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Full text of "O fazendeiro do Brazil : melhorado na economia rural dos generos já cultivados, e de outros, que se podem introduzir; e nas fabricas, que lhe são proprias, segundo o melhor, que se tem escrito a este assumpto: debaixo dos auspicios e de ordem de Sua Alteza Real o Principe do Brazil nosso senhor."

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d    FAÍ5ÉNDEIR0Í 

DO    B  R  A  Z  I  L, 

CULTIVADOR, 


,^.^í    .-'o    FAZENDEIRO 

y     '4  b  O     B  R  A  Z  1  L, 

C    y    L    T    1    V    A    P    o    R  5 

^leihofado  na  economia  rural  dos  géneros  já  cultivados  j 
.  ,c  de  outros  ,    que  se  podem  introduzir ;    e  nas  fa- 
bricas ,     que  lhe  s,ão  próprias,    segundo  o  me- 
lhor, que  se  tem  es.crito  a  este  assumpto, 

P  E  B  A  ÍX  o     DOS      A  U  S  i»  l  C  1  o  S  , 

E     DE     ORDEM 
DE  SUA  ALTEZA   REAL 


príncipe  regente, 

NOSSO   SENHOR. 

Coíiegido  de  Memorias  Estrangeiras 

POR 

Fr.    JOSÉ'    MARIANO     DA  G0NGEIC;Ç0    VELLOSO. 

Menor  Reformn(Í0    da   Provinda  da   Conceiçãa 
do  B.ÍO  de  Janeiro  ,     etf. 

T  O  M  O      V. 

F  I  L  A  T  U  R  A. 

PA     H     T     E       I, 


Ex   iai:is    ingíns    Ulu  pamiúntm 
Si  a  clones  texunt  ,  nUas  viliores  ,  tílias, 
tes  illae  Sacerdctilus : olim  ÂEgypíi 


LISBOA.    Na  jmtressam  Regia.     Anno  i8o<í. 


■:i 


fli 


SENHOR. 


E 


AI  observância  do  Decreto  ,  em  que 
KA.  R.  foi  servjdo  mandar  se  continuasse 
ã  imprimir  na  Impressão  Regia  as  obras  ^ 
que  se  imprimiao  na  do  Arco  do  Cego  , 
tenko  a  Satisfação  de  poder  apresentar  a 
V,  A.  R,  a  continuação  do  Fazendeiro  do 
Braçal ,  ciuinto  Tomo  ,  que  tem  por  objecto 
geral  a  Filatura  ,  isto  he  ^  a  Cultura  di 
todas  as  plantas  ,  assim  indigenas  ,  co^ 
^mo  forasteiras  ^  que  dão  hum  fio  sufficiente  ^ 
que  pude  Sãf  vir  a  tecidos  ^  a  cordas  ^e  a  ou- 
tros usos.  Nesta  primeira  parte  ^  que  trata 

do 


■JLorv. 


^a  Algadãõ  ,  se  ^erao  todas  as  Memorlast 
Inglezas ,  Francezas  ,  HespanhoJas  ,  que  es-, 
tiver ão  ao  meu  alcance  ,  sobre  este  assunir. 
pto ,  e  vai  ornada  de  estampas ,  para  facili- 
tar o  seu  conhecimento  ,  e  addiccionada  de 
hum  appendice  ,  pelo  julgar  interessante  ^  t 
estar  jd  completa  a  impressão  ,  quando  a^s 
ehtive.  Na  segunda  ,  e  terceira  ,  se  copia- 
rãÕ  ,  as  que  houverem  escritas  sobre  os  li- 
nhos estranhos ,  e  indigenas  do  Paiz  ,  sobre 
immensas  cascas^  e  folhas  filamentosas  ^  ar- 
vores y  arbustos  i  e  heri^as  ^  de  que  abunda  a 

m^Sr- 


mesmo ,  até  aqui  sem  cultura  algurm  ,  cu- 
ja contribuição ,  sendo  cultivadas ,  pode  ser 
muito  ^  e  muito  mais  prestadia  aos  mssos 
íjmumeraveis  misteres  ^  ou  iguaes  ,  ou  infe- 
riores na  ordem* 

A  planta  ,  que  prodwz^  esta  estimável 
U  vegetal ,  que  conhecemos  pêlo  nome  de  Al- 
(Todoeiro  ,  hem  que  nh  rejeite  ser  cultivada 
no  velho  mundo ,  com  tudo  se  regojija  sçhre 
jr.aneira  de  ter  por  pátria  os  paires  Solares 
entre  os  trópicos,  A  espontaneidade  do  seu 
nascimento  i  a  pluralidade  de  suas  e'^ecies\ 

a 


a  quantidade ,  e  qualidade  dos  seus  fios  ,  e 
fructos  ,  niuitõ  maiores  que  em  algum  outro 
país:, ,  assim  no  lo  persuade, 

O  Mundo  mercante  não  ignora  que  o 
que  se  cultiva  na  America  meridional  ,  ou 
entre  os  seus  trópicos  ,  tem ,  pela  sua  indis^ 
puta^vel  excellencia ,  hum  crecido  valor  solre 
os  das  outras  partçs.  He  certo  que  o  que  se 
cria  em  Dôniarara  ,  possessão  Hollandeza  , 
da  linha  para  o  norte  \  e  o  de  Paranãbuc , 
possessão  de  F.  A.  R. ,  da  linha  para  o  sul, 
tem  merecido  sobre  o?  do  mesmo  paiz  hum 

maior 


niãior  preço ,  thermometro  da  sua  maior  ex- 

cellencia* 

lahe^  éi  diversa  pasiçh  physica  dos 
lugares  ,  senão  for  a  de  huma  melhor  cul- 
tura 5  causara  esta  differença-  Em  regra 
geral  j  se  aqueUes  Cultivadores  tivessem  me- 
lhores noçcçs  agronómicas  ,  este  género  te- 
ria huma  melhoria  incontestável.  Este  alvo 
vai  ferir  a  execução  desta  Soberana  Ordem 
de  V^  A.  -R.  5  Vai  commum  de  todos  os  vas- 
sólios.  Este  ramo  do  Commercio  já  avulta 
tanta  entre  nas  y  hem  que  d  poucos  annos  , 

que 


qu€  com  justiça  merece  toda  a  contemplação 
ao  Soberano  Imperaitte, 

Aífgmentar  esta  cultura  ,  SENHOR  , 
l^e  íenejictar  o  género  humano  ;  porque  ten^ 
de  a  cobrillo  de  sua  desnudez  '•,  pois  não  sá 
facilita  que  as  pessoas  jnais  delicadas  se 
possão  vestir  do  linho  ,  e  servir-se  ainda 
delk  a  menoi'  custo  em  muitos  outros  usos 
domésticos  ;  ^nas  passa  immediatamente  a 
eohrir  na  mesma  Jmerica  a  tantos  centos 
de  milhares  de  indivíduos  Aborígenes ,  e  A- 
frica7ios  ,  que  chamão  a  V.  A.  R,  Seu  REI , 

Seu 


Seu  SENHOR,  qué^  sem  Uberdade,  sic  ^m 
tion  vobis ,  são  os  braços  dos  Europeus ,  qiíer 
uara  catear  Minas  ,  quer  fará  a  mesnm 
Lauoura,  Elks  são  o  todo,  e  o  tudo  destes 
trabalhos.  Sevt  elks  nada  be  positivo.  Outro 
vestido  não  os  cobre^  Prouvesse  a  Deos  que . 
ainda  este  mesmo  se  lhe  não  distribuísse  com 
huma  mão  tão  escassa  \ 

Parece  que  huma  Superivr  Providencia , 
a  <ujo  saber  nada  he  occulto ,  sem  cuja  von- 
tade nada  se  faz  ,  por  huma  previsão  bem 
fazeja  ,  liberalimfnh  espontaneamente  esta 

pro^ 


pròchícçâo  a  este  Paiz  y  tivera  em  ijistd 
isto  mesmo ,  que  agora  acontece  ,  sèm  ò  que 
recreueríão  sobre  fnaneira  as  precisões  dos 
seus  proprietários.  Abstenho-me  de f aliar  so^ 
ire  ó  muito  ,  que  a  síia  bem  entendida  cuU 
tura  fãrd  àugmentar  a  massa  da  riqueza 
Nacimal  na  Cultura  ,  Artes ,  e  Cammercio  , 
€  por  consequência  ,  as  Reaes  rendas»  Ista 
4eix&  a  outros  espíritos  mais  illuminados. 

O  Algodão  verifica  hoje  de  Portugal  ó 
que  fahuUzarão  os  Antigos  dos  Velks  deu- 
radas  di  Colchos  ,   das  maçans  de  ouro  do 


jardim  das  Hespérides ,  ou  Erythia  attri- 
búido  a  Portugal  :  In  Lusitânia  Erythia  3 
quam  Geryone  habitatam  accepimus  :  disse 
Pomponiõ  Mella. 

Só  me  resta  profundamente  inclina  do 
perante  o  Régio  Throno  confessar  que  he 

De  V.  A.  R„ 


O  seii  mais  humilde  vassaílo 


tÁZENDEliÒ 

t)  O    B  R  A  Z  I  L 

tULTÍ VADÒR 
FILATURA. 

tmBmBaaaÊÊmaaaammmmmmmamÊBBaÊÊÊÊÊÊÊÊlÊaâ 

TOM.  r;    PiiRT.  1. 


•s±i§ 


MEMORIA  I 

èOBRE    Ò   ALGODAdí 

Por  Bfyah  Edward, 

(The  ilistory  Civil  and  Cothmèrciaí  of  Brltlsh  Coíonles  td 
thc  Wiit  Indlèsi  Tdríi.  II.  Cap;  IV.  pag.  15^.) 


§!;  I.    Seu  hàsúinento  ^   c  varids  iispecUs^ 


ÍZjS-t  teíla  íã  vegetal,  ou  sulsstahciiâ  chamada  AÍ. 
godão,  he  huma  producção  espontânea  dás  ties  partes 
do  111  lindo.  Eneontrâ^se  nasce  fido  áatuTraÍTinéi^te  éiii  to- 
das as  regiões  entretròprcas  dá  Ásia  ,-  Africa  ,'  -é  Ameri- 
ca ,  e  justamente  pódé  ser  conipreliendida  entre  os 
^oris  mais  preciosos  ,   quê   á  bondade   do  Cíéadòr   nos 


( o 

fez  ,   \-igiando  ,    e  providenceando  as  necessidades  ,   e 
misteres  do  homem. 

A  lá  do  Algodão  ^  que  se  manufactura  em  pan- 
nos  5  do  qual  se  dá  huma  espécie  nas  índias  Occiden-^ 
taes ,  chamada  Seda  ,  ou  Algodão  branco  ,  impróprio  para 
o  tear  (/jo  Brax.il  Polna)  ,,  consta  de  duas  espécies  dis- 
tinctas ,  conhecidas  pelos  Caltivadores ,  com  os  nomes  ^ 
1.  d  Algodão  da  semente  verde,  e  2.  d'arbusto  do  Al- 
godão ,.  que  tem  marcas  distinctas  da  sua  differença , 
Qom  as  quaes  se  devem  contentar  os  Cultivadores , 
querendo  applicar-se    ao  maior  proveito  da  sua^  cultura. 

Prlnieira  especU. 


O  Aígodão  de  semente  verde  he  de  duas  espécies; 
hnma  tem  a  semente  tão  agarrada  y.  que  até  aqui  se 
não  tem  descoberto  meio  aigum  de  a  separar  ,  a  não 
ser  á  mãb,  operação  aborrecida,  e  enfadonha,  que  a 
preço  que  se  dá  por  elle  nos  mercados  não  satisfaz  o 
trabalho  ,  que  se  tem  cm  o  preparar.  Por  tanto  esta 
espécie  presentemente  só  se  cultiva  .para  as  torcidas 
dos  Camlieiros  dos  Engenhos  d'Assucar  y  e  para  os  usos^ 
caseiros  ;  mas ,  sendo  hum  género  summamente  bom  , 
e  a  sua  côr  perfeitamente  branca ,  sem  dúvida  alguma  , 
seria  huma  aquisição  muito  preciosa  para  a  manufactu- 
ra  das  Cassas ,  se  se  podesse  descobrir  meios  para  o  desar- 
roçar  com  facilidade. 

A  segunda  espécie  he  de  sementes  maiores,  e  cie 
hum  verde  mais  triste  que  o  primeiro,  e  a  sua  felpa. 


( o 

6\\  lã  nâo  hé  de  igUal  delicadeza  ,  airidai  qíie  milito 
mais  fina  que  a  lã  dò  Algodão,  que  actualmente  secúí* 
tiva ,  e  que  facilmente  se  separa  da  semente  pelo  me- 
thodo  commíim  ,  que  daqui  a  poiícò  descreverei.  Disse 
qiie  esta  espécie  de  Algodão  dé  semente  verde  não  he 
muito  bem  conhecida  pelos  Cultivadores  em  commuiit 
(ordinariamente  o  confundem  com  o  primeiro),  e  qiie 
provavelmente  seria  de  huma  mui  grande  estimação. 

Ambas  as  espécies  ^  acima  mencionadas ,  ainda  qué 
produzão  o  capulho  em  huma  idade  anticipada  ,  istcí 
he  i  sendo  meroá  arbustos  ,  podem ,  se  os  não  deco- 
tão  j  ou  se  os  consentem  alargar ,  crescer  a  arvores  dé 
huma  considerável  grandeza,  e  dar  colheitas  annuaes  3 
conforme  a  estacão,  Sem  casta  alguma  de  cultura.  Bro- 
tão  as  suas  flores  successivamente  de  Outubro  até  Ja-^ 
neiro ,  e  os  capulhos  principião  a  abrir  ,  capazes  de  se 
colherem  ,  de  FevereirtD  até  Junho;  Passemos  agora  á 
Segunda  espeeie^ 

Algodoeiro  arbusto . j  propfiáménté  chamado.  Está 
arvoreta  se  assemelha  assas  ao  Europearí  Corinih.  bush  ^ 
e  se  pôde  subdividir  em  muitas  variedades ,  das  q.uáes 
algumas  se  assemélhão  muito  («)  :  Estas  vaíièdades,; 

ião : 

■     ■  ---A  «  -I.  . 

(n)  Constão  as  siias  flores  de  cinco"  petaíos  amarei^ 
íõs  ,.  coloridas  na  base  de  huma  còr  piírp&rea.  3ão  lin- 
das, mas  destituídas  de  fragrância.  O  pistilio  he  forte, 
e  grande. com  húrria  cercadibra  no  seu  topo  ,  oíí  sum-- 
midade  de  huma  franja  amarellada ,  e  íarinhosa,  que, 
í]uando  madura  ,.calie  na  matriz  dp  pistilio.  Do  més- 
mo  modo  este  se  cerca  ,    quando  os  petalos  da5  íioi^s, 


C4) 

t.  Jamaica  commnm  ,  cujas  sementes  são  óBIoiv 
^as ,.  perfeitamente  lisas ,  e  não  tem  barba  na  extremi- 
dade menor.  A  fibra  he  grosseira  ,  mas  rija.  He  o  scif 
maior  defeito  ,  o  ter  as  sementes  tão  quíebradiças  ,  que 
rata  vez  se  pôde  fazei  lo  perfeitamente  limpo ,-  por  cU" 
ji,o  motivo  se  vende  em  Ingkterra  por  hum  preço  mui- 
to baixo  í  e  com  tudo  he  tal  a  obstinação  do  costume 
que  poucos  Cultivadores  Iwglezes  do  Algodão  quererá 
ter  o  trabalho  de  o  escolher  y  ou  ainda  de  parecer  qu« 
desejão  huma  melhor-  sorte.- 

2.  Algodão  harhado.  Ordinaríairente  se  ctrftiva  es- 
ta espécie  com  a  ultima  qufô  acima  nomeámos ,  mas  seu 
fio  he  de  alguma  sorte  melhor,  e  os  capulhosy  ainda 
que  menos  em.  numero,,  produzem  huma  nqaior  quan** 
tidade  àt  \^.  A  arvoreta  produz  semelhantemente  hum 
melhor  (^ratoo^y.  He  do  interesse  do  Cultivador  d« 
Algodão  plantallo  separadamente.  A  única  desavant*- 
gem  ,  que  tem  ,  he  o  de  se  não  poder  despegar  da  se^ 
mente  tão  facilmente  y  como  o  outro  ,  e  por  eonse* 
quencia  hum  negro  no  trabalho  de  hum  dia  descaroça, 
ou  alimpa  muito  pouco. 

5.  Nanquim.  Este  drffere  maíto  pouco  nas  semen- 
tes y 


cahem  ,  de  hum  sacco  capsular  (^eapulho^  sustentado- 
por  tre^?  folhas  verdes,  e  tr  ia-n  galares  y  profundamente 
dentadas  na  sua  extremidade.  O  capulho  contido,  es- 
tando maduro  ,  se  abre  em  três,  ou  quatro  divisões, 
manifestando  o  A\ioò^o  em  tanta?  gadelhas  ,  quanta» 
são  as  divisões  do  Capulho.  As  sementes  estão'  entre- 
meadas pelas  gadelhas,  que  de  ordiíwrio  são  pequenas, 
e  negras.     .     ■        ■ 


(  5  > 

tes  ,  t)U  por  outro  da  espécie  ultimamente  menciona- 
da ,  excepto  na  còr  da  lã  que  he  da  côr  do  pannò 
chamado  Na-nquim  (  can^ã  ) .  Não  se  encomenda  tanf.o 
deste  j  como  do  branco. 

4.  Fríincex. ,  ou  fycíjuena  semente  com  huma  barba 
csbranquií^ada.  Este  he  o  que  geralmente  se  cultiva  em 
São  Domingos.  A  sua  lã  he  melhor  ,  e  o  seu  rendi* 
ineiito  igual  ao  das  três  tjsj^edes,  que  ultimatr.ente  se 
nomearão  ,  por  se  suppôr  que  o  seu  arbusto  produzia 
hum  maior  numero  de  capulhos  que  o  Jamaica  ,  oií 
Earbado  pardo  ;  m.as  menos  rijo  que  qualquer  delles, 

5.  O  Algodão  de  Kuinel  ,  assim  chamado  ^  por 
ter  as  sementes  apinhadas  ,  e  unidas  bumas  is  outras 
com  muita  firmeza  no  capulho.  Estas  nas  outras  espé- 
cies, de  que  faliei,  estão  separadas.  Também  o  cha- 
mão  Alcjodão  Chain  ,  e  eu  creio  que  he  o  verdadeiro 
Aliíodão  do  Brazil.  A  mercadoria  he  boa  ,  o  capulho 
«jrande ,  e  de  muito  rendimento.  Cada  negro  pckie  dia- 
riamente descaroçar  sessenta  e  cinco  arraieis  sem.  muita 
fadiga  ;  pois  lhe  cahem  as  sementes  ,  sem  se  quebra- 
rem ,  antes  de  passar  pelos  cylindros  ,  ou  rollos  do  es- 
caroçador ,  sahindo  elle  delle  perfeitamente  limpo,  fov 
este  motivo  he  summa  imprudência  misturar-se  humas 
espécies  com  outras. 

Em  conclusão  :  as  espécies  mais  úteis  para  a  Cul- 
tura ordinária  parecem  ser  a  segunda  da  semenie  verde  ^ 
o  Francez ,  ou  pequena  semente^  e  o  Braziliano.  Todas 
as  espécies  se  cultivão  da  mesma  maneira.  De  todas  se 
tira  a  vantagem  seguinte.  Vegetarem  nos  terrenos  maig 

sec- 


C6) 

«eccos  ,  c  pedregosos,  não  estancio  estei  cançados  por 
culturas  antecedentes.  A  seccura ,  na  realidade ,  assini 
em  razão  do  terreno  ,  como  da  atmosphera  he  essen- 
cialmente necessária  em  todos  os  seus  períodos  ,  por-» 
que  ,  estando  a  terra  húmida  o  Algodoeiro  se  enfra? 
íjuece  pela  çobejidão  de  ramos ,  e  folhas  que  lança.  Se 
as  chuvas  forem  pezadas  ,  quando  estão  em  flor  ,  ou' 
quando  os  capulhos  começão  a  desabotoar  ,  a  colheita 
lie  inferior.  Talvez  por  isso  se  applicão  immediatamen- 
íe  estas  observações  mais  ao  Algodão  Francez  ,  que  a 
qualquer  outro, 

Planta-s-ç  de  semente  ;  não  exigindo  a  terra  maior 
preparativo  que  o  de  ser  limpa  dos  seus  embaraços  na- 
íuraes  ,  e  a  sazão  de  deitar  a  sua  semente  na  terra  he 
de  JVlaio  ,  até  Setembro  ,  incluídos  ambos  os  mezes. 
De  ordiíjutio  esta  plantação  se  íaz  em  fileiras,  ou  ruas , 
deixando  hum  espaço  eiUre  estas  de  seis  ,  ou  outo 
pés  ,  fazendo-se  commummente  as  covas  de  quatro  pés 
apartadas  huma  da  outra.  Pratica  se  pôr  de  oito  a  dez 
sementes  em  cada  cova  ;  porque  algumas  destas  são 
comidas  por  hum  bixo  ,  ou  lagarta  commummente,  e 
outra-  apodrecem  na  terra.  As  novas  brotas  aparecem 
quasi  aos  quinze  dias  ,  mas  ellas  nas  seis  primeiras  sct 
manas  crescem  assas,  e  neste  periodo  se 'precisa  monr 
dar  a  terra,  ç  tirar  as  plantas  supranumerárias,  deixan? 
do  tão  somente  duas  ,  ou  três  das  mais  robustas  em 
cada  cova.  Seria  bastante  deixar  huma  única  planta  em 
cada  cova  ,  se  houvesse  certeza  que  esta  chegava  á  su2i 
fn^diíreza,  mas  mifitas  das  tenras  bfotas  são  devoradas 


(7> 

pelos  bixos.  Mondão-se  pela  segunda  rtz  tendo  três , 
ou  quatro  mezes  de  idade  ,  e  ambos ,  assim  os  talos , 
como  os  ramos  se  podão ,  ou  decotao  ,  ou  como  tam- 
bém dizem  ,  se  capão,  huma  polJegada,  e  mais  ,  se  a 
planta  for  mui  vicejante  ,  tirando-lhe  as  extremidades  de 
cada  vergonta  ,  o  que  se  pratica  a  fim  de  fazer  brotar 
iium  maior  numero  de  ramos  lateraes.  Repete-se  esta 
operação  huma  segunda  vez  ;  e  se  o  vicio  do  seu  cres- 
cimento for  sobre  maneira  ,  ainda  huma  terceira  vez. 
No  cabo  de  cinco  mezes  a  planta  começa  a  florecer ,  e 
a  desabotoar  as  suas  lindas  flores  amarellas  ,  e  com 
dous  mezes  mais  o  capulho  amadurece  successivamen- 
te  ,  abrindo-se  entáo  triangularment-e  ,  e  manifestando 
a  sua  branca,  e  lustrosa  pluma  á  luz.  Neste  tempo  se 
lhe  tira  a  lã  ,  e  a  semente  envolvida  nella  ,  da  qual 
ao  depois  se  aparta  por  meio  de  huma  rr:aquina  ,  que 
se  assemelha  a  certo  instrumento  dos  torneiros.  Cha- 
ma-se  esta  escaroçador  ,  que  consta  de  dous  rollcs  pe- 
quenos poscos  em  parallelcs,  e  ajustados  hum  com  o 
outro  em  huma  moldura  ,  e  movendo-os  em  diteções 
©ppostas  por  differentes  manivellas  ,  que  se  movem 
com  os  pés  («).  Pcndo-se  o  Algodão  á  m/ão  nestes 
rollos  ,  quando  os  movem  circularm.ente  ,  prcmptamen- 
te  passa  entre  elles  ,  deixando  as  sementes,  que  não 
cabem  na  passagem  ,  pela  sua  grandeza.  Ao  depois  a 
lã  se  passa  á  mão,  para  que  seja  mais  bem  limpa  das 
folhas  cabidas ,  sementes  esmagadas  ,    e  da  lã ,  que  foi 


f 


(a')     He  hum  instrumento  mui  simples. 


cn 

arruinada ,  c  deteriorada  dentro  do  capuího  Çd).  Entãq 
se  mette  em  saccos  ,  que  levem  quasi  duzentos  arratei$ 
de  pezo ,  e  se  mandão  á  praça. 

O  melhor  ,  e  mais  bern  limpo  Algodão,  que  se 
traz  aos  mercados  de  In«^iaterra ,  he ,  ao  meu  parecer  , 
o  dos  Algodoaes  Hollandezes  de  Berbiche  ,  Demarara^ 
p  Surinam  5  e  o  da  Ilha  de  Cayenna  ;  mas,  antes  do 
anno  de  1780  ,  Inglaterra  não  tinha  manufacturas  fí* 
nas  ;  e  com  tfcido  nos  últimos  mezes  deste  anno  o  Al- 
godão de  todas  as  espécies  se  achou  valef  os  seguintes 
preços ; 

xelins  din. 

Berbiche  . 

Pemarara 

Surinaip  , 

Cayenna  . 

S.  Domingos  , 

Tabaco . 

Jamaica 


2  . 

• 

• 

. 

• 

í 

por 

arrat. 

I  . 

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11 

a  as.  i  d. 

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9; 

I  . 

• 

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1 

Desde  esse  tempo  os  preços  tem  variado  ,  mas  o 
yalor  relatiyo  tem  continiiado  qiiasi  do  mesmo  modp , 
que  vem  a  ser  a  differença  ,  entre  o  Algodão  de  Ber- 
biche _,   Q  O  de  Jamaica,   de  vinte  e  cinco  a  trinta  por 

cen- 


(tf)  Desde  1780  as  fabricas  de  Algodão  de  Inglater- 
ra tem  tido  hum  rápido  melhoramento  ,  devido  aos 
grandes  engenhos  de  fiar ,  movidos  pela  agua.  Estes  re- 
querem o  Algodão  limpo  pois  a  menor  partícula  de 
hum  grão  esmagado  damna   o  fio  neste  modo  de  íiar» 


(9:) 

cento ,  em  favor  do  primeiro ,  circumstancia  ufiica  que 
convencerá  ao  supersticioso  Cultivador  das  índias  Oc- 
cidentaes  Inglezas  ,  que ,  se  o  quizer  cultivar  em  ter- 
mos ,  que  lhe  faça  conta  o  Algodão ,  deve ,  como  re- 
quisito indispensável  ,  escolher  huma  melhor  espécie 
de  Algodão ,  ou ,  ao  menos ,  huma  que  se  alimpe  com 
maior  facilidade  que  a  que  geralmente  se  cultiva. 

Agora  me  voltarei  ao  único  ponto  de  vista  das  dif* 
ferentes  particularidades  relativas  ao  primeiro  custo, 
pu  despezas  assim  do  estabelecimento  de  hum  AlgOf 
doai ,  e  dos  lucros ,  ou  ganhos ,  que  racionavelmente 
deve  esperar  de  hum  pequeno  capital  empregado  no 
sçu  grangeio.  Determino  hum  pequeno  capital ;  porque 
concebp  que  hum  Algodoal  se  pôde  estabelecer  com 
hum  fundo  mais  moderado  que  outro  qualquer  gran- 
jeio ;  e  que  este  he  o  que  mais  convém  a  todos  os 
homens  de  pequenas  posses ,  e  cabedaes ,  principahnen- 
te  aos  que  se  achão  paa  índias  Occidentae-s  quQ  olhão 
para  a  sua  segurança  nos  momentos  de  perigo,  e  por 
isso  desejão  informar-se  do  modo  com  que  devem  em- 
pregar o  seu  tempo  ,  e  trabalhos!  com  maior  proveito. 
He  provável  que  se  possa  comprar  huma  terra 
própria  para  o  Algodão  ,  situada  perto  do  mar  ,  tm 
muitas  partes  das  índias  Occidentaes  C  particularmente 
na  Jamaica)  por  cinco  libras  ,  papel  moeda  por  Acre 
(fl)  ♦  e  porque  he  prudência,  em  muitos  casos,  mu- 
dar   a  terra    passadas    três  colheitas  ,    para   o.  replantar 

em 

(<í)     He  hum  espaço   de  terra    que  tem  4840  varas 
quadradas,  e  em  cada  lado  69  varas  e  57  decmios» 


C    10) 

em  terra  virgem  (a),  quereria  eu  que  sorteasse  cincoen- 
ta  acres  na  sua  primeira  compra  ,  para  que  o  Cultiva- 
dor possa  ter  lugar  para  preencher  este  objecto.  Sup. 
ponhamos  que  qWq  planta  unicamente  hum  Algodoal 
^ue  contém  ametade  a  pancada,  o  capital,  que  preci- 
sa ,  será  o  seguinte  ; 


Pe- 


(a)  Se  aterra  for  sobejamente  boa,  quatro,  e  ain- 
da cinco  colheitas  annuaes  se  tirão  algumas  vezes  das 
mesmas  plantas,  e  passadas  estas,  ^e  devem,  em  vez 
de  replantar  ,  commummente  se  decotão  as  arvores 
três,  ou  quatro  polle?adas  acima  da  terra,  e  ianção  re- 
novos 5  ou  novedios  pelas  chuvas  do  mez  de  Maio  ,  e 
se  tratáo  do  mesmo  theor  que  as  plantas.  Alç^um  tra- 
balho tem  indubitavelmente  segurado  esta  prática ,  mas 
cm  todos  os  casos  ,  se  julga  mais  proveitoso  procu- 
rar terra  virgem  cada  três,  ou  quatro  annos.  Eu  con- 
templo ,  ao  mesmo  tempo  ,  ser  a  terra  nova  assas ,  cuan» 
do  tem  estado  descançada,  ou  se  tem  usado  de  outra 
cultura  dilTerente  ainda  por  três,  ou  quatro  annos  ,  a 
«[rand.;  intençáo  de  mudar  de  terra  he  para  a  livrar 
daqLclla  espécie  de  vermes  que  fazem  preza  nas  mes- 
mas plantas  do  Algodão. 


(  lO 

lib.    xcl>   djjí, 
Feio  custo   de  50  acres  de  terra  a  J 

lib.  por  acre  em  papel  moeda  .  .  .      250 
Pela  despeza  de  alimpar  ,    cercar  ,    e 

plantar   25    acres    por   7  lib.    cada 

hum 175 

Feio  valor  de  doze  escravos  a  70  lib. 

cada  hum S40 

1,26? 

Pelo  juros  de  6  por  cento    .....         75      ^^ 
Pelo  sustento,  vestuário,    e  curativo 

dos  escravos  . 120 

Total  da  despeza  em  Jamaica,  e  pa- 
pel moeda  (igual  a  1,040  lib.  es- 
terliuas)  ; ij4^o     ^^ 

Ganhos^ 


Agora  os  vamos  contemplar.  Na  Jamaica  se  repu-i 
ta  a  produeção  de  hum  acre  de  terra  plantado  em  Al^ 
^godão  commummente  em  ijo  arráteis,  e  nalguns  an- 
nos  o  dobro  quando  muito;  mas  receio  que,  calculari- 
do-se  successivas  colheitas  ,  em  certo  númeio  de  ân- 
uos ,  não  seja  a  primeira  huma  avaliação  muito  gran- 
de. Das  relações,  que  procurei,  das  Ilhas  de  Bahamá 
aparece  que,  em  1785  ,  86,  87,  cujos  annos  todos  sé 
contemplarão,  copio  favoráveis   o  rendimento  do  Algo- 

dáoj 


cwt 


dlo,  «m  hum  calculo,  não  excedeo  acento  e  doze  ar- 
ráteis por  acre  ;  a  saber : 

Em  1785  .  2,47<í  7 

1786  .   j,050>acres produz 

1787  .  4,500  S 

O  preço  em  Bahamá,  e  Jamaica  Jie  o  mesmo,  a 
saber ;  i  sold,  5  din.  esterlinos  por  arrátel.  Conceden- 
do por  tanto  ser  o  calculo  do  rendimento  cem  arráteis 
por  acre,  o  lucro  he  o  seguinte;  a  saber: 

lib.  esterl. 
3J  cwt  a  I  xelim    j  din.  por  arrátel    ....     175     " 
Deduzindo-se   as  despezas  accidentaes  ,    como 
necessárias  para  ensaecat  ,    taxaj   das  Colo- 
"««  « 25 

Resto  em  moeda  esterlina ij© 

O  que  tudo  dá  hum  lucro  acima  de  quarenta  por 
cento  do  Capital  ,  calculado  pelo  preço  mais  baixo  do 
Algodão.  Se  este  calculo  se  applicar  a  lã  do  Algodão 
pelo  valor  de  dous  xelins  por  arrátel,  preço  do  Algo- 
dão de  São  Domingos  ,  o  lucro  sobre  o  capital  he  de 
vinte  e  quatro  por  cento. 


Po 


C«)  o  sustento  dos  escravos  ,  passados  cinco  an- 
nos  ,  nlo  entra  em  linha  de  conta  ,  porque  se  julga 
que  o  Al?odoal  não  sendo  sufficiente  por  estar  total- 
mente cheio  ,  pôde  cultivar  o  milho  ,  e  outros  artigos 
no  sobejo  dos  vinte  e  cinco  acres  ,  que  são  mais  que 
sufficientes  para  pagar  o  seu  vestuário  ,  e  sustento. 
Igualn^ente  se  usa  cultivar  milho,  batatas,  etc. ,  entre 
3s  fileiras  do  Akodoal. 


(  »5  ) 

Do  que  temôá  dito,  se  mostra  que  o  rápido  píoí» 
grasso  que  os  Cultivadores  de  Hollanda,  e  França  tent 
feito  na  cultura  deste  género-,    se  não  pode  julgar  ex- 
traordinário ,  a  não  haverem  algumas  eircumstancias  d« 
huma  natwreza   menos  favorável  ,    que  deverião  entrar 
em  linha    de  conta.    Talvez  que    de  todas    as  prodtic- 
çôes ,  a  que  se  tem  applicado  a  lavoura ,  nenhuma  se- 
ja mais  precária    que    a    do  Algodão.    No  seu  primeiro 
período  o  bicho  o  destroe :  no  segundo  a  lagarta  o  de- 
vora :   alguma*  vezes  o  ar  quente  o  faz  murchar  :   as 
chuvas  frequentemente  destroem  assim  a  sua  flor,  co- 
mo  o  capulho.    As  Ilhas    de  Bahamá  dão  huma  prova 
triste    da  incerteza   da  sua  producção    em  1788  ,    pois 
não    menos    que  duzentas    tonel ladas    forão    devoradas 
pelos  bixos  desde  Setembro  até  Março  do  mesmo  anno. 
Isto  supposto  y    o  Leitor    difficultasamente  desconfiará 
que  eu  j  por  huma  serre  de  annos ,  calculei  muito  bai- 
xo a  arriscada  producção  desta  planta. 

Sem  embargo  desta  desavantagem  as  encommeij- 
das  pela  lã  do  Algodão  para  as  Fabricas  Inglezas  ,  se 
augmentão  com  tal  rapiídez ,  que  não  deixão  duvidar  que 
a  sua  cultura ,  tomando-se  as  precauções  ,  que  se  re- 
comendarão ,  bajão  de  conseguir  hum  maior  lucro  > 
podendo  os  domínios  Inglezes  prover  actualmente  mais 
que  huma  sexta  parte  do  que  se  necessita  neste  ReiríO.> 
Se ,  tendo-se  feito  huma  cuidadosa  escolha  ^  e  exame 
das  dífferentes  espécies  de  sementes  ,  que  já  possui- 
mos  5  a  lã  do  Algodão  das  índias  Occidentaes  Ingle- 
zas for  julgada  inferior  á  Hollandeza  ,   não  pôde  haver 


(14) 

tíií^culdade  em  conseguirmos  delles  huma  melhor  sorEç, 
He  evidente  que  o  Algodão  Francez  perde  a  sua  supe- 
rioridade em  nossas  Ilhas  pelo  semearem  promiscua- 
liiente  com  huma  espécie  inferior. 

Passo  a  concluir  este  assumpto,  apresentando  aos 
meus  Leitores  as  seguintes  taboas  ,  copiadas  de  fontes 
authenticas  ,  as  quaes  não  deixarão  de  fornecer  huma 
abundante  animação  á  especulação,  e  ao  risco. 

Relação    do  Algodão  Estrangeiro    importado  para    as  I/n 
dias  Occidenta^s   1/iglex.as    em  Navios    da  mesma 
Na^ão, 
An  nos  lib. 

1784  —  1:135,750 
85  —  i:398,-5Go 
%6  — -  1:346,586 
87  —  1:158,000 

l^elação  do  Algodão  Mstrangeiro  importado   em  as  índias 
Cccidentaes  Inglezas   em  virtude  do  Acto  do  Por" 
t9  Franco, 
Ànnos  lib. 

1784  —  1:1^9,000 
^5  —  i:575j28o 
•26  • —  1:962,500 
87  —  1:945,000 


R^. 


(  lO 

tiielaçíta   do  Aígodno    laghz  ,    e    Estrangeira   importaã^ 
das  hidias  OccldenUies  á  Grã  Bretanha. 

Ânnos  lib. 

1784  —  6:29í,959 

85  —  8:204,611 

S6  —  7:^30,754 

87    r-   9:396,92» 

"BicUçSo  (to  Algodão  importado   ã  Grã  Bretenha  de  iodai 
as   partes, 

Annos  lib.  valor  supposto  em  manirfacÈa: 

1784—  1 1 :  280, 3  3  8     libras     5:95  0,000    esterlinas, 

85  —    17:992.888    — 6:OGOjOÓCr 

86  —  19:151,867     '  6:500,000 
87 —  22:600,000— 7:500,000 

'Engenhos  estabelecidos    na  Grã  "Bretanha    (  17  S7  )    para 
as  Fabricas    de  Algodão, 

145  Engenhos  de  agua,  q^ue  eustSo  715^^000  Kb, 

ao,500  Engenhos   de  nião  ,    ou   Jennis  lunitaí;.-  < 

para  fiar  o  fechado,  para  torcer  o  fio  ^    "-   ' 
nos  engenhos  de  agua  (incluindo  édi- 

'ficios^  «  maquinas  auxilliatrices)  .  i  .  ■  i^ç,ooo 


Total 


líOôOjO©©  líb# 
Os 


Ôs  Engenhos  da  agua  trabalhão  com  2865000  fô* 
íos,  e  os  Jennis  1:665,100.  Total  dos  fusos  1:95 1,1  ocy^ 
Asseverou-se  que  hum  arrátel  de  Algodáo  em  rama  d© 
Demarára,  fiado,  dera  356  meadas,  ecada  meada  840 
jardas  :  e  assim  o  fio  chegou  ao  comprimento  de  169 
milhas. 

Avalia-se  o  total  das  pessoas  occupadas  em  Ingla- 
terra nas  manufacturas  de  Algodão  em  não  menos  que 
seis  centas  miL  Pelo  que  respeita  a  importância,  com 
tudo ,  os  productos ,  e  manufacturas  deste  grande  gé- 
nero a  lã^  para  este  Reino,  realmente  não  deve  exce- 
der a  huma  proporção  dupla  ,  conforme  a  informação 
de  hum  mui  sábio,  e  diligente  indagador;  pois  se  dãa 
ç>m  Inglaterra  doze  milhões  de  ovelhas.  O  valor  de  siTa 
lã  pôde,  hum  anno  por  outro,  subir  aí  5:000,000  lib.-; 
as  despezas  de  sUa  manafacuta  hc  |)rovavel mente  de 
9:000,000  lib.  ,  e  o  ^u  total  valor  12:000,000  lib.  ; 
©ra ,  relativamente  ao  numero  de  pesàoas ,-  que  sustenta 
€sta  manufactura  :  chegão  estas  cora  toda  a  probabili-' 
<dade  a  hum  milhão. 

Sementes  do  Alzoáao, 

Applica-se  na  Pharmacia  :  1.  Para  pacifícaF  a  tosse,- 
€  diminuir  a  difficuldade  da  respilração  por  causa  d© 
©leo :  2,  Por  Semão  Paulli  contra  as  dores  nephriticas : 
3..  O  seu  óleo  exprimido  cura  as  manchas-  da  cútis,  e 
faz  a  cara  luzidia  :  Os  Asiáticos  engordão^  com  ellas- os 
seus  porcos  porque  imitão  no  seu  gosto  as  landes  ,  e 
iKílotas.  Valeiuini  Histor.-  simpl.  pag.  24i.- 


(17) 


MEMORIA  II. 


SOBRE 


OKIA   11.  \ 

o     A  L  G  o  D  A  o\ 


(  Le  Comwerce  (TAwerique  jor  MarseVie.  Tora.^^^ 


D 


E  balde  se  tem  os  Etymologistas  esforçado  era 
curar  achar  nas  linguas  estranhas  alguma  palavra ,  que 
seja  a  raiz  da  palavra  Xylon  ,  com  a  qual  conhecemos  esta 
espécie  de  lã  ,  ou  de  frouxei  ,  que  chamamos  Algodãoe 
Menos  a  sua  penetração  foi  feHz  em  adevinhar  a  razão  , 
porque  o  nome  ,  que  lhe  damos ,  tem  tão  pouca  relação 
com  Xjjlon  que  ,  querendo-se  pensar  que  Xylon  venha  da 
palavra  Grega  Xdo  ,  que  significa  separar  ,  porque  se  se-» 
para  o  Algodão  da  planta  ,  e  que  Algodão  diz  ,  com  pouca 
differença,  o  mesmo  que  Cilo  ^  isto  com  tudo  tem  tan- 
ta propriedade,  como  teria  ,  o  deduzir  ecjints  da  pala- 
vra. Alphana. 

Todavia  o  Algodão  he  huma  planta  muito  com» 
mum ,  e  que  deve  ter  hum  nome  particular,  conforme 
os  paizes,  em  que  seus  moiadores  o  cultivão,  tendo 
sido  a  causa  da  sua  nomenclatura ,  ou  a  fantezia  ,  cu 
as  propriedades  ,  que  lhe  reconhecerão.  Embora  fosse 
qualquer  destas ,  os  Gregos  o  chamarão  Xulinon  ,  o  fru- 
cto  Xulon  ,  donde  os  Latinos  derivarão  XijUmim  ,  e  Xij- 
Jon  ,  e  algumas  vezes  Gossyplon  ,  e  ao  depois  Coionum. 
Deste  fizerão  os  Francezes  Coton, 

A  providencia  ,  que  tão  abundantemente  provem  a 
todas  as  necessidades  Áo  homem  espalhou  huma  maravi- 
lhosa variedade  em  todas  as  producçóes  da  terra,   que 
T.  r.  P.  í.  B  lhe 

í 


* ; 


lhe  servem  para  o  seu  sustento  ,  e  para  o  seu  vestuário. 
Huma  diversidade  infinita  na  forma  ,  na  côr ,  no  gosto  , 
assim  de  animaes ,  como  de  fructos ,  'hervas ,  o  obrioão 
por  attractivos  encantadores  a  metellos  em  uso  na  sua 
conservação,  e  reparação  de  forças,  Huma  semelhante 
variedade  nas  lãs,  pellos  de  animaes,  nas  suas  pelles, 
ná  casca  de  hum  grande  numero  de  plantas,  na  filatura 
de  certos  vermes,  e  nofrouxel,  ou  pluma  doscápulhos 
do  Algodão  faz  brilhar  os  progressos  da  sua  industria  pelas 
preparações,  misturas,  eá  contextura  de  todas  estas  dif- 
iierentes  matérias,  donde  procede  esta  multidão  sem  nu- 
mero de  pannos ,  de  teias  ,  de  estoffos  de  caças ,  que  ser. 
vem  de  lhe  occultar  a  sua  desnudez  ,  de  o  fazer  apparecer 
com  decência ,  de  conservar  o  asseio  ,  de  o  abrigar  das 
encommodidades  do  frio,  e  do  calor,  conforme  ao  cli- 
ma em  que  mora. 

A  mais  abundante  de  todas  as  matérias  ,  a  mais 
fácil  em  se  colher,  e  de  hum  trabalho  menos  penoso, 
íie  sem  dúvida  alguma  o  Algoaáo.  A  arvore  ,  ou  ar- 
busto,  cue  o  produz ,  nasce  sem  cultura  ,  e  se  acha  es- 
palhada quasi  por  todas  as  partes  do  universo  ;  porque 
á  excepção  das  zonas  glaciaes  ,  e  quasi  o  quarto  das 
zonas  temperadas,  onde  o  calor  lis  menos  sensivel ,  Se 
produz  em  toda  a  parte  sem  que  se  possa  assentar  iiò 
tempo  ,  em  que  a  sua  transplantação  se  conimunrcara 
de  hum  a  outro  paiz.  Os  Algodoeiros  são  communs 
fias  índias  Orientaes,  e  Occidentaes,  em  Levante,  nas 
Ilhas  do  JViaditerraneó  na  Apúlia  ,  na  Sicília  ,  e  nas 
Ilhas  Antilhas  ,  tic.    Donde  precisa  se  concluir :  Que  * 


inão  liberal  do  Greador,   á  vista  da 


.grande  u 


ti  lida- 


(19) 

de  i  oi  po2era  põr  toda  a  parte  ,  em  qíie  os  encontra- 
ítios  ;  e  que  a  sua  origem  em  todos  estes  lugares  he 
tão  antiga ,  como  o  mundo  ,-  qinda  que  talvez  seus  pri- 
meiros habitantes  hajão  dè  ter  ignorado  as  principaes 
propriedades  ,  as  quaes  as  experiências  posteribres  fizé- 
ião  conhecer  ,-  e  fizerão  empregar  tão  utilmente.  As 
descripções ,  dadas  pelos  viajeiros  ,  dô  Algodoeiro  são' 
tão  differentes  entre  si  ,  que  justamente  embâraçao  « 
decisão ,  da  que  entre  ellas  merece  sêr  preferida  ,  para  se 
poder  gozar  áo  seu  verdadeiro  conhecimento.  Todas' 
estas  contradicçóes  deixarão  de  pírrecer  taes  ,  e  não  o' 
serão  mais ,  huma  vez  qtíe  se  reflicta  que  se  dão  mui- 
ta^ espécies  de  Algodoeiros  ,  è  que  cada  espécie  varia 
Segundo  o  clima  >  e  qualidade  do  terreno  ^  que  o  pro- 
duz. He  pór  tanto  cousa  extraordina;fia  ,  que  hum  via- 
jèiro  nas  índias  nos  faça  a  descripção  do  Algodoeiro, 
que  nasce  nesta  parte  do  mundo  y  mui  différente  da 
qtie  nos  faria  outro  ,  que  viajasse  as  nossas  Ilhas  Anti- 
lhas ;  e  que  esta  ultima  tímbem  diffira  da  que  sé  farjsf 
nas  Ilhas  de  Malta,  Sicilra,  ou  das  qciè  a  nossa  curio- 
sidade cultiva  em  ois  nossos  jardins.  Logo  que  as  espé- 
cies forem  differentes  ,  sé  precisa  também  que  as  des- 
cripções entre  si  deíiião.  Reduzirei  a-  totalidade  das  es- 
pécies a  três  ,  ai  quaes  chamarei  gratide  ,  medíocre  j  ^ 
pequena. 

O  Algodoeiro  de'  espécie  grande  riásce  em  ambas 
és  índias y  Oriental,  e  Occidental.  A  sua  altura  de  or- 
dinário sobe  dá  quinze  a  vinte  pés.  Algunras  vezes  Sté 
'énconíráo  com  a  grpssura  dos  nossos  grande*  carvalhos, 

B  a  Os 


Os  ramos  .«ao  entrelaçados ,  e  as  folhas  são  recortaday 
em  treS  partes,  arredondadas,  mas  acabão  em  ponta.=; , 
quasi  como  as  de  Til  ,  .ou  Telha  ,  sem  com  tudo  se- 
rem avelludadas  ,  como  são  as  ultimas.  Os  capulhos 
maiores  ^  e  o  A]í!;odão  mais  grosseiro  ,  que  o  das  Anti- 
lhas. O  Algodão  levantino  se  aproxima  a  esta  espécie, 
e  he  unicamente  a  qualidade  ,  que  nos  importa  conhe- 
cer para  o  progresso  do  nosso  Commercio.  Não  nos  a- 
contece  o  mesmo  com  os  das  Antilhas  ;  nois  a  sua 
cultura  nos  he  própria  ,  e  por  tanto  nos  convém  ter 
hum  particular  conhecimento  da  sua  cultura. 

A  espécie  media  nasce  nas  Antilhas ,  e  faz  huma 
das  principaes  rendas  de  nossos  estabelecimentos  nestas 
Ilhas.  A  sua  altura  chega  a  dez  pés  ,  pouco  mais  ou 
menos  deixando-se  envelhecer,  o  que  rara  vez  aconte- 
ce, quando  se  cultiva;'  porque  se  está  na  persuasão  que 
o  páo  dá  tanto  mais  fructo  ,■  quanto  he  mais  novo ,  o 
que  he  cauw  de  se  cortar  o  arbusto  pelo  pé  de  dous , 
em  dous  annos.  O  seu  lenho  he  esbranquiçado,  mol- 
le  ,  e  esponjoso  ,  a  casca  he  delgada  ,  e  acinzentada , 
os  ramos  são  quasi  direitos,  carregados  de  folhas,  qu'e 
se  assemelhão  aos  das  nossas  vinhas,  tendo  do  mesmo 
três  divisões  ;  mas  mais  tenras,  e  menores  j  de  hum 
verde  gaio,  sendo  o  arbusto  novo.  As  flores  tem  cin- 
co folhas  obliquas  ,  e  amarellas  ,  riscadas  por  dentro 
de  fios  de  purpura.  O  calis  se  sustenta  em  cinco  fo- 
lhas verdes ,  duras  ,  e  pontudas.  O  pistillo  forma  hum 
botão  ,  que  se  termina  em  ponta,  e  fica  tão  grosso', 
como  hum  ovo   de  galinha.    Este  botão    he  verde    no 

seu 


C    21    > 

seu  principio ,  fica  trigueiro  crescendo ,  e  negro ,  quan- 
do maduro,  contem  esta  pluma,  ou  frouxel ,  que  cha- 
mamos Algodão.  ' 

O  terceiro  ,  ou  pequena  espécie  nasce  na  Ilha  de 
Malta  em  Sicília  ,  etc.  Ke  hum  arbusto  de  dous  até 
três  pés  de  alto  ,    cujo  lenho    se  veste  de  huma  casca 

^  avermelhada  ,  e  avelludada  ;  as  folhas  mui  parecidas  ás 
da  vinha  ,  mas  avelludádas ,  e  com  peciolos  compridos  , 
e  felpudos.  As  fíores  náo  differem  do  Algodoeiro  media- 
no,  senão  em  ter  a  cor  misturada  de  amarello,  e  pur» 
pura,  o  que  as  faz  mui  agradáveis.  O  fructo  se  forma, 
da  m.esma  maneira  ,  e  a  pluma,  que  veste  os  grãos  > 
quando  chega  a  madureza  ,  he  o  que  appelidamos  Algo- 
dão. As  sementes  não  são  maiores  que  ervilhas  ,  algum 
tanto  allongadas ,  e  ásperas  de  côr  branco  m.ate  ,  con- 
tendo cada  huma  huma  pequena  amêndoa  oleoginosa. 

Todas  as  outras  espécies  de  Algodoeiros  se  podem 
reduzir  a  estas  três  ,  exceptuando  a  cham.ada  Paineira  , 
que  he  huma  das  maiores  arvores  das  Ilhas  ,  que  tem 
a  sua  pluma  de  huma  côr  parda,  e  tão  curta,  que  as 
mais    sabias    fiadeiras    ainda    a    não    podei  ão    empregar 

I  neste  uso;  porque,  para  o  Algodão  deSiãq,  as.?im  cha- 
ínado  ,  por  terem  vindo  deste  as  sementes,  ainda  qu^ 
o  arbusto  ,  que  o  produz  ,  seja  menor  pela  ametade  ,  que 
o  das  Antilhas ,  assim  o  que  tem  o  gruo  negio  ,  ccmo  o 
que  o  tem  verde  ,  e  cujo  pelo  he  tão  íino  ,  e  tão  com» 
prido,  e  tão  doce  ao  tacto,  que  se  cultiva  em  as  nos= 
sas  Ilhas,  e  nasce  do  mesmo  modo,  como  o  que  rW-c-e- 
vemos    da  espécie  media.    Dão-se    de  duas  sortes  hum 

brao- 


("5 

branco ,  e  outro  vermelho ,  e  esta  he  a  única  qualida- 
de ,  que  coixio  a  do  Algodão  dà  paiiia  ,  que  não  he  bran- 
co. He  huma  espécie  particular  ;  porque  o  seu  grão,  em 
qualquer  paiz,  que  se  semee  o  ai}3Usto  ,  que  delle  nas- 
ce ,  produz  capulhos  ,  cuja  pluma  constantemente  he 
da  me^ma  còr. 

§.  II.    Cultura  do  Jl^edaeiro. 


Só  fallarei    da  espécie  media  ,    que  nasce  natural- 
mente em  nossas  Colónias,  e  cuja  cultura  interessa  aos 
nossos  Negociantes  ,  que  tem  ou  podem  estabelecer  fa- 
zendas na  America.  Necessita-se ,  querendo  plantar  hum 
Algodoal ,    semear  hum  pequeno  canteiro  ,    que   se  re- 
ja  ,    e  monda  cuidadosamente  até  que  as  mudas  ,    014 
novas  plantas  tenbao  quasi  meio  pé  de  altura;  porque, 
ainda    achando-se    hum  grande  numero    de  arvores    es-^ 
parsidas    pejo  campo  ,    que    podem    servir    para    huma 
plantação  ,    seria  sempre  defeituosa    pela  irregularidade 
dos  individuos  ,    e  pela  difficuidade    de  todas  se  enrai- 
garem  bem  igualmente.  He  muito  melhor  escolher  mu- 
das  do  mesmo  tempo,    que  hajão  de  crescer  com  uni- 
íormidade  ,  que,  agradando  aos  olhos  ,  dessem  colheitas 
abundantes.  Cs  gra.is  rebentáp  facilmente.  Eu  os  tenho 
semeado  em  Marselha  ,    e  dentro  de  dez  dias  germinp'- 
ráo ,  e ,  se  eu  tivesse  huma  exposição  boa  para  os  abri- 
gar do  frio  ,    seu  morta!  inimigo  ,    o  progresso  do  seu 
crescimento    me  instruiria  muito  n.elhor.    Também  se- 
meei «^lãos  do  Algodão  Levantino  em  terra  sem  abrigo, 


«  medrarão  felizmente  até  a  altura  de  pé  e  meio ,  mas 
sio  approximar-se  a  estação  do  Outono  ,  seccárão  as 
plantas.  Já  não  cuidava  mais  emensayar,  no  meu  jar- 
dim, a  cultura  do  Algodão,  quando  certo  amigo  meu 
me  mimoseou  com  algumas  sementes  do  Algodão  de 
Sião.  Estes  grãos  erão  negros ,  lusídios ,  e  mui  pareci- 
dos ás  sementes  da  pêra.  A  minha  curiosidade  me  im- 
pellio  ainda  a  fazer  esta  experiência.  Semeei-as  em  hum 
\'aso  para  poder  cuidar  delias  com  todo  o  melindre. 
Todos  os  grãos  abrolharão  ,  e  ,  tendo  as  plantas  três 
quartos  de  pi  de  altura,  as  transplantei,  cada  huma, 
em  seus  vasos  particulares.  Elias  s^  engrossarão  de  m.a- 
neira  ,  que  me  íizerão  crear  esperança  de  colher  o  fru- 
cto.  Em  menos  de  três  mezes  o  tronco  mais  grosso , 
que  hum  dedo  chegou  a  três  pés  de  altura.  Estaváo  as 
ílores  no  ponto  de  apparecerem  ;  mas  ,  esfriando-se  o 
tempo,  ainda  que  tivesse  mudado  estes  vasos  para  hu- 
ma estufa  posta  ao  meio  dia  ,  as  plantas  se  conserva- 
rão no  mesmo  estado ,  e  principiarão  a  deíinar>se  (em 
Janeiro  de  1765).  As  folhas  se  assemelhão  ás  do  fei- 
jão branco  ,  muito  maiores  ,  e  muito  mais  grossas. 

Resolvi-me  pelo  mez  de  Abril  a  pôr  estes  Al<^o* 
doeiros  em  teria  para  que  podessem  attrahir  huma  nu- 
trição mais  abundante  ,  e  produzir  o  seu  fructo  no  íim 
do  estio.  Effectivamente  engrossarão  ^  e  lançarão  ramos 
da  grossura  de  hum  dedo  ,  e  sôbírão  a  altura  de  qua- 
tro pês,  sem  com  tudo  dar  fructo  como  tinha  espera- 
do. Ainda  estão  com  vigor  no  mez  de  Novembro,  e 
©s  quero  fazer  cobrir    com  cuidado    a  fim   de  ver  ,    se 

el- 


C  24  ) 

«Iks  resistirão  ao  inverno  ,    e  se  em  1764,  satisfazena 
a  minha  curiosidade,  dando  fructo. 

Apenas  se  semear  no  canteiro ,  precisa  preparar-se 
a  terra  ,  em  que  se  pertendc  fazer  o  Algodoal ,  cavan- 
do-o  profundamente  ,  destorroando-o  ,  e  applainando 
muito  bem  o  terreno  ,  e  marcando  com  hum  cordel  , 
do  modo  que  ja  disse  se  fazia  para  o  Caçoai  ,  e  Cafc- 
sal ,  e  finalmente  fazendo  covas  em  distancia  de  outo 
pés  para  todos  os  lados  ,  observando  plantallos  em 
quinconce.  Estando  as  mudas  ainda  tenras ,  e  delicadas , 
?e  faz  preciso  regar  a  terra  no  dia  prece. lente  ,  ou  es- 
perar que  chova  ,  e  fazer  a  terra  bem  solta  ,  e  move- 
diça para  que  as  pequenas  raives  fiquem  bem  cobertas 
absolutamente  ,  sem  que  lhe  fique  algum  vão.  Logo 
que  a  planta  se  tiver  enraigado  ,  somente  se  precisa 
mondar  ,  e  não  cessar  de  o  alimpar  até  que  o  arbusto 
se  livre  de  ficar  affogado.  Esta  cultura  he  tão  vanta- 
josa ao  dono  ,  quanto  a  planta  não  requer  huma  terra 
fértil  ,  e  húmida  ,  e  que  ella  medra  muito  mais  per- 
feitamente em  hum  terreno  secco  ,  solto  ,  e  arenoso. 
Também  o  Algodão  he  ainda  melhor  ,  e  mais  fino  , 
quando  O  arbusto  não  he  regularmente  regado.  Não 
necessita  de  chuva  ,  senão  quando  se  planta  ,  ou  se 
corta.  Doutra  sorte  o  tempo  secco,  e  quente,  lhe.  he 
o  mais  favorável ,  o  que  he  hum  recurso  mui  lucrati- 
vo para  o  Fazendeiro  porque  por  este  meio  emprega  o 
bom  terreno  na  cultura  das  plantas ,  que  o  requerem , 
como  são  as  cannas ,  etc.  O  Algodoeiro  dá  cada  anno 
duas  colheitas,  que  rara  vez  falhão,  se,  as  chuvas  çor\- 


C  ^5  ) 

tinuando  ,  quando  os  capulhos  vão  ficando  de  vez  ,  ô 
não  embaraça.  A  primeira  colheita  ,  sendo  o  Algodoal 
novo  ,  sóir.ente  se  faz  no  oitavo  mez  ordinariamente , 
o  que  também  acontece ,  quando  se  cortao  os  Algodoei- 
ros. Por  que  precisa  saber  que  os  Insulanos ,  altamen- 
te capacitados ,  que  os  arbustos  velhos  dáo  máo  Algo- 
dão ,  e  em  pequena  quantidade  ,  não  deixão  de  cortar 
os  -arbustos  no  segundo  ,  ou  terceiro  anno  ,  quando 
tarde.    He  provável  que  este  methodo  se  funde 


muito 


os  ba- 


na experiência,  eaté  que  experiências  contrarias 
jão  de  desenganar,  se  fará  mal  o  censurallo.  Quando 
se  cortao  os  Algodoeiros  ,  se  d^ve  escolher  hum  tem- 
po chuvoso  pela  razão  que  dei  acima  ,  e  decotallos  so- 
mente a  meio  pé  de  altura  da  terra.  Deitao  hum  gran- 
de numero  de  renovos  ,  dos  quaes  se  devem  escolher 
cinco,  ou  seis  dos  melhores  ,  e  mais  vigorosos  ,  que 
se  deixão  crescer  ,  separando  os  outros.  Estes  renovos 
não  íardão  em  se  cobrir  de  flores  ,  e  dar  fructos  em 
abundância  ,  que  se  colhem  no  sétimo  ,  ou  oitavo  mez  , 
e  seis  mezes  ao  depois  fica  prompta  a  segunda  colhei- 
ta. Os  bot(5es  ,  os  fructos ,  ou  capulhos ,  como  os  qui- 
zerem  chamar  ,  são  verdes  no  principio,  ficão  pardos 
i  medida  que  avanção  a  sua  madureza  ,  e  ficão  total' 
mente  escuros ,  seccos ,  e  quebradiços  ,  quando  madu- 
ros. Então  o  calor  fazendo  fermentar  a  pluma  contida 
no  capulho  o  dilata  ,  e  o  abre  com  estallo.  He  hum 
divertimento  agradável  passear  por  hum  Algodoal  es- 
tando os  capulhos  maduros ,  pois  de  todos  os  lados  se 
puve  hum  pequeno  estalo  ,    que  repete  ,    e  dpbra    <ie 

tem- 


III 


(íS) 

tempos  em  tempos  conforme  a  dureza  da  peílicula,   e 
a  delatação  do  ar.    Logo  que    os  capulhos  entrão    a  a- 
brir,  sem  perda  de  tempo  se  faça  a  colheita.    Por  este 
motivo   se  correm    todas    as  fileiras    do  Algodoal    com 
hum  cesto  na  mão  ,   e  se  tirão  todos  os  capulhos  que 
tem  çignaes    de  maduros.    Ao  outro  dia    de  manhã   se 
continua  a  mesma  diligencia,  e  se  acaba  quando  a  co- 
lheita, que  dura  quinze  dias  mais,  ou  menos,  confor- 
me a  força  do  calor,    e  a  exposição  dos  friictos  ao  ar- 
dor do  Sol.  A  negligencia  nesta  colheita  he  prejudicial 
ao  dono,  ou  proprietário;  porque  os  capulhos ,  estando 
muito  maduros  ,    se  abrem  inteiramente,   e  a  pluma, 
ou  frouxel,    não  se  pegando  mais  pela  falta  da  seiba  , 
se  dilata  pela  elasticidade,  que  lhe  he  própria,    e  cahe 
cm  terra.    O  menor  vento    a  impelle    para  lugares  dis- 
tantes por  todos  os  lados  ,    e  frustra  as  esperanças    do 
Cultivador.    Quero  suppôr  que    hum  tempo  bonançoso 
consinta    que  ajunte    huma  parte.    Sempre   a  perda    he 
muito  grande,  pelo  trabalho  extraordinário  ,  que  requer 
esta  operação  ,  e  pela  má  qualidade  do  Algodão  que  fica 
sujo  ,    misturado  com  corpos  estranhos  :    o  que   o  faz 
descahir   de  preço  ,   não    podendo   sçr  empregado   nos 
usos  ordinários. 

Observão  os  nossos  Negociantes  que  o  Algodão  de 
Guadalupe  he  de  huma  grande  belleza  ;  que  o  de  Ca- 
yenna  também  he  muito  bom.  Quanto  augmento  não 
teriamos  neste  Commercio  ,  se  soubéssemos  tirar  m>e- 
Ihor  proveito  das  vastas  terras  de  Cayenna  ,  do  que  o 
<5ue  tiramos,    multiplicando  os  Algodoaes,  que  nascem 

tam- 


C   27    ) 

tamfcem  ,    e  que  nSo  jequerem  cuidado  algum   quasi, 
^  que  SC  cultiva  com  tanta  facilidade  ? 

§.  III.     Vse  do  Algodão, 

Não  ha  alguém  que  deixe  de  sabçr  quio  útil  seja  q 
Algodão  para  alliviar  as  necessidades  do  homem ,  e  cora 
iquantos  pannos  preciosos  faz  admirar  a  industriosa  saga- 
cidade dos  índios.  O  Algodão  em  lã,  ainda  que  menos 
elástico  que  a  lã  serve  para  fazer  bons  colchões ,  para  for* 
rar  os  vestidos  ,    as  cobertas  que  abriguem  do  frio,  © 
procurar  ao  corpo  hum  brando  calor  ;    mas ,  fiando-se  , 
(]uantas    variedades    prodigiosas    não    resultão    das  sua^ 
obras.    Do  íio  grosseiro    do    Algodão    se  fazem    meias, 
barretes ,  velas  de  navio  ,  etc.  ;  e  do  Algodão  fiado  fino 
fustóes ,  caças ,  e  mosselinas  ,  etc. ,  e  mistwado  com  a 
seda  o  fio  ou  a  lã  tantos  estoffos  quantos  o  gosto,  e  a 
fantasia  de  todas  as  nações  podem  desejar,  todas  uteis , 
e  de  hurna  grande  beilcza  de  sorte  que  seria  difficil  de« 
cidir  qual  fosse  aquella  em  que  ou  a  necessidade  ,    ou 
a  vaidade  do  homem  acha  mais  em  conta.    Parece  que 
entre   tantas  obras  differentes    a  que  sem  dúvida    deve 
estimular    mais    a  nossa  curiosidade    he  o  trabalho    das 
caças,  ou  mussehnas,  das  quaes  aljumas  são  tão  finas  , 
e  tão  bellas  ,    e  algumas    vezes  bordadas  sobre    o  tear 
com  tanta  perfeição  ,    que    por  muito  tempo  julgamos 
que  já  mais  a  industria  Europea  chegaria    a  imitar  este 
trabalho.    Kuma  experiência  feliz    nos  (^uroa  deste  pre- 
juízo ,   em  qu^  estavamof ,  de  que  só  a^  mãos  índia* 

nas 


C  ^s  ) 

nas  erâo  capazes  de  fazer  obras  tão  delicadas,  mas  que 
ht  o  que  ha,  a  que  nSo  possa  chegar  o  génio  Francez  ; 
soccorrido  da  applic.çao,  e  da  paciência^!  Não  ha  cou- 
sa que  lhe  seja  inipossivel.    Deveríamos  neste  lugar  te- 
cer   o  elogio  dos  illustres  patriotas  que  ousarão  ''tentar 
taes^ estabelecimentos  ,    e  que,  lisonjeando  o  gosto  da 
nação,  impedem  a  sahida  das  riquezas  immensas,     ne- 
cessárias á  compra  das  caças  estrangeiras.  Vosso  nome , 
illustre  Jore,    passará  para  a  posteridade  mais   remota, 
e  será  eternamente    pronunciado  com  alegria  ,    e  reco- 
nhecimento ;  porque  os  nossos  vindouros ,  assim  como 
nós  agora  ,   ao  depois  gozaráó    dos  fructos    dos  vossos 
exames.  Vós  consagrastes  os  vossos  talentos  vosso  tem- 
po, e  a  vossa  fortuna  a  aperfeiçoar  a  íilatura  do  Algo- 
dão,  e  as  mosselinas  mais  bellas  foiao  o  fructo  ,    e  o 
galardão  dos  vossos  generosos  trabalhos.   Vossos  benefí- 
cios se  estenderão  até  ao  novo  mundo,  pelo  valor  que 
destes    á  cultura    do  Algodão  de  nossas  Colónias  ,    do 
qual  mostrastes  a  preferencia  que  devia   ter  sobre  o  Al- 
gcdâo  da  índia,  e  de  Levante.    Çuamas  mãos  não  es- 
tilo hoje  occupadas  ,,  que  se  enUaquecerião    na    ociosi- 
dade, e  quanto  soccorro  não  tendes  procurado  para  hu- 
iTia  multidão  de  familias  ,  que  concorrendo  para  o  bem 
do  estado    encontrão    huma    honesta   subsistência.    Vós 
sojs  superior  aos  Conquistadores  ,    estes  livião  a   ruina 
o  destroço,  a  desolução  a  todas  as  partos  para  immor- 
talizar  os  seus  nomes  ;    e  vós  ,    occupando  aos  vossos 
patriotas    os  encheis  de  alegria  ,    e  de  satisfação.    Vós 
não  sois   o  único  que  mereceis  o  meu  reconhecimento, 


e  gratidão.  Eu  quereria  nomear  agora  a  toáos ,  qiíe  co^ 
mo  vós ,  fizerão  semelhantes  serviços  á  Pátria ,  e  ainda 
que  a  minha  fraca  voz  não  possa  realçar  o  seu  louvor  , 
nem  acrescentar  cousa  alguma  ásua  fama  illustre ,  ella 
será'  á  posteridade  hum  testemunho  da  minha  sincera 
paixão  por  todos  aquelles  ,  que  trabalhão  para  como- 
lar  os  pobres ,  e  de  meu  zelo  pelo  bem  público ,  maS 
os  limites ,  que  me  prescrevi  nesta  obra  me  impedem 
de  seguir  os  movimentos  de  meu  coração.  Volto  ào 
liso  do  Algodão  ,  cujo  emprego  começa  a  estender-se 
muito  por  todo  este  reino  pelo  grande  numero  de  ma- 
nufacturas de  caças  5  lenços,  e  outros  pannos,  que  se 
estabelecem  ,  e  que  pelos  favores  ,  e  protecção  que  o 
governo  lhes  concede  ,  se  porá  França  no  estado  de 
não  necessitar  do  Estrangeiro  para  o  abastecimento  deste 
género. 

Temos  em  Marselha  o  Hospital  da  Caridade ,  onde 
quasi  outo  centas  pessoas  se  susfcentão  ,  e  vestem  ,  c 
dos  quaes  mais  de  quinhentos  são  de  dez  até  vinte  an- 
nos  de  idade.  O  local  he  vasto  ,  e  comm.odo ,  e  onde 
se  poderia  muito  bem  estabelecer  huma  fabrica  de  fila- 
tura  do  Algodão.  He  extraordinário  que  tantos  Autha- 
res  illuminados ,  todos  filhos  do  Commercio  não  tenhão 
ainda  cmprehendido  hum  tal  estabelecimento  que  pros« 
peraria  5  sendo  dirigido  segundo  a  sua  precisão* 

Antes  de  se  empregar  o  Algodão    em  caças  ,   ou 

outros    pannos    tem  muitos    preliminares  ,   de    que    se 

deve  fallar  indispensavelmente.  o 

Todos  os  capulhos  colhidos  j  e  á  eoliíeita  acabada 


(  50) 

«  primeira  òperírçlo ,  que  se  tem  a  fazer  ,  consiste  em' 
separar  o  Algodão  das  suas  cobertas ,  observando  por  á 
parte  todos  oscapulhos,  ou  fructos  que  não  estiverem 
abertos,  ou  que  estiverem  ariuinados,  para  os  escolher 
cm  particular  ,  e  não  misturar  os  que  esti\'er€m  defei- 
tuosos com  o  bom  que  perderia  por  isto  muita  parte 
do  seu  preço.  O  trabalho  acabado  precisa  começa Ilot 
alimpando  o  Algodão  ,  ou  segundo  a  frase  das  lihas: 
pelo  descaroçar,  tirando-lhe  as  sementes,  que  á  pluma 
-encobre  ,  e  as  quaes  se  adhere  pela  sua  raiz  ;  porque; 
farece  que  só  he  formado  para  a  sua  conservação  ,  q- 
fará  as  ajudar  a  crescer  ,  eommunicando-lhe  seu  calor 
^oce  j  ou  talvez  a  volteallos  por  todos  os  lados  de  sor- 
te que  cahindo  em  qualquer  terreno  >  que  lhe  seja  pró- 
prio possão  reproduzir-se  com  maior  facilidade.  Seria 
perder  o  seu  tempo ,  e  o  seu  trabalho  querer  por  hum 
trabalho  mais  assiduo  tirar  as  sementes  cõm  os  dedos  y 
c  desembaraçallas  da  sua  pluma.  Este  trabalho  seria 
muito  dilatada,  e  muito  dispendioso,-  e  se  a  invenção' 
dos  engenhos  de  mão ,  ou  escaroçadores  não  tivesse  a- 
breviado  esta  operação ,  as  caças ,  e  Outros  pannos  não' 
«erião  tão  communs ,  e  seriao  mais  caras ,  e  por  hum* 
fiecessaria  consequência  pouco  proveitosas  ao  povo  miu- 
-do  j.  que  faz  o  seu  maior  consummo. 

Não  pertendo  failar  destas  caÇas  maravilhosaS^y 
roja  delicadeza  parece  transcender  a  industria  humana. 
Usa-se  na  índia  alimpar  o  grão  cam  os  dedos  ,  é  de 
•rrànjar  os  fios  do  Algodão  para  os  poder  fiar  na  pro- 
fjorção  f  e  igualdade  necessária  a^  taes  obras* 

Na- 


Nada  ha  tifo  simples  como  o  mechanismo  destes 
engenhos.  Dois  rollos  canélJados  ,  postos  horizontal- 
mente ,  que  girão  ,  ou  voUão  em  sentidos  eontrarioá' 
por  meio  de  duas  rodas  ^  postas  em  movimento  por/ 
cordas,  que  as  rodèiâo  do  mesmo  modo,  que  pratícão 
torneiris ,  e  fiadores  de  roda ,  de  sorte  qué  ò  obreiro , 
estando  assentado  possa  com  o  pé  communicar  o  mo«» 
vimento  no  tempo  mesmo  que  com  as  mãos  apresenta 
o  Algodão  aos  rolos,  que  o  attrahem  ,  agarrao,  levão 
comsigo ,  e  o  deixão  cahir  nos  saccos ,  pegados  aos  la- 
dos oppostos ,  debaixo  de  caixilhos ,  estando  desemba- 
raçados dos  grãos ,  que  não  pôde  deixar  de  ser  assim  ^ 
porque  o  espaço  que  está  entre  os  rolos  he  menor 
que  a  grossura  dos  ditos  grãos,  que  cahem  por  terra, 
deixando  passar  a  pluma,  em  que  estavão  envolvidos. 
Estes  engenhos  custáo  muito  pouco ,  e  ocçupão  peque- 
no espaço.  Todas  as  peças  sãò  feitas  de  madeira  da 
America  ,  cuja  duração  ninguém  ignora.  Prefere-se  ao 
ferro  por  amor  de  que  a  ferrugem,  que  contralíe  im- 
primiria m.anchas ,  ou  nódoas  ,  que  se  tidíO  poderião  a*> 
pagar  no  Algodão  ,  o  que  lhe  abateria  o  seu  valor,  Ca« 
da  obreiro  pode  alimpar,  ou  moer  sessenta  arráteis  por 
dia.  Os  grãos  que  cahem  em  terra  diante  dos  trabalha- 
dores se  ajuntão  em  hum  carito  da  casa  para  se  servi- 
rem delle  ,  conforme  direi  ,  quando  houver  de  falíar 
acerca  das  propriedades  do  Algodão, 

*  Acabada  esta  operação,  se  procura  ensaccar  ô  Al- 
godão ,  e  as  seguintes  são  as  precauções  ,  que  se  to- 
mão  ,  para  se  chegar  á  causa  -da  fineza  ,    jigeireza  ,   e 

elas- 


elasticidade  da  matéria  ,  que  he  difficil  de  comprimir 
para  o  reduzir  a  hum  volume  pequeno.  FalJo  unica- 
mente do  que  se  pratica  em  nossas  Ilhas ,  onde  as  sac- 
cas  de  Algodão  contém  quasi  trezentos  arráteis ,  mais , 
ou  menos  ,  segundo  que  o  operário  determina  calcar ; 
porque  em  Levante,  e  em  Malta,  as  saccas  tem  quasi 
o  dobro,  o  que  facilita  o  ensaccamento  ,  e  poupa  a 
despeza  do  panno.  Começa-se,  molhando  o  interior  do 
sacco  ,  cujo  comprimento  he  de  três  varas ,  com  huma 
largura  proporcionada  ;  esta  humidade  prende  ,  e  colla 
ao  panno  a  pluma  que  sem  esta  precauçíío  cresceria  á 
medida  que  se  opprimisse  :  -enche-ss  o  sacco  que  se 
suspende  ,  prezo  em  moutóes  ,  fixos  no  forro  para  le-r 
vantar  ,  e  abaixar  a  discripção  da  necessidade.  Hum 
trabalhador  entra  dentro,  levando  com  sigo  hum  soque- 
te ,  e  tenazes ,  piza  com  os  pés  o  Algodão ,  calca  com 
o  soquete  ,  e  o  arranja  com  as  ditas  tenazes  ,  conti« 
nuando  desta  sorte  até  o  mais  alto  do  sacco  ,  pezando  o 
Algodão  que  outros  obreiros  lhe  administrão  ,  e  agar- 
rando-se  com  as  mãos  nas  cordas ,  que  segurão  o  sacco 
suspendido.  Para  facilitar  este  trabalho ,  se  molha  exte- 
riormente o  sacco  por  intervallos  ;  e  estando  totalmen* 
te  cheio  ,  se  abaixa  por  meio  dos  moutóes,  e  se  lhe 
coze  a  bocca  com  barbante  forte,  A  molhadura  do  pan- 
no ,  que  se  julgou  precisa  a  esta  operação,  chegando  a 
hum  ponto  de  abuso  pela  fraude  ,  deo  occasião  ,  a  que 
houvesse  hum  Acórdão  do  Conselho,  que  exporei  quan- 
do tratar  do  Commercio  do  Algodão.  Os  saccos  cheios 
deste  feitio  se  envião  para  o  Reino,  e  ainda  chamamos 

Al- 


( 14  y 

'Ãfgõáão  êm  rama  (em  la  )  para  o  distinguia  dò  AÍgodad 
fem  pedra  j  ou  em  caroços ,  e  do  fiado.  Nãõ  rècebemoár 
©utra  qualidade  das  nossas  Ilhas;  porque  a  filatura  hé 
muito  cara  em  nossas  Colónias  por  falta  de  população  ^ 
ç  o  Algodão  em  pedra  não  hé  mais  qUé  o  Algodãd 
misturado  com  à  sua  semente ,  tal  qual  se  tira  dos  ca- 
pulhos  ^  õ  qUal  não  obteve  favor  algum  érh  França 
talvez  pela  quebra ,  que  deveria  ter ,  sendo  limpo ,  co-* 
mo  que  o  baixo  preço  não  houvesse  de  compensar  es^ 
ta  falta.  Mas  o  Estado  talvez  interessaria  mais  tirar  ó 
Algodão  em  pedra  dó  qué  ém  íã  pôr  três  razoes ,  e  to- 
das  três  essenciaes.  Primeira  :  Os  habitantes  dás  Ilha^ 
se  não  distrahirião  da  cultura  dáfs  tetras  por  íiuma  oc- 
cupação  que  lhe  não  diz  respeito  algum  ^  e  que  talvez' 
impediria  que  não  hajao  novas  derrubadas  ,  ou  rossas. 
Segunda  :  Limpando-se  em  França  o  Algódlo  em  pe»»' 
dra  forneceria  hum  trabalho  honesto  à  huma  muítipli- 
cidade  de  famílias  pobres  y  e  talvez  que  este  primeiroí 
trabalho  fosse  hum  incentivo  para  fazer  passar  a  mui- 
tos obreiros  para  oUtfas  operações  mais  difficeis,  ficari» 
ó  proveito  no  reino  ,  e  eontri buiria  as  déspézas  do  Es- 
tado. Terceira  :  O  Algodão  em  pedra ,  sendo  máisi,  vo- 
lumosa que  o  dela  òccuparia  mais  navios  para  o  trans* 
porte  ,  objecto  que  se  não  deve  perder  de  vista ,  que« 
rendo-sé  atigmentar  a  nossa  marinha.  Inglaterra,  pbstè 
^ue  nossa  inimiga ,  (  permitta-se-me  esta  expressão  por« 
quQ  ainda  que  a  paz  nos  tenha"  reconciliado' ,  seibprê  te^' 
iemos  hum  ciúme  mutuo  em  razão  ào  cómrhercio-j' 
Que  requer  esta  graça)  merece  ser  ijtiHadà  oestç  ponto/ 


<34) 

Conviria  melkor  fazer  vir  das  Colónias  o  Algod^í^ 
nos   capulhos  alem  das  razoes  dadas  acima  de  fortificas 
a  nossa  navegação ,    de  augmentar  o  numero  dos  nos^ 
SOS  navios ,    de  favorecer  a  nossa  industria  ,  mas  tam- 
bém para  podermos  conseguir  a  factura  das  caças,    fa> 
zendo-as  tão  finas ,    como  as  que  nos  trazem  da  índia. 
Pois  os  índios  que    as  fazem  ,    cuja  fineza    nos  parece 
inimitável ,  não  praticao  o  methodo  de  alimpar  as  suas 
.  sementes    por  meio  de  algum  instrumento  ,    que    lhes 
resuma  o  trabalho.    Tem  a  paciência   de  abrir  os  capu-t 
lhos  á  mão  ,    procurando  não  desarranjar  os  filamentos 
da  pluma  que  deixão  em  suas  direcções  naturaes.  Com 
esta  direcção,  o  fio ,  que  delles  se  forma,  tem  consis- 
tência, he  unido  igualmente,  e  he  de  huma  fineza  ex- 
trema,  que  não  seria  possivel,    se  os  pellos   da  pluma 
se  tivessem  embrulhado,  e  misturado  huns  com  outros 
pela  acção  do  escaroçador.  O  que  digo  se  patentea  fa-^ 
cilmente  á  vista  dos  exemplos  da  tiradura  de  nossas  se- 
das, e  da  filatura  dos  linhos.   Quando  se  tira  a  seda  se 
toma  o  numero  de  fios,  que  se  julga  conveniente  para 
dar  mais,  ou  menos  força  á  seda,  que  se  propõem  fa- 
eer  ;    e  do  mesmo  modo,    quando  se  fia  o  linho  ,    se 
ajuntão  dous,    ou  três  fios  pelo  seu  comprimento  por- 
que se  os  casullos,    e  o  linho  se  reduzissem   em  esto- 
pa,  todos  sabem,  quanto  c  fio  seria  grosseiro.  He  ver- 
dade que,    pelo  que  toca  ao  Algodão  ,    para  se  reme- 
diar  ornai,  que  o  escaroçador  tem  causado ,  se  emprega 
utilmente  o  pente  para  endireitar  os  pellos  ,    e  reesta. 
Nlecellos  no  seu  primeiro  esudo  ,  jnas,  como  se^ecis;^. 


í  jí  5 

íiièceèsaíiamente  servir-se  de  cardas  ^  a  pèzár  de  qualquer 
destreza,  e  habilidade ,  que  tenhão  os  obreiros  paranãd 
quebrarem  os  filamentos ,  de  os  dobrar  ^  de  os  àmolgar 
por  movimentos  falSos  ,  este  mâl  só  se  reriíedea  pela 
.ametade ,  e  o  fio  que  pro\^em  do  Algodão  penteado  he 


fiuperfinas  ^  è  ainda  que  a  palavra  raosselina  não  co- 
nheça outra  origem  j  mas  que  este  musgo,  ou  cotão, 
que  apparcce  sobre  as  teas  de  Algodão  ,  âs  bellas  ca- 
ças ,  ou  mosseiinas  não  devem  ter  este  defeito  :  e  assira 
para  o  seu  bom  êxito  se  toma  a  precau,tão  deeâcolhee 
õ  Algodão  penteado ,  qUe  pareça  ser  menos  misturado  ^ 
em  péquenosi  Hocos  ,  grossos ,  como  huma  meeha  de  es*» 
éender  os  filamentos  em  toda  a  sua  longitiíde  para  per- 
derem a  curvatura  adquirida  pelo  aperto  dó  ênsacca* 
inento ,  é  que  a  carda  inteiramente  não  pôde  reparar/ 
se  torce  estes  flocos  pequefios  em  toda  a  súa  longitude 
tom  os  dedoá,  como  se  se  quizesse  fazer  huma'  torcida 
de  candeia.  Destorcendo-os  se  vê  que  os  filamentos  sè 
álongáo,  e  qtie  tomão  o  lustre  da  seda.  Repetindo  ^ 
inesma  operação  ao  depois  de  ter  hum  pouco  desfiada 
os  flocÔcs  se  farão  ainda  melhores.  Os  flocôes  preparai 
dos  deste  modo  sé  pòem  nas  rocas  ^  qúe  nfo  devent 
ser  muito  cheias,  O  resto  pertence  á  destreza  das  fian- 
deiras para  terem  ó  fio  de  huma  extraordinária  delica- 
áezsi  i^mlmèútQ  unido ,  e  forte»  Nlo  entro  ria  indivi- 
duação do  emprego  ^  que  as  fiandeiras  fazem  dâ  roda. 
A  prática  de  hum  bom  condúctor  as  ensinará  melhor  g,-^^ 
q^^  as  Memorias    majs  bem  discorridas,   ^QJ^-m^   cortí 


1>M 


tudo  licito  fazer  conhecer  ao  público  as  vantagens  qoe 
a  íilatura  superíina  procurara  (não  sei  quantas)  a  mui- 
tas pessoas  5  que  houverem  de  se  empregar  em  hum 
tal  trabalho  ,  e  que  muitas  vezes  são  de  hum  tal  nas- 
cimento que  não  podem  (talvez  que  por  hum  pejo 
falso  ,  mas  geralmente  estabelecido)  submetter-se  a  ou- 
tros trabalhos.  He  verdade  que  todas  estas  operações 
são  compridas ,  custosas ,  e  não  satisfazem  aos  olhos  ; 
pois  que  ,  em  huma  semana  ,  huma  fiandeira  apenas  po- 
derá aperfeiçoar  meio  arrátel  de  bom  fio  ,  o  que  ao 
•principio  parece  hum  tempo  perdido  ,  ou  pago  por  hum 
preço  mui  caro.  Não  julgo  cousa  alguma  destas  ,  antes 
•pelo  contrario  ,  julgo  que  isto  he  muito  util  ao  esta- 
do ,  porque  occupa  hum  maior  numero  ce  indivíduos  , 
e  que  ,  proporcionalmente  a  filatura  do  Algodão  para 
pannos  communs  ou  grosseiros  ,  dá  hum  maior  interes- 
se ,  e  proveito.  Como  seja  cousa  que  se  pode  mostrar 
pelo  calculo,  a  prova  não  he  diffícil.  Supponho,  por 
tanto  ,  que  huma  fiandeira  destra  somente  possa  em  hu- 
ma semana  fiar  meio  arrátel  deste  fio  excellente  ,  no 
anno  virá  a  fiar  vinte  e  seis  arráteis.  Beduzo  este  a 
vinte  e  cinco  da  primeira  matéria  ,  cujo  preço  será  trinta 
soldos  ao  arrátel ,  trinta  e  sete  libras  dez  soldos.  Tam- 
bém supponho  que  a  fiandeira  ganhxi  vinte  soldos  por 
dia  ,  e  os  vinte  e  cinco  arráteis  custarão  trezentas  li- 
bras, Eis-aqui jjy   Ijb.   lo  So 

Quero  dar  para  qiuebras  sobre  o  Algodão       4  lib.   10  s. 


342   lib. 


Som* 


<:í7  5 

Somma  total  J42  libras  (  54,720  rs.).  O  que  faz 
chegar  0  Algodão  a  treze  libras  treze  sôldos  sete  di- 
íiheiros  ,  pezando  a  libra  hum  marco.  Bem  longe  de 
ine  assustar  deste  preço  ^  quero  conceder-lhe  o  duplo  , 
e  que  o  Algodão  fiado  no  ponto  de  perfeição  ,  que  se 
requer  ,  haja  de  custar  vinte  e  sete  libras  sete  soldos 
dous  dinheiros  a  libra  de  pezo.  Julgo  que  a  minha  pro- 
posição agradará  aos  mais  incrédulos  ,  qiie  duvidarão  do 
modo  com  que  poderei  provar  a  utilidade  de  huma  fi- 
latura  tão  dispendiosa.  Para  isto  se  não  precisão  dilata- 
dos discursos.  Hum  arratçl  deste  fio  superfino  basta  pa- 
ra fazer  huma  peça  de  caça  de  dezaseis  varas,  cu  dez 
pares  de  meias.  O  operário  em  caça,  ganhando  cento 
e  vinte  libras  por  cada  peça ,  ou  sete  libras  dez  soldos 
por  vara  fica  muito  bem  pago  ,  e  o  fabricante  de  meias  ,^ 
ganhando  dez  libras  por  cada  par ,  terá  conseguido  tudo; 
quanto  deseja ;  isto  he  cera  libras  pelos  dez  pares» 


EB- 


IIECAPITULAÇaO; 
Vcspeza  para  caça. 

Total  do  valor  do  Algodão,  e 

filatura   por  25  arráteis    ...        ^84  lib.      109,440 
pespega  do  feitio  da  caça  a  120 

iJb.   jp;2oa  por  arrátel  .  .  .     3,000  lib.      360,000 


Çomma  .  .  ;     3j,684 
Ganho. 


469,440 


Julgo  que  convirão  comigo ,  que  não  somente  pin- 
guei ,  mas  que  também  recompensei  aos  obreiros ,  com 
tudo- o  lucro  ainda  he  immenso.  A  vara  de  huma  s€^ 
melhante  caça  valerá,  pelo  menos,  20  lib.  3,200.  Os 
^$  arráteis  darão  25  peças  de  16  varas  cada  humaj, 
çue  yem  a  ser  por  tudo  490  varas. 

for  400  varas  a  20  lib.  5,200     S,ooo  lib.   i:28o,ooòt 
Pçspez^s  do  trabalho 55684  lib.      589,440 


pifferença,  e  ganho  .     4^1 16  libo      6903560 


m 


Ibespeza  para  mela fi 

Acima  se  vio  a  despeza ,  e  ganho  nas  caças.  Ago- 
ra se  verá  o  mesmo  para  meias,  se  bem  O  ganho  nãor 
será  tanto. 


6Z4  li^. 


pm  o  valor  do  Algodão,  e  da 
sua  filatura .  .  . 

O  arrátel  deve  fazer  dez  pares 
de  meias,  que,  a  dez  libras 
ao  par,  faz  a  somma  de  loo 
libras  por  cada  arrátel  de  Al- 

.    godão,  e  pelos  35  arráteis    . 

Ganho  .  .  . 


O  valor   de  cada    par   de  meias 

será  ,    pelo  menos  ,    40  lib. 

6,400 ,  e  por  consequência  o 

arrátel    de  Algodão    4C0  lib. 

64,000  ,   e   os   vinte    cinco 

arráteis 10,000  lib.   i:6o0,ooo> 

Paga   a  despeza 5>i84  lib.      509,449 

Fica  aos  donos  da  fabrica  de  lucro     6, 8 1 6  lib.   i  :09o,  $  6* 


M>   I 


Í40 

gç  de  se  ter  excedido  nos  rendimentos ,  pelo  contiarío, 
se  diminuirão  muito  ,  e  se  dobrou  á  despeza.  Suppuz 
que  a  caça  da  primeira  qualidade  só  se  venderia  por 
4p  lib.  a  vara ,  e  he  hum  facto  que  ella  vale  30  lib.  ; 
ç  que  o  par  de  meias  só  valia  40  lib.  ,  entre  tanto 
vendem-se  por  80  lib.  Ainda  farei  mais.  Quero  suppor 
que  a  caça  não  se  venderia  senão  pelos  três  quartos  do 
?eu  valor  15  lib.  a  vara,  e  o  par  de  meias,  ametade, 
9^  preço  de  2,0  lib,,  ,  a  pezar  desta  prodigiosa  diminui- 
ção do  ganho  ,  e  este  augmento  na  despeza  resultará 
?iinda  hum  grande  rendipiento. 

ps  25  arráteis   de  Algodão   empregados   era 

caças  darão  hum  ganho  de 2J16  lib. 

pmpregsdas  em  meias 1816  lib. 


Em  5  arráteis  de  Algodão 


4132  %* 


Ôl]^ 


MEMORIA     IL      ' 

S  o  B  R  E  o  A  L  G  o  D  À  o. 

By  Lelong. 
Çrhe  Mlstort/  of  Jamaica,  Cotton.  Vol.  III.  pag.  6S6.> 

Cossj/piwn  í€7jjinihi(s  maioribus  "Brasilianum. 


