íea  peífoa ,  a  quem  mordèraõos  taes  bichos ,  eftivertsô  dcfacordada  que  pareçr  morta, 
façab  lhe  tres,ou  quatro  terraftçaduras  entre  as  fobrancelhas,  ou  na  molheira;  e  íe  deitar 
fanguc,  untem-o  muito  bem  fobre  a  mordedura ,  e  como  favor  Divino  tornará  em  fi,  e 
viv  irá. 

Serve  mais  para  aíTombrados,  e  endemoninhados,  e  aeftes  fe  applica  para  que  fe  vá 
odetnonio,  porque  nsõ  ha  de  eíperar  que  fe  lhe  deite  em  os  olhos  qu  atro  vezes. 

Serve  o  poírne  defta  raiz ,  leito  com  çumo  de  limaõ  aZedo ,  e  deitado  nos  lagrimaei, 
para  defpemros  bêbados. 

Serve  também  para  madurar,  e  fazer  vir  a  furo  osapoftemas,untando«fe  aqueila  parte 
que  quizerem  que  arrebente,  com  o  polme  da  dita  raiz. 

Serve  para  a  dor  de  enxaqueca ,  feita  a  raizern  pò ,  e  tomada  peia  venta  contraria  onde 
efta  a  dor,  como  te  toma  o  tabaco. 

Serve  para  fazer  vir  a  regra  ás  mulheres ,  e  para  os  accidentes  da  madre ,  chamados 
uterinos,  a  que  as  mulheres  ignorantemenre  dizem  que  lhes  fubioa  madreagarg  >nta ,  é 
que  as  aíioga» 


) 


Sc 


2} 


DE  VÁRIOS  SÍMPLICES. 

. 

Seromopòdefta  raiz  mifturarem  ou-rotanro  pó  Jc  gcngib  e,  c  meterem  hutna  pou¬ 
ca  «kíia  imftura  pelas  ventas  do  doente  qu-  rerrniio  I  \rr, ,  inhriKvdoK-ntc acordando 
fomho.e  elpiriarà;  e  fe  nem  acordar  ,  nem  eípirrar,  he  final  dc  morre» 

S  ccorrc  grandemente  á  íuc.llas  pcítaas,  a  quem  íe  deo  algum  veneno,  pondolbe  o  rò 

da  tal  raiz  nos  olhes  com  çumo  de  liaiaõ,  edadhe  cambem  a  beber  hutna  pouca  quanti¬ 
dade  ddh. 

Ap?oveita  muito  aos  cansaremos ,  com  tal  condição, que  naõ  fe  applique  no  prmiei- 
resdiâs  das  camara*,  porque  as  pòckcftancar  logo,  e  naõ  he  figuro  reptem  logo  os  hu- 
meu es,  mas  convem  deixar  d<dcarrrgai  a  natureza. 

Sobre  todas  as  virtudes  da  rau  do  Queijo,  a  que  leva»  palma,  he  que  acorda  aos 
doentes,  que  tem  modorra,  ou  fomno  taó  profundo,  que  mó  fentem  as  ve  mofas  ía?  j  oias; 
nc  quai  cafo  o  pò  fubtil  da  raiz  do  Queijo,  mitlurado  com  cantas  gottas  de  limaó  aze¬ 
de,  que  fique  hum  poime,  deitado  tile  nos  bgnmaes  dos  olhos,  os  acorda  de  íorte  que 
fic^õ  capazei  de  íe  confcfiar ,  c  fazer  teílamcuno  ;  m  is  porque  nem  em  todas  as  terras 
fc  achará  a  raiz  do  Queijo,  quero,  em  foccorro  dos  que  tiverem  íbmnos  p  ía  diílimos,  em* 
íinsrlhes  outro  rtmedio  facii ,  com  que  certa  ,  e  iníalhvcl  alente  acordmàõ,  e  naõ  po¬ 
dei  àõ  tornar  a  dormir,  fem  tomarem  amendoadas.  O  remédio,  he,  dar  ao  doente  por 
tres  dias  em  jejum  quatro  onças  de  infufaó  dos  trocifcos  de  Alan Jal»ccad  i  por  papel 
mataboraó.  Os  que  quizerem  certificarfe  da  quaíi  milagroía  virtude  que dle  remedio 
teui  para  vencer  todas  as  modorras,  eafFedlos  foporoios,  ve  jaó  a  fuinha  Polymthe*  da 
terceira  impreflaó  trat.z.cap*  iç.pag.ioç.  num.  14.  aonde  ucharàõ  nomeados  os  doentes 
que  depois  de  tilarem  ungidos,  epianteados  por  cauia  de  modorrasinvenciveis,  livrey 
da  mcrtecom  ofobredito  remedi  « 

Peço  pdas  Ghsgas  de  Ghriílo  a  todos  osJMedicos  que  neô  defprezesn  aeíle  remedio 
porque  no  d  feurfo  dc  cinco  ntae  oitoannos  ainda  naõachey  outro  taóefficazpara  ven» 
ecr  as  modorras  como  he  a  dita  intuíaõ. 

Raiz  de  Ginfaoy  e  fu  as  virtudes . 

ESta  raiz  vem  da  China ,  e  íe  faz  delia  grande  eflimaçao;  tem  virtude  Contra  febres 
agudas  ,  e  querem  que  feja  tomada  cozida  com  franga©,  para  aqudles  enfermos  que 
ciízó  nos  últimos  paroxifmoí. 

Masarazaódiz,  q  tomada  pequena  porçaõ  em  agua  da  fonte, e  bebida  no  mdmo  cal» 
do  <1e  frangaõ,ou  franga, he  admiravd  remedio  para  qualquer  enfermo  proítrado, desfale¬ 
cido,  ou  esfalfado.  Ajuda  muito  aos  faílientqs,  porque  lhes  excita  o  appetite  de  comer* 

Raiz  de  ejfttoçuaqmm ,  e  fuas  virtudes. 

0 

ESta  rsiz  fe  cria  na  cofta  de  Moçambique  defronte  das  Ilhas  de  Qtrrimba;  he  fin« 
guiar,  porque  as  fuas  virtudes  íaò  de  conta£l  . 

Trazida  ao  pefcoço  cahida  fobreacarneipseferva  de  toda  a  eryíipda  na  can,edetod<* 
o  genero  de  malefícios ,  e  doar,  e  íuípende  aeryfípda,  poftada  parte  paraondenaé 
querem  que  corra. 

Aranhas  do  Peru  ,  e (uas  virtudes • 

NO  Peru,  ou  índias  de  Caíldla  ha  hum  as  aranhas  muito  grandes  *  taÕ  venenofas,  e 
peçonhenta*,  que  em  breves hoi ás  mataò  as  peífoasaqucm  mordem.  Oremedio 
mais  certo,  einfallivel,  que  fe  tera  achado  contra  hum  veneno  tao  preíentanco,  he  untar 
s  mordedura  cinco,  ou  íeis  vezes  Cada  dia  com  o  leite  que  deitar  de  fi  humafolhl  de 
figueira  daquellas  terras,  cortando-a  com  huma  faca.  Digo,  figueira  daqudías  terr  ;  $■ 
porque  fendo  as  taes  figueiras  muy  femelhantes,  e  pareci hs  com  as  de  PortugaI,diíFc* 
iem  com  tudo,  em  que  as  de  Portugal  perdem  as  folhas  tanto  que  chega  0  inverno,  mas 
as  do  Peru  as  confcrvaõ  verdes  todo  o  anno ;  o  que  fem  duvida  foy  ahiffima  providencia 
de  Deos;  porque  como  o  leite  das  fuas  folhas  he  o  total  remedio  das  taes  mordeduras, 
quiz  Deos  que  todo  o  anno  as  houvefle  para  foccorro  dos  homens,  e  remedio  das  dicas 
mordeduras. 


24 


MEMORIAL 

r  g  3 

Pão  de  Angariarifua  [emente,  e fuas  virtudes* 

ESta  arvore  (e  cria  em  o  R  yno  de  Angolas  o  páo  da  dita  arvore,  e  os  frutos,  que  íaõ 
hüs  caroços  compri  jos  como  caroços  cie  tamarasftemgrandiffima  virtude  para  pro¬ 
vocar  a  ourinâ  ,  e  para  desfazer  a  pedra  dos  rins,  c  da  b.  xiga;  alimpa  todas  as  difficulJa, 
des,  e  humores  feculentos, que  fe  criaônas  fpbreditas  partes,  deitando-os  peias  ourmas. 
Tem  muita  virtude  na  cura  das  hydropdias,  de  qualquer  caíta^e  condição  que  fejaõ. 