%^  Eguramente  este  arbusto  foi  trazido  do  Sul  da  Ame- 
rica para  esta  Ilha  por  seus  antigos  habitantes,  Propa- 
ga-se  por  sementes  ,  que  se  plantão  em  distancia  para 
iodos  os  lados  de  quasi  cinco  pés  em  os  últimos  dias 
de  Setembro  ,  e  princípios  de  Outubro  ,  no  principio 
porém  levemente  coberto.  Ao  depois  de  brotar,  e  fa- 
2er-se  huma  planta ,  a  raiz  se  enterra  bem.  As  semen- 
tes correm  o  risco  de  apodrecerem ,  se  forem  muito  en- 
terradas, ou  as  covas  profundas  ,  particularmente  em 
tempo  húmido.  Requer  huma  terra  que  tenha  tanta 
profundidade ,  quanta  a  sua  raiz  principal  ,  e  que  não 
seja  rija.  Amiudadas  vezes  se  cava  íi  terra,  e  se  mon- 
da as  novas  plantas  das  más  hervas ,  até  que  consigão 
huma  mediana  altura ;  pois,  não  se  fazendo  isto  ficão 
sujeitas  a  serem  destroçadas  pelas  lagartas.  Sobe  em  ai- 
Cura  de  quatro  a  cinco  pés  ,  e  annualmente  dão  duas 
colheitas ;  a  primeira  outo  mezes  passados  ao  depois  da 
sua  semeadura  j  a  segunda  entrç  quatro  mezes  ao  de- 
pois 


i^i 


èfV} 


pois  da  primeira  :   avalia-se  o  rendimento  tm  Algcdía 
de  cada  arbusto  em  hum  arrátel.  Os  fazendeiros  situa- 
dos ao  Sul   de  Jamaica  geralmente  cultivao    cm  Maio, 
,e  o  colhem  no  Janeiro  seguinte  ;   mas,  havendo  chul 

,,,vas  em  Janeiro,  e Abril,  o  que  pela  maior  parte  acon- 

.,  tece  ,  a  segunda  colheita  rara  vez  he  grande  cousa  ;  e 
por  este  motivo  parece  que  o  mez  de  Setembro  he  o 
mais  próprio  para  se  pôr  na  terra  a  semente,  visto  ha- 
verem chuvas  certas  em  Outubro  em  ordem  a  favore- 
cerem  a  sua  vegetação  ;  e,  sendo  colhido  em  Maio, 
as  grandes  chuvas  de  Maio ,  que  provavelmente  podem 
haver  nas  seguintes  semanas ,  promettem  com  seguran. 
,ça  huma  segunda  colheita  soffrivel.  PJantão-se  as  se- 
mentes  em  hnhas  regulares ,  como.^  nas  distancias ,  que 
acima  se  disse  ,  para  que  os  ramos  se  possão  estender  á 
sua  vontade  ,  que ,  a  pezar  disto ,  náo  poucas  vezes  se 
decepão,  ou  decotão,  sendo  o  terreno  tão  fértil  ,  que 
p  facão  vegetar  sobre  maneira  ;  e  do  mesmo  modo  se 
tosqueáo,  ou  decqíao  constantemente  passada  a  primei. 
ra  colheita.  Quando  as  ma(;ãs  amadurecem  se  abrem  , 
c  despregão  'as  suas  sementes  misturadas  com  os  flo* 
cos  do  Algodão.  Abrindo-se  deste  feitio  a  maior  parta 
das  sobreditas  maçãs  ,  se  dá  principio  c4  colheita  ,  ti* 
ra-se  o  Algodão  ,  oy  lã  ,  limpando-se  esta  ao  depois 
.^??9^,"^, sementes    por  meio    de  huma  maquina   conve* 

:  iffi^^^'»^.*  de  mui  simplez  compozição,,  construída  de 

dous  ou  três  pequenos  rolos,  ou  cylindros  de  madeira  , 

de  huma  polegada  quasi  de  diâmetro  dispostos  horizon-» 

-íbffe»íí«ente ,  unidos ,  e  píu:alIelos  hun^  aos  outros  em  or- 

-M&fiv  ■  dem: 


(45) 

dem  :  em  cada  extremidade  são  endentados ,  ou  enca* 
nados    longitudinalmente  ,    correspondendo  hum»   com 
outra  ;   e  o  rolo  do  centro  ,    sendo  movido  com  hum 
tirapé  ,    á  semelhança  dos  que  movem    os  rebolos    de 
amollar  navalhas ,    faz  mover  os  outros  dois  em  direc- 
ções contrarias.  Acama  se  a  lã  do  Algodão,  em  peque- 
nas porções    neste  mesmo  tempo  sobre    o^  rolos  ,    pe- 
lo seu  movimento  ,    e  promptamente  pouco    a  pouco 
passa    para  hum  sacco  posto  embaixo  para    a   receber, 
deixando    as  sementes  (que  peia  su^  grandeza    não  po- 
dem passar)    fóia.    Esta  lá  livre    de  suas  sementes    se 
escolhe    á  mão  ,    e  se  passa    a  alimpar    de  outra  qual- 
quer impureza,    causada  por  pequenas  partículas,    que 
pôde  ter  ,   de  suas  maçãs  ,    ou  de  outras  quaes  quer  > 
que  se  lhe  podem  ajuntar.    Esta  operação  he  aborreci- 
da,   mas  necessária,   se  bem  he  fácil  ;  porque  pode  sgr 
executada  por  meninos  ,  e  inválidos  ,    que  não  possão  ser 
Gccupados  em  outro  qualquer  trabalho.   Segue  introdu» 
zilla    em  grandes  saccas  ,    onde    se  calção    por  pés  dos 
escravos  ,    ficando  então  mais  ^unida  ,    e  compacta   ;    e 
para   corresponder  melhor    este  fim    lhe  deitão  alguma 
agua ,  sacodindo  a  sacca  de  hum  para  outro   lado.  Exe- 
cuta se  esta   operação  em  hum  lugar  sombri-o ,  onde   a 
humidade  não  possa  evaporar-se  com  presteza.    O  pezo 
da  sacca,  que  se  põem  em  venda,    de  ordjnario  chega 
a  trezentos  arráteis,    que  vem  a  ser  o  pezo  da  quanti- 
dade de  lã  que  podem   dar  os  Algodoeiro?  d©  hum  acre 
Inglez. 

Querendo  pôr   em  hum  panto    de  vist^    o  rendi- 

men- 


(44) 
hiénto  desta  cultura,  suppônho  que  ©Cultivadof  dèSte 
género    possue    dez  bons  escravos   ,    e  ijue  igualmente 
tem  hum  Algodoal  ,    que  occupa  vinte  acres   de  terre- 
no.  Avalio  O   seu  rendimento  do  theor  seguinte  : 


W>  I 


Numero   de  Preços  por 

plantas  Arráteis     Saccas      arrátel     Total 

6,000  20  I  eh.         joo 


Acres   6,000 
dito 


9,®09 


IO 


JO 


Na  Fréguezia  de  Vere  duzentoí;  e  quarenta  arrateii 
por  acre  sõffrivelmente  se  julga  ser  hum  bom  rendi- 
mento :  este  vem  a  fazer  o  rendimento ,  ou  producção 
de  vinte  acres  ,  a  quatro  mil  e  oito  centos  arráteis, 
que  pouco  dista  da  avaliação  posta  acima  ;  pôr  quanto 
a  estimativa  de  hum  terreno  fértil,  ou  estéril ,  da  boa, 
ou  má  estação ,  ou  tempo  ,  nos  obriga  a  estimar  qual- 
quer acre  efti  duzentos  e  setenta  arráteis  por  acre. 

Hum  escravo  trabalhador  diariamente  disporá  cin- 
coenta  ,  ou  sécenta  arráteis  por  dia  :  logo  três  escravos 
disporão,  por  huma  regra  media,  a  quantidade,  acima 
dita  ,  em  cincoenta  e  quatro  dias,  consequentemente 
este  Fazendeiro  terá  tempo  desocupado  para  cuidar  nos 
grãos,  e  abastechnento  de  outras  provisões  necessariaé. 
Todos  os  nossos  fustôes ,  pannicos  reis,  belbutes^- 
etc.  ,  se  fazem  pelo  soccorro  deste  género  ,  que  ,  a 
fora  isto,  contribue  a  manter  hum  grande  fundo,  ou 


(45) 
Capital  do  Commercio  assim,  em  Inglaterra,  como  Ir4 
landa ,  visto  que  estes  estofos ,  ou  tecidos ,  são  pedidos  , 
ou  encomendados  de  todas  as  partes  do  mundo ,  aon- 
de chega  o  nosso  Commercio,  e,  com  particularidade, 
dos  pa^zes  situados  entre  os  'l'ropico<!.  E  nestes  náo  pô- 
de haver  outra  qualidade  de  vestidos  ,  que  possão  ser 
mais  accommodados  ao  calor  do  clima,  porque  embe- 
bem, ou  se  ensápão  promptamente  do  húmido  vapor, 
que  resuda  da  pelle  ,  sem  que  por  isto  se  engeite  o 
panno  feito  do  linho ,  nem  o  fazer  desmerecer  tão  cedo 
a  sua  estimação. 

Suppoem  que  não  menos  de  cento  e  vinte  mil 
pessoas  em  Inglaterra  se  achãp  occupadas  nos  differen- 
tes  ramos  das  manufacturas  deste  singular  género  ,  se 
bem  nos  paizes  ,  çm  que  nasce  ,  quasi  nenhumas  se 
empregão ,  a  não  ser  em  fazer  algumas  hamacas  ,  ou 
redes  de  deitarem,  e  na  verdade  não  o  pratica  a  Ja- 
maica. N'algumas  partes  desta  Ilha  ,  v.  g.  ,  Vere  em 
casas  de  algumas  senhoras ,  se  fabricão  meias  feitas  com 
agulhas  pelos  seus  domésticos,  oufam.ilias.  Também  al- 
guns Fazendeiros  o  fião  para  trocidas  de  suas  candeias 
no  tempo  da  colheita  *,  mas  ,  provavelmente  ,  não  gas- 
tarão em  tudo  isto  a  terceira  parte  de  huiiia  sacca  ,  e 
todo  o  mais  he  comprado  para  ser  trazido  á  Inglaterra. 

Isto  me  dá  huma  evidente  prova  do  grande- valor 
comparativo,  que  as  nossas  Colónias  das  índias  Occiden- 
taes  devem  ter  com  a  Pátria  Mãi  ,  pois  não  procurãa 
ser  suas  rivaes  em  manufacturas ,  em  hum  assumpto, 
que  podjão  ser  suas  temíveis,  competidoras,    Nascç  esta 


líl 


d  is- 


t4^y 

drsparidade    da  grande  inclinação  dos  trópicos  ,-   qúé  íe' 
faz  muito  mais  evidente  á  proporção  que  se  aparta  para' 
O  Norte.    Estou  informado    que    na  Carolina    todos    os 
Fazendeiros  tem  hum  grande  numero  de  teares  em  ac- 
tual trabalho,    em  que  fazem  tecidos  grosseiros  de  Al- 
godão ,  com  que  vestem  os  seus  escravos  ,  e  ainda  oi 
seus  co-trabalhadores  brancos  :    com  este  meio    sendo, 
ao  mesmo  tempo  cultivadores ,  e  manufactureiros ,  sal- 
vão  huma  grande  despeza  annualmente.  Se  os  Fazendei^ 
ros  de  Jamaica  os  imitassem  ,  tendo  cada  hum  mais  de" 
Iním  tear  cm  sua  casa  a  perda  da  Grã  Bretanha  chega- 
ria quasi  a  3cO,oco  lib.  esterl. :  com  tudo  os  estabele- 
cimentos desta  natureza  só  tem  tido  cabimento  em  Co- 
lónias de  grande  população  ,    onde  os  povos  ,  náo  po- 
dendo pela  sua  pobreza  comprar,  podem  trabalhar  notf 
seus  vestidos    por  menor  preço  sem  hum  escrupuloso *' 
e  miudo  exame  ;   e  não  tendo  outro  objecto  de  maior 
Jucro  ,    ou  interesse  ,    em  que  se  possão  empregar    os 
seus  braços. 

Na  Jamaica  porém  não  interessará  cousa  alguma 
hum  semelhante  emprego,  pois  ,  segundo  o  calculo  ^v 
este  género  levado  á  Pátria  mãi ,  onde  melhor  se  fabril 
ca  5  pode  chegar  o  seu  custo  a  hum  mais  alto  preço; 
visto  que  pôde  applicar  o  seu  trabalho  a  cousas  maiS 
lucrativas;  e  que  os  seus  moradores  se  conduzem  muito 
bem,  e  ultimamente  visto  que  a  variedade  de  géneros 
requer  huma  applicação  táo  continua  ,  que  Ih^í  não  so- 
beja tempo  algum  para  se  empregarem  em  teares. 

Çuando  Colombo  desciibrio  esta  Ilha  ,   os  índios 

sów 


C40 


MEMORIA  m. 


SOBRE    O   ALGODOEIRO, 


Cotonier. 


^ 


*^* 


(Nottveazt  Dictlonalre  d^Hlstolre  Natureííe.  Tom.  VI. 
pag.  293.) 


o 


Algodoeiro  QGossj/piam)  Classe  Monadelphla  Or- 
dem PolJ/ánclria.^  Talvez  não  haverá  alguma  entre  as 
immensas  producçôes  do  Reino  vegetal ,  que  seja  com- 
paravelmente  ao  Algodão  em  utilidade.  Dá-se  hum  gran- 
de numero  de  arvores ,  de  arbustos ,  e  de  hervas  ptin- 
eipalmente  que  são  consagradas  ao  sustento  do  homem  , 
mas  existem  mui  poucas  plantas  ,  qUe  lhe  forneça  O' 
vestuário.  Entre  estas  tem  òAlçodoeiío  o  primeiro  lu- 
gar ,  o  linho  e  cânhamo  o  segundo  ^  que  se  cultiváo 
nas  partes  frias  ,  e  temperadas  da  Europa  ,  e  procurao' 
na  verdade  grandes  recursos  aos  seus  habitantes  para  or 
seu  vestuário  ,  e  manutenção  de  muitas  artes.  Com 
tudo  a  casca  gommosa  deitas  herVas  ,  requer  para  se 
transformar  em  fio  diversas  preparações  longas  ,  e  fas- 
tidiosas no  comenos  que  o  Algodão  offerece  aos  mora- 
dores das  duas  índias  tudo  ,  como  já  prompto  pelas' 
mãos  da  natureza.  A  fineza  ,  e  a  lustrosa  alvura  des- 
te fio  ensedecido  convida  ao  homem  destes  paizes  a 
colhello ,  e  estimula  os  seus  cuidados  na  reproducçâo, 
e  multiplicação  do  encantador  arbusto,    que  o  produz,- 

Poy 


(49) 

Por  este  motivo  não  seda  planta  algUnia,  cUja  eúltum 
se  tenha  espalhado  mais  geralmente,  que  esta  nas  qúa=3 
tro  partes  do  mundo  ,  principalmente  nas  duas  Asia^ 
e  America.  Tem  da  mesma  maneira  ^  produzido  humâ 
multidão  de  variedades,  que,  conforme  oS  climas,  se 
tem  mais  ou  menos  aperfeiçoado,  ás  quaes  os  cultiva^ 
dores  dos  diversos  paizes  derão  differentes  nomes,  que 
assas  difíicultão  distinguir  as  verdadeiras  espécies  pri-* 
mitivas. 

Pertence  o  Algodoeiro  nas  famílias  natUraeS  a  da 
iVIalvaceas.  Tem  por  characteres  hitm  ealis  dobrado, 
o  exterior  partido  profundamente  em  três  grandes  pon- 
tas ;  o  interioi  menor  ^  e  alargado  :  hum  eorolla  cont 
cinco  petalos  ,  muitos  estames  ,  unidos  em  columna 
por  baixo,  e  na  parte  superior  soltos,  ou  desapegados 
com  antheras  em  feição  de  rins  :  o  gérmen  superior,  o- 
val ,  ou  arredondado  :  o  estillo  também  comprido ,  oii 
ainda  mais  que  os  estames  rematado  com  três  ou  qua-» 
tro  estigmas  espessos  :  huma  capsula  da  grandeza  de 
hum  pequeno  ovo  5  espherica  ,  ou  oVal  ,  e  alguma 
vez  pontuda  ,  com  três  ou  quatro  valvular  ,  e  outros 
tantos  alojamentos  cheios  de  sementes  verdoengas  ,  ou 
denegridas,  lisas,  matisadas ,  ou  aveludadas ,  ou  uni- 
das humas  ás  outras,  ou  separadas  ,  e  rodeadas  de  huma 
penugem,  ou  frouxel  branco,  amarellado ,  ou  averme- 
lhado, mais  ou  menos  comprido  ,  fino,  ensedecido,  què 
se  conhece  pelo  nome  àç  Algodão.  Estando  madura  ,  esta 
penugem  faz  estalar  as  válvulas  ,  e  transborda  pot 
todas  as  partes  da  capsula,  que  a  tinha  eneerrado. 


Ç  so) 

Tem  as  suas  flores  amarelladas ,  ou  purpúreas,  e 
axillares.  As  suas  folhas  se  arranjão  alternativamente  pe- 
los ramos  ;  e  de  ordinário  se  dividem  em  rnuitas  pon- 
tas, ou  lobos,  e  algumas  vezes  espalmadas.  Algumas 
espécies  tem  glândulas  nos  nervos  principaes  da  pagina 
inferior, 

Conhece-se  muito  pouco  com  precisão  as  differen- 
tes  espécies  de  Algodoeiros ,  que  actualmente  se  culti- 
vão  em  muitos  paizes  ,  e  principalmente  naquelles  ,  em 
que  a  sua  cultura  faz  hum  dos  principaes  objectos  áo 
Comrnercio  nas  Colónias  Occidentaes  dos  Europeos. 
Tanto  he  do  mesmo  modo  pouco  conhecido  o  paiz 
natal  de  cada  espécie.  Em  geral ,  este  arbusto  nasce  na- 
turalmente nos  paizes  quentes.  Entre. tanto  se  tem  acli- 
matizado pouco  a  pouco  e'iri  latitudes  ,  cuja  tempera- 
tura ,  ainda  que  muito  quente  ,  não  igualla  a  da  zona 
tórrida.  He  difficultoso  acertar  a  espécie  de  Algodoeiro  , 
que  os  antigos  cultivavão.  Parece  tjUe  cultivavão  duas  , 
das  quaes  huma  mais  alta ,  e  que  formava  bum  peque- 
no arbusto  ,  era  cultivada  no  Egypto  ,  e  a  outra  mais 
baixa  Ou  herbácea  era  conhecida  na  Ásia  menor,  Pérsia, 
c  outras  prõvincias  de  Levante.  Provavelmente  foi  esta 
a  introduzida  pelos  Gregos  na  Itália  ,  onde  ,  passado 
Cite  tempo ,  se  proseguio  felizmente  a  sua  cultura. 

A  America ,  antes  de  ser  descoberta  ,  pelos  Euro- 
peos já  possuía  muitas  espécies  de  Algodoeiros  Passa- 
dos tempos  5  se  enriquece©  mais  com  outras  originarias 
da  Ásia  ,  e  de  Africa  ^  que  successivamente  se  foião 
transportando,  eque  produzirão  niuitobem.  Nesta  quar- 

ta 


CsO 

ta  parte  do  mundo  presentemente  se  encontra  ã  maior 
quantidade  de  espeeies,  e  de  variedades. 


Espécie  lé 


Conforme  os  botânicos  são  mui  poucas.    La  Maík 
apenas  conta  outò ,  a  saber* 

O  Algodoeiro  herva  ,  otc  de  Malta  (  Gossyplum  hcr^ 
bacettm,  Lin._)  Nasce  em  Chypre ,  e  em  Malta  j  Syria, 
e  índias.  Na  Europa  he  annual ,  mas  em  algumas  par- 
tes de  Africa  he ,  dizem  ,  vivaz ,  e  se  forma  em  arbus- 
to. Talvez  em  França  aconteceria  o  mesmo.  Esta  espt-i 
cie  cresce  até  dous  pés.  Tem  a  hastea  rija  ,  e  como 
lenhosa,  aveludada  na  parte  superior.  Divide-áe  em  r?^^ 
mos  curtos  ,  guarnecidos  de  folhas  de  cinco  pontas  ,  ar- 
redondadas junto  ao  meio  ,  e  pontiagudas  na  sua  ex- 
tremidade. Estas  folhas  tem  naá  costas  huma  glândula 
ierdoenga ,  pouco  sensível  ;  são  macias  ao  tacto  ,  e 
sustidas  por  peciolos  mui  compridos,  qtie  tem  por  bai- 
lo duas  estipulas  ordinariamente  Janceoladas  algum 
tanto  arqueadas.  Nascem  os  seus  pedúnculos  nas  axillas 
das  folhas  ,  dando  cada  hum  delles  a  sua  única  ííor 
amarellada ,  cujo  ealis  exterior  he  fortemente  dentado  s 
©ste  Algodoeiro  fíorece ,  e  fructifica  nas  estufas  do  Mu- 
seu dè  Paris,- 

Èspeclè   ir. 


A^^oúmkQ^  de   Barbadas     CGossyphim  Bafhaden^e  ^ 
»  ^  Lin.) 


C  sO 

Lin. )  Chega  este  á  altura  de  cinco  pés  ,  e  se  cré  ser 
nativo  da  America  ,  e  tem  a  sua  hastea  ,  e  ramos  uni^ 
dos  5  as  folhas  com  três  pontas  ,  as  flores  mui  seme- 
lhantes ao  áo  Algodoeiro  herva ,  porém  maiores  de  hum 
amarello  mais  escuro.  Também  he  maior  o  fructb  ,  e 
contém  maior  quantidade  de  Algodão.  As  sementes  são 


Espécie  III. 

Algodão  das  índias  (Gossyplnm  Indlcum  ,  Lin.)  Esta 
espécie  se  levanta  á  altura  de  doze  pés,  durando  o  seu 
tronco  alguns  annos.  Distingue-se  das  antecedentes  por 
suas  folhas  commummente  de  três  lobos  não  arredonda- 
dos 5  por  suas  flores  amarelladas ,  ornadas  na  sua  base 
de  huma  mancha  de  purpura  trigueira  ,  e  pela  figura 
de  suas  capsulas ,  que  são  ovaes  cónicas ,  e  pontiagu- 
das ;  contém  grãos  denegridos  rodeados  de  hum  Algo- 
dão alvíssimo,  aos  que  se  pegão  com  muita  força.  Abui> 
dantemente  se  cultiva  nas  índias  Orientaes,  onde  natu- 
ralmente nasce  pelas  terras  húmidas ; 


Espécie    IV. 


Algodoeiro  Arvore  (Gossyplum  Arhorettm  ,  Lin.^  A 
pezar  do  seu  '  nome  somente  he  hum  maior  arbusto. 
Tem  dez  pés  a  quinze  de  altura  ,  e  os  ramos  lisos , 
menos  no  ápice  ,  as  folhas  pecioladas  com  cinco  lobos 
lanceolados  ,  e  digitaesj  as  flores  inteiramente  colori- 
das 


(53) 

^35  de  hum  vermelho  trigueiro  ,  com  as  três  folhinhas 
do  calis  exterior  inteiras  ,  e  outras  vezes  terminadas 
com  três  dentinhos.  O  fructo  dá  em  muita  abundância 
hum  Algodão  branco  ,  e  de  muito  excellente  qualida- 
de. Este  arbusto  nasce  no  Egypto  ,  Arábia ,  na  índia  , 
íia  Ilha  dos  Celebes  ,   e  como  também  o  que  segue« 

Espécie    V, 

Jlo-odoelro  folha  de  vide  ( Gossjfphim  vitlfotUmr^ 
Lam.  )  Cultiva-se  na  Ilha  de  França.  Suas  ílores  são 
grandes ,  amarelladas  ,  manchadas  de  purpura  na  base 
com  hum  calis  exterior  profundamente  dividido  em 
cortaduras  longas  ,  e  agudas.  Além  disto  se  conhece 
pelas  folhas  espalmadas  ,  e  lobos  ovaes ,  lanceolados  , 
mui  pontiagudos ,  guarnecidos  em  baixo  de  huma  glarh- 
dula  sobre  os  seus  nervos. 


"Espécie  VI. 

Jl<rodoelro  de  três  pontas  QGessypium  trlctispidatum  ^ 
Lam. )  Deo-se-lhe  este  nome  ,  por  serem  as  suas  folhas 
nas  suas  pontas  divididas  em  três  ângulos  apartados , 
ou  três  lobos  curtos  ,  e  pontiagudos  ,  e  os  inferiores 
Jnteiros.  As  suas  ílores  algumas  vezes  são  totalmente 
esbranquiçadas  ,  e  commummente  de  hum  branco ,  côff 
de  enxofre  com  alguma  cor  de  rosa  ou  purpúrea  :  seus 
pedúnculos  aveludados  ,  e  hum  calis  exterior  profun-* 
darnentç  recortado,  As<:apsul5is  são  curtas,  ovóides,  @ 


(  54) 

pontudas:  contém  hum  Algodão  macio,  e  alvÍ5simo  , 
mas  mui  pegado  aos  grãos.  No  Museo  de  França  se 
cultiva  este  Algodão  ,  que  se  suppoem  ser  nativo  da 
America. 


Espécie    VII. 

^Algodoeiro  liso  (^Gosstiplum  glahrum  ^  Lam.)  Tem 
jÊSte  arbusto  quatro  pés  a  cinco  de  altura.  Apresenta 
muitas  variedades  ,  cjue  parecem  approximallo  ao  J/^or 
doelro  de  Barbadas.  N'algumas  folhas  tem  três  glându- 
las,  noutras  só  duas ,  ou  huma.  O  que  distingue  a  estg 
|das  espécies  acima,  vem  a  ser  liso,  e  ter  os  ramos,  e 
peciolos  cheios  de  pontos  negros,  tuberculosos,  que  os 
fjizem  grosseiros  ao  tacto.  O  verde  das  tolhas  he  car- 
regado :  as  inTeriores  são  ovaes ,  e  todas  as  de  mais  di» 
•yididas  profuridamente  em  três  lobos, 

§.   II.    Observações  de  M.   de   "Rohr  sobre  as   espécies  ,  ç 

variedades  de  Alzodoeiros  assim  indie;e/ios  ,    como 

cultivados  actualmente   na  America, 


O  Author  destas  observações  ,  tendo  cultivadq 
por  muitos  anno3  em  Santa  Cruz  na  America  ,  huma 
grande  quantidade  de  espécies  de  Algodoeiros  ,  a  sua 
experiência  lhe  ensinou  ,  que  os  characteies ,  tirados  das 
flores,  e  folhas  somente  bastavão  para  distinguir  as  es- 
pécies bem  pronunciadas  das  simplices  variedades.  ((  A 
f  gura  das  folhas  (diz  dk') ,  as  glândulas ,  que  se  ob.^er- 

\ã« 


vão  na  sua  surperficie  inferior  ,  e  mesmo  as  estipulas 
vaiião  ao  infinito.  ))  Os  characteres  tomados  das  semen- 
tes são^  como  diz  ,  os  mais  constantes  nos  Algodoei- 
ros, e  ao  miesmo  tempo  as  mais  fáceis  de  se  conhecer. 
Por  este  motivo  os  propõem  como  os  únicos ,  que  devem 
fixar  a  attençáo  dos  Plantadores ,  e  dos  Negociantes ,  aos 
quaes  dirige  o  seu  trabalho  especiahiiente.  Embaraçar- 
se  hão  menos  os  Fazendeiros,  segundo  este  metho^io, 
ra  escolha  das  espécies  que  quizerem  cultivar  ,  e  que 
devem  preferir,  conforme  o  terreno  ,  eexposiçao  de  suas. 
plantações  ;  e  os  Negociantes  estaião  certos  de  que  hão 
de  receber  a  própria  espécie  do  Algodão  que  pedirem  , 
fazendo  vir  da  America  o  grão  :  o  que  he  tão  fácil  que 
os  Algodões  do  Commercio  ,  ainda  que  pareção  bem 
descaroçados  ,  trazem  sem.pre  çomsigo  alguns.  Talvez 
poderião  pensar  que  ^  enviando-se  alguma  amostra  do 
Algodão  ,  que  queiião,  seria  melhor.  Esta  precaução. 
seria  insufficiente.  Dão-se  miuitas  espécies  de  Algodão 
que  ,  á  primeira  vista ,  se  assemelhão  muito  ,  e  sobre 
os  quaes  nem  a  vista  ,  nem  o  tacto  tem  poder  algum  , 
para  lhes  notar  as  differenças ,  que  só  o  fiador  portanto 
as  pode  distinguir  com  facilidade. 

Importa  ao  Fazendeiro  ,  ainda  por  outros  motivos^ 
conhecer  bem  as  differentes  espécies  que  cultiva.  Os 
Algodoeiros  varião  m^uito  no  seu  rendimento,  Huns  dão 
todo  o  anno  ,  outros  duas  vezes\^e  muitos  sómenfea 
humia.  Dão-se  espécies  que  produzem  Algodão  da  me». 
Ihor  qualidade;  mas  ocapulho  que  encerra  esta  precio^ 
^a  seda^  se  í^bre  a,iui  ced©  5    e  ç^he  ?int?s  dç  amadure-. 


(  56) 

fido.   Em  outros  porém  o  Algodão  se  mancha ,  e  per^ 
dq  a  sua  côr  branca  com  a  madureza. 

A  quantidade  do  Algodão  que  as  diversas  espécies 
dão  em  cada  colheita,  e  a  côr  do  Algodão  também  são 
objectos  que  interessão  o  lavrador.  Muitos  Algodoeiros 
por  sua  altura  ,  e  abertura  de  seus  ramos  promettern 
huma  colheita  muito  abundante,  epela  maior  parte  só 
produzem  meia  onça  ou  duas  outavas  de  Algodão  por 
anno,  entre  tanto  que  outros  de  menor  apparencia  pro^ 
duzem  sete  onças  de  Algodão  descaroçado.  Pelo  que 
respeita  á  cór  ,  sabe-se  que  se  dão  Algodões  alvissi- 
3-nos  ,  e  lustrosos  como  a  neve  ,  que  outros  são  de 
hum  branco  de  leite  ,  ou  de  hum  branco  manchado  ; 
e  que  também  se  dão  Algodões,  cuja  côr  puxa  para  o 
íuivo,  e  também  para  a  trigueira ,  e  que,  nem  por  isso 
deixão  da  ser  de  huma  excellentç  qualidade,  Destas  3 
piirnejra  de  hum  bom  Algodão  he  a  de  despegar  com 
facilidade  da  sua  semente,  O  tempo  ,  que  se  gasta  em 
separar  a  semente  do  Algodão  pela  maior  parte  lhe  de- 
termina Q  preço, 

M.  de  Rohr  distingue  no  grão  do  Algodão  a  parte 
superior  da  ponta  ,  e  a  parte  arredondada  opposta  á 
ponta  ,  a  qual  chama  base.  Appelida  sutura  o  lombo 
sal;sntc  j,  que  se  estende, desde  a  ponta  ate  a  base  ,  e 
gancho  a  extremidade  desta  sutura,  que  se  termina  em 
huma  ponta  sobresahida.  A  todo  o  resto  da  semente  re- 
puta  superfície. 

Em  alguns  Algodoeiros  a  superfície  da  semente 
liç  como    ali,^ada  5   ç  sempre   de  hum   escuro   negra; 


(   S7  ) 


n*outros  porém  he  mui  lisa  ,  e  cem  huma  cor  tri- 
gueira denegrida  a  travéz ,  da  qual  se  lhe  descobrem  pe- 
quenas veias  negras.  Muitas  espécies  tem  a  superfície 
dos  seus  grãos  ligeiramente  guarnecidos  de  pelios  mui 
curtos  ,  e  raros ,  que  deixãò  entrever  a  côr  da  casca  , 
e  igualmente  as  pequenas  veias ,  outras  são  de  todo  co- 
bertas ou  de  pello  ,  ou  de  hum  frouxel  mui  fechado  , 
e  pela  maior  parte  de  ambas  as  cousas ,  as  quaes  em- 
mascarão  a  còr  da  casca. 

O  mesmo  Author  chama  dutvet  a  huma  cabelleira 
copada  ,  curta  ,  e  eriçada  de  huma  igual  grandeza  em 
todo  p  comprimento,  de  huma  côr  de  ferrugem  j  e  que 
não, perde  o  seu  eriçado  ainda  torcendo-se  entre  os  de-^ 
(dos  :  A  cabelleiía  de  frouxel  se  compõem  da  mesma 
iTianeira  de  pequenas  fibras  curtas  ,  e  eriçadas,  mas  tão 
pouco  juntas,  que  se  podem  contar.  Percebem  na  su>^ 
peificie  de  algumas  sementes  manchas  do  mesmo  frou- 
xel ,  que  he  curto ,  e  serrado  ;  não  se  encontrão  porém 
estas  assim  no  lombo  ,  como  na  ponta.  Dá-se  o  nome 
de  pello  ás  fibras  mais  delgadas  junto  á  ponta  ,  mais 
grossas  na  base,  que,  sendo  apertado  entre  os  dedos, 
"voltão  a  tomar  a  sua  antiga  figura.  O  veludo,  que  de 
ordinário  rodea  a  semente  ,  se  chama  felpa  ,  e  he  mais 
ou  menos  guarnecido  de  pelios,  e  mais  ou  menos  ser- 
rado ,  ou  raro.  Entenda-se  pela  parte  nua  desta  semen- 
te a  que  carece  de  frouxel,  e  de  tudo  o   mais. 

As  partes,  que  ficão  descriptas ,  são,  mais  ou  me- 
nos ,  characteres  e^senciaes  da  semente  do  A^lgodceiro  ; 
pois  subsistem ,  tirado  o  Algodão ,   e  se  não  podem  ti^ 


C5S) 

rar,  anão  ser  com  hum  a  faca,  raspando  a  superfície  da 
mesma  semente.  A  quantidade,  afigura,  a  posição,  e 
9.  proporção  destas  partes  ,  no  seu  estado  natural ,  sáo 
invariáveis. 

O  lado  da  semente,  em  que  se  descobre  a  sutura, 
he   »  face  anterior^  o  lado  opposto  a  Jacç  posterior. 

Permitta-se  fallar  entre  tanto  a  M.  Rohr. 

As  espécies  de  Algodoeiros  conhecidas  por  mim  , 
diz  este  sábio  Cultivador  ,  são  as  seguintes.  Notei  coir^ 
lium  asterisco  as  que  julguei  serem  mais  proveitosas 
aos  Fazendeiros. 

§.   I.   Algodoeiros    de  semente  ne^ra  grosseira. 

I.  Algodoeiro  Selvagem.  A  semente  mui  grande, 
e  toda  nua.  Os  Francezes  a  apeliidao  J/gí^t/^t;  «« ,  e  os 
Inglezes  Wilhywodd  coton  ,  isto  he  ,  Algodoeiro  Salgueiro  , 
por  ser  semelhante  a  certos  Salgueiros  ,  por  seus  ramos 
delgados  ,  e  compridos  ,  sujeitos  a  se  quebrarem.  Este 
Algodoeiro,  commum  a  todos  os  Algodoaes  das  Ilhas  ^ 
não  vale  o  trabalho  da  sua  cultura.  Tem  huma  figura 
enganadora.  Quando  se  deixa  crescer  sem  o  podar  chega 
a  nove  pés  de  alto  ,  e  occupa  em  largura  o  campo  de 
outo  pcs  ,  e  alguma  vez  se  carrega  de  hum  grande 
numero  de  fructos  ,  mas  de  muito  pouco  Algodão.  Que  , 
além  de^te  defeito,  tem  o  de  manchar-se  promptamente 
na  capsula  ,  sendo  tocado  de  chuva  ,  ou  orvalho.  Cha- 
ir.o  a  esta  espécie  de  selvagem  ,  ainda  que  o  não  te^ 
nho  encontrado  no  seu  estado  natural  j^  por  causa  d^ 
sya  vrÀ  qualidade,  e  pouca  colheití^, 


(59) 

2.  Algodoeiro  de  peijtieno  Vello.  Seus  grãos  teni 
poucas  fibras  algodoentas  ao  redor  dos  dous  lados  do 
lombo  ou  sutura.  Parece  que  esta  espécie  tem  sido  até 
agora  desconhecida  ;  o  acaso  foi  que  ma  fez  descobrir 
lia  própria  Hh.a,  em  que  moro.  Ainda  que  produza  mui 
pouca  felpa  ,  me  persuado  que  se  pôde  cultivar  em  ra- 
zão da  sua  grande  alvura. 

3.  Algodão  verde  Coroado,  A  ponta  de  sua  semente 
lie  curta,  e  rodeada  de  felpa  mui  curta,  e  mui  fecha* 
,da.  A  felpa  não  sobresahe  á  ponta  ,  e  mui  pouco  se 
alarga  da  sutura.  JVluitas  vezes  se  lhe  notao  na  superfi- 
jCie  manchas  guarnecidas  de  felpa.  Somente  em  IVIarti^ 
pica  o  encontrei  ,  onde  á  muito  tempo  se  promove  a 
sua  cultura.  Nesta  Ilha  lhe  dão  o  nome  de  Algodão  fi- 
fio  ou  coroado  verde  ;  porque  a  felpa  ,  que  rodeia  a  ponta 
da  semente  ,  he  sempre  desta  còr ,  character  que  nunca 
encontrei  em  outra  espécie.  A' poucos  annos  se  cultiva 
^m  S.  Bartholomeu  :  as  suas  capsulas  se  çonservão  mui 
pouco  tempo  na  arvore.  Se  na  colheita  cahe  a  menor 
chuva  ,  esta  communica  ao  Algodão  huma  côr  má, 
Colhendo-se  em  tem^po  secco  conserva  sempre  a  sua  al- 
vura. Os  Manufactureiros  Inglezes  o  esíimão  muito.  A 
sua  colheita  principia  em  Novembro  :  atura  sete  ou 
puto  mezes.  Só  rende  duas  onças  e  meic^  de  peso. 
Cresce  a  três  pé§  de  altura  ,  e  qyatro  de  largura  para 
cinco. 

4.  Algodoeiro  Serei  verde.  Tem  a  semente  com  a 
ponta  curta,  rodeada  de  huma  felpa  curta,  e  rara  ,  que 
pão  a  sobresahe^  e  -se  estende  ao  longo  da  sutura,  oii 

lom- 


C  6o) 

iombo.  Os  Inglezes  a  cultivão  em  Jamaica  ,  e  ao  Sorel 
vermelho.  Abrangem  ambas  as  espécies  de  baixo  do 
nome  de  Algodão  Sorel.  Destinguem-se  estas  entre  si  não 
só  por  seus  troncos  peciolos  veias  ,  e  calis ,  que  ,  na  es- 
pécie verde,  conservão  sempre  esta  cor,  ao  passo  que 
na  vermeiMia  estas  partes  são  de  hum  írrande  vermelho: 


c,   além  disto 


'•rande  diff 


erença  mais 


vem  a  ser  ,  a  quantidade  ,  e  quaHdade  do  Algodão, 
^ue  me  deião,  O  do  Sorel  verds  ,  cahe  lego  ao  depois 
maduro  ,  e  cada  arvore  só  rende  quatro  onças  de  Al- 
godão escaroçado.  O  vermelho  se  conserva  por  muito 
tempo  ,  e  delle  tenho  colhido,  por  cada  arvore,  sete 
onças  e  meia. 

5.  Algodoeiro  Sorel  vermelho.  Tem  a  semente  com 
a  ponta  curta  ,  e  rodeada  de  muita  felpa  serrada  ,  e 
eriçada.  A  felpa  sobresahe  á  ponta,  e  desce  ao  longo 
da  sutura  até  em  baixo  ,  onde  se  vê  misturado  com 
alguns  pellcs.  Merece  este  a  preferencia  ao  Algodoeiro 
annual,  ou,  como  dizem  ,  ao  year  roímd  (da  roda  áo 
anno)  dos  Inglezes,  a  pezar  de  serem  estes  últimos  0$ 
da  melhor  espécie.  O  annual  nunca  me  rendeo  mais 
de  sete  onças  de  Algodão  descaroçado,  por  cada  arvore. 
O  Sorel  porém  de  ordinário  rende  sete  e  meia.  Este 
excesso  em  hum  Algodoal  he  hum  objecto  de  não 
pequena  consideração,  pois  que  pôde  ter  muitos  milha- 
res destas  arvores. 

O  Sorel  dá ,  em  cada  anno ,  muitas  colheitas  ,  e 
cada  luima  destas  dura  muito  pouco  tempo  ,  ou  dias^, 
O  imnual  na  verdade  dá  Algodão  todo  o  anno;  mas, 


(61) 

para  se  não  perder  huma  boa  parte  ,  he  indispensável 
ver  as  arvores  cada  outo  dias  ,  para  se  colher  o  Algo^ 
dão  amadurecido  neste  intervallo  de  tempo :  Sem  esta 
precaução  somente  se  faria  huma  mui  medíocre  colhei- 
ta. Além  disto  tem  o  perigo  de  se  despegar  facilmente 
do  seu  capulho  por  qualquer  vento  ou  chuva.  O  Soreí 
não  se  despega  tão  facilmente  da  arvore  ,  resistindo  a 
ambos  destes  seus  inimjigos.  Asua  alvura,  e  delicadeza 
he  muito  superior  ao  do  annual.  Não  tendo  sido  cha- 
potado,  chega  a  altura  de  quatro,  ou  cinco  pés  ,  e  a 
huma  largura  quasi  igual,  ao  passo  que  o  outro  requer  , 
pelo  menos  ,  hum  espaço  ,de  seis  pés.  Desta  sorte  em 
cada  Algodoal ,  ou  acre ,  se  podem  plantar  hum  maior 
numero  de  pcs  de  Sorel  que  o  do  annual. 

6.  Algodoeiro  barba  pontiaguda,  Dei-lhe  este  nome  5 
para  o  distinguir  das  outras  espécies.  Tem  a  figura  alon- 
gada com  huma  ponta  comprida ,  rodeada  de  huma  fel- 
pa eriçada  ,  e  mui  fechada  ,  que  sobresahe  no  compri- 
mento alguma  cousa  a  sutura  ,  misturada  com  alguns 
pellos.  Tendo  chegado  a  sete  pés  de  altura  requer,  ao 
menos,  outo  para  a  largura.  Dá  hnma  única  colheita 
em  cada  anno ,  e  não  degenerando ,  por  se  lhe  quebrar 
a  ponta  quando  novo  ^  se  pôde  contai  com  três  onças 
de  Algodão  descaroçado. 

7.  Algodoeiro  barba  ganchosa.  Distingue-se  por 
hum  pequeno  molho  de  felpa  por  baixo  do  gancho. 
Chega  a  altura  de  seis  pés  ,  e  largura  quasi  igual.  O 
seu  Algodão  igualla  em  bondade  ao  do  annual.  Dá  por 
anno  huma  única  colheita  j  e  algumas  vezes  má.  Cui- 
,  daii" 


(62) 

dando-Se  nesta  arvore  ,  como  se  precisa  ,  se  pôde  con- 
tar com  cinco  onças  de  Algodão  descaroçado.  Nas  duas 
lihas  deS.  71iomaz,  e  Tortola  ,  onde  ocujtivão  puro, 
ou  sem  mistura  ,  o  apéllidão  red  chanxs.  Em  Santa 
Cruz  ,  porem  ,  e  Trindade  o  plantão  misturado  com 
outras  espécies,  e  principalmente  com  a  que  se  secue.- 
%.  Algodoeiro  annual.  A  semente  oííerece  hum  pe- 
queno circulo  de  felpa  ao  redor  da  ponta,  epor  baixei 
do  gancho.  Dão-se  duas  variedades  de  peo^uenos  ,  e  bran- 
des capulhos.  Chamo  á  primeira  Algodoeiro  animal  grande,- 
Os  Dinamaíquezes  o  cultivão  á  muito  tempo  ,  e  o  cha- 
mão  mm  coton.  O  mesmo  fazem  em  S,  Domingos  e 
Jamaica.  A  sua  colheita  dura  muito  tempo  ,  e  nisto 
se  distingue  dos  outros  todos.-  A  primeira  ,  e  maior  se 
faz  nos  princípios  de  Novembro  ,  e  chega  ate  o  melado 
de  Março  ^  e  a  segunda,  e  menor  em  íins  de  Junho, 
€•  dura  até  princípios  de  Setem.bfo.  Eu  ensaquei  a  sua 
semeadura  em  todos  os  mezes  do  anno ,  mas,  a  que  fiz 
em  Fevereiro,  sempre  me  rendeo  maior  quantidade  de 
Algodão,  isto  he,  sete  onças  descaroçado.- 

A  segunda  variedade  ,  a  que  dei  o  nome  de  Algo- 
doeiro aninuil  Jino  ,  chegou  ao  meu  conhecimento  em 
1790.  Ivl.  Colhlenen  foi  quem  me  enviou  a  sua  sem.en- 
te ,  tendo-a  conseguido  de  Porto  Rico.  Este  Algodoei- 
ro dá  a  sua  colheita  muito  cedo.  O  seu'  Algodão  he 
mais  fino  que  o  da  precedente  variedade.  Os  nossos 
Fazendeiros  ,  per  algumas  vezes  ,  o  tem  confundida 
com  a  espécie  que  se  segue. 

9.  Axl^odoeiro  de  vcllos  §;ranées.-  A  semente  se  dis- 

tin- 


(«í ) 

tíngue  pela  felpa  que  lhe  rodeia  a  ponta ,  e  que  desce 
pelo  comprimento  da  sutura,  e  muitas  rezes  por  baixo 
ào  gancho.  A  superfície  pela  maior  parte  tem  manchas 
de  felpas  espalhadas.  Esta  espécie  se  encontra  entre  as 
outras.  O  seu  Algodão  se  mancha  presto  na  arvore  ^  a- 
penas  lhe  cahe  alguma  chuva.  No  anno  de  lagartas  pa- 
dece muito,  e  nada  produz.  As  plantas  ,  sendo  bem 
tratadas  ,  me  renderão  sóir.ente  quatro  onças  de  Algo* 
dão.  Ocupão  seis  pés  de  alto,  e  outo  de  largo^ 

A"  pouco  tempo  descobri  em  casa  de  M.  Massetil- 
le  ,  Commandante  da  ilha  de  S,-  Thomáz  huma  varie- 
dade de  Algodoeiro  j  muito  notável  que  occupava  o 
espaço  de  dezaseis  pés  em  largura  ,  e  que  nesse  anno 
(1790])  tenha  rendido,  até  27  de  Março,  hum  arrá- 
tel ,  e  três  quartas  de  Algodão  descaroçado.  Ainda  se 
conservava  carregado  de  flores  ,  que  promettião  huma 
nova  colheita.  O  seu  Algodão  não  se  manchava,  nem 
cahia  docapulho,  assemelhando-se  na  sua  delicadeza  ao 
Algodão  verde  coroado, 

10.  Algodoeiro  de  Caijenna,  As  Sementes  ,  contidas 
no  capulho  ,  se  achão  pegadas  entre  si ,  e  são  de  nove 
a  onze,  como  huma  pyramide  comprida,  e  muito  es- 
trerta.  Estima-se  muito  este  Algodão  na  Europa  pela 
sua  alvura  ,  força  ,  e  comprimento  de  fio.  He  conhecido 
no  Commercio  pelos  nomes  de  Algodão  de  Cayenna , 
Siirinam  ,  Demirari/  ,  Bcrbkhe ,  Esseçaebo.  Devem-se 
preferir  estes  nomes ,  porque  nestas  partes  ,  assim  como 
çm  Guienna  não  se  cultivão  as  outras ,  mas  esta  só. 

Devo  observar :  Que  todos  os  viajeiros  ,  e  natu- 
ra» 


C«4) 


ralistas,  que  escreverão  sobre  o  Algodão  das  Colónias, 
de  que  tenho  fallado  ,  se  devem  entender  sobre  esta 
espécie.  Querendo-se  porem  adoptar  a  sua  descripcão  j 
ou  os  preceitos  que  derão  para  a  sua  cultura  ,  he  íith 
possivel  deixar  de  cahir  em  grandes  erros  ;  por  quanto 
o  cJima  de  Guianna ,  e  das  Colónias  Hollandezas  de  Su- 
rinam  ,  e  Demerar}'  ^  etc.  são  totalmente  ditlerentes 
dos  climas  das  nossas  Ilhas  ,   ou  Antilhas, 

O  Algodoeiro  de  Guianna  dá  duas  colheitas  cada 
anno  ,  mas  são  de  huma  curta  duração  pela  maior  par» 
te ,  por  motivo  da  estação  chuvosa ,  que  todos  os  an- 
nos  tem  lugar  duas  A-ezes  regularmente  ;  a  chuva  ali- 
geira nesse  tempo  a  sua  cahida  dos  capulhos  ,  estando 
ainda  amiCtade  maduros  ,  e  algumas  vezes  totalmente 
verdes.  Em  terreno  que  for  bom ,  e  situado  vantajosa- 
jiiente  cada  arvore  pôde  muito  bem  dar  de  doze  a  vin- 
te e  outo  onças  de  Algodão  descaroçado  ,  com  tanto 
que  a  colheita  se  faça  em  bom  tempo.  Em  Martinica 
se  dá  a  este  Algodoeiro  o  nome  de  Algodão  de  pedra  , 
e  em  Jamaica  Kidney  coton  ,  ou  liiik  coton.  Ocupa  o 
lugar  de  dez  a  doze  pés  ,  sendo  conveniente  o  terreno. 

II.  Algodoeiro  do  Brasil.  As  sementes  se  encon- 
trão unidas  sete  ou  outo  em  cada  lugar  do  seu  capulho 
em  figura  de  huma  pyramide  grande.  Ate  aqui  esta  es- 
pécie só  se  cultivava  no  Brasil  ,  e  não  em  Guianna  ,  e 
Antilhas.  A  nossa  Ilha  deve  a  introducção  desta  pre- 
ciosa arvore  a  M.  Duncan  ,  que  na  sua  viagem  de  Es- 
cocia  em  1789  ,  lhe  enviou  a  sua  semente  com  o  da 
Xndja.    O  objecto  principal  da  viagem  ,  de  que  foi  en- 

cas* 


i 


tmegiáó  ,  foi  instriiir-se  sobíe  as  differentes  especíes 
de  Algodão  empregadas  nas  manufacturas  de  Inglaterra  & 
c  de  Escoeia  ,  e  sobre  as  qualidades  daquellas  ,  a  que 
dão  a  preferencia.  Elle  tinha  levado  comsigo  muitas 
espécies  de  Algodão  cultivados  em  Santa  Cruz  ,  d 
quaes  até  então  não  erão  conhecidos  no  Commercio. 
As  manufacturas  julgarão  que  não  era  alguma  delias 
comparável  com  a  do  Brasil,  e  a  da  índia  Oriental.  M* 
Duncar  na  sua  volta  em  1788,  tendo-me  dado  as  duas 
novas  e:^pecies ,  as  semeei.  O  da  índia  não  nasceo  por 
estar  a  semente  já  muito  arruinada  ;  a  do  Brasil  veio 
muito  bem.  Principiou  a  nossa  primeira  colheita  aos 
21  de  Fevereiro  de  1789,  e  acabou  em  Março.  Três 
arvores  somente  me  derão  huma  onça  de  Algodão  des- 
caroçado. Este  Algodão  não  parecia  mais  fino  que  o  de 
Guianna ,  ainda  que  a  amostra ,  trazida  por  M.  Duncan 
de  Escócia  o  excedia  a  este  respeito.  Esta  differença  sem 
dúvida  era  causada  pelo  terreno  da  sua  plantação,  que 
não  era  favorável  aos  Algodoeiros. 

§^  II.  Algodoeiros    cjtie  tem    a  semente  trigueira  escurei y 
e  a  superfície  Usa  com  velas. 


12.  Algodoeiro  da  índias  A  ponta  da  semente  náa 
se  distingue  de  algumas  fibras  da  felpa,  que  guarnece 
a  sua  face  superior ;  a  sutura  sobresahe  a'  ponta  ,  e  o 
gancho,  he  quasi  imperceptiveL  Vi-o  pela  primeira  vez 
em  casa  de  hum  índio  entre  Carthagena ,  e  Santa  Mar- 
tha.    ÍN^unca  encontrei    Algodoeiros    mais  carregados   de 


(«o 


4H 


Algodão  que  este.  A  posição  baixa  do  Algodoal  ,  e  â 
industria,  com  que  o  dono  lhe  distribuía  a  agua,  e  a 
levava  por  toda  a  parte  contribuía  muito  a  esta  pas* 
rnosa  fertilidade.  Esta  arvore  offerece  huma  notável  sin- 
gularidade na  convexidade  de  suas  folhas  ,  character 
<]ue  não  encontrei  em  outra  alguma  espécie.  O  seu  Al- 
godão he  mui  branco  ,  conserva-se  por  muito  tempo  na 
©rvore ,  e  não  he  sujeito  a  manchar-se  ,  a  còr  do  ca- 
pulho  ,  não  se  tirando  :  além  disto  descaroça-se  cem 
facilidade,  porque  não  se  pega  as  sementes,  e  excede 
em  fineza  a  todas  as  espécies  que  descrevi  até  agora» 
O  seu  grão  semeado  em  Novembro  dá  huma  colheita 
•mais  abundante.  Os  desta  espécie  que  possuo  ,  ainda 
que  mui  novos  ,  e  a  pesar  da  secura  ,  e  da  mediocridade 
do  terreno  ,  me  derão  duas  colheitas  no  anno  de  hum 
Algodão  belíssimo.  A  bardonado  a  si  próprio  requer, 
por  causa  da  abertura  dos  seus  ramos  laterais,  hum  es- 
paço de  dez  pés ,  sendo  a  sua  altura  de  outo.  Não  sei 
dizer ,  qual  seria  a  sua  apparencia  se  fosse  chapotado. 

15.  Algodoeiro  de  Sião  trigueiro  Uso,  A  ponta  da 
^semente  se  guarnece  de  huma  felpa  ligeira  em  a  face 
posterior,  A  sutura  não  chega  á  ponta.  O  gancho  he 
mui  visível. 

Observei  em  Martinica  quatro  espécies  de  Algo- 
doeiros com  este  nome  ,  dos  quaes  três  produzem  hum 
Algodão  trigueiro  avermelhado,  que  parecia  descorado; 
a  quarta  dá  hum  Algodão  branquíssimo.  Conhecem-se 
as  três  primeiras  nas  Ilhas  Francezas  pelo  nome  colle- 
"Ctivo  de  Sião  vermelho',  os  Cultivadores  os  destinguem 

pelo 


Ç67) 

pelo  grão  ;  chamão  Sião  liso  á  nossa  espécie  i  j  ,  coroada 
á  16  ,  velado  á  25.  O  Sião  branco  se  cultiva  em  S. 
Domingos  igualmente.  O  Algodão  destas  quatro  espé- 
cies he  finíssimo. 

As  ties  espécies  de  Sião  vermelho  conservão  o 
nome  de  Algodão  Nanquim  nas  possessões  Inglezas, 
íião  obstante  ser  verdade  que  o  panno  ,  conhecido  nQ 
Commercio  por  este  nome  ,  não  seja  feito  deíie. 

O  Algodoeiro  Sião  liso  vence  em  altura  a  todos  os 
de  mais  Algodoeiros.  Possuo  estas  arvores  com  a  idade 
de  dous  annos  j  e  já  tem  doze  pés  de  altura  ,  e  outo 
íle  largo.  Só  dão  por  anno  huma  colheita.  Os  seus  ca- 
puihos  cabem  facilmente  com  o  Algodão,  logo  que  a- 
raadurecem  ;  e  além  disto  tem  o  inconveniente  de  se 
abrirem  só  a  ametade.  O  Algodão  naturalmente  se  ad- 
-liere  aos  capulhos,  o  que  faz  ser  a  sua  colheita  demo- 
rada 3  e  trabalhosa.  Como  seja  mui  fino  5  a  sua  quan- 
tidade engana  muitas  vezes.  Por  todos  estes  motivos 
-não  recomendo  a  sua  cultura. 

1 4,  Algodoeiro  de  S,  Thomaz,  A  felpa ,  que  rodeia 
:«  ponta  da  semente,  he  mui  fechada,  entresachada  de 
<^píellos  longos  em  forma  de  pincel  ou  penacho  ,  qiie 
pela  maior  parte  excedem  á  ponta  ,  mas  que  acabão 
junto  á  parte  superior.  O  gancho  he  mui  sensível.  As 
arvores  desta  espécie ,  plantadas  por  mim  de  semente , 
.me  forão  enviadas  de  S.  Thomaz  ,  e  unicamente  me 
derão  huma  colheita  desde  Janeiro  até  Março,  Cresce- 
rão a  onze  pés  de  altura,  e  pedião  hum  espaço  de de25 
ptfS  de  largura.  Tive  -de  cada  arvore  três  onças  três 
«>  E  :>  quar- 


c«o 


Cjuartòs  de  Algodão  limpo  ,  que  parecia  ser  mais  alvo 
jiiais  íino  5  e  mais  comprido  que  o  do  Algodoeiro  an- 
«ual  5  porém  que  se  descaroçava  difíicultosamente.  A 
semente  só  he  pegada  era  hum  único  ponto  por  baixo 
do  gancho  ,  mas  pega-se  com  tanta  tenacidade  ,  que , 
arrancando-a  com  força  ,  se  lhe  tira  huma  parte  da  casca 
da  semente.  Cardando-se ,  cumpre  despegar-se-lhe  esta 
proporção  de  casca  ,  que  pela  maior  parte  só  se  vê  co» 
mo  se  fosse  hum  ponto  negro  ;  pois  despresando-se  esta 
precaução  se  arrisca  a  quebrar  todos  os  fios  ,  que  se 
prendem  a  este  ponto.  Não  tenho  notado  cousa  seme- 
lhante em  todas  as  outras  espécies  que  tenho  cultivado. 

15.  Algodoeiro  dos  Caj/s,  Tem.  a  semente  com  ân- 
gulos obtusos  de  hum  lado ,  e  do  outro  mais  inchado  , 
e  pouca  felpa  ,  e  curta  ao  redor  da  ponta ,  que  não  che- 
ga ao  alto  da  sutura.  O  gancho  he  quad  nenhum.  As- 
5emelha-se  muito  ao  precedente  na  sua  apparencia ,  ou 
habito  5  assii^i  como  no  tempo  da  colheita ,  e  qualidade 
do  Algodão;  mas,  cultivando-se  com  o  mesmo  cuida- 
do 5  só  me  deo  por  arvore  duas  onças  e  meia  de  Al- 
godão descaroçado.  Despega-se  com  muita  facilidade  da 
superfície  do  grão,  e  não  se  encontra  nelle  porção  al- 
guma da  sua  casca.  ,:n  cSâq 

16.  Algodoeiro  Sião  trigueiro  coroado.  A  felpa  aO 
j:edor  da  planta  da  semente  he  curta  ,  mui  fechada  ,  eri- 
çada 5  com  mui  poucos  cabelos  ,  e  não  aparece  no  alto 

da  sutura.  O  gancho  he  mui  visivel.  Cultrva-se  entre 
nós,  e  na  Martinica,  onde  lhe  dão  o  appelido  úq  Siíra 
eoioíido  T^rmelbo»   O  seu  Al^oduo-he  iw%  pallido   que 


o  do  num.  i^;  porém  mais  elástico.  Madura  fa?  abrir 
o  capulho  sem  se  despegar  ,  com  tudo  se  deve  colher 
sem  demora  ;^nrque  o  capulho  cahe ,  o  Algodão  apo- 
drece, e  então  perde  a  elasticidade,  e  por  consequência 
o  seu  valor,  He  espécie  pouco  productiva  ,  e  nad  me-- 
rece  ser  cultivada  ,  a  náo  ser  paga  por  maior  preço 
que  o  branco.  Cada  arvore  precisa  de  s^eis  pés  quadra- 
dos. 

17.  Algodoeiro  de  Cartha^ena  de  pecjuenoS:  vejíoí» 
A  felpa  ao  redor  da  ponta  he  salpicada  dg  pellos  com- 
pridos ,  e  raros.  A  sutura  he  igual  :  o  gancho  apenas 
sensivel. 

Ainda  que  se  não  cultivem  Algodoeiros  em  os  ar* 
rebaldes  de  Carthagena  ,  encontrão-se  com  tudo  Aigo- 
doaes  no  interior  das  possessões  Hespanholas.  Estando 
Hecpanha  em  guerra  ,  trazem  a  Carthagena  esta  especi® 
de  Algodão  pelos  marinheiros  que  navegâo  entre  esta 
Cidade  ,  e  Santa  Fé ,  pelo  rio  da  TYlagdalena ,  e  de  or-- 
dinario  o  trazem  em  surrões ,  feitos  de  couro  de  boi , 
que  as  Nações  se  provem  para  as  suas  exportações. 
Isto  he  o  que  pude  saber  sobre  esta  espécie  de  Algo- 
dão na  viagem  que  íiz  a  Carthagena.  Este  Algodão  ,  tal 
qual  o  compramos  nesta  ultima  Cidade  ,  he  sempre 
pouco  asseado  ,  e  nunca  separado  da  semente.  Parecs 
que  nas  Províncias-,  donde  vem  ,  totalmente  ignorão  o 
uso  das  maquinas  de  descaroçar.  Semeei-o  na  minha 
fazenda ,  e  só  obtive  buma  única  colheita.  E  ainda  que 
não  tenha  o  defeito  que  os  Manufactureiros  reprovãa 
lia  espécie  seginte,    isto  he,    as  íibras  mui  compridas  j> 

çom 


(70) 

tom  tudo  ,  nSo  merece  ser  cultivado ,  porque  cahe  Iog« 
depois  de  maduro. 

18.  Algodoeiro  de  Cartliagena  de  vellos  grandes.  Ei- 
te ,  entre  todos ,  os  que  tenho  plantado ,  he  o  mais  al- 
to. Só  produz  huma  única  A^ez  no  anno  ,  mas  rende 
^bundosamente.  Os  vellos  do  seu  Algodão  tem  sete 
para  outo  pollegadas  de  comprido ,  o  que  faz  ter  a  ar- 
vore huma  galante  vista.  Tem  o  Algodão  a  excellen^ 
çu\  de  não  cahir  de  si  mesmo  ,  e  de  não  descorar  es- 
tando na  arvore  ;  mas  ,  a  pezar  da  sua  belleza ,  não 
convém  as  filaturas  das  manufactorias  Escccezas  ,  pot 
amor  do  muito  comprimento  de  suas  fibras.  Com  tudo 
he  de  muito  bom  uso  fiado  á  mSo. 

19.  Algodoeiro  de  Sião  bronco.  A  semente  he  cur^ 
ta  5  a  base  quasi  espherica  ;  a  felpa  ao  redor  da  ponta 
tem  o  penacho ,  ou  frouxel  ,  comprido  ,  e  serrado ,  e 
se  estende  alguma  cousa  para  a  base  ;  o  gancho  apenas 
Te  percebe.  Cultiva-se  esta  espécie  em  S.  Domingos ,  e 
Martinica  com  o  mesmo  nome.  Antes  de  produzir  ça- 
pulhos  maduros  ,  he  impossível  distinguillo  do  nosso 
Sitio  trigueiro  coroado  num.  16.  O  seu  habito,  ou  ap-r 
parencia  ,  o  espaço  que  occupa  ,  a  figura  de  suas  folhas , 
o  numero  das  glândulas  ,  e  a  côr  de  suas  fiores ,  sendo 
nas  duas  espécies ,  assim  como  i  maneira ,  com  que  o 
Algodão  se  sustem  na  arvore  ao  depois  de  maduro.  O 
Sião  branco  ái  como  O  outro  duas  colheitas  por  anno  , 
tias  quaes  a  primeira  principia  de  ordinário  em  Dezem- 
bro ,  e  acaba  nos  fins  de  Janeiro ,  e  a  segunda  começa 
ÍIQS  principies  de  Maio,  e  acaba  nos  fins  de  Junho. 

Pof 


Por  tanto  não  se  queira  olhar  para  esta  espécie, 
como  se  fosse  hurna  yaiiedade  de  Sião  coroado.  Culti^ 
vei  ambos  em  1785  ,  e  posso  responder  sobre  a  diffe- 
rença  essencial  que  se  dá  eptre  huma ,  e  outra  arvore. 
O  Algodão  do  Sião  branco  he  de  maior  branco  ,  sem 
conter  a  menor  fibra  colorida  ,  e  na  arvore  nunca  ss 
4esmaia,  Cada  arvore  annualmente  me  rendia  seis  on- 
^s  de  Algodão  descaroçado.  Isto  he  o  dobro  do  que 
rne  rendia  o  Sião  vermelho, 

5,  III.  Algodoeiros  ,  que  tem  a  semente  com  a  stiperficics 

salpicada  de  pellos  mui  curtos  de  modo  que  com  Ja- 

cilidçde  se  destingue  a  còr  da  casca  ;  porém  as 

v^ias    entre  si    menos  bem. 


20.  Algodoeiro  de  Coração,  A  semente  Ke  peque» 
na  :  só  tem  ametade  da  grossura  das  outras  espécies  , 
ç  mais  espherica  que  oval  ,  provida  de  poucos  pello? 
com  a  sua  posição  inclinada.  Tem  a  ponta  curta ,  guar- 
necida de  mui  curtos  pellos  na  face  posterior.  O  gan- 
cho he  hum  ponto  elevado.  Muitos  moradores  cultivãa 
este  Algodoeiro  ,  descoberto  por  mim  ,  natural  desta 
Ilha  3  nascendo  espontaneamente  entre  os  rochedos.  Va- 
rião  muito  as  suas  folhas  ;  os  seus  capulhos  são  mui 
pequenos ;  o  Algodão  mui  comprido ,  e  parece  que  não, 
promette  grande  cousa.  Mas.  descaroçando-se  ,  se  acha 
mui  fino  3  e  de  huma  alvura  que  cega.  Gasta-se  n^ 
inesma  Colónia  ;  as  mulheres  dos  moradores  ,  que  s& 
oçcupão  jnuitp  na  ilação 5  hiçxxi  delle  meias,  que  cm- 


C70 

%ío   ao  par  cem  francos  ,    são  de  buma  grande  fíneza , 
e  de  huma  longa  duração. 

21.  Algodoeiro  coroado  de  S.  'Dojningos.  Tem  a  se- 
mente de  huma  figura  allongada  ,  coberta  de  muitoí 
pellos  raros;  aponta  curta,  e  direita  rodeada  de  pellcs 
compridos  ;  o  gancho  he  mui  visivel.  Eite  j\l"godoeiro 
brota  ramos  por  todos  os  lados  ,  e  se  alargão  até  dez 
pés.  De  ordinário  sobe  a  sete  ,  dá  duas  colheitas  por 
anno,  a  primeira  começa  em  Novembro  acaba  em.  ja- 
neiro, a  segunda  dwra  de  Abril  até  Ptlaio,  e  ainda  até 
Julho  nos  ánnos  férteis.  O  seu  Algodão  se  assemelha 
em.  brancura ,  e  fineza  ao  ào  Algodoeiro  da  índia  ,  coni 
a  differença  de  ser  mais  adherente  a  semente  ,  e  com 
quQ  maduros  os  capulhos  ,  se  despegão  ,  e  cahem.  A 
pezar  destes  defeitos,  merece  por  todos  os  motivos  ser 
cultivado.  Os  cultivadores  do  Algodoeiro  da  ladia  em 
o  mesmo  Algodoal  devem  semear  o  coroado  de  S.  Do- 
mingos  em  Setembro ,  e  o  outro  em  Novembro.  Assim 
as  colheitas  de  hum  ,  e  oUlTO  se  succedêrão  regular- 
iriente  ,  e  não  começará  huma  ,  sem  que  acabe  a  outra. 

2  2.  Algodoeiro  Sarmenioso.  Asseme!ha-se  muito  a 
sua  semente  i  do  precedente  ;  com  tudo  se  distingue 
pelos  lados  ;  o  que  se  acha  a  sutura  he  plano ,  o  ou- 
tro he  mais  convexo.  Este  Algodoeiro  he  indígena  de 
Gaine.  A  sua  apparencia  o  distingue  dos  outros  todos, 
pois  que,  em  lugar  de  se  erguer ,  como  elles  em  linha 
perpendicular  ,  e  de  alargar  os  seus  ramos  horizontal- 
mente ,  cresce  n'huma  posição  inclinada  com  os  ramos 
inferiofes    sempre  arrastando  ,    ou  deitados  pela  terra  ^ 

es- 


(70 

cstendein-se  a  mais  de  cinco  pés  por  todos  os  kdos  ; 
os  superiores  são  muito  inclinados.  Por  este  motivo  se 
pôde  cultivar  esta  arvore  nos  lugares  expostos  aos  ven- 
tos pelas  serras ,  montes ,  ou  collinas ,  onde  outras  es- 
pécies se  não  darião  bem.  Facilmente  se  não  despegao 
os  seus  capulhos.  O  seu  Algodão  excede  em  alvura , 
e  fineza ,  ao  do  Algodoeiro  coroado  de  S.  Domingos,  So- 
mente obtive  huma  onça  e  meia  de  cada  arvore^  mas 
he  infinitamente  muito  mais  rendoso  no  seu  paiz  natal. 
As  suas  folhas  são  perfeitamente  sem.elhantes  ás  do  Al- 
godoeiro precedente, 

V 
§.    IV.    Algodoeiros   com  a  superfície  da  semente  em  paf' 


te  ,  ou 


no  todo  guarnecida  de  huma  J^elpa  ,   ou  ,  me^ 


Ihor ,   pellos   espessos  no  ponto  de  se   lhe  não  pe-^ 
der  distinguir    a  cór    da  sua  casca. 


23.  Algodoeiro  de  mancha  Usa.  Tem  a  semente 
com.  an"-ulos  embotados ,  e  algumas  prominencias  esca- 
brosas na  superíicje.  Cobre-se  desde  a  ponta  até  a  baçe 
de  huma  felpa  avermelhada.  O  gancho  ,  e  huma  gran- 
de mancha  junto  á  base  são  niis ,  e  sem  felpa.  A.  pon- 
ta ^  huma  parte  da  sutura  ,  e  o  gancho  são  mui  visí- 
veis. Nada  positivamente  sei  a  respeito  da  pátria  desta 
esDecie.  As  m.inhas  arvores  só  tem  hum  pé  de  altura  , 
de  sorte  que  não  posso  dizer  cousa  algumaa  sobre  a  sua 
colheita,  cu  rendimento  annual.  O  seu  Algodão  ,  que 
vi  5  era  miui  fino  ,  e  de  hum  trigueiro  amarellado. 

24.  Alecdoeiro  de  Ahodão  grosso.  Tem  a  semente 

quasi 


(74) 

quasi  cylindrica,  e  coberta  de  huma  felpa  cinzenta  es- 
branquiçada. Só  lhe  percebe  a  extremidade  da  ponta, 
A  sutura  se  cobre  de  felpa  ,  o  gancho  rara  vez  se  vc. 
Cresce  até  sete  pçs  de  alto,  e  requer  a  largura  de  qua- 
tro. Em  Martinica  lhe  dão  o  nome  de  JlgodÕo  grosso  ; 
e  na  Trindade  de  veludo.  Sem  embargo  de  ser  a  sua 
semente  aveludada ,  e  coberta  de  felpa  ,  com  tudo  ,  o 
Algodão  se  separa  com  toda  a  facilidade.  Ainda  he 
maior  esta  que  a  do  coroada  de  S.  Domingos  ,  e  a  do 
Algodoeiro  snrmentoso,  Na  fineza  ,  e  alvura  se  asseme- 
lha bellamente  ao  do  Algodão  de  Guianna  (num.  lo.), 
que  á  primeira  vista  se  não  destingue.  Esta  espécie  só 
dá  huma  colheita  no  anno  ,  que  he  de  Fevereiro  até 
Maio.  O  Algodão  se  conserva  na  arvore  por  muita 
tempo  ao  depois  de  maduro  ;  mas  cada  arvore  ,  por 
maior  cuidado  que  se  tenha  dado,  só  rende  duas  onças 
c  meia  descaroçado. 

25.  Algodoeiro  Sião  trigueiro  aveludado.  Tem  a  se- 
mente quasi  cylindrica  ,  toda  quasi  coberta  de  huma 
felpa  trigueira  avermelhada.  A  ponta  se  rodeia  de  pel- 
los  compddos,  e  a  sua  extremidade  he  visivel  :  a  su- 
tura ,  e  gancho  se  cobrem  de  felpa.  Em  Guadalupe  o 
denominão  Sião  vermelho  aveludado.  A'  muitos  annos 
que  se  cultiva  em  Santa  Cruz.  Não  me  rendeo  (17S9) 
só  huma  onça  ,  e  duas  outavas  por  arvore.  Certamen- 
te he  mais  rendoso  em  Guadalupe  ;  porque ,  a  não  ser 
assim  5  não  poderião  aguentar  as  despezas  da  sua  cultu- 
ra. Acòr  do  seu  Algodão  he  amaellada ,  de  huma  gran- 
de í]neza^  e  elasticidade, 

z6. 


C75) 

26.  Algodoeiro  mosscllna.  Tem  a  semente  inteira- 
mente coberta  de  pellos,  a  ponta,  a  sutura,  e  o  gan- 
cho não  se  percebem.  Em  Jamaica  todas  as  espécies  de 
Algodoeiros  ,  que  tem  o  grão  mui  aveludado ,  e  o  Al- 
godão mui  fino  se  cliamão  Algodoeiros  mossellnas.  Pos- 
suem muitas  variedades. 

A  primeira  chamada  mossellna  de  grosso  grão  tem  as 
folhas  divididas  em  cinco  iobos  ,  mui  distinctas  das  ou- 
tras todas  dos  Algodoeiros.  Só  dá  huma  colheita  ,  que 
começa  em  Jantiro  j  e  chega  a  Junho.  Cada  arvore 
me  rendeo  três  onças  ,  cinco  outavas  Cj  meia  de  Al- 
godão branco ,  cuja  brancura  não  chegava  á  de  muitas 
espécies  brancas  cultivadas  a  qui  á  muito  tempo.  Este 
Algodão  he  menos  macio  ,  e  sedeudo  que  o  da  varie- 
dade seguinte.  O  seu  descarocamento  he  diíficil  ;  pre- 
cisa-se  por  consequência  applicar  os  dedos  ,  operação 
dilatada,  e  aborrecida  que  deve  iníluir  naturalmente  no 
preço  deste  género  ;  visto  que  ,  para  descaroçar  hum  ar- 
rátel deste  Algodão  ,  são  precisas ,  ao  menos  ,  seis  hora'. 

A  segunda  variedade  tem  o  nome  de  moussellnas 
vermelhas  que  unicamente  se  destingue  da  primeira  pelo 
seu  Algodão ,  que  he  mais  fino ,  puxando  algum.a  cousa 
para  vermelho,  menos  abundante,  e  ainda  mais  diííi- 
cil  de  se  descaroçar. 

A  terceira  he  a  mousscVma  da  Trindade  ,  por  vir 
desta  Ilha.  Plantei  desta  casta  ,  e  me  deo  hum  Algo- 
dão melhor  que  as  outras  espécies  em  alvura  ,  e  fine- 
za. A  colheita  começa  em  Fevereiro  ,  e  chega  até  os 
fins  dç  Março.    O  Algodão    se  despega  com  muita  dif- 


(7tS) 

ficuldade  das  sementes ,  etc.  Estas  tem  duas  differentes 
cores  ,  a  maior  parte  verde  escura ,  outras  pardas  bem 
que  Igualmente  madura-?. 

Deôcubri  huma  quarta  em  Cayenna  ,  que  na?cia 
naturalm^ente  ,  e  em  grande  abundância  na  Ilha  de 
Mere  huma  das  P..emires  por  cujo  motivo  Ilie  dei  este 
appeiido  mosselí/ia  das  Remires.  He  a  peior  de  todas  as 
espécies  que  conheço  ,  e  a  meno5  digna  de  ser  cultiva- 
da. Cito-a  ;  porque  o  cultivador  deve  conhecer  as  boas, 
e  as  mxás  espécie?.  O  seu  capuiho  contem  somente  mui 
pouco  Algodão  branco  ,  descaroçado  ,  que  se  pega  de  tal 
forma ,  que  sem  muita  força  não  se  arranca.  O  desca- 
roçamento  de  hum  arrátel  requer  vinte  e  seis  horas. 
O  cuidado,  com  que  cultivei  esta  arvore  na  minha  fa- 
zenda de  Santa  Cruz,  causou-lhe  mui  pouco  melhora<p 
mento. 

Do  que  acabo  de  dizer  sobre  as  quatro  variedades 
de  mosselina  resulta  que  nem  a  quantidade  ,  nem  a  qua^ 
lidade  do  seu  Algodão  deve  convidar  ao  Fazendeiro  para 
a  sua  cultura. 

27.  Algodoeiro  de  folhas  vermelhas.  A  superficii 
da  semente  he  coberta  de  felpa  ,  e  de  peílos  em  molhos 
só  se  pode  ver  a  sua  extremidade,  e  ponta:  a  sutura, 
e  gancho  não  são  visiveis.  Este  AJgodoeiro ,  chamado 
Algodão  vermelho  nas  Colónias  Francezas  ,  merece  por 
todos  os  princípios  este  nome  ,  pois  que  os  lançamei> 
tos  dos  novos  ramos,  os  peciolos  das  foHias ,  as  veias 
das  ultimai,  são  de  huma  còr  vermelha  carregada.  No 
entretanto  qus  o  Algodão  amadurece  na  arvore  muitas 


C  77  > 

folhas,  o  calis  exterior  das  flores,  e  muitas  outras  par- 
tes que,  antes  da  madureza  ào  Algodão  são  de  côr  ver- 
de',  se  fazem  ou  todas  vermelhas  ,  ou  se  cobrem  em 
partes  de  manchas  desta  côr.  Vi  pela  primeira  vez  esta 
aivore  nos  Cays  em  S.  Domingos  ,  e  ao  depois  em 
a  Trindade  ,  e  Cayenna,  A  sua  altura  chega  de  ordi- 
nário a  sete  pés  ,  e  requer  hum  espaço  de  seis  pés 
em  largura.  Só  dá  por  anno  huma  colheita  ,  que  dura 
desde  o  mez  de  Fevereiro  até  o  íim  de  Maio.  O  rendi- 
mento,  ou  producção  década  arvore  he  de  huma  onça, 
e  três  ,  ou  quatro  outavas  de  Algodão  descaroçado: 
Este  Algodão  tem  o-  defeito  de  se  pegar  mui  tenas- 
mente  ao  grão;  para  se  ihe  separar,  as  maquinas  ordi- 
nárias são  insufficientes  ;  precisase  tirall©  á  m.ão  ,60 
descaroçamento  de  hum  arrátel  requer  treze  horas  de 
trabalho.  He  tão  fino  como  o  Algodão  da  índia,  mas 
os  manufactureiros  Inglezes  preferem  o  ultimo. 

28.  O  Algodoeiro  Religioso  (Gossi/pium  Religlostcm  ^ 
Lin. }  Conheço  duas  variedades:  huma  de  Tranquebar  , 
■que  tem  as  folhas.;,  com  lobos  pontudos  ;  e  outra  de 
Cambaia  ,  que  aá  tem  redondas.  Sua  sem.eníe  só  differença 
ra  grossura  :  he  quasi  espherica  ^  e  cobeita  de  huma 
feipa  parda  esbranquiçada,  e  de  alguns  pellos ,  as  quaes 
iodeão  a  ponta  ,  e  excedem  em  comprimento  ao  grão. 
Em  ambas  as  variedades  somente  se  percebe  huma  glân- 
dula no  lado  intermediário  das  folhas  :  esta.  falta  algu- 
.inas  vezes  nas  folhas  da  segunda  variedade.;  As  folhas 
'dé  ambos  estes  Algodoeiros  são  as  mais  formo-as  deste 
género.  Os  petalos  são  de  hum.a  côr  amarella  ,  ciara  ^ 
icom  huma  grande  mancha  vermelhti  na  sua  base. 


(72) 

A  variedade  de  Tianquebar  me  deo  arbustos  de 
três  pés  de  alto  ,  que  só  exigem  dous  de  e-paço  ou 
largura.  Os  capulhos  deste  Algodoeiro ,  ainda  que  mui 
pequenos  contém  muito  Algodão  relativamente  á  sua 
grandeza,  com  tudo  somente  tirei  seis  outavas  década 
■arvore.  As  fibras  deste  Algodão  são  curtas  ,  e  raras  em 
torno  da  semente,  a  qual  se  apegão  fortemente.  Pre- 
cisão trinta  horas  para  se  descaroçar  hum  arrátel  á  mão, 
O  AJgxjdoeiro  de  Cambaia  he  algum  tanto  mais  alto  , 
.«  os  seus  capulhos,  maiores;  mas  o  seu  rendimento, 
com  pouca  diíferença ,  o  mesmo  que  o  antecedente. 

29.  Algodoeiro  de  Porto  rico.  As  sementes  ,  total- 
mente cobertas^  de  felpa ,  são  apegadas  fortemente  hu- 
Tnas  ás  outras  ,  formando  huma  espécie  de  pyramide 
•estreita,  e  alongada.  Esta  espécie  se  assemelha  exacta» 
ínefite  aos  Algodoeiros  da  Gulanna ,  por  sua  apparencia  , 
grandeza  ,  e  por  outras  partes  differentes  da  arvore.  O 
<Beu  rendimento  foi  no  meu  Algodoal  igualmente  o 
.mesmo.  Mas  a  felpa,  que  cobre  inteiramente  o  grão, 
-O  faz  infinitamente  mais  difficil  a  descaroçar  que  o  de 
Guianna.  Não  sei  o  caso ,  que  delle  fazem  as  manufa- 
ctorias  Inglezas.  He  difficultoso  podello  saber  ;  porque 
só  entra  no  Commercio  misturado  com  outros.  Os  Fa- 
zendeiros de  Porto  Rico  crião  muitas  espécies  de  Algo- 
•doeiíos  sem  escolha  alguma  ;  e  como  nâo  conhecem  o 
'USO  de  maquinas  para  descaroçar  o  Algodão  ,  vendem- 
no  quasl  todo  por  contrabando  ,  e  não  descaroçado, 
■com  os  próprios  capulhos  aos  Estrangueiros  ,  que  lho 
ç^agão  por  hum  preço  excessivamente  baixo. 

As 


I 


(79) 

As  espécies  ,  e  variedades ,  de  que  acabo  de  dar  hu« 
ina  noção  (continua  M,  Ko/jr)  ,  são  trinta  c  quatro.  To- 
das forão  plantadas  por  mim  na  minha  fazenda  em  a 
Ilha  de  Santa  Cru2  ,  por  muitos  annos  successivan-iente  , 
com  o  intuito  de  poder  veiiíicar  a  inteireza,  e  bondade 
de  muitas  destas  espécies.  Tenho  a  pena  de  nao  poder 
fazer  alguns  ensa)  os  sobre  o  Algodoeiro  herva  ,  sem  em* 
targo  da  grande  diligencia  com  que  procurei  as  suas  se- 
mentes ,  ficando  aquella  baldada.  Por  tanto  o  Algo^ 
doelro  hevva  não  he  natural  da  America  meridional ,  co- 
mo o  pensarão  alguns  Botânicos  ,  e  entre  estes  o  Se- 
nhor Ortega. 

M.  de  Rohr  propõem  a03  interessados  por  esta  cul- 
tura o  tentarem  fazer  espécies  hybridas ,  ou  bastardas , 
Tnediante  a  fecundação  artificial.  Aconselha  escolher, 
para  estes  ensayos ,  Algodoeiros  de  capulhos  pequenos, 
e  lã  fína  ;  de  casar  ,  por  exemplo  ,  a  ílor  masculina 
do  Algodoeiro  do  Ciiraçih  com  as  flores  fêmeas  do  AU 
godoeiro  de  Caríha^ena  de  grandes  velios.  Diz  eíle  que 
verosimilmente  se  conseguiria  huma  nova  variedade, 
da  qual  os  Capulhos  terião  a  grossura  do  ultimo  Al- 
godoeiro ,  sem  ter  a  caducidade  dos  capulhos  do  Algo- 
doeiro de  Curaçáo.  Mas  c©mo  estas  duas  espécies  só  dão 
-huma  colheita  por  anno  ,  seria  preciso  occupar-se  em 
Tazer  esta  fecundação  com  huma  das  espécies ,  que  dão 
diias  colheiras  regularmente  cada  anno  ,  como  são  o 
Sofel  vermelho ,  o  Slãa  branco  ^  ou  outras.  O  que  M. 
--'de  Rohr  propõem,  se  funda  em  partes  sobre  experiên- 
cias feitas  por  elle  próprio.  Misturou  flores  masculinas^ 


CSo) 

c  femininas  do  Algodoeiro  da  índia  ,  e  do  Brasil ,  da  qual 
j-esLiltou  huma  variedade  com  grande  vantagem  do  Cul« 
tivador  ,  por  ofíerecer  huma  ramificação  mui  fechada  , 
e  que  podia  exceder  em  altura ,  e  forças  ás  duas  espe* 
cies,  quG  tinhão  concorrido  para  a  sua  existência.  Tal- 
vez y  acrescenta  este  Naturahsta  ,  virá  hum  dia  ,  no 
qual  y  tendo-se  feito  hum  grande  numero  de  experiên- 
cias desta  natureza  ,  se  conseguiráó  Algodoeiros  sem  se* 
mentes,  semelhantes  por  isto  á  algumas  variedades  de 
.fructos.  Os  Algodoeiros,  segundo  o  mesmo,  etc. ,  se 
podem  multiplicar  por  estacas, 

líl.  Citlliira, 


Antes  da  descoberta  da  America  o  Algodão  ,  que  3 
Europa  consummia  ^  era  importado  da  Índia  Oriental  j- 
da  Pérsia,  da  Ásia  menor,  e  talvez  de  Araiíia,,  e  da 
£gypto.  Hoje  se  cultiva  o  Algodoeiro  nas. quatro  par- 
tes do  mundo.  A  sua  cultura  he  hum  objecto  para 
muitos  paizes  de  huma  mui  grande  importancja.  Ella 
prove  ao  Commercio  de  hum  género  que  tem  hum 
cirande  valor  ,  e  que  faz  huma  das  riquezas  de  nossas 
Colónias.  Como  nos  diversos  paizes  ,  em  que  se  cultiva 
esta  planta  preciosa  se  confia  o  seu  cuidado  a  homens  , 
•segivem  na  sua  cultura  differentes  methodos ,  de  ordiná- 
rio,  accommodados  ao  clima,  e  por  isso  julga  ser  con- 
veniente fazer  conhecer  ao  Leitor  os  que  ,  de  entre  os 
.mesmos,  se  achão  com  maior  credito.  Por  esta  lazão 
^ividiíei  a  cultura^  do  Algodoeiro  em  cultura  da  Euro- 


C  «1  ) 

pa  ,  da  Ásia  ,  Africa  ,  e  America ,  fazendo  primeiro  ot?- 
servaçóes  geraes  a  seu  respeito  ,  propíias  a  guiar  aos 
que  a  cuitivão ,  em  qualquer  paiz  que  for. 

Ás  sementes  do  Algodoeiro  coríservao  a  proprie* 
dade  de  germinar  por  dous  annos ,  se  bem  muita  parta 
das  sementes  do  Algodão  da  America  a  perde  no  fimi 
de  alguns  mezes  ^  e  ainda  algumas  no  fim  de  alguns 
dias.  Te^^do  esta  semente  a  casca  mui  dura,  necessita 
ser  humedecida  antes  de  semeada.  Nasce  passados  tres^ 
quatro  5  cinco,  ou  sete  dias,  conforme  aespeeie*  Qual* 
quer  chuva  ligeira  apressa  a  sua  germinação  ;  mas ,  se 
for  muito  continuada  ,  a  destruirá.  Se  chovendo ,  passar 
sete  dias  Sem  brotar  ,  Se  pode  estar  certo  que  apodre- 
ceo.  Sem  chuva  ,  se  conservará  na  terra  por  muitos 
mezes*  As  suas  partes  oleosas ,  a  sua  casca  dura ,  hu- 
ma ,  ou  mais  pollegadas  de  terra  a  defendem  sufiicieíi- 
temente  contra  a  impressão  do  calor* 


"Raizi. 


Esta  naturalmente  he  perpendicular  acompanhando 
©s  seus  ramos  ;  cravada  na  terra ,  entra  em  linha  re- 
cta, e  o  tronco  toma  a  figura  de  huma  arvore.  Encon- 
trando pedras  ^  ou  terra  rija ,  em  lugar  de  descer  per- 
pendicularmente,  entra  a  lançar  barbalhos  ,  ou  raizes 
horizontaes ,  e  a  arvore  toma  a  mesma-  direcção  ,  e  se 
transforma  em  arvQre.taj  cu  arl^usto. 


(80 

Colheita  ,  ou  rendimento^ 

Esta  está  sempre  em  proporção  com  a  posição, 
e  direcção  de  suas  raizes.  Quanto  estas  forem  obrigadas 
a  se  apartarem  da  sua  linha  perpendicular  ,  tanto  a 
colheita  será  menor  no  seu  rendimento  ,  antes  ,  ao  con* 
tiario,  produzirá  muito  mais,  se  a  sua  raiz  principal  se 
Introduzir  profundamente  ,  conservando- se  esta  arvore 
por  muitos  mais  annos  ,  principalmente  tendo-se  a  cau» 
tella  de  se  cortar  o  tronco  rente  pela  terra  passado  O 
primeiro  anno. 

Terrenos^ 


Podem  convir  todos  para  a  cultura  do  Algodoeiro  , 
menos  os  que  forem  faltos  da  circulação  do  ar  ,  ou 
tnui  altos ,  húmidos ,  ou  frios*  O  Algodoeiro  de  Malta 
nasce  bem  em  terreno  árido,  areisco  ,  e  saburroso  em 
beira  mar.  A  sua  vizinhança  he  favorável  á  sua  vegeta- 
rão. As  colheitas  plantadas  no  Sertão  ,  ou  interior  de 
Guiana  são  sempre  menos  abundantes  que  a  dos  Al- 
godoaes  desta  espécie  em  beira  mar. 

Os  ramos  do  Algodoeiro  sahem  do  seu  tronco  es- 
palhadamente apartando-se  huns  dos  outros  poucas  pol- 
iegadas ,  mas  com  differença  na  grossura  :  os  menores 
nada  dão  ,  e  de  ordinário  perecem  rto  segundo  anno  , 
do  mesmo  modo  que  os  intermédio  que  produzem  pou* 
CO.  Os  ramos  fortes  conseguem  O  comprimento  de  cin- 
'•  CO  ^ 


(«o 

^0,  seis,  e  mais  de  sete  pés;  os  inferiores  são  sempre 
mais  compridos,  e  mais  fortes,  e  á  proporção  que  vão 
chegando  a  altura  do  tronco ,  ficão  mais  curtos ,  e  mais 
espessos.  De  ordinário  estes  ramos  produzem  grande 
quantidade  de  íructos ,  e  sem.pre  o  alto  desta  arvore  he 
que  dá  huma  maior  quantidade. 

Passada  a  primeira  colheita  de  qualquer  Algodoeiro  , 
as  extremidades  dos  seus  ramos  se  secção  ,  desde  o  lu- 
gar ,  em  que  se  achavão  carregados  de  fructos.  No  se- 
guinte anno  os  novos  ramos  rebentão  deste  mesmo  lu- 
gar. 

Geralmente  faltando  ,  os  Algodoeiros ,  que  tem  f  u- 
ctificado  por  muitos  annos  no  mesmo  terreno,  pouco  a 
f)Ouco  vão  perdendo  a  sua  faculdade  productiva  ,  de  ma» 
neira ,  que  a  finai ,  não  rendem  quasi  cousa  alguma  em 
Algodão  ;  e  por  isso  os  Algodoaes  precisão  ser  renova- 
dos de  tempos  em  tempos. 

Cultura  do  Algodoeiro  na  Eurovff^ 

Cultivão-se  ou  em  grande ,  ou  ,  como  hum  ob;c* 
cto  de  curiosidade,  nos  jardins  botânicos,  A  não  ser  o 
Algodoeiro  herva  as  outras  espécies  são  de  huma  grande 
delicadeza,  e  só  o  poderão  ser  em  estufas  ,  mas  por- 
que são  vividouras,  e  que  chegão  a  huma  grande  al- 
tura, se  precisa,  para  as  conservar  no  inverno,  tellas 
n'hum  lugar  temperado  ,  e  muito  espaçoso.  A  pezar 
porém  de  tudo  isto  os  Algodoeiros  ,  que  chegáião  a  hum*» 
certa  altura  pelo  estio,  morrem  logo  ao  repontar  o  in- 
F  s,  ver- 


o 


C«4) 

verno.  O  herva  he  de  todos  o  que  sente  menos  o  frio, 
mas  com  tudo  requer  o  ser  abrigado  até  hum  certo 
ponto.  Semea-se  em  grandes  vasos  por  Abril ,  c  se  tran?- 
portão  para  caixas  ate  que  o  tempo  permita  pollos  ao 
ar.  Precisasse  não  haver  descuido  em  os  regar  ,  mas 
sempre  com  moderação.  A  muita  humidade  lhes  he 
ruinosa.  Florece  em  Julho  ,  e  dá  fructos  maduros  em 
Septembro. 

P/liller  creou  em  Inglaterra  o  Algodoeiro  velado  que 
requer  maior  calor  que  o  precedente.  Semeou-o  em  can-* 
teiros  quentes ,  e  no  tempo  ,  em  que  poderia  trasplan- 
tar  ou  mudar  as  novas  plantas ,  poz  a  cada  huma  em 
Jium  grande  vaso  separadamente  com  a  serradura  de 
coitume.  Logo  que  este  Algodoeiro  ficou  em  termos 
tle  ser  passado  para  as  caixas ,  os  transportava  para  as 
estufas  5  onde  terminavão  o  seu  crescimento.  Appare- 
cêrão  em  Julho  as  suas  flores ,  e  os  seus  fructos  tinhão 
o  mesmo  tamanho  do  das  Antilhas  ,  e  em  Septembro 
amadurecerão  perfeitamente  ,  cheios  de  hum  Algodão  tão 
bom  como  o  que  se  remette  da  Jamaica. 

Os  paizes  da  Europa,  onde  se  cultiva  o  Algodão 
em  grande  5  onde  se  fazem  Algodoaes  são  Malta ,  Sicí- 
lia, huma  parte  de  Calábria,  e  poucas  Ilhas  no  Archi- 
pelago.  Tem-se  alargado  a  sua  cultura  pelo  meio  dia 
de  França,  e  os  felices  ensayos  feitos,  que  se  devem 
em  Mourques  a  Henrique  Giilot ,  e  Fanjas  não  permit- 
tem  duvidar  da  possibilidade  de  se  climatisar  esta  plan- 
ta em  Provença  ,  Delphinado  ,  Languedoc.  Chosseul 
.Gouflier  publicou  huma  Memoria  sobre  o  methodo  de 


(25) 

â  cultivar,  que  vem  entre  as  McmcrUs  da  JgncuhttrA 
de  Porís  no  treinestre  do  Outono  de   17S9. 

O  Algodoeiro  herva  ( diz  eile )  nasce  em  todo-  o 
terreno  ainda  pedregulhoso.  Vem  com  muita  abundân- 
cia nas  terras  fortes  :  entre  estas  he  a  melhor  a  que 
for,  nem  muito  húmida,  nem  muito  secca.  Deve  ser 
lavrada,  limpa,  e  igualada  ao  ansinho.  Semeao-se  tres 
-para  quatro  gváos  juntamente  em  duas  ou  tres  pollega- 
das  de  profundeza ,  e  a  dous  pés  de  distancia  (hemui- 
to  pouco)  com  o- ansinho  se  cobrem. 

Tendo  quatro  pollegadas  de  altura  as  novas  plan- 
tas ,  que  se  fazem  mais  vigorosas ,  chegando-lhes  terra 
ao  pé!  Em  outo  pollegadas  se  capão  ,  e  se  chapota  o 
alto  do  tronco  ,  para  se  lhes  dar  maior  força-,  e  obri- 
gallas  a  lançar  ramos  lateraes.  Monda-se  então  ,  e  se 
dímpão.  Se  a  estação  for  quente  ,  ou  o  terreno  secco  ,, 
se  regão  algumas  vezes, 

1  endo  o  Algodoeiro  conseguido  a  sua  altura  ,  flo^. 
rece.  Formão  as  maçãs  em  pouco  tempo,  e  se  engros- 
são  até  meiado  de  Septembro.  No  fim  deste  mez  co- 
meção  a  amadurecer ;  passão  de  verdes  a  amarellas,  e 
entrão  a  abrir-se.  Este  momento ,  o  he  da  sua  colhei- 
ta. Ordinariamente  o  colhem  de  manhã  ,  para  que  a 
orvalho,  humedecendo  as  folhas,  que  principiâo  a  sec- 
car,  embarace  o  quebrarem-se  os  capulhos ,  e  misturii- 
rem-se  estas  com  o  Algodão  ,  o  que  augmentaria  a  dif-^. 
ficuldade  de  o  cardar.  Esta  colheita  principia  nos  pri- 
ii^eiros  dias  de  Outubro.  O  Algodão  ,  colhido  e-m  .ac- 
ços,  se  kva  para  casa,  tira-se-Ihe  bgo  da^ua  coberta^ 


(  S6) 

e  se  põem  ao  depois  ao  sol  em  pannos ,  e  no  cr.so  de 
o  não  haver,  em  lugares  seccos  até  que  íique  em  es- 
tado de  se  metter  em  armazéns. 

Se  houverem  tempos  máos,  se  tira  sem  perda  de 
tempo  as  maças  que  restarem  ,  ainda  qus  não  hajão 
de  estar  de  todo  maduras  ,  e  se  põem  em  hum  forno 
com  hum  calor  moderado,  para  que  ellas  se  sequem, 
ç  se  abrão.  Este  Algodão  não  tem  já  mais  a  boa  qua- 
Jidade  do  que  amadurece  per  si  mesmo ,  ou  naturalmen- 
te ,  e  por  isso  se  precissa  pollo  á  parte.  As  sementes 
destes  fructos  tardios  não  servem  para  as  sementeiras, 
mas  servem  ,  do  mesmo  modo  da  boa  que  sobeja  pari 
alimento  dos  animaes  de  pontas  que  a  comem  com 
muito  apetite  :  pelo  inverno  se  jhe  podem  separar  as 
sementes  do  frouxel  ou  pluma. 

O  Algodoeiro  herva.  Este  se  pôde  naturalizar  não 
só  nas  partes  meridionaes  de  França,  mas  também  nos 
paizes  mais  frios.  Quem  quizer  capaciíar-se  desta  ver- 
dade lea  na  folha  do  Cultivador  tom.  I.  pag.  19  j  a 
analyse  das  experiências  feitas  em  Saxonia  por  Fkh 
*-hnuin^  Jardineiío  da  Corte  nos  annos  de  177S  ,  79,^ 
So,  eSi.  Ciiegarão~se  a  crear  Algodoeiros  a  todo  o  ar, 
sem  que  o  frio  do:;  dous  invernos  os  destiui.<;se ,  e  dos 
^iiaes  alguns  derão  hum  legitimo  Jcnho  passado  o  se- 
gundo  inverno. 

Esta  espécie  de  Algodoeiro  nasce  maravilhosamen^ 
te  em  Sicilia  ,  Calábria  ,  e  M.Ita.  Nestes  três  paizes 
tem  quasi  a  mesma  cultura.  O  Território  de  Terrra-no- 
y^i  que  se  estende  í^o  lo^/uo  do  mar  ao  poente  deSy- 

fa* 


(  :B7  5 
racusa,  no  Valle  de  Noto,    be  o  bairro  de  Sicilia  des- 
tinado particularmente    a  esta  cultura.    São    de  optirxia 
qualidade  as  terras  que  nella  se  empregao,    bem  lavra- 
da,  e  limpa  de  más  hervas,  Lavrão-se  por  cinco  ou  seis 
vezes  de  Novembro  até  Abril  ,    regao-se  em  Maio  ,  « 
9cha«do-se  mediocremente  húmidas  ,  se  lhe  deita  o  grão 
tendo  estado  antes  posto  de  infusão  em  agua  ,    e  bem 
esfre-ado  para  se  lhe  tirarem  os  filamentos.  Os  AldeÓes 
i?ualão  ,    ou  arrasão  ,    o  terreno  ,    não  com    a  grade, 
instrumento   da  Agricultura  ,    que   não   he  geralmente 
conhecido  em  Sicilia ,  mas  com  a  ramalhada  das  arvo^ 
res  atadas  humas   a  outras  juntamente  ,   sobre  que    se 
sentão  ,    e  são  arrastadas  por  bois.    Esta  operação  con. 
serva    na  terra   a  humidade    que    o  grão  necessita  para 
brotar.    Como  este  grão  degenera    todos    os  annos  ,    o 
cessa  de  dar,  o  Algodão,  os  Cultivadores  o  mandão  vir 
novo    de  Malta  ,    e    os  Maltezes  pela  mesma    razão   o 
mandão  vir  de  Sicilia  do  Algodão  que  nella  se  cultiva. 
Podem-se    semear    no  anno    seguinte   de    grão    as 
terras  ,    donde   se  tirou    o  Algodão  ,    produz-se  mara- 
vilhosamente.    Querem  que    a  Sicilia  possa    cada  anna 
exportar  para  o  Estrangeiro  trezentos  e  trinta  e  seis  iiiil 
arráteis   de  Algodão  preparado    de  differentes  maneiras. 
O  excedente  se  consomm.e  na  mesma  Ilha.    Manda-se  » 
O  que  se  exporta  no  Commercio ,    debaixo  de  differen- 
tes  formas,  ou  sahindo  da  maçã  com  o  grão  ou  desca- 
roçado ,    ou    em  meí^das    de  fio.    A  maior   quantidade 
■sahe  totalmente  fiado  ',    regulando-se    o  seu  valor  pela 

preço  das  encomendas ,  e  Q  da  ftlatura, 

A' 


(  88  ) 

A'  muito  tempo  que  em  Malta  a  cultura  do  Algo. 

dâo  faz  hum  dos  seus  grandes  ramos  da  Agricultura  do 

paiz.    Mas  como  não  sejao  próprios  para  ella  todos    os 

seus    lugares    só  se  vem    AJgodoaes    nos  lugares  ,    que 

ella  tem  mais  abundantes  de  terra  vegetal.  Actualmen, 

te  cultivão  três  espécies.  Primeira:  o  Algodoeiro  ,  a  que 

chamão  impropriamente  ,  de  hcrva  dura  três  annos ,    e 

produz  muito  mais  no  segundo  que  nos  outros.    Passa^ 

do  o  terceiro  arrancão,  para  semear  de  novo.  Secundo  • 

o  Algodoeiro  de  Sião  ,    que  tem  a  côr  do  Algodão  dê 

camurça  ,  mas  de  huma  excellente  qualidade ,  e  de  que 

os  Maltezes    fazem  tecidos    de  muito    uso  como  meias 

rajadas,  e  lisos,  meias  com  lados  brancas,  e  rendados. 

Terceiro  :    hum  Algodoeiro,  vindo  das  Antilhas,    que 

cresce  mais  alto  que  os  precedentes. 

As  Donas  Mahezas  se  occypão ,  por  divertimento, 
cm  descaroçar  o  Algodão,  e  os  Maltezes  são  mui  des- 
tros em  o  fiar  ,  e  de  o  empregar  em  vários  géneros 
de  barretes.  Também  se  juigão  que  elles  comprao  o 
Algodão  nas  Ilhas  do  Archipelago  ,  com  o  qual  tem 
oe  ganho  a  sua  mão  de  obra.  A  alguns  annos  a  sua 
íilatura  tem  feito  progressos  maravilhosos ,  devidos  e^ 
parte  ao  Bailio  de  Suffren ,  que  lhes  trouxe  do  Mala^ 
bar  para  Malta. 

Nas  terras  da  Calábria  vizinhas  ã  Cidade  deLecce, 
Otianto,  Gallipoii,  e  nos  paizes  mais  avançados ,  os 
campos  destinados  á  cultura  do  Algodoeiro  são  lavra- 
dos com  a  charrua  duas  veze5,;sto  he  ,  em  Janeiro,  e 
Abril.    Semea-,^e  em  mo,   e  se  colhe  em  Septembro. 


Ç  39  -) 

e  Outubro.  A  maior  parte  do  Algodão  ,  colhido  na  Ca- 
lábria ,  se  exporta  assim  fiado  ,  como  arranjado  de  ou- 
tras maneiras.  Em  Lecce  fabricão  diíferentes  tecidos, 
e  mosselinas  ordinárias  ,  e  em  outras  muitas  Cidades 
rneias ,  e  Colxas. 

Em  Syra  ,  huma  das  Ilhas  do  Archipelago  ,  seu? 
vizinhos  ,  antes  de  semearem  o  Algodão  preparão  o  seu 
grão.  Misturão-no  com  sementes  do  rio,  lanção-lhe  agua 
por  cima  ,  e  o  mexem  bem  ,  esfregando-6  com  as  mãos 
em  cima  de  huma  pedra  plana  até  que  se  despegue  to- 
da a  pluma ,  ou  frouxel ,  ao  depois  o  tirão  para  o  alim- 
par da  arêa,  semeando-o  ao  depois  disto  com  facilida- 
de. Os  Syriotas  chapotão  também  os  seus  Algodoeiros. 
ISíão  cultivão  as  melhores  espécies  ,  sem  que  por  isto 
deixe  de  ser  o  seu  Algodão  de  huma  boa  qualidade  : 
he  hum  tanto  avermelhado  como  a  terra,  mas  os  seus 
tecidos  5  por  meio  de  algumas  cenradas  ou  lexivias  , 
tem  muita  alvura, 

A'  pouco  tempo  se  occupão  os  Hespanhoes  na  cul- 
tura do  Algodoeiro.  Muitos  particulares  o  cultivão  na 
Reino  de  Valença.  Em  1785  se  estim.ou  em  quatro 
quintaes  o  Algodão  da  sua  colheita.  Segundo  Ortega  o 
Algodoeiro  ,  que  cultivão  ,  he  o  arvore  de  Linne. 
Queirão  ver  a  sua  descripção  no  principio  deste  artigo. 
??emea-se  o  seu  grão  em  Março  (  conforme  diz  este  Au- 
thor  )  ;  e  para  que  cresça  mais  de  pressa  o  infundem 
antes  ern  agua  por  vinte  e  quatro  horas.  Cuidão  em 
regar  as  novas  plantas  até  chegarem  a^  certa  altura.  Des- 
de que  começão  ?,  fortiíícar-se  ,    podem  passar  sem  esta 


Cpo) 

rega  ,  ainda  sendo  o  terreno  secco  ,  e  areisco.  Neste  tem- 
po são  refrescados  pelos  abundantes  orvalhos ,  que  ca- 
hem  em  Valença  situada  perto  do  Mediterrâneo.  Dá  este 
Algodoeiro  duas  collieitas  cada  anno  em  Julho ,  e  outra 
cm  Septembro.  Encontrando-se  hum  bom  terreno  abri- 
gado de  ventos  frios ,  principalmente  chegando-se-lhe 
terra  ao  pé  ,  dura  quatro  anncs ,  e  tratando-se  as  arvo- 
res deste  modo,  produzem  maior  quantidade  de  AlgCr 
dão  que  o  que  se  planta  annualmente.  Póda-se  em  Hes- 
partha  os  Algodoeiros  do  mesmo  modo  com  que  se 
poda  a  vinha  ,  cortando-Ihe  toda  a  madeira  supérflua , 
c  deixando-Ihe  só  a  productiva.  No  primeiro  anno  huma 
arvore  produz  somente  cincoenta  maçãs  :  no  segundo 
quasi  duzentas  :  no  terceiro  seis  centas  ,  e  mais  :  no 
quarto  entra  a  descahir ,  produz  então  mui  pouco  ,  e 
de  inferior  qualidade  ao  dos  primeiros  annos.  Os  Algo-? 
doeiros  de  Hespanha  chegão  á  altura  de  hum  homem  ; 
e  nos  paizes  maritimos  se  começa  agora  a  cultivar  o 
herva  j  jtnas  tem-se  adiantado  ainda  muito  pouco, 


Ctiltnra   do   Algodoeira  em  Asla, 


Pódese  respeitar  a  Ásia  como  Pátria  da  maior  par^ 
te  das  espécies  dos  Algodoeiros ,  que  possuimos.  Com 
tudo  falíão-nos  informações  circunstanciadas  ,  e  exa- 
ctas da  maneira  com  que  cultivão  ,  e  inultiplicão  estas 
arvoreta-.  A  maior  parte  dos  viajeirr.s  não  disserão  cou- 
sa alguma  que  nos  possão  satisfazer  neste  assumpto.  A 
China,  Mogor ,  Sião,  e  Pegu ,  toda  a  índia.  Bengala 
1  pro- 


produzem  immensa  quantidade  de  Algodão  ,  de  que  se 
exporta  parte  crú  ,  paríe  fiado  ,  ou  tecido  em  .pairnos  dif- 
f  jrentes ,  que  ,  pelo  seu  tecido  ,  delicadeza  ,  e  alvura 
eausão  admiração  aos  Europeos  ;  e  os  Authores  da  His- 
toria Natural  destes  belíos  paizes  não  tiverão  o  trabalho 
de  nos  instruir  a  hmdo  dos  methodos  ,  que  applicão 
para  a  cultura ,  e  manipulação  do  Algodão.  Vou  a  dar 
hum  pequeno  resumo  de  obsesvaçoes  ,  que  alguns  dei- 
xarão escriptas.  ; 
Em  Sumatra  (diz  Marsden  Historia  de  Sumatra  , 
Vcl.  I.  pag,  241.)  Se  cultivão  duas  espécies  o  hcrva  ^ 
e  arvore.  O  Algodão  ,  que  Iiuma ,  e  outra  dão  ,  parece 
ser  de  huma  exce! lente  qualidade  ,  e  poderiâo  ,  sendo 
animadas  ,  ser  colhido  em  muita  quantidade  ;  mas ,  se 
os  naturaes  o  cultivão,  he  só  aquella  porção  que  pôde 
bastar  ás  necessidades  de  suas  manufacturas.  O  Al^odãi> 
Seda  (  Bombax  Ceiba  )  também  se  encontra  pelas  al- 
deias. He  huma  das  melhores  producções  ,  que  a  Na- 
tureza offerece  á  industria  do  homem.  He  muito  supe- 
rior á  seda  pela  sua  delicadeza ,  niacieza  ;  mas ,  sendo  o 
frouxel  muito  curto  5  e  o  fio  quebradiço  julgão  que  não 
lie  próprio  ao  divisor,  e  ao  ofíicial ,  mas  delle  se  fazem 
ajnofadas^  çcolxoes.  Este  Algodão  se  contém  em  hum 
capulho  comprido  de  cinco  a  seis  pol legadas  ,  e  as  se- 
mentes se  assemelhão  á?  da  pimenta  negra  ,  sem-  terem 
saber  algum.  A  arvore  he  notável  por  seus  ramos  mui 
direitos  ,  e  horizontaes*  Alguns  viajeiros  lhe  derão  O 
4iome  de  Quitasol  Mas  esta  espécie  de  meza  ,  chama- 
da gucrhlon  cfíerece  huma  representação  mais  justa.    - 


C90 

Cultiv2-se  cm  toda  a  Pérsia  o  Algodoeiro.  Re- 
quer,  (  diz  Ginellin)  hum  terreno  fértil  QVoj/age  dant 
fhtssçurs  Frovinces  de  l  Empire  Rasse  Vq].  Ill,  p.  47.) 
WalgLins  destrictos  de  Masaiidaran ,  que  tem  o  terreno 
estéril ,  se  suppre  com  estrume.  Plantão  se  03  Algodoeiros 
a  hum  pé  de  distancia  ,  e  em  campos  lavrados  ,  precisão 
para  medrar  de  alguma  chuva  moderada  ;  porque  se  não 
retardem,  e  não  se  transplantão  :  semeão-se  em  Maio, 
c  se  colhem   nos  fins  de  Septembro. 

Nasce  também  em  toda  a  Arábia ,  mas  não  sabe- 
mos se  lhes  dão  huma  cultura  regular.  Parece  que  na 
Syria  ,  e  Palestina  a  sua  cultura  pára  só  nos  usos  do- 
mésticos. Na  Ásia  m,enor  ,  e  Natolia  os  Turcos ,  Arn-re- 
nios  ,  e  Gregos  o  cultivão.  Ha  hum  grande  Commer- 
cio  em  Alepo ,  e  Smyrna.  Ka  grandes  colheitas  nos  pia- 
nos de  Esmyina.  Não  seda  (diz  Flachart )  pelos  mon- 
tes ,  e  valles  :  as  terras  fortes  o  copão  ,  e  as  areis- 
cas  não  tem  substancia.  Ke  particular  o  modo  com 
<]ue  neste  paiz  lhe  preparão  o  grão.  Embrulhão-no  no 
próprio  Algodão  ,  estendem  ao  depois  estes  pequenos 
embrulhos  em  hum  eirado  ;  cobrem-se  com  terra ,  que 
se  rega  ,  rola-se  em  as  mãos  para  se  lhes  dar  consisteiv 
cia.  O  Semeador  os  lança  então  como  o  grão  apanha- 
dos ;  mas  em  pequena  quantidade  ;  porque  os  grãos  se 
afogarião  mutuamente  huns  aos  outros  ,  sendo  muito 
apertados,  e  voltão  os  sulcos  feitos  de  sorte  que  as  se- 
mentes íicão  enterradas  a  meio  pé  de  profundeza.  A 
jnejma  terra  pode  aguentar  por  dous  annos  successivos 
O  Algodão,  substituiiido-se-lhe  trigo,  ou  cevada. 
.-,  :  Na 


(93) 

Ka  Ilha  de  Chypre  se  produz  iTiiíito  ÁJgodâo ,  que 
conserva  o  seu  nome  ,  que,  como  diz  Mariti,  se  re- 
puta pelo  melhor  de  Levante ,  he  mui  branco ,  os  íios! 
são  compridos  j  e  sedeudos  ;  vende-se  por  alto  preço. 
Todavia  todo  quanto  se  colhe  não  he  da  mesma  bon- 
dade :   cada  colheita  tem  qualidades  inferiores. 

Distinguem  se  em  Chypre  os  Algodoeiros  de  água 
corrente y  em  Algodoeiros  de  terra  secca.  Cultivão-se  os 
primeiros  junto  ás  aldeias  ,  onde  ha  pequenos  rios  ,  e 
correntes  de  agua  pura  ,  para  os  regar  ;  o  Algodão  ,  que 
produzem ,  he  infinitamente  melhor ,  e  de  huma  quali- 
dade superior  ao  que  se  cria  em  lugares  seccos ,  ou  on- 
de só  recebem  as  aguas  do  Ceo,  Os  Cypriotas  princi- 
pião  a  sua  semeadura  em  Abril  ;  podião  principialla  mais 
cedo  5  mas,  como  as  novas  plantas  principiarião  abrof 
tar  no  tempo  que  os  gafanhotos  destroção  annualmente 
a  Ilha  ,  de  propósito  retardão  esta  cultura  que  nada 
tem  de  singular. 

Reputa-se  actualmente  em  Chypre  por  htima  boa 
colheita  a  que  rende  cinco  mil  bailas  de  Algodão.  Dão- 
se  annos  pouco  rendosos  que  a  penas  se  colhem  três 
mil.  Quando  esta  Ilha  esteve  no  dominío  dos  Venezia- 
nos cada  anno  se  colhia  trinta  mil  bailas.  Tendo-se 
porém  rfimnuido  a  sua  população  em  demasia  desde 
esta  época  ,  igualmente  se  deminuio  a  cultura  deste 
género.  Além  disto  a  grande  seccura  que  se  experimenta 
neste  paiz  ,  e  os  ventos  quentes  que  commummente 
sopráo  em  Julho  concorrem  pela  maior  parte  para  esta 
falta. 


C94) 

Cultura  no  Continente    de  Africa. 


As  relações  que  temos  deste  paiz  pouco  dizem  da 
cultura  do  Algodoeiro  nesta  vasta  parte  do  mundo. 
Todavia  parece  certo  que  nelle  se  cultiva  este  arbusto 
não  só  nas  Coitas ,  como  também  no  seu  Cerlao  ;  por- 
que as  Caravanas  que  todos  os  annos  vem  do  interior 
da  Africa  aoEgypto,  para  oCommercio  dos  escravos, 
e  da  gomma  trazem  pannos  de  Algodão,  cuja  còr ,  e 
forma  attestão  a  origem  Africana.  No  Senegal ,  e  Ser- 
ia Leoa  ,  e  nas  feitorias  Europeas  de  Guiné  se  vem 
muitas  vezes  amostras  de  Algodão  trazidas  do  interior 
pelos  contractos  negros.  Este  Algodão  ,  ainda  que  de 
huma  brancura  brilhante  ,  e  de  huma  grande  maciez* 
com  tudo  he  menos  estimado  pelos  negros ,  que  o  Al- 
godão semelhante  ao  Sião  amarello ,  mas  de  huma  còr 
mais  dourada  ,  que  se  acha  nos  Reinos  de  Dahomet , 
>c  cuja  exportação  he  prohibida  debaixo  de  rigorosas 
penas.  He  desconhecido  o  Algodoeiro. 

He  verosímil  que  Africa  tenha  muitas  espécies  de 
Algodoeiros  naturaes.  O  Sonnentoso  ,  de  que  já  fallei ,  l  e 
hum  delles ,  de  onde  veio  para  as  Antilhas.  No  Cabo 
de  Boa  Esperança ,  que  he  a  parte  da  Africa  mais  conhe- 
cida ,  parece  não  haver  esta  sorte  de  arbustos  ,  ao  menos 
os  viajeiros  nada  dizem.  Está-se  na  mesma  inteliigencia 
a  respeito  da  Cafraria ,  e  Ethiopia ,  ainda  que  a  tempe- 
ratura destes  lugares  parece  convir  a  cultura  deste  ve- 
|;etal.  Os  Algodoeiros  das  Mauricías  forão  trazidos  da 
jlndia,  e  se  dao  muito  bem, 

Kão 


(95  ) 

Não  temos  certeza  que  antigamente  houvessem 
Algodoaes  noEgypto,  bem  que  delle  se  extrahisse  mui- 
to Algodão.  Seria  nascido  ahi?  Hoje  se  dSo  alguns  AN 
godoeirqs  ,  mais  para  o  uso  domésticos  que  para  espe- 
culações mercantis.  Esta  cultura  he  estranha  aos  Barba- 
rescos  ,  a  pesar  que  o  seu  clima  lhe  convém.  Parece 
que  se  contentão  com  as  suas  bellas  lãs  applicadas  a 
seus  vestidos ,  e  de  que ,  além  disso  fazem  o  seu  gran- 
de Commercio. 

Cultura  na  America, 


Não  seguirei  a  Nicolion ,  Moreau  de  Saint  Mery  , 
Blout  5  Budier  no  recenseamento  que  íizerão  de  hum 
grande  numero  de  Algodoeiros  da  America.  Seria  au- 
-gmentar  ainda  a  confusão,  já  assas  grande  ,  que  reina 
na  nomenclatura  das  espécies  botânicas  Ou  jardineiras 
deste  interessante,  género.  Paro  na  divisão  de  M.  de 
Kohr  exposta  acima  que  abrange  quasi  todas  que  se  en- 
contrão neste  continente ,  quer  estranhas  ,  quer  natu- 
raes.  O  trabalho  de  M.  de  Rohr  merece  a  maior  con- 
hança,  pois  residio  na  America  vinte  annos  successivos  , 
e  em  todo  este  tempo  se  occupou  na  cultura  ,  em  San- 
ta Cruz  3  de  todos  os  A^lgodoeiros ,  que  pôde  descobrir, 
e  que  viajou  por  ordem  todas  as  Ilhas  do  Governo  Di« 
namarquez ,  todas  as  Ilhas  ^  e  Possessões  de  terras  firme 
do  Governo  Hespanhol  ,  Hollandez,  e  Francez  ,  que 
se  occupão  desta  cultura. 

As  Antilhas ,  Quianna ,  e  9i  maior  parte  áo  Brasi! 

são 


C  96  ) 

são  os  lugares ,    em  que  íiorece  esta  cultura  em  maiof 
ponto.    As  varges,  os  montes  ,    os  teirencs  seccos ,  « 
húmidos  são   igualmente ,  com  pouca  ditferença  ,    pró- 
prios para  Algodoaes.    GostSo  principalmente    de  beira 
mar.  A  sua  duração  vai  de  quatro  a  seis  annos^    e  no 
fim  destes  se  precisão  renovar ,    pois  que  sem  isto  ren- 
derão muito  pouco.    De  ordinário  os  plantão  em  quin- 
conce.   Prepara-se  a  terra  cm  lugares  abrigados ,  quanto 
se  poder ,  dos  ventos  do  Norte ,  e  Nordeste.    Abrem-s« 
covas  ,    em  que  se  deitao  muitos  grãos  ,    qualqíier  pe- 
quena chuva  os  faz  brotar.  No  Cabo  de  três  semanas  , 
ou  hum  mez    se  mondâo  as  novas  plantas,    e  se  tirão 
as   supérfluas  ,  deixando-se  em  cada  cova  duas  ou  três. 
Quando  tiVerem  quatro  ou  cinco  pés  se  chapotão  para 
obrigar    a  seiba  a  alavgar-se  para  os   lados  ou  ramos  la- 
teraes.  Estes  também  precisão  fazellos  parar ,-   se  lança- 
rem garfos  mui  compridos.  Estas  podas  executadas  com 
destreza  obrigáo  os  ramos    a  formar  galhos  ,    ou  subdi- 
visões  ,    e  por  este  meio  se  consegue  a  esta  planta  to- 
da a  fecundidade ,  de  que  he  capaz. 

Se  a  estação  for  favorável  ,  se  pode  começar  a 
colheita  do  Algodão  seis  ou  sete  mezes  passados  ao  de- 
pois da  semeadura.  Dura  esta  colheita  três  iTiezes.  Era 
alguns  paizes  ha  duas  ,  mas  a  primeira  sempre  he  a 
.mais  abundante.  Em  geral  o  Fazendeiro  hitelligente 
deva  regular  suas  plantações  de  mar:ieira  ,  que  sempre  as 
faça  em  tempo  húmido  para  o  prompto  desenvolvi- 
inento  das  sementes  ,  e  que  a  colheita  se  possa  fazar 
cm  hum  tempo  quente  porque  se  deve  colher  o  Algo- 

dão« 


C97) 

éio  secco ,  e  limpo.  A  humidade  o  faria  fermentar ,  « 
o  gráo  germinaria.  Algumas  vezes  a  negligencia  dós  ne- 
gros causão  a  deterioração  deste  género  :  colhem  os  ca- 
pulhos  ás  punhadas ,  e  misturão  o  Algodão  com  folhas 
seccas ,  que  o  manchão.  Estas  folhas  embaração  o  desça, 
roçador  ,  e  alterão  a  qualidade  do  Algodão.  Pára  se 
colher  bem  ,  o  negro  só  se  deve  servir  dos  setís  três 
dedos ,  e  evitar  de  quebrar  os  ramos ,  quando  os  puxa 
para  si  ,  o  que  faria  abortar  aos  capulhos  ,  ou  maçãs 
que  ainda  estão  verdes  ,  que  podem  ter.  Basta  hum 
cesto  a  este  trabalho  ,  o  qual  deve  receber  cincoenta 
arráteis  de  Algodão  com  o  grão  ,  que  conduz  a  casa 
do  Senhor ,  e  o  põem  ao  sol ,  para  o  seccar ,  estendido 
em  pannos.  Tendo  deixado  assim  por  dous  ou  três  dias , 
se  escolhe ,  e  se  põem  no  armazém.  Os  pilares  oú  es- 
teios que  sustentão  o  armazém  são  guarnecidos  de  funis 
de  folhas  de  Flandres ,  que  impedem  os  ratos  a  subida. 
Estes  animalejos  são  com  excesso  apetitosos  das  semen- 
tes do  Algodoeiro. 

Para  se  separar  o  Algodão  da  sua  semente ,  o  obri- 
gão  a  passar  entre  dous  rolos  de  madeira,  dispostoá  ho- 
rizontalmente ,  hum  por  cima  do  outro ,  que  são  movi- 
dos por  hum  alça  pé ,  como  se  pratica  nos  robolos  dos 
«moladores  por  hum  travessão:  poem^se  sobre  o  eixo  d4 
manivella  hum  volante ,  e  hum  contrapeso  que  carrega 
sobre  o  rol©  superior.  Dao-se  descaroçadores ,  de  qúe  se 
usáo  muito  em  Cayenna  ^  do  comprimento  de  seis  até 
(doze  pcs.  Ha  poucos  annos  que  se  construio  em  Santa 
Jtuzia  hum  grande  engenho  de  descaroçar  Algodãd  ^  mo- 
ST.  K.  P.  I.  Q  vi- 


C  9«  ) 

vido  por  agua ,  que  cahe  sobre  Iiuma  roda  perpendicular 
em  horizonte   ,    que    faz  mover    hum  cylindro    de  ma- 
deira de  quarenta  pés  de  comprido,  e  vinte  de  diâme- 
tro.  Este  Cylindro  em  rotação  faz  rolar,  seis,  outo,  ou 
dez  engenhos,  semelhantes  ao  que  acabo  de  descrever, 
por  meio  de  huma  corda  ,    que  o  entrelaça  ao  mesmo 
tempo     de  huma  maneira  conveniente    ás  pequenas  ro- 
das de  todos  os  descaroçadorcs.   Esta  maquina ,  cuja  in- 
venção se  deve  a  hum  Inglez  ,    apenas  custa  outo  mil 
livras ,  tendo-se  hum  canal  de  agua  que  a  faça  mover. 
Para  o  ensaccar  ou  embalotar  ,  se  mete  o  Algodão 
em  saccas  de  panno  grosso  :  Em  Cayenna  ,  e  outras  Co- 
lónias 5  se  serve  do  que  tem  três  pés  de  largo ,    e  dez 
pollegadas :  calca-se  bem.    Hum  negro  entra  no  sacco, 
suspenso  no  ar    por  travessas  fixadas  em  esteios  ;   calca 
com  os  pés  o  Algodão ,    que  se  lhe  vai  dando ,  pouco 
a  pouco  :  quanto  for  mais  calcado  ,  ou  apertado  ,  menos 
sujeito  fica  a  soffrer  a  avaria  no  transporte.  Para  que  não 
se  remonte ,  em  quanto  se  ensacca ,  se  conserva  o  sacco 
molhado  por  fora;  estando  cheio,  se  lhe  coze  a  bocca. 
Gada  sacca  tem  duzentos,   quatrocentos,  ou  seis  cento» 
mil  arráteis.    Huma  boa  sacca  deve  contar  tantos  quin-? 
taes  de  Algodão  quantos  são  as  varas  ,  de  panno  ,  que  a 
sacca  tiver  levado.  Neste  estado  está  este  género  prom- 
pto  para  o  Commercio  ;  e  talvez ,  a  ser  transportado.  Pre- 
í!pisa-se  não  esquecer  de  deixar  ao  sacco  duas  orelhas  cheia* 
deA^lgodão,  para. que  com  facilidade  se  possa  remover ^ 
estando  cheio  :    d?ve-se  também  ,    quando  se  encher, 
bater  o  sacco  por  fora ,  par*  cjue  este  se  faça  redonda. 


C  99  > 

O  uso  de  molhar  o  sacco ,  em  quanto  se  enche  ^ 
para  sujeitar  a  compressão  ,  e  para  unir  huma  maior 
quantidade  em  hum  menor  volume  ,  he  certamente 
contrario  ao  perfeito  desenvolvimento  de  suas  partes 
na  carda ,  ainda  que  possa  ser  bem  separado  ,  e  bem 
descaroçado  ,  resiste  ,  quebra-se  ,  e  soífie  huma  perda 
muito  grande.  Porém  mais  saccas  augmentaria  a  despe- 
za  do  ensaccamento  :  saccas  maiores  farião  mais  difíicil 
o  seu  arranjo. 

Antes  da  guerra  de  1755  os  Hollandezes  nos  pro- 
vião  do  Algodão  de  Eerbiche ,  hum  dos  seus  estabele- 
cimentos na  America.  Era  em  pequenas  saccas  de  peso 
de  cento  trinta  e  cinco  até  cento  cincoenta  arráteis : 
arranjado  com  asseio ,  mas  muito  apertado  na  sacca ,  e 
por  isso  se  trabalhava  com  muita  facilidade  ,  e  tinha 
pouca  quebra.  O  seu  merecimento  era  só  por  isto ,  ten- 
do a  preferencia  ao  das  nossas  Ilhas. 

Passada  a  colheita  _,  se  corta  o  Algodoeiro  pelo  pé 
cm  tempo  de  chuva  ,  e  o  tronco  dá  fructos  mais  prom- 
ptamente  ,  e  em  maior  quantidade  que  as  novas  plan- 
tas. Em  certas  partes  da  America  se  faz  esta  operação  d^ 
dous  em  dous ,  de  três  em  três  annos.  A  cultura  deste 
arbusto  mais  fácil  que  todas  quantas  se  fazem  em  as 
nossas  Colónias ,  e  que  requer  menos  braços ,  e  despe- 
zas  ;  e  por  ella ,  ou  pela  do  Café  he  os  novatos ,  que 
entrão  neste  paiz  ,  devem  principiar  o  seu  grangeio. 
Hum  só  negro  pôde  cultivar  hum  quadrado  de  terra 
(quasi  três  arpentes  de  Paris)  plantado  em  Algodão  ,  seti- 
do  esta  superfície  em  terras  boas ,  pódedíir  mií  e  duzen- 

C  z  tos 


tos  arráteis  deste  género ,  que  ,  vendidos  a  razão  de  du- 
zentas libras  tornezas  por  quintal ,  offerece  hunia  renda 
de  duas  mil  e  quatro  centas  libras  (  384(^000  por  es- 
cravo) .  Apresento  o  maxlmitm  do  producto  ,  que  he 
mui  raro  conseguillo.  DeA^-e  necessariamente  depender 
de  quatro  cousas,  i.  da  qualidade  da  terra  ,  2.  espécie 
do  Algodoeiro,  que  foi  plantado  ,  j.  do  methodo  da 
cultura  que  segue ,  4.  do  preço  mercantil  do  Algodão. 
Em  geral  ,  nos  tempos  ordinários  só  deve  contar  com 
quinhentos  a  seis  centos  arráteis  de  Algodão  por  qua* 
arado ,  ainda  em  bons  annos. 

§.  IV.    Inimigos  do  Algodoeiro, 

Além  das  seccas  excessivas ,  fortes  chuvas ,  e  ven- 
tos frios  que  offendem  os  Algodoeiros ,  principalmente 
estando  em  flor ,  estes  arbustos ,  diz  Gluvel ,  são  su- 
jeitos também  a  serem  destiuidos  pelos  estragos  ,  que 
lhe  fazem  muitos  insectos  ,  que  os  accommettem  em 
todos  os  tempos  de  sua  vida  ,  e  aos  quaes  até  agora 
se  tem  feito  huma  guerra  inútil.  Os  vermes ,  os  por- 
cellos  5  e  diversas  espécies  de  escaravelhos ,  penetrão  a 
terra,  estando  semeada,  e  lhe  roem  a  substancia,  que 
a  germinação  tem  amolecido.  Os  grãos  ,  que  escapão 
a  este  primeiro  perigo,  logo  produzem  novas  plantas, 
que ,  por  seu  turno ,  estão  arriscadas  a  novos  inimigos. 
Os  grillos  asatacão  de  noute.  De  dia  devorão  outros  as 
suas  novas  folhas ,  aos  quaes  a  America  dá  o  nome  de 
diabos  ,  e  que  são  do  tamanho  de  hum  pequeno  bezouro. 
São  estes  manchados  de  negro  ,   amarello  ,   e  também 

ra« 


rajados  de  negro  ^  e  vermelho.  Igualmente  se  deve  te- 
mer o  dhòi/iho  nos  Algodoeiros  ,  por  ser  hum  escara- 
velho menor,  e  de  côr  verde  desmaiada. 

As  lagartas  da  prima\^era  costumão  vir  em  conse- 
quência dos  diabos ,  e  diabinhos  ,  e  não  esperao  ,  que 
se  lhes  peça ,  que  hajáo  de  acabar  o  destroço ,  que  os 
antecedentes  principiáiao. 

Os  Algodoeiros,  aos  quaes  perdoou  o  dente  ma- 
tador dos  insectos  acima  ditos  ,  em  três  mezes  sobem 
á  altura  de  dezoito  ate  vinte  pollegadas.  Neste  tempo 
dous  inimigos  temíveis,  alliados  entre  si,  osatacáo,  a 
saber ,  o  maoka  ,  e  o  camaraoco  como  os  chamao  :  o  pri- 
meiro ,  he  hum  grande  bixo  branco,  que  come  a  raiz, 
e  faz  seccar  a  planta  nova  :  o  segundo ,  que  também  he 
hum  bixo  ,  devora  a  parte  lenhosa  da  planta.  Neste 
lugar  se  forma  hum  cancro  ,  e  o  lugar,  que  ataca,  fica 
tão  quebradiço  ,  que  o  menor  vento  faz  quebrar-se  a 
arvore. 

O  Algodoeiro  ,  tendo  vencido  esta  multidão  de 
inimigos  5  se  enche  de  ílores  amarellas  ,  e  vermelhas  , 
cujo  ajuntamento  alegra  a  vista.  Mas  os  chismes  ver- 
des ,  e  também  de  outras  cores ,  vem  macular  toda  es- 
ta belleza.  Sendo  muitos,  as  ílores  caducáo ,  e  os  fru- 
ctos  abortão.  Os  pul^ées  algumas  vezes  soccorrem  aos 
chismes:  nestes  termos  adoenta-se  a  arvore,  esteriliza- 
se ,  e  ,  a  final ,  perece. 

Os  chismes  despresão  as  folhas ,  e  as  flores  do  Algo- 
doeiro 5  requerem  hum  cevo  mais  succoso.  Esperão  por 
tanto  que  as  maçãs  se  abrão ,  para  então  lhes  chupar  as 


(    102   ) 

sementes  verdes ,  e  tenras.  Os  grãos ,  assim  roidos  ,  não 
tendo  mais  substancia,  passão  pelos  cylindros,  quando 
se  escaroça  o  Algodão,  achateão-sc,  esmagao-se,  e  só 
£cão  servindo  para  ,  misturados  com  os  excretos  das 
savandijas  acima  ditas  ,  sujar,  manchar,  e  emporca- 
lhar o  Algodão ,    que  se  procura  u  este  tempo  dar  va- 

lor. 

Porém    o    inimigo    mais    temível    dos  Algodoaes , 
sem  dúvida  alguma  ,  he  a  lagarta  do  mesmo  Algodão. 
Este  insecto    se   lança  algumas  vezes    com   tanta  vora- 
cidade sobre  os  Algodoaes  ,    que,  dentro  de  dous ,  ou 
três  dias,  e  também,  dentro  de  vinte  e  quatro  horas, 
os  esbulha  de  todas  as  folhas.  Ella ,  em  menos  de  hum 
mez,   passa  pelas  suas  methamorphoses  de  lagarta,  chry- 
salida,  e  borboleta.  Passadas  estas,  apparece  na  sua  pri- 
meira figura  disposta  a  causar  novas  ruinas  ,    que,  em 
taes  annos  ,  he  successiva  ,  e  chegão  a  obrigar  aos  insu- 
lares granjeiros  deste  género  ,    a  que  renunciem    a  sua 
cultura.    Nada  desprezão ,  vendo  se  nesta  tortura  ,  para 
se  poderem  aproveitar  da  sua  colheita.  As  chuvas  fres- 
cas,  e  abundantes,   a  que  se  seguem  calores  grandes, 
os  desembaração ,  muitas  vezes,  destes  fiagellos  destrui- 
dores.    iS^oirjcUe  E''cycIopedU\   Dlctlonnlre  d'J^riculiiire, 
Tomei  na  Obra  acima  citada  todo  o  material ,  que 
compõem  este  artigo  ,  e  o  dispuz  por  huma  tal  ordem  , 
que  podes^e  dar,    de   huma   maneira    mais  concisa  ,    e 
regular  ,    hum  todo  mais  resumido  ,    e  mais  singular. 
O  §  que    se  segue  he    do  mesmo  modo  extrahido  da$ 
mesmas  Obras  já  citadas  em  grande  parte. 

§.  V. 


§,  V.    Commcrcio  do  Al^odãa. 
Aleodão    da  America, 


O  Commei-cio  em  França  divide  o  Algodão  ,  primei' 
ro  em  o  das  Ilhas ,  segundo  em  o  de  Levante.  O  primei- 
ro 5  que  nos  vem  da  America  por  Bordeos  ,  Nantes  , 
Rochella  ,  Mavre  de  Graçe  ,  tem  nomes  differentes  , 
conforme  as  paragens  ,  donde  o  trazem  ;  e  por  esse 
motivo  o  chamáo  de  Guadalupe ,  de  S.  Domingos ,  de 
Cayenna ,  de  fflaranhão  ,  de  Gonaives ,  de  Santa  Luzia 
de  Maria  galante  ,  de  Santo  Eustachio  ,  de  Berbkhe  , 
de  São  Thomaz ,  de  Surinam  ,  e  de  Essequebo.  Todas 
estas  espécies  nos  vem  em  lã,  m^aisiou  meno^  puras, 
c  limpas.  O  gráo  de  limpeza  por  muitas  vezes  lhe  de- 
termina o  seu  [reco  ;  porque,  quando  o  Algodão  he 
pouco  limpo ,  cheio  de  impurezas ,  arruinado  pela  hu- 
midade ,  se  íia  muito  ma! ,  e  os  pannos ,  que  delle  se 
tecem,  não  conseguem  huma  vista  lustrosa,  como  de 
seda ,  que  realça  o  seu  valor ,  donde  lhe  resulta  sem- 
pre huma  grande  quebra  neste. 

O  Algodão,  chamado  do  Maranhão  ,  (nome  de 
huma  das  Provincias  do  Brasil )  passa  pelo  melhor  ,  e 
mais  excellente  de  todo  este  novo  Continente  :  tam.bem 
se  julga  melhor  que  o  de  Cayenna  ,  que,  entre  tanto, 
tem  huma  grande  reputação  no  Commercio ,  em  razão 
da  sua  alvura ,  e  fineza,  O  Algodão  de  Surinam  se  es- 
tima inferior  ao  do  Maranhão,    e  ao  de  Cayenna  :    e, 

com 


C  104  ) 

«om  tudo ,  he  melhor  que  o  de  São  Domingos.  Este 
tem  alvura ,  macieza  ,  e  se  fia  muito  bem  ;  mas  não 
convém  indistinctam.ente  a  todos  os  pannos.  O  de 
Guadalupe  lhe  he  ainda  inferior.  Seu  maior  consummo 
he  nas  fabricas  de  pannos  de  Ruão.  Unicamente  ,  fal- 
tando as  outras  espécies  de  Algodão,  o  empregão  nos 
tecidos  que  requerem  huma  grande  limpeza  no  Algodão. 


Algodão  do  Levante, 


\ 


Este  Algodão,  conhecido  no  Commercio  pelo  no- 
me de  Algodão  de  Chypre  ,  que  sempre  se  despacha 
cm  Marselha  ,  donde  ,  ou  por  mar ,  ou  por  terra  ,  passa 
para  as  Províncias,  que  se  occupão  destas  teias  ;  e  geral- 
mente, se  estima  menos  que  o  nosso  das  Ilhas.  Ainda 
que  tenhão  huma  boa  alvura ,  he  m.uito  sujo  ,  algum 
tanto  duro  ,  e  secco  ,  cheio  de  nós  ,  que  fazem  que- 
brar o  fio ,  e  não  admittem  fiar-se  fino.  Trazem-no  em 
saccas  de  duzentos  até  duzentos  e  cincoenta  anateis. 
Em  Marselha  distinguem  até  trinta  espécies  deste  Al- 
godão ,  chamando  a  humas  espécies  de  terra  ;  a  outras , 
do  mar.  Os  primeiros  vem  da  Natolia  ;  os  segundos 
das  Ilhas  do  Archipelago ,  e  trazem  também  os  nomes 
de  Salonica  ,  Bardanellcs  ,  e  Galllpoli.  O  ultimo ,  entre 
estes ,  he  o  mais  estimado ,  por  ser  mais  fino ,  princi- 
palmente ,  sendo  o  da  primeira  qualidade.  O  áeSaloni' 
eú   ihe  he  inferior. 

Entre  as  Nações  ,  que  commerceão  em  Levante, 
são    os  Francezes  ,    os  que  exportão  maior  porção   de 

Al- 


C  105  ) 

Algodão  ;  aclmittindo-se  a  colheita  do  Algodão ,  nos  Esta- 
dos do  Grão  Senhor ,  a  cem  mil  sacca^ ,  se  contão  do- 
ze mil  exportadas,  das  qiiaes  os  Francezes  trazem  qua- 
tro mil  e  quinhentas ,  Inglezes  duas  mil  ,  Hollandezes 
três  mil  e  quinhentas  ,  Venezianos  duas  mil.  Empre- 
ga-se  o  resto  em  manufacturas  Turcas.  Entre  as  trin- 
ta espécies  de  Algodão  ,  que  todos  os  annos  trazem  a 
Marselha,  se  diz,  que  Alexandria  provê  de  Algodões  de 
quatro  sortes ,  Esmyrna  de  nove ,  Seyde  de  onze ,  Ale- 
po  de  cinco  ,  Chypre  de  duas. 

Todos  os  annos  sahem  de  Malta  perto  de  duas 
mil  saccas  de  Algodão  fiado ,  quasi  com  o  pezo  de  seis 
centos  arráteis  cada  sacca.  Expedem-se  estes  Algodões 
para  Marselha,  Liorne  ,  e  Baicelona.  Sendo  inferiores 
aos  de  Acre  ,  são  com  tudo  superiores  aos  das  outras 
partes  de  Turquia ,  ou  Levante. 

§.   VI.    Empre^oí  do  Algodão  ,  cordoaria ,    e  Jilatíira, 


Admira-se  a  belleza  ,  e  fineza  dos  pannos  de  Al- 
godão 5  que  nos  trazem  da  índia.  Todos  conhecem  as 
soberbas  mosselinas  que  os  Europeos  trazem  destes  Pai- 
7es  ,  e  com  os  quaes ,  as  que  cá  se  fabricão  não  podem 
ter  comparação  alguma;  mas  ignora-se  o  modo  ,  porque 
os  índios  preparão,  e  fião  o  seu  Algodão.  He  pasmos* 
que  ,  até  agora ,  nada  se  tenha  escripto  que  individue 
este  assumpto.  Entre  tanto  os  Inglezes ,  que  senhoreão 
vastos  territórios  em  Bengala ,  facilmente  já  podem  vêr 
as  manufacturas  da  índia.  Será  possível  que  elles  te- 
.  nhão 


(  io6) 

nhao  dcspresado  observar  os  seus  processos  ?  Qual  he 
logo  a  razão  ,  porque  estes  se  não  vejão  escriptos  nos 
seus  livros  ,  assim  como  também  em  os  nossos ,  as  na- 
ções exactas  sobre  este  ramo  importante  da  industria 
Asiáticas. 

Affirmão  os  Authores  das  Cortas  edificantes  (Cart. 
22.)  que,  tendo  elles  passado  o  Algodão  pela  maquina 
ou  descaroçador ,  o  estendem  em  cima  de  huma  esteira  , 
e  o  batem  por  algum  tempo  com  varas  ;  ao  depois 
com  hum  arco  tezo  o  acabão  de  fazer  fofo  ,  fazendo-o 
soffrer  vibrações  repetidas  da  corda ,  isto  he  do  arquea- 
iiiento.  Bem  feita  esta  operação ,  passão  a  fiallo  á  mão. 

Deste  methodo  de  o  arquear  se  usa  em  Malta ,  c 
em  Levante,  na  Índia,  e  China,  que  equivale  ao  que 
chamamos  cardar.  Parece  que  he  muito  melhor  para  o 
Algodão  destes  paizes ,  e  he  muito  mais  expedito  que 
cardai  lo  á  mão. 

Sendo  verdade  que  os  índios  só  se  servem  dos 
seus  dedos  ,  para  fiarem  o  seu  Algodão  ,  he  limitada  toda 
admiração  com  que  olhamos  para  a  destreza ,  com  que 
tirão  fios  tão  m.aravilhosamente  finos ,  com  que  fabricão 
suas  mosselinas  ,  e  outras  obras  de  preço.  A  belleza 
destas  teias  igualmente  attestão  aexcellencia  das  prepa- 
rações 5  sejão  estas  quaes  forem  ,  que  elles  dão  a  esta 
mesma  matéria. 

Os  Europeos ,  menos  destros  talvez  em  certas  Ar- 
tes ,  que  os  povos  da  índia  ,  porém  dotados  de  maior 
entendimento  para  inventar ,  recorrerão  ás  maquinas  ou 
engenhos  para  prepararem  o  Algodão.   O  tempo ,  o  en- 


(  107  ) 
genho  dos  Artistas ,  e  a  necessidade  de  economizarem 
a  mão  de  obra  ,  insensivelmente  as  multiplicarão  ;  a 
este  respeito  estamos  obrigados  á  industria  Ingleza  pela 
sua  invenção  ,  e  perfeição.  Nós,  imitando  a  estes ,  á 
pouco  tempo ,  temos  estabelecido  grandes  mechanismos 
applicados  á  Arte  ,  de  que  se  trata.  Em  Ruão  prin- 
cipalmente já  temos  grandes  fabricas  desta  natureza. 
A  que  se  vê  em  Chalot  ,  perto  de  Paris  ,  he  hu- 
ma  dos  melhores  que  França  possue.  Pertence  aos  Ir- 
mãps  Bauvers  ;  e  M.  Rolacd  he  o  seu  Director,  e  só- 
cio. Este  me  permittio  o  poder  ver  todas  as  suas  Of- 
ficinas.  Sinto  não  poder  fazer  conhecer  o  jogo  de  suas 
maquinas  ,  que  ,  na  verdade  ,  he  maravilhoso.  Mas  devo 
satibfazer-m.e ,  visto  ser  fora  do  meu  intento,  esta  indi- 
viduação ,  com  dar  ao  meu  Leitor  huma  breve  noticia 
dos    seus  resultados. 

Sahindo  o  Algodão  das  saccas ,  he  primeiramente 
aberto  sobre  grades  ;  batesse  com  varas  ,  para  lhe  tira^ 
rem  o  pó  do  sobejo  ou  resto  de  suas  sementes;  ao  de- 
pois he  todo  passado  á  mão  ,  e  feito  ralo  por  mulhe- 
res :  isto  feito  5  vai^í  carda  duas,  ou  três  vezes. 

Fazem-se  as  cardas  de  arame  de  ferro  muito  fino , 
e  adaptadas  a  rolos ,  ou  cylindros  ,  postos,  horizontal- 
mente sobre  mezas  em  çam.adas  delgadas  ,  humas  ao 
depois  das  outras ,  são  levadas  pelo  movimento  circu- 
lar de  duas  cardas  ,  porque  passa.  Nesta  passagem  se 
applaina  muito  :  seus  fios  se  alongão ,  e  se  ligão  ,  e 
sahem  em  tiras  estreitas  j-e  de  muitas  varas.  Na  segun* 

da 


(  loS  ) 

éa.  ou  terceira  cardagem  esta  tira  ,  quando  sahe  dos  cy- 
lindros ,  se  transforma  em  espécies  de  chouriços  cylindri^ 
cos,  e  floconosos,  que  se  e:.teiidem  a  seu  turno  mui- 
tas vezes  por  outras  maquinas  ;  e  se  reduzem  a  muito 
menos.  Pela  ultima  vez  se  recebem  em  caixas  de  lata 
com  a  bocca  estreita  ,  que  ,  voltando  sobre  seu  eixo  , 
torcem  deste  modo  o  Algodão  ,  a  qual  naturalmente  rola 
sobre  si  mesmo  no  seu  interior.  Tirado  destas  caixas, 
se  desenrolião  ,  para  se  fazerem  as  primeiras  mea- 
das :  nisto  se  empregão  quatro  maquinas  :  em  ca- 
da huma  cento  e  quatro  sarilhos,  que  trabalhão  junta- 
mente. 

Para  fiarem  o  Algodão  ,  se  servem  de  maquinas, 
que  são  conhecidas  pelo  nome  de  engenho  jenny.  Na  fi- 
Jatura  de  M.  Bouvers  se  achão  empregadas  de  vinte  cin- 
co a  trinta.  Humas  se  movem  por  maquinas ,  ou  en- 
genhos ,  de  que  se  fallará,  e  outras  por  braços  de  ho- 
mens, por  meio  de  hum  torno,  e  de  huuja  manivella. 
Cada  jenny  fia  duzentos  e  dezaseis  fios  ao  mesmo  tempo  : 
e,  por  tanto  ,  fiando  todos ,  se  tirão  no  mesmo  instante 
seis  mil  quatro  centos  e  outenta  fios  na  mesm.a  fabri- 
ca. Ainda  que  esta  fiação  não  seja  continua ,  he  mui 
rápida  ;  faz-se  ás  vezes  com  o  comprimento  de  huma 
vara  quasi.  Huma  das  grandes  vantagens ,  qije  offerece  , 
vem  a  ser  que  huma  parte  das  peças ,  que  compõem  as 
mechanicas ,  se  desmontáo  á  vontade,  e  que  ,  substituin- 
do-se-lhe  outras  no  mesmo  genny  ,  se  pôde  fiar  nelle 
mais  ou  menos  fino,  segundo  for  a  encomenda.  Além 

dis- 


f 


(  Í09  ) 

disso ,  cada  huma  destas  maquinas  com  facilidade  se  ser- 
ve por  dous  obreiros  ,  e  ainda  por  huma  mullier  ,  e 
hum  menino. 

A  roda  ,  que  as  faz  mover  todas ,  como  também  as 
maquinas  de  cardar  ,  se  movem  por  quatro  cavallos, 
cuja  potencia  motrice  se  julga  corresponder  ao  de  cin- 
coenta  homens.  A  roda  principal  deste  engenho  tem 
çincoenta  pés  de  diâmetro. 

Divide-se  o  Algodão  fíado  ,  e  se  põem  em  meia- 
das.  Os  meiadas  são  tiradas  torcidas ,  e  postas  huns  so- 
bre outras ,  e  apertadas  :  fazem  paquetes  de  cinco  ar- 
ráteis. Neste  estado  se  vende  o  Algodão  fiado.  Todas 
as  meiadas  tem  as  mesmas  medidas  ,  isto  he ,  seis  cen- 
tas  e  çincoenta  varas,  e,  por  consequência  ,  o  seu  nu- 
mero, em  hum  arrátel,  mostra  a  fineza  do  seu  fio,  e 
assim  o  numero  cinccenta  mostra  ser  aquelle ,  de  que 
a  meada  se  compõem  de  çincoenta  meadas.  Na  f^ibrica 
de  M.  de  Bauviers  este  fio  se  faz  do  ordinário  :  satis- 
faz as  encomendas  ordinárias.  A  maior  parte  dos  nu- 
meios  ,  trinta  até  çincoenta  se  empregão  nas  manufa- 
cturas de  Ruão,  e  Cholet :  os  números  mais  altos  se 
empregão  em  fustôes ,  mosselinas ,  e  também  nas  tra- 
mas de  sedas  ,  e  Algodão ,  que  se  fabricão  em  muita, 
abundancia  em  Paris ,  e  Leão.  Todos  os  Algodões  des- 
ta filatura  são  mui  próprios  para  barretes  :  fia-se  a}gu-« 
mas  vezes  do  numero  cento  e  vinte  ,  e  se  tem  fiado- 
do  ftumero  duzentos ,  e  duzentos  e  çincoenta.  Os  fios; 
do  ultimo  Algodão  tem   a  delicadeza   de  hum  cabello. 

Me- 


(    IID    ) 

jyiedidos  d^o  cento  e  trinta  ,    ou  cento  c  secenta  c  duas 
mil  e  quinhentas   varas  por  arrátel. 

A  espécie  de  Algodão  ,  que  nesta  fabrica  se  fia 
mais  commum  mente ,  he  o  do  Algodão  do  Brasil,  cha- 
mado Paranambuc  ,  que  vem  em  saccas  de  cem  ,  a  cen- 
to e  cincoenta  arráteis :  he  como  seda ,  e  toma  muito 
bem  a  tinta.  Emprega-se  também  o  Algodão  georgy  lon^ 
soyc  ,  colhido  nas  Províncias  meridionaes  dos  Estados 
Unidos.  Este  tem  o  fio  mais  comprido ,  e  pôde  ser  fia- 
do mais  fino.  O  Algodão  de  Paranambuc  he  muito 
limpo.  Tem  a  vantagem  de  não  ter  maior  quebra  que  de 
hum  5  até  hum  e  meio  ,  e  até  dous  por  cento  ,  entre  tanto 
que  muitos  outros  Algodões ,  como  o  de  Surinão  mes- 
mo ,  o  de  São  Domingos  chegão  ás  vezes  a  ter  a  que- 
bra de  doze  por  cento.  Quando  se  fia  o  Algodão  no  jen- 
ny  (diz  o  Cultivador  Annual )  ao  belly  ,  ao  engenho 
jirck  rlght ^  e  na  maquina  de  fiar  em  grande,  não  lhe 
passa  o  sabão  ,  mas  devendo-se  fiar  na  roda  ,  ou  na 
maquina  ,  se  precisa  passar  pelo  sabão ,  antes  de  se  car- 
dar. A  roda  ,  a  maquina ,  o  Jenny  fião  a  trama  ,  as 
outras  a  cadeia. 

O  apresto  da  cadeia  ?e  faz  com  colla  forte  ,  e  de 
farinha:  a  trama  molhada  se  sustenta  melhor,  faz  mais 
unida.  Para  unir  a  cadea  ou  enfiada  ,  e  ao  depois  o  pan- 
BOj  se  queima  o  cotão  ,  passando  por  cima,  e  rapida- 
mente hum  ferro  vermelho  redondo.  Fazem-se  do  Algo- 
dão rendas ,  canga  ,  meias ,  pannos ,  veludos ,  mosselinas  , 
etc.  Misturando  com  cânhamo,  linho,  e  seda,  e  pello 

de 


("O 

de  animaes  5  se  fazem  outros  tecidos  de  bom  uso.  Os 
Cerieiros'  fazem  torcidas  ;  as  das  lâmpadas  j  e  candeias 
são  cylindricas  sem  costura.  Também  se  emprega  em 
forma  de  acolchoado.  Embranquece-se  nos  prados  j  ou 
por  meio  do  Heitor  artificial  de  Bertholet, 


MEv 


(iiO 


MEMORIA  V. 

[SOBRE  O  ALGODÃO  DA  GRA  BRETANHA. 

Annals   of  J^rlcuhure   ^  colkctcd  and  published» 

By  Arthur  Youngs. 


H 


A  poucas  questões  de  maior  importância  que  esta  , 
que  vou  agora  a  tratar ,  a  respeito  do  Commercio  desta 
Ilha ,  que  iiaja  de  merecer  mais  a  attencão  do  Gover- 
no Inglez. 

A  grandeza  do  objecto,  os  seus  vários  interesses, 
envolvidos  na  discussão  deste  assumpto,  não  podem  dei- 
xar de  fazer  impressão  no  entendimento  de  todo  o  ho- 
mem ,  que  tiver  connexôes  com  os  interesses  pohticos  , 
e  da  terra,  ou  commerciaes  de  Inglaterra. 

As  manufacturas  dò  Algodão  ,  geralmente  ,  se 
julgão  ser  muito  extensivas  ,  a  pezar  da  grandeza 
do  seu  negocio  ,  e  dos  proveitos  Nacionaes  ,  deriva- 
dos de  huma  combinação  do  trabalho  humano  com 
o  das  engenhosas  maquinas  ,  a  penas  se  pode  suppor 
que  tenhão  feito  huma  impressão  igual  á  importância  do 
seu  objecto  ;  porque  o  seu  progresso  tem  tido  huma 
rapidez ,  de  que  não  ha  exemplo.  Sahio  a  luz  assim  fora 
de  casa 3  como  dentro  delia  em  hum  momento,  dando 


«•<fV?.^ 


ao 


Cm) 

ao  mesmo  tempo  hum  salto  a  industria  do  povo  ,    dé 
que  não  ha  exemplo  nos  Annães  do  mundo  (*). 

A'  vinte  annos  que  o  total  do  Còmmereio  do  Al- 
godão da  Grão  Bretanha  não  dava  ao  Paiz  o  lucro  dè 
duzentas  mil  libras  pelos  materiaes  crus  ^  combinados 
€0m  o  trabalho  do  povo  ,  e  neste  periodo  ,  antes  de  sé 
terem  introduzido  os  engenhos  de  agUa  ,  e  os  de  mão 
( **  )  o  poder  ou  fOrça  de  cada  roda  não  excedia  ao 
de  quarenta  mil  fiísos  ,  empregados  em  fiar  os  vellos 
do  Algodão, 

Presentemente  j  ò  ptíder  dos  fusos  5  capazes  de  se- 
rem applicados  áo  mesmo  fim  j  chega  a  perto  de  dous 
milhões  em  toda  a  Grão  Bretanha  5   e  o  grande  retor«* 
T,  V.  P.  h  H  no  , 


(  *  )  Os  engenhos  dè  Algodão  ,  trabalhando  redon- 
damente y  se  suppoem  fiar  tanto  Algodão ,  quanto  pode 
fiar  hum  milhão  de  pessoas  ,  conforme  o  antigo  systema 
de  se  ííar  em  simples  fuso. 

(  **  )  Talvez  não  será  geraíríiente  conhecido  qUe  a 
lã  fiada  pelos  engenhos  de  agua  se  torcem  com  diffi- 
culdade ,  e ,  consequentemente ,  só  próprias  para  huma 
parte  da  manufactura  sobretudo  para  a  ordidura.  O 
teçume  ,  ou  lã  fechada  he  fiada  ,  pela  maior  parte, 
cm  engenhos  de  mão,  ou  jennys,  He  digno  de  se  no- 
tar :  Que ,  quasi  no  mesmo  periodo  ,  e  coevo  a  inven- 
ção dos  engenhos  de  agua ,  se  fez  o  descobrimento  dos 
de  multiplicar  as  forças  das  rodas  de  mão  commum  ^ 
e  de  fiar  ,  primeiramente  de  cinco ,  até  dez  y  e  deste 
até  outenta  fios  Q  força  actual  de  cada  jenny  )  quê  íie 
obrado  por  hum  homem  com  o  adjutorio  de  huma 
mulher  ,  para  preparar  o  Algodão  ;  e  hum  rapaz ,  ou 
rapariga  a  atar  os  fios  quebrados  facilita  tanto  o  tm^ 
fcãiho  de$tc  homeiji  j  quanto  senão  pôde  conceber. 


C  "4) 

yio  ^  ou  htcrô ,  por  cau^sa  dos  materíaes  cíús  ,   e  traba- 
lhados^ excede  a  setenta  milhões  esterlinos. 

Em  hum  período  tão  moderno,  coma  o  de  1781  , 
51  la  do  Algodão  ,  que  havia  no  paiz  para  as  manufa- 
cturas (paga  a  exportação)  não  excedia  muito  a  cinco 
ínilhóes  de  arráteis.  Em  1784  havia  crescido  de  cinco 
milhões,  feito  porém  em  fio,   a  onze  milhões. 

Por  este  tempo  o  fim  do  privilegio  do  Senhor  Ri- 
ehatd  Arkwrighfs  espalhou  os  conhecimentos  de  fiar  pof 
maquinas  de  agua.  LeVantárão-se  engenhos  em  muitas 
partes  do  Paiz  de  fiar  para  fios  deordir  ;  e  os  engenhos 
de  mão ,  ou  jennys ,  para  fusos  crescerão  proporcional- 
mente de  tal  maneira  que  ao  presente  apparecem 
cento  quarenta  e  três  engenhos  de  agua  ,  e  acima  de 
l^inte  mil  engenhos  de  mão  na  Grão  Bretanha. 

Esta  immensa  força  de  engenhos  (com  os  seus 
edifícios  necessários ,  e  outros  appendieulos)  ,  que  nã<tf 
tem  custado  menos  que  hum  milhão  de  libras  esterli- 
nas ,  (  *  >  pôde  fiar  destramente  acima  de  vinte  milhões 
de  arráteis  de  Algodão  ,  igual  em  valor  acima  de  mi- 
lhão e  mefo  de  libras  esterlinas  em  matérias  primas} 
as  quaes  ,    quando  fiadas  em  varias  qualidades  de  ma- 


nu- 


r*5  145  ensenhos  de  agua  se  suppõem  original- 
írente  custar  óo^Jjooo  l.est.  por  huma  avaliação;  mas 
sendo  ^ó  avaliados  em   sá^ooo  1.    sommão  71 5(^000  j. 

ç^o  eneenhos  jennys,.  ou  maquinas  participando  dé 
ambas  as  'naturezas ,  assim  dos  engenhos  de  agua ,  co- 
mo dos  jennys  communs,  e  constando  de  90  fusos  cada: 
Imm,  fazsm  i^íJ)ooo  ,  ajo  fusos;  sommão 7 54^^25 o ^1- 


(no 

nufacturàSj  devèiri  ser  avaliadas  em  quatro  milhões  de 
teoeda  paí:a  as  lãs  unicamente, 

H  2  Es- 


Trazido    anticipadamente      .        7  54(;^2  50  lib. 

20^070  engenhos  de  mão  ,  cada  hum 
de  S®  fusos  com  os  seus  pertences , 
ou  appendicúlos      ......         140^490 

Serilhos  ^  fusos ,  maquinas  de  cardar , 
e  os  edifícios  para  os  engenhos  de 
ínão     ....;,.,..         125^260 


3;oOO(^oooIib, 
Esta  avaliação    não  deve  comprehender   o  valor   dos 
teares  empregados  ^  que  podem  tèr  custado  huma  gran- 
de som  ma. 

Estes  14  í  engenhos  de  agua  estão  proveitosamente 
espalhados  por  todo  o  í*aiz,  alargando  os  proveitos  dô 
hum  trabalho  útil  a  cada  canto  da  Nação  ,  como  se 
mostra  pela  seguinte   conta : 

Ilha    dê  Márt      *     .     .      *     ,     .     .       ] 
Lancashire      .....,,.     4] 

Desbshire        i     ...,*.,     2: 
Nortimgashire      ..**,,.      i- 
Yorchshire      ...*...,      i 
Che^hire    ......... 

Stafford-shere      ....      ... 

■\Vestmoreland    .*..,., 

Flent-shire 

Berk-shiie 

Sarry 

Herdfort-shire      , 

Pembrok-shire      ,     , 

Qloucest-shire 

Cumberland 


Total  em  Inglaterra 


12 


Estes  estabelecimentos ,  trabalhando  redondamente, 
são  estimados  empregar  ,  fiando  unicamente  ,  vinte  e 
seis  mil  homens,  trinta  e  huma  mil  mulheres,  e  cin- 
€centa  e  três  mil  rapazes  ',  e  ,  conforme  os  differentes 
estados  da  manufactura  ,  até  chegar  o  tempo  da  sua 
perfeição,  julga-se  que  as  pessoas  empregadas  chegão- a 
inil  trezentos  trinta  e  três  homens  ,  cincoenta  e  nove 
mil  mulheres ,  e  quarenta  e  outo  mif  rapazes :  fazendo 
tudo  isto  huma  somma  de  cento  cincoenta  e  nove  mil 
homens,  nove  mil  mulheres,  e  cento  e  hum  mil  ra- 
pazes empregados  neste  ramo  de  Commercio. 

Tem  sido  determfnado  já,  que  no  anno  de  1784 
as  matérias  primas  da  la  Algodão  (ao  depois  de  satis^ 
feita  a  exportação)  sobírao  quasi  a  onze  milhões.  O 
seguinte  anno  á  altura  admirável  de  perto  de  outenta 
íTiilhÔes.    Em   17  8  ^    tinha  crescida   quasi    hum  milha-o 

mais* 


Trazido  de  fora     .     .     *  123 

Engenhos  em  Lancrk-shire      ...  4 

Em  Renfrew-shite  ......  4 

Em  Pertlh-shire -  l 

Em  JVlid  Lotkian     ......  ^ 

Em  Air-shire •     '  I 

Em  .GalloM^ay •     •  I 

Em.  Anuandale * 

Em  Eute "  * 

Em  Aherdeen  shire l 

Em  Fiíe-shire ^ 


19 


Sonmma  total     .     .     -14? 


C  117  ) 

finais.  Em   J7S7  esta  quantidade  excedeo  a  vinte  edoiis 
•milhões  de  arráteis, 

A  seguinte  avaliação  desta  grande  somma  se  fez 
por  particulares  augmentos,  os  quaes  forão  tomados  em 
números  redondos  que  he  impossível  emendarem-se. 

Ilhas    Inglezas 6,600^^000  \ih. 

Estabelecimentos  Hespanhões ,  e  Fran- 

cezes       .,..»*...  6,OQO(^ooo 

Hollandezes 1,700^000 

Portuguezes     . •  2,500^0(50 

índias  Orientaes iGO„|)ooo 

J)0  Smyrna,  ou  Turquia  ....  5,700(^ooa 

Somma  total     .     .     .     22,600^000  lib^ 


Esta  immensa  quantidade  (conforme  o  calculo  , 
feito  por  Manufactureiros  intelligentes )  se  suppoein 
approximar-se  ao  seguiníe : 

Para  pavios,  ou  torcidas i,500(^ooo 

Para  meias 1,500^000 

Para  misturas  de  sedas ,  e  linhos       .     .  2,000^000 

Para  fustão 6,ooo<j^ooo 

Para  pannico ii,6o0(|iooo 

Total  pezo  do  Algodão     ,     :     .     22,600(^000 

A^sJm   se  colhe    que  acima   de  duas  terças  partes 

âo 


do  total  do  Algodão ,  que  sç  gasta ,  he  comprado  dos 
Estrangeiros  pelo  valor  de  hum  milhão  e  duzentas  mil 
libras  esterlinas  pelo  menos.  O  melhoramento  com  tu- 
dp  na  cultura  deste  artigo  em  Barbadas  ,  acrescentado 
a  acquisiçâo  do  Algodão  fino  da  terra  de  Surinam  ,  e 
do  Brazii ,  foi  hum  meio  de  se  introduzir ,  e  estender  a 
manufactura  de  mosselina  durante  os  trgs  annos  passados 
a  hum  ponto  quasi  incrível.  E  esta  circumstancia  he 
incontestavelmente  provada,  que  nada  he  preciso,  fo- 
ra huma  matéria  prima  fina  ,  para  a  fixar  na  Grão  Bre- 
tanha ;  porque  realmente  (está  decidido)  a  sua  preemi- 
nência na  manufactura  de  mosselinas. 

Isto  he  de  todos  os  outros ,  qi|e  o  ramo  do  Com» 
percio  do  Algodão  ,  que  he  da  maior  importância  em 
íium  ponto  de  vista  nacional ,  porque  todo  o  seu  pro- 
cedimento consta  unicamentç  dos  trabalhos  ,  em  mui- 
tas circumstandas ,  por  mulheres  ,  e  meninos.  E  o  va- 
lor das  matérias  primas ,  applicadas  a  estes  artigos ,  ge- 
ralmente se  augmentou  de  mil  a  cinco  mil  por  cento. 
No  decurso  do  anno  próximo  pa<;sado  as  lãs  do 
Algodão  forão  tiradas  de  Demerary  ,  e  do  Brazii ,  suffi- 
cientemente  finas,  para  toda  a  qualidade  de  mosselinas 
em  o  uso  muito  geral  ;  e  da  pequena  quantidade  do 
Algodão  da  índia  Oriental  ,  em  que  se  procurou  as  provas 
da  sciencia  ,  e  dexteridade ,  forão  manifestas  pela  exten- 
ção  das  lãs  tão  finas ,  que  derão  duzentas  e  cinco  mea- 
das por  arrátel:  cada  meada  ,  sendo  estendida,  chegava 
a  ouío  centas  e  quarenta  jardas,  e  o  seu  todo,  esten- 
dido, igualava  ao  cornprimenÇo  de  cei^  milhas. 


C  119) 

o  grande  angmento  do  Gonsummo  do  material 
crú  (  *  )  se  alargou  tanto  ,  excedendo  a  efedulidade  ,  nos 
três  annos  passados  ,  que  pode  ser  attribuida  ,  pela 
maior  parte  ,  9  extensão  da  manufa,ctura  do^panniço 
yiei,  e  a  açqiijsição  dos  çngephps, 


ME^ 


•  (*)  Emi78j  a  quantidade  liquida  do 
éo  de  Algodão  ,  que  se  achava  no  Paiz , 
para  as  manufacturas,  subio  .     .     .     . 

Em   1784  se  augmentou     ,     .     .     . 

Ena  178$  teve  hum  ulterior  augmen- 
to  de      ...»?..••¥' 

Em  1786  se  adiantou  a       ,     .     .     . 

Em  1787  se  cstendeo     ,     .     .     .     • 


n,28oi^25$ 


Em  178}  o  maior  valor  do  Algodão 
feito  se  estimou    .*....•• 

Em  1784 < 

Em   178$ 

Em  1786 . 

Em  1787      .,♦•«•«.< 


17)992^^5^8^ 
19,151^867 

22,600^0P0 


l,2GO^ooa 
3,95oáiooo 

6,000  ^OOQ 
6,500^000 


<  130) 


MEiMORIA  VI. 

Xilda  a  20  em  Junta  em  Sessão  pública  do  Lyceo  das  Artei 

Pelo  Cidadão    Bruley 

ilum  das  Membros  da  Sociedade  das.  Scienclas  ^  e  dõ 
outras    muitas» 

(Memoires  des  Societés  Savantes  et  Lltteraires  de  Ia  Rei 
piib.  Franc,    Tom.  I.    pag.  262.) 


A 


Nimado  pelo  acolhimento,  com  que  o  Lyceo  das. 
Artes  me  lizongea  ^  tive  a  honra  de  lhe  apresentar  as- 
diversas  observações  sobre  a  cultura  do  cafeseiro  ,  e,  a 
preparação  do  café,  sobre  a  da  indi.goeiro  ,  cultura  do 
nopal ,  e  creação  da  cochonilha :  estou  persuadido  que 
também  lhe  poderei  submeter  algumas  reflexões,  acer- 
ca do  Algodoeiro  ,  da  sua  cultura ,  e  da.  preparação  do 
Algodão  para  se  entregar  ao  Commçrcip.  E  igualmente 
penso  ,  que  o  Lyceo  se  interessará  em  ouvir  tudo  o 
t]ue  he  concernente  a  hum  destes  preciosos  géneros  das 
Colónias ,  com  que  entrava  no  Commercio  ,  pelo  mais  , 
quatro  centoíj  milhões  ,  que-à  França  fazia  só  com  as 
suas  Colónias  das  Antilhas ,  e  que ,  por  consequência , 
concorria  para  est^  píepQndçranciíi  de  setenta  ,,  Si  setenta 


I 


C    121    ) 

e  quatro  milhões,    de  que  gozava  a  França  na  balança 
geral  do  Commercio. 

O  fim  do  governo  he  sem  dúvida  recobrar  esta 
utilidade  perdida  :  e  a  intenção  do  Lyceo  das  Artes  o 
íijudallo.  Daqui  vem  este  zelo  de  proteger,  animar,  e 
propagar  tudo  o  que  se  dirige  a  aperfeiçoar  a  cultura, 
e  manufacturas  relativas  aos  géneros  Coloniaes. 

Por  este  motivo  pertendo  eu  attrahir  por  al- 
guns instantes  a  attenção  da  Sociedade,  a  respeito  de 
huma  das  producçôes  vegetaes  a  mais  interessante  ,  e 
de  que  as  Artes  podem  tirar  hum  partido,  tão  vanta- 
joso para  o  Commercio. 

O  Algodoeiro  (Gossi/fuiin)  he  hum  género  de  plan^ 
ta  das  de  flores  polypetalas  da  família  das   malvas. 

Comprehende  este  género  as  hervas  ,  ou  aibustcs 
exóticos ,  cujas  folhas  são  alternadas ,  lobadas ,  e  espal-* 
madas  :  suas  flores  são  grandeá  ,  e  vistosas ,  e  notáveis  , 
maiormente ,  pelo  seu  amplo  calis  exterior  ;  os  fructos 
são  de  huma  grande  utilidade  pela  plumagem  lanugino-- 
sa  5  de  que  são  dotados. 

Seria  supérfluo  referir  com  mais  miudeza  a  descri-^ 
pção  deste  vegetal.  A  vista  dá  maiores  noções  ,  do. 
t/je  tudo  que  poderíamos  dizer  ,  ou  escrever  delle.  A 
Assembleia  os  tem  agora  á  vista. :  e  devemos  aos  Dire-» 
ctores  do  Museo  da  historia  natural  a  vantagem  de  ©s 
poder  apresentar.  Os  cuidados  esclarecidos  destes  sábios  ^ 
que  continuamente  se  dirigem  a  tudo  o  que  he  utii ,, 
Pião  deverião  desprezar  o  Algodoeiro.  Pela  que  ah i  ten- 
des cinco  das  suas  espécies  em  bom  estado  j  mas  coma 


C  1"  ) 

ijgora  n?ío  tem  fructos  ,  que  he  huma  parte  muito  ne* 
cessaria  ,  para  se  conhecçr  o  Algodoeiro ,  escreveremos 
a  descripção  deste  fructo  interessante  de  hum  modo 
claro,  e  succinto. 

O  fructo  do  Algodoeiro  he  huma  capsula  verde , 
redonda  .  ou  oval ,  pontuda  na  summídade  :  esta  ca- 
psula se  abre  em  três  ou  quatro  válvulas  ,  e  se 
jdividem  interiormente  em  três  ou  quatro  çamaro^ 
tes  ,  e  cada  camarote  tem  de  três  até  sete  sementes 
ovaes ,  envolvidas  em  huma  gadelha  de  pluma  :  estas 
gadelhas  de  todas  as  partes  se  inchão ,  e  sahem  para  fo- 
fa ,  quando  pela  maturação  se  abre  a  capsula. 

A  esta  plumagem  lanuginosa ,  chamão  Algodão , 
o  qual  he  mais  ou  menos  macio ,  como  a  seda ,  com- 
prido,  e  alvo,  conforme  as  diversas  espécies  de  Algo- 
doeiros ,  que  se  contáo  oito  :  he  interessante  á  agricul- 
tura ,  e  commercio ,  que  se  propague  ,  e  cultive  ,  pre? 
ferindo  as  melhores  espécies  :  já  se  deo  a  descripção  de 
cada  huma  das  espécies  em  huma  Memoria  circunstan- 
ciada ,  submetida  ao  Lyceo  das  Artes ,  em  que  se  nota- 
va :  que  os  Algodoeiros  differem  entre  si  pela  con- 
figuração de  suas  folhas  ,  flores  ,  e  de  seus  fructos: 
por  tanto  agora  nos  limitaremos  somente  em  dar  huma 
ligeira  idéa  das  cinco  espécies  que  ^  Assembleia  tem  de- 
baixo da  vista. 

Este  he  o  Algodoeiro  herva  ,  Gossj/pium  herhtt-^ 
cetim ,  vel  religleswn  ,  que  de  ordinário  se  eleva  a  al- 
oura de  hum  terço  ,  ou  dous  terços  metros  ,  vindo 
9  sgr  hum  pp  ou  quasi  dous :  sua  flor  he  amarella  :  o 

AI- 


C  12!) 

Algodão,  que  produz  o  sey  fructo  ,  he  de  boa  qualidade. 
Este  nasce  ,  e  se  cultiva  em  Cândia  ,  Chypre  ,  na  Syria , 
,e  índia,  e  ainda  em  Malta,  e  Siçilia. 

Esta  outra  espécie  he  do  Algodoeiro  arvore  GoS" 
pjphim  arboreum.  Com  facilidade  se  distingue  dos  ou- 
tros pela  difterença  de  suas  folhas,  cujos  lobos  são  al- 
longado? ,  e  como  dedos  ;  differe  ainda  muito  mais  na 
côr  de  suas  flores,  que,  devendo  seramarellas,  são  de 
hum  vermelho  carregado  :  commummente  cresce  até  a 
altura  de  cinco  metros ,  ou  quasi  quinze  pés  de  altura» 

Cultivei  esta  espécie  de  Algodão  em  São  Domin- 
gos :  e  destes  deixei  brotar ,  quanto  quizerão  dous  pés , 
pue  se  elevarão  no  espaço  de  dous  annos  a  perto  de 
puto  metros  ^  quasi  vinte  e  quatro  pés  ;  porém  entãc» 
os  ramos  são  raros ,  e  pouco  frondosos  ,  e  só  se  vião 
algumas  folhas  pela  summidadç  da  arvore ,  e  de  ordina? 
rio  dão  poucos  fructos. 

Este  Algodoeiro  se  produ^  no  Egypto  ,  na  Arábia  ^ 
e  na  índia ,  e  o  seu  Algodão  passa  pejo  mais  fino  des- 
tas regiõe-s. 

Vc-se  ainda  aqui  o  Algodoeiro  liso  ,  GossypUtny 
glahrum  ,  e  he  assim  chamado  ;  porque  tanto  os  seus  ra- 
mos ,  e  seus  peciolos,  como  as  suas  folhas,  e fructos, 
estão  despojados  de  pellos ,  que  se  achão  nos  outros  Algo-s 
does.  Além  de  que,  observa-se  pes.tes  certos  pequenos  pon^ 
tos  negros  tuberculosos  jNque  os  fazem  ásperos  ao  toque. 
Este  Algodoeiro  he  indigena  das  Antilhas ,  e  cresce 
em  arbusto  a  mais  de  dous  metros  ,  e  o  Algodão ,  que 
produz  5  não  he  da  melhor  qualidade. 


A  muito  tempo  se  havia  cerhíicado  ,  que  existia 
cm  Sião  huma  espécie  de  Algodoeiro  bem  differente 
destas  conhecidas.  Os  Directores  do  Museo  de  Historia 
natural  me  pozerão  em  estado  de  vos  apresentar  este 
Al""odão  de  Smo.  A  qui  estão  dous  ,  dos  quaes  hum 
produz  Algodão  amarello  ,  e  o  outro  branco.  Vi ,  e  cul- 
tivei em  São  Domingos ,  só  por  observar  o  que  produ- 
zia AIg':dão  amarello.  Já  indiquei  em  huma  Memoria  , 
ir.ui  miudamente  feita  ,  ás  vantagens  ,  e  os  inconvenien- 
tes ,  que  apresenta  a  sua  cultura  :  como  também  me 
dispunha  a  cultivar  outro  Algodoeiro,  pouco  conheci- 
do 5  que  produz  hum  Algodão  mais  fino  ,  e  de  huma 
côr  amarella  mais  viva  :  mas  a  revolução  impedio  que 
se  effeituasse  o  meu  designio.  Talvez  poísa  .  ao  depois 
tomar  este  trabalho.  O  bom  effeito  desta  cultura  não 
poderá  deixar  de  ser  utilíssima  ás  mianufacturas  ,  e  ao 
Commercio  .da  França  ;  pois  he  constante  que  estas 
duas  espécies  de  Algodão  são  de  huma  finura  , ,  e  de 
huma  belieza  muito  superior  á  dos  melhores  Algodões 
brancos. 

Atíendendo  a  estes  tempos  fel  ices  ,  em  que  os 
Colonos  Francezes  tornão  de  novo  pela  sua  industriosa 
actividade  a  concorrer  para  a  prosperidade  de  sua  Pátria  , 
e  restauração  do  seu  Commercio  ,  observarem.os  por- 
que meios  se  poderá  obter  esta  plumagem  tão  útil  ge- 
ralmente nas  quatro  partes  do  mundo. 

Quando  se  plantão  os  Algodoeiros,  se  põem  hum 
pugâllo  de  sementes  em  huma  cova  ,  que  se  faz  na  terra  , 
íilo  muito  profunda  ,  em  distancias ,  mais ,  ou  menos ,  a- 

par- 


C  "!  ) 

partadas ,  conforme  a  espécie  do  Algodão  ,  que  se  planta. 
A  distancia  inais  ordinária  he  a  de  hum  metro  ,  ou  três 
pcs  j  até  dons ,  ou  quasi  seis  pés.  O  Algodoeiro  se  ele- 
Ta,  e  cresce  rapidamente  ,  todos  dão  dentro  de  hum 
anno,  mais  ou  menos  prontamente  conforme  a  sua  espé- 
cie j  qualidade ,  e  situação  do  terreno  ^  em  que  se  plaii- 
tão.  Alguns  o  decotão  ,  e  phntSo  de  novo  todos  os 
.  annos,  e  outros  os  deixão  ficar  assim  mesmo  por  dous 
«nnos ,  e  u-ais.  Estes  ultim.os ,  sendo  então  decotados , 
-dão  hum  producto  maior  nos  annos  seguintes  do  que 
iios  primeiro:^.  Deve-se  ter  cuidado  de  se  fazerem  parar 
aquelles  Algodoeiros ,  que  ,  por  sua  natureza  ,  crescem 
muito  ,  na  altura  de  hum  metro  e  meio  até  dous  ao 
mais.-  Faz-se  isto  para  que  com  facilidade  se  possa  apa- 
nhar o  Algodão,  quando  os  fructos ,  para  lhe  dar  pas- 
sagem ,   se  abrem. 

Neste  tempo  este  campo  plantado  de  Algodoei- 
ros offerece  huma  vista  deliciosa  ,  e  verdíçdeiramente 
interessante  ,  pelo  matiz  do  verde  agradável  de  suas  fo- 
lhas 5  e  da  côr  amnrella  das  novas  flores  ,  que  se  fazem 
.vermelhas,  passado  algum  tempo,  com  ?.s  grandes  piu- 
'inagens  de  huma  alvura  mais  brilhante  que  a  neve. 
Tendo  se  apanhado  o  Algodão ,  se  expõem  em  esteiras 
ao  sol ,  para  se  acabarem  de  seccar  bem  ,  e  se  bate  país 
extrahir  a  poeira  ,  e  impuridad^s  que  estão  unidas  á  pis- 
magem  ,  que  cahio  ,  e  se  ajuntou  pelo  chão  :  tira  se- 
lhe  depois  a  semente  ,  que  tem  encerrado. 

Servem -se,  para  isto  ,  de  huma  maquina  bem  sim- 
pks,  a  saber;  dous  rolos  qae  sevoitão  horizontalniea- 

te  ^ 


(  "O 

te ,  e  se  põem  com  o  pé  em  movimento  ,  por  meíO 
de  hum  alça  pé  ,  similhante  ao  dos  amóladores.  Estes 
dous  rolos  estão  suficientemente  unidos  ^  a  fim  de  que 
isómente  passe  a  plumagem  assim  que  a  chegão  aos  rolos 
qUe  vão  voltando ,  e  pelo  movimento  da  rotação  aítra- 
he  toda  a  lã  y  que  paxsa  para  o  lado  opposto :  então  t 
semente  j  que  não  pódc  passar  com  o  Algodão  ,  fica  se- 
parada, e  cahe  pela  parte  de  diante  dos  rolos. 

Em  alguns  paizes  ,  se  tem  ideado  outros  descaro- 
içadores ,  que  se  põem  em  movimento  pelas  rodas  ,  c 
animaes ,  elles  abreviarão  a  operação  ;  mas  ainda  déixaò 
Tnuito  que  desejar  a  fespeito  da  economia  do  tempò^ 
tbraços  ,  e  ainda  sobre  a  perfeição  do  processo. 

Sejão  ellas  quaes  quer  que  forem  ,  o  Algodão  ,  es- 
tando a^siin  livre  da  sxja  semente ,  sé  emballa  ;  e  'para 
isso  lie  preciso  comprimillo'  á  força  de  braços  ,  atmados 
<:om  piiôfeá  em  hum  grande  saccO,  e  fortemente  se  aper- 
ta ,  e  -alça  entre  quatro  peças  de  madeira.  Estando  o 
sacco  cheio ,  dão  o  nome  de  baila  de  Algodão  :  neste 
estado  se  entrega  ao  Commercio.  Poiém  este  só  o  pa- 
ga ,  conforme  a  sua  qualidade  ,  isto  he  ,  segundo  he  mais 
ou  menos  capaz  de  concorrer  para  a  manufactura  dos 
pannos  ;  que  ,  pela  sua  delicadeza  ,  se  procurão  ,  e  aind» 
destinados  a  formosear ,  cobrindo-se  lindamente  com  fr« 
guras  de  huma  belleza  ,  que  seduz. 

Para  que  o  Algodão  tenha  estas  qualidades  precio- 
sas ,  e  possa  ser  vendido  com  utilidade ,  he  preciso  qure. 
o  Cultivador  faça  boa  escolha  das  differentes  espécies 
de  Algodoeiros  ,   que  sejão  proprrios  á  natureza  do  seu 

ter* 


C  "7  ) 

terreno  ,  que  cultive  os  seus  arbustos  ,  t  prepare  ô 
Algodão  com  hum  constante ,  e  exacto  cuidado. 

Deve-se  saber ,  que  ha  inconvenientes ,  que  o  Cul- 
tivador não  pôde  acautelar  ,  como  são  os  effeitos  da 
lagarta  j  e  polilha.  Esteá  insectos  roem  5  e  cliupão  oi 
Algodoeiros,  e  aniquilão  as  colheitas  í,  mas  estes  inimi-* 
gos  somente  são  parciaes,  e  instantâneos^ 

Dá-se  ainda  Outro  obstáculo  ^  que  se  oppoem  áein- 
f>re  á  cultura  dos  Algodoeiros  nos  lugares  húmido^,  e 
elevados ,  que  são  as  chuvas  ^  e  ainda  os  orvalhos  frios. 
Estes  atacão  as  capsulas  já  formadas  ,  que  em  vez  de 
amadurar ,  secção  ,  e  cahem  ,  assim  fechadas :  daqui  vem 
que  mesmo  nas  Antilhas ,  onde  o  Algodoeiro  he  indí- 
gena ,  se  produz  mediocremente  nos  montes ,  e  não  he 
da  mesma  forma  nas  planices.  Com  intelligencia  ,  e 
actividade  ^  podem  os  Algodoeiros  ter  hum  êxito  mais 
completo  5  visto  que  de  todos  os  estabelecimentos  das 
Colónias  he  este  o  que  custa  itienõs  despeza. 

De  mais  ,  as  Colónias  Francezas  tem  provado  todas 
as  vantagens  5  que  podem  procurar  os  Algodoeiros.  Agora 
neste  tempo  ,  o  que  vem  das  Colónias  para  França, 
he  quasi  nenhum  para  o  seu  consummo :  os  Algodões, 
Os  mais  procurados  para  o  Commercio  ,  são  os.  das  Ilhas 
de  Bourbon  ,  e  de  Cayenna  ,  ambas  Colónias  Francezas, 
Deve-se  acreâcentar  ás  outras  mais  esta  prova ,  que  de 
todos  os  Cultivadores ,  que  vão  da  Europa  para  as  Co- 
lónias 5  mais  activos  ,  e  mais  constantemente  indus- 
triosos são  os  Francezes.  Esta  verdade  ,  que  dá  gosto  , 
merece   a  attencão  das  Sociedades  sabias  ^   e  por  con- 

se- 


(  I2S  ) 

sequencia  ,  a  do  Lyceo  das  Artes.  Será  por  tanto  provei- 
toso dirigir  todas  as  occasiões  de  utilisar  os  esforços  das 
manufacturas ,  e  agriculturas  das  Colónias ,  persuadido 
que  só  com  isto  se  poderá  fazer  a  restauração  do  Com^ 
raercio ,  e ,  por  consecjuencia ,  »  utilidade  geral  da  França. 


ME!- 


(    129   ) 


MEMOPvIA    VIL 

SOERE    O    ALGODÃO. 

Coton. 

fBlctionalre  imívcrselk  du  Commerce.') 

Savary    de  Bruley. 


o 


Algodão  he  huma  espécie  de  lã  vegetal  ^  branda  ^ 
€  propna  a  ser  fiada  ,  muito  conhecida  pelo  grande 
Gommercio  ,  que  ,  em  toda  a  parte ,  delle  se  faz.  Dão-se 
diversas  espécies  ,  quantas  o  género  de  plantas ,  que  o 
produz,  comprehende.  Sío  conhecidas  dez  ,  ou  doze  ^ 
que  diíferem  entre  si  em  razão  de  sua  grandeza  ,  e  fi- 
gura de  suas  folhas.  Os  Algodoeiros  maiores  são  arvo- 
res tão  altas  ,  e  tao  grossas  como  Abetos,  cujo  Algo- 
dão he  finissimo  ,  e  sobrepassa  j  ou  excede  á  seda  5 
mas  he  tão  curto  que  se  não  pode  fiar.-  A  sua  eôr  he 
lustrosa  ,  e  se  approxima  muito  á  da  seda  crua,  isto 
he,  de  hum  branco  amarellado ,  ou  que  puxa  a  côr  de 
palha,  A  este  se  ehamâ  em  Levante  Oate ,  e  na  Indiá 
'Eapoé. 