O  modo  de  uíar  deite  pâo,  ou  frutos  para  que  façso  o  bem  que  fe  pertende,  he  o  fe* 
guinte.  Duas  oitavas  deíte  páo  limadc,  ou  feito  lasquinhas  rniudas,  fe  deitaráôetn  huma 
panela  de  barro  com  huma  canada  de  agua  da  f  me,  c  fe  deixaraó  citar  de  iofuí&S 
por  tempo  de  vinte  c  qu  tro  horas,  no  no  fim  das  quacs  te  fervera  de  modo,  que  de  quatro 
quartilhos  fiquem  tres ,  c  deita  agua  coada  daraõ  ao  doente  mcyo  quartilho  etn  jejum, 
e  outro  ao  Sol  pofto  ,  naõ  comendo  nem  bebendo  coufa  alguma,  menos  que  tsnhaõ  paf- 
fado  tres  horas ;  advertindo,  que  para  cite  remédio  faZcr  os  grandes  proveitos  que  coft 
tu  ma  ms  íupprcítoens  de  ourina  ,  deve  o  doente  ter  tomado  primeiro  dous  vomitonos 
dg  Tarcaro  «metico,  ou  de  caparroi*  branca, fsngrandode no  íeguinte  dia  quatro  vezes, 
c  no  terceiro  tres  ;  porque  cfte  cato  he  taôpcrigoio,  ciutn.maric *  que  fe  lhe  naõ  aco¬ 
dem  com  grande  p.rcffa ,  mata  dentro  de  oito  >  ou  nove  dias.  Eír  tenho  butna  uô  grata  ie 
crença  ,  e  experiência  dos  vomitorios  de  Tartaro  emetico  ,  ou  de  vitriolo  branco  para 
remedio  das  fupprcfíocns ;  ou  fejaõ  altas-,  oubaxas,  que  os  anteponho»  e  ufo  primeira 
que  as  fangrUs*  Advirto,  que  feeft?  remédio  falhar,  que  eu  tenho  hum  fegredotaõ  ma* 
ravilhofo,  que  tornatcy  o  dinheiro  ,  que  me  derem  por  elk,  ic  demro.de  quatro  dias  na5 
fizer  o  effeito  delejsdo  ;  mas  com  tal  condiç  6  ,  que  o  doente  tome  prmeiro  que  tudo  o$ 
vomitorios  de  Tartaro  emetico,  ou  de  Quimilio,  e  oito  fangrm  nos  braços  osquequi* 
2erem  certificarfe  da  verdade,  e  virtude  do  dico  remédio,  vejíóa  minha Polytmhta da? 
terceira  imprefiaórra*.  z,  cafj,  8 \fol,  488.  àznum,  57.  «tè  49.  aonde  achar&ô  nameadasas 
pefioas  queeftando  ungidas,  e  tidas  por  incuráveis,  livrey  dc  fupreíToens  «lias  por  mercê 
de  Deos,  e  beneficio  do  meu  fegrcdOe 

Do  Unicorne  que  a  Ave  Inhuma,  ou  Anhuma  tem  na  te  fia ,  t  do  efporaõ  triangu * 

lar  que  tem  no  encontro  das  azas ,  e  fuas  virtudes . 

N  As  lagoas  ,  e  Rio  d®  Saó  Francifco  das  CapitaniasdoBiafil  andaõhumas  aves,  a 
quem  os  Natur.cs  chamaõ  Anhuma ,  ou  ln  huma,  tem  as  ditas  a  ves  m  teita  hum 
corno  delgado,  da  grofiura  de  hum  bordaôde  &rpa,c  do  comprimento  de  quafi  hum  pal 
mo;  e  nos  ncontros  dasazaS  tem  hum  etporaõ  triangular  do  comprimento  de  hum  dedo 
taõ  duro  como  fc  fora  hum  oílo:  cífces  efporocns,  e  corno  da  tefU  da  dita  ave  tc  m  íharsvi* 
lhofa  virtude  bezoartsca  contra  todo  0  veneno,  e  contra  coda  a  malignidade  d  >s  huroo* 
res,  efcumando-os  por  fuorde  dentro  para  fòra ,  corri  tanto,  que  te  deve  dar  hum  eferupa* 
lo  do  dito  típorr  õ,  ou  corno  feito  etn  pó,  millurado  com  quatro,  ou  cinco  onças  de  agua 
de  cardo  tanto,  ou  deefeorcion  fira. 

He  remedio  muito  celebrado  naõ  fò  contra  todos  os  venenos,  mas  he  infallivel  reme* 
dio  para  os  mordidos  da  cobra  deCaícavel,  cujo  veneno  he  taò  refinado,  e  aóUvo,  que 
no  mcfmo  inítante  cm  que  a  dita  cobra  mordeo  em  qualquer  paste,  faz  fahir  todo  o  lan¬ 
gue  do  corpo, aflim  pela  boca, como  pelos  olhos,  p  los  ouvidos,  pelo  cano  da  ourina, pelo 
nariz,  pelas  unhas,  e  pelo  trazeiro  ;aífim  o  moítraõ  asexperi  ncías  de  Guilherme  Pifaó 
lib.  3,  hiftor, natnr ,  fett.  z.  de  Avibus  fol.gi. Soubeste  ds  grande  virtude  do  unicorne  da  ave 
Inhuma,  porque  bebendo  naqucilas  lagoas  vários  bichos  venenofos ,  o  inílmcto  natural 
enfinou  aos  animaes  que  vivem  naqudies  contornos,  que  fe  ajuntaflem  todos  aopèda» 
queüe  rio,  c  naõ  bebe  fiem  (em  que  aave  Inhuma  metefie  primeiro  alua  ponta,  eef- 
poraó  das  azas  na  dita  lagoa,  mas  depois  que  a  mete,  bebem  todos  confiadamenre,  fem 
que  corraó  perigo. 

E  fe  algum  dia  acontecer  que  a  cobra  de  Cafcavel(que  he  venenofiílima) morder  algüa 
ptfioa,  c  naõ  tiver  o  unicorne,  ou  efporaõ  das 'azas  da  íobredita  ave  inhuma,  po  ctomar 
hum  pouco  dc  pòda  raiz  da  ferpentaria  virginianâ,que  na  opinião  tjc  Roberto  Bode  ,  e 
de  outros  Authorcs  graves,  he  o  m  lyox  dc  tode sos  antídotos  contra  eftas,c  outras  morde¬ 
duras 


DE  VÁRIOS  SIMPLICES. 


25 

duras  vcnenofss  ;  e  na  falta  de  qualquer  deftcs  dous  anddotos ,  íc  pòde  tomar  hum  pouco 
dc  eíb  rco  frefco  da  mefma  pefiba  mordida,  porque  fem  embargo  de  que  he  remedio  hor* 
rorofo,  he  admiravel,  como  tem  molhado  a  experiencia  dos  que Foraõ  mordidos  dadiu 
Cobra  ,  ou  de  qualquer  outro  bicho  peçonhento* 

Jamvarandim  y  e  fu  as  virtudesi 

NA  Bahia  i  oü  em  Pernambuco  nafeem  humas  raizes  delgadas  \  c  compridas  ]  què  oi 
naturaes  daquellas  terras  charnaó  Jamvarandim^  cuja  virtude  hc  milagroíifliraa 
contra  todas  as  mordeduras  deanimaes  venenofos  ,  pizando-a  ,ou  verde  ,ou  feca  ,  c  pon- 
doa  lobre  a  parte  mordida;  provoca  muchiflimo  as  ourinas ;  faz  cufpir  muito  mafcaíido-a| 
he  grande  contra  veneno,  e  tem  outras  infinitas  virtudes ,  que  pouco  a  pouco  fevaõdcfg 
cobrindo  com  0  tempo* 

Da  tinta  negra ,  qué  vem  da  China ,  c hamadâ  Dolanqüim  ?  que  foçando-à 
levemente  com  agua  commua  ,faz  huma  tinta  muito  mais  excedente 
que  aquella  5  com  que  eferevemos  em  Portugal % 

DA  China  vem  para  a  índia  humas  taíhadinhas  negras ,  eftrcitas,  e  chatas,  do  comprí^ 
mento  dc hum  dedo,  das quaes humas  ía©  douradas,  e outras naô;  cujo  preftxmd 
ordinariamente  he  para  íervirem  de  tinta  para  eíerever ;  porém  tem  outra  fervenria  tao, 
admiravel ,  que  todo  o  dinheiro  do  Mundo  he  pouco  para  fe  pagar;  porque  quando  os 
olhos  fe  esbugaihaõ ,  de  íorte  que  parece  querem  rebenrar ,  e  faltar  fora  do  rofto,  faz  a  cal^ 
«inta  hum  cffeito  taõeftupéndo,  emilagrofo,  como  cu  vi  em  huma  filha  de  Caetano  da 
Mello  deGaftro  Vifo-Rey  da  índia.  Deu  a  efta  menina  huma  dor  taõ  repentina  em  á 
olho  direito ,  que  de  improviío  inchou ,  e  íe  fez  tamanho  como  huma  laranja ,  e  quando 
iodos  cemiaõ  que  o  olho  rebentafíe *  pela  grandeza  a  que  tinha  crefcido  a  inchaçaõ ,  fç 
fulou  huma  migalha  da  dita  talhadinha  em  hum  didai  de  agua  da  fonte  $  e  com  efta  agua^ 
ou  polme  negro  íe  untou  a  palpebra  decima,  e  dc  baixo  ;  e  foy  couíacomo  dcencanto»' 
porque  cm  duas  horas  íe  desfez  ainchaçaó,  ca  vermelhidão,  e  farou  por  modo  demilari 
gre.  He  iuperior  remedio  para  eftancar  todos  os  fluxos  dc  fangue  do  peito ,  mifturando-a 
em  agua  dc  tanchagem ,  de  íorte  que  fique  a  agua  bem  preta ,  c  grofla  como  polrnet  Et i 
fuy  teftemunha  deíte  fucceflb ,  e  da  brevidade  com  que  luccedco  na  inchaçaõ  do  olho| 