Todos  os  Algodoeiros  nascem  na  Zona  tofridâj. 
por  ser  este  o  seu  próprio  elima  ;  mas  aultiva-âe  aquém^  y 


Ç  HO  ) 

e  além  dos  Trópicos  ,  e  em  Levante  os  que  são  me- 
lhores a  íiar.  'Entre  tanto  os  de  Bengala  dão  hum  fio 
inelhor,  e  também  o  de  Coromandel ,  que  em  toda  a 
outra  parte.  Dizem  que  se  cultivão  em  Sicília  ,  e  na 
Apulha. 

As  menores  espécies  são ,  neste  género  ,  os  me- 
lhores Algodoeiros.  Estas  ou  são  arbustos ,  ou  sobarbus- 
tos  5  que  apenas  chegão  a  altura  de  dous  ,  ou  ires  pés, 
e  quando  muito  a  quatro.  Cs  que  chegão  a  altura  do 
Pecesueiro  somente  dão  hum  Algodão  de  -rnediocre 
qualidade,  por  serem  differeníes  espécies.  As  íolhas  dos 
pequenos  são  mui  differentes  dos  grandes  em  figura  , 
e  disposição.  São  pequenos  á  proporção  da  espécie, 
mas  sempre  formadas  em  cinco  pontas  ,  como  as  da 
videira  ;  porém  mais  obtusas.  As  que  nascem  pelas  pon- 
tas dos  ramos  ,  são  as  menores  da  plsnta  ,  só  tem  três 
divisões  5  e  estas  mais  agudas.  As  m.aiores  da  pequena 
espécie  tem  duas  polegadas  de  diâmetro  ,  e  ,  alguma 
vez  5  alguma  cousa  mais,  tomada=;  pela  circumi^erencia 
de  seus  lobos.  As  dos  maiores  Algodoeiros ,  cliamados 
ordinários  ,  Capoíjuclros ,  por  darem  os  Capulhos  (^Capoc 
dos  Hollandezes  )  ,  tem  maior  comprimento  que  hum 
meio  pé  ,  unidas,  sem  divisão  alguma  ,  pontiagudas  nas 
duas  extremidades  ,  e  cofii  quasi  dous  na  largura  do 
meio.  Apresentão  muitas  juntamente  ,  algumas  vezes 
Sete  ou  outo  ,  e  outras  nove  ou  dez  ,  sobre  humpeciolo  , 
que  tem  o  mesmo  corriprimento  queellas.  A  sua  dispo- 
sição se  ^^arece  com  adehuma  estreíla ,  que  tem  raios, 
çm  torno  do  seu  c?entro,  forinados  pela  ponta  deste  peciolo. 

Em 


030 

Èfíl  todas  as  espécies  a  flor  tem  quasi  5  rnesm^ 
feitio  5  correspondendo  em  tudo  a  família  ,  chamada 
Malvacea,  tomada  por  Tournéfort  como  monopetala, 
inas  qiie,  em  rigor ,  he  polypetala  ,  por  ter  cinco,  A  dos; 
Algodoeiros  tem  o  mesmo  numero  ,  ainda  que ,  regu" 
lando  a  de  siias  espécies ,  difíirão  na  grandeza  ,  e  conte- 
nhão  hum  corpo  pyramidal ,  abastecido  de  estames  assim 
como  nas  Malvas.  Ás  flores  varião  em  côr  ,  a  saber» 
vermelha,  arroxada,  branca,  ou  amarellã,  e  são  sus- 
tentadas por  hum  calis ,  dividido  em  três  grandes  lobos  j 
ou  folhas  adentadas ,  que  são  de  huma  pequehhes  ex- 
trema. 

Os  fructos  das  peqúerías  espécies  ^  que  contém  O 
bom  Algodáó  ,  he  hum  capulho  oval ,  grosso  5*  c©ma> 
huma  boa  nóz,  estando  no  capulho,  rodeado  pelo  seii 
calis.  Interiormente  se  divide  em  quatro  cellulas  ,  01! 
lugares ,  e  ,  algumas  vezes  em  três ,  cOiítendo  cada  hu- 
ma três  ou  quatro  sementes  mui  cobertas  de  Algodão, 
Estando  o  capulho  maduro  5  he  pàrdiího  ,  otí  negro 
por  fora;  o  Algodão  ,,  que ,  neste  tempo  O  enche,  he 
ião  forte  que  o  faz  abrir  em  três  ,  ou  quatro  partes 
por  sua  própria  força  ;  e  ainda  com  maior  da  que  lhe 
pôde  dar  o  calor  do  Sol  y  como  se  persuadirão  muitos 
viajeíros :  o  que  faz  ao  Algodão  alargar-se  a  hum  dia- 
íneíro  dobrado  do  que  èfai  Neste  estado  se  procura' 
iiir  colhendo ,  á  proporção  que  os  eapulhos  se  vão  ábrin» 
do  nas  plantas. 

O  dos  Capouquelros  y  ou  grandes  arvores  Algo- 
doeiras he   de  hirm  feitio  ,   alguma  cousa   diveírso    do 

I    ÍS  pí9» 


precedente.  A  sua  figura  he  como  a  de  hum  pepino 
pequeno  de  quatro  pollegadas  de  comprido,  e  de  duas 
de  grossura,  e  constantemente  se  divide  pela  parte  in- 
ferior em  cinco  alojamentos  ,  ou  lugares  ,  cheio  de  mul- 
tas sementes  da  grossura  da  pimenta  ,  e  apparece  ro- 
deada de  hum  Algodão  como  seda  ,  muito  fino  ,  e 
curto. 

He  raro  que  o  pequeno  Algodoeiro  se  lastre  pela 
terra,  e  que  precise  latada.  Isto  só  por  ;.ccidente  pô- 
de acontecer  a  alguns  pés  nos  campos ,  em  que  se  cul- 
tivão.  A  final ,  differe  assas  do  que  se  cultiva  na  Ame* 
rica  5  que  pertence  a  espécie  maior.  Também  se  precisa 
saber  o  lugar  ,  em  que  se  deva  arran  ar  o  Algodoeiro 
de  Santa  Catharina  ,  de  que  falia  Frezier  pela  sua  dif- 
fcrença  ao  das  Antilhas,  como  elle  ajuizava.  M.  Sava- 
ry  julgou  que  o  P.  Labat  se  servira  da  figura  do  Al- 
godoeiro ,  que  âeo  M.  Frezier ,  para  mosrrar  o  das  An- 
tilhas. Nos  Algodoeiros  de  ambos  estes  lugares  se  po- 
dem encontrar  este  mesmo  numicro  de  sementes  ,  sejão 
seis  ,  sejão  doze  ,  visto  depender  esta  circunstancia  de 
ser  a  espécie  a  mesma  ,  a  natureza  ,  a  estação  ,  e  o 
terreno. 

O  Algodão  nos  vem  das  Ilhas  de  Santa  Cruz  ,  de 
São  Thomaz  ,  da  de  S.  João,  que  pertencem  ao  Rei 
de  Dinamarca ,  quasi  com  a  mesma  bondade  do  de  S^o 
Domingos. 

O  Alí^odoeiro  de  Santa  Catharina  em  nada  differe 
do  das  Antilhas ,  de  que  já  se  fez  a  descripçao  ,  mais  que 
pelas  suas  grandes  folhas ,  que  tem  cinco  pontas ,  pelá 


<  Mi  > 

grossura  do  seu  capulho  ,  quasi  como  a  de  hum  ovo 
pequeno  de  galJinha  ,  e  pelo  numero  de  seus  grãos, 
que  de  ordinário  ciiega  a  doze.  Como  a  semente  vem 
misturada  no  mesmo  capulbo ,  se  inventarão  as  peque- 
nas maquinas ,  construidas  com  tanto  artificio  ,  como  in- 
venção, das  quaes,  movendo-se  somente  a  roda  ,  o  Ak- 
godão  cahe  totalmente  limpo  de  hum  lado  ^  e  o  grão 
do  outro,  sobre  o  que  íallaremos  ao  depois. 

Primeiro:  Da  flor ,  e  folhas  do  Algodoeiro,  cozidas 
no  borralho  ,  se  tira  hum  óleo  vermelho,  e  viscoso, 
que  serve  para  curar  ulceras.  Segundo  :  O  grão ,  ou 
semente  do  mesmo  modo  fornece  hum  óleo  ,  que  tira 
as  manchas  vermelhas  ,  e  serve  para  aformosear  ,,  se- 
gundo dizem.    Terceiro  :    Também  se  lhe  attribue  al- 


guma  virtude 


contra  os  venenos  ,    e  fluxo    do  sanírue. 


Seja  o  qwe  for  destas  propiiedades  ,,  he  certo  que  o  AJ- 
gOGao  ,  posto  sobre  feridas  em  forma  de  teatas ,  lhe  cau- 
sa inílammaçóes. 

Passemos  entre  tanto  a  outras  considerações  sobre 
o  Algodão  ,  relativas  a  sua  colheita ,  a  sua  fiação  ,  e  ás 
operações  ,  que  precedem  ao  seu  emprego.  Este  emprega 
he  muito  grande  ;  mas  o  único  ,  que  singularmente  po- 
de estimular  a  nossa  curiosidade  ,  vem  a  ser  ,  o  que 
se  emprega  em  mosselinas  ,  e  outros  tecidos  que  nos. 
vem  de  índias  ;  e  que  nos  admirão  pela  sua  fineza. 
Daremos,  segundo  as  Memorias  de  M.  Jore,  habitante 
em  Ruão ,  a  relação  circunstanciada  ,  e  a  mais  exacta  , 
pois.  empregou  ,,  não  só  o  seu  tempo  ,  mas  ainda 
*iuma  parte  de  seu5  bens ,  em  apexfeiçoai-  a  filatura  do 

AI-^ 


(1J4  5 

Algodão ,  e  c!ie»ou  a  fazer  delle  obras  tão  bellas ,  CQ-' 
pio  as  que  nos  vem  da  índia  :  isto  se  nos  communH 
cou  pelo  M.  Cavalheiro  Turgot ,  que  se  instruio  nest* 
fabrica  ;  pelo  gosto  ,  que  tinha  ás  Artes  úteis ,  e  por  issa 
mais  digno  dos  nossos  elogios ,  e  tanto  mais  estimável 
èm  qualquer  pessoa  quanto  isto,  desgraçadamente,  he 
raro  nos  de  sua  ordem,  e  fortuna. 

As  Ilhas  Francezas  da  America  produzem  os  me- 
lhores Algodões  ,  que  se  empregão  nas  Fabricas  de 
Ruão ,  e  de  IVoyes.  Os  estrangeiros ,  nossos  vizinhos 
o  tirão  igualmente  das  Ilhas  de  Guadalupe  ,  de  Sío 
Domingos,  e  dos  Paizes  adjacentes.  Dão-se  differentes 
«qualidades  :  o  que  chamão  de  Guadalupe  he  curto,  e 
a  sua  lã  he  grossa  :  o  modo  de  se  fiar  se  dirá  ao  de- 
pois ,  po^  o^a  "ão  convém.  O  de  São  Domingos  se 
pôde  fiar,  como  diremos,  quando  elle  he  bom  :  po- 
dem-se  misturar  pm  outros  Algodões  mais  finos  para 
delle  se  fazerem  certas  cbras.  Mas  todos  estes  lugares 
fornecem  outra  espécie  ,  chamado  de  Sião  branco  de 
semente  verde  ,  para  o  distinguir  de  outra  da  mesms^ 
qualidade,  porém  de  differente  côr.  Este  he  vermelho, 
e  o  outro  branco  :  a  sua  la  he  fina,  comprida,  e  ma- 
cia nas  mãos :  a  sua  semente  he  menor  do  que  a  dos 
outros  Algodões  ,  cuja  lã  as  mais  das  vezes  lhes  está 
adherente  ;  esta  semente  he  negra ,  e  lisa  ,  ao  depois 
de  madura  ;  porém  ,  se  a  cultura,  e  colheita  não  se 
fazem  bem  ,  a  lã  se  apega  ,  e  as  extremidades,  que  se 
abrirão,  são  verdes  ,  principalmente,  quando  se  colhe  de 
novo  o  Algodão.    Esta  espécie  de  todo  se  não  cultiva 

na 


m  America,  posto  que  se  esteja  conv&ncí^o- cie  sua  su/ 
perioíid^de  ;  porque  a  sua  semente,  sendo  pequena,  se 
introduz  entre  os  cylindros  do  descaroçador  ,  se  esma- 
ga ,  põem  nódoa  na  lã  ,  e  a  enche  de  impuridades  : 
defeito  grande,  que  lhe  diminue  muito  o  preço  ;  aléra 
de  que  ,  he  muito  solto  para  os  fiandeiros  das  Fabricas 
de  Ruão  ,  etc.  ,  deste  se  precisaria  mais  tempo  para 
fiar  hum  arrátel,  do  que  para  huma  libra  de  outro  qual» 
quer;  e  assim  elles  não  o  estimão,  e  se  tem  abando- 
nado o  seu  interesse»  Este  mesmo  Algodão  se  cultiva 
no  Mississipi,  clima  que  não  he  tão  conveniente,  como 
o  das  Ilhas  da  America  :  onde  não  amadurece  ,  a  lã  he 
curta,  e  muito  pegada  á  semente  ,  de  sorte  que  senão 
pôde  fíjzcr  hum  bom  uso  delia, 

O  arbusto  ,  que  produz  o  Algodão  ,  de  que  se  tem 
fallado,  na  America  he  vivaz.  Em.  sqíq  ou  oito  fnezes , 
tendo-se  plantado  de  semente ,  dá  huma  colheita  fraca  ; 
e  continua  a  dar  de  seis  em  seis  mezes  por  espaço  de 
dez  annos.  O  das  índias  ,  e  de  Malta  he  annual  ,  g 
difíere  ainda  na  qualidade.  O  da  America  parece  tão 
macio  como  a  seda. 

Dacaroçmnento  do  Jfgodão,  Immediatamente ,  de- 
pois de  colhido  ,  leva-se  o  Algodão  para  o  descaroçador. 
O  m.ecanismo  deste  descaroçador  he  muito  simples,  a 
saber  :  são  dous  pequenos  rolos  canellados  ,  sustenta- 
dos horizontalmente  ,  que  puxão  o  Algodão  ,  e  passa 
entre  syas  superfícies ,  desprendendo-o  de  suas  semen- 
tes ,  cujo  volume  he  maior  do  que  a  distancia  dos  ro- 
ktes ,  que  virão  em  sentido  opposío ,  no  meio  de  duas 

ro- 


^odas ,  que  com  cordas  atadas  se  põem  em  movimento 
em  hum  estrado  levantado ,  em  que  se  põem  o  pc  de 
hum  homem  ,  e  comprimindo  com  o  pé  ,  como  faz 
huiTí-torneador,  ou  huma  fiandeira  de  roda  :  em  quan- 
to ella  com  as  suas  mãos  apresenta  o  Algodão  aos  ro<» 
los  ,  o  apanha  ,  e  mete  em  hum  cabaz ,  ou  sacco  aber- 
to,  e  unido  debaixo  do  caixilho:  o  que  he  muito  me- 
lhor ;  porque  não  lhe  cahe  pó  ,  e  que  o  vento  não 
lho  pôde  introduzir,  ainda,  fazendo-se  ao  ar,  debaixo 
de  alpendradas ,  como  assas  se  costuma. 

Emhallamento  do  Algodão  :  separado  o  Algodão 
de  sua  semente  se  introduz  em  grandes  saccos  de 
panno  forte ,  quasi  do  comprimento  de  três  varas :  en- 
chendo-se  com  a  força  de  grandes  pancadas  de  huma 
tenaz  de  ferro.  Começa-se  humedecendo  ,  e  depois  se 
dependura  ao  ar  com  a  bocca  aberta  ,  e ,  atando-se  for- 
temente com  cordas  passadas  em  moutão  ,  fixas  em 
traves  ,  ou  vigas  de  hum  assoalho.  Hum  homem  en- 
tra dentro,  e  arranja  no  fundo  huma  primeira  camada 
de  Algodão,  que  elle  piza  com  os  pés  ,  e  com  hum 
masso.  Sobre  esta  camada  lhe  põem  outra  ,  que  lan- 
ça pelo  fundo  ,  e  arruma  bem  com  a  sua  tenaz  de 
ferro  :  e  assim  se  vai  continuando  até  que  o  sacco  esteja 
totalmente  cheio.  Em  quanto  se  faz  este  trabalho,  ou- 
tro homem  tem  o  cuidado  de  borrifar  de  tempos  em 
tempos  o  exterior  do  sacco  com  agua  ,  antes  que  se 
tenha  apertado  o  Algodão  ,  e  sobe  de  novo  a  calcar 
dos  golpes  da  tenaz.  Coze  se  o  sacco  com  barbante,  e 
pos  quatro   cantos   se  põem    huma    aza   para   o  poder 

mo- 


mover  com  mais  commodidade  :  este  sacco  ,  assim 
acondicionado  ,  chama-se  hmia  baila  de  Algodão  ,  o  qual 
contém  pouco  mais  ou  menos  ,  conforme  he  mais  ou 
menos  calcado ,  e  mais  ou  menos  pizado ,  de  ordinário 
trezentas,  a  trezentas  e  vinte  libras. 

Da  Fabrica  de  ^annos  de  Algodão  fino  ,  chamados 
moíisselinas.  Esta  se  divide  naturalmente,  a  saber,  na 
fiação  de  Algodões  finos  ,  e  na  Fabrica  de  pannos  ,  e 
outras  obras  ,    em  que  se  emprega  o  fio. 

Da  fiação  y  ou  modo  de  cardar  o  Algodão,  de  esto- 
par,  e  dur  lustre  ,  e  de  lhe  misturar  de  diversas  sortes 
para  differentes  obras,  que  tem  coiinexão  em  todas  estas 
operações.  Quando  só  se  propõem  fabricar  mousselinas 
finas  ,  e  meias  finas ,  cumpre  separar  a  mão  o  Algo- 
dão da  semente  :  e  isto  facilita  o  trabalho  do  officia!  ^ 
que  o  deve  fiar  ;  mas ,  em  huma  Fabrica  mais  extensa  , 
parece  conveniente  recorrer  a  huma  maquina  mais  bre- 
ve áo  que  a  que  se  tem  descripto.  Logo  que  se 
quer  fiar,  abrem-se  as  maçãs .  para  com  os  dedos  lhe  ti- 
rar as  sementes  ;  abrem  o  Algodão  ao  comprido ,  ob- 
servando de  o  dirigir ,  sem  que  arrebentem  os  filamen- 
tos 5  que  compõem  o  seu  tecido  ,  fazendo  delle  frou- 
seis  de  grossura  de  hum  dedo. 

Cardar  o  Algodão  ,  posto  que  se  faça  com  cardas 
esta  operação,  com  tudo  he  de  todo  supérfluo  cardai- 
lo  :  cíírí/ízr  o  Algodão  he  misturallo  em  todo  o  sentido, 
&  fazello  ralo,  e  solto.  As  operações  de  cardar  tão  ten- 
dentes a  separar  huns  filamentos  dos  outros ,  e  dispollos  , 
çonfoime  o  seu  comprimento ,  sem  os  dcbrar,  arreber,'- 

"^  tar. 


lar,  nem  trabalhar  com  movimentos  muito  repetkíoíi 
Faltando  esta  precaução  se  moeria  ,  e  ficaria  cheio  dç 
nós ,  que  os  farião  máos ,  e  muitas  vezes  ainda  inúteis. 
Esta  opera<;áo  he  a  mais  difficil  de  se  aprender  ,  e  a 
mais  necessária  ,  e  que  se  deve  saber  bem  :  por  ser  a  que 
encaminha  as  obras  de  Algodão  á  sua  perfeição.  Ao 
principio  raramente  prospera  sem  se  adquirir  o  habito  de 
a  fazer  bem  :  logo  que  se  adquire  ,  se  faz  com  muita 
facilidade.  Consiste  no  modo  de  se  servir  das  cardas  ,  e 
íie  o  passar  de  huma  carda  para  a  outra  ,  cardando-o  to» 
talmente.  Para  este  processo  ,  tomai  a  mão  esquerda  ao 
comprimento  de  vossas  cardas ,  de  sorte  que  os  dentes 
olhem  paya  cima  ,  e  que  as  pontas  curvas  estejão  vira- 
■flas  para  a  mão  esquerda  ,  regulai  a  liberdade  do  poUe- 
gar  ,  e  de  poder  passar  ligeiramente  a  mão  de  huma 
ponta  da  carda  a  outra.  Tomai  na  mão  direita  hum 
frouxel,  que  tenha  quasi  o  terço  do  seu  comprim.ento , 
e  lançaio  na  extremidade  sobre  a  carda,  pegai  com  os 
dentes,  ajudando  com  opollegar  da  mão  esquerda,  e, 
sendo  preciso ,  pondc-o  sobre  o  Algodão  ,  tirai  o  ftou- 
xel  da  mão  direita',  sem  o  apertar  muito  ,  ficará  huma 
parte  do  Algodão  preza  por  huma  ponta  nos  dentes  da 
carda,  e  a  outra  ponta  deste  Algodão  despegada  sahirá 
para  fora  da  carda  :  repeti  por  quinze ,  ou  dezaseis  ve- 
zes esra  manobra ,  até  que  o  frouxel  esteja  acabado  :  o 
enchei ,  procedendo  do  mesmo  modo ,  a  carda  de  hu- 
ma po:u7.  a  outra  ,  com  semelhantes  frouxeis ,  obser- 
vando somente    de  não  a  carresrar  nunca  muito  de  hu- 


ma vez. 


Es- 


Ç1S9  5 

Estando  a  carda  sofficientemente  guarnecida  ,  ss 
tem  fixa  na  mão  esquerda,  pegando  pelo  meio,  e  pe- 
lo lado  opposto  ao  dos  dentes.  Tomai  com  a  direita  a 
mais  pequena  de  vossas  cardas  ,  em  hum  sentido  op- 
posto ao  outro,  isto  he ,  as  pontas  para  baixo,  e  a  sua 
curvatura  virada  para  a  direita  ;  e  para  a  suster  ,  se 
pega  pelos  dous  cabos  entre  o  pollegar  ,  pondo  o  de- 
do do  meio,  o  índex  sobre  a  sua  costa:  onde  se  põem 
os  filamentos  do  Algodão  que  estão  por  cima  da  ou- 
tra carda  ,  e  se  carda  ligeiramente  ,  começando  pelas  ex- 
tremidades do  Algodão  ,  que  se  puxa  hum  pouco  com 
a  carda  direita ,  para  levantar ,  e  estender ,  conforme  o 
-seu  comprimento  ,  todos  os  filam.entos  do  Algodão ,  que 
se  não  desembaraçarão  nos  dentes  da  carda  grande,  de 
sorte  que  ,  com  dezoito ,  ou  vinte  penteaduras ,  o  Al- 
godão que  vai  para  fora  ,  esteja  bem  penteado.  Repete- 
se  a  mesma  operação  pela  parte  debaixo  ,  para  levan- 
tar  ,  o  que  estiver  mal  arranjado  ,  em  que  os  dentes 
da  pequena  carda  não  pôde  chegar  ,  quando  antes  se 
tinha  usado  delia. 

Isto  faz  com  que  se  ache  despegado  o  Algodão 
nas  duas  cardas ,  cujas  partes  exteriores  se  tem  pentea- 
do :  mas  he  evidente  que  as  pontas  do  Algodão  ,  em- 
baraçadas no  interior  da  carda  grande  ,  totalmente  se 
não  tem  desembaraçado  ;  e  por  isso  se  passa  todo  o  Al- 
godão da  carda  grande  na  pequena  ,  sem  mudar  suas 
posições  ,  mas  profundando  só  os  dentes  da  pequena 
no  Algodão  embaraçado  na  gi:ande ,  começando  do  lu« 
pr  ,  em  que  aparece  pela  parte  de  fora ,  tendo  o  cui- 
^'        "'  da- 


C  MO  ) 

dado  de  voltar  as  cardas,  de  sorte  que  se  possa  b  Al- 
godão desembaraçar  pouco  a  pouco  de  liuma,  para  ser 
unir  a  outra,  penteando  semjíre  em  proporção  que  eJle 
se  una  ,  e  que  saia  da  grande  ,  para  encher  a  |)equena. 
Tendo  a  carda  pequena  apanhado  todo  o  Algodão  da 
grande  ,  sem  o  dobrar ,  nem  quebrar  ;  todos  os  fila- 
mentos ,  de  cue  se  compõem  ,  se  tirão  ,  separados  huns 
dos  outros  ,  pelo  curso  desta  manobra  ,  e  eile  estará 
então  em  cst?do  de  se  pór  em  rocas  para  se  íiar. 

Estas  rocas  são  a?  mesmas  cardas  ,  e  consiste  a 
operação  em  fàzer  passar  o  Algodão  da  pequena  carda  , 
pela  grande  ,  fixando-se  principalmente  em  o  distribuir 
com  igualdade  ,  e  ligeireza.  Estando  todo  o  Algodão 
na  carda  grande,  examina-se  de  dia ,  se  há  alguma  des- 
igualdade 5  e  se  a  houver  ,  se  servem  das  cardas  pe- 
quenas para  as  tirar  ,  e  o  cue  ella  apanha  do  Algodão 
neste?  últimos  golpes  ,  basta  para  a  encher  ,  e  fazer 
que  esta  mesma  sirva  de  roca  como  a  grande. 

íiCã  Qutãi  o  Algodão  tão  fácil  de  se  Tiar ,  que  a 
manobra  da  fiação,  como  huma  espécie  de  dobação ,  e 
O  fio  que  provier  do  Algodão  assim  preparado  ,  será 
próprio  para  toda  a  sorte  de  panno.  A  meada  pesará  de 
vinte  até  trinta  giáos  ,  conforme  a  íinura  da  fiação. 
De  pa>sagc  vem  a  propósito  djzer  :  que  buma  meada  de- 
AJ<í^odão  contem  sempre  duzentas  vaias  de  fio  ;  e  que 
este  numero  produz  o  peso  destas  duzentas  varas  ;  pe- 
lo que  ,  quando  se  trata  de  hum  fio  ,  que  pesa  vinte 
i;rãoj  ,  he  preciso  entender  huma  meada  de  duzentas 
varas    deste   peso  ,    donde    se    vc   que  ,    ainda    sendo. 

me- 


(  Í4t  3 

írieíior  o  peso  da  meada,  o  comprimento  do  fío  seííi- 
pre  será  o  mesmo  ;  mas  convém  íiar-se  muito  fino  ; 
e  para  o  obter  Rnissimo  ,  deve-se  estopar  o  Algo- 
dão. 

As  obras ,  que  se  fazem  de  Algodões  ,  de  que  se 
tem  fallado  são  felpudas  :  porque  aparecem  nos  pannos 
as  pontas  dos  filamentos  do  7\.lgodão  ,  ou  lã  de  que 
Si  fazem  :  desta  espécie  de  mousse  ,  ou  felpa  he  que 
vem  o  nome  de  miousselina  ,  que  se  dá  a  todos  os 
pannos  de  Algodão  finos,  que  se  nos  traz  da  índia,  e 
na  verdade  todos  tem  este  pello.  Para  precaver  este 
defeito  ,  que  lie  grande  nos  pannos  de  lã  ,  e  nas  mous- 
selinas  'finíssimas ,  deve-se  separar  do  Algodão  todos  os 
filamentos  curtos  ,  que  senão  ptSdem  apanhar  pelo  com- 
primento, torcendo  o  fio  ,  o  qual ,  dando-lhe  grossura  , 
falta  na  união  pelo  comprido.  A  isto  chamão  estopar. 

Estopar  o  Algodão.  Escolhem-se  os  mais  bellos  ca- 
pulhos  do  Algodão  de  Sião  branco,  que  tenha  a  seda 
íina  ,  e  comprida  ;  desfia-se  ,  e  se  desembaraça  sobre 
as  cardas ,  a  ponto  de  se  poder  pôr  nas  rocas  ,  dividindo- 
se  o  Algodão  nas  duas  cardas:  então  voltãc-se  as  duas 
cardas  pelo  m.esmo  sentido  ,  pondo  os  dentes  de  huma 
sobre  os  da  outra  ,  desembaraçando  os  ligeiramente ,  de 
modo  que  as  pontas  do  Algodão  ,  que  sahirem  das  cardas , 
se  reunão.  Firma- se  a  mão  direita  ,  pegando  entre  o 
pollex  ,  e  o  Índex  em  todas  estas  pontas  de  Alçrodão, 
que  se  tira  para  fora  da  carda  sem  laxar  ,  ou  affrouxar 
a  porção  ,  e  se  lança  esta  sobre  a  parte  da  carda  gran- 
cJcj  que  ficará  descoberta ^  só  a  fira  da  a  pentear,  paí- 

san- 


(   142  ) 

sando  as  siias  extremidades  pelos  dentes.  Poem-se  depoíáí 
este  Algodão  sobre  hum  oí^jecto  denegrido  ,  que  dá  á 
facilidade  de  o  ver,  e  arranjar:  e  continúa-se  esta  ope- 
ração ,  até  que  se  tenha  tirado  todo  o  Algodão  ,  que  pa- 
recer comprido:  pentea-se  de  novo,  o  que  íiear  nas  car- 
das 5  repetindo-se  a  mesma  operação.  Depois  desta  re- 
petição,  o  que  se  não  tirar,  será  a  estopa  do  Algodão, 
que  não  deve  servir  para  obras  finas. 

Lustrar  o  AU^odão.  Querendo-sè  ainda  adiantar 
muito  a  perfeição  ,  e  dar  lustre  ao  Algodão  :  faz-se 
deste  Algodão ,  que  se  extrahe  das  cardas  em  estopa , 
pequenos  frouxeis  da  grossura  de  huma  penna  ,  ajun- 
tando-se  longitudinalmente  os  filamentos ,  e  os  torcem 
entre  os  dedos  com  toda  a  força  ,  começando  pelo 
meio  5  como  se  se  quizesse  fazer  hum  cordão ,  e  que  este  ' 
torcimento  vá  de  huma  ponta  a  outra  do  floco.  Quan- 
do depois  se  vai  adestorcer  ,  se  persente  que  o  Algo- 
dão se  tem  allongado ,  e  que  tem  tomado  hum  lustre^ 
como  o  de  seda.  Querendo-se  desfiar  hum  pouco  des-  j 
te  Algodão ,  e  torcello  segunda  vez  ,  não  ficará  tão  bei- 
jo. Para  se  fiar ,  se  põem  em  rocas ,  como  o  Algodão" 
que  não  tem  lustre  ,  tendo-se  o  cuidado  de  os  carregar 
pouco,  querendo-se  fiar  fino.  Este  fio  de  Algodão,  as- 
sim preparado,  se  emprega,  para  fazer  pannos  finissi» 
itjOS  ,  e  meias  ,  que  na  lindeza  excede  ao  que  se  po- 
de imaginar,  tendo  a  vantagem  de  ser  sem  pellos,  e 
lustrosos  como  a  seda.  O  fio  deve  ser  fiado  fino  ,  a 
ponto  que  cada  meada  só  pese  outo ,  ou  dez  grãos  ;  po- 
rém esta  extrema  finura  pende  mais  para  a  curiosidade  , 
que  para  a  utilidade.  ^ 


C«45) 

A  relação  de  todas  estas  operações  5  diz  M.  Jore 
nas  suas  Memorias  ,  mui  circunstanciadas  ,  e  clarissi- 
mas  5  confornne  as  quaes  se  dá  esta  manobra  (como 
se  este  homem  sensato  pre visse  as  objecções  ,  cue  ti- 
nha de  temer  do  desprezo  de  huma  pequena  espécie  dé 
Leitores  3  parecerá  talvez  minuciosa  na  individuação  de 
todas  estas  operações  ;  mas  se  os  seus  objectos  são  pe- 
quenos, o  valor  não  he  menos  digno  dè  consideração* 
Basta  huma  oitava  de  Algodão  ,  para  occupar  huma  mu- 
lher hum  dia  inteiro,  e  fazella  subsistir  :  huma  onça 
faz  huma  vara  de  mousselina  ,  que  vaie  de  doze  li- 
bras ,  até  vinte  e  quatro  ,  conforme  a  perfeição  :  hum 
par  de  meias  ,  que  pese  onça  e  meia  até  duas  onças  5 
vale  de  trinta  libras  até  secenta  ,  e  oitenta  libras.  Não 
ha  inconveniente  algum  para  a  fiação  ,  empregando-ss 
duas  horas  em  preparar  o  Algodão  ,  que  se  pode  fiar 
em  hum  dia  ;  pois  desta  cautela  depende  a  fortaleza  do 
fio,  a  presteza  nas  outras  operações  ;  e  a  perfeição  de 
todas  as  obras  ,  que  òdk  se  pôde  fazer.  O  habito  faci- 
lita muito  isto. 

Mistura  dos  Algodões  de  di/ferentes  sortes.  Já  se 
disse  :  que  o  bello  Algodão  de  São  Domingos  se  po- 
dia empregar  em  certas  obras,  e,  maiormente.,  quando 
se  mistura  com  proveito.  Empregado  só  ,  se  fiaria 
fio,  que  pesasse  setenta  e  dous  grãos  ,  ò  qual  serviria 
para  continuar  os  pannos  ,  que  se  quizesse  fazer  ao 
tear,  ou  para  lenços  de  côr.  E  ,  misturando-se-lhe  husna 
amictade  com  Algodões  finos,  pesará  de  cincoenta,  até 
cincoenta  e  quatro  grãos,    e  será  próprio  para  ordir  os 

pan- 


C   H4  ) 

pannos  ,  e  lenços ,  de  que  se  tem  fallado  ,    e  pira  faí 
zer  pannos  finos,    que  se  poderá  pintar.    Misturando^se 
três  par  f  es  de  Algodão  fino,  com  huma  do  de  São  Do- 
iningos  bem  preparado,  e  lustrado,   se  poderá  fazer  os 
lavores    das  mousselinas    riscadas  ,    e    das    mousselinas 
claras  ,  e  unidas  ,  cujo  fio  pesará  de  trinta  até  trinta  e 
seis    grãos.    Faz-se  esta  mistura    na  primeira    operação  ^ 
quando  o  fio  está  em  flocos  ,   e  poem-se  na  carda  tan- 
tos flocos  de  huma  tal  quantidade  ,  e  tantos  de  outra  ^ 
conforme    o  uso    que    se  quer  fazer    delias.    Os  índios 
totalmente  ignorão  estas  misturas  ,    elles  põem  em  es- 
tado de  satisfazer  todas  as  fantezias  da  Arte,    a  adver- 
sidade das  espécies  que  a  natureza  lhes  fornece.    Final- 
liiente  as  preparações  que  elles  dão  aos  seus  Algodões  , 
não  tem  alguma  connexão  com  as  que  se  disse  acjma. 
yo^'dz.   la  vlngt-cienxicnie  des  httrss  edlffiantes.  Colhido 
o  Algodão  elles    o  separão  das  sementes    por  dous  cy- 
lindros  de  ferro ,  que  rolão  hum  sobre  o  outro  :  esteiv 
dem  depois  sobre  huma  esteira  ,    e  o  batem  por  algum 
tempo  com  varetas  ,  depois  com  hum  arco  armado  ,  e 
acabão  de  fazer  ralo  ,    ou  bater  ,  fazendo  soffrer  as  re- 
petidas vibrações    da  corda  ,    isto  he    dizer    como  eilcs 
o  batem.  Votjex.  a  Vart  Chapeou  ,  cumeçao  estes  officiaes, 
fazendo  padecer  o  pello  á  mesma  operação,    que  o  di- 
•vide  muito  bem  ,    a  qual   não  parece    pouco  contraria 
ao  fim  da  ordidura ,  e  de  toda  a  Arte,  onde  se  entor- 
tarão   CS  filamentos  ,    por  ser  claro    que    quanto    mais 
iguaes  de  todas  as  partes  forem  os  filamentos  ,    tanto 
mais  compridos  serão  ,    e  o  cordão,  que  delles  se  fizec^ 

se- 


(  145  ) 

sèfá  muito  mais  forte.  Estando  o  Algodão  bem  batidsí 
cUes  o  fazem  fiar  por  homens ,  e  mulheres.  Diz  O  Aii- 
thor  destas  Memorias :  de  talde  fallo  nestes  meios ,  pois 
òs  não  acho  bons  j  pata  fazer  o  fio  de  todo  commum  5 
Visto  qtie  podem  apenas  substituir  a  Cardadura  ordinária  , 
ijUe  praticão  nas  Fabricas  de  Normandia  ,  e  estou  per- 
suadido que  os  índios  usão  de  outro  methodo  para  a 
preparação  do  seu  Algodão  ,  que  por  oía  ainda  nOs 
não  tem  chegado;  Sè  M.  Jore  reflectisse  no  fim  ,  e 
effeito  de  bater  o  Algodão  j  não  attenderia  ao  vantajoso  ; 
por  que  não  se  trata  aqui  de  miíltiplicar  as  supefficies 
com  dispêndio  dos  comprimentos :  he  isto  bom  ,  quan- 
do se  trata  de  dar  corpo  pelo  contacto ,  mas  não  pelo 
enrolamento^  A  acção  de  bater  he  huma  operação  evi- 
dentemente eontíariá   á  estopage. 

Fiar  os  Algodões  finos.  Estando  a  roda  prepafada, 
como  se  dirá  abaixo  ,  e  habituando-se  a  fiandeira  em 
fazella  andar  com  o  pé  para  principiar  ^  ella  porá  fixa 
qualquer  ponta  no  fuso  de  marfim ,  fazendo  passar  pe« 
lo  dente  5  e  botão  dè  mesmo  fuso  ,  e  da  hi  conduzirá 
a  exti:emidadê  deste  fio  ^  que  deve  ter  qUasi  quatro  pés 
de  comprido  ,  sobre  a  carda  grande  qúe  deve  servir  de 
meada  :  ella  o  porá  sobre  o  Algodão  na  parte  a  mais 
vizinha  ao  cabo,  e  terá  este  cabo  na  sua  mão  esquer-^ 
da  5  fazendo-o  de  modo  que  se  adiante  o  pollegar  ,-  e 
Index  além  dos  dentes  dá  carda  ,  para  as  pontas  do  Al- 
godão ,  em  que  se  pegará  o  fio  ,  a  huma  políegada  da  sua 
extremidade  ,  não  prendendo  entre  os  dedos  algum  fi» 
lamento  do  Algodão,    Estando  tudo  isto  neste  estado , 


C  14«) 

se  dá  com  a  mão  direita  o  primeiro  movimento  ároda, 
que  deve  virar  da  esquerda  para  a  direita.  Tendo  con- 
servado   este   movimento    por  alguns  instantes    com  o 
pé,    e   estando    a  cravelha    sufíicientemente  estendida, 
ou  apertada    percebe-se    torcerce    o  fio  entre    os  dedos 
da  mão  esquerda  ,    que    se  tem  chegado    ao  Algodão , 
-sem  ter   a  faculdade   de    se  communicar  ,    toma-se  en- 
tão   o  fio    da  direita    entre    o  pollex  ,    e  index    a  seis 
pollegadas    de  distancia  da  mão  esquerda  ,    e  se  aperta 
de  modo  ,  que  a  volta  que  a  roda  lhe  communica  ,  an- 
dando sempre  ,  não  possa  passar  além  da  vossa  mão  di- 
reita. Executando-S€  isto  bem  ,  não  tem  mais  que  hum 
pequeno  jogo  para  fazer  o  fio.    Advertindo  porém,  que 
já  mais    s«  deve  chegar  a  cabeça  á  roda  mais  perto   do 
que  dous  pés  e  meio  ,    até  três  ;   e  que   as  duas  mãos 
«stejão  sempre    em  alguma    distancia   huma   da  outra  , 
excepto   nas  circunstancias  extraordinárias  ,    que  se  ex- 
plicará em  outra  parte. 

A  ponta  do  fio  que  está  entre  as  duas  mãos ,  que 
tem  perto  de  seis  poHegadas  de  comprimento,  conser- 
vando-se  no  gyro  ,  como  se  disse  ,  seive  para  pouco 
mais  ou  menos  formar  quatro ,  cinco ,  ou  seis  poHega- 
das de  novo  fio :  porque ,  deixando  se  este  fio  na  mão 
esquerda,  somente  a  volta  passaria  para  a  carda  ao  lon- 
go da  sua  parte  que  está  opposta ,  se  suspenderia  ,  ou 
dependuraria  algumas  pontas  do  Algodão  ,  e  farão  hum 
fio  que  se  tira  para  fora  da  carda ,  lançando  a  mão  di- 
reita sobre  a  frente  da  roda  ,  tanto  que  as  voltas  tive- 
rem   a    faculdade    de   se    cominun içarem    ao  Algodão, 

Quaiv 


Ç  147  ) 

Qiiqndo  se  perceber  ,  que  as  voltas  nSo  se  depen- 
durão  pelos  filamentos  do  Algodão  ,  se  pega  no  fio 
novo  5  feito  com  os  dous  dedos  da  esquerda  ,  como 
dantes :  então  se  deixa  ir  o  fio  que  se  tem  na  mão  di-* 
reita ,  a  volta  que  estava  entre  a  roda  5  e  a  vossa  di- 
reita 5  vindo  a  subir  precipitadamente  até  a  vossa  es- 
querda 5  dará  occasião  de  tornar  a  tomar  logo  o  fio  da 
direita  a  cinco ,  ou  seis  pollegadas  da  esquerda ,  como 
dantes  ,  e  de  se  continuar  a  tirar  assim  de  novo  o  fio 
da  carda^  Chegando-se  a  fazer  hum  habito  desta  alter- 
nativa de  sorte  que  a  roda  não  possa  alguma  vez  tor- 
cer mais  depressa  ,  e  que  a  fiandeira  esteja  obrigada  â 
moderar ,  ou  augmentar  o  movimento  da  roda. 

A  ponta  do  fio  de  seis  pollegadas  de  comprido  se 
toma  entre  as  duas  mãos ,  c  que  contém  as  voltas  que 
deve  formar  o  novo  fio,  e  com  igualdade  o  fará  se  se 
deixar  obrar  naturalmente  :  pois  sendo  mais  vivo  no 
primeiro  instante  ,  que  ,  para  o  fim  ,  ella  apanhará 
íTiais  Algodão  no  primeiro  instante  do  que  nos  seguin- 
tes. Pertence  á  agilidade  da  fiandeira  moderar  o  toici- 
mento ,  enrolando  entre  os  seus  dedos  ^  o  fio  que  tem  na 
direita  em  hum  sentido  opposto  ao  torcimento  ,  e  quan^ 
do  sente  que  o  forcimento  se  enfraquece,  o  enrola  em 
sentido  contrario  ao  torcimento  para  lhe  augmentar  o 
effeito.  Por  este  meio  virá  a  formar  o  fio  com  perfeita 
iguaJdade  ,  sendo  o  Algodão  bem  preparado.  Os  que 
Gomeção,  quebrando  com  frequência  o  fio ,  he  pela  falta 
de  não  ter  adquirido  huma  pequena  agilidade. 

Faz-se  a  roda  a  esquerda,  para  que  a  mão  direita 
K  2  pos- 


possa  operar  em  huma  circunstancia,  de  que  depende 
toda  a  perfeição  do  fio  :  e  igualmente  virar  a  roda  da 
esquerda  para  a  direita ,  per  que  sem  isto  o  fiô  se  tor- 
ceria em  hum  sentido  em  que  custaria  moderar  ,  qUer 
torcendo  ,  quer  destorcendo  entre  os  dedos  da  mão 
direita. 

Outra  destreza  da  fiandeira  he  voltar  a  sua  carda, 
ou  roca  ,  de  modo  que  o  torcido  ,  que  sobe  de  dentro , 
ache  sempre    huma  igual  quantidade    de  Algodão   para 
apanhar  ,   e  que  o  apanhe  pelas  extremidades  dos  fila- 
mentos ,    e  não  pelo  meio   do  seu  comprimento.    Por 
esta  razão  he  mui  conveniente  que   o  Algodão    se  dis- 
tribua bem  ,  e  igualmente ,  e  que  as  felpas  estejão  bem 
separadas  humas  das  outras.    Mas ,  por  mais  destra  que 
seja    a  fiandeira  ,    acontece  algumas   vezes    que   õ  tor- 
cimento   apanha    huma    muito    grande   quantidade    de 
Algodão  ,   formando  huma  notável  desigualdade.    Para 
remediar   isto  cumpre   pegar    no  lugar   desigual  ,    logo 
que  sahe   da  carda  ,    com    as  duas  mãos  ,    quero  dizer 
do   lado    da   carda    com    a  esquerda  ,    como    se   o    fio 
fosse  perfeito  ,    e    da  optra   ponta    com    a  direita  ,  e 
destorcer  esta  desigualdade  enrolando  ligeiramente  o  fio 
entre  os  dedos  da  direita,   até  que  esteja  aberto  o  Al- 
godão ,    e  se  possa  apartar  esta  parte  muito    carregada 
do    Algodão    a  ponto    de  a  reduzir    á  grossura    do  fio. 
Eota  prática  he  necessária  ;   mas  se  deve  fazer    de  sor- 
te ,    que  só  quando  se  não  possa  recorrer ,    e  prevenir 
ás  desigualdades  de  outro  modo :    quando  he  mui  fre- 
c.uente,  demora  as  fiand«iras.  Huma  agil  mulher,  que 


C  H9  ) 
prepara  bem    o  seu  Algçdâo  ,    na  mesma    roca   forma 
o  seu  fio  igual. 

Parece  inútil  advertir  que ,  quando  o  Algodão  que 
,çstá  próximo  ao  cabo  da  carda  empregada  ,  se  preci- 
sa adiantar  a  mão  esquerda  sobre  os  dentes  da  mesm^ 
carda ,  para  se  estar  em  alcance  de  operar  o  resto ,  co- 
meçando a  carda  a  esvasiar-se  fica  sempre  o  Algodão 
pegado  no  í^v^áo  dos  dentes  :  e  para  o  fiar  he  preciso 
aproximai  a  mão  direita  ,  e  fiar  duas  poUegadas  ao  pé 
da  carda  :  póde-sQ  por  este  xnúo  procurar  o  Algodão 
por  toda  a  parte  5  onde  elle  estiver  ,  e  se  bvanta  toi- 
çendo  hum  pouco  o  fio  entre  os  dedos  da  direita  ,  pa- 
ra fazer  o  torcimento  do  fio  mais  áspero ,  e  para  sç  ape- 
gar aos  filamentos  dispersos.  Estando  a  operação  algum 
tanto  difficil  5  se  despresa  este  Algodão ,  para  tomar  com 
a  pequena  carda  ,  e  se  usa  delle  ,  quando  se  encheu^ 
novas  rocas. 

Logo  que  o  fuso  se  enche  com  hum  pequeno 
montículo  de  Algodão  fiado  chamado  sulco  ,  convern 
attendçr  em  mud^r  a  cravelha  ,  quero  dizer  de  o  mu. 
dar  de  hum  dente  para  outro  sem  esperar,  que  o  sulco 
se  desbrôe  ,  ou  desmanche,  He  preciso  encher  o  fuso 
depois ,  porque  d^  outra  sorte  não  podendo  o  fio  divi-. 
dir-se ,  perde-se,  Quando  o  fuso  estiver  cheio  na  altura 
das  asteas  ,  deve-se  passar  hum  alfinete  ao  travcz  do 
fio,  prendendo  ahi  a  sua  ponta. 

Tirando-se  o  fio  da  roda  tem  o  defeito  de  se  en- 
crespar ,  oti  annelar ,  como  os  cabellos  de  huma  cabel- 
fe,  perdendo  i  força,  se  arrebenta,  e  para  remediaç 


(  MO  ) 

isto  se  faz  ferver  os  fusos ,  assim  como  se  tirão  da  ro-? 
da  em  agua  commua  ,  por  espaço  de  hum  minuto  ; 
para  resistir  a  este  cozimento  ,  se  fazem  os  fusos  de 
marfim  ;  os  de  madeira  são  ovaes  pela  parte  de  den- 
tro ,  não  podem  servir  duas  vezes ,  sem  serem  forrados 
de  cobre. 

Huma  fiandeira  hábil  pode  fiar  mil  varas  de  fio 
do  numero  i6  ,  e  aprontar  o  seu  Algodão  para  o  fiar 
diariamente..  He  quasi  inútil  querer  fiar  mais  fino ,  pois 
fiaria  somente  hum  fio  mais  grosso  ;  porque  necessita- 
ria aprontar  mais  Algodão.  Porém  esta  não  fiaria  qua- 
tro centas  varas  dos  números  8  ,  e  lo  ,  que  [jor  cu- 
riosidade se  fiarão. 

Dá-se  o  nome  de  lã  ao  Algodão  ao  sahir  da  ca*^ 
psula  por  opposição  ao  Algodão  ao  sahir  das  mãos  da 
fiandeira ,  que  chamão  Algodão  em  lã. 

Dobar  o  Algodão  fiado  ,  o  fio  de  Algodão  não 
se  emprega  com  facilidade ,  com  tanto  que  esteja  bem 
fiado  ,  e  que  se  não  tenha  enfraquecido  pelo  muito  tra- 
balho. Por  tanto  deve-se  manear  o  menos  que  for 
possível,  e  assim  pollo  em  meada,  pois  o  doballo  dcr 
pois ,  para  o  ordir  em  enfiadas ,  he  hum  trabalho  inu' 
til,  e  ruinoso,  que  convém  evitar  ;  e  ao  mesmo  tempo 
de  grande  economia  para  o  fabricante  ,  tanto  por  cau- 
sa do  preço  da  dobaçao  ;  pois  parece  que  nesta  mano- 
bra não  pode  deixar  de  se  perder  muito  fio  de  Algodão. 
Os  índios  tem  sentido  este  inconveniente  ;  e  por  isso 
Virdem  a  sua  teia  mesmo  do  fuso,  em  que  se  tem  fiai 
do.  Mas  3  como  he  de  grande  importância  dar  conta  do 

que 


(  151  ) 

que  pode  vir  a  ser  hum  estabelecimento,  antes  de  for- 
mar alguma  empreza  ,  M..  Jore  ,  que  tinha  es  tç  projecto  , 
SC  sérvio  de  huma  espécie  de  dobadoura  para  medir  o 
comprimeiito  das  mieadas  ,  as  quaes  deo  duzentas  va- 
ras, e  confeiio  estas  meadas  no  peso,  e  comprimento 
com  as  mousselinas  feitas  na  Índia  ,  e  a  sua  comparação 
lhe  pareceo  favorável,  adiantando  os  seus  eusayos,  até 
chegar  a  fazer  mousselinas  tapadas ,  e  de  listas  ,  calan- 
dradas,  e  lenços,  que  imitavão  os  da  índia  ;  linalmeiv 
te  mandou  fazer  meias  ds  tear  as  mais  finas  que  ha- 
vião  em  Paris.  Mas,  conforme  a  sua  observação  ,  deve-sç 
ordir  segundo  o  uso  dos  índios ,  e  senão  deve  medir, 
senão  pelo  meio ,  que  se  indicará  na  Fabrica  de  mous- 
selinas :  onde  se  explicará  a  maneira  de  se  servir  d^ 
dobadoura  ,  e  no  artigo  seguinte  dos  instrumentos^ 

Huma  mulKer,  que  começa  afiar,  tem  muito  tra•^ 
balho  nos  primeiros  dias  ,  sem  poder  fazer  huma  ponta 
de  fío  ,  que  sirva  para  alguma  cousa ,  sendo  muito  tor- 
cido j  e  desigual  ,  mas  em  outo  dias  chega  a  fiar  sof- 
frivelmente. 

Dos  instrumenios  ,  qm;  servem  na  fiação  dos  AlgodÕas 
finos.  Destes  ha  três  sortes ,  a  saber :  cardas ,  rodas ,  e 
dobadoura. 

Das  cardas  :  estas  nSo  dif ferem  ,  das  que  se  em-- 
pregão  para  cardar  as  lãs  finas  ,  e  os  Algodões ,  que  se 
fabricão  neste  paiz  ,  senão  em  serem  mai^  pequenas  , 
e  armadas  com  differença  :  ellas  se  fazem  de  pontas 
^e  arame  de  ferro  pouco  agudas  ,  dobrados  á  maneira 
dç  cotovelo  j  e  passadas  eiji  parelha  por  huma  pelle  do 

çar-a 


(MO 

ísarneira ,  ou  por  outra  :  ellas  tem  huma  pollegada  de 
largura,  eoito  de  comprimento.  Ataboa,  em  que  ella^ 
estão  cavalgadas,  deve  ser  da  largura  de  dez  linhas,  e 
de  comprimento  dez  ou  doze  pollegadas ,  e  de  grossura 
de  quatro  linhas  :  a  qual  deve  ser  chata  de  hurri 
lado ,  e  convexa  do  outro  na  largura.  Sejura-se  a  car= 
da  em  huma  ponta  da  taboleta  do  lado  convexo  ;  as 
pontas  curvas ,  dispostas  para  a  esquerda  ,  deixão  de* 
baixo  da  parte  ,  que  ellas  occupão ,  algumas  pollegadas 
de  madeira,  para  servirem  de  cabo.  Aparte  convexa  da 
taboleta  faz  separar  as  pontas,  o  que  facilita  a  entra- 
da ,  e  sabida  do  Algodão.  Quando  algumas  pontas  da 
primeira  ,  e  segunda  ordem  ,  ou  fikira  ,  cahem  para  traz  , 
se  misturão  ,  e  fazem  hum  máo  effeito,  corta-se  pela 
dobra  ,  ou  prega  ,  com  tizouras  :  ^  ponta  j^  Jque  fica  ,  ser« 
ve  na  carda  :  acerca  das  outras  pontas  ,  se  arranjã.ot 
quando  ellas  sahem  do   seu  lugar. 

As  pequenas  cardas  são  as  mesmas  grandes,  de  que 
se  tem  supprimido  o  cabo  ,  e  que  se  teria  dividido 
em  duas.  As  cardas  negras  se  fizerão  para  as  Senhoras , 
que   se  querem  entreter  a  fiar  por  divertimento. 

Dn  roda  :  Não  differe  das  rodas  ordinárias  ,  menos 
cm  a  fazerem  andar  com  o  pé  ,  para  fiar  o  linho  ,  e 
em  que  alguns  poucos  particulares  a  fazem  mais  ma- 
cia ,  e  por  isso  torce  muito.  Quanto  mais  fino  he  o 
fio  ,  tanto  mais  se  deve  torcer ,  para  que  os  filamentos  , 
de  que  se  compõem  ,  se  possao  conservar  ligados  ,  e 
se  suster  a  ponto  de  formar  hum  composto  solido, 
f!J)íçedendo  com  tudo  no  torcimento  ao  que  deve  ser, 

o 


(153) 
0  fio  se  hl  quebradiço  ,   e  náo  se  pôde  empregar  em 
obra  alguma.  Com  muita  facilidade  se  percebe  o  exces- 
so   do  torcimento  pelos  que  tem  uso    de  fiar  Algodão. 
O  remédio  he  formar  se  o  fio  mais  promptamente ,  sem 
afrouxar   o  movimento  da  roda.    A  fiandeira   apressada 
se  sujeita  á  roda,  e  se  acostuma  ;  e  por  este   meio  í^a 
muito  mais.  Por  estas  razÔes,  por  tanto,  se  dá  á  roda 
vinte  e  duas  pollegadas  de  diâmetro,  que  a  faz  pesar, 
e  que    a  corda  anda  sobre  hum  eixo    de  dezoito  linhas 
^e  diâmetro ,  onde  se  ajunta  outro  eixo ,  que  tem  três 
pollegadas,  para  servir  ás  que  começarem:  mas  convém 
que  se  não  use  delia  ,    tanto  que^  o  official  se  aperfei- 
çoar,  seria  preciso  passar  pela  frente  da  rpda  hum  no- 
vo eixo  de  nove ,  ou  dez  linhas  dp  diâmetro ,    em  que 
se  terá  cavado,    ou  feito  hum  rego,  como  nos  outros 
eixos  :    se  augmentará  assim    o  movimento    do  torno, 
e  se  obrigará  a  fiandeira  a  fazer  o  fio  com  maior  prom- 

ptidão. 

Esta  roda  se  põem  á  esquerda  ,  e  deve  virar  d^ 
esquerda  para  a  direita,  pelas  razoes,  que  se  apontarão 
no  paragrafo  da  fiação.  As  ranhuras  da  roda  tem  hum 
rego ,  ou  fenda  profunda ,  acabando  por  baixo  em  an- 
gulo agudo.  Os  eixos,  que  estão  na  frente  da  roda,  to^ 
dos  são  semelhantes :  elles  servem  de  comprimir  a  cor- 
da, e  de  lhe  fazer  communicar  o  movimento  da  roda 
pela  frente  da  mesma  ,  sem  estar  muito  apertada  ,  o. 
^^Q  dá  macieza  á  roda.  A  corda  he  de  la  ,  e  deve  ao 
menos  ter  a  grossura  de  huma  penna  de  escrever.  A 
plasticidade    d^  1^  contribue  ainda  a  fazer   o  mQvimeti- 

m 


(154) 

to  mais  macio,  a  qual  se  faz  de  três  cordoes  reunidos 
cm  hum,  cajusta-se  na  roda ,  fazendo  hum  nó,  que  se 
ata  nas  duas  pontas,  observando-se  dividir  este  nó  em 
três  ,  dando-o  separadamente  em  cada  hum  dos  cor- 
déis ,  de  que  se  forma  a  corda  ,  de  modo  que  os  noz 
irão  passem  juntos  sobre  ó  eixo. 

A  frente  da  roda  se  faz ,  como  a  da  roda  de  fiar  a 
linho  ,  porem  esta  he  menor  :  o  fuso  he  de  marfim 
para  resistir  á  fervura  ,  sem  perder  a  sua  redondeza, 
maiormente  no  interior,  pois  que,  não  sendo  redondo, 
viraria  com  desigualdade  sobre  o  torno. 

A  delicadeza  do  fio  de  Algodão  fino  deve  dar  oi- 
to, ou  nove  linhas  de  diâmetro  ao  corpo  do  fuso  ,  e: 
sendo  o  diâmetro  m^ais  pequeno  ,  como  de  quatro  li- 
nhas ,  que  se  faz  para  o  linho,  o  fio  do  Algodão  ar* 
rebentaria  ,  começando  a  fiar ,  a  tempo  qu§  q  raio  do 
fuso,  tendo  duas  partes  mais  de  comprimento,  o  fio 
lhe  altera  o  movimento  com  hum  esforço  quatro  vezes 
menor  :  e  por  este  mesmo  principio  se  dá  ao  eixo  do. 
fuso  a  mesma  altura ,  que  ás  rodas  :  a  corda  que  para 
ahi  SÊ  encaminha  ,  serve  de  freio  para  fazer  toda  a 
volta  ,  como  esta  corda  opera  roçando  ,  he  muito^ 
maior  esta  roçadura  cm  hum  grande  eixo  ,  que  em 
hum  pequeno  ,  em  huma  volta  inteira  ;  do  que  em 
huma,  porção  da  circumferencia  ,  donde  acontece  que 
se  não  deve  comprimir  fortemente  este  fuso  contra  a 
torno  ,  e  que  o  seu  movimento  fique  mais  livre  para 
as  outras  operaçõ.'s  da  fiação. 

A  abertura  interior  do  fuso  passa  per  huma  bainhai 

de 


C  i$5  ) 

áe  panno,  que  ínvolva  o  eixo  :  serve  este  pedaço  de 
panno  de  almofada  entre  o  fuso  ,  e  o  eixo  ,  para  se 
evitar    a  bulha  que  faria    o  marfim  contra    o  varão  de 

ferro. 

O  dente  deve  ser  baixo ,  para  que ,  achando  pouca 
resistência  no  ar,  não  faça  bulha,  nem  dê  hum  movi- 
mento irregular  á  frente  da  roda  ,    que  faça  arrebentar 

o  fio. 

Pondo-se  na  ponta  do  eisio  hum  botão  de  marfim 
furado  de  duas  partes  ,  tanto  para  por  elle  passar 
commodamente  o  fio  ;  com.o  ,  por  que  ,  sendo  o  marfim 
macio  ,  não  o  corta. 

A  cabeça  da  roda  está  unida  a  hum  gancho  de 
^rame ,  que  se  introduz  nos  buracos  que  estão  nos  bo- 
tões de  marfim  para  suspender  o  fio  de  Algodão  ,  quan- 
do quer   passar  pelo  botão. 

Da  dobadoura.  Esta  he  huma  espécie  de  carrete  ,  ou 
lanterna  que  tem  meia  vara  de  circumferencia  ,  que  vira 
em  hum  eixo  ,  por  meio  de  hum  punho  ,  ou  manivela  : 
que  se  vê  em  sua  parte  superior.  Debaixo  da  lanterna 
tem  huma  ponta  ,  que  se  prende  nos  dentes  de  hu- 
ma roda  ,  da  qual  em  cada  volta  faz  passar  huma : 
esta  roda  tem  vinte  dentes  ,  de  sorte  que  ,  quando 
pela  lanterna  tem  dado  vinte  voltas ,  a  roda  dá  huma. 
Esta  mesma  roda  traz  huma  ponta  que  prende  nos 
dentes  de  outra  ,  toda  mui  similhante  ,  de  forma 
que  a  primeira  dá  vinte  voltas,  antes  que  esta  dê  hu- 
ma ,  e  por  consequência  a  lanterna  faz  quatro  centas 
voltas  5    antes  que  ^  ultima  roda  tenha  acabado  huma 

em 


C  15O 

em  cujo  fim  a  mola  se  afrouxa,  e  se  adverte  que  hu- 
ina  parte  do  Algodão  está  completa ,  isto  he ,  que  ella 
tem  quatro  centas  voltas  ,  que  valem  duzentas  varas , 
fórmão-se  também  duas  partes  de  cada  vez. 

Os  fusos ,  que  trazem  o  Algodão ,  que  se  tem  co- 
zido ,  se  põem  assim  molhados  nos  eixos  entre  as  duas 
asteas  oppostas  á  lanterna  ,  prendem-se  as  pontas  do 
Algodão  em  huma  das  asteas  da  lanterna ,  onde  se  devç 
refazer  a  peça  :  também  se  passa  antes  por  hum  orifício 
de  latão  que  existe  em  hum  páo  posto  a  prumo  quasi 
no  meio  da  dobadoura ,  de  sorte  que  os  dous  fios ,  quç 
se  separão  em  meada,  hum  vai  para  cima  da  lanterna, 
e  outro  para  o  meio. 

Tendo-se  completado  as  duas  peças,  se  introdu,? 
o  fio  entre  os  fusos  ,  e  se  continua  a  formar  novas 
peças  ,  e  assim  por  diante  até  que  a  lanterna  esteja 
cheia.  Deixa-se  seccar  o  fio  sobre  a  lanterna ,  depois  de 
eue  se  une  as  peças ,  çeparando  humas  das  outras.  Mas 
para  as  tirar  da  lanterna  sem  se  embaraçar,  tira-se  do 
seu  lugar  huma  ,  ou  duas  asteas  da  lanterna ,  que  se 
movem  ,  logo   as  meadas  sahem  livremente. 

Da  operação,  ou  dos  meios  de  pôr  o  fio  de  Aí^odU 
em  obra,  e  dos  instrumentos  que  nisto  se  empregão.  An- 
tes de  hirmos  avante ,  será  útil  explicar  summariamente 
o  que  se  pratica  em  Normandia  ,  na  manufactura  d^s 
peças  de  pannos  de  Algodão  ,  que  aqui  se  fazem.  A 
fiandeira  forma  o  Algodão,  que  tem  fiado,  em  mea- 
das ,  cujo  comprimento  he  indeterminado  ,  alveja-se , 
e  se  tinoe  estas  meadas  de  todas    as  cores  ,    c  as  divi^ 

dem 


dem  depois  em  fusos  chamados  roca  pafa  o  tíídir  em 
enfiadas,  em  hum  engenho  de  ordir  similhante  áqúelle 
sobre  que  se  urde  as  enfiadas  de  teias  de  toda  outra 
matéria.  Trinta ,  ou  quarenta  fios ,  e  ainda  hum  maior 
numero  se  dividem  por  cada  Vez  no  engenho*  Sendo 
a  teia  dé  diversas  cores  na  enfiada ,  o  official  dispõem 
o  desenho  ,  de  sorte  que  a  enfiada  ordida  contenha  o 
desenhos  das  listras.  Observa-se  que  encruze  nas  extre- 
midades da  enfiada,  ordindo-se  os  fios  de  que  se  com- 
põem nas  cavilhas  ,  ou  cabides  que  estão  no  enge- 
nho ,  e  isto  para  conservar  a  Ordem  em  que  se  poera 
estes  fios  no  engenho.  Chamão  a  estes  fios  assim  en- 
cruzados a  cruz  da  enfiada.  Dando  á  ordideira  as  vol- 
tas necessárias,  e  que  a  enfiada  tenha  o  numero  con- 
veniente de  fios  de  comprimento  de  oitenta  ate  cem 
varas  ;  passão-se  os  fios  nas  duas  pontas  desta  ca- 
deia ,  no  lugar  ,  e  situação  das  cavilhas  :  estes  fios 
passão  então  pelos  que  estão  encruzados  com  a  ofdem 
com  que  se  formarão  na  ordideira  :  tirando  a  enfiada 
da  ordideira  se  lhe  dá  o  apresto  ,  quero  dizer ,  se  hu- 
medece toda  em  colla  ligeiramente  feita  dos  ligamen- 
tos de  nervo ,  e  cartilagens  de  bois :  estando  bem  hu- 
medecido,  o  official  o  traz  para  hum  campo,  eesten* 
de  sobre  cavalíetes  por  todo  o  seu  comprimento  :  elle 
arranja  os  fios  no  meio  dos  encruzados,  que  se  tem  o 
cuidado  de  deixar  no  fim  da  enfiada  ,  e  impede  que 
estes  fios ,  seccando-se ,  não  fiquem  collados.  Esta  ma- 
nobra não  he  muito  extensa  ^  ainda  fazeiído-se  com  al- 
gum descuido. 

Da- 


<  158) 

Dá'se  outro  apresto  na  matéria  ,  quando  ainda 
se  não  tem  tirado  a  enfiada  da  ordideira  ,  á  medida 
,^ue  o  officiaí  a  trama.  Consiste  este  apresto  em  huma 
colJa  ,  que  se  faz  de  farinha  de  trigo ,  apodrecida  ,  e 
azeda  pela  força  da  levadura.  O  officiaí  estende  esta 
colla  sobre  os  fios  da  enfiada  com  fortes  escovas  de  ca- 
bello  5  e  continua  a  esfregar  até  que  todos  os  íios  se 
.  sequem. 

Ordldíira  do  fio  de  Algodão  fino  ,  ^ela  mesma  fian- 
deira. As  peças  de  mousselinas  de  ordinário  tem  dezeseis 
varas ,  e  desta  se  pôde  ordir  duas  por  cada  vez ,  que  fa- 
zem trinta  e  duas  varas ;  e  como  sempre  se  perde  nos 
comprimentos  das  enfiadas ,  deve-se  dar  ao  menos  trin- 
ta e  quatro   no  comprimento. 

Consiste  a  ordidura  nas  cavilhas  postas  em  pares 
em  huma  parede  em  distancia  de  hum  pé  humas  das 
outras,  todas  em  huma  mesma  linha  de  sorte  que  so- 
bre o  comprimento  de  trinta  e  quatro  varas  ,  se 
achão  cento  e  vinte  pares  de  cavilhas  de  seis  pollega- 
das  de  comprimento^ 

Ligando-se  o  fio  á  primeira  cavilha  ,  e  passando- 
se  pelas  outras  cavilhas  ,  depois  se  leva  encruzando 
no  primeiro  fio  ,  (  chama  se  estes  eçcruzamentos  cruza- 
das, )  e  assim  se  continua  ate  vinte  cncruzamentos 
completos  ,  que  juntos  fazem  o  numero  de  quarenta 
fios  que  se  chama  huma  teia  ,  assignalão-se  estas 
teias  por  meio  de  dous  fios  grossos  atados  ,  que  se 
passáo  de  hum  para  o  outro,  todas  as  vezes  que  se  aca- 
ba a  teia  ,  de  sorte  que  todo  o  Algodão  da  fiandei- 
ra 


(159) 

fa  estando  para  ordir,  se  achará  dividido  pòr  pequenos 
molhos  de  quarenta  fios  cada  hum  ,  e  de  hum  com- 
primento de  trinta  e  quatro  varas,  das  quaes  três  fios 
fazem  cento  e  duas  varas  ,  que  se  pagará  á  fiandeira 
í)or  cem  varas. 

A  primeira  avantagem  desta  ordidura  he  de  poder 
comparar  huma  extenção  de  quarenta  fios  ,  cujo  peso 
5e  não  saiba  ,  com  huma  igual  teia  ,  cujo  peso  se 
saiba,  e  julgar  logo  pelo  volume  de  huni ,  e  de  outro 
a  finura  do  fio,  e  pelo  comprimento  da  ordidura  ,  da 
quantidade  do  fio.  Este  methodo,  interessa,  para  que  sç 
faça  o  fio  o  mais  fino  que  for  possível  ,  por  que  a 
finura  lhe  fará  seguramente  pagar ,  conforme  o  compri- 
mento :  ao  mesmo  tempo  também  se  observa  a  iguaí- 
ckde  do  fio  ,  pois  a  desigualdade  da  teia  no  peso, 
advertirá  da  desigualdade  do  fio  na  grcssurc. 

Tendo  a  fiandeira  ordido  todo  o  seu  fio  na  ordi^- 
deira  ,  procura  conservar  o  encruzamento  ,  tirando  a 
enfiada  para  fora  por  cima  das  cravelhas. 

,  A  segunda  avantagem  de  huma  enfiada  assim  dis- 
posta he  a  de  poder  dar  toda  a  sorte  de  apresto  a  este 
Algodão  5  de  tingir  de  tcdas  as  cores ,  e  ainda  alvejar 
sem  o  receio  de  se  damnificar  ,  ou  de  perder  nestas 
operações.  A  enfiada  de  cima  da  ordideira  tem  a  figu- 
ra de  huma  verdadeira  cadeia  ,  da  qual  todos  os  a^* 
neis  representão  outras  tantas  meadas ,  que  são  duzep- 
taç.  Nada  mais  custa  á  fiandeira  a  fazer  esta  sorte  de 
enfiada  ,  do  que  hum  pouco  de  tempo  mais  ^  que  em-» 

pre- 


|)régà  ém  pôr   o  seu  fio   de  Algodão  em  meadas  peíó 
meio  ordinário.  ^ 

Leva-se  esta  enfiada  ao  fabricante  ^  que  a  paga  ^ 
conforme  o  numero  dos  fios,  que  elle  conhece  encru-* 
zados  pelo  seu  comprimento  ,  e  igualmente  conhece 
pela  ordidura  ,  á  cerca  da  delicadeza  do  fio  ,  que  pô- 
de distinguir,  comparando  as  peças,  e  pela  facilidade, 
que  com  o  uso ,  e  tempo  adquire  de  julgar  a  olho  da 
perfeição  do  fio. 

O  fabricante  ,    eSfaneío  provido    de  muitas  destas 
enfiadas,  que  lhe  vem  de  diversas  fiandeiras ,  empregadas 
em  seu  serviço  ,    as  dispõem  para  as  differentes  opera- 
ções de  seu  tear*  Destina  para  a  trama  o  qúe  he  menos 
perfeita,  c  se'  prove,  segundo  as  suas  qualidades,  e  fi- 
nuras.   A  que  se  destina  para  a  tinta ,    se  levanta  três 
quartos  de  vara  em  roda  ^  para  que  de  huma  enfiada  se 
forme  huma  só  ^ça.  Mas  como  esta  comprida  peça  es- 
taria ainda  sujeita  a  se  misturar  na  opera<;ão.  Fazem  se 
encruzamentos  de  fios  de  Algodão  mui  grossos ,  para  os 
dividir  entre  s^i  ,•    em  todas  as  vokíis  ,    como  se  fazem 
para  dividir  as  teiaS.    Depois  desta  precaução  ,    pode    o 
Algodãt>  suportar  toda  a  sorte  de  tinta  sem  se  embara^ 
çar,  ou  encrespar,  ou  ainda  ter  algum  damno  notável 
Póde-se  ainda  alvejar.    Estando    estes  Algodões  tintos, 
ou  brancos,  se  desdobrão  as  enfiadas,  e  se  estendem  as 
meadas  nas  cavilhas  da  ordideira ,  para  as  endireitar,  e 
allongar,    e  poilas  no  m.esmo  estado,  em  que  estavão 
antes  destas  differentes  operações. 

Além  da  necessidade  de  ordirem  as  enfiadas  do  AI- 

cr^o- 


C  i60 

gôdao  deste  irtodo  por  causa  da  sua  delicadeza ,  deve-ss 
persentir  nisto  a  economia  que  ha  ,  e  se  conformar  a 
tJJa ;  Quanto  tempo  não  seria  preciso  para  dobar  o  Al- 
godão misturado,  embaraçado,  e  collado  pela  tintura? 
estaria  seguramente  atrebeníada ,  senão  fosse  sustentada 
pelas  encruzadoras  j  e  a  perda  ,  que  se  occasioria  em  hum 
fio  tão  fino  i  que  tem  passado  por  iguaes  operações  ^ 
quanta  não  seria  ? 

Ordume  das  enfiadas  outeiadtts  peto  mesmoJ'abr'ieantei 
A  ordidura  do  fabricante  nada  differe  do  da  fiandeira  j 
íie  do  mesmo  comprimento  ,  e  do  mesmo  numero  de 
fios,  e  se  o  official  sè  limita  em  fabricar  teias  brancas 
ou  todas  de  huma  mesma  eôr  ^  só  precisa  de  hiimá 
ordem  de  cavilhas ,  e  não  de  mais  como  a  fiandeira.  Mas  ^ 
quando  sê  quer  ordir  as  teias  de  cores  differentes  ,  he 
necessário  meter  na  ordideira  tantas  ordens  de  cavilhas  ^ 
quantas,  são  as  diversas  cores  do  desenho  da  teia  ,  e 
huma  fiada  mais  ^j  para  receber  todas  as  cores  ,  que  se 
põem  em  ordem  5  para  fornecer  as  listras  das  cadeias  ou 
enfiadas; 

Estas,  sendo  tintas,  e  bem  dirigidas  ^  se  põem  na 
ordideira  ,  assim  como  fica  dito  :  a  ordem  do  meio  serve 
para  receber  os  fios  do  Algodão ,  que  Se  tomará ,  outras 
fiadas  ,  para  formar  as  listras ,  até  que  se  acabe  a  cadeia. 

Custa  muito  menos  ordir  as  mousselinas  ,  oa 
riscados  sem  tinta.  Basta  juntar  ,  em  humaâ  fiadas  de 
cavilhas  da  ordideira,  bum  sufficiente  numero  de  fios 
da  mesma  finura, 

Observe-se   sempre   conservar   os  eneruzamentos  ^ 
T.  V.  P.  L  L  €0- 


(  i60 

como  a  fiandeira  ao  principio  fez  originariamente  na 
ordideira. 

Quando  a  enfiada  branca  ,  ou  misturada  de  cores 
se  acaba  ,  passão-se-  as  compridas  varetas  ao  lugar ,  e  si- 
tuação das  cavilhas  da  ordideira ,  a  medida  que  se  apar* 
ta  esta  enfiada  das  cavilhas  da  ordideira  para  a  pôr  em 
estado  de  receber  os  aprestos.  Estas  varetas  devem  ser 
mais  compridas  ,  que  a  largura  da  teia.  Para  huma  meus* 
selina  de  vara  de  largura  devem  ao  menos  ser  de  qua- 
tro pés  e  meio  :  fazem-nas  redondas ,  de  meia  poUega- 
da  de  diâmetro  ,  e  de  huma  madeira  branca  a  fim  de 
se  não  eommimicar  alguma  còr  ao  Algodão  ,  quando  es- 
tiverem molhadas ,  ligeiras  como  o  salgueiro  ,  e  iguaes 
pa  grossura  de  huma  poma  a  outra ,  unidas  ,  e  bran- 
damente enceradas  ,  e  sobre  tudo  sem  alguma  farpa , 
que  possa  levantar  os  fios  de  Algodão. 

A  cadeia  ou  enfiada  se  passa  sobre  as  varetas  : 
tende  huma  esquadria  da  grandeza  que  quizerdes. 

As  peças  desta  esquadria  devem  ser  pela  parte  de 
cima  em  angulo ,  para  que  as'  varas  ,  que  andão  sobre 
o  angulo  superior  ,  experimentem  algum  roçamento, 
obedecendo  com  facilidade  os  contrapesos  ,  que  estão 
nas  duas  extremidades.  ( 

Esta  esquadria  se  deve  conservar  horizontalmente 
sobre  estacas  ,  ou  esteios  firmes  na  terra,  sem  nume- 
ro determinado;  mas  na  altura  de  três  ou  quatro  pcs, 
conforme  a  commodidade  dos  officiaes  :  deve  ter  de 
comprido  três  pés  mais  que  a  enfiada  de  trinta  e  qua* 
iro  varas  ,    e    de  largura  algumas  pollegadas    menos  ^ 


C  i^O 

í]ue  o  comprimento  das  varetas.  Deve  estar  em  hum 
lugar  coberto,  porque  os  aprestos  não  podem  soportar 
o  grande  calor ,  nem  a  chuva, 

Ordida  a  teia  ,  e  arranjada  nas  vaíetas  ^  se  põem 
sobre  a  esquadria  ,  devendo  ser  postas  nesta  com  as 
mesmas  varetas  pelas  suas  extremidades  ,  e  ainda  passar 
hum  pouco  além  ,  para  se  não  desarranjar  por  qualquer 
accidente.  Estende-se  sobre  este  instrumento  a  teia , 
que  se  quer  aprestar  com  todas  as  varetas  ,  destri- 
bue-se  com  igualdade  todos  os  fios  pela  largura  destas 
manobra  ^  pela  qual  se  tem  muita  facilidade  para  as 
teiaSí  Então  nas  duas  extremidades  desta  enfiada  se 
põem  hum  contrapeso  ,  que  igualmente  pucha  a  en« 
fiada  ou  cadeia  pelas  duas  pontas,  e  obriga  a  se  apar- 
tar -a  m.edida  que  se  lhe  dá  os  aprestos  :  he  conve- 
niente conservar  as  varetas  em  pares  por  meio  das 
pontas  de  arame  viradas  com  esta  figura  tA.  Este  S 
levanta,  ou  suspende  as  duas  varetas  ,  pondo-se  dous 
emcada  par  de  varetas ,  sem  estes  pequenos  instrumen- 
tos se  desaranjão  as  varetas ,  affrouxando  nos  lugares  a 
cadeia  estendida  ,  e  fazendo  o  trabalho  dificultoso  ,  e 
com  imperfeição. 

As  mulheres,  e  alguns  tecelões  fazem  isto,  alim- 
pando a  cadeia,  ou  enfiada,  de  todo  o  supérfluo,  que 
encontrão ,  como  o  Algodão  innutil ,  impuridades ,  etc.  , 
pondo  em  ordem  os  fios ,  e  renovando  os  que  se  af  re- 
bentárão,  estendendo  a  cadeia,  ou  enfiada  para  o  meio 
dos  contrapesos  ,  que  fazem  perceber  huma  macia  ae« 
í^ã®. 

L  %  Os 


Os  índios  fazem  isto  com  menos  trabalho  ;  elles 
se  contentão  com  meter  na  terra  huma  ponta  das  va- 
retas ,  e  de  formar  assim  huma  espécie  de  sebe  com  a 
enfiada  ^  e  as  varetas  ,  em  cuja  extençao  se  destribuem 
os  trabalhadores  para  arranjar,  eendereitar  o^  fios:  nO 
que  elles  tem  muito  maior  habalho  ,  e  estafâo  muito 
o  seu  fio  j  humedecendo-o  por  muito  tempo ,  antes  de 
o  pôr  em  obra,  pizão-no  com  os  pc3 ,  e  o  batem  para 
o  pôr  em  estado  de  tomar  o  apresto  com  facilidade  ; 
operação  que  h^  totalmente  nociva  ao  fi©  do  Algodão. 
Kós  suprimos  isto  fervendo  o  íio  lego  que  a  fiandeira 
o  acaba  de  fiar. 

Fíimelro  apresto.  Póde-se  empregar  neste  três  sor- 
tes  dç  eólias  :  a  primeira  se  faz  das  cartilagens  ,  e  li- 
gamentos dos  bois  3  mas  a  melhor  he  a  que  se  prepara 
com  massa  de  trigo  corrupta  ,  e  azedada  pela  força  da 
levedura.  Esta  colla  he  mui  glutinante  ,  e  pela  expe- 
riência se  sabe  ,  que  se  deve  preferir  a  que  se  extrahe 
da  massa  de  arros ,  de  que  usão  os  índios.  Os  aprestos 
que  se  fazem  com  esta  ultima  colla  ,  são  mui  recicados. 
Pondo-se  huma  quantidade  desta  colla  de  trigo  em  hu- 
ma pouca  de  agua  da  fonte ,  da  chuva  ,  de  rios ,  ou 
alagoas,  que  seja  siifficiente  para  que  a  agua  fique  al- 
gum tanto  glutinosa  nos  dedos.  Estando  esta  agua  bem 
quente,  se  embebe  a  enfiada  de  Algodão  ,  estendida  so- 
bre hum  quadrado  ,  com  duas  espécies  de  almofadas  de 
lã,  que  servem  de  escovar  ,  as  quaes  se  assemelhão  , 
ás  de  que  os  sonibreireiros  usão  para  dar  lustro  aos  cha- 
peos,  e  são  che::\s  de  cabellos  encrespados,   e  cobertas 

de 


C  '«5  ) 

de  camurça.  O  obreiro  tem  hiima  em  cada  mao  :  hu^ 
ma  para  dar  o  apresto  por  cima  ;  e  outra  para  o  dar 
por  baixo,  Precisa-se  ao  menos  de  quatro  pessoas  para 
ídar  este  apresto  ,  duas  por  cada  borda  da  teia.  Os  dous 
primeiros  embeberão  a  enfiada  nesta  çolla ,  sem  alguma 
attençâo  ,  devem  poJla  por  toda  a  parte  com  fartura  , 
de  modo  ,  com  tudo  ,  que  não  tenha  parte  alguma, 
em  que  elles  não  deijcem  de  a  lançar  com  a  mão,  ou 
com  suas  escovas»  Os  outros  dous  obreiros  seguirão  os 
prinieiros  imediatamente  com  suas  escovas  ,  esfregando 
continuamente  a  enfiada  até  que  se  seque  ,  e  impedi- 
láõ  que  os  fios  não  se  collem  huns  com  outros  depois 
de  seccos. 

Primeiramente  se  deve  acautelar  em  dar  todos  os 
aprestos  ao  mesmo  sentido.  Segundo  ^  quando  se  tiver 
passado  a  escova  em  certa  distancia  ,  he  preciso  repa* 
rar  com  ella  onde  for  necessário  ,  de  forma  que  nun^. 
ça  se  m.ova  a  escova  contrg  o  sentido  sobre  a  enfiada, 
Terceiro  ,  que  se  dê  o  apresto  igualmente  por  cima, 
e  por  baixo.  Quart©  3  deve-se  chegar  p^ra  adiante, 
e  recuar  as  varetas  algumas  pollegadas  ,  quando  se  dá 
o  apresto  ,  para  que  as  escovas  ,  éipanhando  a  colla, 
que  se  poderia  unir  ás  va,ras  ,  evitem  que  os  íios  se 
prendão  nellas  ,  e  se  collem  huns  com  Qs  outros ,  maior^ 
mente  os  encruzados, 

Còmprelienderse  facilmente  que  estas  escovas  ,  ou 
melhor  estas  almofadas  cobertas  de  peiíucia  ,  são  pro- 
priissimas  para  se  passar  entre  os  fios  da  cadeia  ,  e  se-» 
|>3r^llos  huns  dos  outros,  e  untdflos  de  colla ^  e  se  çon-» 


tinúa  a  passar  novas  escovas  ,  menos  húmidas  que 
as  prim.eiras  ,  ate  que  se  seque  :  então  estes  fios  não 
se  collão  mais  huns  aos  outros.  He  ainda  muito  con- 
veniente procurar  que  se  nâo  peguem  aos  encruzados, 
as  varetas. 

Secundo  apresto,  Póde-se  dar  o  segundo  apresto 
sem  mudar  a  enfiada  de  posição  ,  começando-se  como 
o  primeiro ,  e  com  a  mesma  colla ,  empregada  somente 
muito  mais  forte  ,  ajuntando-se  huma  pouca  de  agua, 
Applica-se  do  mesmiO  modo  ,  e  com  as  mesmas  escof 
vas  5  que  no  primeiro ,  porém  com  muita  m.ais  prudên- 
cia ,  pois  huma  muito  grande  quantidade  delia  faria  o 
íio  quebradiço  :  as  escovas  de  pello  brando  a  distribuem 
com  igualdade  ,  e  economia,  Tenha-se  o  cuidado  de 
deixar  seccar  os  fios  debaixo  da  escova  ,  e  movSo^se  as 
varetas  ainda  com  muito  m.aior  cuidado  do  que  ^lo 
primeiro  apresto. 

Estes  dous  aprestos  fazem  o  Algoài^o  tão  btllo, 
tão  unido,  que  se  assemelha  a  compridos  cabeilos.  De- 
ve-se  vigiar,  quando  os  ád.o  ^  que  se  não  estafe  o  Al- 
godão com  a  força  de  o  esfregar :  elle  se  secca  logo.  A 
industria  deste  trabalho  consiste  em  prevenir  no  nio- 
mento  ,  em  que  se  vai  seccando  ,  neste  instante  dar-ihe 
huma  escovadura  ,  separada  humas  das  outras ,  em  to- 
dos os  fios ,  do  Algodão  que  se  tocão.  Kum  seíiundo 
os  humedece  muito  ,  e  de  novo  os,  colla.  Os  índios 
untão  então  seus  Algodões  com  azeite .  mas  julgo  que 
se  deve  deixar  este  cuidado  ao  tecelão  ,  que  o  toma  ,  á 
^■nedida  que  el!e  urde  a  sua  teia.  O  azeite,  cue  lancão 

SC- 


C  1^7  5 

sobre  05  apresto?:  ,  parece  enfraqiiecellps  ,  e  por  esta 
lazão  se  deve  preferir  o  cebo-novo ,  que  os  arnacia  ,  e 
íião  enfraquece. 

Do  tear.  Este  pouco  differe  do  tear  ,  em  que  se 
f íz  a  teia  ,  excepto  que  as  partes  ,  que  o  compõem  ,  são 
proporcionadas  á  fraqueza  do  Tio  de  Algodão  ,  em  que 
se  trabaiha  ,  serve-se  delle,  como  de  todos  os  outros 
teares  de  fazer  a  teia  ,  á  excepção  ,  que  o  órgão  de 
traz  ,  he  sustido  por  dous  contrapesos  5  conforme  o 
methodo  dos  obreiros  em  seda  ,  e  o  de  diante  se  susr 
tenta  em  duas  caviliias ,  conforme  a  praxe  dos  tecelões. 
Pelo  uso  se  sabe  que  os  contrapesos  fazem  huma  re- 
sistencia  mais  igual ,  proporcionando-se  mais  facilmente 
o  esforço  a  necessidade  :  os  orgaõs  são  de  faia  ,  e  tem 
alguma  «rossura  porque  he  assas  conveniente  que  tqdo  , 
o  que  resiste  ao  Algodão,  tenha  a  avantagem  ^e  resis^ 
tir  sem  o  romper.  A  enfiada ,  ou  teiada  se  pôde  levantar 
com  dous ,  quatro ,  ou  seis  pentes ,  conforme  a  finura 
da  teia  ,   que  se  quer  fazer. 

Suppondo  que  a  mousselina  ,  que  se  quer  fazer, 
tem  huma  vara  de  largo  ,  e  tenha  de  comprimento 
quarenta;  terá  quatro  mil  fios  na  enfiada  de  huma  va- 
ra ,  conforme  se  usa  nas  fabricas  de  Normandia.  Se  se 
metem  só  dous  fios  por  cada  dente  do  pente  ,  o  tear  só 
terá  doiis  pentes ,  e  cada  porção  dous  mil  fios.  Quan- 
do o  tear  trabalhar  ,  dou<?  mil  fios  bí\ixarão  sobre  hu- 
ma só  linha  ^  e  dous  mil  levantarão  sobre  huma  mes- 
ma linha  ,  mas  como  hum  tão  grande  numero  de  fios 
causa  çmbaraço   em  buma  teiada  ,    ou  cadeia  de  Algo-, 

'      '  '  4i^ 


dao  fínissimo  ,  servem-se  de  quatro  pentes  em  lugar 
de  dous  ,  pelo  que  cada  hum  delles  terá  mil  fios  sor 
bre  huma  mesma  linha,  estando  estes  pentes  huns  dian- 
te dos  outros,  diminuem  a  metade  do  embaraço  no  jo- 
go da  cadeia  ,  e  por  consequência  também  a  violência 
que  Q  Algodão  tinha  de  supportar. 

Mas  como  huma  mousselina  fina  feita  em  quaren- 
ta não  seria  suffiçientemente  gujirnecida  na  enfiada  ;  se 
se  metesse  quatro  mil  em  huma  conta  de  quarenta, 
jdeiárão  os  índios  meter  três  fios  em  cada  dente  do 
pente,  e  por  onde  passão  seis  mil  fios  em  hum  pente 
de  conta  de  quarenta  :  e  para  poderem  fazer  isto  sein 
outros  grandes  embaraços  recorrerão  a  seis  pentes ,  dc^ 
quaes  três  abaixão  ,  em  quanto  os  outros  três  levan- 
t^o,  cada  hum  delles  faz  mover  mil  fios  :  e  por  este 
jneio  não  se  está  obrigado  a  ter  pentes  da  conta  de  se° 
centa  ,  qge  serião  tão  fechados  ,  que  o  Algodão  náp 
se  poderia  trabalhar  sem  se  estafar  ,  e  ainda  sem  arre- 
bentar ,  e  por  consequência  he  de  todo  o  proveito  fí;- 
zerem-se  sempre  estes  pentes  ralos  o  mais  que  poss^ 
ser,  do  que  para  outra  qualquer  obra,,  quando  elles  vem 
a  ser  mai^  fracos. 

Pelo  que  se  acab^  de  dizer,  se  deve  saber  que  o 
tear  deve  andar  em  duas  marchas ,  pois  trata-se.  de  fa- 
bricar huma  teia  unida ,  sem  ^Igum  cruzeiro. 

Não  he  ainda  bastante  ter  apartado  os  embaraços 
dos  fios  da  enfiada  em  seis  partes  ,  para  a  fazer  obrar 
çom  mais  facilidade  no  trabalho  do  tecelão,  prccis;a-se 
ainda  çco.npmizar  os.  espaços  no  fio  dos  lissos  dos  pen- 
tes ^ 


(  i69  ) 

les  servindo-se  de  hum  fio  delicado  ,  forte  ,  perfeita- 
mente unido  ,  e  livre  de  todo  o  frouxel  estranho  :  es- 
tas operações  tem  bom  exito.  M.  Jore  se  sérvio  deste 
jnethodo  ,  usando  em  hum  fio  de  seda  propriamente 
torcido,  de  nove  fios  de  seda  de  organcin  de  Piemonte 
o  mais  perfeito  ,  que  pode  achar  ,  e  da  que  ao  prin- 
cipio se  torce  em  três  fios  ,  e  estes  três  fios  postos  em 
hum  5  faz  pile  os  lissos  ,  e  a  experiência  lhe  tem  feito 
ver  que  não  ha  cousa  com  que  se  possa  substituir  esta 
seda ,  nem  a  de  Granada  ^  nem  o  io  de  qualquer  espé- 
cie que  se  escolha. 

Do  que  se  tem  dito  do  numero  de  lissos  ,  e  do 
numero  dos  fios  da  cadeia  ,  ou  teiada ,  que  deve  en- 
trar em  hum  pente  em  quarenta  ,  pôde  julgar  o  obreiro 
o  modo,  com  que  deve  passar  os  fios  no  lisso  ,  e  no 
pente,  para  pôr  o  seu  tear  em  estado  de  trabalhar, 

Pondo  se  a  teiada,  ou  enfiada-no  tear,  não  tendo 
do  órgão  de  diante  ao  órgão  de  traz  mais  que  três  pés.  ^ 
per  que  não  se  pôde  trabalhar  na  teiada  ,  sendo  de  hum 
maior  comprimento  por  cada  vez ,  e  ainda  este  mesmo 
comprimento  não  poderia  resistir  ao  trabalho  ,  se  não  fos- 
^e  sustentada  pelas  varetas  ,  que  se  passão  em  cruz  ^ 
que  estão  atraz  dos  lissos  ,  conforme  o  uso  çommum 
<le  todos  os  tecelões. 

T>a  trama.  Já  se  disse  depois  ,  que  se  escolhia  o 
fio  de  Algodão  menos  perfeito  para  tapar  a  teia.  Para 
o  empregar ,  poem-se  sobre  a  ordideira  ,  sem  lhe  dar 
algum  apresto  ;  huma  mulher ,  ou  hum  rapaz  o  toma 
pela  ponta ,  para  formar  dellc  as  canellas.  Consiste  esta 

o* 


Ci70 

operação  em  fazer  precisamente,    o  que  faz  a  fiandeira 
ordindo  a  enfiada. 