Raiz  da  Maranga  >  e  pao  da  mefma  arvore ,  que  tem  femelhante  vir¬ 
tude  como  tem  a  fu  a  cafca , 

SÊrve  parâ  curar  todas  as  fèridas  penetrantes*  ou  ícjaõ  de  armas  9  oü  de  balas  ]  ap^ 
plicada  na  fórma  feguinte* 

Farfeha  em  pò  muito  fino ,  e  defte  pò  fé  formará  huma  mecha *  corno  fe  ufa  na  Cirur*f 
gia ,  e  molhada  efta  com  a  faliva ,  fe  pulverizará  deftes  pòs ,  e  fc  meterá  nas  feridas ;  po-| 
rèm  advirta-fe  que  a  mecha  ha  de  íer  do  tamanho ,  s  comprimento  da  meíma  ferida ,  pa^ 
ra  que  a  penetre  toda ,  c  pelo  contrario  fe  íolaparà ,  porque  tem  tal  virtude ,  que  logo  fe-í 
cha ;  e  em  cada  cura  fe  irá  diminuindo  a  mecha  i  dando  lugar  a  que  crefça  a  carne  ;  e  corra 
efta  cura  fe  efeufaõ  outros  medicamentos ;  c  ainda  que  a  ferida  tenha  langue  piZado,  nací 
ha  miftef  mais  medicamento  que  os  melmos  pòs ,  os  quaes  confomem  ,  e  efpalhaõ  todo^ 
o  langue  pizado  que  tiver  a  ferida ;  e  ainda  que  fe  ja  penetrante  *  c  no  perto ,  depois  delia 
fechada  mó  ha  mifter  lambedorcs  *  nem  mais  remédios. 

Serve  mais  para  curar  toda  a  chaga  velha,  e  rebelde,  ainda  que  haja  mifter  cauteri¬ 
zada,  applicando*íe  à  chaga  os  pòs  da  dita  cafca,  e  todas  as  vezes  qtie  fé  curar,  íe  la¬ 
vará  a  chagt  com  agua  morna*  e  depois  pulverizará  muito  bem  com  os  ditos  pòs ;  e 
também  cortaô  todos  os  lábios  da  chaga,  e  earne  podre*  que  fica  como  cauterizada» 
dando  alguma  moleftia  com  o  ardor ,  que  naõ  dura  mais  que  meya  hora* 

He  também  efficaz  remedie  paracurfos  de  langue,  tomando  a  cafca  cozida  com  hü ira 
frangaó  recheado  com  ella ,  e  lem  ial ,  nem  tempero  algum  ,  fe  darà  0  caldo  a  beber  ao> 
enferma  pela  manhãa  em  jejum,  e  de  tarde  ,  c  brcvemente  lararà* 

Q  Tami: 


MEMORIAL 


Também  beproveitofa  a  dita  cura  para  dor  de  olhos;  e  ainda  que  fcja  com  granda 
detrimento  do  enfermo  pelo  grande  ardor  que  caufa,  aproveita  muito  appücada  na 
forma  feguinte*  Mandaráó  maftigar  a  cafca  por  qualquer  peffoade  manhãa  em  jejum  an¬ 
tes  de  lavar  a  boca,  c  depois  de  bem  maüigada,  apefioa  que  a  maftigou,  bafejará  com 
a  lua  boca  nos  olhos  do  enfermo  repetidas  vexes ,  e  continuando  todos  os  dias  com  efta 
cura ,  brevemente  íentirá  melhoria» 

Tem  propriedade  a  raiz ,  e  pao  defta  arvore  para  affugemar  todas  as  cobras ,  e  vibo* 
ras ,  e  quem  a  trouxer  comíigo  eílá  ifento  de  que  o  offend*õ  os  tacs  bichos ,  porque  em 
lhes  dando  o  faro  5  ou  cheiro  daquella  arvore ,  logo  fogem. 

Para  as  cutiladas  abertas  fe  applicaõ  os  meímos  pòs  com  acautela  que  fica  dito,  cal¬ 
cando  bem  a  ferida  ,  para  que  os  pòs  cheguem  ao  fundo  ddla  ;  porque  ficando  alguma 
parte  a  que  os  pòs  naõ  cheguem,  folapsuálogodetal  maneira  que  lerá  ncceffario  tornai 
a  abrir  a  ferida ,  por  fer  tal  a  íua  virtude ,  que  logo  cria  carne  nova ,  com  que  fe  une  ,  e 
fecha  a  ferida. 

Raiz  das  febres ,  que  vem  do  Canari,  e  fuas  virtudes* 

Hamao  os  Portuguezes  a  efta  raiz,  Raiz  Prefta  ,  e  hoje  por  devoçaò  fe  chama  Raiz 
j  de  Noíía  Senhora  das  Febres,  eaflim  íerve  para  todo  o  gênero  delias,  que  padece 
o  corpo  humano ,  mas  para  a  maligna  tem  mais  efficacia ,  e  a  fara  em  breve  tempo  fem 
algum  outro  medicamento ;  porém  íe  ha  de  advertir ,  que  fe  o  enfermo  eftiver  abundam? 
te  de  langue ,  depois  de  tomada  a  dita  raiz  ti  es  vezes,  fica  huma  fcbreíinha  lenta,  final 
de  haver  langue  demafiado  nasveas,  e  aífim  depois  de  tomada  portres  dias  ccnnnuosj 
he  bom  tomar  algumas  íángriaê,  e  depois  alguma  purga  conforme  o  temperamento  do 
fogeito ;  e  fe  a  quizer  efeufar,  continue  com  amefmaraiz,  eterá  perfeita  faude;  mas 
fe  a  febre  proceder  de  abundancia  fó  de  humores,  fem  duvida  fe  ddpedc  fócomapri* 
meiravez  que  fe  toma  a  dita  raiz;  mas  firmpre  he  nectflario  tomaíla  cres  vezes  ao  me* 
nos ;  e  aífim  lendo  malignas ,  ou  tctçãs  iirnpiices ,  ou  dobres ,  cu  continuas ,  ou  quartãsj 
infalliveknente  fe  deípediráõ  ;  advertindo,  que  íc  houver  obftrucçoens  grandes,  co* 
mo  do  baço ,  ou  da  boca  do  eftomago  inchada,  tomada  a  raiz  aflím  p^ra  fe  tirarem  as  Fe-; 
bres,  depois  hc  neceííario  preparar  ao  doeme  com  xaropes  aperientes,  e  depois  difíò 
algumas  apozerms  de  raizes  frefeas  comcoufas  purgativas,  a  fim  de  ficar  o  fogcilobom 
mais  perfeita  íaude-,  e  mais  ifento  de  tornar  a  adoecer. 

Advirta-íc  ;  que  íeefta  raiz  fe  der  para  quartans,  deve  fer  depois  delias  continuarení 
dous,  ou  tres  mez.es  s  que  he  quando  o  humor  de  que  ellas  procedem  ,  cftará  já  cozido  t 
c  íe  as  quartans  forem  dobres ,  ou  vierem  todos  os  dias ,  que  hc  final  de  muita  carga  de 
humor  corrupto,  ncfte  fe  dará  a  raiz  repetidas  vezes  em  vários  dias,  porque  deftc  modo 
fe  tem  vifto  com  cila  admiráveis  eífeitos. 

A  quantidade  que  fe  dá  de  cada  vez ,  he  hum  pedaço  còmo  meyo  palmo  l  naõ  íendo  a 
raiz  muito  groílà ,  nem  muito  delgada ;  efta  he  a  quantidade  ordinaria  para  qualquer  fo- 
geito ,  que  virá  a  pezar  oitava  e  meya ;  e  citando  o  doente  no  principio  da  enfermidade,’ 
cm  o  qual  tempo  naò  faltaõ  íorças ,  ainda  que  pareça  ao  doente  citar  fraquiífimo ,  como 
fuecede  nas  malignas,  em  que  íe  poftraõ,  ao  que  parece,  as  forças,  havendo-as  em  o 
corpo  baftantes ,  íe  podem  dar  até  duas  oitavas  por  cada  vez ,  para  obrar  bem. 

Moe-lc  a  dita  raiz  muito  bem  em  pedra  ,  eftando  primeiro  por  algum  tempo  de  mo¬ 
lho  cm  outra  agua  ,c  aífim  femoa  em  agua  de  beber;  ou  feoíogeito  eftiver  muito  fᬠ
cil  em  evacuar  fl  íe  moa  em  a  terceira  agua ,  em  que  lavaõ  arroz ,  e  aífim  moida ,  c  muito 
bem encorporada  íe  desfará  em  quatro  onças  de  agua;  mas  havendo  íede,  fgja  a  fuffi- 
ciente ,  com  que  a  natureza  íe  (atisfaça ,  e  depois  dc  lançada  a  raiz  moida  com  efta  agua ' 
íc  paliará  rnanlarneme  para  outra  porçolana  duas ,  ou  tres  vezes ,  para  que  fe  bote  íóra 
alguma  parte  da  raiz  que  naõ  ficou  bem  moida. 

O  tempo  ordinário  hedalla  pela  manhãa,  como  outra  qualquer  medicina ;  mas  a  ex¬ 
periência  tem  moftrado  que  dada  quando  a  cczaõ  quer  comrçar  a  declinar,  em  tanta 
agua  como  eílá  dito ,  conforme  a  fede  do  enfermo,  faz  prodigiofos  effeitos ;  dic  heo 
melhor  tempo  para  o  leu  bom  íuccefio. 

Também  fe  pode  dar  efta  raiz,  eíangrar  nomefmodia,  íendo  neceííario;  cotn  adver* 
tencir? ,  q  dande-íe  a  raiz  pela  manhã,  lerá  a  fangria  às  nove  horas,  ou  de  tarde ;  advertin- 
do  também ,  que  fe  a  raiz  tiver  obrado  muito,  ncfte  caio  naõ  convem  a  fangria  no  mdmo 


DE  VÁRIOS  SIMFLICES.  ^ 

.1 

porque  he  final  de  muito  humor;  mas  defcançmdo  o  dcente  ,  íe  tornará  a  dar  a 
fineíma  raia  em  menos  quantidade,  c  femprc  dapiimeira  ves  ie  dará  mais*  que  he  ate 
duas  oitavas ,  e  as  mais  vezes  íe  dá  huma  oitava» 

O  regimento  de  quem  toma  efta  raiz ,  hc  o  commum  cm  todas  asdcençss:  nospiin» 
cipios  dietas  commuas :  e  os  Portugueses  podem  comer  fiangrãos  pequenos  cosidos. 

Hc  também  exccllente  efta  raiz  para  aquejla  doença,  cm  que  a  língua  íefaz  negra* 
ou  amardla* 

V  -  4 

'  •  *  '  ■'  V  ; 

Raiz  das  Apoftmas ,  e  fitas  virtudes. 

■  ;  '  *  *  ‘  .  •  r® 

SErve  para  refolver  toda  a  forte  de  apoílemas ,  affim  fimplices  l  como  compoftos , in» 
teriores,  e  exteriores ,  c  para  toda  a íorte  dc  naíeidas,  mulas,  e  carbúnculos ;  íervÈ 
também  para  pizaduras  de  fangue,  por  caufa  de  quedas,  ou  pancadas. 

Serve  para  Pleuriz  ,  e  toda  a  forte  de  pontadas  de  fangue  ,  e  para  todos  cftes  achaques 
fe  applica  naíórma  feguinte.  Tomar- íe*ha  eífa  raiz,  e  íe  fará  em  migalhas  quantidade 
de  duas  onças  pouco  mais,  ou  menos,  e  fe  botará  a  cozer  cm  huma  panelinha  nova* 
que  nao  tenha  azeite ,  ou  gordura  alguma  ,  e  ficando  a  agua  defte  cozimento  da  cor  de 
vinho  sinto ,  fe  deitará  huma  pouca  de  farinha  dc  arroz ,  e  fe  cozerá  atè  que  fique  em 
ponto  de  amendoada  ,  e  íe  dará  a  beber  ao  enfermo ,  que  padecer  qualquer  dos  achaques 
acima  apontados,  tres  vezes  no  dia ,  pela  manhãa  ,  ao  meyo  dia  ,  e  de  tarde  ;  e  e  li  a  fari»; 
nha  fe  manda  deitar  a  refpeito  do  muito  afeo  que  tem  a  raiz ;  e  quun  puder  bçber  o  co« 
íimento  aflim  mefmo  ,  ie  pode  efeufar  a  farinha  ;  e  na  agua  que  o  c  nfenno  beber ,  íe  dei- 
taràó  humas  migalhas  deita  raiz  a  modo  dc  mfuíaõ  :  e  íe  o  apoftema  »  ou  outra  qualquet 
naíeida  eÜivcr ainda  em  langue,  fe  rcfolverá  era  termo  de  vinte  e  quatro  horas,  e  íc 
cftiver  na  matéria  feita ,  fe  refolveià  em  termo  de  tres ,  ou  quatro  dias ;  e  ainda  que  íe 
refolva  com  efta  brevidade,  bom  hc  continuar  dousannos,  quando  menos  hum  ,  e  a  ra* 
Zaõ  hc ,  porque  mà  torne  a  acudir  o  humor  ao  mefmo  lugar ,  ou  a  outra  parte  :  e  advir4 
ta-fc  também  que  depois  de  fc  refoiver  o  apoílema ,  ou  outra  qualquer  nafeida,  darao 
duas  íangrias  nos  pès  ao  enfermo  ,  e  huma  purga  refreícativa ,  para  que  dcfpcçatodoo 
humor ,  e  malignidade ,  que  a  raiz  tiver  arrancado  da  parte  donde  tinha  o  apoitema.j 
Serve  também  para  o  baço,  dado  na  forma  fobredita. 

Raiz  \do  Ar ,  e  fuas  virtudes, 

MOida  com  3guat  e  depois  de  morna  íe  untará  o  corpo  da  pçffoa  que  tivéro  ar£ 
e  também  fe  fará  huma  manilha ,  ou  braçal  de  alguns  pedsços,  e  fe  atará  nobra^ 
ço ,  ou  cm  outra  qualquer  parte  do  corpo ,  e  trazendo-a  comíigo  tira  a  tortura  que  o  ar 
faz  na  peflea. 

Serve  também  para  febres,  moida  com  tanta  quantidade  de  agua  que  bafte  para  k^ 
vartodo  o  corpo  naíórma  cfe.csfregaçaõ,  c  depois  debem  lavado  íecubrirá  muito  betii 
com  roupa  baíhnte,  c  fuando  ddpede  logo  a  febre. 

Arvore  Quiri  ato  ?  e  fuas  virtudes „ 

ESta  arvore,  aqualchamaò  Quiriato,  ou  por  outro  nome  Fucamena,  hepequenaj 
as  fuas  folhas  faõ  do  tamanho  dc  hum  palmo ,  dc  mediana  largura  ,  e  creípas  a  mo* 
do  de  folhas  de  Cajueiro.-  arai  z  deita  arvore  tem  particular  virtude  para  tirar  dores  de 
cabeça  ,  ou  ao  menos  para  as  moderar ;  delia  fulada  com  agua  fc  faz  hum  palme ,  que 
ftpplicado  fobre  a  teíla,  e  fontes  da  cabeça  faz  bem  ao  que  tem  dores  dc  cabeça,  com 
tal  condição ,  que  cfte  polmc  ie  repetirá  muitas  vezes,  naó  confentindo  que  fc  leque. 

Oleo  de  Alambre ,  e  fuas  virtudes . 

COm  razaô  íe  pode  chamar  ede  oleo  o  mais  excdlentc  cpobaHamo  por  toda  a  Eu* 
iopa,  porque  leva  ventagem  a  todas  as  outras  medicinas  no  curar  o  mal  doar,  e 
outros  grandes  achaques :  cbamava-le  no  tempo  antigo  o  Oieo  Santo* 

Tomado  o  dito  oleo  no  tempo  de  pçíte ,  todas  as  manhãas ,  c  noites ,  feis  gottas ,  ç  um 
’  i  Ç  i  tando 


M  MEMORIAL 

*  r‘ 

f 

tando  asvcntãs  donarii  cocp  elle,  naõ  co nfente  pegarfe  veneno  dos  ares  maos;  c  ío 
qu«  eftiver  jà  tocado  defte  mal  a  fc  lhe  dè  a  beber  cm  agua  dc  cardo  íante ,  dc  hum  atè 
dous  efcrupulos* 

Quem  íefentir  cora  grandes  fraquezas  perigofas  da  Cabeça,  como  he  o  ar  ,  parslyííaj 
gotta  coral,  &c.  tome  pelas  manbãas  cm  jejum  oitogottai  deite  oleo  em  agua  cozida 
com  betonica ,  ou  com  alfazema , ou  mangerona.  Também  feitos  huns  bolinhos  dc  aflu. 
car ,  mifturado  com  bumas  pingas  deite  oleo,  tem  a  mdma  virtude.  1L  lendo  caía  que 
huma  pcííoaclteja  jà  tocada  ücltes  males  do  ar ,  de  paralyfia  ,  ou  de  outras  grandes  enfer¬ 
midades,  naõ  ba  remedio  melhor  que  tomar  duas  pingas  defte  oleo.  Untando  comeile 
as  ventas ,  fontes  da  cabeça ,  e  ajunta  do  cachaço  t«ãra  logo  os  ditos  males,  c  fe  cobra  o 
entendimento ,  e  movimento  cimo  dõintes.  Deitadas  humas  pingas  defte  oleo  fobre  as 
brazas,  c  tomar  eíte  fuma  pelos  narizes ,  livra  aos  que  eftaõ  jà  tocados  do  dito  mal. 

Tomadas  algumas  pingas  defte  oleo  em  aguadcfalfa*  alimpa  a  via  das  ourinas,  co-1 
mo  de  pedra  ,  e  outras  miinundícias. 

Sara  os  membros  encolhidos ,  as  veas,  e  membros  apoderados  da  cambra ,  untando-os 
com  cfte  oleo,  mifturando  alguns  unguentes  pertencentes  a  iíTo. 

Hum  efcrupulo ,  ou  meyo  defte  oleo ,  tomado  em  agua  de  as  temifia ,  applica  o  parto 
às  prenhadas. 