A  canella  he  hum  pedaço  de  cana  comprida  ,  de 
huma  poJlegada  de  quatorze  linhas  ,  que  se  passa  sobre 
huma  vara  de  ferro ,  de  sorte  que  não  volte  sobre  ava- 
ra. Esta  se  sustenta  sobre  hum  eixo  ,  de  modo  que 
não  possa  escapar  do  lugar  ,  em  que  se  põem.  Dá  se 
com  a  mão  na  vara  hum  movimento  de  rotação  sobrç 
«  mesma  :  e  por  consequência  o  fio  de  Algodão  se  une 
á  cana  ,  andando  a  roda  sobre  o  tubo  da  cana  chamado 
fanella.  A'  medida  que  o  fio  se  divide  ,  o  trabalhador 
se  vai  ao  longo  da  ordideira  ate  o  fim  ,  e  volta  para 
traz  ,  até  que  a  canella  se  encha  dos  três  comprimentos 
áo  ordume  ,  de  cento  e  duas  varas  de  fio  :  esta  vara 
não  serve  só  como  instrumento  próprio  do  Algodão, 
os  que  dobão  a  seda ,  também  aempregão:  póde-se  su- 
prir isto  com  huma  pequena  roda  ligeira  ,  e  appare- 
Ihada. 

Pelo  comprimento  do  Algodão,  que  se  acha  mer 
dido  pelas  canellas ,  se  vé  quanto  entrará  em  huma  va- 
ra de  teia  ;  precaução  utilíssima  ,  para  se  conhecer  da 
quantidade  da  teia  ,  ç  muito  segura  ,  para  prevenir  a 
fraude  dos  obreiros. 

Quando  se  quer  empregar  a  trama  ,  deve-se  em- 
tebello  muito  bem  em  agua  ,  para  que  o  fio  possa  me- 
Jhor  sustentar  a  força  da  lançadeira.  Mete-se  em  agua 
quente  ,  sem  o  que  ,  não  penetra  até  o  centro.  Dei- 
xão  arejar  estas  canellas ,  para  lhe  extrahir  a  muita  quan- 
tidade  de  agua  ,  e  se  empregão  humedecidas. 


O  tecelão  mete  huma  clesta.<:  canellas  em  huma 
iatíçadeiía  mais  baixa  ,  e  menos  aberta  ,  que  as  ordi- 
deiras ,  para  não  haver  necessidade  de  forçar  o  passo  , 
isto  he  ,  para  não  abrir  m.uito  a  cadeia ,  quando  passa 
a  lançadeira,  O  fio  passado  ,  e  arranjado  em  ordem  dá  , 
pela  sua  humidade  ,  macieza  aos  fios  da  teiada ,  hume- 
decendo os  aprestos ,  de  que  elles  estão   untados. 

Deve  o  obreiro  trabalhar  a  passo  aberto  ,  quero 
dizer,  que  elle  f^ça  entrar  o  fio  no  lugar,  em  que  de- 
ve ficar  ,  tendo  o  pé  ajudado  na  marcha  ,  e  mudar  o 
passo  ,  o  pente  apoiado  sobre  o  mesmo  fio  ajunta  a 
teia  fabricada  ,  pois  de  outra  soiíe  se  exporia  a  quebrar 
e  numero  dos  fios. 

Convém  trabalhar  nestas  teias  ,  maiormente 
quando  são  finas  em  lugares  hum  pouco  húmidos  ,  e 
pnde  não  peneire  o  calor  do  sol.  Logo  que  o  tecelão 
torna  apegar  na  sua  obra,  dc;pois  de  ater  deixado  por 
alguns  mcmentos  ,  deve  passar  hum  panno  húmido  ,  ou 
huma  esponja,  ou  cousa  semelhante  sobre  a  sua  obra 
no  lugar,  em  que  cessa  de  trabalhar,  para  lhe  amaciar 
CS  aprestos  ;  e  pela  mesma  razão  deve  também  con- 
servar sobre  a  teia  hum  panno  hiimjido  ,  em  quanto 
<g^tiver  ausente. 

As  teiadas  ,  ou  cadeias  se  passão  no  lisso ,  e  no 
pente  do  m.esmo  modo  que  o  praticão  os  outros  offi- 
ciaes  nospannos,  e  sedas :  servem-se  dos  mesmos  uten- 
sílios, mas  tem  dificuldade  em  manejar  com  os  dedos 
os  fios  quebrados  ,  que  necessita  reparar  ,  ou  quando 
se  apresta  a  enfiada,    ou  quaudo,  tece  a  sua  teia.    Pas- 


C  I70 

•sando  os  dedos  entre  os  fios  de  Algodão  ,  frequente- 
jnente  lhes  prejudicaria  ,  e  para  acauteliar  isto  se  usa 
de  hum  gancho  feito  de  huma  agulha  mediana  na 
grossura  :  faz-se  em  braza  para  a  destemperar  ,  e  da-seT 

lhe  esta  forma  :  esta  configuração  < ^ —  ;  e  mete-se  a 

parte  da  cabeça  desta  agulha  em  hpm  pequeno  páo  de 
quatro  poliegadas  de  comprimento  ,  e  da  grossura  de 
huma  canna  de  palha.  Este  instrumento  levanta  ps  fios 
arrebentados,  e  os  solta  dos  fios  da  cadeia ,  e  os  põem 
ao  alcance    de  se  renovarem  sem  damnifícar  os  outros. 

Estando  feita  a  teia,  se  embebe  por  vinte  e  qua? 
Iro  horas,  e  se  lava  em  ^gua  quente  para  lhe  separar 
os  aprestos  ,  e  dando-se-lhe  depois  huma  hgeira  lexi, 
via,  poenvse  então  quasi  por  hum  mez  sobre  o  prado 
durante  o  estio  :  então  ella  se  acha  sufficientemente 
branca  ,  se  for  fina  ,  sendo  ordinária  se  lhe  dá  outra 
Jexivia  ,  e  se  deixa  ainda  por  algum  tempo  sobre  o 
prado  ,  até  que  esteja  bem  alvejada.  Quando  a  estação 
mo  permitte  ,  que  se  ponhao  as  teias  sobre  o  prado, 
sempre  se  lhes  deve  tirar  os  aprestos  ,  que  as  pode, 
ííSo  damnifícar  ein  pouco  tempo,  expondo-se  a  ser  roí- 
das pelos  ratos. 

Resta  fallar  alguma  cousa  das  mous^elinas  arraia-? 
das,  como  as  que  nos  vem  da  índia.  Estas  listras,  ou 
lavores  se  fazem  com  dous  fios  ,  em  lugar  de  hum  , 
passados  juntos  no  lisso  ,  e  no  pente  de  forma  que 
tiuatro  fios  destes  vão  no  mesmo  dente.  Estes  fios  de- 
vem ainda  ser  mais  grossos  que  os  que  compõem  o  resto 
dji  enfiada  ,  mas  se  estes  fios  se  enrolassem  todos  jun- 
tos 


C  'T3  ) 

tos  no  mesmo  órgão,  aconteceria  ,  que  a  sua  graridé 
desproporção  de  grossura  ,  formarião  riionticulos  sobre 
o  órgão  5  que  fariâo  espichar  certos  fios  ,  e  relaxariâo 
outros.  Para  prevenir  este  inconveniente ,  se  põem  a  en- 
fiada 5  que  deve  formar  as  listas  ,  em  hum  órgão  par- 
ticular :  por  esta  causa  he  que  se  via  o  lugar  de  três 
no  tear ,  a  saber  :  dous  pela  parte  de  traz  para  as  duas 
cadeias  ,  e  outro  diante ,  em  que  se  recebe  a  obra  feita, 

Servem-se  de  hum  tcmple  ou  como  se  diz  nas  ma- 
nufacturas de  Lyão  templa ,  para  conservar  com  igual- 
dade a  largura  do  pente,  no  lugar,  em  que  se  tece  ,  as* 
sim  como  o  fazem  cs  outros  tecelões. 

As  mousselinas  finas  são  obras  das  mais  delicadas^ 
e  das  mais  lindas  de  todas  as  que  se  fazem  com  o  fio 
de  Algodão  ,  mas  estas  não  são  as  únicas  ,  que  se  fa- 
zem delle.  Já  se  tem  fallado  das  meias  :  resta  acabar  a 
parte  da  enum.eração  ,  a  que  chamão  almilbas  ,  colchas  ^ 
tapessarias  fustões ,  outras  teias  ,  como  as  m.ousselinas  ^ 
c  huma  infinidade  de  pannos  ^  em  que  se  acha  o  Al- 
godão tecido  com  a  seda,  linho,  e  outros  materiaes» . 

Não  se  pôde  dizer  cousa  alguma  do  preço  dos  Al- 
godões ,  ou  fiados ,  ou  em  lã  :  o  preço  do  Algodão 
em  lã  depende  da  sua  beljeza  ,  e  da  abundância  da 
colheita  :  deve-se  ainda  entrar  em  conta  a  perfeição  da 
obra  para  o  preço  do  Algodão  fiado,  »  ;■• 

Faz-se  hum  muito  grande  Commercio  de  Algo? 
dão ,  que  se  distingue  do  Algodão  em  lã ,  e  áo  Algo« 
dão  fiado. 

De  ordinário  se  extrahe  o  Algodão  em  lã  de  Chi- 


kC6íiíO.C~iD  ièiíi'^j   QX^íèiiu-^   ii''- 


V^^r 


C  174) 
pre  ,  de  S.  João  de  Acre ,  e  de  Smirna.  O  melhor ,  e 
o  mais  estimado  he  branco  ,  comprido ,  e  macio.  Os 
que  o  comprão  em  balias  devem  precavef  que  não 
tenhão  sido  molhadas  :  a  humidade  he  muito  contraria 
a  esta  sorte  de  mercadoria, 

A  colheita  do  Algodão  he  abundantíssima  nos  ar- 
rabaldes de  Esmirna  ;  mais  que  em  lugar  algum  do  Le- 
vante. Semeia-se  a  semente  em  Junho,  e  se  colhe  em 
Outubro,  o  terreno  aqui  he  tâo  análogo,  que  se  pôde 
semear  três  vezes  por  anno  ,  se  as  primeiras  plantas 
não  vem  bem  ,  não  duvidão  totalmente  arrancallas 
com  a  esperança  da  segunda  ,  ou  terceira  colheita. 

O  melhor  Algodão  em  lã  he  o  do  campo  Darnr.« 
mas  ,  e  o  mais  bello ,  e  mais  alvo  de  todos  os  que  se 
vendem  em  Esmirna.  O  preço  deste  Algodão  he  de  or- 
dinário de  seis  até  sete  piastras  ao  quintal  de  quarenta 
e  quatro  ocos ,  com  tudo  este  se  augmenta ,  ou  dimi- 
nue  j  conforme  a  sabida  do  Algodão  fiado  he  mais  ou 
menos  notável  :  em  1732  o  quintatvde  quarenta  e 
quatro  ocos  valia  doze  piastras  e  meia, 

O  preço  de  huma  baila  de  Algodão  ,  que  pese 
duzentos  e  trinta  rottons  a  sete  piastras  ao  quintal  torna 
a  chegar  a  duas  piastras ,  e  trinta  e  nove  aspres^ 

Póde-se  extrahir  de  Esmirna ,  em  anno  commum  , 
até  dez  mil  bailas  ainda  que  se  empreguem  muito  me* 
•nos  nas  manufacturas  do  Paiz. 

Os  Algodões  em  lã  de  Alepo  se  vende  a  rotta  de 
sete  centas  e  vinte  dracmas  :  os  de  Seyde  ,  ao  acre  y 
que  provem  a  seis  libras  de  peso  de  Marselha  :  os  de 
Chipre,  a  çcqs  de  quatro  centas  dracmas. 


C  175  ) 

Algodões Jíacíoí  ^  os  de  Damasco  ,  chamados  Algodèeg 
à'Once  y  e  os  de  Jerusalém  ,  cjUfi  se  chama  Bax.as ,  sas 
devem  preferir  a  todos  os  outros,  como  também  os 
Algodões  das  Antilhas.  Devem«se  escolher  brancos,  ou 
alvos  ,  finos ,  unidos ,  sequíssimos ,  e  os  que  forem  mai$ 
bem  igualmente  fiados» 

Os  outros  Algodões  fiados  são  os  deml-Ba%ás  ^  sã<| 
meãos  os  Algodões  'Rames ,  os  Algodões  Bdindlm ,  e 
Gondezel  ;  os  Píij/íi»  ,  e  Montasin  ,  os  Genegiãns  ,  ou 
Geneqtíins  são  Janlquhis  ,  os  Baquleres  ,  os  Jossellassars^ 
de  que  ha  duas  sortes:  os  Algodões  áe.  Uchelleneuve ^ 
e  os  de  Constantinopla ;  mas  com  raridade  se  encarre- 
gão  os  negociantes  de  França  desta  sorte  de  Algodões , 
fjue  não  são  de  huma  tão  boa  sabida,  como  os  de  que 
•se  fallou  acima. 

Os  Algodões  em  !ã   se  Vendem    em  bailas  ;    Usa  se 

iem  Amsterdão  abater  no  peso  seis  por  cento  ppr  tara, 

ou  enfardamento  ,    e  dous  por  cento  para  p  ,bom  pieso. 

Além    disto  ,    se  diminue    de  ordinário    sobre    o  valor 

V    iium  por  cento  para  o  prompto  pagamento. 

Os  Algodões  fiados  na  índia  ,  conhecidos  cora  p 
nome  de  Toiacorht ^  Java  ^  Bengala^  e  Siirraíe  se  djv> 
dem  em  quatro  ou  cinco  sortes ,.  que  se  distinguem  pe- 
las letras  A  ,  B  ,  C ,  etc. ,  os  quaes  Se  vendem  em 
saccos ,  a  cada  hum  destes  se  abate  no  peso  i?urna  H- 
vra  e  meia  sobre  os  Algodões  fiados  de  Tutucorin^ 
S^úQ  são  os  mais  caros  ,  e  duas  libras  no  peso  das  oU' 
itrGS  sortes. 

A  respeito  dos  Algodres  fiados  á^^lckbes^/EsmiF* 


Ç  >70 

ne ,  Alepo  j  e  Jerusalém  ,  se  abate  em  Amesterdão  oito 
por  cem  para  a  tara ,  e  dous  para  o  bom  peso  ;  e  sa- 
bre o  valor  hum  por  cento  para  o  prompto  pagamento. 

O  Oi<ote  j  ou  Jlgadão  de  seda  ,  que  se  produz  na 
Pérsia  por  hum  arb^isto  ,  cujo  fructo  lie  grande  ,  e  com- 
prido em  forma  de  espécie  de  vides  silvestres  verdes : 
estando  maduro  por  si  mesmo  se  abre  ,  e  mostra  huma 
seda  fina  y  e  solta  ,  que  com  facilidade  voa  com  o  ven- 
to ,  não  se  tendo  a  cautella  de  colher  o  fructo  antes 
que  totalmente  se  abra,  A  semente  he  similhante  a 
pequenas  lentilhas  ^  que  tem  cada  huma  certa  espécie 
de  cova ,  em  que  tem  hum  floco  de  fios  luzidios  ;  este 
Al^^odâo  se  carda  ,  e  delle  se  fazem  vestidos, 

Vê-^e  nos-  Jardins  ,  de  S.  ^3aur  pertencente  a  S» 
A.  S,  Madama  a  Duqueza  de  Bourbon  ,  e  em  alguns 
outros  lugares  dos  contornos  de  Paris  ,  huma  planta 
viva  j  em  qu€  &e  produz  bem  este  Algodão  da  Pérsia» 
&te  quasi  não  precisa  de  cultura,  e- com  facilidade  se 
multiplica  ^  ou  seja  pela  raiz  que  tem  ,  e  mergulhão 
na  terra,  ou  seja  pela  semente  ,  que  o  vento  leva  de 
liiim  j  para  outro  lugar  ,  de  sorte  que  se  se  não  impe« 
dír  a  multiplicação  ,  doze  plantas  destas  cobririão  em 
'pouco  tempo  arpens  inteiros  de  terra. 

A  respeito  do  Algodão  ordinário  cresce  com  abun- 
dância em"  toda  -a  Pérsia  ,  e  a  maior  parte  dos  campos 
estão  quasi  cobertos  delk.  He  hum  fructo  do  tamanho 
'da  cabeça  de-  huma  papoulla  :  porém  mais  redonda  ,- 
em  cada  fructo  se  achão  sete  pequenas  sementes  ,  oa 
•favas  negras, 

^'4V.  O 


(.  177  ) 

Ò  Algodão  de  Sião.  Chamão  assim  nas  Ilhas  Aíi« 
tilhas  huma  sorte  de  Algodão  igacio  j  como  a  seda  ^ 
buja  setnente  se  importou  de  Siáo  ;  este  Algodão  he  de 
huma  finura  extraordinária  ,  de  forma  que  excede  ainda 
i  seda  na  macieza ,  e  faz  hum  fio  mais  belk  ,  e  mais 
míacio»  A  sua  cor  natural  he  côr  de  café ,  clara :  faz-se 
delles  nas  Ilhas  meias ,  que  Se  preferem  ás  meias  de  se* 
da,  pelo  seu  lustre  >  e  belleza,  e  se  vendem  até  dez  ^ 
©u  doze  j  e  quinze  escudos  ao  par.  Fabricão-se  com  tu- 
do muito  poucas ;  pbírque  este  trabalho  eonsomme  muito 
tempo  :  de  sohe  que  se  alguém  as  faz ,  he  mais  por  cu- 
riosidade 5  de  que  para  fazer  delias  hum  objecto  dè 
Commercio, 

No  commercio  dos  Algodões  ^  qtíe  se  faz  nas  Aft* 
tilhas  ,  se  costuma  rebater  a  três  por  cento  por  tara^ 
isto  he,  para  o  peso  da  teia,  que  faz  a  baila. 

Náo  se  pôde  dizer  com  certeza  jO  preço  5  porque  se 
vende  ò  Algodão  nas  Ilhas ,  este  depende  da  abundân- 
cia 5  ou  da  raridade  deste  género  ^  e  ainda  da  pressa 
€om  que  os  Mercadores  ,  ou  Còmmissarios  de  França 
o  recomendão» 

Hum  hábil  Author ,  de  quem  sem.  exageração' se  pode 
dizer  que  melhor  tratou  de  todos  os  géneros  de  Çom* 
Hiercio ,  que  se  faz  nas  Antilhas  Francezas ,  notou  que 
desde  16985  até  o  fim  de  1702,  o  Algodão  se  vendia 
a  quarenta  e  cinco  libras  o  cento  ;  e  em  lyof  só  trinta^ 
àté  trinta  e  cinco  libras ,  o  que  não  obstante  era  ainda 
iium  bom  preço.  Desde  este  tempo  a  esta  parte  se  tem 


(17?) 

Variado  muitas  rezes ,  mas  totalmente  não  tem   subido 
â  quarenta   e  cinco  lilyas. 

Pouco  depois  do  mesmo  tempo ,  isto  he  ,  desde  aí 
paz  de  Ryswick  até  170}  o  Algodão  se  vendia  em 
Nantes  5  Bcrdeux  ,  e  Rochella  até  cento  e  quinze  libras 
ào  cento  ,  o  que  na  verdade  era  de  lium  grande  pro- 
teito,  mas  era  preciso  abater  o  frete  j  direito?  de  eiv 
tradá  ,  avarias ,  commissão ,  emballamento  ,  e  tara. 

Em  tempo  de  paz  se  paga  em  França  a  frete  ar 
íazão  de  dous  soldos  por  libra  í  em  tempo  de  guerra  se 
íegula  pelo  numero  dos  navios  que  se  carregão  deile. 

Algumas  vezes  para  defraudar  os  direitos  do  Rei, 
os  particulares  ,  que  ,  tendo  alguma  pequena  porção  de 
Algodão  para  enviai  para'  Franca,  em  vez  de  o  embai- 
Jar  j  o  metem  em  almofadas  :  destes  moveis^  não  se 
paga  a  entrada  j  quando  não  excedem  ao  numero  de 
duas  por  ciada  pessoa  ,  mas  este  pequeno  lucro  não- 
corapenáa  o  trabalho  ,  que  se  tem  ,  em  distribuir  as  almo* 
fadas  pelos  Passajeircs ,  e  Marinheiros  da  navio  ,  nem 
o  receio  de  se  desmarcar  por  aqúelles ,  de  quem  se  con- 
jfia. 

Em  1756  chegou  a  França  da  Martinica  ,  e  ou- 
tras Ilhas,  sete  centas  e  cincoenta  e  sete  mil  libras  de 
Algodão,  e  valia  no  mesm.o  anno ,  e  em  1557  >  a  <^"" 
zentas  >  até  duzentas  e  quinze  libras  de  Fiança  ao  quii> 
lai  em  Eordeaux  >  e  Nantes^ 


Mê;- 


C  179) 


MEMORIA    VIII. 


SOBRE    O    ALGODÃO. 


Por  José  de  Sá  Betencourt, 


A 


Terra ,  mais  rica  na  sua  superfície  ,  que  nas  suas 
entranhas,  serve  de  theatro  á  Sabia  Natureza  ,  que  a 
reiíova  todos  os  dias  ,  com  as  suas  producçóes  ;  fazen- 
do succeder  por  meio  das  differentes  ,  e  multiplicadas 
sementes  outras  tantas  espécies  de  vegetaes  ,  que  co^ 
brem  a  superfície  do  nosso  Globo,  e  fazem  a  felicidade 
dos  seus  habitantes.  Eíía  reparte  com  grande  sabedoria 
os  seus  dons  ,  e  faz  que  se  propaguem  sobre  os  diffe- 
rentes terrenos  ,  que  lhes  são  próprios  ,  já  pela  quali- 
dade do  seu  húmus,  já  peia  natureza  do  clima  ,  sem 
que  a  destra  m.ao  áo  Agricultor  os  possa  fazer  propa- 
gar á  sua  vontade  :  assim  vemos  ,  que  as  plantas  da 
Europa  com  difficuldade  se  propagão  em  beiramar  do 
Bra;  il  •,  e  algumas  que  d  força  de  trabalho  crescem  ,  e 
propagão  ,  a  sua  producção  ,  he  débil ,  e  sem  que  os  La- 
vradoras possãò  tirar  as  vantagens ,  que  se  tirão  na  Eu- 
ropa ,  como  vemos ,  e  se  observa  na  vinha  ,  que  mal 
satisfaz  a  curiosidade  do  cultivador ,  sem  que  a  produc- 
cão  corresponda  ao  trabalho. 


Outrs 


s  ,    que  vegetao,  e  não  propagão,    como  à 
M  â  oli- 


H 


I:! 


C  is°  ) 

oliveira,  etc.  ;  outras  de  tal  sorte  amantes  do  seu  paiz> 
que  não  vegetão  ,  nem  pròpagão. 

O  mesmo  j  que  observamos  nas  plantas  da  Euro- 
pa ,  cultivadas  no  Brazil  ,  se  observa  nas  plastas  deste 
Jfvadas  para  a  Europa,  que  só  vivem  em  casas  de  vk 
draças  ,  subministrando-se-lhes  com  estufas  a  calor,  que 
lhes  l>e  necessário  para  a  sua  vegetação. 

O  Agricultor  pode  modificar  o  terreno  ,  fazendo-a 
mais  ou  menos  gordo  ,  mais  ou  menos  poroso ,  appro- 
priando-o  á  natureza  da  sua  lavoura,  mas  não  o  clirr» 
em  grande  ,  que  influe  na  maior  parte  da  vegetação* 

Eu  não  me  canco  em  referir  as  different-es  obser- 
rações  dos  Filósofos  y  para  provar ,  que  o  clima  influe 
mais  na  vegetação ,  do  que  a  terra  ,  por  ser  esta  ma* 
teria  huma ,  e  muitas  vezes  discutida  ,  e  provada ;  por* 
c]ue  ,  sendo  a  terra  a  mesma  em  toda  a  parte ,  e  susce» 
ptivel  de  receber  as  modificações  do  Agricultor ,  vemos 
que  lia  grande  difficuldade  em  se  fazer  propagar  as  plan* 
taS  de  differentes  climas  transplantadas  ;  e  ainda  que 
saibamos  ,  conforme,  os  verdadeiros  princípios  de  Agri- 
cultura ,  e  de  Chymica^  que  a  terra  he  o  meio  ^  na 
qual  se  faz  a  germinação  ,  e  que  não  serve  só  de  labo- 
ratório, conforme  o  Abbade  Tessier  aos  suecos  ,  que 
lhes  são  destinados  y  mas  que  entra  também  em  grande 
parte  na  sua  composição,  seja  ella  attenuada  do  mr^do  ^ 
que  for  5  o  que  ainda  existe  nos  occultos  segredos  da 
Katureza  ,  que  o  homem  não  pôde  perceber  ,  o  que  se 
conhece  pelo  resíduo  dos  vegetaes  queimados  ;  com 
itido  outras  muitas  experiências  próvão  ,    que    o  ar  he 


C  >8'  ) 

inciíto  necsssario  para  a  perfeita  vegetação  ,  e  que  qú- 
ira  em  grande  parte  na  sua  coinpoziçao, 

A  necessidade  ,  que  os  vegçtaes  tem  de  agua  para 
a  sua  vegetação  ,  he  por  todos  bem  conhecida  ,  não 
sendo  demasiada  ,  assim  eomo  o  calor ,  que  he  o  prin^ 
cipio  vivificante,  o  que  tudo  coopera  ,  para  que  as  plan- 
tas cresção ,  e  produzão ,  conforme  a  qualidade  do  cli. 
ma  ;  que  íhes  he  análogo.  Eu  me  rjão  demoro  em  re- 
latar theorias  sobre  o  principio  da  vegetação  ;  porque 
isto  seria  exceder  o  plano  ,  que  me  proponho  ;  só  me 
basta  provar ,  que  o  clima  diffeiente  inilue  nesta  ,  ou 
íiaquella  lavoura  ,  para  que  o  Agricultor  perceba  as  uti- 
lidades  com  vantagem. 

A  mesma  ditferença  ,  que  observamos  nos  Paizes 
da  Europa  era  relação  aos  de  beiramar  do  Brazil  ,  se 
observa  nestes  a  respeito  dos  do  Sertão,  ou  terra  den- 
tro, onde  são  as  estações  mais  regulares,  e  as  chuvas 
vem  em  tempos  determinados  ,  e  constantes  ,  o  que 
faz,  com  que  a  lavoura  seja  igual  ,  e  sempre  certo  o 
tempo  da  plantação, 

O  terreno  da  Villa  do  Camamii  ,  que  fica  entre 
quatorze  ,  e  quinze  gfáos  ,  desviado  da  Bahia  ao  Sul 
ívinte  e  quatro  legoas  ,  he  o  Paiz  mais  irregular  nas 
suas  estações ,  que  tenho  visto ,  porque  ,  quer  seja  de 
verão,  quer  de  inverno  ,  sempre  as  chuvas  são  contí* 
puadas  ;  e  o  calor  no  verão ,  conforme  o  thermometrg» 
de  Fahrenheit ,  não  chega  amais  de  §p  gr.  e  meio  (i), 

o 


,     (i)     No  maior  calor  ,  que  he  ào  melodia  para  tarde  , 
ç  íTiuitas  vezçs  no  outro  súehep  a.  60  na  mesma  esíaçlo, 


Ci?0 

©  que  faz  ,  com  qire  as  plantações  se  conformem  i 
irregularidade  do  clima  ,  e  se  não  possa  nclle  cultivar 
com  vantagem  ,  senão  Mandiocas  ,  Cafcs ,  Arroz  ,  5 
Cacao ,  e  não  o  Algodão ,  que  he  o  principal  objecto  ; 
porque  ,  ainda  que  cresça  nas  boas  terras  de  beiramar , 
a  sua  cultura  se  não  pôde  fazer  com  proveito  ,  visto 
que  o  terreno  lhe  não  he  tão  próprio  ,  e  a  irregulari- 
dade do  clima  rouba  ao  Lavrador  as  suas  esperanças , 
vindo  as  chuvas  no  tempo  da  colheita  ,  a  destruir,  e 
apodrecer  o  Algodão,  ainda  nos  seus  çapulhos. 

Esta  irregularidade  se  observa  nos  Paizes  ,  que  fí- 
ção  ao  Sul  da  Bahia  entre  treze ,  e  vinte  grãos ,  onde 
se  não  conhece  verão  ,  nem  inverno  (1}  ,  senão  pelo 
mais ,  ou  menos  calor ,  conforme  os  ventos  ,  que  rei- 
não  nestas  duas  estações  ;  e  nunca  o  frio  excede  de  sft 
centa  até  cincoenía  e  cinco  gráos  do  mesmo  thermomer 
tro  ,  tempo ,  em  que  reina  o  vento  Sul  ,  que  sempre 
he  acompanhado  de  chuvas. 

A  quatorze  legoas  da  Villa  de  Camamii  ,  fazendo 
caminho  de  Oest-Sudueste  até  encontrar  as  margens  do 
Kio  das  Contas,  onde  coníinão  as  matas  grossas,  com 
as  Catins^as  altas  (2)  ,  e  vão  confinar  a  doze  legoas 
com  as  Catingas  baixas  (3),  já  a  regularidade  do  clima 

se 


(1)  Porque  tanto  chove  deverão  como  de  inverno, 
e  muitas  vezes  o  verão  he  mais  chuvoso  ,  e  só  a  ditíe- 
rença  das  horas  nos  dias  he  que  os   faz  distinguir. 

(2^  Caá  tinga  «/«cr  dizer  mato  bronco^  como  são  os 
de  terras  fracas. 

(?)  Catingas  baixas  ,  são  mais  baixas  duas  vezes, 
que  as  Catingas  altas. 


se  coíifórma  com  a  fertilidade  do  terreno ,  muito  prc>. 
prio  para  todas  as  plantações,  particularmente,  para  a 
iiVOLii-a  do  Algodão  3  onde  se  acha  silvestre  no  meio 
àis  ditas  Catingas. 

Este  terreno  ,  que  fica  a  vinte  e  seis  legoas  de 
bei-amaf  separado  pela  mata  ,  a  qual  vem  a  confmar  5 
con'  as  que  os  naturaes  do  ?aiz  ciiamão  Catingas  gros- 
sas ,  he  sem  dúvida  o  mais  próprio  para  a  dita  lavoura  , 
porque  o  Algodão  domestico ,  hum^  vez  plantado  ,  se 
conserva  por  m.uitos  annos  ,  ainda  sem  nenhum  bene. 
íicio,  como  o  encontrei  na  Fazenda  do  Rio  das  Con. 
tas,  onde  tinha  sido  plantado  havia  dezoito  annos  ,  e 
se  conseryava  no  meio  das  Capoeiras  (i)  ,  com  tanto 
vigor  3  como  se  fosse  novamente  plantado. 

Todo  o  Sert?.o  da  borda  do  Rio  das  Contas  tem 
a  mesma  propriedade  :  toda  a  mata,  que  fica  entre  o 
àko  Rio  das  Contas  da  parte  do  Sul  ,  e  o  Rio  do 
Gragongi ,  conforme  a  fé  dos  bandeiristas  (?) ,  possuá 
as  mje.smas  qualidades. 

Este  vasto  terreno  ,  que  principia  a  treze  legoas 
da  beiramar  ,  he  cortado  de  Sueste  ,  a  Noroeste  pelo 
Rio  das  Contas  ,  susceptivel  de  navegação  de  grandes 
capoas  5    e  outros  muitos  rjos  ,    que  v^m  crupr   com 


(j)  Capoeiras,  palavra  Eiiropea  suhítitiildq  por  cor- 
rupção  a  , Brasiliana  Có  cuííia  ,  rossa  antiga. 

(2)  Bandeiristas ,  são  os  homens ,  que  encorporados 
jdebaixo  de  hum  Chefe  afavessão  as  matas  para  se»-iii- 
iem  os  Judios,  que  assakão  as  propriedades  ,  e  estra-^ 
das  ,  ou  mesmo  para  os  amansar  ,  e  c^da  hum  dsll^? 
separadp  se  chama  Bandeirista» 


(  1^4  ) 
elle ,  tanto  da  parte  do  Norte ,  como  do  Sul  ,    sem  a 
fnesitia  facilidade  de  navegação,    os  da  parte  do  Nor;e 
slo    o  Ribeirão    de  Área  ;   ou  Montanha  ,    Genipapa, 
IVIanageni,  Rio  das  Pedras,  Rio  Preto. 

Todo  o  Sertão  da  Conquista  desde  a  fazend?  do 
Rio  das  Contas  ,  fazendo  caminho  de  Sul  ^  que  será  de 
quarenta  legoas  ,  tem  a  mesma  propriedade  ,  não  só 
pela  qualidade  do  terreno  ,  como  também  pela  regula? 
ridade  do  clima,  que  he  tanto  mais  regular  ^  quanto 
mais   se  affasta  da  beiramar. 

A  margem  do  Rio  Gavião,  que  Tem  fazer  barra 
com  o  Rio  das  Contas ,  seguindo  o  rio  o  caminho  de 
Oeste  5  he  igualmenre  própria  para  a  sobredita  lavoura. 

Os  proprietários  das  fazendas  ,  que  conhecem,  as 
vantagens  desta  lavoura,  a  não  fazem  pela  razão,  que 
logo  exporei,  quando  fallar  da  sua  exportação, 

A  plpnta ,  que  produz  o  Algodão ,  entra  na  Cias- 
se Monadelphla  Ordem  Polj/andria  ,  género  Gossypium. 
Lineo ,  se  sérvio  ,  para  distinguir  as  espécies ,  das  d/f- 
ferenças  das  folhas ,  e  das  glândulas .  que  se  achão  em 
algumas  espécies ,  e  não  em.  outras ,  cujo  conhecimento 
só  fica  pertencendo  aos  Filósofos ,  e  não  ao  do  vulgo ; 
razão  porque  me  servi  da  differença  das  sementes  ,  e 
do  pello,  que  as  cobre,  conforme  as  suas  cores  ,  por 
ser  hurq  caracter  constante  no  Paiz  ,  e.  çoqhecido  de 
todos ,  que  fazem  uso  desta  cultura ,  ainda  que  em  pe- 
queno ;  e  da  união  destas  mesmas  sementes  ,  ao  que 
chamão  caroço  inteiro ,  ou  dividido. 

Para    sq  cultiyar    o  Algodão  basta  derribaf   as  Ca- 

tin-r 


C  1B5  ) 

tingas  altas  ,  ou  Gatingas  baixas  ,  logo  que  o  tempo 
secco  convida  para  este  trabalho  ,  que  he  do  mez  de 
Junho  por  diante  ,  e  se  deixão  seccar  até  o  mez  de 
Setembro.  Os  Soes  ,  que  neste  tempo  são  ardentíssi- 
mos ,  secção  as  madeiras  de  tal  sorte  ,  que  quando  as 
chuyas  avisão  aos  habitantes  da  sua  chegada  pelos  gran- 
des trovêes  j  que  costumão  haver  muitos  dias  antes  , 
lhes  lanção  fogo,  que  reduz  tudo  a  cinzas  ,  deixando 
a  superfície  da  terra  limpa ,  para  se  fazer  a  plantação , 
sem  maior  incommodo  ,  ficando  a  terra  estrumada ,  e 
fértil  pelo  aikaii  vegetal. 

A  lavoura  se  faz  com  enxadas  ,  abrindo  covas  de 
oito  em  oito  pés,  onde  se  lanção  as  sementes  (i),  e 
se  cobrem  com  pouca  terra  ;  e  porque  o  terreno  ficaria 
muito  ocioso  só  com  esta  planta  pela  grande  distancia  , 
que  se  lhe  dá  para  a  sua  ramificação  ,  em  quanto  não 
chega  ao  seu  maior  crescimento  ,  e  por  se  não  ver  q 
Lavrador  obrigado  a  alimpar  a  terra,  que  fica  neste  es- 
paço ,  das  hervas  ,  que  nascem  sem  maior  proveito, 
ihe  planta  o  mJlho  ,  e  feijão  ,  que  tudo  cresce  iguali- 
mente ,  sem  que  facão  damno  ao  Algodoal. 

A  estaqão ,  que  começa  a  ser  chuvosa ,  não  cessa 
áe  regar   a  lavoura    regularmente    todas    as  tardes  ,    e 

mui-i 


(1)  Ha  huma  observação  ,  em  que  as  sementes  de 
Algodão  de  caroço  inteiro  se  devem  plantar  com  os 
caroços  unidos  ,  sem  se  dividirem  ,  para  sahir  o  Al.^o-^ 
dão  com  os  caroços  unidos  ,  c^ue  sendo  divididas  as  se- 
mentes ,  assim  produz  o  Algodão  com  as  sementes  di^ 
vididas. 


muitas  vezes  á  noite  ,  vindo  de  manhã  o  Sol  até  o 
meio  dia  animar  a  lavoura  ;  aJgunias  vezes  acontece 
virem  as  chuvas  de  oito  em  oito  dias ,  por  iinervailos , 
no  mez  de  Outubro,  ate  chegar  a  meiados  de  Novem- 
bro ,  tempo,  em  que  ellas  são  constantes. 

A  fertilidade  do  terreno  faz  crescer  com  as  plan- 
tas ,  outras  muitas  hervas ,  que  o  Lavrador  he  obrif;;ac!Q 
a  arrancallas ,  ou  sachalias  para  desaffogar  a  sua  lavou- 
ra, que  então  cresce  prodigiosamente  ;  e  quando. ..se  dá 
a  primeira  limpa  ,  se  arrancão  os  pés  de  Algodão  su- 
pérfluos na  cova  (i),  deixando  só  dous ,  que  se  capão, 
quando  a  planta  já  tem  altura  sufficicnte  para  brotar 
povos  galhos  ao  redor  do  tronco  ,  e  fazer  com  esta 
operação  maior  lucro  na  colheita. 

No  mez  de  Fevereiro  costumão  05  Lavradores  dar 
a  segunda  monda  á  sua  lavoura,  conforme  as  suas  dif- 
fereníes  occupaçóes  ,  e  abundância  da  herva  ,  que  tor- 
na a  renascer  depois  da  primeira  limpa. 

No  mez  de  Maio  se  faz  a  colheita  do  milho  ,  e 
(do  feijão  5  deixando  o  terreno  desembaraçado,  e  limpo, 
para  no  mez  de  Julho  se  dar  principio  acolheita  do  Al- 
godão ,  que  continua  ate  o  mez  de  Outubro  ,  e  No? 
Tembro  ,  tempo  ,  em  que  se  podão  os  Algodoeiros, 
para.  no  segundo  anno  darem  huina  fertiiissima  colheita. 

A  necessidade  ,  que  não  cessa  de  ameaçar  o  La- 
vrador, o  disperta  a  continuar  o  mesmo  trabalho,  par^ 
ter  certa  a  sustentação  de  milho  ,  e  feijão  ,  que  já  não 

pó- 


(1)     Forque  se  planta  o  caroço  inteiro» 


C  ^27  ) 

pode  ser  ,    senão    em  terreno    novo  ,    que  serve    para 
augmentar    a  dita  plantação    com    a  mesma  regularida, 

*le. 

Deste  modo  veria  o  Lavrador  crescer,  com  o  seu 
trabalho  ,  as  suas  riquezas  ,  n'Ão  só  pela  felicidade  da 
Javoura  j  seu  rendimento,  e  duração  da  planta,  com^o 
pela  diminuta  despeza  no  seu  fabrico  ,  se  hum  obstá- 
culo lhe  não  embaraçasse  a  execução  de  hum  piano 
tão  útil  ao  Commercio,  e  ao  Estado. 

O  Abbade  Tessier  no  seu  discurso  preliminar  so« 
bre  a  Agricultura  se  expressa  da  maneira  seguinte.  í=: 
O  mais  poderoso  meio  de  dar  á  Agricultura  toda  d, 
íictividade  ,  dí?  que  pôde  ser  susceptivel  ,  he  praticar 
caminhos  de  communicação  em  os  Paizes  ,  onde  os  não 
|ia  ,  e  canses  navegáveis  para  transporte  das  mercado- 
rias ,  etc.  etc,  Encj/çlopeciio  J)içúonano  de  Agrlç.  ,  pag, 
20. 

Não  he  a  falta  do  caminho,  que  faz  o  embaraço 
da  exportação,  mias  sim  a  falta  de  segurança  deste  mes? 
rno  caminho  para  ?,oct%o  ^  e  frequência  dos  viandantes, 
ciue  ,  na  travessa  da  mata  ,  se  vêm  accommettidos  do 
Tarbaro  Gentio  Cotachôs  ,  privando-os  da  facilidade  de 
transportarem  as  suas  cargas  pelo  rio  abaixo  ate  o  R-i* 
beirão  da  Arêa  ,  que  fica  a  treze  ,  até  quatorze  legoas 
da  Villa  de  Camamii  ,  de  donde  se  podem  muito  bem 
conduzir  em  cavalgaduras  ,  para  deste  perto  serem  en- 
viadas para  a  Capital,  se  houvesse  naquelle  lugar  hum 
corpo  de  homens  ,  que  os  fizessem  conter  nos  seus  li- 
mites y  repellindo  a  força  das  invasões. 

Es- 


Çi8S5 

Este  caminho ,  em  outro  tempo  aberto  por  Ordem 
ào  Excellentissimo  Manoel  da  Cunha  Menezes ,  quando 
governou  a  Bahia  ,  terminando  na  estrada  ,  que  vai  pa- 
ra os  Maracazes  ,  dirigida  dos  Sertões  da  Conquista  ,  que 
íicão  abaixo  das  Contagens  de  Rio  Pardo  ,  e  Tocaios  , 
se  fechou  ,  não  só  peia  infestação  do  Gentio,  mas  pe- 
lo longe,  máo  passo,  e  falta  de  pastagens  para  os  ani- 
ijjaes ,  o  que  conhecendo  eu  bem  ,  obrij.^ado  da  neces»- 
sidade  dos  animaes  precisos  para  o  ccsteamcnto  dos 
meus  Engenhos  ,  pela  miséria  ,  e  lastimosa  necessidade 
do  povD,  me  resolvi  a  fazer  outro,  seguindo  differen- 
te  rumo,  onde  gastei  três  annos  sem  adjutorio  do  po- 
vo ,  nem  d^  Camará ,  nem  doutrem  ,  perdendo  em  tcv- 
do  este  tempo  o  lucro  das  minhas  lavouras  ,  e  o  fiz 
Biu-ito  mais  perto  ,  e  por  hum  terreno  ,  que  o  j^caso 
sfibministrou  com  algumas  pastagens. 

Não  he  preciso  ,  para  segurança  deste  caminho  ,  mais, 
que  huma  Povoação  de  Judios  mansos  chamados  Mon- 
goiós  no  Ribeirão  da  Arca.  Não  são  os  particulares, 
que  tem  este  poder  ;  mas  sim  o  Governo ,  onde  exis- 
te a  Regia  Authoridade. 

Eu  não  conheço  homens  mais  aptos  para  este  fim  , 
do  que  a  domestica  Nação  dos  índios  Mon  golos  ,  não 
só  pelo  seu  grande  valor,  e  intrepidez,  como  por  se- 
jrem  huns  homens  acostumados  i  vida  silvestre,  e  que 
9  maior  parte  do  tempo  vivem  da  cassa,  e  da  pesca, 
Ainda  que  scjão  Agricultores  ,  e  amantes  da  lavoura, 
pão  soffrepdo  maior  detrimento  ,  em  quanto  crescem 
PP  primeiro  anno  as  suas  lavouras ,  e  deicjão  isto  mes- 
mo, 


mo  j  conforme  o  que  me  disseião ,  pelas  razões ,  que 
vou  dar.« 

Primeira  ,  porque  ha  muito  tempo  não  recebem 
as  ferramentas  ,'  que  costamavão  receber  por  Ordem 
do  Governo.  Segunda  ,  porque  na  grande  distancia^j 
em  que  morão ,  não  tem  ,  quem  represente  as  suas  ne-' 
cessidades  ao  Governo  para  as  remediar. 

Terceira,  porque  se  vêm  opprimidos ,  sem  pode-* 
rem  fazer  as  suas  lavouras  ,'  e  as  que  fazem  ,  serem 
destruídas  pelos  animaes  domésticos  dos  habitantes. 

Quarta  y  pela  oppre^são  ^  que  soffrem ,  de  queirt 
os  governa  ,  sem  que  o  longe  lhes  permitta  a  facilida- 
de 5  de  se  poderem  queixar. 

Quinta  ,  porque  o  terreno  da  beira  do  Rio  he 
mais  abundante  de  cassa,  e  peix€ ,  e  muito  fértil  ;'  d 
sendo  ahi  animados  de  huma  prudente  administração  ^ 
<de  qtfe  são  muifo  susceptíveis  ,  podem  fazer  a  sua  fe-- 
licidade  ,    de  que  resultão  ao  Estado  as  seguintes  van-' 


Primeira  ,  conforme  o  que  me  disserãt)  ,■  quando 
aqui  chegarão  nã  expedição  da  Landeira  contra  Os'  Cota-^ 
ehós  5  logo  5  que  elks  viessem  para  a  beira  do  Ri^o  > 
as  ourras  Aldêa-s  da  sua  mesma  Nação,  que  ainda  nãíí 
sahírão  das  matas ,  se  viriao  encorporar  com  elles ,  as- 
sim que  lhes  constasse  da  stra  felicidade  ,  debaixo  da 
éoce  administração,  e  protecção  do  Estado. 

Segunda  ,  estes  hom,ens  conciliados  ,  debaixo  ds 
direcção  de  hum  Director  desinteressado  ,  serão  outros 
fantos  valorojos  soldados ,  que  com  facilidade  dalli  me- 
lhor. 


C  190  ) 

íhor  podem  ser  chamados ,  conforme  as  necessidades  da 
beiramar  ,  do  que  do  fundo  dos  Sertões ,  onde  presen- 
temente habitão. 

Terceira  ^  ficando  a  estrada  livre  da  infestação  dos 
Toiacliós ,  oCommercio  será  livre  aos  viandantes,  para 
com  segurança  trazerem  as  suas  mercadorias  ,  de  cuja 
facilidade  resulta  a  animação  de  huma  lavoura  tão  im* 
portante  ,  servindo  estes  homens ,  para  exportarem  nas 
canoas  as  grandes  sommas  de  Algodão  ,  que  a  emula*- 
ção  fará  cultivar  em  todo  o  vasto  terreno  do  baixo 
Sertão  da  Reraca  (1),  Cencjulsta  (2),  e  Borda  da  ma- 
ia  ,  e  das  margens  de  muitos  rios  navegáveis ,  que  vem 
ter  ao  dito  Rio  das  Contas*. 

Quarta  ■,  o  poder-se  frequentar  a  dita  Estrada  da 
beira  do  Kio  para  a  Vilia  do  Camamú ,  por  ficarem  os 
moradores  livres  ào  receio  das  inVasóes  dos  Cotachòs , 
que  se  entranharão  pelas  matas  do  Sul,  logo  que  sou* 
berem  da  residência  destes  homens  na  beira  do  rio , 
tão  valorosos  ,  e  destros  não  só  no  manejO  das  íuas 
armas  ,  como  das  nossas» 

Quinta,  o  grande  Commercio  At  Ipecacuanha  ^  que 
elles  podem  fazer  ,  tirando-a  nas  margens  do  mesmo 
Rio  das  Contas  ,  Ribeirão  da  Aréa  ,  e  matas  do  Gia^ 
gongi ,  onde  ha  com  abundância. 

He  experimentado  na  Agricultura  ,  que  a  falta  de 
animaes  para    o  seu  fabrico  faz  a  sua  decadência.    Esta 


(1)     Nome  próprio  do  lugar. 

Q2)     Nome  próprio  ,    com  que  ficou  pela  conquista 
íJos  índios  Mongoiós,  este  lugar. 


C  Í90 

terJade  ^  cjiie  tem  sicio  provada  em  miíífos  Paizes  ^  crni- 
forme  os  Abbades  Rosier  ,  e  Tessler  ,  grandes  Escrito- 
res ,  e  Mestres  desta  Seiencia  ,  não  deixa  de  ser  lasti- 
ftiosamente  eomproX^ada  neste  Paiz  ,  que  sendo  ,  em 
outro  tempo,  abundante  de  farinhas,  único  commer- 
cio  5  que  fazia  para  a  Capital  ^  hoje  se  vê  reduzido  á 
ultima  miséria  de  sorte  ,  que  a  exportação  ^  que  pre- 
sentemente se  faz  para  a  Bahia  y  deste  género  tão  ne- 
cessário, he,  para  a  que  se  fazia  em  outro  tempo,  co- 
mo de  hum  para  mil. 

A  razão  desta  decadenck  he  bem  conhecida.  Em 
quanto  havião  matas  virgens  á  borda  do  mar  ,.  ou  de 
fnuitos  rios  navegáveis^  que  entrãô  algumas  legoas  íer- 
fa  dentro,  a  lavoura  se  fazia  com  facilidade,  e  com  a 
mesma  se  conduzião  as  farinhas  ás  costas  dos  escravos  ^ 
e  de  poucos  animaes  para  os  portos  de  embarque.  Ho- 
je porém  que  já  as  terras  da  borda  d'agua  estão  redu- 
zidas a  Ca{.X)eiras ,  huma,.  e  muitas  vezes  plantadas,  e 
minadas  de  forni igueiroá',  destruidores  da  mandioca,  he 
o  producto  da  lavoura  nas  capoeiras ,  para  o  producto  , 
que  tiravão  os  Lavradores  nas  matas  virgens ,  como  de 
einco  até  dez,  para  quarenta,  cincoenta ,  secenta  ^^  e 
para  cem  ,  O'  que  se  prova  pela  tradição  dos  antigos 
Lavradores  ,  e  pelo  preço  das  farinhas  desse  tempo  ^ 
que  nunca  excederão  a  quatro  centos  e  oitenta ,  sendo 
o  preço  usual  de  duzentos  e  quarenta  ,  a  trezentos  e 
tinte  o  sacco  (i),  e  o  sfu  pjfeço  actual  mil  duzentos 

e 

(j)     Sacco,    medida   de    dons    alqueires    do    Brazil^ 
qae  GorrespoBde  a  quí^íro  alqueires  dç  Portugal» 


>í. 


i 


(  192 

) 

«oitenta  j  a 

mil 

e  seis  centos ,  sem 

esperanças 

deme- 

Ihoramento  , 

porq 

ue 

sempre  0 

preço 

he 

na 

razão 

inver* 

sa  da  abundância 

do 

género. 

Os  povos  humildes  por  sua  natureza  ^  e  pela  crea- 
ção  mui  grosseira  ^  sé  não  animão  a  procurar  melho- 
ramento j  não  só  pela  pequenhez  do  seu  animo  j  como 
por  lhes  faltarem  os  animaes  necessários  ,  para  condu- 
zirem de  mais  longe  as  sUas  farinhas.  A  falta  de  açou- 
gue he  outro  obstáculo*  Os  povos  ,  não  tendo  huma 
certa  sustentação  ,  não  se  animão  a  apartarem-se  dos 
mangues  j  para  lhes  não  faltar  o  sustento  do  Caran- 
gueijo  (i). 

Nas  três  legoas  ,  da  borda  dos  rios  para  dentro, 
estão  as  boas  terras  de  lavoura  de  mandiocas ,  que  pe- 
la sua  grande  producção ,  Se  os  Lavradores  se  animas- 
sem a  entrar ,  tendo  abundância  de  animaes  para  trans- 
porte das  suas  farinhas  ^  como  se  vê  na  ribeira  de  Na- 
zaré ^  farião  renascer  a  abundância  deste  género  tão  pre- 
cioso neste  paiz.  Outros  muitos  estabelecimentos  de 
Engenhos  de  assucar  se  poderião  fazer,  de  que  resulta- 
rião  ao  Estado  grandes  vantagens ,  se  houvesse  no  Paiz 
abundância  de  animxaes  ,  o  que  não  succede  pela  falta 
de  abertura  ou  de  estrada. 

A  Agricultuia  entretém  de  dous  modos  o  corrr- 
niereio,  tanto  interior,  como  exterior,  fazendo  propa- 
gar os  géneros  de  exportação  para  as  manufacturas  ,    e 


(2)  Animal,  que  vive  na  lama,  que  he  cobe'ta  ds 
, arvores,  a  que  chamão  maníiues  ,  e  são  banhados  d» 
maré.  Gsnero  câncer,  Espccic  câncer  hlrsutns. 


(  "9!) 


05  que  se  consomem  na  terra  ,  e  fervem  de  sustenta* 
^ão.  Faz  a  base  fundamental  da  felicidade  dos  Povos  * 
e  da  riqueza  do  Estado» 

O  Arraial  do  Caitité  ,  que  fica  trinta  legoas  inda 
acima  das  Cabeceiras  do  Rio  das  Contas  ,  que  dista 
cento  e  trinta  legoas  ,  ou  pouco  menos  ,  do  primeiro 
porto  de  embarque,  que  he  naVilla  da  Cachoeira  ^  era, 
á  vinte  e  cinco  annos  ^  pobre ,  deserta ,  e  só  manejava 
o  diminuto  commercio  de  gados  ;  mas  de  mui  pobres 
fazendas  ,  que  então  eráo  ,  se  vem  hoje  as  mais  ricas 
daquelles  Sertões ,  depois  que  derão  principio  á  cultura 
do  Algodão,  havendo  nelle  grandes  Lavradores,  pela 
facilidade  ,  e  segurança  de  fazerem  descer  por  liuma 
estrada  frequentada  os  seus  géneros. 

Os  Povos  de  Minas  Novas  ,  a  exemplo  destes  j 
não  obstante  o  serem  duas  vezes  mais  remotos  do  porto 
de  embarque  ,  íizerão  o  mesmo  ,  a  pezar  do  grande 
dispêndio  na  exportação  :  ora  se  estes  Povos  ,  a  pezaf 
da  grande  distancia,  achão  utilidade  nesta  lavoura,  tão 
recommendada  pela  nossa  Academia  das  Sciencias  de 
Lisboa  sobre  o  Algodão  da  Pérsia ,  em  que  logo  falia* 
rei,  que  vantagens  não  terão  os  que  cultivarem  aborda 
da  mata  do  nosso  Sertão  ,  que  está  tão  perto ,  ainda, 
havendo  a  facilidade  de  se  conduzirem  as  cargas  pelo 
rio  abaixo  em  canoas,  até  o  Ribeirão  da  Arèa  ^  sendo 
o  terreno  o  m.ais  próprio  ,  que  se  conhece  para  a  dita 
lavoura. 

As  sementes  do  Algodão  da  Pérsia  j  que  me  fo- 
rão  entregues   com    a  norma  impressa    da  sua  cultura^ 


m 


(  1^4) 
feu  fiz  plantar  em  differentes  tempos,  e  não  nascêrãai 
por  já  terem  o  gérmen  destruído,  e  assento  que  se  de- 
verião  mandar  vir  frescas,  mettidas  em  vasos  de  vidra 
tapados ,  se  possível  for ,  hermeticamente  ,  e  se  pode- 
rem vir  logo  em  direitura  muito  melhor  será ,  para  não 
padecerem  as  sementes  alteração  na  parte  oleosa  ,  que 
contém  a  polpa,  que  cobre  o  gérmen,  ou  plumula. 

O  Algodão  da  índia,  que  cá  temos,  tem  nas  se* 
mentes  alguma  semelhança  com  o  Algodão  da  Pérsia  , 
por  serem  alguma  cousa  cobertas  de  hum  pello  bran- 
co ,  porém  não  tanto  ,  como  o  da  Pérsia  ;  a  sua  flor 
he  de  hum  vermelho  côr  de  fogo  ,  caracter  distincto 
do  Algodão  de  Macassar  ,  o  qual  ainda  conservamos 
em  muito  pequena  quantidade  ,  por  ser  mais  difficil  na 
colher  ;  porém  bastante  ,  para  se  poder  augmentar  a  plan- 
tação :  relíquias ,  que  nos  ficarão  ,  dos  géneros  da  índia  , 
que  em  outro  tempo  aqui  forão  cultivados  ,  como  a 
Canella  ,  a  Pimenta ,  o  Gengibre  ,  e  o  mesmo  Algo- 
dão,  de  que  remetto  o  exemplo  na  pequena  caixa  das 
amostras  ,  onde  vão  seis  qualidades  de  Algodão  ;  a  sa- 
ber. 

Algodão  de  caroço  Inteiro  ,  comprido  ,  e  preto  , 
que  he  de  muita  vantagem  na  sua  cultura  ,  porque  he 
mais  fértil  em  lã  ,  inda  que  de  qualidade  mais  áspera  , 
como  se  pôde  vêr  na  amostra,  que  rem.etto ,  e  só  pó- 
áe  servir  para  as  obras  mais  grossas.  Chamão  a  este 
Algodão  vulgarmente  do  Maranhão;  cuja  arvore  he  de 
menos  duração. 

A!<'odão   de  caroço  inteira  ,   e  preto  ,    porém    não 

tão 


(  '95) 

tão  comprido  >  como  o  do  Maranhão /a  que  chama^ 
Algodão  vulgar  ;  a  sua  lã  ,  em  tudo  ,  se  assemelha  á  do 
iVlaranhão  ,  porém  tem  differença  por  ser  o  seu  fio  mais 
fraco  ,  que  o  do  Maranhão ,  porém  a  sua  arvore  he  de 
maior  duração. 

Algodão  de  caroço  unido  ,  coberto  de  hum  pelb 
pardo  ,  a  que  chamão  Algodão  de  caroço  pardo  ,  í^er- 
til  em  lã  mais  macia,  e  doce,  que  a  do  Maranhão,  e 
■produz  hum  fio  fortíssimo:  a  sua  arvore  he  de  bastan»» 
te  duração. 

Algodão  de  caroço  unido  j  coberto  de  hum  pelld 
verde,  a  que  chamão  Algodão  de  caroço  verde,  a  su,«t 
11  he  abundante ,  doce  ,  branda  j  e  forte  no  fiar :  a  sua 
arvore  he  de  huma  grande  duração* 

Estas  dUas  qualidades  podem  servir  para  obràS 
mais  delicadas ,  como  caças  vulgares» 

Algodão  de  caroço  inteiro  ,  e  preto  ,  de  lã  parda  ^ 
~GU  côr  de  ganga  ;  a  sua  lã  he  muito  macia,  e  forte, í 
.a  sua  arvore  he  durável  ,  pôde  servir  para  se  fazerem 
as  gangas  ,  e  outras  obras  de  fustões ,  em  que  entrem 
listras  côr  de  gangas* 

Algodão  da  índia  de  caroço  dividido  ^  coberto  dô 
;lium  pello  branco  bem  semelhante  aos  caroços ,  ou  se- 
mentes do  Algodão  da  Pérsia,  de  qtie  já  fallei :  a  sua 
lã  he  de  hum  branco  fino  muito  àocQ  ,  que  produz 
hum  fio  forte  ,  capaz  para  as  obras  mais  delicadas ,  co-» 
mo  caças  de  sopro ,  etc. 

Algodão  da  índia  de  caroço  preto  sem  ser  cobef» 
-'to  3  e  dividido  j  a  sua  iã  he  igual  á  do  precedente  com 


(  íí)0 

a  difFerença  de  qne  o  caroço  não  tem  pello  ;  a  maç5 
he  maior  ,  e  os  casulos  ,  ou  capuchos  mais  abundantes 
de  lã  ;  também  tem  a  differença  nas  arvores  ;  porque 
a  do  caroço  preto  he  mais  crercida  ,  quando  a  d.)  ca- 
roço coberto  he  muito  rasteira,  ainda  que  a  sua  dura- 
ção seja  igual,  pois  ,  sendo  cultivadas  em  terreno  íer^ 
til  ,  e  estrumado ,  aturão  muitos  annos. 

As  arvores  ,  que  produzem  o  Algodão  de  caroço 
fíirdo^  verde  ^  e  ^reto  ^  vulgar  ,  e  de  còr  de  ganga, 
são  persistentes ,  e  aturão  muitos  annos  ;  a  do  ^iara- 
nhão  não  chega  á  aturar  dous  annos  neste  Paiz ,  ainda 
que  não  ha  exemplo  da  sua  cultura  no  Sertão,  onde  o 
terreno  he  mais  próprio  para  a  dita  lavoura  ,  e  atu^a 
hum  pé  de  Algodão  entre  o  mato  sem  nenhum  bene- 
ficio vinte  e  cinco  annos,  c  muito  mais,  porque  ain- 
da existem  alguns ,  que  já  tem  esta  idade. 
'.  *  Temos  outras  duas  qualidades  de  Algodão  silves- 
tre ,  que  se  encontra  em  abundância  nas  Caá  tingas ,  á 
margem  do  Rio  das  Contas  ,  tendo  ambas'  as  mesmas 
propriedades  do  Algodão  da  índia  ,  tanto  nas  sementes , 
como  nas  arvores,  só  com  a  diíferença ,  de  que  huma 
destas  espécies  tem  a  lã  parda,  e  áspera,  por  falta  de 
cultura, 

O  Algodão  domestico,  cultivado  nas  Caá-tinfas, 
dá  hum  producto  considerável ,  o  qual  se  pôde  ver  na 
taboa  analítica  do  rendimento  do  Algodão. 

A  execução  destas  vistas  importantes  ,  não  pôde 
pertencer  a  outrem,  senão  ao  Rei ,  porque  ellas  pedem 
despezas  ,   que  excedem  á  fortuna  dos  particulares  ,   e 


( I^ ) 

e  necessitão   da  animação  das  Ordens  ,    e  do  poder  dc>. 
Soberano ,  para  transportar  casaes  de  Ilheos  ,  do  mesmo 
modo,  que  se  fez  para  a  Ilha  de  Santa  Catharina  ,  para 
dar  maior  avaní^o  á  cultura  dos  Algodões  ,   e  cultivar- 
se  hum    terreno  ,    que  pode   sustentar  muitos    milhões 
de  Va^sallos    de  Sua  Magestade  ,    e  descobrirem-se    im^ 
irtensos  thesouros ,  que  se  achão  sepultados  debaixo  das 
matas,  que,  por  faita  de  cultura  ,    se  não  conhecem; 
e  em  quanto   o  Estado    não    dá  sobre  este    importante 
ob;ecto  as  providencias  precisas,  basta  que  o  Governo 
í^etermine  a  residência  dos  índios  Mangoiós  na  beira  da 
Rio ,  para  que  ficando  a  estrada  livre  das  invasões  dos 
Catachós ,  se  dê  principio  a  huma  tão  importante  lavou- 
ra,  como  também,  para  que  possa  por ella  descer  toda. 
o  Salitre  ,    que    se  fabricar  não    só  nos  Montes  Altos  , 
como    em  todo    o  terreno  nitraso   do  Ribeirão   da  Gi- 
boia,  que  fica  a  quarenta  legoas  de  beiramar ,  de  mui- 
to fácil, conducção  ,    fazendo-se  primeiro  conduzir    em 
carros  até  o  sitio  chamado  da  Passagem  ,    e  da  hi  em 
canoas  até  o  Ribeirão  da  Jrèa ,  como  tenho  já  dito  a 
respeito  da  exportação  do  Al-godâo  ,  e  ,  com  muita  faci- 
liJade,  conduzir-se  para  o  primeiro  porto  de  embarque: 
no  ca^o  que  seja  o  Salitre ,  o  que  torna  as  aguas  da  àu 
ta  Ribeira  de  hum  gosto  salgado  frio,    sendo  as  terras 
das  suas  margens  bastante  salgadas  ;  o  que  unicamente 
observei  ,    sem  que  podésse  analysallas    pela  precipita- 
ção ,  com  que  por  ahi  passei ,  e  não  ter  vasos  suficien- 
tes para  o  poder  fazer :  posto  que  tinha  ?  noticia  ,    de 
que  João  Gonçalves   da  Coáta  fizera  seccâr   huma  por- 
ção 


■:| 


..V  !'•'. 


C  192  ) 

t^o  deste  Sal ,  que  dizia  ser  Salitre ,  e  o  tinha  trazido 
a  esta  Cidade  da  Bahia  no  tempo  do  IJIustrissimo  Go- 
Ternador  Manoel  da  Cunha  Menezes ,  que ,  lançado  na 
fogo ,  fazia  a  detonação  ,  deixando  pela  sua  impureza 
bastante  terra  ;  porque  o  seu  author  não  possuia  0$ 
conhecimentos  precisos  ,  para  fazer  a  perfeita  deputa- 
ção ,  o  que  só  pode  decidir  o  exame  filosófico  ,  para 
então  se  poder  verificar  ,  sem  a  menor  dúvida  ,  inda 
que  me  affirmão  pessoas  de  toda  a  fé ,  que  a  tal  mas* 
sa  detonava  bastante  exposta  ao  fogo  ;  e  não  só  pôde 
servir  o  beneficio  da  dita  estrada  para  a  facilidade  da 
exportação  deste  género,  mas  também  de  todos  os  ra* 
mos ,  de  que  se  segue  tão  grandes  vantagens  aa  Com* 
niercio,  é  por  consequência  ao  Estado. 


CJortrmatos  nimium  y  sua  si  bona  norlnt  ^ 
Jp^kçhs  !   .  .  ,  « 

Virgil.  Geors;.  Liv.  2. 


Pei^ 


(  199  > 


Descripçí 


das  differentes  espécies    de  Algodão 
que  temos  no  Brazil. 


Jl^oilão  do  Maranhão  de  caroço  inteiro ,  e  comprida,  (i) 

A  sua  maçã  ,  ou  pericarpio  comprida  bastante ,, 
grossa,  que  contém  nas  suas  válvulas ,  ou  cellulas  três 
capuchos-  na  frase  do  Paiz  ,  de  huma  abundante  la, 
que  cobre  nove  até  dez  sementes ,  unidas  em  hum  só 
corpo  ,  a  que  chamão  caroço  inteiro  ,  o  qual  tem  de 
comprimento  pollegada  e  meia.  ^  , 

A  sua  arvore,  em  beiramar  da  Villa  do  Camamii  ,. 
só  atura  dous  annos  ,  e  não  ramifica  como  as  outras, 
porque  da  altura  de  três  palmos  da  terra ,  onde  o  tron- 
CO  he  grosso  bastante  ,  brota  muitas  vergonteas ,  sem, 
que  faça  maior  ramificação. 

A  sua  lã  não  deixa  de  ser  a  mais  áspera ,  que  cá 
temos,  e  pôde  servir  para  muitos  usos, 

•,  Jlgodão  de  caroço  pardo  ^  e  inteiro,  X^}  • 

A  sua  maçã  mais  grossa  ,  que  a  precedentes^  po- 
rem não  tão  comprida ,  contém  de  três  até  quatro  vai-; 
yulas,  que  encerrão  outros  tantos  capulhos ,  oii  capu-, 
chos  de  huma  abundante  la,  muito  clara ,  e  doce ,  que, 

co« 


(i)     Género  Gossypium  de  Lin, 
^  (2)    Gossypium  hirsutum. 


C  200   ) 

çotre  nove  sementes  unidas  em  hum  caroço  ,  coberto 
de  Hum  pello  pardo  ,  o  seu  comprimento  he  pouco 
mais  de  pollegada  ;  o  fio ,  que  produz  este  Algodão, 
lie  forte,  e  por  isso  se  pôde  fiar  bem  delicado. 

A  sua  arvore  he  grossa  bastante,  e  de  huma  gran-' 
de  ramificação,  atura  muitos  annos.  e  por  isso  de  <^rar> 
de  vantagem. 


Algodão  de  caroço  verde ,  e  inteiro,    (i) 

A  sua  maçã,  em  tudo  semelhante  á  precedente, 
contém  quatro  capulhos  ;  de  huma  la  claríssima  ,  e 
muito  fina,  que  cobre  nove  sementes  unidas,  cobertas 
de  hum  pello  verde ,  caracter  distinctivo  desta  espécie  ; 
este  Algodão  produz  hum  fio  fortissim.o  ,  e  por  isso 
muito  próprio  para  as  obras  mais  delicadas. 

A  sua  arvore  he  em  tudo  semelhante  á  preceden- 
te 5  e  quasi  estas  duas  espécies  são  análogas ,  e  só  as 
differença  a  côr  do  pello,  que  cobre  os  caroços. 

■algodão  de  caroço  inteiro  de  lã  parda  còr  de  ganga,  (2) 

A  sua  maçã  he  ordinária  ,  e  produz  três  ou  quíí- 
tro  capulhos  ,  ou  capulhos  de  huma  la  parda  ,  que' 
cobre  hum  caroço  inteiro ,  e  unido ,  que  he  composto 
de  sQtQ ,  e  nove  sementes. 

A 


(  I )     Gossypium.    Xilon  Americanum    praestantissi- 
mum  semine  virescente  Tournef. 

(2)    Qossypium,  Baf  badense  de  Lin.  Algodão  de  Sião, 


(201) 

A  sua  arvore  he  persistente ,   e  de  muita  duração, 
Algodão  vulgar.  (l) 


Tem  as  mesmas  propriedades  que  o  Algodão  de 
Maranhão  ,  unicamente  com  a  differença  do  seu  caro- 
ço ser  menor  ,  composto  de  sete  ou  nove  sementes, 
e  raras  vezes  de  dez. 

Algodão  da  índia  de  caroço  dividido  ,    e  citherto  de 
hum  pello  branco,    (2) 


A  s-ua  maçã  he  pequena  com  três ,  quatro  válvu- 
las ,  contém  outros  tantos  capulhos  de  huma  lã  íinis* 
sima ,  muito  alva  ,  que  cobre  sete  sementes  divididas  ^ 
.que  faz  o  caracter  do  caroço  dividido. 

A  sua  arvore  he  rasteira ,  e  muito  durável.  Esta 
semente  nos  veio  da  índia,  em  companhia  do  Cravo, 
da  Canella ,  e  do  Gengibre  ,  e  se  tem  conservado  até 
agora. 

Também  temos  outra  espécie  de  Algodão  da  ín- 
dia de  caroço  dividido ,  e  preto  de  lã  muito  macia ,  e 
aha. 

A  sua  arvore  he  mais  alta  ,  que  a  precedente.  Te- 
mos ainda  duas  espécies  de  Algodão  naturaes  do  Paiz , 

que 


(1)  Gossypium. 

(2)  Gossypium  arboreum  de  Lin,  Algodão  de  Ma*?' 

casia^«  - 


(    i02   ) 

qiíe  se  achão  silvestres  nas  margens  do  Rio  das  Con- 
tas ,  e  bem  semelhantes  ao  Algodão  da  índia  ,  tanto 
nas  suas  sementes,  como  na  sua  arvore,  tendo  huma 
à:LS  duas  espécies  a  lã  áspera ,  e  parda. 

Eu  as  fiz  plantar  em  beiramar,  mas  no  tempo  da 
fructiíicação  ,  as  chuvas  deitarão  abaixo  as  novidades, 
çem   ficar  huma  só  maçã. 

A  sua  arvore  he  de  grande  duração* 


ibàif^mc. 


CkU 


C   20}    ) 

CALCULO    ANALYTICO» 


Hum  escravo  trabalhando  em  Algodão  da  de 
_    lendimento  no  Sertão       -     -     o    -     -     -  250^000 

Prepara  terra  para  ---------     50©  pé« 

Que  dão  de  lã       -    -    -    -    -     -     -    -    »  62e  16  a 

Tirada  de  IJ64  maçãs,  que  produz  câda  pé  razão  d@  4 
de  colheita  ordinária.  lib.  por  pé 

Além   disto  planta  o  milho  ,    e  feijão  para  o  seu  sus- 
tento 5  e  para  crear  porcos  gallinhas ,  etc. 
O  que  melhor  se  conhece  na  Taboa  Synthetica^  ! 

Annuncio    de  algumas    múcjinnas    simpVices    com    que    os 
Asiáticos  carmeão ,  e  tecem  seus  Algodões^ 

Est.  u 
1.  Hum  banco  donde  se  assenta  o  carmeader.  2« 
Huma  verga  flexível,  j.  Hum  cordão,  donde  suspende 
o  arco.  4.  Gancho  de  ferro  que  engata  na  argola  do 
arco.  5L  Hum  arco  de  páo.  6.  Huma  corda  de  rabecão 
bastante  grossa.  7.  Hum  maço  pequeno  com  que  bate 
na  corda ,  e  com  o  dente  que  tem  ,  pega  na  dita  cor- 
da ,  e  puxando  para  si,  faz  hum  estremecimento  gran- 
de, o  que  faz  sacudir ,  carmeando ,'  dividindo  tpdo  o 
cujo.  8,  Argola  de  ferro,  donde  engata  o  gancho  nu*- 
mero  4. 

JEst,  2, 
A  maquina    de  cardar    o  Algodão  também  he  d© 
huma  extrema  simplicidade.    Compoem-se    de  hum  pe» 
daço  de  páo  comprido  àQ  6  ,    a  7  pés.    Em  ambas  as 


íl 


(  204  ) 

extremidades  tem  fixado  huma  corda  feita  de  tripas, 
que ,  quando  a  ferem  ,  são  o  que  fez  dar-lhe  o  nome- 
de  Rabecão  (os  Sombreireiros  tem  hum  instrumento  ss 
melhante  a  que  chamão  arco)  .  Suspende-se  o  Violão 
por  huma  corda  a  hum  arco  applicado  ao  forro  da  ca- 
sa. O  trabalhador  sustenta  com  huma  mão  o  Rabecão  no 
meio  ,  e  com  a  outra  hum  pedaço  de  páo  ,  que  se 
termina  em  huma  moldura  ,  enteza  assas  a  corda  de 
tripa  ,  que ,  escapando ,  bate  o  Algodão  ,  e  o  levanta 
com  força  ,  estufa  ,  sacode-lhe  o  pó  ,  e  o  pronti-fica  para 
ser  fiado.  A  elasticidade  do  arco  ,  que  sustenta  o  Ra- 
becão ,  facilita-o  a  seu  transporte  por  todos  os  lugares 
do  monte  do  Algodão. 

Est.   5, 

O  Tecelão  de  manhã  arma ,  e  monta  ,  defronte 
de  sua  porta  debaixo  de  huma  arvore,  o  seu  tear,  que 
o  deixa  ao  pôr  do  Sol.  Este  tear  nada  mais  he  que 
dois  rolos  de  páo  postos  sobre  quatro  mourões  fincados 
ha  terra.  Dois  cylindros ,  que  atravessão  a  cadea  ,  e  que 
sesustentão,  em  cada  huma  das  suas  extremidades,  hu- 
ma por,  duas  cordas,  que  se  segurão  na  arvore  em  que 
está  o  tear,  ou  maquina;  outra  por  outras  duas  cordas 
mais  seguras  nos  pés  do  Tecelão  ,  dão  a  este  a  facilidade 
de  apartar  os  fios  da  cadeia  ,    para  lhe  passar  a   trama. 

A  segunda  ,  e  terceira  estampa  são  copiadas  do 
primeiro  tomo  da  Obra  Voj/age  aux  Indes  OrientaUs  et 
«  la  Cliine  por  M.  Sonnerat  ,  e  aqui  postas  a  favor 
das  pessoas  miseráveis,  que  por  hum  meio  tão  simples 
podem  cobrir  a  sua  desnudes. 

M  E. 


Ij  ?i  tmuA  ti 


JCdtr.4^, 


iro  TrujHir>f|    -r 


i 


£:jí^.%. 


CALCULO  SYNTHETICO 

D  0 

RENDLMENTO  DO  ALGODÃO  DO  CAROÇO  PARDO,  VERDE,  E  DO  MARANHÃO. 

Producção  do  Algodão  em 

Waçâ 

Capul. 

Gr. 

Oit 

Lib. 

Arrob. 

Pés  de 
Algod, 

Preço. 

Huma  maçã  contém 

i  até  4 

B    Hum  capuJho  dá    de  lã 

9p.m. 

S     Oito  ditos  dão                    , 

I 

&     1024  capulho  dão 

1 

1     1024  capulhos   reduzidos   a   maçãs  dão 

341 

1    Cada  pé  do  colheita  ordinária  dá 

li  64] 

! 

1 

a     I J64  maçãs  dâo  de  lã 

4 

i 

1 

§    Cada  trabalhador  prepara   terra  para 

500 

1 

1     500  pés  dão  de  Algodão 

- 

62^-1 

g     óz  ariob.  e -^  vendido  pel 

0  preço  corrente  da  Praça  de  6:40c 
625 
6400 

250000 
57)0 

400000(0 

400 

00© 

1     63  arrob,  e  -i-  no  Sertão  ve 

li 

ridida  a  4:000  rend§         625 

4000 

25  0  000 

"i       1 

li 

25000,0(0 

ÍS^^ 

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SsSSSsii' 

r 


C   20$   ? 


MEMORIA  IX. 

SOERE  A  CULTURA  DOS  ALGODOEIROS. 

Por    Manoel   dArruda  Camará. 

I    N   T   R   o   è    U   C   Ç   X    o. 

X^,  Eílexões  geraes  sobre  agricultura  do  Brazil ,  e  seu 
commercio,  pouco  podem  mfluir  noaugmento  real  dos 
géneros  ,  que  fazem  a  nossa  riqueza :  são  obras  de  ga- 
binete ,  em  que  só  podem  seus  Authores  pôr  na  presen- 
^a  do  Ministério  erros  introduzidos  no  systema  do  com- 
iTiercio  :  isto  he  muito,  quando  ha  felicidade  de  pro- 
duzir bom  effeito  a  verdade,  que,  as  mais  das  vezes, 
encontra  grandes  obstáculos. 

A  experiência  he  a  única  linguagem  ,  que  o  povo 
entende  :  na  verdade  ,  quem  disser  que  nas  circumstan- 
cias  presentes,  podemqs  ter  grande  vantagem  nos  pre- 
ços dos  nossos  géneros ,  ainda  a  pezar  do  risco  ,    póds 

desenvolver  o  gérmen  da  ambição  no  fundo  dos  cora- 
ções ,  e  iníluir-lhes  nova  coragem  para  melhor  soffrerem 
os  fatigantes  trabalhos  da  agricultura,  os  soes  ardentes, 
-^5  chuvas ,  os  ventos  desabridos ,  etc.  ;  pois  a  que  não 

obriga  a  malvada  sede  de  ouro  i   Porém,  nem  por  isso 

apren- 


I 


C  io6  ) 

aprenderão  a  trabalhar  por  mais  facil  methodo  ,  n^a 
abreviarão  as  suas  operações  ,  e  caminharão  finab^nente 
pelo  trilho  antigo  dos  mesmos  prejuizos  ,  em  que  vi- 
verão seus  maiores. 

Pelo  contrario  ,  todos  estes  obstáculos  se  aplai- 
narão pelo  trabalho  daquelle  ,  ^ue  no  mesmo  lu|ar, 
onde  produz  o  género  ,  que  quer  instruir  ,  fizer  repe- 
tidas experiências  a  respeito  das  influencias  do  clima 
mais  vantajosas ,  das  diversas  qualidades ,  e  mistura  de 
terras  mais  próprias ,  dos  meios  mais  fáceis  de  plantar  , 
colher  :  beneficiar  a  colheita  ,  diminuindo  a  mão  de 
obra,  e  augmentando  por  consequência  o  lucro. 

^Estas  vantagens    são    tão  intere.ssantes^  ,    que  tem 
obrigado    a  homens  de  hum  merecimento  assignalado-a 
viverem    nos  campos  ,    a  fim    de  observarem    de  mais 
perto  a  natureza,  e  escreverem  com  acerto  as  instrucçóes 
aos  seus  semelhantes  :    os  mais  pequenos   objectos    de 
agricultura  na  Europa  tiverão  em  todo  o  tempo,  ainda 
■o  mais  remoto  ,    génios  raros,    grandes  homens  ,    que 
escreverão  ,  e   trabalharão   por  ensinar  aos  seus  Colonos 
os  mais  preferíveis,  e  proveitosos  methodos  de  sua  cul- 
■  tura.    Desde  que  tempo  se  nao  escreve  das  Oliveiras , 
das  Uvas ,  do  Trigo  ?    E  ainda  de  plantas  menos  inte- 
ressantes ?    A  Columela  ,    e  Plinio  se  tem  seguido  in- 
•numeraveis  outros ,  qúe  escreverão  sobre  estes  objectos  ; 
«  ainda  assim  mesmo  ,    á  proporção  que  se  augmentão 
-os  conhecimentos  da  Fysica,    e  Chymica  ,    a  cujo  lado 
anda  sempre  a  Agricultura,    achão  os  modernos  ,    que 
'^adiccionar,  abolir,  e  mudar.  ^ 

"'    '-^  Daí- 


"Daqui  se  pode  inferir  quão  infinito  será  o  numerd 
de  imperfeiçòes ,  e  de  erros  introduzidos  na  cultura  doS 
géneros  do  Brazil ,  e  mais  Domínios ,    sendo  todos  no- 
vos a  respeito  dos  da  Europa  ,   e  não  tendo  tido  ,   co- 
mo   os  desta  ,    homens  sábios  ,    que  tratassem  do  seu 
melhoramento.    A  cultura  da  cana,  por  exemplo,   e  a 
preparação  do  assucar ,  sendo  huma  das  operações,  que 
exigem  os  mais  profundos  conhecimentos  da  Fysica ,   e 
da  Chymica  ,    tanto  para  o  acerto  das  mais  justas  pro- 
porções na  construcção  das  fornalhas ,    de  que  depende 
grande  diminuição  da  mão  de  obra  ,    como  na  mesma 
Manipulação  do  assucar  ,    se  acha  inteiramente  abando- 
nada á  homens  néscios  ,    e  estúpidos  ,   em  cujas  mios 
põem  o  Senhor  de  engenho  a  sua  fortuna  ;  delias  sahe 
o  dado,  que  o  faz  perder,  ou  ganhar  ;    o  sucesso  for- 
tuito de  huma  hora,  para  assim  dizer  ,    decide  do  tra- 
balho   de  hum  anno  inteiro  ;    vai  malograr  os  suores, 
que  regarão  seus  campos,  e  quebrar  as  forças  de  tantos 
braços  ,  que  tudo  soffrêrão  na  esperança  de   hum  doc^ 
lucro.  O  mesmo  Senhor  de  engenho  corta  ,    e  coodus 
a  lenha  para  o  lugar  do  sacrifício  ,  onde  ha  de  ver  quei- 
mar a  sua  safra.  Todas  as  vezes  ,  que  tenho  a  desgraça 
de  presenciar  esta  catástrofe ,    parece-me  vêr  hum  filho 
dissipador  ,    e  pródigo  consumir  em   poucas  horas  a  ri^ 
queza  ,    que  o  pai    do  laborioso  tirou    da  terra  com    à 
força  do  seu  braço. 

Estas  reflexões  me  fizerão  ,  desde  que  torfiei  a<^ 
Brazil  ,  arder  no  desejo  de  empregar-me  na  fabricação 
do  assucar,  a  vêr,    se  por  meio  de  repetidas  experiení- 

cias  j 


(    20S    ) 

cias ,  poderia  achar  regras ,  quando  não  exactas  todas , 
ao  menos  approxiinadas  ,  que  servissem  de  guia  ,  « 
constituíssem  arte  ,  o  que  até  aqui  tem  sido  rota  ce- 
ga ;  mas  até  ao  presente  ,  não  me  tem  sido  possível 
conseguir  a  inteira  execução  deste  projecto ,  e  o  maior 
obstáculo ,  que  tenho  encontrado ,  he  não  ter  tido  ain- 
da a  opportunidade  de  possuir  hum  engenho  ,  onde 
sem  prejuízo  de  outro  ,  podesse  fazer  as  minhas  expe- 
riências em  grande. 

O  acaso  porém  me  tem  posto  nas  circumstancias 
de  fazer  experiências  ,  observações,  e  algumas  desco- 
bertas úteis  em  outra  cultura  ,  não  menos  interessante 
ao  commercio  ,  tanto  de  Portugal  ,  como  de  Paraná» 
buc  ;  pois  que  nestes  últimos  dez  annos  tem  feito  en- 
trar para  esta  Capitania  a  quantia,  que  se  pôde  vêr  no 
IVlappa  I ,  e  II ,  que  ajunto  aqui. 

Esta  cultura  ,  de  que  fallo  ,  he  a  do  Algodão : 
nella  me  tenho  empregado  nas  margens  do  Rio  Paraíba 
com  sufficiente  fabrica  ,  pelo  que  tenho  tido  tempo, 
c  vagar,  para  fazer  muitas  experiências,  e  observações  ; 
não  me  tendo  poupado  em  nada  a  fim  do  melhoramen- 
to tanto  da  cultura  como  do  beneficio  ,  que  deve  re- 
ceber antes  de  correr  no  commercio  :  para  isto  tenho 
construído  differentes  maquinas  ,  e  ,  a  que  mais  útil  me 
parece  ,  a  de  ensaccar ,  pela  qual  cheguei  a  poupar  a 
mão  de  obra  cuasi  na  razão  de  vinte  :  Primeiro.  Este 
meu  methodo  tem  sido  geralmente  applaudido  ,  por- 
que, além  da  economia  ,  reúne  outras  circumstancias 
úteis ,  que  no  seu  lugar  referirei ;   e  tenho  tido  o  coiv 

so- 


i 


Çá09  3 

^òfô ,  qíie  o  povo,  em  cuja  opinião  sempi-e  pèslõ  rháiè 
os  prejiiizos ,  dè  que  mesmo  a  conveniência  de  novai 
invençfles,  se  decidisse  a  adoptalla.  A  minha  tenção, 
ao  principio  >  foi  de  dar  simplesmente  huma  Memofia 
á  Academia  Real  das  Sciencias  ,  descrevendo  a  dita 
maquina  ;  mas  como  tenhão  eqrrido  tempos,  e  nelles 
tivesse  eu  occasiôes  de  fazer  muitas  observações  a  fa- 
vor da  cultura  do  Algodão,  decidi-me  a  ajuntalk  aqui 
rsa  ordem  3  que  me  pareceo  mais  conveniente,  persua- 
dido que  poderião  sei*  de  muita  utilidade  3  para  os  qu6 
tratão  deste  objecto. 

O  bem  cdmmum  he  6  edifício  ,  para  -cuja  con^ 
strucção  todos  os  particulares  tem  obrigação  de  trazei 
rem  os  materiaes  ^  conforme  os  seus  talentos :  a  minha 
gloria  será  se  esta  porção  ^  que  tenho  a  honra  de  ap- 
presentar  ao  público  ,  poder-  contribuir  para  o  fim^ 
que  me  proponho :  o  meu  desejo  he  este  i  úh  m@  sir*» 
Va  de  apologiai 


.f.M  jKt 


Ô 


CÁ^ 


(  210) 


Capitulo  t 


Va  antiguidade  do  uso   do  Algodão  j    e  da  vantagem  j 

íjtie  tem  resultado  a  Portugal  ^  e  a  Paranambuc 

a  sua   cultura^ 


H 


E  hUmâ  espécie  de  mania ,  qtae  allucina  os  Escri- 
tores menos  filósofos ,  o  quererem  attribuir  á  Scienci»  ,• 
Ou  á  Arte  de  que  tratão,  huma  antiguidade,  que  date 
cúasi  com  a  do  primeiro  homem.  Se  he  certo  ,  como 
devemos  crer ,  qite  Adão  teve  sciencia  infusa  ,  pouco 
menos  idosas  são  quasi  todas  as  Artes  que  elle  ;  mas  o 
pouco  progresso  i  que  ellas  tem  Eido  mostrão  ,  que  as 
Suas  orio"ens  não  remontãõ  tão  altc :  Adão  seria  muito 
Sábio ,  mas  seus  filhos  tem  sido  moito  néscios ;  porque 
ou  nada  aprenderão  daquelle  primeiro  pai ,  ou  se  apreíi- 
dérão  j  depressa  se  deixarão  esquecer ,  tanto  assim  ,  que 
para  descobrirmos  as  origens  de  algumas  Artes ,  he  ne- 
cessário desandarmos  os  longos  caminhos  ,  que  tem  co^ 
tido  os  séculos,  e  procurarmos  apafpando  pela  obscuri- 
dade dos  tempos  alguns  mal  distinctos  vestigios,  dan- 
do aos  seus  primeiros  inventores  honras  ,  e  loutóres 
quasi  Divinos :  as  Sciencias  são  como  estes  grandes  rios, 
que  conduzem  sobeibameuCe  immensa  quantidade  de 
aeua  5  navegue  quem  quizer  poreíles  acima,  buscando 
a  sua  origem  ,  chegará  a  ficar  em  secco  ,  sem  saber 
verdadeiramente  donde  nascem  $  pois  abrindo-se  pouca 


a  pouco  em  pequenos ,  e  insignifícanteá  regato:? ,  vem 
estes  a  acabar  ein  humidádes  tão  diminutas,  que  nera 
cobrem  a  arêa,  sbbre  que  correm. 

A  necessidade  ,  e  6  acaso  são  as  diias  principaes 
mais ,  ou  fontes  donde  nascem  âs  Sciencias ,  e  as  Ar- 
tes :  as  necessidades  crescem  ^  e  se  miiltiplicão  á  pro- 
porção ,  que  civilisáo  os  póvos  ;  os  homens  j  que  vi- 
vem rusticamente j  perto,  para  ãssiiíi  dizer,  de  hum* 
vida  selvagem  ,  as  suas  necessidades  não  se  extendem 
ia  muito  :  assim  as  mais  antigas  Artes ,  e  Sííiéncias  de- 
vem ser  aquelias  ,  que  iníeressassein  a  existência ,  e  o 
commodo  tal  qual  podião  ter  os  primeiros  homens  ,  vi- 
vendo frugalmente,  formando  quando  muito  pequenos 
àrraiaes,  de  costumes  simples  como  elles  mesmos,  sa- 
bidos á  pouco  das  ínaos  da  natureza. 

Pelo  qiie  ,  a  Agricultura  dos  alimentos  ,  a  Medi- 
ítina ,  a  Cirurgia  ,  que  interessava©  immèdiatamente  a 
kua  saud'è  ,  e  a  sua  existência ,  deverião  occupar  o  pri-^ 
íneiro  lugar  na  ordem  dos  tempos  ;  a  invenção  dé  te- 
feer  panhos ,  creio  que  deve  ser  muito  posterior ,  não 
àô  a  estas  ^  mas  ainda  a  outras  Artes  de  primeira  ne- 
fcessidade  ;  porque  os  primeiros  descendentes  de  Adão 
habitando  hum  paiz,  e  clima  benigno,  as  injurias  do 
tempo  não  erão  assas  fortes  para  os  obrigar  com  tanta 
presteza  a  inventar  vestiduras  ;  e  quantos  séculos  não 
jíassariâo  elles  contentes  ,  e  satisfeitos  com  os  saiotes 
da  mesma  fabrica  ,  e  feitio  daquelíe  ,  qUe  Adão  pos- 
iuio:  assim  só  oluxo  teria  parte  nesta  invenção,  que 
depois  passou  a  necessidade* 

O  z  Se* 


Seja  como  for  ,  hum  discurso  bem  simples  nòs 
pode  persuadir,  que  o  Algodão  foi  a  primeira  substan* 
cia  do  Reino  vegetal  ,  de  que  os  homens  se  servirião 
para  fabricar  õs  seus  primeiíos  pannos  ;  porque  a  natu- 
reza já  a  produz  apta  para  se  poder  fiar  j  como  todo  o 
nuindo  sabe,  o  que  nao  acontece  a  respeito  do  linho, 
e  da  seda  ,  as  quaes  exigem  loíigas ,  e  peniveis  prepa-" 
rações  antes  de  se  porem  no  estado  de  se  fiar ,  o  que 
só  huma  longa  serie  de  tempos  ,  experiências  j  e  ca* 
sualidadfes  poderião  ensinar. 

Bem  se  vê  5  que  este  discurso  não  prova  de  facto, 
e  só  faz  ver  huma  probabilidade  ,  pela  qual  podia  ser 
o  Algodão  empregado  primeiro  ,  que  toda  outra  qual* 
quer  substancia  nas  vestiduras.  Eu  tenho  procurado  pe* 
la  obscuridade  dos  séculos  passados  ,  a  ver  se  acho  a 
época  ,  em  que  principiou  o  uso  do  Algodão ,  e  o  mais  , 
a  que  tenho  chegado ,  be  descobrir  ^  que  muito  antes 
de  Moyses  se  elle  vestia  ,  e  que  já  naqueile  tem.po  se 
fabricavão  tão  primorosos  pannos  de  Algodão  ,  brilhan* 
do  tanto  a  Arte  ,  que  os  Príncipes  faziáo  deiles  mimo 
precioso:  para  prova  disto  basta  deitarmos  hum  golpe 
de  vista  para  a  Historia  ,  que  o  mesmo  Moyses  nos 
conta  de  José  ;  ahi  vemos ,  que  os  presentes ,  que  Fa- 
raó lhe  fez  5  quando  interpretou  os  seus  sonhos  myste* 
riosos  ,  entiegando-lhe  as  rédeas  áo  governo  do  Egy- 
pto  ,  e  fazendo-o  subir  na  sua  carruagem  ,  foi  hum 
;ínnel  de  pedras  preciosas,  e  huma  túnica,  ou  vestida 
de  pannO'  de  Algodão. 

Para  finalmente   formarmos    hum  juizo    si  respeito- 

d« 


(  215  ) 

de  quanto  he  antij^o  o  uso  do  Algodão  ^  basta  reflectia 
inos  ,  que  os  mais  antigos  povos  traíicavão  com  eFle , 
desde  muito  antes  de  Pitágoras  os  Fenícios,  e  os  Gre- 
gos ,  não  só  -  hiáo  beber  as  Sciencias  ,  e  as  Artes  á  sua 
fonte  ,  quero  dizer  na  índia  ;  mas  também  híao  \i 
comprar  fazendas  de  Algodão  j  para  as  virem  depois 
revender  pelo  resto  do  mundo  então  sabido.  Naquellè 
tempo  a  Arte  já  tinha  tocado  hum  gráo  superior  de 
períeição  nessas  remotas  paragens;  masque-  séculos  dc- 
veriáo  correr  antes  que  lá  chegasse  ,  com.o  acontece  a 
outras  muitas  Artes  que  nos  parecem  mais  fáceis? 

A  nossa  mestra,  a  necessidade,  já  acordou  a  In- 
glaterra 5,  e  as  mais  Naçóes  civilizadas  da  Europa  ,  e 
dentro  destes  três  últimos  séculos  lhes  tem  ensinado  a 
rivalizar  com  a  índia  na  Arte  de  tecer  pannos  de  Al- 
godão ,  e  tem  cortado  em  parte  aqu^lle  rio  de  dinhei-. 
ro  ,  que  corria  continuadamente  para  o  Oriente.  Portu- 
gal mesmo  ainda  atordoado  do  veneno  da  ignorância, 
que  lhe  communicou  Hespanha  no  tempo  da  nossa  in- 
feliz sujeição  a  esse  Reino ,  tem  erigido  fabricas ,  qué 
trabalhão  á  competência  ,  e  que  se  vio  aperfeiçoando 
cada  vez  mais. 

Depois  dos  sólidos  estabelecimentos  da  Europa 
neste  género  ,  de  diversas  partes  ào  mundo  concorre- 
rão Algodões  a  fornecerem  ás  suas  fabricas  a  matéria 
prima  ,  da  Ásia  forão  Esmirna ,  Chypre  ,  Alexandria  » 
Acre  ,  Surrate ,  Sião  ;  da  America  as  que  fornecião  Al- 
godões,  erão  Surinam,  Martinica,  Cayenna,  Guadalu- 
pe 3  Cartagena  :  M-^ranhlo  antigameneç  não  deitava 
.  I  Al- 


(214) 

AIgódSo  algum  p^ra  Europa  ,  e  ró  o  cultívav,  pnr^ 
gasto  do  paiz  ,  que  era  tão  pobre  ,  que  o  fio  que  seus 
habitantes  fíavao  do  Algodão ,  era  a  moeda  Provincial , 
servindo-se  delia  para  comprar  q  que  precisaváo  ,  de 
sorte  que  até  nos  açougues  a  carne  erg  comprada  a 
troco  de  novellos  de  fiq  ;  até  que  o  IlUistrissimo  Se^ 
phor  General  Telles  animou  os  Agricultores ,  obrigan- 
do a  Companhia  a  fiar  de  muitos  escravatura  ,  ferra- 
mentas,  etc.  ;  e  desde  entã©  principiou  Maraphao  a  en- 
riquecer, e  augmentar. 

Paranãbuc  nesse  tempo  ainda  não  pensava  ,  que 
este  género  seria, capaz  de  vivificar  o  seu  porto,  e  pro- 
çurar-lhe  huma  su^istencia  igual  á  do  assucar  ,  que 
então  o  disvelava.  Na  Paraíba  fqi  onde  primeito  sonha- 
rão em  mandar  Algodão  para  Portugal  ;  mas  o  estimu- 
]o  da  ambição  não  picava  muito  os  ânimos  amorteci- 
dos ,  e  encolhidos  debaixo  da  pobreza  a  cultivarem  nq 
com  a  energia  de  que  erão  capazes  :  a  noticia  do  gran- 
de lucro,  que  podia  dar  o  Algodão  ,  a  quem  o  culti- 
vasse ,  foi  penetrando  pouco  a  pouco  os  matos  ,  e 
despertando  os  Agricultores.  Nos  annos  de  1777  até 
17^»  animárão-se  os  povos  de  huma  nova  força,  então 
he  que  se  virão  os  interiores  dos  Gçrtões  mais  habita- 
dos ,  e  cultivados,  e  tem-se  de  tal  modo  fomentado  a 
cultura,  e  o  negocio  do  Algodão,  que  admira:  e  pa- 
ra se  ter  huma  idca  a  esse  respeito  ,  vou  pôr  á  vista 
huma  taboa  Synoptica ,  nãq  só  do  Algodão  que  de  Pa- 
ranãbuc tem  sahido  desde  1786  até  1796  ,  mas  ainda 
áps  mais  generqs  ,  por  onde  he  fácil  calcular  o  pro- 
vei- 


(  21S  ) 

weko,  que  delle  tem  resultado  ao  Agricultor,  aos  Ne- 
gociantes, que  com  t\h  tiaficão,    e  á  Nossa  Soberana. 

Ainda  que  a  primeira  porção  de  Algodão  ,  que 
de  Paranãbuc  se  mandou  para  Portugal,  foi  em  1778, 
com  tudo  o  niuriero  das  arrobas  desde  então  até  1781 
foi  muito  dimiiuito  ,  e  desse  anno  por  diante  he  que 
se  foi  au^gmentapdo  mais  consideravelmente  este  ge^ 
nero. 

Daqui  se  vê ,  quanto  he  importante  a  cultura  do 
Algodão  em  Paranãbuc  ,  pois  o  grande  lucro  que  pron, 
iTiette,  impelle  a  todos  ao  trabalho,  tirandoros  da  oc-« 
f  iosidade ,  dá  valor  ás  terras  que  dantes  o  não  tinhão  , 
com  summo  proveito  do  proprietário  ,  anima  o  Nego* 
çiante  ao  mais  vivo  trafico  ,  fazendo  mais  importante 
o  nosso  porto  ,  e  mais  frequentado  o  de  Lisboa  pelos 
pstrangeiros ,  que  dão  todo  o  çonsummo  ;  os  donos  de 
J^avios  tem  avultado  lucro  nos  seus  fretes  ;  pois  que 
tem  chegado  a  mil  e  duzentos  por  cada  arroba  5  Sua 
Magestíjdp  mesmo  percebe  direitos  ,  que  não  são  da 
desprezar-se. 

Até  aqui  tenho  fallado  do  u?o  que  tem  este  gé- 
nero no  Commercio  para  as  fabricas  de  pannos ;  agora 
tocarei  de  passagem  n'Qutros  usos  que  se  podem  esten-. 
4er  muito,  tanto  na  economia,  como  no  uso  medici- 
nal. 

As  sementes  do  Algodoeiro  s|o  compostas  de  hu- 
ma  fécula  de  m.ucilagem  ,  e  de  hum  óleo  ,  como  te- 
nho verificado  muitas  vezes  por  via  de  analyse  :  a  áà-. 
^e  de  azeite  a  que  tenlya  extrahida  dos  caroços  do  Al- 


toâio,  tem  differido  muito,  de  sorte,  cue  huma  ex. 
penencia  nunca  condiz  inteiramente  com  outra  ;  porói;i 
lenho  verificado,  que  se  aproxima  mais  á  razão 'de  oito 
a  hum  ,  ou  hum  oitavo. 

A, qualidade  deste  óleo    he  excellente    para  luzes, 
porqqe  d^  huma  luz  muito  clara,  e  não  he  tão  sujeito 
a  fumar  ,    e  a  fazer  murrao  ;    mas  as  experiências  que 
tenho  feito,    he  tendo  o  trabalho  de  descascar  os  caro- 
ços  hum  por  hum,  e  picando   unicamente  a.amendca, 
o  que  he  impraticável  em  grapde  ;    e  a  maior  difficul- 
tiade  ,    que    me  parece  ter    para  execução    do  trabalho 
sm  grande,    he  seiem  as  cascas,  ou  peJles  destes  caro- 
ços dasticas  ,    pelo  que    aptes    se  amassão  debaixo    do 
estJJo,    ou   mão  de  pilão,  do  que  quebrão  ;  para  adquiV 
rirem    a  fragilidade  sufficieníe  ,    he  necessário    levarem 
huni  sol  extraordinário,   o  que  faz  esta  prática  difficil  , 
e  quasi  superílua  em  hum  paiz ,    como  o  nosso,  onda 
temos  grãos,    ou  pevides  muito  mais  convenientes  do 
qUQ  esta,  para  a  fabricação  do  azeite. 

A  casca  do  at busto,  que  nos  da  o  Algodão,  he 
fíJaiDentosa,  e  contém  linho ,  bem  como  todas  as  plan^ 
tas  malvaceas  ,  a  cuja  familia  natural  pertence  ;  pelo 
quç  ,  bem  podia  servir  ao  menos  para  cordas ,  para  es- 
topa ,  etc.  ;  porém  tanibçm  no  nosso  paiz  nlo  temos 
necessidade  ,  e  nem  devemos  applicar  esta  casca  a  es- 
tes usos  por  duas  razoes  :  primeira,  porcue  extrahida 
?  casca  deste  arbusto,  elle  morre,  e  não  nos  dá  o  lu. 
cro,  para  que  principalmente  o  cultivamos:  secunda, 
porqife  o  linhp  que  d^ ,  afto  he  tão  forte,  como  o  dp 

ca- 


C  217  ) 

^anih'^  -)  caragiiatã  ,  caraguatá  gufíssri ,  ou  piteira  ,  atí' 
ifira  branca  ,  einhlra  vermelha  ,  jangada  ,  mororô  de  es^ 
pinha  j  barvis^uda  ,  macalha  ,  araíicims  ,  caranaiihas  ,  tU" 
cítns  ,  carroplxo  ,  guaxwnas ,  etc. ,  das  quaes  pJantas  a 
maior  parte  não  foj  ainda  descripta  por  Eotanico  al- 
gum ;  e  que  deveriao  inerecer  ao  Ministério  huma  in- 
dagação a  respeito  das  suas  tenacidades  ,  e  mais  quali- 
dades próprias  para  cordoaria  ,  e  eu  não  vejo  trabalho 
feito  neste  género  ,  que  ncs  pontoa  debaixo  dcs  olhos 
huma  taboa  Synoptica  ,  que  pela  comparação  nos  pos^ 
samiOs  desenganar  de  termos  o  gosto  ,  e  a  convenien-r 
cia  de  usarmos  na  nossa  marinha  ,  dos  linhos  ,  que  o 
nosso  paiz  nos  offerece  naturalmente  com  tanta  abun- 
dância j  de  preferencia  ao  canamo  :  eu  ao  miCnos  n^s 
duas  dissertações,  que  leio  na  collecção  da  Academia, 
não  vejo  nenhuma  que  tenha  preenchido  dignam^ente  , 
e  como  deve  ser  ,  este  objecto  ;  huma  que  trata  da 
guaKuma  ,  nem  ao  menos  nos  diz  de  que  género  he 
esta  planta  ,  nem  nos  dá  meios  systematicos  de  a  co- 
nhecer :  a  segunda  omittio  as  principaes  plantas,  que 
julgo  se  aproximao  mais.  á  satisfação  do  nosso  interes- 
se. Eu  não  tenho  até  agora  podido  occupar-me  inteira- 
mente deste  objecto;  por|,]ue  as  occupaçôes,  tendentes 
á  piinha  subsistência,  medivertião  destas  indagações, 
aind^  que  próprias  do  meu  génio  ;  mas  agora  que  te- 
nho a  honra  de  ser  empregado  no  Serviço  de  Sua  Ma- 
jestade ,  na  indagação  dos  productos  da  Historia  Na^ 
tural  do  meu  paiz  ,  não  deirarei  de  lançar  mão  deste 
Artigo   com.  brevidade  ;   pois  o  acho    de  muita  impor^ 

tai> 


C  ^18  ) 

tancia  ,   e  o  tratarei ,  conforme  permittirem  as  minhai 
poucas  forças. 

Hum  quarto  uso  do  Algodoeiro ,  que  ha  no  nos- 
so paiz,  principalmente  nas  partes  remotas,  he  o  me- 
dicina!. A  necessidade  tem  ensinado  aos  nossos  rusti- 
fos  a  virtude  vulneraria  ,  que  possuem  o  calis  ,  e  as 
folhas  desta  planta ,  elles  pizão  qualquer  destas  partes , 
e  espremem  o  sueco  sobre  as  suas  feridas  ,  e  obtém 
iium  prompto  effeito  deste  medicaipento  :  eu  não  sá 
tenho  visto  esta  prática,  mas  tenho  me  visto  na  preci- 
são  de  usar  delle  em  muitas  occasiões  ,  e  em  feridas 
muito  consideráveis ,  e  estou  tão  persuadido  desta  vir- 
tude do  Algodoeiro  ,  que  ,  ainda  na  concorrência  de 
outros  vulnerários  ,  prefiro  sempre  este.  Eu  attribuo 
esta  virtude  a  hum  bálsamo  ,  que  contém  tanto  as 
capsulas  ,  como  o  calis ,  è  a.,  folhas  cm  pequenos  folí- 
culos espalhados  ria  superfície  destas  partes ,  o  que  lhe 
d-í  a  vista  de  pequenos  pontos  denegridos  ;  bem  como 
o  óleo  essencial  da  laranja ,  e  do  limão ,  que  he  iguaN 
mente  contido  em  pequenos  folículos  na  superfície  d;^ 
casca.  Eu  tenho  obtido  algumas  porções  desta  substan- 
cia ,  raspando  ,  e  espremendo  com  a  lamina  de  huma 
faca  a  superfície  da  capsula.  O  cheiro,  e  a  propriedade 
de  se  dissolver  no  espirito  de  vinho  me  dizem  ,  que 
se  pôde  arranjar  no  numero  das  resinas  cheirosas  ,  ou 
bal^amps. 


CA. 


(  219  ) 


CAPITULO    ir. 


J)a   Descrlpçãç    do  Algodoeiro^ 

íJ  Epois  de  ter  ,e?cnpto  a  historia  da  antiguidade  do 
algodoeiro,  do  seu  uso,  e  da  importância  da  sua  cul* 
tura  ,  segue-se  para  a  boa  ordem  a  Descripção  Syste- 
|Tiatic;i  do  seu  género  ,  das  suas  espécies  ,  e  das  sua$ 
yariíídades. 

DESCRIPqXo. 


CLASSE  - 
ORDEM  - 
GÉNERO  - 


-  MONADELPHIA. 

-  PpLYANDRIA. 
T      ALGODOEIRO. 


CAL. '  Periancio  ,  duplicado  :  o  exterior  he  maior , 
de  huma  folha ,  partido  em  tre$  partes  ,  e 
estas  laciniadas.  O  interior  he  de  huma  fa- 
lha ,  mais  pequeno  ^  de  feitio  de  hum  cppQ, 

COR.      Cinco  petalos ,  quP  pouco  se  abrem. 

EST.  Filamentos ,  muitos ,  curtos ,  nascidos  da  Cp» 
rol  la  com  antheras  em  forma  dç  rins. 

PIST.      Ovado,  acuminado. 

PERIC.  Qvado ,  acuminado ,  com  três  regos ,  ou  cua- 
tro,  que  notão  o  numero  das  válvulas ,  ou 
alojamentos  ;  o  calis  interior  rodeia  a  base 
do  fruto. 

SEM,       Moitas  çnvqlvidas  em  Já. 

ES- 


(    220   )' 

ESPÉCIES. 

I.  Xíerva.  Algod.  as  folhas  de  cinco  iobos  ,    o 

tronco   herbáceo. 

II.  IDe  Bçrbadas,  Algod.    as   folhas  de  três  lobos  ,    nn 

pagina  inferior  ,  com  três  glându- 
las. 

III.  Arvare,  Algod.  as  folhas  espalmadas    com  os 

Jobos    lanceolados    o  tronco    fruti;? 
coso. 

IV.  Felpudo,  Algod.  as  folhas    5-5   lobadas  ,    agu- 

das j  o  tronco  muito  rannosc. 

VARIEDADES. 


Estas  são  as  quatro  espécies  distinctas,  e  conheci- 
das ;  mas  ha  muitas  variedades ,  que  tem  provindo ,  se- 
gundo creio ,  ào  clima  ,  da  differença  do  terreno  ,  e 
da  cultura, 

I.  Ke  o  AJ^odaelro  btavo  ,  que  os  Francezes  cha- 
mão  Çútoiíhr  marro/i  :  Xih.i  sj/Ivesira  ;  elle  cresce  da 
mesma  altura  do  domestico ,  cu  do  manso;  as  suas  fo- 
lhas são  trilobadas  ,  as  flores  são  inteiramente  ,  como 
as  do  Algodoeiro  manso ,  com  a  differença  somente  de 
serem  pequenas  ;  o  fruto  também  he  mais  pequeno  ;  a 
lã  curta  ,  e  áspera  ;  as  sementes  pequenas  ,  e  muito 
adherentes. 

Ih     Al'^odjelro  bravo  ,    com  folhas  de  cinco  lobos, 

as 


C  àií  ) 

ài  sementes  mui  desunidas  ^  e  separadas  húmás  das 
outras. 

III.  Algodão  macaco ,  qire  os  Francezes  chamão  ver- 
dadeiro Algodoeiro  de  Sião  Cotonur  de  Sian  Jranc.  Xi- 
!on  sativum  filo  croeeo  :  os  galhos  são  prostrados ,  a 
Já  he  de  còr  de  ganga,  e  ainda  mais  fechada,  macia, 
e  fina ,  estimada  para  certas  obras  j  pela  sua  côr  natu- 
ral. 

IVi  Ha  outra  variedade  de  Algodoeiro  bravo  ^  com 
o  fructo  maior,  com  a  lã  da  mesma  eôr  de  ganga :  tan- 
to esta  5  como  a  variedade  ,  chamada  de  piacaco  y  não. 
pôde  servir  para  chitas ,  nem  outras  obras ,  que  levem 
tinta  ;  porque  esta  côr  parda  he  tão  adherente ,  que  re- 
siste á  operação  do  embranquecimento  ,  e  nem  aceita 
outra  eôr  artificial  ,  sem  se  lhe  tirar  aquella  naturaL 

V.  Algodoeiro  da  lnd'tn  ;  este  he  o  nome  ,  que  nes- 
te paiz  à^o  ao  Algodoeiro  ,  que  vou  descrever  agora  > 
elle  tem  a  mesma  forma  do  Algodoeiro  manso  arbóreo^ 
com  as  folhas  somente  hum  tanto  pilosas  ,.  mais  ma-» 
eias  ao  tocar  a  planta  ,  os  fryctos  y  e  íiores  mais  pe- 
quenos; as  sementes  pouco  adherentes  j  a  lã-  muito  £•- 
fia  5  muito  macia  y  e  he  preferido  ao  outro  para  s©- 
fiar ,  o  fio  he  irlais  fino  ,  mais  delicado,  serve  no  paÍ2, 
só  para  fiar  linhas,  deste  nãocuitivão  para  o  Gommeí-' 
€Í0  j  e  somente  para  gasto  do  paiz. 

VI.  -  Algodão  de  Maranhão ,  assim  o  cliamão  aqui  ; 
mas  talvez  que  em  Maranhão  o  não  h;ajaai^)%,  sua  arvor 
íe  he  algum  tanto  maior  do  que  o  Algodoeiro  ordina- 
íio  'y  as  folhas  maiores ,  mais  bem  nutridas  y  o  capucha 


(    222   ) 

íHáiÒr  diias  vezes  que  o  outro,  as  sementes  são  até  è 
numero  dezesete  em  cada  capucho  ,  ao  mesmo  tempo 
que  as  do  Algodoeiro  ordinário  sao  só  sete  ,  á  lã  hé 
mais  fèndosa ,  de  sorte  qííe  três  arrobas  deste  Algodão  ^ 
cm  caroço  ,  rendem  huma  de  la  ;  sendo  necessárias 
quatro  arrobas  do  ordinário,  para  dar  huma  de  la  :  o 
anno  passado  de  1796  hé  que  se  principiou  a  cultivar 
este  Algodão,  e  ainda  ha  muito  pouco. 

VII.  O  que  os  Naturalistas  Francezes  chamáo  Co^ 
íéiiiér  hlanc  de  Sião  ,  differe  muito  pouco ,  do  que  nós 
chamamos  Algodão  da  índia  ,  a  única  differença  con- 
siste nas  sementes  ;  porque  tito.  as  tem  desunidas,  e 
aqtíellé  as  tem  muito  adherentes. 

Outras  variedades  podia  contar  ;  mas  as  suas  díf- 
ferenças  são  tão  ténues  ,  que  quasi  não  merecem  dis- 
tinccão  :  a  côr  das  flores ,-  ámárellas ,  brancas ,  etc.  não 
deve  caracterizar  variedades  ,  nem  espécies  em  vegetaí 
algum  ,  mormente  no  Algodoeiro  ,  pois  que  as  deste 
são  amarelláS  no  primeiro  dia  que  abrem  ^  no  segundo 
iTiudão  a  côr  para  vermelho  ,  é  vai  fechando  cada  ve? 
mais  a  côr,   até  eahif; 

H  A  B  I  'í  A  Ç  A  O. 


O  paiz  próprio  do  Algodoeiro  he  debaixo  dos  Tro-? 
picos ,  ou  nas  partes  mais  vizinlias.  A  Ásia  foi ,  onde 
primeiro  saí  fez  uso  desta  planta  :  tanto  lá,  como  na 
America  cresce  esta  planta  naturalmente  sem  a  minima 
cultura  :  logo  ella  he  natural  destes  dois  paizes. 

ínii- 


i 


C    ^2}    ) 

inúteis  Serão  sempre  os  projectos ,  de  aígiífts  Èú- 
lopeos,'  de  naturalizarem  esta  pfãnta  no  seu  paiz  :  Rõ- 
èier  suppoem  ser  possivel  cultivár-se  vántájosamenteí 
esta  planta  na  Provença,  eLanguedoc;  mas  quanto  se 
engana  elle  ,  e  outros  da  mesma  opinião  !  Lá  só  vi 
cultivai  nos  jardins  o  Algodoeiro  herbáceo  ,  e  apenas 
fructiíicaVa  ,  vinha  o  inverno  ,  e  o  destruía  totalmén^ 
te ,  e  ás  vezeá  nem  chegava  a  áazõnãr  o  seu  fructo  ;  è 
nem  jú  mais  elle  poderá  servir  ahi,  senão  para  satisfa- 
zer a  curiosidade  dos  Botafircos.  À  natureza  concedeo  a 
cada  paÍ2: ,  ou  a  cada  clima  setis  privilégios  exclusivos , 
6  que  sempre  gosaráô  ,  à  peiar  d«  todo  o'  esforÇõ  de 
Arte. 

Os  que  pensão  ,  q&e  esta  planta  se  pode  natura- 
lizar ém  Europa ,  bem  se  podião  desenganar ,  se  lessem 
â  Memoria  de  Mr.  Quatremere  ,  lida  na  Academia  das 
Sciencias  dè  Paris  ,  &€Íla  faz  ver  o  seu  Aúthtír  ,  que 
pela  differença  dos  climas  degenera  pouco  a  pouco  ^ 
passando  âo  estado  de  arvore  eJevada  ao  de  herva  ras- 
teira ,  e  de  fFuctifera  a  infructifera.  Eile  diz,  e  na  ver- 
dade se  verifica,  que  esta  degeneração  tem  lugar,  tan- 
to na  Ásia  ,  como  na  America ,  caminhando  do  meio 
dia  ao  Septentrião.  No  antigo  mundo  degenera ,  á  pio* 
poreSo  que  se  caminha  de  Sião  para  Surrate  ,  Agra , 
Alexandria,  Acre ,  Chypre ,,  Esmirna,  Tessalonica.  No 
íiovo  mundo  observa-sc  a  mesma  differença  ,  cami- 
nhando de  Maranhão,  Cayen na,  Surinão,  Cartagena, 
Martinica,  Guadalupe,'  São  Domingos,  CaroHna,  etc. 
Em  quanto   a  mim  ,   at«  ptj?so  afíirmar  ,   que   o  de 

Ma- 


Maranhão    já  de^Qn^ 


C  224  ) 


nãbiici 


ijsnera    muito    a  respeito   do    de  Parai 


CAPITULO    IIL 


Ba  terra  mais  própria  ^ 


ou  mnis  conveniente  para 
cultura  dos  Algodoeiros^ 


Altao  as  chuvas,   murchão  as  plantas,  e  não  me- 
drão;  principia.se  a  desbotar  o  tapete  verde,  que  cobre 
a  nudez  da  terra  :  chove ,    reverdece  tudo,  vigora-se  n 
vegetação  ,    crescem   as  plantas.    Nas  margens  dos  rios 
sempre  estão  verdes  ,    e  alegres,    dão-se  muitas  ,    que 
Vegetão    excellentemente   só  com  agua  ,    como  são  aS 
bulbosasi  chegando  a  brotar  fructos,  ooue  claramente 
tem  mostrado  as  bellas  experiências ,  que  fízerão  muitos 
Sábios  Físicos :  os  mesmas  nos  tem  mostrado  ,    cue  a 
terra    nada    contribue  por    si    ao  nutrimento    dos  vese- 
taes  ,    isto  he,    que  a  terra  nada   dava    dô  siia  própria 
substancia  ;  e  de  tal  modo  tem  produzido  as  suas  prOr 
yas,  fundadas  nas  experiências,    que  não  deixão  lugar 
dg  dúvida.   . 

Poder.se-ha  pot  ventura  ,  partindo  destes  princi- 
pios,  affimar,  que  havendo  agua,  toda  a  teira  he  pro- 
pria,  e  apta,  iguahnente  para. a  vegetação  de- qualquer 
planta  que  seja?  Não  poderemos  certamente  tirar  esta 
consequência  ,  sem  hirmos  contra  a  observação  quoti;. 
diana  ;  .porque  vemos,    ^ue  Cai,  terra  nutre,  e  cria  ex* 

eek 


C  2^5  ) 

cellentemente  huma  planta,  e  que  mata,  e enfraquece 
outra  ;  o  velame,  v.  g.  Broierea  purgas  as  mangabei- 
ras  5  e  outras  ,  não  podem  vegetar  bem  na  terra  de 
vargem,  própria  para  cannas  de  assucar  Saccharum  offi- 
ci/Júram.  Ha  plantas  habitadoras  das  praias ,  ou  maríti- 
mas ,  como  a  flor  de  crystal  Sahola  Kall  ,  a  escarao- 
nea  ,  Convolvulus  Scamonea  ,  o  pancracio ,  Pancratium 
marltimum.  Outras  são  próprias  da  agua  doce ,  como  a 
herva  cavalinha  ,  Ecjulsetum  ,  os  golfões  ,  Nj/mphaea  aí' 
ha  ,  e  luteti ,  etc.  outras  de  terras  areentas  ,  como  as 
piteiras  ,  Jgnve  Americana ,  os  coqueiros  Coc€us  nitclfe- 
ra  ,  e  em  geral  as  plantas  carnosas  ;  outras  de  terras 
argilosas,  como  as  canoas  de  assucar  ,  Saccharum  offi- 
ciliar  um '^  outras  de  terras  cakareas ,  como,  alfavaca  de 
cobra  ,  Parietaria ,  e  em  geral  as  plantas  nitrosas ,  que 
contém  nitro,  outras  finalmente,  das  terras  marnosas. 
A  razão  deste  phenomeno  só  pôde  conhecer  o 
Giymico ,  que  indagai  as  propriedades  dos  coípos  ,  por 
meio  de  anaiyses,  e  syntheses,  He  certo,  que  as  úni- 
cas substancias  5  que  entráo  no  nutrim.ento  da  planta, 
são  a  agua  ,  e  o  ar ;  mas  he  necessário  quem  distribua 
estes  nutrimentos  aos  vegetaes  ;  para  esse  íim  destinou 
a  Natureza  a  mesma  terra  ,  pelo  que  ella  serve  ,  náo 
só  de  alicetce  para  a  planta  se  ter  em  pé  ,  m.as  tam- 
bém de  dispenseira  ,  permitta-se-me  esta  expressão :  he 
evidente  que  ,  sendo  de  differentes  naturezas  as  terras , 
ou ,  servindo-nos  da  mesma  metaphora ,  sendo  de  dif- 
ferentes  naturezas  as  dispenseiras,  humas  serão  mais  li- 
beraes  que  outras  j  na  distribuição  do  mantimento ,  ou 
J,  V.  P,  I,  P  ^^^ 


(    226   ) 

nutrimento  dos  vegetaes  ;  na  verdade  ,  hunia  indaga- 
ção ,  hum  tanto  mais  profunda  sobre  as  propriedades 
das  terras  ,  nos  pôde  fazer  ver  esta  verdade  :  a  terra 
areenta  tem  a  propriedade  de  deixar  passar  pelos  seus 
poros  toda  a  agua ,  que  lhe  cahe  em  cima  com  a  maior 
facilidade  ;  a  argilosa  pelo  contrario  a  retêm  tenasmen- 
te  em  si ,  e  não  admitte ,  senão  pouco  a  pouco  ;  logo 
nas  terras,  areentas  só  vegetaráó  bem  todas  aquellas  plan- 
tas ,  que  não  tiverem  necessidade  de  muita  agua  para 
viverem  ;  na  argilosa  porém  só  poderáõ  viver ,  e  nu- 
trir-se  bem  ,  as  que  necessitarem  de  muita  agua  para 
vegetarem,  e  he  evidente,  que  aquelles  vegetaes ,  que 
viverem  bem  nas  terras  areentas,  morrão  nas  argilosas , 
ou  ao  menos  minorem  de  vigor ,  e  vice  versa. 

Por  este  modo  tão  simples  obriga  a  Natureza  os 
vegetaes  a  habitarem  em  diversos  lugares  ,  sem  pode- 
rem mudar  as  suas  habitações  próprias,  e  consignadas , 
debaixo  de  pena  de  morte  em  si  ,  ou  na  sua  descen- 
dência. 

Não  se  is-então  desta  lei  geral  os  Algodoeiros , 
que ,  çm  razão  de  vegetal ,  devem  ter  a  sua  habitação 
destinada  pela  Natureza  ,  esta  he  a  que  me  proponho 
assignar,  fundando  na  experiência.  Lendo  as  Obras  dos 
Naturalistas  ,  que  fallão  no  Algodoeiro  ,  vejo  que  se 
enganarão  a  respeito  do  terreno  mais  apto  para  a  me- 
lhor producção  deste  género  de  plantas  tão  importan- 
te ;  e,  meditando  profundamente  na  causa  disto,  não 
pos<;o  deixar  de  suppôr ,  que  escreverão  por  noticias  de 
viajantes,  e homens,  que  não  tratarão  ex professo  desta 
cultura.  To- 


Ç    227    ) 


Todos  5  que  tenho  lido ,  dizem ,  que  o  Algodoei- 
ro produz  melhor  nos  terrenos  arenosos  ,  e  áridos  ,  e 
que  não  durão  mais  de  três  annos ,  ao  mesmo  tempo, 
que  nem  a  terra  arenosa  convém  ao  Algodoeiro ,  e  nem 
a  sua  verdadeira  idade  deve  limitar-se  só    a  três  annos. 


Se  na  Ilha  de  São  Dom 


iníTos 


e  outras  paragens  ,  sitas 


na  mesma  latitude  ,  o  Algodoeiro  não  chega  a  idade 
mais  avançada  ,  ou  he  por  ser  plantado  em  terreno 
impróprio  ,  tal  como  o  arenoso  ,  ou  porque  a  incle- 
mência do  clima  lhe  encurta  a  vida. 

Nesta  Província  de  Paranãbuc ,  onde  cultivo  este 
género  ,  ha  veia  de  terra ,  em  que  o  Algodoeiro  vive 
dez,  doze  annos,  e  mais,  fructiíicando  sempre  com  o 
maior  proveito  do  Agricultor  :  eu  os  tenho  desta  ida- 
de ,  pouco  mais ,  ou  menos.  Não  conheço  paiz  algum , 
onde  o  Algodão  chegue  a  estes  annos  :  logo  a  quali- 
dade deste  terreno  deve  ser  considerada  como  a  mais 
própria  para  esta  cultura.  Tenho  observado  ,  que  as 
partes  que  melhor  produzem  o  Algodão  ,  ccnstão  de 
huma  mistura  de  barro,  (argila)  e  terra  arenosa,  quasi 
em  proporções  iguaes  ,  e  caso  de  haver  considerável 
excesso  em  algum  destes  dois  componentes,  antes  seja 
a  favor  da  argila,  do  que  da  terra  arenosa,  a  qual  sem 
esta  mistura  nunca  convém  á  vegetação  do  Algodoei- 
ro :  Alguns  Agricultores  escolhem  a  terra  de  barro 
(argila)  vermelho  ;  mas  esta  còr  não  deve  servir  de 
signal  certo  para  julgar  da  sua  bondade  ;  pois  que  a 
còr  vermelha  he  devida  a  hum  pouco  de  oxido  verme-> 
P  2  IhQ 


(    228    ) 

lho  de  ferro  ,  o  essencial  he  que  predomine  o  barro, 
ou  argila ,  seja  esta  colorada ,  ou  não. 

Distinguem-se  três  qualidades  de  terreno,  em  que 
se  costuma  plantar  Algodoeiros  ;  primeiro  ,  vargem  , 
segundo,  catinga  ,  terceiro,  areisco.  Chamáo  vargem 
ás  planices  que  bordão  os  rios  ,  e  ribeiros  ;  logra  tam- 
bém o  nome  de  vargem  huma  planice  sem  lombo  al- 
gum ,  ainda  que  não  seja  retalhada  do  rio  ;  mas  as  pri- 
meiras são  com  razão  preferidas  a  estas  pela  sua  melhor 
producção.  Catinga  ,  em  todo  o  rigor  do  termo ,  enten- 
de-se  por  hum  terreno  cheio,  ou  cuberto  de  huma  es- 
pécie de  cássia  ,  não  descrita  ainda  por  Lineo  ,  a  que 
eu  tenho  dado  o  nome  de  mescata  ;  mas  luto  modo  tam- 
bém se  chama  catinga  hum  terreno  cuberto  de  outro 
qualquer  arbusto  baixo ,  como  he  o  marmeleiro  ,  vela- 
me ,  Broterea  velame^  e  tem  se  gelieralisado  tanto  este 
nome  ,  que  até  chamão  hoje  catinga  em  algumas  par- 
tes tudo  o  que  não  he  vargem,  inda  que  seja  cuberto 
de  mata  virgem  :  as  catingas  desta  natureza  são  prefe- 
r  veis  a  todas  as  outras  para  a  cultivação  do  Algodão, 
e  pouco  inferiores  ás  vargens  ;  mas  a  catinga  de  mar- 
meleiro,  e  as  outras  só  servem  ,  aos  que  não  tem  ou- 
tra qualidade  de  terreno ,  em  que  plantem  ;  porque  os 
Algodoeiros  ,  plantados  ahi  ,  não  costumão  produzir 
mais  de  três  annos  ,  e  ainda  assim  não  pagão  digna- 
mente os  disvélos  do  Agricultor. 

Areisco ,  como  o  nome  o  está  indicando  ,  chamão 
aquelle  terreno  quasi  inteiramente  arenoso  ,  ou  seja 
cuberto  de  mato ,  ou  calvo ;   este  dos  três  he  o  peior. 

Em 


C  229  ) 

Em  tudo  he  preferida  a  vargem  ;  porque  além  de 
outras  bondades  ,  conserva  a.  frescura  por  muito  tem- 
po ,  ainda  depois  de  acabadas  as  chuvas  ,  qualidade, 
que  não  tem  os  outros  terrenos  ;  porque  os  altos  ,  ain- 
da que  ?ejão  de  barro ,  dessecão  logo ,  por  serem  mais 
açoutados  dos  ventos  ,  e  porque  as  aguas  depressa  se 
escôão  :  os  areiscos ,  porque ,  sendo  de  terra  arenosa  , 
deixa  filtrar-se  a  agua  a  travéz  dos  seus  poros  ,  sem  o 
jninimo  embaraço  ,  e  recebe  com  a  maior  facilidade  o 
calor  dos  raios  do  Sol. 

Com  tudo  he  util  aos  que  cultivão  com  fabrica 
grande ,  plantarem  nos  altos ,  e  nas  vargens  ,  porque 
os  Algodoeiros  plantados  no  alto  chegão  ao  ponto  de 
sua  maturação  primeiro  do  que  os  das  vargens  ,  cujo 
fructo  he  sempre  mais  tardio  ,  em  razáo  da  frescura 
do  mesmo  terreno ,  e  por  isso  tem  o  Agricultor  tempo 
de  o  colher  ,  em  quanto  este  se  põem  no  estado  de 
madureza. 


1'  ii 


I 


CA- 


C  230  ) 


CAPITULO     IV. 


J)o  Clima  5    ou  temperatura  do  ar  ,  ijiais  conveniente  â 
•vegetação    do   Algodoeiro, 


A 


S  regras ,  que  ate  aqui  tenho  dado  a  respeito  das 
qualidades  do  terreno  ,  de  nada  aproveitarião  ,  senão 
ajuntássemos  também  algumas  reflexões  sobre  o  clima, 
3sto  he ,  sobre  a  temperie  da  atmosfera  mais  convenien- 
te á  cultura  da  nossa  planta  ;  pois  o^uq  ^  plantando-se 
Algodoeiros  nas  qualidades  de  terras  ,  que  no  capitulo 
antecedente  indiquei  por  melhores  ,  sendo  o  clima ,  ou 
temperie  do  ar  desconveniente  ,  não  podem  dar  lucro 
avultado. 

Neste  paiz  não  se  distinguem,  como  na  Europa, 
as  quatro  Estações  constantes ,  apenas  se  marcão  duas , 
verão ,  e  inverno  :  chamão  verão  áquelle  tempo  ,  em 
que  não  chove  ,  e  inverno  ,  áquelle ,  em  que  as  chu- 
vas são  mui  abundantes  ,  ainda  que  não  haja  frio  al- 
gum :  mas ,  além  disto ,  eu  distingo  dois  climas  bem 
differentes  ,  por  causa  da  construccão  fysica  da  superfí- 
cie do  terreno.  Onde  a  superfície  do  terreno  he  cheia 
de  multiplicadas  serras,  quer  seja  beira  mar,  ou  não, 
ahi  as  chuvas  são  mais  abundantes  ,  principião  mais 
cedo,  acabão  mais  tarde,  o  ar  he  quente,  e  hiímido, 
vem-se  alagadiços ,  paiies ,  rios  perennes ,  fontes  abun- 
dam tiss  imas  ,  e  isto^  pelas  razões  fysicas^  que  os  fysi- 
■ '    .>  cos 


cos  explicão  :  desta  natureza  he  toda  a  borda  do  mar, 
principiando  do  Rio  Giande  ,  do  Norte  para  o  Sul, 
Paraiba  ,  Goiana ,  Recife  ,  Alagoas ,  Eahia  ,  etc.  Em 
toda  esta  extenção  ,  com  largura  de  dez ,  dezaseis ,  e 
vinte  léguas  ,  observa-se  constantemente  este  clima 
chuvoso  ,  e  húmido  ;  do  m.esmo  modo  ,  do  Ciará  para 
o  Norte  ,  e  ainda  no  interior  dos  Certoes  ,  onde  o  cor- 
dão da  serra,    cham.ada  Bruburema,   multiplica,    e  en- 


capella  os  seus  innumerav 


eis  cabeços  ,    como ,  o  Yhl 


páòa  ,  Carirí-Novo ,  e  todo  Piauyg  ;  porque  a  tal  serra 
da  Bruburema  ,  que  considero  ,  como  espinhaço  da  ter- 
ra de  toda  a  Capitania  de  Paranãbuc  ,  forma  hum  cor- 
dão de  muitos  centos  de  léguas  ,  sem  interrupção  al- 
guma :  este  clima  ,  que  até  aqui  tenho  descripto ,  cha- 
mão  agreste. 

Onde  não  ha  esta  multiplicidade  de  serras  ,  e  os 
campos  são  mais  espaçosos  ,  as  chuvas  não  são  tan- 
tas ,  a  temperie  do  ar  he  secca  ,  e  quente  ,  chamão 
mimoso.  Este  he  o  clima ,  o  mais  conveniente  para  a 
plantação  do  Algodoeiro  ,  ahi  cresce  bem  ,  produz 
abundantemente,  com  tanto,  que  se  escolha  a  terra, 
que  inculquei  por  melhor  no  capitulo  antecedente  ,  ahi 
finalmente  dura  o  Algodoeiro  dez,  doze,  quatorze ,  e 
mais  annos ,  havendo  cuidado  de  o  cultivar ,  e  tratar  y 
como  adiante  indicarei. 

Não  acontece  assim  no  clima  quente ,  e  húmido , 
que  acima  descrevi,  a  que  chamão  agreste  ;  ahi  os  Al- 
godoeiros adquidem  huma  constituição  pletórica ,  cres- 
cem bem  frondosos ,   as  folhas  mui  grandes^,    de  hum 

ver- 


fií^' 


i 


C  ^30 

verde  escuro ,  enchendo  o  Agricultor  pouco  esperto  de 
esperanças  vãs  ;  porque  não  corresponde  o  fructo  ao 
trabalho  da  cultura  ;  por  mais  cuidado  ,  e  disvellos, 
com  que  se  tratem  ,  já  mais  chegão  a  tocar  aquella 
idade,  dos  que  se  plantão  em  mimoso. 

CAPITULO     V. 

Va  melhor  maneira   de  plantar  os  Algodoeiros. 

Epois  de  bem  limpo  o  terreno  ,  que  se  intenta 
encher  de  Algodoeiros  ,  operação  ,  que  se  faz  neste 
paiz,  desde  Setembro  até  fins  de  Novembro,  segue-se 
plantallos :  desta  primeira  operação  já  depende  a  futu- 
ra felicidade  do  Agricultor  ;  pois  que  a  distancia,  em 
que  fica  o  Algodoeiro  hum  do  outro  ,  influa  sobre 
maneira   na  vegetação. 

Não  precisa  ter  grandes  instrucçoes  da  fysica  dos 
vegetaes  ,  para  vir  no  conhecimento  desta  verdade  ; 
basta  não  fechar  os  olhos  aos  fenómenos,  que  a  natu- 
reza nos  mostra  a  cada  passo.  Se  cahem  sobre  a  terra 
muitas  sementes  de  qualquer  vegetal ,  amontoadas  ,  ou 
apinhoadas  5  e  chegão  a  nascer,  crescem  sempre  fana- 
das ;  porque  o  terreno ,  que  apenas  seria  sufficiente  pa- 
ra nutrir  huma  só  planta  ,  se  emprega  em  fazer  vege- 
tar muitas  ao  mesmo  tempo,  além  de  que,  o  ar ,  que 
também  serve  por  si,  e  pela  agua,  e  humidade  ,  que 
eomsigo  traz  em  dissolução  ,  não  pôde  circular  livre- 
mente entre  ellas,. 


C  ^n  ) 

Se    a  natureza    não-  tivesse    prevenido   esta  desor^ 
dem  ,    brevemente    se  teria  acabado   a  continuação    da 
prodiicção    dos  entes    vegetativos  ;    ainda    d]go    mais : 
que  não  duraria  mais  de  três  vidas ,  logo  depois  da  sua 
creação  pelo  Ente  Supremo  ;    porque  chegando  os  fru- 
ctos  ao  ponto  de  sua  matura(;ão ,  e  cahindo  as  semen- 
tes   amontoadas    ao  pé    da  arvore  ,    que    as  produzio , 
nascerião  sim   ;    mas    como    não  são    dotadas    de  livre 
i-novimento  ,    para  poderem  ,   bem  como  os  animaes , 
hirem    ao  longe    procurar   o  seu  nutrimento  ,    depressa 
iTiorrerião  ;    porque  de  huma  parte   o  pouco  nutrimen- 
to ,    que    o  pequeno  espaço    de  terra  submipistrasse    a 
tantos  ,    da  outra  parte    a  sombra  da  mesma  mãi  ,    e 
delles  mesmos  ,    deverião  forçosamente  apressar-lhes    a 
morte:  para  obviar  pois  este  inconveniente,  que  meios 
não  buscaria  a  sabia  natureza?  Aninhou  as  sementes  de 
huns  em  polpa  doce  ,  e  saborosa  ,  para  que  os  animaes , 
obrigados  pela  fome ,  e  alliciados  pela  gula ,  as  tirassem 
do  lugar  do  seu  nascimento  ,    e  comendo  por  diversas 
partes  a  polpa  ,    espalhasse  ao  mesmo  tempo ,    ou  se- 
measse a  sua  semente  ;    a  outras  dotou  de  membranas 
laíeraes  ,     como  as  do  til  (  TiUa  Lin. )  para  com  ellas 
poderem  voar  ;    a  outras    deo   felpas  curtas    Qpapus^^ 
para  com  ellas  voarem  ,    a  outras  finalmente  armou  de 
farpas  (^Bidens  ^  ,  etc.  ,    para  que  ,  pegando-se  aos  ani« 
rnaes ,  que  passassem  ,    fossem  depois  cahir  por  diver- 
sas partes,  -  ' 

Pois    se    a    natureza    tem    procurado   todos   esses 
meios  para  semear,    e  plantar  em  convenientes  distan- 
cias 


1» 


(  254  ) 

cias  as  plantas  ;  porque  razão  havemos  desprezar  os  dí- 
ctamesj  que  ella  mesma  nos  está  dando  ?  Quanto  se 
engana  o  Agricultor  preguiçoso ,  que ,  querendo  apro- 
veitar melhor  o  seu  suor  ,  planta  maior  numero  de 
vegetaes ,  ou  de  Algodoeiros  no  terreno ,  que  alimpa , 
pensaado  j  que  quanto  mais  plantar,  mais  colherá!  He 
verdade  ,  que  em  quanto  as  plantas  são  pequenas, 
tem  vigor,  vegetão  livremente  ,  lisongeando  a  espe- 
rança do  Agricultor  ;  mas  apenas  começão  a  ficar  mais 
frondosas  ,  e  espalhar  seus  ramos  mais  ao  longe  ,  to- 
mando maior  campo,  huma  á  outra,  mutuamente  se 
offendem  ,  o  seu  tronco ,  faltando-lhe  as  circumstancias 
sobreditas,  fica  delgado,  sem  substancia,  e  o  seu  fru- 
cto  por  consequência  deve  ser  pouco  ,  conespondendo 
á  mãi  ,  que  o  produz  ,  com«o  também  ,  deve  ser  de 
má  iqual idade.  Além  destes  damnos  palpáveis,  ainda  a 
quem  não  experimentou  ,  causa  a  plantação  de  Algo- 
doeiros muito  juntos,  outro  muito  maior  damno,  que 
he  o  de  se  não  poder  colher  esse  mesmo  máo  fructo  ; 
porque  enlaçando-se  os  ramos  dos  Algodoeiros  ,  huns 
com  os  outros  ,  obriga  a  pessoa  ,  que  o  colhe ,  a  andar 
curvado  por  baixo ,  cuja  posição  extraordinária  ,  além 
de  fatigar  ,  faz  com  que  não  sejão  vistas  as  capsulas, 
(^  maçãs')  que  se  achão  sobre  o  seu  teçume  ,  o  que 
causa  huma  grande  perda.  Eu  já  vi  abandonarem  Al- 
godoaes  ,  carregados  de  fructos  ,  não  se  atrevendo  a 
continuarem  a  colheita  ,  por  ter  sido  plantado  muito 
junto, 

Se  2  |)elo  contrario ,   he  plantado  demasiadamente 

lar* 


C2?5  ) 

largo  hum  do  outro  ,    perde-se  boa  parte    do  terreno, 
c]ue  se  preparou  ,  o  que  também  he  perda  considerável 
para  o  Agricultor  ;  para  evitar  pois  estes  dois  inconve- 
nientes ,    he  necessário  ,    que  elle  attenda    á  qualidade 
da   terra ,    que  cultiva   ;    porque  ,    vegetando  os  Algo- 
doeiros melhor  em  humas  ,    do  que  em  outras  ,    deve 
por  consequência  variar  a  distancia  ,  em  que  se  planta. 
Eu  tenho  verificado  ,    que  nas  vargens  do  lugar  ,    cm 
que    cultivo    os    meus  Algodoeiros  y    a  distancia    mais 
proporcionada  5  ^he  de  quatorze  pés  hnm  do' outro,  nas 
Catingas  de  mata  oito ,  nos  areiscos ,  e  nos  lugares  do 
agreste  de  seis  pés,  ou  huma  toeza,    e  que,  além  dis- 
to 5  2i  melhor  ordem, ,  em  que  se  pôde  plantar ,  he  em 
quincunce  ;    pois  que  ,  além  de  formosear  o  Algodoal , 
o  feitor  com  pouco  trabalho  põem  debaixo  da  vista  os 
escravos ,  que  colhem  ,  e  que  mondão  :  a  mesma  mon- 
da fica  mais  fácil  ,    sem  fallar  ainda  em  outras  utilida- 
des menores  ,  que  disto  resultão. 

Não  posso  deixar  de  fallar  em  hum  abuso  muito 
prejudicial,  que  se  tem  introduzido  entre  alguns  Agri- 
cultores de  Algodões ,  e  he  o  seguinte  :  alguns  Agri- 
cultores ,  conhecendo  ,  que  o  plantar  os  Algodoeiros 
muito  distantes  ,  era  prejudicial  ;  porque  se  perdia  o 
trabalho  da  preparação  de  huma  boa  parte  ào  terreno  , 
e  que  ao  mesmo  tempo  havia  igual ,  ou  maior  prejuizQ 
em  plantallos  muito  juntos ,  pensarão  ,  que  remediaváo 
esses  dois  inconvenientes,  e  que  ao  mesmo  tempo  re- 
dundava em  grande  proveito  seu  ,  plantando  os  Algo- 
doeiros   no  piimeiro  anno  muito  :juntos  ,   para    no  se- 


Ç  230 
gundo  anno  arrancarem  huma  fileira  intermédia  de  Af- 
godoeiros,    tendo-lhes  primeiramente  colhido  o  fructo, 
para  assim  ficar  mais  campo    aos  que  restao  :    eti  tam' 
bem    estive    persuadido    da  vantagem    deste  methodo  ; 
porem  repetidas  experiências  me  tem   ftita  notar,    que 
o  seu  crescimento  sempre  he  acanhado,    maiormente, 
devendo-se-lhe  piantar  pelos  Jntervallos  legumes  ,  com  3 
ícijôes,  miJho,  até  mesmo  mandioca;  o  que  tudo  de^ 
ve  plantar    o  Agricultor  de  Algodão  ,    para  fartura  de 
sua  casa ,  e  nem  estas  plantações  lhe  damnifícao  o  seu 
Algodoal ;  porque  em  pouco  tempo  se  colhem ,  e  ficao 
os  Algodoeiros  desafogados   ;    mas  isto    deve  entender- 
se  ,   sendo  os  Algodoeiros  plantados    na  proporcionada 
distancia,  que  acima  referi. 

O  único  instrumento  agronómico ,    que  deve  ser- 
vir   na  plantação   dos  Algodoeiros  ,    he  a  enchada  ,    e 
quatro  pessoas ,  armadas  deste  instrumento ,  bastão  pa- 
ra plantar  o  maior  campo  de  Algodão  ;   eu  tenho  sim- 
plesmente   com  este  numero    em  poucos  dias  plantado 
o  campo  ,    que  prepararão  cincoenta  trabalhadores   em 
hum.  mez;  e  nem  deve  consentir  maior  numero,  quera 
não    quizer    introduzir  ahi   a  confusão  ,    e  a  desordern* 
I)eve-se  principiar  por  lhe  fincar  estacas  distantes ,  hu- 
mas  defronte  das  outras  ,    naquella  direcção  ,    em  que 
se  quizer  as  ruas  dos  Algodoeiros  :    de  huma  estaca    a 
outra  se  estenda  huma  corda  bastantemente-  comprida , 
e  hajão  tantas,  quantas  são  as  enxadas;  depois  de  es- 
tarem as  cordas  assim  estendidas,    devem  principiar  os 
das  enxadas  a  abrirem  as  suas  covas  ,   que  nao  devem 

ser 


(  ^57  ) 

ser  mais  profundas  ,    do  que  quatro  polkgadas,  hindo 
caminhando  todos    na  direcção  das  cordas  ,    cada  hum 
guiando-se  pela  sua ,  que  escolheo  ;  logo  sobre  os  seus 
passos  devem  seguir  outros  tantos  plantadores,    ou  se- 
meadores ,    com  huma  vasilha  ,    ou  escodela  na  mão , 
cheia  de  semente  de  Algodoeiro ,  e  á  proporção  que  os 
das  enxadas  forem  abrindo    as  covas  ,    estes    devem  ir 
deitando  dentro  os  caroços,  e cobrindo  de  terra  com  o 
pé,  só  quanta  baste  para  cobrir sufíicientem.ente  ;  quan- 
do   os    das  enxadas    tiverem    chegado   ao  fim    das  suas 
cordas  ,    que    os  guiavão  ,    devem  parar  ,    e  largando 
nesse  lugar   os  seus  instrumentos  ,    devera  voltar  para 
trás,  para  arrancar  cada  hum  a  estaca,    onde  principiá- 
lão,    e  levalla  com  a  ponta  -da  corda  ,  que  nella  esta^ 
va  amarrada,    para  diante  ,    na  mesma  direcção  ,    em 
que  vierão  ,  e  depois  de  porem  as  cordas  na  ordem  ,  e 
modo,    em  que  estavão ,  tornarão  aos  seus  instrumen- 
tos ,    e  continuarão  sempre  o  seu  trabalho  ,    com  este 
mesmo  methodo  :    quem  mete    nos  buracos  a  semen- 
te,   commummente  são  negras,    por  isso  he  que  man- 
do sempre  ,  aos  que  andão  com  as  enxadas ,  mudar  as 
estacas  ;   porque  estes  são  negros,    por  isso  mais  ligei* 
ros  ,  que  aquellas  ,  qualidade  ,    que  se  requer  para  estd 
serviço  não  padecer  demasiada  demora.    Muitos  recusao 
plantar  o  seu  Alí^odoal  por  corda ,   do  modo ,  que  te- 
nho dito,  por  não  empregarem  huns  minutos  de  mais 
na  mudança  das  estacas  :    m.as  eu  tenho  calculado  que 
esta  demora ,  no  espaço  do  trabalho  de  oito  dias ,  vem 
a  redundar  em  hum  dia  de  mais.  Ha  Agricultores ,  que 

por 


(2J8    ) 

por  isso  recusão  este  methodo    de  plantar  ,    mas  estes 
sao  do  numero  daquelles  ,    que  por  evitarem  hum  pe- 
queno incommodo  presente,    se  privão  de  tantos  bens 
fnturos,  funestos  efteitos  da  preguiça,  maior  causa  d. 
pobreza,  e  do  descomniodo  da  vida. 
_       Muitas  pessoas. costumáo  piantar  os  seus  roca-ios. 
amda    antes   de  cliover  alguns  dias  ;   quando    a  dn,va 
nao  tarda  mais  de  quinze  dias,  he  bom,  porque  nasce 
a  semente  quasi  no  mesmo  dia  ,  e  va"»  as  plantas  crés- 
cendo  ,g„aes  ,   o  que  não  acontece,  quando  se  planta 
•com  chuva,  ou  estando  já  a  terra  molhada  ;   o  Al^o- 
doe,ro  commummente  gasta  de  seis,  oito,  ate  dez  d"ias 
em  nascer.    Quando  se  planta  em  roçados  novos,    oti 
de  mata  virgem  ,    e  estes    tem   sido   bem  queimados 
nao  tem    de  ordinário  necessidade  da  primeira  monda- 
porque  ,    quando  muúo  ,    nasce  huma  espécie  de  Con. 
vohulus,  chamada  vulgarmente  G^urana  ,    a  qual  de- 
^'e  se  arrancar   á  mão  ;    porque   a  enxada  n.uitas  vezes 
«ao  faz,    senão  cortar  rente  da  terra,    o  que  não  im- 
pede,    que  da  raiz  nasça  nova  vergontea ,    que,  esten- 
dendo depois   por  cima    dos  novos  Algodoeiros  ,    lhes 
da    tao  apertados  garrotes  ,    que  chegão-  a  quebrar   o. 
jalhos ,    dctando  muitas  vezes  o  mesmo  tronco  sobre 
a  terra  ,   e  quando  não  ha  este  estrago,   he  para  fazer 
ainda  outro  damno  maior,  que  he  cobrilios  com  a  si« 
folhagem  ,   e  privallos  das  benignas  influencias  da  luz 
e  da  atmosfera  ,    vindo  finalmente   a  morrer  abafados 
desta  herva  inimiga  ;    pelo  que  deve  o  Agricultor  p6r 
o  maior  cuidado,  em  extirpar  esta  ruim  casta  dos  seus 

ro- 


C  240  ) 


CAPITULO     VI. 


.  Das  operações  ,    ^iie  se  devem  Jax,er  iios   Algodoeiros  , 

para  produzirem  melhor  qualidade  ,  e  maior  a- 

bundancla  de  Alí^odão. 


Tres  operações  se  devem  praticar  nos  Algodoeiros , 
para  os  obrigar  a  produzir  mais  ,  e  melhor  fiucto  ; 
a  primeira ,  he  chamada  capação  ;  a  segunda ,  cha- 
mo poda  ;  a  terceira ,  decoiação. 


Da  primeira  operação ,  a  (juc  chamão  capação. 

\J^  Uando  o  Algodoeiro  novo  chega  á  altura  de  dois 
pés  j  ou  dois  pés  e  meio  ,  cortão  o  olho  ,  ou 
summidade  das  vergontas ,  principalmente  as  perpendi- 
culares 5  para  que  os  suecos  nutriticios ,  ou  seiba  ,  re- 
trocedão ,  e  facão  produzir  galhos  lateraes ,  a  esta  ope- 
ração chamão  capar  ;  mas  o  Agricultor  não  se  deve 
contentar  ,  já  mais  com  capar  huma  só  vez  os  Algo- 
doeiros ;  porque  então  os  ramos  ,  que  lanção ,  se  eíe- 
vão  demasiadamente,  pelo  que,  he  de  utilidade  sum- 
iria j  repetir  esta  mesma  operação ,  duas  ^  ou  tres  ve- 
zes antes  de  ílorecerem  :  o  tempo  ,  que  deve  mediar 
entre  huma ,  e  outra  capação ,  he  de  dois  mczes ,  cujo 
tempo  he  sufficiente  ,  para  que  os  galhos  novamente 
produzidos ,  cheguem  a  huma  altura  proporcionada  ,  e 
adquirão  huma  consistência  solida. 


(   245    ) 

.Que  utilidade  se  pode  haver  desta  operação?  Etf 
-descubro  três ,  muito  essenciaes  ;  a  primeira ,  lie  de  fi- 
carem os  Algodoeiros  (quando  se  pratica  esta  opera- 
?ção  a  com  todo  o  cuidado  ,  que  merece  )  copados  ,  e 
baixos  ,  o  que  formosea  muito  hum  Algodoal  ,  for- 
mando hum  golpe  de  vista  ,  tanto  mais  agradável, 
<luanto  he  ingrato  ,  sendo  elles  cieados  (deixe-me  di- 
zer assim  )  á  sua  vontade  ,  mostrando  faumas  vergon- 
tas  mais  altas ,  e  outras  mais  baixas ,  sem  ordem. 

A  segunda  utilidade  he  ,  de  dar  mais  fructo ,  por 
meio  desta  operação  ;  porque ,  multiplica-ndo-se  os  ra- 
mos ,  forçosamente  hão  de  produzir  mais  escapos  ,  e 
-por  consequência,  mais  capsulas,  (^maçãs^  vul^ãnneii' 
<í )  o  que  não  acontece ,  não  sendo  capados  ;  porque  ^  ■ 
•Taraificando  menos  j  brotão  mais  diminuta  quantidade 
de  fructos. 

■  A  terceira  utilidade ,  não  menos  essencial  ,  iie  a 
facilidade  ,  com  que  se, escolhe  o  Algodão  nos  Algo^ 
-doeiros  capados  ,  por  serem  baixos  ,  ao  contrario,  a- 
contece,  a  respeito  dos  Algodoeiros  não  capadoj ,  pois 
se  elevão  até  á  altura  de  quinze  ,  ou  dezoito  pés  ,  ao 
mesmo  terapo  ,  que  os  primeiros  não  excedem  a  altu- 
fa  ordinária  do  homem,  conforme  a  vontade  ,  e  cui- 
dado de  quem  os  cultiva^'  as:>im  o  Agricultor,  sem  o 
maior  incommodo ,  ou  trabalho,  colhe  os  fructos  des- 
tes, sem  lesão  dos  seus  galhos.  Bastão  estas  três  utili- 
dades ,  para  decidirem  os  Agricultores  a  capar  os  seus 
Algodoeiros  ,  da  maneira  indicada. 

Muitos ,  ou  para  raelhot  dizer ,  a  maior  parte ,  es» 
T.  V.  P.  h  <2  tão 


C  242  ) 

tão  persuadidos  das  reaes  utilidades  desta  operação ; 
mas  a  não  executão  como  devem ,  pois  para  economi- 
zarem dois,  ou  três  dias  de  trabalho,  ordenão  aos  es- 
cravos, quando  mondão,  que  os  capem  ;  estes,  ou 
por  descuido  ,  ou  porque  finalmente  os  interesses  de 
seu  senhor  ,  pouco  ,  ou  nenhum  cuidado  lhes  dão, 
deixão  a  maior  parte  por  capar ,  e  ás  vezes  deixão  to- 
do ;  e  quando  os  senhores  pensão  ,  que.  de  huma  só 
vez  reunirão  dois  proveitos ,  isto  he ,  que  os  seus  Al- 
godoeiros estão  capados ,  e  mondados ,  achão-se  enga- 
nados com  a  sua  mal  entendida  economia:  pelo  que, 
deve  o  Agricultor  ,  depois  da  primeira  monda  ,  desti» 
nar  alguns  dias  para  capar  o  seu  Algodoal  ;  cada  es- 
cravo deve-se  encarregar  de  huma  fileira  de  Algodoei- 
ros, acabada  aquella ,  principiar  outra,  para  evitar  coa- 
fusões  ;  o  anno  passado ,  só  com  trinta  eccravos  fiz  ca- 
par em  quatro  dias  hum  Algodoal  ,  avaliado  em  mil 
arrobas  de  Algodão ,  da  primeira  colheita. 

Quasi  todos  os  Agricultores  desta  ribeira  da  Paraí- 
ba não  capão ,  senão  huma  só  vez  os  Algodoeiros  ,  e 
executão  esta  operação  ,  só  quando  tocão  i  altura  de 
cinco  pés  5  como  indica  o  Padre  Nicolsson ,  e  como  se 
usa  nas  Ilhas  Francezas  ;  mas  a  experiência  me  tem 
feito  ver,  que  a  capação  nesta  altura  he  muito  preju- 
dicial ;  porque  os  ramos  lateraes  ,  em  dois  mezes ,  que 
faltão  para  fructificarem^,  não  adquirem  grossura  suffi- 
ciente  ,  para  poderem  com  a  carga  ,  por  cuja  razáo , 
huma  grande  parte  se  quebra ,  fatigada  debaixo  do  peso 
do  seu  fruto  :    este  mal ,    com  tudo ,    he  menor ,   do 

que 


C  24}  ) 

que  aquelle  ,  que  resulta  do  diminuto  numero  de  ca- 
paçôes  ;  pois  ,  como  já  provei  mais  acima  ,  quanto 
mais  se  caparem  ,  mais  fructos  produzirão  ;  tenho  ve- 
rificado ,  que  bastão  três  capaçóes. 

Ha  porém  Agricultores,  tão  estúpidos,  que  refu- 
são  capar  os  seus  Algodoeiros  ,  com  o  pretexto  ,  de 
que  capados ,  quebrão-se  os  galhos  com  o  fructo.  Não 
vem  estes  miseráveis  ,  que  ainda  ,  quebrando  se  alguns 
galhos  ,  (  caso  sempre  negado ,  sendo  elles  capados  a 
dois  pés  de  altura)  não  perdem  o  fructo  dos  galhos 
quebrados  ;  pois  que  basta  o  córtex  ,  ou  casca  da  parte 
inferior  do  galho,  por  onde  sempre  fica  pegado,  para 
amadurecer  o  fructo  ,  e  que  no  anno  vindouro  ,  em 
Jugar  daquelle ,  nascem  outros  mais  vigorosos  :  este  fe- 
nómeno acontece  todos  os  dias ,  debaixo  dos  seus  olhos ; 
mas  nada  lhes  deixa  ver  o  prejuizo ,  em  que  estáo. 


Da  segunda  operação  ,    a  (jue  eu  chamo  poda. 


Fe  constante  ,  que  aquelles  ramos  ,  que  nutrirão 
os  escapos ,  e  os  fructos  ,  depois  que  estes  se  colhem  , 
ou  morrem  ,    ou  fícão  ,    como  esgotados  ,    e  não  tem 


Substancia  ;    para    lançarem    novos    ran 


ios  ,    loso    qu; 


principião  as  primeiras  chuvas  ;  eu  os  tenho  visto  ain- 
da no  meio  do  anno  amortecidos  ,  e  apenas  principia- 
rem então  a  verdejar  ,  e  a  reviver ,  lançando  vergon- 
tas  languidas ,  de  huma  vegetação  debil  :  ora  ,  sendj 
estas  ,  as  que  hão  de  produzir  fructos  na  safra  vindou- 
ra ,    he  indubitável ,    que  os  devem  brotar  pequenos , 


(  244) 

e  pecos  :  para  evitar  pois  este  inconveniente  ,  e  ou- 
tros mais ,  he  necessário  decepar  toda  aquella  parte  dos 
galhos  principaes ,  que  nutrirão  fructos  ,  a  esta  opera- 
ção chamo  poda  ;  ella  deve-se  praticar  nas  primeiras 
aguas ,  que  he  ,  quando  principia  a  nova  vegetaj-ão  do 
Algodoeiro.  Esta  operação  faz ,  que  aquella  ceva  ,  ou 
succò  nutriticio,  que  se  havia  de  empregar  na  reviíica- 
ção  da  porção  esgotada ,  e  débil ,  que  produzio  o  anno 
passado,  volte  a  nutrir  novos  galhos,  muito  mais  vi- 
gorosos, e  que ,  por  consequência  ,  devem  dar  melhor, 
e  mais  abundante  fructo.  Ainda  a  poda  tem  utilidade 
maior ,  que  he ,  a  de  evitar  a  morte  dos  galhos  prin- 
cipaes do  Algodoeiro  ;  porque  ,  se  senão  faz  esta  op©. 
ração  ,  tendo  os  galhos  ficado  com  pouca  substancia, 
pela  nutrição  (deixe-me  dizer  assim)  do  primeiro  par- 
to, muito  mais  enfraquecidos  ,  e  languidos  ficarão  no 
segundo ,  e  ainda  muito  mais  no  terceiro ,  e  no  quar- 
to ,  ate  morrerem  de  todo.  Estando  persuadido  das  uti- 
lidades das  três  operações  ,  de  que  trato  neste  Capitu- 
lo ,  com  tudo  penso  ,  que  nenhuma  he  tão  útil ,  como 
a  pada  ;  e  temos  a  infelicidade ,  de  que  esta  operação 
não  seja  usada  ,  senão  por  hum  muito  diminuto  nu- 
mero de  Agricultores,  persuadidos  por  mim;  mas,  ot 
que  huma  vez  experimentarão  ,  ficão  inteiramente  per- 
suadidas da  utilidade  desta  operação.  O  tempo  próprio 
da  poda  he  nas  primeiras  chuvas  ;  porque  he ,  quando 
o  Algodoeiro  está  em  seiba  ,  ou  quando  metem  de  «o» 
voy  como  se  explicão  commummente. 


Vê 


(245  ) 


T)a  terceira  operaçtío  ,    a  (jue  chamão  decotação. 


Mas  quando  os  Algodoeiros  produ7em  quatro  an- 
nos  seguidos ,  os  seus  ramos  se  achão  inteiramente  de- 
bilitados ,  e  esfalfados ,  por  terem  nutrido  os  fructps , 
que  brotarão  todo  esse  tempo  ;  pelo  que ,  huns  secção 
inteiramente  ,  outros  estão  ,  como  emperrados  ,  sem 
darem  mais ,  do  que  algumas  folhas ,  e  os  que  chegão 
a  brotar  fructos ,  são  pequenos ,  e  mal  nutridos  ;  por- 
que os  suecos  ,  que  sobem  da  raiz ,  e  passao  pelos  va- 
sos da  planta  ,  não  são  elaborados  ,  como  devem  ser , 
por  causa  da  falta  do  principio  vital ,  que  se  acha  quasi 
extincto. 

Para  obviar  pois  este  mal,  a  experiência,  e  a  ra- 
zão tem  mostrado  ,  que  cortai  los  pelo  tronco  ,  he  o 
melhor  remédio  para  o  remediar  ,  e  a  esta  opera- 
ção chamão  decotação.  Mas ,  como  se  podem  decotar , 
ou  rentes ,  ou  por  cima  ,  daqui  nascem  naturalmente 
duas  questões ,  a  saber  :  qual  he  melhor,  decotar  os 
Algodoeiros ,  ao  nivel  da  terra ,  ou  decotallos  de  mo- 
do ,  que  fique  huma  porção  de  tronco  ,  ex.  gr.  de 
dois  palmos ,  pouco  mais ,  ou  menos  ?  He  huma  quês- 
tão  esta,  que  costuraão  os  Agricultores  agitar  entre  si, 
e  para  cuja  decisão  me  tem  elles  algumas  vezes  consti- 
tuído juiz  ,  e  eu  tenho  sempre  decidido  a  favor  dosi 
que  os  decotão  ,  deixando  huma  boa  porção  do  tron- 
co ;  porque  então  as  vergonteas ,  que  sahem  desta  por- 
ção do  tronco,  são  lateraes^  de  modo,  que  fica  o  Al- 
go- 


Ç  246  ) 


™ 


w> 


j^odoeíro  copado  ,  sem  precisar  de  outra  operação  ,  e 
produzem  tanto  Algodão  ,  como  no  terceiro  anno  de 
sua  idade  :  não  acontece  assim  ,  se  se  decotão  ao  nivel 
da  terra ,  ou  rente  ;  porque  sahem  tantas  vergontas  da 
raiz  5  que  se  faz  preciso  ao  Agricultor  cortar  muitas, 
se  não  quer  ,  que  fiquem  todas  fanadas  ,  como  acon- 
tece ,  quando  se  plantão  muitos  caroços  em  hum  bu- 
raco ;  além  disto ,  he  necessário  reiterar-se  as  capaçóes  , 
como  se  se  tivessem  plantado  de  novo  ,  alias  cresce- 
rião  muito  altos ,  e  virião  a  dar  os  n-rôsmos  incommo- 
dos,  que  apontei  no  principio  deste  Capitulo,  difficul- 
tando  extremosamente  a  colheita.  A  experiência  me 
ensinou  a  discorrer  assim  nesta  questão  .  por  cuja  de- 
cisão fiz  .algumas  experiências  ,  e  vi ,  que  os  Algodoei- 
ros,  que  se  decotavão  rentes  com  a  terra  ,  produzião 
menos  fructo ,  que  os  decotados  ,  deixando  huma  por- 
ção de  tronco  ,  e  além  disto  ,  que  se  quebrão  com 
muita  facilidade  ,  e  para  entrar  na  razão  disto ,  basta 
reflectir  ,  que  as  vergonteas ,  vindas  da  raiz  ,  trazem 
mais  força ,  e  são  muito  mais  viçosas ,  o  que  he  causa 
de  produzir  menos  fructos  ;  esta  he  huma  regra  geral , 
tanto  a  respeito  do  vegetal ,  como  do  animal ,  em  que 
também  vemos  este  fenómeno. 

Do  que  tenho  exposto  se  colhe ,  que  o  fim  desta 
operação  ,  he  fazer  remoçar  os  Algodoeiros  ,  que  por 
Velhos  5  e  debilitados ,  já  não  podem  fructificar ,  privi^ 
Jegio  5  que  poucos  vegetaes  tem  ,  e  que  redunda  em 
snero  proveito  para  o  Agricultor. 


CA^ 


(  247  ) 


CAPITULO     VIT. 


t>as    meíestlas  a  que  sãd  sujeitos  os  Algodoeiros» 


H 


E  tão  palpável  a  analogia,  que  ha  entre  os  ani* 
mães  ,  e  os  vegetaes  ,  que  até  nas  enfermidades  ,  que 
petseguem  a  hum  ,  íe  outro,  aparece  :  as  moléstias,' 
que  tenho  observado  nos  Algodoeiros,  são  sete,  a  sa- 
ber: primeira,  dehlllilocle '^  segunda,  pletora;  terceira, 
aborto  ,  ou  movlio  ;  quarta  ,  resfriamento  ;  quinta  ,  ean» 
cro  ;  sexta  ,  golpe  de  Sol ;  sétima ,  destruição  pelos  in- 
sectos j  e  pelos  pássaros. 


Da  debilidade  ,    ou  marasmo. 

Chamo  debilidade  ,  ou  jnarasmo,  no  Algodoeiro  ," 
quando  este  vegetal  dá  pouca  folha  ,  e  pouco  fructo  , 
e  as  forqas  vitaes  estão  quasi  extinctas  ;  esta  enfermi- 
dade pode  provir  de  duas  causas  ,  ou  por  ser  o  terre- 
no ,  em  que  está  plantado ,  demasiadâanente  magro  ; 
o  que  faz  ,  com  que  a  planta  receba  pouca  nutrição  ; 
ou  porque  tenha  nutrido  muito  fructo  o  anno  antece- 
dente ;  ficando  os  galhos  quasi  esgotados  de  forças  vi- 
taes ,  o  que  o  vai  conduzindo  pouco  a  pouco  á  morte  | 
quando  se  seguem  dois ,  ou  três  annos  invernosos ,  em 
que  os  Algodoeiros  não  chegão  a  sazonar  o  seu  fru- 
cto ,  e  são  obrigados  a  renovar  muitas  vezes  a  sua  ve* 


C  ^4S  ) 
getação ,    ficío  de  tal  modo  debilitados  ,    que  não  po- 
dem   nutrir   o  seu  fructo    perfeitamente  ;   e  ainda  que 
carreguem  muito ,  perdese  quasi  tudo  ;  a  capsula  prin- 
cipia a  vermelh?r ,  e  seccar  ,    ficando  o  caroço  dentro 
mirrado-,  e  a  lã  podre,    e  amarellada  :    o  único  reme- 
dio  contra  esta  enfermidade  ,  quando  he  produzida  peia 
ultima  causa,  he  podar  a  arvore  todos  os  annos,  como 
fica  dito    no  capitulo  antecedente  ;    quando  porém    he 
effeito  da  primeira  causa,  julgo  o  mal  sem  cura,    sal- 
vo se  quizerem  estrumar  a  terra ,    onde  está  plantado  , 
ou  misturalla    com  terra  argilosa  ,    ao  menos  antes    de 
os  plantar,  que  he  hum  trabalho,  não  praticado  neste 
paiz.,  por  ter  terras  de  sobra  a  escolher. 


Pa  Pletora, 

Chamo  pletórico  áquelle  Algodoeiro  ,  que  toma 
hiima  vegetação  demasiadamente  vigorosa  ,  com  folhas 
.  grandes  de  cor  verde  escura  :  esta  moléstia  faz ,  com 
que  produza  menos  ,  promettendo  a  esperança  tanto  ; 
procede  isto  muitas  vezes  da  demasiada  frescura  do  ter- 
reno ,  e  da  muita  humidade  do  ar.  Ester  mal  remedea^ 
se  bem,  capando-o  mais  vezes;  por  meio  desta  opera- 
ção, obriga-se  a  demasiada  seiba  a  retroceder,  fazendo 
:rebentár  muitos  galhos  lateraes,  pelos  quaes  se  reparte. 


Vk 


.   C  249  ) 

Dõ  Aborto ,  oii  movito. 

Digo,  que  o  Algodoeiro  aborta,  ou  move,  quan* 
do ,  depois  de  estar  carregado  de  flores ,  e  fructos ,  ca- 
bem repentinamente  ,  ficando  totalmente  destituido  deí- 
les ,  accidente  o  mais  funesto  para  o  Agricultor  ,  por 
lhe  roubar,  á  vista  dos  olhos,  as  doces  esperanças  do 
seu  lucro. 

Esta  enfermidade  procede  de  duas  causas  ;  a  pri- 
meira, e  mais  commum  he  da  demasiada  chuva,  quan- 
do esta  sobrevem  ,  estando  o  Algodoeiro  já  carregado 
de  fructos  ,  o  que  acontece  com  mais  facilidade ,  quan- 
do a  terra  se  acha  secca  :  então  infalivelmente  cahem 
todas  as  capsulas  (vulgarmente  maçãs). 

Este  accidente  temivel  não  tem  lugar  ,  sendo^  as 
chuvas  diminutas:  as  chuvas  de  Outubro,  neste  paiz , 
são  as  que  costumão  causar  maior  prejuízo  ;  porque 
commummente  apanhao  aterra  bastantemente  secca , 
só  he  a  nosso  favor ,  o  serem  as  sobreditas  chuvas  ra- 
ras nesse  tempo.  Com  tudo  ,  se  succede  suspenderem- 
se  as  aguas ,  por  espaço  de  três  mezes ,  ainda  os  Algo- 
doeiros adquirerrí  nova  carga  de  fructos  ;  mas  nunca 
tão  abundante  como  a  primeira.  A  segunda  causa  ,  he 
a  invasão  de  duas  espécies  de  percevejo  piimex ,  que  no 
seu  lugar  descreverei  ;  mas  no  nosso  paiz  nunca  che- 
ga a  haver  estes  animaes  em  tanta  quantidade  ,  que 
faça  total  destruição ,  como  acontece  em  Cayenna ,  S. 
Domingos,  etc.  Quando  qualquer  destes  males  nos  per- 
seguem 3  só  devemos  esperar  o  socorro  do  Ceo. 
' -«;:;■•■•■  Vê 


l';i' 


Ç  250  ) 


Vo  Resfriamento, 


III  tíií. 


I :; 


Quando  o  Algodoeiro,  por  causa  da  agua  e  tagria- 
da,  amarellece,  definha,  sécca,  ou  morre ,  diz.se,^que 
está  resfriado-,  isto  acontece;  primeiro,  em  planícies, 
sem  declívio  algum,  para  se  escoarem  as  aguas,  a  que 
chamáo  alagados  ;  segundo,   guando  o  salão  se  estende 
perto   da  superfície  da  terra  ;  porque  este  impede ,  que 
a  agua  se  embeba  para  o  centro  :   no  primeiro  caso  ha 
hum  remédio ,  que  he  fazer  levadas  peio  meio  do  cam- 
po alagado.    Pelo  que  convém  ,    antes  de  fazer  o  roça- 
do, ver  o  terreno  em  tempo  de  inverno  para  saber  se 
nelle  ha ,  ou  nao  alagados  ;  pois  que  em  tempo  de  ve- 
ráo  todo  o  terreno  está  enxuto ,    como  também  se  de- 
ve cavar  a  terra  em  diversas  partes ,    para  vér  se  o  sa- 
lão fica,  ou  não  perto. 

Do  Cancro. 

Costumo  chamar  cancro  nos  vegetaes  a  huma  fe* 
rida  no  lenho ,  e  no  córtex  ,  por  onde  corrre  hum  hu- 
mor  corrosivo ,  que  impede  sarar  :  esta  enfermidade , 
quando  procede  do  vicio  da  ceva  das  plantas ,  he  incu» 
ravel  ,  bem  como  nos  homens,  quando  também  o  vi- 
CIO  canceroso  existe  na  massa  dos  humores,  em  cujo 
caso  não  sarão  os  cancros ,  ainda  a  pezar  de  se  fazer  a 
operação  da  extirpação  por  máos  hábeis.  Não  he  pois 
assim  ,   quando  o  vicio  cancroso  existe  só  na  parte  af^ 

fecta* 


fectada ,  ou  na  chaga ;  que  altera  somente  os  humores 
daquellas  vizinhanças  ,  apodrecendo  simplesmente  as 
extremidades  dos  vasos  ;  por  que  neste  caso  com  instru- 
mento  cortante,  tirando-se  aquellas  partes  já  tocadas  do 
mal  ,  cicatrisa  a  ferida  ,  como  tenho  experimentado  ; 
pelo  que  também  se  pode  dividir  o  cancro  das  plantas 
em  dois,  geral,  e  particular,  aquelle  incurável,  e  es- 
te curavel ,  bem  como  nos  homens.  Esta  moléstia  he 
rara  no  Algodoeiro  ;  mas  vê-se  algumas  vezes  ,  e  pa- 
receo-me  que  não  devia  ommittir. 

Do  golpe  do  Scl   (^Sideratio) . 


Quando  depois  de  grandes  chuvas  sobrevem  hum 
Sol  repentino ,  as  capsulas  cahem  ,  principião  a  ficar 
avermelhadas ,  e  não  se  nutrem ,  mirra-se  o  carogo ,  e 
juntamente  a  lã  ;  muitos  Algodoeiros  mesmo  padecera 
certas  moléstias  :  os  nossos  rústicos  chamão  quebranto  , 
ou  olhado  :  a  muitas  plantas  accommette  esta  enfermi- 
dade sem  causa  apparente  ,  como  aos  craveiros  ,  e  ás 
arvores  dos  pomares  ,  donde  vem  dizerem  os  abusa- 
dos  ,  que  alguns  máos  olhos  lhe  botarão  olhado  ,  ou 
quebranto  ;  e  estão  persuadidos  que  os  cornos  são  pre- 
servativos contra  este  mal ;  por  cuja  razão  arvorão  hum 
chavelho  ,  ou  mesmo  caveiras  de  gado  no  meio  das 
suas  plantações;  este  prejuizo  já  vem  dos  antigos  Ro- 
manos ,  os  quaes  persuadidos  do  mesmo  ,  levantavão 
em  páos  caveiras  de  huma  egoa ,  ou  burra ,  que  tives- 
se parido.  Eu  digo  que  ,  como  ignoramos  por  ora  a 
.    i  cau" 


II  ■'í 


C^50 

causa  desta  enfermidade,  lhe  não  podemos  assígnar  re* 
médio  algum. 


Vas  Moléstias  causadas  pelo  attaque  dos  Insectos  y 
e  passares. 


t-^r 


D/?  Broca, 

Hum  dos  maiores  disgostos ,  que  concebem  es  no». 
SOS  Agricultores   de  Algodão,    he  quando  o  seu  AJgo- 
doa]    he  attacado  pelos  muitos  insectos  ,    que  aqui  ba 
perseguidores    desta  planta.    Chamao  Broca    a  larva    de 
hum  insecto  ,   antes  que  passe    a  estado  de  perfeição, 
a   que  os  Naturalistas  chamao  Imago  revelata  ,  se  nutre 
do  lenho  do  Algodoeiro,  roendo  só  em  hum  lugar,  o 
enfraquece  de  tal  modo ,  que  ao  menor  aceno  dos  ven- 
tos cahe ,  perdendo  todo  o  fructo ,  que  promettia :  em 
alguns  annos    ha  grande  abundância    deste  insecto  ,    e 
fazem  huma  destruição  ,    e  damno  grande  nas  plantas 
do  Algodão  :    eu  ainda  não  tive  occasião    de  observar 
este  animalsinho ,  por  que  tem  sido  raro  nestes  annos , 
depois  que  tornei  da  Europa ,  ainda  que  tenha  feito  di- 
ligencia, para  vello,  a  fim  de  o  descrever,  e  desenhar 
neste  opúsculo  :  creio  que  as  demasiadas  chuvas  destes 
ires   annos    não  tem  sido    profícuas    á  sua  creacão.    O 
simptoma  por  onde  se  conhece,  que  o  Algodoeiro  esta 
attacado  deste  pernicioso  animal ,    são  huns  nós  ,    quo 
apparecem-ao  longo  do  tronco  deste  arbusto,  que  pa- 

ce- 


(253) 

r«cem  articulações  ,    no  interior  deste  lugar  he  que 
iiísecto  tem  roído  lodo  o  lenho. 


\iJ. 


Va  ha^arta. 


Ha  humas  U^artas  ,    pr^Dprias  do  Algodoeiro,  as 
quaes  se  sustentão  das  suas  folhas,  e  tão  vorazes  sno, 
e  em  tão  grande  quantidade  em  alguns  annos ,   que  em 
poucos    dias  acabão    de  comer    hum  Algodoal    inteiro , 
roendo  até  mesmo  as  vergonteas  mais  tenras ,  de  modo 
que  parecem  os  Algodoeiros  crestados  pelo  fogo :  estes 
iíisectos  fazem  a  sua  metamorfose  inteira  dentro  de  vin- 
te dias  ,    pouco  mais    ou  menos  ,    isto  he ,  até    á  sua 
ultima  metamorfose  ,  a  que  os  Naturalistas  chamão  ima- 
eo  revdata.  Esta  praga  he  muito  prejudicial  ás  plantas 
de  Algodão  novas ,  ou  plantadas   ha  poucos   dias ;  por- 
que as  róe  até  quasi  á  superfice  da  terra ,    por  achar  o 
Uonco  ainda  tenro  :  aos  Alg.odoeiros  adultos  não  deixa 
de  ser  também  funesta,    maiormente  quando  tem  car- 
regado de  novo,  porque  mallogra  o  seu  fructo,  e cus- 
ta depois  a  tomar  segunda  carga  ;    porém  algumas  ve- 
zes 5    quando  depois  de  terem  comido  alguns  dias  nos 
galhos ,  lhes  sobrevem  huma  grossa  chuva ,  que  as  der- 
ruba ,  e  mata  ,  os  Algodoeiros  lanção  novos  galhos  ia- 
teraes,  que  produzem  admirável  quantidade  defructos, 
e  vem  a  fazer  as  vezes  de  huma  poda ,  ou  capação.  A 
perseguição  das  lagartas  não  costuma  a  vir  ,    senão  no 
tempo  das  primeiras  chuvas ,  a  que  chamão  aqui  com- 
|liurament&  primeiras  a^aas  j   por  es.ta  razão  lhes  cha- 
mão 


w 

■  „  *' 

\ 

i  uir. 

'M,*it 

i1""i' 

C  2J4  ) 
mão  em  Cayenna  ,  e  S^o  Domingos  papllllon  prlnta» 
nier  :  acontece  crear-se  grande  abundância  delias  se 
depois  das  primeiras  chuvas  ,  se  seguir  sol  continuado  , 
ou  chuvas  miúdas,  e  poucas ;  porém  se  as  chuvas  con- 
tinuão  grossas,  e  bastantes,  morrem  as  qae  já  huvião  , 
e  impedem  novas  creações-  :  ha  três  annos'  ,  que  nin- 
guém as  vê  por  causa  dos  continuados  invernos. 

Do  Gafanhoto. 

Todas  as  espécies  áo  género  Gafanhoto  (^Grllías 
Lin.  Sj/síem.  Nat.')  sem  exceptuar  ainda  o  mais  peque- 
no ,  são  funestas  aos  Algodoeiros  ;  porém  a  que  mais 
damno  faz  ,  he  a  espécie  maior  ,  a  que  chamão  aqui 
Gafanhoto  grande ,  e  he  tão  voraz ,  que  róe  até  o  mes- 
mo páo,  ou  lenho;  no  anno  de  1794,  que  foi  o  pri- 
meiro ,  depois  da  grande  secca  ,  que  consternou  Para- 
nãbuc  ,  foi  tão  grande  a  quantidade  destes  animaes , 
que  devastarão  todos  os  Algodoeiros  em  poucos  dias, 
como  fúrias  mandadas  do  averno  para  ílagello  dos  Agri- 
cultores ;  voavão  em  nuvens  de  huma  pr?rte  á  outra  , 
fazendo  hum  estrondo  no  voar  igual  ao  que  fazem  duas 
ou  três  sejes  rodando  em  calçada  :  Lineo  quando  falia 
da  destruição,  que  faz  este  insecto  explica-se  como  se 
pôde  ver  na  nota  (  i  ) . 

Grir- 

(l)  Haec  species  illa  Ipsa  est  ,  (juae  ex  AEg^t/pta ^ 
Terra  Saneia  ,  Síria  ,  et  reli  quis  orienta  libies  regionihus 
instar  nubliim  in  Europam  ,  praesertim  Polonlam  mlgrant 
íjulbusdam  annis  ,  omnemíjiie  spem  Agrlcolae  uno  alíerú 
dle  ,  vel  hera  aiifcrunt  ;  adeo  haec  species  cum  Africa 
communls  est  Americae,  QLin,  Amaenit.  Acad.  tom.  i. 


(255) 

CritJiis  crhtatus  ,  divisão  (^locusta')  Lin.  System» 
Nat.  tit.  IV.  pag.  2074,  thorace  crlstato  y  carlna  qiia- 
àrifidúy  úlls  úpice  fitscls.  O  individuo,  que  teniio  na 
minha  collecqão  de  insectos ,  tem  de  comprimento  cin- 
co pollegadas  da  cabeça  á  extremidade  das  azas ,  e  quasi 
quatro  á  extremidade  do  corpo ,  ved.  a  F/^.  i,  Estamp, 
1.  ,  que  pintei  pelo  mesmo  original,  que  tenho  ;  a 
.cabeça  he  obtusa  ,  inflexa ,  o  lábio  superior  chanfrado  j 
dois  tentaculos  de  cada  parte  ,  dos  quaes  os  anteriores 
tem  cinco  articulos.  O  arcabouço  he  comprimido  ,  cora 
liuma  quilha  por  cima  com  quatro  faxas ,  ou  divisões. 
Os  quatro  pés  anteriores  curtos^  cylindricos  hum  tan- 
to comprimidos  ;  os  pés  posteriores ,  saltadores  ,  as  co- 
xas grossas ,  angulosas  com  manchas  brancas  ;  os  joe- 
lhos grossos ,  armados  de  dois  espinhos  de  cada  parte  ; 
as  canellas  do  comprimento  das  coxas  ,  em  t@do  o 
comprimento  pela  parte  posterior  são  armadas  de  espi- 
nhos de  côr  avermelhada  com  as  pontas  negras  ;  a  ex- 
tremidade das  canellas  acaba  em  quatro  espinhos  agu- 
dissimos  5  a  ultima  junta  do  tarso  he  armada  de  duas 
unhas  curvas,  e  agudas  ,  de  còr  também  averinelha- 
•da ,  e  as  pontas  negras. 

.  A  Figura,  que  se  vê  no  volum.  I.  p.  20 j  ,  das 
Recreações  Académicas ,  foi  m.uito  mal  desenhada ,  de 
sorte  que  de  neohum  modo  condiz  còm  a  descnpção^ 
que  no  mesmo  lugar  faz  o  Author  deste  insecto ,  sen* 
do  aliás  a  descripçáo  exactíssima  :  isto  acontece  com- 
mummente  aos  xNaturalistas ,  que  não  sabem  desenhar, 

fian- 


Ç  2ÍÍ  ) 

íiando-se  dos  desenhos  de  pintores,  que  deixão  escapar 
miudezas,  que  fazem  com  tudo  caracteres  essenciaes. 

Do  Gafanhoto  ,  a  que  eu  dei  o  nome  ^    Camaleão 
volante. 


O  tamanho  deste  insecto  he  de,  três  pollegadas , 
e  huma  parte  duodécima  ,  ou  huma  linha  ,  compie* 
hendendo  as  azas  superiores,  ou  as  henúpteras  ,  as  azas 
inferiores  excedem  linha  e  meia.  Entra  na  divisão: 
antennis  setaceis  ^  palpis  inasqualibus  ^  cauda  Je- 
mhiis  ensiferaj  Tetigonia ,  Line.  Sjjtem.  Nat.  edltlo  de- 
cima tertia^  t.  IV ,  pag.  206  j.  Fabrício  faz  hum  gé- 
nero á  parte,  e  dá  o  nome  de  Locusta.  Mantiss.  inse- 
et,  t.  I.,  pag.  232. 

O  thorax  tem  dous  ângulos  chanfrados ;  os  tarsos 
tem  três  articulações  ;  os  pés  anteriores  comprimidos  j 
os  pés  posteriores  saltadores ,  as  coxas ,  ou  femoras ,  ro- 
bustas,  comprimidas,  as  canellas  do  comprimento  das 
coxas,  triangulares,  os  ângulos  serrados  com  espinhos 
delgados,  e  curtos.  O  corpo  tem  huma  pollegada ,  se- 
te linhas  de  comprido  ,  o  peito  ,  e  o  esterno  pela  par- 
te debaixo  sãò  cobertos  com  duas  escamas,  quasi  aco- 
loçoadas  ,  ou  do  feitio  de  coração  ;  os  anneis  abdomi- 
naes  são  sete,  interrompidos  na  parte  inferior  do  ven- 
tre, onde  se  acabão  em  huma  pelle  grossa,  e  rugosa, 
dividida  pelo  meio  com  huma  serie  de  cinco  pontos 
córneos ;   o  anus  he  terminado  por  quatro  válvulas  dft 

fei- 


?  ^'57  •) 
M<;Ão  de  cuteMo  ,  das  quaes  a  maiot  ,    que  ii  e  a  infe« 
í.ior  lem  linha  e  meia  de  comprido ,    vede  Fig,   i.  Ta- 
hx>à  4. 

Do  Gafanhúto^    a  que  chamei  genkukias  ^  m  dé 
.grandes  joelhoS'. 