Também  cura  os  corrimentos  frios  da  cabeça,  e  alenta  ai  ourinas. 

Untando  com  cfte  oleo  as  ventas ,  e  o  coraçaó,  tira  as  grandes  dores  da  madre;  co¬ 
mo  também  feitos  huns  bolinhos  deaflucar  mifturado  com  efte  oleo,  c  tomado  alga-’ 
pias  vezes. 

Também  he  bom  para  grandes  fraquezas ,  e  ancias  do  coraçaõ. 

Naõ  fortifica  fó  as  forças  do  coraçaõ,  fenaõ  também  as  aguas  *  e  o  fígado,  c  teui 
grandes  forças  para  fazer  digerir  o  ccmcr  do  cftomago. 

Tomadas  tres  pingas  defte  oleo  em  agua  de  cardo  fanto,  Jogo  pouco  antes  quedèo 
paroxiímo,  ou  antes  que  queiraó  vir  as  maleitas ,  e  fuando  muito  bem  fobte  iftojfara* 
c  as  tira  logo. 

Hc  bom  para  catarro,  c  corrimentos. 

He  bom  para  dor  de  dentes  cauíadas  de  conimentos,  tomado  em  agua  de  tsncha* 
jgcm  ,  e  gargarejando  com  elle. 

Hc  bom  para  tericia,  tomado  em  agua  cozida  com  folhas  de  morangos,  oucomrair 
de  grama.  1 

Hc  bom  para  a  cólica ,  tomado  hum  efcrupulo ,  ou  naeyo  era  caldo  de  gallinhs. 

Para  dores  da  madre,  tomadas  fetc,  ou  oito  pingas  em  agua  de  herva  ddi  eira,  ou  dc 
Eor  de  laranja. 

Para  fazer  deitaras  pareas,  quando  naõ  querem  fahir  ,  tomar  fete,  ou  oito  pingas  cm 
agua  de  artemifia ,  ou  dc  fabina. 

Para  o  raenftruo  que  naõ  quer  vir,  tomar  íete,  ou  oito  pingas  em  agua  de  herva  cíd 
dreira,  ou  cm  agua  cozida  com  ar  remitia ,  ou  com  herva  niontãn 

Serve  para  os  que  cofpetn  ,  ou  vomitaô  íanguc,  tomando  tres  pingas  em  agua  Cozi¬ 
da  com  folhas  de  íalfa  bem  pizada. 

Serve  aos  que  lhes  foge  o  lume  dos  olhos  J  cficaô  como  atordoados ,  e  tira  o  empa^ 
charnent  ■>  das  aguas. 

t  Fortifica  muicoavifta,  tomando  por  muitos  dias  em  jejum  hurrça  chicara  de  agua 
cozida  afogo  lento  com  meya  onç3  de  raizes  dc  vakriana,  deitando  quatro  pingas  do 
dito  oleo  cm  cada  chicara  da  dita  agua.  A  quantidade  que  fe  dà  por  cada  vez  deite  oleo, 
he  de  quatro ,  feis ,  fere  ,  ou  dez  gottas ,  conforme  a  comprciçaõ ,  e  forças  do  doente. 

Eftes  iaõ  osremedios,  que  mais  ordinariamente  nos  mandaô  da  índia,  e  dc  outras 
terras  do  Mundo  ,  e  de  que  ternos  algumas  noticias ;  mas  porque  todas  ísõ  em  confufo8 
c  pouco  feguras,  trabdhey  por  examinar  os  verdadeiros  prcftursos  dos  ditos  fimpliccs*' 
para  que  com  melhor  fegurãnçà  podcficríios  ufar  delles ;  queira  Dcosque  oscffcitos  fe^ 
jaõ  uó  bcws»  como  he  o  ddejoque  tenho  do  geral  aproveitamento. 


DE  VÁRIOS  SIMPLICES. 


29 


Oleo  Tranqttillo  j  fuas  virtudes  ?  e  qualidades . 

HE  hum  efpecifico  remcdio  para  todas  as  cfquinenciaá,  c  coda  a  dor  J  c  inflaroma® 
çaõ  dc  garganta  ,  e  as  faz  abrandar  dentro  de  hum  quarto  de  hora  ,  fomentando  a 
garganta  com  clle  mornc.  Abranda  ,  capplaca  as  dores ,  e  todos  os  tumores,  que  cauíaõ 
infiammaçaó.  He  maravil  jioío  para  a  infiammaçaó  dos  olhos, pondo-fc  em  tiras  de  panno 
á  noite  quando  fe  vay  deitar:  he  muito  bom  para  toda  a  cafta  de  chagas,  appiicado 
lobre  fio*  de  panno  :  hc  fingular ,  e  incita  a  quem  naõ  pode  dormir  appiicado  nas  fontes? 
he  maravilhòío  para  as  almorrcimas,  e  f  z  aplacar  as  dores  delias,  c  defeca  as  fuas  hu¬ 
midades,  esfregando  com  hum  bocadinho  de  aigodaõ  molhado  no  dito  oleo  morno:  he 
tambem  feberano  para  todas  as  cólicas  ventofas ,  e  beliolas,  ou  enchimento  do  eftoroago, 
c  para  toda  acafta  de  dor  de  ventre ,  applicando-o  morno  íobre  o  ventre ,  fazendo  huma 
iomentaçaõ  como  nas  elquincncias  ,  e  tomando  huma  ajuda  purgativa  ,  e  carminativa, 
jijuntandoihe  mcya  onça  do  dito  oleo  :  também  o  loavaraõ  para  os  Pleurizes ,  c  fluxo  de 
fangue ,  c  do  ventre ,  fazendo  huma  ajuda  de  caldo  de  gallinha ,  ou  dè  cabeça  de  carneiro, 
lançandolhe  dentro  huma  onça  do  dito  oleo.  He  admiravd  para  as  dores  de  cabeça ,  fa¬ 
zendo  huma  liga ,  a  qual  enchereis  de  miolo  de  paõ  de  centeyo  amaçado ,  ou  miftwrada 
coro  o  dito  oleo,  e  pofta  íobre  a  tefta:  tem  outras  muitas  mais  virtudes,  quenaô  pu; 
blico  por  naõ  fer  enfadonho  aos  leitores* 

Ponta  da  Abbada,  e  fuas  virtudes. 

SErveo  pò  defta  ponta  tomado  em  quantidade  de  meya  oitava  para  matar  lombriga^ 
com  talcondjçaõ,  que  fe  tome  cinco  dias  em  jejum  desfeito  com  agua  cozida  de 
grama,  oudecodeço:  a  agua  em  que  efta  ponta  efti  ver  metida  hum  quarto  de  hora,  be¬ 
bida  alegra  o  coraçaó,c  modera  a  lede  :  paraefquinencias,  e  para  asparotidas,  hc  grande 
remcdio  untar  as  taes  partes  com  o  polmc  que  fe  fiz  r  com  efta  ponta ,  upetindo  efta  dili¬ 
gencia  muitos  dias:  os  que  padecem  palpitações  decoraçaõ,  conhecem  grande  alivio 
bebendo  a  agua  que  eftiver  hü  quarto  dc  hora  dentro  de  hum  copo  da  ponta  da  Abada* 

Raiz  da  Minhaminha ,  ou  Quiminha ,  e fuas  virtudes, 

TEm  efta  raiz  taõ  prefcntanca  virtude  contra  veneno  ,  que  iguala ,  ou  excede  ao  pao 
Cobra ,  o  que  experimentou  hu  Cif  urgiaõ  eftrangeiro,  chamado  Monfieur  Eftru- 
que  :  deu  rofalgar  a  duas  gallinhas,  e  depois  que  tíveraõ  o  rofalgar  noeftomago,  cahi- 
raõ  como  mortas ,  e  dando  a  huma  delias  a  Minhaminha  mifturada  ccrn  agua,  c  dando  á 
©utra  o  pao  Cobra  com  animo  de  experimentar  qual  deftas  raizes  tinha  mais  virtude 
contra  o  veneno,  obfervou  que  ambas  efeaparaõ  da  morte* 

Outro  Cirurgião  FlamcngOjChamado  Alexandre, quiz  examinar  a  virtude  da  Minha- 
minha ,  e  para  ifio  deu  hum  pouco  de  folimaõ  a  hum  cachorro ,  e  depois  de  cahido  deu 
a  beber  ao  caõ  a  agua  em  que  tinha  falado  a  Minhaminha  ,  c  íe  levantou,  como  fe  naò 
tivera  tomado  a  tal  peçonha.  Efta  arvore  nafee  nas  partes  da  Embaça,  he  huma  mata 
pequena,  que  naõ  faz  tronco  \  mas  cria  humas  vergontinhas  delgadas  que  naíccm  da 
iaiz,  docomprimentode  hum  covado  pouco  mais,  ou  menos ;  a  folha  he  pequena  ,  cfaz 
tres  pontas:  tem  efta  raiz  huma  qualidade  taõ  rara,  que  íc  com  cila  lhe  mifturarern  ou¬ 
tras  raizes,  ficaõfem  força ,  nem  viriudealgutiu,  porque  a  Minhaminha  lha  chupa  toda, 
c  por  illo  lhe  chamaõ  Minhaminha  ,  porque  na  lingua  de  Angola  Minhaminha,  quec 
dizer  engole ,  porque  engole  a  virtude  das  outras  \  ou  porque  engole  o  veneno  que  acha 
no  eftomago,  e  o  faz  deitar  fóra,  e  le  o  naõ  acha,  naõ  faz  mal* 

Raiz  de  Mutututu  y  e  fuas  virtudes . 

As  terras  de  Angola  ha  hüas  arvores  a  que  os  Gentios  chamaô  Mutututu ,  faõ  as  di- 
tas  arvores  muito  parecidas  com  o  noíío  Medronheiro ,  afiím  nas  folhas ,  como  rios 
frutoSjfem  embargo  que  os  taes  frutos,nem  íc  comem,  nem  tem  goftojporém  a  raiz  defta 
arvore  tem  grandiflima  virtude  para  eryfipclas,  c  inflammaçoens  dosteíUculos,  e  de 

;  "  C  5  outras 


30 


MEMORIAL 


noras  partrs :  íulada  em  pc  jra  com  agua  ordinaria  ate  Fazer  pòlmf  i  e  spplicado  morno 
fobre  s  eryíípela  ,  e  parte  infljmmada,  ou  dolorofa,  lhe  fa?  grandiflimo  proveito  ,  com 
íal  condtçaô,  que  naó  íc  deixe  Ice  ir  o  dito  polme,  antes  continue  o  dito  remédio  eu» 
quanto  a  ooença  o  pedir  :  muitos  ulaõ  deite  polme  para  moderar  as  dores  de  gotta  quen* 
íe  •  do  polrnc  íobredito  ic  fazem  ajudas  maravilhoías  para  as  camaras  de  fangus,  ouüu^ 
tras  muito  quentes. 

•A*  v  1  f? 

Bucho  da  Ema ,  efuas  virtudes . 


NO$  matos  do  Maranhaõ,  e  no  graõ  Pará  íe  criaô,  e  vivem  humas  aves ,  a  que cba« 
mao  Ema  ,  cujo  corpo,  e  grandeza  h e  mayor  que  o  mayor  Perum  :  a  fumea,  ou 
membrana  interior  do  bucho  delta  ave  tem  grande  virtude  para  confortar  ocítomago, 
e desfazer  a  pedra  da  bexiga  #  e  fazer  ominar,  dando  huma  oitava  do  tal  bucho  feito  em 
pòs  midurado  com  meyo  quartilho  de  vinho  do  Rhim  ,  ou  ecn  meyo  quartilho  de  agua 
cozida  com  mcya  onça  dc  Virga  aurca ,  ou  dc  Frcca  marinha,  ou  de  cerfolio ;  mas  he 
ncceflario  que  o  doente  tenha  primeiro  que  tudo  tomado  hum  vormtono  de  íeis  grãos 
de  Tarcaro  emetico ,  ou  de  meya  oitava  de  caparroU  branca  ,  e  íe  tenha  fangrado  nos 
braços  noves  vezes  dentro  de  tres  dias :  os  que  com  eíla  precifa  picparaçao  derem  eítfi[ 
reiqedio,  cqníeguiràó  maravilhoíos  proveitos  nas  luppreíloens  daourina. 

*  f  .  *  1 

Pao  do  Muhamgo  y  e  fuas  virtudes, 

OMubamgo  he  huma  arvore  agrcltc ,  cuja  cafea  hc  branca ,  a  folha  de  huma  parte 
he  branca  ,  e  dc  outra  verde  comoafoiha  doalemo,  hc  compridinha*  equaíi  de 
tres  dedos  de  largo  \  cheira  efte  pao  muito ,  ja  quando  ellà  florido ,  e  alguém  entra  pela 
mato  onde  ellà  adita  arvore,  deita  de  íi  hum  cheiiO  dehcioíiílimo :  o  pào deita  arvore 
he  branco  ;  a  raiz  roçada  de  forte  que  faça  hum  polrnc  ,  tem  grande  preítimo  para  as  par¬ 
us  paralíticas  offendidas  do  ar,  untando-as  com  elle  quente,  bebendo  também  deite 
polrnc  couía  de  meya  colher  j  também  fe  dá  a  beber  aos  que  tem  camaras  dc  frio ,  e  fe 
dekaó  ajudas  delle  para  o  tnefmo  intento.  , 

Feita  cila  raiz  cm  pò ,  e  tomado  como  tabaco  faz  efpirrar  tanto ,  ou  mais  que  a  feva» 
dilha,  e  ufadp  deite  modo  aproveita  muito  às  mulheres,  quando  eftàó  aííakadas  com 
os  accidemes  da  madre.  Eíle  pào  naó  falta  no  mato  da  Embaça ,  de  Cafange ,  e  em  ou- 
iras  partes»  — • 

"i  i.  _  •  •  •  ,•  1  ■  v.  "  ;  .  1 

st..  Linguas  de  S.  Paulo ,  e  fuas  virtudes ; 

'  t 

Stas  pedras,  que  verdadeiramente  tem  o  feitio  de  huma  lingua  de paffaro,  e  íaã 
a  pardas  de  cor  de  azeitonas  de  Eivas,  achaó*(e  nas  terras  de  Malta-,  rem  grande 
virtude  contra  as  febres  malignas,  e  quacíquer  outras ,  porque  feiras  em  pò  iubtiiiíEmo 
mitigaõ  muito  odemaíiado  calor  das  febres ,  aliviaõ  as  andas,  e  algumas  vezei  provo-' 
caõ  fuor  \  ãttribuem-lhe  muitas  pefloas  grande  virtude  contra  o  veneno ,  porque  coníta 
de  algumas  experiências,  que  dando-le  veneno  em  certa  iguaria  de  que  comeraõ  quatro 
pefloas ,  eftiveraõ  todas  quaíi  mortas ,  e  acodindolhcs  com  o  pò  deitas  pedras ,  eícaparaõ: 
o  que  eu  poílò  certificar  como  ttftemunha  de  viíta,  he,  queeítando  huma  mulher  un-; 
gida  poroccafiaó  de  huma  febre  maligniííima ,  taó  vifinha  da  morte,  e  taõ dcfacorda- 
da,  que  deitando-felhe  ventofas  farpidas  com  golpes  bem  profundos ,  naó  as  fentro  ;  ne(4 
te  aperto  lhe  dey  o  meu  cordeal,  a  que  ajuntey  o  pò  de  duas  linguas  delias,  que  lhe 
mandey  de  minha  caía  ,  c  no  mefmo  dia  eí  capou  da  morte.  Bfta  mulher  eítavaemeafa 
de  Fu  cunhado  Manoel  Pereira,  morador  á  Boa  Viíta,  junto  ao  patcodasgakgas.  Eh 
tas  pedras  fe achaõ  tambem  na  praya  deCaíomdama  no  Rcyno  de  Angola:  também  íc 
achaõ  outras  |  edras  na.mefim  praya  redondas  do  tamanho  dos  grãos  dc  bico  de  Por¬ 
tugal,  tilas  í  ò  pretas,  como  laô  as  pedras  da  cobra  de  Dio,  e  tem  a  melma  virtude 
que  as  de  Dio,  porque  poflas  fobre  as  mordeduras  de  qualquer  bicho  venenofo  chit* 
paõ  cm  fi  o  vensno:  chamaõ*fc  citas  taes  pedras,  Olho  de  vibora. 


DE  VÁRIOS  SIMPLICES.  » 


Pao  §luifeco  y  e  fuas  virtudes* 

r  £  •  .  t  .  }  -  •  .  .  '  j 

DO  Reyno dc Bangucl a  vem  hum  pào , chamado  Quifeco ,  o  polme dcfte  pâo ap* 
plicado  fobre  a  tc ita  abranda  muito  as  dores  dc  cabeça:  a  meftna  Virtude  cem  © 

|  ao  chamado  QtfiCongc. 

t  i* 

Herva  ffuitumbata  y  e fuas  virtudes * 

A  Raiz  defta  herva  tem  virtude  taó  efficaz  para  fuípender  as  camafas ;  que  havendo 
alguns  doentes  que  as  tiveraó  cinco,  e  íeis  meZes  f  fem  haver  remédio  com  que  fe 
eftancaflcm  ,  fó  com  o  f  ò  defta  raiz  tomado  huma  ,  ou  duas  vezes  pararaõ  de  íorte  que 
foy  neceflario  deitarlhes  ajudas  para  fararem :  o  modo  com  que  fe  uía  defta  raiz  he  fulan- 
do-a  em  huma  pedra  com  agua  até  fazer  polme  dc  mediana  groílura  ,  c  entsó  fc  dà  hujna 
colher  dcfte  polme  mifturado  com  Matete  frio.  Efta  herva  he  mifito  conhecida  naquel- 
Jas  terras,  e  ha  tanta abundancia  delia ,  qucacomem  os  porcos,  hcalaftuda  pelochaó, 
a  fua  folha  he  pequena ,  e  redonda ,  deita  huma  flor  pequena  ,  e  branca* 

*r  ’ 

Orelha  de  Onça  y  e  fuas  virtudes é 

NA  Bahia  em  huma  terra  chamada  Cachoeira  nafee  huma  herva ,  a  que  os  Naturae$ 
chamaõ  Orelha  dc  Onça ,  a  raiz  defta  herva  he  chea  de  nòs ,  como  hc  a  raiz  do  Cy- 
pò ,  com  difterença ,  que  os  nos  iaõ  mayorcs ,  e  mais  groflos  que  os  do  Cy pò :  certifica^ 
jaó-me  algumas  pefloas  dignas  de  credito,  que  a  tal  raiz,  Orelha  de  Onça  ,  tetngran* 
diflima  virtude  para  focconer  aos  toftigofos ,  e  impicmaticos ,  com  tal  condiçaó ,  que  fe 
tome  muitos  dias  feita  em  pò  fubtiliflimo  ,  mifturado  com  duas  onças  de  aflucar  rofado 
velho ,  ou  com  cremor  de  cevada  :  na  afthma  faz  grande  proveito  ,  camo  tenho  obfer- 
yado  em  hum  menino  ,  morador  na  Rua  Nova,  que  citava  jà  deiamparado. 