Entra  «a  mesma  divizão  dè  Lineo ,  ^ntennls  sêta^ 
^els  j  f aipis  iiraeijuaHiíis  ,  caíída  feminis  ensifera  Tetigo- 
ília.    LocKSta  Fabrlcii  Mantis.  insett.  t.  1 5   pag.    2J2^ 

O  corpo  tem  meia  pollegada  ,  o  thorax  de  dous 
ângulos  lobados  pela  parte  posteíior  ^  ò  lobo  com  de-- 
brum  negro  ;  os  dous  pés  anteriores  com  os  joelhòé 
èastantemeíire  grossos  5  os  pés  ^  posteriores  saltadores  ^ 
as  coxas  comprimidas  ;  as  caneilas  hum  tanto  arquea* 
das ,  triangulares  >  os  ângulos  espinhosos ;  os  tarsos  com 
três  articulos  ,  huma  mancha  branca  em  cada  lado  ,  jun- 
to do  nascimento  das  coxas  i  duas  escamas  acoroçoadas 
no  peito  y  Q  esterno:,  sete  zonas,  ou  anneis  nas  costas  ^ 
que  se  terminão  na  pells  rugosa  ,  que  rodéa  o  ventre 
pela  part«  de  baixo  j  o  anus  termina-se  em  três  válvu- 
las ,  mui. curtas  5  ensiformes  ;  as  azas  verdes,  ào  com- 
primento de  pollegadas  duas  e  meia ,  vede  Fig.  2.  Ta* 
boa  4. 


t>o  Cúfanhoto  y  a  que  chamo  ,  gtacíladon 


A  cabeça  com  o  alto  acuminado ,  os  queixos  san* 
•guineos ,  mormente  os  superiores ,  o  acumen  por  diatí- 
,  T-  r.    P.  I,  K  te  3 


c^sn 


te ,  e  negro ,  as  extremidades  dos  palpes  também  san- 
guíneos ;  o  thorax  com  dous  ângulos ,  não  tão  apparen- 
tes  como  os  dos  antecedentes  ,  duas  escamas  no  peito  , 
o  corpo  do  comprimento  de  huma  pollegada ,  sete  an« 
neis  terminados  igualmente  no  ventre  em  huma  pelle 
rugosa  5  da  parte  inferior  do  anus  sahe  hum  estoque 
do  comprimento  do  corpo ,  os  pés  anteriores  compres- 
sos 5  os  posteriores  saltadores  ,  as  coxas  angulosas  da 
parte  de  trás  com  dois  ângulos  espinhosos ,  as  canellas 
triangulares ,  e  espinhosas  ;  as  eliteras  do  tamanho  das 
azas  ,  e  mais  compridas  que  o  corpo  meia  pollegada , 
a  côr  parda.  Vede  Fig.    3.  Tab.  4. 

T>o  Gafanhoto  a  que  chamo  pi^meo, 

He  todo  verde  ;  o  thorax  ,  de  dois  ângulos, 
duas  escamas  no  peito ,  como  os  congéneres ,  o  corpo 
de  seis  linhas  de  comprido  ;  a  espada  inferior  do  anus 
muito  curva,  com  a  curvatura  para  cima,  os  pés  pos- 
teriores saltatorios,  as  canellas  triangulares  espinhosas, 
o  tarso  de  três  articulações;  zs  elyteras  verdes ,  de  dois 
comprimentos  do  corpo  ,  as  azas  inferiores  ,  maiores 
que  ellas.    Fig.  4.  Tab.    4. 


Do  Percevejo  ,    que  persegue  os  Algodoeiros, 


Ainda  que  os  percevejos ,    que  vivem  ,    e  se  sus- 
tentão  da  substancia  deste  arbusto ,  não  nos  facão  aqui 
tanto  mal  ,   como  causão  em  outras  partes  da  Ameri- 
ca, 


(259) 

ta,  por  exemplo,  em  Cayenna ,  etc. ,  com  tudo  pen- 
so, que  não  devo  omittir  o  tratar  neste  lugar  daquel- 
je ,  que  tenho  observado  sobre  esta  planta  :  elles ,  chu- 
pando a  ceva  ,  que  se  distribue  nas  ílores  ,  fazem  , 
com  que  elias  caiáo  ,  e  abortem  *,  elles  introduzem  a 
sua  tromba  na  maçã  ,  ate  o  interior  ,  e  chupão  poí 
elia  o  nutrimento  ,  €  querem  alguns  que  seja  tão  ve- 
nenoso este  ferrão,  que  faça  gangrenar,  não  só  a  ca» 
psula  ,  mas  ainda  a  planta  toda  ,  attribuindo  a  perda 
da  safra  presente  a  este  insecto  ;  mas  eu  creio  que  esta 
moléstia,  que  tanto  tem  grassado  ,  he  o  golpe  de  Sol, 
ou  slde ratio. 

Tenho  observado  sobre  os  meus  Algodoeiros ,  duas 
«species  unicamente  ;  elles  tem  todos  os  caracteres  dos 
seus  congéneres  ,  a  saber  :  A  tromba  revirada  para  bai' 
SCO  do  corpo.  As  antennas  rnals  compridas  ,  que  o  thorax. 
As  auis  ijitatro  encruzadas  httma  sobre  outra,  O  thorax 
debruado  ,  os  pés  cursor  ws»  Lineo.  Gs  tarsos  com  três  ar» 
ílcuiaçães  conforme  Geofroi/,   Vede   Fig.    5.  Tab.    4. 

Em  nenhuma  das  divisões ,  que  aponta  Lineo  no 
seu  Systema  Natur.  t.  IV.  editio  XIil.  Gmeíio.  pude 
meter  ,  senão  na  divisão  antennis  blclavatls  ,  em  que 
só  ha  huma  espécie  habitadora  na  Suécia ,  e  como  tam- 
bém Fabrício,  nem.  Geofroy  a  descrevem  ,  concluí  ser 
huma  espécie  nova  ,  e  lhe  dei  o  nome  especiíico  Gos- 
si/plphapis ,  que  quer  dizer  comedor  de  Algodão. 

Ás  antennas  com  três  articulações  ,  o  primeiro ,  e 
ultimo  amassetados  com  huma  mancha  branca  em  cada 
^ntenna  no  nascimento  da  ultima  articulação,  ;x  tromba^ 

R  z  com 


(  26o  ) 

com  três  articulações ;  o  tlwrax  pela  parte  anterior  he 
ferrugineo ,  pela  posterior  de  hum  verde  cujo  ;  o  escH' 
dete  he  pequeno ,  e  ferrugineo  ;  o  debrum  dos  lados  do 
thorax  he  ferrugineo ,  e  o  anterior ,  isto  he ,  da  parte 
da  cabeça ,  he  branco :  em  cada  lado  do  peito  tem  três 
manchas  ferrugineas  ,  a  còr  dominante  do  corpo  he 
branca  cor  de  pérola  ;  o  abdómen  he  desta  cór  com  cin- 
co zonas ,  ou  divisões ,  a  quarta  ferruginea  ,  e  principio 
da  quinta  ;  as  válvulas  do  anus  também  ferrugineas ; 
as  «zrtj  superiores  membranosas  de  huma  còr  amarella 
cuja  cqm  as  extremidades  n«gras.  Vede  a  Fig.  Não 
pude  achar  outras  espécies  de  percevejo  nos  Algodoei- 
ros ,  excepto  se  quizerem  tomar  por  percevejos  huns 
ÍHsectos  encarnados  ,  que  vivem  também  nas  capsulas 
desta  planta  ,  os  quaes  não  são  outra  cousa  mais  do 
que  as  Chryzalidas  do  mesmo  percevejo  ;  que  descre- 
vo 5  antes  de  chegar  ao  seu  estado  de  perfeição. 

Outras  muitas  espécies  de  insectos ,  principalmen- 
te de  gafanhotos ,  ha ,  que  se  sustentão  do  Algodoei- 
ro ;  mas  não  tive  ainda  occasião  de  os  observar.  La 
Trefontaine,  Mahson  rustiqiie  de  Caijenne  ,  Bomare  ,  c 
outros  contão ,  além  dos  gafanhotos ,  e  percevejos ,  cu- 
jas espécies  multiplicão  infinito  ,  innumeíaveis  outros 
insectos  ,  í]ue  fazem  destruição  grande  nos  Algodoei- 
ros ;  bem  como  hum  griilo ,  que ,  cavando  a  terra  de 
noite  ,  come  o  grelo  novo  ,  que  principia  a  lançar  a 
semente  plantada  ;  os  pulgões ,  a  que  chamão  insecto 
diabo  (  dlahle  )  o  diabinho  (  dlablotln  )  ,  cujos  nomes 
lhes  competem ,  dizem  estes  Authores ,  peia  sua  mali- 


gni- 


(    2Sl    ) 

gnidade  ;  porém ,  in  fel  is  mente  não  nos  dão  as  descri- 
pções  destes  animaesinhos  ,  e  eu  não  pude  encontrar 
nenhum ,  que  por  seu  effeito  suspeitasse  serem  estes. 

Dos  pássaros,   que  perseguem  os  Algodoeiros, 


Todas  as  espécies  da  família  dos  papagaios  são 
prejudiciaes  aos  Algodoeiros  ,  principalmente  os  mais, 
pequenos  do  papagaio  para  baixo  ,  todos  os  periquitos  , 
jandaias  j  etc.  ,  elles  cahem  sobre  o  Algodoal  em  nu- 
vens ,  e  senão  ha  ,  quem  guarde  ,  em  breve  tempo 
destroem  tudo ,  roendo  inteiramente  as  capsulas  ( ma- 
çãs ) ,  que  comem  só  ,  em  quanto  estão  verdes.  Quer 
Deos  que  esta  perseguição  não  seja  geral  ;  pois  ha  lu- 
gares privilegiados,  ou  pouco  perseguidos. 


m 


CA^ 


C  262  ) 


CAPITULO     VIII. 


Da  Manda, 


ííil 


E 


Ntende-se  por  monda  a  operação  ,  pela  qual  se 
cxtirpão  as  más  hervas  ,  que  nascem  entre  os  Algo- 
doeiros ,  as  quaes  ,  usurpando  a  substancia  da  terra, 
não  só  os  fazem  emmagrecer,  mas  os  abafão  com  sua 
folhagem  ,  impedindo  o  gozarem  das  benignas  influen- 
cias da  atmosfera ,  e  da  luz  creadora   do  Sol. 

Não  m.e  estenderei  muito  sobre  a  utilidade  das 
mondas  ,  porque  não  ha  ,  quem  deixe  de  conhecer  as 
suas  vantagens  ;  pois  além  de  nutrirem  mais  os  Algo- 
doeiros,  e  brotarem  mielhores  fructos  ,  obstão  ao  perigo 
de  serem  os  escravos  mordidos  de  animaes  tão  morti» 
feros  5  e  venenosos  como  são  as  cascavéis  (i) ,  e  outras 
espécies  de  viboras  ,  que  se  escondem  de  baixo  das  her- 
vas. Muitas  são  as  plantas  ,  que  nascem  entre  os  Al- 
godoeiros 5  e  obstão  ao  seu  nutrimento  ,  e  vegeta- 
ção . 


(i)  Croialus  hórridas  Lin.  Ha  tão  grande  abundân- 
cia destes  animaes  neste  lugar  ,  onde  cultivo  ,  e  nos 
seus  arrebaldes  ,  que  nas  occasiões  da  monda  tem  os 
escravos  morto  trinta,  e  quarenta  por  dia;  que^  as  te- 
nho mandado  contar  de  propósito  :  á  proporção  que 
vão  roçando  as  moitas  ,  as  vão  m.atando  com  as  foi- 
ces,  com  que  trabalhão  ,  não  fallo  em  outras  muitas 
espécies  ,  nãa  menos  venenosas ,  que  se  encontrão  cora 
ajiiesma  frequência. 


k 


C  ^^5  ) 

çSo :  eu  não  apontarei  porém  senão  as  principaes ,  co- 
mo he  huma  espécie  de  caa-pi  ,  ou  grama  ,  chamada 
vulgarmente  amargoso ,  e  entra  no  género  millum  ;  esta 
planta  tem  a  raiz  vivace  ,  e  atura  muito  a  secca  ,  e 
ainda  quando  se  destroe  o  colmo  ,  a  penas  chove, 
pulão  das  raizes  outros  novos  ;  outra  planta  muito 
damnosa  aos  Algodoeiros  he  a  getirana  ,  em  que  aci- 
ma toquei  ;  este  nome  dão  aqui  não  só  aos  convolvo' 
/«J,  mas  também  ás  hj/pomeas ,  de  que  ha  muitas  es- 
pécies ,  três  espécies  de  iUccbrum  crescem  abundante- 
mente nas  vargens  ,  e  lugares  frescos  entre  os  Algo- 
doeiros,  como  também  o  melão  de  São  Caetano,  BaU 
isamina   Lin. 

O  instrumento,  com  que  se  costuma  aqui  mon- 
dar ,  he  a  foice  ,  cada  escravo,  armado  deste  instru- 
mento ,  partindo  todos  de  hum  ponto  em  distancias 
proporcionadas ,  roçaráó  sempre  em  ordem  :  esta  ope- 
ração deve-se  fazer ,  ao  menos ,  duas  vezes ,  huma  lo- 
go ao  principio  do  inverno,  ou  do  tempo  das  chuvas, 
para  que  os  Algodoeiros  ,  não  tendo  quem  lhes  roube 
o  nutrimento,  principiem  a  vegetar  com  força  ,  e  vi- 
gor ,  nutrindo  os  seus  ramos  ;  a  segunda  monda  deve 
ser  antes  que  os  fruetos  ,  que  principiarão  em  Maio, 
fiquem  maduros,  para  que  em  Julho,  e  Agosto  se  pos* 
são  colher  estes;  e  tenhão  vigor  os  Algodoeiros  ,  para 
continuarem  a  brotar  outros ;  pois,  em  quanto  dura  o 
verão ,  continuão  a  brotar  fruetos ,  e  sazonallos ,  senão 
ha  os  obstáculos  ,  que  em  outro  lugar  apontei.  Estas 
duas  mondas  são  necessarias^,  como  fica  dito  ^  mas  nfein' 

to- 


C  ^^4  > 

todos  os  Agricultores  podem  executar  a  primeira  por  hU 
ta  de  trabalhadores  ;  não  deixão  com  tudo  de  praticar 
a  secunda  ,  sem  a  qual  nada  co-Iherião  :  se  a  monda 
fosse  feita  á  enxada,  muito  melhor  vegetarião,  e  me- 
lhor producção  terião  os  Algodoeiros.  Com  effcito  mon- 
dados elles  assim  á  enxada ,  as  suas  folhas  são  maiores , 
mais  verdes,  os  seus  ramos  mais  vigorosos,  e  até  che- 
gão  adquirir  huma  constituição  pletórica,  moléstia  que 
já  em  outra  parte  descrevi,  chegando  a  retardar  o  te  do 
po  da  fructificação  ;  principalmente  ,  se  são  plantados 
cm  terreno  mais  vigoroso  :  alguns  rústicos ,  que  tem 
observado  este  fenómeno,  não  só  tem  banido  a  mon- 
da á  enxada  ;  mas  ainda  procuião  persuadir  aos  outros  , 
que  he  prejudicial  ,  allegando-lhes  com  a  experiência, 
que  tem  feito  ;  outros  com  tudo  ,  discorrendo  mais  ra- 
cionalmente ,  teimão  que  não  pode  ser  prejudicial  huma 
operação,  que  totalmente  destroe  as  hervas  inimigas  da 
nossa  planta,  e  que  deve  ser  preferida  á  monda  de  foi- 
ce 5  que  só  destroe  em  parte  ,  pois  que  lhes  deixa  as 
raizes  com  huma  porção  de  tronco:  daqui  tem  nascido 
huma  controvérsia  entre  os  Agricultores  ,  decidindo-se 
huDs  pela  primeira  opinião  ,  outros  a  favor  da  segunda. 
Todas  as  razoes  nos  devem  persuadir  a  preferencia  da 
monda  á  enxada  *,  e  na  verdade  mais  vale  huma  des- 
tas^ do  que  três  á  foice  :  só  resta  responder  á  objec- 
ção, que  costumão  fazer,  fundada  na  experiência  ,  que 
os  Algpdoeiros  mondados  á enxada,  crião  muita  folha- 
gem, ficão  muito  viçosos  ;  porém  que  brotão  menos 
quantidade  de  fructos,  e  que  finalmente  vem  a  adqui- 


C 26$  ) 

rir  demasiada  plethora ,  moléstia  ,   que  acima  descrevi , 
a  isto  respondo,    que  este  mal  tem  prompto  remédio, 
que  he  a  capação  :  ella  faz  ,  com  que  os  suecos  nutriti- 
cios  ,  que  os  fazião  vicejantes  ,    e  demaziadamente  vi- 
çosos retrocedão  ,    e  os  obriguem    a  deitar  ramos  late- 
laes ,  pelos  quaes  se  devidem  ,  vindo  deste  modo  a  mi- 
norar o  vigor ,    que  os  impedia  a  fructicar  ;   pelo  que 
tem    o   Agricultor  assim    o  seu  Algodoal  sempre  vigo- 
roso,    colhendo  em  dobro  do  que  colheria  do  mesmo, 
se  se  contentasse  só  com    a  monda  á  foice  :    se  o  ter- 
reno he  fraco  ,  muito  melhor  convém,  esta  monda.  Não 
precisa  persuadiJlos  que  mondem  á  enxada  os  Algodões 
do  primeiro  anno  ;  porque  ,  para  aproveitarem  os  legu- 
mes,  quecostumão  plantar,  forçosamente  hão  de  usar 
desta  monda  ;  do  segundo  anrio  por  diante  he  ,  que  se 
deixão  desta    operação  ,  para  recorrerem  á  foice  ,    com 
interesse  de   abreviar,     e  sobrar  tempo  para  outras  oc- 
cupações    de  Agricultura  ;   esse  interesse  com  tudo    he 
mal  fundado  ,    porque  os  Algodoeiros  tratados  á  enxa- 
da ,  são  mais.  vigorosos  ,  e  tem  a  vida  mais  comprida. 
Coipo  porém  o  principal  motivo ,  que  obriga  aos  Agri- 
cultores  a  desprezarem  a  monda  á  enxada ,  he  por  evi- 
tarem maior  trabalho,  eu  imaginei,  que  deste  se  pou- 
pava grande  parte   alimpando    só  hum  pequeno  espaço 
ao  redor  da  planta  ,    e  levando  os  intervallos  á  foice , 
e  tenho  com  effeito  experimentado  vantajosamente. 


CA. 


(  266  ) 


CAPITULO     IX. 


Da  colheita    do  Jí^odão. 


sem- 


Vv  Omo  o  Algodoeiro  não  consente ,  que  seu  fructo 
chegue  a  ponto  de  maturação,  senão  quando  ces  ão  as 
chuvas  (i),  as  quaes  são  neste  paiz  muito  inconstan- 
tes ;  por  isso  .seguem  as  colheitas  a  mesma  inconstân- 
cia ;  daqui  vem  que  ,  se  no  meio  do  inverno  mesmo 
ha  alguma  falta  de  chuvas ,  o  que  acontece  Quasi 
pre  no  mez  de  Maio,  tomão  os  Algodoeiros  carga  ,  a 
que  chamão  sofra  de  Maio  ;  mas  este  Algodão  não  he 
tão  bom  ,  porque  a  humidade  deste  tempo  amarellece 
tanto  ,  ou  quanto  a  lã  ,  e  nunca  he  tão  abundante  ; 
com  tudo  não  he  de  desprezar. 

Quando  o  anno  he  bem  regulado  ,  principião  as 
colheitas  na  ribeira  daParaiba  dos  fins  de  Julho,  e  Agos. 
to ,  ate  Dezembro ,  e  Janeiro  ,  entende-se  isto  dos  Al- 
godoeiros ,  da  idade  de  dois  annos  para  cima ,  porém 
não  dos  novos,  quero  dizer,  dos  primeiros  annos,  os 
quaes  não  principião  a  produzir ,  senão  de  Outubro  por 

dian- 


(i)  Para  que  o  Algodoeiro  chegue  a  ponto  de  ma- 
turação,  não  precisa  que  se  acabem  totalmente  as  chu- 
vas ,  basta  que  não  chova  com  abundância  do  rigor  do 
inverno  ;  antes  he  prejudicial ,  que  ellas  se  acabem  de 
repente  ,  sendo  ao  contrario  proveitoso  ,  que  se  vão 
íirídando  pouco  a  pouco. 


C  ^67  ) 

diante.  Nas  matas  principia  a  colheita  mais  tarde ,  e  nos 
certÕes  da  Paraíba,  Paranãbuc ,  Rio  Grande  do  Norte, 
c  Ceará  mais  cedo.  Então  he ,  que  o  Agricultor  deve 
applicar  todo  o  seu  cuidado ,  e  providenciar ,  para  apro- 
veitar o  seu  suor. 

Para  efíectuar  esta  colheita  ,  não  he  necessário  ,  se- 
rão hum  cesto  da  capacidade  de  huma  arroba.  Quando 
se  vê    o  Algodoal  branquejar  de  modo  ,    que    se  sup- 
ponha    haver  sufíiciente    numero    de  capsulas    abertas , 
não  se  deve  dilatar  o  Agricultor  em  colher,    para  isto 
fcasta  ,   que  o  escravo   se  sirva  unicameíite  de  três  de- 
dos. O  feitor  seguindo  os  captivos  ;    cada  hum  delles , 
«rmado  de  hum  cesto,  hirá  ao  lugar  determinado,  on- 
de deve  principiar  o  serviço  daquelle  dia  :  ahi  cada  es- 
cravo toma    á  sua  conta    huma  fileira    de  Algodoeiros, 
(;ue  a  não  deve  deixar  até  o  fim  ,  colhendo  não  só ,  a 
que  se  achar  por  cima  ,  senão  ainda  pelo  chão ,  no  que 
deve  o  feitor  pôr  hum  extremo  cuidado,  para  cujo  ef- 
íeito  os  deve  ter  sempre  de  baixo  da  vista  ,    e  passear 
naquella  esteira,  pai-a  o  que  contribue  muito  a  ordem ,, 
em  que   se  devem  plantar    os  Algodoeiros  :    elle  deve 
castigar  ,    ou  reprehender  qualquer  negligencia  da  parte 
dos  escravos:  quando  se  mudarem  para  outras  fileiras, 
devem  levar  com  sigo  também  o  seu  cesto  ,  para  que  , 
quando  quizerem  despejar  os  seios ,  que  he  onde  devem 
recolher  o  Algodão  ,  quando  o  tirão  da  arvore  ,    até  o 
encher ,  que  he ,  quando  he  necessário  passallo  para  o 


cesto. 


Assim  que  o  feitor  vir,  que  he  meio  dia,  dá  seu 

si' 


Ç  2<58  ) 

signal  costumado,  e  logo  cada  hum  toma  o  seu  cesto, 
e  marchando  em  fileira  para  a  casa  da  balança,  que  está 
na  ante-sala  do  armazém  ,  alli  cada  hum  por  sua  or- 
dem, deve  pesar  o  Algodão  ;  quecolheo,  despejando  o 
primeiramente  em  hum  cesto,  ;á  tarado  ,  destinado  a 
servir  só  nisso:  o  feitor,  ou  o  mesmo  dono  da  fazen- 
da deve  assentar ,  com  individuação  ,  o  peso  de  cada 
hum  :  ás  duas  horas  da  tarde  ,  devem  tornar  para  o 
mesmo  serviço  ,  na  ordem  acima  dita  ,  de  donde  si 
hão  de  recolher  ás  seis  horas  ,  ou  seis  e  meia  ,  e  se 
tornará  a  pesar ,  e  sommando  o  feitor  as  duas  quanti- 
dades ,  que  cada  hum  colheo  de  manhã  ;  e  de  tarde , 
verá  se  chega ,  ou  não  ,  á  conta  da  tarefa ,  estabeleci- 
da :  aquelle ,  cujo  trabalho  não  chegou  completo ,  rece- 
berá o  castigo  de  sua  negligencia  ,  attendendo  ás  cir- 
cunstancias :  eu  tenho  estabelecido  na  minha  fazenda  , 
que  por  cada  libra  que  faltar  ,  receberá  palmatoada, 
como  porém  não  só  se  deve  castigar  a  negligencia, 
mas  também  premiar  a  deligencia  ,  costumo  por  cada 
libra ,  que  excede  a  tarefa  ,  pagar  5  reis  ~- ,  que  vena 
a  dar  em  100  reis  por  anoba  ,  preço,  por  que  costu- 
máo  os  forros  colher  Algodão  neste  paiz  ;  as  libras  do 
excesso  se  devem  ir  assentando  á  parte  ,  para  se  pa- 
garem ,  quando  chegar  a  arroba.  A  tarefa  deve  variar , 
conforme  a  abundância  de  Algodão,  que  ha  no  cam'- 
po.  Para  a  estabelecer ,  sommo  a  quantidade ,  que  colhe- 
lão  todos  os  escravos  juntos ,  ou  a  maior  parte  delles , 
e  divido  pelo  seu  numero,  o  que  me  sahe  no  quocien- 
te ,   ou  aquillo  que  toca  a  cada  hum  ^   he  o  que  fica 

sen- 


C  2^9) 
sendo  tarefa  ,  até  que  o  feitor  me  informe  do  estado 
do  roçado  ,  se  se  tem  augmentado  ,  ou  diminuído  ã 
<]uantidade  de  Algodão  aberto  ,  para  então  se  tornar 
a  reiterar  a  mesma  operai^ão  ,  e  estabelecer  nova  tarefa  : 
ha  occasião  ,  em  que  a  tarefa  chega  a  duas  arrobas ,  ou- 
tra a  arroba  e  meia  ,  a  huma ,  e  a  menos. 

A  experiência  me  tem  feito  vêr  ,  que  a  emula- 
ção por  si  só  mui  poucas  vezes  tem  poder  de  excitar 
ao  trabalho  os  ânimos  servis  dos  escravos ,  e  quasi  sem- 
pre produz  bom  effeito  a  combinação  do  castigo  com 
o  premio ,  e  emulação  manejados  com  destreza. 

Até  aqui  náo  tenho  dito  neste  capitulo  ,  senão  , 
b  que  eu  uso  com  os  meus  escravos  3  esta  prática  ,  e 
regularidade  não  he  observada  por  todos ,  por  que  com- 
mummente  não  possuem  suficiente  numero  de  escravos , 
e  por  isso  estão  sujeitos  a  mil  enganos ,  que  he  neces-* 
sario  destreza  5  e  vigilância  para  os  descobrir  :  o  primei- 
ro erro  he  mandar  os  escravos  colher  Algodão  d  ven- 
tura,  isto  he,  por  onde  lhes  parecer;  estes  assim  que 
se  occultão  nos  arbustos,  ou  dormem,  e  nutrem  a  sua 
natural  preguiça  ,  ou  se  colhem  ,  roubão  de  cada  vez 
huma  porção,  e  escondem  nos  matos,  até  acharem  oc- 
casião de  o  desencaminharem  ;  e  fazem  o  seu  contra- 
bando com  tanta  sagacidade ,  que  rara  vez  se  sabe  :  e 
como  a  tarefa  commummente  he  o  cesto  cheio ,  ou  não 
calção  o  Algodão,  e  então  qualquer  porção  o  enche, 
eu  emborcando  o  cesto  no  chão  ,  fazem  entrar  para 
dentro  a  parte  inferior  ,  á  maneira  de  fundo  de  gar- 
ra- 


C  ^70  ) 
rafa ,  a  fim  de  o  encher  com  mais  presteza  ;  outros  in- 
troduzem pedras  entre  o  Algodão  para  pezar  mais  ,  e 
,  usão  em  fim  de  mil  modos  para  enganarem  :  o  melhor 
meio,  que  tenho  descoberto,  para  me  subtrahir  a  estes 
enganos  ,  he  o  que  acima  descrevi. 

O  Algodão  não  se  deve  recolher  em  armazém , 
logo  que  vem  do  campo,  sem  que  primeiro  esteja  bem 
secco,  o  que  se  conhece  ,  apertando-o  entre  os  dentes  ; 
se  o  caroço  estala,  está  capaz  de  ser  recolhido,  senão, 
.cxpoem-se  ao  Sol  até,  que  se  seque  sufficientemente : 
se  não  precede  esta  precaução  ,  e  se  recolhe  húmido, 
o  caroço  soffre  hum  começo  de  fermentação  ,  e  a  lã 
amareliece  ,  o  que  faz  dim^inuir  de  preço  no  commer- 
cio. 

Depois  de  bem  secco  o  Algodão ,  e  pesado ,  deve- 
sa recolher  no  armazém  ,  o  qual  para  ser  bom  ha  de 
ser  assoalhado,  aliás  a  humidade  pôde  ser  nociva  ,  as 
paredes  altas ,  e  lisas ,  rebocadas  ,  a  porta  bem  justa , 
para  que  os  ratos  não  desção  dos  telhados ,  e  nem  en- 
trem por  qualquer  greta. 

Quando  o  armazém  tem  as  paredes  bem  altas ,  li- 
zas,  e  a  porta  bem  justa,  não  precisa  outra  precaução 
para  vedar  a  maligna  praga  dos  ratos ,  que  destroe  mui- 
to ,  ao  mesmo  tempo  ,  que  quando  não  ha  estas  circum- 
stancias  ,  não  ha  cousa  que  os  vede ,  nem  mesmo  os 
gatos  lhes  dão  fim ,  porque  são  m.uitos ,  nem  o  vene- 
no, de  que  muitos  usão  os  raatão  todos,  por  que  são 
niui  sagazes,    ainda  que  com  tudo  alguns  morrão.    De 

mil 


(  272  ) 

CAPITULO     X. 

Do  descnroçamento ,   e  ensaccamento, 

ARTICULO    I. 


Do  descaroçamento. 


p 


Or  descaroçamento  se  entende  aquella  operação  ^ 
pela  qual  se  separa  a  parte  filamentosa  ,  ou  lâ  do  caro- 
ço j  para  iTielhor  correr  no  commercio  ,  para  mais  com- 
jTiodidade  nas  exportações  ,  etc.  Esta  operação  ,  no 
principio  ,  fazia-se  á  mão  com  summo  trabalho  5  poiã 
(]ue  5  trabalhando  o  dia  inteiro ,  apenas  chegavão  a  des- 
caroçar algumas  libras  :  a  necessidade  mestra  de  todas 
as  artes,  suggerio  o  meio  de  descaroçar  entre  dois  pe- 
quenos cylindros ,  dando  a  cada  hum  delles  hum  movi' 
mento  opposto  ;  a  Est.  5.  Fig.  i.  pode  dar  a  idca  des- 
ta maquina  bem  simples,  aa  o  banquinho,  em  que  se 
assentão  as  pessoas  ,  que  descaroção  ,  66  são  as  duas 
"virgens  fixas  no  mesmo  banco  ,  c  c  são  os  dois  cylin- 
dros horizontaes  ,  que  se  devem  tocar  em  toda  a  sua 
extensão  ;  estes  cylindros  devem  ter  de  comprido  hum 
pé,  ou  mais  alguma  cousa,  e  de  diâmetro  meia  polle- 
gada  mais  ,  ou  menos  ;  porém  quanto  menos  drametroi 
tem  ^  com  mais  facilidade  móe  ,  ou  engole  o  Algodão  5 
ellçs  estão  sustentados    nas  suas  extremidades  ,   c  cad* 


C  275) 

hwtn  tem  sua  rnanivella  d  d  em  hiima  das  extremída» 
des ,  que  he  por  onde  se  lhes  communica  o  movimen- 
to ;  he  necessário  duas  pessoas ,  para  fazer  trabalhar  es- 
ta maquina ,  cada  huma  move  hum  cylindro  em  sen- 
tido contrario,  e  humá  das  ditas  pessoas  applica  o  Al- 
godão aos  cylindros  ,  que  engollem  a  lã  >  e  o  caroço 
cahe  limpo  no  mesmo  lado  ;  e  e  são  dois  parafusos  ^ 
que  servem  de  chegar  os  cylindros  hum  a  outro  ,  co- 
mo a  necessidade  o  exigir  ,  por  meio  de  humas  almo- 
fíidinhas,  ou  cunhas,  de  páo  ,  que  sempre  alli  estão. 

Esta  maquina j  supposto  escaroce  mais,  do  que  a 
mão,  com  tudo  he  muito  trabalhosa  ,  e  cança  dema- 
siadamente os  braços ,  e  o  mais  que  se  pôde  escaroçar 
em  hum  dia  ,  a  muito  trabalhar ,  he  duas  arrobas  de 
Algodão  em  caroço  ,  que  vem  a  dar  meia  de  lã  ,  fi- 
cando os  trabalhadores  inteiramente  fatigados :  pelo  que 
tenho  podido  colher ,  de  Mr.  de  la  Prefontaine  Malson 
rmtl.^ue  de  C^yenne  ^  esta  he  a  única  maquina ,  de  que 
usão  Cayenna  ,  e  as  mais  partes  da  America  daquelle 
kdo  5  até  mesmo  Maranhão  5  prinieira  Capitania  dos 
Domínios  Portuguezes  y  em  que  principiou  a  negociação 
cm  Algodões  ^  he  das  mais  atrasadas  no  meio  de  bene- 
ficiar este  importante  género  >  e  dizem-me ,  que  lá  não 
sabem  usar  5  senão  desta  imperfeitíssima  maquina  ,  ou 
com  alguma  modificação  muito  insignificante  ;  não 
tem  acontecido  assim  na  Capitania  de  ParanãbuCj  onde 
se  tem  esgotado  ,  segundo  me  parece  ,  os  melhores 
meios  de  manufacturar  o  Algodão ,  até  se  pôr  em  es- 
tado-de  correr  no  commercio :  seis  maquinas  differentes 
T.  K.  P.  t  S  se 


(274) 

se  tem  aqui  usado  succesivamente  ,  para  escaroçar  o 
Algodão,  das  quaes  ommitto  a  metade,  que  me  pare- 
cem de  menos  importância  ,  para  falJar  só  de  três  ,  qu<5 
são  as  mais  essenciaes  ;  e  de  que  se  usa  com  vanta- 
jem  ,  e  maior  frequência. 

A  menos  complicada  he  a  chamada  vulgarmente 
roda  de  mão  Tab.  '),  a  a  he  o  banco,  orvde  se  assenta  , 
quem  deve  applicar  o  Algodão  aos  cylindros ,  bb  são  as 
duas  virgens  ,  firmes  no  banco  ,  para  suster  os  dois 
cylindros  cc  :  d  d  os  dous  parafusos  ,  que  servem  de 
conchegar  os  cylindros  hum  ao  outro  por  meio  das  cu» 
rhas,  como  na  maquina  precedente  ,  confoime  o  pe- 
dir a  necessidade  ;  ee  são  duas  pequenas  rocias  fixas; 
cada  huma  á.  extremidade  do  seu  cylindro  :  estas  rodas 
são  chanfradas  ,  ou  tem  hum  rego  praticado  em  toda 
á  sua  periferia,  para  embeber  os  cordoes,  por  onde  se 
lhes  communica  o  movimento  ;y/  he  huma  roda,  que 
costun-.a  ter  de  diâmetro  6  palmos,  ás  vezes  mais,  ou 
jnenos  :  •/ «;  são  os  raios  da  roda  ,  h  h  he  o  eixo  ,  veio  , 
í)u  manivella  da  roda,  //  a  pessoa  ,  que  a  põem  cm 
tnovimento  ,  /  /  as  virgens  ,  que  sutentâo  as  rodas  ; 
7?)  m  he  o  rego  fundo  ,  onde  anda  o  cordão  n  n  ,  o 
c;ual  deve  pór-se  de  tal  iriodo,  que  corra  também  nas 
duas  rodinhas  ee  ,  e  em  huma  delas  deve  encruzar, 
como  se  vê  na  figura ,  para  que  com  a  mesma  força  , 
e  com  a  me  tna  direcção  da  roda,  possão  mover-se  os 
dois  cylindros  c  c  ,  em  sentido  contrario  ,  aliás  mover- 
se-hiáo  pjra  o  mesmo  lado,  e  não  engolirião  o  Algo- 
dão ;   a  Cevíideira^  ou  como  lhe  chamâo  vulgarmente 


C27>  ) 

a  mtnedeh-a  com  ambas  as  mãos ,  appíica  com  a  maior 
iiíjeireza  possível  o  Algodão  a  toda  extensão  dos  cylin» 
liios,  endireitando  os  capuxos  para  correr  com  facilida- 
de ,  tendo  hum  cesto  cheio  ao  pé  de  si  ,  para  se  refa- 
zer com  presteza  :  deste  modo  duas  'pessoas  medíocre- 
mente  exercitadas  ,  desde  as  seis  horas  da  manhã  ate  as 
seis  da  tarde  ,  descaroção  seis  arrobas  de  Algodão  em 
caro<;o5  o  que  rende  arroba  e  meia  de  lã  :  esta  era  a 
tarefa ,  que  dava  aos  meus  escravos  ,  antes  de  fazer  o 
meu  engeuho  de  best.as  ;  mas  ha  pessoas  tão  hábeis, 
que  descaroção  oito  arrobas  de  Algodão  em  caroço, 
que  rende  dois  de  lã.  O  banco  dos  cylindros  ,  deve 
estar  distante  da  roda  cinco  toezas,  ouvinte  pés  mais, 
ou  menos  ,  conforme  o  diâmetro  ,  ou  a  grandeza  da 
roda;  a  grossura  do  cordão  costuma  ser  de  linha  e  meia 
de  diâmetro,  pouco  mais  ou  mtnos  ;  he  indifferente  que 
seja  deA.lgodáo,  iinho ,  carjguata ,  tucum  ^  caiuá,  ou 
coiro  5  as  mais  estimadas  ,  são  as  de  coiro  de  veado 
capueiro  ,  ruplcapra  ,  por  serem  as  que  mais  aturáo  o 
attrito  continuado  ;  as  de  tucum  ,  e  caruá  tem  o  se- 
gundo lugar,  as  de  Algodão  porém  aturão  menos:  es- 
tes são  os  engenhos ,  de  que  usão  aqui  aquelles  ,  que 
tem  pouca  fabrica  ;  com  tudo  modificão-no  de  muitas 
maneiras,  ás  vezes  fazem  maior  a  face  da  ioda,  em  que 
abrem  dois  regos  ,  em  que  fazem  gyrar  duas  cordas  j 
huma  para  cada  lado  ^  fazendo  andar  ao  mesmo  tempo 
dois  engenhos  ,  ou  escaroçadores  ,  duas  pesssoas  mo- 
vem a  roda  cada  huma  em  seu  A^eio  ,  ou  manivella  : 
outros  fazem  produzir  os  raios  da  mesma  roda  ^    e  fa» 

$  %  zel' 


( 276 ) 

zellos  pezados,  deixando-lhes  maior  porção  de  madeira 
ras  suas  extremidades  ,  para  líie  facilitar  melhor  o  mo» 
vimento. 

Os  Agricultoree ,  que  trabalhão  com  fabrica  mais 
considerável ,  e  os  negociantes  ^  que  traficão  neste  gé- 
nero ,  comprando  grandes  quantidades  de  Algodão  ,  para 
vencer  o  seu  descaroçamento  com  presteza  ,  usão  de 
huma  maquina  mais  complicada  na  verdade  porém  ao 
mesmo  tempo  mais  vantajosa  :  porque  oito  escaroçado- 
res  (  I  )  em  huma  bolandeira  ,  ou  engenho  de  bestas 
sem  interrupção  descaroção  em  hum  dia  ,  cento  e  vin- 
te oito  arrobas  de  Algodão  de  caroço  ,  o  que  rende 
trinta  e  huma  arroba  de  lã  ;  mas  isto  depende  da  li- 
geireza das  metedeiras  (2)  ,  da  presteza  na  mudança 
dos  animaes ,  e  de  estar  o  Algodão  bem  secco  ;  porque 
se  o  não  está ,  enrola  se  a  cada  passo  nos  cylindros ,  e 
retasda  a  operação ,  para  o  que  ha  hum  remédio  ainda 
pouco  usado  ;  porém  que  eu  o  vou  fazendo  vulgarisar , 
c  de  que  adiante  fallarei. 

Eu  vou  a  descrever  esta  maquina  ,  com  toda  a 
miudeza  ,  para  que  se  possa  fazer  naqueilas  partes ,  em 
que  ainda  não  heu^ada:  Tab.  6.  A  A  A  he  huma  gran- 
de roda  dentada  (Oí  ^^  diâmetro,  que  se  quizer  dar, 

cu- 


(1)  Chamo  escaroçador  hum  banco  com  os  cylin- 
dros ,  e  rodinhas  competentes. 

(2)  Metedeiras  costumão  chamar  ,  as  que  metem  , 
ou  applicão  oAli.'odão  aos  cylindios,  o  que  commum- 
mente  são  as  mulheres,  que  o  fazem. 

QÇ)  A  minha  tem  quarenta  palmos  de  diâmetro  ;  mas 
isto  .não  he  ocommum,  enem  ha  alguma  táj  grande. 


■  C  ^77  ) 

cujos    dentes    engranzSo    nos    de  hum  pequeno  rodete 
rtrtrt,  que  tem   commummente  três  palmos  de  diâme- 
tro :  este  rodete  está  fixo  a  hum  cyHndro  de  madeira  , 
BB  que  quasi  sempre  o  fazem  oitaA^ado  ,    ou  quadran- 
gular,   de  hum  palmo  de  diâmetro  ,    rolando  horizon- 
talmente sobre  dois  aguilhoes  ,    ou  cylindros  de  ferro, 
o  da  extremidade  da  parte  do  rodete  sustem-se  scbre  a 
trave ,  c  cc  ^   e  o  da  outra  extremidade  descança  sobre 
huma  columna  de  madeira,  ou  esteio,  DD,  este  cy- 
lindro  a  que  chamão  sarilho^    tem  quatro  rodas,    EE 
EE  ,    distantes  huma    da  outra  dois  até  três  palmos, 
os  quaes  tem  seis,  e  mais  de  diâmetro,  bem  como  as 
rodas  de  mão  ;    como  ellas  também  tem  regos  na  peri- 
feria flfl  ,    até  agora  costum.avão  fazer-lhes  hum  só  re- 
go ,    o  que  exigia  hum  sarilho  muito  comprido,    para 
fazer  mover   oito  escaroçadores  ,    a  cujo  inconveniente 
obstei,    mandando  fazer  dois  regos  em  cada  roda  ,    de 
donde  sabem  duas  cordas ,  cada  huma  para  sua  parte  , 
a  mover  seu  escaroçador  correspondente  ,  e  que  se  de- 
vem prender    nas  rodinhas    xx  xxx  x  xx    do  modo, 
que  expliquei  na  Fig.   5.    tendo  sempre    o  cuidado    de 
as  fazer  cruzar    em  huma   dss  rodinhas  ,    para  ter  bom 
effeito  a  operação,  s  s  s  s  s  s  s  s  são  os  escaroçadores ,  ou 
banquinhos  com  os  cylindros  ,   que  escarocão  ;   e  está 
cada  hum  defronte  do  iado ,  que  lhe  corresponde,  ittt, 
itt  t  he  o  sobrado ,  ou  assoalhado  (1) ,    em  que  estão 
os  escaroçadores ,    u  u  esteios  ,    que  sustentáo  o  assoa- 

Iha- 

Cl)  Tenho  mandado  fazer  o  sobrado,  para  que  apoei' 
ra ,  que  Icvantão  os  animaes ,  não  sujem  o  Algodão. 


•a^i 


lliado  ,  r  z  z  z  as  aímanjarras  ,  ou  alavancas ,  em  qtre 
puxão  os  animaes  ;  estes  ,  andando  nas  extremidades 
destas  alavancas ,  movem  o  eixo  ^  ^  ,  e  juntamente- 
a  roda  dentada  (bolandelra  vulgarmente),  e  esta  o  ro- 
dete  aaa^  e  juntamente  o  sarilho  BB  ,  com  as  rodas 
E  £  E  E  5  as  quaes  também  ,  por  meio  das  suas  cor- 
das,  fazem  mover  os  cylindros  dos  escaroçadores  ,  on- 
de está  huma  pessoa  applicando  o  Algodão  :  deste  mo- 
do 5  com  a  maior  facilidade  ,  pode  huma  bolandeira 
com  oito  rodas  escaroçar  em  hum  dia  duzentas  e  cin- 
coenta  e  seis  arrobas  de  Algodão  em  caroço  ,  que  ren- 
de sessenta  e  quatro  em  lã  :  mas  nunca  descarcção 
tanto  ,  não  só  pelo  estorvo ,  que  costuma  haver  ,  pri- 
meiro que  os  animaes  venhão  para  o  engenho  ,  comO' 
também  pela  pouca  habilidade  das  metedeiras ,  e  outras 
cousas  mais.  Com  tudo  as  oito  rodas  com  todos  estes; 
estorvos,  supposto ainda  ,  que  as  metedeiras  sejão  pou- 
co hábeis  ,  podem  descaroçar  cento  e  vinte  oito  arro- 
bas ,  vindo  a  caber  a  cada  huma  metedeira  oito  arro- 
bas em  caroço ,  ou  duas  de  lã ,  que  he  a  tarefa  ordi- 
nária ,  e  na  roda  de  mão  a  tarefa  ordinária  he  quatro 
arrobas  em  caroço  ,  o  que  rende  huma  de  lã  :  se  , 
quando  eu  usava  de  rodas  de  mão  ,  recebia  ,  por  tare- 
fa ,  duas  arrobas,  e  arroba  e  meia  de  lã,  devia  isso  á 
certeza,  e  bondade  dos  meus  engenhos,  e  sobre  tudo^ 
á  destreza  de  minhas  escravas ,  adquirida  pelo  continua- 
do  uso. 

Quatro  arrobas    de  Algodão    em  caroço  ,    do  que 
ate  costuma  aqui  cultivar,  rende  commummente  huma 

ar-» 


C  279  ) 

arroba  de  lã,  e  quando  o  tempo,  tem  corrido  propicio, 
dá  huma  arroba  ,  c  oito  libras  pouco  mais ,  ou  menos» 
Os  cylindros  ,  ou  são  feitos  de  páo  ao  torno,  cu  de 
ferro;  sobre  a  preferencia,  que  se  deve  dar  aos  de  hu* 
ma  ,  ou  aos  de  outra  matéria  ,  formão  os  Agricultores 
questão  :  eu  tenho  experimentado  huns ,  e  outros  j  c 
acho ,  que  os  cylindros  de  páo  engolem  ,  ou  pegão  me* 
llior  o  Algodão  ;  tem  porem  o  inconveniente  de  se 
gastarem  muito  depressa  ,  pelo  c;ue  necessita-se  de  se 
refazer  de  outros  a  miúdo  ,  o  que  não  tem  os  da  fer- 
ro,  que  ainda  ,  que  não  engolem  tanto  ,  cora  tudo 
engolem  sufficientemente  ,  durão  muitos  annos  ,  por 
cuja  razão  lhes  dou  a  preferencia  ,  e  nem  uso  de  ou- 
tros ;  he  necessário  com  tudo  ,  que  as  chumaceiras ,  on- 
de descanção  os  taes  cylindros  (eixos  como  vulgarmen- 
te chamão)  sejâo  de  madeira,  e  sejão  íevadiças,  para 
quando  se  gartarem  ,  mieterem-se  outras ,  porque  ,  sen- 
do também  de  ferro,  gastão  se  com  rnai?  presteza  ,  'e 
íicão  mais  perro?  ;  quando  a  superfície  dos  cylindros  es- 
tiver já  brunida  ,  esfregão  se  com  huma  lima ,  para  po* 
derem  engolir  o  Algodão  :  em  qtianto  a  grossura  dos 
taes  cylindros  (eixos)  ,  deve-se  saber,  que  em  geral 
quanto  mais  delgados,  com  mais  facilidade  moem,  oa 
engolem  :  ás  vezes  a  lã  em  vez  de  cahir  ,  se  enrolla 
no  cylindro  ,  o  que  serve  de  grande  estorvo,  pois  at« 
he  necessário  desandar  as  rodinhas  xxxxxxxx^  pa- 
ra desenrollar-se  ,  o  que  se  veda,  pondo  cmtros  dois 
cylindros  de  páo ,  ou  varinhas  por  detraz  destes  ,  e  qtie 
estejão   immoveis  ,   «ncostados  nes  «daus   qlindrot  ^ 


C  22o  ) 

(ou  eixos)  apoiando  as  cabeças  contra  as  pequenas  vir- 
gens. 

A  boiandeira    do  meu  engenho  ,    tendo   quarenta 
palmos  de  diâmetro  ,    tem  cento  e  setenta  e  seis  den- 
tes,  o  rodete  tem  oito  dentes,  ou  fuselos  ,  os  quaes , 
divididos  pelos  da  boiandeira  ,    dão  hum  quociente  de 
vinte  e  quatro,    pelo  que  no  tempo  ,    em  que  a  roda 
dentada  faz  gyro  inteiro,  o  rodete,  e  sarilho  dão  vin- 
te e  quatro  gyros ,  e  por  conseguinte  as  rodas  EEEE', 
c  como  o  diâmetro  década  huma  excQdç  sete  vezes  ao 
diâmetro  das  rodinhas  x  x  x  x  xx  x  x  ,    segue-se  ,    cue 
em  quanto  aquelJas  gyrão  huma  vez  sobre  o  seu  eixo , 
estas  gyrão  sete  vezes  ;  e  que   em  quanto  a  roda  den- 
tada A  A  A  A  gyrar  huma  vez  ,    as  pequenas  xxxxx 
seoíoc  gyraráó  cento  e  sessenta  e  oito  vezes  ,    e  junta- 
mente oscylindros,  a  que  ellas  estão  unidas:  ora,  co- 
mo esses  cylindros    tem  hum  pc    de  comprimento  ,    e 
os  capuxos  huma  pollegada ,  e  he  necessário  hum  gyro 
para  os  cylindros  engolirem  inteiram.ente  hum  capuxo, 
segue-se  ,    que    6m  quanto   os  cylindros    derem    huma 
volta ,  serão  engolidos ,  ou  moídos  doze  capuxos ,  pois 
tantos   cabem    em  todo    o'  comprimento    dos  cylindros 
(eixos) ,  e  por  conseguinte  em  quanto  a  boiandeira  der 
huma  volta,  serão  moidos  dois  ,   ou  dezeseis  capuxos , 
segue-se  mais  ,    que  supposto  que  os  animaes  dem  só* 
mente  hum  gyro  com  a  boiandeira  no  espa(;o  de  hum 
-minuto,  dentro  de  huma  hora  teria  moido  hum  só  es- 
caroçador   120  ,    e   960  c;^apuxos   a  libras  40}  ^  por 
isso  mesmo  ,.  que  ,30o  capuxos  pesão  pouco  mais,  ou 

me- 


menos  hiima  libra,  o  que  reduzido  a  arroias  dá  12  j| 
de  Algodão  em  caroço,  que  rendem  em  lá  três  arrobas, 
e  quutro  arráteis  e  três  quartas,  vindo  assim  em  hum 
dia  cada  descaroçador  a  descaroçar  arrobas  em  caroço 
1 U  --  ,  e  reduzido  a  lã  a  trinta  e  sete  arrobas ,  e  vin- 
te  e  hum  arráteis  e  meio  :  oito  descaroçadores ,  com 
que  trabalha  huma  bolandeira  ordinária"  ,  descaroçarião 
por  dia  arrobas  em  caroço  1218  ,  reduzido  a  lã  arro- 
bas 302,  libras  24  ;  quantidade  na  realidade  estupen- 
da ,  com  tudo  não  deixaria  de  acontecer  assim  ,  sup- 
pondo-se  huma  ligeireza  tal  nas  mãos,  que  todo  o  es- 
paço do  comprimento  dos  cylindros  (eixos)  estivesse 
sempre  occupado  de  capuxos. 

Mas  a  tanto  não  chega  o  nosso  poder. 

As  mãos  da  mais  hábil  metedeira  nunca  chega  a 
acompanhar  a  ligeireza  da  maquina  :  devemos-nos  pois 
contentar  com  duas  arrobas  de  lã,  por  cada  descaroça- 
dor no  dia  ,  que  são  trinta  e  duas  arrobas  de  lã  no 
dia ,  nos  engenhos ,  que  trabalhão  com  oito  rodas .  ou 
dezeseis  descaroçadores ,  isto  he  ao  menos  :  pode  cres- 
cer muito  este  numero ,  ainda  mesmo  outro  tanto ,  se 
puzerem  a  trabalhar  hábeis  metedeiras  ,  e  diminuírem 
os  estorvos. 

Dois  animaes  bastão  ,  para  mover  esta  maquina 
com  muita  facilidade  ;  na  que  fiz  construir  de  novo 
este  anno  ,  lhe  reuni  muitas  vantagens  ,  porque  lhe 
accrescentei  dois  cylindros  ao  eixo  do  meio ,  para  moer 
canas  ,  e  á  extremidade  exterior  do  sarilho  lhe  appliquei 
hum  bom  ralo  de  moer  mandioca ,  de  sorte ,  que  moe 

ca- 


i 


canas ,  Algodão  ,  e  mandioca  ao  mesmo  tempo  :  quan- 
do se  intenta  moer  só  canas  ,  e  não  Algodão  ,  basta 
tirai-  ao  rodete  três  dentes,  assim  fica  o  sarilho  inimo- 
vel  ,  e  cjuando  se  quer  moer  Algodão  ,  e  não  canas , 
tiráo-se  os  dois  grandes  cylindros  lateraes. 

Pódese  também  fazer  moer  esta  maquina  pelo  uso 
de  agua  ,  e  então  ainda  he  mai»;  simples  ,  pois  basta 
produzir  por  huma  parte  o  eixo  da  mesma  roda  de 
agua,  e  nelle  fazer  as  rodas  canuladas,  onde  andão  as 
cordas  ;  e  Paranãbuc  já  tem  alguns  engenhos  destes, 
Ke  preciso,  de  passagem  ,  fazer  huma  advertência ,  que 
vem  a  ser,  que  o  fabricante  deve  escolher,  e  guardar 
da  primeira  semense  do  Algodão,  que  escaroçar  ;  por- 
que deixando-se  para  o  fim  ,  e  estando  o  Algodão  mui- 
to amontoado ,  passa  a  huma  espécie  de  fermentação  , 
e  n|o  nasce  quando  se  planta. 


i 


AR. 


C  2Sj  ) 


ARTICULO    II. 


Vo  ensaccamento» 


X^  Epois  cie  descaroçado  o  Algodão ,  para  correr  no 
commercio  ,  he  necessário  ensaccallo  ;  para  este  effeito 
toma-se  hum  sacco  de  panno  de  Algodão  de  três  varas, 
deita-se  huma  porção  de  Algodão  no  fundo  do  sacco, 
e  se  vai  depois  metendo  a  pequenas  porções  com  huma 
palheta  ,  e  vão  enchendo  pelos  interstícios  ,  e  assim 
até  o  fim  5  ou  até  fechar  em  cima  ,  deste  modo  me- 
tem em  hum  sacco  quatro  arrobas  até  quatro  e  meia 
xnais ,  ou  menos  ,  conformç  a  habilidade  do  ensacca- 
dor ,  o  qual  commummente  não  ensacca  mais  de  huma 
sacca  no  dia,  e  fica  quasi  inhabil  para  fazer  outro  tan- 
to no  dia  seguinte  ;  porque  he  dos  trabalhos  mais  fa- 
tigantes :  este  he  o  modo  de  ensaccar  ,  de  que  mais  se 
tem  usado. 

Ha  outro  modo  de  ensaccar ,  a  que  chamão  ensac- 
car  no  ar ,  que  he  da  m.aneira  seguinte  :  fórma-se  hum 
sacco  ordinário  ,  alinhava  se  ,  em  a  bocca  ,  hum  arco 
de  huma  verga  de  hum  páo  ílexivel  ,  de  sorte  que  fi- 
que bem  seguro  com  a  orella  do  panno  ,  suspende-se 
por  quatro  cordas  fortes  ao  ar  ,  attando-se  as  cordas 
nos  caibros  da  casa  :  o  ensaccador  mete-se  dentro  do 
sacco ,  e  com  huma  longa  palheta  na  mão ,  vai  socan- 
do por  todas  as  partes ,    até  acabar  de  ensaccar  de  to* 

do: 


C  íS4  ) 

do:  commummente  em  hum  dia  se  ensacca  huma  sac- 
ca  5  prjncipia-se  outra  ;  este  methodo  não  tem  outra 
vantajem  sobre  o  antecedente  ,  senão  de  servir-se  a 
ensaccador,  além  das  suas  forças,  do  próprio  peso  do 
seu  corpo  ;  porem  he  igualmente  fatigante ,  e  nem  es- 
tá fora  do  perigo  de  fazer  enfermo  o  ensaccador  pela 
continuação  ,  por  causa  do  calor  do  mesmcr  Algodão, 
que  recebe  dentro  do  sacco ,  em  qire  anda  quasi  sem- 
pre atollado  ate  o  meio>  da.  perna  :  nmitas  pessoas  cos- 
tumão  molhar  as  saccas  á  proporção  que  se  ensacca  ; 
nãO'  vejo  em  que  beneficie  semelhante  methodo. 

O  trabalho  fatigante  desta  opetação  ,  e  alguma 
curiosidade,  que  exige  da  parte  ,  de  quem  ensacra ,  faz 
com  que  os  negros  se  neguem  a  este  trabalho,  por  cu-, 
ja  razão  são  cqntados  os  ensaccadores  ,  e  logrão  hum 
preço  distincto:  isto,  e  o  vagar,  com  que  se  ensacca, 
me  picarão  ,  desde  que  principiei  a  empregar  me  nesta 
cultura  ,  a  descobrir  hum  meio  ,  pelo  qual  obstasse  a 
tantos  inconvenientes ,  sendo  hu^m  delles  a  rotura  ,  que 
per  sem.elhantes  methodos  se  fazem  nos  saccos. 

Cheguei  finalmente  a  inventar  a  maquina  Fig.  i, 
Tab.  7.,  na  qual  ajuntei  todas  as  Gommodidades  possí- 
veis, como  vou  mostrar  :  AAAA  são  quatro  virgens  > 
cu  columnas  de  páo  de  quatro  faces ,  que  devem  estaf 
bem  enterradas  no  chão  ,  para  poderem  resistir  á  ex» 
traordinaiia  força,  que  nelks  se  deve  fazer:  aaaa  he 
hum  caixão  do  comprimento  de  nove  palmos,  de  lar- 
gura de  dous  ,  e  de  altura  de  quatro  palmos ,  b  b  ho, 
hum  dos  lados  do  caixão ,  que  deve  ser  de  taboa  bem 

for- 


(235  > 

íbrte  ,   e  que  -deve  abrir  por  meio  das  dobradiças,  co- 
mo se  vê  ,  c  c  são  duas  taboas  ,  igualmente  ,  fortes  em- 
iiebidas  ncjaibre  ,    ou  chanfradura  :    d  d  são  huns  pe- 
ijuenos  buracos  quadrados  ,    para  leceberem  duas  trai> 
cas ,  que  servem  de  retor^çar  estas  mesmas  taboas  :    e  e 
^  e  são  duas  trancas  de  cada  lado ,  para  confortar ,  des- 
cansando nos  gattos  ;  ff  he  hum  chaprão  de  sete  psl- 
iíios  de  ^  comprido  9    que  cabe  justo  no  vão  do  caixão; 
•g-g-  huma  taboa  ,    que  corre  livremente    en-tre    as  vir- 
gens, furada  nomeio,  por  cujo  buraco  sahe  livremen-, 
te  o  parafuso  ;  h  h  que  com  tudo  não  deve  sahir  pela 
cabeça  do  mesmo  parafuso  ;  i  l  são  dous  brinquetes  fi- 
xos no  chaprão ,  e  na  taboa  ^   /  /  he  a  cabeça  do  para- 
fuso ,    que  <leve  encaixar  em  huma  cova  feita  no  cha- 
práo    do  mesmo  diâmetro  do  parafuso  :    n  n  he  huma 
alavanca,    de  donde  sahe  a  corda  ,    a  qual  vem  enfo- 
Jar-se  no  cabrestante  oooo^  para  apertar  com  m^ais  for- 
ça Q  parafuso. 


Vso  desta    maquiaa. 


Quando  se  quer  usar  desta  maquina  ,  deve-se, 
primeiro  que  tudo ,  levantar-se  o  chaprão  ^  destorcendo 
o  parafuso  hh  ^  até  huma  altura  conveniente  ;  depois 
abrem-se  os  lados  do  caixão  a  (ni  a  ^  os  quaes  devem 
ter  as  dobradiças  nas  partes  contrarias  ;  para  não  abri- 
rem para  a  mesma  parte  ^  devem-se  também  tirar  as 
taboas  das  cabeceiras  «  «  ,  de  modo  ,  que  fique  tudo 
desembaraçado ,  e  appareça  €  chaprão  debaixo ,  no  qual 


C    2U    ) 

se  deve  logo  estender  vara  e  meia    de  panno  de  Algo- 
dão,  espixando-o  bem,  operação,  que  fazem  dua?  pes- 
soas, hiima  de   huma ,  e  outra  de  outra  parte,  come- 
çando por  hum.a  das  cabeças  :  e  aqueIJa  porção  de  pan- 
no,  que  espixarem  ,  a  devem  ir  enfiando  em  Iiuns  pe- 
quenos ferrões  mui  curtos,  que  estão  ao  longo  do  clia- 
prão  pela  margem  ,  na  distancia  de  quatro  pollegadas  ; 
do  mesmo  modo  deve-se  estender  na  superfície  inferior 
do  chaprão  superior  outra  vara  e  m.eia  do  mesmo  pan- 
no ,    cuja  oreila  deve  ficar  igualmente  enfiada    em  se- 
melhantes preguinhos:    estando  tudo  assim  preparado, 
fechão.se  os  lados  do  caixão  aaaa  ,    metem-se    as  ta- 
boas ,    c  c  das  cabeças  do  caixão ,    metem-se  as  trancas 
nos  gatos ,  e  as  que  atravessão  pelos  buracos  d  d ,    de- 
pois de  estar  o  caixão  assim  trancado,  enche-se  de  Al- 
godão até  cima,  o  qual  deve  ter.  sido  antecedentemeií- 
te  pesado;  os  quatro  palmos  de  altura,  dei  ao  caixão, 
são  sufficientes  para  conter  arrobas  4  p  até,   5,  que  he 
bastante  para  hum  costado  de  carga  de  cavallo :  depois 
de  cheio  o  caixão  de  Algodão  ,    desanda-se    o  parafuso 
á  itião,  até  que  o  chaprão  X^  se  introduza  no  caixão  , 
em  que  deve  entrar  bem  justo  ;  então  se  vai  apertan- 
do ,    até  que  dois  homens    com  alavancas   nos  buracos 
da  cabeça  do  parafuso  não  possão  mais  apertar :  para  o 
fazer,  he  necessário,  que  estas  duas  pessoas  vão  force- 
jar  no  cabrestante  0000  onde    á  proporção  ,    que  pu- 
xão,   se  enrolla  a  corda,    que  sahe  da  extremidade  da 
alavanca  n  n  :  por  este  modo  se  augmenta  maravilhosa- 
mente a  força ,  ficando  o  Algpdãq  extremamente  com- 

pri- 


Á 


(  2^7  ) 

priniido  debaixo  do  chaprão  ,  de  modo,  que  o  volu- 
me ,  que  occupava  os  quatro  palmos  de  altura  de  cai- 
xão,  não  occupa  senão  hum  palmo  ,  e  menos,  con- 
forme o  gO'to  de  quem  o  faz  apertar  ;  toda  vez  que 
está  no  sufficiente  gráo  de  compressão  ,  o  que  já  se 
♦  tem  marcado  no  parafuso ,  segura-se  a  cerda  no  cabres- 
tante,  para  que  o  paraFu;o  não  debande  ,  abrem-se  as 
portas ,  oú  os  lados  do  caixão  ,  tirão  se  as  sobras  late- 
raes  do  panno ,  tanto  dochaprão  superior  ^f,  como  do 
inferior  segurando  nos  preguinhos ,  e  coze-se  com  hu- 
ma  agulha  própria ,  e  barbante ,  todo  em  roda  ;  depois 
de  bem  cozido  ,  operação ,  que  se  faz  rapidamente ,  af- 
frouxa-se  a  corda  da  alavanca  nn,  e  levanta -se  o  para- 
fuso ,  o  qual  pelo  artificio  da  taboa  gfg-  leva  também 
comsigo  o  chaprão//,  ficando  a  sacca  já  acabada  em- 
baixo, que  se  tira  para  o  seu  lugar  competente,  e  tor- 
ns-se  armar  a  maquina  do  modo ,  que  fica  dito  ,  para 
ensaccar  segunda  ,  e  assim  as  outras. 

Quaes  são  as  utilidades  desta  maquina  ?  Além  de 
infinitas  utilidades  ,  eu  descubro  as  que  se  seguem  ; 
primeiramente  ella  pode  ensaccar  vinte  saccas  de  Al- 
godão em  hum  dia ,  ao  miesmo  tempo ,  que  pelo  modo 
oídinario  não  se  ensacca  mais,  do  que  bu ma  sacca  :  e 
quando  algum  ensaccador  chega  a  ensaccar  mais  que 
liuma,  conta  se  por  grande  façanha;  pelo  que  sedimi- 

nue    maravilhosamente    a    mão   dobra   na  razão   de  -L 

20 

que  não  he  pequeno  proveito  ,  pois  que  trabalho  de 
ensaccar  huma  sacca  de  Algodão  se  paga  240  reis ,  vin- 
do o-senhgr  deiíi^ma  semelhante  maquina  a  poupar  em 

bum 


hum    dia    240  reis  ,    multiplicados    por  vinte  igual   n 
4800,    eu  nunca  estorvo  os  dias  de  trabalho  de  meus 
escravos    com  esta  operação  :    quando  tenho  sufficiente 
quantidade    de  Algodão  escaroçado  ,    chamo    dous  dos 
mais  destros  na  manobra  ,   e  dentro  de  pouco  mais  de 
duas  horas  me  ensaccão  quatro  saccos ,    isto  faço  ,    ou 
de  manhã  antes  de  os   mandar  para  o  serviço  ,    ou  de 
tarde  ao  recolher  :    pelo  que  o  ensaccamento  de  Algo- 
dão,    sendo  para  os  mais  fazendeiros  hum  dos  maioret 
incommodos ,  eu  o  não  tenho  por  trabalho.  Outra  uti- 
lidade não  pequena  he  ,  que  qualquer  panno  serve  para 
saccos  ,    ainda  que  seja  fraco  ;   porque  comprimindo  o 
Algodão  igualmente  por  todas  as  partes ,  resiste  melhof 
ao  resto  da  elasticidade  ,    que  lhe  deixou  a  compressão 
do  parafuso  ;   não  acontece  assim    no  antigo  modo    de 
cnsaccar  ;   porque  ,    por  mais  forte  que  seja  o  panno , 
para  cujo  effeito  o  encommendão  de  propósito ,  sempre 
rompe ,    já  pelo  attrito  da  palheta  em  qualquer  descui- 
do ,    já  porque  ficando    o  Algodão  dentro  da  sacca    ao 
modo  de  buxas,  deixando  intervallos  vazios^  portão-s* 
com  desigualdade ,    e  rompe-se  o  sacco  por  todo  o  seu 
comprimento  >  já  quasi  no  fim  da  operação. 

A  terceira  utilidade  he  ,  que  pelo  meu  methodo 
recebem  os  saccos  a  forma  quadrangular  ,  ficando  de 
altura  com  menos  de  hum  palmo  ,  o  que  he  muito 
commodo  ,  tanto  para  serem  transportados  era  cavai- 
los ,  como  para  o  arranjamento  nas  embarcações,  qua- 
lidade ,  que  não  tem ,  os  que  se  ensaccão  pelo  methov. 
do  vulgar:  a  quarta  utilidade,  he  de. não  serem  as  fi- 
bras 


C  í89  5 

bras  do  Algodão ,  quebradas  pela  palheta ,  a  esta  ainda 
podemos  ajuntar-lhe  quinta  utilidade  ,  e  he  a  de  nos 
podermos  servir  de  panno  de  mais  baixo  preço  ,  que 
he  de  160  reis,  entre  tanto,  que  pelo  methodo  ordi- 
nário se  está  sempre  na  precisa  obrigação  de  se  com- 
prar panno  de  Algodão  de  encomenda  por  240  reis  a 
Tara, 

Depois  de  ter  construído  a  maquina  da  Fio-,  i. 
Tab.  7.  ,  imaginei  a  da  Fig.  I.  Tab.  8.  ,  na  qual  se 
poupa  a  força  do  homem  pela  de  hum  boi  ,  que  deve 
puxar  na  alavanca  (  almaíijarra  )  j/ 3/  ;  esta  tem  vinte 
palmos  de  comprido  ,  contando  pela  linha  horizontal 
paralella  ao  terreno  ,  que  venha  terminar-se  na  extre- 
midade da  alavanca  (  almanjarra)  ,  que  he  como  se 
deve  calcular ,  daqui  he  fácil  conceber  a  extraordinam 
força  5  que  resulta  de  semelhante  alavanca  ,  com  os 
planos  inclinados  do  parafuso  :  o  boi  não  se  deve  me-* 
ter  na  alavanca  ^yj/ ,  senão  depois  ,  que  dous  homens 
na  mesma  não  poderem  dar  mais  volta  ,  porque  então 
íie  que  fica  no  ponto  proporcionado  á  sua  altura  ,  no 
mais  não  tem  differença ,  da  que  reprezentei  na  Fig.  1, 
Tab.  7.,  bem  como  outra,  que  fiz  construir  para  uso 
de  Agricultores  de  menos  posses  ,  ella  he  igualmente 
boa  ,  e  a  única  diíferença  ,  he  de  ter  dous  parafusos 
cm  lugar  de  hum  ,  em  cada  cabeça  ,  ou  extremidade 
do  chaprão  o  seu ,  para  calcarem  igualmente.  Qualquer 
maquina  destas  não  pôde  custar  mais  de  12000  mil 
reis  em  hum  paiz  tão  abundante  de  madeiras  como 
este 
T.  F.  P.  I.  T  Lo- 


Ç  290  ) 

Logo  que  consegui  ensaccar  nas  maquinas,  de  que 
acabo  de  dar  a  descripção ,  o  que  sempre  duvidarão  os 
Agricultores  mais  intelligentes  das  minhas  vizinhanças 
sem  outra  razão  mais  que  o  seu  prejuízo  ;  vierão  ainda 
mesmo  de  longe  innumeraveis  pessoas  a  vêr  e  se  ad- 
miravão  ,  de  que  ate  então  se  não  tivesse  descoberto 
hum  methodo  tão  fácil ,  e  conveniente  ;  mas  a  pezar 
desta  approvação,  e  das  utilidades,  que  acima  referi 
não  se  tem  vulgarisado  tanto,  quanto  devera  :  penso 
comtudoj  que  em  poucos  annos  virá  a  ser  mais  com- 
mum  ,  pois  de  diversas  partes  se  me  tem  mandado 
pedir  modelos ,  e  sei  de  alguns  Agricultores  ,  que  se 
preparão  a  praticallo  ,  assim  que  o  tempo  correr  mais 
próprio  para  esta  cultura  ^  do  que  tem  corrido  estes 
dous  annos. 


ÂDi 


't/.e2.^ 


H^â.^. 


VvAv 


Ej/.  8. 


C  299  ) 


APPENDICE. 


MEMORIA  L 

DA  CULTURA    DO  ALGODOEIRO  HERVA, 

QSemanario  de  Agricultura  Tom.  VI.  Num.   IJJ, 
pag.   32$.) 


D 


E  todas  quantas  plantas  exóticas  se  tem  procura- 
do connaturalizar  no  nosso  paiz  ,  o  Algodão  he  hum» 
das  mais  importantes,  visto  encontrar.se  no  seu  fructo 
íiuma  das  matérias ,  que  mais  geralmente  se  empregão 
em  os  nossos  vestidos  ,  e  moveis.  Não  afíirmaremos 
ser  da  mesma  importância  que  o  trigo  ,  e  seria  hum 
grande  desatino  destinar-lhe  as  nossas  excellentes  terras 
com  preferencia  ás  planta?,  que  satisfazem  as  nossas 
primeiras  necessidades  ;  porém  não  seria  menos  conve- 
niente que  ao  menos  em  as  hortas,  e  jardins  de  luxo, 
occupasse  algum  lugar  huma  planta  tão  útil  ?  Isto  nos 
obrigou  a  publicar  a  Carta  do  Cidadão  Gilot  aos  Edi- 
tores de  hum  periódico  Francez  (o  Cultivador)  que  con« 
tem  quanto  he  indispensável  saber-se  para  se  empre* 
hender  esta  cultura  com  acerto. 
J.  V.  P.  I.  Y  Em 


C  300  ) 

Em  Jnima  fabrica  de  íilaças  de  Algodão  ,  estatele* 
cída  em  Mompelher ,  recolhi  algumas  sementes  ,  e  as 
semeei  em  huns  vasos  ,  quanto  julguei  que  o  tempo 
era  conveniente  ,  tive  a  satisfação  de  os  ver  nascidos 
cm  dois  dos  mesmos.  Em  hum  destes  foi  a  vegetação 
\ão  vÍ2;otosa  ,  que  não  cabendo  a  planta  no  vaso  fui 
obrigado  a  plantalla  cm  terra,  e  vi  formar-se  huma  ar- 
vore de  Algodão  ,  que  no  curto  espaço  de  seis  mêzes 
se  levantou  ã  altura  de  oito  pés ,  com  huma  copa  de 
àúiQ  pés  de  circumferencra.  Começava  a- dar  mostras  de 
florecer  ,  quando  sobrevieráo  os  frios  do  inverno ,  e  por 
mais  precauções ,  que  tomei  para  os  preservar  ,  tudo 
"veio  a  ser  inu-tii. 

O  outro  me  deo  buma  planta  herva ,  que  proctir- 
íio  cinco  ,  ou  seis  eapulhos  ,  dos  quaes  só  dois  ama- 
durecerão ,  e  derão  quarenta  sementes.»  Fiz  com  ellas 
alguns  ensayos ,  que  me  íízerão  ver ,  que  rrem  todas  as 
terras  erão  a  propósito,  para  sen  ear  o  Algodão  ;•  porque 
as  fortes  em  demasia  as  suffocão ,  e  as  areiscas,  e  mui 
soltas  não  lhe  administrão  sufficiente  alimento.  Por  ex- 
periências repetidas  me  tenho  convencido  de  ser  me- 
lhor a  de  mediana  qualidade  ,  com  alguma  consistên- 
cia ;  porem  não  mui  forte.  A  proximidade  de  algum 
ík),  ou  regato,  he  muito  vantajoso  para  as  regas  ,  que 
^2o  muito  necessárias. 

Para  ô  semear  ,  se  escolherão  sementes  das  mais 
'grossas ,  e  mais  rtegras  ;  porque  as  brancas ,  ou  man« 
tfhadas  não  tem  ainda  acabado  de  amadurecer.  Será  mui« 
conveniente   polias    por  espaço   de    quatro    horas   em 


C  m  ) 

agua,  e  depois  estendellas  sobre  ferrilgem  de  chaminé  j- 
revolvendo  as  parn  que  as  envolva.  Esta  preparação  as 
preserva  dos  insectos  ,  que  eostumão  roellas  depois  de 
enterradas. 

A''  entrada  da  primavera  me  parece  o  tempo  mais 
opportuno  para  a  sementeira  ,  senão  houver  algum  re, 
ceio  de  que  hajão  immediatamente  grandes  chuvas.  A 
terra  deve  estar  bem  revolvida  j  e  os  sulcos  devem 
correr  ,  se  for  possivel  de  Norte  a  Sul  ,  por  Ser  esta  a 
exposição  a  que  mais  convém  á  planta.  O  modo  de  fa- 
zer a  sementeira  he  á  mão  como  as  favas  ,  e  outros 
legumes  /,  procurando  que  de  duas  em  duas  fileiras  de 
plantas  ,  haja  dois ,  ou  três  pés  riç  distancia. 

Mas  ílão  se  deve  esperar  huma  grande  colheita. 
Sé  as  plantas  não  forem  resguardadas  dos  ventos  do^ 
Norte  j  e  que  se  não  tenha  com  ellas  certos  cuidados. 
Pratiquei  o  seguinte  :  em  meiados  de  Julho,  tendo  as 
plantas  hum  pé  de  altura  ,  lhes  cortei  a  extremidade  do 
tallo ,  com  o  que  consegui  lançar  muitos  ramos  colla- 
teraes  ,  qit«  são  os  que  dão  fructo,  Ommittindo-se  esta 
operação,  se  erguem  demasiado  os  tallos ,  sem  produ» 
zirena  fructo  algum  ,  e  se  o  produzem  ,  he  tão  tarde  , 
cue  lhe  falta  o  tempo ,  para  amadurecerem.  A  mesma 
operação  se  deve  fazer  nos  ramos  lateraes  ,  Jogo  que 
tenhão  dois  capulh(')s  para  impedir  a  que  não  tenhão 
mais ;  porque  do  contrario  não  chegão  aquellas  em  tem- 
po opportuno  ao  estudo  de  perfeita  madureza. 

Ao  mesmo  tempo  se  devem  arfancar  as  hervasj 
que  crescem  ao  pé  das  plantas  ,   removet-Hies  a  terray 

V  a  í? 


\  -  --y, 


C    302   ) 

e  regalias  com  frequência  ,  e  por  este  modo  se  podeiá 
fazer  a  colheita  pelos  fins  de  Agosto,  ou  princípios  de 
Setembro. 

Em  todos  os  Paizes ,  que  secrião  laranjas  ao  tem- 
po j  se  poderião  plantar  Algodoeiros  com  bastante  uti- 
lidade. 

Para  completar  esta  instrucção ,  acrescentaremos  o 
que  sobre  o  mesmo  assumpto  escreve©  o  Senhor  Tru- 
chement  aos  Editores  do  mesmo  periódico. 

Semeei  (diz  elle)  sementes  do  Algodão  em  vasos , 
que  tinbão  meia  vara  de  fundo  ,  e  hum  terço  de  diâ- 
metro :  a  terra  era  muito  mais  húmida ,  e  forte ,  que 
secca  ,  e  areisca  ;  e  não  tinha  ,  ou  estrumado  ,  ou  plan- 
tado outra  planta  hun^  anno  antes.  Germinarão  muito 
bem  as  sementes ,  e  não  as  reguei  ^  até  que  as  plantas 
me  indicassem  ,  por  se  porem  algum  tanto  languidas , 
que  Eiecessitavão  agua  ,  para  se  fortalecerem  ,  e  crescerem 
com  vigor.  Logo  que  começarão  os  calores  fortes  ,  e 
principalmente  os  dias  da  canicula ,  me  foi  preciso  re* 
gar  as  plantas  rodas  as  manhãs ,  sem  embargo  de  que 
bum  amigo  m.eu  ,  que  cultiva  o  Algodão,  me  ceitifi* 
cou  que  basta  regallo  hum  dia  sim,  outro  não. 

Em  6n3  de  Setembro  os  capulhos  quasi  abertos  me 
annunciárão  ,  que  já  era  tempo  de  se  fazer  a  piimeira 
colheita.  Hum  mez  ,  ao  depois,  fiz  segunda,  e  em 
Novembro  colhi  todos  os  eapulhos ,  que  restavão  aber- 
tos ,  e  cerrados.  Para  acabar  de  amadurecer  estes  últi- 
mos,  os  puz  em  sacco  de  rede,  os  pendurei  em  huma 
Qiaminé  ,   e,  passados  quinze  dias,   se  abrirão  com  a 

ca- 


calor  do  fogo,  e  lhe  tirei  o  Algodão,  que  continhão, 
que  era  tão  bom  ,  como  o  da  primeira  colheita.  Ainda 
que  não  fosse  mui  branco  o  Algodão  que  colhi  ,  as 
pessoas ,  que  o  fiárao  ,  me  certificarão  ,  que  era  superior 
ao  que  vinha  de  Levante  ordinariamente. 

Parece-me  muito  fácil  a  cultura  desta  planta; 
pois ,  lavrando-se  ligeiramente  a  terra  em  Julho  ,  para 
destruir  as  hervas  estranhas ,  que  rebentarão  ,  obtive  tai- 
los  robustos  ,  e  bem  nutridos,  (i) 


(i)  GõsslpUim  herhaceum  Lin.  Algodão  herva  he  hu» 
ma  planta  de  flor  monopetala  acampainhada  ,  alargada 
com  a  borda  recortada,  em  cujo  fundo  se  ergue  hum 
tubo  pyramidal ,  cheio  de  estames  :  do  calis  sahe  hum 
pistiilo  ,  que  enfia  pela  parte  inferior  do  tubo  ,  e  por 
ultimo  se  conveste  em  hum  fructo  ovado,  dividido  in- 
teiramente em  5  ,  ou  4  cellulas.  Este  fructo  se  abre  por 
cima,  para  deixar  cahir  as  sementes,  envoltas  em  huma 
espécie  de  lã,  a  que  se  deo  o  nome  de  Algodão,  toma- 
do da  planta  que  g  produz.  Cresce  ate  2  ,  ou  5  pés  de 
altura  :  seu  tallo  tem  no  pó  huma  còr  parda  alguma 
cousa  roxa,  e  desds  esse  lugar  até  a  extremidade  huma 
côr  roxa  escura,  assim  como  as  ramas,  que  sahem  do 
encontro  das  folhas.  As  ramas  lateraes  -são  as  que  pro- 
duzem os- capulhos :  são  estas  primeiramente  verdes,  e 
maduras,  se  fazem  encarnadas:  o  Algodão ,  que  delias 
se  tira  ,  he  de  huma  côr  branca,  que  tira  ao  de  ma- 
}ion\  OLi  melhor  de  côr  de  carne  bastante  claro:  he  mui 
fino,  e  forte.  As  folhas  são  recortadas  em  cinco  pon- 
tas ,  como  as  da  parreira :  tem  a  face  superior  de  hum 
verde  claro  ,  e  a  inferior  de  hum  verde  esbranquiçado, 
A  côr  da  flor  he  amarella  brilhante  com  quatro  raan- 
chíij  arroxadas  no  interior. 


C   J04  ) 


MEMORIA   IL 

DA  CULTUP.A,   E  COMMERCIO  DO  ALGODÃO 
EM   SICÍLIA. 

^Semanário  de  A^ricnUara  ^  e  Artes  Num.    i8í. 
Tom.  VIII.    pa^,  49.) 


D 


As  varias  espécies  que  produzem  o  Algodão  ,  o  úni- 
co cultivado  em  Sicília,  e  Malta  he  o  Algodoeiro  lier- 
va.  O  território  de  Terra  Nova  ,  situado  nas  costas  de 
C]aragoça ,  he  o  Cantão  de  Sicília  particularmente  des- 
tinado a  esta  cultura.  As  terras  empregadas  são  de  mui 
boa  qualidade  ,  soltas,  bem  removidas  ,  e  limpas  de 
hervas  más.  De  ordinário  se  lhes  dá  a  primeira  lavra 
cm  Novembro  ,  e  de  então  até  Abril  se  lhe  dáo  qua- 
tro ,  ou  cinco  lavras.  Em  fíns  de  Março  ,  estando  a 
terra  bem  esmiuçada  ,  c  movida  ,  se  rega  ate  deixalla 
medianamente  humedecida  ,  e  se  lhe  semea  o  grão  do 
Algodão  ,  que  se  tem  em  agua  em  huma  cova  na  ter- 
ra 5  que  se  faz  por  este  íim  ,  tendo-se  cuidado  em  ma- 
nejalla  com  frequência  ,  e  de  a  esfregar  bem  ,  para  lhe 
separar  todos  os  filamentos  que  os  grãos  tiverem  pega- 
dos. 

Como  a  semente,  que  se  tira  do  Algôdab,  tjue  3 
SiciJia  produz  annualniçnte ,  degenera,   e  deijía  de  dar 

Al- 


Aieodão  da  primeira  ciualidade ,  os  Cultivadores  Sicilia- 
nos fazem  levar  de  Malta  a  semente  de  Algodão ,  que 
alli  chamão  barbw'4ííco ,  que  he  mui  superior  ao  chama- 
do bastarilme.  Os  Maltezes  comprão  mutuamente  a  se- 
mente de  Sicília,  paia  a  daiem  ao  gado,  depois  de  a 
terem  de  molho  por  muitos  dias,  e  afíirmão  ser  hum 
dos  melhores  alimentos ,  que  se  lhes  pôde  dar.  Os  la- 
glezes  tirão  delias  azeite  nas  suas  Colónias. 

O  tempo  conveniente  ,  para  semearem  Algodão  ,  hc 
o  mez  de  Maio.  Logo  que  se  espalha  a  semente  na  ter- 
ra ,  igualão  a  superficie  do  terreno  ,  servindo  se  para  isto 
não  da  grade  ;  por  não  ser  instrumento  muito  conhe- 
cido naSiciiia,  mas  sim  de  huma  espécie  degrade,  que 
fazem  de  huns  ramos  de  arvores^  atando-os  ,  e  tecen- 
do-os  huns  com  outros.  Atão  esta  grade  i  canga  de 
hum  boi  ,  e  sobre  ella  se  senta  o  que  os  dirige  ,  e, 
fazendo-a  arrastar  por  toda  a  extensão  da  terra,  conse- 
guem applainar  a  supeificie  :  operação,  que  se  olha  cOf 
mo  mui  importante,  para  evitar  que  o  ardor  os  raio? 
^o  Sol  faça  evaporar  com  demasiada  promptidão  a  hu- 
midade, tão  necessária  á  germinação  desta  planta. 

Tendo  a  planta  cinco,  ou  seis  folhas,  se  moiid* 
para  sá  lhe  tirar  toda  a  terra  estranha.  Tendo  certa  al- 
tura ,  se  lhe  tira  (capa)  as  pontas  ,  para  a  fazer  lançar 
mais  ramas ,  que  produzem  os  capulhos ,  em  que  se  acha 
o  Algodão,  visto  que,  a  não  se  ter  este  cuidado,  dará 
mui  poucos,  e  não  stí  encherá.  Conhece-se  ser  o  tenj- 
po  desta  ope/ação  ,  quando  seu  tallo  se  faz  epr  de  chwm^ 
bo.  TornW  ao  depois  a  mondar,  ou  capinar. 

De 


(  3g6  ) 

Deoidinario  se  faz  acolheita  no  niez  deOiituhro, 
segundo  o  adverte  a  abertura  voluntária  dos  capulhos, 
que  deve  ser  completa,  para  se  lhe  poder  tirar  o  Al^o- 
dão  com  facilidade.  Quatro  ,  ou  cinco  dias  depois  'da 
primeira  coJheita ,  se  torna  a  repetir  a  mesma ,  a  Hm 
de  se  fazer  huma  segunda  ,  e  assim  se  continua  até 
recolher  todas,  á  proporção  que  vão  amadurecendo,  e 
abrindo.  Sobre  esteiras,  ou  grades  de  canas,  se  esten- 
dem  todos  os  capulhos,  para  que  se  acabem  de  seccar , 
e  se  Jhe  possa  tirar  o  Algodão  com  maior  facilidade. 
Se  nos  fins  de  Novembro,  ou  princípios  de  Dezembro, 
em  que  as  chuvas  já  são  frequentes  ,  houverem  toda- 
via  alguns  capulhos,  que  colher ,  se  colhem  ,  ainda  que 
não  estejão  totalmente  maduros  ,  e  se  põem  ao  Sol  , 
ou  em  forno  mediocremente quente,  para  que  seabião, 
bem  que  o  seu  Algodão  seja  de  inferior  qualidade. 

Descaroçar  o  Algodão  he  huma  occupação  ,  com 
que  as  Senhoritas  Maltezas  se  divertem  ;  e  para  isto  se 
servem  de  huma  maquineta  composta  de  dois  cvlin- 
dros  ,  arranjados  horizontalmente  hum  sobre  o  outro 
em  tão  curta  distancia  ,  que  ,  obrigando  a  passar  por 
entre  elícs  o  Algodão ,  não  podem  passar  as  sementes. 
Os  dois  cylindros  se  sustentão  por  dois  pcs  direitos  , 
que  se  achão  fixos  sobre  huma  taboa  ,  que  põem  no 
seu  colo. 

Nas  terras ,  que  hum  anno  tiverSo  Algodão  ,  no 
seguinte  semeão  outra  qualquer  semente,  e  produz  ma- 
ravilhosamente. 

Certificão  que  05  Proprietários  Sicilianos  despachão , 

ou 


€11  vendem  annualmente  para    o  Estrangeiro   quasi  trais 
mil  quatro  centos  quintaes  de  Algodão  ,    preparado  de 
differentes  modos ,  e  que  o  restante  da  colheita  se  con- 
somme    na  mesma  Ilha.     O  quintal  ,    do  que   chamao 
Algodão  Urdo  ,  que  he  tal  qual  se  tira  do  capulhó  ,  se 
regula    a  cinco  pesos  (4^000)  o  que  chamão  magala^ 
gio,  que  he  descaroçado,  mas  sem  fiar  a  vinte  e  dois 
(17,^600)    Porém  a  maior  parte  do  Algodão  ,    que  se 
tira  de  Sicilia  he  já  fiado  ,  e  neste  estado  o  quintal  do 
da  pritneira    sorte    se    costuma   vender    por  cem    pesos 
CSo^ooo)  Differentes  fabricas,  estabelecidas  «o mesmo 
paiz ,   o  tecem  ,  e  lhe  dão  novo  valor. 

Para  se  calcular  a  utilidade  ,  que  deixa  a  cultura  dô 
Algodão,  sLipponhamos ,  que  se  semee  em  huma  salma 
de  terra  de  superior  qualidade,  por  cujo  arrendamento 
se  paga  em  Sicilia  mil  reales  C42>èooo)  serão  os  gastos 
necessários ,  para  preparar  a  terra  ,  e  fazer  a  sementeira 
sete  cen^tos  e  cincoenta  reales  ( 3  ííJ)ooo)  A  semente 
custa  a  duzentos  e  cincoenta  reales  (10^500)  os  gastos 
da  colheita  se  reputa  em  sete  centos  reales  (29,^400) 
para  machucallo ,  e  pollo  em  madeixas  mil  sete  centos 
e  cincoenta  reales  (j^^<>00)  total  dos  gastos  cinco  mil 
cento  e  cincoenta  reales  Ci88,^40o)- 

Por  hum  preço  médio  ,  hmr\z  salma  de  terra  produz 
áezasete  quintaes  e  meio  de  Algodão  descaroçado,  que 
em  razão  de  vinte  e  dois  pesos,  (^11^)606)  compõem 
quinhentos  setenta  e  sete  (ajá^oSc)  ,  ajuntando-lhe  o 
valor  da  semente  ,  que  costuma  ser  quatio  centos  se- 
tenta  e  cinco   reales   Ç\9Í)00Q)   resulta   por  producto 

to- 


C  Jo8  ) 

total  seis  mil  duzentos  e  cincoenta  reales  C205(;àcoo), 
e  de  beneficio  liquido  mil  e  cem    reales  (46^200). 

Este  calculo,    que  não  he  exagerado ,  deveria  servir 

de  estimulo,  pata  que    em  algumas  de  nossas  terras    se 

emprehendesse  esta  cultura  ,     maiormente  ,    quando  se 

considera  que,  depois  de  coibido  o  Algodão,  fica  aterra 

cm  mui  boa  disposição ,  para  produzir  qualquer  grão. 

'NB.  Nos  Departamentos  meridionaes  de  França , 
se  tem  ensaiado  com  feJiz  êxito  esta  cultura  ,  e  pelas 
utilidades,  que  offerece ,  a  vão  adoptando  os  Lavrado- 
res ,  e  nós  cremos ,  que  temos  terras  proporcionadas ;  e 
^uç  os  podemos  imitar. 


ME. 


C  309  ) 


\ 


MEMOPvIA   III. 


OBSERVAÇÕES  SOBRE  DIFFERENTES  E3PECIES 

DE   ALGODOEIROS    CULTIVADOS    EM 

GUADALUPE. 

For    Mr.    de    Badier. 

( Memolrcs  de  Agrlcuhitre  ^  de  Bcpnomie  Rurah  et  Do- 
mestlcjue  AnneiySS   trimestre  de  Automne  p.  118.) 


H 


A  muito  tempo,  que  me  persuado  ser  a  cultura 
dos  Algodoeiros  da  maior  importância  ,  assim  para  o» 
Colonos  da  America  ,  como  para  as  manufacturas  da 
Europa.  Desde  1776  foi  esta  a  minha  occupa-^-ão  ;  e  na 
minha  volta  a  França ,  fiz  ver,  que  os  Colonos  despre- 
savão  huma  das  espécies  ,  entre  as  que  cultivei  ,  que 
merecia  ser  preferida  a  todas  quantas  até  então  se  co- 
nhecido ;  e  ,  segundo  o  juizo  ,  que  delia  fizerão  os  fa- 
bricantes  que  o  virão. 

A  escolha  das  terras,  a  exposição,  tudo  he  indif-^ 
ferente  a  esta  espécie  de  Algodão  ,  que  tem  de  mais 
avantagem  de  dar  abundantes  colheitas ;  de  se  descaro- 
çar no  engenho  eom  facilidade  ,  de  ser  mais  comprido, 
niais  branco  ,  infinitamente  mais  fino  ,  da  qual  o  fio 
ao  micrometro  só  tem  a  ducentessinaa ,  e  decima  oitava 

par» 


(no)  / 

parte  de  huma  linha  de  diâmetro ,  quando  o  do  Com- 
mercío  he  a  centessima  ,  e  quadragessima  ,  differença 
maravilhosa,  que  lhe  assegura  í^preferencia  a  todas  as 
outras,  para  se  fabricar  as  mossclinas  finas ,  e  todas  as 
iv-ais  obras  deste  género. 

Em  1778  fiz  fabricar  chapeos  ,  que  tive  a  honra 
de  apresentar  com  o  Algodão  á  Academia  das  Scien- 
cias,  e  á  Junta  do  Commercio,  que  conhecerão  o  seu 
merecimento  de  preferencia  sobre  o  que  se  costuma 
cultivar ,  assim  se  testificou  por  huma  carta  que  a  este 
respeito  me  e.^creveo  o  Senhor  Necker. 