■  Peço  muito  aos  Leitores  queirao  ponderar  asfeguintes  razoem  com  animo 
defapaixonado  y  porque  entendo  dar  ao  fentença  a  meu  favor* 

HE  coftumc  muito  ulado  na  Corte  de  Pariz,  e  em  outras  Cortes,  o  Cidades  gran* 
des  do  Mundo,  que  todas  as  pefloas  que  fabem  algum  remedio  tfficazpara  curar 
alguma  doença  rebelde ,  manda  5  fixar  vários  papeis  nas  ruas ,  e  praças  mais  publicas  das 
ditas  Cidades ,  dando  nclles  noticias ,  que  fulano  morador  etn  tal  rua  tem  cfte ,  ou  aqueN 
le  ren  edio  para  curar  tal  doença  ,  e  naã  contentes  com  efta  diligencia  ,  mandaò  impri¬ 
mir  muitos  i  «m  que  daõ  conta  dos  remédios  que  tem ,  e  os  repartem  com  as  pefloas  qu® 
cncontraõ  pelas  ruas  ,  pertendendo  deftc  modo  que  em  poucos  dias  f  ibaõ  todos  aonde 
podem  achar  íoccorfo  para  as  doenças  taõ  rebeldes ,  que  íenaó  rendem  aos  remedios 
ordinários. 

Eftc  arbitrio  taõ  proveitofo  para  o  bem  commum  deícjey  muitas  vezes  pòr  em  exe¬ 
cução  ,  e  dar  noticia  a  toda  cfta  Corte ,  e  Reyno  dos  particulares  remedios ,  que  com 
incaníavel  eftudo  alcancey  no  difeurío  de  cincoe.nta  eoito  annos,  para  que  os  doentes 
fe  aprovcitaíTcm  dclles ;  reprimi  porém  o  til  dcíejo  até  efte  tempo ,  por  faber  que  nelle 
fe  naó  faz  obra  alguma ,  por  mais  boa ,  e  proveitofa  que  íej a  ,  que  a  malicia ,  c  o  amargo- 
fo  fel  da  inveja  o  naó  converta  cm  veneno ,  juigandoa  finiftramente  :  agora  porém  que 
nem  as  derraeçoens,  nem  os  vários  juízos  ,  que  fe  haõ  de  fazer  fobre  efte  meu  intento* 
poderàóenccndcrcm  mim  o  fogo  da  cólera,  porque  naõ  tenho  jà  mais  que  cinzas  a  que 
me  reduzirão  os  meus  oitenta  c  oito  annos ,  me  refolvo  a  manifeftar  ao  Mundo  que  eu 
preparo  alguns  remedios,  com  que  tenho  livrado  da  morte  a  muitos  doentes ,  que  efta- 
yaó  defamparados,  e  deixados  ao  arbitrio  danatuieza;  c  porque  me  confta  que  muitas 
pefloas  padecem  doenças,  que  ou  tiraõ  a  vida  ,ou  duraõ  muitos  annos ,  íepodcriaõ  cu-’ 
jar,  ic  uvcflcm  noticia  que  em  minha  cafa  tenho  para  ellas  remedio,  efegredos  parti* 
culares,  quero  apontallos  aqui  para  que  os  Senhores  Médicos,  com  quem  puder  mais 
o  amor  Divino,  que  a  def&ftejçaõ  humana ?  ufçmddles,  quando  as  medicinas  ordina- 
lias  naó  aprovcitjrem? 

„ ’  a$ 


MEMÓRIA  L 

As  doenças  para  quem  fervem  os  taes  remedios  ?  fad  asfeguintes , 

v  /-i 

PAra  al porcas,  para  febres  malignas,  ou  b.xigas ,  para.gotta  cota!,  para  flux js  di 
íanguc ,  para  luppreíloens altas  da  ouiina,  para  cezocns  intermitentes,  para  accí** 
cientes  uterinos ,  para  almorrcimas9  para  íeccar  o  icite,  para  vágados,  paia  lombrigas» 
c  final meme  preparo  huina  maffa  ,  chamada  Curviana,  de  grande  virtude  para  as  do¬ 
enças  abaixo  declaradas* 

E  começando  pelo  remedio das  lombrigas,  digo ,  que  rariffimas  vezes  deixa  dc  deitar 
fora  toda  abicharia,  que  houver  no  corpo ,  tomando  dous  eícrupulos  do  duo  remedio 
ires  dias  íuceeffivos ,  ou  cm  íubftancsa ,  ou  em  infufaõ  de  duas  onças  de  agua  commua» 

A  maíla  Cru  viana  fc  dá  em  forma  dc  pílulas  em quantidade  de  huma  oitava.  Provoca 
efficazmcntc  a  conjunção  mental,  com  tal  condiçaô ,  que  íe  tome  doze  dias  alternados, 
bebendolhe,  paliadas  duas  horas,  mêyo  quartilho  de  caldo  de  grãos  pardos,  temperado 
com  dezrais  deaçafraó,  e  quinze  grãos  de  pò  defemcnte  de  falia,  ou  meyo  quartilho 
dç  agua  cozida  com  herva  mqntãa. 

<  A  dita  maíla  defopüa  muito  as  veas  ,  'ébm  condiçaõ ,  que  a  cada  oitava  delia  ajuntem’ 
hum  efcrupulo  de  crocus  martis  aperitivo  ,  e  íe  continue  quinze  dias*  A  dita  mafia  alivii 
muito  aos  afthmaticos,  com  talcotidiçâô,  que  paliadas  duas  horas,  beba  o  doente  hum* 
chicara  de  agua  bem  quente,  cozida  com  cabeças  de  herva  hyflbpoj  ourres  onças  de 
agua  chamada  de  milBores  deítiliada  em  Mayo  ;  toma-fc  leis  vezes  em  dias  alternados.’ 
Alimpa  o  eítomago  de  cruezas,  e  humores  vilcolos ,  e  fetoma  íeis  vezes  em  diasakcrna*, 
dos.  Cura  melhor  que  algum  outro  remedio  as  durezas  >  e  opilaçoens  do  baço,  os  caro«J 
ços  dos  peitos  das  mulheres ,  e  as  alporcas ,  com  tanto  que  fc  tomem  da  tal  maiía  quatro 
efcrupulos ,  fegundo  a  ordem ,  que  eníino  na  Polyanthea  trat.  3.  cap,  4 >pag.  jyz,  num .  84, 
Para  as  dores  dc  cabeça  que  procederem  por  cauia  do  eítomago,  comomuius  vezes 
procedem ,  obra  a  dita  maíla  maraviShoíos  proveitos,  com  tanto  que  feteme  c  nco  ve¬ 
zes  cm  dias  alternados,  bebendolhe  em  cima  quatro  onças  de  agua  cozida  com  folhas 
dc  cardo  fanto. 

Os  que  quizerem  laber  fe  os  fobreditos  remedios  íaô  taô  proveitofo*  como  eu  digo* 
podem  informar  íe  das  mefmas  pefíbas  a  quem  curey  com  c  lies ,  e  ficarão  ddenganados,* 
que  na  inculcaque  faço  delles,  tem  mais  parte  a  compaixaô  dos  males  alheyos ,  que» 
delvanecimento ,  ou  ambiçaõ  da  fama ,  ou  interefie  proprio. 

Os  doentes  que  curey  de  alporcas  antigas,  fe  achai  ao  nomeados  no  livro  das  minha 
Obíervaçoens  Portuguezas  na  Obferv .  j»p*g»  5?.  e  na  Obferv.  8 z.pag,  480.  e  na  Obftrvi 
c  ie  achai Àõ  também  outros  nomeados  no  meu  Pecuiio  ,  quando  filio  na.' 
alporcas.  s 

Os  que  curey  dc  febres  malignas  com  o  roeu  Bezoartico  Curviano,  faõ  tantos ,  que 
naô  tem  numero  ,  fallo  fomente  em  trinta  doentes ,  para  osquaes  mc  chamaraõ  depois 
de  eílarem  ungidos,  e  defamparados ,  e  todos  livraraõ  da  morte  por  roerce  de  Deos,c 
beneficio  do  dito  Bezoartico ,  e  fe  acharão  nomeados  mPoijanthea  da  terceira  imprcf- 
faõ  notrat.z.  cap.  10 5.  pag.  57 1.  do  num.j.  atè  o  ^^.-44. 