Escrevi  a  Guadalupe  ,  para  me  enviarem  huma 
porção  suffíciente  ,  de  que  se  fizessem  musselinas  ,  e 
outros  ensaios ,  para  se  poder  conhecer  o  seu  emprego 
mais  vantajoso.  Esta  remessa  foi  tomada  pelos  Ingjezes 
no  tempo  da  guerra  com  outros  objectos  preciosos  co- 
mo forão  a  Quina  Piton  ,  e  outras  cousas:  o  que  me 
obrigou  a  esperar  circumstancias  mais  felices  ,  para  seguir 
esta  producçAO  interessante.  De  volta  de  Guadalupe 
cm  1782  esperei,  que  se  terminasse  a  guerra  para  tor- 
nar a  principiar  minhas  observações  sobre  o  Algodão, 
o  que  fiz  em  1785  ,  tempo,  em  que  comprei  hum  sitio 
com  atenção  de  cultiv/ir  nelle  todas  as  espécies  de  A]^ 
godão ,  que  podesse  achar ,  a  fim  de  me  certificar  por 
huma  cultura  de  muitos  annos  sobre  o  terreno  mais 
vantajoso,  e  saber,  sehaverião  mais  espécies ,  que  prós» 
perassem  a  Oeste  ,  onde  o  Grande  vestido  ,  e  o  São  Mar- 
tinho morrem  inteiramente,  e  também  certificar-me  do 
rendimento  de  cada  espécie ,  para  não  cultivar  indiffe« 

ren- 


C  31»  > 

renteniente  esta,  ou  aquelia ,  como  até  aqui  tem  feitd 
os  Fazendeiros  cultivando  somente  o  Grande  vi^stido  ,  e 
o  São  Marúm  ,  ignorando  qual  delles  seja  o  melhor  no 
rendimento  ;  conhecer   também  o  que  se  descaroça  mais 
facilmente  no  engenho  ;  porque  entre  os  Algodões  Se- 
das se  dáo  alguns  ,    cuja  15  he  sammamente  adherentô 
ao  caroço ,    e  outras  que  não  o  são.    Estes  últimos  se 
descaroção  bem  nos  engenhos  ,    os  outros  não  podem  ; 
(a  este  momento  estou  occupado   em  fazer  hum  enge- 
nho  novo  para    os  descaroçar)    ao  depois  comprovar   a 
sua  fineza  ,    comprimento  do^  filamentos,  sua  alvura <^ 
e  finalmente   seus  diversos  empregos  nas  fabricas. 

Estando    estas   observações    bem   confirmadas  ,    o 
Colono  conhecerá  o  Algodão ,  que  produz  mais ,  o  que 
pôde  ser  cultivado  a  Oeste  ;  e  o  que  hc  mais  fino,  de 
maneira  que  aproveitará  todo  o  seu  terreno  ,   e  que  a 
fabricação  terá  toda  a  espécie  de  Algodão  ,    esta ,    e  a- 
quella  ,    o  que  também  lhe  será  hum  proveito  ,    visto 
que  tal,    o«  tal  espécie  de  Algodão,    he  mais  próprio 
a  fazer  mosselinas  ,   que    a  fazer  lenços    á  maneira  dos 
da  índia,  belbutinas,  etc.  Querendo  por  tanto  certifi- 
car-me  destas  diversas  vantagens,    ajuntei  nos  diversos 
bairros    da  Colónia  as  espécies  de  Algodão  ,    que  pude 
encontrar  ,  para  os  cultivar  separadamente  muitos  annos 
successivamente  ,   a  ver ,  se  ellas  erão  constantes.    No 
primeiro  anno  semeei  o  do  Commercio  ,  o  Grande  'Kobe 
num.  i.,   o  São  Martim  num.  2.  ,    e  também  os  Al- 
godões finos  num.  7.,  e  os  de  grãos  cobertos  de  huma 
plumagem  verde  ,  adherençe   ao  grão  num.  1. 9    e  2. 


Estas  cinco  e.<!pecies  differentes  se  cultivarão  separada- 
mente,  e  derão  sempre  os  mesmos  caracteres  ,  e  por 
isso  os  reputo  como  espécies.  No  tempo,  que  estavão 
em  flor,  e  fructo  examinei  nos  differentes  bairros,  ou 
bairros  da  Ilha  ,  onde  se  cultivão  ,  e  achei  três  espé- 
cies níovas  do  que  chamão  do  Commercio  ,  e  três  do 
de  Seda,  a  saber,  o  num.  5.  Algodão  de  pedra,  num. 
4.  Algodão  branco  trigueiro,  e  o  num.  5.  Algodão  d« 
pluma.  As  três  de  Seda  são  num.  4  ,  as  folhas  de 
Mandioca  num.  5.  Se  ao  bastardo  de  grãos  cobertos  de 
plumagem  verde,  adherente  ao  grão,  e  o  num.  5.  Se 
ao  bastardo  de  grãos  negros,  e  lisos.  Cultivei  estas  seis 
novas  espécies  com  as  outras  cinco,  cada  huma  separa- 
damente, e  todas  me  derão  os  mesmos  caracteres,  que 
me  fizerão  distinguir  huns  dos  outros. 

No  tempo  da  colheita  de  1787  segui  meus  exa- 
mes ,  e  encontrei  huma  nova  espécie  de  Algodão  do 
Commercio,  num.. 9.  de  flor  de  hum  amarello  pálido, 
e  três  espécies  de  Algodão  de  Seda,  a  saber,  o  num. 
6.  ,  Sião  franco  ;  num.  8.  de  huma  plumagem  azul 
esverdeado,  que  se  pega  aos  grãos;  o  num.  9.  de  hum 
fructo  com  cinco  divisões  ,  e  cinco  grãos  em  cada  lu- 
gar.  Semeei  em  17S7  estas  quatro  espécies  novas  com 
as  onze  dos  dois  annos  precedentes  ,  o  que  faz  quinze 
espécies  ,  e  as  fiz  cultivar  separadamente.  Conservou 
na  colheita  o  seu  caracter  distinctivo  ,  o  que  me  fez 
reputar  por  espécies  distinctas.  No  ultimo  anno  fiz 
muitas  viagens  pelas  extremidades  da  Ilha,  para  poder 
procurar  todas  as  espécies ,  que  poderião  haver  no  paiz, 

Tru- 


C  nO 

Triíxe  de  ^asseterre  duas  novas  espécies  do  Coríimercio 
o  num.  6.  de  grossos  grãos  ,    e  o  num.  7.   de   peque- 
nos ,    e  huma    de  Algodão    de  Seda  num.    10.  ,    com 
muitas  variedades    que  jtilgo    pertencer   ás  espécies    do 
num.  5.   do  Commercio  i.  e  7.    dos  de  Seda.    Èscreiri 
a  Cayenna,    Martinica,  Santa  Luzia,   Dominica,  ftlari- 
galanda ,  e  á  Trindade ,   para  ter  Algodões  destes  diffe- 
tentes  paizes.    Da  Trindade  recebi  huma  espécie  da  do 
Commercio  ,    e  duás  de  Seda,    a  saber  ,    do  num.  8. 
hum  Algodão  curto,  e  grossos  grãos,  os  dois  desse  nú- 
meros 11.  e  12.  ,  e  me  forãd  enviados,  como  Algodão 
de  Seda  de  grãos  negros,  e  lisos,    e  de  grãos  verdes ^ 
são  mais  curtos ,  e  menos  bellos  que*  os  nossos,  Repu- 
to  estas    duas    ultimas    espécies    como    variedades     do 
num.  7.  ,    e  do  num*  7.    Resulta  por  tanto  de  meus 
exames,  e  perguntas  do  anno  de   1727  >    ^res  espécies 
novas    de  Algodão    do  Commercio  ,    qae   com  os  seis 
dos  annos  precedentes  fazem  nove  espécies  de  Algodão 
do  Commercio  ,  hum  do  Algodão  fino  ,   e  nove  espé- 
cies   dos"^nnos    precedentes    fazem    dez  espécies  ,    das 
^    quaes  passo  a  dar    a  descripção    com  os  caracteres  des- 
tiHctivos  de  cada  espécie,   tomados  nas  diversas  partes 
da  planta  ,    e  ^uc  cada  Fazendeiro,    sem  s«r  Botânico 
pôde  facilmente  reconhecer. 


AL-. 


C  JM  ) 


ALGODOEIROS  DO  COMMERCia 


Num.    I»    Algodoeira  vestida. 


D 


Istiiigue-se  da3  outras  espécies  pelai  folhinhas  do 
seu  calis  exterior  que  são  mui  grandes ,  compridas  ,  e 
profundamente  abertas  (o  que  lhe  fez  dar  o  noiRC  d« 
Grande  vestido).  Tem  bora  Algodão,  e  branco. 


Num. 


Algodoeiro  São  Martinho^ 


Disfekigue-se  do  precedente^  pelas  folhinhas  do  seu 
ealis  exterior ,  que  são  muito  menores ,  e  também  pelo 
seu  fructo,  que  he  muito  menor.  Cultivão-se  em  Gua- 
dalupe estas  duas  espécies  geralmente. 


Num. 


Algodoeiro   Pedra, 


Differe  dos  outros  por  suas  sementes  ,  que  são 
unidas  humas  ás  outras  pelo  lado  em  duas  ordens,  for- 
mando hum  monte  de  grãos  em  cada  lugar.  O  Algo- 
dão he  bom.  Persuado-me  ,  que  cada  fructo  deve  ter 
menos  Algodão,  que  as  outras  espécies  ,  pois  que  só 
vem  sobre  huma  face. 

Num.  4.    Algodoeiro  "Branco    cuja» 


Distingue-se    dos   outros  Algodões   pela    sua   Jã, 

que 


1 515  ^ 

iqViè  IVe  Í3ranca,  trigueira  ,  c  curta  ,  e  também  pela« 
sementes,  qlíb  são  grossas  coiti  estrias  longitudinaes.  He 
Tacil  distiiiguillo  da  primeira  espécie,  queáccidentalmen- 
fce  tem  alguns  fritctoá  ,  ciijó  Algodão  he  branco  ,  tri- 
gueiro no  fcxteiior,  d  qlie  acontece,  qiiaiido  o  cápulhô 
fíca  por  miíitó  tértípb  sóbré  seu  pé,  aó  depois  de 'se 
abrir  j  e  qiie  néstfe  i:empò  cáhe  alguma  chuva,  a  qlial , 
penetrando  b  exterior  do  Calis  ,  qiie  he  milito  grâíidè 
inteiramente  secco  ,  e  denegrido  ,  se  enche  da  parte 
toloránte  trigueira;  qUe  ella  deposita  sobre  o  Algodão  , 
e  lhe  absorve  á  agua  ;  o  qlie  o  obriga  a  Sèr  nt)  e3^* 
terior  de  hum  mao  branco  ,  mais  >  ou  menos  carrega- 
do 3  nó  cill  tahtb  que  nd  seu  interioi:  he  branco. 

Nuríi.    5.    At^úíló'e'iro  Ptum4, 

O  Algbdgò  déstã  eápecie  s6  s'é  apega  á  semefitè 
na  atiíetâdé  superior  da  sua  superfície  ,  istb  he  ,  que 
vÂó  se  ádhére  a  párts  da  ponta.  Qliandõ  se  colhe 
£sté  capiilhò  i  «que  se  divide  em  tfes  lugares  ^  se  vem 
no  seíi  interior  a  parte  das  sementes  nuas.  Este  Algo- 
dão não  he  tâo  braiico  ^  como  o  dos  números  i.  e  2. 
ilesiste  melhor  ao  vento  que  biles,  e  pOí  isso  Se  deve 
preferir  ,  quíiudo  se  quer  expor  aos  ventos  de  Oeste, 
e  Nortâ,,  onde  de  ordinário  se  não  plantio  Algodoe> 
tos. 


■T^V.  P.t 


Al- 


Cuá) 

Num*  6,  Al^odoeWo  gtosso  gr^a. 

Este  he  o  melhor  Algodão  do  Commercio  que  eií 
conheço,  que  excede  a  todos  em  qualidade;  compara- 
do com  o  da  Seda  ,  não  tem  huns  laivos  aztiladns, 
nem  sua  doçura  ,  faz  hum  matiz  entre  a3  espécies  do 
Çommereio,  e  os  de  Seda:  encontrei  o  em  hum  terre- 
no volcanico.  Reputo-a  por  huma  espécie  Soberba  ,  e 
este  anno  Bz  semear  todas  as  sementes  que  tinha  para 
a  multiplicar. 

Num.   7,    Algodoeiro  pécjuenos  grãos» 

Iguaía  em  qualidade  ao  num.  6.  ,  e  unicamente 
differe  pelas  sementes  ,  que  são  muifGf  mais  pequenas. 
Encontrei-o  em  Basseterre  ;  e  fiz  semear  com  t  )do  o 
cuidado  os  seus  grãos  para  o  multiplicar.  Certificão-me  , 
que  se  cultivavão  estas  duas  espécies  á  muitos  annos 
cm  certa  Fazenda  de  Basseterre. 

Num.  8.    Algodoeiro  Trindade. 

Differe  dos  outros  Algodoeiros  em  ter  o  seu  Al- 
godão g.tí3sseiro,  e  curto.  Ás  sementes  são  grossas. 


AU 


e  ji7  3 

ÍMum.  9.    Algodoeiro  Sédá. 

fietáixd  deste  nome  genérico  còmprehendò  os  Al- 
godoeiros de  Seda  ^  que  tem  á  pliimãgem  ènsedecida  , 
qiie  unicamente  se  cultivão  pára  os  gastos  j  e  con* 
sUiTimd  caseiroi 

Num.    i.  Algodoeiro  Seda  Jcàsca  roxíii 

biitiijguc-sé  dás  outraâ  ési)ecies  péla  iua  cásca  , 
qíie  he  arroxada  ,  e  tãitibem  por  não  teí-  aianehas  ro. 
xas  ha  ba«-è  dò§  petalos  da  cdroUa  ihteriormente.  As 
ètias  sementes  sé  cobréríi  de  certa  plurnagem  verde , 
mui  agarrada  aos  grãos ,  o  que  faz  difficil  o  seu  desça» 
roÇâmèíitd.  Agora  me  occupo  ém  fazer  hiima  maqui* 
ha  ^  ém  qiíe  piossa  ser  descaroçado  ,  ém  fázão  de  ser 
este  Algodão  ò  mélhòí-  êntré  oè  qiiè  dizèrsoos  de  Seda  , 
e  tamberh  ò  qíie  éíitre  èlles  prodúz  mais,  ÍVIedra  mui- 
to berh  hás  terras  dè  tufb.  Ò  ânnõ  passado  hum  úni- 
co pé  mè  àQÒ  diias  libras  eòm  òs  seUs  grãos.  Tomei 
hum  punhadd  ,  que  pesoU  quatro  oitavas  >  descarocei 
qUe  me  rehdço  huiíiá  òitat^  três  grSos  2||.  de  grão, 
de  húm  bom  Aígod-So  macio  ,  comprido ,  e  de  huma 
âlVura  ,C:6r  de  leitô  ^  e  duas  oitavas  6%  gr.  ^  de 
grão  dé  sementes  grossaá,  cobertas  de  huma  pluma  es- 
pessa j  e  Vírdoenga. 


X^ 


Al' 


C  31S  ) 

Num.  2.   Algodoeiro  Seda  folhas  entrepartldai^ 

Distingue-se  dos  outros  por  terem  as  sua.^  folhas 
três  pontas,  ou  lobos;  o  capulho  he  conieo-alon^ado , 
dividido  em  quatro  vãos  ,  ou  lugares  j  que  cncerráo 
de  sete,  a  nove  grãos  cobertos  de  huma  pluma  terde. 
Todas  as  partes  áo  Algodoeiro  se  cobrem  de  huma 
pluma  cinzenta.  O  Algodão  be  inferior  ao  precedente; 

Num,    jr    Algodoeiro  Slõo  bastardo  de  grãos  cob'ertos 
de  huma  pluma  verdoenga  eseum, 

Distingue-se  dos  outros  pela  côr    do  seu  Algodão 
que  he  de  hum  cujo  grosseiro  ruivo,  e  por  seus  «^rãos , 
cobertos  de  hmna  pluma  verdoen^a  escura. 

Num.  4.   Alg&doeíro  Mandioâa, 

Biffere  dos  outros  pelas  suas  folhas  ,  qUc  são  di- 
gitaes ,  e  recortada'S  em  sete  y  ou  oito  divrsaes ,  como 
as  da  Mandioca ,  e  Paineira  :  as  sementes  se  cobrem  d^ 
huma  pluma  verde.  O  Algodão  he  bom. 

Num.    5.   Al  gado  eira  Sião  bastarda  y  gr  a  as  ttegraí  ^ 
e   lisos. 


Diffcre  do  num.   3.  pelos  grãos.   No  mais    lhe  he 
semelhante. 

AI' 


C  519) 

Num.   6.    Algodoeiro  Sião  franco, 

O  seu  Algodão  he  de  hum  certo  ruivo  mais  for- 
Ifi  que  as  das  duas  espécies  num.  f .  ,  e  5.  Differe  pe- 
ia pluma,  que  se  agarra  aos  grãos,  de  hum  ruivo  car- 
regado. O  Algodão  também  he  bom. 

Num.  7.   Algodoeiro  Seda  grãos  negros  ,   e  Usos» 

Distingue-se  facilmente  das  outras  espécies  por 
seus  gruos  ,  que  são  negros  ^  sem  pluma  adherente  por 
cima.  Tem  as  folhas  repartidas  em  três  lobos  pouco 
profundos  ,  e  são  por  baixo  mais  brancos  que  os  ou- 
tros. O  Algodão  he  bom  ,  descaroça  se  tão  bem  na 
Maquina,  como  o  do  Commercio  ,  pelo  que  merece  a 
preferencia  a  todos  o^  Algodões  Sedas. 

Ajuntei  muitas  variedades  deste  Algodão  pelas  se- 
mear separadamente. 

A  primeira  ,  Cote  d'  ano.  As  sementes  são  me- 
nores ;  cuido  que  esta  he  a  espécie  ,  que  os  Antigos 
derão  o  nome  de  Algodão  Taffia. 

A  segunda  ,  em  Deshayes, 

A  terceira,  em  Basseterre. 

A  quarta,  em  a  Liziria  dos  PP.  a  ttes  rios. 
.  A  quinta,  na  Trindade. 


AU 


C    }2G  ) 

Num.    S.   Algodoeiro  Seda,  pcjueitos  §rno.    (.oberiaí 
de  huma  pluma   azul  verdoenf^a 

Biffere  do  num.  2.  pela  côr  da  pJum^  ,  que  está 
sobie  os  grãos ,  que  também  são  os  mais  pequeno?. 

Num.    $.    Algodoeko  Seda  ,  cayull\o  dividido  çn\   cliir 
€0   lufares. 

Differe  do  num.  7.  pelos  capulho^  ,  cujo  maior 
fjumero  se  divide  em  c\r\co  lu;.'ai-es,  contendo  cada  lu- 
gar cinco  sementes  negras  sem  pluma  adherente  em 
cima» 

N^rn^    IPi   Al^odoik^  Seda  ,   dividido   ent  ijuatro 
lufares. 


piffere  dos  números  7.  ,  e  9.  em  se  abrir  o  ?eu 
éapulho  erti  quatro  lugares  ,  contendo  cada  hum  cin- 
co ,  e  seis  sementes  sem  pluma  alguma  por  cima  acihe- 
rente*  Q  Algodão  he  mais  grosseiro  qiie  ps  precedeu-, 
les* 

Aos  10  de  Maio  de  17^8,  fiz  semear  nas  covas, 
preparadas  na  minha»  quinta,  quinze  dias  antes,  pondo 
em  cada  cova  hurn  punhado  de  estrbutie  ,  as  dezanove 
espécies  >  que  acabo  de  recensear  j  com  as  suas  variedades. 
Cada  cova  tinha  hunr)  pc  de  comprido,  eseis  dedos  de 
lar^o,   e  outra  tanÇâ  profundeza.    Todas  çstavâq  sobre 


( }2I ) 

o  mesmo  alinhamento  ,  distancio  hunnas  das  outras  selJ 
pés.    Semeei    cada  e^^ecie    em  duas  covas  ,    o  que  fii 
trinta  e  duas  covas  :    deixei  hum  espaço  de  doze  pés  ; 
ao  depois ,    e  no  mesmo  dia  ,    semeei  as  duas  varieda- 
des  num.   II.  e   12.  da  Trindade ,  e  a  do  num.   5.  do 
Commercio,    e  também  as  de  Seda  do  num.   l.  e  4.» 
a  do  num.  7.,  tudo  separadamente,  e  huma  variedade 
em  cada  cova.    Todas  estas  variedades  forão  cultivadas 
em  hum  quintal  separado  da  fazenda  ,    para    se  colher 
separadamente  o  Algodão  de  cada  hum  dos  dois  pés  da 
mesma  espécie  ,     para  se  poder  verificar  por  este  meio 
o  rendimento  de  cada  espécie  ,  pesando  o  seu  Algodão 
com  a  semente.    Queria  descaroçallos  á  parte,    e  fazer 
pesar  assim  o  Algodão  ,  como  a$  sementes ,  sepjiradamen- 
te,    o  que  teria  resolvido  o  rendimento,  ou  producta 
de  cada  espécie;  e  ao  mesmo  tempo  determinado  a  es- 
colha do  Fazendeiro  ,    que  então  saberia   o  rendimento 
de  cadi  huma  ,    o  terreno  ,    e  posição,  que  lhes  erao 
mais  convenientes.    Mas    os  meus  particulares  ,    ou  de 
minha  casa  ,    obrigando  me    a  passar  repentinamente  á 
França  ,    não  pude    segir   esta  ultima    operação  ,    que 
nie  propunha  fazer  no  anno  próximo  ;  mas,  esperando 
o  meu  regresso  ,  ordenei  ao  m.eu  feitor,  por  est^  mo- 
tivo, po7esse  em  vinte  e  sete  saccos  com  seus  nume- 
ros  o  rendimeato  de  cada  dois  pés,  correspondentes  ás 
trinta  e  oito  covas,    e  as  das  outras  oito  covas  ,    cm 
cada  hum  dos  saccos*,    que  correspondem  aos  seus  nú- 
meros ,  e  de  esperar  até  o  íim  de  Abril ,  sem  tocar  nes- 
tes saccos,  e^ue,  passado  este  tempo,  de  os  descaro- 
çar 


('   522  ) 

çar.  separadamente  de  cada  sacço,  a  quantidade  :ne.ce5sa, 
ria,  para  semear,  assim  como  me  tinha  visto  fazer esia 
anno  ,  observando  de  não  misturar,  nem  as  dezanove 
espécies ,  nem  as  variedades. 

Truxe  comigo  as  de^nave  amostras,  de  Algodão^ 
para  que  se  examinasse  a  sua  fineza  ,  alvura  ,  ç  com. 
primento.  jyir.  D'Aubenton  ,  tão  conhecido  pela  pro- 
fundeza 4e  seus  conhecimentos,  me.  promettea  exami. 
nallos  pelo  seu  micrometro  ,  o  que  decidira  da  sua  ft- 
»ez^,  Tryxe  do  meu  ^ervario  huma  amostra  das.  quin- 
ze espécies,  cultivadas,  e.m  1787,  que  padecerão  a  sorte 
da  maior  parte  do  meu  Hçr vario  ,  que  se  veio  a  per- 
der^ pelo  melaço,  queen,trou  na  caixa  ,  em  que  vinháo, 
Truxe  também  comigo  hum;^  porção  do  Algod|o  Se- 
da^  ^ueoffereço  á.  Sociedade,  para  se  fazerem  ,  emquan. 
to  mèderporaj:  ein.França,  csev.araes-,  que.  se  i,ilgare!n 
mai^  vatitajosos.  Exames,  ou  ensaios,  que  senão  pode- 
ção.fazer;  á  oito  annos,  pela  pequena  porção,  que  truxe. 

Se  a. Sociedade  julgar,  que  p.s  mçus  trabalhos  obie 
os  A,lgodÕe5,  ,  e,  outras  producçóes  da>  npssíj  Ilhas  ^ 
po,4em  interessar  ao  Governo ,  peço  ,  lho  haja  de  aprcr 
sentar  ,  e  dar  conta  ,  como  tambeírí  das  vantagens  ^ 
que  o.s  fabricantes  poderão  tirar  dos  Algodões,  de  Seda  3, 
preferivelmente  aos  do,  Commerci.o, 


ME- 


C  í'^?  5 


MEMORIA    IV.  '  ' 

pGBRE  HUM  A  ESPÉCIE   DE  ALGODÃO  j3H  AM  A. 

pO    EM  SAO  DOMÍNGOS  ALGODÃO, 

SEDA  ,    OU  SANTA  MARTHA, 

Por    Mr.  Moreau    de  Saint  Mery  , 

Çorfesyomientç  da  Sociedade. 

imemolves   de  Jpúcaltcire  ,  de  Economia  Rural,    e  Vd- 
niati^iiç  anno   1788  trimestre  de  A^tomne  p.  132.) 


i\  Ao  emprehendo  agora  tecer  o  çlogio  de  huma 
substancia  preciosa,  que  a  Natureza  parece  ter  destinada 
ao  homem  ,  por  ser  própria  ^  todos  os  Climí^s  ,  ou 
porque  se  deva  á  cultura  dos  liigares  ,  em  que  ir.ora, 
ou  porque  lhe  seja  trazida  peio  Comipercio,  Todos  co- 
nhecem o  Algodão,  seus  usos,  e  utilidades ,  o  parti- 
do que  o  próprio,  luxo  tem  delle  tirado  ,  e  o  grande 
yalor,  a  que  tem  suhidq  ,  pelo  graqde  çousummo  ,  que 

delle  se  faz. 

Nestas  favoráveis  circumstancias  consulto  a  Socie- 
idade  Real  da  Agricultura  da  Capital  destes  Reinos  em 
«lome  dos  vizinhos  ,    e  fazendeiros  de  São  DojTiingos , 


(  524  ) 

e  lhe  apresento  também  o  primeiro  signal  do  justo  re- 
conhecimento,  que  a  Academia  me  inspira,  tendo-mo 
concedido  hum  titulo,  que  he  da  minha  honra  sabeJlo 
merecer. 

O  Algodoeiro  passa  por  huma  planta  indigena  da 
A.meriea  ,  e  se  affirma  ,  que  os  seus  Naturaes  ,  entre  ou- 
tras cousas  5  fazião  delle  as  suas  redes  no  tempo  do 
descubiiiiienío  de  Christovão  CoJombo,  Os  Historiado- 
res das  Antilhas  dizem  ,  que  o  Algodoeiro  era  conheci* 
do ,  e  achei  provas  da  sua  cultura  ,  desda  a  origem  dos 
Estabelecimentos  Francezes. 

Esta  cultura  se  augmentou  prodigiosamente  em. 
São  Domin^^os,  pois  que  esta  Colónia  fornece  annual- 
mente  quasi  três  milhões  dç  arráteis.  Contão-se  em  São 
Domingos  muitas  espécies  de  Algodoeiros  ,  que  de  si 
mesmos  offerecem  muitas  variedades,  A.s  espécies  prin» 
cipaes  são  o  Algodoeiro  chamado  ordinário,  que  parece 
pertencer  a  esta  Ilha  ,  o  Algodoeiro  Gonaioes  ,  assim 
chamado  ,  por  ser  este  o  bairro  ,  em  que  medra  me  • 
Ihor  ;  o  Algodoeiro  pedra  ,  ou  Cayenna  ,  cujos  grãos 
unidos  formão  huma  espécie  de  espiga  ;  e  o  Algodoeiro 
de  Caude^  ou  branco  de  Rato,  ou  Algodoeiro  Cabrito, 
porque  o  seu  grão  ,  ou  semente  he  semelhante  ao  ex- 
creto destes  animaçs. 

Estes  sio  os  Algodoeiros ,  que  dão  as  colheitas.  Ha 
algum  tempo  que  principiarão  a  cultivar  hum  Algo- 
doeiro ,  chamado  Sião  ,  mais  conhecido  nas  Ilhas  do 
Vento ,  onde  o  seu  Algodão  se  gasta  nos  usos  domés- 
ticos ,  e  sobre  tudo  em  meias ,  que  se  fazem  para  ra- 
pa- 


pms  ;   poíq^i^  a  sm  má  còr  ihe  tíá  rnem^  sabida  ,   e 
5e  sabe  ser   de  maior  durii,ç.^o, 

As  denomih*ç/;es  ,  q«e  acabámos  de  dar  ,  são  as 
íxiais  camir.a0.  .  ^  a.  mais  ger^aes  er^  Sãô  Pommgôs  , 
ÍT^.s  alíi,  como  em  clilr^s  paite.  ,  a  «mnencbtura  va- 
Ma  ,  e  p.la  maior  parte  .^  -vem  a  fatiar  da  ntesma  es- 
pécie ,  ainda  que  com  differentes  nomes. 

Fora  d,t  A\2^áoótos  ,  dé  que  Í^Uámos  ,  S0  dão 
outras  muitas  e^r^cie.  que,  ôu  são  Sekag^ns ,  ou  tem 
.deoen,erado  ,  e  que  .e  encontrão  ciiltivadrís  entre  os  prl- 
Ím^,.-as,  por  tje  ter^m  misturado  as  sementes.  Também 
se  Tê,  q«e  a  curiosidade  tem  protegido  gsta  rpisfura  ,  e 
por  isso  senão  preciso  oà olhos  deiíurp  ííotanico  Sábio, 
para  coi^hecer  ,  exiistinguit  os  géneros  ,  as  classes  ,  efe.  , 
e  huiiia  mão  hábil ,  que   Jhe  traçasse  aS  descripções. 

A'  trinta  annps  gosSo  em  São  Domingas  os  Al- 
godoeiros iiMm  vaim-  venal  ,  que  se  tem  quasi  sempre 
sustentado  em  \m<o  de  qtjafenta  soldos  de  libras ,  a 
moeda  da  America.  Este  pre(|o  augmentoií  a  sua  çiíi. 
tura  ,  e  esta  o  seu  eonsumino ,  de  sorte  que  o  preço  se 
tem  conservado  ,    «  ainda  excedido  á  t^xa  ^e  quarenta 

soldos-, 

A  guerra  de  1756,  em  qiie  a  CõtOú  de  Hespanha 
pão  íevê  parte  algiimá ,  aíites  de  lyó-si,  fez  mudar  em 
port©  ^e  entreposfo  o  de  M^lrC*  Christt?)  na  parte  HeS- 
panhola  de  §lt)  t>òmingm  ,  oa  fronteira  dos  Eslabéle- 
cimento$  ftmitm.  A§  dlí^s  Na^de^  propriçtatias  da 
iliia  5  e  os  seus  mesmos  iiiirtnigos  fizefló  aqui  hum 
considetavei;  Comííiertio,^     eujo  contrabando     favore- 

ceo 


C  32O 

ceo  as  possessões,  que  Inglaterra  quiz  accommetter,  ou 
destroir. 

Nesta  Época  em  Sao  Domingos,  sevio  entrar  nos 
seus  portos  Francezes  o  Algodão  colhido  em  Santa  Mar. 
tha  ,  Provinda  de  terra  firme  na  America  Meridional , 
situada  no  Undécimo  gráo  de  Latitude  Norte. 

O  Algodão  misturado  com  o  de  Sao  Domingos 
talvez  contribuio  ,  para  que  elle  houvesse  de  merecer 
alguma  reputação  ,  e  quando  a  accessão  de  Hespanha 
ao  partido  de  França  ,  fez  mudar  a  sorte  de  Monte 
Christo  ,  continuou  q  Algodão  de  Santa  Martha  a  che- 
gar a  São  Domingos  nos  navios  Hespanhoes. 

O  preço  vantajoso  ,  que  se  lhe  achou  ,  fez  que 
este  ramo  de  Commcrcio  fosse  maior  ,  e  na  paz  dç 
176Í  se  começou  a  distinguir  mesmo  em  São  Domia-. 
gos  o  Algodão  de  Santa  Marta  do  da  Colónia.  Ven- 
diãn-se  separadamente  ,  e  em  buma  obra  periódica  s© 
publicou  em  1766  ,  que  o  de  São  Domingos  só  valia 
^--OQ  (j2^®Qo)  livras  por  quintal,  quando  o  de  Sant^ 
Mart^  se  vendia  por  240  ^$^406). 

Este  annuncio  público  pareceo  singular.  Hum  an- 
non)  mo  nas  folhas  seguintes  se  queixou  de  que  hum 
género  estrangeiro  se  avaliasse  em  detrimento  do  Na- 
cional. Achava  arriscado  ,  que  os  Negociantes  da  Colo^ 
nia  comprassem  ao  Hcspanhoí ,  e  promovessem  a  emu. 
lação  de  outra  Nação.  Esta  queixa  foi  feita  no  tempo  > 
que  havia  huma  grande  questão  sobfe  o  systema  prohi' 
bitivo  em  matéria  de  Commercio  Colonial ,  o  que  co- 
meçava a  inquietar  a  todos  as   espíritos.  Reprovava-se 

aos 


C   5^t  ) 

aos  Nb^oeiant^s  o  pregarem  a  favor  dô  Com mei-do 
Nacicynal,  e  amontoar  os  benefícios  do  Commercio  es- 
trangeiro. Mais  não  era  preciso  para  impedir  ^  ou  ao 
menos  ',  para  diminuir  a  importação  do  Algodão  San- 
ta Martha  a  SSo  Domingos  ';  t  desde  este  momento  se 
tallou  a  Gâzetâ. 

Gom   tudo  ,    tendo-se  conservado  á  idta  dâ  supe* 
i-ioridàde  deste  Algodão  sobre  o  cultivado  em  São  Do- 
mingos,  em  17Ó7   hum  Fazendeiro  íinnunciou  no  mes- 
mo Jornal  ,    qUe  êlle  desejava  entregar-se  á  cultura  áo 
Algcdoeiíó  Santa  Mtirlha  ,    mas  qúe  se  não  tinha  aba- 
lanhado  ,    pelo    dito    de  muitos    Negociantes  ,    que    o 
AlEodão,  que  ellédavti-,  se  vendia  muito  mal  èm  Fran- 
ra,    e  que  se  não  podia  usar  em  as  nossas  manufactu* 
i-as.  Terminava  a  sua  carta,  dirigida  ao  Pvedactor ,   di- 
zendo ,  que  elle  esperava  i  qUe  os  Negociantes  de  Cabo 
Francez  ,   que  tinhão  comprado  tão  eàro  O  Algodão  de 
Santa  Martha  em  1765,  se  dignassem  participai  ao  pú- 
blico   o  vantajoso  êxito  ,    ou  dêsavantajòso  da  sua  re» 
messa  ,  para  que  os  Colonos  soubessem^  se  lhes  convi« 
hha,  ou  não,  appHcarem-se  á  sua  cultura.  Entrou  em 
algumas  individuações  a  seu  respeito,  de  qUe  tarabem 
havemos  de  fallar. 

S^o  decorridos  quinze  annos ,  e  nada  mais  se  tem 
fàllado  sobre  este  Algodão  em  São  Domingos.  Não  se 
sabe,  se  algum  curioso  teve  a  sua  semente,  ou  se  ú' 
gum  acaso  ,  produzido  pela  comm.unicação  dos  Hespa- 
nhoes  com  os  Francezes  ,  a  terá  trazido  a  esta  ílha  ; 
entretanto  haverád  quatro  annos ,  ou  cinco ,  que  se  vè- 
•  cui- 


C    »2S    ) 

cultivado  esíe  Algodoeiro  de  Terra  firme    em  $'ão  Dói. 
mingou.    As  qualidades    â(í  seu  Algodão    ò  fizerão  logo' 
conhecer  ;'    tem-sè  applicado  a  stíã  caltbrà  coni  particu- 
lar cúklado,  e  tem-se  olrservado  a  planta  refativaràente 
a   seu   producto  ,    e  aí  suas  différenças    dos  outros  Al- 
godoeiros.   Ao  depois    de    se  haver  colhido  este  Algo- 
dão, sem  o  misturar  ,    sô  poém  dê  parte  para  se  faze- 
rem presentes  com  elle  ,  ou  para  o  empregar  nos  usos 
domésticos  ,    como  o  melhor,  e  mais  agradaTeí.    Não 
fem  entrado  noGommercio,  por  seraiiida  mui  limitada 
a  sâa  colheita ,  pois  até  agõta  só  eiiega  a  hum  par  de 
cerííos  de  arráteis  ôs  maiofésÁlgodoaés  ;  é  também   por 
não    ter  tido    hum    maior  preço   que    os  outros  Algo^ 
dôesv 

A  nato-reza  dos  bens  das  Colónias ,  e  carestia  ex- 
cessiva dos  esci^avos  ,~  sem  os  quaeá  se  não  tem  pro- 
ducçqes  ,  liío  consente  entregar-se  a  culturas  ,-  cujos 
lucroff  lião  são  proporcionados  ás  encomendas  ,  e  aos 
de  óútraí  manufactúrasf.-  Ó  Áígodâo  de  SahtV  Martha  , 
objecto  de  pura  eoriosidade ,  de  alguma  Sorte,  dcsapa<- 
recerá  neste  momento  ,  e  por  tanto  bem  depressa  ,  se 
ella  não  indemnizar  ao  Fazendeiro,  e  por  este  motivo 
os  Fazeridciros  de  Slo  Domingos  iiivocão  as  luzes  da 
Sociedade  Real  de  Agrieulfura. 

Para  a  instruir  ,  e  a  pot  no  estado  de  poder  júl. 
gar,  por  hum  modo  certo,  pas^p  a  communicar  alg.u, 
mas  observações ,  que  me  parecem  fffita? ,  para  servire:Hi 
de  base  a  esta  decisão. 

A  cultura  do  Algodão  he  vantajosa  ^pi  jsi ,  e  e^tál 


sa< 


Cm) 

Sàbidõ  que  ,  a  pesar  dos  revezes  ,  e  petdas  ,  a  que 
expõem  o  seu  Proprietário  ^  lhe  offerece  verdadeiros., 
benefícios,  ou  ganhos.  Esta  verdade  se  acha  demohátra- 
da  mesmo  pelo  augiiiento  ,  que  recebe  esta  cultura  em, 
as  nossas  Colonia<^.  Estabelecendo  os  respeitos  conheci, 
dos^  qiie  subsistem  entre  o  Algodão  ordinário,  e  o  de 
Santa  Tviartha  ,  se  tefa  em  quanto  a  Agricultura  ,  de  que 
se  possa  fazer  hum  jutzo  são,  e  as  experiências ,  que  se 
podeiti  fazer  -,  relativamente  ao  emprego  do  ultimo  Al- 
godão em  as  nossas  manufacturas,  indicarão,  o  que  se 
deve  pensar  a  respeito  ào  Commércio. 

O  Algodão  Seda  ,  ou  Santa  Martha  j  que  parç- 
ce  ser  o  úossijpiíim  Retlglúsnm  de  Linne  ,  e  o  Xylon 
fnictlficosinn  praesianttssimwn  de  Tonrnefort  ,  he  de 
dua^  espécies  ,  huma  de  grão  ominario  5  mas  coberto 
de  hUma  pluma  verde  esmeralda;  nos  pontos ,  em  que 
ãe  pega  ao  Algodão  ;  a  out^ra  tem  esta  pluma  sobre 
todo  o  seu   grão  ,  ainda  estando  delle  separado. 

O  Algodoeiro  Santa  Martha  médrà  nos  mesmos 
lugares  que  o§  outros  ;  qUer  a  mesma  cultura  ^  e  dá  a 
sua  colheita  no  mesmo  tempo. 

O  Algodoeiro  Santa  Martha  he  maior  que  os  Al- 
godoeiros ordinários  ,  e  tem  as  dimensões  de  hum 
pequeno  olmeiro.  Dura  três  annos  ,  dando  abundantes 
colheitas  ,  quero  dizer  ,  hum  anno  mais  que  o  Algo, 
doeiro  ordinário,  que  em  muitos  bairros  se  precisa  ra- 
plantar  todos  os  annos.  O  maior  rendimento  áo  Algo- 
doeiro   Santa  Martha  he  no  terceiro  anno. 

O  Algodão   Seda  ,    assim  chamado    por  causa  do 

seu 


C  550) 

scli  toque  sér  macio  ,  coino  o  da  Seda  ,  hé  inifUo 
íííperior  ao  Algodoeira  ordinário  pcV  jíiTa  alvará  ,  e  de- 
iícadeza.  Òs  sétis  fios-  são  carpazes  de  serem  conduzidos 
a  huma  gi^aòde  fineza  ;  são  mais  compridos  <  e  ma'ií 
fottes  qii6  os  do  Algodão  ordinário',^  c  talvej^  ,  senf 
arriscar  nada,  possa'  dizer,  que  com  dois  arráteis  se  po- 
deria fazer  huma  pesss  der  mosseiina,  de  oito,  ou  dez 
Varas. 

Visío  expôrmcxs  ás  vanta^géns  âà  ÁPgodaó  Seda, 
precisa  também  falJar  das  stía5  désavantagetis. 

O  Algodoeiro  ordinário  se  planta  a  sete  pcí  de 
distancia-,  no  em  tamo  que  ò  Algodoc^iro  Seda  requer 
âú  nfenós  nove  pés.  Assim  em  húma^  extensão  àú  se- 
centar  e  tre's  pés  em  quadrado  cabem  oitenta'  é  hum 
Algodoeiros  ordinários  y  e  unicamente  quaréníí  e  nove 
do  Aígbdoeiro  Sartfa  Martha^  ;•  ora  ô  rendiinento'  de 
cjuarenta  e  notre  pés  para  o  dé  oitenta-  e  hum',  IVé'  corft 
pouca  drfferença  ,  cofrto'  o  de  cinco,-  para  oito  :  eiís-squi" 
por  tanto  três  óitaVas  partes  de  perda  sobre  o  seu  ren* 
d i mento  5  qne'  modamos  erií  j| ,  p?>Ta  facilitar  os  cál- 
culos ,  que  se  seguem.    . 

O  Algodão  Sedír'  ,  se"ndb  maia  delicado'  ,  e  a 
sua  arvore  mais  alta  ,  mais  estendida  faz  a  su'a  colhei» 
ta  ,  mais  difíicil  que  a  do  Algodoeiro  ordinário.  Assim 
hum  preto  unicamente  colhe  quinze  ,  oú  vjme'  arrafes 
por  dia,  em  lugar  de  vinte  e  cinco,  a  trinta  de  todos 
os  outros  Algodoeiros.  Esta  differença  he  prodigiosa  ,,. 
por  quanto  augmenta  huma  mão  de  obra  excessiva- 
ítiente  cara  ,    visto  expor  o  Algodão  já  maduro  ,    por 

hum 


C  ?n  y 

íiurrt  teiíipò  mais  dilatado,  aos  de:; temperos  daestaçídj 
aos  destroços  dos  insectos ,  que  dentro  de  huma  noite 
fazem  desaparecer  huma  colheita  ir^teira.i 

A  este  maior  ineíonveni«nte  |  se  precisa  ajuntar 
otitrò,  e  vem  a  ser,  qiíe  o  grão  do  Algodão  de  Seda, 
è  sobre  tudo,  o  da  espécie  abèolutamente  coberta  pela 
pluma  j  Sé  separa  mui  diFficultosamente  do  Algodão  j 
e  que  a  maior  parte  das  vezes  j  se  este  Algodão  nâO: 
vem  em  eircumstaneias  infinitamente  favoráveis,  qtian- 
to  á  temperatura,  precisa  separar  lhe  o  grão  á  mão,  o 
que  aiigmenta  o  preço  á  mão  da  obra  ^  e  por  conse- 
quência hiima  verdadeira  perda  para  o  Cultivador. 

Contar  o  trabalho  da  Colheita  ,  e  a  do  descaroça- 
mento  a  mais  de  |-,  ou  de  r^-,  he  mais  depressa  hum 
abatimento  j  que  hyma  nee^ssidnde  ^  do  produeto  j  ou 
rendimento  do  Algodão  ordinário  5  isto  he,  por  conse- 
quência -^  de  perda  ^  que  se  deve  acrescentar  aos  |-|  g 
que  já  açhámot  por  differenÇa  da  plantação-^ 

Finalmente  não  precisa  passar  em  silencio  ^  que  o 
Algodoeiro  de  Seda  iie  mais  fraeo  que  os  outros  ^  e  he 
mais  arriscado  ao  vento  ;  que  o  seu  capulho  precisa  de 
hum  tempo  favorável  para  se  abrir ;  que  seu  Algodão  , 
não  sendo  recolhido  a  tempo  ^  se  desfia  ,  e  se  apega' 
pelos  ramos ;  e  se  enche  de  immundicies  ;  e  que  seu 
grão  attrabe  os  ratos,  que  O  apete(?em  muJto  mais  que 
o  das  outras  espécies  ,  a  expõem  algumas  vezes  a  ser 
comido  por  este  animal  ^  ainda  antes  de  sua  madureza  , 
s  nos  armazéns  ,  ond«  se  poem  antes  de  o  preparar.  Or^ 
es^es  inconvenientes  merfcem  ser  calculados  menos 


íal 


T.  V.  P,  h 


As'* 


C    }J2   ) 

Assim  ,  sommando  todas  as  partes ,  ou  difíerenças  y 
se  acha  que  ellas  sobem  a  ~  ,  isto  he  ;    cue,   c;uando 
qualquer  manufa:tura  em  Al^odoaria  dá  hum  rendimen 
to  de  ~-  unicamente  ,    se  páde  esperar  hum  de  ~[   po? 
hum  Algodoal  de  Santa  Martha. 

Reduzindo  com  tudo  este  calculo  3  huma  quanti- 
dade determinada  de  Algodão  ,  a  hum  quintal  ,  por 
exemplo,  nós  vemos  que  ,  quando  o  Algodoal  ordinário 
produz  y^  ,  ou  cem  libras  ,  o  outro  só  dá  huma  razSo 
de  ~  equivalente  a  quarenta  libras  |-  unicamente. 

Mas  estas  quarenta  libras  ^  custiío  tão  caro  alium 
dos  Cultiva-dores ,  como  as  cem  libras  ao  outro  :  logo  se 
faz  preciso,  qtve  o  preço  dos  quarenta  arráteis  se  iguale 
ao  dos  cem  arráteis.  Ora  o  preço  medro  do  Algo.iáa 
ordinário  ,  sendo  em  Sao  Domingos  de  duzentas  libruí 
ao  quintal ,  se  Faz  preciso  que  os  quarenta  arraieis  ha* 
jao  de  valer  duzentos  francos,  isto  he,  cem  soldos  di- 
nheiro da  America  ,  vendendo  o  arrátel  do  Algodão 
Seda  era  São  Domingos  ,  para  que  a  sua  cultura  s^ja 
tão  proveitosa  y  como  a  do  Algodão  ordinário,  vendido. 
por  quarenta  soldos  o  arrátel. 

Donde  se  vê,  que  não  he  preciso  ciiltivar-ss  o  Al- 
godão Seda  ,  ou  Santa  Martha  em  nossas  Ilhas  ,  a  nã© 
ser  possível  encontrar  no  Commercio  o  valor  do  Algo*- 
dão  ordinário  dobrado  ,  c  mais  hum  rueio. 

Esta  be  a  opinião  dos  Fazendeiros  ,  qire  o  tem 
plantado  em  porções  pequenas ,  e  que  desejão  ser  illu- 
minados  sobre  este  importante  ponto. 

A  única  maneira  de  o  decidir,  segundo  pensamos, 

he 


lie  ,  examinando  se  tís  Usos  ,  a  que  pode  servir  ;  submét» 
íello  a  experiências  ,  que  não  podem  deixar  de  ser  mui 
interessante!;.  Para  ^s  fazer  possíveis  |  eu  offereço  á  Socie- 
dade dois  anateis  de  Algodão  ,  colhidos  no  ultimo  mez 
de  Março  no  bairro  de  Sio  Luiz  ^  termd  do  Siíl  da  Ilha 
dé  São  Domingos  na  fazenda  de  Mr.  o  Cavalheiro  de 
Grimonville  ,  situada  à  huraa  légua  da  Cidade  de  Sstú 
Luiz.  Eli  requeiro  em  nome  dos  Fazendeiros  dá  rtiajs 
brilhante  de  nOísas  Colónias  na  America  ao  zelo,  c  lu- 
zes da  Sociedade,  para  obter  liúm  juizo,  do  que  já  dá 
aí^ora  peço  o  favor  dg  fa^er  imprimir  o  resultado,  He 
preciso  3  que  os  Colonos  úteis  saibão  j  se  lhes  he  vanta- 
josa a  cultura  desta  espécie  de  Algodoeiro,  que  pareCe' 
ter  sido  formado  pela  Natureza  com  huma  certa  coní-^ 
placencia.   dg ndd  lhe  o  brilhante  da  Seda. 


Y  & 


RE^ 


(  534  > 


««sansiaaofSBPKSSWWHeiTwiW" 


RESOLUÇÃO  ACADÉMICA 

Ba    Memoria    de    JVIr.    Morsau    de    S.    Mery 

SOBRE  O  ALGODÃO  DE  SEDA. 

P.  MM,  Desmarest ,  Abeille  e  Thouin. 

0's  MW.  Abeille,  Thouin  »  «  Eu  .  tendo  sido  en- 
carreojados  pela  Sociedade  de  dar  conta  do  trabalho  de 
IVlr.  Moreau  de  Saint  Mery  :  Sobre  o  melhoramento  das 
Éspecles  de  Algodoeiros  por  melo  da  Cultura  :  pa^samo. 
em  consequência  desta  determinação  a  participar  os  re- 
sultados de  nossas  experiências  a  este  respeito. 

Primeiramente  observaremos ,  que  o  Algodão  San- 
ta Marta  ,  parece  ser  o  CossypUim  hirsiititm  de  Linne  , 
ou  o  Chylon  amerlcanum  praestantisslmum  de  Tourne/ort. 

Veremos  effectivamente  ,  que  a  lã  de^ta  espécie  de 
Algodão  tem  realmente  propriedades  particulares ,  que  o 
fazem  próprio  a  obras  ,  para  as  quaes  o  Algodão  ordi- 
nário não  se  pôde  prestar  com  tanta  vantagem  ,  e  que  , 
por  consequência,  merece  este  bello  cpitheto ,  que  lhe 
dá  Tournefort. 

O  exame  desta  pluma,  ou  lã,  prova,  que  hema. 
cia ,  assetinada  ,  ou  sedeuda ,  lustrosa  ;  e  que ,  a  pesar 
de  sua  grande  fineza ,  tem  muita  elasticidade  5  mas  não 

nos 


nos  devemos  limitar  a  este  simples  exame.  Passamos  á 
exposição  do  metiiodo  ,  que  temos  adoptado  ,  para  de- 
terminar com  maior  piecisáo  as  qualidades  essenciaes 
da  espécie  de  Algodão  ,  que  nos  remetteo  Mr.  Saint 
Mery  ,  conforme  o  modo  do  seu  comportamento  nas 
operações  da  filatura.  E  para  fazer  conhecer  os  princí- 
pios 5  pelos  quaes  fizemos  estas  experiências  ,  nos  persua- 
dimos ,  que  cop vinha  entrar  em  algumas  individuações 
preliminares,  sobre  os  meios,  que  empregamos. 

Todo  o  mundo  conhece  as  maquinas  Inglezas  ,  em 
que  o  Algodão  se  fia  por  degráos  ,  c  á  mão  ,  primeira- 
mente em  grande,  depois  em  meio  calibre,  e  ultiraa- 
niente  em  fino.  Também  se  sabe  ,  que  estas  manobras 
se  executão  ,  medindo  differentes  longitudes  dos  fios 
em  grosso ,  ou  mechas  ,  £ssim  como  a  extensão ,  que 
se  lhes  dá  ,  de  cada  vez  que  estas  mechas  adquirem  maior 
fineza,  e  maior  torcimento.  Com  estas  maquinas  ,  e 
conforme  estes  princípios  ,  he  que  fizemos  a  experien- 
ci;i  do  Algodão  ,  de  que  devíamos  julgar  as  qualidades 
relativamente  a  filatura,  assim  como  promettemos. 

Além  disto,  escolhemos  huma  qualidade  de  Algo* 
djío  conhecido  ,  para  nos  servir  de  ponto  de  compara» 
ção  ,  e  sujeitamos  a  mesma  experiência  o  Algodão  de 
Cayenna ,  por  ser  a  espécie  mais  procurada  para  a  boa 
filatura» 

Consideramos ,  que  havião  dois  meios  de  se  avaliar 
a  qualidade  dos  Algodões  ,  de  que  tínhamos  a  fazer 
o  acareamento  ,  fazendo  uso  dos  Billys ,  e  Jenys  ;  o 
primeiro  consiste  em  tomar  certa  quantidade  de  mechas 

igual 


C   330 

iSgual  .assim  de  hiima  ,  como  da  outra  parte  ,  e  dar-lhe^ 
huma  dipferenta  extensão  ,  fazendo  parar  o  porta  fio 
em  pontos  differentes  ,  coníornie  o  fiandeiro  julga  que 
^  i'iatureza  da  lã,  ou  pluma  pode  levar  os  alongamen- 
tos. O  segundo  ,  consiste  em  dar  as  mesmas  extensões 
^os  fios  sobre  todas  as  maquinas.  Este  ultimo  meio  he 
o  que  julgamos  se  deveria  adoptar  ,  por  ser  o  mais 
simples ,  e  o  menos  sujeito  a  descontos. 

Primeiramente  fizemos  cardar  o  Algodão  de  Ca» 
yenna  da  melhor  qualidade  ;  e  o  Ezemos  fiar  em  Inim 
JBliles ,  e  ao  depois  em  fino  sobre  hum  Jennys,  e  ti- 
vemos hum  fio  próprio  para  trama  do  num.  28.  Sabe- 
se  ,  que, estes  números  secont^o  pelanumero  de  voltas  3 
qiie  corre  huma  libra  de  Algodão  na  Adubadeira  ,  cuja 
çircumferencia  tem  huma  longitude  determinada. 

Ao  depois  se  cardou  ,  e  fiou  o  A!t;odão  de  Air. 
Saint  Mery  nas  mesmas  maquinas  ,  e  çom  a^  mesmas 
dimensões,  ç  se  qbteve  hum  fio  bellisso  do  num.  ^2., 
^Ç;  ainda  que  mais  fino  ,  como  se  vê  ,  tem  o  mesmo 
meneo  ,  e  a  piesma  elasticidade  que  o  fio  de  Algodáo 
de  Cayenna. 

Por  meio  dos  Jennys,  e  JBilJys  Inglezes  ,  di  igiJof? 
da  mesma  maneira  ,  chegámos  com  tudo  a  otter  fios  de 
differentes  niimtroSj  ou  grãos  proporcionados  de  fine- 
za ,  ao  que  nos  parece  ,  e  á  qualidade  das  lãs  ,  quç  cm* 
pregamos.  Assim  ,  fiando  o^  Algodão  de  Cayenna  ,  e  o 
de  Saint  Mery  ,  a  differença  dos  remltados  nos  derão 
huma  rnedida  justa  da  fineza  dos  filamentos  destas 
^Ljas  espécies  de  Algodão  j  e  da  facilidade  ,  que  te^v  de 

se 


■se  prestarem  aos  mesmos  allongamentos ,  e  aos  fflesmôs 
gráos  de  toicimento  ,  que  se  lhes  deo.  Estas  qualidades 
estarão  por  tanto  no  respeito  de  vinte  c  oito  ,  para 
trinta  e  dois. 

O  Alííodão  de  Cayenna  tem  huma  Seda  forte, 
comprida,  e  que  se  presta  com  nimia  facilidade  ás  ope- 
rações da  íilatura,  que  fazem  o  allongamento  ,  e  tor» 
'cimento.  Também,  em  consequência,  tem  huma  boa 
qualidade  de  fiO  para  a  trama.  O  Algodão  de  Saint 
Mery  ,  fiado  sobre  os  mesmos  principios ,  parece  com- 
posto de  fibras  não  somente  mais  finas  ,  mas  ainda 
mais  elásticas,  que  não  obedecem  tão  facilmente  ,  e  em 
tão  grande  quantidade  a  extensão  ,  e  ao  torcimento. 
Em  consequência  de  todas  estas  qualidades  he  quedef- 
le  se  obteve  hum  fio  mais  fino,  e  menos  pesado  ,  sem 
que  deixasse  de  ter  o  mesmo  meneo  ,  e  a  mesma  re- 
sorte  entre  os  dedos  ;  consequentemente  estamos  au- 
thorizados  á  julgar  estas  qualidades  ,  tc^^das  as  cousas 
iguaes,  em  razão  de  vinte  e  oito,  a  trinta  e  dois  ^.a, 
respeito  das  longitudes. 

Resta-nos  indicar  aqui  o  respeito  dos  preços  da 
venda  destes  íios  diíFerentes  ,  que  não  seguira  mais 
unicamente  que  o  respeito  dos  números  ;  visto  que  o 
fio  de  Algodão  de  Saint  Mery  ,  além  da  sua  fineza  , 
he  muito  mais,  como  a  Seda  ,  muito  mais  lustroso,  que 
G  fio  do  Algodão  de  Cayenna ,  ainda  que  este  tenha  o 
mesmo  gráo  de  alvura.  E  assim  se.  poderá  vender  o  fio 
de  Algodão  de  Mr.  Mery  por  doze  libras  (i^pao) 
quando  o  de  Cayenna  se  venda  por  nove  libras. 

Co- 


C  n8  5 

Como  só  tivemos  duas  libras  de  AlgodSo  para  as 
nossas  experiências,  talvez  não  conseguimos  toda  a  fi- 
neza ,  de  que  a  Seda  ,  ou  lá  do  Algodão  de  Mr.  Mery 
seria  capaz  ,  por  ser  preciso  que  a  mão  da  filandeir* 
monte  insensivelmente  sobre  a  qualidade  dos  Algodões. 
Por  este  motivo  só  apresentamos  á  Sociedade  hum  ar- 
rátel de  fio  ,  ficando  a  outro  nas  cardas  ,  ou  talvez 
misturado  com  o  Algodão  de  Cayenna ,  depois  da  qual 
foi  cardado,  e  fiado. 

Por  tanto,  fazendo  uso  dos  Billys  ,  e  dos  Jennys 
Inglezes  ,  conforme  os  princípios  ,  que  acabamos  de 
expof  9  teremos  hum  meio  simples  ,  e  igualmente  segu- 
ro Reconhecer,  c  dar  valor  ao  justo  as  differentes  qua- 
lidades dos  Algodões  ,  que  os  Cultivadores  nos  poderão 
apresentar,  pelo  modo,  com  que  estes  se  comportarem 
nas  operações  da  filatura  ,  executada  nestas  maquinas, 
c  teremos  nos  gráos  de  fineza  fios  fiados  sobre  estes 
mesmos  princípios  huma  re^ra  infallivel  da  fineza  das 
plumas ,  e  da  sua  resoi  te. 

Isto  nos  parece  muito  vantajoso,  noemtanto  que 
muitos  Cultivadores  de  nossas  Cojonias  se  poderão  oc- 
cupar  na  escolha,  e  melhoramento  das  espécies.  Pode- 
rão também  por  estes  meios  certificar-se  áo  seu  sue- 
cesso  ,  relativamente  ás  qualidades  ,  que  temos  tido 
por  fim  apreciar  ;  porque  não  julgamos  ,  que  devão  des- 
pjezar  também  as  espécies ,  relativamente  á  quantidade 
dos  productos,  e  á  facilidade  de  Jhe  separar  as  semen- 
tes. 

A  avantajem  do  nosso  methodo  de  dar  valor  aos 

Ai- 


(  3390 

Algodões  não  s6  consiste  na  eâiimaçSo  precisa  de  suas 
qualidades  essenciaes  ,  e  sobre  tudo  relativas  ao  uso, 
que  delias  se  pôde  fazer ,  mas  em  a  comparação  destas 
qualidades  ;  porque  igualmente  importa  o  annunciar 
com  certeza  a  nossas  mãos  industriosas  assim  o  mere- 
cimento de  huma  produccao  novj^ ,  como  os  melhora- 
mentos, que  ella  pôde  receber  em  tal  terreno  ,  e  por 
tal   Cultivaido!. 

Pensamos,  afinal,  que  se  deve  ,  á  vista  destas  in» 
dividi.açoes  ,  encorajar  assas  a  Cultura  da  espécie  do 
Algodão  de  Mr.  Saint  Mery  ;  e  que  o  seu  uso  será 
infinitamente  vantajoso  ás  nossas  fabricas. 


hll^ 


C  NO  ) 


CATALOGO 

DAS   ESPÉCIES     DOS    ALGODOEIROS     ULTIMAMENTE 
CONHECIDOS     NA    BOTÂNICA 

SEGUNDO  O  SYSTEMA  NATURAE  DE  LINNE 
EXPOST(í^ 

Por  Gmelin, 
Char.    €ss,    s^en. 

Alis  dobrado,  o  exterior  partido  cm  três.  A  cau- 
selJa  de  três  ,  e  quatro  lugares.  Sementes  co- 
bertas de  lã. 

1  Algodoeiro  arvore  ^  folhas  espalmadas  ,  lobos  a- 
lanceados ,  tronco  arbustivo. 

2  Alg.  vermelho  ~  folhas  de  cinco  lobos  ,  ou  pon- 
tas ,  veias  avermelhadas ,  tronco  arbustivo. 

3  Alg,  herva  — folhas  de  cinco  lobos,  huma  glându- 
la ^xir^balxo ,  talo  hervaceo. 

4  A\^.   sem  glândula  -^  folhas  de  cinco  lobos  ,    seva 
landula  ,    três  lobos  mais  allongados ,    agu- 
çados ,  tronco  avelludado, 

5  Alg.  pequena  flor  —  folhas  de  cinco  lobos ,  huma 
glândula,  mui  lisas,  o  calis  maior  que  a  co- 
rolla. 


(   541  ) 

6  A!g.  do  Perií  —  folhas  de  cinco  lobos  agudos  , 
glândulas  ties  ,  o  calis  exterior  de  três  folhas, 
três  glândulas. 

7  M^.felpiHlo  —  folhas  de  quasi  cinco  lobos  ,  por 
baixo   huma  glândula,    raminhos,    e  peçiolos 

felpudos. 
^  K\g.  folha  de  vide  —  folhas  de  cinco  lobos  ,    por 
baixo  huma  glândula ,  agudas  ,    o  calis  exte- 
rior  cortado  profundamente. 
9  Alg.  do  Induz  —  folhas    soto    trilobas  ,    por  baixo 
sem  glândulas  ,    lobos  em  feição  de  cunhas, 
pequenos, 
XO  Alg.  leU^ioso  —  folhas   superiores  trilobas,  agudas 
por  baixo,  três  glândulas,    raminho?  pontua^ 
dos  de  preto. 
U   A|<^.  Barhda  —  folhas  superiores  trilobas  ,  inteirissj- 

mas  ,  por  baixo  três  glândulas, 
i^  Alg.   hrzn  folha  —  folhas  agudas,    as  infímas  nã» 
divididas,  jis  outrâs  trilobas,  porb^i.^o  huma 
glaiidi^la. 


C  342  ) 


CONTINUAqÂO  DA  MEMORIA  III. 

SOBRE   O    ALGODÃO. 
(Commerce  deVAmeri^ue  par  MãrseiUe  Tom.  II.  p.  18.) 


Aó  prosigo  avante  com  este  discurso  :  parece-me 
que  he  demonstrativo  ,  e  por  consequência  mais  que 
sufficiente  ,  para  dar  lugar  a  diversos  estabeiecimeiííOi 
de  huma  filatura  supérflua  ,  donde  resultará  os  maio- 
re«  bens  ao  Estado  ,  ou  peia  ocupação  de  muitas  fami- 
lias  honradas  que  jazem  em  huma  miserável  ociosida- 
de, ou  pela  animação  da  nossa  industria,  e  actividade 
na  circulação  das  riquezas  Nacionaes  ,  ou  pelo  proveito 
real,  que  os  vassallos  deste  Reino  farão  por  si  próprios  , 
fazendo  elles  mesmos  o  consummo  destas  mosselinas , 
e  destas  meias.  Mas ,  se  chegassem  ao  ponto  de  as  ven- 
der aos  Estrangeiros,  que  na  realidade  deve  ser  huma 
infallivel  consequência,  que  augmento  não  teria  amas» 
sa  das  nossas  riquezas  ,  sobre  tudo  ,  fazendo  parar  a 
sabida  do  nosso  dinheiro  para  a  índia  ,  donde  nunca 
mais  volta.  Esta  ultima  razão  requer  algumas  explica- 
ções,  que  não  são  alheias  do  meu  assumpto,  visto  es- 
crever eu  para  negociantes  ;  alem  do  que  ,  eu  deveria 
tratar  neste  lugar  da  questão  ,    se    o  Commercio   das 

In- 


(  545) 

índias  nKo  causa  maiores  danos,  que  utilidades  ao  Es- 
tado  !  Não  entrarei  no  exame  desta  importante  quês- 
tão,  que  tem  sido  discutida  em  muitas  obras  excellen- 
tes.    Contentar-me  hei    com  fazer  huma  observação  ge^ 

Todo  o  commercio  com  os  Estranhos,  aos  quaes 
enviamos  menos  fazendas,  ào  que    as  que  recebemos, 
principalmente,  sendo  manobradas  porelles,  e consum- 
iTiidas  por  nós  ;  e  que  a  que  exportamos  não  iguaíla  o 
seu  valor ,  he  ruinoso  para  a  Nação  ,  que  dá  menos  em 
mercadorias   ,    e  muito  longe  que  hum    tal  commercio 
mereça  a  protecção  do  Governo,    deveria  ser  rigorosa- 
mente   piohibido  ,    com  tanto  que  não  haja  de  ser  de 
géneros  ,    ou  mercadorias  de  huma  indispensável  neces- 
sidade ;  porque  o  proveito  ,    que  podem  fa2er  os  que  o 
emprehendem,  será  sempre  inferior  a  perda  ,  que  o  Esta- 
do deve  fa7.er,  Supposto  este  principio,  he  facií  decidir 
a  questão  (l). 

Propriedades  ào  Algodão, 


Quando  fallei  do  uso  do  Algodão,  expuz  as  suas 
principaes  propriedades ,  que  são  ,  a  de  servir  aos  vestuá- 
rios do  homem ,  para  os  defender  do  frio  ,  e  ornar  suas 
casas  ,    se  pôde  acrescentar  a  estas  cousas  a  de  illumi- 

nar- 


(l)  Passo  ás  propriedades  áo  Algodão  por  resumir 
e^te  artigo,  que  seria  mui  comprido,  se  entrasse  na  miu- 
deza  dosofficios  necessários  paia  as  principaes  obras,  em 
que, se  emprega  o  Algodão. 


Ç  544  > 

naf  por  meio  dás  torcidas,    que  se  fazem  do  5eu   fio,- 
que  se  ensopão  em  azeite  para  as  velas,    e    eandieim^. 
Dizem  ,  que  as  flores  do  Algodão  são  vulnerarias  ;  qu? 
o  seu  óleo  he  hum  bom  cosmético  ;    que  as  folhas ,  e 
flores,  cozidas  juntamente  ,'  debaixo  das  brazas  dão  hum 
oleo  vermelho  ,  viscoso ,  mui  saudável  para  a  cura  das 
ulceras.    Os  grãos  ,    ou  sementes    cozidas  fazem  huina 
boa  tisana  para  a  tosse^  e  moderar  a  asthma,  e  todas 
as  moléstias  do  peito.  Alguns  Médicos  o  empresrão  na 
dyssenteria  ,    e  esputos    de    sangue.    Sc  não    ha  prova 
alguma,  de  qtíe  atenha  sempre  curado,  sempre  ha  al- 
guma, pela  quaijulgão  que  elle  pode  produzir  este  ef- 
feito.  Geralmente  se  convém  ,  que  o  Algodão  aquece, 
e  dessecca.  Ambas  as  cousas  confirma  a  experiência  ,  e 
Sem  embargo    de  que    ilos  paízes  quentes    empreguem 
o  sei>  pa-nno  em  eamizas ,  com  tudo  os  Europeos  pre- 
fererrr  o  panno   de  linho  ,  como  mais  são  ,  e  menos  in- 
commodo  ,:  pois  não  causa  certas  coceiras  ,    que  o  seu 
frouxel    f 32  sobre  a-pelle  delicada,  e  se  julga-  mais  são, 
porque  o  suor  do  corpo  não    se  demora  tanto  tempo,, 
e  Se  dissipa  mats  depressa    no  linho  que  tíos  Algodões-, 
'Taímbem  se  tem  t^isto  ,  que  o  panno  do  Algodão  appli- 
cado  a  huma  chaga,  a-inflamma,  e  envenena,  ou  por- 
que  a  plumagem  ,  in?:inuando-se  pelos  poros  da  carne, 
impede  a  Vegetação  doshiimores,  e  por  este  obstáculo 
irrita  a  parte  nervosa,  ou  porque,  segundo  os  cxjmes 
de  Lewenoeck  ,  as  fibras  do  Algodão  tenhão  doh  lados 
chatos    com  gume    na  sua  extremidade  ,.    que  dividem 
fts  moléculas  da  carne,,  occasionando  Jnflamrraç<jes. 


C  345  ) 


Commerclo  do  Algodão, 


A  utilidade  do  Algodão,  e  também  a  sua  necessi- 
dade   em  muitos  paizes  grandes  ,    sendo  conhecida  de- 
pressa se  fez  bum  objecto    de  grande  commercio.    Por 
nossa  felicidade  a  industria  Europea  se  soube  aproveitar. 
Em  Marselha  se  julga  melhor  deste  commercio  em  razão 
das  quantidades  ,  que  para  ella  se  importão ,  e  que  del- 
ia  se  exporrão  para  os  reinos  estranhos.  Convenho  que 
huma  conta  do  estado  geral    de  toda  a  Ffança  nos  fa. 
ria    vér  quanto  lhe    he  útil  este  ramo    de  commercio, 
mas  isto  seria  estranho    ao  commercio  desta  praça  ,    a 
que  me  limito.    Em  outro  lugar  disse ,  que  o  Algodão 
de  nossas  Colónias  não  vinha  a  Marselha,  não  por  lhe 
ser  prohibido  ,  mas  sim  porque  havia  muito  de  Levan- 
te ,  e  por  hum   preqo  menor ,  e  que  impede  aos  nossos 
Negociantes  mandar  vir  o  das  nossas  Colónias.   Todavia,: 
ao  depois  da  paz  com  Inglaterra,    tem  vindo  aJgumas' 
saccas  em  os  Navios  de  São  Domingos.  Os  nossos  Com- 
merciantes  tem  tardado  em  fazer  esta  especulação,  Quei- 
rão  elles  não  a  demorar  ,  e  também  mandallo  vir  cm 
grandes  porções ,  que  a  não  ser  empregado  por  nós ,  o 
será  ao  menos  pelos  Allemâes ,  e  Suissos^   que  princi" 
pião  a  fazer-nos  encomendas  com  ardor. 


Al' 


C  }4«5) 

Algodão  em   lã. 

Chegou  de  Levante  a  Marselha  no  decurso  do  2rí« 

]Jb.   2:8  5i<^62o 

Sahio  para  Reinos  estranhos  ^6j^^7Ó 

Para  Itália  381^210 

Hespanha  2S(^88i 

Portugal  5^257 

Hollanda  81^^24 

Inglateria  142 

Norte  f66^')^z 

Despachou  se  para  Genebra  por  baldeação       djo^ooo 
Ficou,  em  2:3.28<^eoo 

Empregou-sf  no  Reino  2.: 3^28^244 

Algodão  fiado. 

No  dito  anno  chegou  a  Marselha 

De  Levante  2^:0  tj 

De  Itália  1(^285 

SaHla  para  o  Estrangeiro 

Para  Itália  ;í 6 4^501 

Hespanha  l62(j^42^ 

Portugal  j57 

Hollanda  9A(í>999 

Inglaterra  370 

Norte  800 


( 


tX }  ^^''^''' 


Despachou  se  para  Genebra    160^000  f        w"^'/ 
Ficou  no  Reino  1:352-^521 


Kit- 


Huma  vista  simples  sobre  esta  tabõa  faz  vêr  quan- 
to interessa  a  Marselha  o  cdmmercid  do  Algõdlo.  O 
grande  numerf  de  rtàviòs  ,  que  émprèo^à  ,  e  os  benefícios 
que  deve  fazer  a  Nação  pelos  novos  ialdres  j  queadquí» 
re  pela  filatura  ^  ou  fabrico  de  tantas  íeiaS  ,  oÚ  pan- 
tioá,  cujo  recenseamento  faria  pasmar  ,  se  com  tudo 
esta  grande  qíiantídade  toda  se  gastasse  no  Reino.  Os- 
seus  habitantes  éncontrariao  nelle  verdadeiramente  hurn 
allivio  4s  precisões  da  sua  vida  ,  e  talvez  alguns  meiõá 
de  se  enriquecerem.  ;  nias  o  Estado  se  empobreceria  >ela 
compra  de  humá  tao  grande  quantidade  de  mereadd- 
ívàí  3  sé  nad  fosse  o  pagamento  dos  riossos  pannos  dá 
Languedoco  Feiisménlè  6  nosso  fabrico  dos  pannbs  àú 
Algodão  attende  ;  assim  ás  nossas ,  como  ás  precisões  gs- 
trangéifas  ,'  èque  só  podeitios  ganhar  j  expoííándo  os  fá- 
ra  do  Reino»- 

A  importância  do  commercio  do  Algodão  ^  relativa- 
mente ás  noéas  manufacturas,  è  ao  maior  valor  ^  qU^ 
pôáé  ter  pela  nossa  industria,  tem  e^usadò  diversos  re- 
gíílarríentos  para  a  satisfação  dds  direitos^  impostos  2í 
entrada  do  Reino  até  1749  5  «m  qise  sé  declarou  por 
Acórdão  5-  que  os  Áígodóes  de  nossas  Colónias  eráo  isento? 
de  todo  o  direito  assim  na  sua  entrada  5^  corno  pelo  seU 
transito  àé  huma  para  outrS  PrQvínçis<í  Antes  de  entrai 
nestes  detslhes ,  Vou  desçobnf  duas  fraude  §  conhecidaí, 
èom  que  nos  impòrtao  ^mm  ã  lâ  dê  nossas  Colónias, 
eomo  ú  fiado  de  Levante*. 

Tem-sevisto,  que  ^^  p;ífa  ecsiccarem  com  maior  ía^- 
éifidáde  o  Algodão  nâ  America,  se  moina  oimerior  do<' 


T*  V,  F.  í. 


é^Q4- 


gaccos ,  e  ainda  o  exterior ,  bem  que  ligeiramente,  para 
que  ,  por  meio  desta  humidade  ,  o  frouxel ,  ou  pliimas^era 
deste  Algodão  se  apegue  ao  panno  ,  e  não  suba  ,  ou 
cresça  peias  paredes  da  sacca  ,  quando  se  calca  ,  e  pisa 
com  o  iiiasso.  Esta  precaução  ,  qqe  não  deixa  de  ser 
Mtil  no  seu  principio,  tendo  degenerado  em  abuso  pe- 
la ladroice  de,  aiguns  insulanos,  que  com  este  pretexto 
inolhão  todo  o  Algodão  ,  para  o  fazer  mais  pesado  , 
com  isto  lhe  procurão  huma  fermentação,  que  debilita 
os  fios  da  plumao-em  ;  e  algumas  vezes  o  fazem  apo- 
drecer na  viagem  ,  ou  embarque.  Para  obviar  este  in- 
conveniente ,  tão  contrario  á  boa  fé  do  commercio,  e 
tão  ruinoso  á  reputação  de  nossas  manufacturas,  o  Rei , 
sempre  attencioso  ao  interesse  do  commercio  do  seu 
povo,  estabeleceo  o  regulamento  do  commercio  dos  Al* 
godões  ao  zo  de  Septembro  de  lysp. 


m- 


CALCULO  DO  AZEITE  DO  ALGODÃO; 

No  Brasil  pot  hum  Calculo  mediò  se  tem  vuidd 
no  conhecimento  de  que  huma  arroba  de  Algodão  com 
semente  ,  depois  de  limpo  resulta  a  quarta  parte  de 
Algodão  puro ,  e  três  quartas  partes  de  semente ,  vin- 
do desta  sorte  ao  pezo  oito  arráteis  de  Algodão ,  e  vin- 
te e  quatro  de  sementes. 

Por  cada  sacca  ,  que  do  Brasil  se  exporta ,  cóstii. 
mão  estas  ter  de  Algodão  quatro  arrobas ,  e  deixandè 
de  semente  doze  arrobas  no  BrasiL 


Computa-se  que  annualmente  exporta  ô 
Brazil  setenta  e  cinco  mil  saccas  de  Al- 
godão puro ,  e  humas  por  outras  de  qua* 
tro  arrobas  ,  que  fazem  ao  todo  500(^000 
arrobas,  e  deixando  de  sementes 

È  que  o  Algodão  consumido  no  mesmo 
Brasil  deitará  a  trinta  mil  arrobas ,  e  es* 
tas  deixão  de  semente 

Pelo  Algodão  de  esperdicios  três  mil  arro- 
bas ,  è  estas  deixão  por  estimação  iè 
semente 


pob^l^o®© 


90^00© 


lO^CÕÔ 


Total  ds  sementes  arrobas  «  -  i:ooo^co© 


c-dN« 


CONCLUSÃO. 

Tendo-seJ  achado  que  huma  arroba  de  semente^ 
deita  as  duas  terças  partes  de  Azeito ,  e  huma  de  fezes. 
{'  Vem  por  consequência  ao  calculo  que  o  milhão 
acima  de  sementes  produz  666^666  arrobas  de  Azeite. 

E  vistQ  que  hum  arrátel  de  semente  dá  hum 
quartilho  de  Azeite ;  vem  assim  ao  todo  a  produzir  as 
666(^666  arrobas  de  Azeite  2i:jj5<^jjj  quartilhos, 
«'u  S*-33J^5?8  canadas,  ou  444:444  almudes  que  re« 
duzidos  estes  a  pipas  de  vinte  e  seis  almudes  ,  produ* 
zem  pipas  175^094  ,  havidas  somente  com  a  despeza 
da  condução  da  semente ,  e  factura  do  Azeite 

Posto   em    Lisboa     a    100    réis     a    canada   dará 
535:366^600, 

Ora  se  este  calculo  Jor  p»r  falsa  p  oslçao  ,  não  dd* 
ocará  de  contei-lbuma  verdade J/^tefessante  a  Agricultura^ 
e  Coinmerclo. 

CALCULO  SOBRE  O  AZEITE  DO  ALGODÃO. 

fransactions  of  the    American  PhllosophlcalSoclety,   VoJ. 
I.     pag.   JQJ. 


P  Doutor  Kond  na  mesma  occasião  apresentou 
huma  arriostra  de  azeite  ,  feito  das  sementes  do  Algo- 
dão ,  que  fora  remettida  pelo  mesmo  sujeito  ,  sobiQ 
que  fez  a  seguinte  exposição.  Este  azeite  he  das  sémen- 
íes  do  Algodão  ^  íeito  do  mesmo  modo  que  o  áo  Gi- 
ra- 


msol     Alqueire  e  meio  de  sementes  rendeo  duas  cana» 

das,  e  hum  quartilho  ;  e  me  informa,  que  nas  Ind.as 

Occid.ntaes    usao  dclle  proveitosamente   para  pacificar 
as  dores  de  cólica, 

CONCLUSÃO. 

No  Brasil   se  perde    todos   os  annos    hum  milhão 
de  arrobas  de  sementes  de  Algodão,  que,  desmancha- 
do    em  azeite  ,    daria  todo    quanto    o  Reino  carecesse 
para  as   suas  illuminaçóes  ,    e  com  que    se  baratearia  a 
favor  da  pobreza ,    e  das  Colónias  o  da  Oliveira  ,    sem 
que  aquelle  custasse  ao  Estado  mais  que  o  beneficio  de 
p  fazer ,  Os  carretos  da  terra ,  e  os  fretes  do  mar  ;  por 
quanto    o  gasto  da  sua  cultura  ficou  saldado  pela  pro- 
»   ducçâo  da  lã.  Ora  hum  milhão  de  arrobas  de  sementes 
dão  dezasete  mil  e  tantas  pipas    de  vinte   e  seis  almu- 
áes  cada  huma  ;    e  o  seu  transporte  por  mar  acrescen- 
taria o  numero  de  vasos  da  marinha  mercante.  O  cal- 
culo ,    que  ajunto    a  este  papel  ,    fará  ver    a  V-  E^" 
CELLENCIA    a  probabilidade  desta  especulação  ,    que 
terei  muita  satisfação  em  a  yer  realizada.    He  cOm  to-^ 
ido  o  acatamento 

■   Pe  V.  EXCELLENCí A 


Fr.  Jcsé  Uarimo  da  Concçiçee   Keltozo. 


ERRATAS. 


Víi€'  '  lin 

erros 

emendas. 

2  24e 

25   desaiioçar 

descaroçar 

20  22 

mesmo  três 

m«smo  modo  três              , 

29   19 

quinhentos 

quinhentas 

n  29 

á  causa 

por  causa 

?2    18 

pezando 

pizando 

52  17 

aos  que 

aos  quaes 

í?   14 

tenha 

tinha 

^^  28 

tenha 

tinha 

ib.  25» 

seginte 

seguinte 

.82   24 

que  os  intermédio 

que  intermédio 

^7     í   e 

4  bem  lavrada 

lavradas 

89     8 

com  sementes  do  rio 

com  areias  do  rio 

:7i  22 

ao  divisor 

á  dobadoura 

^2     ? 

-    phisseurs 

phisieurs 

?J      7 

Chypre  os  Algoãoei. 

■  Chypre  os  Algodoeiros    se  divi- 

ros ãe  asna  corren- 

dem ,   em  Algcíloeirus  de  agiie. 

te  ,  em  Algodoei- 

corrente ,  e  Algoãoei  ros  àe  tcf 

ro  de  terra  secca. 

ra  secca» 

M      4 

domestico 

domésticos 

ib.  II 

Nicolion 

Nicolson 

ib.  12 

Budier 

Badier 

99   2j 

arbusto  mais 

arbusto  he  mais 

ib.  25 

he 

a  de  que 

io(í     5 

Asiáticas, 

Asiática* 

109    10 

Os 

As 

126    14 

ellas 

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na  mão 

142  25 

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14?     2<> 

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E^t.5. 


O 


C  294) 


Origem  do  Algodão. 


2Z 

39 


§.   lí.  Cultura  do  Algodoeira. 

§.   III.   Usi)   do  Algodão, 

RECAPITULAq.   Despex,a  para  caça, 

Despeza  para  melas. 

luEMOR.  III.  Sobre  o  Algodão.  By  Leiong.  (The  H/j- 
tory  of  Jamaica.  Cotton.  Vol.  III.  pag.  686.)  Gossj/' 
pi  um  semlnlhus  malorlbus  BraslUanum.  4r 

IvEMOR.  IV.  Sobre  o  Algodoeiro.  Çotonier.  (Nouveau 
Dlctlonalre  d'Hlstoire  Naturelle,  Tqm.  VI.  pag.  293.) 


/ 


Hspccte  I. 

'Espécie  II. 
Bípecie  III. 

Espécie  IV. 

Espécie  V. 

Espécie  yi. 

Espécie  Vil» 


51 

ibid. 

ibid, 

$5 

ibid. 

54 


§.  II.  Observações  de  7VÍ.  de  Rohr  sobre  as  espécies  ,  e 
variedades  de  Algodoeiros  assim  indigenos  ,  como  cuU 
tlvados  actualmente  na  America.  ibid. 

§.  I.  Algodoeiros  de  semente  negra  grosseira.  5J 

§.  II.  Algodoeiros  que  tem  a  semente  trigueira  escura  ^ 
e  a  superficie  Usa   com  velas.  6> 

§.  III.  Algodoeiros  y  que  tem  a  semente  com  a  superficie 
salpicada  de  pellos  mui  curtos  de  modo  que  com  Jacl* 
lldade    s&  destingue    a   còr  da  casca   ;   porem  as  veias 


entre  si  menos  bem. 


11 

s. 


C  295  ) 


§.  IV.  Algodoeiros  com  a  sttperjicle  da  semente  em  par» 
te  ,  ou  no  iodo  guarnecida  de  liuma  ^felpa  ,  ou  ,  me^ 
Ihor ,  pellos  espessos  no  ponto  de  se  lhe  não  poder  dis' 
tlngulr  a  còr  de  sua  casca,  7  5 

III.   Culiura.  to 

Sementes,  ^  1 

B^ah.  ibid., 

Colheita  j  ou  rendimento.  82 

Terrenos.  ibid» 

Cultura  do  Algodoeiro   na  Europa,  2  3 

Cultura  do  Algodoeiro  em   Asla,  çO 

Cultura  no   Continente  de  Africa.  94. 

Cultura  na  America,  95 

§.   IV.   Inimigos  do  Algodoeiro,'  lOO 

§.   V.   Commerclo  do  Algodão.  10  J 

Algodão  da  America.  ibid. 

Algodão  do  Levante.  ^  104 

§.  VI.  Empregos  do  Algodão  .^  cordoaria^  e  filatura,    105 
iVlEMOR.  V.  Sobre  o  Algodão  da  Grã  Bretanha.   AnnaU 
of  AgricuUufe    CT  cellectcd    and  puhllshed,    By  Arthur 
Youngs.  112 

MEMOR.  VI.  Lida  a  20  em  Junta  em  Sessão  pública 
do  Lj/ceo  das  Artes  Pelo  Cidadão  Bruley  Hum  dos 
Membros  da  Sociedade  das  Sdenclas  ,  e  de  outras  muU 
tas.  QMemolres  des  Socletés  Savantes  et  Liíteraires  de 
la   Repub,  Franc.  Tom.  I.  pag.    262.)  12C 

IVIEMOR.  VII.  Sobre  o  Algodão.  Coton  (pictionairc 
aiúverselle  du  Commerce.')  Savary  du  Brulei.  129 

ME- 


,1 


C  ^96  ) 

MEMOR.  VIII.  Sobre  o  Algodão.  Por  José  de  Sá  Be^ 
tencour.  179 

Bescripção  das  differentes  espécies  de  Algodão  que  te- 
mos no  Brazil.  199 

Algodão    do  Maranhão    de  caroço    inteiro  ^     e    comprido^ 

ibid. 

Algodão  de  caroço  pardo  ,   e  inteiro.  ibid.. 

Algodão  de  caroço  verde  ,  e  inteiro.  20O 

Algodão    de  caroço    inteiro    de  lã    parda     còr    de  ganga, 

ibid. 

Algodão  vulgar,  •  201 

Algodão  da  Índia  de  caroço  dividido^  e  coberto  de  hmn 
pello  branco.  ibid. 

Calculo  Analytico.  10} 

Calculo  Synthetico  do  rendimento  do  Algodão  do  ca- 
roço pardo  ,  verde ,  e  do  Maranhão.  ibid. 

Annitncio  de  hiima  maíjuina  singela  de  carmear  o  Algo- 
dão ^  vista  na  China.  Por  *  *  *  Com  huma  Estam- 
pa. 204 

MEMOR.  IX.  Sobre  a  cultura  dos  Algodoeiros.  Por 
/     Manoel  d^Arruda  Camará.  Introducção.  20$ 

CAP.  I.  Da  antiguidade  do  uso  do  Algodão ,  e  da  van- 
tagem j   (jue  tem  resultado   a  Portugal  ^  e  a  Paranãbuc 


a  sua  cultura. 
CAP.  II.  -Da  Descripção  do   Algodoeiro, 

Descripção. 

Espécies» 

Variedades. 


210 
219 

ibid. 
220 

ibid. 

Ha. 


C  297  ) 

Habitação.  ^-  22Í 

CAP.  in.    Va  terra  mais  própria ,  ou  mais  con-oeniente 
para  a  cultura    dos  Algodoeiros.  224 

CAP.  IV.  Do  clima  ,  ou  temperatura  do  ar  ,  mais  con- 
veniente à  vegetação  do  Algodoeiro.  251 
CAP.  V.  Da  melhor  maneira  de  plantar  os  Algodoei- 
ros. 232 
CAP.  VI.  Das  operações  ,  (jue  se  devem  fa7.er  aos  Al- 
godoeiros ,  para  produzirem  melhor  (jualidade  ,  e  maior 
abundância  de  Algodão.  Tres  operações  se  devem  pra- 
ticar nos  Algodoeiros  ,  para  os  obrigar  a  produzir 
mais  ,  e  melhor  fructOr ;  a  primeira ,  he  chamada  ca^ 
pação  ;  a  segunda ,  chamo  poda  ;  a  terceira  ,  decota^ 
^ão.    Da  primeira    operação   ^    a  que    chamo  capação. 

/  240 

Da  segunda  operação^  a  (jue  eu  chamo  poda..  24 J 

CAP.   VII.  Das   moléstias  a  (jue  são  sujeitos  os  Algodoei-^ 
ros.  247 

Da  debilidade ,  oít  marasmo.  ibíd. 

Da  pletora.  ^4^ 

Do  aborto  ,    ati  movito,  249 

Do  resfriamento.  25O 

Do  cancro.  jbid. 

Do  golpe  do  Sol  (Sideratio).  ^5^ 

Das  moléstias    causadas  pelo  attaque  dos  Insectos^   e  pas- 
saros.   Da  broca,  ^S^ 

Da  lagarta.  25  } 

Do  gafanhoto.  254 

Da 


Vú  gafanhoto ,  a  (jtie  ca  dei  o  nome  ,  Camaleão  volante. 

256 
T>o  Gafanhoto ,  a  que  chamei  geiíicitlatus  ,  ou  de  grandes 
joelhos.  2$  7 

Do  Gajfanhoto  ,  a  que  chamo ,  gladiador,  ibid. 

Do  Gafanhoto  a   que  chamo  pigmeo.  25  S 

Do  Percevejo ,  que  persegue  os  Algodoeiros,  jbid. 

Dos  pássaros  y    que  perseguem  os  jilgodoeiros,  261 

CAP.   Vííl.   Da  monda.  262 

CAP.  IX.   Da  colheita  do  Algodão,  266 

CAP.  X.  Do  descaroçamento  ^   e  ensaccament».  272 

ARTICULO  I.   Do  descaroçamento,  ibid. 

ARTICULO   II.  Do  ensaccamento,  aSj 

Vso^  desta  maquina,  2Sj 

ADVERTÊNCIA   A  respeito  ds    algumas  figuras    illa- 
,    minadas.  2pX 


F   I   M. 


índice  ^AO  APPENDICE. 

XVI  Emo,ria  I.  da  cultura  do  Algodoeiro  Herva.  (5'é- 
manario    de  Jgncnlttira  Tom.  VI.    Num.    IÇÇ.    pag. 

385.)  Pag.  299 

Memoria  IL  da  cultura  ,  e  cnmmercio  do  Algodão  em 
Sicilia.  (Semanário  de  Agricultara  ^  e  Artes  ^uúl.  l8d. 
Tom.  VIII.  pa?.  49.)  504 

JWemoria  IIÍ.  Observações  sobre  differentes  espécies  de 
Algodoeiros  cultivados  em  Guadalupe,  Por  Mr.  de 
Badier.  ÇMemoires  de  Agriculture ,  de  Economie  Ru* 
rale  et  Domestique  Anne  1-}%1  trimestre  de  Automns 
p.   118.)  30? 

Algodoeiros  do  Commercio.  Num.  i.  Algodoeiro  ves* 
tido.  3^4 

Num.   2.  J.^godo-eiro  São  Martinho.  Joid. 

Num,    3.    Algodoeiro   Pedra,  ^^^^* 

Num.   4.   Algodoeiro   Branco  ç'jo,  ibia. 

Num.    5.    Algodoeiro  Pluma,  3^5 

Num.   6.   Algodoeiro  grosso  grifo,  3^^ 

Isíum.   7»    Algodoeiro  pequenos  grãou  ibid. 

Num.   8.   Algodoeiro  Trindade,  ibid. 

Num,  9.  Algodoeiro  Seda.  317 

Num.    I.   Algodoeiro  Seda   casca  roxa,  ibid. 

Num.   2.   Algodoeiro  Seda  folhas  entrepartidas.  |lS 

Num.  3,  Algodoeiro  Sião  bastardo  de  grãos  cobertos  de 
huma  pluma  verdoenga  escura,  ibid, 

ibid. 
Num, 


Kiim,  4.  Algodoeiro  Mandiocat 


"Nuwi.  ç.  Algodoeiro  Sião  bastardo ,  grá^o/  «í^-roj      e  ÍU 

ibid. 

Num,   5.    Algodoeiro  Sião  franco,  ,,„ 

Num.   7     Algodoeiro  Seda  grãos  negros  ,   c  Usos.      ibid, 
Niim.    S.   Algodoeiro  Seda  ,    pequenos  gr^íos  cobertos    de 
hama  pluma   azul  verdoenga,  ,20 

Num.    ^.    Algodoeiro  Seda  ,    capitlho  dividido    em  cinco 
lagares,  i^^jj^ 

Num,    10.     Algodoeiro  Seda  ,     dividido  em  quatro  lu^a^ 

ibid. 

Memoria  IV.  sobre  huma  espécie  de  Algodão  chamado 

em  Sáo  Domingos  Algodão  Seda,  ou  Santa  Alartha. 

Por  Mr.  Moreau  de  Saint  Mery  ,    Correspondente    da 

Sociedade,     (  Memoires  de  Agriculture  ,    de  Economié 

Rin-al  ,    e  Domestiqii£  anno   1788  trimestre    de  Auto^ 

!    mne  p.  ij  3.)  j .  j 

Resolução  Académica   da  Memoria    de  J\lr.  Moreau    de 

S.  Mery.    Sobre    b  Algodão   de  Seda.    P.  MM.  Des- 

marest ,  Abeiile  e  Thouin.      ,  .5^4 

Catalogo  das  espécies  dos  Algodoeiros  ultimam.ente  cci* 

nhecidos  na  Botânica  segundo  o  systema  naturae    dd 

Linne  exposto  por  Gmelin.  Char.  ess.  gen.  ^4^' 

Continuação  da  Memoria  llí.   sobre  o  Algodão,    (^Com- 

mercê  de  V  Anierique  par  Marjeille   T.  II.  p.  iS)    342 

Propriedades  do   Algodão,  j^^ 

Commerclo  do  Algodão,  » ^  j 

it)id. 
F  I  M.