Os  que  curey  de  accidcntcs  de  gorra  corai ,  em  que  entrou  hum  que  os  tinha  heredi-; 
tarios ,  fe  acharàó  nomeados  na  Poljanths*  trat.z.  cap.q.  pag .  68. até  70.  » 

Os  que  curey  de  fluxos  de  fangue  fe  acharàó  nomeados  no  trat, 3.  até  yft 

Os  que  curey  de  fuppreffoens  altas  daourina,  fe  acharaó  noditohvro  cap.S$.pagj 
448.  do  num.  37.  até  49.  J 

Aos  Senhores  Medico» ,  a  que  parecer  que  fiz  ferviço  à  Republica  em  lhe  dar  noticia 
dfe  alguns  remedios  fecrecos,  deque  os  doentes  íenaò  aproveitavaó,  por  lhes  faltar  » 
conhecimento  delles ,  peço  queiraó  fazer  o  mefmo ,  dando  noticia  dos  grandes  remedios 
que  íoub  rem ,  e  faraó  niflo  huma  obra  de  muito  merecimento  para  com  Dcos.  Naõ  di^ 
go  que  revelem  a  manufaftura  dos  leus  fegredos ,  em  quanto  forem  vivos ,  que  também 
eu  naõ  revelo  a  manufactura  dos  meus ;  mas  digo  que  dem  noticia  delles  para  utilidade 
publica ,  que  iíio  he  o  que  eu  faço ,  e  devem  fazer  todos  em  favor  dos  enfermos. 

Finis  s  Laus  Deo ,  Firginique  SVlatri, 


DOS  SIMPLICES  QUE  SE  CONTEM 

nefte  Memorial. 


A  pedra  Bazar  fimpkz,  efuas 
virtudes ,  pag.  2. 

Da  pedra  Bazar  compofta  f  e 
fuas  virtudes ,  pag*  3. 

Da  pedra  de  Porco  Eípím  na¬ 
tural  #  e  fuas  virtudes ,  pag.  4. 

Do  dente  de  Porcò  Eipim ,  e  íuas/virtudesj 
pag.  6.  .  * 

Do  ouvido  do  peixe  Roy ,  e  fuas  virtudes, 
pag.  6. 

Da  pedra  de  Cananor ,  e  fuas  virtudes ,  ibid* 

Da  pedra  Candar ,  e  fuas  virtudes ,  ibid. 

Da  pedra  da  cabeça  da  Cobra  de  Pate,  ou 
de  Motnbaça ,  e  luas  virtudes ,  pag.  8» 

Da  pedra  de  Cobra  de  D*o ,  e  fuas  vircude  s, 
pag.  8. 

Da  pedra  Safira,  e fuas  virtudes ,  ibid. 

Da  pedra  Pauzari ,  e  fuas  virtudes ,  pag.  9. 

D  \  pedra  do  Paraguay,  e  fuas  virtudes,  ibid. 

DoCuangüijo  de  Aynaõ-,  c  fuas  virtudes, 
ibid . 

Do  dente  de  Peixe  mulher,  e  fuas  virtu? 
des,  pag.  ro. 

Da  coíklla  de  Peixe  mulher  virgem,  c  fuas 
virtudes,  ibid. 

Do  priapo ,  ou  genital  do  Veado ,  p.  10. 

Dopriapo,  ou  genital  do  cavalio  marinho, 
e  fuas  virtudes,  ibid . 

Do  dente  deCavallo  marinho, e  fuas  vir¬ 
tudes,  p.  10. 

Do  dente  de  dentro  da  boca  do  Elefante^ 
e  fuas  virtudes ,  p.  1 1 . 

Da  tinha  do  graô  B.dh,  e  fuas  virtudes, 
ibid. 

Dos  oíTosdoefpínhaço  da  Cobra  Zuchi,  c 
luas  virtudes,  ibid. 

Do  d  tnte  de  Engala ,  e  fuas  virtudes  ytbid% 

Da  raiz  di  Manica ,  e  luss  virtudes,  j .  iz. 

Da  rai 1  da  Madre  deDeosi  e  fuas  virtudes» 
pag. 1 3. 

Da  raiz  uo  Cypò ,  e  luas  virtudes ,  ibid . 

Da  raiz  de  Soior  ,e  fuas  vutudes %ibid. 

D**  raiz  da  Calumba »  c  fuas  virtudes ,  ibid. 


Da  Scrpentaria  virgíniana;  e  fuas  virtudes» 
pag.  14. 

Da  raiz  de  Sapuche ,  e  fuas  virtudes ,  ibid * 
Da  raiz  de  Joaõ  Loj:cs  Pinheiro,  e  fuas  vir-J 
tudís^ibid. 

Da  raiz  d».  Butua * e  fuas  virtudes ,  p.  ry» 

Da  raiz  Divina ,  e  fuas  virtudes ,  p.  16. 

Do  unguento  de  Bicuiva ,  c  fuas  virtude^ 
psg.17. 

Da  rl  "1  íaga  Braíilica  ,  é  fuas  virtudes,  ibid. 
Da  Maçáa  do  Leso,  e  luas  virtudes,  p. 

Di  Miçãa  do  Elefante,  c  fuas  virtudes, 

ibid% 

Do  oleo de  Elefante,  e  fuas  virtudes, p.  i8.' 
Da  cobra  de  Cafcavcl ,  c  fuas  virtudes ,  ibid • 
Da  maçáa  da  vaca ,  e  fuas  virtudes ,  ibid . 

Da  raiz  de  Joaõ  Pires  chamada  Efula ,  e  fuas 
virtudes ,  p.  19. 

Da  psdra  que  íccria  dentro  ao  fel  da  vacíg 
c  iuas  virtudes,  p.  19. 

Do  pào  de  Largis,t  luas  virtudes, ibid. 

Do  pào  Cobra ,  e  fuas  virtudes ,  ibid* 

Da  raiz  da  Contrayerva,  c  fuas  virtudes* 
pag.  ao. 

Da  arvore  Angélica ,  e  funs  virtudes,  p.aos 
Da  Mcriganga ,  e  luas  virtudes ,  p.20. 

Do  Arlequim  ,  e  fuas  virtudes  ,  p.  ao. 

Do  pào  Quiriato,  e  luas  virtudes,  p.ar. 

Da  raiz  de  MonguZ ,  c  (uas  virtudes ,  ibid* 
Do  coco  de  Maidiva,  eíuas  virtudes,  ibidi 
Do  coquinho  de  Melinde ,  e  fuas  virtudes* 
ibid. 

Da  raiz  d«  Mil-horaens ,  e  íuai  virtudes, 

ibid. 

Da  raiz  de  Tambuape,  c  fuas  virtudes, 

pag.  i%. 

Das  batatas  do  campo ,  e  fuas  virtudes, 
ibid* 

Da  fava  de  Melinde,  e  fuas  virtudes,  ibid, 
13a  raiz  do  Queijo,  e  fuas  virtudes, ibid* 
Da  raizdeGmfaó,  e  fuas  virtudes ,  p.  23. 
Da  raiz  de  MoçuaQuim .  e  iuas  vtftudcs. 
ibid. 


índice:- 


Dí3S  aranhas  do  Peru  ,  e  fuas  virtudes,  ibid. 
Po  pao  angaria  ri  ♦  e  fuas  virtudes,  p.  24. 
Dounicorne  datefta  da  avelnhuma,  edo 
eíporao  que  tem  no  encontro  das  azas ,  c 
fuas  virtudes ,  ibid . 

Da  raiz  Javarandim ,  e  fuas  virtudes ,  p.  2j. 
Da  tinta  negra  ,  que  vem  da  China,  e  íuas 
virtudes ,  ibid. 

Da  raiz,  e  pao  da  Maranga,  e  fuas  virtudes, 

ibid»  ' 

Da  raiz  das  febres,  é  fuas  virtudes ,  p.26. 
Da  raiz  dos  Apoítemas ,  e  íuas  virtudes  ,  p. 

27* 

Da  rsiz  do  Ar ,  e  fuas  virtudes ,  ibid. 

Pa  arvore  QuinaVo ,  c  fuas  virtudes ,  ibid . 
Do  oko  de  Alambre ,  e  luas  virtudes ,  ibid. 


Do  oleo  Tranquillo  ]  e  íuas  virtudes  *  pi  19^ 
Da  ponta  da  Abada ,  e  fuas  virtudes  1  p.  29, 

Da  raiz  da  Minhaminha ,  c  fuas  virtudes* 

ibid ê 

Da  raiz  dc  Mutututu ,  e  fuas  virtudes,  ibid. 
Do  bucho  da  Ema ,  e  í  uas  virtudes ,  p.  go*' 
Do  pao  do  Mubango  ,  e  fuas  virtudes,  ibid. 
Da  pedra,  chamada  Lingua  de  S.  Paulo,  e 
íuas  virtudes ,  ibid. 

Do  pao  Quiíeco,  e  íuas  virtudes, p.  gi. 

Da  erva  Quitumbata ,  e  fuas  virtudes ,  ibid 1 

Da  erva  Orelha  de  Onça,  e  fuas  virtudes, 
tbid. 

Remedios  do  invento  do  Author,  efegre-, 
dos  íeüs  particulares  que  clíe  prepara ,  c 
doença*  para  que  lervcm,  p.  31.632. 


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